ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
NÚMERO ATUAL - V. 2, N. 1 2015 SÃO LUIS – MARANHÃO – JANEIRO A MARÇO
presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA Leopoldo Gil Dulcio Vaz Presidente Ana Luiza Almeida Ferro André Gonzalez Cruz COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Dilercy Aragão Adler Presidente Aldy Mello de Araújo Antonio José Noberto da Silva Sanatiel de Jesus Pereira CONSELHO EDITORIAL Sanatiel de Jesus Pereira Presidente Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659 Ou Centro de Criatividade Odylo Costa, filho Sala de Multimeios Praça do Projeto Reviver
EXPEDIENTE ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrando-se as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com NOSSA CAPA: Escudo da ALL
Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322
NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_
V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18
V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981
V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março)
Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33 DIRETORIA PRESIDENTE VICE PRESIDENTE SECRETARIO GERAL 1º SECRETARIO 2º SECRETARIO 1º TESOUREIRO 2º TESOUREIRO
ROQUE PIRES MACATRÃO DILERCY ARAGÃO ADLER LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ÁLVARO URUBATAN MELO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO CLORES HOLANDA SILVA CONSELHO FISCAL
MEMBRO MEMBRO MEMBRO
ALDY MELLO DE ARAUJO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES CONSELHO DOS DECANOS
DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO
ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938 CONSELHO EDITORIAL
SANATIEL DE JESUS PEREIRA PRESIDENTE ALDY MELLO DE ARAÚJO DILERCY ARAGÃO ADLER
O
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EXPEDIENTE SUMÁRIO APRESENTAÇÃO Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Editor)
11 20
CALENDÁRIO 2015 - EFEMÉRIDES DILERCY ADLER CLAUDE D'ABBEVILLE WILSON PIRES FERRO UM SONHO SONHADO CERES COSTA FERNANDES LEMBRANDO MÁRIO MEIRELES FERNANDO BRAGA ODORICO MENDES, O HERÓI DA ENEIDA FERNANDO BRAGA GRAÇA ARANHA E A ESTÉTICA MODERNA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES – FUNDADOR DA CADEIRA 27 ESCRITOR JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES LANÇA HOJE DOIS LIVROS EM SÃO LUIS JOSÉ DE RIBAMAR CARNEIRO SOBRINHO APRESENTAÇÃO DE JOSÉ FERNANDES POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO DE SEUS LIVROS –FIEMA – 07 DE FEVEREIRO DE 2015 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ BANDEIRA TRIBUZI - PATRONO da CADEIRA 39 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO E DUNSHEE DE ABRANCHES - VIDA E MORTE... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS - PATRONO da CADEIRA 40 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA- PATRONO DA CADEIRA 33 MANOEL DOS SANTOS NETO SEIS ANOS SEM O GENIAL NASCIMENTO MORAIS FILHO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO CENTENÁRIO DE MÁRIO MEIRELES
PROJETOS COMISSÃO DO CENTENÁRIO DE MÁRIO MEIRELES – PROGRAMAÇÃO (PROPOSTA) COMEMORAÇÕES DO DIA INTERNACIONAL DA POESIA / ALL – LICEO DE BENEDORM 14 DE MARÇO DE 2014 / ODYLO COSTA, FILHO – REGISTRO FOTOGRÁFICO Por DILERCY ARAGÃO ADLER MENÇÃO HONROSA DO PRÊMIO PEDRO CALMON PARA ANALUIZA ALMEIDA FERRO PROJETO FILME 1612 - A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS PELOS FRANCESES, Por ANA MARIA FELIX GARJAN
DISCURSO DE POSSE & ELOGIO AO PATRONO POSSE DE CERES COSTA FERNANDES – 03/02/2015 ÁLVARO URUBATAN MELO APRESENTAÇÃO DE CERES COSTA FERNANDES CERES COSTA FERNANDES ELOGIO À PATRONA DA CADEIRA 34, LUCY DE JESUS TEIXEIRA – DISCURSO DE POSSE POSSE DE PAULO MELO SOUSA – 12/02/2015 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ APRESENTANDO PAULO MELO SOUSA
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ANTONIO NOBERTO DISCURSO DO MEMBRO-FUNDADOR ANTONIO NOBERTO EM APRESENTAÇÃO AO TAMBÉM MEMBROFUNDADOR DA CADEIRA Nº 33 PAULO MELO SOUSA, OCUPANTE, PATRONEADA POR CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA PAULO MELO SOUSA ELOGIO DE ALMA PARA A ALMA DE UM MENINO POSSE DE OSMAR GOMES DOS SANTOS, ANDRÉ GONZALEZ CRUZ, e DANIEL BLUME ALMEIDA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ APRESENTANDO DANIEL BLUME ANA LUIZA ALMEIDA FERRO DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO OSMAR GOMES DOS SANTOS, DA CADEIRA Nº 14 DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS OSMAR GOMES DOS SANTOS ELOGIO AO PATRONO ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO, CADEIRA N.º 14 ANA LUIZA ALMEIDA FERRO DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO ANDRÉ GONZALEZ CRUZ, DA CADEIRA Nº 11 DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS ANDRÉ GONZALEZ CRUZ ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA Nº 11 CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES ANDRÉ GONZALEZ CRUZ APRESENTAÇÃO DE DANIEL BLUME DANIEL BLUME DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS POSSE DE MARIA THEREZA AZEVEDO NEVES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SOBRE MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES SANATIEL DE JESUS PEREIRA APRESENTAÇÃO DE MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES EM SUA POSSE EM 17/03/2015 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES ELOGIO AO PATRONO POSE DE SANATIEL DE JESUS PEREIRA MÁRIO LUNA FILHO APRESENTANDO SANATIEL PEREIRA SANATIEL DE JESUS PEREIRA MANUEL ODORICO MENDES - Elogio ao Patrono
ALL NA MÍDIA ESTUDO, in O IMPARCIAL, Caderno GIRO: por Andréa Gonçalves: Sobre ANA LUIZA ALMEIDA FERRO CIRCULO DE FUEGO - REVISTA DE LITERATURA / EDICION NO VENAL / PERU Año 5 / Nro. 24 - Diciembre 31 del 2014 – Diretor: Feliciano Mejía; Editor: Roberto Ortega Poesias de DILERCY (ARAGÃO) ADLER À GUISA DE APRESENTAÇÃO - AO LIVRO DE REGIANA TAVARES: DESVELO DE UM MUNDO ESPECIAL Por DILERCY ARAGÃO ADLER BOLETIM INFORMATIVO DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS JURÍDICAS, Nº 2 - Ano 1 | Novembro - Dezembro | 2014 - Notícias Acadêmicas Sobre ANA LUIZA ALMEIDA FERRO BLOG DO LEOPOLDO VAZ: FESTA DE REIS E DE SÃO SEBASTIÃO. Quarta-feira, 07 de janeiro de 2015 às 14:42. Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ANTOLOGÍA MUNDIAL “UN TREN CARGADO DE SUEÑOS” Sobre DILERCY ARAGÃO ADLER UFMA recebe doação de livro que reconstrói a fundação de São Luís pelos franceses Sobre ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
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BLOG DO LEOPOLDO VAZ: UM ENCONTRO NECESSÁRIO – sobre literatura ateniense… Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ HISTÓRIAS DO BRASIL EM COIMBRA – in O ESTADO DO MARANHÃO – 1º/02/2015 Por ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO DEBATES SOBRE ECONOMIA EM PALESTRA INTERNACIONAL – in O ESTADO DO MARANHÃO – 08/02/2015 Por ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO CADERNO PH – O ESTADO DO MARANHÃO – 1º/02/2015 – POSSE DE CERES Sobre CERES COSTA FERNANDES MATÉRIA PUBLICADA SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO NO BRISTOL WHO'S WHO, DE NEW YORK Sobre ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ELOGIO A CARLOS DE LIMA – IN O ESTADO DO MARANHÃO – 12/02/2015 Sobre PAULO SOUSA MELO ELOGIO SOLENE – IN O ESTADO DO MARANHÃO – EM CENA – 12/02/2015 – COLUNA DO NEDILSON MACHADO Sobre PAULO SOUSA MELO SERÁ – IN O ESTADO DO MARANHÃO – PH REVISTA Sobre POSSE DE DANIEL, ANDRÉ E OSMAR VIDA DE ALEMÃO – IN O ESTADO DO MARANHÃO – PH REVISTA Sobre LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ HOJE Á NOITE – IN O ESTADO DO MARANHÃO = PH REVISTA Sobre POSSE DE DANIEL, ANDRÉ E OSMAR SOLENIDADE: NOVA POSSE NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – IN O IMPARCIAL Sobre POSSE DE DANIEL, ANDRÉ E OSMAR JOÃO BATISTA EREICEIRA TRIBUTO A JOSÉ MARIA SANTOS MARCO ZERO SANATIEL PEREIRA MENÇÃO HONROSA NO PRÊMIO PEDRO CALMON DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO MENÇÃO HONROSA – OUTROS LIVROS – PH REVISTA 16/03/2015 SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO POSSE DE MARIA THEREZA – PH REVISTA 22/03/2015 SOBRE MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES CRONICAS E CONTOS E PUBLICAÇÃO – O ESTADO 25/03/2015 SOBRE SANATIEL DE JESUS PEREIRA
ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS ANTONIO NOBERTO FALTA ALMA À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANTONIO NOBERTO O TURISMO NO MARANHÃO AINDA NÃO DECOLOU - CINCO EXPLICAÇÕES PARA ISSO HAMILTON RAPOSO MIRANDA FILHO LICEU, LICEISTA E O ENEM. ANTONIO NOBERTO LÍNGUA PORTUGUESA?
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO O CAPITALISMO AVALIADO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO A CIDADE EM DOIS TEMPOS
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JOÃO BATISTA ERICEIRA AS CINZAS DA HISTÓRIA AYMORÉ ALVIM AS ÁGUAS DE MARÇO AYMORÉ ALVIM A CANTADA FATAL ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO POR QUE SOBEM AS TAXAS DE JUROS? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CARTA AO CONFRADE AYMORÉ – OU A ARTE DE CURAR NO MARANHÃO
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DILERCY ARAGÃO ADLER À GUIMARÃES “DE MARIA FIRMINA E GONÇALVES DIAS”: poesias juntando vidas - MEU AGRADECIMENTO
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POESIAS & POETAS
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ANA LUIZA ALMEIDA FERRO É CARNAVAL...
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AYMORÉ DE CASTRO ALVIM MEUS NATAIS PASSADOS. NATIVIDADE. CIUMES QUEM ME DERA SAUDADES DE PINHEIRO
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DILERCY ARAGÃO ADLER PRECIOSO ACHADO TANTOS NATAIS RISCO ANTOLOGIA BRASIL LITERARIO - POESIA SOBRE CACHAÇA
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VANDA SALES NESSE NATAL AQUELE HOMEM DO PENSAR - A Leopoldo Gil Dulcio Vaz
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MICHEL HERBERT FLORENCIO UMA NUVEM DE GLÓRIA EU E ELA (A POESIA) A MUDANÇA QUE QUEREMOS. REINALDO COQUEIRO RODRIGUES (COQUEIRO DA ILHA) IRANDI MARQUES LEITE RAIMUNDO NONATO MEDEIROS DA SILVA. SOU GUARDIÃO, SOU ILUSÃO, NA CAPITAL DO REGGAE, SÃO LUÍS DO MARANHÃO ANA MARIA FELIX DEVA GARJAN HOMENAGEM AO DIA DA POESIA, 14 DE MARÇO MATER LUX TERESA DE CALCUTÁ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UMA APRESENTAÇÃO NECESSÁRIA ÀS POESIAS NECESSÁRIAS, de ontem e hoje: REGINALDO TELLES SOLIDÃO AUSÊNCIA DE ELIS ASPIRAÇÃO DE IMORTALIDADE VOCAÇÃO CARTA AO TEMPO
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RETRATO FALADO DE MARIA FIRMINA DOS REIS TONY ALVES Para o livro de Emmanuel de Jesus Saraiva “História da Cultura Africana/A influencia da Cultura Africana na Cultura Brasileira, São Luis: Interativa, 2012
Ă€ medida que o tempo passa, vamo-nos aperfeiçoando no fazer a ALL EM REVISTA. A partir desta edição vamos ter a sessĂŁo CALENDĂ RIO – EFEMÉRIDES, em que se falarĂĄ dos Patronos e Ocupantes de Cadeira, nascidos e/ou falecidos no perĂodo compreendido de sua abrangĂŞncia; caberĂĄ aos ocupantes falar de seus patronos, vida e morte... ou nĂŁo! O Membro que desejar, poderĂĄ fazer o elogio. Ou buscamos textos que retratem a atuação do “de cujoâ€?... Igualmente, na sessĂŁo POESIAS vamos buscar novos poetas nascidos nestas terras, ainda desconhecidos do grande pĂşblico. Ou intelectuais mais conhecidos por suas outras atividades do que da arte de poetar; começamos por Reginaldo Telles, que na sua juventude pertenceu Ă famosa Geração de 45 – do Gonçalves Dias, da Movelaria Guanabara, do Liceu... – e que voltou a publicar poesias depois de completados os 80 anos, com o seu primeiro livro, agora em 2013... Outros, perdidos nos grotĂľes esquecidos dos sertĂľes maranhense... Continuamos com nossa hercĂşlea tarefa de dar conhecimento aos ‘Elogio ao Patrono’ – e a respectiva apresentação do ‘empossando’, assim como os ‘Discurso de Posse’... E quando possĂvel, uma ‘segunda opiniĂŁo’ sobre o empossando... Fiquem Ă vontade... Sei que vou ter dificuldades com a presente edição: quase todo o material aqui disponĂvel foi escrito justo por mim. Reflete o trabalho de pesquisa do ultimo ano, ainda nĂŁo divulgado, ou sendo divulgado aos poucos, em especial em redes sociais. Peço desculpa pela falta de humildade... Mas ĂŠ que as contribuiçþes estĂŁo tĂŁo escassas... FĂŠrias? Bloqueio? Junto comigo, sem descanso, Dilercy, e Ana Luiza, e o AymorĂŠ, e o BrandĂŁo... Mais uma vez vamos buscar na rede uma crĂ´nica que complementa a de nosso Patrono Carlos de Lima, retratando a vida no Liceu Maranhense em dois momentos. Recorremos Ă publicada no Face pelo Prof. Hamilton... E Ă s memĂłrias de Carlos de Lima, a mim entregues em uma de nossas conversas... E o belo artigo sobre Graça Aranha, do Fernando Braga, contemplado nas EfemĂŠrides deste perĂodo, pelo seu falecimento... Creio ser essa uma das funçþes da Revista: resgatar os modos de vida de SĂŁo Luis, registrando aquilo que a tornou singular... Com a mudança da direção do “Odyloâ€? ficamos temerosos de perde nossa ‘sede’; tudo resolvido e continua como dantes... Vamos continuar com as datas reservadas – todo ultimo sĂĄbado de cada mĂŞs, e ter o mesmo endereço, na atual administração. O Prof. ALAIM MOREIRA LIMA, por interferĂŞncia da Sra. SecretĂĄria de Estado da Cultura Ester Marques nos autorizou ao uso da sala e, a pedido de nossa Vice Presidente no exercĂcio da PresidĂŞncia, quando da audiĂŞncia concedida, vai verificar a possibilidade de nos ceder uma sala... Oremos! NotĂcias dos princĂpios de janeiro... Fevereiro começa agitado, com a posse de Ceres e de Daniel, os Elogios de Paulo, AndrĂŠ, e Osmar... Nossos poetas continuam poetando, com Dilercy tendo vĂĄrios poemas selecionados para algumas antologias; AymorĂŠ com seus “suspiros e aisâ€?; Ana Luiza lembra que ĂŠ carnaval... Michel ĂŠ ‘descoberto’ como poeta... Fizemos uma visita ao Subprefeito do Centro FABIO FARIAS CARVALHO, onde debatemos as necessidades da ALL em relação Ă uma sede prĂłpria; conversamos sobre os projetos em andamento, e aqueles que poderiam ser realizados em parceria com a Prefeitura Municipal de SĂŁo Luis. Esclarecemos que estĂĄvamos falando em nome da ALL – com a presença de sua PresidĂŞncia, Roque e Dilercy, e dos membros da Secretaria Geral Leopoldo e Ă lvaro – e que tambĂŠm
representávamos outros entes ligados à literatura ludovicense e maranhense, como a Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA, composta de 20 academias municipais... -, com seu presidente e vice presentes (Macatrão e Vavá,), a Sociedade de Cultura Latina, Nacional e Seccional do Maranhão, com sua presidente (Dilercy), a Embaixada do Liceo de Benedorm no Maranhão, com a sua presidente (Dilercy), a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES - Seccional do Maranhão, Academia Maranhense de Letras Jurídicas, e também a Academia Maranhense de Letras... Que seriam estes os entes que fariam parte de nossa proposta – da ALL – de uma sede, já denominada por nós de ‘Palácio das Letras’, e que poderia ser objeto de uma Parceria Pública Privada – PPP – envolvendo não só esses entes e a Prefeitura Municipal de São Luis, mas também o Governo do Estado do Maranhão, através de sua Secretaria de Cultura e a Subprefeitura do Centro. O Palácio das Letras, além de sede dessas instituições culturais, abrigaria um Auditório, com capacidade ao menos de 250 pessoas, teríamos ao menos espaço para abrigar três bibliotecas: a da ALL, Biblioteca Mário Meireles com o acervo dos membros da mesma; da FALMA, com o acervo dos membros das diversas academias municipais; e a Biblioteca da Academia Maranhense de Letras, haja vista que se encontra sem local para abrigar seu acervo. Ainda, uma Livraria, para comercialização de obras de nossos escritores; espaço para sala de reuniões, com capacidade de pelo menos 40 pessoas. A administração seria colegiada, com representantes dos entes envolvidos, sob a presidência da ALL, proponente desse conveio e/ou parceria. Como resposta, o Vice-prefeito Fábio de pronto apoiou a iniciativa, se comprometendo a encontrar um imóvel que pudesse abrigar o Palácio das Letras, e a ajuda da Prefeitura em colocar à disposição o pessoal administrativo necessário para seu pleno funcionamento; que teria que ser no Centro Histórico, pois se constitui em importante espaço de atração turística. Que iria levar a proposta ao Prefeito e ao Governo do Estado, para que se concretize o mais rápido possível. Aproveitamos a oportunidade para que intermediasse uma audiência com o Sr. Prefeito, para que pudéssemos comunica-lo que o Prefeito de São Luis é o Presidente Honorário da ALL, e que temos que fazer a diplomação do mesmo, e que poderia ser nas festas de segundo aniversário da ALL, em agosto, ocasião em que faremos uma sessão plenária pública, solene para tal e, que lá, poderia ser anunciado a doação do prédio... Com a Posse de Maria Thereza de Azevedo Neves ocorre modificação do Conselho de Decanos, que a mesma passa a pertencer, saindo Raimundo Viana; o critério é pela idade... Os cinco mais velhos compõem o Conselho... O Decano continua ser o Confrade Almada Lima... Foi realizada mais uma edição/sessão de declamação de poesias, do Liceo de Benedorm; sob a coordenação da embaixadora Dilercy tivemos vários de nosso Confrades comparecendo ao mesmo, e divulgando seus trabalhos: CLORES HOLANDA; ÁLVARO URUBATAN MELO; SANATIEL PEREIRA; ANA LUIZA ALMEIDA FERRO; RAIMUNDO CAMPOS FILHO; a própria DILERCY ARAGÃO ADLER; e MÁRIO LUNA, além de outros participantes, inclusive dois do Canadá. Promovido pelo Liceo contou com a promoção da ALL e o C. C. Odylo Costa, filho. As posses foram todas cerimônias muito belas e concorridas: Ceres, Paulo, Daniel, André, Osmar, Maria Thereza, Sanatiel... Infelizmente outros três confrades programados para este período – janeiro a março – não o fizeram, nem deram satisfação quanto à data; apenas marcaram o mês, consolidado o compromisso em fevereiro, de que obrigatoriamente o fariam dentro do calendário aprovado em Plenária, mas uma vez mais, não cumpriram... Esperamos que a Presidência tome alguma providencias. Ops, o Presidente é um deles... Ora, pois... Aguardemos, então... Afinal maio está bem aí, e este é o ultimo mês em que poderão fazê-lo... Finalmente, apresentamos nosso relatório de atividades referentes ao período de 2013-2014, mandando imprimir vários livros, como o que contém o Estatuto Social e o Regimento Interno; os livros de Atas das Plenárias, dos anos de 2013/14, e o Ata da Diretoria, do ano de 2014; e para
registro de nossas atividades, a coleção da ALL EM REVISTA, com seus quatro volumes, um para cada trimestre do ano de 2014 – cerca de 1000 páginas – com todos os discursos e apresentações, artigos, contos, poesias, projetos, relatórios de atividades, reuniões, com seus registros fotográficos inclusive; e um índice... Todos devidamente encadernados, além do relatório da movimentação financeira; agora, aguardamos o parecer do Conselho Fiscal, a renovação dos Alvarás de Funcionamento, e dar continuidade as atividades... Dos projetos em andamento, segue o planejado quanto à Maria Firmina e a Mario Meireles, à Mostra de Literatura, à Semana da Literatura, ao Aniversário, à Feira do Livro... e agora o Projeto da Confreira-Correspondente Ana Maria Garjan... Dilercy quer tornar o Liceo de Benidorn parceiro das ALL nas tertúlias – claro que de poesia – que acontecem periodicamente; não precisa, desde a primeira somos parceiros, e desde a ultima plenária, oficializado: somos copromotores!!! E sóciosatletas... Reunião com o Prefeito Municipal, já marcada graças ao empenho do Confrade Osmar e a colaboração do Daniel e do André... Adiada por três vezes, finalmente aconteceu: compareceram à reunião Roque Macatrão (Presidente da ALL), Leopoldo (Secretário Geral), Noberto (Relações Públicas), e os membros Omar, André, tendo participado, ainda o Vereador Osmar Filho, líder do Governo na Câmara, responsável pela marcação do encontro, Lula Fylho, Secretário de Governo, e Fábio, Subprefeito do Centro. O Presidente Roque comunicou ao Prefeito Edivaldo Junior que, por força do Estatuto Social, em seu Art. 86, o Prefeito Municipal de São Luis é o Presidente Honorário da ALL; dessa forma, a ALL gostaria de marcar a data em que o Prefeito Edivaldo seria diplomado, acordando-se a data de 09 de agosto de 2015, em que se comemorará o segundo aniversário da Academia; em seguida foi apresentada a pretensão da ALL em receber da Prefeitura de São Luis, em doação ou comodato, um prédio onde pudesse se instalar; na ocasião foi comunicado ao Prefeito e ao seu Secretariado presente, que alem da ALL, o prédio a que denominamos de Palácio das Letras, abrigaria, ainda, outros entres dedicados à literatura, como a Federação das Academias de Letras do Maranhão, que tem 20 Academias municipais filiadas e que estas têm representação em São Luis; a Sociedade Brasileira de Cultura Latina, sede Nacional e Seccional do Maranhão, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES/Seccional do Maranhão; e a Academia maranhense de Letras Jurídicas; e a Embaixada no Maranhão do Liceo de Benidorn. Falou-se ainda de uma sede para a Biblioteca da Academia Maranhense de Letras. Sentimos que o Sr. Prefeito recebeu com emoção a comunicação de ser o nosso Presidente de Honra, e o primeiro a assumir essa função, aceitando a homenagem e a data proposta; quanto ao pleito, determinou ao Subprefeito do Centro e ao Secretário de Estado a tomar todas as providencias necessárias, inclusive marcar audiência com o Sr. Governador, para levar a ele, também, o pleito da ALL. Finalmente, marcamos as ultimas posses e elogios ao patrono; da mesma forma que foi encaminhada consulta ao Conselho de Decanos sobre as providencias a serem tomadas quanto aos inadimplentes, e àqueles que não compareceram até o momento à qualquer reunião convocada, ferindo o Estatuto Social em vários artigos. Leopoldo Gil Dulcio Vaz EDITOR SECRETÁRIO GERAL DA ALL
