2
LIDERANÇA HOJE Outono 2013
OUTONO 2013
14-Crescimento, um fenômeno complexo O aumento do número de evangélicos é termômetro para atuação de Deus no Brasil? Rubens Muzio
18-Plantando e aprendendo A importância do trabalho ministerial em quatro vertentes: foco, criatividade, excelência e cooperação Fabrini Viguier
22-Igreja: sementes e frutos Pastores relatam suas experiências na plantação de igrejas e falam do crescimento de suas congregações Carlito Paes, Inésio Azeredo, Philip Murdoch, Robert Lay e Samuel Vieira
28-A mega-igreja e o mosteiro Uma grande igreja está aprendendo como um núcleo de discípulos cresce em meio à uma multidão de frequentadores Keith Meyer
TAMBÉM nesta edição:
32-Crescimento das igrejas: três armadilhas A preocupação com o crescimento é legítima e necessária, mas os riscos dessa expansão são muito grandes Ricardo Barbosa de Sousa
38-O modelo pentecostal brasileiro de crescimento de igrejas A prática evangelística pentecostal segue o modelo histórico, mas com algumas adaptações às novas realidades Altair Germano
42-A missão de plantar igrejas Não há forma mais duradoura de se estabelecer o Evangelho em um bairro, cidade, clã ou tribo do que plantando uma igreja local que seja bíblica, viva, contextualizada e missionária Ronaldo Lidório
54-A última fronteira
Rick Warren, líder da Igreja Saddleback, quer levar o evangelho a 3.400 povos do mundo que não foram alcançados até 2020 Por Timothy C. Morgan
58-Uma comunidade afetiva Expandindo a atuação da mulher na igreja e na sociedade Isabelle Ludovico
62-As quatro estações da vida do líder Se existe uma certeza a respeito de um líder é que sua vida nunca será monótona e pacata. Ao contrário, será agitada, cheia de aventuras, mudanças e desafios Mário Kaschel Simões
66-O pastor e o monstro
Quando o ministério se transforma num fardo, cuidado: você pode assustar sua família, seus amigos e sua igreja Bob Merritt
COLUNISTAS
46 - Cícero Duarte 72 - Ziel Machado 74 - Oswaldo Prado 76 - Ricardo Agreste 78 - Eduardo Rosa 80 - Russell Shedd 82 - Josué Campanhã
SEÇÕES
4 - Editorial/Expediente 6 - Atualidades 12 - Mini-entrevista 47 - Ferramentas 70 - Epístolas
Imagens: dreamstime, stock.xchng, divulgação e reprodução
Introdução
w w w. l i d e r a n c a h o j e . c o m . b r facebook.com/liderancahoje |
O crescimento da Igreja
P
@liderancahj
Liderança Hoje é uma publicação trimestral da Cristianismo Hoje Editora Ltda. CNPJ 15.384.289/0001-67
NOSSA MISSÃO Servir e fortalecer os pastores e líderes com conteúdo relevante e prático que incentive a fidelidade bíblica e a eficácia pastoral.
aulo, ao descrever aos coríntios o modus operandi de seu ministério, deixa claro como se dá a dinâmica da formação e da expansão da igreja: Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de
Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento. [...] Porque de Deus somos cooperado-
A revista Liderança Hoje é uma publicação evangélica nacional e independente. É a versão brasileira da revista Leadership Journal, fundada em 1980 pelo grupo Christianity Today International, um dos mais importantes grupos de mídia cristã do mundo, com 4 revistas impressas, 3 revistas digitais e mais de 40 sites e blogs. Liderança Hoje é uma parceria com a Sepal - Servindo Pastores e Líderes
res; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós (1Co 3.6-9). Para saber como essa lição paulina estava sendo interpretada – justamente agora, quando se discute tanto a “melhor fórmula” para expandir o Reino –, elegemos o crescimento da Igreja como tema principal desta edição.
CONSELHO DE REFERÊNCIA
Muzio disserta sobre o fenômeno (complexo) do crescimento evangé-
Aguiar Valvassoura, Altair Germano, Carlinhos Veiga, Carlito Paes, Carlos Alberto Quadros Bezerra, Carlos Alfredo, David Kornfield, Ebenézer Bittencourt, Ebenézer Soares Ferreira, Fabrini Viguier, Geremias do Couto, Gerson Borges, Gilson Bifano, Israel Belo de Azevedo, Jeremias Pereira da Silva, Johny Stutzer, Jorge Wanderley, Leonardo Sahium, Marcelo Gualberto, Marcos Amado, Neander Kraul, Paschoal Piragine, Paulo Solonca, Ricardo Barbosa, Richard Werner, Robert Lay, Segisfredo Wanderley, Sérgio Queiroz, Valdemar Kroker, Valdir Steuernagel, Walter Feckinghaus, Werner Haeuser, Wilson Costa
lico no Brasil: debruçado sobre os dados revelados pelo último Censo
PUBLISHER
E, para tratar de assunto tão complexo, “convocamos” um time de articulistas que falasse dos mais diversos aspectos da questão. Rubens
do IBGE, Muzio analisa e esmiúça essas informações e faz considerações que vão (muito) além dos números. Por sua vez, Ricardo Barbosa de Sousa discorre acerca das armadilhas encobertas pelo fascínio do
Marcos Simas
EDITOR-EXECUTIVO E JORNALISTA RESPONSÁVEL Cleber Nadalutti – MTb 16820
DIRETOR DE ARTE
Well Carvalho - www.zaghaz.com
crescimento numérico, lembrando que os riscos dessa expansão são
TRADUTORAS
imensos.
CHARGISTA
Fabrini Viguier escreve sobre suas experiências no processo de plantação de igrejas, mostrando, por exemplo, a importância da cooperação mútua no desenvolvimento do trabalho ministerial. Keith Meyer, pastor de uma mega-igreja nos EUA, garante que não há contradição alguma em formar discípulos dentro de uma grande estrutura eclesiástica. Já Ronaldo Lidório assegura que plantar uma igreja local bíblica, viva, contextualizada e missionária é a forma mais duradoura de estabelecimento do Evangelho numa região. E, ainda sobre o tema de capa, Altair
Júlia Ramalho e Julianne Mendes Jasiel Botelho - www.jasielbotelho.com.br
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO
Altair Germano, Bob Merritt, Fabrini Viguier, Isabelle Ludovico, Keith Meyer, Mário Kaschel Simões, Ricardo Barbosa de Sousa, Ronaldo Lidório, Rubens Muzio e Timothy C. Morgan
COLUNISTAS
Cícero Duarte, Eduardo Rosa, Josué Campanha, Oswaldo Prado, Ricardo Agreste, Russell Shedd e Ziel Machado
ENTREVISTADOS DESTA EDIÇÃO Ricardo Agreste e Rick Warren
TESTEMUNHOS DESTA EDIÇÃO
Carlito Paes, Inésio Azeredo, Philip Murdoch, Robert Lay e Samuel Vieira
ASSINATURAS
Germano fala do modelo pentecostal brasileiro de crescimento e cinco
(21) 3587 4872 / 3628 2920 assinatura@cristianismohoje.com.br
pastores dão testemunho sobre suas experiências na área.
PUBLICIDADE
Este exemplar, entretanto, traz outras preciosidades. Uma pequena entrevista com Ricardo Agreste, sobre a atuação do Centro de Treinamento para Plantadores de Igrejas (CTPI), uma (grande) entrevista com Rick Warren, líder da Igreja Saddleback, e três artigos que merecem atenção especial de nossos leitores: Uma comunidade afetiva, de Isabelle Ludovico, As quatro estações da vida do
Roberto de Assis (21) 4126 2785 comercial@cristianismohoje.com.br
REPRESENTANTE ASSINATURAS
Paulo Fernando (P & B Representações Ltda.) (11) 2645-8890 (comercial) 98655-6274 (celular) E-mail: representante@cristianismohoje.com.br
INFORMAÇÕES
faleconosco@cristianismohoje.com.br Caixa Postal 107.088 Niterói, RJ - CEP 24.360-970
CTP E IMPRESSÃO
Plural Indústria Gráfica Tiragem – 20.000 exemplares
líder, de Mário Kaschel Simões, e O pastor e o
Marcos Simas Publisher
4
monstro, de Bob Merritt. Boa leitura, querido pastor!
LIDERANÇA HOJE Outono 2013
ISSN 2316-5510
Exercícios de valor eterno Academia da Alma
Exercícios espirituais para uma vida de qualidade eterna Academia da alma é um convite
deve colocar sua alma na Academia
radical a uma vida transbordante,
de Jesus. Em outras palavras, viver é
possível e real agora, na terra, e não
aprender. Parecer-se com Cristo – alvo
só para depois no céu, a todos os que
de todo cristão – não é automático.
quiserem e se dispuserem a “malhar”
A graça não é apenas soteriológica;
suas almas. Para o autor, cada cristão
é também cognitiva e pedagógica.
16 x 23 cm | 180 p. | brochura
CONFIRA AS OUTRAS OBRAS DE
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
Gente cansada de igreja Igreja. Acabou? O mito da família perfeita Para ter um bom dia hoje e amanhã Sete passos e meio para a felicidade Tem mensagem para você Pastoreados por Paulo
PARA SABER MAIS, LIGUE (11) 5668 5668 [ Grande SP ] 0800 772 6272 [ Demais Estados ]
Siga-nos @editorahagnos Acesse www.hagnos.com.br
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
5
ATUALIDADES [ ONDE A FÉ ENCONTRA A CULTURA ]
Hoje, essa história pode ser contada por alguns números e resultados. São 70 missionários no Brasil e outros 20 em oito países do mundo. Ao todo 160 mil pastores, de 100 denominações, são diretamente alcançados pela entidade. Artigos dos missionários da Sepal são publicados em diversos periódicos – dentre eles, LIDERANÇA HOJE – e o portal da instituição recebe a visita de 350 mil usuários por mês. A missão presta consultoria ministerial a 55 igrejas através de seus missionários, trabalha em 39o Encontro Sepal em 2012 parceria com 40 organizações cristãs de todo o mundo, e investe 93% de todas as ofertas arrecadadas diretamente no ministério – apenas 7% são dirigidos a gastos operacionais. O apoio à igreja evangélica No mesmo mês de agosto de 1963 no qual Martin Luther King fazia, brasileira se dá em quatro vertentes: pesquisa nos Estados Unidos, seu mais famoso discurso, “Eu tenho um sonho”, na (informações para seu desenvolvimento Marcha sobre Washington, chegava ao território brasileiro uma missão estratégico), motivação (encorajamento internacional que carregava consigo um ideal: causar impacto em líderes pelo pastoreio de casais pastorais e e igrejas, encorajando-os e desafiando-os a desenvolver ministérios mentoreamento), capacitação (consultoria, saudáveis. Naquele ano, a Sepal (Servindo aos Pastores e Líderes) treinamento, eventos, ensino e discipulado, desembarcava no Brasil com o sonho de ver uma igreja saudável, ao dentre outras ações) e mobilização alcance de todo brasileiro, capaz de levar o evangelho ao mundo todo. (expansão missionária Ligada à rede One Challenge International (OCI), pelo recrutamento e uma missão interdenominacional e intereclesiástica treinamento de novos criada em novembro de 1950, a Sepal, munida de missionários, plantação de uma equipe de missionários, iniciou seu trabalho igrejas, etc). de discipulado de pastores e líderes brasileiros. Toda essa história – e Viajando por todo o país em estradas poeirentas, a realização de um sonho, os primeiros casais missionários fizeram história. certamente maior do “Hoje, alguns desses missionários já estão com o Missionários da Sepal, 1967 que aquele imaginado Senhor. Outros retornaram para os Estados Unidos. por Luther King – vai ser celebrada no 40º Mas eles deixaram marcas indeléveis na vida de tantos de nós. Quando Encontro Sepal, de 6 a 10 de maio, no Hotel pastoreava uma igreja em São Paulo, fui um destes privilegiados. Por 10 Monte Real, em Águas de Lindóia (SP). Será anos, ininterruptamente, fui mentoreado e discipulado por um desses uma festa especial, que terá a presença de missionários. Algo que marcou minha vida e ministério até os dias de hoje”, preletores internacionais de renome como recorda o pastor Oswaldo Prado, diretor executivo da Sepal Brasil. o indiano Samuel Kamelson, o salvadorenho Outro que dá seu testemunho sobre a missão é Rubens Muzio, líder da Mario Vega e o líder cristão palestino Bishara Sepal em Londrina (PR). “Sou missionário da Sepal desde 2001, quando Awad, e figuras de destaque no Brasil como retornei do Canadá. Aqui, tenho encontrado um lar, uma família, um Armando Bispo, Samuel Gill, Carolina Velloso, grupo de líderes e amigos que decidiram servir juntos nos bastidores da Aurivan Marinho da Costa, Edison Queiroz, igreja, apoiando sua liderança, no alcance dos povos e na evangelização Neil Barreto e Nancy Gonçalves Dusilek – e transformação da nação brasileira. É com grande alegria e emoção que todos reunidos em torno de um tema que é festejamos os 50 anos da Sepal”. Por sua vez, Carolina Velloso destacou: a síntese desse ministério que gera frutos há “Para mim, esta celebração das cinco décadas da Sepal no Brasil é uma 50 anos: “Missão para toda vida, a vida toda!” demonstração da fidelidade de Deus, e da criatividade dele de juntar Da redação pessoas de vários pontos do mundo para fazer parte de uma equipe!”
SEPAL, 50 ANOS DE MISSÃO
6
LIDERANÇA HOJE Outono 2013
21 anos de UNIVERSIDADE DA FAMÍLIA com 21% de desconto!* ®
DESCRENTES O que pensa os não crentes sobre os cristãos?
* Válido para compras em nossa loja virtual ou televendas durante o período de circulação desta edição de Cristianismo Hoje para publicações próprias exclusivas da Universidade da Família. Digite o cupom de desconto no carrinho de compras antes do fechamento do pedido.
LANÇAMENTO
LANÇAMENTO
Uma pesquisa pioneira, conduzida pelo Grupo Barna, demonstra a percepção de jovens e adultos sobre os cristãos: eles veem os crentes como “hipócritas”, “julgadores”, “fechados”, “insensíveis”. Descubra qual é o motivo dessas imagens ruins e como revertê-las afim de refletir o verdadeiro cristianismo. UM LIVRO INDICADO PELO CENTRO FOCUS ON THE FAMILY®
O CASAMENTO OBRA-PRIMA Descubra o plano de Deus para a vida a dois
MARIDO IRRESISTÍVEL
Como uma obra de arte esquecida, o casamento é subvalorizado e subestimado. Neste livro, o autor traz um novo olhar sobre o maravilhoso projeto de Deus para seu casamento e explica os porquês de sua união ter sido planejada para durar por toda a vida. Ao longo deste livro criativo e inspirador, você analisará elementos como paixão, aventura e compromisso, que dão cor e vida a este projeto de Deus, refletindo o amor de Deus em seu casamento. Livro recomendado por Focus on the Family®.
O que empolga e surpreende as mulheres? Como edicar o caráter? Como evitar que fatores externos o derrotem? Este livro é um guia inestimável para formar uma nova geração de pais de família, com profundas verdades sobre comunicação, compromisso, sexo, criação de filhos, carreira e muito mais! Livro premiado.
Toda mulher quer um marido irresistível
Conheça os livros pocket do mesmo autor de PRATICANDO A FÉ EM CASA!
INCLUI PESQUISAS, ESTUDOS E ATIVIDADES PRÁTICAS
PRATICANDO A FÉ EM CASA
SÉRIE: MÃE | PAI | ORAÇÃO | DEVOCIONAL
Seus filhos seguirão os passos de quem?
Série “A Fé Começa em Casa” traz 4 livros (tamanho pocket) avulsos
Hoje, em muitas famílias, a fé representa não mais que uma hora de cristianismo por semana, durante o culto na igreja. Como nossos filhos virão a ter um relacionamento com Deus? Neste livro prático e envolvente, saiba como transformar sua família e cultivar a fé em casa para toda a vida.
Mãe traz dicas e orientações adequadas a cada faixa etária a fim de que consiga tratar do crescimento espiritual dos filhos. Pai é o GPS que você utilizará para levar a fé à sua família, com recursos de fácil aplicação. Oração ajudará os pais a ensinar a seus filhos como se comunicar com Deus e Devocional os orientará a desenvolver devocionais diários com os filhos, ambos com modelos práticos!
Adquira estes e outros títulos na www.lojadafamilia.org.br ou (14) 3405-8500 e use seu desconto!
Siga-nos nas redes sociais
Digite este Cupom de Desconto!
Confira novidades!
UNIVERSIDADE DA FAMÍLIA www.udf.org.br
DESCONTO*
CUPOM
- 21% 1992 - 2013
CH213
ANOS
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
7
[ NOTÍCIAS QUE VOCÊ PODE USAR ]
Ampliação do conhecimento IMPORTANTE MARCO
Justamente em 2012, quando celebrou dez anos do lançamento da Bíblia em Braile e 50 anos do programa Luz na Amazônia, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) bateu seu próprio recorde, distribuindo quase 7,4 milhões de Bíblias – 9% a mais do que em 2011. No entanto, incluindo Novos Testamentos, porções bíblicas (livretos contendo partes do texto sagrado, como evangelhos) e seleções bíblicas (folhetos) esse número salta para impressionantes 244,7 milhões de Escrituras distribuídas. O diretor executivo da SBB, Rudi Zimmer, lembra que, para alcançar esses resultados, a entidade conta com um dos maiores parques gráficos do mundo destinados exclusivamente à produção da Palavra de Deus – a Gráfica da Bíblia, localizada em Barueri (SP). “Em 2012, demos outro passo para tornar ainda mais efetiva nossa atuação, com a inauguração de um centro de distribuição. Ao reduzir custos e prazos de entregas, este novo espaço [inaugurado em agosto] tem o mérito de facilitar a disseminação da Palavra de Deus em todo o Brasil”. — Com informações da SBB
A Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) vai promover em 2013 várias edições de seu Seminário de Ciências Bíblicas, uma iniciativa criada em 2000 que visa ampliar o conhecimento das Escrituras Sagradas por meio de palestras de teólogos e linguistas que abordam aspectos da tradução da Bíblia e sua história. Desses encontros, segundo a SBB, já participaram milhares de pastores, líderes cristãos, seminaristas, obreiros e professores de Escola Bíblica Dominical. O seminário mais recente aconteceu nos dias 26 e 27 de abril, na Igreja Batista Boa Esperança, em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro (RJ), mas a instituição já confirmou a realização de outros eventos semelhantes em cidades como Recife (PE) e Santa Maria (RS), em maio; Boa Vista (RR), em agosto; São Luís (MA) e Sete Lagoas (MG), em setembro; Florianópolis (SC), em outubro, e Porto Velho (RO), em novembro. Mais detalhes podem ser obtidos através do telefone 0800727-8888. — Com informações da SBB 8
LIDERANÇA HOJE Outono 2013
NOTA MÁXIMA A Faculdade de Teologia (FaTeo) da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) ficou entre os 13 cursos de graduação à distância que receberam nota máxima do Ministério da Educação (MEC). Dentre 1.207 cursos registrados no MEC, só 13 de uma lista de 322 foram considerados de excelência, dentre eles a FaTeo, pois obtiveram nota máxima (5) nos índices Conceito Preliminar do Curso (CPC), baseado na avaliação de documentos, e Conceito de Curso (CC), definido após avaliação in loco do curso por uma comissão do ministério. O MEC ainda precisa divulgar notas de outros 885 cursos de graduação à distância autorizados pelo governo. De acordo com o MEC, a falta de notas pode ser devido ao processo de reconhecimento (ou de renovação) ainda estar tramitando, ou por causa da interposição de recurso pelas instituições de ensino. — Com informações de UOL, FaTeo e e-MEC
A L E X FA J A R D O
POR UMA IGREJA CIDADÃ A liderança da Aliança Cristã Evangélica Brasileira (ACEB) realizou sua reunião anual, nos dias 27 e 28 de fevereiro, na chácara da Associação Missionária para Difusão do Evangelho (AMIDE), em Brasília (DF). O evento, que contou com a participação de cerca de 60 pessoas, teve duas mesas de debate. Na primeira, o tema “Os evangélicos e a construção de uma cidadania engajada” foi discutido por nomes como João Helder Diniz, diretor executivo da Visão Mundial, e Débora Fahur, uma das coordenadoras da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (Renas). Do segundo debate, no qual se falou do tema “A Igreja Evangélica Brasileira e o seu futuro”, fizeram parte o doutor em História Lyndon Santos, atual presidente da Fraternidade Teológica Latino-Americana/Setor Brasil (FTL-Brasil); Martin Weingaertner, diretor da Faculdade Teológica Evangélica de Curitiba, e Ariovaldo Ramos, presidente da Visão Mundial no Brasil. Após o encontro, os participantes do evento seguiram para um dos auditórios da Igreja Presbiteriana de Brasília, para uma reunião da Aliança Evangélica com o ministro Gilberto Carvalho, da Casa Civil, na qual foi divulgada uma declaração pública da ACEB intitulada Por uma igreja participativa e cidadã. — Com informações da ACEB
PESQUISA REVELADORA A Aliança Brasileira de Pastoreio de Pastores (ABPP) divulgou em fevereiro o resultado de uma pesquisa feita em setembro de 2012, durante o 1º Encontro Brasileiro de Pastoreio de Pastores, em Penedo (RJ). A pesquisa revelou, por exemplo, que o cuidado pastoral é o formato preferido (80% dos entrevistados) e mostrou que a maioria (92%) quer investir mais tempo no pastoreio de pastores. Segundo os respondentes, os maiores obstáculos ao pastoreio de pastores são: dificuldade de confiar em outros (88%), falta de tempo (68%) e falta de motivação ou tempo (49%). Por outro lado, os participantes da pesquisa gostariam de ver maior crescimento em seus casamentos e famílias (38%), retiros (29%) e mentoria (25%). Eles querem que a ABPP concentre seus esforços principalmente em capacitação de mentores (17%), consultas de aprofundamento (17%) e o encontrão para pastores de pastores (17%), e a grande maioria (90%) quer apoiar a ABPP financeiramente. — Com informações da ABPP
Presente e futuro Faltando pouco mais de um ano para completar seu 40º aniversário, o Movimento de Lausanne anunciou, no início de fevereiro, a nomeação de seu novo diretor executivo: Dr. Michael Oh, norte-americano de origem sul-coreana, 41 anos, presidente e fundador do Christ Bible Seminary em Nagoya (Japão). Ele substitui o Rev. S. Douglas (Doug) Birdsall, que ocupava o cargo desde 2004 e que assumiu recentemente a direção da Sociedade Bíblica Americana. O presidente do Conselho de Diretores do Movimento de Lausanne, Ram Gidoomal, exaltou a chegada de Oh, eleito por unanimidade: “Michael é uma pessoa que constrói pontes transculturais entre as diferentes gerações; conhece muito bem o movimento como um todo e compreende a complexidade deste chamado para liderar”. Por sua vez, Michael Oh, que será empossado formalmente em junho, durante o Fórum de Liderança Global de Lausanne, no Sul da Ásia, fez questão de exaltar as grandes lideranças de Lausanne: “Aceito com humildade esta nomeação seguindo os passos do legado que Deus começou no movimento através de líderes dedicados como Billy Graham, Leighton Ford, Gottfried Osei-Mensah, Cedar Paulo, e meu antecessor e amigo, Doug Birdsall”. — Com informações do site www.lausanne.org Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
9
[ NOTÍCIAS QUE VOCÊ PODE USAR ]
AGENDA A Fraternidade Teológica Latino-Americana/Setor Brasil (FTL-Brasil) realiza de 30 de maio a 1º de junho, na Igreja Batista da Graça, em Salvador (BA), a Consulta Teológica Nacional, que discutirá o tema “Identidade, Diálogo e Missão: Reino e FTL-Brasil nos vértices do tempo e na dobradura dos acontecimentos”. Dentre os preletores convidados e confirmados estão nomes como Pedro Arana, Ricardo Quadros Gouvêa, Júlio Zabatiero, Carlinhos Veiga, Marlon Fluck, Alexandre Brasil, Jorge Barro e Gabriele Greggersen. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.ftl.org.br/consulta ou pelo e-mail secretaria@ftl.org. — Fonte: FTB-Brasil
Passado e presente Há 30 anos acontecia, em Belo Horizonte (MG), o Congresso Brasileiro de Evangelização (CBE), que ergueu a bandeira brasileira da teologia da missão integral articulada no Congresso Mundial de Evangelização em Lausanne, na Suíça, em 1974, marco histórico do movimento evangelical. Daquele encontro na capital mineira (foto), surgiu o Compromisso de Belo Horizonte, declaração na qual os participantes do encontro mineiro afirmavam que se identificavam com o espírito do Pacto de Lausanne e com os objetivos do CBE e sua explicitação teológica como componentes importantes na agenda da Igreja para os próximos anos. O documento registrava que os participantes se comprometiam (dentre outras coisas), a assumir de forma mais ampla a responsabilidade missionária, a exercer ministério profético, pastoral e intercessório, e a buscar a unidade fraterna da Igreja. As reflexões feitas durante o CBE – realizado entre 31 de outubro e 5 de novembro de 1983 – fizeram com que muitos pastores, desde então, repensassem o papel da ação social em seus ministérios. — Com informações de Ultimato e documentos do CBE 10 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
De 9 a 13 de julho, a Ação Evangélica (ACEV), que completa em 75 anos de existência em 2013, fará o Congresso Missão Integral do Sertão Nordestino, em São Mamede (PB). O tema do evento, “Por um sertão sustentável... Evidenciando o Reino de Deus no Nordeste brasileiro”, será abordado por cinco preletores, dentre eles o Pr. Carlos Queiroz (Igreja de Cristo), o Pr. John Medcraft (ACEV Brasil) e o Pr. Airton Schroeder (Diaconia) – todos com experiência em missão integral no interior nordestino. O congresso, que discutirá assuntos como a Bíblia e a defesa de direitos, sustentabilidade e a inclusão social para o sertão nordestino, tem apoio da JUVEP, Diaconia, Tearfund, Associação Servos, Missão Zero (da Igreja Luterana), Rede Mãos Dadas Nordeste, Rede Fale Nordeste, ABUB Nordeste e Sal da Terra. Mais informações podem ser obtidas pelo site www.acevbrasil.org.br. — Fonte: ACEV O Renovare Brasil, ministério voltado para a vivência e a reflexão da formação espiritual, fará dois retiros em 2013. O primeiro, na Casa de Retiro Santa Fé, em São Paulo (SP), de 7 a 9 de junho, e o segundo, na Casa de Retiros Anchieta, no Rio de Janeiro (RJ), de 12 a 14 de julho. O tema dos dois encontros será “Lectio Divina – A riqueza do encontro diário com Deus”. Mais informações através do site: http://www.renovare.org.br — Fonte: Renovare Brasil Acontece em Valinhos (SP), de 10 a 13 de setembro, a 6ª Consulta para Líderes Denominacionais sobre Pastoreio de Pastores, promovido pela Aliança Brasileira de Pastoreio de Pastores (ABPP). Mais informações podem ser obtidas pelo site http://www.pastoreiodepastores.org. — Fonte: ABPP
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
11
[ MINI-ENTREVISTA ]
O cumprimento da grande comissão
M
estre na área de Missões Urbanas pelo Calvin Theological Seminary, professor do Seminário Presbiteriano do Sul e plantador da Comunidade Presbiteriana Chácara Primavera, em Campinas (SP), Ricardo Agreste da Silva, 45 anos, é um dos consultores do Centro de Treinamento para Plantadores de Igrejas (CTPI). Casado com Sônia e pai de três filhos (Luiza, Levi e Ligia), ele, que faz parte de uma rede de pastores e igrejas que dá suporte a projetos de plantação de novas congregações, falou à LIDERANÇA HOJE sobre o movimento de revitalização da igreja. Quando foi criado o CTPI e como ele funciona? A criação do CTPI se deu através de um processo gradativo. Primeiramente, eu e dois amigos que estávamos envolvidos na plantação de novas igrejas, sentimos falta no Brasil de um espaço em que pudéssemos ouvir dos erros e acertos de plantadores mais experientes. Então, decidimos criar este espaço. Primeiro, por dois anos consecutivos, realizamos fóruns sobre plantação de igrejas em algumas capitais brasileiras. Depois, desenvolvemos um curso básico (online) para plantadores e um processo de avaliação para eles. Por fim, surgiram as conferências nacionais que têm atraído não apenas plantadores, mas pastores e líderes de diversas denominações do Brasil e exterior. O CTPI trabalha com consultores. O que eles fazem? Nossos consultores atuam em três frentes: como preletores em fóruns regionais, como avaliadores de candidatos a plantação e como instrutores em nosso curso básico para plantadores (online). Diante do atual quadro da Igreja Evangélica do Brasil, onde o CTPI precisa atuar mais? Creio que temos dois grandes desafios. Há uma parte da igreja evangélica brasileira que cresce de forma espontânea, mas com um conteúdo teológico questionável. Neste caso, o CTPI tem procurado enfatizar a importância de compreendermos e comunicarmos o Evangelho em sua totalidade. Por incrível que possa parecer, muitos obreiros de igrejas emergentes nunca tiveram a oportunidade de ouvir, teologicamente, acerca do Evangelho e suas implicações para a vida. Mas existe outra parte da igreja que se encontra estagnada e que luta para revitalizar suas comunidades locais. Neste caso, o problema central não é o conteúdo teológico destas igrejas, mas a falta de intencionalidade missional. Elas precisam compreender melhor a cultura para a qual fomos envia12 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
dos e contextualizar a linguagem e as estruturas para que nossa mensagem seja entendida. O que o líder precisa fazer e comunicar aos membros de sua congregação para que eles se engajem no ministério, criando condições para que a igreja tenha “filhas”? A revitalização de nossas igrejas começa pela revitalização da vocação e da pessoa do pastor. Temos hoje um crescente número de ‘pastores profissionais’ que não tem como avenida central de suas vidas as igrejas locais. Eles são pastores, mas estão mais preocupados com os cargos oferecidos pelas estruturas denominacionais ou com cursos que possam proporcionar a eles uma segunda carreira, dentre outras coisas. A fim de que uma igreja seja revitalizada, é necessário que seu líder demonstre, em suas palavras e atitudes, seu total comprometimento com o cuidado da igreja de Jesus e com a missão que lhe foi dada. Quanto à comunicação aos seus membros, é necessário que o pastor seja especialista na compreensão e interpretação, tanto do texto bíblico, como do contexto histórico-geográfico que sua comunidade está inserida. Seu engajamento na missão não é uma opção, mas parte de sua própria razão de ser. Como o CTPI pode ajudar as congregações a enfrentar e conquistar o mundo urbano, esse grande campo missionário que está diante de nossos olhos? Observando o que está acontecendo hoje, creio que a plantação de novas igrejas é a forma mais efetiva para o cumprimento da grande comissão. Deixe-me dar-lhe três razões para isso. Primeiramente, novas igrejas conseguem se adaptar a novas realidades culturais com maior facilidade do que igrejas mais antigas que já consolidaram sua forma de ser e fazer. Em segundo lugar, novas igrejas nascem com uma intencionalidade muito maior na comunicação do Evangelho àqueles que ainda não ouviram ou compreenderam. Elas não possuem tantas estruturas para manter ou zelar; por isso, concentram-se no que é essencial. Por fim, novas igrejas contribuem para a revitalização daqueles que, apesar de mais antigas, desejam com sinceridade serem relevantes na missão. Algumas experiências vividas em novas igrejas são, gradativamente, incorporadas na prática das antigas o que, muitas vezes, contribui com a retomada do vigor e paixão pela missão.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
13
CRESCIMENTO, UM FENÔMENO COMPLEXO
O aumento do número de evangélicos é termômetro para atuação de Deus no Brasil? Por Rubens Muzio
O
crescimento das igrejas é um fenômeno complexo. Ocorre em níveis distintos e de diferentes maneiras. Devemos aguardar que a igreja cresça? É normal crescer? Devemos antecipar o crescimento como sinal da presença do reino de Deus e considerar sua expansão como critério para medir nossa fidelidade missionária? Ou devemos conceber o crescimento da igreja como um dom recebido com elogio e gratidão, mas não esperado? Sem dúvida, a preocupação com o crescimento da igreja está na mente da maior parte dos líderes evangélicos. Você provavelmente ouviu falar que os evangélicos alcançaram a marca de 22,02% da população no censo do IBGE em 2010. Em 1970, a população evangélica girava em
14 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
torno de 4,8 milhões de fiéis. Em 1980, os evangélicos representavam somente 6,6% (7,9 milhões) dos brasileiros. Em 1991, a igreja avançava a barreira dos 13,7 milhões e em 2000, acima de todas as previsões estatísticas, a igreja ultrapassou os 26 milhões de adeptos! Durante a década de 1990, a velocidade de crescimento de evangélicos foi quatro vezes maior que a da população brasileira. Chegamos em 2010 a um contingente de mais de 42 milhões de pessoas espalhadas pelos quatro cantos do país que se identificam como evangélicas. O crescimento numérico na década atingiu 61% – uma taxa impressionante a uma velocidade fenomenal. Enquanto no hemisfério norte muitas igrejas morrem diariamente ou são transformadas em museus, escolas e clubes, no Brasil, milhares de igrejas continuam a dar sinais que o crescimento numérico ainda não chegou ao fim.
