ESPERANÇA

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Goiânia, 2016


Esperança Copyright© 2016 by FEEGO 1ª edição Autoria: Jô Andrade / Roosevelt A. Tiago Coordenação editorial e revisão: Ivana Raisky e Fátima Salvo Revisão de originais: Roberta Soares Paiva Projeto gráfico/capa/diagramação: Juliano Pimenta Fagundes Imagem da capa: Juliano Pimenta Fagundes/www.sxc.hu Fotos dos autores: acervo pessoal Direitos autorais gentilmente cedidos à Federação Espírita do Estado de Goiás. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP AN55e Andrade, Jovaní. Esperança / Jovani Andrade. Roosevelt A. Tiago - 1. edição. - Goiânia: FEEGO, 2016. 316 p. ISBN: 978-85-60182-46-6 1. Espiritismo. 2. Esperança. 3. Estímulo. I. Título.

DIREITOS RESERVADOS - É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio sem a autorização prévia e por escrito dos autores. A violação dos Direitos Autorais (Lei N° 610/98) é crime estabelecido pelo Artigo 48 do Código Penal. Impresso no Brasil Printed in Brazil 2016 FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO ESTADO DE GOIÁS – FEEGO Rua 1133 nº 40 - Setor Marista - Goiânia-GO CEP: 74.180-120 - Fone: (62) 3281-5114/3281-0200 www.feego.org.br


APRESENTAÇÃO Este trabalho é um estudo sobre a construção da esperança.

Assim se pronunciam os autores sobre a obra em pauta. Porque falar de esperança? Outros já a debateram, cantaram-na em versos, julgaram-na quase imortal: “a esperança é a última que morre”, não é isto que propaga a sabedoria popular? O que Jô Andrade e Roosevelt A. Tiago propõem é que o leitor vá além de apenas declarar-se esperançoso, confiante em dias melhores: A construção da esperança gera naquele que a possui o efeito da consolação, capaz de nos dar o ânimo e a vitalidade necessários para nossa caminhada em direção à felicidade real.


A esperança não nasce de uma hora para a outra. É construída paulatinamente na lida diária, na convivência com familiares, colegas de trabalho e tantos outros agrupamentos sociais. É, no entanto, no encontro consigo, no burilamento espiritual de cada um que se encontra o material necessário à uma construção duradoura, capaz de trazer equilíbrio à vida. O presente estudo oferece um norte aos que buscam a esperança em lições repletas de profunda reflexão. Apreciemo-lo e apliquemo-lo às nossas vidas. A Editora


OS AUTORES Roosevelt Tiago é palestrante há trinta anos e autor de mais de onze livros. • Percorre todo o país proferindo palestras, cursos e treinamentos, tendo seus trabalhos sempre marcados pela fidelidade aos apontamentos de Allan Kardec. • Presidente da ADE | Regional Jaú – Associação de Divulgadores do Espiritismo. • Presidente da ACEAK – Associação Cultural Espírita Allan Kardec, na cidade de Barra Bonita – SP.

Outras informações podem ser obtidas em: www.roosevelt.net.br


Jô Andrade é autora de quatro livros, sendo dois deles de autoajuda profissional e os outros dois de Estudos Espíritas. • Administradora do site www.clubedobem.net. br dedicado a orientações, aconselhamentos, mensagens de conforto, ânimo, crescimento pessoal e profissional. • Assistente Social. • Administradora Hospitalar com especialização em RH e MBA em Economia da Saúde. • Especialista em Treinamentos e palestrante há mais de 20 anos. • Atualmente cursa Mestrado em Psicologia Clínica.


Já não é só a esperança, mas a certeza que os conforta; sabem que a vida futura é a continuação da vida terrena em melhores condições e aguardamna com a mesma confiança com que aguardariam o despontar do Sol após uma noite de tempestade. O Céu e o Inferno – Por que os Espíritas não temem a morte – 10



SUMÁRIO O PRINCÍPIO .......................................................................................... 15 Enquanto houver sol ...................................................................................... 17 Por que sofremos? .......................................................................................... 25

O CÓDIGO ............................................................................................... 39 Código penal da vida futura ............................................................................ 41

O ESTUDO ............................................................................................... 97 Diante do erro ................................................................................................ 99 Uma dor que a razão não explica ....................................................................109 Para merecer uma condição melhor ................................................................ 119 Escolha e oportunidade ................................................................................. 127

DORES PARTICULARES ................................................................... 137 Afetos subtraídos pela morte ......................................................................... 143 Divórcios e abandonos .................................................................................. 153 Falências financeiras .................................................................................... 167 Desemprego e o sentimento de inutilidade ..................................................... 177 Solidão e velhice ......................................................................................... 189 Dependências .............................................................................................. 199 Medos ......................................................................................................... 221 Fuga da miséria ........................................................................................... 229 Como sanar as dores particulares ................................................................... 237

CONSTRUINDO A ESPERANÇA .................................................... 241 Pensamento e confiança ................................................................................ 243 Importância do Espiritismo ............................................................................ 251 Oração como hábito ...................................................................................... 259 A caridade como terapia ................................................................................ 267 Médiuns e ambições ...................................................................................... 275 A mudança é sempre possível ........................................................................ 281 Viver como Espírita ....................................................................................... 287 Construção da esperança ............................................................................... 293

CONCLUSÃO ........................................................................................ 301



Se conhecessem o Espiritismo, raciocinariam de outra forma. Nele encontraram, contudo, a verdadeira consolação. O Céu e o Inferno – Espíritos Felizes



O PRINCÍPIO



Enquanto houver sol...

Esperança é uma crença emocional na possibilidade de resultados positivos relacionados com eventos e circunstâncias da vida pessoal, acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário.



Esperança

A

maior evidência de que Jesus sabia da importância do consolo e da esperança para a travessia do mundo é a promessa de um Consolador. Ele poderia ter usado qualquer outro termo para definir a presença do auxílio superior, mas a definiu claramente como o Consolador – o Espírito de Verdade. Sem consolo, como atravessar um mundo marcado por obstáculos e constantes provas que pedem superação? Observemos a expressão coletada no Evangelho de João, no capítulo 14:15 a 26: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: – O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o

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Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito”. Fundamental é observar o termo “estará em vós”, ou seja, o consolo penetra a criatura, passa a ser patrimônio do Espírito. É desta forma que entendemos que o consolo está em algumas pessoas e não em outras, mas certamente pode ser adquirido por todos. O caso é de observar os caminhos ou condições para adquirir o consolo, como construir uma esperança inabalável e capaz de suportar as dificuldades naturais da vida. Afinal, se existe um elemento de igualdade, passível de estabelecer uma próxima relação entre todos nós, certamente é a presença das aflições, representada por fatos e acontecimentos variados, que mostra a criatividade da vida. Segundo os dicionaristas tradicionais, a definição de consolo é: “Tirar ou aliviar as mágoas ou dores sentimentais de alguém, dar tranquilidade, acalmar”. Da mesma forma como estabelecemos ligação entre o consolo e a esperança, é adequado definila também pelos dicionários convencionais:

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“Esperança é uma crença emocional na possibilidade de resultados positivos relacionados com eventos e circunstâncias da vida pessoal, acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário”. Já podemos refletir sobre a contribuição da obra O Céu e o Inferno – Por que os Espíritas não temem a morte, item 10: “Já não é só a esperança, mas a certeza que os conforta; sabem que a vida futura é a continuação da vida terrena em melhores condições e aguardam-na com a mesma confiança com que aguardariam o despontar do Sol após uma noite de tempestade”. Primeiro nasce a esperança, que depois se torna uma certeza inabalável, resultando no consolo das aflições. Desta forma, o consolo se torna um sol dentro da alma que a possui, dissipando toda angústia e promovendo o recomeço, como um novo dia que surge após a noite fria. Certamente que se este trabalho estiver sendo lido por alguém mergulhado em qualquer forma de aflição, poderá ser desagradável ouvir falar em processo de construção da esperança. Afinal, aquele que sofre tem pressa de melhora.

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Entretanto, não existe fórmula mágica, ainda mais se considerarmos que é justamente pela busca das soluções fantasiosas que nos mantemos sem consolo real. Ficamos condicionados a buscar solução imediata nos remédios ou nas demais drogas, nos artifícios de toda sorte, nos profissionais que prometem resultados eficazes sem o empenho daquele que sofre. Se a esperança e o consolo possuem como base a certeza, e esta certeza não se constrói sem razão, bom senso e o estudo das leis naturais, o consolo real pede tempo e dedicação. Qualquer outro caminho é amparo equivocado e passageiro, trazendo-nos para as mesmas aflições. A pergunta que todo aflito deve se fazer é: quero me livrar da aflição temporariamente ou permanentemente? Pois são caminhos diferentes que levam a cada situação. O mundo oferece inúmeros meios e métodos de proporcionar consolo superficial e ilusório. Mas, caso o aflito já tenha sofrido o suficiente, pode, na observação deste trabalho, construir em si a sólida esperança e, como fruto dela, o consolo.

