Liderança Hoje - edição 2

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TAMBÉM nesta edição:

VERÃO 2013

14-Os momentos particulares de um pastor

A vida pessoal de um líder de igreja não é um desperdício de tempo; é uma oportunidade de retiro e descanso Gordon MacDonald

18-“A família é a raiz de tudo”

Nancy Gonçalves Dusilek relembra o drama vivido em seu casamento e conta como Deus restaurou a sua família Por Cleber Nadalutti

22-A família em minha agenda

32-Quatro lições para uma vida familiar melhor

38-O desafio de ser bênção perto

Não seremos uma bênção longe se, primeiramente, não o somos perto. E não há nada mais perto de nós que a nossa família Ronaldo Lidório

Como os pastores conciliam as atribuições eclesiásticas e os compromissos familiares Alcindo Almeida, Paulo César e Claudete Brito, Paulo Solonca, Altair Germano falam a respeito

42-Família, uma dádiva de Deus

28- Esperança para casamentos em crise

O primeiro passo, essencial para a restauração de um relacionamento, é acreditar que a melhora é possível Robert J. Carlson

54-Fabricando tendas e edificando vidas

Pastores podem ter um ministério eficaz e garantir um tempo de qualidade com suas famílias Roger C. Palms

Uma análise dos princípios de Deus que devem reger os relacionamentos familiares Hernandes Dias Lopes

57-Voz silenciada pelo casamento Nutri a personalidade da minha esposa ou a enterrei? Gordon MacDonald

Uma reflexão sobre o chamado ministério “bivocacionado” Sérgio Augusto de Queiroz

58-Esposa de pastor: Peso ou privilégio?

Como equilibrar as tarefas e estar presente na vida da comunidade, sem se sentir sobrecarregada Rosélia Quaresma

62-Atos de equilíbrio

Entrevista especial com Timothy Keller Por Drew Dick

66-O perigo do universalismo

Se todos serão salvos no final, por que viver em santidade, anunciar o Evangelho e crer na justiça de Deus? Augustus Nicodemus Lopes

COLUNISTAS 46 - Cícero Duarte

72 - Ziel Machado 74 - Oswaldo Prado 76 - Ricardo Agreste 78 - Eduardo Rosa 80 - Russell Shedd 82 - Josué Campanhã

SEÇÕES

Imagens: istockphotos, fotolia, 123rf, divulgação

4 - Editorial/Expediente 6 - Atualidades 12 - Mini-entrevista 47 - Ferramentas 70 - Epístolas


Introdução w w w. l i d e r a n c a h o j e . c o m . b r

A família na agenda

P

astores estão disponíveis 24 horas como alguns postos de

Liderança Hoje é uma publicação trimestral da Cristianismo Hoje Editora Ltda. CNPJ 15.384.289/0001-67

NOSSA MISSÃO Servir e fortalecer os pastores e líderes com conteúdo relevante e prático que incentive a fidelidade bíblica e a eficácia pastoral.

gasolina e lojas de conveniência? Esposas de líderes não têm nome? Filhos de pastores são ‘pastorzinhos’? Casa-

mento de pastor é diferente dos outros? Agendas pastorais põem a família em seu devido lugar? Para responder a estas e a outras perguntas, LIDERANÇA HOJE traz em sua segunda edição artigos e matérias que buscam discutir este que é um tema caro a todos os líderes: a família na agenda pastoral.

A revista Liderança Hoje é uma publicação evangélica nacional e independente. É a versão brasileira da revista Leadership Journal, fundada em 1980 pelo grupo Christianity Today International, um dos mais importantes grupos de mídia cristã do mundo, com 4 revistas impressas, 3 revistas digitais e mais de 40 sites e blogs. Liderança Hoje é uma parceria com a Sepal - Servindo Pastores e Líderes

Para alguns, como Gordon MacDonald, um calendário de compromissos é indispensável, os períodos de jantar em família, de estudo da Palavra e meditação são “sagrados” e o tempo a sós do

CONSELHO DE REFERÊNCIA

nosso conceito de ministério da igreja, as próprias fraquezas que

Aguiar Valvassoura, Altair Germano, Carlinhos Veiga, Carlito Paes, Carlos Alberto Quadros Bezerra, Carlos Alfredo, David Kornfield, Ebenézer Bittencourt, Ebenézer Soares Ferreira, Fabrini Viguier, Geremias do Couto, Gerson Borges, Gilson Bifano, Israel Belo de Azevedo, Jeremias Pereira da Silva, Johny Stutzer, Jorge Wanderley, Leonardo Sahium, Marcelo Gualberto, Marcos Amado, Neander Kraul, Paschoal Piragine, Paulo Solonca, Ricardo Barbosa, Richard Werner, Robert Lay, Segisfredo Wanderley, Sérgio Queiroz, Valdemar Kroker, Valdir Steuernagel, Walter Feckinghaus, Werner Haeuser, Wilson Costa

levam à destruição do casamento e da família. “Muitos pastores

PUBLISHER

fazem isso sem perceber”, observa ele.

EDITOR-EXECUTIVO E JORNALISTA RESPONSÁVEL

casal faz parte da disciplina. Por sua vez, Roger C. Palms chama a atenção para o fato de que podemos ser tentados a construir, em

Já Ronaldo Lidório faz uma interessante reflexão a respeito do lar: “É nosso primeiro desafio e onde devemos investir energia, tempo e relacionamento construtivo”. Uma ‘construção’ que inclui o papel (fundamental) da mulher. Como diz Rosélia Nobre Quaresma, “o fato é que nossas igrejas tem colocado expectativas irreais em relação às esposas dos pastores, cobrando-as sem valorizá-las”. A cobrança é feita também sobre os filhos de pastores. Em seu comentário, Ziel Machado abriu seu baú de memórias para falar do assunto, sendo ele filho de pastor e pai-pastor. Neste exemplar, o leitor também poderá conferir uma pequena entrevista com a Dra. Carolyn Rosalee Velloso Ewell, que falou à nossa redação sobre a formação nos seminários brasileiros; um texto sobre universalismo, do Rev. Augustus Nicodemus Lopes; uma reflexão do pastor e procurador da Fazenda Nacional Sérgio Augusto de Queiroz sobre o chamado ministério “bi-vocacional” e duas entrevistas imperdíveis: a primeira, com a escritora e conferencista Nancy Dusilek; a segunda, com Timothy Keller, fundador da Igreja Pres-

Marcos Simas Cleber Nadalutti – MTb 16820

DIRETOR DE ARTE

Rick Szuecs - www.szcomunicacao.com.br

CHARGISTA

Jasiel Botelho - www.jasielbotelho.com.br

COLABORADORES DESTA EDIÇÃO

Augustus Nicodemus Lopes, Drew Dick, Gordon MacDonald, Hernandes Dias Lopes, Robert J. Carlson, Roger C. Palms, Ronaldo Lidório, Rosélia Nobre Quaresma e Sérgio Augusto de Queiroz

COLUNISTAS

Cícero Duarte, Eduardo Rosa, Josué Campanha, Oswaldo Prado, Ricardo Agreste, Russell Shedd e Ziel Machado

ENTREVISTADOS DESTA EDIÇÃO

Carolyn Rosalee Velloso Ewell, Nancy Dusilek e Timothy Keller

TESTEMUNHOS DESTA EDIÇÃO

Alcindo Almeida, Altair Germano, Paulo César Brito e Claudete Brito, e Paulo Solonca

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Plural Indústria Gráfica Tiragem – 20.000 exemplares

biteriana Redeemer (Redentor), em Nova Iorque, e considerado um dos líderes cris-

Marcos Simas Publisher

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tãos mais influentes dos EUA. Boa leitura, amado pastor!

LIDERANÇA HOJE Verão 2013

ISSN 2316-5510



ATUALIDADES [ ONDE A FÉ ENCONTRA A CULTURA ]

“EXCELENTE SURFISTA” Em 1937, o teólogo H. Richard Niebuhr escreveu em seu livro Kingdom of God in America (Reino de Deus nos Estados Unidos, em tradução livre) que, muito frequentemente, queremos um Deus sem ira, que traga homens sem pecado para um reino sem julgamento por intermédio de ministrações de um Cristo sem uma cruz. Em março de 2004, o pastor e escritor John MacArthur, ao pregar sobre apostasia em seu programa de rádio Grace to you (Graça para você), lembrou que não é fidedigna uma apresentação do Evangelho que não traz a realidade do julgamento eterno, da lei de Deus, da condenação, do inferno eterno, que não nos adverte da ira do Senhor, que não põe sobre o pecador o peso de sua violação da lei de Deus, que não coloca como culpado o pecador diante de Deus. Já o pastor Mark Driscoll, ao pregar sobre o tema em março de 2011, chamou atenção para o fato de que existe um inferno eterno. Isso não é assunto para especulação filosófica. É um fato. Existe um inferno real. Jesus compara o inferno a um lugar de tormento que é eterno, disse Driscoll. Não é nada disso que pensa Rob Bell, autor de O amor vence (Love wins), lançado recentemente no Brasil pela editora Sextante: A história sobre Lázaro e o homem rico demonstra que há uma variedade de infernos, porque há diversas maneiras de resistir e rejeitar o que é bom, verdadeiro, bonito e humano, agora, nesta vida, o que nos faz presumir que podemos fazer o mesmo na próxima. Existem infernos individuais e sociais, infernos de abrangência mundial, e Jesus nos ensina a levar todos eles a sério. […] Assim, quando lemos “castigo eterno”, é importante que não procuremos sentidos inexistentes. Jesus não está falando de um castigo “para sempre”. Ele pode estar se referindo a alguma outra coisa que tenha implicações para a nossa compreensão do que acontece depois da morte. Ao analisar o livro de Rob Bell, Mark Galli, editor-gerente sênior da revista Christianity Today, autor da obra God wins (Deus vence, em tradução livre), destacou que Bell fez 86 perguntas apenas no primeiro 6

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capítulo de O amor vence. Segundo Galli, não há nada de errado fazer tantos questionamentos a Deus, mas assinala que isso não significa que, ao fazer determinadas perguntas, Deus nos dará “determinadas respostas”: Até que compreendamos quem é Deus, todas nossas perguntas são como correr atrás do vento. Mas tão ruins quanto as perguntas de Bell (são centenas delas!) são as respostas que ele oferece a seus leitores: Ele [Jesus] deixa a porta aberta. Bem aberta. Criando todo tipo de possibilidades. [...] Jesus é tão exclusivo quanto si mesmo e inclusivo o suficiente para abarcar cada partícula da criação.[...] Jesus perdoa a todos, mesmo que eles não tenham pedido. Tudo feito. Tudo providenciado. [...] O perdão é unilateral. Deus não está esperando por nós para acertar as coisas, para limpar, dar forma, levantar. Ele já fez isso. Como se não bastasse o livro, Rob Bell concedeu uma entrevista à revista Veja, quando do lançamento de seu livro no Brasil, que chamou a atenção dos pastores evangélicos brasileiros. Dentre eles, o Pr. Carlos Osvaldo Pinto, chanceler do Seminário Bíblico Palavra da Vida, lembra que “Rob Bell se alinha com um número crescente de teólogos que de tal modo destacam o amor divino e rejeitam os demais atributos do Deus Trino, como justiça e santidade, que acabam afirmando uma salvação obtida por meio de uma fé genérica, desde que sincera”. O chanceler do Palavra da Vida lembra que Veja revelou que Rob Bell deixou o pastorado da Mars Hill Bible Church, mudando-se para a Califórnia, onde surfa todos os dias. “Como teólogo, Rob Bell é excelente surfista”. — Da redação, com informações de Gospel Prime, Grace to you, YouTube, Christianity Today, e site do Palavra da Vida)



[ NOTÍCIAS QUE VOCÊ PODE USAR ]

Manuscritos na web Ninguém precisa ir à Israel só para ver de perto os Manuscritos do mar Morto: cinco mil partes deles foram digitalizados e disponibilizados para consulta na Internet. A iniciativa, fruto da parceria da Autoridade de Antiguidades israelense e do Google, permite agora que, em qualquer parte do planeta, as pessoas possam ter acesso aos textos, que datam de mais de dois milênios. Os manuscritos – localizados por acaso por um pastor de cabras em 1947, em Qumran, em uma gruta perto do Mar Morto na Cisjordânia – podem ser vistos em uma página especial vinculada ao Museu de Israel (http://dss. collections.imj.org.il/), com tradução para o inglês. Dentre os textos, estão fragmentos dos pergaminhos mais antigos do A.T. descobertos até agora, incluindo Salmos e o Livro de Isaías (foto), além de escritos apócrifos. Os documentos mais antigos são do século 3 antes de Cristo e o mais recente foi redigido no ano 70, época em que houve a destruição do segundo templo judeu por legiões romanas. Quando o trabalho estiver completo, segundo o Google, será possível ter acesso virtual a uma das primeiras cópias do Deuteronômio, parte do capítulo 1 de Gênesis e centenas de textos de mais de 2 mil anos, os quais podem trazer mais informações do tempo em que Jesus viveu e pregou, e sobre a história do Judaísmo.

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— Da redação com informações de AFP e Melissa Steffan/Christianity Today

LIDERANÇA HOJE Verão 2013

CERCEAMENTO DE DIREITOS A psicóloga Marisa Lobo, que luta pelo direito de exercer sua profissão sem o cerceamento de direitos imposto pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), enviou um estudo aos deputados federais, em busca de apoio ao Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 234/11, que susta a aplicação de dois dispositivos da Resolução 01/99 do CFP. Caso aprovado, o PDC 234 tornaria sem efeito dois textos: os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades e os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica. No documento enviado aos deputados, Marisa Lobo afirma que a pessoa humana deve ter o direito de decidir pela sua vida – “de desejar pessoa do mesmo sexo e de não desejar mais pessoa do mesmo sexo” – e destaca que “nem a Psicologia nem ciência alguma tem poder para determinar se a homossexualidade pode ser revertida ou não, pois para ela não há observação empírica que prove o nascimento de um homossexual”. A psicóloga argumenta ainda que os profissionais de Psicologia não podem sofrer limitação na relação terapeuta-cliente. “`Podemos estar diante de um conflito particular subjetivo, onde só o paciente tem poder e acesso a sua verdade, e só descobriremos se atendermos de forma imparcial seu sofrimento”. Segundo ela, a existência da resolução 01/99 do CFP aliena e “tem poder de contaminar o processo terapêutico”. — Da redação, com informações de Marisa Lobo


IGREJAS EM DESTAQUE NOS EUA Uma pesquisa postada pelo blog Church Relevance mostra quais foram os ministérios eclesiásticos mais destacados em 2012 dentre as cerca de 320 mil igrejas dos Estados Unidos. O autor do blog lembra que o estudo leva em conta frequência semanal, taxas de crescimento, inovação, influência e abertura de templos. Dentre as dez maiores igrejas em termos de crescimento, a pesquisa aponta em primeiro lugar a Igreja de Highlands, em Birmigham (Alabama), liderada por Chris Hodges. Nessa lista aparece em quinto lugar a Igreja Mars Hill de Seattle (Washington), capitaneada por Mark Driscoll. Na área de inovação, a LifeChurch.tv, em Edmond (Oklahoma), do pastor Craig Groeschel, está em primeiro; a igreja de Rick Warren, a Saddleback em Lake Forest (Califórnia), aparece em décimo. Na lista de maiores em plantação de igrejas, a líder é a Igreja Presbiteriana Redeemer, de Nova Iorque, do pastor Timothy Keller. A igreja de Mark Driscoll aparece em segundo. Quando o assunto é tamanho de igrejas, o primeiro lugar é da Igreja Lakewood (Houston, Texas), do pastor Joel Osteen, com frequência média de 44.333 pessoas, seguida da igreja Comunidade Willow Creek (South Barrington, Illinois), de Bill Hybels, com 23.213 pessoas. A pesquisa mostra ainda que a igreja que mais influencia outras é a Willow Creek, de Hybels, seguida da Igreja Saddleback, de Rick Warren. — Da redação, com informações de Church Relevance, Outreach , Ed Stetzer e Church Growth Today

Novidade em 2014 Será lançado em 2014 o Comentário Bíblico Contemporâneo (Latin America Bible Commentary - LABC), projeto do Comité Latinoamericano de Literatura Bíblica (San José, Costa Rica) em parceria com Langham Partnership International (Londres, Reino Unido), instituição fundada por John Stott. Trata-se do primeiro do gênero escrito somente por teólogos latino-americanos para as igrejas da América Central e da América do Sul e terá duas versões: espanhol e português. Com o uso de uma linguagem simples, metáforas e imagens locais, e reduzindo ao máximo o jargão teológico, o Comentário Bíblico Contemporâneo pretende ajudar seus leitores a aplicar a Bíblia para os desafios de sua cultura. — Da redação, com informações do Comité Latinoamericano de Literatura Bíblica e de Langham Partnership International

CURTAS Até o fim de 2013 deverá estar concluído a pesquisa do Projeto Fronteiras junto a comunidades tradicionais da Amazônia para que se tenha um quadro completo das comunidades ribeirinhas e indígenas que não contam com presença evangélica no estado do Amazonas. A pesquisa é coordenada pelo Pr. Ronaldo Lidório e conta com o apoio de organizações, igrejas e missões. — Fontes: Ronaldo Lidório e blog do Projeto Fronteiras O presidente do Conselho de Diretores do Movimento Lausanne, Ram Gidoomal, informou que o Rev. S. Douglas (Doug) Birdsall, diretor executivo do movimento desde 2004, assumirá a direção da Sociedade Bíblica Americana em março de 2013. O nome do substituto de Birdsall na direção executivo do Lausanne ainda não havia sido apontado até o fechamento desta edição. — Fonte: www.lausanne.org

A Missão em Apoio à Igreja Sofredora (MAIS) ministrou um curso intensivo de missões nos dias 25, 26 e 27 de janeiro, na Igreja Batista Peniel, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro (RJ). A MAIS, presidida pelo Pr. Mário Freitas, é conhecida por seu trabalho de apoio a igrejas em regiões afetadas por catástrofes, guerra e perseguição religiosa. — Fonte: www.facebook.com/maisnomundo A Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) entregou mil exemplares experimentais do Antigo Testamento na língua Kaingang. Originário do Sul do Brasil, este povo, que recebeu o Novo Testamento há 35 anos, agora tem acesso à Bíblia completa, na língua que fala ao seu coração. — Fonte: Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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[ NOTÍCIAS QUE VOCÊ PODE USAR ]

Unidos contra a corrupção Igrejas, agências humanitárias e organizações cristãs de ponta, como a Aliança Evangélica Mundial, as Sociedades Bíblicas americana e britânica e o Exército da Salvação, se uniram em Londres e lançaram, pela primeira vez, uma campanha global contra a corrupção denominada Exposed – Shining a Light on Corruption. A ideia é mostrar que os crimes de corrupção são aqueles que mais contribuem para a pobreza em todo mundo. O presidente da campanha, Rev. Joel Edwards, declarou que nenhuma nação está imune. Esta crise econômica atual expressa essa cobiça, o excesso de culturas corporativas, a desonestidade e o comportamento irresponsável nos tocou onde dói. A campanha é uma oportunidade de a Igreja fazer a sua parte: levantar a voz de indignação santa e fazer ofertas práticas de esperança, afirma Edwards. A campanha culminará com uma vigília global contra a corrupção de 14 a 20 de outubro de 2013 e a assinatura de um apelo mundial contra a corrupção que será entregue na Austrália, durante a reunião de cúpula das 20 nações mais ricas do planeta em 2014. Os organizadores pretendem reunir 100 milhões de signatários em 100 países. O coordenador internacional da Exposed, Dr. Dion Forster, lembra que a corrupção é um pecado perpetrado contra os membros mais vulneráveis da sociedade. A corrupção é uma afronta a Deus e é este o motivo que torna a campanha tão importante e urgente. — Da redação, com informações de WEA e http://www.exposed2013.com/ 10 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

EM DEFESA DAS LIBERDADES Lançada em novembro em cerimônia realizada no Auditório Freitas Nobre, na Câmara dos Deputados, a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (ANAJURE) realiza, em fevereiro de 2013, seu primeiro evento durante o 15º Encontro para a Consciência Cristã, em parceria com a Visão Nacional para a Consciência Cristã (VINACC), no Centro de Convenções do Garden Hotel, em Campina Grande (PB). Presidida pelo jurista Dr. Uziel Santana, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPe), a ANAJURE discute no 1º Encontro Nacional de Juristas Evangélicos (ENAJURE) assuntos relacionados à liberdade religiosa, defesa da vida e família, com a participação do Dr. Piero Tozzi, da Alliance Defense Fund (EUA), da Dra. Nina Balmaceda (Advocates International), do jornalista Matthew Cullinan Hoffman (LifeSiteNews. com, EUA), da Dra. Lidia Torralba (vice-presidente da Federación Interamericana de Juristas Cristianos - FIJC), dentre outros. Com representação local em 21 estados brasileiros, a ANAJURE conta com o apoio de importantes entidades internacionais do meio jurídico que militam em defesa das liberdades fundamentais, tais como Religious Liberty Partnership (RLP), Christian Solidarity Worldwide (CSW), Alliance Defending Freedom (ADF) e Advocates International, Federación Inter Americana de Juristas Cristianos (FIJC). — Da redação, com informações de ANAJURE e VINACC

Algumas curiosidades As últimas eleições legislativas realizadas em novembro de 2012 nos Estados Unidos revelaram algumas curiosidades: a 113ª Legislatura americana terá pela primeira vez um budista no Senado, um hindu na Câmara e o primeiro membro do Congresso dos EUA (foto) a se declarar “sem religião”. Dos 533 membros do Congresso empossados no início de janeiro, 56% são protestantes – muito aquém dos 75% de 50 anos atrás. — Fontes: Pew Forum on Religion and Public Life



[ MINI-ENTREVISTA ]

“Tememos mais a morte que a Deus”

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Dra. Carolyn Rosalee Velloso Ewell, paulista de 41 anos, é dona de um sólido currículo acadêmico: mestre em Teologia pelo Fuller Theological Seminary, Ph.D em Teologia e Ética pela Duke University, e bacharel em Artes - Ciências da Religião pela Westmont College. Casada com Samuel e mãe de três filhos – James (12 anos), Isabela (9) e Katharine (6) –, atua como pesquisadora e co-diretora do Comitê Latinoamericano de Literatura Bíblica (CLLB), na Costa Rica, e é diretora executiva da Comissão Teológica da Aliança Evangélica Mundial (WEA, a sigla em inglês). LIDERANÇA HOJE quis saber dela se há, de fato, uma teologia que possa ser chamada de “brasileira”. Há muitas centenas de livros de teólogos estrangeiros traduzidos para o português. Comparados aos livros brasileiros, é fácil concluir que há poucos teólogos de renome produzindo obras de referência para os estudantes de Teologia. A que a senhora atribui esse fenômeno? Acho que as razões são várias: primeiro tem a ver com a própria organização da educação teológica no Brasil. Além de ter sido reconhecida pelo governo há poucos anos, ela segue os modelos norte-americanos e europeus que enfatizam um tipo de aprendizagem focado no livro e no professor e pesquisador. Para a implementação de tais cursos, era necessária a tradução de livros do exterior. Não havia, até recentemente, muita preocupação em contextualizar os estudos ou pensar em cursos que reflitam melhor as realidades latino-americanas. Há também a tendência de a igreja brasileira achar que o que vem de fora é melhor, seja de Roma, Genebra ou Dallas. Há uma teologia brasileira? Se existe, por que é tão fraca em obras de referência? Depende dos termos de medida: fraca em que sentido? Existem alguns ótimos teólogos brasileiros e alguns livros muito bons, mas as faculdades não têm o hábito de usar autores nacionais para seus cursos. Talvez a melhor parte da teologia brasileira também não seja aquela refletida em obras de referência, mas sim no caráter das comunidades por ela formadas. No contexto evangélico brasileiro atual, o conhecimento teológico é valorizado? Não muito. Há a tendência, no contexto evangélico, de uma ênfase demasiada no relacionamento pessoal com Jesus:

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é aceitar Jesus no coração e daí está tudo certo. Isso gera uma apatia em termos de estudo e conhecimento mais profundo. Em certo sentido, todos somos teólogos: afirmamos algo sobre Deus, sobre Jesus, oramos, duvidamos, etc. Mas, em geral, acho que as pessoas não sabem o valor de se estudar a Bíblia com seriedade, seja no contexto acadêmico ou na igreja. Os cursos teológicos brasileiros, à exceção daqueles ministrados por algumas universidades de referência no Brasil e na América Latina, são considerados fracos ou deixam a desejar em algumas cadeiras. O que a senhora pensa a respeito? Acho que são poucos os administradores de cursos teológicos, seja no Brasil ou no exterior, que realmente se perguntam: estamos a formar profetas e discípulos para o mundo de hoje? Estive recentemente na África para uma reunião internacional sobre educação teológica. Em uma das palestras principais, o reitor de uma universidade muito respeitada no mundo todo disse que após 30 anos trabalhando em educação teológica, ele olha pra trás e se pergunta se houve realmente formação de caráter cristão, de discípulos verdadeiros. Há talvez muita ênfase em “formação de líderes”, mas a qualidade destes líderes não é questionada. Esses problemas na formação teológica brasileira se originaram de más influências como o anti-intelectualismo, como defendem alguns? Em alguns casos acho que o anti-intelectualismo foi um fator, mas certamente não foi o único. O próprio tipo de formação, seja ela teológica ou em outra área, não foi bem adequada à realidade brasileira. Em nossa cultura, há a tendência de se pensar que a formação teológica não é tão importante como a de um médico, por exemplo. Ninguém quer ter um médico que passou com notas baixas no curso de Medicina. Queremos o médico top, o melhor da classe. Mas quando vem a hora de a igreja escolher um pastor, raramente se perguntam: essa pessoa foi bem nas disciplinas de Antigo Testamento ou Novo Testamento? Essa pessoa é top da classe em Cristologia? Claro que não. Ninguém pensa assim porque achamos que não há muito a perder como no caso do médico que vai tratar nosso filho – afinal, não é uma questão de vida ou morte, certo? Tememos mais a morte do que a Deus.



