Panorama Abecs #04

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09 | ENTREVISTA A visão de Luiza Trajano sobre consumo, crédito e negócios no Brasil

26 | SEGURANÇA Indústria investe em tecnologia para combater ação de fraudadores

32 | PELO MUNDO Uma radiografia do atual estágio do mercado de cartões em Portugal

# 04 40 | PESQUISA MENSAL ABECS/DATAFOLHA 80% dos portadores de cartão de crédito pagam o valor integral da fatura

Inclusão financeira

O que a indústria tem feito para incluir financeiramente milhões de pessoas da ascendente classe média brasileira PÁG. 12


Uma revista, diversas plataformas. A revista da indústria brasileira de meios eletrônicos de pagamento possui versões para iPad, iPhone e tablets Android. Para obter as edições, sem custo, basta entrar na App Store ou no Google Play e fazer uma busca por Panorama Abecs.

09 | ENTREVISTA A visão de Luiza Trajano sobre consumo, crédito e negócios no Brasil

22 | SEGURANÇA Indústria investe em tecnologia para combater ação de fraudadores

32 | PELO MUNDO Uma radiografia do atual estágio do mercado de cartões em Portugal

# 04 40 | PESQUISA MENSAL ABECS/DATAFOLHA 80% dos portadores de cartão de crédito pagam o valor integral da fatura

Inclusão financeira

O impacto da Copa do Mundo da FIFA na economia brasileira e na indústria de meios eletrônicos de pagamento PÁG. 08

32 | TECNOLOGIA Pagamentos móveis têm grande potencial de crescimento no país

45 | SEGURANÇA Sistemas neurais aprendem hábitos de consumo para proteger clientes

24 | ECONOMIA Estudo mostra o impacto dos custos do dinheiro para a sociedade

76 | PELO MUNDO Restaurantes que não aceitam dinheiro, apenas cartões

52 | INOVAÇÃO No Brasil, imposto de importação já pode ser quitado no débito

A revista da associação brasileira das empresas de cartões de crédito e serviços

60 | PELO MUNDO Ajuda humanitária é mais rápida e segura com cartões pré-pagos

16 | NEGÓCIOS Aplicativos para chamar táxis conquistam consumidor brasileiro

OUTUBRO | 2013 MONITOR ABECS TRAZ DADOS ATUALIZADOS DO MERCADO pág. 72

Pesquisa Abecs/ Datafolha 2013

O impacto da Copa do Mundo da FIFA para a indústria

Marco regulatório

Evolução constante

Empresas têm até maio para se adequar às novas regras do setor de pagamentos; entenda o que mudou

Dossiê traz gráficos, tabelas e análise do estudo PÁG. 11

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08 | ECONOMIA

26,2% do consumo das famílias brasileiras é pago com cartões

Dados mostram expansão da indústria e crescente maturidade do portador de cartões

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BAIXE TAMBÉM AS EDIÇÕES ANTERIORES

28 | PELO MUNDO Em Londres, pagamento sem contato já faz parte do dia a dia

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DEZEMBRO | 2013

50% dos gastos mensais realizados pelos brasileiros são pagos com cartões

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22 | INOVAÇÃO Com senha dinâmica, display card promete transações mais seguras

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Panorama: cada vez mais digital

iPad iPhone Android (tablet)

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# 04 uma publicação customizada da BIZU para a associação brasileira das empresas de cartões de crédito e serviços

Conselho editorial Bruno Rossi, Carolina Juzwiak, Elaine Santos, Ricardo de Barros Vieira, Sabrina Sciama e Comitê de Comunicação Abecs

Direção de criação Ana Starling e Roberto Guimarães

Diretor editorial Roberto Guimarães

Projeto gráfico Ana Starling e Teo Menna

Edição Roberto Guimarães

Direção de arte Ana Starling

Design Juliana Vomero

Colaboradores texto Gabriel Ferreira, Kamila Hage, Maitê Casacchi, Nathan Fernandes e Sílvia Lisboa foto Carlos Edler, Daniela Toviansky e Fernando Cavalcanti revisão Vivi Rowe

CTP & Impressão Gráfica Ipsis

BIZU [estúdio e editora] Rua Carlos Comenale, 263, 3º andar Bela Vista 01332-030 São Paulo SP (11) 3284.6989 www.bizu.bz © todos os direitos reservados Para entrar em contato com a redação, envie um e-mail para panorama@bizu.bz

ILUSTRAÇÃO DE CAPA Ana Starling


#EDITORIAL

Cidadania financeira Nos últimos anos, o Brasil viu emergir uma nova classe média, com grande poder de consumo e que utilizou o cartão de crédito como uma das formas de iniciar o seu processo de inclusão financeira. Não há dúvidas de que o setor de meios eletrônicos de pagamento tem um papel relevante no processo de inclusão financeira, que – como mostramos na matéria de capa desta edição – tem um significado mais amplo, ligado à cidadania. Para entender melhor o que pensam e desejam as classes emergentes, entrevistamos Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular, um dos maiores especialistas no assunto. E tivemos o privilégio de ouvir Luiza Trajano, CEO do Magazine Luiza, uma das principais redes varejistas do país, que também se destaca pelo profundo conhecimento dos hábitos de consumo do brasileiro, inclusive da classe C. A Abecs acredita que, para que essa cidadania financeira recém-conquistada seja duradoura, é preciso usar o cartão de forma consciente. Não é por outro motivo que investimos constantemente para produzir e disseminar informações importantes, para diversos públicos, por meio de iniciativas como cartilhas, videoaulas e a revista que você tem em mãos.

Marcelo Noronha Diretor Presidente da Abecs


# 04 uma publicação customizada da BIZU para a associação brasileira das empresas de cartões de crédito e serviços

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#SUMÁRIO

De 2008 a 2013, mais de 20 milhões de novas contascorrentes foram abertas no país. Além de ampliar o acesso aos serviços oferecidos por bancos e empresas de cartão, a inclusão financeira contribui para aumentar a sensação de cidadania de muitos brasileiros. Na matéria de capa desta edição, mostramos algumas das iniciativas da indústria para promover essa inclusão cidadã.

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ABECS EM AÇÃO

Debates sobre o marco regulatório estão entre as iniciativas recentes da Associação LUIZA TRAJANO

Uma conversa franca sobre negócios e o país com a CEO do Magazine Luiza ENTREVISTA

Renato Meirelles fala sobre os hábitos de consumo da nova classe média brasileira SEGURANÇA

Investimento em tecnologia é arma da indústria de cartões para combater a ação de fraudadores


32 CAPA

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INCLUSÃO FINANCEIRA

As iniciativas dos bancos e da indústria de cartões para incluir financeiramente milhões de brasileiros

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PELO MUNDO

Hábito de pagar no débito é uma das características do mercado português EMPREENDEDORISMO

Dentista paulista utiliza solução mobile para aceitar cartão de crédito e agrada clientes FINANÇAS PESSOAIS

Pensionista gaúcha facilita vida ao concentrar despesas em um único cartão PESQUISA ABECS/DATAFOLHA

Novo levantamento mensal sobre os hábitos de uso do cartão de crédito pelo brasileiro


#Abecs em ação Algumas das principais iniciativas promovidas pela Associação

Mesa de discussão esclarece dúvidas sobre medidas regulatórias Evento realizado em hotel paulistano recebeu associados para debate de novas regras do Banco Central A Abecs promoveu, em 13 de maio, uma mesa de discussão sobre a nova regulamentação para os meios eletrônicos de pagamento no país. O encontro durou cerca de duas horas e reuniu 53 pessoas, entre especialistas e representantes de empresas associadas, no Hotel Caesar Business Faria Lima, em São Paulo – outros 55 associados acompanharam a transmissão on-line, pela área exclusiva para associados do site. O evento faz parte de uma série de ações que a entidade vem organizando – desde a divulgação das regras pelo Banco Central, em novembro de 2013 – para esclarecer as dúvidas dos associados sobre as novas regras para o setor. Seis consultores convidados para compor a mesa discutiram as questões agrupadas pelo Comitê de Assuntos Regulatórios, com moderação do vice-presidente, Raul Moreira, e do diretor executivo da Abecs, Ricardo de Barros Vieira. Os especialistas eram representantes das empresas Ferres & Associados, Pinheiro Neto Advogados, RNC Serviços de Consultoria, DOM Consultoria e Gestão e Ernst & Young. Os associados presentes também formularam perguntas e ajudaram a enriquecer o debate, que, entre outros pontos, girou em torno das Circulares 3.680/13, 3.681/13, 3.682/13, 3.683/13, 3.704/14 e 3.705/14. Os documentos disciplinam a conta de pagamento que deverá ser utilizada pelas instituições para registros de transações de usuários finais; o gerenciamento de riscos; os requerimentos mínimos 6

de patrimônio; os critérios segundo os quais os arranjos de pagamento integrarão ou não o SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro); e os requisitos e os procedimentos para constituição, autorização para funcionamento, alterações de controle e reorganizações societárias dessas instituições. A mesa de discussão foi organizada para refinar ainda mais a interpretação das medidas regulatórias. Durante o encontro, Raul Moreira explicou a importância desse tipo de ação. “O novo marco regulatório do setor ainda é uma obra em estruturação. O objetivo desses encontros é construir um entendimento sobre os normativos de forma conjunta e eliminar muitas das dúvidas.” Antes desse evento, aconteceram duas Audiências Abecs – em Brasília e São Paulo – com representantes do Banco Central e associados. Além de promover as Audiências, a Abecs editou três guias para esclarecer dúvidas sobre o marco regulatório dos meios eletrônicos de pagamento. Chamada Sob o Olhar do Banco Central, a série está disponível para download gratuito, exclusivamente para associados, no site da Associação.


9º CMEP será realizado em 28 e 29 de outubro Anote na agenda: a nona edição do CMEP (Congresso de Meios Eletrônicos de Pagamento) vai acontecer nos dias 28 e 29 de outubro, no Transamerica Expo Center – Pavilhão F, no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo. O evento falará sobre Inovação e Produtos, Relação com o Consumidor, Números do Mercado, Regulação e Autorregulação. No encontro, também será lançado o 2º Prêmio Abecs de Melhores Práticas. Realizado desde 2006, em parceria da Abecs com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), o CMEP é considerado um dos principais fóruns de debates da indústria financeira, além de ser o mais importante evento institucional do setor de meios eletrônicos de pagamento.

Durante o CMEP, representantes do Governo, de órgãos de defesa do consumidor, consultores e profissionais da indústria de meios de pagamento, do Brasil e do exterior, compartilham com os participantes suas visões sobre aspectos importantes do mercado e temas estratégicos para o futuro das empresas do setor. A última edição do evento, que teve como tema Arranjos de Pagamento e Inclusão Financeira, contou com a presença de 30 palestrantes e mais de mil congressistas. Além de acompanhar os debates, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer novos produtos e serviços e fazer networking com colegas de todo o país.

Abecs participa de Audiências Públicas em Brasília

O diretor executivo da Abecs, Ricardo de Barros Vieira, compareceu a duas Audiências Públicas realizadas nos dias 20 e 21 de maio, na Câmara dos Deputados, em Brasília – ambas foram transmitidas ao vivo pela TV Câmara. A primeira Audiência, solicitada pelo deputado Edinho Bez (PMDB-SC) e convocada pela CFFC (Comissão de Fiscalização Financeira e Controle), discutiu as taxas de juros cobradas por instituições financeiras e administradoras de cartões. A segunda Audiência foi organizada pelo deputado Sérgio Brito (PSD-BA), presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, em comemoração ao Dia Internacional do Consumidor. Durante o encontro, Brito dialogou com colegiados e convidados acerca do Projeto de Lei 5.196/13, cujo relator é José Carlos Araújo, vice-presidente da comissão. A proposta modifica o Código de Defesa do Consumidor, permitindo que os Procons apliquem medidas corretivas, como substituição de produtos defeituosos e devolução dos valores cobrados indevidamente, sem a necessidade de ordens judiciais. Segundo o deputado, a medida visa dar mais agilidade e autonomia ao órgão. 7


#Abecs em ação

Comitês: parceria em prol da indústria A comunicação da Abecs com seus associados é feita, em grande parte, por meio de comitês, comissões e grupos de trabalhos. O formato existe desde 1971, mas, nos últimos anos, as equipes passaram por uma reformulação e ganharam nova nomenclatura. Os 13 grupos atuais seguem como pilares da Associação e contribuem para um diálogo transparente entre os diversos players, debatendo assuntos de interesse do mercado e da sociedade, com o objetivo de contribuir para o contínuo processo de desenvolvimento da indústria de cartões. “Essas células são de extrema importância para a Associação. A dinâmica dos comitês é responsável por oxigenar a instituição”, explica o diretor executivo da Abecs, Ricardo de Barros Vieira. Cada comitê conta com um coordenador indicado pela diretoria da Abecs e é composto por até dez membros efetivos, sendo um representante de uma empresa associada em cada grupo. Pelo menos uma vez por mês, eles se reúnem para tratar e discutir assuntos ou temas relacionados ao mercado de cartões e deliberam e operacionalizam as ações

definidas, com foco na solução de problemas, uniformização de procedimentos e recomendações. O produto final de cada encontro é um relatório, entregue à área de comitês da Associação, que, então, disponibiliza o documento no site, em área de acesso restrito aos associados cadastrados. “Nessas reuniões, com pessoas de relevante grau de conhecimento, a Abecs tira o alimento para ajudar a cumprir sua missão”, ressalta Ricardo. Alguns grupos são divididos por temas, como o Comitê Jurídico e o de Comunicação. Outros, voltados para setores específicos do mercado de meios de pagamento, como o Comitê das Credenciadoras e o das Emissoras. Além dos comitês, existem também as comissões e os grupos de trabalho. Eles têm um papel semelhante ao dos comitês, não cabendo, entretanto, a responsabilidade por deliberar. A criação das comissões é submetida à aprovação da diretoria. Nos primeiros quatro meses de 2014, os comitês se reuniram 55 vezes – no ano passado, foram realizadas centenas de encontros, contabilizando 2.100 presenças no total.

