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Cantinho do João João Correia

CANTINHO DO JOÃO

João Correia

O invisível para os olhos

Qualquer adulto já leu certamente o “Principezinho” de Antoine Saint-Exupéry (“Saint-ex” para os amigos) em criança, por recomendação (ou melhor, imposição diplomática) de um adulto que, movido das melhores intenções, achou ser um bom livro para crianças. Depois, sou a crer que a segunda leitura ocorre, normalmente, quando essa criança se torna adulta e decide, movida pela melhor das intenções, repetir o processo junto de uma outra criança a qual, se tudo correr bem, repetirá o processo anos mais tarde.

Decidi relê-la apenas para mim

escolhendo, de entre vários exemplares em diversas línguas que habitam as prateleiras da casa onde vivo, a obra

anotada por José Luís Peixoto e ilustrada por um desenhador/tatuador de seu

nome Hugo Makarov, fugindo assim às ilustrações originais do seu autor.

As anotações são como alguém que, num museu, nos chama a atenção para detalhes ora importantes, ora apenas divertidos tais como o facto de Morrissey iniciar o vídeo da canção “Suedehead” a receber um exemplar do “Principezinho” das mãos de um menino loiro, ou da versão do livro em dialecto “Toba” que assumiu o nome de “Caciquezinho” pois, de acordo com o anotador, esses indígenas sul americanos desconheciam o que seria

um príncipe não se surpreendendo, porém, que uma das personagens fosse uma serpente que fala.

Encontramos a rosa que cativou o pequeno príncipe deixando-me a certeza que esta não é mais do que a narração da relação do seu autor com Consuelo, sua companheira de vida sendo o principezinho nada mais do que Saint-Exupery e este, nada mais do que uma criança ingénua que, como tal, vê o mundo com umas cores diferentes daquelas com que os adultos a veem.

Lá está o bêbado, o rei, o homem de negócios e o vaidoso também, retratados por um tatuador que as pinta com cores. Desta vez, diferentes não só daquelas que os adultos veem, mas também daquelas que as crianças vislumbram, numa obra sobre a qual eu tenho, por razões pessoais, uma ligação especial e tendo por certo, como diz o autor, que o planeta terra tem muitos bêbados, vários reis (e rainhas também) e muitíssimos vaidosos.

Cada uma destas personagens habita o seu planeta minúsculo ficando o leitor com a certeza que planetas e asteroides cada homem tem os seus cabendo-lhe fazer com os mesmos o que bem entender sem, porém, se esquecer que nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.

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