O Jornal Brasil Presbiteriano é um órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 50 nº 653 – Março de 2009
Pé na estrada: jovens fazem missões nas férias escolares
Fotos: Divulgação
Páginas 10 e 11
Mackenzie lança primeiro curso para tradutores de bíblias Página 17
Vale do Itajaí, em Santa Catarina, se recupera após as chuvas Página 15
Brasil Presbiteriano
Março de 2009
EDITORIAL
Programação ou Formação
I
r à Escola Dominical aos domingos (claro, tem de ser aos domingos, ou ela não seria dominical!), participar do culto à noite (não dizemos assistir aos cultos?), não perder reuniões das sociedades internas (que dificuldade para realizar plenárias!) – ou dos ministérios, se em sua igreja dão outro nome para a mesma coisa, só para seguir a moda. Mas o ativismo local inclui também trabalhos (de novo?) na favela, cultos de aniversário (tudo tem de acabar em culto!), intercâmbios e confraternizações em que os participantes não confraternizam (estão no culto e vão para casa quando ele acaba!) e conferências missionárias. É nisso que consiste ser crente? Deve ser, porque há um grande esforço da liderança (ou parte dela) para que os crentes não percam os “trabalhos” (deve ser por causa desse nome que muitos não querem participar!). E que mal há em que a liderança se dedique a atrair as pessoas para as reuniões da igreja? Perguntado assim, de sopetão, e respondido sem maiores avaliações, a resposta é que não há mal nenhum. Mas faríamos bem em aprofundar um pouco o assunto. A Igreja Presbiteriana viveu uns 200 anos sem Escola Dominical (antes dela aparecer) e cerca de 300 antes da SAF, a primeira sociedade interna a ser organizada. Era mesmo presbiteriana a nossa denominação naqueles tempos saudosos? E todas essas programações que hoje congestionam as agendas, não são elas que definem a nossa identidade?
Ou, pelo menos, não são úteis e indispensáveis? Devemos sempre procurar saber quem realmente somos e qual é a nossa missão, mas o sesquicentenário é uma oportunidade especial para essa identificação. Segundo nossa Constituição, “Art. 1º — A O fedor da sujeira edoexcremenIgreja Presbiteriana Brasil é tos no chão era inacreditável" uma federação de Igrejas locais, (pág.447). A filantropia e odetraque adota como única regra fé ebalho práticavoluntário as Escriturasde Sagradas do caridade Antigo Novo Testamentos e como foram erespostas cristãs naquele sistema expositivo e contexto. Grupos dese doutrina organizaprática a sua Confissão de Fé e os ram. Sociedades beneficentes e Catecismos Maior e Breve; rege-se orfanatos se multiplicaram. "O pela presente Constituição; é pessoa grupo Clapham umasexemplo jurídica, de acordofoicom leis do excepcional ... e seu trabalho Brasil, sempre representada civilrefletia o sua papel chave desempemente pela Comissão Executiva enhado exercepelas o seu sociedades governo por voluntámeio de concílios indivíduos, regularmente rias nas eatividades filantrópicas instalados.” Aos distraídos, que chamam uma existe igreja há local150 de anos IPB isso A IPB em ou o lembrete: cada igreja umaquilo, contexto que significa um local compõe a federação chamada desafio perene na área social, e IPB, não é ela mesma uma IPB. muitas as aos respostas E, coisa têm maissido grave, pastoresdos e presbiterianos à carência presbíteros que pretendem sereinandeixar te. Este informado levar pelosjornal ventostem de doutrina, a a respeito dessastalações, como IPB é confessional, como admitimos sabera que e acatar estímulo maisquando se façafomos nesse ordenados. sentido e para que se glorifique a Sobrepor a finalidade e propósito da Deus isso. É, por isso, com IPB, a nossa Constituição afirma que gratidão a Deus que acompa“Art. 2º — A Igreja Presbiteriana do nhamos noticiamos a respeito Brasil teme por fim prestar culto a das iniciativas presbiterianos Deus, em espíritode e verdade, pregar ocasião batizar da lamentável traopor evangelho, os conversos, gédia quee se abateusobsobre Santa seus filhos menores sua guarda eCatarina “ensinar os doutrie fiéis sobrea guardar outros aestados na e prática das Escrituras Antigo brasileiros (págs. 10 e do 11). É a Jesus que estamos servindo (Mt
e Novo Testamentos, na sua pureza e integridade, bem como promover a aplicação dos princípios de fraternidade cristã e o crescimento de seus membros na graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Ocorre que, para vivermos de
acordo com a nossa identidade e para atingirmos nossos propósitos, não basta encher nossas agendas de programas, quer sejam ditados pelas novas modas, quer o sejam pelas cartilhas antigas. Será preciso verificar que as atividades todas nascem
das necessidades dos membros e da preocupação da liderança em alcançar os objetivos propostos em nossa CI. Nossa oração é que as ações que esta edição do BP reporta, sejam inspiradoras nesse sentido, produzindo crescimento local e nacional.
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Erramos Outro destaque desta edição é
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Na edição de janeiro deste ano, na anota de falecimento do presbímatéria sobre o ensino do criatero Abílio Coelho, publicada na página 12, cometemos um equívocionismo no Mackenzie e a reaco no último parágrafo. A frase correta cinco filhos: Ana ção éda“Deixou mídia secular. Não comeMaria, Ita Valmeri, Ângela Maria, Ialda Edi e Abílio, doze netos e çamos nada que outras escolas dois bisnetos, aos quais legou a chama do amor à igreja de Cristo evangélicas e confessionais já e à causa do evangelho”. Pedimos não desculpas família. mas o grito estejamà fazendo,
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EXPEDIENTE
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Órgão Oficial da
Ano 50, nº 653 – Março de 2009 Rua Miguel Teles Junior, 394 – Cambuci, São Paulo – SP - CEP: 01540-040 www.ipb.org.br Conselho de Educação Cristã e Publicações: Mauro Meister – presidente André Luis Ramos - secretário Alexandre Henrique Moraes - tesoureiro
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Março de 2009
HISTÓRIA
Primórdios do Presbiterianismo em Goiânia Fotos: Divulgação
Silas Rebouças Nobre
O
trabalho Presbiteriano em Goiânia começou em 1935 com a fundação da Primeira Igreja. Nesta época, o trabalho estava ligado à Missão Oeste do Brasil, que tinha como representante o Rev. David William, da IP de Araguari (MG). Entre os pioneiros dos trabalhos presbiterianos em Goiânia estão Divino José de Oliveira – que, mais tarde, tornou-se pastor presbiteriano -, a família de Antonio Nunes e as famílias Carrijo, Arantes, Pimenta, Martins e a família Barbosa. Atualmente existem, na Grande Goiânia, quatro Presbitérios, todos ligados ao Sínodo Brasil Central. Juntas elas somam um total de 29 igrejas organizadas, 21congregações e uma Congregação Presbiterial. Por Presbitérios as igrejas são:
2ª IP de Goiânia
Presbitério de Goiânia: Primeira Igreja Presbiteriana, IP Setor Pedro Ludovico, IP Setor Universitário, IP Setor Bueno, IP Beréia, IP Setor Jaó (será organizada no dia 26 de abril próximo), IP Parque Real e IP Senador Canedo. Além dessas igrejas existem ainda mais cinco Congregações. Presbitério Oeste de Goiânia: Segunda Igreja Presbiteriana, IP Vila União, IP Fimsocial, IP Betânia, IP
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9/2/08
Ebenezer, IP Vera Cruz, IP Filadelfia, IP Bairro Tiradentes e mais quatro Congregações. Presbitério Leste de Goiânia: IP Vila Nova, IP Criméia Leste, IP Vila Redenção, IP Parque Laranjeiras, IP Jardim Novo Mundo, mais 4 Congregações de Igrejas, dentro da cidade. Presbitério Sudoeste de Goiânia: IP Campinas, IP Jardim América, IP Novo Horizonte, IP Bethel, IP 2:47 PM
Canaã, IP Peniel, IP Alto Paraiso, IP Cidade Satélite, IP Alfhaville, mais nove Congregações destas igrejas dentro da cidade. Presbitério Metropolitano de Goiânia (Organizado em 4 de dezembro de 2008): IP Maranatha, IP Vila Morais, IP Recanto das Minas Gerais, IP Vila Concórdia, IP Graça e Vida, IP Luz e mais três Congregações dentro de Goiânia, sendo uma delas
a Congregação Presbiterial Pedra Viva. As Igrejas mais antigas em Goiânia são: A Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, a Segunda Igreja Presbiteriana de Goiânia e a Igreja Presbiteriana de Campinas. A última era uma cidade, hoje bairro de Goiânia. O rev. Silas Rebouças Nobre é Coordenador do Departamento de História da Igreja do Seminário Prebiteriano Brasil Central, em Goiânia.
