“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”
“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA” HISTÓRIA, COSTUMES E TRADIÇÕES NAS CONTAS DO ROSÁRIO EM BETIM
TCHARLES AVNER
Avner, Tcharles Moçambique pede licença – História, costumes e tradições nas contas do Rosário em Betim/Tcharles Avner – Lisboa – 2010. Inclui Bibliografia História – Religião – Minas Gerais CDD-278.1
“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA” – HISTÓRIA, COSTUMES E TRADIÇÕES NAS CONTAS DO ROSÁRIO EM BETIM
Copyrigth©2010 Tcharles Avner Moçambique Pede Licença de Tcharles Avner é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercialVedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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Minha mãe Helena “Leda” Moraes de Lima a quem dedico esta obra, e meus sobrinhos causa primeira desse esforço. A eles dedico esta pesquisa. Única referência permanente no meu mundo. Tentei ser digno em relação a tudo que me foi dado. Obrigado.
AGRADECIMENTOS
bom apresentar um trabalho e ter tanta gente por agradecer. Uma exaustiva lista, dado todos estes anos acompanhando o congado, seria maior do que o volume apresentado. É bom salientar, também, que, nem todos, aqui citados, endossariam todas minhas afirmações ou lacunas. Agradeço à Profª Maria das Graças Teixeira. Agradeço muito em particular à Elizier Borges Marcelino, com seu nominalismo pertinente, generosa amiga e importante em vários momentos e de igual forma agradeço à Nádia Paiva Vieira, ela sabe o porque. Também a Solange que várias vezes lembrou-me que havia vida fora das páginas. Amigos arcanos meridionais são dignos de nota: Fabiana Martini Lopes que acaba de descobrir que o faiscamento pode render mais do que a lavra. Minha “prima” Marli Silva simplesmente por ser quem é. À Minha querida Jeane Louise. e há, também, trabalhadoras incansáveis como Neli, que faz mais pela cultura cozinhando do que eu fiz escrevendo.
É
As pessoas mais dignas de agradecimento são Allan Stanley Saraiva e Marcelo Luiz da Silva, amigos e pilotos do Centauro historiográfico e da dualidade fundamental dos descobrimentos desse autor vai o meu obrigado. Em geral empregada como metáfora, a expressão seguinte é absolutamente fática: Sem estes dois não haveria esse trabalho. Eles foram pacientes e afetivos, mas, acima de tudo, foram corretos. Corretos mesmo quando não era mais necessário sê-lo. Allan Stanley, companheiro das galés bibliográficas, debatedor incansável, crítico arguto, hábil retórico da ciência e amigo na plena acepção da palavra. Seu apoio teórico, fraterno e bibliográfico foi central nesta obra. Agradeço igualmente aos amigos que me toleraram nesse período: “Capitão Bimbo” e Thays Gomes Braga. Muitos outros, com gratuidade e afeto colaboraram nesta empreitada. Agradeço em particular ao “Capitão” Dalmo que sempre trouxe tanto das minhas luzes beneditinas e o melhor hermeneuta nos mistérios do Reinado do Rosário que conheço
INDICE DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 ‐ GUARDA DO "PÉ DA COROA" DO REINADO DE BETIM (ACERVO IMPHIC) ......................................................................................................................... 29 FIGURA 2 – SR. ANTÔNIO ‐ REI PERPÉTUO DA GUARDA DE MOÇAMBIQUE DE N. S. DO ROSÁRIO ‐ CAP. DALMO (ACERVO IMPHIC) .......................................................... 29 FIGURA 3 ‐ IMAGEM DE N. S. DO ROSÁRIO COM CAIXAS DE MOÇAMBIQUE AOS SEUS PÉS (ACERVO IMPHIC) ......................................................................................... 30 FIGURA 4 ‐ GUARDA DE CONGO DE CONSELHEIRO LAFAIETE DURANTE A FESTA DE N. S. DO ROSÁRIO EM BETIM (ACERVO IMPHIC) .......................................................... 32 FIGURA 5 ‐ CAPITÃO DE MOÇAMBIQUE DURANTE UM CANTO DE DEVOÇÃO A N. S. DO ROSÁRIO (MUSEU DAS GURADAS‐ BH/MG) ........................................................... 33 FIGURA 6 ‐ MISSA SOLENE DA PROCISSÃO DE N. S. DA BOA VIAGEM ‐ BH/2006 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................................... 35 FIGURA 7 – BASTÕES CRUZADOS, EM REVERÊNCIA, EM FRENTE A IMAGEM DE N. S. DO ROSÁRIO (ACERVO – SUM/MG) .......................................................................... 37 FIGURA 8 – CONFRARIA CIVIL EM SÃO TIAGO DE COMPOSTELA ...................................................................................................................................................... 44 FIGURA 9 ‐ MESA DA IRMANDADE DE N. S. DO ROSÁRIO ‐ JEAN BAPTISTE DEBRET, NEGROS ARRECADAM ESMOLAS PARA A IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO. ...... 45 FIGURA 10 ‐ MOSTEIRO DE SÃO DOMINGOS DE LISBOA ................................................................................................................................................................ 46 FIGURA 11 ‐ INFANTE D. HENRIQUE .......................................................................................................................................................................................... 47 FIGURA 12 ‐ RAINHA NZINGA MBANDI ...................................................................................................................................................................................... 48 FIGURA 13 ‐ PE. ANTÔNIO VIEIRA ............................................................................................................................................................................................. 53 FIGURA 14 ‐ CASAMENTO DE NEGROS DE FAMÍLIA RICA ‐ DEBRET .................................................................................................................................................... 55 FIGURA 15 ‐ ENTERRO DE MEMBRO DE IRMANDADE CATÓLICA ‐ SÉC. XIX ......................................................................................................................................... 57 FIGURA 16 ‐ PROCISSÃO NAS MINAS COLONIAL........................................................................................................................................................................... 58 FIGURA 17 ‐ CORTEJO DA RAINHA CONGA .................................................................................................................................................................................. 59 FIGURA 18 ‐ CORTEJO DO CONGADO ‐ RUGENDAS ....................................................................................................................................................................... 60 FIGURA 19 – ESQ. JOAQUIM NICOLAU (FALECIDO) ANCESTRAL MAIS SIGNIFICATIVO DA IRMANDADE DE N. S DO ROSÁRIO DE BETIM – DÉCADA 80. DIR. JOAQUIM NICOLAU (FALECIDO) TRAJANDO SEU TURBANTE DE FRALDA E COM SEU BASTÃO DE CAPITÃO NO OMBRO (ACERVO IMPHIC) ....................................................................... 62 FIGURA 20 ‐ DONA TEREZA ‐ CAPITÃ DE MOÇAMBIQUE – DIVINÓPOLIS (ACERVO ‐ IMPHIC/2009) .................................................................................................... 65 FIGURA 21 ‐ DIAGRAMA DA LENDA DO APARECIMENTO DA VIRGEM DO ROSÁRIO PARA OS NEGROS ....................................................................................................... 73 FIGURA 22 ‐ DANÇANTE DE CONGO PORTANDO CAPACETE DE FITAS E PENACHO – BETIM – MG – 2005 (ACERVO IMPHIC) ..................................................................... 76 FIGURA 23 – DANÇANTE DE CONGO PORTANDO CAPACETE DE FITAS E PENACHO – BETIM – MG – 2005 (ACERVO IMPHIC) .................................................................... 77 FIGURA 24 GUARDA DE CONGO – DÉCADA DE 80/90 (ACERVO IMPHIC) ....................................................................................................................................... 78 FIGURA 25 ‐ CAPITÃO DE CONGO – BETIM – MG – 2005 (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................................................. 78 FIGURA 26 – CAPITÃO DE MOÇAMBIQUE DO DIVINO ESPIRITO SANTO – BETIM – MG – 2005 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................. 80 FIGURA 27 ‐HIERARQUIA DO FUNDAMENTO DO REINADO ............................................................................................................................................................. 81 FIGURA 28 ‐ GUARDAS DE CABOCLOS DO SERRO ‐ MG ................................................................................................................................................................. 83 FIGURA 29 – CAPITÃO DE MARUJADA DE SÃO JOÃO BOSCO – BETIM – MG – 2005 (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................... 84 FIGURA 30 – GUARDA DE MARUJO FAZENDO EMBAIXADA ENFRENTE A IMGEM DE N. S. DO ROSÁRIO (ABAIXO) ‐ (ACERVO SUM/SEC‐MG) ................................................ 84 FIGURA 31 ‐ GUARDA DE VILÃO EM OLIVEIRA ‐ MG ..................................................................................................................................................................... 85 FIGURA 32 ‐ CORDÃO DE SÃO FRANCISCO .................................................................................................................................................................................. 88 FIGURA 33 ‐ BANDEIRAS LEVANTADAS NA COMUNIDADE DA PAMPULHA VELHA ‐ BH (FOTO: JULIANA NIKOLI) ....................................................................................... 89 FIGURA 34 ‐ BANDEIRA DE MASTRO (ESQ.); BANDEIRA DE GUIA (DIR.) ............................................................................................................................................. 89 FIGURA 35 ‐ BANDEIRAS LEVANTADAS NA COMUNIDADE DA PAMPULHA VELHA ‐ BH (FOTO: JULIANA NIKOLI) ....................................................................................... 90 FIGURA 36 ‐ BANDEIRAS LEVANTADAS NA COMUNIDADE DA PAMPULHA VELHA ‐ BH (FOTO: JULIANA NIKOLI) ....................................................................................... 90 FIGURA 37 ‐BANDEIRA DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA (À ESQ.) E DE N. S. DO ROSÁRIO (À DIR.) (FOTO: ACERVO OTCSAP) ..................................................................... 91 FIGURA 38 ‐ EXEMPLO DE BASTÕES DE MOÇAMBIQUE ................................................................................................................................................................. 92 FIGURA 39 ‐ ROSÁRIO DE CONTAS DE SABONETEIRA ..................................................................................................................................................................... 93 FIGURA 40 ‐ GUAIÁ SOBRE OS TAMBUS DE SANTANA, SANTANINHA E CHAMA E AO LADO A PUÍTA ......................................................................................................... 96 FIGURA 41 ‐ TAMBORES DO CANDOMBE DA COMUNIDADE DO REINADO DA PAMPULHA VELHA (FOTO: MANOEL REIS) ............................................................................ 97 FIGURA 42 – ESQ. CAIXA DE MOÇAMBIQUE COM AFINAÇÃO DE CORDAS E SUPORTE PARA BAQUETAS DIR. MOÇAMBIQUEIRO TOCANDO CAIXA DE METAL E AFINAÇÃO DE HASTE DURANTE O PERÍODO DE NOVENA – BETIM – MG – 2009 (ACERVO IMPHIC) ..................................................................................................................... 98 FIGURA 43 ‐ CAIXEIRO DE GUARDA CONVIDADA NA FESTA EM BETIM PORTANDO UMA CAIXA COM AFINAÇÃO POR CORDAS E À DIREITA, CAIXAS COM AFINAÇÃO POR BARRAS DE METAL 2006‐ (ACERVO IMPHIC)................................................................................................................................................................................. 98 FIGURA 44 ‐ GUNGA (FOTO: EDMÍLSON) ................................................................................................................................................................................. 100 FIGURA 45 ‐ PATANGOME FEITO DE CALOTA DE CARRO E ESFERAS (ACERVO SUM) .......................................................................................................................... 102 FIGURA 46 ‐ TAMBORIL USADO POR CAPITÃES DE CONGO ............................................................................................................................................................ 103 FIGURA 47 ‐ CANZALE E SANFONA UTILIZADO POR GUARDAS DE CONGO E CATUPÉ ............................................................................................................................ 103 FIGURA 48 ‐ APITO USADO POR CAPITÃES PARA CONDUZIR SUAS GUARDAS ..................................................................................................................................... 104 FIGURA 49 ‐ CAPAS PINTADAS COM ICONOGRAQFIA DE SANTOS (ESQ.). CAPAS BORDADAS (DIR.) ....................................................................................................... 105 FIGURA 50 ‐ EXEMPLOS DE TIPOS DE TIARAS E BOINAS ................................................................................................................................................................ 105 FIGURA 51 ‐ EXEMPLOS DE COROAS (DIR: COROA DE TALA RETA, ESQ: COROA ABERTA) .................................................................................................................. 106 FIGURA 52 ‐ COROA DE OITO GOMOS DE IMPERADOR DO DIVINO ‐ COMUNIDADE DO REINADO DA PAMPULHA VELHA ‐ BH/MG (FOTO: IMPHIC) ................................... 106 FIGURA 53 ‐ COROAS DE REIS FESTEIROS ................................................................................................................................................................................. 107 FIGURA 54 ‐ COROA DE REI DE SÃO JORGE ............................................................................................................................................................................... 107 FIGURA 55 ‐ COROAS DA CORTE NA FESTA DA COMUNIDADE DO REINADO DA PAMPULHA VELHA (FOTO: JULIANA NIKOLI) ..................................................................... 107 FIGURA 56 ‐ COROA DA CORTE DA COMUNIDADE DO REINADO DA PAMPULHA VELHA (ESQ.). COROA DE STO ANTÔNIO DE PÁDUA DA COM. DO REINADO DA PAMPULHA VELHA (DIR) (FOTOGRAFO: JULIANA NIKOLI) ........................................................................................................................................................................... 108 FIGURA 57 ‐ COROA FESTEIRA (ESQ.). COROA ENFEITADA COM MIÇANGAS(CENTRO). COROA ENFEITADA COM TECIDO E MIÇANGAS (DIR.) .................................................. 108 FIGURA 58 ‐ COROA SEM ENFEITE (ESQ.) COROAS DOURASAS DECORADAS (CENTRO E DIR.) ............................................................................................................... 108 FIGURA 59 – ESQ.:, DESENHO BÁSICO DO FARDAMENTO DA GUARDA DE MARUJO DE SÃO JOÃO BOSCO – CAPITÃ DNA. ZÉLIA DIR.: DESENHO BÁSICO DO FARDAMENTO DA GUARDA DE MOÇAMBIQUE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO – CAPITÃO DALMO ............................................................................................................... 109 FIGURA 60 – ESQ.: DESENHO BÁSICO DO FARDAMENTO DA GUARDA DE MOÇAMBIQUE DE N. S. DO ROSÁRIO – CAPITÃ “DNA. NENEN”. DIR.: DESENHO BÁSICO DO FARDAMENTO
DA GUARDA DE MOÇAMBIQUE DO DIVINO ESPÍRITO SANTO – CAPITÃO EDINILTON .............................................................................................................. 109 FIGURA 61 – ESQ.: DESENHO BÁSICO DO FARDAMENTO DA GUARDA DE CONGO DE N. S. DO ROSÁRIO – CAPITÃO RAIMUNDINHO. DIR.: DESENHO BÁSICO DO FARDAMENTO DA GUARDA DE CATUPÊ DE SANTA INÊS – CAPITÃ “TITA” ..................................................................................................................................................... 109 FIGURA 62 ‐ DESENHO BÁSICO DO FARDAMENTO DA GUARDA DE MOÇAMBIQUE DE N. S. DO ROSÁRIO E STO. ANTÔNIO DE PÁDUA ......................................................... 110 FIGURA 63 ‐ CAPITÃO BIMBO USANDO ARGOLA AO ESTILO BANTU DO MOÇAMBIQUE ....................................................................................................................... 110 FIGURA 64 ‐ ESPADAS UTILIZADAS POR GUARDIÕES E GUARDAS‐COROA ......................................................................................................................................... 111 FIGURA 65 ‐ ESPADA ACOMPANHADA DE ROSÁRIO DE CONTAS DE MADEIRA AMARRADO À MESMA ...................................................................................................... 112 FIGURA 66 ‐ ANDORES UTILIZADOS NA PROCISSAO ‐ 2005 (ACERVO IMPHIC)................................................................................................................................ 113 FIGURA 67 ‐ FOTO DO RETÁBULO DA CAPELA COM A IMAGEM DA VIRGEM DO ROSÁRIO ENTRONIZADA (ACERVO IMPHIC) ..................................................................... 114 FIGURA 69 – DETALHE O ROSTO DA IMAGEM RESTAURADA ONDE PODEMOS VER O USO DE OLHO DE VIDRO (ACERVO IMPHIC) ............................................................... 115 FIGURA 68 – IMAGEM DE N. S. DO ROSÁRIO ANTES DE SER RESTAURADA (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................................ 115 FIGURA 70 – DETALHE DA MANGA DO PANEJAMENTO DA IMAGEM COM MÃO SENDO UM ELEMENTO COLADO E DETALHE DO PASTIGLIO NA BORDA DA TÚNICA (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................................................................................................................................................ 116 FIGURA 71 – DETALHE DA TOALHA ONDE REPOUSA O "MENINO JESUS" E DETALHE DO ESGRAFIADO EM DOURAMENTO DA TÚNICA (ACERVO IMPHIC) ................................ 116 FIGURA 72 – DETALHE DO ESGRAFIADO DO MANTO E DETALHE DO PANEJAMENTO DA IMAGEM (ACERVO IMPHIC) ............................................................................... 117 FIGURA 73 – DETALHE DO PANEJAMENTO E DETALHE DO ESGRAFIADO EM DOURAMENTO (ACERVO IMPHIC) ....................................................................................... 117 FIGURA 74 – DETALHE DA NUVEM SOBRE ONDE REPOUSA A IMAGEM DA VIRGEM DO ROSÁRIO (ACERVO IMPHIC) ............................................................................... 118 FIGURA 75 – DETALHE DA PARTE SUPERIOR (TRONCO E CABEÇA) DA IMAGEM (ACERVO IMPHIC) ....................................................................................................... 119 FIGURA 76 – DETALHE DA PEANHA ESCALONADA (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................................................................ 119 FIGURA 77 ‐ FOTOS DA IMAGEM NO DIA EM QUE CHEGOU DO RESTAURO (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................................ 120 FIGURA 78 ‐ IMAGEM DE S. BENEDITO (CAPELA DE N. S. DO ROSÁRIO ‐ BETIM) .............................................................................................................................. 121 FIGURA 79 ‐ IMAGEM DE STA. IFIGÊNIA (CAPELA DE N. S. DO ROSÁRIO ‐ BETIM) ............................................................................................................................. 122 FIGURA 80 ‐ REVERÊNCIA AOS TAMBUS FEITA POR UM CANDOMBEIRO ........................................................................................................................................... 124 FIGURA 81 ‐ CICLOS DO CALENDÁRIO LITURGICO ....................................................................................................................................................................... 126 FIGURA 82 ‐ RITUAL DE DEDICAÇÃO DO MASTRO DE BANDEIRA ‐ (FOTO: MANOEL REIS) ................................................................................................................... 128 FIGURA 83 ‐ LEVANTAMENTO DE BANDEIRA – BETIM – MG – 2009 (ACERVO IMPHIC) .................................................................................................................. 129 FIGURA 84 ‐ RITUAL DE LEVANTAMENTO DE BANDEIRA ‐ JARAGUÁ ‐ BH/MG ................................................................................................................................. 130 FIGURA 85 – LEVANTAMENTO DE BANDEIRA – BETIM – MG – 2009 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................................................. 131 FIGURA 86 ‐ ESTRUTURA BÁSICA DA CONSTRUÇÃO DE UM BASTÃO DE MOÇAMBIQUE ....................................................................................................................... 132 FIGURA 87 ‐ "SEU DALMO" ‐ CAPITÃO DO PÉ DA COROA RECEBENDO A GUARDA DA BANDA‐DANÇA DE CONSELHEIRO LAFAIETE – 2007 ‐ (ACERVO IMPHIC) ..................... 133 FIGURA 88 ‐ ENCONTRO DE GUARDAS ‐ BEIJO DE BANDEIRA ........................................................................................................................................................ 134 FIGURA 89 ‐ CAPITÃO DE MOÇAMBIQUE COM BASTÃO E ROSÁRIO CRUZADO NO PEITO ...................................................................................................................... 135 FIGURA 90 ‐ CONSAGRAÇÃO DE CAPITÃ ‐ BETIM ‐ 2003 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................................................................... 136 FIGURA 91 ‐ MESA PARA SÃO BENEDITO DURANTE O ALMOÇO DO CONGADO ‐ PAMPULHA VELHA ‐ BH – 2006 ................................................................................... 145 FIGURA 92 ‐ TRONO COROADO ALMOÇANDO EM FESTA EM BETIM ‐ 2007 (ACERVO: IMPHIC) ......................................................................................................... 146 FIGURA 93 ‐ LEVANTAMENTO DE BANDEIRA—VÊ‐SE OS MASTROS DAS MESMAS AO CHÃO – BETIM – MG – 2009 (ACERVO IMPHIC) .................................................... 147 FIGURA 94 ‐ LEVANTAMENTO DE BANDEIRA – BETIM – MG – 2009 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................................................. 148 FIGURA 95 – FREI CHICO CELEBRANDO MISSA CONGO – DÉCADA DE 80 (ACERVO IMPHIC) .............................................................................................................. 149 FIGURA 96 ‐ INICIO DO CORTEJO DA FESTA DE N. S. DO ROSÁRIO, SAINDO DA CASA DA CULTURA JOSEPHINA BENTO EM DIREÇÃO A CAPELA DE N. S. DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS – 2004 ‐ (ACERVO IMPHIC) .......................................................................................................................................................................... 153 FIGURA 97 ‐ CONGADEIROS DURANTE O CORTEJO DA IMAGEM DE N. S. DA BOA VIAGEM PELOS CONGADEIROS ATÉ A CATEDRAL 2006 (BH) (FOTO: ACERVO OTCSAP) ........ 154 FIGURA 98 ‐CONCENTRAÇÃO PARA O CORTEJO DA IMAGEM DE N. S. DA BOA VIAGEM PELOS CONGADEIROS ATÉ A CATEDRAL 2006 (BH) (FOTO: ACERVO OTCSAP) ............ 154 FIGURA 99 ‐ ANDOR COM A IMAGEM DE N. S. DO ROSÁRIO USADO NO CORTEJO ............................................................................................................................. 154 FIGURA 100 ‐ GUARDA DE CONGO DE N. SENHORA DO ROSÁRIO ABRINDO O CORTEJO – 2004 ‐ (ACERVO IMPHIC) ............................................................................. 155 FIGURA 101 – INTEGRANTES DA IRMANDADE – DÉCADA DE 80/90 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................................................... 155 FIGURA 102 – GUARDA DE MOÇAMBIQUE – BETIM – MG – 2009 (ACERVO IMPHIC)................................................................................................................... 161 FIGURA 103 ‐ ESQUEMA DOS GRUPAMENTOS NO CORTEJO DA IMAGEM DE N. S. DO ROSÁRIO. .......................................................................................................... 162 FIGURA 104 ‐ BATIDO DE DOBRADO CARACTERÍSTICO DA BANDA DANÇA DO ROSÁRIO DE CONSELHEIRO LAFAIETE ................................................................................ 164 FIGURA 105 – BATIDAS DE CAIXA DE MOÇAMBIQUE .................................................................................................................................................................. 166 FIGURA 106 – BATIDAS DE CAIXAS DE MOÇAMBIQUE ACOMPANHADAS DE GUNGAS ........................................................................................................................ 166 FIGURA 107 ‐RITMO DE MOÇAMBIQUE OU BATIDA DE ATABAQUES USADA PARA ACOMPANHAR ALGUNS DOS CANTO‐POEMAS ................................................................ 166 FIGURA 108 – BATIDAS DE CAIXA DE MOÇAMBIQUE .................................................................................................................................................................. 167 FIGURA 109 – BATIDAS DE CAIXAS DE MOÇAMBIQUE ACOMPANHADAS DE GUNGAS ........................................................................................................................ 168 FIGURA 110 ‐TRONO COROADO NO CORTEJO DA IMAGEM DA BOA VIAGEM NA CATEDRAL 2006 (BH) (FOTO: ACERVO OTCSAP) .......................................................... 171 FIGURA 111 – REI E RAINHA CONGO – BETIM – MG – 2009 (ACERVO IMPHIC) ........................................................................................................................... 172 FIGURA 112 ‐COROAÇÃO DE CHICO REY VI ‐ 2007 ‐ BH (ACERVO OCTSAP) ................................................................................................................................. 172 FIGURA 113 ‐ ENCONTRO DE REIS COM CAPITÃES E REI DE GUARDA VISITANTE – MG – 2003 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................ 173 FIGURA 114 ‐ ENCONTRO DE REIS COM CAPITÃES E REI DE GUARDA VISITANTE – MG – 2003 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................ 174 FIGURA 115 – ESQ. :TRONO COROADO SEGUINDO EM CORTEJO EM DIREÇÃO À CAPELA – BETIM – MG – 2004. DIR.: DNA. RICARDINA ÚLTIMA RAINHA DA GUIA. (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................................................................................................................................... 174 FIGURA 116‐ REI PERPÉTUO DA COROA DE SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA ‐ PAMPULHA VELHA (FOTO ACERVO OTCSAP) ........................................................................ 175 FIGURA 117 ‐ OS QUATRO CAPITÃES MAIS ANTIGOS DA IRMANDADE, DA ESQUERDA PARA A DIREITA: DNA. NENEN, "SEU RAIMUNDIM", "SEU MÁRIO" E "SEU DALMO" ........ 176 FIGURA 118 ‐ CAPITÃES DA GUARDA DE MOÇAMBIQUE DE N. S. DO ROSÁRIO (ACERVO: IMPHIC) .................................................................................................... 176 FIGURA 119 – ESQ.: CAPITÃO MARIO DE PAULA (FALECIDO) ‐ GUARDA DE MOÇAMBIQUE DE N. S DO ROSÁRIO DO BAIRRO STA. INÊS – 1999 ‐ BETIM/MG; DIR.: SEU MÁRIO” – 2004 ‐ (ACERVO IMPHIC) ........................................................................................................................................................................................ 177 FIGURA 120 – SEU DALMO – CAPITÃO E FUNDADOR DA GUARDA DE MOÇAMBIQUE DE N. S DO ROSÁRIO – BETIM – MG – 2004 (ACERVO IMPHIC) ............................... 177 FIGURA 121 – ESQ.: GUARDA DE MOÇAMBIQUE DE STA. EFIGÊNIA SE DESLOCANDO PARA O CORTEJO – BETIM – MG – 2004 (ACERVO IMPHIC). DIR.: DONA PEPITA – BANDEIREIRA DA GUARDA DE CONGO DE N. S. DO ROSÁRIO – BETIM – MG – 2005 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................ 178 FIGURA 122 – CAIXEIRO DE GUIA DE GUARDA DE MOÇAMBIQUE VISITANTE SE PREPARANDO PARA O CORTEJO – BETIM – MG – 2004 (ACERVO IMPHIC) .......................... 179 FIGURA 123 – GUARDA DE MOÇAMBIQUE DE STA. EFIGÊNIA SE DESLOCANDO PARA O CORTEJO – BETIM – MG – 2004 (ACERVO IMPHIC) ............................................. 180 FIGURA 124 ‐ GUARDA DE CATOPÊ DE SANTA INÊS ‐ CAPITÃ TITA (ACERVO IMPHIC) ...................................................................................................................... 180
FIGURA 125 – GUARDAS NO LARGO DO ROSÁRIO DURANTE A FESTA – BETIM – MG – 2003 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................. 181 FIGURA 126 ‐ SINO DA CAPELA POSICIONADO EM SUA SINEIRA NO LADO EXTERNO DA CAPELA Á DIREITA DA MESMA (ACERVO IMPHIC) .................................................... 181 FIGURA 127 ‐ ESQUEMAS GERAIS DE GUARDAS DE CONGADO ....................................................................................................................................................... 182 FIGURA 128 ‐ O MOVIMENTO "CORAÇÃO DE JESUS" (USADO PRINCIPALMENTE PELAS GUARDAS DE CONGO) ....................................................................................... 184 FIGURA 129 – O MOVIMENTO BÁSICO DE MEIA‐LUA (USADO PRINCIPALMENTE PELAS GUARDAS DE CONGO) ...................................................................................... 184 FIGURA 130 – GUARDA DE CONGO VILÃO DE SÃO JUDAS TADEU ‐ 2003 (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................................ 185 FIGURA 131 – GUARDA DE MOÇAMBIQUE FAZENDO SEUS LAMENTOS E DEVOÇÕES – MG – 2003 (ACERVO IMPHIC) .......................................................................... 185 FIGURA 132 ‐ CHEGADA DE REI E RAINHA DE GUARDA VISITANTE – MG – 2003 (ACERVO IMPHIC) .................................................................................................. 186 FIGURA 133 ‐ CRIANÇAS INTEGRANTES DE UMA GUARDA TOCANDO PATANGOMA – BETIM – MG – 2004 (ACERVO .............................................................................. 186 FIGURA 134 –ENCONTRO DE DUAS GUARDAS PARA REALIZAÇÃO DE SEUS RITUAIS ............................................................................................................................ 187 FIGURA 135 ‐ MEMBROS DA ORDEM TEMPLÁRIA DA CRUZ DE STO. ANTÔNIO DE PÁDUA EXECUTANDO A BATALHA DE MANGUARA DO CONGO VELHO ................................. 187 FIGURA 136 ‐ QUARTEL DE CONGADO EM UBERLÂNDIA ‐ ACERVO DE KÁRITA GONZAGA ‐ 2008 ........................................................................................................ 216 FIGURA 137 – DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS GUARDAS ........................................................................................................................................................... 217 FIGURA 138 – MUNICÍPIOS DA REGIÃO COM EXISTÊNCIA DE GUARDAS QUE PARTICIPAM DA FESTA EM BETIM E QUE MANTÉM RELACIONAMENTO COM A IRMANDADE DE N. S. DO ROSÁRIO DOS HOMENS PRETOS DE BETIM .................................................................................................................................................................... 218 FIGURA 139 – UM DOS ANTIGOS PERCURSOS UTILIZADO PELA COMUNIDADE CONGADEIRA IA DO CRUZEIRO DO ANGOLA ATE A CAPELA, SEGUNDO RELATOS DE ANTIGOS MORADORES COMO D. CECÍLIA ................................................................................................................................................................................... 221 FIGURA 140 ‐ FOTO DE SATÉLITE COM PERCURSO DO CORTEJO DA IMAGEM DE N. S. DO ROSÁRIO ..................................................................................................... 221 FIGURA 141 – MAPA COM PERCURSO DO CORTEJO DA IMAGEM DE N. S. DO ROSÁRIO .................................................................................................................... 222 FIGURA 143 ‐ FOTO DE SATÉLITE CONTENDO REGIÃO DO PERCURSO DA PROCISSÃO DA TARDE. ........................................................................................................... 222 FIGURA 142 – MAPA CONTENDO REGIÃO DO PERCURSO DA PROCISSÃO DA TARDE. .......................................................................................................................... 222 FIGURA 144 ‐ CAPELA DE N. S DO ROSÁRIO ............................................................................................................................................................................. 223 FIGURA 145 ‐ RITUAL DO CONGADO DURANTE O CORTEJO DAS GUARDAS NO PERCURSO ATÉ A CAPELA ................................................................................................. 224 FIGURA 146 ‐ CAPELA DE N. S. DO ROSÁRIO VISÃO LATERAL E ADRO COM O CRUZEIRO ..................................................................................................................... 224 FIGURA 147 ‐ SUBIDA DO LARGO DO ROSÁRIO .......................................................................................................................................................................... 225 FIGURA 148 – FOTO DE SATÉLITE COM LOCALIZAÇÃO DA CAPELA DO ROSÁRIO ................................................................................................................................ 226 FIGURA 149 ‐ DETALHE DA COBERTURA (CACHORRADA) .............................................................................................................................................................. 227 FIGURA 150 ‐ CAPELA DE N. S. DO ROSÁRIO ‐ DETALHE DA COBERTURA EM TELHA DE COXA (ACIMA) E FACHADA (ABAIXO) ..................................................................... 227 FIGURA 151 ‐ CAPELA DE N. S. DO ROSÁRIO ‐ DETALHE DO FORRO DA NAVE CENTRAL, NICHOS LATERAI NO RETABULO E TRONO CENTRAL PARA COLOCAÇÃO DA IMAGEM ....... 228 FIGURA 152 ‐ CAPELA DE N. S. DO ROSÁRIO ‐ DETALHE DE FENDA DE VENTILAÇÃO DO ASSOALHO....................................................................................................... 228 FIGURA 153 ‐ CAPELA DE N. S. DO ROSARIO ‐ DETALHE DO ALTAR E NICHOS DO RETÁBULO ............................................................................................................... 229 FIGURA 154 ‐ CAPELA DE N. S. DO ROSARIO ‐ DETALHE DE FORRO DE NAVE LATERAL ....................................................................................................................... 229 FIGURA 155 – LARGO DO ROSÁRIO – BETIM – MG – 2005 (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................................................. 230 FIGURA 156 – CAPELA NO DIA DA FESTA – MG – 2003 (ACERVO IMPHIC) ................................................................................................................................... 231 FIGURA 157 – FREI CHICO CELEBRA MISSA DENTRO DA CAPELA DO ROSÁRIO – DÉCADA DE 80/90 (ACERVO IMPHIC) .......................................................................... 232 FIGURA 158 –MORRO DO LARGO DO ROSÁRIO – BETIM – MG – 2005 (ACERVO IMPHIC) ............................................................................................................. 233 FIGURA 159 TIÃO MEDONHO (FALECIDO) E D. ZÉLIA – INTEGRANTES DA “VELHA GUARDA” DA IRMANDADE ........................................................................................ 238 FIGURA 160 ‐ CAPELA DE N. S. DO ROSARIO EM BH ‐ REMANESCENTE DO ANTIGO ARRAIAL DE CURRAL DEL'REY .................................................................................. 244 FIGURA 161 ‐ ADORAÇÃO DO MENINO JESUS, FRA ANGÉLICO ..................................................................................................................................................... 258 FIGURA 162 ‐ INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA, FRA ANGÉLICO ......................................................................................................................................................... 258 FIGURA 163 ‐ CRISTO CARREGA A CRUZ, EL GRECO, 1580 .......................................................................................................................................................... 259 FIGURA 164 ‐ A COROAÇÃO DA VIRGEM, EL GRECO ................................................................................................................................................................... 260 FIGURA 165 ‐ DIFERENTES NAÇÕES NEGRAS ‐ DEBRET (1. MONJOLO; 2. MINA; 3/4/8/9. MOÇAMBIQUE; 5/6. BENGUELA; 7. CALAVA) ................................................. 262 FIGURA 166 ‐ PRINCIPAIS MIGRAÇÕES BANTU E PRINCIPAIS REINOS DA CULTURA BANTU .................................................................................................................. 263 FIGURA 167 ‐ NEGROS DE VÁRIAS ETNIAS (RUGENDAS) .............................................................................................................................................................. 265 FIGURA 168 ‐ MAPA DO PERÍODO COLONIAL RETRATANDO OS REINOS DO CONGO E ANGOLA ............................................................................................................ 266
SUMÁRIO
PREFÁCIO ........................................................................................................................................................................................................... 22 NOTA DO AUTOR ................................................................................................................................................................................................ 26 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................................................................... 28 RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE ................................................................................................................................................................................. 32 RITO E RITUAL ............................................................................................................................................................................................................. 35 SÍMBOLOS .................................................................................................................................................................................................................. 37 SINCRETISMO .............................................................................................................................................................................................................. 38 CATOLICISMO AFRICANO ............................................................................................................................................................................................... 38 FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA: O TRAJETO ATÉ BETIM ....................................................................................................................................... 44 EUROPA – NASCE A IRMANDADE ................................................................................................................................................................................ 45 ALEMANHA ................................................................................................................................................................................................................ 45 PORTUGAL ................................................................................................................................................................................................................. 46 ÁFRICA – PROCESSO DE CRISTIANIZAÇÃO DO CONGO POR PORTUGAL .................................................................................................................................. 47 A RAINHA GINGA ENFRENTA PORTUGAL. ...................................................................................................................................................................... 48 BRASIL – NASCE O CONGADO DENTRO DAS IRMANDADES DE NEGROS ................................................................................................................................. 52 A FIGURA DO REI DO CONGO NO BRASIL .......................................................................................................................................................................... 56 MINAS GERAIS E AS IRMANDADES ................................................................................................................................................................................... 57 BETIM – DE ANTÔNIO JOSÉ DA SILVA À JOAQUIM NICOLAU .............................................................................................................................................. 61 FUNDAMENTAÇÃO ESTRUTURAL E MÍTICA ‐ O REINADO DO ROSÁRIO ................................................................................................................ 65 A CORPOREIDADE RITUAL .............................................................................................................................................................................................. 65 OS SUJEITOS ‐ AS NAÇÕES – O POVO DO ROSÁRIO............................................................................................................................................................. 67 FUNDAMENTAÇÃO MÍTICA – O ROSÁRIO, A VIRGEM E OS NEGROS .................................................................................................................................... 68 ICONOGRAFIA ........................................................................................................................................................................................................ 68 FASES DA VIDA DE NOSSA SENHORA NA ICONOGRAFIA ........................................................................................................................................................ 69 APARECIMENTO DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO ......................................................................................................................................................... 72 OUTRAS VERSÕES ........................................................................................................................................................................................................ 74 Nossa Senhora na Gruta ................................................................................................................................................................................... 74 Nossa Senhora na Árvore ................................................................................................................................................................................. 74 O PAI E OS IRMÃOS MAIS VELHOS .................................................................................................................................................................................... 74 Candombe ........................................................................................................................................................................................................ 74 Congo ............................................................................................................................................................................................................... 76 Moçambique .................................................................................................................................................................................................... 79 AS OUTRAS NAÇÕES – OS CINCO IRMÃOS MAIS NOVOS ..................................................................................................................................................... 81 CATUPÉ ..................................................................................................................................................................................................................... 81 CABOCLOS .................................................................................................................................................................................................................. 82 MARUJOS................................................................................................................................................................................................................... 83 VILÃO ........................................................................................................................................................................................................................ 84 CAVALEIROS DE SÃO JORGE ........................................................................................................................................................................................... 85 ESTRUTURAÇÃO SIMBÓLICA ............................................................................................................................................................................... 86 OBJETOS RITUAIS .................................................................................................................................................................................................... 87 CORDÃO DE SÃO FRANCISCO .......................................................................................................................................................................................... 87 BANDEIRAS ................................................................................................................................................................................................................. 89 CORES DAS GUARDAS ................................................................................................................................................................................................... 91 BASTÃO DE MOÇAMBIQUE ............................................................................................................................................................................................ 92 ROSÁRIO E O TERÇO ..................................................................................................................................................................................................... 93 INSTRUMENTOS ...................................................................................................................................................................................................... 95 GUAIÁ ....................................................................................................................................................................................................................... 95 PUÍTA ........................................................................................................................................................................................................................ 95 TAMBÚ ...................................................................................................................................................................................................................... 96 CAIXAS ...................................................................................................................................................................................................................... 97 GUNGA ...................................................................................................................................................................................................................... 99 PATANGOME ............................................................................................................................................................................................................ 101 TAMBORIL ................................................................................................................................................................................................................ 103 CANZALE E SANFONA .................................................................................................................................................................................................. 103 APITO ...................................................................................................................................................................................................................... 103 COROA, CAPA E CETRO ............................................................................................................................................................................................... 104 FARDAMENTO ........................................................................................................................................................................................................... 108 Exemplo de alguns fardamentos utilizados na festa em 2009 ........................................................................................................................ 109 ARGOLAS ................................................................................................................................................................................................................. 110 ESPADAS .................................................................................................................................................................................................................. 111 ANDORES ................................................................................................................................................................................................................. 112 IMAGEM DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DE BETIM ....................................................................................................................................................... 114 HISTORIA DE SÃO BENEDITO .................................................................................................................................................................................... 121 HISTÓRIA DE SANTA IFIGÊNIA ................................................................................................................................................................................... 122 ESTRUTURAÇÃO RITUALÍSTICA .......................................................................................................................................................................... 124
O USO RITUAL DA PALAVRA ..................................................................................................................................................................................... 126 RITUAIS DE PREPARAÇÃO ........................................................................................................................................................................................ 127 RITUAL DE ABERTURA DO REINADO ............................................................................................................................................................................... 127 RITUAL DE FECHAMENTO DO REINADO ........................................................................................................................................................................... 127 RITUAL DE ENTREGA DA COROA .................................................................................................................................................................................... 127 RITUAL DE VISITA DE COROA ........................................................................................................................................................................................ 127 RITUAIS DE TRANSPOSIÇÃO .......................................................................................................................................................................................... 127 RITUAL DE DEDICAÇÃO DO MASTRO .............................................................................................................................................................................. 128 RITUAL DO LEVANTAMENTO DE MASTRO ........................................................................................................................................................................ 128 RITUAL DE PREPARAÇÃO DE BASTÃO .............................................................................................................................................................................. 131 RITUAIS DE SAUDAÇÃO ........................................................................................................................................................................................... 133 SARAVAR ................................................................................................................................................................................................................. 133 BEIJO DE BANDEIRA .................................................................................................................................................................................................... 133 CRUZAMENTO DE ESPADAS .......................................................................................................................................................................................... 134 CRUZAMENTO DOS BASTÕES ........................................................................................................................................................................................ 134 RITUAIS DE PROTEÇÃO ........................................................................................................................................................................................... 134 PARTIDA DE CORPO FECHADO ...................................................................................................................................................................................... 134 BENZÊ O SANTO ........................................................................................................................................................................................................ 134 ENTERRAR O UMBIGO ................................................................................................................................................................................................. 135 TIRÁ A PAIA .............................................................................................................................................................................................................. 135 FECHAMENTO DE CORPO ............................................................................................................................................................................................. 135 ROSÁRIO CRUZADO NO PEITO ...................................................................................................................................................................................... 135 PASSAGEM DE BASTÃO ........................................................................................................................................................................................... 135 RITUAIS DE COROAÇÃO .......................................................................................................................................................................................... 136 CONSAGRAÇÃO DE CAPITÃO ........................................................................................................................................................................................ 136 DESCOROAÇÃO ......................................................................................................................................................................................................... 137 Descoroação Fúnebre .................................................................................................................................................................................... 137 “Ritual da Noite de Vigília”. .......................................................................................................................................................................................... 138 “Rito de Exéquias” ........................................................................................................................................................................................................ 138 Preparação da Capela ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 138 Fardamentos .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 138 Tratamento das coroas e armas ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 139 ESTRUTURA RITUAL DA FESTA .................................................................................................................................................................................. 139 RITUAIS GERAIS .................................................................................................................................................................................................... 140 ANGÉLICA ................................................................................................................................................................................................................ 140 LADAINHA ................................................................................................................................................................................................................ 141 OFÍCIO ..................................................................................................................................................................................................................... 142 RESPONSO ................................................................................................................................................................................................................ 142 RETROGRADAÇÃO ...................................................................................................................................................................................................... 142 RITOS GERAIS ...................................................................................................................................................................................................... 142 HORAS CANÔNICAS .................................................................................................................................................................................................... 143 RITO IMPERATÓRIO .................................................................................................................................................................................................... 144 RITO RECUPERLATÓRIO ............................................................................................................................................................................................... 144 RITOS SACRIFICAIS ..................................................................................................................................................................................................... 144 Vigília e Matina .............................................................................................................................................................................................. 144 Promessas ...................................................................................................................................................................................................... 144 RITOS COMUNAIS ...................................................................................................................................................................................................... 145 Café ................................................................................................................................................................................................................ 145 Almoço ........................................................................................................................................................................................................... 145 RITOS DEVOCIONAIS ................................................................................................................................................................................................... 147 Levantamento da Bandeira de Aviso .............................................................................................................................................................. 147 Descida de Mastros ........................................................................................................................................................................................ 148 Missa Congo ................................................................................................................................................................................................... 148 A) Ritos iniciais ............................................................................................................................................................................................................. 150 Entrada ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 150 Saudação do altar e da assembleia ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 150 Glória in excelsis ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 150 Oração coleta ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 150 B) Liturgia da palavra ................................................................................................................................................................................................... 150 Saudação Angelus........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 150 Leituras bíblicas .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 150 Primeira Leitura .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 150 Canto de Meditação ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 150 Segunda Leitura .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 150 Aclamação antes da leitura do Evangelho...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 150 Canto de Aclamação (aleluia) ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 151 Evangelho ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 151 Meditação sobre o Evangelho ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 151 Homilia ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 151 Profissão de fé ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 151 Credo .............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 151 Oração universal ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 151 Ao final das orações ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 151 C) Liturgia eucarística ................................................................................................................................................................................................... 151 Preparação dos dons ‐ Ofertório ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 151 Oração sobre as oblatas ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 151 Oração eucarística (Sanctus) .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 151 Consagração ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 151 Rito da Comunhão .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 151 Oração dominical ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 152 Rito da paz ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 152 Fração do pão ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................. 152
D) Rito Final .................................................................................................................................................................................................................. 152 Canto de saída ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 152 RITOS PROCESSIONAIS ................................................................................................................................................................................................ 153 Cortejo ........................................................................................................................................................................................................... 153 Procissão ........................................................................................................................................................................................................ 156 ESTRUTURAÇÃO RÍTMICA ................................................................................................................................................................................. 158 ESTRUTURA MUSICAL ................................................................................................................................................................................................. 158 Padrões Rítmicos do Congo ............................................................................................................................................................................ 162 Padrões Rítmicos do Moçambique ................................................................................................................................................................. 165 Serra Acima .................................................................................................................................................................................................................. 165 Serra Abaixo ................................................................................................................................................................................................................. 166 Batida de Caixa de Moçambique .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 166 ESTRUTURAÇÃO HIERARQUICA ......................................................................................................................................................................... 169 SUJEITOS ............................................................................................................................................................................................................. 169 CORTE – O TRONO COROADO ...................................................................................................................................................................................... 170 Reis de Congo ................................................................................................................................................................................................. 171 Reis de Promessas Perpétuas ......................................................................................................................................................................... 173 Rei Perpétuo .................................................................................................................................................................................................. 175 Reis e Rainhas de Promessa ........................................................................................................................................................................... 175 Reis de Festa ou Reis Festeiros ....................................................................................................................................................................... 175 CAPITANIA ................................................................................................................................................................................................................ 175 Capitão‐Mor ................................................................................................................................................................................................... 176 Capitão Regente ............................................................................................................................................................................................. 177 1º Capitão ...................................................................................................................................................................................................... 177 2º Capitão ...................................................................................................................................................................................................... 178 3º Capitão ...................................................................................................................................................................................................... 178 ENCARREGADOS DOS OBJETOS SIMBÓLICOS .................................................................................................................................................................... 178 Coiceros ......................................................................................................................................................................................................... 178 Bandeireira ..................................................................................................................................................................................................... 178 Caixeiros de guia ............................................................................................................................................................................................ 179 Caixeiro de centro .......................................................................................................................................................................................... 179 Caixeiros de fila .............................................................................................................................................................................................. 180 Caixeiro de respostas ou Dobradeiros ............................................................................................................................................................ 180 DANÇANTES .............................................................................................................................................................................................................. 181 Dançantes‐Guia .............................................................................................................................................................................................. 181 Sineiro do Rosário .......................................................................................................................................................................................... 181 ESTRUTURAÇÃO PERFORMÁTICA ...................................................................................................................................................................... 182 PERFORMANCES DE CORTEJO ....................................................................................................................................................................................... 183 Gungar no Chão ............................................................................................................................................................................................. 183 Bizarriá ........................................................................................................................................................................................................... 183 Coração de Jesus ............................................................................................................................................................................................ 183 Meia‐Lua ........................................................................................................................................................................................................ 183 Volta da Maré ................................................................................................................................................................................................ 184 Na linha do Bastão ......................................................................................................................................................................................... 184 Na linha do Mar .............................................................................................................................................................................................. 184 Batuquerê ...................................................................................................................................................................................................... 184 Danças ............................................................................................................................................................................................................ 184 Encontro de Bandeiras ................................................................................................................................................................................... 187 Batalha de Manguara do Congo Velho ........................................................................................................................................................... 187 ESTRUTURAÇÃO DA ORALIDADE ....................................................................................................................................................................... 188 O “CANTOPOEMA ................................................................................................................................................................................................. 188 ESTRUTURA DOS CANTO‐POEMAS DE MOÇAMBIQUES ................................................................................................................................................... 192 ESTRUTURA DOS CANTO‐POEMAS DE CONGOS ............................................................................................................................................................. 192 ALGUNS TIPOS DE CANTO‐POEMAS ........................................................................................................................................................................... 192 CANTO‐POEMAS ‐ CANDOMBE ..................................................................................................................................................................................... 192 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – ABERTURA ......................................................................................................................................................................... 195 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – ENCERRAMENTO ................................................................................................................................................................. 196 TIPOS DE CANTO‐POEMAS ‐ LÔA .................................................................................................................................................................................. 196 TIPOS DE CANTO‐POEMAS ‐ CANTOS DE LOUVAÇÃO ......................................................................................................................................................... 196 TIPOS DE CANTO‐POEMAS ‐ CANTOS DE PARTIDA ............................................................................................................................................................ 197 TIPOS DE CANTO‐POEMAS ‐ CANTOS DE DEMANDA ......................................................................................................................................................... 198 TIPOS DE CANTO‐POEMAS ‐ CANTOS DE TRAVESSIA ......................................................................................................................................................... 198 TIPOS DE CANTO‐POEMAS ‐ CANTOS DE CHEGADA ........................................................................................................................................................... 198 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – CANTOS DO CATIVEIRO E CANTOS DE LIBERTAÇÃO ..................................................................................................................... 199 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – CANTOS DO REINADO .......................................................................................................................................................... 200 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – CANTOS DE ABERTURA DA PORTA .......................................................................................................................................... 202 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – CANTOS DE TRABALHO ......................................................................................................................................................... 203 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – CANTOS DOS RITOS COMUNAIS ............................................................................................................................................. 203 TIPOS DE CANTO‐POEMAS ‐ EMBAIXADAS ...................................................................................................................................................................... 204 Agnus Dei ‐ Cordeiro de Deus ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 152 Comunhão ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 152 Canto de comunhão ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 152 Entrega das coroas e bastões ......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 152 Oração de ação de graças............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 152
TIPOS DE CANTO‐POEMAS – BIZARRIA ........................................................................................................................................................................... 205 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – CANTOS PARA BUSCAR REIS E RAINHAS .................................................................................................................................... 206 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – CANTOS DE COROAÇÃO ........................................................................................................................................................ 209 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – CANTOS DE CORTEJO ........................................................................................................................................................... 210 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – CANTOS DE MATINA ............................................................................................................................................................ 212 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – MISSA CONGO ................................................................................................................................................................... 213 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – PAGAMENTO DE PROMESSAS ................................................................................................................................................ 214 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – LEVANTAR BANDEIRA ........................................................................................................................................................... 214 TIPOS DE CANTO‐POEMAS – DESCER BANDEIRA .............................................................................................................................................................. 215 ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL ‐ LOCUS RITUAL ....................................................................................................................................................... 216 AS GUARDAS EM BETIM E SUA RELAÇÃO ESPAÇO‐GEOGRÁFICA ......................................................................................................................................... 216 QUARTÉIS ........................................................................................................................................................................................................... 216 PERCURSOS ......................................................................................................................................................................................................... 219 TRAJETO DO CORTEJO ................................................................................................................................................................................................. 219 CAPELA ............................................................................................................................................................................................................... 223 A VISÃO DO CONGADO – POR DENTRO E POR FORA .......................................................................................................................................... 234 O CONGADO EM BETIM POR DENTRO ........................................................................................................................................................................ 234 O CONGADO EM BETIM POR FORA ............................................................................................................................................................................ 235 O CONGADO DE FORA PRA DENTRO ........................................................................................................................................................................... 236 CONGADO – PONTE E RESISTÊNCIA CULTURAL ............................................................................................................................................................. 236 RESISTÊNCIA CULTURAL ............................................................................................................................................................................................... 238 RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO MOVIMENTO .................................................................................................................................................. 240 AS NAÇÕES E A HIERARQUIA DIÁLOGO ENTRE AS NAÇÕES ................................................................................................................................................... 245 GRUPOS TRADICIONAIS E PARAFOLCLÓRICOS ................................................................................................................................................................... 246 O ROSÁRIO NOS TEMPOS DE JOAQUIM NICOLAU .......................................................................................................................................................... 246 ENTREVISTA COM MARLI SOUZA PEREIRA ....................................................................................................................................................................... 246 ENTREVISTA COM SR. DALMO ...................................................................................................................................................................................... 250 (IN) CONCLUSÃO ............................................................................................................................................................................................... 253 ANEXOS ............................................................................................................................................................................................................ 257 SANTO ROSÁRIO ................................................................................................................................................................................................... 257 ORIGEM ............................................................................................................................................................................................................. 257 ORAÇÃO E MEDITAÇÃO .......................................................................................................................................................................................... 257 OS TERÇOS E SEUS "MISTÉRIOS" .................................................................................................................................................................................... 258 Mistérios Gozosos (segundas e sábados) ....................................................................................................................................................... 258 Mistérios Luminosos (quintas‐feiras) ............................................................................................................................................................. 258 Mistérios Dolorosos (terças e sextas‐feiras) .................................................................................................................................................. 259 Mistérios Gloriosos (quartas‐feiras e domingos) ............................................................................................................................................ 259 FORMA DE REZAR O SANTO ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA ................................................................................................................................................. 260 Representação de um terço do Rosário ......................................................................................................................................................... 260 FESTIVIDADE ............................................................................................................................................................................................................. 261 O USO DO TERÇO ....................................................................................................................................................................................................... 261 POVOS E LÍNGUAS DE ANGOLA ................................................................................................................................................................................. 262 TEOGONIA BANTU ................................................................................................................................................................................................. 267 DEUSES MENORES OU DE SEGUNDA ORDEM ........................................................................................................................................................ 267 MITOLOGIA DO CLÃ BAKONGO ............................................................................................................................................................................. 268 CONCEPÇÃO DE MUNDO PARA OS BANTU ......................................................................................................................................................... 270 CONCEPÇÃO DE MUNDO PARA OS BANTU. ..................................................................................................................................................................... 270 O MUNDO PARA OS BANTU ......................................................................................................................................................................................... 271 RITOS FÚNEBRES BANTU ............................................................................................................................................................................................. 272 O enterro ........................................................................................................................................................................................................ 275 A CHEFIA BANTU ....................................................................................................................................................................................................... 277 NTÂNGU ‐ CONCEITO DE TEMPO ‐KAMBAMENHA ......................................................................................................................................................... 279 Lokula (lo) ‐ A hora ......................................................................................................................................................................................... 279 O SIMBOLISMO DA TERRA ........................................................................................................................................................................................... 283 Iniciando um aprendiz‐curandeiro com terra vermelha (Lulua) ..................................................................................................................... 283 Terra levada do lugar de nascimento de uma pessoa. ................................................................................................................................... 284 Libertando uma pessoa morta que está causando pesadelos (Lulua) ............................................................................................................ 284 Escondendo pessoas da casa de feiticeiros com terra preta (Yansi) ............................................................................................................... 285 Soprando terra branca no genro da pessoa ................................................................................................................................................... 285 Dando uma bênção a uma mulher divorciada ................................................................................................................................................ 286 Adquirindo a liberdade de um nkisi problemático ......................................................................................................................................... 286 Terra preta usada para insultar o cadáver de uma pessoa má. ...................................................................................................................... 287 Neutralizando um feitiço. ............................................................................................................................................................................... 287 Atraindo clientes com terra levada de uma interseção. ................................................................................................................................. 288 Esfregando terra de uma encruzilhada em alguém que é culpado de uma ofensa ........................................................................................ 288 ADINKRA, UM TECIDO REPLETO DE SIMBOLOGIAS ................................................................................................................................................ 290 LENDAS ANGOLA .................................................................................................................................................................................................. 298 A ORIGEM DA MORTE – GANGUELA ...................................................................................................................................................................... 298 COMO O CACHORRO FICOU AMIGO DO HOMEM ‐ LUXAZE ................................................................................................................................... 299 O RATO (OMUKO) E O COELHO (CANDIMBA) – UMBUNDO ................................................................................................................................... 299 SABEDORIA DO MUNDO – LUBA ............................................................................................................................................................................ 300
“MISSA SOLENE” .................................................................................................................................................................................................. 302 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................................................................... 307 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................................................................................................. 307 REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS ..................................................................................................................................................................................... 308 REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS. .................................................................................................................................................................................. 309 FILMES E DOCUMENTÁRIOS ..................................................................................................................................................................................... 310 BIBLIOGRAFIA DISPONÍVEL ....................................................................................................................................................................................... 310
“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
PREFÁCIO A história aparece. Emerge de lugares e fatos exatos, personagens e épocas determinadas, frutos de uma prazerosa pesquisa. Mas não qualquer pesquisa. Trata-se de uma investigação que traz consigo um sentimento de pertencimento e de participação. Que leva em conta o dinamismo da nossa história, de fatos que nunca cessam, pois são os relatos do passado que nos constituem no presente. Reconhecer-me nas entrelinhas deste livro foi uma das melhores sensações. No que se refere à religiosidade, tema este que justifica minha contribuição neste prefácio, nos possibilita a identificação de nossas práticas. A possibilidade de esta obra fazer parte do acervo de pastorais e movimentos litúrgicos cristãos é bastante atraente. Não se trata de um livro para ser lido apenas uma vez. Este deve estar sempre à mão, como um dicionário, até que nossas realizações se tornem um reflexo do nosso conhecimento e não o contrário. Outra justificativa que encontro para este honroso convite é a admiração que tenho pelo “Zinho”. Neste empenho ambicioso de registrar a história, os costumes e as tradições nas contas do rosário em Betim, demonstra que este artista completo não é betinense apenas de nascimento, mas, principalmente, de coração. Para falar um pouco mais do autor e do livro que você agora está abrindo, faço uso das palavras do grande poeta Mário de Andrade, que conseguiu transpor todo meu apreço e gratidão por deixar que minhas palavras também fizessem parte desta obra. “Quando se tem um coração bem nascido, capaz de encarar com seriedade os abusos do povo, uma coisa dessas comove muito e a gente não esquece mais. Do fundo das imperfeições de tudo quanto o povo faz, vem uma força, uma necessidade que, em arte, equivale ao que é a fé em religião (...). Essa única espécie de realidade que persiste, (...) e que é a própria razão primeira da arte: a alma coletiva do povo.” (ANDRADE, 1980, 56) Carinhosamente, Cristina Santos
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vinham passando uns vinte sujeitos, todos compostos nos trajes brancos e com os capacetes - era a Guarda Marinheira - amanhã haviam de dansar e de cantar, rendendo todas as cortesias à Nossa Senhora dos Prêtos. …
A festa era de prêtos e brancos, mas mais dos prêtos: já naquele dia eles espiavam os brancos com sobrançaria de importância maior - pois eram os donos da Santa. Carecia de mandar fazer um terno de brim novo, tirar do dinheiro para comprar umas duas ou três camisas, melhor das que têm bolsinhos. Não imaginava como é que alguém podia querer ser trabalhador de trem-de-ferro: guarda-freio, foguista, maquinista. Dansador de fama - o Juminiano, agora alguns tinham escrúpulo com ele, porque o pai dêle morrera com mal-de-lázaro. …
Falar nisso, o sino repicou, era hora da reza, noveneira. Outra vez o povo para a igreja. Pê-Boi também. Para a andadura dêle, aquelas ruas e ladeiras eram menores - "Eh, Pedro! Desta vez não te largo. Despois, daqui a gente ruma..." Era o Ivo. Que seja, por certo estavam compalavrados. Enfilerada no adro, a turma dos Moçambiqueiros, completa, à luz da tarde. Da outra banda, a Guarda Marinheira, dava prazer ver o estique dêles, cada um de queixo alto - nenhum não se ria. E já vinham chegando os Congos, a toque de rufo, pessoal do Tú e do Mascamole adiante. Aquêles ranchos todos porfiavam. E passavam muitas senhoras, levando para dentro suas crianças em branco, preparadas de virgens e de anjos. Só mesmo na hora em que os coroinhas do padre tangeram sineta, foi que esbarrou, a um tempo, de lá e de cá, o tungo e o vungo das caixas de couro. Ah, uma festa, com suas saúdes, era boa estância, mesmo assim de véspera só." João Guimarães Rosa "O Recado do Morro" – No Urubuqùaquá, no Pinhém
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NOTA DO AUTOR
Por se tratar de uma tradição religiosa repleta de seus misterios e segredos, o autor que também é capitão de uma guarda de moçambique, por respeito a estas tradições e aos antepassados não incluiu estes ritos secretos nesta obra. O que é segredo da tradição deve continuar como segredo e ser repassada por tradição oral.
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INTRODUÇÃO “Aos negros do Congado, Homens de todos os tempos, Que desde o lado de cá, Avistam o que acontece do lado de lá, atrás da montanha. (Titane)
Um nêgo veio Cá malinha na cacunda Andava, andava meus irmão, E não achava o fim do mundo, ai ai Quanto mais ele andava, meu sinhô, meno ele encontrava o fim do mundo, ai ai (Versos cantados pelas Irmandades de Nossa Senhora do Rosário em Minas.)
assim, pedindo licença para falar desse movimento, que iniciamos esse trabalho. Nossa esperança é que, de alguma forma, contribua na luta desse povo, generalizado sob o título de Congado, através de respeito a suas tradições. Tradições estas que, diferente do que vemos tratado por folcloristas, não é folclore, mas vão muito além disso, pois situam-se no campo das devoções populares de tradição oral.
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A falta de informações no ambiente escolar a respeito desse tipo de manifestação de cultura e da religiosidade popular fortalece os equívocos de tratá-la como mero folclore e a falta de compreensão frente a uma tradição tão antiga são comuns por parte, tanto de professores quanto de alunos. Esperamos que esse texto revisite um pouco das origens desta manifestação tipicamente mineira. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário encontram suas raízes na Europa, mas a configuração que assumem em nosso Estado é originalmente mineira, marcada por aspectos singulares de nossa devoção popular. Para que o observador se dispa de interpretações errôneas do que vê durante uma celebração do Reinado do Rosário é imperativo entender do que se trata esse conhecimento, esse conjunto de saberes. Cultura popular, tradição? folclore? Ou devoção genuinamente religiosa? Tal dúvida vai além do que uma questão de denominação ou de definição. Refere-se à escolha de caminhos, de enfoque, de uma tomada de posições frente a uma manifestação onde sujeito e objeto têm, em tantos aspectos, fronteiras muito mal definidas, embaçadas. Pois, "Sob as aparências de uma alegre desordem de dançantes de rua, é possível descobrir a ordem da Festa e da Congada, invisíveis aos olhos apressados do turista, essenciais aos cuidados de pesquisa do investigador. " (BRANDÃO, 1985, p. 10.) As diferenças e semelhanças se confundem. As visões de mundo, além das características regionais, gênero e outras condições podem tanto afastar quanto aproximar estes indivíduos que, num certo sentido, são sujeitos e objetos de sua própria cultura. Há que preservar, visto que como “objetos” não são meros dados a serem tratados empiricamente e, como sujeitos de conhecimento, na imensa maioria das vezes, oferecem-no generosamente. Trataremos então de uma breve reconstrução do histórico do Rosário, da Virgem do Rosário e da Irmandade de onde se originou a manifestação do congado, passando em
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seguida no estado de Minas Gerais, Betim e finalizando com uma análise de seus elementos e estrutura. Desenvolveremos a pesquisa sobre o Congado abrangendo a tradição existente em alguns municípios que outrora faziam parte da Comarca de Sabará no século XVIII para fazer um descritivo dessa manifestação na região e posteriormente analisá-la no município de Betim.
Figura 1 - Guarda do "Pé da Coroa" do Reinado de Betim (Acervo IMPHIC)
A devoção a Nossa Senhora do Rosário é celebrada ao som de tambores, cantos, danças e coroação de reis negros. Nascida em meio à diversidade cultural do Brasil Colonial, originalmente eram realizadas nas Irmandades negras e ainda presentes em grande parte do estado de Minas Gerais, berço de várias irmandades religiosas com seus reinados de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia.
Figura 2 – Sr. Antônio - Rei Perpétuo da Guarda de Moçambique de N. S. do Rosário - Cap. Dalmo (Acervo IMPHIC)
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Os viajantes Spix e Martius (1818) 1 e Burton 2 (1867) foram os primeiros que utilizaram o vocábulo “congada” para se referirem às danças dramáticas que acompanhavam as coroações de reis negros. As festas de Nossa Senhora do Rosário e santos negros estão em geral ligadas às coroações de reis negros. Sílvio Romero, em 1873, também utilizou esse termo para designar o que ele chamou de folguedo (Souza, 2002). Geralmente, nomeações como “congado”, “reinado”, “congadas” e “congos” fazem referência às festas de Nossa Senhora do Rosário, onde o componente básico é a coroação de reis e rainhas acompanhada de danças e os cânticos entoados em devoção a santos católicos e aos ancestrais.
Figura 3 - Imagem de N. S. do Rosário com caixas de Moçambique aos seus pés (Acervo IMPHIC)
No contexto religioso-social no Brasil Colônia as irmandades leigas eram largamente difundidas em Minas Gerais, onde as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário eram as que contavam com maior número. A pesquisadora Célia Maria Borges enumera cerca de 63 irmandades que surgiram na região em fins do século XVII (BORGES, 2005, p.21). As irmandades leigas eram um espaço de sociabilidade e cooperação mútua entre os escravos nascidos na Colônia e negros/as oriundos de diferentes regiões da África. Dentro dessas organizações, compostas em seu maior número por negros, que se sustentavam a devoção e festividades em honra à Senhora do Rosário nas Minas Gerais dos séculos 1
Spix (1781-1826) e Martius (1794-1868) foram nomeados pelo Rei da Baviera para acompanhar no séqüito científico a jovem imperatriz, a arquiduquesa austríaca D. Leopoldina que vinha ao Brasil se casar com D. Pedro I. No período de 1817 a 1820 Dr. Johann Baptist von Spix (Zoólogo) e Dr. Carl Friedrich Philipp von Martius Médico e Botânico) excursionaram pelo Brasil. Dessa andança, com o material recolhido, escreveram o livro "Reise in Brasilien" , editado em 1823 na cidade de Munique (Alemanha) 2 Richard Burton, inglês que navegou pelas águas do Rio das Velhas no século XIX. Em 1867, ele relatou sua experiência no livro “Viagem de Canoa de Sabará ao Oceano Atlântico”.
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XVII-XIX. Essas instituições se mantiveram de forma dinâmica até os dias atuais em diversas regiões do Estado, estendendo-se para outros espaços sociais. Afinal o tambor é, também, o pulsar do coração do congadeiro, um pulsar que nos remete a mais genuína ancestralidade. Como na letra da musica do grupo indígena Ulali “Mahk jchi”: Mahk jchi tahm buooi yahmpi gidi Mahk jchi taum buooi kan spewa ebi Mahmpi wah hoka yee monk Tahond tani kiyee tiyee Gee we-me eetiyee Nanka yaht yamoonieah wajitse
Cem anos se passaram Cem anos se passaram, contudo, eu ouço a batida distante dos tambores de meu pai Eu ouço seus tambores por toda a terra. Eu sinto sua batida dentro de meu coração. Os tambores baterão, assim meu coração também baterá. E eu viverei cem mil anos.
Bate, então, o tambor para descer bandeira, bate o tambor para subir bandeira, bate o tambor para comer, bate o tambor para louvar, bate o tambor para entrar, bate-se o tambor para sair. Bate-se o tambor para a vida!!! Bate tambor, bate tambor, hoje é dia de alegria! Hoje é dia de alegria
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RELIGIÃO E RELIGIOSIDADE Senhora do Rosário Foi quem me trouxe aqui, Senhora do Rosário Foi quem me trouxe aqui. A água do mar é boa, Eu vi, eu vi, eu vi..”
(Versos cantados pelas Irmandades de Nossa Senhora do Rosário em Minas.)
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o iniciar esse trabalho nos surgiu a pergunta: Por que abordar um fenômeno religioso? Qual a pertinência de abordar esse tema em um mundo dominado pelo tecnicismo, pela ciência e pela tecnologia. Acreditamos que a resposta perpassa pelo fato de mesmo no mundo hodierno com todo seu aparato tecnológico ainda vivemos numa sociedade em que as religiões estão em efervescência e é de fundamental importância compreender esse fenômeno como formador da sociedade que vivemos.
Figura 4 - Guarda de Congo de Conselheiro Lafaiete durante a Festa de N. S. do Rosário em Betim (Acervo IMPHIC)
É patente que somos frutos de uma cultura e, que ela condiciona o nosso agir, linguajar, modo de ser, capitaneado por nossa experiência parcial de mundo independente das interações de visão de mundo tanto no aspecto micro com o macro e vice-versa. Ο fenômeno religioso se coloca, então, como τοπος ("topos" = lugar) de expressão de significado e de estruturação de sistemas simbólicos por meio dos quais manifesta estes signos 3. Desta forma, partimos da idéia de que a religião pertence ao ser humano desde sempre e que nunca houve ser humano em si ao qual, por um ou outro motivo, fosse acrescentada a religiosidade. A gênese da religiosidade coincide com a origem do próprio 3
Assim nos parece que a religião Se assemelha a ideologia por possuir sua lógica própria e rigor específico de representações e tendo uma função histórica dentro de uma sociedade. Todavia dentro da religiosidade estas representações integram conceitos e principalmente estruturas, às vezes complexas, impondo-se à grande parte das sociedades sem passar através da sua consciência.
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homem. Assim, estes sistemas simbólicos e ritualísticos que são característicos do congado põem ser observados através da percussão africanizada, das danças, dos canto-poemas, da extrema reverência aos ancestrais, do sistema tribal 4, danças rememorando nascimento de crianças, coroações, missa congo etc. Mas antes de tudo temos que estabelecer uma diferença fundamental entre “Congado” e “Reinado”. Congado é a reunião de alguns dos “Sete Irmãos” (Candombe, Moçambique, Congo, Catupe, Marujo, Vilão e Cavaleiros de S. Jorge), já o Reinado trata-se da instauração de um Espaço-tempo-ritual que se remete á fé na Senhora e nos santos que refletem a identidade negra. Oconjunto de ternos 5 podem ser denominado congado, mas a ação manifesta através deles é o que com orgulho é chamado de “reinado de N. S. do Rosário”
Figura 5 - Capitão de Moçambique durante um canto de devoção a N. S. do Rosário (Museu das Guradas- BH/MG)
Diante disso pode-se entender a dificuldade do sujeito em aceitar um “corpus religiosus” diferente uma vez que para tanto se faz necessário, ao menos, entender essa história e as diversas linguagens quer sejam rituais, míticas e conceituais que esse grupo expressa sua concepção do sagrado. Esse “desavisamento” pode nos levar a uma atitude errônea diante do “outro”. Isto nos leva a tese central desse trabalho: Desmitificar o preconceito para poder dialogar com o diferente ao compreender o fenômeno religioso, no nosso caso particular do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, conhecido como Congado, através de um olhar interdisciplinar. Para isso devemos entender o que é religião e o que é religiosidade, a diferença entre Rito e Ritual, o símbolo Portanto, partiremos do entendimento do “ato religioso” ou da premissa religiosa do ser humano para refletir sobre o sincretismo 6 e o Reinado do Rosário. De nosso ponto de 4
Cada uma das guardas é pertencente ao que chamam de “nação” que vem a ser sete, a saber: Candombe, Congo, Moçambique, Catupé, Caboclos, Marujos e Vilão. Da mesma forma cada “guarda” ou “terno” dessas nações se assemelham a tribos ou clãs com todo seu sistema hierárquico e militar. 5 Conjunto ou grupo pertencente a cada uma das chamadas nações do reinado: Candombe, Moçambique, Congo, Catupe, Marujo, Vilão ou Cavaleiros de S. Jorge. 6 Entenderemos sincretismo aqui, como sendo um movimento realizado a partir do protagonismo de africanos ao identificarem divindades católicas como sendo as suas próprias divindades.
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vista, consideraremos as formas e dinâmicas culturais de entrelaçamento dos elementos do catolicismo e das religiões africanas no Congado enfatizando, a priori, o uso corrente da categoria sincretismo em relação ao Congado, lembrando-nos dos distintos significados que esse termo assume em diferentes abordagens e contextos. Buscaremos, no estudo do rito e da religiosidade, através de uma abordagem metodológica no contexto da História Cultural e da Antropologia, entender os aspectos e características da religiosidade, seus elementos, a “Praxis Católica Romana”, os elementos do “catolicismo africano” através dos pressupostos de John Thornton 7. Num segundo momento vamos tentar estabelecer um diálogo com a história do nascimento da Irmandade do Rosário e sua capitaneação das manifestações africanas dentro de seus umbrais. Procuraremos em obras como as de Marina de Mello e Souza, Edmilson de Almeida Pereira, Leda Maria Martins e Glaura Lucas, as ferramentas de entendimento do Congado em Minas Gerais, as relações entre espaço-tempo profano e espaço-tempo sagrado com a vinculação da música à condução de rituais e os elementos constituintes da ritualística a partir do olhar dos sujeitos da manifestação. Além disso, vamos lançar mão da memória e confluência da religiosidade negra através da narrativa mítica do encontro dos negros com Nossa Senhora do Rosário, como apropriação africana do Catolicismo Romano. Desta Forma percebendo “o quando”, “o como”, “o onde” e “o que é” dessa manifestação e sua migração até Betim. No terceiro momento buscaremos entender como esta manifestação é vista a partir de dentro, pelos sujeitos, e por fora pelos espectadores. A abordagem envolveu depoimentos colhidos; as observações feitas nas diversas etapas do processo ritual que abarca não só a festa, mas toda a sua preparação; um roteiro metodológico composto de quatro elementos: a memória (registro da festa), o formato (organização da festa), o conteúdo (cantopoema) e as mediações (relações com a sociedade). Não existe povo sem religião e magia, e nem povos primitivos sem atitudes científicas, por mais primitivo que seja. Em todas as sociedades humanas encontraremos essas duas esferas:, o sagrado e o profano, ou a religião e a ciência. Desconhecemos algum período da História humana sem religião; não existe vácuo religioso; esse é um fenômeno universal. Alguns estudiosos observam que religião é algo que se subtrai a uma definição e talvez esteja aí uma parte de sua essência, podemos perceber que o “fato religioso” alicerça-se em um conjunto de tradições, atribuídas pelas sociedades e, conseqüentemente, de uma perspectiva antropológica, portanto, o fato religioso esclarece a função que a tradição desempenha. Assim sendo percebemos que a religiosidade é componente natural dentro 7
Historiador e especialista no reino do Congo dos séculos XVI ao XVII, defende que durante os primeiros 200 anos de contato entre congoleses e europeus houve o desenvolvimento de um catolicismo africano, no qual os missionários cristãos viam sua religião, e as populações congolesas a sua forma tradicional de reverenciar os deuses e relacionar-se com o além. Segundo Thornton, um conjunto de idéias religiosas semelhantes entre cristianismo e religiões africanas tendeu a aprofundar o processo de formação daquilo que o autor conceituou como “catolicismo africano”. Entre estas idéias semelhantes estaria a crença num “outro mundo” e na perspectiva de que este pudesse ser revelado. Concomitantemente, acreditava-se na existência de seres que promoveriam o intercâmbio entre “este mundo” e o “outro mundo”. Dentro deste quadro de crenças, teria sido possível aos africanos apropriarem-se dos santos católicos como se fossem os espíritos ancestrais que poderiam não só fazer revelações sobre o “outro mundo”, mas também intervir na resolução de problemas relativos ao cotidiano deste mundo sensível e terreno.
