Planejamento e trabalho com grupos leonardo koury

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PLANEJAMENTO E TRABALHO COM GRUPOS

Leonardo Koury Martins1 RESUMO: O presente artigo pretende facilitar o diálogo referente aos conceitos referentes aos trabalhos nos CRAS que se propõe a construir uma identidade coletiva e os significados de cada elemento fundamental na construção do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.

Com a construção da Política Nacional de Assistência Social e com a positivação do Sistema Único de Assistência Social referente a Lei Federal 12.435/11, os serviços socioassistenciais tornam cena pública do trabalho em território e com famílias e torna­se fundamental discutir estratégias para organização dos trabalhos no SUAS. Acolhimento, Atendimento, Entrevista entre outros conceitos começam a ganhar vida, portanto um dos conceitos fundamentais para a construção de uma identidade coletiva no território são os Grupos. Sempre que pensamos em montar um grupo, é necessário fazer um planejamento das ações, e para isto precisamos saber: * Qual o público que vamos atender? * Quais são as características desse público? * Existe algum tema/problema/dificuldade que seja comum a esses sujeitos? Se estes grupos forem construídos nos Centros de Referência da Assistência Social devemos pensar em grupos que atinjam os sujeitos usuários da política de assistência social. Portanto, nosso foco de trabalho deve estar voltado para o PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA ­ PBF, BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA ­ BPC, e BENEFÍCIOS EVENTUAIS entre outros públicos que se apresentam prioritários de acordo ao reordenamento do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos ­ SCFV em 2013.

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Leonardo Koury Martins: Escritor, Assistente Social e Superintendente de Proteção Social Básica


Quando o objetivo do grupo é dar informações sobre a Política de Assistência Social, serviços do CRAS no apoio ao Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família ­ PAIF , direitos, deveres, cidadania, (por serem temas amplos e que devem ser discutidos com todos os usuários) pode ser realizado com todas as pessoas que possuem perfil dos usuários do CRAS e atores do território que procuram o serviço. Se começarmos pelo público prioritário do CRAS ­ os beneficiários do PBF, é necessário definir alguns parâmetros para planejar o grupo.

* Todos os usuários apresentam as mesmas vulnerabilidades? * Quais são os tipos de vulnerabilidades vividas por estas famílias? (As mais evidentes/gritantes) * Como podemos intervir sobre essas vulnerabilidades? A partir dai, o primeiro passo é montar o PROJETO. É importante escrever, pensar o projeto, entender porque se justifica esta ação, definir os objetivos, a metodologia, o público, o cronograma. O projeto é que dá direcionamento ao trabalho. É através dele que podemos avaliar se atingimos os objetivos propostos inicialmente, se o grupo caminhou para outros objetivos (e o porquê? qual foi a necessidade que desviou o foco?). Enfim, é por meio do projeto que damos substancialidade as ações que realizamos no CRAS.

TIPOS DE ATIVIDADES COM GRUPOS O trabalho de grupos prevê várias construções metodológicas, todas voltadas a construção e significado das ações, portanto alguns conceitos são fundamentais para compreender este trabalho. Estes conceitos se refere a tipologia aplicada de cada atividade. As atividades realizadas em grupos podem ser das seguintes modalidades: ●

Palestras;

Oficinas;

Grupos Sócio­educativos.


PALESTRAS As palestras são formas de organização oral ou apresentação didática vinculado a um tema específico, na qual a mesma pode ser construída conjunto a necessidade do público ou referenciada pela necessidade de intervenção naquele momento. As palestras encontram no sentido de organizar, problematizar e dialogar alguma temática que possa contribuir com as discussões já iniciadas com os grupos e oficinas. Portanto é necessário compreender que as palestras podem ser construídas com públicos mistos, com os grupos já trabalhados ou até mesmo em momentos específicos como semanas de cidadania ou dias referentes a algum simbolismo como: dia da luta de contra a homofobia, dia de luta contra a exploração do trabalho infantil entre outros simbolismos. As palestras são importantes subsídios ao trabalho no território, pois descentralizam a informação e tem o objetivo de abrir o espaço do grupo para manifestações externas, como exemplo dia da família, na qual todos os integrantes da família participariam da mesma temática mesmo que estejam em grupos diferentes.

OFICINAS As oficinas são atividades desenvolvidas com um grupo de pessoas que propiciam a ampliação de conhecimentos de um determinado assunto. As oficinas são atividades que pressupõem vivências concretas resultantes da vida cotidiana das famílias e pode utilizar (ou não) abordagens lúdicas. Existem dois tipos de oficinas. Oficinas de Reflexão:

É um trabalho estruturado utilizando temas que o grupo se propõe a discutir. Podem ser usados recursos lúdicos, interativos e reflexivos que facilitem a reorganização do pensar, sentir e agir diante da questão abordada. Este trabalho desenvolve a consciência crítica através da análise da vida cotidiana e dos conflitos relacionais, tendo por base também os direitos e deveres inscritos nas legislações sociais.