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Igreja Presbiteriana
150 anos evangelizando o Brasil No Brasil há muitas igrejas cristãs. Mas poucas têm um século e meio de história. A IPB tem. São cento e cinquenta anos educando, promovendo ações sociais, transformando vidas com a palavra de Deus. Igreja Presbiteriana. 150 anos evangelizando o Brasil. www.ipb.org.br/sesq
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Março de 2009 SXC
CONHECIMENTO
Ciência ou Fé? (2) Hermisten Maia Pereira da Costa
N
em todo saber é considerado científico, visto haver graus de conhecimento, bem como o conhecimento empírico – fragmentado, que carece de demonstração, mas que nem por isso deve ou pode ser desprezado –, e o conhecimento da fé, que ultrapassa a possibilidade racional de total explicação e demonstração; aliás, Deus não é passível de demonstração racional; ele a transcende. Contudo, deve ser dito que, mesmo que isso fosse possível satisfatoriamente, tal demonstração não conduziria ninguém a Deus. A nossa “sabedoria” não conta neste campo, a menos que seja guiada pela fé (1Co 1.21; 2.14); e esta é um dom de Deus, não uma conquista da razão. Portanto, o conhecimento científico mesmo sendo relevante – o que de nenhum modo pode ser desconsiderado –, é extremamente limitado, não sendo estranho observar na História, que a “ciência” de hoje pode se tornar o mito de amanhã. Apesar desta limitação, o conhecimento científico julga-se capaz de descrever os fenômenos de forma objetiva, metódica e sistemática, identificando o seu objeto e tendo condições de discorrer sobre o mesmo. Ele almeja ser uma leitura da experiência por intermédio de uma ótica que se esforça por ser objetiva e sistemática, buscando, dentro de princípios definidos, ordenar os fenômenos de forma a poder elucidá-los. A função
da ciência – dentro do âmbito que lhe compete –, é substituir a experiência por uma sistematização passível de verificação experimental; ela faz uma “correspondência simbólica” (J. Ortega y Gasset, Que é Filosofia?, Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1961, p. 40), sendo a linguagem o meio de que a ciência dispõe para assim se expressar: “A linguagem é o primeiro grau do esforço em direção à ciência” (F. Nietzsche, Humano, Demasiado Humano, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. XXXII), 1974, I.1.11. p. 101), sendo também o seu meio de expressão. Por isso, o conhecimento científico deve ser passível de compreensão, demonstração e comprovação. Ele se propõe a compreender, descrever, controlar e até predizer os fenômenos por ele analisados; por isso, é que a ciência pode ser considerada como “a consciência dos gêneros” (L. Feuerbach, A Essência do Cristianismo, Campinas, SP: Papirus 1988, p. 43). Deste modo, a ciência deve poder ser realizada novamente e de forma aperfeiçoada. Contudo, como ter a certeza de que este modo aperfeiçoado é o derradeiro? E se o pós-considerado-derradeiro negar o que parecia final? Simples: posso me alegrar com a nova descoberta, mas, o processo de desconfiança criativa continua... É possível também, descobrir que o rejeitado como “précientífico” se mostre agora verdadeiro. De qualquer forma, o processo continua. Desespero? Não, consolo: “Porque nada podemos con-
O conhecimento científico julga-se capaz de descrever os fenômenos de forma objetiva, metódica e sistemática, identificando o seu objeto e tendo condições de discorrer sobre o mesmo
tra a verdade, senão em favor da própria verdade” (2Co 13.8). A ciência como um empreendimento humano, é extremamente complexa, estando associada a diversos elementos históricos e sociais, tendo, consequentemente, profundas implicações sociais (Edgar Morin, Ciência com Consciência, 7ª ed. revista e modificada pelo autor, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, p. 8-9, 20; Pierre Bourdieu, Os usos sociais da ciência, São Paulo: UNESP., 2004, passim). Talvez muitos dos seus projetos tenham que se contentar em permanecer como meras projeções não atingidas ainda que o “não atingidas” também seja provisória dentro da efemeridade de nossa existência. A ciência
não é o único caminho para se chegar ao conhecimento e, na realidade, não pode esgotar o real (John Ziman, O Conhecimento Confiável: uma exploração dos fundamentos para a crença na ciência, Campinas, SP: Papirus, 1996, p. 12-13). Este é mais abrangente e complexo do que o instrumental disponível pelo cientista. A questão é a seguinte: como ter pretensão de esgotar o de que nem sequer tenho a sua dimensão? A ciência – aliás, não só ela, todas as esferas de nossos conhecimentos –, não consegue perceber toda a extensão do real, portanto, as suas pretensões são por demais ambiciosas. Talvez falte à ciência a consciência de sua própria limitação. Ela pouco se conhece; daí, por vezes, a sua angústia desnecessária (Veja-se exem-
plo desta angústia in: John Horgan, O Fim da Ciência: uma discussão sobre os limites do conhecimento Científico, 3ª reimpressão, São Paulo: Companhia das Letras, 2006). “A questão ‘o que é a ciência?’ é a única que ainda não tem nenhuma resposta científica” (Edgar Morin, Ciência com Consciência, p. 21). Nesta consciência teórica, a sua atividade empírica se tornará mais abrangente e positivamente útil. Isto me faz lembrar o comentário de Braudel (1902-1985) de que quando o sociólogo Edgar Morin se despediu do Partido Comunista, logo depois, disse: “O marxismo, meu velho, estudou a economia, as classes sociais; é maravilhoso, meu velho, mas ele se esqueceu de estudar o homem” (Gramática das Civilizações, 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 315). Talvez falte à ciência o instrumental necessário para o seu auto-exame.
Brasil Presbiteriano 2) Compromisso e limite da ciência A ciência está comprometida com a compreensão do real, mesmo que este não lhe pareça algo agradável ou digno; não cabe a ela escolher um “real ideal”, mas sim trabalhar com o que existe. Creio que Bacon (1561-1626) captou bem este sentido, ao afirmar que: “Tudo o que é digno de existir é digno de ciência, que é a imagem da realidade. As coisas vis existem tanto quanto as admiráveis” (Francis Bacon, Novum Organum, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, Vol. XIII), 1973, I.120. p. 85). Dentro desta perspectiva, a definição de Popper (1902-1994) a respeito da meta da ciência, parece-nos correta: “O objetivo da ciência é encontrar explicações satisfatórias do que quer que nos apresente e nos impressione como estando a precisar de explicação” (Karl R. Popper, O Realismo e o Objectivo da Ciência, (Pós-Escrito à Lógica da Descoberta Científica, Vol. I), Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1987, p. 152. Ver também, p. 164-165). O cientista caracteriza-se pela posse do espírito semelhante ao do filósofo, que está sempre a caminho, procurando respostas para problemas pretéritos e presentes e, concomitantemente, busca novos problemas, que amiúde estão abrigados nas soluções encontradas. Antigos problemas não solucionados continuam como tais ainda que os tentemos esquecer ou menosprezá-los com um rótulo reducionista e um sorriso irônico que acalme a nossa consciência repleta de inquietações moribundas. H. Gadamer (1900-2002), por exemplo, analisando a hermenêutica filosófica, observa que: “Uma interpretação definitiva parece ser uma contradição em si mesma. A
interpretação é algo que está sempre a caminho, que nunca conclui. A palavra interpretação faz referência à finitude do ser humano e à finitude do conhecimento humano (...). Pois então, mais importante que o interpretar o claro conteúdo de um enunciado é inquirir os interesses que nos guiam (...). A hermenêutica filosófica está mais interessada nas perguntas que nas respostas....” (A Razão na Época da Ciência, Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983, p. 71 e 72). Este comentário de Gadamer, contudo, deve ser tomado com certa cautela, a fim de não cairmos no perigoso labirinto do subjetivismo, eliminando a diferença fundamental entre “sentido” e “significado” na interpretação de um texto.
A ciência como um empreendimento humano, é extremamente complexa, estando associada a diversos elementos históricos e sociais, tendo, consequentemente, profundas implicações sociais
Tanto a ciência como a filosofia, caminha dentro da dialética do saber-ignorânciasaber, mantendo este “equilíbrio dinâmico”. Por isso, a ciência, que para ser genuinamente ciência tem que ser necessariamente verdadeira, sofre, devido a nossa limitação, de uma “desconfiança necessária e proveitosa”: Como não posso ter certeza de que aquilo que penso
Março de 2009 saber é de fato “ciência” e, ao mesmo tempo, para não cair em um círculo vicioso de inércia não-produtiva onde o centro do mundo encontrarse-ia geograficamente no meu umbigo, construo com o que tenho e, concomitantemente, permaneço alerta, cultivando uma dúvida metódica oxigenante sobre o que sei, a fim de que, caso o que eu saiba seja realmente “ciência”, não tenho o que temer, caso contrário, não me acomodei com a miragem do saber. Nesta hipótese, o novo “edifício do saber”, passará pelo crivo da mesma “desconfiança” (Ver: Karl Popper, A Lógica da Investigação Científica, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, Vol. XLIV), 1975, p. 383-384; Jean Piaget, A Epistemologia Genética, São Paulo: Abril Cultural (Os Pensadores, Vol. LI), 1975, p. 129-130). Da mesma forma, afirma Veith: “Aqueles que vêem a ciência como algo que produz a verdade imutável deveriam estudar a história da ciência e fazer a si mesmos outras perguntas: Se a ciência tem nos dado uma série de modelos para explicar dados sempre crescentes, podemos esperar que seja absoluto o que a ciência nos diz agora? Daqui a cem anos, a ciência estará nos dizendo o mesmo que nos diz hoje? (...) Se a ciência de 1500 parece bastante primitiva e ingênua, será que a nossa ciência também não parecerá primitiva e ingênua daqui a quinhentos anos? O que a ciência proclama como fato nem sempre é tão certo para a geração seguinte de cientistas” (Gene Edward Veith, Jr, De todo o teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 57). Nem por isso a ciência deve ser gratuitamente rejeitada. Na realidade ela é construí-
da tendo um cerne comum, valendo-se das contribuições básicas dos seus predecessores. A ciência de fato deve ser avaliada e a história nos ajuda bastante na compreensão de determinados conceitos e de sua superação e substituição por outros (Thomas Kuhn, A Revolução Copernicana, Lisboa: Edições 70, (2002), p. 20). A nossa dúvida quanto à ciência tem como fundamento a fé na sua capacidade de superação do que foi atingido. Somente a fé que duvida metodologicamente de sua fé, pode de fato se tornar confiável.
Antigos problemas não solucionados continuam como tais ainda que os tentemos esquecer ou menosprezá-los com um rótulo reducionista e um sorriso irônico que acalme a nossa consciência repleta de inquietações moribundas
Numa entrevista concedida (fins de 1984?), Popper (1902-1994), criticando os intelectuais da linha hegeliana, disse que, “o primeiro valor (do intelectual) deve ser a busca da verdade” (Karl R. Popper, Entrevista publicada no jornal, Estado de São Paulo: 20/01/85, “Cultura”, p. 12). Portanto, o que caracteriza o vigor de uma ciência, não
é a sua rigidez, antes, é o grau de desconfiança a que a nos permitimos submeter os seus enunciados a fim de aperfeiçoá-los. E este aperfeiçoamento, entenda-se, pode justamente consistir na mudança dos mesmos. “Só é realmente livre a ciência que, enquanto está estritamente limitada a seu próprio princípio, tem o poder de livrar-se de todos os laços artificiais” (Kuyper, Calvinismo, p. 147. São Paulo: Cultura Cristã). A ciência não tem pátria nem idade; ela não é privilégio de um povo, menos ainda de um indivíduo; ela é um produto coletivo (Émile Durkheim, Educação e Sociologia, 5ª ed. São Paulo: Melhoramentos (s.d.) p. 35; John Ziman, O Conhecimento Confiável, p. 13). Todo cientista – usando a figura de João de Salisbury (c. 1110-1180) – equivale a um anão sobre os ombros de gigantes, se valendo das contribuições de seus predecessores, a fim de poder enxergar um pouco além deles. A ciência que envelhece, assina o seu obituário, confessando o ocaso de seu pretenso saber. A ciência como verdade é sempre vigorosa; mesmo que os homens tentem negá-la ou ridicularizá-la, o tempo a solidifica e a rejuvenesce. A “ciência” que foi negada, evidenciou por isso mesmo, que não era ciência; contudo, se ela de fato for, renascerá do seu ocaso, atestando a sua perenidade. Parece-me fundamental para o cientista o reexame constante da “ciência”, contudo, tendo como referencial paradigmático, a convicção de que existem conhecimentos absolutos, mas, que nem por isso devem estar acima de nosso exame. O Rev. Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa é o Diretor da Escola Superior de Teologia da Universidade Mackenzie.