VISITA AO SUBPREFEITO DO CENTRO
ROQUE, FÁBIO, DILERCY, ÁLVARO, e LEOPOLDO
O SECRETÁRIO GERAL LOCALIZANDO ALGUNS PRÉDIOS DO ESTADO (PMSL, GOVERNO) QUE PODERIAM SERVIR DE SEDE PARA O PALÁCIO DAS LETRAS
EXPLANAÇÃO DO SENHOR PRESIDENTE ROQUE MACATRÃO
O SECRETÁRIO GERAL CONSOLIDA A PROPOSTA
O SUBPREFEITO CONSIDERA VÁLIDA A PROPOSTA E SE COMPROMETE A LEVAR AO CONHECIMENTO DO SR. PREFEITO E, COM ESTE, AO GOVERNADOR, PARA IMPLEMENTAÇÃO DA INICIATIVA DA ALL
AUDIÊNCIA COM O PREFEITO MUNICIPAL
AUDIENCIA COM O SR. PREFEITO MUNICIPAL Fábio (Subprefeito do Centro); Andre; Noberto; Leopoldo; Edivaldo Jr (Prefeito de São Luis); Macatrão; Osmar; Osmar Filho (Vereador); Lula Fylho (Secretário de Governo) 27 de março de 2015
Fábio, Noberto, Macatrão, Edivaldo, Osmar, André, Leopoldo, Osmar Filho
PLENÁRIA DE MARÇO
TONY ALVES, ARTISTA PLÁSTICO, AUTOR DO ‘RETRATO FALADO DE MARIA FIRMINA’
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- EFEMÉRIDES
? - NASCIMENTO DE CLAUDE D´ABEVILLE – PATRONO DA CADEIRA 1 1616, 1623, 1626, 1632 (?) - FALECIMENTO DE CLAUDE D´ABEVILLE – PATRONO DA CADEIRA 1 JANEIRO 2014 - FALECIMENTO DE WILSON PIRES FERRO – FUNDADOR DA CADEIRA 07 1913 – FALECIMENTO DE ALUISIO DE AZEVEDO – PATRONO DA CADEIRA 14 1884 – NASCIMENTO DE VIRIATO CORRÊA – PATRONO DA CADEIRA 24 1799 – NASCIMENTO DE MANOEL ODORICO MENDES – PATRONO DA CADEIRA 3 1931 – FALECIMENTO DE JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA – PATRONO DA CADEIRA 20 1938 - NASCIMENTO DE JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES – FUNDADOR DA CADEIRA 27 FEVEREIRO 1927 – NASCIMENTO DE JOSÉ TRIBUZZI PINHEIRO GOMES – PATRONO DA CADEIRA 39 1608 – NASCIMENTO DE ANTONIO VIEIRA - PATRONO DA CADEIRA 2 1978 – FALECIMENTO DE ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA - PATRONO DA CADEIRA 28 1864 – NASCIMENTO DE HENRIQUE MAXIMINIANO COELHO NETO – PATRONO DA CADEIRA 18 MARÇO 1881 – FALECIMENTO DE CANDIDO MENDES DE ALMEIDA – PATRONO DA CADEIRA 6 1947 – NASCIMENTO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 40 1915 – NASCIMENTO DE MARIO MARTINS MEIRELES – PATRONO DA CADEIRA 31 1874 - NASCIMENTO DE MANUEL FRAN PAXECO - PATRONO DA CADEIRA 21 1871 – FALECIMENTO DE FRANCISCO SOTERO DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 4 1960 - NASCIMENTO DE CLORES HOLANDA SILVA – FUNDADORA DA CADEIRA 30 1941 – FALECIMENTO DE JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES DE MOURA – PATRONO DA CADEIRA 19 1920 – NASCIMENTO DE CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA – PATRONO DA CADEIRA 33 2006 – FALECIMENTO DE JOSUÉ MONTELLO – PATRONO DA CADEIRA 32 1812 – NASCIMENTO DE JOÃO FRANCISCO LISBOA – PATRONO DA CADEIRA 5 1962 - NASCIMENTO DE OSMAR GOMES DOS SANTOS – FUNDADOR DA CADEIRA 14
CLAUDE D'ABBEVILLE 1
Por
DILERCY ADLER2 O Padre Cláudio D’ Abbeville nascido em Abbeville, França na segunda metade do século XV. Capuchinho francês, veio ao Maranhão, integrando a expedição de La Ravardière, em 1612, e por aqui ficou apenas quatro meses que, no entanto, renderam-lhe o equivalente a pródigos anos, e o fizeram interpretar, com uma argúcia singular, os primórdios da Geografia e Etnografia do Maranhão, através da sua obra, História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças, lançada em Paris em 1614 e traduzida no Brasil por Dr. Cezar Augusto Marques em 1874. A narrativa de D’Abbeville inclui diálogos entre os personagens tanto em discurso indireto quanto direto. Abrange não só os episódios mais significativos da permanência dos franceses no Maranhão, a exemplo da edificação da cidade de São Luís, como também das interfaces do cotidiano dos índios tão bem explicitados nos capítulos “De uma escrava de Japi-Açu encontrada em adultério” ou na “História de um certo personagem que dizia ter descido do céu”. Apresenta também informações apaixonadas sobre o clima e a fertilidade da terra, assim como dados minuciosos sobre a rica astronomia indígena. Outro aspecto que sobressai nessa obra é a intenção de Claude D’Abbeville em demonstrar como o índio podia ser batizado e de como isso parecia ser uma condição natural para o salvamento da alma. Em dois episódios intitulados “De um índio velho batizado em Coieup e de sua morte” e “De um menino curado milagrosamente pelo batismo” isso fica evidente. Oswald de Andrade aproveitou alguns trechos do livro de Claude D’Abbeville para compor quatro poemas em seu “Poesia Pau-Brasil”, mantendo a escrita original em francês. Um fato que chama a atenção é que La Ravardiére era protestante, e os capuchinhos que o acompanharam deram início à decantada catequese dos indígenas que alcançaria seu paroxismo com os Jesuítas. Dizem os registros históricos que em 12 de agosto de 1612, tendo os franceses passado à Ilha Grande, foi rezada a primeira missa e erguida uma cruz. Em 8 de setembro do mesmo ano, solenemente, fundaram a colônia, a França Equinocial, com a colaboração “espontânea” dos índios, tendo à frente o cacique Japiaçu, e iniciaram a construção do forte, chamado de São Luís, em honra ao rei-menino. A obra de d’Abbeville, como já foi referido, é um clássico da etnografia indígena. Ao analisála, o bibliófilo Rubens Borba de Moraes salientou que "a narrativa da viagem é a principal fonte francesa publicada sobre esta tentativa de colonização do Norte do Brasil e contém informações 1
IN VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. PERFIL DOS SÓCIOS: PATRONOS E OCUPANTES. São Luís: IHGM, 2013. 2 DISCURSO DE POSSE -, REVISTA DO IHGM – No. 29 – 2008 – Edição Eletrônica, p. 23
valiosíssimas acerca dos Tupis, não encontradas em nenhuma outra obra". Segundo ainda Mário Guimarães Ferri, nenhum outro cronista, em seu tempo e mesmo depois, tratou a matéria com tanta especificação e clareza. O Padre D’ Abbeville,que recebeu o nome de Firminno Foullon, ao nascer, era oriundo de família muito religiosa, e também dois irmãos seus, Marçal e Cláudia, seguiram a vida religiosa em conventos distintos. Segundo registros, ao chegar à Ilha de Maranhão o Pe. D’Abbeville tinha por volta de 40 anos, tendo sido ordenado em 1593. Portanto, dezenove anos antes, o que indica vasta experiência sacerdotal à época. Faleceu na cidade de Ruão, em 1621. Notas de Leopoldo Gil Dulcio Vaz: Para João Francisco Marques, seria 1616; MARQUES, João Francisco. FREI CRISTOVÃO DE LISBOA, missionário no Grão-Pará e Maranhão (1624-1625), e a defesa dos índios brasileiros. In http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2166.pdf, em nota de pé de página (5):
João Dias Rezende Filho nos traz duas datas: 1626, mas há quem diga 1632: “Para Hoeffer, em sua obra Nouvelle Biographie Générale, Abbeville faleceu em 1632, já para Ferdinand Denis, no prefácio da obra “Viagem ao Norte do Brasil” de Yves d’Évreux, ele teria falecido em 1626, na cidade francesa de Rouen, com cerca de 23 anos de hábito”. http://joaopecegueirodias.blogspot.com.br/2011/12/frei-claude-dabbeville.html#!/2011/12/freiclaude-dabbeville.html
UM SONHO SONHADO3 WILSON PIRES FERRO Os governantes, estadual e municipal, em comunhão de vontades, uniram-se e cuidaram de dotar São Luís de benfeitorias que a cidade estava a reclamar e tudo foi feito em um espaço de tempo relativamente curto, para surpresa minha felicidade dos ludovicenses e dos visitantes de outras plagas. Dias antes das comemorações do aniversário da cidade, os hotéis já estavam superlotados de turistas vindos de outros estados e até do estrangeiro. E, pontificando a hospitalidade do maranhense, muitas famílias prazerosamente hospedaram em suas casas parentes e amigos, por absoluta falta de vagas na rede hoteleira. O dia amanhecera claro como um dia de verão tropical. Era o tão esperado 8 de setembro de 2012, um sábado que assinalava os quatro séculos de fundação da cidade pelos franceses. O Sol, que bem cedo se fizera presente, despertando no nascente pelas seis horas da manhã, espargia seus raios, banhando as praias da cidade, aquecendo suas águas, refletindo sua luminosidade nos telhados dos casarões e sobradões e nas suas fachadas revestidas de azulejos. As ruas asfaltadas, sem buracos nem ondulações, assemelhavam-se a um imenso tapete escuro, e as calçadas com pedras comuns e com paralelepípedos estavam sem depressões e bueiros destampados. Da mesma forma, as praças e outros logradouros públicos apresentavam-se bem cuidados, arborizados e alguns até ajardinados. O Centro Histórico e toda a parte velha da urbe haviam sido restaurados, ressaltando-se a Praça do Panteon, para onde os bustos dos maranhenses notáveis haviam retornado, depois de longa ausência. O local agora estava cercado por um gradil de ferro e, no seu interior, haviam sido colocados postes com luminárias que lembram os tempos passados. A Rua Grande recebeu calçamento que imita os das pedras de cantaria, trazidas de Portugal na época da Colônia e do Império. Diversamente do cenário de 1612, praticamente havia duas cidades, uma antiga e outra moderna, em face do crescimento. A antiga, com seus casarões, monumentos e logradouros públicos preservados e revitalizados; e a moderna, ostentando belos e imponentes edifícios de muitos andares, construídos a partir do último quartel do século passado, uma recente e moderníssima ponte sobre o Rio Anil e amplas e largas avenidas, onde engarrafamentos já não eram comuns. Todavia, as duas conviviam pacificamente, uma completando a outra, as duas formando a São Luís que amamos, que foi francesa, espanhola, holandesa, portuguesa e, por fim, brasileira.
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Leopoldo, Pensei sobre aquela conversa que tivemos em que você sugeriu que eu escrevesse novo texto em homenagem a papai este ano. Pensei em escrever pelo aniversário dele em julho, mas lembrei de que escrevi ano passado dois artigos publicados no Estado do Maranhão quando do aniversário dele, além da homenagem na missa de 7º Dia e da homenagem no dia do nosso elogio ao patrono, ocasião em que acrescentei novos dados à sua biografia. Acho que se eu escrever novamente tão cedo vou acabar me repetindo, além do que ainda é muito dolorido, gostaria de ler outra pessoa falando de papai, uma outra perspectiva, talvez você, Noberto ou Dilercy ou Raimundo Viana, que era amigo de papai. É que em algum ponto deste ano, tenho de me concentrar na revisão do livro dele, a qual já tive de adiar enquanto não concluir o de Mário Meireles, por causa da data da ALL em agosto. Mas vou lhe enviar uma crônica dele para a revista. É uma homenagem a São Luís, se achar melhor pode deixar para publicar somente na edição de setembro, ou agora, se preferir. Um abraço, Ana Luiza
Desde cedo, já era possível perceber uma alegria incontida. Ainda pela manhã, representações teatrais e outras manifestações podiam ser vistas em vários recantos do centro da cidade e nos bairros, dos mais próximos aos mais distantes. Nos templos católicos, principalmente, celebravam-se missas e, nas escadarias da Sé, encenava-se um cerimonial religioso que lembrava o episódio de fundação da cidade, inclusive com a presença de índios, habitantes da ilha, quando aqui chegaram os gauleses, tendo o celebrante proferido um sermão alusivo ao grande acontecimento. As comemorações continuaram por todo o dia, porém à tardinha, quando o Sol já atravessara a cidade, viajando do nascente ao poente, e começara a se recolher, elas se intensificaram na Fonte do Ribeirão, na Praça João Lisboa (Largo do Carmo), na Praia Grande e em outros logradouros, na área histórica da cidade e nos subúrbios. Nesses recantos, ouviam-se poetas da terra declamando poesias, cantores de boi entoando toadas, o barulho ensurdecedor das matracas, o rufar dos tambores e dos pandeirões, os acordes dos instrumentos musicais. Eram bumba-bois de matraca, de zabumba e de orquestra, tambores de crioula, lelês, minas, cacuriás, cocos, quadrilhas, danças portuguesas, dentre outras, exibindo-se em ritmos frenéticos, coreografias variadas, trazendo animação para todos os gostos, alegria para todas as idades e camadas sociais e satisfação para todas as gentes. As festas entraram pela noite, encerrando às primeiras horas da madrugada. Eu não me contive. Quis visitar a cidade no seu IV Centenário. Eu sabia que seria difícil encontrar uma vaga para estacionar meu carro no centro, tomei um táxi, saltando defronte do Teatro Arthur Azevedo, bem próximo da Praça João Lisboa. – Não é possível – disse comigo mesmo. Um bonde aberto, com estribo e tudo, igual àqueles que circulavam em nossa cidade até um pouco mais da metade do século passado, encontrava-se parado no início da Rua de Nazaré, o qual podia ser visto da Praça João Lisboa. Aproximei-me dele e, como ainda houvesse lugar, tomei-o. Não demorou, ele partiu, vencendo pequeno trecho desta via, logo dobrando a Rua da Palma, percorrendo-a em toda a sua extensão, até alcançar a Igreja do Desterro, no largo do mesmo nome. Aí o condutor virou a lança e os assentos, e o que era a frente passara a ser a traseira do veículo e vice- versa. Eu continuei nele e, em poucos minutos, o bonde partia pela mesma Rua da Palma, parando em frente do Memorial José Sarney, onde apanhou alguns turistas que o haviam visitado. Em seguida, dobrou à esquerda na Rua Jacinto Maia (da Cascata) e percorreu pequeno trecho, até encontrar a Rua da Estrela, com nova parada em frente da Feira da Praia Grande, antiga Casa das Tulhas, onde alguns turistas saltaram e outros subiram, daí seguindo o seu trajeto até alcançar a Rua Portugal (do Trapiche), passando lenta e vagarosamente por um magnífico conjunto de sobradões, e, um pouco adiante da Casa do Maranhão, onde outrora funcionou o Departamento do Tesouro do Estado, chegar ao final da linha, no começo daquela via, bem perto do viaduto que dá acesso à Praça D. Pedro II, onde se encontram os Palácios dos Leões e La Ravardière, respectivamente sedes dos poderes executivo estadual e municipal. Antes, neste curto e último percurso, atento a tudo, eu ouvira das mulheres de dois casais, aparentemente de portugueses, viajando no banco logo atrás de mim: – Viste, Joaquina, que belos prédios? – Eu vi sim, Carlota. Por onde eu tenho viajado eu conheci edifícios semelhantes, a diferença está nos azulejos revestindo as suas fachadas. – E o melhor é que estão bem conservados – completou Carlota. – Lembraram-me a nossa terra – comentou Joaquina.
Aí eu saltei. Deixei-as ainda no veículo, acho até que decidiram dar outra volta. Foi dos presentes mais expressivos que a cidade ganhou no seu aniversário. Eu estava feliz, matei uma saudade de quase meio século. Eufórico, eu decidi realizar ainda uma pequena caminhada. Subi a ladeira que passa por baixo do viaduto. Chegando ao seu topo, descortinei a Avenida Pedro II, com destaque para os Palácios dos Leões e La Ravardière, ambos pintados e bem preservados, este último ostentando em sua frente o busto de La Touche, o fundador da cidade. A avenida apresentava-se arborizada, com canteiros bem dispostos e até ajardinados. O cenário fazia bem à minha visão. Dei mais alguns passos e me deparei com uma agradável surpresa. No espaço entre o Palácio La Ravardière e a Catedral, onde outrora havia um acanhado mas significativo monumento de marco de fundação da cidade, erigido em um dos seus aniversários, fora construído outro imponente e expressivo monumento em homenagem aos quatro séculos de São Luís. Nele podiam ser distinguidas as estátuas dos franceses La Touche e Razilly, comandantes da expedição de 1612; de Japi-açu, o chefe maior dos indígenas que habitavam a ilha; de Charles des Vaux, intérprete e velho conhecido dos tupinambás; e de Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux, cronistas capuchinhos da expedição, o primeiro dos quais deixaria para a posteridade a narrativa do feito da fundação. Um tanto cansado, ali mesmo tomei um táxi, retornando à minha casa. Lá chegando, a frustração. Eu acordei. A esperança de ver tão seguros e charmosos veículos do passado circulando pelas ruas de São Luís construíra em minha imaginação – retratada em sonho – um cenário virtual, quem sabe futuro, que era uma fantasia do presente. A realidade é que a cidade mudara apenas na idade. Agora é quatrocentona, a esperar a atenção e o cuidado que a sua história e os seus muitos encantos merecem.
LEMBRANDO MÁRIO MEIRELES CERES COSTA FERNANDES PUBLICADA EM O ESTADO DO MARANHÃO 23/03/2015
Esta é uma crônica carinhosa sobre o amigo e não sobre o intelectual e historiador. Escrevia-a por ocasião de seu falecimento e a repito, como homenagem, na passagem do seu centenário de nascimento. Mário Meireles fazia parte daquele reduzidíssimo número de pessoas que estão no meu rol de gente que não deveria morrer nunca. Sempre achei um desaforo muito grande serem suprimidas da sociedade, sem mais nem menos, pessoas do gabarito do Professor Mário, enquanto outros, cuja morte bem traria um desafogo a este planeta superlotado, pululam pelo mundo afora, poluindo e consumindo nossos recursos naturais, quando não se ocupam com coisa pior. Os sentimentos que me assomam ao peito neste momento são de indignação e frustração. Frustração por tão grande e inesperada perda; indignação pela causa mortis, tão banal – dengue, uma doença que, em pleno Século XXI, ainda não foi erradicada, e nos confirma mais ainda como um país do Terceiro Mundo. O impacto causado pela morte do homem de letras Mário Meireles repercutiu em todo Estado. O pesar instalou-se não só na Academia Maranhense de Letras e no Instituto Histórico e Geográfico dos quais era membro e decano ou na Universidade Federal, onde foi fundador e exerceu quase todos os cargos importantes docentes e administrativos, como nas rodas intelectuais, estudantis e de simples populares. Sobre mim o impacto foi tanto maior por ser ele, além de tudo o que foi dito, o último amigo vivo do meu avô, Henrique Costa Fernandes, a quem recebeu na AML, em 1948. Mário Meireles era também conhecido e admirado por milhares de estudantes que utilizaram e utilizam a sua História do Maranhão, obra de referência e consulta fundamental para o entendimento da nossa terra e o destino da nossa gente. Alguns desinformados, surpresos com a comoção geral, poderão alegar, à guisa de consolo, que o escritor viveu o suficiente: longos e produtivos 88 anos - muito mais que a maioria das pessoas comuns; que cumpriu sua missão de professor e homem público, ocupando e dignificando os altos cargos que lhe foram confiados, e que, como historiador, produziu valiosa e alentada obra, cerca de 30 publicações, aspergindo todos esses anos cultura e erudição nas nossas tão duras cabeças. Nada de espantar que fosse chegada a sua Hora . Estes, certamente, não conheciam o Professor Mário Meireles. Não conheciam o pesquisador incansável, a escrever diariamente, lúcido, conservando intactas todas as suas faculdades físicas e mentais: ultimamente vinha preparando um livro sobre a evolução urbana de São Luís, que não chegou a ser publicado. Não sabiam da sua participação efetiva em cerimônias e eventos importantes. Nas posses da Academia Maranhense de Letras era sempre dele, como decano, a missão de apor o colar no membro recipiendário. Eu tive esse privilégio. Não chegaram, essas pessoas, a desfrutar do prazer de conversar com o gentleman, dono de fino senso de humor, por vezes temperado de ironia, por vezes terno, mas sempre um interlocutor vivaz, informado das últimas notícias, distante da fastidiosa conversa de velhos que discorrem sobre doenças e o infortúnio de suas limitações. Lembro-me que, em fins de 2002, estávamos na AML, lado a lado e de pé, no velório do saudoso acadêmico Eloy Coelho Neto. O Professor Mário estava, como sempre, elegante e empertigado, mesmo assim senti-o cansado e ofereci-lhe uma cadeira: Por favor, Professor, sente-se. E ele, rápido, Está me chamando de velho, mocinha? Fique sabendo, só vou me sentar para agradála. Claro que adorei o mocinha. Em seguida, ele volta à carga, diz-me, observando nosso querido Dr. Eloy, Este rapaz passou-me a perna. Era a minha vez e não a dele. Note-se que o “rapaz” estava na casa dos setenta. Era assim o Professor Mário Meireles.
