Transpor[ta]

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DANIEL NOGUEIRA DE LIMA

MARQUISE FUNARTE Complexo Cultural da Funarte Brasília Eixo Monumental Setor de Divulgação Cultural Brasília - DF De 13 de Dezembro de 2012 a 21 de Janeiro de 2013

Este projeto foi contemplado pela Funarte no Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2012 - Atos Visuais Funarte Brasília - Galeria e Marquise



PRÊMIO FUNARTE DE ARTE CONTEMPORÂNEA 2012 O Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, criado pelo Centro de Artes Visuais da Funarte, tem como objetivo o fomento às artes visuais brasileiras. Por meio de editais, abertos a todas as regiões do país, foram selecionadas 21 propostas, entre 850 projetos concorrentes, para exposições nos espaços da Funarte no Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, Belo Horizonte e Recife. A seleção, específica para cada espaço, realizada por comissões formadas por críticos, curadores, artistas e educadores de notório saber, teve como orientação evidenciar a qualidade e excelência da produção artística, considerando a adversidade e a multiplicidade das linguagens que compõem a amplitude das artes visuais, na atualidade. A Funarte, ao disponibilizar ao público parte da criação artística contemporânea, possibilita a difusão do conhecimento e a reflexão sobre os caminhos da arte atual, contextualizada na experimentação e no exercício das diversas linguagens já consolidadas, refletindo seu caráter inclusivo, em que todas as tendências convivem, simultaneamente, em um mesmo território. Centro de Artes Visuais Funarte

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ÍNDICE Passado TRANSPOR[TA] - Daniel Nogueira de Lima

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Pré Presente Montagem

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Passado DISPOS(TO) - Leonardo Araujo

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Presente Registro fotográfico - TRANSPOR[TA] Futuro do Pretérito Cruzamento - Leonardo Araujo Créditos Finais

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PASSADO TRANSPOR[TA] - Daniel Nogueira de Lima



VISTA LATERAL DA MARQUISE A NOITE

VISTA LATERAL DA MARQUISE DE DIA

260,3 METROS

216,0 METROS

I

II

III

IV

V

VI

VII

VIII

IX

DANIEL NOGUEIRA DE LIMA

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vista frontal da marquise mostrando a posição da peça

vista lateral da marquise mostrando a posição da peça

0,26 m. irradiação da luz

2,3 m.

1,74 m.

1,0 m.

1,0 m. 0,7 m.

0,74 m. 0,26 m. laje e coluna da marquise

estrutura da peça feita em ferro 4,0m.

zinco

lâmpada

2,3 m. estrutura de fixação e apoio da peça

1,74 m.

acrilico

DANIEL NOGUEIRA DE LIMA

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TRASPOR[TA]

por Leonardo Araujo

projeto escrito por Daniel Nogueira de Lima Justificativa Os trabalhos de Daniel Nogueira de Lima se alimentam da arquitetura pública e vertical da cidade para reiventaremse como propostas de espaços de convívio e de comunicação. Eles são, na verdade, desafios às políticas públicas; ao olhar, e, talvez, à própria ideia de arte, apresentados assim, como um desafio. Uma das grandes utopias da modernidade, o construtivismo pregava a arte como obra social, capaz de alterar profundamente, a partir da modificação da paisagem, a consciência de um grupo, estado ou país. Nesse sentido, os trabalhos de Daniel representam uma instância desta proposta, revista e reavaliada para o contexto atual brasileiro. Posicionando-se entre a instalação e a escultura, Daniel consegue criar formas que são, ao mesmo tempo, homenagem e crítica ao construtivismo. Homenagem na medida em que tratam o espaço como forma e existem nele de maneira contundente. Crítica, pois servem de lembrança em miniatura das propostas traçadas pelo movimento construtivista e que, também, resultaram na exploração do espaço urbano de maneira equivocada, especialmente em países como o Brasil, “d(o)ados” à iniciativa privada. Ao propor trabalhos que são intervenções em espaços públicos, feitas em madeira, incorporando na sua estrutura, sua própria iluminação, os trabalhos de Daniel servem como lembrança de uma utopia que não se realizou integralmente, mas sob cujos efeitos somos todos forçados a conviver. As obras de Objeto Processo (exposição individual que realizou em São Paulo na galeria de arte Jaqueline Martins em São Paulo, entre 17/03 e 28/04/2012) propõem intervenções na paisagem que alteram a natureza dos espaços públicos, sejam eles da capital do país, Brasília, ou adotados por outras cidades brasileiras. Para criar um Brasil moderno e industrial foi preciso concentrar-se na utopia desenvolvimentista que Daniel critica em seus trabalhos. Talvez não seja uma crítica claramente objetiva e sim, ao meu ver, uma retomada reflexiva crítica. Algo que se encontra em processo, até mesmo na possíbilidade de sua contraproposta, desse projeto em específico, pois sugere um repensar às estruturas que tornaram-se convencionais. O desenvolvimentismo industrial brasileiro, alimentado pelo capital globalizante e pelo vislumbre de mudança econômica, não é algo que pareça seu (do artista) interesse crítico, mas que se retoma de maneira crítica em seu pensamento, afim de se colocar a repensá-lo como coisa suspeita, coisa negligenciável.

