Brasíia - Síntese das artes

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Brasília síntese das artes Curadoria Denise Mattar Cenografia Guilherme Isnard

Centro Cultural Banco do Brasil Brasília De 20 de abril a 27 de junho de 2010

Copatrocínio

Realização


Patrocínio Banco do Brasil Realização Centro Cultural Banco do Brasil

Exposição

catálogo

Curadoria Denise Mattar

Organização Denise Mattar

Consultoria Luiz Aquila Marília Panitz

Textos Angélica Madeira Denise Mattar Grace de Freitas Luiz Aquila Maria Goretti Vulcão Marcus de Lontra Costa Marília Panitz

Cenografia Guilherme Isnard Programação visual Ana Lucas Iluminação Jorge Kugler Assistente de iluminação Well Ribeiro Assistente de curadoria Carolina Barmell Produção executiva Celso Rabetti Cenotécnica Marcenaria Polovinas LM Pinturas Assessoria de imprensa Capta Comunicação Programa educativo aBorda Gabinete de Arte Produção local Carolina Barmell Elisa Matos Produção Curatorial Denise Mattar

4 Brasília síntese das artes

Coordenação editorial Jhony Arai Projeto gráfico Ana Lucas Fotos Débora Amorim (obras) Guilherme Isnard (obras públicas e exposição) Mila Petrillo (artistas e instalações) Tratamento de imagem Paula Dias Pesquisa Anelise Weingartner Jeanina Daher Luiza Moser Maria Goretti Vulcão Assistência editorial Andréia Ferreira Revisão Cristiane Garcia Tradução Kratos Traduções


agradecimentos

Alexandre Rigueira Ana Lúcia Vieira Costa Angélica Madeira Arquivo Público do Distrito Federal Bené Fonteles Biblioteca Central da UnB Casa da Cultura da América Latina - UnB Carlos Eduardo de Oliveira Alves Celso Albano Claudio Pereira Conceição Pinheiro Cristina Roberto Eduardo Pierrotti Rossetti Elder Rocha Filho Esmeralda Villar Marques de Sá Flávio Antonio de Camargo Franco Terranova Fundação Athos Bulcão Galeno Grace de Freitas Isabela Brochado Jaime Vilaseca Licurgo Ligia Maria de Souza Nalin Luiz Alphonsus Guimarães

Manuel Mendes Marcelo Gomes Durães Marcus de Lontra Costa Maria Julia Maritan Castro Maria Paula Vasconcelos Maria Silvia Barbin Laurindo Ministério das Relações Exteriores Museu de Arte de Brasília Nicolas Behr Noêmia Buarque de Holanda Palácio da Alvorada Palácio Itamaraty Paulo César de Camargo Paulo Herkenhoff Projeto Memória da Educação do DF Rafael Guerra Raoni Japiassu Regina Miranda Ricardo Stuckert Roberto Castello Roberto Salmeron Salomon Cytrynowics Sergio Carvalho Vice-reitoria da UnB Zanini de Zanine Caldas

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á 50 anos nascia no coração do Planalto Central uma nova cidade, uma nova capital, um novo sonho, uma nova realidade. No barro vermelho ergueu-se o concreto que se fez obra de arte. No bojo da nova Capital Federal a vocação de ser um espaço público de arte integrada. Assim, estreava Brasília, cidade inteiramente planejada que tornou-se um exemplo da arquitetura moderna. Há 10 anos inaugurava-se na Capital Federal o segundo Centro Cultural Banco do Brasil. Com os mesmos objetivos do primeiro, aberto no Rio de Janeiro, em 1989, de levar cultura ao maior número possível de pessoas, com uma programação inédita e de qualidade, de incentivar os artistas e projetos locais, e com a missão de incluir Brasília no circuito cultural brasileiro. O Banco do Brasil tem orgulho de ter tomado a decisão de também fazer parte da história cultural de Brasília. Ao realizar Brasília síntese das artes, o Centro Cultural Banco do Brasil espera presentear mais uma vez esta cidade tão rica de talentos, desta vez com suas próprias obras de arte. Centro Cultural Banco do Brasil


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A Utopia de JK Por Denise Mattar, curadora

JK chega com Mário Pedrosa e autoridades para a abertura do Congresso Extraordinário da Associação Internacional dos Críticos de Arte Foto: Mário Fontenelle/ Arquivo Público do Distrito Federal

[1] A exposição O Olhar Modernista de JK foi realizada originalmente pela FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado e apresentada no Palácio Itamaraty, Brasília, 2004. Posteriormente foi apresentada no Museu de Arte Brasileira da FAAP, São Paulo, 2006; Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, 2006; e Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2008. Uma versão menor foi apresentada em 2007 no Salão Verde do Congresso, Brasília.

