Entender a Mulher #4

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uma publicação da Biolab exclusiva para médicas e médicos n. 04 | AGO / OUT | 2011

Esperança inabalada Os desafios dos médicos nas tragédias ambientais

Sexo frágil? Que nada! O fim do mito do “trabalho de homem”

Mães heroínas Elas fazem de tudo para ajudar os filhos

A leveza

do riso

Bom humor é fundamental em todos os momentos – especialmente nos mais difíceis. Descubra como cultivar o seu

a tin o r e icina d es ed m m ema a ex ra a cin s do s pa o no a i i nc úte inin â rt os m po ativ er fe im c A Apli pod + + O +


Na média: mulheres em números

no

O pODer femininO na sétima arte retrata as muDanças Da sOcieDaDe, mas as espectaDOras seguem tOrcenDO pelO final feliz Das cOméDias rOmânticas

escurinho do

cinema

Texto Karina Sérgio Gomes Ilustração Matchola

Do que as mulheres gostam? Na bilheteria

Virtudes x Fraquezas?

55% mulheres Nos EUA, em 2009, dos 217 milhões de ingressos vendidos, elas compraram mais de 113 milhões

Quando o filme tem no título a palavra “homem” ou “mulher”, as associações mais comuns são:

homens mulheres

fOrça Histeria cOragem fraQueza

BraVura cOnfusãO Em Hollywood, apenas

2 em cada 10

Gêneros preferidos

não tem jeito: eles querem ação. e as mulheres, romance Comédias românticas

Suspense

Ação

Ficção científica

Dirty Dancing

(1987)

A. Y. Owen / GettyImages

f ilmes tiveram protagonistas femininas entre 2009 e 2010

é o filme mais visto (e revisto) pelas mulheres

Como as mocinhas mudaram ao longo do tempo Anos 30

Anos 40

Anos 50

Anos 60

Mary Pickford (1892 – 1979) sonhadora e bondosa, a mocinha dessa fase é a típica Pollyanna (1920), interpretada por mary pickford. anos depois, mary fundaria a united artists corporation com charlie chaplin.

Vivien Leigh (1913 – 1967) com scarlet O’Hara de ...E o Vento Levou (1939), Vivien trouxe uma protagonista destemida. O papel rendeu-lhe o Oscar – foi a primeira estrangeira a ganhar o prêmio na categoria.

Bette Davis (1908 – 1989) aos 40, Bette temia perder o posto para uma jovem – e fez uma personagem inocente em A Malvada (1950). foi a primeira mulher a presidir a academia cinematográfica dos eua.

Audrey Hepburn (1929 – 1993) nessa fase, a mocinha pode ser até uma prostituta, desde que tenha classe, como Holly golightly, interpretada por audrey em Bonequinha de Luxo (1961). ela tornou-se ícone da moda.

Fontes: adoro cinema, agência nacional de cinema (ancine), american film institute, Datafolha, imDB, ministério da cultura, movies by Women, movie picture association of america, O filme ou a sala? – estudo da escola de administração da universidade federal do rio grande do sul, Omelete (site cultural), Revista de Cinema, Revista Forbes, sky movies, Women arts, Women and Hollywood.

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por trás das câmeras

e o Oscar vai para...

Ainda é minoria

Melhor Atriz

a presença feminina nas grandes produções 16% diretoras

as mulheres dominam os recordes de indicações e as estatuetas

15% produtoras executivas

30 % produtoras

Katharine Hepburn

Meryl Streep

12 indicações, 4 prêmios Nos últimos 15 anos, dos 621 filmes produzidos no Brasil, 101 foram dirigidos por elas

Em 2005, as mulheres realizaram 3 entre cada 10 filmes brasileiros

Em Hollywood, elas já representam quase 15% dos produtores executivos

Brasileiras na telona Colecionadoras de prêmios

O reconhecimento internacional das nossas atrizes

Fernanda Sandra

Montenegro Corveloni FOi iNDiCADA AO

16 indicações, 2 prêmios

Melhor Direção

nas 84 edições do Oscar realizadas até hoje, apenas uma mulher levou a estatueta para casa Lina Jane Campion, Wertmüller, O Piano (1993) Pasqualino Sete Belezas (1975) Legenda:

Indicação |

Sofia Coppola, Kate Bigelow, Encontros e Guerra ao Terror Desencontros (2009) (2003) Premiação

