O RENASCIMENTO
O RENASCIMENTO 1. Características do Renascimento : 1.1. O termo Renascimento é costumeiramente utilizado significando um súbito reviver da cultura clássica greco-romana no século XIV. 1.2. Na verdade, o chamado Renascimento foi aprofundamento de uma série de Renascimentos desencadeados desde o século XI, pois a influência greco-romana se fez sentir por toda a Baixa Idade Média. 1.3. A influência da cultura greco-romana sobre o Renascimento, tanto em relação ao tema de inspiração quanto às formas de composição, é marcante. No entanto, é necessário frisar que o renascimento não repetiu pura e simplesmente a cultura clássica. Ao contrário, reinterpretou-a à luz de uma nova época. 1.4. Grosso modo, o homem renascentista caracterizou-se por: 1.4.1. Antropocentrismo (o homem no centro): valorização do homem como ser racional. Para os renascentistas o homem era visto como a mais bela e perfeita obra da natureza. Tem capacidade criadora e pode explicar os fenômenos à sua volta; 1.4.2. Otimismo: os renascentistas acreditavam no progresso e na capacidade de o homem resolver problemas. Por essa razão apreciavam a beleza do mundo e tentavam captá-la em suas obras de arte; 1.4.3. Racionalismo : tentativa de descobrir pela observação e pela experiência as leis que governam o mundo. A razão humana é a base do conhecimento. Isso se contrapunha ao conhecimento baseado na autoridade, na tradição e na inspiração de origem divina que marcou a cultura medieval; 1.4.4. Humanismo : o humanista era o indivíduo que traduzia e estudava os textos antigos, principalmente gregos e romanos. Foi dessa inspiração clássica que nasceu a valorização do ser humano. Uma das características desses humanistas era a não especialização. Seus conhecimentos era abrangentes;( os humanistas eram chamados assim porque seguia um curso em humanidades ou, como eram denominadas então, studia humanitatis. Isto significava que estudava o que era conhecido na época como gramática e retórica, mas que consistia verdadeiramente em literatura, poesia, história e a habilidade de comunicar clara e convincentemente. Não existia um “programa humanista”, nenhuma filosofia humanista coerente para além do estudo destas poucas disciplinas. Apesar de esta aparente limitação, as implicações do estudo das humanidades para o período inteiro resultaram Ter um alcance maior. Em primeiro lugar, o estudo das humanidades marcou uma ruptura decisiva com o curriculum tradicional da universidade, centrado de forma exaustiva em ensinar lógica e métodos repetitivos para que os estudantes aprendessem as fórmulas intelectuais de memória. Em segundo lugar, as humanidades tinham tendência para enfatizar os valores seculares mais que os transcendentais. O humanista, quer fosse estudante ou erudito, estava menos preocupado em estudar metafísica e teologia que em tentar compreender a ação humana e em esforçar-se para se melhorar a si próprio como pessoa.) 1.4.5. Hedonismo : valorização dos prazeres sensoriais (paixão pelos prazeres mundanos). Essa visão se opunha à idéia medieval de associar o pecado aos bens e prazeres materiais; 1.4.6. Individualismo: a afirmação do artista como criador individual da obra de arte se deu no Renascimento. O artista renascentista assinava suas obras, tornando-se famoso; 1.4.7. Inspiração na Antigüidade Clássica : os artistas renascentistas procuraram imitar a estética dos antigos gregos e romanos. O próprio termo Renascimento foi cunhado pelos contemporâneos do movimento, que pretendiam estar fazendo renascer aquela cultura, 1