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ideia de realizar Brasília síntese das artes derivou diretamente da mostra curada por mim, em 2004, intitulada O Olhar Modernista de JK[1] . A exposição apresentava a remontagem da I Exposição de Arte Moderna de Belo Horizonte, realizada em 1944 com o patrocínio do, então prefeito, Juscelino Kubitschek e curadoria de Guignard e Menegale. Com 46 artistas e 134 obras, a exposição foi a mais importante realizada no Brasil na primeira metade da década de 1940. Além de reunir artistas do Rio de Janeiro e São Paulo, prática pouco comum na época, traçava um panorama quase completo da produção modernista brasileira e seus desdobramentos. Sua reconstituição sessenta anos depois permitia traçar os caminhos trilhados durante a expansão e absorção do modernismo, e mostrar os novos rumos que a arte iria tomar. A exposição de 1944 estava de acordo com as ações de Juscelino Ku­bitschek, que buscava promover a modernização de Belo Horizonte não só por meio da industrialização, mas também da produção artística. Muito mais do que uma simples mostra, a iniciativa configurou-se como um evento importante, com palestras, debates e recitais, e que alcançou dois objetivos: apresentar à intelectualidade o conjunto arquitetônico da Pampulha e transformar Belo Horizonte em um foro de debates sobre a Arte Moderna. Vindos do Rio de Janeiro, estiveram presentes na abertura, entre outros, Jorge Amado, Samuel Wainer, Millôr Fernandes, Milton Dacosta, Djanira, Carlos Scliar e Poty. A caravana paulista veio depois e era formada por Sergio Milliet, Oswald de Andrade, Luis Martins, Arnaldo Pedrosa d’Horta, Paulo Emilio Salles Gomes, Alfredo Mesquita, Caio Prado Junior, Lourival Gomes Machado, Clovis Graciano, Mario Zanini, Alfredo Volpi, Rebolo, Anita Malfatti, entre outros. Durante todo o evento, Belo Horizonte tornou-se um ponto de encontro e de discussões sobre cultura. A intensa mobilização da cidade e a repercussão das palestras, recitais e da exposição configuraram um momento muito especial, e que, até então, nunca havia ocorrido fora do eixo Rio-São Paulo. No processo de pesquisa para a mostra ficou clara para mim a visão interdisciplinar de Juscelino. No evento de 1944, cercado pelas artes, a grande estrela era a arquitetura. O complexo da Pampulha, inaugurado em 1942, foi o primeiro conjunto arquitetônico modernista realizado no Brasil e um dos primeiros do mundo. O projeto integrava a arquitetura, escultura, pintura e paisagismo reunindo o

arquiteto Oscar Niemeyer, o paisagista Roberto Burle Marx e o escultor Alfredo Ceschiatti. Compreendi integralmente a conhecida frase de Oscar Niemeyer: “Tudo começou na Pampulha”. Realizando O Olhar Modernista de JK, dei-me conta de que Brasília havia nascido sob o signo das artes. Paralelamente outra história me levaria a Brasília. Um dos integrantes da exposição de 1944 era Alcides da Rocha Miranda. Fui buscar obras do artista com seu filho, meu amigo de anos, Luiz Aquila, que me contou a história do ICA e sugeriu que fizesse um dia uma exposição sobre o tema. Anos depois, visitando a casa do colecionador Sergio Carvalho, vi muitas obras de artistas brasilienses, um conjunto que me fez ter a consciência da qualidade da produção contemporânea da cidade. Os 50 anos da cidade me deram a oportunidade de juntar esses três fatos marcantes e criar a exposição Brasília síntese das artes. Agradeço ao CCBB e à Brasilcap que acreditaram neste projeto e à equipe que o realizou, composta por muitas pessoas, entre as quais agradeço especialmente: Guilherme Isnard, por sua criativa cenografia; Ana Lucas, pela bela programação visual; Jorge Kugler, pela sensível e precisa iluminação; Carolina Barmell, que foi meu braço direito; Marília Panitz, por suas sugestões essenciais e sem a qual não teria sido possível realizar esta mostra; Luiz Aquila, pela ideia inspiradora; Elisa Matos, sempre correndo para atender a todos; e Celso Rabetti, pagando as contas... Agradeço também a todos os artistas participantes, a colecionadores, familiares e instituições que emprestaram suas obras, a autores que me inspiraram com seus textos, e àqueles que escrevem neste catálogo: Marcus de Lontra Costa, que durante anos me fez pensar numa Brasília mágica; Nicolas Behr, com sua poesia tão marcante, uma mescla de amor, reflexão, ironia e humor; Angélica Madeira, que nos traz um panorama do que era a arte na cidade que nascia; Luiz Aquila, com suas memórias tão emocionantes; Grace de Freitas, que nos faz compreender a importância dos diferentes momentos da história da UnB; e Marília Panitz, com sua análise permeada de encanto pela produção dos artistas de sua cidade. Transformar uma ideia em realidade é sempre muito difícil, especialmente quando o tempo para essa realização é exíguo. É uma tarefa de muitos; obrigada a todos os que estiveram ao meu lado.