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Somente um conjunto de observações e a análise pessoal apontarão meios seguros de solução real. Muitos ainda preferem reclamar. Porém, com esta postura, apenas mantém-se aflitos, pois a dor gera uma zona de conforto (por mais que pareça ironia). Isto porque os aflitos são também capazes de construir um mundo condicionado ao sofrimento. Cada item desta busca será tratado particularmente nos capítulos que se seguem. O importante é saber que o consolo real existe para todos os males, por caminhos nem sempre fáceis, mas certamente possíveis.

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Por que sofremos?

Quando uma aflição nos alcança e não sabemos a causa, não quer dizer que ela não exista, apenas não sabemos... ainda.



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S

eria impossível falarmos das aflições e demais dores sem antes nos questionarmos os motivos e formas de nossos sofrimentos. Até porque saber essa resposta é determinante para a construção da capacidade de encontrar consolo. Somente o conhecimento pode nos levar à compreensão. Como base para este entendimento buscamos O Livro dos Espíritos, na parte 2 do capítulo IV: “O homem, que tem consciência da sua inferioridade haure consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se crê na justiça de Deus, não pode contar que venha a acharse, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele”. Especial observação faremos nos grifos acima. Primeiro, no que se refere à “consciência da própria inferioridade”. O aflito deve sempre buscar o conhecimento próprio, pois a fonte de todo sofrimento que a criatura humana experimenta é a própria inferioridade moral.

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Ao partimos do princípio de que Deus é justo, percebemos que tudo o que nos acontece obedece a uma causa justa. Por mais que outras pessoas sejam veículos de sofrimentos e dores, em nós está a gênese de todos os males que nos acontecem. Afinal, atraímos as pessoas à nossa volta pelas nossas disposições íntimas. Quando nos elevamos, vinculamo-nos naturalmente com pessoas que também se elevaram e somos instrumentos para outras experiências. Esta é uma premissa que deve estar em nossa mente para a pesquisa de todo este trabalho: cada um é a fonte de tudo o que lhe acontece. Encontramos apontamentos desta certeza desde o Antigo Testamento. Lemos nos textos do profeta Ezequiel, no capítulo 16:54: “[...] para que sofras a tua vergonha, e sejas envergonhada por causa de tudo o que fizeste, dando-lhes tu consolação”, trazendo a base da Justiça Divina, ao aludir que passamos pelas mesmas situações que proporcionamos aos outros passarem. Cada um carrega em si a própria salvação ou condenação, de acordo com o que realiza. Não podemos crer que Deus, no exercício de Sua justiça, permitisse que alguém sofresse os reflexos daquilo que não fez.

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É sempre muito mais fácil acreditar que aquilo que nos acontece tem como causa os outros, ou ainda que somos vítimas de injustiças da vida. Contudo, pensar assim é sinal de muita imaturidade, além de um grave defeito de observação da vida, subestimando o Criador e Sua inteligência. Cremos que Ele criou os sóis, as galáxias, as estrelas... errou apenas em nossa vida! Para entender o sofrimento humano, é fundamental partirmos do princípio da regularidade da vida: tudo obedece a uma inteligência superior, sejam situações agradáveis ou não. Mas uma coisa é certa: na vida não existe espaço para improvisos ou arranjos. Ainda que pelos caminhos da ciência, a presença de uma inteligência na origem de todos os acontecimentos e fenômenos é irretocável e fora de questionamento. O próprio sentimento de vítima diante de um sofrimento aponta para um Espírito imaturo e ainda na infância da progressão moral. Pois somente a infância justifica tamanha ignorância acerca da vida.

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Aos que desejam realmente mudar a própria vida, encontrando o consolo necessário para vencer as aflições, dores e angústias, é determinante tomar para si a responsabilidade de tudo o que lhe acontece. Se você continua a acreditar que é uma inocente vítima, então nem precisa prosseguir lendo este trabalho. Afinal, você não poderá fazer nada por si mesmo. Entretanto, se segue lendo, vamos, com maturidade, admitir nossa participação nos acontecimentos à nossa volta, seja em nossa vida pessoal, profissional, conjugal e em todos os demais segmentos. Escreveu o pensador Voltaire: “O acaso é uma palavra sem sentido. Nada pode existir sem causa1”. É uma agressão à proposta da fé raciocinada crer que algo vem do nada ou que o nada justifique algo. Pelo contrário, as evidências de que tudo obedece a uma sequência justa (ou necessária) existe desde sempre. Lemos em Eclesiastes 3:1: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o pro1 Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frase/NzQyMjQ0/>. Acesso em: 15 jan. 2016.

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pósito debaixo do céu”. Na verdade, o capítulo inteiro trata desta realidade, mas destacamos apenas o primeiro versículo para chamar a atenção para a verdade de seu conteúdo. Convém, aqui, dedicarmos espaço para questionar a ideia do “acaso” em nossa vida. Até no campo da ciência, um leigo veria que grandes descobertas podem parecer obras do acaso. Alexander Fleming descobriu a penicilina de modo gratuito. Isto se nossa análise desconsiderar o poder de observação e sua mente preparada. Diz a história que Alexander Fleming2 deixou uma Placa de Petri3 com uma cultura de Staphylococcus4 esquecida, onde cresceu um fungo contaminante. Quando ele reparou que havia um halo livre de bactérias em redor do fungo, percebeu que o 2 Alexander Fleming (1881-1955): farmacólogo, biólogo e botânico inglês que descobriu acidentalmente a penicilina. Sua biografia pode ser consultada em <http://www.e-biografias.net/alexander_fleming/>. 3 Artefato de vidro utilizado em laboratórios de microbiologia para a cultura controlada de bactérias e demais micro-organismos. Maiores informações estão disponíveis em: <http://www.prolab.com.br/produtos/vidrarias-para-laboratorio/ placa-de-petri>. Acesso em: 15 jan. 2015. 4 A Staphylococcus aureus é uma bactéria diretamente associada a quadros infecciosos. A principal droga que a combate é a penicilina. Disponível em: <http:// www.portaleducacao.com.br/farmacia/artigos/9934/resistencia-dos-staphylococcus-aureus>. Acesso em: 15 jan. 2016.

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fungo tinha a capacidade de matar as bactérias. Este fungo era um Penicillium. O que matou as bactérias foi a substância vulgarmente conhecida por penicilina, a qual já salvou mais vidas na história da humanidade do que qualquer outra. Nem por isso podemos atribuir nada ao acaso, mas, sim, reiteramos, ao poder de observação e sua capacidade adquirida em vários conhecimentos que, somados, deixaram o cientista apto a observar o que escaparia aos olhos de um observador negligente. A verdade é que Alexander Fleming tinha investigado substâncias antibacterianas e imediatamente reconheceu o significado daquele halo livre de bactérias. Provavelmente, outra pessoa teria deitado aquela placa fora, julgando se tratar de uma indesejável contaminação que havia estragado aquela experiência. Outros exemplos seguem a mesma regra: acaso para os leigos, mas justificada por uma causa óbvia para os que sabem observar com razão e bom senso. Como a aplicação dos raios X à medicina, viabilizada quando Wilhelm Roentgen5 perce5 Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923): físico alemão responsável por produzir a

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beu que as emissões de tubos de raios catódicos atravessavam os materiais e o corpo humano, deixando claramente visíveis os ossos, em contraste com os tecidos moles circundantes. Por isso, Pasteur6 não podia estar mais certo quando afirmou que “o acaso só favorece a mente preparada7”. Com relação aos nossos sofrimentos, o mesmo acontece. Pode até parecer obra do acaso para aquele que nada saiba da vida real, que desconheça a inteligência existente em toda a parte. Ou para aquele cujas emoções da própria aflição segaram a razão. Mas, para os que desejam ver a vida de forma madura, não pode existir efeito sem causa. Atribuir os acontecimentos da vida ao acaso é preferir não compreender nada. De outra forma, se estamos capacitados para radiação eletromagnética atualmente conhecida como raios X. Sua biografia pode ser consultada em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/klick/0,5387,1932-biografia-9,00.jhtm>. 6 Louis Pasteur (1822-1895): cientista francês que descobriu a existência dos micro-organismos. Sua biografia pode ser consultada em: <http://educacao.uol.com. br/biografias/louis-pasteur.htm>. 7 Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/louis_pasteur_frases/>. Acesso em: 15 jan. 2016.