Questão de cachê

FOi A MELHOR ATRiz NO

festiVal De Oscar cannes De melHOr atriz PELO FiLME

PELO FiLME

Central do

Linha de

(1998)

(2008)

Brasil Passe

Florinda Bolkan A ATRiz BR ASiLEiR A R ADiCADA NA iTáLiA É RECORDiSTA DE PRODUçõES iNTERNACiONAiS. DESDE 1968, Já PARTiCiPOU DE

39 filmes

16

16

milhões

milhões

É muito. Mas ainda é menos entre 2009 e 2010, a atriz mais bem paga dos eua ganhou bem menos do que o ator mais rico

é o que a atriz Sarah Jessica Parker faturou apenas com presentes da produção em Sex and the City 2

65 milhões

milhões

Johnny Depp

Sandra Bullock

US$

56

US$

Anos 70

Anos 80

Anos 90

Anos 2000

Jane Fonda (1937) com roupas que valorizam as curvas, elas precisavam estar em plena forma. não há quem não se lembre dos vídeos de ginástica de Jane fonda, que ganhou o Oscar de melhor atriz em Klute (1971).

Molly Ringwald (1968) entra em cena a adolescente que gosta de rock e tem dúvidas sobre a virgindade. a atriz molly ringwald interpreta essa típica jovem em Gatinhas e Gatões (1984) e A Garota de Rosa Shocking (1986).

Julia Roberts (1967) a mulher independente que construiu a sua carreira ainda sonha com o príncipe encantado. Julia roberts é o grande símbolo dessa década, com filmes como Uma Linda Mulher (1990) e Noiva em Fuga (1999).

Jennifer Aniston (1969) atualmente, a mocinha descobriu que seu príncipe encantado é um sapo e tenta aproveitar o que ainda há de melhor na vida. como faz a personagem de Jennifer aniston em Coincidências do Amor (2010).

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Tipos: mulheres de hoje

Edneide N贸brega, 50. Com 32 anos de carreira na PM, a tenente-coronel hoje comanda 3,5 mil policiais da zona norte de S茫o Paulo


SeM Pedir liCença, aS MulhereS oCuPaM Cada vez MaiS CargoS anteS exerCidoS exCluSivaMente Por hoMenS, CoM Muita CoMPetênCia – e SeM Perder a ternura Texto Karina Sérgio gomes Foto rodrigo Braga, Miguel Costa Jr. e Filipe acácio


m kart amarelo e azul larga na 11a posição. E, a cada volta, faz uma ultrapassagem. Ao final, dez carros foram deixados para trás e, para comemorar a bandeirada quadriculada da vitória, o dono do veículo bicolor estaciona e vai em direção à equipe, esfuziante. Acena a todos com um sorriso, enquanto tira as luvas e o capacete. Peraí... Unhas coloridas? Cabelo comprido e com mechas? Pois a vencedora foi Bia Figueiredo, de 25 anos, a única piloto mulher do Desafio Internacional das Estrelas – corrida de kart anual que reúne os principais nomes do automobilismo mundial. A cena aconteceu em 2010, quando Bia fez outros 25 pilotos comerem poeira, entre eles Rubens Barrichello e Felipe Massa. A vitória de Bia é um pequeno símbolo da conquista das mulheres por espaço e igualdade. Elas quebraram preconceitos e, cada vez mais, assumem trabalhos que antes pertenciam só aos homens. Hoje as representantes do outrora chamado sexo frágil podem ser encontradas em canteiros de obras, laboratórios e nas carreiras militares, lugares de reconhecido domínio masculino. Pesquisas do Ministério do Trabalho mostram que, em 2010, mais de 280 mil brasileiras com curso superior arrumaram emprego, contra 173 mil homens com o mesmo nível de escolaridade. Ao todo, 40% das vagas com carteira assinada pertencem a elas, que se desdobram para cuidar, também, das questões domésticas. Uma rotina atribulada, mas bem administrada – sem deixar de lado a vaidade, claro.

