Ano 18
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NO 208 |
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Samsung
Novidade
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Luiz Claudio Marigo explica como a era digital resolveu problemas e criou novas oportunidades na fotografia de natureza
O fotógrafo que faz grandes produções de moda com bonecas
Servição DE
objetivas
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Dicas para criar imagens abstratas
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Confira fotos premiadas de natureza e vida selvagem
Livro documenta a simpatia do povo cubano
NOVIDADES NAS LIVRARIAS
GRANDE ANGULAR
Araquém revisita Santos F
amoso pelas fotos de natureza, Araquém Alcântara volta-se para a cidade e para a arquitetura em novo livro. Santos (Terra Brasil) é uma homenagem, mas sem perder o viés crítico, à cidade onde ele morou dos 6 aos 35 anos. O fotógrafo nasceu em Florianópolis (SC) e mudou-se para a baixada santista com a família ainda criança. Foi entre a zona portuária e as construções históricas do centro que Araquém começou a fazer as primeiras fotos, nos anos de 1970. Muito antes de se tornar um renomado fotógrafo
de natureza, dedicava-se aos registros de cenas urbanas em que as personagens eram marginalizados, prostitutas e banhistas da Praia do Gonzaga. As 80 imagens em preto e branco do livro orientam o leitor em um passeio pelos diferentes cenários de Santos e também fazem uma retrospectiva dos 40 anos de carreira de Araquém – que mesmo dedicado, nos último anos, a registrar a fauna e a flora brasileiras, nunca deixou de fotografar a cidade. Há fotos de diferentes décadas a partir dos anos de 1970 e algumas recentes, feitas em 2013. O livro pode ser encontrado nas principais livrarias por R$ 79.
O
rganizado pelo curador Eder Chiodetto, o livro Geração 00 (Edições Sesc) traz um amplo panorama da fotografia brasileira da última década. A ideia era selecionar obras que enfatizassem a expansão da linguagem fotográfica. E os artistas relacionados na publicação ultrapassam os limites do “momento decisivo” e levam as imagens ao documentário e às artes visuais. Os selecionados não necessaria-
mente fazem parte da geração que se formou nos anos 2000, mas todas as imagens do livro foram feitas no período entre o ano 2001 e 2010. Entre os presentes estão Alexandre Sequeira, Pedro David, Cris Bierrenbach, Guy Veloso, João Castilho, Gustavo Pellizzon, João Wainer, Rodrigo Albert, entre outros. Está disponível nas principais livrarias por R$ 99.
Outro destaque
Capital
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hega às livrarias (por R$ 70) a reedição de Capital: São Paulo e seu patrimônio arquitetônico (Imprensa Oficial), de Juan Esteves. Nas 276 páginas do livro, o leitor faz um passeio pelo centro histórico de São
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Paulo conhecendo as principais igrejas e edifícios da cidade, como o Mosteiro de São Bento e o antigo prédio do Banespa. A curadoria é de Antonio Carlos Abdalla e o trabalho de pesquisa de Denise Lorch.
Fotos: Livia Capeli
Panorama da nova geração
Acima e abaixo, à esq., retratos feitos em Viñales em 2009 e 2011, respectivamente; e, abaixo, à dir., crianças vão à escola em Havana, em imagem de 2013: Lisette Guerra encontrou pessoas festivas e prontas para fazer pose por toda Cuba
No ritmo
de Cuba A fotógrafa Lisette Guerra viajou para a ilha socialista seis vezes nos últimos quatro anos para fazer um documentário que se transformou em um livro denso, colorido e alegre 52 Fotografe Melhor no 208
Acima, à esq., motorista em Viñales, em uma das primeiras viagens da fotógrafa, em 2009; à dir., rapaz em Cayo, em uma das visitas de 2011; abaixo, banda Los Van Van, na Casa de la Música, em Havana, durante a última ida a Cuba, em 2013
POR KARINA SÉRGIO GOMES
Fotos: Lisette Guerra
Q
uando a gaúcha Lisette Guerra planejou a primeira viagem a Cuba, em 2009, além de descansar, só tinha uma coisa em mente: aperfeiçoar seus passos de salsa, a sensual dança latino-americana – hobby ao qual se dedica desde 2008. “Era para ser apenas uma viagem de férias com as amigas, em que faria aulas de dança”, conta. Mas o olhar de fotógrafa a levou a entrar em outro ritmo cubano: os das imagens alegres, fortes e coloridas. Lisette voltou à ilha caribenha mais cinco vezes em um período de quatro anos para re-