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Brasília síntese das artes Brasília é na essência uma obra de arte que se constrói; uma obra de arte coletiva Mário Pedrosa

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[2] PEDROSA, Mário. Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1981. (Coleção: Debates). p. 317. “Utopia – obra de arte”, Jornal do Brasil, 21 de maio de 1958. [3] ROSSETTI, Eduardo Pierrotti. Brasília, 1959: a cidade em obras e o Congresso Internacional Extraordinário dos Críticos de Arte. Versão revista e ampliada da comunicação homônima apresentada no 8° Seminário Docomomo Brasil no Rio de Janeiro: setembro/2009.

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cidade de Brasília surgiu dentro de um contexto pósguerra no qual arquitetos e artistas acreditaram que poderiam ser os artífices de uma mudança do homem. Em vários países houve a criação de quarteirões e bairros integrando arte, arquitetura e urbanismo. O Brasil foi o único país a realizar uma cidade inteira, e Brasília é um dos poucos exemplos arquitetônicos da utopia modernista que resiste até hoje. Em 1987, Brasília foi reconhecida, por unanimidade entre os 21 membros da UNESCO, como Patrimônio Cultural da Humanidade. É considerada a maior obra de trabalho livre que se tem notícia e marco do urbanismo moderno do século XX. Juscelino Kubitscheck mais uma vez soube promover a modernização, não apenas por meio da industrialização, mas também da produção artística. Ele repetiu a estratégia adotada em 1944, em Belo Horizonte, só que agora os participantes eram outros... O ano de 1959 foi fundamental para o sucesso da futura capital, Brasília em construção recebeu o Príncipe da Holanda, a Duquesa de Kent, o Primeiro-Ministro do Japão e André Malraux, entre muitos outros. No mesmo ano, Oscar Niemeyer e o crítico Mário Pedrosa organizaram o Congresso Extraordinário da Associação Internacional dos Críticos de Arte intitulado A Cidade Nova e a Síntese das Artes. Pedrosa, que era um ardente defensor da nova capital, via a cidade como uma antecipação do futuro:

O Congresso durou nove dias e foi realizado em três cidades: Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. No dia 17 de setembro de 1959 os participantes, vindos do Rio, desembarcaram no aeroporto de Brasília, cidade onde permaneceram por três dias. Estiveram presentes 83 congressistas representando 22 países, aos quais se somaram 31 observadores, totalizando 114 participantes no evento. Entre eles estavam: Michelangelo Muraro, Romero Brest, Tomás Maldonado, M.F.J. Kiesler, George Schmidt, Jacques Lassaigne, Richard Neutra, Eero Saarinem, Bruno Zevi, Charlotte Perriand, Lewis Mumford, Douglas Haskell, Giulio Argan – a nata de críticos, designers e arquitetos daquela época. Destacava-se a presença de Sir William Holford, que, dois anos antes, fora o mais destacado membro do júri que havia selecionado o projeto de Lucio Costa para a nova capital. Todos ficaram maravilhados com a extraordinária oportunidade de ver nascer uma nova cidade. O prof. Eduardo P. Rossetti, da UnB, que desenvolveu apurada pesquisa sobre o assunto, assim sintetiza a inteligente ação de Juscelino:

“[...] Nesse sentido, Brasília se insere nessa tradição, que é a tradição colonial de ocupação do território através de vilas, termos, fazendas, arraiais e cidades surgidas na selva bruta. A diferença é que, sendo destinada à Capital do país, não pode Brasília ficar presa àquela tradição, isto é, vivendo como um oásis, ou colônia fundada sobre base artificial. Ela deve, ao contrário, ser uma antecipação do futuro: uma utopia, pois. Não se tema a palavra utopia. Ruyer, o eminente filósofo francês, num livro admirável sobre L’Utopie et les utopies mostra que se a utopia não é exatamente o primeiro tempo da ciência, pressupõe, contudo, um começo de análise teórica. As utopias sempre acompanharam em particular os progressos da ciência sociológica, a começar pela dos gregos e, depois pela dos renascentistas. As utopias prepararam as revoluções [...]” [2]

Essa construção da mítica cidade foi muitas vezes contada em livros, filmes e exposições. Análises polêmicas ou ensaios inspirados falam da arquitetura de Niemeyer, do urbanismo de Lucio Costa, dos candangos, da terra vermelha, das repercussões e consequências da mudança da capital, mas raramente se fala sobre a presença das artes plásticas na cidade, dos desdobramentos que ocorreram depois da inauguração, e dos artistas, frutos da peculiar condição de Brasília, que se projetaram no cenário artístico nacional. Este é o foco desta exposição, Brasília síntese das artes, cujo título foi inspirado no Congresso da AICA. A mostra foi dividida em três núcleos que marcam momentos diversos da presença das artes na cidade. Arte e Utopia apresenta

“O Congresso foi parte da construção simbólica de Brasília, sendo o gesto mais internacionalizante de exposição da cidade. Ao trazer especialistas do mundo todo para ver a nova Capital em obras, comprovou-se a factualidade de sua existência, e globalizou-se o mito.”[3]


[1] Congresso Internacional de Críticos de Arte. Niemeyer recebe congressistas no aeroporto de Brasília [2] Chegada dos congressistas Fotos: Mário Fontenelle/ Arquivo Público do Distrito Federal

as obras que chegaram a Brasília, no momento da criação da cidade, e as histórias por trás dos trabalhos e dos artistas. Central de Sonhos conta a história do ICA e do IdA e também a chegada dos artistas que vieram para cá ao longo de cinquenta anos. O Sonho Acabou? mostra a reflexão de seus artistas contemporâneos sobre a cidade real que substituiu a utopia.