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do “Corpus Sociológico” dos agrupamentos humanos. Essa religiosidade pode não estar estruturada como religião, mas certamente ela se faz presente. No ato religioso (ligado a religiosidade e não a uma religião institucionalizada) podemos distinguir dois movimentos. O primeiro diz respeito à aproximação do homem ao sagrado que nesse caso se torna uma realidade objetiva e transcendente 8. O segundo movimento refere-se à forma com que ele lida com essa realidade ao fazê-la imanente e, nesse caso, trata-se de um testemunho de sua relação com o objeto/símbolo em questão, trata-se de uma intenção de modificar sua própria vida e não de uma descrição do sagrado como objeto exterior a si mesmo.
Rito e Ritual
Figura 6 - Missa Solene da Procissão de N. S. da Boa Viagem - BH/2006 (Acervo IMPHIC)
O significado do termo Rito 9 tem vários sentidos. De forma ampla podemos afirmar que, é uma sucessão de palavras, gestos e atos que compõe uma cerimônia. Mesmo seguindo um padrão, ele não é mecanizado e pode atualizar um mito, pois segue ensinamentos ancestrais e sagrados. Portanto o Rito é um conjunto de atividades organizadas em que o ser humano se expressa através de gestos, símbolos, linguagem etc. transmitindo um sentido coerente ao ritual. È importante esclarecer, portanto, que não é qualquer atividade padronizada que constitui um rito. O rito é um conjunto de fórmulas que caracterizam certa tradição. Assim, o Rito é diferente de ritual e muitas vezes essas duas palavras se confundem, mas rito e rituais têm significados diferentes. Enquanto o rito é um conjunto de cerimônias e fórmulas de uma religião e de tudo quanto se refere ao seu culto ou liturgia, o ritual é aquilo que é pertencente ou relativo aos ritos 8
Isto se dá por meio de uma experiência racional e/ou emocional quer seja ela poética ou simbólica. Chamamos de rito às regras cerimoniais, previamente estabelecidas tendo em vista sua finalidade e que devem ser observadas na prática. Ex. Rito de Levantamento de Bandeira Santa, descreve os procedimentos corretos e aceitos pelas hierarquias do Reinado do Rosário para o levantamento de uma bandeira. As palavras rito ou ritual nunca devem ser entendidas como sinônimo de dogma, de princípio nem de símbolo; nunca se oporão aos ditames da Igreja Católica Apostólica Romana nem se mesclarão com práticas fanáticas ou supersticiosas. Em hipótese alguma poderão ser alterados ou dada outra interpretação a eles. Os ritos foram sendo transmitidos oralmente no decorrer dos anos ou compilados de manuscritos, liturgias antigas da Igreja Católica, ou ainda coletados da prática de piedade popular. 9
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De acordo o dicionário eletrônico Michaelis, Ritual tem a seguinte definição: adj m+f (lat rituale) 1 - Pertencente ou relativo aos ritos. 2 - Que contém os ritos. sm: 1 - Livro que contém os ritos, ou a forma das cerimônias de uma religião. 2 - Cerimonial. 3 - Conjunto das regras a observar; etiqueta, praxe, protocolo. E rito é descrito como: sm (lat ritu) 1 Conjunto de cerimônias e fórmulas de uma religião e de tudo quanto se refere ao seu culto ou liturgia. 2 Cerimonial próprio de qualquer culto. 3 Culto, religião, seita. 4 Ordem ou conjunto de quaisquer cerimônias. 5 Sistema das fórmulas e práticas das organizações maçônicas. R. de iniciação, Sociol: cerimônias, de caráter religioso ou não, realizadas na admissão de um indivíduo a uma sociedade ou associação: Ritos de puberdade. R. de natalício, Sociol: solenidade realizada entre os povos antigos e os selvagens, por ocasião do nascimento de um filho, a fim de purificar mãe e filho e dar a este força e energia. Ritos de puberdade, Sociol: solenidades que marcam a passagem de rapazes ou moças ao estado adulto, implicando, antigamente, provas físicas, tabus alimentares, instrução moral e investidura de sinais visíveis do novo estado. Ritos de purificação, Sociol: V rito de natalício. Ritos nupciais, Sociol: cerimônias oficiais realizadas por ocasião de um enlace matrimonial. Um ritual, portanto, pode acontecer dentro de um rito concomitantemente aos sujeitos, tempo e espaço, necessitando de objetivos, procedimentos e técnicas; instrumentos e objetos; etc.. Aspectos como música, dança, roupas, comidas etc. nesse contexto se tornam símbolos e dão sentido às práticas sociais criando um universo em que a ordenação sócio-cultural e política amplia o conceito do ritual. Em se referindo ao Tempo, um ritual pode ser executado em intervalos regulares ou em situações específicas em sua dimensão temporal, já relativo ao Sujeito da ação, o ritual pode ser individual ou coletivo; Em relação ao Lugar, ele pode ocorrer em locais arbitrários ou específicos, de forma pública ou privada em sua dimensão espacial. Um ritual pode ser restrito a certo grupo social podendo, também, simbolizar a passagem entre condições sociais ou religiosas. Os propósitos dos rituais são variados e podem incluir desde a concordância com obrigações religiosas ou ideais, passando pelo fortalecimento de laços sociais de respeito ou submissão, e até estabelecendo afiliação e aceitação social ou aprovação para certo evento. Os rituais são característicos de quase todas as sociedades e podem incluir desde rituais de adoração de religiões organizadas até ritos de passagem de certas sociedades, como coroações, posses presidenciais, casamentos, funerais e outros. Algumas ações cotidianas, como aperto de mão ou cumprimentos podem ser entendidas como pequenos rituais. Um ritual pode ser executado em intervalos regulares ou em situações específicas em sua dimensão temporal, já relativo ao sujeito da ação, o ritual pode ser individual ou coletivo; e pode ocorrer em locais arbitrários ou específicos, de forma pública ou privada em sua dimensão espacial. Um ritual pode ser restrito a certo grupo social podendo, também, simbolizar a passagem entre condições sociais ou religiosas.
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Figura 7 – Bastões cruzados, em reverência, em frente a imagem de N. S. do Rosário (acervo – SUM/MG)
Símbolos Os símbolos são algo próprio do ser humano. Ele tem necessidade dos "símbolos" para a sua orientação e ordenação do mundo em que vive. O termo tem origem na palavra grega σύμβολος (símbolos) tem origem na prática de se usar uma parte de uma tábua (ou anel) que os pactuantes conservavam consigo como sinal de reconhecimento. Ao unir os fragmentos poderiam reconhecer tal pacto atestando que a união concluída havia permanecida intacta durante o tempo de separação. Por suposto, o símbolo é um sinal de relação pelo qual se reconhecem os aliados estabelecendo um vínculo, uma relação entre as pessoas. No campo Antropológico resta apenas o uso da função de referência onde tem um valor apenas quando é compreensível, perceptível a todo um grupo humano. Estes símbolos têm um grande papel em todas as atividades religiosas. E é justamente esse mundo dos símbolos que nos causa problemas no encontro com outras religiões e culturas como o Reinado do Rosário, porque o significado de cada símbolo está estreitamente relacionado com o todo da cultura de cada comunidade. Os símbolos no Reinado do Rosário abarcam objetos, gestos, palavras, tipos de linguagem, imagens, ações e encerram o significado e a interpretação que transmitem apontando para algo que é fundamental e que vai além de sua forma. Para o congadeiro a ação simbólica tem um significado muito grande; ela expressa seu conhecimento de forças/poderes que extrapolam sua esfera de influência e através do corpo, gestos, instrumentos e as palavras estabelecem os canais de comunicação com o sagrado onde constroem o vínculo entre o céu e a terra estabelecendo, claramente, uma relação intencional. O devoto acessa esse mundo transcendente porque não aceita a irreversibilidade do tempo linear substituindo-o pelo tempo sagrado que é mítico, ritualizado e cíclico.
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Sincretismo O sincretismo, como observado aqui, trata-se de um processo onde os elementos de um sistema, são equiparados em outro, resultando em uma mudança na natureza ou princípios fundamentais destes. No que tange a religiosidade o sincretismo não é uma fusão total, pois se trata de uma combinação de distintos elementos que se mantém identificáveis. A principal característica do sincretismo é que se tem tanto a noção dos entes da religião introduzida, quanto dos da religião original. No caso do congado não existe dentro da manifestação uma correspondência dos santos com um correspondente africano. Por exemplo, enquanto São Lázaro no candomblé é também Omulú, no congado São Lázaro é apenas S. Lázaro. Todos os elementos cernes do catolicismo estão resguardados no Reinado do Rosário o que vemos são os elementos culturais africanos, e não teológicos, desenhando a manifestação de religiosidade católica. Esse seria um exemplo de “inculturação” 10 litúrgica. Trata-se de assumir, dentre os elementos da cultura (linguagem, gastos, símbolos…) de cada povo, aqueles que possam ser veículos fiéis e dignos da fé católica. O Vaticano assim entende a inculturação: “A Igreja não deseja impor na Liturgia uma forma rígida e única para aquelas coisas que não dizem respeito à fé ou ao bem de toda a comunidade. Antes, cultiva e desenvolve os valores e os dotes de espírito das várias nações e povos. O que quer que nos costumes dos povos não esteja ligado indissoluvelmente a superstições e erros, ela o examina com benevolência e, se pode, o conserva intato. Até, por vezes, admite-o na própria Liturgia, contanto que esteja de acordo com as normas do verdadeiro e autêntico espírito litúrgico” 11 . A existência de “sujeitos” dentro do Reinado do Rosário que fazem parte de outras religiões sincréticas não torna a manifestação, também sincrética, isto seria uma visão reducionista. O que percebemos no Reinado do Rosário é um exemplo legítimo de cristianismo africanizado. A pesquisadora Leda Maria Martins (MARTINS, 1997) cunha o termo dialoguismo para conceituar esse intercâmbio que houve, onde os elementos dos vários sistemas se fundem formando um novo sistema e não a sobreposição de sistemas como observado em manifestações sincretizadas.
Catolicismo Africano Alguns estudiosos defendem que a partir da diáspora africana o elemento religioso que fazia parte da bagagem cultural influenciou a construção da religiosidade afro-brasileira. Sobre a conversão africana ao catolicismo, Marina Souza esclarece: “Se em territórios africanos... ocupados pelos portugueses... o catolicismo deixou discretos vestígios no período pré-colonial, na América portuguesa os africanos muitas vezes a ele se renderam, 10
Dom Walter Ivan de Azevedo, bispo emérito de São Gabriel da Cachoeira explica a Inculturação como sendo: exprimir a religiosidade/religião e sua mensagem e celebrá-la nos ritos e retuais a partir dos modos de ser, de pensar e de se manifestar de uma cultura, seja essa cultura a de todo um povo, como o indígena ou africana, como a de um grupo humano, como os jovens das cidades, os operários, os habitantes das periferias ou da zona rural. 11 Constituição Sacrosanctum Concilium n° 38
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não sem recheá-los de contribuições de suas religiões tradicionais”. (SOUZA, 2002 p.143) Catolicismo africano foi um termo cunhado por John Thornton (THORNTON, 2004).Além de John Thornton o catolicismo re-significado foi também estudado por Wyatt Macgaffey (MACGAFFEY, 1972). Estes autores defendem que nos dois primeiros séculos de contato da África Negra e Europa houve o desenvolvimento do que chamaram de catolicismo africano. A cultura popular tende a construir novas alternativas com uma lógica própria tornando esse “espaço” lugar de luta pela apropriação de seus signos. Tais “objetos sígnicos” só poderão ser entendidos dentro de um formato novo a essa outra realidade do grupo social onde o imaginário se vê alimentado por uma simultaneidade de dimensões de resistência e contradição. A complexidade do catolicismo africano levou vários estudiosos a analisarem seus desdobramentos, há porém estudiosos que contestam as conclusões de Thornton. James Sweet defende que o catolicismo estabelecido na áfrica, sobretudo no Reino do Congo se caracterizou pela superficialidade onde o único rito cristão ao qual os congoleses tiveram acesso foi o batismo (SWEET, 2003). Sweet tenta esclarecer qual foi o impacto do catolicismo na vida das “colônias portuguesas” e principalmente no Brasil. Para isso inicia sua análise na África Central onde o batismo em massa é uma evidencia muito forte de um “catolicismo de fachada” onde pra muitos destes “novos convertidos” consideravam o batismo como “água de feitiçaria” para os europeus os comerem; ou para impedir que eles fizessem sexo durante a viagem ou mesmo para que eles não se revoltassem contra os brancos. Para Sweet os africanos não entendiam o batismo como lavagem dos pecados e conversão à fé e a única relação que o negro escravo trazia do catolicismo era seu nome de batismo. Porém, se faz necessário diferencias as experiências dos africanos da diáspora das experiências dos africanos que permaneceram no continente africano, pois o catolicismo teve uma permanência muito longa na África Central e não há como não ter ocorrido uma influência na cosmologia desses povos. Assim tendemos a concordar com Thornton no estabelecimento de um “catolicismo africano” com suas peculiaridades que o europeu aprendeu a conviver, pois não feriam a bases essenciais do cristianismo. Para Anne Hilton e Rosana Gonçalves os africanos consideravam o catolicismo uma forma mais poderosa de sua própria religião tradicional. Isso levou tanto africanos quanto portugueses a correlações interpretativas do cristianismo (GONÇALVES, 2006). Um aspecto que ajudou a consolidação do catolicismo na áfrica foram as semelhanças principais entre os dois sistemas religiosos. Tanto europeus como africanos acreditavam na existência de dois mundos: o mundo dos “vivos” e o mundo dos “mortos” que era habitado pelas almas dos ancestrais e que esse último influenciava o primeiro. E a maioria dos povos bantus acreditavam em um único deus “Nzambi”. Outro aspecto era a crença de que o conhecimento desse mundo dos “mortos” e seus desígnios se davam através das “revelações”, portanto africanos e europeus reconheciam a ideia de revelação como parte da religião do outro, mesmo que não aceitassem tais revelações. A preparação para a morte também era um aspecto importante nos dois sistemas. O ato de confessar os pecados em vida e dar esmolas aos santos de devoção era semelhante à ideia das oferendas africanas aos ancestrais e em ambos os casos tinha-se um cuidado com a aparência vestindo-os com mortalhas fúnebres, presença de sacerdotes, velório e o
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luto. Tanto portugueses quanto africanos acreditavam na existência de um julgamento após a morte. O que facilitou o surgimento de um catolicismo africano foi o fato de que enquanto o sistema de revelações católica europeia era rígida e calcada nas escrituras o sistema religioso africano era dinâmico e flexível á incorporação de novas crenças. Tudo isso contribuiu para a aceitação de novos rituais, crenças e símbolos do cristianismo, mas sem que os africanos abandonassem suas visões de mundo, criando esse terceiro elemento religioso que Thorton chamou de “Catolicismo Africano”. Dentro desses aspectos apresentados veremos que o congado se reveste de legitimidade, tanto na religião institucionalizada quando da religiosidade popular, pois se constitui de uma inculturação dos ritos cristãos através da lente cultural e da “linguagem cultural” africana através de seu modo de falar, estruturação poético-literário, estruturação rítmica própria, estruturações simbólicas existentes etc. A cultura popular tende a construir novas alternativas com uma lógica própria tornando esse “espaço” lugar de luta pela apropriação de seus signos. Tais “objetos sígnicos” só poderão ser entendidos dentro de um formato novo a essa outra realidade do grupo social onde o imaginário se vê alimentado por uma simultaneidade de dimensões de resistência e contradição. Esse fato se tornou marcante onde o afro-catolicismo se desenvolveu amplamente criando raízes de forma dinâmica recebendo novas significações e contribuições de indivíduos de culturas diferentes. Dentro do aspecto das comemorações e das celebrações festivas a multiplicidade cultural ganha significações afro-brasileiras específicas e fundamentadas na tradição escrava que eram marcas diacríticas seus traços de distinção cultural como um “ato político intencional” que fundamentava sua etnicidade. Isso possibilitou as esse grupo uma comunicação cultural gerada por um sentido de “pertencimento” caracterizado pelo reconhecimento de vínculos históricos desses grupos O catolicismo não conseguiria, ao chegar a áfrica converter religiosa e culturalmente o africano em sua totalidade, pois esse manteve o substrato de suas crenças e práticas ancestrais gerando o que os estudiosos chamam de catolicismo africano dada a peculiaridade do que ocorreu no Reino do Congo nos primeiros 300 anos de permanência portuguesa. O Reino do Congo foi o único, na África Central, que se manteve oficialmente cristão e isso, segundo estudiosos como Anne Hilton 12, deve-se a conversão dos seus reis. Um paralelo histórico pode ser visto no que ocorreu com os francos em 496 e com os borgonheses entre 515 d.C e 523 d.C quando seus soberanos, Clóvis e Sigismundo respectivamente, ao se converterem, levaram à conversão de todo seu povo. Na sociedade congolesa isso se deve ao fato de que o rei guarda mais do que o poder político, ele era responsável pelo culto aos ancestrais, portanto uma celebração religiosa em que o rei estivesse presente era um momento de comunicação com essa “ancestralidade”. Essa presença não só política, mas sobretudo religiosa da pessoa do rei foi a amalgama que explica a força do catolicismo no Reino do Congo.
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HILTON, Anne. The Kingdom of Kongo. Oxford: Claredon Press, 1985, p. 190
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A complexidade do catolicismo africano levou vários estudiosos a analisarem seus desdobramentos como na região de São Domingos (atual Haiti) onde se observa varias expressões ritualísticas à semelhança de um estilo congolês de adaptação litúrgica católica. Há porém estudiosos que contestam as conclusões de Thornton. James Sweet defende que o catolicismo estabelecido na áfrica, sobretudo no Reino do Congo se caracterizou pela superficialidade onde o único rito cristão ao qual os congoleses tiveram acesso foi o batismo. Sweet tenta esclarecer qual foi o impacto do catolicismo na vida das “colônias portuguesas” e principalmente no Brasil. Para isso inicia sua análise na África Central onde o batismo em massa é uma evidencia muito forte de um “catolicismo de fachada”. Porém, se faz necessário diferencias as experiências dos africanos da diáspora das experiências dos africanos que permaneceram no continente africano, pois o catolicismo teve uma permanência muito longa na África Central e não há como não ter ocorrido uma influência na cosmologia desses povos. Assim tendemos a concordar com Thornton no estabelecimento de um “catolicismo africano” com suas peculiaridades que o europeu aprendeu a conviver, pois não feriam a bases essenciais do cristianismo. Para Anne Hilton os africanos consideravam o catolicismo uma forma mais poderosa de sua própria religião tradicional. Isso levou tanto africanos quanto portugueses a correlações interpretativas do cristianismo. Um exemplo disso são os exemplos dados por Rosana Gonçalves como o nome dado aos missionários católicos : Ganga. Esse título encerra as mesmas funções sociais dada aos feiticeiros. Outros exemplos são as imagens, chamadas de “inquice”, que era um objeto que continha o sagrado; o batismo seria a iniciação; as cruzes e medalhas de santos seriam os mesmos “patuás” e talismãs mágicos (GONÇALVES:2006). Desta forma os símbolos eram assimilado a partir da forma de entender o mundo. Outro fator importante é o fato dos portugueses terem chegado pelo mar, pois essa região era, para os africanos, domínio do reino dos mortos e, portanto, dos antepassados. Eles acreditavam que os ritos trazidos lhes confeririam mais poder por causa da superioridade tecnológica do europeu como artefatos, construção, agricultura etc. Ao incorporarem o cristianismo como novo elemento de sua identidade, no processo de integração à sociedade escravista, os bantos foram pouco a pouco minimizando as diferenças étnicas e destacando o que tinham em comum. Isto fez com que por trás da conversão dos negros ao catolicismo perdurasse práticas religiosas africanas, muitas
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vezes preservando sua lógica distinta onde nem tudo é sincretismo.
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FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA: O TRAJETO ATÉ BETIM
I
rmandade é uma associação organizada por fieis ereta para exercer alguma obra de piedade ou caridade. É uma espécie de confraria. Pode ser eclesiástica (religiosa) ou secular (civil). Possuem tanto fins religiosos, quanto fins políticos.
As confrarias são grupos de pessoas que se associam, geralmente pela vizinhança, para promover a devoção e o culto a um santo, representado por uma relíquia ou imagem. Segundo Riolando Azzi, existem dois tipos principais de confrarias: as irmandades e as ordens terceiras. Ambas surgiram na Idade Média. As irmandades derivam das antigas corporações de artes e ofícios. As ordens terceiras são vinculadas a ordens religiosas medievais como as franciscanas, as carmelitas e aos dominicanos. É bom lembrar que as classificações das ordens religiosas são: a) ordem primeira: aquela de frades professos que vivem em comunidade claustral e fazem votos perpétuos; b) ordem segunda: compostas de freiras que realizam votos similares à primeira e c) ordens terceiras: incluem leigos, homens e mulheres, solteiros, casados e viúvos que congregados sob uma mesma devoção, fazem noviciado e profissão de fé. d) Confrarias: que se diferenciam das primeiras por estarem subordinadas às ordens religiosas
Figura 8 – Confraria Civil em São Tiago de Compostela
As Ordens Terceiras são, portanto, organizações leigas que se constituem sob orientação
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de uma ordem, seguindo seus exemplos de conduta cristã e ritos de devoção. São exemplos: a Ordem Terceira de São Francisco de Assis (ligada aos franciscanos) e a Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (ligada aos carmelitas). Existem também associações religiosas chamadas confrarias e irmandades que instituindo normas de conduta e regulamentos destinam-se a organizar eventos e festas, cumprir funções de assistência social, obras pias e de caridade, realizar cultos de devoção ao santo patrono, assim como auxiliar os irmãos nos momentos de doença e morte. Para isto, os membros se comprometiam com uma efetiva participação nas atividades da irmandade. Essas beneficências variavam de acordo com os recursos da irmandade, diretamente proporcionais às posses de seus membros. É nessa última categoria, de confrarias, que se enquadram as Irmandades do Rosário. (BOSCHI, 1986, p.12-29) O embrião das Irmandades do Rosário surge na Europa no Séc. XIII e se espalha para África, através de Portugal, chegando posteriormente ao Brasil e aportando finalmente em Betim. O Papa Bento XVI fala da importância das confrarias "quando ainda não havia formas de assistência pública que garantissem iniciativas sociais e de saúde, para as faixas menos favorecidas da coletividade"
Figura 9 - Mesa da Irmandade de N. S. do Rosário - Jean Baptiste Debret, Negros arrecadam esmolas para a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário.
EUROPA – NASCE A IRMANDADE Alemanha No início do século XIII surge na França uma heresia dirigida por senhores feudais da região de Albi. Estes líderes feudais desejavam impor as suas idéias por meio das armas e queimavam as igrejas, profanavam imagens de santos, perseguiam católicos e espalhavam terror no sul da França. Eram chamados de Albigenses.
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O Papa Inocêncio III encarregou o cônego Domingos de Gusmão de combater a terrível heresia reconquistando as almas para a Igreja. Em um dia, enquanto rezava em sua cela, a Virgem Maria aparece-lhe e ensina-lhe um método de oração que daria resultados maravilhosos. Desta forma surge a devoção ao Rosário que em pouco tempo trouxe de volta ao seio da Igreja um grande número de fiéis. O embrião das atuais irmandades de Nossa Senhora do Rosário surge dai, na Alemanha, em Düsseldorf, em 1408 quando a Ordem dos Irmãos Pregadores estabelece a primeira Irmandade do Rosário, com a missão de propagar a devoção do Saltério de nossa Senhora. A consagração definitiva do uso rosário foi por ocasião da famosa batalha naval de Lepanto a 7 de outubro de 1571. Para imortalizar o triunfo das forças cristãs, Pio V institui a festa de Nossa Senhora das Vitórias, que posteriormente se torna Nossa Senhora do Rosário pelo o papa Gregório XIII, reconhecendo no rosário a arma da vitória.
Portugal A Irmandade do Rosário surge em Portugal em 1410 e através de informações do Convento de São Domingos de Lisboa foi aprovada em 1479 a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, sendo então, a primeira confraria de negros em Lisboa fundada pela própria igreja do convento. Segundo Franciscus Vanderpoel – “Frei Chico”, em 14 de julho de 1496 temos a mais antiga menção a uma confraria de negros em um alvará 13 dado à dita confraria do mosteiro de S. Domingos de Lisboa. O importante documento acha-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa 14. (FREI CHICO, 2005)
Figura 10 - MOsteiro de São Domingos de
As Irmandades de negros cumpriam um papel de Lisboa prestar devoção à Maria Santíssima, dar aos irmãos uma “boa morte” através do sepultamento, cuidar da educação dos órfãos de seus confrades e libertar os irmãos cativos da escravidão, além de auxiliar no quotidiano das pessoas, intermediando procedimentos burocráticos, administrativos e judiciários, uma vez que, pela lei, os cativos não eram considerados como cidadãos. (SIMÃO, 2006, p.34/35) Lucilene Reginaldo (REGINALDO, 2009) nos diz que uma Confraria do Rosário existia dentro do Convento de São Domingos em Lisboa em 1551 estaria “repartida em duas, uma de pessoas honradas, e outra de pretos e escravos”. Devido aos conflitos entre os “irmãos pretos” e estes “cidadãos honrados” houve a cisão do grupo e “Em 1565, os irmãos negros tiveram seu primeiro compromisso aprovado pela autoridade régia. Apesar disso, o acirramento das disputas, (...) levou à expulsão da irmandade dos negros do templo dominicano no fim do século XVI” levando-os a formar uma irmandade independente.
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Confirmações Gerais, L.2.fls.107v.-108 (Torre do Tombo) FREI CHICO. Arquivo on line: Congado:Origem e identidade, 2005
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ÁFRICA – PROCESSO DE CRISTIANIZAÇÃO DO CONGO POR PORTUGAL Na África, os escravos de procedência banto, principalmente os de Angola e Congo, assim agiram porque a Senhora do Rosário já era sua padroeira na África, cujo culto para lá fora levado pelos colonizadores portugueses e pelos primeiros missionários que se dirigiam àquele continente com a finalidade de converter os selvagens à religião cristã. Isso ocorre quando em 1415 os portugueses, sob a liderança do Infante Dom Henrique e seus dois irmãos, filhos de D. João I e D. Filipa de Lencastre, conquistam Ceuta, no Norte da África. Para eles, o feito faz parte da fase final da reconquista. Em 4 de abril de 1418, os mouros tentam retomar Ceuta e D. Henrique apressa-se em defender a cidade. Nesse mesmo ano, o Papa Martinho V concede favores espirituais a quem ajudar o rei D.João I na guerra contra os mouros e outros infiéis.
Figura 11 - Infante D. Henrique
Os navios de D.Henrique, em 1434, abriram caminhos para o sul, para descobrir até onde se estendiam as terras dos infiéis (mouros), negociar com outros povos e convertê-los ao cristianismo e D.Henrique contou com as finanças da Ordem de Cristo. Frei Chico OFM nos relata que o historiador Pe. Miguel de Oliveira diz que esta ação foi referendada pelos papas: 15 Os portugueses chegam ao Congo em 1482, posteriormente, em 1491 ocorre, o batismo do rei do Congo. Depois disso o Reino do Congo faz uma aliança com os portugueses e a catequese inicia-se pela realeza e nobreza congolesa. O manicongo foi batizado com o nome de D.João I. E a rainha tomou o nome de Leonor. Após sua conversão, na Páscoa 15
"A obra portuguesa das conquistas e descobrimentos foi, em princípio, uma nova Cruzada religiosa. Assim a entenderam, desde logo, os pontífices. Martinho V concedeu largas indulgências aos que auxiliassem o rei D.João I a prosseguir a campanha de África e recomendou às autoridades eclesiásticas que pregassem a cruzada, pois se tratava de dilatar a fé cristã (Bula "Sane Charissimus", 04/04/1418). Eugênio IV fez idênticas concessões nos reinados de D.Duarte e D.Afonso V (Bulas "Rex Regum", 08/09/1436 e 05/01/1443). Outros papas foram renovando essas graças e indulgências, até que, desde 1591, se estabeleceu a concessão regular e periódica da Bula da Cruzada (OLIVEIRA,Miguel de.Pe. "História Eclesiástica de Portugal".4aEd. Lisboa,União Gráfica,1968. pp.196198.)
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de 1493, o manicongo Nkuvu oficializou a Igreja Católica como religião do seu reino e os dominicanos iniciaram a catequese do povo. Dois fatos semelhantes ocorreram anteriormente na Europa. Um em 496 quando o Cristianismo chega aos francos e Clóvis, rei dos francos, é batizado e, com ele, seus nobres e o povo. O outro foi o batismo de Sigismundo, rei dos Borgonheses (515-523), deu origem à conversão do seu povo. O que aconteceu com estes europeus, pode ter acontecido com os bantos do Congo, da Guiné e da Angola.
A RAINHA GINGA ENFRENTA PORTUGAL. "Ginga" é o nome português da rainha Nzinga Mbandi (1581-1663), que durante 13 anos lutou contra os portugueses em Angola. Mostrou firmeza na defesa da dignidade. Em meados do século XVI, o Congo e o Oeste africano se viram invadidos por povos guerreiros. Em Angola (de Ngola), se chamavam Gingas. Entre os reis guerreiros estava o fundador da dinastia Ginga: Ngola Ginga. Ele tomou dois reinos: o de Ndongo, que deu ao filho Ngola Bandi, e o de Mutamba, que governou. Dos descendentes, Ngola Ginga Bandi, irmão da Ginga de Mutamba, conseguiu ficar com os dois reinos, mandando matar vários parentes, inclusive o filho de Ginga. Em 1618, ele resolveu enfrentar os portugueses, e, depois de três anos de guerra, foi vencido por Luiz Mendes de Vasconcelos que ocupou a capital do Ngola e matou 94 dos seus chefes. Em 1621 a rainha Ginga de Mutamba chega a Luanda Figura 12 - Rainha Nzinga Mbandi com uma vistosa comitiva para então propor a paz. Aceitou certas condições que lhe foram impostas e se batizou, em 1622, com o nome de Dona Ana de Souza, na igreja matriz de Luanda, mas não aceitava a submissão, não pagava tributos. no ano de 1623, o Soba do N'Dongo em posição extremamente sólida em relação às forças coloniais, antevendo o enfraquecimento das forças Portuguesas, com a saída do Governador João Correia de Souza, manda em como emissária, a Luanda, sua irmã N'Zinga M'Bandi em Luanda exigindo do novo governador Pedro de Souza Coelho, o desalojamento dos Jagas da Baixa de Kassange, região que queria sob o seu domínio. O Governador Português, em nome do Rei de Portugal, concordou com a imposição – que já havia sido anteriormente tratada em negociações de paz, com N'Gola M'Bandi, mas não cumpriu o acordo. No ano seguinte N'Zinga M'Bandi, com quem o 2º acordo fora tratado, indignada pelo não cumprimento do combinado, força o irmão a declarar guerra aos colonizadores, mas, descontente com as estratégias de combate do irmão, razão a que atribuía a guerra ainda não estar vencida, e suspeitando que o irmão poderia de novo tentar negociar a paz, o que ela achava indigno; ela mesma declara guerra aos portugueses, depois de ter matado o irmão que assassinara seu filho e se proclama o novo Soberano do N'Dongo. Simultaneamente inicia uma guerra aberta contra os Jagas, com vitórias retumbantes, que anexaram toda a área do Kassange ao Reino dos Jingas. Ficou então como rainha dos
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dois reinos e seus povos. Em 1635, chega a Angola o novo Governador, Francisco de Vasconcelos da Cunha que, a troco do restabelecimento das rotas da escravatura, com os povos do sul da Matamba, consegue deter o avanço de N'Zinga M'Bandi em direção a Luanda. A esta altura, N'Zinga M'Bandi, também conhecida por Rainha Ginga, já era soberana também da Matamba. Foi então que ela permitiu que o capuchinho italiano Antônio Gaeta (+1662) morasse no seu reino. Gaeta levou-a mudar de vida. Contra a vontade dos portugueses, Ginga mandou uma embaixada ao Papa Alexandre VII pedindo o reconhecimento do seu reino.Esquecendo o padroado, o Papa enviou-lhe uma carta pessoal e outra da Sagrada Congregação da Propaganda Fide com orientações para que seu reino fosse cristão. Enviou mais missionários capuchinhos italianos e nomeou o Pe. Antônio Gaeta como prefeito apostólico da Mutamba. A carta da S. C. da Prop. Fide contém entre outras uma "proibição aos comerciantes e a qualquer outras pessoas de comprar como escravos os batizados. Esse uso impede a conversão de muitos." Assim resumimos as anotações do historiador Eduardo A..Muaca em "Breve História da Evangelização de Angola.1491-1991" (Lisboa, Secr. Nac. das Comemorações dos 5 Séculos,1991.p.35). Nesse meio tempo, os Sobas do Libôlo em luta contra os Jagas, vão ao Massangano pedir a ajuda dos Portugueses e estes imaginaram que esta aliança, além de pacificar e dominar os Jagas, poderia trazer a adesão de expressivas forças aliadas contra a Rainha Ginga e concordaram de imediato. N'Zinga M'Bandi, sabendo da movimentação das tropas Portuguesas indo intervir na guerra dos Jagas contra os Sobas do Libôlo, marcha contra eles, e apesar da superioridade do exército Luso, os Gingas infringem-lhes uma derrota esmagadora. A Rainha Ginga, magnânimamente poupa os sobreviventes brancos e perdoa os negros aliados do Libôlo. Quando em Luanda assume o Governador Sotomayor, decidido a recuperar prestígio perdido pelos Portugueses por causa das guerras contra os Gingas, resolve iniciar o mandato enviando uma expedição militar ao Massangano, para se confrontar e derrotar a Soberana. No Rio Zenza, o exército Português comandado por Fernão de Souza encontra um destacamento de Gingas e finge retirar evitando o confronto, porém atacam de noite e chacinam quase todos os guerreiros; os poucos que conseguem escapar da matança e avisar a Rainha Ginga do ocorrido, foram decapitados por não terem tido a dignidade e coragem de perecer em combate como os companheiros. Suas duas irmãs, as princesas Cambe e Funge, foram levadas para Luanda e batizadas com os nomes de Bárbara e Engrácia. A Rainha Ginga, irritada por esse golpe que considerou covarde, alia-se aos Holandeses que, em 1641 saíram do norte do Brasil e ocuparam Luanda e dominavam uma faixa litorânea, na luta contra o exército de Portugal. Ginga aliou-se a eles contra os portugueses. Mas estes tornaram a derrotá-la em 1647 às margens do rio Dande, com armas superiores e um exército de cerca de 40 mil homens comandados por Gaspar Borges de Madureira. Em 1648, Salvador Correa de Sá retomou Luanda dos holandeses, com uma armada saída do Rio de Janeiro. Derrotados e expulsos os Holandeses, a Rainha Ginga depõe as armas, e tenta uma cartada diplomática, negociando a paz com tanto sucesso que consegue além da paz, a libertação das suas duas irmãs, cativas desde 1628.
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A rainha Ginga viveu os seus últimos anos em Angola, morrendo em 17 de dezembro de 1663, quando teria cerca de 81 anos. Foi sepultada na capela de Santana por ela mesma (Dona Ana) construída, e com um hábito velho de capuchinho, relíquia de Gaeta. Os portugueses anexaram a partir daí os reinos de Ginga e Mutumba (ou Matamba) à Angola. A memória da rainha guerreira, no entanto, acompanhou os negros levados como escravos para o Brasil. 16 Luanda tornou-se o maior porto negreiro da África, a partir do qual mais de 30 mil escravos saíam anualmente, principalmente para o Brasil. No séc. XVII, registramos a existência de uma igreja de "Nossa Senhora do Rosário dos Pretos", em Luanda e outras igrejas de Nossa Senhora do Rosário, em Cambambe e em Pungo Andongo. 17 – Em "O Livro das Velhas Figuras", Luis da Câmara Cascudo defende a inclusão da rainha Ginga na História 18, como a última rainha autêntica, combatendo portugueses e holandeses e ficando com seu povo contra os chefes pro-portugueses, proprietários de latifúndios e exploradores da fome negra. - O autor angolano Manuel P. Pacavira escreveu sobre a Rainha Ginga o romance "Nzinga Mbandi" 19. Em 1662 tem-se conhecimento de uma Irmandade do Rosário, em Moçambique. Registrase um "Compromisso Dos Irmãos da Confraria Da Virgem do Rozario, sita no Convento do Patriarcha S. Domingos desta Cidade de Moçambique. Anno de 1662". 20 O autor não menciona se os irmãos são portugueses ou africanos. Grande parte dos negros pertencentes às irmandades oitocentistas era proveniente de três nações: o Congo, Angola e a Costa da Mina, que também pertenciam a uma mesma cultura, a bantu 21. Como o primeiro contato dos portugueses com a África foi através do Reino do Congo, eles passaram a ver tudo em função desse reino, como se as demais nações fossem apenas sua continuidade territorial e até de línguas e culturas. As irmandades africanas seguiam a mesma organização das portuguesas, assim como as da colônia americana. Seguiam um padrão de divisão social por ordem hierárquica. Assim, as irmandades do Rosário, que a princípio congregavam parte da população branca em Portugal, gradativamente foram sendo reservadas aos negros cativos e forros. Tratava-se de uma devoção reservada aos africanos inseridos na experiência da escravidão, seja na condição de cativos ou de libertos. Nesse sentido, a devoção ao Rosário entre os negros nasceu A proteção do Rosário de Nossa Senhora Rituais e valores simbólicos do Congado vinculada às marcas da “conversão-cativeiro. A propagação da devoção ao Rosário entre escravos negros parece ter sido incentivada pelos jesuítas, tanto na África quanto na América portuguesa. A relação dos jesuítas com os negros africanos parece também ter sido bastante próxima. Coube ao jesuíta Pedro Dias escrever a primeira gramática em kimbundo, dedicada à Nossa Senhora do Rosário, mãe e senhora dos pretos. Embora tenha sido escrita na Bahia, foi publicada em Lisboa no 16
KI-ZERBO, Joseph. "História da África Negra". Lisboa, Publ. Europa-América. pp. 426-427-Trad. de "Histoire de l’Afrique Noire." Paris, 1972; NUNES, Jerônimo. Pe. "Santa Ana e Rainha Jinga". In: "Cruzada Missionária". Ano LXV. Abril/1997. p. 4 17 MUACA, Eduardo A.. "Breve História da Evangelização de Angola.1491-1991", Lisboa, Secr. Nac. das Comemorações dos 5 Séculos, 1991. p. 39 18 CASCUDO, Luis da Câmara. O Livro das Velhas Figuras . Natal, Instituto Histórico e Geogr. do Rio Grande do Norte, 1977. pp. 9-11 19 PACAVIRA, Manuel P. Nzinga Mbandi. 2ª Ed. Lisboa, Edições 70, 1979 20 GARCIA, Antônio.SJ.. "História de Moçambique Cristão". Vol.I-II.Braga, Livraria Cruz,1972.pp.440-441 21 Os bantus correspondem a, provavelmente, cerca de mais de 500 povos e formam um grupo linguístico. O termo "bantu" não corresponde a uma cultura, e sim muitas. Anteriores a chegada dos portugueses à África, os povos bantus atravessaram as densas florestas do centro da África ao longo de séculos misturando-se com outros povos forjando, assim, não uma única cultura, e sim várias. Um ponto de convergência nas culturas de origem bantu é a importância dada aos antepassados. Cada grupo étnico bantu tem seus antepassados como ponto de união. É deles que apreenderam a sabedoria dos provérbios; as leis para fazer justiça; a religião, a cura das doenças e os instrumentos musicais e todas as outras coisas da vida. Assim, cada grupo, cada clã, cada povo de bantu tem sua cultura própria. Portanto, existe a civilização bantu na África, o grupo linguístico bantu e muitas culturas bantu.
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ano de 1697. Esta dedicatória sugere a ligação da devoção dos africanos também no Brasil, onde se destacou, principalmente, a catequese jesuítica. Já os capuchinhos, que foram os responsáveis pela ação missionária no interior de Angola, divulgaram a devoção ao Rosário da Virgem mesmo entre a população branca. Precisamos lembrar aqui que esta devoção, em Portugal, esteve inicialmente ligada ao espírito de luta contra os protestantes e infiéis, dentro do espírito da contrarreforma. O mesmo aconteceu com os dominicanos, na Ilha de Moçambique, no final do século XVIII. Fundaram uma irmandade do Rosário da qual faziam parte portugueses e “cristãos da terra”. A conclusão mais importante que se pode tirar desses exemplos que confirmam a expansão da devoção à Nossa Senhora do Rosário em Portugal e África, é que, apesar de no início ser uma devoção de brancos, com o tempo, através dos missionários empenhados em expandir a fé cristã, essa devoção acabou se ligando preferencialmente aos negros, escravos e libertos. E tornou-se uma ponte entre as tradições africanas e o catolicismo português. No entanto, além da ação missionária, alguns estudiosos inferem outros motivos para estabelecer a ligação entre Nossa Senhora do Rosário e os negros escravos. W. Randles, estudioso da cosmologia bakongo, nos diz que o mar, para os congoleses, pertence ao mundo do além, uma via de acesso ao outro mundo, espaço no qual estavam os mortos. Se o significado do mar para os congoleses pertence ao mundo do sagrado, esse pode perfeitamente ter ajudado os africanos a aceitarem Nossa Senhora do Rosário como sua protetora, devido à relação que existe entre a Virgem às águas do mar, dentro da tradição medieval. É bem possível que, conhecedores destas tradições e do valor sagrado do mar para os negros africanos, os missionários tenham feito a ligação entre um e outro elemento para facilitar a conversão dos gentios ao catolicismo. Esta hipótese torna-se possível principalmente porque os missionários utilizaram destas artimanhas de forma constante no processo de cristianização dos negros africanos. Talvez seja por isso também, aliada ainda às diversas querelas entre negros e brancos pela devoção à Nossa Senhora do Rosário em Portugal e na África, que muitos dos integrantes dos grupos de congado no Brasil conheçam a tradição do aparecimento da Virgem do Rosário para os negros como sendo uma disputa pela atenção da Virgem a dois grupos diferentes. Marina de Melo e Souza nos fala sobre a tradição: Segundo essas versões, houve um momento no qual Nossa Senhora do Rosário apareceu sobre as águas, geralmente do mar, mas às vezes do rio, ou mesmo no mato ou numa rocha, sendo vista à distância, naquela estranha situação, quase sempre por um membro da comunidade negra, um pescador, um moleque que passava e ia dar o alerta aos outros. Várias tentativas foram feitas para o seu resgate das águas, algumas pelos senhores brancos, que se a princípio pareceram alcançar o intento, logo constataram que a imagem não permanecia no rico altar para ela montado e voltava para as águas, de onde os cânticos e a procissão dos senhores tinham-na tirado; outras por caboclos, que também não eram bem sucedidos. Os únicos que conseguiram manter Nossa Senhora no modesto altar para ela preparado foram os negros, que ao som de tambores sagrados, cantos e danças fizeram com que saísse das águas, os acompanhasse e com eles ficasse, sendo a partir de então reverenciada com a festa de reis e o congado.
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Se analisarmos todas essas tradições no conjunto, e o ambiente sociocultural da Península Ibérica, é bem possível que esta hipótese se torne mais coerente. A Península Ibérica, desde a expansão do Império Romano, recebeu populações judaicas e depois, no século VIII, muçulmanos, além de ciganos. No longo processo de convivência entre essas diversas culturas, ocorreram amálgamas culturais que foram responsáveis por conferir ao catolicismo ibérico uma característica única, plenamente exteriorizada no barroco do século XVI e XVII, e que ficava muito longe do espírito da Contrarreforma, preocupada em promover uma Igreja mais pura, livre de costumes pagãos. Essa religiosidade barroca, impregnada de misticismos populares, foi uma forte influência a atuar na África e na colônia americana, na medida em que o espírito de êxtase, do dramático, a exploração das emoções, a utilização do trágico para impregnar os espíritos foram amplamente utilizados pela Igreja para atrair o público-alvo. Os missionários portugueses, principalmente os jesuítas, podem ter se utilizado de tradições européias já conhecidas, que ligavam Nossa Senhora às águas do mar; o significado místico do mar para os negros centro-africanos; o conhecimento do culto a Nossa Senhora do Rosário estar relacionado à vitória contra os infiéis; o fato de que Nossa Senhora está relacionada a todos os fiéis de um modo geral, sem considerar cor, raça ou posição social, e criada uma Nossa Senhora própria para os negros. Inclusive pode se supor que a tradição conhecida pelos congadeiros no Brasil seja obra dos jesuítas, a exemplo da tradição ligada a Santa Efigênia e Santo Elesbão. Infelizmente, todas estas relações ainda não foram comprovadas cientificamente, podendo-se somente levantar hipóteses possíveis objetivando a melhor compreensão da ligação dos negros à Nossa Senhora do Rosário. Mas mesmo que sejam somente hipóteses, pode-se ainda estabelecer uma ligação bastante concreta da ação dos jesuítas com a difusão da devoção também no Brasil.
BRASIL – NASCE O CONGADO DENTRO DAS IRMANDADES DE NEGROS A vinda dos escravos africanos para o Brasil trouxe junto o estabelecimento das confrarias de negros dentro da colônia. O jesuíta Antônio Pires informa sobre uma confraria do Rosário de negros africanos em Pernambuco em 1552 22. Sem dúvida as Irmandades tiveram papel decisivo na estratégia adotada pela Coroa Portuguesa para sedimentar a cristianização da colônia, seguindo o modelo português e africano. Essas irmandades eram sociedades fechadas, de cunho religioso que, além de servirem como elemento ordenador da estratificação social e contendor de possíveis conflitos sociais, atestavam seu pertencimento à sociedade. O jesuíta Antônio Pires dá notícia de que em 1552 os negros africanos de Pernambuco estavam reunidos numa confraria do Rosário. Sem sombra de dúvida, a ação missionária dos jesuítas na América portuguesa teve um papel decisivo na promoção da devoção ao Rosário da Virgem pelos negros. Não podemos menosprezar, no entanto, o papel das Irmandades como parte da estratégia adotada pela Coroa Portuguesa para sedimentar a cristianização da colônia, seguindo o modelo português e africano. 22
Apud: TINHORÃO, José Ramos. Música Popular de negros, índios e mestiços. Petrópolis, Vozes, 1972. p.56
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Como vimos anteriormente, foram os jesuítas os principais responsáveis em divulgar a devoção do Rosário entre os negros na África, e na colônia portuguesa na América não será diferente. Para mostrar esta atuação e a estratégia utilizada pelos jesuítas na divulgação do culto, Juliana Beatriz Almeida de Souza se utilizou de uma série de 30 sermões que Padre Antônio Vieira escreveu sobre o Rosário, publicados originalmente em dois volumes, em 1686 e 1688, com o título de Maria Rosa Mística. Em alguns desses sermões Vieira prega sobre o valor do Rosário na luta contra as heresias na Europa, dizendo que a devoção ao Rosário da Virgem levou muitos cristãos a vencerem os movimentos heréticos, como os que aconteceram em Colônia, na Alemanha. Mas em outros, Vieira relaciona a devoção ao rosário, ao cativeiro dos negros. É interessante conhecermos de que forma ele faz esse relacionamento, pois mostra as estratégias utilizadas pelos jesuítas para a conversão dos negros africanos e a intenção, já préestabelecida, de relacionar esta estratégia com o Rosário da Virgem, sedimentando a ideia de que foi a partir deles que esta devoção se expandiu na colônia. No sermão XIV, pregado na Bahia à irmandade de negros em um engenho, no ano de 1633, Vieira começa a explicar a relação do Rosário de Nossa Senhora com os negros. Ele fala que Jesus teve dois nascimentos. O primeiro como Filho da Virgem e o segundo como Salvador; a partir de seu calvário se tornou o Salvador de toda a humanidade. E compara os negros à mesma condição de Cristo. A conversão dos negros ao cristianismo pelo batismo significa o segundo nascimento, pois passam a fazer parte do corpo de Deus em Cristo, e filhos da mesma mãe.
(...) não são todos os pretos universalmente, porque muitos deles são gentios nas suas terras; mas fala somente daqueles de que eu também falo, que são os que por mercê de Deus e de sua Santíssima Mãe, por meio da fé e conhecimento de Cristo, e por virtude do batismo são cristãos. E depois de falar dos negros como filhos da Mãe de Cristo, fala da obrigação que eles têm de invocar a Mãe através do Rosário, como sua salvadora, mãe e protetora. “O novo nascimento dos mesmos pretos, como filhos da Mãe de Deus, lhes mostra a obrigação que têm que servir, venerar e invocar a mesma Senhora com seu Rosário”. Já no sermão XVIII, Vieira fala que Nossa Senhora do Rosário entregou aos negros a carta de alforria. Fazendo a distinção entre corpo e alma, e dentro do pensamento aristotélico-tomista, alegando que todos têm o direito do livre arbítrio, fala que a maior escravidão é a da alma e não a do corpo. Desse modo, os negros, por mais que padecessem no cativeiro, deviam se lembrar que Figura 13 - Pe. Antônio aquele não era um cativeiro total, senão que meio cativeiro. Assim Vieira sendo, Nossa Senhora do Rosário viera aos negros para libertá-los do cativeiro da alma. Deveriam, pois, se entregar como escravos à Nossa Senhora, porque assim todos seriam libertados. No sermão XXVII, dando prosseguimento ao assunto anterior, Vieira fala que se os seus senhores os impedissem de algum modo ou exigissem algum ato que os levassem a ofender gravemente a alma e a consciência, deveriam os escravos desobedecê-los, mesmo sabendo que seriam castigados. Porque o castigo, segundo ele, seria considerado martírio, como o foi para Cristo na cruz.
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Vieira utilizou o sermão XX para tratar da questão das irmandades do Rosário. E provido de analogias poderosas como método de persuasão, comparou os negros escravos à Maria, quando esta recebeu o Anjo que anunciou ser Ela a escolhida como a Mãe de um Filho que se chamaria Filho de Deus. Ela prontamente disse: “Eis aqui a escrava do Senhor”. A intenção de Vieira foi a de mostrar que frente à existência de duas Irmandades do Rosário, uma de brancos e outra de pretos, que aos olhos de Deus não deveriam estar separadas; a dos pretos era a mais favorecida pela Mãe do Senhor, pois ela mesma tinha se colocado como escrava de seu próprio Filho, como Filho de Deus. E seguindo a linhagem materna do povo de Israel, quando Maria se coloca como escrava, antecipadamente coloca seu Filho como escravo dos homens. “Enquanto Filho de seu Pai é Senhor dos homens; mas, enquanto Filho de sua Mãe, quis a mesma mãe que fosse também escravo dos mesmos homens”. E para confirmar o favoritismo da Virgem Maria, mostrou, no parágrafo IV, que Deus não escolheu uma Mãe de linhagem nobre, mas de origem humilde. Logo, se Deus não pôs os olhos na majestade e grandeza das senhoras, senão na humildade e baixeza da escrava, seguro têm os escravos, ainda em comparação de seus senhores, o maior favor e o maior agrado dos olhos da Mãe de Deus. Pode-se perceber que estes sermões de Vieira encorajam propositalmente a adesão dos negros à devoção à Nossa Senhora do Rosário. No entanto, não podemos esquecer que esse encorajamento, ainda mais dentro das Irmandades, fazia parte das preocupações da Coroa Portuguesa aliada à Igreja de expandir a fé cristã entre os gentios, garantindo ao mesmo tempo o fortalecimento e expansão do Império português. Olhando sob esse prisma, a devoção ao Rosário da Virgem entre os negros foi uma das várias estratégias de dominação utilizada pela ação missionária dos jesuítas. Direcionando o negro para dentro das Irmandades do Rosário, a Coroa portuguesa e senhores de terras tinham como, através dos olhares atentos dos padres, controlar a ação dos negros. A devoção à Nossa Senhora do Rosário entre os negros foi, assim, uma propaganda de fé, que soube aliviar as tensões de uma sociedade baseada na exploração da mão de obra escrava. Por outro lado, os negros souberam se utilizar das permissões que lhe foram oferecidas para recriar, pelo menos em parte, o universo cultural da terra de origem. Imprimiu nas festas dedicadas a padroeira dos escravos suas danças, cantos, rituais e simbolismos, como meio de garantir sua identidade no cativeiro, mesmo que esta fosse parcial. Em Goiana (PE), há uma igreja de N.Sra.do Rosário dos Pretos (séc.XVI). A partir daí, se espalhou pelo Brasil. - O historiador Frei Odulfo Van der Vat OFM registra sem pormenores a existência de uma confraria do Rosário para os "muitos escravos de Guiné" na Capitania de Pernambuco antes de 1552. ("Princípios da Igreja no Brasil". Petrópolis, Vozes Ltda., 1952. p. 104. Nota: 1) Segundo Frei Chico ofm., é importante ressaltar que os povos bantus trouxeram para o Brasil a devoção a Nossa Senhora do Rosário, e não devem ser confundidos com os nagôs do candomblé: Ao falar da identidade das irmandades do Rosário em Minas – e que também existe em outros estados, - não podemos esquecer que a grande maioria dos escravos que vieram para o Brasil são de origem bantu. A questão bantu é complexa. Isso observamos, por exemplo,
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na luta pela valorização da identidade negra no Brasil. Ao afirmar a “negritude”, muitos afirmam principalmente valores dos iorubas, jejes, quêtos (no Brasil chamados nagôs). Dizem axé e consultam os búzios para saber qual é o seu orixá. Ora o candomblé é respeitável. Conheço e reverencio seus grandes líderes e admiro os cultos nos ilês. Mas, na busca da identidade do congado, não podemos confundir as coisas. Segundo Serafim Leite S J, no seu "História da Companhia de Jesus no Brasil" (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1938. Vol. II, pp. 340-341), os jesuítas fundaram várias irmandades do Rosário entre os escravos dos engenhos, no Brasil, a partir de 1586. Em 1559, a Coroa portuguesa autorizou cada senhor de engenho a importar anualmente até 120 escravos da África. Em publicações diversas, o total dos escravos trazidos para o Brasil varia entre 3 e 13,5 milhões. Vieram africanos do Sudão (iorubas, daomeanos, haussas, tapas e mandingas) e, principalmente, bantos (da Guiné, Angola, Congo e Moçambique). No Rio de Janeiro, em 1639, ocorre a fundação da Irmandade de N.Sra.do Rosário dos Homens Pretos, na igreja de S. Sebastião. Na mesma época, e na mesma igreja, havia uma confraria de S. Benedito também fundada por homens pretos, livres e escravos. Em 1669, efetuou-se a união de ambas numa só irmandade. (COSTA, Joaquim José da. "Breve Notícia da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedicto dos Homens Pretos do Rio-Capital do Império do Brasil." Rio de Janeiro, Typogr. Polytechnica, 1886. No Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.)
Figura 14 - Casamento de negros de família rica - Debret
Em 1674 no Recife(PE), Câmara Cascudo registra uma coroação dos reis de Congo no ano de 1674, no Recife (PE). ("Arquivos". 1o. e 2o., 55-56, Diretoria de Documentação e Cultura. Prefeitura do Recife, 1949-1950. Apud:CASCUDO, Luís da Câmara. "Dicionário do Folclore Brasileiro". Brasília, Inst. Nac. do Livro, 1972. p. 280).
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Nos manuscritos da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos de Santo Antônio do Recife de 1675, 21 anos depois da expulsão dos holandeses das terras pernambucanas, observamos que o reinado deveria ter como soberano um membro da nação Angola, ou seja, um bantu. (Cord, Marcelo Mac 2003). Essa medida foi tomada devido à aliança entre o Reino do Congo (na África) e a Holanda, considerada ofensiva à Coroa Portuguesa, após a retomada de Pernambuco pelos lusitanos. Algum tempo depois desse fato, o título “Rei do Congo”, voltou a ser concedido normalmente, sendo reconhecido novamente em sua plenitude, no transcorrer do séc, XVIII. A partir de então, não podemos afirmar qualquer preponderância de qualquer grupo étnico no reinado.
A figura do Rei do Congo no Brasil Vários grupos étnicos estabeleceram “lealdades primárias” em função de afinidades culturais muito profundas onde cada grupo possuía um governador ou comando subordinado ao Rei do Congo. Esse “reinado” aglutinou uma série de outros grupos étnicos que não faziam parte da cultura bantu, sob o comando do Rei do Congo ocorrendo, por vezes, rivalidades entre eles. Os referidos reinados se reorganizaram como uma pequena tropa militar e cada um dos grupos se sentiram livres para assumir suas origens, adotando o nome de sua nação ou terra natal. Essa caracterização militar pode ser uma referência ao tradicional Terço dos Henriques, uma importante instância de poder dos homens negros consorciada ao reinado e às irmandades. O Terço dos Henriques era uma organização militar, criada após a expulsão dos holandeses de Pernambuco, no séc. XVII, em homenagem à participação dos negros nesta luta, sob o comando de Henrique Dias. Essa organização manteve uma forte proximidade com as Irmandades do Rosário em Pernambuco, embora fosse uma instituição autônoma. Indiretamente tinha uma subordinação às “hierarquias do Rei do Congo” pelo fato de seus oficiais serem confrades nas irmandades negras. É, então provável que daí venha a origem do termo guardas, ternos (possivelmente é uma corruptela da palavra terço) e cortes no Reinado. Cria-se uma sucessão de referencias onde o Rei do Congo torna-se referência ao reino do Congo, que, por sua vez referia-se aos portugueses no continente africano e fazia alusão ao primeiro rei cristão do Congo, o Mani-Congo Kuwu e à primeira rainha cristã de Angola, Nzinga Banti. O título de Rei do Congo era uma referência ao primeiro rei batizado como se falasse assim "fulano é o papa da história aqui", por exemplo, quer dizer que ele é a autoridade máxima, então essa referência passou a ser também lá naquela época "a esse aqui é o rei do Congo", por que o Congo era um reinado rico e de grande influência na África. Ou então a chamar a pessoa de angola “ah, esse aqui é um "nego angola", um cabra bom, sujeito fino, então a gíria naquele momento era um "nego angola" referia que o sujeito era uma pessoa muito boa, ou então poder "rei do congo", ele é o rei do Congo. (Manoel Fonseca Reis)
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Minas Gerais e as Irmandades A descoberta do ouro em Minas Gerais no século XVIII deu origem à construção de um cenário completamente diverso da colonização até então empreendida em território brasileiro. No nordeste a organização das relações sociais definiu-se em torno da cultura do açúcar. No Engenho de cana-de-açúcar tratavam-se todas as relações sociais, culturais e econômicas. Em Minas Gerais a fonte principal de riqueza era a mineração, sendo necessário, portanto a formação de uma sociedade completamente distinta do nordeste brasileiro. Na capitania de Minas Gerais predominou a ocupação urbana, espaço crucial para promover a circulação de mercadorias necessárias à sobrevivência. As vilas tornaram-se os centros de produção e circulação de bens de consumo e, em torno dos conglomerados urbanos, organizou-se a vida social da Capitania. Nesse cenário a presença da coroa portuguesa faz-se notar através da organização de uma burocracia administrativa e pela proibição de instalar-se nas zonas mineradoras o chamado clero regular, isto é, as Ordens Primeiras. No Brasil colônia as que mais atuaram, foram: os franciscanos, capuchinhos, carmelitas, beneditinos e jesuítas.
Figura 15 - Enterro de membro de irmandade católica - Séc. XIX
Essas Ordens suso mencionadas participaram ativamente do projeto de conquista do Novo Mundo, responsabilizando-se pela catequização dos indígenas e escravos, assim como pela educação e assistência médica. Mesmo tendo uma ação fundamental na organização da sociedade colonial não tardaram, no entanto, em aparecer litígios entre o Estado e Igreja. Principalmente pela ação dos jesuítas que não reconhecendo outro poder, senão aquele do Chefe Maior da Igreja, desprezavam a autoridade do Estado e entravam continuamente em oposição aos interesses econômicos da Coroa. Ao expulsar os jesuítas, o Estado português pôde impor sua administração civil e secular. No terceiro século de colonização, a Capitania de Minas Gerais tornou-se a principal fonte de renda da Coroa Portuguesa. Nessa região só era permitida a entrada de padres seculares. Sendo assim numa carta régia de 1711, citada por Susy de Melo, dizia-se: “ordeno-vos, que não consintais que nas Minas assista frade algum, antes os lance fora todos por força ou violência, se por outro modo não quiserem sair” e em outra de 1721 dizia que: “para não se consentirem nas Minas religiosos de qualquer religião que seja por ter
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mostrado a experiência o grande prejuízo e perturbação que nelas fazem”. (MELLO, 1985, p.67) Permitida na capitania de Minas Gerais apenas a permanência dos padres seculares, coube a própria sociedade civil organizar-se em: Ordens Terceiras, Confrarias e Irmandades, para construir as igrejas e capelas, assim como regular os ritos sagrados. A própria Coroa incentivará a organização da sociedade em Ordens Terceiras, pois, podia ser transferido: Ao próprio povo, isto é, aos mineradores, comerciantes e escravos, os encargos tão dispendiosos de construir os grandes templos e todos os complexos e caros cerimoniais do culto religioso eram, desta forma, transferidos à população. Em virtude disso, tanto à coroa como o clero interessava muito o desenvolvimento das ordens terceiras e confrarias. A população, por sua vez, encontrava nestas corporações uma estrutura eficiente e legal, uma forma orgânica para expandir suas necessidades ou reivindicações coletivas. (MELLO, 1985, p.73)
Figura 16 - Procissão nas Minas Colonial
Em Minas Gerais a religião se alicerçou nessas organizações leigas e principalmente, nas vilas do ouro, os negros associaram-se em confrarias sob a égide de santos. Inúmeras, foram as Irmandades do Rosário criadas nesta época, mas em todas elas exigia-se que os principais membros fossem negros libertos ou cativos. Esse fenômeno revela uma fundamental presença social inserida nas práticas religiosas da época. Nos dias de festa eles apareciam ricamente trajados e presidiam às cerimônias rituais, cercados pela sua corte e o grupo descia as ruas da cidade exibindo músicas, danças e cânticos, que haviam trazido de seu país de origem. Podemos ver a tradição da coroação de Reis Negros nos estatutos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Freguesia da Senhora do Pilar de Ouro Preto, fundada em 1715 e confirmados, posteriormente, por D. Maria I, trás no capítulo II do compromisso, a seguinte informação:
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"Haverá nesta Irmandade um Rei e uma Rainha, ambos pretos, de qualquer nação que seja, os quais serão eleitos todos os anos em mesa e mais votos, e serão obrigados a assistir, com o seu estado, ás festividades de Nossa Senhora, e mais Santos acompanhando, no último dia, a Procissão, atrás do pélio”
Figura 17 - Cortejo da Rainha Conga
É por volta de 1697 que as primeiras Irmandades foram criadas nas Vilas do Ouro. As mais antigas, são as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Em 1708 na cidade de São João Del Rei é fundada uma Irmandade de N. Sra. do Rosário dos Homens Pretos e em 1711 o mesmo ocorre em São Paulo. A Fundação da Irmandade de N. S. do Rosário de Cachoeira do Campo em Minas Gerais ocorre em 1713 e foi erguida pouco antes da revolta de Felipe dos Santos e no mesmo ano outra em Sabará (MG). A Irmandade de N. Sra. do Rosário dos Homens Pretos ou Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Freguesia da Senhora do Pilar de Ouro Preto foi fundada em 1715 e foi a primeira a ser registrada, em 1756. Seus estatutos foram aprovados pelo Bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei Francisco de São Jerônimo. Estes primeiros estatutos desapareceram, mas em 1733, foram confirmados com algumas modificações. Em 27 de janeiro de 1785, novos Estatutos foram confirmados por D. Maria I e no ano de 1728 uma Irmandade de negros dedicada a N. Sra. do Rosário é fundada no Serro (MG). Em meados do séc. XVIII, chega ao Brasil um escravo da tribo dos Kikuios (congo-angola) de nome Gangazumba Galanga Congüemba Ibiala Xana batizado com o nome de Francisco da Natividade (1747) que foi trabalhar na Mina da Encardideira, atual Paróquia de Nossa senhora da Conceição (Ouro Preto). Conta-se que Galanga era rei da tribo dos Kikuios e veio para o Brasil junto de parte de sua corte, que, mesmo aqui, lhe prestava obediência. Esse fato teria reduzido as fugas para os Quilombos e atenuado os conflitos entre brancos e negros, conferindo destaque à figura de Francisco que ficou conhecido como Chico-Rei 23. 23
A fonte mais antiga da história de Chico-Rei é uma nota de rodapé de Diogo de Vasconcelos, em seu livro História Antiga de Minas, publicado em 1904. E não há nenhum registro oral anterior a essa data. O texto de Vasconcelos diz: “Francisco foi aprisionado com toda sua tribo, e vendido com ela, incluindo sua mulher, filhos e súditos. A mulher e todos os filhos morreram no mar, menos um. Vieram os restantes para as minas de Ouro Preto. Resignado à sorte, tida por costume na África, homem inteligente, trabalhou e forrou o filho; ambos trabalharam e forraram um compatrício; os três, um quarto, e assim por diante até que, liberta a tribo, passaram a forrar outros vizinhos da mesma nação. Formaram assim em Vila Rica um Estado no Estado; Francisco era Rei, seu filho o Príncipe, a nora a Princesa. Possuía o Rei para a sua coletividade a mina riquíssima da Encardideira ou Palácio Velho. Antecipou-se este negro a era das cooperativas, e precursou o socialismo cristão. Como naquele tempo toda irmandade estava unida à idéia religiosa de um santo patrono, tomou esta o patronato de Santa Efigênia, cuja intercessão foi-lhes tão útil; e desse exemplo nasceu o culto ardente, que se volta ainda à milagrosa imagem do Alto da Cruz. Os irmãos erigiram um belo templo que existe sob a invocação do Rosário. No dia 6 de janeiro o Rei, a Rainha e os Príncipes vestidos como tais eram conduzidos em ruidosas festas africanas à igreja para assistirem à missa cantada e depois percorriam em danças características, tocando instrumentos músicos indígenas da África, pelas ruas. Era o Reinado do
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Coube a ele erguer a Igreja de Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário do Alto da cruz e realizar as festas mais suntuosas de reinado que em 1773 (ou 1747?). A festa do reinado do Rosário com Chico-Rei da Angola, no dia dos Santos Reis, seis de janeiro de 1773, em Vila Rica recebeu destaque. Desde então, nas Minas gerais, o nome de Chico-Rei se eternizou como o nome de um negro forro que trabalhou tanto para a libertação de seus irmãos quanto pela tradição do reinado de nossa Senhora.
Figura 18 - Cortejo do congado - Rugendas
No fim do séc. XVIII e início do séc. XIX, por causa da riqueza em ouro que possuíam as Irmandades, as “hierarquias do Rei do Congo” foram, oficialmente, proibidas e retiradas dos compromissos fraternais. Esta riqueza gerou conflitos entre as Irmandades e a Arquidiocese do Rio de Janeiro, a qual pertenciam as Minas Gerais. O resultado disso foi que no Séc. XIX, as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário foram divididas em dois grupos: a “mesa administrativa”, que permaneceu dentro da estrutura da Igreja administrando seus imóveis (igrejas, capelas, hospitais, escolas, etc.), e os “Irmãos do Rosário” com seu Estado Maior (Reinado e Guardas), que saiu às ruas mantendo as manifestações de caráter mais religioso e cultural. Com a Proclamação da República, ocorre a construção da nova capital do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, totalmente planejada, com ideais de negação de tudo o que remontasse ao período da Monarquia. Há, porém, na nova capital, uma das poucas, senão a única, coisa preservada do antigo Arraial de Curral Del Rei: a sede da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário que era a Capela de Nossa Senhora do Rosário, situada na esquina das Ruas São Paulo e Tamoios, com Avenida Amazonas. Todavia o processo de divisão no interior da Irmandade com relação à Igreja Católica não cessa e em Belo Horizonte essa situação se agravou na década de 1920, e depois com a
Rosário, festas que se imitaram em todos os povoados das Minas. Vem também daí a nomenclatura dos mesários do Rosário em todas as irmandades de pretos entre nós. No Alto da Cruz ainda se vê a pia de pedra na qual as negras empoadas de ouro lavavam a cabeça para deixá-lo naquele dia por esmola ou donativo”
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chegada de Dom Antônio dos Santos Cabral na Diocese de Belo Horizonte que na década de 1930 resolveu combater as festas afro-brasileiras. Nesse tempo a ameaça de excomunhão, espalhada pela igreja, a quem desobedecesse às ordens contra a realização dos Reinados e congados assustaram as comunidades, tendo como conseqüência a paralisação dos eventos e os Reinados se recolhem em seus reinos. É quando surge o movimento da Umbanda e uma parte grande do reinado de Nossa Senhora é acolhida nos terreiros de outros credos. Isto agrava mais ainda a situação, levando os Reinados a serem tratados por Dom Cabral como assunto de polícia em quase todo o território mineiro. Cidades como Divinópolis tornaram-se uma trincheira na luta pela manutenção da tradição onde o negro José Aristides com apoio da Maçonaria liderou a comunidade local continuando com a festa do Reinado, contrariando as ordens do Arcebispo. Em 1948 as hostilidades da igreja contra o Reinado em algumas cidades se acirram por causa de uma circular emitida por D. Cabral proibindo que as paróquias no estado permitissem a realização do Reinado referindo-se ao mesmo como “fetichismo africano”. Os reinados estiveram fechados de 1923 a 1963. Somente com a morte do Arcebispo, Dom Cabral, que a festa ressurgiu em todo o território Mineiro na década de 1960, com Dom João de Resende Costa, e em seguida, com o Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo na década de 1980, é que a situação dos Reinados e das Irmandades do Rosário melhorou e passou a ser respeitadas, valorizadas e divulgadas.
BETIM – DE ANTÔNIO JOSÉ DA SILVA À JOAQUIM NICOLAU O registro de existência de uma Irmandade de Nossa Senhora do Rosário mais antigo que se tem noticia, no Arraial de Betim, data de 1814, em um documento do Arquivo Nacional, onde solicita-se à sua Alteza Real permissão para ereção de uma Capela para Nossa Senhora do Rosário e informa o desejo de prosseguir arrecadando fundos e donativos para a construção. “Dizem os homens pretos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Arraial do Beti, na Freguezia de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral d’El-Rei, Bispado de Mariana, em Minas Gerais, que eles querem continuar na ereção de sua Capela dedicada à mesma Senhora do Rosário, e porque o não podem fazer sem Licença de Vossa Alteza Real. Suplicam a V. A. R. Se digne de mandar-lhes passar sua Provisão de Ereção, na forma do estilo”. (A.N. – Caixa 284 – Pacotilha 2 – Documento nº 89) À margem: “P.P. de ereção REM. 28 de setembro de 1814. E assinatura de Antônio José da Silva, Procurador da Irmandade. No testamento de Manoel Antônio Carvalho, falecido em 10 de outubro de 1828, deixa em seu testamento uma esmola de trinta mil réis, para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário que se pretende fazer. Eu Manoel Antônio de Carvalho, estando em meu perfeito juízo [...] deixo de esmola para a Igreja da Senhora do Rosário da Capela Nova do Betim que se pretende fazer, trinta mil reis. O Frei Francisco Coriolano Otrante, missionário capuchinho, inicia, entre os bons fiéis, uma subscrição para a construção da Matriz em 1856 (FONSECA, 1975, 158) e em 1861 o
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Padre Casimiro Moreira Barbosa, a devido a dificuldades para a continuidade das obras de construção da Matriz, recomenda ao Bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso, a utilização do dinheiro da Irmandade sendo atendido em despacho favorável 24. Fato é que ocorria a existência de uma Irmandade do Rosário e a inexistência de uma capela onde os negros pudessem expressar sua devoção. Outro agravante é que havia, também, uma imagem de Nossa Senhora do Rosário que era venerada pelos negros e, certamente, entronizada na matriz de Nossa Senhora do Carmo, Igreja dos brancos, dos senhores, gerando uma barreira às suas preces e oferendas, segundo Geraldo Fonseca (FONSECA, 1975, p. 162). Somente em 1894 é retomada da construção da capela, sabotada pelo Padre Casimiro Moreira Barbosa através de despesa realizada pelo Vigário Domingos Cândido da Silveira, na qualidade de Presidente da Mesa de Nossa Senhora do Rosário (FONSECA, 1975, 164) e em fevereiro de 1897, a capela recebe vidraçaria e se celebram os atos religiosos (FONSECA, 1975, 164).
Figura 19 – Esq. Joaquim Nicolau (falecido) Ancestral mais significativo da Irmandade de N. S do Rosário de Betim – Década 80. Dir. Joaquim Nicolau (falecido) trajando seu turbante de fralda e com seu bastão de capitão no ombro (Acervo IMPHIC)
Os congadeiros mais antigos da Irmandade, atualmente, contam que, na construção da Igreja, trabalharam Joaquim Nicolau e o seu pai. Joaquim Nicolau e João Belarmino trabalharam na construção da Igreja carregando pedra. Hoje, depois de reformada, ela está como era antigamente. Deste jeitinho mesmo. (Cap. Raimundinho da Guarda de Congo da Irmandade Nossa Senhora do Rosário de Betim) Joaquim Theodôro da Silva ou Joaquim Nicolau, o “Nego Véio”, tornou-se o ancestral de referência para a história recente do Congado da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Betim. Ele e sua família fundaram o reinado em Vianópolis onde era Capitão Mor. Lá doou um terreno onde hoje se encontra contruida a igreja da região: Saibam quantos este publico instrumento de escriptura virem que, no ano de nascimento de Nosso Senhôr Jesus Christo, de mil novecentos e trinta e oito (1938) aos cinco (5) dias do mez de Outubro, em meu cartório, neste distrito de Betim, município de Santa 24
Alegou-se que a mesma estava em decadência por falta dos devotos pretinhos e, também, dadas às dificuldades de se levar adiante a construção da Capela do Rosário.
