Vivencias da mineira idade

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Este Projeto é de autoria do Instituto da Memória e do Patrimônio Histórico e Cultural em Parceria com o Grupo Pirandello

Todos os Direitos Reservados

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Projeto VivĂŞncias da Mineira Idade


“Vivências da MineiraIdade”

VIVÊNCIA DA MINEIRA IDADE PRESERVAÇÃO DAS TRADIÇÕES

O

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A

patrimônio imaterial, uma de nossas maiores heranças e o maior legado que podemos deixar para as futuras gerações, se constitui em uma recente categorização de bens culturais caracterizada segundo a UNESCO (2003) como: “(...) as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.”

"Vivências da Mineira Idade" é um projeto que terá a missão de preservar, valorizar e divulgar as manifestações das tradições populares de Minas e ajudar na preservação e proteção dos nossos "modos de pensar", "modos de fazer" e "modos de viver" como difusor de uma identidade cultural da sociedade mineira. Terá por finalidade contribuir com o resgate e a preservação da cultura e das tradições, em busca de descobertas e a elevação crescente do espírito do ser humano; além de contribuir para o pleno exercício dos direitos culturais do cidadão.

O Projeto Vivências da Mineira Idade ajudará a levar uma sólida base de cultura e tradicionalismo, uma vez que dedica-se exclusivamente à tradição e à cultura popular mineira, visando sempre unir a cultura com a questão social e comunitária. È uma questão de valorização de nossa identidade através de nossa memória.

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

A definição de “memória” (do latim memorïs) é a faculdade de lembrar e conservar estados de consciência passados e tudo quanto a eles está relacionado. Para Santo Agostinho, a coisa começa com uma frase: “eu me lembro de mim mesmo”. Para um escritor, a memória é “o dom de fazer aparecer o passado”. Para Pedro Nava, um dos maiores memorialistas de nossa língua, a memória tem ainda outra função. Diz ele que a memória é o elemento básico da tradição familiar. Vamos ouvi-lo: “A memória dos que envelhecem (e que transmite aos filhos, aos sobrinhos, aos netos, a lembrança de pequenos fatos que tecem a vida de cada indivíduo e do grupo com que ele estabelece contatos, correlações, aproximações, antagonismos, afeições, repulsas e ódios) é o elemento básico na construção da tradição familiar. Esse folclore jorra e vai vivendo do contato do moço com o velho – porque só este sabe que existiu, em determinada ocasião, o indivíduo cujo conhecimento pessoal não valia nada, mas cuja evocação é uma esmagadora oportunidade poética. Só o velho sabe daquele vizinho de sua avó sem lembrança nos outros e sem rastro na terra – mas que ele pode suscitar de repente (como o mágico que abre a caixa dos mistérios) na cor dos bigodes, no corte do paletó, na morrinha do fumo, no ranger das botinas de elástico, no andar, no pigarro e no jeito – para o menino que está escutando e vai prolongar por mais cinqüenta, mais sessenta anos, a lembrança que lhe chega, não como coisa morta, mas viva qual flor toda olorosa e colorida, límpida e nítida e flagrante como um fato presente. E com o evocado vem o mistério das associações trazendo a rua, as casas antigas, outro jardim, outros homens, fatos pretéritos, toda a camada da vida de que o vizinho era parte inseparável e que também renasce quando ele revive – porque um e outro são condições recíprocas. Costumes do avô, responsos da avó, receitas de comida, crenças, canções, superstições familiares duram e são passadas adiante nas palestras

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“Vivências da MineiraIdade” depois do jantar; nas das tardes de calor, nas varandas que escurecem; nas dos dias de batizado, de casamento, de velório. (Ah ! as conversas vertiginosas e inimitáveis dos velórios esquentadas a café forte e vinho-do-porto – enquanto os defuntos se regelam e começam a ser esquecidos…)”. Portanto, como nos fala HORTA & PRIORI a memória humana é a memória de alguém e dotada de um sentimento definido por um nome próprio e pelo limite entre a pessoa e o mundo exterior. Para cada pessoa, sua memória tem duas faces. A priori se refere ao Eu, mas, também, ao olhar que a pessoa tem sobre si mesma. Por isso, ninguém pode ser privado de memória sem ser despossuído de identidade. Sem memória, uma pessoa não se reconhece. Ela se despedaça... Deixa de existir.

Porque trabalhar com a memória do que somos como grupo? Neste sentido, toda pessoa é memória, embora, não seja, apenas, memória. As lembranças que podemos invocar à vontade ou os restos registrados de nossas experiências vividas são a matéria-prima da memória humana. Por sua natureza factual, a memória retém prioritariamente aquilo que interrompe a monotonia habitual, o que se afasta da rotina, surpreendendo e impressionando. Mas, ela é, também, herdeira da percepção de nossos sentidos, bem como de nossa imaginação – de nossos sonhos e ilusões. Os dados destas

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial experiências formam o que poderíamos descrever como um contínuo de fatos descontínuos. Mesmo dependendo da percepção, a memória humana é sempre seletiva. Pois a percepção humana não é apenas uma simples gravação. Ela resulta da junção entre a capacidade de perceber e o indivíduo que percebe e é, também, inseparável de um filtro afetivo que por sua vez é modelado pelo social e pelo mundo em que está inserida a memória. Este mundo que ela apreende possui certa estrutura e ela não pode ser separada do pensamento, das crenças, das atitudes interiorizadas pelo indivíduo ao longo de sua socialização. Isto tudo, afinal, é parte de sua própria identidade. Eis porque, em cada quadro social, cada indivíduo percebe a memória de uma maneira; ele o faz inconscientemente, selecionando elementos do mundo que o cerca, em função de suas necessidades, de suas preocupações, de suas curiosidades e também em função da própria força destes elementos. Alguns se impondo ou apagando os demais. Assim sendo, tanto a memória quanto a percepção conferem implicitamente, a cada elemento, um valor. Valor, diga-se, gravado segundo sua importância para o indivíduo que percebe e memoriza. Desta forma, a memória coletiva tornou-se objeto de preocupação dos Estados que fizeram dela um instrumento nas escolas, nas cerimônias, nos museus e mesmo nos nomes de ruas. A nacionalização da memória coletiva e a sua transmissão pelo Estado são fatos importantes de nossa história. Nos últimos cinqüenta anos, uma revolução das mídias, possível graças à revolução científica dos séculos XVII e XVIII, multiplicou instrumentos de observação e medida. A fotografia, a fonografia, o cinema, o rádio, a televisão, o vídeo criaram conjuntamente uma nova memória coletiva, objetivada sob a forma de imagens, discos, filmes, fitas magnéticas, cassetes acessíveis a um público crescente. Essa revolução dos meios de comunicação permite reavivar o passado, revendo cenas, ouvindo sons, conferindo ao passado uma dimensão sensível. É um novo tipo de memória que se sobrepõem à memória escrita, assim como essa se sobrepôs à memória oral.

Como já admoestou Jacques Le Goff: “A memória não busca salvar o passado para servir ao presente e ao futuro”. Ela deve ser uma liberação e não uma escravidão, como por vezes se vê. Toda a memória humana é, como já foi dito, memória de alguém. Memória de alguém que muda e se transforma. Ao mudar, buscando uma identidade variável, tanto o indivíduo quanto sua memória constroem “uma identidade narrativa” O historiador Pierre Nora definiu como “lugares de memória” os locais materiais ou imateriais nos quais se encarnam ou cristalizam as memórias de uma nação, e onde se cruzam memórias pessoais, familiares e de grupo: monumentos, uma igreja, um sabor, uma bandeira, uma árvore centenária podem constituir-se em “lugares de memória”, como espelhos nos quais, simbolicamente, um grupo social ou um povo se “reconhece” e se “identifica”, mesmo que de maneira fragmentada. Estes “lugares”, ou “suportes” da memória coletiva funcionam como “detonadores” de uma seqüência de imagens, idéias, sensações, sentimentos e vivências individuais e de grupo, num processo de “revivenciamento”, ou de “reconhecimento”, das experiências coletivas, que têm o poder de servir como substância aglutinante entre os membros do grupo, garantindo-lhes o sentimento de “pertença” e de “identidade”, a consciência de si mesmos e dos outros que compartilham essas vivências.

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“Vivências da MineiraIdade” Portanto é nesse sentido que o projeto “Vivencias da Mineira Idade” procura transformar nossas memórias coletivas em vivências individuais e em grupo para então re-significá-las e fortalecê-las novamente naquilo que nos faz cada vez mais mineiros.

Metodologia

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ste Projeto é formado por vivências em oficinas que remetem de alguma forma à cultura e identidade mineira como: Oratórios,Bandeiras, Rosários, Danças, Gastronomia e Artesanato.

Através do Patrimônio cultural imaterial (ou patrimônio cultural intangível) que abrange as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras como: os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas e danças populares, lendas, músicas, costumes e outras tradições. a) Formas de Expressão: Formas não-lingüísticas de comunicação associadas a determinado grupo social ou região, desenvolvidas por atores sociais reconhecidos pela comunidade e em relação às quais o costume define normas, expectativas e padrões de qualidade. Trata-se da apreensão das performances culturais de grupos sociais (manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas). b) Celebrações: Ocasiões diferenciadas de sociabilidade – atividades que participam fortemente da produção de sentidos específicos de lugar e de território, nas quais se incluem os principais ritos e festividades associados à religiosidade, à civilidade e aos ciclos do calendário. c) Ofícios e Modos de Fazer: atividades desenvolvidas por atores sociais reconhecidos como conhecedores de técnicas e de matérias-primas que identifiquem um grupo social ou uma localidade. Refere-se aos conhecimentos tradicionais associados à produção de objetos e/ou prestação de serviços que tenham sentidos práticos ou rituais. Trata-se da apreensão dos modos de fazer que se relacionam com a identidade de grupos sociais. d) Lugares: Lugares que possuem sentido cultural diferenciado para a população local. São espaços apropriados por práticas e atividades de naturezas variadas, tanto cotidianas quanto excepcionais, tanto vernáculas quanto oficiais.

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial Modos de Pensar - Saberes Oficinas de Religiosidade Popular a. Oficina de Oratórios b. Oficina de Estandartes c. Oficina de Rosários

Modos de Viver a. Oficina de Danças Mineiras b. Oficina de Ritmos Mineiros

Modos fazer a. Oficina de Gastronomia b. Oficina de Artesanato 1. Utilitário 2. Decorativo 3. Religioso

Enquanto saberes locais, costumes, modos de viver e fazer dos grupos, se enraízam e se reconstroem nos espaços a que pertencem, nas relações afetivas, nas experiências vivenciadas e nas memórias dos grupos que as mantém.

Caso deseje mais informações, favor contatar o Sr. Marcelo Luiz (031 9619-5077)

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Programa de Resgate da MemĂľria e do PatrimĂ´nio Imaterial

Modos de Pensar da MineiraIdade

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Modos de Pensar Porque Religiosidade?

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ão estaríamos errados em dizer que o principal traço cultural do Mineiro é sua religiosidade. Religiosidade demonstrada nos nomes das cidade, bairros ou ruas como: Santa Luzia, Santana, São Luiz, Dom Bosco, N. S. das Graças, N. S. Aparecida, Bom Jesus etc. A cultura mineira é permeada pela religiosidade popular. Comum à América Latina, a forte presença da Igreja Católica na formação social e cultural da região influenciou a constituição ideológica da população local. Dessa forma, comportamentos, ideias, concepções de mundo e ações sociais são legitimadas por princípios e práticas teológicas incrustadas no tecido social. Por isso é fundamental perceber a religiosidade do mundo português, não como adjetivação mas como substantivação do seu modo de ser e, nela, descobrir o lugar do rei, da nobreza, do clero, do mercador, do soldado, do colono, do escravo, do índio, todos irmanados num único corpo social. Descobrir-se-á uma outra compreensão de ordem e de subordinação, de hierarquia e de submissão, vincados na presença atuante do divino, que tudo dispõe, a despeito da diversidade de posições, se fazendo princípio de ordenamento social. Com isso é possível observar a relação existente entre a religiosidade popular e a constituição de valores sociais, éticos e ideológicos. A religiosidade popular não é um mero acervo histórico-cultural, mas sim expressão de vida. É um reflexo da ação das pessoas. Está circunscrita no cotidiano, na repetição, nas permanências e singularidades. Histórias, contos, hinos, poesias

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trazem a lembrança dos santos para o dia-a-dia. Na verdade, em todas as expressões populares há um jogo de construção e reconstrução, na dialética do tempo curto e do tempo longo (Cf. VOVELLE, 1987). Isso ocorre na uniformidade e na diversidade das manifestações religiosas como consequência das múltiplas temporalidades e dos múltiplos sujeitos. Além disso, a religiosidade popular guarda um aspecto vivido de união, partilhado com os vizinhos, os amigos, a família. Este intercâmbio constitui uma

de suas características onde o povo partilha com o outro suas emoções, esperanças, dores e fé, pois “com Deus existindo tudo tem força”. Entendimento dos valores humanos e da fraternidade. Portando buscar o modo de pensar do mineiro em seus aspectos religiosos é perceber que a religiosidade faz parte da cultura a qual os indivíduos se identificam, dessa forma, suas ações, reflexões, valores, moral, ética e expectativa de futuro são “repletas” dessa religiosidade.


Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Oficina de Oratórios

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Descrição do Projeto – Oficina de Oratórios

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ssa Vivência busca, através de um objeto que pode ser construído tanto a partir de uma estética erudita quanto popular, perceber aspectos culturais da mineiridade a partir de sua religiosidade. Essa religiosidade é observada através da quantidade de igrejas existentes em suas cidades coloniais. A religiosidade mineira é um aspecto preponderante da cultura mineira e pode se vivenciado através da construção de oratórios simples com materiais como o papelão, através dos canto-poemas das manifestações populares como o congado. Esta oficina busca, acima de tudo dar ao participante a oportunidade de experienciar essa cultura entranhada nas montanhas de Minas através do fazer (oratório), e do saber (cantos/musica) criando assim um espaço para o viver.

Partindo do conceito do trabalho que era feito pelos antigos habitantes das Minas Gerais vemos o uso dos “Cantos de Trabalho” nos afazeres diversos. O trabalho, por mais simples ou mais pesado que seja, faz-se melhor se ritmado ao som de uma cantiga. Desde as singelas canções de ninar até os exaustivos labores de quebrar ou carregar pedras - tudo se fazia acompanhado de cantos, quase sempre para suavizar o trabalho. Infelizmente com a mecanização do trabalho os cantos de trabalho vão-se perdendo, ou já se perderam, na memória de todos, extinguindo-se e - o que é mais triste - morrendo sem possibilidade de ressurreição. Outrora, no entanto, quase todo o trabalho se fazia a cantar, desde o aprendizado do abecê e da tabuada nas escolas, até o esforço muscular no transporte de fardos ou no deslocamento e quebra de blocos nas pedreiras. Cantava-se nos engenhos, nos teares, nas colheitas; cantavam os canoeiros, remando; e os ferreiros batendo a forja; cantavam também os carregadores de pianos e as donas de casa nos afazeres domésticos. São várias músicas que tiveram essa função entre elas podemos citar:

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Peneirei fubá

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u mandei vim da Bahia Duas tesouras de ouro Uma pra cortar ciúme Outra pra cortar namoro Ai ai ai, foi ela quem me deixou Ai ai ai, porque não me tem amor Peneirei fubá Fuba caiu Eu tornei peneirá Fuba sumiu Ai ai ai, foi ela quem me deixou Ai ai ai, porque não me tem amor

Eu joguei meu lenço branco Na porta do cemitério Se não for para casar Chatear também não quero Ai ai ai, foi ela quem me deixou Ai ai ai, porque não me tem amor Peneirei fubá… As estrelas do céu correm Eu também quero correr Uma corre atrás da outra

Eu atrás do bem querer Ai ai ai, foi ela quem me deixou Ai ai ai, porque não me tem amor Peneirei fubá… Eu joguei meu barco n’água Carregado de fulô Não tem coisa mais bonita Que os oios do meu amô Ai ai ai, foi ela quem me deixou Ai ai ai, porque não me tem amor

Semente de Mandioca Tem uma semente de mandioca Que aqui ninguém tem dela Ei, vá! Cai fora

Na minha roda, mandioca não rela.

Eu tava forrando a cama A cama pro meu amor Deu um vento na roseira A cama se encheu de flor Leva eu saudade Sim, me leva, eu vou

Eu tava forrando a cama...

Eu vou ralá Eu vou ralá Mandioca, eu vou ralá

Eu vou ralá

Leva eu Saudade

O meu amor foi embora No caminho se assentou Se eu soubesse onde era Mandava plantar fulo Leva eu saudade Sim, me leva, eu vou

Se eu soubesse que tu vinhas Fazia o dia maior Dava um nó na fita verde Prendia um raio do sol Leva eu saudade Sim, me leva, eu vou Eu tava forrando a cama... A saudade é que me trás Da grossura de um linha Se não fosse a saudade

Eu não era tão fininha Leva eu saudade Sim, me leva, eu vou Eu tava forrando a cama... Canta o galo e rompe o dia Cai o sereno no chão Eu também quero cair Dentro do teu coração Leva eu saudade Sim, me leva, eu vou Eu tava forrando a cama...

Coqueiro Verde Coqueiro verde Tomba, mas não cai A moça que se casa Oi, não namora mais. Se ela namorar O coqueiro tomba e cai Tava cozendo na porta A linha soltando nó

Se quiser falar comigo Venha hoje que eu to só Coqueiro verde... Meu anel de sete pedras Me custou mil e quinhentos Quando eu boto ele no dedo Não me falta casamento

Coqueiro verde... Eu subi no céu e vi Perguntei a Nossa Senhora Se namoro for pecado Eita, eu peco é toda hora Coqueiro verde...

É no balanço da peneira É no balanço da peneira Eu vou peneirá É no balanço da peneira

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Eu vou peneirá Penera, penera Caia fubá

Penera, penera Caia fubá


Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Eu vou Queimar Carvão Eu vou queimar carvão Quero ver carvão queimar Eu danço com você até poeira levantar Eu vou queimar carvão Quero ver carvão queimar Eu danço com você até poeira levantar

Um lencinho de cajá

Quem me dera, dera, dera Quem me dera, dera, já Eu ganhar do meu amor

Eu vou queimar carvão...

Quem me dera, dera, dera Uma chuva bem fininha Pra molhar a sua cama E você dormir na minha

Quem me dera, dera, dera

Eu vou queimar carvão...

Eu vou queimar carvão... Quem me dera, dera, dera Quem me dera pra mim só Eu deitar na sua cama E cobrir com seu lençol

Quem me dera só pra mim Eu ganhar do meu amor Um galhinho de jasmim Eu vou queimar carvão...

O besouro é preto, ô danado O besouro é preto, ô danado Ele é bem pretinho, ô danado Chuleia o besouro, ô danado Bem chuleadinho, ô danado

Chora danado Chora danado Chora danado, chora

O cabo da vassoura cai O cabo da vassoura cai (deixa cair) O cabo da vassoura cai (deixa cair)

O cabo da vassoura cai (deixa cair) E a casa não se varre mais

Adeus ferro de engomar Vendi minha agulhinha Emprestei o meu dedal So falta eu vender Meu ferrinho de engomar Adeus goma, adeus goma Adeus ferro de engomar Adeus goma, adeus goma Adeus ferro de engomar Tirei minha aliança Botei na ponta da mesa Quem quiser casar comigo Não repare minha pobreza

Adeus goma, adeus goma...

Adeus goma, adeus goma...

Amanha eu vou-me embora To mentindo, não vou não Se eu tivesse de ir embora Eu não tava aqui mais não

Essa casa é de paia Merecia ser de teia Pois a dona dessa casa É bonita, não é feia

Adeus goma, adeus goma...

Adeus goma, adeus goma...

Fui na horta panhá coentro Panhei gái de alevante Pra rezer pro meu benzinho Que tá cheio de quebrante

Vendi minha agulhinha Emprestei o meu dedal So falta eu vender Meu ferrinho de engomar

Mandei caiá Mandei caiá meu sobrado Mandei, mandei, mandei

Mandei caiá meu sobrado Caiá de amarelo

Senhora Santana Senhora Santana ao redor do mundo Aonde ela passava, deixava uma fonte Quando os anjos passam bebem água dela Ô que água tão doce, ô Senhora

tão bela

sentia

Encontrei Maria na beira do rio Lavando os paninhos do seu bento “fio”

Calai, meu menino. Calai, meu amor Que a faca que corta, não dá “tai” sem dor

Maria lavava, José estendia O menino chorava do frio que

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“Vivências da MineiraIdade”

Justificativa

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m todo o país, especialmente em Minas, a religiosidade e a cultura popular estão impregnadas de influências europeias, ameríndias e africanas que necessitam ser mais bem conhecidas e discutidas.

A religiosidade mineira tem sido objeto de diversas pesquisas. Pioneiro, no estudo da história, cultura e religiosidade mineiras José Ferreira Carrato chamou a atenção para a relevância do tema, e a leitura de sua obra construiu-se como indispensável àqueles que se interessam pelo assunto.

A forte religiosidade católica dos colonos portugueses ainda predomina entre a população mineira, que tem uma das maiores porcentagens de seguidores do catolicismo no Brasil. Nossa cultura popular é muito rica e diversificada, embora pouco estudada e documentada. Temos interesse em vivenciar aspectos históricos, sócio-antropológicos e outros das práticas culturais em torno da religiosidade e sua memória, identidade, patrimônio cultural, cultura imaterial, turismo e outros. Espera-se a troca de experiências nos aspectos das relações entre religiosidade e das práticas culturais. Desta forma, a forte influência da igreja católica enquanto instituição de poder durante o período colonial brasileiro, fez com que as normas oficiais de culto acabassem por se fundir nas crenças e práticas populares, num rico movimento de cultural. A religião é uma forma de expressão cultural de homens e mulheres, condicionada por suas condições de vida. Assim, a religiosidade teve um papel importantíssimo na formação da identidade mineira e na sua construção cultural, tanto material, quanto imaterial, hoje nota-se claramente essa influência nos patrimônios culturais, festas, mitos, ritos etc. Um desses objetos que refletem essa faceta da cultura mineira é o oratório, pequenos retábulos de uso particular que têm sua origem nos primórdios da Idade Média. Esses utensílios religiosos chegaram à Colônia pelas mãos do colonizador português e se espalharam pelas fazendas, senzalas e residências, tornando-se parte do cotidiano brasileiro. Inicialmente, a capela concebida para o rei – na época acreditava-se que ele possuía dons divinos – era o local adequado para se fazer orações. Ao longo do tempo, essas capelas evoluíram para o uso particular e passaram a ser freqüentadas por associações leigas. Inspirando-se nos costumes da realeza, as famílias mais abastadas também passaram a possuir seus próprios altares. Esse costume acabou por se estender até o povo. Revela-se, a partir de então, o desejo de posse de relíquias ou outros objetos de piedade que conferiam aos seus donos segurança e intimidade com o mundo do sagrado. A partir daí, as imagens pintadas, esculpidas ou xilogravadas de santos protetores

