Folder 2º Congresso Afro-Brasileiro de 1937

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Agradecimentos: Flávia Camargo Toni (IEB-USP), Alberto Ikeda (UNESP), Angela Lühning (UFBA), Vera Lúcia Cardim Cerqueira, Aloysio Lazzarini, Carlos Gabriel V. de Oliveira, Klaus Wernet, Elisabete Ribas (IEB-USP), Vagner Gonçalves da Silva (FFLCH-USP), Antonio Paulino de Andrade (Pai Toninho de Oxum), Luis Soares de Camargo (Arquivo Histórico Municipal), Tomico Hashimoto (Arquivo Histórico Municipal), Fábio Cintra de Oliveira (Arquivo Histórico Municipal) Supervisão de Informação CCSP Fabio Polido Edição Emi Sakai e Danilo Satou Revisão Paulo Vinicio de Brito Projeto gráfico Solange de Azevedo Acervo Histórico da Discoteca Oneyda Alavarega Supervisão de Acervo CCSP Eduardo Navarro Coordenação Rafael Sousa Documentalista Marina Siqueira Pozzoli Conservadora Andreia Aparecida da Silva Acondicionamento Priscilla Gomes Digitalização de imagens e partituras Edney Almeida de Brito Digitalização de discos 78 rpm Ivamilto Couto Farias e Jackson Costa de Oliveira Assistentes de Pesquisa Marina de Siqueira Pozzoli, Juliana Alvarenga Prado e Ranon Sobral Targa Estagiário Ramon Targa Curadoria de Artes Visuais CCSP Curadora Maria Adelaide Pontes Arquiteto de Exposições Jeff Keese Produtora de Exposições Diana Tsonis Estagiário Weslei Chagas Operação de Exposições Equipe de Manutenção CCSP Montagem Fina Arquiprom Exposição 2° Congresso Afro-brasileiro de 1937 O encontro entre Edison Carneiro e Camargo Guarnieri Curadoria Rafael Sousa

2° Curadoria Rafael Sousa

25 jul a 29 de set 2019 Centro Cultural São Paulo Piso Flavio de Carvalho

O ENCONTRO ENTRE EDISON CARNEIRO E CAMARGO GUARNIERI

CONGRESSO AFRO-BRASILEIRO DE 1937

criminalizou práticas culturais negras, tais como a capoeira; desbaratou e destruiu inúmeros terreiros de Candomblé, apesar da pretensa liberdade religiosa prevista na Constituição de 1891. Subjacente à fama de Pedro Gordilho, delegado que fez carreira perseguindo capoeiras e terreiros, registrado nas partituras colhidas por Camargo Guarnieri em 1937, havia um objetivo claro: a política racista de branqueamento que não poderia prescindir tanto da violência física quanto da cultural justificadas cientificamente pela antropologia criminal de Cesare Lombroso.

ENTREVISTA DE CAMARGO GUARNIERI COM EDISON CARNEIRO Autoria desconhecida, Salvador/BA, 1937

[...] A’s 2 horas e meia foi que se espalhou por telegrama recebido a notícia e que estava para todo e sempre extincta a escravidão no Brazil. O enthusiasmo tocou então ao auge do delírio; e inúmeros foguetes subiram aos ares durante o espaço de uma hora. [...]1

Os anos 1930, por outra via, marcaram o início de um momento de distensão menos de práticas repressoras do que de valorização da cultura negra. O 2° Congresso Afro-brasileiro, organizado em 1937 em Salvador por Edison Carneiro e Aydano de Couto Ferraz, insere-se diretamente nessa perspectiva. Ao lado do processo de afirmação da cultura afro-brasileira, verificado no Congresso em si e na organização da União das Seitas Afro-brasileiras, o principal legado político do evento de 1937, havia outro processo subjacente: o estudo da cultura e da música popular brasileiras com o fito de criar uma identidade nacional que superasse definitivamente a concepção eurocêntrica vigente nas instituições políticas, científicas e culturais do Brasil. O Departamento de Cultura da Cidade de São Paulo (1935-1975), que teve Mário de Andrade como primeiro diretor, foi seguramente o principal paradigma desse processo. Desse modo, esta exposição buscará reconstruir parte desse momento histórico, cujo legado material se encontra nos mais de 200 temas musicais e 40 artefatos materiais colhidos por Camargo Guarnieri, então regente do Coral Paulistano e representante oficial do Departamento de Cultura no 2° Congresso Afro-brasileiro, diretamente de capoeiras, mães e pais de santo da Bahia até então reprimidos ou tutelados pelas instituições policiais e psiquiátricas.