Deve­se oportunizar a promoção da comunicação, permitindo a troca de experiências. A oficina articula o que o grupo pensa, sente e faz sobre determinado tema. Além de transmitir a informação, também promove a reflexão e compreensão sobre esta questão da vida das pessoas envolvidas.

O planejamento das oficinas é flexível e deve levar em conta o contexto, o público, a demanda e os recursos disponíveis. O grupo participa na definição de suas regras, escolhas de temas e sub­temas e formas de discussão. A partir da escolha destes temas os coordenadores organizam cada encontro.

Oficinas de Convivência:

São encontros periódicos com pessoas que vivenciam questões de interesses comuns e que serão compartilhadas e refletidas coletivamente. O objetivo deste grupo é conviver e para tal precisa trabalhar as relações inter pessoais (organizar conversas, passeios, lanches, troca de habilidades, cuidados mútuos e promoções do grupo).

O trabalho deve envolver a reflexão sobre temas de interesse do grupo ou de produção de algum produto. O grupo define e escolhe as atividades ao longo do processo. Os técnicos podem apresentar sugestões de atividades e temas.

Vale considerar que nestes dois espaços as atividades lúdicas e recreativas são transversais ao andamento dos temas, portanto não podem ser pensadas como único objetivo do grupo. É fundamental que exista uma relação harmônica do orientador social e do facilitador da oficina para que possibilite melhor compreensão da metodologia e maior possibilidade de compreender os objetivos alcançados.

GRUPOS SOCIOEDUCATIVOS As práticas socioeducativas se constroem por meio de processos e atividades e possibilita aprendizagens que contribuem para o desenvolvimento da família, atualizando e complementando conhecimentos já trazidos por elas (famílias), fruto de sua vivência e cultura.


Segundo AFONSO (2006) É um espaço de aprendizagem voltado para o desenvolvimento de capacidades individuais e valores éticos, estéticos e políticos para promover o acesso, compreensão e processamento de novas informações estimulando a convivência em grupo e a participação na vida pública. A principal característica dos grupos socioeducativos é o exercício da convivência social. As ações socioeducativas são um caminho estratégico para enfrentar a desigualdade. Devem propiciar atividades que reflitam as garantias da proteção social e desenvolver interesses e talentos em seus participantes. Segundo AFONSO (2006) A apropriação de conceitos, atitudes, valores, e competências pessoais e sociais podem ser feitas em contextos intencionais, para garantir seu aprendizado. Entretanto é fundamental perceber que os grupos são ações que constrói o espírito coletivo no território, estes espaços muitas das vezes são a primeira entrada para os usuários no intuito de propiciar a participação popular. Na sua formação é importante que o mesmo não se caraterize como um grupo problema (grupo de mulheres vítimas de violência) e sim com uma identidade positiva para não estigmatizar a sua formação. Através do trabalho de grupos, os cidadãos e cidadãs do território se reconhecem, interagem e constroem não apenas vínculos, mas uma identidade coletiva. Neste espaços, mulheres que sofreram algum tipo de violência, mulheres negras, mulheres jovens, mulheres trabalhadoras e mulheres dos movimentos culturais se reconhecem enquanto mulheres, encontram igualdade e diferenças e dialogam acerca da diversidade. Esta ampliação da informação envolve experimentar e circular nos diversos espaços e lugares da cidade e na interação com diferentes pessoas. É importante também compreender: * Que o usuário ou usuária participe do planejamento e da responsabilização em relação ao projeto e aprenda a elaborar o seu projeto de desenvolvimento pessoal e social; * As escolhas das atividades precisam levar em conta a história sociocultural e as questões


que surgem na comunidade e no mundo, ampliando o repertório e as oportunidades de aprendizagens, suas demandas, necessidades e valores; * Articulação com a rede, reconhecendo e valorizando as diferentes alternativas de proteção; * Oferta de espaço de acolhimento, diálogo e interação, discutindo as questões desafiantes do cotidiano, estimulando­os a buscar alternativas para as questões apresentadas; * Reconhecer e validar os valores trazidos pelas famílias e que são vivenciados nos seus relacionamento e comunidade, mas introduzir novas aprendizagens voltadas para a busca da verdade e da ética.

Essa figura abaixo mostra como acontecem esses três momentos que devem permear o grupo para que aconteça a dialética do conhecimento:: 1­ CONCEITUAL (Rosa) 2­ ATITUDINAL (Azul) 3­ PROCEDIMENTAL (Verde)


REFERÊNCIAS AFONSO, Maria Lúcia (Org.) Oficinas em dinâmica de grupo: Um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. EQUIPE DE PESQUISA ­ INTERVENÇÃO PUC MINAS SÃO GABRIEL. Oficinas de Intervenção Psicossocial: uma metodologia de trabalho com grupos, 2009. Texto Site: http://grupocras.blogspot.com.br/2012/05/video­vulnerabilidades­e­protecao.html Acessado em 11 de Junho de 2013


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