Núcleo I - Arte e Utopia Além de sua arquitetura inovadora, Brasília impressiona pela quantidade de obras públicas espalhadas por suas ruas e prédios. Um museu a céu aberto que traça um retrato da arte no Brasil nos anos 1950/60. Nenhuma outra cidade brasileira tem obras públicas nesta quantidade e qualidade. Na construção da cidade, as obras de arte foram encomendadas aos mais importantes artistas do primeiro e segundo modernismo, quase todos figurativos. Na pesquisa para a mostra não foi possível encontrar nenhum documento oficial que definisse o critério adotado para a escolha dos artistas, sabe-se apenas que Niemeyer não se identificava com o concretismo, tão defendido por Mário Pedrosa. Desse momento destacam-se Rito dos Ritmos, de Maria Martins, a primeira obra de arte pública da cidade, situada nos jardins internos do Palácio da Alvorada. A Alegoria a Brasília, de Di Cavalcanti, pintura de um azul monocromático que está localizada no Congresso, Os Guerreiros, de Bruno Giorgi, escultura posteriormente conhecida como Os Candangos[4], que se tornou um dos símbolos da cidade e está situada na Praça dos Três Poderes. Volpi foi encarregado da pintura do interior da igreja de Nossa Sra. de Fátima e sobre ela comentava Mário Pedrosa: “O Núncio expressou sua admiração pela igrejinha rústica e sem pretensões que Oscar Niemeyer traçou, um simples triângulo de cobertura, sem maiores problemas estruturais. E, na realidade, a igrejinha dá a impressão tocante de uma tenda no deserto, ou, como já lembrou outro sacerdote, de um barco. Volpi compreendeu perfeitamente

a simplicidade da concepção arquitetônica, e fez obra de inteira adequação ao espírito modesto, rústico, popular mesmo, da oferenda das Pioneiras Sociais [...]” [5] Alfredo Ceschiatti realizou algumas das mais marcantes obras da cidade como a Justiça, na Praça dos Três Poderes, as Iaras, no Palácio da Alvorada, e os Anjos da Catedral. No texto de Angélica Madeira para este catálogo, fica clara a importância das obras de Marianne Perretti, Burle Marx e, principalmente, a presença de Athos Bulcão. Deste momento de implantação da cidade, que era de fato um mito, e um símbolo, ficaram alguns textos poéticos como este escrito, em 1957, por Gilda Cesário Alvim, sobre a tapeçaria de Di Cavalcanti, que até hoje fica na Biblioteca do Presidente no Palácio da Alvorada. “A primeira prova tangível da existência de Brasília tive-a, há dias, ali na rua Cassette, num pequeno hotel em Paris... No terceiro andar Di Cavalcanti espia a rua e sonha com Brasília. E do sonho de Di Cavalcanti nascem mulheres, sinuosas e envolventes como lianas, mulheres serpentes, que o domador encanta, não com a clássica flauta, mas com pincéis e tintas... O encantado aqui é o encantador. Di Cavalcanti sonha com Brasília. E, aos poucos a paisagem muda. As paredes se afastam. O sol rasga as nuvens pegajosas. O horizonte se alarga e a imensidão verde de Brasília se estende sobre os telhados de Paris.” Outras obras de arte significativas viriam à cidade no final da década de 1960, para o Palácio Itamaraty, pelas mãos do Embaixador Wladimir Murtinho. Ele levou para a sede do Ministério das Relações Exteriores um conjunto que parte do Barroco e chega até o Concretismo; uma das mais belas e coerentes coleções de arte do país. Por sua integração com a arquitetura destacamos as obras Ponto de Encontro, de Mary Vieira, e Revoada de Pássaros, de Pedro Correia de Araújo, e outras mencionadas no texto do crítico e curador Paulo Herkenhoff, publicado na revista Humanidades, da Unb:

[4] Numa entrevista realizada anos depois da inauguração, o artista relatava a colocação da obra. Indecisos sobre a melhor localização da peça, Bruno Giorgi e Niemeyer experimentaram diversos pontos da Praça dos Três Poderes. Na curiosa cena, um enorme guindaste sustentava a escultura de oito metros de altura e foi passeando pela Praça e depositando o trabalho em vários pontos, até que eles concordassem com a localização. [5] PEDROSA, Mário. Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1981. (Coleção: Debates).“Adequação de forma e função”, Jornal do Brasil, 23 de maio de 1958.