Em busca da polE posiTion Aos 8 anos, a paulistana Ana Beatriz Figueiredo assistiu pela primeira vez a uma competição de kart e pediu ao pai para correr. O psiquiatra Jorge Figueiredo não pensou duas vezes: comprou um kart corde-rosa para ela. No começo, os colegas a jogavam para fora da pista. “Quando terminava a corrida, eles nem ligavam se tinham ganhado. O importante era não chegar atrás de mim”, lembra, entre risos. A jovem correu de kart até os 17 anos. Noiler Borges, seu preparador físico à época, resolveu apresentá-la ao ex-piloto André Ribeiro, famoso por empresariar grandes nomes das pistas. Nas conversas, Borges dizia que tinha um piloto especial – sem revelar que era uma mulher e influenciar a avaliação. Engano dele. “Me deparei com uma menina extremamente competente, que teve um resultado espetacular”, conta Ribeiro, que hoje gerencia a carreira de Bia. Atualmente, ela corre a Fórmula Indy, com 23 homens e outras duas pilotos, a norte-americana Danica Patrick e suíça Simona de Silvestro. Bia mostra que aquela velha história sobre as mulheres serem um desastre ao volante é puro machismo. Mas ela não é a única prova: os números do Departamento Nacional de Trânsito apontam que, em 2008, as quase 15 milhões de mulheres motoristas do país (33% do total) foram responsáveis por apenas 11% dos acidentes. “É mito dizer que só os homens têm facilidade na direção e na noção espacial. Elas

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são mais atentas”, afirma Alysson Massote Carvalho, psicólogo da Universidade Federal de Minas Gerais. Inclusive, não há limitação para que elas exerçam atividades ditas masculinas, completa Kelb Bousquet, professora de fisiologia da Universidade de Brasília. “A mulher tem mais gordura, enquanto o homem tem mais massa muscular. Por isso, eles tendem a ser mais fortes. Contudo, o corpo da mulher pode se adaptar para qualquer atividade que exija força.” Para competir em pé de igualdade, Bia capricha na musculação e decora o circuito antes das provas. Nas pistas ela não se perde, mas na rua... “Confundo os caminhos sempre! Se você me perguntar, agora, qual é a direita e a esquerda, vou ter de pensar um pouco para responder”, ri. A única diferença de seu boxe é o espelho grande. “Preciso ver se o macacão está alinhado. E não visto o capacete sem me maquiar”, confessa.

mEia volTa, volvEr! Durante a faculdade de economia, Edneide Lima Nóbrega descobriu que não era exatamente com os números que gostaria de trabalhar. Ela já sonhava com outra profissão: queria ser uma policial de farda impecável, tal qual aquelas que via marchar no centro de São Paulo. Antes mesmo de ganhar o diploma que guardaria para sempre na gaveta, ingressou na Polícia Militar da capital, em 1979. De lá, nunca mais saiu. Edneide, que hoje é tenente-coronel, vivenciou as transformações na carreira das mulheres policiais. Até meados dos anos 1980, elas eram responsáveis por acompanhar casos considerados brandos, envolvendo crianças abandonadas ou adolescentes infratores. Hoje, cumprem os mesmos papéis dos homens. “Um dos desafios das policiais é provar que têm a mesma capacidade dos homens e, ao mesmo tempo, garantir o respeito às especificidades femininas”, apontam Barbara Soares e Leonarda Musumeci, autoras do livro Mulheres Policiais. “Algumas adotam estratégias que reiteram os estereótipos de gênero. Outras, ao contrário, buscam a afirmação aderindo à lógica da competição masculina”, relatam as pesquisadoras.

Bia Figueiredo, 25. uma das únicas mulheres a correr a Fórmula indy, a piloto fez os marmanjos comerem poeira em uma prova de kart em 2010


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De voz suave e pausada, Edneide, de 50 anos de idade e 32 de carreira, conta que não precisou mudar de personalidade para alcançar um cargo de chefia. “Sou tranquila, gosto de ouvir as pessoas. Tudo pode ser resolvido com educação.” Com essa postura serena, porém forte, no início de 2011 ela se tornou a primeira chefe do Estado-Maior do Comando de Policiamento da Área Metropolitana 3. A divisão orquestra mais de 3,5 mil policiais da zona norte de São Paulo. A coronel é uma exceção à tese de que, quando as mulheres assumem postos mais elevados, tendem a ser mais duras. Para a maioria, impor-se em ambientes masculinos exige pulso firme e trabalho denso: no Brasil, elas dedicam 56,6 horas semanais ao trabalho, e os homens, 52 horas, em média. “Elas ainda precisam mostrar mais competência do que um homem. Se algo der errado, eles podem dizer que o motivo é o fato de ela ser mulher”, diz a socióloga Lorena Holzmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Além de comandar o batalhão, Edneide dita as regras em casa. “O marido sempre obedece a mulher, né?”, brinca. Ela é casada com o capitão Wladimir de Oliveira, também policial militar. A patente do marido é inferior à dela, mas isso não é um problema. “Em casa, um apoia o outro”, diz. Mãe da psicóloga Caroline, de 26 anos, e do pequeno André, de 8, a tenente-coronel tem a admiração dos filhos. O caçula adora dizer que a mãe é policial e sonha em ser bombeiro.