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EDUCAÇÃO
Ensinar e aprender: o alvo da docência Wilson do Amaral Filho
T
odos sabem o que uma bola representa para o homem adulto brasileiro. Ela é um dos seus brinquedos favoritos, tratada com paixão desde a infância e até quando esse homem tiver saúde para jogá-la. Mas o que dizer de girar um “pião”? O Dicionário Aurélio define pião como um “brinquedo em forma de pêra, com uma ponta de ferro, que gira impulsionado por um cordel, enrolado nele...”. Lembra-se? Certamente, esse brinquedo não é comum em todas as regiões do Brasil, nem popular tanto quanto a bola, mas escolhi levar dez piões e seus respectivos cordéis a um congresso de homens, cujo tema versava sobre “masculinidade”. Na condição de palestrante do congresso, me senti na liberdade de propor-lhes a brincadeira logo na abertura e, na hora própria, presenciei um dos momentos bem humorados do grupo, composto por congressistas de todas as idades. Constatei mais uma vez que podemos ficar “enferrujados”, mas não nos esquecemos de “como se faz”, quando aquilo foi efetivamente aprendido. De fato, aquele algo aprendido, por mais tempo que passe, interage de alguma forma com o presente. O testemunho geral foi de terem sido remetidos à infância, recordando os passos para fazer o pião girar com eficiência e arte. Aos poucos a habilidade voltou: girar o pião; laçar o pião com o cordel e erguê-lo até a palma da mão; acertar o pião do colega vizinho, etc.. Alguns sabiam pouco, outros sabiam muito, mas havia interação, compartilhamento, instrução e muito riso, especialmente
quando tudo dava errado. Minha atenção se voltou para um homem jovem, que nunca havia utilizado o brinquedo. Um congressista bem mais velho, com idade suficiente para ser avô do outro, se propôs a ensiná-lo. Passo a passo aquele homem foi mostrando ao jovem como se faz para girar o pião. Fazia e mostrava.
docentes da igreja são mais experimentados nos conhecimentos bíblicos que os demais, mas não sabem tudo. À medida que eles se desenvolvem em qualquer área do conhecimento das Escrituras, se tornam aptos para ensinar o que sabem, mas têm a consciência da tarefa de continuar aprendendo. Bons docentes aprendem com quem
a ser apresentado e discutido. Todavia a apresentação desse conteúdo deve reunir todos os esforços docentes para que os alunos assimilem aquilo que lhes está sendo proposto, de forma racional e ocupacional. É preciso levá-los a pensar, por si mesmos, que o conteúdo proposto lhes ajudará a viver de modo mais próximo de Deus e Divulgação
Ensinar é antes de tudo uma atitude humilde, em que buscamos aprimorar e alavancar os conhecimentos do outro, na expectativa de que o outro seja autônomo e faça boas escolhas sob a ótica da Palavra de Deus
Pedia ao moço que repetisse a operação. Finalmente chegou a hora de lançar o pião. Com a habilidade de volta depois de décadas sem praticar, o mestre fez o pião girar com elegância. Enfim, a última imagem desse episódio foi o grito triunfante do rapaz, quando conseguiu fazer o pião girar depois de várias tentativas. Ele aprendeu! Ensinar e aprender são atividades da mesma pessoa e concomitantes, especialmente para aqueles que se consideram servos de Deus. Geralmente os
sabe mais do que eles e aprendem com seus próprios alunos, num processo de interação constante com a Escritura e com a vida. Pensando na aula do próximo domingo, o que deve ser ensinado e aprendido na sala de aula é fundamental para a transformação de todos. Como fazer? Por que fazer? Certamente o planejamento feito pela comissão de educação cristã da igreja, o roteiro da revista, o preparo da lição é fundamental para apontar o conteúdo
lhes proporcionará maior integração com a própria vida. Como fazer, então? Não há uma fórmula para fazer os alunos aprenderem o conteúdo integral da aula, nem se tem a certeza de que todos aprenderão alguma coisa. Mas o que concerne ao docente, este deve considerar: a preocupação com a apresentação do assunto de forma compatível com a faixa etária, com o manejo de materiais e meios mais adequados a ela; a introdução ao assunto de forma adequada; a oportu-
nidade de discutir e argumentar sobre o assunto da aula; a atividade ocupacional que amplie o conhecimento dado pela fala; uma conclusão compatível com o que foi discutido; a aplicação da aula de forma a contextualizá-la na vida dos alunos. Por que fazer? A igreja não é uma mera sociedade políticoideológico-catequizadora. É a esposa de Cristo, o corpo do Senhor. Seus alunos são alunos do Senhor e foram arregimentados pelo próprio Senhor, que os comprou com seu sangue, para aprenderem a ser conformes à imagem de Jesus (Rm 8.29) em meio ao mundo em que vivem. Isto exige mais do que simplesmente conhecerem a Bíblia cognitivamente. Exige autonomia moral, porque os alunos precisam saber escolher dentre as possibilidades que se lhes apresentam e, por seu procedimento, engrandecer a Deus e edificar a si mesmos e ao próximo. Voltando à experiência com os piões, percebi que ensinar é antes de tudo uma atitude humilde, em que buscamos aprimorar e alavancar os conhecimentos do outro, na expectativa de que o outro seja autônomo e faça boas escolhas sob a ótica da Palavra de Deus. Constatei que nunca se pára de aprender, até mesmo quando pensamos que já experimentamos de tudo. Observei ainda que aprender é, diante do conhecimento proposto, apropriar-me dele e experimentar uma transformação, que altera dali em diante meu comportamento. Voltei para casa sem nenhum pião! O Rev. Wilson do Amaral Filho é pastor presbiteriano, Professor de TS na Escola Superior de Teologia do Mackenzie e tesoureiro da ANEP.
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MÚSICA
Cantando para a vida Elizabeth Gomes
H
inos de exaltação do Senhor e sobre experiência cristã fizeram parte integrante da nossa educação informal. Moldaram em nossos filhos um caráter de confiança em Deus e de segurança na Palavra. No entanto, hoje, quando é pedido para cantar hinos, na igreja, poucas pessoas os conhecem – preferem os “corinhos mantra” com muita repetição e pouco conteúdo. Não sou contra corinhos. Cânticos e coros espirituais fazem parte de nosso repertório. Já na igreja primitiva, faziam parte da vida dos crentes, reunidos em casas ou escondidos nas catacumbas. As palavras de Paulo aos Colossenses aplicamse a todos os crentes: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhaivos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração”. O louvor a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais faz parte da instrução e do aconselhamento da palavra de Cristo. Hoje, porém, muito da riqueza no louvor é perdida em função da pobreza das letras e músicas impensadas. O que fazer para mudar esse cenário? Como tornar prático o hábito de cantar ao Senhor um cântico novo (Sl 96.1, 98.1) enquanto vivermos (Sl 104.33)? 1. Preste atenção ao que é cantado Em 1Coríntios 14.15, Paulo liga o cântico à oração: “Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente”. O que cantamos não é apenas um “ô-lelê” incompreensível – deve ser pensado antes, durante e depois de cantado. Isso eliminará alguns coros
populares, como “Eu, eu, eu, eu, eu quero Deus”, em que a ênfase fica totalmente no eu e Deus é apenas um apêndice ao que eu quero; ou antigos, como “Eu quero ser um anjo, um anjo do bom Deus”, porque jamais seremos nem deveríamos aspirar ser anjos, outra espécie de criatura de Deus.
O que cantamos não é apenas um “ô-lelê” incompreensível – deve ser pensado antes, durante e depois de cantado
Tudo que somos e temos deveria louvar ao Senhor. Assim, é incorreto chamar o “momento” de cânticos[1]como período de “louvor”. Os cânticos são uma entre muitas formas de louvar a Deus. É importante lembrarmos em nossos cânticos o elemento de louvor, de atribuição da glória ao Deus trino. Êxodo 15, tal como grande parte dos salmos, eram hinos de louvor. Os cânticos de Hebreus 1.1-5, de Efésios 1.3-6, de Apocalipse 4.8 e 11 e Apocalipse 5.12 e 13 certamente foram cantados desde que o Novo Testamento passou a ser conhecido dos crentes. Louvor a Deus – pelo que ele é, pelo que ele faz, por suas promessas, pelos seus atributos – fica bem ao povo que se chama por seu nome. 2. Hinos e cânticos têm função doutrinária e pedagógica Até mesmo não sendo expressamente didáticos, não deverão contrariar a boa doutrina. “Não nas mãos, mas em minha alma tomo o corpo de Jesus” (346,
Hinário Novo Cântico) explica o que cremos sobre a Ceia do Senhor; “Enquanto ó Salvador teu livro ler, de auxílio necessito para ver além da mera letra, a ti Senhor...” (352, HNC) é uma oração reconhecendo a necessidade da ajuda de Deus para o entendimento da sua Palavra. Em um casamento memorável a noiva entrou com o toque de trombetas e órgão ao som de “Deus dos antigos cuja forte mão rege e sustém os astros na amplidão...teu povo ó Deus assiste em seu labor, no testemunho do teu grande amor...” (18, HNC). Momentos terríveis podem requerer canto adequado. Acompanhando o marido na visita a uma pessoa oprimida, a jovem esposa de pastor atendeu ao pedido para cantar “Castelo Forte”, a Marseillese da Reforma (155 HCN). Acalmaram-se, cantora e enferma, com: “Se nos quisessem devorar demônios não contados/ não poderiam derrotar nem ver-nos assustados/ O príncipe do mal com seu plano infernal/ já condenado está! Vencido cairá/ Por uma só palavra”. No funeral de um pai de família, compartilhando a dor da jovem viúva que, como ela, tinha três crianças, não conseguiu continuar o hino: “Descansa ó alma, eis o Senhor ao lado, paciente leva e sem queixar-te a cruz...”. Ajudou-a o pai enlutado, com voz trêmula: “Prossegue ó alma, o trilho é estreito e escuro, mas no passado Deus guiou-te assim,/ confia agora a Deus o teu futuro e o que é mistério há de aclarar-se enfim...” Perdas, sofrimentos, prêmios, alegrias – tudo se encerra em: “Se paz a mais doce me deres gozar, se dor a mais forte eu sofrer, oh! Seja o que for, tu me fazes saber que feliz com Jesus sempre sou” (108 HNC). Podemos cantar, certos da soberania do Deus que “tem um plano em cada criatura”. 3. Devemos ensinar coros e cânticos espirituais, mas tam-
bém hinos clássicos. Uma garotinha de dois anos, depois de ter cantado “Sou uma florzinha de Jesus”, pediu para cantar o “Aleluia” de Handel: “pois o Senhor onipopente reina”... (não conseguia pronunciar onipotente, mas entendia que o Deus que reina em sua vida pode fazer todas as coisas). No culto doméstico o menino de seis anos cantou: “Santo, Santo, Santo”, com a mesma desenvoltura com que cantou “Meu Bom Pastor é Cristo”, assumindo a si verdades do hino e do coro.
O culto doméstico (prática em extinção para a maioria das famílias presbiterianas que juraram ensinar aos filhos a Bíblia e seus conceitos) é oportunidade singular para aprender novos e velhos hinos
O culto doméstico (prática em extinção para a maioria das famílias presbiterianas que juraram ensinar aos filhos a Bíblia e seus conceitos) é oportunidade singular para aprender novos e velhos hinos. Se os pais lerem o trecho bíblico e fizerem uma breve meditação, nada mais justo que um dos filhos escolha um ou dois cânticos apropriados para a ocasião. Se a criança estuda música, o culto doméstico fornecerá oportunidade para louvar com instrumento ou voz. Isso ensina preparação – não o descaso do último momento.