Apresentação de rumba, em Callejón de Hammel (Havana) em 2013
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Acima, crianças a caminho da escola em Santa Clara; na parte central da ilha; ao centro, uma das ruas do centro histórico de Havana e o interior de um prédio antigo na capital cubana
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gistrar a população, a gastronomia, a fé, a arquitetura e as paisagens da ilha. O resultado do trabalho é o primeiro livro documental feito por ela, Cuba, de 300 páginas, lançado em dezembro de 2013. Ela lembra que, um pouco antes de o avião aterrissar na primeira viagem, olhou pela janela e não gostou do que viu de Havana, a capital cubana. “Parecia que tinham jogado uma bomba na cidade. De cima, parecia que tudo era velho e feio. Mas foi só pisar no solo cubano que comecei a adorar”, conta. Lisette percebeu o colorido
de algumas construções, dos carros antigos e das roupas, além da simpatia das pessoas. “Tudo parecia estar pronto para uma foto. Sentia a receptividade dos cubanos para serem fotografados. O povo é muito amigável e me lembrou muito o brasileiro”, relata. As semelhanças atraíram tanto a fotógrafa que a primeira ideia foi organizar uma mostra com fotos mostrando as paridades entre Brasil e Cuba. Cinco meses depois da primeira viagem, Lisette retornou à ilha para fazer mais fotos. Dessa vez, com um roteiro bem
Fotos: Lisette Guerra
Nonono nono nono nononono nono nonono nono nonono nono ono nono nono
planejado com tudo que gostaria de registrar. Mas ainda parecia pouco para as ambições da fotógrafa, que fez outra, e mais outra, e mais outra... Ao todo foram seis, entre 2009 e 2013, todas com duração média de vinte dias. De acordo com ela, foi importante visitar o país em diferentes momentos porque só assim conseguiria registrar manifestações culturais e paisagens distintas. “Em janeiro, por exemplo, é inverno e os cubanos não vão à praia. Quando voltei no começo do verão, em maio, as praias estavam cheias de gente
e casais dançando salsa, e as plantações de fumo com belas folhas verdes”, recorda.
A MODA DAS RUAS
Acima, vendedora de flores na Plaza de San Francisco, em Havana
Fotógrafa desde a década de 1980, Lisette atuou no jornal gaúcho Zero Hora por 20 anos e, em 2000, foi correspondente internacional na Itália para a revista Quem Acontece. Especialista em retratos e fotografias de moda – é autora dos livros técnicos Retrato de Modelo (Zero Hora e L&PM, 1997) e Figurino – Uma experiência na televisão (Editora
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CULTURA
Acima, treinador orienta boxeadores em Havana; ao lado, homem fumando um típico charuto cubano em Moncada, interior do país
Paz e Terra, 2002) –, a fotógrafa queria trazer um pouco do glamour do mundo fashion para o seu trabalho documental. “Quando comecei a pesquisar livros com imagens de Cuba, percebi que a maioria falava sobre pobreza e trazia um ar triste de um país parado no tempo. E não foi o que senti. Vi um país muito vibrante e colorido. Por isso, as fotos tinham de ser glamourosas”, explica. Segundo a fotógrafa, ao caminhar pelas ruas de Havana e pelo interior do país, ela encontrava “produções” prontas para serem regis-
tradas. “Gosto muito de fotografar contrastes em meus ensaios. Coloco uma bela modelo em frente a uma borracharia suja, por exemplo. Em Cuba, encontrei esses contrastes prontos. Produções que demorariam dias para fazer para um editorial de moda”, diz. Para não assustar e conseguir se aproximar das pessoas para “captar suas almas”, Lisette caminhava com uma Nikon D700 e apenas uma lente zoom ou fixa (ela variava as objetivas a cada saída fotográfica). Embora goste mais de fotografar pessoas e fazer retratos, a fotógrafa se encantou com os cenários cubanos. “Gosto de fotografar gente e sempre procuro humanizar as paisagens colocando um elemento humano. Mas as paisagens cubanas são maravilhosas. Come-
Fotos: Lisette Guerra
Em sentido horário: casamento registrado na mais recente viagem, em 2013; retrato de um cubano fashion feito em uma das primeiras idas ao país, em 2009; senhora religiosa com bebê em Havana; e mãe com seu filhos em Viñales, em 2010
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Fotos: Lisette Guerra
Acima, agricultor na plantação de fumo em Viñales; ao lado, detalhe da fabricação de charuto em Moncada
cei a adorar fazer esse tipo de foto sem a necessidade de colocar uma pessoa no quadro”, afirma.