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Quiteria, Comarca de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, perante mim tabelião, compareceram partes entre si justas e contratadas, a saber: de um lado, como outorgante doador, o Snr. Joaquim Thêodoro da Silva, proprietário, residente em Vianopolis e do outro lado, como outorgado recebedora, a igreja situada em Vianopolis, neste distrito, representada pelo Snr. Padre Osorio de Oliveira Braga, (...). E logo pelo outorgante doador, foi dito a mim tabelião, que é senhor e legitimo possuidor de dois hectares e quarenta e dois ares (2,42) de terra situada em Vianopolis que adquirida por doação de José da Silva Luria e sua mulher, conforme documento apresentado a mim tabelião e todos os presentes. Possuindo pois o outorgante o referido immovel livre e desembaraçado de quaesquer ônus judiciaes ou extra judiciaes, (...) resolveu doal-o como de fato doado o tem á igreja de Vianopolis para patrimônio desta, (...) no valor de setecentos mil réis (700$000). 25 Quando mudou para Betim levantou o reinado, em 1954, que esteve parado quarenta e cinco anos devido à morte do seu antigo capitão por volta de 1914 (MENDONÇA, 1996, p. 9) Houve uma época em que a capela esteve ameaçada de ser destruída para ser construída a Igreja de São Francisco, mas graças a uma mobilização da comunidade, encabeçada pelos congadeiros, e com a ajuda do Sr. Israel, que ajudou a arrecadar fundos através de leilões para a compra de outro terreno para a construção da Igreja de São Francisco é que teve a sua demolição impedida, o que, infelizmente, não aconteceu com a matriz de Nossa Senhora do Carmo (Modesto & Mendonça, 1995, p. 9).
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Livro de notas nº 7 – Fls. 13 a 14. Livro de Chancelaria da Paróquia de N. S. do Carmo. Arquivo da Cúria Metropolitana de Belo Horizonte.
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FUNDAMENTAÇÃO ESTRUTURAL E MÍTICA - O REINADO DO ROSÁRIO
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Tambor, a palavra e a dança, estes são a tríade da estrutura congadeira. O eco do tambor já é captado pelos homens em pleno mundo intra-uterino; a palavra é o elo mágico responsável por contar uma história de cem anos em apenas dez estrofes e a dança um retrato ao vivo de tempos passados. É aqui que a junção dos conceitos abordados anteriormente (religiosidade, mito, ritual, símbolo, sincretismo, fundamento mítico e a história) fundamentam a tese de nãosincretismo-religioso, mas de simbiose cultural.
Figura 20 - Dona Tereza - Capitã de Moçambique – Divinópolis (Acervo - IMPHIC/2009)
Três elementos estruturam os mistérios do congado, os quais aqui só serão mencionados, pois tratar deles apenas encheria vários volumes semelhantes a esse. São eles: • O Fundamento • O Mandamento e • O Sacramento Sem estes 3 elementos é impossível trabalhar os mistérios do Rosário.
A Corporeidade Ritual O corpo tem um significado cultural incrivelmente denso nas culturas africanizadas e repleto de dimensões sÍgnicas e simbólicas. A corporeidade é um valor nos remete ao corpo como um todo presente em ação, diálogo e interação com outros corpos. Nesse âmbito o sensorial precede ao racional. Edgard Morin aponta isso como o homo complexus: O ser humano é um ser racional e irracional, capaz de medida e desmedida, sujeito de afetividade intensa e instável. Sorri, ri, chora, mas sabe também conhecer com objetividade; é sério e calculista, mas também ansioso, angustiado, gozador, ébrio, extático; é um ser
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de violência e de ternura, de amor e de ódio; é um ser invadido pelo imaginário e pode reconhecer o real; que é consciente da morte, mas que não pode crer nela; que secreta o mito e a magia, mas também a ciência e a filosofia; que é possuído pelos deuses e pelas idéias, mas que duvida dos deuses e critica idéias; nutre-se dos conhecimentos comprovados, mas também de ilusões e de quimeras. E quando, na ruptura de controles racionais, culturais, materiais, há confusão entre o objetivo e o subjetivo, entre o real e o imaginário, quando há hegemonia de ilusões, excesso desencadeado, então o homo demens submete o homo sapiens e subordina a inteligência racional a serviço dos seus monstros. 26 Durante os rituais os corpos dos congadeiros se convertem em corpo de memória, nesses momentos sua significância é mais abrangente, eles representam muito mais que a simples performance do corpo físico. È nele que se manifesta o “numinoso” 27. Durante esses momentos os corpos “ritualizados” permitem estabelecer um diálogo entre o passado e o presente onde inexiste, no corpo, a dimensão espaço-físico corporal e imerge uma dimensão espaço-memória corporal. Durante o ritual, a dimensão espacial, corporal e mnemônica é rompida e o que se presencia é uma integração. Nessa “cápsula” espaçotemporal o devoto experimenta uma escritura que além de performática, corpórea e litúrgica no tempo e no espaço, inscreve-se a oralidade, possibilitando o surgimento de um contexto de memória pessoal e coletiva de uma ancestralidade através de uma integração corporal, social e comunitária. Na manifestação do Congado o corpo é fonte de resistência e de propagação da cultura através da ritualização do mesmo. Esta relação ritual se fazem presentes não só nos dias em que se celebram as datas religiosas relacionadas aos Santos patronos dos festejos entre os meses de maio, julho, outubro, novembro, mas nos encontros para coroação e descoroação de reis, rainhas e capitães. Nestes momentos, os instrumentos que são utilizados nas procissões e cortejos ressonam e os ternos percorrem os espaços públicos e urbanos em um cortejo compassado e com passos marcados. Assim sendo, o corpo se expressa na linguagem gestual e da dança, sendo, portanto, importante “dançar bem”. Contudo, esse “dançar bem” toma conotações ritualísticas e simbólicas, e não necessariamente artísticas. O elemento primordial nesse desempenho corporal não está ligado ao desenho estético do movimento, mas na intensidade dos mesmos. Uma característica forte no corpo moçambiqueiro é o movimento dos quadris e a flexão da coluna e dos joelhos, o que espelham características bantas do corpo em seus rituais, mas reforça, também, a fala de elementos ligados ao sincretismo religioso, ao se referir ao Moçambique como pertencente à chamada Falange de Pretos Velhos e não as de Caboclos (as quais os umbandistas relacionam o Congo, Catupês, Vilão, Caboclo, Marujo e Cavaleiros). Isso porém não atesta um sincretismo no Reinado e sim uma equivalência cultural. Essa postura corporal e os movimentos do Moçambique leva a uma construção ritualística 26
MORIN, Edgar. Ensinar a Condição Humana. In: Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez, UNESCO, 2000. 27 Este aspecto corresponde ao irracional do sagrado que foge da apreensão conceitual. Derivado do termo latino Numen significa deus ou divino ele corresponde ao aspecto ativo, experiencial da vivência religiosa que só se aplicaria quando este "numinoso" se manifesta a um individuo. Estudiosos propõem que única forma de se compreender o irracional no sagrado é através de uma experiência pessoal com o sagrado de forma que quem não tiver tido uma experiência religiosa ou não for capaz de se recordar de uma experiência deste tipo não conseguirá comprende-lo. Só fará sentido se encontrar eco na experiência vivida.
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ligada a terra, em direção ao solo, em contado com a terra construindo uma profunda consciência da relação homem-terra. Como no reinado a relação com os antepassados se demonstra muito forte, essa característica de ligação com a terra se carrega de significado porque na cultura bantu a alma dos antepassados não se solta e vai para o elemento “ar”, mas se liga à “terra”. Ao direcionar-se corporalmente para o solo estão imbricandos de significado sua ligação com os antepassados e construindo essa ponte de ligação “mágica”. Isso porque a terra, para a cultura africana, tem uma dimensão mítica. Desta forma há um componente na atuação corporal do moçambiqueiro que pode levá-lo a um estado de “transe”, principalmente os “gungueiros”. O transe é um componente muito presente nos rituais africanos para torná-los mais eficazes e gera uma carga emotiva muito grande. O gestual por sua vez, diferente de ter uma relação direta com o moçambiqueiro ele faz a ligação entre o dançante e as pessoas de fora do terno. De acordo com SANTOS (2007): Os rituais são fenômenos que acontecem quase inteiramente no corpo dos participantes. Todo o corpo, externa e internamente é matéria-prima. Predomina uma noção de existência como ato, força, vida possante, em suma, energia vital. Na concepção corporal moçambiqueira, assim como também a banta, não é concebível estar em oraçãoapenas de joelhos ou sentado, é uma ação que envolve o corpo todo em continuo movimento e, na grande maioria das vezes, em grupo. Portanto, o corpo torna-se, para o moçambiqueiro, um meio de comunicação entre o visível e o invisível, entre os vivos e os ancestrais.
É observável, que em todos os momentos, mesmo nos de “descontração” os moçambiqueiros tendem a se agrupar em círculos, o que facilita o ambiente de comunhão e união. Porém, nos momentos de atuação, esse mesmo círculo tende a se compactar às vezes, impedindo movimentos amplos, giros e outros movimentos, o que pode criar certa dificuldade de interação. Essa atuação toma um formado de fila nos cortejos e procissões.
Os sujeitos - As Nações – O Povo do Rosário “Então essas nações apesar de terem uma unidade, em termos de respeito às tradições, de respeito às hierarquias, a parte ritualística, elas são aqueles irmãos que sempre brigam. Sempre aparece um do
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Congo que quer ser superior ao Moçambique, que quer mandar no Candombe, que não agüenta a batida do Moçambique que é muito alta. Essa rivalidade sempre existiu e sempre vai existir... A partir do momento que você tem um reinado e chega um outro e você tem que curvar na frente dele, tem um pessoal que não aceita! Então essa diferença faz parte até mesmo da tradição, tem que existir, mas é uma coisa bem clara, na hora que sai o cortejo o povo de caboclo, (...) na frente, o povo do Congo no meio, o Moçambique atrás, o trono coroado e o Candombe, essa que é a nossa seqüência. Por mais que o Congo queira, o Moçambique vai barrar, e ele vai ter que andar é na frente e acaba que isso é mantido, (...) essa animosidade ela acontece.” (Manoel Fonseca dos Reis, Rei Perpétuo da Ordem Templária da Cruz de Santo Antônio de Pádua)
A função das guardas se define através da narrativa mítica: O Candombe abre o reinado, o Congo puxa todos os dançantes, em movimento rápido, abrindo caminho e sua cantoria denota grande sofrimento; depois vem o Moçambique, que é o fundamento do reinado pois sem ele, não se faz a festa, é o responsável pela Senhora, representada pelos reis cujas coroas a guarda conduz. A caracterização das guardas pode ser feita através de elementos como a fundamentação mítica, função, vestuário, símbolos condutores, instrumentos distintos, tipo de movimento e de dança e linguagem dos cantos. No cortejo do reinado, entre o Congo e o Moçambique, vemos as guardas de vilão que representa os portugueses, as guardas de marujo que lembra a chegada dos portugueses, os caboclos mostrando as reminiscências indígenas e as guardas de catopés que denotam o nativo africano. Estas guardas se estruturam com um comandante (1º Capitão) que o que tem a patente do grupo, os capitães, que são os líderes, as autoridades, e são eles que conduzem os cantos e comandam todo o ritual, pelos vassalos, dentre eles os dançantes e os instrumentistas; ainda temos os caixeiros de frente, que fazem evolução na porta da igreja; os alferes, que puxam as filas; o fiscal, que zela pelos instrumentos; e finalmente embaixadores, rainhas, princesas, instrumentistas e os dançadores, chamados de soldados, que completam as guardas.
FUNDAMENTAÇÃO MÍTICA – O ROSÁRIO, A VIRGEM E OS NEGROS ICONOGRAFIA A figura de Nossa Senhora do Rosário está ligada à quarta fase da iconografia de Maria. A Igreja Católica tem usado símbolos desde o seu início. Cada santo tem uma história e uma razão porque ele ou ela levaram uma vida exemplar. Os símbolos têm sido usados pela Igreja Católica para contar estas histórias dos santos. Muitos santos são tradicionalmente representados por símbolos ou ícones relacionados com as suas vidas, para mais facilmente identifica-los por intermédio de gravuras. Esta prática conhecida como iconografia, foi particularmente intencionada para que os que não fossem letrados pudessem reconhecer uma cena, o que ajudava os cristãos a memorizar o santo e o seu exemplo de vida, simbolizado no ícone. As vidas da maioria dos santos estão além da ordinária vida dos cristãos. O uso do
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símbolo, com a estátua ou ícone de um santo servia para lembrar quem esta sendo mostrado e sua história. A iconografia é tomada como registro e é um termo que significa a imagem registrada e a representação por meio da imagem. Esta palavra deriva da palavra εικος (eikos), que significa imagem e daí vem εικονογραφια (eikonografhia) que se transformou em iconographia no latim e finalmente em iconografia em português. ICONOGRAFIA DE NOSSA SENHORA - diferentes etapas da vida de Nossa Senhora em seis fases: 1. Infância, menina, às vezes só ou em companhia de Sant'Ana, com Imagens de Nossa Senhora da Conceição Menina, rara de ser encontrada no Brasil. 2. Imaculada Conceição, jovem, cabelos soltos ou cobertos por véu; 3. Encarnação, quando aguarda a vinda do Salvador e as invocações Anunciação, Bom Parto, das Candeias, do Leite, da Purificação, dos Prazeres e Santas Mães; 4. Virgem Mãe, com o Menino Jesus no colo, amamentando, presépio e imagens do Rosário, Carmo, Candelária, Desterro, Misericórdia e Socorro; 5. Paixão, sofrimento durante a paixão e morte de seu Filho; 6. Glorificação, no episódio conhecido como Assunção de Nossa Senhora, e os anjos que levaram-na aos céus.
Fases da Vida de Nossa Senhora na Iconografia
Primeira fase - Infância: Imagens de Nossa Senhora com sua mãe e avó, e Nossa Senhora Menina, sendo está última representação muito mais rara de ser encontrada no Brasil. Já os exemplares de Sant' Anas Mestras são mais abundantes, seja na representação de Maria em pé ou sentada recebendo os ensinamentos de sua mãe.
Segunda fase - Imaculada Conceição: Representada com as mãos unidas junto ao peito, com expressão jovem, cabelos soltos ou cobertos com véu. A Imagem de Nossa Senhora da Conceição especificamente apresenta em sua base anjos aos seus pés, uma meia lua e um dragão ou serpente. São imagens - que fazem referência a épocas ou lugares - de Nossa Senhora da Lapa, da Aparecida, de Lourdes, de Fátima, do Monteserrat, da Penha, entre outras.
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Terceira Fase - Encarnação: As representações abrangem desde a saudação do Anjo Gabriel, episódio conhecido como a “Anunciação” (nesse caso são mais freqüentes as representações pictóricas) até o nascimento de Jesus, com invocações de Anunciação, Boa Hora, Bom Parto, Expectação ou do Ó, Leite, da Apresentação, esta última representada com o filho deitado em seus braços, como se estivesse mostrando-o ao mundo. Destaque para as raríssimas representações de Nossa Senhora do Leite, na qual Maria aparece amamentando o Menino Jesus, ou de Nossa Senhora do Ó, também denominada Nossa Senhora da Expectação, representação de Maria grávida, quase sempre com o "escapulário".
Quarta Fase - Virgem Mãe: Reúne a maior quantidade de invocações, sempre com o Menino Jesus nos braços. Nas imagens mais antigas a Virgem mãe aparece sentada, entretanto, é mais comum ela aparecer em pé. O que distingue uma representação da outra são os símbolos que Jesus e Maria trazem nas mãos ou a própria posição que o Menino apresenta-se no colo da Mãe, quase sempre em seu braço esquerdo. Há ainda imagens com outros personagens de sua vida, como São José, as imagens de Nossa Senhora do Desterro ou Figuras de Presépio, onde ela aparecerá com os Reis Magos e Pastores, as imagens denominadas "Nossa Senhora Madre de Deus", bem como a imagem de Nossa Senhora do Rosário, quando Maria entrega o Rosário a São Domingos, Santa Catarina e São Simão Stock, sendo mais usual a retratação desse episódio em telas ou Bandeiras de Procissão do que esculturas. Nesta fase, podem ser encontradas também imagens de Nossa Senhora da Luz, do Livramento, da Candelária, do Socorro, das Mercês, da Fartura entre outras.
Quinta fase - Paixão: Representação de todo o sofrimento durante a Paixão e morte de seu Divino Filho. As esculturas mostram o coração de Maria dilacerado pela dor (flechas ou espadas), suas mãos estão sempre sobre o seu coração ou peito, lágrimas da Virgem chorando (Nossa Senhora Salete). Após a Crucificação e morte de Nosso Senhor, seu corpo é retirado da Cruz e colocado no colo de Maria. Na representação dessa passagem da vida da Virgem ela geralmente aparece ajoelhada, denominada Nossa Senhora da Piedade.
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Sexta Fase - Glórificação: Por ser mãe de Jesus, sem pecado, sobe aos céus de Corpo e Alma, episódio conhecido como Assunção de Nossa Senhora. É representada na maioria dos exemplares com as mãos juntas, olhando para o céu, de pé sobre nuvens, sendo carregada pelos anjos. Algumas vezes, encontra-se com os braços abertos. Imagens de Nossa Senhora da Boa Morte, invocada como protetora dos agonizantes, na qual é representada deitada num esquife ou em uma cama. Nossas Senhora das Graças comparece como medianeira entre Deus e a Humanidade. Encontramos algumas esculturas nas quais Nossa Senhora aparece "Coroada", fato associado à essa fase, pois somente quando Maria sobe ao céu é coroada por Deus.
A iconografia de Nossa Senhora varia de acordo com as fases da sua vida: Imaculada Conceição ou Nossa Senhora da Conceição : A virgem, ainda jovem, com as mãos junto ao peito, os anjos, a serpente e a meia lua. Conforme a época e o lugar, Aparecida, Lujan e Fátima. Nossa Senhora da Expectação ou Nossa Senhora do Ó: aguardando a vinda do Salvador. Nossa Senhora com o Menino: Abrange a maioria das invocações. As mais antigas mostram Nossa Senhora sentada, tendo ao seu colo o Menino Jesus e, nas mais novas, Nossa Senhora está em pé, com o Menino geralmente em seu braço esquerdo. Conforme os atributos que a Virgem e o Menino trazem em suas mãos, varia a devoção: Nossa Senhora do Rosário, do Carmo, do Desterro, da Luz, da Purificação, da Glória, da Ajuda, do Bom Sucesso, da Fartura, da Guia, da Escada, das Brotas, da Penha, da Boa Viagem, dos Navegantes, da Abadia, do Amparo, da Cabeça, da Ponte etc. Nossa Senhora das Dores e da Piedade: São as imagens ligadas à Paixão de Cristo. As Dolorosas têm as mãos sobre o peito e o coração dilacerado por setas, e as Piedades sustentam o corpo de Cristo sobre o colo. As alegorias de Nossa Senhora: Alegoria significa representação ou exposição de algo sob forma figurada. As alegorias de Nossa Senhora são em número de sete: 1) Anunciação do Anjo, 2) Saudação de Santa Izabel, 3) Nascimento de Jesus, 4) Visita dos Reis Magos, 5) Encontro de Jesus no Templo, 6) Aparição de Jesus após a Ressurreição e 7) Coroação no Céu após a sua Assunção. A devoção de Nossa Senhora dos Prazeres foi muito intensa nos primeiros tempos de São Paulo. Sua representação, muito comum no século XVII, mostra Nossa Senhora sorrindo, afagando os pés de seu Filho, e todos os Anjos, colocados na base, também sorridentes. Maria se apresenta geralmente sentada, com o Divino Filho sobre seu joelho esquerdo e segurando um rosário com a mão direita. Como a maioria das efígies da Senhora do
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Rosário obedecem ao estilo barroco, suas vestimentas possuem panejamentos ondulantes e com ornamentos dourados. Algumas imagens representam a Virgem Maria dando o rosário a São Domingos e em outras, além de São Domingos, aparece ainda Santa Catarina de Sena recebendo o rosário do Menino Jesus. A posição pode ser também invertida, isto é, Maria dá o rosário a Santa Catarina e Jesus a São Domingos, porém esta inversão é mais comum em painéis pintados do que em esculturas. Entre os dois santos é comum o aparecimento do simbólico "cão com archote". Assim, é importante definir o fundamento mítico desta manifestação. O mito é o relato de um acontecimento ocorrido no tempo primordial, mediante a intervenção de entes sobrenaturais, ou seja, o mito é o relato de uma história verdadeira, ocorrida em tempos primevos, quando com a interferência de entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o cosmo, ou tão somente um fragmento, um monte, uma pedra, uma ilha, uma espécie animal ou vegetal, um comportamento humano. Mito é, pois, a narrativa de uma criação: conta-nos de que modo algo, que não era, começou a ser. Essa percepção coletiva primeira é o que podemos chamar de arquétipo. No mito, esses conteúdos remontam a uma tradição, cuja idade é impossível determinar. Pertencem a um mundo do passado, primitivo, cujas exigências espirituais são semelhantes às que se observam entre culturas primitivas ainda existentes. Normalmente, ou didaticamente, se distinguem dois tipos de imagens: a) imaginário de caráter pessoal, que remontam a experiências pessoais esquecidas ou reprimidas, que podem ser explicadas pela anamnese 28 individual; e b) imaginário de caráter impessoal, que não podem ser incorporados à história individual. Correspondem a certos elementos coletivos: são hereditárias. Portanto, o mito que deriva de um arquétipo é sempre uma representação coletiva, transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do mundo. O mito expressa o mundo e a realidade humana, mas cuja essência é efetivamente uma representação coletiva, que chegou até nós através de várias gerações. Roland Barthes esclarece que o mito não pode, conseqüentemente, "ser um objeto, um conceito ou uma idéia: ele é um modo de significação, uma forma" (BARTHES, 1982). O homem, portanto, se incorpora ao mito, beneficiando-se de todas as forças e energias que jorraram nas origens. A ação ritual derivada dele realiza no imediato uma transcendência vivida. Assim, o rito é a praxis do mito, ou seja, é o mito em ação. Enquanto o mito rememora, o ritual comemora.
APARECIMENTO DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO De acordo com o Capitão Dalmo, o Congado se estrutura a partir da lenda da aparição e resgate de uma imagem de Nossa Senhora do Rosário por negros escravos. Segundo sua versão mais corrente nessas Irmandades, aqui narrada de forma sucinta, uma imagem da santa teria aparecido no mar, e, após a tentativa frustrada dos brancos de retirá-la com rezas e bandas de música, os negros conseguiram permissão para homenageá-la. Primeiro, um grupo de Congo, formado pelos mais jovens, vai à praia e dança e canta para a santa, motivado por ritmos de andamento mais rápido, provocando um leve movimento na imagem. Em seguida, o Moçambique, de negros mais velhos, se aproxima tocando os Candombes com seus ritmos mais lentos e suas gungas de “balainho” com semente de 28
Anamnese (ανάμνηση - do grego ανά, trazer de novo e μνήμη/μνηση/ μνήσις, memória)
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caeté e, devagar, atraem a santa até a praia. Ela então se senta no tambor maior e é conduzida até a capelinha construída por eles para abrigá-la. Nesse momento o Congo para na porta da igreja com medo do que pudesse acontecer se entrassem, porém o povo do Moçambique pega o andor e entra de qualquer maneira. Destarte, o Moçambique passa a ser a primeira hierarquia por ter a coragem de levar Nossa Senhora para a igreja. Segundo Leda Martins 29, é possível encontrar um núcleo comum nas variáveis dessa lenda em todo o Brasil que seria a descrição de uma situação de repressão vivida pelo negro escravo; a reversão simbólica dessa situação com a retirada da santa através dos tambores e a instituição de uma hierarquia e de um outro poder, o africano, fundamentados pelo arcabouço mítico.
Figura 21 - Diagrama da lenda do aparecimento da Virgem do Rosário para os negros
Em outras versões, apenas um grupo de negros, o Candombe, a resgata, mas sendo os tambores difíceis de carregar, o Moçambique, “que adaptou bater os instrumentos como mais ou menos a semelhança que bate o candombe”, passa a representá-lo nos rituais. Assim, a lenda determina a hierarquia. Nos cortejos, portanto, é o Moçambique que conduz reis e rainhas, privilégio conquistado por ter resgatado a imagem e representa o Candombe. Ele é o grupo que detêm os mistérios, seus cantos relembrando a África e os antepassados. A guarda de Congo segue à frente, e, com sua movimentação rápida e tem como uma de suas funções, a de abrir e limpar os caminhos para a passagem do Moçambique e do reino coroado. A lenda tem como ponto focal em todas variantes regionais a identificação de Nossa Senhora do Rosário com o sofrimento dos negros com quem ela opta ficar. A Santa adota o tambor do negro indicando que aceita o negro da forma que ele é. 29
MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memória: o Reinado do Rosário no Jatobá. SãoPaulo: Perspectiva; Belo Horizonte: Mazza Edições, 1997 p. 56
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Outras Versões Nossa Senhora na Gruta A Virgem do Rosário apareceu em uma gruta. O padre do arraial pegou aquela imagem tão linda e levou-a para a ermida. Entretanto, a estátua desapareceu do altar e, após muita procura, forma encontrá-la novamente na lapa. Por diversas vezes ela foi levada e tornava a voltar. Havia por ali homens que se vestiam de congo e outros de moçambiques. O padre chamou-os e todos confessaram e comungaram: arrumaram um andor de jacá de boca de sino e ali colocaram a imagem de Nossa Senhora. Fizeram uma procissão e foram cantando e dançando até a igreja. Chegando lá os congos pararam na porta do templo e os moçambiques continuaram pulando e dançando até colocarem a efígie no altar. E desde esse dia a Santa não mais voltou para a gruta. A fim de comemorarem esse fato extraordinário, os moçambiques e os congos todos os anos se reúnem em grupos para dançarem em homenagem à Senhora do Rosário. Nesta versão o terno de Moçambique vem com um batido diferente, usando sabugos de milho e guizos amarrados nas canelas, entoando cânticos perante a gruta de Nossa Senhora. Quando Nossa Senhora chegou na porta da gruta os moçambiqueiros se levantaram e saíram de costas, até que Ela estivesse fora da gruta. O que vem justificar a primazia do Moçambique em levar o andor. Nossa Senhora na Árvore Os catequizadores brancos resolveram construir uma matriz homenageando "Nossa Senhora do Rosário. Nessa igreja de homens brancos, os pretos não poderiam entrar. Na tarde de inauguração, a imagem da santa foi transportada em andor, com uma festiva solenidade. Em aísum (silêncio) os pretos pés descalços reuniram-se no alto de um morro entoaram seus cânticos lamentosos e fêz-se no instante uma presença iluminada de mulher a sorrir, sentada em um galho de Damuré (árvore sagrada). Os pretos pés descalços acreditaram ser milagre de Nossa Senhora ao descobrirem ser a mesma imagem que estava no rico altar da matriz. A chibata correu solta, os brancos tinham certeza de que era truque dos negros, aquele misterioso sumiço de Nossa Senhora. Sucessivamente esse mistério aconteceu. Os brancos buscavam a santa durante o dia e à noite ela retomava para a árvore. Cansados, resolveram construir uma cape linha sob a frondosa damuré. Noutro dia, uma nova imagem surgiu no altar da matriz e a que ficara no morro, ninguém conseguiu retirar, pois tomara-se tão pesada quanto uma grande pedra.
O pai e os irmãos mais velhos Candombe Segundo a tradição, o primeiro grupo que bateu o tambu e tirou Nossa Senhora das águas foi o Candombe. Frei Chico nos explica que o Candombe é diferente do candomblé e não devendo ser confundido: “O candombe e o candomblé tem distinções desde a sua gênese. Os nagôs dos
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candomblés do Brasil vieram de reinados situados ao norte do rio Congo. Os congadeiros do Brasil são bantu-descendentes do Congo, da Angola e do Moçambique, regiões colonizadas por Portugal. Suas origens estão nos reinados localizados, principalmente, ao sul do rio Congo.” (Frei Chico ofm., Congado: origens e identidade, arquivo on-line, 2005) O Candombe é considerado o “pai” das outras nações. A tradição conta que Nossa Senhora se sentou em um dos tambores do Candombe. Esse tambor, que é o tambu de guia, foi chamado “Sant’Ana”. É esse tambor que puxa os demais e seu nome é devido à crença de que Maria só se sentaria no colo de sua mãe, Santa Ana. O tambu de resposta foi chamado de “Santa Maria”, cujo nome se explica também na mesma tradição, como a filha que responde ao chamado da mãe, Sant’Ana chama e Santa Maria responde. O terceiro tambu foi chamado de “Jeremias” Portanto, o candombe, no Reinado do Rosário, geralmente, é formado pelos capitães de Congo e Moçambique, que se reúnem especialmente para bater os tambores sagrados. O Candombe não sai às ruas, são eles (tambores) que trazem à presença dos vivos o mundo dos que se foram unindo vivos e mortos. Segundo a tradição, o candombe é o elo de ligação entre as tradições jeje-nagô e o catolicismo rústico, por isso, é considerado o pai de todas as guardas, que nasceram em diferentes épocas. Depois do Candombe foi o congo, depois o moçambique, o catopé e as demais vieram depois. Em vista do seu hermetismo dele pouco se sabe dele fora do Reinado e inúmeras crenças fantasiam sua existência, cheia de segredos, como uma espécie de maçonaria dos negros, semelhante à cabula 30, da região do vale do rio São Mateus, Espírito Santo. A palavra candombe significa dança sagrada. Há um tambor muito primitivo que tem o seu nome. De acordo com a pesquisadora Fátima de Lourdes Teixeira da Silva: O candombe não desfila, só se desloca em grandes ocasiões, assim mesmo à noite, para tocar em casa do rei ou da rainha congos. Seus instrumentos musicais são toscos, de percussão, e se compõem de três atabaques ou "pilões", diferentes em tamanho e função rítmica, feitos a machado, como se vangloriam de afirmar os candombezeiros, e mais o canzá ou angóia e a puíta, o agogô e o reco-reco. À função, os tocadores sentam-se em um banco central e mais dois tocos laterais fincados no chão. O Candombeiro se veste-se de branco, blusa solta e de gola aberta, sem cobertura, descalço ou de sandálias, faixa estreita amarrada à cintura, com pontas caídas com a cor da guarda ou do santo e no pescoço uma toalha branca e também o rosário de lágrimas. O surgimento de uma nova guarda é algo de muita e importância onde é feito o batismo dos tambus, que recebem nomes especiais, mantidos de geração a geração. As membranas são de pele de cabrito, afinadas ao calor do fogo. Eles são, também,
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Cabula é o nome pelo qual foi chamada, na Bahia, uma religião sincrética que passou a ser conhecida no final do século XIX com o fim da escravidão, com caráter secreto e fundo religioso. É também o nome de um ritmo da Diáspora musical africana no Brasil, toque de percussão religioso de Angola, base rítmica do samba, música de origem sudanesa. Na época da escravidão, houve um sincretismo afro-católico, principalmente nas áreas rurais da Bahia e do Rio de Janeiro, denominado Cabula. Segundo pesquisas de historiadores, refere-se aos rituais negros mais antigos, envolvendo imagens de santos católicos sincretizados com os Orixás, herança da fase reprimida nas senzalas dos cultos africanos, onde os antigos sacerdotes mesclavam suas crenças e culturas com o catolicismo para conseguirem praticar e perpetuar sua fé. Quando no final do século XIX ocorre a libertação dos escravos, a Cabula já era amplamente presente como atividade religiosa afro-brasileira. No Rio de Janeiro de então eram comuns práticas afro-brasileiras similares ao que hoje ainda se conhece como Cabula e Almas e Angola. No Rio de Janeiro, até ao início do século XX, houve influência de duas nações: a Ioruba, que cultuava os orixás, e a Banta, cujo culto é conhecido sob o nome de cabula.
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chamados de Ngoma. 31 È através do tambu que o candombeiro abre os canais de comunicação com o mundo sobrenatural e cabe a eles preservarem as tradições bantu, daí o esoterismo de seu ritual, que é fechado aos não iniciados. Em uma “festa” só pode haver um Candombe tocando. Alguns mestres levam seu próprio guaiá, um chocalho de cesto, pois não gostam de usar o guaiá de outro candombe e só um guaiá pode tocar de cada vez. O início do ritual é feito pelo Mestre que, com sua voz e o guaiá em punho, dá o tom e o “mote”. Alem dos tambus usa-se a puíta, que é um tambor de fricção. Congo
Figura 22 - Dançante de Congo portando capacete de fitas e penacho – Betim – MG – 2005 (Acervo IMPHIC)
O mais antigo dos ternos é o Congo, segundo a tradição, e o mais rico. Mesmo à distância se reconhece o congo pelo fulgor dos paramentos de seus dançantes e riqueza plástica dos seus adereços de cabeça, guarnecidos de plumas, espelhos, miçangas e vidrilhos. Usa-se blusão branco, mangas compridas e punhos rendados, gola nobre com babados de renda. A calça, igualmente branca, chega aos tornozelos. À cintura, sobre a parte inferior do blusão, prende-se um saiote de fitas multicores. O congo é reconhecido por suas coroas enfeitadas com material de diversos tipos (fitas, espelhos, vidrilhos, botões, miçangas). Usam saiotes enfeitados e coloridos. A função do Congo é policial: compete-lhe fornecer guarda-coroas para o reinado e, em desfile, vem na frente do Moçambique e do Séquito Real. De acordo com o mito uma guarda de Congo preparou um andor para levá-la até a igreja, dirige-se, então para a praia e com seu ritmo saltitante, sua coreografia ligeira e suas cores vistosas cantam e dançam para a divindade. A imagem movimenta-se nas águas, alça-se sobre o mar, mas não os acompanha. A guarda de congo segue sempre à frente, com seu capitão comanda a guarda, à frente, armado de espada, e sua principal função no cortejo e procissão é de puxar todos os 31
Ng’oma ou ngoma (expressão que significa “tambores da aflição”) é o tambor típico encontrado em toda a África bantu, construído esticando uma pele de animal sobre um cilindro de madeira. O seu uso foi levado pelos escravos negros por todo o mundo.
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dançantes, em movimento rápido, abrindo e “limpando” o caminho para que o Moçambique e o reino coroado possam passar, é uma função policial. Compete-lhes ainda fornecer guardas-coroas para reis e rainhas. Indo à frente, o congo anuncia a chegada dos filhos do Rosário, preparando a passagem. As caixas e chocalhos imprimem-lhe ritmo dolente, quase monótono.
Figura 23 – Dançante de Congo Portando capacete de fitas e penacho – Betim – MG – 2005 (Acervo IMPHIC)
Em função do fundamento mítico a Guarda de Congo é a segunda mais importante possuindo danças e instrumentos próprios. Seu fardamento é basicamente rosa e verde, significando o caminho, com galhos e flores, para a Senhora passar. O uso do rosário de lágrimas é da esquerda para a direita à tiracolo. A cobertura do fardamento varia de acordo com a guarda e identifica a identificá-la. Em todas as variedades de chapéus usados um aspecto não varia: da metade posterior da borda, qualquer que seja o modelo, caem longas fitas, igualmente de cores variadas, até à orla do saiote.
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Figura 24 Guarda de Congo – Década de 80/90 (Acervo IMPHIC)
Os objetos simbólicos que conduzem o Congo são a espada, por abrir os caminhos, e o tamboril como símbolo dos instrumentos que moveram a imagem santa. Seus instrumentos são tambores, tamboril, canzale e sanfona e sua movimentação do Congo é uma dança saltitante, com movimentos gingados cruzamento de pernas e pés e com deslocamentos laterais (movimento pendular).
Figura 25 - Capitão de Congo – Betim – MG – 2005 (Acervo IMPHIC)
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O congo é a guarda de que se tem os registros mais antigos com informação o registro de André João Antonil 32, pseudônimo do padre jesuíta João Antônio Andreoni relatado em 1711 referente à sua viagem a Minas nos anos 1705 e 1706. Alem disso, na Irmandade do Serro, criada em 1714, temos o compromisso dos irmãos, tomado em livro próprio, aconteceu em 1728. Moçambique Apesar de os negros de Moçambique terem chegado em Minas Gerais apenas no séc. XIX a nação de Moçambique que se refere no congado são os negros vindo de Angola, nação vizinha ao Congo, pois até o século XIX, Moçambique era apenas o nome de uma ilha onde se localizava o porto de maior atividade comercial dos portugueses no oriente. Posteriormente o nome da ilha foi dado ao país A pesquisadora Leda Maria Martins transcreve um relato do encontro dos negros do Moçambique com Nossa Senhora do Rosário Uma das versões mais recorrentes em Minas nos conta que, no tempo da escravidão, os negros escravos viram uma imagem da santa vagando nas águas do mar. Os brancos a resgataram e entronizaram numa capela construída pelos escravos, mas na qual os negros não podiam entrar. Apesar dos hinos, preces e oferendas, no dia seguinte a imagem desaparecia do altar e voltava ao mar. Após varias tentativas frustradas de manter a santa na capela, os brancos rendem-se à insistência dos escravos e permitem que eles rezem para a imagem, à beira-mar. Uma guarda de Congo dirige-se, então, para a praia e com seu ritmo saltitante, sua coreografia ligeira, suas cores vistosas, paramentos brilhantes e fitas coloridas e dança pra a divindade. A imagem movimenta-se nas águas, alça-se sobre o mar, mas não os acompanha. Vêm, então, os moçambiqueiros, pretos velhos, pobres, com vestes simples, pés descalços, que trazem seus três tambores sagrados, os candombes, feitos de maneira oca e revestidos por folhas de inhame e bananeira. Com seu canto grave e glutal, seu ritmo pousado e denso, as gungas, seus patangomes e sua fé telúrica, cativam a santa que, sentada no tambor maior, a Santana ou Chama, acompanha-os, devagar, sempre devagar. (MARTINS: 1997, p.15-16) Nos cortejos, portanto, é o Moçambiqueiro que conduz reis e rainhas, privilégio conquistado por ter resgatado a imagem do mar, ou por representar o Candombe, sendo, assim, o primeiro na hierarquia. São eles os que detêm os segredos e os mistérios, e seus cantos rememoram a África e os antepassados. O Moçambique é a primeira na hierarquia depois do Candombe e a que o substitui em sua falta, possui danças e instrumentos próprios como os tambores (um deles conhecido como Treme-Terra), gungas e patangomes. A função do Moçambique é proteger os Reis Congos, Festeiros Grandes e todo Trono Coroado 33 e participa de todos os atos oficiais da festa. Seu símbolo de 32
André Antonil, nascido Giovanni Antonio ou João Antônio Andreoni (Lucca,1649 - Salvador,1716), jesuíta italiano, foi reitor do colégio da Companhia em Salvador e fez breves visitas às capitanias de Pernambuco e Rio de Janeiro. Observador atento, escreveu com profundidade e erudição sobre a realidade econômica da Colônia. Em 1711 publicou em Lisboa o livro Cultura e opulência do Brasil, suas drogas e minas, considerada a mais importante descrição das condições sócio-econômicas do País no início do século 18. 33 Nome dado aos Reis que portam as coroas dos santos de devoção das guardas
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autoridade é o bastão, símbolo de comando do Moçambique. O Moçambique carrega esse símbolo de poder, por ter conseguido o resgate da estátua. O bastão vem ornado com fitas que representam a capacidade do moçambiqueiro de trazer a Santa até o altar. Segundo os antigos, quem comanda a guarda leva o bastão, símbolo de autoridade e esse deve ser feito a mão e com emprego de três diferentes madeiras, que serviram para a tortura de Cristo: cedro, com que se fez a cruz; braúna, da qual saíram os cravos; e acácia, a tabuleta, mediante a qual se indicou a culpa do Mestre e dele os fariseus escarneceram. Seu fardamento é composto, basicamente, por roupas brancas com um lenço na cabeça, saiote na cintura, e gungas (chocalhos) nas pernas. Obrigatoriamente há o uso do Rosário de Contas de Lágrimas, ou outro tipo como o de madeira a tiracolo ou cruzado.
Figura 26 – Capitão de Moçambique do Divino Espirito Santo – Betim – MG – 2005 (Acervo IMPHIC)
A maioria das guardas adotam o uso de um lenço de cetim à cabeça, de cor viva, à baiana, o saiote acompanha o mesmo pano e cor ornado com faixas paralelas de rendas brancas e largas. Igual em todas as guardas, salvo algumas raras exceções, a calça é branca, sobre cuja barra de cada perna vai um conjunto de quatro a seis gungas, afivelados por meio de correias à altura dos tornozelos. Como se sabe, elas contêm chumbo de caça ou pedrinhas e fazem o papel de chocalhos aos passos da coreografia. Apenas a cor da camisa, geralmente branca ou de cor clara e da calça, deve contrastar com estas duas referidas peças. A exceção, nesse caso, dá-se se o turbante e saiote forem brancos, nesse caso o fardamento inteiro pode ser branco. Portanto, as insígnias de poder do Moçambique são a saia com pregas, os chocalhos no tornozelo, o turbante e os rosários cruzados no peito. Algumas guardas adotam o uso de par de argolas, preferencialmente douradas às orelhas,
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uma referência a nação de Angola. O Moçambique se movimenta com uma profundidade que se caracteriza pela tendência à penetração, é como se o corpo do dançante quisesse varar a terra, batendo e voltando. Seja no “Serra Acima” ou no “Serra Abaixo” 34 o Moçambique movimenta-se com arroubo e seu ritmo inflamado sempre atrai uma multidão de curiosos, quando desfila na rua, por ocasião do cortejo.
Figura 27 -Hierarquia do fundamento do Reinado
Paradoxalmente, apesar do Congo ser a nação mais antiga da grande família coreográfica, é o Moçambique que representa a ancestralidade, os “pretos velhos” e o conhecimento dos antigos. Não há consenso com respeito à sua origem, alguns são de opinião de que o Moçambique veio pronto da África negra e se integrou ao Congado, no Brasil; outros já discordam e acham que ele é creoullo, nascido aqui mesmo, na antiga Vila Rica, freguesia de Santa Efigênia. O Moçambique foi a nação do Reinado que mais se expandiu em Minas Gerais e a preferida de Chico Rei, que lhe deu prestígio nacional.
AS OUTRAS NAÇÕES – OS CINCO IRMÃOS MAIS NOVOS Catupé O Catupé representa o africano tribal com uma espécie de cocar ou capacetes enfeitados com espelhos, fitas coloridas e penas; um manto colorido, atado ao pescoço, cobre-lhe as costas e quase lhe toca os pés, um lenço colorido ao pescoço; alem disso usa camisa de cambraia de algodão em tom claro, mangas compridas, punhos abotoados, calça branca e cinto da cor do manto e rosário, símbolo da Irmandade, conduzido igualmente a tiracolo.
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Nome de Ritmo do Moçambique. Os padrões rítmicos do Moçambique estão sempre manifestos, pois um dos caixeiros tem que estar tocando o padrão básico para que os outros possam repicar. O Serra Abaixo é o que apresenta menor quantidade e menor variedade de repiques. Os do Serra Acima, mais freqüentes, não são longos em extensão. Ainda que aconteçam mais amiúde, são intercalados pela estrutura básica do padrão. Além disso, os repiques do Moçambique se revestem de significado e força especial uma vez que é através deles que o Candombe emerge no Moçambique.
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Na falta do Moçambique, são eles que organizam e conduzem o reinado, tendo a função é alegrar a festa com cânticos irônicos e, na falta do Moçambique, é ele quem puxa o Trono Coroado e busca os príncipes, princesas, reis e rainhas e formam o cortejo que, posteriormente, sai pelas ruas. Seus instrumentos característicos são a caixa de assobios, designação dada a uma orquestra de pífanos de taquara e o reco-reco. O sinal distintivo é indicado pela cor do manto. A formatação dos catupés se dará através de cantorias cujos dialetos lembram as danças de kalembe [críticas sociais] de Angola e que surgem da influência do escravo angolano; as suas cantorias antigas diziam da vida dos negros 35. O catupé embora tenha surgido para representar o índio na maioria das cidades tomou-se impossível uma diferenciação, pois, as indumentárias indígenas foram substituídas por outras com detalhes mais africanizados. Nos Catupés de Reco-Recos os dançantes se movimentam com impressionante agilidade nos pés percutindo com rapidez o reco-reco ou canzale (instrumentos de bambu, com vários cortes horizontais, o som é obtido através de varetas correndo na posição vertical, com a mão direita ou esquerda), esse grupo usa danças que lembram defesas e ataques, tem como principal objetivo festejar com alegria os desfiles dos ternos no Reinado.
Caboclos O Caboclo representa, na irmandade, o índio nativo, primeiros habitantes de nosso país. Usa cocar e penas. O fardamento desta guarda é exuberante, com ricas plumas coloridas e profusão de enfeites. A cor das penas é o sinal que distingue a guarda. O Terno de caboclo é uma resultante simbiótica étnica branco-negro-aborígene ameríndio. A composição dessas guardas incluem uma criança (o caciquinho), seis figuras adultas (Cacicona, Cacicão, Papai-Vovô, Mamãe-Vovó, Pantalão e Capitão Campó) e os caboclosdançantes e os músicos.
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Orirá Kalungá [cantar em kalunga] - Makafo cansado num qué kurimá, makafo cansado, só qué requerá, (velho cansado não quer trabalhar, velho cansado só quer descansar)
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Figura 28 - Guardas de Caboclos do Serro - MG
A guarda é dirigida pelo Cacique Morubixaba ou mestre de dança. Vestidos e ornamentados como ameríndindios levam na mão um conjunto de arcos e flechas, feito com esmero e técnica artesanais e já munido com a respectiva flecha, que quando arremessada, não se livra, devido a um ressalto que a mantém cativa. Mas, por entrechoque, marca-se o ritmo, durante a exibição que servem para marcação do compasso, além de representar as armas dessas nações. Diferem no uso rosário da Irmandade que é pendurado ao pescoço, junto com colares e miçangas e não a tira colo como a maioria das outras nações. Essas guardas são também conhecidas por outros nomes como: caboclo, caboclinho, tapuio, penacho, botocudo, caiapó e tupiniquim. Cantam loas 36 jocosas e dançam com fitas multicoloridas que são trançadas em volta de um mastro, acompanhados por toques de caixas e harmonia de sanfona. Os Caboclos, junto com os Catupés tem a função de reunir e cortejar os juízes, mordomos, reis e festeiros. Durante a festa os caboclos encenam um auto que chamam de embaixada de caboclos. É o momento de “depor a loa” (discurso entremeado de canto e declamação). Esse auto termina com a conversão dos índios ao catolicismo e suas disposições de luta em continuar defendendo o cristianismo. Existem variantes em Itaúna, Serro, Ferros, São Gotardo, Diamantina e outras cidades de Minas
Marujos As guardas de marujos representam os portugueses e ao mesmo tempo relembram os navios negreiros vindos para o Brasil.
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A Loa parece, segundo Almeida Garretr, vir do latim "laus". É um canto de louvor por certo modo e regra. É um "cantar d'anjos, de gênios, de espíritos; mas dramático, dialogado: é um coro hierático que se entoa, que se "deita" do céu para a terra, que entes superiores cantam para ouvirem homens e deuses"
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Figura 29 – Capitão de Marujada de São João Bosco – Betim – MG – 2005 (Acervo IMPHIC)
O varsal marujo veste-se à marinheiro seguindo a farda da marinha, uma vez que eles representam a dolorosa travessia marítima dos negros africanos para o Brasil. Não usam o rosário a tiracolo, mas amarrado à cintura, paralelo à correia da calça Com relação à cobertura,há duas alternativas: boina ou boné, ficando a escolha a critério do grupo. E sinal distintivo. Em seus canto-poemas fazem embaixadas e recordam as aventuras e desventuras no mar e proclamam a fé destes no cristianismo. Utilizam, além dos instrumentos comuns das outras nações, a violas de doze cordas. Dentro do Reinado cabe ao marujo a função de rememorar a longa e dolorosa travessia nos navios negreiros.
Figura 30 – Guarda de Marujo fazendo embaixada enfrente a imgem de N. S. do Rosário (abaixo) - (Acervo SUM/SEC-MG)
Vilão As Guardas de Vilão, a última nação coreográfica a compor o Reinado tem como principal característica o "Bate-Pau". Suspeita-se que veio de Portugal e incorporou uma vara ou
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manguara de metro e meio de comprimento e com ela se fazem evoluções e grades para números de habilidades acrobáticas ou se realizam combates simulados. Seu fardamento, em geral compõe-se de camisa de manga comprida pra dentro da calça, branca ou de cor viva; jaqueta, cujo tom contraste com o da camisa; calça branca e chapéu de palha, com rosas vermelhas, brancas e amarelas nele distribuídas, no mínimo cinco. A cor da vara deve acompanhar a da camisa e a fita do chapéu é da mesma cor da jaqueta ou colete
Figura 31 - Guarda de Vilão em Oliveira - MG
Diferente da maioria das nações do Reinado, o rosário é amarrado em volta da copa do chapéu, no exato limite da aba. Isso é interessante devido ao fato que originalmente o termo rosário se definia uma coroa de rosas. Seu instrumental sonoro inclui, além de chocalhos e caixas, a sanfona, que marca o ritmo. O Vilão se compara a um pelotão de guerreiros. Dessa forma podemos ter três maneiras para identificar uma guarda sem desnaturar-lhe as características nem comprometer sua autonomia: Primeiro, pelo nome dado ao grupo; assim por exemplo, Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Santo Antônio de Pádua. Segundo através do estandarte da unidade, cujo motivo da pintura seja único ou privativo e, em terceiro lugar, pela combinação de cores e pelos paramentos e fardamento.
Cavaleiros de São Jorge Exerce uma função decorativa, apenas visual, de pompa e grandeza. Sua função se restringe ao cortejo e seguem as guardas de catupé. Não cantam, nem tocam, mas fazem embaixadas.
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ESTRUTURAÇÃO SIMBÓLICA O simbólico no reinado é materializado através do “numinoso”. Através desse contato com o sagrado podemos ver em muitoa aspectos o surgimento do mysterium tremendum et fascinans (mistério terrível e fascinante) 37 citado por Rudol Otto (2007). Entrar neste assunto é similar ao deslumbrar uma floresta densa, cheia de penumbras ser ter um caminho prévio para essa viagem. Portanto é passível que encontremos no percuros um sem número de “cipós entrelaçados” 38 (dogmas), e outros embaraços menos resistentes (crenças) 39, que prontamente os afastaremos sem grandes dificuldades. Partindo do pressuposto que não temos conhecimento real do “sagrado”, mas este se interpõe perante o sujeito conforme as suas necessidades subjetivas, pressupõe-nos uma incapacidade intelectual ao tratar de matéria que foge dos nossos conceitos que são sempre relativos. Sendo, assim, o conceito do “sagrado”, relativo acabamos por relativizar o inconcepto e não conseguimos definir com clareza, o Indefinível. O que o torna o “sagrado” um mistério tremendo e fascinante. Os símbolos nos servem de condutores para que possamos entender o sagrado. Por isso há de se observar com cuidado o símbolo, para que não venhamos a confundir o símbolo com o simbolizado. O símbolo é um meio e não a coisa em si. Esse mysterium é observável no tratamento dado aos objetos e rituais. É o mistério e o incompreensível presente no espaço-tempo Simbólico-ritual. Apesar de ser um mistério quando o numinoso se manifesta é perceptível. Esse mistério ligado ao numinoso, dentro do Reinado, causa arrepios, se apresentando em dois aspectos qualitativos: o Tremendum e o Fascinans. O Tremendum é o aspecto negativo do sagrado que nos impele para trás, que nos impõem o temor. Ele pode ser percebido sob três formas: Tremendum, majestas e orgé. O Tremendum é o terrível no sagrado; é o que nos faz tremer, que causa calafrios, que nos traz a sensação de risco a nossa integridade. Esse aspecto está ligado à crença do que o “outro” pode nos fazer, nos malefícios que às vezes se crê que o outro pode impor (e.g.: amarrar a guarda, cantar ponto contra o terno). Outro aspecto do Tremendum está ligado à noção de punição ou no castigo divino. O Majestas está relacionado com o poder ou a majestade da experiência com o sagrado nos colocando na posição de pequenez, impotência, finitude, é o desesperador sentimento de finitude frente ao infinto produzindo o sentimento de criatura diante da grandiosidade desse sagrado. E o Orgê é a energia do numinoso experienciada na “vivacidade, paixão, emotividade, vontade, força, comoção” gerados no individuo pelo contato com o objeto numinoso. Esses aspectos geraram o terror e o medo sendo percebidos como algo exterior a nós mesmos e que nos atinge. Assim, desse Mysterium, falta o aspecto positivo que é o Fascinans. Esse é o aspecto atrativo do sagrado vivenciado através do Augustus quando impacta o individuo através da sensação de pureza, santidade; e, também, do Sebastus impondo prudência, reverência e veneração. Segundo Jean Jacques Rousseau, citado por SILVEIRA (2006), a consciência e a emoção são fatores essenciais da religião e da moral e a inteligência não pode atingir o “sagrado”, 37
Este conceito descrito por Otto foi denominado, por ele, de “numinoso” É o sentimento único vivido na experiência religiosa, a experiência do sagrado, em que se confundem a fascinação, o terror e o aniquilamento Silveira, Eráclito Alírio da. MYSTERIUM TREMENDUM ET FASCINANS. 2006. 39 Ibid. 38
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mas só pelo coração e pelo sentimento espiritual é que, o homem pode ter essa noção do mundo “divino”. Segundo ele, não existe nenhuma classe de homens (sacerdotes) dotados de privilégios espirituais. Portanto qualquer pessoa pode entrar em contato direto com o “sagrado”, desde que venha a criar em si o necessário ambiente para essa experiência divina. Toda revelação vem de dentro e não de fora.
OBJETOS RITUAIS
O
s estandartes das guardas, os mastros, o cruzeiro no adro capelas e igrejas do Rosário, os candombes, o rosário, dentre outros, são elementos sagrados no código ritual, investidos da força e energia que asseguram o cumprimento dos ritos.
Peças ritualísticas são instrumentos usados em um ritual, instrumentos de trabalho, instrumento de identificação de cargos. Para qualquer ritual se utiliza peças ritualísticas especificas, consagradas e preparadas para aquele fim. As armas é Conjunto de peças ritualísticas que simbolizam a autoridade, o poder, o conhecimento e estudo entre os diversos graus. A função da arma é proteger o portador e aquele que está sendo protegido por ele, portanto se você não sabe usar uma arma ela se torna perigosa ou sem sentido por não saber usá-la. Geralmente, os objetos são construídos pelos integrantes das comunidades e uma vez incorporadas aos rituais, passam a pertencer ao Congado, sendo, pois, sagrados, não podendo ser usados em outra circunstância. Durante as celebrações, os reis e as rainhas são os líderes do cerimonial, numa estrutura de poder embasada em posições hierárquicas rígidas.
Cordão de São Francisco O Cordão Franciscano é, também, considerado uma poderosa arma onde se simboliza os votos através dos “nós”. Segundo Frei Chico parece haver uma ligação entre nó e embaraço. Desatar o nó seria salvar. O uso do nó é muito comum na religiosidade popular. Outro significado de salvar ligado ao cordão vem do subir ao céu pelo cordão, como diz um verso: Subi no céu pela uma linha E desci pelo Subi com Nossa Senhora A Virgem da Conceição. 40
um cordão
Para explicar como faz o cordão, o senhor José Lobo Sobrinho da cidade de Jacinto MG (1978), diz: "Quando alguém morre aqui em Jacinto, eu faço o cordão. Quem me ajuda e a mulher e o filho. O cordão é feito de linha de algodão. Precisa de uma quarta de linha. Eu faço o cordão e, na hora de dar os três nós, eu rezo. Cada nó tem um Pai- Nosso e uma Ave4040
Maria dos Anjos Ribeiro - Araçuaí MG. 1979
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Maria. Rezo no coração pensando na pessoa, e na hora falo o nome dela". A dona Zefa, artesã, explica: Essas orações dão reforço. É por isso que se chama: Cordão preparado.(Araçuaí MG.1979)
Figura 32 - Cordão de São Francisco
Ainda nos relatos de Frei Chico, Dona Filó, cozinheira dos freis em Araçuaí em (1977), conta: "O cordão de São Francisco é de grande utilidade. Serve para rebater o demônio e guiar a gente no caminho certo. Quem tem o cordão de São Francisco não perde a direção da estrada de Jesus. E quem anda com Deus e Nossa Senhora, São Francisco está guiando. Cada nó do cordão tem o Creio-em-Deus-Padre, o Senhor-meu-JesusCristo, Eu-pecador, Pai-nosso, Ave-Maria e Santa-Maria. Se o demônio chegar perto, ele dá uma rabanada com aquele cordão e o demônio afasta. Aquelas palavras, que tem no cordão, faz ele ficar bento. Não é todo mundo que pode fazer o cordão. Só quem sabe fazer as orações e tiver confiança em Deus, pode fazer. Vai rezando e dando os nós devagarinho e quando termina, acocha o nó e faz o Nome-do-Pai. São sete nós. Eles servem para rebater o demônio". Frei chico explica que referente ao número de nós no cordão, o citado manual dos Cordígeros (pg.6) diz, que podem ser cinco ou três, significando respectivamente as cinco chagas de Jesus e os estigmas de São Francisco, ou então as três grandes virtudes do Seráfico Pai: A Pobreza, a Castidade e a Penitência. Os cordígeros dizem, que os três nós também significam a sua união com as três Ordens fundadas por São Francisco. Em relato colhido por Frei Chico,Dona Zefa disse: "O cordão serve para tirar encosto. Para isso, reza uma Salve-Rainha
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ou um Pai-nosso e açoita o cordão na pessoa. Também é usado o cordão de São Francisco para disciplina na Sexta-Feira da Paixão. Se a pessoa tiver um pecado mortal, ela mesma reza e se disciplina com o cordão preparado". (Araçuaí. MG.1979) Ainda segundo Frei Chico, o cordão libertador de São Francisco é usado para amansar doidos, para ajudar no parto difícil, contra a tentação do demônio e para pôr na cintura dos defuntos. É interessante que há tão grande semelhança entre os costumes do século XIII e os do nosso tempo.
Bandeiras A Bandeira é a representação material e iconográfica do santo de devoção. O devoto atribui a ela a capacidade de levar seus pedidos e suplicas até o santo de devoção que está junto a Deus. Aqueles que guardam as bandeiras dos mastros são conhecidos como mordomos. Esta é uma função vitalícia e hereditária. A bandeira que vai à frente dos ternos e é denominada de Guia, cada qual tem a imagem do santo venerado pelo terno.
Figura 33 - Bandeiras levantadas na Comunidade da Pampulha Velha - BH (Foto: Juliana Nikoli)
As bandeiras são divididas em dois tipos: a) Bandeira de mastro e b) Bandeira de Guia
Figura 34 - Bandeira de mastro (esq.); Bandeira de Guia (dir.)
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O primeiro tipo é feito em uma caixa de madeira com a efígie do santo de devoção enfeitada com fitas e flores. Na lateral tem 2 orifícios que se encaixam no mastro. O segundo tipo tem sua parte superior fixada a uma haste em posição horizontal que é usada para carregar a mesma a frente da guarda no trajeto de translado da imagem ou de ou de cortejos, ou traslado da guarda.
Figura 35 - Bandeiras levantadas na Comunidade da Pampulha Velha - BH (Foto: Juliana Nikoli)
Figura 36 - Bandeiras levantadas na Comunidade da Pampulha Velha - BH (Foto: Juliana Nikoli)
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Figura 37 -Bandeira de Santo Antônio de Pádua (à esq.) e de N. S. do Rosário (à dir.) (Foto: Acervo OTCSAP)
Cores das Guardas As cores primárias fizeram parte dos fardamentos das primeiras guardas existentes. Entretanto, o catolicismo, reinventa novas simbologias para as cores, adaptando-as aos santos católicos; e assim a cor azul vira um céu e o branco toma-se a paz do negro convertido; o vermelho passa a representar a caridade do escravo para com os seus senhores; e os bastões, são as bengalas nas mãos dos pretos velhos contadores de histórias que divertiam os filhos e filhas da eufemística bondosa sinhá. E agora, em pleno século XXI, prevalecem as cores de tonalidades vibrantes: O amarelo é a cor da prosperidade e do ouro que motivou a escravidão em Minas Verde, traz saúde, esperança e harmonia. Representa também a mata que os negros atravessaram levando a santa. Azul, simboliza a eternidade celestial e a certeza de vencer desafios futuros e a eterna ligação com Nossa Senhora no céu. Branco, veste a paz e o perdão. Azul-marinho, homenageia o sofrimento das mulheres escravas que eram lançadas ao mar para aliviar as cargas dos navios negreiros, quando estavam ameaçados de naufragarem em meio às tempestades. Rosa, representa a sensibilidade e humildade de Nossa Senhora e o caminho de flores feito para que ela passasse na mata. Vermelho, fraternidade, companheirismo.
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Azul - Piscina, simboliza a alegria dos marinheiros ao resgatar Santa Ifigênia no fundo do mar. Verde-glauco, essa cor mais ou menos verde era usada pelos adolescentes em fase de transição-preparação para utilizar as cores das indumentárias dos adultos. Verde-Piscina, traduz a felicidade dos marinheiros ao buscar Santa Ifigênia no mar. As cores preta e vermelha, representantes do sangue, luto e martírio de Jesus, não são usadas em seus uniformes pois, segundo os próprios congadeiros, elas representam associações com rituais malignos.
Bastão de Moçambique O bastão é um dos instrumentos mais importantes dentro dos sistemas ritualísticos. Tem sido utilizado há milhares de anos em ritos mágicos e religiosos. É um instrumento de invocação. O Sagrado pode ser invocado para assistirem ao ritual por meio de palavras e de um bastão erguido. Também é por vezes utilizado para direcionar energia, para desenhar símbolos mágicos ou um círculo no solo, para indicar a direção de perigo. O bastão pode representar o elemento Ar , Fogo ou Terra dependendo do sistema ritualístico. Há madeiras tradicionais para a confecção de um bastão, dentre elas o salgueiro, o sabugueiro, o carvalho, a macieira, o pessegueiro, a avelã e a cerejeira. Alguns a cortam com o comprimento da ponta de seu cotovelo até a extremidade de seu indicador, mas isto não é necessário. Qualquer peça relativamente reta de madeira pode ser utilizada.
Figura 38 - Exemplo de Bastões de Moçambique
No Moçambique o bastão é o símbolo maior de comando dos principais capitães. É o símbolo do elemento fogo, usado pelos senhores de estado. (Capitães de Moçambique). O moçambiqueiro verdadeiro deve tê-Io sempre junto a si.O bastão traz na sua essência a energia vital, perdê-Io ou largá-Io em qualquer lugar não é recomendável e o verdadeiro dançador nunca abandona esse poder que pode protegê-lo durante todo o tempo dedicado aos festejos.
O moçambiqueiro que traz às mãos traz esse instrumento tem que ser muito responsável, pois significa o poder de superar crises espirituais e principalmente as doenças psicossomáticas. Esse objeto está associado aos antigos benzedores, essas nuances congadeiras permaneceram imperceptíveis ao olhar dos folcloristas. No ritual para adquirir a força psíquica, era preciso postar-se diante do sol com o bastão filtrando os raios solares. Após subir em cupins no meio do mato aonde houvesse serpentes possíveis de serem encantadas e despachadas a outro lugar, o capitão estava preparado para receber toda a energia da natureza e transportá-la ao bastão. O Bastão pode ser confeccionado em 3 diferentes tipos de madeiras usadas, segundo a
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tradição, na tortura de cristo: cedro (usada na cruz), braúna (representando os cravos), acácia (usada na tabuleta). Também pode ser confeccionado em chifre. Na “feitura” do mesmo pode ainda ter 3 anéis, sendo, o primeiro o Fundamento(Deus Pai), o segundo o Mandamento(Deus Filho) e o terceiro o Sacramento (Espírito Santo); ou ter sete anéis (7 metais ) que distingue a hierarquia da capitania. Além disso o bastão pode ser adornado com Flores e Fitas.
Rosário e o Terço A arma principal de qualquer integrante é o terço e o Rosário de contas de ‘Lágrimas de Nossa Senhora’ ou de ‘contas de saboneteira’. Já no século XV, o rosário era chamado de “Arma misteriosa” por estar sempre ligado à libertação de povos. Todo congadeiro usa, cruzado no peito, um rosário com os 15 mistérios, de contas de lágrimas ou de contas negras de saboneteira
Figura 39 - Rosário de Contas de Saboneteira
A reza com pedrinhas, provavelmente, surge no Séc.IV no deserto do norte da África, com o eremita cristão Paulo (Séc. IV) que rezava 300 vezes o pai-nosso contando 300 pedrinhas. No Séc. XII usar pedrinhas para contar as orações vira um costume. No século XII, os irmãos cistercienses rezavam 1500 pai-nossos para um confrade falecido e segundo a Regra da Ordem dos Templários, revista por São Bernardo em 1128, rezava-se durante uma semana 100 Pater Nostrum para o irmão falecido. Nos arredores de Colônia (Alemanha), em 1200, existia o costume de rezar 50 ave-marias. Já em 1260 existia em Paris (França) uma corporação de fazedores de Padre-nosso, nome antigo do rosário. 41 A Regra de Santa Brigida (1303-1373) manda rezar 63 ave-marias. Seja como colar de orações ou como um conjunto de orações em tributo a Nossa Senhora, rosário significa coroa de rosas. Isso porque, na devoção católica, cada ave-maria rezada a Nossa Senhora representa uma rosa, que é a rainha das flores, oferecida a ela, que é a rainha do Céu, da Terra e dos homens. Colares de flores ou de pedras, contas ou caroços são oferecidos, no Extremo Oriente à pessoas que se quer homenagear. O uso de um 41
KNIPPENBERG, W.H.Th. "Devotionalia".Vol.I. Eindhoven,Bura Boeken,1985.p.12-13
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colar para marcar orações é corrente no hinduísmo, budismo e islamismo. Já no catolicismo, o rosário surgiu por volta do ano 800, quando os monges rezavam 150 salmos, em diferentes horas do dia, marcados pelos nós de um cordão. Leigos que não sabiam ler substituíram os salmos por padre-nossos, no chamado saltério. Disso tudo surgiu mais tarde o rosário de Maria, com 150 Ave-Marias. Segundo uma lenda, Nossa Senhora teria ensinado a oração do rosário a São Domingos de Gusmão (1170-1221) quando esse rezava em sua cela e apareceu-lhe a Virgem Maria sobre uma nuvem luminosa e ensinou-lhe um método de oração garantindo-lhe que daria resultados maravilhosos. Assim surgiu a devoção ao Rosário, composto sob a orientação da Rainha do Céu e que em pouco tempo trouxe de volta ao seio da Igreja inúmeros fiéis. Nessa época, a Igreja católica lutava contra a heresia dos cátaros e São Domingos, a fim de perpetuar o esforço missionário que começara com tão férteis resultados, fundou a Ordem dos Irmãos Pregadores ou Dominicanos, com a missão de propagar a devoção do Saltério de nossa Senhora, que logo se estendeu por diversos países da Europa. O rosário, como instrumento do poder de Nossa Senhora, foi relacionado à vitória final na Batalha de Muret, em 1213. A consagração definitiva do rosário foi por ocasião da famosa Batalha Naval de Lepanto, ganha pela Cristandade a 7 de outubro de 1571. Enquanto a armada cristã lutava desesperadamente contra os turcos, o povo em Roma rezava a oração ensinada pela Virgem Maria. A fim de imortalizar o triunfo das forças cristãs, Pio V instituiu a festa de Nossa Senhora das Vitórias, cujo nome foi mudado para Nossa Senhora do Rosário pelo seu sucessor, o papa Gregório XIII, que reconheceu no rosário a arma da vitória. No século XIX todo o mês de outubro foi dedicado pela Igreja Católica a esta piedosa oração. Não vamos entrar nos detalhes do história complexa do rosário, mas é certo é que, no séc. XV, os frades dominicanos introduziram e divulgaram a devoção do rosário de Maria e as irmandades de Nossa Senhora do Rosário. Ao mesmo tempo, os portugueses adotaram N. S. do Rosário como padroeira das navegações e, a partir da expedição a Ceuta, em 1415, levaram ao resto do mundo a devoção a ela. Inclusive à África, onde passaram a converter os povos ao cristianismo, para garantir as posições conquistadas e o comércio de escravos. O rosário teve especial importância, na conversão desses povos, como uma ferramenta extremamente prática de evangelização, que levava os fiéis a uma intensa meditação sobre a cristandade e os mistérios de Salvação, através de suas orações, jaculatórias, ladainhas e leituras da Bíblia. Essa conversão foi apoiada por bulas papais estimulando a expansão do Evangelho e a Igreja tomou a si a tarefa de integrar os convertidos a uma sociedade branca e católica, a partir do início do tráfico de escravos, em 1441. Nessa integração, por sua vez, dois fatores tiveram grande importância. Um deles foi a leitura que os negros convertidos fizeram da doutrina católica, traduzindo-a para seu código, absorvendo-a sob um ponto de vista próprio, combinando os elementos com os de sua cosmologia e criando o que se poderia chamar de um catolicismo africano. O outro foram as irmandades, associações religiosas leigas que já vinham do século XIII como grupos de propagação da doutrina, devoção, solidariedade, assistência espiritual frente à doença e à morte, identidade e integração, que congregavam fiéis em torno de um santo. Augusto de Lima Júnior nos dá um quadro poético dessa devoção ao Rosário na Minas Colonial:
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Essa devoção por Nossa Senhora do Rosário é uma das mais tocantes de nossa história social. Levavam eles o rosário ao pescoço e, depois dos terríveis trabalhos do dia, reuniam-se em torno de um “tirador de reza” e ouvia-se então, no interior das senzalas, o sussurar das preces dos cativos. O costume lhes fora ensinado do hábito de nas fazendas de trato da terra e nas de mineração, serem convocados todos quanto nelas trabalhavam, no instante das AveMarias, isto é, quando começava a escurecer, para a reza do terço em comum. De igual modo nos quartéis e estalagens, havia sempre um que tomava a iniciativa da piedosa oração, generalizando-se nas Minas Gerais, sua prática, que veio até nossos dias e não desaparecerá nunca, sejam quais forem os esforços de certos liturgicistas que já tentaram arrebatar ao povo numa das províncias eclesiásticas de nossa terra esse preito de homenagem a Mãe de Deus. 42
INSTRUMENTOS
O
Congo tem uma maior variabilidade no instrumental do Congo, de uma guarda para outra. Além dos instrumentos de percussão - caixa, tamboril, reco-recos, pandeiros e chocalhos, há Congos que apresentam também violas, sanfonas, cavaquinho e eventualmente rebeca.
O instrumental da guarda de Moçambique tende a ser bastante homogêneo de uma guarda para outra. Ele é composto pelas caixas, geralmente em número de três, dos patangomes e das gungas.
Guaiá Guaiá, chocalho: Pequeno recipiente de casco de tatu ou taquara trançada, oco e fechado, formando um chocalho com uma alça para segurar e que contém, no seu interior, pedrinhas, sementes ou outra coisa que sirva para provocar o som a que se destina. É manejado ou tocado pelo mestre.
Puíta Puíta, cuíca: Instrumento feito em madeira escavada de lado a outro, coberto com couro em uma das extremidades e, no centro desse couro, do lado de dentro, é amarrada uma haste de madeira, bem lisa. Para ser tocado, o instrumento é colocado entre os joelhos, pressionado e, com um pano molhado, esfrega-se a haste tirando o som. A mão colocada sobre o couro, externamente, resulta em sons variados.
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LIMA Jr., Augusto de. História de Nossa Senhora em Minas Gerais: Origens das principais invocações. Belo Horizonte. Autêntica Editora: Editora PUC Minas, 2008. p. 94
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Figura 40 - Guaiá sobre os tambus de Santana, Santaninha e Chama e ao lado a puíta
Tambú Tambú do Candombe são tambores longos, feitos de tronco escavado, com couro aplicado de um lado só. São utilizados três tambores, que têm alturas semelhantes, apresentando porém, larguras diferentes: o maior e mais grave é chamado de Santana, o médio de Santaninha, e o mais estreito de Jeremias ou Chama. Para tocá-lo, o candombe é poscionado em pé amarrado à cintura do candombeiro. Os tambús variam de tamanho e formato, mas, em geral, são escavados de um lado a outro em madeira, com instrumentos manuais, como a goiva e o formão. Podem ser em número de 5 ou 6. O mestre escolhe a árvore a ser utilizada para a confecção dos tambús, que em geral é o cedro rosa. Esta é então derrubada e cortada de acordo com o tamanho de cada instrumento. Após término do processo de modelagem e escavação, os restos da árvore são queimados. Estica-se, então, o couro, previamente molhado, sobre uma abertura do “esqueleto” em madeira onde é fixado com cravos. Dá-se o toque final a cada um e segue-se a afinação dos tambús com o fogo. Há todo um ritual a ser seguido até que os tambús estejam finalmente prontos, pois são instrumentos considerados sagrados e mágicos e devem ser utilizados com respeito e sabedoria. •
Chama: É o maior tambú e o primeiro que começa a tocar, “chamando os demais para sua função.
•
Crivo: É o segundo maior.
•
Santana: É o terceiro em tamanho. Como já mencionado anteriormente, é o Santana quem “puxa” o Santa Maria.
•
Santa Maria: “Responde” ao toque do Santana.
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Figura 41 - Tambores do Candombe da Comunidade do Reinado da Pampulha Velha (Foto: Manoel Reis)
Caixas Ngoma é a palavra universal nas línguas bantas para tambor e são chamados também de Caixas. As caixas são tambores cilíndricos com couro em ambas as extremidades. Entre os bantus Ngoma é a palavra universal para tambor. Quando tropas inimigas invadiam os palácios dos reis a primeira coisa que faziam era destruir os tambores. Santos (2007) cita Lopez & Pigafetta com relação a outros usos e importância do tambor na cultura africana: “Uns que tiram fora, com atabaques grandes, com caixas de um só pau de árvore e cobertas de couro que tangem por via de certos malhos de marfim, os outros procedem duns instrumentos afigurados à guisa de pirâmide contravolta, porque debaixo acabam em agudo e para riba vão-se dilatando até à base do triângulo, em maneira que no fundo terminam em ângulo e por cima em largo; (...) os quais se percutem com baquetas de madeira, e as mais das vezes se fendem para que o estrondo seja mais rouco e horrendo e belicoso” Antigamente, eram feitas de tronco escavado. Hoje em dia, o corpo é é constituído de latas de óleo diesel ou feito de folha de compensado. O couro é de boi, preso e esticado com cordão enlaçado e trançado na forma de “Y”. A caixa é tocada com duas baquetas recobertas ou não na ponta. São carregadas por meio de uma alça no ombro. Possuem aros inferiores e anteriores de madeira ou também de metal que são os elementos de fixação das peles ao corpo do tambor. As peles, geralmente, sem pelagem são costuradas em outro aro interno que serve para dar tensão. Recebem também uma “emulsão” de gordura animal (sebo ou banha) para conservação. Após posicionadas e apertadas ao corpo do tambor, as peles são chamadas de frente e resposta. Possuindo nomes, formas, tamanhos e funções, as caixas são o grupo de maior destaque das Guardas. É composto por tambores construídos pelos próprios integrantes, herdados ou doados, ou comprados. Corpo: Metal ou madeira. Aros: Metal ou madeira. Peles:
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Animal (bovino e ovino) ou Industrial. Cordas: Fibras sintéticas.