Os momentos particulares de um pastor A vida pessoal de um líder de igreja não é um desperdício de tempo; é uma oportunidade de retiro e descanso Por Gordon MacDonald

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o excelente livro de Walter Trobisch Casei-me com você, há um registro de uma conversa intensa entre o autor e a esposa de Daniel, um pastor africano. Walter e Esther estavam sentados à mesa de jantar da casa de Daniel, diante de uma bela refeição preparada por ela. O problema era Daniel. Ele ainda não havia chegado, e à medida que o tempo passava, Esther ia ficando mais irritada. Ela sabia que seu marido estava do lado de fora do templo, conversando com alguns membros da igreja, após o culto da manhã. Parecia alheio ao fato de que estava ignorando seu convidado e ofendendo sua esposa, que havia dado o melhor de si para oferecer boa hospitalidade. No centro da preocupação de Esther está a questão do tempo. Ela e Daniel discordam a respeito de seu uso apropriado. O

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resultado? Eles estão se tornando ineficazes e o problema da “agenda” está começando a ter um efeito corrosivo em seu relacionamento. Quando entendido e administrado corretamente, o tempo é um dos nossos melhores amigos. Quando mal administrado e desvalorizado, pode se tornar nosso maior inimigo. Peter Drucker, assim como outros, deixou bem claro que a questão do tempo está no centro da eficácia da função de um líder e administrador. Em seu livro O gesto eficaz, Drucker lembra que o tempo não é elástico – não pode ser alongado; é insubstituível – não pode ser recuperado; e é indispensável – nada pode ser feito sem ele. O ministério terreno de Jesus Cristo aponta para alguns princípios bastante úteis a respeito do uso geral do tempo. Não é nenhuma novidade o fato de que Jesus nunca mostrou sinais de estar apressado ou pressionado, e nem displicente. Embora se mostrasse fisicamente cansado em certas ocasiões, ele nunca


estava emocionalmente frustrado devido à falta de tempo, como vemos muito no ministério cristão atualmente. Lemos que Jesus ignorava grandes multidões para se reunir com seus doze discípulos. Dormia em um barco, pulando uma refeição para falar com uma mulher, e também interrompia um encontro com um grande número de adultos, para visitar crianças. Usos inteligentes do tempo. Certamente algumas pessoas estranharam a forma como Jesus investia as horas de sua vida. Observamos, no entanto, que o Senhor sempre fez um uso correto de seu tempo, e Sua missão foi cumprida em apenas 33 anos. Devemos nos lembrar sempre disso. Hoje em dia muitas pessoas escrevem sobre o esgotamento. Por que Jesus não se esgotou? Acredito que a resposta para essa pergunta esteja em três princípios simples: Jesus media todos os investimentos de tempo que iam contra o seu propósito, tinha um tempo a sós com o Pai, e não tentava fazer mais do que devia. MITOS SOBRE TEMPO E LÍDERES CRISTÃOS É preciso que observemos certos mitos sobre o tempo que temos ensinado uns aos outros ao longo dos anos – mitos que são contrários aos princípios que Jesus empregava em seu ministério: Mito 1 - Somos pessoalmente responsáveis pela salvação do mundo inteiro. Você pode até rir de tamanho absurdo, mas a verdade é que muitos de nós agimos como se realmente acreditássemos nisso. A fonte de tal mito está em nosso desejo de corresponder ao potencial que imaginamos ter recebido de Deus. Além disso, não gostamos de ficar de fora daquilo que todos estão fazendo. Assim, queremos falar em todas as conferências, ser membros de cada conselho que somos convidados, dar um parecer a respeito de todas as questões que afetam nosso grupo, e fazer amizade com cada astro em nosso horizonte. Sucumba ao mito – como muitos fazem – e o trágico fim virá quando você, desanimado, perceber que nunca conhecerá o número suficiente de pessoas, não poderá comparecer a todas as conferências, e nunca encontrará tempo para todas as reuniões de conselho. Lentamente nos damos conta de que não podemos salvar o mundo, mas podemos fazer a diferença nele. Mito 2 - O tempo está acabando. Corro o risco de perder estimados amigos na fé se me afastar publicamente daqueles que pensam que o tempo está se esgotando e que não temos um minuto a perder? Eu parei de admirar o homem ambicioso. Agora, minha admiração está cada vez mais voltada à pessoa que, como o agricultor, aprendeu a ter paciência, sabe que as melhores coisas crescem com o tempo, e tudo o que podemos fazer é seguir a sequência correta de plantio, cultivo e colheita. Nenhuma colheita pode ser enriquecida pela pressa. Durante toda minha vida fui apressado por aqueles que previam a destruição do mundo na próxima esquina. Se tivesse respondido às suas previsões, seria um homem perdido. Embora esteja certo de que a destruição do mundo ou o iminente retorno de Cristo podem acontecer hoje mesmo, também estou

preparado para viver como se tivesse mais mil anos pela frente. Mito 3 - Um pastor precisa estar sempre disponível para qualquer emergência. Quando era ainda um jovem pastor, tinha a ideia de que o chamado para o ministério significava que meu tempo pertencia à congregação dia e noite, 52 semanas ao ano. Com muita frequência, ouvia sussurros de admiração pelo homem dedicado, que nunca tinha um dia de folga, raramente tirava férias, e se mostrava sempre imediatamente acessível. Houve um tempo em que realmente acreditei nesse tipo de mentira, e me sentia culpado porque tais exigências me incomodavam. Ainda acredito que um pastor deve ter uma acessibilidade razoável. Por outro lado, não tenho mais receio de inacessível aos membros de minha igreja quando é chegado o momento de estar sozinho, de passar tempo com minha família, ou de aproveitar os momentos agradáveis da vida neste mundo maravilhoso. Durante os vinte anos em que fui pastor de três congregações diferentes, enfrentei apenas algumas situações em que minha presença era imediatamente necessária. Mito 4 - Descanso, diversão e lazer não são utilizações válidas do tempo. Você se lembra daquela pergunta bastante intimidante que nos faziam quando éramos jovens? “Se Jesus voltasse enquanto você estivesse fazendo isso (vendo um filme, beijando sua namorada ou saindo com os amigos), gostaria que Ele lhe encontrasse nessa situação?” Essa pergunta persiste de maneira irritante em nossa vida adulta. Ela pode agora surgir em nossa consciência ao nos perguntarmos o que Jesus pensaria se voltasse e nos encontrasse jogando bola, fazendo canoagem, assistindo a um show, ou, imagine, vendo um jogo de futebol. De onde vem esse desconforto em relação aos momentos de descanso, diversão e lazer? Acredito que classificamos nosso tempo como bom, melhor e ótimo. Consideramos o ministério como um “ótimo” uso do tempo; todas as outras atividades são classificadas como inferiores. Errado! No conjunto, o Deus da Bíblia deve estar tão satisfeito quando seus filhos se divertem quanto quando trabalham, onde cada um procura potencializar a eficácia do outro. “Retire-se e descanse” são palavras de Cristo. “E Deus descansou e se revigorou” são as palavras de Moisés. Mito 5 - É glamouroso, até mesmo heroico se desgastar e comprometer os relacionamentos, se você puder provar que seus amigos, seu cônjuge ou sua congregação lhe deixaram porque você estava cumprindo fielmente o seu chamado. Embora não queira diminuir o santo que deu sua vida pelo evangelho, considero igualmente importante a busca por uma longa vida de serviço que culmine em uma velhice repleta de sabedoria e experiência a serem passadas à próxima geração. Precisamos do exemplo do homem que deixou tudo e “o seguiu”, mas também precisamos do modelo do homem que conseguiu manter um bom casamento, criar filhos com o caráter de Cristo, e que tenha algo a ensinar ao atingir a respeitável terceira idade. Se há inspiração em um Henry Martyn e em um David Brainerd, que morreram ainda jovens, há também muito a ser Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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dito de um Stanley Jones e um L. Nelson Bell, que morreram depois dos 80 anos, deixando uma reserva de experiências acumuladas. Mito 6 - Uma geração anterior de missionários deixava seus filhos regularmente aos cuidados de outras pessoas e ia para diversas partes do mundo. Eles trabalhavam com a ilusão de que, se fossem fiéis ao ministério, Deus garantiria o crescimento e desenvolvimento de seus filhos. Infelizmente, muitas dessas pessoas descobriram que não é assim que funciona. Nós, que fazemos parte do ministério cristão, não deveríamos ter uma família se não estivermos comprometidos a cuidar dela corretamente. Nossa família não é problema de outra pessoa. Quando estava no início da minha vida pastoral, perguntei certa vez a um pregador mais velho: “O que é mais importante, minha família ou a obra do Senhor?” Nunca me esqueci de sua resposta: “Gordon, sua família é a obra do Senhor”.

quando chegamos à nossa casa. Chamamos esse encontro de nosso “momento de tranquilidade”. Em minha vida privada, me conscientizei de que também preciso de um tempo para o descanso. Nenhum de nós, que trabalhamos na liderança, pode ficar sem esses períodos, que surgem inevitavelmente depois de gastarmos altos níveis de energia emocional. Eles também podem vir depois de um período muito intenso de interações com as pessoas, quando nos sentimos esgotados de tanto conversar, tomar decisões e aconselhar. Um momento de cansaço e desânimo para os pregadores pode ser a manhã de segunda-feira. A grande exposição às pessoas no domingo cobra seu preço no dia seguinte. Assim, no segundo dia da semana, é mais provável que o pastor tenha uma atitude mais autocrítica, negativa em relação aos assuntos da igreja, e que se sinta irritado quando alguém tenta invadir o seu dia. O que pode ser feito a respeito desses períodos de cansaço? Se as manhãs de segunda-feira são deprimentes, então evite marcar compromissos que desgastem ainda mais. O trabalho e o descanso devem se encaixar ao humor daquele período. Se olhar minha agenda e vislumbrar um período de dez dias de intensa programação, imediatamente tento reservar um dia antes desse período para descansar e restaurar as energias. Eu vejo o período sabático mais como uma parte do tempo reservada para reflexão, descoberta espiritual e uma recontagem alegre das atividades e conquistas passadas. Não se trata de um momento para realizar tarefas domésticas, se divertir ou ir a festas, mas de buscar um retiro, um refúgio. Esse período serve para adorar, meditar e encher o espírito. O resultado é a restauração. Fico impressionado com a declaração de João: “Então cada um foi para a sua casa. Jesus, porém, foi para o monte das Oliveiras” (João 7.53; 8.1). Nosso Senhor sabia que havia se desgastado e que precisava de uma restauração sabática. As outras pessoas voltaram para suas rotinas barulhentas e atribuladas; Cristo procurou o silêncio, onde a voz do Pai celestial podia ser ouvida. Quando Ele voltou do monte, ele tinha coisas novas e frescas para dizer. Há ainda outra coisa no setor particular da vida – que acredito que os pastores deveriam buscar – o qual chamo de tempo de crescimento. Comece com o tempo de crescimento físico, por exemplo. Para mim ele ocorre entre às 5h e 6h, toda semana, quando corro por cerca de 40 a 45 minutos. Tempo de crescimento significa exercitar a mente também. Tento, todo mês, ir até a biblioteca pública para conhecer novos títulos e adquirir mais conhecimento, algo que pode ser bom para mim e para a congregação. Também abracei, deliberadamente, um novo

Jesus media todos os investimentos de tempo que iam contra o seu propósito, tinha um tempo a sós com o Pai, e não tentava fazer mais do que devia.

O MUNDO DO TEMPO PESSOAL “Quais são os momentos, fora do trabalho, de que nós, que trabalhamos no ministério, mais necessitamos?” Seria uma surpresa se dissesse que a minha primeira necessidade como pessoa é passar um tempo sozinho? Isso abrange a solidão espiritual, onde eu possa estar em comunhão com Deus, como o próprio Cristo fazia; mas também inclui tempo para pensar, para me exercitar e fazer companhia a mim mesmo. Quando estamos constantemente entre o barulho e a correria das pessoas e das programações, quase não temos a oportunidade de pensar, e a falta de tempo para fazer isso inibe nosso crescimento. Com alguma regularidade, acrescentei em minha agenda um dia de solidão, para falar, sentar, remar em um rio. É vitalmente importante ficar um período em silêncio. Nesses momentos de solidão, minha mente e espírito voltam a ser uma fonte de ideias e possibilidades. Sou capaz de entender as questões que estou enfrentando, sejam relacionadas à fé, emprego ou relacionamentos. Naturalmente que esse período de solidão pode incluir nosso cônjuge. Em nossa casa, acreditamos que nosso casamento é um presente, em si mesmo, para nossa congregação, já que é um modelo de relacionamento cristão. Portanto, eu e minha esposa entendemos a Gordon importância de maximizar nossas oportunidaMacDonald é editor de des de comunhão um com o outro, para que Leadership Journal nosso relacionamento se mantenha saudável e chanceler do e completo. Procuramos ter esses momentos Denver Seminary diariamente, conversando sobre o nosso dia 16 LIDERANÇA HOJE Verão 2013


OS MOMENTOS PARTICULARES DE UM PASTOR

Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

R A M A L H O J Ú L I A

DISCIPLINA E TEMPO Como mantemos a ordem em nossos momentos públicos e privados? Várias observações aleatórias sobre coisas que aprendemos com o passar dos anos podem ser úteis. Primeiro, acreditamos na necessidade de uma agenda. Minha esposa e eu temos, há muitos anos, um calendário geral. Com cerca de seis a oito semanas de antecedência, escrevemos várias atividades nos campos reservados ao tempo pessoal e as incluímos na agenda antes que os eventos da igreja comecem a aparecer. Segundo, costumamos tirar o telefone do gancho em vários momentos. Nosso telefone não toca durante o jantar, durante os momentos de discussão em família, e em períodos de estudo ou meditação. Não consigo me lembrar de nenhum momento em que tenha sido necessário que eu fosse imediatamente acessível. Terceiro, minha esposa e eu aprendemos, há muitos anos, que precisamos ter disciplina para aquilo que chamo de “tempo a sós entre marido e mulher”. Nossos filhos têm compreendido nossa necessidade de tais momentos, e agora que estão

crescidos, não precisam mais tanto de nós, e, portanto, não somos interrompidos quando precisamos desse tempo a sós. Quarto, nós aprendemos a lei da qualidade do tempo. Sempre que estamos juntos como família ou como casal, temos o cuidado de estarmos atentos para nossa atitude mental, nossas roupas e modos. São coisas que faríamos pelos membros da nossa igreja, então por que não fazer isso por aqueles que estão mais próximos a nós? Tentamos, em nossa casa, nos programar de forma a conseguirmos oferecer uns aos outros nossos melhores momentos no mês, quando nossas mentes, emoções e corpos estão vivos e alertas. E quinto, aprendemos a coincidir nossas atividades recreativas com as necessidades familiares. Percebi cedo que não podia buscar momentos de diversão e lazer com meus amigos e ainda ter quantidades adequadas de tempo para dedicar ao lazer com minha esposa e meus filhos. Portanto, fiz escolhas logo no início de minha vida familiar, de fazer atividades em que meus filhos pudessem me acompanhar, como remar, acampar, caminhar e etc. Conheça seu tempo. Se não o conhecermos, seremos incapazes de atribuirmos valor a ele e aí o desperdiçamos – o que não agrada a Deus; não maximiza a nossa eficácia como líderes espirituais. Mas, ao aprendermos a organizar nosso tempo pessoal, aumentamos as chances de sermos mais atentos, mais eficazes e, portanto, mais parecidos com aquilo que Deus deseja e que nossas congregações precisam.

T R A D U Ç Ã O :

hobby durante a meia idade que garante privacidade, diversão e mobilidade. Para mim é a fotografia. Para John Stott era a observação de pássaros. Para outro amigo pastor, tem sido a marcenaria, e para outro, o conserto de relógios antigos. Gosto do meu hobby porque ele permite que eu aproveite as minhas viagens para ampliar o número de lugares para tirar fotos.

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“A FAMÍLIA É A RAIZ DE TUDO” Nancy Gonçalves Dusilek relembra o drama vivido em seu casamento e conta como Deus restaurou a sua família Por Cleber Nadalutti

F

oi em uma tarde de forte calor no Rio de Janeiro (RJ) que LIDERANÇA HOJE encontrou com a professora paulista Nancy Gonçalves Dusilek, 68 anos, em sua congregação, a Igreja Batista Itacuruçá, na Tijuca, na zona norte carioca. Durante pouco mais de uma hora de entrevista, ela, viúva desde agosto de 2007, lembrou de sua infância, de sua formação religiosa e acadêmica, do casamento com o então seminarista Darci Dusilek, em Suzano (SP), do tempo (17 anos) em que morou no Seminário Batista do Sul do Brasil, no Rio, e do casal de filhos que ali gerou – o pastor Sérgio Ricardo, hoje com 41 anos, e Heloísa Helena, 37, formada em Comércio Exterior e que trabalha nessa área. Bacharel em Educação Religiosa pelo IBER, licenciada em Letras pela Universidade Veiga de Almeida (RJ) e titular da cadeira nº8 da Academia Evangélica de Letras do Brasil (AELB) desde 2010, recordou a época em que, por dez anos, morou em Belo Horizonte (MG), período (1985-1995) em que o Pr. Darci foi diretor da Visão Mundial - Brasil. Falou ainda

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do retorno ao Rio de Janeiro, quando seu esposo assumiu o pastorado da Igreja Batista Itacuruçá e, posteriormente, a presidência da Convenção Batista Brasileira (CBB). Conferencista nas áreas de família e de liderança e autora de livros como Mulher sem nome (Editora Vida), Descobrindo e capacitando líderes (Convicção Editora); Liderança cristã: a arte de crescer com as pessoas (UFMBB) e O grito das incluídas (Editora Vida), Nancy Dusilek, trouxe à memória o deserto pelo qual passou quando seu marido, num aconselhamento, acabou se envolvendo com uma pessoa e saiu de casa. Depois contou como aconteceu a restauração de seu casamento, discorreu sobre a formação de líderes e expressou sua preocupação com a situação dos lares. LIDERANÇA HOJE — A senhora nasceu em um lar evangélico, certo? NANCY DUSILEK - Sim, sou nascida e criada em lar evangélico. Meus pais eram evangélicos, assim como os familiares de meu pai. A minha mãe era católica, quando casou com meu pai. Ela estava atrás da verdade, mas, um dia, foi à igreja com meu pai e aceitou a Cristo. Meu pai era evangelista e minha mãe era


líder de união feminina. Minha infância e adolescência foi muito tranquila. Morava perto da igreja em Suzano (SP) e, com 7 anos, já era presidente da sociedade de crianças. Depois, fomos para uma cidade próxima chamada Brás Cubas. Meu pai foi evangelista e ali começou um ponto de pregação. Aos 13 anos, eu era professora de crianças da Escola Bíblica Dominical. Então, sempre exerci, junto com eles, as tarefas que me atribuíam. Eles me ensinavam e me ajudavam, e eu estava com eles. Como a senhora conheceu o pastor Darci? Quando e onde se casaram? Quando eu estava com 21 anos trabalhava em um banco em Suzano e senti o desejo de fazer Educação Religiosa. Na época, há quase 50 anos, esse curso só existia aqui no Rio de Janeiro. Era no Instituto de Treinamento Cristão (ITC), que depois passou a chamar-se Instituto Batista de Educação Religiosa (IBER), atual Centro Integrado de Educação e Missões (CIEM). Então deixei o banco e vim para cá em 1965. E quando fui para a igreja fazer o estágio, na Segunda Igreja Batista de Inhaúma, conheci o seminarista que estava vindo do Paraná. Depois de três anos, aquele seminarista se convenceu de que eu era a escolhida. Nós nos casamos em 1969 e aí fomos morar no Seminário Batista do Sul, onde ele era professor na área teológica além de bibliotecário. Na reedição do livro Mulher sem nome (Editora Vida), a senhora diz que, olhando para trás, era difícil acreditar que ainda estivesse viva e alegre, servindo ao Senhor. Poderia explicar por quê? Pela experiência que eu vivi em 1998. A primeira edição do livro foi lançada em 1995 e mais de uma década depois a editora perguntou se eu tinha interesse em revisar o texto. Aí refiz e ele foi relançado em 2008, incluindo a experiência que passei em 1998, quando meu marido, pastor de igreja, num aconselhamento acabou acompanhando uma pessoa, deixou a família, ficou três anos fora, depois voltou e eu o recebi de volta. Foi uma experiência dura, mas me fortaleceu porque eu me agarrei ao Senhor e consegui continuar servindo a Ele. Poderia dar exemplos das experiências vividas entre 1995 (quando escreveu a primeira edição de Mulher sem nome) e 2008, quando a obra foi republicada? Do período foram mais tristes do que alegres. Eu fui, durante 28 anos, a mulher mais bem casada do mundo, amada, respeitada e realizada como mulher, esposa e mãe. Sempre fui uma mulher incentivada pelo marido, que foi quem me motivou a escrever a primeira edição de Mulher sem nome, quem negociou com a editora. Esse foi um tempo muito legal, de criar os filhos em casa – fiz essa opção. Quando houve aquela experiência negativa, então foram muitas lágrimas. Foi um período muito triste, até eu caminhar sozinha, já que não tinha mais ele ao meu lado. De que maneira descreveria aquele deserto experimentado a partir de 1998?

Não conseguia orar. Quando começava a falar “Nosso Deus, nosso Pai...” já começava a chorar e não dizia mais nada. Fiquei um mês e pouco sem conseguir orar, mas sabia que tinha muita gente orando por mim. Quando chegava em algum lugar e diziam para mim “Orei por você”, eu respondia: “É por isso que estou aqui”. Eu sempre dizia para o Senhor o seguinte: “Deus, estou colada no Senhor igual sagui no braço de alguém. Deus, por favor, não chacoalha o braço porque se fizer isso, eu caio”. Foi esta a minha experiência de deserto. Nele, havia um oásis. Essa experiência de não conseguir orar se repetiu em relação à leitura da Bíblia? Lia a Palavra, mas tinha dificuldade, porque a dor era muito grande. A vergonha com um filho no quarto ano do seminário e a filha fazendo mestrado...Não foi fácil. Naquela situação de crise matrimonial, o que passava em sua cabeça? Que ele voltaria porque foi uma coisa demoníaca. Tive experiências de presença de Satanás, em que precisei fazer exorcismo. Tive certeza de que era espiritual. Era muito forte. A senhora teve contato com ele nesses três anos? Não, só de notícias, de longe, porque tinha conhecidos que conviviam com ele. Eu sabia dele por terceiros. Tinha dificuldade de vê-lo porque ele estava se acabando. Seus filhos ficaram revoltados, se questionando? Eles me deram todo apoio, sofreram junto comigo. Ficaram chocados, pois nunca esperavam que o pai fizesse aquilo. Quem fez a ponte entre nós e o pai foi minha filha Heloísa. Era ela quem falava com ele, que dava recados, que recebia recados. E até hoje continua sendo o meu suporte emocional. Como foi esse período em que o pastor Darci ficou afastado de casa? Deus foi tão bom comigo que, quando ele saiu de casa numa sexta-feira, já no domingo recebi um telefonema de uma pessoa me oferecendo um emprego na Junta de Missões Mundiais (JMM). Sou grata a Deus e até hoje a essa pessoa, a irmã Acidália Tymchak. Fui trabalhar. Trabalhei cinco anos na Junta e foi um período muito bom em minha vida. Foi aí que tive o meu salário e, depois, fui aposentada. Trabalhar lá foi um presente de Deus para mim. Dentro da igreja, a senhora sentiu o que? Senti muito apoio das pessoas. Mas, quando meu marido saiu, só me disseram o seguinte: “Você tem três meses para sair do apartamento, pagaremos o condomínio nesse tempo e o plano de saúde”. Eu tinha contas para pagar. Este é o problema da esposa de pastor quando ele morre, ou quando o pastor sai da igreja, porque a família fica à deriva. Foi uma experiência muito dura, mas Deus supriu na hora certa e até hoje dou graças a Ele. Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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Como foi conviver com os irmãos naquela situação? No meu entendimento, fui traída, mas a igreja também. Estávamos juntas. Houve também muita decepção de muitos membros da igreja com a atitude dele. Não adiantaria eu sair daqui para outra igreja porque não era uma pessoa desconhecida... Tendo sido ele presidente da CBB naquela época, em qualquer lugar que eu fosse, as pessoas me reconheceriam. Então, fiquei aqui na igreja e cá estou até hoje. Uma postura corajosa... Não foi fácil, não sei se isso é coragem, mas estou inteira.

transformou desgraça em graça. Como se deu esse processo de cicatrização daquela ferida? Foi a graça de Deus no coração da gente. Conseguiu olhar para o pastor Darci e vê-lo da mesma maneira em seu coração? Sim. Eu só lamento pela morte dele, pois pretendia ficar mais tempo com ele. Se vivo estivesse hoje, veria a neta [Letícia, 3 anos] que tem olhos da mesma cor dos olhos da mãe dele.

Viu claramente a ação de Deus no arrependimento dele? E o retorno do pastor Darci? Quando e como Sim, sem dúvida. Foi muito de Deus. ocorreu? Em julho de 2001 ele me ligou, marcando A senhora tinha 28 anos de casada um encontro comigo, onde ele perguntou Quando houve quando aconteceu aquele rompise eu o recebia de volta. Eu aceitei o deaquela experiência mento e disse que se tratava de safio, mas com uma única condição: negativa, então foram uma questão espiritual e, por que fizéssemos uma terapia de casal. isso, não poderia abrir mão de seu Fizemos a terapia, porque eu achava muitas lágrimas. Foi um relacionamento conjugal. Muitas que tínhamos de ajustar algumas coiperíodo muito triste, até mulheres em seu lugar teriam sas. Foi bom esse período. desistido. Por que não desistiu? eu caminhar sozinha, já Estava casada. Não havia divórcio Qual foi a sua primeira reação quanque não tinha mais ele algum, mas não impediria caso ele pedo recebeu esse telefonema? ao meu lado disse. Entretanto, não pediria o divórcio Fiquei com medo, porque eu não sabia por causa da minha certeza absoluta que se ele proporia o divórcio, porque eu tinha era uma coisa espiritual também. Não desisti um sentimento que seria isso. Então eu fui. porque sou teimosa, mas acho que a razão principal Quando cheguei à minha casa, dei a notícia para a foi o fato de ter percebido claramente tratar-se de algo demominha filha: “Seu pai pediu para voltar”. Aí foi aquela festa. níaco. Sei que foi uma obra espiritual maligna, Sempre dizia nas Sabia que ele voltaria porque o que ele fez não era o perfil dele, minhas orações que aquela bandeira Satanás não levaria; quem a maneira como aconteceu foi muito diabólica. Sabia que a hora levaria era Jesus Cristo. em que ele caísse em si, ele ia voltar. Aí seus filhos... Ficaram felizes da vida. No dia seguinte, fui a Niterói, onde acontecia o congresso da juventude batista. Meu filho Sérgio era diretor da juventude e era o responsável pelo evento. Quando cheguei lá, ele perguntou: “Mãe, e aí?” Aí, respondi: “Teu pai pediu para voltar”. Até ali ele estava tenso. Depois, o congresso correu bem para ele. Tanto ele como ela tiveram uma reação muito positiva. O pai esteve no casamento de Sérgio junto comigo. Ele voltou três meses antes do casamento, participou e aí foi legal. Como foi essa reconstrução? Foi difícil porque eu ficara três anos sozinha, tinha uma vida mais ou menos esquematizada. Já tinha meu emprego, meu salário... Foi uma experiência interessante porque tive de me readaptar à chegada dele. Não era mais o maridão que eu tive, era uma outra pessoa. Mudou muito, por conta da tristeza de ter feito o que não devia. Ficou mais introvertido do que já era. A senhora declarou recentemente que não desejava aquela experiência para ninguém e que, através dela, aprendeu que Deus chora conosco em nossas dores e que, com Ele, 20 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

Sua atitude de busca da cura daquela ferida vai na contramão do que é pregado na sociedade atual, que diz que casar e descasar é questão de momento. Quando se trata de pastores e seus casamentos, o divórcio é ainda mais complicado. Por que, em sua opinião, a Igreja está convivendo cada vez mais com esse problema? Para mim, são duas coisas: primeiro, precisava haver mais preparo para os jovens antes do casamento, com cursos, aulas, orientação; segundo, é o secularismo. Hoje em dia tudo é descartável, inclusive o casamento. A pessoa casa. Se deu certo, deu; se não deu, separa e faz o divórcio. Aí casa com outro. É um modelo secular que acho pernicioso. Não se assusta com o fato desse modelo secular estar entrando nas igrejas? Claro, a família é a raiz de tudo. Se você esfacela a família, esfacela tudo. Para mim, a família – pai, mãe e filhos – é o principal. Se não existe essa ordem divina, fica complicado. Enfraquecendo as famílias, enfraquecem-se as igrejas também, e uma podia ajudar a outra, tanto na orientação dos pais, como na orientação dos noivos, dos jovens.


“A FAMÍLIA É A RAIZ DE TUDO”

A senhora milita em cargos de liderança há muitos anos. A que atribui esse perfil? Primeiro, por causa de meus pais. Eles se tornaram modelo e referencial: não tinham preparo acadêmico – meu pai só tinha o 4º ano primário e minha mãe, o 2º ano primário, mas eram pessoas que “devoravam” livros. Fui criada em um ambiente de leitura. Aprendi a ler e fui incentivada a freqüentar a Biblioteca Municipal, a pegar livros para ler desde pequena e isso foi importante. Como eu e meu irmão íamos com eles para a igreja, e geralmente o trabalho da igreja estava começando, eu acabei me engajando na liderança também. Para mim foi muito positiva essa influência de meus pais e o espaço dado pela igreja. Acredita que haja algo de nato no líder? Acredito que um pouco vem com você, mas muito é trabalhado do lado de fora, que você vai buscando, se aperfeiçoando. Não saberia dizer o percentual. Mas quando você tem dois filhos pequenos, sabe quem é líder. Às vezes é o mais novo que manda no mais velho. Está na natureza. A questão está na maneira como você vai encaminhar esta liderança nata para uma coisa positiva, como educar essa criança para aproveitar esse dom para abençoar os outros. A senhora disse que não há nada melhor do que ser esposa de pastor. Por que? Adorava ser esposa de pastor, que não é um chamado, mas um privilégio dado por Deus de acompanhar um vocacionado de Deus. Sempre digo para esposas de pastor o seguinte: “Você não é vocacionada, é privilegiada porque Deus te colocou ao lado de

um vocacionado, de um escolhido do Senhor”. Curti muito ter sido esposa de pastor. Qual deve ser o papel da esposa de um líder de igreja? Acompanhar e ser confidente. É a única pessoa na congregação que pode falar com o pastor assim: “Você não podia ter falado aquilo, você falou demais, mas você podia ter falado isso.” A gente pode falar isso por causa da intimidade que tem. Isso aconteceu muitas vezes com a gente, de eu dizer a ele: “Cuidado com o que você falou hoje no culto...” Não é ficar criticando tudo, mas, se perceber algumas coisas, tentar dar um apoio. Na grande maioria das vezes, eu dizia para ele: “Hoje você foi dez”. Mas, uma vez ou outra, a gente dava uma palavra. O problema em muitos casais é que o marido não aceita as observações da esposa, o que não era o meu caso. O pastor, de um modo geral, enfrenta problemas para conciliar a agenda eclesiástica com o convívio familiar? Sim. Os pastores enfrentam isso porque eles não foram ensinados a fazer da família a sua prioridade. Quando Jesus disse Amarás o Senhor teu Deus de todo coração e ao teu próximo como a ti mesmo, Ele sintetizou mais de 600 mandamentos em três: amar a si, amar ao próximo e amar a Deus. Então, primeiro eu, depois a família e depois a igreja. Primeiro eu tenho de estar bem comigo mesmo, bem com a minha família e bem com a igreja. Se não estiver bem com a família, será difícil estar bem com a igreja. O pastor tem de olhar para a família porque, além de pastor, ele é pai e marido. Precisa dar atenção a essas funções, antes da igreja.