{ Conheça os 13 comitês } 1 » Aspectos Legislativos e Jurídicos

8 » Melhores Práticas Comerciais

2 » Assuntos Regulatórios

9 » Novos Meios Eletrônicos

3 » Análises Econômicas e Estatísticas

10 » Relações com o Mercado

4 » Bandeiras

11 » Relações Institucionais

5 » Comunicação

12 » Segurança e Prevenção à Fraude

6 » Credenciadoras

13 » Vouchers e Benefícios

7 » Emissores 8


#ENTREVISTA

Luiza Trajano, CEO do Magazine Luiza

Em entrevista exclusiva a Panorama Abecs, a empresária Luiza Trajano, CEO do Magazine Luiza, uma das maiores redes varejistas do país, fala sobre consumo, crédito e negócios, revela seu otimismo com a economia e diz que o brasileiro deveria assumir sua parcela de responsabilidade pelos rumos do país. “Se o Brasil está fazendo algo errado, a culpa é de todos; fazemos parte do problema e temos de participar da solução”, resume ela, uma das cinco mulheres a figurar em ranking, elaborado pelo portal iG, com as 60 pessoas mais poderosas do país – as outras quatro mulheres da lista são a presidente Dilma Rousseff, a exministra Marina Silva, a presidente da Petrobras, Graça Foster, e a jornalista Andrea Neves, braço direito do irmão, o senador mineiro Aécio Neves. POR

Roberto Guimarães

DIVULGAÇÃO

“Não podemos deixar de mostrar as coisas que estão dando certo” Luiza Trajano Uma das principais personalidades do meio empresarial brasileiro, Luiza nasceu em Franca, no interior de São Paulo, onde cursou Direito e Administração de Empresas. Trabalha na rede, fundada por sua tia, desde os 18 anos de idade.

PANORAMA ABECS A senhora costuma dizer que o

varejo brasileiro está começando a engatinhar. Qual é a participação da classe C nesse processo de amadurecimento do setor varejista nacional? LUIZA TRAJANO Na verdade, o varejo não tinha noção do seu tamanho e contribuição para o país. Somos o maior empregador privado do Brasil. O segmento sofria com a informalidade, mas esse índice está diminuindo. Certamente, a inclusão de milhões de brasileiros na economia e a falada nova classe social contribuíram para um varejo mais maduro, que, nos últimos dez anos, cresceu mais que o PIB do país. A história do Magazine Luiza – que foi fundado em Franca, no interior de São Paulo, em 1957, e abriu capital em bolsa em 2011 – é um retrato de um novo Brasil, menos centralizado, que cresce mais fora das capitais do que nos grandes centros. Em que medida isso é importante para o país? É de grande importância, fico muito feliz de ver o crescimento vivenciado pelo Nordeste do Brasil, que está tendo acesso a bens que antes não eram possíveis. O Brasil está se desenvolvendo em novos polos, isso é ótimo, é a sonhada distribuição de renda. 9


O Brasil possui muitas particularidades regionais. O que sua vasta experiência no comando de uma grande rede varejista ensinou sobre os hábitos de consumo de cada região do país? É possível identificar perfis de consumidor por região? E com relação ao nível de renda, o que valoriza e consome o brasileiro das classes A, B, C, D e E? Basicamente, os objetos de desejo de consumo são os mesmos, com pequenas variações climáticas e culturais, que são adaptadas. O Magazine Luiza possui, há muito tempo, um programa eficiente de relacionamento com seus clientes que nos permite identificar perfis não só por região, mas, até mesmo, individuais. Quanto à renda, o brasileiro quer consumir em qualquer classe social o que tem de melhor e que caiba no seu bolso. Embora o interior de São Paulo ainda seja o principal mercado do Magazine Luiza, a empresa definiu o Nordeste como prioritário para a expansão nos próximos anos. O que motivou essa escolha? O interior de São Paulo é muito importante, mas atuamos em mercados que cresceram em importância para a empresa, como a Grande São Paulo e a região Sul do Brasil. Hoje, estamos muito atuantes nesses mercados e com 10

grandes resultados. Estamos olhando com muito carinho para o Nordeste desde que entramos lá, em 2011, e é uma região incrível, com grande crescimento e que irá se desenvolver ainda mais. Por isso estamos atuando com força nesse mercado, mas existem vários outros em que queremos crescer e estamos atentos. Em 2013, a senhora afirmou, em um post no Twitter, que o Magazine Luiza coloca as pessoas em primeiro lugar e cultiva a cultura do ganha-ganha. Quais são os principais desafios para uma empresa de grande porte e capilaridade nacional colocar isso em prática no dia a dia? Qual é o papel da liderança para fazer com que essa visão seja incorporada e compartilhada por todos os colaboradores e percebida pelos consumidores? É um grande desafio diário. Diferentemente da indústria, que concentra seus funcionários em algumas unidades, facilitando a comunicação, estamos espalhados por 16 estados e em mais de 600 cidades, por isso investimos de maneira intensa em comunicação. Temos uma TV ao vivo semanal, via satélite, para todas as lojas e uma rádio usada como forma de comunicação, além de um portal que é muito interativo

e tem grande consulta de todos os colaboradores. Também realizamos encontros periódicos com todas as lideranças e regionalmente com equipes. Cabe à liderança defender o DNA do Magazine Luiza, vigiar e passar para toda a equipe a forma de a empresa pensar, agir e difundir a cultura. Dessa forma, sinto que conseguimos passar para todos os nossos clientes os nossos valores. Certa vez, a senhora comentou sobre a importância, para as empresas, da transparência na relação com o consumidor. Também é conhecida sua visão sobre o atendimento ser o grande diferencial de um negócio. Na sua visão, o que é ser transparente e dar bom atendimento para uma rede varejista? E para a indústria de cartões? Como o consumidor percebe esse relacionamento da empresa com ele? Acredito muito no diferencial que é o atendimento. Atender honestamente e com qualidade é o que pregamos e treinamos com a nossa equipe, inclusive nossos colaboradores da LuizaCred, empresa que temos em sociedade com o Itaú. Temos o orgulho de ser o primeiro cartão de crédito de muitos clientes, que se sentem atendidos e felizes com o relacionamento que temos com eles.


“Temos o orgulho de ser o primeiro cartão de crédito de muitos clientes, que se sentem atendidos e felizes” Luiza Trajano

O cartão de crédito é a quarta maior carteira de crédito a pessoa física no país, atrás apenas de financiamento imobiliário, crédito pessoal e veículos. Em dezembro de 2013, atingiu 11,6% dos recursos emprestados pelas instituições financeiras. Desse total, três quartos são financiados sem juros, em parcelas pré-fixadas. Em que medida o parcelamento no cartão contribui para o desempenho do varejo e, em especial, para o acesso da classe C a bens de maior valor agregado? O cartão substituiu grande parte do carnê e sua participação como meio de pagamento tem crescido, especialmente na classe C, mas um ponto de atenção constante para o varejo é a questão dos financiamentos sem juros, que não podem estar embutidos no preço. Por isso, não somos a favor de fazer parcelamentos longos sem juros que corroam a pequena margem do varejo. Em entrevista à revista Exame, em 2009, a senhora disse que o Magazine Luiza sempre cresceu em momentos de crise e que, quando não tem crise, fica preocupada. Esse raciocínio ainda é válido hoje? Dei essa entrevista falando sobre momentos que vivemos de grande crescimento justamente em épo-

cas de crise, como quando inauguramos 50 lojas em São Paulo em 2008, uma semana após o início da crise mundial do Lehman Brothers. Esse é um exemplo, mas crescemos em diversos momentos de dificuldade, então falei isso nessa entrevista. O que pensamos é que não devemos nos deixar abater em um momento de crise, mas enfrentá-la com criatividade e inovação. Normalmente, as pessoas e as empresas se abatem justamente em um momento que deveriam enxergar como uma oportunidade. Devemos estar em constante renovação, e a crise é uma situação em que podemos trabalhar isso. Ao participar de um programa de televisão, em janeiro deste ano, a senhora afirmou, referindo-se ao modo como as notícias são recebidas, que nós, brasileiros, sempre olhamos o lado meio vazio do copo. Pensando no momento atual do Brasil e nas perspectivas de curto e médio prazo, o que a senhora visualiza no copo meio cheio? Estamos em uma década de desenvolvimento, com os dois maiores eventos mundiais acontecendo em nosso país, com uma grande perspectiva de aumento de consumo. Lógico que temos ponto de atenção e preocupação de que

não podemos descuidar de forma nenhuma, como inflação, reformas trabalhista e tributária, investimentos em infraestrutura, mas não podemos deixar de mostrar as coisas que estão dando certo. Em palestra ao Endeavor, em novembro de 2013, a senhora disse que não fala mal das coisas, pois se sente responsável por ajudar o Brasil. Qual é o papel de empresários e empreendedores para o desenvolvimento do país? Falar mal é fácil. O que entendo é que precisamos verificar o que está errado e levar propostas e soluções que beneficiem todos. Se o Brasil está fazendo algo errado, a culpa é de todos; fazemos parte do problema e temos de participar da solução. Veja o exemplo do IDV [Instituto para Desenvolvimento do Varejo], que é a união dos varejistas que disputam o mesmo mercado, mas conseguimos nos unir levando sempre para o Governo alguma reivindicação junto com uma solução que beneficie todos os lados. Não adianta o empresariado se reunir para reclamar, é preciso unir esforços e levar propostas realistas. Por experiência, sabemos que, do outro lado, o poder público está aberto à discussão. 11


#ECONOMIA O que a indústria tem feito para incluir financeiramente milhões de brasileiros

Mais gente no clube A inclusão financeira de parte significativa da população brasileira representa um momento de enormes oportunidades para o setor POR

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Gabriel Ferreira ILUSTRAÇÃO Ana Starling


Não é segredo para ninguém que o Brasil passa por um momento de fortes mudanças econômicas e sociais com a melhora no padrão de consumo de um enorme contingente de pessoas. A chamada ascensão da classe C, que possibilitou a cerca de 40 milhões de brasileiros consumir mais e melhor, vem impactando não apenas a vida dessa parcela da população, mas a economia nacional como um todo. Apenas no ano passado, a classe C gerou 24% do PIB, movimentando 1,2 trilhão de reais – caso fosse um país à parte, essa numerosa classe média brasileira já seria a 18ª maior economia do mundo. E, ao que tudo indica, sua importância seguirá

crescendo. Em 2020, segundo estudo da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), a classe C deverá gastar 1,9 bilhão de reais, ou 34% do PIB. Se nessa conta forem incluídas as classes D e E, a participação na economia do país sobe para 42%. A ascensão das classes populares a um novo padrão de consumo resulta em mais negócios não apenas para grandes redes varejistas e operadoras de viagem, empresas que oferecem alguns dos produtos que são o desejo de consumo de boa parte dessas pessoas. Com uma parcela tão grande da população sendo incluída econômica e socialmente, um dos 13


{ A importância dos correspondentes bancários } A inclusão financeira das classes C, D e E pode envolver soluções criativas, como instalar agências bancárias em barcos que flutuam pelas águas amazônicas, levando serviços financeiros a vilarejos e tribos indígenas. Mas, em geral, as ações mais efetivas são relativamente simples. É o que mostra a experiência do Banco Postal, parceria do Banco do Brasil com os Correios que atua como correspondente bancário em mais de 6 mil pontos do país, oferecendo pagamento de contas, transferências, depósitos e pequenos empréstimos. A iniciativa da Caixa, de transformar as casas lotéricas em correspondentes bancários, também ilustra com perfeição como é possível expandir a oferta de serviços financeiros utilizando recursos já disponíveis. Foi graças à grande capilaridade de correspondentes bancários em todo o território nacional que, em 2012, apenas 12% da população brasileira não utilizou nenhum serviço bancário, como aponta o extenso estudo Retratos da Sociedade Brasileira: inclusão financeira, realizado pelo Ibope a pedido da CNI (Confederação Nacional das Indústrias). Os correspondentes bancários também são comuns em outros países – na Itália, por exemplo, boa parte da população utiliza agências postais para realizar transações financeiras.