Olhando para o gráfico, você percebe que os católicos perfaziam quase 92% da população em 1970. Entre os anos 2000 e 2010, os católicos perderam milhões de adeptos, diminuindo de 73,75% para 64,63% da população. Mas a Igreja Católica não foi a única a perder fiéis. Algumas igrejas que apresentaram considerável crescimento entre 1991 e 2000, retraíram. A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) perdeu aproximadamente 229.000 participantes, a Igreja Presbiteriana (somando todas as denominações – IPB, IPI, IPR, IPU) ficou sem 59.800 membros, a Igreja Congregacional perdeu 39.245 membros e a Igreja Luterana (em todas as suas expressões – IECLB e IELB), ficou sem 62.600 membros. É verdade que, ao voltar nossos olhos para a história da igreja em Atos dos Apóstolos, encontramos vivas descrições de crescimento naqueles primeiros dias. Em Atos 2.41, três mil são adicionados à igreja. Logo depois, em Atos 4.4, o número de discípulos sobe para cinco mil. Em Atos 6.1 e 7, os crentes continuam a crescer rapidamente. Em Atos 12.24, sabemos que a prisão e a libertação de Pedro fez com que a Palavra de Deus crescesse e multiplicasse. A preocupação com a vida dos pagãos era uma das grandes forças por trás da pregação do evangelho. Havia um sentimento de urgência energizando profundamente a todos os discípulos. Entretanto, uma revisão moderada e sóbria de todas as páginas do Novo Testamento revela pouco interesse no crescimento numérico. Há uma absoluta falta de estatísticas das igrejas locais. Além disso, as referências aos milhares descritos em Atos 2, 4 e 21, não podem ser tomados em termos exatos. Elas apenas demonstram um crescimento enorme e veloz numa pequena área do globo e numa cultura específica, limitando-se principalmente ao Império Romano e suas áreas adjacentes. Temos realmente poucas informações dos métodos utilizados, os quais não preveniram o aparecimento de heresias como o gnosticismo e o donatismo. Os métodos do primeiro século também não anteciparam a grave corrupção da igreja na idade Média. O problema da “numerolatria” – a dependência excessiva dos números – foi apontado por Charles Van Engen no livro The Growth of the True Church (O crescimento da verdadeira igreja). Apesar de afirmar que o Novo Testamento tem abundantes provas de interesse pelo crescimento numérico, Van Engen sugere que somente o desejo e não a pressão pelos alvos do crescimento numérico se justifica como um sentimento válido.
As epístolas de Paulo e Pedro também não demonstraram acentuado interesse no crescimento. Não os encontramos preocupados em registrar o número de seus participantes, visitantes e membros. Sua principal preocupação está na fidelidade do discípulo e na integridade de seu testemunho, a fim de que o evangelho seja pregado, os gentios se convertam e sejam santificados pelo Espírito Santo (Rm 15.1519). Pedro anima todo cristão a se preparar prontamente e responder gentilmente quando sua esperança em Cristo for desafiada (1 Pd 3.15). No texto de Rm 15.17-23, Paulo afirma ter pregado o evangelho desde Jerusalém até Ilírico e, portanto, não havia mais espaço para trabalho nestas regiões. Obviamente, ele não está dizendo que todos os habitantes daquela região ouviram o evangelho, se converteram e tornaram-se membros de dúzias de igrejas localizadas em todas as ruas e avenidas, como nos dias de hoje. Considerando o que sabemos sobre a teologia pastoral de Paulo, ele estava lembrando que igrejas foram plantadas nestas regiões como primícias, dádivas aos gentios. O nascimento delas era o fruto de seu trabalho. Quando a comunidade cristã começasse a existir, seu trabalho estaria concluído. Outros poderiam chegar e edificar sobre a fundação, como Apolo (1 Co 3.5-15). Paulo sentia que sua missão estava concluída sempre que houvesse uma comunidade que reconhecesse Jesus Cristo como supremo Senhor da vida. Ele entregava toda a responsabilidade para a liderança local e logo partia para outra cidade sem criar vínculos financeiros com as novas igrejas. Mais importante de tudo talvez seja o fato que Paulo não impunha sobre eles nenhum tipo de visão ou ministério, nem os treinava para a multiplicação de sua estrutura missionária ou denominacional. Não encontramos nem tanta ansiedade nem tanto entusiasmo diante do crescimento numérico, mas sim uma constante preocupação com a integridade do evangelho. Com frequência, vemos igrejas em todos os lugares esquecendo que o Novo Testamento não focaliza os resultados das atividades ministeriais: voltam-se mais para si mesmas, distanciando-se do mundo e priorizando o desenvolvimento de sua comunidade com vistas a tornarem-se mega, influente e big. O pressuposto básico resume-se a uma frase: “Deus requer o crescimento da igreja”. O propósito principal e insubstituível da missão tornou-se o crescimento numérico da igreja. Vivemos um evangelho vertical. Classificamos de secundários temas ligados à transformação social, tais Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
15
• Forte liderança leiga: As igrejas destes movicomo justiça pública, paz social e o cuidado com os mais mentos são conduzidas eficazmente pelo princípio pobres e carentes da sociedade. O resultado é uma prádo sacerdócio universal – pastores e líderes não-protica de missão orientada pelos resultados e estatísticas, fissionais, ou seja, não sustentados pela igreja local. enfatizando uma evangelização que não impõe muitas obrigações cristãs. Enfoca simplesmente os benefícios • Metodologia de igrejas-casas: A maioria dos individuais da salvação e visa ajudar apenas as pessoas movimentos começa com pequenos grupos de a terem um ticket de entrada nos céus. O crescimento comunhão ou células reunidos nas casas de aminumérico se baseia muito mais na análise sociológica e gos sem imediata preocupação com a compra ou antropológica e nas estratégias derivadas da administraconstrução de prédio. As responsabilidades da lição e do marketing, produzindo um espaço para muita derança permanecem pequenas e administráveis, ansiedade sobre o fracasso e imenso orgulho e vaidade o nível de prestação de contas e cuidado dos diante do sucesso. membros aumenta exponencialmente. É O crescimento, entretanto, não é um de fácil multiplicação. fenômeno simples. Encontrei algumas vezes David Garrison e conversei • Igrejas plantando igrejas ramuito com ele sobre os moviA preocupação com a pidamente: O movimento atinge mentos de plantação de igrejas a plenitude e vigor total quando ocorridos na Índia, China e em vida dos pagãos era uma começam a se multiplicar, geoutras partes da Ásia, África, das grandes forças por trás rando igrejas filhas e netas de Américas e Europa. Em seu modo veloz, com senso de urlivro Church Planting Moveda pregação do evangelho. gência, diferente dos modelos ments, após uma cuidadosa Havia um sentimento de tradicionais. análise dos vários movimentos contemporâneos, ele concluiu urgência energizando • Igrejas saudáveis, mais vique alguns elementos estariam profundamente a todos brantes espiritualmente, mais visempre presentes: vas – com uma Palavra mais eficaz, • Um extraordinário níos discípulos alegria mais intensa, amor mais provel de oração, que se tornou fundo, mesmo em meio à perseguição. prioridade em todos os movimentos estudados, enfocando intencionalVocê percebe que o crescimento quantitatimente a intercessão pelos plantadores de vo liga-se indissociavelmente ao crescimento qualitatiigrejas, pelos não-cristãos, novos convertidos, e pelo vo. O aumento do número é um processo integral, e maenvio de mais obreiros. nifesta-se em todos os níveis. Como um organismo vivo, a igreja cresce normal e consistentemente. O crescimen• Abundante evangelismo, refletido num imenso to faz parte da sua vida. Deixar de crescer seria deixar número de pessoas evangelizadas, grande quantidade existir. Contudo, nem todo crescimento é saudável de de sementes lançadas e conseqüentemente um para o organismo. Há diferentes tipos de crescimento: maior número de convertidos. Quanto mais semear, demográfico, biológico, emocional, psicológico, cultumaior será a colheita. ral, econômico, social, institucional, e assim por diante. E dentro de cada um desses aspectos existem as qualida• Plantação intencional de igrejas multiplicades de crescimento: positivo ou negativo, bom ou ruim, doras: igrejas que progridem com um compromissaudável ou patológico. so deliberado, intencional e intenso na plantação de Na verdade, o organismo pode enfrentar toda sorte de igrejas reprodutivas. perigo que causa deformação no seu crescimento e que pode levá-lo fatalmente à morte. O risco da erva daninha, • Autoridade da Palavra de Deus: A do joio no meio do trigo da deformação, do hediondo, do centralidade nas Escrituras impede que a canceroso, está sempre rondando a igreja. Precisamos de igreja nascente, com o passar dos anos, se um sistema de crescimento integral. Orlando Costas me fragmente com heresias, suportando assim parece ser o melhor modelo de avaliação quanto ao crescio contra-ataque do diabo. Rubens Muzio mento de uma igreja local, dentro do contexto latino-amerié coordenador do Projeto Brasil 21, cano. Segundo Costas, o crescimento detém quatro dimen• Formação natural da liderança local, líder da Sepal em sões: numérico (o mais básico, refere-se à reprodução e rapidamente desenvolvendo novos líderes Londrina (PR) e autor de livros como incorporação de novos membros à comunidade); orgânico locais e regionais e confiando a eles o futuO DNA da Igreja e O (o desenvolvimento da liderança da igreja, de sua forma de ro do movimento. DNA da vida cristã 16 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
CRESCIMENTO, UM FENÔMENO COMPLEXO
governo, administração, recursos e talentos); conceitual (o desenvolvimento da compreensão da fé cristã, existência e razão de ser, conhecimento das Escrituras, vocação na sociedade, compreensão da história e interação com o contexto ao redor) e diaconal (a intensidade do serviço prestado ao mundo, participação na vida, conflitos e temores da cidade, desenvolvimento na qualidade do serviço que ajuda a aliviar as dores humanas e a transformar as condições sociais ao redor). Para o bom desenvolvimento da igreja, todas essas dimensões devem caminhar simultaneamente, desenvolvendo-se ao mesmo tempo: recebendo novos membros, expandindo-se internamente, aprofundando seus conhecimentos da fé e servindo ao mundo. Porém, a igreja cresce qualitativamente quando, em cada uma dessas dimensões, ela reflete espiritualidade cristã, encarnação do evangelho e fidelidade a Deus. Sem eles, o crescimento numérico, por si só, converte-se em obesidade, o orgânico em burocracia, o conceitual em abstração teórica e o diaconal em ativismo social. Portanto, você deve cuidar para que sua igreja – ministérios, projetos e eventos – cresça simultaneamente nas quatro dimensões. Tragicamente, o crescimento numérico tornou-se o aspecto mais importante da evangelização. A cultura contemporânea enfatiza o imenso, o agitado, o badalado. Frequentemente, a igreja caminha pela senda perigosa das
grandes conferências, impressionada com marchas, enamorada dos grandes templos e fascinada pelos programas de televisão e por cargos políticos. Por trás da sedução trazida pelos resultados, prosperidade e sucesso, encontra-se a realidade íntima dos problemas emocionais, tentações sexuais, conflitos familiares e crises existenciais. Suas divisões e escândalos são também do tamanho dos seus templos: colossais, hercúleas, excedendo física e emocionalmente os limites suportáveis pela maioria dos seus líderes, que, em geral, estão despreparados espiritualmente para enfrentá-los. A quantidade do crescimento não garante a bênção de Deus ou a fidelidade da igreja. Vários fatores históricos, sociológicos, antropológicos, religiosos e culturais estão na equação do crescimento. Ele torna-se facilmente distorcido quando o foco é colocado nos números, estatísticas e resultados. Não deveríamos usar o crescimento numérico como termômetro para a medição da presença ou não de Deus. Quando olhamos para o reino de Deus e sua centralidade na vida, morte e ressurreição de Jesus, devemos abandonar essa ênfase nos projetos e sucessos pessoais. O horizonte que visualizamos é a vinda do reino e a consumação da história em Cristo. Tudo o que importa é a glória de Deus e, portanto, o crescimento saudável sempre será o penúltimo objetivo, completamente secundário à glória do Senhor.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
17
Plantando e aprendendo
A importância do trabalho ministerial em quatro vertentes: foco, criatividade, excelência e cooperação Por Fabrini Viguier
18 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
H
á 18 anos tenho viajado pelo Brasil e exterior à procura de bons modelos de plantação de igreja e também de líderes nos quais encontre inspiração. Enquanto pastor-plantador aprendi uma série de coisas que apenas a experiência pode ensinar. O seminário foi importante, mas algumas lições foram assimiladas fora da sala de aula. E estou convencido que os bons resultados alcançados na Igreja Plena de Icaraí, em Niterói (RJ), além da graça de Deus, são frutos do aprendizado sobre a importância de se trabalhar em quatro vertentes: foco, criatividade, excelência e cooperação. É sobre elas que escrevo aqui.
Foco Para os pastores de nossa igreja, foco é sinônimo de força. Quando qualquer pastor olha ao seu redor percebe que sua área de atuação profissional é bastante ampla. O mundo padece de vários males: perdição espiritual, crianças abandonadas, jovens na criminalidade, adultos drogados, famílias despedaçadas, corrupção em várias esferas, bolsões de pobreza em centros urbanos... Diante de tanta demanda, alguns pastores, movidos pelas melhores intenções, acabam atendendo a muitos e diferentes apelos. Isso, inevitavelmente, os leva a um ministério disperso marcado por frustração e exaustão. Ser focado é ser responsável para com o chamado divino. É saber, com segurança, quais são seus pontos fortes, aquelas características que o fazem realizar muito bem certas tarefas. Os autores Marcus Buckingham e Donald Clifton afirmam, em seu livro Descubra seus pontos fortes, que a pessoa descobre suas maiores qualidades quando desempenha de forma estável e quase perfeita uma determinada atividade. Segundo eles, a pessoa também descobre isso quando faz a si mesma a seguinte pergunta: Eu seria capaz de realizar essa mesma tarefa repetidamente com alegria? Uma vez convicto de suas virtudes, cabe ao pastor fortalecer e proteger esses dons dados por Deus e, assim, trabalhar focado em atividades que demandem o uso de suas habilidades especiais. Mas não só os pastores devem trabalhar com foco, mas também as igrejas. Na Igreja Plena de Icaraí, assumimos a verdade de que jamais seremos tudo para todos. Portanto,
é crítico que o líder do rebanho discirna se a congregação que se encontra sob sua responsabilidade foi vocacionada, por exemplo, para evangelização, educação, adoração ou assistência social. A partir daí, a comunidade deve trabalhar focada em seus pontos fortes.
Criatividade Uma das tendências de igrejas que atravessam décadas de existência é a criação de suas próprias tradições. Estas são importantes sempre que servem às causas da integridade e da qualidade. Porém, quando passam a ter valor em si mesmas, tornam-se uma espécie de âncora que impede a comunidade de continuar navegando livremente pela sociedade. Em um encontro com o pastor batista norte-americano Ed Stetzer, ouvi dele algo muito interessante sobre tradição. Segundo ele, as igrejas precisam fazer distinção entre a tradição com T (maiúsculo) e aquela com t minúsculo. A âncora é justamente a tradição com t minúsculo. A mentalidade inovadora está presente em nações prósperas que nos servem de estímulo. Para constatar isso, basta comparar países de democracia amadurecida, onde a criatividade é incentivada, com nações governadas por ditaduras tirânicas, onde a originalidade é combatida. Onde existe estímulo à inovação, há progresso. Onde não há, impera a miséria. É simples assim. Todos nós brindamos inovações que tornam a vida melhor. Produtos eletrônicos, meios de transporte, métodos de reciclagem de lixo, tratamentos de doenças mais efetivos e muitas outras coisas têm avançado por conta do estímulo à inovação. Somente a inovação promove o aprimoramento. E, acredite: é possível ser inovador sem ter de abrir mão da boa tradição. Lembremos o quanto foi importante para a nossa fé a inovação da escrita. Antes dela, o que havia era a tradição oral. Imagine se os grandes homens de Deus do Velho Testamento, apegados à tradição oral, tivessem resistido a essa gloriosa inovação na maneira de preservar a história! No ambiente cristão, inovação se traduz em contextualização. Portanto, trato esses termos como sinônimos. Numa conversa com o pastor Ziel Machado, ouvi dele a afirmativa de que “a Igreja precisa aprender a gramática de sua cidade”. A Igreja do Senhor Jesus vem prosperando de século em século, dentre alguns fatores, também por sua incrível capacidade de contextualização cultural. Dos tempos dos apóstolos aos dias de hoje, a maneira como os crentes vivem sua fé mudou incrivelmente. Em outras palavras: a contextualização faz parte da tradição da igreja de Cristo. Essa é a tradição com T maiúsculo. Uma vez estabelecidos e
Ser focado é ser responsável para com o chamado divino. É saber, com segurança, quais são seus pontos fortes
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
19
respeitados os limites doutrinários e éticos, cabe aos pastores escolherem criativamente a melhor roupagem para apresentar o evangelho às pessoas. Quando existe um ambiente de incentivo à criatividade, a contextualização se encarrega de criar meios de ligação entre a igreja e a sociedade. Criar maneiras eficazes e éticas de se comunicar o Evangelho é uma obrigação de todos que desejam ver o Reino progredir.
Excelência Segundo os dicionários, excelência é aquilo que tem qualidade muito superior, aquilo que excede, que está acima da média. O Deus a quem servimos faz todas as coisas com excelência. Basta ver a criação que nos rodeia para chegar a essa conclusão. Existem pessoas que acreditam que excelência é algo que interessa apenas ao mundo corporativo, das empresas. Outras acham que a excelência faz parte somente do mundo das pessoas ricas. E ainda há aquelas que consideram esnobes as pessoas excelentes. São visões equivocadas. Excelência tem a ver com pontualidade, organização, higiene, integridade, dentre outras coisas. Uma dona de casa excelente não tolera sujeira nos banheiros da igreja. Um advogado excelente não suporta por muito tempo uma igreja que, por acomodação, não sai da informalidade jurídica jamais. Percebi, ao longo do meu processo de plantação, que o compromisso com a excelência começa com o pastor e não com os membros. Durante meus primeiros anos à frente da igreja, preguei vários domingos cheirando a água sanitária. Como havia assumido comigo mesmo o compromisso de oferecer às pessoas uma igreja limpa e organizada, e não tendo condições de pagar alguém para que cuidasse dessas coisas, eu mesmo varria, lavava e arrumava tudo. Enquanto passava pano nos banheiros, vi meu compromisso com a excelência ganhar mais importância em minha vida. Hoje, eu posso pedir com tranquilidade a todos que servem comigo que se empenhem na busca pela excelência.
Na Igreja Plena de Icaraí, sabemos que se não investirmos na contratação de pastores de boa qualidade, não daremos conta das exigências geradas pelo progresso. Com a sobrecarga do pastor, a qualidade de seu trabalho fica comprometida, gerando insatisfação tanto para ele quanto para o membro mal atendido. Esse movimento tende a se transformar num ciclo vicioso em que o pastor saturado de trabalho, membros mal assistidos e ministérios negligenciados geram um ambiente marcado por frustrações e pouca esperança. Desse modo, em virtude da falta de mão-de-obra qualificada, o crescimento da igreja acaba sendo comprometido. Também acreditamos que o contrário é verdadeiro. Quanto mais a igreja investe na contratação de bons pastores, mais crescimento saudável ela irá usufruir. É preciso que a liderança e os membros vejam o cenário a longo prazo. Quanto melhores e mais numerosos forem os pastores de tempo integral, melhor será o serviço prestado aos membros. Ao serem bem pastoreados, os membros tendem a se envolver mais com os projetos da igreja. Então, abre-se caminho para um ciclo virtuoso capaz de manter o crescimento da igreja sólido e saudável por um longo período de tempo. Na igreja somos quatro pastores cuidando de aproximadamente setecentas pessoas. Procuramos seguir as orientações do pastor Tim Keller, da Redeemer Presbyterian Church, de Nova Iorque (EUA). Em seu artigo Leadership and church size dynamics, Keller afirma que para uma igreja se manter crescendo é fundamental que continue investindo na contratação de pastores. Ele sugere ainda que, em uma comunidade de quinhentos membros, é ideal que se tenha de dois a três pastores de tempo integral. Em nossa igreja não usamos o termo “auxiliar” para designar pastores. Respeitamos nossos queridos colegas que usam essa palavra, mas, ao invés de designarmos o outro dessa maneira, preferimos acrescer um vocábulo ao título que represente as áreas pelas quais o pastor é responsável. Por exemplo: na igreja, eu sou o pastor de pregação e ensino. Todo assunto referente a esses dois temas são de minha inteira responsabilidade. O José Martins é pastor de congregação, responsável pelo aconselhamento e discipulado; o Douglas Queiroz, pastor de ministérios; e o Roberto Assis, pastor de integração, que cuida de grupos que facilitam a ligação entre a igreja e as pessoas nos cultos e fora da igreja. Cada um de nós tem ainda mais duas grandes áreas de atuação. Com essas divisões de responsabilidades, sabemos exatamente o que devemos fazer no decorrer de nossas atividades. Essa distribuição de tarefas tem gerado entre nós
Percebi, ao longo do meu processo de plantação, que o compromisso com a excelência começa com o pastor e não com os membros
Cooperação Fabrini Viguier
é pastor da Igreja Plena de Icaraí, em Niterói (RJ), e consultor do Centro de Treinamento para Plantadores de Igreja (CTPI)
O crescimento numérico de uma igreja não aumenta apenas a quantidade de demandas, mas também a complexidade dos desafios. Daí a crítica necessidade de se ter uma equipe de pastores que trabalhem em cooperação.
20 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
um saudável ambiente de trabalho, melhorando bastante o nosso serviço à igreja.
Uma última palavra Numa pequena reunião para plantadores de igreja em Boca Raton, Flórida (EUA), pude ouvir o pastor Mark Driscoll (da Mars Hill Church) dizer que as esposas dos pastores desempenham um importantíssimo papel na vida de seus maridos. Driscoll nos dizia que nossas mulheres exercem o ministério da intimidade. Queria dizer que a esposa do pastor é aquela com mais acesso ao líder da igreja. Em momentos bons e ruins, e de forma muito profunda, a esposa de um pastor tem condições de ajudá-lo numa medida sem paralelo. Inúmeras vezes, o pastor precisa tomar decisões. E a coisa mais difícil não é dizer, por exemplo: iremos para direita ou para esquerda. Mas sim, lidar com as conseqüências dessas opções. Em certas etapas do processo, as escolhas que um pastor precisa fazer o colocam sob uma tremenda pressão. É nessas horas, sobretudo, que a mulher do pastor entra em cena. Ela pode – e deve – apoiar, corrigir, consolar, discordar e advertir seu marido como nenhuma pessoa de fora conseguiria. Depois de 18 anos de casamento com Viviany, vejo o quão importante é o matrimônio para um líder. O trabalho pastoral é muitíssimo demandante e se torna ainda mais complexo se o ministro partir para plantação de uma nova igreja. Como pastor-plantador, tenho absoluta cer-
teza de que meu bom casamento, dentre outros fatores, foi fundamental para o êxito da Igreja Plena de Icaraí. Sempre chego a minha casa com a boa expectativa de que meu fim de dia será revigorante. Quando o assunto é o bem-estar de meu casamento, assumo a responsabilidade de preservá-lo com zelo. Além de um dia a dia regado por atenção e boa comunicação, tenho com Viviany um compromisso semanal em que tomamos o café da manhã juntos, passeamos e fazemos a nossa devocional. Esse dia é a segunda-feira e, por isso, uso o esboço de meu sermão do domingo anterior como base de nossa devoção a Deus. Enquanto compartilho o texto com ela, ouço com atenção suas colocações. Depois, oramos juntos por nós, nossos filhos e pela igreja. Assim, vou cuidando de minha ovelha mais preciosa, para que ela também cuide de mim e, juntos, cuidemos de nossos amados filhos Camila e João Felipe. Dessa forma, a igreja vai sendo conduzida por um homem realizado no casamento e na família. Como disse no início desse artigo, aprendi essas lições enquanto trabalhava. A experiência prática tem um valor inestimável. Tenho a grande alegria de caminhar com colegas de ministério que trabalham com foco, criatividade, excelência e cooperação. Espero sinceramente que esse artigo lhe sirva de inspiração e encorajamento para construção de uma igreja saudável e capaz de fazer de você um líder realizado.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
21
IGREJA:
SEMENTES E FRUTOS Pastores relatam suas experiências na plantação de igrejas e falam do crescimento de suas congregações
P
lantar a semente é uma coisa, regar e fazer dar fruto é outra, bem diferente. Nesta edição, trazemos os testemunhos de cinco pastores os quais vivenciaram situações dramáticas na dura tarefa de aumentar o número de membros de suas congregações.