desaparecida durante a “Idade das Trevas” (média).((A leitura clássica proporcionava um guia para o comportamento. A partir disto surgiu a preocupação humanista de ler as histórias de Tito Lívio, a poesia de Horácio, os discursos de Cícero e os dramas de Terêncio e Platão; e de tudo isto surgiram também livros sobre conduta, sendo o mais destacado deles o Cortesão de Castiglione (1528) ) 1.5. Essas características se contrapõem às do homem medieval, pois encarnavam a visão de mundo do burguês novo rico, oposta à moral e à ética da aristocracia medieval. 1.6. O repúdio aos ideais medievais é outra das características renascentistas: a cavalaria, uma das mais importantes instituições da Idade Média entrou em declínio com o advento da pólvora e das armas de fogo, e seus ideais são satirizados por Cervantes na obra Dom Quixote. Maquiavel em O Príncipe, ataca a subordinação da política à religião e o ideal de um governo de poderes limitados. 1.6.1. Também a Escolástica (filosofia medieval ou escolaticismo foi a aplicação da razão à religião, uma tentativa para explicar e esclarecer os ensinamentos cristão por meio de conceitos e princípios lógicos derivados da filosofia grega), é repudiada no renascimento tanto pelos idealistas da escola neoplatônica ( filosofia da beleza: todo belo é a maior manifestação do divino. A criação do belo constitue no mais elevado exercício de virtude e no gesto mais profundo de adoração) de Florença quanto pelos realistas da escola de Pádua (tradição aristotélica: voltados principalmente para a medicina e os fenômenos naturais desligados da teologia). 1.7. O movimento intelectual mais característico do Renascimento foi o Humanismo. 1.7.1. O termo humanismo é originário do latim humanus e quer dizer cultivado. Em sentido amplo, o Humanismo implicava a total valorização do homem e através dele implantavase uma concepção antropocêntrica (o homem como centro do universo) medieval. ) O homem passava a encorar-se como medida comum de todas as coisas. 2. Fatores que geraram o Renascimento: 2.1. No início do século XIV, inúmeros fatores conjugados e articulados criaram as condições para o início do Renascimento cultural. Em termos gerais, trata-se do amadurecimento dos mesmos fatores que estimularam uma renovação intelectual e artística nos século XII e XIII. 2.2. No Plano Econômico : 2.2.1. O Renascimento comercial reativou o intercâmbio cultural entre ocidente e oriente, configurando-se como principal fator do Renascimento cultural ( o homem medieval passou a viajar mais). 2.3. No Plano Social : 2.3.1. A urbanização gerava as condições de uma nova cultura, sendo as cidades o pólo de irradiação do Renascimento. A ascensão social e econômica da burguesia propiciava apoio e financiamento ao desenvolvimento da nova cultura. 2.4. No Plano Intelectual : 2.4.1. A retomada dos estudos das obras clássicas greco-romanas foi de grande importância. Isso foi possível graças aos mosteiros medievais, que preservaram em suas bibliotecas muitas dessas obras, protegendo-as da destruição pelos bárbaros no período das invasões. 2.4.2. O aperfeiçoamento da imprensa atribuído a Gutemberg, teve importância no século final do Renascimento ( século XVI ). Na verdade, não pode ser considerado um fator direto do Renascimento, porque, embora seja uma inovação de capital importância para a humanidade, seus efeitos só se fizeram sentir no último século desse movimento. 2
2.4.3. A nova cultura apareceu em primeiro lugar na Itália. Ali estavam presentes de forma mais nítida as condições gerais para o início do Renascimento. As cidades Italianas monopolizavam o comércio de especiarias com o oriente, estimulando um efervescente intercâmbio cultural através dos contatos com as civilizações bizantina e sarracena ( sarracenos: muçulmanos de maneira geral, termo muito usado durante as cruzadas). 2.4.4. Veneza, Pisa, Gênova, Florença e Roma dominavam o mediterrâneo. Nessas cidades desenvolvia-se uma burguesia dinâmica, incentivadora das transformações culturais. 2.4.5. Além disso, na Itália a cultura clássica foi mais bem conservada que no restante da Europa ocidental. Assim, no século XIV, a Itália foi a região onde se iniciou o Renascimento. 2.4.6. O grande acúmulo de riquezas obtidas no comércio com o oriente formou uma poderosa classe de ricos mercadores, banqueiros e poderosos senhores. Esse grupo representava um mercado para as obras de arte estimulando a produção intelectual. Muitos pensadores, pintores, escultores e arquitetos se tornaram protegidos dessa poderosa classe. A essa prática de proteger artistas e pensadores deu-se o nome de mecenato. Entre os principais mecenas podemos destacar os papas Alexandre II, Júlio II e Leão X. Também ricos mercadores e políticos foram importantes mecenas, como por exemplo, a família Médici. 