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Objetivo e Características O objetivo principal do projeto consiste em ocupar o espaço coberto da marquise de modo a propor experiências fenomenológicas para os visitantes, por meio da percepção única e pessoal da luz e sua refração. Ainda que as estruturas estejam contidas apenas sob a laje principal, entende-se que a luz invade os espaços adjacentes, modificando por completo a finalidade mais evidente da marquise, que é prover abrigo. Com a presença dos objetos instalativos, não somente o espaço modifica, mas principalmente o objetivo do passeio, pois torna-se um lugar de vivência e de apreciação, além de possibilitar um questionamento referente a utilidade. O próprio tamanho e forma do espaço também são automaticamente reavaliados, pois mudam conforme a colocação das cores e com a direção das placas de luz. Essa utilidade comentada se refere a do trabalho ou a do espaço (marquise)? As estruturas, feitas com placas de zinco, plástico e metal, contêm luzes coloridas, dispostas diagonalmente, criando passagens - portais - luminosas que ora cobrem os passantes, ora proporcionam espaços semi-contidos de luz, conforme o direcionamento das lâmpadas se dê para o chão ou para o teto. Inspiradas pelos backligths que existiam na cidade de São Paulo, as peças se transformam, na visão do artista, em pontos de encontro que reclamam à cidade os espaços público para o lazer e para o convívio social, que lhe foram subtraídos ao longo dos anos pela exploração e privatização do espaço urbano. De fato é uma reclamação corrente na atualidade, principalmente quando lembrada a partir da vivência com a cidade de São Paulo. O trabalho é produzido em escala real, aproveitando o comprimento e largura totais da marquise, a fim de alterar a visão arquitetônica dos que a enxergam por fora. Durante o dia, quando a luz das cores é mitigada, a visão lateral da marquise é re-configurada geometricamente por diagonais, entre ascendentes e descendentes, quebrando a ortogonalidade característica da própria construção.

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radiação a luz

recorte em perpectiva de uma peça com a marquise

III

VI

DANIEL NOGUEIRA DE LIMA

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irradiação da luz

I

II

VIII

IX

recorte em perpectiva de uma peça com a marquise

DANIEL NOGUEIRA DE LIMA

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irradiação da luz

recorte em perpectiva de uma peça com a marquise

IV

VII

DANIEL NOGUEIRA DE LIMA

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PRÉ PRESENTE montagem



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equipe 20


materiais 21


corte, solda e parafusagem 22


corte, solda e parafusagem 23


instalação elétrica

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instalação de peças, lâmpadas, reatores 25



PASSADO DISPOS(TO) - Leonardo Araujo



primeira concepção de projeto realizada conjuntamente com Ana Luisa Lima em algum bar da Rua Augusta na noite de 16/08/12 29


DISPOS(TO) projeto escrito por Leonardo Araujo Apresentação Durante o século XX, o discurso do crítico esteve atrelado ao compromisso de verdade da obra de arte, constantemente alimentado pelo sistema e mercado. Atualmente, essa perspectiva vem mudando, tanto que o campo de atuação da crítica vem sendo cada vez mais destituído de seu lugar comum, a exemplo dos providos pelas grandes mídias, como jornais e revistas de grande circulação, perdendo assim sua visibilidade e consequente demanda. Naquele contexto passado, o discurso do crítico continha a imagem de verticalização perante o discurso do artista. Ao mesmo tempo, de maneira contraditória, ainda no século XX, iniciou-se a percepção de que o artista detinha um discurso interno à obra, pois seu olhar se encontrava mais próximo a sua constituição. E, mais uma vez, nos vemos voltados para uma única possibilidade de verdade da obra de arte. Com as duas premissas nas mãos - sendo nenhum dos discursos providos de verdade, já que a obra não necessita de tal denominação, pois apresenta-nos uma visualidade própria, a qual nos possibilita novas experiências, e a partir delas é que podemos individualmente fruir no reconhecimento das coisas, e talvez assim, constituirmos coletivamente conhecimento de algo (nesse caso, da obra apresentada) - criou-se o projeto de cruzamento de textos. Portanto, o nosso ver, esses dois discursos se constituem em caráter opinativos da obra, e, somente um cruzamento entre eles é que poderia causar-nos uma fricção, ou melhor, uma discussão consciente do seu lugar, de ser opinião sobre e não verdade. Objetivo A percepção da escassez de uma crítica de arte que se comprometa eficiente junto ao contexto que se destina, quando dirigida os olhos a obra de arte, vem sendo cada vez mais constante. Com o exagero e distorção de curadorias coletivas temáticas e críticas feitas por demanda de mercado ou por contrato de projetos, a