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[1] No aeroporto: Tomas Maldonado (de branco) e Niemeyer. [2] Sir William Holford e esposa, Mary Vieira e Niemeyer. [3] A pintora Maria Cecilia, José Roberto Teixeira Leite, Maria Luiza Lontra Costa e Frederick Kiesler Fotos: Mário Fontenelle/ Arquivo Público do Distrito Federal

“O projeto de Murtinho é um paradigma de justeza e discernimento da função simbólica da arte, em sua condição de expressão coletiva, no espaço público. Ele articulou arquitetura, arte e design para um espaço do Estado para representar a sociedade através de seus artistas. Com relevos murais de Rubem Valentim, Emanoel Araújo e Sérgio Camargo, o Itamaraty rompeu com aquela abstractofobia. Com jardins de Burle Marx, mobiliário de Joaquim Tenreiro, painel de Alfredo Volpi, esculturas de Maria Martins e Bruno Giorgio e o Políptico do Itamaraty, de Fayga Ostrower, o Itamaraty arremata sua vocação simbólica regido por refinado discernimento estético.” Fazem parte ainda do acervo da cidade obras de Brecheret, na UnB; de Weissmann, que se situa ao lado do Museu de Arte de Brasília e é, na realidade, um protótipo para uma obra gigantesca a ser construída na Praça dos Três Poderes, o que não ocorreu; Ritmo em Acoplamento, de Mário Cravo Jr., os esplêndidos vitrais da Igreja Dom Bosco, entre outras. Infelizmente a vontade política que tornou a cidade um museu a céu aberto parece ter tido fim na década de 1970. Raro exemplo recente de trabalho realizado dentro do espírito que norteou a encomenda das primeiras obras de Brasília é o painel de Galeno para a igreja de Nossa Sra. de Fátima. Em uma reforma na década de 1960, o afresco original pintado por Volpi foi recoberto com tinta branca. Foram realizadas tentativas de restaurar a pintura, entretanto, isto se revelou impossível. Em 2009, Galeno, artista piauiense radicado em Brasília, foi convidado pelo IPHAN a realizar um novo projeto para a capela. Galeno considerou que a Nossa Senhora de Fátima é uma aparição que surgiu para crianças e, por isso, optou por trabalhar dentro do universo infantil, usando as cores azul e rosa e escolhendo elementos como o carretel e as pipas. Assim como aconteceu com Volpi, a pintura de Galeno foi considerada imprópria por muitos fiéis, que preferiam uma pintura mais clássica. Apesar de alguns protestos, o apoio à obra foi grande e ela permanece até hoje na igreja. Curiosamente, o nome de batismo de Galeno é Francisco de Fátima, dado a ele por sua mãe por causa da vinda, em 1956, da imagem de Nossa Senhora de Fátima ao Brasil. Esperemos que este museu a céu aberto venha a incorporar obras de arte do século XXI, continuando uma integração das artes à arquitetura que é muito similar àquela proposta pelos gregos. Falando sobre essa reflexão a Marcus Lontra, tomei conhecimento da história que se segue, tida como fantasia por alguns historiadores, e como certa por testemunhas de época: Um dos mais ilustres visitantes que Brasília recebeu em

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1959 foi André Malraux. Em discurso proferido, a 24 de agosto, o então ministro de Assuntos Culturais da França batizou a cidade como “a capital da esperança”, uma frase que repercutiu no Brasil e correu o mundo. Segundo contam ao visitar o Palácio da Alvorada, Malraux afirmou a Niemeyer que as colunas da Alvorada eram o advento mais importante em arquitetura, desde as colunas gregas. E completou seu pensamento dizendo ao arquiteto: “Imagine que belas ruínas Brasília daria...” Verdadeira ou não, a frase impressionou Oscar Niemeyer, que, em 1964, pintou as colunas do Palácio da Alvorada caídas, numa cidade abandonada, uma das poucas pinturas que realizou na sua vida e que foi apresentada na exposição. Se Niemeyer fala sobre a beleza de imaginárias ruínas de Brasília, Bené Fonteles atualizou esse discurso mostrando o marcante céu da capital e ruínas reais. Seu trabalho é um alerta para a necessidade de se preservar e cuidar da cidade. Na montagem da exposição, o visitante tinha acesso a fotos, localização e ficha técnica das obras da cidade, além de informações sobre os artistas. O núcleo apresentava o ensaio fotográfico de Guilherme Isnard, revelando detalhes expressivos, e recortes inusitados dessas obras. As fotos em backlights e os inspirados poemas de Nicolas Behr apresentados em letras luminosas criavam um percurso mágico que finalizava com a projeção de 28 fotos de Bené Fonteles ao lado dos destroços de um banco de superquadra. Arte e Utopia reiterava a importância do acervo público da Capital, um conjunto que pertence aos brasilienses e aos brasileiros, e que influenciou fortemente o imaginário da nação.