3. O Renascimento Italiano nas Letras : 3.1. É costume dividir-se o Renascimento italiano em três períodos: 3.1.1. O trecento → 1300 à 1399 3.1.2. O quatrocento → 1400 à 1499 3.1.3. O cinquecento → 1500 à 1550 3.2. Anteriormente ao trecento, destaca-se um escritor italiano como precursor do Renascimento: Dante Alighieri. Sua principal obra, a Divina Comédia, prenuncia o Renascimento quer pela substituição do latim, até então usado, pelo dialeto toscano – o qual viria a se tornar o padrão da língua nacional italiana –, quer citação de autores da Antigüidade Clássica. 3.2.1. DANTE ALIGHIERI ( 1265 – 1321 ), resumiu com enorme emoção, a compreensão medieval da finalidade da vida. Escrita no exílio, a Divina Comédia descreve a viagem do poeta através do inferno, purgatório e paraíso. Dante divide o inferno em nove círculos concêntricos; em cada região, os pecadores são castigados em razão dos seus pecados na terra. O poeta experimenta todos tormentos do inferno – areias cadentes, tempestades violentas, trevas e monstros terríveis que golpeiam, cravam garras, mordem e rasgam os pecadores. O nono círculo, o mais baixo, é reservado a Lúcifer e aos traidores. Lúcifer tem três caras, cada uma delas de cor diferente, e duas asas como as de um morcego. Com suas bocas vai mordendo os maiores traidores da História – Judas Iscariotes, que traiu Jesus, Brutus e Cássio que assassinaram Júlio César. Aos condenados ao inferno, é dito: deixai fora a esperança, o vós que entrais. No purgatório, Dante encontra os pecadores que, embora sofram castigos, acabarão por entrar no paraíso. Ali, região de luz, música e delicadezas, o poeta, guiado por Beatriz, encontra os grandes Santos e a Virgem Maria, tem uma rápida visão de Deus. Nessa indescritível experiência mítica, o objetivo da vida é realizado. 3.3. No trecento, os dois principais autores foram Francisco Petrarca (1304 – 1374 ) e Giovani Boccaccio (1313 – 1375 ). 3.3.1. Petrarca é conhecido como o pai da literatura renascentista italiana. No entanto, em seus pemas Odes a Laura ainda se nota um forte sentimento de religiosidade medieval, Seus sonetos estão carregados de traços das poesias amorosas produzidas pelos trovadores no século XII. Já na sua Epopéia de África, Petrarca inspirou-se nos clássicos gregos. 3
3.3.2. Boccaccio escreveu sua obra mais notável por volta de 1348, o Decameron, uma coletânea de contos. Nela é expressa a crise de valores da época, diferenciando-se da literatura medieval por suas características anticlericais e pela utilização do elemento erótico e picaresco. Decameron tornou-se um modelo da prosa italiana. 3.4. O Quatrocento foi o período mais fraco do Renascimento na Itália. Os escritores italianos deixam de escrever nos dialetos, passando a redigir em latim e grego e limitando-se a realizar imitações dos autores clássicos. Isso se deu e em boa parte à emigração de letrados bizantinos, que escreviam nesses idiomas, para a Itália quando da conquista de Constantinopla pelos turcos. 3.4.1. Nesse período foi criada a escola de filosofia neoplatônica de Florença, cujo patrocinador foi Lourenço de Medici, considerado o maior mecenas da Itália. 3.4.2. Destacaram-se nessa fase renascentista: Paggio, Beccadelli, Filelfo e Pontano. A importância desses escritores reside principalmente em seu paganismo militante e na utilização de temas eróticos. Suas obras apresentam extrema reação contra a fé e a moral cristãs. 3.5. O Cinquecento: durante o período do Cinquecento a capital literária italiana passou a ser Roma, até então à sombra de Florença. Em 1494 esta cidade foi dominada por um fanático anti-renascentista chamado Savonarola. 3.5.1. Nessa fase a língua italiana adquiriu a mesma importância que o grego e o latim. O toscano, dialeto em que foram escritas as obras de Dante, Petrarca e Boccaccio, foi sistematizado dentro de princípios gramaticais, tomando de empréstimo estruturas gregas e latinas, e foi imposto com língua nacional. Assim o conteúdo e forma das obras escritas nesse idioma, alcançaram maior originalidade. 