1 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
1. NATUREZA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: • • •
60 milhões de homens em armas. Entre 45 e 50 milhões de mortes (a maioria na população civil) como resultado direto dos combates ou 80 milhões de pessoas, se se contar também os que morreram por fome e doença, como resultado direto da Guerra. Oito vezes mais que na primeira Guerra. 4 % da população mundial da época.
2. A GUERRA: 2.1. A Segunda Guerra Mundial 1939 à 1945, envolveu povos de praticamente todas as regiões do globo, embora os principais choques armados tenham sido travados na Europa, no norte da África e no Extremo Oriente. 2.2. Depois da Tchecoslováquia, Hitler voltou-se para a Polônia, exigindo que a cidade livre de Dantzig fosse devolvida à Alemanha, e que ferrovias e estradas, sobre as quais os alemães teriam direitos extraterritoriais, fossem construídas no corredor polonês, ligando a Prússia Oriental com o resto da Alemanha. A polônia recusou-se a devolver o porto de Dantzig, vital para a sua economia; permitiu a abertura de uma rodovia alemã através do corredor polonês, mas não concederia direitos extraterritoriais à Alemanha. A França informou ao governo alemão que cumpriria suas obrigações de tratado com a Polônia. Chamberlain também advertiu que a Inglaterra ajudaria a Polônia. 2.3. A 22 de maio de 1939, Hitler e Mussolini celebraram o pacto de Aço, prometendo ajuda mútua no caso de guerra. No dia seguinte, Hitler disse aos seus oficiais que a verdadeira meta da Alemanha era a destruição da Polônia. “Dantzig não é o objetivo. É uma questão de expandir nosso espaço vital no leste, de assegurar nosso abastecimento de alimentos (...) Não podemos portanto poupar a Polônia, e a decisão é a de atacá-la no primeiro momento adequado”. Em meados de junho, o exército apresentou a Hitler os planos de combate para a invasão da Polônia. 2.4. Diante das exigências de Hitler à Polônia, os alemães de Dantzig, incitados pelos nazistas, promoveram manifestações de apoio a Hitler. Diante da negativa do governo polonês em atender às suas exigências, na madrugada do dia 1º de setembro de 1939, o governo nazista iniciou a invasão da Polônia. 2.5. A Alemanha atacou a Polônia com força e rapidez. A aviação alemã, a Luftwaffe, destruiu os aviões poloneses no solo, atacou tanques, bombardeou redes de defesa e Varsóvia, aterrorizando a população. Tanques abriram brechas nas defesas polonesas, e pára-quedistas, lançados por trás das linhas, tomaram posições importantes. Os alemães étnicos que viviam na Polônia sabotaram as fábricas. A 8 de setembro, os alemães avançaram até as proximidades de Varsóvia. A 17. As tropas soviéticas invadiram a Polônia do leste. A 27, a Polônia rendeu-se. Em menos de um mês, a blitzkrieg (guerra relâmpagos) nazista havia vencido a Polônia. 2.6. A invasão da Polônia pela Alemanha em 1939 foi a causa imediata de duas guerras distintas e paralelas que, relacionadas entre si, compuseram o quadro do novo conflito
2 mundial: a primeira teve com palco principal a Europa, onde a União Soviética desempenhou um papel preponderante vencendo a Alemanha, e a segunda se desenrolou no oceano Pacífico, onde os Estados Unidos se destacaram derrotando o Japão. Quanto à sua evolução, o curso da guerra desdobrou-se em três fases: as vitórias do Eixo (1939 – 1941 ), o equilíbrio de forças ( 1941 – 1943 ) e as vitórias dos Aliados (1943 – 1945). 3. VITÓRIAS DO EIXO. 3.1. A primeira fase da guerra se estendeu da campanha da Polônia, em 1939, à invasão da União Soviética, em 1941. Após a ocupação da Polônia pela Alemanha nazista, o fim do ano de 1939 caracterizou pela sitzkrieg – “ guerra de mentira”. A França e a Inglaterra evitaram um ataque frontal à Alemanha, pretendendo levá-la à capitulação por meio de um bloqueio econômico que não surtiu efeito. 3.2. Para Hitler, a conquista da Polônia foi apenas o prelúdio de um império alemão que se estenderia do Atlântico aos Urais. Quando as condições de tempo fossem propícias, ele lançaria uma grande ofensiva no oeste. Até lá, o período de seis meses que se seguiu à derrota da Polônia foi denominado como já comentamos de “ guerra de mentira”, pois a luta terrestre consistiu apenas em umas poucas escaramuças na fronteira francogermânica. E então, em princípios de abril de 1940, os alemães atacaram a Dinamarca e a Noruega, a sitzkrieg era substituída pela blitzkrieg – “guerra – relâmpago”. Hitler queria assegurar o acesso ao minério de ferro sueco que lhe chegava através das águas territoriais norueguesas. Sabia que a Inglaterra e a França tinham planos para ocupar a região mineira e os principais portos suecos e noruegueses. Além disso, esperava estabelecer bases navais no litoral da Noruega, a partir das quais travaria uma guerra submarina contra a Inglaterra. 3.3. A Dinamarca rendeu-se numa questão de horas. Uma força anglo-francesa prestou ajuda aos noruegueses, mas os desembarques, mal coordenados e sem apoio aéreo, falharam. Os alemães venceram a batalha da Noruega, mas a campanha produziu dois resultados positivos para os aliados: os navios mercantes noruegueses escaparam para a Inglaterra em condições de prestar serviços, e Winston Churchill (1874-1965), que se opusera ao apaziguamento, substituiu Chamberlain como primeiro-ministro britânico. Dinâmico, corajoso e eloqüente, Churchill teve a capacidade de motivar e liderar seu povo na luta contra o nazismo. 3.4. A 10 de maio de 1940, Hitler lançou sua ofensiva no oeste, invadindo a Bélgica, a Holanda e Luxemburgo, que eram neutros. Enquanto as forças blindadas penetravam as defesas da fronteira holandesa, unidades aerotransportadas tomavam aeroportos e pontos estratégicos. A 14 de maios, depois do bombardeio de Rotterdam pela Luftwaffe, que destruiu o centro da cidade e matou várias pessoas, os holandeses renderam-se. 3.5. Um ataque ousado, realizado por tropas transportadas em planadores, deu à Alemanha o controle de duas importantes pontes belgas, abrindo as planícies do país às divisões panzer (tanques) alemãs. Acreditando que esse era o principal ataque alemão, as tropas francesas acorreram à Bélgica para impedir o rompimento das linhas, mas uma ameaça ainda maior surgiu ao sul, na fronteira francesa. Sem encontrar praticamente resistência, as divisões panzer haviam atravessado as estreitas passagens das montanhas de Luxemburgo e a densa floresta de Ardenas, no sul da Bélgica .
