O FEUDALISMO A GENESE DO FEUDALISMO 1.0
CONCEITO: “ Sistema econômico, social, político e cultural vigente na Europa durante a Idade Média.”
1.1
A GENESE.
1.2
O processo de gestação do Feudalismo foi bastante longo, remontando à crise romana do século III, passando pela constituição dos reinos germânicos nos séculos V_VI e pelos problemas do Império Carolíngio no século IX, para finalmente se concluir em fins desse século ou princípios do X. Para podermos acompanhar mais claramente esse processo, examinaremos sucessivamente SETE de seus aspectos mais importantes: 1234567-
A RURALIZAÇÃO DO SOCIEDADE; O ENRIJECIMENTO DA HIERARQUIA SOCAIL; A FRAGMENTAÇÃO DO PODER CENTRAL; O DESENVOLVIMENTO DAS RELAÇÕES DE DEPENDÊNCIA PESSOAL; A PRIVATIZAÇÃO DA DEFESA; A CLERICALIZAÇÃO DA SOCIEDADE; AS TRANSFORMAÇÕES NA MENTALIDADE;
1.3
O primeiro desses aspectos tinha raízes muito antigas. A civilização romana na sua fase inicial estivera baseada na agricultura, porém, em função das dificuldades que esta apresentava naquele solo pouco favorável, aos poucos o comércio passou a ser o setor mais dinâmico .
1.4
Estruturalmente ligada a isso estava a política imperialista que tornou o mar Mediterrâneo um lago romano. Contudo, as imensas conquistas territoriais e o conseqüente afluxo de riquezas provocaram profundas alterações, cheias de conseqüências, na sociedade e na economia latinas. Por exemplo : um grande crescimento do número de escravos; o enfraquecimento da camada de pequenos e médios proprietários rurais; a concentração de terras nas mãos de poucos indivíduos.
1.5
Aquela situação apresentava claras contradições, pois o estoque de mão-de-obra escrava, base da economia precisava ser constantemente renovado por novas conquistas.
1.6
O Estado, dominado pelos cidadãos mais ricos, via seus rendimentos decrescerem, porque os poderosos escapavam aos impostos e os pobres não tinham condições de pagá-los. Ademais era preciso fornecer pão e diversão à plebe urbana – sem propriedade devido à concentração fundiária e sem emprego devido à concorrência do trabalho escravo – para camuflar o problema social.
1.7
Assim não havia condições econômicas e sociais de prosseguirem as conquistas. Em outros termos, o sistema escravista e imperialista não podia mais continuar a se auto-reproduzir. Era a crise.
1
1.8
Como aquela era uma sociedade urbana, naturalmente a crise se manifestava mais claramente nas cidades, com as lutas sociais, a contração do comércio e do artesanato, a retração demográfica, a pressão do banditismo e dos bárbaros . Assim, entende-se que os mais ricos se retirassem para suas grandes propriedades rurais (villae), onde estariam mais seguros e onde poderiam obter praticamente todo o necessário.
1.9
Colocava-se, então, a questão da mão-de-obra rural, que foi solucionada por um regime de tripla origem, que atendia ao interesse dos proprietários em ter mais trabalhadores, ao interesse do Estado em garantir suas rendas fiscais e ao interesse dos mais humildes por segurança e estabilidade. Desse encontro nasceu a importante instituição do COLONATO.
1.10
Por este a terra ficava dividida em duas partes: a reserva senhorial (manso senhorial) e os lotes camponeses (manso servil). Estes lotes eram entregues a indivíduos em troca de uma parcela do que eles aí produzissem e da obrigação de trabalharem na reserva senhorial sem qualquer tipo de remuneração. Tudo que era produzido na reserva (manso senhorial) cabia ao proprietário.
1.11
Para o Estado, vincular cada trabalhador a um lote de terra representava melhor controle do fisco imperial sobre os camponeses e uma forma de incentivar a produção.
1.12
Para os marginalizados sem bens ou ocupação e para os camponeses livres, trabalhar nas terras de um grande proprietário significava casa, comida e proteção naquela época de dificuldades e incertezas.
1.13
Para os escravos, receber um lote de terra era uma considerável melhoria de condição.
1.14
Para o seu proprietário, era uma forma de aumentar a produtividade daquela mão-de-obra e ao mesmo tempo baixar seu custo de manutenção, pois os escravos estabelecidos num lote de terra deixavam de ser alimentados e vestidos por seu amo, sustentando-se a si próprios.
1.15
Assim, por aviltamento da condição do trabalhador livre e por uma melhoria da condição do escravo, surgia o colono. Sua situação jurídica, já definida no século IV, expressava nitidamente a ruralização da sociedade romana. Ele estava vinculado ao lote que ocupava, não podendo ser privado dele pelo proprietário. A terra não poderia ser vendida sem ele, nem ele sem a terra. As obrigações que ele devia não era leves, mas estavam claramente fixadas e não poderiam ser modificadas arbitrariamente pelo latifundiário. Em suma, o colonus era juridicamente um homem livre, mas verdadeiro escravo da terra.
1.16
Segundo aspecto: ENRIJECIMENTO DA HIERARQUIA SOCIAL .
1.17
Na Roma clássica o critério fundamental de diferenciação social era a liberdade, a partir do século III a condição econômica e a participação nos quadros diretivos do Estado eram decisivas.
1.18
Desde o século IV estabeleceu-se a vitaliciedade e hereditariedade das funções, quebrando a relativa mobilidade anterior. Da mesma forma que se vinculara os camponeses à terra, também se vinculou os artesãos de cada especialidade a uma corporação (collegia) submetida ao controle estatal.
1.19
As camadas médias urbanas e rurais tendiam a desaparecer, crescia a distância social . Uma sociedade muito rica e uma sociedade muito pobre, isto leva a acabar com as classes intermediárias, bipolarizando a sociedade.
2
1.20
Criou-se um padrão ouro para o Estado e a aristocracia e um padrão cobre que atendia melhor as necessidades dos pobres, sem haver escala de correspondência entre ambos: eram quase dois sistemas monetários paralelos refletindo a polarização social.
1.21
A penetração dos bárbaros germânicos não alterou esse quadro, pelo contrário. De fato, a quebra da unidade política romana acentuava as tendências regionalistas daquela aristocracia e reforçava seu privilégios. A vida e a população urbanas, em decadência desde o século III, continuaram a evoluir nesse sentido, mesmo sem ter esse processo sido acelerado pelas invasões do século V, como seria pelas do século IX. As camadas humildes também não tiveram sua sorte alterada, pois os invasores de maneira geral mantiveram as estruturas anteriores.
1.22
Terceiro aspecto: FRAGMENTAÇÃO DO PODER CENTRAL .
1.23
A fragmentação do poder central era resultado daquele estado de coisas. Com a ruralização da sociedade, a tendência à auto-suficiência de cada latifúndio e as crescente dificuldades nas comunicações, os representantes do poder imperial foram perdendo capacidade de ação sobre vastos territórios. Mais do que isso, os próprios latifundiários foram ganhando atribuições anteriormente da alçada do Estado. Por exemplo, em princípios do século V os colonos foram desligados da autoridade fiscal do Estado, que era delegada ao proprietário de terra.
1.24
As invasões germânicas, por sua vez, quebraram definitivamente a frágil unidade política do Ocidente do século V. Estabelecia-se o pluralismo que desde então jamais deixaria de caracterizar a vida política européia.
