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Histórias de vida no mar feitas
A fotografia brasileira de RoboCop Lula Carvalho conta como foi filmar pela primeira vez em Hollywood
Conheça as características para a produção de
roteiros de não ficção Aprenda com Gabriel Nóbrega, um craque da
animação brasileira
Os bastidores da gravação de um reality show explosivo
com apenas duas HDSLRs
Áudio em câmera HDSLR Soluções simples para superar as limitações do equipamento
Direção Os atores Joel Kinnaman (à esq.) e Gary Oldman (à dir.) em cena de RoboCop, dirigido por José Padilha e fotografado por Lula Carvalho, dupla brasileira
A FORMIGUINHA QUE CHEGOU A
HOLLYWOOD Lula Carvalho, diretor de fotografia do grande sucesso Tropa de Elite, fala sobre sua trajetória e como foi filmar na superprodução RoboCop com José Padilha POR KARINA SÉRGIO GOMES
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carioca Luís Carvalho, 36 anos, mais conhecido como Lula, tem o cinema no sangue: é filho de um dos mais importantes diretores de fotografia do Brasil, o premiado paraibano Walter Carvalho, 67 anos. Lula cresceu vendo o pai trabalhando em sets de filmagens. Aos 12 anos, já revelava películas, mas não sabia se gostaria de trabalhar com cinema, pois achava algo de muita responsabilidade. Mas acabou seguindo os passos do pai e, nos últimos nove anos, fez um “trabalho de formiguinha”: atuou em todas as funções da fotografia dentro de um filme. Isso garantiu a ele experiência e segurança para assumir a direção de fotografia de uma superprodução de Hollywood, o novo RoboCop, dirigido pelo também brasileiro José Padilha. Padilha foi convidado pela Sony Pictures para filmar Hércules. Ao chegar na sala de reunião, disse aos presentes que não tinha interesse naquele filme, mas estava a fim de filmar o longa do cartaz que estava pendurado na parede: a imagem era do remake anterior de RoboCop. Tarimbado pelo sucesso da ação policial Tropa de Elite (2007 e 2010), não foi difícil convencer os produtores de que ele era a pessoa certa para a direção da produção cujo orçamento foi de US$ 130 milhões. Padilha ainda impôs mais uma condição: queria três brasileiros na equipe, o montador Daniel Resende, o músico Pedro Branco e o diretor de fotografia Lula Carvalho.
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Fotos: Divulgação
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Acima, os atores Joel Kinnaman e Abbie Cornish em RoboCop; abaixo, o diretor José Padilha durante as filmagens da produção hollywoodiana
A parceria entre Lula e Padilha começou um pouco antes de filmarem o primeiro Tropa de Elite (2007). O cineasta estava montando uma equipe para fazer um documentário sobre extração de madeira – que nunca ficou pronto. Embora já trouxesse na ba14
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gagem a direção de fotografia de alguns filmes não ficcionais e de curtas, Lula não sabe, até hoje, o real motivo de Padilha tê-lo chamado para a direção de fotografia do projeto. “No avião, indo para o local das filmagens, a gente começou a conversar. Desco-
brimos que, além do cinema, tínhamos o Flamengo como paixão em comum. Naquele momento nos tornamos amigos”, brinca. Durante essa viagem, Padilha comentou com Lula Carvalho sobre a ideia de Tropa de Elite e o diretor de fotografia ficou entusiasmado. À princípio, Lula não cogitava ser convidado para fazer o filme, mas ficou imaginando quem Padilha chamaria. Pois, dependendo de quem fosse o diretor de fotografia, ele planejava se oferecer como assistente. Enquanto ocorriam as filmagens do documentário, Padilha disse: “Você vai filmar o BOPE (nome provisório de Tropa de Elite) comigo”. E assim começou a parceria. Em 2006, Lula assumiu a direção de fotografia de Tropa de Elite e, consequentemente, da continuação Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora É Outro (2010). O bom resultado dos dois filmes o transformou no homem da fotografia de Padilha. E, quando chegou o momento de montar a equipe para
Ao lado, Lula Carvalho e José Padilha (de gorro) durante as filmagens de RoboCop; abaixo, o diretor de fotografia medindo a luz no ator Gary Oldman
filmar a produção milionária de RoboCop, o cineasta fez questão de levá-lo. “Eles sabiam que eu não tinha experiência em um longa daquele porte. Mas Padilha bateu o pé e eles aceitaram”, conta.