Núcleo II – Central de Sonhos A construção da alma de Brasília começou com a criação da UnB, em 1962. No Instituto Central de Artes - ICA, artistas e arquitetos, músicos e cineastas, alunos e professores se reuniam em meio à terra vermelha, numa experiência de integração tão forte que produz resultados até hoje. Golpeada várias vezes pela ditadura, a UnB resistiu, e nesse duro processo preservou uma profunda relação com a sua cidade. Nos anos que se seguiram, Brasília recebeu muitos artistas. Alguns foram embora levando as experiências aqui vividas, outros ficaram, e uma poética própria começou a ser construída. As fotos do acervo da UnB, a entrevista de Luiz Aquila e os textos de Grace de Freitas


[1] JK abre os trabalhos do Congresso [2] Repórter entrevista Niomar Bittencourt, Diretora do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

contam com propriedade a história do ICA ao IdA. Não seria possível, entretanto, apresentar todos os professores e alunos que passaram pela UnB, assim como os muitos artistas que viveram em Brasília desde sua inauguração. Desta forma, a seleção das obras apresentada contempla apenas uma parte da produção da cidade, porém evidencia a importância da universidade para a cidade. O núcleo se inicia apresentando obras de arte dos pioneiros artísticos de Brasília, que se reuniram no Instituto Central das Artes, fundado por Alcides da Rocha Miranda. O ICA era inovador, acolhia diferentes formas de expressão e teve professores como: Alfredo Ceschiatti, Amélia Toledo, Hugo Mund Jr., Athos Bulcão, Glênio Bianchetti, Maciej Babinski, Marília Rodrigues, Luiz Humberto, Leo Dexheimer, Zanine Caldas, entre outros. A UnB tornou-se um ponto de encontro de jovens, alunos ou não, que realizavam novas experiências artísticas. Entre eles estavam: Luiz Alphonsus Guimarães, Sérgio Augusto Porto, Luiz Aquila, Xico Chaves, Alfredo Fontes, Guilherme Vaz e Cildo Meireles, que morava em Brasília e era aluno de Barrenechea, o artista que organizou a primeira exposição de arte da cidade. O sonho do ICA terminou em 1965 com a demissão coletiva dos professores. O projeto foi reerguido com outros professores, entre eles Avatar de Moraes, Gastão Manuel Henrique e Luiz Aquila. Mas, em 1968, a UnB foi violentamente invadida e os cursos novamente encerrados. Na volta ao Rio de Janeiro, o grupo aqui formado continuou a se encontrar. Guilherme Vaz e Cildo Meireles criaram, no MAM-RJ, um núcleo de arte experimental, levando a determinante experiência de Brasília. Com sua atuação cerceada, o ICA tornou-se o Departamento de Desenho, mas sua excelência era de tal ordem que permeou os anos seguintes, com professores como Cathleen Sidky, Rubem Valentim, Douglas Marques de Sá e Stella Maris. Nos anos 1980, foi criado o Instituto de Artes - IdA, um local de encontro e produção da arte brasiliense até hoje. Sua primeira diretora foi a professora Grace de Freitas. Brasília, a Cidade Nova de Pedrosa, gerou ao longo dos seus cinquenta anos uma produção interessante, criativa e com uma visão muito particular partilhada por grupos e artistas que aqui chegaram, inspiraram-se ou tornaram-se parte da cidade. Entre os artistas participantes deste segmento estão: Ana Miguel, Andrea Campos de Sá e Walter Menon, Chico Amaral, Corpos Informáticos, Glênio Lima, João Angelini, Luiz Gallina, Nazareno, Nelson Maravalhas, Nivalda Assunção, Pedro Alvim, Ralph Gehre, Suzete Venturelli, Tânia Fraga, Vicente

Martinez, Wagner Barja e Wagner Hermuche. Sem ter a pretensão de fazer um panorama completo, o conjunto das obras apresentado neste núcleo permite ver a qualidade da produção artística de Brasília fragmentada, diversificada, irônica, curiosamente intimista e que, cada vez mais, insere-se no circuito de arte nacional e internacional.

Fotos: Mário Fontenelle/ Arquivo Público do Distrito Federal

Núcleo III – O sonho acabou? Voltando a Brasília, muitos anos depois da construção, Lucio Costa constatou que ela não era mais uma “flor de estufa” – fora contaminada pela realidade. Essa cidade real é retratada no terceiro momento da mostra. Nele, os artistas Adriano e Fernando Guimarães, Allan de Lana, Alexandre Rangel e Rodrigo Paglieri, Elder Rocha Filho, Elyezer Szturm, Evandro Salles, Gê Orthof, Karina Dias, Milton Marques, Polyanna Morgana e Yana Tamayo foram convidados a pensar suas relações com o lugar que escolheram para viver, ou no qual nasceram. Este núcleo foi realizado numa curadoria conjunta com Marília Panitz, parceira de muitos projetos e uma das mentoras da produção cultural brasiliense. É dela o texto do catálogo que analisa os trabalhos produzidos para a mostra. Conhecedora do percurso dos artistas e do movimento nacional e internacional da arte contemporânea, Marília nos traz uma análise sensível que apresenta cada um dos artistas e cada uma das obras, tanto na sua relação com a cidade quanto com os processos artísticos. Os artistas foram escolhidos a partir de critérios como oferecer um conjunto de diferentes faixas etárias e tipos de produção, e privilegiar aqueles que normalmente já têm o espaço urbano como tema de suas obras. Não foi uma escolha fácil, pois muitos outros artistas da cidade poderiam estar presentes. Por circunstâncias alheias à vontade de todos, nossa exposição teve que ser realizada em tempo recorde. Brinquei com os artistas que teríamos que parafrasear JK e seus cinquenta anos em cinco. O resultado, tal qual Brasília, foi belo e instigante. Nas obras criadas para a mostra desfilam diferentes abordagens: ironia, poesia, estranheza, lirismo e encanto, tendo em comum apenas a relação muito forte com esta cidade incomum, nascida há 50 anos – sob o signo das artes. Denise Mattar Curadora