1.25
Porém, mais importante que isso é o fato de que em cada reino germânico continuavam a se manifestar as mesmas tendências centrifugas da época romana. A formação de uma aristocracia fundiária germânica, contribuía para tanto.
1.26
Isso era reforçado ainda pela decadência da economia comercial e monetária, que levava os reis bárbaros a remunerarem seus colaboradores com a única verdadeira riqueza da época, terras.
1.27
Contudo, desta forma os reis iam pouco a pouco se empobrecendo e se enfraquecendo. Desta forma, o concessor perdia aos poucos o controle sobre os benefícios cedidos e portanto sobre os próprios servidores assim remunerados.
1.28
Muitas vezes, o detentor de um benefício recebia um importante privilégio, que esvaziava ainda mais o poder real, a imunidade (immunitas). Por ela , determinados territórios ficavam isentos da presença de funcionários reais, que ali não poderiam exercer nenhuma de suas funções. Assim, o imunita tornava-se detentor de poderes regalianos, isto é, inerentes ao rei, podendo nos seus domínios exercer as correspondentes funções administrativas, aplicar justiça, realizar recrutamento militar, cobrar impostos e multas.
1.29
Apesar de mais antiga, essa instituição foi melhor definida e generalizou-se no tempo de Carlos Magno, quando foi estendida a uma significativa parcela dos territórios de seu império.
1.30
Contudo, apesar do grande número de benefícios e de imunidades concedidos, o poder de Carlos Magno era inquestionável. Mas ele baseava-se em seu prestígio pessoal, de maneira que após sua morte os efeitos desagregadores daquela política se fizeram sentir. E sobretudo
3
após meados do século IX, quando o Império Carolíngio foi dividido entre os netos do grande imperador. 1.31
Cada vez mais, então, mesmo as funções públicas passaram a ser vistas como benefícios. Assim os reis perdiam sua faculdade de nomear e destituir seus representantes provinciais ( condes, duques, marqueses ), cujos cargos tornavam-se bens pessoais e hereditários.
1.32
Em suma, ocorria um recuo das instituições públicas, ou melhor, sua apropriação por parte de indivíduos que detinham grandes extensões de terra e nelas exerciam em proveito próprio atribuições anteriormente da alçada do Estado.
1.33
Quarto aspecto: DESENVOLVIMENTO DAS RELAÇÕES DE DEPENDÊNCIA PESSOAL .
1.34
Era o resultado lógico daquele quadro de isolamento dos grupos humanos ( devido à ruralização ), de crescimento da distância social e da fraqueza do Estado.
1.35
Aliás, é próprio dos momentos de insuficiência das relações sociais dentro do Estado, da tribo ou da linhagem, que alguns busquem segurança e sustento junto a indivíduos mais poderosos, e outros busquem prestígio e poder junto a um grupo de dependentes.
1.36
Mesmo na Roma clássica, apesar da existência de um Estado forte – ou exatamente para fugir a ele – indivíduos de origem humilde colocavam-se sob o patronato de um poderoso, tornando-se seu cliente. Em troca de ajuda econômica e proteção judiciária, os cliente apoiavam seus protetores nas assembléias políticas e prestavam diversos pequenos serviços.
1.37
Para fugir ao Estado opressor e ao fisco insaciável, muitos camponeses livres entregavam sua terra a um indivíduo poderoso, colocando-se sob o seu patronato. Assim, ao retirar aqueles homens da órbita do Estado, os latifundiários tendiam a transforma-los em colonos e a diminuir a soberania do Estado. Por isso, desde meados do século IV, inúmeras leis tentaram inutilmente proibir o estabelecimento desse tipo de relação.
1.38
Por fim, a insegurança provocada pela penetração dos germânicos generalizou o recurso a esse tipo de relação social conhecida por patrocinium ou, na sua forma germanizada, mundeburdis. O ato jurídico pelo qual uma pessoa se colocava assim sob a proteção e a autoridade de outra era a recomendação ( commendatio )
1.39
Todavia, a instituição que mais sucesso teria nesse desenvolvimento das relações de dependência pessoal foi a vassalagem. Sua larga difusão deu-se desde Carlos Magno (768814), pois como na verdade a autoridade do imperador dependia mais da fidelidade de seus servidores pessoais do que de sua soberania teórica, ele procurou estabelecer e reforçar esses laços pessoais.
1.40
A origem da vassalagem é difícil de ser determinada, mas sua importância data de meados do século VIII. Terminologicamente , foi então que vassalus suplantou outras palavras que também designavam um homem livre que se havia recomendado (ato jurídico pelo qual uma pessoa se colocava sob a proteção de outra era a recomendação) a outro.
1.41
Institucionalmente, foi então que à recomendação se acrescentou o juramento de fidelidade como reforço religiosos, ou seja, da combinação dos dois atos nasciam as relações vassálicas. Concretamente, foi então que vassalidade e benefício se uniram, com o primeiro destes elementos tornando-se condição indispensável para a concessão do segundo. Em outros termos, o benefício era a remuneração do vassalo (servidor fiel) e só um vassalo receberia um benefício (termo mais tarde substituído por “feudo”) 4
1.42
É verdade que inicialmente, no século VI, “vassalo” apresentava uma conotação servil, mas desde princípios dos século VII o termo passou a ser empregado também em relação a homens livres, ainda que de condição inferior. Por fim, como desde princípios do século VIII elementos da aristocracia entravam nas relações vassálicas, estas acabaram por se enobrecer e mesmo, mais tarde, por se tornarem exclusividade daquela camada social.
1.43
Os monarcas carolíngios, ao incentivarem a difusão dos laços vassálicos, pensavam reforçar seu poder: como eles tinham muitos vassalos, esta parecia ao rei uma forma de estender seu controle a todos os escalões da sociedade.
1.44
Contudo, o resultado foi oposto, pois muitas vezes os vínculos de um vassalo para com seu senhor levavam-no a defender os interesses deste e não os do rei.
1.45
Quinto aspecto: PRIVATIZAÇÃO DA DEFESA .
1.46
O grande fator responsável pelo aceleramento do processo de privatização da defesa foram os ataques vikings, sarracenos e húngaros. Como sua fase mais aguda ocorreu após a divisão do Império Carolíngio e num contexto de crescente fraqueza dos poderes públicos, a resistência aos invasores só poderia ser feita pelos condes e outros efetivos detentores de poder em cada região. Além disso, os ataques de surpresa e a rapidez da retirada dos invasores impediam que a lenta mobilização dos exércitos reais conseguisse sucesso. Para sobreviver, a Europa católica cobriu-se de castelos e fortalezas. A fragmentação da defesa era uma necessidade.
1.47
Sexto aspecto: CLERICALIZAÇÃO DA SOCIEDADE .
1.48
Uma das mais profundas transformações ocorridas no Baixo Império Romano. Esse fenômeno acompanhava os progressos do cristianismo, acentuando-se a partir do século IV com a vitória definitiva dessa religião.
1.49
É verdade que o velho paganismo greco-romano possuíra uma camada sacerdotal, mas jamais ela chegou a se organizar Institucionalmente , a constituir uma Igreja. Daí sua limitada importância social. Pode-se assim falar, a partir da cristianização do império, em clericalização da sociedade em dois sentidos: * quantitativamente,* porque a proporção de clérigos em relação ao conjunto da população torna-se muito superior à que existira no paganismo ou mesmo que viria a existir em outras sociedades; * qualitativamente *, porque o clero torna-se um grupo social diferenciado dos demais, possuidor de privilégios especiais e de grande poderio político-econômico .