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entender que tudo o que ocorre possui causa justa, então somos forçados a reconhecer que uma nova causa proporcionaria um novo efeito. Assim, mudar a vida é algo sempre possível. Depois, observamos, na expressão estudada, outro ponto importante, “doutrina da reencarnação”, o que nos remete à realidade de que somos Espíritos e aquele que busca a causa das próprias aflições somente na vida atual raramente a encontrará. Não existe mais espaço para o homem atual - e que conte com o mínimo de bom senso e lucidez - negar a reencarnação, que amplia a observação da vida, ligando-a a muitas outras existências. Sempre que a causa de uma aflição não se encontra na vida atual, certamente está nas outras experiências vividas pelo Espírito, porquanto ninguém morre, apenas muda de situação e segue na mesma vida. Quando uma aflição nos alcança e não sabemos a causa, não quer dizer que ela não exista, apenas não sabemos... ainda. Não usaremos aqui o espaço para defender

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ou não a existência da reencarnação. Para tanto, existem muitas obras específicas, sem contar toda a Codificação Espírita. Contudo, afirmamos que a reencarnação é a única maneira de dar às aflições e dores uma resposta adequada. Ao cultivar a certeza de que Deus é justo, tudo o que nos ocorre, por mais insignificante que seja, deve obedecer a esta base sólida. Aprendemos no livro Obras Póstumas, A Estrada da Vida: “Pela pluralidade das existências, seu futuro, está nas suas mãos; se ele leva muito tempo para se melhorar, sofre as consequências: é a suprema justiça; mas a esperança nunca lhe está interdita”. Vivos ou mortos, a vida segue continuamente, sem nenhuma interrupção. Para cada ação, temos uma reação proporcional. A isto chamamos justiça. Cada acontecimento de nossa vida, se escolhemos, é causa; se colhemos, é efeito. Esta é a lei que rege o universo e pela qual a justiça se apresenta. Estamos hoje na posição em que nos colo-

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camos ontem e certamente amanhã estaremos onde, pelas nossas ações, nos colocarmos hoje. E isto envolve nossa situação emocional, intelectual, física, moral, da mais grosseira até a mais sutil situação. Popularmente, ouvimos a expressão de que a “justiça de Deus tarda, mas não falha”, quando, na verdade, ela nem tarda nem falha. Nós é que, muitas vezes, não reconhecemos os reflexos das nossas ações na nossa vida e, em outras vezes, nem conhecemos a causa... Reconhecê-la no efeito requer conhecimento, sensibilidade e bom senso. Sem a reencarnação, ninguém consegue explicar os acontecimentos da vida, de forma que ela possa ser aceita pela razão, sem apelar para mistérios que supostamente não podemos entender. A vida é uma sequência de existências. É naturalmente justo que danos e benefícios de uma experiência reflitam na outra. Sempre, para encontrar a causa de uma aflição na qual estamos mergulhados, devemos analisar nosso universo íntimo, a conduta, a maneira de tratar os que estão à nossa volta e, acima de tudo, o quanto produzimos de bondade. A reencarnação é uma questão de justiça.

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Ignorá-la nos limita a ver a vida num círculo restrito e ilusório, incapaz de representar uma centésima parte do que é nossa vida real. Contudo, não devemos ver nos sofrimentos e aflições apenas seu caráter punitivo aos comportamentos inadequados, mas, acima de tudo, sua capacidade de reparação e educação de comportamentos que nos impedem de seguir e crescer. O sofrimento opera naquele que o suporta uma espécie de cirurgia, que é desagradável; porém, coloca o paciente numa melhor condição de vida. Negar a cirurgia é permanecer na UTI (Unidade de Terapia Intensiva... moral), ou seja, permanecer no sofrimento da acomodação, muito mais longo do que o sofrimento da cirurgia, quando se aceita e melhora. É importante saber, assim, que todo sofrimento terá um fim certo, mais ou menos longo, de acordo com nossa aceitação de enfrentar a causa que o gerou. Quando reconhecemos que a causa do que vivemos está em nós, mudamos nossa maneira de pensar e agir e aí está o caminho certo. Lemos nos Salmos, capítulo 9:18: “Pois o

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necessitado não será esquecido para sempre, nem a esperança dos pobres será frustrada perpetuamente”. Assim como toda cirurgia, o sofrimento que ela representa tem começo e fim. Negar esta realidade, buscando a solução para nossa condição nas pessoas ou situações em volta, é realizar a manutenção daquilo que nos oprime, dilatando o tempo da dor. Em resumo, todo sofrimento tem, na sua origem, as imperfeições humanas. Assim, parar de sofrer será sempre sinônimo de elevar-se.

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O CÓDIGO



Código penal da vida futura

Sair do corpo físico não é liberdade. Liberdade é livrar-se das imperfeições e praticar o bem.



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studar o Código Penal da Vida Futura é

determinante para a compreensão lúcida e racional de como edificar, na prática, a esperança e, em consequência disto, a consolação. Apoiar-nos-emos neste código, apresentado em O Céu e o Inferno, discorrendo nossos comentários sobre ele, a fim de auxiliar o seu entendimento e, consequentemente, sua aplicabilidade. Este código possui 33 itens de imensa profundidade, como tudo que provém dos seres adiantados a nós. 1º — “A alma ou Espírito sofre na vida espiritual as consequências de todas as imperfeições que não conseguiu corrigir na vida corporal. O seu estado, feliz ou desgraçado, é inerente ao seu grau de pureza ou impureza”. Na afirmação acima, colhemos uma grande

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informação, dotada de dois pontos importantes: consequência e imperfeição. Por mais que tenhamos como base a busca de culpados para nossos males e dores, sempre a gênese do que nos acontece possui centro de ação em nós mesmos. Cada acontecimento pode, com precisão, ser compreendido como “consequência”. Não existe nada que não represente efeito de uma ação. Por mais simples ou constrangedor, tudo o que nos acontece é efeito. Daí colhemos a situação lógica de que nossas infelicidades obedecem às nossas mazelas morais. Quanto mais infelizes somos, mais imperfeições morais estão alojadas em nós, aguardando renovação de conduta e transformação desses mesmos valores que edificam nosso caráter. Diante de uma dificuldade ou dor, pode até ser que haja outras pessoas envolvidas ou que elas sejam veículos para esses acontecimentos, mas sempre existe, naquele que suporta a dor, a necessidade de por ela passar. Atraímos justamente as pessoas que nos farão experimentar determinadas situações e nisto sempre está a absoluta justiça.

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2º — “A completa felicidade prende-se à perfeição, isto é, à purificação completa do Espírito. Toda imperfeição é, por sua vez, causa de sofrimento e de privação de gozo, do mesmo modo que toda perfeição adquirida é fonte de gozo e atenuante de sofrimentos”. Além do sofrimento, lemos, no item acima, “privação de gozo”, ou seja, ficamos impedidos de experimentar a felicidade. Por mais que tudo esteja bem, ficamos simplesmente infelizes. Sem explicação visível, damos nomes variados a esta sensação, tais como: depressão, angústia, abatimento de ânimo, perda de vitalidade e por aí segue... mas o centro de tudo continua orbitando em torno de nossas imperfeições. Assim, carregamos conosco as causas de nossas aflições. Por outro lado, toda perfeição adquirida faz com que nossas dores necessárias sejam atenuadas, diminuídas. Não existe bem que não repercuta na vida daquele que o pratica. As boas ações representam nosso advogado em qualquer parte de vida, seja física ou na erraticidade. O verdadeiro patrimônio do homem é a própria conduta.

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Quando nossa vida está mergulhada em dificuldades constantes, devemos buscar a causa de tal situação dentro de nós, depositando atenção ao nosso patrimônio de valores morais. Buscar a causa de nossas dores em nós é caminhar em direção à solução, enquanto buscá-la nos outros e na vida é empenhar-se em iludir a si mesmo. 3º — “Não há uma única imperfeição da alma que não importe funestas e inevitáveis consequências, como não há uma só qualidade boa que não seja fonte de um gozo. A soma das penas é, assim, proporcionada à soma das imperfeições, como a dos gozos à das qualidades. A alma que tem dez imperfeições, por exemplo, sofre mais do que a que tem três ou quatro; e quando dessas dez imperfeições não lhe restar mais que metade ou um quarto, menos sofrerá. De todo extintas, então a alma será perfeitamente feliz. [...]”. Conhece-te a ti mesmo – esta é a regra. Quem mais se conhece, menos se surpreende com os acontecimentos da vida. É assim que, na

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observação acima, percebemos a precisão transcrita em números. Cada imperfeição corresponde a uma dor... a cada perfeição, uma alegria. É certo, porém, que reconhecemos as dores com larga facilidade, mas as alegrias, nem tanto. A

própria

dor

é

necessária

para

valorizarmos o bem. Quantos não possuem nada a não ser a reclamação e o sofrimento voluntário como companhia, sem razão clara, e quando a dor realmente aparece, lamentam, dizendo dos tempos de tranquilidade: “Eu era feliz e não sabia”... Ao manter o foco na própria vida, estabelecendo o “bom combate” com as próprias imperfeições, encontramos o caminho mais curto para nossa felicidade real. Muitas vezes, encontramos pessoas boas em sofrimento. Isto se deve ao fato de terem vencido algumas imperfeições, mas ainda estão faltando outras. Pode ser uma imperfeição apenas, pois uma imperfeição é igual a uma dor.