Ele era, como se costuma dizer agora, um ser humano integral. Chefe de família exemplar, adorado pelas filhas e netos, profissional íntegro, sem mancha, homem honrado, intelectual completo e atuante. E se tratando dele, por ser a mais estrita verdade, vale usar o chavão: Já não se fazem homens como Mário Meireles. ceresfernandes@superig.com.br
ODORICO MENDES, O HERÓI DA ENEIDA
FERNANDO BRAGA4 https://www.facebook.com/photo.php?fbid=799915753430648&set=gm.794840043934075&type=113 de março às 14:42
Admirável é “Virgílio Brasileiro”, ou tradução do poeta latino, de Manuel Odorico Mendes, 1º volume, contendo as bucólicas e as geórgicas, 2ª edição, atualizada com introdução e notas do professor Sebastião Moreira Duarte, que sob o seu olhar dirigiu esse trabalho para apresentá-lo como tese de doutorado em uma Universidade dos Estados Unidos. O livro foi editado com apoio da Fundação Sousândrade, pela Editora da Universidade Federal do Maranhão, instituição onde Sebastião se aposentou como Lente de literatura. O trabalho saíra em 1995 e me chegara às mãos tempos depois, juntamente com um livro de versos e um estudo sobre “mosaicos”, imortal criação bizantina ainda louvada na ortodoxia eslava; e “Traduções de Voltaire” (Mérope e Tancredo), também de Odorico Mendes, todos com dedicatórias fraternas. Registre-se aqui que não nos conhecíamos, apenas por conversas ao telefone; pessoalmente, há pouco tempo, numa recepção na Academia Maranhense de Letras, na posse de alguém que me foge a lembrança. Ainda dentro dessa coincidência, o escritor Sebastião ao tomar conhecimento deste artigo que gentilmente o enviei por e-mail, falou-me dias depois que o mesmo tinha alguns erros de informações, sem mos dizer, contudo, quais eram, e muito menos eu os perguntei, porque, à moda de Pitigrilli, ainda acho que escrever sobre alguém que mereça, como é o caso do ilustre professor, é um elogio, e nunca uma gentileza, como talvez possa pensar. O livro é aberto com um estudo de Sebastião Moreira Duarte com o título de “Nosso Virgílio Neoclássico”, no qual ele fala sobre as nuances da tradução como gênero literário, suas dificuldades e implicações, suas possíveis deformidades, mas também sua beleza, o que chega, muitas das vezes, a ser quase perfeita, não só no transplante do texto, como no aprumo do emocional. Afinal de contas, tradução não é exercício para qualquer um e nem amenidades para matar o tempo. O Doutor Antônio Henriques Leal diz no “Pantheon Maranhense”, Tomo II (ensaios biográficos de maranhenses ilustres já falecidos) que Odorico Mendes “nasceu em São Luís, capital da província do Maranhão, na casa de seu avô materno, Manuel Correia de Faria, sita na Rua Grande, 4
Fernando Braga, In “Toda Prosa”, Vol. de um aprendiz de poeta e outras mentiras], em construção
III,
inserido
em
“Travessia”
[memórias
aos 24 de janeiro de 1799, vindo por seu pai, o capitão-mor Francisco Raimundo da Cunha, fazendeiro das margens do Itapicuru (sic), de Antônio Teixeira de Melo, ilustre restaurador do Maranhão do poder dos holandeses; e por sua mãe, Dona Maria Raimunda Correia de Faria, de Tomás Beckman, irmão do infeliz Manuel Beckman, ou Bequimão, como o apelidavam os coevos e naturais da capitania, e o escreveram os cronistas do seu tempo, manchando-lhe a memória, que foi em nossos dias reabilitada com muito talento e saber pelo distinto João Francisco Lisboa”. E é esse texto do editor d’ O Timom que se encontra no trabalho dirigido por Sebastião. Nas anotações de pé de página que acompanham todo o roteiro do livro, vê-se que “nesta obra monumental Odorico Mendes não se mostrou somente consumado latinista e distinto poeta: elevouse avantajado arqueólogo pelo trabalho de anotações repleto de vastíssima erudição (...) que manifestam, não só a sua vasta instrução e o profundo conhecimento do idioma vernáculo, mas justificam o conceito que dele formam como o escritor mais conciso entre os seus atuais contemporâneos de Portugal e do Brasil”, enfatiza Inocêncio Francisco da Silva, no seu “Dicionário Bibliográfico Português”. Odorico Mendes quando Deputado provincial pelo Maranhão, por diversas legislaturas, foi autor da primeira lei de “reforma eleitoral” e da lei da “abolição dos morgados”, nos informa discurso proferido por Pedro Braga Filho na homenagem prestada pela Câmara dos Deputados, pelo centenário de falecimento de Odorico Mendes, no dia 17 de agosto de 1964, enfeixado no livro “Memorial de Pedro Braga Filho”, contendo discursos literários e parlamentares, cuja edição dirigi, com introdução, seleção de textos e notas. Há tempos, quando estudante-estagiário em Direito Penal Comparado, na Universidade de Paris-Sorbonne, Pantheon II, li na versão francesa o livro “La Mort de Virgile”, de Hermann Broch (uma brochura editada pela Imprensa Universitária), sobre o qual, com a ajuda da memória, farei pequeno comentário, necessário para a interligação que pretendi dar ao contexto destes apontamentos. O autor austríaco a romper deliberadamente com os padrões tradicionais do romance, neste reveste-se de reflexões moldadas de lirismo, mitos e símbolos, a estruturar o trabalho em forma de um monólogo interior, quase que uma auto-revelação, com laivos de sofrimentos análogos aos do poeta romano Virgilio, o qual sofreu intensamente em virtude de a arte, amor que se dedicou à vida inteira, tê-lo impedido de realizar-se como um ser humano e mortal. Muitos desses desejos reclamados foram vividos pelo emocional do herói troiano que também não foi contemplado com as trocas que desejava, segundo o contexto alegórico. O direito de viver para si, fora muitas vezes impedido, em virtude da obediência que cegamente devotava aos deuses. Exemplo disso é quando ouvia de Dido, a rainha cartaginesa, suas cobranças apaixonadas; tinha ele, o viajante mítico, de responder-lhe que era escravo do destino, sem nenhum direito ao seu próprio arbítrio... No livro, Broch descreve as últimas horas do poeta camponês, a lutar desesperadamente pela vida até o instante de sua morte, enfrentando-a como se fora um Profeta, cheio de delírios que o fizeram vaticinar um século antes do nascimento de Cristo, à maneira dos versículos bíblicos de Isaías, como o descrito na IV Écogla, fragmentos líricos, vindos da Sibila de Cumas com fatídicas previsões... A intertextualização que pretendi nestes apontamentos, entre o épico latino e o ensaio romanceado de Hermann Broch, foi para deixar como reflexão que, se restou ao autor austríaco assumir-se no final do trabalho, como alterego do poeta camponês, levado pelos sentimentos, sofrimentos e dons de vidência, faz-me acreditar, pelo enfoque clássico, legitimar-se Odorico Mendes, por seus dotes naturais e pela utopia humanística existente em Enéias, carregada de sentimentos nobres e ritos grandiosos, ser ele, o gênio maranhense, o verdadeiro herói da Eneida.
GRAÇA ARANHA E A ESTÉTICA MODERNA
POR FERNANDO BRAGA5 “Morra a Academia, ou morremos todos nós”!
se
assim
prevalecer
o
consenso,
José Pereira da Graça Aranha foi um dos escritores brasileiros mais importantes da ficção pré-modernista. E é ele mesmo quem diz no livro “O meu próprio romance”, onde narra genialmente sua vida, tendo este trabalho, infelizmente, ficado inacabado, mas mesmo assim editado em 1931, extraído de manuscritos do autor: “O meu difícil nascimento parece marcar o signo da força, que me prendia ao inconsciente. Foi pela ciência de um médico inglês, que vivi na tarde do domingo de 21 de junho de 1868, na cidade de São Luís do Maranhão, quando eu estava condenado à morte para salvar minha mãe. A ciência arrancou-me do inconsciente. Realizou-me em mim a fórmula do meu pensamento psicológico”. Aos treze anos ele concluía o curso de humanidades e aos dezoito, o de Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, onde se fez o aluno mais querido de Tobias Barreto que, ao longo da vida, viria a influenciá-lo. Foi advogado e professor de Direito, exercendo no Espírito Santo o cargo de juiz Viveu muitos anos na Europa no desempenho de funções diplomáticas. Voltando ao Brasil, tornou-se figura de vanguarda no movimento modernista, pronunciando na Academia Brasileira de Letras, de onde foi sócio fundador em que “concitava a renovar-se, pela aceitação das novas tendências estéticas “Se a Academia não se renova – gritou – “então morra a Academia”. O grito ali não fora ouvido naquele momento, e Graça Aranha rompeu com a instituição de Machado de Assis, onde ocupava a cadeira de Tobias Barreto. Da velha Europa, trouxe consigo o modelo que o fez um arauto do espírito moderno, consagrando-o assim, até o fim da vida, a teorização de uma estética que codificasse padrões novos na estrutura literária àquela época já em crise. Nas mesmas condições, a Graça Aranha se juntavam, também chegados da Europa, Oswald de Andrade que tivera convivido com o poeta Paul Fort, coroado príncipe dos poetas franceses; Manuel Bandeira que voltava da Suíça, onde estivera internado por causa da tuberculose, mantendo uma grande amizade com o poeta Paul Eluard, enquanto o Brasil era povoado de notícias que 5
In publicado no Jornal “O Alto Madeira”, Porto Velho, RO, 24.9.84 e enfeixado em “Toda Prosa, de Fernando Braga, ainda inédito, Tomo III, do livro “Travessia” [ Memórias de um aprendiz de poeta], em organização.
chegavam da revista portuguesa “Orfeu”, centro irradiador das poesias de Fernando Pessoa e Mário Sá-Carneiro, as quais se corporificavam aos métodos pretendidos por Graça Aranha. E a “Semana de Arte Moderna” explodiu com a exposição, em São Paulo, da pintora Anitta Malfatti que trazia novidades e novos elementos nas artes plásticas pós-impressionistas (cubistas e expressionistas), revelados em seus estudos, principalmente na Alemanha, sendo criticada por uns e defendida por outros, entre estes, Mário de Andrade, já imortalizado com “Paulicéia Desvairada” e “Macunaíma”. Continuemos ouvindo o espírito de negação de Graça Aranha, escritos para “O meu próprio romance”: “Nada poderia contribuir para o meu incessante progresso intelectual, como o espírito de negação. Aos doze anos neguei Deus, aos quatorze neguei o Direito Natural, aos quinze neguei o princípio monárquico e o direito à escravidão”. Nego também a Academia s ela não for uma instituição direcionada para o bem... E aqui digo: “Morra a Academia, ou morremos nós”! Sobre o livro “Canaã”, José Veríssimo, crítico dos mais afiados ao tempo, disse: “Estréia, como não me lembra outra em a nossa literatura, é a revelação nela de um grande escritor. Novo pelo tema, novo pela inspiração e pela concepção, novo pelo estilo”. E por falar em Veríssimo, este era contra a entrada de Graça na Academia, apesar de nunca ter sabido o porquê, o que só veio a se tornar possível com a quase imposição de Joaquim Nabuco. Graça Aranha publicou estes trabalhos: Canaã, 1902; Estética da Vida, 1920; Malazarte, 1922; Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, 1923; O Espírito Moderno, 1925; A Viagem Maravilhosa, 1930. As obras completas de Graça Aranha (1939-1941) estão distribuídas em 8 volumes: Vol. I Canaã; vol. II: Malazarte; vol. III: Estética da vida; vol. IV: Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco; vol. V: O espírito moderno; vol. VI: A viagem maravilhosa; vol. VII: O meu próprio romance; vol. VIII: Diversos. Talvez havendo, como informa Alfredo Bosi, professor de Literatura da USP, “duas faces a considerar no caso Graça Aranha: o romancista de “Canaã” e de “A Viagem Maravilhosa” e o doutrinador de “A Estética da Vida” e de “Espírito Moderno”, faz-se às vezes distante no tempo, mas ligadas por mais de um caráter comum, exteriorizar em “A Estética da Vida” este sentido de forma e liberdade espiritual ou ainda de terror cósmico: aquele que compreende o universo com uma dualidade de alma e corpo, de espírito e matéria, de criador e criatura, vive na perpétua dor. Aquele que pelas sensações vagas da forma, da cor e do som, se transporte ao sentimento universal e se funde no todo infinito, vive na perpétua alegria”. Falar-se de Arte Moderna, caberia num livro de ensaios como muitos já foram escritos. Os acontecimentos e os personagens foram muitos para poucos dias, e Graça Aranha, o qual faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1931, tornou-se, no Movimento, um acontecimento imorredouro, porque trouxe à luz da publicidade o seu “Canaã” e foi personagem, porque, acima de tudo, e pela vida inteira, foi sempre um reformador de métodos e um esteta intemporal.
JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES FUNDADOR DA CADEIRA 27
Arari-MA, 30 de janeiro de 1938. Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ6 José Fernandes nasceu em Arari-MA, a 30 de janeiro de 1938. Filho de Nestor José Fernandes e Teresa de Jesus Fernandes, falecidos. Uma única irmã, Cleide. Casado com Maria José Batista Fernandes, assistente social. Quatro filhos: Rosângela, do lar; Silvia, Cláudia e Nestor, advogados. Fez o curso primário no Grupo Escolar Arimatéa Cisne e no Instituto Nossa Senhora das Graças, e o curso de artes gráficas na Escola de Artes Gráficas Belarmino de Matos, na terra natal. Tipógrafo em São Luís-MA e depois proprietário de gráfica onde editou alguns de seus livros e de outros autores, como José Chagas, Kleber Leite, Raimundo Correa, Cunha Santos, Genésio Santos, Lopes Bogéa, Luís Pires, Ericeira Sousa, J. C. de Macedo Soares e Abraão Cardoso. Fundou, com outros companheiros, a União Arariense dos Estudantes - UAE e o seu jornal Gazeta Arariense, o Grêmio Arariense dos Estudantes - GAE, o jornal Vanguarda e o Colégio Comercial de Arari, vinculados a essa entidade, hoje Fundação Cultural de Arari. Com José Ribamar Farias e Silva e outros ajudou a fundar a União Vitoriense dos Estudantes - UVE e o seu jornal Correio do Mearim. Com Othon Leite fundou O Estudante de Athenas, no Liceu Maranhense, noturno. Com Raimundo Sérgio de Oliveira fundou O Correio de Bacabal e, em Imperatriz, O Correio Tocantino, com a colaboração do arariense Zequinha Batalha, sendo estes os primeiros jornais impressos das duas cidades. Com Carlos Cunha e Edson Vidigal fundou o jornal A Rua. Redigiu e editou as revistas Hinterland e Norte Integração. 6 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. IHGM - PERFIS ACADEMICOS: PATRONOS E OCUPANTES DE CADEIRAS. São Luis: IHGM, 2013 (Inédito)
Bacharel em Direito pela UFMA, turma de 1978. Foi advogado do BDM e do BEM, Assessor de Desembargador do TRT da 16ª Região e Juiz Classista. Fundador e Diretor das Academias Arariense-Vitoriense de Letras e Academia Maçônica de Letras; Sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro fundador da Academia Ludovicense de Letras. Agraciado com a Medalha de Mérito do Juiz Classista concedida pela Associação Nacional dos Juízes Classistas do Trabalho, em Brasília-DF; Medalha do Mérito Maçônico, pela Confederação Maçônica do Brasil, pelos serviços prestados à humanidade; Medalha de Mérito Timbira, outorgada pelo Governo do Estado do Maranhão, pelos serviços prestados à cultura maranhense, e a Medalha do Mérito Arariense, pelo Poder Executivo do Município de Arari, em razão do conjunto de sua obra no âmbito sócio-cultural e, por último, o Trofeu Perone Dignidade Social - Ano 2010. Colabora como articulista nos jornais O Imparcial, O Estado do Maranhão, Jornal Pequeno, e A Tarde, e na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, instituição da qual é membro e diretor, ocupante da Cadeira nº. 49. É autor dos livros Poemas do Início, Caminhos da Alma, Eclosões (co-autoria), Crônica Arariense, A Representação Paritária na Justiça do Trabalho, O Educador Silvestre Fernandes. No próximo dia 07 de fevereiro, lançará mais dois livros: “A Industria gráfica no Maranhão”; e “Cantos telúricos”; na FIEMA... Feliz aniversário, ZéFernandes...
JORNAL PEQUENO, São Luís, 07 de fevereiro de 2015, Cidade, p. 5
APRESENTAÇÃO DE JOSÉ FERNANDES POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO DE SEUS LIVROS FIEMA – 07 DE FEVEREIRO DE 2015
JOSÉ DE RIBAMAR CARNEIRO SOBRINHO Ilustríssimo Senhor escritor José de Ribamar Fernandes, Quis Deus, quis o destino, que eu, mais uma vez, estivesse ombreado ao intelectual, poeta e cronista José Fernandes em sua exitosa faina literária, desta feita nos lançamentos de mais duas obras de sua grande messe. Para mim, um momento especial, este final de tarde do 07 de fevereiro de 2015, quando se comemora em todo o Brasil o Dia Nacional do Trabalhador Gráfico, pois a data reveste-se deveras memorável em toda a trajetória de minha modesta vida profissional como integrante dessa valorosa categoria e, também, como um dos seus representantes no movimento sindical operário durante algumas décadas. Uma das obras que serão lançadas nesta ocasião, “Canto Telúrico”, logo de saída vem com uma capa emoldurada de poesia: o por do sol no Rio Mearim em um dos seus momentos de doce placidez e tendo ao fundo numa de suas margens a força telúrica da natureza de suas matas. Que maravilha! Na verdade, em minha visão, uma pequena grande obra de arte. O nosso ilustrado confrade Antonio Rafael da Silva, que escreveu a orelha desse belo livro, diz, entre outras coisas, que: poeta, cronista ou historiador, fica-se na dúvida qual o melhor: se o criador de imagens líricas, o prosador apaixonado e vibrante pró-rio Mearim ou o autor de crônicas versáteis. Para mim José Fernandes é um mistério em suas três vertentes literárias.
“Canto Telúrico”, que inicia com o poema “Tema” e finaliza com “Cultura e Exaltação”, promove, de forma magistral, a simbiose da poesia com a literatura de cordel, o que faz da leitura de suas 113 páginas aquela sensação do término de uma refeição apetitosa com gosto de quero mais.
Abalizadas opiniões demonstram, de forma insofismável, o conteúdo da obra e a versatilidade do seu autor: o poeta José Maria Nascimento, diz que “numa linguagem lírica e mística, a realidade se confunde com o onírico na poesia de José Fernandes. É assim que vejo e sinto a mensagem poética retratada nos seus livros”. O compositor Lopes Bogéa, de saudosa memória, vaticinava que “com a sua poesia, José Fernandes imortaliza sua terra e sua gente”. “Canto Telúrico”, vocês verão, destaca uma límpida frase de Gullar, opinando que “o homem está na cidade como uma coisa está em outra”. O que isso quer dizer para mim?... Bem, em minha opinião, isso quer dizer que Zé Fernandes está no Arari como o Arari está em Zé Fernandes. A propósito, destaco o poema “O Poeta da Rua da Beira”, inserto às folhas 33 e 34 do livro. Me indago: como a nossa memória consegue guardar, com fidelidade, coisas tão antigas? Ainda me recordo, talvez na adolescência, quando observava, da porta da minha casa, aquele jovem, com lápis e papéis às mãos, horas a fio conversando com um homem mais velho, ambos apoiando-se na cancela entreaberta que dava acesso à residência. Mas eles não passavam dali. Só hoje compreendo porque a conversa entre eles era longa e sempre se repetia. Na verdade, era conversa de poetas. Confesso-lhes, senhoras e senhores, que esse poema já me levou às lágrimas, várias vezes, porém, diga-se de passagem, foram lágrimas de saudades e de ternura em face da lembrança da velha Rua da Beira, a bucólica rua onde nasci e me criei, vivendo com muitas dificuldades, mas feliz, extremamente feliz, ao lado de dona Maria do Espírito Santo Carneiro e dos meus irmãos. Vou tentar recitar o “Poeta da Rua da Beira”: Em trânsito pela vida, ele se instalou, Com a companheira única, Na escondida e velha rua Que hoje o rio teima em querer Levá-la de roldão. Seus passos eram lépidos Ao caminhar de chinelo ou de tamanco. Seus vizinhos não sabiam O que lhe ia n’alma; Não desconfiavam do seu alto descortino Nem do seu eclético talento. Um dia, antes de conhecê-lo bem, Uns versos seus me foram lidos. Eram cânticos de amor; Falavam de natais e de esperanças, De salmos e louvores ao Arquiteto Supremo, Uma poesia que prenunciava auroras. Em silêncio e com desvelo ele escreveu Sobre os encantos do mundo, admirável obra que, por certo, se perdeu. Autodidata e professor, Erudito que se fez sozinho, Um franciscano sem religião, Neto de padre e bom cristão. Sua feiúra e timidez contrastavam Com a beleza moral que lhe transpunha
O corpo físico. Nômade por atavismo ou por convicção, Fiel aos seus princípios, À sua maneira de ser cidadão. Dores, mágoas? Se as sofrera A ninguém nunca revelara. Nós erámos fraternos até nas divergências: Ele, maduro e sóbrio, solitário e taciturno; Eu, jovem e extrovertido, seu amigo. Como Gullar, esteve “um pouco acima do chão”, E agora ele nos olha de um altiplano, Talvez até nos vele e nos console, No anonimato do seu desvelo, Embora não se tenha notícia Dele ter sido consolado. Introvertido mas de alma sonhadora, Benedito Gonçalves de Morais Agora deve estar aconchegado Em alguma estrela do Oriente Eterno, Longe daquela morada provisória, Silente e solar, da Rua da Beira, Um dos seus refúgios de poeta Nessa sua passagem pela terra.
A professora e acadêmica Dinacy Mendonça Correa, também comenta acerca de José Fernandes e de suas obras literárias, quando assinala que “é na tônica por excelência arariense que o poeta vai recuperando, imprimindo, eternizando, na sua arte, as mais caras lembranças de sua terra natal”. O escritor Clóvis Morais, hoje também de saudosa memória, analisando as obras de José Fernandes, sintetizava que “sua poesia tem ressonância transcendental com retemperamento contínuo acoplado à sua terra-berço”. Retorno ao dr. Antonio Rafael, conterrâneo e hoje amigo que conheci de perto nas idas e vindas da Academia Arariense-Vitoriense de Letras e da Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências, mas, principalmente, numa inesquecível viagem à Argentina e ao Chile, nas maravilhosas companhias de Vitória, Ana Evany, Zezé e Zé Fernandes, quando ele revelou que, além de médico humanista, professor renomado, cientista e pesquisador, o talento de ser um exímio provador de cervejas e vinhos. Diz Antonio Rafael da Silva na orelha do livro “Canto Telúrico”, que “ao ler, de um só fôlego, os belos poemas da primeira parte desta obra, chego à segunda parte e me surpreendo. Lá encontro ‘Um cordel para Arari’, que mistura, num mesmo momento, o poeta, o cronista e o historiador ao cordelista de rima fácil, evocando personagens, história e a geografia socioambiental de sua terra”. O intelectual Agnor Lincoln da Costa, expressivo membro da Academia ArarienseVitoriense de Letras, preconiza que “poeta e escritor de mão cheia, José Fernandes é portador de um caráter da melhor estirpe, trabalhador incansável, um maranhense de reconhecido valor”.
No segundo lançamento desta inesquecível tarde-noite de sete de fevereiro de 2015, José de Ribamar Fernandes nos brinda com o seu trabalho mais recente: “A Indústria Gráfica no Maranhão”, onde o poeta fica um pouco de lado e viceja com invulgar talento e operosidade o incansável pesquisador e o historiador apaixonado pelo que faz. O consagrado intelectual Milson Coutinho, membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, que faz a apresentação da obra, sustenta que o livro de José Fernandes sobre a indústria gráfica no Maranhão é um valioso compêndio para quem deseja mergulhar, fundo, na busca das origens e evolução da arte-ciência dos tipos móveis e a revolução que provocou no mundo, notadamente no terreno da política, da literatura, da história, da educação e de tudo o mais que esteja ligado à palavra escrita. ‘A Indústria Gráfica’ de José Fernandes descreve uma longa e grave trajetória do uso, pelo homem, dos tipos móveis, como instrumento de reprodução, em massa, de tudo que diga respeito ao saber humano, através da escrita.
Thomas Hobbes, em Leviatã”, enfatiza que mas a mais nobre e útil de todas as invenções foi a da linguagem (...), sem o que não haveria entre os homens nem Estado, nem sociedade, nem contrato, nem paz, tal como não existem entre os leões, os ursos e os lobos.
Volto ao acadêmico Milson Coutinho, desta vez para o seu enunciado mais profundo a respeito do livro “A Indústria Gráfica no Maranhão” quando ele afirma que o estudo tem seus começos nas gravuras rupestres existentes no planeta, a começar por vários Parques Nacionais, notadamente no atual Estado do Piauí”, [enfatizando que ele] “Segue pelos tempos da Antiguidade Clássica, atinge a invenção de Gutemberg, alcança a tipografia no Brasil, com profunda análise da imprensa após a chegada do Príncipe Regente, Dom João”.
Evoca Milson Coutinho que nada escapa à argúcia e conhecimento de Fernandes nesse período, e daí avança ele pelo Império e República. Quando o autor inicia, desdobra e conclui a vida da indústria gráfica no Maranhão, a partir de nossa primeira tipografia ao tempo do governo do Marechal Bernardo da Fonseca, e até o alvorecer do Século XX.