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escassez se justifica. Diante desse contexto, o projeto de acompanhamento do trabalho de Daniel Nogueira de Lima tomou outro corpo. Pesou-se em um texto que tome corpo como obra de arte, indo em busca de um interesse próprio ao trabalho de acompanhamento crítico de uma produção que já se encontra diagonalizada. Assim se esclareceu, em conjunto com o artista, que Transpor[ta] necessitava de uma proposta que fosse direcionada ao seu contexto, também como crítica, mas que concomitantemente se descolasse do objeto a fim de potencializar-se como obra, ou como discurso próprio para a obra direcionada. Com isso, analisando a estrutura visual de Transpor[ta], discutindo os dispositivos dados pela língua e pela escrita, e além de tudo, percebendo as possibilidades criativas dadas pela literatura, acreditamos que fosse possível criar um cruzamento entre discursos. Estabelecendo-se particularmente no interesse em contrapor dois discursos calcados sobre o mesmo objeto, confluindo o do artista sobre sua própria produção e o do crítico sobre a produção esperada, o texto se constitui na contrapartida de ser diversos textos em si mesmo. Ao mesmo tempo em que reconhece a cruz como principio básico da visualidade arquitetônica de uma marquise. Mas, nesse sentido, onde Transpor[ta] se encontraria? Cremos que nas entrelinhas, subentendido na imaginação das propositivas críticas dadas por suas diagonais. Justificativa A fim de escrever uma crítica totalmente apoiada no campo literário para ter em mãos duas potencias; a de experimentação e a de criação, o projeto para o texto crítico de Transpor[ta] se torna a tentativa de ser complacente com múltiplas verbalidades (ou visualidades) nascidas com a produção contemporânea de arte. Essa multiplicidade abrange nossa consciência da inexistência de uma única verdade voltada a obra de arte: a geração de diferentes discursos referentes a uma obra de arte tomam forma por serem opiniões que se dissipem, se justapõem ou se contradizem, e nesse caráter duvidoso, um texto crítico como o almejado só pode ser viável se puder concatenar pelo menos dois discursos, o do artista e o do crítico. Assim, usando a língua do jeito que puder e quiser, o crítico utiliza-se do nome do artista e do nome dado para o trabalho para criar personagens que discorrem criticamente dentro uma narrativa reflexiva. Então, sustentar um personagem num discurso é a tentativa de solidificar a literatura na crítica? Nesse caso sim, pois a vontade é experimentar na linguagem, mas, ao mesmo tempo, torna-la viável enquanto conteúdo e forma, assim como ficção e discussão. Cruzamento = discurso do artista + discurso do crítico = encontro de obras ?

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PRESENTE Registro fotogrรกfico - TRANSPOR[TA]



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FUTURO DO PRETÉRITO Cruzamento - Leonardo Araujo



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Tra n

sP or (ta )


D LEONARDO N I E L

legenda para leituras possĂ­veis :

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DANIEL NOGUEIRA DE LIMA Artista plástico paulistano graduado pela faculdade Santa Marcelina no ano de 2006. Iniciou sua pesquisa através da paisagem da cidade de São Paulo e a partir desta aproximação identificou diversos sistemas de urbanização e de infra estrutura da cidade, percebendo-os como um ponto de diálogo entre a paisagem e a utilização prática de seus elementos. Ao longo do estudo passou a utilizar-se do uso da energia elétrica para saídas luminosas e com isso atualmente desenvolve objetos que pretendem participar do sistema de energia da megalópole. Dentro dos elementos visuais que usa, estão lâmpadas fluorescentes, fios, estruturas de metal e plásticos. Estes objetos propõem diálogos com o espaço onde são instalados proporcionando um trânsito entre um pensamento instalativo e pictórico. Desta maneira, a produção do artista vem traçando interesse contínuo em estabelecer relação da cidade com o uso de sua própria energia. Foi premiado na Bienal de Arte do Triângulo Mineiro 2007 e foi integrante da equipe que ganhou o Prêmio Shell de melhor cenografia com a peça Não escrevi isto dos Parlapatões Patifes e Paspalhões – Sesc Pompéia, 1998. O artista vem participando de exposições individuais e coletivas desde 2003, sendo as mais recentes MURART – SESC IPIRANGA, SP; Aberto 10 - Museu Universitário de Arte (MUnA), Uberlândia, MG e Em Obras - Passagem subterrânea da R. da Consolação.