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4º — “Em virtude da lei do progresso que dá a toda alma a possibilidade de adquirir o bem que lhe falta, como de despojar-se do que tem de mau, conforme o esforço e vontade próprios, temos que o futuro é aberto a todas as criaturas. Deus não repudia nenhum de seus filhos, antes recebe-os em seu seio à medida que atingem a perfeição, deixando a cada qual o mérito das suas obras”. Todo aquele que deseja melhorar sempre pode fazê-lo, e nisto reside a Lei do Progresso. Sofremos pelas nossas imperfeições, justamente porque podemos, o tempo todo, nos despojar delas. Quando uma imperfeição encontra em nós espaço para ficar sem obstáculo, é devido ao fato de que ela ainda não nos incomoda, que nos afeiçoamos a ela. Quando não, até nos orgulhamos de sermos violentos, arrogantes, prepotentes, indiferentes, preconceituosos, individualistas, maldosos e tantos outros males que, algumas vezes mal compreendidos, enaltecem seu possuidor. É fundamental que venhamos a entender que Deus deixa para cada um a luta para a edi-

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ficação própria, justamente para que venhamos a merecer o estado de felicidade como mérito de nossas obras. Sem mérito próprio para estarmos onde estamos, não existe justiça! 5º — “Dependendo o sofrimento da imperfeição, como o gozo da perfeição, a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio, onde quer que se encontre, sem necessidade de lugar circunscrito. O inferno está por toda parte em que haja almas sofredoras, e o céu igualmente onde houver almas felizes”. Outro elemento que atesta que ninguém é vítima de ninguém é a descrição de que “a alma traz consigo o próprio castigo ou prêmio”. Assim, independentemente de estarmos encarnados ou na erraticidade, o céu e o inferno estão em nós. Carregamos conosco a causa (sempre moral) do que nos acontece. É por isso que o suicídio é solução infeliz. Quando o indivíduo está aflito, angustiado, desesperado e tira a própria vida, chega ao mundo espiritual aflito, angustiado e desesperado.

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Sair do corpo físico não é liberdade. Liberdade é livrar-se das imperfeições e praticar o bem. Com frequência, muito se fala da existência de “lugares circunscritos” para as penas, para onde o indivíduo iria a fim de sofrer. Na verdade, quando os espíritos descrevem seus “umbrais” (que não é definição Espírita), revelam o que não exteriorizam, mas que está em seu mundo íntimo. Logo, parecem falar de um local8 . Lembremos de Jesus ao afirmar que “[...] o reino dos céus está dentro [...]” (Lucas, 17). Consequentemente, o inferno também! Sem falar quando cremos que a cura de nossa infelicidade está em mudar de cidade, de um local para outro. Mudamos de casa, de cidade, de país e se não existir mudança interior, prosseguimos infelizes, procurando nova cura ilusória. 6º — “O bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos é, portanto, o resulta8 Ver a questão 1.011 de O Livro dos Espíritos.

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do de uma imperfeição. Se toda imperfeição é fonte de sofrimento, o Espírito deve sofrer não somente pelo mal que fez como pelo bem que deixou de fazer na vida terrestre”. Encontramos aqui uma maneira de realizar o conhecimento próprio, já que o bem e o mal decorrem das nossas qualidades (Espírito). Quem deseja saber como é, basta observar o quanto pratica de bem e de mal, realizando esta análise, sempre com o máximo de honestidade de consciência. Claro que não falamos do bem pessoal, quando os beneficiados somos apenas nós mesmos, mas o bem a todos, para a coletividade, para o que acreditamos ser uma causa justa. Como todo mal é consequência de uma imperfeição e fonte de sofrimento, mais importante do que aquilo que nos fazem é o que fazemos. Afinal, o mal das pessoas faz mal para as pessoas. Somente o meu mal me faz mal, pois me torna mau e, em consequência disto, um sofredor. Outra evidência de imperfeição e fonte de sofrimento é quando temos a oportunidade de fazer o bem e nos negamos a fazê-lo, ou devotamos menor empenho a esta causa.

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Quem não faz o bem, já faz mal suficiente. Diante da possibilidade de realizar o bem, de qualquer forma, os bons Espíritos contam conosco para auxiliar a manter a regularidade da vida. Renunciar ao bem é aliar-se ao mal e aos maus em qualquer parte da vida, seja material ou espiritual. Quem não fizer o bem, promove o mal. Destarte, é justo que a Soberania Divina nos responsabilize pelo mal que nossa covardia no bem produziu. Fazer o bem para os que possuem a oportunidade da vida não é caridade nem favor, mas, sim, dever. 7º — “O Espírito sofre pelo mal que fez, de maneira que, sendo a sua atenção constantemente dirigida para as consequências desse mal, melhor compreende os seus inconvenientes e trata de corrigir-se”. Sofremos pelo mal realizado – esta máxima é inexorável. Se sofremos hoje, é sempre em consequência do mal realizado, nesta ou em outra experiência física – fases distintas de uma mes-

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ma vida. Sem atribuir aos sofrimentos aos quais somos impelidos a suportar a palavra “consequência”, eles não podem ser analisados pela luz da razão, nem tão pouco apoiados no bom senso. No entanto, é importante salientar que o sofrimento, embora pareça sempre ter caráter punitivo, mais que isso, é educativo. Ao sofrer as consequências do mal, ficamos conscientes da necessidade de mudança e dispostos a operar em nós as disciplinas das correções morais. Suportar as consequências das nossas más ações, representadas pelos sofrimentos, amadurece-nos o coração, pois nos faz compreender como o mal que realizamos faz com que as pessoas atingidas se sintam. Se os sofrimentos são as consequências do mal, o bem praticado com ênfase produzirá, certamente, consequências na direção contrária, trazendo, assim, a paz! 8º — “Sendo infinita a justiça de Deus, o bem e o mal são rigorosamente considerados, não havendo uma só ação, um só pensamento mau que não tenha consequências fatais, como não há uma única ação meritória, um só bom

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movimento da alma que se perca, mesmo para os mais perversos, por isso que constituem tais ações um começo de progresso”. Todos os favores que provêm de Deus são infinitos, e a justiça Dele advinda persiste até a recuperação integral do homem. É certo que uma justiça tão ampla e perfeita, como tudo que vem do Criador, deve ser, da mesma forma, rica na precisão com que afere a cada um. É assim que uma única ação, seja boa ou má, repercute na vida do homem. Quando temos em nossa conduta elementos bons e maus, recebemos as consequências dos bons e dos maus – o que é justo. É importante que fique evidente que toda ação boa, também reflete sobre a vida daquele que a produziu, ou cultivaremos a ideia equivocada que a Justiça Superior apenas aponta nossas falhas e equívocos. Sendo Deus perfeito, o método pelo qual Suas Leis promovem a justiça também deve ser absoluto.

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Assim como reconhecemos aquilo que positivamente existe em nossa vida é fruto do nosso trabalho e dedicação, é justo compreendermos que, da mesma forma, aquilo que se apresenta negativamente tem a mesma gênese. 9º — “Toda falta cometida, todo mal realizado é uma dívida contraída que deverá ser paga; se o não for em uma existência, sê-lo-á na seguinte ou seguintes, porque todas as existências são solidárias entre si. Aquele que se quita numa existência não terá necessidade de pagar segunda vez”. Sempre nossa vida é sustentada pelas nossas realizações. Assim, encontramos nova similitude a ser compreendida: mal é dívida contraída! Dessa forma, deve ser visto todo sofrimento em nossa vida como o resultado de uma dívida. Do mesmo modo que o endividado fica feliz em quitar a sua dívida, aquele que sofre com resignação e dignidade quita sua dívida, seja com a própria consciência, seja com a sociedade de qualquer canto do universo.

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Mediante esta proposta, devemos entender que Bem-aventurados são os Aflitos9, cantado por Jesus e registrado no Evangelho. Afinal, aflição suportada é quitação de dívidas morais geradas por equívocos de comportamento. Somos forçados a entender que Deus possui a eternidade. Em termos práticos, diríamos que Ele não tem pressa. O mal praticado hoje pode repercutir em nossa vida em qualquer tempo ou lugar. Ao afirmar que as existências são solidárias, Allan Kardec ensina que uma existência promove a justiça de outra. Nada muda para Deus ontem, hoje ou amanhã, aqui ou lá. Para o Criador, tudo é o mesmo cenário. Em Deus estamos mergulhados e não há para onde ir sem que continuemos em Deus. O lado bom desta total autonomia do homem em construir a própria vida é que podemos, imediatamente, construir nossa próxima existência com toda a riqueza de detalhes. Na cumplicida9 Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados (Mateus 5:4).

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de existente entre uma vida e outra, está a justiça que, quando não nos encontra numa vida física, apanha-nos na outra. 10º — “O Espírito sofre, quer no mundo corporal, quer no espiritual, a consequência das

suas

imperfeições.