3.5.2. O florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) é provavelmente o autor mais polêmico do século XVI. Escreveu três obras importantes: O Príncipe, um discurso sobre a década de Tito Lívio, e a peça de teatro Mandrágora. 3.5.3. Em o Príncipe, pregou a criação de um Estado unificado com poder político e centralizado, liberto da tutela da Igreja. Esses princípios correspondiam à grande aspiração da burguesia no século XVI. Sua análise política é uma ciência experimental, não levando em consideração os dogmas da doutrina religiosa e os postulados da moral. Procurou apoiar-se na história e nos fatos de sua época. 3.5.4. Maquiavel não pretendeu retratar um ideal que levasse em consideração as idéias de justiça e perfeição; determinou apenas os meios pelos quais os homens de Estado de sua época atingiriam os fins aos quais se propunham. 3.5.5. Acreditava que o homem, em todos os tempos e em todas as civilizações, era dirigido em seus atos por uma natureza única e imutável, má por princípio. 3.5.6. Segundo Maquiavel o político inteligente, que levasse em conta o fato de que o homem ser mau por natureza, alcançaria facilmente seus propósitos – bastaria relegar os princípios morais. 3.5.7. Ao promover a radical separação entre religião e política, Maquiavel abriu caminho para a criação de uma teoria política. Ao considerar que o homem em todos os tempos e sociedades possui uma mesma natureza, atribuiu a toda a humanidade as características da burguesia italiana de sua época. 3.6. Outros autores italianos importantes desse período foram : Loureço Valla, que desenvolveu a crítica histórica; Francesco Guicciardini, que escreveu uma importante História da Itália; Baltazar Castiglioni, que redigiu a sátira O Cortesão; Torquato Tasso e Ariosto, que foram autores de epopéias: Torquato escreveu Jerusalém Libertada e Ariosto escreveu Orlando Furioso. 4
4. RENASCIMENTO ITALINO NAS ARTES PLÁSTICAS 4.1. Nas artes, o Renascimento assinala o declínio do estilo gótico e a volta aos padrões clássicos, o estilo gótico, essencialmente medieval, caracterizava-se pela verticalidade e pelas linhas retas. Nele, a escultura e a pintura eram artes secundárias, sem autonomia, subordinadas à arquitetura. 4.2. Na arte renascentista, de inspiração clássica, preponderavam a horizontalidade e as linhas curvas. A escultura e a pintura tonaram-se artes independentes. Desenvolvendo-se o naturalismo, o corpo humano voltou a ser o ideal estético de beleza e fonte de inspiração. 4.3. No Trecento,a principal figura foi GIOTTO (1276 – 1336),considerado o precursor da pintura renascentista. Com ele a pintura alcançou a posição de arte independente da arquitetura, transformou-se em arte autônoma, assumindo caráter naturalista. A humanização das figuras representadas e o cuidado nas proporções são traços que destinguem sua arte da medieval. 4.3.1. GIOTTO retrata Cristo realmente como filho do homem: descreve nas telas os acontecimentos da história sagrada dando-lhes um aspecto de fatos terrenos; situa seus personagens no cotidiano terrestre, representados em movimentos, libertando-os do imobilismo da pintura medieval. 4.3.2. GIOTTO foi o introdutor da perspectiva na pintura, retirando suas figuras do plano bidimensional e dotando suas obras de um efeito de profundidade. 4.3.3. Suas obras mais conhecidas foram São Francisco Pregando Aos Pássaros e Cenas da Vida de Cristo. 4.4 No Quatrocento foi introduzida na Itália a pintura a óleo , provavelmente importada da Flandres. O uso da nova técnica permitiu progressos artísticos. O óleo seca mais vagarosamente que a água, permitindo ao pintor demorar-se mais nos detalhes trabalhados e realizar correções quando necessário. Tal processo passou a ser amplamente utilizado. 4.4.1
4.4.2
A inovação trouxe conseqüências do ponto de vista econômico: a pintura, executada sobre telas converteu-se em mercadoria. Tal fato era inviável anteriormente, pois os artistas realizavam seus trabalhos diretamente sobre muros ou paredes – essas pinturas são chamadas AFRESCOS. Os principais pintores desse período foram MASACCIO (1401 – 1428 ), SANDRO BOTTICELLI ( 1447 – 1510 ), LEONARDO DA VINCI (1452 – 1576 ), TICIANO ( 1517 – 1576 ) E TINTORETTO ( 1518 – 1594 ).