setores que mais têm a ganhar é o financeiro. “A inclusão bancária é uma consequência de tudo isso que vem acontecendo no Brasil”, afirma Lauro Gonzalez, coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças da FGVEaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas). Os resultados disso já são fáceis de ver. Segundo o Banco Central, o número total de contas bancárias no país saltou de 89 milhões para 103 milhões entre 2010 e 2013 – algo como 300 mil novas contas por mês. Talvez o principal ponto de contato das pessoas com as instituições financeiras, os cartões de débito e crédito também estão cada vez mais disseminados no país. “O setor de cartões pode e deve liderar esse movimento de inclusão financeira”, diz Lore Margarete Manica Ribeiro, superintendente nacional de estratégia para pessoa física da Caixa. Em 2010, o Brasil tinha 628 milhões de plásticos emitidos. No ano passado, o total de cartões (crédito, débito e de loja) deve ter ultrapassado a marca de 800 milhões. Um salto tão grande em tão pouco tempo, logicamente, traz enormes desafios para toda 14

a indústria de cartões. “Quando falamos de 40 milhões de pessoas, não estamos falando apenas de uma classe social. Estamos falando de um mercado inteiro. Há países da Europa que não têm essa população”, diz Percival Jatobá, vice-presidente de produtos da Visa do Brasil. E o desafio é aumentado pelo fato de que boa parte desse verdadeiro exército de novos consumidores teve, até hoje, pouco – ou nenhum – contato com produtos financeiros. Por mais desafiador que seja, o setor vem encontrando diversas formas de se aproximar desse novo público. Prova disso é o fato de que 70% das pessoas da classe C já possuem algum tipo de cartão. Em 2010, o índice era de 65%. Existem muitas estratégias que vêm sendo utilizadas pela indústria para fortalecer sua presença entre esse grupo de consumidores. Uma delas é trabalhar melhor a comunicação voltada para as classes emergentes. “Em geral, esse pessoal é jovem e muito interessado nas redes sociais. Talvez um investimento em propagandas de televisão não seja tão efetivo para se comunicar com eles”, diz Jatobá. Mais conectados


e escolarizados que seus pais, os jovens da classe C são constantemente apontados como os maiores formadores de opinião desse grupo social. Daí a necessidade de as marcas se manterem próximas deles. Não é por acaso, portanto, que bandeiras de cartão e bancos aparecem com frequência nas propagandas que antecedem os vídeos do YouTube, por exemplo, e que muitas dessas empresas possuem forte atuação em redes sociais como Twitter e Facebook. Mas não basta encontrar uma forma mais simpática e efetiva de falar com o novo consumidor. É preciso mexer, também, no conteúdo. “Quando se fala de inclusão financeira, não basta dar acesso. É fundamental criar produtos que sejam úteis a esse novo público”, afirma Gonzalez. Nesse cenário, uma tendência é o desenvolvimento de produtos voltados especificamente para as classes mais baixas. “É preciso oferecer benefícios que sejam mais fortes e claros para esses consumidores. A indústria ainda tem muito para avançar nesse sentido”, afirma Renato Meirelles, presidente da consultoria Data Popular, especializada em hábitos de consumo da classe C (leia entrevista na página 22). Muitas empresas do setor vêm investindo em pesquisas para descobrir as reais necessidades dessa parcela da população e desenvolver soluções que se adaptem bem aos seus desejos de consumo. Assim, surgiram e passaram a ganhar força iniciativas como os cartões pré-pagos – que possibilitam ao cliente dispor de uma espécie de cartão de débito mesmo sem ter conta-corrente – e as contas de pagamento, que permitem a movimentação financeira por meio do celular, tornando mais prática e segura a vida de pessoas acostumadas a receber pagamentos apenas em dinheiro, como diaristas, por exemplo. Novos produtos O Banco do Brasil é uma das instituições que mais vêm investindo em soluções para a classe C. O banco público tem quase 600 mil contas de pagamento abertas em sua base. O produto é voltado para a população de mais baixa renda ainda não bancarizada, sobretudo prestadores de serviço. “Por se caracterizar como uma inovação nos meios de pagamento, o aculturamento de todos os

players é indispensável”, afirma a instituição. Por isso, segundo o BB, é fundamental que todos os envolvidos no processo – dos adquirentes aos consumidores e estabelecimentos comerciais – tenham consciência disso e se esforcem para fortalecer esse tipo de solução. Produtos similares devem chegar ao mercado no futuro próximo, uma vez que a regulamentação do Banco Central para os meios eletrônicos de pagamento tornou mais claras as regras para o desenvolvimento e a comercialização de novas soluções. “Tivemos um grande avanço no fim do ano passado com a mudança na regulamentação que nos permite abertura do mercado para novos entrantes e novos modelos de negócio”, afirma Lore, da Caixa. “Agora, a bola está conosco e quem ficar na defensiva vai perder espaço.” 15


{ Por um uso mais consciente do crédito }

FERNANDO CAVALCANTI

Educação financeira é prioridade para Governo, empresas e entidades

Com tanta gente nova no sistema, uma preocupação cerca todos os envolvidos no processo: sem grande entendimento sobre os produtos que têm à disposição, essas pessoas saberão lidar bem com eles? Para lidar com essa questão, as empresas do setor têm buscado investir em educação financeira. “Não há inclusão quando o cliente tem conta, mas não sabe utilizá-la”, resume Lore Margarete Manica Ribeiro, da Caixa. As orientações aos clientes podem se dar de diversas formas. Desde conversas informais entre os usuários e os bancários até programas estruturados de maior impacto. Um bem-sucedido exemplo de como fazer isso de forma criativa é o programa Finanças Práticas, da Visa – vencedor da primeira edição do Prêmio Abecs de Melhores Práticas, realizado em 2013 –, que busca introduzir o assunto da organização financeira de forma que faça mais sentido para o consumidor. Para isso, a empresa recorre a desde videoaulas na internet até a edição de gibis com personagens da Marvel, conhecidos do grande público por filmes e desenhos animados. A responsabilidade por uma melhor educação financeira da população não se restringe às empresas. O tema está na pauta de programas governamentais de amplo alcance e faz parte do dia a dia de diversas entidades, sindicatos e associações. “A própria Abecs desempenha um papel muito importante nesse sentido, com a edição de cartilhas e orientações”, afirma Jair Scalco, presidente da Elo. Uma bem-sucedida ação de educação financeira desenvolvida pela Associação é a série de oito videoaulas Como Controlar Seu Cartão, com o carismático Professor Pachecão. As divertidas aulas, que estão no canal “abecsdicas” no YouTube, já tiveram mais de 6 milhões de visualizações. Já no site da Abecs (www.abecs.org,br), além de diversos conteúdos sobre o uso consciente dos cartões, são disponibilizadas ferramentas interativas, como o simulador financeiro e os comparativos de tarifas. Ainda jovem, mas já consciente O analista de suporte Daniel Bento do Nascimento é um exemplo de como o novo consumidor de serviços financeiros que tem acesso à informação sabe lidar com o dinheiro e se relaciona bem com as instituições financeiras. Logo que completou 16 anos de idade, ele abriu sua primeira conta-corrente. Algum tempo depois, tornou-se titular de uma segunda conta, em outro banco. Hoje, dez anos depois, segue movimentando ambas. “É muito fácil ter conta-corrente e os gerentes me tratam bem. Acabei ficando com as duas”, diz ele. E os custos para manter as contas abertas não são um problema? “Consegui negociar as taxas”, afirma, com um leve sorriso, antes de revelar seu segredo: “Eu acompanho meus extratos bancários bem de perto”. 16


Por terem grande ligação com a nova classe média, as operadoras de telefonia são importantes parceiras também para a criação de estímulos ao maior uso do cartão tradicional

A expectativa é que, com isso, ganhe força a inclusão financeira por meio dos pagamentos móveis. “As classes mais baixas estão totalmente habituadas ao celular. Elas usam smartphones complexos com grande facilidade. Talvez as soluções que integrem produtos financeiros e o mobile sejam as que atendem melhor às necessidades dessas populações”, diz Gonzalez, da FGV. Novos produtos já vêm sendo arquitetados nesse sentido, tanto por bandeiras, adquirentes e bancos quanto pelas operadoras de celular – que serão importantes parceiras no processo de consolidação e divulgação dessas novas possibilidades. “Temos que pensar em alternativas do ponto de vista tecnológico e também levando em consideração a educação financeira. É preciso mostrar para as pessoas que um modelo novo pode ajudá-las a administrar melhor suas contas”, afirma Raul Moreira, diretor de cartões do Banco do Brasil. Mobile forte Por conta dessa ligação da nova classe média com a telefonia celular, as operadoras se provam importantes parceiras não apenas para o desenvolvimento de novas tecnologias, mas, também, para a criação de estímulos ao maior uso do cartão tradicional. “Muitos bancos têm realizado parcerias com as operadoras para oferecer benefícios relacionados ao telefone, como créditos de ligação, aos seus clientes”, afirma Jair Scalco, presidente da Elo, bandeira brasileira de cartões. O benefício, muitas vezes, é a conversão de pontos do cartão ou de parte da anuidade em créditos para a reali-

zação de ligações. A estratégia leva em consideração o hábito do consumidor brasileiro, sobretudo das classes mais baixas, de não investir na contratação de serviços pós-pagos de telefonia. Segundo dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), o país conta com mais de 273 milhões de celulares – uma incrível média de 1,35 linha por habitante. Desse total, 77% são pré-pagos. Uma projeção da consultoria Frost & Sullivan aponta que o número de usuários de sistemas de pagamentos móveis no país deve chegar a 80 milhões nos próximos cinco anos. De olho nesse imenso mercado, diversas instituições financeiras, como bancos e empresas de cartões, têm desenvolvido estratégias e serviços para transformar o celular em carteira, em soluções que, em geral, incluem uma operadora de telefonia móvel. Há parcerias já em andamento e muitas outras devem ser anunciadas em breve. Além dos players estabelecidos no país, o marco regulatório deve trazer maior segurança jurídica aos negócios, atraindo novos entrantes, inclusive empresas estrangeiras ainda não instaladas no Brasil. “Temos que aproveitar esse potencial. A população está acostumada com a tecnologia celular”, diz Eduardo Abreu, diretor de marketing e produtos da MFS (Mobile Financial Services), joint venture entre a MasterCard e a Telefônica que foi criada para possibilitar pagamentos e transferências a partir de uma conta pré-paga de um celular Vivo, por meio de um cartão MasterCard também pré-pago. “O sistema não traz riscos 17


A ampliação da sensação de cidadania, com a posse de um meio eletrônico de pagamento, tende a ser determinante para o avanço da bancarização

financeiros ou de inadimplência porque as transações são processadas na hora e dependem do valor disponível na conta do cliente”, explica Abreu. Em maio, o produto, que se chama Zuum, estava disponível em Belo Horizonte (MG), Porto Alegre (RS), Salvador (BA) e na região metropolitana de São Paulo. Uma outra parceria, que logo chegará ao mercado, envolve Caixa, MasterCard e TIM. A solução permitirá ao cliente fazer compras e outras transações financeiras utilizando o próprio celular ou um cartão tradicional vinculado ao seu número de telefone. A gestão da conta pré-paga virtual será feita pela Caixa, e a MasterCard será responsável pela plataforma de pagamentos móveis, processamento das transações e pela bandeira. A expectativa é que, já no lançamento, o Tim Money MasterCard Caixa possa ser utilizado para o pagamento de compras em mais de 1,5 milhão de estabelecimentos comerciais em todo o Brasil. “Nosso objetivo é oferecer tecnologia conveniente e segura, trazendo comodidade e democratizando o acesso a novos serviços financeiros”, afirma o vice-presidente de pessoa física da Caixa, Fábio Lenza. Na mesma linha, existe o projeto que une Banco do Brasil e Oi, desde 2011, quando foi lançada a conta de pagamento Oi Pós-Pago. A iniciativa deu tão certo que as empresas aumentaram a parceria para o Oi Carteira, uma conta de pagamento pré-paga. Assim como nos demais serviços oferecidos por bancos e operadoras, a conta fica vinculada ao número do celular do cliente. O cadastro é feito na Central de Atendimento da Oi e, depois, o usuário pode movimentar sua conta tanto pelo celular quanto com um cartão físico. O Bradesco também tem uma parceria 18

com a operadora mexicana Claro para o desenvolvimento de soluções de pagamento móveis. Seu principal produto é o Meu Dinheiro Claro, que permite aos clientes da operadora realizarem movimentações financeiras por meio do telefone. O sistema, que conta com a possibilidade de autocadastro, foi testado em projetos-piloto em cidades médias ao longo de 2013 e ganhou dimensão nacional este ano. As duas empresas também trabalham no desenvolvimento de soluções de NFC (near field communication) – a tecnologia que permite a comunicação entre dispositivos próximos e é utilizada nos cartões contactless, por exemplo. Outra parceria que vem trabalhando soluções de pagamento por NFC é a realizada por Itaú e Tim. O desenvolvimento do sistema de pagamentos móveis é uma evolução do acordo que já existia entre o banco e a operadora, que deu origem ao Tim Itaucard, cartão de crédito que oferece um sistema de pontos especial para os clientes da operadora italiana. O Itaú dispõe de outro produto similar, criado em conjunto com a Vivo, em que o programa de fidelidade do cartão é ligado à loja que oferece aparelhos e serviços da operadora. Nem só as soluções ligadas aos celulares são as que atraem a classe C. A Visa, por exemplo, lançou recentemente uma série de produtos pensados especialmente para esse público. Entre as novidades, estão um cartão que dá maior segurança na compra e outro que garante uma cobertura no caso de o cliente ficar desempregado. “Analisamos bastante o comportamento desse consumidor e vimos quais eram suas necessidades e seus anseios antes de colocarmos os produtos no mercado”, diz Jatobá. Bancarização PJ Com tantas alternativas em mãos, é natural que o consumidor da classe C se mostre mais disposto a gastar com o cartão. E esse fato traz outros desafios à indústria. Com mais gente com cartões em mãos, é natural que os comerciantes e prestadores de serviço se sintam mais dispostos a passar a aceitar os meios eletrônicos de pagamento. “Essa ‘bancarização PJ’ também é fundamental. A sociedade brasileira ainda é dependente do