A apresentação de Milson, também se insere no universo dos vários depoimentos que focalizei no início, principalmente no que diz respeito ao entrelaçamento do poeta e a terra que o viu nascer e crescer. Vejamos a sua observação, dos idos de 1954, quando relembra as aulas do mestre Ruben Almeida e de outros luminares da época, já na companhia de Zé Fernandes no curso noturno recéminaugurado do velho Liceu Maranhense, quando disserta: “dentre eles, um companheiro daqueles idos de juventude, o jovem de pequeno porte e cabeça iluminada, José Fernandes, natural de Arari, terra que não cansava de citar e cantar”. Hoje me faz lembrar 30 de janeiro de 2008, data em que o nosso querido poeta e amigo completava setenta anos de idade, oportunidade em que foi lançada a minha única obra literária,
“Alguém como nós”, modesto trabalho biográfico que traça, embora timidamente, o seu perfil de homem de letras. Um trabalho, diga-se de passagem, muito aquém do biografado, quando fica evidente que a pressa, na realidade, é inimiga da perfeição. E a pressa, àquela época, em face da obrigatoriedade do lançamento do livro na data previamente programada, foi nossa inseparável companheira naquela empreitada. Nestes dias que antecederam a esta memorável tarde-noite de autógrafos, andei revisitando aquele livro de 127 páginas e me detive, atentamente, aos vários depoimentos ali consignados. Foram mais de vinte observações acerca da vida e da obra de José Fernandes. O nosso confrade Leão Santos Neto, que escreveu a orelha da obra, o considera: otimista, acredita que tudo vai dar certo e que as pessoas de modo geral são como ele, boas; sua crença em Deus o faz um homem superior, autêntico, altaneiro, brilhante, realista e disposto a servir seu semelhante a qualquer hora do dia ou da noite.
Leão enfatiza naquele pequeno depoimento que tem o seu telefone na memória, enfatizando que “conviver com José Fernandes, trocar ideias, ouvi-lo, a mim faz muito bem. É um dos poucos amigos que trago dentro do peito como se fosse uma coisa sagrada”. Prefaciando “Alguém como nós” o meu dileto e querido amigo João Francisco Batalha, com a sua verve de historiador, atravessou o Atlântico, expressando que: nosso poeta é para Arari o que representa Fernando Pessoa para a comunidade lusófona mundial. Quando lemos suas poesias, sentimos nelas o espírito misterioso do perfume das almas que amam o delicado gênero poético. Expõe com maestria a essência de suas epopéias repletas de espiritualidade e beleza por meio dos Poemas do Início, Caminhos d’Alma e Portal do Infinito.
Diz ainda o prefaciador de “Alguém como nós” que José Fernandes na condição de “literato e cronista de primeira qualidade, expõe em, Crônica Arariense e O rio, com o brilho que fulgura das letras, os mais belos contos sobre personagens ararienses e lugares do Mearim, tocando profundamente a alma mearinense”.
Conterrâneo, companheiro e amigo José Fernandes, como disse no início, este momento para mim é especial, ímpar, estar ao seu lado e dos seus familiares e amigos neste evento literário, me envaidece, alegra e enobrece sobremaneira. Depois de Poemas do Início, Caminhos da Alma, Representação Paritária na Justiça do Trabalho, O Educador Silvestre Fernandes, Crônica Arariense, Portal do Infinito, O Rio, Gente e Coisas da Minha Terra, Ao Sabor da Memória e O Universo do Padre Brandt, chegou o grande momento de você autografar Canto Telúrico e A Indústria Gráfica no Maranhão. Pois bem, poeta, este momento que me parece epistolar, mágico, ecumênico e, sobretudo, grandiloquente, é somente seu. Viva-o, intensamente, e que a felicidade dele decorrente o acompanhe em todos os outros grandes momentos de sua vida. Muito Obrigado!!!!
JOSÉ TRIBUZI PINHEIRO GOMES (BANDEIRA TRIBUZI)
PATRONO - CADEIRA 39 2 de fevereiro de 1927 / 8 de setembro de 1977 Centro de Cultura Gonçalves Dias Grupo Ilha Movelaria Guanabara Geração de 45/50 Galeria de Livros Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ7
Bandeira Tribuzi8 nasceu em São Luís do Maranhão em 2 de fevereiro de 1927 e faleceu a 8 de setembro de 1977. Filho de Joaquim Pinheiro Ferreira Gomes, comerciante português, e Amélia Tribuzi Pinheiro Gomes, brasileira descendente de italianos. Aos cinco anos de idade seguiu com os pais para Portugal. Pela vontade paterna seria um frade franciscano e para satisfazê-lo, apesar de não ter vocação sacerdotal, permaneceu nos educandários religiosos até a conclusão do Seminário Maior. Estudou nas cidades de Porto, Aveiro e Coimbra. Nessa última, em sua famosa Universidade, dedicou-se às Ciências Econômicas e Filosóficas. Até 1946 viveu em Portugal, quando retornou a São Luís, passando a exercer intensa atividade intelectual, sendo considerado por muitos o divulgador do modernismo no Maranhão. Trouxera da Europa um acentuado sotaque português e a leitura de Fernando Pessoa, José Régio, Mário de Sá Carneiro, García Lorca... A admiração pelo poeta Manuel Bandeira o levou a antepor o “Bandeira” ao sobrenome Tribuzi para formar o pseudônimo. A publicação e o lançamento de sua obra poética Rosa da Esperança, em 1948, foi um acontecimento marcante: Rosa da Esperança estava permeada de livre-metrismo, ausência de pontuação e rimas, explosão da sintaxe tradicional, violação dos cânones e códigos do soneto clássico-neoclássicoparnasiano, subversão estrófica, métrica e rímica, supressão de letras maiúsculas, privilegiação da metonímia, em oposição à metáfora, o que bem expressa o caráter da modernidade da linguagem transracional.9 7
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizador). OS LUDOVICENSES - UMA ANTOLOGIA, VOLUME III. São Luis, (inédito), 2014. http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_Tribuzi http://www.panoramadapalavra.com.br/poesia_maior65.asp http://www.portalveras.com/2013/02/bandeira-tribuzi-um-caso-de-amor-com.html http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm http://joseneres.blogspot.com.br/2011/04/bandeira-tribuzi.html http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2013/02/06/pagina239345.asp http://maranharte.blogspot.com.br/2008/09/pedra-peciosa-bandeira-tribuzi.html http://pt.cyclopaedia.net/wiki/Jose-Tribuzi-Pinheiro-Gomes http://www.blogdomarcial.com/2013/02/bandeira-tribuzi-um-caso-de-amor-com.html http://oredemoinho.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html 9 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 8
Bandeira Tribuzi instaura, então, uma nova dicção poética em São Luís, entre poetas mais jovens, que logo aderiram aos recursos técnicos e imagéticos, que só trariam, como resultado, um salto qualitativo estético altamente promissor10. Se, de um lado, enfureceu a ala conservadora, por outro, agradou deveras os poetas jovens, como Ferreira Gullar e Lago Burnett, dentre outros. O poeta Ferreira Gullar11 reconhece que foi Tribuzi o primeiro a mostrar aos maranhenses versos do Modernismo. Até 1946, data na qual Tribuzi regressou de Portugal e 24 anos depois da Semana de Arte Moderna de 1922, os autores locais ainda escreviam com rimas e simetria de versos. Outro dado novo que Bandeira Tribuzi trouxe para o texto literário maranhense foi uma poesia voltada para o cotidiano, com o privilégio de mostrar a importância dos fatos aparentemente banais e corriqueiros, apresentando o poema como denúncia, irônico e satírico, de cunho, às vezes, paródico.12
Tribuzi agremiará ao redor de si (mesmo involuntariamente) um grupo de jovens entusiastas que mudarão a nossa Literatura. Ao lado do ex-presidente José Sarney, Luci Teixeira, José Bento, e outros escritores, fez parte de um movimento literário difundido através da revista que lançou o modernismo no Maranhão, A Ilha, da qual foi um dos fundadores: [...] a revista literária A Ilha, sendo que desta vez Tribuzi dividirá as responsabilidades (e críticas) com José Sarney (que bancará as edições), Murilo Ferreira, Domingos Vieira Filho, Belo Praga e Lucy Teixeira. Lentamente, outros periódicos surgirão e o modernismo com suas idéias de liberdade de criação se instalará até mesmo entre aqueles que criticavam tal atitude artística. No mesmo ano, casa-se com Maria dos Santos Pinheiro, (seu único e real “porto seguro”) e publicará seu segundo livro de poesia Rosa da Esperança, dedicado “aquela moça falante que discutia filosofia (era formada na área), poesia e política com a mesma desenvoltura”. (MENEZES, 2008) 13
Foi também junto com o ex-presidente o fundador do jornal O Estado do Maranhão. A canção "Louvação a São Luís", de Bandeira Tribuzi tornou-se o hino oficial da cidade. Em 1949, juntamente com Corrêa da Silva, J. Figueiredo, Lucy Teixeira, José Brasil e outros criará o pequeno jornal sobre literatura; “Malazarte” (nome da incompreendida peça teatral do maranhense Graça Aranha). Segundo alguns autores, será apenas nesse pequeno periódico que serão publicados os primeiros poemas de Drummond e dos Andrades na “Terra das Palmeiras” (MENEZES, 2008) 14. É concluída também neste ano a peça RosaMonde (o touro da morte) que só será publicado em 1985 e que infelizmente não se tem registro de uma adaptação em nossos palcos, talvez por sua proposta inovadora de combinar tragédia grega com o folclore maranhense. Foi poeta, novelista, romancista, dramaturgo, compositor (com 93 composições musicadas, incluindo o hino oficial da cidade de São Luís), ensaísta, crítico literário, historiador e professor. Trabalhou como jornalista em diversos órgãos de imprensa, criou a revista Ilha e dirigiu vários jornais, como o Jornal do Povo e O Estado do Maranhão. Foi funcionário público, na condição de economista e Chefe de Relações Públicas do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, e também Diretor do Banco do Estado do Maranhão. Tornou-se uma das figuras mais destacadas do planejamento econômico estadual, redigindo planos de governo e assessorando governadores. Representou o Maranhão no V Encontro Nacional de Secretários de Planejamento, em Porto Alegre, em 1973. 10
http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm http://maranhaomaravilha.blogspot.com.br/2012/02/maranhenses-ilustres-bandeira-tribuzi.html 12 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 13 MENEZES, Flaviano. Pedra Peciosa IV - Bandeira Tribuzi. In MARANHARTE, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2008/09/pedrapeciosa-bandeira-tribuzi.html, sábado, 6 de setembro de 2008, ACESSADO EM 28 DE MARÇO DE 2014. 14 MENEZES, Flaviano. Pedra Peciosa IV - Bandeira Tribuzi. In MARANHARTE, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2008/09/pedrapeciosa-bandeira-tribuzi.html, sábado, 6 de setembro de 2008, ACESSADO EM 28 DE MARÇO DE 2014. 11
Sua estréia em livro foi em 1947 com a coletânea de poemas Alguma existência, edição do Autor, seguindo-se Rosa da esperança, Guerra e paz, Safra, Sonetos, Pele & osso, Breve memorial do longo tempo e, em edições póstumas, Poesias completas, de 1979, incluindo vários inéditos, Tropicália consumo & dor, de 1985 e Obra poética, de 2002. Em maio de 1977, foi-lhe prestada, em comemoração ao seu cinqüentenário, uma homenagem da intelectualidade brasileira, em São Luís, da qual participaram figuras proeminentes da literatura, da sociedade e da política, em que se destacavam Ferreira Gullar, Odylo Costa, filho, Jorge Amado, Josué Montello e José Sarney, entre outros. Bandeira Tribuzi morreu poucos meses depois, em São Luís, a 8 de setembro de 1977. "Ao mesmo tempo que soube ser o intérprete das grandes angústias humanas no ritmo de seus poemas, Tribuzi foi a voz de seu povo e de sua província, com um modo de ser genuinamente maranhense. Já acentuei que não devemos confundir, nos escritores da província, os provincianos e os provinciais. Os primeiros só existem em função da província, ao passo que os segundos têm a dimensão universal embora vivam na Província, e a cantem, e a celebrem, e nela reconheçam o recanto do mundo que não trocariam por nenhum outro. Tribuzi é bem o poeta provincial por excelência, como Gonçalves Dias na Canção do exílio. Sua obra é uma convergência de problemas e sentimentos universais, a que o poeta empresta a beleza do seu canto. Creio que, sob esse aspecto, ninguém mais representativo do que ele, no quadro geral da poesia maranhense contemporânea." (Josué Montello, 1979) 15
Dono de uma obra multiforme, rica, versátil e definitiva, entre os 1916 e os 50 anos, Bandeira Tribuzi tem, em sua poesia, aquela carnalidade, aquele fogo, aquela singularidade do espírito do homem da América Latina. Em sua obra literária da última fase, principalmente a de Consumo&Dor há a comunhão, também, com a poesia metafísico-social dos Quatro Quartetos, de T. S. Eliot.17 Em outras palavras, em 1948, Bandeira Tribuzi representou, para a Literatura Maranhense, o que Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade representaram para a Literatura Brasileira, entre 1922 e 1933, ou seja, como pioneiro introduziu no panorama da cultura literária maranhense as melhores conquistas do Modernismo. 18 Obras do autor19 - Alguma existência (1948); Rosa da Esperança (1950); Safra (1960); Sonetos (1962); Pele & Osso (1970); Poesias Completas (1979); Poesia Reunida Antologia poética póstuma] São Luis: SECMA; Rio de Janeiro: Alhambra,1986. Algumas poesias:
ITINERÁRIO DO CORPO20 A Afonso Felix de Sousa I O pequeno lugar predestinado: cama – lençóis, colchão e travesseiro: objetos banais pousados sobre a armação de madeira para dois.
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MONTELLO, Josué. “O LEGADO LITERÁRIO DE BANDEIRA TRIBUZI”. In: Tribuzi, Bandeira.Poesias Completas. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília: INL, 1979.) 16 Aos 21 anos de idade, Bandeira Tribuzi estava afinadíssimo com a revolução estética que acontecera na Rússia, na Inglaterra, na França, na Alemanha e, particularmente, em Portugal. http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 17 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 18 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 19 http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_Tribuzi http://bandeiratribuzi.blogspot.com.br/ 20 http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/bandeira_tribuzi.html
Pequeno apartamento de cidade! Pequenos corpos e cansados despem-se, despem roupas, sapatos, conveniências à pequenina luz que afaga as coisas. Estão nus, lado a lado, sobre o leito e se entrelaçam para desafogo de raivas, lutas, ilusões, sentidos. Talvez não saibam por que assim se prendem, Já cantam sino pelo novo filho! II Entre o campo de neve a vida fende-se barbaramente, para dar passagem à colheita que vem sem estações: bicho da terra que se chama homem. Nove meses guardado e construído com silêncio, carne, sangue e esperança, ei-lo que rasga o ovo e se apresenta disforme, placentário, precioso. Ela está como o campo após a ceifa. De seus peitos já mana o claro líquido onde a vida se côa como um filtro. Olha o pequeno corpo que se deita a seu lado, entre o sonho e a realidade, e, brandamente, diz apenas: - Filho! III Infância triste, tempo de castigos e doces ilusões mas sem brinquedo que teus olhos encontram nas vitrines e tua débil mão jamais alcança. Porém o corpo vai rompendo elástico pesar do tempo amargo em que floriste. Teus olhos já se pousam sobre a vida embora ignorando-lhe a inocência. Assim, surgindo vens dos alimentos, cuidados e remédios e o alicerce da sapiência que são letra e número. Assim te formas resumido corpo que será de homem e continuará brincando em nova trágica maneira. IV Resides entre o sonho e coisas ásperas, a confusão do trágico e a rosa, a escola, o emprego, o livro clandestino, a refeição modesta, o sono limitado.
Teu corpo é apenas máquina de sexo e coração: toda a razão de ser está na amada, amada inconsistente: olhos, cabelos, seios, agressivos somente, mas tu a colocas lá bem no centro do mundo e lhe declamas baladas, vossos corpos se aproximam. Entre comícios, agressões, revoltas, pressa, atenção, estudo, devaneio, estás defronte ao mundo e interrogas. V A resposta és tu mesmo: corpo de homem, o sentimento e pensamento de homem, passo seguro de homem, ombros de homem, boca, face, palavra e gestos de homem. O que sabes do mundo! Gestos mágicos te multiplicam ao calor dos corpos. Uma coragem funda, o olhar sábio, avanças com o tempo e o constróis. A noite existe – não a das carícias, de sono leve, corpos repousando – noite pesando sobre cada coisa. Avanças bloqueado pela Noite (há muitos, muitos corpos avançando) e teus passos vão dar na madrugada. VI És fogo que se apaga lentamente. Folhas que vão tombando despem a árvore. Árvore a quem a seiva foi faltando, tua missão se acaba e envelheces. Teus olhos já cansados de aprender formas, gestos e a grande cor do mundo. Tua boca já cansada de alimentos, de beijos, de palavras, de protesto. Outros vêm substituir tua coragem com novos braços para a mesma luta, e passos fortes para o mesmo fim. Tua hora vem chegando necessária. O corpo se dissipa. Tua passagem não terá vermes para devorá-la.
CONCLUSÃO PARA CONSOLO21 Bicho da terra estás apenas morto. Já a terra de que és bicho te recobre e uma pequena flor acena, leve, um pequenino adeus sobre teu túmulo. Tua mulher jamais esquecerá tua sólida figura. Nem teus filhos que em si a reproduzem e prosseguem tua presença em gestos e palavras. O tempo que rompeu teu rude corpo como inverno passando sobre o campo, não cortou a semente indispensável. Ele mesmo será propício à nova árvore forte que sustém o mundo e reverdece o chão da vida mágica. LAMENTAÇÃO DO QUASE EX-PRÍNCIPE Menino sou do tempo que se acaba e, consequentemente, sou aquele para quem tudo que de novo venha recorda o anterior que mais amava. Sou filho do ruído das palavras de que abusava para, sem sentido, me ver de cores vivas revestido. Não ter lugar real facilitava o meu estar entre diversas forças, neutro. Menos a idéia que o proveito exerci. Filho do tempo e inculpável, sempre exaltei gratuitas circunstâncias. Não sei se me defendo, se me odeio, se iludo o meu saber-me e odiar-me. PAISAGEM22 Eis aqui um cão e defronte um homem: ambos o pão da fome comem. Olha o cão a vida triste das pedras (coitado do cão que não pasta ervas) e por fim já morde o osso das trevas. 21 22
http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/bandeira_tribuzi.html http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/bandeira_tribuzi.html
Olha a vida o homem com saudade amarga. Os olhos do homem já não olham nada. Só, em seus ouvidos de carne fanada, teimam os latidos da morte e do nada. SAFRA23 poemas MCMLXI (...) Viaja a roda do tempo na cadeia ininterrupta, de milhões de dentes. Ondeia o verde trigo e o pão ondeia e ondeia o segredo das sementes. A pouco e pouco na ampulheta descem finos, inesgotáveis grãos d e areia. Quando a mão colhe o trigo que semeia já um novo trigal novas mãos tecem. E a onda vem e volta e vai voltando, viva maré da vida flutuando — asa de pássaro entre a morte e o ovo. Ter sido já vai sendo o que será. A cada morte um ventre se inchará e o sangue que morreu nasce de novo. (...) Por ela quebro a rota do silêncio e canto este meu canto duro e amargo: rapsódio rude de sombrio tempo, sonora lástima do corpo sob o látego. Pela manhã que vem nas águas puras do rio cujas lágrimas são ondas e por ti, natureza, pelo som das sinfonias da semente em fúria. Contempla, companheiro, esta macia e viva cor da vida nestes dias quando se rompe o ventre dos trabalhos na maré viva de pomo, vinho e pão e o vento, pelas árvores, violão longo e lento, se perde em seus atalhos. Os dias acontecem sobre a carne do tempo objetivo e singular. Ao poeta, além da vida que lhe cabe, cabe também o ofício de cantar. E é tão maduro o tempo e incisivas são de tal modo as circunstâncias de que se vê rodeado o poeta que cantando, canta apenas coisas vivas. 23
De Bandeira Tribuzi – SAFRA: poemas MCMLXI. São Luis: Departamento Estadual de Cultura, 1961 http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/bandeira_tribuzi.html
Para que sonha se o luar adulto já é um sonho positivo e claro: objeto sem forma, apenas vulto macio e real. Que sonho raro será mais puro e belo e mais profundo do que esta viva máquina do mundo? (...)
UM TEXTO: CARTA (IMAGINÁRIA) A SÃO LUÍS 24 Ponta d’Areia, 8 de setembro de 2012
Exausto da solidão ilhéu, já não trago a rebeldia dos cabelos e a carnação azul da barba séria. Já não trago mais. O tempo me consumiu pulmão e coração e mais ainda consome em velocidade a cidade velha. Não sobraram versos, nem a sandália tem sobrado. Daqui os olhos saltam o mar e encontram as paredes puídas e o vestido roto da tua meia morada. Sobre a paz de tua imagem flutuando no Atlântico flui a música do tempo e cresce o musgo dos telhados. Os meus oitenta e cinco anos não são os teus quatrocentos anos, a minha história é bem menor que a tua. Mas nos encontramos pelo menos uma vez por ano na finitude desse chão batido de setembro, aterrado, banhado de sal e sol. Fui a tua última ponte, o teu anel, mandei o teu parnaso ao beleléu e me entreguei ao ludo real da poesia menina, aveira, sem formulário. Hoje, jubilado sob o cimento sem cor ou vida, entre o céu e o mar estou como um barco vivendo as marés, e a espuma vem dar em meus peitos em dias de ressaca. O arco do sol me refaz esperando o torvelinho dos teus dias. Morro onde o vento se revolta e faz a curva. No teu novo ano, não venho com um canto de louvação ou um breve memorial pra despistar a minha fadiga. Deixo o louvor aceso no castiçal das igrejas e me visto de padre ou economista para compreender as tuas novas castas. Deixo no primeiro ano do teu quinto centenário o meu marco regulatório, tão em voga nos dias de hoje! De queixa e assombro, afinal sou filho do ruído das palavras. Em verdade, vai-se acabando o tempo da homenagem, o tempo do reconhecimento. O que permanece é esse sempiterno musgo nos beirais da memória. Se ainda não chegou o final dos tempos em 2012, então chegou o dia do triunfo da folhagem. É esse o marco regulatório que prenuncio. Sem soberba alguma, o memorial que tu me deste era pouco e se acabou. Nada contra o cheiro forte do capim que me cobre a face, mas me sinto vegetal e terra a consubstanciar-se com meus ossos. Vizinho está o mar com sua espuma, com sua raiva e sua ânsia, misturando sua maresia com o acre cheiro do mato. Do memorial me pego a ver os navios se afastando e uma saudade que não é de amigos nem de parentes subindo aos olhos. É a saudade do futuro que me aflige. Pelos próximos quatrocentos anos deverei ainda dormir à sombra de grandes árvores em noites de espanto, próximas do medo, do frio silêncio, da paz intangível, para depois despertar com o mundo vegetal e as aves roçando meus ombros materiais, sentindome pedra. Sim, sinto-me pedra com o barulho das pedras do reggae que ao lado sacodem a minha estrutura de concreto. Acordo um trapo, um trapiche. Desculpe-me se no século passado não tive traquejo para o teu chamego parnasiano. E me perdoe se não levo jeito agora para a tua ginga jamaicana. Não, não te escrevo para lamuriar. Por todos os caminhos do mundo por onde fui ou ouvi falar, a erva cresce daninha, entre as ruínas de um homem qualquer destroçado. Onde havia poesia, há paredes carcomidas nas quais bichos espreitam sobejos de alguma estrofe.
