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periferia

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parquinho

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Sobre o conceito periferia e suas modificações ao longo do tempo, Giselle Tanaka (2006) coloca em sua dissertação de mestrado que, primeiramente, o termo foi utilizado para explicar os fenômenos do crescimento urbano, provocado pela industrialização do país e a consequente imigração de pessoas para a cidade em busca de trabalho, que ocuparam as áreas distantes do centro, onde a terra tinha um baixo custo e nenhuma urbanização.

Após a formação de movimentos sociais que reivindicavam equipamentos e infraestrutura urbana para essas áreas, e então uma consciência formada do coletivo, surgem iniciativas culturais, principalmente no Hip Hop e literatura, nos quais os termos periferia e periférico são utilizados para identificar e reconhecer o valor e a produção cultural, tomando para si o poder da enunciação. (TAVANTI, 2018)

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Assim, a ideia de periferia, dentro de um contexto histórico, passa a se relacionar com:

(...)práticas e discursos de sujeitos sociais e políticos de um contexto histórico específico, de ascensão dos chamados movimentos sociais urbanos, e de intensas mudanças na sociedade brasileira: a transição de um regime político autoritário e centralizador, para uma abertura democrática; e a passagem de um contexto de intenso crescimento econômico de base urbana-industrial para um período de recessão e agravamento dos problemas urbanos e sociais.

(TANAKA, 2006, p.5)

29 - Vista do Jd. Figueira Grande

Aproximando essas reflexões ao distrito do Jardim São Luis, na Zona Sul de São Paulo, o histórico dos movimentos sociais tem efeitos hoje no cotidiano e na educação das crianças: o movimento Hip Hop, a poesia e os saraus são incentivos de acesso à literatura, música e conhecimentos culturais; e também impactam na participação das crianças como indivíduos na sociedade, através de atividades e interações em grupos.

A cartografia a seguir tenta espacializar: a) dois pontos fortes (círculos maiores) dos movimentos culturais Hip Hop e literário, que incentivaram outras ações; b) O número expressivo de iniciativas do terceiro setor (pontos rosa, ver listagem p. 168), locais onde as crianças têm acesso a cultura, como: capoeira, música, dança, grafite, educação ambiental, bibliotecas comunitárias, entre outros; c) O número reduzido de equipamentos culturais públicos (pontos laranja), mapeados pela prefeitura (Geosampa).

união

A identificação de necessidades em comum a partir de uma mesma vivência na periferia e a procura por soluções foram estímulos para o surgimento de organizações. O Movimento das Sociedades Amigos de Bairro, desde 1940, buscava reivindicar melhores condições de vida nas periferias e tinha líderes que faziam mediação entre a população e o Estado já em 1960. (TAVANTI, 2018)

Na década seguinte, uma parte da Igreja Católica, ligada à Teologia da Libertação tem ação política por meio das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s), estabelecidas em áreas que ainda não tinham paróquias, onde aconteciam encontros para escuta e mobilização dos participantes, a fim de colaborar uns com os outros e por interesses comuns.

A partir dessas reuniões, surgiram os Clubes de Mães. Começaram com mulheres do Jd. Nakamura que se juntavam para fazer atividades manuais e oficinas, como por exemplo as de costura. Ao relatarem as situações econômicas, os problemas de infraestrutura, educação, saúde e a distância até os equipamentos, aumentava a percepção de que os problemas cotidianos eram reflexo das políticas públicas. Várias unidades foram formadas por toda a Região Sul e as mulheres foram responsáveis pela implantação de várias das unidades escolares e outras melhorias urbanas.

Como consequência do clube, foi criado também o Movimento Custo de Vida (1978), reivindicando melhores condições de vida, propondo o congelamento dos preços de mercadorias de necessidade básica e o aumento dos salários dos trabalhadores. As mulheres faziam pesquisas sobre salários e custo de vida nas casas, se reuniam em assembléias e coletavam assinaturas mesmo sob a repressão do regime militar. Também contavam com o apoio da Igreja e do movimento operário, que mais tarde passou a liderar o grupo. (TAVANTI, 2018)

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