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Pausa para Café Quando se começa a olhar para trás

FG.

Pausa para café

Quando se começa a olhar para trás

Terminada a grande epopeia da Instrução Primária, num percurso “limpo”, entra-se sem exame de admissão numa nova etapa, mais responsável, mais temerária, longe de casa, com ausência de transportes coletivos, mesmo que chova a “potes”.

O primeiro embate é pesado, a imponência do grande edifício, todavia compensado pelo JardimEscola do outro lado da rua, e pelo magnífico Jardim da Estrela ao virar da esquina. Refeito do choque, o percurso foi “limpo”, sem chumbos e sem Quadro de Honra, com notas genericamente entre 0 13 e 0 16.

Dividirei esse tempo em 2 períodos distintos, um até ao 5 2 ano e o outro até à conclusão dessa fase académica.

Na primeira, as folgas, as faltas de professores, eram absorvidas no JARDIM CINEMA, um pouco abaixo a caminho do Largo do Rato. Aí deixávamos as nossas economias, no ping-pong, nos matraquilhos, no bilhar, com a garantia de um regresso em correria, porque já agora é só “mais esta partidinha Outro período aguardado com grande expectativa era o Carnaval, com os insubstituíveis assaltos, pretexto para umas mascaradas caseiras, cada um contribuía com aquilo que conseguia “reunir”, depois de convencer a Família.

Tinham lugar normalmente em casa de raparigas, ou seja, sobrava-lhes o desarrumar/rearrumar a casa onde decorria o hipotético bailarico. Mas com 0 3 2 ciclo à vista, e no meu caso, por bom aproveitamento, tive direito a ter Passe de Elétrico, uma promoção caseira de alto prestígio, permitindo agora escapadelas, eram sobretudo para o Chiado, onde estava garantido um desfile permanente e gratuito de algo que a idade muito apreciava, se bem que o “voltar para trás”, para que o exame fosse completo, levasse a alguns “choques” e protestos dos atropelados.

Sem ofensa para os católicos, o auge desses nossos programas turísticos era a Semana Santa, porque não havia rapariga que se prezasse que nesses dias não desfilasse no Chiado, obviamente por razões de fé (há fé de diversos tipos....), com as suas melhores roupagens, em preto evidentemente, e com quem era mais fácil trocar mensagens com contatos, em pequenos cartões, para ulterior aprofundamento dos temas, já que as Mães, Tias, Avós e Cia, estavam devotamente a rezar.

Por vezes, já no 7 º ano (atual 11º ), fazíamos “raids” aos bailes dos universitários, porque constituíam o degrau seguinte da nossa promoção social. Estes eram os programas de todo o período escolar, mas falta dizer que nas férias “grandes” algo foi tendo uma evolução diferenciada no tempo, com caracter individualizado.

Assim, eu até aos meus 15 anos, mantive a tradição das férias saloias, com a componente excitante para mim de acompanhar o meu Pai nos programas de caça.

A excitação começava com a vistoria e lubrificação de arma, a que se seguia o carregamento dos cartuchos, dado haver pelo menos 2 tipos de chumbos, consoante o tipo de objetivo, perdiz, coelho ou codorniz.

Eu acompanhava-o praticamente todos os dias, durante pelo menos 2 semanas.

Abro aqui um parêntesis para contar como aprendi a conduzir automóveis.

Meu Pai tinha adquirido um FORD V8, portanto com cilindros em V, 4 de cada lado obviamente. A matrícula era AD-11-38.

O trajeto de Campo de Ourique para Montachique era em linhas gerais por Campolide, Campo Grande, Alameda das Linha de Torres, Lumiar, Odivelas, Loures em estrada asfaltada, e aqui, uma vez passado o Posto da PVT (Polícia de Viação e Transito), podíamos seguir ou pela estrada asfaltada ou por um desvio para uma estrada de terra batida, que nos conduzia até nossa casa, com uma extensão de aproximadamente 8 Km. Era a minha a nossa opção, porque era a minha “pista” de instrução. Com o meu cunhado ao lado, lá fui inicialmente com muito jeitinho, fazendo longas lê s e a serra era sempre a subir, até que me emancipei e fui a exame, tendo explicado na Escola de Condução que já sabia conduzir. Todavia, era obrigatório fazer pelo menos 8 lições numa Escola.

Marcado o exame, eles começavam junto à Escola do Exército, no Paço da Rainha. Tripulação a bordo, iniciei a viagem na direção ao Largo D. Estefânia, mas rapidamente fui mandado estacionar para o teste de código, que era o meu ponto fraco, porque conhecia todos os sinais, mas descrevê-los por vezes era complicado.

Feita a primeira pergunta, vejo o examinador saudar alguém, levantando a mão direita, a que seguiu um estrondo. O amigo que ele saudou, distraiu-se com isso, e estampou-se contra uma camioneta de carga.

Depois de grande discussão, com o meu examinador a puxar dos galões de Técnico Superior da DGV (Direção Geral de Viação), tornava-se urgente levar o ferido ao H. de S. José, e nada mais indicado do que colocá-lo no carro de instrução, comigo a conduzir e a buzinar, onde o deixámos na respetiva URGÊNCIA.

Para concluir o exame, regressei ao local do acidente, só para referência, prosseguimos até às imediações do ex- Cinema IMPÉRIO, e numa rua muito estreita, fiz inversão de marcha e um estacionamento. Regressámos depois ao local onde o exame tinha sido iniciado, onde fui efusivamente cumprimentado pelo examinador.

O Instrutor, que tinha ficado de boca aberta ao longo desta odisseia, fez questão de me conduzir a casa!

Voltando às Férias, no tempo que me restava dessa estadia após Caça, que durava sensivelmente mais um mês, era ocupado com excursões em caravanas de burros, que os vizinhos nos emprestavam, normalmente 6.

Os excursionistas eram também jovens citadinos, cujas famílias alugavam as casas aos locais, na totalidade ou em parte, dada a fama da região em ter “bons ares” e ser, portanto, muito benéfica para os adolescentes, e os trajetos eram improvisados desde que se levasse o “combustível” para os imperdíveis picnics.

Por vezes a odisseia estendia-se à Feira da Malveira, semanal às 5? feiras. Tínhamos que sair cedo, e o trajeto era percorrido em cerca de 2 horas em cada sentido. À chegada os burros eram guardados numas “garagens” próprias, onde lhes davam água e alguma palha, a troco de uma taxa verdadeiramente simbólica

Como minha Irmã tinha uma casa na Costa da Caparica, o resto das férias era lá passado, e como era hábito em mais ou menos todas as praias, acabei por integrar um grupo de jovens que tinham toldos ou barracas na mesma zona do da minha Irmã. O meu grupo era bem divertido, havia muita criatividade, desde excursões a pé na maré baixa à Fonte da Telha, ou ao Bico da Areia, que era a extremidade Norte da praia, já muito próxima do Farol do Bugio, algo que com as dragagens para compensar a areia arrastada pelas marés vivas, passou a ser um canal por onde até os barcos de pesca transitam, ao alugar um autocarro e irmos até ao Portinho da Arrábida.

O meu Grupo manteve-se muito unido, e durante todo o período escolar, tivemos atividades lúdicas com muita regularidade.

Mas como tudo o que é bom acaba, o liceu também me aguardava para mais umas jornadas de combate com os livros, as sebentas, os “Prof’s” e as notas

E assim cheguei ao fim do 7 ºano, num “percurso limpo”.

Preparar de urgência o Processo de Admissão à Faculdade, e de Guia de Marcha para a Costa da Caparica, foram as minhas prioridades.

( continua)

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