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os fazedores de desertos se aproximam e os cerrados se despedem da paisagem brasileira uma casca grossa envolve meu coração NICOLAS BEHR poeta

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Catedral de Brasília, em 1970

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Ensaio poético Nicolas Behr Ensaio Fotográfico Guilherme Isnard Fotos históricas Arquivo Público do Distrito Federal


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lém de sua arquitetura inovadora, Brasília impressiona pela quantidade de obras públicas espalhadas por suas ruas e prédios. Um museu a céu aberto que traça um retrato da arte no Brasil nos anos 1950/60. Nenhuma outra cidade brasileira tem obras públicas nesta quantidade e qualidade. Na construção da cidade, as obras de arte foram encomendadas aos mais importantes artistas do primeiro e segundo modernismo, quase todos figurativos. Oscar Niemeyer não se identificava com o abstracionismo, tão defendido por Mário Pedrosa, e as obras mais significativas dessa corrente só viriam à cidade mais tarde, para o Palácio Itamaraty, pelas mãos do Embaixador Wladimir Murtinho. Este núcleo apresenta um ensaio fotográfico de Guilherme Isnard sobre as obras públicas de Brasília, ao lado de poemas de Nicolas Behr. Dados sobre as obras e informações sobre os artistas permitem avaliar a importância desse acervo que pertence aos brasilienses e brasileiros. Numa das poucas pinturas que realizou, Niemeyer fala sobre a beleza de imaginárias ruínas de Brasília. Bené Fonteles atualiza esse discurso mostrando o marcante céu da capital e ruínas reais: os bancos destruídos nas superquadras; seu trabalho é um alerta para a necessidade de se preservar e cuidar da cidade.


entre, entre por favor entre blocos entre quadras entre, entre por favor

Maria Martins Múltiplo de Rito dos Ritmos. Sem data. 20 cm. Coleção Domício e Izolete Pereira. Preposto Claudio Pereira

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Maria Martins Rito dos Ritmos. 1954. Escultura em bronze. 450 cm de altura. Palácio da Alvorada


arte e utopia


blocos, eixos, quadras senhores, esta cidade é uma aula de geometria

Athos Bulcão Relevos. Teatro Nacional Foto da construção 1967



Alfredo Ceschiatti A Justiça. 1961. Escultura em granito Petrópolis e pedra monolítica. 330 X 148 cm Praça dos Três Poderes


duas asas partidas dois eixos fora dos eixos dois traços invisíveis duas pistas falsas minha plataforma política é a plataforma da rodoviária


Alfredo Ceschiatti As Iaras. 1958. Escultura em bronze. 130 X 400 cm. Palรกcio da Alvorada


meu olhar distorcido sobre ti meu olhar cego meu olhar doce meu lirismo nĂŁo amoroso te cantar ĂŠ desencantar


ninguém comeu brasília como eu brasília nua e crua como assim?

Bruno Giorgi Maquete de Os Guerreiros. 1958. Coleção Particular Preposto Claudio Pereira

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Bruno Giorgi Os Candangos. 1957/59. Escultura em bronze, originalmente intitulada Os Guerreiros. 800 cm de altura. Praça dos Três Poderes

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Palácio do Planalto em construção. Foto: Mário Fontenelle


como decifrar tua caligrafia de postes e ventos?

Palรกcio da Alvorada


Bruno Giorgi Meteoro. Escultura em mármore de Carrara. 1967. 72 toneladas. Palácio Itamaraty. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Brasil Foto: Bruno Giorgi acompanha instalação da escultura


bem, o sr. jรก nos mostrou os blocos, as quadras, os palรกcios, os eixos, os monumentos... serรก que dava pro sr. nos mostrar a cidade propriamente dita?


brasília, brasília, onde estás que não respondes?!

Acima, igreja de Nossa Senhora de Fátima, projetada por Oscar Niemeyer . Na outra página, azulejos de Athos Bulcão que decoram o exterior da igreja

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em que bloco, em que superquadra tu te escondes?!



O Núncio, familiar com a grande pintura religiosa do pré e do primeiro renascimento, visitou a capelinha de Nossa Senhora de Fátima, e logo compreendeu a qualidade dos afrescos de Alfredo Volpi, convidado em boa hora, como se sabe, por Niemeyer para decorá-la...