Todo mundo gosta de piscina
jogá-las no fundo. Afinal de contas, o fundo é o lado certo da piscina. Será? Nas igrejas que conheci são os membros mais rasos que produzem mais fruto. Isso é verdade se definirmos fruto como sendo ganhar pessoas, evangelizar, ou trazer pessoas novas à igreja. Baseado na minha experiência, posso dizer que esse tipo de fruto ocorre naturalmente com pessoas que estão na igreja há menos de nove meses. É nesta fase que se lembram odo mundo gosta de piscina. Eu, particularmente, claramente de o Senhor ter falado com elas na igreja. Daí, gosto muito mais de piscina do que de praia. Todos dizem aos seus amigos, com uma paixão indomável, que a gostam de piscina: os que gostam de nadar e aqueles igreja é o melhor lugar do mundo e que eles precisam vir. que não sabem ou têm medo de nadar. Mas ninguém É interessante que, para efeitos de crescimento da gosta de guarda-vidas com complexo de autoigreja, são os que estão “na parte rasa da pisciridade, de carteirinha. É a pior coisa numa na” que mais colaboram para isso. Portanto, piscina. Na igreja também. Muitos filhos de O fruto do mais uma razão para focar no raso e fazer Deus têm sido apascentados por pastores, com que seja uma parte excelente da igreja. líderes de células ou discipuladores que crente raso é A chave para o crescimento é motipossuem o complexo de guardião. Os noganhar pessoas, o var os crentes rasos a ganhar outros. O vos têm sido lançados para o fundo antes do crente maduro fruto do crente raso é ganhar pessoas, da hora e saído da piscina chorando. Por é discipular e o do crente maduro é discipular e servir isso, nunca mais voltam à piscina. à igreja. Todos produzem fruto, mas nem Assim também é na igreja. E um dos servir à igreja sempre do mesmo tipo. elementos mais importantes para uma igreExistem duas filosofias básicas de consja-piscina é concentrar-se na parte rasa – que trução de igrejas que governam sua visão. Elas atrai os novos que não sabem nadar. A razão pela são radicalmente mais importantes do que células, qual tantas igrejas param de crescer é que recebem as eventos, discipulado ou qualquer outra estrutura de crescipessoas na parte rasa da piscina e, depois de terem 50 demento. A primeira filosofia é: Venha para esta igreja, aprenlas ali, o pastor se concentra exclusivamente em levá-las da e aja conforme esta visão. Assim, nossa igreja cumprirá para o meio e para o fundo. Muitas igrejas têm 50 membros o chamado de Deus e juntos alcançaremos tudo que Ele no fundo da piscina. tem para nossas vidas. A segunda é: Você tem um chamado Uma igreja que cresce deve ter um lado raso na piscina, único de Deus. Venha para nossa igreja e ajudaremos você pois é isso que atrai novas pessoas. O fundo é importante a descobri-lo, pois o propósito dela é a soma de todos os para os membros, porém o raso é essencial para os que ainchamados exclusivos dos membros. da não são da igreja. É natural que todo pastor se concenA primeira filosofia foca em unidade e conformismo. tre no fundo, já que é onde nós pastores nos encontramos. Essas características são capazes de motivar crescimento É tão bom e prazeroso que queremos que todos estejam rápido, mas, às vezes, não são sustentáveis. Uma floresta lá. Quando vemos crianças no rasinho, temos vontade de
T
22 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
de eucalipto é análoga à primeira filosofia (“vamos treinar todos os membros da igreja para serem iguais”). Por outro lado, a Floresta Amazônica, cujas árvores são diferentes, representa a segunda filosofia. Particularmente, acho que Deus projetou a igreja mais como a nossa floresta tropical. No início da nossa igreja, aderimos à primeira filosofia. Éramos uma congregação radicalmente fechada em uma visão bastante clara, porém rígida. Cada membro precisava de um discipulador exclusivo e entender que, para fazer a vontade de Deus, devia ser um líder. Hoje, entretanto, estamos caminhando com um plano-piloto, testando uma reforma total de métodos em nossa igreja. Não queremos forçar todos a serem iguais ou terem o mesmo ministério. Cremos que isso é chato, triste e antibíblico.
Ao invés disso, queremos celebrar a diversidade, estimular relacionamentos, discipular no fazer, e servir radicalmente a comunidade. Não sei se vai funcionar. Afinal de contas, não sou eu quem faço crescer a minha igreja, mas Jesus que faz crescer a igreja dele. Porém, de uma coisa eu sei: estou me divertindo muito e, finalmente, estou numa igreja que tem as características de uma piscina. Philip Murdoch é fundador e pastor da Igreja Luz às Nações. É casado com Renée e tem quatro filhos (Julia, Micah, Caroline e Ethan).
Mudanças de paradigmas
A partir de então, começaram a surgir os primeiros convites de igrejas e pastores para compartilhar a nossa experiência. Em 1996, fui a um congresso de células de uma igreja menonita no estado da Virginia (EUA), onde conheci o Pr. Dion Robert, da Costa do Marfim, e o Dr. Bill Beckham. Foi naquele congresso que pude compreender o quebra-cabeças do funcionamento de uma igreja em células em sua totalidade. Aprendi, por exemplo, que mudanças de paradigmas e a asci na Áustria, em um campo de refugiados da desconstrução de conceitos levam tempo. Cruz Vermelha. Meus pais eram fugitivos da perEm 1997, convidei o Dr. Bill Beckham para falar sobre seguição comunista do Leste Europeu. Viemos ao a visão e a estrutura de uma igreja em células. Foram reaBrasil como imigrantes quando eu tinha três anos de idade, lizados encontros em Pompéia (SP), São Paulo (SP), Porto em 1953. Meus ancestrais eram do movimento da Reforma Alegre (RS) e Curitiba (PR). Participaram daqueles evenAnabatista do século 16. tos cerca de 1.500 pessoas, entre pastores e líderes, das Aos 18 anos, fui estudar Teologia em Curitiba (PR) mais diversas denominações. Percebemos que no Seminário dos Irmãos Menonitas. Casei-me havia amadurecido a ideia para que começásaos 20, e minha esposa veio estudar comigo. semos um treinamento sistemático para as Ao terminarmos o seminário, fomos trabaNossa igrejas que estavam dispostas a fazer uma lhar na igreja de uma colônia menonita visão como transição para células. no Sul do Brasil. Lá fiz faculdade, me forministério é o Fizemos entre novembro de 1997 e mando em Letras. novembro de 1998, a primeira série de Após cinco anos, fui convidado pela retorno da Igreja à treinamentos com o Dr. Ralph Neighbour denominação a fazer meu mestrado nos comunidade cristã e o Dr. Bill Beckham. Foi uma grande Estados Unidos. Durante esse período, fiz de base do Novo surpresa ver em torno de 300 pastores e um curso de Evangelismo por amizade por líderes de todas as regiões do Brasil vir a meio de grupos pequenos com o Dr. Ralph Testamento Curitiba. Percebemos nitidamente que era Neighbour. Após os estudos, de volta ao Brao kairós de Deus para o Brasil. Demos a parsil, fui pastor auxiliar da Primeira Igreja Irmãos tida no Ministério Igreja em Células, o qual envolMenonitas do Boqueirão, na capital paranaense, que via a publicação de livros e treinamentos. Comecei a viajar tinha, à època, somente cultos em alemão. Iniciamos um para todo o Brasil levando esse movimento, que o Dr. Bill grupo de discipulado com seis casais jovens, estudando os Beckham chama de A segunda Reforma, título de seu livro. materiais do Dr. Ralph Neighbour, por cerca de seis meses, e De lá para cá, já foram treinados mais de 16.000 pasiniciamos um culto em português aos domingos à noite. Era o tores e líderes no Brasil e no exterior. Estamos iniciando ano de 1984, começando um trabalho com grupos pequenos. um movimento de coaching de pastores e igrejas em três Em 1994, tive o privilégio de ir a Cingapura e lá permaregiões do Brasil. Há 12 anos realizamos congressos naneci por seis semanas em uma Igreja Batista onde o Pr. Lacionais de células em Curitiba e, depois, passamos a fazer wrence Kong recebia, do Dr. Ralph Neighbour, uma assesesses encontros em Águas de Lindóia (SP). Mais tarde, fisoria para fazer a transição para células. Pela primeira vez, zemos esse tipo de evento também em Manaus (AM). Em via uma igreja experimentando relacionamentos pela vida março deste ano, fizemos duas edições do congresso – a em comunidade em grupos pequenos. Aquela experiência primeira em Belém (PA) e a segunda em Águas de Lindóia. revolucionou a minha vida, ministério e igreja. De lá, trouNossa visão como ministério é o retorno da Igreja à comuxe os materiais de discipulado e treinamento de líderes e nidade cristã de base do Novo Testamento – cada casa uma comecei a traduzir muito do que havia no ramo.
N
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
23
Igreja, cada membro um ministro –, vivendo em Cristo de casa em casa e na grande congregação. Hoje, oferecemos cinco módulos de treinamento com uma equipe de instrutores para o ensino e acompanhamento das igrejas, auxiliando na visão, facilitando a compreensão dos valores e estruturas e fornecendo ferramentas e suportes para o ministério. Que o Senhor do Novo Testamento nos ajude ao retorno de seus valores e práticas!
Surpreendidos pela graça de Deus
Pr. Robert Lay é pastor da Igreja Evangélica Irmãos Menonitas de Curitiba e coordenador do Ministério Igreja em Células; é casado com Alzira, tem quatro filhos e três netos.
Com o novo ânimo da igreja, iniciamos um projeto de plantação de igrejas na região mais nobre da cidade, empregando o sistema de igreja multi-local. Eu pregava o mesmo sermão em dois lugares diferentes: na nova igreja, às 18h30, e na sede, às 19h30. Obviamente, chegava atrasado a todos os cultos da sede. Recentemente, a nova igreja convidou o novo pastor indicado por mim, tornando-se independente da sede. Iniciamos outra congregação que, com a graça de Deus, dentro de dois anos será também organizada. Temos ainda um missionário em uma cidade histórica e turística da região, e estamos construindo um templo moderno naquela m 2003, depois de passar quase nove anos nos Escomunidade. Em todas as direções, os avanços missionátados Unidos, decidi que era a hora de retornar ao rios têm sido positivos – 10% de nossa arrecadação segue Brasil. Recebi algumas sondagens, mas acabei aceipara o departamento missionário, estamos sustentando dois tando o convite de uma igreja que não tinha um currículo obreiros em tempo integral e somos parceiros em outros 27 muito atraente: sofrera duas divisões em apenas seis anos. ministérios ao redor do mundo. Era uma igreja de origem conservadora e um grupo haUma das coisas que temos priorizado é o treivia saído porque julgara que ela se tornara muito namento de novos lideres. Dos 18 diáconos da carismática. Três anos depois da primeira igreja, só temos um da antiga geração: todos cisão, outro grupo decidiu ir embora Quando os demais se tornaram membros depois porque o pastor entrou em choque com a igreja tem que assumi o pastorado. Todos os anos, a liderança remanescente. paz e se encontra escolho alguns homens com potencial de Na conversa preliminar que tive, motivada, passa a liderança e lhes pergunto se gostariam ouvi daqueles desanimados presbíde gastar um semestre, ao meu lado, em teros a mesma coisa: todos estavam falar bem de si mesmo, uma caminhada de treinamento. pensando em deixar a liderança dasua moral cresce, e as Nossa arrecadação subiu 6.572% quela igreja. Mesmo diante daquele pessoas são atraídas entre 2003 e 2012, pulando de 25 mil quadro, aceitei o convite para pastoreais para 1,6 milhão. Nosso templo, rear aquela comunidade que perdera pelos próprios localizado no centro da cidade, tem casistematicamente muitos membros e membros pacidade para apenas 600 pessoas. No iníque tinha uma arrecadação desanimadocio deste ano, a assembléia da igreja decidiu ra. Lembro-me que até agosto daquele ano, comprar uma área de 7.155 m², com acesso rápido ainda recebia o meu salário fragmentado, pois a pela principal via da cidade, e naquele local pretendemos tesouraria nunca possuía recursos para pagá-lo integralconstruir em breve um novo santuário. Nosso alvo é termente. mos estrutura moderna com amplo estacionamento e um Apesar de todas as dificuldades iniciais, a igreja cometemplo com capacidade de acolher 1.800 pessoas. çou a demonstrar sinais de vitalidade. Naquele ano, receOlhando para esses números, entretanto, é preciso fabemos 53 novos membros. De lá para cá, todos anos temos zer algumas considerações. Entendo que crescimento de recebido em média 60 novos membros – um número exigreja é obra de Deus. Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é pressivo para igrejas conservadoras. Em 2012, recebemos quem dá o crescimento. Portanto, só Deus pode fazer algo mais de 100 novos membros por batismo e transferência. relevante. Tenho aprendido, porém, que crescimento gera O resultado tem sido animador. desconforto, traz mudanças. Nossas estruturas estavam muito arcaicas, e resolveErwin MacMannus afirma que, sendo a igreja um ormos construir um prédio de seis pavimentos, o qual tem ganismo vivo, apresenta algumas características como elevador e estrutura moderna, garagem e uma cobertura. adaptabilidade ao ecossistema, capacidade de reprodução Encontra-se em fase de acabamento, mas nosso salão soe nutrição, e, se tem saúde, o crescimento será espontâneo. cial já está pronto, assim como nosso departamento infanDevemos esperar, orar, trabalhar e crer que é possível a til. Atualmente temos 132 crianças e cerca de 800 novos revitalização e o crescimento da igreja. membros na comunidade.
E
24 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Igreja: Sementes e Frutos
Quando me perguntam qual é o segredo, afirmo que, quando a igreja tem paz e se encontra motivada, passa a falar bem de si mesmo, sua moral cresce, e as pessoas são atraídas pelos próprios membros. Igrejas com auto-estima baixa, contudo, assumem um estilo novelesco de comunidade, criam estreiteza teológica, perdem a ideia de excelência e se conformam em viverem de forma medíocre e pequena.
Samuel Vieira é pastor efetivo da Igreja Presbiteriana de Anápolis (GO) e professor no Seminário Presbiteriano Brasil Central; casado com Sara e pai de dois filhos (Priscila e Mateus)
Crescimento saudável da igreja
N
Paulo nos últimos 16 anos. Quando assumi, era uma boa igreo início da década de 1980, chegavam ao Brasil – baja de estrutura tradicional em transição, com 600 membros, sicamente dos Estados Unidos e da Ásia – os venmas que funcionava através de uma organização muito pesatos do movimento de crescimento de igrejas. Estada e centralizada. Hoje, a igreja conta com mais de 7.000 disbelecidas por jovens pastores abnegados e visionários que cípulos e é uma igreja operante, forte, saudável e crescente. deixaram suas denominações históricas e aderiram àquele Há 13 anos, temos aplicado os princípios da Igreja com promovimento, as novas igrejas comunitárias baseavam-se em pósitos. Temos mais de 460 pequenos grupos, organizados em evangelismo contextualizado, pregação bíblica prática, lourede. Agora, nosso foco é a implementação do MDA, modelo vor comunitário com bandas, forte ministério com jovens, desenvolvido pelo Pr. Abe Huber para discipular de forma estruturas mais leves e administração menos burocratizada. pessoal e individual toda a igreja. O resultado não poderia ser outro: as igrejas cresceram exDescentralizamos as celebrações e ministérios da Igreja ponencialmente a partir das capitais. através da estratégia de multicampi na cidade – atualmente Passados mais de 30 anos, a maioria dessas igrejas – initemos seis diferentes lugares – e contamos hoje, cialmente locais – deram lugar a novas denominaapós dois anos de implementação desse modeções que se espalharam por todo o país, com lo, com oito igrejas em diferentes cidades e seus acertos e erros, e influenciaram direAgora uma rede de mentoreio que inclui 130 igretamente as igrejas convencionais. Hoje, não podemos jas em todo o país. temos uma nova realidade: ao falar de mais afirmar Agora não podemos mais afirmar igreja que cresce, não necessariamensimplesmente simplesmente que desejamos ver o te tratamos de igreja saudável. crescimento da igreja. Precisamos Nos dias atuais, depois do advenque desejamos ver de congregações contextualizadas to da Igreja Universal e de suas vao crescimento da e saudáveis. Por isso, escolhi trabariantes, existem duas “realidades”: igreja. Precisamos lhar dentro dos princípios de Igreja de um lado, o crescimento do superde congregações com propósitos, uma filosofia minismercado da fé (igrejas que cresceram terial que leva a comunidade eclesiásmuito numericamente nas sedes e nas contextualizadas tica a crescer de fora para dentro – e franquias, mas, contudo não apresene saudáveis não de dentro para fora. Uma das coisas tam um crescimento integral do evangelho mais fantásticas desse movimento é a fácil na vida das pessoas e na sociedade); e igreadaptação e contextualização dos seus princíjas que têm produzido fruto, cumprindo o Granpios à realidade de cada igreja local. Isso porque não se de Mandamento (Mt 22.37-40) e a Grande Comissão (Mt trata de um modelo eclesiástico ou de um simples para28.19,20), gerando saudáveis discípulos de Cristo e enviandigma baseado em alguma filosofia humana. Ter a própria do missionários a todas as nações. De outro lado, temos vida e uma igreja dirigida pelos eternos propósitos de as igrejas históricas denominacionais, voltadas para si e Deus é natural e o resultado da aplicação destes princípresas a uma estrutura pesada, importada e arcaica, que, pios das Escrituras é a saúde da comunidade, gerada pela em todo o país, de Norte a Sul, independentemente da desinergia e pelo equilíbrio dos cinco propósitos bíblicos: nominação, estão estagnadas ou em declínio. missões, adoração, comunhão, ministério e discipulado A pergunta é: será que só existem estes dois tipos de – nesta ordem. igreja? Eu respondo: Não! Embora seja ainda a maioria, Sabemos que a igreja como organismo vivo tem passado há um grupo crescente de grandes igrejas que decidiram por muitas enfermidades. Todavia, o Senhor da Igreja desetrilhar um crescimento, não explosivo, mas saudável. São ja que ela esteja saudável para cumprir sua missão integral igrejas que estão servindo através de princípios de discineste mundo e, por isso mesmo, ele tem levantado profetas pulado, como o Modelo de Discipulado Apostólico (MDA), aqui no Brasil e no exterior. Podemos dizer que, de fato, e de células, organizadas em rede de ministérios, que busestamos vivendo os tempos da Segunda Reforma da Igreja. cam o equilíbrio dos propósitos bíblicos de Deus. A primeira, ocorrida no século 16, foi doutrinária; agora, Sirvo em uma comunidade no interior do estado de São Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
25
cinco séculos depois, estamos participando de uma reforma comportamental, de agenda e visão. Assim prossigo na minha missão dada pelo Senhor de servir a minha igreja local e a igreja brasileira, guiado pelo Espírito Santo, vou celebrando a minha recuperação a cada dia, permanecendo em Cristo momento a momento e frutificando através dos Propósitos Bíblicos na igreja e no mundo.
Experiências e conselhos
Carlito Paes é pastor sênior da Primeira Igreja Batista em São José dos Campos (SP), fundador da Rede Inspire de Igrejas, conferencista e autor de Igreja brasileira com propósitos (Editora Vida). Casado com a Pra. Leila, tem quatro filhos.
O resultado foi a formação do projeto com os melhores parceiros que alguém poderia desejar, tais como a Igreja Presbiteriana da Gávea, a Igreja Betânia de Icaraí e o Presbitério de Niterói (RJ), da qual faço parte. Em meados de 2011, com as portas abertas, partimos para o Recreio dos Bandeirantes, bairro carioca vizinho à Vargem Grande, onde ficamos até recentemente. Devo, portanto, registrar aqui algumas importantes inha primeira experiência com plantação de igreja lições de encorajamento para futuros plantadores, assim aconteceu ainda no tempo de seminário, em Montes como reflexões valiosas para aqueles que – assim como Claros (MG). Naquela cidade, eu me envolvi ministeeu – precisaram interromper o processo de plantação por rialmente com uma igreja local, passando a cooperar com os motivos alheios à própria vontade: irmãos na transformação de um ponto de pregação em con1) Processos: Respeite de forma muito criteriosa os gregação. Uma querida família abria as portas de sua casa, processos de planejamento; é fundamental. Atropelá-los semanalmente, para o encontro de um grupo pequeno, que se pode colocar o projeto em risco. tornou grande, funcionando nos moldes de uma igreja. Não 2) Disciplina espiritual e equilíbrio: Para o plantador, que demorou muito até que fosse formalizado o processo de nassofre demandas enormes, tal necessidade é gritante. cimento da 7a Igreja Presbiteriana de Montes Claros. Sendo assim, observar atentamente aquela “veA segunda prova foi na cidade de São lha” ordem de prioridades – Deus, família, Gonçalo (RJ). Assim como a primeira, É trabalho e lazer – torna-se vital. Cuidado teve início na casa de uma família que necessário também com as ciladas, pois plantadocompartilhava do mesmo desejo de manter aquela res são capazes de realizar coisas granalcançar outros para Cristo. As prichama de alcançar diosas, mas, ao mesmo tempo, podem meiras reuniões eram feitas em uma perder a saúde e a alegria do início. garagem bem espaçosa; depois, em os perdidos em 3) Visão ampla: A visão bíblica uma loja, até chegar a um galpão de terras distantes. Caso continua sendo aquela de Atos 1.8 (ser grande porte. contrário, as enormes testemunha perto e longe ao mesmo A terceira experiência – e mais tempo). É necessário manter aquela recente – aconteceu no pacato bairro exigências locais chama de alcançar os perdidos em terde Vargem Grande, na zona oeste do facilmente irão ras distantes. Caso contrário, as enormes Rio de Janeiro (RJ). Foi, em tudo, totalapagá-la exigências locais facilmente irão apagá-la. mente diferente das demais – e, de longe, 4) Células e discipulado: A formação de com a qual aprendi mais lições. Isso porque só pequenos grupos exercem um valor fundamental, a minha família se dispôs a iniciar o trabalho, em tanto no processo de crescimento da igreja, como na solium local que conhecíamos pouco, onde não tínhamos um dificação das mais valiosas amizades e, ainda, no desempecírculo de amizade naquela área de atuação. nho do serviço cristão. Não se pode abrir mão disso, assim Antes mesmo que tivéssemos uma base sólida, procuracomo não se deve deixar de lado o discipulado de cada mos um grande espaço físico para locação, julgando que isso cristão. São as pessoas que formam a base, e não um espatraria crescimento. Ledo engano! Não havia um projeto, apeço físico! Uma vez transformadas pelo Evangelho de Jesus, nas uma paixão. Não havia um trilho, mas uma esperança. elas darão a verdadeira identidade da igreja nascente. Sentindo falta de muitas coisas, fomos à busca de uma igreja para nos dar o devido suporte. A providência do Senhor nos presenteou com a Igreja Presbiteriana Betânia de São Francisco, em Niterói (RJ), a qual nos enviou para o Centro de Treinamento de Plantadores de Igreja (CTPI) em Campinas, Inésio Azeredo é ministro da Igreja um divisor de águas em nosso processo de plantação. Foi no Presbiteriana do Brasil (IPB), RJ – CTPI que aprendemos que era necessário fazer um projeto, temporariamente de licença –, casado ter uma igreja-mãe, convidar parceiros para sonharem juntos com Roseane e pai de Gabriel e Sarah e investirem financeiramente, formar o grupo-base da futura igreja, elaborar a visão, dentre outras coisas.
M
26 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
27
A mega-igreja e o mosteiro Uma grande igreja está aprendendo como um núcleo de discípulos cresce em meio à uma multidão de frequentadores Por Keith Meyer
O
“discipulado de mega-igreja” é uma contradição? Eu sou o pastor de uma mega-igreja suburbana frequentada semanalmente por 3 mil pessoas e, recentemente, temos feito esta pergunta. Será que a nossa grande estrutura, repleta de programações, realmente cria mais obstáculos e distrações para o crescimento espiritual do que remove? Apesar de mega-igrejas estarem se tornando cada vez mais gigantes e os pastores de igrejas grandes terem alcançado o status de celebridade em nossa cultura, estamos gastando enorme quantidade de tempo para conduzir as pessoas à maturidade cristã. Começamos a ver uma crise sutil no modelo de mega-igreja. Uma pesquisa mostra que os jovens estão saindo da igreja em números cada vez maiores e não retornam mais. E um estudo da Willow Creek revelou que há um impacto limitado dos programas de crescimento espiritual.
28 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Sendo assim, devemos vender nosso rancho suburbano e redistribuir os membros em comunidades menores por toda a cidade? Ou existe uma maneira de continuar sendo grande e não perder nossas almas? Surpreendentemente, a resposta para as igrejas – grandes e pequenas – pode estar em uma abordagem da formação espiritual associada ao mosteiro.
O novo monasticismo
Fui apresentado ao monasticismo quando fazia parte de uma classe de formação espiritual que era , tendo um curso de formação espiritual lecionado por Dallas Willard. Comecei com horários fixos de oração e de leitura para meu tempo devocional, e mostrei essas práticas a outros líderes de minha igreja – Church of Open Door. Com o tempo, passamos a ser influenciados pelos textos dos Padres do Deserto, de autores como Santo Agostinho, Francisco de Assis, Teresa de Ávila, e dos escritores mais modernos, como Thomas Merton e Henri Nouwen. E, aparentemente, não estávamos sozinhos. No livro New Monasticism, An Insider’s Perspective: What it has to say to today’s church (em português, algo como O Novo Monasticismo, uma perspectiva privilegiada: O que ele
First published in Leadership Journal, Copyright © 2013 Used by permission, Christianity Today International
tem a dizer para a igreja de hoje), seu autor, Jonathan Wilson-Hartgrove, explica que “novo monasticismo” não é um movimento organizado, mas algo que Deus está fazendo em toda a igreja americana, que está nascendo espontaneamente a partir do reexame do evangelho fragmentado adotado por muitas igrejas. Ele pede uma compreensão mais bíblica do evangelho, o que leva a uma revolução silenciosa do Reino de Deus. Wilson-Hartgrove cita, como exemplos dessa revolução, pequenas comunidades monásticas, as quais compartilham certas características. Muitas vezes esses grupos estão em “lugares abandonados do Império”, como os centros urbanos. Eles compartilham recursos, e buscam formação intencional por intermédio de uma “regra de vida” e de uma oração disciplinada. Eles também extraem ordens monásticas do passado pela prática da hospitalidade com estranhos, buscando paz e reconciliação, e vivendo em submissão ao corpo de Cristo, a igreja. Um exemplo de uma comunidade monástica é a The Simple Way, na Filadélfia (EUA), mais conhecida por conta de um de seus líderes, Shane Claiborne. Nossa igreja está a anos luz de distância de um grupo como The Simple Way. Em muitos aspectos, parecemos com
a sua mega-igreja. Ele tem um grande edifício, uma equipe enorme e um orçamento alto. Mas também estamos vendo muitas características descritas por Wilson-Hartgrove em nossa comunidade.
A oração contemplativa
A influência monástica pode ser melhor ilustrada pelo nosso retiro anual. Nos últimos dez anos, temos levado a nossa equipe – do pastor sênior até o pessoal que cuida das instalações da igreja – para um mosteiro e lá fazemos um retiro de oração o qual chamamos de “Gastando tempo com Deus e com outros”. Lá nossos dias não são preenchidos com planejamento, apresentações, ensinamentos, exercícios de equipe ou formação profissional. Na verdade, nenhum trabalho é permitido. Nosso foco é simplesmente estar com Deus e com os outros. Para maximizar a experiência, o retiro é previsto durante o período mais movimentado do ano. Para as pessoas de fora, pode parecer como um tempo de fuga, e justamente por isso que cito Dallas Willard no início do retiro a cada ano: O maior inimigo da intimidade com Deus é o serviço de Deus. Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
29
Ficar quieto por alguns dias não é o que nossa equipe definiria como normal, mas todos passaram a olhar além. O retiro define uma base de nossa dependência de Deus para o ano inteiro de ministério. Nós ensinamos a necessidade de criar um espaço e tempo sagrados como forma de retomar a vida com Deus. O impacto do retiro tem derramado algo especial sobre as vidas dos membros de nossa equipe: um assistente administrativo desligou o rádio do carro para praticar o silêncio em seu trajeto; nosso pastor sênior usa a oração contemplativa durante sua preparação do sermão; reuniões de equipe e do conselho até incorporaram as práticas do retiro para que sejam baseadas na agenda de Deus e não na nossa. Iniciar nossas reuniões com cinco ou mesmo 20 minutos de silêncio é quantitativamente e qualitativamente diferente de orações rápidas e superficiais feitas no início da maioria dos encontros. Antes dos retiros, raramente parávamos por um período suficiente para, ao invés de escutar as nossas próprias vozes, ouvir a voz de Deus Uma vida de oração e de reflexão, no entanto, não se limita aos líderes. Convidamos os nossos membros para vivenciar essas práticas por meio de oficinas, aulas e até uma sala de oração preparada para a oração contemplativa. Descobrimos que poucas pessoas têm realmente sido treinadas para orar. Podem ter tido conhecimento sobre oração através de livros, da igreja ou do seminário, mas raramente têm uma vida de oração. Fomos ensinados a falar em Deus, mas não sabemos como estar com ele no silêncio ou atentos à sua voz. Nós acreditamos que esta é uma das nossas maiores responsabilidades como líderes.
postar mensagens online com experiências, práticas e atividades relacionais, construídas em torno da regra de vida.
Envolvendo as margens
Nossa igreja se reuniu em um ginásio durante vários anos. Quando finalmente entramos em nosso prédio, no subúrbio, tivemos a oportunidade de agregar serviços. Começamos a levantar fundos para ajudar vítimas da Aids e a fornecer empréstimos de microcrédito para pobres no exterior. Em quatro anos, nossa gente deu 1 milhão de dólares. Neste ano, parte do nosso retiro monástico incluiu a peregrinação de nossa equipe até localidades da parte central da cidade. Surpreendentemente, alguns nunca tinham ido a esses bairros, apesar de terem vivido na periferia a vida toda. Começamos a estudar o impacto da pobreza, e visitamos as pessoas para ouvirmos suas histórias. Além do que os líderes da igreja têm feito, observamos que outros estão engajados na questão da justiça social. Sem que houvesse quaisquer programas da igreja para incentivá-los, alguns de nossos membros mais jovens se mudaram para lugares abandonados da cidade, onde se envolveram na reconstrução de moradias, escolas e empresas.