A FAMILIA EM MINHA AGENDA

Como os pastores conciliam as atribuições eclesiásticas e os compromissos familiares

VIDA COM DISCIPLINA

E

ugene Peterson diz que tudo o que falamos e escutamos ocorre num mundo de linguagem que é formado e sustentado pelo falar e pelo escutar de Deus. Então penso que a nossa vida gira em torno dessa visão. E isso na minha vida é algo bem simples. Tenho uma vida absolutamente intensa como marido, pai, pastor e escritor. E ainda tenho outras atividades como analisar e revisar livros, escrever artigos para a Revista Lar Cristão, além de participar, há 15 anos, de um grupo de apoio pastoral chamado Projeto Timóteo. Creio que alguns podem pensar que eu não durmo e não tenho tempo para absolutamente nada. Isso é um engano; durmo bem menos do que a maioria das pessoas, mas tento compensar nas minhas folgas. Tenho uma vida que defino como disciplinada. Eu fui influenciado por um professor chamado Afonso, na época do ginásio – hoje chamado de Ensino Fundamental II –, na Escola Municipal Epitácio Pessoa, na zona leste de São Paulo (SP). Não me esqueço deste homem. Era uma pessoa absolutamente disciplinada, com regras, e nos desafiava em tudo mesmo como adolescentes. Aquilo impactou a minha vida, porque era professor de educação artística. Ele nos fazia viajar e sonhar com nossa própria história. Quando fiz a escola técnica, tive a influência de um professor chamado Jair Latorre que dava uma matéria chamada MMFD (Máquinas, Materiais, Ferramentas e Dispositivos). Latorre era meu ideal como profissional. Logo na primeira aula, ele disse: ‘Não admito atrasos, entregas atrasadas de trabalhos. Não admito brincadeiras fora do tempo, mas jogarei bola com vocês. E farei de vocês verdadeiros profissionais na vida’. Ele não sabia que Deus o usaria para me moldar para o pastorado e para marcar minha vida. Hoje tenho uma vida em todos os sentidos com disciplina. Leio no mínimo 30 páginas por dia. Quando dá, leio 100 páginas ou mais. Mas estabeleço regras para tudo. Leio cinco capítulos da Bíblia diariamente e vou indo assim há alguns anos. E, para isso, não há segredo – a palavra-chave é disciplina. Nós temos 12 horas pelo menos por dia. Então, aproveito ao máximo e é claro que deixo algumas coisas de lado: TV, por exemplo, é algo que vejo pouco. Não sei de novelas, pois, só vejo televisão quarta à noite com mais frequência por causa do futebol e procuro ver alguma palestra ou filme com a minha esposa. Nas férias, só estudo pela manhã. Leio e escrevo bastante. Mas, na parte da tarde, vou relaxar. Vou sempre para um sítio do

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meu sogro e passo um tempo em contemplação para o coração. Como marido, não sou a melhor pessoa do mundo, mas tento separar um tempo para ela, que gosta de conversar e falar do seu dia-a-dia. Sempre Alcindo Almeida tiro alguns momené pastor da Igreja Presbiteriana do tos para sairmos e toBrasil (IPB), membro da equipe pastoral marmos pelo menos da Igreja Presbiteriana da Alphaville um sorvete juntos. em São Paulo (SP) e autor, casado com Uma vez por ano faço Erika e pai da pequena Isabella um roteiro de viagem pago no cartão de crédito e viajo com ela e com nossa filha para o Nordeste. É um tempo muito precioso para nós como família. Não nego que tenho falhas em alguns momentos que fico sobrecarregado na igreja, mas sempre busco estar com a família. Como pai, sou bem novo, nossa pequena Isabella tem quase quatro anos de idade e ela exige demais minha presença. Gosta de pular em mim, brincar de esconder... Lembro de uma palavra do meu amigo Luiz Mattos, já falecido: “Cuide da sua família em todo o momento”. Essa palavra ecoa sempre no meu coração e tento fazer isso com minha filha. No dia da minha folga, ela fica comigo e a gente se diverte demais. Como pastor, tenho uma vida totalmente corrida, vários aconselhamentos e visitas. O trabalho pastoral pesa bastante e demanda tempo na vida. Hoje ser pastor na igreja brasileira é bem complicado porque temos de fazer um pouco de cada coisa. Isso demanda uma agenda bem cheia. E sempre tento dar uma adequada, tentando fazer exercícios (caminhadas) para fugir do sedentarismo. Disciplina envolve tudo na vida: oração, leitura, relacionamentos, trabalho e produção. Nas minhas atribuições na igreja olho para esses itens. Quando estou sob pressão diante de conflitos e problemas busco as soluções através desses itens. Não é algo fácil, mas é possível quando levamos a sério a vida como marido, pai, pastor e escritor. E eu desejo isso para todos os seres normais que buscam a excelência na vida!


A

agenda do gabinete e o calendário da igreja atrapalham a vida familiar do

pastor?

Buscamos ouvir a opinião de um grupo variado de pastores para saber a resposta a essa “simples” pergunta. Trazemos aqui o que eles disseram – segundo suas visões de pai, chefe de família e líder de igreja.

COMO O LÍDER

DEVE SER

D

palestrante de encontros de casais e iz a Palavra de Deus que hocursos de noivos, precisa ter um lar mem e mulher, os dois, serão equilibrado, exemplar, pois isso lhe “uma só carne” (Mc 10.8; 1 confere autoridade. Ele necessita de Co 6.16). Que união! Como andarão uma esposa envolvida com o ministédois juntos sem a visão do Eterno e rio. Esposa de pastor não precisa, nesem a experiência com Jesus para cessariamente, ter o título de pastora, orientar decisões? A fé define nossa mas precisa ter o chamado: amar as visão da vida, determina princípios e pessoas, envolver-se com evangelizamolda caráter. A fé em Cristo é base ção, dedicar-se ao estudo da Bíblia, de nossos projetos e sonhos. Não aconselhar casos um pouco constranexiste nenhuma atividade como o miPaulo César Brito gedores na área sexual com mulheres nistério pastoral onde casamento preé médico, pastor e cantor; da congregação, por exemplo. cisa ser tão harmonioso. Claudete Brito Hoje, há casos de pastoras casadas Afinal, um indivíduo pode ser um é arquiteta especialista em acústica e com homens que não são pastores. profissional autônomo sem que sua pastora. Os dois são pastores da Igreja Esses, por sua vez, mesmo sem o tíesposa também o seja. Ela pode ser arMissionária Evangélica Maranata no tulo, devem ser homens fiéis a Crisquiteta, por exemplo, mas isso não sigRio de Janeiro (RJ), casados há 39 to, apoiadores do ministério de sua nifica que ele tenha de ser. Profissões anos, pais de três filhos (Ana Paula, esposa e preparados para o ensino e e atividades são escolhas individuais Paulo Jr. e Luciana) e avós de dois o aconselhamento. Algumas igrejas, e não impedem um casamento feliz e netos (Aline e Pedro) sabedoras dessas intercorrências de abençoado – ainda que o outro esteja ministério, ordenam seus pastores, envolvido em uma área totalmente dimas exigem a presença da esposa ajoelhada a seu lado. ferente. É o caso de donas de casa casadas com trabalhaFazem bem. Não se deve, portanto, ordenar nenhum soldores da indústria, do comércio, etc. teiro postulante ao pastorado, a menos que o homem teMas, no caso do ministério pastoral, não existe esta hinha absolutamente resolvido manter-se casto. Ou, sendo pótese: ou os dois estão envolvidos, ou um vai atrapalhar viúvo, pode permanecer assim ou se casar de novo para o outro! A Palavra de Deus é bem clara quanto às caracevitar tentações nesta área. Estas decisões devem ser toterísticas exigidas de um líder: que seja marido de uma madas com muita seriedade, para não haver retorno ou só mulher, que saiba governar bem a sua casa, que seja mudança de rumo no futuro! íntegro, não dado a muito vinho, etc. A princípio, o chamado pastoral envolve uma família. Os O fato é que ministério não é profissão. Ainda que posfilhos não precisam ser “pastorzinhos”, mas a esposa precisua o direito à remuneração como recomenda a Bíblia, sa estar apaixonada pelo Reino de Deus! Assim como a orministério é missão que envolve a família. O cônjuge é denação pastoral é irreversível, o casamento de um pastor sempre afetado: pelas bênçãos e pelas lutas. O líder nem deve ser irreversível também. Cabe a quem ordena, deixar sempre pode compartilhar decepções e dúvidas com as claro ao futuro pastor a seriedade do seu chamado, a noovelhas. Precisa do ouvido amigo que entenda nele o “sanbreza da sua escolha, a dimensão espiritual da sua decisão. to” e o humano. Não deve haver voltas. Não há espaço para enganos. Um pastor, para ser referência para as ovelhas, Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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CONSELHOS A SOLITÁRIOS

C

omo enfrentar as amarguras que brotam com grande intensidade enquanto estamos no ministério? De onde vem estes sentimentos que, muitas vezes, atacam as emoções, da fé Paulo Solonca e até mesmo o físico? é pastor da Primeira Igreja Batista Por que tantos pastode Florianópolis (SC), conferencista, res estão fisicamente escritor e assessor do Instituto Haggai e emocionalmente dodo Brasil, casado com Noemia e pai de entes – alguns até espitrês filhos (Milca, Keila e Jason) ritualmente enfermos? Quase todo começo de ministério é um caminho árduo. Tive a felicidade de, ainda no seminário, receber a influência do saudoso Pr. Ary Velloso, principalmente no que se refere ao discipulado. Quando fazíamos nosso período de estágio, eu e minha esposa Noemia estávamos bem ‘sintonizados’ e tínhamos os nossos corações batendo por este estilo de ministério de investir em pessoas, compartilhando nossas próprias vidas com o próximo. Infelizmente, meu pastor, à época, não me entendeu e tive de procurar outra igreja que me desse suporte. Comecei trabalhando com os afastados da igreja. Posteriormente, eu me aproximei de um grupo que era contrário ao governo da época e muitos deles conheceram Jesus. Mais tarde, fui desafiado a evangelizar uma gangue de assaltantes. Louvo a Deus pela proteção que nos deu naquele período. Hoje muitos deles são homens de negócios, pastores e missionários. Durante esses 39 anos de ministério, passei por vários momentos de desânimo, pois as coisas não andavam como eu desejava. Em determinado momento, eu me envolvi com atividades comerciais, as quais me trouxeram muita frustração e me custaram caro. Pelas três igrejas que passei nestes 39 anos, meus filhos sempre sofreram o estigma de serem ‘os filhos do pastor’, mas, graças a Deus superaram bem. Noemia, em alguns momentos, me alertava em relação à sobrecarga ministerial. Por defender o discipulado e o preparo adequado das lideranças, acabei viajando muito e, em razão disso, conheci muitos colegas que estavam passando dificuldades no ministério, no casamento e com os filhos. Apoiei durante um bom tempo o ministério MAPI, liderado pelo missionário David Kornfield. Com o passar dos anos,

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conheci o ministério Renovo de pastores, liderado pelo colega Edson Nepomuceno Barbosa, e pude cooperar com seu ministério em diversas ocasiões. Foi mais uma oportunidade de conhecer uma centena de pastores machucados, feridos de alma, alguns já desistindo de seus ministérios, outros com sérios problemas conjugais e familiares, financeiros, morais e mesmo existenciais. Percebi como muitos líderes, pastores e missionários são pessoas solitárias e carregam seus fardos sozinhos. Isso talvez se dê pelo fato de terem medo de abrirem seu coração para um irmão da igreja, líder e mesmo colega de pastorado. Têm receio de serem criticados, julgados e até mesmo colocados de lado. Isso sem falar do risco de se tornarem alvo de fofoca nacional. No entanto, através destes encontros do ministério Renovo, aos poucos os participantes foram tomando coragem, e confiaram no sigilo dos colegas. Tornaram-se um hábito saudável a prática de mandamentos como orai uns pelos outros para serdes curados e levai as cargas uns dos outros. O encorajamento e as orações dos demais deram um novo alento a muitos deles. Restaurados, e curados de suas feridas interiores, puderam encarar os desafios do ministério novamente, e famílias foram restauradas. Nesses 39 anos de ministério tenho aprendido a lidar com muitas tensões, pressões e perigos. Em alguns casos, como o que enfrento agora, uma enfermidade. Tenho sido afetado por uma doença cruel: o câncer de medula. Luto há mais de dois anos contra um mieloma múltiplo. Já me esqueci do número de sessões de quimioterapia que realizei, já fui submetido a um transplante de medula óssea e ainda tenho mais 20 sessões de quimioterapia pela frente. Os efeitos colaterais não me permitem exercer minhas atividades ministeriais como vinha fazendo. Confesso que isso me abateu muito, pois me veio um sentimento de inutilidade, de impossibilidade e de dependência dos outros. Contudo, o Senhor tem afofado meu leito diariamente e suas misericórdias tem se renovado a cada manhã. Tenho aprendido muitas lições que jamais aprenderia em seminário ou em livros. Ultimamente, tenho me sentido melhor e até mesmo voltei a fazer algumas atividades ministeriais. Agradeço de coração aos irmãos da Primeira Igreja Batista de Florianópolis (SC) e minha família por estarem o tempo todo ao meu lado, me encorajando e me animando. Aos colegas que estão lendo estas palavras, aconselho a cuidarem da saúde, de suas emoções e principalmente de sua fé e esperança na soberania e no poder do nosso Senhor.



PELO BEM DO CASAMENTO

A

s relações familiares qualificam ou reprovam o indivíduo para o ministério. Obtive esta consciência antes e ao longo de minha vida conjugal e familiar. Tive a oportunidade de, junto com a minha esposa Beth, ainda no tempo de namoro e noivado, participar de palestras sobre casamento, e de também de ler sobre o assunto. Dessa forma, poderia afirmar que os fundamentos teóricos para a minha vida a dois estavam lançados. Quando casei, percebi que, assim como em outras áreas da vida, havia uma diferença entre teoria e prática. A vida conjugal e a vida familiar agregam em suas relações diárias todas as complexidades do ser humano. Para superar as dificuldades e tensões que tais complexidades podem promover, é necessário estar firmado na rocha da Palavra, buscar e aplicar sempre os princípios bíblicos em todas as situações e decisões, orar sem cessar, e amar incondicionalmente cônjuge e filhos. Os primeiros anos não foram fáceis para mim, pois a fase dos ajustes requerem a disposição de abrir mão de preferências pessoais pelo bem do casamento, pelo bem do outro. Os filhos logo vieram. Dois belos, saudáveis e alegres garotos – Álvaro e Paulo – e, junto com eles, o desafio de ser pai. Quando me casei já ocupava funções de liderança na igreja, trabalhando com a juventude e com a Escola Bíblica Dominical. Depois de algum tempo, fui chamado ao ministério pastoral. A cada etapa da minha vida conjugal, familiar e ministerial, percebi que novos e grandes desafios sempre estariam presentes, e, sem dúvida, um dos maiores era o de conciliar os papéis de marido, pai e pastor. Sempre tive a consciência da necessidade de ser um melhor marido e pai, e decidi que me esforçaria para dar a minha esposa e aos meus filhos a atenção, o cuidado e o amor que precisavam. Dessa forma, separei tempo com qualidade para a família, acompanhei e participei dos momentos mais importantes da vida deles, de forma que não carrego culpa alguma em relação a isso. Penso, como imagino que pensa qualquer pastor na meia-idade, que poderia ter feito mais e melhor por minha família, se não fosse a inexperiência da juventude.

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Após 20 anos de vida conjugal, com certeza eu colho os frutos da semeadura que fiz. Meu casamento melhora a cada dia, assim como se fortaleAltair Germano ce meu amor por é teólogo, pedagogo, escritor e minha esposa. Não conferencista na área de liderança estou falando de e ministério; atualmente é pastor isenção de probleauxiliar na Assembleia de Deus em mas, mas do poder Abreu e Lima (PE), vice-presidente do amor que não do Conselho de Educação e Cultura da fica apenas nos limiConvenção Geral das Assembleias de tes da verbalização, Deus no Brasil (CGADB) e membro da mas que avança para a concretude de ini- diretoria da Assembleia Administrativa da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). ciativas que ajuda Blog: altairgermano.net a resolvê-los com maior maturidade e equilíbrio. A alegria que sinto hoje em ver meus filhos servindo ao Senhor e alcançando os seus objetivos na vida é muito gratificante. Não foi fácil chegar aqui, e viver o momento que estou vivendo. Mas, quem disse que a vida é fácil? Quem disse que as relações conjugal e familiar não necessitam de constante diálogo, acertos e renovação? Ao longo de minha trajetória como pastor, testemunhei e ouvi de casamentos e famílias de outros companheiros que não resistiram ao tempo, às tensões e às adversidades. Grandes perdas podem ser decorrentes de pequenos descuidos. Gostaria que cada pastor, ao ler este breve texto, fizesse uma análise de sua própria condição de esposo e pai. Faço isso a cada dia e continuo lutando contra mim mesmo, no sentido de fazer mais e melhor pela família que Deus me confiou. Não consigo me enxergar sem eles. Sei o quanto foram e sempre serão importantes em todas as minhas conquistas pessoais, profissionais e ministeriais. Se tivesse de resumir tudo que escrevi em uma única frase, diria: Não abra mão de sua família, ame-os intensamente para a glória de Deus!



ESPERANÇApara casamentos em crise O primeiro passo, essencial para a restauração de um relacionamento, é acreditar que a melhora é possível Por Robert J. Carlson

O

telefone tocou em uma tarde de sexta-feira. Uma voz desesperada do outro lado da linha disse: – Doutor, quando posso me encontrar com o senhor? Meu pastor sugeriu que conversássemos. O senhor tem um minuto agora? Nos minutos seguintes ele compartilhou uma história turbulenta. Esse homem estava casado havia 14 anos e tinha três filhas, mas, nos últimos dez anos, ele e sua esposa tiveram relações íntimas apenas três vezes. Ele compreendia que ela, tendo sofrido abuso do pai e de alguns primos, tinha profundas cicatrizes emocionais. Entretanto, após 14 anos, ele se perguntava se deveria persistir nesse relacionamento. Senti vontade de conhecer a versão da mulher e saber que papel esse homem desempenhou em um relacionamento praticamente sem sexo. – Será que sua esposa poderia vir também? – perguntei. – Ah, não. Ela recusa aconselhamento. Diz que isso é problema meu. Ele continuou: – Ela está no Canadá visitando a família. Não sei ao certo quando estará de volta, mas antes que ela retorne, acho que preciso decidir se procuro um advogado ou se adio mais um pouco essa decisão. O senhor acha que pode me ajudar?

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Eu parei por um momento imaginando quantos pastores estariam ouvindo histórias parecidas nesse mesmo instante. Por que as pessoas não buscam ajuda antes que seja tarde demais? Por que esperam chegar ao ponto de considerarem um divórcio para procurarem um pastor ou um conselheiro? Pensei nas três meninas. Pensei no álbum de fotos da família que nunca mais faria sentido de novo. Pensei nas duas novas famílias que seriam formadas, confusas e feridas com a destruição de seu antigo lar. Pensei na dor e amargura que a esposa sentiria. Pensei também na raiva que sinto de adultos que abusam de crianças sem se importar com os traumas que as acompanharão pelo resto da vida. Senti uma dor na boca do estômago ao recordar do quanto eu temia essas primeiras sessões com casais que apresentavam casos aparentemente perdidos. No entanto, também me lembrei de outros casais que haviam lutado de forma egoísta e cruel para transformar seus cônjuges em pessoas que correspondessem às suas expectativas – arruinando seus relacionamentos – mas que depois se deram conta de que é impossível viver com outra pessoa sem receber e conceder graça, e acima de tudo, sem experimentar a graça de Deus. Tais casais foram capazes de mudar uma situação aparentemente irremediável. Buscaram e concederam perdão. Aprenderam a se comunicar, a ceder e a se importar novamente. Eles agora sorriem, se tocam, dão as


mãos. Eles se encontram do outro lado do vale do desespero, não por um passe de mágica, mas como resultado de muito esforço e trabalho. Sei, por experiência, que casamentos extremamente problemáticos têm salvação. – Seria melhor se você e sua esposa viessem juntos conversar comigo – disse. – Mas já que ela não está aqui, prefiro não esperar. É melhor que comecemos agora mesmo. Quando você pode vir ao meu escritório? A ESPERANÇA E O DESESPERO Há alguns anos, durante meu treinamento clínico no Hospital St. Elizabeth, em Washington, D.C., atendi um homem tímido, sensível e com uma enorme capacidade intelectual, mas que conhecia intimamente as cicatrizes das feridas emocionais. Ele falou de maneira calma, mas ao mesmo tempo profunda, sobre como é importante que pessoas marcadas por traumas psicológicos tenham a capacidade de distinguir a esperança do desespero nas diferentes situações da vida. Essa capacidade, de fato, é uma questão crítica nas intervenções matrimoniais. Na verdade, esse é um problema crítico também quando se trata de tentar ser um bom cônjuge. No momento em que me dei conta de que era inútil esperar que minha esposa fosse aquela antiga paixão de minha adolescência, nosso casamento deu um grande passo adiante. Foi então que pude perceber a singularidade da mulher com quem me casei. Isso me encheu de esperança e alegria! Todo casamento é construído através da esperança. As pessoas se casam porque acreditam que uma vida compartilhada terá propósito e será mais eficaz e satisfatória do que uma vida solitária. Elas se casam esperando que o relacionamento seja bem sucedido, independentemente do que amigos ou parentes possam dizer. Porém, quase todo casamento passa por um período de desilusão. Alguns autores chamam essa fase de “a queda”. O que se esperava que acontecesse, não acontece. Tristeza, dor e raiva substituem a esperança. A inocência é perdida e o desespero entra em cena. Karen disse certa vez: – Quando nos casamos, pensei ter assinado um contrato que me garantisse um companheiro, alguém interessado pelas mesmas coisas que eu, disposto a compartilhar o fardo das atividades do dia-a-dia assim como os momentos alegres. Em vez disso, casei com um menino, alguém que havia sido cuidado a vida toda pela mãe e que esperava que eu fizesse o mesmo. E que ainda espera que eu seja grata ao fazer isso! Quando as pessoas contam histórias como a de Karen, muitas vezes compartilhamos de seus sentimentos. Como pastores e conselheiros, ouvimos muitas histórias sobre casamentos problemáticos e esperanças frustradas e somos tentados a participar de seu desespero. Valorizamos uma comunidade com casamentos fortes, mas, muitas vezes, pintamos um quadro pessimista sobre as pressões modernas contra o casamento. Viemos a acreditar que o casamento é uma

escolha entre suportar uma pressão incrível ou desistir de vez e partir para o divórcio. Tal comportamento desesperado ignora o fato de que as pessoas podem mudar, podem crescer, de que milagres podem acontecer, e de que atitudes e percepções transformadas (mesmo que de apenas uma das partes) podem alterar de maneira significativa a relação de um casal. Na verdade, a desilusão é um passo na direção certa. Ela ajuda a separar o desespero (“meu cônjuge nunca será o companheiro que sonhei”, como admitiu Karen) da esperança (“aqui está uma pessoa diferente do que imaginei e que terá que abandonar suas expectativas a meu respeito, assim como eu abandonarei as minhas em relação a ela”). O trabalho do pastor ou do conselheiro matrimonial é de mostrar consideração com a agonia que o casal está passando, e, ao mesmo tempo, manter viva, através de nossas habilidades, crenças e orações, uma centelha de esperança para proteger aquela chama. Nos últimos cinco anos, descobri algo em que por muito tempo quis acreditar – que casamentos em crise não precisam terminar! A restauração é possível. John descreveu sua experiência da seguinte maneira: – No início, nosso casamento estava bem. Funcionava bem. Mas, com o passar do tempo, foi se desgastando, e nossas necessidades mudaram. Foi igual com nossa casa – no começo nós a amávamos, mas chegou um tempo em que devíamos ou reformar, ou largá-la de mão. John e sua mulher, Margareth, conseguiram restaurar seu casamento. A RECUPERAÇÃO DA ESPERANÇA O primeiro passo, essencial para a restauração de um relacionamento, é acreditar que a melhora é possível. Partindo dessa premissa, dois casais que se conheceram durante um aconselhamento em uma universidade americana – Sheldon e Lillian Louthan, e Floyd e Nelda Coleman – desenvolveram um programa para ajudar casamentos acometidos por sérios problemas. O programa, denominado Recuperação da Esperança, recomendado por muitos pastores, gira em torno de um seminário na manhã de sábado, seguido de sessões de aconselhamento. Mas acredito que os princípios tratados ali sejam aplicáveis também em outros contextos em que pastores estejam tentando ajudar casais em crise. Os seminários do Recuperação da Esperança proporcionam uma oportunidade para os presentes de ouvirem as histórias de outros casais, como John e Margareth, que estavam prestes a se divorciar, mas foram capazes de restaurar seu casamento. Os casais dividem suas experiências em um ambiente confidencial e são encorajados a identificarem, por conta própria, o que fez perderem a esperança e o que poderia trazê-la de volta. Eles têm a oportunidade de se reunirem com um profissional para tratar das questões específicas que causaram mais tensão no relacionamento. Eles também são incentivados a adiar a ação de divórcio por um período de

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que estou empenhado em desenvolver seu relacionamento, o casamento pode falhar mesmo que o aconselhamento seja bem sucedido. Quando Kirk e Jane vieram em sua primeira sessão, eu os atendi separadamente. Ela tinha acabado de sair da faculOUVINDO HISTÓRIAS DE OUTROS CASAIS dade de Direito e tentava se estabelecer profissionalmente, Bob e Dawn participaram de um desses seminários, onde cadepois de ter investido bastante em sua formação. Ela queria sais contam as histórias de seus casamentos – construídos uma oportunidade para chegar ao melhor lugar possível. E na esperança, testados na desilusão e restaurados através da também estava tendo dificuldade de abandonar busca do entendimento mútuo e de um longo e um caso secreto que estava tendo durante significativo processo para tornar seus relaseu último ano de faculdade. Kirk, um cionamentos fortes e duradouros. contador, tinha uma abordagem muiMais tarde, quando se reuniram to mais conservadora: nunca quis com o conselheiro, Dawn disse: Muitas vezes, a que sua mulher tivesse ensino – Sabe, nós temos muitos prosuperior. Para ele, ela deveria preocupação congregacional é blemas. Nossas famílias são case contentar com o trabalho óticas. Todos os irmãos e irmãs expressa de uma maneira que de casa. Sua família, que veio de Bob são divorciados. Seu da Europa, tinha expectatipai já foi casado três vezes e acaba por ser interpretada como vas bastante convencionais a agora tem um relacionamento fofoca. Mas, quando há cuidado, respeito das mulheres. Kirk se homossexual. Meu pai abusou ressentia do controle que seus de mim e minha mãe me odiaa poderosa cura do corpo pais exerciam sobre ele, mas va. Eu sei que temos sido muito de Cristo pode ajudar geralmente expressava mais a cruéis um com o outro, mas hoje sua raiva na esposa, que vivia a lidepois de ouvir tudo o que esses na restauração berdade que ele gostaria de ter. outros casais enfrentaram, acredito Passada a primeira hora, disse a eles que posso fazer meu casamento funcioque estava interessado em seu casamento nar também. Ainda não sei como fazer isso, e que, na maior parte do tempo, os veria como mas acredito que encontraremos uma maneira. uma unidade. Sentia que se olhasse para cada um deles Eu gostaria de dizer quais são os problemas que acho que isoladamente, estaria contribuindo para a morte de seu casatemos. Talvez você possa nos ajudar. mento. Dois anos depois realizei, junto com seu pastor, uma As respostas de Bob e Dawn não são incomuns. Ouvir alcerimônia para reafirmar os votos do casal. guém dizer o indizível – o fracasso pessoal no contrato de casamento, a morte dos sonhos, o desespero e a dor –, mas com VIVENCIANDO UMA uma mensagem de esperança, é um incentivo poderoso. Por COMUNIDADE SOLIDÁRIA diversas vezes vi casais descobrirem que podem acreditar nas Ao trabalhar com casais em crise, redescobri o poder de uma possibilidades do futuro. É disso que se trata a esperança. É o comunidade solidária, algo que deveria ter conhecido a vida ingrediente necessário para que as pessoas façam aquilo que inteira. No Recuperação da Esperança, cada casal é auxiliado precisa ser feito para alcançar a restauração. por outro casal, que pode orar por eles, ou talvez visitá-los, fazendo algo que represente o vínculo de uma comunidade OS BENEFÍCIOS DE UM solidária. Se possível, tentamos encontrar um casal da mesCONSELHEIRO PROFISSIONAL ma igreja. Em momentos de crise, as pessoas precisam de alguém com Dois anos depois de participarem do seminário, Don e Noautoridade e competência para confiar, alguém que entenda reen contaram que o seu “casal solidário” acabou se tornando de terapia conjugal. Essas pessoas provavelseus melhores amigos. Noreen disse: mente já tentaram resolver seus problemas – Nós mal conhecíamos Pam e Jim, mas quando eles aceipor conta própria. Elas agora procuram por altaram ser nosso casal solidário, vimos que eles sabiam que guém com mais conhecimento e competência. estávamos tendo problemas. Tínhamos muita vergonha que Nem todos os conselheiros, no entanto, outro casal da igreja soubesse, mas com eles podíamos consão treinados em terapia conjugal. Eu mesmo versar. Não precisávamos fingir. percebo agora que, no passado, posso ter sido Muitas vezes, a preocupação congregacional é expressa muito útil para pessoas em busca de aconseRobert J. Carlson é conselheiro em de uma maneira que acaba por ser interpretada como fofoca. lhamento, mas talvez inadvertidamente preWichita, Kansas Mas, quando há cuidado, a poderosa cura do corpo de Cristo judicial para seu casamento. A menos que eu pode ajudar na restauração. trabalhe com os casais no entendimento de três a seis meses, a fim de que tenham tempo para trabalharem na relação. Os casais devem também indicar alguém que possa orar por eles e apoiá-los nos momentos de dificuldade.