1.50
O fato de o clero cristão, ao contrário do de outras religiões, Ter sido escolhido, instruído e Ter recebido poderes diretamente da própria divindade: assim fez Cristo com seus apóstolos, estes com os seus discípulos, os primeiros bispos, estes por sua vez com outros clérigos e assim sucessivamente. Portanto, os guias da comunidade cristã não eram apenas representantes da própria comunidade, mas de Cristo. Daí advinha sua imensa autoridade moral, reforçada por normas diferenciadoras que iam se impondo aos poucos, como o celibato ou a tonsura.
1.51
Em função dos fatos anteriores, somente o Clero poderia realizar os rituais da liturgia cristã. Esta, aliás, do século IV ao VII não deixou de crescer em complexidade, exigindo cada vez mais que seus oficiantes fossem especialistas.
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1.52
Multiplicação das festas religiosas e a melhor definição dos sacramentos ( por exemplo, o batismo de crianças tornou-se a norma desde o século V ) também contribuíram para valorizar o papel dos eclesiásticos.
1.53
Sobretudo a celebração eucarística, símbolo da aliança entre Deus e o homem, não poderia ocorrer sem a intermediação do clérigo.
1.54
Numa palavra, monopolizando a comunicação com Deus, o clero tornava-se o responsável por todos os homens. Sem ele não haveria Salvação.
1.55
Também não se pode esquecer que o caráter universalista fazia da Igreja cristã a única herdeira possível do Império Romano. É verdade que ela se considerava uma sociedade sobrenatural, que não e deste mundo material, daí reconhecer os direitos do Estado: “ daí a César o que é de César, a Deus o que é de Deus”. Mas exatamente por isso, a Igreja superava o Estado visto como transitório. Apesar de “não ser deste mundo”, a Igreja estava bem enraizada nele, formando uma sociedade autônoma e completa, com sua organização e suas leis.
1.56
Esta sociedade se expandia dentro da sociedade romana, acabando por se identificar com ela quando em fins do século IV o cristianismo foi reconhecido como religião oficial do Estado. Assim, o desaparecimento do império, isto é, da face política da sociedade romano-cristã, não afetou a Igreja. Pelo contrário, alargou o campo de sua atuação: por exemplo, antes mesmo da queda do império, os bispos iam substituindo nas cidades a magistratura civil.
1.57
Igualmente importante para se entender a clericalização é considerar o crescente poder econômico da Igreja. Desde seus primeiros tempos, ela recebia donativos dos fiéis, apesar dos obstáculos colocados pelo Estado. A partir de 321, quando o imperador Constantino autorizou a Igreja a receber legados, a quantidade de seus bens cresceu rapidamente.
1.58
Desde 313, quando aquele imperador decretara a liberdade de culto aos cristãos, pondo fim às perseguições, o próprio Estado revelou-se o mais pródigo doador. Por isso é que em meados do século VIII a Igreja pôde falsificar o documento conhecido por Doação de Constantino. Segundo este, no século IV teria sido transferido para o papa o poder imperial sobre Roma, a Itália e todas as províncias romanas do Ocidente. Na verdade, ao agirem assim os dirigentes da Igreja não pensavam estar falseando os fatos históricos, mas apenas recordando um fato real e justo. **(Constantino Magno fora batizado e havia sido curado de lepra, por isso a Igreja julgou-se no direito desta doação)**
1.59
Os bens efetivamente recebidos já faziam da Igreja, no século V, a maior proprietária fundiária depois do próprio Estado. Santo Agostinho recomendava mesmo que todo cristão ao fazer testamento deixasse à Igreja “ a parte de um filho”
1.60
Por outro lado, o celibato clerical, que aos poucos ia se impondo como norma, impedia a divisão ou alienação do patrimônio eclesiástico, que assim aumentava constantemente.
1.61
A chegada dos germânicos não alterou no essencial esse estado de coisas. Perfeitamente integrada na economia agrícola da época, a Igreja passou a receber e ceder benefícios. Tinha, portanto, vassalos, colonos e escravos. No século IX ela detinha, estima-se, uma Terça parte das terras cultiváveis da Europa católica.
1.62
Sétimo aspecto: AS TRANSFORMAÇÕES NA MENTALIDADE .
6
1.63
O último aspecto a ser considerado no processo da gênese do Feudalismo são as transformações na mentalidade. Contudo, elas são difíceis de serem acompanhadas e impossíveis de serem datadas: a mentalidade tem um ritmo histórico muito mais lento que os fatos sociais, econômicos ou políticos.
1.64
Basta lembrar três daquelas mutações mentais: -- um novo relacionamento homem-Deus , -- uma nova concepção do papel do homem no universo, -- uma nova autoconcepção do homem. ( o homem deixa de ser o centro de todas as coisas)( até aquele momento imperava o racionalismo grego-romano )
1.65
O surgimento e o sucesso do cristianismo naquele momento refletiam tal estado de espírito e ao mesmo tempo reforçavam-no. Ou seja, o cristianismo passava a responder melhor os anseios espirituais de um número crescente de pessoas, cujos problemas não eram solucionados pelo frio e ultrapassado racionalismo greco-romano.
1.66
Firmava-se aos poucos uma mentalidade simbólica que via no mundo um grande enigma decifrável somente pela fé. Um mundo que ganharia sentido apenas através de Deus. A razão passava a ser vista como instrumento diabólico, que mantinha o homem na ilusão de uma falsa sabedoria que o afastava da Verdade.
1.67
Firmava-se assim uma nova aliança, pela qual o homem através de determinadas ações ganharia as recompensas celestiais.
1.68
A partir do século III e mais claramente do IV, a presença do demônio na vida cotidiana era para o homem da época uma realidade palpável. Combater aquela presença era portanto uma necessidade. Mais ainda, um grande teste a que o homem era submetido e cujo resultado definia o destino de sua vida.
1.69
Portanto, a existência do homem devia-se a Deus e a ele estava dedica: à síntese clássica “o homem é a medida de todas as coisas”, contrapunha-se a medieval “Deus é a medida de todas as coisas”.
A ESTRUTURA DO FEUDALISMO 2.0
Por volta de fins do século IX ou princípios do X, as estruturas feudais já se encontravam montadas. ( gênese ). As estruturas estudadas anteriormente, indicam o caráter coeso daqueles elementos.
2.1
Não há qualquer hierarquia entre eles, e valorizar algum mais que outros, seria falsear o todo. Economicamente, o feudalismo estava centrado na produção do setor primário ( agricultura ).
2.2
Era claramente uma sociedade agrícola pelo fato de essa atividade envolver a grande maioria da população e por quase todos, direta ou indiretamente, viverem em função dela. Mais ainda, o próprio comportamento dos indivíduos e os valores socialmente aceitos estavam intimamente ligados a esse caráter agrícola.
2.3
De qualquer forma não significa que outras atividades econômicas não fossem praticadas e não tivesse peso considerável. Havia artesãos ambulantes que iam de região em região
7
manufaturando a matéria-prima local em troca de casa, comida e umas poucas moedas, quase todo senhorio tinha sua própria produção artesanal. 2.4
Os trabalhadores eram os camponeses, os mais hábeis eram utilizados nas tarefas que requeriam mais cuidados ( armas por exemplo ). As matérias primas a serem transformadas eram quase sempre produzidas no local. (leite, carne, couro, lã, ossos, fibras têxteis, madeira, ferro, chumbo, carvão )
2.5
O comércio ao contrário do que pensavam alguns historiadores, mantinha um certo porte. Certas mercadorias imprescindíveis em todos os locais, mas encontráveis apenas em alguns (caso do sal, por exemplo) eram objetos de troca .