As

misérias,

as

vicissitudes padecidas na vida corpórea, são oriundas das nossas imperfeições, são expiações de faltas cometidas na presente ou em precedentes existências. Pela natureza dos sofrimentos e vicissitudes da vida corpórea, pode julgar-se a natureza das faltas cometidas em anterior existência, e das imperfeições que as originaram”. É ilusão crer que os erros cometidos na vida finalizam com a morte física. Muitos chegam a dizer diante da morte de alguém: “Agora vai descansar”... ledo engano. A vida segue, e as angústias, misérias e dores nada sofrem com a morte. Muito pelo contrário, as dores morais se dilatam com o encontro com a realidade espiritual. Um Espírito bom, quando está livre, pode atingir a plenitude, mas um

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Espírito comprometido pelas próprias viciações exterioriza seus tormentos íntimos, unindo-se a outros atormentados. Em suma, nossas imperfeições geram dores e sofrimentos independentemente de estarmos encarnados ou na erraticidade. A vida nunca cessa e suas consequências seguem guardando sua natureza, seja boa ou má. Sendo o esquecimento do passado um benefício concedido pela Misericórdia Divina, deve ser conservado assim. Porém, a observação das nossas dores e privações pode dar indícios da natureza dos delitos. Os filhos rebeldes de hoje são os tiranizados ontem. As dificuldades financeiras evidenciam abusos e excessos cometidos. O abandono de hoje é a mesma experiência imposta ao próximo ontem. A mesma regra vale para cada sofrimento: representa delitos ou experiências pelas quais fizemos o próximo passar. Logo, experimentá-las é questão de justiça. Somente sofrendo o mesmo teor de experiência dolorosa que impomos aos outros é que aprenderemos a difícil lição de que o mal dói

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e oprime. Somos impelidos a abrir mão desses métodos, deixando para Deus a justiça a qual somos incompetentes para realizar. 11º — “A expiação varia segundo a natureza e gravidade da falta, podendo, portanto, a mesma falta determinar expiações diversas, conforme as circunstâncias, atenuantes ou agravantes, em que for cometida”. Mais um apontamento chama a atenção para a precisão com que a Justiça Divina se apresenta é que cada caso é avaliado individualmente pelas soberanas leis Naturais. Por isso, não podemos apresentar teses de generalização para a identificação dos delitos. A mesma falta ou imperfeição, pela variação de gravidade e natureza, pode gerar expiações e dores variadas. Isto incide diretamente nos delitos cometidos coletivamente, pois embora um grupo de pessoas possa produzir uma determinada maldade, a avaliação de responsabilidade de cada uma é individual, considerando as capacidades e potencialidades dos envolvidos.

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Aprendemos isto por meio de Jesus, ao afirmar que a quem mais foi dado, mais seria cobrado10, fazendo alusão ao fato de que uns possuem maiores condições de praticar o bem do que outros e tal separação deve ser feita. Em questão de justiça, dizer que sempre que fazemos “isto” acontece “aquilo” é subestimar a criatividade do Criador. A Inteligência Divina é suficiente para garantir a observação dos detalhes de cada ato. Se a capacidade de Deus não fosse absoluta, a Justiça seria falha e, por isso, não seria justiça. 12º — “Não há regra absoluta nem uniforme quanto à natureza e duração do castigo: — a única lei geral é que toda falta terá punição, e terá recompensa todo ato meritório, segundo o seu valor”. A grandeza de uma lei está em sua flexibili10 “Porque aquele servo, que soube a vontade de seu Senhor, e não se apercebeu, e não obrou conforme a sua vontade, dar-se-lhe-ão muitos açoites. Mas aquele que não a soube, e fez coisas dignas de castigo, levará poucos açoites. Porque a todo aquele, a quem muito foi dado, muito será pedido, e ao que muito confiaram, mais contas lhe tomarão” (Lucas, XII: 47-48).

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dade de adaptar-se às situações mais variadas e prosseguir valendo. Assim são as Leis Naturais, sólidas, inexoráveis, mas adaptáveis a cada situação sem perder a sua justiça. De forma diferente, mas com igualdade. Além da natureza de cada delito, a duração de um sofrimento também obedece à gravidade de cada situação. Quando estamos diante de um sofrimento, ele pode durar de alguns instantes até milênios, dependendo das particularidades de cada situação. Não existe dor que não tenha fim. Apenas parece que dói eternamente, quando perdemos a esperança no futuro. Não falamos apenas de sofrimento e dor quando o assunto é justiça. Falamos também de recompensas pelos esforços em fazer o bem. Quantas facilidades materiais, morais e de variadas ordens chegam em nossa vida trazendo facilidades e contribuições positivas, mas julgamos serem fruto do trabalho atual ou da sorte? Nem percebemos que é a justiça se realizando pelos caminhos da naturalidade sob a máscara do acaso.

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Quando estamos diante de uma dor que parece não ter fim, devemos entender as evidências da situação e nos empenharmos ainda mais para operar a revolução moral requerida pela situação. Sofrimentos extremos pedem profundas transformações de conduta e dos valores que conduzem nossa vida. Se a duração da dor está ligada à gravidade daquilo que a gerou, a liberdade depende de uma conduta transformada, mas sempre possível. 13º — “A duração do castigo depende da melhoria do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo determinado lhe é prescrita. O que Deus exige por termo de sofrimentos é um melhoramento sério, efetivo, sincero, de volta ao bem. Deste modo o Espírito é sempre o árbitro da própria sorte, podendo prolongar os sofrimentos pela pertinácia no mal, ou suavizá-los e anulá-los pela prática do bem. Uma condenação por tempo predeterminado teria o duplo inconveniente de continuar o martírio do Espírito renegado, ou de libertá-lo do sofrimento quando ainda permanecesse no mal. Ora, Deus,

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que é justo, só pune o mal enquanto existe, e deixa de o punir quando não existe mais; por outra, o mal moral, sendo por si mesmo causa de sofrimento, fará este durar enquanto subsistir aquele, ou diminuirá de intensidade à medida que ele decresça”. Ainda com relação à duração do sofrimento, não existe data para o fim, pois temos a liberdade de mudar ou não. Da mesma forma, se houvesse uma data fixa, a finalidade do sofrimento seria apenas punitiva. Todavia, como Deus deseja a edificação do homem, tão logo ele aprenda os valores do bem, as dores são atenuadas ou até somem das lidas diárias. De antemão, não falamos do melhoramento superficial que acontece de manhã enquanto esperamos uma vida melhor à tarde! Falamos de Deus, o Senhor do Universo, que conhece a profundidade de nossa alma. Nenhuma mudança apenas aparente pode encantar o Criador. Nada pode iludi-lo, nem tão pouco nada temos que possamos barganhar com Ele.

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Ao invés de tentar iludir o Absoluto, já que apenas o mal é punido, devemos dedicar nossa atenção e forças a nós próprios, buscando uma transformação real. Não a troco de obter o alívio de nossas dores, mas, sim, para sermos bons no íntimo e, assim, merecermos uma felicidade sem mescla. Não há nada que o homem tenha e possa oferecer a Deus. Afinal, tudo já é Dele! A única coisa que podemos oferecer a Deus é nossa transformação moral. Muitas vezes, abraçamos o sofrimento e aguardamos, até oramos para que Deus nos ajude. Lembremos, contudo, que Ele possui a eternidade e aguarda nossa capacidade de entender que tudo depende de nós. Pedir a Deus de braços cruzados é subestimar a Inteligência Superior que edificou a vida e agora nos ensina a viver mais de maneira mais amadurecida. Sem trilhar os caminhos da justiça, não vivemos. No máximo, sobrevivemos, mergulhados nas angústias naturais dos que estão fora do caminho que conduz à Fonte Geradora de Vida.

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14º — “Dependendo da melhoria do Espírito a duração do castigo, o culpado que jamais melhorasse sofreria sempre, e, para ele, a pena seria eterna”. Sempre é muito tempo – a vida de dor e sofrimento faz com que o Espírito fique encharcado da vida irregular, exausto da companhia da má sorte eleita pelas imperfeições, vindo a ceder aos imperativos do bem. A única forma de o Espírito sofrer para sempre é se ele nunca se modificar. No entanto, para cruzar a imortalidade, não existe companhia pior que as imperfeições acomodadas na alma. Basta uma única manifestação de bondade, a trazer uma tímida noção de felicidade, para que o mais perverso comece a se encantar pelos arrastamentos do bem e, consequentemente, da felicidade. Quem já experimentou a beleza de um momento de paz aprende que a mais bela riqueza obtida nas teias das torturas infelizes é insignificante. Sofrer sempre é não melhorar nunca e esta possibilidade não existe.

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Se a vida em abundância é condicionada à melhora do Espírito, deixar de lutar contra as próprias imperfeições é sinal de desinteligência e a consequência é a ampliação do tempo de sofrimento. 15º — “Uma condição inerente à inferioridade dos Espíritos é não lobrigarem o termo da provação, acreditando-a eterna, como eterno lhes parece deva ser um tal castigo”. Uma situação natural da inferioridade é que os que sofrem não conseguem ver o fim da provação. Diferentemente dos que passam por dificuldades, mas possuem um padrão moral suficientemente elevado e sabem que logo a dor terá fim, os sofredores, abraçados à inferioridade, creem sofrer para sempre. O desestímulo é um castigo natural dos abatidos de ânimo pelo cultivo da consciência culpada. Crer na dor eterna, em um sofrimento sem fim é sinal de inferioridade, pois a falta de esperança aponta para um agravamento moral.