Um lembrete para os músicos. O “louvor” não é um culto dentro do culto.[2] É melhor investir no aprendizado de instrumentos e voz – com arte! – do que usar o playback. Referindo-se a um hino ou cântico, o líder não deveria dizer: “Vamos cantar o número tal”, e sim “Vamos cantar ‘Vencendo Vem Jesus’, número tal em nosso hinário”. O nome do hino é o que deve ser citado e não o número que muda de hinário para hinário. Quando começamos a pensar no que cantamos, o assunto é longo demais para um artigo só. O cântico ajuda a memorizar a Palavra de Deus (por exemplo, Atos 4.32, melodia de João Alexandre) ou até dos livros da Bíblia (tal como os Cânticos para Salvação das Crianças – APEC). Criada no evangelho, uma pessoa que viveu afastada do Senhor, ainda que fraca espiritualmente, guardou na memória as letras de grandes hinos que afirmavam sua fé. Perto da morte, só lhe restaram essas confissões. Proclamamos a mensagem por meio de cânticos, consolamos uns aos outros com cânticos, edificamo-nos com cânticos de hinos que construíram a igreja ao longo dos séculos. Cantamos ao mesmo Deus que Abraão louvou (21 do HNC) e cantaremos com os remidos do final dos séculos: Dai louvores ao nosso Deus, todos os seus servos, os que o temeis, os pequenos e os grandes (Ap 19.5). [1] A rigor, não deve haver tal momento de cânticos. Eles devem ser distribuídos ao longo do programa de culto, e sem as arengas que os acompanham (n. do E.). [2] Pastores devem lembrar disso, também e ensinar a igreja. Elizabeth Gomes é autora do livro Irmãos - cúmplices e rivais em aliança (Cultura Cristã) e é casada com o rev. Wadislau Gomes
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Março de 2009
FORMATURA
Pastores validam diploma e colam grau Divulgação
Caroline Santana Pereira
F
oi realizada no dia 26 de janeiro a formatura do curso de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da turma de validação do diploma em Teologia, composta por pastores da IPB formados pelos seminários da Igreja, cujos títulos ainda não eram reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC). Entre os formandos encontrava-se o rev. Roberto Brasileiro, presidente do Supremo Concílio da IPB e orador da turma. Em seu discurso, o pastor compartilhou o sentimento de sentar-se numa sala de aula e ser novamente Discurso rev. Roberto Brasileiro um aluno, depois de 30 anos. Segundo ele, desde o primei- fato de voltar à academia não de pesquisa, leitura e esturo dia de curso, os professo- significa que os pastores estão do também no período em res enfatizaram a figura do em busca de novas convic- que esteve em casa, ou seja, estudante, do aprendiz, não ções ou procurando, de fato, além das aulas presenciais, importando o que se é ou faz. o que querem ser ou no que os pastores dedicaram parte O rev. Roberto destacou a crer, mas sim para reafirmar do seu tempo para realizar as demais tarefas, com praqualidade do curso da Escola as bases solidificadas. O pastor orador da turma zos, por vezes, apertados. Na Superior de Teologia (EST) comentou sobre os trabalhos oportunidade, o rev. Roberto do Mackenzie. Afirmou que o
agradeceu as igrejas e as famílias, que abriram mão do serviço e da presença de cada um daqueles formandos, para que eles se dedicassem ao aperfeiçoamento acadêmico. Proferiu palavras de gratidão aos professores, aos colegas, aos funcionários e principal-
mente a Deus, que deu e dá, a cada um dos ministros, condições para cumprir seu chamado. O rev. Roberto Brasileiro recomenda e incentiva os demais pastores a buscarem informações sobre a validação. Os professores presentes, em seus discursos, também reafirmaram o valor do curso, não apenas como mais um obrigação acadêmica, mas numa perspectiva ministerial. O rev. Herminsten da Costa, diretor da EST e paraninfo da turma, destacou a relevância da academia também para a igreja, e estimulou os formandos a investirem seu conhecimento na trajetória pastoral. Para ele, novas oportunidades acadêmicas surgirão, mas somente a igreja, “o chão da realidade cotidiana” nas palavras do pastor, é capaz de revitalizar a fé e a mente. Para saber mais sobre o curso de validação do diploma em teologia, acesse: http://www. mackenzie.br/validacao_creditos_teologia.html
ANO LETIVO
Seminário realiza culto de abertura
F
oi realizado no dia dois de fevereiro, na IP do Méier, Rio de Janeiro (RJ), o culto de abertura do ano letivo do Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Ashbel Green Simonton (STPS), que contou com a participação dos alunos, professores, funcionários, e de representantes de igrejas, presbitérios, sínodos e forças de integração.
Compareceram também o presidente da Junta de Educação Teológica da IPB (JET), presb. Francisco Solano Portela Neto, e o presidente da Junta Regional de Educação Teológica (JURET), rev. Jailto Lima do Nascimento. O capelão do seminário, rev. Maxwell Barros Soares, conduziu o programa da celebração. O coral da IP de Piedade e o grupo vocal da IP do
Méier foram os responsáveis pelo cânticos. O mensageiro da noite foi o rev. Dr. Antônio José do Nascimento Filho. Baseado na passagem bíblica João 5.1-18, desafiou os presentes a valorizarem uma vida comunitária; uma vida na qual a ortodoxia caminhe em passo igual com a solidariedade; uma vida comprometida com o Reino de Deus, sem preconceitos, sem
estereótipos. “Fomos ricamente abençoados. Sentimo-nos desafiados e desejosos de colocar em prática os ensinamentos recebidos”, afirma o rev. Cláudio Aragão da Guia, diretor do STPS. Após o culto, houve um momento de confraternização entre os presentes. “Ao rev. dr. Antônio José, ao rev. Ely Gonçalves, ao rev.
Jailto Lima, ao presb. Solano Portela, à profª Carlota Meire de Mello Cordeiro, a IP do Méier, seu grupo de cânticos, ao coral da IP Piedade e a todos que ali estiveram, nossos agradecimentos e que as bênçãos do nosso Deus sejam derramadas abundantemente sobre todos. À família STPS, um ano letivo produtivo, com a graça de Deus”, finaliza o rev. Cláudio.
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Março de 2009
NOTAS DE FALECIMENTO SXC
Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. (Isaías 41:10)
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No dia 02 de novembro do ano passado, aprouve ao Senhor recolher para si a sua serva, a amada irmã Izolinda Maria da Silva, com 86 anos. Deixou os filhos Azor, Davi, Samuel, noras e netos. Fiel no trabalho do Senhor, sempre esteve presente nas atividades da 2ª IP de São Caetano do Sul, da qual era membro. Que Deus console o coração de seus familiares e de seu viúvo Azor.
< DEIXARÁ SAUDADES... Por: Luiz Viana de Alcântara Filho
O Rev. Rúben Viana de Alcântara, filho do Rev. Dr. Luiz Viana de Alcântara Filho e de dona Ireni Medeiros de Alcântara, nasceu a 01 de julho de 1977, em Campo Grande, RJ. Professou sua fé aos 15 anos, na Congregação de Morada Nova, da IP do Bairro Constantino, Patrocínio, MG. Foi examinado e aprovado pelo Presbitério do Alto Paranaíba (PAPB) com vistas ao sagrado ministério em 2000, na cidade de Araxá, MG, sendo-lhe designado como tutor eclesiástico o Rev. Saulo Pinheiro. Cursou teologia no JMC em São Paulo. Ao longo do curso trabalhou com o Rev. Rui Fábio Fagundes, pastor da IP de Itaquaquecetuba. Recebeu o diploma de Bacharel em Teologia em 2004. Rúben cumpriu sua licenciatura na IP no Bairro de Varginha, em Itajubá, MG, sendo
pastor da igreja o Rev. Dewel Lomônaco Braga, em 2005. Seu casamento com Rafaela Kristina Pereira de Alcântara se deu na IP Central, em Patrocínio, a 20 de janeiro de 2006. Em abril de 2006, foi ordenado ao Sagrado Ministério pelo PAPB, na IP do Sertãozinho, em Patrocínio, e designado pastor evangelista daquela igreja. Foi designado Secretario Presbiterial de Educação Religiosa do PAPB para 2008 e 2009 e designado pastor evangelista da IP Bairro de Vila Nova, em Monte Carmelo, MG, para 2007, 2008 e 2009. O Rev. Rúben Viana de Alcântara partiu para a eternidade com 31 anos, tendo 3,7 anos de ordenado e 3 anos de casado, sem filhos. O seu falecimento se deu às 7h45min do dia 8 de fevereiro de 2009, no Bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro.
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Felisberto Gonzaga da Cunha, filho de Genézio Gonzaga de Novaes e Cassiana Cândida Carneiro, evangélicos, nascido no dia seis de Janeiro de 1909, em Iapú (MG), no ano da organização da IP na Areia Preta, Inhapim-MG. Casou-se com Maria Lanes de Novaes, tiveram 10 filhos, atualmente 07 deles vivos. Na década de 50 iniciou o ministério do presbiterato na IPB em Vai e Volta, na época município de Iarumirim (MG). No início da década de 60 mudou-se para Central de Minas, onde deu continuidade ao presbiterato na IPB em Mendes Pimentel, sede da congregação. Exerceu seus mandatos em reeleição durante anos. Nos anos 90 veio para Rondônia e retornou para permanecer até seus últimos dias em 2002 Até o último dia 4 de Janeiro, quando faleceu, Felisberto era presbítero em disponibilidade na 1ª IP em Ouro Preto do Oeste (RO). Deixou aproximadamente 48 netos e muitos bisnetos.
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Março de 2009 EXEMPLO
Jovens participam de projeto missionário em Bonito
Adolescentes em ação uma fase difícil da vida. Dúvidas, turbilhão de emoções e espinhas. A adolescência é mesmo uma das fases mais complicadas da vida. Mas é, também, uma das fases mais importantes no que diz respeito a estabelecer um compromisso real com Deus. Nesse contexto, vale a pena ressaltar o trabalho do Pé na Estrada, desenvolvido pela Federação Nacional de Upa´s. Nascido há cinco anos, o projeto consiste em tirar os jovens de suas igrejas locais e levá-los para uma cidade do interior do Brasil para pregarem o evangelho e terem uma experiência transformadora com Jesus.
É
Em janeiro deste ano, 86 pessoas – a maioria adolescentes de diversas igrejas presbiterianas do Espírito Santo –, aceitaram o convite e desembarcaram no Mato Grosso do Sul, na cidade de Bonito. Lá, em meio à algazarra peculiar aos adolescentes, eles fizeram muito mais do que barulho. Fizeram diferença. O grupo, capitaneado pelo pastor da IP Memorial de Vila Velha, Espírito Santo, Deivson Vieira Torres, realizou, aproximadamente, 37 visitas, distribuiu bíblias, participou de treinamentos para ministérios infantis, realizou visitas a asilo, orfanato e a um hospital da cidade. No hospi-
tal, os jovens realizaram um culto com os enfermeiros. Os adolescentes também participaram da realização de uma Escola Bíblica de Férias, encontro evangelístico em uma das praças da cidade e ajudaram na realização de diversas palestras. O casal de missionários Davi Helon e Tais Andrade, da congregação presbiterial de Bonito, destacaram a importância da visita dos jovens, afirmando que todos os que estiveram na cidade demonstraram garra e responsabilidade. “Eles mostraram, na prática, que a alegria está no coração de quem já conhece a Jesus”, afirmou Davi.
