Pensar_02_06_2012

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VITÓRIA, SÁBADO, 2 DE JUNHO DE 2012

www.agazeta.com.br AG. ESTADO

Entrelinhas

RESENHA DESTACA A MILITÂNCIA ECOLÓGICA NA POESIA DE DRUMMOND. Página 3

Música

GRAVAÇÕES AO VIVO REGISTRAM A FORÇA LÍRICA E A OUSADIA DE LOU REED. Página 5

Neurociência

MÉDICOS CRITICAM RECEITAS DE AUTOAJUDA SOBRE O ESTUDO DO CÉREBRO. Páginas 10 e 11

Artes

CURADORA DA MOSTRA “MESTRES FRANCESES” COMENTA GRAVURAS DE FERNAND LÉGER. Página 12

Nelson Rodrigues em sua casa, no Rio de Janeiro, em 1973: dramaturgo revelou o cotidiano trágico do brasileiro moderno

Muitos Nelsons em um ESPECIALISTA ANALISA A OBRA TEATRAL DO AUTOR QUE MOSTROU A VIDA COMO ELA É

Págs. 6, 7 e 8


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A GAZETA VITÓRIA, SÁBADO, 2 DE JUNHO DE 2012

quem pensa Maninho Pacheco é jornalista, designer gráfico e publicitário. maninho.pacheco@uol.com.br

Carlos Antônio Uliana é assessor político da área sindical.

marque na agenda prateleira Campus Semana da Engenharia será em agosto

“O desafio da competitividade – A construção do país do presente” é o tema da 9ª Semana da Engenharia, que será realizada de 13 a 17 de agosto, no Centro de Convenções de Vitória. O evento é organizado anualmente pela empresa júnior de Engenharia (CT Júnior) da Ufes.

uliana@sindfer.com.br

Literatura

José Augusto Carvalho é doutor em Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo. joauca@hotmail.com

O prazo para os interessados em inscrever trabalhos na 14ª edição do congresso vai até 16 de junho. O evento acontecerá em 15 e 16 de outubro e terá como foco a produção poética. Mais informações no site http://www.ufes.br/ppgl.

Fernanda Maia Lyrio é jornalista, professora universitária e mestre em Letras. fernandalyrio@bol.com.br

Caê Guimarães é jornalista, poeta e escritor. Publicou quatro livros e escreve no site www.caeguimaraes.com.br

Francisco Celso Calmon éconsultororganizacionalecoordenadordoFórum MemóriaeVerdadedoES. fccfs@yahoo.com.br

O. J. Castro é consultor legislativo aposentado do Senado Federal. ojcastro@gmail.com

Renan Barros Domingues é neurologista com doutorado pela USP. www.renandomingues.med.br

Simone Aires Domingues é psicóloga pela Universidade Mackenzie (SP) e doutora em Ciências Fisiológicas pela Ufes. Maria D’Ermoggine é italiana, professora de História da Arte e curadora de exposições no exterior.

Ufes sedia Congresso de Estudos Literários

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de junho

Academia Feminina promove palestra

A escritora e professora de História Angela Maria Leite Xavier vai falar sobre “Identidade/Memória”, às 16h, na Biblioteca Pública Estadual (Av. João Batista Parra, 165, Praia do Suá, Vitória). O evento é promovido pela Academia Feminina Espírito-Santense de Letras.

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de junho

O Direito na obra de Lima Barreto

O 14º encontro do Projeto Café, Direito e Literatura, uma iniciativa do curso de Direito da UVV, terá como tema “A modernidade e o Direito no Brasil na obra de Lima Barreto”. O debate, aberto ao público, ocorrerá na livraria Logos da Praia do Suá. Informações e inscrições: (27) 3421-2054.

Mainstream: A Guerra Global das Mídias e das Culturas Frédéric Martel

O autor entrevistou mais de mil pessoas em 30 capitais do entretenimento para identificar como funciona a guerra global das mídias e da cultura, que passa pelos meios de comunicação, televisões, cinema, música, livro e pela troca de conteúdos pela internet. 490 páginas. Civilização Brasileira. R$ 49,90

As Entrevistas da Paris Review - Vol. 2 Vários

O segundo volume da antologia de entrevistas da publicação literária traz depoimentos de grandes escritores contemporâneos, como Hunter S. Thompson, Julio Cortázar, Salman Rushdie, Tennessee Williams, Milan Kundera e Elizabeth Bishop. 456 páginas. Companhia das Letras. R$ 58

Um Homem Bom Rui Afonso

Biografia mostra como o diplomata português Aristides de Sousa Mendes desafiou as ordens do ditador Salazar durante a Segunda Guerra Mundial para salvar milhares de vidas do Holocausto. Seu ato de heroísmo teve um preço: a tragédia que se abateu sobre sua família. 400 páginas. Casa da Palavra. R$ 48

A Fugitiva Anaïs Nin

A literatura erótica de Anaïs Nin (1903-1977) se mostra aqui em seu esplendor, em três contos que se entrelaçam como um complexo triângulo amoroso, repletos de sofisticação e pungência sexual. 64 páginas. L&PM. R$ 5

AUTOR MULTIFACETADO

José Roberto Santos Neves

Pode-se definir o teatro brasileiro entre antes e depois de Nelson Rodrigues. O jornalista, cronista e dramaturgo impôs sua marca na literatura e nos palcos ao desvendar o cotidiano do homem brasileiro moderno com requintes de tragédia e ironia, revolvendo tabus como incestos, crimes, suicídios, mutilações, lesbianismo, homossexualidade – temas considerados “imorais” aos olhos de boa parte da sociedade brasileira. Essa é a percepção da professora universitária Fernanda Maia Lyrio, autora do artigo de capa desta edição, em homenagem ao centenário do autor de “Vestido de Noiva” –

Pensar na web

não por acaso, a peça escrita e encenada em 1945 é considerada por muitos estudiosos o marco do modernismo na dramaturgia nacional. Mestre em Letras e especialista no universo rodrigueano, Fernanda divide sua análise em três atos e chama a atenção para a diversidade da obra de Nelson Rodrigues, registrada em 17 peças teatrais, nove romances, contos e crônicas. A citação do diretor teatral Aderbal Freire-Filho é inevitável: “Nelson só é único porque é muitos” – mesmo que esses muitos não queiram admitir, por pudor, culpa ou falso moralismo. Vamos, então, à leitura da vida como ela é.