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial proliferaram-se. Muitas vezes, foram guardadas em pequenos altares, buscando-se conferir um ambiente propício para orações e celebrações. Mas porque a religiosidade como ponto de partida para uma vivencia da Mineiridade? Porque o mineiro se envolve de mistérios. Suas respostas nunca são conclusivas, taxativas ou definitivas. Em seus diálogos, sempre resta o espaço sagrado para a negociação. "O mistério faz parte da vida, como o faz o cigarro de palha, (...), a conversinha fiada das vendas(...)" e "o sorriso é a grande arma do mineiro. Não sendo homem violento, suas armas não são de ferro. São de espírito". E por isso a grande característica do mineiro, principalmente o mineiro que habita pequenas cidades e os grotões do Estado, é sua religiosidade, talvez o seu maior traço de sociabilidade conhecida, por transformá-lo em um ponto de consenso, de convergência, onde a dignidade tanto pessoal quanto da comunidade está submetida à crença religiosa. Podemos ver isso em rituais como a “molhação do pé do cruzeiro” quando em estiagens longas e a plantação periga ao sol, a molhação do pé do cruzeiro, normalmente fincado em outeiros em propriedades rurais, se faz diariamente. Essa molhação tem o nome de "aguar o pé do cruzeiro" e consiste de uma pequena procissão, onde mulheres e crianças carregam bilhas, cabaças ou garrafas d'água, na hora mais escaldante do dia, para serem derramadas no tronco da cruz, em um ritual dolorido de subir o morro, às vezes de joelhos, cantando canções. Além disso, a religiosidade do mineiro é expressa nos seus diálogos cotidianos. Ao fazer visitas, depois dos cumprimentos do visitante, o visitado, para mostrar seu contentamento em recebê-lo, fala efusivo: graças a Deus, a gente vai bem, ou: graças à Nossa Senhora Aparecida e à Virgem Maria... As mesmas expressões são correntes ao longo do diálogo e ao se despedir são mais efusivos ainda: que Nossa Senhora da Guia te acompanhe; vai com Deus e Nossa Senhora e assim por diante. O curioso do mineiro, é que para cada ação do homem, ele usa o santo certo, padroeiro dessa ação. Assim, em viagens, o santo é São Cristóvão, em tempos de tempestades, os santos são: São Gerônimo e Santa Bárbara; ao dar a luz, a santa que fica encarregada de conduzir a mão da parteira ou do médico, é a Nossa Senhora do Bom Parto; problemas nos olhos, quem cuida é Santa Luzia, entre muitos outros santos com funções específicas no mundo dos humanos, que o mineiro não se faz de rogado, ao conclamá-los para cumprirem suas funções terrenas. Essa super valorização da religiosidade é inerente ao mineiro. Sugere um leque de atitudes medievalisadas, registradas na memória e indeléveis para os mais velhos. Contudo, com o tempo e a insistência dos meios modernos de comunicação, tende a se modificar ou a cair no esquecimento. È nosso dever preservar nossa memória e nossa identidade. O mineiro faz sua história, nova e revigorada e, surpreendentemente, vivenciada e como dizia Halbwalchs: “Não é a história apreendida, é na história vivida que apóia nossa memória”.

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“Vivências da MineiraIdade”

Objetivos: • Despertar a necessidade de uma visão mais ampla em relação as tradições mineiras, ampliando assim seus laços afetivos com o outro em prol de uma sociedade mais fraterna, que perceba as diferenças de ritos nas diversas tradições religiosas. • Conhecer na diversidade cultural, a mesma importância e igual sentido que cada crença tem na formação cultural de uma sociedade. • Valorizar a identidade cultural mineira.

Cronograma de Execução Tempo Tempo Decorrido 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17.

Apresentação Introdução Histórico dos Oratórios Cantos de Trabalho ou Congado Distribuição dos kits Colagem do Teto Colagem do piso Pintura do nicho Cantos de Trabalho ou Congado Enfeite do interior Colagem da frente Pintura da frente Cantos de Trabalho ou Congado Enfeite da frente Confecção da coroa de rosas Colagem da Coroa de rosas Colagem da imagem

Orçamento para oficina de Oratório para 30 participantes Os valores da oficina podem ser executados de 2 formas distintas

Custo total do executante MATERIAL ‐ OFICINA DE ORATORIOS (30 kits com material de consumo) e material para execução MAO DE OBRA OFICINEIROS DESLOCAMENTO MATERIAL DIDATICO* TOTAL Neste caso o executante providenciará todo o material de consumo e permanente, sendo que a sobra de material será entregue ao cliente.

Custo parcial (material permanente e material de consumo) do cliente MATERIAL ‐ OFICINA DE ORATORIOS MÃO DE OBRA OFICINEIROS MATERIAL DIDATICO* TOTAL Neste caso o cliente providenciará todo o material (de acordo com lista anexa) a ser usado na oficina ficando a cargo da executante apenas a realização da oficina com o material a ser providenciado pelo cliente. *O valor do material didático (apostila) descrito aqui é para 30 apostilas em cópia monocromática, caso o cliente

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial queira a apostila colorida o custo unitário passa a ser de R$18,56.

Lista de Material MATERIAL MATERIAL DE CONSUMO

UNIDADE

QUANTIDADE

Cola de Silicone Papelão panamá 800x100cm Tinta Acrílica/PVA branca

Unidade Unidade Litros

30 3 4

Pigmento "xadrez" (um de cada cor) Rosinha de pano Flor de Biscuit pequena Flor de Biscuit media Flor de Biscuit grande Imagem Verniz Tinta Dimensional 3d Cola Gliter

Unidade Dúzia Pacote Pacote Pacote Unidade Unidade Unidade Unidade

MATERIAL PERMANENTE

UNIDADE

Pistola de Silicone pequena tesoura pincel

Unidade Unidade Unidade

10 60 8 4 5 30 1 10 10

QUANTIDADE 15 15 30

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Programa de Resgate da MemĂľria e do PatrimĂ´nio Imaterial

Oficina de Bandeiras e Estandartes

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Descrição do Projeto – Oficina de Bandeiras e Estandartes

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ssa Vivência busca, através de um objeto comum das tradições mineiras vindas de tempos coloniais, perceber aspectos culturais da mineiridade a partir de sua religiosidade. A religiosidade mineira é evidenciada através da quantidade de igrejas existentes em suas cidades coloniais. Este é um aspecto preponderante da “mineirice” e podemos se vivenciá-lo através da construção de Bandeiras e Estandartes acompanhados dos canto-poemas de manifestações populares como o congado. Esta oficina busca, acima de tudo dar ao participante a oportunidade experiencial dessa cultura entranhada nas montanhas de Minas através do fazer (Bandeiras), e do saber (cantos/musica) criando assim um espaço para o viver (vivência). Partindo do conceito do trabalho que era feito pelos antigos habitantes das Minas Gerais vemos o uso dos “Cantos de Trabalho” nos afazeres diversos ou dos “Cantos do Congado”. O trabalho, por mais simples ou mais pesado que seja, faz-se melhor se ritmado ao som de uma cantiga. Desde as singelas canções de ninar até os exaustivos labores de quebrar ou carregar pedras - tudo se fazia acompanhado de cantos, quase sempre para suavizar o trabalho. Infelizmente com a mecanização do trabalho os cantos de trabalho vão-se perdendo, ou já se perderam, na memória de todos, extinguindo-se e - o que é mais triste - morrendo sem possibilidade de ressurreição. Outrora, no entanto, quase todo o trabalho se fazia a cantar, desde o aprendizado do abecê e da tabuada nas escolas, até o esforço muscular no transporte de fardos ou no deslocamento e quebra de blocos nas pedreiras. Cantava-se nos engenhos, nos teares, nas colheitas; cantavam os canoeiros, remando; e os ferreiros batendo a forja; cantavam também os carregadores de pianos e as donas de casa nos afazeres domésticos. São várias músicas que tiveram essa função entre elas podemos citar:

Pedido de Chegada Ô nhonhô Se eu posso chegar Com a sua licença Se eu posso chegar Aêêêêêêêê Com a sua licença Se eu posso chegar Ê eu venho de tão longe Eu venho sem marafunda Venho tango tango Mala na cacunda

Aêêêêêêêê Venho tango tango Mala na cacunda Ê nhonhô Nêgo sabe letra Aqui nesse reino Nêgo sabe é treta

Ê nhonhô Branco sabe letra Em terra dos outros Preto sabe é treta Ê Eêêêêêêêê Aqui nesse reino Nêgo sabe é treta

Ê Eêêêêêêêê Aqui nesse reino Nêgo sabe é treta

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“Vivências da MineiraIdade” Santo Antônio foi preso Santo Antônio foi preso Nas ondas do mar Depois dele preso Puseram a chorar

Santo Antônio foi preso Nas ondas do mar Depois dele preso Puseram a chorar

Mandei lá n’angola buscar Pai Cambinda Mandei lá n’angola buscar Pai Cambinda O corpo morreu, mas cabeça tá viva, uéééé Ô iê ai O corpo morreu, mas cabeça tá viva, uéééé

Ô nhônhô, o corpo morreu, mas cabeça tá viva, uéééé Ô iê ai O corpo morreu, mas cabeça tá viva, uéééé

O poço ta cheio O poço ta cheio, eu tirei com a cuia, a cuia quebrou, costurei com agulha Oh Maria, pegar com Deus eu vou 2x Eu mandei la n’angola buscar minha pai, aqui nesse reino meu pai vai chegar

Oh Maria, pegar com Deus eu vou 2x Eu chamo meu pai, é pra te levar, aqui nesse reino vem pra te levar Oh Maria, pegar com Deus eu vou 2x

Eu plantei uma rosa Eu plantei uma rosa, a minha rosa pegou, eu plantei uma rosa, a minha rosa pegou, então veio um passarinho pegou minha rosa e levou, então veio um passarinho pegou minha rosa e levou

Cheguei em casa chorando, minha mãe me perguntou, cheguei em casa chorando, minha mãe me perguntou, chorava por causa da rosa que o passarinho levou, chorava por causa da rosa que o passarinho levou

Mandei lá n’angola buscar minha pai, Mandei lá n’angola buscar minha pai, buscar minha pai, buscar minha pai, olha lá, eu canto meu ponto, meu pai vai chegar, me chora ingomá

Ôh jombê, ôh jombê ôh jombá, que tá me matando é beijafulô, ôh jombinho, me chora ingomá

Ôh jombê, ôh jombê ôh jombá, eu canto meu ponto meu pai vai chegar, ôh jombinho, me chora ingomá

Êh irmão, mundo engana a gente, mundo engana a gente, mundo engana a gente, olha lá, eu mexeu no mundo, o mundo me enganou, me chora ingomá

Êh mamãe, meu pai vai chegar, meu pai vai chegar, meu pai vai chegar, olha lá, eu chamo meu pai pra me ajudar, chora ingomá, ééé

Ôh jombê, ôh jombê ôh jombá, eu mexeu no mundo, o mundo me enganou, ôh jombinho, me chora ingomá

Ôh jombê, ôh jombê ôh jombá, eu chamo meu pai pra me ajudar, ôh jombinho, me chora ingomá

Êh irmão vai deixar saudade, deixar saudade, deixar saudade, olha lá, a jomba de nêgo vai deixar saudade, chora ingomá

Êh irmão, o tanque tá cheio, o tanque tá cheio, o tanque tá cheio, olha lá, eu quero saber onde eu amarro canoa, chora ingomá Ôh jombê, ôh jombê ôh jombá, eu quero saber onde eu amarro canoa, ôh jombinho, me chora ingomá Aqui na cidade tanto pato grande, tanto pato grande tanto pato grande, olha lá que tá me matando é beijafulô, me chora ingomá

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Ôh jombê, ôh jombê ôh jombá, a jomba de nêgo vai deixar saudade, ôh jombinho, me chora ingomá Êh irmão, coração doeu, coração doeu, coração doeu, olha lá, eu pisei na terra, coração doeu, me chora ingomá Ôh jombê, ôh jombê ôh jombá, eu pisei na terra, coração doeu, ôh jombinho, me chora ingomá


Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Justificativa

A

s bandeiras têm suas origens nas insígnias e sinais distintivos usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas em madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história do homem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e de cores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor. As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas no Ocidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental, foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira, estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens, carregados na mão ou fixados nos carros de combate. Foi na Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos e regiões. De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima. Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificar os corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara, atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalão é uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a uma haste com três ou quatro pontas pendentes. Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares e religiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar os santos de sua devoção. Como se verifica através de descrições etnográficas, a bandeira é um objeto de grande valor simbólico e ritual para foliões e devotos. Bandeiras, coroas, altares móveis, registros, esculturas, relíquias e outros objetos, ocupam lugar central no imaginário mineiro e em diversas manifestações religiosas, constituindo meios privilegiados de intermediação. Em muitos contextos, a importância desses artefatos para a vida social pode ser resumida na crença de que sejam capazes de fornecer bênçãos, graças e outras dádivas. O costume de se usar bandeiras ou estandartes em cortejos e procissões rituais no Brasil é uma herança portuguesa das corporações de ofícios medievais, irmandades religiosas1 e companhias militares. Câmara Cascudo nos mostra que as irmandades religiosas e os santos padroeiros

1 As irmandades religiosas foram elemento fundamental na construção da cultura mineira no período colonial. Vê-se isto através de manifestações como o congado que sobreviveu até os dias de hoje por ter nascido dentro da Irmandade do Rosário e se mantido através dela.