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LIMA, Feliz Alberto. In REDEMOINHO. Disponível em http://oredemoinho.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html ; texto baseado livremente em fragmentos de poemas de Tribuzi. Acessado em 28 de março de 2014.
Diga a Maria que ainda habito um outono enorme. Que um dia quando pó forem meus nervos e minha carne, quando já nada reste dos meus erros, possa ao menos alguém lembrar ao ler o mais triste dos poemas e, lembrando, ouça a música incontida da palavra comigo sepultada: doce, nítida, pura, azul e alada. Ao povo diga que jamais haverá quem corte o laço que a ti me prende, anel unindo o amante à sua amada, no fatal abraço em que se funde a vida coruscante. E antes que a morte me proíba de renascer as manhãs, deixa-me contemplar mais uma vez essa nesga do teu céu. Ainda velarei o azul dos teus dias com o que me sobra de esperança. Ainda hei de aprender a tua poesia. Felicidade. Bandeira Tribuzi
FRAN PAXECO E DUNSHEE DE ABRANCHES VIDA E MORTE... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ25 Cadeira 21 – Patroneada por Fran Paxeco Neste mês de março, dois acontecimentos marcantes que não posso deixar passar: o nascimento de Fran Paxeco26 – dia 9, do ano de 1874; e o falecimento de Dunshee de Abranches27 – dia 11, de 1941. O primeiro, meu patrono da ALL (Cadeira 21); o segundo, idem no IHGM (Cadeira 40).
FRAN PAXECO Nasceu em Setúbal a 9 de Março de 1874 Faleceu em Lisboa em 17 de Setembro de 1952. Manuel Fran Paxeco (nascido Manuel Francisco Pacheco), mais conhecido como Fran Paxeco28 nasceu em Setúbal a 9 de Março de 1874 e faleceu em Lisboa em 17 de Setembro de 1952. Foi jornalista, escritor, diplomata e professor português; cônsul de Portugal no Maranhão, no Pará, em Cardiff e em Liverpool. Chegou a São Luís do Maranhão em 2 de Maio de 1900, sendo autor de diversas obras sobre temas de interesse para a região 29: Fran Paxeco, escritor português, discípulo e devoto de Teófilo Braga, chegara ao Maranhão, procedente de Manaus, onde o seu temperamento combativo lhe havia criado grandes e aborrecidas incompatibilidades. Idólatra do seu mestre saíra a defendê-lo de Sílvio Romero, que o acusara de gravíssima desonestidade literária 30.
Primeiro ocupante da Cadeira 14 do IHGM, patroneada por Antonio Bernardino Pereira do Lago, o seu amor pelo Maranhão levou-o a recusar transferências para postos da carreira diplomática muito mais prestigiosos que o consulado de São Luís do Maranhão; de Novembro de 1913 a Fevereiro de 1914 está no Rio chamado pelo primeiro Embaixador de Portugal no Brasil, Bernardino Machado para o secretariar; em 1916 publica "Angola e os Alemães" e segue para Lisboa onde chega a 27 de Maio para ocupar entre outros cargos o de secretário particular do agora Presidente da
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizador). OS LUDOVICENSES - UMA ANTOLOGIA, VOLUME III. São Luis, (inédito), 2014. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Fran Paxeco – um dos propugnadores da Educação Physica no Maranhão. CONGRESSO BRASILEIROS DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA... ANAIS, Londrina-Pr, agosto de 2014. 27 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA 40 DO IHGM. São Luis, março de 2008 28 http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuel_Fran_Paxeco 29 VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXECO E OUTRAS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957. 30 CAMPOS, Humberto de. MEMÓRIAS E MEMNÓRIAS INACABADAS. São Luis: Instituto Geia, 2009 SAMUEL, Rogel. Fran Paxeco segundo Humberto de Campos. In ENTRE-TEXTOS, publicado em 20/11/2011, disponível em http://www.45graus.com.br/fran-paxeco-segundo-humberto-de-campos,entre-textos,86963.html 26
República, mas continuando como cônsul de Portugal no Maranhão (tinha sido promovido a cônsul de 2ª classe em 4 de Julho de 1914); A 18 de Agosto de 1919, em reunião de professores da Faculdade de Direito do Maranhão, propõe a realização do Primeiro Congresso Pedagógico do Maranhão, o que veio a realizar-se no ano seguinte. Em 8, 28 e 31 de Janeiro de 1920, houve sessões preparatórias. A sessão inaugural teve lugar a 22 de Fevereiro. Em São Luis, no mês de agosto de 1922 recebe Sacadura Cabral, festejando a travessia aérea do Atlântico Sul; em 1923 o encontramos em Belém do Pará como cônsul, lugar que deixa em Junho de 1925, quando volta para Lisboa; em 1927 vai para Cardiff, desempenhar idênticas funções diplomáticas. Escreve "Portugal não é Ibérico". Faz parte da "South Wales Branch" da Ibero American Society, contribuindo para que o nome fosse mudado para "Hispanic and Portuguese Society". Com o cônsul do Brasil consegue abrir e manter no Technical College uma cadeira de língua portuguesa; No ano de 1933 está de volta a Lisboa ocupando a Direcção Geral dos Serviços Centrais do Ministério dos Estrangeiros. A 24 de Novembro já está em Liverpool a cumprir mais uma missão diplomática onde se mantém até 1935, quando regressa a Portugal, de onde nunca mais saíu. É perseguido pelo Estado Novo, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros nunca mais lhe atribuíu nenhuma missão diplomática (graças ao Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Teixeira de Sampayo, monárquico convicto), o que muito o fez sofrer. 1939, um AVC com graves sequelas: fica sem fala, sem poder escrever e paralítico, as suas grandes formas de comunicação como grande orador e escritor que era. A Biblioteca do Grémio Literário Português em Belém do Pará e a Praça do Comércio em São Luís do Maranhão têm o seu nome. O seu nome encontra-se presente nas toponímias de Setúbal, de São Luís do Maranhão e de São Paulo. Foi fundador da Academia Maranhense de Letras, da Faculdade de Direito, da Universidade Popular, do Centro Republicano Português, do Instituto de Assistência à Infância, do Casino Maranhense, da Associação Cívica Maranhense, da Câmara Portuguesa do Comércio, da Oficina dos Novos, da Legião dos Atenienses, participou do revigoramento e reorganização da Associação Comercial do Maranhão, entre outros organismos, todas as iniciativas relevantes. Profere palestras literárias, cortejos e homenagens cívico-culturais, luta por modernos meios de transporte, pelo incentivo à agropecuária, pela criação de um parque industrial, pela melhoria dos serviços de saúde, pela urbanização da cidade. E tudo isso de par com atividades no magistério público e particular, com diuturna atuação na imprensa, com viagens e trabalhos na Amazônia, com a publicação de livros, com idas ao Rio de Janeiro e a Portugal.31 Na imprensa maranhense deixou uma colaboração tão diversificada e ao mesmo tempo copiosa, que ainda hoje aguarda e reclama a seleção temática da qual resultarão seguidos volumes de interesse para o estudo da vida maranhense. Tais volumes viriam somar-se às obras maranhenses desse autor de vasta bibliografia que compreende assuntos tão variados quanto foram os campos de interesse de seus estudos: Algumas obras: O Uruguai, prefácio a este poema de Basílio da Gama. Rio de Janeiro, Livraria Clássica de Alves & Comp, 1895. O Guarani, proêmio ao libreto da ópera de Carlos Gomes. Belém-Pará, 1896. O Centenário Indiano, manifesto das associações portuguesas do Pará. Belém-Pará, 1897. O Sangue Latino. Lisboa, 1897. O Album Amazônico. Genova, 1898. Os escritores portuguezes: Teófilo Braga. Manaus, Tipografia do Diário de Noticias, 1899. Jubileu de João de Deus - folheto. Manaus, 1899. Os Escândalos do Amazonas. Manaus, 1900. 31
http://www.academiamaranhense.org.br/academicos/fundadores/05.php
A Questão do Acre, manifesto dos chefes acreanos. Belém-Pará, 1900. O Sr. Sílvio Romero e a literatura portugueza. São Luís do Maranhão, A. P. Ramos d'Almeida, 1900. Mensagem do Centro Caixeiral do Dr. Teófilo Braga. São Luís, 1900. Juiz sem Juízo, comédia de A. Bisson, versão com Antônio Lôbo. O Porvir Brasileiro (série de longos artigos em vários números d'A Revista do Norte). São Luís, 1901. O Maranhão e os Seus Recursos. São Luís do Maranhão, 1902. O Sonho de Tiradentes, peça num ato. São Luís do Maranhão, 1903. O Comércio maranhense, relatório da Associação Comercial do Maranhão. São Luís do Maranhão, 1903. Os interesses maranhenses. São Luís do Maranhão, A Revista do Norte, 1904, XXVIII. O Departamento do Juruá. Cruzeiro do Sul, 1906. A literatura portugueza na Idade Média: conferência. São Luís do Maranhão, Universidade Popular do Maranhão, 1909. O Maranhão: subsídios históricos e corográficos. São Luís do Maranhão, 1912. Portugal e a Renascença. São Luís do Maranhão, 1912. Os Braganças e a restauração. São Luís do Maranhão, Tipografia da Pacotilha, 1912. O Maranhão. São Luís do Maranhão, 1913. As normas ortográficas, na Revista da Academia Maranhense. São Luís do Maranhão, 1913. A Língua portuguesa, por Filipe Franco de Sá, organização e posfácio. São Luís do Maranhão, 1915. Angola e os alemães. Maranhão, 1916. O trabalho maranhense. São Luís do Maranhão, Imprensa Oficial, 1916. A escola de Coimbra e a dissolução do romantismo. Lisboa, Ventura Abrantes, 1917. A visão dos tempos. Coimbra, 1917. Teófilo no Brasil. Lisboa, Ventura Abrantes, 1917. Visão dos tempos - epopeia da humanidade: conferência realizada em 21 de Fevereiro de 1917. Lisboa, Academia das Ciências de Portugal, 1917. Separata dos Trabalhos da Academia das Ciências de Portugal A cortiça em Portugal (resumo de informações do ministério dos estrangeiros). Lisboa, 1917. As normas ortográficas, in Revista da Academia Maranhense. São Luís do Maranhão, 1918. João Lisboa: livro comemorativo da inauguração da sua estátua contendo estudos críticos de vários autores (org. da Academia Maranhense). São Luís de Maranhão, Imprensa Oficial, 1918. Portugal e o equilíbrio europeu, conferência, na Pacotilha. São Luís do Maranhão, 1918 (I-XII). Portugal e o Maranhão, folheto. São Luís do Maranhão, 1919. O Pará e a colónia portuguesa, folheto. Belém do Pará, 1920. Geografia do Maranhão. São Luís do Maranhão, 1923. Trabalhos do congresso pedagógico do Maranhão. São Luís do Maranhão, 1923. Cartas de Teófilo Braga (com um definitivo trecho autobiográfico do mestre e duas "confissões" de Camilo) (prefácio e compilação). Lisboa, Tip. da Emp. Diário de Noticias, 1924. O Portugal primitivo, folheto. Belém do Pará, Tip. Grafarina, 1925. Sobre Teófilo Braga, genealogia, folheto. Belém do Pará, 1925. O século português (1415-1520), conferência longa, proferida na capital do Pará e publicada no País, do Rio de Janeiro. 1926. Setúbal e as suas celebridades. Lisboa, Sociedade Nacional de Tipografia, 1930/1931. Portugal não é ibérico (antelóquio de Teófilo Braga). Lisboa, Tipografia Tôrres, 1932. O poema do Amadis de Gaula, conferência lida em 10-11-1932, na Universidade de Cardiff. Coimbra, Coimbra Editora, 1934 (separata da Biblos). The intellectual relations between Portugal and Great Britain. Lisboa, Império, 1937.
Casou com Isabel Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís do Maranhão, de quem teve uma filha, Elza Paxeco, primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Associações científicas de que foi membro • Sociedade de Geografia de Lisboa; Sócio correspondente, admitido em 1 de Fevereiro de 1897.
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Academia Maranhense de Letras, de que foi sócio fundador; Academia Alagoana de Letras; (sócio correspondente); Academia Piauiense de Letras; (sócio correspondente); Société Académique d'Histoire Internationale; Medalha de Ouro. Paris, 27 de Junho de 1912. Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano; Sócio correspondente, eleito em 24 de Novembro de 1913. Academia de Ciências de Portugal; (sócio correspondente) eleito em 13 de Janeiro de 1915. Associação de Imprensa do Amazonas; Associação de Imprensa do Pará; Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas (São Paulo); Grémio Literário e Comercial Português, hoje, Grêmio Literário e Recreativo Português, Belém do Pará; Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; Instituto Histórico e Geográfico do Pará; Sócio Honorário,eleito em 12 de Maio de 1920. Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Sócio correspondente, investido em 20 de Novembro de 1925. Liga Portuguesa de Repatriação; Belém do Pará: Sócio Benemérito, eleito em 26 de Junho de 1925. Sociedade Portuguesa Beneficente; Belém do Pará: Sócio Benfeitor, eleito em 26 de Março de 1925. Associação Dramática Recreativa e Beneficente; Belém do Pará: Sócio Beneficente, eleito em 5 de Julho de 1927. Instituto Histórico de Pernambuco; Instituto Histórico do Piauí; Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro.
DUNSHEE DE ABRANCHES Nasceu em São Luis, Maranhão, em 02 de setembro de 1867 Faleceu em Petrópolis, em 11 de março de 1941. JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA nasceu em São Luis, Maranhão, em 02 de setembro de 1867. Após os estudos primários em sua terra natal – primeiro, estudando com sua mãe e tias, no famoso ‘Colégio das Abranches’, onde também deve ter feito os preparatórios para o Liceu Maranhense. Um dos famosos “meninos do Liceu” no dizer de Gonçalves Dias, aos 16 anos de idade, ao concluir seu Curso de Humanidades, foi plenamente aprovado em severos exames de Gramática Portuguesa, Latim, Francês, Alemão, Inglês, Aritmética, Álgebra, Geometria, Trigonometria, Geografia, História, Filosofia e Retórica. Há esse tempo, precoce, já estudara Desenho com Horácio Tribuzi, Harmonia com Leocádio Rayol, Piano com sua mãe, d. Emília, e Violino com Pedro Ziegler. Tornou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. Antes, porém, foi aluno da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, mas não concluiu o curso, cursando-o até o quinto ano. No ano de 1889, a 6 de janeiro, casa em cerimônia celebrada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, nesta cidade, com a Senhorita Maurina da Silva Porto, de cujo consórcio teve filhos: Carmen, Iza, Nadir, Clovis, Hugo, e Maurina Dunshee Marchesini. Em 1890, estava na Bahia, retomando os estudos de Medicina, porém ‘tirando a carta’ de Farmacêutico; prossegue os estudos de Medicina e inicia o de Direito (1891). De volta ao Maranhão, foi enviado pelo Governador da Província, o pernambucano José Moreira Alves da Silva, como Promotor Público, para averiguar os acontecimentos e decifrar o mistério d’ “A Esfinge de Grajaú”. Decifrar o enigma não era outra coisa, senão uma explicação racional para as tantas brigas sangrentas existentes em Grajaú. Nos anos seguintes, o advogado Dunshee tornou-se Deputado Estadual no Maranhão (19041909), e integraria depois a bancada de sua Província natal na Câmara Baixa do País, tendo sido eleito mais de uma vez (1909-1917). Viveu boa parte de sua vida no Rio de Janeiro, onde se torna adepto do Positivismo. Foi professor de Ciências Física e Naturais, de Anatomia e Fisiologia, de Direito Público e agraciado com o título de Professor Honorário da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, onde recebeu a mais alta condecoração da Cruz Vermelha Alemã. Em setembro de 1929, chefiou a delegação brasileira à solenidade de lançamento da pedra fundamental da Basílica de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Lisieux, França. Na ocasião, falaram apenas três oradores: o Cardeal Charost, representante do Papa Pio XI, George Goyau, da Academia Francesa, e Dunshee de Abranches. Escritor, Jornalista, Político Maranhense. Ensaísta, Pesquisador, Memorialista. Intelectual, Ativista, Produtor Cultural. Idealista. Visionário. Dunshee de Abranches foi sócio de diversas instituições sociais, culturais e de classe de seu tempo, dentre outras, Ordem dos Advogados do Brasil, de que foi membro do Conselho Federal e do Instituto dos Advogados. Presidente da Associação Brasileira de Imprensa - ABI. Patrono da Cadeira 40, da Academia Maranhense de Letras. Escreveu dezenas de obras 25 entre as quais, “A Setembrada”, “Garcia de Abranches – O Censor”. Encontra-se na Estante do Escritor Tocantinense, da Biblioteca Pública, do Espaço Cultural de Palmas.
Dunshee de Abranches fez poesia, ensinou Direito na Alemanha, escreveu romances, militou na imprensa, exerceu mandatos políticos e foi, acima de tudo, memorialista de um longo período da vida maranhense e brasileira. Faleceu em Petrópolis, em 11 de março de 1941, com 74 anos de idade. Bibliografia de Dunshee de Abranches Moura: 01. ‘Sou a Revolução’, discurso: São Luís, 1883. 02. ‘Selva’, poesias. Tipografia Frias: São Luis, 1885. 03. ‘Transformações do Trabalho’, memória. São Luís: Tip. Pacotilha, 1888. 04. ‘Pela Paz’, poemas. Rio [de Janeiro]: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 05. ‘Cartas de um Sebastianista, sátiras em verso. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1895. 06. ‘Memórias de um Histórico’, 2 vols. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 07. ‘Crítica de Arte’ – o Salão de 1896’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 08. ‘Como se faz o Jornal do Brasil’. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1896. 09. ‘Papá Basílio’, romance sob o pseudônimo de Ferreira de Andrade. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1898. 10. ‘O ano negro da República’, retrospecto político. Rio de Janeiro: Of. de Obras do Jornal do Brasil, 1889. 11. ‘O 10 de abril’, narrativa histórica. Rio de Janeiro: Of. de ‘O Dia’, 1901. 12. ‘Institutos equiparados’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 13. ‘Exames Gerais de Preparatórios’, inquérito. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1904. 14. ‘Ensino Superior e Faculdades Livres’, relatório. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1905 15. ‘O Tratado de Bogotá’, memória histórica. Rio de janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 16. ‘Atos e Atos do Governo Provisório’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 17. ‘Reforma da Justiça Militar’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1907. 18. ‘Tratados do Comércio e navegação do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1909. 19. ‘Necrológio Político do Dr. Benedito Leite’. São Luís: Tip. Frias, 1909. 20. ‘A Lagoa Mirim e o Barão do Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 21. ‘Limites com o Peru’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1910. 22. ‘Associação de Imprensa’, relatório. Rio de janeiro: Tip. Do Jornal do Comércio, 1911. 23. ‘Rio Branco’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1911. 24. ‘O Brasil e o Arbitramento’. Rio de Janeiro: Tip. Leusinger, 1911. 25. ‘O maior dos Brasileiros’, defesa póstuma de Rio Branco. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1912. 26. ‘Pela Itália’, impressões de viagem. Barceloa, Imprenta Viúva de Luis Tasso, 1913. 27. ‘Lourdes’, conferencia. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1914. 28. ‘A Conflagração Européia e suas causas’. Rio de Janeiro: Tip. Jornal do Comércio, 1914. 29. ‘Em torno de um discurso’, entrevista. Rio de janeiro: Tip. Almjeida Marques, 1914. 30. ‘A administração da República e a obra financeira do Dr. Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 31. ‘O A.B.C. e a Política Americana’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 32. ‘Expansão Econômica e Comércio Exterior do Brasil’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 33. ‘Brazil and a Monroe Doutrine’, memória. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1915. 34. ‘A Inglaterra e a Soberania do Brasil’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques, 1915. 35. ‘A cultura do arroz e o protecionismo político’, memória. São Paulo: 1916. 36. ‘Código Penal Militar’, projeto de lei. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 37. ‘A Black-list e o Projeto Dunshee’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 38. ‘Ainda a Black-list’, carta ao Presidente da República. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916. 39. ‘A Alemanha e a Paz’. Rio de Janeiro: Tip. Almeida Marques & Cia, 1917. 40. ‘Contra a Guerra’. Rio de Janeiro: Tip. da Rev. dos Tribunais, 1917. 41. ‘A Ilusão brasileira’. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1917. 42. “Candidaturas Presidenciais – Rui e Rodrigues Alves’. Rio de Janeiro: Tip. Da Revista dos Tribunais, 1917. 43. ‘Governos e Congressos da República – 1899-1917’. São Paulo: Tipografia Brasil, 1918. 44. ‘Garcia de Abranches, o Censor – O Maranhão de 1822’. São Paulo: Tip. Rotschild & Cia, 1922. 45. ‘Companhia Brasileira Comercial e Industrial’, relatórios. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1923-1927.
46. ‘O Tratado de Versailles e os alemães no Brasil’. Rio de Janeiro: Casa Vallele, 1924. 47. ‘Minha Santa Teresinha’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 48. ‘Dois sorrisos de Maria’. Rio de Janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1932. 49. ‘A Setembrada’, romance histórico. Rio de janeiro: Tip. do Jornal do Comércio, 1933. 50. ‘Rio Branco e a Política exterior do Brasil’, obra póstuma. Rio de Janeiro: Of. Gráfica do Jornal do Brasil, 1945
Em comum, entre os três, a dedicação aos esportes. Fran Paxeco foi um dos propugnadores da Educação Física Escolar no princípio dos 1900, tendo organizado um Congresso Pedagógico em 1920, em que a EDE teve destaque; Dunshee de Abranches sempre se referiu, em sua obra, às atividades físicas... E eu, bem... Daí tê-los como Patronos em ambas as instituições a que pertenço.
JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS
PATRONO - CADEIRA 40 22 de março de 1947 / 07 de dezembro de 2010 Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ32 Nasceu em 22 de março de 1947, em São Luis do Maranhão; filho de Antônio Sebastião dos Reis e Rosy Sousa dos Reis; casado com Maria Osmina Sousa dos Reis, com quem teve seis filhos: José Ricardo Santos dos Reis; José Ribamar Sousa dos Reis Júnior; Rosy Maria Santos dos Reis; Maria Firmina Costa dos Reis; Antônio Sebastião dos Reis Neto e Francisco Amaral Sousa dos Reis. Somados a sete netos. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Maranhão em 1973; com Curso de Ciências Jurídicas incompleto; no seu currículo constam os mais diversos cursos de especialização em pré-planejamento; sua área de estudos era pesquisa socioeconômica. Faleceu em São Luís na tarde de 07 de dezembro de 2010. Ocupou diversos Cargos e Funções Públicas, como Coordenador Geral e Diretor Presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Maranhão – IPES; Assessor Técnico da Secretaria de Administração do Estado do Maranhão; Assessor Técnico da Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Estado do Maranhão – SEPLAN; Assessor Técnico do Escritório Técnico de Administração Municipal – ETAM; Assessor Técnico Instalador da Loteria Estadual do Maranhão – LOTEMA; representante no Estado do Maranhão e Coordenador Regional do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais do Recife; Coordenador Regional da Fundação Joaquim Nabuco do Ministério de Educação e Cultura; Secretário Executivo Adjunto da Fundação Cultural do Maranhão; Membro do Grupo de Coordenação do Projeto Praia Grande; Presidente do Conselho Regional de Economia 15 a. Região; Coordenador de Marketing do Banco de Desenvolvimento do Maranhão S.A.; Assessor da Superintendência de Planejamento do Banco do Estado do Maranhão S.A.; Chefe do Departamento de Estatística do Bando do Estado do Maranhão S.A.; Grande Secretário de Cultura e Orientação do Grande Oriente do Maranhão, tendo ainda exercido outros relevantes cargos e funções nas áreas de pesquisas socioeconômicas, planejamento e financeira do Estado. Historiador, pesquisador, escritor e poeta com diversos livros publicados dos quais se destacam, Poesias: Marcas; Verdade e Esperança; Lance de Rumo; Flor Mulher e Recital Poético (CD). Ensaios: Bumba meu Boi, O Maior Espetáculo Popular do Maranhão – Três edições esgotadas; Bumba-Boi – Alegria do Povo; Folclore Maranhense – quatro edições esgotadas; Feira da Praia Grande – duas edições esgotadas, Raposa: Seu Presente, Sua Gente, Seu Futuro (Perfil Psicossocial 32 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizador). OS LUDOVICENSES - UMA ANTOLOGIA, VOLUME III. São Luis, (inédito), 2014. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – em memória. Revista do IHGM n. 35, dezembro 2010, Edição Eletrônica http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1212201008.htm by ESTÊVÃO BERTONI http://jornalpequeno.com.br/edicao/2010/12/08/morre-em-sao-luis-o-escritor-e-economista-jose-ribamar-reis/ http://jornalpequeno.com.br/edicao/2007/03/23/ribamar-reis-60-anos-de-maranhensidade/ http://avozdaraposa.blogspot.com.br/2011/06/180-dias-sem-ribamar-reis.html http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2371780 http://diretodaaldeia.blogspot.com.br/2010/12/morre-jose-ribamar-reis-autor-da.html http://antonio.noberto.zip.net/arch2011-11-27_2011-12-03.html
dos Municípios Maranhenses – Projeto Piloto); Newton Pavão – Mestre das Artes; Contos da Ilha; São José de Ribamar: A Cidade, O Santo e sua Gente; João Chiador, 50 Anos de Glória, Meio Século de Cantoria; Praia Grande, Cenários: Históricos, Turísticos e Sentimentais; ZBM: O Reino Encantado da Boêmia, São João em São Luís: O Maior Atrativo Turístico-Cultural do Maranhão; Sertão da Minha Terra, A Saga das Quebradeiras de Coco (contos); O ABC do Bumba-Boi do Maranhão, duas edições esgotadas; Amostra do Populário Maranhense; Terreiro do Riacho “Água Fria” (novela); Carimã (contos); Folguedos e Danças Juninas do Maranhão; Mãe Tomázia (contos). Inéditos: Ilha de São Luís: Processo de Metropolização; São Pantaleão / Madre Deus: O maior Pólo da Cultura Popular São-luisense; Os Fuzileiros da Fuzarca: Relíquias da Batucada Maranhense; As Maiobas: A Capital do Bumba-Boi da Ilha; De Pericumã a Cumã (contos-ficção/realidade); O Pajé Curador de Canelatiua (contos-ficção/realidade); Da Casa das Tulhas a Feira da Praia Grande; Brincadeiras Populares do Maranhão; Baixada Maranhense em Prosas e Versos; Mapeamento das Manifestações Culturais do Estado do Maranhão; Dicionário da Maranhensidade (Lingüística Histórica); A Saga de Seu Bento: O Retirante (novela) e Trincheira da Maranhensidade em Artigos e Crônicas. Sua colaboração jornalística é marcante com milhares de artigos e crônicas publicadas nos principais jornais maranhenses. Atualmente, mantinha sua colaboração, semanalmente, às sextas-feiras no Suplemento Cultural JP - Turismo do Jornal Pequeno, onde é titular da Coluna Trincheira da Maranhensidade. Colaborou, diariamente, com o Jornal O Estado do Maranhão, com uma página econômica pelo período de um ano e meio, além de inúmeras participações em palestras, debates, seminários e simpósios locais, regionais, nacionais e internacionais. Frequentemente era convidado para participação de eventos dessa natureza, com destaque maior para os que tratam do tema sobre a Cultura Popular Maranhense. Autor da Simbologia de Autoestima dos Maranhenses: a Maranhensidade, cria deste historiador, membro efetivo do IHGM, entre controvérsias e aplausos é a fase modal da Cultura Maranhense, principalmente a área da Cultura Popular, o que não deixa de ser mais uma prova do eficiente e diuturno labor deste abnegado defensor das coisas e da gente deste torrão. CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM DISCURSO DE JOSE DE RIBAMAR SOUSA DOS REIS, POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO DO LIVRO DE SUA AUTORIA “RAPOSA: PRESENTE, SUA GENTE, SEU FUTURO’, NO IHGM EM 27.5.1998 No. 21, 1998 48-52 DA CASA DAS TULHAS A FEIRA DA PRAIA GRANDE: A NECESSIDADE DE CONHECER PARA PRESERVAR! N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 92- 94 HOJE É DIA DO LIVRO FOLCLORE MARANHENSE N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 110-111 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: A CASA DE ANTÔNIO LOPES. 84 ANOS DE HISTÓRIA FAZENDO HISTÓRIA N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 178-180 MÃE TOMÁZIA: MAIS UM PRESENTE PARA NOSSA CODÓ REVISTA IHGM 32 - MARÇO 2010, p. 90 FALTA DE RESPEITO AOS RESTOS MORTAIS DE MARIA FIRMINA DOS REIS REVISTA IHGM 32 - MARÇO 2010, p. 92 TRINCHEIRA DA MARANHENSIDADE: DISCURSO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS AO RECEBER O TÍTULO DE CIDADÃO RAPOENSE. REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 113 AS NOSSAS FESTAS JUNINAS & O MERCADO DA GLOBALIZAÇÃO CULTURAL! REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 115 DISCURSO PROFERIDO NO PLENÁRIO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, EM REUNIÃO ORDINÁRIA, DIA 25 DE SETEMBRO DE 2002. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 108-112 4º CENTENÁRIO DA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 150
400 ANOS DO MARANHÃO/SÃO LUÍS/VILA DE VINHAIS
4º CENTENÁRIO DA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO Postado em: 03/09/2010 14:45:42 Precisa ser Priorizado pela Imprensa Local! Como bons brasileiros; nós maranhenses não seriamos o contrário! As coisas mais urgentes e necessárias sempre continuam ficando para as últimas horas. Ai é um corre-corre dos maiores e haja improvisos repletos de imperfeições e muitas das vezes grandes injustiças e sérias inversões de valores que acabam sendo o pior! A data oficial de criação da Musa Maior dos Poetas Atenienses: São Luís do Maranhão é 08 de setembro de 1612; desta maneira, no próximo 08 de setembro de 2012, a bela e romântica capital maranhense ostentando, mesmo ainda muito maltratada, cenários incríveis de uma beleza onde a natureza se mescla com os dotes imensuráveis da cultura desta urbe dupla: a velha e histórica São Luís e a moderna, metrópole Grande São Luís, repleta de aranhascéu, túneis e elevados, que a cada minuto nos enche de orgulho e vaidade de sermos ludovicense. Na Capital Ludovicense Patrimônio da Humanidade suas veias poéticas explodem pelos cantos e encantos de suas ruas estreitas, decoradas com pedras de cantaria, que mostram seus casarios com os ricos e deslumbrantes beirais. Nos belos telhados os vegetais parecem desafiar os conceitos científicos e proliferam formando verdadeiros jardins suspensos, mesmo maltratos e muito pouco valorizados! O Centro Histórico são-luisense não se pode deixar de conceituá-lo como o Maior Museu A Céu Aberto das Américas é imensurável o acervo de lindas peças, cujo conjunto é um dos maiores atrativos turístico-culturais dos nossos “brasis”. Com destaque maior para o bairro da Praia Grande, um Monumento Colossal! Se todos esses encantos e belezas nos deixam extasiados de contentamentos e nos inspiram poeticamente; a outra vertente moderna de São Luís nos deixa deveras preocupados com o sério conjunto de problemas oriundos da grande explosão populacional quer por isso ou aquilo a Grande São Luís vive atualmente um de seus maiores êxodos rurais já acontecido, somado a uma forte demanda de espaço físico pelo constante fluxo de migrantes que buscam em terras de Bandeira Tribuzi melhores dias! Desta maneira, se avolumam situações negativas na infra-estrutura geral da cidade, no saneamento básico; surgem constantemente problemas ambientais; a segurança por mais esforços que as autoridades priorizem, ainda fica a mercê de melhoras; agravam-se a falta de atendimentos na saúde e a educação não é mais a da velha e inesquecível, São Luís do Liceu Maranhense, da Escola Normal, da Escola Modelo, dos Maristas, do Colégio São Luís, do Ateneu Teixeira Mendes e tantas outras escolas, colégios que muito contribuíram para o resplandecer de uma cultura reconhecida internacionalmente, com as mais diversas participações que galgaram ressonâncias nacionais. Nos reportamos a fase áurea de São Luís Atenas Brasileira; claro que a nossa cultura continua vibrante e forte. Mas, a cidade se agigantou deixando de ser aquela acolhedora tapinha para ser hoje a São Luís de quatro séculos! Mas, a bem da verdade os quatrocentos anos estão bem ai e nada oficialmente foi feito e/ou programado por qualquer segmento da sociedade; alguns rápidos comentários já chegaram ao nosso conhecimento: da Universidade Federal; do Instituto Histórico e Geográfico e alguns outros. Na verdade o que está faltando é o despertar da Maranhensidade, o interesse, o orgulho de descobrir a identidade cultural e principalmente a auto-estima do ludovicense com sua cidade-luz. O saudoso Mestre Nascimento Moraes Filho preconizava uma afirmativa das mais sérias e corretas: “O Maranhense não conhece o Maranhão!” Eis uma oportunidade de unidos sem baixarias de politicagens ou tendências de grupinhos em nome da Cultura e muito principalmente em consideração e respeito a São Luís façamos das comemorações destes quatrocentos anos uma grande mostra do que fomos e do que somos; despertando em cada cidadão são-luisense amor pela
sua rua, bairro. A cidade é de todos nós! Necessitamos conhecer para amá-la! É preciso que cada cidadão conheça seus direitos e deveres para também funcionar como agente de preservação tanto do patrimônio arquitetônico, quanto histórico-cultural. Para que esta idéia se realize, supomos que somente através da união e a intervenção maciça da Imprensa Maranhense, quando poderemos formar um grande mutirão sem cores de times ou partidos políticos com a finalidade de montarmos um grupo polivalente e específico que trate das comemorações do IV Centenário da nossa São Luís do Maranhão. As ações produzidas separadamente por este e aqueles segmentos sociais não terão o impacto dessas mesmas ações deflagradas em conjunto e com o apoio das áreas mais representativas da sociedade local. São Luís merece uma grande festa nos seus 400 anos, afinal são quatro séculos não são quatro dias ou semanas. Na verdade são 146.000 dias de lutas, vitórias e glórias! Sonhamos com uma programação extensa, que seja executada o ano inteiro, com a participação prioritária dos jovens estudantes; dos colégios; das Universidades; dos Produtores Culturais em Geral; todos os órgãos governamentais, não governamentais sem distinção de níveis municipal, estadual ou federal; associações; Classe Empresarial, enfim todos segmentos representativos da sociedade são-luisense sem qualquer exclusão e claro principalmente a mídia e seus Sistemas de Comunicações. Devemos colocar a disposição do grande público, que com certeza buscará conhecer ou visitar a quatrocentona cidade, informações, livros, brochuras, exposições, peças teatrais, guias e tudo mais para que esses demandantes tenham satisfeito suas necessidades de ser bem informado sobre a cidade que visitarão no seu 4º Centenário. Dando prioridade também a concursos estudantis locais, nos mais diversos níveis, sobre a temática. Para iniciarmos a montagem deste Mutirão sugere-se que os órgãos representativos da Imprensa Maranhense e seus Sistemas Midiáticos produzam um Seminário ou Mesa Redonda com seus associados, profissionais e convidados especiais para tratarem especificamente de estratégicas de como proceder para que os objetivos da idéia sejam alcançados o mais rapidamente. Bom, que se repita um artigo aqui, outro acolá não irá ter a repercussão de uma ação conjunta, a qual é necessária e da maior urgência. Partamos de que a idéia é de todos nós militantes diretos ou indiretamente da imprensa local! Vamos ao Mutirão da Imprensa em prol do 4º Centenário da Cidade de São Luís do Maranhão!
FALTA DE RESPEITO AOS RESTOS MORTAIS DE MARIA FIRMINA DOS REIS33 José Ribamar Sousa dos Reis Membro Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nossa Trincheira hoje é de protesto indignação e séria perplexidade, jamais nos passou pela mente que pesquisando sobre a Região Baixada Maranhense, principalmente sobre a cidade de Guimarães iríamos receber um choque ao nos deparamos com uma notícia em um dos blogs viamarenses, mais precisamente o http://vimarense.zip.net – um recanto para matar as saudades de Guimarães sobre o saqueamento, desprezo, desrespeito para com os restos mortais de uma das mais ilustres mulheres maranhenses de todos os tempos. Exatamente a primeira romancista brasileira; autora do hino da abolição da escravatura no Brasil, a digna representante da Maranhensidade pela sua etnia; cultura e coragem de defender as coisas e a gente deste torrão. Poetisa que assim cantou e decantou a cidade de Guimarães: “Tomei a lira mimosa / De festões a engrinaldei / E pus-lhe cordas de ouro / teus encantos cantei!” Eis a resposta: o sepulcro da Mestra, poetisa, abolicionista e folclorista Maria Firmina dos Reis, a sua última morada escolhida pela própria em terras viamarenses, não era para ser tratado de uma maneira rude e vulgar. Chegando a ponto de estar arrombado, totalmente danificado, pela foto o leitor observa que não se pode afirmar se, os restos mortais da insigne autora de Úrsula (1859), obra que corre ainda o mundo, estejam sem ter sido molestados ou até mesmo roubados, a exemplo do que aconteceu também aos restos mortais de Francisco Sotero dos Reis, que se encontravam em baixo do seu medalhão na Praça Pedro II, esculpido por Newton de Sá e por ocasião de uma reforma foram levados pelo vento ou piratas de sepulturas. Basta de ingratidões; de falta de reconhecimento; de inversões de valores a Vates que deram a vida em defesa de nossas coisas e nossa gente e agora olhem o reconhecimento! Em contrapartida, outros tantos e tantos calhordas, que fizeram e fazem o contrário do que a criadora da primeira escola mista em terras maranhenses e onde foi? No solo de Guimarães, enquanto os verdadeiros valores são desprezados; os picaretas culturais aumentam e são até condecorados. Já a Mestra Régia que deu seu sangue e grande parte de sua existência na alfabetização de tantas e tantas gerações viamarenses seus restos mortais vagueiam, necessitando que saiamos de pires na mão para o reparo de seu sepulcro. Reflitamos sobre tal cenário! Foi a poetisa a Dama da Abolição da Escravatura Brasileira. Antes de qualquer coisa os feitos de Maria Firmina dos Reis foram e representaram para a eternidade grandes participações nacionais de uma legítima maranhense, cujas ações nos enche de jubilo e orgulho. Deste modo, o caos que se encontra sua sepultura não merece tão somente, a solicitação mesmo que tarde do vereador vimarense Osvaldo Gomes, a qual como já falamos mesmo tardias foram válidas tais intervenções do referido edil, inclusive aprovada em 7 de novembro de 2009 pela Câmara Municipal de Guimarães. Abrindo aqui um parêntese, solicitamos a quem interessar possa, que resida na cidade de Guimarães, que nos informe sobre o estado que se encontra a referida sepultura, hoje, para que possamos tomar as devidas providências. Aproveitamos para lembrar as autoridades maranhenses de que estes descasos imorais, que estão acontecendo com o sepulcro desta Emérita Poetisa não são de culpas individuais de quem quer seja. Mas, sim de todos nós maranhenses. Desta maneira, esperamos que providências urgentes e cabíveis sejam tomadas por quem de direito no sentido de que seja construído condignamente um túmulo para Maria Firmina dos Reis, cujo sepulcro, na 33
Blog do Leopoldo Vaz disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2010/01/20/maria-firmina-dos-reis/
afirmação do Mestre Turismólogo e Escritor Antônio Norberto, deve se tornar uma das maiores atrações turísticas para a cidade de Guimarães. Vamos recordar aos esquecidos, um pouco quem foi esta guerreira maranhense. Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão em 11 de outubro de 1825, no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, teve por pais João Esteves (ele negro) e Leonor Felipa dos Reis (ela portuguesa) e viveu por algum tempo no bairro de São Pantaleão. Mas embora tenha nascido em São Luís, Maria Firmina passou a maior parte de sua vida na cidade de Guimarães. Foi autodidata, principalmente por ter aprendido francês sozinha. Professora primária por quase toda a vida, profissão esta, que teve início quando fora aprovada em primeiro lugar em um concurso público estadual no ano de 1847 para mestra régia – isto é, professora concursada, e não leiga -, aposentou-se em 1881, porém, um ano antes da sua aposentadoria fundou a primeira escola mista no Maranhão. Faleceu em 11 de novembro de 1917 aos 92 anos; cega e pobre. Iniciou sua carreira literária com a publicação do romance Úrsula (publicada sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”) em 1859. Posteriormente começou a colaborar com o jornal A Imprensa (1860), principalmente com poesias e em 1861 começa a publicar Gupeva no jornal Jardim das Maranhenses. Entre 1863 e 1865, republica Gupeva nos jornais Porto Livre e Eco da Juventude, somados a tantos outros escritos, bem como, colaborou com os mais diversos jornais maranhenses. Outra faceta da primeira romancista brasileira é a de ser também compositora musical, tanto de músicas clássicas, somadas a lindas toadas do bumba-meu-boi maranhense. Seu grande biógrafo; o saudoso escritor, pesquisador José Nascimento Moraes Filho, lhe atribui na sua obra meritória: Maria Firmina dos Reis, Fragmento de uma Vida, a precedência feminina na cultura maranhense, no jornalismo, na poesia, no romance, no conto e até na música popular e erudita Eclética é a obra de Firmina.
CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA
PATRONO - CADEIRA 33 14 de março de 1920 / 09 abril de 2011 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ34 Carlos de Lima35 nasceu em São Luís, a 14 de março de 1920. Técnico em contabilidade fez os cursos de Crítica Cinematográfica; História Cultural e Social de São Luís; Cenotécnica; Interpretação Teatral; Folclore; Museologia; Arte Moderna; Iniciação às Artes Plásticas; Museografia; Metodologia do Uso de Fontes Orais. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, historiador, folclorista, escritor, ator e poeta. É membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Comissão Maranhense de Folclore. Colabora na imprensa de São Luís, no jornal O Estado do Maranhão, na coluna Quinquilharias. Carlos de Lima foi ator de teatro. Atuou nas peças encenadas pelo grupo Teatro Experimental do Maranhão (Tema), sob a direção de Reinaldo Faray: “A ratoeira”, de Agatha Christie; “Gimba presidente dos valentes”, de Gian Francesco Guarniere; “O processo de Jesus”, de Henri Ghéon; “A revolução dos beatos”, de Dias Gomes; “Por causa de Inês”, de João Mohana. No cinema atuou em “A faca e o rio”, dirigido por Sloizer; “Uirá, um índio à procura de Deus”, dirigido por Gustavo Dahl; “Carlota Joaquina”, dirigido por Carla Camurati. Como escritor, publicou: (Fonte: Site AML) a) folclore: Bumba-meu-boi, 1968 (2ª ed. 1973, 3ª ed. 1982); Bumba-meu-boi do Maranhão, 1969 (coletânea de toadas); A festa do Divino Espírito Santo em Alcântara, 1972 (2a ed. 1988); Lendas do Maranhão. São Luís: [s.n.], 2006. b) história: História do Maranhão, 1981; Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara, 1997; Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos, 2002; Breve história da Igreja dos Remédios de São Luís do Maranhão, 2004; História do Maranhão: a colônia. São Luís: Instituto Geia, 2007. c) cordel: Carta ao compadre Triburtino, 1995; ABC do SEBRAE, 1995; Lendas do Maranhão, 1996. Publicou ainda: “As minhas e as dos outros: estórias maranhenses”, 1988, livro de crônicas e contos; “Uma elegia, Réquiem para um menino”, 1982; com Mário Meireles e Kátia Bogea, “Palácio Arquepiscopal: 100 anos de história”, 2002.
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. OS LUDOVICENSES. UMA ANTOLOGIA, VOL. III, São Luís, 2014 (Inédito). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. EM MEMÓRIA. CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA. Rev. Revista do IHGM, n. 37, junho de 2011. http://www.ihgb.org.br/ihgb62.php?l=l http://www.jornalpequeno.com.br/2011/5/9/governadora-lamenta-falecimento-do-pesquisador-carlos-de-lima-155058.htm 35
DO IHGB – Pesquisadores: LIMA, Carlos Orlando Rodrigues de, 1920São Luis, MA Bancário aposentado Áreas de pesquisa: História regional Obras: História do Maranhão (2006), Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara (....) e Caminhos de São Luís (....) Dos: IHGMA “Com profunda tristeza, a governadora Roseana Sarney recebeu a notícia do falecimento do pesquisador Carlos Orlando Rodrigues de Lima, aos 91 anos, na madrugada desta segunda-feira (9), vítima de leucemia. Membro da Academia Maranhense de Letras, o escritor que dedicou sua vida à investigação minuciosa da história do estado e de São Luís, publicando livros como “Lendas do Maranhão”, “História do Maranhão” e “Caminhos de São Luís”, deixa um legado de humildade, sabedoria e trabalho. Reconhecendo o talento e a competência de um dos pesquisadores mais dedicados ao estado, a governadora se solidariza com a mulher dele, a pesquisadora Zelinda Lima, os familiares e amigos. “A obra e a admiração dos maranhenses pelo trabalho de Carlos de Lima eternizarão o pesquisador e manterão para sempre viva sua lembrança”, ressaltou a governadora.” DIÁRIO DO ANDRÉ - relatos da rotina, jornalismo cultural e mais.36 Internado desde terça-feira por problemas cardíacos, no UDI Hospital, o escritor Carlos de Lima, um dos maiores pesquisadores de cultura e história maranhenses, morreu aos 91 anos às 0h40. Combatia desde o ano passado uma leucemia. Entre as suas principais obras, estão os livros “Lendas do Maranhão”, a trilogia “História do Maranhão” e “Caminhos de São Luís”. Carlos de Lima era membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Era casado há 64 anos com a folclorista e pesquisadora Zelinda Lima, depois de namorar por sete anos, um total de 71 anos de relacionamento. Sempre bem humorado e vivaz Carlos de Lima, que enfrentava uma leucemia desde 2010, mantinha no jornal O Estado do Maranhão a coluna dominical “Bisbilhotices”, na qual retratava diversas histórias burlescas, nas quais misturava bom humor, pesquisa histórica e o melhor que o ludovicense sabe fazer – como ele mesmo dizia - fuxico. Em diversos textos, o escritor sempre atribuiu o seu prazer pela pesquisa aos diversos bons professores que teve em vida, como Mário Meirelles e outros. Além de um competente e incansável pesquisador, Carlos de Lima era uma figura engraçada, educada e espirituoso, que fará falta à cultura e intelectualidade do estado. Nesta manhã, o escritor e jornalista Ubiratan Teixeira lamentou por telefone a perda do amigo. 37
CARLOS DE LIMA MEMÓRIAS. São Luís, 1996 “O LICEU “Ingressei no Liceu Maranhense em 1933, após ter levado uma surra de mamãe por ter tirado a nota sete em Matemática, nas provas de exame de admissão. Hoje, num ‘jogo de azar’... com 3, entra-se na Universidade. “O velho colégio funcionava na Rua Direita, no prédio ainda existente, que ia da Rua da Estrela à Rua do Giz, atualmente dividido para abrigar a Secretaria de Administração e uma repartição da Agricultura. “Relembrando-o agora, vejo-me galgando os degraus de cantaria da entrada, ao lado de Mário de Moraes Rego, nós ambos protegendo as cabeças com os braços, sob as biscas e os cascudos dos alunos veteranos.