Surpreendentemente, a resposta para as igrejas – grandes e pequenas – pode estar em uma abordagem da formação espiritual associada ao mosteiro
Ambientes de mudança
Entretanto, aprendemos que pregar e ensinar sobre a formação espiritual é bom, mas não é o suficiente. Os líderes
30 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
J U L I A N N E T R A D U Ç Ã O :
Nossos anciãos, a equipe de gestão sênior, e os funcionários da igreja estão começando a viver de acordo com a “regra de vida”, frequentemente divulgada em nossos ministérios. A regra da igreja não se resume a um conjunto de orientações para oração e confissão: é um convite para viver em Jesus, na transformação, na comunidade, na missão, na reconciliação e no bom discurso. Nós nos tornamos tão comprometidos com a importância da comunidade em formação que contratamos dois funcionários que viveram durante cinco anos em uma Keith Meyer comunidade regida pela “regra de vida” é o pastor para nos ajudar. Eles estão nos ensinando executivo da Church of the Open a cultivar essas comunidades intencionais Door em Maple dentro de nossa igreja entre amigos, casais Grove, Minnesota e famílias. Estamos usando nosso site para
M E N D E S
Comunidade internacional
A MEGA-IGREJA E O MOSTEIRO
da igreja não podem ser apenas gerentes de programas da igreja. Apesar das nossas tentativas para disciplinar grandes grupos de pessoas, através de projetos eficientes que maximizam recursos, a verdade é que o discipulado não pode ser produzido em massa. Um programa de discipulado do tipo “um tamanho serve para todos” não funcionou conosco: só produziu informações e técnicas, sem mudança de vida. Concluímos que os líderes da igreja precisam ser projetistas de sistemas formadores de mudança. Isso significa desenvolver experiências e relacionamentos que tiram as pessoas de seus padrões habituais, fazendo com que elas se abram a novas formas de pensar e de viver. Mudança raramente acontece sem atrapalhar o conforto da pessoa e sem mexer com suas rotinas. É isso que está por trás de nossos retiros de oração, do uso da regra de vida e do engajamento com pessoas que vivem à margem da sociedade. Criam ambientes de mudança. Reconhecemos que muitos de nossos membros não entraram nesse tipo de vida que estamos celebrando. Nossas tentativas de formação e missão não estão alcançando as multidões.
Aceitando a multidão
Então, devemos abandonar a mega-igreja por ser esta uma estrutura incompatível com a formação espiritual profunda? Podemos ser grandes e não perdermos nossas almas? Em nossa igreja, estamos tentando porque reconhecemos que grandes grupos sempre foram uma expressão da igreja. Parecia ter sempre uma multidão em torno de Jesus.
Ele não evitava a multidão, mas ele não permitia que as expectativas do povo ditassem as regras, dessem a direção. Jesus usava duas estratégias – uma para o povo e outra para os seus discípulos – e estava continuamente na gestão dessa tensão. Talvez esse seja o modelo a ser buscado. Muitas vezes me pergunto se minhas expectativas são muito grandes. É certo esperar que três mil pessoas da igreja se tornem discípulos de Jesus? Sem negligenciar as necessidades da multidão, talvez devêssemos fazer do cultivo de um pequeno grupo de futuros líderes a nossa principal prioridade. John Wesley tinha grandes multidões, para as quais pregava o evangelho através da palavra e da música. Mas também se concentrou em pequenas comunidades de crentes que praticavam uma regra de vida. Seu modelo se tornou tão poderoso que foi usado para descrever todo o movimento – o metodismo. Isso é possível hoje? Dietrich Bonhoeffer orou pela restauração da igreja, crendo que essa reforma certamente viria de uma espécie de novo monasticismo, que não tem nada em comum com o antigo monasticismo, exceto uma intransigente atitude da vida vivida de acordo com o Sermão do Monte, de seguir a Cristo. A mega-igreja contemporânea certamente não têm muito em comum com o monasticismo, e, como nunca antes, buscamos a vida em Cristo de acordo com o Sermão do Monte. Como o ministério de Jesus, nem todos que se reuniam no meio da multidão podem se envolver, mas os poucos que o fazem podem virar o mundo de cabeça para baixo.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
31
CRESCIMENTO DAS IGREJAS:
TRÊS ARMADILHAS A preocupação com o crescimento é legítima e necessária, mas os riscos dessa expansão são muito grandes Por Ricardo Barbosa de Sousa
P
ara mim não é fácil escrever um artigo sobre os perigos do crescimento das igrejas. Primeiro, porque nunca fui pastor de uma igreja numerosa. Não sei o que isso significa. Segundo, porque a realidade que envolve o crescimento de uma igreja é sempre muito complexa. Espera-se que uma igreja saudável – que ensina a Palavra de Deus, evangeliza e faz discípulos de Cristo – cresça numericamente.
32 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Adquira ou aprofunde seu treinamento teológico
sem sair de casa! David Horton, editor 16x23 cm | 640p. | capa dura
Nesta obra você encontrará todas as matérias principais de um curso de seminário. Esta introdução ao curso de teologia e estudos bíblicos é ideal para qualquer pessoa que queira se aprofundar no conhecimento das Escrituras, mas não tem tempo ou dinheiro para frequentar um curso convencional. Confira as Matérias do curso: Análise do Antigo e Novo Testamentos; Apologética; Teologia sistemática; Liderança cristã; História da igreja; Missões; Ética; Educação cristã... e muito mais! Confira a lista de renomados professores: Robert G. Clouse; Norman L. Geisler; Alister McGrath; Bruce L. Shelley; Robert H. Stein; John Stott; Ravi Zacharias... e muitos outros!
+ Lançamentos
Origem, confiabilidfade e significado da Bíblia
O plantador de igreja
Esta compilação de 19 artigos examina assuntos específicos, como as religiões mundiais, o cânon e a arqueologia. Todas as pessoas engajados no estudo da Palavra de Deus se beneficiarão com esta coletânea, escrita por colaboradores notáveis, como James I. Packer, John Piper, Daniel. B. Wallace, Vern Poythress e outros.
O que está no cerne de toda igreja plantada? O componente humano mais decisivo de toda plantação de igreja e de toda igreja plantada é o próprio plantador. As Escrituras têm muito a dizer sobre o caráter e a função dos chamados a liderar. É tempo de voltar aos critérios bíblicos para definir o homem, a mensagem e a missão de toda igreja.
O homem, a mensagem, a missão
Adquira nas livrarias Publicando o melhor da teologia evangélica
w w w. v i d a n o v a . c o m . b r
afirmar a prioridade da missão, a centralidade do evangelho, a necessidade de falar para os de fora, bem como o esforço para ser relevante no contexto social e cultural, no estabelecimento de alvos objetivos, na importância de estratégias e no uso correto das ferramentas sociais e tecnológicas.Embora esta preocupação com o crescimento seja percebida em toda a história cristã, as mudanças sociais das últimas décadas trouxeram novas realidades, que precisam ser analisadas criticamente. Há três décadas, a preocupação dos evangélicos era com a missão integral e a luta por transformação política e social. A preocupação hoje é com a igreja local, seu crescimento, e sua presença na sociedade. Antes o foco estava na esfera pública; agora, na esfera privada da vida comunitária. Antes a palavra de ordem era “revolução”, hoje é “relevância”. A busca por uma igreja relevante abre portas para um novo mundo, trazendo novos desafios e possibilidades. Por outro lado, abre brechas para o risco de a igreja se comprometer, muitas vezes sem perceber, com o espírito desta era. Modernizar e inovar não são um problema em si. Porém, é preciso olhar criticamente para a forma como se faz a busca por relevância e de que maneira se lança mão dos recursos modernos de crescimento. É necessário discernir os riscos que tais ações representam para o futuro do cristianismo. A expressão “crescimento” pode ser compreendida em termos quantitativos (número de membros, orçamento, projetos) e qualitativo (maturidade, caráter, profundidade). Ambos são importantes, e um não exclui, necessariamente, o outro. No entanto, o crescimento quantitativo nem sempre promove um crescimento qualitativo, mas sempre desperta um fascínio em função da visibilidade e do prestígio que uma grande igreja proporciona para seus líderes e membros. É aqui que enfrentamos um grave risco: o de se construir a casa (igreja) sobre a areia e não sobre a rocha, segundo a parábola de Jesus.
Um bom planejamento estratégico não tem o poder de transformar mentes e corações. Projetos eficientes não fazem de nós verdadeiros discípulos de Cristo
Porém, a saúde e a fidelidade de uma igreja podem levá-la a crescer e ser relevante, bem como a sofrer e ser marginalizada. No entanto, como o crescimento e a visibilidade das igrejas despertam grande interesse e o status decorrente é muito sedutor – o que não acontece quando o que está em jogo é o sofrimento, a marginalidade e o martírio –, gostaria de refletir sobre os riscos, ou quem sabe, sobre os ídolos, que o crescimento numérico das igrejas pode apresentar. A preocupação com o crescimento da igreja é legítima e necessária. Sempre foi. O desafio dessa expansão envolve 34 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
CARACTERÍSTICAS DAS IGREJAS QUE CRESCEM As igrejas que mais crescem possuem, pelo menos, três características comuns: uso intenso de modernas ferramentas tecnológicas, forte liderança pessoal e uma poderosa marca institucional. É claro que existem outras características, mas quero me deter nestas três e refletir sobre os riscos que elas representam para o futuro da igreja.
CRESCIMENTO DAS IGREJAS: TRÊS ARMADILHAS
A revolução tecnológica da segunda metade do século 20 e deste início de século 21 mudou o cenário religioso. A busca pela excelência funcional e por uma comunicação eficiente ocupa o topo das prioridades de muitas igrejas. Possuímos tecnologia para um bom planejamento estratégico, música de excelente qualidade, projetos de crescimento eficientes. O problema é que a tecnologia tem o poder de substituir aquilo que Deus faz por aquilo que é feito pelo homem. Vivemos o risco de um perigo semelhante ao que Paulo percebeu na igreja de Éfeso, cujos crentes, segundo o apóstolo, tinham aparência de piedade e no entanto lhe negavam o poder. Ter uma boa música, não nos torna, necessariamente, adoradores. Um bom planejamento estratégico não tem o poder de transformar mentes e corações. Projetos eficientes não fazem de nós verdadeiros discípulos de Cristo. Igreja bem estruturada não é sinônimo de comunhão. A crítica à Igreja de Laodicéia é de que ela era rica e abastada e não precisava de coisa alguma. Inclusive de Deus. A tecnologia vem se tornando um substituto para a fé. Mas essa eficiência não substitui o poder transformador do evangelho. Precisamos perguntar: é possível discernir o que Deus está fazendo? O primeiro risco que a igreja enfrenta hoje é o da negação de Deus. Não a negação de sua existência, mas do seu poder.
Uma segunda característica comum é a forte liderança pessoal. A liderança forte, bem como a tecnologia, em si, não constitui um problema. O risco está naquilo que nem sempre é percebido. Se a tecnologia traz o risco de uma igreja sem Deus, a liderança forte traz o risco de uma igreja sem netos ou bisnetos. Hoje, o que mais atrai os fiéis a uma igreja, além de sua funcionalidade, é o carisma de seu líder. Ao ser perguntado pela igreja que frequenta, a resposta mais comum é “a igreja de fulano de tal”. Essa liderança confere uma posição de destaque ao membro desta igreja. A pergunta é: igrejas assim sobreviverão à uma segunda ou terceira geração? Sobreviverão depois que seus grandes líderes saírem de cena? Sabemos que algumas megaigrejas na América do Norte entraram em rápido declínio na segunda geração de líderes. O velho problema da igreja de Corinto se repete: uns são de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro e alguns chegam a dizer que são de Cristo. O personalismo intensifica o narcisismo, que muda o objeto da adoração. Tanto na política como na igreja, a figura forte de um líder compromete o futuro. Vive-se um apogeu glorioso seguido por um rápido vazio e declínio. A terceira característica é a forte marca institucional, que a torna atraente. Aqui vejo dois perigos. O primeiro diz respeito à busca por relevância. Porém, o que precisa ser relevante, a igreja (instituição) ou o evangelho de Cristo? É
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
35
possível ser relevante e, ao mesmo tempo, comprometido com a verdade? Sem o evangelho e sem a verdade, qualquer esforço para ser relevante se mostrará, cedo ou tarde, totalmente irrelevante. A imagem que Paulo usa é a do tesouro em vasos de barro. Não é o evangelho de Cristo que desperta o interesse de muitos para a igreja hoje, mas a própria igreja com seus métodos, programas, música e tecnologia. Isso não é necessariamente ruim. Nem sempre as pessoas serão atraídas pelos motivos mais nobres. O problema é que o vaso vai se transformando não só na porta de entrada, mas num fim em si mesmo. Quanto mais atenção se dá ao vaso, menor valor terá o evangelho. O outro perigo é a perda da consciência de ser povo de Deus, Corpo de Jesus Cristo. Algumas igrejas que crescem rapidamente atraem uma quantidade considerável de cristãos frustrados com suas igrejas de origem, que ali chegam como a última alternativa institucional de sua jornada cristã. Envolvem-se com paixão, adquirindo uma forte identidade com aquele grupo em particular. O problema é que não são mais capazes de se verem como parte do povo de Deus em uma determinada região ou cidade, mas apenas como povo de Deus de uma igreja particular. É a negação do “povo de Deus” e a afirmação perigosa de uma elite religiosa superior.
entanto, disse ele, entre vocês não será assim. Quando a admiração por um líder diminui a devoção a Cristo, é sinal de que o espírito desta era já nos capturou. O terceiro cuidado é compreender que fomos batizados num corpo. Somos o povo de propriedade exclusiva de Deus. Adoramos a Deus em uma comunidade local – grande ou pequena –, mas o Deus que adoramos fez uma aliança com seu povo do qual somos parte. O precioso tesouro foi confiado a um vaso de barro. Seja este vaso grande e inovador, ou pequeno e discreto, o que importa é o tesouro confiado a ele, sempre. Se a relevância pertencer ao vaso, o tesouro será negado à humanidade. É o Corpo de Cristo, todo ele, que revela a glória do cabeça da Igreja. Os riscos do crescimento são invisíveis, mas muito grandes. Construir uma casa sobre a areia sempre foi uma opção atraente e sedutora. Mas formar discípulos fiéis e obedientes de Jesus Cristo, ensiná-los a guardarem seus mandamentos e obedecê-los, integrá-los em uma comunidade de adoração e serviço sacrificial, sempre foi uma tarefa difícil, lenta e trabalhosa. Porém, quando vierem as tempestades e os vendavais testando o valor da fé, esta igreja, edificada sobre a rocha, testemunhará a glória da verdade redentora de Jesus Cristo.
Quando a admiração por um líder diminui a devoção a Cristo, é sinal de que o espírito desta era já nos capturou
CUIDADOS NO CRESCIMENTO O desafio do movimento moderno de crescimento de igrejas requer alguns cuidados. O primeiro é o de preservar Deus como Deus na igreja. A tecnologia pode nos ajudar em muitas coisas, mas não transforma o coração e a mente caída do ser humano. Só seremos relevantes enquanto permanecermos envolvidos pelo que é eterno. Podemos usar os recursos modernos, mas precisamos nos assegurar que o que virá pela frente serão vidas transformadas pelo poder do evangelho de Jesus Cristo e não consumidores de programas e entretenimento religiosos. O segundo cuidado é reconhecer a virtude da humildade. O testemunho de João Ricardo Barbosa Batista era: convém que ele cresça e que eu de Sousa diminua. Este deve ser o espírito de qualé pastor da Igreja Presbiteriana quer líder. Jesus advertiu seus discípulos do Planalto e em relação ao risco do poder quando discoordenador do Centro Cristão se que entre os grandes e poderosos deste de Estudos, em mundo, o maior manda nos menores. No Brasília (DF)
36 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
37
O modelo pentecostal brasileiro de
crescimento de igrejas
A prática evangelística pentecostal segue o modelo histórico, mas com algumas adaptações às novas realidades Por Altair Germano
A
evangelização pentecostal encontra seus principais fundamentos em diversos textos bíblicos (Mt 28.19-20; Mc 16.15, etc.), com ênfase especial em Atos 1.8: Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a
38 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Judeia e Samaria e até os confins da terra. Na perspectiva pentecostal, o revestimento de poder do Espírito – o batismo com o Espírito Santo – é prerrogativa inegociável e indispensável para ser bem sucedido na pregação do evangelho de Jesus, onde todos dão testemunho, em todos os lugares, para todas as pessoas. O texto de Marcos 5.20, que fala do testemunho em Decápolis daquele que fora endemoninhado, e de João 4.28-30, que
viana, e Afuá, na Ilha de Marajó (ao lado de Gunnar Vingren). Com forte ênfase na direção do Espírito, a atividade evangelística pentecostal – incluindo o estabelecimento de igrejas – não seguiu um plano estratégico. Além disso, nesse processo, houve uma grande participação de leigos, de crentes sem formação teológica, sem funções ministeriais de liderança, e, em alguns casos, com um baixo nível de escolaridade. Nas O CRESCIMENTO PENTECOSTAL NO BRASIL igrejas pentecostais, todo crente é incentivado a ser um evanAs igrejas pentecostais agregam 60% da população evangégelista. lica brasileira, conforme o Censo Demográfico de 2010. A AsNo Rio Grande do Norte, se destacaram os irmãos Manoel sembleia de Deus, a maior denominação evangélica do Brasil, Luiz de França e Florêncio Luiz, convertidos através da pregaque alcançou a marca de 12,3 milhões de membros, é seguida ção de Gunnar Vingren e Daniel Berg, em novembro de 1910, pela Congregação Cristã, com 2,2 milhões, e a Deus é Amor, no seringal no povoado de Boca do Pixuma, junto ao rio Tacom 845 mil membros. Sua forte ênfase no evangelismo pesjapuru, na ilhas do Pará. Quando retornaram de férias ao Rio soal, e a atenção voltada para as comunidades longínquas e Grande do Norte, em novembro de 1911, em Cuité, Manoel e carentes economicamente – o Censo de 2010 constatou que Florêncio começaram a realizar cultos em sua propriedade, 60% dos pentecostais recebem menos de um salário mínimo na varanda do casarão. Participavam dos cultos –, encontra suas origens na vida e prática de seus os empregados e familiares. Em seguida, foi fundadores. erguido um pequeno casebre para a celeOs pioneiros Gunnar Vingren e Dabração dos cultos. niel Berg, ambos suecos e batistas, A partir do Norte Caso parecido é o de Antonio Fichegaram dos Estados Unidos em lipe Bezerra e sua esposa Luizinha, 19 de novembro de 1910, e apore do Nordeste, a que, ao retornarem do Pará retaram em Belém do Pará, tendo atividade pentecostal se cém-convertidos à fé pentecoscomo objetivo difundir, entre as espalhou, multiplicandotal, desejosos de evangelizar os igrejas já estabelecidas no Braseus familiares, iniciaram uma sil, a mensagem pentecostal, se por todas as partes do reunião em sua casa, onde ocorcom ênfase na atualidade do Brasil, e com a mesma reram várias conversões. Em batismo com o Espírito Santo 1918, Joaquim Batista de Macee da manifestação dos carismas dinâmica, ou seja, do, lavrador no Pará, que também (dons espirituais). Ao falarem na sem planejamento se converteu ao evangelho, iniciou Igreja Batista de Belém, a igreja estratégico algum um trabalho de evangelização, e pardividiu-se sobre a questão, gerando, tiu para o Nordeste. Lá, visitou alguns com isso, a exclusão de 13 membros lugares no estado do Rio Grande do Norte, que se posicionaram favoráveis ao ensino e aconteceram muitas conversões. Essas iniciapentecostal. tivas contribuíram para a propagação do evangelho em O grupo passou a se reunir na casa da irmã Celina terras potiguares, culminando com a fundação oficial da AsAlbuquerque, onde, em 18 de junho de 1911, começaria o sembleia de Deus em Natal, em 1918. processo de formação da Assembleia de Deus. Em um priA mensagem pentecostal alcançou as terras paraibameiro momento, o grupo pentecostal de Belém adotou o nas através do trabalho evangelístico de Manoel Francisco nome de Missão da Fé Apostólica, mas, em 11 de janeiro de Dubu, que em 1912 aceitou a fé pentecostal quando esteve 1918, Gunnar Vingren registrou, em cartório de Belém (PA), no Pará. Ao retornar à cidade de Campina Grande (PB), leo estatuto da Sociedade Evangélica Assembléa de Deus. vou muitas pessoas ao conhecimento de Jesus, superando as Dessa forma, a igreja passou a existir legalmente como pesperseguições que surgiram. No Piauí, João Canuto de Melo, soa jurídica. tornou-se em 1914 um pregador do evangelho na região de Um claro exemplo da disposição evangelística que norteia Periperi, anunciando a mensagem de Cristo aos amigos, vizitoda a história da denominação pentecostal foi o de Daniel nhos e familiares. As pessoas que confessavam a Jesus como Berg, companheiro de Gunnar Vingren na fundação das AssemSenhor e Salvador tornavam-se evangelistas voluntários. bleias de Deus, que entendeu que a colportagem (a venda de Em Pernambuco o trabalho pentecostal teve início a partir Bíblias) lhe daria a oportunidade de conversar com as pessoas de reuniões em casas. O pastor Adriano Nobre de Almeida coe de convidá-las para assistir aos cultos. Na condição de colmeçou, em 1916, um culto na casa de João Ribeiro, no bairro portor, Berg garantia o seu sustento ao mesmo tempo em que dos Coelhos. Em 1917, duas pessoas foram batizadas nas águas evangelizava. Como resultado de seu trabalho, Daniel Berg tordo rio Capibaribe. Atualmente, a Assembleia de Deus em Recinou-se o pioneiro das Assembleias de Deus nas ilhas paraenses fe é uma das mais expressivas igrejas da denominação. e em outras localidades do Pará tais como Soure e Mosqueiro, A partir do Norte e do Nordeste, a atividade pentecostal na Ilha de Marajó; Bragança; Xarapucu e Quatipuru; Ilha Carelata o testemunho da mulher samaritana ao falar do Cristo para os homens de Samaria, são exemplos do argumento pentecostal de que um recém-convertido pode cooperar com a salvação de vidas, ao testemunhar a sua própria experiência de conversão e libertação.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
39
se espalhou, multiplicando-se por todas as partes do Brasil, e com a mesma dinâmica, ou seja, sem planejamento estratégico algum, onde o Espírito era tido como grande direcionador dos passos dos crentes que se tornavam evangelistas voluntários. No estado de São Paulo, um grupo de crentes pentecostais pernambucanos – que haviam se mudado para Santos em razão da crise econômica que atingia o Nordeste – iniciaram, em 5 de maio de 1924, um trabalho de evangelização naquela cidade praiana. Os primeiros cultos realizados em Santos aconteciam na avenida Rei Alberto. Com as conversões, o grupo passou a orar pedindo que o Senhor lhes enviasse um pastor. Em resposta às orações, Daniel Berg chegou a Santos, onde serviu ali por algum tempo. Na capital paulista, o trabalho pentecostal assembleiano teve início com a chegada de Daniel Berg e esposa em 15 de novembro de 1927. Com pouco dinheiro, Berg alugou uma casa no bairro de Vila Carrão, localidade muito humilde, onde passou a realizar os cultos, os quais aconteciam com as portas da casa aberta. Com o tempo, as conversões começaram a acontecer. Passaram-se os dias, e um grupo de crentes da Congregação Cristã do Brasil, que combatia os assembleianos, transferiram-se para o novo grupo. Em 4 de março de 1928 foi efetuado o batismo dos três primeiros novos convertidos. Com o aumento do número de participantes nos cultos, não foi mais possível reuni-los na residência de Daniel Berg. Desta forma, com bastante esforço, o grupo de irmãos alugou um salão na avenida Celso Garcia, 1209, onde funcionou a primeira das Assembleias de Deus de São Paulo (SP). Outro fator de contribuição para o crescimento das igrejas pentecostais é o espaço dado às mulheres para que elas desenvolvam seus dons e talentos, inclusive na evangelização. Maria Jesus de Nazaré Araújo, que creu na mensagem pentecostal em Belém do Pará, desejosa de compartilhar com seus familiares aquela experiência, viajou em junho de 1914 para a Serra de Uruburetama, no estado do Ceará. Em Itapajé, ao Altair Germano é teólogo, pastor compartilhar ao levar a mensagem penteauxiliar na costal aos seus familiares, Maria Jesus foi Assembleia de Deus em Abreu e Lima maltratada, injuriada e excomungada. Di(PE), vice-presidente rigindo-se à igreja presbiteriana da região, do Conselho de foi bem recebida, a congregação aceitou a Educação e Cultura da Convenção Geral mensagem e tornou-se pentecostal. Nascia das Assembleias daquela maneira a Assembleia de Deus no de Deus no Brasil (CGADB) e membro estado do Ceará. da diretoria Florência Silva Pereira – nascida em 13 da Assembleia de maio de 1916, em Feira de Santana (BA) Administrativa da
e batizada nas águas em 16 de agosto de 1942 – serviu como zeladora na Assembleia de Deus em Salvador. Foi posteriormente enviada pelo missionário Aldor Petterson para visitar diversas cidades como colportora. Em 1943, Florência assumiu a responsabilidade de dirigir os trabalhos na Assembleia de Deus em Alagoinha, onde, por meio de seu trabalho evangelístico, ganhou muitas vidas para Cristo, além de construir um templo. Em 1950, a convite do pastor Euclides Arlindo Silva, ela seguiu para Sergipe, onde dirigiu o campo (jurisdição eclesiástica assembleiana) de Carmópolis, à frente do qual estabeleceu igrejas nas cidades de Maroim, Rosário, Laranjeiras e Santa Rosa de Lima.
QUESTÕES CONTEMPORÂNEAS Hoje, a prática evangelística pentecostal continua seguindo o modelo histórico, com algumas adaptações às novas realidades. Nas igrejas, os membros são incentivados constantemente a testemunhar a seus amigos, parentes e familiares. Existem trabalhos evangelísticos direcionados para presídios, hospitais, escolas e outros espaços. A evangelização nas praças e ruas permanece forte em algumas regiões e estados, mas existem áreas em que já acontece um certo esfriamento e descaso. Departamentos de evangelismo já trabalham com o mapeamento de cidades, bairros e ruas, e também com relatórios de visitas, pessoas evangelizadas e decisões. Com o advento da internet há também modalidades de evangelização via redes sociais e blogs. As igrejas-sedes, geralmente com a administração centralizada e com o governo de um presidente, estabelecem filiais através da construção de novos templos ou do aluguel de galpões e salões, trabalhos que em alguns casos ainda nascem de reuniões nas casas dos irmãos, nos chamados pontos de pregação. O trabalho de assistência social – realizado através de escolas, hospitais, orfanatos, creches, abrigos de idosos e centros de recuperação de viciados em drogas – também é usado como meio de evangelização. O crescimento das igrejas pentecostais gerou muitas divisões e subdivisões internas, o que faz com que, a cada dia, surjam novas denominações, ou ocorram emancipações de igrejas filiais e campos eclesiásticos. Contudo, o pentecostalismo clássico, com sua ênfase no poder e na direção do Espírito na prática da evangelização pessoal, bem como na mensagem simples, no incentivo à participação de todos os crentes e no alcance das comunidades carentes, ao longo de sua história, mostrou e ainda mostra a sua eficácia, contribuindo para o crescimento do evangelho de Jesus em terras brasileiras.
Departamentos de evangelismo já trabalham com o mapeamento de cidades, bairros e ruas, e também com relatórios de visitas, pessoas evangelizadas e decisões
SBB
40 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Não há forma mais duradoura de se estabelecer o Evangelho em um bairro, cidade, clã ou tribo do que plantando uma igreja local que seja bíblica, viva, contextualizada e missionária Por Ronaldo Lidório
O
apóstolo Paulo, mais do que qualquer outro, observou a necessidade de não apenas evangelizar, mas plantar igrejas locais que vivam Cristo e falem do Seu Nome. Paulo usa as expressões plantar (1 Co 3.6-9; 9.7,10,11), lançar alicerces (Rm 1.20, 1 Co 3.10) e dar a luz (1 Co 4.15) ao se referir ao plantio de igrejas. É da natureza da igreja se multiplicar. O próprio termo usado para igreja no Novo Testamento – ekklesia – é composto pela preposição ek (para fora de) e a raiz kaleo (chamar) que, literalmente, poderia ser traduzido por chamada para fora de. Portanto, a própria terminologia nos conduz à figura de uma comunidade dinâmica, local, multiplicadora e além fronteiras. É importante entendermos que não há forma mais duradoura de se estabelecer o Evangelho em um bairro, cidade, clã ou tribo do que plantando uma igreja local que seja bíblica, viva, contextualizada e missionária.