Figura 42 – Esq. Caixa de Moçambique com afinação de cordas e suporte para baquetas Dir. Moçambiqueiro tocando caixa de metal e afinação de haste durante o período de novena – Betim – MG – 2009 (Acervo IMPHIC)
As caixas possuem mecanismos de afinações diferenciados podendo ser por barras de metal e/ou cordas. Basicamente a afinação das caixas é realizada pela tensão que barras e cordas executam sobre as peles apertando-as junto ao corpo do tambor. Para a afinação utilizando cordas usa-se “puxadores”, que são tiras de couro que envolvem as cordas, realizam sobre elas uma tensão deslizando e diminuindo os espaços entre as amarras apertando ou afrouxando as peles e aros contra o corpo do tambor. As cordas executam também a função de unir as peles ao corpo do tambor usando para isso aros de madeira ou metal transpassando-os e unindo-os por meio de amarras. Já a afinação utilizando barras de metal, adaptam-se roscas em uma das extremidades de cada barra, que realizam a tensão apertando as peles e aros contra o corpo do tambor.
Figura 43 - Caixeiro de Guarda convidada na festa em Betim portando uma caixa com afinação por cordas e à direita, caixas com afinação por barras de metal 2006- (Acervo IMPHIC)
Existe ainda um tipo de “afinação” usando pele de cabrito para frente e nylon para resposta. Na pele de resposta ainda observa-se uma corda de violão que além de estar amarrada e encostada junto a pele de resposta traz consigo uma lágrima de nossa senhora. Esta afinação é usada em uma das caixas da Guarda de Conselheiro Lafaiete.
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Isso permite uma “vibração” ao se percutir a pele da frente. As Caixas do Moçambique são maiores, de sons mais surdos e graves. Caixas do Congo são semelhantes na construção às caixas do Moçambique, mas devem ser mais agudas. Elas devem ter diferença de afinação entre si, pois a configuração de vários padrões rítmicos do Congo se dá a partir da complementariedade entre as realizações das caixas, tornando necessário que elas apresentem uma distância de freqüência. Os tambores são a matéria-prima e componentes essenciais da festa, ponte que liga memória ancestral, identidade étnica e religiosidade popular. Segundo Frei Chico não existe festa sem o tambor, pois foi a própria mãe de Deus que adotou os tambores e as danças dos negros ao se assentar sobre os tambus do candombe. O tambor traz o chamado sagrado, como se refere no canto: Bate tambor, bate tambor Hoje é dia de alegria Como se fosse referência a um ditado bantu: ngeie ikua ndunga iilu sonsa; / Beno bonso fuene kuenda (quando soa o tambor, todos tem que ir saber o que está acontecendo) Ou seja, o “chamado” dos tambores é uma presença espiritual dos ancestrais. Esta é a mensagem. Quando se ouve ongoma as pessoas tem que atender e saber o que os ancestrais querem delas (SANTOS:2007) Eles são caminhos para o êxtase e é com eles que o moçambiqueiro invoca seus antepassados e ancestrais e o poder de expulsar as forças e vibrações negativas. O Moçambique não percute os aros ou corpo do tambor para extrair outros sons, como o congo. E são os Caixeiros de Guia que mantêm uma constância nos padrões básicos são considerados como os pilares dos tambores.
Gunga Gunga, também chamada campanha, são idiofônios feitos de pequenos cilindros de metal. Geralmente são feitas de latinhas de conserva fechadas com sementes (principalmente caetés) ou chumbinhos dentro. São presas a uma correia de couro (“passadeiras”) e amarradas aos tornozelos sobre ou abaixo dos joelhos, com uma tira de espuma dentro do couro. O número de latas em cada pé varia de três a seis. Algumas trazem guizos entre as latas. As gungas representam, assim, a fusão do som e da dança, sendo o ritmo produzido pelo movimento coreográfico do dançante. Estes instrumentos sagrados que, em tempos primevos, eram de uso particular dos benzedores, revelam-se, nos tornozelos dos moçambiqueiros, dotados de toda a magia incorporada a eles através da força mística do congado. Segundo a tradição, usava-se somente seis gungas, três em cada tornozelo, cada uma com 16 nozes de dendê, coité ou esferas de chumbo.O total de sementes ou esferas era de 96, um número eterno, para cima ou para baixo. Tinha-se assim em cada gunga, um
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Rosário de Ifá (feito com as 16 nozes de dendê) 43.
Figura 44 - Gunga (Foto: Edmílson)
Uma outra tradição diz que para seu efeito mágico é necessário que soma da quantidade deve ser impar, pois no mito fundador o terno de Moçambique tinha sete integrantes. O numero sete também é encontrado em inúmeras culturas como um número sagrado. Dentre os membros, em alguns ternos, apenas os soldados dançadores e às vezes os capitães são os que podem usá-las. A gunga assemelha-se, também a um instrumento usado para tolher a liberdade dos negros à época escravidão. Esse instrumento converte-se, então, em uma “arma” de liberdade e de identidade, ao ser vista como um símbolo de cultura dos negros no ritual performático, marcando o ritmo, a beleza e a leveza do festejo. Por outro lado, semiologicamente, a gunga liga o corpo do negro a terra, propiciando um elemento de ligação entre a ancestralidade e a representação que vai possibilitar que os integrantes reviver o momento de coroação do Rei Congo. Essa ancestralidade clama pela terra, através de passos marcados e sincopados, com toque dos pés no chão. De acordo com Jeremias Brasileiro, no oeste mineiro na época da escravidão havia um objeto sonoro semelhante que era amarrado na altura dos tornozelos. Seu uso era restrito aos benzedores e feiticeiros. De acordo co Santos (2007) o padrão recorrente das gungas é 6/8:
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Ifá é um Kamano Maioral - deus da revelação, transmissor das mensagens oraculares aos Olowô (curandeiros e advinhos), responsáveis pela guarda espiritual de seus adeptos
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No Moçambique, é importante esclarecer que a gunga tem um poder mágico ritualístico, é com ela que o moçambiqueiro “reza” e é com ela que ele encontra a capacidade de se conectar com os ancestrais como podemos ver no canto: Aê Angola Essa gunga vem de lá Correu mundo e correu mar
Patangome Patangome, também chamado de chitangome ou foia (folha), consiste em uma lata redonda de aproximadamente 25 cm de diâmetro, feita com lata grande de doce em barra ou com calotas de automóveis, cheias com chumbinho ou sementes. O Patangome ou Patagoma continha noventa esferas de chumbo em seu interior e mais nove distribuídas entre os patagomistas, cada uma dentro de um patuá- pequena bolsa de couro ou palhasimbolizando a unidade familiar africana; vivendo em sintonia espiritual plena dentro dos seus casulos tribais em que as mulheres transformavam-se nas autênticas mantenedoras dos territórios, suprindo ausências dos homens que partiam para as batalhas, ficando vários dias sem aparecer nas aldeias.
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Figura 45 - Patangome feito de calota de carro e esferas (Acervo SUM)
O movimento mais comum para a produção de som é no sentido das laterais, movimentos sincopados. Os patangomes são importantes na manutenção do andamento do tempo de referência, servindo de referencial rítmico para caixeiros, capitães e dançantes. Santos (2007) nos esclarece que estes instrumetos são imprescindíveis para a manutenção do andamento do tempo de referência como referencial rítmico para caixeiros, capitães e vassalos e contribuem decisivamente para o impacto visual e sonoro da performance dos ternos. De acordo com Santos (2007) as principais variações rítmicas do Patangome são: Embora seja um instrumento utilizado em vários temos, é no Moçambique que a patagoma tem história: representa a mulher cultivadora de vida, paz e prosperidade. "Na visão cristã africanizada, seria um vaso cheio de sementes lembrando a gravidez de uma mulher" (KALUMBA,.In: Sem Fronteiras, 1999.p.20).
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Tamboril Tamboril e/ou tamborim no Congo, mais do que um instrumento musical, o tamboril constitui um símbolo de poder dos capitães, representando os tambores que retiraram Nossa Senhora do mar. Apresentam tamanhos e formatos diversos. Alguns são como as caixas, porém menores. Outros são uma pequena caixa retangular de madeira, coberta de couro dos dois lados, o qual é preso ao corpo da caixa por pregos. O tamborim é percurtido com uma vareta ou baqueta.
Figura 46 - Tamboril usado por capitães de congo
Canzale e Sanfona Canzale/Canzalo é o nome local para o reco-reco feito de bambu. Consiste num pedaço de bambu ou taquara com talhos transversais que são raspados com uma vareta para a produção do som. A Sanfona é o instrumento mais recente nos Congos, não sendo um instrumento imprescindível.
Figura 47 - Canzale e sanfona utilizado por guardas de congo e catupé
Apito Objeto de comando dos capitães usado para comunicar com os dançantes qual a performance a ser executada. São usados principalmente como meios de transmitir
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informações à distância nas chamadas dos moçambiqueiros para se reunirem, para algumas manobras coletivas que exigem coordenação. Ele transmite informações contínuas em meio à uma grande quantidade de gente como em frente da Igreja. A combinação de som e gestual criam códigos de comandos nos termos. Por exemplo, para indicar em que momento deve cessar, um dos capitães se coloca na frente e faz um silvo curto seguindo de um longo e levanta o braço; em seguida faz um silvo longo no final do compasso e por todo o compasso seguinte e se finda no primeiro tempo do próximo compasso e o bastão é erguido no exato momento em que os tocadores devem parar de tocar seus instrumentos. Outra variação acontece quando estão aparecendo “buracos” (espaços vazios) nas fileiras do terno. O Capitão vai na frente da Bandeira de Guia assovia para a bandeireira parar e vai até onde estão os “buracos” indicando com o bastão e som de apito quem deve ocuopar os lugares abertos.
Figura 48 - Apito usado por capitães para conduzir suas guardas
Coroa, Capa e Cetro A capa é o manto de proteção do Santo Padroeiro do Dignatário. As capas podem ser curtas ou longas, lisas ou com estampadas com a iconografia do Santo padroeiro ou insígnias, com ou sem bordados. Geralmente, as capas trazem as cores presentes na iconografia do Padroeiro. Enquanto a capa é o manto de proteção do Santo Padroeiro do Dignatário a coroa é o símbolo de realeza, ela é Santo Padroeiro ali representado: quando a pessoa se prepara para receber a coroa o Santo Padroeiro é evocado. “As coroas simbolizam duas esferas do sagrado que se interpenetram — são o elo com os santos de devoção e representam a vinculação com a ancestralidade africana.” Portanto, no coroamento de um rei ou de uma rainha Congo, as reminiscências da memória são evocadas. As coroas são identificadas pelo número de gomos existentes. Reis e Rainhas usam coroas 5 gomos. As Coroas festeiras e de Ano são prateadas e as Coroas de promessa são douradas. Todas elas podem ser decoradas com pedrarias ou toda coberta com tecido ou miçangas.
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Figura 49 - Capas pintadas com iconograqfia de santos (esq.). Capas Bordadas (dir.)
Dependendo do Santo padroeiro, a coroa pode mudar o tipo ou formato, por exemplo, o Rei de São Jorge pode usar um capacete de soldado assim como o de São Jorge; pode ainda, portar espada ou lança; a Rainha de Santa Efigênia pode usar o Hábito religioso, tal qual o usado pela Santa e pode carregar o “Convento” que representa o milagre pelo qual Efigênia foi santificada. A Coroa de Congo, em geral, deve ser confeccionada com contas de lágrimas de Nossa Senhora.
Figura 50 - Exemplos de tipos de tiaras e boinas
Os Príncipes e as Princesas, geralmente, usam a coroa aberta, a tala reta, a Boina de tecido ou a Tiara.
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Figura 51 - Exemplos de coroas (dir: Coroa de Tala Reta, Esq: Coroa Aberta)
Os Imperadores do Divino usam a tiara e coroa aberta ou a coroa de 8 gomos.
Figura 52 - Coroa de Oito Gomos de Imperador do Divino - Comunidade do Reinado da Pampulha Velha - BH/MG (Foto: IMPHIC)
As coroas geralmente são confeccionadas em latão ou em outro metal. Seu formato e ornamentação deve obedecer o revelado em sonho ao dignatário, podendo trazer símbolos alusivos ao patrono da coroa ou os símbolos tradicionais das Guardas do Rosário (sol, lua, estrela, tocha ou globo e cruz). Poderá ser adornada, conforme o desejo do dignatário, com pedrarias, contas e miçangas; o cetro é o símbolo de autoridade, poder, comando e a Faixa identifica o coroado.
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Figura 53 - Coroas de Reis Festeiros
Figura 54 - Coroa de Rei de S達o Jorge
Figura 55 - Coroas da Corte na festa da Comunidade do Reinado da Pampulha Velha (Foto: Juliana Nikoli)
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Figura 56 - Coroa da Corte da Comunidade do Reinado da Pampulha Velha (esq.). Coroa de Sto Antônio de Pádua da Com. do Reinado da Pampulha Velha (dir) (Fotografo: Juliana Nikoli)
Figura 57 - Coroa festeira (esq.). Coroa enfeitada com miçangas(centro). Coroa enfeitada com tecido e miçangas (dir.)
Figura 58 - Coroa sem enfeite (esq.) Coroas Dourasas decoradas (centro e dir.)
Fardamento Os Congos, além dos saiotes, geralmente de cor rosa ou azul, usam vistosos capacetes ornamentados por flores, espelhos e fitas coloridas. Já o Moçambique, senhor das coroas, recobre-se, geralmente, de saiotes azuis, brancos ou rosa por sobre a roupa toda branca, turbantes nas cabeças, gungas nos tornozelos Outros ternos como marujos levam farda ao estilo marinheiro. O povo de caboclo são os que são devotos a santos que, vamos generalizar, carregam penas como São Jorge
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(capacete ou elmo com plumas), São Sebastião (que tem capacete com pluma), Divino Espírito Santo (que é a pomba). O vilão é de origem portuguesa, mas está dentro do reinado. Ele é da vila, quem morava na vila era o vilão. E se veste ao estilo português com calça, bota, camisa de manga comprida e chapéu. O Catupé ou Catopê se veste com camisa, calça, lenço e geralmente cocar de penas Exemplo de alguns fardamentos utilizados na festa em 2009
Figura 59 – Esq.:, Desenho básico do fardamento da Guarda de Marujo de São João Bosco – Capitã Dna. Zélia Dir.: Desenho básico do fardamento da Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário – Capitão Dalmo
Figura 60 – Esq.: Desenho básico do fardamento da Guarda de Moçambique de N. S. do Rosário – Capitã “Dna. Nenen”. Dir.: Desenho básico do fardamento da Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo – Capitão Edinilton
Figura 61 – Esq.: Desenho básico do fardamento da Guarda de Congo de N. S. do Rosário – Capitão Raimundinho. Dir.: Desenho básico do fardamento da Guarda de Catupê de Santa Inês – Capitã “Tita”
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Figura 62 - Desenho básico do fardamento da Guarda de Moçambique de N. S. do Rosário e Sto. Antônio de Pádua
Argolas Em algumas culturas, argolas, brincos ou outros pendentes tem significados diferentes: valentia, coragem,paciência etc como entre os ciganos, árabes em geral, guerreiros.
Figura 63 - Capitão Bimbo usando argola ao estilo bantu do moçambique
Em outras culturas religiosas marca-se no corpo de que entidade pertence sua devoção também com pendentes e argolas. Adornos eram usados para diferenciar tribos através de diversos tipos de adereços. As argolas presas aos lóbulos das orelhas são reminiscência de antigo costume das nações bantas, particularmente Moçambique.
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Espadas No Congo o tamboril e/ou a espada cumprem a mesma função do Bastão no Moçambique. A espada representa a autoridade e seu sentido transcende seu caráter de violência e é encontrado em várias Ordens e crenças religiosas, tais como no Islamismo, Cristianismo, bem como na maior parte das demais tradições. Ela é dirigida contra aquilo reconduzir a essa ordem.
que perturba a ordem e unicamente, com o objetivo de
Representa, também, a luta que o homem deve conduzir contra os “Inimigos da Luz” e contrários à ordem e à Unidade de Deus. O seu fim é sem dúvida sua única razão de ser: a paz que só pode ser verdadeiramente obtida pela submissão à vontade divina colocando cada elemento em seu lugar.
Figura 64 - Espadas utilizadas por guardiões e guardas-coroa
Podemos acrescentar que a espada é em geral associada ao relâmpago ou luz.
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Figura 65 - Espada acompanhada de rosário de contas de madeira amarrado à mesma
A espada representa também, o poder da palavra; e de suas manifestações. Quanto ao gume duplo, representa o duplo poder criador e destruidor desta “palavra”. Por isso o Congo segue à frente do cortejo limpando os caminhos e pondo “ordem no caos” para que as guardas e a própria Virgem possa passar. A espada significa o extermínio físico, a destruição de um obstáculo, espiritualmente significa a determinação. O simbolismo da espada está ligado também à ideia da ação da justiça.
Andores Os primeiros andores de que há memória, feitos por aqui, já tinham a mesma estrutura de hoje, mas eram feitos com "penachos", normalmente de cores muito vivas e flôres. Depois as flores começaram a ser feitas em papel crepe e bem mais tarde apareceram as flores de plástico e começou a usar-se o findo em cetim. Finalmente apareceu o tule e as flores artificiais de hoje e começou-se a usar o cetim e o tule de cor rosa e azul, embora predomine o branco. Antigamente os andores eram feitos dentro das capelas, para cada festa, pois não havia maneira de transportá-los.Também eram bastante pesados, principalmente os andores de arremate. Hoje as estruturas são mais leves e os andores
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mais baixos, o que facilita o transporte.
Figura 66 - Andores utilizados na procissao - 2005 (Acervo IMPHIC)
Existem ainda para as Imagens mais pesadas e altas as "peanhas" ou "apeanhas"como se chamam e os andores só com a "Padiola e o "Pedestal". A estrutura do andor é feita manualmente,em madeira e é composta pela "Padiola," que é a base do andor, com as hastes para poder pegar-lhe e transportá-lo. Na base encaixam as partes laterais chamadas "Esses" , porque sua forma lembra um “S” , que normalmente são quatro e no meio dos "Esses", ou então na parte de cima, o "Pedestal", onde depois se vai colocar a Imagem. Quando a Imagem é colocada no meio, o andor leva um "Arremate", que é uma cupula, para arrematar o andor e unir os "Esses". Depois da estrutura feita e montada, cobre-se toda com cetim ,quase sempre branco, coloca-se as flores, geralmente artificiais e são compostas a gosto, normalmente já com cores apropriadas às Imagens que o andor irá transportar. Depois disso cobre-se os "Esses" e outras partes do andor com tule e/ou cetim. Finalmnente, coloca-se osenfeites e fios brilhantes, ou colares de pérolas,com cores combinando ou com as cores do santo e o andor está pronto para levar a Imagem. Atualmente os andores são transportados para a Igreja ou Capela onde são pregadas as Imagens que irão em procissão e feitos os ultimos retoques.Pode-se pregar, ainda, quatro fitas que as crianças seguram durante a procissão. Os andores podem apresentar várias formas. Em alguns casos as imagens podem estar protegidas por uma coroa, cúpula ou arremate. Os andores podem apresentar-se de dois modos: Os tradicionais e os de flores naturais. No entanto há, pelo país, diferentes formas de andores. Os andores altamente elaboradoa apresentam um problema: realçar mais a beleza do andor e o “Santo” nele transportado passar a ter um papel secundário. Durante uma procissão, o andor era carregado por 4 ou mais homens, ladeados de crianças a segurar a fita.
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Imagem de Nossa Senhora do Rosário de Betim
Figura 67 - Foto do Retábulo da Capela com a Imagem da Virgem do Rosário entronizada (Acervo IMPHIC)
Não há documentos sobre a primeira imagem da Santa existente na cidade, porém, acredita-se que a primeira capela atribuída a Nossa Senhora do Rosário teria tido uma imagem mais tosca, produzida sem os recursos técnicos do século XIX. A imagem de Nossa Senhora do Rosário entalhada em madeira maciça e policromada, atualmente guardada pela Fundação Artístico-Cultural de Betim, remonta à ocasião de instalação da Capela (1897). Embora não haja registros acerca de seu autor ou procedência, verifica-se através dos detalhes apurados, delicadeza do entalhe e policromia que tal peça pode ter sido produzida por artífices de Ouro Preto, uma vez que o antigo arraial era local de passagem de viajantes para outros municípios localizados nas proximidades das Vilas do Ouro ou até mesmo artífices estrangeiros, fato corriqueiro na época. Nesse sentido, a continuidade histórica de desenvolvimento do município demonstra que era comum a atuação de mestres vindos de regiões longínquas bem como a absorção de outras culturas, o que pode ser comprovado na segunda metade do século XIX quando a capela que sedia o culto à Santa em questão assumira aspectos particulares de um estilo mais Art-decó. A pesquisa histórica aponta, portanto, para a possível confecção da Imagem de Nossa Senhora do Rosário por importante escultor da época, tanto pelas características que apresenta quanto pelas influências recebidas pelo município. Até os primeiros anos do século XXI a imagem em questão podia ser vista no altar mor da Capela de Nossa Senhora do Rosário de onde foi retirada em 2005 por motivos de segurança. Sua remoção e guarda na Casa da Cultura representou assim, uma iniciativa de preservação de sua
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integridade bem como um reconhecimento prévio de sua importância para a comunidade local. Confeccionada em madeira maciça e composta de encaixes, a imagem encontrava-se até 2008 numa sala no interior da Casa da Cultura onde permanecia sempre sob os olhos atentos dos funcionários da Fundação, porém hoje seu paradeiro não foi noticiado pela Fundação Artístico-Cultural de Betim. O acesso a ela se dava, até 2008, somente com a permissão do Diretor de Patrimônio Histórico. Embora sejam escassos os documentos que comprovem a origem e autoria da Imagem de Nossa Senhora do Rosário verifica-se através da necessidade de sua preservação, a importância simbólica atribuída a ela e um verdadeiro desejo de preservação que se soma aos indícios de ter sido ela a imagem mais antiga do município.
Figura 68 – Imagem de N. S. do Rosário antes de ser restaurada (Acervo IMPHIC)
A Imagem de Nossa Senhora do Rosário apresenta características iconográficas referentes à maioria das invocações modernas da virgem Maria. Diferentemente das invocações mais antigas em que a virgem apresenta-se assentada tendo ao seu colo o Menino Jesus, a imagem em questão representa Nossa Senhora de pé com o Menino Jesus acomodado em seu braço esquerdo sobre um manto branco. Conserva, contudo, aspectos gerais referentes à representação de Nossa Senhora tais como as vestes longas cobertas por um manto que revestem até os pés o corpo da santa em contraste com a nudez do pequeno Jesus além da presença de querubins
aos seus pés.
Figura 69 – Detalhe o rosto da imagem restaurada onde podemos ver o uso de olho de vidro (Acervo IMPHIC)
Confeccionada em madeira maciça apresentando 24 cm de largura por 65 cm de altura, a imagem compõe-se de 2 peças confeccionadas em madeira e equivalentes a Nossa Senhora e ao menino Jesus que leva nos braços. Há vestígio de elementos colados como
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é o caso da mão direita que foi confeccionada à parte e encaixada no braço. Jesus (com 7cm de largura por 17 cm de altura) encaixa-se sobre parafuso em metal cravado sobre o braço esquerdo da santa. Sobre sua cabeça, através de um furo, a auréola ou a coroa encontra apoio para fixar-se. De olhos castanhos, de vidro, traços faciais arredondados e queixo paralelo ao solo, com carnação tipo “porcelana”, Nossa Senhora demonstra “doçura” no olhar aparentando fixarse de modo confiante no horizonte. O nariz e a boca revelam traços muito delicados e pinturas que não extrapolam os limites determinados pelo entalhamento. Os cabelos, em tom castanho, são compridos, ondulados e envoltos em Véu com esgrafiado, na cor branca com motivos florais e borda em douramento. No que se refere às vestes de Nossa Senhora verifica-se significativa riqueza de detalhes e policromia. A longa túnica que cobre todo o corpo da santa deixando os pés totalmente cobertos possui esgrafiado ricamente ornamentado com motivos florais; a parte interna da túnica é em cor verde, esgrafiada, a pelerine próxima ao pescoço apresenta-se na cor verde, também em esgrafiado, ornamentada por uma espécie de broche floral. O acabamento da borda da túnica, na parte de baixo, apresenta fina ornamentação em pastiglio, com motivos florais e pequenos botões que avançam sobre a parte inferior da túnica com acabamento em douramento
Figura 70 – Detalhe da manga do panejamento da imagem com mão sendo um elemento colado e detalhe do pastiglio na borda da túnica (Acervo IMPHIC)
Figura 71 – Detalhe da toalha onde repousa o "Menino Jesus" e detalhe do esgrafiado em douramento da túnica (Acervo IMPHIC)
Estes elementos possuem formas diversas e aparentemente livres de qualquer simbologia específica destinando-se tão somente à decoração da roupa. O cuidado no entalhe e na pintura é revelado ainda pelo movimento impresso na confecção da túnica que apresenta ondulações que remetem ao caimento natural do tecido oferecendo leveza à peça maciça. Sobre a túnica de Nossa Senhora, sobrepõe-se um manto trabalhado de modo semelhante
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à primeira parte das vestes em termos de técnica de escultura. As nuances de seu acabamento apresentam, contudo, tonalidades diversas que variam conforme a face interior ou exterior do tecido. Douramento de reserva na parte externa do manto, a borda em douramento, onde na parte de trás junto à borda aparece motivos florais diferenciados, o manto é azul. Externamente verifica-se tonalidade de fundo predominantemente azul mais escuro à qual são aplicados elementos em tons dourados. Na face interna, predomina Douramento na parte interna do manto com rico trabalho de esgrafiado em motivos florais, na cor a cor azul clara sobre a qual também são aplicados elementos dourados de formas livres.
Figura 72 – Detalhe do esgrafiado do manto e detalhe do panejamento da imagem (Acervo IMPHIC)
Figura 73 – Detalhe do panejamento e detalhe do esgrafiado em douramento (Acervo IMPHIC)
Sob os pés da Imagem esta uma nuvem trabalhada com folha de prata e esgrafiado em
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linhas concêntricas, onde encontram-se cinco querubins de proporções e características físicas semelhantes, três posicionados acima frontal, sendo que dois deles, nas laterais, estão mais recuados e dois abaixo em posição diagonal e com semblantes semelhantes. Estes anjos apresentam carnação em fatura fina, com elaborada “porcelanização” e tonalidade rosada na face, testa e junto aos cabelos Todos possuem cabelos castanhos mais claros que o de Nossa Senhora, olhos azuis, além de traços arredondados como os da virgem. Considerados seres alados como todos os anjos, os querubins representados apresentam asas em douramento sem trabalho de esgrafiado. O menino Jesus que a virgem traz em seus braços possui características semelhantes à dela própria apresentando cabelos castanhos, pele clara e olhos castanhosos dois braços encontram-se abertos para receber o rosário. A peça não possui vestes exceto o tecido branco com detalhes dourados semelhantes ao tecido que envolve a cabeça de Nossa Senhora e que encontra-se sobre o braço da virgem como que preparado para envolver a criança, esse tecido é branco com esgrafiados, com motivos florais e borda em douramento. A imagem assenta-se sobre uma peanha escalonada, simples na cor vinho de formato retangular e recortado de apenas na parte frontal, possui dimensões de 20 cm de comprimento por 12 cm de largura. Seu acabamento é realizado em pintura na cor vinho aplicada de modo marmorizado em toda sua extensão oferecendo interessante contraste com a policromia do restante da peça.
Figura 74 – Detalhe da nuvem sobre onde repousa a imagem da Virgem do Rosário (Acervo IMPHIC)
As características simbólicas e iconográficas correspondentes à Imagem de Nossa Senhora do Rosário demonstram ser esta uma peça de grande valor histórico não apenas para a comunidade Betinense como também para a região onde se encontra e talvez para todo o Estado de Minas Gerais. Entalhada em madeira maciça policromada com esmero e grande apuro técnico, a Imagem em questão revela não apenas a maestria de seu desconhecido artífice como constitui-se parte fundamental da história de um período de grande relevância para toda Minas Gerais.
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Figura 75 – Detalhe da parte superior (tronco e cabeça) da imagem (Acervo IMPHIC)
Apesar da carência de registros que permitam atribuir a autoria da peça a um artífice específico, suas características iconográficas e seu surgimento em meio à independência e reorganização interna do país somada ao movimento Barroco que se desenvolvia tardiamente por todo o território reforçam a importância de sua preservação. Além disso, informações orais revelam sua importância perpetuada ao longo do tempo pela comunidade local sendo preservada até a atualidade.
Figura 76 – Detalhe da peanha escalonada (Acervo IMPHIC)
A Imagem apresenta também características iconográficas referentes à maioria das invocações modernas da virgem Maria. Diferentemente das invocações mais antigas em que a virgem apresenta-se assentada tendo ao seu colo o Menino Jesus, a peça em questão representa Nossa Senhora de pé com o Menino Jesus acomodado em seu braço esquerdo sobre um manto branco. Conserva, porém, simultaneamente, aspectos gerais referentes à representação de Nossa Senhora tais como as vestes longas cobertas por um manto que juntos revestem até os pés o corpo da santa em contraste com a nudez do pequeno Jesus. Constitui-se assim como um elemento possivelmente de transição entre uma cultura conservadora e a chegada da modernidade no país muito bem representada pela arte encontrada em Minas Gerais à época, sobretudo, na região das Vilas do Ouro.
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Figura 77 - Fotos da Imagem no dia em que chegou do restauro (Acervo IMPHIC)
A imagem carrega uma força simbológica muito grande para os congadeiros, pois é a imagem de referência entronizada dentro da capela para onde se direcionam todas orações desse grupo. Esse direcionamento de devoções ou de “energias” que o congadeiro diz ser feito em torno da imagem é o que os místicos chamam de “força de egrégora”. 44 Portanto, ao longo dos anos, para o congadeiro, durante as várias celebrações, a imagem vai adquirindo força: “Pois é, nossa santinha é muito forte, ela vem dos tempos do seu Joaquim, inté de antes dele, porque ela tava na igreja velha depois veio pra cá, é o que dizem os antigos. Mas nos tem muita fé nele. Então depois que eles restaurou ela focou ainda mais bonita, igualzinha que era quando era nova. (D. Nenen – Capitã – Guarda de Moçambique de N. S. do Rosário – Vila Bemge – Betim MG) Essa força emanaria de pessoas voltadas para promover um mesmo fim tem um grande poder de formação de egrégoros.
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Egrégora, ou egrégoro para outros, (do grego εγρηγοριεν “egrêgorein”, Velar, vigiar) este termo classifica a entidade criada a partir do coletivo. De acordo doutrinas que aceitam a existência destes fenômenos, os egrégoros, estas forças estão presentes em todas as coletividades sendo geradas pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade. Trata-se de esferas (concentrações) de energia comum geradas por várias pessoas que tem um mesmo objetivo comum num arranjo próximos à teoria das formas-pensamento, onde todo pensamento e energia gerada têm existência, podendo circular livremente pelo cosmo.
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HISTORIA DE SÃO BENEDITO
B
enedito era um escravo africano. Antes livre conhecia os segredos dos temperos que satisfaziam o paladar de toda aldeia. Só que Benedito não podia ser um gênio. Escravo cozinheiro, alimentava todos à qualquer hora e lugar.
Segundo os relatos sobre sua vida, São Benedito não usava sapatos, dormia no chão sem usar cobertas e recusava a utilização de qualquer forma de conforto material. Seus algozes invejosos tentavam destruí-Io ao obrigá-Io cada dia ir mais longe buscar grandes quantidades de alimentos que um homem comum não conseguia transportar. Benedito partia e retomava em tempo. Tudo o que os senhores pediam, ele trazia. A comida sempre na hora e o tempero sempre igual. Incapazes de suportar um escravo inteligente, resolveram queimar Benedito e sem querer transformá-lo, no protetor de todo negro. Outra versão diz que Benedito foi embarcado em Luanda - porto de Angola -, sob o jugo de correntes, ele é desembarcado em pleno solo italiano. A sua incomparável destreza no preparo de comida, fez que seu destino fosse a cozinha de um convento. Ali, diariamente, Benedito alimentava todos os necessitados. Quando seus superiores ameaçavam fechar os portões por não haver mais alimento na despensa, Benedito chegava com seus grandes panelões e alimentava todo mundo, até ao último esfomeado. Tentaram descobrir todas as artimanhas de Benedito, como era capaz de alimentar durante anos, com a mesma porção de alimentos, os miseráveis que a cada refeição sempre apareciam em número maior. Em não conseguindo desvendar prodígio tanto reconheceram em Benedito a natureza do milagre, fazendo que após sua morte, fosse transformado em santo. Outra lenda diz que Benedito trabalhava para um senhor avarento incapaz de oferecer emprego a uma família existente na outra margem do rio por considerá-Ia grande e temer que a criançada invadisse o pomar da fazenda. O boníssimo Benedito, todas as noites às escondidas, preparava refeições em abundância e de madrugada, sorrateiramente, levava as sobras para os velhos, além de frutas frescas para as crianças. Certa madrugada de lua cheia, Benedito foi descoberto. O capitão do mato, o feitor e o chefe de cozinha esmurraram Benedito até o sol envergonhado aparecer mostrando apenas meia face. Insatisfeito, o fazendeiro resolveu chicotear Benedito. Ao entardecer, com os últimos frágeis raios solares entristecidos de presenciar brutalidade louca, eis que o algoz de Benedito levanta a chibata para por fim àquele suplício cruel.
Figura 78 - Imagem de S. Benedito (Capela de N. S. do Rosário - Betim)
Só que nesse instante, a divina providência mostrou sua revolta. Um raio de luz paralisou o braço carniceiro, outra fonte de luminosidade intensa cegou-lhe os olhos e desesperado, tendo
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apenas as pernas para correr, o infeliz senhor foi atirar-se nas turvas águas do rio que se fez enchente sangue puro. Ainda assim o ordinário se salvou ao segurar em um tronco de madeira que no seu extremo refletia a imagem de Benedito. Sua vida é considerada um exemplo de virtude, particularmente por professar votos de pobreza, obediência e castidade, cuja observância o tornou uma referência para os católicos. São Benedito representava, no Brasil colônia, para os fiéis, a aproximação de Deus dos escravos e seus padecimentos. Essa associação resistiu às mudanças históricas, consolidando as celebrações em devoção a São Benedito, que é uma referência fundamental para a pesquisa histórica e compreensão da cultura popular no Brasil, pois, desde o período colonial as celebrações em honra a São Benedito possuem uma incrível vitalidade.
HISTÓRIA DE SANTA IFIGÊNIA
É
gipo e Eufenisa, Reis da Noba, um dos pequenos reinos da antiga Etiópia, eram pais de Ifigênia e Efrônio. Ifigênia é um nome grego que significa "Nascida Forte".
Ifigênia aderiu a fé assim que São Mateus começou a pregar em Noba. Nessa época surgiu uma terrível peste e os sacerdotes da antiga religião convenceram o rei a sacrificar a princesa, para aplacar a ira dos deuses e salvar o povo da peste. Ifigênia foi, então, atada sobre a fogueira. Logo que o fogo foi aceso, clamou pelo nome de Jesus. Apareceu-lhe um anjo que a salvou das chamas e a levou ao palácio real, junto a sua mãe. Nesse mesmo dia, o príncipe Efrônio, seu irmão adoeceu gravemente. E, apesar dos esforços dos sacerdotes Magos, veio a falecer. O imperador Égipo permitiu que São Mateus viesse visitar o seu filho. São Mateus chamado por Ifigênia, impôs suas mãos sobre Efrônio restituiu-lhe a vida curando-o da peste mortal, e em seguida evangelizou e batizou toda a família. Então o imperador permitiu que o Evangelho fosse pregado na Etiópia. A virtuosa Ifigênia tornou-se colaboradora do Apóstolo, decidindo consagrar sua virgindade a Deus. Mais tarde foi morar com outras jovens em uma casa construída pelo pai. Essa comunidade, chamada de Carmelitas, chegou a possuir 200 religiosas, lideradas por Ifigênia. Os Carmelitas dizem-se descendentes dos Israelitas que viviam em comunidade no Monte Carmelo. Desde o tempo do Profeta Elias. Quando aceitaram o Evangelho acompanhavam os Apóstolos, incentivando os primeiros cristãos a viver como eles. Eis porque Santa Ifigênia veste hábito carmelita em suas representações.
Figura 79 - Imagem de Sta. Ifigênia (Capela de N. S. do Rosário - Betim)
Falecendo Égipo, seu Hirtaco prendeu Efrônio, usurpando o trono e começou, assim, a perseguir todos os cristãos e exigiu que a sobrinha dissolvesse a comunidade e se casasse com ele. São Mateus defendeu-a, e por isso foi morto a mando do tirano. Vendo que Ifigênia ainda resistia ao seu desejo, o indigno rei pôs fogo em sua casa.
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Quando as chamas cercavam toda a casa, Ifigênia e as companheiras invocaram o nome de Jesus. Na mesma hora o fogo se apagou e o palácio real começou a arder, destruindo tudo. Diante de mais esse sinal da Providência Divina, o povo revoltou-se contra Hirtaco, quem fugiu. Em seguida, libertou Efrônio, o legítimo herdeiro, fazendo-o assumir o poder. Teve início, então, um governo orientado e estruturado nos princípios evangélicos da Justiça e do Direito. O Rei contava com os sábios conselhos da veneranda irmã. Ifigênia morreu bem idosa, vendo o Evangelho espalhar-se pelos reinos vizinhos. Perto de Noba havia um reino chamado Abissínia. Seu rei era Elesbão, que também se converteu a fé Cristã. A devoção começou entre os Carmelitas de Cádiz, na Andaluzia. Dessa região espanhola passou a Portugal e de lá ao Brasil. Por ser africana, Santa Ifigênia logo despertou a atenção e o amor do sofrido povo negro.
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ESTRUTURAÇÃO RITUALÍSTICA
A
necessidade da ritualização deve-se ao fato de que o homem, por natureza, não se fecha na sua condição, tampouco escapa-lhe totalmente. Dada a sua crença de liberdade ele sofre a angústia perante a indeterminação da sua existência fazendo-o experimentar um sentimento de impotência. É o que os antropólogos denominam “numinoso”. Carl Jung escreveu sobre o numinoso como "uma instância ou efeito dinâmicos não causados por um ato arbitrário da vontade. Pelo contrário, ele arrebata e controla o sujeito humano, que é sempre antes sua vítima que seu criador. O numinoso – indiferentemente quanto a que causa possa ter – é uma experiência do sujeito independentemente de sua vontade. O numinoso é tanto uma qualidade pertinente a um objeto visível como a influência de uma presença invisível que causa uma peculiar alteração da consciência. De acordo com Émile Durkheim, os fenômenos religiosos podem ser classificados como: •
crenças (estados de opinião e representações)
•
ritos (modos de ação determinados)
Tudo isso dentro de dois universos distintos: o profano e o sagrado.
Figura 80 - Reverência aos tambus feita por um candombeiro
O objeto sagrado é, por excelência, aquela que o profano não pode tocar, ele é o símbolo ou representação de aspectos do universo do sagrado; enquanto os ritos religiosos são regras de conduta que prescrevem como o homem deve comportar-se perante as coisas sagradas. Só o rito permite aproximar-nos do poder do sagrado 45, sem ele o sagrado pode converter-se em fonte de perigo. Por meio dos ritos sacralização, a pessoa acede ao sagrado abandonando o mundo profano . Durante o período de preparação o devoto acredita encontrar-se em comunicação com o sagrado tornado-se ele mesmo sagrado. Os ritos religiosos têm três características fundamentais:
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Por exemplo, a nudez completa como condição prévia para a participação no rito nas religiões primitivas ou a exigência de pureza na religião católica no ato de confissão para poder ter acesso à eucaristia, momento culminante do rito da missa.
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a) Um sentimento de respeito e temor em relação ao sagrado. b) A dependência de um sistema de crenças através de um mito. c) Um simbolismo em relação ao conjunto de crenças. De acordo com a finalidade os ritos admitem grande variedade de tipos. Entre os mais aceitos, podem distinguir-se os seguintes: 1) Imitativos. São ditos imitativos aqueles que repetem um mito ou um aspecto de um mito. No caso do Reinado do Rosário o cortejo repete a história da retirada da Virgem das águas. 2) Positivos. A maioria dos ritos positivos tem como objetivo a consagração ou renovação de uma coisa ou de uma pessoa, como no caso do congado a Coroação de Reis Rainhas, e Capitães. 3) Ritos de sacrifício. Nos ritos de sacrifício, um objeto ou ação é oferecido à divindade para estabelecer, manter ou restaurar a relação adequada do homem com a ordem sagrada como o pagamento das promessas no Reinado. 4) Ritos de passagem. Chamam-se assim os ritos que marcam a passagem de um estado social ou religioso para outro. Esses ritos podem ter como centro o indivíduo, como os de nascimento, puberdade, matrimônio, funerais, iniciações, entronizações etc. ou privilegiar as coisas, como a consagração de lugares, a inauguração de edifícios etc. O rito de passagem se deve à necessidade de conferir origem sagrada a um fato de especial importância. A ficção ritual determina que o fato natural não seja levado em consideração, pois importa apenas o ato religioso. Assim, em muitos povos primitivos não se considera que o recém-nascido tenha sido dado à luz até que seja submetido ao rito prescrito. Na Igreja Católica, se um recém-nascido morre sem batismo, sua alma não pode subir ao céu e é condenada a um lugar ambíguo chamado limbo. 5) Ritos de fortalecimento. Conhecem-se por ritos de fortalecimento aqueles que assinalam acontecimentos ou crises na vida da comunidade em seu conjunto, como algumas benzeções. 6) Ritos relacionados com os alimentos. No comportamento religioso encontra-se o uso amplamente difundido do alimento como símbolo. A razão é que a religião é um dos sistemas de pensamento e ação pelos quais os membros de um grupo expressam sua coesão e identidade, mas precisa de representação material, como toda atividade simbólica, e encontra na comida e na bebida seus veículos mais adequados. Esse é o caso do café da manha e almoço no congado A relação direta dos ritos humanos com os ritmos da Natureza: a sucessão dos dias e das noites, dos anos, das estações, das gerações. Esses ritmos naturais parecem refletir-se nos mecanismos religiosos criando calendários e datas específicas de elaboração telúrica, ligadas aos ritmos da terra. A ritualística do Reinado do rosário perpassa pela estrutura corporal do congadeiro e por sua estrutura rítmica, pois a dança é uma linguagem corporal e para ele é a via de comunicação com o sagrado, como. O congadeiro reza dançando e cantando. Tudo na festa tem significado, desde a reverência de um capitão para outro ou os mastros que anunciam que a festa se aproxima e apontam para o céu interligando o espiritual (céu) e o material (terra) ou a criatura com o Criador. Os trajetos e percursos dos cortejos ensina a força da perseverança.
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Um ponto de extrema importância de se destacar é a diferença entre o “congado” e o “Reinado”. O Congado é a reunião das guardas devocionais, mas o Reinado é a instauração de um tempo de fé em N. S. do Rosário e em todos os santos que remetem á identidade negra. Para os mestres da tradição, o Congado é a reunião das guardas devocionais (Candombe, Congo Moçambique, Catupé, Marujos, Caboclos, Cavaleiros de São Jorge e Vilão). O Reinado de N. S. do Rosário é, porém, a instauração de um tempo de fé. Fé e devoção em N. S. do Rosário e todos os santos que remetem a identidade negra (São Benedito, Santa Efigênia, Santo Antônio de Catigeró, São Elesbão, São Martinho e, mais recentemente Santa Josefina Bakita). Outro ponto a se destacar é que como se trata de uma manifestação religiosa católica, o congado segue o calendário litúrgico. Consequentemente os ciclis litúrgicos agetam as contagem de tempo do Reinado. Como por exemplo o período de fechamento do Reinado que é o período da Epifania, no ciclio natalino e vai até a tarde do sábado de aleluia.
Figura 81 - Ciclos do Calendário Liturgico
O USO RITUAL DA PALAVRA Todo rito implica o uso da palavra. Trata-se de uma conjugação de dois sistemas complementares de comunicação. A eles se junta a ação, o instrumento ou objeto sagrado. Rito e palavra pertencem ao mesmo campo: a linguagem. Esta, por sua vez, tem a mesma origem do rito. A diferença é apenas na forma, pois o rito se circunscreve no campo das expressões por meio de sinais corporais e a palavra ao campo dos sons articulados. Em tese a linguagem tem seu componente corporal, visto que não falamos apenas com palavras, mas também com os movimentos do corpo.
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No Reinado do Rosário a palavra tem significação especial conquanto manifesta um ciclo de expressão e poder revisitando a tradição dos ancestrais e revitalizando-a no presente através da performance coletiva. Por se tratar de uma tradição oral ela esta intimamente ligada à gestualização simbólica. A palavra meramente sonora inexiste no contexto oral porquanto ela existe na voz e no corpo do narrado. Assim sendo, a tradição oral do congado é o resultado da equação harmônica da palavra aliada ao gesto, musica ritmo do corpo e dança.
RITUAIS DE PREPARAÇÃO Ritual de Abertura do Reinado Os devotos do Reinado se aproximam de um altar na capela saudando um Rosário que está sobre e nas extremidades o Rei e Rainha Congo presidem a cerimônia. O capitão de Moçambique mas velho entoa um canto de abertura. A bandeira de Guia de N. S. do Rosário é alçada sobre os devotos abençoando-os e em seguida entoa um canto de saudação à capitania saravando todos os capitães, desde o capitão-mor até o recémcoroado ou nomeado. Os ombros se tocam realçando a autoridade e poder dos indivíduos.
Ritual de Fechamento do reinado Pela tradição, quando o “Oriente desce, o Reinado fecha”. O reinado do Rosário da lugar à Folia depois do último domingo de Outubro, quando o Reindo se fecha e somente retorna na tarde do Sábado de Aleluia. Nesse período os tambores repousam e retumbando novamente para saudar o ano litúrgico que se anuncia na Páscoa. O Reinado se fecha geralmente ao último domingo de outubro, no mês de N. S. do Rosário.
Ritual de Entrega da Coroa Ternos, Guardas-Coroa e Reis coroados acompanham os novos reis festeiros até suas casas onde serão guardadas as coroas até a festa do próximo ano realizando o translado de coroa no domingo anterior ao fechamento do reinado.
Ritual de Visita de Coroa A Visita de Coroa é sinal de respeito ao símbolo e a quem o porta. Visitar a Coroa é também visitar os ancestrais e antepassados. Investidos do poder máximo os Reis Congos representam as nações africanas. Por isso essa função em particular deve ser exercida apenas por pessoas negras que fazem parte do Reinado.
Rituais de Transposição As portas,porteiras e encruzilhadas para o Reinado estão repletos de simbolismo. São espaços de manifestação de forças que tem o poder de interromper ou viabilizar o desenvolvimento, exigindo conhecimento apropriado. Os umbrais são transpostos de
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costas com o corpo de frente para o altar. Nas encruzilhadas o congo abre e fecha a passagem com a “Meia-Lua”, o Moçambique transpõe de costas e os reis e rainha cruzando os polegares. São todos estes, gestos de defesa contra as forças que circundam essas passagens
Ritual de Dedicação do Mastro
Figura 82 - Ritual de dedicação do mastro de Bandeira - (Foto: Manoel Reis)
O levantamento de mastro é o ritual mais importante do congadeiro. Ele agrega as forças telúricas da natureza por onte orbitam os espíritos dos antepassados. Segundo D. Maria Ferreira, citada por Glaura Lucas: “O mastro dá a vida e tira a vida do Congado” No dia do Ritual do Levantamento da Bandeira Santa, a base do mastro será purificada com ervas consagradas e depois untada com mel, em ofertório aos Anjos Guardiões. A boca do buraco receberá uma consagração e será iluminado com velas nas cores das vestimentas do santo homenageado.
Ritual do Levantamento de Mastro Esse ritual realizado no dia de início das festividades do reinado e que representa a continuidade da eterna aliança entre os negros e a Virgem do Rosário.
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Figura 83 - Levantamento de Bandeira – Betim – MG – 2009 (Acervo IMPHIC)
Nos dias que antecedem as festas religiosas do Reinado de Nossa Senhora do Rosário ou no primeiro dia das festividades, acontece a cerimônia de Levantamento de mastro com bandeiras. As Bandeiras trazem imagens dos santos padroeiros e de devoção, ficando localizadas à frente da Capela. Podemos perceber o ritual ao se iniciar a festa com a cerimônia de levantamento de mastro em louvor aos santos de devoção. No buraco onde o mastro é posto para ser levantado os fiéis depositam velas acessas simbolizando seus pedidos ou agradecimentos por bênçãos e graças alcançadas. Quando o mastro é abençoado e levantado consolidase um ciclo da cultura popular que simboliza com propriedade a fusão de traços culturais africanos, europeus e indígenas. Na confecção do mastro é escolhida a madeira utilizada para a confecção do mastro. Há um período correto de escolha do material e do tipo de madeira utilizada, revelando a incorporação do conhecimento indígena sobre as fases da lua e seu efeito sobre a madeira, o que implica nos cuidados para o procedimento correto, cujo resultado é a elaboração de um material adequado à cerimônia. Os dançadores realizam intensos movimentos corporais, dançando em círculo como se abraçando o mastro e logo depois com os bastões erguidos, sustentam a base do madeiro até que o mesmo atinja a posição vertical. A crença que a divindade está abaixo do solo é muito antiga, por isso o ato de depositar pedidos no buraco em que o mastro é colocado é o mesmo que alcançar o sobrenatural. É possível que a maioria dos que praticam esse gesto desconheçam sua origem e isso evidencia o profundo entrelaçamento cultural africano em nosso cotidiano. No topo do mastro está a bandeira do Santo que é o vínculo cristão entre o céu e a terra.
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Figura 84 - Ritual de levantamento de Bandeira - Jaraguá - BH/MG
Esse Ritual, de origem milenar, é uma homenagem que se presta à memória de ‘alguém’ que, por ter dedicado sua vida integralmente aos estudos, prática e ensino das Sagradas Escrituras, de modo particular o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, ou por ter sua vida terrena interrompida com violência por professar publicamente sua fé no mesmo Cristo Jesus, foi elevado à honra dos altares e é aclamado como "Santo de Deus". Esse Ritual tem, também, o objetivo de chamar a atenção para o exemplo de vida que devemos seguir e, assim, reavivar nossos votos ao ligar, através da Bandeira, os céus à terra. A Bandeira Santa trará a efígie ou símbolo do santo homenageado à frente, e atrás o estandarte, ou efígie ou símbolo de um segundo santo homenageado. Poderá ser iluminada eletricamente, enfeitada com flores, fitas, espelhos e tudo mais disponível para enriquecer a homenagem. Algumas guardas, ao enfeitar uma Bandeira Santa, observam a seguinte regra: a) Fazer silêncio absoluto; b) purificar-se com banho de ervas consagradas; c) vestir a ‘Opa branca de penitente’; d) usar seus símbolos e armas; e) preparar o altar; f) incensar- se; g) estar descalço; h) ficar em estado de oração profunda meditando nas intenções da vida do santo
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dignatário e consagrando seu trabalho para a maior Glória do Santo Nome de Deus. i) Após ser preparada, a Bandeira Santa não mais poderá ser tocada a não ser pela Bandeireira ou Madrinha de Bandeira. j) Será iluminada por sete dias em altar próprio e cercada pelas Armas. O responsável pela preparação da bandeira se mantém em oração em sufrágio das almas que não tem quem reze por elas. O ‘Ritual do Levantamento da Bandeira’ poderá ser acompanhado por Terno de Candombe, Guarda de Moçambique ou Congo ou ainda Caravana de Reis. Previamente será pesquisado a hagiologia do homenageado que será lida em momento próprio dentro do Ritual. Em seguida, novas gestualidades coreográficas em volta do mastro (possuidor de força energética). Esse ritual evidencia os motivos que levam as Guardas de Moçambique a entrarem em conflitos quando o assunto é o levantar do Mastro do Rosário, uma vez que o mesmo fluidifica os dançadores com as suas energias e possibilita inspirações poderosas nas cantorias, capazes de derrotar seus oponentes em caso de surgir confusão (Video,25/07/ 1999, Arq:CCJB).
Figura 85 – Levantamento de Bandeira – Betim – MG – 2009 (Acervo IMPHIC)
Ao exteriorizar sua devoção os negros do grupo étnico banto (angolas, congos, cabindos, moçambiques, macuas, benguelas, angicos) construíram igrejas por todo Brasil, organizando cortejos, procissões e representações cênicas marcadas por coreografias e cantos, com reminiscências das culturas africanas e de narrativas européias como a de Carlos Magno (MEYER, 1993). Na mesma cerimônia vários traços culturais distintos estão reunidos, assim, a experiência histórica dos escravos trazidos da África e submetidos à conversão ao catolicismo provocou a crença em santos cujas características físicas e divinas os aproximavam dos escravos africanos. Quem levanta os mastros tem que ir descê-lo.
Ritual de preparação de Bastão No congado, principalmente no Moçambique, os bastões dos capitães não são apenas um
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objeto ornamental e de identificação de status. Ele carrega uma simbologia mágica ligada às forças espirituais que aquele capitão pode desencadear. Portanto, há um ritual que pode durar dias na preparação do bastão, desde a escolha da madeira, o momento certo de cortá-la e as consagrações que são feitas durante o processo. A última etapa é instalar no orifício superior do bastão um “preparado” selar o bastão e instalar os últimos enfeites e símbolos de poder e signos distintivos da guarda.
Figura 86 - Estrutura básica da construção de um Bastão de Moçambique
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RITUAIS DE SAUDAÇÃO Saravar
Figura 87 - "Seu Dalmo" - Capitão do Pé da Coroa recebendo a Guarda da Banda-Dança de Conselheiro Lafaiete – 2007 - (Acervo IMPHIC)
No congado o ato de Saravar significa "salve" ou "viva", por influência africana no idioma português do Brasil. É uma corruptela da palavra portuguesa "salvar", cujos escravos tinham dificuldade de pronunciar, e diziam "salavar". Sob a influência da fonologia banta, passou a se falar "saravá". Dentro de outros sistemas religiosos o termo existe como mantra que significa a força que movimenta a natureza e que poderia fixar ou dissipar determinadas vibrações, não sendo, portanto aconselhável pronunciá-lo sem a devida necessidade. O cumprimento na forma de um gesto solene feito com a mão direita de ambos fazendo o sinal da cruz frente a face de um depois de outro e finalmente no meio. Os ombros se tocam primeiro pela direita e depois pela esquerda e com as mãos unidas se erguem e as tocam com a testa. De acordo com Gomes & Pereira “o ombro representa poder e domínio” esse ato de tocar os ombros realça a força do indivíduo, ou seja, torna essa força individual sagrada na instância coletiva.
Beijo de Bandeira Ao se encontrar, as guardas prestam uma devoção à bandeira, da guarda visitante e viceversa, no momento ritual denominado beijo de bandeira. A bandeireira passa com a Bandeira da outra guarda por todos os integrantes que curvam-se para beijá-la, ajoelhando-se, retirando seus quepes (chapéus) e fazendo o sinal da cruz.
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Figura 88 - Encontro de guardas - Beijo de Bandeira
Cruzamento de Espadas Acontece quando dois capitães de congo, com suas espadas cruzadas em forma de “X”, escoltam os componentes do reinado até chegar diante da Igreja do Rosário.
Cruzamento dos Bastões Esse ritual pode ser utilizado como forma de saudar através de orações, os companheiros de outro temo
RITUAIS DE PROTEÇÃO Partida de Corpo Fechado Esse ritual acontece quando uma Guarda se prepara para viajar. Todos os integrantes passam dentro de um grande rosário; após fazer as orações e sair, nenhum componente poderia retomar.
Benzê o Santo Nesse ritual simples a guarda vai à casa do devoto e realiza cantoria diante da imagem e após os cantos e rezas essa imagem é colocada em lugar especial. Isso faz a família receba as benção meritórias do Santo benzido.
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Enterrar o umbigo
É feito com um preparado de ervas que fica enterrado durante sete dias, nos quais, é proibido aos capitães ter relações mundanas, evitar encruzilhadas e outras superstições.
Tirá a paia É um ritual que reúne moçambiqueiros antes de saírem dos quartéis. Só após benzer os instrumentos é que podem partir; acredita-se na necessidade da proteção antes e depois da jornada realizada.
Fechamento de Corpo Esse ritual consiste em preparar remédios à base de ervas medicinais; esse preparo fortalece a resistência física do congadeiro evitando a ocorrência de desmaios.
Figura 89 - Capitão de moçambique com bastão e rosário cruzado no peito
Rosário Cruzado no Peito O uso do Rosário dessa forma protege contra os maus fluidos que eventualmente possam ser lançados por pessoas invejosas.
PASSAGEM DE BASTÃO Esse ritual possui significado místico ancestral. Acontece no instante em que o patriarca em idade avançada ou por motivos de doença, escolhe entre seus subordinados - podem ser filhos, sobrinhos ou alguém de confiança - o que melhores condições reúne para prosseguir com a missão.
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RITUAIS DE COROAÇÃO A santa retirada do rio atraída pelos tambores, performatizados em uma batida compassada e pelos cantos dos negros de Moçambique, mais uma vez, volta à cena. Na coroação da rainha, à sua coroa se une o manto — alusão à Virgem Santa e ao seu manto sagrado, referência ao catolicismo e, obviamente, aos reinados europeus —, que deverá ser honrado e bem cuidado, como símbolo da proteção e do poder, faculdade essa que é legitimada pelos integrantes da comunidade e, nesse sentido, representa muito mais do que qualquer forma de poder legitimada pelo Estado. É a representação de um coletivo, pois um dos papéis que assumirá é o de guiar (aconselhar, unificar) as pessoas que estarão sob seu reinado. Ou seja, além da coroação e integração da rainha na comunidade, há a constatação do legado que lhe é transmitido e que deverá ser cuidado. É a “benção que um filho representa para a mãe e para toda a família [nesse caso, para toda a comunidade], porque ele herda e perpetua a história e a memória”.
Consagração de Capitão
Figura 90 - Consagração de capitã - Betim - 2003 (acervo IMPHIC)
Capitão: Convidamos ao Irmão (DIZER O NOME DO CANDIDATO AO GRAU DE CAPITÃO) a se posicionar para executar sua Embaixada. O Candidato se posiciona ao centro em frente ao Rei Perpétuo e inicia uma embaixada e em seguida entoa uma marcha suplicando ao oficiante que o coroe como capitão. O candidato pede, na mesma marca que coloque os paramentos do fardamento, os rosários cruzados no peito e o bastão de capitania. Depois o Capitão oficiante retira a coroa do Rei e sustentando-a com a capa toca por três vezes a cabeça do candidato como se o coroasse. O, agora capitão, entoa
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uma marcha para suplicar por sua benção e demonstra sua alegria e fidelidade à Irmandade.
Descoroação Assim como na coroação, no ritual de descoroação, também se revive e se recupera as reminiscências da memória pessoal, coletiva e corporal que são reiteradas a partir do corpo em performance de todos da comunidade, que, no momento de ação/representação (dança, rito, gesto, ritmo, passagem), resgata um comportamento ancestral possibilitando assim a interação mnemônica entre o presente e o passado vivificado. Nesse caso, no entanto, não há como não deixar de observar que o ritual é regido pelo sentimento de perda. Na nossa sociedade, a vida é associada socialmente à alegria, à boa ventura, ao futuro e, por sua vez, a morte à tristeza, à perda, à ausência. Somos conscientes de que os sentimentos associados tanto à vida quanto à morte são estabelecidos culturalmente e que a morte nem sempre vai assumir o caráter negativo, de perda, tão comum ao cristianismo. Há culturas em que se festeja a morte e que o luto assume outra conotação, onde não se evidencia apenas o sentimento de perda, mas, principalmente, o de passagem. A título de exemplo, destaco, em primeiro lugar, alguns povos africanos que além de realizarem todas as cerimônias fúnebres para os seus mortos, festejam-nos cantando e dançando em suas homenagem, além de comerem e beberem com muita fartura, geralmente, os alimentos que eram apreciados pelo defunto. Para esses povos não se trata de uma violação de conduta ou de uma profanação, mas simplesmente uma forma de honrar ao parente ou conhecido No ritual de descoroação de uma rainha, o som sincopado das caixas também é entoado. As crianças, jovens e adultos da comunidade (todos com o rosário no peito) também cantam e dançam, mas agora com o intuito de prestar a última homenagem à sua rainha. Os sentimentos de dor e tristeza não conseguem tomar conta do ambiente, ou seja, não é que se cultue e se promova a alegria, pois todos sentem a perda não só da rainha, mas da mulher, da vizinha, da conselheira. É um momento em que as guardas masculina e feminina se despedem da rainha. O canto masculino se integra ao feminino e, ao mesmo tempo, se evoca os nomes dos santos patronos e todos respondem: “Viva Nossa Senhora do Rosário” e “Viva São Benedito”. Reza-se um pai nosso e, como salmo de resposta, três Ave-Marias. Cada membro do cortejo beija a coroa da rainha. Um líder local canta com voz grave e forte: “Vou entregar êêê, vou entregar êêê”. A coroa é entregue à filha que a beija e a segura solenemente — mais uma vez, perpetua-se o legado ancestral. O estandarte de Nossa Senhora do Rosário é erguido e o rito de descoroação e de despedida está completo. “É a fé dos congadeiros que sustenta a sua história”. Descoroação Fúnebre Ao contrário do que o termo parece significar, o ritual de descoroação, nesse caso, não retira o status ou posição que se tinha anteriormente, mas retira as obrigações que o falecido ou falecida tinha em vida para que dessa forma sua alma possa gozar das benesses junto a Deus sem que sua alma fique afligida pelos compromissos e promessas feitas ainda em vida.
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“Ritual da Noite de Vigília”. O "Ritual da Noite de Vigília" deve ser celebrado no Tempo da Quaresma 46 e em Finados e também nas Encomendações e Ofícios das Almas, na Charolla e nas Exéquias 47 de Irmãos do Rosário. A primeira parte segue o mesmo ritual de Encomendação, Ofício e Charolla, até o Ritual de Adoração da Santa Cruz. Desse ponto se diferencia para cada tipo de celebraçãoe volta a ser igual ao final no Ritual de "Consagração da Vida". O termo "Noite de Vigília" é simbólico e nos remete às trevas que existem em nós e que, em breve, se dissiparão, inicia-se o ritual fora do Quartel. Durante a Sexta-Feira Santa o ritual se inicia às 14:30hs e termina às 14:55hs., ou interrompido de 14:55 às 15:05hs 48. Esse silêncio não é só o físico, mas um silenciar de pensamentos mantendo a mente aberta para qualquer manifestação Divina. O jejum não é só físico penitente, mas o jejum de idéias, o jejum de vontade de fazer qualquer coisa que não seja estar na presença Divina. Nos afastamos dos medos, das vaidades, das intrigas, das ansiedades, das dúvidas e de tudo o que não for concepção Divina, de tudo o que nos afasta do projeto de santificação do Creador. Após o ritual deverá nascer uma nova pessoa no lugar daquela do inicio, e esta, a partir de então, se esforçará para se manter nesse novo nível de vida e, tudo fará para ajudar aos demais Irmãos para que também eles vivam esta mudança, esta ressurreição dentre os mortos. Assim deve ser entendido e realizado esse ritual para a maior Glória do Santo Nome de Deus. “Rito de Exéquias” Preparação da Capela A capela deverá estar limpa e incensada. Em sua ornamentação deve ser observada a harmonia, beleza e a sobriedade recomendando-se o cuidado com os excessos, muito impróprios para a ocasião. Ao lado da cabeça e dos pés do finado, dentro da urna funerária, se colocará tabletes de cânfora mentolada e durante o ritual se queimará incensos. Poderá haver música ambiente suave nos outros momentos. É importante atentar para temperatura do local, sendo necessário providenciar sistema de ventilação. Por ser um momento de extrema emoção em que pode se esperar mal estar físico de algumas pessoas e deve estar preparado e ao alcance material de primeiros socorros e pessoa capacitada a executá-los. Também será mantido refeitório a disposição, com lanche ou refeições para todos. Fardamentos
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O altar, em todo o Tempo da Quaresma, estará totalmente despojado e as imagens recobertas com pano roxo. Exéquias são velórios 48 Nesse momento faz-se profundo silêncio em honra da memória da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. 47
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Os Capitães, em Conselho, definirão qual o fardamento mais adequado para o momento, sendo que, basicamente, serão observadas as seguintes considerações: •
Armas: serão as mesmas conforme o grau.
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Fardas (Trono e Capitães):calça ou saia social pretos, sapatos e meias pretas; camisa social branca; cordão; rosários.
Apenas o Rei manterão preparadas suas capas, coroas e cetros, a serem utilizados no momento da “Terceira Vigília” quando se dará o desfardamento e a descoroação do finado. Tratamento das coroas e armas Os Coroados deverão ser avisados sobre o falecimento, e em casa, cada um deverá cobrir com um tecido branco e iluminar sua coroa e armas em intenção do sufrágio do falecido. As armas do falecido, após o desfardamento, serão recolhidas na Capela e iluminadas por um período de 30 dias, sendo retiradas e guardadas após a celebração da Santa Missa em sua intenção. Com o falecimento do Rei Perpétuo assume, imediatamente, o Rei Mais antigo. Através de convocação formal, todas as coroas serão recolhidas e iluminadas no Quartel, isoladas por cortina roxa e permanecerão intocadas até a abertura do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. Com o falecimento do Rei Perpétuo o trono ganha sua alforria. Os votos de obediência são considerados como cumpridos. Sendo assim, os coroados que quiserem continuar na Guarda deverão refazer seus votos perante o novo Rei a ser coroado no início dos rituais de Abertura do Reinado do Rosário. Nesse período de luto, assume a Coroa o Rei mais antigo.
ESTRUTURA RITUAL DA FESTA Devemos lembrar sempre que é difícil estabelecer regras quando se trata de religiosidade popular. Observe que, em cada região há um tipo de costume e as regras são particulares daquele lugar. Há também, a questão do dinamismo e evolução, pois falamos da influência de guardas convidadas e de viagens. As Guardas vão, a cada dia mais, adaptando seus rituais com o que elas têm à disposição para suas práticas ritualísticas. O cuidado que se deve ter é de não descaracterizar um ritual. Como afirma Michel de Certeau, Um uso (‘popular’) da religião modifica-lhe o funcionamento. Uma maneira de falar essa linguagem recebida a transforma em um canto de resistência, sem que essa metamorfose interna comprometa a sinceridade com a qual pode ser acreditada, nem a lucidez com a qual, aliás, se vêm as lutas e as desigualdades que se ocultam sob a ordem estabelecida. (CERTEAU, 2000, pp 78-79). A natureza da religiosidade vivenciada no Congado e o processo histórico de sua formação, evidenciam a reverência à Nossa Senhora do Rosário, aos antepassados escravos e também à São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora das Mercês. O início da devoção dos negros africanos à Senhora do Rosário foi atribuído à aparição e regate de uma imagem de santa em Argel. A lenda, reelaborada transmitida de geração a
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geração, da África para o Brasil, assume hoje várias versões regionais tendo, entretanto, como ponto convergente, a identificação de Nossa Senhora do Rosário com o sofrimento dos negros com quem ela opta ficar. Antes do Candombe começar deve-se fazer a reza, obrigatória e tida como uma das etapas mais importantes do ritual tradicional. A bandeira da Santa é levantada e a festa se inicia com a pedida de licença: “O sinhô me dá licença, me dá licença preu cantá nessa baixada, nessa baixada.” a) Levantamento de Mastro b) Chegada dos Andores de N. S. do Rosário, São Benedito, Sta. Ifigênia, Divino Espírito Santo e N. S. Aparecida c) Matina d) Chegada das Guardas e) Café da Manhã f) Busca de Rei e Rainha Congo g) Busca de Reis Festeiros Grandes h) Busca de Reis Festeiros Pequenos i) Cortejo j) Apresentação das Guardas à Virgem do Rosário k) Almoço l) Pagamento de Promessas m) Procissão n) Missa Congo o) Coroação dos Novos Reis Festeiros p) Decerramento de Bandeira q) Entrega de Bandeiras à Virgem do Rosário r) Encerramento s) Retorno dos Andores de N. S. do Rosário, São Benedito, Sta. Ifigênia, Divino Espírito Santo e N. S. Aparecida
RITUAIS GERAIS É o conjunto de práticas consagradas pelo uso e ou por normas (ritos) e que devem ser observadas de forma invariável em ocasiões determinadas.
Angélica Ou “Angelus”, a Oração dos Anjos, que corresponde às 06:00, 12:00 e/ou 18:00 horas do
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dia, relembra aos católicos, através de preces e orações, o momento da Anunciação - feita pelo anjo Gabriel a Maria - da concepção de Jesus Cristo, acreditada como livre do pecado original. No mundo cristão trata-se de uma hora celebrada diariamente através de preces e orações. Em Portugal, o Angelus é habitualmente rezado ao meio-dia. Em algumas localidades, os sinos das igrejas chegam mesmo a tocar de maneira especial para que se dê início às respectivas orações. O seu nome deriva do início da frase: Angelus Domini nuntiavit Mariæ. As orações consistem em três textos que descrevem o mistério. Latim
Português V. Angelus Domini nuntiavit Mariæ.
V. O Anjo do Senhor anunciou a Maria.
R. Et concepit de Spiritu Sancto.
R. E Ela concebeu do Espírito Santo.
Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui, Iesus.
Ave Maria cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus.
Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc et in hora mortis nostræ. Amen.
Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.
V. Ecce Ancilla Domini.
V. Eis aqui a escrava do Senhor.
R. Fiat mihi secundum Verbum tuum. Ave Maria…
R. Faça-se em mim segundo a vossa palavra. Ave Maria…
V. Et Verbum caro factum est.
V. E o Verbo se fez carne ou então E o Verbo divino encarnou. R. E habitou entre nós. Ave Maria… V. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus. R. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
R. Et habitavit in nobis. Ave Maria… V. Ora pro nobis, Sancta Dei Genetrix. R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi. Oremus: Gratiam tuam quæsumus, Domine, mentibus nostris infunde; ut qui, angelo nuntiante, Christi Filii tui Incarnationem cognovimus, per passionem eius et crucem, ad resurrectionis gloriam perducamur. Per eumdem Christum Dominum nostrum. Amen.
Oremos: Infudi, Senhor, nós vos pedimos, em nossas almas a vossa graça, para que nós que conhecemos pela anunciação do anjo, a encarnação de Jesus Cristo, vosso Filho, cheguemos por sua paixão e sua cruz à glória da ressureição. Pelo mesmo Jesus Cristo, Senhor nosso. Amém.
Ladainha O mesmo que Litanias, é uma oração formada por uma série de invocações curtas, de louvor ou súplica a Deus e a seus santos, e, em sinal de penitência, respostas repetidas por todos. No século XVI, tinha a variante de ledainha: “...chamando todos os cantos do Céu, em sua ajuda, por meio de uma ledainha, que devotamente rezou” 49. Por via culta, aparece no século XVII a variante litania: “Estava armado com as malhas da sua lógica, tão miúdas e intrincadas, que em algumas igrejas se cantava nas litanias”. 50 Nesse sentido, trata-se de uma oração ou súplica à Virgem Maria e aos santos, invocando-os pelos nomes e atributos simbólicos, a fim de rogarem a Deus pelos fiéis, como em Almeida Garrett: “A procissão saía gravemente, entoando as ladainhas e preces públicas.” Na liturgia, a ladainha é uma oração à Virgem ou santos, com o responsório repetitivo: “Rogai por nós!”. São “tiradas” (declamadas) ou cantadas durante os terços, novenas, trios, etc. As Ladainhas Maiores, instituídas pelo Papa Gregório Magno (590/604) são rezadas no dia de São Marcos (21 de Abril) e as Ladainhas Menores, nos três dias imediatamente anteriores à Quinta-Feira da Ascensão. A sua popularidade advém certamente da crença nos poderes místicos da imprecação religiosa que tem origem longínqua. Registra-se ainda a variante ladairo, procissão de Penitência, por voto a algum santuário, 49 50
Frei Luís de Sousa, Vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, IV, 29, v.III, p.31, ed. de 1948 Manuel Bernardes, Nova Floresta, IV, 12, 2, §I, p.95
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termo que, no plural (ladairos), diz respeito às preces públicas por ocasião de calamidade, por exemplo, nas ladainhas de clamor, que, no Minho, se chamam: “arranzel” e “parlenda”. No Nordeste brasileiro, as ladainhas são os últimos vestígios dos ladairos. Os velhos “tiradores” de ladainhas, no sertão nordestino, têm vozes de alta expressão trágica, causando funda e inesquecível impressão nas almas, pela inflexão sonora e patética das invocações. A musicalidade das ladainhas tem atraído a atenção dos musicógrafos, na medida em que a simplicidade melódica, o dinamismo da reiteração monótona, acabrunhadora e melancólica, tem o poder de reduzir os ouvintes a um estado apático e doloroso de quietismo, resignação e arrependimento contrito. Um dos focos de irradiação das Ladainhas, no Brasil, foi o município de Minas Gerais, desde os tempos coloniais. Por analogia, com o tempo, os termos arcaicos “ladário” e “parlenda” (com o significado de ladainha) foram absorvidos pela língua portuguesa com vários significados: palavreado, palavra de dissimulação, discussão, desavença, rixa. O termo parlenda fixou-se como denominação de “cantigas de roda”, rimas infantis em versos de 5 ou 6 sílabas, para divertir, ajudar a memorização, etc. (“Amanhã é domingo / pé de cachimbo / Cachimbo é de ouro,... etc.”). A difusão do termo resultou ainda na lengalenda.
Ofício Conjunto de orações recitadas de acordo com as horas canônicas.
Responso Ou Responsório é o mesmo que resposta; são versículos rezados ou cantados alternativamente por dois ou mais coros, ou pelo coro e um solista.
Retrogradação É a saída, em qualquer momento de qualquer ritual, dando três ou sete passos andando de costas. É o sair do recinto sagrado com a face voltada para o altar em respeito à Presença Divina.
RITOS GERAIS Chamamos de rito às regras cerimoniais, previamente estabelecidas tendo em vista sua finalidade e que devem ser observadas na prática. Ex. Rito de Levantamento de Bandeira Santa, descreve os procedimentos corretos, perante a tradição Templária e aceitos pelas hierarquias do Reinado do Rosário para o levantamento de uma bandeira. As palavras rito ou ritual nunca devem ser entendidas como sinônimo de dogma, de princípio nem de símbolo; nunca se oporão aos ditames da Igreja Católica Apostólica Romana nem se mesclarão com práticas fanáticas ou supersticiosas. Em hipótese alguma poderão ser alterados ou dada outra interpretação a eles que não as determinadas na Regra Geral. Os ritos nas Guardas foram sendo transmitidos oralmente no decorrer dos anos ou
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compilados de manuscritos do século XIX, liturgias antigas da Igreja Católica, ou ainda coletados da prática de piedade popular.