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“Vivências da MineiraIdade” têm suas bandeiras representativas. Outro fator a ser pontuado é que a palavra bandeira vem de “bando, bandaria, grupo sob o mesmo símbolo”. É perceptível que, por exemplo, a bandeira processional de Nossa Senhora da Misericórdia teve, por muito tempo, papel importante na vida religiosa portuguesa onde essa bandeira, chamada também de “pendão”, tinha entre seus compromissos o de acompanhar pessoas condenadas à morte “desde a Igreja da Misericórdia, passando pela saída da cadeia até a forca”. Semelhante função cumpriam pequenas imagens pintadas (tavolleta) na Itália, nos séculos XIV e XV, usadas como forma de consolo para pessoas condenadas à morte. Essas imagens eram oferecidas ao condenado na noite anterior a sua execução. Membros de fraternidades levavam a imagem da Paixão de Cristo à frente do condenado durante todo o percurso, até sua execução. No Brasil, como também em Portugal, bandeiras dos santos podem ser encontradas em diversos contextos, transitando tanto na esfera doméstica quanto na pública.

A intensa profusão de imagens, esculturas, bandeiras, altares, relicários, coroas e registros no mundo católico e no domínio das manifestações religiosas populares leva à constatação de que o lugar destes objetos na vida de numerosas sociedades não é um fato trivial. Uma extensa literatura histórica, folclórica e etnográfica tem sinalizado o modo particular como as chamadas “culturas populares” lidam com esses objetos. Tais objetos que, freqüentemente assumem forma figurativa, recebem cuidados especiais, são bentas, consagradas, recebem nomes, apelidos, véus, títulos, vestes suntuosas, jóias e mesmo quantias incalculáveis de dinheiro. Algumas delas são postas em magníficos e monumentais andores, carregados por dezenas de homens e exibidas publicamente em certos períodos do ano. Milhares de pessoas, todos os anos, vão ao seu encontro, seja de modo individualizado, no interior de uma igreja, ou de modo coletivo, durante uma procissão, fazer pedidos ou ofertar algo em agradecimento por graças alcançadas. As ofertas realizadas são, na verdade, gestos e expressões de sacrifícios pessoais e ao interagirem com estas imagens, as pessoas muitas vezes se transformam, psicologicamente e mesmo fisiologicamente. Este contato envolve produção de emoções, curas etc. Diriamos que o efeito que estes objetos exercem na vida das pessoas se dá também na formação de autoconsciências individuais e coletivas. As diferenças de ponto de vista sobre o que é material e o que é espiritual nesses casos residem muitas vezes no modo como se representa a oposição entre as categorias “matéria” e “espírito”. José Reginaldo Santos Gonçalves nos diz que: “Do ponto de vista dos devotos, a coroa, a bandeira, as comidas, os objetos (todo este conjunto de bens materiais que integram a festa são propriedade da irmandade) são, de certo modo, manifestação do

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial próprio Espírito Santo. Do ponto de vista dos padres, são apenas ‘símbolos’ (no sentido de que são matéria e não se confundem com espírito). Na visão dos intelectuais, são apenas representações materiais de uma ‘identidade’ e de uma ‘memória’ étnicas”. E Luzimar Pereira sugere que a bandeira não somente realiza a mediação entre os diversos domínios do mundo social, como também entre os homens, deuses e antepassados: “a bandeira aproxima esferas antes consideradas separadas ou distantes, articulando domínios do céu e da terra, do passado e do presente, do presente e do futuro, etc.”. Carla Pereira mostra que o mesmo tipo de mediação é revelado com relação ao mastro que traz a bandeira quando erguido por ocasião das festas e relata que o mastro, um longo tronco de árvore ornamentado com folhas, alimentos e bebidas, atravessa um extenso processo ritual, passando por seu abate, batismo, levantamento e derrubamento. Durante este período, a relação dos devotos com sua divindade se intensifica. Nele, relações sociais horizontais são tornadas verticais, até à descida do mastro, quando se retorna ao cotidiano, resultando no afrouxamento dessas relações. Poderia sugerir que a bandeira é correlata ao mastro. A haste vertical serve de apoio para a bandeira e vem simbolizar e efetuar esta comunicação entre o alto e o baixo, instaurando relações verticais. Há uma relação marcante entre a época da colheita e as festas regionais. No solstício do inverno, realiza-se a maior de todas as festas caipiras, a de São João, que parece ser a festa da plenitude, embora bem próximas estejam as preocupações que a vacante lhes poderá trazer, porque ela é um período de apreensão – que faremos no ano vindouro? As três festas do mês de junho são, por excelência, festas caseiras, mormente a São João, que também nos dá impressão de revivescência do culto ao fogo, uma forma pirolátrica. É uma celebração que congrega a família em torno da fogueira.

Quando da proximidade da colheita muitas esperanças estão presentes na alma do roceiro. As festas dessa época, portanto não deixam de envolver número bem grande de ritos

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“Vivências da MineiraIdade” protetivos entre eles o levantamento das bandeiras dos santos. Tais festas também não trazem grandes despesas, não havendo necessidade de locomoção, porque se realizam na casa do patriarca da família, dela participando somente a parentalha.

Objetivos: • Despertar a necessidade de uma visão mais ampla em relação as tradições mineiras, ampliando assim seus laços afetivos com o outro em prol de uma sociedade mais fraterna, que perceba as diferenças de ritos nas diversas tradições religiosas. • Conhecer na diversidade cultural, a mesma importância e igual sentido que cada crença tem na formação cultural de uma sociedade. • Valorizar a identidade cultural mineira.

Cronograma de Execução Tempo 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17.

Apresentação Introdução Histórico das Bandeiras Cantos de Trabalho ou Congado Distribuição dos kits Escolha da Estampa Corte do Tecido Colocação da Estampa Cantos de Trabalho ou Congado Enfeite das laterais da estampa Cantos de Trabalho ou Congado Colocação da haste Enfeite da haste Cantos de Trabalho ou Congado Enfeite do bico da bandeira Cantos de Trabalho ou Congado Enfeite das laterais da Bandeira

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Tempo decorrido


Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Orçamento para oficina de Bandeiras para 30 participantes Os valores da oficina podem ser executados de 2 formas distintas

Custo total do executante MATERIAL - OFICINA DE BANDEIRAS (30 kits com material de consumo) e material para execução MAO DE OBRA OFICINEIROS DESLOCAMENTO TOTAL Neste caso o executante providenciará todo o material de consumo e permanente, sendo que a sobra de material será entregue ao cliente.

Custo parcial (material permanente e material de consumo) do cliente MATERIAL - OFICINA DE BANDEIRAS (30 kits -material de consumo) e material para execução MÃO DE OBRA OFICINEIROS DESLOCAMENTO TOTAL Neste caso o cliente providenciará todo o material (de acordo com lista anexa) a ser usado na oficina ficando a cargo da executante apenas a realização da oficina com o material a ser providenciado pelo cliente.

Lista de Material MATERIAL MATERIAL DE CONSUMO Bastao de Silicone (pistola) Tecido Franja Fitas tesoura Flor biscuit G Grega Dourada Flor de Pano Flor biscuit M Flor biscuit P Gripir 5,5 cm Tira Bordada Fina Tira Bordada Grossa Chaton pequeno Chaton Médio Chaton Grande Tinta Dimensional varias cores

MATERIAL PERMANENTE Pistola de Silicone pequena tesoura

UNIDADE Unidade metros metros metros peça pacote metros Pacote pacote pacote peça metros metros peça peça peça Unidade

UNIDADE peça peça

QUANTIDADE 32 2 15 50 5 5 20 3 5 32 2 10 10 100 100 100 8

QUANTIDADE 15 5

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“Vivências da MineiraIdade”

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Oficina de Rosários

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Descrição do Projeto – Oficina de Rosários

E

ssa é uma que Vivência busca perceber aspectos culturais da mineiridade a partir de sua religiosidade, através de um objeto que antecede a “invenção do Brasil” e com correspondentes em varias culturas das quais o Brasil acabou se constituindo. A religiosidade mineira é evidenciada através da quantidade de igrejas existentes em suas cidades coloniais. Este é um aspecto preponderante da “mineirice” e podemos se vivenciá-lo através da construção de Bandeiras e Estandartes acompanhados dos canto-poemas de manifestações populares como o congado. Esta oficina busca, acima de tudo dar ao participante a oportunidade experiencial dessa cultura entranhada nas montanhas de Minas através do fazer (Bandeiras), e do saber (cantos/musica) criando assim um espaço para o viver (vivência). A oficina decorre com o ensino dos chamados “Cantos de Trabalho” ou dos “Cantos do Congado” como eram realizados os trabalhos pelos antigos habitantes das Minas Gerais. O trabalho, por mais simples ou mais pesado que seja, faz-se melhor se ritmado ao som de uma cantiga. Desde as singelas canções de ninar até os exaustivos labores de quebrar ou carregar pedras - tudo se fazia acompanhado de cantos, quase sempre para suavizar o trabalho. Infelizmente com a mecanização do trabalho os cantos de trabalho vão-se perdendo, ou já se perderam, na memória de todos, extinguindo-se e - o que é mais triste - morrendo sem possibilidade de ressurreição. Outrora, no entanto, quase todo o trabalho se fazia a cantar, desde o aprendizado do abecê e da tabuada nas escolas, até o esforço muscular no transporte de fardos ou no deslocamento e quebra de blocos nas pedreiras. Cantava-se nos engenhos, nos teares, nas colheitas; cantavam os canoeiros, remando; e os ferreiros batendo a forja; cantavam também os carregadores de pianos e as donas de casa nos afazeres domésticos. São várias músicas que tiveram essa função entre elas podemos citar: Nossa Senhora do Rosário a sua casa cheira Senhora do Rosário a sua casa cheira (2x)

cheira cravo e rosa flor da laranjeira (2x)

Ta caindo fulô Ta caindo fulo, tá caindo fulô Lá no céu, cá na terra Ô lelê ta caindo fulô

Olha o toco de nêgo tá cheio de fulô O toco de nêgo sempre deu fulô

Gunga de Angola Aê angola, Aê angola Essa gunga vem de lá Essa gunga vem de lá Correu mundo e correu mar

Correu mundo e correu mar Aê ingoma, Aê ingoma Correu mundo e correu mar Correu mundo e correu mar

Ê chora ingoma Ê ingoma chora Ê chora ingoma, ingoma de vovô, Ingoma chora

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“Vivências da MineiraIdade” Sabiá cantou no galho da laranjeira Sabiá cantou no galho da laranjeira. Oi sabiá cantou no galho da laranjeira Peço a Deus e Nossa Senhora ai ai, Que abençoe essa bandeira

Peço a Deus e Nossa Senhora ai ai Que abençoe essa bandeira Ô louvado seja cristo, para sempre seja louvado

Ô louvado seja Cristo, para sempre seja louvado Viva Deus ô lá no céu Oiá, viva a Senhora do Rosário Viva Deus ô lá no céu Oiá, viva a Senhora do Rosário

Muriquinho pequenino Muriquinho pequenino (bis) O parente de quissamba na cacunda Purugunta aonde vai (bis) Oh! Parente de quilombo do dumbá

Êh! Chora, chora mgongo, ê devera Chora, mgongo, chora Êh! Chora, chora mgongo, ê cambada Chora, mgongo, chora