Congressistas do 2° Congresso Afro-brasileiro da Baía, no terreiro do Bate-Folha, Salvador, 1937 Foto: Camargo Guarnieri No primeiro plano estão os ogãns da casa. Ao centro está o pai de santo Manuel Bernardino da Paixão. À esquerda estão Edison Carneiro e o professor Martiniano Bonfim. Sentada entre os dois está a esposa do citado Martiniano Bonfim.

No dia 13 de maio de 1888 as ruas de todas as vilas e cidades do Brasil foram tomadas por um enorme entusiasmo e alegria. O êxtase era total. Afinal, o Brasil, o maior destino de mulheres e homens negros cativos, era o último país a abandonar a escravidão. Foram cerca de 5 milhões de almas e corpos transportados à força de inúmeras partes da África para trabalharem e morrerem nas lavouras e minas do Brasil. Por algumas horas todos os males sociais pareciam estar resolvidos e o povo rejubilava-se nas ruas. A Gazeta de Notícia do Rio de Janeiro trazia a informação de grandes festas na Bahia, Maranhão e Ceará. Segundo O Asteroide, periódico abolicionista, era absolutamente indescritível a alegria popular que reinou nas ruas das cidades do recôncavo baiano após a notícia vinda a vapor de Salvador.

1 As festas da abolição. In:. O Correio Paulistano – São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 1888

Passados 10 anos, porém, a matéria de capa do jornal A Cidade do Salvador ressentia-se da falta de festejos que rememorasse aquela tarde de maio na qual nenhuma só nuvem encobriu o ensolarado céu. Não era por menos. A Primeira República (1889-1930) mostrava a mesma face violenta do tempo de cativeiro:


OBJETOS Instrumentos musicais e objetos de culto colhidos por Camargo Guarnieri em sua expedição pela Bahia durante o 2º Congresso Afro-brasileiro, em 1937. Todos os objetos integram o Acervo Histórico da Discoteca Oneyda Alvarenga do Centro Cultural São Paulo/Coleção 2° Congresso Afro-brasileiro. GANZÁ Bahia, 1937 33,5x6,5cm BERIMBAU OU GUNGA Bahia, 1937 PANDEIRO Bahia, 1937 26,5cm PANDEIRO Bahia, 1937 21cm PANDEIRO Bahia, 1937 20,5cm ADJÁ Bahia, 1937 34x20cm PIANO DE CUIA OU AGUÊ Bahia, 1937 20,5x3cm PIANO DE CUIA OU AGUÊ Bahia, 1937 26x15cm CAXIXI Bahia, 1937 18cm AGOGÔ OU GÃ Bahia, 1937 40x6cm

O CONGRESSO O 2° Congresso Afro-brasileiro ocorreu em Salvador (BA) entre os dias 11 e 20 de janeiro de 1937. Esse simpósio reuniu uma importante gama de intelectuais brasileiros e estrangeiros diretamente interessados no estudo da cultura e da sociedade afro-brasileiras em seus mais variados aspectos. Reflexões que envolviam a integração do negro à sociedade de classes, como expresso na comunicação de Donald Pierson sobre A raça e classe na Bahia; ou a análise sobre o sincretismo religioso, debatido por Melville J. Herskovits na conferência sobre Deuses africanos e santos catholicos nas crenças do negro no novo mundo ou mesmo por meio de matérias do campo do Direito, como verificado em Liberdade religiosa no Brasil: a macumba e o batuque em face da lei, relatada por Dário Bittencourt, são alguns exemplos do teor de assuntos e temas debatidos pelos prismas da história, da antropologia, do direito, do folclore e da psicologia social. Também participaram dos seminários os seguintes autores: Ademar Vidal, Clovis Amorim, Renato Mendonça, Reginaldo Guimarães, Robalinho Guimarães, Arthur Ramos, Amanda Nascimento, Aydano de Couto Ferraz (coorganizador), Martiniano do Bomfim (antigo colaborador de Nina Rodrigues), Lodipô Sôlankê, Alfredo Brandão, Manoel Victorino dos Santos, Manoel Bernardino da Paixão, Eugênia Anna Santos (chefe do Centro Cruz Santa do Aché [SIC] Opô Afonjá), Manuel Diégues Junior, Salvador Garcia Agüero, Jorge Amado, Ademar