LIVRO E EXPOSIÇÕES As primeiras viagens renderam a exposição Luz de Cuba, em 2012, com 50 imagens, que ficou em cartaz no Centro Cultural Érico Verissimo, em Porto Alegre (RS), e no Museu Nacional de Brasília, no Distrito Federal. Depois da mostra, Lisette viajou mais uma vez para a ilha em janeiro de 2013, dessa vez acompanhada pelo jornalista Sérgio Araújo, que a ajudou na edição do livro.
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Lisette tinha cerca de 10 mil imagens de material bruto. Selecionou 250 para o livro Cuba e cerca de 60 para a mostra homônima – com previsão de ficar até o dia 11 de janeiro de 2014 no Memorial do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. A fotógrafa dispensou o trabalho de curadoria para a exposição e decidiu que ela mesma, com auxílio de Sérgio Araújo, escolheria as imagens porque sabia melhor do que qualquer curador de arte o que mostrar. No livro, as imagens estão organizadas por capítulos nomeados como Cores, Geografias, Formas, Pes-
Serviço: Cuba Autor: Lisette Guerra Textos: Sérgio Araújo e Ignácio de Loyola Brandão ISBN: 978-85-65526-65-4 Preço de lançamento: R$ 100
soas, Sons, Aromas, Lembranças e Fé. A divisão foi sugerida por Sérgio, que viajou com a fotógrafa para fazer uma série de entrevistas que serviram de base para os textos de abertura de cada capítulo. A apresentação foi escrita pelo jornalista Ignácio de Loyola Brandão, por quem Lisette tem profunda admiração e que conhece bem a realidade cubana.
VIDA DE FOTÓGRAFO
O fotógrafo Ben Canales costuma posar para suas próprias imagens, que precisam de longa exposição
À luz das
estrelas 82 Fotografe Melhor no 208
Ben Canales
O norte-americano Ben Canales viaja para os lugares mais afastados em busca de constelações para compor paisagens com fundo estrelado POR KARINA SÉRGIO GOMES
A
noite cai e, nas grandes cidades, centenas de milhares de lâmpadas acendem. A poluição luminosa dos centros urbanos ofusca o brilho das estrelas que surgem no céu – o que faz a noite parecer menos estrelada. Mas elas estão
lá. E para registrá-las é preciso buscar um escuro noturno mais profundo. Essa é a especialidade do fotógrafo norte-americano Ben Canales, que viaja para lugares longínquos em busca da luz de constelações, como a Ursa Maior, Via Láctea e Cruzeiro do Sul.
Com apenas 31 anos de idade, ele é um dos maiores conhecedores do tema e, em 2011, com uma dessas fotos, conquistou o primeiro lugar no concurso Traveler Photo Contest, da National Geographic Traveler. Canales conta que admirar as estrelas é um hábito de in-
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A imagem acima foi feita em Crater Lake National Park, em Oregon, nos Estados Unidos, e ganhou o prêmio de melhor fotografia no concurso da revista National Geographic Traveler
fância. “Amo olhar para o céu à noite desde criança. Isso sempre me inspirou, mas nunca pensei em ser astrônomo. Gosto apenas da sensação de ficar deitado na grama vendo o céu estrelado. Quando comecei a fotografar as estrelas, percebi que pouca gente fazia isso e comecei a me especializar”, diz. E foi por acaso que ele descobriu a técnica para fotografar estrelas. O interesse pela fotografia veio de
viagens que costumava fazer com os amigos. “Fazer fotos era compartilhar sentimentos e experiências”, conta. As primeiras imagens foram de paisagens com montanhas e florestas. Como gosta muito de acampar, costumava passar a noite vendo as estrelas e depois, além de apreciá-las, passou a registrar os pontos luminosos no céu. Em 2008, enquanto trabalhava como marceneiro numa construção em Por-
Ben Canales (acima) costuma usar uma Canon EOS 1DX com objetiva 24-70 mm f/2.8 para fazer suas fotos
Fotos: Ben Canales
POR CONTA PRÓPRIA
tland, norte dos Estados Unidos, Canales machucou as mãos. Sem poder trabalhar, resolveu viajar para o Parque Nacional Hot Springs, no Arkansas, sul do país. Em posse de uma Canon EOS 30 D, emprestada de um amigo, e um tripé, começou a fazer fotos de pôr do sol. A noite foi caindo e ele continuou “brincando” com a câmera, fazendo ajustes na abertura do dia-
fragma e na velocidade. Ao ver as imagens, percebeu que havia muito mais pontos brilhantes no céu nas fotos do que conseguia ver a olho nu. “Quando descobri que poderia fotografar estrelas, fiquei obcecado”, diz. E foi assim que Canales descobriu uma nova profissão – unindo as paisagens e as estrelas, o que, segundo ele, é o diferencial das fotos que faz.
