1 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 1. O MUNDO NO SÉCULO XVIII: 1.1. No princípio dos tempos, conta uma conhecida lenda grega, os homens viviam em condições extremamente miseráveis por desconhecerem o uso do fogo. E chegavam mesmo a se aterrorizar ante o fogo produzido nas erupções vulcânicas, na combustão espontânea da vegetação seca exposta ao sol ou atingida pelos raios da tempestade. Acreditavam ser manifestações da ira de Zeus, o grande deus dos trovões, senhor do céu e reunidor das nuvens. O fogo era, segundo a lenda, propriedade dos deuses do Olimpo. 1.2. Quem tirou a humanidade da terrível situação em que vivia foi Prometeu, um dos titãs caídos em desgraça frente ao Olimpo. Ele roubou o fogo dos deuses e deu-o aos homens. Sem dúvida, uma grande conquista da humanidade que passou a dominar a técnica de sua obtenção e conservação. 1.3. Mas, diz a lenda, Zeus, afetado em seu poder, e por isso mesmo profundamente irado, castigou cruelmente o titã rebelado, acorrentando-o a um rochedo e condenando-o a um suplício eterno: enviava todos os dias uma águia para devorar o fígado do infeliz Prometeu. 1.4. “Prometeu Desacorrentado” foi o título escolhido pelo Professor David Landes para seu célebre estudo sobre a Revolução Industrial. Um título bem ilustrativo de todo o complexo de inovações tecnológicas ocorrido na Inglaterra durante o decorrer do século XVIII, que arrebentou de vez com as correntes que aprisionavam o poder produtivo das sociedades humanas, tornando-as capazes de multiplicar rápida, constante e até ilimitadamente a produção de homens, mercadorias e serviços. Como se o poder dos deuses tivesse sido eliminado e substituído pelo livre repicar da imaginação humana, liberta da tradição e do medo da natureza. Na verdade, desde a descoberta do fogo, nada trouxe tão profundas e extensas transformações na aparência física da terra e no modo de viver e trabalhar dos homens. 1.5. As inovações tecnológicas do século XVIII, de tão abundantes, chegam a desafiar a tentativa de uma compilação. Mas podem ser resumidas em três principais: 1)
2) 3)
o aparecimento de máquinas modernas – rápidas, regulares e precisas – que substituíram o trabalho do homem antes realizado a mão. Em outras palavras, um mecanismo que, acionado, passa a executar, com suas ferramentas e suas peças, as mesmas operações que antes eram executadas por ferramentas semelhantes movidas pela mão do homem ; a utilização do vapor para acionar a máquina, isto é, como fonte de energia, que substitui as demais até então conhecidas: energia muscular, eólica (ventos) e hidráulica; a melhoria marcante na obtenção e trabalho de novas matérias-primas, em particular os minerais, que deram impulso à metalurgia e à indústria química.
Estas inovações denotam a passagem de uma economia agrária e artesanal para uma outra, dominada pela indústria e o maquinismo. 1.6. A passagem se completou com a consolidação das novas formas de organização do trabalho produtivo: não mais a produção domiciliar do artigo que atendia a um mercado pequeno, e sim a existência de fábricas providas de máquinas movidas a vapor, agrupando até centenas
2 de trabalhadores ocupados na fabricação em série para um mercado indeterminado, desconhecido e cada vez maior. Um sistema de produção delineado dentro da conhecida definição de funções e responsabilidades dos diferentes participantes do processo produtivo: de um lado, o empresário, dono do aparelhamento, de todo material e do produto final do trabalho; de outro, o antigo artesão, desprovido dos meios de produção e, portanto, transformado de produtor em vendedor de sua única propriedade: sua força de trabalho. Com o proprietário ficará o lucro – ou prejuízo – com o trabalhador, executando o trabalho sob supervisão de técnicos e controle de um relógio, ficará o salário. 1.7. Estas transformações constituem a Revolução industrial, termo estabelecido pela tradição para nomear os acontecimentos que, a partir do século XVIII, modificaram de forma brusca a vida das sociedades humanas, dando forma e vigor à sociedade industrial que conhecemos. Marcam a etapa decisiva de transição de um esquema incompleto pre-capitalista para um estado em que as características fundamentais do capitalismo se impõem: progresso técnico continuado, capitais mobilizados para o lucro, separação mais clara entre uma burguesia possuidora dos bens de produção, um corpo técnico encarregado de gerir o capital e o proletariado. O capitalismo propriamente dito, portanto, ganhou forma e vigor com a grande indústria, desenvolvendo-se há cerca de duzentos anos. 2. Fatores do Pioneirismo Inglês na Revolução Industrial : •