Fotos: Divulgação
“O Pé na Estrada foi muito edificante para minha vida. O trabalho evangelístico foi muito sério e visível a ação de Deus nos mínimos detalhes. Presenciamos Deus libertar muitas vidas durante as visitas nos lares de algumas pessoas. O que mais me marcou foi o ministério de capelania. Visitamos orfanatos, asilos e hospitais. Por serem locais mais expostos ao sofrimento isso me sensibilizou muito e foi ótimo orar com aquelas pessoas e levar uma palavra de conforto, amor e salvação” (Thaís Duarte de Andrade, 15 anos).
Culto com os enfermeiros de um dos hospitais de Bonito
Março de 2009
“Pé na estrada não é um projeto feito somente de jovens e adolescentes, também de adultos e uns poucos velhos ousados, porem com a predominante maioria de jovens que tem a chancela do projeto, para levar a efeito a proposta de pregar o evangelho a toda criatura. E para satisfação dos integrantes, olha o que nos diz Provérbios 20.29 “O ornato do jovem é a sua força e a beleza dos velhos, as suas cãs”. Assim, os velhos não precisam tingir os seus cabelos brancos de outras cores, para não ofuscar o brilho da beleza, com o qual Deus os privilegiou. Portanto um projeto completo. Arrojado, bonito e belo a serviço do Senhor Jesus no Reino de Deus Pai” (Depoimento do presbítero José Soares de Góes, da IP Memorial de Vila Velha, ES, que fez parte da caravana apesar dos seus 72 anos).
Jovens durante a visita que fizeram ao orfanato
onáum programa missi O Pé na Estrada é oles, visando unir o ad rio de envolvimento Deus. a UPA ao Reino de e A UP a m co e nt ce ao objetivo de fornecer O programa tem o to do Reino de Deus en im ec nh co e nt ce adoles crescil, proporcionando fora da igreja loca quinta social. Essa foi a mento espiritual e ena abençoou uma pequ na va ra ca a e qu z ve asil.. des do interior do Br congregação em cida ia ntou com uma parcer co o et oj pr o z, ve a Dest a de riana Memorial, Junt entre Igreja Presbite teriana Casa Editora Presbi Missões Nacionais, anal. e Presbitério do Pant
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“É impressionante e maravilhoso ver a ação de Deus na transformação de algumas pessoas durante a realização do projeto, por meio do testemunho pessoal nas devocionais. Além disso, acompanhamos o amadurecimento que ocorreu em cada um, na valorização da vida e das pequenas coisas que passam às vezes despercebidas, como por exemplo: um banheiro com chuveiro quente, uma porta para usar o sanitário ou uma cama confortável. Ficamos sempre alojados em escolas que nem sempre nos ofereceram o conforto que estamos acostumados a ter em nossas casas” (Rev. Deivson Vieira Torres, pastor da IP Memorial de Vila Velha, ES).
Pé na Estrada é parte do ministério da Secr etaria Geral da Adolescênc ia, cujo responsáve l é o Rev. Haveraldo Ferre ira Vargas Jr. À frent e do projeto, está o Rev. Carlos Eduardo Aran ha Neto, que foi quem desenvolveu todo m at er ia l específico para esse ministério. O Projeto Pé na Estra da tem as seguintes finalidades: colocar em pr ática a essa program ação da Confederação Na cional de UPA e, po r meio dela, despertar o in teresse missionário das igrejas, fortalecendo os campos mission ários da Junta de Missões Nacionais.
“Fui muito abençoada nessa viagem. Pude ver a presença de Deus naquela cidade! Participei do grupo que visitou o orfanato, asilo e hospital. Sem dúvida nenhuma, minha relação com Deus mudou, pois pude ver a ação de Deus na vida de muitas pessoas e na minha também, vi quanto Deus é poderoso, como ele nos conhece e como ele nos ama” (Gabriela Viana, 16 anos).
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FIQUE POR DENTRO
40 Anos da UPH da IP de Taubaté Eliezer Pereira Souto
N
o dia 12 de janeiro de 2009 a UPH da IP de Taubaté, Presbitério Médio Vale do Paraíba, São Paulo, completou seu 40º aniversário de organização. No dia 17 de janeiro foi realizado um culto de gratidão a Deus, sendo pregador o Rev. Samuel Mendes Dutra. Houve
também a participação da equipe de cânticos da igreja local. Após o culto foi homenageado o Presb. Pedro da Silva, com o título de “Sócio Emérito”, recebendo uma placa comemorativa, pois fez parte da primeira diretoria da sociedade, atuando como 1º secretário. Sócios fundadores: Diác. José Jacinto da Silva (fale-
cido); Presb. Cristovão Garcias Gonçalves; Presb. Pedro da Silva; Presb. José Mendes Dinis (falecido); Presb. Narciso Seni Filho; Presb. Joaquim Ferreira da Silva (falecido); Diác. Moisés do Prado (falecido); Rev. Aureliano Lino Pires (falecido); José Alves da Silva (falecido); Diác. Samuel Borges e Diác. Carmelino Pereira Souto (falecido).
IP Betel completa 33 anos Jussilene Rego
A
IP Betel de Feira de Santana, na Bahia comemorou nos dias 24 e 25 de janeiro o seu 33º aniversário. Foi preletor oficial o Rev. Edésio de Oliveira Chequer que, no sábado à noite falou sobre a trajetória do povo de Deus no deserto, as perseguições e principalmente
a poderosa mão de Deus que os guiou , fazendo alusão a história da Igreja Betel. A SAf estava à frente da programação e, após o culto, homenageou os primeiros membros que permanecem na igreja com uma medalha de forma simbólica pela dedicação à obra e os serviços prestados à igreja desde sua organização.
Hoje a igreja possui 363 membros comungantes e 183 não comungantes, um acampamento e 8 congregações. Atualmente o pastor efetivo é o Rev. Moisés Araújo dos Santos, que relembrou nossa história, afirmando nosso compromisso com a fé reformada. Jussilene Rego é secretária da IP Betel
Atualização dos dados das igrejas A
quipe da Rede Presbiteriana de Comunicação (RPC) convoca todas as Igrejas e Congregações a revisarem seus dados no Portal IPB. O objetivo dessa iniciativa é atualizar os cadastros e deixálos a disposição para consulta pública. As lideranças das igrejas podem visualizar os formulários no link www.ipb.org. br/igrejas e fazer as devidas correções clicando em http:// www.ipb.org.br/cad_igreja.
php3 . Para tanto, será necessário ter o login e senha em mãos, informados no momento em que os dados foram aceitos pelo sistema. Qualquer dúvida quanto a esse procedimento ou esquecimento de login e senha, comunicar a RPC pelo e-mail portalipb@ipb.org.br , informando o nome completo da igreja, a cidade e o Estado onde está localizada, facilitando assim a busca nos arquivos. As igrejas e congregações que ainda não possuem cadas-
tro no site, poderão fazê-lo no link http://www.ipb.org. br/cad_igreja.php3 . Somente serão aceitos formulários com informações corretas e completas. Os dados não obrigatório são “endereço do site” e “informações adicionais”. A equipe da RPC agradece desde já a colaboração dos irmãos de todo o Brasil, e coloca-se a disposição para sanar quaisquer dúvidas. Contatos e dúvidas: (11) 3255-7269 e portalipb@ipb. org.br
Divulgação
Presbítero Pedro da Silva recebendo título de "Sócio Emérito"
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MOCIDADE
Liderança jovem: alvo a ser atingido! Raquel Magalhães
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nvestir na capacitação de jovens para que eles se sintam motivados a abraçarem cargos de liderança nas igrejas. Esse é o objetivo da Fábrica de Líderes, projeto da UMP São Paulo que pode servir de inspiração para muitas outras UMP´s no Brasil. Concebida para ser um "braço" da UMP paulista, a Fábrica de Líderes consiste numa secretaria que atua com atividades e etapas coordenadas. Sua primeira edição foi em 2004, onde participaram 64 jovens de várias regiões do Estado de SP. De acordo com Rony G. C. Pires, presbítero e um dos mentores da Fábrica de Lideres, o objetivo dessa secretaria especial não é dar informações conceituais sobre o que vem a ser liderança. "Antes disso, temos como propósito formar pessoas para o pleno exercício desta atividade, alinhando as atitudes do dia-a-dia com os princípios da Igreja de Cristo. Em paralelo, buscamos alinhar o que preceitua o Manual Unificado das Sociedades Internas com a própria Constituição da IPB", esclarece ele. O público alvo da Fábrica são, basicamente, os jovens, mas, como faz questão de frisar Pires, a intenção é que esses jovens repassem o que aprenderam. "Já tivemos oportunidade de aplicar este trabalho para uma igreja toda e não só para os
jovens. E a experiência foi ótima", conta ele. O trabalho, em São Paulo, como revela o presbítero, é amplo. Para darem conta, a liderança do projeto baseou a metodologia da Fábrica nos conceitos acadêmicos e práticos da Administração. "O trabalho possui diversas etapas, uma dependente da outra", explica. Ele
ressalta ainda que, como líderes, devem estar atentos aos diferentes perfis existentes. "O que deu certo no passado, com outra mocidade, pode não funcionar mais, não gerar o mesmo resultado hoje. Por isso é importante estar ligado no que acontece no dia-a-dia de cada localidade". A metodologia consiste
em análise do que já ocorreu no campo de atividades; principalmente no que tange ao desenvolvimentos de líderes; os erros já cometidos como a falta de uma equipe com unidade, ausência de análise do que já foi aplicado e não deu resultado. "Também buscamos vislumbrar a fotografia que teremos daqui a 20
anos dentro da Igreja de Cristo. Como bem sabemos, preservar o conhecimento bíblico para que este não seja sufocado por valores seculares é a maior preocupação por parte daqueles que entendem, admitem, estudam e comprovam isso. E esse conhecimento é o que desejamos plantar em São Paulo", assegura Pires.
SXC
Por que criar uma Fábrica de Líderes? Segundo Rony G. C. Pires, há, hoje, uma carência de jovens com espírito de liderança. "A Igreja não conseguiu (e esse 'conseguir' é dentro das responsabilidades dela como instituição divina) minimizar e/ou acompanhar as constantes mudanças ocorridas na vida da juventude cristã. Daí vemos hoje um certo 'desespero' e/ou preocupação para re-integrar todo este público dentro de sua esfera de atuação como moços e moças definitivamente 'alegres na esperança'. Só que, na prática, o que vemos são jovens vivendo uma falsa alegria dentro das igrejas e pouco motivados na construção do 'verdadeiro muro espiritual' com vistas a garantir a sustentabilidade da Mocidade Evangélica", analisa. O incentivo, segundo Rony, para mudar essa geração está na própria Palavra de Deus. "A motivação deve ser a de nos assemelharmos a Cristo e nos olhar internamente para que consigamos Honrá-lo, Exaltá-lo. E Ele nos ensinou que veio para servir, não ser servido", salienta ele. A Fábrica de Líderes vai além dos muros das igrejas, acreditam. "Sem dúvida alguma esse trabalho tem aplicação prática na vida, na esfera de atuação profissional, na vida política do cidadão. Conhecimento nunca é demais", assegura.