Quantidade total de contas-correntes no país ultrapassou os 100 milhões no ano passado (em milhões)

103

2013

97

2012

92

2011

89

2010 FONTE: FEBRABAN E ABECS

... e com o cartão na mão O número total de cartões também segue em alta e já passou os 800 milhões de unidades (em milhões)

749

800*

2013

687

2012

628

2011

O papel desempenhado pelo Governo Federal nesse movimento de inclusão financeira é inegável. De um lado, há um compreensível apoio às ações de inclusão financeira, afinal, quanto mais bancarizada for a população, menores serão as chances de a informalidade – e a consequente evasão fiscal – ganhar espaço no país. De outro, programas sociais como o Bolsa Família não só servem como uma forma de transferência de renda como, muitas vezes, representam o primeiro contato de muitos de seus beneficiários com alguma instituição financeira. Os pagamentos dos benefícios são administrados pela Caixa e realizados por meio de cartões eletrônicos, o que traz mais agilidade para o Governo administrar os pagamentos e praticidade para os consumidores recebê-los. “A Caixa é um banco totalmente público e procura atender às necessidades da sociedade brasileira. Nesse contexto, nosso papel é preponderante”, diz Lore Margarete Manica Ribeiro, superintendente nacional de estratégia para pessoa física do banco. Com os avanços da tecnologia, muito tem se falado em levar os pagamentos dos benefícios para outros sistemas, como os serviços móveis. Em entrevista a Panorama Abecs publicada em outubro de 2013, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que o Governo estuda vincular o pagamento dos benefícios dos programas sociais a uma linha de celular. Seja como for, isso não muda o fato de que os meios eletrônicos de pagamento têm uma importante função para a distribuição de renda no Brasil e para auxiliar a população a criar a cultura da boa relação com o dinheiro. “Temos um fetiche muito grande pelo crédito, mas esquecemos que os meios eletrônicos de pagamento podem ter um papel muito importante para ajudar a população de baixa renda a poupar”, afirma Lauro Gonzalez, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.

Tá na conta...

2010

{ Função social }

* Expectativa

19


A posse de cartões nas classes C/D/E continua aumentando

Número de agências bancárias e postos bancários no país cresce de forma constante

Classe C

Classe C

61.000

68.000

70%

2013

FONTE: PESQUISA ABECS/DATAFOLHA

dinheiro em papel porque não é todo mundo que aceita cartão”, afirma Meirelles, do Data Popular. No fim de 2013, segundo a Abecs, havia 3,8 milhões de terminais de captura espalhados pelo país – dois anos antes, eram 3 milhões de POS. O crescimento tem se refletido no aumento do número de transações realizadas no país. Em 2013, foram feitos 4,7 bilhões de pagamentos com cartão de débito e 4,5 bilhões com cartão de crédito. Em 2010, eram 2,9 bilhões de transações no débito e 3,1 bilhões no crédito. Parte desse aumento expressivo no número de POS e de transações se deve ao fenômeno de formalização de pequenos negócios. Ou seja: a inclusão financeira e bancária das camadas mais baixas da população não se restringe às pessoas físicas. “Falamos muito das pessoas, mas o empreendedorismo do brasileiro faz com que haja esse forte movimento de inclusão também entre os pequenos negócios”, diz Jatobá. Empreendimentos que agiam na informalidade têm começado a

FONTE: FEBRABAN

tirar seu CNPJ e, como consequência, a atuar de forma mais profissionalizada – inclusive com a aceitação de cartões. Hoje, o país conta com 3,6 milhões de empreendedores individuais formalizados. O número é mais do que o dobro do total registrado dois anos antes. De olho nesse público crescente e em prestadores de serviço já estabelecidos, como taxistas e costureiras, as credenciadoras também têm desenvolvido soluções específicas. Uma das que mais chamam a atenção são aplicativos e dispositivos que permitem converter tablets e smartphones em verdadeiros terminais de cartão. Cielo e Rede estão entre as empresas que oferecem alternativas nesse sentido. A ideia é não apenas aumentar a praticidade dos pequenos comerciantes e prestadores de serviço, mas também reduzir os custos para esse público, que costuma levar as contas de seus negócios na ponta do lápis. Recentemente, o Santander lançou uma campanha para divulgar sua solução que integra tablets e smartphones, criada para

2013

2010

42%

2010

39%

20

67.000

Classe D/E

Classe D/E

65%

65.000

2012

Maior capilaridade

2011

Cada vez mais popular


Cada vez mais inclusivo

Uso em alta

O índice de bancarização não para de crescer*

Com o uso mais difundido dos cartões, aumenta também a quantidade de transações realizadas com eles (em bilhões)

51%

9,2

53% 8 7

2010

2011

55%

57%

2012

2013

5,9

2010

2011

2012

2013

* Relação entre a quantidade de clientes únicos do sistema bancário e a população economicamente ativa FONTES: BANCO CENTRAL E FEBRABAN

atender pequenos empresários, autônomos e profissionais liberais. O produto, batizado de Santander Conta Conecta, tem por objetivo integrar mais a conta-corrente e o recebimento de cartões – o banco oferece como diferencial um prazo de recebimento de cinco dias. “Com isso, incluímos uma parcela do público não atendida pelos produtos tradicionais de aceitação de pagamentos com cartão”, afirma Conrado Engel, vice-presidente executivo sênior de varejo do Santander. “A combinação dos serviços incluídos em nossas contas-correntes com uma solução móvel para recebimentos de cartões dá agilidade de gestão aos clientes.” O papel que vem sendo desempenhado pelos meios eletrônicos de pagamento nesse movimento de inclusão financeira, seja ele PF ou PJ, tem muito a ver com o ótimo casamento que há entre as características do produto e as necessidades dos consumidores. “Não importa a classe social, uma coisa não muda no comportamento das pessoas: todo mundo quer

FONTE: ABECS

mais praticidade”, diz Scalco, da Elo. “E isso os cartões oferecem melhor do que qualquer meio de pagamento disponível no mercado.” No caso específico da classe C, além de praticidade, as pessoas têm um grande desejo não apenas de consumir mais e melhores bens e serviços, mas, acima de tudo, de se sentir incluídas em todos os aspectos da sociedade. Assim, a ampliação da sensação de cidadania gerada pelo acesso a serviços financeiros, acompanhada da posse de um meio eletrônico de pagamento, tende a ser determinante para o avanço da bancarização no Brasil. “Pessoas de baixa renda, quando ganham um cartão, têm a percepção de inclusão social”, sintetiza Rômulo de Mello Dias, presidente da Cielo. Trata-se de um grande momento para a indústria de cartões não só gerar mais negócios e conquistar novos consumidores como também desempenhar um importante papel social: o de ajudar essa multidão de pessoas que está ascendendo socialmente a realizar seus sonhos – de consumo e cidadania. 21


#ENTREVISTA Renato Meirelles faz uma radiografia da classe C, seus hábitos de consumo e de uso do cartão

“Para a classe C, o cartão é um instrumento de crédito” Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular e um dos maiores especialistas em hábitos de consumo da classe C, fala sobre como as empresas podem lidar com esse grupo de consumidores, explica como eles usam o cartão de crédito e analisa o impacto que o aumento da renda dessa parcela da população traz para os negócios e para o país Por Gabriel Ferreira

PANORAMA ABECS Em fevereiro, o Instituto Data Po-

pular publicou, em conjunto com a Serasa Experian, o mais extenso estudo já realizado sobre a classe C brasileira. Qual é a importância para a economia desses 108 milhões de pessoas, com renda per capita de 320 a 1.120 de reais, que gastaram 1,17 trilhão de reais em 2013, movimentando 58% do crédito no país? RENATO MEIRELLES A classe C é um mercado que deixou de ser visto como um nicho e se tornou o verdadeiro mercado brasileiro. Com gastos na casa de 1 trilhão de reais, esse grupo de pessoas, se formasse um país independente, seria o 18º maior do mundo em consumo. Só daí já dá para imaginar sua importância para a economia. Mas ainda não é todo mundo que enxerga desse modo. Muitas vezes, as empresas pensam em como avançar para mercados interna22

cionais e se esquecem de que, aqui, ainda há muito espaço a ser explorado, especialmente na classe C. No setor financeiro, a lógica é a mesma. Ainda existe um grande mercado a ser explorado, afinal uma boa parcela dessa população ainda não tem acesso ou não se sente confortável para usar os produtos financeiros. Há um consenso de que o uso de pagamentos móveis, via celular, ampliará o acesso aos serviços financeiros. Até que ponto isso pode contribuir para que a parcela da classe C que ainda não tem conta em banco seja incluída financeiramente? As soluções móveis tendem a ser muito importantes, principalmente para a turma das novas gerações, que já é bastante conectada e gosta de novidades relacionadas à tecnologia. O desafio é explicar para


esse público que o sistema é realmente seguro. Como estão entrando em um mundo completamente novo, às vezes essas pessoas têm dúvidas que podem parecer elementares para quem está acostumado com o sistema há mais tempo. É preciso deixar claro, por exemplo, que quem perder o celular não vai perder o dinheiro que está “lá dentro”. Se esse trabalho for bem-feito, o mobile terá grande chance de desempenhar um papel importantíssimo na ampliação do acesso ao sistema financeiro. A pesquisa aponta que 66% dos cartões no Brasil estão nas mãos de homens e mulheres da classe C. Há alguma particularidade sobre como essa parcela da população utiliza o cartão de crédito? Na classe C, o hábito de emprestar o cartão de crédito para parentes ou amigos próximos ainda é muito forte. Essa reciprocidade é uma característica dessa parcela da população. Isso já vem de muitos anos, quando amigos com emprego fixo emprestavam o “nome” para quem não tinha como comprovar renda, ou estava endividado, fazer um crediário ou um financiamento. É um comportamento muito solidário, mas que pode afetar a questão do crédito. Por isso, as empresas do setor precisam ficar muito atentas com essa característica da classe C. Quando as pessoas emprestam o cartão para outras fazerem compras, o risco de inadimplência tende a aumentar e o score de crédito pode ficar acima do que seria recomendado.

bito ou em dinheiro vivo quase não faz diferença para os mais ricos. Já a classe C vê o cartão como um instrumento de crédito, seja por conta do parcelamento, seja pela simples possibilidade de pagar a compra em uma data melhor, mais próxima do recebimento do salário. E essa lógica não se restringe aos produtos de maior valor agregado. Ela vale, também, para as despesas do dia a dia, como supermercado, e para outras compras fundamentais, como as de vestuário. Nos últimos anos, o Brasil se tornou menos centralizado, crescendo mais fora das capitais do que nos grandes centros. Em que medida o desenvolvimento de cidades médias, em todo o território nacional, é importante para a expansão da classe C e para a própria economia do país? Fizemos uma pesquisa recentemente que mostra que as cidades do interior estão crescendo mais do que as grandes capitais. Quase 40% do consumo do país está concentrado nessas cidades. São 827 bilhões de reais gastos por ano pelas pessoas que moram no interior. E uma boa parte da população dessas cidades é da classe C ou está ascendendo socialmente com esse crescimento forte do nosso interior. É um círculo virtuoso. A classe C impulsiona essas cidades, que, ao crescerem, ajudam mais gente a ascender socialmente.

Em que medida o parcelamento no cartão de crédito contribui para o acesso da classe C a bens de maior valor agregado? No caso específico dos itens mais caros, como geladeira e fogão, nós vemos uma grande importância dos cartões co-branded, com um limite diferenciado para o uso na loja que oferece o cartão. Se não existisse essa opção, a pessoa muitas vezes não teria limite suficiente para realizar aquela compra. Na melhor das hipóteses, compraria a geladeira, mas teria que guardar o cartão na gaveta, porque ficaria com todo o crédito comprometido. Com esses limites diferenciados, ele consegue fazer a compra do bem de maior valor e manter o uso do cartão para as despesas rotineiras.

O Brasil possui muitas particularidades regionais. Os hábitos de consumo da classe C também são definidos geograficamente? Existem alguns hábitos que são iguais independentemente da região do país que olhamos. São questões mais básicas, como a necessidade de pesquisar preços e o desejo de uma comunicação que seja feita de forma clara. Mas existem algumas diferenças importantes. Em estados como Rio Grande do Sul e Pernambuco, por exemplo, o consumidor dá muito mais valor a produtos que tenham uma cara regionalizada, marcas que sejam mais próximas da realidade dele. Outra diferença bem clara é que, nos estados do Sul, a classe C é mais escolarizada do que em outras regiões do país. Isso acontece porque o fenômeno da ascensão da classe C é mais antigo por lá, então, as pessoas já estão em outro nível de consumo.