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http://diariodoandre.com/2011/05/09/morre-o-escritor-maranhense-carlos-de-lima/
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Inédito, manuscrito enviado aos autores: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito.“LICEU MARANHENSE – MEMÓRIA, PESQUISA, DOCUMENTAÇÃO”. Inédito. Este trecho das “Memórias” de Carlos de Lima foi encaminhado aos autores quando estavam elaborando trabalho de resgate da história do “Liceu Maranhense – memória, pesquisa, documentação”, ainda inédito. O Prof. Carlos foi convidado a falar aos alunos do Liceu, em evento comemorativo a mais um ano de sua fundação, naquele ano de 1996. Estava escrevendo suas memórias...
“De seus Diretores, lembro-me de Mata Roma, Helvídio Martins, Dr. Cordeiro (Dr. Bundinha). “Mata Roma chamou-me, um dia, e me disse: ‘- Vamos receber a visita de uma delegação do Liceu de Teresina. Vais fazer o discurso de saudação’. Comecei a pensar no assunto, a coordenar idéias, a alinhavar frases. Mas nada escrevi. “No dia da tal visita, ao cruzar comigo no corredor, interpelou-me : ‘Está pronto?’ Fiz um gesto afirmativo com a cabeça. ‘ - Traga-o ao meu gabinete, quero lê-lo.’ Criando coragem, respondi ’- Não o tenho escrito, está na minha cabeça.’ - Pois, então, não vais falar nada! “Fiquei triste. Os colegas solidarizaram-se comigo e me incentivaram à desobediência. “Na hora da recepção, não esperei mais e... mandei brasa. Não me lembro do que disse, sei que fui muito aplaudido, principalmente pelos colegas revoltados. Decerto minhas palavras não mereciam tão vibrantes palmas, mas foi a expressão da uma rebeldia e eu, o seu porta-voz. O professor visitante veio cumprimentar-me, Mata Roma falou depois, saudando o professor chefe da embaixada. “Quando os visitantes se retiraram, Mata Roma veio ao meu encontro, abraçou-me e disse: ‘- Um belo discurso, parabéns. Estás suspenso por dois dias! “(Cabe uma explicação do porque da minha escolha para orador oficial daquela solenidade): “As provas de Português constavam de duas partes: dissertação, valendo 70 pontos, e gramática, os 30 restantes. Na prova caiu como tema de dissertação, o Forte da Ponta d’Areia. Fiquei frio. A parte de Gramática eu não sabia. (Nunca soube) e o forte eu só conhecia de longe, da amurada da Avenida Beira-mar. Nunca havia ido à Ponta d’Areia que só se atingia, naquele tempo, de barco, ou na lancha do ‘Chocolate’, um mulato gordo e bundudo, cujo defeito nas pernas obrigava-no a andar desengonçado como um boneco de mola. “E agora, José? Olhei em volta e não achei quem me socorresse na gramática. A dissertação... como ‘soprar’ uma página inteira, pelo menos? Durante muito tempo fiquei olhando para o teto, com o lápis na boca, à espera de um milagre. E ele aconteceu. De-repente, chegou-me a inspiração e comecei”’- Oh! velho epônimo dos campos, por que permaneces de pé quando os teus coévos já tombaram?!’ E por aí fui, arrimado na citação de Afonso Arinos, numa embromação de grande estilo que me valeu os 70 pontos inteiros! “Numa visita que nos fez outro professor do Pedro II, do Rio de janeiro, Mata Roma, após ler-lhe essa minha composição, mandou que eu ficasse de pé, e apresentou-me com estas palavras: ‘- Este é o autor, Carlos de Lima. Inteligente, mas vagabuuuuuundo! e encompridava o adjetivo para dar mais ênfase à esculhambação. “Não se deduza daqui que o Mata Roma fosse mau. Ao contrário, tinha um grande coração, nós o adorávamos e ele gostava de nós. Em três ou quatro domingos reuniu-nos no quintal da casa do Sr. Bandeira, na rua dos Afogados, com a rua das Flores (atual Sindicato dos Bancários) para, de picaretas e enxadas nas mãos, construirmos uma quadra de vôlei e basquetebol, com o material que ele conseguiu pedindo aos seus amigos comerciantes. E todos trabalhavam alegres e felizes para alegra o mestre! “Ali jogaram os times ‘Oito de Maio’, ‘Vera Cruz’, drible’ e outros mais, cujos nomes agora me escapam. Eu era muito ruim atleta e sempre mofava no banco de reservas, pois o técnico não tinha coragem de me escalar. Um dia, porém,. por premente necessidade, visto como os ‘cobras’ tinham sido eliminados por falhas, e como não havia mais ninguém, foi obrigado a me por na quadra. Por favor, acreditem, eu juro de pés juntos: perdíamos por um ponto, faltava pouco para acabar o jogo; no último minuto passaram-me a bola; lancei a ‘pedrada’ e ... fiz a cesta da vitória do ‘8 de maio’! “Eram craques desse tempo: Rubem Goulart, Paulino e José Carvalho, Gontran, Eurípedes Chaves, José Dourado e muitos outros. “No mirante dessa casa da rua dos Afogados deu-se um fato doloroso: um filho do Dr. Fontenele, Chefe de Polícia, matou, acidentalmente, com um tiro, o colega do Liceu, filho do Sr. bandeira; examinava o revólver, ou brincava com ele, quando a arma disparou mortalmente o amigo. “Foram meus colegas de Liceu, entre outros, José Chagas (não confundir com o poeta), Bernardino..., Celso Figueiredo (Banco do Brasil), Tácito Barreiros Martins (Banco do Brasil), Tasso Vieira, João Duailibe (engenheiro), Lisle Novais, Listênia Taboada, Celeste Vieira, Danúzio e Franklin da Costa, Colbert..., José Borgnhet (Nada a ver com o político), Ivar Madureira (médico), Elci Freitas, Paulo Castelo Branco, Alexandre Costa (senador), José Figueira (Não é o desembargador), por apelido ‘Carioca’, Pedro Ferreira, Jomar Roland Braga, Agderson Carvalho, Jorge Mota, Mário Rego, etc., etc. “José Chagas era um preto alto, sempre risonho, irmão do motorista de praça muito popular chamado ‘Vareta’. Nossa professora de Geografia era D. Zoé Cerveira, uma mulata enorme e meio estrábica. Severíssima. Nesse tempo faziam-se duas provas parciais por ano e algumas argüições para notas mensais. Essas provas mensais eram sempre corrigidas em aula. Numa dessas correções, D. Zoé mostrou uma prova, pedindo que se identificasse o autor. Como mostrasse uma
fisionomia alegre e acolhedora, o que era raro nela, o Zé Chagas, esperançoso de uma boa nota, apresentou-se. E D. Zoé, dirigindo-se à turma: ‘- Vejam o que esse imbecil escreveu: Os relevos da Europa como vêm no capítulo anterior... ’ Tudo copiado timtim por timtim do livro de Aroldo de Azevedo! “Mata Roma ensinava Português. Certo dia, discorria sobre as vantagens de recente reforma da língua, elogiando as novas regras que permitiam acentuar qualquer palavra, mesmo sem saber o significado dela. Lá atrás, o Adgerson Carvalho, péssimo aluno, rei da molecagem, ergueu a mão: ‘- Fale, disse o mestre.’. E ele, muito sério: ‘- Professor, por obséquio, acentue esta palavra: bolololocofto.’. ‘- Acentuo já, meu besta,’ e , abrindo a caderneta, pespegou-lhe um redondo zero e expulsou-o da sala. “De todos os companheiros ao que mais me ligava era o Danúzio Franklin de Oliveira Costa, o ‘Fenômeno’, irmão do grande ensaísta Franklin de Oliveira. De estatura meã, forte e feio, a cabeçorra valeu-lhe o apelido. Era calado, arredio, triste, e não sei se foi isso que nos aproximou. Gostávamos muito um do outro, eu lhe frequentava a casa, um sobrado, na ladeira da rua das Barrocas (Isaac Martins). Todas as vezes que nos encontrava, sempre juntos, sentenciava Mata Roma: ‘- Assinus assinum fricat, e traduzia: um burro coça o outro! “Uma única vez, em toda a minha vida, fui reprovado: no 4o. ano do ginásio e em Latim. Fui estudar nas férias com minha prima Marília, aluna distinta do “Santa Teresa’, para prestar exame de segunda época com o mesmo professor Arimatéa Cisne. “Por falar nele, vale a pena descrever-lhe a figura e o caráter: era alto, vermelho, gordo, o bigode cobrindo-lhe inteiramente a boca, a roupa sempre amarrotada, os bolsos cheios sei de quê, as pontas dos dedos escuras de nicotina, pois, além de fumar exageradamente, acendendo um cigarro no outro, chupava a bagana até não, poder segurá-la sem se queimar. Fora padre, tinha um simplicidade, uma candura, que beiravam a puerilidade, destes tipos desligados para quem tudo está bem. Não tolerava burrice. Contou-me o ‘Zé Careca’ (José Araújo, conselheiro do TCE) que, numa argüição de Matemática, o velho Arimatéa apertava-o, passando no quadro negro carroções, equações, que ele não conseguia resolver. Perguntou-lhe o professor, afinal, o que sabia? Respondeu o José: ‘- Eu só sei cousas difíceis, logaritmos, cálculo integral, etc.’ O velho mandou chamar a mulher: ‘- Iaiá, manda para cá todos os alunos que estiveram na casa (‘Colégio Cisne’, na rua de São João (13 de maio). Com a presença de todos, declarou: ‘Vocês estão diante de um gênio (e apontava o Zé Araújo), este homem sabe tudo, sabe mais do que eu, do que todo mundo! Não pode permanecer nesta escola. Dá baixa nele agora.’ Disse-me o Zé que só consentiu na sua permanência no Colégio Cisne por intervenção de uma pessoa muito importante, muito amiga de seu pai e do velho Arimatéa. “Aula de Latim: ‘- Seu Paulo (Paulo Castelo Branco, ou Paulo Pupupu, porque era gago), decline Ora orae. Paulo dizia apenas o começo das palavras deixando incompreensíveis as terminações, pois a verdade é que não sabia a declinação. Arimatéa não gostou daquela burla, mandou que repetisse. Ele gaguejou e repetiu sem melhor resultado. Arimatéa: ‘Diga de novo’, ordenou, com a mão em concha no ouvido. ‘- Qui, qui, qui eu já disse e não di, di, digo mais! “De outra feita, ensinava Português, voz passiva e voz ativa. ‘- Eu comi a galinha. Passe para a voz ativa, seu Paulo. ‘A ga, ga, galinha me, me, comeu!’ ‘- Meu filho, tu não lascas, tu não lascas mesmo nada!, respondeu o Arimatéa, esfregando a palma da mão direita no dorso da esquerda. “Ainda a propósito, certa vez fui companheiro do velho mestre numa viagem a Ribamar [São José de Ribamar], no tempo das ‘lotações’, pequenas e muito desconfortáveis caminhonetes, que antecederam os ônibus. Viagem enjoada, demorada, com muitos ‘pregos’. Os radiadores antigos eram expostos e o do nosso carro tinha como rolha um pedaço de buriti mal talhada, que deixava escapar, a cada solavanco, na estrada esburacada, uma porção de água quente que vinha sobre nós pela abertura larga, outrora, houvera um pára-brisa. O chofer era um velho mal vestido, com uns óculos remendados com papel e barbante, um pobre coitado que tirava o sustento da família a ir e vir, todos os dias, naquele calhambeque. As reclamações eram muito grosseiras, a que ele, pacientemente, fazia ouvidos de mercador. O professor Arimatéa permanecia silencioso, alheio a todos aqueles percalços, chupando pachorrentamente, seu cigarrinho. À chegada, depois de horas e horas de percurso, todos os passageiros profundamente irritados, intimamente só desejavam bater no velho. O Arimatéa foi o primeiro a descer. Apertou a mão do motorista, abraçou-o carinhosamente e disse: ‘- Meu amigo, muito obrigado. Foi uma viagem excelente, muito obrigado !’. Depois disto ninguém teve coragem de dizer alguma coisa. “Outros professores do Liceu eram Milton Paraíso (Física), Jerônimo Viveiros (que me ensinou a gostar de História), Mário Soares (responsável por eu detestar Matemática até hoje) Flor de Lis Vieira Nina (História), Amaral de Matos (irmão do médico), professor de Matemática, Nascimento de Moraes (Geografia). Cometa compareceu uma única vez no semestre, para fazer prova. Chegou e perguntou: ‘- Qual é a matéria dada? ’. ‘-Professor, informamos, esta é a primeira aula! ’. ’- Então escrevam: dissertação: Fascismo e comunismo.’. A prova era de Geografia! O professor Braga ensinava inglês (Diziam os entendidos que não sabia inglês), mademoiselle Mariah, francês, Vicente maia (inglês), Escrevia nos jornais muitos versos nesta língua), Maria Mendes (francês), Luís Gonzaga dos Reis (química).
“Contava-se deste mestre a seguinte anedota: Gordo, corado e calvo (muito parecido com o comentarista esportivo Luis Mendes), sempre de terno branco, tinha um estranho sestro em três tempos: 1o.) um aperto com os cotovelos nas ilhargas, os braços dobrados como quem vai fazer cooper; 2o.) sungava, então, as calças com o auxílio da parte interna dos pulsos, à altura da cintura; 3o.) finalmente empalmava a genitália e dava-lhe um súbito puxão para cima. Uma vez, descrevendo a alambique, disse que se compunha de corcúbita, e comprimia a costelas, capitel (deu um aperto na cintura) e serpentina, no momento exato em que repuxava os ovos. “Foi no Liceu que conheci José Erasmo Dias, mais adiantado do que eu, inteligência brilhante, para quem todo mundo previa um futuro extraordinário. Infelizmente deixou-se vencer pela bebida... Fez muito, escreveu, discursou, foi deputado estadual; poderia, porém, chegar às culminâncias e não chegou. “O recreio fazia-se no pátio interno, onde briguei pela primeira vez. Conto: Nesse pátio jogava-se futebol com bolas de papel, pedras, apagadores de lousa, pedaços de pau, o que fosse. Os jogadores, em grande número, chocavam-se uns com os outros, chutava-se a esmo, para qualquer lado, apenas para gastar energias. Num desses lances, o pedaço de pau que chutei subiu demais e acertou a boca do Bernardino, um caboclo do interior, forte e zangado, que partiu para agredir-me. Instintivamente, em puro reflexo, dei-lhe um soco em cada olho, antes que pudesse atingir-me. Surpreso com a reação daquele fedelho magro, ele ficou por instantes meio atordoado, esfregando os olhos, enquanto os colegas entreviam e cobriam minha retirada para a sala de aula. Ele, porém, jurou-me, desafiou-me durante toda a semana, chamando-me covarde. Por mais que lhe pedisse desculpas, com este meu espírito cordato, explicando-lhe que tudo não passara de um acidente, que minha raiva momentânea se desfizera e não havia motivo para levar o desentendimento adiante, ele queria brigar. Afinal, convenceu-se e ficamos amigos e a última vez que o vi, já maduro, nos abraçamos, mas sem lembrar o ocorrido. “Lembro-me com saudade de muitos companheiros, como João Duailibe, hoje engenheiro, em São Paulo (irmão de Alfredo, Antonio e Alberto) cantando óperas, a plenos pulmões, em dueto com Tasso Vieira, este como soprano, aquele fazendo de tenor. “Os bedéis do Liceu eram Nerval Lebre Santiago, o Cunha e o Euclides, por apelido ‘Bentivi’, autor dos seguintes versos, estampados na porta do sanitário: “Jesus, Maria, José,/ santo Deus, quem nos acode?/ Helvídio Maia Martins/ a paciência nos fode/ é pior do que alastrim ceifando culhão de bode’, alusão à naturalidade piauiense do Diretor. Todos sabíamos de quem era a autoria, mas ninguém abriu o bico para denunciar o poeta. “Estes eram o Liceu e os colegas de meu tempo. Belo colégio, bons amigos, por onde andarão? Muitos, decerto, já se foram; de outros perdi o contato ... assim é a vida. Há anos, encontrei, casualmente, o Ivar Madureira, velho, grande cirurgião, no Hospital Moncorvo Filho, no Rio de janeiro. Alexandre Costa é senador da República e vem se recuperando de uma trombose. “Outro episódio ressurge do passado. No largo do Carmo, na esquina da Rua do Egito, havia o bar ‘Excelsior’, dos irmãos Lobão, dois velhos gordos e sanguíneos, um dos quais tinha um belo calombo sobre a têmpora direita, do tamanho de um limão grande. Era um estabelecimento chique, amplo, com três portas para a praça e outras tantas laterais. A rua do Egito era estreita e para alargá-la demoliram o bar e a ‘Farmácia Jesus’ e ergueram, na metade do espaço, o prédio modernoso da Caixa Econômica. Nós, eu e o inseparável Danízuo, costumávamos gritar: ‘- Bicho Feio’ para o motorneiro do bonde ‘Gonçalves Dias’, quando ele fazia parada defronte do bar. Gritávamos e saíamos correndo, escapulindo pela porta lateral, perseguidos pelo ofendido, que, no entanto, era obrigado a voltar ao seu posto, frustrado. Certo dia, lanchávamos, despreocupadamente, caldo de cana e ‘engasga-gato’ (um bolo, espécie de manuê), quando vimos, aterrados, o ‘Bicho Feio’ interditando a única porta da garapeira, que ficava na rua de Nazaré, ao lado da ‘Casa Ribamar’, especialista em instrumentos musicais e de propriedade do Sr. Almeida, pai do radialista Marcos Vinicius, espaço hoje ocupado pelo Banco Nacional. Gelamos, os dois e, sem qualquer combinação prévia, pusemos os copos sobre o balcão e desabamos para a rua, conforme nos permitia o corredor estreito entre o balcão e a parede. Ele não conseguiu agarrar-nos, mas, na passagem, deu violentos murros em nossas cabeças e costas. “De outra vez, participei de nova molecagem, no largo dos Remédios. Festa de Nossa Senhora dos Remédios, no mês de outubro, que João Lisboa imortalizou e eu ainda alcancei bela e animada, com muitas barracas de comes-e-bebes, de sortes, de leilões, multidão de povo passeando, após a reza, enquanto muitos ficavam apenas apreciando o movimento, sentados nas cadeiras que o pai de Jaime Souza, o velho ‘Cu Suado’ colocava na calçada, desde a casa das Arches da Silva até a porta da igreja. Eram duas filas longas, as cadeiras amarradas umas às outras. Nessa noite, sobraram alguns metros de corda, que ficaram emboladas, no chão. No prédio junto à Escola Normal (atual sede da Reitora da UFMA), morava o português Joaquim Braga, cuja filha era noiva do Dr. Antônio Pires ferreira, médico maranhense, recémchegado à cidade. Todas as noites ele visitava a noiva e deixava a ‘baratinha’branca, conversível, cujo pneu socorro ficava exposto na tampa da mala, estacionada à porta. Não sei de quem foi a idéia, se do Adgerson, do Franklin (‘Mata Virgem’), do Danúzio, do Mário Rego (‘Carrapatinho’), do Jorge Mota (‘Cara Cagada’). O certo é que eu fazia parte do grupo que formou uma parede junto ao automóvel para esconder o incumbido de amarrar a ponta da corda no estepe da ‘barata’. Aí fomos para a praça defronte para esperar o resultado. Quando o Pires Ferreira despediu-se da noiva e deu partida, as cadeiras saíram arrastadas pela rua, uma fila após a outra, enquanto o Souza corria atrás, desesperado, a
barriga volumosa atrapelando as pernas curtinhas, as abas do paletó aberta ao vento, gritando-lhe que parasse. Foi um Deus nos acuda, alguns pouco que ainda estavam sentados foram ao chão, felizmente sem maiores consequências, dado o adiantado da hora, de reduzida frequência. “E foi nesse meu tempo de Liceu que conheci uma menina, aluna do Colégio Santa Teresa, que seria, pouco depois, a grande paixão de minha adolescência. O engraçado é que comecei a namorar uma sua amiga, a Naná (Natália), bonita, comunicativa, e que viria a casar-se com o jornalista e político Neiva Moreira, e acabei enfeitiçado por Benzinho Mota. Mas esta já é outra estória.”.
SEIS ANOS SEM O GENIAL NASCIMENTO MORAIS FILHO MANOEL DOS SANTOS NETO do IHGM Publicado em 22/02/2015 às 13:56 por manoelsantos http://blog.jornalpequeno.com.br/manoelsantos/2015/02/22/seis-anos-sem-o-genial-nascimento-morais-filho/
Nascimento Morais Filho, ao lado do também saudoso João Francisco dos Santos, cumprimenta este blogueiro no dia 13 de maio de 2004, no lançamento em São Luís do livro “O Negro no Maranhão” Neste 21 de fevereiro, há seis anos o corpo do escritor, poeta, ensaísta, pesquisador, ambientalista, professor, folclorista Nascimento Morais Filho sucumbia diante de uma parada cardiorrespiratória. O espírito irrequieto, a alma generosa e combativa, contudo, estão aqui presentes, a lembrar aos maranhenses da Ilha Rebelde o quanto faz falta a existência corpórea de um homem único e múltiplo, polêmico e incorruptível, um Zé que jamais foi Zé Ninguém ou Zé Mané, um ícone de todas as nobres causas. José Nascimento Moraes Filho nasceu em 15 de julho de 1922 em um sobrado na praça da Fonte do Ribeirão, tendo o pai, José Nascimento Moraes sido muito provavelmente o mais combativo entre os combativos jornalistas maranhenses, autor de “Vencidos e Degenerados”, um romance-símbolo da complexa transição entre a monarquia/escravidão e a nascente República. Filho natural de Francisca da Graça Bogéia, foi criado pela madrasta, Ana Augusta Nascimento Moraes. Estudou o primário na Escola Modelo Benedito Leite. Fez o curso secundário (ginasial) no Liceu Maranhense, sendo considerado, já então, o “Líder Anarquista”. Concluiu o curso ginasial no Ateneu Teixeira Mendes. A sua inserção no mundo das letras começaria aos 23 anos, em 1945, quando fundou e assumiu a presidência do Centro Cultural Gonçalves Dias, instituição que teria papel exponencial na vida literária maranhense, sendo o Centro o percussor do Modernismo no Maranhão. Em 1949, lecionou Latim e Português no Colégio Maristas e no Ateneu. Foi vice-diretor e fundador do Ginásio Zoé Cerveira, tendo ainda fundado um cursinho pré-vestibular em São Luís.