2.6
As trocas locais desempenhavam papel de primeira ordem, com os camponeses levando à feira seu pequeno excedente produtivo e podendo, por sua vez, comprar algum artesanato urbano. Assim, ainda que de início timidamente, desde meados do século XI a zona rural foise integrando nos circuitos comerciais.
2.7
Havia ainda o comércio a longa distância que ligava o ocidente ao oriente, de onde eram importadas mercadorias de luxo consumidas pela aristocracia laica e clerical. Portanto, uma economia agrária mas não exclusivamente.
2.8
Devemos abandonar a imagem, exagerada, de uma agricultura feudal fechada, isolada e auto-suficiente. É verdade que a pequena produtividade fazia com que qualquer acidente natural (chuvas, em excesso ou falta, pragas ) ou humano ( guerras, trabalho inadequado ou insuficiente ) provocasse período de escassez.
2.9
Dessa forma sempre assustado com a possibilidade da fome, cada senhorio procurava suprir suas necessidades produzindo para consumo tudo que ali fosse possível. Em suma era uma agricultura apenas tendente a subsistência.
2.10
MÃO DE OBRA FEUDAL .
2.11
Na antigüidade mão-de-obra escrava. A partir da crise do império romano o colono. No feudalismo o SERVO.
2.12
As transformações pelas quais passava o escravo da Antigüidade e o trabalhador livre acabaram por criar um tipo intermediário, o colonus romano, antepassado direto do servo feudal. Da mesma forma, o latifúndio romano acabou com o decorrer dos séculos por gerar a típica unidade de produção feudal, o senhorio. E com a profunda e total interligação servosenhorio, chegamos ao que há de mais essencial no componente econômico do Feudalismo.
2.13
Os senhorios estavam divididos em três partes, todas trabalhadas e exploradas (ainda que não exclusivamente) pelos servos.
2.14
A reserva senhorial, com 30 ou 40 % da área total do senhorio, era cultivada alguns dias por semana pelos servos em troca da obrigação conhecida por corvéia. Todo resultado desse trabalho cabia ao senhor, sem qualquer tipo de pagamento ao produtor.
8
2.15
Os lotes (mansi) camponeses ocupavam no conjunto de 40 a 50% do senhorio. Cada família cultivava o seu lote, dele tirando sua subsistência e pagando ao senhor pelo usufruto da terra uma taxa fixa conhecida por censo.
2.16
Outras obrigações dos servos: pagar ao senhor uma parte do que produzia (talha), um pequeno valor anual para marcar sua condição de dependência (chevage), uma taxa para se casar com pessoa de outra condição social ou submetida a outro feudo isto é outro senhor (formariage), um presente ao senhor para poder transmitir o lote hereditariamente a seu filho (mão-morta), pagava pelo uso do moinho e do forno (banalidade).
2.17
A terceira parte do senhorio 20 ou 30% dele, eram as terras comunais (pastos, bosques, baldios) explorados tanto pelo senhor (através dos servidores domésticos) quanto pelos camponeses. Área utilizada para pastos, para coleta de frutos, extração de madeiras, a caça era direito exclusivo do senhor.
2.18
Socialmente o feudalismo era uma sociedade de ordens dividida em: Oratores (clero), responsáveis pelas orações para afastar as forças do mal e trazer os favores divinos para o homem. Bellatores (os cavaleiros/nobres), lutavam para proteger a sociedade cristã dos infiéis (muçulmanos) e dos pagãos (vikings, húngaros, eslavos) Laboratores (os trabalhadores), que produziam para o sustento de todos. O termo significa não só o trabalho em si mas também o esforço, a fadiga, o sofrimento como forma de penitência, a dor corporal trocada pelo pecado.
2.19
O clero por estar perto de Deus detinha o monopólio do sagrado. Só através dele o homem se aproximava de Deus. Exerciam profundo e poderoso controle sobre a sociedade, controlando a conduta do homem, elaborando o código de comportamento moral, de ação social e de valores culturais.
2.20
Esmolas, doações recebidas pela Igreja faziam do clero um grupo possuidor de extensos domínios fundiários e portanto de poder econômico e muito próximo da aristocracia laica também detentora de terras. Nela o clero requisitava seus elementos.
2.21
A instituição do celibato clerical, visava impedir a divisão do patrimônio eclesiástico, fonte de prestígio e poder. Ao buscar na nobreza indivíduos para o clero, muitos indivíduos eram atraídos em função do patrimônio clerical do que pela função sacerdotal.
2.22
Os guerreiros (bellatores), detentores de terras e do monopólio da violência, isto é, da força militar, tinham dupla origem: antigas linhagens; elementos de origem humilde sustentados por um poderoso senhor, que geralmente lhes cedia uma certa extensão de terra com os correspondentes trabalhadores. Assim surgiam os cavaleiros.
2.23
Acompanhando a tendência da época, os cavaleiros acabaram, nas terras recebidas, por se apossar de poderes políticos e por Ter domínio sobre os camponeses . Assim seu estilo de vida tendia a imitar o da velha nobreza a quem servia.
2.24
As pequenas propriedades rurais não ligadas a um grande domínio, conhecidas por alódios, eram cultivadas pelo proprietário e sua família. Contudo, a partir do século XI, fosse em virtude de doações à Igreja, de endividamento ou de pressões dos aristocratas, os alódios desapareceram em grande número. Seus antigos proprietários ou entraram então em algum tipo de dependência ou, apesar da perda da terra mantiveram-se livres mas trabalhando num grande domínio. Esta foi uma das origens do vilão.
9
2.25
Os trabalhadores apresentavam grande diversidade de condições, desde camponeses livres até escravos.
2.26
Trabalhador livre (vilão): trabalhador que recebera um lote de terra de um senhor, mas em troca de obrigações e limitações relativamente leves, podendo deixar a terra quando quisesse.
2.27
Os escravos: ainda numericamente importantes até o século VIII, passaram desde então a se fundir, sob modalidades diversas, sobretudo como servos, na massa de trabalhadores dependentes detentores de um lote de terra. Em parte, isso se deveu às transformações econômicas da época, que com sua tendência à autarcia ( auto-suficiência) tornavam desinteressante a um senhor fiscalizar e alimentar bandos de escravos geralmente pouco produtivos. De qualquer forma, os escravos jamais desapareceram na época feudal, mantendo mesmo certa importância nas regiões meridionais.
2.28
Os servos: Sem dúvida, o principal tipo de trabalhador durante o Feudalismo.
2.29
A servidão tinham dupla origem. De um lado, os servi casati da época carolingia (séculos VIII-IX), escravos que haviam recebido uma casa e terra para cultivar. De outro, colonos e demais homens livres submetidos espontaneamente ou não, ao poder de grandes proprietários rurais. Os primeiros constituíam a servidão pessoal, eram “homens de corpo” de um senhor, a quem pertenciam “ da sola dos pés ao alto da cabeça”, e podiam ser dados, vendidos ou trocados. Os segundos constituíam a servidão real, estando ligados a uma terra que não podiam abandonar. Em ambos os casos a condição servil era transmitida hereditariamente, primeiro por linha feminina, e a partir do século XII por linha masculina.