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CAPITAL : necessário para desenvolver a indústria a Inglaterra conseguiu explorando o comércio de panos fabricados nos teares manuais; fazendo tráfico de escravos para as suas colônias ou para as colônias de outros países; utilizando-se de uma perfeita quadrilha de piratas que deixava os navios espanhóis sempre vazios do ouro que traziam do México. MÃO-DE-OBRA : desde o início do século XVIII, era grande o crescimento da população inglesa, principalmente por causa da queda nas taxas de mortalidade, provocada em parte pelas melhorias na produção agrícola. Boa parte da população estava sendo expulsa do campo por um novo surto de “cercamentos” das terras comuns, isto é, a apropriação de terrenos baldios usados pelos camponeses, pelos grandes proprietários rurais. Os primeiros cercamentos realizaram-se no século XII e, a partir daí, ocorreram periodicamente. Os cercamentos do século XVII aumentaram o desemprego e a pobreza, levando numerosos camponeses a abandonar a agricultura e a se constituírem em mão-de-obra barata que pôde ser largamente utilizada pela indústria. MÁQUINAS : considerado como grande símbolo da Revolução Industrial, surge devido às necessidades de se produzir cada vez mais para se obter um lucro maior e mais rápido. – O conceito de máquina, na Revolução industrial, é completamente diferente do que se entendia por máquina antes desse período. A máquina moderna (da Revolução Industrial) é aquela acionada por qualquer força motriz, menos a animal ou humana. Ela passa a ser um mecanismo que, acionado, executa com suas ferramentas e suas peças as mesmas operações que antes eram executadas por ferramentas semelhantes movida pela mão do homem. Para se entender melhor, vejamos um exemplo: a fim de se produzir fios de algodão, antes da Revolução industrial, utilizava-se uma roca que era acionada por um pedal movimentado pelo pé de uma fiandeira; com o desenvolvimento das máquinas na Revolução Industrial, para se produzir fios de algodão, passou-se a utilizar uma máquina de fiar movida a água ou a vapor. Qual a grande diferença que se notou aqui? É fácil. Uma máquina é movida pela força humana e a outra pela força motriz da água (ou vapor). MERCADO CONSUMIDOR : para a Inglaterra era a própria razão da existência de suas indústrias e de seu comércio, foram aumentando automaticamente a medida que as população foram crescendo e o domínio sobre as colônias se tornava cada vez maior. MATERIA-PRIMAS : eram conseguidas pela Inglaterra de várias maneiras. Os Estados unidos, mesmo depois de sua independência, eram um grande fornecedor de algodão. A
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Índia, como entreposto inglês, também vendia matérias-primas. Há que se dizer que a ganância por matéria-prima levava a Inglaterra (ou mesmo outro país), se fosse preciso, a consegui-la a qualquer custo, e isto significava até mesmo a guerra. REVOLUÇÃO INGLESA : A Inglaterra foi pioneira na substituição do Absolutismo pelo Liberalismo. A estruturação do Parlamentarismo colocou o poder nas mãos da burguesia, classe social mais interessada na Revolução Industrial.
3. A REVOLUÇAÕ INDUSTRIAL E OUTROS PAÍSES 3.1. A Revolução industrial não foi um fenômeno restrito à Inglaterra. A Inglaterra sem dúvida, foi o país pioneiro, mas não o único, pois outros países também passaram a sofrer da vertigem industrial. Os Estados unidos são o país que mais se aproximam da Inglaterra quanto ao tipo de Revolução industrial, pois as grandes transformações vão brotando espontaneamente, sem precisarem ser organizadas sob direção dos governos. 3.2. A Alemanha e a Itália precisaram superar obstáculos políticos a fim de se iniciarem na industrialização: é que ambos os países ainda não se encontravam unificados. 3.3. O Japão, que sofre pressão dos comerciantes americanos, inicia uma série de transformações políticas, culminado com a chada revolução Meiji ( modernização do Japão promovida pelo imperador japonês Meiji: objetivando tirar o país da condição “tipicamente feudal” iniciou a modernização econômica, investindo na agricultura intensiva, aperfeiçoamento da indústria metalúrgica e a adoção de instituições como sociedade anônimas e bancos, responsáveis por um ambiente financeiro eficiente. Uma reforma tributária garantiu boas fontes de renda ao governo, que investia cerca de um terço no comércio e na indústria, além de subsidiara a construção naval.) em 1867, que refletirá diretamente na economia e, portanto, na industrialização. 3.4. A França, que terá de superar a crise da Revolução, trilhará um caminho tipicamente seu, mantendo durante longo tempo as pequenas propriedades e pequenas empresas. 3.5. Na Rússia, a industrialização só será feita nos fins do século XIX e assim mesmo com ajuda de capitais estrangeiros, se bem que ela se aproveitará da experiência dos outros países e queimará etapas no caminho da industrialização .