Ben Canales é autodidata. Nunca fez nenhum curso específico de fotografia e o que o motiva a se especializar cada vez mais em imagens noturnas de céu é o desafio da captura. E, por tentativa e erro, descobriu o melhor equipamento, tempo de exposição e lentes necessárias para fotografar suas musas, as estrelas. “Gosto de descobrir coisas novas por conta própria”, conta. Hoje, ele usa uma Canon EOS 1DX com objetiva 24-70 mm f/2.8. O único equipamento de iluminação que usa é um farol ou uma lanterna para auxiliá-lo durante a montagem dos acessórios e jogar luz em algum ponto da paisagem. Apesar da estrutura pequena, cada foto implica uma série de estudos antes de sair a campo. A primeira coisa que procura se informar é a fase da lua, que deve estar com apenas 1/3 do corpo (seja minguante ou crescente) presente no céu para que a luz do luar não atrapalhe a das estrelas. Canales também pesquisa bastante sobre as paisagens do lugar,
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Para iluminar o primeiro plano da foto ao lado, Canales usou apenas uma lanterna acoplada à cabeça; abaixo, um acampamento no Estado de Washington, nos EUA
as condições climáticas, o horário e a posição em que o conjunto de estrelas que almeja registrar estará no céu – o software Stellarium (que pode ser baixado em www.stellarium.org) o ajuda a descobrir as datas e exato local em que as constelações estarão. “Antes de viajar, também procuro fotos de outras pessoas para saber o que posso encontrar na região. É difícil visitar um lugar novo no escuro, mas é divertido”, diz.
Fotos: Ben Canales
OS CENÁRIOS O fotógrafo costuma escolher regiões que fiquem cerca de 80 km e 300 km distantes das grandes cidades para evitar as luzes urbanas. Canales também prefere locais que tenham elementos como montanhas, rios, e uma casa ou fazenda que o ajude a compor uma paisagem interessante. Para fazer as fotos de uma campanha publicitária da marca de cerveja Stella Artois no Brasil, o fotógrafo foi para a Praia do Bonete, em Ilhabela, no litoral norte paulista, subiu até a Pedra Macela, em Cunha, na região leste do Estado. “Esses lugares estão distantes das cidades e oferecem belas paisagens naturais para compor com as estrelas”, informa. Apesar de precavido, nem sempre o tempo coopera com Canales. Na estada paulista, as nuvens deram um certo trabalho para o fotógrafo, que teve de esperar alguns dias para conseguir registrar um céu limpo. Para fazer a imagem que ele considera a melhor de todas até hoje, teve de contar com uma ajuda celestial. Ele viajou para Lost Lake, no Oregon, oeste dos Estados Unidos, porque sabia que encontraria um céu incrível. Era a primeira vez dele na reserva ambiental, e havia muitas 4
Fotos: Ben Canales
Ao lado, imagem feita em Ilhabela (SP) durante a sessão de fotos para a campanha brasileira da cerveja Stella Artois (abaixo, making of da produção)
Acima, outra foto feita no Brasil: Canales escolheu a Praia do Bonete, em Ilhabela, e a Pedra Macela, em Cunha (SP), lugares afastados, em que as luzes das cidades não ofuscam as das estrelas
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nuvens para atrapalhar seus planos e, na manhã seguinte, ele precisaria ir embora. Canales começou a andar no escuro pela floresta. O sono começou a bater e junto veio o mau humor. Até que, abrindo espaço entre arbustos, encontrou o lago, que dá nome ao local, e, sobre a paisagem, não havia uma nuvenzinha atrapalhando. “Fiquei paralisado. Depareime exatamente com a cena que tinha imaginado quando quis ir para lá fotografar. Era um céu intensamente brilhante e as estrelas da Via Láctea formaram um arco com o reflexo no lago. Antes de fotografar, fiquei uns 20 minutos apenas observando a cena de tão im-
pressionado que estava”, conta. Embora a maioria das imagens sejam compostas de paisagens e estrelas, às vezes ele costuma posar para suas próprias fotos. “A exposição é de cerca de 30 segundos e a pessoa tem de ficar parada esse tempo, o que não é fácil. À noite também costuma fazer frio e o pessoal já está cansado no horário em que faço as fotos. Por isso, prefiro ser eu mesmo o modelo”, explica o fotógrafo. Além do céu dos Estados Unidos e Brasil, Ben Canales já fotografou constelações nas Ilhas Fiji, na Oceania, e pretende ir, em breve, para a mágica cidade inca de Machu Picchu, no Peru.