A forma como a classe C lida com o cartão é muito diferente da apresentada pelas classes A e B? Na questão financeira, o uso do cartão como um instrumento de crédito, de fato, talvez seja a maior diferença entre as classes mais altas e a classe C. Na classe A, as pessoas utilizam o cartão apenas como mais uma forma de pagamento. Na prática, pagar em crédito, dé-

A pesquisa feita em conjunto com a Serasa Experian aponta que existem, hoje, quatro grandes grupos nessa classe média: promissores, batalhadores, experientes e empreendedores. Esses grupos apresentam grandes diferenças entre si? Apesar de todos esses grupos fazerem parte da classe C, há diferenças importantes entre eles. Os ba23


“Na questão financeira, o uso do cartão como um instrumento de crédito, de fato, talvez seja a maior diferença entre as classes mais altas e a classe C” Renato Meirelles

talhadores são o que podemos chamar de “classe D da classe C”. Eles acabaram de chegar e ainda lidam com o desafio de se consolidar como classe média. É um grupo que lembra muito as características que a classe C tinha no passado, com medo de retroceder. Outro grupo que também apresenta sinais daquela época é o dos experientes. São pessoas mais velhas, geralmente aposentadas, que passaram por grandes dificuldades no passado. Os promissores são os jovens, um pessoal que tem menos memória dos tempos mais complicados. Eles, normalmente, são mais escolarizados e conectados que seus pais e, por isso, acabam se tornando formadores de opinião dentro da família. Os empreendedores são o que costumo chamar de a “classe A da classe C”. Eles, normalmente, já desfrutam uma situação um pouco melhor, com hábitos de consumo mais sofisticados, e têm tudo para ser os primeiros a sair da classe C rumo às classes mais altas. Ao lançar o estudo, ficou clara sua posição de que é necessário entender bem esses quatro grupos para oferecer produtos e serviços adequados a cada um deles. Quais são as principais características desses grupos que as empresas devem levar em conta antes de desenvolver produtos voltados para eles? As empresas precisam entender bem as diferenças entre esses grupos, porque isso impacta nos hábitos de consumo e na forma como eles lidam com o crédito. Os promissores, por exemplo, são muito mais 24

ousados, mas isso acarreta um risco maior de inadimplência do que nos outros grupos. O batalhador, por outro lado, tende a ser aquela pessoa que conta cada centavo e está sempre atrás dos produtos com melhor custo-benefício. Para convencê-lo a tentar usar algo novo, é preciso passar bastante segurança. Por conta de uma história de vida mais difícil, os experientes também se preocupam com isso e tendem a optar sempre pelo produto mais barato. Esse último grupo tem bastante acesso ao crédito, principalmente ao consignado, mas ainda tem um pouco de medo de lidar com produtos financeiros. Você considera os empreendedores “a classe A da classe C”. Qual é o papel desses 11,6 milhões de pessoas para a geração de riqueza? Os empreendedores têm uma grande importância, porque eles são empregadores importantes para o restante da classe C. As empresas deles costumam estar em regiões que têm grande concentração de pessoas dessa classe social e, por isso, eles contratam muita gente que mora naquele bairro. Mas sua importância vai muito além do aspecto meramente econômico. Os empreendedores são exemplos que as outras pessoas da região procuram seguir. Às vezes, as empresas cometem o erro de achar que a classe C quer se tornar classe A. Não é bem por aí. O aspiracional da classe C não é a classe A. O sonho delas é ser igual ao vizinho que “deu certo na vida”. Daí a importância dos empreendedores como motivadores.


25


#SEGURANÇA

26

Indústria de cartões investe em tecnologia para inibir a ação de fraudadores


Do papel ao chip A evolução tecnológica permitiu um grande aumento na segurança das transações com cartões. Mas sempre surgem novos desafios pela frente POR

Gabriel Ferreira ILUSTRAÇÃO Juliana Vomero

O uso dos chips eletrônicos é um dos exemplos do que há de mais moderno quando se fala em segurança do cartão. “Os dados armazenados nos chips ficam dispostos em dois compartimentos, um público, que reúne as mesmas informações contidas na tarja, e outro privado, que reúne os dados mais sensíveis, como as informações de chaves de segurança”, afirma Henrique Takaki, coordenador do Comitê de Segurança e Prevenção a Fraudes da Abecs. Segundo ele, até hoje não se registrou nenhum caso em que bandidos tenham conseguido acessar as informações contidas na área privada do chip dos cartões. Atualmente, os cartões contam com áreas que guardam informações praticamente indecifráveis, mas nem sempre foi assim. Nos primórdios, quando os cartões de crédito eram aceitos apenas em restaurantes, eles eram feitos de papel, uma espécie de versão mais sofisticada dos tradicionais cartões de visita. A expansão do uso de cartões, aliada à simplicidade do sistema então adotado, foi um chamariz para que pessoas mal-intencionadas começassem a fazer cópias dos cartões para re-

alizar operações fraudulentas. E, a partir daí, a indústria de meios de pagamento passou a investir em alternativas que dificultassem o trabalho dos bandidos. A primeira delas, em 1955, foi o desenvolvimento do cartão em plástico com impressão em alto-relevo. Depois, vieram outras evoluções importantes, como a adoção da tarja magnética e as autorizações on-line, por meio dos POS. E essa evolução não para. Em 2006, por exemplo, as gigantes mundiais do setor se uniram em uma espécie de conselho para criar e recomendar as melhores práticas para aumentar a segurança dos dados dos usuários de cartões. As regras criadas pelo conselho são conhecidas como PCI-DSS (Payment Card Industry, Data Security Standard) e versam sobre 12 orientações básicas que devem ser seguidas por todos os envolvidos com a cadeia de meios eletrônicos de pagamento. São recomendações teoricamente simples, como manter um firewall atualizado e utilizar criptografia na transmissão de dados, mas que podem fazer toda diferença em caso de ataques virtuais. “A fraude tradicional ainda é

Até hoje, não se registrou nenhum caso em que bandidos tenham conseguido acessar as informações da área privada do chip dos cartões 27


{ Fraudar cartão agora dá cadeia } O Brasil ser referência nos assuntos relacionados à segurança dos cartões deve ser motivo de orgulho para todos. O que levou isso a acontecer, não. “Tivemos que investir muito mais em tecnologia de segurança, porque o criminoso por aqui é muito mais ousado”, afirma Henrique Takaki, coordenador do Comitê de Segurança e Prevenção a Fraudes da Abecs. Por trás dessa ousadia, estava uma quase certeza de que o fraudador não seria severamente punido por seus atos, até porque não havia legislação específica sobre o assunto. Isso deve começar a mudar com a Lei 12.737, que entrou em vigor em abril do ano passado. Em seu Artigo 298, o texto, que dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos, discorre sobre a falsificação do cartão de crédito ou débito. Agora, quem fraudar cartões no Brasil pode ficar até três anos e meio na prisão. Nos Estados Unidos, a pena por falsificar cartões pode chegar a 30 anos de reclusão.

um assunto grave, mas que já é muito bem conhecido. O desafio, agora, está nessa questão da segurança dos dados”, afirma Andreas Suma, vice-presidente para a América Latina da ACI Payment Systems, empresa que desenvolve sistemas e soluções para o setor de pagamentos. Com o acesso cada vez maior à tecnologia, fica mais fácil para criminosos encontrarem formas de atacar sistemas considerados seguros até bem pouco tempo. Por isso, a indústria tem investido cada vez mais para desenvolver maneiras de se manter à frente dos fraudadores. Liderança brasileira No Brasil, pelo menos, essa disputa vem sendo vencida pelo setor de cartões. “Em questões de segurança, estamos à frente de outras nações importantes, como Estados Unidos e Reino Unido”, afirma Jairo Santana, gerente de produto 28

da Verifone, empresa especializada no desenvolvimento de soluções para POS. O país esteve na dianteira da adoção da “chipagem” dos cartões e vem evoluindo em grande velocidade também em outras questões, como a utilização da biometria para autenticar transações eletrônicas. “Por conta da criatividade do fraudador brasileiro, temos não só os cartões e os POS com o que há de mais moderno em termos de segurança, como nossos caixas eletrônicos também estão entre os mais confiáveis do mundo”, diz Takaki. Apesar de todo esse avanço, ainda há muito a ser feito. Segundo a Serasa, estima-se que 30% dos usuários de cartão de crédito no Brasil já tenham sido vítimas de algum tipo de fraude. Nos últimos tempos, com o aumento da segurança do cartão físico, os criminosos especializados na área têm migrado para a internet

– as transações em lojas virtuais não exigem a apresentação do cartão físico ou a digitação de senhas. Apenas em 2013, segundo a Serasa, as fraudes envolvendo e-commerce atingiram 500 milhões de reais. “Os bandidos sempre migram para onde está mais fácil”, afirma Takaki. Mas a vida dos criminosos também tem ficado mais complicada no mundo on-line. “Com a evolução da tecnologia e do nosso conhecimento sobre o assunto, temos conseguido cercar os fraudadores por todos os lados e reduzir o índice de fraudes on-line”, afirma Omar Jarouche, coordenador de inteligência estatística da ClearSale, empresa especializada em combater fraudes no mundo virtual. Mesmo assim, estar por trás de uma tela de computador ainda é um estímulo para os criminosos. “As barreiras para a fraude on-line são cada vez maiores, mas


A tecnologia já permite saber se uma senha está sendo digitada em uma velocidade diferente da usual para aquela pessoa

{ As grandes regras } Os requisitos PCI-DSS estão agrupados em seis áreas e contemplam 12 orientações de segurança I Construir e manter uma rede segura 1. Instale e mantenha uma configuração de firewall para

proteger os dados do portador de cartão

2. Não use padrões disponibilizados pelo fornecedor para

senhas do sistema e outros parâmetros de segurança II Proteger os dados do portador do cartão

3. Proteja os dados armazenados do titular do cartão 4. Criptografe a transmissão dos dados do portador de

cartão em redes abertas e públicas

III Manter um programa de gerenciamento de vulnerabilidades 5. Use e atualize regularmente o software antivírus em

todos os sistemas comumente afetados por malware

6. Desenvolva e mantenha sistemas e aplicativos seguros

o anonimato ajuda a pessoa a ter coragem para tentar burlar os sistemas”, diz Jarouche. Outra forma encontrada pelos fraudadores de atacar os usuários brasileiros é a clonagem da tarja magnética e utilização do cartão em países que ainda não tenham realizado a adoção massiva do chip, como Estados Unidos e algumas nações da Europa. Por isso, para que os investimentos realizados por toda a indústria para aumentar a segurança dos consumidores sejam efetivos, é fundamental que haja, também, um envolvimento dos usuários. Cuidados como nunca perder o cartão de vista – para que os dados não sejam anotados ou as informações da tarja, copiadas por pessoas mal-intencionadas – e só fazer compras em lojas on-line de confiança, para ter uma maior segurança quanto à armazenagem dos dados, são

IV Implementar medidas de controle de acesso 7. Restrinja o acesso aos dados do titular do cartão

de acordo com a necessidade de conhecimento para o negócio

8. Atribua um ID único para cada pessoa com acesso

ao computador

9. Restrinja o acesso físico aos dados do titular do cartão V Monitorar e testar as redes regularmente 10. Acompanhe e monitore todos os acessos aos

recursos da rede e aos dados do portador de cartão 11. Teste regularmente os sistemas

e processos de segurança

VI Manter uma política de segurança da informação 12. Mantenha uma política que aborde a segurança das

informações para todas as equipes

FONTE: PCI, SECURITY STANDARDS COUNCIL

29


{ Evolução segura } Conheça alguns dos principais marcos históricos da segurança do cartão

1949

1955

1970

1974

1979

Surgimento do primeiro cartão de crédito, na época, impresso em papel

Cartões passam a ser feitos de plástico, com informações em alto-relevo

American Express é a primeira bandeira a testar as tarjas magnéticas em seus plásticos

Inventor francês Roland Moreno cria o cartão com chip, que demoraria mais de 30 anos para ser adotado em larga escala no setor

Surgem os primeiros POS, dando muito mais velocidade e segurança ao processo de aprovação das compras

1995

1997

2005

2006

As gigantes do setor passam a investir na criação de sistemas de redes neurais

O uso do código de verificação (CVV2 ou CID) é introduzido

Grandes bancos brasileiros aceleram os esforços de emissão massiva de cartões chipados

Criação das normas de segurança sobre dados do cartão, as PCI-DSS

fundamentais para evitar dores de cabeça. “Temos que envolver o consumidor nessa questão. Para isso, os bancos também podem realizar um trabalho muito importante de orientação”, afirma Suma, da ACI. Autenticação e comportamento Conscientizar o consumidor é fundamental, mas não basta. Pessoas estão sempre sujeitas a falhas e isso cria brechas para que os criminosos ajam. Cabe às empresas do setor, então, tentar fechar essas brechas. “Uma das melhores formas de fazer isso é, na dúvida, sempre exigir mais alguma autenticação”, explica Takaki. Daí a importância de senhas, tokens e validações de 30

dados. “A digitação de mais um dado dá mais segurança ao cliente e faz com que ele tenha mais um tempo para pensar se aquela compra, por exemplo, está sendo feita em um site confiável.” Além das autenticações, conhecer detalhadamente o comportamento do consumidor é cada vez mais importante. Hoje, já existem até mesmo tecnologias que indicam se uma senha está sendo digitada em uma velocidade diferente da usual para aquela pessoa. Esse caso específico foi desenvolvido pensando em evitar fraudes envolvendo cartões de aposentadoria, já que os aposentados costumam digitar suas senhas mais lentamente. Mas há muitas outras soluções


que seguem essa mesma linha. Compras que fujam do padrão de consumo dos clientes, por exemplo, geram um alerta e podem ser confirmadas pelas instituições financeiras antes da aprovação final. Toda essa análise comportamental é feita por meio de sistemas conhecidos como redes neurais, que conseguem estabelecer padrões de conduta do cliente e apontar os desvios significativos. Esse tipo de solução já vem sendo adotada há alguns anos por bandeiras, bancos e até mesmo lojas virtuais dispostas a diminuir seus prejuízos causados por fraudes. Como a tecnologia não para de evoluir, os investimentos em segurança também têm que seguir constantes. O pagamento via celular, por exemplo, é um dos grandes desafios do setor no curto e médio prazo. Com a esperada popularização desse tipo de sistema, é possível que ele se torne alvo preferencial dos fraudadores – essa percepção levou a indústria a investir, desde já, no desenvolvimento de soluções que deem segurança para o consumidor. Outra tendência para o setor é a ampliação dos sistemas de biometria, que já vêm sendo adotados por algumas instituições. “O próximo grande desafio do setor é adaptar a biometria a todo o nosso arranjo de pagamentos”, diz Santana, da Verifone. Evitar que fraudes sejam cometidas nunca foi uma tarefa fácil, mas, com a internet, tudo se tornou ainda mais complexo. Vencer essa disputa, mantendo-se sempre um passo adiante dos fraudadores, é um desafio permanente para a indústria de cartões e para o sistema financeiro como um todo. E a única forma de fazer isso é investir em soluções de segurança cada vez mais sofisticadas.