Vidal, Renato Mendonça, Ladipô Sôlankê e Dante de Laytano. Todos eles, sem exceção, tiveram suas comunicações publicadas nos anais do 2° Congresso Afro-brasileiro, em 1941. Inicialmente Edison Carneiro convidou Mário de Andrade para participar do congresso no qual desempenharia não apenas a função de palestrante, mas também de pesquisador de campo, conforme pudemos notar no programa apresentado a Fábio Prado, então prefeito da cidade de São Paulo. Entretanto, em carta endereçada a Arthur Ramos, Edison Carneiro comunicou que o diretor do Departamento de Cultura não poderia comparecer no evento por motivo de saúde. O plano e as despesas de trabalho, todavia, já estavam assegurados. Assim, Mário de Andrade vê em Camargo Guarnieri a capacidade de realizar a complexa tarefa de registrar diretamente em pauta temas do candomblé e de outras músicas populares, haja vista que a Discoteca Pública Municipal não havia adquirido o gravador em tempo hábil. Diferentemente do ocorrido no 1° Congresso Afro-brasileiro (1934) realizado em Recife sob a coordenação de Gilberto Freyre e Ulisses Pernambuco, no qual Ernani Braga recolheu e harmonizou um tema recolhido dos Xangôs, que foi apresentado aos congressistas no Teatro Santa Isabel, o 2° Congresso Afro-brasileiro de 1937, por outra via, revelou-se um verdadeiro laboratório antropológico-cultural por meio das festas organizadas diretamente nos Candomblés de Salvador, tais como

VIOLA Bahia, 1937 52x5cm VIOLA Bahia, 1937 44x5,5cm VIOLA Bahia, 1937 66x7cm MACHADO DE XANGÔ Bahia, 1937 28x15cm RUM, RUMPI E LÊ Bahia, 1937 Rum - 133x27cm Rumpi - 86x26cm lê - 73x28cm XAXARÁ Bahia, 1937 47cm FILÁ DE OBALUAYÊ [SIC]1 Bahia, 1937 23x80cm MACHADINHA DE XANGÔ Bahia, 1937 40x19,5cm ABEBÉ DE OXUM Bahia, 1937 26x15cm IDÉS DE OXUM Bahia, 1937 8cm FERRAMENTAS DE OGUM Bahia, 1937 13,4cm ALGUIDAR Bahia, 1937 33,5cm

Sic - Citação original

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ALGUIDAR Bahia, 1937 32,3cm MISSANGA DE OXALÁ Bahia, 1937 55x8cm MISSANGA DE OXUM Bahia, 1937 45x8cm GAMELA DE XANGÔ Camargo Guarnieri Bahia, 1937 32,3cm ARMAS DE OXÓSSI Bahia, 1937 10x10cm ESPADA DE ORIXÁ Bahia, 1937 43x7cm ESPADA DE ORIXÁ Bahia ,1937 34x6cm EGBEJI - disco Autor : Camargo Guarnieri Regência: Camargo Guarnieri Interprete: Coral Paulistano (coro misto a quatro vozes) Gravação: Discoteca Pública Municipal (série ME) Data: 29/07/1937 PROCESSO N° 96631 São Paulo (SP), 1936 Sobre a representação no 2º Congresso Afrobrasileiro a realizar-se na Bahia, na segunda quinzena de dezembro próximo. Arquivo Histórico da Cidade de São Paulo/ Fundo Departamento de Cultura (1935-1938) PROCESSO N° 99559 São Paulo (SP), 1936 Comunica a impossibilidade de enviar um representante ao Congresso Afro-Brasileiro a se realizar na cidade São Salvador da Bahia