LEONARDO ARAUJO Leonardo Araújo (São Paulo, - Vive e trabalha em SP). Graduando em Filosofia pela Unifesp e em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes. Editou as publicações “Percursos Narrativos” (livro de artista de Rafael RG e Fabio Moraes) e “Casa Contemporânea” (catálogo das três primeiras exposições do espaço). Realizou a curadoria da exposição NOVES_FORA no espaço independente Beco da Arte de São Paulo, no qual trabalhou como organizador por 4 anos, também, a curadoria conjunta com Paula Borghi da exposição NATUREZA DA/NA ARTE no Instituto Meyer Filho (Florianópolis - SC). Fez estágio no Núcleo de Pesquisa e Crítica em História da Arte na Pinacoteca do Estado de São Paulo, realizou acompanhamento crítico de Silvio de Camilis Borges e Jaime Lauriano a fim de conceber conjuntamente suas exposições individuais, no Gastroarte e no Sesc Ribeirão Preto, respectivamente. Atualmente é co-editor da revista de critica de arte paulista MARÉ e acompanha a produção artística de Daniel Nogueira de Lima e Bruno Baptistelli. Também, ganhou o prêmio Sesi Arte Contemporânea - Curitiba com o trabalho A imagem do texto no texto da imagem, realizado conjuntamente com o dramaturgo Gustavo Colombini, e foi selecionado com o projeto de residência artística para experimentação textual, Carta de Intenção, no edital Artes Visuais do Proac (Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo), conjuntamente com Jaime Lauriano, Maira Dietrich, Ana Luisa Lima e Gustavo Colombini.

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Projeto Gráfico Leonardo Araujo

Presidenta da República Dilma Rousseff

Coordenadora do Centro de Artes Visuais Andréa Luiza Paes

Textos Daniel Nogueira de Lima e Leonardo Araujo

Ministra de Estado da Cultura Marta Suplicy

Coordenador do Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2012 / Brasília Álvaro Maciel

http://linhaembrasilia.blogspot.com

Fundação Nacional de Artes

Fotos Raphael Franco, Daniel Mira e Daniel Nogueira de Lima

Presidente Antonio Grassi

Coordenadora de Comunicação Camilla Pereira

Diretora Executiva Myriam Lewin

Coordenadora de Difusão Cultural da Funarte em Brasília Débora Aquino

Diretor do Centro de Artes Visuais Francisco de Assis Chaves Bastos (Xico Chaves)

Técnica em Artes Visuais Iara Martorelli

Catálogo impresso em dezembro de 2012, com tiragem de 1000 exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - PROIBIDA A VENDA

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Agradecimentos Ilda Nogueira de Lima, Júlio Roberto Lima, Corrine Nieto, Bruna Queiroz, Laerte Ramos, Diego Castro, Fernanda Lopes, Cauê Alves, Jaqueline Martins, Guido Hunn, Marcela Rodrigues, Raphael Franco, Chico Mozart, Fernando Derzié, Sandrão, Weber, Tatiana Russo, Fabio Morais, Gustavo Colombini, Ana Luisa Lima, Maira Dietrich, Ketherin Heliara Carvalho, Jaime Lauriano, Iara Martorelli, Roberta Mahfuz, Laserprint - Ademar, e agradecemos a todas as pessoas que de alguma maneira contribuiram para a realização deste projeto.

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Trans Por(ta) Impresso em São Paulo, Brasil, em janeiro de 2013 pela Gráfica Expressão & Arte. Miolo em papel Offset 90 gr e capa em 240 gr. Fonte em Helvetica Neue. 54



DANIEL NOGUEIRA DE LIMA

DANIEL NOGUEIRA DE LIMA

REALIZAÇÃO

Este projeto foi contemplado pela Funarte no Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2012 - Atos Visuais Funarte Brasília - Galeria e Marquise


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