1 CONGRESO DE VIENA E SANTA ALIANÇA: 1. Na primeira fase do século XIX, quatro correntes ideológicas formavam o quadro político do continente europeu: o liberalismo, o democratismo, o socialismo e conservadorismo, que correspondiam às principais classes existentes nas época. 1.1. O liberalismo tinha sua origem no Iluminismo, correspondia à ideologia da burguesia em ascensão e difundiu-se pela Europa com a Revolução Francesa. Seus principais postulados eram a liberdade individual, o governo constitucional e a liberdade econômica. 1.2. O democratismo defendia os interesses das camadas médias e lutava pelo sufrágio universal e pelo regime republicano. 1.3. O socialismo, que carregava os anseios da nascente classe operária, ensaiava seus primeiros passos e era ainda meramente utópico. 1.4. O conservadorismo defendia como princípios básicos a fé, a autoridade e a tradição, típicos da aristocracia decadente. Partidária do absolutismo monárquico e do dogmatismo religioso. Essa ideologia cimentou a célebra aliança entre “o altar e o trono”, cujos alicerces eram o clero e a aristocracia. 2. Em 1814, após a derrota de Napoleão na batalha de Leipzig (também conhecida como batalha das Nações), as potências vitoriosas realizaram na capital do Império Austríaco uma conferência internacional conhecida como Congresso de Viena. Essa conferência, momentaneamente interrompida durante o governo dos Cem Dias, foi concluída em 1815, após a derrota de Napoleão na batalha de Waterloo, e representou uma reação às idéias liberais e nacionalistas difundidas pela Revolução Francesa. Seu principal objetivo era restabelecer a situação existente antes da Grande Revolução, ou seja, a restauração do Antigo Regime. 2.1. Nas diversas sessões realizadas pelos congressistas as decisões mais importantes foram tomadas pelo Comitê dos Quatro, formado por Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia. Entre os participantes do Congresso de Viena estavam os mias destacados representantes do conservadorismo europeu: czar Alexandre I da Rússia, lorde Castlereagh da Inglaterra, Talleyrand da França e Hardenberg da Prússia, e o príncipe Metternich, chanceler da Áustria, que foi a figura dominante do Congresso. 2.2. As negociações entre os monarcas, diplomatas e embaixadores que participaram do Congresso basearam-se em três princípios políticos: a) a restauração do absolutismo monárquico ou Antigo Regime; b) a legitimidade das antigas dinastias que haviam sido depostas durante as guerras napoleônicas e que se pretendia recolocar nos tronos dos países europeus; c) o equilíbrio europeu, que visava congelar indefinidamente a velha ordem restaurada e preservar a paz na Europa através da manutenção de uma equivalência de forças entre as grandes potências. 2.3. As decisões do Congresso de Viena, firmadas na ata de 1815, restabeleciam o equilíbrio de forças entre as potências européias através de uma política de compensações territoriais. A Inglaterra consolidou sua supremacia naval retendo as possessões conquistadas no além-mar durante a guerra contra a França napoleônica, entre as quais as ilhas de Malta e Ceilão e a colônia do Cabo. A Áustria cedeu a Bélgica à Holanda, mas recebeu em troca parte da Polônia e as regiões de Lombardia e Veneza, que lhe asseguravam a supremacia na Itália. A Prússia dobrou sua extensão territorial, incorporando parte da Polônia, da Pomerânia e da Saxônia. A Rússia anexou outra parte da Polônia, a Finlândia e a Bessarábia. A França, mesmo derrotada, preservou a sua integridade territorial voltando às fronteiras de 1792. A Alemanha e a Itália permaneceram divididas e submetidas `a hegemonia austríaca.
2 2.4. Em conseqüência da aplicação do princípio de legitimidade, as antigas dinastias foram restauradas nos tronos de diversos países europeus: os Bourbon retornaram aos reinos da França, da Espanha e de Nápoles; a dinastia Sabóia foi recolocada no Reino do Piemonte; os reis de Bragança voltaram a governar Portugal e a dinastia Orange regressou à Holanda. O papa foi restabelecido nos Estados Pontifícios. 3. A SANTA ALIANÇA: foi um pacto militar firmado entre as grandes potências européias no Congresso de Viena, cujo objetivo era a repressão aos movimentos liberais que colocassem em risco a política de restauração, o princípio de legitimidade e o equilíbrio europeu. Formada inicialmente a política de restauração, o princípio de legitimidade e o equilíbrio europeu. Formada inicialmente por Áustria, Prússia e Inglaterra, a Santa Aliança ficou conhecida também como Quádrupla Aliança. Em 1818, com a adesão da França ao pacto militar, transformou-se na Quíntupla Aliança. 3.1. O apogeu dessa instituição foi marcado por intervenções militares que esmagaram os movimentos liberais ou nacionalista ocorridos em alguns países da Europa. Em 1819 a Santa Aliança reprimiu os nacionalista que lutavam pela unificação da Alemanha; em 1821 realizou intervenções em Nápoles e na Espanha para combater os liberais que lutavam contra o absolutismo. Mas a retirada da Inglaterra da Santa Aliança e o triunfo de novas evoluções liberais levaram ao declínio essa política intervencionista. A saída da Inglaterra do pacto militar foi conseqüência dos planos da Santa Aliança de remeter tropas à América para sufocar os movimentos de independência e restaurar o antigo colonialismo. 3.2. Essa discordância da Inglaterra deve-se ao seguinte fato: os novos países independentes aderiam ao livre comércio e abriam seus mercados aos produtos industriais ingleses. Em vista desse relacionamento comercial extremamente lucrativo, a Inglaterra adotou uma política nãointervencionista, opondo-se ao envio de tropas à América. 3.3. Outro sério golpe na Santa Aliança foi a proclamação da Doutrina Monroe, em 1823. Baseada no lema “a América para os americanos”, essa doutrina tinha como pedra angular o princípio de que o Novo Mundo deveria solucionar seus problemas internos sem nenhuma ingerência externa das potências européias. Fundado nesse princípio, o governo norte-americano afirmou que considerava um ato de guerra contra os Estados Unidos qualquer agressão estrangeira a um país americano. 3.4. O golpe final à política da Santa Aliança veio com o triunfo de novas revoluções liberais na Europa, que, vitoriosas, tiveram duas características principais. Por um lado, restabeleceram a independência política de países dominados por outras potências, como ocorreu com a Grécia em relação à Turquia, em 1828, e com a Bélgica em relação à Holanda, em 1831. Por outro lado, substituíram o absolutismo por um regime constitucional e parlamentar, como ocorreu na França com a Revolução de 1830.