4.4.3
MASACCIO exerceu profunda influência sobre a pintura do Quatrocento. Conseguiu durante sua juventude produzir obras que representavam emoções simples, comuns ao ser humano. Seus quadros mais famosos são: A Expulsão de Adão e Eva do Paraíso e a Moeda do Tributo.
4.4.4
BOTTICELLI procurou conciliar o paganismo clássico com os valores cristãos. Seus melhores quadros baseiam-se em temas da mitologia clássica. Entre eles destacam-se A Alegoria da Primavera e o Nascimento de Vênus.
4.4.5
LEONARDO DA VINCI foi a figura de transição entre o quatrocento e o cinquecento. Humanista convicto, desenvolveu as mais variadas potencialidades de sua personalidade. Pintor escultor, músico, arquiteto, filósofo e inventor, foi o exemplo do gênio renascentista, Evitando a mera imitação dos clássicos, manifestou um profundo realismo, desenvolvendo estudos científicos da natureza antes de realizar suas obras. Fascinava-se pelos aspectos grotescos e incomuns da natureza. Quanto aos seres humanos, procurava penetrar em suas características psicológicas antes de retratá-los. Suas pinturas mais famosas são A Virgem dos Rochedos, a Última Ceia e Mona Lisa ( a Gioconda). 5
4.4.6
TICIANO E TINTORETTO foram os mais representativos pintores entre os artistas de Veneza. A obra desses artistas caracterizou-se pela riqueza e variedade de cores, opulência de formas e efeitos obtidos com jogos de luz e sombra. Não possuíam preocupação com temas filosóficos ou psicológicos, ao contrário de seus colegas de Florença. Se Ticiano pode ser considerado um discípulo de Rafael, Tintoretto foi sem dúvida um seguidor de Ticiano.
4.5 No Cinquecento, a arte renascentista, ao mesmo tempo que atingia seu apogeu, começava a dar sinais de decadência. A capital cultural foi transferida de Florença para Roma. 4.5.1
Os maiores artistas da fase foram: Rafael Sanzio e Miguel Ângelo.
4.5.2
RAFAEL ( 1483 – 1520 ) : Tornou-se o artista mais popular de sua época. Não possuía a preocupação intelectual de Leonardo da Vinci nem as contradições de conteúdo emocional de Miguel Ângelo. Preferia transferir para suas obras equilíbrio, doçura e piedade. Glorificando a forma e a cor em si mesmas, expressava sentimentos religiosos. Entre suas obras mais importantes estão Escola de Atenas e Madona Sistina.
4.5.3
MIGUEL ÂNGELO : Foi o maior pintor e escultor do cinquecento. Entre inúmeros trabalhos, destaca-se uma série de afrescos na capela Sistina. Os mais conhecidos são: A Criação de Adão e o Juízo Final. Nesses e em outros trabalhos, tratou os temas cristãos de forma e essencialmente clássica e pagã. As figuras bíblicas não são magras e ascéticas ( contemplativa , os aspectos corpóreos são desvalorizados) como nas pinturas medievais, ao contrário, possuem extraordinária beleza e opulência, como as antigas esculturas pagãs. Dentre suas esculturas mais famosas, citam-se: Moisés, Davi e Pietá.
