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Cantinho do João João Correia
CANTINHO DO JOÃO
João Correia
O MEU PORTO TEM GAIVOTAS
Pelo menos no bairro onde estou e as quais (de acordo com alguém que me é muito próximo) nascem, crescem e morrem sem nunca ver o mar pois a cidade proporciona-lhes tudo o que precisam para viver.
Estas fazem-se ouvir no bairro onde estou e o qual, se fosse em Lisboa, seria apelidado de genuíno (palavra que substituiu a expressão “típico” própria dos anos 90 … não deve haver nada pior do que pertencer à classe operária e aturar com estes adjectivos mas enfim … os “gunas” que habitam no dito bairro devem-se estar nas tintas para a forma com que lhes apelidam o bairro onde vivem).
O meu Porto tem uma padaria junto ao local onde estou, onde compro o pão e sou obrigado a corrigir os nomes que dou ao mesmo pelas senhoras que o vendem e onde, também, faço fila com velhotas de roupão que tratam os padeiros por “meu amor” e as senhoras do balcão por “minha querida”.
O meu Porto tem “ilhas”. Pelo menos, no bairro onde estou conheço duas onde, de quando em quando, espreito para dentro do portão que as fecha do mundo exterior para satisfazer a minha curiosidade. Francamente, gostava de as ver por dentro mas não gosto de incomodar os seus moradores (manias minhas) estando certo que se o tentasse fazer arriscava-me seriamente a ouvir, e com toda a razão, uma série de elogios “genuínos” ou “típicos”.
O meu Porto também tem Serralves, a Casa da Música e Soares dos Reis. Uma Editora deliciosa, e um hotel na Rua de Santa Catarina com um átrio de entrada que poderia servir de cenário de um filme de época (parece que servem um “brunch” fixe, um dia destes vou convidar as velhotas da padaria para o dito, juntamente com os “gunas” do meu bairro … só para ver o que dá … uma mistura entre o “Apocalipse Now” e o “Hiroshima meu amor” … deve ser interessante).
O meu Porto também tem um teatro onde vou uma vez por ano. Dentro de uma escola sita numa “Rua da escola normal”. Procurem no mapa e existe mesmo (ainda gostava de conhecer uma “Rua da escola anormal” … talvez um dia …) onde vejo alguém que me é muito especial, todos os anos, a fazer uma vénia no final da peça para agradecer a todos os que lá foram ver os rapazes e raparigas (é assim que eu apelido todos os que têm menos de 38 anos de idade) e que, de ano para ano eu vejo a tornarem-se excelentes actores. Representam todas as peças com sotaque do Porto mas, que eu saiba, não há nada que proíba o Rei Lear de falar com pronúncia das Antas. Quem não goste que vá reclamar junto das velhotas da padaria de que falei há pouco, estou certo que as mesmas vãolhes dizer algumas coisas interessantes e muito merecidas também.
Enfim, tem o Teatro Helena Sá Costa onde se respira.
Para quem ache importante o acto de “respirar” e o qual recomendo.