Justificativa

A

lgumas tradições religiosas, mesmo que não sejam praticadas por todos permeiam o imaginário cultural do povo mineiro, como o costume de dizer que “fulano veio desfiar o rosário de problemas no meu ouvido”. Esses elementos culturais às vezes trazidos de outros lugares e culturas se estabelecem de forma bastante arraigada nossa cultura. Esse é o caso do Rosário que dá nome inclusive a uma das mais importantes festas em Minas Gerais. Segundo consta, o rosário teve suas origens na Irlanda, no século IX. Naquela época, os 150 salmos de Davi eram uma das formas mais usadas de oração entre os monges. Os leigos, não sabendo ler, contentavam-se em ouvir a recitação dos Salmos. Por volta do ano 800, começou a surgir o costume, entre os leigos, de recitarem 150 "Pais-nossos" correspondentes ao “Saltério” (texto bíblico). No início os devotos usavam uma bolsa de couro com 150 pedrinhas para contar as vezes que repetiam a oração. Mais tarde começou a ser usado um cordão com 50 pedacinhos de madeira. É a origem do instrumento que chamamos de terço. Em 1072 São Pedro Damião menciona que já era costume, em sua época, recitar, em forma de diálogo, 50 vezes a saudação angélica (primeira parte da Ave-Maria). Por isso no Séc. XII usar pedrinhas para contar as orações vira um costume. No século XII, os irmãos cistercienses rezavam 1500 pai-nossos para um confrade falecido e segundo a Regra da Ordem dos Templários, revista por São Bernardo em 1128, rezava-se durante uma semana 100 Pater Nostrum para o irmão falecido. Durante o Sec. XIII apareceu o costume de se recitar 150 louvores a Maria (breves pensamentos lembrando as virtudes e glórias de Nossa Senhora). Neste período aparece a palavra rosarium que significa buquê de rosas. Nos arredores de Colônia (Alemanha), em 1200, existia o costume de rezar 50 ave-marias. Já em 1260 existia em Paris (França) uma corporação de fazedores de Padre-nosso, nome antigo do rosário.2 A Regra de Santa Brigida (1303-1373) manda rezar 63 ave-marias. Por volta de 1365, Henrique Kalkar agrupou as 150 saudações angélicas em dezenas, intercalando um Pai-Nosso em cada grupo de 10 Ave-Marias. Desta data até 1470 foram feitas outras modificações e a partir de 1470, apareceram os dominicanos como os grandes propagadores desta forma simples de oração. A cada uma 150 Ave-Marias correspondia um pensamento bíblico. Por volta de 1500, teve origem a xilogravura. Como o analfabetismo continuava a imperar, usava-se reproduzir em madeira as cenas evangélicas para meditação. Usavam-se 15 cenas bíblicas correspondentes a cada dezena de Ave-Marias. Durante os séculos XVI e XVII generalizou-se o costume de se explicitarem apenas os 15 pensamentos relativos a cada dezena. Por volta de 1700, São Luiz de Montfort consagrou a forma de se ler um pensamento 2 KNIPPENBERG, W.H.Th. "Devotionalia".Vol.I. Eindhoven,Bura Boeken,1985.p.12-13

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial mais longo, narrando a cena Bíblica e sugerindo atitudes práticas a cada dezena de Ave-Marias. Convencionou-se chamar cada um destes pensamentos de "mistério". É a forma mais conhecida hoje, o rosário com 15 mistérios. Com a descoberta do ouro em Minas Gerais no século XVIII deu origem à construção de um cenário completamente diverso da colonização até então empreendida em território brasileiro. No nordeste a organização das relações sociais definiu-se em torno da cultura do açúcar. No Engenho de cana-de-açúcar tratavam-se todas as relações sociais, culturais e econômicas. Em Minas Gerais a fonte principal de riqueza era a mineração, sendo necessário, portanto a formação de uma sociedade completamente distinta do nordeste brasileiro. Na capitania de Minas Gerais predominou a ocupação urbana, espaço crucial para promover a circulação de mercadorias necessárias à sobrevivência. As vilas tornaram-se os centros de produção e circulação de bens de consumo e, em torno dos conglomerados urbanos, organizou-se a vida social da Capitania. Nesse cenário a presença da coroa portuguesa faz-se notar através da organização de uma burocracia administrativa e pela proibição de instalar-se nas zonas mineradoras o chamado clero regular, isto é, as Ordens Primeiras. No Brasil colônia as que mais atuaram, foram: os franciscanos, capuchinhos, carmelitas, beneditinos e jesuítas.

Essas Ordens suso mencionadas participaram ativamente do projeto de conquista do Novo Mundo, responsabilizando-se pela catequização dos indígenas e escravos, assim como pela educação e assistência médica. Mesmo tendo uma ação fundamental na organização da sociedade colonial não tardaram, no entanto, em aparecer litígios entre o Estado e Igreja. Principalmente pela ação dos jesuítas que não reconhecendo outro poder, senão aquele do Chefe Maior da Igreja, desprezavam a autoridade do Estado e entravam continuamente em oposição aos interesses econômicos da Coroa. Ao expulsar os jesuítas, o Estado português pôde impor sua administração civil e secular. No terceiro século de colonização, a Capitania de Minas Gerais tornou-se a principal fonte de renda da Coroa Portuguesa. Nessa região só era permitida a entrada de padres seculares. Sendo assim numa carta régia de 1711, citada por Susy de Melo, dizia-se: “ordeno-vos, que não consintais que nas Minas assista frade algum, antes os lance fora todos por força ou violência, se por outro modo não quiserem sair” e em outra de 1721 dizia que: “para não se consentirem nas Minas religiosos de qualquer religião que seja por ter mostrado a experiência o grande prejuízo e perturbação que nelas fazem”. (MELLO, 1985, p.67) Permitida na capitania de Minas Gerais apenas a permanência dos padres seculares, coube a própria sociedade civil organizar-se em: Ordens Terceiras, Confrarias e Irmandades, para construir as igrejas e capelas, assim como regular os ritos sagrados. A própria Coroa incentivará a organização da sociedade em Ordens Terceiras, pois, podia ser transferido:

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“Vivências da MineiraIdade” Ao próprio povo, isto é, aos mineradores, comerciantes e escravos, os encargos tão dispendiosos de construir os grandes templos e todos os complexos e caros cerimoniais do culto religioso eram, desta forma, transferidos à população. Em virtude disso, tanto à coroa como o clero interessava muito o desenvolvimento das ordens terceiras e confrarias. A população, por sua vez, encontrava nestas corporações uma estrutura eficiente e legal, uma forma orgânica para expandir suas necessidades ou reivindicações coletivas. (MELLO, 1985, p.73) Em Minas Gerais a religião se alicerçou nessas organizações leigas e principalmente, nas vilas do ouro, os negros associaram-se em confrarias sob a égide de santos. Inúmeras, foram as Irmandades do Rosário criadas nesta época, mas em todas elas exigia-se que os principais membros fossem negros libertos ou cativos. Esse fenômeno revela uma fundamental presença social inserida nas práticas religiosas da época. Nos dias de festa eles apareciam ricamente trajados e presidiam às cerimônias rituais, cercados pela sua corte e o grupo descia as ruas da cidade exibindo músicas, danças e cânticos, que haviam trazido de seu país de origem.

Podemos ver a tradição da coroação de Reis Negros nos estatutos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Freguesia da Senhora do Pilar de Ouro Preto, fundada em 1715 e confirmados, posteriormente, por D. Maria I, trás no capítulo II do compromisso, a seguinte informação: "Haverá nesta Irmandade um Rei e uma Rainha, ambos pretos, de qualquer nação que seja, os quais serão eleitos todos os anos em mesa e mais votos, e serão obrigados a assistir, com o seu estado, ás festividades de Nossa Senhora, e mais Santos acompanhando, no último dia, a Procissão, atrás do pélio” É por volta de 1697 que as primeiras Irmandades foram criadas nas Vilas do Ouro. As mais antigas, são as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Em 1708 na cidade de São João Del Rei é fundada uma Irmandade de N. Sra. do Rosário dos Homens Pretos e em 1711 o mesmo ocorre em São Paulo. A Fundação da Irmandade de N. S. do Rosário de Cachoeira do Campo em Minas Gerais ocorre em 1713 e foi erguida pouco antes da revolta de Felipe dos Santos e no mesmo ano outra em Sabará (MG). A Irmandade de N. Sra. do Rosário dos Homens Pretos ou Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Freguesia da Senhora do

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial Pilar de Ouro Preto foi fundada em 1715 e foi a primeira a ser registrada, em 1756. Seus estatutos foram aprovados pelo Bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei Francisco de São Jerônimo. Estes primeiros estatutos desapareceram, mas em 1733, foram confirmados com algumas modificações. Em 27 de janeiro de 1785, novos Estatutos foram confirmados por D. Maria I e no ano de 1728 uma Irmandade de negros dedicada a N. Sra. do Rosário é fundada no Serro (MG). Em meados do séc. XVIII, chega ao Brasil um escravo da tribo dos Kikuios (congo-angola) de nome Gangazumba Galanga Congüemba Ibiala Xana batizado com o nome de Francisco da Natividade (1747) que foi trabalhar na Mina da Encardideira, atual Paróquia de Nossa senhora da Conceição (Ouro Preto). Conta-se que Galanga era rei da tribo dos Kikuios e veio para o Brasil junto de parte de sua corte, que, mesmo aqui, lhe prestava obediência. Este fato teria reduzido as fugas para os Quilombos e atenuado os conflitos entre brancos e negros, conferindo destaque à figura de Francisco que ficou conhecido como Chico-Rei3. Coube a ele erguer a Igreja de Santa Efigênia e Nossa Senhora do Rosário do Alto da cruz e realizar as festas mais suntuosas de reinado que em 1773 (ou 1747?). A festa do reinado do Rosário com Chico-Rei da Angola, no dia dos Santos Reis, seis de janeiro de 1773, em Vila Rica recebeu destaque. Desde então, nas Minas gerais, o nome de Chico-Rei se eternizou como o nome de um negro forro que trabalhou tanto para a libertação de seus irmãos quanto pela tradição do reinado de nossa Senhora. Esse sincretismo nas Minas coloniais é fruto da convivência de homens e mulheres de diferentes matrizes culturais nas irmandades implicou na construção de uma linguagem cultural em comum. Os monges rezavam 150 salmos, em diferentes horas do dia, marcados pelos nós de um cordão. Leigos que não sabiam ler substituíram os salmos por padre-nossos, no chamado saltério. Disso tudo surgiu mais tarde o rosário de Maria, com 150 Ave-Marias. Segundo uma lenda, Nossa Senhora teria ensinado a oração do rosário a São Domingos de Gusmão (1170-1221) quando este rezava em sua cela. Não vamos entrar nos detalhes do história complexa do rosário, mas é certo é que, no séc. XV, os frades dominicanos introduziram e divulgaram a devoção do rosário 3 A fonte mais antiga da história de Chico-Rei é uma nota de rodapé de Diogo de Vasconcelos, em seu livro História Antiga de Minas, publicado em 1904. E não há nenhum registro oral anterior a essa data. O texto de Vasconcelos diz: “Francisco foi aprisionado com toda sua tribo, e vendido com ela, incluindo sua mulher, filhos e súditos. A mulher e todos os filhos morreram no mar, menos um. Vieram os restantes para as minas de Ouro Preto. Resignado à sorte, tida por costume na África, homem inteligente, trabalhou e forrou o filho; ambos trabalharam e forraram um compatrício; os três, um quarto, e assim por diante até que, liberta a tribo, passaram a forrar outros vizinhos da mesma nação. Formaram assim em Vila Rica um Estado no Estado; Francisco era Rei, seu filho o Príncipe, a nora a Princesa. Possuía o Rei para a sua coletividade a mina riquíssima da Encardideira ou Palácio Velho. Antecipou-se este negro a era das cooperativas, e precursou o socialismo cristão. Como naquele tempo toda irmandade estava unida à idéia religiosa de um santo patrono, tomou esta o patronato de Santa Efigênia, cuja intercessão foi-lhes tão útil; e desse exemplo nasceu o culto ardente, que se volta ainda à milagrosa imagem do Alto da Cruz. Os irmãos erigiram um belo templo que existe sob a invocação do Rosário. No dia 6 de janeiro o Rei, a Rainha e os Príncipes vestidos como tais eram conduzidos em ruidosas festas africanas à igreja para assistirem à missa cantada e depois percorriam em danças características, tocando instrumentos músicos indígenas da África, pelas ruas. Era o Reinado do Rosário, festas que se imitaram em todos os povoados das Minas. Vem também daí a nomenclatura dos mesários do Rosário em todas as irmandades de pretos entre nós. No Alto da Cruz ainda se vê a pia de pedra na qual as negras empoadas de ouro lavavam a cabeça para deixá-lo naquele dia por esmola ou donativo”

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“Vivências da MineiraIdade” de Maria e as irmandades de Nossa Senhora do Rosário. Ao mesmo tempo, os portugueses adotaram N. S. do Rosário como padroeira das navegações e, a partir da expedição a Ceuta, em 1415, levaram ao resto do mundo a devoção a ela chegando ao Brasil Seja como colar de orações ou como um conjunto de orações em tributo a Nossa Senhora, rosário significa coroa de rosas, pois cada ave-maria rezada representa uma rosa, que é a rainha das flores, oferecida a ela. O uso de um colar para marcar orações, também é corrente no hinduísmo, budismo e islamismo. Colares de flores, pedras, contas ou caroços são oferecidos, no Extremo Oriente à pessoas que se quer homenagear.