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Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

J Ú L I A

expectativas e de, humildemente, pedir perdão a Deus e a eles, abrimos uma possibilidade para que o amor cresça. Isso permite que a outra pessoa se torne aquilo que Deus a criou para ser, ao invés daquilo que nós desejamos que seja. Mesmo quando o desespero entra em cena, podemos contar com o poder de Deus para restaurar e edificar. Lembro-me de ter lido uma vez sobre um homem que estava em uma colina acima do Hiroshima no dia da explosão atômica. Apesar de ter escapado da explosão, ele observou, com desespero, a nuvem que envolveu toda a vida existente à sua volta. Conforme as horas foram passando, ele permaneceu imóvel, sem ter para onde ir ou a quem recorrer. Por fim, a fumaça começou a se dissipar, mostrando o que havia restado de sua cidade, toda coberta de preto. Ele viu então, à distância, a grama verde que cobria os montes do outro lado da cidade. Ao contar a história, ele disse: – Sabe, a cor da esperança é verde. Como um conselheiro, sinto que minha responsabilidade principal é ajudar as pessoas a verem além de sua situação imediata e descobrirem que existe cor do outro lado. Os casais que compartilham suas histórias no seminário são, para mim, os guardiões do verde. Eles me ajudaram a acreditar em possibilidades que eu duvidava e ajudaram muitos outros casais a encontrar “força para o presente e esperança para o futuro”.

T R A D U Ç Ã O :

DESCOBRINDO A POSSIBILIDADE DA MUDANÇA Lyle e Betty estavam em crise. Um dos problemas era o fato de Lyle ter sido criado com quatro irmãs e, por isso, nunca havia aprendido a lidar com as responsabilidades domésticas. Ele teve um caso, separou-se de Betty e divorciaram-se. Dois anos depois, Lyle foi visitar as crianças, que moravam com sua ex-mulher. A conversa que tiveram foi educada e reservada. Betty foi cautelosa, mas orava por um milagre. A família passou um tempo junta, no início da noite, e Betty reparou em como as crianças estavam felizes de ver o pai, como pareciam reviver os velhos tempos. Mas ela também reparou em outra diferença importante: ele levou seu prato para a cozinha e limpou seu cinzeiro. Por fim, eles decidiram tentar novamente e se casaram de novo. Eles agora são um dos casais que compartilha sua história no seminário Recuperação da Esperança. Perceber pequenas mudanças permite que as pessoas vejam o potencial que existe nas negociações feitas com boa fé. É isso que proporciona o solo fértil onde cresce a esperança. A esperança no casamento vem à medida que as pessoas aprendem a perdoar e a serem perdoadas. Todos nós temos sonhos e expectativas que danificam a personalidade de nossos cônjuges. Ao estarmos dispostos a abrir mão dessas

R A M A L H O

ESPERANÇA PARA CASAMENTOS EM CRISE

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QUATRO LIÇÕES PARA UMA VIDA FAMILIAR MELHOR Pastores podem ter um ministério eficaz e garantir um tempo de qualidade com suas famílias por Roger C. Palms

H

á pouco tempo conheci um pastor cujo ministério é um programa de rádio para crianças. Por causa da transmissão do programa, ele recebe milhares de cartas – as quais precisa responder – e precisa manter o ministério na igreja, o que o obriga a trabalhar os sete dias da semana. Quando me contava sobre o sucesso de seu ministério com as crianças, eu lhe perguntei: – Quanto tempo você passa com seus próprios filhos? Ao que ele respondeu:

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– Ora, não tenho tempo para isso, mas eles precisam entender que esse é o meu ministério. Certa vez a esposa de um pastor me fez uma pergunta delicada: – Será mesmo possível que Deus abençoe o ministério do meu marido? Ela então me explicou porque fez tal pergunta. O seu marido é líder de uma igreja, ocupa uma posição de responsabilidade, é muito requisitado em círculos de liderança, e estava tão ocupado com as causas cristãs que



julgou ser necessário mudar-se e morar longe da família. Sua mulher agora cria, sozinha, os filhos. Ela, em meio às lágrimas, me perguntou: – Ele não deveria estar em casa conosco? Essas duas conversas, junto com minha própria experiência pastoral, fez crescer dentro de mim uma preocupação com as famílias dos líderes de igrejas. Acredito que não dizemos o bastante para eles: “Suas famílias fazem parte de seus ministérios também”. Pensei a respeito disso à luz de minha própria família, e me dei conta de que é mais fácil evitar crises familiares fora do ministério da igreja do que dentro dele. E há motivos para isso. Podemos ser tentados a construir, em nosso conceito de ministério da igreja, as próprias fraquezas que levam à destruição do casamento e da família. Muitos pastores fazem isso sem perceber. Aconteceu comigo, e por esse motivo, deixei o ministério. Eu sentia a necessidade de provar que era um bom pastor. Eu ensinei, por meio das minhas atitudes e palavras, que a obra de Deus é também obra da igreja, e sempre tentava fazer um pouco mais. Consequentemente, estava sempre de plantão. Mesmo quando estava em casa, mentalmente era como se não estivesse. O telefone tocava e eu pulava para atender. Era só colocar minha gravata e eu estava “profissionalmente” pronto – e se Roger C. Palms um membro da igreja aparecesse e me foi pastor, capelão encontrasse de calça jeans? universitário e editor da revista Em uma noite, pouco depois do jantar, Decision, e escreveu um pastor aposentado de nossa comuni15 livros, dentre dade me ligou e perguntou se eu gostaria eles Celebrando a vida depois dos de ir pescar com ele até o anoitecer. Eu 50, publicado pela tinha a intenção de fazer algumas ligaeditora Textus ções naquela noite, mas aquele homem era idoso e tinha problemas cardíacos. Ele só podia ir pescar se alguém fosse

com ele para ajudá-lo a colocar o barco na água e ligar o motor. Como também gosto de pescar, concordei em ir com ele. Voltei para casa uma hora e meia depois. Enquanto estava fora, um membro da congregação ligou e exigiu saber onde eu estava. Retornei a ligação assim que cheguei e descobri que se tratava de algo tão simples que poderia ter esperado. Mas essa pessoa espalhou a notícia de que o pastor nunca estava disponível, que estava sempre pescando. Por sentir esse tipo de pressão, passei a me esforçar mais ainda para provar que levava a sério o meu trabalho. O que acabou sendo uma armadilha, já que nunca conseguia fazer o bastante. Tratava-se de um problema pessoal? Sim, mas vi ao longo de minha vida muitos ministros passarem por isso também. Alguns surtam mentalmente, outros resolvem mudar de vocação, e há ainda os que, por não estarem em casa construindo fortes laços familiares, cedem a outras pressões, como a tentação de iniciar um relacionamento com outra mulher. Poucos pastores negligenciam o lar e a família porque querem; é algo que acontece lentamente, e isso se dá porque as pessoas – com quem esses homens possuem os relacionamentos mais íntimos – não são aquelas com quem eles dividem seu teto: são os membros de suas igrejas, já que eles permitem que o ministério tome todo o seu tempo. Precisamos nos acalmar, relaxar e passar algum tempo com nossas famílias. Estamos fazendo um grande desserviço às nossas congregações quando não mostramos o quanto isso é importante para nós e para eles também. Se passarmos a impressão de que toda essa correria acontece porque estamos “sendo cristãos”, eles podem até apreciar nosso trabalho, mas não saberão que temos uma responsabilidade com nossas famílias e que eles devem ter com as suas também. Não há mais ninguém que possa suprir as necessidades da minha mulher e dos meus filhos. Deus deu essa função a mim.

Podemos ser tentados a construir, em nosso conceito de ministério da igreja, as próprias fraquezas que levam à destruição do casamento e da família. Muitos pastores fazem isso sem perceber

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QUATRO LIÇÕES PARA UMA VIDA FAMILIAR MELHOR

No presente momento, devido as minhas responsabilidades, passo quase um terço do ano viajando. Já ouvi a pergunta: “As viagens não tomam o tempo com sua família?” Para mim pessoalmente, é bastante tempo, mas minha família diz que não estou tão ausente agora quanto nos tempos em que era pastor, quando estava sempre trabalhando. Agora, no entanto, é diferente. Quando estou em casa, estou realmente em casa. Apesar de ir ao escritório todos os dias, e algumas vezes até levar trabalho para casa à noite, consigo parar quando quero. Coloco uma roupa confortável, caminho pela casa, enfim, estou ali tanto fisicamente quanto mentalmente. Conversando com líderes que enfrentaram esse problema “recorrente” no ministério e vendo como eles valorizam o tempo dedicado à família, aprendi lições bastante úteis: 1a LIÇÃO - Os pastores devem exigir tempo em casa. Conheço um pastor que é bastante específico em suas exigências. Ele diz: “Limito meu tempo de trabalho a 50 horas por semana”. Ele disse que, como pastor,

gostaria de ter, no mínimo, três noites por semana em casa. “Se vou pregar para workaholics na minha congregação, preciso dar o exemplo com minha própria vida, pela maneira como administro meu tempo. Os pastores precisam prestar atenção em si mesmos e avaliar suas vidas”. Há pastores que falam a respeito das “necessidades da família”, mas cujas famílias não recebem atenção. Eles querem tempo para eles, longe da família. E, algumas vezes, até mesmo usam a família como desculpa para trabalharem o mínimo possível. Mas a maioria dos pastores não são preguiçosos; trabalham duro. Desejam construir uma sólida vida familiar baseada no amor, e isso requer esforço. 2a LIÇÃO - Os pastores de uma comunidade precisam separar um tempo para falar a respeito das tentações sofridas por cada um deles: sociais, financeiras, sexuais. Não se trata de uma atitude triunfalista, algo como “deixe-me contar como consegui”, mas sim de dividir problemas que todos enfrentamos e explorar maneiras para vencê-los.

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Um pastor que conheço afirmou: – Existem seis pastores em nosso grupo, então podemos discutir nossas necessidades pessoais abertamente. Choramos e oramos juntos, e sei que, se enfrentar qualquer problema em minha família, posso contar com eles. Um jovem pastor, que se preparava para partir com sua família para o campo missionário, disse: – Temos amigos a quem recorrer quando precisamos de conselhos. Quando estávamos na faculdade, um de nossos professores nos disse certa vez: “Se for preciso escolher entre uma tarefa e sua família, fique com sua família”. Nunca me esquecerei disso.

obrigados a fazer todo o trabalho. Alguns líderes admitem que nem sempre querem delegar trabalho – pois este é um escape. Um pastor confessou: – Estava usando meu trabalho para evitar minha família. Quando as crianças me irritavam, eu dizia: “Bom, eu preciso dar alguns telefonemas”. Isso era verdade; sempre havia ligações a serem feitas. Mas eu não estava sendo justo com minha família. Os pastores geralmente passam a ficar mais tempo em casa quando se dão conta de que suas famílias são congregações dadas por Deus. Ouvi um pastor dizer: – Preciso me lembrar constantemente que não sou indispensável, que não sou pessoalmente responsável pela salvação do mundo. Sou responsável por tocar as vidas daqueles à minha volta. Acredito que ser pastor não é tão diferente de ser pai. Servir, cuidar, ouvir e aconselhar é uma espécie de ministério tão importante quanto o aconselhamento pastoral. Em uma noite de inverno, eu e meu filho colocamos nossos casacos e deitamos no quintal para observar as estrelas cadentes. Compartilhamos momentos de profunda admiração. Não ficamos lá fora por muito tempo por causa do frio, mas foi algo memorável. Nunca vou me esquecer; acredito que meu filho também não. Ao lembrar disso, no entanto, me dei conta de que, provavelmente, nunca teria feito isso quando trabalhava como pastor. Estaria ocupado em alguma reunião da igreja, ou dando telefonemas. Cada um de nós pode fazer um bom trabalho no ministério e ainda ter tempo para a família. Um dia, estaremos diante de Deus e ouviremos as seguintes palavras: “Muito bem, servo bom e fiel”. Ouviremos essas palavras não apenas porque servimos a igreja; as ouviremos também porque servimos àqueles que Deus colocou mais perto de nós – nossa família. Ela também faz parte de nosso ministério.

4 a LIÇÃO - As demandas da congregação e outras programações do ministério podem ser organizadas de modo que nem o pastor e nem os fiéis sejam

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J Ú L I A T R A D U Ç Ã O :

3a LIÇÃO - É necessário que se programe noites familiares na agenda da igreja, não para que as pessoas compareçam a algum evento, mas para que fiquem em casa ou saiam em família. As igrejas podem ajudar as famílias a ficarem juntas, a brincar, orar e conversar. Diversas coisas acontecem quando o tempo em família é programado e esperado. Para começar, as crianças sabem. Vi um pastor sorrir ao contar: – Comprei minha primeira autorização para pesca porque meu filho queria que fôssemos pescar juntos. Outro pastor, cujos filhos já estão crescidos, disse: – Eu e minha esposa participamos de um grupo de coral juntos. É uma boa diversão para nós. Alguns pastores agendam esse tempo em família em dias de eventos escolares para que possam comparecer com seus filhos. Outros fazem piqueniques ou passeios, mas sem a companhia de outros membros da igreja. O objetivo é a união da família, e não outra função da igreja.

R A M A L H O

Acredito que ser pastor não é tão diferente de ser pai. Servir, cuidar, ouvir e aconselhar é uma espécie de ministério tão importante quanto o aconselhamento pastoral



O desafio de ser bênção perto Não seremos uma bênção longe se, primeiramente, não o somos perto. E não há nada mais perto de nós que a nossa família por Ronaldo Lidório

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O

lar é nosso primeiro desafio e onde devemos investir energia, tempo e relacionamento construtivo. Davi é lembrado na história como um líder vitorioso. Venceu o gigante, superou a perseguição de Saul, peregrinou foragido em sua própria terra, refugiou-se na casa de seus antigos inimigos e, na perseverança do Senhor, reinou sobre Israel. Por outro lado, fracassou diversas vezes em casa onde enfrentou adultério, mentira, incesto, competição e trágica rebeldia. Certamente há aqui lições preciosas e uma delas é a necessidade de não perdermos o privilégio de sermos bênção perto, na família. É mais fácil ser um modelo para as massas que nos veem de longe do que para um único indivíduo que caminha conosco. É mais fácil brilhar em um púlpito do que exercer paciência com a esposa. É mais fácil admoestar uma congregação do que ser modelo para os filhos. Um provérbio chinês nos ensina: Antes de começar o trabalho de mudar o mundo, dê três voltas dentro de sua casa. Não importa o que você diga a seus filhos para fazerem. Eles naturalmente seguirão aquilo que o veem fazendo.

Refere-se àquele que serve ao Senhor sendo usado por Ele para abençoar (edificar) o seu irmão. Esta é justamente a raiz do verbo que expressa que Paulo e Barnabé “serviam” ao Senhor. Afirmava, assim, que antes de tudo eles eram abençoadores do Corpo de Cristo em Antioquia. A primeira característica apontada a respeito destes dois homens que espalharam o Evangelho pela Ásia, Acaia, Macedônia e Galácia não foi a competência intelectual, o título ministerial ou a profundidade teológica, mas sim a fidelidade a Deus sendo uma bênção para os que estavam perto. Uma aplicação missionária é clara: não envie para longe aqueles que não são uma bênção perto. Aquele jovem que se diz chamado para o ministério, mas não demonstra o caráter de Cristo nem o desejo de servir os que se encontram ao seu redor, fatalmente não será uma bênção longe. Uma aplicação pessoal é ainda mais inquietante: aquele que não for leitourgos – um abençoador – no seu círculo menor de convivência, dificilmente o será em lugares distantes. E não há nada mais próximo de nós do que a nossa família. Há alguns anos, encontrei-me com um senhor, conhecido preletor sobre famílias nas igrejas de sua região. Era tarde naquela noite e, ao passar rapidamente por um supermercado, eu o percebi empurrando lentamente um carrinho de compras, quase vazio. Ao cumprimentá-lo, notei o seu constrangimento. Rodei por algumas prateleiras buscando o que precisava, mas permanecia incomodado com a impressão de algo estava errado. Voltei a abordá-lo, prolonguei a conversa e passo a passo foi-se criando ali um ambiente propício para um abrir de coração. Após algum tempo, com seu rosto já marcado por expressões de angústia, ele mencionou que a cada dia, ao sair do seu emprego, permanecia ali para deixar o tempo passar. Seu intuito era chegar em casa tarde o suficiente para que esposa e filhos já estivessem deitados. Ao indagar o porquê desta prática ele elevou a voz e desabafou: ‘Minha casa é um inferno!’ Conversamos, oramos juntos e nos despedimos, deixando um próximo encontro planejado. Segui, porém, com tremenda consciência de nossa limitação humana. Que o Senhor abra nossos olhos para que não ganhemos o mundo e percamos a família.

É mais fácil ser um modelo para as massas que nos veem de longe do que para um único indivíduo que caminha conosco

SENDO UM MODELO PARA OS DE PERTO Ser um modelo para os de perto, portanto, é um dos nossos maiores privilégios e mais intenso desafio. Em Atos 13, encontramos o registro do envio de Paulo e Barnabé pela igreja em Antioquia. Lemos que “servindo eles ao Senhor disse o Espírito Santo...”. O verbo “servindo” (leitourgounton) usado no texto aponta para aqueles que serviam ao Senhor como leitourgoi, servos. Havia três formas de “servir” no contexto neotestamentário: Como doulos, o escravo - Nas palavras de Candus, aquele que pessoalmente acompanha o seu Senhor para realizar os desejos do seu coração. Portanto, doulos, no contexto do Novo Testamento, é aquele que tem um compromisso direto com Deus e O serve pessoalmente. Como diakonos, o mordomo - Aquele que serve ao seu Senhor por meio do serviço à comunidade cristã. Nas Escrituras, o termo é usado para os que cooperam para suprir as necessidades do povo de Deus – e, com isto, servem a Deus. Ou como leitourgos, o edificador - O termo, ligado à leitourgia (liturgia), não é restrito como o usamos hoje.

BUSCANDO O MAIOR INVESTIMENTO O maior investimento a ser feito na família é o amor. Nada é mais construtivo, poderoso e reparador. Amar – e expressar Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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o amor – pode salvar casamentos perdidos, reconciliar filhos aos pais e reanimar o coração mais desesperado. Sempre leio com temor os três primeiros versículos do capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios. Confrontam minha vida ao afirmar que podemos ter dons espirituais, tamanha fé ou praticar toda sorte de ações sociais, porém, sem amor, nada haverá que, ao fim, possa ser aproveitado: nem sermões bem preparados ou liturgias cúlticas; nem grandes gestos de liderança ou realização pessoal. O amor não é apenas superior aos dons, mas um marcador de quem somos em Cristo. Somos de Cristo quando buscamos amar. Isto significa que minha vida em Cristo não pode ser definida puramente pelos dogmas que entendo e aceito, nem mesmo pelas experiências de espiritualidade que vivencio, pois, sem amor, serão vazios de significado. Minha vida em Cristo é definida pela presença do amor que não apenas é essencial como também é auto-manifesto. Para nosso temor e tremor, o Espírito descreve neste capítulo que o amor é perceptível, ou seja, ele deixa marcas. Ele é prático, notável e visível e precisa ser aplicado de forma vital em cada vida e lar. Ele é paciente, esperando pela hora oportuna para o outro. É benigno, fazendo com que a dor do outro seja também a nossa. Não arde em ciúmes, portanto evita comparações e se nega a criticar o próximo. Somos naturalmente seres construtores de máscaras e tais máscaras tendem a esconder aquilo que é nitidamente carnal e vergonhoso. Assim, usando máscaras bem elaboradas, podemos falar sobre fé sem de fato crer; pregar contra o pecado sem intimamente repudiá-lo; expor sobre o amor e, na manhã seguinte, irritar o esposo, esposa ou filhos. Gestos de amor provam a nossa verdadeira espiritualidade. O oposto do amor também é evidente. Uma de suas marcas é a incrível tolerância com nossas próprias fraquezas e grave intolerância com as do próximo. Desta forma, se alguém conversa com formalidade, é antipático, mas se nós o fazemos, somos respeitosos. Se alguém brada ao pregar, está sendo artificial. Se nós bradamos, é sinal de espiritualidade. Se alguém não faz, é preguiçoso, mas se nós não fazemos, somos ocupados. Se alguém contrai uma dívida, é irresponsável. Se nós nos endividamos, é porque recebemos pouco. Se alguém discorda é soberbo, mas se nós discordamos, somos criteriosos. Se alguém critica, ele o faz por estar tomado de inveja ou ciúmes. Se nós criticamos, estamos sendo zelosos. Se alguém repete um sermão, está sendo desleixado, mas se nós o fazemos, Deus quer falar novamente ao Ronaldo Lidório seu povo. Se alguém erra, era de se esperar é missionário, vindo dele. Se nós erramos, errar é humapastor, teólogo e escritor no. Se alguém cai, suas atitudes carnais já indicavam isto. Se nós caímos, o inimigo 40 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

preparou-nos uma armadilha. Se alguém brinca, está sendo mundano. Se nós brincamos, somos informais. Se alguém ofende ao falar é descontrolado. Se nós o fazemos, somos sinceros. A ausência de amor falsifica a vida cristã, e o lar é o primeiro ambiente aonde tais sinais se manifestam. Neste mesmo capítulo 13, percebemos que o amor é um aprendizado. Eu era menino e agora sou homem. Enxergava de forma obscura e agora vejo claramente. Em outras palavras, amar é um processo, uma caminhada. Nós não nascemos amando. Para amarmos verdadeiramente, devemos pedir o auxílio daquele que é amor. O salmista, no Salmo 119.2, afirma que andará nos caminhos do Senhor quando Ele dilatar o seu coração. Precisamos de corações dilatados, abertos, prontos para amar. Peçamos ao Pai, pensando nos cenários diários de nossas vidas e, de forma especial, da nossa família, dizendo: ‘ensina-me a amar’. Jonathan Edwards, em seu livro Uma fé mais forte que as emoções (Editora Palavra), nos fala sobre a incompatibilidade do amor com as palavras de agressão. Expõe que, para amar, precisamos também nos desapegar daquilo que é incompatível com o amor. Desapego é uma palavra-chave. Jamais amaremos enquanto nossa agenda diária estiver repleta de palavras de ofensa, competitividade, ciúmes, falso zelo, discórdias, comparações desnecessárias, soberba e agressões. Se a família é um dos maiores privilégios na terra, é também uma das maiores responsabilidades. A Palavra nos adverte que “se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo” (1Tm 5.8). Que o Altíssimo nos ajude para que sejamos sal da terra a luz do mundo, mas também abençoadores para os de perto, especialmente a família.



Família, uma de Deus O

s relacionamentos familiares passam por grande crise em nossos dias. O índice de separação conjugal já chega aos 50% em alguns países. Mais da metade das mães trabalham fora de casa inclusive na fase em que as crianças são pequenas. O uso de contraceptivos e preservativos, incentivados por uma ética relativa, empurrou os adolescentes e jovens para uma vida sexualmente promíscua. O sexo está cada vez mais fácil e o casamento, cada vez mais frágil. A família está em crise. E, assim como a família, em crise está também a igreja e a sociedade, esta um espelho do que acontece nos lares. A fé em Cristo não muda apenas indivíduos, mas também famílias. Não teremos igrejas santas nem uma sociedade justa se não tivermos lares bem estruturados. Em Colossenses 3.1821, Paulo trata dos relacionamentos no contexto da família – um tema abordado de maneira recorrente no Novo Testamento (Ef 5.22-6.4; 1Tm 2.8-13; Tt 2.1-8; 1Pe 3.1-7). Neste artigo, faremos uma análise dos princípios de Deus que devem reger os relacionamentos familiares.

PRINCÍPIOS QUE REGEM OS RELACIONAMENTOS NA FAMÍLIA Há cinco princípios que regem os relacionamentos na família, o quais destacaremos aqui. Em primeiro lugar, Cristo nos concede novo poder. As outras filosofias morais são apenas trens sem locomotiva, mas o cristianismo é o motor que nos impulsiona e nos capacita a viver de acordo com os princípios estabelecido por Deus. Cristo dá uma ordem e dá poder para se cumprir essa ordem. Esposas e maridos, filhos e pais podem ter novos relacionamentos fundamentados no poder de Cristo. Em segundo lugar, Cristo nos oferece novo propósito. O grande propósito da família é viver todos os relacionamentos para a glória de Deus (1Co 10.31), isto é, em nome de Cristo, dando por isso graças a Deus Pai (Cl 3.17). A única maneira 42 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

correta de explicar Colossenses 3.18-4.1 é à luz de Colossenses 3.17. Em terceiro lugar, Cristo nos oferece novo modelo. Como noivo da igreja, Cristo é o modelo para os maridos, devotando o seu amor espontâneo, perseverante, sacrificial, santificador e cuidadoso à igreja. Como Filho, Jesus foi submisso ao Pai Celestial (Fp 2.8), bem como aos seus pais terrenos (Lc 2.51). Como Senhor, Jesus serviu aos seus discípulos, a ponto de lavar-lhes os pés (Jo 13.13-17). Cristo é o supremo exemplo para os nossos relacionamentos na família. Em quarto lugar, Cristo nos oferece nova ética. A ética cristã não é recíproca. Ela não tem dois pesos e duas medidas. Ela não faz acepção de pessoas. Nunca é a ética de que todos os deveres estão de um lado só. Não há desequilíbrio nem injustiça. Há privilégios e responsabilidades para todos. Paulo não realça o dever das esposas às expensas do dever dos maridos, dos filhos às expensas dos pais. Fora da Palavra de Deus não havia esse equilíbrio. Esse conceito de Paulo foi revolucionário, visto que no primeiro século as esposas, os filhos e os servos não tinham direitos. No mundo antigo os filhos não tinham direitos. Os pais podiam deserdá-los, escravizá-los e até matá-los. Tanto sob


dádiva

Uma análise dos princípios de Deus que devem reger os relacionamentos familiares

por Hernandes Dias Lopes as leis e costumes judaicos e gregos, todos os privilégios pertenciam ao marido e todos os deveres à mulher; mas, no cristianismo, temos pela primeira vez uma ética de obrigações mútuas. Em quinto lugar, Cristo oferece-nos uma nova motivação. Agradar ao Senhor Jesus é a motivação principal da esposa, do filho e do servo – as três figuras que indicam submissão apontam para a dependência do Senhor (Cl 3.18,20,22-24). Se somos servos de Cristo, por causa do Senhor devemos obedecer. Obviamente, essa obediência não é absoluta (At 5.29). O cristianismo ensina que todas as relações são no Senhor. Toda a vida cristã se vive em Cristo. Em toda relação pai-filho domina o pensamento da paternidade divina; devemos tratar nossos filhos como Deus trata a seus filhos e filhas.

OS PRINCÍPIOS DE DEUS PARA O RELACIONAMENTO CONJUGAL Deus tem princípios que devem reger a postura da esposa e que devem nortear a atitude do marido. Não existem dois pesos e duas medidas. Não há sobrecarga para um e alívio para outro. Não existe apenas ônus para um e bônus para o outro. Ambos, marido e mulher, têm privilégios e responsabilidades. Acompanhemos o ensino de Paulo: Em primeiro lugar, a submissão da esposa ao marido (Cl 3.18). A submissão não é uma questão de inferioridade, visto que todos os crentes precisam ser submeter uns aos outros (Ef 5.21). Tanto o homem como a mulher são um em Cristo (Gl 3.28). A submissão não é uma questão de valor pessoal, mas de função na estrutura familiar. Uma instituição não pode ser acéfala nem bicéfala. Um corpo sem cabeça ou com duas cabeças é anômalo. Não se pode confundir submissão com “escravidão” ou “subjugação”. A autoridade do marido não é um governo ditatorial ou tirano, mas sim uma liderança amorosa. A posição de liderança do homem é apenas funcional. O homem não é melhor do que a mulher nem a mulher é inferior ao homem. A mulher veio do homem e o homem vem da mulher. Eles são interdependentes Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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(1Co 11.11,12). Assim como Deus Pai é o cabeça de Cristo e Deus Pai não é maior do que Cristo, assim também, o homem não é maior do que a mulher. Há três pontos que gostaria de destacar acerca da submissão da esposa: A submissão da esposa ao seu marido é uma ordem divina (Cl 3.18). “Esposas, sede submissas ao próprio marido”. As ordenanças divinas não são para nos escravizar, mas para nos libertar. A submissão é a liberdade e a glória da esposa, assim como a submissão da igreja a Cristo é sua glória e liberdade. Um trem só é livre para correr, quando desliza sobre os trilhos. Você só é livre para dirigir o seu carro, quando o conduz segundo as leis do trânsito. A mulher só é verdadeiramente livre quando obedece o princípio estabelecido por Deus da submissão ao marido. Mas ela não se submete a um tirano, mas a quem a ama como Cristo ama a Igreja. Nenhuma esposa tem dificuldade de ser submissa a um marido que a ama como Cristo ama a igreja. A submissão para Paulo é voluntária, e se baseia no reconhecimento da ordem divina. A submissão da esposa ao marido é uma atitude de respeito e valorização do marido, que redunda em um desejo natural de servi-lo, apoiá-lo e obedecê-lo. A submissão da esposa ao seu marido é uma atitude espiritual. “Esposas, sede submissas ao próprio marido, como convém no Senhor”. A mulher deve submeter-se ao marido exatamente porque ela está debaixo do senhorio de Cristo. É impossível uma mulher ter uma relação de submissão a Cristo e de insubmissão ao marido. A submissão da esposa ao marido é um desdobramento da sua obediência a Cristo. Porque se a mulher é submissa a Cristo, ela se submete ao marido. A versão NVI é mais clara: “Mulheres, sujeite-se cada uma a seu marido, como convém a quem está no Senhor”. A versão King James ainda lança mais luz: “Mulheres, cada uma de vós seja submissa ao próprio marido, pois assim deveis proceder por causa da vossa fé no Senhor”. A obediência a uma pessoa na sua hierarquia de importância é um reflexo de um ato primário de obediência ao Senhor celestial, Cristo.