2.30
As diversas obrigações em serviço, em produtos e em dinheiro devidas pelos trabalhadores aos seus senhores, leva a estimar –se, que 30 ou 50% do eles produziam eram transferidos para as mãos da aristocracia laica e clerical.
2.31
Politicamente, ocorria uma fragmentação do poder central, uma debilidade do poder público que resultava na transferência das atribuições do Estado para mãos de particulares.
2.32
Surgiram então grandes principados territoriais, ducados, condados, cujos titulares deixavam cada vez mais de representar o poder monárquico e passavam a agir de forma independente. A tendência de parcelamento da soberania continuava a se manifestar no interior desses principados, com amplas áreas escapando ao poder ducal ou condal e passando ao domínio efetivo de seu servidores (viscondes, castelões)
2.33
Assim a Europa ocidental pulverizou-se numa infinidade de pequenos territórios, unidades administrativa, judiciais, militares e fiscais, verdadeiros Micro-Estados. Em função de tudo isso o rei passou a ser simplesmente um suserano.
2.34
A necessidade de segurança desenvolveu as relações pessoais, diretas, sem intermediação do Estado. Desenvolveram-se os laços de sangue, as relações dentro da família, das linhagens, grupos, etc, cuja solidariedade podia melhor proteger os indivíduos em relação ao exterior. Para exemplificar, considerava-se a morte violenta de uma pessoa como atingido todo o grupo, pondo em ação a faide, a vingança dos parentes.
2.35
Das relações existentes a mais importante a se destacar foi a relação feudo-vassálico. Constituía-se por três atos, realizado diante de testemunhas mas poucas vezes colocados por escrito.
10
2.36
Primeiro Ato : Homenagem; o futuro vassalo ajoelhava diante de outro (que se tornava senhor feudal), colocava suas mãos nas dele e se reconhecia como “seu homem”.
2.37
Segundo Ato: O Juramento de Fidelidade ; depois de por-se de pé, o vassalo jurava sobre a Bíblia ou relíquias de santos. Muitas vezes, especialmente na França, a fidelidade era selada pelo osculum, beijos trocados entre ambos (na boca).
2.38
Terceiro Ato: A Investidura ; pelo qual o senhor entregava ao vassalo um objeto ( ramo, punhado de terra, etc ) simbolizando o feudo então concedido.
2.39
A cerimônia feudo-vassálica possuía forte carga simbólica, expressava a relação vassalosenhor feudal, baseada na desigualdade – igualdade – reciprocidade.
2.40
Quais eram as obrigações recíprocas? “ Aquele que jura fidelidade ao seu senhor deve Ter em mente seis palavras: São e Salvo, Seguro, Honesto, Útil, Fácil, Possível.
2.41
São e Salvo, para que não cause qualquer prejuízo ao corpo do seu senhor.
2.42
Seguro, para que não prejudique ao seu senhor ou aos seus castelos que garantem sua segurança.
2.43
Honesto, para que não prejudique os direitos de justiça do seu senho ou outras prerrogativas que interessem à honra que pode pretender.
2.44
Útil, para que não cause prejuízo aos bens do se senhor.
2.45
Fácil e Possível, para que não torne difícil ao seu senhor o bem que este poderia facilmente fazer e para que não torne impossível o que teria sido possível ao seu senhor. Mas não é assim que ele merece o seu feudo, pois não basta abster-se de fazer mal, é preciso fazer o bem. Importa, portanto, que sob os seis aspectos que acabam de ser indicados, forneça fielmente ao senhor conselho (consilium) e ajuda (auxilium) se quiser parecer digno do seu benefício e realizar a fidelidade que jurou.
2.46
O senhor deve igualmente, em todos os domínios, fazer o mesmo àquele que lhe jurou fidelidade. Se não fizer, será com razão acusado de má fé; tal como o vassalo que fosse visto faltar aos seus deveres, pela ação ou por simples consentimento, seria ele acusado de perfídia e perjúrio (Perfídia = traidor, desleal, infiel ) (Perjúrio = juramento falso).
2.47
Auxilium, implicava em quatro casos: pagamento de resgate se o senhor fosse aprisionado; Cerimônia em que se armava cavaleiro o primogênito do senhor; Casamento da filha mais velha do senhor; Da partida do senhor para a cruzada.
2.48
Consilium , significava dar conselhos, opinar sobre assuntos propostos pelo senhor, e sobretudo participar algumas vezes por ano no tribunal presidido por ele.
2.49
Por parte do senhor havia as mesmas obrigações negativas, (não prejudicar seu vassalo de maneira alguma). Positivas, proteger o vassalo e sustenta-lo. Proteger significava defende-lo dos seus inimigos, fosse militarmente, fosse judicialmente. Sustentar significava ou aloja-lo e alimenta-lo no castelo senhorial, ou conceder-lhe um feudo do qual ele tiraria sua subsistência.
2.50
O Feudo era quase sempre uma extensão de terra, englobando um ou mais senhorios. Era portanto, terra com camponeses, pois sendo o vassalo um homem livre pertencente à camada 11
dos guerreiros, não se dedicava a tarefas produtivas. Vivia, assim, das prestações em serviço, em dinheiro devidas pelos camponeses daquela terra recebida como feudo. 2.51
Militarmente, o Feudalismo baseava-se na superioridade de um guerreiro altamente especializado, o cavaleiro.
2.52
Para utilizar tecnologia militar era preciso recursos econômicos abundantes. Para adquirir as valiosas armas e o caro cavalo e para o constante treinamento que o uso daquele equipamento requeria. O custo desse equipamento eqüivalia a 22 bois, animais de que cada família camponesa não contava com mais de dois, para ajudar nos serviços agrícolas. Os bens mobiliários de um cavaleiro correspondia aos de onze camponeses reunidos.
2.53
A Sagração do Cavaleiro: iniciava-se com uma cerimônia conhecida por adubamento.
2.54
O Adubamento: vestido de branco, o cavaleiro passava toda noite na Igreja, a rezar, em vigília das armas colocadas no altar. De manhã, após comungar, ocorria a benção das armas, e depois, seguindo um rito muito antigo, seu padrinho batia-lhe com a espada na nuca, ato rico e discutido simbolismo, tornando-o seu igual.
2.55
A ESTRUTURA CLERICAL.
2.56
Na verdade, a sociedade feudal (agrária, militarista, localista, estratificada) era ao mesmo tempo uma sociedade clerical(controle eclesiástico sobre o tempo, as relações sociais, os valores culturais e mentais). De fato, a Igreja, ao determinar rigorosamente o uso do tempo, interferia no mais profundo e cotidiano da ação dos homens.
2.57
Tempo histórico: intervalo entre a Criação e o Juízo Final, tendo como grande linha divisória a encarnação de Cristo, a partir da qual se passa contar os anos.
2.58
Tempo natural: Os ciclos das estações e os fenômenos meteorológicos, tão importantes numa sociedade agrária, lembravam a onipotência de Deus e deixavam aos homens uma única possibilidade de intervenção, realizada através do clero: as orações.
2.59
Tempo social : festas litúrgicas, determinando para certos momentos certas formas de agir e de pensar, de trabalhar ou repousar, de se alimentar ou de jejuar.
2.60
Tempo político : a Paz de Deus fixando onde e quando se poderia combater.
2.61
Tempo pessoal: o cristão nascia com o batismo, reproduzia no casamento (desde que fora dos momentos de abstinência), morria após a extrema-unção e era enterrado no espaço sagrado do cemitério da igreja de sua localidade.