Objetivos: • Despertar a necessidade de uma visão mais ampla em relação as tradições mineiras, ampliando assim seus laços afetivos com o outro em prol de uma sociedade mais fraterna, que perceba as diferenças de ritos nas diversas tradições religiosas. • Conhecer na diversidade cultural, a mesma importância e igual sentido que cada crença tem na formação cultural de uma sociedade. • Valorizar a identidade cultural mineira.

Cronograma de Execução Apresentação Introdução Histórico do Rosário Cantos de Trabalho ou Congado Distribuição dos kits Fazer haste Por a conta e fechar haste Unir Conta Fazer Ligação Pai-Nosso Fazer um mistério Fazer mais 4 mistérios Cantos de Trabalho ou Congado Fazer mais 5 mistérios Cantos de Trabalho ou Congado Fazer mais 5 mistérios Fechar o Rosário Colocar a Medalha Fazer a Ligação do Crucifixo Ligar Crucifixo

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Orçamento para oficina de Rosários para 30 participantes Os valores da oficina podem ser executados de 2 formas distintas

Custo total do executante MATERIAL - OFICINA DE ROSÁRIOS MAO DE OBRA OFICINEIROS TRANSPORTE TOTAL Neste caso o executante providenciará todo o material de consumo e permanente, sendo que a sobra de material será entregue ao cliente.

Custo parcial (material permanente e material de consumo) do cliente MATERIAL - OFICINA DE ROSÁRIOS MAO DE OBRA OFICINEIROS TRANSPORTE TOTAL Neste caso o cliente providenciará todo o material (de acordo com lista anexa) a ser usado na oficina ficando a cargo da executante apenas a realização da oficina com o material a ser providenciado pelo cliente.

Lista de Material MATERIAL MATERIAL DE CONSUMO

UNIDADE

Semente conta de lágrima

kilo

5

Semente tipo saboneteira

kilo

5

Arame nº 18

Rolo

Crucifixo comum

Unidade

Medalhas para terço

Unidade

MATERIAL PERMANENTE

UNIDADE

Alicate de Bico Fino

Unidade

QUANTIDADE

1 30 30

QUANTIDADE 30

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da MemĂľria e do PatrimĂ´nio Imaterial

Modos de Viver da MineiraIdade

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Oficina de Danças Mineiras

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Descrição do Projeto – Oficina de Danças Mineiras

E

ssa é uma que Vivência busca perceber aspectos culturais da mineiridade a partir de suas celebrações. Esse modo de ser pode ser observado através das interações sociais existente nas danças desde tempos coloniais. Este é um aspecto preponderante da “mineirice” e podemos se vivenciá-lo através das danças executadas nos festejos diversos, tanto os sacros quanto os profanos. Esta oficina busca, acima de tudo dar ao participante a oportunidade experiencial dessa cultura entranhada nas montanhas de Minas através do viver (Danças), e do saber (cantos/musica) criando assim um espaço-tempo de vivência. A oficina decorre com o ensino das formas básicas de danças mineiras como eram realizados pelos antigos habitantes das Minas Gerais. Observamos nas danças tradicionais nascidas da mistura entre indígenas, africanos e europeus - a força dos pés no chão; a alegria e a generosidade que nascem dos movimentos fluidos, do famoso “jogo de cintura”; a sincronicidade e a fluidez entre mãos (o fazer) e pés (os passos a dar) livres, vibrantes, porém harmônicos e coerentes; as diversas articulações que se integram e mobilizam os princípios feminino e masculino. A Dança sempre esteve presente na história da humanidade para expressar a cultura do povo através da busca de integração do indivíduo à sua coletividade onde os praticantes se envolvem integralmente, atuando com todo o seu ser: corpo, mente e alma. Em muitas tradições religiosas, a dança tem o poder de cura dentro de sua simplicidade e leveza e com isso os beneficiados são os seus praticantes. Bastante diversificadas, as danças são alegres, energizantes, meditativas, introspectivas e cada uma com seu simbolismo, sua melodia, ritmo, gesto, poder e peculiaridades. Cada uma atua na transformação de emoções buscando sempre o bem estar e a melhoria da qualidade de vida. Assim como à diversidade religiosa, as danças representam identidades, os sentimentos de coesão social das pessoas e do outro. Os movimentos realizados em algumas dessas danças representam a mais pura expressão dos ciclos da natureza, com base na compreensão de que o ritmo é o elemento fundamental que domina o movimento cósmico (RODRIGUES, 2002). Dançava-se nos engenhos, nas celebrações, nas festas, nas colheitas etc. Dançava-se em todos momentos que se pudesse expressar alegria, onde o homem em harmonia consigo, com o outro e com a natureza deixa de ser “eu” e se torna “nós”. Entre as várias danças podemos destacar:

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“Vivências da MineiraIdade” Pastoris São danças e cantos que por ocasião das festas de Natal se realizam em homenagem ao Deus Menino. Em geral se desenvolve; defronte de um Presépio ou em tablados, em praça pública. É um rancho alegre de meninas, mocinhas, que ano após ano entoam ao Menino Jesus. As pastorinhas representam autos. Festivo

teatro popular, alegre, mas cheio de ensinamentos morais e as músicas são cheias de ternura. Seus personagens são a Mestra, a Contramestra, Diana, a Camponesa, Belo Anjo, o velho e as simples pastoras. Dois partidos vestidos de cores diferentes, dois cordões disputam as honras de louvar Jesus Menino.

Congada Dança folclórica brasileira, com elementos originários da África e da península Ibérica. Tambores, caixas, pandeiros, reco-recos, cuícas, triângulos, apitos, chocalhos, sanfonas, violas e violinos são os instrumentos que acompanham os passos

da congada. A dança é organizada sempre com base em uma história, com momentos tristes, delicados e cenas de guerra. Os participantes trajam rica e colorida indumentária, representando guerreiros, embaixadores, nobres e fidalgos.

Batuque Dança de terreiro com dançadores de ambos os sexos, organizados em duas fileiras – uma de homens e outra de mulheres. A coreografia apresenta passos com nomes específicos: “visagens” ou “mica-gens”, “peão parado” ou “corrupio”, “garranchê”, “vênia”, “leva-e-traz” ou “cã-cã”. São executados com os pares soltos que, saindo das fileiras, circulam livremente pelo terreiro. O elemento

essencial em toda a coreografia é a umbi-gada, chamada “batida”: os dançadores dão passos laterais arrastados, depois levantam os braços e, batendo palmas acima da cabeça, inclinam o tronco para trás e dão vigorosa batida com os ventres. Os instrumentos musicais são todos de percussão: Tambu, Quinjengue, Matraca e Guaiá ou chocalho.

Cana-verde Também chamada Caninha-verde, esta dança apresenta variantes no que se refere à cantoria, à coreografia, à poética e à música. No Rio de Janeiro, é uma das “miudezas” da Ciranda e uma dança com bastões. Algumas recebem nomes variados; como Cana-verde de passagem (MG e SP), Cana-verde simples (SP). A disposição dos dançadores varia entre círculo sem solista, fileiras opostas, rodas

concêntricas; os movimentos podem ser deslize dos pés, sapateios leves ou pesados, balanceios, gingados, troca de pares. O movimento tido como característico é a “meiavolta”, desenvolvida num círculo que se arma e se desfaz com os dançadores deslizando, ora para dentro ora para fora, ora em desencontro, ora em retorno à posição inicial.

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial Catira ou Cateretê de pé e mão. Acabada a moda, os catireiros É executada exclusivamente por homens, fazem uma roda e giram batendo os pés or-ganizados em duas fileiras opostas. Na alter-nados com as mãos: é a figuração da extremidade de uma delas fica o vio-leiro “serra acima”; fazem meia-volta e repe-tem que tem à sua frente o seu “segunda”, isto o sapateiro e as palmas para o “serra é, outro violeiro ou cantador que o abaixo”, terminando com os dança-dores acompanha na cantoria. O início é dado nos seus lugares iniciais. O Catira encerra pelo violeiro que toca o “ras-queado”, para com Recortado: as fileiras trocam de lugar, os dançadores fazerem a “escova”- batepé, fazem meio-volta e retornam ao ponto bate-mão, pulos. Prossegue com os inicial. Neste momen-to todos cantam o cantadores iniciando uma moda de viola. “levante”, que varia de grupo para grupo. Os músicos inter-rompem a cantoria e No encerramento do Recortado os repetem o rasqueado. Os dançadores catireiros repetem as batidas de pés, mãos reproduzem o bate-pé, o bate-mão e os e pulos. pulos. Vão alternando a moda e as batidas Caxambu Dança de terreiro executada por homens e mulheres postos em roda sem preocupação de formar pares. No centro, fica o solista, “puxando” os cantos e improvisando movimentos constituídos de saltos, volteios, passos miúdos, balanceios. Os instrumentos acompanhantes são dois tambores, feitos de tronco de árvore, cavalos a fogo e recobertos com couro de boi. São denominados Tambu ou Caxambu Ciranda No Rio de Janeiro o termo ciranda pode significar tanto uma dança específica quanto uma série de danças de salão, que obedecem a um esquema: Abertura, Miudezas e Encerramento. Enquanto dança, faz parte das miudezas da Ciranda, baile. A Ciranda-baile, também denominada Chiba, tem na Chiba-cateretê a que faz a abertura da série; as Miudezas são um conjunto de variadas danças com nomes e coreografias diversos; Cana-verde de mão, Cana-verde valsada, Caranguejo, Arara, Flor-do-mar, Canoa, Limão, Chapéu,

e Candongueiro. Às vezes aparece uma grande cuíca, feita de tonel de vinho ou cachaça. É chamada Angoma-puíta. As músicas, denominadas “pontos”, são tiradas pelo dançador-solista e respondidas pelo coro dos participantes. O canto inicia com pedidos de licença aos velhos caxambuzeiros desaparecidos e depois se mesclam de simbolismo e enigmas intrincados.

Choradinha, Mariquita, Ciranda, Namorador, Zombador. O Encerramento é feito com a Tonta, também chamada Barra-do-dia. As músicas são na forma solo-coro, tiradas pelo mestre em quadras tradicionais e circunstanciais, respondidas pelas vozes dos dançadores. O acompanhamento musical é feito por viola, violão, cavaquinho e adufes. Na Chiba-cateretê o conjunto musical é composto ainda do Mancado: um caixote percutido com tamancos de madeira.

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“Vivências da MineiraIdade” Jongo Dança de negros organizados em roda mista, alternando-se homens e mulheres. No centro um solista, um jongueiro, que canta sua canção, o “ponto”. Os demais respondem em coro, fazendo movimentos laterais e batendo palmas, nos lugares. O solista improvisa passos movimentando todo o corpo. O instrumental é composto por dois tambores – um grande, o Tambu, e um menor, o Candongueiro; uma Puita – cuica, artesanal; um chocalho – o Guaiá, feito de folha-se-flandres. As melodias são construídas com o uso de poucos sons. A

dificuldade reside no texto literário dos “pontos”, pois são todos enigmáticos, metafóricos. Quando o solista quer desafiar alguém, canta o “ponto da demanda”; este deverá decifrá-lo, cantando a resposta: diz-se então que “desatou o ponto”. Se não for decifrado, diz-se que “ficou amarrado”. Neste caso, o jongueiro “amarrado” pode passar por várias situações humilhantes e vexatórias, como cair no chão e não conseguir se levantar, não conseguir andar, etc.