Hernandes Dias Lopes

é diretor executivo da LPC Comunicações, escritor e Doutor em Ministério pelo Reformed Theological Seminary, de Mississippi (EUA)

A submissão da esposa ao seu marido não é absoluta. A mulher só deve ser submissa ao marido até o ponto em que não seja forçada ou constrangida a transgredir a Palavra de Deus. Sua obediência a Cristo está acima de sua submissão ao marido. Acima da autoridade do marido está a soberania do Senhor. Por isso, a esposa deve procurar fazer a vontade do marido quando esta coincidir com a vontade de Deus. Em segundo lugar, o amor do marido à esposa (Cl 3.19). Se a mulher deve submeter-se ao marido como a igreja é submissa a Cristo, o marido deve amar a esposa como Cristo ama a igreja. O padrão deste amor,

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ágape, está claro em Efésios 5.25: “Como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela”. O amor do marido à sua esposa deve observar dois princípios: O amor do marido à sua esposa é um claro mandamento de Deus. “Maridos, amai vossa esposa”. O amor do marido à sua mulher é uma ordem divina. É algo imperativo. O marido deve amar a esposa como Cristo ama a igreja, ou seja, com um amor perseverante, santificador, cuidadoso, romântico e sacrificial. O marido deve amar a esposa com um amor paciente, benigno e livre de ciúme. (1Co 13.4-8). O amor do marido à sua esposa o impede de agredi-la com palavras e atitudes (Cl 3.19). “Não as trateis com amargura” refere-se à impaciência e aos resmungos que criam tensão no relacionamento, gerando logo desânimo. Em vez de tratá-la com amargura, ele precisa ser bálsamo na vida dela, um aliviador de tensões, um amigo presente, um companheiro sensível, que vive a vida comum do lar, servindo-a e protegendo-a. O marido não deve criticar a esposa nem agredi-la com palavras, antes deve elogiá-la tanto no recesso do lar (Ct 4.7) quanto publicamente (Pv 31.39). O marido deve buscar meios de agradar a esposa (1Co 7.33,34). Nada fere mais uma mulher do que palavras rudes. A versão King James é mais clara: “Maridos, cada um de vós ame sua esposa e não a trate com grosseria” (Cl 3.19). A palavra grega pikraineste traz a idéia de amargo, chato, irritante. Fala do atrito causado pela impaciência e “falação” impensada. Se o amor está ausente, a submissão não estará presente por causa dessa perpétua irritação. Não havia uma causa da parte da esposa que ocasionasse aquele sentimento amargo do marido. Paulo está exortando aqui o marido rabujento, irritadiço, que faz tempestade em copo d’água. O marido precisa ter palavras amáveis e atitudes generosas. Ele deve ser perdoador em vez de ter um arquivo vivo de lembranças doentias e reminiscências amargas.

OS PRINCÍPIOS DE DEUS PARA O RELACIONAMENTO ENTRE FILHOS E PAIS (Cl 3.20,21) Deus tem princípios importantíssimos para construir uma relação de harmonia e paz entre pais e filhos. Vamos examinar esses preceitos: Em primeiro lugar, a obediência dos filhos aos pais (Cl 3.20). “Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois fazê-lo é grato diante de Deus”. A versão NVI expressa essa idéia de forma mais clara: “Filhos, obedeçam a seus pais em tudo, pois isso agrada ao Senhor”. Há três pontos importantes na relação dos filhos com os pais: A obediência dos filhos aos pais é imperativa. A autoridade dos pais é uma autoridade delegada por Deus. Por isso, rejeitar a autoridade deles é rejeitar a autoridade de Deus. A rebeldia ou desobediência aos pais é um grave pecado e traz consequências muito graves aos infratores. A desobediência aos pais é um sinal da decadência do mundo (Rm 1.30); também


FAMÍLIA, UMA DÁDIVA DE DEUS

um sinal do fim do mundo (2Tm 3.1-5). A força de uma nação é derivada da integridade dos seus lares. O filho que não aprende a obedecer aos pais dificilmente se sujeitará a qualquer autoridade quando adulto. Afrontará os professores, a polícia, os patrões e qualquer pessoa que tente exercer autoridade sobre ele. O colapso da autoridade em nossa sociedade reflete o colapso da autoridade no lar.

Quando os pais são permissivos ou duros demais com os filhos; 9) Quando os pais brigam o tempo todo ou desfazem os laços do casamento pelo divórcio. Há pais que, por serem liberais, empurram os filhos para o abismo da permissividade, da licenciosidade. Por outro lado, há pais que são tão rígidos, dogmáticos e severos na diciplina que os filhos são condenados a conviver com um espírito cheio de apatia e de revolta. O caminho cristão é disciplinar com amor e perdão, seguindo o modelo de Deus (Ef 6.4; Hb 12.4-12).

A obediência dos filhos aos pais é abrangente. A obediência dos filhos aos pais deve ser integral, alegre e voluntária. Obediência parcial pouco difere de desobediência, que é rebelião. Os filhos precisam obedecer “em tudo” e não apenas naquilo que lhes dá prazer. Muitos filhos seriam poupados de dores, lágrimas e perdas irrecuperáveis se tivessem obedecido a seus pais. A obediência pavimenta a esOS PAIS trada da bem-aventurança.

A gravidade da irritação. Os pais que irritam os filhos pecam contra Deus porque se insurgem contra os princípios estabelecidos por ele e pecam contra os filhos porque destroem a vida emocional e espiritual deles em vez de educá-los com amor e sabedoria. A palavra grega ereQUE thzein “irritar” sugere um desejo de NÃO CONSEGUEM irritá-los ou pela implicância, ou, ainda DISCIPLINAR A SI mais sério, por zombar dos seus esA obediência dos filhos aos forços e ferir seu respeito próprio. Há pais é agradável a Deus. A obediMESMOS NÃO SÃO pais que agridem os filhos fisicamenência é agradável diante de Deus, visCAPAZES DE te e outros que os agridem psicologito que ele mesmo já estabeleceu uma camente. Os pais que não conseguem recompensa para essa obediência: vida DISCIPLINAR disciplinar a si mesmos não são capazes bem sucedida e longa sobre a terra (Ex OS FILHOS de disciplinar os filhos. Só quando os pais 20.12; Dt 5.16; Ef 6.1-3). A relação de um sujeitam-se um ao outro e ao Senhor é que filho não pode estar bem com Deus se tiver podem exercer autoridade espiritual e física truncada com os pais. Antes de construirmos apropriada e equilibrada sobre os filhos. uma relação de intimidade com Deus, precisamos pavimentar o caminho da nossa relação com os pais. O resultado da irritação (3.21). Filhos irritados são fiEu saí de casa para estudar aos 12 anos de idade. Meus pais lhos desanimados e, nesse estado, ficam expostos aos ataques sempre moraram na região rural. Aos 19 anos, fui para o semide Satanás e do mundo. Quando uma criança não é devidanário e, aos 23 anos, já tinha sido ordenado pastor. Mas jamais mente encorajada em casa, procura auto-afirmação em outros perdi o princípio da obediência aos meus pais. Essa atitude lugares. A palavra grega anthumosin – desanimar, perder a salvou-me algumas vezes de desastradas decisões. O filho não coragem, o ânimo – traz a idéia de desempenhar suas tarefas deve obedecer apenas quando tem vontade ou quando está conde modo mecânico, frio, sem estar atento nelas, sem prazer em cordando com a decisão dos pais. Ele deve obedecer por prinrealizá-las. cípio, sabendo que Deus vai honrar sua decisão de obediência. Os pais precisam dosar disciplina e encorajamento. Há filhos que pensam: ‘não importa o que eu faço, jamais vou conEm segundo lugar, a comunicação dos pais com os filhos seguir agradar os meus pais’. Então, eles ficam desanimados. (Cl 3.21). “Pais não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem Um exemplo disso é o filho que chega em casa eufórico e diz desanimados”. O apóstolo Paulo destaca três pontos importanpara o pai: “Eu consegui tirar 90 na prova de Matemática”. E o tes neste texto: pai sem vibrar com sua conquista, diz: “E quando é que você vai tirar 100?”. Creio que atitude melhor seria aquela do pai que diz A forma da irritação. Os pais são exortados a não irritar ao filho na mesma circunstância: “Meu filho, eu estou vibrando os seus filhos. Quando isso acontece? 1) Quando não há coerêncom sua grande nota, mas quero lhe dizer que se você tivesse cia nos pais, ou seja, falam uma coisa e vivem outra; 2) Quando tomado ‘bomba’ na prova, eu ficaria triste, mas o meu amor por não há regras claras na disciplina, ou seja, os filhos são em um você seria o mesmo. Eu amo você não apenas por aquilo que momento elogiados e noutro disciplinados pela mesma atitude. você alcança, mas por quem você é”. 3) Quando não há diálogo – Absalão chegou ao ponto de preFilhos desanimados são presas fáceis na rede de Satanás. ferir a morte do que o silêncio do pai; 4) Quando há injustiça John Starkey foi um violento criminoso. Ele assassinou sua próou excesso de severidade; 5) Quando os pais não têm tempo pria esposa, foi preso, condenado à morte e executado. Pediram para os filhos, para ouvi-los, orientá-los e ajudá-los em suas neao general William Booth, fundador do Exército da Salvação, cessidades; 6) Quando os pais comparam um filho com outro e para fazer o ofício fúnebre. Ele, mirando aquela triste multidão, despertam entre eles ciúmes, inveja e ódio; 7) Quando pai e mãe disse: “John Starkey jamais teve uma mãe de oração”. entram em conflito acerca da maneira de orientar os filhos; 8) Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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[ ESCRITÓRIO ]

ADMINISTRAÇÃO, RH, LEIS E CONTABILIDADE

A hora da demissão Ninguém olha com simpatia a demissão de um colega de trabalho. A extinção do contrato de trabalho, qualquer que seja o motivo e sujeitos envolvidos, via de regra é um fato jurídico antipático – particularmente quando se dá no ambiente eclesiástico e, especialmente, quando é necessário demitir um antigo companheiro de trabalho, como por exemplo, o zelador do templo ou a secretária da igreja. Evidentemente, como há outros aspectos a considerar além do jurídico em uma demissão, consultei um amigo – Gilmar Ferreira, sócio majoritário do escritório TGF Assessoria Contábil com sede em São Paulo (SP) – para que pudesse demonstrar no artigo desta edição algumas nuances da área da contabilidade, e não apenas falar do ponto de vista das leis trabalhistas. Sabemos que a demissão, na verdade, começa a ser administrada no momento da contratação do funcionário. Isso se dá em todas as empresas e associações, inclusive as organizações religiosas, dentre elas as igrejas. No momento da contratação do funcionário, é preciso formalizar esse ato por escrito na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), bem como a respectiva anotação no Livro de Registro de Empregados, Cícero Duarte observando-se, para isso, a real função é autor das obras exercida pelo empregado, o verdadeiro Igrejas na mira da Lei e Direito para horário de trabalho, bem como a real reigrejas, pastor muneração. membro da equipe E, tal como na hora da contratação, ministerial da Igreja Batista do Parque é preciso que, em um processo de dePanamericano missão, a organização religiosa esteja em São Paulo (SP) e membro em dia com suas obrigações trabalhisda Fraternidade tas, fiscais e previdenciárias decorTeológica Latinorentes do pacto laboral. Dispensar um Americana (FTL)

colaborador não é uma situação confortável e o clima de tensão pode aumentar, caso o empregador não siga à risca as regras e os prazos que regulam a demissão de um colaborador. Nas organizações religiosas, um dos grandes problemas é o excesso de confiança junto ao colaborador e, com isso, muitas determinações da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não são cumpridas, deixando margem para possíveis ações trabalhistas. Por exemplo: não cumprimento do horário do contrato trabalhista ou a inexistência de um acordo de compensação de horas fora do expediente; não assinar recibos de pagamentos; etc. Estas más ações podem onerar a dispensa do funcionário ou criar uma mal-estar entre as partes envolvidas. Além disso, todo empregador precisa ter sua provisão mensal para demissão de um colaborador, pois, dependendo do tempo de contrato e salário, pode ser um valor alto para o momento da demissão. Dentre os direitos do colaborador – e obrigações do empregador no caso de dispensa sem justa causa – estão o pagamento do saldo de dias trabalhados, 13º salário proporcional, férias vencidas, férias proporcionais, 1/3 de férias e a multa de 40% – a empresa ainda paga 10% de multa ao governo por conta da lei aprovada em 2001 para cobrir o rombo do FGTS. Claro que cada demissão deverá ter seu cálculo elaborado por um técnico habilitado e, assim, evitar ao máximo ações judiciais sem cabimentos e desnecessárias. Por fim, observe, prezado leitor, que a contratação da locação de mão de obra, assim como a demissão de um funcionário, deve ser sempre executada por profissionais habilitados e competentes, ou seja, por técnicos das áreas jurídica, contábil e de recursos humanos. Até o nosso próximo encontro! Contato: direitoparaigrejas@gmail.com

Nas organizações religiosas, um dos grandes problemas é o excesso de confiança junto ao colaborador e, com isso, muitas determinações da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não são cumpridas, deixando margem para possíveis ações trabalhistas

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FERRAMENTAS [ INSIGHTS PARA PREGADORES ]

Eterna busca COMO AVALIAR O CRESCIMENTO ESPIRITUAL? Há como medir a quantidade de açúcar ou sal que se usa em uma receita, certo? E, para avaliar o crescimento espiritual das igrejas, que tipo de medição pode ser realizada? Para responder à segunda pergunta, Leadership Journal (a LIDERANÇA HOJE americana) entrevistou Dallas Willard, professor de Filosofia na University of Southern California (EUA) e autor do livro The Great Omission: Reclaiming Jesus’ Essential Teachings on Discipleship (em tradução livre, A grande omissão: Resgatando ensinamentos essenciais de Jesus sobre discipulado). Willard assevera que muitas igrejas estão medindo as coisas erradas, como frequência e doações, quando deveriam estar observando manifestações mais importantes como desprezo, raiva e cobiça. Essas coisas podem ser contadas, mas não tão facilmente como ofertas. Segundo Willard, as igrejas, de modo geral, não avaliam esses aspectos entre o povo porque muitos líderes descobrirão invariavelmente que estão se gabando – sem motivo – de seus ministérios. Preferimos concentrar nossa visão nas medidas institucionais de sucesso. Dallas Willard diz também que é preciso que as pessoas também estejam dispostas a ser avaliadas por estes caminhos e que tenhamos as ferramentas certas para medir a formação espiritual. Se você conta com um grupo de pessoas unidas em torno de uma visão de verdadeiro discipulado, empenhadas em crescer, comprometidas com a mudança e o aprendizado, você terá uma ferramenta de avaliação espiritual. Ele lembra que, sem transformação dentro da igreja, os pastores são derrotados. É por isso que há uma saída constante deles do pastorado. Mas eles não os únicos. Novas pessoas estão entrando na igreja, mas muitos também estão saindo. Cristãos decepcionados povoam a paisagem porque nós não temos levado a sério o discipulado, alerta Willard.

A sociedade vive hoje em busca da tal felicidade, mas enfrenta um mal bastante conhecido de psicólogos, psiquiatras e psicanalistas: a depressão. Para fugir desse fantasma, tornou-se quase uma obsessão a procura do ‘equilíbrio’ (a felicidade), a tal ponto que até médicos e cientistas estão se debruçando sobre esse tema. O cardiologista Cláudio Domenico, por exemplo, acha que a felicidade está associada ao estilo de vida e, por isso, deve-se mudar comportamentos para que se viva mais e melhor. As pessoas mais felizes têm mais saúde e longevidade, pensa Domenico. Já a psicóloga Luísa de Castro Costa, pesquisadora do Centro Anna Freud, em Londres, crê que a felicidade, tão ansiada e propagandeada, está difícil de ser alcançada nesses tempos modernos. Esta necessidade de participar intensamente da vida – e do consumo – acaba por gerar conflitos no ser humano. A depressão é a necessidade de agir no mundo e uma incapacidade de fazer isso, explicou a psicóloga, lembrando que as pessoas precisam primeiro entender que não estarão felizes o tempo todo. Não existe vida sem sofrimento, sem conflitos, com os quais temos que lidar. (Com informações de O Globo) Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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Onde chegamos

PREGAÇÃO PERIGOSA O informe anual Classificação de Países por Perseguição (World Watch List - WWL, a sigla em inglês), divulgado pela Missão Portas Abertas (MPA), mostra que aumentou muito a perseguição aos cristãos no continente africano, especialmente em Mali, Etiópia, Tanzânia, Quênia, Uganda e Níger, nações em que se observa grande crescimento do islamismo. O que não mudou mesmo no chamado ranking da perseguição é o país “campeão” de ações contrárias ao evangelho: a Coreia do Norte – há 11 anos nessa posição. A lista, que inclui as 50 nações onde os fiéis cristãos são mais perseguidos, mostra a Arábia Saudita em segundo lugar, seguida de Afeganistão, Iraque, Somália, Maldivas, Mali, Irã, Iêmen e Eritreia. A Missão Portas Abertas explica que essa classificação de 50 países considera os graus de perseguição – que vão de “concentrada” a “ilimitada” – e separa em áreas o contexto em que os cristãos são perseguidos: vida privada e vivências no ambiente familiar, na comunidade, no âmbito nacional e com a igreja. A lista também não leva apenas em conta os casos de violência física, mas também cruza informações para determinar em quais países é mais difícil ser cristão. Ou seja, onde a pregação é, de fato, mais perigosa. (Com informações de Missão Portas Abertas)

Nem é preciso assistir todos os dias aos telejornais, ouvir noticiários de rádio ou ler notícias de jornais ou da Internet, para constatar o óbvio: a violência não só é um dos assuntos mais recorrentes, como um dos males que mais afligem o brasileiro. O medo da violência pode ser explicado por motivações subjetivas – o medo de ser mais uma vítima – ou por dados estatísticos: segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de morte por homicídios no Brasil aumentou quase 32% em um período de 15 anos (1992-2007), com um detalhe: a incidência de morte por homicídio entre os homens é, em média, dez vezes maior do que entre as mulheres. Em alguns lugares, como a cidade de São Paulo, maior capital do país, esses temores podem ser medidos por um estudo de campo realizado pela Rede Nossa São Paulo, movimento lançado em maio de 2007 e integrado por mais de 600 organizações da sociedade civil. De acordo com a pesquisa, feita entre os dias 24 de novembro e 8 de dezembro de 2012, a capital paulista é apontada como “pouco ou nada segura” por 91% dos moradores. Dos 1.512 entrevistados, com idade superior a 16 anos, apenas 9% afirmaram se sentir seguros em São Paulo. Questionados sobre o que sentem mais medo no cotidiano, a maior parte apontou a violência em geral (ao todo, 71%), seguido de assalto/ roubo (63%) e sair à noite (41%). (Com informações de Veja e Folha de S. Paulo

O que elas pensam Uma ampla pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisas Barna, nos Estados Unidos, mostra o que passa na cabeça das mulheres evangélicas norte-americanas. A maioria (73%) está satisfeita por estar usando e desenvolvendo seus dons na igreja; 24% dizem que a igreja não permite que ocupem cargos de direção; 11% afirmam não poder servir como oficiais da congregação e 3% são impedidas de trabalhar na parte administrativa. Das 603 entrevistadas da pesquisa, 53% acham que a Bíblia não proíbe que as mulheres exerçam cargos de liderança na igreja, 73% sentem que podem fazer mais pela 48 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

obra de Deus, 65% se declararam profundamente espirituais e 74%, maduras na fé. A pesquisa mostra ainda que 75% se disseram muito influenciadas pela Bíblia, por seus maridos (63%) e pelos sermões (51%). Quanto ao relacionamento com Deus, 38% das respondentes afirmaram ser “extremamente próximo” e 43% “bem próximo”. (Com informações de Barna Group)


[ INSIGHTS PARA PREGADORES ]

Darwin na cabeça, fé no coração?

O problema do divórcio Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que foram realizados 351.153 divórcios no Brasil em 2011, número recorde que aponta um aumento de 45,6% em relação a 2010. Muitos desses divórcios foram motivados pela Lei 11.441/07 e pela aprovação, em 2010, da Emenda Constitucional nº 66 que deu nova redação ao parágrafo 6º do Artigo 226 da Constituição Federal. Ou seja, as novas leis simplificaram as separações. Na opinião de Cláudio Dutra Crespo, gerente da coordenação de população e indicadores sociais do IBGE, a Emenda Constitucional que suprimiu os prazos prévios para requerer o divórcio motivou o recorde da dissolução das uniões formais em 2011. Somado a isso, há ainda outro fator: a Lei 11.441/07 prevê que, caso não haja filhos ou menores incapazes envolvidos, o casal que deseja se separar não precisa mais recorrer ao Judiciário: o divórcio pode ser homologado em cartório. Só em São Paulo quase 18 mil divórcios foram feitos por meio de tabeliões de notas, no ano de 2011. (Com informações de Ketchum e Agência Brasil)

Uma pesquisa da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), coordenada pelo professor Nelio Bizzo, revela que os jovens brasileiros aceitam, com facilidade, tanto a religião quanto a ciência – inclusive a teoria da evolução do naturalista inglês Charles Darwin. O estudo foi feito por meio de questionários aplicados a mais de 2.300 alunos de escolas públicas e colégios particulares do Ensino Médio de todas as regiões do país. Ainda vamos analisar mais profundamente as estatísticas, mas já dá para perceber que os alunos religiosos brasileiros são bem menos fundamentalistas do que se esperava. É surpreendente. Algo que sugere que no futuro teremos uma população com uma interpretação mais elástica das doutrinas religiosas e mais sensíveis à ciência, avaliou Bizzo. Será? (Com informações de O Estado de S. Paulo e Gospel+)

Poder de curar

O psiquiatra norte-americano Harold Koenig, professor da respeitada Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA), ficou conhecido mundialmente por sua tese de que a fé religiosa ajuda as pessoas em vários aspectos da vida e reduz o estresse e está diretamente relacionada à

prevenção de doenças cardiovasculares e da hipertensão. Autor de 40 livros e mais de 300 artigos sobre o tema, Koenig, 60 anos, que nasceu em uma família católica, mas que frequenta uma igreja protestante por influência da esposa, afirma que há uma relação significativa entre frequência da prática religiosa e longevidade. Segundo Harold Koenig, o impacto da fé religiosa em termos de sobrevida seria de algo em torno de 35%. Ele explica que há três fatores que geram esse benefício: as crenças que orientam as decisões diárias, contribuindo para a redução do estresse; o apoio social e o suporte emocional da vida em uma comunidade na qual as pessoas acreditam nas mesmas coisas; e o impacto da religião na adoção de hábitos saudáveis. Tudo isso influencia a saúde e faz com que vivam mais e sejam mais saudáveis. (Com informações de Veja)

Crise religiosa Resultados do primeiro censo da Inglaterra e do País de Gales em dez anos revelou o que já se suspeitava: caiu quase 13% o percentual de pessoas identificadas como cristãs naqueles dois países do Reino Unido. A queda numérica é de quatro milhões de pessoas e, com esse declínio, os cristãos representam 59% das populações inglesa e galesa. Os números comprovam que mais e mais pessoas daqueles dois países dizem não ter religião. Os escândalos de pedofilia na Igreja Católica e os ataques terroristas do 11 de setembro de 2001 nos EUA e, em 2005, em Londres (associados a muçulmanos), além da associação de religião e política e do crescimento do movimento ateísta, são alguns dos fatores citados por especialistas para explicar o fenômeno. Lá, eles dizem – em meio ao crescente ceticismo em relação às instituições –, a única que ainda se salva é a rainha. (Com informações de The Christian Science Monitor) Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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[ RECURSOS ] [ LIVRO ]

MOSAICO DA ESPIRITUALIDADE Valdemar Figueredo Filho EDITORA REFLEXÃO

[ LIVRO ]

CRISTIANISMO REVOLUCIONÁRIO Jacques Ellul EDITORA PALAVRA O filósofo, sociólogo e teólogo francês Jacques Ellul (1912-1994), autor de vários livros – dentre os quais Mudar de revolução (Rocco), A ética e o desafio do século (Paz e Terra) e O homem e o dinheiro (Palavra) –, propõe, em Cristianismo revolucionário, um antídoto contra a inércia da Igreja. Para Ellul, todo o ensino do evangelho aponta para a necessidade da participação do cristão no mundo que o cerca. O papel dos cristãos será, precisamente, [...] o de não colocar problemas como os outros, não tentar vãs soluções técnicas e morais, mas chegar a descobrir as verdadeiras dificuldades espirituais que comporta toda situação política ou econômica. [...] Assim as reformas institucionais devem vir da fé da Igreja e não da competência técnica de alguns especialistas, cristãos ou não. Jacques Ellul assinala em sua obra que o próprio Jesus rogou ao Pai que não tirasse seus discípulos do mundo, mas que ali os guardasse do mal. No entanto, lembra que o crente deve viver como um peregrino, já que sua permanência nesta vida é passageira. Mas sublinha, por outro lado, que o Senhor chama seu povo a ser sal e luz em um mundo que jaz no maligno: A situação do cristão no mundo é uma situação revolucionária, afirma o autor, reconhecendo, entretanto, que, na história, o cristão não aparece sempre como revolucionário e, atualmente, ele não é isso de modo algum. [...] O mundo, como um todo, não ouve mais o Evangelho. A palavra de Deus não penetra mais na realidade das vidas humanas. Nunca, portanto, foi tão necessário pregar, testemunhar e revolucionar. Ser cristão, enfim. 50 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

O autor de Mosaico da espiritualidade faz um convite curioso ao leitor: que este participe na montagem dos textos e das experiências através da reflexão, uma prática simples, que, no entanto, precisa ser redescoberta. Porque, segundo ele, a atitude de parar para encontrar a Deus é a essência da espiritualidade cristã. É preciso, portanto, aprender a esvaziar-me do supérfluo para alargar a capacidade de meditar nas realidades espirituais. Na introdução da obra, o autor escreve: Na vida real, somos como atores de nossa própria história. Movimentamo-nos entre cenários os mais variados, interagimos com inúmeras pessoas, experimentamos dramas, vitórias, comédias e desenvolvemos uma fala bem nossa, uma espécie de script pessoal. [...] Que, a despeito dos cenários, possamos perceber Deus no palco onde atuamos. Pastor da Igreja Memorial da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), professor adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), Valdemar Figueredo Filho faz o leitor, literalmente, “viajar” nas Escrituras. Para isso, se imagina, por exemplo, segurando e vestindo a capa deixada por Elias, quando este foi levado pela carruagem de fogo, e aí faz uma espécie de pausa para refletir: Percebi o quanto o meu povo estava descaracterizado. Sobre eles estava uma casta religiosa das mais perversas. A fé cega não permitia enxergar a feiúra daquela religião manipuladora. Os discursos dos falsos profetas eram uniformes: Deus fora diluído na massa dos interesses religiosos; o divino fora submetido aos negócios dos empresários da fé, servido à mesa dos hipócritas, temperado para ser degustados aos poucos. Agradável reflexão. Recomendamos.


[ LIVRO ]

O DISCÍPULO RADICAL [ LIVRO ]

HINOLOGIA Canções & poemas musicais

Zilda Cormack Z3 EDITORA Este livro Hinologia – Canções & Poemas Musicais é uma dessas obras raras, que merecem ser não apenas lidas, mas desfrutadas e repartidas. As músicas de Zilda Cormack – no livro, ela compartilha 79 partituras, com suas letras e a história de cada um desses hinos – foram, sem dúvida, inspiradas pelo Senhor e, por isso, tocam profundamente o coração. Seria, portanto, um desperdício não reuni-las e divulgá-las, como a autora faz agora. Um exemplo dessa maravilhosa coleção de músicas, que pode e deve ser usada em ações evangelísticas, é Feliz eu sou, que diz: Jamais encontrei no meu caminhar / A paz que vem desse amor / Se tenho incertezas algum dissabor / Só Cristo me ajudará. / Eu sei que me ajudará / E sei que feliz eu sou. / E bênção maior será / Se nesse canto ouvires Jesus / E Ele te transformar. Médica psiquiatra, compositora, poeta e trovadora, a carioca Zilda Cormack criou cada uma das composições, seguindo, como ela mesma diz, a espontaneidade de seu surgimento nas cordas do violão, letras e músicas espocando juntas, num trabalho puramente artesanal. Essa obra, de acordo com a própria autora, é uma reunião de canções nascidas de momentos de contemplação da beleza de um crepúsculo em suas nuances, ou na magnitude tranqüila de um amanhecer, que trazem a lembrança da soberania do Criador. E, dessas dezenas de lindos hinos, impossível não destacar a beleza de canções como Suave harmonia (1965), Alegria no ano novo (1966) e Hino do Criador (1972). Uma obra prima!