2.62
No que dizia respeito às relações sociais, o papel da Igreja não era menos decisivo. O caráter do casamento ocidental, diferenciado do de outras sociedades, foi fixado por ela: monogâmico, indissolúvel, exogâmico (isto é, entre não–familiares, estando proibido até o 7º grau de parentesco), público ( a relação homem-mulher deixava de ter caráter pessoal e privado, passando a Ter normas controladas pela sociedade).
2.63
Consequentemente, todas as relações familiares(adoção, deserção, herança, divórcio, adultério, incesto, etc.) passavam para a alçada da Igreja. Entre os clérigos as relações baseavam-se num parentesco espiritual, pois todos eram vistos como “irmãos em Cristo”.
12
2.64
Da mesma forma, a Igreja procurava transferir esse pseudoparentesco para as relações entre clérigos e leigos, extraindo delas certa posição de domínio: o clérigo é padre, “pai” dos cristãos. Entre os laicos, incentivava-se o parentesco artificial para se criar uma rede de relações que nada deixasse escapar à Igreja, daí os muitos padrinhos e madrinhas em todos os atos considerados importantes na vida do cristão.
2.65
Por fim, o contrato feudo-vassálico não deixava de ser uma forma de parentesco não biológico referendada por um ato religioso, o juramento de fidelidade sobre os Evangelhos ou relíquias.
2.66
O controle eclesiástico sobre os valores culturais e mentais era exercido através de vários canais. O sistema de ensino, monopolizado pela Igreja até o século XIII, permitia a reprodução do corpo de idéias que ia sendo selecionado e formulado por ela. Assim, foi primeiro nos mosteiros, depois nas universidades, que a herança cultural greco-romana foi devidamente cortada, emendada, desenvolvida; enfim, cristianizada, ou melhor, clericalizada. Numa época em que poucas pessoas tinham acesso a essa cultura escrita, as pinturas e esculturas das igrejas e os sermões dominicais dos clérigos funcionavam como os meios de comunicação de massa da época, transmitindo naturalmente a visão de mundo da Igreja.
2.67
A prática da confissão individual, cada vez mais adotada a partir do século VIII, permitia ao clero penetrar profundamente na consciência de seus paroquianos e assim orientar seu pensamento e comportamento.
2.68
Em suma, a clericalização da sociedade que, já vimos, ocorria desde os últimos tempos do Império Romano, atingiu seu auge nos séculos X – XIII. Pouca coisa naquele momento escapava à Igreja. Antes de fazer parte de qualquer grupo familiar, social ou político, o indivíduo pertencia à comunidade cristã, à ecclesia, isto é, à Igreja no seu sentido mais amplo.
2.69
A compreensão dos objetos e dos fenômenos deveria se dar através da fé e da sensibilidade mais do que da inteligência. Identificadas as forças sobrenaturais, benéficas ou maléficas, responsáveis por determinados acontecimentos, o homem poderia tentar intervir através de preces, jejuns, peregrinações, exorcismos, amuletos, etc
2.70
O mundo terrestre era visto como o palco da luta entre forças do bem e do mal, hordas de anjos e demônios. Disso decorria o grande traço mental da época: belicosidade. Na sua manifestação mais concreta, tratava-se de enfrentar as forças demoníacas dos muçulmanos, vikings e húngaros.
2.71
Mais perigosas e difíceis de serem vencidas, contudo, eram as forças maléficas que não se encarnaram. Para isso era preciso outro tipo de guerreiros especializados: os clérigos, com sua armaduras simbólicas (batinas) e suas armas espirituais (sacramentos, preces, exorcismos). Sob seu comando, todos os homens enfrentavam o Diabo, vassalo de Deus que praticara felonia (rebelião de vassalo contra seu senhor; traição, deslealdade) ao quebrar sua fidelidade.
2.72
Deus era visto como senhor e o homem como vassalo. Assim não é de se estranhar que desde o século X se tenha generalizado o hábito de fazer uma prece com as mãos juntas, reproduzindo o gesto do vassalo ao prestar homenagem ao seu senhor. A religião feudal tornava-se um feudalismo religioso.
3.0
DA DINÂMICA À CRISE 13
3.1
DINÂMICA:
3.2
Gestação, nascimento, crescimento, reprodução, morte, também as sociedade passam por este ciclo vital. Com o Feudalismo não poderia ser diferente.
3.3
Mal estava completada sua estruturação, o Feudalismo já começava a sofrer transformações. Era a dinâmica feudal.
3.4
Após centenas de anos de gestação o feudalismo conheceu seu período de mais intenso crescimento de meados do século XI a meados do XIII.
3.5
A revitalização da sociedade cristã ocidental expressou-se num triplo crescimento: demográfico, econômico e territorial. Sendo parte de um mesmo fenômeno, esses crescimentos ocorreram paralelamente e interligadamente, com cada um agindo sobre o outro.
3.6
O crescimento demográfico: não encontrava obstáculos à tendência natural que toda espécie tem de se multiplicar. Na época feudal dois importantes fatores de mortalidade foram POUCO ATIVOS: as epidemias e a guerra.
3.7
A natalidade por sua vez era favorecida pela abundância de recursos naturais, pela suavização do clima, pela transformação jurídica do campesinato e pelas novas técnicas agrícolas.
3.8
Entre os séculos VIII e XIII a população na Europa dobrou. Motivos: ausência de epidemias, guerras constantes mas pouco destruidoras. ( as guerras objetivavam capturas )
3.9
Um outro elemento a ser considerado é a abundância de recursos naturais existentes na época feudal. No período compreendido entre os séculos III e VIII, houve um recuo demográfico, este fato fez com que extensas terras (áreas) anteriormente cultivadas fossem abandonadas e ocupadas por bosques florestas. Isto fez com que o homem pudesse ali obter frutos silvestres, caça para sua alimentação, madeira, o principal material de construção e combustível.
3.10
As mudanças climáticas são difíceis de serem acompanhadas, porém tudo indica que desde meados do século VIII o clima na Europa Ocidental tornou-se mais seco e temperado que antes a produtividade agrícola foi beneficiada por essa suavização do clima. Outro fator positivo no incremento da população foi a passagem da escravidão para servidão.
3.11
Alguns aperfeiçoamentos exerceram ação direta sobre o desenvolvimento agrícola: 1º A Charrua: tipo de arado mais eficiente por penetrar profundamente no solo, revolvendo-o e aumentando sua fertilidade 2º Novo Sistema de Atrelar Os Animais (coalheira): arreio em forma de coleira para os cavalos, o velho arreio tipo canga era usado com vantagens nos bois, mas costumava sufocar os cavalos. Como estes se movimentam mais depressa e têm mais energia do que os bois, são mais valiosos para o trabalho agrícola. 3º A Adoção De Ferraduras : para proteger os cascos mais macios dos cavalos aumentoulhes a capacidade de trabalhar em terreno difícil. 4º O Sistema De Rodízio Das Terras: pelo qual ocorria alternância de cultivos (cereais, leguminosas) sobre uma mesma área, impedindo que ela se esgotasse. Desta forma, não só a produtividade cresceu, como também os hábitos alimentares se modificaram, com uma
14
dieta mais rica em proteínas(ervilha, lentilha, leite, carne) e assim uma menor mortalidade. 3.12
Também o aparecimento do moinho d’água e moinho de vento contribuíram para uma maior produção agrícola.
3.13
O Crescimento Econômico: manifestou-se através de três fenômenos: Maior Produção; Progresso do Setor Urbano; Acentuada Monetarização.