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DONS E TALENTOS
Artista plástico presta homenagem à IPB pelos seus 150 anos
Arte a serviço do Reino O
artista, autodidata, Eduardo Feitosa, da IP do Parque da Nações, em Santo André (SP), teve uma idéia, no mínimo original. Ele uniu a vontade de fazer algo para homenagear a IPB pelos seus 150 anos à oportunidade de divulgar os seus trabalhos. O resultado veio na forma da marca da igreja, a sarça, pintada em telas no tamanho 70x90 (com moldura) em que o artista exprime o talento que Deus lhe deu. A idéia das telas, de acordo com Feitosa, surgiu no ano passado quando, em sua igreja, um irmão apresentou um hino, escrito por uma outra irmã da IP de São Caetano do Sul (SP), em homenagem aos 150 anos da IPB. “Enquanto aprendíamos o hino, o Espírito Santo de Deus me tocou e me incomodou para que eu fizesse uma tela para prestar a minha homenagem também. Pensei que seria uma excelente oportunidade para falar, por meio da pintura,
como sou grato a Deus pelo talento que ele me concedeu”, contou Feitosa. Com a ideia da pintura na cabeça, faltava o desenho. Surgiram várias ideias, até que pensei em usar a logomarca da Igreja (sarça) sobre uma Bíblia aberta. Fiz o primeiro contato com o Cláudio Marra, por telefone, pedi orientação a ele e lhe perguntei o que achava da ideia, se aprovava ou não. Ele me disse que sim, então fiz vários croquis e levei para o Rev. Evandro Luiz da Silva, que foi meu tutor no início da minha carreira artística e também pastor da Igreja que freqüentei e, juntos, concluímos que estava no caminho certo ao optar por aquela imagem. O trabalho de produção das telas começou no início deste ano e está disponível para todas as pessoas que quiserem adquiri-lo. O quadro pronto, com a moldura, custa R$ 200,00. Esse valor pode ser dividido em duas vezes.
Para saber mais sobre as telas entre em contato: Eduardo Feitosa efeitosa@eduardofeitosa. art.br (011)9197-9399 ou (011)4367-5226 ou (011)4177-4550
Sobre o artista
Fotos: Divulgação
Eduardo Feitosa, em seu ateliê: telas em homenagem aos 150 anos da IPB
Pintor de muitos estilos, Eduardo Feitosa é reconhecido por suas pinturas internacionalmente. Apesar do dom, só ingressou na pintura aos 33 anos, quando fez sua primeira exposição em 1990. Desde então não parou mais. Em 19 anos de dedicação somam-se mais de 130 exposições individuais, coletivas, nacionais e internacionais, além de obras espalhadas pela Europa e Estados Unidos. Artista pintor, autodidata, Eduardo Feitosa é natural de Santo André e, desde pequeno, sempre foi amante da pintura. Em doze anos de dedicação somam-se mais de oitenta exposições entre individuais, coletivas, nacionais e internacionais. Está associado à Associação Paulista de Belas Artes, Associação Internacional de Artes Plásticas – IAA AIAP UNESCO (Paris-França) o ao Sindicato dos Artistas Plásticos do Estado do São Paulo – SINAPESP. É catalogado pela Editora Domani Publicações Artísticas Ltda – autenticação nº 46.
Brasil Presbiteriano RECONSTRUÇÃO
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Vale do Itajaí se recupera, após as chuvas
Atitude de Solidariedade Fotos: Divulgação
Jair de Almeida Júnior
A
s fortes chuvas que assolaram a região do Vale do Itajaí deixaram muitas marcas. Além daquelas que ainda são visíveis em paredes e muros, ficaram também as invisíveis aos olhos, mas impressas no coração de muitos. A solidariedade do Brasil foi comovente. Falando-se apenas do município de Itajaí, carretas chegaram dos quatro cantos do país. Roupas, sapatos, mantimentos, água potável, produtos de limpeza e higiene pessoal, foram distribuídos aos milhares. Pode-se dizer que foi uma “enxurrada” de solidariedade. A Primeira e a Segunda Igreja Presbiteriana de Itajaí, diante de enorme tarefa, somaram esforços para receber e administrar os recursos
Com o e valor arrecadado, quatro casas já foram levantadas e estão em fase de acabamento
angariados. Foi necessário muito suor para descarregar as dezenas de toneladas de donativos e para distribuílos na igreja e nos bairros. A generosidade dos irmãos presbiterianos foi tamanha que supriu a carência não apenas dos irmãos da fé, socorrendo de forma igualmente eficaz a muitas famílias de fora dos arraiais presbiterianos. Os recursos financeiros
Dona Helsi recebendo a pia nova de sua cozinha
depositados nas contas de ambas as igrejas, somados, ultrapassaram os R$ 270.000,00. Desse valor, cerca de R$ 80.000,00 já foram gastos. Com o expressivo valor arrecadado, quatro casas já foram levantadas e estão em fase de acabamento. Há mais duas a serem feitas e o valor excedente será destinado à compra de mobília, pois muitas famílias ainda estão utilizan-
Imóvel levantado com a ajuda financeira recebida das igrejas
do móveis “inchados” pela água, dormindo no chão por falta de cama, sem móveis de quarto. No povo em geral paira certo temor quanto ao futuro. Devido ao fato de em 1983 ter havido grande inundação, seguida de outra de proporções ainda maiores em 1984, “profetas” populares já anunciam a próxima catástrofe para breve. No entanto, os crentes esperam e descansam naquele que comanda as muitas águas. A relação dos depósitos, bem como, a comprovação dos recursos já utilizados até o momento,
estão disponíveis no site das duas igrejas (www.primeiraipbitajai.com.br e www. segundaipbitajai.com.br) Também ali se pode encontrar outras fotos atualizadas das obras. Somos gratos de todo coração a todos os que oraram por nós, bem como, pelas contribuições, tanto individual como coletivamente. A atitude dos irmãos mostra o desprendimento necessário para o socorro e a solidariedade aos que pertencem à mesma família espiritual. O rev. Jair de Almeida Júnior é pastor da 1ª IP de Itajaí
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CONSULTÓRIO BÍBLICO
O TEMPO Odayr Olivetti
“Lc 23.43: como entender? Jesus diz ‘hoje’, mas ressuscitou dias depois. Tenho dúvidas sobre a questão do tempo.
A
dificuldade só existe à primeira vista. Consideremos: Deus criou o tempo. O universo físico é simples relação de espaço e tempo. É evidente que, em alguns aspectos importantes, existe diferença entre o tempo de Deus e o nosso tempo. Por exemplo: Nós achamos que uma vida de 80 ou 90 anos é longa. Para Deus, um dia é como mil anos, e mil anos é como um dia (Sl 90.1-4; 2 Pe 3.8). Também, em geral se entende que para um casal ter numerosa descendência deve ter muitos filhos, e começar logo. No entanto, o homem que recebeu promessa de uma descendência inumerável, e isto se cumpriu rigorosamente porque não há como saber o número de seus descendentes, teve um filho legítimo (o prometido por Deus), mais um filho pelo desejo da mulher, por meio de uma escrava, e, depois da morte da primeira mulher, teve alguns filhos com sua segunda esposa. Mas o filho prometido por Deus só nasceu quando a mulher estava com 90 anos de idade e o marido com
100 (Gn 12ss.). Os irmãos de Jesus achavam que, se ele tinha algo a fazer para o mundo, que fosse onde o mundo se reunia. Mas Jesus respondeu
pondeu que o conhecimento disso competia somente ao Pai celeste; nem Cristo, em seu estado de humilhação, nem os anjos sabiam. Quando a Bíblia decla-
certa, na hora oportuna. O tempo de Deus se cumprirá rigorosamente. Agora, quanto ao que Jesus disse ao ladrão convertido (Lc 23.43), a ques-
12.7). Momentos antes de morrer, Jesus disse a Deus: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Há no ser humano corpo e espírito, e o corpo é tão importante que no SXC fim dos tempos ocorrerá a ressurreição do corpo. Mas o elemento essencial do ser humano é o espírito. Jesus Cristo, na encarnação, recebeu espírito humano, e quando estava para morrer o entregou ao Pai. O espírito do ladrão convertido também foi para Deus, para o céu. Na mesma hora da morte. Por conseguinte, Jesus cumpriu literalmente o que prometera. No mesmo dia ele e o ladrão convertido estavam juntos no céu – e seus corpos estavam nas respectivas sepulturas. Atenção! É evidente que, em alguns aspectos importantes, existe diferença entre o tempo de A promessa de Jesus, Deus e o nosso tempo “estarás comigo no paraíque o tempo deles esta- ra que Cristo voltará em tão aí não tem que ver com so”, só é válida para os que va sempre com eles, mas breve, diz isso em função as diferenças do tempo his- se arrependem dos seus o dele não havia chegado do tempo de Deus. Dentro tórico e do tempo teológi- pecados e se convertem a (Jo 7). E quando os discí- do plano e propósito eterno co. Jesus recebeu o ladrão Jesus Cristo, com genuína pulos de Jesus, entenden- de Deus não haverá atraso. no céu naquele mesmo dia. fé que produz, inevitaveldo o tempo no sentido de A expressão de Cristo em Por que digo isso? Porque mente, boas obras na terra. períodos e estações, per- Apocalipse 22.20, “Venho os corpos do ladrão e de O Rev. Odayr Olivetti é pastor guntaram ao Mestre quan- sem demora”, pode ser Jesus foram para a sepul- presbiteriano, ex-professor de Teologia do seria a consumação de entendida no sentido de tura, mas o espírito de cada Sistemática do Seminário Presbiteriano de Campinas, escritor e tradutor. todas as coisas, Jesus res- “sem atraso” – na hora um deles foi para Deus (Ec odayrolivetti@uol.com.br
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ENTREVISTA ESPECIAL
Mackenzie é pioneiro na capacitação de tradutores de Bíblias
Saiba de que forma a universidade presbiteriana contribuirá ainda mais para o trabalho de missões transculturais Raquel Magalhães
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á parou para pensar em como os missionários fazem para levar a Palavra de Deus às comunidades indígenas? Mais: já pensou em como deve ser difícil para os indígenas – e tantos outros povos cujas culturas são diferentes e a língua falada por eles idem –, após abraçarem o evangelho, terem acesso às Escrituras? Sim, pois para quem não sabe, a Bíblia em versões traduzidas para a maioria desses povos simplesmente não existe. Diante dessa realidade, o Mackenzie lança, este ano, o curso inédito de “Introdução aos Estudos de Tradução Bíblica I”. De acordo com o Dr. Augustus Nicodemus, chanceler da universidade, o curso visa fornecer noções fundamentais de teoria e descrição lingüísticas para a formação de profissionais capacitados a trabalhar em contexto intercultural. O curso destina-se, preferencialmente, a graduandos e graduados dos cursos de Letras, Letras/Tradutor, Pedagogia, Ciências Sociais e Teologia, e também a interessados que tenham concluído o Ensino Médio. Terá duração de 60 horas e as aulas iniciam este mês, no campus São Paulo Itambé do Mackenzie. Em entrevista concedida ao Brasil Presbiteriano, Mônica Mesquita (uma das proponentes do curso) e a Dra. Regina Helena, coordenadora dos cursos de extensão do Mackenzie, falam mais a respeito do curso, de suas implicações práticas e da carência de profissionais que estejam habilitados para realizarem o trabalho de tradução de bíblias no Brasil e no mundo. Brasil Presbiteriano: O aluno que fizer o curso estará apto a realizar que tipos de traduções? Mônica Mesquita e Regina Helena: Na realidade, o curso Introdução aos Estudos de Tradução Bíblica, com carga horária de 60 horas, é um Curso de “Extensão”, cujo objetivo é a difusão de conhecimentos linguísticos sistematizados e da aplicação de alguns métodos descritivos – não sendo, portanto, um curso de especialização, o que demandaria uma carga de 360 horas. Assim, nessa proposta, o aluno recebe noções básicas de teoria linguística e da descrição de línguas, fundamentais para a formação de profissionais que pretendam atuar em contexto intercultural. Seria, na verdade, o passo preliminar, mas essencial, para
futuras incursões na dinâmica das línguas vivas, especialmente em contextos plurilíngues. Em resumo, quem fizer o curso terá uma base inicial para atuar na tradução da Bíblia para línguas indígenas. Brasil Presbiteriano: Quantos níveis o curso irá ter? Mônica Mesquita e Regina Helena: O Curso, tal como o concebemos, supõe uma continuidade. Nesse sentido, este primeiro momento procura levar ao aluno conhecimentos básicos da ciência linguística. Somente em seguida, nos níveis posteriores, é que estudarão técnicas de tradução e aperfeiçoamento nas línguas originais da Bíblia. O oferecimento dos níveis seguintes ainda está em estudos na Universidade.