Mineiro-pau Ddança executada por homens, adultos e crianças, cada um levando um ou dois bastões de madeira. Desenvolvida em círculo ou em fileiras que se defrontam, os dançarinos, voltados de frente para o seu par, realizam uma coreografia totalmente marcada pelas batidas dos bastões no chão. Sempre em compasso quaternário, o tempo forte musical é marcado com batida

dos bastões no chão. A variedade na forma de bater os restantes três tempos é que dá nomes específicos às partes: “Batida de três”, “Batida de quatro”, “Batida cruzada”, “Batida no alto”, “Batida embaixo” etc. Muitos grupos têm como parte integrante o Boi Pintadinho (RJ) ou o Boi-lé (MG), com seus principais personagens: a Mulinha, o Jaguará, o Boi, os Cabeções.

Quadrilha Própria dos festejos juninos, a Quadrilha nasceu como dança aristocrática, oriunda dos salões franceses, depois difundida por toda a Europa. No Brasil foi introduzida como dança de salão que, por sua vez, apropriada e adaptada pelo gosto popular. Para sua ocorrência é importante a presença de um mestre “marcante” ou “marcador”, pois é quem determina as figurações diversas que os dançadores desenvolvem. Observa-se a constância das seguintes marcações: “Tour”, “En avant”,

“Chez des dames”, “Chez des Chevaliê”, “Cestinha de flor”, “Balancê”, “Caminho da roça”, “Olha a chuva”, “Garranchê”, “Passeio”, “Coroa de flores”, “Coroa de espinhos” etc. No Rio de Janeiro, em contexto urbano, apresenta transformações: surgem novas figurações, o francês aportuguesado inexiste, o uso de gravações substitui a música ao vivo, além do aspecto de competição, que sustenta os festivais de quadrilha, promovidos por órgãos de turismo.

Dança da Fita É desenvolvida da seguinte maneira: é colocado no centro um mastro chamado pau-de-fita de aproximadamente 3m de altura com doze fitas (duas vermelhas, duas verdes, duas amarelas, duas azuis, duas rosas e duas azul marinho). Ao lado do mastro, formam-se duas filas, do lado direito os homens e do esquerdo as

mulheres. Na cabeceira das duas filas fica o mestre e num sinal feito através do apito tem início a dança. O primeiro movimento é conhecido como preparação da terra para o plantio da árvore. No segundo movimento os dançadores cruzam as fitas, que significa a escolha da semente. No terceiro movimento inicia-se a semeadura. No

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial sendo este o final da dança. A Dança da quarto já se percebem as tranças formadas Fita também é conhecida como Baile de em um total de cinco trançados diferentes Cordon, Carxofa, Magrana e Baile de que simbolizam as raízes. Quando o Gitanas (Portugal), Danza de las Fitas mastro fica totalmente coberto pelas (Cataluña, Espanha). Dança de los Mineros tranças, os adultos são substituídos pelas (Peru), Dança de los Matachines crianças que irão realizar a destrança. As (Colômbia), Dança de las Listones crianças simbolizam as folhas da árvore. (Argentina) e Dança de las Cintas Quando termina o movimento executado (Venezuela). pelas crianças o mastro é transformado simbolicamente em belíssima árvore, Dança de São Gonçalo O culto de São Gonçalo no Brasil tem vários nomes como: Romaria de São Gonçalo, Voltas a São Gonçalo, Terço de São Gonçalo, Dança de São Gonçalo, Reza de São Gonçalo, Festa de São Gonçalo, Trocado para São Gonçalo e Roda de São Gonçalo. O santo buscava tirar as mulheres da promiscuidade através da arte, por isso elas apresentavam, durante todo o sábado, os atos da dança, chamados de doze jornadas. No domingo, o cansaço surgia e evitava que elas caíssem em tentação. São Gonçalo ainda conseguia casamento para mulheres não virgens. Devido a esse fato, o santo é considerado casamenteiro. Atualmente, a dança não é mais encenada como pagamento de promessa. Tornou-se manifestação cultural A festa se dá sobre o seguinte acontecimento. Uma pessoa faz uma promessa e em agradecimento à graça alcançada convida amigos, vizinhos, parentes e violeiros, para realizar a dança. A dança sempre acontece com um altar armado para o santo. Os brincantes de vestes brancas, coloridas por fitas perpassadas pelos vestidos, convidam a conhecer a Dança de São Gonçalo: “Quem nunca viu venha ver, quem nunca viu venha ver, São Gonçalo no terreiro” (trecho da música da apresentação). Os dançarinos se organizam em duas fileiras, voltadas para o altar. Cada fileira é encabeçada por dois violeiros, mestre e contramestre, que dirigem todo o rito.

A dança é dividida em partes chamadas “volta”, cujo número varia entre 5, 7, 9 e 21. Entre cada “volta” há interrupção e todos aproveitam para se servir das iguarias oferecidas pelo promesseiro. As “voltas” são desenvolvidas com os violeiros cantando, a duas vozes, loas a São Gonçalo, enquanto dançarinos, sapateando na fileira em ritmo sincopado, dirigem-se em dupla até o altar, beijam o santo, fazem genuflexão e saem sem dar as costas para o altar, ocupando os últimos lugares de suas fileiras. Cada volta pode durar de 40 minutos a 2 ou 3 horas, dependendo do número de dançadores. Na última “volta”, em São Paulo chamada “Cajuru”, forma-se uma roda onde o promesseiro a dança carregando imagem do santo, retirada do altar. Se houver mais de um pagador de promessa e mais de uma imagem, todos os promesseiros carregam simultaneamente as imagens. No caso de haver apenas uma imagem para vários promesseiros, o santo vai passando de mão em mão, enquanto os demais dançarinos agitam lenços brancos. Em Minas Gerais é considerada dança de votos de solteironas que desejam se casar. A dança é desenvolvida por dez ou doze pares de moças, todas vestidas de branco, cada uma delas levando um grande arco de arame recoberto de papel de seda branco franjado. O movimento das rodas é ordenado pelo “marcante”, única figura masculina presente. Acompanhada pela música executa em viola, sanfona e caixa,

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“Vivências da MineiraIdade” moças saem da igreja pelas ruas em a coreografia consta de evoluções com os cortejo, cantando loas ao santo arcos. casamenteiro, acompanhadas de músicos As Rodas de São Gonçalo de Amarante tocando violas, rabecas, violões e acontecem durante a Festa de Nossa pandeiros. A dança se estende pela noite, Senhora do Rosário. Participam desta defronte das igrejas ornamentadas com dança igualmente, as moças casadouras arcos de flores, iluminados por velas da cidade, que em pares e vestidas de acesas. branco empunham um arco ornamentado de flores e fitas. Após a missa matinal, as

Justificativa O corpo é identidade. Na dança, ele é o veículo capaz de produzir e materializar a cena, construindo desenhos no espaço-tempo, aflorando sentidos, tornando a carne fluxo, tornando a respiração ritmo. Poder averiguar referências e características culturais, desvendando os mistérios da memória corporal é, talvez, poder aprofundar-se na essência criativa da linguagem da dança. A Dança acompanhou a evolução da humanidade desde os tempos primitivos, sempre expressando e registrando através dos movimentos seus momentos históricos, sendo considerada a primeira manifestação corporal do emocional humano. Cada povo que compreendeu a importância do corpo humano e principalmente a necessidade desse corpo de extravasar suas emoções, de relacionar-se consigo, com os outros e até mesmo com o ser supremo, que compreendeu a sua infinita capacidade de mover-se, de criar, de desenvolver seus domínios motores, sociais, afetivos e cognitivos, certamente cultivaram a dança e utilizaram-se dela como um meio de expressar suas características culturais, de comunicar-se, de educar-se, de distinguir-se e de aprimorar-se, possibilitando ao homem buscar os caminhos da sua auto-realização. Esta Arte, no decorrer de sua evolução, se manifestou em diferentes momentos, com diversos objetivos e de variadas formas, como: danças sagradas, danças populares, danças teatrais, entre outras, foi utilizada por muitas civilizações em diferentes épocas atribuindo-lhe diferentes sentidos e significados. Quando falamos de corpo mineiro, muitas vezes associamos imediatamente à sua imagem a questão das manifestações artísticas e/ou religiosas populares, genuinamente brasileiras, tais como: folia de reis, congadas etc. No entanto, este corpo também cria marcas, provocando discussões em torno deste universo. O verbete “dança” extraído do Dicionário sobre religiosidade popular, que está sendo escrito por Frei Chico, as seguintes definições: • •

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A dança é arte e lazer. É expressão corporal e valoriza o corpo. Pode ser um gesto religioso, uma oração. Danças religiosas: v. Dançar. Entrar na dança é participar, viver. Participar de uma roda de samba ou batuque é integrar-se no grupo. Diz o canto: Sozinho não danço, nem hei de dançar porque tem fulano para ser meu par. Mas, dançou!, significa acabou, perdeu. A dança da vida: Roda.. Folia. A dança aproxima brincadeira e ritual, reúne alma e corpo, reconcilia a vida com tradições e regras. Na dança nem tudo é improvisado. É preciso ter noção de ritmo, compasso, coreografia, canto, enfim, aspectos diversos. Em alguns casos, é necessário dançar para plantar: v. Bananeira. Há danças de grupo: roda, escola de samba, olodum, toré, frevo, corta-jaca, pericom; e individuais. v. Passagem. v. Contradança. O musicólogo Francisco Curt Lange avisa: “Devemos prescindir do raquítico conceito do ouvinte passivo da música ou espectador curioso da dança, produto do século XX, que não tem capacidade de compenetração


Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial •

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porque não mais canta nem toca instrumento algum, e também ignora o que significa integrar-se a uma coreografia coletiva”. Na cultura popular existem danças de trabalhadores: vaqueiros, lavradores, pescadores, rendeiras e tecedeiras. No Paraná, há danças dos lenhadores. No Amazonas e no Pará, a dos barqueiros e marujos. Em Minas Gerais e na Bahia, a dos canoeiros. Em São Paulo, no Vale da Ribeira, os artesãos de Apiaí praticam a dança do barro. Na região amazônica, existem as danças que imitam os animais da floresta. v. Cordão de bicho. A dança tradicional de índios e negros faz parte da educação e do caminho da libertação. v. Memória. Crianças gostam de dançar. Casais dançam. O palhaço faz o povo dançar. Torcedores caem na folia. Sem dança, são inimagináveis o carnaval e muitas outras festas. Há danças de rua, terreiro, salão, teatro, congá e capela. Índios e negros dançam na religião. Curiosamente, a elite mantinha preconceitos contra as danças dos negros (batuque, jongo, samba), consideradas sensuais, lascivas e obscenas, com umbigadas. Núbia Pereira de M. Gomes diz: “Estudar a dança dos Arturos é resgatar, nos corpos que se movem, a caminhada dos negros, os fragmentos da história material e psicologia dos escravos”.Sobre a invenção da dança de São Benedito: v. Moçambique. O baile é pecado? v. Dançar.

A ideia de identidade cultural no Brasil colonial serviu para os portugueses garantirem a delimitação do território por eles apropriado; para validar a instalação das instituições que normatizaram a vida na colônia; para impor seu idioma como língua oficial e, também, para instalar aqui seu modelo de civilização, condenando à invisibilidade as culturas e modos de civilização locais preexistentes. O cultivo das manifestações da identidade cultural deve ter uma postura patriótica para com o patrimônio imaterial do País, contra a assimilação de hábitos estrangeiros, como é comum se imaginar. As complexas relações entre identidade e dança urdidas em nosso País, ao longo do último século, constituiu uma Poética Cultural, coleção de princípios pragmáticos que propiciaram o surgimento de certas danças particulares que corroboraram para a crença de que existe uma essência mineira, que se manifestaria em tudo o que aqui nasce. A arte, segundo Rancière, é uma prática que participa da elaboração de um coletivo sensível, constituindo-se como uma das formas de projetar modos de sensibilidades relacionados a situações e coisas da vida. Uma modalidade muito apreciada e praticada são as Danças Folclóricas que nos permitem conhecer as particularidades culturais de nosso povo, regiões e épocas permitindo incorporar novos valores e atitudes; contribuindo para entendermos, respeitarmos e conservamos a cultura conhecendo assim o passado, compreendendo o presente. Através destas danças também é possível compreendermos os processos sociais, percebermos e analisarmos que a convivência entre as diferentes classes são possíveis e necessárias, podendo estabelecer-se sem preconceitos, reconhecendo os direitos de cada um, propiciando assim desenvolver um espírito socializador.