é editor do Caderno Pensar, espaço para a discussão e reflexão cultural que circula semanalmente, aos sábados.

jrneves@redegazeta.com.br

Entrevistas, trechos de filmes e peças e galeria de fotos de Nelson Rodrigues; vídeos de Lou Reed e trechos de livros comentados nesta edição, no www.agazeta.com.br

Pensar Editor: José Roberto Santos Neves; Editor de Arte: Paulo Nascimento; Textos: Colaboradores; Diagramação: Dirceu Gilberto Sarcinelli; Fotos: Editoria de Fotografia e Agências; Ilustrações: Editoria de Arte; Correspondência: Jornal A GAZETA, Rua Chafic Murad, 902, Monte Belo, Vitória/ES, Cep: 29.053-315, Tel.: (27) 3321-8493


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entrelinhas

Pensar

por MANINHO PACHECO e CARLOS ULIANA

O DRUMMOND DOS ANIMAIS E DA NATUREZA

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oi o poeta Eucanaã Ferraz quem sentenciou: “Há um Drummond para todo mundo”. Perfeito. Intelectual basilar da literatura nacional, Carlos Drummond de Andrade não foi um só, mas tantos, parafraseando Vinicius. Em seus 85 anos de vida, seria de um reducionismo imperdoável cravar-lhe exclusivamente a pecha de poeta. Ele fez mais que isso. Muito mais. Transitou livremente entre os vastos campos da poesia e da prosa, foi um jornalista preciso (“escrever é cortar palavras”), arquivista metódico, desenhista de traço sofisticado, um delicado erotômano, mas, acima de tudo - e é o que nos interessa às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente e da conferência Rio+20 -, um ativista ecológico e militante protetor dos animais. Bem antes de Gabeira aportar no país com a grande novidade da política do corpo e das urgentes questões ecológicas mundiais, desde os anos 50 Drummond já insistia na necessidade de se colocar o tema ambiental em pauta na agenda nacional. Não esteve sozinho nesse pioneirismo. A ele se juntariam artistas tão diversos em seus estilos, mas unificados em um mesmo propósito, como Milton (“Milagre dos peixes”, 1973), Tom Jobim (“Urubu”, 1975; e “Passarim”, 1987) e Erasmo Carlos (“Projeto Salva Terra”, 1974; e “Panorama ecológico”, 1978). Falavam para eles próprios, vociferavam para ninguém. Ecologia e meio ambiente eram um desvio pequeno-burguês para parte da esquerda que havia optado pela luta armada e uma questão menor para a outra parcela da juventude que preferiu desbundar na porra-louquice daqueles tempos opressivos. Drummond resistiu. E nos ensinou, didática e poeticamente, o sentido daquela ideia meio exótica de se preservar o meio ambiente.

Descaso

Drummond é vítima do descaso em relação ao tema. Acompanhou de perto a degradação ambiental da cidade que o trouxe ao mundo. “Hoje minha terra vive a sorte da região espoliada, com os intestinos à vista, sob o pó de minério que suja os corpos e torna as almas sombrias”, escreveu sobre sua Itabira natal. Sua preocupação com a degradação ambiental não difere muito da preocupação com a degradação humana, a inconformidade com a desumanização da vida e a indignação contra as agressões à natureza. Através de poemas e crônicas se insurgia ante a prepotência e empáfia da espécie humana em considerar-se dona do am-

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MATA ATLÂNTICA Carlos Drummond de Andrade. Editora: Sete Letras. 65 páginas. Disponível em sebos virtuais. Quanto: de R$ 7 a R$ 55.

TRECHO MATA ATLÂNTICA Sem o lirismo das orquídeas, Sem o charme decorativo das samambaias, Nua de liquens e bromélias do litoral, A mata de Caratinga, protegida dos ventos, Espera de nós A proteção maior contra o machado, A serra mecânica, o fogo. De cada cem árvores antigas Restam cinco testemunhas acusando O inflexível carrasco secular. Restam cinco, não mais. Resta o fantasma Da orgulhosa floresta primitiva.

O poeta abordou diversas vezes o tema ambiental ao longo da sua carreira

Obra em questão Mata Atlântica Trata-se de um conjunto de poemas centrado na floresta tropical litorânea do Brasil. O livro, de edição limitadíssima, hoje é uma raridade e foi

editado em 1984 pela AC&M Editora, sob chancela do Banco Chase. A conclusão de seus poemas não é das mais otimistas: “Não, não haverá dia seguinte para os ecossistemas aniquilados”.

biente que a rodeia, como se os animais e a natureza existissem exclusivamente para servi-la. Essa leitura anti-antropocêntrica do mundo estaria compilada, por exemplo, na poderosa poesia “Águas e mágoas do Rio São Francisco”, em que trata da natureza diante da sede destrutiva humana. Dendrobata confesso, as árvores povoariam a prosa de Drummond desde seu livro de estreia, “Alguma Poesia” (1930). “Sou um velho jequitibá”, dizia, “um homem dissolvido na natureza”, declarou no poema “Tempo de ipê”. Em “Fala, amendoeira” (1957), coletânea de crônicas publicadas no jornal “Correio da Manhã”, seu manifesto em favor das árvores assume

tom liricamente panfletário e autrocrítico: “Só lamento não ter chegado antes a esse profundo respeito, a esse amor pela natureza. Esse ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza”. Ninguém mais que ele prestou tanta atenção às coisas da natureza e seus detratores. No poema “Adeus a Sete Quedas”, lamentava: “Sete fantasmas, sete crimes/dos vivos golpeando a vida/que nunca mais renascerá”. Quanto mais destruição seus olhos viam mais confiança na humanidade seu coração pulsava. “Eu tenho esperança no homem”, acreditava. No ano passado, aos quatro mil livros de sua biblioteca pessoal doados ao Instituto

Na mata de caratinga Tem paca, em capivara, Tem anta e mais jacutinga, Tem silêncio tem arara, E nas ramarias densas De suas copas imensas, Paira um segredo mineiro Que dura um século inteiro... Moreira Salles juntou-se uma caixa de papelão cuja anotação, em um dos lados, indicava o conteúdo: “A voz dos que não falam”. Trata-se de um jornaleco artesanal de oito páginas coeditado pelo poeta e a jornalista Lya Cavalcanti. Quem não soubesse o que Drummond era capaz de fazer por amor aos animais deve ter se espantado ao ver seu nome na direção do periódico modesto que circulou pela primeira vez em 4 de outubro de 1970, dia de São Francisco, não por acaso, Dia dos Animais. Não havia motivos para espanto. Dezesseis anos antes, Drummond, lindamente, já advertia que “amor não distingue, antes se propaga em círculos concêntricos; amar os animais é uma espécie de ensaio geral para nos amarmos uns aos outros”. Passados 110 anos de seu nascimento, é sempre bom que Drummond continue a frequentar livrarias e páginas de jornais, provocando interesse, reflexão e consciência ecolibertária, sobretudo para as novas gerações.