Brasil Presbiteriano: Existem outras faculdades que fornecem esse curso ou o Mackenzie é o primeiro? Mônica Mesquita e Regina Helena: Acreditamos ser a UPM – nesta ação em parceria com a APMT (Agência Presbiteriana de Missões Transculturais), a ALEM (Associação Linguística Evangélica Missionária) e a SIL (Sociedade Internacional de Linguística) – pioneira na oferta de um curso desta natureza, em que dialogam o conhecimento
missionária, na medida em que instrumentaliza cientificamente e favorece uma reflexão crítica sobre o fenômeno da linguagem, especialmente em contextos transculturais. É um serviço que o Mackenzie presta ao Reino de Deus, dentro de sua vocação original de ensinar ciências divinas e humanas. Brasil Presbiteriano: Existe uma carência de profissionais aptos para o serviço de tradução da Bíblia? Raquel Magalhães
O novo curso visa fornecer noções fundamentais de teoria e descrição lingüísticas para a formação de profissionais capacitados a trabalhar em contexto intercultural e na tradução de bíblias acadêmico e a prática da formação missionária específica, ou seja, de pessoas que acreditam que a Bíblia Sagrada deve estar acessível a todas as pessoas da Terra, falantes de quaisquer línguas ou dialetos. Brasil Presbiteriano: Qual é a importância desse curso para o meio acadêmico/cristão? Mônica Mesquita e Regina Helena: O fato de uma instituição de ensino, caracterizada pela tradição, pioneirismo e confessionalidade, como é a UPM, oferecer um curso de extensão desta natureza, fortalece a própria ação
Mônica Mesquita e Regina Helena: Como dissemos, com este curso não formamos especialistas, mas procuramos levar ao público a possibilidade de conhecer e de refletir sobre elementos linguísticos básicos para o trabalho – não só missionário – mas também para a atuação do interessado em contextos multilinguísticos. No que se refere ao número de tradutores bíblicos no contexto mundial, há uma grande carência, sim. Aproximadamente 7.100 línguas são faladas hoje no mundo, porém a Bíblia completa só foi traduzida até hoje para 366 línguas. O Novo Testamento já
foi traduzido para 1.012 dessas línguas (cerca de 15% do total). Segundo o lingüista brasileiro Norval Oliveira da Silva, “mais ou menos 3.000 línguas não têm nem sequer o clássico texto de João 3.16 traduzido”. Brasil Presbiteriano: Qual o mercado de trabalho para eles? Mônica Mesquita e Regina Helena: Cremos que os tradutores habilitados serão facilmente recrutados por organizações como as acima citadas, tanto do Brasil quanto do exterior, que buscam profissionais dessa área que além da formação linguística tenham a visão de disseminar a Palavra de Deus àqueles que ainda não a conhecem. Soubemos, por meio do The Christian Post, que um doador anônimo, em novembro de 2008, doou a quantia de 50 milhões de dólares ao ministério Wycliffe de Tradutores da Bíblia, tornando possível a aceleração da tradução bíblica para grupos que ainda não possuem a Bíblia em sua língua nativa. Foi a maior doação nos 75 anos da referida organização, que está desenvolvendo uma campanha que visa o desenvolvimento da linguagem escrita e, em muitos casos, a alfabetização por meio da Bíblia, programa que atingirá cerca de 200 milhões de pessoas até 2025. O doador assevera: “A alfabetização é fundamental para ajudar as pessoas a trabalhar por si próprias, fugir da miséria e resistir à opressão de outrem; crianças alfabetizadas em sua língua nativa aprendem mais facilmente e tendem a permanecer na escola mais tempo do que se estivessem sendo alfabetizadas em uma língua diferente”.
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SAIBA MAIS
Leia a Carta de Princípios da Universidade Mackenzie
João Calvino e a Universidade Augustus Nicodemus Lopes
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m 2009 comemoram-se os 500 anos do nascimento de João Calvino (1509-2009), um dos principais líderes da Reforma Protestante do século 16 e, certamente, o seu maior expoente em termos de teologia e educação. A Universidade Presbiteriana Mackenzie, sendo uma instituição de ensino confessional presbiteriana, cujas origens se encontram no trabalho de missionários calvinistas no Brasil, saúda a todos e aproveita para destacar, em sua Carta de Princípios 2009, a contribuição deste Reformador para a educação. Breve Histórico de Calvino O francês João Calvino nasceu em 1509 em Noyon, na França. As ligações de seu pai com o clero local deram ao menino valiosas oportunidades na área educacional. Frequentou a escola primária e secundária com os sobrinhos do bispo de Noyon e outras crianças de famílias destacadas. No início da adolescência, aos catorze anos, foi estudar em Paris; cursou filosofia e humanidades no Collège de Montaigu, ligado à Universidade daquela cidade. Sentiu-se atraído pelo humanismo, ou seja, a apreciação pela antiga cultura
greco-romana. Dedicouse ao estudo do latim, do grego, da teologia e dos autores clássicos, além de fazer cursos na área do direito. Por meio de parentes, amigos e professores, recebeu influências do novo movimento protestante, convertendo-se à fé evangélica por volta de 1533. Dedicou-se, então, ao estudo sistemático e aprofundado da Bíblia, publicando em 1536 a primeira edição de sua obra mais famosa, a Instituição da Religião Cristã, mais conhecida como Institutas. No mesmo ano, passou a residir em Genebra, na Suíça, cidade que recentemente havia abraçado o protestantismo. Após breve permanência ali, viveu por três anos em Estrasburgo (1538-1541), no sul da Alemanha, junto ao reformador Martin Bucer (1491-1551). Nesse período, pastoreou uma igreja constituída basicamente de franceses exilados e, também, lecionou na academia de Johannes Sturm (15071589). Em 1541 regressou a Genebra e ali passou o restante de sua vida. Desenvolveu prodigiosa atividade como líder eclesiástico, pastor, pregador e teólogo. Publicou uma imensa quantidade de escritos na forma de novas edições das Institutas (em latim e francês). A tradução dessa obra para o francês, em 1541, juntamente com outros dos seus muitos e belos escri-
tos, contribuiu para modelar a língua francesa. Calvino também escreveu comentários bíblicos, tratados doutrinários e obras voltadas para a vida interna da Igreja.
Calvino defendia que Deus havia agraciado todas as pessoas com inteligência, perspicácia, capacidade de entender e transmitir, indistintamente da sua fé e crença. Assim, desprezar a mente secular era desprezar os dons que Deus havia distribuído no mundo, até mesmo aos incrédulos, mediante a graça comum
Entre seus escritos, temos volumosa correspondência que manteve com um grande número de pessoas na Europa, desde governantes até pessoas simples. Seu relacionamento com as autoridades de Genebra, de início bastante tenso, passou a ser mais positivo nos anos finais de sua vida. Em 1559, tornou-se cida-
dão de Genebra, publicou a edição definitiva das Institutas e fundou a Academia de Genebra, embrião da futura universidade. Faleceu em 1564, aos 55 anos. Alister McGrath demonstrou, em sua biografia sobre Calvino, como o mito de “o grande ditador de Genebra” é enraizado em conceitos populares difundidos especialmente por afirmações sem fatos históricos que as apoiassem, mas que, não obstante, acabaram por moldar a visão de Calvino que hoje prevalece em muitos meios acadêmicos. No aspecto religioso, Calvino é considerado o pai da tradição protestante reformada, que engloba presbiterianos, congregacionais, uma parte dos batistas e parte do anglicanismo. Seus seguidores ficaram conhecidos, em geral, como reformados. Um quadro mais próximo aos registros históricos mostra que Calvino era um pastor atencioso, que visitou pacientes terminais de doenças contagiosas no hospital que ele mesmo havia estabelecido, embora fosse advertido dos perigos de contato. Além disso, tomou diversas atitudes que mudaram a vida social da cidade. Foi ele quem instou com o conselho municipal de Genebra a afiançar empréstimos a baixos juros para os pobres. Genebra foi o primeiro lugar na Europa a ter leis especiais que proibiam: jogar detritos e lixo
nas ruas; fazer fogo ou usar fogão num cômodo sem chaminé; ter uma casa com sacadas ou escadas sem que as mesmas tivessem grades de proteção; alugar uma casa sem o conhecimento da polícia; sendo comerciante, cobrar além do preço permitido ou roubar no peso e, também, estocar mercadorias para fazê-la faltar no mercado e assim encarecêla (e isso se estendia aos produtores). Assim como Lutero e outros reformadores, ele defendeu a educação universal para todos os habitantes da cidade. É particularmente essa última contribuição de Calvino que queremos enfocar na presente Carta de Princípios. Calvino e a Educação Em 1536 Calvino apresentou um plano ao conselho municipal de Genebra que incluía uma escola para todas as crianças, na qual as crianças pobres teriam ensino gratuito. Era a primeira escola primária obrigatória da Europa. Em uma delas as meninas eram incluídas junto com os meninos. Calvino tinha um alvo muito claro quanto à educação. Ele desejava que os alunos das escolas de Genebra fossem futuros cidadãos da cidade, bem preparados “na linguagem e nas humanidades”, além da formação cristã e bíblica. O currículo que ele ajudou a elaborar tinha ênfase nas artes e nas ciências, além, obviamente, da ênfase nas Escrituras.