3 3.6. A 12 de maio, unidades alemãs estavam em solo francês, próximas de Sedan. Acreditando que a floresta de Ardenas não podia ser penetrada por uma grande força alemã, os franceses fortificaram apenas ligeiramente toda a extensão ocidental da Linha Maginot; a incapacidade de contra-atacar rapidamente foi um segundo erro. Os melhores elementos das forças anglo-francesas estavam na Bélgica, mas os alemães avançaram pelo norte da França em direção ao mar, que alcançaram a 20 de maio, dividindo as forças anglo-francesas em duas. A Linha Maginot caiu rapidamente, pois grande parte dos soldados alemães chegaram na retaguarda das linhas francesas, saltando de páraquedas e usando planadores. 3.6.1. Linha Maginot: O nome Linha Maginot, deriva do seu idealizador o engenheiro francês Maginot. Essa defesa baseava-se numa série de fortificações e construções subterrâneas. Essas fortificações se interrompia na fronteira com a Bélgica e foi ali que os alemães tentaram romper as defesas e dominar a França. A Linha baseava-se numa idéia de guerra de posições, estática, e não previa um conflito moderno e dinâmico como a que estava ocorrendo. Somente o general De Gaulle era a voz que criticava o sistema de defesa da Linha Maginot. 3.7. Os alemães procuraram então cercar e aniquilar os contingentes que convergiam para o porto francês de Dunquerque, a única saída. Inexplicavelmente, porém, Hitler mandou os tanques recuarem no momento em que se preparavam para tomar Dunquerque; em lugar deles, mandou que a Luftwaffe acabasse com as tropas aliadas, mas a cerração e a chuva impediram que os aviões alemães operassem com toda a sua capacidade. Aproveitandose dessa breve trégua, os Aliados reforçaram suas defesas e prepararam um evacuação maciça. 3.8. Enquanto a Luftwaffe bombardeava as praias, cerca de 338000 soldados ingleses e franceses foram transportados pelo canal da Mancha por destróieres, navios mercantes, barcos de pesca, chatas e embarcações de recreio. Os ingleses deixaram todo o equipamento nas praias, mas salvaram seus exércitos para a continuação da luta. A decisão pessoal de Hitler de parar os tanques possibilitou o milagre de Dunquerque. A Luftwaffe havia tentado impedir, mas a pronta atuação da RAF (Rela Força aérea) infligiu uma derrota à Força Aérea Alemã. 3.9. O objetivo era, depois desses episódios, Paris. Diante do avanço das tropas nazistas, o governo francês de Reynaud fugiu para Bordéus. O comando das forças francesas ficou a cargo dos generais Pétain e Weygand, que, além de demonstrarem certas simpatias pelo regime nazista, foram tomados por grande espírito derrotista. Diante dessas circunstâncias , o primeiro-ministro renunciou e foi substituído por Pétain. 3.10.Como explicar o colapso da França? Os franceses tinham menos aviões do que os alemães e eram deficientes em artilharia antiaérea, mas tinham o mesmo número de tanques, alguns dos quais de melhor qualidade. Os Alemães não contavam com um número esmagador de soldados. A França foi derrotada porque seus líderes militares, ao contrário do comando alemão, não haviam dominado a psicologia e a tecnologia da guerra motorizada. “ Os comandantes franceses, treinados nos métodos de movimento lento de 1918, estavam mentalmente incapacitados para enfrentar o ritmo dos panzer, o que provocou uma paralisia generalizada entre eles”, diz um especialista militar britânico, Sir Basil Liddell Hart. Percebe-se também uma perda de vontade entre o povo francês, resultante das disputas políticas internas que dividiram a nação, da má liderança,
4 dos anos de apaziguamento e oportunidades perdidas e da propaganda alemã, que retratava o nazismo como irresistível e o Führer como o homem do destino. 3.11.A batalha da França transformou-se num desastre. Divisões inteiras foram isoladas ou estavam em retirada, e milhões de refugiados dirigiam-se para o sul, em carros, carroças, motocicletas e bicicletas, para escapar ao avanço alemão. No dia 14 de junho as tropas nazistas já estavam marchando nos bulevares parisienses e abandeira nazista, destacando a cruz suástica, tremulava sobre a torre Eiffel. 3.12.A Itália fascista não poderia deixar de participar nesta guerra ao lado das forças vitoriosas. Afinal, Mussolini era amigo do Führer e seu país fazia parte do Eixo. Por isso o Duce só se fez ouvir depois que a França estava praticamente derrotada. Mesmo assim as 35 divisões do “imbatível” exército fascista não conseguiram desalojar seis simples divisões francesas nos Alpes. Algumas forças alemãs precisaram ajudar os italianos, fato que se repetiria por quase toda a guerra. 3.13.O derrotismo das classes dirigentes francesas impediram, por todos os meios, que a esquerda de seu país articulasse uma resistência popular armada contra a invasão nazista. Os conservadores e derrotistas dirigentes da França preferiram dobrar-se diante da Alemanha: o gabinete francês apelou para um armistício, que foi assinado a 22 de junho0, no mesmo vagão ferroviário em que a Alemanha firmara o armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. 3.14.A partir daí a França foi virtualmente dividida em duas. Uma parte, ao norte, incluindo Paris, diretamente administrada pela Alemanha; a outra parte, ao sul, dominada pelos franceses pró-nazistas – o marechal Pétain e Pierre Laval –, cuja capital era Vichy. Essa parte ficou conhecida com a França colaboracionista, ou França de Vichy. Recusando-se a aceitar a derrota, o general Charles de Gaulle (1890-1970) fugiu para Londres e organizou as forças dos Franceses livres. Os alemães exultaram com a vingança; os franceses choraram de humilhação; e os ingleses se encheram de coragem, pois estavam agora sozinhos na luta. 3.15.A BATALHA DA INGLATERRA: Hitler esperava que depois de sua espantosa vitória no oeste, a Inglaterra fizesse a paz. Os ingleses, porém, continuaram a rejeitar as sondagens alemãs de paz, pois só podiam imaginar um futuro sombrio se Hitler dominasse o continente europeu. “A batalha da Inglaterra vai começar”, disse Churchill ao povo britânico. “Dela depende a sobrevivência da civilização cristã (...) se falharmos, então (...) tudo o que conhecemos e respeitamos se afundará no abismo de uma nova Idade das Trevas”. 3.16.A operação militar contra a Inglaterra levou o nome, no código secreto alemão de “Operação Leão Marinho” e iniciou-se no dia 7 de setembro de 1940. Para se ter uma idéia da força que tentou invadir a Inglaterra pelos ares somente nos dias 13 e 14 de agosto de 1940 mais de 1500 aviões alemães levantaram vôo em direção à Inglaterra. Os Spitfires (avião de caça inglês) conseguiram derrubar grandes quantidades de bombardeiros e caças alemães. 3.17.Não fosse a atuação da Real Força Aérea britânica, a RAF, o desastre poderia ser irreparável. Os radares, recém-aperfeiçoados pelos técnicos britânicos, prestaram vital auxílio à RAF na destruição dos efetivos da Luftwaffe. Ao mesmo tempo que alguns aviões defendiam a Inglaterra, outros atacavam as bases alemãs localizadas nas costas da
5 Bélgica e da França. Logo em seguida, os pilotos britânicos surpreenderam os arrogantes alemães, bombardeando a “superprotegida” capital, Berlim. 3.18.A Inglaterra vencera a Alemanha na batalha aérea, fato que obrigou o ditador nazista a adiar seu plano de fazer os ingleses “dobrarem os joelhos”, como ele dizia. Hitler ainda fez uma tentativa de atingir os britânicos através de Gibraltar, envolvendo a Espanha de Franco na guerra, mas o ditador espanhol não quis arriscar-se diretamente no conflito. 3.19.No plano global de Hitler era tentar convencer a Inglaterra de que deveria ser assinado um tratado de paz entre os dois países, pois dessa forma o Führer, senhor do III Reich, ficaria com as mãos livres para poder executar seu plano mais importante: iniciar o domínio do Leste. Mas enquanto isso não acontecia as operações bélicas passaram para o norte da África. 3.20.Quase simultaneamente à declaração de guerra contra França e Inglaterra, as forças fascistas de Mussolini iniciaram a invasão do Egito, que se encontrava sob o domínio inglês. O principal objetivo era o canal de Suez. Os ingleses conseguiram sem grandes dificuldades revidar o ataque italiano, passando logo em seguida ao contra-ataque. 3.21.Rapidamente as tropas inglesas estavam lutando na Líbia, importante colônia italiana na África. Hitler precisou socorrer Mussolini enviando o general Rommel, que conseguiu reconquistar parte do norte da África com o emprego das famosas divisões blindadas dos Panzer. Mesmo assim a Itália perdia a Etiópia para os exércitos ingleses. 