3.14
Os excedentes gerados pela agricultura forneceram as matérias primas básicas para a indústria artesanal e assim permitiram a identificação do comércio.
3.15
O incremento da produção agrícola teve como ponto de partida as inovações técnicas e a melhoria climática que falamos acima, proporcionaram dessa forma a possibilidade de alimentar um maior número possível de cabeças de gado, havia maior disponibilidade de adubo, o que também influenciou positivamente a agricultura.
3.16
O ritmo de crescimento da população era mais intenso; desde meados do século XI verificase uma alta nos preços de cereais. Este fato leva à procura de novas áreas para a agricultura através do recuo das florestas, dos terrenos baldios e das zonas pantanosas. Foi desta forma que a área cultivável da Europa ocidental estendeu-se bastante.
3.17
As terras que não eram propícias à agricultura, eram entregues à pecuária. Esse setor conheceu um grande avanço, já que a crescente população pressionava por mais carne e leite, a agricultura precisava da força-motriz animal, o artesanato necessitava de matérias primas como couro, chifres, ossos.
3.18
Crescia muito a procura por lã, consequentemente houve um acréscimo no rebanho ovino, desenvolveram-se a indústria têxtil e a de construção, como resultado das necessidades impostas pelo crescimento demográfico.
3.19
A expansão da produção agrícola, o fim dos ataques bárbaros, maior estabilidade política e uma população em crescimento, produziram um renascimento do comércio.
3.20
O revigoramento do comércio e do artesanato, implicava é claro, uma ativação da economia monetária.
3.21
O aumento da produção, tornou necessário vender o excesso e criando oportunidades de compras, levou a se recolocar em circulação moedas e metais preciosos. Além disso, o progresso da mineração e os metais trazidos do oriente pelo comércio permitiam a cunhagem de mais moedas.
3.22
Essa Monetarização da economia feudal, ao mesmo tempo que expressava o vigor do feudalismo, contribuía para que nele ocorressem importantes transformações:
3.23
Por exemplo, a comutação das obrigações servis em pagamentos em moedas. Como a maior produtividade permitia aos camponeses ficarem com um excedente, eles vendiam na feira local e obtinham assim uma certa renda monetária. Ora desejando o senhor comprar os produtos orientais oferecidos pelos mercadores, precisava cada vez de mais moedas, e passava a recebê-las dos seus servos ao invés dos produtos ou serviços que eles lhe deviam.
15
3.24
O senhor podia contratar para certas tarefas mão-de-obra assalariada, geralmente mais eficiente e bastante barata devido ao crescimento populacional. Portanto, desta forma ia se descaracterizando um dos elementos centrais do feudalismo.
3.25
No plano institucional a monetarização da economia provocava mudanças. Já em fins do século XI era conhecido em algumas regiões o feudo de bolsa ou feudo de renda, pelo qual o senhor comprometia-se a remunerar o vassalo não com terras, mas com uma quantia, geralmente em moeda, paga periodicamente.
3.26
Em princípios do século XI a economia européia revelava sinais inequívocos de recuperação das desordens de séculos anteriores. Nos dois séculos seguintes, o comércio local, regional e de longo curso, ganhou tal impulso que alguns historiadores descrevem o período como uma revolução comercial.
3.27
Nos séculos XII e XIII o renascimento do comércio possibilitou, por sua vez, o reaparecimento da moeda, dos bancos e instrumentos de crédito, assim como a intensificação das trocas através de FEIRAS e MERCADOS. O comércio a longa distância voltou a ser realizado através de várias rotas internacionais. Destas, a mais importante era a rota Veneza – Oriente, que transformou o Mediterrâneo em eixo econômico do comércio entre a Europa e o Oriente.
3.28
As especiarias produzidas no Extremo Oriente eram transportadas pelos muçulmanos, por mar ou por terra, até os portos do Mediterrâneo oriental e ali adquiridas pelos pelos mercadores italianos que, dessa forma, detinham o monopólio de sua comercialização no mercado europeu.
3.29
Pela rota mar Báltico – mar do Norte as mercadorias eram transportadas da Escandinávia e da Alemanha até a Flandres e a Inglaterra. O incremento do comércio europeu setentrional levou ao surgimento de grande associações comerciais, conhecidas como HANSA. A mais famosa delas foi a LIGA HANSEÁTICA ou HANSA TEUTÔNICA , que agrupava 160 cidades e dominou o comércio no Leste europeu.
3.30
A ROTA DA CHAMPANHE atravessava as planícies do leste da França ligando o comércio da Flandres, ao norte, com o da Itália, ao sul. Nela surgiram as mais famosas feiras medievais – as feiras da Champanhe – que foram posteriormente destruídas pela Guerra dos Cem Anos (1337 – 1453), travada entre a França e a Inglaterra. Durante essa guerra o comércio entre a Itália e a Flandres deslocou-se para o Ocidente, passando a ser realizado através da rota mar Mediterrâneo – oceano Atlântico – mar do Norte.
3.31
Essa nova rota marítima ocidental promoveu a valorização econômica da península Ibérica, o incremento das atividades náuticas e a prosperidade das cidades litorâneas portuguesas. Em Lisboa e no Porto surgiu uma próspera burguesia que iria aliar-se à realiza e impulsionar a expansão marítima, comercial e colonial do século XV.
3.32
A ASCENSÃO DAS CIDADES.
3.33
No século XI as cidades ressurgiram por toda Europa, e no século seguinte tornaram-se centros ativos de vida comercial e intelectual.
3.34
Social, econômica e culturalmente, as cidades contribuíram para o declínio da Regime Senhorial, porque, além de produzirem alimentos, criaram novas oportunidades para o homem do povo. Começou a surgir uma nova classe de mercadores e artesãos. Essa nova
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Classe – a classe média era constituída de pessoas que, ao contrário dos senhores e servos não estavam ligados à terra. 3.35
O citadino era um homem novo, com um sistema de valores diferentes do senhor, do servo ou do clérigo.
3.36
As cidades surgiram na rota do comércio – litoral, margens de rios, encruzilhadas e mercados – e juntos dos castelos fortificados, dos mosteiros e das cidades romanas sobreviventes. As cidades medievais, que, por terem renascido em torno dos muros dos antigos castelo feudais, eram também chamadas renascido em torno dos muros dos antigos castelos feudais, eram também chamadas burgos, formou-se uma rica classe de comerciantes que, pelo fato de residir nos burgos, ficou conhecida como burguesia.
3.37
As cidades eram circundadas por muralhas que lhes serviam de proteção. À medida que a população crescia e que novas casas eram construídas, ultrapassando os limites da velha muralha, uma nova era construída. A sucessão de várias dessas muralhas, formando anéis concêntricos, era uma característica comum às cidades medievais.
3.38
O planejamento urbano e as condições de higiene dessas cidades eram precários. As construções eram de madeira, amontoadas umas sobre as outras; as ruas eram estreitas e sem calçamento; inexistiam sistemas de esgotos.
3.39
A média das populações das aglomerações mais importantes raras vezes chegava, no começo do século XIV, ao máximo de 50 a 100 mil almas, e uma cidade de 20 mil poderia passar por considerável uma vez que, na grande maioria dos casos, o número de habitantes flutuava entre 5 e 10 mil.
3.40
Nos burgos medievais as atividades econômicas eram controladas pelos grêmios ou corporações de artes e ofícios, que agrupavam os comerciantes e artesãos de acordo com sua profissão ou ramo de negócios.