5 A partir da Segunda metade do século XVI, o Renascimento italiano entra em decadência. Vários fatores contribuíram para isso: a Itália entrou em crise econômica. 5.4 Com as grandes navegações, o centro econômico europeu foi transferido para o Atlântico, quebrando o monopólio italiano no comércio de produtos orientais. Além disso, a igreja afastou-se do mecenato, pois a contra-reforma (reação católica contra os protestantes) condenou manifestações culturais renascentistas. 5.4.1
Some-se a esse quadro o fato de a cultura renascentista ser elitista, não havendo conquistado as camadas populares. Estas distantes desse processo artístico, não opuseram obstáculos às perseguições desencadeadas pela Igreja Católica. O RENASCIMENTO EM OUTROS PAÍSES DA EUROPA
1. A expansão cultural do Renascimento coincidiu com a consolidação de grande parte dos Estados modernos. A par de seus aspectos universais, a cultura renascentista adaptou-se às condições específicas de cada país. 1.1. Não atingiu, porém, em outro país da Europa, o grau de desenvolvimento alcançado na Itália – a situação peculiar de cada região impediu a concretização de todas as suas potencialidades. 1.2. O Renascimento na Flandres e na Holanda (países baixos) só foi superado em importância pelo italiano. A explicação para esse fato reside principalmente na expansão comercial, financeira e manufatureira dessa região. 1.2.1. No século XVI os países baixos detinham o comando da Revolução Comercial. A burguesia flamenga e holandesa, próspera e influente, financiava o Renascimento e Cultura local.
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2. ERASMO DE ROTTERDAM ( 1466 – 1536 ) foi o grande vulto do Renascimento literário e filosófico dos países baixos. É considerado o “príncipe dos humanistas”. Procurou conciliar o racionalismo renascentista com o cristianismo. 2.1. Propunha que a Igreja católica se auto-reformasse, superando os vícios que apresentava naquele século; realizou críticas devastadoras ao comportamento do clero de sua época. Sua obra mais representativa é Elogio da Loucura. 3. Na pintura destacaram-se no século XV, os irmãos Van Eyck. No século seguinte, os artistas mais importantes foram Jerônimo Bosch e Pieter Brueghel. 3.1. JERÔNIMO BOSCH, com seus quadros de inspiração alucinada, é considerado um precursor da Escola Surrealista, que se desenvolveria no século XX. Produziu obras como o Jardim das Delícias e As Tentações de Santo Antônio. 3.2. BRUEGUEL, foi o pintor social e político dos países baixos. Os artistas de sua época retratavam a prospera burguesia; Brueguel , ao contrário, abordou temas de conteúdo popular ou político. Em o Massacre dos Inocentes, retratou as matanças realizadas pelos soldados espanhóis contra seus conterrâneos que, no século XVI, buscavam sua independência da cora espanhola. 4. O Renascimento Alemão: não alcançou níveis significativos. Seu desenvolvimento foi impedido pelo grande fracionamento político, pelo colapso comercial, pela Reforma luterana (rompimento protestante com a Igreja Católica) e pelas guerras religiosas entre católicos e protestantes. 4.1. Produziu entretanto, artistas excepcionais: Albrecht Dürer e Hans Holbrin foram dois pintores de expressão no Renascimento alemão. 5. O Renascimento na Inglaterra: foi prejudicado pela Guerra dos Cem Anos e pela Guerra das Duas Rosas. Assim teve início tardiamente, já no século XVI, suas principais figuras foram Thomas Morus e William Shakespeare. 5.1. THOMAS MORUS : humanista; pagou com sua vida sua coerência e fidelidade à Igreja Católica, sua principal obra foi UTOPIA. 5.2. SHAKESPEARE: foi um grande teatrólogo do Renascimento, escrevendo mais de quarenta peças; sua obra, ainda hoje encenada nos palcos de todo mundo, inclui títulos como Romeu e Julieta, Hamlet, Macbeth, Otelo e Sonho de Uma Noite de Verão. 5.3. Do teatro renascentista inglês, mencione-se ainda Ben Jonson, autor de Volpone. 