3.22.No extremo oriente o Japão tentava consolidar suas posições na China instalando um governo títere na cidade de Nanquim. A Indochina francesa ( o Vietnã) e a Birmânia inglesa já estavam nas nãos do imperialismo japonês. A maior parte da China, no entanto, resistia aos soldados japoneses: o exército de Chiang Kai-Chek, apoiado pelos comunistas de Mao Tse-tung , combatia tenazmente aos japoneses. 4. O EQUILIBRIO DE FORÇAS. 4.1. A segunda da guerra se estendeu da invasão da União Soviética, em 1941, à capitulação da Itália, em 1943. Nesse período, o estabelecimento de um equilíbrio de forças no plano da guerra foi determinado pela intervenção da União Soviética e dos Estados Unidos no conflito mundial. 4.2. A INVASÃO DA RUSSIA: A destruição do bolchevismo e a conquista, exploração e colonização da Rússia eram os elementos básicos da ideologia de Hitler. Da Rússia, o império nazista obteria trigo, petróleo, manganês e outras matérias-primas; as férteis planícies russas seriam colonizadas pela raça superior. A expansão alemã no leste não podia espera a derrota final da Inglaterra. Em julho de 1940, Hitler deu instruções aos seus generais para que preparassem planos para a invasão da União Soviética. A 18 de dezembro, marcou o dia 15 de maio de 1941 para o início da operação Barbarossa (Barba-Roxa), o código atribuído à blitzkrieg contra aquele país. Mas os acontecimentos nos Balcãs forçaram Hitler a adiar a data para fins de junho. 4.3. Mussolini, o sócio menor do imperialismo alemão, para provar que não era mero satélite de Hitler, ordenou a invasão da Grécia no dia 28 de outubro de 1940. O Führer só foi avisado no último momento, fato que o encheu de cólera. Os italianos foram derrotados e
6 bateram em retirada perseguidos pelos exércitos gregos até a Albânia. Os italianos, encurralados, tiveram que esperar pela ajuda alemã até abril de 1941. 4.4. Hitler receou que a Inglaterra, que estimulava e ajudava os gregos, utilizasse a Grécia para atacar os campos petrolíferos da Romênia (Romênia, Bulgária e Hungria eram Estados agrários dependentes de uma Alemanha industrializada, eram uma espécie de Estados- satélites do III Reich.) vitais para o esforço de guerra alemão, e interferisse na iminente invasão da Rússia. 4.5. A questão da Iugoslávia precipitou a intervenção alemã na região. Em março de 1941, o governo da Iugoslávia passou a fazer parte do Eixo, mas uma conspiração militar derrubou o governo pró-nazista e instalou um novo governo, que se preparou para lutar contra a intervenção armada alemã. Hitler temia que o novo governo iugoslavo pendesse para a Inglaterra. Para evitar qualquer interferência na operação Barbarossa, o flanco balcânico tinha de ser controlado. A 6 de abril de 1941, os alemães atacaram a Grécia e a Iugoslávia. A Iugoslávia foi rapidamente dominada e a Grécia, que contava com a ajuda de 50.000 soldados ingleses ,neozelandeses e australianos, rendeu-se em fins de abril. 4.6. Para a guerra contra a Rússia, Hitler havia preparado uma força maciça – cerca de 4 milhões de homens, 3.300 tanques, 5000 aviões. A tomada dos Balcãs foi o primeiro passo para essa operação: não havia mais nenhuma influência soviética naquela região. 4.7. Hitler concentrava um enorme contingente bélico nas fronteiras com a Rússia. Em fins de abril, Churchill enviou uma mensagem a Stalin prevenindo-o do iminente ataque nazista. Os serviços secretos soviéticos apontavam na mesma direção. Stalin se recusou a dar crédito às informações que recebia. Nem mesmo o aumento dos exércitos alemães em suas fronteiras, que em maio de 1941 já haviam chegado a aproximadamente i milhão de soldados, o fazia crer numa invasão imediata. Algumas correntes da história militar chegam a afirmar que essa atitude de Stalin era para ganhar tempo e preparar-se para a guerra. Mas, se assim foi, o preço, como veremos, foi muito alto em vidas e materiais. 4.8. Nas primeiras horas de 22 de junho de 1941, os alemães lançaram sua ofensiva numa frente ampla. Atacando os aeródromos russos, a Luftwaffe destruiu 1200 aviões no primeiro dia. Os alemães avançaram pela Rússia, isolando e cercando as forças russas, desorganizadas e despreparadas. Acompanhando as forças nazistas iam soldados italianos, romenos, húngaros e finlandeses somados a um pelotão de espanhóis franquistas. As colunas blindadas dos Panzer encontravam pequena resistência e caminhavam pelos campos abertos praticamente sem serem molestadas. Centenas de milhares de prisioneiros russos caíam nas mãos dos nazistas. 4.9. O exército vermelho não conseguia impedir o rápido avanço das tropas nazistas, que, em menos de um mês, penetraram mais de 750 quilômetros no interior do território soviético, chegando às portas de Moscou. O exército soviético estava sofrendo as conseqüências dos expurgos feitos por Stalin alguns anos antes, que ceifou as melhores lideranças militares da Rússia soviética. Outro problema que ajuda a entender as derrotas soviéticas foi a inadequação do exército russo à guerra moderna e mecanizada. 4.10.Os alemães avançaram pela Rússia, isolando e cercando as forças russas, desorganizadas e despreparadas. Os russos sofreram perdas terríveis. Em pouco mais de três meses, 2,5 milhões de soldados russos haviam sido mortos, feridos ou capturados, e 14.000 tanques estavam destruídos. Até novembro de 1941 os nazistas haviam conquistado um território
7 em que viviam 40% de toda a população soviética, onde se encontravam 41% das linhas férreas, 38% do gado bovino, 38% dos cereais e mais de 68% da produção de ferro fundido de todo o país. 4.11.Mas havia também sinais inquietantes para os invasores. Os russos, que tinham uma proverbial capacidade de suportar dificuldades, lutavam com obstinação e coragem, e o governo não pensava em capitular. As reservas russas eram maiores do que os alemães esperavam. 4.12.A Wehrmacht, longe de suas linhas de abastecimento, começava a sofrer falta de combustível, e caminhões e carros tinham de enfrentar estradas primitivas que se transformaram num mar de lama quando chegaram as chuvas de outono. Um general alemão descreveu assim as dificuldades: “ Os soldados de infantaria deslizam na lama, enquanto muitas parelhas de cavalos são necessárias para arrastar cada canhão. Todos os veículos de rodas afundam até os eixos no barro. Mesmo os tratores só se podem movimentar com grande dificuldade. Uma enorme parte de nossa artilharia pesada está atolada (...). A tensão que tudo isso causou às nossas tropas já exaustas talvez possa ser imaginada”. As condições já não favoreciam a blitzkrieg. 4.13.Um inverno antecipado e rigoroso prejudicou a tentativa alemã de ocupar Moscou. Sem uniforme quentes, dezenas de milhares de alemães sofreram queimaduras de frio; sem o anticongelante, os canhões não disparavam. Os alemães chegaram a 30 quilômetros de Moscou. Apesar de os exércitos nazistas terem se aproximado bastante de Moscou, a defesa da capital impediu sua queda. Quando, em outubro, Bock se preparava para o assalto final, os principais membros do governo soviético haviam se transferido mais para o interior. O povo se sentiu abandonado e multidões invadiram os armazéns, saqueando-os. Mas Stalin se recusou a sair da capital. Sua presença ajudou a restaurar a confiança nos moscovitas, que sob o comando de novos generais iniciavam a preparação para a batalha de Moscou. 4.14.Hitler queria que a capital fosse tomada o mais rápido possível e que fosse destruída para apagar o símbolo do comunismo internacional. Para isso ordenou que o exército de mais de l milhão de homens, sob o comando do general Bock, se concentrasse em torno de Moscou. Tomaram parte nessa grande operação bélica 1700 tanques e canhões e quase mil aviões. Mas essa formidável força não conseguiu romper a defesa da capital. 4.15.Os russos lutaram bravamente em defesa de Moscou. Os generais alemães mostraram-se surpresos diante da eficácia dos tanques soviéticos T 34, “ que eram tão pesadamente blindados que as granadas dos canhões antitanques se tornavam ineficazes contra eles”. No ar também a Luftwaffe se mostrava pouco eficiente. Os aviões soviéticos pareciam nunca acabar: logo que um era derrubado apareciam dois para substituí-lo. 4.16.O exército nazista começou a ser vencido e empurrado. O rigoroso inverno russo contribuía para derrotá-lo. Pela primeira vez a Wehrmacht estava sendo batida. Hitler, desesperado, ordenou a resistência a qualquer preço. Os alemães recuaram a uma distância de 400 quilômetros de Moscou. A batalha de Moscou significou uma reviravolta na cena da guerra. A campanha russa demonstrou que o povo soviético faria sacrifícios incríveis pela pátria e que os nazistas não eram invencíveis. 4.17.OS ESTADOS UNIDOS SE A GUERRA DO PACÍFICO: enquanto a Alemanha dominava a Europa, seu aliado, o Japão, estendia seu domínio sobre várias áreas da Ásia.
8 Buscando matérias-primas e mercados seguros para os produtos japoneses. Em 1940, depois da derrota da França e estando a Inglaterra lutando sozinha contra a Alemanha nazista, levaram os Estados Unidos a abandonar a posição de neutralidade diante da guerra na Europa. 4.18.Em março de 1941, o congresso norte-americano aprovou a Lei de Empréstimos e Arrendamentos, que autorizava o governo a conceder ajuda material aos países em guerra contra o Eixo. Em agosto de 1941, uma conferência entre Roosevelt e Churchill culminou com uma declaração conhecida como Carta do Atlântico. Esse documento refletia, de certa forma, as aspirações dos povos em luta contra o nazifascismo: renúncia às conquistas territoriais, retificação de fronteiras de acordo com os países interessados, participação de todos os Estados no comércio mundial, cooperação internacional, liberdade nos mares e renúncia ao uso da força. 4.19.Se por um lado os EUA formalizava seu apoio as nações democráticas, o Japão por seu lado formalizava a aliança com a Alemanha e a Itália. Paralelamente, agravavam-se as tensões entre os Estado Unidos e o Japão na Ásia e no Pacífico. Em 1941, prosseguia a Guerra Sino-Japonesa e, com a queda da França, o Japão promoveu a ocupação da Indochina francesa. Em novembro o governo norte-americano decretou o embargo comercial ao Japão e exigiu a imediata evacuação da China e da Indochina. 4.20.Apesar da crescente hostilidade entre os dois países, os diplomatas americanos e japoneses faziam gestões para evitar o conflito. Pelo menos aparentemente, pois os planos dos imperialistas japoneses eram atingir os Estados Unidos de surpresa. O presidente americano Franklin Delano Roosevelt sabia que a guerra era inevitável, na verdade a guerra era desejável. Hoje sabemos que Roosevelt tinha conhecimento dos códigos das mensagens secretas sobre a invasão que se preparava. Não evitou a invasão. A guerra, para os Estados Unidos, era um bom negócio. Um estimulante à economia americana, que estava em semiparalisia desde 1929. 4.21.O Japão achava que um golpe rápido contra a frota norte-americana no Pacífico lhe daria tempo para ampliar e consolidar seu império. A 7 de dezembro de 1941, os japoneses atacaram Pearl Harbor, no Havaí, no mesmo momento em que o embaixador do Japão conversava com o secretário de Estado americano. Os norte-americanos sofreram uma derrota total: 17 navios foram afundados, inclusive sete de oito navios de guerra; 188 aviões foram destruídos e outros 159 danificados; e 2043 homens foram mortos. Os japoneses perderam apenas 29 aviões. 4.22.Quatro dias depois do ataque japonês à base americana, a Itália e a Alemanha declararam guerra aos Estados Unidos. Pouco a pouco a guerra envolveu, direta ou indiretamente, todos os países do mundo. O Brasil, por exemplo, além de importante fornecedor de matérias-primas básicas para os Estados Unidos, participou diretamente da guerra por ocasião da retomada da Itália, entre 1944 e 1945. Agora a imensa capacidade industrial norte-americana podia ser usada contra os países do Eixo. 4.23.A rápida expansão pelo Pacífico garantiu aos japoneses a anexação de uma enorme área com mais de 150 milhões de habitantes. Da Malásia, das Filipinas, da Birmânia, da Indochina e de centenas de ilhas do oceano Pacífico, o Japão retirava mão-de-obra e matérias-primas necessárias para sua indústria bélica. Somente a partir de maio de 1942, os Estados Unidos começaram a recuperar os terrenos perdidos.
9 4.24.Durante o ataque nazista à União Soviética, os raids aéreos da Luftwalffe sobre a Inglaterra diminuíram enormemente. Esse fato ajudou a formalizar-se a idéia de cooperação entre os dois países na luta contra o nazi-fascismo. Agora, com a entrada dos Estados Unidos no conflito, a guerra tomara sua “forma final”. Inicialmente os Estados Unidos estreitaram sua aliança com a Inglaterra e, em seguida, essa aliança foi formalizada com a União Soviética. É claro que havia muitas dificuldades dos territórios poloneses adquiridos depois do pacto de não-agressão com os nazista. Roosevelt insistia em que não se discutissem questões políticas, por enquanto, e que se reforçasse a aliança militar. Para os Estados Unidos a derrota da Alemanha tinha prioridade, e nisso se aproximavam dos soviéticos. 4.25.Na primavera de 1942, os países do Eixo estavam vencendo. O Império Japonês incluía a costa da China, A Indochina, a Tailândia, a Birmânia, a Malásia e as Índias Orientais holandesas, as Filipinas e outras ilhas do Pacífico. A Alemanha controlava a Europa quase que até Moscou. Quando o ano terminou, porém os Aliados pareciam certos da vitória. Três batalhas decisivas – Midway, Stalingrado e El-Alamein – provocaram a volta da maré. 4.26.MIDWAY: Os japoneses destruíram grande parte da frota norte-americana em Pearl Harbor. Reunido uma poderosa flotilha – 9 porta-aviões, 11 couraçados, 22 cruzadores e 65 destróieres –, o Japão tentou aniquilar o restante da frota norte-americana no Pacífico. Em junho de 1942, o corpo principal da frota japonesa dirigiu-se para Midway, a cerca de 1700 km a noroeste de Pearl Harbor; a outra parte da frota rumou para as Aleutas, numa tentativa de dividir a frota norte-americana. Mas os norte-americanos haviam decifrado o código naval japonês e tinham conhecimento do plano. 4.27.A 4 de junho de 1942, as duas marinhas travaram uma batalha naval quase que exclusivamente por intermédio de aviões baseados em porta-aviões, pois estavam muito distantes uma da outra para usarem seus grandes canhões. Demonstrando acentuada superioridade sobre seu adversário e uma extraordinária coragem, os pilotos norteamericanos destruíram 4 porta aviões e 322 aviões japoneses. A batalha de Midway roubou a iniciativa da guerra ao Japão. Com o aceleramento da produção industrial norteamericana, a oportunidade para uma vitória japonesa havia passado. 4.28.STALINGRADO: Depois de serem detidos nas vizinhanças de Moscou, em dezembro de 1941, os alemães renovaram sua ofensiva na primavera e verão de 1942. O objetivo de Hitler era Stalingrado, o grande centro industrial localizado às margens do rio Volga: o controle de Stalingrado daria à Alemanha o comando de uma rede ferroviária fundamental. 4.29.Hitler tomou a decisão de capturar Stalingrado e toda a região do Cáucaso de uma só vez. Velhos estrategistas perceberam que isso era impossível. Hitler mudou seu quartelgeneral para Ucrânia, o ponto mais próximo da frente de batalha, e aí teve um ríspido diálogo com general Halder, transcrito pelo clássico William Shirer: “Certa vez, quando foi lido para Hitler um relatório objetivo mostrando que, ainda em 1942, Stalin seria capaz de reunir de 1 milhão a 1 milhão e 200 mil soldados novos na região ao norte de Stalingrado e a oeste do Volga, sem contar o meio milhão de homens no Cáucaso, e que dava provas de que a produção russa de tanques para as linhas de frente montava, pelo menos, a 1220 unidades por semana, Hitler lançou-se para o homem que estava lendo e, espumando de raiva, proibiu-o de ler qualquer coisa mais sobre tais tolices”.
10 4.30.A arrogante e louca superioridade de que Hitler estava imbuído o fazia cego e surdo aos relatórios. Para ele, a Alemanha era imbatível e dentro em pouco a Rússia estaria derrotada e humilhada aos pés dos senhores germânicos. O objetivo era, a qualquer custo, o Volga, Stalingrado e o Cáucaso. 4.31.Uma poderosa força de blindados dirigiu-se para a Criméia e tomou Sebastopol. Seguiram imediatamente em direção ao rio Don com objetivo de cercar Stalingrado. O Alto Comando Alemão pretendia tomar a cidade em algumas semanas e reiniciar o ataque a Moscou. O VI Exército, sob o comando de von Paulus, foi encarregado de tomar a cidade. O avanço de seus tanques parecia irresistível. 4.32.Na primeira quinzena de setembro, os combates davam-se nas vias de acesso à cidade. Logo depois, lutava-se nos subúrbios e na própria cidade de Stalingrado. O pânico tomou conta dos soviéticos. O moral dos civis e militares era bastante baixo. Conta-se que Stalin condenou vários generais por negligência. Depois disso, o comando soviético agora nas mãos do general Zukov, recobrou a autoconfiança e s e preparou para a defesa. 4.33.Embora a velocidade do avanço alemão tivesse diminuído consideravelmente, o cerco se apertava. As provisões para os soviéticos tinham que chegar pelo rio, tamanha era dificuldade de comunicação por terra. Mas a resistência se tornava cada vez mais forte. Soldados do Exército Vermelho combatiam ao lado de operários, muitos deles veteranos que haviam lutado naquela mesma cidade durante a guerra civil sob o comando de Joseph Vissarionovitch Dzhugashvili, o verdadeiro nome de Stalin. 4.34.A defesa concentrou-se em três pontos: Fábrica de Tratores, Usina de Aço Outubro Vermelho e Fábrica de Material Bélico Barricada. No dia 5 de outubro, Stalin emitiu a seguinte ordem: Exijo que tomem as medidas para defender Stalingrado... Stalingrado não deve render-se ao inimigo, e a parte que dela foi capturada pelo inimigo deve ser libertada”. Lutava-se desesperadamente em ambos os lados, pois as ordens de Hitler também eram incisivas: tomar Stalingrado a qualquer custo. 4.35.O testemunho de um tenente do exército alemão serve para visualizar a violência das batalhas. “Para tomarmos uma única casa lutamos quinze dias, lançando mão de morteiros, granadas, metralhadoras e baionetas. Já no terceiro dia, 54 cadáveres de soldados alemães estavam espalhados pelos porões, pelos patamares e pelas escadas. Nossa frente é um corredor ao longo de quartos incendiados... Pelas chaminés e escadas de incêndio das casas vizinhas é que chegam reforços. A luta não cessa nunca. De um andar para o outro, rostos enegrecidos pelo suor, nós nos bombardeamos uns aos outros com granadas, em meio a explosões, nuvens de poeiras e fumaça, montes de argamassa, em meio ao dilúvio de sangue, aos destroços de mobiliário de seres humanos .Perguntem a qualquer soldado o que significa meia hora de luta corpo-a-corpo numa peleja deste tipo. Depois imaginem Stalingrado oitenta dias e oitenta noites só de luta corpo a corpo. As ruas já não é mais uma cidade... quando chega a noite... causticante de sangue e de gemidos, os cães lançam-se às águas do Volga e nadam desesperadamente à outra margem ... Só os homens resistem”. 4.36.Diz-se que nessa batalha o quilômetro como medida de distância foi substituído pelo centímetro, e o mapa da frente de batalha era as planta da cidade. “A conquista de uma única rua custava aos alemães tanto tempo e sangue quanto eles haviam gasto até então na conquista de países inteiros na Europa”.
11 4.37.No dia 19 de novembro, os alemães receberam ordens de lançar o ataque final sobre Stalingrado, Nesse mesmo dia, Stalin determinou a seus generais que se iniciasse a contra ofensiva. A idéia básica de Stalin e seus mais íntimos colaboradores militares era bastante simples: aproveitar arrogância e o atrevimento de Hitler ao avaliar que o Exército Vermelho estava destroçado. 4.38.O comando-geral do contra-ataque soviético estava nas mãos de Zukov, que despontava como um dos maiores estrategistas deste conflito. Três exércitos começaram a convergir para Stalingrado, 450 tanques T-34 e mais de 2 mil canhões foram utilizados pelos soviéticos. Os reforços que von Paulus desesperadamente pedia pelo rádio não conseguiam romper essa barreira de aço e fogo. Os primeiros a serem postos fora de combate foram os italianos, romenos e húngaros. 4.39.No quartel-general alemão situado na Ucrânia, o desespero começava a tomar conta. Os italianos estavam representados nas discussões da guerra pelo conde Ciano, genro de Mussolini e ministro do Exterior da Itália. “ Quando um membro do grupo de Ciano perguntou a um oficial da O K W (Alto Comando Supremo das Forças Armadas) se os italianos tinham sofrido pesadas perdas ele respondeu: “Nenhuma perda. Eles estão fugindo”. 4.40.Mas no campo de batalha a situação se redefinia: os alemães, que estavam até aquele momento sitiando Stalingrado, passaram a ser sitiados. Stalin ordenou que não se atacassem os exércitos sitiados de von Paulus, mas que Zukov dirigisse suas forças contra as tropas que estavam fora do cerco, afastando-as para além do rio Don, que corres ao lado do Volga. Hitler tentou reagir, ordenando à Luftwaffe que organizasse um corredor para suprir os homens do VI exército de von Paulus, mas a aviação alemã não tinha um número suficiente de aparelhos para a operação. 4.41.O chefe do estado-maior alemão, general Zeitzel, pediu permissão a Hitler para autorizar a rendição como única saída para salvar mais de 200 mil homens. Hitler foi incisivo, “Não deixarei o Volga”, ordenando pessoalmente que von Paulus resistisse. O Exército Vermelho, senhor da situação, enviou no começo de janeiro três oficiais portando bandeiras brancas com um documento oferecendo a rendição. “A situação de vossas tropas é desesperada. Elas estão sofrendo fome, doenças e frio. O cruel inverno russo mal começou. Geadas, ventos frios e nevascas ainda vos esperam. Vossos soldados não se acham providos de roupas de inverno e estão vivendo em horríveis condições sanitárias... Vossa situação é desesperada e qualquer resistência ainda, insensata. Em vista disso, e a fim de evitar um derramamento de sangue desnecessário, propomos que aceitais os seguintes termos:1º - todos os prisioneiros receberão rações normais; 2º tratamento médico aos doentes e feridos; 3º - conservação dos postos e condecorações pertences pessoais.” 4.42.Hitler, tomando conhecimento dessas negociações, ordenou inflexivelmente: “Proibida a rendição. O VI Exército defenderá suas posições até o último homem e o último cartucho, e com sua heróica resistência fará contribuição inesquecível para o estabelecimento de uma frente defensiva e para a salvação do mundo ocidental”. Hitler promoveu von Paulus a marechal-de-campo com estímulo para morrer em um posto mais elevado em nome da Alemanha.
12 4.43.Às 7:45 (de 1º de fevereiro), o operador de rádio do quartel-general do VI Exército enviou a última mensagem por sua própria conta: “ Os russos acham-se à porta de nosso abrigo. Estamos destruindo nosso equipamento”. Não houve luta no quartelgeneral nos últimos instantes. Paulus e seu estado-maior não resistiram até o último homem. Um esquadrão russo, comandado por um oficial subalterno, espreitou a adega em que se achava o comandante-chefe. Os russos exigiram a rendição, e o chefe do Estado-maior do VI Exército, general Schmidt, aceitou-a . Paulus achava-se sentado em seu leito de campanha, deprimido. Quando Schmidt perguntou-lhe se havia alguma coisa mais para dizer, não respondeu, tão exausto estava. 4.44.Terminara uma das maiores batalha da História. Os remanescentes do Sexto Exército renderam-se, a 2 de fevereiro de 1943. Cerca de 260.000 soldados alemães pereceram na batalha de Stalingrado, e outros 110.000 foram feitos prisioneiros. E pela primeira vez um marechal-de-campo do exército alemão caiu prisioneiro. A batalha de Stalingrado significou o ponto mais alto da Segunda Guerra Mundial, ao mesmo tempo que significou a virada definitiva da maré. Daí por diante, as iniciativas passariam definitivamente para as mãos do exército soviético. Essa batalha, juntamente com a s atividades no Ocidente e na África, significou o início do fim do Reich de mil anos de Hitler e do grande capital alemão. 4.45.Em grande parte a vitória soviética sobre os nazistas deveu-se à resistência que as populações ofereciam ao terrorismo imposto pelos alemães. Por outro lado, deveu-se também à rápida recuperação econômica que se manifestou principalmente na produção de aviões, que foi considerada uma das maiores realizações técnicas do período da Segunda Guerra Mundial. 4.46.EL-ALAMEIN: Em janeiro de 1941, os ingleses estavam derrotando os italianos no norte da África. Hitler deu ao general Erwin Rommel (1891-1944) a tarefa de deter o avanço britânico. Rommel (a Raposa do Deserto) expulsou os ingleses da Líbia e, se tivesse bons reforços poderia ter ocupado o Egito e o canal de Suez. 4.47.A preocupação de Hitler, porém, era tomar a Iugoslávia e a Grécia e preparar a invasão da Rússia. Em princípios de 1942, Rommel retomou o avanço, pretendendo conquistar o Egito. O Oitavo Exército Britânico, comandado pelo general Bernard L. Montgomery, o deteve na batalha El-Alamein, em outubro de 1942. Essa vitória seguiu-se uma invasão anglo-americana do noroeste da África, em novembro de 1942. Em maio de 1943, os alemães e italianos foram derrotados no norte da África. 5. VITÓRIAS DOS ALIADOS. 5.1. A guerra entrava finalmente em sua terceira fase, que se estendeu da capitulação da Itália em 1943, à do Japão em 1945, Em julho de 1943 as forças aliadas desembarcaram na Sicília e logo depois Mussolini foi destituído pelo rei Vítor Emanuel III. 5.2. Em setembro de 1943, o novo governo italiano, sob a direção do marechal Badoglio, concluiu um armistício com os Aliados, retirando a Itália da guerra. Libertado por um comando nazista, Mussolini fundou ao norte do país a efêmera República Social Italiana. Em outubro a Itália uniu-se aos Aliados e declarou guerra à Alemanha e em abril de 1945 ocorreu a capitulação das forças nazistas na Itália. Mussolini foi detido ao tentar fugir para a Suíça e, em seguida, fuzilado por um comando da Resistência italiana antifascista.
13 5.3. Com a queda da Itália fechou-se o cerco à Alemanha. A leste, a ofensiva soviética culminou, em 1944, com a libertação da Romênia, da Bulgária, da Tchecoslováquia e da Hungria pelo Exército Vermelho. A oeste, iniciou-se a 6 de julho ( o dia D) a operação Overlord, sob o comando do general Eisenhower, as forças aliadas desembarcaram na Normandia. 5.4. O DESEMBARQUE NA NORMANDIA: A libertação de Roma não recebeu maior atenção dos comandos militares, pois na mesma ocasião preparava-se a invasão da França. Todo o primeiro semestre do ano de 1944 foi ocupado pelos preparativos da grande invasão, que havia sido planejada para que coincidisse com a ofensiva soviética de verão. 5.5. No alto Comando Aliado havia divergências quanto à definição do local mais apropriado para a invasão. A idéia que prevaleceu foi a de cruzar o canal da Mancha e atingir as praias da Normandia, nas costas francesas. 5.6. Os alemães não acreditavam, inicialmente, que os Aliados tentassem uma investida pelas costas do norte da França, Tomaram pequenas medidas de defesa, mas sem pensar em invasão em grande escala. O mau tempo reinante ajudava a afastar a hipótese de uma invasão, no verão de 1944. 5.7. No entanto, na madrugada do dia 6 de junho daquele ano, iniciou-se uma vasta operação naval, com o objetivo de alcançar a França. O comando dos Aliados estava nas mãos do general americano Eisenhower. Participaram do desembarque 36 divisões, enquanto 40 delas ficaram na reserva. As forças aliadas contaram, ainda, com o apoio de mais de 5 mil aviões e mais de 6400 navios. Os Aliados encontraram algumas dificuldades no desembarque. O grosso das tropas alemãs não se encontrava nessa região, e sim mais ao norte. Rommel – que depois se tornou encarregado da defesa da França – montou a chamada Muralha Atlântica no passo de Calais, esperando por ali a invasão. 5.8. O marechal Rommel percebeu o erro e deslocou algumas divisões blindadas Panzer para a região onde estava se dando a invasão, mas o movimento da Resistência francesa atacou os alemães. Nesse momento os americanos haviam conseguido consolidar suas posições nas praias da França, e uma semana depois já haviam desembarcado mais de 300 mil soldados anglo-americanos, combatendo as posições alemãs. Rommel e o marechal Rundstedt pediram uma audiência a Hitler para expor-lhe a grave situação e sugerir-lhe uma ampla retirada. 5.9. Nada fez Hitler se convencer de que a situação era muito grave. Ele confiava nas novas armas e achava que em breve os nazistas recobrariam as antigas posições na França. Aliás, essa visão na condução da guerra tomaria conta das cabeças dirigentes da Alemanha nazista. 5.10.O ataque aliado prosseguiu. Uma das tarefas mais difíceis ficara a cargo do marechal inglês Montgomery, pois ele deveria envolver o inimigo enquanto o general americano Bradley atacasse os alemães pela retaguarda. Aos poucos, as forças alemãs estavam praticamente cortadas em duas. E em agosto o general Patton se dirigia a Paris. 5.11.Enquanto os Aliados prosseguiam nessas operações, todo o centro da França era libertado pelas forças da Resistência. Os franceses partidários do general De Gaulle participavam também das operações que, juntamente com um divisão de blindados, se
14 dirigiam a Paris. Paris achava-se sob intensa batalha entre a Resistência e os nazistas, e quando os Aliados chegaram à capital francesa, no dia 26 de agosto de 1944, encontraram-na praticamente livre. De Gaulle foi recebido como um virtual chefe de Estado. 5.12.Os Aliados aproximaram-se da fronteira alemã. A Bélgica já podia ser considerada livre do domínio nazista e o mesmo acontecia com a Holanda. E Eisenhower – numa operação bastante arrojada com uma força aerotransportada – iniciou a ocupação da região da Renânia. 5.13.Em janeiro de 1945 a Polônia fora libertada pelos soviéticos, que, logo depois, realizaram a junção de suas tropas com as americanas às margens do rio Elba. Com o suicídio de Hitler 30 de abril de 1945), a conquista de Berlim pelo Exército Vermelho e a queda do III Reich, terminava, em maio de 1945, a guerra na Europa. 6. A RESISTÊNCIA ALEMÃ E O ATENTADO CONTRA HITLER. 6.1. Para o homem comum que viva na Alemanha, no segundo semestre de 1944, seu país estava perdido. Era preciso buscar a paz. Para a liderança nazista acontecia exatamente o contrário. Pelo menos em alguns momentos, Goebbels, o todo poderoso criador da propaganda moderna, tentara debelar essa mentalidade “ derrotista”. A Alemanha tinha possibilidade de erguer-se novamente, dizia os jornais. Tudo isso seria passageiro e o Führer tiraria a Alemanha do desastre. Era só ter fé e esperança e acima de tudo muita coragem e vontade para lutar contra os Aliados, principalmente contra a horda oriental de bolcheviques. 6.2. O moral combatente dos alemães era também responsabilidade de Heinrich Himmler, que através do terror mantinha o povo mobilizado. O que se sabe é que, com o fim se aproximando, as SS e os Tribunais Populares ( que não passavam de cortes marciais) executavam em massa as populações das cidades que, porventura, dessem sinais de derrotismo. Em algumas localidades podiam-se ver cadáveres pendurados com cartazes no pescoço: “ Eu traí o Führer” ou “Sou um derrotista”. Os soldados que abandonavam suas posições eram fuzilados. 6.3. No entanto a realidade era bem outra. A maioria das cidades da Alemanha achava-se em escombros. A superioridade aérea aliada era inquestionável. Os bombardeios era diários. A Luftwaffe praticamente desaparecera e Goering também. A direção da economia de guerra havia passado para as mãos do arquiteto do Reich, Speer, que a historiografia burguesa insiste em qualificar de apocalíptico. Speer era uma última esperança para os grandes capitalistas. 6.4. Diante desse quadro, crescia uma oposição aos nazistas. O movimento clandestino do Partido Comunista chegava mesmo a fazer pequenos panfletos incitando à resistência. Pense-se nas dificuldades e riscos do funcionamento de um partido clandestino na Alemanha nazista. Eram infinitos. Mas a resistência mais direta começou a partir dos próprios oficiais da Wehrmacht, que não concordavam com a condução da guerra. Muitos chegavam a pensar em uma paz em separado com os aliados ocidentais e prosseguir a guerra contra a Rússia. Mas, qualquer que fosse a solução, Hitler precisaria ser eliminado. Um pequeno grupo de oficiais encarregou-se de praticar o atentado. O local escolhido foi a chamada “ Toca do Lobo”, quartel-general de Hitler situado na
15 Prússia oriental . A ocasião seria o momento em que a OKW estaria reunida, no dia 20 de julho de 1944, para uma análise da situação na frente oriental. O executor seria o coronel conde Stauffenberg. Esse militar fora convocado por Keitel, o chefe do OKW (Alto Comando Supremo das Forças Armadas), para ler um relatório na reunião do dia 20. 6.5. Stauffenberg tomou lugar junto à mesa e “colocou sua pasta”, que continha a bomba, a três passos de Hitler, mas o coronel Brandt, do estado-maior, na sua frente do qual ele ficara, empurrou-a com os pés para baixo da mesa. Stauffenberg olhou apreensivo para o relógio. Não tinha um minuto a perder. À meia voz disse que precisava telefonar para Berlim, a fim de pedir informações suplementares para seu relatório, e deixou o local. 6.6. Keitel, responsável pela ordem das reuniões militares das quais Hitler participava, seguiu-o com um olhar irritado. Um instante depois Keitel encarregou seu ajudante de ordens (...) de ir chamá-lo imediatamente: como Heusinger estivesse no fim de sua exposição, o andamento da reunião poderia ficar comprometido, o que irritaria o Führer. Enquanto isso, Heusinger continuava em seu tom morno: – A oeste de Divina os russos avançam para o nordeste. Suas colunas blindadas estão a noroeste de Dunabourg; se as formações do grupo Norte não forem retiradas imediatamente da região do lago Peipous, a catástrofe será iminente... 6.7. Nesse instante ( o relógio marcava 12:42) uma explosão ensurdecedora, semelhante a um obus de 155 mm, sacudiu o recinto, que se cobriu de uma espessa fumaça. Uma parte do teto foi para os ares, os vidros se estilhaçaram e a mesa virada sobre um dos lados, teve um dos lados rachado. Quatro pessoas morreram, seis ficaram feridas e duas outras foram atiradas para fora pelo deslocamento de ar. Hitler, que a mesa revirada protegeu como um escudo, teve apenas algumas queimaduras e escoriações ligeiras, um braço momentaneamente paralisado e um ouvido prejudicado pelo ruído da explosão. Sua calça ficou em tira s e, segundo uma testemunha ocular, ele tinha um ar extremamente deslocado. Levantando-se ele se queixou :– Oh, minha pobre calça nova, que eu tinha posto ontem pela primeira vez. 6.8. A resposta de Hitler foi imediata e sanguinária. Entre 6 e 8 de agosto foram julgados todos os que participaram do atentado, os suspeitos e até os que tiveram apenas pequenos contatos com os conspiradores. 6.9. Hitler, presa de fúria tirânica e de inesgotável sede de vingança, atormentou Himmler (...) para que fizesse os maiores esforços no sentido de deitar mão até da última pessoa que ousara conspirar contra ele. Ele mesmo traçou o processo para eliminá-las. “Desta vez – esbravejou numa de sua primeiras conferências depois da explosão... – dar-se-á pouco tempo aos criminosos para penitenciarem-se. Nada de tribunais militares. Arrastá-losemos para o Tribunal do Povo. Nada de discursos extenso deles. O tribunal agirá com rapidez do relâmpago. Duas horas depois da sentença, será ela executada. Pela forca. Sem mercê”. 6.10.Os conspirados eram, em geral, membros da nobreza alemã, sociais-democratas e membros do clero católico e protestante, mas, como se disse, principalmente oficiais da velha-guarda prussiana descontentes com a guerra conduzida pelo ex-cabo austríaco, agora senhor Todo-Poderoso da Alemanha.
16 6.11.Mas qual o verdadeiro sentido do atentado de 20 de julho? De certa forma o complô teve a participação de pelo menos alguns dos importantes membros da burguesia e da aristocracia germânica, donos dos grandes monopólios. 6.12.Enquanto Hitler marchou vitorioso e triunfante com seus exércitos pela Europa, nenhum membro dessa aristocracia se indispôs com o Estado. Mas este mesmo Estado era, em 1944, já bastante incômodo e responsável pelas perdas de territórios, causando imensos prejuízos aos grupos capitalistas germânicos.
7. DECISÕES DIPLOMÁTICAS. 7.1. No decorrer do conflito as potências Aliadas realizaram inúmeras conferências, cujas decisões diplomáticas refletiram-se política e militarmente no mundo do pós-guerra. 7.2. A CONFERÊNCIA DO CAIRO: Em novembro de 1943, após o início da contraofensiva norte-americana na guerra do Pacífico e a capitulação da Itália, realizou-se no Cairo, capital do Egito, a primeira conferência dos Aliados. Dela participaram Roosevelt, Churchill e Chiang Kai-shek (presidente da China) e seu o objetivo era a discussão do destino político da Ásia oriental após a derrota do Japão. Nessa conferência os Aliados decidiram devolver à China todos os territórios tomados pelo Japão durante a Guerra Sino-Japonesa. Decidiu-se ainda o restabelecimento da independência da Coréia e de todos os países conquistados pelo Japão. Finalmente, foram tomadas importantes decisões quanto às operações de guerra no oceano Pacífico. 7.3. A CONFERÊNCIA DE TEERÃ: depois da batalha de Stalingrado, o avanço do Exército Vermelho parecia não encontrar mais obstáculos. A libertação da rica Ucrânia já havia sido iniciada, mas a retomada da ofensiva soviética foi interrompida na primavera de 1943. O Alto Comando Alemão, num último esforço, ordenou uma violenta investida, principalmente na região de Kursk. 7.4. A grande ofensiva de Hitler nessa região tinha o objetivo de retomar o caminho para o Volga, o Cáucaso e Moscou. Cerca de 500 mil soldados participaram dessa operação com o apoio de dezesseis divisões de tanques Tigre, com blindagem especial. Mas as forças soviéticas estavam preparadas. Com mais de 1 milhão de soldados, o Exército Vermelho não só suportou o ataque como também destruiu metade das divisões Panzer e iniciou uma violenta contra-ofensiva. 7.5. Smolensk, Karkok, Orel eram as cidades que o exército soviético ia libertando do domínio nazista. Depois praticamente toda a Ucrânia estava libertada, e com ela sua capital Kiev. A retirada dos nazistas foi marcada por macabros espetáculos: eliminavam muitas vezes a população inteira de determinadas aldeias. Centenas de milhares de russos morreram durante a retirada. 7.6. Diante do avanço dos exércitos soviéticos, não havia mais dúvida quanto aos resultados da guerra. Por essa razão, os líderes dos três países que lutavam contra a Alemanha nazista sentiram necessidade de reordenar a condução da luta e pensar em acordos para depois de finda a guerra. Mas a razão mais importante que levou os três aliados a se reunirem foi uma mútua desconfiança que já existia. Desde o início da guerra, Stalin tinha sérias desconfianças de que os ocidentais queriam empurrar a Alemanha contra a
17 União Soviética. Com o desenrolar da guerra e a formação da aliança contra a Alemanha nazista, a União Soviética passou a desconfiar que tanto ingleses como norte-americanos poderiam assinar uma paz em separado com Hitler. Agora, depois das avassaladoras vitórias dos exércitos soviéticos, que começava a desconfiar de uma paz em separado eram ingleses e americanos. 7.7. A reunião foi marcada para novembro de 1943 em Teerã, capital do Irã, país ocupado por tropas soviéticas e britânicas. O primeiro ponto básico exposto por Stalin foi a urgência e necessidade da abertura de uma segunda frente na França. Churchill continuava reticente nessa questão. Para ele os Aliados deveriam aumentar sua participação de guerra no Mediterrâneo e nos Balcãs. Stalin repeliu mais essa proposta de uma aventura inglesa no Mediterrâneo, que teria diminuído as futuras influências soviéticas na região. Stalin ganhou um forte adepto a sua concepções de condução de guerra na Europa: Roosevelt, que apoiou veementemente a proposta do líder soviético. 7.8. Mas a mais importante vitória obtida por Stalin nessa reunião não foi no campo militar. Roosevelt e Churchill concordaram secretamente, mas não sem relutância, com as exigências soviéticas sobre as fronteiras com a Polônia. Essa concordância por parte de Churchill, principalmente, se fez porque o Exército Vermelho se encaminhava rapidamente para a fronteira polonesa. Formalizava-se algo que já estava por acontecer no plano concreto. 7.9. A abertura da segunda frente na França ficou acertada para meados do ano de 1944. Mas, antes, os Aliados iriam tentar completar a missão na Itália. A Itália era o único ponto do continente europeu em que as forças britânicas e americanas lutavam diretamente contra os alemães. A ofensiva foi reiniciada em janeiro de 1944 e o objetivo era atingir Roma, ocupada pelos alemães. Mas os americanos e ingleses conduziam a guerra desordenadamente e não conseguiram romper uma forte barreira nazista estabelecida em Anzio e em Monte Cassino, no caminho que levava a Roma. 7.10.O ataque final começou na primavera de 1944 e foi comandado pelo marechal inglês sir Harold Alexander. O exército comandado por Alexander era composto de soldados de vários países e regiões: sul-africanos, canadenses, brasileiros, japoneses do Havaí, judeus da palestina e franceses da África no norte. 7.11.Depois de ferozes batalhas em Monte Cassino, os Aliados chegaram a Roma no dia 4 de junho de 1944, recebidos por multidões entusiasmadas. Os Aliados prosseguiram sua marcha para o norte, quase sempre encontrando territórios já libertados pelos guerrilheiros da Resistência ligados ao Partido Comunista. Esse foi, por exemplo, o caso de Florença. A partir daí, forças italianas passaram a lutar ao lado dos Aliados, pois o novo governo italiano havia declarado guerra à Alemanha. 7.12.A CONFERÊNCIA DE YALTA: a Conferência de Yalta (balneário situado na União Soviética, às margens do mar Negro)tinha se instalado no mês de fevereiro de 1945 quando os soviéticos entravam na Alemanha. As suas decisões, que viriam a fundamentar a constituição das esferas de poder e influência na Europa do pós-guerra, expressam os projetos geopolíticos das três maiores potências filtrados pelo mapa das operações militares em andamento nas primeiras semanas de 1945. 7.13.A estratégia seguida tenazmente por Winston Churchill durante os anos anteriores, de retardamento da abertura de uma frente ativa no ocidente, voltava-se agora contra os seus
18 próprios projetos: tendo provocado uma terrível sangria de recursos humanos e materiais soviéticos, atrasara a marcha da forças americanas e inglesas no teatro europeu. O Exército Vermelho controlava a quase totalidade de Europa Central e Oriental e essa realidade não deixaria de impregnar as decisões tomadas nas mesas de conferências. 7.14.Para os russos, o leste europeu constituía, há décadas, uma faixa de fronteira dinâmicas e uma fonte permanente de ameaças estratégicas. Em 1914, quando estalava o conflito europeu, as planícies polonesas tinham sido o corredor da invasão alemã contra o Império dos Czares. Em conseqüência dos tratados que encerraram a guerra européia, a Rússia dos Sovietes foi privada dos territórios da Finlândia, dos Estados Bálticos (Letônia, Lituânia e Estônia) e da Polônia. Imediatamente após a rendição alemã de 1918, as potências ocidentais aliam-se aos Exércitos Brancos (russos antibolcheviques) que ameaçam o jovem governo de Lênin: da Finlândia, no Báltico à Romênia no Mar Negro, o leste europeu transforma-se em imensa plataforma das ofensivas contra o território soviético. 7.15.Em Yalta, a União Soviética recuperou praticamente todo o território perdido ao final da guerra européia de 1914-1918. Fundamentalmente, retomou a soberania sobre os Estados Bálticos e avançou suas fronteiras sobre o oriente polonês, até antiga linha Curzon. Excetuando-se a Finlândia, as fronteiras soviéticas de Yalta coincidiam exatamente com as fronteiras do Império Czarista antes de 1914. 7.16.A declaração de Yalta dispunha sobre a eliminação de todos os vestígios do nazismo e do fascismo naqueles Estados, a constituição de governos provisórios representativos de todas as correntes políticas antinazistas e a realização posterior de eleições livres para a instalação de instituições democráticas permanentes. 7.17.Entretanto, as decisões de Yalta fixavam um claro limite para soberania dos Estados do Leste: essa soberania não poderia originar regimes hostis ao Estado Soviético. Dessa maneira, o estatuto do Leste era o de uma faixa de segurança junto às fronteiras soviéticas, ainda que em cada um dos Estados fosse mantido o pluralismo partidário e a participação política ativa de correntes pró-ocidentais. 7.18.Também em Yalta um tempo considerável foi dispendido para discussão do caso da Polônia. Pelo Tratado de Versalhes, em 1918, a Alemanha derrotada perde para a Polônia uma extensa faixa que se estende até o mar Báltico ( o famoso “corredor polonês), e a antiga cidade alemã de Dantzig, no litoral Báltico, torna-se “cidade livre” administrada internacionalmente pela Liga das Nações. Pelo Tratado de Riga de 1921, a Polônia obtém uma larga faixa de terras a leste da Curzon, em antigos territórios da Rússia. Em 1939, nos primeiros movimentos da Segunda Guerra, a Polônia é partilhada pela União Soviética e pela Alemanha, que acabavam de firmar o equívoco Pacto de Não-Agressão assinado por Molotov e Ribbentrop. 7.19.Nesse encontro foi fixada oficialmente a Linha Curzon como fronteira entre a União Soviética e a Polônia, cedendo aos soviéticos as regiões ocupadas quando da partilha em 1939; em compensação a Polônia receberia a leste os territórios alemães até as margens do rio Oder. 7.20.Foi decidido também que Estados Unidos, União Soviética e Inglaterra manteriam controle sobre os países libertados da Europa oriental e que a Alemanha seria dividida em zonas de ocupação, sob direção de um Conselho Aliado.
19 7.21.Outra decisão importante, tomada com a concordância do presidente Roosevelt, foi a da transformação dos países da Europa oriental em área de influência da União Soviética. Finalmente, estabeleceu-se a intervenção da União Soviética na guerra contra o Japão, em troca de Port Arthur, do sul de Sacalina e das Ilhas Kurilas. Pela relevância de suas decisões e pelas conseqüências que produziu no pós-guerra, a Conferência de Yalta foi considerada a mais importante da Segunda Guerra. 7.22.A CONFERÊNCIA DE POSTDAM: em julho de 1945, após a derrota alemã, os Aliados reuniram-se para uma nova conferência em Postdam, subúrbio de Berlim. Dos “três grandes” apenas Stalin participou dessa conferência, pois Churchill, que havia perdido as eleições da Inglaterra, fora substituído por Clement Attlee, e Roosevelt, que falecera pouco antes do fim da guerra, fora substituído por Harry Truman. Em Postdam foi fixado em 20 bilhões de dólares o montante que a Alemanha pagaria como reparações de guerra. Dessa importância caberiam 50% à União Soviética, 14% à Inglaterra, 12,5% aos Estados Unidos e 10% à França. 7.23.Decidiu-se ainda suprimir a indústria de guerra alemã, reduzir sua produção de aço, transferir a maior parte de suas fábricas para os países aliados e promover o julgamento dos líderes do regime nazista. Esse julgamento foi realizado pelo Tribunal de Nurenberg, dele resultando a condenação a morte de 12 chefes nazistas. Finalmente, a conferência de Postdam confirmou a divisão da Alemanha em quatro zonas de ocupação dos países aliados (Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética ). 8. A RENDIÇÃO DO JAPÃO. 8.1. Ao fim de 1944, com a contra-ofensiva norte-americana no oceano Pacífico, fechava-se o cerco ao Japão. A guerra prosseguia, os Estados Unidos enfrentavam uma inacreditável resistência japonesa. O Japão recorria às mais variadas formas para resistir ao avanço dos americanos. Uma das mais famosas foi a utilização de pilotos suicidas, Os Kamikazes, que se atiravam com avião e tudo sobre os navios da marinha americana. Mesmo assim os assim, os americanos avançavam. As tropas americanos, comandadas pelo general MacArthur, conquistaram sucessivamente as ilhas Marshall, Carolinas, Marianas e Filipinas e em 1945 foi reconquistada a Birmânia. Nessa época, com a ocupação da ilha de Okinawa pelas tropas americanas, iniciaram-se os bombardeios sobre o Japão. 8.2. Cinco dias após o encerramento da conferência de Potsdam, em 6 de agosto de 1945, a cidade portuária japonesa de Hiroshima foi subitamente arrasada por uma bomba de urânio, jogada por um bombardeiro B-29 norte-americano (Enola Gay). A bomba desceu suavemente de pára-quedas sobre a cidade. Quando faltavam 500 metros para atingir o solo, ela foi detonada. Em poucos minutos, morreram pelo menos 78 mil pessoas. O efeito continuado das queimaduras e da radiação, contudo, fez muitas outras vítimas nos anos seguintes. Estima-se que em 1950 foi atingida a quantidade total de duzentos mil mortos – quase dois terços da população da cidade no dia do ataque. 8.3. Em 9 de agosto, três dias depois do bombardeio a Hiroshima, foi realizado um segundo ataque, desta vez à cidade de Nagasaki. Ali uma bomba de plutônio matou pelo menos setenta mil pessoas – número que, cinco anos depois, se elevava a 140 mil mortos. 8.3.1. Eis como foi descrito por alguns sobreviventes o terrível crime contra a Humanidade. “ Inicialmente parecia um relâmpago, num céu sem nuvens. Mas a
20 onda de calor que surgiu segundos depois começou a derreter tudo o que era sólido, telhados, paredes, casas inteiras. Todos os seres humanos que se encontravam nas proximidades da área em que a bomba detonou foram incinerados e deles só restou a silhueta nos calçamentos das ruas, como se fosse o negativo de uma fotografia. Depois começou a soprar um vento com uma velocidade de mais de 800 quilômetros por hora, e incendiava tudo; em seguida começou a chover. Só que era uma chuva muito estranha, pois as gotas eram grandes negras. Milhares de pessoas vagavam às cegas procurando fugir do inferno e quando chegavam aos subúrbios outras pessoas perguntavam de onde aqueles “negros” com características orientais tinham surgido. E eles respondiam: ‘ vimos um clarão no céu ... e ficamos assim’.” 8.4. Aturdidos pelo golpe inesperado, o governo japonês não teve outra alternativa a não ser a rendição incondicional às forças norte-americanas. A 2 de setembro de 1945, a bordo do porta-aviões Missouri, foi assinada a capitulação do Japão. Esse acontecimento encerrou as operações militares, assinalando oficialmente o fim da Segunda Guerra Mundial. 8.5. Os ataques a Hiroshima e Nagasaki certamente serviram para colocar um ponto final na guerra. Mais do isso, porém, serviram para revelar ao mundo – à União Soviética em particular – a extensão do poderio bélico atingido pelos Estados Unidos. Tratava-se, na realidade, de um recado a Stalin: os norte-americanos não hesitariam em usar a arma toda vez que seus interesses políticos fundamentais estivessem em jogo. 9. BALANÇO DA GUERRA. 9.1. A segunda Guerra Mundial teve um saldo de 45 a 50 milhões de mortos, 35 milhões de feridos e três milhões de desaparecidos. A União Soviética teve 20 milhões de mortos, a Polônia 6 milhões, a Alemanha 5,5 milhões, o Japão 1,5 milhão, e 5 milhões de judeus foram vítimas da solução final, plano nazista de genocídio sistemático da comunidade judaica dos territórios conquistados. 9.2. A guerra teve um custo total de 1 trilhão e 385 milhões de dólares, dos quais 21% couberam aos Estados Unidos, 20 % à Inglaterra, 18% à Alemanha, 13% à União Soviética e 4% ao Japão. A destruição econômica provocada pelo conflito foi superior à Primeira Guerra Mundial: a produção industrial francesa, por exemplo, sofreu uma queda de 55% e a da Alemanha, de 40%. Os Estados Unidos gastaram cerca de 300 bilhões de dólares com a guerra, mas em compensação aumentaram em 75 % sua produção industrial, obtiveram um saldo positivo de 11 bilhões de dólares em sua balança comercial e passaram a concentrar 80% das reservas mundiais de ouro. 9.3. Em 1948 o Congresso norte-americano aprovou um programa de ajuda à reconstrução da Europa, conhecido como Plano Marshall. Esse programa de ajuda, recusado pela União Soviética e pelas democracias populares do Leste europeu, foi aceito por 16 países da Europa ocidental. Entre 1945 e 1952 a Europa foi favorecida pela injeção de 38 bilhões de dólares provenientes dos Estados Unidos. O Japão, por sua vez, recebeu cerca de 2,5 bilhões de dólares.
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