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Não existe mal que não tenha fim. Crer que sofremos para sempre evidencia que a consciência reconhece ser culpada e afasta toda a possibilidade de alívio proporcionada pela esperança. 16º — “O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação. Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação”. Um dos pontos mais importantes de todo o Código Penal da Vida Futura está nos processos que devem, obrigatoriamente, ser obedecidos para a completa reabilitação daquele que cometeu o erro. No arrependimento, começamos a compreender o delito cometido, a falta empreendida. Po-

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rém, as fases seguintes são fundamentais para a sequência do processo. Na expiação, sofremos as consequências daquilo que realizamos. Ao experimentar este sofrimento, estabelecemos em nós maiores chances de não incorrermos novamente no mesmo equívoco. A amargura da dor é remédio eficiente em variadas doses. Mais ou menos aplicações deste remédio dependem da profundidade do mal em nós. Chegamos, enfim, à reparação, que compreende a devolução dos prejuízos causados, revertidos em benefícios reparadores. Conforme o mal praticado não vemos possibilidade de reparar o que realizamos, mesmo já tendo passado pelos processos de arrependimento e expiação. No entanto, é fundamental entender que, quando não é possível visualizar oportunidades de reparação, devemos aguardar, dando prosseguimento à vida e promovendo nossa edificação moral. A vida, em oportunidade adequada, nos colocará na condição de realizar. A devida reparação Seja nesta oportunidade de vida ou em outra, nesta, ou em qualquer uma das muitas moradas da “Casa do nosso Pai”.

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De acordo com este princípio, devemos fazer sempre todo o bem que pudermos, porquanto não sabemos precisar em qual dessas oportunidades estamos em pleno processo de reparação aos que prejudicamos um dia. Servir sempre é a maneira mais adequada de conduzirmos nossa vida. Mais importante do que reparar um determinado mal é extrair de nós a causa que o gerou, não reincidindo, assim, nas mesmas incorreções. 17º — “O arrependimento pode dar-se por toda parte e em qualquer tempo; se for tarde, porém, o culpado sofre por mais tempo. Até que os últimos vestígios da falta desapareçam, a expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que lhe são consequentes, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em nova existência corporal. A reparação consiste em fazer o bem àqueles a quem se havia feito o mal. Quem não repara os seus erros numa existência, por fraqueza ou má vontade, achar-se-á numa existência ulterior em contato com as mesmas pessoas que de si tiverem queixas, e em condições voluntariamente

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escolhidas, de modo a demonstrar-lhes reconhecimento e fazer-lhes tanto bem quanto mal lhes tenha feito. Nem todas as faltas acarretam prejuízo direto e efetivo; em tais casos a reparação se opera, fazendo-se o que se deveria fazer e foi descurado; cumprindo os deveres desprezados, as missões não preenchidas; praticando o bem em compensação ao mal praticado, isto é, tornando-se humilde se se tem sido orgulhoso, amável se se foi austero, caridoso se se tem sido egoísta, benigno se se tem sido perverso, laborioso se se tem sido ocioso, útil se se tem sido inútil, frugal se se tem sido intemperante, trocando em suma por bons os maus exemplos perpetrados. E desse modo progride o Espírito, aproveitando-se do próprio passado”. O arrependimento não pode ser imposto àquele que cometeu a falta. Entretanto, relutar em arrepender-se é estender o sofrimento. Como ele representa o despertamento da consciência, tem um tempo para cada indivíduo. Os mais embrutecidos demoram muito para iniciar este processo, mas os que já estão com a própria caminhada evolutiva adiantada, ao in-

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correr no mal, podem imediatamente arrepender-se, sendo o sofrimento infinitamente menor. É importante que nem sempre o arrependimento, a expiação e a reparação são vinculados a apenas uma pessoa. Podemos ter negligenciado uma causa ou uma missão. Nesse caso, a reparação compreende fazer o bem não apenas a uma pessoa, mas a uma comunidade ou causa. Toda as vezes que o mal nos separa, a Misericórdia Divina nos une, dando a oportunidade de edificar o bem a quem fizemos mal. O vínculo existente na pluralidade das existências é proporcional, de modo que sempre retornamos aos pontos que ficaram mal resolvidos e em condições de reescrever nossa história, possibilitando a transformação de conflitos amargos em finais felizes. Viver é edificar-se. Compreender isto é um sinal de harmonia com a vida. 18º — “Os Espíritos imperfeitos são excluídos dos mundos felizes, cuja harmonia per-

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turbariam. Ficam nos mundos inferiores a expiarem as suas faltas pelas tribulações da vida, e purificando-se das suas imperfeições até que mereçam a encarnação em mundos mais elevados, mais adiantados moral e fisicamente. Se se pode conceber um lugar circunscrito de castigo, tal lugar é, sem dúvida, nesses mundos de expiação, em torno dos quais pululam Espíritos imperfeitos, desencarnados à espera de novas existências que lhes permitam reparar o mal, auxiliando-os no progresso”. Encontramos nova base de reflexão, segundo a qual Espíritos marcados pelas imperfeições não podem seguir a mundos melhores porque “perturbariam a paz” desses mundos. Podemos, hoje, fazer esta mesma reflexão, avaliando se, durante o nosso dia a dia, caminhamos gerando perturbações ou promovendo a paz. Mais lamentamos ou compreendemos? Mais complicamos ou resolvemos? A justiça não tem como alvo somente os grandes males cometidos, mas também reage sobre o estilo de vida daqueles que, por onde passam, levam consigo a companhia da perturbação e da

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desarmonia, deixando um rastro de desordem moral e comportamental. Não é, contudo, necessário saber o mal que se fez no passado, mas, sim, o bem que se pode realizar hoje, remédio sempre eficaz e sem contraindicações. Por uma questão de justiça, quando observamos os problemas sociais de todas as ordens a vigorar em nosso atrasado mundo, devemos ter em mente que uma situação melhorada num mundo mais moralizado pede, acima de tudo, merecimento. Merecer é ter mérito de ocupar um determinado espaço ou de experimentar almejada situação. A vida não desiste de ninguém. Nossa parte é manter empenho no bem, que o resto se acerta pela condução da real Providência. O primeiro passo para fazer o bem é não fazer o mal, seja claramente ou mascarado por diálogos que falam de paz, mas promovem a desarmonia. Cientes de que a Justiça Divina é inteligente, devemos saber e viver com a certeza de que nada lhe escapa.

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19º — “Como o Espírito tem sempre o livre-arbítrio, o progresso por vezes se lhe torna lento, e tenaz a sua obstinação no mal. Nesse estado pode persistir anos e séculos, vindo por fim um momento em que a sua contumácia se modifica pelo sofrimento, e, a despeito da sua jactância, reconhece o poder superior que o domina. Então, desde que se manifestam os primeiros vislumbres de arrependimento, Deus lhe faz entrever a esperança. Nem há Espírito incapaz de nunca progredir, votado a eterna inferioridade, o que seria a negação da lei de progresso, que providencialmente rege todas as criaturas”. A afirmação acima é oportuna: sempre temos a liberdade de escolher e, portanto, de agir. Partindo desta máxima, o mal praticado recai sobre nosso uso inadequado da liberdade, mas o arrependimento do mal praticado também é fruto da liberdade. Se punido é o mal, reconhecido é o arrependimento, capacitando aquele que errou a seguir para as fases seguintes da reparação. Já que a Lei do Progresso rege todas as criaturas, sempre é possível mudar e seguir. Quan-

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do aparentemente mudamos e reincidimos no mesmo erro, é porque já existe o entendimento de que determinada conduta é equivocada, mas o progresso ainda não se apresenta fixado no patrimônio moral do Espírito. Dessa forma, podemos colocar um fim em nossas dores e angústias neste momento, embora recebendo as reações do que já foi produzido. O arrependimento é nova causa promotora de bênçãos que auxiliarão a sorver os frutos da má sementeira. 20º — “Quaisquer que sejam a inferioridade e perversidade dos Espíritos, Deus jamais os abandona. Todos têm seu anjo de guarda (guia) que por eles vela, na persuasão de suscitar-lhes bons pensamentos, desejos de progredir e, bem assim, de espreitar-lhes os movimentos da alma, com o que se esforçam por reparar em uma nova existência o mal que praticaram. Contudo, essa interferência do guia faz-se quase sempre ocultamente e de modo a não haver pressão, pois que o Espírito deve progredir por impulso da própria vontade, nunca por qualquer sujeição. O bem e o mal são praticados

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em virtude do livre-arbítrio, e, conseguintemente, sem que o Espírito seja fatalmente impelido para um ou outro sentido. Persistindo no mal, sofrerá as consequências por tanto tempo quanto durar a persistência, do mesmo modo que, dando um passo para o bem, sente imediatamente benéficos efeitos”. Ainda que nas mais profundas agonias, o que deve ser cultivado na alma daquele que sofre é a certeza de que Deus jamais abandona seus filhos. Afinal, filho mau ainda é filho. A presença de um Guia Espiritual para cada filho evidencia o cuidado do Criador com suas criaturas, pois destaca um irmão mais amadurecido para dedicar atenção a um sem experiências estabelecidas. As dúvidas que ficam a respeito desse Guia Espiritual ou Anjo devem-se justamente à observação empenhada no texto acima. A ação deles é quase sempre oculta, garantindo o mérito àquele que superou o mal.

