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O pesquisador Francesco Tonucci (2015) faz uma relação entre o papel da floresta e o da cidade no imaginário infantil. Nos contos e fábulas o bosque é sempre retratado como o lugar obscuro, desconhecido, misterioso e perigoso, e a vizinhança, a casa, a rua, são os espaços mapeáveis, familiares. Com o crescimento das áreas urbanas, os papéis se invertem e a cidade passa a ser insegura.

Até o século XVIII, a rua era o local de permanência e de encontro no cotidiano dos adultos e onde as crianças podiam brincar. Com a industrialização, a rua passa a ter a função principal de circulação e as crianças perdem seu espaço na cidade, assim como o convívio de todos no espaço urbano. (LIMA,1989)

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Como reação a imagem negativa da cidade, as crianças são enclausuradas em casa, na escola e no contraturno, fazendo atividades em espaços fechados e controlados, cada vez mais conectadas à uma tela. O tempo de brincar é o tempo que sobra entre as outras tarefas.

A perda da ocupação da rua diminuiu a oportunidade de observar os adultos e reproduzir a cultura e comportamentos. É nas brincadeiras que as crianças incorporam a experiência social por meio das relações que estabelecem com os outros, não só repetindo o contexto em que vivem, mas também recriando cenários e histórias a partir da imaginação. São atividades de assimilação dos papéis sociais e culturais, socialização e reinterpretação do mundo. (BORBA, 2007)

Ainda que se saiba a importância do brincar, o momento de diversão é frequentemente assumido como oposição ao trabalho. Associado à ideia de uma atividade à parte e de menor relevância no contexto da formação escolar, como uma prática que não prepara a criança para se tornar um adulto que trabalha e produz, de forma que o espaço destinado ao brincar tem função dispensável na cidade por não gerar resultados produtivos. (BORBA, 2007)

ci sobre o local de brincar das crianças 15 a 17 - Ilustrações de Francesco Tonuc -

Nas periferias, a oferta de espaços de lazer é pequena, assim como espaços públicos destinados às crianças, de modo que os locais de brincar são as próprias residências e a rua. Mayumi Watanabe, em seu livro A Cidade e a Criança (1989), compara suas observações sobre o brincar de crianças (com as quais teve contato durante sua carreira) que viviam no centro com as que moravam em favelas e cortiços.

As crianças do centro moravam em apartamentos, não saiam na rua para brincar e na maioria das vezes brincavam sozinhas. Já as crianças moradoras dos cortiços brincavam nos corredores ou na calçada, e as que viviam nas favelas, por não terem espaços em casa para brincar, eram as que mais utilizavam as ruas e apresentavam um domínio maior do território. Mayumi afirma que os espaços destinados às crianças (dentro e fora das escolas) são construídos para o controle, para que quando estas forem adultas, sejam obedientes e disciplinadas: v

A organização e a distribuição dos espaços, a limitação dos movimentos, a nebulosidade das informações visuais e até mesmo a falta de conforto ambiental estavam e estão voltadas para a produção de adultos domesticados, obedientes e disciplinados – se possível limpos –, destituídos de vontade própria e temerosos de indagações. (...)Há, em todos os lugares, como que a obsessão do controle que perpassa todos os nossos comportamentos adultos em relação à criança; precisamos sentir-nos donos da situação, ter presente todas as alternativas que a criança poderá escolher, porque só assim nos sentiremos seguros. (LIMA, 1989, p.10)

Os espaços se tornam condicionantes para a formação de adultos passivos uma vez que tem o poder de limitar as experiências destes quando crianças. Os parquinhos, como espaços próprios de brincar, são projetados por adultos sem a participação ativa das crianças, prevendo a tranquilidade dos responsáveis, justificados pela segurança, e não com o objetivo principal de incentivo a criatividade e curiosidade no desenvolvimento infantil.

18 - Criança e Idoso brincando na quadra da Escola Estadual Elyo Ferreira

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