EDIÇÃO PREMIUM

John Stott EDITORA ULTIMATO Último livro do teólogo e escritor inglês John Stott e lançado no Brasil em 2011, imediatamente após a sua publicação na Inglaterra e nos Estados Unidos, O discípulo radical acaba de ganhar uma edição Premium. Além do cuidado e rigor editorial, essa nova edição traz uma capa e um projeto gráfico novos, e o livro – de 120 páginas – vem uma caixa acompanhado de um livreto com duas pequenas biografias do autor, assinadas pelo teólogo latino-americano Samuel Escobar e pelo escritor Ajith Fernando, diretor da Mocidade para Cristo em Sri Lanka. O livreto ainda traz a cronologia da vida e do ministério de John Stott, publicadas pelo Movimento Lausanne. Na obra, John Stott apresenta oito características do discipulado cristão que são comumente esquecidas, mas ainda precisam ser levadas a sério: inconformismo, semelhança com Cristo, maturidade, cuidado com a criação, simplicidade, equilíbrio, dependência e morte. Com um texto profundamente bíblico, tocante e de fácil leitura, Stott mostra a essência do que significa ser um discípulo radical: Jesus nosso Senhor nos convoca a abraçar a santidade, a humildade, a simplicidade e o contentamento. O autor ressalta, entretanto, que viver o cristianismo implica também em correr riscos como fez Adoniram Judson, missionário em Mianmar (antiga Birmânia), seguindo o exemplo de Paulo: Somos chamados a “morrer” para que haja uma vida de frutificação. Quem se habilita? Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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[ RECURSOS ]

[ LIVRO ]

PASTOREADOS POR PAULO VOLUME 1

Israel Belo de Azevedo HAGNOS Conhecedor das Escrituras, o apóstolo Paulo tomou as palavras de Jesus e as organizou com o objetivo de tornar mais claro o caminho para nos tornarmos também seguidores do Senhor. Mas, ele, alguém que se apresentava como servo e seguidor de Jesus Cristo, era sobretudo um pastor. É justamente essa faceta paulina, a do pregador, que o também pastor Israel Belo de Azevedo coloca à nossa disposição através dessa (magnífica) obra. O objetivo do autor é claro: fazer Paulo pregar ainda hoje, e, assim, nos pastorear. Para alcançar essa meta, o autor de Pastoreados por Paulo - Volume 1 sistematiza a pregação do apóstolo em suas epístolas. Neste primeiro volume, as mensagens das cartas aos Romanos, Coríntios, Gálatas e Efésios são comentadas, não versículo por versículo, mas ideia por ideia – ou tema por tema, com tal sensibilidade e erudição que Israel Belo de Azevedo faz Paulo subir ao púlpito. O resultado é uma pregação envolvente e atual. Ele escreve, por exemplo, no capítulo em que medita sobre o texto de 1 Coríntios 1.3-11: Confiar em Deus é um exercício de entrega. Entrega é admissão de incompetência. Por isso, resistimos em nos entregar. Preferimos quebrar a cabeça até o fim. Entregar é renunciar ao controle. Queremos confiar em Deus e, ao mesmo tempo, manter o controle das coisas. Quando estamos no controle, não temos como orar. Orar é entregar. Não dá para conjugar os verbos controlar e orar ao mesmo tempo. Leitura muito agradável e instigante! 52 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

[ LIVRO ESTRANGEIRO ]

DANGEROUS CALLING Confronting the unique challenges of pastoral ministry

Paul David Tripp CROSSWAY Neste livro – que esperamos chegue logo ao Brasil –, Paul David Tripp mostra porque as igrejas não podem se dar ao luxo de ignorar a saúde espiritual de seus pastores. Ao lançar um olhar sobre as histórias de desânimo, amargura, solidão, medo e saudade, contadas por muitos pastores, o autor faz a seguinte pergunta: O que há de errado com a cultura pastoral? Preocupado com as escolas que treinam pastores para o ministério, Tripp, que lecionou por anos no Westminster Theological Seminary, conclui que os seminários não estão preparando ministros para a realidade do ministério. Segundo ele, estão mais concentrados na educação teológica, na formação acadêmica dos futuros pastores, e, por isso, negligenciam quase que totalmente as necessidades dos corações daqueles candidatos a ministros do evangelho. O autor vai mais além: acha que o sistema e o modelo dos seminários é responsável por dar aos pastores (e as igrejas) uma falsa sensação de segurança. Segundo ele, a liderança e os membros da igreja selecionam o pastor por sua educação teológica – como se essa fosse prova irrefutável de sua vocação e preparação para o ministério. Além disso, o autor lembra, repetidas vezes, que o ministério pastoral não é um mar de rosas, mas uma experiência dolorosa da qual o pastor deve ter plena consciência, assim como a igreja, sua liderança e seus membros. Da redação, com comentários de David Swanson


[ WEB ]

PROJETO CONHECER DEUS www.conhecerdeus.jesus.net SEPAL/BGEA

[ WEB ]

REVISTA TEOLOGIA BRASILEIRA www.teologiabrasileira.com.br EDIÇÕES VIDA NOVA

[ APP ]

BÍBLIA DIGITAL GLOW SBB/Immersion Digital Já bastante conhecida em sua versão DVD, a Bíblia Digital Glow, lançamento pioneiro da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) em parceria com a Immersion Digital, está agora disponível também em aplicativos digitais (APPs) para gadgets (dispositivos) da Apple. Os APPs têm duas versões denominadas “Premium” (Glow e Glow Pentecostal), mais completas, e uma versão simplificada chamada de “Glow Lite”, que pode ser baixada gratuitamente na loja do iTunes. A Glow é uma Bíblia interativa que leva o usuário para dentro do texto bíblico, através de vídeos em HD, fotos em alta definição, artigos temáticos e passeios virtuais em 360 graus. A Bíblia Digital Glow para iPad, que em todo o mundo já teve mais de um milhão de downloads, inclui recursos como as versões NTLH e KJV da Bíblia, plano de leitura da Palavra de Deus, um documentário e mapas. Não deixe de baixar!

A Internet, um espaço vasto para aprendizado e troca de informações, ficou mais rico para pastores e líderes com a Revista Teologia Brasileira, disponível gratuitamente para consultas. No site, o internauta pode ler a edição atual (número 10, ano 2012) e as edições anteriores – são outros nove números – da revista, que tem o objetivo de proporcionar um espaço para discussão e produção de teologia “bíblica, confessional, relevante, sensível e aberta ao diálogo sobre temas que contemplem a realidade de nosso país”. Para isso, conta com o apoio de pesquisadores, pastores, mestres e escritores para tornar possível a veiculação de conteúdos que estimulem a reflexão bíblica e teológica. Os temas dos artigos são variados – Bíblia e Exegese, Devocional, Espiritualidade, Família, Ministério, Missiologia, dentre outros – assinados por autores como Osmar Ludovico, Ronaldo Lidório, Israel Belo de Azevedo e Chip Sweney. O site da revista inclui também entrevistas com personalidades como Tim Challies e Wayne Grudem, além de vídeos com pregações e palestras de Russell P. Shedd, Lourenço Stelio Rega, William Lane Craig, Walter C. Kaiser Jr., John Piper, etc. Imperdível!

Uma excelente ferramenta evangelística pela Internet, desenvolvida pela Sepal sob supervisão da Associação Billy Graham (BGEA, a sigla em inglês), pode (e deve) ser usada em ações “virtuais” de evangelização: trata-se do projeto Conhecer Deus. Já usada em vários países do mundo, essa ferramenta, a qual utiliza cinco links (passos) principais, tem tudo para impactar o Brasil. Os cinco passos (Deus amou, Seu Filho, Aquele que Crer, Não Morra e Vida Eterna) mostram ao internauta de maneira bastante objetiva o plano de salvação, com auxílio de vídeos expositivos e testemunhos (Rodolfo Abrantes e Zac Smith). Vale a pena conferir e usar!

[ DVD ]

A IGREJA TEM DE SER RELEVANTE Ariovaldo Ramos e outros CMESP 2012 Quem perdeu a Conferência Missionária do Estado de São Paulo (CMESP) de 2012, em Araçatuba (SP), pode conferir tudo o que aconteceu lá por meio do kit de 9 DVDs do evento, cujo tema-base foi A Igreja tem de ser relevante, abordado por nomes como Ariovaldo Ramos, Ed René Kivitz, Marina Silva, Ricardo Agreste, Ricardo Bitun, Paul Estabrooks, Hernandes Dias Lopes, Ronaldo Lidório, Ricardo Barbosa, Antonio Carlos Costa e Ziel Machado. São oito DVDs com todas as palestras e mais um DVD com todos os áudios do congresso em formato MP3, fotos, apresentações em Powerpoint e alguns vídeos extras. Ao todo, são quatro boxes com mais de 30 horas de conteúdo. Não perca! Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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Fabricando tendas e edificando vidas Uma reflexão sobre o chamado ministério “bivocacional” por Sérgio Augusto de Queiroz

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screver sobre esse tema é razão de grande alegria, pois antes mesmo de ser uma reflexão teológica sobre o desafio de um ministério “bivocacional”, é o retrato do que tenho vivido nos últimos anos. Essa questão comporta grandes debates e, muitas vezes, discussões acaloradas que polarizam os cristãos, especialmente os que têm sido chamados para liderar a igreja de Cristo. Entreguei minha vida ao Senhor em 1995, aos 23 anos de idade, e, desde então, cresci na fé ouvindo lindos testemunhos de pessoas que deixaram tudo para servir ao Senhor nos campos missionários ou abandonaram 54 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

carreiras promissoras para se dedicar ao que chamam orgulhosamente de ministério em tempo integral. Todos aqueles relatos enchiam o meu coração de admiração, mas eu simplesmente não conseguia entender por que teria que deixar a minha carreira pública para me dedicar totalmente à igreja enquanto instituição, de modo a ser reconhecido como um verdadeiro ministro do evangelho – nos moldes, é claro, propostos pelos que defendem que ser integralmente sustentado pela igreja é a melhor e mais fiel das escolhas que um pastor pode fazer. Anos passaram e resolvi preparar-me para o ministério. Assim, cheio de sonhos, entrei no seminário,


enquanto também cursava Direito na Universidade Federal da Paraíba pois, embora amasse o cargo público que ocupava, fazia planos de ingressar em uma carreira jurídica federal. No ano 2000, após concurso público, tomei posse como procurador da Fazenda Nacional, cargo que ocupo até hoje; ao tempo que também comecei a desenvolver o meu ministério como pastor de jovens na Primeira Igreja Batista de João Pessoa.

A GRANDE CRISE Para a minha tranquilidade, a vida como pastor auxiliar parecia ser totalmente compatível com a minha carreira no serviço público e isso começava a exercer uma forte influência na construção do meu pensamento sobre a relação entre ministério e vida profissional. Entretanto, a grande crise aconteceu quando fui chamado para ser o pastor titular da Primeira Igreja Batista do Bessamar. Afinal, eu deveria ou não deixar o meu “emprego secular” para ser um “ministro em tempo integral”? Antes de tocar em algumas questões importantes para a compreensão do tema, quero esclarecer que o objetivo desse artigo não é, de maneira alguma, desqualificar o ministério daqueles que são sustentados exclusivamente pela Igreja, pois o próprio Paulo afirma que tal direito é algo plausível (2 Co 9.11-12). Por outro lado, especialmente em tempos onde pastores são muitas vezes vistos com suspeita, quero evidenciar que esse direito pode ser renunciado ou relativizado por motivos nobres e estratégicos, o que também está de acordo com o ensino apostólico (2 Co 9.15). No início da minha carreira enquanto pastor titular, a gestão da igreja parecia fácil, mas, com o passar do tempo e o rápido crescimento da comunidade, a minha presença parecia ser cada vez mais necessária. Nesse momento de crise, eu tinha duas opções: ou deixava de ser procurador, ou reformulava a minha visão sobre o significado e a razão de ser da liderança pastoral. Após

muitas lágrimas, escolhi a segunda opção e começamos o projeto Cidade Viva (www.cidadeviva.org). Comecei a entender que trabalhar “fora” e continuar servindo à igreja com todas as minhas forças, tinha grandes benefícios. Dentre eles, a necessidade de priorização do meu tempo e a formação de uma equipe forte e comprometida, a exemplo do que fez Moisés quando recebeu o sábio conselho do seu sogro (Ex 18.13-26). Sem falar no exemplo que comecei a dar a todos os profissionais da comunidade, que vendo a minha luta pessoal para servir a Deus como profissional e pastor ao mesmo tempo, começaram a se sentir motivados a deixar a zona de conforto e a somar esforços para a consecução dos alvos da Cidade Viva. Além disso, descobri que a falta de tempo para fazer tudo o que o ministério “exige”, está fortemente relacionada à ausência de investimento intencional em outros líderes e à falsa ideia, por nós cultivada, e erroneamente aplaudida pelos membros da comunidade, de que somos imprescindíveis e insubstituíveis no cotidiano da igreja local. Contrariamente, Paulo ensina que o papel da liderança não é fazer a obra do ministério, o que normalmente muitos esperam dos pastores, mas preparar o povo de Deus para que todos façam a obra do ministério, com base na vocação de Deus, no sacerdócio universal de cada cristão e na singularidade dos seus dons e talentos (Ef 4.11-13). Eu poderia citar dezenas de razões pelas quais defendo a valorização do ministério de profissionais cristãos que entendam a integralidade do seu papel no mundo e na igreja, mas reservo-me a mencionar apenas duas vantagens de “fazermos tendas” e edificarmos vidas ao mesmo tempo.

MODELO PARALELO Não se trata, repito mais uma vez, de lutar contra o modelo tradicional relacionado ao ministério pastoral, mas de investir em um modelo paralelo de liderança cristã baseado na experiência do apóstolo Paulo, como uma alternativa teologicamente sã, eclesiologicamente viável e missiologicamente eficaz, para um mundo onde a cosmovisão cristã vem perdendo força em razão do pluralismo religioso e do laicismo estatal. A primeira vantagem desse modelo de ministério é a Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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necessária reconstrução do conceito bíblico de trabalho. Afinal, o que a Bíblia diz sobre aquilo que chamamos de trabalho “secular” e trabalho “sagrado”? Primeiramente, importa destacar que em nenhum lugar da Bíblia, especialmente no Novo Testamento, consta essa terminologia dualista. Em contrapartida, o trabalho justo, qualquer que seja ele, consta nas Escrituras Sagradas como sendo uma dádiva de Deus, um veículo de valorização e dignificação da vida humana, uma marca inquestionável da Imago Dei presente em todos nós, além de ser uma característica importantíssima do nosso mandato cultural. (Gn 1.28; Mt 10.7; Sl 128.1-2; 2Ts 3.10-11) Se hoje dividimos as esferas da vida em sagrada e secular é porque estamos dando mais ouvidos a Platão do que a Jesus, estamos agindo como gnósticos, ou mesmo como quem bebe inadvertidamente das fontes do dualismo iluminista, fragmentando aquilo que Deus nunca desejou fragmentar. Para o Senhor não há trabalho “secular” nem trabalho “sagrado”. Há simplesmente o trabalho que glorifica o seu nome e o que não glorifica. (1 Co 10.31) Não obstante, temos de vencer o pecado que afeta o trabalho humano de uma maneira geral, e não achar que o trabalho “secular” seja mais ou menos importante do que aquele que é desenvolvido em um ministério voltado às necessidades espirituais da igreja local. Somos todos, os remidos, povo enviado de Deus para o mundo, salvos pela Sérgio Augusto graça e chamados para dar frutos onde de Queiroz é procurador da quer que estejamos. Assim, todos nós Fazenda Nacional, devemos agir como sacerdotes do Altísbacharel em Direito, engenheiro civil, simo, pois é isso mesmo que somos, não mestre em Teologia deixando que alguns se sintam orgulhoe em Filosofia sos do seu trabalho “sagrado”, enquanto (UFPB), doutorando em Ministério na minimizam ou relativizam a importância Trinity International dos que têm um trabalho dito “secular”. University (Chicago,

A segunda grande vantagem de uma visão integrada do ministério cristão relaciona-se à morte de um mito que paralisa o Corpo de Cristo, o mito do Super-Homem. Esse mito é escravizador, pois aprisiona a igreja e os seus pastores a um paradigma equivocado, que coloca simples mortais em uma posição que simplesmente não é compatível com a sua limitada humanidade. Confesso que sofri muitas vezes por não visitar a todos, orar por todos, ouvir a dor de todos e resolver os problemas de todos os que me procuraram nesses anos, até que destruí definitivamente o mito do Super-Homem, quando comecei a perceber que o próprio Jesus não solucionou pessoalmente todas as demandas a ele apresentadas, mas repartiu com os discípulos a tarefa de ser Igreja. (Mc 3.7-9; Jo 4.1-3; Mt 14.1516; Mt 25.34-40) Finalmente, entendo que o próprio termo “bivocacionado” é contrário às Escrituras Sagradas, pois a minha vocação enquanto servo do Deus Vivo é uma só: glorificar ao Senhor, quer eu esteja em um Tribunal representando o Estado Brasileiro ou em um “templo” feito por mãos humanas defendendo a sã doutrina.

Confesso que sofri muitas vezes por não visitar a todos, orar por todos, ouvir a dor de todos e resolver os problemas de todos os que me procuraram nesses anos, até que destruí definitivamente o mito do Super-Homem

EUA) e pastor presidente do sistema Cidade Viva

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Voz silenciada pelo casamento Nutri a personalidade da minha esposa ou a enterrei?

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ós que passamos a vida nos aproximando das pessoas devido ao nosso trabalho pastoral, estamos bastante familiarizados com a dor que invade a vida daqueles que perderam um cônjuge amado. Presenciamos a tristeza paralisante da perda, e sabemos que apenas o tempo amenizará a dor. Há uma infinidade de livros a respeito desse assunto. Um assunto que é bem menos comentado, entretanto, é o extremo oposto desse sofrimento. A palavra que me vem à mente é libertação. Em alguns casos, a morte de um cônjuge na verdade liberta aquele que ficou, permitindo que tire qualquer tipo de disfarce, e se torne uma pessoa completamente diferente. Certa vez, pude ouvir uma conversa entre uma mulher e seus dois filhos adultos logo depois do funeral do marido. Aparentemente, um dos filhos, tentando poupar e ajudar a mãe, tentou assumir o comando e dizer a ela como agir e o que fazer. A mãe (recém-viúva!) reagiu com palavras carregadas de raiva: – Vamos esclarecer uma coisa. Ninguém vai me dizer o que fazer. Tenho feito o que todo mundo quer (referindo-se, sem dúvida ao marido falecido) nos últimos 50 anos! Agora é a minha vez. Vou tomar minhas próprias decisões de agora em diante. Estamos entendidos? Tive a sensação de que essas palavras haviam sido ensaiadas há muito tempo e que era uma questão de tempo para que fossem colocadas para fora. O momento havia chegado. Tais palavras vieram de uma mulher delicada, que sempre pareceu satisfeita sendo uma esposa amorosa, vivendo à sombra de seu marido dominador. Pelo que sempre soube, ela parecia feliz em seu casamento. Agora eu tinha minhas dúvidas. Por diversas vezes presenciei pessoas recém-viúvas – pouco depois de um período de luto – mudarem dramaticamente. Elas compram roupas novas, começam a viajar (ou param de viajar), mudam a decoração da casa, entram para algum tipo de organização ou descobrem uma maneira nova de ganhar dinheiro. Muitas vezes aprofundam sua vida espiritual ou – e isso não deveria ser uma surpresa – fazem justamente o contrário. De qualquer forma, surge uma nova pessoa. Nova? Ou apenas escondida?

O que aprendi, ao presenciar situações assim, é que muitos escondem uma pessoa secreta dentro de si, uma personalidade que não mostram a ninguém. Tal personalidade fica escondida porque seu parceiro, aquela pessoa que controla o relacionamento, a intimida e impede que ela se exponha. A propósito, muitos afirmam que é exatamente isso o que acontece na maioria dos divórcios. Termina uma relação e você nem imagina a nova pessoa que aparecerá. Às vezes, o cônjuge que fica passa por uma transformação de personalidade ou desintegração espiritual, e percebe-se que aquilo que era antes do divórcio estava sendo sustentado ou mantido por aquela pessoa que acabou de partir. Esse cenário não é bom. Tendo visto recentemente mais um caso como esse, eu me senti tentado a refletir a respeito do meu próprio casamento. Será que existe a possibilidade de haver uma personalidade escondida no interior da minha esposa Gail? Alguém que me recusei a reconhecer e receber durante todos os anos de nosso casamento? Em outras palavras: essa mulher, a quem amo profundamente, é tudo aquilo que ela poderia ser através do meu encorajamento e apoio? Ou – e como é difícil imaginar isso – a minha partida libertaria uma personalidade reprimida nela? Prefiro pensar que não. Não há nada em Gail que ela precise esconder. No entanto, trata-se de uma pergunta que vale a pena ser feita (mesmo sendo tão sombria) para que eu tenha ainda mais certeza de que a encorajei a ser tudo aquilo que Deus a criou para ser.

T R A D U Ç Ã O :

J Ú L I A

R A M A L H O

Muitos escondem uma pessoa secreta dentro de si, uma personalidade que não mostram a ninguém

— Gordon MacDonald é editor de Leadership Journal e chanceler do Denver Seminary

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ESPOSA DE PASTOR: PESO OU PRIVILÉGIO? Como equilibrar as tarefas e estar presente na vida da comunidade, sem se sentir sobrecarregada por Rosélia Nobre Quaresma

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S

er esposa de pastor na contemporaneidade tornou-se um desafio diferente de alguns anos atrás. Certa vez, um casal de amigos, cujo marido era pastor, me contou como ocorreu a negociação para “ele assumir” o pastorado em uma nova igreja. A pergunta-chave foi: “O que a sua esposa sabe fazer?” O pastor-candidato retrucou: “Como assim?” Então, o interlocutor foi mais explícito no questionamento: “Ela sabe tocar piano? Ensinar no departamento infantil? Já foi líder do departamento de senhoras? Gosta de hospedar pessoas? Enfim, ela é um braço direito no seu ministério?” Se essas perguntas fossem feitas no mundo corporativo e no mercado de trabalho em geral, surgiria logo a questão principal: ‘Quem está sendo contratado, o pastor ou sua esposa?’ Mas, no mundo eclesiástico, percebemos facilmente que esse questionário é uma realidade ainda em nossos dias. Talvez, nos tempos atuais, a pergunta não fique restrita somente a tocar piano, ensinar e dirigir, mas também a pregar e trabalhar para ajudar nas despesas da família – afinal, é bom ter o trabalho de dois e pagar somente a um. Diante dessa realidade, algumas esposas de pastores têm-se sentido sufocadas com tantas cobranças feitas a elas no meio eclesiástico. A sensação é de estar exposta em uma vitrine 24 horas por dia, como se não fossem mulheres normais, com tensão pré-menstrual, conflitos, medos, perdas etc. Por outro lado, nenhuma igreja gosta de ter uma “pastora” que não participa em nada da igreja: a esposa do pastor deve ser alguém que sempre está pronta a servir a comunidade e dar bons exemplos. E aí começa o grande dilema – equilibrar as tarefas de modo a se fazer presente na vida da comunidade, sem se sentir sobrecarregada. O fato é que nossas igrejas tem colocado expectativas irreais em relação as esposas dos pastores, cobrando-as sem valorizá-las. Por exemplo: são poucas as igrejas que fazem homenagem e dão presentes às esposas de seus pastores no dia do aniversário delas, porém, ao mesmo tempo exigem que sempre estejam bem vestidas, bonitas, cheirosas e de bom humor. Algumas igrejas até dão presentes, mas para casa e não para uso pessoal, valorizando assim o lar e não a pessoa em si. Por outro lado, vemos esposas frustradas por trabalharem tanto e não

serem reconhecidas, e ainda escutando frases como “é obrigação dela fazer isso e aquilo.”

“JOGO DE DESILUSÕES” Como igreja, precisamos reformular o conceito de esposa de pastor, nos posicionando, antes de qualquer coisa, como serva de Deus – tenha ou não um chamado ministerial. O que não convém é continuar com esse “jogo de desilusões” de ambas as partes, pois isso não agrada ao Senhor. Se você, querida leitora, é esposa de pastor e não se sente “pastora”, deixe isso bem claro para a sua comunidade. Mas também esclareça de que maneira você servirá ao Reino, pois o grupo no qual você está inserida se alegra em dizer o que você faz – afinal, somos missionários ou um campo missionário. Você pode ser uma bênção para sua igreja em sua profissão, como médica, psicóloga, enfermeira, fisioterapeuta, dentista, dona de casa ou qualquer outra atividade. O que importa é alcançar a honra do Senhor e depois dos irmãos na comunidade que Deus escolheu para você e seu esposo. Nada mais valioso para um pastor e sua comunidade do que ver sua família servindo ao Senhor, isso não tem preço, requer tempo e disponibilidade do casal a quem Deus tem confiado isso. Em 1 Timóteo 5.8, Paulo ensina que se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente. Nunca entendi por que tanta cobrança em cima da esposa do pastor, se a Bíblia é clara sobre a responsabilidade pastoral em relação à sua família. Para algumas esposas de pastores que conheço, essa função é uma honra e alguns a consideram uma felizarda por ser casada com um ministro celestial e receber o título de primeira-dama. Porém, para outras, tem sido um peso quase insuportável, chegando algumas a adoecerem, sofrendo de males como depressão, gastrite e câncer. O motivo dessas enfermidades, com frequência, é que as mulheres nem sempre se preparam para casar, muito menos para se casarem com pastores. Estão despreparadas para enfrentar a dinâmica eclesiástica com suas cobranças sem muitos esclarecimentos. Jim Rohn diz: Ninguém planeja fracassar. As pessoas fracassam por não planejar. Mas, como planejar as expectativas dos outros sobre você? Como elenca Glória Lindsey Trotman, em seu livro

O fato é que nossas igrejas tem colocado expectativas irreais em relação as esposas dos pastores, cobrando-as sem valorizá-las

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Surpresas de uma vida incomum, em geral a esposa de pastor tem dentro dela algumas perguntas que não querem calar, como: Quem estabeleceu tantas regras? Quais são essas regras? Quando entram em vigor? Onde as regras estão escritas? Como conhecê-las? Por que ninguém contou isso antes? São perguntas como essas que adoecem a primeira-dama, levando-a algumas vezes a ter vontade de ‘sumir’ por carregar tanto peso, pois as “respostas” nem sempre são satisfatórias. As crises chegam, e é nesta hora que ela necessita de firmeza para enfrentar algumas ciladas comuns na vida de uma esposa de pastor. Aqui, elenco algumas dessas armadilhas:

expectativas irreais em relação ao próximo, o que pode levar a sérios desgastes físicos e emocionais de ambos. O esposo que tem suas expectativas físicas, emocionais e espirituais em relação à sua amada. Os filhos esperam muita ajuda e compreensão da mãe. A igreja espera ações e reações da esposa do pastor que, tantas vezes, ela nem sonha quais são. Nestas horas, a esposa de pastor deve ter sabedoria para identificar o que vem de Deus e o que vem de caprichos humanos, para não se deixar levar de um lado para outro e esquecer que ela também tem expectativas reais em relação a si mesma e aos que com ela convivem diariamente. É fundamental, ao detectar que a expectativa não é divina, e sim humana, dizer não para todos e sim para ela mesma. Lembro-me de um episódio que aconteceu com nosso filho mais velho quando era criança. Após a Escola Bíblica Dominical (EBD), as crianças corriam num espaço anexo do templo, enquanto nós, adultos, conversávamos em reuniões infindáveis. A professora dele disse, em claro e bom som: “Você é filho de pastor, não pode ficar correndo aqui, tem de dar bom exemplo para as outras crianças”. Naquela hora, o sangue me subiu todo para a cabeça, me levantei, respirei fundo, pedi sabedoria ao Senhor e fui até a professora que, sorrindo, me confirmou o que dissera e que eu já havia escutado. Chamei-a em um canto e expliquei que meu filho era uma criança normal, tinha saúde e energia e gostava de correr como as demais crianças. Pedi a ela que comentários como aqueles não fossem mais feitos. Ela ainda insistiu por um tempinho, mas depois concordou e começou a elogiar o meu filho, dizendo que ele era um excelente aluno na EBD. São em situações dessa natureza que necessitamos de sabedoria e palavras mansas para desviar o furor de algumas pessoas com expectativas irreais concernentes à família pastoral.

O esposo que tem suas expectativas físicas, emocionais e espirituais em relação a sua amada. Os filhos esperam muita ajuda e compreensão da mãe. A igreja espera ações e reações da esposa do pastor que, tantas vezes, ela nem sonha quais são.

1ª) PERDA DO NOME: A esposa do pastor precisa ter firmeza de quem ela realmente é, pois seu nome de nascimento é substituído pela nova função que recebeu: esposa de pastor. O que ela não deve perder é a sua identidade de mulher. Muitas vezes é apresentada sem ter seu nome próprio citado, mas como esposa do pastor fulano de tal. Nestas ocasiões, é importante que seu cônjuge, sem agressão, faça uma nova apresentação citando o nome próprio dela. Afinal, antes desta função, ela já era uma pessoa criada à imagem e semelhança de Deus, e amada por Ele: à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gn 1.27). Deus abençoou os dois, macho e fêmea. Da mesma maneira que o homem, a esposa de pastor também é citada em Mateus 10.30, quando Jesus diz que até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Podemos ver e sentir neste texto da Palavra de Deus, o quanto Ele olha para a singularidade de suas filhas também. E, para completar a construção da autoestima da esposa de pastor, ela nunca pode esquecer que o sacrifício na cruz do Calvário também foi por ela. Outro fato inteRosélia Nobre Quaresma ressante é observar que algumas vezes o é psicóloga clínica, pastor também perde seu nome de regispsicodramatista, tro, porém, é trocado por um título bem assessora familiar, educadora teológica, espiritual: pastor, enquanto a esposa missionária da Sepal tem seu nome trocado por uma função. no Nordeste, esposa do Pr. Marcos Robson Quaresma de Araújo e mãe de Thales, Tharsis e Thaiane

2ª) EXPECTATIVAS IRREAIS: Viver em função das expectativas dos outros não é fácil. Todo ser humano gera

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3ª) ESTRESSE FINANCEIRO: A grande maioria das esposas de pastores deveriam fazer cursos de como administrar pouco dinheiro e manter a casa sempre suprida de tudo. Afinal, em alguns casos, as visitas na casa pastoral são constantes e inesperadas. Ela também deve fazer milagres para vestir bem toda a família e a ela mesma. A igreja pode se fazer presente também neste cuidado em vestir a família pastoral. Recordo-me as muitas vezes que minha família foi e é abençoada com presentes, que nem mesmo pedimos ao


ESPOSA DE PASTOR: PESO OU PRIVILÉGIO?