o céu é o limiTE Quando criança, Rosaly Lopes, de 53 anos, queria ser astronauta. O interesse pela ciência era tão grande que, logo na adolescência, ela traçou o plano de trabalhar nos Estados Unidos, na National Aeronautics and Space Administration, a famosa Nasa. E conseguiu. Rosaly, hoje geóloga, começou a estudar astronomia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como no Brasil não havia programa espacial, a cientista optou por terminar a faculdade na Universidade de Londres, em 1975. Dos 31 alunos de sua classe, apenas quatro eram mulheres. Nas aulas de geologia, se interessou em pesquisar vulcões de vários planetas do sistema

Veroneide Brito, 32. (à frente, com óculos e cabelos longos). ela desafiou o marido e trabalha na construção do hospital da Mulher de Fortaleza

solar. Ao descobrir que eram parecidos com os da Terra, ela passou a visitar essas formações em vários países. “Durante uma das minhas expedições, na Itália, perguntaram se eu era namorada de um dos pequisadores do grupo”, rememora – foi o único episódio preconceituoso que enfrentou na carreira. Rosaly hoje chefia um grupo de pesquisa na Nasa, com 12 homens e duas mulheres. A geóloga é parte de uma geração que vem mudando a cara dos laboratórios. Atualmente, no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 49% dos pesquisadores são mulheres. Na União Europeia, o número de mulheres cientistas também é quase o dobro do de homens. Porém, o caminho do reconhecimento ainda é longo: dos 545 Prêmios Nobel concedidos até hoje, apenas 16 foram parar em mãos femininas.

com as mãos na massa Ajudar a construir uma das principais obras da cidade onde mora é motivo de orgulho para a cearense Veroneide de Paula Brito, de 32 anos. Ela é uma das 13 mulheres que trabalham como pedreiras no Hospital da Mulher de Fortaleza, ao lado de outros 200 homens. A inserção de mulheres no empreendimento, que deve ser inaugurado em 2012, é uma iniciativa da prefeitura da cidade, que criou cursos gratuitos para capacitar mulheres para a construção civil. Em quatro anos, a capital cearense ganhou 180 novas profissionais. Aprender a profissão foi uma maneira de Veroneide desafiar o marido, Sebastião, também pedreiro. Sem comentar nada com ele, a ex-empregada doméstica, mãe de Victória, 1 ano, e Victor, de 10, descobriu o curso e se matriculou no mesmo dia. Ao mostrar a inscrição ao companheiro, a resposta foi direta: “Mais um papel para ficar na gaveta”, desconfiou. “Ah, é? Você vai ver...”, disse Veroneide. Curiosa, enquanto fazia o curso, ela passou a treinar em casa, trabalhando em pequenas reformas. “Percebi que essa era uma vocação. Aprendi tudo com facilidade”, afirma. Até o marido, admirado com o talento descoberto, agora a apoia, cuidando da filha caçula enquanto Veroneide não chega do trabalho. A historiadora Roseli Boschilia, do Núcleo de Relações de Gênero da Universidade do Paraná, explica que a sociedade manteve, por anos, uma visão machista diante de ocupações como a de Veroneide. “Se uma mulher trabalhasse em determinadas áreas, como a construção civil, ela estaria fora do seu espaço e isso a tornaria masculina. O que não passava de um preconceito”, assegura. Se falta força física, sobra dedicação e paciência para alcançar resultados. Dados do Ministério do Trabalho apontam que a presença feminina na construção civil subiu 44,5% nos últimos anos. E quem disse que a carreira de Veroneide ficará restrita aos acabamentos? O próximo passo é fazer um curso de bombeiro hidráulico. Ela acaba de comprar um terreno no interior do Ceará e já planeja como será a nova casa. “Cuidarei de cada detalhe com carinho.”

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