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A GAZETA VITÓRIA, SÁBADO, 2 DE JUNHO DE 2012

gramática por JOSÉ AUGUSTO CARVALHO

NOSSA LÍNGUA É PORTUGUESA O fato de não entendermos certas palavras usuais em Lisboa e desconhecidas no Rio de Janeiro (e vice-versa) não significa que estejamos diante de línguas diferentes, observa professor

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xistem na língua padrões reais e padrões ideais de linguagem. Padrão ideal é o que se espera que o falante diga numa situação de formalidade. Padrão real é o que o falante diz em situações informais ou em situações em que o falante recusa ou ignora a formalidade. O que se ensina na escola, nas aulas de português, são padrões ideais, basicamente num estilo refletido, isto é, num certo grau de formalismo em que o falante policia a linguagem, prestando atenção à própria fala. Quando alguém, com exagero, afirma que determinado orador “assassina” o português, o que ele está dizendo é que esse orador não aprendeu ou não respeita os padrões ideais de um registro adequado à situação de formalidade em que o discurso se realiza. Segundo alguns linguistas “moderninhos”, seria tão absurdo acusar alguém de não saber falar a sua própria língua materna quanto acusá-la de não saber “usar” corretamente a visão. Se esses linguistas fossem os pesquisadores que acreditam ser, saberiam que é possível aprender a ver. É uma visão educada que permite apreciar detalhes de uma tela de Renoir ou de Gauguin. É educando o ouvido que se aprende a distinguir os tons e semitons de uma escala musical. É aprendendo a respirar que se pode praticar um esporte adequadamente. Embora uma pessoa entre na escola respirando, ouvindo ou enxergando, não é exagero dizer que ela ainda não sabe respirar, ouvir ou enxergar adequadamente em certas situações. O mesmo ocorre com a língua. Entra-se na escola falando-se o português. Mas é aprendendo a falar a própria língua que um falante consegue mudar os registros linguísticos de acordo com a situação da fala. A língua não tem apenas uma função social. O sistema linguístico é uma rede de relações constitutiva de um estágio cronológico da língua, que se subdivide em outros sistemas. Dessa forma, existe um sistema de demonstrativos e um sistema de sons vocálicos, por exemplo. Até o final da Idade Média, o sistema dos demonstrativos era constituído por uma dúzia de pronomes, como esto, esso, aquelo, aqueste, aquesse, este, esse, aquele, isto, isso, aquilo. Alguns desses demonstrativos caíram em desuso. O sistema é outro, hoje,

desconhecerem alguns termos usados em Portugal e desconhecidos no Brasil (e vice-versa) que se pode considerar que a língua falada lá seja diferente da falada aqui, porque o dicionário não faz a língua. Se fizesse, o inglês seria língua latina (há maior número de palavras de origem latina do que de origem anglo-germânica utilizadas no inglês diário) e o romeno seria língua eslava (grande parte do vocabulário ativo do romeno, que é língua latina, é de origem eslava).

Vocabulário

porque se alterou a rede de relações entre os demonstrativos com a eliminação de alguns deles, mas a língua permanece a mesma. A norma é que restringiu o sistema. Norma é o que é usual, normal, habitual na fala de uma comunidade. A norma restringe o sistema e varia de acordo com a região, com o dialeto (cada dialeto tem suas normas linguísticas próprias). Assim, o sistema permite que o pretérito perfeito de “fazer” seja “fazi”, como o de “correr” é “corri”. Mas a norma exige que o pretérito perfeito de “fazer”

seja “fiz” e rejeita a forma “fazi”. O que caracteriza uma língua são os instrumentos gramaticais e não o léxico, isto é, é a gramática e não o dicionário o que caracteriza uma língua. A frase seguinte é legitimamente portuguesa, embora as palavras reais que a constituem sejam todas estrangeiras: “O office-boy flertou com a garçonete da pizzaria.” Essa frase é portuguesa porque seus instrumentos gramaticais são portugueses: o artigo, a preposição, a flexão verbal “-ou”, o sufixo “-aria”. Não é pelo fato de se

Alegam os linguistas que é necessário um dicionário português-brasileiro (como o de Eno Teodoro Wanke, o de Mauro Villar, ou o de Roldão Simas Filho) para se entender o português de Portugal. Está certo. Mas não é o vocabulário que caracteriza a língua. Duvido muito que um carioca do asfalto entenda o português de um morador da favela. E a língua é a mesma. Basta ler o livro “Desabrigo e outros trecos”, de Antônio Fraga (Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999), para ver o porquê do glossário brasileiro-brasileiro, nas páginas 55-63, quase no final do volume! O fato de não entendermos certas palavras usuais em Lisboa e desconhecidas no Rio de Janeiro (e vice-versa) não significa que estejamos diante de línguas diferentes. Afinal, também é possível dizer uma frase no português do Brasil sem que nenhum brasileiro de cultura média a entenda, como, por exemplo: “Pouco se me dá que claudique a onagra. O que me apraz é acicatar.” “Traduzida” para um registro mais informal, essa frase significa: “Pouco importa que a mula manque. O que eu quero é rosetar.” São línguas diferentes? Os linguistas que privilegiam a fala popular, em detrimento da norma culta, sob a alegação de que o português falado no Brasil é outra língua diferente do português falado em Portugal, confundem norma com sistema e adotam, como critério de definição de língua, apenas pronúncias regionais e o léxico, e não os instrumentos gramaticais, como se fossem diferentes no Brasil o feminino, o plural, a flexão verbal ou os demonstrativos que se ouvem em Portugal. Falta-lhes, a esses linguistas, um pouco mais de estudo e de reflexão sobre a língua...


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falando de música

Pensar

por JOSÉ ROBERTO SANTOS NEVES

PASSEIO PELO LADO SELVAGEM DA VIDA

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LIVE PERFORMANCES 1972 & 1974 Lou Reed. CD + DVD. Music Brokers. 52 minutos. Quanto: R$ 49,90

MICK ROCK/DIVULGAÇÃO

o livro “Mate-me por favor”, Larry “Legs” McNeil e Gilliam McCain desconstroem uma das lendas criadas em torno do punk: a de que o movimento teria surgido em 1977, em Londres, com a explosão dos Sex Pistols, a bordo da estética capitaneada pelo empresário Malcolm McLaren. É certo que o punk ganhou projeção internacional com os ingleses, até porque McLaren era um grande marketeiro e soube traduzir em roupas e atitude essa vertente de contestação à monarquia britânica e de culto à independência artística, a partir do lema “do it yourself ” (faça você mesmo). No entanto, os autores fazem uma viagem no tempo para mostrar que, na segunda metade dos anos 60 e início dos 70, os Estados Unidos eram palco de uma série de bandas que buscavam uma forma diferente de se tocar o rock, com especial atenção ao visual glam, à performance cênica e ao conteúdo das letras, que deixaram de ser simples coadjuvantes da melodia para ganhar vida própria. Um dos expoentes dessa cena foi o Velvet Underground, projeto experimental que tinha como cabeças pensantes o compositor Lou Reed, o baixista John Cale e o artista plástico Andy Warhol. O Velvet Underground lançou quatro discos, entre 1967 e 1973, o suficiente para inscrever seu nome como referência para a posteridade e firmar Lou Reed como o poeta das esquinas de Nova York.

portantes sobre o contexto da obra. Sabe-se apenas que a banda de Lou Reed era formada por Danny Weis (guitarra), Michael Fonfara (teclados), Prakash John (baixo) e Pentti “Whitey” Glan (bateria), e que o vocalista aparece doidaraço no palco, com maquiagem e trejeitos afeminados, afrontando a caretice geral com sua ode à androginia. Mesmo assim, é Lou Reed em cena, com suas melodias arredondadas, o vocal blasé, as guitarras faiscantes e as crônicas urbanas que casam perfeitamente com a forma como ele narra as letras, num misto de deboche e comiseração. E assim o ouvinte poderá se deliciar com “Satellite of Love”, “Sweet Jane”, “Vicious”, “Heroin”, “I’m Waiting for the Man” e “Walk on the Wild Side”, entre outras joias contidas nas bolachinhas. Com referências a travestis, sexo oral e aos atores do estúdio Factory, de Andy Warhol, “Walk on the Wild Side” gerou um documentário no qual David Byrne afirma se perguntar a cada vez que ouve as pessoas cantarolando o refrão: “Será que elas sabem do que fala a letra?

Musa dark

Sexo e drogas

Após travar uma guerra de egos com Warhol e os outros integrantes, o compositor deixou a banda em 1971. O início de sua carreira solo foi devastador, com o lançamento, no ano seguinte, dos álbuns “Lou Reed” e “Transformer”, este último considerado um dos maiores discos de rock de todos os tempos, graças ao rosário de canções melódicas e ao mergulho lírico em temas ligados ao submundo das metrópoles, tendo como personagens viciados, traficantes, prostitutas, travestis, sadomasoquistas, desocupados, imigrantes ilegais e perdedores de toda sorte. Sexo e drogas já haviam sido abordados antes em letras de rock, mas nunca de forma tão explícita e violenta. E a produção de David Bowie

Lou Reed na capa de “Transformer” (1972): crônicas sobre o submundo de Nova York

colaborou para conferir a “Transformer” uma sonoridade que resiste à ação do tempo. Falamos de Lou Reed neste espaço porque as canções do Velvet Underground e de sua fase solo constam no CD/DVD “Live Performances”, recém-lançado pelo selo Music Brokers,

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com gravações feitas entre 1972 e 1974, em Nova York, Paris e Bruxelas. Trata-se de registro para fãs, uma vez que o material tem qualidade sofrível, principalmente o DVD, com imagens precárias que depõem contra o artista. O áudio do CD também é muito ruim e o encarte omite dados im-

Apesar da precariedade do registro, o DVD traz como bônus uma versão ao vivo de “Heroin”, com Lou Reed, John Cale e a musa dark Nico, em Paris, datado de junho de 1972. Pode-se considerar esta uma reunião extemporânea do Velvet Underground, uma vez que Lou Reed já havia deslanchado sua carreira solo, e é curiosa a presença da modelo e atriz Nico, que nada faz na gravação (aliás, sua entrada na banda fora uma imposição de Andy Warhol, contra a vontade de Reed). Dificilmente se fará uma letra tão direta sobre overdose quanto “Heroin”: “Heroína, seja a minha morte/Heroína é minha esposa e minha vida/Porque um caminho na minha veia/Leva ao centro do meu cérebro/E então estarei melhor e morto”. Se não restam dúvidas de que Bob Dylan alçou as letras de rock ao status de arte, é justo considerar Lou Reed um de seus mais habilidosos seguidores na tarefa de unir cultura jovem e literatura, descortinando um (sub)mundo que até hoje a sociedade ocidental insiste em ignorar. Quarenta anos depois de “Transformer”, as hipocrisias continuam por aí, e Lou Reed - felizmente - também.


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Pensar

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dramaturgia

Pensar

por FERNANDA MAIA LYRIO

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Autor deixou para o mundo suas personagens chocantes, violentas, cruéis, obsessivas, trágicas, além de uma produção intensa: foram, ao todo, 17 peças teatrais, nove romances, contos e crônicas

NELSON RODRIGUES EM TRÊS ATOS

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NO CENTENÁRIO DO ESCRITOR, ESPECIALISTA DESCREVE POR QUE SUA OBRA TRADUZ A ATMOSFERA EMOCIONAL DO PAÍS DIVULGAÇÃO

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ervertido, tarado, imoral, amoral, incestuoso, pornográfico, obsessivo, obsceno, reacionário, genial – todos esses adjetivos já foram utilizados para caracterizar um único homem: Nelson Rodrigues. Um único homem? Difícil falar que Nelson Rodrigues fora apenas um. Multifacetado, o maior dramaturgo brasileiro de todos os tempos teve uma vida dura, uma carreira profícua e uma escrita fecunda. Acostumou-se, desde muito pequeno, às críticas, aos elogios, à indiferença, às vaias, à dor, à vida e, principalmente, à morte – uma das suas assumidas obsessões. Foi jornalista, cronista, romancista e tradutor. No ano em que se comemora o centenário de nascimento do autor da peça “Vestido de Noiva”, o Caderno Pensar homenageia, em três atos, a vida e a obra daquele que se propôs a enxergar, pelo “buraco da fechadura”, as cenas do cotidiano do homem brasileiro moderno.

Primeiro ato

- O mundo, um péssimo anfitrião [Silêncio. Luz no plano da me-

Cláudia Raia na minissérie “Engraçadinha... seus amores e seus pecados”

mória] “Meu nome é Nelson Falcão Rodrigues. Nasci em Pernambuco, a 23 de agosto de 1912, e permaneci em Recife até os cinco anos. Depois vim para o Rio de Janeiro, para onde trouxe as minhas primeiras sensações da boca e do nariz: o gosto de pitanga e do caju e o cheiro do cavalo, de estábulo. Mesmo considerando o mundo um péssimo anfitrião e a viagem a mais burra das experiências humanas, voltei a Pernambuco, na mocidade, retornando à infância e às suas profundas sensações.” Não, este não é um depoimento comum de quem se dispõe a fazer uma apresentação de si mesmo. Até poderia ser, se não fossem o sarcasmo, a ironia e o mau humor tão habituais e comumente associados ao homem que revolucionou a literatura e a dramaturgia brasileiras: Nelson Falcão Rodrigues. Quinto filho, de um total de irmãos que chegaria a 14, Nelson ingressou na carreira jornalística com apenas 13 anos de idade como repórter policial do periódico “A Manhã”, jornal que pertencia a seu pai, Mário Rodrigues. Nas idas e vindas da reportagem policial, Nelson Rodrigues passou a ter o que ele mesmo chamou de “intimidade com a morte”, vendo, pela primeira vez na sua vida, um cadáver e convivendo

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com imagens de dor, violência, crimes e mortes – imagens que fariam parte de sua biografia e de sua obra por longos períodos. A oportunidade de trabalhar no jornal do pai contribuiu para que o jovem permanecesse cada vez mais encantado com a escrita – encantamento este que começou na infância, quando ele ganhou um concurso de redação da escola. O tema da redação? Segundo o próprio Nelson Rodrigues, um adultério, em que o marido mata a mulher a punhaladas. Foi, sem dúvida, a primeira “A vida como ela é” do autor. O tempo de experiência no jornal “A Manhã” não marcou somente o aprimoramento de sua escrita, mas também influenciou a sua já aflorada capacidade imaginativa. Isso porque Nelson Rodrigues não conseguia ser totalmente fiel ao texto jornalístico e, em meio a uma notícia e outra, mentia descaradamente ao acrescentar fatos aos relatos narrados pelos envolvidos nas histórias reais, recheando de dramaticidade os depoimentos das vítimas e dos entrevistados das reportagens que fazia. E assim, o mundo, esse “péssimo anfitrião”, tratava de alimentar de tragédias reais e ficcionais a vida profissional do jovem jornalista (leitor ávido de grandes clássicos da literatura brasileira e da literatura mundial). Desse mesmo modo, a vida do autor de “Vestido de Noiva” (1943) não passaria incólume face à má receptividade desse “mundo-anfitrião” e também sucumbiria a catastróficas sequências de tragédias pessoais e familiares. Em “O Anjo Pornográfico — A Vida de Nelson Rodrigues” (Companhia das Letras, 457 páginas), o jornalista e escritor Ruy Castro relata com precisão a tragédia que foi a vida do dramaturgo pernambucano, negociando com o leitor o tom de romance que adquire a biografia de Nelson: “É quase inacreditável que o que se vai ler aconteceu de verdade no espaço de uma única vida”. Ruy Castro tinha razão. As experiências de Nelson com a dor e com a morte foram extremas: em 1929, ele viu o irmão, Roberto Rodrigues, ser assassinado por engano, na redação de “A Crítica” – jornal que também pertencia a seu pai. No ano seguinte, 1930, faleceu, aos 44 anos, o patriarca da família Rodrigues, o senhor Mário Rodrigues. A Revolução de 1930 levou, por questões políticas, uma multidão a depredar a redação do jornal de Mário Rodrigues – o que deixou Nelson e os irmãos na mais extrema miséria (os Rodrigues chegaram a ficar dias sem comer). Cinco anos depois, ele e o irmão, Jofre Rodrigues, foram internados em um sanatório, em Campos do Jordão, para tratamento da tuberculose. Jofre não resistiu e Nelson voltou para o Rio de Janeiro, onde assumiu a responsabilidade de sustentar a si mesmo e a própria família, trabalhando no jornal “O Globo”, em 1932, com um só terno, uma só camisa e de

Nelson Rodrigues desvendou o cotidiano do brasileiro com escrita dramática

sapatos sem meias, pois não tinha dinheiro para comprá-las. Isso tudo sem mencionarmos em detalhes as separações, os relacionamentos interpessoais problemáticos que o escritor mantinha com alguns colegas de trabalho e com determinados críticos literários, a tragédia ocorrida em 1967, quando Paulo Rodrigues (outro irmão de Nelson) e a família morreram soterrados, após o desabamento do prédio em que moravam – uma dor para Nelson, que, em 1969, ainda teve de enfrentar a prisão do filho, Nelson Rodrigues Filho, enquadrado na Lei de Segurança Nacional, sendo condenado a 50 anos de prisão, mas libertado em 1979, ainda em tempo de receber as visitas do pai, que, já bastante debilitado, veio a falecer em 21 de dezembro de 1980. De herança, Nelson Rodrigues deixou para o mundo (esse péssimo anfitrião!) as suas personagens chocantes, violentas, cruéis, obsessivas, histéricas, genuinamente trágicas, além de uma produção intensa, invejável: foram, ao todo, 17 peças tea-

trais, nove romances, alguns contos, incontáveis (e memoráveis!) crônicas.

Segundo ato

Um vestido, uma noiva e a lua de mel com teatro nacional [Apaga-se o plano da memória. Luz no plano da alucinação. Som da “Marcha Nupcial”] A figura de Nelson Rodrigues, de certa forma, tornou-se popularizada pelas suas inúmeras frases de efeito, pelas suas crônicas, pelas suas opiniões futebolísticas e, principalmente, pelas releituras de suas obras – exibidas, muitas vezes, em horário nobre e aclamadas com elevados índices de audiência. São inesquecíveis, por exemplo, as cenas da minissérie “Engraçadinha... seus amores e seus pecados” (subtítulo de “Asfalto Selvagem”), exibida pela TV Globo em 1995, cuja personagem principal fez sucesso com as performances das atrizes Alessandra Negrini (na primeira fase da trama) e Cláudia Raia (na

segunda fase). As releituras de “A vida como ela é”, feitas na década de 1990, também pela Rede Globo, contribuíram para que Nelson Rodrigues ganhasse, no imaginário popular, a fama de “violento”, “tarado” e “pornográfico”. Todavia, as faces de Nelson são múltiplas e a relação que o escritor passou a desenvolver com o teatro mudou por completo os rumos da dramaturgia brasileira. A primeira peça, intitulada “A Mulher Sem Pecado”, foi escrita em 1941, quando o teatrólogo brasileiro estava em situação econômica precária e havia descoberto que escrever chanchadas dava muito dinheiro. Mas, logo na segunda página, o humor (tão recorrente nas salas teatrais das décadas de 1920 e 1930) foi deixado de lado por Nelson, que, ironicamente, transformou o que seria uma chanchada em um drama dividido em três atos. A peça não prosperou. Os palcos nacionais gritavam por algo mais impactante, afinal, as parcas encenações apresentadas no Brasil eram comédias, melodramas, vaudevilles e releituras de peças estrangeiras, sobretudo europeias. Mesmo com o insucesso de sua primeira obra, Nelson começou a tomar gosto pela escrita dramática. Nosso teatro nunca mais seria o mesmo! Quatro anos depois, inicia a sua segunda obra teatral. Um vestido, uma noiva e duas irmãs disputando um mesmo amor – a história é simples, se não fosse a genialidade de nosso dramaturgo maior. Falamos de “Vestido de Noiva”, tragédia escrita e encenada em 1945, que revolucionou o teatro brasileiro, sendo considerada por críticos, literatos e historiadores, a peça-marco do modernismo na dramaturgia nacional. Naquele mesmo ano, Nelson foi aclamado por público e crítica. Sua proposta inovadora fragmentava a habitual linearidade do texto dramático e dividia o espaço cênico em três planos: o da realidade, o da alucinação e o da memória. Somando-se a isso, as didascálias do texto apontavam para o uso de técnicas do cinema (flashbacks), da rádio (sons, ruídos, músicas) – tudo com uma linguagem que, vez por outra, se aproxima da linguagem jornalística: os diálogos são curtos, envolventes, objetivos e coloquiais. O grupo amador Os Comediantes, dirigido pelo polonês refugiado da Segunda Grande Guerra, Zbignew Ziembinski, consagrou a estreia da peça, em 28 de dezembro de 1945, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com uma montagem nunca vista antes em nossos palcos: o elenco abandonou as convenções do palco tradicional e se entregou de corpo e alma ao texto, aos planos e às técnicas de iluminação trazidas pelo polonês (muitos refletores em cena garantiriam cerca de 150 efeitos luminosos para o palco). Um verdadeiro espetáculo! Foi a lua de mel que Nelson estabeleceu com o quase falido teatro brasileiro.


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+ artigo de capa por FERNANDA MAIA LYRIO

O DESAGRADÁVEL VAI À BOCA DE CENA No terceiro ato de seu ensaio, autora destaca que Nelson Rodrigues dessacralizou os impulsos do inconsciente humano ao abordar temas considerados “imorais” pela sociedade brasileira

A

denominação “teatro desagradável” foi uma opção de Nelson Rodrigues para definir a sua estética teatral. Segundo o próprio dramaturgo, as tragédias escritas após “Vestido de Noiva” eram obras “pestilentas, fétidas, capazes, por si só, de produzir o tifo e a malária da plateia”. Os efeitos de declarações desse porte ecoaram a todo instante na fortuna crítica teatral de Nelson, especialmente nos ensaios, artigos e textos destinados à análise das peças do autor, que, muito irreverente, já se tornava um “personagem de si mesmo”. Porém, como dramaturgo, Nelson buscou dessacralizar a fundo os impulsos do inconsciente humano, horrorizando a todos, leitores e espectadores, com temáticas como incestos, crimes, suicídios, mutilações, lesbianismo, homossexualidade – temas considerados polêmicos ou “imorais” aos olhos de boa parte da sociedade brasileira, moralista e cristã. E o senhor Rodrigues, aos poucos, colocava nos palcos nacionais tipos que representavam grã-finos corruptos; tias velhas, feias e infelizes; jornalistas manipuladores e sórdidos; policiais violentos, sádicos, prostitutas interesseiras; solteironas desesperadas, banqueiros ávidos pelo enriquecimento ilícito, enfim, personagens que, em suas tragédias, estão sempre desnudas (mesmo quando muito bem vestidas), mostrando-se a todo e quaisquer momentos, avessas às normatividades e aos padrões, quase em seus estados primitivos. Marcadas pelo trágico, tanto em sua poética, em sua filosofia, quanto em sua estruturação e em sua estética, as peças rodriguianas ganharam uma unidade formal com as inovações – ora sutis ora não – de elementos modernos e diferenciados que caracterizam o seu ideário, ou ainda, a sua visão irônica do “desagradável”. Como teatrólogo, os “Nelsons” incomodaram e, ambiguamente, tomaram uma forma única, inigualável, ou, nas palavras do diretor teatral de “Senhora dos Afogados” (peça de 1947), Aderbal Freire-Filho: “Nelson só é único porque é muitos”. Para o pai da dramaturgia brasileira moderna, tudo era teatro. Ele provavelmente (e muito ironicamente!) terminaria este texto que comemora o seu centenário de nascimento com os seguintes dizeres: FIM DO TERCEIRO E ÚLTIMO ATO!

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O dramaturgo ao lado da atriz Fernanda Montenegro, que atuou em sua peça “O Beijo no Asfalto”; abaixo, Darlene Glória no filme “Toda nudez será castigada”

LIÇÕES RODRIGUEANAS “O engano milenar do teatro é que fez do palco um espaço exclusivo de atores e atrizes. Por que nós, os não-atores, as não-atrizes, não teremos também o direito de representar? Que fazemos nós, desde que nascemos, senão autêntico, válido, incoercível teatro?”

“Eis o que queria dizer: o verdadeiro teatro agride sempre. Agredidos o autor, o diretor, os intérpretes, os personagens e os espectadores. Qualquer peça autêntica e qualquer uma é um julgamento brutal. Mas um julgamento que não absolve nunca, que só condena. Quando escrevo as minhas peças, eu condeno todo mundo e a mim próprio.”


poesias FANTASIA O. J. CASTRO Quem sabe se é real ou se é miragem O vulto que me vem a toda hora Só sei que crio sempre a tua imagem Já que meu pensamento te decora. O beijo esquecido de roubar Um pouco do calor da tua mão O brilho de malícia em teu olhar E o gesto de carinho, todos são Detalhes entrevistos do teu ser Que junto ao meu amor foram fazer Resumo do mais lindo que eu suponho És ternura, paixão e poesia E, retrato da perfeita fantasia, Corres nua nas praias do meu sonho.

DE AMOR E SAUDADE

crônicas PERTO DA MANHÃ QUE SURGE por CAÊ GUIMARÃES

Ruas vazias. A madrugada inteira cabia no peito e no banco do carro. Pessoas em casa. Comércio, bancos e bares fechados. Desolação. Secularmente corrompido, o caldo das ruas é o registro da memória dos dejetos e paixões da cidade. Nas gavetas da minha memória, chaves que não abrem. Curvas moles e gastas. Parece que me persigo há muito tempo. E a cada segundo estou prestes a me alcançar. O sol aparece atrás do porto. Para além do porto, o mar se precipita. Boia indefesa e inescrupulosa a ilha. O futuro é a pró-

xima curva. Com o pedal do acelerador na boca. Mais uma vez penso ter morrido. Há dez dias, um ano ou quinze. Mais uma vez recuso a oferta, apesar de ter morrido todas essas vezes. Minha mente criou uma realidade paralela, onde sempre logrei escapar do fim. Em todos eles sequei o mesmo corte. Fui covarde e corajoso. Ao contrário de todos os fantasmas, a assombrar a realidade, preferi criar uma realidade que me assombrasse.

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O ronco do carro perto da minha tosse. Rodo sem parar pela cidade. Sinto que poderia, num estrondo, romper o lacre, encontrar a verdade despida e fria da sorte que não acolhi em meus braços. Passo a marcha errada. Engasgado, o motor me ratifica. Respiro no imóvel. Minha face surge de relance no retrovisor. Com a mão direita abro o recipiente e espalho gasolina nos bancos do carro. Depois da curva. Antes da chuva. As janelas dos edifícios apontam acusatoriamente. No banco do carona minha sombra sorri. Estamos bentos, quites. Empapados pelos raios de sol, damos juntos uma sonora gargalhada. Não é tão difícil riscar o fósforo com uma das mãos no volante. Daqui a pouco, parece que vai ser o fim.

PORÕES E SALÕES

por FRANCISCO CELSO CALMON

É de amor e saudade que te falo Em versos que não sabes nem verás Pois, por medo ou por hoje, eu me calo Me lembro de momentos bem pra trás De um tempo de menina que ainda és Onde, por louco e lindo, eu te amei E de segredos construímos nosso mundo Ninguém jamais terá o que eu só sei O amor, distante em corpo, enorme ainda, Acende ao longe tua imagem e paixão E tatuado nunca mais se finda A saudade, presente sempre e machucada, Relembra perto que te foste com razão E, de esperança, adormece embriagada.

AMANHECE Amanhece o verso de quem só pressente Que a noite imensa já se fez manhã E que não dá mais pra ficar ausente Sem explodir em emoção e afã A liberdade que, por tanto medo, Andou contida e quase morreu A poesia que, por só segredo, Perdeu motivo que era todo seu Amanhece a vida, o amor, a arte, Amanhece, alça voo e parte Rasgando a mão, o peito e o pensamento Deixando escrito o que ficou pra trás O que acontece e, por ser capaz, O que virá num próximo momento.

Era antevéspera e já passava das 22 horas quando leio o e-mail, de 21:08h, em nome da presidenta Dilma, convidando-me para a cerimônia da instalação da Comissão da Verdade, dia 16 de maio, às 11h, com a recomendação de chegar 15 minutos antes. Entre eufórico e surpreso, pois não tinha tal expectativa, verifico se tenho “milhas”. No outro dia, mais um convite, desta vez em nome da ministra de Direitos Humanos; o diferente é que a antecedência solicitada era de uma hora. Arranjei companhia para a viagem, pois conversando diminuiria a expectativa. Ela dormiu. Antes de seguir para o Palácio do Planalto, passei no Senado e, de lá, peguei uma carona para a cerimônia. Fui direto ao salão nobre e lá fui informado que deveria ir ao térreo para cadastramento. Comecei a entender a diferença de antecedência entre os dois convites.

No salão nobre ficamos nós, ex-prisioneiros, no reservado da Presidência, e, por coincidência, os militares ficaram à nossa direita. Abraços, beijos, confabulações, fotos, dos que se reencontravam. Busquei entre rostos envelhecidos alguém que desejava encontrar, o ex-marido da Dilma, companheiro com o qual pretendo obter algumas informações para concluir o meu livro de memórias. A entrada de todos os presidentes vivos - Dilma citou Tancredo Neves e Itamar Franco como os falecidos - foi um retrato do marco civilizatório que o Brasil vem alcançando. Com todos sentados, antes de a presidenta fazer o seu pronunciamento, ao passar os olhos pelos presentes, ela reconheceu-me, e levando as mãos unidas à altura dos ombros cumprimentou-me com o gesto da vitória. Nesse átimo de segundo meus olhos umedeceram e lembrei dos que se foram e dos que, embora vivos, não estão bem, e

apenas retribuí com um sorriso, meio que paralisado pela emoção. Emoção maior estava reservada ao seu pronunciamento. Ao lembrar dos mortos e desaparecidos insepultos sua voz embargou, os olhos marejaram, seu coração solidário falou mais alto. Ao final, quando mídia e convidados cercaram os presidentes, fui incentivado pelo deputado Diogo Adriano, de São Paulo, a ir até ela. Como havia levado a camisa do Fórum Memória e Verdade para presenteá-la, fomos juntos, chegamos quando ela se retirava e os seguranças abriam caminho, fazendo um corredor para ela passar, e aí levei um “chega pra lá” dos truculentos. O deputado reclamou, e ela, companheira Vanda, atual presidenta, com olhar severo mostrou a sua contrariedade aos seguranças. Nada que tivesse abalado o nosso júbilo pelo momento histórico, mas teria sido irônico, senão trágico, se depois da tortura nos porões da ditadura, recebesse uma agressão nos salões da democracia.


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medicina

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por RENAN BARROS DOMINGUES e SIMONE AIRES DOMINGUES

A GAZETA VITÓRIA, SÁBADO, 2 DE JUNHO DE 2012

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A NEUROCIÊNCIA DO COTIDIANO E AS ILUSÕES DA EVOLUÇÃO CEREBRAL Médicos identificam maior interesse das artes sobre o funcionamento do sistema nervoso, mas criticam filão de mercado que relaciona o uso do cérebro com o sucesso e a felicidade

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s antigos egípcios acreditavam que o coração fosse o centro da vida mental. Coube aos gregos, por volta do século V a.C., as primeiras hipóteses sobre a vida mental (pensamentos, sentimentos e conhecimento) e o cérebro. A partir de então, inúmeros cientistas vêm conseguindo correlacionar nossas atividades mentais com o funcionamento cerebral. Novas tecnologias têm permitido aprofundar o estudo das relações entre o cérebro e o comportamento, usando técnicas de neuroimagem funcional associadas à neuropsicologia, permitindo conhecer melhor funções como a memória, a percepção, funções executivas, entre outras. Mas o que é neurociência? Numa busca rápida sobre o termo identifica-se que esta se refere ao estudo científico do sistema nervoso (nervoso aqui não é adjetivo). Constituindo um trabalho interdisciplinar, inclui diferentes matizes que abordam aspectos moleculares, desenvolvimento, estrutura, função e doenças do sistema nervoso. Sendo tão ampla, a neurociência se desdobra em inúmeras disciplinas, desde as básicas, como, por exemplo, neuroanatomia e neurofisiologia, e clínicas, como a neurologia, a psiquiatria e a neuropsicologia. O número de pesquisas e pesquisadores em neurociência cresceu vertiginosamente nos últimos anos e, é claro, isso trouxe significativos avanços nos conhecimentos sobre o funcionamento normal e anormal do cérebro, com impactos positivos na prevenção, diagnóstico e tratamento de muitas doenças. O Brasil não tem ficado de fora desta evolução. Temos hoje pesquisadores, centros de pesquisa e pós-graduação e sociedades científicas de renome internacional. É, portanto, mais do que previsível que a neurociência tenha passado a fazer parte do universo de interesse das pessoas. Afinal de contas, se é no cérebro que estão armazenadas nossos conhecimentos e emoções, como não se interessar por ele? Vemos este interesse nas artes e em livros direcionados ao público em geral. Um bom exemplo é o livro “O homem que

confundiu sua mulher com um chapéu”, em que o neurologista Oliver Sacks retrata o drama de um professor universitário que sofre de um transtorno da percepção e perde a capacidade de identificar objetos através da visão, apesar de boa acuidade visual e, entre outras coisas, confunde sua mulher com o chapéu. Inúmeros filmes buscam retratar a realidade de pessoas com autismo, doença de Parkinson, doença de Alzheimer, entre outras. Por que aprendemos? Por que amamos? Por que esquecemos? Por que nosso cérebro adoece? Temos aprendido ao longo das últimas décadas que as respostas para estas perguntas simples são altamente complexas. O cérebro é altamente complexo. Temos algumas explicações, mas ainda temos mais perguntas do que respostas. Em relação à neurociência (e em relação à quase tudo) não vivemos ainda no paraíso futurista em que tudo conhecemos e sobre tudo temos controle. Consequência? Como vivemos no mundo das pessoas que preferem a certeza à incerteza, brotam hoje inúmeras propostas (melhor seria chamar de produtos comerciais) que, falsamente amparados na neurociência, preenchem o vazio das dúvidas com explicações ridiculamente simples.

Autoajuda

Neste espectro da autoajuda pseudoneurocientífica há desde as propostas “light”, como os joguinhos infantilizados que dizem “proteger” e “melhorar” a memória, até as mais ousadas promessas de uma nova existência, em que os seguidores fiéis aprendem, por exemplo, a colocar em atividade (com a ajuda de um “consultor” ou um “palestrante”, de formação acadêmica sempre bem pouco convencional, quando há alguma) os 90% do cérebro que o resto da humanidade deixa adormecido (só estes gurus conhecem estes segredos). É óbvio que a estimulação cognitiva é positiva (os neurocientistas sérios também recomendam atividades mentais), mas será que procurar palavrinhas e joaninhas é melhor do que ler Machado de Assis, estudar alemão ou aprender a tocar oboé? Ninguém identificou empiricamente qual a melhor

A neurociência não vai nos ajudar a ganhar mais dinheiro, conquistar pessoas, ser mais bacana e ter mais poder” —

Renan Domingues e Simone Domingues Médicos

atividade cognitiva, mas muitos pesquisadores sérios têm proposto que seria talvez a leitura (certamente não qualquer leitura). Ocorre que as promessas de autoajuda pseudoneurocientífica, sem qualquer tipo de fundamento empírico, têm facilidade em encontrar adeptos, que se deixam levar por ilusões de maior desenvolvimento cerebral, melhorar a inteligência, prevenir e curar doenças sem fazer esforço. Afinal de contas, os profissionais convencionais (sérios, eu diria) são chatos, mandam fazer exercícios, não beber muito, não comer doces e outras coisas do tipo. Proliferam nesta seara pseudoalternativa os livros-revelação: use seu cérebro para ter mais sucesso, ganhar mais dinheiro, ter mais poder, ser mais bacana, saber o que os outros pensam, aprender até enquanto se dorme, enfim, mil maravilhas. É de se estranhar que não tenha surgido ainda alguma teoria pseudoneurocientífica com uma proposta para resolver o problema da dengue, do trânsito ou do aeroporto de Vitória.

Machado de Assis

Paralelamente, os usuários deste tipo de proposta frequentemente manifestam suas contradições: querem viver longos anos, mas parecer eternamente jovens; não têm tempo para nada, comem “fast-food”, mas querem ficar saudáveis; ficam horas a fio trabalhando para ganhar mais dinheiro do que conseguem gastar; querem privacidade, mas querem saber da vida de todo mundo, até daqueles que não sabem quem são, mas que apresentam suas vidas expostas na televisão e revistas. Será que é preciso que fiquemos mais inteligentes para acompanhar os “reality shows” e ler revistas de “celebridades”? Quanto, de fato, evoluímos em relação aos cidadãos que, no século XIX, abriam o jornal para ler uma crônica do Machado de Assis? Estas são perguntas difíceis. A neurociência dos cientistas chatos se preocupa com perguntas fáceis: Por que aprendemos? Por que amamos? Por que esquecemos? Por que nosso cérebro adoece? As perguntas difíceis do parágrafo acima dizem respeito às nossas escolhas, e têm muito mais a ver com a

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No livro “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu”, o neurologista Oliver Sacks retrata o drama de um professor que sofre de um transtorno da percepção

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filosofia do que com a neurociência (em que pese que estas duas vêm dialogando intensamente nas últimas décadas). Para as perguntas difíceis da vida nós podemos e temos o direito de encontrar respostas fáceis ou difíceis, afinal, são nossas escolhas. Por que comer “fastfood”? É nossa escolha. Por que querer saber da vida das celebridades? É nossa escolha. Por que ler Machado de Assis? É

nossa escolha. Mas, para as perguntas simples da neurociência não há respostas simples. Somente com muito suor, investimento em pesquisa e pessoas inteligentes dedicando-se ao assunto é que chegaremos a algumas respostas. E devagar, muito devagar.... Não adianta alimentarmos ilusões simplificadoras. A neurociência não vai nos ajudar a ganhar mais dinheiro, conquistar

pessoas, ser mais bacana e ter mais poder (aliás, muita gente com estas qualidades nunca precisou saber sequer onde fica o cérebro). O grande dilema, acreditamos, é que os gurus da autoajuda pseudoneurocientífica tentam fazer parecer que é tão fácil entender um chapéu quanto uma mulher. Talvez porque eles mesmos sofram de uma limitação parecida à do personagem de Oliver Sacks.

O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu - E outras Histórias Clínicas Oliver Sacks. Companhia das Letras. 1997. 272 páginas. Quanto: R$ 59,50


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artes plásticas por MARIA D'ERMOGGINE

FERNAND LÉGER: FORMA E COR EM MOVIMENTO Pintor construiu obra atemporal e sensível à beleza da simplicidade, aponta curadora da mostra “Mestres Franceses”, aberta à visitação até 10 de junho, no Palácio Anchieta

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As gravuras da série “Le Cirque”, em destaque na exposição, retratam o fascínio do artista pelo circo

F

[ PSICODÉLICO PACTO

§ỬÒR SΔḺ Tony Zax opsipacsur@hotmail.com

ernand Léger (Argentan, 07 de fevereiro de 1881 Gifsur-Yvette, 17 de agosto de 1955) nasceu em uma família rica. Tradicionalmente, ele teria que seguir o negócio de seus parentes, mas com a morte de seu pai, quando ele tinha apenas 3 anos, sua mãe decidiu mudar-se para Argentan. Léger não gostava muito de estudar, preferia desenhar, e uma vez impossibilitado de seguir o caminho dos cursos de pintura, devido ao desgosto da família, decidiu cursar arquitetura na Universidade de Caen, na Baixa Normandia. Os estudos continuaram em Paris, até que ele ingressou integralmente para a “Decoratifs Ecole des Arts” e dedicou-se à sua verdadeira paixão: a pintura. Inicialmente destinou-se ao impressionismo, mas, logo depois, ficou fascinado pela busca geométrica de Cézanne e dos fauvistas, e assim foi tocado pela influência do cubismo e de outras artes vanguardistas. As influências recebidas neste primeiro momento, em Paris, tornaram-se referências

de uma busca pessoal para Léger. Ele queria ser capaz de comunicar sua arte para todos e não apenas para uma elite de poucos conhecedores. Léger fez uma arte simples e elementar, que fala de dinamismo e valor das formas, com uma coloração básica e traços negros marcantes. A arte de Léger pode ser atribuída a uma ou mais correntes artísticas, uma vez que ele desenvolveu seu próprio estilo que o tornou reconhecido, apelidado por alguns de “tubismo”: uma variação do cubismo com base na utilização de linhas simples, curvas suaves e um pouco arredondadas. Da mesma forma que seus contemporâneos, Léger lidou com diferentes técnicas artísticas, como mosaico, tapeçaria, escultura, cerâmica, ilustração e direção de arte. Suas obras retrataram diversos temas, tais como máquinas e nus femininos, o mundo vegetal e do país. Depois, até o final dos anos 40, dedicou-se especialmente ao circo e aos ciclistas. Léger pintou o circo com formas que se tornaram quase arquetípicas, com

cores primárias e brilho intenso. Em sua pesquisa, Fernand Léger fez visitas regulares ao Circo Medrano. Retratou palhaços, corpos de elementos geométricos, objetos simbólicos, acrobatas, malabaristas obstinados e todos que, bem como ele, se aventuraram em um mundo de perfeição. Para ele, “todo o subjacente é um passo em direção à perfeição como a do círculo, a forma redonda que muitos artistas precisam explicar para o nosso mundo”. O circo é um círculo, é um espetáculo que envolve o total e que domina velocidade, força, ação, geometria e harmonia. ”Vá para o circo. Deixe seus retângulos, suas janelas geométricas e vá para a terra de círculos em ação, descobrir a magia do circo ação. Não há nada mais em volta do circo”, dizia. Na exposição “Mestres Franceses”, que enfeita as paredes do Palácio Anchieta até o dia 10 de junho, é possível ver as 50 gravuras – consideradas obras-primas – deste artista sensível à beleza da simplicidade e atemporal.


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