{ Raio X } Os recursos de segurança no cartão

Chip É onde estão armazenadas, de forma criptografada, todas as informações do cartão. Como a área privada do chip só fornece aos POS as informações necessárias para realizar cada transação, a clonagem de cartões se tornou muito mais difícil

Tarja Assim como o chip, reúne as principais informações do cartão. Por ser uma tecnologia mais antiga, porém, a possibilidade de fraude a partir da descoberta de dados da tarja é mais comum. No Brasil, o uso da tarja magnética é cada vez menor, mas os cartões ainda são produzidos com esse sistema para possibilitar o uso em outros países

Holograma Usada também em algumas cédulas de dinheiro, ingressos de shows e outros itens de alto valor, esta imagem metálica é muito difícil de ser falsificada

CVV2 Código formado por três ou quatro dígitos que serve como uma verificação adicional, tanto em algumas compras físicas quanto nas realizadas pela internet. É mais uma forma de autenticação e verificação das compras realizadas sem a necessidade de senha

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#PELO MUNDO

A preferência dos portugueses pelos cartões de débito

Terrinha dos cartões de débito Em Portugal, 80% das pessoas com mais de 15 anos possuem ao menos um cartão de débito e utilizam essa forma de pagamento com frequência, gastando, em média, 1.581 reais mensais POR Nathan Fernandes, de Lisboa 32


Há algum tempo, a engenheira ambiental Carolina de Sá Luz, que mora em Lisboa, aboliu o dinheiro da carteira. “Uso o cartão de débito para pagar tudo, menos para sair à noite”, afirma ela, que, além de segurança e praticidade, aponta que usar cartões a ajuda a organizar as finanças. “Simplesmente me dá muito mais jeito e controlo-me melhor assim”, complementa, com uma sintaxe que não combina com o sotaque suave, similar ao português falado no Brasil, típico da Ilha da Madeira, onde nasceu. Carolina faz parte de uma maioria em Portugal. Segundo o estudo Comportamento Financeiro dos Particulares em Portugal 2013, realizado pela MasterCard, com base em análise de dados da pesquisa Basef Banca da Marktest, 97,9% dos portugueses com mais de 15 anos que possuem cartões de débito os usam regularmente. Outro estudo, divulgado em dezembro pela Universidade Católica de Lisboa, revela que 80% dos portugueses possuem ao menos um cartão de débito e 54% o utilizam diariamente. A pesquisa, chamada Preferências de Pagamento dos Consumidores Portugueses, mostra que o hábito de usar cartões de débito é tão difundido que 63% dos portadores gastam mais de 250 euros mensais (775 reais) com eles, e 9% pagam despesas superiores a mil euros (3.100 reais) todos os meses com seus cartões de débito. O gasto médio mensal de quem possui cartão de débito é 510 euros (1.581 reais); entre aqueles que possuem também cartão de crédito, o valor sobe para 647 euros (2.005 reais). Com tamanha penetração, alguns estabelecimentos que não oferecem a opção de pagamento eletrônico podem sofrer prejuízos. É o caso do chef de cozinha

Márcio Marto, que há três meses abriu um restaurante na freguesia de Alqueidão da Serra, ao norte de Lisboa, e ainda não aceita pagamentos eletrônicos. “As pessoas perguntam se podem pagar com cartão e, quando digo que ainda não, algumas vão embora.” É por isso que ele pretende aderir aos cartões assim que o restaurante se firmar. Por enquanto, a solução é colocar avisos de “não há multibanco” nas paredes. Essa é a forma genérica pela qual o sistema de pagamentos com cartão é conhecido em Portugal, em referência à marca Multibanco, onipresente rede de caixas eletrônicos da Sibs. A exemplo do que ocorre em outros países europeus, em Portugal há ATMs por toda parte – segundo a Sibs, são 257 mil máquinas, das quais 68 mil estão na capital. Nos bairros mais movimentados, há um multibanco, literalmente, em cada esquina. As máquinas costumam ficar a céu aberto, o que causa desconforto a alguns brasileiros que se veem obrigados a sacar dinheiro entre vendedores de castanhas, pedestres e eventuais “carteiristas” – como são chamados os punguistas ou batedores de carteira. Nos bairros mais tradicionais de Lisboa, no Chiado e no Rossio, onde os turistas andam com dinheiro vivo – para a alegria dos carteiristas –, os estabelecimentos parecem estar divididos quanto à aceitação de cartões. No bar Pirata, os meios eletrônicos de pagamento não são bem-vindos. “Aqui, os turistas já andam com dinheiro, então, para mim, não compensa instalar a máquina e pagar a taxa do banco, sem contar com o IVA”, afirma o proprietário, Eduardo Só, referindo-se ao Imposto sobre o Valor Acrescentado, que recai sobre todos os tipos de produtos,

Multibanco é a forma genérica pela qual o sistema de pagamentos com cartão é mais conhecido no país

{ Um mundo (quase) sem dinheiro } Os sete países que menos usam cédulas e moedas Bélgica: 93% França: 92% Canadá: 90% Reino Unido: 89% Suécia: 89% Austrália: 86% Holanda: 85%

Em Portugal, 60% dos pagamentos são feitos em dinheiro E no Brasil? O dinheiro é usado para realizar 43% dos pagamentos, percentual ligeiramente inferior ao verificado na Espanha (46%) FONTE: “THE CASHLESS JOURNEY STUDY”, MASTERCARD ADVISORS ANALYSIS

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A maioria dos bancos oferece cartões de débito e crédito com a tecnologia contactless e cerca de 1 milhão de clientes já fez pagamentos com eles

que subirá dos atuais 23% para 23,25% em 2015. Como Portugal está o ano inteiro cheio de turistas, por ora, o empresário parece não ter motivos para se preocupar. A mesma resistência aos cartões está presente no café A Brasileira, antigo recanto da elite intelectual do século 20 – famoso também por exibir uma estátua do poeta Fernando Pessoa em uma mesinha na calçada. Quando alguém faz menção de pagar com dinheiro de plástico, os garçons giram o indicador para apontar o caixa eletrônico mais próximo, a poucos passos dali. Mas basta atravessar a rua para entender que, nessa cidade povoada pela história, a não aceitação de cartões não tem ligação com a idade dos estabelecimentos. Na livraria Bertrand, aberta em 1732 – a mais antiga do mundo ainda em atividade, segundo o Livro Guinness dos Recordes – a realidade 34

é bem diferente. “Aqui, as pessoas chegam ao extremo de passar três, quatro euros no cartão”, diz um funcionário. Trata-se, portanto, de uma questão cultural. Reflexos da crise Na vila de Oeiras, na Grande Lisboa, a gerente de supermercado Teresa Diegues diz que os pagamentos em dinheiro representam pouco menos da metade do faturamento e confirma a preferência dos clientes pelo débito. “Antigamente, há uns cinco anos, havia mais pagamento no crédito, agora não”, afirma ela, apontando um reflexo da forte crise que fez Portugal salgar o rio Tejo com lágrimas ao recorrer, em 2011, a um empréstimo de 78 bilhões de euros da troika, nada simpático termo russo pelo qual é conhecida a trinca formada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia. Poucos países foram tão afetados pela crise financeira desencadeada pelo estouro da bolha imobiliária americana, em 2008, quanto Portugal. Aposentadorias foram cortadas, o desemprego subiu e a forma de consumo mudou. Apesar do baque, o cenário agora é outro. Depois de três anos de xingamentos à troika “pintados” nos muros, o primeiro-ministro Passos Coelho surpreendeu positivamente o mercado (e os próprios portugueses) ao anunciar a saída do programa de resgate financeiro – sem a necessidade de ajuda extra. Aos poucos, a economia se reestabelece. E o efeito pode ser sentido no mercado de meios eletrônicos de pagamento. Em 2013, a posse de cartão de crédito, que diminuiu com a crise, voltou a crescer, passando de 30,2% para 32,3%, entre os maiores de 15 anos, segundo a pesquisa da

MasterCard. Os portugueses usam seus cartões de crédito com maior frequência para pagar despesas com alimentação, viagem e lazer. Embora o gasto mensal de quem possui cartão de crédito seja superior a 2 mil reais, como mostra o estudo da Universidade Católica de Lisboa, em 2013 – segundo a MasterCard –, apenas 49,3% das pessoas que tinham cartões de crédito o usaram com regularidade; o percentual, mais baixo do que em anos anteriores, ainda é um provável reflexo da crise. Para a gerente de uma farmácia do bairro de Campolide, em Lisboa, o pior da crise já passou. “Mais da metade das compras é paga com meios eletrônicos”, afirma Ana Araújo, que faz uma ressalva: “Este é um bairro com população mais envelhecida e eles geralmente preferem pagar com dinheiro, ao contrário dos mais jovens, que sempre pagam no débito”. Na fila do caixa, uma senhora desmente as estatísticas da gerente. “Meus filhos preferem que eu pague no débito, porque é mais seguro”, diz a aposentada Isabel Lourenço. A informação da gerente vai ao encontro dos dados coletados pela MasterCard. Segundo a pesquisa, a faixa etária em que o uso de cartões de débito é mais evidente fica entre 25 e 35 anos, atingindo 100% de utilização, o que revela que, mais do que beber copos de imperial (chope) no Bairro Alto, os jovens gostam da comodidade dos pagamentos eletrônicos. Apesar de mais discretos, os números relacionados aos maiores de 65 anos não devem ser desprezados, uma vez que pessoas como a aposentada Isabel estão ajudando a fazer a penetração dos cartões de débito subir nessa faixa etária – o aumento do uso, de 67,6% para 72,5% no ano passado, confirma isso.


Contactless e o futuro Se o passado recente de crise dá motivos para alimentar a melancolia tão típica da alma portuguesa, o futuro parece promissor, ao menos para os meios eletrônicos de pagamento. A tecnologia contactless, em que basta o cliente aproximar o cartão do POS para fazer pagamentos de até 20 euros, já é uma realidade na terrinha. Segundo o estudo Basef Banca da Marktest, 2 milhões de pessoas afirmam conhecer a tecnologia, e cerca de 1 milhão de portugueses já realizou pagamentos sem contato. O fato de a maioria dos bancos oferecer a tecnologia, tanto em cartões de débito quanto de crédito, ajuda na disseminação do contactless. A Visa Portugal estima que, até o fim de 2014, haverá de 3 a 4 milhões de cartões sem contato nas mãos dos clientes – todos os novos plásticos estão preparados para o contactless e, segundo a empresa, seu uso estará generalizado em três anos. O próximo passo da Visa será oferecer o pagamento com cartão não presente pelo “telemóvel” – alcunha local para telefone celular; a companhia afirmou ao jornal Público que as primeiras transações pelo celular devem ocorrer ainda neste ano. Além de também investir no contactless, a MasterCard tem outros planos. “Uma das grandes novidades vai ser a introdução, em Portugal, do MasterPass, o nosso serviço de carteira digital para fazer compras e pagamentos on-line de forma fácil”, afirma Paulo Raposo, principal executivo da MasterCard no país. O serviço, que já existe no Brasil, permite realizar compras on-line com apenas alguns cliques. Para além das inovações, o mercado português tem particularidades regionais. Enquanto as regiões metropolitanas de Lisboa

{ Dinheiro sujo mesmo } Sua mãe estava certa: cédulas de dinheiro são sujas. É por isso que ela gastava saliva insistindo para que você sempre lavasse as mãos após entrar em contato com notas e moedas – afinal, ninguém pode garantir por quais mãos o dinheiro passa. O que nem sua mãe poderia imaginar é que uma “inocente” nota abriga mais de 26 mil bactérias potencialmente nocivas, como aponta estudo conduzido pela Universidade de Oxford em 2013. O mais incrível é que, embora dois terços dos europeus acreditem que o manuseio de dinheiro vivo é anti-higiênico, apenas 20% deles lavam as mãos após ter contato com as cédulas – os dados, que foram divulgados em maio, são de uma pesquisa realizada pela Toluna, em março e abril deste ano, a pedido da MasterCard. Foram ouvidas 9.923 pessoas com mais de 18 anos em 12 países: Alemanha, Croácia, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Hungria, Polônia, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Turquia. Entre eles, 37% disseram estar dispostos a fazer uma pequena mudança em sua vida cotidiana para serem mais higiênicos, como substituir o dinheiro por pagamentos com cartão ou meios contactless.