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Caso esse Anjo tivesse uma ação mais direta ou enérgica, isto faria com que o homem não tivesse direito de recolher os benefícios da escolha acertada. É assim que uma consulta silenciosa à própria consciência pode revelar a cada um o que é lícito realizar. Não existe abandono espiritual, apenas incompreensão dos meios que a vida segue. O livre arbítrio é algo tão importante para a justiça que mesmo Deus o respeita. Enquanto o homem desejar manter-se vicioso, ele pode, mas suporta os efeitos naturais desta escolha. A certeza de que todos, mesmo os mais perversos, um dia abraçarão o bem é a irresistível sensação positiva que invade aquele que decide abandonar a infância espiritual e ocupar seu espaço no grande projeto da vida. 21º — “A responsabilidade das faltas é toda pessoal, ninguém sofre por erros alheios, salvo se a eles deu origem, quer provocando-os pelo exemplo, quer não os impedindo quando poderia fazê-lo. Assim, o suicida é sempre punido; mas aquele que por maldade impele outro a cometê-lo, esse sofre ainda maior pena”.

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Vivemos coletivamente, sendo uns instrumentos na vida dos outros. No entanto, toda avaliação de conduta é individual, impossibilitando que justifiquemos nossas ações pelas ações dos outros. Deus é justo e sabe, com precisão, o que nos seria lícito realizar. Lembremos que podemos, muitas vezes, promover o mal pelo exemplo. Se apresentamos uma conduta equivocada, influenciamos outros a também cometê-la. Encontramos pela primeira vez a observação acerca do suicídio, destacando claramente que tal prática representa uma contravenção às Leis da Vida. Afinal, sempre pode o homem corrigir o próprio caminho. O suicídio mostra a covardia diante da vida, pois viver exige coragem e empenho, principalmente quando nossa vida está em compasso de expiação ou reparação. Sempre, se foi possível cometer o delito, é possível repará-lo, com mais ou menos empenho.

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É lembrado ainda que, além do suicida, aquele que o inspirou a esta infeliz solução também é penalizado. Lê-se textualmente que quem o impeliu sofre ainda mais do que quem se envereda pelas sombras do próprio abismo. É evidente que cada caso é medido e pesado na balança da justiça, mas, em termos claros, suicidas e responsáveis sofrem sempre as consequências do desperdício da oportunidade da vida. Certamente que novas oportunidades de reparação sempre existirão. Todavia, trata-se de uma dor que poderia, com empenho e vontade, ser evitada. 22º — “Conquanto infinita a diversidade de punições, algumas há inerentes à inferioridade dos Espíritos, e cujas consequências, salvo pormenores, são pouco mais ou menos idênticas. A punição mais imediata, sobretudo entre os que se acham ligados à vida material em detrimento do progresso espiritual, faz-se sentir pela lentidão do desprendimento da alma; nas angústias que acompanham a morte e o despertar na outra vida, na consequente perturbação que pode dila-

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tar-se por meses e anos. Naqueles que, ao contrário, têm pura a consciência e na vida material já se acham identificados com a vida espiritual, o trespasse é rápido, sem abalos, quase nula a turbação de um pacífico despertar”. Ao observar uma dor ou dificuldade, nem sempre podemos precisar o delito. Seria simples demais dizer: “quem fez isso, sofre aquilo”, mas, muitas vezes, erramos na análise, pois delitos iguais podem ter, em sua origem, ações diferentes. Até passagem da vida material para a vida física, pelo processo biológico da morte, pode ser mais ou menos penosa, insensível ou laboriosa, sempre na dependência do patrimônio do Espírito. Quanto mais materializado é o homem, mais lhe pesa distanciar-se da matéria. Desta feita, o entendimento de que a vida real é espiritual auxilia a passagem pela experiência encarnada, como no retorno ao Mundo Espiritual. Uma alma acumulada de imperfeições tem atribulações na vida física, na vida espiritual e na passagem entre elas.

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23º — “Um fenômeno mui frequente entre os Espíritos de certa inferioridade moral é o acreditarem-se ainda vivos, podendo esta ilusão prolongar-se por muitos anos, durante os quais eles experimentarão todas as necessidades, todos os tormentos e perplexidades da vida”. Agora que morreu, vai descansar... Ouvimos frequentemente tal comentário dos que se despedem de seus desencarnados. Mal sabem que a vida é apenas uma, seja encarnado ou livre, a vida segue sem cessar. Todas as inferioridades não resolvidas aqui, na situação proporcionada pela vida material, seguem atormentando seu possuidor que, tendo a visão eclipsada do que é óbvio, não compreende a oportunidade do retorno para a vida espiritual. Sofre duplamente, pois tem as dificuldades proporcionadas pelo retorno somadas às necessidades cultivadas aqui. Fica, assim, com o pior que cada uma dessas fases da vida pode proporcionar e isto faz dele alguém nem vivo nem morto, mas desinstalado de sua posição de vida.

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Em boa definição, encontramos nisto novo estímulo para, com urgência, eliminar todas as nossas imperfeições, pois não faz sentido aquele que é destinado às alturas viver arrastando-se com pesos desnecessários de ilusões medíocres. 24º — “Para o criminoso, a presença incessante das vítimas e das circunstâncias do crime é um suplício cruel”. Depois da fase do arrependimento, ou seja, quando o indivíduo assume a responsabilidade que lhe cabe diante do delito, começa a expiação, ou o período de constrangimento proporcional ao mal que foi gerado. O simples fato de aquele que cometeu o delito comungar da presença de suas vítimas, observando os danos provocados, representa profunda dor, permitindo ao criminoso repudiar o ato realizado. Diante deste cenário, o Espírito que cometeu o delito pede, com ênfase, duras provas, para que possa vencer em si mesmo as inferioridades que foram a gênese de toda a dor. A expiação é consequência natural para os

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equívocos empenhados pelos Espíritos de coração endurecido e que entendem a duras penas a necessidade da renovação dos valores que conduzem a vida. 25º — “Espíritos há mergulhados em densa treva; outros se encontram em absoluto insulamento no Espaço, atormentados pela ignorância da própria posição, como da sorte que os aguarda. Os mais culpados padecem torturas muito mais pungentes por não lhes entreverem um termo. Alguns são privados de ver os seres queridos, e todos, geralmente, passam com intensidade relativa pelos males, pelas dores e privações que a outrem ocasionaram. Esta situação perdura até que o desejo de reparação pelo arrependimento lhes traga a calma para entrever a possibilidade de, por eles mesmos, pôr um termo à sua situação”. É natural que o atormentado, muitas vezes, creia que é vítima de algo ou alguém, procurando sempre culpados pelas dores e angústias que experimenta. No entanto, em grande parte, defender determinada posição nos impede de re-

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conhecer nossos erros, dilatando, assim, nossas dores. Observarmos a lógica de que todo processo de reparação deve nos levar a experimentar o que provocamos ao próximo. Tal ocorre quando, em algum momento de nossa longa jornada, pelos ciclos das reencarnações, separamos seres amados, negligenciamos a felicidade alheia. Devemos, pois, sentir a mesma privação para poder qualificar nosso próprio delito. Uma ligeira observação da história da humanidade esclarece inúmeros casos de crimes hediondos, nos quais pessoas foram comercializadas, famílias separadas em atrocidades sem dimensão. Viver longe dos que amamos já representa evidência que indica a necessidade de ajuste na própria conduta e paciência, para que novas formas de agir e pensar promovam a aproximação tão desejada. 26º — “Para o orgulhoso relegado às classes inferiores, é suplício ver acima dele colocados, cheios de glória e bem-estar, os que na Terra desprezara. O hipócrita vê desvendados, pe-

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netrados e lidos por todo o mundo os seus mais secretos pensamentos, sem que os possa ocultar ou dissimular; o sátiro, na impotência de os saciar, tem na exaltação dos bestiais desejos o mais atroz tormento; vê o avaro o esbanjamento inevitável do seu tesouro, enquanto que o egoísta, desamparado de todos, sofre as consequências da sua atitude terrena; nem a sede nem a fome lhe serão mitigadas, nem amigas mãos se lhe estenderão às suas mãos súplices; e pois que em vida só de si cuidara, ninguém dele se compadecerá na morte”. Vivos ou mortos na matéria, a regra é a mesma: além de não possuirmos o que desejamos ter, observar aqueles que possuem o alvo do nosso interesse é outra fonte de sofrimento. Quando aqueles que julgamos ser inferiores se apresentam em posição e estado superior ao nosso, isto representa suposta injustiça a nos corroer a paz. Observem ainda que, enquanto sofremos essa forma de constrangimento, nem sequer conseguimos disfarçar nossos sentimentos e pensamentos, que podem ser conhecidos por todos em volta, dando imensa proporção ao sofrimento.