Horas Canônicas Chamamos horas canônicas a qualquer uma das partes em que se divide a recitação de um Ofício. Obedecemos às horas canônicas estabelecidas pela Igreja Católica quando oficializamos em penitência; ou somente é feita uma referência quando o Ofício está sendo celebrado na totalidade de suas orações e em conjunto, com todos os Irmãos. As horas canônicas são as seguintes:
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MATINAS E LAUDES - Manhã e madrugada –"Segundo uma venerável tradição de toda a Igreja, as Laudes, como oração da manhã, e as Vésperas, como oração da tarde, constituem como que os dois pólos do Ofício cotidiano. Sejam consideradas como as horas principais e como tais sejam celebradas" (SC n. 89a.). Esse louvor da manhã consagra os primeiros momentos de nosso dia a Deus. Após as trevas da noite, renasce um novo dia, lembrando a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, "luz verdadeira que ilumina todo homem" (Jo 1,9) e "Sol de justiça que nasce do Alto" (Lc 1,78). Por isso se inseriu o Cântico de Zacarias (Benedictus) nesta hora canônica, pois uma de suas tônicas é a glorificação do Senhor que obteve a vitória sobre a morte.
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PRIMA - 6 horas da manhã,
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TERÇA - 9 horas da manhã – recorda a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos reunidos com Maria no Cenáculo (cf. At 2,15). Conforme Mc 15,25, é a hora da crucifixão de Jesus.
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SEXTA - meio-dia – lembra a hora em que Pedro saiu no terraço para rezar e teve uma visão. Conforme Mt 27,45, é a hora da agonia de Cristo na Cruz.
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NOA - 3 horas da tarde – lembra a oração de Pedro e João no Templo, onde Pedro curou o paralítico,conforme At 3,1. Lembra também a morte de Jesus na Cruz, segundo Mt 27,46
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VÉSPERAS - 6 horas da Tarde, - As Vésperas recebem seu nome do astro luminoso Vésper (Vênus), que começa a brilhar logo que caem as trevas da noite. Celebradas à tarde, ao declinar do dia, conclui o dia e dá início à noite, agradecendo a Deus os dons por ele recebidos naquele dia. Elas lembram também que o cristão deve cultivar a esperança da vinda definitiva do Reino de Deus, que se dará no fim da jornada desse mundo, quando habitaremos a Jerusalém celeste, onde não se precisará mais da lâmpada nem da luz do sol. Os cristãos celebram as Vésperas e repetem com os discípulos de Emaús: "Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina" (Lc 24,29). O Ofício de Leituras pode ser celebrado a qualquer hora desde o anoitecer até o fim do dia seguinte. A característica desse Ofício é que nele podemos escutar mais longamente a Palavra de Deus e ter contato com os autores de espiritualidade tanto antigos como modernos, além de diversos documentos da Igreja.
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COMPLETAS - 9 horas da noite – deve-se rezar antes do repouso da noite. Nesse momento, faz-se um ato penitencial pelas faltas cometidas naquele dia e a salmodia exprime a confiança no Senhor: o sono da noite, que lembra o sono da morte, leva o cristão a se entregar e abandonar ao Senhor antes do repouso noturno.
Rito Imperatório É o rito no qual é feito o ato de súplica para o início dos rituais.
Rito Recuperlatório É o rito no qual é feito o ato de súplica para a finalização dos rituais.
Ritos Sacrificais São os Rituais no reinado cuja característica é algum tipo sacrifício, esforço físico ou privação como a matina e as promessas Vigília e Matina "Pôe a benção mamãe, põe a benção..." A matina acontece de madrugada, antes do nascer do sol. Os dançantes vão até à Igreja do Rosário e, ao som dos tambores, pedem proteção e licença para a festa começar. Promessas O Pagamento de promessas acontece antes da procissão. Esse rito ocorre motivado por alguma graça recebida de Nossa Senhora do Rosário. Acontece em movimento circular em volta da igreja. A pessoa que está cumprindo promessa é acompanhada pela guarda e pelos cantos do Moçambique.
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Ritos Comunais As refeições coletivas durante a Festa simbolizam a união e o compartilhar da crença e dos recursos materiais por parte dos fiéis. Os organizadores e voluntários das atividades têm como tradição recepcionar em suas casas para o café da manhã os membros das guardas convidadas antes da missa solene. Depois do cortejo é servido um almoço para todos os participantes. A realização dessa atividade remete ao desejo de partilha e prosperidade, mas sobretudo de comunhão, palavra que tem origem em “κοινονία”, palavra grega cuja raiz significa “comer junto”. Os devotos acreditam que a intercessão do santo garante alimento a todos não apenas nesse momento, mas ao longo do ano para os participantes e familiares. Outro momento importante que associa alimentação e prosperidade é a distribuição de doces e pães para todos os devotos que participam da festa. Café O Café da manhã é geralmente oferecido na casa dos capitães, assim que as guardas visitantes chegam. Nesse ritual a guarda anfitriã vai receber a visitante e a conduz ao interior da casa onde será servido o café. Após o término a guarda visitante canta agradecendo. Oi já comeu, já bebeu, oi já comeu, já bebeu. Ora vamo agradecê, meus irmão, o pão que Deus deu
Figura 91 - Mesa para São Benedito durante o almoço do congado - Pampulha Velha - BH – 2006
Almoço "Oh que mesa tão bonita, toda cheia de nobreza. Em nome do pai, do Filho, do Espírito Santo, vamo agradecê a mesa...." e à comunidade que oferece o alimento... "Deus lhe paque, Deus lhe ajude, Deus lhe dê vida e saúde." O almoço é oferecido pelos reis festeiros à comunidade, às guardas visitantes ( que vieram de outras comunidades e/ou outras cidades ) e às pessoas que vieram participar da festa. Após o almoço, acontece o ritual de agradecimento pela mesa farta, através de danças e
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cantos. A partir do comer coletivo várias imagens e significados se evocam, pois podemos considerar uma consagração extra-lógica de temporalidade não-linear carregados de de códigos distintos dos do cotidiano e sim pelo lúdico e pelo emocional advindos de devoções, ritos e tradições que aproxima esse cotidiano do reino do sagrado em um sistema de trocas e dádivas. Desde os primórdios as sociedades tradicionais tem feito suas dádivas na forma de comida que veladamente indicam, por um lado, a vontade de manter os laços comunais e, por outro, a ostentação da riqueza, de poder e capital simbólico. Assim, os modos de cozinhar, técnicas, utensílios, tradições, práticas, receitas registradas na memória e na oralidade, e papeis masculinos e femininos são reflexos das relações de forças que estruturam o campo social que levam a adoção de um sistema de valores e comportamentos. A maneira de cozinhar e os hábitos de servir a mesa, como diz a pesquisadora Célia Toledo Lucena (2004) indicam adoção de costumes regionais quanto a odores, cores e consistência que deriva tanto de uma etno-história, quanto de uma economia regional, ligados a memória, experiências pessoais e inventividade cultural caracterizado por um sistema simbólico e rutualístico de trocas e dádivas uma vez que os modos de cozinhar fazem parte dos modos de vida e de fazer deu ma comunidade e se relaciona à sua identidade e à sua cultura. Isto se demonstra na medida em que o alimento tem um valor simbólico de relação de continuidade das relações harmoniosas entre hospedeiro e visitante. As celebrações oriundas da tradição e da memória exigem comida onde vemos a cortesia ritual implícita na refeição, pois os dias de festejos são solenes e sagrados onde o partilhar alimento é também dividir domínio. Nesse aspecto os valores circundantes mostram, também, uma relação de poder entre os particimantes através da superioridade de uma receita sobre outra.
Figura 92 - Trono Coroado almoçando em festa em Betim - 2007 (Acervo: IMPHIC)
Além disso a fartura também tem por sua vez uma função simbólica e social que ultrapassa o aspecto nutritivo da comida. Essa fartura estabelece um papel renovador das forças do corpo, ao passo que o reinado se renova com o rito de troca de coroa dos Reis-
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Festeiros desempenhando uma renovação e purificação da alma Desse modo o hábito de se alimentar dentro da cultura mineira se circunscreve dentro de um escopo de representação simbólica de espaço privilegiado das relações sociais onde o espaço da cozinha se torna o elemento central na caracterização cultural típica mineira. Abdala, citado por Lucena pontua o fato de que esse hábito pode ter derivado dos pratos regionais criados a partir de utensílios regionais, fogão a lenha e longo tempo de preparo típico de uma cozinha rústica cuja principal característica é exatamente o “cozimento regular, lento e longo, difícil de reproduzir na vida urbana”. Outro aspecto interessante dos ritos comunais próximo ao comer esta o beber onde a cachaça desempenha papel preponderante, pois ela, desde os tempos colônias, faz parte dos rituais mineiro tando de celebrações profanas quanto religiosas, fúnebres e familiares. Desta forma, não existe rito sem cachaça, pois ela possibilita o convívio entre ricos e pobres, moradores e visitantes, propiciando alegria e companheirismo. O aspecto mais importante dos ritos comunais é que todo ato solene nas sociedades tradicionais caracteriza-se pela partilha de uma refeição em comum e o banquete cria um sistema ideológico que previlegia a identidade dos grupos e representam sua hierarquia e suas relações de poder.
Ritos Devocionais Levantamento da Bandeira de Aviso
Figura 93 - Levantamento de Bandeira—Vê-se os mastros das mesmas ao chão – Betim – MG – 2009 (Acervo IMPHIC)
"Voa pelo céu bandeira... Voa pelo céu bandeira..." É a bandeira cuja função é marcar para o transeunte que dali a trinta dias acontecerá a festa. É um aviso de que o ciclo do Rosário vai começar (geralmente se abre em maio e se fecha em outubro). E durante esse período ocorrem as festas. Em Betim ela ocorre no último domingo de Agosto, portanto a Bandeira de Aviso é levantada no final de julho ou nos primeiros dias de agosto.
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Figura 94 - Levantamento de Bandeira – Betim – MG – 2009 (Acervo IMPHIC)
Descida de Mastros "Adeus festa tão bonita, adeus amigos que veio nos visitar, adeus Senhora do Rosário, adeus e até para o ano". As Guardas fazem a “descida dos mastros e bandeiras” com a efígie dos santos que foram levantados durante o período da novena. Uma a uma cada bandeira tem seu mastro retirado e é retirada e colocada no altar da capela. As guardas fazem suas despedidas e colocam sobre o altar os símbolos-força do ritual (coroas, bastões...). Todos se cumprimentam e se entregam à Nossa Senhora do Rosário, pedindo vida e proteção para a realização da festa no próximo ano. Missa Congo 51 A Missa Congo é uma missa que acontece dentro do ritual católico, mas é expressa e vivenciada a partir do fundamento do ritual do congado, através dos seus cantos e danças. No momento do ofertório, os símbolos da realeza (coroas, bastões...) são colocados no altar e são devolvidos, após a comunhão, já abençoadas, aos seus donos. Deve-se lembrar que os membros de fileiras do Rosário, constituem um povo simples que, em sua maioria, não possui cultura letrada e vive de uma cultura própria e espontânea; que religiosamente, tem um lastro de crenças que não as procura justificar racionalmente vivendo-as de modo prático, emocional e intuitivo. Atualmente o Clero, em uma Celebração Litúrgica para Guardas, procuram valorizar suas tradições sem dar lugar à preferências pessoais, ainda que pareça ser melhor.
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Vide Anexos: “Missa Solene”, pg.304
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Figura 95 – Frei Chico celebrando missa congo – Década de 80 (Acervo IMPHIC)
Em história recente, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário foi duramente castigada com uma perseguição encabeçada pelo falecido Bispo Dom Antônio dos Santos Cabral, obrigando os ‘Congadeiros’ e ‘Moçambiqueiros’ buscarem refúgio em outras religiões e, até mesmo seitas, a fim de não deixarem morrer sua tradição e sua fé e ao retornarem ao seio da Igreja, já sob orientação pastoral de Dom João de Resende Costa, posteriormente do Cardeal Arcebispo Dom Serafim Fernandes de Araújo e atualmente de Dom Walmor Oliveira de Azevedo, ainda não conseguiram esquecer por completo o grande período do exílio e as tristes marcar deixadas em suas almas. O tempo em contato com outros credos religiosos foi inevitável o surgimento de elementos e rituais alheios aos do Reinado do Rosário entre estes que fugiam e aqueles que acolhiam e, mais ainda, foi selada uma grande amizade entre eles. Por isso, certamente serão encontrados irmãos de outros credos religiosos em meio às fileiras do Rosário, observando o rito Católico com o máximo de respeito e piedade. Destarte, todos dentro das fileiras do Rosário, sem exceção, são devotos da Santíssima Virgem e cumprem seu voto de homenageá-la no decorrer de todos os anos de sua vida, durante o ano inteiro, debaixo de sol ou chuva, sob o título de N. S. Rainha do Santo Rosário; e não admitirão, seja da parte de quem quer que seja, falta de respeito para com o Nome de sua Mãe Misericordiosa, podendo, inclusive chegar, a qualquer hora ou lugar, a extremos em sua defesa. Todos os Irmãos do Rosário creem que as graças, bênçãos e milagres são emanadas diretamente do Pai Celestial em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas preferem submeterem-se à intercessão da Virgem permanecendo cobertos por, no que denominam, seu Manto Sagrado. Portanto, o modo de cantar e dançar do Irmão do Rosário, embora alegre e rico em evoluções e gestos não tem, em momento algum, função lúdica ou profana; são formas espontâneas de rezar, venerar e adorar desenvolvendo-se dentro do respeito máximo e de um clima religioso embora não convencional. O Trono Coroado (Príncipes, Reis) alta hierarquia da Irmandade, são coroados não em função de valores ou riquezas pessoais; são penitentes em cumprimento de promessas que, em sua maioria, duram a vida toda. Cada Coroa representa um Santo da Corte Celeste, e tão grande é o respeito que os Irmãos do Rosário nutrem por estes penitentesperegrinos que, quando de posse de seus símbolos (coroa, capa e cetro) passam a ser tratados como se o próprio Santo Padroeiro estivesse ali junto a ele.
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A Missa Congo, por ser uma celebração solene em honra da Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo é também demorada, se tomarmos como padrão o habitual de nossa celebração eucarística dominical (para o Irmão do Rosário todo dia é dia de Nossa Senhora e sua celebração inicia-se ao romper da primeira aurora e vai ao último suspiro do dia). A estrutura básica da Missa Congo é: A) Ritos iniciais Os ritos que precedem a liturgia da palavra – entrada, saudação, ato penitencial, Kýrie (Senhor, tende piedade de nós), Glória e oração coleta – têm o caráter de exórdio, introdução e preparação. Entrada Reunido o povo, enquanto entra o sacerdote com o diácono e os ministros, inicia-se o cântico de entrada Primeira mente canta-se um lamento pedindo licença para entrar. A finalidade deste cântico é dar início à celebração onde os ternos entram cantando seus diversos ritmos e cantos. Saudação do altar e da assembleia Ato penitencial: Em seguida, o sacerdote convida ao ato penitencial, o qual, após uma breve pausa de silêncio, é feito por toda a comunidade e em seguida, entoa-se um canto no lugar do Kýrie, eleison: Glória in excelsis Canto entoado por um Terno Oração coleta B) Liturgia da palavra Saudação Angelus Canto entoado por um Terno Leituras bíblicas Primeira Leitura Canto de Meditação Canto entoado por um Terno Segunda Leitura Aclamação antes da leitura do Evangelho
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Canto de Aclamação (aleluia) Canto entoado por um Terno Evangelho Meditação sobre o Evangelho Canto entoado por um Terno Homilia Profissão de fé Credo Canto entoado por um Terno Oração universal Ao final das orações Canto entoado por um Terno C) Liturgia eucarística Preparação dos dons - Ofertório A procissão em que se levam os dons é acompanhada do cântico do ofertório que se prolonga pelo menos até que os dons tenham sido depostos sobre o altar. O rito do ofertório pode ser sempre acompanhado de canto. Oração sobre as oblatas Oração eucarística (Sanctus) Canto entoado por um Terno Consagração instrumentos no momento da consagração do corpo Instrumento no momento da consagração do sangue Canto entoado por um Terno Rito da Comunhão
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Oração dominical Canto entoado por um Terno Rito da paz Canto entoado por um Terno Fração do pão Agnus Dei - Cordeiro de Deus Canto entoado por um Terno Comunhão Canto de comunhão Canto entoado por um Terno Entrega das coroas e bastões Canto entoado por um Terno Oração de ação de graças D) Rito Final Canto de saída Canto entoado por um Terno Como podemos ver a missa inculturada pode ser compreendida, ao menos de modo parcial, se algumas premissas forem assumidas coletivamente: a) cada povo tem o direito e pode celebrar a sua maneira; b) trata-se do resgate de um direito a uma celebração outrora proibida e impedida; c) trata-se de uma celebração que nunca existiu em sua forma atual; d) corresponde a elementos constitutivos da cultura e, portanto, da personalidade do negro (transmissão oral e aprendizado imitativo), e) alegria e festividade são qualidades histórico-sociais dos negros; f) preconceito sustenta-se na ignorância e na ausência de um interesse de conhecimento; g) desejo de manutenção do status quo e resistência à mudança gerando sobretrabalho aos agentes para que a missa se concretize; h) possibilidades de revisão constante do ritual cuja estrutura prossegue sendo contruída. Os elementos afro das missas inculturadas podem ser considerados alusivos e
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emblemáticos, pois os componentes performáticos das coreografias que se articulam são danças com elementos decididamente rituais do universo afrobrasileiro. Mas há diferenças na interpretação dos grupos sobre sua promoção sendo que alguns consideram o missal um guia estático e outro grupo julga ser necessário um intenso trabalho criativo de articulação do missal romano às práticas e aos costumes afro. Esta tensão ocorre porque para uma cultura branca a contrição é o caminho ao sagrado, na cultura negra isto se dá através de festejos e alegria. Segundo Pierre Sanchis (2001) a identidade cultural se torna diferença e oposição: Quanto às religiões “afro” que a evocação da “negritude” conota, a maioria entende tornar sua referência explícita, mesmo no culto católico; mas sem confusão. Uns poucos vão mais longe, desejando, sem ter disso muito clareza, sua presença efetivamente ritual em meio à celebração litúrgica. Para outros, enfim, culto e cultura não se podem confundir, e a negritude que pode e deve entrar na Igreja de rosto descoberto é a da cultura, nunca a da religião (p. 178-179).
Ritos Processionais Cortejo
Figura 96 - Inicio do Cortejo da Festa de N. S. do Rosário, saindo da Casa da Cultura Josephina Bento em direção a Capela de N. S. do Rosário dos Homens Pretos – 2004 - (Acervo IMPHIC)
Após o café da manhã, as guardas vão às casas dos reis e rainhas, formam o Reinado e saem em cortejo pelas ruas, em direção à Igreja , onde será celebrada a Missa Conga.
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Figura 97 - Congadeiros durante o Cortejo da Imagem de N. S. da Boa Viagem pelos congadeiros até a Catedral 2006 (BH) (Foto: Acervo OTCSAP)
Figura 98 -Concentração para o Cortejo da Imagem de N. S. da Boa Viagem pelos congadeiros até a Catedral 2006 (BH) (Foto: Acervo OTCSAP)
"Évem o nosso rei, com sua rainha a pé e vem um pouco mais atrás, é os filhos do Guiné..."
Figura 99 - Andor com a imagem de N. S. do Rosário usado no cortejo
Chegando à porta da Igreja , através do canto, os negros relembram o tempo da escravidão, quando não era aceita a presença dos mesmos nas cerimônias religiosas "no tempo do cativeiro, quando branco ia à missa, era negro que levava. Sinhô branco entrava pra dentro, nego cá fora ficava..."
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Figura 100 - Guarda de Congo de N. Senhora do Rosário abrindo o cortejo – 2004 - (Acervo IMPHIC)
Figura 101 – Integrantes da Irmandade – Década de 80/90 (Acervo IMPHIC)
O outro canto é entoado pedindo ao padre para abrir a porta... "Ô Senhor padre abre a porta, que o nego quer entrar, pra ouvi a santa missa, que o padre eterno vai celebrar...“ O padre abre a porta da igreja e ao som dos tambores, o reinado e os dançantes entram na igreja cantando e dançando.
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Procissão Na Procissão a imagem de Nossa Senhora é levada no andor, pelas guardas participantes da festa com seus respectivos reinados (cortes), relembrando a lenda de quando Nossa Senhora é retirada do mar pelos cantos e sons dos tambores africanos.
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ESTRUTURAÇÃO RÍTMICA Estrutura Musical “Oia, mininu, num é qualquer pessoa que pode tocá os tambu não(...) isso tem que aprendê,... O tambu do meio é a chama e eles tem que chamá é no tambu do meio e a hora que agente vai lá e canta, “o sinhô me dá licença”, tem que pedi licença porque ele é muito sagrado e na hora da pedida de licença tem que ser um da comunidade, um de nóis mais velho. E o tambu do meio, a pessoa pra tocá aquilo tem que ser só do pessoal do meio da gente. A caixa a gente botô ela mas ela num foi feita pelos escravo não. Mas ela é sagrada também, ela é companheira do Candombe. A gente num pode deixá os menino saí tocando pra onde quizé não, levá pros pagode. Ela é companheira do Candombe e tem que ser companheira só dos tambu. O Candombe é muito sagrado, e só pode tocar seus instrumentos, num pode tocá mais instrumento nenhum”. (D.Mercês).
A
música do Congado se desenvolve de acordo com a dinâmica flexível das tradições orais. Compõe-se de cânticos responsivos na forma solo/coro, intensamente repetidos, sendo acompanhados por padrões rítmicos nos instrumentos, específicos para cada guarda.
Luiz Henrique Assis Garcia nos diz que o improviso, os ritmos irregulares e complexos, os instrumentos confeccionados pelos próprios músicos, a polifonia, a indistinção entre aspectos musicais, religiosos e a cotidianidade dos congados são aspectos referentes a uma “outra” ordem simbólica que os estudos etnomusicológicos recentes começaram recentemente a identificar, para além da abordagem folclorista. Assim, as concessões às práticas religiosas dos brancos não implicaram na efetivação de uma musicalidade “domada”. Ele destaca o papel central que é desempenhado pela música por suas características mnemônicas na festa do rosário quando a imagem musical da letra “narrando” o rito enquanto acontece e que no próprio mito de origem do congado a música aparece como elemento de aglutinação ao permitir o êxito do grupo ao interpelar a santa. O Congo apresenta maior variedade de padrões, dentre eles, a Marcha Grave, a Marcha Lenta e o Dobrado. O Moçambique toca o Serra Acima e o Serra Abaixo. O Candombe possui apenas um padrão, de mesmo nome do ritual. A rítmica constitui a referência musical de cada guarda. Existem padrões rítmicos que pertencem a cada tipo de guarda, identificando-as musicalmente e seus significados se desdobram em vários planos: •
Simbólica e espiritualmente estes ritmos revisitam o mito e reafirma a importância do tambor como instrumento que possibilitou a retirada da santa do mar, além de se
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estabelecer como canal de acesso ao mundo dos ancestrais; •
Socialmente o ritmo torna-se uma referência cultural;
•
Ritualisticamente esses ritmos evocam as memórias coletivas do grupo e traduzem estados emocionais
•
No aspecto espaço-temporal eles dimensionam a temporalidade ritualística.
Não existe migração de rítimos entre o Congo e o Moçambique, mas apenas algumas melodias e versos. Porém entre o Candombe e o Moçambique existem importantes correspondências decorrentes da relação entre eles identificada mo mito. De acordo com Glaura Lucas (2002) as execuções rítmicas tem seu desenvolvimento com base em uma repetição periódica de um padrão, mas com variações de acordo com a guarda, e o espaço/tempo do ritual. Por estar ter seu nascedouro a partir de uma cultura oral cuja característica principal é sua natureza móvel, as configurações básicas dos padrões rítmicos apresentam uma margem de flexibilidade conforme o caixeiro ou o momento ritual. Essa execução rítmica, a partir de sua estrutura básica, ainda pode ser ornamentada através de variações. O que podemos observar são três tipos de comportamentos rítmicos: 1) a base: a estrutura básica, que em si já admite uma margem de variações; 2) os “floreios” ou “enchimentos” que são pequenos acréscimos efetuados na estrutura básica; 3) os “repiques” que são variações mais acentuadas. Estruturalmente os padrões rítmicos básicos do Congo e do Moçambique tem uma divisão binária das pulsações, porém o Serra Abaixo do Moçambique apresenta uma divisão ternária e nesse caso o repique exerce uma transformação temporária na estrutura como podemos ver abaixo: No primeiro Exemplo os padrões de divisão básica binária são ternarizados, mantendo-se constante a duração da pulsação, e alterando a duração da divisão:
No segundo exemplo o padrão básico básica ternário é binarizado, alterando-se a duração da pulsação original, mantendo constante a duração da divisão:
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Já o padrão rítmico do Candombe é o resultado de uma complementaridade entre os três tambores demonstrando uma estrutura polirrítmica na própria base do padrão. Assim, na execução rítmica dos caixeiros podemos detectar a existência de um modelo que seria a forma básica onde nada pode ser removido sem destruir sua distintividade. Destarte, há variações nesse composto rítmico-melódico em função da guarda que o executa, da hierarquia entre as guardas e o espaço/tempo de sua execução.
Na formação do cortejo as guardas de Congo seguem na frente com a função de “limpar o caminho” para o Moçambique que lhe segue com a função de conduzir os reis. O Congo, portanto, recebe de frente as energias contrárias. Os ternos de Candombe não saem, estão reclusos em seu espaço. As guardas que saem em cortejo são: a) Guarda de Guia b) Congos c) Caboclos, marujos e vilões d) Catopês e) Moçambiques f) Pé da Coroa g) Andor h) Trono Coroado Desde a Guarda de guia que é um Congo até chegar no Candombe é possível projetar uma linha imaginária que transporta uma força ritual crescente, determinada por essa hierarquia. Essa força pode ser observada através do padrão rítmico onde vemos uma presença mais freqüente de repiques indicando situações de maior liberdade e um padrão mais cadenciado em relação às obrigações rituais.
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Figura 102 – Guarda de Moçambique – Betim – MG – 2009 (Acervo IMPHIC)
Ao passo que os padrões rítmicos cadenciados se aproximam da força ritual, os repiques implicam em um distanciamento desses padrões básicos, sendo uma quebra temporária do caráter cíclico da repetição periódica do padrão. Desta forma temos a seguinte configuração no translado:
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Sentido do cortejo O congo se caracteriza pela existência de muitos repiques em sua levada.
Guarda de guia
Congos
A estrutura rítmica do Moçambique é mais cadenciada e se compõe de número menor de repiques.
Caboclos, marujos, catupés, vilão
Moçambiques
Força Ritual
Guardas que se caracterizam por um maior distanciamento dos padrões rítmicos cadenciados do candombe
Guarda do “pé da Coroa”
Andores
A proximidade do fundamento do Reinado se caracteriza por um cadenciamento maior e ausência de repiques.
Trono coroado
Candombe Figura 103 - Esquema dos grupamentos no cortejo da imagem de N. S. do Rosário.
Padrões Rítmicos do Congo O Congo apresenta uma variedade de padrões rítmicos, sendo mais frequentes a Marcha
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Grave e o Dobrado. A configuração de vários padrões rítmicos do Congo se dá pela complementação entre as realizações de cada caixa. Nesses padrões, uma caixa "marca", eu uma ou mais "respondem". Mas há também aqueles em que todas as caixas executam uma mesma base rítmica. De andamento moderado o ritmo “Marcha” está ligado aos momentos onde é maior a inflexão sobre discursos e cânticos.
Nesse grupo de guardas encontramos uma presença maior dos repiques como, por exemplo, no Dobrado 52. A Marcha Lenta 53 e a Marcha Grave tem também um a grande presença de repiques, porém, o momento ritual é que determinam a quantidade desses repiques. De acordo com o capitão Raimundinho, na Marcha Lenta não se executa muitos repiques, mas a Marcha Grave pode ser repicada durante os cortejos. Ritmo apropriado para a abertura dos rituais onde os capitães transmitem com seus cânticos as emoções dos momentos sagrados. A marcha durante os percursos estabelece um vínculo de disciplina e dinâmica no conjunto.
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O padrão rítmico típico dos cortejos A Marcha Lenta conduz etapas mais solenes do ritual do Congo, como a Missa Conga e o agradecimento após o almoço, e também cerimônias fúnebres 53
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Figura 104 - Batido de Dobrado característico da Banda Dança do Rosário de Conselheiro Lafaiete
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Padrões Rítmicos do Moçambique No Moçambique os padrões rítmicos seguem cadenciados com um dos caixeiros tocando sempre o padrão básico para que os outros possam repicar. A menor quantidade e menor variedade de repiques se encontra no Serra Abaixo, porém no Serra Acima eles são mais freqüentes e de extensão mais curta. Uma característica básica dos repique s no Moçambique é que ainda que aconteçam são intercalados pelo ritmo padrão. Uma característica importante dos repiques do Moçambique é que através deles o padrão rítmico do Candombe emerge no Moçambique. As guardas de Moçambique, em geral são mais homogêneas musicalmente do que as guardas de Congo, não apresentando tantas diferenças rítmicas. Seus ritmos não atingem os andamentos rápidos verificados no Congo, pois os moçambiqueiros devem andar devagar. Na configuração padrões rítmicos principais do Moçambique que são o Serra Abaixo e o Serra Acima as caixas executam a mesma base rítmica e não há espaços para a inclusão de "floreios" ou "enchimentos" através de batidas no aro ou no corpo da caixa como no Congo. Nesse padrão rítmico os patangomes tocam durante todo o tempo da execução e são referências importantes para os caixeiros. Já as gungas não são executadas o tempo todo, pois seu som é gerado pelos movimentos coreográficos dos dançantes. Serra Acima O Serra Acima é o padrão rítmico mais freqüente no Moçambique e sua estrutura básica apresenta divisões de suas pulsações que tendem a ser binárias.
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Serra Abaixo O Serra Abaixo é tocado principalmente durante os cortejos e há seis unidades mínimas de articulação temporal, cuja a organização em pulsações, em sua estrutura rítmica básica, se dá de forma ternária. A despeito da violência dos membranofônios, em alguns cantochões azabumbados, sentese a música cheia de ternura e misticismo da liturgia do congado:em alguns complexos do cerimonial do canto, os atabaques acompanham com a batida acima. Batida de Caixa de Moçambique
Figura 105 – Batidas de Caixa de Moçambique
Figura 106 – Batidas de Caixas de Moçambique acompanhadas de Gungas
Figura 107 -Ritmo de Moçambique ou Batida de atabaques usada para acompanhar alguns dos canto-poemas
A despeito da violência dos membranofônios, em alguns cantochões azabumbados, sentese a música cheia de ternura e misticismo da liturgia do congado:em alguns complexos do cerimonial do canto, os atabaques acompanham com a batida acima.
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Figura 108 – Batidas de Caixa de Moçambique
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Figura 109 – Batidas de Caixas de Moçambique acompanhadas de Gungas
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ESTRUTURAÇÃO HIERARQUICA SUJEITOS
O
formato que o congado adquiriu hoje em Minas Gerais, derivado da junção dos costumes africanos Bantu, da cosmologia africana e do catolicismo africano tem 8 pilares básicos:
a) Estruturação Mítica acontece a partir de onde nascem as Guardas ou Ternos oriundos do candombe com um número mínimo de integrantes ( doze varsais). Uma hierarquia fixa das nações: Primeiro nasceu o congo, depois na seqüência moçambique, marujo, catopé, caboclinho, cavaleiro de São Jorge e vilão além do ancestral mítico – o candombe 54, que não sai à rua. O candombe é o lado africano do congado, procede de crenças ancestrais de origem bantu. Como se disse, é a raiz africana – genuína, pura, verdadeira. Uma guarda de candombe só se instala sob os auspícios de uma outra da mesma natureza, já consagrada,.
b) Estruturação Histórica através das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário que englobam também os santos pretos conforme registros nos Livros de Compromisso dos Irmãos do Rosário. Percebe-se que as Irmandades foi inspirada nas corporações de ofício ou guildas da Idade Média. Seu papel ou função é dar estrutura legal à sociedade dos pretos, com estatutos e normas específicas de boa convivência com os filiados. c) Estruturação Simbólica oriunda das várias insígnias de poder faz, para o devoto, a ligação entre a cultura ancestral bantu e a devoção a Nossa Senhora onde a força da fé constrói e alimenta o poder outorgado a eses objetos e símbolos. d) Estruturação Ritualística formado por uma série de ritos e rituais que dão coesão a estrutura de símbolos existentes no Reinado através do momento ritual de uso de cada um desses objetos emanando deles o significado simbólico no espaço-tempo 54
não desfila, funciona entre quatro paredes, é um grupo fechado, espécie de maçonaria dos pretos
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sagrado. e) Estruturação da Oralidade onde as Embaixadas que comunicam intenções dos respectivos capitães, reis e rainhas, e os Canto-Poemas que celebram desde a vida cotidiana até as devoções mais fortes do devoto. f) Estruturação rítmica que alem de salvaguardar a herança cultural negra também dará suporte à oralidade típica do congadeiro e servira também de elemento distintivo de cada uma das nações em sua estrutura hierárquica mítica fixa transitando dos toques mais rápidos e leves do Congo, passando pelos toque lamentosos dos marinheiros, a jocosidade do Catupé e dos Caboclos, aos toques mais ancestrais e telúricos do Moçambique. g) Estruturação Performática junto com a Rítmica dará o tom manifesto da corporaliedade congadeira. Definitivamente construída a partir dos elementos culturais bantu transmitidos através dos tempos de geração a geração. Essas performances encerra dentro de si o modo de ser ancestral do congadeiro: suas forma de lamentar, de se alegrar ou de celebrar h) Estruturação Hierárquica se dá através do Reinado que representa a fixação de lembranças da época faustosa da rainha Jinga (Njinga Mbandi de Angola), revivida com maior grandeza por Chico Rei, em Vila Rica. A corte se constitui de rei e rainha congos, princesas, juízes e juízas, guarda-coroas, mordomos, aias e mucamas. O rei e a rainha congos desfilam sob enorme umbela ou dossel azul, amarela ou vermelha, franjada de ouro, conduzida pelo caudatário, em roupa de gala. Ao Reinado ou Trono Coroado cabe a tarefa de unir as diferentes guardas em um mesmo sentimento de fé em Nossa Senhora do Rosário, e manter coesos os irmãos do rosário. A prática do congado é transmitida de pai para filho, aprende-se de criança, por imitação, vendo e ouvindo cantar e dançar. A hierarquia mais antiga do congado condena veementemente o abastardamento atual dos modelos antigos do congado, sobretudo relacionados com a roupa peculiar de cada guarda. Deve-se, contudo, entender que isso não significa uniformizar o congado nem opor-se a mudanças culturais desejáveis, apenas conservar a vestimenta sancionada e consagrada pela tradição.
Corte – O Trono Coroado Esse é por exelência o “lugar da reza”. A corte é formada pelo rei perpetuo é quem fundou o reinado, depois tem os reis de Congo - que representam o primeiro rei do Congo Kuwu e a primeira rainha de Angola Nzinga Banti. Depois os reis de promessas perpetuas - são pessoas que querem permanecer dentro do reinado pagando uma promessa pra um santo de devoção. Alem desses temos os reis e rainhas de promessa - são aqueles que querem, durante determinado período, estar dentro da hierarquia carregando a coroa de algum santo. Depois da categoria dos Reis de promessa, temos os reis de festa ou reis festeiros (que vão ajudar e querem trabalhar durante uma festa) e os reis de ano – (que querem trabalhar durante um ano). Os príncipes e princesas são todos menores de idade que compõem a corte. Em alguns locais alem da corte existe também o Império formado pelo Imperador e a imperadora do Divino. O poder sagrado investido nos reis coroados são de ordem mística a partir do momento em que eles representam a força divina sobre a sua coroa e a ancestralidade dos antepassados.
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Depois desta hierarquia é que vem a capitania formada pelo capitão-mor, capitão pé de coroa, capitão regente, os 1° 2° e 3° capitães de cada guarda, os capitães fiscais, capitães de fileira, capitães de fundo. A estes cabe invocar os poderes mágico-religiosos incosporados pelos reis que se dá através do recebimento de sua coroa e dos bastões dos próprios capitães. E finalmente os vassalos (caixeiros, caixeiros de guia, caixeiro de respostas e os dançantes)
Figura 110 -Trono Coroado no Cortejo da Imagem da Boa Viagem na Catedral 2006 (BH) (Foto: Acervo OTCSAP)
Reis de Congo Eles representam o primeiro rei do Congo Kuwu e a primeira rainha de Angola Nzinga Banti. O Rei congo é coroado com a coroa de Nossa Senhora. Em outros locais ele recebe outras denominações como Rei Preto, Rei Cariongo, Chico Rei. A Rainha Conga leva na cabeça a coroa de Nossa Senhora do Rosário e é conhecida também como Rainha Preta, Rainha Ginga Nbandi e outras. Em Portugal, desde o século 15 os negros elegiam reis para celebrar N.S. do Rosário e S.Benedito, reunidos em irmandades religiosas. Essa tradição de eleger reis vinha do antigo Reino do Congo, onde não se herdava o trono, mas eram escolhidos pelos nobres. No congado as expressões rei(s) e rainha(s) Congo, o termo Congo não se refere a República do Congo, mas ao antigo Reino do Congo que toma a forma de pátria mítica de todos os negros. Essa tradição de eleger reis e outros dignitários pelos negros foi amplamente disseminada na América portuguesa existindo tanto nas organizações de trabalho como nos levantes de escravos.
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Figura 111 – Rei e Rainha Congo – Betim – MG – 2009 (Acervo IMPHIC)
A primeira referência que temos dessa prática remonta ao século XVIII, quando o cronista Antonil descreve essa festa. Temos essa coroação acontecendo , atualmente, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo, Bahia e Belém do Pará com semelhanças e diferenças. Mas é mais presente no sudeste brasileiro, principalmente em São Paulo e Minas Gerais, onde alimenta mitos como o de Chico-Rei. As festas de coroação de reis Congo foram introduzidos na Colônia pelos próprios escravos agrupados na etnia banto, que foram distribuídos pelo sudeste brasileiro. Como vimos anteriormente esses negros vieram de vários reinos da África centro-ocidental, como o Congo, Loango, Cabinda, Ndongo, Matamba, Caçanje e Benguela, que faziam parte do reino geral do Congo e do reino adjunto de Angola.
Figura 112 -Coroação de Chico Rey VI - 2007 - BH (Acervo OCTSAP)
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È importante destacar novamente que esses povos não conheceram o catolicismo na Colônia, mas vinham sendo cristianizados desde o final do século 15, quando a África centro-ocidental foi contatada pelos portugueses, em sua busca pelo caminho das Índias. No período colonial as irmandades negras falavam de reis de diversas nações, mas, em Minas Gerais, eram sempre reis Congo. A denominação de congado, para o cortejo que acompanhava esses reis, na Festa do Rosário, surgiu no século 19. E, pouco a pouco, todos os reis foram sendo chamados de Congo, sem menção a outras nações. Isso porque o antigo Reino do Congo continuava sendo, para os bantos, uma entidade una que repousava sobre o papel simbólico do rei, que, mesmo com poderes limitados, continuava preservando o local sagrado onde estava enterrado o introdutor do catolicismo no Congo, no qual se cultuavam os ancestrais e os primórdios dessa religião no reino. Portanto, o rei Congo encarna a origem do catolicismo africano, construído por Afonso I. e tem um papel aglutinador, nas comunidades negras, remetendo as diferentes etnias ao Congo, como terra mítica de todos os africanos cativos. Além disso, mesmo expressando valores africanos através de formas portuguesas, ao elegerem seus reis e rainhas, os negros desenhavam sua especificidade na sociedade colonial e definiam um espaço simbólico no qual eram agentes da própria história. Com isso, esses reis e rainhas reafirmavam hierarquias internas das comunidades negras mantendo a coesão social. Reis de Promessas Perpétuas
Figura 113 - Encontro de Reis com Capitães e Rei de Guarda visitante – MG – 2003 (Acervo IMPHIC)
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Figura 114 - Encontro de Reis com Capitães e Rei de Guarda visitante – MG – 2003 (Acervo IMPHIC)
Os Reis de Promessas perpétuas são aqueles cuja promessa foi estabelecida de forma perpétua, portanto não tem prazo estabelecido para encerramento e durará toda a vida do devoto.
Figura 115 – Esq. :Trono Coroado seguindo em cortejo em direção à capela – Betim – MG – 2004. Dir.: Dna. Ricardina última Rainha da Guia. (Acervo IMPHIC)
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Rei Perpétuo
Figura 116- Rei Perpétuo da Coroa de Santo Antônio de Pádua - Pampulha Velha (Foto Acervo OTCSAP)
Quem fundou o reinado naquela cidade ou comunidade ou recebeu a coroa do fundador para continuar o reinado. Esse Rei esta vinculado ao Reinado por uma promessa perpétua que só termina com sua morte, mas permanece seu título pela reverência aos antepassados. Reis e Rainhas de Promessa Os Reis de promessa são aqueles que aceitaram a incumbência de realizar alguma promessa para algum santo de devoção. Ele acompanha uma guarda em suas peregrinações pelo tempo que durar a promessa. Reis de Festa ou Reis Festeiros Os Reis Festeiros são aqueles que aceitaram a incumbência de realizar a festa. A cada ano é coroado um novo Rei Festeiro. Os reis festeiros podem ser: a) Festeiro Grande: porta a coroa de São Benedito. E é conhecido também como Rei da Coroa Grande, Rei Branco, etc. b) Festeira Grande: apresenta-se com a coroa de Santa Efigênia. E também é chamada de Rainha da Coroa Grande, Rainha Branca, etc. c) Festeiros Pequenos: podem ser em número de doze (Número cabalístico que representa as doze estrelas na auréola de Nossa Senhora). Na Destra, conduzem nas mãos uma coroa enfeitada que depositam aos pés da imagem de Nossa Senhora do Rosário ou das Mercês.
Capitania A capitania é o grupo de capitães que comandam a guarda ou que fazem parte da Irmandade. Eles são divididos hierarquicamente de acordo com a função desempenhada no grupo.
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Figura 117 - Os quatro capitães mais antigos da irmandade, da esquerda para a direita: Dna. Nenen, "Seu Raimundim", "Seu Mário" e "Seu Dalmo"
Figura 118 - Capitães da Guarda de Moçambique de N. S. do Rosário (Acervo: IMPHIC)
Capitão-Mor Trata-se do Capitão de alguma guarda eleito vitaliciamente como comandante ou líder dos outros capitães
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Capitão Regente É o Capitão que tem a função de substituir o Capitão-mor 1º Capitão Decide e entoa os cânticos (cantos) que determinam os ritmos a serem executados pela guarda, respeitando os momentos rituais da festa.
Figura 119 – Esq.: Capitão Mario de Paula (falecido) - Guarda de Moçambique de N. S do Rosário do Bairro Sta. Inês – 1999 - Betim/MG; Dir.: Seu Mário” – 2004 - (Acervo IMPHIC)
Nas ocasiões em que é substituído pelo Segundo ou Terceiro-Capitão, nos cânticos de algumas marchas, também reforça as decisões deste, executando voz de resposta e duetos. Com o uso de um apito, sinaliza as ordens de comando ou aviso para iniciar ou encerrar o ritmo. O apito também pode estar incorporado ao arranjo rítmico durante as execuções das marchas e dobrados.
Figura 120 – Seu Dalmo – Capitão e Fundador da Guarda de Moçambique de N. S do Rosário – Betim – MG – 2004 (Acervo IMPHIC)
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2º Capitão O segundo Capitão reforça as decisões do primeiro capitão entoando os mesmos cânticos com diferentes tonalidades executando voz de resposta. Também possui um apito para empregar as ordens durante as execuções das marchas e dobrados. 3º Capitão O terceiro Capitão reforça as decisões do primeiro-capitão entoando os mesmos cânticos executando voz de resposta e duetos. Também entoa cânticos solos durante a execução de marchas substituindo em alguns momentos o primeiro Capitão. Também exerce a função de segundo caixeiro e introduz os ritmos a partir de toques e repiques que executa na sua caixa, sinalizando para o restante dos músicos da guarda qual o ritmo deverá ser executado.
Encarregados dos Objetos Simbólicos Coiceros Em número de três, reforçam os cânticos entoados pelos capitães não possuindo nenhuma execução percussiva. Responsáveis pela “defesa” e ou proteção dos Reis. É deles a função de finalizar, “fechar”, as filas, servindo de uma espécie de escudo para antecipar os passos do trono coroado.
Figura 121 – Esq.: Guarda de Moçambique de Sta. Efigênia se deslocando para o cortejo – Betim – MG – 2004 (Acervo IMPHIC). Dir.: Dona Pepita – Bandeireira da Guarda de Congo de N. S. do Rosário – Betim – MG – 2005 (Acervo IMPHIC)
Bandeireira Ela é responsável pela guarda da Bandeira e das meninas que vão à frente da guarda. De acordo com a lenda, as jovens precisavam ser virgem como símbolo de pureza e devoção
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a Nossa Senhora do Rosário. 55 Caixeiros de guia Eles dão referência sonora para o primeiro Capitão. Usam dois tambores localizados à frente das duas filas laterais. Fornecem a pulsação rítmica para os capitães executando os mesmos desenhos rítmicos dos Caixeiros de Fila.
Figura 122 – Caixeiro de Guia de Guarda de Moçambique visitante se preparando para o cortejo – Betim – MG – 2004 (Acervo IMPHIC)
Caixeiro de centro Em algumas guardas incluem-se um grupo de caixas no centro, são três caixas localizados ao final da fila do centro, elas tem a função de marcação e são responsáveis pelo andamento rítmico, são as maiores caixas algumas conhecidas pelo nome de TremeTerra. De sonoridade grave e com toques diferenciados, as caixas de centro definem as células rítmicas com sua potência. Posicionados na fila do meio, esses três músicos denominados Caixeiros de Centro estabelecem o andamento rítmico criando a marcação para o conjunto. Eles não executam nenhum tipo de repique ficando apenas na marcação dos compassos. Os outros tem uma certa liberdade para também realizar repiques e divisões rítmicas. O último caixeiro de centro chamado também de “caixeiro do pinhão” não executa nenhum tipo de repique. Os outros dois caixeiros, chamados de “marcadores”, realizam variações da mesma batida ou seguem o mesmo desenho rítmico. Utilizam para a execução dos ritmos apenas uma baqueta e reforçam os cânticos entoados pelos capitães. 55
Embora a estampa da santa seja comum aos estandartes de todas as guardas, não importando procedência ou espécie; em Minas Gerais, o bandeireiro é chamado alferes.
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Caixeiros de fila Tem a função de potencializar o ritmo. Eles ficam localizadas nas filas da direita e da esquerda. Sua evolução rítmica acompanha a caixa guia. Também realizam repiques e “floreios” a medida em que o ritmo ou ocasião necessite.
Figura 123 – Guarda de Moçambique de Sta. Efigênia se deslocando para o cortejo – Betim – MG – 2004 (Acervo IMPHIC)
Caixeiro de respostas ou Dobradeiros Caixeiros que executam ritmo, floreios e repiques. Localizam-se na fila do centro, atrás da caixa do segundo caixeiro. É esse caixeiro quem “dobra” as batidas do ritmo, ou seja, realiza repiques dentro da freqüência enriquecendo e aumentando a diversidade sonora.
Figura 124 - Guarda de Catopê de Santa Inês - Capitã Tita (Acervo IMPHIC)
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A partir da introdução o dobrador realiza o “dobrado”, que pode ser interpretado como floreio rítmico, preenchendo e enriquecendo a execução das marchas e dobrados com batidas e divisões de toques precisos. Responde aos cânticos entoados pelos Capitães.
Dançantes 56 Trata-se do grupo que desempenha os papeis coreográficos e de coro de vozes nas guardas. Esse grupo tende a ser em maior número nas guardas, porém em guardas que estão se iniciando pode-se encontrar uma inversão numérica e perceber-se que o grupo responsável pelos objetos simbólicos como caixeiros, bandereira e capitães, é em maior número Dançantes-Guia Em número de dois, são uma referência rítmica para os capitães. Liderando cada um, as filas da esquerda e da direita, são seguidos pelos Dançantes. Os dois dançantes-Guia ficam posicionados ao lado do primeiro capitão.
Figura 125 – Guardas no Largo do Rosário durante a Festa – Betim – MG – 2003 (Acervo IMPHIC)
Sineiro do Rosário
No dia de levantamento do mastro, o sino é tocado lembrando que os negros cativos ou libertos tinham notícias através do sineiro, das fugas que estavam sendo preparadas. Figura 126 - Sino da capela posicionado em sua sineira no lado externo da capela á direita da mesma (Acervo IMPHIC)
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Os dançantes, também chamados soldados ou brincadores, são a base do terno, atuando também como caixeiros, sanfoneiros, violonistas e cantadores. Os irmãos devem estar sempre presentes, freqüentar a missa e saber rezar o rosário. Evoluir dentro da irmandade depende do compromisso, do interesse, do respeito e da participação de cada um.
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ESTRUTURAÇÃO PERFORMÁTICA
N
o Congado, os congadeiros são uma coletividade que podemos observar por uma homogeneização de categorias através do uso de fardamentos, a partir dos quais não dá para se distinguir, por exemplo, a classe social a que pertence a pessoa. Já a distinção de gênero fica nítida em algumas guardas através de fardamentos distintos
A dinâmica interna observada dentro das guardas é formada de elementos diversos como submissão das guardas aos regimentos estabelecidos pela Igreja Católica, Falta de participação dos integrantes na liturgia da igreja, dificultadores impostos pela igreja para a participação dos congadeiros como o desuso da capela; falta de participação e integração das guardas.
Figura 127 - Esquemas gerais de guardas de congado
A falta de um espaço próprio para a Irmandade de N. S. do Rosário de Betim para sediar atividades, reuniões, ensaios é outro dificultante da dinâmica interna das guardas apesar da existência de um terreno que foi doado, mas ainda não foi tomado posse. Outro fator preocupante é a diminuição do número de jovens que participam e, somado aos fatores anteriores, coloca em questão a permanência da existência das guardas de congado em Betim. O Movimento do Congado em Betim não mobiliza somente a comunidade católica, mas uma comunidade negra mais ampla que é reconstruída a partir das guardas. E nesse aspecto a manifestação do Congado em Betim abre-se como um campo de investigação privilegiado para compreender as práticas e representações culturais coletivas que constroem a teia histórica, afetiva e cultural complexa de relações dessas comunidades. O Congado é uma forma de comunicação corporal, visual, auditiva que espelha o “eu negro” que expõe sua resistência, libertação, lamentos, emoção, expressão, oposição, criatividade; desta forma tornou-se o elemento conciliador desse sujeito, fragmentado, exposto e dilacerado, com suas próprias raízes resgatando a história do negro e reivindicando seus direitos e valores.
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O congado se distingue das danças populares por essa última ser desprovida de insígnias de poder que dão esse caráter ritualístico ao Congado retirando-o do rol do mero folclore. Os membros ou varsais, geralmente desprovidos de insígnias de poder que lhes confiram status, mostram suas habilidades com o corpo ao embalo do ritmo valorizando-se pela competência corporal.
Performances de cortejo Gungar no Chão Trata-se de um movimento brusco e repentino em um rodopio de trezentos e sessenta graus sobre si mesmo, com os pés paralelos e fixos no chão.
Bizarriá A bizzaria é quando os capitães brincam ou ironizar acontecimentos sociais, políticos e históricos:
A canoa afundo lá no meio do má porque marinheiro num soube remar. A galinha botô e choco e só num deu ovo que o pinto criou. No exemplo acima temos na primeira estrofe, há uma ironia explícita aos marinheiros que afundam com as canoas e sob o disfarce desse canto esconde-se uma ironia aos comandantes de guardas que deixam o grupo acabar, por falta de comando. Já na segunda estrofe trata-se de uma cantoria despretensiosa. Os bizzariadores dizem que tudo surge no momento. Coração de Jesus Trata-se de uma movimentação onde a guarda faz com que a fila do lado direito retome para a direita e conduz sua coluna até encontrar-se com seu último componente, e a fila da esquerda realiza o mesmo. No final tem-se o formato de um coração. Meia-Lua Trata-se de uma movimentação feita quando a guarda passa por uma parte do trajeto onde queira se fechar ou fechar o caminho das más influências
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Volta da Maré Esse movimento realiza-se com a guarda separada em duas colunas e os congadeiros se voltam repentinamente: a coluna da direita em um giro de 160 graus para a esquerda e a coluna da esquerda faz o mesmo giro para a direita produzindo um movimento semelhante às marés que chegam às praias e retomam para o mar. Na linha do Bastão Esta coreografia de Moçambique é realizada colocando o bastão em linha horizontal pouco abaixo do joelho, segurando-o com ambas as mãos. Acompanhando o ritmo dos tambores ele passa sequenciadamente um pé após o outro, por cima do bastão.
Figura 128 - O Movimento "Coração de Jesus" (usado principalmente pelas Guardas de Congo)
Figura 129 – O Movimento Básico de Meia-Lua (usado principalmente pelas Guardas de Congo)
Na linha do Mar Esse movimento retrata a resistência escrava através de um simples mito. Ao realizar “na linha do mar” os dançadores se agrupam e erguem as espadas acima das cabeças para proteger os escravos procurados pelos senhores de engenho. Posteriormente criou-se a lenda de que eram lembranças dos negros que lutavam contra as feras no mar, para buscar a imagem de Nossa Senhora, mas isso foi feito para impedir que nas representações houvesse homenagens a escravos revoltosos. Batuquerê O batuquerê é uma coreografia utilizada por aqueles que já tenham dançado em uma roda de batuque onde forma-se um círculo e no centro cada componente realiza sua dança individual. Danças Qualquer tribo africana sempre se preparava para a guerra, boas colheitas, aniversário do rei ou de príncipes. No congado os gestos corporais podem ser de alegria e camuflagem necessária para se proteger do colonizador e preservar alguns mistérios culturais.
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O Congo movimenta-se em duas alas, no meio das quais postam-se os capitães, e executam coreografias de movimentos rápidos e saltitantes, às vezes de encenação bélica e ritmo acelerado, cantam grave e o dobrado, abrem os caminhos, rompendo, com suas espadas e/ou longos bastões coloridos, os obstáculos.
Figura 130 – Guarda de Congo Vilão de São Judas Tadeu - 2003 (Acervo IMPHIC)
O Moçambique Dança agrupado, sem nenhuma coreografia de passo marcado. Seu movimento é lento e de seus tambores ecoa ritmo vibrante e sincopado. Os pés dos moçambiqueiros nunca se afastam muito da terra e sua dança, que vibra por todo o corpo, exprime-se, acentuadamente, nos ombros meio curvados e nos pés. Seu canto acentua, na enunciação lírica e rítmica, a pulsação de seus movimentos. Todos os congadeiros trazem, além do terço, o rosário cruzado no peito, seu signo mais visualmente característico, coletivamente
Figura 131 – Guarda de Moçambique fazendo seus lamentos e devoções – MG – 2003 (Acervo IMPHIC)
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Figura 132 - Chegada de Rei e Rainha de guarda visitante – MG – 2003 (Acervo IMPHIC)
Figura 133 - Crianças integrantes de uma guarda tocando Patangoma – Betim – MG – 2004 (Acervo
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Encontro de Bandeiras Trata-se de um riquíssimo momento em que as guardas trocam suas bandeiras. Exige-se sabedoria dos capitães e proíbe-se cantoria depreciativa (bizarria). Os alferes - condutores da bandeira - só podem tê-Ias de volta no instante em que seus capitães terminem os cantos geralmente baseados em antigos versos.
Figura 134 –Encontro de duas guardas para realização de seus rituais
Batalha de Manguara do Congo Velho Trata-se de um combate simulado que relembra as centenas de lutas travadas pelos escravos em suas batalhas contra os colonizadores e as preparações de defesas de seus quilombos.
Figura 135 - Membros da Ordem Templária da Cruz de Sto. Antônio de Pádua executando a batalha de manguara do congo velho
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ESTRUTURAÇÃO DA ORALIDADE O “CANTOPOEMA “O Candombe num é um trem assim que nem escola não...porque assim, se o Candombe fosse uma coisa pra ser ensinada assim, acho que podia qualquer um chegar e querer ensinar. Ninguém ensinou você o que é Candombe não, ensinou? Nós aprendemo da mesma forma (...). cê tem que vê que tem que deixá ele entrá dentro docê. O Candombe é livre, sô. Procê vê, ele num tem regra com música, com canto...a única regra dele é a fé. Igual B., que morreu, ele era um cara que entrava na roda e inventava os verso na hora. Se o Candombe fosse coisa pra ser ensinada tinha os canto todo certo.” (D. Mercês)
U
m dos elementos cruciais no Reinado são os cantos e consequentemente a literatura que orbita em seu entorno. A pesquisadora Zilá Bernd (1987), em sua análise dos discursos afro-latinos-americanos e caribenhos destaca que o que define a poesia negra não é o fato do autor/enunciador ser negro, mas o fato de "situar-se como negro" para que a poesia possa exprimir-se com a dicção própria, com uma intenção negra. Ela mostra, assim, que o importante no discurso é o eu enunciador, e que não é necessário que o autor seja negro, mas que se coloque como tal, construindo sua subjetividade. Essa subjetividade estará, portanto, alicerçada no resgate da memória cultural do negro. Assim podemos dizer que a identidade do congadeiro não perpassa pela cor ou tom de sua pele, mas por uma questão de consciência, identidade e memória. Dentro do Reinado as distinções entre as funções e formas dos cantos são muito significativas, por isso um dos elementos mais importantes para a distinção do Congo e do Moçambique é a linguagem dos cantos. O canto possui um papel muito especial para o moçambiqueiro e um dos seus traços mais marcantes é a presença do princípio do movimento aliado ao princípio cíclico. Além da emotividade, do diálogo e do coletivismo De acordo com SANTOS (2007): Canta-se com sensibilidade. O uso da voz vai muito além da mera técnica de canto. Canta-se com tamanha carga emocional e física dos integrantes que não raro as pessoas ficam com os olhos cheios d’água. Isto se deve a uma comunicação que acontece mais pelo trânsito de emoções que cruzam o espaço entre o terno e o dos outros participantes do que pela via racional. A emoção não é só a da dor e da revolta. Há espaço também para o canto alegre e festivo. As construções musicais do Congado - cântico, embaixadas e padrões rítmicos - se desenvolvem de acordo com uma dinâmica própria do universo das tradições orais. O vasto repertório de cantos está sujeito a um grau de mobilidade, com recriações e readaptações num diálogo contínuo entre o passado e o presente. A estrutura básica geralmente é composta por unidades de estrofes com quatro versos com rimas alternadas e as estrofes são repetidas várias vezes. Há cantos para a abertura e fechamento das atividades, os de cortejo, os de levantamento
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e descida de mastros, os de pedido de licença, os da Missa Conga, os de coroação de reis, os de despedida, além daqueles destinados a louvar os santos, ao pagamento de promessas, para agradecer a mesa, etc. A palavra emitida pelo congadeiro está investida de força, e deve ser entoado o canto certo para cada circunstância, em cada etapa do ritual. A música do Congado processa-se coletivamente, cada participante com seu papel, conforme suas habilidades e possibilidades. Esse universo musical se apresenta, assim, dinâmico, com graus diferenciados de flexibilidade, se redefinindo a cada performance. Cada execução musical é única pois depende da conjunção de alguns fatores: a pessoa que está "tirando" o cântico, a altura tonal em que canta, o número de pessoas que se encontram na guarda e suas características vocais, o tipo e número de instrumentos presentes, etc. Cada melodia, cada rítmo e mesmo cada movimento coreográfico, apresentam um núcleo básico e referencial de elementos, uma fórmula mínima que os identifica. Tanto no plano rítmico dos instrumentos quanto no melódico dos cantos, a música apresenta um caráter cíclico, determinado por uma intensa repetição dos padrões. Normalmente, os textos dos cantos são curtos, compostos de poucos versos que devem ser repetidos no mínimo três vezes antes de serem substituídos por outro. Podemos ver isso através das variações da estrutura antifonal solo/coro apresentada por SANTOS (2007) 1º. quando o coro responde repetindo a última estrofe cantada pelo capitão 2º. quando o coro responde palavras não ditas pelo capitão 3º. quando o coro responde repetindo todo o refrão, geralmente de quatro estrofes: 4º. quando a relação solo/coro é intercalada após cada estrofe 5º. quando capitão e coro cantam juntos a primeira estrofe (que é repetida na íntegra), em seguida o capitão faz a resposta sozinho. Na segunda chamada o coro canta sem o capitão. Assim, a mudança está no que se refere a quem faz a chamada (coro) e quem faz a resposta (capitão). Nesta forma cabe ao coro a maior parte do canto Para entender a estrutura dos cantos valeremo-nos de um conceito criado por Edimilson de Almeida Pereira – cantopoema. Segundo Pereira, é “viável considerar os textos do congado como um corpus literário” (2002, p. 38). Para tanto, o pesquisador estabelece o conceito de cantopoemas: A ênfase sobre o texto revelou uma refinada elaboração da linguagem e dos arranjos sonoros, assim como o perfil criativo de vários indivíduos. Em virtude da importância atribuída à letra e à melodia, acreditamos ser pertinente chamar de “cantopoemas” uma parte dos discursos que os devotos elaboram para o período específico das celebrações e que, mediante a aceitação do grupo, permeia também as suas vivências cotidianas. A leitura das letras, isto é, dos poemas, permite-nos analisar os aspectos que privilegiam o ponto de vista da escritura do texto, ainda que na maioria das vezes a escritura pareça ocupar um plano secundário em relação ao canto. (PEREIRA, 2002. p. 38-39).
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A pesquisadora Daniely Rosa Lana cita Edmilson Pereira ao nos informar que os devotos de Nossa Senhora produzem um discurso histórico, muitas vezes se apropriando da palavra sagrada contida no mito e da palavra histórica 57. Ela ressalta ainda que a elaboração dos cantopoemas também se dá com o objetivo de atingir determinados fins sociais, sendo o mesmo também considerado como histórico. Em depoimento do Sr. Raimundinho, da guarda de Congo, “Tem muitas cantigas que nois num cantava antigamente que quais nos num canta que é marcha mais, aquelas cantigas de marcha, como “Jesus cristo quando ando pro mundo que beleza, né! Aí canta assim”: Jesus cristo quando ando pro mundo que beleeeeza Abençoando a todo mundo, louvado seeeja Lana esclarece que a ancestralidade do congado se revela nas narrativas transcritas nos cantopoemas, e alguns elementos fundamentam os modos da enunciação se sobressaem, segundo Leda Martins: “ A vinculação do narrador a um universo narratário que o antecede mas que, simultaneamente, o constitui e nele o inclui. A voz da narração, articulada no momento evanescente da enunciação, presentifica o narrado e os narradores antepassados, mas também singulariza o performer atual. Nesse ritual de apropriação e execução, a questão da autoria não se coloca e só pode ser abordada de forma secundária. Da convergência da voz coletivizada, a da tradição, com a dicção particular do narrador, emerge o narrado. Narrar e cantar são , assim, jogos de improvisação sobre os motes e os temas na série curvilínea e espiralar da tradição... As histórias e cantos não são executados de um único modo pelo narrador, pois ele imprime uma dicção linguistica, gestos, movimentos corporais e modulações tonais diferenciados a cada execução. Sua marca indelével de autoria só se exprime pela sua maior ou menor capacidade de estabelecer esse diálogo entre passado e presente. [...] a repetição de certos sintagmas e expressões idênticos ou análogos reifica o narrado, cria a sua realidade, e modula a enunciação e a dinâmica do ato de narrar.” (MARTINS,1997, p.63-64) Para a autora, a pesquisadora Leda Martins traça um perfil onde o narrador evoca em seus enunciados a presença de seus antepassados, por meio de de gestos, movimentos corporais e principalmente do diálogo estabelecido entre o presente e o passado. Daniely Lana observa que através do discurso oral o narrador costura os vínculos entre as gerações em que fundamentando a vida de sua comunidade. Com isso, alguns cantopoemas são enigmáticos, seu sentido esconde em imagens, algo que não se deixa decifrar dando aos cantopoemas um poder que só a oralidade tem: “A palavra oral, assim, realiza-se como linguagem, conhecimento e fruição porque alia, em sua dicção e veridicção, a música, o gesto, a dança, o canto, e porque exige propriedade e adequação em sua execução.” (MARTINS,1997, p.63-64) Essa oralidade segundo Lana constitui um processo que alia o som ao ritmo do corpo e do 57
Pereira, Edmilson apud Rosa, Daniely. 2010 (mimeo)
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gesto, alinhando ao cantopoema onde a equação de elementos culturais e de devoção produz a linguagem do corpo e da alma que tem, também, o papel pedagógico fundamental de informar aos descendentes toda a forma de resistência vivenciada pelos seus ancestrais. Além das referências de suas terras, de onde foram arrancados repentinamente, os negros trouxeram também, a sua tradição cultural, provenientes de várias regiões da África, e é através de seus contos que perpetuam a sua cultura, muitas vezes representadas por suas guardas. Segundo Edmilson: un cantopoema (poema sagrado del Congado que se realiza a partir de la palabra cantada y de la acción dramática del devoto) no circula en el espacio de la prensa especializada en literatura, pero la intensidad con la cual circula en el espacio limitado de la comunidad permitió, hasta hoy, que el cantopoema no tratara apenas de cuestiones importantes para la comunidad, como también aguente la presión de otras formas discursivas impuestas por los medios de comunicación de masas. O sea, el estar afuera del circuito es una posición relativa, si consideramos que, paralelamente a los circuitos de los medios de comunicación de masas y de la literatura canonizada, se articulan otros circuitos comunicativos, como los de las pequeñas comunidades. En las comunidades donde el sagrado todavía es un elemento fundador de la realidad social, podemos notar que el lenguaje sufre menos por aquella corrosión que lleva al poeta como dijimos anteriormente - a utilizarla como instrumento de trabajo, aunque esté consciente de sus fracturas. En el caso específico de los cantopoemas, encontramos un lenguaje que remite al origen del mundo y, al hacerlo, vuelve a instaurar el mundo y a los individuos que lo constituyen. Estamos delante del lenguaje fundador, repleto de sentidos que orientan la vida cotidiana de los devotos. Este lenguaje tiene que ser enunciado en un momento ritual - durante la iniciación de un devoto o durante el saludo a un antepasado - para que pueda actualizar otra vez un mito que la comunidad toma como su referencial. Desde esta perspectiva, la función ritual del lenguaje tiene una orientación práctica, pues sólo será eficaz en la medida en que los devotos la entiendan. Uno de los recursos para llamar la atención del devoto consiste en refinar la función estética del lenguaje, a través del cual el más áspero enunciado tiende a conmovernos por la sutilidad intrínseca del lenguaje que lo transporta. Por lo tanto, la fragmentación del discurso y la hibridación de las formas, para mencionar dos aspectos, son articulados de manera a hacer de este lenguaje una realidad seductora que ritualmente revela un sentido vivible y, en el mismo instante de la enunciación, se apresenta estéticamente como un enigma que tiene que ser descifrado. Esta paradoja es el eje de este lenguaje, razón por la cual el lenguaje se mantiene tieso como un arco delante de su blanco. 58 Contudo, o cantopoema vem se ajustando de geração a geração e os mais velhos respeitam as transformações ocorridas pelos seus sucessores. O congadeiro então passa 58
Entrevista de Edmilson de Almeida Pereira concedida a Fabricio <http://www.critica.cl/html/entrevistas/entrevista_edimilson_de_almeida.htm>
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Marques
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01/09/05
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a ser agente ativo, mostrando sua autonomia e sua competência de transformar e gerenciar a manutenção de sua tradição. Para o Sr. Raimundinho, hoje considerado um dos mais velhos dançantes, “O canto que nois cantava antes, hoje canta menos, mas ela faz parte do propósito, em um outro que é uma marcha que canta assim tamém”: Oh! Deus salve o oratório. Oh! Deus salve o oratório Onde Deus fez a morada o a meu Deus Onde Deus Fez a morada oh há... Dentro da estrutura do Reinado do Rosário a palavra oral adquire um dinamismo próprio a cada circunstância ritual com a qual o devoto se depara. Assim temos cantos de entrada, cantos de puxar bandeira, cantos de levantamento de mastro, cantos de saudação, de invocação, de travessia dentre outros tantos.
ESTRUTURA DOS CANTO-POEMAS DE MOÇAMBIQUES Como a guarda que representa o candombe, os moçambiqueiros são os senhores da música secreta e da magia, cantam a memória de África e dos antepassados com a mesma força criativa com que fez seus tambores de inhame para tirar a Senhora das águas. O Moçambique recria o canto, com improvisações que podem durar longo tempo. É quando abre-se a caixinha mágica do inconsciente coletivo e a memória mítica aflora
ESTRUTURA DOS CANTO-POEMAS DE CONGOS A linguagem do Congo expressa a religiosidade e a vida mais recente do grupo, através dos cantos que lembram os problemas sociais com o poder público e a Igreja, a história de guardas visitantes e as brincadeiras ou bizarrias. A estrutura do canto é fixa, limitando as improvisações. Ao conduzirem a execução de um canto, o congo imprime sua personalidade à expressão através da maneira particular de interpretação da tradição. Aos Congos são permitidas as brincadeiras, ou no dizer dos congadeiros, as bizarrias.
ALGUNS TIPOS DE CANTO-POEMAS Canto-Poemas - Candombe Chama nego pra trabaiá nego tá trançando hoje é fim de semana amanhã tá trabalhando Chama nego, Branco num vem cá Se vier, Pau vai levar “Saí de casa descendo o morro a estrela dalva já clareou”
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“Vamos embora que já é hora mas e o galo já deu o fora” “ê titiê, ê titia, cutia caiu no poço cutia já levantou no campim de Paraúna que campeiro vai te matar você fala com tiroteio que um dia eu vai lá” “Ô viemo, viemo, viemo, Ô viemo da bera do mar Foi um laço de fita amarela Na ponta da vara Eu não posso tira” “Oiê ê o conceito O que Deus fez Tá feito” “Ói nóis são lá do Açude somo dum buraco fundo Ó Senhora do Rosário Abençoa todo mundo” “Toca caixa, chora gunga diz o povo do lugar o Candombe dos escravos é que vai abençoar” Oia dono de ingoma Com licença oiê Oia dono de ingoma Com licença oiê Oi mininu Toma bença sua pai Oi mininu Toma bença sua pai Êêêêêêêêê Oi fio de candombe Candombeiro é Ora fio de candombe Candombeiro é Êêêêêêêêê
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Hummmmm Ôôôôôôôôôô Minha mãe não veio aqui, mandou eu oêêêêêê E pediu pra eu louvar Oêêêêêê Ôôôôôôôôôô Ô louvado seja Cristo Para sempre seja Ô louvado seja Cristo Para sempre Senhor Ê ingoma, cora ingoma auê Ê Santanna peço vós a benção auê Ê Santaninha peço vós a benção ouê Ê Jeremias Abençoa esse capitão auê Para cumprir sua missão ouê Ô candombe, põe a benção nos seus fio Ô Tamburete sagrado Com licença auê Ô angola, angola, angola auê Ô angola, angola, angola de zirigunga auê Ô Santana, Santaninha, Jeremias Eu lhe peço sua benção auê Eu lhe peço sua benção Pra meu reino poder abrir auê Ô ingoma de vovô ôe Ê ingoma de angola auê Ê vovô, ensina eu rezar Ê vovô, ensina eu rezar Ê no caminho do candombo tem areia Ê no caminho do candombo tem areia Ô veiaco, põe o pé no caminho Ô veiaco, põe o pé no caminho Èêêêêêêê debaixo da cama, tem garrafinha debaixo da cama, tem garrafinha 59 Ô mãe Maria, pôe a fumaça pro céu 59
Uma possível explicação desse termo é o fato de que a garrafa é um símbolo do segredo fechado.No uso ritual da garrafa, sua força de resistência permite fechar o espírito de uma pessoa, a vista e a mente a vontade de paixão ou feitiço. As pessoas encarregadas de rituais de nkisi tentam encarcerar em uma garrafa um nkisi prejudicial ou um morto que freqüentemente aparecem em sonho. O pai fecha em uma garrafa um pouco de terra retirada dos quatro cantos da casa para proteger a família dele. Por outro lado, um feitiço pode ser escondido em uma garrafa e não ser descoberto. Por causa de seu lado externo liso, a garrafa intervir no ritual protetor contra o veneno de serpentes. Também as garrafas que servem manipular o raio (agressão e proteção).
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Mãe Maria, pôe a fumaça pro céu
Tipos de Canto-Poemas – Abertura São cantos entoados no momento em que o reinado retorna após seu fechamento em Outubro Viva o Rei Viva Rainha Viva as três coroas desse nosso reinado Ô Maria, ô mãe querida Eu vou pedir, ô mãe querida Vou pedir, ô mãe querida Que tome conta dos filhos dela Toma conta dos filhos dela Pra evitar os inimigo Evitai os inimigo E livrai da tentação Ô meu rosário É nossa vida Ô meu rosário É nossa vida Pega com Nossa Senhora É nossa mãe querida Pega com Nossa Senhora É nossa mãe querida Nome do Pai e do Esprito Santo Nome do Pai e do Esprito Santo Na hora de Deus, amém Olelê, olelê ôô iê Ai ô lelê ioiô ieiê ieiê ia Ê Nome do Pai e do Esprito Santo Nome do Pai e do Esprito Santo Na hora de Deus, amém Chora ingoma Ê viva Deus e viva mundo, ai ai Viva povo moçambiqueiro, ai ai Viva dono de coroa Moçambique, que é de Santo Antônio Chora ingoma Viva Deus e viva mundo, ô gente Viva povo moçambiqueiro Cora ingoma, auê Ê, na hora de Deus, amém Na hora que Deus começa Quero começar também Chora ingoma, auê
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Tarilelê, auê ô Tarilelê, auê ô Ê, minha ingoma Minha ingoma de papai, ai, ai Minha ingoma tá chorando, ai, ai Ela chora em morro velho, iê Tarilelê, auê ô Tarilelê, auê ô
Tipos de Canto-Poemas – Encerramento Ô se Deus quiser Se Deus quiser Até para o ano que vem Se Deus quiser Oi adeus Sá Rainha Adeus senhor rei Até para o ano, se Deus quiser Ô senhor capitão, se Deus quiser Até para o ano, se Deus quiser
Tipos de Canto-Poemas - Lôa A loa tornou-se o prólogo da comedia antiga na sua fórma mais rudimentar, com que o ator vem colocar a ação, prender as atenções impacientes, do publico. O termo popular é “deitar a loa”, onde se proclamava do alto do tablado em que se iam fazer as figurações cênicas.