3.41
As corporações monopolizavam o mercado urbano, protegendo as atividades locais contra a concorrência de outras cidades, caracterizando o protecionismo. Regulamentavam o acesso à profissão, a jornada de trabalho, o preço das mercadorias, a margem de lucro e prestavam assistência a seus membros.
3.42
A corporação dos negociantes de uma cidade impedia que os estrangeiros fizessem ali muitos negócios. O artesão recém-chegado à cidade tinha que ser admitido à corporação de seu ofício antes que pudesse iniciar sua atividades.
3.43
A concorrência entre membros da mesma corporação era desencorajada. Para evitar que qualquer dos membros ganhasse muito mais do que os outros, a corporação exigia que trabalhassem todos os mesmos números de horas, pagassem o mesmo salário aos seus empregados, produzissem mercadoria da mesma qualidade e cobrassem preço justo.
3.44
A corporação também tinha função social e religiosa. Seus membros freqüentavam reuniões na sede comemoravam juntos os feriados e desfilavam em paradas. As corporações cuidavam dos membros enfermos ou em dificuldades, e assistiam as viúvas e filhos dos membros que faleciam.
3.45
Foram várias as maneiras pelas quais as cidades afrouxaram os laços de controle dos senhores sobre os servos. Buscando liberdade e fortuna, estes fugiam para as cidades novas
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onde, de acordo com os costumes, os senhores já não podiam reclamá-los depois de transcorrido um ano e um dia. 3.46
Servos com espírito de iniciativa ganhavam dinheiro vendendo alimentos aos citadinos. Quando conseguiam uma soma suficiente, compravam sua liberdade aos senhores, que precisavam de dinheiro para pagar os bens adquiridos aos mercadores.
3.47
Os senhores começaram a aceitar, cada vez mais, um pagamento fixo em dinheiro dos servos, em lugar da prestação de serviços ou do fornecimento de alimentos.
3.48
Como os servos se eximiam de sua obrigações com os senhores por meio de pagamento em dinheiro, foram aos poucos passando a serem arrendatários com compromissos financeiros, já não estando presos à terra do senhor. O sistema de relações pessoais e de obrigações mutuas desmoronava.
3.49
A CRISE.
3.50
A crise resultava das características do próprio Feudalismo. Assim ao longo dos séculos XII e XIII vinham ocorrendo profundas transformações que se revelam com toda a força a partir do século XIV.
3.51
A exploração agrícola predatória e extensiva fora típica do Feudalismo. De fato, na época de expansão, o aumento da produção fora conseguido mais com ampliação da área cultivável do que com a utilização de tecnologia mais avançada.
3.52
A busca desordenada de terras para a agricultura , parece mesmo Ter provocado importantes alterações ecológicas. O desmatamento -- em 1300 as florestas da França cobriam um milhão de hectares amenos que atualmente. Talvez tenha sido o responsável pelas mudanças no regime pluvial e pelo resfriamento da clima então ocorrido.
3.53
A Grande Fome:(1315 – 1317) as violentas e constantes chuvas que atingiram a maior parte da Europa em 1314 – 1315 provocaram colheitas desastrosa: de fins de 1315 a meados de 1316 os preços de trigo mais que triplicaram.
3.54
A fome abriu caminho a várias epidemias, a mortalidade cresceu. Como cada indivíduo gastava mais com alimentação, consumia menos bens artesanais, o que levou à retração desse setor e consequentemente também do comércio.
3.55
A PESTE.
3.56
Um ditado medieval dizia : “ depois da fome, a peste come”.
3.57
Entre 1346 e 1352, a peste negra (bubônica), arrastou, pelo menos um terço da população da Europa. A maior onda de mortalidade que jamais varreu o mundo.
3.58
A peste provocou um profundo golpe no sistema de servidão, ao diminuir significativamente a quantidade de mão-de-obra dos senhorios. A peste foi responsável pela morte de um terço da população européia.
3.59
A desorganização social que segui a peste e a crescente procura por mão-de-obra facilitavam e incentivavam a fuga de servos.
3.60
Outros Aspectos para a Crise do Sistema Feudal. 18
3.61
As Revoltas Camponesas.
3.62
A superexploração feudal agudizou a luta de classes no interior da sociedade feudal. Esta questão torna-se particularmente explosiva na Segunda metade do século XIV agravaram as contradições. É dentro deste quadro mais amplo que se insere a Revolta dos Camponeses ( os jacques), em 1358, comumente conhecida com Jacquerie. ( a mais famosa )
3.63
As Revoltas Urbanas.
3.64
A revolta de Gand (1381), a revolta de Paris (1382)
3.65
A Guerra dos Cem Anos.
3.66
(1337-1453) Conflito entre a França e a Inglaterra, devastou a agricultura, assim como desarticulou as feiras e o comércio centro-europeu com a destruição da roa da Champanhe.
3.67
A decadência do trabalho servil, a retração dos mercados consumidores, a redução da vida urbana e das atividades comerciais tiveram como conseqüência a desorganização da economia européia.
3.68
A crise do comércio europeu, motivada pela falta de mercados, foi agravada nessa época pelo esgotamento das minas de ouro e prata, o que reduziu drasticamente a cunhagem de moedas e o volume de dinheiro disponível para as operações de compra e venda assim como para os empréstimos e financiamentos.
3.69
A conquista de mercados externos e de fontes fornecedoras de metais preciosos tornou-se então imprescindível à reativação da vida social e econômica da Europa. Essas necessidades determinaram a união, da burguesia, da realeza e da Igreja para a conquista de novos mercados, de novas terras e de novos fiéis.
3.70
Diante da crise agrária fazia-se necessária a conquista de novas áreas produtoras, Diante da crise demográfica fazia-se necessário o domínio sobre populações não-européias. Diante da crise monetária fazia-se necessária a descoberta de novas fontes de minérios. Diante da crise social fazia-se necessário um monarca forte, controlador das tensões e das lutas sociais. Diante da crise político-militar fazia-se necessária uma forte força centralizadora e defensora de toda nação. Diante da crise clerical fazia-se necessária uma nova Igreja. Diante da crise espiritual fazia-se necessária uma nova visão de Deus e do homem.
3.71
Essas necessidades determinaram a união da burguesia, da realeza e da igreja para a conquista de novos mercados, de novas terras e de novos fiéis, o que se deu através da expansão marítima, comercial e colonial do século XV. C O M E Ç A V A NOVOS T E M P O S. RESUMO – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO FEUDALISMO
1.0
Econômicas: • economia baseada na agricultura de subsistência. • Trabalho baseado no sistema de servidão. • Economia estática.
19
2.0
Sociedade: • • • Política: • • • • 4.0 Culturais: •
sociedade rigidamente dividida e marcada por privilégios de nascimento. Laços de dependência pessoal ( suserano e vassalos ) Trabalho baseado no sistema de servidão ( o servo que era o produtor transferia grande parte do produto para os senhores feudais. )
3.0
• •
Monarquia descentralizada. Predominância do poder local exercido pela nobreza feudal. Ausência do espírito nacional. Classe de guerreiros ocupando os altos cargos públicos. cultura teocêntrica, ou seja, todo o poder político girava em torno da autoridade religiosa, da fé. Predomínio da Igreja, que determinava o modo de pensar e de viver da sociedade. Fenômenos naturais explicados pela fé. A sociedade medieval era profundamente religiosa. Era comum a celebração de ritos para fazer as plantas crescerem, para conseguir boa colheita, para pedir a chuva, etc.
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