O Núncio expressou sua admiração pela capela rústica e sem pretensões que Oscar Niemeyer traçou, um simples triângulo de cobertura, sem maiores problemas estruturais. E, na realidade, a capelinha dá a impressão tocante de uma tenda no deserto, ou, como já lembrou outro sacerdote, de um barco.

Volpi compreendeu perfeitamente a simplicidade da concepção arquitetônica, e fez obra de inteira adequação ao espírito modesto, rústico, popular mesmo, da oferenda das Pioneiras Sociais, que não tinham dinheiro para levantar uma

capela imponente ou que exigisse concepção arquitetônica mais arrojada, ou original. Por isso mesmo, a capela de Nossa Senhora de Fátima promete ser um modelo de integração das artes. O Núncio a viu, gostou e não teve dúvida em proclamar sua admiração pela obra. Mário Pedrosa, 1958

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Em uma reforma na década de 1960, o afresco original da igreja, pintado por Volpi, foi recoberto com tinta branca. Foram realizadas tentativas de restaurar a pintura, entretanto, isto revelou-se impossível. Em 2009, Galeno, artista piauiense radicado em Brasília, foi convidado pelo IPHAN a realizar um

novo projeto para a igreja, já que sua obra possui certa similaridade com a de Volpi. Galeno considerou que Nossa Senhora de Fátima é uma aparição que surgiu para crianças e, por isso, optou por trabalhar dentro do universo infantil, usando as cores azul e rosa. Sempre dentro desta proposta, o artista escolheu elementos

como o carretel e as pipas para criar um rosário para a Nossa Senhora. Assim como aconteceu com Volpi, a pintura de Galeno foi considerada imprópria por muitos fiéis, que preferiam uma pintura mais clássica. Apesar de alguns protestos, o apoio à obra foi grande

e ela permanece até hoje na igreja. Esse painel é um trabalho recente, dentro do espírito que norteou as primeiras obras de Brasília, encomendadas a artistas atuantes. Curiosamente, o nome de batismo de Galeno é Francisco de Fátima, dado por sua mãe em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, cuja imagem veio ao Brasil em 1956.

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Frans Weissmann Três pontos: projeto de Monumento à Democracia. Sem data. Escultura em ferro. A peça é um protótipo do Momumento à Democracia, que seria colocada na Praça dos Três Poderes, mas nunca foi executada

eixos que se cruzam pessoas que não se encontram

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blocos melancólicos superquadras sem superego eixos se retorcendo monumentos em agonia gramados deprimidos linhas suicidas

nem tudo que é torto é errado veja as pernas do garrincha e as árvores do cerrado

Mary Vieira Ponto de Encontro. 1969/70. Polivolume de alumínio de configuração variável. 160 X 100 X 28 cm. Palácio Itamaraty. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

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naquela noite suzana estava mais w3 do que nunca toda eixosa cheia de L2 suzana, vai ser superquadra assim lá na minha cama

Maria Martins Canto da Noite. 1968. Escultura em bronze. 170 X 203 X 122 cm. Palácio do Itamaraty. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

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Mário Cravo Júnior Ritmo em Acoplamento. Sem data. Obra produzida com sucata industrial. Jardins da SQLN107

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o céu é nosso mar mar sem sal

carente, solitário, aos domingos à tarde ia para a esplanada só pra dar informações aos turistas

as águas do paranoá não correm para o mar viram nuvens e ficam paradas no ar

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SQS415F303 SQN303F415 NQS403F315 QQQ313F405 SSS305F413 seria isso um poema sobre brasília? seria um poema? seria brasília?

começa a demolição quero pra mim os anjos da catedral

Rubem Valentim Templo de Oxalá, 1977. Relevo em madeira esmaltada. 330 x 1.345 cm. Palácio Itamaraty. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

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viadutos sem saídas apartamentos sem portas

três da madrugada no eixão sem ter pra onde ir sem ter pra onde correr gritar não vale morrer não adianta

tuas qualidades arquitetônicas Pedro Correia de Araújo Revoada dos Pássaros. 1967/68. Luminária esculpida em ferro, prata e bronze, com cristais de rocha lapidados em forma de disco na ponta de cada um dos 110 braços. 1.500 quilos. Palácio Itamaraty. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

meus defeitos poéticos

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o psicólogo o sociólogo o antropólogo explicam brasília eu não entendo eu gosto para pagú

SQS ou SOS? eis a questão!

Sérgio de Camargo Muro Estrutural. 1965/66. Relevo, blocos de concreto e tinta vinílica. 445 x 2.600 cm. Palácio Itamaraty. Acervo do Ministério das Relações Exteriores do Brasil

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Construção da igreja Nossa Senhora de Fátima. Foto: Mário Fontenelle, 18/05/1958

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dedico este canteiro de obras, este jardim-operário, aos esquecidos de Deus que construíram esta cidade de brasília e que, um dia, construirão comigo, em sonho e sem dor, a cidade de braxília

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