Tipos de Canto-Poemas - Cantos de Louvação São verdadeiras orações entoadas pelas guardas. Canta-se para Nossa Senhora, Santa Ifigênia, Nossa Senhora da Aparecida, São Gonçalo e São Benedito, principalmente. Oh Virgem Mãe e Santa Helena Eu peço de coração oi derrame a vossa bença e nos dê a proteção Abençoe esses fio que veio de longe, veio festejá Aiolelê aiolelê olelê ao Lea Aiolelê aiolelê olelê ao lea Hei viva povo de Angola Viva povo de Angolá Olha viva Santa Helena que ta la no céu pra ser seu par Viva Nossa Senhora do Rosário
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Viva São Benedito Santo Viva Santa Efigênia Viva Santa Helena Viva o mastro sagrado Viva as três coroa Real Viva o Divino Espirito Santo “Nossa Senhora do Rosário a sua casa cheira cheira cravo, cheira rosa e a flor da laranjeira” Ê santana! Ê santana, a mamãe do Rosário, é santana! Beija-flor! Beija-flor! Beija nossa senhora do andor! Beija nossa senhora do andor! ÔÔÔÔ glória! O rosário de Maria. É la no meio do mar A Virge Senhora viêmo louvá É la no meio do mar Neste palácio tem coroa Neste palácio tem bandeira Neste palácio tem amor A Senhora do Rosário é a nossa padroeira
Tipos de Canto-Poemas - Cantos de Partida São realizados no instante em que as guardas se preparam para deixar a residência visitada. Essa cantoria tem um grande significado, é através dela que os congadeiros ficam preparados para continuar a jornada em paz. Adeus, adeus Vamo abraçar Se Deus Quiser Ano que vem eu vô voltá “Vamos embora que já é hora mas e o galo já deu o fora” Se a morte não me matar Tamborim Se a terra não me comer Tamborim Ai, ai, ai, tamborim Para o ano eu voltarei Tamborim Adeus, adeus Não chora não Para o ano eu voltarei Pra cumprir nova função
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Tipos de Canto-Poemas - Cantos de Demanda Estes cantos são executados quando dois capitães se encontram e tentam rivalizarem-se através de cânticos que denotam ironia ou conhecimento. Passei na Ponte A ponte tremeu Debaixo da ponte jacaré morreu
Tipos de Canto-Poemas - Cantos de Travessia São cantos entoados junto a pontos nodais como em encruzilhadas Estrela do dia Estrela da Noite Alumia o gira dingoma pra meu povo passá
Tipos de Canto-Poemas - Cantos de Chegada As embaixadas, que os capitães fazem para os reis e rainhas, são cantos que normalmente apresentam um mesmo contorno melódico, e não são acompanhadas pelos instrumentos, a não ser por um rufar das caixas ao final das frases, momento em que o coro ajuda a sustentar um acorde. Nossa Senhora do Rosário, foi ela quem me trouxe aqui a água do mar é boa eu vi, eu vi, eu vi”
Oi rere rere Oi rere rere Eu cheguei no Rosário de Maria Embelezou, embelezou Eu cheguei no Rosário de Maria Embelezou, embelezou
Bate tambor, bate tambor hoje é dia de alegria Hoje é dia de alegria
Tem um novo progresso nessa terra
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Moçambique que toca tambor e tá pedindo paz ô Siriaco, ô Siriaco foi no tempo de vovô foi seu pai que me ensinou Bate o pé so com sete gunga, mininu e segura essa ingoma Ta caindo fulo, tá caindo fulo Lá no céu, cá na terra Ô lelê ta caindo fulô
Tipos de Canto-Poemas – Cantos do Cativeiro e Cantos de Libertação São canções que rememoram o período que o negro passou escravizado pelos brancos e seu sofrimento sob esse jugo. E junto com estes mesmo cantos relembram, em alguns cantopoemas, o momento da libertação No tempo do cativeiro quando sinhô me batia Eu dizia: Nossa Senhora, ai meu Deus quando a pancada doía. Eu dizia: Nossa Senhora, ai meu Deus quando a pancada doía. Foi no dia 13 de Maio que a assembléia trabaió nêgo veio era cativo E Sá Rainha liberto OOOOOOOOOOOOOOOO Nêgo veio era escravo e hoje nêgo virô sinhô OOOOOOOOOOOOO Foi no tempo da escravidão sinhô branco é quem mandava quando sinhô ia a missa era nêgo que levava OOOOOOOOOOOO O sinhô entrava pra dentro e o nêgo lá fora ficava OOOOOOOOOOOO O sinhô entrava pra dentro nêgo lá fora ficava mas se nêgo reclamava de chicote ele apanhava OOOOOOOOOOOO Négo veio só rezava quando em senzala chegava OOOOOOOOOOOO
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Négo veio só rezava quando em senzala chegava oi pedindo a Deus do céu que tenha pena dessas alma OOOOOOOOOOOO Já que assim morreu no tronco as outra morreu na senzala E, geralmente após o lamento do cativeiro, seguem com os cantos sobre a libertação: Levanta nêgo cativeiro já acabou Levanta nêgo cativeiro já acabou Oi nêgo era cativo, hoje nêgo é sinhô Nêgo era cativo, hoje nego viro sinhô Levanta nêgo cativeiro já acabou Levanta nêgo cativeiro já acabou Oi nêgo era cativo, hoje nêgo é sinhô Nêgo era cativo, hoje nego viro sinhô Hei ora viva oi hora viva o Rosário de Maria Hei ora viva Hei ora viva oi hora viva o Rosário de Maria Hei ora viva OOOOOOOOOOOOOO Ora viva a Princesa Isabel Ora viva a Princesa Isabel Se não fosse ela essa vida era fel Ora viva a Princesa Isabel Ora viva a Princesa Isabel Ora viva a Princesa Isabel Se não fosse ela essa vida era fel Ora viva a Princesa Isabel
Tipos de Canto-Poemas – Cantos do Reinado São cantos que lembram o povo do Rosário e suas relações ancestrais e sociais Viva povo de Rosário Viva nêgo de Angola Viva povo de coroa No rosário de Maria OOOOOOOOOOOOOOO Hei papai veio de Angola minha mãe veio de Angolá Eu sou filho de mãe preta eu vim da bêra do mar
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“Ô viemo, viemo, viemo Ô viemo da bera do mar Foi um laço de fita amarela Na ponta da vara Eu não posso tira”
Ô balaim de fulo, lelê Ô balaim de fulo, lelê A coroa do Rei, Balanceou Balanceou e não caiu, lelê Ô balaim de fulo, lelê Ô balaim de fulo, lelê A coroa do Rei, Balanceou Balanceou e não caiu O Rei riu, O Rei riu
Senhor Capitão Onde me mandar eu vou Senhor Capitão Onde me mandar eu vou No palacio da Rainha Nasceu um galho de fulo No palacio da Rainha Nasceu um galho de fulo Quero ver balaim de fulo Quero ver balaim de fulo A coroa do Rei balanceou Quero ver balaim de fulô Quero ver balaim de fulo Quero ver balaim de fulo A coroa do Rei balanceou Quero ver balaim de fulo
Grande anganga muquiche. Sua gunga não bambeia. Grande anganga muquiche. Sua gunga não bambeia.
Unganda, berê, berê! Ah! vai te guardar, vai te proteger Na sombra de um jatobá
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Rei de congo veio de angola Marinheiro de Guine, Vossa Senhora de Belém E Jesus Cristo de Nazaré’’
Tipos de Canto-Poemas – Cantos de Abertura da Porta Foi no dia 13 de Maio que a assembléia trabaió nêgo veio era cativo E Sá Rainha liberto OOOOOOOOOOOOOOOO Nêgo veio era escravo e hoje nêgo virô sinhô OOOOOOOOOOOOO Foi no tempo da escravidão sinhô branco é quem mandava quando sinhô ia a missa era nêgo que levava OOOOOOOOOOOO O sinhô entrava pra dentro e o nêgo lá fora ficava OOOOOOOOOOOO O sinhô entrava pra dentro nêgo lá fora ficava mas se nêgo reclamava de chicote ele apanhava OOOOOOOOOOOO Négo veio só rezava quando em senzala chegava OOOOOOOOOOOO Négo veio só rezava quando em senzala chegava oi pedindo a Deus do céu que tenha pena dessas alma OOOOOOOOOOOO Já que assim morreu no tronco as outra morreu na senzala OOOOOOOOOOOO Mas vou pedir Nossa Senhora pra tomá conta dessas alma daqueles nego cativo Eos que morreram na senzala
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OOOOOOOOOOOO Senhor padre, abre a porta Nego veio quer entrar Presidir a Santa Missa que vosmicê vai celebrar
Tipos de Canto-Poemas – Cantos de Trabalho São cantos que lembram os trabalhos executados pelos escravos na região como a lida com gado em fazendas. Eu sou Carrero eu vim pra carriá minha boiada é nova sobe o morro é devagar
“Meu carro é velho e canta sem parar chumasco de aroeira eixo de jacarandá”
“Marinheiro de marinha na praia do mar soldado não manda fogo sem o capitão mandar” Outros cantos fazem alusão ao trabalho também, mas falando dos capitães e dançantes novos que ainda não aprenderam os mistérios do Reinado "Carrero novo num sabe carriá mas o carrero velho tem que tá pra ensiná”
Tipos de Canto-Poemas – Cantos dos Ritos Comunais Estes cantos são executados no agradecimento ao alimento oferecido as guardas visitantes. “Oi já comeu já bebeu agora vamo agradece, meus irmão o pão que Deus deu.”
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“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
Sá rainha me chamou, Me chamou pra curiá. Mas eu já vou sá rainha Caminhando devagar. Curia tatá, curia tá, curia tatá, curia tá Curia tá curia tá curia tatá curia tá Sá rainha conga chega na janela. Sá rainha conga chega na janela. Venha ver marujo que já vai pra guerra. Venha ver marujo que já vai pra guerra.
Tipos de Canto-Poemas - Embaixadas As embaixadas, que os capitães fazem para os reis e rainhas, são cantos que normalmente apresentam um mesmo contorno melódico, e não são acompanhadas pelos instrumentos, a não ser por um rufar das caixas ao final das frases, momento em que o coro ajuda a sustentar um acorde. Ô minha nobre Sá Rainha Eu agora vou falar É Moçambique que veio pra te ajudar É Moçambique que veio pra te ajudar Bate caixa, chora gunga Canta povo do congado A Senhora toma conta Da rainha do lugar Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê Os bastão dos capitão Cada um vai levantar A ingoma ta louvando A rainha do lugar Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê A ingoma ta louvando A rainha do lugar Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê Moçambique veio de longe Ele veio de beira mar Ele veio beirando o rio E até aqui chegar Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê Ele veio beirando o rio E até aqui chegar Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê
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Tcharles Avner
Ô minha nobre Sá Rainha Eu agora vou falar Mas se Deus não me tirar, Ano que vem quero voltar Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê Ô que beleza, ô que beleza Ô que beleza, ô que beleza
Tipos de Canto-Poemas – Bizarria Ê, ê chora ingoma auê Ê, zirigunga de Angola auê Preto veio bate candombe pra lová Nossa Senhora, auê Ê, no terreiro do capitão chove ouro em pó No terreiro do capitão chove ouro em pó No terreiro do capitão chove ouro em pó No terreiro do capitão chove ouro em pó Ô Maria quando quer Ela fica em pé Ô Maria quando quer Ela fica em pé Ô Maria quando quer Ela fica em pé Ô, caixa veia já bateu, patangome respondeu Gunga na terra tremeu Peito de nêgo doeu Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê Ê debaixo da cama tem garrafinha Ê debaixo da cama tem garrafinha Ei é de vera meus irmão Escuta o que eu vô falá Oia noite é pequena Temo muito que lová Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê Ê é de vera meu capitão Quero pedir sua licença Para nois Nos retirar Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê
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“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
Ê Nossa Senhor lá no céu Que mora lá, la no altar Já mandou chamar esses nêgo Pra ir à igreja rezar Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê Ê, meus irmão vamo rezar Meus irmão vamo rezar Ê, povo bão vamo rezar Minha mãe do Rosário mandou chamá Povo bão vamo rezá Povo bão vamo rezá
Tipos de Canto-Poemas – Cantos para Buscar reis e rainhas Palácio do Rei de longe eu avistei Rainha coroada Coroa do Rei
Senhora rainha Eu cheguei agora Vim beijar a Coroa de Nossa Senhora
Ô Sá Rainha eu te peço a sua benção Ô Sá Rainha eu te peço a sua benção Pede a Deus e Nossa Senhora Que nos dé a proteção Pede a Deus e Nossa Senhora Que nos dé a proteção, oiá
Ei é de vera. Senhor rei Vim aqui te visitar Para abrir vosso Reinado Vós tem que nos ajudar Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê Ei aqui meu senhor rei Eu peço sua licença No rosário de Maria Quero receber de vós a benção Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê
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Tcharles Avner
É de vera senhor rei Vós tem coroa maior Abençoa esse capitão Com o poder de Deus e Nossa senhora Êêêêêêêêêêêêêêêêêêê Ei viva Deus e viva mundo Viva o povo do congado Viva a coroa santa Desse povo do Reinado
Senhora Rainha Sua casa cheira Cheira a cravo e rosa e flor-de-laranjeira
A água la do mar é azul igual areia A água la do mar é azul igual areia O palácio da rainha é bonito e alumeia O palácio da rainha é bonito e alumeia
Ei moçambiqueiro pede licença Moçambiqueiro, pede licença Oi candombeiro, pede licença E de coroa, pede licença E ao senhor rei, pede licença Oi eu peço licença, pede licença No rosário de Maria, pede licença Oi eu vim te visitar, pede licença E no dia de hoje, pede licença Vamo cantar nosso congado, pede licença Viva Deus e viva mundo, pede licença Ainda viva a coroa, pede licença Ei coroa do rosário, pede licença Oi Divino Pai Eterno, pede licença Minha Santa Ifigênia, pede licença Benedito coroado, pede licença Viva Deus e viva mundo, pede licença Viva coroa do rosário, pede licença
Ê, Sá Rainha seu nêgo chegou Sá Rainha seu nêgo chegou Camisa engomada, chapéu de fulo Sá Rainha seu nêgo chegou
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“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
Tomara que o mato seque prás cobra morre de fome Tomara que o tempo chegue Das muiê tratá dos ôme Gunga veia ta chamando Ta chamando no conjó Oi no conjo Oi no conjó, ai, ai Nego veio ta rezando O rosário de Maria, ai, ai
Ê o rosário é de Maria E foi feito em Jerusalém Jerusalém Jerusalém, ai, ai Eu tinha é noventa e nove, capitão E falta um pra inteirar cem Pra inteirar cem Pra inteirar cem, ai, ai
Peço a Deus, peço a Deus, eu vou viajar Peço a Deus, peço a Deus, eu vou viajar Peço a Deus, peço a Deus, eu vou viajar A Senhora do Rosário vem me abençoar
Vou pedir São Benedito que alumeia meu congado Vou pedir São Benedito que clareia meu congado
O senhor rei e Sá rainha ocês sai aqui pra fora Pra marinheiro saravar e nois viajar
Vamo embora, vamo embora Vamo embora minha gente Vamo embora, vamo embora Nossa Senhora mandou chamar
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Tcharles Avner
Tipos de Canto-Poemas – Cantos de Coroação Ajoelhai, senhor Ajoelhai, senhora em frente de Nossa Senhora Ajoelhai, senhor e senhora
Ajoelhou, senhor Ajoelhou, senhora com muita fé em Nossa Senhora Ajoelhou, senhor e senhora
Entregai, senhor Entregai, senhora O manto de Nossa Senhora Entregai, senhor e senhora
Entregou, senhor Entregou, senhora O manto de Nossa Senhora Entregou, senhor e senhora Vai receber, senhor Vai receber, senhora O manto de Nossa Senhora Vai receber, senhor e senhora
Já recebeu, senhor já recebeu, senhora O manto de Nossa Senhora Recebeu, senhor e senhora
Entregou, senhor Entregou, senhora A coroa de Nossa Senhora Entregou, senhor e senhora Vai receber, senhor Vai receber, senhora A coroa de Nossa Senhora Vai receber, senhor e senhora
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“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
Já recebeu, senhor já recebeu, senhora A coroa de Nossa Senhora Recebeu, senhor e senhora Lá do céu envém descendo uma coroa Essa coroa é de Nossa Senhora Vamos abraçar ela com jeito meus irmãos Essa coroa é da Virgem da Glória
Lá do céu envêm descendo uma coroa Lá do céu envêm descendo uma coroa Ê coroa com os anjos da guarda Vamos amparar ela com jeito meus irmão Essa coroa é de Nossa Senhora Vamos amparar ela com jeito meus irmão Essa coroa é de Nossa Senhora Tá coroado Tá coroado Está coroado o nosso rei Tá coroado Tá coroado Diante de Deus e da Virgem Maria Tá coroado Tá coroado Está coroado a nossa rainha Tá coroado Tá coroado Diante de Deus e da Virgem Maria Alevantai senhor rei Alevantai senhor rei Diante de Deus e de Nossa Senhora Alevantai senhor rei Alevantai Sá Rainha Alevantai Sá Rainha Diante de Deus e de Nossa Senhora Alevantai Sá Rainha
Tipos de Canto-Poemas – Cantos de Cortejo Ponha fé em São Benedito Que ele é muito poderoso Ponha fé em São Benedito Que ele é muito poderoso
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Abençoa essa guarda Toma conta desse povo Abençoa essa guarda Toma conta desse povo
Aê angola Aê angola Essa gunga vem de lá Essa gunga vem de lá Correu mundo e correu mar Correu mundo e correumar Aê ingoma Aê ingoma Correu mundo e correu mar Correu mundo e correumar Ê chora ingoma Ê ingoma chora Ê chora ingoma, ingoma de vovô Ingoma chora
Senhora do Rosário, vou cantar em seu louvor Senhora do Rosário, vou cantar em seu louvor Lá do céu, cá na terra Olelê, tá caindo fulo Lá do céu, cá na terra Olelê, tá caindo fulo Eu vou levar coroa Eu vou levar Coroooaaaa Aiolelê lelê lelê Aiolelê lelê lelê Oi chegou o belo dia no Rosário de Maria Oi chegou o belo dia de festejá o Rosário de Maria Chora ingoma Oi Moçambique é de coroa, ele vai é devagar Oi chegou o belo dia de festejá o Rosário de Maria Chora ingoma Ê chora ingoma de papai, chora ingoma de mamãe Chora ingoma de vovô ai ai no conjo do mandamento Chora ingoma Ê viva Deus e viva mundo Viva o trono coroado Viva nêgo na campanha Ai ai viva nêgo na coroa Chora ingoma
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“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
Aiolelê lelê lelê Aiolelê lelê lelê Moçambiqueiro, vamo correr mundo Mçambiqueiro, vamo correr mundo Aiolelê, vamo correr mundo Gunga de papai, vamo correr mundo Gunga de vovô, vamo correr mundo Essa vida não parou, vamo correr mundo Chega lá no céu, vamo correr mundo Olha nóis aqui na terra, vamo correr mundo Gunga de mamãe, vamo correr mundo Moçambiqueiro, vamo correr mundo
Ô viva maria, viva José Viva a Coroa de São Gabriel Ô viva maria, viva José Viva a Coroa de São Gabriel
Ô sabiá, essa gunga me faz chorar Ô sabiá, essa gunga me faz chorar
Tipos de Canto-Poemas – Cantos de Matina Ê minha terra tremeu Mas Jesus lá no céu não estremeceu Ê capitão que fala a língua Capitão me fala a língua, fala Ê todos os fio de papai Ô meu Deus, vem fazer nossa oração Ê papai pegou chorar Quando os fio num queria combiná Ô alumeia meio mundo E coroa alumeia o mundo inteiro Ê nêgo veio vai chorar Nêego veio já vai pra louvar Ê nêgo veio vai chorar Quando Moçambique vai trabaiáô inda é cedo mas é hora O caminho tá tapado de aruvaio Ê portera já bateu Meu menino veja lá quem é que vem
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Clareia, clareia Clareia meu Rosário, clareia Vâmo serená, oi vâmo serená auê Vâmo serená, oi vâmo serená auê Ô sereno me quero serená Ô sereno me quero serená Ô Deus lhe salve casa santa Onde Deus fez a morada Onde mora o calix bento E a hóstia consagrada, oiá Ê, vamo ver bandeira santa No conjó do mandamento Visitar a coroa santa No conjó do manda mento, oiá
Ê, eia bandeira santa Onde tá bandeira santa? Ela foi é lá pro céu E abençoa nois na terra, oiá Oi, salve o meu cruzeiro Meu cruzeiro da Bahia Vai entando lá no céu E abençoa nóis na terra, oiá Meu cruzeiro lá no céu Alumeia nóis na terra Meu cruzeiro lá no céu Alumeia nóis na terra, oiá Dói coração, Deixa doer Dói coração, Deixa doer Vai doendo devagarinho Devagarinho até morrer
Tipos de Canto-Poemas – Missa Congo Eu cheguei em casa santa Onde Deus fez a morada Eu cheguei em casa santa Onde Deus fez a morada Onde mora o calix bento E a hóstia consagrada Onde mora o calix bento
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E a hóstia consagrada oiá Ave Maria, Ave Maria Cheia de graça Oi de Graça cheia Ave Maria, Ave Maria Cheia de graça Oi de Graça cheia
Tipos de Canto-Poemas – Pagamento de Promessas Ô que promessa triste irmão Ô que promessa triste irmão Ô que promessa triste irmão Ô que promessa triste irmão Ê vamo cumprir vossa promessa Com Deus e Nossa Senhora Ê olha os nêgo nessa ingoma Que festeja Nossa Senhora Moçambique roda mundo Com Deus e Nossa Senhora Ei nêgo veio chara no tronco De coroa de Nossa Senhora
Tipos de Canto-Poemas – Levantar Bandeira Eu vou levantar banderê Eu vou levantar bandeirá Ai ió lelê banderê Ai ió lelê banderá Ô bandeira, ô bandeira Ê bandeira, auê bandeira Sabiá cantou no galho da laranjeira Oi sabiá cantou no galho da laranjeira Peço a Deus e Nossa Senhora ai ai Que abençoe essa bandeira Peço a Deus e Nossa Senhora ai ai Que abençoe essa bandeira Ô louvado seja cristo, para sempre seja louvado Ô louvado seja Cristo, para sempre seja louvado Viva Deus ô lá no céu Oiá, viva a Senhora do Rosário Viva Deus ô lá no céu Oiá, viva a Senhora do Rosário Oi vamo ni casa santa
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Que é de Deus e Nossa Senhora Oi vamo ni casa santa Que é de Deus e Nossa Senhora Minha mãe mandou chamar Oi, esse nêgo que veio lá de Angola Minha mãe mandou chamar Oi, esse nêgo que veio lá de Angola
Tipos de Canto-Poemas – Descer Bandeira Sobe bandeira, desce bandeira Hoje é bandeira só Eu desci banderê, eu desci bandeirá Eu desci banderê, eu desci bandeirá Sobe bandeira, desce bandeira Hoje é bandeira só
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ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL - LOCUS RITUAL AS GUARDAS GEOGRÁFICA
EM
BETIM
E
SUA
RELAÇÃO
ESPAÇO-
A
maior parte das guardas de Betim constituem-se de Moçambiques tendo apenas duas guardas de Congo, um Congo-Vilão, um Catopês e um Marujo. A maioria dessas guardas permaneceram com seus quartéis no entorno da capela sendo que poucas migraram para bairros na periferia. Estes quartéis se estabeleceram em um raio de três quilômetros no entorno da capela apenas 2 quartéis ficam fora desse perímetro (um a sete quilômetros e outro a dez quilômetros).
QUARTÉIS
O quartel dos ternos é um dos principais espaços rituais e tradicionalmente sua estrutura está ligada à residência da família de um dos seus fundadores. Esse é o espaço de ensaio, festa etc. Na maioria dos ternos os instrumentos e objetos rituais ficam guardados dentro de cômodos específicos. Nesses espaços também realizam suas reuniões e fazem os almoços das festas de levantamento de bandeira do santo da guarda Figura 136 - Quartel de congado em Uberlândia - Acervo de Kárita Gonzaga - 2008
Portanto, como podemos ver a proximidade da capela, ou do local sagrado para os congadeiros é de extrema importância, pois mesmo alguns capitães que se mudaram para mais longe mantêm a sede do quartel não em sua casa, mas no local de origem próximo à capela.
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Figura 137 – Distribuição geográfica das Guardas 01 – Seu Dalmo; 02 – Seu Raimundim; 03 – Tita; 04 – Bimbo; 05 – D. Zélia; 06 – D. Euli; 07 – D. Nenem; 08 – Efigênia; 09 – Edinilton; 10 – Zé Lúcio
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“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
Figura 138 – Municípios da região com existência de guardas que participam da Festa em Betim e que mantém relacionamento com a Irmandade de N. S. do Rosário dos Homens Pretos de Betim
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PERCURSOS Assim que os ternos saem de seus quarteis adentram em um espaço vital para as tradições religiosas populares: as ruas. é nesse espaço que o moçambiqueiro realiza seus cortejos, conduz seus reis e rainhas e realiza suas peregrinações. Portanto esse espaço público se amplia de significados a partir do momento em que torna-se um espaço para vindicar sua existência, figurando como espaço de resistencia ideológica, cultural e política. Determinados pelos organizadores da festas religiosa, os percursos são momentos em que as guardas realizam trajetos para cumprir compromissos de devoção. Esses compromissos de devoção são a forma popular de se cumprir promessas onde alguns estão vestidos com indumentária real sendo designados rei, rainha, príncipe ou princesa festeiros, que esperam as Guardas em suas residências ou em locais por onde segue o itinerário dos percursos. A partir de então essa "corte festeira" integrará cortejo até a Igreja. Conforme explica SANTOS (2007): Praticamente a cidade inteira é “cortada” e “dominada” pelos tambores na sua cadência avassaladora. Eles espantam a escuridão, a cegueira e a surdez da indiferença de uma cidade que historicamente proibiu os negros de simplesmente andarem em certas ruas e estarem em certos espaços públicos.
Trajeto do Cortejo Na chegada dos Ternos na Casa da Cultura (ponto inicial do cortejo e onde é servido o café da manhã, é repleta de rituais.
Ao chegar alguma guarda (1), a guarda que já estiver recebe a visitante onde ocorre geralmente uma troca de bandeiras e cumprimentos entr seus capitães (2), depois disso
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ambas as guardas seguem para o quintal da Casa onde são recebidas e cumprimentadas pelos ternos que já chegaram (3), depois disso alguns dos ternos costumam se dirigir até o cruzeiro existente no quintal da Casa para fazer suas reverências (4) em seguida deslocam-se para o interior da Casa onde se encontra uma imgem de N. S. do Rosário em um andor (5). Ali fazem novamente suas reverências e adoração a Senhora, para depois se dirigir até onde é servido o café (6). Depois disso os ternos entram em formação para o cortejo Ao chegar ao Largo do Rosário os ternos fazem um percuso em torno da capela. Nesse percuso os ternos se encontram (1) fazem a volta por trás da capela (2) passam pelas bandeiras levantadas e seus capitães fazem reverências a cada mastro com seus respectivos bastões (3), reverenciam o Cruzeiro que esta no adro (4) e seguem para a porta da igreja onde pedem licença para entrar (5).
Na porta da Igreja as Guardas realizam uma pausa em seus instrumentos e cânticos para que os capitães recitem a "embaixada", um discurso de caráter dramático e simbólico que exalta e glorifica Nossa Senhora do Rosário, ou o “lamento”, um discurso, também, de caráter dramático e simbólico que relembra as opressões sofridas no cativeiro, glorifica Nossa Senhora do Rosário como a santa redentora dos escravos e pede permissão para que todos possam entrar na Igreja. Os percursos em Betim sempre estiveram dentro do eixo Angola-Praça da Matriz. Esse percurso tem um significado mágico simbólico, que não vamos tratar aqui, mas é através dele que o reinado estabelece um diálogo com seu antepassados e com a sua história estabelecendo uma ação de resistência e de afirmação de seus valores culturais africanos.
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Figura 139 – Um dos antigos percursos utilizado pela comunidade congadeira ia do cruzeiro do Angola ate a Capela, segundo relatos de antigos moradores como D. Cecília
Um percurso de cortejo e procissão existia na extensão entre o Cruzeiro do Angola e a capela e outro entre a Antiga Praça da Matriz e a Capela e atualmente a procissão percorre um pequeno trajeto próximo a Capela. O trajeto atual do cortejo compreende entre a Casa da Cultura onde é servido o café da manha ate a capela através da Av. Gov. Valadares (antiga Rua Direita).
Figura 140 - Foto de Satélite com Percurso do Cortejo da imagem de N. S. do Rosário
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“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
Figura 141 – Mapa com Percurso do Cortejo da imagem de N. S. do Rosário
Figura 142 - Foto de Satélite contendo região do percurso da procissão da tarde.
Figura 143 – Mapa contendo região do percurso da procissão da tarde.
Diferente do Cortejo, que sai da antiga Praça da Matriz, onde não se carrega nenhuma imagem, na procissão, uma imagem de Nossa Senhora do Rosário é carregada em um andor saindo da capela e segue pela Rua do Rosário, depois pela Rua Tito Pedrosa, Av Bias Fortes, voltava para Rua do Rosário e sobe novamente o morro do Largo do Rosário até a Capela. Além da imagem de Nossa Senhora do Rosário, na procissão segue em andor as imagens de São Benedito, Santa Efigênia, Divino Espírito Santo e Nossa Senhora Aparecida. Por questões de acomodação das guardas e de transito de automóveis, atualmente esse é o itinerário da procissão, porém há tempos atrás a procissão seguia até o “cruzeiro do Angola” e voltava para a capela.
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CAPELA A Capela de Nossa Senhora do Rosário é um dos únicos exemplares da arquitetura do século XIX em Betim e abriga o mais objeto histórico mais antigo da cidade que é a imagem de N. S. do Rosário. Embora haja registros de pedidos de sua ereção por parte da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário desde o início daquele século, vai ser apenas em 1894 que suas obras são iniciadas. Data de 1814, em documento encontrado no Arquivo Nacional, a solicitação, a sua Alteza Real, de provisão para ereção de uma Capela para Nossa Senhora do Rosário, dizendo ainda o documento que se desejava prosseguir na arrecadação de fundos e donativos para a sua construção. “Dizem os homens pretos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do Arraial do Beti, na Freguezia de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral d’El-Rei, Bispado de Mariana, em Minas Gerais, que eles querem continuar na ereção de sua Capela dedicada à mesma Senhora do Rosário, e porque o não podem fazer sem Licença de Vossa Alteza Real. Suplicam a V. A. R. Se digne de mandar-lhes passar sua Provisão de Ereção, na forma do estilo”. (A.N. – Caixa 284 – Pacotilha 2 – Documento nº 89) À margem: “P.P. de ereção REM. 28 de setembro de 1814. E assinatura de Antônio José da Silva, Procurador da Irmandade.
Figura 144 - Capela de N. S do Rosário
Segundo relatório do IEPHA, essa demora provavelmente se deveria à pobreza da Irmandade responsável pela construção, além disso, um fato curioso foi a apropriação que os “brancos” fizeram do dinheiro que foi destinado a construção da capela, pois Manoel Antônio Carvalho, falecido em 10 de outubro de 1828, deixa em seu testamento uma
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esmola de trinta mil réis, para a Igreja de Nossa Senhora do Rosário que se pretende fazer e em 1861 o Padre Casimiro Moreira Barbosa consegue do Bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso, a autorização para utilizar o dinheiro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário para construir a Matriz de N. S. do Carmo. As obras terminam em 1897, tornando-se a Capela de Nossa Senhora do Rosário desde então o centro de devoção dos negros em Betim, que ali se reuniam não apenas para missas, mas para festas como a de N. S. do Rosário e do congado.
Figura 145 - Ritual do congado durante o cortejo das guardas no percurso até a capela
Esse constitui o espaço mais sagrado para o congadeiro em Betim, pois ele evoca seus ancestrais que lutaram para a construção de um espaço onde esse “eu africano” pudesse se manifestar sem os grilhões que a escravidão lhes impunham e que hoje as amarras das desigualdades sociais lhes abatem. As obras terminam em 1897, tornando-se a Capela de Nossa Senhora do Rosário desde então o centro de devoção dos negros em Betim, que ali se reuniam não apenas para missas mas para festas como a de Nossa Senhora do Rosário (agosto) e do congado (setembro).
Figura 146 - Capela de N. S. do Rosário visão lateral e adro com o cruzeiro
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Figura 147 - Subida do Largo do Rosário
Situada em ponto elevado de uma colina, a Capela de Nossa Senhora do Rosário encontra-se em posição de grande visibilidade e destaque no centro de Betim. Assim, por exemplo, é visível a partir do trecho final da alameda Maria Turíbia de Jesus. A sua implantação se faz de forma dominante num amplo platô, configurando um adro retangular de generosas proporções, tendo à frente a declividade natural, em espaço ajardinado, a Praça Nossa Senhora do Rosário (Foto 19), onde se encontra o “Marco Comemorativo do Cinquentenário” da emancipação do município. O acesso se faz através de escada que liga a praça ao adro e através das ruas Gomes e Boaventura A. Gomes, cujas rampas em aclive se encontram no mesmo plano que recebe o adro da igreja. Em posição proeminente no adro situa-se o cruzeiro em madeira. O mastro da Festa do congado é erguido em épocas de comemoração.O entorno imediato da Praça Nossa Senhora do Rosário é ocupada por edificações de um pavimento em sua maioria, e de uso predominantemente residencial. Nas imediações da Igreja de São Francisco concentram-se edificações de 2 ou 3 pavimentos de uso misto (residencial e comercial) e comercial. Ali, na Praça fronteira à Igreja de São Francisco encontra-se a única área sombreada da região, apresentando árvores de grande e médio porte.
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Figura 148 – Foto de Satélite com localização da Capela do Rosário
Figura 99 - Foto de Satélite do adro da Capela de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Betim novembro de 09
A pavimentação das vias e passeios apresenta-se em estado de conservação regular, necessitando reparos em alguns trechos e obras de complementação e melhorias físicas (passeio não pavimentado no trecho da rua Gomes, Avenida Bias Fortes, paralela ao rio Betim, cujas margens apresentam-se sem tratamento paisagístico.) Devido à sua situação em plano elevado e à volumetria bastante horizontalizada do entorno, o adro da Igreja Nossa Senhora do Rosário apresenta-se com excelente ponto de observação, de onde se pode perceber o movimento descendente-ascendente das colinas urbanizadas desse trecho de Betim.
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Figura 149 - detalhe da cobertura (cachorrada)
A edificação caracteriza-se em termos construtivos, por uma estrutura autônoma de madeira e vedação de adobe, com a cobertura em telhas do tipo “calha e bica”, com beirais em cachorrada.
Figura 150 - Capela de N. S. do Rosário - Detalhe da cobertura em telha de coxa (acima) e fachada (abaixo)
O frontispíco apresenta três portas sendo que o portal central é encimado por duas janelas
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de verga alteada e com balaustrada interna e, entre elas, destaca-se um óculo em madeira. Sobre a cumeiira, vê-se um cruzeiro, também em madeira. Os vãos apresentam enquadramento e folhas em madeira, com vergas alteadas; as aberturas superiores são resolvidas através da caixilharia em madeira e vidro. A estrutura sineira lateral apresentase recoberta em telhas tipo “calha e bica”. A nave principal apresenta forro em tabuado liso. As naves laterais têm o piso em tabuado corrido, janelas com verga alteada . Para acesso ao altar, nota-se a existência de um supedâneo em madeira, limitado por cancelas laterias me balaustradas em madeira torneada.
Figura 151 - Capela de N. S. do Rosário - Detalhe do forro da nave central, nichos laterai no retabulo e trono central para colocação da imagem
Figura 152 - Capela de N. S. do Rosário - Detalhe de fenda de ventilação do assoalho
A capela é construída sobre porão alteado, cuja ventilação se faz através de rasgos horizontais na faixa do baldrame. Ligeiramente elevada em relação ao plano do adro, o acesso à capela faz-se por escadas com degraus em laje de pedra. A empena cega dos fundos corresponde à sacristia interiormente, acréscimo recente em alvenaria de tijolos. O altar e os nichos do retábulo são enquadrados e emoldurados através de perfis salientes em madeira.
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Figura 153 - Capela de N. S. do Rosario - Detalhe do altar e nichos do ret叩bulo
As naves laterais possuem piso em tabuado corrido, n達o s達o forradas e apresentam janelas com verga alteada.
Figura 154 - Capela de N. S. do Rosario - Detalhe de Forro de nave lateral
A recente sacristia mostra piso em cimento natado com corante verde, dois basculantes e n達o recebe forro,
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Figura 155 – Largo do Rosário – Betim – MG – 2005 (Acervo IMPHIC)
Em 1856, o Frei Francisco Coriolano Otrante, missionário capuchinho, inicia, entre os bons fiéis, uma subscrição para a construção da Matriz (Fonseca: 1975, 158). Em 1861, devido a dificuldades para a continuidade das obras de construção da Matriz, o Padre Casimiro Moreira Barbosa recomenda ao Bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso, em visita pastoral à paroquia, utilizar o dinheiro da Irmandade Nossa Senhora do Rosário, sob a alegação de que a mesma estava em decadência por falta dos devotos pretinhos e, também, dadas às dificuldades de se levar adiante a construção da Capela do Rosário, que, nesse momento, já teria perdido grande madeiramento, carretos e despesas (Documento 4), sendo atendido em despacho favorável. A esta época, havia uma imagem de Nossa Senhora do Rosário que era venerada pelos pretos, mas que se achava entronizada na matriz de Nossa Senhora do Carmo, Igreja dos brancos, dos senhores, constituindo empecilho às suas preces e oferendas, segundo Geraldo Fonseca (Fonseca: 1975, 162). Em 1894, inicia-se a construção da Capela de Nossa Senhora do Rosário, através de despesa realizada pelo Vigário Domingos Cândido da Silveira, na qualidade de Presidente da Mesa de Nossa Senhora do Rosário (Fonseca: 1975, 164). Em fevereiro de 1897, a capela recebia a vidraçaria e nela já se celebravam os atos religiosos (Fonseca: 1975, 164).
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Figura 156 – Capela no dia da festa – MG – 2003 (Acervo IMPHIC)
Os congadeiros da atualidade e pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário contam que, na construção da Igreja, trabalharam Joaquim Nicolau e o seu pai. Joaquim Nicolau e João Belarmino trabalharam na construção da Igreja carregando pedra. Hoje, depois de reformada, ela está como era antigamente. Deste jeitinho mesmo. (Cap. Raimundinho da Guarda de Congo da Irmandade Nossa Senhora do Rosário de Betim)
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Figura 157 – Frei Chico celebra Missa dentro da Capela do Rosário – Década de 80/90 (Acervo IMPHIC)
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga de Betim, é ainda o local onde anualmente acontece a Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário entre os meses de agosto a outubro, sendo um referencial para uma parte do segmento negro e não negro de Betim, uma vez que o culto é aberto a todas as etnias. Houve uma época em que esteve ameaçada de ser destruída, mas graças a uma mobilização da comunidade, encabeçada pelos congadeiros, teve a sua demolição impedida, o que, infelizmente, não aconteceu com a matriz de Nossa Senhora do Carmo (Modesto & Mendonça: 1995, 9). Segundo levantamento do acervo cultural de Minas Gerais, realizado pelo IEPHA em 1984, temos a seguinte descrição da Igreja de Nossa Senhora do Rosário: Situa-se em uma colina, em praça com cruzeiro. O partido é retangular com nave central, de pé-direito mais alto, naves laterais e sacristia posterior que se trata de acréscimo recente em alvenaria de tijolo. Em estrutura autônoma de madeira e vedação em adobe recebe cobertura em telhas curvas com beirais em cachorrada. O frontispício mostra três portais sendo o central encimado por duas janelas com balaustrada interna, interessante óculo e cruzeiro de madeira encimando a cumeeira. Os vãos possuem enquadramento de madeira, folhas em calha ou em caixilhos de vidro. A sineira lateral, sem o sino, apresenta madeiraime em estado precário. A nave principal apresenta forro alteado em tabuado liso. Para acesso ao altar existe supedâneo em madeira limitado por cancelos laterais em balaustrada de madeira torneada. As naves laterais possuem piso em tabuado corrido, não são forradas e apresentam janelas com verga alteadas. A recente sacristia mostra piso em cimento natado com corante verde, dois basculantes e não recebe forro.Seu estado de conservação é regular. Após esse levantamento, a capela passa por uma reforma na gestão municipal de
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1985/1988.
Figura 158 –Morro do Largo do Rosário – Betim – MG – 2005 (Acervo IMPHIC)
Em 1996, é novamente restaurada pela Fundação Artístico Cultural de Betim, que também fez a doação de um terreno para a construção da sede da Irmandade, uma vez que as reuniões são realizadas na Igreja por falta de um espaço próprio.
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A VISÃO DO CONGADO – POR DENTRO E POR FORA Abre a porta nêgo Eu não abro não sinhô Oi, abre a porta nêgo Oi, eu não abro não sinhî Nem que seja “seu doto” É purque Catirina já deito É purque Catirina já deito (Canto de candombe)
O CONGADO EM BETIM POR DENTRO
D
urante as entrevistas ficou claro a multiplicidade de visões que compõe esta manifestação popular. Desde o sujeito imbuído de uma fé inabalável em seu objeto de adoração até o que alguns chamam de “brincantes”, termo utilizado para se referir àqueles que apenas participam da festa para dançar atrás das guardas. De acordo com o capitão Dalmo “esses minino que vem só dançar num tem a responsabilidade do Rosário de Maria não, tem não sinhô! As vezes eles ficam brincando com coisa séria”. Para esses capitães mais velhos esses interferências e olhares de fora sem conhecer o que significa cada parte do ritual que acontece dentro das guardas e dentro da festa é que faz com que as pessoas tenham uma atitude, ora preconceituosa, ora debochada. Na visão do Capitão Raimundo: “tem gente que fica ficam imitando e falando que é coisa de “preto”. Quanto a isso digo que somos negros sim e com muito orgulho e tudo isso que aprendemo foi com nossos antepassados que eram negros também. Mas tem o povo ai fora que acha que num somos católicos não. Fala que é coisa de macumbeiro,. Mas me explica? Como podemo ser macumbeiro se nossas oração é pra N. S. do Rosário? Tem gente da Umbanda e de outras religião dentro do Rosário também? Tem sim. Mas quando estamos no Rosário de Maria é o Rosário de Maria e só. Ali ninguém chama nada de fora pra dentro do rosário não. E nem pode, purque os capitão tão lá com os mistério do rosário pra não deixá. Os capitães mais antigos da irmandade tem uma posição muito firme sobre a relação do Congado com a igreja como D. Neném que diz que “o Congado nasceu com os negros e com Nossa Senhora, então ele é parte da igreja. Não tem como uma coisa que nasceu no coração da mãe de Deus ser de fora da igreja não!” 60
Fica claro que apesar de existirem sujeitos dentro do Reinado do Rosário que fazem parte, também, de outros credos religiosos e desta forma teriam suas “práxis” religiosas “sincretizadas” é unânime entre os congadeiros que essa multiplicidade não se mistura dentro da manifestação, mas nas crenças individuais de alguns atores dessa. 60
Capitã da Guarda de Moçambique de N. S. do Rosário – Vila Bemge – Betim
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As entrevistas feitas circunscreveram-se apenas aos capitães das guardas sendo elas: Guarda de Moçambique de N. S do Rosário (Bairro Jardim Petrópolis), Guarda de Moçambique de N. S do Rosário (Bairro Vila Bemge), Guarda de Moçambique do Divino Espírito Santo (Bairro Angola), Guarda de Congo de N. S do Rosário (Bairro Angola), Guarda de Moçambique de Santa Efigênia (Bairro Alterosa), Guarda de Marujos de São João Bosco (Bairro Dom Bosco), Guarda de Congo de N. S do Rosário dos Homens Pretos (Bairro Jardim Petrópolis), Guarda de Catupé de Santa Inês (Bairro Santa Inês), Guarda de Congo Vilão de São Judas Tadeu (Citrolândia), Guarda de Moçambique de N. S do Rosário e Sto. Antônio de Pádua (Bairro Santa Inês).
O CONGADO EM BETIM POR FORA A visão do congado por quem está de fora dessa manifestação tem se demonstrada repleta de equívocos ao atribuir à mesma uma relação de culto animista dentro do rito católico. O que percebemos foi uma grande falta de conhecimento de elementos constituintes do congado por grande parte da população. Muitos “acham bonito” outros acham que é uma “bela manifestação folclórica”, porém poucos percebem os elementos realmente devocionais da fé católica existentes e atribuem a práxis congadeira a um sincretismo religioso sem perceber que a base teológico-metafísica é a mesma do catolicismo. Não é percebido, pela maioria, que os elementos teológicos no congado são os mesmos do catolicismo e que a mistura de elementos foi no campo da práxis cultural e não necessariamente religiosa. É notório que, como em tempos passados, o encontro com o “outro”, com o diferente ainda causa estranheza e suposições infundadas. Suposições de transeuntes ao referenciaremse a alguma guarda como “macumba” ou que são todos “macumbeiros” ou até mesmo falas de que “esse tipo de coisa deveria ser proibida na igreja católica” demonstram o nível de intolerância a que ainda podemos chegar. Hoje a posição oficial da igreja católica é muito mais amena do que foi nos finais do século XIX e primeiras décadas do século XX. Até mesmo há um esforço de integração dessa manifestação dentro do arcabouço católico romano. Posição, esta, que não é necessariamente adotada por alguns setores mais conservadores da sociedade. O grupo social onde o congado tem mais aceitação, estranhamente, é entre os mais velhos advindos do interior e entre os jovens. Principalmente na faixa dos 15 aos 30 anos. Mas mesmos estes são atraídos apenas pela beleza plástica do congado sem compreender a dinâmica religiosa em que está envolto. E nesse caso ainda surgem incompreensões de desrespeito para com a manifestação a partir do momento em que ela é emasculada de seu conteúdo, e transformada em objeto de entretenimento. Esse é outro tipo de conceito concebido sem conhecimento que é tão prejudicial quanto o “preconceito” ofensivo. Durante as entrevistas percebeu-se também que à medida que as pessoas tomam conhecimento do conteúdo do congado e o significado de suas práticas, a aceitação do congado como manifestação de um catolicismo africano aumenta. Como na fala de uma senhora de 59 anos moradora do bairro Angola: Quando eu era menina morria de medo do congado. Minha mãe dizia que eles era feiticeiro. Que fazia mal pras pessoa. Eu sempre gostei de ouvir o congado, mas tinha medo por causa do que me falavam. Isso foi ali pela década de 60. A gente num tinha esclarecimento não. Mas adispois eu conheci umas pessoa do congado e fui vendo que
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não era nada daquilo que o povo falava pra gente. Era um povo muito devoto. Católico mesmo. Até mais católico do que muito branco que tem por ai e fica fazendo pose na frente da igreja. O congado é uma fé de gente humilde. Não tem nada de macumba nele não. Sei que tem alguns macumbeiros que freqüentam o congado, mas isso tem até dentro da igreja católica e nós não falamos que a igreja é um terreiro. Então porque vamo falá isso do congado. As entrevistas também revelaram que 67% dos entrevistados que não fazem parte do congado não conheciam nada do congado além do cortejo que viam nas ruas. Também 18% desses entrevistados conheciam alguns poucos itens da estrutura do congado como a existência de guardas, existência de levantamento de bandeiras de santos etc. Um contingente de 11% dizia conhecer e ter algum contato com alguma guarda. E apenas 4% demonstraram ter conhecimento de princípios fundamentais do congado como o significado do levantamento de bandeira, o significado da bandeira de guia, a função do capitão, a estrutura da missa congo etc. Foram entrevistadas cerca de 60 pessoas circunscritas aos bairros onde o congado mantém atividades como: Centro, Angola, Filadelfia, Vila Bemge, Santa Inês, Jardim Petrópolis, Citrolândia, Pedreira e Vianópolis.
O CONGADO DE FORA PRA DENTRO Percebemos que o congado é uma riquíssima manifestação religiosa remanescente do catolicismo africano e se estabeleceu em Minas Gerais, principalmente a partir do século XVII e XVIII, firmando-se como um ponto de resistência cultural e de legítima manifestação da religiosidade africana que encontrou paralelos dentro do corpo teológico do cristianismo. A importância das Irmandades do Rosário foi crucial para o florescimento do congado em Minas Gerais, principalmente nas chamadas Vilas do Ouro, durante o século XVIII. A história do negro em Minas Gerais no Brasil colônia se desenvolveu em grande parte dentro dessas irmandades e no entorno do congado. Seria impossível estudar a história cultural do negro em Minas sem fazer referência a esta manifestação. Portanto, temos plena convicção que o conhecimento da historia e dos elementos do congado pelas gerações futuras ajudarão a compreender mais a importância dessa parcela manifesta da cultura negra e ampliar o respeito a ancestralidade africana presente no Brasil através das crenças da comunidade negra e nos aproximar o “outro” desprovidos de conceitos pré-estabelecidos.
CONGADO – PONTE E RESISTÊNCIA CULTURAL Aqui juntar os conceitos abordados de religiosidade, mito, ritual, símbolo, sincretismo, fundamento mítico e a história para fundamentar a tese de não sincretismo religioso, mas de simbiose cultural Ao realizar a simbiose das tradições africana a forma religiosa católica, o congado torna possível o jubiloso encontro entre duas forças formadoras da cultura brasileira. Presentes com igual peso na construção do ser brasileiro, tanto uma quanto outra, encontra nesse vasto território a paragem ideal para a recriação de heranças européias e africanas. Nesse encontro ocorrem trocas simbólicas fundamentais para o estreitamento dos vínculos
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e a construção de uma comunidade que se remete à outros tempos e lugares. Porém de uma forma completamente nova, pois sua força está exatamente na possibilidade de tornar o passado em presente, e, ao fazê-lo; da origem a uma outra identidade. Através do congado o gesto, o canto, a dança, a poesia, a indumentária; integram-se ao rito, a oração, a devoção e configuram a identidade do negro brasileiro. Isso não quer dizer que na construção desse novo tipo, não ocorram conflitos, sobreposição de idéias ou perda de referências. Ao contrário entendemos que a construção de uma identidade se dá através de um constante processo de troca entre oprimidos e opressores, em que “a identidade das forças opressivas tem que estar de algum modo inscrita na identidade que busca a emancipação”. Nas Minas Gerais do século XVIII, terra de fé - em Deus, na prosperidade e na liberdade escravos, senhores e libertos agenciam lugares de trocas simbólicas construindo sua identidade nesse espaço de conflito, e na tentativa de impor suas referências, provocam a criação de numerosas manifestações artísticas, devocionais e culturais. O congado apresenta-se como uma dessas manifestações. Espaço de agenciamento de diferentes tradições, tem suas origens na devoção a Nossa Senhora do Rosário, na ação da contra-reforma católica e no papel da Igreja na implementação do projeto de colonização. Segundo Glaura Lucas a devoção a Nossa Senhora do Rosário foi introduzida na África já no século XV dentro das estratégias utilizadas pela Igreja de combate ao avanço da Reforma Protestante. Nas premissas extraídas do Concílio de Trento (realizado entre 1545-1563) encontrava-se o desejo de expansão da fé católica às regiões recém descobertas da Ásia, África e América. Como estratégias de convencimento e conversão eram utilizados recursos que intensificavam a expressão através da fisionomia e do corpo, assim como apoiavam o emprego de abundantes metáforas e figuras alegóricas para exposição do pensamento doutrinário. Na América a catequese começa nos primeiros anos da colonização, padres jesuítas esforçam-se na propagação da fé católica que tem sua forma apropriada para os índios. O novo público é muito mais interessado em ações dramáticas, teatro e música do que na liturgia da Palavra. “Anchieta aprende o tupi e faz cantar e rezar nessa língua os anjos e santos do catolicismo medieval nos autos que encena com os curumins” (BOSI, 1992, p.31). Na Igreja que se instala no Brasil a devoção ao rosário de Maria é utilizada como estratégia de catequização dos escravos negros, que de posse desses novos elementos organizam irmandades do Rosário dando origem ao congado. “O jesuíta Antônio Pires, por exemplo, em carta datada de 1552, refere-se à participação dos negros em Pernambuco, já organizados em Confraria do Rosário.” (LUCAS, 2002, p. 44) Tanto na África quanto na América a Igreja fomenta a invenção de um novo imaginário nem puramente europeu católico, nem puramente africano pagão. De mãos dadas, ritos cristãos e práticas pagãs caminham para aquilo que Alfredo Bosi chama cultura-reflexo e cultura-criação. Pois se a primeira vista pode parecer uma imposição de comportamentos e padrões europeus, com estratégias bem elaboradas de controle e dominação, por outro lado negros diante das mesmas estratégias oferecem respostas que reinventam os processos dominadores tornando-os lugares de resistência às estruturas de poder. Nesse sentido a devoção a Nossa Senhora do Rosário e a realização de sua festa constituem espaços em que negros forros ou escravos podem “vivenciar aspectos de sua própria cultura, incluindo elementos de sua concepção de mundo no processo das transformações interculturais.” (LUCAS, 2002, p.45). Analisemos, portanto esses
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processos de transformação e apropriação na maneira como o congado se manifesta em Minas Gerais a partir do século XVIII.
Resistência cultural O congado e congadeiros pode ser interpretado como um conjunto de rituais e grupos de resistência, respectivamente, pois mantém vivos os ritos e a memória dos antepassados através daqueles que, no século XXI, reviveram e ainda revivem através do corpo, da memória e dos rituais, a história do negro. Por isso os festejos são uma cerimônia social que enfatiza as identidades culturais do povo mineiro e afrodescendente ao dialogar mitos, religião e ideologia.
Figura 159 Tião Medonho (falecido) e D. Zélia – integrantes da “Velha Guarda” da irmandade
O Reinado do Rosário reafirma a liberdade e a força que as etnias africanas possuíam na origem. Invertendo a ordem social ao indicar homens humildes como reis e príncipes conservam a memória da liberdade que os negros trazidos experimentaram na África revelando, dessa forma, um desejo por justiça social e redenção das mazelas vividas. Essa herança cultural africana e religiosidade híbrida que ressalta características católicas apontam o caráter redentor que o Reinado possuí para seus participantes. O Reinado do Rosário é a luta do negro para manter, através de seus ternos, suas musicas, danças, vestimentas e instrumentos. Por ser pobre, a dificuldade para mantê-lo é grande. Nas palavras do capitão Geraldo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Alto dos Pinheiros, Belo Horizonte – MG: “Os que vêm de fora nos assistir dizem que é folclore. Para nós é Fé” Ou quando o Mestre do Catopé do Serro – MG, Sr. Nilson diz: “O tamborim representa o corpo do negro, negro na senzala, negro
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sofrido. Quando eu bato nele, ofereço a Senhora do Rosário”. Portanto, segundo o professor Saul Martins, O negro escravo em Minas Gerais, teve quatro saídas: 1) social, através do congado, particularmente do reinado; 2) religiosa, através da irmandade Nossa Senhora do Rosário, que abrange os santos pretos (São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora Aparecida); 3) cultural, através da arte, principalmente música, dança, pintura, entalhe, escultura, ourivesaria etc.; 4) política, através dos quilombos.
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RECONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO MOVIMENTO
A
história começa por volta de 1408 em Düsseldorf, na Alemanha quando surge a primeira irmandade das Alegrias de Nossa Senhora do Rosário indo para Portugal, por volta de 1410 - 1420, e depois assume outro nome, o de Nossa Senhora das Vitórias devido a “Batalha de Lepanto” travada entre cristãos e muçulmanos e daí então surge, oficialmente, uma festa de honra de Nossa Senhora das Vitórias que posteriormente passa a ser Nossa Senhora do Rosário. No Séc. XV (1460) Portugal inicia relações comerciais com o Reino de Congo, na África, e o Mani-Congo (o rei), na época era Kuwu que se interessa pela aquela novidade e ele (Kuwu, rei do Congo) pede para ser batizado. E ao ser batizado teria o reconhecimento da sua coroa pelo Vaticano (numa tentativa de imitar o rei de Portugal que era rei porque tinha esse reconhecimento da Igreja). Isso torna o catolicismo a religião oficial do Reino do Congo e ele pede para o rei de Portugal mandar Dominicanos por volta de 1493. Portanto, o catolicismo entra na África pelo Congo. Devemos lembrar que o Reino do Congo não é o atual país do Congo, e sim uma área muito maior que vinha até o litoral. Paralelamente, um reino vizinho estava sendo montado com o reinado de Lutamba e o Sabado de Soio, que se juntaram com Nzinga Mbandi, que passou a ser a rainha deles. Daí surge o reino de Nngola que posteriormente veio a se chamar Angola, com a capital em Luanda. Por volta de 1500, ela, semelhantemente, pede o batismo e repete o mesmo processo recebendo o nome Ana de Souza,mas o título ainda permanece como Nzinga Mbandi.
Os primeiros escravos chegam ao Brasil em torno de 1540 e em 1552 é erigida a primeira Irmandade da Nossa Senhora das Vitórias em Pernambuco e depois mais ou menos em 1600 e surge em Salvador a Irmandade Nossa Senhora do Rosário que está no "pelourinho". No Rio de Janeiro, em 1695, cria-se a Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos do Rio de Janeiro, onde há o culto à escrava Anastácia, considerada, dentro da tradição, a "aia" da Princesa Isabel. Já em Minas Gerais no Séc. XVIII a primeira Irmandade foi fundada em 1711 em Cachoeira do Campo, 1713 em São João Del Rey e em Sabará e em 1715. A primeira a ser registrada foi a do arraial de Ouro Preto, pois havia o arraial de Vila Rica e o arraial de Ouro Preto. A primeira que foi registrada foi em 1715 no arraial de Ouro Preto. O grande marco dessa Irmandade aconteceu no chamamos Triunfo Eucarístico 61 - foi a 61
“TRIUMPHO EUCHARÍSTICO, Exemplar da Christandade Lusitana em publica exaltação da Fé na solemne trasladação do IVINISSIMO SACRAMENTO da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, para um novo Templo da NOSSA SENHORA DO PILAR em Vila Rica, Côrte da Capitania das Minas. Aos 24. de Mayo de 1733. Dedicado à SOBERANA SENHORA DO ROSARIO pelo irmãos pretos de sua irmandade, e á instancia dos mesmos exposto á publica noticia Por SIMAN FERREIRA MACHADO, natural de Lisboa, e morador nas Minas. LISBOA OCCIDENTAL. NA OFFICINA DA MUSICA, DEBAIXO DA PROTEÇAO dos Patriarchas Saõ Domingos e Saõ Francisco. / M.DCC.XXXIV. / com todas as licenças necessárias.” O livro é uma Edição Príncipe com dimensão 20x14. As primeiras 26 páginas não são numeradas e contém: página de título de ante-rosto (verso em branco); gravura com a imagem de Nossa Senhora do Rosário (verso em branco); folha de rosto com identificação da obra (verso em banco); dedicatória a Nossa Senhora do Rosário (4 páginas não numeradas); licenças do Santo Ofício (6 paginas não numeradas); licença do Ordinário (7 paginas não numeradas); licenças do Paço (3 paginas não numeradas). As 128 páginas seguintes contém: Prévia Alocutória (páginas numeradas de 01 a 31); gravura com selo da Real Biblioteca (página 32 – não numerada); gravura com custódia e Santíssimo Sacramento (página 33 – não numerada); (página 34 – não numerada e em branco); folha de rosto da narração (página 35 – não numerada); (página 36 – não numerada e em branco); Narração do Triunfo Eucarístico (páginas numeradas de 37 a 125); Gravura com selo da Real Biblioteca (página 126 – não numerada); Gravura com Imagem de Nossa Senhora do Pilar (página 127 – não numerada e com verso em branco). A narração registra a festa homônima realizada a 24 de maio de 1733 em Vila Rica, quando do traslado do Santíssimo Sacramento da Capela de N. Sª do Rosário dos Pretos de volta para a nova Igreja Matriz de N. Sª do Pilar no dia da consagração desta última descrevendo a série de espetáculos e solenidades desse festejo barroco que abrangeu: ritos sacros, exibições de música e coreografia, teatro, jogos públicos, poesia, cavalhadas, touradas, uma artificiosa exibição pirotécnica e os carros triunfais (alegorias móveis).
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maior festa do barroco no mundo inteiro, e a maior demonstração de poderio econômico em ouro e pedrarias, onde até os enfeites nas ruas eram banhados a ouro e cravejados de pedras preciosas e ocorreu o translado do santíssimo na nossa capela para a igreja matriz do Pilar que estava sendo inaugurada. Esse percurso foi registrado na história como Triunfo Eucarístico em 25 de maio de 1733. Nessa época surge, do outro lado já em Vila Rica, da parte de António Dias, um escravo capturado na África cujo nome era Gangazumba Galanga Congüemba Ibiala Xana e que foi batizado como Francisco da Natividade. Ele foi trazido com seu povo para trabalhar na "Mina da Encardideira" de António Dias. Gangazumba era um rei africano da tribo dos Kikuios e quando estava com seus homens, ele ainda era tratado como rei prestavam obediência a ele. Por causa disso os conflitos entre escravos e brancos, as fugas para os quilombos diminuiram e isso destaca Francisco, cujo apelido era Chico. Em determinado momento uma comissão procura Gomes Freire, que era o governador e pedem autorização para que recuperem as tradições da África. O então governador autoriza usando isso para pacificação dos negros, pois um terço da população na época era de "brancos" o restante eram negros e pardos. Em Vila Rica, naquela época no arraial, eram cerca de 120 mil pessoas. Hoje Ouro Preto inteiro não chega a 60 mil pessoas. Gangazumba recebe com isso o apelido de "Chico, o rei" e é quando surge essa figura. Quando a mina da “Encardideira” foi dada como esgotada e o dono sofre um atentado, ele vende o terreno para o "Chico, rei". Depois de muito trabalho Chico rei descobre um veio de ouro enorme e mais rico da mina. Assim ele acaba de fazer a implantação de seu reinado. Ele constrói, pela tradição, a igreja de Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário do Alto da Cruz, que está lá até hoje, e faz a primeira festa organizada dentro dessas tradições no dia 6 de janeiro. Há, porém, uma controvérsia se foi 1747 ou 1773, mas o importante é que nessa época a festa de Nossa Senhora do Rosário era comemorada a partir do Natal. A oitava de Natal, era a festa de Nossa Senhora do Rosário 62. Portanto, sempre era o começo de janeiro e a partir daí nas oitavas, ainda de Natal, vinha São Benedito, Santa Efigênia, Santo Elesbão e Santo António do Loto ou Santo António do Catigiró, esses são os santos de origem da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Posteriormente, veio da determinação da Igreja mudando a data de comemoração de Nossa Senhora do Rosário para o dia de 07 de outubro. É a partir de Chico Rei que se tem uma mudança, pois no Brasil está acontecendo um processo diferente nas Irmandades do Rio de Janeiro que já estavam tendo brigas. Um grupo com o poder legal de autoridades políticas e autoridades religiosas, pois o rei do Congo, o dono do reinado, sempre teve maior influência e autoridade sobre o povo do que prefeitos e o padre ou o bispo. É notório que quando as autoridades não tem poder reconhecido em cima de determinado povo, isso torna-se um problema e até um perigo, principalmente no controle econômico. O dinheiro que as pessoas gastavam numa festa de reinado naquela época era questionado pelos padres de que poderia ser melhor empregado no salvar almas para o reino de Deus. Mas a intenção era que esse dinheiro tivesse que se passar para o padre ou para o bispo. Isso leva aos conflitos internos na Irmandade onde os reis começaram a disputar pra ver quem era mais poderoso, quem tinha mais influência, quem conhecia tradições antigas, das magias, isso levou a um problema dentro da própria Irmandade. É nesse momento quê acontece, com relação à Igreja, uma ruptura. Dentro da Igreja fica o quadro administrativo, a mesa administrativa, a mesa administrativa das Irmandades, então é o provedor, com os procuradores, com os tesoureiros com o correspondente atual de presidente, vice-presidente, secretários e 62
Passados 8 dias era dia Nossa Senhora do Rosário
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tesoureiros. E nas ruas ficam os irmãos e o estado maior, o rei com a sua corte e sua guarda. No final do Séc. XVIII inicia-se essa separação e dentro da Irmandade, no estado maior, começa também uma separação por nações. O que antes era agrupado por afinidade geográfica ou de amizade passa a ser agrupado etnia ou credo gerando então a separação por nações. E o Rei do Congo 63 era uma referência ao primeiro rei. Iniciou-se, então a separação por nações e começaram a surgir as manifestações que vieram do Congo, de Angola, de Moçambique, de acordo com o reino de origem. E o Rei Congo passa a dominar pela nação estabelecendo-se hierarquias, e aí entram as tradições. O primeiro que bateu o "tambu" 64 foi o Candombe então com esse a Nossa Senhora acompanhou e a tradição fala que ela sentou em um dos "tambu", esse "tambu" chamouse "Sant’Ana" 65 o que responde a batida do San’Ana é a Santa Maria 66 e assim cada um vai tendo seus nomes: crebo, a puitá, tem o guaiá. Essa é a primeira hierarquia; por que esses é que tiraram Nossa Senhora da Águas. É considerado o Pai das demais nações, e não entra, tradicionalmente, na hierarquia. A primeira tradição fala de Nossa Senhora do Rosário aparecendo sobre as águas de um determinado lugar, provavelmente nas costas africanas 67. Isso vai dar um fundamento para a história de ter aparecido uma santa sobre as águas. Quando os brancos esgotaram todas as tentativas, esgotaram todas as possibilidades de tirar a imagem das águas os negros escravos pediram licença para tocar os "tambus" e no batido daquilo Nossa Senhora se comoveu e saiu das águas. Então o povo do Congo preparou um andor e ela foi transportada até a porta da igreja. Como o negro não podia entrar na igreja de branco o Congo parou com medo e o povo do Moçambique pegou esse andor e entrou na igreja. Por isso o Moçambique passa a ser a 1ª hierarquia, os mais importantes porque teve coragem de enfrentar os brancos levando Nossa Senhora pra dentro da igreja. A segunda tradição conta que na hora que Nossa Senhora saiu na praia e começou a acompanhar o Congo. Nossa Senhora não conseguia acompanha-los, pois eles andam muito depressa e ainda tem a meia lua, que é um deslocamento em que vão à frente, retomam por fora, passam por trás e tornam a voltar, e Nossa Senhora ficava perdida nisso e acabou voltando pro mar. Foi então que veio o Moçambique batendo o pé na beira do mar e andando na frente dela, de costas, andando de frente para ela devagar e cantando: "é devagarinho, é devagarinho, que eu vou levar a Senhora...". Assim o Moçambique vai puxando e leva ela até dentro da igreja. São duas histórias, duas lendas, que servem para contar a origem da hierarquia entre os dois grandes grupos: Congos e Moçambiques. Quem levou pra dentro da igreja foi o Moçambique que é a segunda hierarquia, os que 63
Há também um uso como se falasse assim "fulano é o papa da história aqui" como se dissesse que ele é a autoridade máxima. Essa referência passou a ser naquela época a de que "a esse aqui é o rei do Congo", por que o Congo era um reinado rico e de grande influência na África. Outro uso de termos de origem semelhante era chamar a pessoa de angola “ah, esse aqui é um "nego angola", um cabra bom, sujeito fino. Temos uma gíria naquele momento era um "nego angola" que se referia ao sujeito que era uma pessoa muito boa, ou outra relativa ao poder: "rei do congo", ele é o rei do Congo. 64 Tambor feito de tronco escavado 65 Esse nome foi dado pois, Maria só sentaria no colo da mãe dela então esse "tambu" chama "Sant’Ana" 66 Esse nome foi dado porque é a filha que vai a atender a mãe 67 Na Igreja de Nossa Senhora de Lampadosa, no largo da Lampadosa onde depois Tiradentes veio a ser enforcado, tem uma imagem de Nossa Senhora da Lampadosa e uma pedra de 1800 e um relato dessa historia dizendo que essa imagem que foi achada na costa do Marrocos e foi trazida pro Brasil
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dançaram pra lá e pra cá constituem a terceira hierarquia são os Congos. Assim, essas variadas divisões dentro da irmandade que aconteceu no Rio de Janeiro, repercuti em Minas Gerais. Por isso tivemos a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos homens brancos, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos homens pardos, pretos forros e a a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos homens cativos, dos homens pretos e pobres. Em Ouro Preto há as três Irmandades em lugares diferentes: A de António Dias (Igreja de Santa Efigênia) – Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos A do Padre Faria – Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos homens brancos e pretos forros pobres A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos e brancos ricos, que para não causar mal estar ficou só Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos, como ela foi registrada em documento de 1756. Com a chegada da família real em 1808, no Rio de Janeiro já estava tendo esse problema. A Sé 68 ocupava a mesma igreja, sede da Irmandade do Rosário causando uma disputa de poder. Hoje o que é atualmente a praça XV de Novembro, no Rio, que passou a ser o Paço Real tem a casa onde seria hospedada a família real. Por detrás dessa casa há uma igreja 69 e é onde funcionava a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Com a Chegada de Dom João VI o bispo expulsa a Irmandade da própria sede para poder receber sozinho o rei de Portugal. Engenhosamente os Irmão do Rosário saíram da Irmandade e foram para a beirada do porto quando Dom João chegou aclamaram a Familia Real aclamando: "Viva o rei, viva o rei!". Assim a Irmandade conduziu o rei até a igreja, recebendo-o antes do Bispo. Portanto, um dos primeiros contatos da família real no Brasil foi com a nossa Irmandade, acolhendo lá na beirada do mar e levando-a para dentro da igreja. Com isso a Família Real passa a proteger a Irmandade do Rosário tornando-se devotos e em 1820 já começava o processo de libertação dos escravos, uma coisa gradativa que não podia ser de uma vez. 70 Isso vai influenciar algumas décadas depois, a Princesa Imperial, quando lê a Lei Áurea, chama as irmandades para frente do paço Imperial. Voltando a Minas, posteriormente Vila de Nossa do Carmo 71 deixa de ser capital e passa a ser Vila Rica que funde os dois povoados: o de Vila rica e o de Ouro Preto passando a ser uma coisa só, uma cidade, uma metrópole. Aqui já esta ocorrendo problemas com essa divisão das diversas Irmandades e uma hierarquização gerada pelo poder econômico, pela influência. Surge a ostentação destes grupos nas igrejas. A primeira igreja a sair é a Nossa Senhora Da Conceição de um lado e a de Nossa Senhora do Pilar de outro e logo depois sai São Francisco e Nossa Senhora das Mercês 72.
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Sede do bispado Onde é a igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário 70 Primeiro libertou-se os mais velhos, depois os que nascerem aqui, pra depois libertar o restante, pois criou-se condição, com 20 anos de diferença para a sociedade da época consumar essa liberdade. 71 Atual Mariana 72 Existem duas Mercês a dos pobres na entrada da cidade e a dos ricos mais abaixo, próximo ao São Francisco 69
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Começa essa guerra das Irmandades já não mais com o estado maior que ficou para "Chico rei". Ouro Preto está, então, dividida em 2 partes, a do Pilar e a do António Dias, e essa rivalidade permanece até hoje, quando tem, por exemplo, Semana Santa. Um ano é comemorado no lado do Pilar e no outro ano no lado de António Dias mantendo a tradição. Depois é construída a nova capital, que era uma afronta aos monarquistas, pois Ouro Preto era símbolo, aqui em Minas, da amizade de Dom Pedro e da Família Imperial, visto que Dom Pedro tinha grande apreço por Ouro Preto. Para acabar com isso, constrói-se Belo Horizonte, dentro do padrão puramente republicano que já tinha nessa época banido Dom Pedro. Aqui, em Curral Del’Rey já existia a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, a sede era onde hoje está a igrejinha do Rosário 73. Do que tinha antes do arraial ali só aquele espaço da igrejinha foi preservado. Por volta de 1920 chega a Belo Horizonte Dom António dos Santos Cabral que proíbe as Irmandades do Rosário, proíbe as festas do Rosário, expulsa a irmandade da Igreja e fica com os bens da irmandade. E as Irmandades se recolhem em seus reinos e alguns grupos são recebidos dentro de um movimento que acabara de surgir: a Umbanda. Isso agrava ainda mais a situação que agora se torna assunto de polícia. Esse reino fica fechado, sai a Umbanda até quando Dom Cabral se aposenta 1950-1953.
Figura 160 - Capela de N. S. do Rosario em BH - Remanescente do antigo Arraial de Curral Del'Rey
Surge, então, outra figura: Dom João de Resende Costa. Esse de mentalidade mais aberta se vê num momento em que o Concílio do Vaticano II começa a abrir as portas da Igreja, permitindo as celebrações na língua oficial do país e de frente aos fiéis. Logo em seguida surge Dom Serafim Fernandes de Araújo que abre realmente a porta da Igreja aos Reinados e agora com Dom Walmor. 73
Ela se encontra Avenida Amazonas, entre R. São Paulo e R. Tupis e é conhecida como Igreja de Santo António, porém é uma capela de Nossa Senhora do Rosário. A pastoral ou o movimento religioso por trás deles atualmente é o "Pão de Santo António", é uma ordem/instituição voltada especificamente para os franciscanos devotos de Santo António, mas a igreja é do Rosário; que inclusive ajudou financeiramente na construção da nova capital.
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As nações e a hierarquia Diálogo entre as nações As nações podem ser agrupadas em 3, na verdade 4 porque o candombe é o pai e ele não entra em hierarquia. Os filhos são agrupados em 3 nações: moçambiques, congos e caboclos. Têm pessoas que gostam ainda de separar o vilão e os catopês. Mas alguns estudiosos classificam até os catopês como variantes do Congo O Moçanbique tem 2 subdivisões: •
o moçambiqueiro africano
•
os moçambiqueiros mineiros ou paulistas, eles assumiram características de Congo, mas continuam a ser uma nação Moçambique.