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É certo que a dor se dará na mesma proporção que o egoísmo e o orgulho dominarem a criatura. Isto garante a graduação daquele que sofre no âmbito da mesma experiência: quanto mais imperfeição, maior a dor. Em consequência disso tudo, repelimos as companhias e a solidão se instala. Entendemos, assim, que, após a morte, a vida segue em condições de produzir as mais profundas angústias que assolam os encarnados. 27º — “O único meio de evitar ou atenuar as consequências futuras de uma falta está em repará-la, desfazendo-a no presente. Quanto mais nos demorarmos na reparação de uma falta, tanto mais penosas e rigorosas serão, no futuro, as suas consequências”. Deus não tem pressa. Afinal, é dono da eternidade. Entretanto, aquele que sofre deve ter. Quanto mais nos demoramos em assumir a responsabilidade das consequências e da reparação do que nos acontece, mais nos distanciamos do bem-estar que aguarda os regenerados. Cometer um delito é consequência de Espí-

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ritos fora do caminho e iludidos com as próprias imperfeições. Porém, buscar a reparação é demonstração de inteligência e progresso feito. 28º — “A situação do Espírito, no mundo espiritual, não é outra senão a por si mesmo preparada na vida corpórea. Mais tarde, outra encarnação se lhe faculta para novas provas de expiação e reparação, com maior ou menor proveito, dependentes do seu livre-arbítrio; e se ele não se corrige, terá sempre uma missão a recomeçar, sempre e sempre mais acerba, de sorte que pode dizer-se que aquele que muito sofre na Terra, muito tinha a expiar; e os que gozam uma felicidade aparente, em que pesem aos seus vícios e inutilidades, pagá-la-ão mui caro em ulterior existência. Nesse sentido foi que Jesus disse: “Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados”. A vida é pautada pela simplicidade. Para “morrer bem”, é necessário “viver bem”. Afinal, tudo é ato isolado de uma constante sequência. Ao desencarnar, o Espírito não vai exatamente para o céu ou para o inferno, mas, sim, para as

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consequências de ter feito da vida um céu ou um inferno... É difícil, quase impossível, entender os benefícios da aflição enquanto se sofre. No entanto, uma vez vencida uma etapa, quem a venceu pode contemplar os benefícios adquiridos. Não dominar e reformar uma imperfeição é sofrer continuamente suas consequências. Quando encontramos Espíritos, encarnados ou não, que teimam em não mudar a forma de pensar e agir, podemos até concluir que ainda não sofreram o bastante. 29º — “Certo, a misericórdia de Deus é infinita, mas não é cega. O culpado que ela atinge não fica exonerado, e, enquanto não houver satisfeito à justiça, sofre a consequência dos seus erros. Por infinita misericórdia, devemos ter que Deus não é inexorável, deixando sempre viável o caminho da redenção”. Não raro, entendemos equivocadamente a expressão de que Deus é Justo e Misericordioso. Chegamos a crer que Sua Justiça tome partido e que Sua Misericórdia lhe cegue a razão. Devemos lembrar que aqueles que nos fa-

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zem mal, nossos desafetos, também são filhos Dele e isto faz a Justiça nem sempre compreensível para as duas partes. É aí que a confiança em Deus deve nortear qualquer ato humano em qualquer situação. Quando não entendemos uma aflição suportada, não quer dizer que ela seja injusta, porquanto Deus tudo sabe. Sempre existe aberta a porta da reparação. Não obstante, é necessário compreender que ela sempre opera dentro de cada um. Desejar mudar nossa vida pela correção da vida alheia é demonstração de ignorância que subestima a capacidade do Criador. 30º — “Subordinadas ao arrependimento e reparação dependentes da vontade humana, as penas, por temporárias, constituem concomitantemente castigos e remédios auxiliares à cura do mal. Os Espíritos, em prova não são, pois, quais galés por certo tempo condenados, mas como doentes de hospital sofrendo de moléstias resultantes da própria incúria, a compadecerem-se com meios curativos mais ou menos dolorosos que a moléstia reclama, esperando

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alta tanto mais pronta quanto mais estritamente observadas, as prescrições do solícito médico assistente. Se os doentes, pelo próprio descuido de si mesmos, prolongam a enfermidade, o médico nada tem que ver com isso”. Todo sofrimento pode ser compreendido como castigo, mas também como remédio. Castigo pela amargura que gera, furtando a vida daquele que sobrevive, e remédio por expurgar as causas do mal, criando “anticorpos” morais que evitem a reincidência nos mesmos erros. Se os apontamentos do Cristo são sempre valorosos medicamentos da alma, renovando o caráter, quando o tratamento é negligenciado, não podemos deduzir que o remédio seja ruim. Quando o assunto é conseguir a liberdade da inferioridade própria, os remédios transcritos no Evangelho são sempre eficientes. O que se questiona é com que vontade o doente seguirá as prescrições. 31º — “Às penas que o Espírito experimenta na vida espiritual ajuntam-se as da vida corpórea, que são consequentes às imperfeições do

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homem, às suas paixões, ao mau uso das suas faculdades e à expiação de presentes e passadas faltas. É na vida corpórea que o Espírito repara o mal de anteriores existências, pondo em prática resoluções tomadas na vida espiritual. Assim se explicam as misérias e vicissitudes mundanas que, à primeira vista, parecem não ter razão de ser. Justas são elas, no entanto, como espólio do passado, herança que serve à nossa romagem para a perfectibilidade”. Nossa condição de vida, situação de saúde, posição social, condição financeira, tudo é preciso e proporcional ao que o Espírito deve passar na vida física. Não existe erro nem falta de sorte. Deus não brinca com a felicidade de suas criaturas. Como quase todas as resoluções da vida são tomadas na erraticidade, para uma compreensão maior, é necessário ver a vida como o Espiritismo nos ensina, de cima para baixo. Devemos ter sempre em vista que a vida principal é a espiritual e que o Espírito sacrifica sempre a vida temporária em benefício da vida real. 32º — “Deus, diz-se, não daria prova maior

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de amor às suas criaturas, criando-as infalíveis e, por conseguinte, isentas dos vícios inerentes à imperfeição? Para tanto fora preciso que Ele criasse seres perfeitos, nada mais tendo a adquirir, quer em conhecimentos, quer em moralidade. Certo, porém, Deus poderia fazê-lo, e se o não fez é que em sua sabedoria quis que o progresso constituísse lei geral. Os homens são imperfeitos, e, como tais, sujeitos a vicissitudes mais ou menos penosas. E pois que o fato existe, devemos aceitá-lo. Inferir dele que Deus não é bom nem justo, fora insensata revolta contra a lei. Injustiça haveria, sim, na criação de seres privilegiados, mais ou menos favorecidos, fruindo gozos que outros porventura não atingem senão pelo trabalho, ou que jamais pudessem atingir. Ao contrário, a justiça divina patenteia- se na igualdade absoluta que preside à criação dos Espíritos; todos têm o mesmo ponto de partida e nenhum se distingue em sua formação por melhor aquinhoado; nenhum cuja marcha progressiva se facilite por exceção: os que chegam ao fim, têm passado, como quaisquer outros, pelas fases de inferioridade e respectivas provas. Isto posto, nada mais justo que a liberdade de

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ação a cada qual concedida. O caminho da felicidade a todos se abre amplo, como a todos as mesmas condições para atingi-la. A lei, gravada em todas as consciências, a todos é ensinada. Deus fez da felicidade o prêmio do trabalho e não do favoritismo, para que cada qual tivesse seu mérito. Todos somos livres no trabalho do próprio progresso, e o que muito e depressa trabalha, mais cedo recebe a recompensa. O romeiro que se desgarra, ou em caminho perde tempo, retarda a marcha e não pode queixar-se senão de si mesmo. O bem como o mal são voluntários e facultativos: livre, o homem não é fatalmente impelido para um nem para outro”. A base de toda justiça está na absoluta igualdade que Deus confere a Seus filhos, seja de condição moral ou de capacidades intelectuais. Partindo do marco zero, segue em direção à perfeição relativa, mas sempre obedecendo às mesmas leis. Quando vemos alguém em uma condição melhor, ele ou ela apenas viveu e aproveitou mais as oportunidades de crescimento. Os que estão abaixo apenas não aprenderam o que já absorvemos. No entanto, seja numa série escolar acima ou abaixo, somos todos iguais.

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Uma maneira de ter mais sorte é abraçando mais trabalho. E falamos de trabalho tanto material como moral. Nenhum homem está destinado ao mal. Ele apenas pode estar fora da rota da moralidade redentora. As distrações do mundo podem encantar os que ainda não entenderam que a vida apenas vale a pena quando tem como meta a felicidade real. Viver pede seriedade, objetivos claros e determinação definida. Encarnado ou não, deve o Espírito saber, a cada ação, exatamente o que deseja. Sem alvo, o Espírito segue solto, negligenciando as potencialidades trazidas na alma e colhendo bem menos do que poderia. Para viver bem, é fundamental encarar com seriedade as próprias imperfeições. Afinal, viver é edificar-se. 33º — Em que pese à diversidade de gêneros e graus de sofrimentos dos Espíritos imperfeitos,

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o código penal da vida futura pode resumir-se nestes três princípios: 1º — “O sofrimento é inerente à imperfeição”. 2º — “Toda imperfeição, assim como toda falta dela promanada, traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e inevitáveis: assim, a moléstia pune os excessos e da ociosidade nasce o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou indivíduo”. 3º — “Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade. A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra: tal é a lei da Justiça Divina”. A observação deste último item, que resume todo o Código, deve ser estudado profundamente e lido à exaustão, pois na sua compreensão está a base do entendimento da justiça.

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