6. O RENASCIMENTO NA FRANÇA: 6.1. A França também foi prejudicada pela Guerra dos Cem Anos e por lutas religiosas. 6.2. Na filosofia destacou-se MONTAIGNE através de sua obra Ensaios Críticos. Na literatura, RABELAIS foi autor de Garganta e Pantagruel, livros satíricos que retratavam o modo de vida renascentista. 7. O RENASCIMENTO NA ESPANHA: 7.1. Foi dificultado pela contra-reforma e pela descoberta do Novo Mundo; ainda assim, surgiram algumas figuras brilhantes como o pintor EL GRECO e os escritores TIRSO DE MOLINA, CALDERON DE LA BARCA, LOPES DE VEJA e o maior deles todos, MIGUEL DE CERVANTES. 7.2. EL GRECO : deixou inúmeras telas, dentre as quais o Enterro do Conde Orgas. 7
7.3. MOLINA e CALDERON: dedicaram-se ao teatro, tendo escrito Dom Gil das Calças Verdes e A Vida é Sonho, respectivamente. 7.4. VEJA : foi também autor de varias peças teatrais e do livro de poemas Arcadia. 7.5. CERVANTES : foi o criador, dentre outras obras, do celebre Dom Quixote, em que satirizou as novelas de cavalarias medievais. 8. O RENASCIMENTO EM PORTUGAL: 8.1. Em Portugal o Renascimento foi prejudicado pelos mesmos fatos ocorridos na Espanha. As principais figuras foram o historiador JOÃO DE BARROS ( que recebeu do rei de Portugal as capitanias do Maranhão e Rio Grande ), o teatrólogo GIL VICENTE e os poetas SÁ DE MIRANDA e LUÍS DE CAMÕES. 8.2. GIL VICENTE : produziu uma vasta obra, da qual se destacam Auto da Barca do Inferno e Farsa de Inês Pereira. 8.3. SÁ DE MIRANDA: produziu comédias, como Vilhalpandos, e Poemas. 8.4. CAMÕES : foi a figura máxima do Renascimento português: é o autor da epopéia os Lusíadas, de autos como Anfitriões e Filodeno, e ainda poesias líricas. O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO NO RENASCIMENTO 1. No Renascimento as ciências não tiveram um desenvolvimento tão fértil quanto as artes e as letras. Mesmo assim ocorreram alguns progressos importantes. 1.1. Na astronomia, o polonês COPÉRNICO derrubou a teoria Geocêntrica ( a terra como centro do universo). Substituiu-a pelo heliocentrismo, afirmando que os planetas giram em torno do sol. 1.2. O trabalho de Copérnico foi aprimorado pelo alemão KEPLER, que demonstrou a orbita elíptica das estrelas, e pelo italiano GALILEU GALILEI, que aperfeiçoou o telescópico. 1.3. Na medicina, ANDRÉ VESSÁLIO, médico de Bruxelas, pesquisou o corpo humano através da dissecação de cadáveres. MIGUEL SERVET , médico espanhol, descobriu a pequena circulação do sangue ou circulação pulmonar pelas artérias. O médico inglês WILLIAN HARVEY completou sua descoberta percebendo o retorno do sangue ao coração através das veias. 2. De maneira geral, a Reforma e a Contra-Reforma impuseram o fim do Renascimento. No entanto, o racionalismo e o espírito crítico não foram completamente sufocados; iriam reaparecer de forma muito mais contundente no empirismo inglês do século XVII e no movimento iluminista francês do século XVIII. Neste século a burguesia já estaria amadurecida para criar e impor uma cultura própria sociedade européia. RESUMO: 1. CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO: a) b) c) d) e) f) g) h) i)
Herança clássica; Individualismo; Racionalismo; Otimismo; Naturalismo; Hedonismo; Repúdio ao medievalismo; Humanismo; Mecenato; 8
2. FATORES GERADORES: a) b) c) d)
Renascimento comercial; Renascimento urbano; Fortalecimento da burguesia Estudo dos clássicos.
3. SITUAÇÃO DA ITÁLIA: a) Economia : comercial; b) Política : descentralizada; c) Sociedade : urbanizada; 4. RENASCIMENTO ITALIANO: a) b) c) d)
Dante Alighieri; Trecento : Petrarca e Bocaccio; Quatrocento : neoplatonismo; Cinquecento : Maquiavel;
5. RENASCIMENTO ITALIANO NAS ARTES: a) Trecento : Giotto; b) Quatrocento : Boticelli e da Vinci; c) Cinquecento : Miguel Ângelo e Rafael; 6. OUTROS PAÍSES: a) Países Baixos e Alemanha; b) França e Inglaterra; c) Espanha e Portugal.
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