no mês futuro. Arquivo Histórico da Cidade de São Paulo/ Fundo Departamento de Cultura (1935-1938) PROCESSO N° 22337 São Paulo (SP) , 1937 Solicita que seja oficiado ao Sr. Governador da Bahia o agradecimento da municipalidade pela acolhida cordial da municipalidade que teve o Sr. Camargo Guarnieri, representante do Departamento de Cultura no II Congresso Afro-brasileiro Arquivo Histórico da Cidade de São Paulo/ Fundo Departamento de Cultura (1935-1938) CADERNETA DE CAMPO DESENHO DO TERREIRO CENTRO CRUZ SANTA DO ACHÉ DE OPÔ AFONJÁ SÃO GONÇALO, 1937 Camargo Guarnieri Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP/Fundo Camargo Guarnieri/Cadernetas de Campo/CG-Caderneta-01 DESENHO DO TERREIRO GANTOIS [SIC], 1937 Camargo Guarnieri Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP/Fundo Camargo Guarnieri/Cadernetas de Campo/CG-Caderneta-01 DESCRIÇÃO DO TERREIRO CENTRO CRUZ SANTA DO ACHÉ [SIC] DE OPÔ AFONJÁ SÃO GONÇALO, 1937 Camargo Guarnieri Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP/Fundo Camargo Guarnieri/Cadernetas de Campo/CG-Caderneta-03 DESENHO DO TERREIRO DE JOÃO DA GOMÉIA, 1937 Camargo Guarnieri Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP/Fundo Camargo Guarnieri/Cadernetas de Campo/CG-Caderneta-03 DESENHO DO TERREIRO DE PROCÓPIO, 1937 Camargo Guarnieri Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP/Fundo Camargo Guarnieri/Cadernetas de Campo/CG-Caderneta-03

nos terreiros de Engenho Velho, Centro Cruz Santa do Aché do Opó Afonjá, Goméia, Gantois, Bate-Folha, Procópio, Bernardino, Alakêtu, entre outros, além de apresentações das rodas de capoeira de Sammuel Querido de Deus, Bugaia, Zeppelin, Abêrrè e rodas de samba, ocorridas no período noturno após os seminários realizados pelas manhãs no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. O trabalho do maestro Camargo Guarnieri se deu prioritariamente nesses ambientes não protocolares ao registrar em partitura temas musicais; ao fotografar e anotar descrições etnográficas que talvez representem o primeiro trabalho sistematizado de documentação musical afro-brasileira. A exposição O 2° Congresso Afrobrasileiro: o encontro entre Edison Carneiro e Camargo Guarnieri reuniu uma parte dos registros feitos em 1937, entre fotografias, partituras, instrumentos musicais e objetos religiosos de matriz afro-brasileira. Ela também conta com duas composições de Camargo Guarnieri: Igbeji (canto coral inspirado em tema colhido por Manoel Quirino) e Dança Negra (peça para piano inspirada na vivência do compositor em Salvador), além de registros de pontos de candomblé feitos pelo antropólogo Melville J. Herskovits entre 1941 e 1942 na Bahia. Na exposição, a maior parte do material exibido faz parte do Acervo Histórico da Discoteca Oneyda Alvarenga do Centro Cultural São Paulo, além de documentos do Arquivo Histórico Municipal e do Instituto de Estudos Brasileiros – IEB/USP. Rafael Sousa

DESCRIÇÃO DO GAN [SIC] E ATABAQUES (RUM, RUMPI E LÉ [SIC]), 1937 Camargo Guarnieri Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP/Fundo Camargo Guarnieri/Cadernetas de Campo/CG-Caderneta-03 ESTUDO SOBRE A RÍTMICA NA BAHIA, 1937 Camargo Guarnieri Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP/Fundo Camargo Guarnieri/Cadernetas de Campo/CG-Caderneta-03 NÃO GOSTO DE CANDOMBLÉ, 1937 Responsabilidade: Camargo Guarnieri Informante: Adrovaldo Martins dos Santos Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP/Fundo Camargo Guarnieri/Cadernetas de Campo/CG-Caderneta-04 ACABE COM ESTE SANTO, 1937 Responsabilidade: Camargo Guarnieri Informante: Adrovaldo Martins dos Santos Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP/Fundo Camargo Guarnieri/Cadernetas de Campo/CG-Caderneta-04


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