Senhor, mas Ele, na sua infinita bondade, providencia para nós. Alguém já comentou que a família pastoral é como um aquário. Constantemente há pessoas observando se está tudo bem e bonito. Como todo cristão que honra o nome do Senhor com suas primícias, a família pastoral também deve fazê-lo e de bom grado: Honra ao SENHOR com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares. (Pv 3.9-10). É importante o controle das finanças no lar pastoral, para que não venha a envergonhar o nome do Senhor. Porque, algumas vezes, podemos cair na cilada financeira de ‘comprarmos o que não precisamos, com o dinheiro que não temos, para provar ser o que não somos à pessoas que não gostamos’. O texto de Provérbios 15.16 diz que melhor é o pouco, havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro onde há inquietação. Portanto, esta é uma área em que também a esposa do pastor pode ajudar a manter um equilíbrio eficaz.

essas armadilhas estão nos cercando, e assim, tomarmos posições sábias para que não se instalem em nossas vidas. É muito importante nestes momentos o reconhecimento e a ajuda do esposo-pastor para que ela não se sinta sozinha e marginalizada na hora das lutas. Com certeza, a ajuda dele fortalecerá as forças de sua amada, como também revigorará o casamento, o qual, para caminhar bem, precisa que a singularidade dos cônjuges seja estimulada. Ser esposa de pastor, sempre foi um grande desafio, em especial pelas expectativas geradas pelas igrejas, mas, ao mesmo tempo, é uma honra caminhar, chorar, sorrir, dormir e acordar ao lado de alguém que foi separado por Deus para ser Seu ministro aqui na terra. Alguém que um dia achou uma mulher que o escolheu e ele a escolheu para estarem juntos, até que a morte os separe. A casa e os bens vêm como herança dos pais, mas do SENHOR, a esposa prudente. (Pv 18.22). Quem caminha sozinho pode até chegar, mas quem caminha acompanhado chega melhor e mais rápido. Portanto, é honroso ser esposa de pastor; porém, é impossível exercer esta função sem ter um compromisso sério com Deus, que a fortalece todos os dias e a conforta nas horas de tribulações. É um privilégio acompanhado de responsabilidade para com o Reino e o mundo, pois todo bônus tem seu ônus. Louvado seja Deus que viu em nós, esposas de pastores, capacidade também de cuidar de um rebanho, seja ele pequeno ou grande, mas aquele que o Senhor confiou juntamente com seu marido.

O fato é que nossas igrejas tem colocado expectativas irreais em relação as esposas dos pastores, cobrando-as sem valorizá-las

4ª) SOBRECARGA DE COMPROMISSOS: É necessário ter muita cautela nesta área para não dar o passo maior que a perna. Algumas esposas de pastores, na ânsia de agradar a igreja, aceitam cargos e assumem compromissos demasiados, que podem levá-la à estafa ou a não ter tempo suficiente para se cuidar, cuidar dos filhos do esposo e da casa. Deus não nos pede mais do que possamos realizar: Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças (Ec 9.10). Se deixarmos que a igreja determine nossa carga horária de trabalho, podemos ser injustas conosco e com nossa família. Por isso, é importante saber dividir o tempo que o Senhor nos presenteia diariamente, mensalmente e anualmente. Algo que não deve faltar na vida de uma esposa de pastor é uma agenda bem dividida para os seus compromissos pessoais (hora devocional, arrumar cabelos, fazer unhas, caminhar, fazer terapia), familiares (tempo com o esposo para orar, namorar, conversar, sair com os filhos, ensinar tarefas) e eclesiásticos (preparar palestras, reuniões, ensaios, visitações). Cada uma deve fazer sua agenda conforme as necessidades assumidas livre e espontaneamente, para que assim não se sinta esgotada física e emocionalmente. Essas e outras são ciladas enfrentadas constantemente pelas esposas de pastores. Devemos reconhecer quando

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Atos de equilíbrio Timothy Keller explica o que é preciso fazer para chegar ao ministério ideal por Drew Dick

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imothy Keller lançou recentemente nos Estados Unidos o livro Center Church: Doing Balanced, Gospel-Centered Ministry in Your City (algo como Igreja Central: Fazendo um ministério equilibrado e centrado no evangelho em sua cidade) e esteve, em outubro de 2010, no Lausanne III, na Cidade do Cabo, na África do Sul, para falar da missão urbana global de Deus e da evangelização em megacidades. Fundador da Igreja Presbiteriana Redeemer (Redentor), em Nova Iorque, e considerado um dos líderes cristãos mais influentes dos EUA, Keller – autor de livros como A fé na era do ceticismo, O Deus pródigo e Deuses falsos – é conhecido por seu ministério de plantação de igrejas e por sua facilidade de falar de Jesus aos mais céticos. Nesta entrevista à Leadership Journal (a LIDERANÇA HOJE americana), Keller lembra que, para entender o evangelho, é necessário ter equilíbrio, e, para pregá-lo nas grandes cidades, devemos saber que se trata de um ministério específico. O que significa esse termo Igreja Central? Central significa equilibrada, centrada no evangelho. No livro, exponho vários resultados que estamos tentando atingir. Para entender o evangelho é preciso equilíbrio. Não se trata de relativismo, nem legalismo. As igrejas não devem ser nem muito integradas e nem muito afastadas de suas cidades e culturas,

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assim como não devem ser muito distintas e separadas das tradições. Também não devem ser muito institucionalizadas, tradicionais e presas ao passado. Igreja Central se refere justamente a esse equilíbrio e também a um tipo específico de ministério, que é importante ter em mente principalmente quando o alvo é pregar em centros urbanos. Muitos evangélicos têm encontrado dificuldades para ministrar a Palavra nas grandes cidades. Até mesmo em partes do mundo onde a fé cresce rapidamente, como na Ásia e na África, eles têm dificuldade de alcançar o centro das cidades. Mas essas barreiras não são exclusivas àqueles que ministram em grandes centros. Depois de muitos anos de ministério aqui em Nova Iorque, comecei a expor nossos métodos de trabalho. Não foi um recado para todo mundo, apenas para os pastores que viviam a mesma situação, nos centros urbanos. Mas fui abordado várias vezes por pessoas de outros lugares, as quais afirmam que aquilo que estamos fazendo tem uma aplicação mais ampla. Concluí que a globalização, alimentada pela tecnologia, fez com que um número cada vez maior de lugares se urbanizassem em termos de sensibilidade. As crianças do Iowa eram bastante diferentes das crianças de Nova Iorque, mas, agora, como muitas delas têm acesso aos mesmos meios de comunicação, isso mudou. Estamos falando de algo que nasceu na cidade, mas que pode ser facilmente transferido para outros lugares.


Depois de sua primeira década de ministério, o senhor fez parte do corpo docente do Seminário de Westminster. Como essa pausa do serviço pastoral lhe preparou para fundar a igreja, em 1989? Quando se está lecionando, é preciso gastar boa parte do tempo refletindo e estudando. Até então, tinha passado uma década trabalhando no ministério, onde não tinha muito tempo livre para me dedicar a isso. Esse intervalo me deu a oportunidade de fazer algumas reflexões teológicas sobre praticamente tudo. Ensinava sobre pregação, liderança, evangelismo. Essa experiência fez com que me aprofundasse nessas áreas. Westminster tinha um departamento de ministério urbano próspero e, por isso, minha participação no seminário fez com que me sensibilizasse novamente com a importância das cidades, e considerasse como o evangelho poderia funcionar em um contexto urbano. O fato de o senhor ser um excelente pregador não é o verdadeiro motivo do sucesso de seu ministério? Para ser sincero, um dos maiores motivos que me fizeram escrever este livro foi por estar cansado de ouvir as pessoas dizerem isso. Deixando meu talento de lado por um momento, há uma maneira de fazer com que o ministério nas cidades seja

centrado no evangelho, engajado culturalmente, evangelístico e abrangente. Esse é o segredo. O talento do pastor é como octano. Alguns gases têm uma taxa de octano maior do que outros. Há pastores, cujo talento é de tal ordem, que eles conseguem um impacto maior. Mas, em última análise, não é o talento do pastor que faz um ministério prosperar. O que realmente cria esse movimento que temos obtido aqui não é minha pregação, é tudo aquilo que descrevo no livro. Propus-me a contrariar exatamente esse sentimento: de que a nossa frutificação se deve à minha pregação. Assim sendo, escrevi 400 páginas sobre coisas que qualquer um pode fazer. Não se trata apenas de ser um pregador melhor. Essa é uma visão histórica, uma teoria que sustenta que Deus só opera através de grandes homens. É uma visão muito simplista. O senhor afirma que não basta ter uma base doutrinária. Como assim? O livro foi escrito no espaço intermediário entre a doutrina e o plano [de evangelização]. Digamos, por exemplo, que há dois pastores presbiterianos que creem na Confissão de Fé de Westminster. Eles concordam em relação à declaração de fé e em milhares de palavras doutrinárias, mas ainda assim, seus Verão 2013 LIDERANÇA HOJE

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R A M A L H O J Ú L I A T R A D U Ç Ã O :

O culto de domingo em sua igreja é focado nos visitantes? ministérios podem parecer completamente diferentes. Um preQueremos ter um culto evangelístico. Mas, sendo realista, o fere música contemporânea e os cultos de sua igreja têm um culto de domingo não pode ser focado apenas nos visitantes. A louvor muito animado. O outro gosta de hinos e seus cultos têm maioria das pessoas céticas não virá todos os domingos. Mas um tom mais sério. Por que essa diferença? Porque cada um muitos não cristãos podem estar presentes – pessoas que esteinterpreta a cultura de uma maneira. Um deles enxerga a culjam sendo inseridas, que estejam em um relacionamento com tura como algo pernicioso, totalmente tóxico, e acredita que a algum cristão, ou a caminho de se converterem. Creio que enmelhor forma de se relacionar com ela seja manter distância. tre 30% a 40% do que acontece nos cultos deve focar E, portanto, qualquer música popular, por ser produto tanto em cristãos quanto em não cristãos. Dede uma cultura corrupta, é considerada suspeivemos nos concentrar em primeiro lugar ta. O outro interpreta a cultura como sennos cristãos, para edificá-los, mas dedo uma mistura de coisas boas e ruins, vemos também estar atentos àqueles e está mais disposto a recebê-la. Em Devemos nos que estão presentes, mas ainda não uma mesma doutrina existem muiconcentrar em primeiro compartilham de nossa fé. Precisatas diferenças: como se interpreta mos sempre nos lembrar deles ao a cultura, como se entende a tralugar nos cristãos, para conduzir os cultos e a pregação. dição e sua relação com a Bíblia, e os papéis da racionalidade, a edificá-los, mas devemos também Como o senhor descreveria seu relação da fé com a razão, e até estar atentos àqueles que estão papel no púlpito? mesmo como se lê a Bíblia. Há Quando o Dr. Martin Loyduma grande quantidade de fatores presentes, mas ainda -Jones morreu, sua esposa contou presentes nesse espaço intermenão compartilham a todos que seu marido era, antes de diário que determinam como sua tudo, um homem de oração e, depois doutrina é expressa em seu tempo e de nossa fé disso, um evangelista. Se sou ou não um lugar. É nesse espaço que se desenrolam homem de oração, só minha mulher podemuitas suposições sobre como nos relaciorá dizer depois que eu partir. Não sei o que ela namos com a cultura. Quero ajudar as pessoas a diria sobre isso agora, mas deveria ser a primeira coirefletirem sobre esse espaço para que possam escolher sa, porque todo o resto flui da minha vida de oração. sabiamente os programas que desejam seguir. Acho também que sou mais evangelista do que professor ou pastor. Diria que esse é o meu papel essencial, e estou ansioso Qual deve ser o papel do marketing nas igrejas? por continuar fazendo isso enquanto estiver aqui na cidade. A crítica existente é de que a igreja têm utilizado as técnicas de marketing de maneira excessiva, mesmo que de forma De que maneira o evangelho deve moldar a metodologia do inconsciente. Acredito que essa crítica é, em parte, verdadeira. ministério? Sempre que alguém fala comigo sobre marketing, indago: “Me O fato de sermos salvos pela graça deveria nos impedir de fale o que é marketing”. Muito do que geralmente descrevem sermos culturalmente limitados. O legalismo e a insegurança, faz parte do senso comum, da comunicação sábia – o que recoque nos fazem pensar que devemos merecer a salvação, nos mendo. O resto parece ser manipulação. levam a pegar formas culturais e transformá-las em princíAcredito que algumas igrejas urbanas exageram nessa área. pios. Queremos ter certeza de que estamos bem com Deus, Criam uma fachada: têm sites incríveis e excelentes matérias então acrescentamos regras que não estão na Bíblia, para que publicadas; seus ambientes são modernos e descolados. Algupossamos cumpri-las e nos assegurarmos de nossa salvação. mas pessoas se chocam quando visitam a Redeemer e não enO evangelho nos liberta disso. Ao mesmo tempo, da mesma contram nada disso. Certa vez, uma pessoa me disse: “A igreja forma que somos salvos pela fé, somos salvos para a santidaé totalmente diferente do que eu esperava. Não tem telão nem de. Existe um novo desejo de agradar a Deus. Não vivemos da imagens, é bastante retrô”. Essa pessoa também ressaltou o fato maneira que queremos. de eu ser um homem mais velho, de cabelo branco e calvo, vesEsse equilíbrio entre o legalismo e o antinomianismo traz tindo terno. Ela afirmou que tinha outra imagem de uma igreja implicações sobre como vivemos nosso ministério. Tal equiurbana. Achei essa situação engraçada, mas acredito que moslíbrio deveria nos fazer mais flexíveis na maneira como o mitra como as igrejas localizadas em grandes cidades enfatizam nistério é moldado – sem ser muito rígido e tradicional – e, marcas, fachadas e primeiras impressões. Para mim, o segredo ao mesmo tempo, mais tementes a Deus, evitando ofender e é o conteúdo. As pessoas que vivem nas cidades grandes recodesonrar Aquele que nos salvou. O evangelho nos torna mais nhecem quando estão sendo enganadas e não reagem bem a cuidadosos e faz com que honremos o passado. Ele nos impeisso. Acho que muitas vezes elas sentem que há mais autenticide de sermos muito institucionais ou anti-institucionais; muito dade em lugares simples, sem telões, sites modernos e pastores ou pouco contextualizados. O evangelho traz um equilíbrio jovens e descolados no púlpito. Essas coisas podem se voltar fantástico. contra você.


O perigo do universalismo Se todos serão salvos no final, por que viver em santidade, anunciar o Evangelho e crer na justiça de Deus? por Augustus Nicodemus Lopes

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mediante Jesus Cristo. Nesta crença, não há lugar para a douesde que o conhecido pastor americano trina da punição eterna, a saber, a ideia de um inferno onde os Rob Bell concedeu uma entrevista à mais pecadores condenados haverão de sofrer eternamente por seus importante revista de informação do país, pecados. um tema parece ter voltado ao centro dos É importante, desde já, fazer a distinção entre universalismo debates teológicos nacionais: o universae a doutrina da aniquilação. Os que creem nesta segunda correnlismo. Em Quem falou em céu e inferte – aí incluídos os adventistas do Sétimo Dia e os seguidores da no?, publicada na revista Veja no fim de Sociedade Torre de Vigia, ou testemunhas de Jeová – não acrenovembro passado, crentes, teólogos, pastores e estudiosos do ditam na salvação de todos, mas preveem a punição dos ímpios, Cristianismo têm discutido uma polêmica que já atravessa os com a aniquilação da alma na hora da morte ou pouco depois séculos e coloca em xeque um dos pontos mais cruciais da fé dela, negando assim o sofrimento eterno no inferno. Embora cristã – o destino eterno daqueles que receberam a Jesus como defenda a aniquilação da alma como o castigo dos ímpios, esta seu Salvador e aqueles que, pelos mais variados motivos, rejeiposição, ao final, tem efeito prático idêntico ao universalismo. taram o convite do Evangelho. A entrevista provocou intensa Afinal, se a punição pelos pecados, por mais graves que sejam, discussão nas redes sociais, nas igrejas e nas salas de aula dos é simplesmente deixar de existir, o indivíduo tende a sentir-se seminários. Rob Bell se tornou uma figura polêmica quando livre para praticar todo tipo de iniquidade, da mesma forma se passou a pregar a salvação de todos os seres humanos no final, soubesse que, depois da morte, será salvo de qualquer maneira. negando, assim, a realidade do inferno. O que os defensores dos dois pensamentos têm em Inteligente, carismático, conectado e bom cocomum é a negação peremptória de que haverá municador, Rob Bell tem atraído muitos joalgum sofrimento após o fim da vida física do vens evangélicos no Brasil, especialmente O conceito ser humano. após o lançamento de seu livro O amor vence. Aos 42 anos de idade, o fundador universalista já era da Mars Hill Bible Church, localizada LIBERALISMO E UNITARISMO encontrado entre os em Grandville, no estado americano Muitos podem pensar que o universalisprimeiros mestres gnósticos, do Michigan – congregação de cuja mo é coisa recente de pastores moderliderança afastou-se recentemente, nos como Rob Bell. Todavia, a salvação e constituiu uma heresia passando a se dedicar ao ministério universal de todos é uma ideia muito que ameaçou o itinerante e percorrendo, segundo disantiga. O conceito já era encontrado Cristianismo no se a Veja, “o mesmo circuito das bandas entre os primeiros mestres gnósticos, primeiro século de rock” –, Bell tem dado o que falar. Seus e constituiu uma heresia que ameaçou o vídeos, bem produzidos e veiculados atraCristianismo no primeiro século. Cerca de vés de mídias digitais, fazem de seu nome um cem anos depois, pais da Igreja como Clemenícone dentre os jovens líderes cristãos da atualidate de Alexandria e seu famoso discípulo Orígenes de. Ele lançou, também no ano passado, o livro O amor defendiam explicitamente o universalismo. Orígenes acredivence – Um livro sobre o céu, o inferno e o destino de todas as tava, inclusive, que o próprio diabo seria salvo no final. Vários pessoas que já passaram pela terra, publicado pela Sextante, outros líderes deste período também defenderam a ideia, que editora secular que tem dedicado parte importante de seu catáfoi veementemente combatida por Agostinho. O quinto Concílio logo aos títulos de temática religiosa e existencialismo cristão. Ecumênico, realizado em 553, condenou as ideias de Orígenes Na obra, ele deliberadamente rompe com conceitos clássicos como heresia. Já na Reforma do século 16, Lutero, Calvino e os do Cristianismo, e o título provocante faz justiça ao conteúdo demais protagonistas das mudanças na Igreja igualmente rejeido livro: um questionamento inquietante sobre tudo aquilo que taram a ideia da salvação universal de todos ao final. Esta poos crentes se acostumaram a acreditar desde os primeiros anos sição dos reformadores se encontra refletida nas grandes conna Escola Bíblica Dominical. fissões de fé escritas na pós-Reforma. Todavia, no período do Por trás de toda a argumentação de Bell, que inclui críticas movimento propriamente dito, e depois, o universalismo conà religião organizada, à suposta manipulação das massas por tinuou sendo defendido por alguns anabatistas da ala radical, parte dos líderes e uma bem construída teoria conspiratória que muito embora os menonitas não tenham continuado a abraçar remontaria aos primeiros séculos da tradição cristã, o que ele e a ideia. outros pensadores de sua linha defendem é o que em teologia Nos Estados Unidos, o universalismo exerceu forte influse chama de apokatastasis, termo grego tirado de Atos 3.21. Ali, ência nas colônias do século 17, através do médico George de o apóstolo Pedro fala da “restauração de todas as coisas”. ApeBeneville, pietista radical considerado o pai do universalismo sar de Pedro estar se referindo à restauração do universo, os americano. Ao mesmo tempo, na Inglaterra, o universalismo se universalistas entendem que a salvação de toda a raça humana espalhou por meio de algumas seitas que saíram do calvinismo está incluída no processo. O universalismo, portanto, é a crença puritano e do movimento avivalista de John Wesley e George de que, ao final da história deste mundo, Deus haverá de salWhitefield nos anos setecentistas. A primeira organização univar todos os seres humanos, reconciliando-os consigo mesmo versalista foi a chamada União, fundada na Inglaterra em 1759,

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que defendia que todas as almas estava em união com Cristo e que, portanto, a morte sacrifical do Filho de Deus trouxe salvação a todos os seres humanos, e não somente a uns poucos eleitos. Nos EUA, a primeira igreja universalista foi organizada em Massachusetts, em 1779. A doutrina cresceu no século 19 em terras americanas como movimento organizado e chegou mesmo a criar escolas teológicas e publicações doutrinárias. O século 20 encontrou o universalismo na posição de um dos mais importantes ramos do liberalismo teológico oriundo da Europa. Àquela altura, o movimento já estava se alastrando entre as denominações americanas. Clarence Skinner foi o mais famoso teólogo liberal a defendê-lo nesta época. Os liberais foram ainda além, rejeitando a divindade de Jesus – coisa que muitos universalistas não haviam feito – e promovendo o unitarismo (negação da Trindade), bem como o ecumenismo com todas as grandes religiões mundiais. A posição não era nada contraditória, já que acreditavam firmemente na generosa salvação de todos, independentemente de sua crença. Convém lembrar que os liberais rejeitavam a inspiração da Bíblia, a ressurreição literal de Cristo de entre os mortos e a veracidade dos milagres narrados nas Escrituras. No entanto, nem todos os universalistas no século 20 eram necessariamente defensores do unitarismo. Karl Barth, o pai da neo-ortodoxia, parece ter acreditado no universalismo, embora não o ensine diretamente em sua famosa Church dogmatics. O universalismo de Barth parece ser decorrente da sua doutrina da dupla predestinação – a crença de que

em Cristo, o representante de todos os homens, adoção e condenação se fundem como uma mesma coisa.

SALVAÇÃO, SÓ EM CRISTO Embora seja possível se encontrar defensores do conceito da salvação final de todos os homens entre as alas mais conservadoras dos evangélicos, o universalismo, em nossos dias, está muito mais associado com teólogos liberais e neo-ortodoxos, alguns conhecidos no Brasil por meio de comentários e livros traduzidos. É o caso de F.D.E. Schleiermacher, E. Käseman, E. Brunner, R. Bultmann, C.K. Barret e E. Boring, para citar alguns. Foi através das obras desses liberais e de alguns outros que o universalismo chegou ao Brasil. A diversidade de teóricos é demonstração clara de que o universalismo não é um movimento monolítico. Há diversas correntes dentro dele que divergem em vários pontos, mas concordam no ponto central: o de que não há uma condenação eterna no inferno. Sendo assim, a implicação é que, ao final da história, a humanidade, como um todo, será reconciliada com Deus e ninguém será eternamente punido por seus pecados. Não são poucos os argumentos usados para defender tal concepção. De acordo com os universalistas, há diversas passagens na Bíblia, especialmente nas cartas de Paulo, que apresentam uma perspectiva da derradeira salvação geral. A mais conhecida é o texto de Romanos 5.12-21, onde Paulo compara Adão a Cristo e os resultados de suas respectivas obras. A salvação de todos parece


ser defendida pelo apóstolo especialmente no verso 18 – “Assim como, por uma só ofensa (de Adão), veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça (de Cristo), veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida”. Todavia, não se pode interpretar a analogia entre Adão e Cristo de forma simétrica, pois é claro que, para Paulo, a salvação é somente mediante a fé em Jesus Cristo. Aliás, este é um dos temas centrais da carta aos romanos, que enfatiza que a salvação, tanto para judeus como para gentios, é exclusivamente pela fé em Jesus Cristo. Assim, “todos”, aqui, são todos os que são justificados pela fé em Cristo, e não cada indivíduo da raça humana, a despeito de sua reação ao convite da graça. Já 2 Coríntios 5.19 diz que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões.” Na interpretação universalista, Paulo aqui ensina a reconciliação final de todos. Todavia, o restante do versículo diz o seguinte: “E nos confiou a palavra da reconciliação”. E, no verso seguinte, Paulo faz um apelo: “Somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus”. Portanto, a reconciliação do mundo feita por Cristo e mencionada pelo apóstolo Paulo precisa ser anunciada e recebida pela fé para se tornar realidade na vida dos que creem. Quem não crer estará fora desta reconciliação – e, portanto, condenado. Os universalistas também alegam que outras passagens falam de Cristo como o Senhor cósmico, que todos reconhecerão e confessarão e a quem todos se sujeitarão ao final. Filipenses 2.10-11 diz que Deus o exaltou, “para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”. Universalistas entendem que somente os salvos é que sinceramente e voluntariamente poderão tomar tais atitudes diante do Senhor; e, como se diz que toda a humanidade o fará, presume-se a salvação dela como um todo. Contudo, não há nada no texto que exija que esta submissão e confissão sejam feitas de coração ou boa vontade. Ele pode muito bem se referir ao fato de que até mesmo os condenados terão de concordar com Deus (mesmo de má vontade) que seu Filho é realmente o Senhor de tudo e de todos.