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“Vivências da MineiraIdade” Essa forma de dança social (folclórica) desenvolveu-se como parte dos costumes e tradições de um povo que expressa sua manifestação cultural, basicamente o nacionalismo. [...] Transmitida de geração a geração, é uma das formas de dança mais antigas, datando desde a época das culturas tribais evoluídas que estabeleceram ligação com as grandes civilizações da história da humanidade. [...] A principal característica dessa dança é a integração, socialização, prazer, divertimento, respeito aos costumes e tradições. (HASS & GARCIA, 2003, p.121) Deste modo as danças mineiras podem ser entendido como uma forma de Política Cidadã do Corpo, ação do corpo que, quando dança, participa de uma elaboração do sensível intervindo na coletividade. A partir da perspectiva de que o corpo do dançante é seu principal instrumento de comunicação podemos ver que os processos de interpretação estão impregnados por elementos inerentes à sua cultura. E o corpo como o alicerce da alma, “emparedando” sentimentos, rebocando as vísceras, elaborando terreno fértil para movimentos vitais torna-se o Corpo-morada com sua construção dos sentidos, experiência do sensível, textura das artes, tecido de emoções e imagens do saber em diferentes dimensões; advindos da sensibilidade para com um diário católico, proveniente de uma memória catequética colonial, elaborado a partir de dramaturgias que privilegiam a imaginação. Isso nos faz pensar o corpo como Real, Moral e Fantasioso, que seria o sentido geral que o corpo que dança formula em sua ação comunicativa.

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Cronograma de Execução Tempo

Tempo decorrido

Apresentação Introdução Histórico das Tradições Montagem de Tiara/Chapeu Montagem de arco Ensaio dos passos básicos Montagem de coreografia Ensaio de Coreografia

Orçamento para oficina de Danças Mineiras para 30 participantes Custo total do executante MATERIAL - OFICINA DE DANÇAS MAO DE OBRA OFICINEIROS DESLOCAMENTO MATERIAL DIDATICO TOTAL Neste caso o executante providenciará todo o material de consumo e permanente, sendo que a sobra de material será entregue ao cliente.

Custo parcial (material permanente e material de consumo) do cliente MATERIAL - OFICINA DE DANÇAS MAO DE OBRA OFICINEIROS DESLOCAMENTO MATERIAL DIDATICO TOTAL Neste caso o cliente providenciará todo o material (de acordo com lista anexa) a ser usado na oficina ficando a cargo da executante apenas a realização da oficina com o material a ser providenciado pelo cliente.

A oficina de dança poderá ser feita sem a confecção de materiais, o que tiraria um pouco do “brilho” da mesma, mas não impede de ser realizada Lista de Material MATERIAL MATERIAL DE CONSUMO

UNIDADE

QUANTIDADE

Arcos de Mangueira Plástica

Unidade

30

Buquê de Flor de Pano

Unidade

300

Fita Cetim nº 2

metros

60

Fita Cetim nº 1

metros

60

Saia de Chita (opcional)

Unidade

30

Chapéu de Palha

Unidade

30

Bastão de Silicone (pistola)

Unidade

32

Fita Adesiva Colorida

Unidade

30

MATERIAL PERMANENTE

UNIDADE

QUANTIDADE

Pistola de Silicone pequena

peça

Tesoura

Unidade

15 5

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Programa de Resgate da MemĂľria e do PatrimĂ´nio Imaterial

Oficina de Ritmos Mineiros

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Descrição do Projeto – Oficina de Ritmos Mineiros

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ssa é uma que Vivência busca perceber aspectos culturais da mineiridade a partir de suas celebrações e ritmos. Esse modo de ser pode ser observado através das interações sociais existente nas rodas de musicas desde tempos coloniais. Este é um aspecto preponderante da “mineirice” e podemos se vivenciá-lo através dos ritmos executados nos festejos diversos, tanto os sacros quanto os profanos. Esta oficina busca, acima de tudo dar ao participante a oportunidade experiencial dessa cultura entranhada nas montanhas de Minas através do viver (Ritmo), e do saber (cantos/musica) criando assim um espaço-tempo de vivência. A oficina irá ensinar teoria rítmica, passos, trabalhos de corpo e voz através de manifestação artística mineira e tradição dos ritmos mineiros. O congado é o foco e o tambor e o patamgome é o carro chefe. Existe a intenção de realizar uma apresentação, após o encerramento da oficina e que os alunos de destaque podem chegar a compor grupos de congado posteriormente. Afinal o tambor é, também, o pulsar do coração do congadeiro, um pulsar que nos remete a mais genuína ancestralidade. Como na letra da musica do grupo indígena Ulali “Mahk jchi”: Mahk jchi tahm buooi yahmpi gidi Mahk jchi taum buooi kan spewa ebi Mahmpi wah hoka yee monk Tahond tani kiyee tiyee Gee we-me eetiyee Nanka yaht yamoonieah wajitse

Cem anos se passaram Cem anos se passaram, contudo, eu ouço a batida distante dos tambores de meu pai Eu ouço seus tambores por toda a terra. Eu sinto sua batida dentro de meu coração. Os tambores baterão, assim meu coração também baterá. E eu viverei cem mil anos.

O tambor batia nos engenhos, nas celebrações, nas festas, nas colheitas e em todos momentos que se pudesse expressar alegria, onde o homem em harmonia consigo, com o outro e com a natureza deixa de ser “eu” e se torna “nós”. Bate, então, o tambor para descer bandeira, bate o tambor para subir bandeira, bate o tambor para comer, bate o tambor para louvar, bate o tambor para entrar, bate-se o tambor para sair. Bate-se o tambor para a vida!!! Bate tambor, bate tambor, hoje é dia de alegria! Hoje é dia de alegria

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“Vivências da MineiraIdade”

Justificativa Afinal, o que há na música de mais sublime para enlevar o coração da gente? O que há escondido nela a comunicar com as nossas paixões, angústias, medos, ressentimentos, procuras, encontros e desencontros? O que há nos sons e nas palavras que a faz vincular-se ao espírito humano? Diria alguém que isto vem desde a criação do mundo! Deus criou o mundo como se compusesse uma sinfonia! O primeiro registro histórico de musica no Brasil encontra-se expresso na carta de Pero Vaz de Caminha: “Diogo Dias, que é homem gracioso e de prazer, levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se com eles (os indígenas) a dançar, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam, e riam, e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas voltas ligeiras e salto real, de que eles se espantavam e riam e folgavam muito.” O surgimento da música brasileira, a partir de então, deu-se com a contribuição dos indígenas, dos colonizadores e dos negros, sendo este último o que mais forte caráter imprimiu na formação do perfil cultural brasileiro. O processo de colonização prendeu a música brasileira à matriz europeia durante muito tempo até que as novas expressões populares nascidas da miscelânea étnica faria com que a música brasileira se tornasse uma das mais expressivas da América. A partir daí, mais do que uma simples manifestação artística dentre tantas outras, a música popular brasileira veio forjando de maneira acelerada a cultura e o pensamento nacional. Se no último século ela desabrochou, espalhando sementes no imaginário da gente brasileira, em Minas estes elementos foram-se fundido em sementes, misturando-se ritmos e harmonias, dando origem a uma música sui generis: a música de Minas. Ritmos a desabrochar-se em flor com petalas multicoloridas, fluindo em muitas ramagens pelos vales, campos, montanhas, veredas e espaços, a reluzir estrelas de várias pontas. De onde vem essa infinidades de tendências da música de Minas? Decerto, essa reunião de tendências surgiu com o batuque vindo da África, célula-mãe da manifestação musical popular mais importante do país e dele surgiram ramos, afluentes, tendências que se espalharam por todo o território. Em Minas, o ambiente urbano da mineração juntou-se com os ritmos rurais, adicionadas às influências europeias. No fim do século XVIII e começo do século XIX, floresceu nas cidades mineiras uma geração de compositores que criaram uma música contemporânea da arte do Aleijadinho e da poesia dos inconfidentes. A música de Minas. Os olhares desconfiados, os “causos” retratando o singelo das coisas corriqueiras, as lendas, o folclore e os sons das serenatas do interior de Minas, o som dos carros de bois pelas estradas empoeiradas de terra vermelha, as vielas, o dedo de prosa pelas janelas das vizinhanças, a cantiga das Folias de Reis e de Nossa Senhora do Rosário e os diferentes sotaques do mundo, moldaram uma música única.

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Cronograma de Execução Tempo

Tempo decorrido

Apresentação Introdução Histórico dos Ritmos Ritmos nas palmas Ritmos no xique-xique Ritmos no Patangome Aprendisagem de Cantiga Ensaio

Orçamento para oficina de Ritmos Mineiros para 30 participantes Custo total do executante MATERIAL ‐ OFICINA DE RITMOS MAO DE OBRA OFICINEIROS DESLOCAMENTO MATERIAL DIDATICO TOTAL Neste caso o executante providenciará todo o material de consumo e permanente, sendo que a sobra de material será entregue ao cliente.

Custo parcial (material permanente e material de consumo) do cliente MATERIAL ‐ OFICINA DE RITMOS MAO DE OBRA OFICINEIROS DESLOCAMENTO MATERIAL DIDATICO TOTAL Neste caso o cliente providenciará todo o material (de acordo com lista anexa) a ser usado na oficina ficando a cargo da executante apenas a realização da oficina com o material a ser providenciado pelo cliente.

Lista de Material MATERIAL MATERIAL DE CONSUMO Aluguel de Tambores Marmitas Milho dePipoca Pistola de Silicone pequena Bastao de Silicone (pistola) Tesoura Fita Adesiva Colorida

UNIDADE Unidade Unidade pacote peça Unidade Unidade Unidade

QUANTIDADE 3 30 10 15 32 5 30

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da MemĂľria e do PatrimĂ´nio Imaterial

Modos de Fazer da MineiraIdade

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da MemĂľria e do PatrimĂ´nio Imaterial

Oficina de Gastronomia Mineira

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Descrição do Projeto – Oficina de Gastronomia Mineira Justificativa Cronograma de Execução Orçamento para oficina de Gastronomia Mineira para 30 participantes Custo total do executante Neste caso o executante providenciará todo o material de consumo e permanente, sendo que a sobra de material será entregue ao cliente.

Custo parcial (material permanente e material de consumo) do cliente Neste caso o cliente providenciará todo o material (de acordo com lista anexa) a ser usado na oficina ficando a cargo da executante apenas a realização da oficina com o material a ser providenciado pelo cliente.

Lista de Material

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da MemĂľria e do PatrimĂ´nio Imaterial

Oficina de Artesanato Mineiro

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da Memõria e do Patrimônio Imaterial

Descrição do Projeto – Oficina de Artesanato Mineiro Justificativa Cronograma de Execução Orçamento para oficina de Artesanato Mineiro para 30 participantes Custo total do executante Neste caso o executante providenciará todo o material de consumo e permanente, sendo que a sobra de material será entregue ao cliente.

Custo parcial (material permanente e material de consumo) do cliente Neste caso o cliente providenciará todo o material (de acordo com lista anexa) a ser usado na oficina ficando a cargo da executante apenas a realização da oficina com o material a ser providenciado pelo cliente.

Lista de Material

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“Vivências da MineiraIdade”

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Programa de Resgate da MemĂľria e do PatrimĂ´nio Imaterial

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Instituto da Memória e do Patrimônio Histórico e Cultural


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