No Congo têm-se umas 20 subdivisões de nação. Essas divisões são confundidas ou generalizadas como congado. Esse grupamento é um povo que dança muito, que canta muito, tem 8 classificações de vozes, os ritmos são bem contagiantes, é um povo alegre. Já o moçambiqueiro é mais fechado, é mais pesado. O povo de caboclo são os que são devotos a diversos santos e carregam penas. 74 O vilão é uma origem portuguesa, mas está dentro do reinado. Ele é aquele que é da vila, quem morava na vila era o vilão. E o outro vilão é o malandro, o vilão bandido, que dança batendo navalha, é luta, é confusão. Não se pode entrar. Tem que ter uma permissão, e quem entrasse estava sujeito aos conflitos. Esse grupo representa em suas danças as lutas com facas, umas grimas de madeira para representar essa nação. Porém, essas nações apesar de terem uma unidade, em termos de respeito às tradições, de respeito às hierarquias, a parte ritualística, estão sempre em conflito. Sempre aparece um Congo que quer ser superior ao Moçambique, ou que quer mandar no Candombe, ou não aguenta a batida do Moçambique que é muito alta. Essa rivalidade sempre existiu e sempre vai existir. A partir do momento que você tem um reinado estabelecido numa localidade e chega um outro, esse segundo deve se curvar na frente dele e tem grupos que não aceitam. Essa diferença faz parte da tradição, tem que existir. Mas uma coisa é bem clara: Na hora que sai o cortejo O capitão da Guia puxando, o povo de caboclo, povo de pena, atrás, o povo do Congo no meio, o Moçambique atrás, o Pé da Coroa, o trono coroado e o Candombe, essa que é a sequência. Por mais que o Congo queira, o Moçambique vai barrar, e ele vai ter que andar é na frente e acaba que isso é mantido. E ainda dentro das nações suas próprias subdivisões, por exemplo, no Congo: Têm os congos marinheiro, os congos serenos, os congos feminino, conguinho. Por exemplo, um congo antigo, um congo velho toca violão e viola e são três as classificações de voz e tocam baixinho, só duas caixas e sempre são pessoas mais de idade. Um congo feminino, por exemplo, pode ter 50 mulheres, 4 caixas, 8 classificação de vozes. Por vezes o segundo grupo acaba, por suo própria constituição abafando um congo velho gerando essa animosidade. Ou quando chega um Moçambique, que só vão com duas caixas, no máximo quatro, mas o povo do Moçambique tem uma batida de "tambu" bem forte e suas caixas são enormes,
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e.g. São Jorge (capacete ou elmo com plumas), São Sebastião (que tem capacete com pluma), Divino Espírito Santo (que é a pomba).
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pesadas, seus membros usam gungas, paias ou campanhas 75. Além disso tem o pantangome, que são duas calotas de carro com chumbo dentro, sementes, pedras. A sonoridade desse conjunto de instrumentos e os homens cantando abafa todo o restante. Outro tipo de situação que acontece é que os moçambiqueiros são considerados feiticeiros, então os outros grupos tem medo. Ao chegar um Moçambique num local e tem 200 congos, o congo interrompe para o Moçambique pege o comando. Isso começa um outro tipo de disputa. A de quem é que tem poder. No dia de festa, quem tem poder provoca chuva para atrapalhar a festa do outro e demonstrar que tem poder. O outro tem que parar a chuva. Essas situações um grupo avisa ao outro, porque não pode ser coincidência, tem que avisar: "Vou fazer isso e fulano de tal vai acontecer isso, no dia da festa vai acontecer isso, isso e isso". Isso cria uma expectativa onde todos querem ver o que acontecerá. Essa disputa de poder dentro da irmandade, é então, outra característica. Um outro tipo de disputa acaba por ser confundida com ostentação pelos que não entendem o que está ocorrendo é a de quem tem o reino mais rico. Por exemplo, um reinado em que as rainhas estão com vestimentas, tipo corte imperial, capas de cauda, oficiais com espadas, cada uma mais bem vestida que a outra; um cortejo com 100 reis e rainhas ou uma festa que abriga 2000 pessoas e um grupo que tem sua própria Capela. Assim, alguns reinos mesmo tendo boa parte de seus membros desempregada, trabalham muito para poder chegar a produzir uma festa desse tipo. Fazem diversas festas anteriores para arrecadar fundos porque não tem patrocínio.
Grupos Tradicionais e Parafolclóricos Uma situação que tem gerado muita discussão é o conceito de que o congado faz parte de uma manifestação oriunda de uma irmandade e portanto não se trata de folclore, mas de devoção religiosa. Esse conceito leva ao entendimento de que uma guarda do Reinado não tem que fazer apresentação. Uma quadrilha faz apresentação, isso é para ator, para dançarino, pois esse material é adaptado e levado para o palco como uma projeção dessas tradições religiosas de caráter espontâneo porque todos os rituais do congado têm musica e tem dança, só que não é uma dança ritualística. Portanto, se alguém faz uma captação de movimentos, agrupa numa coreografia que não é congado, pois não é ritualístico e sim um apanhado de movimentos e sonoridade, chamaremos de projeção. Nesse caso ver-se-á no palco não capitães, vassalos reis e rainhas, mas diretor artístico, coreografo, dançarinos etc.
O ROSÁRIO NOS TEMPOS DE JOAQUIM NICOLAU Entrevista com Marli Souza Pereira Entrevista com Marli Souza Pereira, Ex-Funcionária da Casa da Cultura e uma das pessoas que iniciaram o Depto. De Patrimônio Histórico na Fundação Artístico-Cultural de Betim. Realizada dia 05/05/2010 75
Chocalhos atados no tornozelo do Moçambique africano e no joelho do Moçambique mineiro
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E
u conheço o congado desde menina, respeito, amo, tenho muita fé.não sei nem como dizer, sinceramente. Meu primeiro contato com o congado foi quando menina mesmo, vendo o congado passar pra rezar nos “cruzeiros das almas” 76 aqui em Betim mesmo.
Havia a via sacra do cruzeiro das almas ali no Decamão perto da casa da dona Erundina, na subida indo ali para o “Amelia Santana”. Ele hoje fica ali na porta de um bar na Gabriel Passos e eu morava no quarteirão ali do lado. Aguarda que fazia essa via sacra era a do “Seu” Joaquim Nicolau e meu primeiro contato com o congado foi com a guarda dele. O “Seu” Joaquim Nicolau era do pessoal de Esmeraldas. Logo quando Betim ganhou sua emancipação político-administrativa ele se tornou betinense, antes era todo mundo de Esmeraldas mesmo. Seu Joaquim morava de aluguel em diversos bairros. Eu conheci Seu Joaquim morando lá na Biquinha perto do Novo Horizonte, aqui no Filadélfia, conheci Seu Joaquim morando aqui próximo da Tia Geralda perto da linha férrea, no Chácara, no Decamão; morou lá embaixo naquela região da Rua do Sapo. Ele morou em diversos lugares, e era benzedor. Ele benzia as pessoas. Ele também carregava o bastão de todas as guardas de Betim, pois ele era o Capitão-Mor e presidente de todas as guardas. Seu Joaquim Nicolau é minha referência de congado, acho que ele morreu com 112 anos, se não me engano. Ele moreu em 1986. Ele me conta uma história que quando o “Seu” Fininho, pai do “Zé Doce” era garoto, assim, com uns 11 ou 12 anos andava “esganchado” nas “cadeira” dele. Ele era pajem dele. Pra você ver, o “Seu” Fininho morreu com idade avançada. Entao o Seu Joaquim era bem velho mesmo. E ele dizia que quando se registrou já tinha mais de 14 anos de idade. Quando Seu Joaquim falava de congado ele se referia à fé em N. S. do Rosário, do respeito e do fato de serem irmãos uns dos outros. Tem uma coisa do Seu Joaquim que eu achava lindo é que ele dizia que as pessoas estão mudando tudo, mudando tudo de seus lugares. Nos últimos anos por volta de 1984 eu lembro do congado ter saído e um rapaz querer dançar de tênis All Star e Seu Joaquim não permitiu. Ele queria que fosse de chinelão de couro. Era chinelão de couro com a sola de pneu. Daqueles que ele mesmo fazia. Ele pegava o pedaço do pneu, furava e passava as tiras de couro. Ficava aqueles nós para o lado de fora. As sandálias do “Vô” eram assim. Uma outra coisa que acontecia era que Vô Joaquim reclamava porque ele fazia muita “mendigação” e “mendigar” o alimento, o pedir da misericórdia era um dos preceitos religiosos deles fazerem, e já no final já não se estavam fazendo porque os rapazes e as moças tinham vergonha de pedir. Eles faziam o levantamento da bandeira e vinham fazendo as orações, vinham fazendo as novenas e quando chegava os dias de fazer o pedido da comida o pessoal já não queria ir pedir. Então as vezes saia um “macarroz” que era macarrão com arroz e frango. A esposa dele, Don’ana fazia, a “Vó” Ana. E tinha uma coisa gostosa que ele dizia assim, que o pessoal tava mudando tudo: no calçar, no vestir, 76
Trata-se sete Cruzeiros espalhados por Betim nos seguintes locais: Capela de N. S. do Rosário, Angola, Decamão, Filadélfia, Bandeirinha, e duas na região do Centro.
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já não queriam por aquelas fitas mais porque achavam que aquilo era coisa de mulher. Ele usava um saiote de fitas junto com a roupa branca. E um turbante de fralda. E tinha uma outra coisa que colocavam na cabeça com espelhos era algo mais montado como se fosse de papelão, acho que eram os reis que usavam. Ele reclamava dessa mudança. Ele já sentia que estava tendo estas mudanças e essas mudanças já não o agradavam. Ele estava preparando e ensinando um neto dele para ser o Chefe da Guarda, esse neto era o “Fío”. Hoje o “Fío” mora ali no Olimpia Bueno Franco e me parece que ele é La da paróquia de S. Judas Tadeu Os rituais, eles iam passando de geração a geração, por exemplo, a Vó Ana tinha umas flores que ela fazia para enfeitar os andores, aí ela me ensinou a fazer as flores dela para ajudar a fazer os andores e tinha uma coisa interessante que ela dizia que eles ficavam sem comer em jejum e agora eu não me lembro. E tinha também o tipo de comida que eles faziam, comer muito milho, tomar banho de pipoca e algumas coisas bem ligadas a cultura afro-brasileira. No levantamento de mastro eles se reuniam na casa da pessoa, faziam a novena até aquele dia que iria se levantar o mastro e sempre com muito respeito. Porque a idéia de beber é sempre depois que terminou a novena ou a festa. E às vezes ninguém entende porque bebe-se, né?. É uma comemoração. A figura do rei festeiro ou rei de ano existia naquela época, eu me lembro que o Israel sempre foi Rei de Ano, mas a maioria dos reis que eu via eram mais ligados à religião. Eram os reis de promessa, por exemplo, a mãe de alguém faz a promessa para fulano ser rei por um período e a pessoa ia até o Vô Joaquim e falava da promessa. Eu acredito que até numa benzeção ele dizia que a partir desse ano a pessoa iria ter que ser rei sete anos, por exemplo. Ai a pessoa teria que ir como se estivesse pagando uma promessa. Eles iam vestidos usando capa, coroa e cetro na mão. Os instrumentos que as guardas usavam eram todos confeccionados por Vô Joaquim. Ele fazia geralmente de pele de cabrito. Já o fardamento era responsabilidade de cada membro da guarda de fazer seu próprio fardamento, não se tinha patrocínios não. Apesar de que a irmandade geralmente tinha donativos. Mas em algumas ocasiões eles ganhavam coisas para fazer seus fardamentos, como aquele pessoal do Antônio Resende, que as meninas tinham um armazém e o pessoal ia buscar as fitas que estavam separadas para eles levarem que alguém tinha doado ou mesmo o Sr. Antônio, a Marli ou a Marlene. Alem da guarda do Seu Joaquim eu me lembro da guarda do Seu Dalmo, a da Tia Geralda que era de Sta. Efigênia. Tinha uma guarda de N. S. da Conceição que acho que era de uma parenta da Tia Geralda que vinha lá de Vianópolis, tinha do Seu Raimundinho. Eu ouvia falar dos Arturos freqüentando a casa deles, pois eles eram parentes meio longe ou compadres, algo assim. Também me lembro de D. Nenen e de uma irmã de Tia Geralda que morava em Itaúna e quando tinha festa vinham muitas guardas de Itaúna, Santanense e daí por perto vinha muitas guardas. E essa La de Itaúna eu tinha muito medo dela. Era a que mais me deixava nervosa. Tia Geralda contava que essa parenta guardava, dentro de uma cabaça, um cobra e quando ela queria que se fizesse alguma coisa ela só destanpava, soltava a cobra que fazia o mandado dela e voltava pra cabaça de novo. Quem disse que eu chegava perto dessa mulher... Mas nem por decreto! Eu morria de medo dela. Desses acontecimentos sobro o congado eu me lembro de uma coisa maravilhosa. Vô Joaquim me contou que ele estava subindo a Rua Direita (Governador Valadares). Pela
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altura que ele conta deve dar ali perto daquela clinica de olhos do Dr. Naider, pra baixo do hospital, só que do outro lado tinha umas casas velhas e a porta era na calçada e os degraus da porta também e depois pra entrar na casa descia degrau. Eram umas casas bem antigas. Ele disse que estava subindo ali para ir até a igreja do Pe. Osório e um dos rapazes pediu água pra moça que estava debruçada na janela e ela não estava com muita disposição de buscar água não, mas ela resolveu buscar. Quando ela foi La dentro buscar a água todo mundo quis água. Pararam de tocar para beber água. Eles estavam subindo o morro, estavam cansados no sol quente. Ai terminou a água, o Vô Joaquim perguntou se ela poderia buscar água para ele. Ai ela disse pra ele que não, que ela não ia dar água pra ele não porque ela queria ver a guarda subindo e se ela fosse La dentro buscar água pra ele ela não veria nada. Ai ele perguntou: o que a senhora quer então? Ela respondeu: eu quero ficar aqui. Dobrou os braços e por os braços na janela. Eu quero ficar aqui. Vô Joaquim disse: Seja feita a sua vontade. E foi embora com a guarda. Ela ficou até no outro dia na janela sem conseguir sair. Ai chamaram o Pe. Osório para benzê-la. Pe. Osório foi, olhou, olhou e perguntou: O que aconteceu? Contaram para ele e ele disse: Vai lá e busca Seu Joaquim. Eu não vou conseguir tirá-la do castigo, só o Joaquim. Quando foram buscar, ele estava na roça, demorou a chegar e ela continuou na janela até ele chegar. Ele chegou contaram a historia toda e ele virou pra moça e disse: Você se lembra que eu te pedi a água e você disse que queria era isso? Eu falei que fosse feita sua vontade. Então eu volto a te pedir. Você me dá água? Ela falou: Eu dou água. Ele disse: Pode ir. Ela saiu da janela e foi buscar água pra ele. Ele deu um castigozinho pra ela, né? Pequenininho. A relação da irmandade, os congadeiros e Pe. Osório era com muito respeito. O Osório foi um dos sacerdotes que eu vi em minha vida que mais respeitou uma irmandade. Eu fui batizada e crismada na igreja católica com o Pe. Osório e primeira comunhão também. Tinha na frente da igreja, do lado de fora de frente pra onde é a Casa da Cultura, no meio do pátio de frente da igreja, tinha um cofre de doações de madeira onde você colocava donativos para a Capela do Rosário. Isso ele permitia e nenhuma outra capela tinha só a do Rosário. Ele toda vida teve esse respeito para com a fé dos negros. Ele e Seu Joaquim se davam muito bem. Quando o Seu Joaquim se viu pra sair de Betim, quando o Luciano Brodi veio para o seminário. Ele e o Luciano brigaram. E o Luciano acabou fazendo com que ele fosse embora de Betim e fosse morar aqui em S. Joaquim de Bicas ele foi contrariadíssimo e disse que se o Pe. Osório estivesse vivo isso não teria acontecido. Porque se tinha um sacerdote que respeitava o humano era o Osório Braga. Isso ele falou pra mim. Ele esperou o Luciano sair aqui da paróquia para voltar para Betim. Seu Joaquim é minha única referencia mais antiga de Capitão do Congado, não me lembro de outro antes dele e não conheço alguma referência de fale do nome de outro anterior a ele. Recordo-me de uma informação de que no sec. XIX havia um procurador da Irmandade um tal de Antônio que faz o pedido de ereção da capela em 1814. Outra coisa referente ao Vô Nicolau era os usos e costumes, por exemplo, se eu fosse até a casa do vô e estivesse com uma blusa decotada ele não me permitia entrar. Afinal a casa dele era uma casa de família. Então as vezes eu levava uma criança para benzer e estava de short ou blusa frente única eu não entrava. Eu tinha que ir na minha casa vestir roupa pra voltar. Se eu estivesse fumando ele falava pra esposa dele me pedir pra jogar o cigarro fora, pois afinal, quem havia permitido que eu fumasse dentro da casa dele?
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Outra peculiaridade dele é que exatamente às seis horas da tarde ele fazia as orações. Um pouco antes a Vó Ana entrava dentro do quarto com uma bacia, água quente e lavava os pés dele. Para ele fazer as orações tinha que fazer o banho de asseio dele. Havia também na guarda da Tia Geralda um preceito de que se a mulher estivesse menstruada ela não poderia sair com a guarda. E a guarda era só de mulheres. Quem ia saber se estava ou não estava menstruada? Mas com a Tia Geralda não. Ela dizia: Você vai e você não vai. Agora como é que ela sabia eu não sei não. Acho que as maiores lições de respeito ao ser humano eu aprendi com esse povo. O que eu acho que deveria retornar é fazer todos os preceitos: a mendigação, o almoço feito por eles, afinal você não vai pra lá e come marmitex numa festa de congado. Você vai pedir, você vai comer aquilo que o povo vai te dar. Você não tem noção se o que você vai comer é macarroz, ou frango ao molho pardo, se é quiabo com frango ou com angu. Vai ser aquilo que você ganhar. E essa mudança que atrapalhou esses ritos aconteceu com a Funarbe. No primeiro mandato da Maria do Carmo. Foi com a Funarbe que tudo isso mudou. É uma coisa feia de dizer, sabe? Mas eu estava lá quando eles disseram: Coitados, eles ficam pedindo. Eu morro de pena. Melhor seria se bancássemos o almoço. Desrespeitaram, então, o que estava lá atrás, apesar de toda boa intenção. Eles deveriam voltar a fazer a procura desse alimento, era um preceito de você estar fazendo gesto de humildade. Chegar numa casa, falar: Olha, eu sou do congado. Nós viemos aqui pedir, pois estamos fazendo a festa de N. S. do Rosário. Então vão todos cantar e dançar em louvor a N. S. do Rosário. Vamos juntar todos na casa de fulano. A senhora pode ajudar com alguma coisa? Com um óleo, gordura etc. ai alguém dizia: Ah! Nesse dia vou matar um porco e mando pra vocês uma banda de porco. Funcionava assim. É você ir na casa da pessoa e ser recebido por ela. Se você ia ser maltratado ou não era a cargo da pessoa, é o livre-arbítrio dela de te tratar bem ou mal. Agora, você tinha que ter o seu gesto de humildade de ir e pedir
Entrevista com Sr. Dalmo Entrevista com Sr. Dalmo. Capitão da Guarde de Moçambique de N. S. do Rosário rea lizada no dia 13/05/2010
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que eu sei do reinado do rosário aqui de Betim que Seu Joaquim Nicolau me contou é que foi o Pai do Seu Joaquim. O pai dele era escravo mas já tava perto da alforria, né? E Seu Joaquim deu prosseguimento e não deixou morrer essa tradição. Então começou em Vianópolis. E Vianópolis ainda era arraial. Depois veio Capela Nova e depois Betim. Entao veio essa tradição. Ele até ajudou a construir a capela do Rosário. Seu Joaquim disse que estava passando a ser de maior e ele estava ajudando o pai dele. Nisso o pai dele faleceu e ele veio dando prosseguimento, ligado aos Arturos também porque eles eram muito unidos. Passado muitos anos, era só o Moçambique que tinha aqui ai veio o Congo com o Seu João Belarmino que depois de um tempo adoeceu e passou para o compadre Raimundo. O compadre Raimundo era dançante dele na época. Depois foi caixeiro, ai ele formou ele para capitão. Compadre Raimundo é capitão coroado. Passou pra ele e vem dando prosseguimento. Por isso nós temos que zelar muito por essa guarda. Ele vem dando prosseguimento dentro dessas raízes. O Seu João Belarmino foi o fundador dessa guarda de Congo.
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Por isso que a gente fala e esses jovens ai não entendem porque esse respeito tão grande pelo compadre Raimundo. Ele esta segurando até hoje com a comadre Pepita, eles fazem tudo pra não deixar morrer essa tradição, né? Porque ele é o Capitão da Guia e é o grupo de frente. Não é porque um grupo é melhor que o outro não. Alguns dizem: Tem tanto grupo bonito ai, porque não põe na frente? Não... por responsabilidade é ele que é o Capitão da Guia. Tem a tradição que vem desde Seu João Belarmino. Por isso a tradição é tão importante. Depois de Vianópolis eles vieram para o centro de Betim, mas antes era em Vianópolis. Por isso que lá tem aquela porção de Reis e Rainhas. Como o seu Antônio e a D. Maria são do tempo de Seu Joaquim. Foi o Seu Joaquim que coroou eles e eles vem dando prosseguimento e dizem que só param quando Deus chamar eles. Depois que veio nascendo esses outros grupos, né? Mas a raiz são esses dois grupos do Seu Joaquim e Seu João Belarmino. Eu vim de Urucuia, que é um bairro de Esmeraldas e desde a barriga da minha mãe eu já freqüentava o congado, né? Então lá em Urucuia quem comandava o congado era meu avó. Meu avó era Congo e não tinha Congo na época aqui em Betim. O Congo que tinha era lá do meu avó e eles eram unidos. E eu vim no congado de pequenininho, sou afilhado do meu avó. E por esse amor que temos pelo Rosário nós mudamos pra Betim em 1955 e eu freqüentei muito o Moçambique do Seu Joaquim. E Seu Joaquim sempre dizia: Eu quero coroar você. Você vai ser capitão aqui. Ai eu dizia: Como eu vou ser coroado capitão? Eu não sei nem bater caixa direito. Ele respondeu: não... eu vou coroar você sim. Você tem muita responsabilidade. Ai com o tempo eu fui sentindo aquele amor pelo reino e resolvi formar um grupo. Esse menino meu tava com uma base de uns 10 a 12 anos, hoje ta com 45 anos, o Lelé que é o mais velho. Ai eu conversei com o Seu Joaquim. Saí daqui e conversei com Seu Joaquim. Meus parentes lá queriam que eu formasse um congo aqui. Ai eu disse que não porque já tinha o congo do compadre Raimundo. Então eu conversei com Seu Joaquim, fui lá, jantei com ele. A janta foi ele que fez. Ai conversando com ele, ele chorou: Ô, eu não te falei que queria coroar você. Olha que coisa boa. Ele me emprestou duas caixas com as baquetas. Pra começar não é fácil não, filho! Me emprestou duas caixas e dois dançantes que é o Moacir que já faleceu e o filho do Sr. Damaceno que eram dançantes dele e moravam aqui no bairro. Ai juntei o pessoal aqui de casa e arrumei mais dançantes e fui formando a guarda. E nós não tínhamos uniforme e Seu Joaquim disse que era pra ir assim mesmo. E foi assim que nosso grupo começou e estamos firmes até hoje. No tempo do Seu Joaquim não tinha as facilidades de hoje não. O almoço a gente tirava esmola. Tirava esola pra comprar fardamento. Era tudo feito a pé, não tinha ônibus não. Nos íamos la pro açude, pimentas Vianópolis buscar rei e rainha. Naquele tempo a gente levava os reis e rainha de volta de madrugada. Era 5 horas da manha a gente estava chegando. Ai só chegava em casa, tomava um banho, pegava a marmitinha e ia pro trabalho. E logo de noite tinha mais de novo. Esses sacrifícios fez com que nós crescêssemos. E hoje tem pouco respeito pelo sofrimento que nós tivemos, pela luta pelo carinho com o Reinado. Naquela época se você buscou os reis tinha que levar de volta e os reis não saiam se você cantasse qualquer coisa não. Tem os cantos certos de rei, de rainha de chamada O Rei e Rainha Congo por exemplo, representa o trono coroado. E os grupos mais novos não procuram saber essas coisas com os mais velhos. Então, o que é o trono coroado? Ele é o rei que representa todos os reis.
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Até tem uma pergunta que fizeram e não ficaram satisfeitos com a resposta de porque meus reis são claros. O certo mesmo é os reis serem claros. Por causa de quando o “sinhô” da senzala deu a libertação, por que não eram todos que eram carrasco não. Tinha aqueles que tinham bom coração. E ai eles pediram a coroação para acompanhar o Reinado do Rosário. E como eles eram ricos e muito poderosos nessa terra eles comandavam e faziam tudo por aquele reino. E tem outra parte que nós temos que respeitar muito é que hoje não tem esse negócio de cor, todas as raças são iguais. Pode ser qualquer um, mas a responsabilidade é a mesma: Os reis são responsáveis pelo Reino do Rosário. Não só do grupo ao qual pertence, mas de todos os grupos da cidade. Uma palavra deles vale muito. A função dos reis é estarem o tempo todo rezando pelo reinado. Se cair um dançante no meio da festa os reis tem que saber o que fazer. Ele tem que ter percepção do mundo espiritual. São eles que vão levantar os soldados caídos. Eles são responsáveis pela coroa de Nossa Senhora. Muitas vezes eles precisam tirar a coroa da cabeça deles e colocar sobre a cabeça de um vassalo. As diversas nações do rosário alem do Candombe, Moçambique e Congo nasceram da mistura do negro com outras nações como o índio, o português etc. O Moçambique é de Angola e Aluanda, o congo é do Congo mesmo, os caboclos com os índios e você vê até na batida deles. O marujo é uma mistura de caboclo com africano. O Vilão, pelo que eu aprendi é uma mistura de congo com caboclo Dos objetos do congado temos alguns bem importantes como a Bandeira da Guia. Ela é nossa guia. Sem ela a guarda fica perdida. É ela que vai na frente protegendo de todo mal. O bastão do capitão é seu símbolo de autoridade. Um capitão sem bastão é igual a um boneco, ele não tem força nenhuma e esquece até o que vai cantar. As gungas são um símbolo do sofrimento do negro e de que ele foi libertado da escravidão. Então hoje ele não põe mais correntes nos pés, mas apena leva o som delas para lembrar que é livre. E também para lembrar quando foi buscar Nossa Senhora, o Moçambique porque o congo não usa, do ritmo marcado pelos pés cansados e acorrentados dos negros. O tamboril no congo é semelhante ao bastão no Moçambique, é ele que comanda o ritmo na guarda. Assim a guarda não se influencia com os outros ritmos que estão a volta dele durante a festa. Os mastros que são levantados no espaço da capela fazem o lugar santificado. E a bandeira que é levantada corresponde ao santo que esta representada e o mastro com a bandeira faz uma ligação entre a terra e céu criando uma ponte onde o santo leva nossos pedidos e clamores A matina e a vigília que é feita não pode ser realizada por qualquer grupo. É ela que vai sustentar as energias da festa. Se ela não for bem feita descontrola a festa toda, dá briga. Outra etapa na festa é o café e o almoço. Tem mistérios por traz disso. Um grupo não pode comer sem depois cantar agradecendo, porque ele vai demonstrar a hospitalidade de um e a gratidão de outro além de ser um exercício de humildade e de comunhão.
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(IN) CONCLUSÃO
U
m das maneiras de se pensar essa relação toca no próprio rosário. Anterior ao cristianismo, o rosário já era presente no budismo, que nomeou tal objeto como Mala, seja como instrumento de fé ou como presente oferecido aos hóspedes ilustres. Também se fez marcante na fé islâmica, sendo esse o possível ponto de contato entre os cristãos e o rosário.
Porém, todo trabalho ainda se torna inconclusivo, visto que o universo congadeiro é vasto o bastante para empreendermos expedições durante muito tempo. Vale então lembrar que sejam os cantos, objetos, performances ou rituais no Reinado do Rosário, estes são elementos que lidam com o sagrado buscando trazer as bênçãos de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia aos seus devotos por intermédio do Trono Coroado e de seus capitães. Em última instância esse conjunto de praticas, além do fortalecimento espiritual do grupo, também sedimenta os laços sociais da comunidade reestabelecendo o equilíbrio, harmonia e o bem-estar do grupo. Mesmo nessa inconclusividade alguns pontos são dignos de nota. Seja no cristianismo, no islamismo ou no budismo, o princípio de atuação do rosário é semelhante: trata-se de uma forma de repetição de fórmulas sacras, como o mantra tibetano, incitando a uma forma de fé mais individual e contemplativa. A repetição das palavras sagradas do rosário se fundamenta na ideia de que as palavras possuem um natureza dupla, e que, por meio de seu caráter secreto, aquele que ora pode se conectar com a deidade que recebe a oração. A prece é como o cordão que une as contas do rosário, liga a todas as coisas e as conecta com a deidade. O Reinado, com sua origem Luso-Afro-Brasileira, além do aspecto religioso é, também, uma transposição imaginária aos tempos de glória dos reis africanos. Enquanto o Reinado do Rosário, ou Congado, apresenta o aspecto religioso e espiritual do negro africano, ele difere, da Congada, outra manifestação recorrente no Brasil, onde o “Rei Congo” é o elemento central. A Congada apresenta elementos dos conflitos políticos e militares do Reino do congo com espadas, capitães, soldados. Tudo faz lembrar as lutas que ocorreram no continente africano e que, com a escravidão, passam a ocorrer também em solo brasileiro. Guerreiros negros lutando entre si e contra os brancos europeus que os escravizavam.
A festa da “Congada” difere do “Congado” por incorporar referências sobre a guerra entre mouros e cristãos. Desta forma o enredo apresenta o desentendimento entre estes dois grupos que desejam homenagear São Benedito. O drama se desenrola através do embaixador mouro e pagão com seus congos de baixo quando esse declara guerra ao rei cristão e seus fidalgos, também chamados de congos de cima ou vassalos. Assim, os acontecimentos/dramatizações são marcados pelos ritmos da marimba e atabaques e danças, executadas pelos congueiros, que ainda mostram habilidade com espadas, e na declamação de embaixadas 77. Há uma grande carga de lirismo nas falas com as melodias soando as vezes como uma reza, outras como louvor e até mesmo como um lamento dirigidos também à Virgem Maria e ao Menino Jesus. Após o período de embaixadas os congueiros com trajes de cetim azul, tendo à frente o rei e a rainha se dirigem à igreja para buscar o andor de São Benedito em procissão, fazendo evoluções como a meia-lua e acompanhados pelos congos de baixo vestidos de cetim rosa que dançam em direção ao cortejo. Nesse ponto se instaura a tramatização dos conflito entre os dois grupos chamado 77
versos falados diante do rei em louvor ao santo
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de Macambá 78. Então segue-se o Alvoroço ou Jardim das Flores, marcado pelo ritmo intenso dos instrumentos, determinando o ápice do conflito. Finalmente há o desfecho chamado de São Mateus onde um personagem preso, se identifica como filho desaparecido do rei, e eles fazem as pazes. Como pudemos ver no decorrer do presente trabalho, o Reinado do Rosário chamado “Congado” difere da “Congada” em objetivos, formas e elementos e não devem ser confundidos. O Reinado do Rosário mostra que o negro além de terem sidos destituídos de sua condição de seres humanos, hoje são relegados à condição de cidadãos de segunda categoria, mostrando que, por mais que o corpo se curve, suas raízes, como as raízes de uma árvore, ainda são fortes o bastante para romper o duro chão e, assim, manter viva toda a sua história. Do Brasil colônias até os dias de hoje o culto ao Rosário e à Virgem dos negros estiveram associados à escravidão. Mesmo hoje esta invocação e esse louvor continuam a representar os mesmos sentimentos levando os devotos a seguirem seu caminho na busca de um lugar na sociedade, onde possam ser vistos como parte do todo. Assim, essa manifestação torna-se ponto de resistência cultural ao criar um universo próprio onde podem viver sob a proteção da Virgem, que lhes dá força para enfrentar o preconceito persistente em nossa sociedade. Um preconceito social e racial, fruto também do processo histórico e que ainda não foi possível ser vencido. O Congado é, portanto, a transmutação de um espaço para contar a história do negro, conscientizar de suas origens e rememorar reivindicações de liberdade. Atualmente, um processo crescente de institucionalização do congado tem feito com que ao invés de ser vista e respeitada como uma manifestação cultural se torne um “atrativo turístico”. A festa tem sido feita para o povo ver, revelando um aspecto meramente passivo. Assim a manifestação cultural vai se esvaziando aos poucos e transformando-se em mero espetáculo. Certamente serão encontrados irmãos de outros credos religiosos em meio às fileiras do Rosário, observando o rito Católico com o máximo de respeito e piedade. Destarte, todos dentro das fileiras do Rosário, sem exceção, são devotos da Santíssima Virgem e cumprem seu voto de homenageá-la no decorrer de todos os anos de sua vida, durante o ano inteiro, debaixo de sol ou chuva, sob o título de N. S. Rainha do Santo Rosário; e não admitirão, seja da parte de quem quer que seja, falta de respeito para com o Nome de sua Mãe Misericordiosa, podendo, inclusive chegar, a qualquer hora ou lugar, a extremos em sua defesa. Todos os Irmãos do Rosário crêem que as graças, bênçãos e milagres são emanadas diretamente do Pai Celestial em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas preferem submeterem-se à intercessão da Virgem permanecendo cobertos por, no que denominam, seu Manto Sagrado. Portanto, o modo de cantar e dançar do Irmão do Rosário, embora alegre e rico em evoluções e gestos não tem, em momento algum, função lúdica ou profana; são formas espontâneas de rezar, venerar e adorar desenvolvendo-se dentro do respeito máximo e de um clima religioso embora não convencional. A força e a beleza dos festejos realizados em hora à Senhora do Rosário dos “homens de cor” se alicerçou como resposta às pressões sociais vividas pelos negros e a manutenção do verdadeiro espírito do congado é fundamental nesse momento em que a imposição de uma política econômica globalizada ameaça desintegrar as culturas regionais, fundindo-as no alicerce da espetacularização e roubando-lhes a espiritualidade. 78
uma cantiga dos congos de baixo em preparação para a guerra
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ANEXOS SANTO ROSÁRIO
O
Rosário é uma oração católica em honra da Santíssima Virgem Maria formado tradicionalmente por três terços. Recentemente houve o acréscimo de mais um terço pelo Papa João Paulo II. Cada terço compreende cinco mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora. Os mistérios são formados basicamente por um Pai-Nosso e dez Ave-Marias. Cada mistério recorda uma passagem importante da história da salvação, segundo a doutrina católica, e cada terço é constituído por cinco mistérios.
ORIGEM A oração do Santo Rosário surge aproximadamente no ano 800 à sombra dos mosteiros, como "Saltério" dos leigos. Dado que os monges rezavam os salmos (150), os leigos, que em sua maioria não sabiam ler, aprenderam a rezar 150 Pai-Nossos. Com o passar do tempo, se formaram outros três saltérios com 150 Ave Marias, 150 louvores em honra a Jesus e 150 louvores em honra a Maria. Segundo uma tradição a Igreja católica recebeu o Rosário em sua forma atual em 1206 quando a Virgem teria aparecido a Santo Domingo e o entregou como uma arma poderosa para a conversão dos hereges e outros pecadores daquele tempo. Desde então sua devoção se propagou rapidamente em todo o mundo com incríveis e milagrosos resultados No ano 1365 fez-se uma combinação dos quatro saltérios, dividindo as 150 Ave Marias em 15 dezenas e colocando um Pai nosso no início de cada uma delas. Em 1500 ficou estabelecido, para cada dezena a meditação de um episódio da vida de Jesus ou Maria, e assim surgiu o Rosário de quinze mistérios. A palavra Rosário significa 'Coroa de Rosas'. É uma antiga devoção católica que a Virgem Maria revelou que cada vez que se reza uma Ave Maria lhe é entregue uma rosa e por cada Rosário completo lhe é entregue uma coroa de rosas. A rosa é a rainha das flores, sendo assim o Rosário de todas as devoções é, portanto, tido como sendo a mais importante.
ORAÇÃO E MEDITAÇÃO A meditação de cada mistério acha sua base na Sagrada Escritura: é opcional a leitura do trecho que narra o que será contemplado, ou a divisão de um ou mais trechos em dez pedaços, de forma que seja lido parte a parte antes de cada Ave-Maria. Em sua maioria, as leituras são dos Evangelhos, mas também há trechos do Antigo Testamento que ajudam a compreender o que se passa na ocasião, ou comentários doutrinários sobre elas contidos nas epístolas. Os dois últimos mistérios (Assunção e coroação) não são do Evangelho, mas profetizados: por exemplo, no Livro de Judite, uma mulher salva o povo; nos Salmos, há freqüentes elogios a uma figura feminina, presentes também no Cântico dos Cânticos; e, definitivamente, no Apocalipse, um sinal nos céus apresenta uma mulher como Rainha, que a Tradição Apostólica, desde os primeiros tempos, afirmou tratar-se de
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Maria.
Os terços e seus "mistérios" Mistérios Gozosos (segundas e sábados)
Figura 161 - Adoração do Menino Jesus, Fra Angélico
O tema é a concepção, nascimento e infância de Jesus Cristo. Esses mistérios são: 1. a "A Virgem Maria foi saudada pelo anjo e lhe foi anunciado que havia de conceber e dar à luz Cristo, nosso Redentor (Lc 1,26-39); 2. a Visitação de Maria a sua prima, Isabel; 3. o Nascimento do Filho de Deus; 4. a Apresentação do Menino Jesus no Templo ou a Purificação de Maria; 5. e, por fim, a Perda e o reencontro do Menino-Deus no Templo. Mistérios Luminosos (quintas-feiras) São aqueles acrescentados há pouco tempo pelo Papa João Paulo II e abordam a vida do Filho de Deus, seus milagres, pregações e feitos importantes:
Figura 162 - Instituição da Eucaristia, Fra Angélico
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6. seu Batismo no rio Jordão (Lc 2,41-50); 7. Auto-revelação nas Bodas de Caná (Jo 2,1-12); 8. o Anúncio do Reino de Deus e convite à conversão (Mc 1,15; Lc 7,47-48 e Jo 20,22-23); 9. a Transfiguração (Lc9,35); 10. e a Instituição da Eucaristia (Jo 13,1). Mistérios Dolorosos (terças e sextas-feiras) Cristo crucificado, Velasquez, Museu do Prado Neles medita-se a Paixão e Morte do Senhor, da mesma forma divididas em cinco mistérios: 11. a Agonia do Senhor no Horto das Oliveiras; 12. a Flagelação de Jesus; 13. a Coroação de espinhos; 14. Jesus carregando a Cruz até o Calvário; 15. e a Crucificação e morte do Senhor.
Figura 163 - Cristo carrega a Cruz, El Greco, 1580
Mistérios Gloriosos (quartas-feiras e domingos) 16. a Ressurreição triunfante do Senhor; 17. a gloriosa Ascensão do Senhor aos céus; 18. a Vinda do Espírito Santo (ver Pentecostes); 19. a Assunção da Virgem Maria aos céus;
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20. e a Coroação de Nossa Senhora como Rainha dos Céus e da Terra.
Figura 164 - A coroação da Virgem, El Greco
Forma de rezar o Santo Rosário de Nossa Senhora O terço (no sentido de objeto usado para contar as orações) é formado por contas grandes e pequenas. Após cada dezena de contas pequenas, há uma grande, e assim, cinco dezenas. O fio no qual ficam as contas dá uma volta, ficando a quinta junto à primeira dezena, preparando para iniciar um novo terço. Antes da contemplação dos mistérios, há uma parte inicial constituído por duas contas grandes, três pequenas e um crucifixo. Existem algumas variações nas formas de se rezar o terço, de acordo com as devoções religiosas, mas em geral se faz da forma seguinte: Representação de um terço do Rosário Antes, porém, do início da oração, convém fazer a Invocação do Espírito Santo e o Oferecimento do terço/Rosário • Segurando a cruz, se faz o "Sinal da Cruz" e reza-se o Creio. Reza-se um Pai-Nosso e três Ave-Maria, seguido do Glória. Depois do Glória pode ser acrescentado algumas jaculatórias. • Nas contas grandes, começam-se os mistérios com o Pai-Nosso. • Nas contas pequenas, rezam-se as Ave-Marias. • Ao final de cada dezena reza-se o Glória. Podem-se, também, acrescentar jaculatórias entre o Glória e o Pai-Nosso. Costuma-se rezar a Ó meu Jesus e pedir a intercessão do/a(s) santo/a(s), Nossa Senhora e/ou pessoa da Santíssima Trindade a que o terço se dedica, por exemplo: Divino Espírito Santo, tende piedade de nós, Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós, Santo Expedito, rogai por nós. Nos terços pelas almas do Purgatório, reza-se
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também o Requiem. • Por fim, reza-se a Salve Rainha, antes da qual é facultativa a Infinitas graças vos damos. Estas orações são acrescentadas de acordo com costumes e devoções locais, mas não fazem parte integrante do Rosário. Enquanto se faz a oração vocal medita-se ou contempla-se a passagem do respectivo mistério. Após o terço, costuma-se rezar também a Ladainha de Nossa Senhora, que é uma seqüência de invocações à Nossa Senhora. Costuma-se rezar diariamente um desses conjuntos de cinco mistérios. A Igreja, reconhecendo a importância dessa prática de piedade, concede indulgência plenária a quem reza o terço em família, nas condições habituais.
Festividade O dia 7 de outubro é dedicado à Virgem do Rosário. "O Rosário - diz Bento XVI - é o meio que nos dá a Virgem para contemplar a Jesus e, meditando sua vida, amá-lo e seguí-lo sempre fielmente".
O uso do terço No dia a dia, o uso do terço pode ser visto em casamentos, protegendo, segundo a tradição católica, o sacramento matrimonial, e como acessório, geralmente amarrado no pulso ou pendurado no pescoço. Muitos fiéis defendem o uso do terço como uma espécie de amuleto. A Igreja não condena a popularização do terço como adorno desde que o símbolo não seja associado a atos que contradigam as leis bíblicas.
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POVOS E LÍNGUAS DE ANGOLA
Figura 165 - Diferentes Nações Negras - Debret (1. Monjolo; 2. Mina; 3/4/8/9. Moçambique; 5/6. Benguela; 7. Calava)
N
o Continente Africano, as línguas dividem-se em quatro grandes famílias: Afroasiática, Nilo-Sahariana, Niger-Congo e Khoisan. A Niger-Congo, inclui numerosos grupos para sul do Sahara, com destaque para os Bantu, a sul do Equador. Khoisan são as línguas faladas com estalinhos, pelos Pigmeus, Hotentotes (do holandês hotteren-totteren , que significa balbucear), Bosquímanos, Vuacancalas ou Mucancalas, como são conhecidos em Angola. O radical ntu, vulgar para a maioria das línguas Bantu, significa homem, ser humano e ba é o plural. Assim, Bantu significa homens, seres humanos. Não existe uma raça Bantu, mas sim um povo Bantu, comunidade cultural com uma civilização comum e linguagens similares. São nove as nações bantu de Angola, correspondendo a cada uma delas uma língua diferente: Nação Bakongo Mbundu (ou Ambundu) Lunda-Tchokwe Ovimbundu Ganguela Nhaneka-Humbe Herero Ovambo (ou Cuanhama) Donga
Idioma Kikongo Kimbundu Tutchokwe Umbundo Tchiganguela Lunhaneka Tchiherero Ambo Xindonga
População em Angola 1.680.000 3.280.000 573.000 4.970.000 183.000 473.000 120.000 450.000 -
A principal característica das línguas Bantu é o facto do feminino, masculino, singular e plural serem feitos por meio de prefixos (em vez de sufixos, como acontece nas línguas europeias.)
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Figura 166 - Principais migrações Bantu e Principais Reinos da cultura Bantu
As vogais são sempre abertas, as palavras arrastadas, como se fossem cantadas, qualquer «m» ou «n» a iniciar uma palavra, seguido de consoante, não se deve pronunciar. É como se fosse um til, daí que tenham surgido, por exemplo, vocábulos como Angola derivado de ngola (rei) ou embondeiro derivado de mbondo (árvore). •
O h é sempre aspirado, como em henda (graça, misericórdia).
•
O r é sempre brando e pode ser trocado por d ou por l.
•
O k substitui sempre o q da língua portuguesa, bem como o c antes de a, o e u.
•
O g nunca tem o valor de j, mesmo antes de e ou i. Ndenge (mais novo) lê-se ndengue.
•
O som nh pode escrever-se como em português, embora haja quem escreva ni ou ny. Por exemplo, dikanha, dikania ou dikanya (tabaco).
A – Raiz Bantu ( de 1 a 9): 1 – Kicongo; 2Kimbundo; 3- Luna-Tchokué; 4- Umbundo; 5Ganguela; 6-Nhaheca-Humbe; 7-Ambó; 8Herero; 9-Xindonga; B - Não Bantus: 10- Hotentotes – Bosquímanos Mukuankalas; 11- Mupa, Kuenes e Kudos; 10Hotentotes, Koisan; 11- wátuas, Kwepes, Kuissis; 12- Kurocas
O idioma Umbundu, Mbundu Bengela, Ovimbundu, Mbari ou Quindundu é utilizado por cerca de 5 milhões de pessoas da nação Ovimbundu , em Angola, principalmente na província de Benguela. Os principais dialetos desse idioma são kimbailundu, kibié, kiuambo, kingalangui, Kim.
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Figura 167 - Negros de vรกrias etnias (Rugendas)
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Figura 168 - Mapa do período colonial retratando os reinos do Congo e Angola
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TEOGONIA BANTU
N'Zambi (1) Samuang (2) Feminino Namuang (3) Masculino Tchirhongo(8) Kuba-Wavula(6) Kakuka (5)Tuhemba(massuko)(4) Katoto (9) Katwa(10) Mwana-Pwo (7) 1 – N'Zambi: É o Criador do Mundo. 2 e 3 – Primeiro casal da terra, representados por dois troncos secos e estreitos, com as esculturas de um casal nas extremidades, ficam erguidos perto das cubatas e isolados. 4 – Divindade feminina que ajuda as sementeiras. Primeira filha de 2 e 3. É representada por um tronco estreito e seco, com uma figura feminina esculpida na ponta. Esse tronco fica espetado do lado de uma paliçada pequena, que tem em cima figuras representando a família e descendentes. 5 – Filho de 1 e 2 , tem poderes de premonição. É representado por um boneco e uma tábua, na qual se esfrega o boneco, até esse dar as respostas pretendidas. 6 – Divindade má, mata, queima e destrói em dias de chuva – Wavula – no momento do raio – Kuba. É representado por um manipanço disforme, com dentes pontudos e irregulares simulando uma boca. 7 – Totalmente feminina nos trejeitos e enfeites, é uma divindade protetora e alegre. 8 – Personagem masculino, austero, representa força e mando. 9 – Personagem grotesco, ridículo e cômico. 10 – Figura amedrontadora, de feitiço muito poderoso, protege quem o agrada e prejudica os que o substimam.
DEUSES MENORES OU DE SEGUNDA ORDEM São todos filhos adotivos de Lusunzi. 1 – Wela-ke-Luzunzi: É a entidade que protege os pobres e os tristes 2 – Kinkinda e Kilili: São as entidades protetoras dos grãos de milho, da mandioca e das farinhas que deles resultam. 3 – Kimpunkulo e Kinzunda: São as entidades protetoras da agricultura.
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4 – M'Baki, Lukola-Limpangi, Mundala-Mipangi e Luki-a-Limpangi: São as entidades que protegem os riachos, onde habitam, junto com toda a fauna e flora desses lugares.
MITOLOGIA DO CLÃ BAKONGO 1 – N'Zambi: É o ente supremo e bom, que tem o poder criador. Chamam-lhe também de Tata ou Tata-Itu – Pai ou Pai Nosso. 2 – Bakisi ou N'Kisi: São seres sobrehumanos que protegem o homem. Bakasi Basi são os espíritos da terra; N'Kisi N'Si são os espíritos do poder. Usam outros espíritos nas suas tarefas, e são de uma maneira geral bons, mas se for necessário, podem também fazer o mal. 3 – Zindundu: São espíritos de albinos, monstruosos e incapazes de procriar. São temidos por todos os espíritos do mal, muito embora não esteja muito bem definido que tipo de poder eles têm, nem como o exercem. Os albinos, em vida também são temidos a ponto de, nos mercados os deixarem pegar o que quiserem, sem terrem que pagar por nada. 4 – Basima: São os espíritos dos gêmeos; são bons e respeitados. Em vida os gêmeos também são respeitados como seres especiais; deles sempre se espera atitudes boas e generosas, e se por um acaso tomam uma atitude que não o seja, considera-se que houve forte razão para isso, ou que a atitude não foi bem interpretada. 5 – Kilombos: São os espíritos que entram nos cérebros, os intrepretam e influenciam. 6 – Vimbu: São espíritos maus, de pessoas que morreram inchadas, com chagas, doenças de pele e irritações. Os Cabindas são um povo sadio, forte e amigável. A situação geográfica de Cabinda, tendo de um lado o mar rico em peixe, e do outro a hostil e quase impenetrável Floresta do Mayombe, contribuiu para que os homens desse povo se dediquem quase exclusivamente ao mar; o povo Cabinda é um povo de pescadores. Na pesca, utilizam para enfrentar o mar, estreitas pirogas, por eles construídas, de modo a serem resistentes à batida das ondas e melhor cortarem as águas. A pesca é um trabalho árduo e perigoso, que é da exclusiva responsabilidade dos homens; às mulheres cabem as tarefas ligadas à agricultura e os trabalhos domésticos. O homem Cabinda, sendo alegre e despreocupado, quando regressa das incursões piscatórias entrega-se a dias de ociosidade, ficando em terra até que se tenha consumido o produto de tão arriscada tarefa. Em Cabinda, tal como é freqüente nos povos de angola, o número de mulheres supera o dos homens, o que lá se torna um fenômeno de conseqüências adversas. Deve-se essa adversidade, ao fato de ser em cabinda, bastante irregular a poligamia, fica difícil para as mulheres arranjar um marido. Começa desse modo, uma série de costumes e acontecimentos exclusivos desse povo. Os homens, sabendo-se em menor número, e com uma noção acurada das leis de oferta e demanda do mercado, e em conseqüência alvos de cobiça, não vêem razão para fazer gastos com Lembamento. Mas como a ceromônia só pode realizar-se dentro desta base, são as próprias mulheres que fazem as economia necessárias, para isso se prostituindo inclusive, e sem que isso as desprestigie, ou que por isso venham a ser menosprezadas pelo futuro esposo.
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As moças, após saírem da “Casa da Tinta” , escola onde na época da puberdade e primeira menstruação, se aperfeiçoam nos conhecimentos de agricultura, maternos, concubinas etc...são apresentadas pelos familiares, embelezadas por um pó – Talulo – que lhes dá um tom avermelhado, ao mesmo tempo em que a família anuncia ter uma moça pronta para casar. Não aparecendo nenhum candidato disposto a dar o lembamento estipulado, a moça é liberada para ir trabalhar; com economias fica mais fácil casar-se. As questões de separação são complicadas, pois a mulher não aceita facilmente o divórcio; tornam-se em geral quezilas de tribunal, resolvidas pelo Soba e Conselho dos Velhos – cuja decisão é irrecorrível – à sombra de uma Mulemba – Muanza Kilua – que quer dizer “Sombra da Verdade”. As sessões Jurídicas têm início quando o Soba manda soar o Mussaco, tambor só usado nessa ceromônia. Entre os Cabindas há também dois costumes que são exclusivos desse povo, que são o Licoêze e o Moela. O Licoêze consiste na restituição dos bens oferecidos como lembamento, à família da mulher, caso ela morra. Apesar de, entre os Cabindas serem as mulheres a economizar para o Lembamento, se a mulher morre, a família dela se obriga a devolver os bens recebidos. Quando é o homem a morrer, a família dele presta a ela a homenagem da Moela, que consiste na libertação imediata dela, para refazer a vida, caso não tenham filhos menores e a oportunidade surja. Caso tenha filhos menores, deve observar um período de luto, ao fim do qual, caso queira casar de novo, deve abdicar dos filhos em favor da família do marido. O curioso é que, apesar desse puritanismo aparente, a jovem viúva, para sustentar os filhos, pode enveredar pela prostituição, sem que isso a desmereça aos olhos seja de quem for. Devo acrescentar que, a prostituição no contexto em que é apresentado nesse apontamento, é um costume relativamente recente, bem posterior ao advento da colonização. Entre o povo Cabinda, o tira-teima dos feiticeiros e adivinhos, quando alguém é apontado como culpado de alguma coisa e nega, toma uma característica ligeiramente diferente. Tem o nome de “Sanga”, e é o ritual da faca quente. Os suspeitos ficam em lugar de destaque na roda de povo em volta do feiticeiro que, após monopolizar a atenção e criar a atmosfera de temor e desconforto, inicia o ritual. Faz uma cova no chão, onde coloca e tapa uma pedra mágica, fazendo em cima uma fogueira, onde coloca esquentando, a faca justiceira. Após preces ora gritadas, ora murmuradas, desenha usando Pemba ou Cinza umedecidas, um círculo branco abaixo do joelho de cada um dos suspeitos. Nesses círculos, será encostada a faca quente, e a pele que intumescer denunciando queimadura, aponta o culpado.
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CONCEPÇÃO DE MUNDO PARA OS BANTU79
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a concepção de mundo dos povos Bantu, a noção de FORÇA assume o lugar da noção de SER. Esse pensamento funciona como uma determinante, fazendo com que toda a cultura banta seje orientada no sentido do aumento dessa força e da luta contra a sua perda ou diminuição.
Exemplificando a prática dessa filosofia, Jacques Maquet in Les civilisations noires, 1966, 153-155, resumidamente, assim descreve o universo filosófico da etnia baluda: "Para os Lubas a realidade última das coisas, representando também o seu valor supremo, é a vida, a força vital." "O princípio fundamental segundo qual TODO SER É FORÇA é a chave que dá acesso à representação do mundo dos Lubas. Todos os seres (espíritos dos ancestrais, pessoas vidas, animais e plantas) são sempre entendidos como força e não como entidades estáticas." "Esta concepção da existência rege todo o domínio da ação humana. Em qualquer circunstância devemos procurar ACRESCENTAR, evitando o único mal que existe: DIMINUIR. Assim as invocações dos grandes ancestrais têm por objetivo aumentar a energia vital, já que entrando em comunhão com eles, cuja vitalidade será maior quanto maior for a descendência, a pessoa fica mais forte." "Busca-se a intervenção dos adivinhos e dos sacerdotes (que têm o poder de captar e dirigir as forças que escapam às pessoas comuns) porque eles conhecem as palavras que reforçam a vida." Por enquanto, ficarei por aqui. Mas, pretendo postar um pouquinho mais sobre a existência da filosofia fundamentada na metafísica dinâmica e no vitalismo que concebe a idéia do Mundo para os povos Bantu. O que é referendado por Balandier in Dictionnaire des civilisations africaines, 1968:64.
Concepção de Mundo para os Bantu. "Quando a pessoa está doente, ela espera dos remédios não um efeito terapêutico localizado mas o reforço mesmo do ser. Por isto é que, entre os Lubas e outros povos africanos se dá muito valor ao vigor sexual do homem e à fecundidade da mulher, como testemunham os rituais e a estatuária. E isto porque a procriação é evidentemente a manifestação palpável do desenvolvimento da vida." "A MORTE É UM ESTADO DE DIMINUIÇÃO DO SER. Mas os descendentes vivos de um morto podem, através de oferendas, repassar a ele um pouco de vida. Quando os vivos são negligentes, os mortos chamam a atenção deles, mandando doenças ou provocando outros aborrecimentos. O morto que não deixa descendente está condenado à degradação final, espécie de segunda morte, desta vez definitiva." "UM INDIVÍDUO SE DEFINE POR SEU NOME: ele é seu nome. E esse nome é algo interior que não se perde nunca e que é diferente do segundo nome dado por ocasião de um acréscimo de força como por exemplo o nome da circuncisão, o nome de chefe recebido quando da investidura ou o nome sacerdotal recebido quando da possessão por 79
Espedito Azevedo é filósofo, especialista em Administração Legislativa e Gerenciamento de Projetos
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um espírito. O nome interior é indicativo da individualidade dentro da linhagem. Porque ninguém é um ser isolado. TODA PESSOA CONSTITUI UM ELO NA CADEIA DAS FORÇAS VITAIS, UM ELO VIVO, ATIVO E PASSIVO, LIGADO EM CIMA AOS ELOS DE SUA LINHAGEM ASCENDENTE E SUSTENTANDO ABAIXO DE SI, A LINHAGEM DE SUA DESCENDÊNCIA." No que tange a religião, diz Theuws, in Croyance et Culte chez les Baluba, 1958:25, os Balubas estão permanentemente se defendendo contra as forças destrutivas, colocando a seu serviço a energia dos objetos, dos animais, dos vivos e dos mortos, a fim de se preservarem e crescerem como pessoas. Theuws considera que, para os Balubas, a fonte de toda força e de toda a vida é Deus, ou seja, SYAKAPANGA, o Pai-Criador ou ainda MWINE BUMI BWANDI, aquele que detém a vida em si mesma, pois não a recebeu de ninguém; aquele que "forjou as coisas com a palavra saída de sua boca; aquele que não é parte das forças da natureza e sim o Criador que as domina" já que os Baludas não são panteístas. Assim, na concepção dos Baludas, Deus é SYAYUKA - o detentor de todo o saber; é MWINW MATAMBA, o senhor de todas as terras; é SYANDYA MANWA, o pai de toda a destreza, de toda a habilidade artesanal; é MWALA, o destruidor dos dons; e é MWINYA O TATA, o Sol que reanima (1958:28 - obra retrocitada).
O Mundo para os Bantu 80 Ontologia Negra O escritor colonialista português Silva Cunha in Aspectos dos movimentos associativos na África Negra, 1958:83-84, citado por Nei Lopes, assim escreve: "Na ontologia negra (...) o SER é a FORÇA, e, como há seres divinos e terrestres, humanos, animais, vegetais e minerais, distinguem-se várias categorias de forçaS, todas diferentes. Entre estas estão as FORÇAS DOS ESPÍRITOS DOS MORTOS. Todos os seres, segundo a sua potência vital própria, se integram numa hierarquia. Acima de toda a força está Deus, que tem a força por si mesmo e que está na origem de toda a energia vital. Depois vêm os primeiros pais dos homens, os fundadores dos diferentes clãs. São eles os mais próximos intermediários entre os HOMENS e DEUS. Depois vêm os mortos da tribo, por ordem de primogenitura. São eles oselos da cadeia que transmite o ÉLAN vital dos primeiros ANTEPASSADOS para os vivos. Estes, por sua vez hierarquizados, consoante a sua maior ou menor proximidade em parentesco dos antepassados e, conseqüentemente, segundo a sua potência vital. A seguir às forças humanas vêm então as outras forças, animais, vegetais e minerais, hierarquizadas conforme a sua energia. Todas as forças estão relacionadas, exercendo interações que obedecem a leis determinadas. Assim: 1 - O homem (vivo ou morto) pode diretamente reforçar ou diminuir um outro homem no seu ser. A resistência contra esta ação só pode conseguir-se por meio do reforço da força própria, recorrendo a uma outra influência vital.
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Fonte:Lopes Neu. Bantu, Malês e Identidade Negra.
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2 - A força vital humana pode influenciar diretamente seres-força inferiores (animais, vegetais ou minerais). 3 - Um ser racional (espírito ou ente vivo) pode influenciar um outro ser racional atuando sobre uma força inferior (animal, vegetal ou mineral). A resistência a esta ação também só se conseguirá pelo reforço da energia vital, recorrendo a outras forças. Para se proteger contra perda ou diminuição de energia vital por ação direta ou indireta de outros seres, o negro tem que recorrer, portanto, às FORÇAS que possam reforçar a sua própria força - ou às DIVINDADES, ou aos ESPÍRITOS DOS ANTEPASSADOS - fá-lo por intermédio do culto ou ritual destinado a propiciar DEUS ou DEUSES e os ESPÍRITOS, ou por intermédio da magia, que Tempels diz 'dever ser considerada como o conhecimento da interação das forças naturais, tais como foram criadas por Deus e, por ele postas à disposição dos homens".
Ritos Fúnebres Bantu 81 Nibojí(*) São, junto com os ritos de puberdade, as cerimônias religiosas e os ritos melhor observados e solenizados da sociedade bantu. Como ritos de iniciação, estão cheio de conteúdo religioso, aparato litúrgico e participação comunitária. Nos ritos fúnebres, nos quais, sem desculpa, devem participar todos os familiares aos quais se junta a comunidade, os bantu patenteiam as suas raízes culturais, fundamentos filosóficos, "dogmas" religiosos e celebram com solenidade o mistério da vida participativa Nenhum outro rito chega a atingir a sua transcendência. Caracterizam as suas crenças e consolidam um dos valores religiosos mais preciosos: a certeza da sobrevivência do homem no além-túmulo. Pelo nascimento, o bantu "passou" a esse mundo e pelos ritos de puberdade à sociedade. Pelos ritos fúnebres se restabelece a comunhão que lhe assegura a sobrevivência. Consideram o defunto como um ser em devir, um projeto, que deve chegar à plenitude, à realização definitiva de antepassado. Encerram tal casualidade mística, que se convertem na única ponte de passagem entre os dois mundos. Se se realizarem segundo a tradição e o desejo dos antepassados, o defunto chegará ao seu destino transformado na sua realidade existencial, já que se opera uma mutação ôntica. Pelo contrário, se se realizarem com descuido ou forem deformados, o defunto esquecido vagueará sem destino, desgraçado, e o olvido dos seus acarreta desprezos e terríveis vinganças para os vivos. Converte-se num perigo permanente e pode ocasionar males. Estes ritos, em definitivo, são um culto à vida, o tributo mais solene que o bantu lhe rende, porque assegura vida constante ao membro que "passou" e enriquece a sua comunidade. São celebrações solenes do duplo nascimento para a vida mais rica, individual e comunitária.Como exceção, parece que certos grupos bantu camitizados, porque desejam apropriar-se da força vital dum defunto e evitar as suas possíveis cóleras, "comem o defunto em comum na noite dos funerais, depois queimam os ossos. Apropriam-se assim 81
Fonte: Cultura Tradicional Banto - Raul Altuna (*) Elizabeth B.Azevedo é graduada em Ciências Econômicas e pós-graduada em Matemática Financeira. Iniciada no candomblé em 1986, filha de Danguesu, neta de Saralandu, bisneta de Kianvulu e atualmente filha do Tumbalê Junçara-BA.
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das virtudes do morto e asseguram, pelo seu desaparecimento, que não voltará a inquietálos". Só se "morre" verdadeiramente quando se realizaram os ritos segundo a tradição e a comunidade tem a certeza de que o defunto foi recebido pela comunidade dos antepassados. O defunto fica naturalizado no além-túmulo, integra-se na comunidade dos antepassados pela ação eficaz dos vivos que o situam no seu lugar, o "fixam" evitando que fique vagabundo e despeitado. A solenidade dos ritos está em proporção com o prestígio social e, sobretudo, com a influência vital do defunto. Os Chefes merecem honras especiais que se revestem da maior solenidade, com a reunião da comunidade. Assim conservam o seu estatus social no outro mundo e não guardam ressentimentos contra as suas comunidades que, por outro lado, desejam prestigiar-se com pomposas festas. As comidas, bebidas e danças adquirem tal relevo, que não há festa que as supere. Vi, nestas ocasiões, sacrificar até quinze bois! As festas poderão prolongar-se por um mês se o Chefe for importante. Está bastante espalhado o costume de deixar corromper o cadáver do Chefe até que a cabeça se desprenda do tronco. O crânio deve ficar para o herdeiro como feitiço protetor. Às vezes arrancam-lhe as unhas para fabricar poderosos feitiços ou manter viva a sua presença, já que a sua personalidade se prolonga até aí. O luto pelo Chefe pode durar várias semanas e obriga a todos. O trabalho é proibido. Nalgumas partes a infração castigava-se com a morte. Os que morriam durante o luto não podiam ser enterrados. Os escravos não tinham honras fúnebres visto que a sua nula influência social não os tornava temidos nem havia interesse algum em os prestigiar como antepassados. A infâmia de certas enfermidades ou a brutalidade do rompimento da vida não oferecem garantias duma ação benéfica. Além disso, seria um insulto aos antepassados. Assim, são excluídos do grupos dos antepassados os leprosos, os que morrem de acidentes, os suicidas, os tarados psíquicos, os epiléticos e os celibatários. As crianças, sobretudo se ainda não foram "chamadas", e os jovens recebem honras muito mais simples, e a comunidade não precisa de lhes prestar culto. Pela sua imaturidade e pouca influência vital não preocupam. Os que violaram com gravidade a ética comunitária, criminosos, ladrões, vítimas de ordálios, inimigos públicos e, sobretudo os feiticeiros confessos ou acusados, não recebem honras fúnebres. A sociedade condiciona a honra de antepassado ao comportamento ético. Logo depois de morrer, enterram os feiticeiros, quase sempre mutilados (partindo-lhes as pernas, por exemplo) para que não voltem, ou abandonem-nos aos animais, ou queimamnos e dispersam as suas cinzas ou lançam-nas à água. Há grupos que crêem que os condenados por feitiçaria se revestem no além e um corpo insignificante, repugnante, com um cheiro nauseabundo e com cabeleira encarnada. Levam uma vida errante por regatos e mananciais, encarnam em bestas ou em gatos(por isso rejeitam esse animal) e comem carne humana. Castigados a não participar na vida dos seus parentes, dedicam-se a transtornar o ritmo de vida individual e comunitário. Logo que uma pessoa morre, os seus familiares começam a chorar, a gritar e a dançar sem cessar, com um ritmo cadenciado e monótono. Lamentam a sua perda, chamam-no pelo seu nome, agradecem os seus favores, exaltam as suas virtudes, amaldiçoam o causador da morte e desejam a felicidade ao defunto. Os parentes e amigos acompanham
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a gritaria com gestos, contorções e danças. Assim demonstram aos antepassados a bondade do falecido, que procuram contentar para que não regresse carregado de influência nefastas. As festas, além disso, entretêm e dão coragem ao defunto enquanto espera a sua transformação em antepassado. Lavam o cadáver, vestem-lhe as melhores roupas, perfumam-no ou besuntam-no com óleo de palma. Alguns grupos, depois de o desnudar e antes que lhe chegue a rigidez, colocamno na posição em que deve ser enterrado: sentado de cócoras, com os braços sobre o peito. Cobrem-no com um pano, manto ou pele de boi e fica sentado numa cadeira ou deitado numa esteira. Assim preside às festas. Os familiares e amigos passam pela sua frente a saudá-lo antes de participar dos ritos. Logo que uma pessoa morre, saem os emissários a comunicar a notícia à parentela. Todos têm de ser avisados ainda que se encontrem distantes. É que o parente que não vai aos ritos pode ser acusado da feitiçaria causadora da morte. Além disso, é um dos momentos em que mais se acentua o sentimento de solidariedade comunitária já que colaboram com o parente para que encontre paz.Mesmo que trabalhem na cidade, deixam as obrigações e deslocam-se as suas aldeias. Só circunstâncias extremas podem impedir a participação nas festas fúnebres dum familiar. As cerimônias duram dias. O cadáver costuma chegar a decompor-se. Abundam a comida e a bebida. Matam bois, cabras, porcos e galinhas. Cada familiar contribui com algum presente. As mulheres preparam as bebidas tradicionais, os instrumentos de música arrancam e a dança começa. Comendo e bebendo, conversando e dançando, passam vários dias. São as grandes festas da sociedade bantu. E como a mortalidade é grande e a parentela extensa, encontramos o bantu em freqüentes festas. Não se esquecem de derramar um pouco de sangue das vítimas ao redor do cadáver para que participe também, ou com ele aspergem as paredes da casa para mostrar ao defunto e aos antepassados que os sacrifícios cruentos são propiciatórios e impetratórios. De vez em quando, um dos parentes chega junto do cadáver e oferece-lhe um bocado ou um gole que entorna a seus pés ou lhe introduz na boca. Estas comidas e bebidas tentam diminuir a tristeza do morto para que se conforme com a mudança operada. Suspeitamos, também, que estes sacrifícios de vítimas animais encerram um conteúdo sagrado, sacrifical e inclusive de aliança, que hoje se perdeu ou que não conseguimos captar. A dança e a alegria exteriorizam o prazer da participação conseguida “mistericamente”. Assim, mundo invisível e visível fundem-se na mais eficaz comunhão e o defunto honrado torna-se definitivamente comungante-participante com os dois mundos. A maioria dos grupos sacrificam animais, sobretudo bovinos, somente nestas festas. Embora precisam de proteínas e sendo o bantu um apreciador incansável de carne, reservam os seus animais para os alambramentos e para os sacrifícios propiciatórios. Os ritos fúnebres, pela abundância de animais mortos, desempenham uma missão compensadora do desequilíbrio alimentício e da errada dietética. Estes ritos terminam com uma refeição que consolida a familiaridade. Decorre no meio de muita alegria porque o defunto já está satisfeito, em companhia dos seus antepassados e pronto a revigorar a sua comunidade.
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O enterro Muitos grupos enterram os defuntos perto de suas casas ou dentro delas e destroem-nas quando termina o luto. É mais comum sepulta-los junto da aldeia e à beira dos caminhos para que os vivos lhes rendam uma pequena homenagem, todas as vezes que passam, inclinando a cabeça, guardando silêncio ou depositando alguma oferta no túmulo. Encontram-se cemitérios em paragens solitárias e bem defendidas nas florestas. São cemitérios familiares, embora possam pertencer ao grupo. Normalmente cada aldeia tem um cemitério comunitário. Os povos pastores enterram o chefe de família reduzida no curram dos bois ou no lugar onde se acende a fogueira, dentro da cerca de paus que rodeia a casa, onde enterram também as mulheres. As crianças sepultam-nas no curram dos vitelos, os jovens, junto de sua casa, as raparigas iniciadas dentro da cerca onde guardam os pilões da farinha Os especialistas da magia, bem como os caçadores e guerreiros, quando têm renome, são enterrados à beira dos caminhos muito freqüentados ou nas encruzilhadas, e sempre ao pé duma árvore para pendurar os seus instrumentos de trabalho, armas e troféus. Normalmente cavam na terra sepulturas horizontais com quase dois metros de profundidade. No fundo e ao lado, abrem uma câmara mortuária onde colocam o defunto deitado ou de cócoras. Isolam-na com ramos. Quando enchem a sepultura, a terra não toca no defunto. A esta câmara podem vir visitá-lo os seus familiares antepassados, e ajuda-lo a completar o rito de passagem. Outros grupos cavam as sepulturas em forma circular porque colocam o cadáver de cócoras. Alguns enterram-nos de pé. Os quibala de Angola depositam os chefes sobre a rocha e cobrem-nos com pedras bem trabalhadas, formando um sarcófago retangular. Submetem os cadáveres a uma espécie de mumificação. Introduzem-lhes pela boca, com a ajuda dum funil, óleo de palma a ferver. Esta operação prolonga-se até que as vísceras desfeitas lhes saem pelo reto. Os que de algum modo estiveram em contato com o cadáver, os que o transportaram e em geral os acompanhantes, depois do enterro tem de tomar banho num rio para “tirar o cheiro do morto” ou lavar as mãos. Deixam sobre a sepultura algum objeto: uma cabeça de boi, uma cabaça ou garrafa com água, mel, aguardente, alguns alimentos, um copo, uma taça, um prato, qualquer instrumento de trabalho, os troféus de caça. Com certa periodicidade ali depositam alimento e bebida. Quando enterram uma pessoa, os alimentos ajudam-na a realizar a viagem para a sua nova mansão. Não acreditam que os mortos venham a comer e a beber às suas sepulturas. Apenas tomam “a essência das oferendas”, o seu principio vital animador, agradecem a recordação dos seus descendentes e retribuem copiosamente. Pela comida sacrificada ou ofertada, destruída, o bantu liberta a “vida essencial” da oferenda, por ela entrar em comunhão vital e reafirma a vitalidade do oferente e do oferendado.Esta sacralização do alimento compreende-se a partir da ontologia bantu. Se a vida é o valor fundante e fundamental, manifesta-se em energia, força e fecundidade. Precisa permanentemente do alimentoforça. Em última análise, o alimento está na base da estrutura ontológica de todos os seres criados. Por isso contém uma finalidade sacral e ele próprio, por ser essencialmente vidaforça, é sagrado. Alimento e refeição trazem sempre uma recordação e uma concretização da ontologia e da religião. Assim, quando o bantu deposita alimentos sobre as sepulturas realiza um ato religioso e vivencia a sua aprofunda fé. Os cemitérios e as sepulturas ocupam um lugar central na
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vida comunitária. Os antepassados estão neles presentes, deles brota a causalidade mística que fortifica ou debilita; através deles se robustece a solidariedade vertical. São também lugares que inspiram temor, onde o receio e o mistério permanecem. O luto pelos mortos começa depois do enterro. As mulheres costumam pintar a cara com riscas pretas, cortam o cabelo ou soltam o penteado e até raspam todo o cabelo. O luto obriga sobretudo os cônjuges dos falecidos, que têm que despojar-se de vestidos luxuosos e cobrir-se de panos humildes. É normal que as mulheres tragam o tronco descoberto, por que se troxessem um vestido normal, o defunto poderia reconhecê-las e atormentá-las. Aquilo em que tocar torna-se impuro e com o perigo do tabu. A sua alimentação fica limitada e também os seus movimentos. Costumam ficar retirados em suas casas ou noutras construídas para esse fim onde recebem as visitas dos familiares e a comida. Não podem cozinhar e as proibições sexuais são taxativas. Procuram evitar assim a contaminação impura do defunto, pois conservam, mais que qualquer outro, o "cheiro do morto". Em certos grupos, a viúva, antes de se unir a um novo marido, o que pode demorar de um a três anos, deve limpar a sua impureza relacionando-se sexualmente com um parente próximo do marido falecido. Noutros grupos, tem de seduzir um desconhecido, que ignore o tabu, e que carrega com a impureza da mulher. Se descobrir a cilada, o adivinho submetê-lo-á a ritos purificatórios. Devem falar pouco, aparentar tristeza e chorar de vez em quando, até que o luto rigoroso termina com ritos purificatórios que começam com um banho lustral no rio. Entregam-lhes vestidos novos e os instrumentos para o trabalho. Costuma intervir o adivinho aspergindoos. Estes ritos conseguem "curar" os efeitos do contágio e fortificam a sua vitalidade talvez debilitada pelo contágio com o defunto. Simbolizam isso com uma fogueira acesa depois do banho, que "aquece" (revigora). Os banhos lustrais pertendem também assegurar à viúva um futuro casamento feliz. Entre os Humbi, a água lustral leva cinco ingredientes: uma unha de galinha, casca e pedaços de certos arbustos que darão ventura ao novo casamento, pés duma erva cuja interpretação seria: " O marido disse: fui-me embora; tu podes contrair novo matrimônio". Por fim outra casca de árvore que significa: " Esta pobre mulher teve pouca sorte, é preciso agora afugentar o mal que a atormentou". A adivinha, que ritualiza a purificação, entregalhe pequenos enfeites e uma enxada. Marca com giz branco a viúva desnudada no peito, frente, ventre e braços. Derrama-lhe água lustral e lava-lhe com ela o corpo, até a língua. Por fim, bebe uns goles enquanto a adivinha vai pronunciando palavras mágicas que vivificam o rito. Depois simula um ato sexual. Por fim, a adivinha recolhe toda a imundice do corpo, depois de lho esfregar com pós vegetais, amassa com isso uma bola que enterra longe das casas. O luto e os tabus ficaram sepultados. A viúva pode recomeçar a vida. Os pais, filhos e irmãos também guardam luto, ainda que mais restritos na duração e exigências. Os viúvos e a comunidade não devem pronunciar o nome do falecido até terminar os ritos fúnebres. Como o bantu identifica o nome com a personalidade, conhecer e pronunciar o verdadeiro nome pode acionar uma influência mágica sobre a pessoa. O nome também pode contagiar o "cheiro do morto". Outros grupos jamais pronunciam os seus nomes, ou então só depois de darem a um recém-nascido.