e do Porto concentram quase metade dos 11 milhões de habitantes do país, há centenas de aldeias espalhadas pelo território. Nesses lugares, onde o comércio é pouco desenvolvido, o pagamento eletrônico não é disseminado. Mas, embora ainda pouco frequentes nos lugarejos, os cartões também são usados em localidades menores, especialmente nas mais próximas de cidades importantes. Para Paulo Raposo, da MasterCard, os pagamentos eletrônicos já se tornaram um hábito consistente no país. Mas ainda há espaço para crescer, uma vez que, segundo ele, as transações em dinheiro ainda prevalecem, representando cerca de 60% do volume total de pagamentos. A excessiva oferta de caixas eletrônicos nas cidades, onde as pessoas sacam dinheiro com facilidade, pode explicar por que, mesmo

com tantos usuários de cartões, muitos portugueses ainda preferem pagar em dinheiro. Com o crescente número de jovens que já incorporaram o hábito de usar meios eletrônicos de pagamento, a tendência é que o uso de cartões siga crescendo. E isso é bom para a economia. “A substituição dos pagamentos em dinheiro vivo pelos pagamentos eletrônicos traz benefícios significativos em termos de eficiência. O uso de dinheiro consome até 1,5% do PIB de um país. Além disso, o cartão oferece transparência dos pagamentos e combate a evasão fiscal”, enumera Raposo. Como se vê, não faltam motivos para livrar a carteira de notas e moedas. Por isso, mais do que convencer os portugueses a abandonar o dinheiro, o grande desafio da indústria de cartões talvez seja fazê-los aderir ao cartão de crédito. 35


#EMPREENDEDORISMO Dentista paulista é pioneiro ao usar solução mobile para cartões no consultório

Uma caixa registradora dentro do bolso Com um aplicativo em seu smartphone, dentista de Alphaville, na região metropolitana de São Paulo, aceita cartão de crédito para facilitar o pagamento de seus pacientes e melhora controle financeiro do consultório POR

Maitê Casacchi FOTOS Daniela Toviansky

Foi dentro de seu próprio consultório que Fernando Lauretti, de 44 anos, teve acesso a uma informação privilegiada que viria a facilitar seu dia a dia profissional. Dentista há 15 anos, ele soube, por um paciente, de um aplicativo que estava sendo desenvolvido. Com a nova tecnologia – prometia o paciente –, seria possível aceitar pagamentos com cartão de crédito sem possuir um POS. “Estava em uma situação limite, com vários clientes perguntando se podiam pagar com cartão. Um lugar que não aceita cartão, hoje, parece que parou na pré-história. Resolvi ir atrás disso, mas não queria ter uma máquina ocupando espaço no consultório”, lembra o profissional. O caso se passou em 2010. Fernando trocou o celular que usava na época por um smartphone, baixou o aplicativo Cielo Mobile e se cadastrou junto à empresa. “Hoje, brinco pelo WhatsApp no mesmo 36

aparelho em que faço minhas transações de pagamento, usando wi-fi ou 3G”, afirma. A princípio, alguns pacientes novos estranham o fato de o doutor tirar o celular do bolso no fim da consulta, passar a tarja magnética do cartão no aparelhinho anexo ao telefone (ou simplesmente digitar o número do cartão na tela) e finalizar a transação com a assinatura do cliente na própria tela do telefone. Já entre os clientes cativos do dentista, o estranhamento vem se transformando em entusiasmo pela nova opção de pagar o tratamento. “Na maioria dos consultórios aonde vou, ainda não aceitam cartão; é uma facilidade que faz falta. Por isso, gostei da novidade. Achei prático e rápido, como se o celular fosse uma máquina de loja”, conta Sheila Benetti, paciente do doutor Fernando há seis anos. O comprovante, no final da transação, é enviado diretamente para o e-mail do cliente, mas Sheila revela que acaba nem conferindo sua caixa de mensagens. “No dia seguinte à consulta, consulto o balanço do meu cartão de crédito e está sempre tudo certinho. Um papelzinho a menos, acho ótimo.”


O dentista paulista Fernando Lauretti, em seu consultório: “O que escuto dos meus pacientes é que o cartão de crédito lhes proporciona conforto, até pelo planejamento do pagamento”

Conforto e segurança Usar o celular para realizar transações financeiras ainda não é um hábito comum no Brasil. Mas, em breve, isso vai mudar. Em 2018, 80 milhões de brasileiros devem usar seus celulares para fazer ou receber pagamentos – os dados são da consultoria Frost & Sullivan. Por ter realizado grandes investimentos nos últimos anos, a indústria de cartões está preparada para atender esse imenso mercado. Com a nova regulamentação do Banco Central para os meios eletrônicos de pagamento no país, a segurança jurídica das operações também está garantida. O próximo passo é superar uma barreira cultural para usar o celular como carteira, que inclui a educação tecnológica e a conquista da confiança dos consumidores – afinal, é fundamental que, com o smartphone em mãos, o cliente saiba o que fazer e tenha certeza de que o método é seguro. Isso é especialmente importante para os brasileiros das classes emergentes que ainda não possuem conta em banco e tendem a concentrar suas transações financeiras no celular. Esse não é o caso da clientela do

doutor Fernando. Instalado há mais de uma década no mesmo consultório, ele atende, majoritariamente, quem mora ou trabalha em Alphaville, bairro nobre da região metropolitana de São Paulo. O movimento tem crescido desde que o dentista passou a aceitar cartão de crédito, o que, segundo ele, agregou um diferencial ao consultório. E a segurança proporcionada pela certeza de saber que irá receber os pagamentos realizados com cartão fez bem ao negócio. “O número de calotes diminuiu muito; os clientes já não podem mais dizer que esqueceram de tirar dinheiro no banco. Se a pessoa não tem cash, cheque nem cartão, isso significa que ela não tem crédito nenhum, daí eu desconfio...”, afirma, emendando que ele próprio, em suas compras e pagamentos, só utiliza dinheiro quando o valor é muito pequeno ou quando o estabelecimento não lhe dá a opção do cartão. “O que escuto dos meus pacientes é que o cartão lhes proporciona conforto, até pelo planejamento do pagamento.” O controle financeiro do dentista também ficou mais fácil nesses últimos quatro anos. No

aplicativo, o botão “minhas transações” dá acesso à lista completa de pagamentos do mês e à data em que cada um deles vai ser depositado na conta – “bem mais simples e seguro que fechar o consultório, às nove da noite, com um maço de dinheiro no bolso”, diz ele, que não considera o custo de aceitar cartão um problema. “Pago somente uma pequena porcentagem por transação; nem o aluguel da máquina preciso pagar.” Em 2013, segundo a pesquisa Abecs/Datafolha, 57% dos estabelecimentos de educação e saúde aceitavam cartões, e 31% dos consumidores diziam usar o cartão para pagar despesas médicas e hospitalares. Já bastante difundido em laboratórios, hospitais e clínicas de maior porte, os cartões, aos poucos, conquistam profissionais da saúde como o doutor Fernando. No seu círculo de amigos dentistas, ele ainda está na vanguarda – por ora, apenas um colega mais próximo também aceita cartão. No futuro próximo, esse cenário deve mudar. Mas, até lá, Fernando seguirá colhendo os frutos de ter saído na frente da adoção da nova tecnologia. 37


#FINANÇAS PESSOAIS Pensionista de Porto Alegre (RS) utiliza cartão de crédito para controlar despesas

Um único cartão para simplificar a vida Aos 82 anos de idade, pensionista gaúcha usa cartão de crédito para organizar as finanças, proteger-se de assaltos e disciplinar gastos POR Sílvia Lisboa, em Porto Alegre FOTO Carlos Edler

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Um dos maiores prazeres de Maria José Nunes Monteiro é sair para jantar com os dois filhos, noras e os quatro netos. Mas a maior satisfação fica para o final, quando ela saca o único cartão de crédito do bolso e paga a conta. “Eu gosto de bancar tudo, sempre, para eles”, afirma a pensionista gaúcha de 82 anos, que está entre os 64% dos brasileiros com mais de 60 anos que possuem cartões de débito ou crédito – os dados são da pesquisa Abecs/Datafolha 2013, realizada em 11 capitais. Maria José não é de fazer economia para celebrar com a família. Vaidosa, também não poupa ao comprar roupas e acessórios em uma lojinha próxima ao residencial da terceira idade onde mora, em Porto Alegre. Mas diz que nunca perdeu o controle das finanças, graças ao cartão de crédito com milhas que possui. Ela coloca a fatura em débito automático na conta-corrente – para não correr o risco de pagar juros por eventual atraso – com vencimento para o dia seguinte ao recebimento da pensão. E, também, jamais parcelou o pagamento. “Parcelar é virar o barco”, alerta, do alto de sua experiência. No início do mês, ao receber a fatura, ela checa meticulosamente cada gasto. Se o total foi alto, já se prepara mentalmente para segurar os impulsos consumistas naquele mês. Dá certo. “Nunca entrei em cheque especial na vida”, orgulha-se. Se desconfia de que está um pouco mais gastadeira, tira um extrato do cartão antes de a fatura chegar e confere os gastos em casa, com calma, e guarda os comprovantes rabiscados na mesa de cabeceira. O cartão também ajuda Maria José a descomplicar a organização das finanças mensais. Uma vantagem é não ter trabalho assinando cheques, opção indicada para quem deseja simplificar a vida. Também a poupa de ir ao banco sacar dinheiro, evitando riscos desnecessários – por sua fragilidade, idosos são alvos preferenciais de sequestros-relâmpago. Por instinto, Maria José acaba seguindo à risca as recomendações do educador financeiro Mauro Calil, que considera o cartão de crédito a opção de pagamento ideal para o aposentado ou pensionista que tem renda fixa e, em geral, limitada. “O cartão de crédito é um grande aliado, pois oferece um ‘extrato’ mensal dos gastos, fora as despesas de água, luz e telefone. Com isso, é

{ Dicas de segurança com o cartão } » Crie uma senha fácil de memorizar, mas não use datas de nascimento ou números de documentos

» Nunca leve sua senha anotada em papéis na bolsa ou na carteira

» Jamais aceite ajuda de desconhecidos » Veja o valor da compra antes de digitar sua senha » Lembre de pegar o cartão de volta após a compra » Caso não reconheça uma compra no extrato, ligue para a Central de Atendimento do cartão

» Ao comprar pela internet ou pelo telefone, certifique-se de que a empresa é idônea FONTES: ABECS, FEBRABAN E EDUCADOR FINANCEIRO MAURO CALIL

possível saber se a farmácia está alta demais ou se o supermercado é o que está pesando. Além disso, é mais seguro do que carregar dinheiro”, diz Calil, que aconselha aposentados e pensionistas a ter um cartão com limite de crédito de até 50% do valor do benefício recebido mensalmente. “Quando o limite chegar ao fim, será um alerta para rever os gastos”, ensina. Maria José usa o cartão para qualquer tipo de compra, até para as miúdas. E está sempre atenta à quantidade de pontos acumulados em seu programa de benefícios. Quando se aproxima a data de expiração dos pontos, escolhe mercadorias, como a TV de tela plana na qual assiste a seus programas favoritos. A última aquisição foi um tablet que, por enquanto, não está sendo muito usado. Os cartões de crédito sempre foram aliados de Maria José para organizar as finanças da casa. Antes de enviuvar, era ela que gerenciava as contas da família com diversos cartões. Gostava de aproveitar os descontos e as opções de parcelamento. Com o tempo, foi tratando de simplificar a vida. Desfez-se dos cartões de lojas e de supermercados para não ocupar a cabeça com senhas diferentes e datas de pagamento diversas. Elegeu apenas um, com limite condizente com sua renda e bandeira internacional. “Assim, tenho de gravar apenas uma senha e uma data de pagamento”, conclui a sempre sorridente pensionista. 39


#Pesquisa Abecs/ Datafolha

Maioria dos brasileiros usa cartão de crédito com consciência Nova pesquisa mensal da Abecs sobre o hábito de uso do cartão de crédito pelo brasileiro, realizada em abril pelo Instituto Datafolha, revela que 80% dos usuários pagam o valor total da fatura e consideram seus gastos condizentes com o orçamento

Em março, 80% dos brasileiros que possuem cartões de crédito pagaram o valor integral da sua última fatura – e um percentual ainda maior, de 86%, revelou que pretendia fazer o pagamento total, na data de vencimento, da fatura seguinte do cartão. É o que mostra a primeira edição da nova pesquisa mensal da Abecs sobre o hábito de uso do cartão de crédito pelo brasileiro, realizada pelo Instituto Datafolha. Foram ouvidos 1.077 portadores de cartão de crédito, homens e mulheres com 18 anos ou mais, de todas as classes sociais, em 84 cidades de todo o país, com 100 mil habitantes ou mais. O levantamento – conduzido entre os dias 2 e 4 de abril por meio de questionários estruturados, em entrevistas com aproximadamente dez minutos de duração – aponta que, em março deste ano, apenas 5% dos portadores pagaram o valor mínimo da fatura e outros 10% optaram por fazer o parcelamento. Entre os demais, 4% quitaram outro valor entre o mínimo e o total e somente 1% não pagou a conta na data de vencimento. Isso indica que a maioria das pessoas costuma fazer bom uso do cartão de crédito, aproveitando seus benefícios sem recorrer a operações de financiamento, como o crédito rotativo, por exemplo. Talvez ainda mais significativo seja o fato de, segundo a pesquisa, a grande maioria dos portadores (71%) não ter deixado de pagar nenhuma fatura nos últimos 12 meses. Considerando apenas os entrevistados que, em algum momento nesse período, deixaram de pagar a fatura – valor integral ou mínimo – na data de vencimento, 77% disseram já ter quitado a dívida em questão. Segundo o levantamento, 74% dos usuários apontaram que o valor da sua última fatura estava de acordo com o seu orçamento – outros 9% disseram que o valor estava abaixo ou muito abaixo do que pode-