4 4. AS FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: Características Principais áreas de concentração industrial Material industrial básico Principal fonte energética Setor industrial predominante Capitalismo Condições gerais da classe operária
2ª fase (após 1860) Alemanha, norte da Itália, Rússia, Estados unidos, Japão, etc. Ferro Aço, Sintéticos. Vapor Eletricidade, Petróleo Têxtil (algodão) Petroquímico, Siderúrgico, Eletro-eletrônico, Automobilístico, etc. Competitivo ou LivreMonopolista ou Financeiro Concorrerncial (predomínio do (fusão do capital industrial com capital industrial) o capital bancário) Exploração em larga escala do Progressiva diminuição da trabalho infantil e feminino. jornada de trabalho. Jornada de trabalho de até 16, Regulamentação do trabalho 18 horas por dia. feminino e, em alguns casos, Reação dos trabalhadores proibição do trabalho infantil. através do movimento luddita e Organização dos trabalhadores do cartismo em Sindicatos. Organização da Associação Internacional dos Trabalhadores com o objetivo de unificar a luta operária e o movimento proletário internacional. 1ª fase (±1760/80-1860) Inglaterra, Bélgica, França
5. CONSEQÜÊNCIAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL 5.1. A passagem da Primeira para a Segunda Revolução Industrial produziu uma série de conseqüência para a história do mundo contemporâneo, entre as quais merecem destaque: 5.1.1. O surgimento do capitalismo financeiro: a Primeira Revolução Industrial teve como uma de suas principais conseqüências o desenvolvimento do capitalismo industrial, em que havia o predomínio da produção (indústria) sobre a circulação (comércio) e as finanças (bancos). A partir da Segunda Revolução Industrial, o capitalismo industrial foi gradualmente cedendo lugar ao capitalismo financeiro, no qual os grandes bancos passaram a controlar as empresas industriais e comerciais, ou seja, as finanças conquistaram a supremacia sobre a produção e a circulação de mercadorias. Nessa etapa os grandes bancos passaram a assumir o controle acionário das empresas através da compra da maioria de suas ações. Por outro lado, os empréstimos e financiamentos contribuíram também para colocar as empresa numa situação de inteira dependência das instituições financeiras. 5.1.2. A formação dos grandes conglomerados econômicos : na Primeira Revolução Industrial ocorreu o desenvolvimento do liberalismo econômico, que se baseava na livre concorrência, isto é, na plena liberdade de comércio e de produção. Esse sistema, por sua vez, criou condições para que as grandes empresas eliminassem ou absorvessem as pequenas através de um processo cujo resultado foi a substituição da livre concorrência pelo monopolismo. Ao final do século XIX, com a Segunda Revolução Industrial, surgiram formações típicas desse novo sistema: trustes, holdings e carteis.
5 5.1.2.1. Os trustes formaram-se quando as grandes empresas, produtoras de determinadas mercadorias, eliminam ou absorvem as pequenas concorrentes e passa, a monopolizar a produção, o preço e mercado. Os trustes surgiram principalmente nos Estados Unidos através do processo de fusão de empresas do mesmo ramo. 5.1.2.2. O holding aparece quando uma grande companhia assume o controle de inúmeras outras através da compra da maior parte de suas ações, passando, a partir de então, a atuar de forma coordenada. 5.1.2.3. Os carteis se formaram através de acordo entre grandes empresas que, para evitar os desgastes da concorrência, convencionam entre si formas de manutenção dos preços e de divisão de mercados. Os cartéis desenvolveram-se principalmente na Alemanha. 5.1.3. O processo de produção em série : uma das principais transformações ocorridas na Primeira Revolução industrial foi a substituição da energia física (trabalho humano) pela energia mecânica (vapor) no processo de produção de mercadorias. Na Segunda Revolução industrial o vapor foi, por sua vez, substituído pela eletricidade e pelo petróleo como forças motrizes da indústria fabril. Essas inovações técnicas aliadas à extrema divisão e especialização do trabalho abriram caminho para o processo de produção em série. As mercadorias passaram a ser produzidas de maneira uniforme e padronizada, numa quantidade até então desconhecida, o que causou o fenômeno da superprodução. Segundo Marx, a superprodução de mercadorias é o fator responsável pelas crises cíclicas que, de tempos em tempos, abalam as estruturas do sistema capitalista. A última delas ocorreu a partir da crise de 1929, e ficou conhecida como grande depressão. 5.1.4. A expansão do imperialismo : outro fenômeno importante da Segunda Revolução Industrial e da era do capitalismo financeiro ou monopolista foi o desenvolvimento do imperialismo. O processo de industrialização criou para os países capitalistas uma série de problemas de cuja solução dependia a manutenção do ritmo de desenvolvimento industrial. As potências capitalistas necessitavam de mercados externos que servissem de escoadouro para seu excedente de mercadorias. Precisavam também de minérios e matérias-primas que muitas vezes não existiam em seu próprio território e que eram essenciais à produção de artigos industriais, além de mão-de-obra barata e de áreas favoráveis ao investimento seguro e lucrativo de seus capitais. Essas necessidades levaram os países capitalistas a desenvolver, na segunda metade do século XIX, uma política de expansão externa que ficou conhecida com imperialismo. 5.1.4.1. A expansão imperialista atingiu principalmente a Ásia, a África e a América Latina, continentes cujas regiões foram divididas em colônias ou áreas de influência das grandes potências industriais. Na passagem do século XIX para o XX o expansionismo imperialista provocou uma série de rivalidades entre as grandes potências pela divisão do mercado mundial, que desencadearam em 1914 a Primeira Guerra Mundial.