AMOR X JUSTIÇA

Augustus Nicodemus Lopes é pastor, teólogo e chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Ainda nesta mesma linha, os universalistas citam outras passagens que parecem afirmar a reconciliação final e incondicional de todas as coisas com Deus por meio de Jesus Cristo. As duas principais são Efésios 1.9-10 e Colossenses 1.20. No texto aos crentes de Éfeso, Paulo fala que é o propósito de Deus “fazer convergir nele [Cristo], na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”. Tal convergência cósmica a Cristo, segundo os universalistas, implica na redenção de todos. A mesma afirmação se observa na passagem

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de Colossenses, segundo a qual, pelo sangue da cruz, todas as coisas são reconciliadas com Cristo, “quer sobre a terra, quer nos céus”. Contudo, a convergência e reconciliação cósmicas destes textos não exige a salvação universal, mas simplesmente que, agora, todas as coisas estão em seu devido lugar – os salvos na glória e os condenados submetidos ao julgamento final e sua merecida condenação. O mundo está em perfeita ordem e, agora, em paz cósmica, sob a chefia de Cristo. Outro argumento essencial brandido em defesa do universalismo é que a Bíblia descreve Deus como sendo essencialmente amor: A consequência lógica é que o amor de Deus haverá de vencer ao final, salvando todos os homens da condenação merecida por seus pecados. Mas, será que a Bíblia diz que o Senhor é somente amor? Encontramos no Novo Testamento quatro afirmações sobre o que Deus é, e três delas são feitas por João: Deus é “espírito” (João 4.24); “luz” (1 João 1.5); e “amor” (1 João 4.8,16). A quarta é contundente: “Deus é fogo consumidor” (Hebreus 12.29, reiterando o texto de Deuteronômio 4.24). É claro que essas afirmações não são definições completas de Deus – não têm como defini-lo no sentido estrito do termo –, mas revelam o que ele é em sua natureza. “Deus é amor” significa que ele não somente é a fonte de todo amor, mas é amor em sua própria essência. É importante, entretanto, reconhecer que, se Deus é amor, ele também é espírito, luz e fogo consumidor. É preciso manter em harmonia esses aspectos do ser de Deus, pois só assim é possível compreendê-lo como um Senhor que é amor e castiga os ímpios com ira eterna. “Fogo” e “luz” são metáforas, é verdade; porém, metáforas apontam para realidades. No caso, elas querem simplesmente dizer: “Deus é santo e verdadeiro; ele se ira contra o pecado e não vai tolerar a mentira. E punirá os pecadores impenitentes.” O maior problema que os universalistas enfrentam é lidar com as passagens da Bíblia onde, claramente, se estabelece uma divisão na humanidade entre salvos e perdidos e aquelas outras onde, abertamente, se anuncia o inferno como o destino final dos pecadores não arrependidos. A divisão da humanidade em salvos e perdidos é central nas Escrituras do Antigo Testamento (Deuteronômio 30.15-20; Jeremias 21.8; Salmo 1; Daniel 12.2 e muitas outras). Foi o próprio Jesus quem anunciou esta divisão de maneira clara no seu sermão escatológico, ao profetizar o juízo final onde a humanidade será repartida entre ovelhas e cabritos – sendo os segundos destinados ao fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos, ao contrário daqueles destinados à felicidade eterna (Mateus 25.31-46). Foi o próprio Jesus quem anunciou a realidade do inferno, mais do que qualquer outro personagem do Novo Testamento: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno”(Mateus 5.29); “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo (10.28). Mais adiante, no capítulo 23 do evangelho de Mateus, a advertência de Cristo é clara: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” No evangelho de Marcos, uma série de admoestações alerta


O PERIGO DO UNIVERSALISMO

sobre a realidade do inferno. Ao longo de três versículos do cao Evangelho? Os universalistas transformam a chamada ao arpítulo 9, o Mestre diz que é melhor ao fiel perder uma mão, um rependimento da Igreja num simples anúncio auspicioso de que pé ou um dos olhos a ser “lançado no inferno”, caso aqueles todos já estão salvos em Cristo, e traveste sua missão em apemembros o levem ao pecado. Já Lucas registra um diálogo nas ação social. Segundo, porque essa doutrina falsa, levada travado entre Abraão, o patriarca, e um homem rico às últimas conseqüências, acarreta necessariamene impiedoso que foi lançado no fogo eterno, te no ecumenismo com todas as demais relidescrito como um lugar de “choro e ranger giões mundiais. Se todos serão salvos, as A tendência de dentes”. E, finalmente, uma passagem religiões que professam não podem mais natural do pecador que do evangelho de João explica bem a ser consideradas certas ou erradas, e está seguro de que não sofrerá diferença entre morrer crendo ou rese tornam uma questão indiferente. jeitando a salvação: “Se alguém não Logo, o correto seria buscar uma as consequências de seus permanecer em mim, será lançado união de todos, pois ao final teremos pecados é mergulhar ainda mais fora, à semelhança do ramo, e secatodos o mesmo destino. neles. Assim, o universalismo rá; e o apanham, lançam no fogo e o Por último, o universalismo é um retira os freios da consciência queimam”(João 15.6). forte incentivo a uma vida imoral. Por e abre as portas para uma vida mais que sejamos refratários à ideia das pessoas fazerem o que é certo por DOUTRINA PERIGOSA sem preocupações terem medo do castigo de Deus, ainda asO universalismo é um erro teológico gracom Deus sim, temer “aquele que pode fazer perecer ve. Na verdade, mais que isso, é uma perino inferno tanto a alma quanto o corpo” (na gosa heresia. Além de não pertencer ao mundescrição de Mateus 10.28) ainda é um dos mais do teológico dos autores do Antigo Testamento e poderosos incentivos de Jesus para que vivamos vida santa do Novo Testamento, a ideia da salvação universal traz e reta. A tendência natural do pecador que está seguro de que diversos riscos. Em primeiro lugar, por enfraquecer e, finalmennão sofrerá as consequências de seus pecados é mergulhar ainda te, extinguir todo espírito missionário e evangelístico. Se todos mais neles. Assim, o universalismo retira os freios da consciência serão salvos ao final – inclusive os ímpios renitentes, pecadores e abre as portas para uma vida sem preocupações com Deus. não convertidos, incrédulos e agnósticos –, por que pregar-lhes


EPÍSTOLAS [ CARTAS DOS LEITORES ]

EMBALAGEM AGRADÁVEL Parabéns a toda equipe de LIDERANÇA HOJE. A primeira edição da LH está ótima. Vocês têm feito um excelente trabalho, combinando elementos originais e traduzidos, transformando-o em uma embalagem agradável. Oro para que Deus trabalhe poderosamente através de vossos esforços para desenvolver líderes fiéis e eficazes da igreja no Brasil. Marshall Shelley, editor-chefe de Leadership Journal

BOAS COISAS É com satisfação que recebi a notícia do lançamento de mais um periódico que fala sobre a Igreja para a Igreja. Há um consenso nacional de que há uma crise em torno do conceito de liderança cristã. Pastores estão desacreditados e não poucos estão confusos. A nação tem presenciado o surgimento de lideranças que prejudicam o nome da Igreja e também criam confusão em torno do que seria a própria fé cristã. Muitos líderes buscam clareza no que diz respeito aos rumos da igreja, do papel que exercem junto à sua denominação, da própria natureza da vocação ministerial e de como reagir às ondas de crenças e práticas que varrem a nação. Esperamos boas coisas e uma contribuição relevante de LIDERANÇA HOJE. Que Deus os abençoe. Walter McAlister, Bispo Primaz da Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida

PAPEL RELEVANTE Saudamos o lançamento no Brasil da Revista LIDERANÇA HOJE. Certamente esta revista terá um papel relevante na construção de massa crítica necessária para o amadurecimento da liderança cristã brasileira. Pr. Jorge Wanderley, presidente da editora Danprewan/Habacuc

EXCELENTE QUALIDADE Em viagem para Barueri (SP), onde ministrei na 3ª Escola Bíblica Intensiva, ganhei de brinde um exemplar da revista LIDERANÇA HOJE, Aproveitei as horas no aeroporto, e no voo de retorno, para ler os artigos, e pude constatar a excelente qualidade deste periódico, que, com certeza, contribuirá para a constante atualização e qualificação do líder evangélico no Brasil. [...] Pela relevância e contemporaneidade dos temas, e pelo equilíbrio nos posicionamentos dos articulistas, recomendo a 70 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

leitura da revista LIDERANÇA HOJE. Pr. Altair Germano, vice-presidente do Conselho de Educação e Cultura da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB)

LEITURA RECOMENDADA Saúdo a chegada da revista LIDERANÇA HOJE ao nosso meio. Conheço a versão desta publicação em inglês praticamente desde o seu início. A Leadership Journal tem feito parte da minha biblioteca e ela tem enriquecido e fortalecido o meu ministério. Recomendo a leitura de LIDERANÇA HOJE. Werner Haeuser, diretor do Gênesis Aconselhamento e Seminários

FELIZ PELA INICIATIVA Parabéns pelo lançamento de LIDERANÇA HOJE. ‘Devorei’ assim que abri. Fico feliz por esta iniciativa que abençoará os pastores e a igreja brasileira. Deus capacite a direção e a redação de LH e os use muito mais entre nós. Lisanias Moura, pastor sênior da Igreja Batista do Morumbi, São Paulo (SP)

DUPLA PERSONALIDADE



EKKLESIA [ ZIEL MACHADO ]

Memórias de um filho de pastor (1ª parte)

É

famoso o ditado popular: “Filho de peixe, peixinho é!”. Esta afirmação da sabedoria popular me traz à memória minha experiência como filho de pastor e me põe em alerta, pois meus filhos também são filhos de pastor. São muitos os adjetivos e as histórias que procuram descrever o impacto do ministério pastoral na vida dos filhos. Conhecemos exemplos positivos e não tão felizes desta realidade. O fato é que ninguém possui uma família perfeita, nem mesmo os pastores. Nossas famílias sofrem as mesmas pressões experimentadas pelas outras, mas é importante reconhecer, com humildade, o convite sempre oportuno que a graça de Deus nos faz, o que nos permite um futuro diferente. Uma das coisas mais difíceis de lidar, quando criança, era com o desafio de ser ‘modelo’. Esta pressão começava em casa de forma sutil, podendo se intensificar dependendo das circunstâncias, mas havia uma cobrança generalizada: todos ao nosso redor tinham uma imagem, um modelo mental, do que era permitido ou não a um filho de pastor. Lembro-me de um sábado à tarde, quando, saindo do clube (no qual jogava basquete), fui até à igreja, onde os adolescentes jogariam futebol, antes da reunião de estudo bíblico. Tinha por hábito ler um jornal dedicado aos esportes e, com ele debaixo do braço, cheguei até a entrada do templo. Na porta estava um diácono muito cioso de suas obrigações. Ele estendeu sua mão, pedindo-me o jornal, e eu prontamente lhe entreguei, procurando ser simpático. Para meu espanto, ele passou a rasgar todo o jornal, enquanto me dizia com uma voz grave: “No templo não é lugar de jornal desta natureza. Me admiro você, sendo filho de pastor fazer uma coisa assim!” Eu fiquei sem palavras diante daquilo. Um garoto de 13 anos de idade, que havia usado parte de seu Ziel Machado é pastor da Igreja pouco dinheiro para comprar o jorMetodista Livre-Nikei, nal, agora o via despedaçado por diretor acadêmico do Seminário Servo de uma autoridade da igreja. Diante de Cristo, professor da meu olhar espantado, ele ainda disFaculdade de Teologia se: “Pode falar com teu pai que fui eu Metodista Livre, em São Paulo (SP), e maratonista quem rasguei o teu jornal!” Eu nunca 72 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

falei nada a meu pai, mas tomei a decisão de que não queria continuar naquele lugar. É verdade que meus pais se esforçaram para que pudéssemos dizer como Josué: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”, mas, no meu caso, e na experiência de muitos dos meus amigos filhos de pastores, o caminho para servirmos juntos ao mesmo Senhor só foi possível porque decidimos servi-lo em lugares diferentes. Foi em uma tarde de domingo, já quase no portão de casa, que meu pai me chamou e disse: “Filho, vejo que esta nova igreja está lhe fazendo bem, se é lá que você quer servir ao Senhor, você tem a minha bênção e permissão para pedir sua transferência”. A alegria que senti naquele momento deve ter sido inversamente proporcional a tristeza de meu pai por saber que eu agarraria aquela chance, como um caminho sem volta. Creio que, naquele momento, meus pais puderam entender o peso que estava sendo, para a fé de um adolescente, a pressão de um contexto que insistia em prescrever o manual de conduta para os filhos do pastor. Enquanto eu saí com as bênçãos dos meus pais para buscar um espaço onde pudesse ser apenas um jovem, como outro qualquer, que desejava crescer em sua fé e viver de forma alegre sua juventude cristã, outros tiveram de se conformar a uma experiência de gaiola, até o momento em que a revolta passou a ser o marco de referência para lidar com a situação. Esta “gaiola”, na qual nos queriam manter presos, era formada pela preocupação com a aparência. Não só devíamos fazer as coisas certas, mas todos deviam ver o que estávamos fazendo. Em muitos lares a agenda familiar girava em torno das atividades da igreja. Lazer e vida social só estavam permitidos quando programado pela igreja, com o povo da igreja. Essa mentalidade de gueto foi destruindo uma forma bíblica de entender e viver a fé: era zelosa, mas desprovida de conhecimento. Os pais deixaram de influenciar seus filhos pela oração e pelo exemplo, optando por uma série de imperativos. Quando foi possível fugir da gaiola, muitos fugiram, alguns retornaram à vida na igreja, entretanto ainda há muitos sem ânimo para voltar. Foi muito bom quando entendi as riquezas e as possibilidades oferecidas pela cosmovisão bíblica para a família cristã, em especial para a família do pastor. Na próxima edição, voltamos a esse tema.



MISSIONAL [ OSWALDO PRADO ]

Sobras e faltas

P

aradoxos sempre causam desconforto. Refiro-me àquilo que designa o que é aparentemente contraditório, para o qual nem sempre se encontra sentido. Explico melhor: pode-se ter mais conhecimento, mas os relacionamentos humanos se deterioram. Busca-se multiplicar os bens materiais, no entanto, diminui-se exponencialmente o desejo de se repartir. Aprende-se a lidar muito bem com a retórica, mas se vê cada vez menos atitudes concretas a partir do que se fala. Jesus soube lidar muito bem com os paradoxos. Certamente, foi aquele que melhor soube conviver e confrontar situações que pareciam não ter sentido algum. Mesmo sendo Deus, nasceu em meio a um ambiente de extrema simplicidade. Sendo portador das boas-novas, conviveu com religiosos legalistas. Passou um bom tempo com homens que chamou de discípulos, mas que nem sempre ficaram ao seu lado. Finalmente, doou sua vida como qualquer mortal sendo ele mesmo o Deus Eterno encarnado. Relacionando-me nestes últimos anos com líderes de tendências teológicas distintas, tenho aprendido a conviver bem com eles. Noto, entretanto, que existem aqueles que parecem demonstrar que já chegaram a um nível tão privilegiado que não precisam mais conviver com outros. Estão plenos de conhecimento a tal ponto que acreditam não precisarem do outro. Suas ações visam unicamente o seu próprio bem-estar e de sua comunidade, sem o olhar abrangente do contexto social e econômico em que vivem. Raramente esses líderes compartilham sobre áreas de suas vidas que denotam fraquezas ou fracassos. Fica a idéia de que essas pessoas estão com “sobras”, à semelhança do que ocorreu na Igreja em Oswaldo Prado Corinto que levou Paulo a afirmar: é diretor executivo Vocês já têm tudo o que querem! da Sepal Já se tornaram ricos! Chegaram a

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ser reis — e sem nós! Como eu gostaria que vocês realmente fossem reis, para que nós também reinássemos com vocês! (1 Co 4.8) São esses que se enclausuram de tal forma em si mesmos que não conseguem perceber que a missão de Deus é feita por pessoas de diferentes matizes teológicas e denominacionais, classes sociais distintas, mas que se juntam a outras para aprender em comunhão fraterna. Afinal, como se tornar um líder missional sem buscar o crescimento ao lado de outros? Lideres missionais são aqueles que acreditam que os relacionamentos trazem maior conhecimento. Vejo líderes que parecem estar famintos em busca de alimento para desenvolverem melhor a missão que Deus lhes confiou. Estão atrás de mentores que os ajudem a ser melhores na liderança do povo de Deus. Cultivam o hábito de se reunir com pastores e líderes da cidade onde moram, às vezes para tomar um café, e, com isso, beber da sabedoria uns dos outros. Eles têm consciência de suas “faltas”, reafirmam que nunca saberão tudo e que, por isso mesmo, estão sempre sendo transparentes consigo mesmos. Uma comunidade missional é feita de líderes que se apresentam como aqueles que ainda não estão plenos e precisam sempre de algo a mais. Gente que rejeita a idéia tão difundida em nosso meio de que o verdadeiro líder é aquele que já tem as respostas prontas. Desta forma, o líder missional evita o pragmatismo e busca com seus pares as respostas para os problemas atuais através dos ensinos de Jesus. Nesse sentido, ele é um faminto contumaz. Nunca está satisfeito e deseja sempre crescer. A missão de Deus avança no mundo com líderes que conhecem suas “faltas”, dividem conhecimento através dos relacionamentos e geram ações missionárias de transformação. Precisamos aprender a conviver com esse paradoxo: quando parece haver “falta”, há multiplicação. Por outro lado, as “sobras” na vida de um líder apontam para um mero reducionismo existencial e teológico.



REFLEXÃO [ RICARDO AGRESTE ]

Homem chora? E pastor, chora?

E

m meus 25 anos de ministério não foram poucas as vezes em que derramei lágrimas. Para alguns, esta é uma confissão de fraqueza. Mas, se isso é verdade, agravo minha confissão dizendo que, nos últimos anos, chorei bem mais do que nos primeiros. Alguém poderia pensar que quanto mais experientes nos tornamos, menos propensos a estas “fraquezas” ficamos. No entanto, não é assim que tem acontecido em minha vida e ministério. Talvez isso seja devido ao fato de que, nos primeiros anos de ministério, tinha uma visão superestimada de minhas potencialidades e conhecia bem pouco as minhas limitações. Na medida em que o tempo passa, tornamo-nos mais conscientes de que nossas potencialidades não são tão grandes quanto imaginávamos e descobrimos que nossas limitações são muito mais presentes em nossas vidas do que um dia consideramos. Soma-se a isso o fato de que, quando mais jovem, era movido por sonhos e pela esperança de ver transformação efetiva nas pessoas, nos relacionamentos e nas instituições. No entanto, à medida em que o tempo passa, entramos em contato com uma realidade bem mais complexa do que um dia sonhamos. Essa realidade conduz alguns a uma atitude de rendição e conivência, uns a um sentimento de amargura, e outros às lágrimas da inconformidade. Mas, diante da constatação de que as lágrimas têm estado cada vez mais presentes em minha experiência, resolvi fazer um balanço para verificar quais são as situações em que, mais constantemente, as lágrimas surgiram. Em primeiro lugar, disparado, se encontram as situações em que me deparei com minhas próprias limitações como filho, irmão, marido, pai, amigo e, principalmente, Ricardo Agreste pastor. Não se trata de reconhecimento de é pastor da Comunidade erros, mas sim de limitações e impotências. Presbiteriana Chácara São situações que em concluí que não tePrimavera, coordenador da área de Teologia nho como corresponder as expectativa daPastoral do Seminário queles que me cercam, pois não tenho para Presbiteriano do Sul e diretor do Centro oferecer o que esperam de mim. de Treinamento para Em segundo lugar, estão as circunstânPlantadores de Igrejas (CTPI) cias em que topei com a ingratidão. Não 76 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

estou falando de qualquer tipo de ingratidão: tenho em mente aquela gerada em relacionamentos pastorais nos quais depositei em conta tempo e esforço para ajudar, apoiar, restaurar e reconduzir. No entanto, no momento em que necessitei sacar um pouco de compreensão e amizade, descobri que não tinha qualquer saldo. Em terceiro lugar, estão as situações em que me senti só. Por mais que existam teorias e discursos que tentem nos convencer de que precisamos ter amigos ao longo da caminhada para compartilharmos nossas dores e frustrações, é inevitável que tenhamos que passar por momentos em que nos deparamos com a solidão. Isso porque ninguém efetivamente conhece o peso e a responsabilidade de nossa própria vocação. Mas se estes são os três momentos em que as lágrimas surgem em meus olhos mais constantemente, como lido com eles e experimento algum tipo de encorajamento? As lágrimas geradas pela consciência de minhas próprias limitações tem me levado à conclusão de que eu preciso de um redentor. Não são apenas as pessoas que me escutam domingo após domingo que precisam de um salvador. Eu também preciso! Se alguma coisa boa vai ser gerada a partir da minha vida é porque alguém me resgatou de minhas próprias limitações e me capacitou de forma extraordinária. As lágrimas geradas pela ingratidão tem-me levado a relembrar minha motivação primária ao envolver-me em uma relação pastoral. As palavras de Jesus para Pedro em João 21 foram: “Tu me amas? Então pastoreia minhas ovelhas”. Logo, preciso lembrar ao meu próprio coração que meu envolvimento pastoral tem mais a ver com minha relação de amor com Jesus do que com a expectativa de reconhecimento das pessoas. Por fim, as lágrimas derramadas pela solidão tem-me ensinado a conhecer a solitude. Enquanto a solidão é um ambiente danoso para nossas vidas, ele pode nos propiciar a rica experiência da solitude, na qual buscamos a Deus como a fonte primária de nossas forças e de quem ouvimos a voz que nos reorienta e nos restaura. Acima de tudo, se o bom e supremo pastor, enquanto homem, chorou, porque eu, que nem sou bom, não deveria me dar o direito de chorar?



RENOVARE [ EDUARDO ROSA ]

Da compulsão à contemplação

L

íderes são, por natureza, pessoas suscetíveis a desenvolver comportamentos compulsivos. Dominados por uma pulsão (às vezes, chamamos de visão) pessoas em posição de liderança tornam-se obsessivas com as metas a alcançar, com os resultados a atingir, com as pressões a lidar... Obcecados por nossas responsabilidades, sonhos e fantasias, muitos de nós vamos desenvolvendo compulsões imperceptíveis. Quando menos esperamos, estamos escravizados por desejos dominadores capazes de nos destruir. Eis aqui um paradoxo: muitos líderes foram destruídos por aquilo que construíram. Sua vocação para fazer algo os afastou das fontes do ser. Os líderes que realmente me inspiram a alma são os contemplativos. Encontraram na contemplação – não na compulsão – a capacidade de fazer como fruto de um encontro com o ser. Eis porque, para a tradição cristã, a contemplação é um passo para um encontro com Deus, o ser por excelência. Thomas Merton já dizia que a contemplação é a vívida compreensão de que a vida e o nosso ser procedem de uma fonte invisível, transcendente e infinitamente abundante. Contemplação é acima de tudo a consciência da realidade dessa fonte. Na contemplação cristã tudo começa e termina em Deus. O processo de contemplação cristã nasce da experiência com Deus. E é justamente o cultivo desta contemplação a única força capaz de, como líderes, fazermos o que tem de ser feito sem sermos destruídos por aquilo que fazemos. Interessante que, um dia, ouvindo uma canção popular, penso ter achado uma maneira de colocar em palavras o significado inefável da contemplação entendida como um cultivo cotidiano do encontro com Deus. O poeta popular Djavan, canEduardo Rosa tando o amor, disse para uma pessoa na leé pastor da Comunidade tra de sua canção: Você deságua em mim Presbiteriana da Barra da Tijuca, um dos líderes e eu oceano... Oceano aqui se transforma do ministério Renovare no verbo oceanar. Este é precisamente o Brasil e mestre e doutor cerne da experiência contemplativa: Deus em Teologia pela PUC-RJ me visita com seu mistério e presença; ele 78 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

deságua em mim. Somente então eu oceano. Oceano por que ele desaguou em mim. Viver esta experiência contemplativa no cotidiano da nossa liderança vai requerer de nós alguns aprendizados. Um primeiro é entender que estar diariamente com Deus, buscar exercícios devocionais contemplativos, fazer retiros, criar oásis de solitude nos desertos de solidão cotidianos, tudo isso nos leva a um maior conhecimento de Deus. Entretanto, quanto mais dele conhecemos, menos controlamos o processo. Na contemplação mais profunda de Deus perdemos o total controle o curso das coisas. É Deus que aparece e se esconde quando, onde e como quer. Contemplar não é pisar no solo conhecido e testado, familiar à nossa alma. A contemplação de Deus nos faz mergulhar num imenso mistério, sobre o qual, quanto mais fundo mergulhamos, menos controle temos. Nasce, então, uma outra ordem de conhecimento: não o conhecimento para dominar, mas para amar e ser amado. Um segundo aprendizado nos ajudará a superar um erro que explica porque líderes dão tão pouca importância à contemplação. O equívoco de achar que a contemplação não serve para nada (utilitarismo) ou de vê-la como algo próprio de místicos desconectados das tarefas reais do cotidiano (pragmatismo), nos tem cegado para a verdade de que líderes forjados pela experiência contemplativa são homens e mulheres mais produtivos e fecundos, pois sempre deixam atrás de si um legado sustentável para si mesmos e para os outros. Ditas essas coisas, uma última nota se faz necessária. Dado que nós, líderes, somos compulsivos por encontrar ferramentas capazes de nos fazer alcançar de maneira mais eficaz nossos resultados, cuidado para não transformar a contemplação em mais uma compulsão para realizar alguma coisa. Nossa contemplação é uma resposta à sua presença e não uma ferramenta da nossa liderança. Parafraseando o apóstolo João quando diz “Nós o amamos porque ele nos amou primeiro”, posso dizer: Nós o contemplamos porque ele nos contemplou primeiro. Porque ele nos viu primeiro, então somos convidados a vê-lo como a fonte maior do que somos e fazemos.



EXEGESE [ DR. RUSSELL SHEDD ]

“Pregue a palavra”

U

ma pequena pesquisa realizada por um professor do Seminário Batista de Brasília ressaltou a necessidade de exposição bíblica na pregação. A questão que os alunos deveriam responder foi: qual era a opinião que os membros das igrejas faziam das mensagens que seus pastores pregavam? As opiniões foram as seguintes: 1) eles lêem, mas não explicam a Bíblia; 2) não aplicam os ensinamentos bíblicos às vidas dos membros; 3) dão mais atenção aos negócios da igreja do que ao crescimento espiritual dos membros. O remédio mais eficaz para estas omissões da parte de alguns dos pastores depende de três passos: 1) exegese cuidadosa do texto; 2) busca e desenvolvimento textual do ensinamento central da passagem bíblica; 3) Uma vez concluído este trabalho básico, organize uma aplicação o ensinamento à vida dos ouvintes. Talvez uma exposição resumida de Romanos 12.1,2 ajude. Primeiro, Paulo apela aos irmãos de Roma a oferecerem, cada um, o seu corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Esse sacrifício pode ser feito unicamente pelas misericórdias de Deus. Refere-se ao sacrifício do corpo de Jesus Cristo na cruz do Calvário. Por meio do sacrifício dele, nós todos podemos receber a justificação pela fé. Como Deus aceitou o sacrifício e aplicou seus benefícios a nós, nossos corpos são santificados e aceitáveis a Deus. Segundo, o verbo “ofereçam” se encontra no infinitivo aoristo, indicando uma oferta feita uma vez para sempre. É definitivo. O casamento bíblico também ilustra este relacionamento permaDr. Russell Shedd é Ph.D. em Novo nente (“Até a morte nos separar” – Rm Testamento pela 7.1-3). Uma vez sacrificado, pertence a Universidade de Deus para sempre. Edimburgo (Escócia), pastor, professor, Terceiro, o corpo que oferecemos escritor e conferencista a Deus, agora não nos pertence mais. 80 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

Como o escravo judeu que amava ao seu mestre e não queria deixá-lo, deveria ter a orelha furada (Dt 15.16,17), a vida sacrificada deve ser para sempre. Quarto, aquele que sacrifica o seu corpo assim, descobre que tem um relacionamento agradável, prazeroso, porque agrada a Deus. Não há ninguém tão importante para agradar como ele. Quinto, “culto racional ou espiritual” deve comunicar mais do que adoração. A palavra latreia fala de um compromisso de serviço (compare “idolatria”). Consideremos agora a conexão entre os dois versos. 1. Todos os cristãos sacrificados precisam passar por mudanças. A cultura do mundo tem como seu deus o próprio Satanás (2 Co 4.4). O estilo de vida de um escravo de Deus e o de um escravo do “senhor deste mundo” são incompatíveis. Tem de haver uma transformação de mentalidade que somente é possível pela poderosa ação do Espírito Santo. Constitui um novo padrão de pensamento (Fp 4.8). Tal como um homem pensa, ele é. 2. Essa metamorfose, de acordo com o ensino da Bíblia, confirma (dokimazein) para nós que a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita. Esse processo de aprendizado e rejeição dos valores e práticas do mundo se chama santificação. O uso dos verbos na voz passiva e no tempo presente contínuo explica que, gramaticalmente, santificação é um processo que avança durante toda a vida. Conclusão: Exposição da Palavra reconhece em primeiro lugar que a Bíblia é a Palavra de Deus. Explicar o que diz o texto deveria, portanto, ser obrigatório. Oferecer opiniões humanas, contar histórias e comentar eventos políticos do país e do cenário mundial não satisfazem as necessidades prementes dos cristãos sedentos para saberem se não há alguma palavra do Senhor. “Pregue a palavra” é a ordem de Paulo para Timóteo; não é menos necessário hoje do que no século primeiro.



COMENTÁRIO [ JOSUÉ CAMPANHÃ ]

Somos todos forasteiros

Q

ual é o segredo das empresas centenárias? Há alguns anos, li um artigo que mostrava o resultado de uma pesquisa sobre o assunto. Dentre vários segredos, um deles dizia: “Forasteiros não fazem mudanças”. Isto dizia respeito a líderes que ocuparam posições de destaque que, depois que partiam, não podiam garantir a permanência das mudanças que haviam realizado. Percebi que isso se aplicava totalmente a igrejas e organizações cristãs. O pastor, mesmo que fique 20 anos numa igreja é um forasteiro. Na hora em que ele deixa a liderança, as pessoas dizem: “Ok, ele se foi, recoloquemos as coisas em seus lugares”. Vejo pastores e líderes dando seu suor, lágrimas, gotas de sangue e comprometendo seu casamento, saúde e família por causa de estruturas. Também já fiz isto alguns anos da minha vida, mas, quando saí daquele lugar, as pessoas disseram: “Ok, ele se foi, coloquemos as coisas de volta a seus lugares”. Foi a partir da compreensão deste princípio que, há alguns anos, mudei minha filosofia de liderança. Faço qualquer coisa necessária para estabelecer ou mudar completamente uma estrutura, mas já não dou minha vida por isso. Não quero matar ou perder minha família, ou ter uma esposa deprimida, ou mesmo parar em um hospital por causa de estruturas ou de gente que não quer mudar. No entanto, o mais importante, é a segunda parte do princípio “Forasteiros não fazem mudanças”, a qual diz: “Invista nas pessoas, elas mudarão a estrutura ou se mudarão para um lugar onde possam criar algo novo”. Foi o que passei a fazer e o resultado foi incrível. Quando você aplica isto na igreja, o investimento nas pessoas leva a relacionamentos, discipulado e vida transformada, e a estrutura acaba mudando naturalmente. Entretanto, não é o pastor ou líder que promove as mudanças, mas as pessoas que foram transformadas. Quando uma estruJosué Campanhã é escritor, palestrante, tura ou uma igreja é tão rígida que não aceie consultor ta as mudanças, as pessoas transformadas buscam outros lugares onde podem usar 82 LIDERANÇA HOJE Verão 2013

seu potencial. Todos nós sabemos que existem igrejas assim, onde não há transição, mas ruptura. Uma geração precisa partir para a eternidade para que outra geração chegue e comece uma nova etapa. Quando se investe na vida das pessoas elas não ganham apenas a visão de uma nova estrutura ou um novo modelo de ministério. Elas passam a ter a visão de um novo modelo de vida abundante em Jesus e, com esta perspectiva, promovem as mudanças estruturais ou organizacionais que permanecerão, ou ajudam um líder visionário a fazer isto. Talvez a parte mais difícil disto para o pastor ou líder é semear e saber esperar. No entanto, isto em nada é diferente do plantio de uma árvore. Você planta a semente, espera meses até que os primeiros brotos surjam da terra, coloca adubo, rega, protege, tira as ervas daninhas e depois de alguns anos a árvore se torna tão grande que não pode ser derrubada facilmente. A partir do momento que entendi este princípio comecei a investir em vidas. Nos últimos 18 anos de ministério eu fiz parte de três organizações e igrejas. Elas já mudaram radicalmente suas estruturas, mas as pessoas em que investi estão literalmente espalhadas pelo mundo, fazendo coisas incríveis que eu jamais poderia imaginar quando as conheci. Elas já discipularam centenas de outras pessoas, iniciaram novas igrejas e organizações, treinaram novos líderes, lançaram novas idéias, começaram novos projetos, mas o que eu percebo em todas elas é que também não estão brigando por estruturas, mas investindo em pessoas. Fiquei me perguntando porque não aprendi isto antes, mas não encontrei resposta. Então percebi que muita gente como eu poderia estar cega, dedicando sua vida e ministério para lutar por estruturas e decidi escrever este artigo para ajudar a acordar os apaixonados por estruturas para investir em pessoas. Afinal, somos todos forasteiros onde estamos, e, em algum momento, você não ocupará mais o cargo que tem e não será mais pastor dessa igreja. Quando você partir, o que as pessoas dirão? O que terá ficado como seu legado – estruturas ou pessoas transformadas que se multiplicarão?


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