42 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
O plantio de igrejas se define pelo poder de Deus
A igreja plantada mais rapidamente em todo o Novo Testamento foi iniciada por Paulo em Tessalônica. Ali, o apóstolo pregava a Palavra aos sábados nas sinagogas e, durante a semana, na praça. Assim ele fez por três semanas até nascer uma igreja (At 17.2). Em 1 Ts 1.5, Paulo diz que o Evangelho não chegara até eles tão somente em palavra (logia, palavra humana), mas, sobretudo em poder (dynamis, poder de Deus), no Espírito Santo e em plena convicção (pleroforia, convicção de que estamos na vontade de Deus). O poder de Deus manifesta o próprio Deus e Sua vontade. Sem o poder de Deus, não há transformação de vida ou sociedade, a Palavra não é compreendida, e todo o esforço para plantar igrejas é reduzido a formulações estratégicas de ajuntamento e convencimento. O Espírito Santo é o segundo elemento relatado por Paulo no plantar da igreja em Tessalônica. Sua função é clara na
conversão do homem conduzindo-o à convicção de que ele é pecador e está perdido; despertando neste homem a sede pelo Evangelho e atraindo-o a Jesus. Sem o Espírito Santo podemos compreender que somos moralmente imperfeitos (pecadores), mas somente o Espírito Santo nos dá convicção de que estamos perdidos e necessitamos de Deus. Sem a sua ação, a evangelização não passaria de proposta humana, explicações espirituais, palavras lançadas ao vento, sem público, sem conversões, sem atração a Cristo. A clara convicção é o terceiro elemento listado por Paulo no plantar da igreja em Tessalônica. Trata da certeza de que estamos no lugar certo fazendo a vontade de Deus, a despeito dos desafios, críticas e até mesmo falta de resultados visíveis. No plantio de igrejas, portanto, parece-me que toda a ação vem do Alto. Quanto a nós, cabe-nos assegurar que estamos no lugar certo, na hora certa, fazendo a vontade do Eterno.
O plantio de igrejas se define pela fidelidade ao Senhor
A comunicação do Evangelho jamais deve ser definida por meio daquilo que funciona, mas pelo que é bíblico (1 Ts 1.5). No plantio de igrejas, o que é bíblico não significa necessariamente grandes resultados em termos de crescimento e números. Se observarmos os grandes movimentos de plantio de igrejas no mundo hoje, descobriremos alguns processos antibíblicos que aparecerão dentre os dez primeiros – se utilizarmos o critério de crescimento numérico e influência geográfica. A igreja do Espírito Santo em Gana, por exemplo, é um movimento de plantio de igrejas que se desenvolve rapidamente no sul daquele país e agora envia obreiros para além fronteiras com grandes resultados de multiplicação. Lembro-me que, alguns anos atrás, seu fundador escreveu uma carta para as instituições cristãs no país, convidando-as para o dia de inauguração daquele ministério e, ao fim, declarou ser, ele mesmo, a encarnação do Espírito Santo na terra. Hoje, esse é um grande e rápido movimento missionário, espalhando influência em diversos países. Nem tudo o que funciona é bíblico. Precisamos, então, definir nosso compromisso. Somos comprometidos com Deus e Sua Revelação e não com homens ou estratégias de crescimento incompatíveis com o Senhor. Não temos a permissão de Deus para manipular os homens ou criar atalhos na proclamação do Evangelho. O plantio de igrejas, portanto, não pode se definir pelos resultados visíveis, mas sim pela obediência e fidelidade ao Senhor. Devemos, porém, cuidar para também não sermos tomados por um orgulho anticrescimento, como se o número reduzido de convertidos no processo evangelístico com o qual estamos envolvidos fosse evidência de que, ao contrário de outros, somos bíblicos. Essa compreensão é, também, fruto de soberba e, não raramente, incoerência com os fundamentos práticos e bíblicos da evangelização. Ocorre quando falta
amor pelos perdidos, disposição para a evangelização, consciência missionária e obediência às Escrituras.
O plantio de igrejas se define pela proclamação do Evangelho
O ponto mais relevante ao lidar com a praxis do plantio de igrejas não é quão capacitado você está para pregar o Evangelho, mas o quanto você o faz (Ef 1.13). Igrejas nascem onde a Palavra de Deus operou poderosamente, o que enfatiza a importância essencial da proclamação do Evangelho no processo de plantar igrejas. Conversando com um recém-convertido no Peru, onde havia uma boa equipe missionária com o alvo de plantar igrejas, perguntei por que as pessoas não estavam vindo para Cristo, especialmente tendo em mente um número expressivo de missionários trabalhando durante um longo período. Rapidamente ele respondeu: “Creio que é porque as pessoas não ouvem o Evangelho”. Então percebi que, apesar da excelente liderança presente, bom sistema de comunicação por satélite, obrigatoriedade de relatórios trimestrais e uma ótima estrutura de cuidado pastoral, a equipe missionária simplesmente não falava de Jesus. Como ouvirão se não há quem pregue? (Rm 10.14).
Somos comprometidos com Deus e Sua Revelação e não com homens ou estratégias de crescimento incompatíveis com o Senhor
Um alvo, diferentes estratégias
Pensemos na estratégia de Paulo para plantar igrejas. Em Antioquia da Pisídia, ele iniciou o evangelismo a partir da sinagoga, pregando aos judeus. Eles ficaram tão impressionados que convidaram os missionários a voltarem na outra semana (At 13.1348). Em Icônio, a mensagem comunicada na sinagoga não convenceu a maioria. Paulo e Barnabé foram, então, usados por Deus, manifestando sua graça através de milagres e maravilhas (At 14.1-4). Em Listra, não há referência de Paulo pregando na sinagoga. Usado por Deus para a cura de um homem, Paulo fez desse momento uma ponte para pregar o Evangelho a toda uma multidão (At 14.8-18). Em Tessalônica, Paulo pregava na sinagoga aos sábados e na praça durante a semana. Historicamente, ele se postava na petros, um suporte de pedra à saída do mercado, para anunciar diariamente a Palavra do Senhor para os que por ali passavam (At 17.1-14). Portanto, encontramos no ministério de um só homem, em uma mesma geração, diferentes abordagens e estratégias de evangelização e plantio de igrejas. Paulo fala a multidões, mas também visita de casa em casa. Ele prega aos judeus na sinagoga, mas também o faz fora do templo. Utiliza praças e mercados, jamais deixando de proclamar às multidões, mas se devota a indivíduos para discipulá-los e treiná-los para a liderança local. Devemos primeiramente compreender que não há estratégias fixas para a proclamação do Evangelho, apenas princípios fixos. No modelo paulino de plantio de igrejas, podemos observar que as principais estratégias utilizadas foram: • Introduzir-se na sociedade local, a partir de uma pessoa Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
43
receptiva, ou de um grupo aberto a recebê-lo e ouvi-lo; • Identificar ali o melhor ambiente para a pregação do Evangelho, seja público, como uma praça, ou privado como um lar; • Evangelizar de forma abundante e intencional, a partir da Criação ou da Promessa, e sempre desembocando em Cristo, sua cruz e ressurreição; • Expor a Palavra, sobretudo ela. Expor de tal forma que seja ela inteligível e aplicável para quem ouve; • Testemunhar do que Cristo fez em sua vida; • Incorporar rapidamente os novos convertidos à igreja, à comunhão dos santos, seja em uma casa, ou um agrupamento maior; • Identificar líderes em potencial e investir neles, seja face a face, ou por cartas; • Não se distanciar demais das igrejas plantadas, visitando-as e se comunicando com as mesmas, investindo no ensino das Escrituras; • Orar pelos irmãos, pelas igrejas plantadas e pelos gentios ainda sem Cristo, levando as igrejas também a orar; • Administrar as críticas e competitividade, sem permitir que tais atos lhe retirem do foco evangelístico; • Utilizar a força leiga e local para o enraizamento e serviço da igreja; • Investir no ardor missionário e responsabilidade evangelística das igrejas plantadas.
Elementos essenciais no plantio de igrejas
Nos últimos 20 anos, tenho tido o privilégio de lidar com o plantio de igrejas em contextos áridos, seja pela resistência ao Evangelho, falta de liberdade para pregá-lo ou barreiras linguísticas e culturais. É certo que em terrenos áridos uma diversidade de ações e estratégias deve fazer parte de nossa iniciativa no plantio e multiplicação de igrejas. Há, porém, alguns elementos essenciais que não podem faltar. • Oração - Há ampla ligação entre o despertamento para a oração e o plantio de igrejas; entre avivamentos históricos e avanço missionário. Esses elementos estão presentes nos principais movimentos de plantio de igrejas e antecedem cada processo. Wesley Duewel nos diz que o maior privilégio que Deus dá a você é a liberdade para aproximar-se dele a qualquer tempo. Esta é uma parte da missão que, além de essencial, pode ser praticada por todos. Patrick Johnstone relata que quando o homem trabalha, o homem trabalha; quando o homem ora, Deus trabalha. Devemos orar por uma pessoa, família, bairro, cidade, tribo ou nação até que Deus atenda.
Ronaldo Lidório é missionário, pastor, teólogo e escritor
• Intencionalidade - A ausência de uma intenção clara e objetiva de plantar igrejas talvez seja a maior barreira para que isso aconteça. Apesar do nascimento de igrejas a partir de ações não intencionais, a maioria das igrejas plantadas, sobretudo em lugares áridos, é estabelecida de forma intencional: há um grupo orando, planejando e trabalhando com este alvo específico. David Hesselgrave afirma que 75% das
44 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
igrejas plantadas em lugares onde não há igrejas nasceram a partir de ações intencionais. • Oportunidade - No plantio de igrejas, nossas ações não devem ser mensuradas pelo número de oportunidades que temos, mas por quantas oportunidades são aproveitadas. Igrejas são, em geral, plantadas onde as oportunidades são mais bem aproveitadas. A oração mais recorrente nos lábios de um plantador de igrejas é: ‘Abre os olhos do meu coração’. • Teologia - A fidelidade à Palavra é um dos elementos essenciais no plantio de igrejas. Há muitas estratégias de movimento de massa que são funcionais, entretanto não são bíblicas. David Hesselgrave alerta-nos: Nem todo novo pensamento é dirigido pelo Espírito. Nem tudo o que é novo é necessariamente bom. A Bíblia é antiga, o Evangelho é antigo e a Grande Comissão é antiga... • Continuidade - Poucas igrejas são plantadas em um período inferior a três anos em contexto nacional e seis anos em contexto transcultural. É necessário que, neste período, haja constância na presença, evangelização, discipulado, ajuntamento dos crentes e treinamento de líderes. Boa parte dos projetos de plantio de igrejas é abortada pela descontinuidade, seja da presença de plantadores ou de ações de discipulado. • Prática - Se você é um plantador de igrejas, as práticas que mais devem consumir seu tempo e atenção são: relacionamento com o povo, abundante evangelização, discipulado dos novos na fé, ajuntamento dos convertidos, treinamento bíblico de líderes e multiplicação. Em um contexto transcultural, deve-se acrescentar o aprendizado da língua, cultura e adaptação. Nenhuma tecnologia missionária substitui o poder da comunicação pessoal do Evangelho, o qual foi abundante e pessoalmente comunicado em cada período de expansão de plantio de igrejas, de forma criativa, fiel e constante. • Planejamento - Uma boa pesquisa e organização do projeto de plantio de igrejas são elementos que não podem
A MISSÃO DE PLANTAR IGREJAS
faltar nesta iniciativa. O planejamento deve incluir uma visão clara, alvos específicos, ações a serem desenvolvidas, um bom cronograma e detalhamento das estratégias. • Liderança local. - Todo amplo movimento de plantio de igrejas que se tornou regionalmente duradouro contou com um forte envolvimento de pessoas locais desde a primeira fase. O investimento em nativos, passando-lhes a visão, paixão e estratégias, garantirá um processo de plantio de igrejas que vá além do missionário ou evangelista. A reprodução de igrejas plantadas em uma segunda fase, idealisticamente, deve ser feita através dos frutos e não da raiz do movimento. Nesta etapa, o plantador de igrejas já deve estar assumindo uma posição na supervisão da visão e encorajamento, e não de linha de frente. Igrejas plantadas devem plantar igrejas! O modelo missionário para se plantar uma igreja que sugiro é: inicie, discipule, reproduza, assista, encoraje e parta. Durante nosso ministério entre os Konkombas de Gana tivemos a oportunidade de atuar na evangelização e plantio de igrejas. Uma família – do presbítero Mebá, primeiro convertido naquela região – foi, de fato, o grupo usado por Deus para espalhar o Evangelho de Cristo. A partir da primeira igreja plantada – na aldeia de Koni, onde morávamos –, tínhamos o desafio de evangelizar e plantar igrejas em outras aldeias. Em lugar de investirmos mais tempo apenas nas ações de expansão, demos atenção especial aos primeiros convertidos. Usamos um modelo de discipulado em que não fazíamos nada sozinhos. Fosse orar por um enfermo, evangelizar
uma família ou aconselhar uma pessoa, em tudo levávamos um ou mais dos novos convertidos conosco. Ao longo de dois anos fizemos isto e, assim, aqueles 15 primeiros convertidos tiveram uma boa oportunidade de aprender das Escrituras e participar da missão da igreja. Hoje há 47 outras igrejas plantadas, além da igreja de Koni, e em praticamente todas elas houve participação de algum destes 15 primeiros convertidos. Investir em pessoas é bíblico e funcional.
Conclusão
Ashbel Green Simonton, em seu sermão Os meios necessários e próprios para plantar o Reino de Jesus Cristo no Brasil, em 1867, expõe cinco pontos necessários para a evangelização. Primeiramente, ele nos diz que é necessário ter vida santa, pois na falta desta pregação os demais meios não hão de ser bem sucedidos. Em segundo lugar, ele defende a distribuição de literatura bíblica como livros, folhetos e a própria Bíblia, pois a imprensa é a arma poderosa para o bem. Em terceiro lugar, a pregação individual, pois cada crente deve comunicar ao vizinho ou próximo aquilo que recebe. Em quarto lugar, ele menciona o chamado ministerial, a pregação por pessoas designadas e ordenadas para esse encargo. Por fim, expõe a necessidade do estabelecimento de escolas para os filhos dos membros das igrejas, em uma iniciativa social e de preocupação familiar. Não há projeto mais duradouro e transformador do que este: pregar o Evangelho de Cristo, plantando igrejas que transformam vidas. Esta é a nossa missão.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
45
[ ESCRITÓRIO ]
ADMINISTRAÇÃO, RH, LEIS E CONTABILIDADE
Contratação de serviços terceirizados: tipos e vantagens (primeira parte)
P
ara examinarmos as vantagens e riscos de contratar trabalho de terceiros pela igreja, é necessário – forçosamente – abordar a contratação direta de colaboradores que prestam serviços de maneira eventual, seja por um espaço de tempo curto ou por períodos mais longos. Ao contrário do que muitos imaginam, qualquer forma de contratação tem suas implicações e responsabilidades, as quais surgem em razão da relação jurídica estabelecida entre a igreja e os contratados. Observamos que o termo terceirizado – ou outros dele decorrentes, como terceirizações – se refere a uma cadeia de contratações. Por exemplo: a igreja contrata uma empreiteira para uma determinada obra, e esta, por sua vez, contrata um engenheiro para a gerência da obra. Isso significa que o engenheiro é um terceiro em relação à igreja, que é a primeira contratante, sendo a empreiteira, a Cícero Duarte segunda contratante. é autor das obras As dúvidas que surgem são: Que vanIgrejas na mira da Lei e Direito para tagens uma igreja teria em contratar uma igrejas, pastor empreiteira ou uma empresa de seguranmembro da equipe ça, ou sua assessoria jurídica de forma ministerial da Igreja Batista do Parque terceirizada? Quais os riscos e obrigações Panamericano decorrentes de tais contratações? em São Paulo (SP) e membro Nos exemplos apresentados, está clara da Fraternidade a vantagem – e até mesmo a necessidade Teológica LatinoAmericana (FTL) – da contratação desses serviços de manei-
ra terceirizada, para a maioria das igrejas. Isso porque são serviços que requerem uma especialização e uma habilitação técnica, com um custo muito elevado para a igreja manter por meio de uma contratação direta. Evidentemente que isso se aplica à maioria das igrejas. Mas, no caso de uma grande igreja estruturada, com uma administração central, que tem sob sua responsabilidade, por exemplo, cerca de 50 templos ou congregações, poderá ser menos onerosa a manutenção de um departamento de engenharia próprio para atender a demanda de seus templos, casas pastorais, acampamentos e outros imóveis próprios. Além disso, várias igrejas e denominações têm ainda um departamento jurídico próprio e contadores contratados pelo regime da CLT. Ou seja, o primeiro parâmetro a ser avaliado para a igreja decidir a maneira de contratar seus colaboradores é o custo direto da contratação – quer seja utilizando contrato de trabalho, amparado pela legislação trabalhista, contrato de empreitada, prestação de serviços temporários ou contratação de serviços voluntários. Além da questão do custo direto da contratação (independentemente do regime escolhido), é preciso avaliar também os custos indiretos – inclusive os riscos jurídicos. Na segunda parte deste artigo, no próximo número, abordaremos os aspectos jurídicos da contratação de colaboradores e os riscos envolvidos. Até o nosso próximo encontro! Contato: direitoparaigrejas@gmail.com
O primeiro parâmetro a ser avaliado para a igreja decidir a maneira de contratar seus colaboradores é o custo direto da contratação – quer seja utilizando contrato de trabalho, amparado pela legislação trabalhista, contrato de empreitada, prestação de serviços temporários ou contratação de serviços voluntários.
46 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
FERRAMENTAS REPRODUÇÃO / G1
[ INSIGHTS PARA PREGADORES ]
ABRIGO PARA CRIANÇAS INDÍGENAS Abrir a própria casa para receber crianças órfãs não seria propriamente uma novidade. Há muitas iniciativas semelhantes no Brasil e em muitas cidades do mundo. Mas transformar em abrigo para crianças indígenas, como fizeram o norte-americano Barry Hall e sua esposa Vânia em Manaus (AM), é algo inédito e, por enquanto, único no país. Pais de cinco filhos, eles instalaram, em julho de 2012, com apoio do Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (Conplei), a casa-lar Coração do Pai, que hoje atende a 13 crianças de diversas etnias. Acostumado a missões religiosas no interior do estado do Amazonas, onde vive há 25 anos, Hall explica que criou o abrigo para dar uma opção aos indígenas que, por diversas razões sociais e culturais, rejeitam suas crianças. Algumas etnias condenam filhos de mãe solteira, gêmeos ou trigêmeos, resultados de estupro, incesto ou infidelidade. “Ao nos entregar a criança, o cacique fica satisfeito, porque ela saiu da aldeia, os pais ficam aliviados e o bebê ganha vida e um lar”. Barry Hall avisa, no entanto, que o abrigo atende a não-indígenas, apesar de estes não serem a prioridade. “Muita gente acredita que ter um local para crianças indígenas é discriminação, mas, na verdade, só estamos nos especializando para fazer um trabalho melhor. Aceitamos não-indígenas quando podemos instalá-los e, quando tivermos um espaço maior, queremos aumentar também o número de vagas”, explicou Hall, que, no abrigo, conta com o apoio de pediatras, assistentes sociais, psicólogos e nutricionistas. Mantido por doações, o local recebe itens básicos do dia a dia das crianças como fraldas, leite, lenços umedecidos, berços e cercadinhos. “Também precisamos de alimentos e, mais do que tudo, ajuda financeira para pagar aluguel, água, luz e os nossos seis funcionários”. (Com informações do portal de notícias G1)
Carta aberta ao CFM Em resposta ao apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) à alteração do artigo que trata do crime de aborto, ampliando as hipóteses já permitidas através da reforma do Código Penal Brasileiro, a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE) divulgou uma carta aberta na qual repudia veementemente a postura do órgão máximo da classe médica brasileira. Para a ANAJURE, apoiar a descriminalização do aborto pela simples vontade da gestante até a 12ª semana de gestação, conforme previsto no PLS 236/2012, é frontalmente contrária aos direitos humanos fundamentais em especial à dignidade da pessoa humana do bebê. Além disso, segundo a associação de juristas evangélicos, o parecer do CFM – “justificado” por compromissos humanísticos e humanitários – é totalmente equivocado e distorcido da realidade, seja sob a ótica dos Direitos Humanos Fundamentais, seja sob a ótica da Bioética, seja sob a ótica do próprio pensamento majoritário da sociedade brasileira e da classe médica. Em sua carta, a ANAJURE destaca que a proposta de reforma do Código Penal apoiada pelo CFM traz no seu bojo algo gravíssimo que é a relativização do direito natural à vida e sua proteção desde a concepção. (Com informações da ANAJURE) Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
47
CHILD FUND BRASIL
Igreja irrelevante
PARA REFLETIR Um estudo da ChildFund Brasil sobre a pobreza mostra que há 36,3 milhões de pobres no país. Desse total, há 16,2 milhões vivendo na miséria e 20,1 milhões na pobreza. O estudo, baseado em dados de 2008 e de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de 2011 do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, explica que quem está na miséria não tem condições de se alimentar e recebe renda per capita mensal de apenas 70 reais; quem está na pobreza, dispõe de condições mínimas de alimentação, moradia, transporte e vestuário, e têm renda per capita mensal de até meio salário mínimo. Quando a doações, o ChildFund aponta, com base em dados de 2008 divulgados pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), que o brasileiro doa principalmente para o setor de assistência social (63%), seguido de saúde (25%), desenvolvimento comunitário (14%) e educação (12%). O público beneficiado pelas doações é formado majoritariamente por crianças e adolescentes (72%), o valor médio de doações/ano é de 388 reais e o dinheiro doado por brasileiros (6,07 bilhões de reais) chega a 0,3% do PIB. Desse montante doado, cerca de 1,4 bilhão são destinados a organizações não-governamentais. A propósito do “ser solidário”, vale dar uma olhada na pesquisa coordenada pela Charities Aid Foundation (CAF) e divulgada no Brasil pelo IDIS, a qual mostrou que o Brasil passou a ocupar hoje a 83ª posição no ranking mundial de solidariedade, de acordo com dados do World Giving Índex 2012 coletados em 146 nações. (Com informações de ChildFund Brasil e IDIS) 48 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Nações como a Escócia e a Austrália têm uma população majoritariamente cristã, segundo os censos realizados nesses países, mas os cristãos escoceses e australianos parecem ter absorvido apenas a “cultura”, mas não a fé de seus antepassados. A Escócia, que já foi berço de um movimento missionário de alcance mundial no início do século 20, pouco mais de cem anos depois vê o percentual de cristãos de 66% em 2001 cair para 55% em 2012. Segundo pesquisa realizada pelo Panelbase Institute, sob encomenda do jornal The Sunday Times e da rádio Real Scotland, nas igrejas evangélicas escocesas, 23% dos cristãos disseram não acreditar que Jesus foi alguém real. Na Austrália – país em que, teoricamente 61,1% dos habitantes professam a fé cristã –, pesquisa do McCrindle Research revela dados aterradores: 47% dos australianos consideram a frequência à igreja “irrelevante”, 26% não aceitam o que é pregado, 24% acham a igreja antiquada e 19% não crêem na Bíblia. Pouco mais de 8% da população responderam que vão à igreja pelo menos uma vez por mês. (Com informações de Gospel Prime, McCrindle Research, The Christian Post e BBC)
[ INSIGHTS PARA PREGADORES ]
Antes de partir
Outro Novo Testamento? Um grupo de teólogos formado por 19 pessoas elaborou uma nova versão do Novo Testamento, que incluiu outros dez livros, duas orações e um cântico, chamada pelo editor Hal Taussig de Um Novo Novo Testamento: a Bíblia para o século 21 (foto). Publicado recentemente nos Estados Unidos, o volume de 600 páginas recebeu apoio de estudiosos como Marcus Borg, Karen King e Barbara Brown Taylor, os quais, assim como Taussig, eram membros do Jesus Seminar – um grupo de estudiosos que há alguns “determinara” quais palavras e ações de Jesus registradas nos Evangelhos eram autênticos. A lista dos novos livros adicionados ao Novo Testamento pelo grupo inclui: A oração de ação de graças, A oração do apóstolo Paulo, O Trovão: Mente perfeita [cântico], O Evangelho de Tomé, O Evangelho de Maria, O Evangelho da Verdade, Os Atos de Paulo e Tecla, A Carta de Pedro a Filipe, O Apocalipse Secreto de João, e O Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Livro das Odes de Salomão. Segundo teólogos cristãos tradicionais, o material adicionado é literatura gnóstica ou proto-gnóstica, e não está centrado na revelação de Jesus como o Deus-homem. (Com informações de Gospel Prime)
A escritora e compositora australiana Bronnie Ware resolveu escrever, em seu blog pessoal, um artigo intitulado Os cinco principais lamentos dos que vão morrer – impressões sobre seu trabalho de enfermeira e cuidadora de pacientes terminais, a maioria deles com câncer. O artigo e demais textos que registrou em seu blog sobre o assunto tiveram uma repercussão impressionante: recebeu “visitas” de mais de um milhão de internautas em pouco tempo. O número, então, triplicou depois de um ano. Decidiu, então, escrever o livro Antes de partir: Uma vida transformada pelo convívio com pessoas diante da morte (The top five regrets of the dying, o título original em inglês). Na obra, publicada no Brasil pela editora Jardim dos Livros, Ware reuniu relatos de 17 pacientes terminais em suas últimas semanas de vida, tomando o cuidado de alterar quase todos os nomes dos personagens do livro, para preservar a privacidade de amigos e parentes. Na introdução da obra, a autora agradece pelas lições de vida aprendidas – A todas as pessoas maravilhosas agora falecidas, cujas histórias não apenas construíram o livro, mas também influíram em minha vida significativamente – e lista os arrependimentos mais comuns das
pessoas no fim da vida: Eu queria ter vivido a vida que eu desejava, não aquela que os outros esperavam de mim; queria não ter trabalhado tanto; queria ter tido mais coragem de expressar meus sentimentos; queria ter estado mais perto dos meus amigos e queria ter me feito mais feliz. (Com informações da Livraria Folha)
O que eles pensam da Bíblia Uma pesquisa do Grupo de Pesquisas Barna, encomendada pela Sociedade Bíblica Americana e divulgada em março, mostra que quase nove em cada dez norteamericanos (88%) têm pelo menos um exemplar da Bíblia – em 1993, esse percentual era de 92%. Apesar dos sinais de secularização, o alcance das Escrituras Sagradas permanece alto nos Estados Unidos: oito em cada dez americanos (80%) identificam a Bíblia como literatura sagrada – em 2011, o percentual a respeito era de 85%. Quase dois terços dos adultos americanos (61%) disseram desejar ler mais a Bíblia. Ao todo 77% acreditam que os valores morais dos EUA estão em declínio – e 32% deles acham que isso está acontecendo porque falta a leitura das Escrituras, e 29% entendem que isso se deve à influência negativa da mídia. (Com informações do Grupo de Pesquisas Barna)
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
49
[ RECURSOS ]
[ LIVRO ]
AGORA SIM! – TEOLOGIA NA PRÁTICA DO COMEÇO AO FIM Luiz Sayão
[ LIVRO ]
A REVOLUÇÃO PROTESTANTE Alister McGrath
Vox Litteris
Editora Palavra
De maneira bastante divertida – e lançando mão de ilustrações assinadas pelo cartunista Spacca –, o tradutor, escritor e teólogo Luiz Sayão faz deste Agora sim! – Teologia na prática do começo ao fim um instrumento eficaz na desmistificação dos conceitos teológicos, antes restritos apenas aos estudos acadêmicos. Com uma linguagem simples e bem-humorada, fácil de ser entendida por leigos cristãos e demais interessados em aprender sobre Teologia, Sayão percorre, com muita ponderação e bom senso, espinhosos temas como o radicalismo, a presença do mal no mundo, orações não respondidas e traduções da Bíblia, dentre outros. A obra, de 192 páginas, trata de questões fundamentais da Teologia, divididas em oito partes: Provocação, Questionamento, Ponderação, Verdade, Confrontação, Instrução, Sabedoria e Exortação. Além de divertido, o livro suscita também questionamentos a respeito do crescimento das igrejas evangélicas no país – tema desta edição de LIDERANÇA HOJE. Ótima leitura que pode (e deve) ser incentivada nas igrejas por todos os pastores e líderes!
Dividida em três partes, A revolução protestante, de Alister McGrath, trata da origem, da consolidação e da transformação do protestantismo. É, sem exagero, um passeio altamente provocante pela história do movimento protestante contada desde o século 16 até hoje. Estudioso de fama mundial, McGrath oferece uma nova interpretação do protestantismo e de seu impacto no mundo, mostrando que o fato de os indivíduos terem a possibilidade de interpretar a Bíblia por si mesmos era uma ideia radical e inovadora, capaz de gerar uma revolução que permanece até os nossos dias. McGrath, professor de Teologia Histórica na Universidade de Oxford, inicia sua obra, de 532 páginas, tecendo considerações – com precisão cirúrgica – sobre como o protestantismo veio à existência, examinando seu desenvolvimento histórico durante seu primeiro grande período de expansão. Na segunda parte do livro, o autor trata das idéias básicas do movimento protestante, das características distintivas da fé evangélica, focando seu impacto sobre a cultura, sempre deixando clara duas facetas marcantes do movimento protestante: sua notável instabilidade e sua capacidade de adaptação. No final, McGrath avalia a história do protestantismo durante o século 20, período em que o movimento passou por mudanças e desenvolvimentos radicais, em especial por meio de sua expansão na Ásia, na África e na América Latina. Nessa parte do livro, o autor – muito aclamado por estudos como O Deus de Dawkins e Fundamentos do diálogo entre ciência e religião – mostra sua visão extremamente provocativa acerca do futuro global do protestantismo. McGrath fala especialmente do surgimento do pentecostalismo como uma nova forma de protestantismo excepcionalmente bem adaptado, o qual, segundo ele, veio a satisfazer as necessidades e as aspirações dos pobres urbanos em geral. Leitura obrigatória!
50 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
[ LIVRO ] [ LIVRO ]
A CRUZ DO REI Timothy Keller Edições Vida Nova Autor renomado e líder da Igreja Presbiteriana Redeemer, Timothy Keller fez deste A cruz do rei bem mais que uma instigante compilação de uma série recente de sermões baseados no Evangelho de Marcos: trata-se de um belo ensaio de apologética. Ao lembrar que nunca a cultura em geral dispensou tanta atenção ao Jesus histórico, Keller argumenta que, se pretendemos investigar sua vida, a fim de esclarecermos se Jesus realmente viveu, morreu e ressuscitou, para saber se a história da Páscoa contém um “fundo de verdade” ou, quem sabe, contém a chave para a história, precisamos nos voltar para os Evangelhos, os documentos históricos que contam a história de Jesus. Keller cita o fato de que há 200 anos alguns estudiosos começaram a dizer que os Evangelhos eram tradições orais que foram embelezadas com vários elementos lendários ao longo de gerações, mas contrapõe esse entendimento com um argumento levantado por Richard Bauckman: os Evangelhos são histórias orais que foram escritas a partir dos relatos das próprias testemunhas oculares, as quais ainda estavam vivas e atuantes na comunidade. Dividida em duas partes (“o Rei” e “a cruz”), a obra de Keller conta, em 18 capítulos, os momentos essenciais da história narrada no Evangelho de Marcos, na esperança de que o leitor encontre (ou reencontre) Jesus por meio desses relatos.
LÍDERES NÃO DÃO ORDENS Ritch K. Eich Thomas Nelson Brasil Líderes não dão ordens: Como orientar, inspirar e motivar pessoas para alcançar grandes objetivos, de Ritch K. Eich (Thomas Nelson Brasil), é um guia prático para todos os que desejam se tornar um exemplo de motivação, em qualquer área da vida. Em 236 páginas da obra – dividida em oito capítulos, além de espaços dedicados a notas, uma extensa bibliografia e dicas de sites e blogs –, o autor mostra a diferença entre um chefe e um líder, e destaca que a verdadeira liderança é composta de visão, ética, integridade, talento e competência. Segundo ele, desta maneira, é possível aprender com as adversidades e adquirir sabedoria para ensinar outros a conquistar seus objetivos. Aprendi a distinguir o que torna um líder eficiente e admirável daquilo que não o faz. Os líderes verdadeiros não ficam só falando. [...] Líderes de verdade sabem quando devem se calar e liberar o caminho. [...] Líderes de verdade dão valor e apoio àqueles que lideram, escreve Eich, fundador e presidente da Associated Eich, uma empresa de marketing, comunicação e treinamento e professor adjunto da Universidade Luterana da Califórnia. Ele deixa claro àqueles que aspiram à grande liderança que, além de inspirar e ensinar os outros, e tornarse mentores deles, é possível ajudá-los a alcançar suas metas profissionais e pessoais, ao mesmo tempo que atingem os objetivos da organização para a qual trabalham. Ótima leitura! Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
51
[ RECURSOS ]
[ LIVRO ]
PLANTAÇÃO GLOBAL DE IGREJAS [ LIVRO ]
A BÍBLIA E A GESTÃO DE PESSOAS Paulo Roberto de Araújo AD Santos Ampliar suas competências, descobrir o perfil do colaborador ideal, avaliar o seu desempenho e os de seus associados, explorar todo o seu potencial e transformar adversidades em aprendizagem. Essas são algumas das diretrizes do pastor, professor, teólogo e administrador de empresas Paulo Roberto de Araújo para aqueles que desejam obter, em suas gestões, compromisso de seus comandados e bons resultados. Especialista em gestão estratégica de pessoas e conhecedor da Bíblia, o autor explica que, ao escrever a obra, procurou aliar episódios que envolvem pessoas na Bíblia às técnicas de administração de pessoal, com ênfase em valores e princípios da Palavra de Deus. Ele mostra como o líder deve proceder ao fazer seleção de pessoas, de que maneira pode melhorar suas relações interpessoais, motivar e influenciar os liderados – de forma ética e positiva –, e como administrar conflitos. Leitura recomendada! 52 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Craig Ott e Gene Wilson Editora Esperança Os autores de Plantação global de igrejas deixam claro, logo no início que este livro não se trata de um estudo feito por “teóricos de gabinete”, mas é fruto da experiência de quem experimenta in loco os desafios da plantação transcultural de igrejas. Craig Ott passou 21 anos na Alemanha plantando igrejas e atuando como líder de treinamento e consultor nessa área por toda a Europa Central; Gene Wilson plantou igrejas por 18 anos em Quebec, no Canadá, e por dez anos na América Latina. Hoje, os dois continuam a ensinar, oferecer consultoria e orientar plantadores de igrejas em mais de 40 países. O livro, repleto de exemplos que, em sua maioria, provém da experiência pessoal dos autores, da observação e de entrevistas, traz ainda princípios bíblicos, formando assim uma espécie de guia prático para plantadores de igrejas que trabalham em uma grande variedade de cenários. De acordo com os autores, é cada vez maior a percepção de que o evangelismo sem a plantação de igrejas é uma abordagem incompleta para o cumprimento da Grande Comissão. Os discípulos são formados em comunidades de cristãos que são mais capazes de alcançar pessoas de seu próprio grupo étnico ou social. Essas comunidades tornam-se instrumentos de Deus para o impacto do Reino sobre indivíduos, famílias, bairros e a sociedade, lembram Ott e Wilson. Leitura recomendada!
[ BÍBLIA ]
BÍBLIA DE ESTUDO ARQUEOLÓGICA NVI Editora Vida Uma viagem de volta às terras e às origens da Bíblia, para um encontro sem precedentes com a Palavra de Deus. Esta é a Bíblia de Estudo Arqueológica NVI, da Editora Vida, uma ferramenta que fornece um olhar detalhado sobre os lugares descritos nas Escrituras Sagradas, trazendo à luz curiosidades e muita informação acerca de civilizações antigas e suas práticas, registros históricos e artefatos, literatura, arquitetura, religião, leis, eventos, geografia, agricultura, guerras e batalhas, sistemas políticos, padrões monetários, artefatos e figuras históricas. De Gênesis até o final do Apocalipse, a Bíblia de Estudo traz mais de 500 artigos informativos e fotografias a cores de lugares e objetos que dão ao leitor o contexto histórico de cidades e personagens citados na Palavra de Deus, dando provas da confiabilidade das Escrituras. De reis e impérios, com suas armas de guerra, a panelas de barros usadas para o transporte de água, o registro arqueológico presta um serviço inestimável àqueles que querem aprofundar seus estudos bíblicos pessoais e que desejam adquirir uma compreensão mais acurada da Bíblia. Além das tradicionais referências e notas de rodapé, a Bíblia de Estudo Arqueológica NVI oferece notas históricas e culturais com fotos (por exemplo, sobre a circuncisão no mundo antigo), escritos antigos (Platão, Apiano, Manuscritos do Mar Morto, etc.), quadros de sítios arqueológicos que dão o panorama de cidades ou regiões relacionadas ao livro bíblico (por exemplo, Roma no primeiro século) e quadros explicativos acerca de povos antigos, terras e governantes (a localização do Éden, a história do Egito, o império persa, dentre outros). Um dos diferenciais da Bíblia de Estudo Arqueológica NVI é justamente a preocupação de seus editores em fornecer explicações para passagens bíblicas que dizem respeito a fatos arqueológicos ou culturais nas Escrituras Sagradas. Outra fonte importante de informação é a linha do tempo incluída em cada livro bíblico, a qual permite ao leitor se situar na história e, ao mesmo tempo, cruzar informações pertinentes ao tema estudado, tais como dados culturais e narrativas antigas sobre determinado fato bíblico. Um exemplo disso é a criação do mundo: a Bíblia de Estudo Arqueológica NVI inclui, com base em textos antigos, as impressões e crenças de determinados povos sobre a criação do universo, mostrando o que se dizia a esse respeito na Mesopotâmia, no Egito e na Síria-Palestina, e ainda permite comparar essas descrições com as narrativas da mitologia grega. É um tesouro que todo estudioso da Palavra deve ter e ler. Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
53
A última fronteira Rick Warren, líder da Igreja Saddleback, quer levar o evangelho a 3.400 povos do mundo que não foram alcançados até 2020 Por Timothy C. Morgan
First published in Leadership Journal, Copyright © 2013 Used by permission, Christianity Today International
H
á dez anos, Rick Warren, pastor da Igreja Saddleback, em Orange County, Califórnia (EUA), publicava Uma vida com propósitos (Editora Vida), obra escrita em sete meses, quando se encontrava em um ano sabático. Mais de 32 milhões de cópias foram vendidas, tornando o livro o maior best-seller de não-ficção em capa dura da história. O sucesso fez de Warren, 59 anos, ministro da Igreja Batista do Sul, uma estrela da mídia global. Tido como o próximo Billy Graham, chegou a ser ridicularizado pela imprensa como antigay, um interlocutor de ditadores e um falso mestre. Warren, que acaba de republicar seu best-seller (uma versão expandida), lançou uma campanha pública baseada no subtítulo do livro – “O que estou fazendo na Terra?” –, um ‘Plano de Paz’ de alcance global, um desafio equivalente àquele lançado pelo presidente norte-americano John Ken-
54 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
nedy, o qual colocou um homem na Lua em uma década. O foco de Warren está nos 3.400 grupos de não-cristãos ou sem uma Bíblia em sua própria língua. Ele definiu como prazo para atingir essa meta o final de sua última década como pastor sênior da Saddleback: 2020, quando seria jubilado, após 40 anos no púlpito. Nesta entrevista, concedida a Timothy C. Morgan, vice-editor-chefe da revista Christianity Today, e reproduzida por LIDERANÇA HOJE, Rick Warren, líder de uma igreja de 22 mil membros, falou sobre evangelização e missões. Era realmente necessário relançar o segundo livro mais traduzido no mundo, ao lado da Bíblia? Por volta do ano 2000, comecei a passar o tempo com a multidão de 20 e poucos anos. Na época em que lancei o livro, uma menina que tinha 12 anos, agora tem 22. Ela precisa conhecer o propósito de sua vida assim como seus pais fizeram.
O que aprendi nos últimos dez anos foi lendo milhares de cartas. As duas maiores barreiras que impedem as pessoas de cumprirem seus propósitos são a inveja e querer agradar as pessoas. A inveja é a idéia de que devo ser como você para ser feliz. Se eu estou invejando você, então eu vou perder o propósito de Deus para a minha vida. Nós vivemos em uma cultura competitiva, onde a inveja é o esporte. É uma armadilha. A outra barreira é querer agradar as pessoas, é achar que devo ser aprovado pelo outro para ser feliz. Tenho cartas de pessoas que disseram: “Eu sei o que Deus quer que eu faça, o que eu deveria estar fazendo com a minha vida, mas o meu marido não aprovaria – minha esposa não aprovaria, meus pais não aprovariam...” O medo da desaprovação e a necessidade de agradar as pessoas são barreiras para viver o seu propósito. Quando escrevi Uma vida com propósitos, não tinha absolutamente nenhuma idéia de como, muitas vezes, seria testado pessoalmente pela primeira frase do livro: A questão não é você. É realmente tudo sobre Deus, e seu objetivo é muito maior do que a sua realização pessoal. Não tinha idéia de que essa sentença me assombraria diariamente. As pessoas querem colocá-lo em um pedestal ou desejam tirá-lo de lá, e os dois lugares não são onde você deveria estar. Resumi minha vida assim: um grande compromisso com o Grande Mandamento e a Grande Comissão dará origem a um grande cristão. Fará crescer uma grande igreja, um grande país, uma grande empresa. Mas, principalmente, fará crescer um grande cristão. Mais recursos são gastos na evangelização nos Estados Unidos do que em qualquer outra nação. No entanto, pesquisas mostram que o país está se tornando menos cristão. Qual a sua opinião a esse respeito? O cristianismo cultural está morrendo. Esse cristianismo não é genuíno. O número de cristãos culturais está diminuindo, porque nunca foram realmente cristãos. Eles não precisam mais fingir indo à igreja. Não confio em todas as pesquisas que saem lá fora. A revista Newsweek fez uma matéria de capa sobre o declínio da América cristã basea-
da em uma pesquisa do instituto Pew Forum on Religion and Public Life, segundo a qual o número de protestantes caiu vertiginosamente. Isso é um termo antigo. É como dizer que sou um peregrino. Ninguém mais diz ser um peregrino ou um puritano. Assim, os números de peregrinos e puritanos caíram vertiginosamente na América! Claro que esse tipo de protestantismo caiu: aqui, as únicas pessoas que ainda podem ser chamadas de protestantes são aqueles das igrejas liberais – os que mais morreram. Pastores em todas as áreas parecem muito menos influentes na cultura do que eram há uma geração. O que aconteceu? Minha geração se apaixonou pelo paraeclesiástico. A minha geração e a geração anterior à minha construíram todas as grandes organizações eclesiásticas – Focus on the Family, Associação Evangelística Billy Graham, Wycliffe, Campus Crusade, InterVarsity, Vida Jovem, Mocidade para Cristo, e assim por diante. A razão de a igreja não ter um impacto maior se deve ao fato de os cérebros mais inteligentes e aqueles com mais dinheiro estarem fora da igreja. Se você vai a uma conferência de missões em qualquer faculdade cristã, observe: não é organizada por uma igreja local – tudo será 100% paraeclesiástico. A Igreja Saddleback está começando a alcançar 12 cidades do mundo. Algumas destas cidades – Londres, Hong Kong, e Amã, na Jordânia, tiveram igrejas durante séculos. Então, qual é a estratégia? Nenhuma igreja local, incluindo a Saddleback, é feita para durar para sempre. Cada igreja é um organismo vivo. O corpo local tem um ciclo de nascimento, crescimento, maturidade, planalto, declínio e morte. Novas igrejas precisam nascer. Não estamos indo para essas cidades para substituir as igrejas que estão lá. Estamos indo para oferecer recursos às igrejas que estão lá. Vamos construir uma base em diferentes lugares ao redor do mundo, para que possamos ajudar com recursos e treinar as igrejas em suas áreas, sem que tenham que vir para os EUA. Usamos duas metáforas: o acampamento-base do monte Everest e a agência espacial norte-americana NASA. Em 1963, quando John Kennedy anunciou Nós estamos indo para a Lua, era fisicamente e tecnicamente impossível fazê-lo. Eles dividiram aquele esforço em três programas (Mercurio, Gemini e Apollo). Nós adotamos a mesma progressão – Mercurio, Gemini e Apollo – e nosso “ir à Lua” é a meta de atingir os 3.400 grupos de pessoas não alcançadas, que estão em lugares nos quais menos de 2% da população é cristã. Onde não há Bíblia, nenhuma igreja, nenhum cristão. Esta é a fronteira final. O livro do Apocalipse diz que ao redor do trono nos céus haverá pessoas de todas as línguas, de todas as nações, de todas as tribos. No entanto, ainda há 3.400 tribos não-alcançadas, que são muito pequenas. Nenhuma delas tem mais de 100 mil pessoas. Os primeiros quatro anos do ‘Plano de Paz’ foi o programa Mercúrio. Enviamos 4.400 membros de nossa igreja para o exterior. A idéia era indagar: “Pessoas comuns podem sair e plantar igrejas, equipar líderes, ajudar os pobres, cuidar de doentes, e educar a próxima geração?” Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
55
Estados Unidos, e ninguém quer dizer isso. Então, eles falam sobre uma “guerra contra o terrorismo”. Você não pode vencer uma guerra contra o terrorismo, porque este é uma ferramenta, um método. Não temos uma guerra contra um método. Há uma guerra com uma ideologia que pretende destruir tanto Israel como os Estados Unidos e a cultura ocidental. A crença desses radicais islâmicos não é a mesma do típico muçulmano. Os pontos de vista dos radicais islâmicos não representam a totalidade do Islã mais do que a Ku Klux Klan representa o cristianismo.
56 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
J U L I A N N E
E quanto à metáfora do monte Everest? Você não pode escalar o monte Everest em um dia. Você tem de subir várias centenas Reconciliação é essencial, mas o que de metros e acampar em uma base, de dizer da perseguição religiosa? modo que, se você estiver em apuA Igreja Saddleback tem sido ros, sua equipe terá um lugar onde criticada por pessoas como o poderá se reagrupar. Comecei a deputado republicano Frank pensar que é necessário usar Wolf, as quais dizem que algumas igrejas como acamClaro que o protestantismo sua igreja mantém silêncio pamentos-base, fortes e escaiu: as únicas pessoas que acerca dos cristãos que táveis, em todo o mundo, de estão sofrendo. maneira que as equipes que ainda podem ser chamadas de Eu vi isso. Foi hilário. deslocadas para essas áreas protestantes são aqueles das Escrevi uma nota para ele: tenham um lugar de referên“Frank, do que você está cia. Assim, se precisarem de igrejas liberais – os que mais falando?” O cara que estaajuda, não precisarão retorva à frente da Missão Portas nar aos Estados Unidos para morreram Abertas é um ex-membro da obter socorro. direção de minha igreja. OrgaTrabalhando em harmonia nizamos três fóruns civis para com juntas de missão, foram sedebater o problema da perseguilecionadas as 12 cidades mais próção. Estamos nos preparando para ximas das 3.400 tribos. Por exemplo, fazer outro. sabemos que 400 tribos não-alcançadas dessa lista estão no Sudão. Mas não há neEstima-se que dez mil baby boomers (filhos da nhum lugar seguro no Sudão onde se possa consSegunda Guerra Mundial) completam 65 anos todos os truir uma base – por isso, nosso ‘acampamento’ fica em dias. Quem fará o seu trabalho, quando você se aposenAmã, na Jordânia. O mesmo está sendo feito em Moscou, tar? de onde enviaremos equipes para evangelizar grupos não-alUm ano atrás, começamos nossos planos Calebe e Timócançados no Cazaquistão e no Uzbequistão. teo. Quando iniciei a Igreja de Saddleback, em 1980, anunciei que daria 40 anos de minha vida para a igreja, para então Há um novo debate entre os especialistas sobre a inentregá-la a uma liderança mais jovem. Aos 65 anos, ainda fluência da religião em política externa. Alguns vêem a terei mais energia que qualquer jovem, mas os membros da religião como parte do problema. Como você analisa essa igreja precisam de um novo rosto. Tenho mais sete anos em questão? Saddleback. Isso não é nenhum segredo. Há uma raiz religiosa para todos os problemas do planeNão administro mais a Saddleback. Ela é gerenciada pela ta. Pobreza tem uma raiz religiosa. Conflito tem uma raiz repróxima geração. A geração Calebe é aquela em que todo ligiosa. Doenças também. Todos estes problemas envolvem mundo tem mais de 40 anos de idade. A geração Timóteo comportamento e comportamento envolve religião. inclui aqueles com menos de 40 anos. Tenho a intenção de Um dos problemas que tivemos na política externa normobilizar a geração Calebe, que se aposenta nos próximos te-americana foi a má vontade em dar nome à atual ideodez anos, para trabalhar para a Grande Comissão. Eu digo logia adversária. Durante a Guerra Fria, houve claramente o seguinte: “Você acha que irá para casa e vai jogar golfe? duas ideologias: comunismo e capitalismo. Hoje, há uma Nenhuma chance!” ala radical do Islã que é um claro inimigo ideológico dos
M E N D E S
Qual é a estratégia ideal para a igreja? Trabalhar com os muçulmanos moderados. Esta é a idéia do nosso ‘Plano de Paz’: promovendo a reconciliação para encontrar um homem de paz. Encontrei homens de paz que não consideram o que creio acerca das Escrituras e, certamente, não são cristãos, mas nós podemos trabalhar juntos. O modelo de reconciliação é importante.
T R A D U Ç Ã O :
Para o programa Gemini, o objetivo era perguntar o seguinte: “Podemos praticar todas as coisas que precisamos fazer para ir à Lua?” Nós estabelecemos uma meta de que, até o final de 2010, Saddleback seria a primeira igreja local a ir a todas as nações. Há 196 nações do mundo. Em 18 de novembro de 2010, enviamos nossa equipe para Saint Kitts, a nação 196. Eu mandei 14.869 membros de nossa igreja na missão Gemini. Aprendemos acerca do que chamamos de killer apps (aplicativos necessários). Essas aplicações podem ajudar os pobres? Podem cuidar dos doentes? Ajudam na plantação de igrejas? No programa Apollo, parte da missão em que estamos indo para a Lua, estamos nos certificando de que teremos uma igreja, uma Bíblia (ou pelo menos parte das Escrituras traduzidas) e um cristão em cada um desses 3.400 grupos de pessoas não-alcançadas.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
57
Uma comunidade
afetiva
D
urante muitos séculos, a contribuição da mulher na igreja foi limitada a ensinar crianças, organizar eventos sociais e desenvolver atividades de cunho assistencialista em prol dos mais necessitados. Não que sejam ministérios sem importância. Pelo contrário, a responsabilidade de ensinar crianças é ainda maior do que ensinar adultos que tem espírito crítico para filtrar o que ouvem. Promover a comunhão e exercer o ministério da compaixão também são áreas essenciais para a vitalidade da igreja. Mas não abrangem a diversidade dos dons que o Espírito distribui conforme lhe apraz e não conforme o sexo! Inclusive, a força missionária sempre foi constituída majoritariamente por mulheres que abriam campos de ministério até que um homem viesse assumir o cargo de pastor.
58 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Expandindo a atuação da mulher na igreja e na sociedade Por Isabelle Ludovico
Com o movimento feminista, a mulher conquistou direitos na sociedade e se desenvolveu profissionalmente a ponto de hoje ser maioria nas universidades – ainda que não receba um salário igual ao do homem para uma mesma função. Ela não aceita mais ser tutelada pelo homem e anseia por relações de mutualidade. Numa família onde a responsabilidade pelo sustento é compartilhada, é justo que o poder também seja redistribuído. Assim, a transformação da mulher alterou profundamente a dinâmica relacional com o homem. O anseio por uma relação mais democrática gerou muitos conflitos que alguns casais já conseguiram superar quando se propuseram a lidar com eles em uma atitude de respeito mútuo. Cada conflito superado possibilitou o amadurecimento da relação. A harmonia não é mais um ponto de partida imposto por uma rígida distribuição de papéis: o homem manda e a mulher obedece, mas a consequência de
uma dinâmica relacional, onde cada um tem voz ativa eambos aprendem a compartilhar suas emoções e respeitar suas diferenças. Não se trata, pois, somente de direitos iguais porque seria uma conquista apenas legalista, mas de igualdade no sentido existencial. Se a sociedade caminhou rumo a esta mutualidade nas relações, os cristãos têm ainda mais recursos, pois, em Cristo, podemos resgatar o projeto original de juntos governarmos a terra. A palavra “auxiliadora”, muitas vezes identificada com “subalterna”, neste contexto não tem nenhuma conotação hierárquica, já que é usada também para qualificar o próprio Deus. O significado é de uma contribuição essencial que permite nos edificar mutuamente. Deus nos liberta do desejo narcisista de que o outro seja a nossa imagem, para acolher a sua unicidade que amplia o nosso horizonte e nos fertiliza. Neste processo de transformação desencadeado pela mulher, o homem pode ser cooperador e incentivador. Ele perde uma escrava, mas encontra uma parceira com quem pode compartilhar prazeres e responsabilidades. Divide a carga de ser provedor, mas também o prazer da realização profissional, divide a tarefa de educar os filhos, mas descobre o prazer de construir um lar aconchegante, de cozinhar e de uma convivência enriquecedora com os filhos. Algumas mulheres tendem a exagerar, dando prioridade à sua carreira profissional e abandonando a família. Entram em uma relação competitiva com os homens e se tornam muitas vezes caricaturas deles. Alguns homens resistem à proposta de parceria por se sentirem destronados, se fecham ou tornam-se agressivos gerando um círculo vicioso de acusações e cobranças do qual só conseguirão se livrar se cada um sair do papel de vítima e reconhecer sua participação no conflito. A crise pode desembocar numa separação física ou emocional, mesmo continuando debaixo do mesmo teto. Mas ela pode ser construtiva se cada um assume a responsabilidade por si mesmo e se dispõe a iniciar um processo de diálogo, reconciliação e aceitação mútua. Nenhum casamento pode preencher totalmente alguém. Cada um precisa ter vida própria para sair da codependência e iniciar uma relação de mutualidade. Os medos, as fantasias e as mágoas precisam ser expressos para deixar o esconderijo escuro do inconsciente onde eles assumem proporções assustadoras. Às vezes, as feridas são tão profundas e as defesas tão rígidas que é necessário recorrer a um terapeuta familiar para encontrar o caminho da restauração. O casal precisa escolher um ao outro novamente várias vezes no decorrer da vida. Casamento requer uma grande flexibilidade, disposição para a mudança, prontidão para
falar e ouvir, procurando entender a perspectiva do outro, e tolerância com alguns conflitos irreconciliáveis. Todas estas características são essenciais para ser feliz. Na crise, o importante é não desistir. Ambos poderão descortinar novos horizontes e desenvolver um potencial até então inibido pela definição estereotipada do que significa ser homem ou mulher. Um casal reconciliado permite construir uma família saudável, que, por sua vez, é a base de uma igreja acolhedora, formada por famílias de sangue e famílias da fé que integram os solteiros, viúvos e divorciados em grupos de comunhão inclusivos. O Reino de Deus é formado por amigos do Senhor que são amigos entre si, ou seja, a vitalidade da igreja depende da qualidade das relações entre seus membros. Uma igreja afetiva oferece um espaço de aceitação e trocas que favorece a descoberta e o desenvolvimento dos dons e talentos. Novamente, é necessário sair do modelo hierárquico para resgatar o modelo bíblico de corpo onde cada um tem uma contribuição única em uma dinâmica de mutualidade e complementariedade. Em meados do século 20, descobrimos o paradigma sistêmico que nos permitiu sair de uma leitura linear e excludente para enxergar o mundo na sua dimensão ecológica. O raciocínio analítico, reducionista e fragmentado, foi ampliado numa perspectiva mais holística, circular, inclusiva e intuitiva que gerou mudança não só de pensamento, mas de valores: do intrapsíquico para o interrelacional, da expansão desenfreada para a conservação através do desenvolvimento sustentável, da competição para a cooperação, da quantidade para a qualidade, do modelo autoafirmativo (penso, logo existo) para o modelo integrativo (redes de interconexões). Apesar da igreja geralmente andar a reboque da sociedade, seria bom que ela aplicasse este paradigma na percepção da sua missão. Não se trata das mulheres ocuparem o lugar dos homens na liderança da igreja, mas de uma pluriliderança mista que resgata a noção de sacerdócio universal, um modelo onde todos participam em função dos dons e talentos que lhes foram confiados para a edificação do Corpo e a expansão do Reino, e não em função de cargos institucionais. A igreja precisa estar a serviço da comunidade onde está inserida. É aí que surgem os multiministérios destinados a suprir as muitas necessidades identificadas na comunidade. Na perspectiva da Missão Integral, seguindo o exemplo de Cristo, não se trata de evangelizar apenas proclamando as Boas-Novas, mas de ser as boa nova, atendendo as necessidades materiais, afetivas, relacionais e propiciando meios de viver com dignidade. Como diz Richard Stearns,
Numa família onde a responsabilidade pelo sustento é compartilhada, é justo que o poder também seja redistribuído
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
59
em seu livro A grande lacuna: Cristo nos chama para ser seus parceiros na transformação do mundo. Com aproximadamente dois bilhões de cristãos no mundo, quase um terço da população, transformar o mundo em relação à pobreza e injustiça não parece estar além das nossas possibilidades. [...] Será que as futuras gerações nos verão como cristãos que viviam no luxo e na autogratificação enquanto milhões morriam por falta de alimento e água? Será que as crianças lerão com indignação sobre uma igreja que tinha riqueza para construir grandes templos, mas não tinha vontade de construir escolas e hospitais? Está em risco mais que a vida dos pobres e órfãos, a própria integridade de nossa fé. As mulheres tendem a ser mais empáticas com o sofrimento alheio, mas precisam trabalhar em parceria com os homens para ir além de dar o peixe ou ensinar a pescar, promovendo uma transformação social. A diaconia que somos chamadas a exercer não é realizar tarefas, mas um jeito de ser. Nós, mulheres, precisamos reconhecer que fomos e continuamos geralmente omissas em relação à transformação social. Temos priorizado nosso sucesso profissional, família e igreja, mas continuamos em geral alheias a questões que dizem respeito à justiça social, delegando aos homens a tarefa de governar o mundo. Na realidade, a tarefa é de cuidar, preservar, redistribuir para reverter os efeitos nocivos deste modelo que está gerando uma disparidade cada vez maior entre ricos e pobres. Ainda bem que podemos citar algumas referências positivas que são fonte de inspiração, tais como: Aung San Suu Kyi cuja biografia é relatada no filme Além da liberdade (The Lady, 2011); e, no Brasil, Marina Silva (recomendo a leitura de sua biografia, escrita por Marília de Camargo César, Marina - A vida por uma causa) e Margaretha Adiwardana, fundadora da Associação Missão Esperança (AME). Nós, evangélicos, deveríamos estar na frente dos movimentos sociais que buscam construir um mundo mais justo, sustentável e solidário. Mas podemos, pelo menos, aprender com aqueles que têm se mobilizado para promover esta mudança, como o movimento dos “indignados”. No livro intitulado O caminho da esperança, seus autores, Stéphane Hessel e Edgar Morin, Isabelle Ludovico da Silva concluem que o bem-estar material não é psicóloga clínica, trouxe o bem-estar mental, como provam com especialização em Terapia o consumo desenfreado de drogas, ansioFamiliar Sistêmica. líticos, antidepressivos, soníferos das pesE-mail: isabelle@ soas abastadas. [...] A sociedade é carente ludovicosilva.com.br
de empatia, compaixão e amor. Eles propõem substituir a busca do bem-estar pelo bem-viver que inclui o bem-estar afetivo, psíquico e moral. Isto deveria ser nossa bandeira, pois ser sal e luz no mundo significa exercitar o amor, a esperança e a fé, fundamentados em Cristo e capacitados pelo Espírito Santo. É a partir do testemunho da nossa própria vida que podemos promover estes valores, pois, como disse Gandhi: precisamos ser a mudança que queremos ver no mundo. Em vez de nos deixar paralisar por informações sensacionalistas da mídia que só pontuam escândalos e desastres, deveríamos identificar e apoiar iniciativas construtivas, ações concretas que contribuem para reverter o mal e promover a dignidade e a justiça. É o caso dos empreendedores sociais que visam o empoderamento econômico através de projetos capazes de gerar oportunidades para aqueles que estão à margem ou fora da economia. Mas qualquer ação precisa só será fértil se for gestada na intimidade com Deus. Em seu livro Identidade feminina segundo Jesus, Kari Torjesen Malcolm faz um alerta às mulheres, que é válido também para os homens: buscar a identidade em papéis é um equívoco. Nossa identidade provém de um relacionamento afetivo com Cristo. Cada vez que algo substitui Cristo em nós, experimentamos um sentimento de fracasso e traição da nossa vocação e dos nossos sonhos. Movidos pelo seu amor, somos chamados a seguir seus passos e ele fez questão de quebrar as barreiras sexuais, sociais e raciais. Ele nos chamou à humildade, lavando os pés dos discípulos, no entanto continuamos construindo paredes e hierarquias entre brancos e pretos, ricos e pobres, homens e mulheres... No auge da crise, mulheres acompanharam Jesus até a cruz. Elas foram ajudadoras de Paulo em quase todas as cidades onde passou. Lídia foi líder da primeira igreja fundada na Europa. No decorrer da História, elas contribuíram de forma significativa na expansão do Reino, a partir de uma relação de paixão com Jesus que as levou a superar todas as barreiras e discriminações. O homem e a mulher têm uma nova identidade em Cristo. Nivelados diante da cruz, eles precisam renovar diariamente sua dependência da Graça de Deus para se tornar agentes de cura e reconciliação, vozes proféticas e catalisadores de mudança. Se formos fiéis colocando o que sabemos em prática, nossos dons e talentos serão multiplicados. Nunca é tarde para voltar para o nosso primeiro amor. Que possamos prosseguir na vocação de sinalizar o Reino, integrando devoção e ação, amor e justiça, entusiasmo e sabedoria, para a glória de Deus.
Movidos pelo seu amor, somos chamados a seguir seus passos e ele fez questão de quebrar as barreiras sexuais, sociais e raciais
60 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
61
As quatro estações da vida do líder
Se existe uma certeza a respeito de um líder é que sua vida nunca será monótona e pacata. Ao contrário, será agitada, cheia de aventuras, mudanças e desafios Por Mário Kaschel Simões
R
abandonados, abatidos, mas não destruídos (2 Co 4.9) e, ecentemente, estava conversando com minha quegraças a Ele, sobrevivemos e permanecemos de pé. Algum rida esposa Priscila sobre um grande passo de fé tempo depois, refletindo sobre tudo o que havia acontecido, que precisamos dar em nossa Escola Internacional comecei a pensar nas estações do ano, como metáfora para Preparando Gerações (EIPG). Tentando expressar as estações da vida. Uma coisa levou a outra, um estudo se em palavras o sentimento que tinha diante de nós, lembreitransformou em uma série de mensagens, que se tornou o me de quando tive a oportunidade de visitar a DisneyWorld meu primeiro livro: As 4 Estações da Vida. A primeira pese desfrutar de algumas novas atrações, dentre elas o Mission soa que leu o texto do livro, ainda em forma digital, foi a Space (Missão Espaço) no EPCOT Center. Depois de alguns Priscila. Ao terminar, ela me disse: “Como eu gostaria de ter longos minutos de espera na fila, chegamos a uma bifurcação lido isso antes, quando estávamos no meio da nossa crise.” onde a fila se dividia em duas, e uma placa no meio com duas Convidado a escrever para LIDERANÇA HOJE, pensei setas: uma apontando para a direita com as seguintes palaentão em compartilhar com você algumas lições acerca das vras: “Atração com emoção, com força gravitacional e fortes quatro estações da vida do líder. Elas devem servir de reflemovimentos” e a outra apontando para a esquerda escrita: xão para compreender o que aconteceu com você no passa“Atração sem emoção, sem força gravitacional e movimentos do e de instrução para entender o que pode acontecer em suaves” – recomendada para pessoas com pressão alta e prosua jornada de líder no futuro. blemas cardíacos. É claro que fui na fila da direita! Os anos se passaram e, agora, estamos em outra atração, esta intitulada Mission PeoA primavera na vida do líder, a ple (Missão Pessoas), porém com uma estação do ‘preparo’ Precisamos grande diferença: na fila não há uma biPrimavera é um tempo de preparo. furcação com uma placa que dê duas A palavra vem do latim prima (priaproveitar ao alternativas de experiências para meiro lugar) e vera (verão). Sendo aquela atração. Quando você é um máximo todas as assim, ela é a primeira estação de líder, e está servindo a Deus no tratodas, ou o primeiro verão. Todos vezes que formos balho, no ministério, seja onde for, os anos, logo após um longo invervocê não tem opção. A fila é única. no, vem a primavera. É o momenagraciados por Deus E a placa na entrada diz o seguinto em que as oportunidades surcom as inúmeras te: “Ministério com altas emoções, gem, as flores desabrocham e as aventuras, fortes experiências, criaturas saem de sua hibernação. oportunidades que grandes passos de fé e, com certeza, É tempo de semear as sementes que, nos trazem cada constantes mudanças!” um dia, frutificarão. É tempo de prePortanto, se as mudanças são uma parar a terra para a próxima colheita. É primavera certeza na vida do líder, como ele pode o momento em que a vida floresce. compreendê-las? Será que existe uma ordem A primavera é um tempo de voltar aos esou sequência de fatos e momentos? Onde o líder tudos e regressar ao aprendizado. Não é um tempo encontra direção, consolo e ânimo para seguir em frente, de grandes realizações, mas de se preparar para elas. Assim apesar das circunstâncias? A resposta para esta pergunta é: como as flores se renovam, as pessoas atualizam seus objetiEm Deus e na sua criação! vos, pensam em novos desafios, em novas possibilidades. É Há uns quatro anos, nossa empresa passou por uma crium trampolim para o futuro tão desejado. É uma fase de liberse financeira tão grande que quase falimos. Foi um tempo dade para sonhar com o amanhã. É um momento muito espede muitas perdas de finanças, paz, saúde e relacionamencial de avaliar, planejar, preparar e traçar um caminho novo, tos. Mas, pela graça de Deus, fomos perseguidos, mas não com novos compromissos. É tempo de escrever um novo ro-
62 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
teiro para o próximo capítulo do livro da sua vida, deixar tudo o que o prendia ao passado e correr para o futuro. (Fp 3.13) Como líderes, passaremos por várias primaveras em nossa vida. Algumas delas podem durar semanas, outras, meses, e outras, alguns anos. Por isso, precisamos aproveitar ao máximo todas as vezes que formos agraciados por Deus com as inúmeras oportunidades que nos trazem cada primavera. Dedique alguns dias para fazer um mini-retiro de planejamento: defina e escreva a sua missão de vida, bem como suas metas e objetivos de curto e longo prazo. Organize sua agenda de acordo com as suas prioridades. Prepare-se para a estação do verão, que virá logo a seguir. Faça isso pessoalmente, com seu cônjuge, filhos, sua equipe de trabalho, seu ministério e seus funcionários. Lembre-se: Aquele que falha em planejar, planeja falhar!
O verão na vida do líder, a estação do “disparo”
O verão é um tempo de muita energia, euforia e alegria diante das realizações. É o momento de estar cumprindo o seu propósito de vida. É uma fase de muitos desafios, de se sentir
realizado por estar produzindo, superando e conquistando. Ao mesmo tempo, o indivíduo, por estar ocupado com o excesso de trabalho e com muitas atividades, acaba negligenciando sua saúde e deixando de lado os amigos mais chegados. O que o líder mais deseja é poder executar o planejamento feito na primavera e alcançar as metas estabelecidas durante o verão. É um tempo de buscar melhoria de vida, esforçando-se para chegar ao topo, seja na profissão, nos relacionamentos ou na vida acadêmica. Com certeza, esta é a estação de almejar o sucesso em tudo que se faz. É um tempo de fazer acontecer, crescer na carreira, ser criativo, ganhar dinheiro, comprar, assumir novos riscos, fazer mudanças, aumentar a família, produzir e sentir-se realizado. Deus quer que você seja uma bênção, pois Ele o abençoou com essa finalidade. Para isso é que Ele efetuou em você o Seu querer, que é descobrir a vontade de Deus. (Fp 2.13) Pode ser que você descubra a vontade de Deus através de uma experiência frustrante, a ponto de lhe causar um “santo descontentamento”, como diria Bill Hybels. Esse descontentamento fará com que você encontre a resposta para o problema Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
63
para sempre. A única coisa que durará eternamente é o e a solução para aquela frustração. Priscila e eu passamos por amor de Deus por você! isso, anos atrás, com relação à educação escolar de nossos Lembra-se da crise financeira que passamos há quase filhos, Felipe e Davi. Ficamos muito frustrados em ver o que quatro anos? Para alguma coisa boa, precisava servir. Como eles aprendiam na escola. O que aprendiam em casa logo era resultado dela, aprendi o seguinte: Seus sofrimentos no predesaprendido na escola. Os valores e princípios que ensinávasente serão seus ensinamentos no futuro. Uma prova disso mos em nosso lar eram contrariados e menosprezados na sala é este artigo, além de um livro, mensagens, e vários semide aula. Por isso, decidimos fazer parte não do problema, mas nários. Com certeza, não teria condições de escrever estas da solução. Resolvemos começar uma nova escola, que faria palavras se não tivesse experimentado os desafios e lições a diferença na vida dos alunos, não somente com o intuito de de cada estação na minha vida. Hoje, entendo e agradeço a informar, mas de formar sua vida para transformar o mundo! Deus por todas as experiências, tanto as boas como as ruins. Acreditando no sonho e visão de que para mudar uma nação é preciso mudar uma geração, fundamos, em 2001, a Escola Internacional Preparando Gerações (www.eipg.com.br). O inverno na vida do líder, A maior parte do ministério de Jesus Cristo foi realizada a estação do ‘reparo’ durante a estação do verão. Ele produziu, deu fruto, curou, O inverno é uma das estações mais extremas do ano. Por expulsou demônios, repreendeu, ensinou, amou, perdoou, causa das baixas temperaturas, as pessoas são forçadas a doou, influenciou, fez discípulos e se entregou em favor sair das ruas e ficar aquecidas e protegidas em casa ou em de toda a humanidade. Foram 30 anos de preparo, de prioutros ambientes fechados. Muitos animais se recolhem e mavera. Porém, na cidade de Caná, na Galileia, no meio de passam esse período em um estado de hibernação. A maiouma festa de casamento, foi dado o tiro de partida! ria das plantas perde totalmente a sua folhagem, fiA água transformou-se em vinho, dando início cando somente os galhos. aos três anos do maior verão jamais regisSemelhantemente, a estação do inverno trado, cuja estação mudou a história do na vida é um tempo em que nos fechamos mundo, a ponto de ser dividida em e nos afastamos. Também hibernamos Como saber se o a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois para ter um período de reclusão, inverno terminou, de Cristo). reflexão e recuperação dos fortes Aproveite seu verão. Trabaventos causados pelo outono. se você está curado, lhe, produza, realize, colha, guarO extremo ativismo e canpronto para virar a de, ame, faça a diferença e cumsaço do verão e as perdas e fepra o propósito de Deus para o ridas causadas pelo outono, dão página e passar para a qual você foi criado! lugar ao inverno, um período de preparação da primavera? descanso e cuidado do corpo, de tratamento da alma ferida, de reO outono na vida do líder, A resposta é simples: novação do espírito abatido. a estação do ‘eu paro’ quando a dor O inverno começa quando terO outono começa quando a priminam as lutas e dificuldades do oumeira folha da árvore despega do gadesaparecer tono. Quando a última folha da árvore lho e cai lentamente no chão, dando inícai, aí começa o inverno. Você chegou ao cio à estação de perdas, lutas e provações. fim do poço porque não dava para ficar pior. O outono é imparcial, pois atinge a todas as O problema parou, a sangria foi estancada e o bupessoas, mesmo que elas não tenham feito nada raco no casco do seu barquinho foi tapado. A chuva parou, no passado para merecer tal dificuldade. A palavra em inglês a goteira cessou e a enchente parou de subir. As cobranças para outono é fall (queda) e a primeira folha a cair da árvore pararam, o câncer foi removido, as acusações e os procespode ser uma briga no casamento, um e-mail relatando que sos cessaram. O pior da crise passou! Os tiros pararam, o você perdeu 50% de seus investimentos aplicados na Bolsa de barulho acabou e, de repente, você começa a ouvir um som Valores, ou durante uma reunião em que você é demitido do suave e diferente: um silêncio! Chegou o inverno! seu trabalho, ou um telefonema comunicando o falecimento Só Deus pode curar, sarar e cuidar de nossas feridas (Sl de um ente querido. 147.3). Permita que ele cure as feridas do outono, para que É bem provável que você esteja se lemvocê não continue ferido e também não continue ferindo as brando agora de algumas maneiras como outras pessoas. Perdoe e seja perdoado. o outono chegou à sua vida no passado. Como saber se o inverno terminou, se você está curado, Um tempo que levou você a perder a paz, pronto para virar a página e passar para a preparação da prio sono, os sonhos, o ânimo, a disposição e, mavera? A resposta é simples: quando a dor desaparecer. Que talvez até, a própria vontade de viver. mudança de vida! O inverno – o tempo de reflexão, correção, O maior desejo que temos no outono Mário Kaschel perdão e cura que parecia uma eternidade – já passou! (Ct é sair dessa estação o mais rápido possíSimões 2.11). Vire a página, abra a janela, veja o brilho do sol, sinta vel. Desejamos voltar ao verão imediataé palestrante, pastor e escritor uma brisa no rosto e respire fundo! Agora é tempo de vestir mente. A boa notícia é que o outono vai E-mail: contato@ uma roupa nova, abrir a sua casa e reunir a família e os amiterminar um dia. A vida não é um eterno preparando.com.br gos para festejar. Você está pronto para recomeçar! outono. Se você está no meio dessa estaQue Deus abençoe todas as suas estações de vida! ção, a boa-nova é que ela não vai durar 64 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
O líder da juventude, Stuart, organiza uma viagem de acampamento no fim de semana para adolescentes da igreja. Mas Ashley, uma jovem com sérios problemas em família, não interage com o restante do grupo. Então, ele encontra o momento perfeito para contar a história do profeta Oseias, destacando seu exemplo de amor incondicional.
gracafilmes.br
gracafilmes Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
65
Quando o ministério se transforma num fardo, cuidado: você pode assustar sua família, seus amigos e sua igreja Por Bob Merritt
A
lgo aconteceu comigo em meus 40 anos que me deixou confuso. A igreja teve um crescimento de 20% ou mais por ano, e estávamos construindo prédios, aumentando a equipe, e os pedidos para falar e ensinar fora da nossa igreja foram aumentando. Fui convidado para liderar o departamento de pregação no Bethel Theological Seminary como professor de meio período, e não poderia ter o melhor roteiro da minha vida. Tudo o que estava fazendo parecia se encaixar em quem eu era. Mas, por cerca de dois anos, eu me tornei miserável. Não vi isso na época, mas as exigências sobre a minha vida haviam superado a minha capacidade de me sustentar.
66 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
First published in Leadership Journal, Copyright © 2013 Used by permission, Christianity Today International
Eu me sentia preso a tantas pessoas diferentes e obrigações que, um dia, peguei minha canoa e fui remando na chuva até o lago, remei para o meio, e fiquei lá por duas horas. Com a chuva e as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, olhei para o céu cinza e disse em voz alta: “O que há de errado comigo?” O que me confundiu foi tudo que eu estava fazendo de bom. Mas fazer tudo isso foi lentamente sugando a minha vida.
Sinais de perigo
As rachaduras começaram a aparecer em comentários agressivos e explosões de raiva na direção de minha esposa, meus filhos e os funcionários da igreja. Eu tinha me tornado um recluso em meu gabinete. Eu me escondia atrás de uma
porta fechada, porque tinha que pôr em marcha um sermão, plano de aula, ou agenda da reunião. As tensões entre a minha equipe e eu foram varridas para debaixo do tapete. Se alguém ficasse ferido, azar o dele – que engolisse em seco e apenas fizesse o seu trabalho. Não havia interação real: ‘apenas faça e não me incomode’. Estava ocupado e as pessoas deviam entender isso. Em casa, eu era ainda pior. Era um homem pensativo e irritado que reagia aos menores deslizes com comentários e gestos ofensivos. As crianças aprenderam a permanecer à distância e perguntavam calmamente para minha esposa: “Por que é que o papai está assim o tempo todo?” Entre Laurie e eu havia abundância de gritos e lágrimas, seguido por dias em que um ficava alheio ao cotidiano do outro. Eu não entendia porque sentia ou me comportava daquela maneira. Pensava que todos eram o problema, e que eles só não entendiam o meu mundo. A defesa para o meu comportamento era de que “estava fazendo aquilo que Deus me havia ordenado”. Isso era verdade. Estava fazendo o que Deus me disse para fazer, só que estava fazendo demais. Tinha uma sensação de que algo dentro de mim estava se quebrando. Mas não tinha tempo nem energia para enfrentar aquilo. Também temia permitir que qualquer pessoa tivesse acesso à minha alma. Emocionalmente, eu estava esgotado, e isso ficava claro na minha incapacidade de amar ou rir, algo que se manifestou de uma forma muito dolorosa em uma viagem em família para a costa norte do North Shore Lake. Depois de quatro horas na estrada, desfizemos nossas malas em Blue Fin Bay. Foi quando descobri que tinha guardado todos os esquis, mas sem as botas. Foi o suficiente para eu me irritar. Frustrado, explodi. “Como posso manter o controle de tudo? Como posso ser responsável pelas coisas das crianças, minhas coisas, as coisas de todo mundo? Não se admire se eu esquecer as coisas!” No terceiro dia, meu péssimo humor já tinha praticamente arruinado toda a viagem, mas pensei que talvez uma caminhada de três quilômetros no pico Carlton, ao longo da Trilha Nacional Superior, levantaria nossos espíritos. Quando mencionei a caminhada para a minha família, em vez de desistir da ideia mediante a reação deles, os obriguei a ir na névoa, em silêncio, em sinal de protesto. Finalmente, na metade do caminho até a montanha, parei, me virei e comecei a dar palestras a todos sobre suas atitudes e as férias da família, e disse: “É este o agradecimento que recebo por tentar planejar um passeio divertido?” Dois dos quatro membros da família começaram a chorar, e os outros dois estavam simplesmente furiosos. Então, voltamos. Aquela tarde foi tranquila em todo o condomínio. Eu tinha ido para o meu quarto sozinho, os outros saíram. Uma
hora depois, bateram na minha porta. Era a minha filha de 14 anos, Meggie, que veio até o meu quarto e me deu um cartão feito por ela. Em seguida, sem dizer uma palavra, virou e foi embora. Estava escrito do lado de fora do cartão: PAI. Dentro do cartão, ela escreveu: “Eu sinto muito por ter uma má atitude, por arruinar o seu tempo e por ser egoísta. Por favor, me perdoe! Com amor, Megan”. Ela desenhou quatro corações perto do nome dela e aquilo partiu meu coração, porque eu que agira errado. Meg não sabe disso, mas fiquei com aquele bilhete por um ano inteiro, e, cada vez que lia minha Bíblia e escrevia no meu diário, olhava para aquela nota e me lembrava várias vezes por dia que eu era a pessoa que mais precisava mudar em minha família. Mas eu não sabia como mudar.
Momento da verdade
Assim como Deus enviou o profeta Natã para confrontar o Rei Davi com o seu pecado, Deus mandou Dean Hager, um homem de negócios à nossa igreja, para me confrontar. Dean respeitava minha liderança e um dia ele me escreveu uma carta para dizer como Deus o compeliu a encontrar uma tarefa a desempenhar na Eagle Brook. Uma coisa levou a outra e, depois de alguns anos conosco em um grupo de mentoreamento, Dean tornou-se presidente do conselho de nossa igreja. Uma das razões de Dean ter aceitado a função era porque ele queria me ajudar a me tornar um líder melhor. Ao se aproximar de mim, viu alguns problemas. Concluiu que a melhor maneira que poderia me ajudar era permitir que o conselho da igreja me ajudasse no desenvolvimento de minhas habilidades de liderança. Mas, quando Dean cavou mais fundo ainda, começou a ouvir boatos perturbadores da equipe e dos líderes leigos sobre o meu padrão de relacionamento. Dean Hager passou vários meses entrevistando os principais líderes e a equipe, e sempre me manteve a par do que estava sendo dito, e o que pensava que eu deveria fazer. Eu sabia que havia alguns problemas, mas não fazia ideia de quão séria era a situação até o dia de uma reunião do conselho, realizada em fevereiro de 2004. Dean tinha conquistado a confiança total da diretoria e a minha, e convocara uma reunião executiva que tinha um único item a discutir: minha liderança. Dean resumiu suas preocupações, e depois de 14 anos que estive liderando nossa igreja, ele disse ao conselho: “A questão que está diante de nós hoje é a seguinte: Bob Merritt deve continuar nos conduzindo?” Estava tão atordoado que não conseguia falar. Ter aquela questão colocada me abalou. Percebi que aqueles oito anciãos tinham meu destino em suas mãos, e, naquele momento, sabia que tinha algumas falhas graves que teria de superar ou perderia tudo aquilo pelo qual trabalhara tão intensamente.
Tinha uma sensação de que algo dentro de mim estava se quebrando. Mas não tinha tempo nem energia para enfrentar aquilo. Também temia permitir que qualquer pessoa tivesse acesso à minha alma
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
67
Tornou-se claro que não era muito agradável estar no outro lado de Bob Merritt. Fred colocou o espelho na minha cara e, pela primeira vez, vi as horríveis rachaduras. Aquilo me quebrou. E foi o começo da minha nova vida. Parte do que me confundiu foi que eu tinha sido bem sucedido fazendo o que sempre fiz, e me comportando do jeito que sempre me comportei. Por que tantos problemas agora? Eu aprendi uma lição de liderança vital: quando a paisagem muda, você tem de mudar com ela. O que funcionava antes, não funciona mais. O número de pessoas dependentes de minha liderança se multiplicou – o que significava que eu tinha de crescer para que a igreja e minha vida avançassem. Aprendi também que ser um professor competente e líder não é suficiente. As pessoas esperavam que eu fosse amoroso. Imagine isso! Eles queriam que eu fosse acessível e interessado em suas vidas. Eles realmente queriam ter algum tipo de relacionamento comigo. Comecei a ver que talento só o levará para longe. Estava tirando boas notas no Bob Merritt é pastor da Eagle quesito talento, mas levando “bomba” na Brook Church em questão dos relacionamentos. Fred e os White Bear Lake, outros estavam me dizendo que, se eu não Minnesota começasse a receber algumas boas no68 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
É possível mudar?
A pergunta que me assombrava era: Eu poderia mudar? Eu tinha o hábito de advertir em público e não dar muitos elogios a todos. Isso diminuiu a minha liderança e a moral da equipe. Essas foram coisas que Dean e Fred começaram a me ensinar, e que me tornaram responsável. Ainda dou umas derrapadas, especialmente quando estou esgotado. Mas deixar um conselheiro profissional se imiscuir em minha vida salvou a minha carreira, renovou meu casamento, abençoou meus filhos e fez com que nossa igreja se abrisse a novos horizontes. Uma das coisas que Fred disse que precisava fazer era me demitir imediatamente do cargo de professor no Bethel Seminary. Quando ele avaliou minha vida, quis saber como não tinha sofrido um colapso. Disse-me que nenhum ser humano poderia manter o ritmo que eu mantinha sem causar danos graves à alma e aos relacionamentos. Por que precisei ter um profissional para me dizer isso? Em parte porque estava preenchendo uma necessidade geM E N D E S
Quebrado
tas em relacionamento, poderia levar meu talento comigo e buscar outro emprego. Estava prestes a perder a minha equipe, porque em vez de eles se sentirem encorajados e capacitados, sentiam-se desvalorizados e derrotados. O pior é que minha equipe tinha começado a adotar alguns dos meus maus hábitos, porque o líder dá o tom e o exemplo. Se pudesse melhorar o lado relacional da equação, as possibilidades de influência e realização se multiplicariam, porque estaríamos fazendo as coisas como uma equipe. E uma boa equipe supera o talento individual – sempre. Parte do motivo de ter falhado foi ter, por tantos anos, liderado sozinho. Parecia que tudo dependia de mim. Recrutava jovens líderes voluntários, planejava e organizava o retiro da mocidade e até mesmo dirigia o ônibus. Durante os primeiros 20 anos de pastorado, tive um pouco de ajuda de voluntários, mas controlava tudo, e parecia que as pessoas estavam felizes com isso. Mas, depois, as coisas começaram a crescer e tornaram-se complexas. Havia mais programas, processos, encontros, cultos, estudos bíblicos e mais células. Em suma, havia mais pessoas, e nunca tinha aprendido a conduzi-las, porque nunca precisara fazer isso. Fazia quase tudo por minha própria conta. Quando tive que recorrer à ajuda de outras pessoas, foi por minha iniciativa. Ninguém – antes de Fred – teve a coragem ou permissão de me confrontar com a verdade nua e crua.
J U L I A N N E
O consenso naquela noite era de que ainda deveria conduzir nossa igreja, mas com uma condição: sofreria a intervenção, por um ano, de Fred, um treinador de lideranças que trabalha com executivos em todo o país. Teria inúmeras entrevistas com Fred, nas quais seriam traçados perfis de personalidade, além de várias trocas de informações entre mim e o conselho. Fred e seu assistente entrevistaram todos os membros da minha família, a maior parte de minha equipe, e todos os meus amigos mais próximos, fazendo uma série de 60 perguntas, que, na essência, pretendiam avaliar: “O que você tem de bom para falar sobre o Bob, e o que há de ruim nele?” As respostas espontâneas foram registradas em um documento de 200 páginas que Fred e seu assistente leram para mim, palavra por palavra, durante dois dias. Eu me senti completamente exposto. Ouvi frases como: “Bob negligencia relacionamentos e carece de habilidades interpessoais no trabalho com pessoas”; “Bob não escuta bem”; “Bob não gerencia sua equipe. Ná há amor. Ele é inacessível”; “Bob fala antes de pensar”; “Eu sei que Bob se importa, mas ele não consegue demonstrar”. O que realmente me chocou foi quando ouvi estas palavras do meu filho Davi: “O meu pai é muito bravo”. Quando Fred leu aquelas palavras para mim, olhou por cima da página, para fazer com que aquilo calasse fundo na minha alma. Tive que desviar o olhar. Depois de alguns segundos de silêncio, Fred ofereceu algumas amáveis palavras de conselho e consolo, mas eu era incapaz de ouvi-lo. Não poderia ter passado para ele a emoção crua que estava sentindo. Em vez de amor, risos e gentileza, meu filho estava experimentando raiva vinda de mim. Aquilo me destruiu. Nunca na minha vida eu ficado tão convencido de quão falho eu havia me tornado.
T R A D U Ç Ã O :
O fator Fred
O PASTOR E O MONSTRO
nuína do seminário, e aquilo parecia estar funcionando. Era capaz de agregar valor aos jovens pregadores, e o que poderia ser mais honroso do que isso? Mais uma vez, como poderia algo tão bom ser tão errado? A outra parte é que você não sabe onde fica a parede até bater nela. Burnout era um território novo para mim. Então, continuei adicionando mais cargos e responsabilidades, pensando que elas estavam revigorando, porque não conhecia os meus limites. Mas fiquei, de repente, em uma posição na qual as demandas excederam a minha capacidade de atendê-las. No entanto, não sabia como sair delas. Eu sentia que, se deixasse o cargo, deixaria as pessoas na pior. A decisão de renunciar ao cargo no seminário provavelmente salvou a minha carreira. Aprendi a importância de ter um Fred: alguém que tem acesso à sua vida e tem permissão para lhe dar um relatório honesto sobre suas falhas. Provérbios 12.15 diz: O caminho do insensato parece-lhe justo, mas o sábio ouve os conselhos. Por cerca de 30 anos, havia sido um idiota. Ouvir Fred foi a coisa mais sábia que eu tinha feito. Quando eu comecei a ver Fred, disse-lhe que estava com medo de não ser capaz de mudar. Ele tivera contato com centenas de tipos de executivos e dissera que a taxa de sucesso era de cerca de 40%. Os outros 60% continuam a tropeçar e, muitas vezes, acabam perdendo seus empregos e suas famílias. Disse-me que a diferença é a humildade. Aqueles que fazem o retorno e retomam sua liderança e sua vida, levando-as a um novo nível, são aqueles que são humildes o suficiente para receber comentários e levá-los a sério.
