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Ré em causa Própria Adelina Barradas de Oliveira

RÉ EM CAUSA PRÓPRIA

Adelina Barradas de Oliveira

Bella Ciao quem não conhece deveria, quem não ficou a conhecer por causa de uma série espanhola que por aí andou e vai continuar, deveria tentar conhecer, quer o som, quer a razão desta música.

Não é só um ritmo que nos entra na cabeça e nos toma conta da mente, se repete insistentemente e obriga-nos a cantar com ela, é mais, muito mais que um ritmo ou uma melodia do século passado. Dizem-na saída da cultura italiana, contam que terá surgido nas plantações de arroz, no final do séc. XIX.

Mas, se foi um cântico de trabalho rural, tornouse um cântico de resistência durante a segunda guerra Mundial e que todos ouvimos como sendo um cântico de resistência a ditaduras venham elas de onde vierem ou com que tendência trouxerem.

Foi cantada a muitas vozes, vinda de todas as tendências todas elas contra o “invasor”. Se na altura o invasor era o Fascismo, não deixa de ser fascismo a ditadura, a tentativa de domínio, de uns sobre outros, venha ela de onde vier, .... nasça ela em que filosofia nascer.

Chamem-lhe fascistas, de esquerda, árabes ou vietnamitas, salazaristas ou selvagens ... são ditaduras, são extremismos, são tendências de domínio do próximo, são atentados à dignidades dos seres, de todos os seres que nascem livres na sua essência ou, pelo menos, assim deveriam ser e permanecer. Confesso que me arrepia como um apelo que não abarco totalmente, mas que me desafia a resistir, impelindo-me a uma luta não pacífica, mas que terá de, necessariamente, surtir efeito contra o que pretende ser dominante por razões sem razão.

Às vezes parece-me um hino, um hino que todos deveríamos ter a coragem de cantar quando as circunstâncias apelam à resistência, à desobediência, ao pensar pela nossa cabeça e ao exigir de quem foi eleito que reconheça o verdadeiro soberano.

É um hino dos Partisans (membros da resistência)”, afirma Carlo Ghezzi, da Associação Nacional dos Partisans da Itália.

E sinto-me membro da resistência. Voltemos atrás na história desta “Bella Ciao”. Por quem era formada a resistência? Contra quem?

Pelas diversas correntes do antifascismo em que democratas-cristãos, comunistas, socialistas, monarquistas e republicanos, entre outros se congregaram nas suas ideias diferentes, vontades diferentes e superaram suas discrepâncias perante a necessidade de combater “o invasor”.

O Invasor é exatamente todo o que atenta contra a dignidade de outro ser.

BELLA CIAO

(ou de como me sinto partisan)

Estou a falar do Afeganistão? Estou. Estou a falar de violência doméstica? Estou. Estou a falar de tráfico de seres humanos? Estou. Estou a falar de exploração sexual, assédio moral? Estou! Estou a falar de maus-tratos a animais? Estou. Estou a falar de corrupção, desonestidade, oportunismos? Estou!

De tudo isto e não por esta ordem de importância. Se o comandante da resistência era um monárquico, não era por isso que ele era comandante da resistência, mas sim porque ele e os que com ele resistiram eram livres e tinham a enormíssima obrigação de defender a liberdade e mais, sentiam que a tinham.

Não teremos nós essa mesma obrigação? Não sentiremos nós esse apelo?

É por isso que me apetece fazer desta canção sem tendências uma bandeira de hoje, acordar memórias e vontades, dizer-vos que não basta ler noticiários e partilhar em redes sociais, há um apelo ao nosso querer e poder de verdadeiros soberanos Shamsia Hassani -Afghanistan Femme street artist

porque escolhemos quem nos representa nacional e internacionalmente.

Deixemo-nos de esquerdas e de direitas, de supremacias e sabedorias.

O que está a ocorrer hoje em dia é um enorme retrocesso, uma precipitação fatal na falta de conhecimento e de cultura, um alastrar de laxismo, de indiferença.

Pensemos por exemplo, que o Mundo é um enorme estádio de futebol, e que o nosso clube é o da Liberdade. Ainda há dias quando o meu Sporting jogou me arrepiei com o som do Estádio e as canções de força e apoio.

Pensemos então que o Mundo é um enorme Estádio em que nos batemos pela Liberdade, pelos Direitos, e pode ser esta Bella ciao seja una bandiera di libertà se é que precisamos de uma, nós que nascemos para ser livres.

Já foi cantada durante uma Missa em Génova... a uma só voz... arrepiante.

Sejamos Livres e Fortes para combater todas as ditaduras, todos os extremimos, sem medos porque o Medo dá força aos Tiranos.

Confesso-me uma Partisan.

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