Pesquisa será aplicada mensalmente, com o objetivo de gerar novos indicadores que permitirão investigar a evolução do relacionamento do brasileiro com o cartão de crédito

riam pagar. Apenas 14% e 3% consideraram o valor da última fatura, respectivamente, acima e muito acima da sua capacidade de pagamento. No que diz respeito à intenção de gastos para o mês seguinte, a pesquisa Abecs/ Datafolha aponta que 36% pretendiam gastar a mesma quantia, 45% tinham a expectativa de desembolsar menos e 13% planejavam ampliar os gastos. Perfil de uso A pesquisa também mostra a frequência de uso do cartão de crédito entre os brasileiros. A grande maioria dos entrevistados (93%) utilizou o cartão de crédito no mês anterior – 41% pagaram despesas com ele ao menos uma vez por semana. Pouco mais da metade dos entrevistados (53%) usou o cartão com frequência menor, de uma a quatro vezes por mês, ao passo que outros 7% optaram por não utilizar seu cartão de crédito no mês anterior. O levantamento revela que o hábito de pagar despesas com cartão de crédito é ligeiramente mais arraigado entre os homens – 43% usaram pelo menos uma vez por semana; entre as mulheres, o uso frequente atingiu 39% das entrevistadas. O uso é mais frequente entre consumidores de 26 a 39 anos e de 56 anos ou mais (43% nos dois grupos). A pesquisa revela, ainda, que existe uma correlação entre renda mensal e frequência de uso do cartão. Na classe A, 61% das pessoas usaram cartão de crédito ao menos uma vez por semana em março, contra 45% da classe B, 35% da classe C e 21% da classe D.

Os dados revelam que os consumidores que mais quitaram a fatura integral do cartão em março pertencem aos grupos de 18 a 25 anos (82%) e da classe A (92%). Outro dado que chama a atenção é que mesmo os menores índices nesse quesito são bastante positivos, apresentados por consumidores de 40 a 55 anos (79%) da classe D (71%), mostrando que, apesar das diferenças, o uso consciente do cartão permeia todos os grupos sociais. Segundo a pesquisa, sete em cada dez portadores de cartões de crédito parcelaram alguma compra sem juros em março, atitude mais comum entre as mulheres (73%) do que entre os homens (67%). A modalidade é mais usada nas classes B e C (70%). Já o hábito de comprar com cartão de crédito pela internet é mais difundido entre homens (23%) e na classe A (42%) – no conjunto, 21% dos usuários fizeram ao menos uma compra pela internet com o cartão de crédito no período. Seja na web ou em compras físicas, metade dos entrevistados afirmou ter utilizado o cartão de crédito para pagar produtos alimentícios durante o mês de março – foi o ramo mais popular, seguido de roupas, calçados e joias (43%), farmácias, drogarias e cosméticos (38%), restaurantes, lanchonetes e bares (25%), postos de gasolina (22%) e bens duráveis para a casa (20%). Por outro lado, veículos (3%), serviços médicos (4%) e educação (5%) são os segmentos em que o cartão foi menos usado. Nas próximas páginas, apresentamos um resumo da pesquisa. 41


PERFIL DOS ENTREVISTADOS Sexo

Idade A idade média dos entrevistados é de 40 anos 53%

26%

Feminino

47%

17%

População brasileira Feminino 52% Masculino 48%

Masculino

18 a 24 anos

21%

23% 12%

25 a 34 anos

35 a 44 anos

45 a 59 anos

Sexo e idade dos possuidores de cartão de crédito são bastante similares aos da população brasileira. A distribuição por sexo é equilibrada, com ligeira prevalência do sexo feminino

População brasileira 18 a 24 anos 18% 25 a 34 anos 24% 35 a 44 anos 20% 45 a 59 anos 23% 60 anos ou mais 12%

Escolaridade

Classificação econômica

60 anos ou mais

Fundamental

23% 8%

Médio

44%

45%

44%

4%

Superior

33% População brasileira Fundamental 46% Médio 40%

Classe A

Superior 13%

Classe B

População brasileira Classe A 2% Classe B 26%

A maioria dos possuidores de cartão de crédito possui escolaridade média ou superior. Escolaridade mais elevada, comparativamente à população brasileira em geral

Classe C

Classe C 52%

Classe D

Classe D 18%

Entre os possuidores de cartão de crédito, maior participação das classes AB, que totalizam mais da metade da amostra. Classe B representa 45% da amostra

Renda familiar mensal 17%

25%

22%

População brasileira Até 2 s.m. 44% (Mais de 2 s.m.) + (Mais de 3 a 5 s.m.) 36% Mais de 5 a 10 s.m. 10% Mais de 10 s.m. 5% Não sabe/não respondeu 6%

20% 12% 5%

Até 2 s.m.

Mais de 2 a 3 s.m.

Mais de 3 a 5 s.m.

47% Base: total da amostra – 1.077 entrevistas.

42

Mais de 5 a 10 s.m.

Mais de Não sabe/não 10 s.m. respondeu

s.m. = salário mínimo em 2014 R$ 724 A renda familiar é mais elevada, comparativamente à população, e a faixa de renda acima de 5 s.m. representa 32% média de seis salários mínimos


Quantidade de cartões de crédito Espontânea e única (em percentual)

Possui 43%

14%

33%

11%

Média: 2 cartões

A média de cartões de crédito possuídos é de dois, no entanto a maioria (66%) utiliza apenas um cartão

Utiliza 66%

25% 6% 3%

1 cartão

3 cartões

2 cartões

4 ou mais cartões

Média: 1,5 cartão Base: total da amostra – 1.077 entrevistas. Perguntas: Quantos cartões de crédito você possui, no total, incluindo os cartões de loja com bandeira, que funcionam como cartão de crédito normal? / E quantos cartões de crédito você costuma utilizar, para fazer compras de produtos, alimentos ou serviços?

UTILIZAÇÃO DO CARTÃO DE CRÉDITO Frequência de utilização do cartão de crédito, no último mês Estimulada e única (em percentual)

7% 20%

21% 53%

Heavy user Diariamente: 9% 4 a 6 dias por semana: 11%

Pouco uso 1 ou 2 dias por quinzena: 16% 1 ou 2 dias no mês: 37%

Uso moderado 1 a 3 dias por semana: 21%

Não utilizou este mês

93% dos possuidores utilizaram o cartão de crédito no último mês ou período de fechamento da fatura. Considerando a frequência de uso (independentemente do valor), 41% são usuários mais frequentes do cartão de crédito (uma vez por semana ou mais) Base: total da amostra – 1.077 entrevistas. Pergunta: Com que frequência você utilizou cartão de crédito neste último mês ou período de fechamento da fatura?

43


Utilização de parcelamento da loja com cartão de crédito Estimulada e única (em percentual)

29%

26%

23%

15% 7% Nas compras feitas com cartão de crédito, o parcelamento da loja foi amplamente utilizado no mês ou período anterior

70% utilizou parcelamento da loja

Maioria das compras

Não utilizou parcelamento das lojas

Boa parte das compras

Não utilizou este mês

Base: total da amostra – 1.077 entrevistas. Pergunta: Nas compras que você fez com cartão de crédito neste último mês ou período de fechamento da fatura, você utilizou parcelamento da loja/estabelecimento? Para a maioria das compras, para uma boa parte das compras ou para uma minoria das compras?

Minoria das compras

Compra pela internet com cartão de crédito no último mês Estimulada e única (em percentual)

Não fez compra com cartão de crédito no último mês Fez compra pela internet

No último período, 21% dos possuidores efetuaram compras pela internet, utilizando cartão de crédito

7% 21%

72% Não fez compra pela internet

Base: total da amostra – 1.077 entrevistas. Pergunta: Você fez alguma compra pela internet, utilizando cartão de crédito, no último mês ou período de fechamento da fatura?

44


Segmentos em que utilizou/pretende usar cartão de crédito Estimulada e múltipla (em percentual)

50%

Produtos alimentícios

44% 43%

Roupas, calçados, joias

32% 38%

Farmácias, drogarias, cosméticos

27% 25%

Restaurantes, lanchonetes, bares

19% 22%

Combustível/posto de gasolina

18% 12%

Cultura e lazer

9% 9%

Material para construção

9% 7%

Turismo e transporte

5% 4%

Educação/academias

5% 5%

Veículos – compra, locação, revisões

Pretende utilizar

20%

Bens duráveis para casa

Serviço médico, clínicas e hospitais

Utilizou

93% utilizaram no último mês 85% pretendem utilizar no próximo mês

4% 3% 3% 3%

Índice de utilização Nenhum/não sabe

7% 15%

valor menos o complemento + 100 Utilizou: 186 / Pretende utilizar: 170 / Média: 178

Base: total da amostra – 1.077 entrevistas. Perguntas: Pensando no último mês ou período de fechamento da fatura, de acordo com esse cartão, em quais desses segmentos você utilizou o cartão de crédito, para pagamentos em lojas, serviços ou pela internet? Mais algum segmento? Algum outro segmento que não consta do cartão? / Em quais desses segmentos você pretende utilizar o cartão de crédito, no próximo mês/período? Mais algum segmento?

45


Gasto previsto para o próximo mês com cartão de crédito Estimulada e única (em percentual)

6%

13%

Pensando na previsão de gastos para o próximo mês, as opiniões dos consumidores ficam divididas 49% pretendem gastar a mesma coisa ou mais, porém 45% têm a expectativa de menores gastos

45%

36% Índice de previsão de gastos * (notas 1 + 2) – (nota 3) + 100 (14 + 38) - 48 + 100 = 104

Vai gastar mais do que no último mês ou período (nota 1)

Vai gastar menos do que no último mês ou período (nota 3)

Vai gastar a mesma coisa (nota 2)

Não sabe

* Para o cálculo do índice o “não sabe” foi excluído Base: total da amostra – 1.077 entrevistas. Pergunta: Pensando no próximo mês ou período de fechamento da fatura, você acha que _______

O PAGAMENTO DA FATURA DO CARTÃO Valor pago/valor que pretende pagar Estimulada e única (em percentual) Pagou no último mês

Pretende pagar

80%

86%

Valor mínimo

5%

2%

Parcelamento

10%

8%

Outro valor

4%

1%

Não pagou /não pretende pagar na data do vencimento

1%

0,5%

-

2%

Valor total

Não sabe

Índice de pagamento da fatura * (valor total - restante) + 100 Pagou no último mês: (80 - 20) + 100 = 160 Pretende pagar: (88 - 12) + 100 = 176 * Para o cálculo do índice o “não sabe” foi excluído

46

A grande maioria dos possuidores (80%) pagou o valor total da fatura do cartão de crédito no último período de fechamento. Expectativa mais otimista para o próximo período 86% pretendem pagar o valor total

Base: total da amostra – 1.077 entrevistas. Perguntas: Falando sobre a última fatura que venceu do seu cartão de crédito, o valor que você pagou foi o valor total da fatura, o mínimo, o parcelamento ou foi outro valor? / E no próximo mês/período de fechamento da fatura, você pretende pagar o valor total da sua fatura, o mínimo, o parcelamento ou outro valor?


Opinião em relação ao valor da última fatura Estimulada e única (em percentual)

14%

3% 4%

5%

A maioria dos possuidores é da opinião que o valor total da última fatura do seu cartão de crédito está de acordo com o que podem pagar (74%). 9% têm opinião mais favorável, de que o valor está abaixo do que podem pagar. 17% consideram que o valor está acima do que podem pagar

74% Índice de adequação da fatura ao orçamento

De acordo com o orçamento, a fatura está:

(notas 1 + 2 + 3) - (notas 4 + 5) + 100 (4 + 5 + 74) – (14+3) + 100 = 166

Muito abaixo do que pode pagar (nota 1)

Acima do que pode pagar (nota 4)

Abaixo do que pode pagar (nota 2)

Muito acima do que pode pagar (nota 5)

De acordo (nota 3)

Base: total da amostra – 1.077 entrevistas. Pergunta: Considerando o valor total da última fatura que venceu do seu cartão de crédito, você diria que:

Deixou de pagar a fatura do cartão de crédito no vencimento Espontânea e única (em percentual)

5%

29% deixaram de pagar alguma vez, nos últimos 12 meses

6% Nenhuma fatura

9%

1 fatura 2 faturas 3 faturas

8%

A maioria destes (77%) já quitaram a dívida Base: total da amostra – 1.077 entrevistas. Perguntas: Pensando nos últimos 12 meses, quantas vezes você deixou de pagar sua fatura do cartão de crédito na data do vencimento, seja integral ou o valor mínimo? / Você já quitou essa dívida?

4 ou mais faturas

71% Índice de quitação da dívida [(quitaram a dívida / deixaram de pagar alguma vez) X 100] + 100 [(22 / 29) X 100] + 100 = 177

47


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