Tiago 4.10 diz: Humilhe-se diante do Senhor, e ele vai te levantar. Não é o orgulhoso e o auto-confiante que Deus levanta, mas o humilde. Então, se você está cansado ou confuso, se está com medo e um pouco paranóico com o que os outros estão dizendo ou pensando sobre você, se está com raiva, se sentindo sozinho e incompreendido, exorto-o a fazer esta pergunta vital: Sou humilde o suficiente para lidar com as rachaduras?
Uma segunda chance
Um ano depois do início daquele processo, nossa família foi até o North Shore de novo. Era o terceiro dia, uma manhã de céu azul, 30 centímetros de neve tinham caído durante a noite. Meg se aproximou de mim e perguntou: “Ei, papai, quer dar uma caminhada até o pico Carlton?” Minha esposa olhou para cima e sorriu. Este foi um presente de Deus, e eu sabia disso. Foi a maneira de Meg me perdoar pelo que acontecera no ano anterior. Sabia que Deus estava me dando uma segunda chance. Era só eu e Meg – pai e filha. Trilhamos nosso próprio caminho através das árvores e e chegamos no pico Carlton cerca de uma hora depois, com bochechas rosadas e casacos abertos. Há certos momentos na vida que Deus dá, que não podem ser capturadas por fotos. Este foi um deles. Meg e eu ficamos naquele pico, e não dissemos uma palavra. Estendi a mão e a abracei, e ela retribuiu o abraço. Esse era o nosso momento, um momento de Deus que nunca será repetido. Nós o aproveitamos com pura alegria e gratidão. Graças a Deus e a Fred, estou mais vivo hoje do que acho que jamais estive.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
69
EPÍSTOLAS [ CARTAS DOS LEITORES ]
EXCELENTE FERRAMENTA
RECÉM-CHEGADA
Parabenizo toda a equipe da revista LIDERANÇA HOJE, uma excelente ferramenta para o obreiro cristão. Destaco a matéria sobre os segredos de uma boa equipe, publicada na primeira edição. Com certeza, uma equipe faz toda a diferença. Meu ministério terá, a partir de agora, uma nova injeção de ânimo. Cleverson Pereira do Valle, pastor da Primeira Igreja Batista em Artur Nogueira (SP) e presidente da Ordem dos Pastores Batistas Subseção de Campinas e Adjacências
A minha revista acabou de chegar e, de cara, já estou gostando. Regis Oliveira, via Internet
ÓTIMAS MATÉRIAS Acabo de receber a revista LIDERANÇA HOJE e fiquei impressionado com a qualidade! Ótimas matérias e entrevistas. Parabéns para toda a equipe. Uma informação que pode ser útil: contratamos o livro Center Church: Doing Balanced, Gospel-Centered Ministry in Your City [algo como Igreja Central: Fazendo um ministério equilibrado e centrado no evangelho em sua cidade], citado na entrevista do Timothy Keller [fundador da Igreja Presbiteriana Redeemer (Redentor), em Nova Iorque, e considerado um dos líderes cristãos mais influentes dos EUA]. Estamos traduzindo e creio que lançaremos esta obra em 2014. Sérgio Moura, coordenador de produção editorial e marketing de Edições Vida Nova
ASSINATURAS Ganhei um exemplar e gostei muito desta revista. Como faço para assiná-la? Marcio Gledes, Fortaleza (CE) Parabéns pela iniciativa e pelo material. Conheci esta revista por meio de uma pessoa que veio ao estado do Tocantins vinda do Rio de Janeiro. Gostaria de assinar. José Almeida da Silva, Palmas (TO) Do editor: Para assinar LIDERANÇA HOJE, basta entrar em contato por meio dos telefones (21) 2628-2920 e (21) 3587-4872, ou por e-mail: faleconosco@cristianismohoje.com.br 70 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
DO AGRESTE PERNAMBUCANO Sou escritor e pastor presbiteriano. Atualmente, exerço meu ministério na região do agreste pernambucano. Recebi a segunda edição da revista LIDERANÇA HOJE e gostei muito do seu conteúdo. Vocês estão de parabéns por esse trabalho! Oro ao Senhor pelo desenvolvimento do ministério da revista. Jadson Cunha, via internet
LAMENTO E PEDIDO Assinei há poucos minutos a revista por telefone. Fiquei triste por saber que o exemplar nº1 está esgotado. Solicito que a editora disponibilize o PDF desta edição aos assinantes. João Bosco Vieira, Fortaleza (CE)
MANIA DE GRANDEZA
VOCÊ PARTICIPOU DO SUMMIT 2012? QUE DIFERENÇA ELE
FEZ EM SUA VIDA?
O THE GLOBAL LEADERSHIP SUMMIT 2013 VAI TOCÁ-LO AINDA MAIS!
“O Summit existe para transformar vidas de líderes cristãos ao redor do mundo com uma injeção de visão, capacitação, e inspiração para a igreja local.” SUMMITBRASIL.ORG EVENTO@WILLOWCREEK.ORG.BR Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
71
EKKLESIA [ ZIEL MACHADO ]
Memórias de um filho de pastor (2ª parte)
V
isitando minhas memórias com o filho de pastor, lembro-me de que, ainda na adolescência, descobri os benefícios de algo que a igreja oferece as suas famílias, a saber: uma rede ampliada de relações de cuidado. Existem uma variedade de modelos e experiências familiares que podem enriquecer a vida de cada um de seus membros. Costumo dizer aos meus filhos que eles devem atentar para outros pais e mães de nossa igreja; é possível que eles aprendam com outros aquilo que seus pais não foram capazes de ensinar. Como diz um ditado africano, para fazer nascer uma criança é necessário um casal, mas para educá-la é necessária uma comunidade! O processo de urbanização acelerado e seu impacto sobre a família pode ser atenuado por esta rede de relações significativas na qual a família nuclear se encontra inserida. Uma experiência que recordo com muito carinho é a de um amigo que, ainda adolescente, decidiu iniciar um grupo de estudo bíblico em sua escola como forma de compartilhar a sua fé. Um dia, enquanto orava em sua sala de aula, no período de intervalo, um jovem se aproximou e eles começaram a conversar sobre Jesus. No final da conversa, o jovem não somente decidiu seguir a Cristo como revelou sua situação de orfandade, o que provocou um convite para que ele fosse a casa de meu amigo almoçar. Chegando ali, os pais de meu amigo ouviram toda a história e decidiram adotá-lo como membro de sua família. Um lar cristão que acolheu na fé e na família aquele que não conhecia a Jesus Cristo e que, até aquele momento, nunca havia vivenciado uma experiência de ser parte de uma família. Seria muito bom que, a começar pelos lares dos pastores, os núcleos familiares de nossas igrejas pudesZiel Machado é pastor da Igreja sem aprofundar seus conhecimenMetodista Livre-Nikei, tos sobre os fundamentos bíblicos diretor acadêmico do da família. Saber que nossa teologia Seminário Servo de Cristo, professor da deve começar em Gênesis 1, pois é Faculdade de Teologia necessário compreender o propóMetodista Livre, em São Paulo (SP), e maratonista sito da criação de Deus e estudar 72 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
neste contexto a família – a qual precede ao Estado e mesmo à Igreja, que é o primeiro espaço para o exercício daquilo que conhecemos como mandato cultural (Gn 1.26-29). Além disso, a família é um instrumento de Deus em seu projeto de redenção (o mandato salvífico, 2 Co.5.20). Quando o Senhor resolveu abençoar a todas as famílias da terra, ele escolheu uma família (Gn 12); quando resolveu vir à terra, uma vez mais escolheu uma família para nela nascer. Deus não somente deseja estar em família como esta se tornou parte de seu projeto de bênção e de redenção. Estas realidades nos revelam que a dinâmica familiar poder ir além do fortalecimento de vínculos de afeto e compromisso. A presença de Cristo no lar modela o eixo no qual a família deve viver, relativiza as minhas convicções frente àquele que é o Senhor do lar, torna possível o perdão que viabiliza as relações, qualifica o conceito de compromisso de um com o outro, tomando por base a aliança, que tem como modelo o pacto de Deus com o seu povo. Sendo Cristo o Senhor, o ego narcisista deixa de ocupar o trono, a paciência se torna inspiração para o modelo pedagógico, de forma a não subestimar os pequenos começos. A realidade da ressurreição do Senhor nos faz encarar cada situação com esperança, a misericórdia fornece elementos para a mesa aberta que acolhe e cuida. Tudo isso me leva a concordar com Martinho Lutero que considerava o lar como uma escola de santidade. Muitas famílias cristãs acabam fazendo com a igreja local o que fazem com a escola onde seus filhos estudam: transferem a sua responsabilidade na educação e na formação espiritual. O lar se torna apenas um teto sob o qual nos reunimos e passamos algum tempo por perto, não necessariamente juntos. Minha mãe costumava dizer que todos nós, um dia, seremos convidados para o “jantar das consequencias”. Portanto, esta transferência de responsabilidade tem um grande peso que, no fim do dia, recai sobre a família. Que o Senhor nos ajude a dar a devida atenção ao nosso lar e assim poder dizer como Josué: eu e minha casa serviremos ao Senhor!
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
73
MISSIONAL [ OSWALDO PRADO ]
Clientes especiais
L
ojas superlotadas. Filas imensas. Gente aguardando horas para poder comprar um bem, por um preço mais barato e acessível. A cada ano, após o tradicional Dia de Ação de Graças, acontece o Black Friday que movimenta todo o comércio dos Estados Unidos. Os preços são reduzidos drasticamente e o espaço físico das lojas é insuficiente para tantas pessoas. Dois objetivos são claros: o comércio busca reforçar seu caixa e os clientes precisam ser atendidos naquilo que desejam. De algum tempo para cá, algumas lojas brasileiras, de olho numa sociedade cada vez mais impregnada pelo desejo incontrolável de consumir, tem usado do mesmo artifício, mas nem sempre respeitando o cliente. Com o controle da inflação, passamos a ter certo poder de compra e nos tornamos capazes de planejar nosso orçamento. Esse foi o lado bonito de toda essa história. Passamos, no entanto, a presenciar um quadro inusitado: o surgimento do cliente especial, que é buscado ansiosamente por aqueles que precisam vender seus produtos. Consumir se tornou algo também incrivelmente fácil e simples. Sem sair de casa, basta acessar um site, clicar o produto que você deseja possuir e rapidamente ele estará em suas mãos. Parte do tecido de nossa sociedade, a igreja evangélica brasileira vive um momento singular da História. Escolher entre tornar-se identidade visível de Deus neste mundo e mostrar os sinais do Reino ou moldar-se ao formato do mercado e todas as suas vertentes. Foi-se o tempo em que íamos a uma igreja para ouvir o que Deus falaria conosco. Hoje, o processo caminha na mão inversa. Comunidades existem para que necessidades sejam supridas rapidamente e sem dor. Nesse sentido, cada fiel torna-se um cliente que precisa ser atendido de forma a fidelizar-se com essa ou aquela igreja. De início, precisa-se saber quem são os clientes. Conscientemente ou não, quem lidera tem a tarefa de buscar o perfil dessas pessoas. O ideal é Oswaldo Prado que tenham interesses comuns, pois é diretor executivo ajudará muito na elaboração do disda Sepal curso – e, assim, aqueles que fazem
74 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
parte de um extrato social, cultural e econômico diferente da maioria sentem-se repelidos e não permanecem no grupo. O resultado é que o grupo torna-se mais homogêneo. O passo seguinte é ter consciência do que esses clientes desejam ouvir e ver durante o tempo que permanecem reunidos com outros. Nesse caso, o líder pode buscar um tema atual ou algo que saiu na mídia naquela semana, ou ainda fazer uma boa pesquisa com seus líderes mais próximos. O resultado é certo: o cliente ficará satisfeito e provavelmente voltará no domingo seguinte. O fato mais aterrador de tudo isso é que o líder precisará ter uma capacidade imensa de manter seus clientes satisfeitos, procurando não tocar em pontos que confrontem seu comportamento e seus desacertos. O espaço para o arrependimento torna-se imperceptível e intocável. À semelhança de qualquer grupo corporativo que busca sucesso e retorno financeiro, privilegia-se certas faixas etárias, excluindo aqueles que já tem idade avançada e os que ainda não entraram no mercado de trabalho. O foco deverá estar em famílias que detém certo poder aquisitivo. Por isso, são clientes. E se tiverem algo que os diferencie dos demais poderão ser chamados de clientes especiais. Igrejas que atendem clientes e não buscam pessoas que carecem totalmente da graça de Deus em suas vidas se afastam da missão de Deus. Jesus, em sua caminhada terrena, sentiu-se impelido pelo Pai a confrontar seus ouvintes. Aos que estavam preocupados com os bens deste mundo, afirmou que seria impossível segui-lo. Permitiu que aqueles que não desejassem ser seus discípulos, poderiam fazê-lo. Seu intuito não era ganhar clientes, mas homens e mulheres que buscavam ser transformados pelo poder da ressurreição, tornando-se testemunhas para as famílias da terra. Segundo as Escrituras, nós, como líderes, somos chamados a formar pessoas semelhantes a Cristo. Atraí-las e convencê-las é tarefa do Espírito de Deus. Como líderes desta geração, somos desafiados a clamar contra toda injustiça e por uma sociedade mais fraterna e cheia do amor de Deus. Não fomos chamados a nos relacionar com clientes, mas com seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
75
REFLEXÃO [ RICARDO AGRESTE ]
U
A semente, o campo e o agricultor
ma das experiências mais frutíferas que tenho tido ao longo de 26 anos de ministério é participar de encontros com outros pastores. Nessas reuniões, sempre há oportunidade para se conhecer novos líderes e seus ministérios. No entanto, normalmente, pouco mais de cinco minutos de conversa entre pastores que ainda não se conhecem são suficientes para surgir logo a pergunta: ‘Quantos membros possui sua igreja?’ O número de membros de uma comunidade cristã, quer queiramos ou não, sempre se torna o ponto de partida para a avaliação de um ministério pastoral bem sucedido ou não. Mas, neste ponto, precisamos tomar muito cuidado. Não faço coro com aqueles que justificam sua falta de dedicação na construção de uma postura missional com a famosa frase: ‘Nossa igreja não se importa com a quantidade, mas com a qualidade’. Por outro lado, também não estou entre aqueles que, de forma pragmática e simplista, se impressionam com um ministério só por causa dos seus números expressivos. Refletindo biblicamente sobre esta questão, fui levado a me lembrar de uma das imagens mais utilizadas na Bíblia para se referir àquele que anuncia e ensina o Evangelho de Deus: o agricultor. Jesus faz menção desta imagem ao contar aos seus discípulos a parábola dos diferentes solos. O apóstolo Paulo também faz referência à mesma imagem para explicar aos Coríntios como diferentes trabalhadores cumprem diferentes papéis no cultivo do campo. Partindo então da imagem do agricultor, gostaria de oferecer duas possibilidades de avaliação de um ministério pastoral bem sucedido, ou não, considerando seus números. De um lado, temos o agricultor pragmático. Este tipo de trabalhador olha superficialmente a terra e, a partir das informações obtidas por outros que estão Ricardo Agreste tendo sucesso numérico, chega a uma é pastor da Comunidade conclusão: esta terra é boa para produzir Presbiteriana Chácara tal produto. Ele, então, passa a semear Primavera, coordenador da área de Teologia e cultivar o produto que aquela terra Pastoral do Seminário produz em maior quantidade e rapidez. Presbiteriano do Sul e diretor do Centro Ele não tem qualquer compromisso com de Treinamento para um produto específico, mas unicamente Plantadores de Igrejas (CTPI) com a produção. 76 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
Do outro lado, temos o agricultor comissionado. Este tipo de trabalhador recebeu um tipo de semente e sua missão é semear e cultivar um produto específico. Ele não tem a opção de semear o que bem entender. Por isso, precisa estudar o solo para conhecer suas potencialidades e limitações. Antes de semear, tem de preparar a terra com cuidado. Assim, sem adulterar a semente, ele trabalha eficientemente no campo onde se dará a semeadura. Creio que estas duas possibilidades apontam para algumas verdades que pastores precisariam considerar atentamente: 1) Há igrejas que crescem de forma assombrosa, mas isso não significa que a colheita é derivada da semeadura do Evangelho em sua integridade. Por exemplo, em terras brasileiras, se você semear prosperidade, certamente vai colher em abundância, mas o produto colhido não é o mesmo produzido pela semeadura fiel do Evangelho de Jesus. Outros tipos de sementes têm sido semeadas com sucesso em nossas terras. 2) Existem igrejas que, mesmo mantendo uma relação de fidelidade para com a semente (o Evangelho), falham por não se dedicarem no reconhecimento do campo com suas potencialidades e limitações. Jesus, apresentava o mesmo Evangelho de diferentes formas para pessoas que viviam contextos distintos. O apóstolo Paulo afirma que Ele se fez de tudo para com todos a fim de ganhar alguns. 3) Há igrejas que crescem mantendo a fidelidade para com a semente, o Evangelho, mas dedicando-se no conhecimento do campo para o qual foi enviada. Esta junção entre fidelidade para com o Evangelho e profundo conhecimento do campo é ainda associada a uma postura intencional de semear da melhor forma possível e colher o maior número possível. Desta forma, concordo com aqueles que dizem que nosso sucesso pastoral não está vinculado à produtividade, mas à fidelidade. No entanto, nosso conceito de fidelidade precisa estar ligado não apenas ao compromisso de não adulterar a semente, mas também a intencionalidade de conhecer o campo e trabalhar no mesmo, para que a semente produza cem, sessenta e trinta por um.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
77
RENOVARE [ EDUARDO ROSA ]
A hora de renunciar
O
papa Bento 16 renunciou. Covardia ou coragem? Suicídio político ou sabedoria pessoal? Retrocesso ou avanço? Retirada ou recomeço? Traição a um mandato institucional ou fidelidade a uma verdadeira vocação? Talvez nunca saibamos as reais razões desta renúncia. Seus frutos ainda precisarão de tempo para serem analisados. Uma coisa é certa: há momentos nos quais líderes devem renunciar. Todas as vezes que tivermos de conquistar ou manter posições de poder dentro de uma instituição na qual a vida já não está mais presente – pois sufocada foi por relações funcionais e hierárquicas; todas as vezes que tivermos de dar sorrisos a quem não respeitamos, de “bajular” publicamente pessoas que privadamente desprezamos, então está na hora de renunciar. Precisamos renunciar quando nossa alma estiver mais apegada às fofocas, às falações espúrias e superficiais; quando o nosso tempo é gasto muito mais em como vamos manter nossa posição; quando o conforto trazido pelo dinheiro nos faz dependentes de um status capaz de nos fazer vender nossa própria alma; então quando tudo isso se configura, é hora de renunciar. Devemos renunciar quando Deus for apenas uma palavra ao lado de outras num vazio discurso público, ao qual chamamos tantas vezes de oração. Quando fazemos os planos, combinamos votações, armamos para quem nos ameaça, minamos os opositores, acordamos e dormimos pensando em como vamos ganhar o jogo, e, depois da vitória alcançada por meios corrompidos, oramos agradecidos a Deus. Se é assim, então chegou a Eduardo Rosa hora de renunciar. é pastor da Comunidade Quando as pessoas as quais amamos Presbiteriana da Barra da Tijuca, um dos líderes mais de perto (esposa, esposo, filhos...) do ministério Renovare começam a perceber a nítida separaBrasil e mestre e doutor ção entre a persona social que somos em Teologia pela PUC-RJ no âmbito público e a real pessoa que 78 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
somos “dentro de casa”; quando esta cisão destrutiva do respeito e admiração das pessoas mais próximas se instala nas nossas relações, destruindo o amor e substituindo-o por um ódio contido tantas vezes expresso em depressão, tristeza, revolta; quando nossa posição pública ameaçar as mais importantes relações da nossa vida, então chegou o tempo da renúncia. Quando estivermos em uma situação na qual “temos” de fazer e falar coisas que corrompem nossa alma em tudo quanto há de mais sagrado para nós; quando nossa posição “exigir” violações aos nossos valores; quando pessoas ocuparem em nossa vida o lugar de Deus, deixando-nos dependentes do seu humor, da sua aprovação; então renunciar é uma exigência da sanidade e da santidade. Quando uma instituição perde o seus ideais fundantes, suas balizas direcionadoras e se transforma num “antro” de pessoas incapazes de olhar para além do seu próprio umbigo, obcecadas por posição e poder; quando uma instituição se torna corporativista protegendo os seus, mesmo que esses “seus” tenham causado a outrem maldades inomináveis, então renunciar é a única opção saudável. A renúncia feita pelas razões certas não é desistência. É um ato de coragem de poucos. Envolve um forte enfrentamento da opinião pública, um confronto com o senso comum, uma disposição de, pela via da retirada, confrontar uma instituição. Uma das mais fortes manifestações de protesto pode ser precisamente a renúncia. Jesus, uma vez, nos alertou: De que vale ganhar o mundo todo e perder a nossa alma? Entendamos a palavra alma aqui como nossa essência, aquilo que realmente somos, o “lugar” mais profundo do nosso ser. Deus nos conhece a partir daí, posto que olha para nós de dentro para fora. Imagine perder esta alma por causa de posições de poder dentro de instituições? Não vale a pena ganhar nada neste mundo se o custo for perder nossa alma. Acredite-me: quando nosso ser está ameaçado, então a renúncia é o ato de coragem mais são e santo.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
79
EXEGESE [ DR. RUSSELL SHEDD ]
Liderança segundo o modelo de Cristo
N
ão são apenas cristãos que elogiam a liderança de Jesus. O mundo secular, que não tem nenhum compromisso com sua pessoa, reconhece nele o máximo, quando se busca qualidade e impacto de líderes. Considere o material humano que Jesus escolheu para formar seus sucessores: homens sem formação intelectual, sem experiência no mundo, sem escolaridade ou criatividade. A pescadores, Jesus adicionou um fiscal de impostos e Simão, um “sicari” (terrorista). Outros discípulos, sem profissão conhecida, formaram o grupo conhecido como “os Doze”. Fazer diferença nas pessoas, segundo Anthony de Souza, do Instituto Haggai de Liderança Avançada, distingue o líder de verdade; então, Jesus foi um líder par excelençe. Em primeiro lugar, Jesus não se precipitou no seu ministério de formar os homens que seriam os futuros líderes da igreja que edificaria. Sua liderança começou com seu batismo, a descida do Espírito Santo sobre ele e a declaração do agrado de Deus Pai: Tu és o meu Filho amado; de ti me agrado (Mc 1.10,11). Uma das ênfases de João é que Jesus não agiu independentemente do Pai. Enquanto a liderança secular procura sua formação nas mais conceituadas universidades para sugar dos professores a melhor maneira de criar e administrar uma empresa, o ‘MBA’ bíblico exalta o aprendizado pela íntima comunhão com Jesus (At 4.13). Daí se descobre as repetidas referências em João: Como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo (Jo 17.18; 20.21). Não foram eles que escolheram a Jesus, Dr. Russell Shedd é Ph.D. em Novo mas foi ele que os escolheu para irem e Testamento pela darem fruto que permaneça (Jo 15.16). Universidade de Em segundo lugar, Jesus trabalhou Edimburgo (Escócia), pastor, professor, o caráter dos discípulos. Note o desescritor e conferencista taque que ele dá nas “Bem-aventuran80 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
ças”. A soberba exclui o pecador do Reino dos céus, enquanto os pobres em espírito, possuem o Reino (Mt 5.3). Jesus amorosamente convidou os cansados e sobrecarregados a vir para ele e aceitar o seu jugo. Assim, eles aprenderiam a ser humildes e mansos (Mt 11.28,29). O discípulo que se arrepende dos seus pecados, será consolado. Os mansos herdarão a terra. Jesus repreendeu Tiago e João por desejarem chamar fogo do céu para punir os samaritanos que recusaram receber Jesus em seu povoado (Lc 9.54). Os discípulos de Jesus foram sempre intimados por Jesus a sentir fome e sede de justiça. A satisfação de Jesus se cumpriu na profecia de Isaías – Depois do sofrimento de sua alma, ele verá a luz e ficará satisfeito (Is 53.11a). O sofrimento de Cristo pelos pecados do mundo trouxe justiça: meu servo justo justificará a muitos, e levará a iniquidade deles (v.11b). Jesus repreendeu Pedro pela sua incompreensão da missão do Mestre, a qual exigiria as agonias da cruz para se cumprir (Mt 16.21,22). Os discípulos tomaram passos iniciais no aprendizado sobre o exercício de misericórdia em muitas ocasiões: a mulher adúltera perdoada (Jo 8.11-11); a bênção das criancinhas (Mc 10.13-16); a compaixão de Jesus diante da fome da multidão (Mt 14.14); na resposta que ele deu para Pedro à pergunta, Quantas vezes é necessário perdoar quem pecou contra nós?! Jesus elevou a definição de pureza de coração a um nível muito mais alto do que a Lei exigia quando explicou que desejar uma mulher que não seja a esposa comete adultério com ela no coração (Mt 5.28). Para os pacificadores Jesus prometeu que receberiam o rótulo filhos de Deus (Mt 5.9). Muitos outros trechos da Palavra de Deus mostram como a prática e o ensino de Jesus tiveram a finalidade de preparar seguidores com atitudes semelhantes às atitudes dele (cf. Fp 2.5). Os melhores líderes cristãos são aqueles que mais bem refletem o caráter do Mestre.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
81
COMENTÁRIO [ JOSUÉ CAMPANHÃ ]
Um ministério frutífero
O
que é mais importante no ministério: qualidade ou quantidade? Esta pergunta nunca terá uma resposta satisfatória. Um ministério frutífero se mede pela qualidade dos frutos ou por sua quantidade? Talvez nem valesse a pena gastar tempo discutindo isto, mas como sei que é motivo de tensão para muitos líderes, quero apenas propor algumas ideias para reflexão. O fruto é apresentado por toda a Bíblia como um símbolo de vida, saúde, bênção e realizações, declara George Otis Jr. em seu livro As marcas de Deus. Isso está presente desde a criação. Depois de cada etapa da criação, as palavras que Deus mais usou foram: produção, multiplicação, frutificação. Para a terra – produzam árvores frutíferas; para os animais – multipliquem-se segundo a sua espécie; e para o mar – multiplique-se e sejam fecundos segundo as suas espécies. Finalmente, para o homem e a mulher, logo depois que abriram os olhos, Deus lhes disse: Sejam férteis e multipliquem-se. Alguém pode alegar que todas estas recomendações ocorreram por causa da criação. No entanto, como não se cria um princípio apenas com um versículo bíblico, vamos ao que Bíblia continua dizendo sobre o assunto. De um lado, o Salmo 92 mostra que o justo florescerá como a palmeira [...] na velhice ainda dará frutos e serão cheios de seiva e de verdor. De outro lado, Gálatas 5 diz que podemos produzir frutos do Espírito em nossa vida como amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Tanto um como outro precisam ser produzidos a vida toda, e em quantidade e com muita qualidade. Envelhecer não é uma opção, mas ser sábio e frutífero sim. É uma escolha. Josué Campanhã é escritor, palestrante, Jesus ensina em Mateus 7 que pelos e consultor seus frutos os conhecerei [...] toda árvore boa produz bons frutos, porém, 82 LIDERANÇA HOJE Outono 2013
a árvore má produz frutos maus. Otis Jr. lembra que o rendimento espiritual terá sempre três categorias: bons frutos, maus frutos e sem frutos. Os bons frutos vêm de estar ligados à videira verdadeira de João 15. Os maus frutos estão associados aos lobos e predadores. No entanto, os “sem fruto” também são “sem vida”, não servem a nenhum propósito real. Toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo, conforme Mateus 3. Então, essa discussão qualidade versus quantidade torna-se vazia na medida em que Jesus mostra que o ministério frutífero deve ser tanto abundante quanto bom. Jesus disse em João 15 que seu Pai é glorificado quando produzimos muito fruto. George Barna afirma que igrejas com um impacto duradouro avaliam seus projetos de forma diferenciada. Elas querem saber quantas vidas foram transformadas através de seu ministério. Quantidade e qualidade estão presentes aqui. Já igrejas estagnadas querem saber quantas pessoas estão envolvidas. Isto faz com que se saiba apenas o tamanho do movimento e não o tamanho do impacto. Ary Velloso dizia que qualidade é fundamental para se saber se a pessoa realmente se converteu e se tornou discípulo de Jesus. Ele também dizia que quantidade era crucial, especialmente para a mãe daquele jovem drogado que foi alcançado pelo novo pequeno grupo número 452, que, se não existisse, não alcançaria aquela pessoa. Não há referências na Bíblia de que Deus recompense esforços insignificantes. A parábola dos talentos mostra isto. A fidelidade não substitui a produção de frutos. Não somos chamados para irmos pelo mundo todo e sermos apenas fiéis; somos chamados para fazer discípulos de todas as nações e isto implica em fidelidade e multiplicação. Para Otis, ministérios e cristãos frutíferos não têm medo de escrutínio. De fato, eles o consideram bem-vindo.
Outono 2013 LIDERANÇA HOJE
83