PRIMEIROS PASSOS Quando terminou o colegial, Lula Carvalho precisava escolher uma profissão e resolveu se testar no ambiente cinematográfico. “Na época em que comecei, tudo era mais criterioso. Não tinha muito espaço para consertar erros. Minha primeira função foi trocar os negativos. Guardava os usados e os trocava pelos virgens. Optei por começar assim porque era uma função em que tinha domínio. Mas não sabia se ia conseguir evoluir na área”, lembra. Produção após produção, Lula percebeu que tinha um futuro na fotografia e resolveu dar mais um passo: foi trabalhar como foquista. “Não me forcei. Fui conquistando cada passo conforme meu momento e a minha capacidade. Era um trabalho de formiguinha”, conta. Dentro dessa função, um dos trabalhos mais importantes que fez foi a filmagem da queima de fogos do réveillon de Copacabana, no Rio de Janeiro. “É algo muito rápido e você não pode errar o foco porque não tem como repetir cada estouro. Era preciso estar muito atento e ser ágil”, conta. Quem lhe fez o convite para dar mais um passo foi o diretor de fotografia Mauro Pinheiro, que o chamou para ser assistente de câmera no filme Eu Tu Eles (2000), de Andrucha Waddington. “Considero o Mauro um dos meus mestres. Naquele momento, me senti apto para dar mais um passo”, conta. A consagração de que estava pronto para assumir a nova posição, entretanto, veio ao filmar com o pai o filme Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho. FILM MAKER
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Acima, o ator Selton Mello em cena do filme Lavoura Arcaica (2001), primeiro que Lula fez com o pai, Walter Carvalho; ao lado, pai e filho durante a filmagem de Budapeste (2009)
ENTRE PAI E FILHO Walter Carvalho estava à procura de um novo assistente para rodar o filme. A indicação de Lula veio do próprio diretor do longa. Walter ficou relutante no começo, mas topou chamar o filho, com o respaldo de Luiz Fernando, para ser seu primeiro assistente de câmera. “Minha vida se divide antes e depois de Lavoura Arcaica. Foi uma prova de fogo. O Luiz Fernando propunha planos que eram muito difíceis de serem feitos tecnicamente. E estávamos filmando em um local que não tinha como fazer o copião. Amadureci muito durante aquelas filmagens. Depois que fiz esse filme me senti apto para ser primeiro assistente de câme16
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ra”, lembra Lula, que completou 21 anos durante as filmagens. Depois da experiência como primeiro assistente, vieram os sucessos Amarelo Manga (2002), Abril Despeçado (2001) e Cidade de Deus (2001). Às vezes, Lula se arriscava fotografando alguns curtas. Chegou a trabalhar mais uma vez com o pai na série Carandiru, para a TV Globo, e em Cazuza (2004), em que foi operador de câmera. Até que assinou a direção de fotografia do seu primeiro filme, Os intocáveis (2006), de Gustavo Acioli. E depois passou apenas a trabalhar como diretor de fotografia. O respaldo de Padilha e a experiência como diretor de fotografia de
Tropa de Elite carimbaram o passaporte de Lula para ir a Toronto, no Canadá, filmar RoboCop. “De certa forma, nós, sem sabermos, já estávamos nos preparando para RoboCop durante as filmagens do Tropa. [No longa nacional], gravamos cenas bem complexas, como a invasão do presídio e uma perseguição na favela durante a noite”, diz. A grande diferença de trabalhar em produções hollywodianas, segundo ele, está na maior quantidade de equipamentos, pessoas e dinheiro envolvidos.
Lula com a equipe de fotografia no set de filmagem de RoboCop
“A essência do trabalho é a mesma. Lá, porém, você tem um tempo maior de preparação. No Brasil, você não tem tanto tempo para estudar o filme. Aqui, nós usamos a criatividade para alcançar certos resultados, às vezes, até abrimos mão porque não temos tempo e energia para alcançar algum efeito. Lá, nós não podemos dizer que não conseguimos, temos tudo a nosso dispor”, explica. Com maior orçamento, a equipe de fotografia teve como desenvolver, por exemplo, uma cabeça eletrônica em que foi instalada uma
Segundo Lula Carvalho, a essência do trabalho de direção de fotografia é igual à do Brasil, mas em uma superprodução de Holywood os recursos técnicos são absurdamente maiores câmera para registrar o ponto de vista do personagem RoboCop. Enquanto para rodar os filmes no Brasil a maior parte do tempo de Lula é gasta em sets de filmagem, em Hollywood o diretor de fotografia despendeu muitas horas em reuniões plane-
jando cada detalhe. Isso também se deu por conta das grandes equipes que supervisionou. Todas as cenas de dramaturgia, Lula dirigiu ao lado de Padilha. As de efeitos especiais e algumas de apoio, era uma outra equipe que produzia. Mas tudo sob a sua superFILM MAKER
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Acima, o ator Joel Kinnaman paramentado de RoboCop; abaixo, Lula com o ator durante o lançamento do longa feito em evento no Rio de Janeiro (RJ)
visão. “É como engrenagem muito benfeita. Cada departamento executa a sua função com perfeição”, conta.
PÓS-PRODUÇÃO As cenas feitas na pós-produção, que para muitos diretores de fotografia é menos interessante visualmente de fazer, Lula viu como um grande desafio 18
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e gostou dessa etapa do processo, embora não seja uma pessoa ligada em tecnologia. “O único videogame que joguei foi o Atari. Jogos eletrônicos e computadores não são minha praia. Tenho dificuldade em lidar com esses aparelhos. Mas, para fazer esse tipo de cena, não precisava entender muito disso. Quem tinha de ter o domínio
sobre esse assunto era o pessoal da pós-produção. Eu tinha de me preocupar com a luz que queria para aquela cena. Depois, o pessoal da computação gráfica completava com os demais elementos que faltavam”, explica. O resultado final do filme agradou muito à produção de Hollywood. Tanto que Lula nem voltou para casa depois das filmagens. Durante a produção de RoboCop, ele recebeu o convite para dirigir a fotografia de As Tartarugas Ninjas – que deve ser lançado no segundo semestre de 2014. “O diretor Jonathan Liebesman gostou muito de Tropa de Elite. O fato de ter feito RoboCop me deu respaldo para dirigir outros filmes de ação e de superproduções, por isso eles me chamaram. Se o Padilha não tivesse me convidado para RoboCop, provavelmente não teria surgido essa oportunidade”, conta. A segunda de muitas outras que provavelmente virão. Walter Carvalho deve estar orgulhoso.