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No aspecto religioso, Calvino é considerado o pai da tradição protestante reformada, que engloba presbiterianos, congregacionais, uma parte dos batistas e parte do anglicanismo
Conforme nos diz Moore, “O principal propósito da universidade [de Genebra] era eminentemente prático: preparar os jovens para o ministério ou para o serviço no governo.” Essa preocupação de Calvino com a educação decorria de sua visão cristã de mundo. Entre os pontos de sua teologia que o impulsionavam à missão como educador, havia a concepção do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, conforme análise de Héber Carlos de Campos: Em sua teologia sobre a imagem de Deus no homem, Calvino viu o ser humano como um ser que aprende inerentemente. Deus depositou no ser humano “a semente da religião” e também o deixou exposto à estrutura total do universo criado e à influência das Escrituras. Por causa dessas coisas, qualquer homem podia aprender, desde o mais
simples camponês ao indivíduo mais instruído nas artes liberais.
Calvino é considerado o pai da tradição protestante reformada, que engloba presbiterianos, congregacionais, uma parte dos batistas e parte do anglicanismo
Outro ponto de suas convicções religiosas era o entendimento de que todo conhecimento vem de Deus, quer seja o conhecimento “sagrado” ou o “profano”. Calvino dispunha de uma visão ampla da cultura, entendendo que Deus é Senhor de todas as coisas e, por isso, toda ver-
dade é verdade de Deus. Essa perspectiva amparavase no conceito da “Graça Comum” ou “Graça Geral” de Deus sobre todos os homens. Ele diz: ... visto que toda verdade procede de Deus, se algum ímpio disser algo verdadeiro, não devemos rejeitá-lo, porquanto o mesmo procede de Deus. Além disso, visto que todas as coisas procedem de Deus, que mal haveria em empregar, para sua glória, tudo quanto pode ser corretamente usado dessa forma? Calvino defendia que Deus havia agraciado todas as pessoas com inteligência, perspicácia, capacidade de entender e transmitir, indistintamente da sua fé e crença. Assim, desprezar a mente secular era desprezar os dons que Deus havia distribuído no mundo, até mesmo aos incrédulos, mediante a graça comum.
A Academia de Genebra Não é de estranhar, à luz das convicções teológicas de Calvino, que ele tivesse seu coração voltado para a educação da população de Genebra e da Europa em geral. Desde 1541 encontramos registros da sua preocupação diária em como dar a Genebra uma universidade. Ele desejava criar uma grande universidade, contudo os recursos da República eram pequenos para isso. Assim, ele se limitou à criação da Academia de Genebra (1559), que o historiador Charles Bourgeaud (18611941), antigo professor da Universidade de Genebra, considerou como “a primeira fortaleza da liberdade nos tempos modernos”. No currículo, incluía-se o ensino da leitura e da escrita e cursos mais avançados de retórica, música e lógica. Conforme Campos nos diz em sua pesquisa, os alunos passavam do alfabeto à leitura do francês fluente, gramática latina e composição em latim, literatura grega, leitura de porções do Novo Testamento grego, juntamente com noções de retórica e dialética, com
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base nos textos clássicos. Não é sem razão que, diante da sua capacitação no latim, se dizia que meninos de Genebra falavam como os doutores da Sorbonne. O currículo da Academia enfocava não somente as artes e a teologia, como igualmente as ciências. Na mente do Reformador, não havia conflito entre fé e ciência na universidade. Ao contrário da visão educacional escolástica medieval, Calvino considerava que o estudo da ciência física tinha como propósito descobrir a natureza e seu funcionamento, pois Deus se revelava à humanidade por meio das coisas criadas, da natureza. Estudando o mundo, o ser humano acabaria por conhecer mais a Deus. A Academia veio a se tornar modelo para outras escolas da Europa. A Reforma e a Educação Os cristãos reformados, a exemplo de Calvino, dedicaram-se igualmente a promover a educação, as artes e as ciências. Nunca viram a fé cristã como inimiga do avanço do conhecimento científico e do saber humano. Alister McGrath cita pesquisa feita por Alphonse de Candolle sobre a participação de membros estrangeiros na Academie des Sciences Parisiense, durante o período de 1666 a 1883, os primeiros séculos posteriores à Reforma protestante. Segundo McGrath, Candolle verificou que, ... os protestantes excediam em muito a quantidade de católicos. Tomando como base a população [de Paris],
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Candolle estimou que 60 por cento dos membros [da Academie] deveriam ter sido católicos, e 40 por cento, protestantes; as quantias reais acabaram por ser de 18,2 por cento e 81,8 por cento, respectivamente.Embora os calvinistas fossem consideravelmente uma minoria, na parte sul dos Países Baixos, durante o século 16, a vasta maioria dos cientistas naturais dessa região foi proveniente desse grupo. A mesma pesquisa mostrou que, na composição primitiva da Royal Society de Londres, a maioria dos seus membros era composta por reformados. Tanto as ciências físicas quanto as biológicas eram fortemente influenciadas pelos calvinistas durante os séculos 16 e 17. Todos esses pesquisadores e cientistas, por sua vez, haviam sido influenciados pela Reforma Protestante, especialmente pela obra de João Calvino. Na área de educação, especificamente, destacase a obra de João Amós Comênio, um moraviano que recebeu influência reformada em sua formação. Em 1611, ingressou na Universidade de Herborn, em Nassau, um dos centros de difusão da fé calvinista, sendo aluno do teólogo calvinista Johann H. Alsted (1588-1638). Em 1613 foi admitido na Universidade de Heidelberg (Alemanha), onde estudou teologia. Aqui também havia forte influência calvinista. Comênio ficou conhecido por sua obra Didática Magna, publicada há 300 anos. Produziu, além disso, uma obra vastíssima ligada
especialmente à educação (mais de 140 tratados). Sua Didática Magna é considerada o primeiro tratado sistemático de pedagogia, de didática e de sociologia escolar. Nessa obra, Comenius defende que a educação, para ser completa, deve contemplar três áreas: instrução, virtude e piedade. Sua visão educacional, influenciada pela Reforma, atinge a dimensão intelectual, moral e espiritual do ser humano.
Calvino tinha um alvo muito claro quanto à educação. Ele desejava que os alunos das escolas de Genebra fossem futuros cidadãos da cidade, bem preparados “na linguagem e nas humanidades”, além da formação cristã e bíblica
No período que antecedeu a Guerra Civil nos Estados Unidos, os Reformados que para lá tinham ido, partindo da Europa, haviam construído dezenas de colégios e universidades. E isso numa época de poucos recursos financeiros e econômicos. Não podemos deixar de citar que muitas das maiores e melhores universidades do mundo foram fundadas por Reformados. A Universidade Livre de Amsterdam, por exemplo, uma das melhores
do mundo, foi fundada em 1881 pelo reformado holandês Abraham Kuyper, que mais tarde se tornou Primeiro Ministro da Holanda. A princípio, a universidade era aberta somente para os cristãos reformados e era financiada por doações voluntárias. Mais tarde, em 1960, abriu-se ao público em geral e passou a ser financiada como as demais universidades holandesas, embora ainda retenha as suas tradições e valores reformados. A Universidade de Princeton, também considerada uma das melhores do mundo, foi fundada em 1746 como Colégio de Nova Jersey. Seu fundador foi o Governador Jonathan Belcher, que era congregacional, atendendo ao pedido de homens presbiterianos que queriam promover a educação juntamente com a religião reformada. Atualmente, é reconhecida como uma das mais prestigiadas universidades do mundo, oferecendo diversos graus em graduação e pós-graduação, mais notavelmente o grau de PhD. Está classificada como a melhor em muitas áreas, incluindo matemática, física e astronomia, economia, história e filosofia. A conhecida Universidade de Harvard foi fundada em 1643 pelos reformados, apenas seis anos após a chegada deles à baía de Massachussets, nos Estados Unidos. Sua declaração da missão e do propósito da educação, sobre a qual Harvard foi erigida, foi redigida da seguinte maneira: Cada estudante deve ser simplesmente instruí-
do e intensamente impelido a considerar corretamente que o propósito principal de sua vida e de seus estudos é conhecer a Deus e a Jesus Cristo, que é a vida eterna, (Jo 17.3); consequentemente, colocar Cristo na base é o único alicerce do conhecimento sadio e do aprendizado. A Universidade de Yale, uma das mais antigas universidades dos Estados Unidos, foi fundada na década de 1640 por pastores reformados da recémformada colônia, que queriam preservar a tradição da educação cristã da Europa. Essa é a universidade americana que mais formou presidentes dos Estados Unidos. Em seu alvará de funcionamento concedido em 1701 se diz: ...que [nessa escola] os jovens sejam instruídos nas artes e nas ciências, e que por meio das bênçãos do Todo-Poderoso sejam capacitados para o serviço público, tanto na Igreja quanto no Estado. Ainda hoje, nos Estados Unidos, existem centenas de escolas de ensino superior confessionais, associadas a instituições credenciadoras. No Brasil, os Reformados trouxeram importantes contribuições para a educação, com a fundação de escolas e universidades e a influência nos meios educacionais. Em São Paulo, o Mackenzie é fruto da visão educacional dos reformadores. Fundado por missionários calvinistas, declara-se uma instituição de ensino orientada pelos valores e
princípios da fé cristã reformada conforme encontrados na Bíblia. A identidade confessional do Mackenzie atravessou diversas fases em sua história, mas nunca foi deixada de lado ou negada. Hoje, o Estatuto e o Regimento que ordenam a existência e o funcionamento da Universidade deixam clara essa identidade. Como escola de origem reformada, o Mackenzie busca a excelência na educação e a formação integral de seus alunos, a partir de uma visão cristã de mundo. O excelente desempenho da Universidade e das Escolas Mackenzie nas avaliações oficiais, por si só, demonstra que é possível conciliar uma cosmovisão cristã com ensino de qualidade. Conclusão As iniciativas pioneiras de Calvino em Genebra na área da educação lhe valeram, conforme destaca o historiador Philip Schaff, o título de “fundador do sistema escolar comum”. O prédio “João Calvino”, situado na Rua da Consolação, onde funciona a alta administração do Mackenzie em seu campus Itambé, é um tributo à visão educacional do Reformador. Em sua principal entrada há uma placa bem visível a todos os que entram no Mackenzie, contendo palavras de Jesus que bem resumem essa visão: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32). Colaboraram para o conteúdo dessa Carta: Dr. Alderi Souza de Matos, Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa e Ms. Franklin Ferreira
O Dr. Augustus Nicodemus Lopes (PhD) é o Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie