1 O MOVIMENTO OPERÁRIO E O SOCIALISMO 1. A Revolução industrial trouxera incontáveis melhoramentos, sobretudo no que se refere à técnica de produção dos bens necessários ao homem. No entanto, esses melhoramentos produziram graves problemas, de ordem social, como já se viu: diminuição da oferta de emprego, provocando o subemprego e o desemprego: condições de trabalho subumanas, etc. A Revolução Industrial criou também condições para o desenvolvimento do pensamento socialista, ligado à nascente classe operária. Idéias socialista já haviam aparecido desde a Antigüidade: sabe-se que Platão as esboçara em sua “República”, na Idade Média e Moderna, sobretudo nesta última, são importantes as idéias de Tomas More (Utopia), Erasmo de Rotterdanm (Elogio da Loucura), Tommaso Campanella ( Cidade do Sol), Francis Bacon (Nova Atlântica), entre outros. Durante a Revolução Francesa, Babeuf tentou a célebre “Conspiração dos Iguais”, contra o governo do Diretório. Fracassou, entretanto, visto que a burguesia controlava o processo revolucionário. No movimento de Babeuf percebeu-se idéias de caráter socialista. 2. SOCIALISMO UTÓPICO OU PRÉ- MARXISTA: 2.1. Socialismo Utópico ou espiritualista ou pré-marxistas, é um conjunto de idéias que carecem de fundamentação científica. Dir-se-ia que seus autores, preocupados com os problemas de justiça social e igualdade, deixavam-se levar por sonhos, propondo mudanças, às vezes dentro do próprio capitalismo, a fim de conseguir seu ideal. Propunham uma sociedade futura ideal mas sem indicar meios para torna-la real. 2.2. Os principiais representantes do socialismo utópico foram: •
SAINT-SIMON : foi um liberal avançado. Sua visão social: “ociosos” e os “produtores”; isto fazia com que quando pregasse a necessidade de um governo dos trabalhadores, nele incluíste não só operários, mas também os industriais, banqueiros e comerciantes. Propunha a livre empresa e a manutenção do lucro dos capitalistas, desde que estes concordassem em assumir certas responsabilidades sociais. Propôs um novo cristianismo para melhorar a sorte das classes desfavorecidas, uma doutrina social bastante avançada para a época. Os seguidores de SaintSimon acabaram por transformar a sua doutrina em uma crítica socialista ao capitalismo.
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CHARLES FOURIER : sua teoria dizia que se a vida fosse organizada baseada na associação e no cooperativismo, todos os homens poderiam desenvolver integralmente seus talentos. Para ele a última fase da História da Humanidade, seria o socialismo (socientismo). Nesta fase os homens obedeceriam normas cooperativistas e viveria em edifícios especialmente concebidos para felicidade humana, denominados Falanstérios. Fourier acreditava em suas idéias e na necessária e imediata fundação de comunidades e construção de Falanstérios e para isso recorria constantemente a filantropos ricos que financiassem seus planos.
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ROBERT OWEN : representou a Inglaterra na fase que antecedeu o cartismo. Começou sua vida como empregado do comércio. Chegou a diretor e sócio de uma grande empresa têxtil. Entre 1800 e 1829, alterou completamente o funcionamento de sua fábrica, reduziu a jornada de trabalho, dedicou-se à educação das crianças e forneceu condições decentes de saúde e moradia a seus operários. Coloca em xeque a própria validade do lucro. Passou a combater as instituições e a pregar o comunismo. Chamou sobre si a ira da sociedade inglesa. Foi um dos mais lúcidos e brilhantes pensadores socialista de sua época e a ele devem-se importantes modificações na vida da classe operária de seu país, dentre as quais a legislação reguladora do trabalho de mulheres e crianças e a criação de cooperativas de consumo operário. No final de sua vida dedicou-se a incentivar a criação das trade unions, os primeiros sindicatos ingleses.
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PROUDHON : combatia seus próprios colegas de pensamento socialista, pois, acreditando que a reforma da sociedade deve ter como princípio básico a justiça, achava que dentro do próprio capitalismo estava a solução. Poder-se-ia criar um “capitalismo bom”, acreditava que não é na produção que estão as falhas do sistema, mas na circulação. Haveria o crédito sem juros, feito através de bancos populares. Isto permitira ao operário aquisição dos meios de produção e se traduziria na liberdade do operário. Acreditava, por outro lado, que toda propriedade é um roubo.
3. SOCIALISMO CIENTÍFICO 3.1. Em 1848, a Europa foi varrida por uma nova onda de revoluções que, pela primeira vez, contaram com a ativa participação política da classe operária. Nesse ano, enquanto o continente era sacudido pela “primavera dos povos”, ocorreu a publicação do Manifesto Comunista, assinalando o surgimento do socialismo científico, cujos fundadores foram Karl Marx e Friedrich Engels. 3.2. Karl Marx: Economista, filósofo e revolucionário alemão, de família israelita, nasceu em 1818 em Treves e morreu em 1883 em Londres. Friedrich Engels: Socialista alemão o mais íntimo colaborador de seu patrício Karl Marx. Nasceu em 1820 e morreu em 1895. Seu primeiro contato com Marx deu-se em Paris em 1844 e desde então nunca mais se separaram. As teses apresentadas por Marx e Engels levaram a uma total modificação do caminho que vinha sendo percorrido pelas idéias socialistas e constituíram a base do socialismo moderno. 3.3. Antes de qualquer coisa devemos fugir à idéia de que anteriormente a Marx existissem apenas trevas. Marx não foi um semideus que num passe de mágica tirou da cartola uma descoberta que iria abalar o mundo. O que há de genial no trabalho de Marx é sua aguçada visão da História e dos movimentos sociais e a utilização de instrumentos de análise que ele próprio criou. 3.4. Marx se serve das três principais correntes do pensamento que se vinha desenvolvendo, na Europa, no século passado, coloca-as em relação umas com as outras e as completa em suas obras. Sem a inspiração nestas três correntes, admite o próprio Marx, a elaboração de suas idéias teria sido impossível. São elas: a dialética, a economia política inglesa e o socialismo. A doutrina socialista vinha tendo um desenvolvimento importante, mesmo apresentando características de utopia. 3.5. A dialética é um conceito desenvolvido pelo filósofo alemão Hegel. Trata-se de uma concepção sobre o princípio de evolução da natureza e da sociedade, infinitamente mais rico, complexo e real do que aqueles que eram admitidos pelos filósofos de sua época. A dialética hegeliana afirma que cada conceito possui em si o seu contrário, cada afirmação, a sua negação. O mundo não é um conjunto de coisas prontas e acabadas, mas sim o resultado do movimento gerado pelo choque destes antagonismos e destas contradições. A afirmação traz em si o germe de sua própria negação; depois de se desenvolver, esta negação entra em choque com a afirmação e este choque vai gerar um terceiro elemento mais evoluído, Hegel chamou de “síntese” ou “negação da negação.” 3.6. Para os idealistas, era o pensamento, a idéia, que criava a realidade; o espiritual, o absoluto, eram forças que se moviam por si mesmas e que movimentavam todo o universo. Para Marx e Engels, o movimento do pensamento era apenas um reflexo do real, pois na medida em que era produto do cérebro humano e que o homem era, ele próprio, produto da natureza, o pensamento não poderia deixar de ser também um produto da natureza.
3 3.7. Ressaltemos então que a dialética que embasa a doutrina marxista não é a mesma dialética idealista de Hegel, mas sim a forma que esta dialética assume ao ser encarada desde um ponto de vista materialista. É o materialismo dialético. 3.8. Para Marx, o movimento dialético não possui por base algo espiritual mas sim algo material. O materialismo dialético é o conceito central da filosofia marxista, mas Marx não se contentou em introduzir esta importante modificação apenas no terreno da filosofia. Ele adentrou no terreno da História e ali desenvolveu uma teoria científica; O MATERIALISMO HISTÓRICO. 3.9. A História idealista que dominara até aquela época chamava de História da Humanidade ou História da Civilização a algo que não passava de mera seqüência ordenada de fatos históricos relativos às religiões, impérios, reinados, imperadores, rei, etc.. Para Marx interessava-lhe descobrir a base material daquelas religiões, impérios, etc. 3.10.A teoria da História de Marx e Engels, era de que os valores de uma determinada geração, não são os mesmos para outras. A pergunta que os criadores do marxismo propunha-se a responder: o que é que determina estas mudanças? Um seguidor da filosofia idealista não teria grandes dificuldades para explica estas variações das manifestações da inteligência humana, pois em seu entender elas seriam frutos do espírito. Para um materialista, como eram tanto Marx como Engels, contudo, a resposta a esta questão não poderia ser tão simples e inocente. Deveria existir uma estreita correlação, passível de ser provada, entre este movimento das idéias e a realidade material da sociedade; o movimento seria produto de modificações que estivessem ocorrendo na base material da sociedade. 3.11.No desenvolvimento de sua obra Marx e Engels provam o acerto desta hipótese. Eles concluem que a estrutura polítco-jurídica e a ideologia (entendida esta como sistema de idéias e os costumes) eram o resultado das relações estabelecidas pelos homens em um determinado momento da História, e correspondiam a um certo estágio das forças produtivas. 3.12.O que Marx denominava de forças produtivas é o conjunto formado pelo clima, solo, água, matérias-primas, máquinas, mão-de-obra, instrumentos de trabalho e técnicas. 3.13.Nas palavras de Marx: “Na produção social de sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um grau de desenvolvimento das forças produtivas. 3.14.Para melhor compreender esta afirmação de Marx, imaginemos dois períodos históricos bem distintos; por exemplo, por volta do ano 1000 e hoje em dia. No ano 1000, aquilo que Marx chama de forças produtivas encontrava-se num estágio de desenvolvimento evidentemente muito inferior ao de hoje em dia. Os instrumentos e técnicas de trabalho eram rudimentares, a mão-deobra encontrava-se espalhadas pelos campos e não concentrada em cidades, as terras eram abundantes, etc.. É OBVIO QUE AS RELAÇÕES ESTABELECIDAS NAQUELE PERÍODO SEJAM DIFERENTES DAS DE HOJE. 3.15.Segundo Marx, o conjunto dessas relações entre os homens às quais nos referimos acima, o conjunto das relações de produção, constitui um alicerce, uma infra-estrutura sobre a qual vai assentar-se a outra parte do edifício social, a superestrutura jurídica, política e ideológica. Numa estrutura como esta, assim como num edifício, qualquer abalo nos alicerces coloca em risco o resto da construção. 3.16.As relações de produção correspondem a um determinado estágio de desenvolvimento das forças produtivas e é, portanto, fácil perceber que quando o desenvolvimento destas forças produtivas
4 atinge um estágio mais avançado as antigas relações de produção vão mostrar-se inadequadas. Essa relações entram em choque, abala o alicerce do edifício social. A superestrutura que está toda ela construída sobre a infra-estrutura formada pelo conjunto de antigas relações de produção também se torna inadequada. A mudança das relações de produção ( e consequentemente de toda superestrutura) faz-se necessária e abre-se a possibilidade de revolução social. 3.17.Um exemplo é a passagem do modo de produção feudal para o capitalista. A partir de um determinado momento do período de dominação feudal as forças produtivas conheceram um desenvolvimento bastante acelerado. Inovações técnicas permitiram por exemplo a construção das caravelas, a liberação da mão-de-obra empregada na agricultura, a queda da taxa de mortalidade etc. As relações capitalistas a cada dia iam ganhando força em detrimento da nobreza. Como acabamos de ver, o movimento da História possui uma base material, econômica, e obedecendo a um movimento dialético. 3.18.Na passagem do feudalismo para o capitalismo, podemos constatar que a partir do momento que as forças produtivas se desenvolvem elas vão negando as relações feudais de produção e introduzindo as relações capitalistas de produção. A luta acirrada entre nobreza e burguesia em um determinado ponto se rompe e aparece um terceiro elemento mais desenvolvido – o modo de produção capitalista. È portanto a luta de classes que faz mover a História. 3.19.Como Marx identificara, a vitória da burguesia não leva ao fim do antagonismo entre classes, apenas faz com que mudem os elementos. Agora é o capitalismo que traz dentro de si sua negação, representada pelo desenvolvimento indispensável das forças produtivas da classe operária. Segundo o criador do materialismo histórico, o capitalismo necessitaria para sua própria sobrevivência de um desenvolvimento das forças produtivas num ritmo jamais visto em toda a História da humanidade e isto aceleraria enormemente o desenvolvimento da classe que se opunha : O PROLETARIADO. 3.20.As contradições dentro do próprio modo de produção capitalista abririam caminho para a intensificação da luta entre essas duas classes e, consequentemente, à ruptura que seria representada pela tomada de poder pelos operários (a revolução do proletariado) e à implantação do socialismo. Este todavia, não seria o estágio final de desenvolvimento da sociedade humana. Com a tomada do poder desta classe ( a ditadura do proletariado), para que se pudesse passar a uma sociedade completamente sem classes e sem Estado: O Comunismo. REVOLUÇÃO SOCIALISMO
DO PROLETARIADO COMUNISMO.
DITADURA
DO
PROLETARIADO
4. A TEORIA DA MAIS VALIA 4.1. Conceito fundamental da teoria econômica formulada por Karl Marx, situada no contexto de uma sociedade produtora de mercadorias. De modo amplo e genérico, a mais-valia pode ser definida como valor excedente: aquilo que o trabalhador produz, com o seu trabalho, além do que seria necessário para a sua subsistência. 4.2. A economia, segundo Marx, repousa na troca de mercadorias, nestas há um elemento permanente sem o qual elas inexistiriam: a força de trabalho necessário para a sua produção. Esse elemento é, na verdade, a única mercadoria de que o trabalhador dispõe. Assim quando trabalhador troca sua mercadoria –n a força de trabalho – por outra, esta deveria ter o mesmo valor, o que não acontece quando esse trabalho é assalariado. Isso porque há sempre uma diferença entre o preço pago ao operário pelo seu trabalho e o preço pelo qual o produto deste trabalho será vendido. É esta diferença que constitui a mais-valia.
5 4.3. Vale salientar que a teoria da mais-valia, formulada por Marx, já estava “pronta” antes dele, tendo sido desenvolvida pelos economistas políticos clássicos entre os quais o escocês Adam Smith, em Riqueza das Nações, e o inglês David Ricardo, em Princípios de Economia Política e Tributação. Eles tinham concluído que o trabalho é a única fonte de riqueza material e que o valor de uma mercadoria é o valor do trabalho nela contido. 4.4. A importância de Marx é ter levado essa teoria “as últimas “conseqüências”, dando-lhes significado reconhecidamente histórico. Marx concorda com David Ricardo no que se refere à teoria do trabalho como fonte de todo o valor, mostrando que o valor de um mercadoria será maior ou menor dependendo do número de horas gastas para sua fabricação e produção. 4.5. A grande inovação de Marx é notar que: •
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sendo todo o valor criado pelo trabalho, justo será ir “todo” o valor nas mãos de quem forneceu o trabalho isto é, nas mãos do “trabalhador”. Ora o trabalhador não recebe o valor integral do seu trabalho impossível lhe é, pois, adquirir o produzido por ele; e, assim, é vítima na sociedade capitalista, de uma verdadeira exploração social. Assim a diferença entre a quantia paga ao trabalhador e o valor real do trabalho é o que Marx chama de “mais valia”.
4.6. O pensador alemão via a mais-valia como um fator gerador de antagonismo que, ao lado dos meios e modos de produção e do próprio trabalho, formavam o escopo da doutrina científica da revolução social – o materialismo histórico. 5. A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA 5.6. A Igreja Católica preocupou-se também com o problema social e com o desenvolvimento do Marxismo (ateu). Assim, a partir de Leão XIII (final do século passado), começam a surgir Encíclicas, onde se corporifica o pensamento sócio-econômico da Igreja. Socialismo Cristão, Catolicismo Social, Doutrina Social da Igreja. Em 1891 o Papa Leão XIII, opondo-se ao socialismo, pois defendia a propriedade particular como direito natural. Opondo-se também ao liberalismo, condenando os lucros ilimitados. Defendendo o salário justo e pede que os trabalhadores não sejam olhados apenas como “instrumento para fazer dinheiro”. Defendendo o direito da associação e a intervenção estatal para coibir abusos, editou a Encíclica (carta circular) RERUM NOVARM (1891). 5.7. A doutrina social da Igreja surge como um ponto intermediário entre o liberalismo e o socialismo, à medida que a Igreja teve que fazer frente aos novos problemas políticos, econômicos e sociais advindos da Revolução Industrial. Esta nova doutrina social terminaria inspirando os chamados partidos democráticos cristãos. 5.8. A Igreja emitiu outras Encíclicas a saber: • • •
Encíclica Quadragésimo Anno (1931) Pio XI, reafirma a anterior em quase todos os pontos. Escrita durante a “Grande Depressão”. Condena veementemente a agiotagem e a especulação. Encíclica Mater Et Magistra (1961) Papa João XXIII, confirma as idéias gerais expostas nas anteriores, mas aborda novos aspectos da questão social; desequilíbrio entre a agricultura e os demais setores econômicos e os problemas enfrentados pelo Terceiro Mundo. Encíclica Pacem In Terris (1963) Papa João XXIII, abordava o problema da paz entre a s nações, mas trata-se também de aspectos sócios-econômicos: direito ao trabalho, boas condições de trabalho.
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Encíclica Populorum Progressio: (1967) – Paulo VI. Problemas referentes ao desenvolvimento do homem e da solidariedade. Encíclica Humane Vitae: (1968) – Paulo VI. É a resposta da Igreja ao problema da explosão demográfica. Argumenta que o controle da natalidade é um problema dos casais. Não admite o controle artificial.
6. O ANARQUISMO: 6.1. Tal como as idéias socialistas, o anarquismo enquanto debate teve início nos fins do século XVIII a partir de Willian Godwin, que propunha uma nova maneira de organização social. Godwin escreveu sobre temas como a recusa de autoridade governantes e da lei numa dinâmica dominada pela razão, pelo equilíbrio enter necessidade e vontade, a busca de uma liberdade total no campo ético-político (realizável apenas num regime político comunitários) e a rejeição da propriedade privada. 6.2. Numa linha evolutiva de pensadores anarquista, podemos citar teóricos como Proudhon, Bakunin, Stirner, Malesta, Kropotkin e Tolstoi. A palavra anarquismo, de origem grega, NÃO significa desordem e sim ausência de domínio político autoritário. Por essa razão, os teóricos anarquistas discutiram a possibilidade de consolidar uma sociedade na qual o homem se afirmaria através de uma ação própria num contexto socio-político de liberdade. Rejeitavam qualquer autoridade, porque viam nela a fonte exclusiva dos males humanos. Também não admitiam o Estado e sua organização burocrática, considerando-os responsáveis pela consolidação da ordem econômica e social da burguesia. 6.3. O movimento anarquista acredita que o homem deve viver sem Estado, a partir de uma gestão comunitária, ou seja, por meio da cooperação. Em livre associação, os indivíduos seriam capazes de produzir e distribuir a riqueza produzida de acordo com sua necessidades, a partir da base. De modo geral, os teóricos anarquistas propunham a educação, a rebelião e a revolução como forma de atuar. 6.4. Em relação a educação propunham a construção de uma escola livre de vínculo com a sociedade, a fim de desenvolver um homem sem inibições e apto para agir. O movimento conviveu com um sério paradoxo: mesmo contrário a qualquer forma de autoritarismo e ao uso da força, os anarquistas os admitiam para a derrubada da autoridade e instauração da condição ideal, ou seja, da sociedade anarquista. Os anarquistas pregavam a destruição imediata do Estado. Para consumar seus fins, os anarquistas defendiam o terror revolucionário, particularmente o assassínio de chefes de Estado. 6.5. PIERRE JOSEPH PROUDHON : (1809-1865) pensador francês autodidata, crítico dos teóricos sociais, desejava uma nova sociedade que maximizasse a liberdade individual. Proudhon tinha grande respeito pela dignidade do trabalho e desejava liberá-lo da exploração e dos falsos valores da capitalismo industrial. Uma classe trabalhadora desperta construiria uma nova ordem moral e social. As pessoas tratariam com justiça seu próximo, respeitariam umas as outras e desenvolveriam seu pleno potencial numa sociedade de pequenos camponeses, lojistas e artesão. Uma sociedade assim não requeria um governo que somente alimentasse privilégios e suprimisse a liberdade. Proudhon foi um teórico do qual os anarquistas deduziram princípios básicos. 6.6. MIKHAIL BAKUNIN (1814-1876) : foi um homem de ação que organizou movimentos populares revolucionários, combateu em revoluções e firmou um exemplo de fervor revolucionário. Filho de nobre russo, Bakunin deixou o exército do czar para estudar filosofia. Seus estudos o conduziram a Berlim em 1840, onde leu obras socialista. Foi então para Paris, onde ficou atraído pelas idéias de Proudhon e do jovem Marx. Levando essas idéias à pratica,
7 Bakunin foi preso por participar do Revolução na Alemanha em 1848, e devolvido às autoridade Russas. Cumpriu seis anos de prisão e então foi banido para a Sibéria, de onde escapou em 1861. 6.7. Bakunin dedicou-se a organizar sociedades secretas que deviam levar os oprimidos a se revoltarem. Enquanto Marx sustentava que a revolução ocorria nos países industriais mediante os esforços de um proletariado consciente de sua classe. • • • •
Para Marx : “trabalhadores do mundo inteiro uni-vos”. Para Bakunin: “trabalhadores do mundo inteiro revoltai-vos” Marx: desejava organizar os trabalhadores em partidos políticos de massa. Bakunin: sustentava que as revoluções deviam ser travadas por sociedades secretas de insurretos fanáticos.
6.8. Bakunin temia a tomada de poder pelos marxistas. Temia que após a tomada do poder por esses grupos, eles se converteriam, dizia Bakunin em uma “minoria privilegiada de ex-trabalhadores, que uma vez convertidos em governantes ou representantes do povo, deixam de ser trabalhadores e começam a menosprezar o povo trabalhador. Daí por diante, passam a representar não o povo, mas a si mesmos e seus pretensos direitos de governar o povo”. Portanto, dizia Bakunin, uma vez tendo capturado o Estado, os trabalhadores o destruirão para sempre. 6.9. A sagas predição de Bakunin de que uma revolução socialista conduziria a uma intensificação do poder de Estado, ao invés de seu desaparecimento tem sido comprovada no século XX. Os anarquistas empenharam-se em numerosos atos de terrorismo político, incluindo o assassínio ou tentativa de assassínio de chefes de Estado e Ministros importantes, mas nunca empreenderam uma revolução bem-sucedida. Fracassaram em inverter a tendência no sentido da concentração do poder na indústria e no governo que se tornariam uma característica do século XX. Mas os motivos que os compeliram a desafiar os valores e instituições da sociedade moderna, e a se empenhar em atos terroristas, expressam uma necessidade emocional que não desapareceu com o declínio do anarquismo. 6.10.Os anarquistas eram considerados inimigos do rei e da Igreja. Seu slogan : O que urge fazer: enforcar o último rei com as tripas do último padre. 7. AS INTERNACIONAIS TRABALHISTAS. 7.8. A divulgação do socialismo de inspiração marxista foi possível sobretudo graças à formação das Associações Internacionais dos Trabalhadores e, depois, das Internacionais Comunistas •
PRIMEIRA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES (AIT) : fundada em Londres em setembro de 1864, consistia basicamente numa federação da classe trabalhadora de vários países da Europa ocidental e central. A associação admitia tanto membros individuais como organizações locais e nacionais. Nos primeiros anos de atuação da AIT, o Conselho Geral, liderado por Marx, distribuiu documentos que propunha medidas contra os “fura-greves” e protestos contra a guerra. Aos poucos, a Internacional conseguiu levantar uma pauta de reivindicações de caráter socialista e se declarou a favor da propriedade coletiva das minas, ferrovias, terras aráveis, florestas e comunicações. Em Setembro de 1871 a AIT, numa conferência em Londres, manifestou-se oficialmente em favor da constituição de um partido político e da conquista do poder pelos operários. Bakunin foi contrário e, argumentava-se favorável a abstenção da esfera política. O conflito entre os seguidores de Marx e Bakunin aumentou quando líderes da AIT pediram maiores poderes para o Conselho Geral. As divergências atingiram o auge no congresso de Haia, em 1872, no qual sessenta e cinco delegados de treze países da Europa, da Austrália e dos Estados Unidos
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concederam maiores poderes ao Conselho Geral e expulsaram Bakunin do movimento sob acusação de “tentar organizar uma sociedade secreta dentro da Internacional.. A sede do Conselho foi mudada para Nova York, mas a AIT deixou de existir efetivamente em 1876. SEGUNDA INTERNACIONAL : fundada num congresso internacional de trabalhadores marxistas em Paris no ano de 1889. Teve como base o movimento dos trabalhadores europeus, principalmente da Social-Democracia Alemã. A vinculação marxista não impediu debates acalorados entre as diversas tendências de “direita”, “esquerda”, “centro” nos congressos Internacionais, realizados habitualmente de dois em dois anos. Entre os debates travados nessas reuniões destacaram-se referente à participação ou não dos socialista, mesmo que em caráter temporário, nos governos burgueses; a condenação do colonialismo e a luta contra a guerra. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914, representou um duro golpe nos projetos da Segunda Internacional, que só voltou a se reunir em 1919. A TERCEIRA INTERNACIONAL : TAMBÉM CHAMADA DE Internacional Comunista ou Cominters foi fundada em Moscou em março de 1919 pelos bolchevistas; os congressos organizados pelo Comintern se reuniram até 1935. Uma das características principais desse organismo internacional permanente, e talvez até uma das causas para a dissolução desta, foi o predomínio do partido comunista soviético nos debates e resoluções. O Comintern chegou a impor condições que restringiam a filiação de alguns grupos na instituição. Os partidos que desejavam essa filiação tinham de afastar os chamados reformistas e centrista (isto é, os conciliadores) de todas as posições de responsabilidade no movimento operário, e combinar o trabalho legal com o ilegal realizando inclusive uma propaganda sistemática nas forças armadas. Foi também nessa época, em 1922, que se constitui o Partido Comunista do Brasil, seção brasileira da Internacional Comunista, presente em todos os movimentos emancipadores nacionais desde a sua criação até os dias de hoje. A QUARTA INTERNACIONAL : foi fundada em 1938 por iniciativa de Trotski com alternativa à Segunda e à Terceira Internacionais, que na época considerava “perdidas para a revolução”. Embora o novo centro não tenha chegado a reunir grandes partidos de massas, desempenhou importante papel no que diz respeito ao debate mundial que se travou em torno das concepções do trotskismo.
8. O LUDISMO 8.1. No início do século XIX, grupos de operários ingleses organizaram um movimento de protesto através de destruição de máquinas industriais que consideravam responsáveis pelo seu desemprego. A designação Ludismo origina-se do nome de Ned Ludlam, lendário personagem a quem se atribui a liderança do movimento, ao quebrar o tear de seu patrão. Aqueles que o imitaram e seguiram ficaram conhecidos como “luditas”. 8.2. O Ludismo espalhou-se pelos condados de Nottin-gham, York e Lancaster, assumindo tendências diferentes entre 1811 e 1817. Processados, vários luditas foram condenados à morte e outros à deportação, em 1812. Não obstante, o movimento continuou, agitações ocorreram condenando as más condições de vida da classe operária e agitando, principalmente, a população humilde. 8.3. No entanto a progressiva generalização industrial, a influência dos sindicatos, conseguiram diminuir a repercussão do Ludismo. A penetração das doutrinas marxistas acabou por anular o movimento. Os luditas agiam em grupos de cerca de cinqüenta e invadiam, rápido, uma aldeia após outra para destruir as máquinas de malhas, desaparecendo tão silenciosamente como tinham chegado, sem que as autoridades os conseguissem apanhar. 9. O CARTISMO: 9.1. Movimento que aconteceu na Inglaterra a partir de 1837 com a publicação da chamada Carta do Povo redigida por uma sociedade até então ilegal – a Associação de operários –, inicia-se nova
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fase no movimento operário europeu, particularmente o inglês. Tratava-se do Cartismo, expressão que se consagrou e que pretendia ser uma tentativa mais concreta de organização da classe trabalhadora. A “Carta”, em linhas gerais exigia: sufrágio universal masculino (até então as eleições tinham um caráter censitário); voto secreto; renovação anual do Parlamento; remuneração dos parlamentares; representação política dos trabalhadores.
9.2. As agitações sociais decorrentes da publicação da “Carta” e a onda de greves que se seguiu duraram cerca de dez anos. Em 1848, ano marcado por movimentos revolucionários na Europa ( a primavera dos povos), os cartistas realizaram inúmeras manifestações em Londres, exigindo a plena aprovação da “Carta” pelo Parlamento. Apesar de duramente reprimido, o Cartismo representa o embrião do sindicalismo inglês que iria se desenvolver na segunda metade do século XIX e seria assinalado pela criação dos sindicatos (trade unions). 10. O SINDICALISMO 10.1.Enquanto os trade-unionismo tinha por objetivos reivindicações de ordem econômica, o sindicalismo que se desenvolve a partir da segunda metade do século XIX tanto na Europa como nos EUA, apresentava propostas mais amplas sendo fundamental ao avanço das lutas operárias. Responsáveis por uma melhor organização, coordenação e mobilização da classe trabalhadora, os sindicatos multiplicaram-se na Inglaterra , Alemanha, França, EUA e, ao contestarem a ordem burguesa e capitalista – inclusive através das greves como instrumento de avanço do movimento operário –, possibilitaram melhores condições de vida aos trabalhadores. 11. A COMUNA DE PARIS 11.1.Antes da ruptura entre os seguidores de Marx e os de Bakunin, ocorreu na França um movimento revolucionário que se transformaria num marco decisivo na história da AIT: a Comuna de Paris. A causa do movimento foi a derrota do exército francês para o exército prussiano em 1870. Noticias da derrota da França e do aprisionamento do Imperador Napoleão III pela Prússia provocaram em Paris uma série de manifestações populares que exigiam medidas de retaliação. Os fatos provocaram a proclamação da república pelos setores republicanos liberais. 11.2.Provisoriamente, o governo passou a ser exercido por Léon Gambetta, que instalou um governo de defesa nacional para continuar a luta contra os prussianos e defender a capital. Foi organizada uma Guarda Nacional com 200 batalhões. Os componentes da Guarda Nacional era composta principalmente por indivíduos das classes populares e trabalhadora. 11.3.Quando chega a Paris a notícia de que 170 mil soldados haviam se rendido ao exército prussiano, a indignação cresceu no seio da população, porém o governo provisório, liderado pela burguesia liberal, assinou o armistício em janeiro de 1871. 11.4.O governo provisório, já liderado por Adolphe Thiers, convocou eleições para a Assembléia Nacional. A maioria dos deputados eleitos pertencia ao setor republicano conservador e tinha apoio dos pequenos proprietários rurais das províncias interessados acima d tudo na defesa de sua terras. As tendências políticas se radicalizaram, uma vez que a população parisiense exigia reformas que incluía modificações no direito à propriedade.
10 11.5.Thiers transferiu o governo para a cidade de Versalhes. Tal medida desagradou profundamente a plebe, que se tornou o foco de resistência contra as disposições governamentais e “contagiou com seu espírito a Guarda Nacional.” 11.6.Com a aprovação do governo prussiano, Thiers ordenou a invasão de Paris. Em resposta a população mais pobre da capital organizou a Comuna de Paris. 11.7.A Comuna de Paris – um governo encarregado da defesa, herdeiro da República jacobina e antecipador da ditadura do proletariado de que falava Marx e Engels. Eleito por sufrágio universal, o Conselho da Comuna reuniu republicanos próximos às concepções jacobinas e representantes de várias tendências do movimento operário. 11.8.Programa de reformas propostos pelo Conselho da Comuna: • • •
ensino gratuito e obrigatório; controle dos preços dos alimentos; direito da apropriação das fábricas (abandonadas pelos seus proprietários que fugiram de Paris) pelo Estado, além da divisão e adiamento de prazo dos pagamentos de aluguéis da pessoas com dificuldades financeiras.
11.9.O Conselho não se organizou suficientemente para lutar contra o exército de Thiers. Em maio de 1871, tropas de Versalhes invadiram Paris e massacraram a população: houve 20 mil execuções, milhares de deportações e 15 mil prisões. Encerrava-se desta forma o primeiro “ensaio geral” de um governo operário. 11.10. A experiência da Comuna foi vista por Marx como a efetivação do Estado proletário e a tentativa de sua estruturação. Por outro lado, o fracasso desta tentativa deu a Marx armas para reforçar seus argumentos em favor da necessidade de um período de ditadura para tornar viável a existência de uma sociedade comunista. Segundo ele, o Comitê central da Guarda Nacional, que fora o responsável pelo início da revolta que levara à comuna, pecara por excesso de democracia. 11.11. O fracasso da Comuna de Paris foi fatal para a Associação Internacional dos trabalhadores. Em todo os países ela passou a ser acusada de a grande responsável pela Comuna e, consequentemente, a sofrer violenta repressão, assim como sofreu o movimento operário europeu em geral.