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A Chefia Bantu 82 Nibojí (*) Há um aspecto cultural muito relevante relativo aos Chefes banto. Esta hierarquia exata baseia-se no direito ancestral e numa concepção religiosa e profana simultaneamente. Participa da sacralidade que impregna esta sociedade. O Chefe desempenha uma função fundamental no grupo. Como pessoa mais qualificada e vitalmente mais poderosa, é o guia necessário da comunidade e o guarda das suas tradições e da sua coesão. As estruturas sócio-político-religiosas devem ser analisadas a partir de um fundamento carismático com apoio gerontocrático. A sociedade banto desconhece os limites entre estes três campos. Não aparecem interferências descontroladas. As motivações religiosas, como veremos, marcam o ritmo e caracterizam a sua mentalidade. Segundo esta concepção sacral, o Chefe é um carismático. Constitui, com os notáveis e anciãos, o grupo mais autorizado, o estrato social mais prestigioso e como instituição presidida por um "enviado carismático", dirige, pensa, solidariza, vigia e procura o bem da comunidade. O Chefe atingiu o maior escalão vital de que um mortal é capaz. A sua proximidade-união com a vida, que, de Deus, passa pelos antepassados desde o eponimo (transformar em deuses os personagens reais ou lendários), realiza essa plenitude. O eponimo prolonga-se no Chefe, que continua a vida de todos os antepassados do grupo, a personifica e a torna visível. Quem vê o Chefe contata com a vida que arrancou do eponimo, e contempla esse e os outros antepassados. É o canal de conexão direta com a corrente vital ancestral. Por ele a comunidade realiza a participação vital na fonte genuína. "Entre o Chefe e o organismo social que está abaixo dele existe um laço místico". Por isso a chefia pertence à linhagem que a comunidade reconhece com autenticidade de sangue e maior antiguidade. Só pode ser Chefe quem prove por sua ascendência que descende em linha direta, do fundador do grupo. Só ele reúne as condições inatas que confirmam a sua predestinação para patriarca, sacerdote, juiz, protetor e condutor da comunidade. O Chefe, prolongação dos antepassados, é o seu mandatário, o seu representante oficial e a sua viva voz. Sintetiza e reúne todo o grupo. Ocupa o vértice da pirâmide do mundo visível, porque é o sangue, e, até certo ponto, o espírito dos Chefes anteriores, e atua sob a sua influência. Torna-se assim passado e presente. Participará, de algum modo, da vida do mundo invisível. Os antepassados exigem uma linha sucessória direta, pede-a a sabedoria dos anciãos e é indispensável para o equilíbrio social, garantido pela observância escrupulosa da tradição. Só assim o grupo sobreviverá com prosperidade. O Chefe torna-se assim o mais fiel depositário do repertório sagrado de ritos e costumes, herança sábia e inviolável que roda pêlos séculos. O direito banto está ligado a dois expoentes básicos: a terra e o sangue. Na primeira descansam os antepassados, fonte de vida, sabedoria e exemplo de virtudes; sacralizada por esta presença, entrega com generosidade os alimentos. O sangue representa algo de mais profundo e transcendente, por ser a expressão e o vínculo da vida, princípio 82
Fonte: ALTUNA Raul, Cultura Tradicional Banto (*) Elizabeth B.Azevedo é graduada em Ciências Econômicas e pós-graduada em Matemática Financeira. Iniciada no candomblé em 1986, filha de Danguesu, neta de Saralandu, bisneta de Kianvulu e atualmente filha do Tumbalê Junçara-BA.
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imanente, a própria razão de ser do grupo, que se desenvolve, cresce e frutifica através das apertadas regras da consangüinidade e do parentesco. A conservação desta linha sucessória, sacralizada, assegura precisamente a continuidade indestrutível de atitudes, crenças, gestos e comportamentos. Em resumo, o Chefe é o sangue e o espírito dos antepassados, prolongamento e depósito comunicante do dinamismo vital, pessoa sagrada, responsável pela comunidade perante os antepassados, seu delegado por capacidade e eleição e sua encarnação, pois que, por intermédio dele, vivificam a comunidade. Por isso nele pode habitar algum antepassado, e muitos conservam a caveira do seu antecessor e as dos Chefes proeminentes, para que, magicamente, lhes conservem a vitalidade, pois que a cabeça é a parte mais sagrada do Chefe.
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NTÂNGU - Conceito de Tempo -Kambamenha 83 Lokula (lo) - A hora O Mukongo se serve do sol (ntângu) para fixar e ordenar seu tempo. Ele distingue a partir da posição do sol, das horas principais (lo biangudi), e das horas intermediárias ou secundárias lo biandwelo, (bianzâmbuka). Assim, existem oito horas no sistema Kôngo que é baseado no conceito cosmológico descrito no N’KONGO YE NZA YAKU-N’ZUNGIDILA: NZA KONGO (FU-KIAU, 1969). As quatro horas principais - lo biangudi, correspondem às quatro cores cósmicas principais e aos quatro pontos principais de marcação dessa cosmogonia. Isso aqui não é somente Kôngo mas, há muitos pontos de vista comum a todos os povos Bantu em particular e africanos em geral. A primeira hora principal é Nseluk’a ntângu ou mais simplesmente n’suka / nseluka (manhã/levantar). A nseluka é a hora correspondente à kala - ser, o símbolo da vitalidade (fogo) que reanima toda vida. A nseluka é a hora de reviver ku nseke, na comunidade do mundo acima, o mundo físico. É a hora onde o responsável da comunidade, o mfumudikanda, passa em revista todas as famílias - mabuta (plural de buta), para se assegurar de sua boa saúde e sobretudo, se elas estão bem acordadas, despertas com força sikama ye ngolo. Nseluka é também chamada a hora de meditação e de profecia pois ela une e separa o dia e a noite - bunda ye vambisa mwini ye futu. É a hora onde os membros da comunidade fazem visitas aos doentes (vûnga mbevo - visitar doentes). É a hora testemunha das atividades diurnas e noturnas. Nseluka é a hora de emergência à vida - lo kia nsensolo a biobio ku moyo. Notemos aqui ligeiramente que a palavra nsensolo, da raiz verbal sènsa - desenvolver-se, elevar-se a partir de um líquido, é uma palavra importante na linguagem simbólica Kôngo. A segunda hora principal do sistema horário Kôngo é a Ntângu - a - mbata ou Kunda, correspondente ao Tukula, o vermelho. É a hora de peso, de importância - lo kia dema, a hora densa quando tudo acontece. Toda vida busca refugio para escapar ao peso do tempo. É a hora do majestoso princípio de vida - lo kia n’kingu-nzâmbi , a hora do princípiodeus. É a hora simbólica da autoridade sagrada na comunidade, aquela do mfumu-dikanda e de todos os simbi bia nsi, os gênios sociais. É a hora do ”autocontrole”. Entre essas duas primeiras horas principais há a primeira hora secundária ; é a kinsâmina, Mayanama ou Ntângu-a-kedi. Kinsâmina ou Mayanama é a hora de pequeno sol, kinsâmina, quando os anciãos saem de sua casa para se oferecer ao pequeno sol yanama; é também a hora onde os coletores de nsamba - o soro, a seiva vegetal produto da palmeira de óleo, se encontram com seus clientes no sokolo. É o momento onde se bebe esse soro africano, único no mundo. Durante essa hora se rende homenagem aos ancestrais pelo ritual de Tafuna makazu com a noz de cola, kazu, que tem um papel importante. Em seguida as aldeias ficam quase desérticas porque cada um se entrega à sua tarefa do dia. Kinsâmina, em nossa tradição - kinkulu, era também, como ela é ainda hoje, a hora favorável para resolver as discussões ou todas as questões concernentes ao interesse da comunidade e de seus membros. A terceira hora principal do sistema horário Kôngo é a ndimina, o pôr do sol. Essa hora 83
Texto original em francês Autor - FU-KIAU -Tradução para o português - Valdina Pinto
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corresponde ao luvemba, da raiz verbal “vemba”, tornar-se cinzento (falam de cavalo), branquear, envelhecer, ser enfraquecido psiquicamente pelo fato de luvemba - elemento negativo causa da velhice e da morte psíquica. A luvemba é então ela mesma o símbolo da morte, quer dizer, de mudança. É a hora onde a natureza está abandonada às forças e princípios invisíveis que lhe insuflam uma nova vida para o dia seguinte. É também nesse momento que se abrem às portas de mpemba, o mundo dos ancestrais, para conduzir as almas dos mortos. É a hora onde todo mundo se encontra sob o abrigo comunitário na aldeia para partilhar a refeição do começo da noite n’lekolo (de leka - dormir), refeição que se opõe ao m’buluku (de buluka ; kika vumu - meter qualquer coisa como um calo pelo estômago) a refeição da manhã. Ndimina é a hora dos “masamuna, n’samuni” ou “n’tambikisi”- dos gritos e das grandes transmissões orais - “lo mu loguka tambula ye tambikisa mu kanda ye mu kinvuka “ (a hora de se adquirir essa arte de receber e transmitir na comunidade e na sociedade). Como nseluka, ndimina é também uma hora de mediação. Ndimina é a hora de submergência de tudo pela morte psíquica (lo kia ndiâmunu a biabio). Notemos aqui que as palavras ndimina e ndiâmunu, respectivamente de raízes verbais dimina e diâma submergir, descer sob a água - são palavras importantes na linguagem simbólica Kôngo. Nós retornaremos a esse assunto também. Entre a segunda e terceira horas principais há a segunda hora secundária, a nsinsa, m’ vèngo ou ntângu-malemba. A nsinsa ou malemba é a hora quando as instituições como Lemba terminam seu horário diário do kongo (aqui a palavra kongo significa lugar da instituição, chamada também kânga ou lônde) para recuperar, depois dessa vida esotérica de kânga (kôngo, lônde), a vida comum na comunidade. Mas é também a hora quando as entradas das aldeias devem ser abençoadas - lemba mafula ma vata, para evitar os perigos enquanto a comunidade dorme. É a hora quando os n’songi - coletores do nsâmba - soro vegetal, retornam de sua atividade, mu kwenda vutula mbele. Para os caçadores nkongo (não confundir com n’kôngo o habitante do país Kôngo), é a hora de n’kôndo, a caça individual. A quarta hora principal é a dingi-dingi ou n’dingu-a-nsi. A dingi-dingi é a hora que corresponde ao musoni (o amarelo). É o meio ku mpemba - o mundo de baixo (o mundo das profundezas, o mundo dos ancestrais). A dingi-dingi - da raiz verbal dinga e dingalala (buscar tudo estando calmo interiormente), é a hora dos mistérios insondáveis . Ela é considerada como o momento de grandes sonhos e de pensamentos profundos. É a hora da nsûsil’a simbi bia kanda kwa kanda (quando os membros da comunidade têm acesso através dos sonhos, aos dons geniais). É a hora do n’tu-tolo - o subconsciente; lit. a cabeça ativa no sono. O sentido literal da expressão “n’dingu-a-nsi” é “maneira de buscar o mundo”, o cosmos. Para aqueles que buscam (dinga) a kindoki (ciência) principalmente, n’dingu-a-nsi é a hora da plena e profunda atividade no silêncio (dinga mu dingalala). Porque a kindoki (ciência) operava e opera sobre as coisas profundas e num silêncio quase total, os biyinga - os não iniciados na matéria, têm uma certa desconfiança dela e a têm considerado finalmente, assim como a autoridade, como anti-comunitária, tal nos explica esse provérbio Kôngo: “Luyâlu ye kindoki m’vângi ye m’bungi mia kânda” - a autoridade e a ciência constroem e destroem a comunidade. A autoridade e a ciência, mesmo de nossos dias, como os Kôngo o tem exposto na sua filosofia, são os maiores fatores de construção e destruição da sociedade humana e do mundo no qual nós vivemos. Não é surpreendente que a terminologia “kindoki” tenha perdido seu sentido de Ciência. A experiência tem mostrado, mesmo em nossos dias, que as palavras de uma língua mudam os significados conforme as épocas, as atitudes dos dirigentes e seus efeitos sobre a vida comunitária. Por causa dos abusos dos políticos em certos países
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africanos, a palavra “política” tem perdido seu verdadeiro sentido depois da independência e se revestido de um sentido muito pejorativo. Para mais de 85% de africanos, a política, “poluka” como os Kongo a chamam, é a arte de enganar, de roubar e matar. Jamais um mukongo nos diria que a política, tal qual nós a vivemos hoje em África, seria sinônimo de seu conceito de kinzonzi. A autoridade e a ciência tornam-se prejudiciais à comunidade quando elas operam nas câmaras negras sem a participação comunitária. Trabalhar no n’dingu-a-nsi não quer dizer agir fora do plano de suas responsabilidades humanas e comunitárias, mas tentar descobrir, pela reflexão, aquilo que o homem ignora, para assegurar mais paz no mundo. Entre a terceira e quarta horas principais se acha a terceira hora secundária que é a maluma-tulu ou malu, hora do sono. A malu-ma-tulu é a hora em que cada indivíduo é tido como ser presente em seu aposento, ou no kiânzala (o pátio) ou no mbongi (cabana), a casa pública onde se discutem todas as questões de ordem política, religiosa, sócioeconômica, filosófica, diplomática, etc. Antes dessa hora, o mfumu-dikanda - chefe líder da comunidade, passa em revista todas as famílias da comunidade e pergunta a cada um se todos os seus membros (bièla) estão presentes. Do contrário ele ordena a seus “bilesi” (militantes) de conduzir imediatamente uma sindicância - dia matèmbo, langa. O chefe não poderá dormir antes de ter adquirido a certeza que o membro procurado se encontra bem na comunidade. Se o desaparecido não for encontrado depois do ndîlu a matèmbo, o chefe ordena então aos bindôkila, chamada de alarme lançada em todas as direções em torno da aldeia, “mafula ma vata”. Se os binomial não dão resposta o chefe se informa junto aos que viram o membro ausente por último durante a jornada - mwîni e da direção para a qual ele teria ido- lusunga lukatadisîngi. Esses indícios lhe permitem pedir à comunidade em última fase de ”kwika binga” (apanhar fogo) e ir através os campos e florestas, à procura do membro declarado desaparecido. Entre esse tempo o telegrafista - siki kia nkônko (tambikisi kia n’samu mu minika ye miningu) envia suas mensagens nas comunidades próximas e afastadas para lhes perguntar se não teriam visto “mbadio”- palavra utilizada, entre outras, para dizer um tal, X). Toda comunidade desde que consegue captar a mensagem é obrigada a responder por o kansi ka tumweni ko (quando não o viram) ou por va kaviôkele ou va kena, se o viram passar por ali ou se ele está ali. A arte de enviar os sinais e as mensagens é um dos mais perigosos em nossas tradições uma vez que pode custar a vida do telegrafista se a mensagem não é corretamente transmitida. Enviar uma mensagem que anuncia a morte de um chefe em lugar da gravidade de seu estado, por exemplo, seria um crime. Em tais circunstâncias o telegrafista é sofrível à pena capital: ser enterrado vivo antes de tendo de confessar publicamente os erros técnicos graves, que podem paralisar não somente a vida da comunidade mas também a de seus aliados. Entre a quarta e a primeira horas principais tem a quarta hora secundária, a makielo, também chamada makielo - ma - bwisi ou nkala mpumbu. Makielo é a hora dos emissários, dos mensageiros, das grandes viagens assim como aquela dos ataques e das guerras (lo kia mumbwila ye mvita). Ela é também considerada como a hora de saudar (aos doentes) na comunidade, de mvûngulu a bakindakana ye mbevo mu kanda ye zinga - visita aos doentes. É nesse momento aí que o mfumo-dikanda faz suas invocações matinais e ordena os ataques sociais - ta bibila - contra as comunidades (kanda) onde ele desposou mulheres. Freqüentemente essas bibila são acompanhadas dum grande número de instrumentos musicais - mpungi, ngôngi, vudinga, tânda, ngoma, bandi, nsiba, minsiele, etc. É a hora de bênçãos para certas comunidades mas também uma hora cheia de problemas e angústias para aqueles quando busi bia kanda - as irmãs da comunidade têm
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problemas sérios para elas próprias ou para suas crianças nas suas comunidades temporárias, onde elas vivem com seus maridos: doenças de crianças, infidelidade do marido, doença da mulher, tentativa de envenenamento do marido, etc. A comunidade permanente da mulher pode ser atacada por aquela de seu marido por uma dessas razões. É em tais circunstâncias que a kinzonzi kongo, sua dialética, nos fornece a informação da mais rica, dinâmica e viva, sobretudo na utilização da canção - n’kinga, do provérbio - nganga, do slogan - kumu, de comissões ou grupos de busca - mfûndu e da participação popular muito ativa. Makielo, é a hora testemunha do recomeço espiral do tempo e dos fenômenos naturais no curso de sua evolução permanente. A concepção de tempo-hora (lôkula), de tempoperíodo (tando) e do mundo (nza) seria impossível ao mukôngo como a todos os povos africanos sem esse conceito muito claro do sol, sua máquina-tempo.
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O Simbolismo da terra 84 Tata Giamba
O
simbolismo da terra em rituais está ligado a sua ocupação, sua ligação a pessoas, amimais, vegetais, mortos ancestrais e nkisi.
O solo assume um significado especial no simbolismo quanto a sua localização e sua cor em particular: preto, vermelho e branco, ou quando empapado por sangue de sacrifícios, vinho (aguardente) azeite (óleos) se despejados como invocações ou saudações ou com água depuradora. Lugares que são muito freqüentados são caracterizados por poderes especiais, as terras de estradas públicas, garfos (encruzilhadas) de estradas ou interseções.Outros exemplos campos de cultivo, matas, beiras de lagoas e rios e tumbas. Outros lugares de importância são as portas de uma casa, um ritual de agressão executado nesse local afetará a casa inteira seus moradores, por um outro lado um ato de benção que se usa essa terra integra a pessoa a comunidade (casa) como dará a benção a todos os moradores. Terra do portão de uma propriedade cercada especialmente é usada em rituais antifeitiços levada da parte de trás de uma casa tem uma relação ao morto e o nkisi, e é usado em rituais de cura e de reconciliação. Graças ao nkisi que vive lá, terra levada de uma pilha de adubo é usada para rituais que garantem fertilidade. A presença do morto soma poderes especiais para a terra que cobre uma tumba ou de um cemitério. Vários rituais fazem uso desta terra: a transferência de uma tumba, compensação para males cometidos, reconciliação, curando, proteção contra bruxas, liberdade de um pacto de sangue. Terra de uma colina de térmita ou do ninho de uma vespa pedreiro podem ter um papel importante. Porque térmitas são organizadas em um tipo de comunidade, eles simbolizam unidade e acordo. Terra de uma colina de térmita usa restabelece unidade então em uma casa. O ninho da vespa pedreiro é muito duro. Pode esconder uma pessoa de um feitiço ou um feiticeiro. Iniciando um aprendiz-curandeiro com terra vermelha (Lulua) 85 Esse ritual leva o nome Kowesha mwena manga mupia-mupia buloba bukunze busopa: “Cobrindo um estudante-curandeiro com terra vermelha.” é executado por um curandeiro que está levando um aprendiz debaixo da asa dele. Ele faz isto, dentro da cabana ritual dele, à noite, com vários sócios do presente de linhagem do aprendiz para a cerimônia. A pessoa que quer ser iniciado nas ofertas de profissão curativas uma galinha branca para o curandeiro, junto com uma soma de dinheiro. O iniciado, usando um embrulhar ao redor pano, entra na cabana ritual nos joelhos dele. O curandeiro põe uma panela ritual na frente dele para ele cuspir em. Com água preparada para purificação ritual, ele burrifica a face do aprendiz, feito e mãos, enquanto dizendo certas palavras. Então ele esfrega a terra lida no corpo iniciado. Ele diz: 84
Percebe-se, através da força simbólica dos rituais, a importância da terra para a cultura africana. Esta mesma importância será transferida para os rituais do congado através dos rituais de levantamento de mastro (nota do autor) 85 Informador: Tatu Kabwakashika, de Kalunga - Ba. B.
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“Tudi kumpala kuenu nuenu mikishi yani ne mwanetu eu udi usua kudienza mundapi. Ki nzolo mutoke eu, cilejelu cia butoke. Luayi kutudi pindieu bua kumaniayi ne nudi bilobo.” “Nós viemos antes de você, meu nkisi, com este irmão que quer se tornar um curandeiro. Aqui é uma galinha branca, símbolo de luz. Eu o convido a vir e nos ajudar em tudo nós fazemos, de forma que ele pode saber que você é os mais poderosos de nkisi.” O aprendiz permanecerá na cabana ritual durante uma semana sem ir fora. Ele comerá nada mais que arroz e bananas até que ele entrou na segunda fase do aprendizado dele durante o qual serão revelados os segredos da profissão a ele. O aprendiz dá uma galinha branca como um sinal da luz que lhe permite se tornar um curandeiro profissional. Ele entra na cabana ritual nos joelhos dele enfatizar a atitude dele de respeito. Cuspindo na panela ritual, ele indica a aceitação disposta dele das condições imposta nele pela profissão de curandeiro.O professor dele lhe burrifica a face, mãos e pés para adquirir liberdade de qualquer idéia de mal que o aprendiz pode ter ou qualquer pecado que ele possa ter cometido. Cobrindo o aprendiz com terra vermelha enfatiza o poder de um curandeiro contra bruxas. Terra levada do lugar de nascimento de uma pessoa. Esse ritual é chamado: Epei ontshung ele benka: “Pedindo para os antepassados poder interno.”é executado por alguém que está procurando poder, na casa velha onde ele nasceu. Um homem que está buscando para aumentar o poder dele leva um pouco de terra do lugar onde ele nasceu, e então embrulha alguns em um pano vermelho. Ele diz: “E djina le nu benka bie, vualie mekun ngaza lejwe ntwar zie emfeke ne bur me, mepe ver ya dree.” “No nome de todos meus antepassados, eu entrei levar um pouco de terra de meu lugar de nascimento para obter sorte boa e força.” Tendo dito isto, ele amarra o pano como uma bolsa. Levando um pouco de terra do local de nascimento da pessoa, a pessoa está buscando força interna adicional. Esfregando um pouco desta terra é um modo de adquirir esse poder para penetrar o corpo da pessoa. Libertando uma pessoa morta que está causando pesadelos (Lulua) 86 Esse ritual é chamado Kulaba eu udi umona nyuma wa tatwende mufwe buloba bukenze: “Esfregando terra vermelha em alguém que freqüentemente sonha com o pai morto” é executado à noite por um nganga na casa do cliente. O nganga pede pagamento na forma de uma galinha, um pacote de cigarros e uma soma de dinheiro. Começar com, o nganga oferece a mão dele ao cliente que cospe nela. Então ele tira a panela ritual dele, junto com uma solução feita de terra vermelha misturada com um pouco de água e outros ingredientes. Ele esfrega esta mistura então na cama do cliente, enquanto falando. O cliente lhe dá uma panela pequena e o nganga verte nisto 86
Informador: Tatu Kabale Mukoma, de Ntumba - wa de Basukuamba Bashipayi
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algumas das misturas. O paciente manterá isto a toda hora debaixo da cama dele. Nenhuma mulher é permitida tocar a panela ou varrer em sua vizinhança. O nganga diz: “Luaku buanga buani budi bundame. Bafue, bena mupongo ne tatu ukadi mufue bipacibue ne lukasa lonso. Ungenzeshe ne lukasa lonso.” “Nkisi de proteção, eu o convido a vir a minha ajuda. Persiga o morto para fora; persiga as bruxas fora, como também o defunto deste homem. Seja rápido em ajudar.” Os artigos pagos pelo cliente ao nganga são o preço da liberdade dele do homem morto que está o aborrecendo à noite. Cuspindo nas mãos do nganga que ele aceita a ajuda que é oferecida pelo nkisi do nganga. Terra vermelha esfregando na cama protege o homem de ser encantado. A pequena panela colocada debaixo da cama do cliente dará garantias que será protegido. O propósito de não tocar a panela é evitar diminuir seu poder. Terra vermelha simboliza o poder que afugenta os que estão causando os pesadelos. Escondendo pessoas da casa de feiticeiros com terra preta (Yansi) 87 Esse ritual é chamado Eziok men mpir abwey nzo nde sam woya baleok: “Enterrando terra preta na frente da casa da pessoa para esconder de feiticeiros.” É organizado por um especialista que tem poderes de contra feiticeiros. Esse ritual é feito à noite antes da família dormir. O especialista leva alguma sujeira das pegadas de cada um dos membros da família, e mistura isto com um pedaço de casca conhecido por seu poder contra feitiços , alguns dentes de serpente, e garra de gato. Ele queima tudo isto para fazer cinzas e assim obtém uma terra preta. Ele esfrega cada membro da família com esta terra, e então embrulha o resto e enterra isto no vão da porta da casa enquanto dizendo o seguinte : “Nze mwer baleok, kal kaka nde pa, muleok kaya sam ayun nde mu nzo ye, nde yiak yekamon ata nkie mutin.” “Feiticeiro fique aqui mesmo. Mais ninguém pode ver esta casa ou seus ocupantes.” A terra preta que ele prepara faz a casa invisível para feiticeiros. Os artigos que são queimados mantêm distante qualquer um que lançaria feitiços na família. Cada membro da família esfrega um pouco da terra preta para ser protegido de feiticeiros. Soprando terra branca no genro da pessoa 88 Esse ritual leva o nome Kopakil matot ma pembe aku mwan ange abakil monit kumoha siansi: “Dando terra branca ao genro da pessoa.” É executado por uma sogra que veio se reconciliar com o genro dela. Ela faz isto na presença de vários membros da linhagem, de manhã, em casa. Depois que um conflito estivesse resolvido entre uma sogra e o marido da filha dela, os 87 88
Informador: Tata Muani, de Makiey - Ta. M. Observação pessoal, a Kindele por Ngana Mulwa.
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objetos pegados anteriores um pouco de vinho de palma e uma quantidade pequena de terra branca. Ela sopra a terra branca para o genro dela, sem tocar o corpo dele. Os jogos posteriores abaixo uma moeda e um pouco de vinho de palma. Então a sogra aplica alguma da terra branca para o braço da filha dela. Ela diz: “Bukilu yo vandaka na matata na kati na mono ti nge, kansi awa ya mono kele losila nge lupembe yayi, mono mene vutula nge basiansi na nge yonso. Vanda mbote na mwana na mono ya nkento.” “O genro, houve alguns problemas entre nós, mas daqui em diante, agora que eu soprei esta terra de branco para você, eu lhe devolvo sua sorte boa. Maio você tem uma vida boa com minha filha.” Terra branca simboliza liberdade e o fim da raiva da sogra. O conflito entre o homem e a sogra dele resultou na remoção da sorte boa do par. Isto foi restabelecido agora a eles. Dando uma bênção a uma mulher divorciada 89 Esse ritual é conhecido pelo nome Opa mukar lepiem: “Dando terra branca a uma mulher divorciada.” é conduzido pelo chefe de linhagem do marido, na presença do chefe de linhagem da mulher como também dos pais dela e de vários notáveis da aldeia que estão lá como testemunha. Quando divórcio de um homem de uma mulher, esse ritual é organizado para garantir a liberdade da mulher divorciada, e assegurar que ela ainda poderá ser capaz de dar a luz a crianças. A linhagem principal junta um pouco de terra branca, lança isto no solo, e pede para o tio da mulher que caminhe nisto. Então ele leva um pouco mais daquela terra e esfrega isto à direita do braço da esposa do sobrinho dele que está agora divorciado dele. Ele diz: “Me ya ne nobo mabor mimakwa. Kaa mabak mudim ako ta mabor mako. Kena kie kebisal’oo, ne mate mabi matwok.” “De agora em diante, não há mais longo um matrimônio entre você e nós. Nós estamos divorciados. Se você acha outro marido, case. Você não tem nenhuma obrigação adicional para nós. Você foi livre dos nkisi de nossa linhagem”. Tendo dito isto, ele dá um pouco de terra branca ao chefe de linhagem da mulher divorciada. Terra branca garante a liberdade da mulher, e assegura que ela poderá ser capaz de dar a luz a crianças apesar do conflito que existiu entre ela e o marido anterior dela. Adquirindo a liberdade de um nkisi problemático 90 Esse ritual é conhecido pelo nome Ekir men mpir kentor nkier wo bapiri: “Esfregando terra preta na cesta de um nkisi o que será lançado fora .” É executado por mais velho dos netos em uma linhagem particular, na presença do que é responsável para os rituais daquela linhagem. É à noite, em um garfo em uma estrada que já é usada. 89 90
Observação pessoal, a Bunzili por Tayeye Mayanga. Informador: Tata Kiswama, de Kinkweni - Ta. M.
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O mais velho dos netos leva um pouco de terra preta, mistura isto com pimenta vermelha como também outras substâncias para as quais nkisi têm um repugno forte. Ele urina na terra preta, esfrega um pouco de pimenta vermelha nas palmas das mãos dele e então toca a cesta do nkisi. Ele cobre a terra preta na cesta, e então joga fora o nkisi na encruzilhada. Ele diz: “Nze nkier wo, nze kiala ngwa bobe mpila mway pa kekan bi, yiak iene bi se nzol mway ekal nze pa, lomamumpiri de nze de bi.” “nkisi, você causou muita dificuldade. Você não executou nenhum serviço útil na vida de nossa aldeia. Isto é por que nós estamos o jogando fora!” Terra preta simboliza rejeição. As pimentas vermelhas queimam o nkisi fora o que está sendo lançado. Um garfo velho em uma estrada que já é usada é um abismo para os minkisi que são lançados fora. Eles estão impossibilitados sair desse lugar para levar vingança. Terra preta usada para insultar o cadáver de uma pessoa má. 91 Esse ritual é chamado Ekir men mpir mbey muur mwim akwi: “Esfregando terra preta em uma feiticeira morta.” O perito ritual chamou Ngambuimi (o que neutraliza o poder de bruxas) para executar esse ritual. Ele faz assim na hora de enterro. O especialista mistura um pouco de terra preta com certos ingredientes (incluindo, entre outras coisas, o “gotas” de raio) e esfrega esta mistura no cadáver da feiticeira. Ele diz: “Nze muur wo, nze nsil ngakal ngwa bobe. Bi nze lokamunzol mway, yiak yen ndeak kwe lomamunzeok bi mpe mbwa. Akie nze lo, kabemek ayafiri ata nkie mutin!” “Você que morreu, você é uma pessoa má. Você era uma feiticeira entre nós. Nós não queremos ter qualquer coisa que ver com você. Isso é por que nós queremos que você tenha uma partida ruim de entre nós. Nunca volte a nós.” Terra preta impede o homem morto reintegrar na sua linhagem. Por estas palavras, a pessoa morta vem entender que ele não deve ser novamente renascido naquela linhagem. Neutralizando um feitiço. 92 Esse ritual leva o nome Oyob wo bape mwim o bense a manza mea nzil: “Lavando alguém que tem um feitiço com água misturada com terra levada de um caminho.” Um nganga executa o ritual à noite na própria casa dele. O nganga mistura terra levada de uma estrada pública junto com alguns dos elementos do nkisi Mifi. Ele verte um pouco de vinho de palma no nkisi e diz: “Mifi, ma mal, nwa. O zin ako, me atokoy muur wo o keyek a balok.” “nkisi Mifi, aqui é um pouco de vinho de palma para beber. Em seu 91 92
Informador: Tata Kapia, de Bandundu - Tango Muyay Informador: Tata Mulokol, de Matamba - Wendo Nguma
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nome eu disperso os poderes noturnos deste homem.” Tendo dito isto, ele põe a terra em uma bacia de água e lava o cliente dele. A terra levada de uma estrada pública ou caminho tem a habilidade a poder de neutralizar feitiçarias. Os ingredientes do nkisi Mifi dão um poder especial para a terra usada no ritual. Vertendo vinho de palma no nkisi, é reconhecido o poder do nkisi. Lavando o paciente com água misturaram com terra levada de uma estrada pública neutraliza o poder noturno do feiticeiro. Atraindo clientes com terra levada de uma interseção. 93 Esse ritual é chamado Mumbel: “Um feitiço para atrair clientes.”É realizado por alguém que vende vinho de palma, à noite, na casa dele. O vendedor de vinho obtém um pouco de terra de uma interseção, mistura isto com certos ingredientes que o dão controle em cima de outros, e coloca a mistura debaixo da mesa onde ele vende o vinho. Ele diz: “Mubel, dier mal, dier bewa a nkam kwem, dier bey. Ka ngwa kebinkebin ne ayok ndiak ame, men ma nsi me nga nkwazir nsi me onsina mesa ma ebel bar baya amp’oyem. Mal makal amp’opwo mu nzo ye, kok bar a bal bo bwoya baya o mbok ande me. Mankier anzo, ka be ayok ndiak ame, bela bar bwoya.” “feitiço Mumbel, aqui tem um pouco de vinho de palma, dinheiro, e uma noz de kola que eu estou lhe oferecendo. Se você realmente me ouve, pode a terra da interseção, misturada com outros ingredientes, e põe nesta pequena bolsa que eu coloquei debaixo da mesa, puxe os clientes para mim. Este vinho de palma não está vendendo, e que os que querem beber sejam atraídos aqui. Antepassados, se vocês me ouvem verdadeiramente, eu lhes peço que cumpram meu desejo.” Terra levada das encruzilhadas representa o nkisi como também o morto. Esta terra foi caminhada pelo morto e vivendo os seres humanos e assim contém um poder especial. Tem o poder para atrair os clientes e puxa tudo esses que poderiam querer ir a outro lugar. Esfregando terra de uma encruzilhada em alguém que é culpado de uma ofensa 94 Esse ritual é chamado Etsia ishia mazianya: “Retirando a vingança.” É executado pelo tio materno que guarda a cesta ritual feita para castigar alguém que é culpado de uma ofensa. É levado a cabo na presença do culpado, ou à noite ou a manhã do dia de Mpeka. Acontece numa encluzilhada onde que foram enterradas placentas de gêmeos. Antes de deixar a aldeia, o tio recebe um cabrito, algum dinheiro e um pedaço de pano vermelho pela pessoa culpada que está lhe pedindo que ouça a confissão dele. O tio que exerce o ritual usa o dinheiro e o pano para implorar a bênção dos gêmeos que vivem na aldeia. Além, ele coloca várias moedas nas cestas rituais usadas para oferecimentos receptores. 93 94
Informador: Tata Mukilampuyi, de Bongono - Sedeke Matatidi. Informador: Tata Osongo, de Bandundu - Bojanse Mpia
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Juntos, eles vão a uma encruzilhada. Lá, o tio faz um discurso, então enterra as moedas, amarra algumas tiras estreitas de pano vermelho a uma filial sacrifica o cabrito, e oferece seu sangue como um sacrifício. A carne do cabrito será dividida entre os membros da linhagem. O tio aplica um pouco de terra da encruzilhada na estrada no corpo do culpado em conclusão. Ele diz: “Nu benkera, neseyi vue nie mpen, ekaza latol obi buan. Nejwe nzem ya beshia, nedji ntaw emfeke nan.” “Os gêmeos, entregue este malfeitor. Ele confessou o pecado dele. Aqui tem algum dinheiro e um pedaço de pano que ele está lhe oferecendo. Coma este cabrito no lugar dele”. Dando o dinheiro e pano vermelho aos gêmeos faz lhe permite pleitear com eles retirar a vingança que infligiram. Coloca-se as moedas nos gêmeos em sinal de honra. Enterra as moedas na encruzilhada, e a súplica é feita ao nkisi sob quem a culpa foi dada. É aplicada a terra da encluzilhada ao corpo do culpado para entregar ao nkisi dos gêmeos. O cabrito é sacrificado, como um sacrifício no lugar da pessoa culpada que confessou o mal dele recentemente. Como eles compartilham a carne do cabrito sacrificado, todo o mundo regozija no fato que unidade foi restabelecida. A terra da encruzilhada representa o nkisi dos gêmeos.
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ADINKRA, UM TECIDO REPLETO DE SIMBOLOGIAS Adinkra é um pano cheio de desenhos, sendo que cada um deles representa um símbolo. Antigamente, esse tecido era usado por líderes espirituais e sacerdotes, em rituais secretos e cerimônias, como, por exemplo, nos funerais. Nos dias atuais, contudo, é encontrado em várias atividades sociais: casamentos, festas, festivais, cerimônias e rituais de iniciação, além do uso tradicional. Sua origem é associada aos povos de Asante (Ashanti) de Gana e aos povos da Costa do Marfim. Em épocas modernas, entretanto, os panos do adinkra são usados para uma escala larga de atividades sociais. Além dos tecidos, seus desenhistas criam acessórios para roupas, decoração de interiores, papéis diversos, capas de livros. Cada um dos símbolos tem um significado e um nome, formando um corpus de provérbios, eventos históricos, atitude humana, comportamento animal, vida de planta... Em sua totalidade, o simbolismo do adinkra é uma representação visual do pensamento social que relaciona a História, a filosofia e a opinião religiosa. A seguir, alguns dos símbolos mais usados, seus nomes, e seus significados simbólicos. 95 Nome
Simbolo
Significado
Ani bre a
ANI BRE A GYA ENSO (Não importa o quão sério de olhos vermelhos) um (torna-se, os olhos não acender chamas.) Símbolo da paciência, auto-contenção, autodisciplina e autocontrole. Prov. "Anibre a enso Gya".
Aban
ABAN (uma fortaleza ou uma casa de dois andares, associada a sede do governo), símbolo de força, sede do poder, autoridade e magnificência.
Adinkra HeNe
ou
Adinkra HeNe (Rei dos símbolos Adinkra) Símbolo de GRANDEZA, a prudência, firmeza e magnanimidade. Esse símbolo desempenha um papel inspirador de outros símbolos. Significa a importância do papel da liderança.
Agyinadawuru
AGYINADAWURU (O gong de Agyin o servo fiel do Rei). Símbolo da fidelidade, obediência ao dever e alerta.
Akoben
Akoben (trombeta, chifre da guerra – símbolo da vigilância e da cautela) Akoben é um chifre usado para soar um grito da batalha. Símbolo de uma Invocação a uma ação coletiva (chamada às armas), disponibilidade e voluntarismo.
Akofena
AKOFENA (Espadas/armas do estado) símbolo cerimonial (da autoridade do Estado, legitimidade, legalidade e ato heróico.
Akoko nan
Akoko NAN (pés de galinha) Símbolo de proteção e PARENTAL DISCIPLINA temperada com paciência, da misericórdia e ternura. Prov. "Akoko nan tia ne ba ba enkum na." (Se uma galinha pisa com seus filhos, isso não significa que matá-los).
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Disponível em http://www.ghana.gov.gh/visiting/culture/adinkra.php
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Nome
Simbolo
Akoma (o coração) Símbolo de amor, paciência, boa vontade, fidelidade, resistência e tolerância. Um ditado: "Nya Akoma". (Obter um coração - seja paciente). De acordo com Agbo, diz-se que uma pessoa que tem o coração em seu estômago é muito tolerante.
Akoma
Akoma ntoaso
Significado
ou
Akoma NTOASO (corações cobertos) Símbolo de união e unidade no pensamento e na ação, da compreensão e do acordo
Ananse ntontan
Ananse NTONTAN (A teia de aranha), símbolo da sabedoria, astúcia, criatividade e complexidades da vida.
Asase ye duru
ASASE YE DURU (A terra é muito pesada) Símbolo da Providência e da divindade da Mãe Terra. Prov."Asase duru se po-vos." (A terra é mais pesado do que o mar).
Aya
AYA símbolo de resistência, contra as dificuldades, força, perseverança independência, e desenvoltura.
Bese saka
BESE SAKA (Bando de nozes de cola) Símbolo da riqueza, POWER, abundância, união e unidade.
Kramo bone amma yeanhu kramo pa
KRAMO BONE AMMA YEANHU KRAMO PA (o mau torna difícil o bom ser notado) Símbolo de advertência contra decepção e hipocrisia.
Dame dame
DAME DAME (múltiplos quadrados do jogo de tabuleiro de damas) Símbolo da astúcia, inteligência e estratêgia.
Donno Ntoaso
Donno Ntoaso (casal ou se juntou) Símbolo da unidade da ação, alerta agilidade e louvor.
Dono
Dono (O tambor falante) Símbolo de, louvor, reputação e ritmo
Duafe
DUAFE (O pente de madeira), símbolo feminino de boas qualidades: paciência, prudência, carinho, amor e cuidado.
Dwenni mmen
DWENINI MMEN (chifres de Ram) símbolo de força (do, corpo, mente e alma) e humildade. Prov." Dwenini ye asisle a ode nakoma na ennye ne mmen ". (O carneiro pode intimidar, não com seus chifres, mas com seu coração.
Eban
EBAN símbolo de segurança e amor.
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Nome
Simbolo
Epa
Fafanto
Fie mmosea
Fihankra
Fofo
Funtummirekudenkyemmireku
Ou
Gye Nyame
Hwe um dua
Ou
Significado EPA algemas Símbolo da Lei e Justiça. Prov." Nea nepa da wonsa no na woye nakoa" (Você é o assunto, cujo algemas estão em suas mãos. FAFANTO (a borboleta), símbolo da ternura, gentileza, honestidade e fragilidade. Prov." Fafanto se nsa ni o, na aka ho sika ". (A borboleta pode ser vibrar em torno de um pote de vinho de palma, mas não vai beber, pois não têm dinheiro para comprar). FIE MMOSEA (motivos casa) Símbolo de precaução contra conflito doméstico, de luta e conflito interno. Prov. " Mmosea betwa wo nan mu a na efi fie ". (Se seus pés são cortados por seixos, eles tendem a ser as do composto de sua própria casa.) FIHANKRA (casa-composto)Típico da arquitetura de Asante, o com-posto comunitário da carcaça tem somente uma entrada e saída. Símbolo de segurança, fraternidade e solidariedade FOFO (sementes de uma planta) Símbolo de advertência contra ciúmes e cobiça. Prov. " Se nea fofo pe ne se gyinatwi abo bidie ". (Que a planta fofo sempre deseja é que as sementes da planta gyinatwi deve ficar escuro). 9. FUNTUMMIREKU-DENKYEMMIREKU (crocodilos siameses que partilham o mesmo estômago). Símbolo da unidade na diversidade e aviso contra brigas internas onde há um destino comum. Os crocodilos siameses compartilham um estômago, contudo lutam pelo alimento excedente. Esse símbolo popular lembra que as brigas, as disputas corpo-a-corpo são prejudiciais a todos os envolvidos. Prov. " Funtummireku-Denkyemmireku, wonafuru bom, nso wodidi a na wo pere so " (As duas cabeças que lutam por comida tem o mesmo estômago). Gye Nyame (exceto Deus) Símbolo da onipotência de Deus. Prov. " Abode santan yi firi tete, obi ntena ase nkosi n'awie, Gye Nyame ". (Esse grande panorama da criação remonta a tempos imemoriais, ninguém que viu seu começo vive, e ninguém viverá para ver seu fim. Exceto Deus). HWE MU DUA (vara de medição)Esse símbolo lembra a necessidade de lutar para uma melhor qualidade, seja na produção dos bens ou em esforços humanos. Símbolo de excelência, perfeição, conhecimento qualidade
Hye-wo-nhye
HYE-WO-NHYE símbolo de dureza, incorruptibilidade de si e do Chefe de Estado, e permanência.
Krapa ou Musuyide
KRAPA ou MUSUYIDE (Sorte ou santidade) símbolo de boa sorte, a santidade, bom espírito, força espiritual. Prov. " Krepa te se okra, okyiri fi. " (A santidade é como um gato, detesta sujeira).
Kuntunkantan
KUNTUNKANTAN (orgulho), símbolo do estado de orgulho e uma advertência contra o egocentrismo.
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Tcharles Avner
Nome
Simbolo
Significado
Kuronti NE Acuamu
KURONTI NE Acuamu (Os dois ramos complementares do Estado), símbolo da democracia, dualidade da essência da vida, interdependência e cortesia. Prov. " Ti koro nko agyina. ". (Uma cabeça não constituem um conselho ou uma cabeça não constitui um júri).
Kurumah kese
KURUMAH Kese (O okro grande.) Símbolo da grandeza e superioridade.
Kwatakye ou Gyawu atiko
KWATAKYE ou GYAWU ATIKO (um estilo de cabelo especial de Kwatakye, o herói de guerra) do símbolo de bravura, coragem e valentia.
Mate masie
MATE MASIE (Eu guardei o que eu ouvi) Símbolo de sabedoria e conhecimento. O significado do símbolo é “eu compreendo”. Compreender significa a sabedoria e o conhecimento, mas representa também a prudência de analisar o que uma outra pessoa fez.
Mframmadan
MFRAMMADAN (A casa construída para suportar o vento forte) Símbolo da fortaleza, a preparação, segurança social, excelência e elegância.
Mmra krado
45. MMRA KRADO (O fechamento ou selo da lei) símbolo da autoridade, legalidade, legitimidade e poder do tribunal de justiça
Mpatapow
MPATAPOW (Um nó de reconciliação e de paz), mostra um complexo ou um nó sabedoria. Um símbolo da reconciliação, pacificação.
Mpuannum
MPUANNUM (Um estilo de cabelo fivetuft tradicional dos atendentes Reis) Símbolo da Lealdade e destreza.
N ya me Biribi wo soro
N YA ME Biribi WO SORO (Deus há algo no céu), símbolo de esperança e aspiração. Prov. " Nyame birbi wo soro na ma mensa nka ". (Deus há algo no céu, deixe-me chegar a ele.)
Nkonsonkonson
NKONSONKONSON (A corrente) símbolo da unidade, interdependência, fraternidade e cooperação. Lembra que todos devem contribuir com a comunidade, já que a unidade fortalece.
Nkontimsefo mpua
NKOTIMSEFO MPUA (O estilo do cabelo de funcionários do tribunal) Símbolo de serviço e lealdade. Com base na margem de cerimonial de atendentes da casa real.
Nkyimkyim
NKYIMKYIM ( torções) símbolo de tenacidade, da iniciativa, do dinamismo e da versatilidade, capacidade de adaptação, devoção ao serviço e capacidade de suportar adversidades.
Nkyimu
NKYIMU (divisões cruzadas feitas em pano antes de imprimir) Símbolo de precisão e destreza.
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Nome
Simbolo
Significado NSAA (Um cobertor tecido a mão.) símbolo de excelência, genuinidade e autenticidade. Prov." Nea onnim Nsaa na oto n ago " (Aquele que não consegue ser autêntico compra coisas falsas). NSOROMMA (Estrela, criança do firmamento) símbolo de lealdade ao Ser Supremo e fé. Prov. " Oba Nyankonsoromma te Nyame so na onte ne ho so " (Como a estrela é filha do Ser Supremo, eu dependo de Deus e não de mim). Um lembrete de que deus é o pai e olha por todos nós
Nsaa
Nsoromma
Nyame dua
Nyame DUA (da árvore de Deus) ou (altar de Deus), símbolo da presença de Deus e proteção de Deus.
Nyame nwu na Mawu
Nyame NWU NA Mawu (Deus nunca morre, logo eu não posso morrer) símbolo da onisciência e onipresença de Deus e do infinito do alma humana e também da antiguidade. Significa a imortalidade da alma do homem, por ser uma parte do deus. A alma descansa com o deus após a morte, por isso não pode morrer.
Ou
Nyame nti
Nyame NTI (Desde que Deus existe), mostra as folhas no pé. Símbolo da Fé e confiança em Deus. Prov. " Nyame Nti, menwe wura. (Uma vez que Deus existe, não se alimentam de folhas).
Nyansapow
NYANSAPOW (Nó da Sabedoria) símbolo da sabedoria, talento, inteligência e paciência. Prov." Nyasapow, yede nyasa na esane ". (É o sábio que desata o nó da sabedoria).
Obi nka bi
OBI NKA BI (não mordam uns aos outros) A imagem estilizada de dois peixes tentando morder uns aos outros pela cauda. Um símbolo de advertência contra ataques pelas costas e também a defesa de harmonia, paz, união e, perdão.
Odenkyem
ODENKYEM (Crocodilo) símbolo de decoro e prudência. Prov. " Odenkyem da nsuo mu nso ohome mframma". (O crocodilo vive na água, no entanto, respira o ar e não água).
Odo nyera fie kwan
ODO NYERA FIE KWAN (O amor não se perde no seu caminho para casa), símbolo do amor, devoção e fé. Prov. " Odo nyera ne fie kwan" (o Amor ilumina o seu próprio caminho, mas nunca se perde em seu caminho para casa).
Ohene Aniwa
Ohene Aniwa (Os olhos do rei), símbolo de vigilância, proteção, segurança e exelência. Prov." Ohene aniwa twa ne ho hyia ". (Os olhos do rei estão ao seu redor.)
Ohene tuo
Ohene TUO (a arma do rei) Sigla, proteção, defesa e poder.
Okodee mmowere
OKODEE MMOWERE (As garras da águia), símbolo de força, bravura e poder. Com base na natureza e comportamento da Águia.
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Tcharles Avner
Nome
Simbolo
Osram
Osram ne nsromma
Owo foro adobe
Ou
Significado OSRAM (A lua) Símbolo da fé, paciência e determinação. Prov. "Osram mfiti preko ntware oman". (A lua não volta para a nação (o mundo) ela apenas passa (às pressas). OSRAM NE NSROMMA (A lua e as estrelas).Símbolo da fidelidade, amor, harmonia, carinho, lealdade, benevolência, essência feminina da vida. Prov. "Kyekye pe aware" (Kyekye ele North Pole Star tem um profundo amor para o casamento. Ela está sempre no céu esperando o retorno da lua, seu marido). OWO FORO ADOBE (serpente que escala a árvore de raffia) Por causa de seus espinhos, a árvore de raffia é um desafio muito perigoso para a serpente. Sua habilidade ao escalá-la é um modelo da persistência e da prudência. Símbolo de engenho, e o desempenho de um feito extraordinário. Com base no ato de uma engenhosa cobra subir uma palmeira ráfia acidentada.
Pagya
PAGYA (Gun kirk pó) Símbolo de coragem, de defesa e poder.
Pempamsie
PEMPAMSIE (Estar em prontidão - estar preparado) Símbolo de prontidão, a firmeza, a dureza, Valor e destemor.
Sankofa
Sankofa (voltar para buscar, o retorno e o recomeço) Símbolo da sabedoria da importância da aprendizagem do passado.Aprendendo com o passado para construir o futuro. Prov. "Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi". (Não é um tabu para voltar e recuperar se você esquecer.)
Ou
Se ne tekrema
SE NE TEKREMA (Os dentes e a língua) símbolo do crescimento e interdependência.
Sepow
SEPOW (O punhal ou faca de execução) símbolo da justiça, punição e tribunal.
Sesa woruban
SESA WORUBAN (eu mudo ou transformo minha vida) Esse símbolo combina dois símbolos separados do adinkra, “a estrela da manhã”, que pode significar um novo começo para o dia e que, colocada dentro da roda, representa rotação ou movimento independente.
Sunsum
SUNSUM (a alma) Símbolo da pureza espiritual e santidade da alma.
Tabono
TABONO símbolo da confiança,força e persistência.
Tamfoa Bebre
TAMFOA BEBRE (o inimigo é cozido em seu próprio suco) Símbolo da importância da aprendizagem do passado.
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Nome Wawa aba
Simbolo
Significado WAWA ABA (Sementes da árvore wawa) Símbolo de rusticidade, tenacidade e perseverança. Dizendo: "Oye den se wawa aba". (Ele é tão resistente como a semente da árvore de wawa.)
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LENDAS ANGOLA
N
o campo das lendas e das crenças populares, muito embora se determine a origem, de acordo com a forma coletada, essa origem, não deve de forma alguma ser considerada como absolutamente segura. Existe a possibilidade de erro, e uma porcentagem difícil de avaliar, e por um sem número de razões:
Primeiro porque as linhas étnicas negras em Angola, tem duas únicas origens – Bantus e Mukuankalas – que se dividiram, migraram, e por fim se radicaram, adquirindo novos costumes e até modificando a língua, mas conservando princípios e tradições comuns. Como a base de toda tradição das culturas negras, é oral, uma lenda ou crença atribuída a um povo, pode perfeitamente ter origem mais antiga, e ser comum a povos que, há séculos, nada mais tem em comum. Segundo, em séculos de guerras, domínios e hegemonias de uns de outros, capturas e conquistas, vassalagens e escravatura, é obvio que em toda tradição oral das tribos, houve influencias externa, mistura de tradições, o que torna também difícil, determinar com segurança total, que uma lenda coletada num determinado povo, não tenha tido origem num outro, e entrando nesse povo por influência do segundo. Terceiro, porque mesmo em povos que não dominaram nem foram dominados, o simples contato entre eles, em movimentos migratórios, ou simples incursões de viagem, tomando contato com a tradição oral de parte a parte, pode ter levado alguns povos e absorver lendas e crenças que, ou pelo conteúdo heróico, ou por qualquer outro motivo os tenha sensibilizado. Quarto, mas não menos importante que os motivos acima, foi a influência dos missionários. Num número grande de lendas, se encontraram pontos comuns com histórias Bíblicas, histórias religiosas da origem do mundo e dos homens etc... Enfim, as religiões ocidentais influenciaram de forma mais que indelével as crenças Africanas
A ORIGEM DA MORTE – GANGUELA
A
lua enviou um inseto aos homens, para que lhes dissesse que, assim como ele inseto morria e renascia, do mesmo jeito aconteceria com os homens. Parando para descansar perto de um riacho, da longa viagem, o inseto foi pego por um sapo, que lhe perguntou quem era ele, e de que tipo de missão havia sido encarregado pela lua.
O inseto contou ao sapo, e este, alegando ser mais ágil, pois podia pular, e pulando chegaria mais rápido, propôs-se substituir o inseto na missão. Foi, chegou ao lugar onde viviam os homens, e falou que fora enviado pela lua, para informa-lhes que, do mesmo jeito que ele sapo iria morrer e não renasceria, da mesma forma aconteceria com os homens. Depois viajou pulando até a lua, e contou-lhe como havia interferido e deturpado a mensagem que inicialmente a lua havia dado ao inseto, para que esse a transmitisse aos homens.
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A lua ficou furiosa, pegou um porrete e bateu com ele na cabeça do sapo, que ficou achatada até hoje, e até hoje, o sapo não consegue emitir sons harmoniosos, mas sim o coxear feio e lamentoso. Mas os homens ficaram acreditando nisso até hoje; acreditam que morrem, e o espírito deles fica vivo, mas não renasce mais.
COMO O CACHORRO FICOU AMIGO DO HOMEM - LUXAZE Há muitos anos atrás, no tempo em que os seres vivos eram todos amigos, o Cachorro e o Mabeco viviam juntos, caçavam e dividiam a comida, e se davam muito bem. Começou uma época ruim, de dificuldades de caça para todos os animais; a fome era geral, e os Mabecos e os Cachorros, mesmo andando e procurando muito, não conseguiam arranjar comida, e a fome foi ficando pior. Um dia, tendo saído para caçar, depois de muito andar sem encontrar nada, cansados e desanimados, passaram por uma aldeia de homens, que estavam comendo. Pararam a uma certa distancia, vendo aqueles homens comendo e desperdiçando comida, com muita carne secando por toda parte, e eles sem nada. O Cachorro falou então para o Mabeco: • Vamos lá, ficamos pertos, e se sobrar alguma comida, eles nos dão. O Mabeco não concordou. • Não, a comida esta escassa para todos, se os homens nos virem, vão achar que queremos a comida deles, e vão nos fazer mal. • Com tanta comida assim, eles não vão fazer-nos mal não, só se eles tivessem pouca comida. E assim decidido, o cachorro foi-se aproximando devagar dos homens, enquanto o Mabeco ficava parado no mesmo lugar. Os homens, quando viram o cachorro perto e olhando a comida, jogaram para ele os restos, que o Cachorro comeu. O Cachorro chamou o Mabeco, mas ele não quis vir. E assim o Cachorro foi ficando, e passou a morar com os homens, a quem por gratidão, ajuda na caça, localizando e farejando os bichos que o homem persegue. O Mabeco nunca de aproximou por isso até hoje vive longe dos homens, e ficou com raiva do cachorro.
O RATO (OMUKO) E O COELHO (CANDIMBA) – UMBUNDO O rato andava passeando pela floresta, quando passou pela casa do Coelho, e como não tinha ninguém por perto, resolveu entrar. Entrou, viu tudo, achou que era uma casa muito confortável e bem localizada, e resolveu que queria aquela casa para ele. Entretanto o Coelho chegou, viu o rastro de pegadas no chão entrando pela casa dele, e resolveu perguntar quem estava lá dentro.
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“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
O rato respondeu que era o homem, que enfrentava o Leão ( O'Simba ), matava a Pacaça / Búfalo ( O'Nuani ), e derrotava o Elefante ( O' Jamba ). O Coelho ficou com medo de enfrentar tão poderoso invasor, afastou-se triste, e encontrou o Mabeco, que lhe perguntou o porque de tanta tristeza. O Coelho contou e pediu ajuda ao Mabeco, que foi até à casa do Coelho, perguntou quem estava lá, e o rato respondeu a mesma coisa que havia falado para o Coelho. O Mabeco, com medo foi embora. O Coelho inconformado foi procurar o Leopardo, procurou e acabou por encontra-lo descansando ao sol numas pedras altas. Depois de escutar a historia do Coelho, o Leopardo, tentando ajudar, foi à casa do Coelho perguntar quem estava lá, e com a resposta, afastou-se temereso. O Coelho foi então procurar os bichos mais fortes e poderosos da floresta Africana, o Leão, a Pacaça, o Elefante, e todo aconteceu como das vezes anteriores, todos ficavam com medo de enfrentar o homem. Procurou depois os mais espertos e ágeis, foi ao Macaco, ao Kawita e aos Golungos, sempre com o mesmo resultado desanimador para ele. Desistiu, e desanimado e sem qualquer esperança de recuperar a sua casa, foi chorar debaixo de um Imbondeiro. Aí apareceu o Gato do Mato, que sem saber de nada, se espantou de ver o Coelho em tamanha tristeza; logo ele, sempre tão alegre, e quis saber a razão do choro. O Gato, a par da situação, foi à casa do Coelho mas, em vez de perguntar alguma coisa, farejou, viu que não era o homem, entrou lá e matou o Rato. Por isso, até hoje, onde tem um Gato, os Ratos não ficam nem por perto.
SABEDORIA DO MUNDO – LUBA No principio do mundo, quando as coisas ainda não estavam distribuídas, e todos os seres vivos pegavam e se serviam do que precisavam, uma Coruja, decidiu pegar todo a sabedoria do mundo, e guardar numa cabaça, para que todos os animais dependessem dela, e tivessem que a consultar, todas as vezes que precisassem tomar uma decisão inteligente. Mas, com medo de que a cabaça pudesse ser roubada, ou encontrada por alguém enquanto ela estivesse dormindo, caçando ou comendo, e que o bicho que a encontrasse se apoderasse de tão precioso tesouro, achou melhor a fazer seria esconder a cabaça no alto de um galho, de uma arvore bem grande. Pendurou a cabaça no pescoço e levantou vôo, mas nessa posição a cabeça ficava muito levantada, olhando para o alto, e ela não podia assim aproximar-se, nem calcular adequadamente o pouso no galho que havia escolhido. Mesmo para pousar no solo de novo, ela teve dificuldade e acabou se machucando. Pensou em como resolver o seu problema, e resolveu pegar a cabaça com as garras; levantou vôo de novo, e desta vez podia movimentar a cabaça à vontade, mas, com a cabaça segura peãs garras, não conseguia fixar-se ao galho.
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Desistiu, e voltou ao solo, sem ter uma solução satisfatória para o problema. Nesse meio tempo, os bichos foram se reunindo, para ver o que a coruja pretendia com aquela manobra, e riam divertidos, com as seguidas dificuldades. Foi então que o Gavião, aconselhou a Coruja a colocar a cabaça às costas, pois assim, não só teria liberdade de movimentos com o pescoço, mas ficaria também com as garras livres, para poder se segurar no galho. Foi então que a Coruja concluiu que, apesar de ter a cabaça cheia de conhecimentos e sabedoria, tinha ainda muita coisa para aprender, e não era possível nem justo, um só bicho guardar todos os conhecimentos do mundo. Colocou então a cabaça às costas, alçou vôo, foi o mais alto que conseguia, e soltou a cabaça, que caiu e se quebrou de encontro ao solo, espalhando toda a sabedoria nela contida, por uma grande área. Assim procurando bem, todos podem pegar um pouco de sabedoria, todos dependendo assim de todos, e quando não houver mais sabedoria a ser recolhida, ela estará contido na união de todos o bicho. Por essa atitude, de espalhar a sabedoria por todos, a coruja até hoje, é considerada o mais sábio de todos os animais.
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“MOÇAMBIQUE PEDE LICENÇA”- História, Costumes e Tradições nas Contas do Rosário em Betim
“MISSA SOLENE” Texto da Ordem Templária da Coroa de Santo Antônio de Pádua A o iniciarmos estas considerações, é importante observar que a celebração da Missa, como ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente ordenado, é o centro de toda a vida cristã, para a Igreja Católica como ideal, e também para cada um dos fiéis. No entanto, a Igreja não deseja impor na Liturgia uma forma rígida e única no que diz respeito à fé ou ao bem comum de toda a comunidade. Antes, cultiva e desenvolve os valores e os dotes de espírito das várias nações e povos. Reconhecendo que do ponto de vista pastoral, nosso povo é atendido insuficientemente ou até de modo inadequado, - seja por causa das grandes distâncias, seja pela escassez ou má distribuição dos ministros, seja pelo tipo de pastoral ou de liturgia adotados nesses contatos, propõe-se, como solução, uma pastoral que não procure apenas oferecer alguns serviços ao povo, mas caminhe com o povo e, salva a unidade do Rito Romano, dê-se lugar a legítimas variações e adaptações para os diversos grupos, regiões e povos, revestidas pelos símbolos próprios que têm em conta os meios culturais, sociais e até mesmo raciais diversos. Em comunhão com o ardente desejo da Igreja de que todos os fiéis sejam levados a uma plena, cônscia e ativa participação das celebrações eucarísticas, a Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e de Santo Antônio de Pádua, representadas em diversas paróquias de nossa Arquidiocese por seu Trono Coroado e seus Capitães, Vassalos e Dançantes, buscou desenvolver um rito que atendesse também às suas necessidades e que, mais tarde, viria a ser conhecido como ‘Missa Solene do Congo’. Sendo assim, denomina-se ‘Missa do Congo’ àquela Celebração Eucarística que tem a participação de membros da Irmandade do Rosário (Guardas, Ternos, Cortes ou Bandas) de forma ativa na Liturgia, seja executando suas ‘marchas’ (hinos de louvor ao som de antigos instrumentos de percussão), seja realizando ritos expressivos demonstrativos de sua fé inabalável, tudo obedecendo a uma tradição de quase três séculos de existência. O texto aqui apresentado por S.M. Rei Perpétuo da Ordem Templária da Cruz de Santo Antônio de Lisboa, Dr. Manoel Fonseca dos Reis, e por seu fiel Guardião Mor de Coroa, José Maciel Júnior, foi estabelecido após anos de pesquisa observando o desenvolvimento e evolução de todos os rituais da Irmandade do Rosário, agrupando-os e adaptando-os para a Liturgia estabelecida pela Igreja Católica Apostólica Romana em consonância com os documentos da CNBB, do Concilio Vaticano II, ‘Constituzione Conciliare Sacrosantum Concilium sulla sacra Liturgia’, e de acordo com os ditames da Sagrada Congregação para o Culto Divino. Esse texto foi básico para a preparação das celebrações do I0 Centenário do Batalhão de Polícia Militar em Belo Horizonte presididas por Dom Serafim Fernandes de Araújo, naquela época Arcebispo Metropolitano. Em seguida, diversas celebrações de Missas Congos dentro de outros Reinados existentes em nossa Capital, bem como no interior, o tiveram como básico para suas Celebrações Eucarísticas. Nosso objetivo é facilitar para os Irmãos ao organizarem festas e jubileus a preparação e a celebração da ‘Missa do Congo’; onde sejam respeitados tanto os documentos oficiais da Igreja quanto os valores de nossa comunidade, suas tradições de religiosidade e piedade de caráter espontâneo.
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Para uma boa preparação da Celebração Eucarística, chamamos a atenção para alguns pontos básicos a serem observados: 1) Ao contatar ou convidar o celebrante para a ‘Missa do Congo’: a) Certificar de que ele possui conhecimento dos documentos oficiais do Concilio Vaticano II (Constituzione Conciliare Sacrosantum Concilium Sulla Sacra Liturgia), da Sagrada Congregação para o Culto Divino (Instrução Geral sobre o Missal Romano), da CNBB (de modo especial o ‘Diretório para Missas com Grupos Populares’), e das orientações do Setor da Dimensão Litúrgica da CNBB; b) Certificar de que o celebrante possui conhecimento mínimo a respeito das tradições religiosa de caráter espontâneo de nosso povo lembrando-o, caso seja necessário, de que por ser estrangeiro àquela gente, trabalhadores rurais, operários e assalariados urbanos que exercem profissão de reduzida qualificação, os valores locais e regionais podem ser diversos daqueles com os quais está habituado, seja devido à sua origem, seja diante da mentalidade lógica e dialética formada no seminário; isso sob pena de não compreender a manifestação de seus traços culturais nem ser compreendido pelas pessoas; c) Lembrar ao celebrante de que deve compreender que os membros de fileiras do Rosário, constituem um povo simples que, em sua maioria, não possui cultura letrada e vive de uma cultura própria e espontânea; que religiosamente, o povo do Rosário tem um lastro de crenças que não as procura justificar racionalmente: viveas de modo prático, emocional e intuitivo; que no relacionamento com o Clero, limita-se a receber o que se lhe dá, sem, em sua maioria, saber ao menos explicitar o que possui como riqueza própria na sua religiosidade natural, herdada de seus ancestrais. d) Lembrar ao celebrante de que sua passagem por aquela comunidade, provavelmente em caráter missionário, é por curto espaço de tempo por isso devese tomar o cuidado de não transformar a celebração do louvor a Deus e a oração tradicional daquela comunidade numa série de instruções didáticas, áridas e intelectuais, devendo deixar ao final tudo em paz, tal como encontrou ao chegar ali. e) O Celebrante deve estar imerso no Espírito Santo e em Sua sabedoria para reconhecer e valorizar a fé espontânea dessas pessoas que, às vezes, erra pensando estar agradando aos céus, mas isto porque, do ponto de vista pastoral, é atendido insuficientemente ou de modo inadequado. 2) Na escolha do dia e hora, atenda-se à conveniência do povo e a data na qual tradicionalmente é realizada tal celebração; isso contribuirá para que o maior número de pessoas possa estar presente à celebração. Ordinariamente, para estas celebrações, necessita-se de mais tempo. 3) Quanto ao local, mesmo que ordinariamente se utilize uma igreja ou capela, em certos casos poderá ser preferível outro recinto mais apropriado. Os critérios para a escolha do local mais conveniente são as circunstâncias peculiares em que vive a comunidade e as melhores condições para escutar a Palavra de Deus e celebrar a Eucaristia (Cf. IGMR 253 e DMCr. 26). Também é importante observar no caso de construção de igrejas ou locais de celebração, tenha-se em conta o estilo de vida da gente simples e procure-se assegurar a devida liberdade de uso por parte de todos os membros da comunidade, sem fazer concessões aos interesses de grupos ou pessoas. 4) Queremos lembrar que em uma Celebração Litúrgica para Guardas e Ternos do
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Rosário é importante valorizar o que eles possuem de tradicional e não dar lugar à nossa preferência, ainda que ‘para nós o que temos ou sabemos pareça ser melhor’. 5) Devemos lembrar que, em história recente, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário foi duramente castigada com uma perseguição encabeçada por nosso falecido Bispo Dom Antônio dos Santos Cabral, obrigando os ‘Congadeiros’ e ‘Moçambiqueiros’ buscarem refúgio em outras religiões e, até mesmo seitas, a fim de não deixarem morrer sua tradição e sua fé; Ao retornarem ao seio de nossa Igreja, já sob orientação pastoral de Dom João de Resende Costa e, do Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo ainda não conseguiram esquecer por completo o grande período do exílio e as tristes marcar deixadas em suas almas. •
Lembrar que com o tempo em contato com outros credos religiosos foi inevitável o sincretismo entre estes que fugiam e aqueles que acolhiam e, mais ainda, foi selada uma grande amizade entre eles;
•
Em conseqüência, certamente serão encontrados irmãos de outros credos religiosos em meio às fileiras do Rosário, observando o rito Católico com o máximo de respeito e piedade, e por isso devem ser respeitados e incentivados a percorrerem o caminho devocional rumo aos braços de Jesus através de sua Mãe Maria Santíssima... quem sabe um dia, agora com nosso apoio fraterno e com a Luz do Divino Espírito Santo, eles se convertam e peçam seu Batismo em nossa Igreja;
•
Todos, sem exceção, são devotos da Santíssima Virgem e cumprem seu voto de homenageá-la no decorrer de todos os anos de sua vida, durante o ano inteiro, debaixo de sol ou chuva, sob o título de Nossa Senhora Rainha do Santo Rosário; e não admitirão, seja da parte de quem quer que seja, falta de respeito para com o Nome de sua Mãe Misericordiosa, podendo, inclusive chegar, a qualquer hora ou lugar, a extremos em sua defesa;
•
Todos os Irmãos do Rosário sabem que as graças, bênçãos e milagres são emanadas diretamente do Pai Celestial em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas preferem submeterem-se à intercessão da Virgem permanecendo cobertos por seu Manto Sagrado.
É necessário esclarecer que o modo de cantar e dançar do Irmão do Rosário, embora alegre e rico em evoluções e gestos não tem, em momento algum, função lúdica ou profana; são formas espontâneas de rezar, venerar e adorar desenvolvendo-se dentro do respeito máximo e de um clima religioso embora não convencional. Devemos lembrar que, segundo declara a Igreja, o canto faz parte necessária e integrante da liturgia solene e que o canto popular religioso deve ser inteligentemente incentivado, de modo que os fiéis possam cantar nos piedosos e sagrados exercícios e nas próprias ações litúrgicas; e na Instrução Geral sobre o Missal Romano se diz: "Dê-se grande valor ao uso do canto nas celebrações, tendo em vista a índole dos povos e as possibilidades de cada assembléia" (IGMR 19). A fim de sustentar o canto e nutrir a meditação da comunidade a Igreja incentiva a utilização de toda sorte de instrumentos musicais disponível em cada local e condizentes com o espírito da liturgia, tais como violão, sanfona, flauta, pandeiro atabaque, maraca etc. (Cf. MS 55)
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Quanto às marchas (cânticos executados pelas Guardas e Ternos) a serem usadas na celebração, lembramos que deve ser consultado, previamente, junto ao Capitão Regente quais Marchas são conhecidas, quais são as mais apropriadas para cada momento da Liturgia e quais eles gostariam de cantar; •
Um pouco antes da execução da Marcha alguém da coordenação deve alertar discretamente ao Capitão que é chegada a hora dele cantar; e no momento de sua execução anunciar que tal Guarda, de tal lugar, executará tal hino.
O Trono Coroado (Príncipes, Reis) alta hierarquia da Irmandade, são coroados não em função de valores ou riquezas pessoais; são penitentes em cumprimento de promessas que, em sua maioria, duram a vida toda. Cada Coroa representa um Santo da Corte Celeste, e tão grande é o respeito que os Irmãos do Rosário nutrem por estes penitentesperegrinos que, quando de posse de seus símbolos (coroa, capa e cetro) passam a ser tratados como se o próprio Santo Padroeiro estivesse ali junto a ele; Por ser uma celebração solene em honra da Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo é também demorada, se tomarmos como padrão o habitual de nossa celebração eucarística dominical (para o Irmão do Rosário todo dia é dia de Nossa Senhora e sua celebração inicia-se ao romper da primeira aurora e vai ao último suspiro do dia), portanto aconselhamos a fim de serem evitados o cansaço e a dispersão: •
Não cantar nem o ‘Hino de Louvor’ (Glória), nem o ‘Santo, Santo, Santo...’;
•
Haver apenas uma ‘Leitura’ seguida da aclamação ao ‘Evangelho’;
•
Na ‘Homilia’, buscar a aplicação das Escrituras à realidade dos Irmãos do Rosário, deixando claro a ‘alegria da Igreja ao vê-los unidos à Maria no Sacrifício Eucarístico’; convém que se tome a forma de diálogo, em que os fiéis sejam convidados a dar depoimentos, contar fatos da vida, expressar suas reflexões, sugerir aplicações concretas da Palavra de Deus;
•
Antes das Guardas e Ternos ‘tocarem juntas’, como é o caso do ‘Bendito’, esclarecer que o ‘sentido da unidade litúrgica não tem o mesmo sentido de uniformidade de gestos e ritmos’;
•
No ‘Abraço da Paz’, o Celebrante deve dirigir-se somente aos Reis, observando a Hierarquia das Coroas;
•
No momento do ‘Ofertório’, quando houver ‘Entrega das Coroas’ (rito próprio de descoroar os Reis em humilde reconhecimento de que só Cristo Jesus é Senhor e Rei) observar que as coroas são objetos sagrados para os Irmãos do Rosário (uma vez que são símbolos de seus Santos Padroeiros) e não devem ser manipuladas por Ministros, Acólitos, etc.; para tal fim existem os Capitães de Coroa; e, ainda, ao colocá-las em mesa lateral ao altar da celebração não se deve amontoá-las ou misturá-las; ao entrega-las a seus dignitários, após a ‘Comunhão’ procurar anunciar o nome do Santo e nunca o nome do Rei.
•
Como últimas recomendações lembramos que é terminantemente proibido:
•
A publicidade ou destaque de políticos ou seus partidos nesta Celebração; as únicas autoridades reconhecidas são: o Celebrante e o Trono Coroado; e os dignitários de homenagens são a Trindade Celestial, a Virgem Maria e os Santos da Corte Celeste;
•
É da mesma forma proibido o uso de bebidas alcoólicas por membros fardados e cigarros dentro das ‘fileiras’;
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•
É recomendada cobrança de fardamentos completos, limpos e bem passados.
•
Sendo verificado algum caso contrariando essa ordem esse deve ser imediatamente comunicado ao Rei Congo ou ao Presidente da Guarda, que são hierarquicamente competentes, e esse tomarão as providências necessárias para seu desfardamento imediato e sua suspensão das fileiras no caso de reincidência.
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