Entrou para a Academia Maranhense de Letras em 30 de setembro de 1976, eleito que foi para ocupar a cadeira 37, cujo patrono foi Xavier de Carvalho. Tomou posse no dia 16 de dezembro desse mesmo ano, tendo sido recebido pela escritora Dagmar Desterro. A estreia na literatura ocorreria com “O Clamor da Hora Presente”, poesias sociais escritas entre os 24, 25anos, porém (devido à falta de recursos financeiros) publicadas somente em 1955. Sobre o livro, Lago Burnett diria ser “um volume onde estão inseridos poemas de caráter social, todos eles vivamente assinalados por um sentimento nacionalista, excitado pelo espírito polêmico, de rebeldia e inconformação, que é característica fundamental do poeta”. E arremataria: “As palavras que ele emprega são impregnadas de uma profunda piedade pelo drama dos humildes, fraterna mensagem de solidariedade aos fracos e oprimidos. E a nota estonteante de pânico apocalíptico é uma constante nas páginas de sua obra inaugural”. Ribamar Carvalho saudou “O Clamor da Hora Presente” parabenizando Nascimento Morais pela “bela estreia”, ao mostrar que, ao assumir um compromisso social com o seutempo e a sua gente, o poeta estaria fazendo completamente diferente dos que se acomodam: “Qualquer moço que ingresse nas letras e se esqueça da realidade da Hora Presente já começa derrotado, terá capitulado depressa, afundou, sem ao menos plainar. Porque nada podemos esperar dos maiores que se acomodaram ligeiro às situações, pensando muito no pão, esquecidos que não é só do pão que o homem vive, e seria sempre um pão indigesto e corrupto o pão adquirido a troco do silêncio cômodo, mas comprometedor, para com os algozes da humanidade”. O renomado crítico literário, pesquisador e professor francês de literatura Jean-Yves Mérian, da Universidade de Haute Bretagne, em Rennes, acentuou a importância da obra; “O autor de ‘Vencidos e Degenerados’ encontrou no seu filho um continuador, quando publicou ‘O Clamor da Hora Presente’, em 1955. Este grupo de poemas é um grito de revolta contra a espoliação de que são vítimas os países dominados pelas grandes companhias petrolíferas. É um apelo apaixonado à luta por um mundo melhor”. Mérian escreveria, em outra ocasião: “E com este brado rebelde de uma alma torturada, Nascimento Morais Filho abre, com chave de ouro, o seu coração imensuravelmente bom, pungentes amarguras, dores insondáveis, mágoas profundas, que lhe vieram aos turbilhões, da sua gente humilde e anônima, que vegeta à sombra da miséria e se envilece ao peso exorbitante das leis madrastas que para ela os poderosos promulgaram, ainda encontra forças bastante em sua alma de eleito das massas e tempo para sonhar e sonhar, profético, com escorregadia felicidade”. Além de “O Clamor da Hora Presente”, Nascimento Morais Filho escreveu “Pé de Conversa” (1957), obra que a família pretende reeditar para lançamento na próxima Feira do Livro de São Luís; “O que é o que é?” (1972); “Esfinge do Azul” (1972); “Esperando a Missa do Galo” (1973); “Maria Firmina dos Reis – Fragmentos de uma vida” (1976); “Cancioneiro Geral do Maranhão” (1976). Nascimento Morais Filho promoveu também a reedição do romance “Úrsula” (1975) e do livro de versos “Cantos à beira-mar” (1976), ambos de Maria Firmina dos Reis, além de “A metafísica da contabilidade comercial” (1986), de Estevão Rafael de Carvalho, e do jornal “O Bentivi”, editado originalmente em 1838, reimpresso em 1986. Sobre a densidade da obra poética de Zé Morais, ninguém com mais autoridade moral e intelectual que o jornalista e escritor Erasmo Dias. Para ele, “Nascimento Morais Filho nasceu poeta, com aquele dom mágico de, no malabarismo estético das palavras, recriar símbolos e transmitir mensagens. Aliás, nesse traço da sua personalidade literária, está fixada a marca da sua hereditariedade, pois que Nascimento Moraes, seu pai, foi um admirável poeta simbolista, que o jornalismo e o magistério distorceram-lhe da vocação inicial”. Pesquisador emérito, “rato de biblioteca” (varava os dias “enfurnado” nas coleções de jornais da “Benedito Leite”), em 1973 Nascimento resgatou para a história da literatura brasileira a figura de
Maria Firmina dos Reis, reconhecidamente a primeira romancista nacional. Sobre o livro “Maria Firmina dos Reis – Fragmentos de uma vida”, o poeta e prosador potiguar Cosme Lemos assinalaria: “Eis aí uma preciosidade, obra maiúscula de sua mão, cujo trabalho imenso que lhe custou, bem retrata o dom divino de ressuscitar os mortos para a imortalidade, somente comparável ao nosso Câmara Cascudo, que tem a alma como a sua e ama a sua terra (dele) mais do que toda gente”. Falar nele, o maior folclorista brasileiro de todos os tempos, Luís da Câmara Cascudo, em 1977 faria rasgados elogios ao “Cancioneiro Geral do Maranhão”, ao se referir à obra, uma alentada pesquisa que percorre um século (1822 a 1922), contendo quase três mil trovas: “Seu labor dá voz ao silêncio de alguns e excita a continuidade esforçada dos trabalhadores. Uma nobre tarefa de investigação e colheita, permitindo novas dimensões ao patrimônio da Cultura Popular, aproximada de todas as consultas. O ‘Cancioneiro Geral do Maranhão’ ressuscita, pelo seu esforço, o documentário múltiplo da Inspiração, rica e anônima, da nossa Imaginação coletiva. Uma surpresa psicológica nos recursos líricos da ternura, do enlevo amoroso, da tristeza cantando a sua Esperança”.
CENTENÁRIO DE MÁRIO MEIRELES
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
A 8 de março de 1915, na Cidade de La Ravardière, nascia Mário Martins Meireles, filho de Vertiniano e Maria Meireles, o qual se tornaria um dos maiores historiadores da terra gonçalvina, cujo nome ultrapassaria as fronteiras nacionais. Principiou seus estudos primários em Santos, no ano de 1920, dando-lhes continuidade, sequencialmente, em Manaus, no Rio de Janeiro e em São Luís. Cursou o secundário na capital maranhense, concluído no Instituto Viveiros em 1931. Trabalhou no Ministério da Fazenda (1933-1965), com passagens pelos estados da Bahia, Maranhão e Minas Gerais e pelo antigo Distrito Federal. Após aposentar-se no cargo de Agente Fiscal de Tributos Federais em 1965, foi Diretor-Secretário do hodiernamente extinto Banco do Maranhão (1965-1967) e Secretário-Chefe do Gabinete e da Casa Civil do Governo do Estado do Maranhão, durante a administração de Pedro Neiva de Santana (1972-1975). Contratado em 1939 como Professor de História Universal e do Brasil no curso ginasial do Colégio Cysne, de São Luís, ingressou, quatorze anos depois, no magistério superior, na qualidade de catedrático-fundador da cadeira de História da América, no Curso de Geografia e História da Faculdade de Filosofia (FAFI) da Universidade (católica) do Maranhão, a qual seria mais tarde incorporada como Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras à Fundação Universidade do Maranhão, nascida em 1966, na atualidade Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Foi Professor Titular, posteriormente aposentado, do Departamento de História dessa tradicional instituição de ensino superior, em que deixou marcas indeléveis como Chefe do Departamento de História, criador e Coordenador do Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica e Geográfica, Presidente do Conselho Editorial, Assessor da Secretaria dos Colegiados Superiores, Chefe de Gabinete da Reitoria, Vice-Reitor Administrativo e membro do Conselho Universitário. Foi membro efetivo da Academia Maranhense de Letras; sócio efetivo e, ulteriormente, honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; sócio honorário da Associação Comercial do Maranhão; membro e presidente da Sociedade dos Amigos da Marinha, no Maranhão; sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; sócio correspondente dos Institutos Históricos e Geográficos de Santos, da Paraíba e do Distrito Federal e das Academias de Letras Paulista, Carioca, Santista, Paraense e do Triângulo Mineiro (Uberaba); sócio fundador e membro do Conselho Diretor da Sociedade Brasileira de História da Medicina (São Paulo); e sócio colaborador da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, no Maranhão. Recebeu numerosas condecorações, entre as quais a Ordem Nacional do Mérito (Portugal), a Ordem das Palmes Académiques (França), a Ordem de Rio Branco (Brasil), as medalhas comemorativas Gonçalves Dias (do Ministério das Relações Exteriores), do Sesquicentenário da Independência do Brasil (do Senado Federal e da Câmara dos Deputados), Santos Dumont (do Ministério da Aeronáutica), do Mérito Timbira (Maranhão), do Tricentenário da Fundação de São Luís, João Lisboa, de La Ravardière, Sousândrade do Mérito Universitário, Simão Estácio da Silveira e do Mérito Judiciário (do TJMA). Autor prolífico, de quase 40 livros, é indubitavelmente “a maior figura da historiografia maranhense dos séculos XX e XXI”, na justa avaliação de Milson Coutinho. Escreveu, dentre outros, O imortal Marabá (1948), Gonçalves Dias e Ana Amélia (1949), Panorama da literatura maranhense (1955), História do Maranhão (1960), França Equinocial (1962), Catulo, seresteiro e
poeta (1963), São Luís, Cidade dos Azulejos (1964), História da Independência no Maranhão (1972), Santos Dumont e a conquista dos céus (1973), Melo e Póvoas – Governador e CapitãoGeneral do Maranhão (1974), História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão (1977), O ensino superior no Maranhão (1981), Os negros no Maranhão (1983), O brasão d’armas de São Luís do Maranhão (1983), São Luís com S (1984), O Maranhão e a República (1990), Holandeses no Maranhão (1641-1644) (1991), História do comércio do Maranhão, v. 4 (1992), Apontamentos para a história da Medicina no Maranhão (1993), Dez estudos históricos (1994), João de Barros, primeiro donatário do Maranhão (1996), O Brasil e a partição do mar-oceano (1999) e História de São Luís (2012, obra publicada postumamente). Conferencista que hipnotizava plateias e poeta a ser (re)descoberto, Mário Meireles, lhano no trato, era um professor nato, admirado dentro e fora da sala de aula. O Centro de Ensino Médio Prof. Mário Martins Meireles procura honrar o seu exemplo. Sua pena descansou em 10 de maio de 2003, mas ele não morreu. De há muito deixou de ser apenas um homem. Ele hoje é uma marca. Escrever como Mário Meireles é cultivar com desvelo a última flor do Lácio nos férteis campos da História, é aliar a elegância de estilo à profundidade e rigor da pesquisa histórica. Tão intimamente associado está seu nome à historiografia maranhense que é impossível separar aquele desta, sem que se lhe abra um enorme rombo no casco. Mário Meireles é o patrono da Cadeira nº 31 da Academia Ludovicense de Letras (ALL), que se prepara, no Ano dedicado ao ilustre historiador, pela passagem de seu centenário, para homenageá-lo, com o apoio da UFMA, em 10 de agosto deste ano, data de sua fundação. Em tempos de crise de valores, Mário Meireles é um gigante a inspirar grandes navegações. E navegar por autores dessa estirpe sempre será preciso... Promotora de Justiça, sócia do IHGM e membro da ALL, Cadeira nº 31, patroneada por Mário Meireles alaferro@uol.com.br
PROJETOS
REUNIÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COM A COMISSÃO DO CENTENÁRIO DE MÁRIO MEIRELES, REALIZADA NO APARTAMENTO DA CONFREIRA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO, EM 1º DE FEVEREIRO DE 2015 (DOMINGO), ÀS 20H. PARTICIPANTES: 1) Ana Luiza Almeida Ferro 2) Clores Holanda Silva 3) Dilercy Aragão Adler PAUTA: – Discussão da Programação do Centenário de Mário Meireles PROGRAMAÇÃO DEFINIDA: 8 de março de 2015 – Artigo sobre Mário Meireles, a ser escrito por Ana Luiza Almeida Ferro e publicado em jornais, no intuito de divulgar a programação que vai acontecer no dia 10 de agosto de 2015. 10 de agosto de 2015 (segunda-feira): 17h30 – Banda da Polícia com música de chorinho. Abertura da Exposição (Contato com Ana Maria Meireles, filha de Mário Meireles, a cargo de Clores). 18h00 – Abertura do evento – Composição da Mesa – Hino Nacional. Recital de Poesias de Mário Meireles (os sonetos “A esmola” e “Meu espelho” e o poema “O Imortal Marabá”) pelos alunos do Centro de Ensino Médio Prof. Mário Martins Meireles. Outra pequena apresentação por iniciativa da Escola (em aberto). 19h00 – Painel sobre Mário Meireles com 3 palestrantes (Gaspar ou José Neres, Esterlina ou Joseth, e Ana Luiza) – 20 minutos pra cada palestrante. Participação da plateia. Projeção de slides sobre Mário Meireles pelo data-show durante o painel. 20h30 – Show com o Grupo de Joana Bitencourt – 30 minutos. 21h00 – Encerramento – Lançamento do livro sobre Mário Meireles, de autoria de Ana Luiza Almeida Ferro, seguido de coquetel. PROVIDÊNCIAS: – Execução pela Comissão de Publicações e Eventos da ALL (Dilercy e outros), com auxílio de Confrades e Confreiras (Ana Luiza, Clores) em encargos específicos (ver auditório, ofícios, data-show, som, coquetel) – Sugestão de local: Auditório Central da UFMA ou Palácio Cristo Rei (Clores). – Contato com o(a) Diretor(a) do CEM Prof. Mário Martins Meireles para disponibilizar 3 (três) alunos para o Recital de Poesias e convidar a escola e seus professores e alunos para o evento – Telefone: 3241-9857 – Clores. – Contato com os palestrantes.
COMEMORAÇÕES DO DIA INTERNACIONAL DA POESIA ALL – LICEO DE BENEDORM 14 DE MARÇO DE 2014 ODYLO COSTA, FILHO
DILERCY ADLER – VICE PRESIDENTE DA ALL - EMBAIXADORA DO LICEO NO MARANHÃO - ABERTURA
PARTICIPANTES
RELATO DAS ATIVIDADES DO LICEO POÉTICO DE BENIDORM- DELEGAÇÃO DE MARANHÃO Dia 14 de março de 2015 PROGRAMAÇÃO 1 Inicialmente a fala da Delegada do Liceo Poético de Benidorm no Maranhão, Dilercy Adler, dando as boas vindas e apresentando a atividade conjunta com a Academia Ludovicense de Letras-ALL, em comemoração ao dia Mundial da Poesia e ainda a comemoração do aniversário de 12 anos do Liceo; 2 A seguir ainda a Delegada do Maranhão do Liceo Poético de Benidorm fez um breve relato acerca da história do Liceo de Benidorm da Espanha e da Delegação do Maranhão finalizando com a leitura das Palavras do Presidente do Liceo de Benidorm, Júlio Pavanetti, acerca das atividades do final de semana presente com atividade em três países e colocando a significativa atuação do Liceo Poético de Benidorm no mundo, considerando o montante de países já envolvidos (16), os quais desenvolverão atividades por todo o mês de março, em comemoração ao aniversário do Liceo: “Este fin de semana continúan los diferentes eventos que se van a celebrar durante todo el mes de marzo en nuestras delegaciones de 16 países para conmemorar el 12º aniversario de la fundación del Liceo Poético de Benidorm. Nuestro agradecimiento a nuestros delegados culturales que están comprometidos con el Liceo y con la poesía y nuestras felicitaciones por su brillante labor. Nuestro reconocimiento de hoy es para nuestros delegados en Lima (Perú), Lisboa (Portugal) y Maranhão (Brasil) que van a conmemorar nuestro aniversario el próximo sábado 14 de marzo: Feliciano Mejía Hidalgo, Maria do Sameiro Barroso y Dilercy Adler, respectivamente. ¡Muchas gracias amigos! Obrigado amigos!” ¡¡Paz, Salud y Poesía!! Liceo Poético de Benidorm www.liceopoeticodebenidorm.com
3-. Homenagem póstuma a Wilson Ferro constituída da fala da Delegada do Maranhão realçando a excelente e entusiasmada participação, desde a primeira atividade da Delegação do Maranhão (do Liceo Poético de Benidorm). Enfatizando ainda, que apesar da sua saúde debilitada, a mesma tornava-se imperceptível nas suas vibrantes declamações das tardes poéticas. Foi seguida por um minuto de silêncio e declamação de poesia de sua lavra (Wilson Ferro), por Clores Holanda. 4. A seguir foram realizadas as leituras de poesia pelos presentes e o sorteio de um livro de poesia oferecido aos participantes por Dilercy Adler. A contemplada foi Almerinda Gomes Ricard que recebeu o livro das mãos de Amani Lago. 5 O cântico dos "Parabéns a você" para o aniversariante, o Liceo Poético de Benidorm-España. 7. O corte tradicional do bolo, pela participante mirim Amani, que deu a primeira fatia do bolo à Dilercy Adler. Participaram 18 pessoas, entre elas duas do estrangeiro, Canadá, e duas de outra cidade do Maranhão, Guimarães.
Dilercy Aragão Adler Delegada do Liceo Poético de Benidorm no Maranhão
LICEO POÉTICO BENIDORIM-ESPANHA- DELEGAÇÃO DO MARANHÃO Comemoração do aniversário de 12 anos, do Liceo Poético de Benidorm (15 de março) e do dia mundial da poesia ( 14 de março). Comemoração conjunta do Dia mundial da Poesia com a Academia Ludovicense de Letras-ALL REALIZADO EM 14.03.2015 PARTICIPANTES Nº
NOME
TELEFONE
1
CLORES HOLANDA
9
ÁLVARO URUBATAN MELO
3
SANATIEL PEREIRA
4
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
5
IEDA LAGO
6
AMANI LAGO
7
RAIMUNDO CAMPOS FILHO
981156610
8
MARIA PAULO BOGÉA
32226315
9
ALMERINDA GOMES RICARD
Canadá
10
RAYMOND RICARD
Canadá
11
OSVALDO GOMES
12
cloresholanda@yahoo.com.br
98911-1114
pereirasj@terra.com.br
98818-8012
alaferro@uol.com.br
99974-1712
-------------------
-------------
Guimarães
8191 9340
CARLOS F. AZEVEDO PIRES
azevedo_93@yahoo.com
98419 0001
13
VALÉRIA C. DE AZEVEDO PIRES
azevedo_93@yahoo.com
99822 46416
14
GILDETE DE AZEVEDO PIRES
15
ADRIANE BATISTA
16
IRANDI MARQUES LEITE
17
DILERCY ARAGÃO ADLER
18
MÁRIO LUNA
(81)91465083 adrianebatiste@hotmail.com
984649278
irandimleite@gmail.com
9973-4919
dilercy@hotmail.com
8826-5798
MENÇÃO HONROSA DO PRÊMIO PEDRO CALMON
A Promotora de Justiça-MA e escritora Ana Luiza Almeida Ferro, professora da Universidade Ceuma, recebeu o certificado relativo à Menção Honrosa do Prêmio Pedro Calmon - 2014, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), das mãos de seu Presidente, Arno Wehling, na tarde de 18 de março deste ano. A honraria foi-lhe outorgada em razão do livro 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís (Curitiba: Juruá, 2014, 776 p.), na solenidade, prestigiada por várias autoridades, de Abertura do Ano Social de 2015 do IHGB, no Salão Nobre de sua sede, emoldurado pelo famoso quadro "Coroação de Pedro II", de Manuel de Araújo Porto Alegre, e pelo Marco de Cananeia, do séc. XVI, no bairro da Glória, Rio de Janeiro.
A grande homenageada foi São Luís, pois o livro versa sobre a França Equinocial e a fundação da cidade pelos franceses. A obra concorreu com livros de pesquisadores de outros estados brasileiros e do próprio IHGB e foi indicada pelo IHGM, do qual a jurista é sócia efetiva e membro da Academia Ludovicense de Letras (ALL). A obra premiada tem uma edição europeia sob o título 1612: os franceses na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís (Lisboa, 2014).
Autora de mais de uma dezena de livros, a Professora Ana Luiza também recebeu um prêmio literário internacional no ano passado: logrou o segundo lugar no Premio “Poesia, Prosa ed Arti figurative”, Sezione Stranieri, Libro edito in portughese, promovido pela Accademia Internazionale Il Convivio, da Itália, pela obra Quando: poesias (São Paulo: Scortecci).
PROJETO FILME 1612 - A FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS PELOS FRANCESES, ANA MARIA FELIX GARJAN.
DISCURSOS: ELOGIOS AOS PATRONOS & POSSES
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POSSE EM 03 DE FEVEREIRO DE 2015
FOTO OFICIAL CAMPOS, BRANDÃO, CLORES, ANA LUIZA, JOSÉ FERNANDES, CERES, DILERCY, ARQUIMEDES, OSMAR, BUZAR ANDRÉ, JOÃO ERICEIRA, MACATRÃO, ÁLVARO, BATALHA, ALMADA LIMA, LEOPOLDO
BUZAR, ÁLVARO, CERES, MACATRÃO
APRESENTAÇÃO DE CERES COSTA FERNANDES
ÁLVARO URUBATAN MELO Ilmº Sr. Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Dr. Roque Pires Macatrão. Ilmº Sr. Presidente da Academia Maranhense de Letras, Dr. Benedito Bogéa Buzar. Senhores confrades de outras academias. Senhores e senhoras convidados. , Acadêmica Ceres da Costa Fernandes e familiares. Não fosse convencional o cumprimento das normas estatutárias e regimentais, praxes que sublimam e ilustram os atos acadêmicos e similares, fácil seria para eu desempenhar esta honrosa e agradável tarefa, de maneira bastante simples e gloriosa, porém lacônica, sem, contudo, apequenar a magnitude desta solenidade. Bastaria que, com gesto respeitoso e eloquente dissesse: Professora Doutora Ceres Costa Fernandes adentre neste sodalício, assuma esta cadeira, ela é sua. Cumpriria o restante da liturgia e, com uma calorosa ovação a insigne confreira passaria, com o brilho de seu talento, não do asteroide CERES, mas a prefulgência e uma estrela maior, adamantina, tornar-se-ia dela a legítima fundadora, como ocorre. Sim, sabem por que estaria consumado a assunção desta cadeira? Porque se imagina, até por obrigação que todos os conviventes da comunidade literária, por admiração ou prática; os militantes do magistério: educandos e educadores temos o dever de conhecer a cronista, ensaísta, educadora, poetisa Ceres Costa Fernandes, uma das mais notáveis personagens que enriquecem, passado e presente, os universos em que mourejou e inapagáveis estão às marcas benéficas de sua passagem. Confreira Ceres. Começo a explorar o querido amigo Joaquim Itapary, seu recipiente na Academia Maranhense de Letras quando alertou: esta é uma casa de ritos e solenidades. A Academia Ludovicence também o é. Portanto, convidados e cultores da palavra erudita estamos aqui, atentos e sem pressa, ansiosos para ouvir, escutar e aplaudir Vossa Senhoria. Ilustre Confreira, naquela indelével noite de 24 de maio de 2001, com alusão à sua pergunta por que estavas ali, se muitos e muitas com os mesmos predicados, e outros possuidores de maior valor estavam fora. Itapary, seu recipiente, em sua alocução também se interrogou a respeito, e
encarregou-se de justificar, e assim o fez: pela sua reconhecida inteligência e invulgar cultura a iluminar e adornar a tua bela figura de mulher. Se nesta noite essa pergunta voltar a lhe ser tormento, desta vez sou eu quem, com satisfação perene, apresso-me a respondê-la: Professora Ceres - cógnita seus irrefutáveis méritos, louváveis sua faina na consolidação do Café Literário, no êxito das Mostras Literárias, no substancial apoio à FALMA e a neófita ALL, urge e imprescindível é sua presença em nosso quadro que se beneficiará do seu dinamismo e entusiasmo, e, esta barca em demanda de exequíveis portos, terá na tripulação sua experiência de uma resoluta timoneira, fanal capaz de evitar procelas, desviar pélagos e arrecifes, e velejar em mares de almirante. Navegar é preciso. Estimada Professora Ceres. Muitos podem ser os motivos que me fizeram seu admirador. Um deles advém da primeira vez que li uma sua crônica. Gostei do estilo, e os temas quando reminiscências passaram a fascinar-me, sobretudo alusivos aos anos de sua jovial mocidade, a “belle epoque”. Por serem escritas em linguagem escorreita, amena me conduziam a São Luís da minha infância, tempo da compra nas mercearias com caderneta, dos passeios em bondes, das tertúlias, dos cines, do festival de melancias, da carrocinha de gelo, do vendedor de carvão de varinha, de camarão fresco, do comprador de garrafas, com aqueles palavreados tão próprios. Assuntos esses que eu, por ser mais anoso, vivenciei-os da planície. Senhores espero vosso beneplácito para desviar esta saudação do ritual acadêmico, e enveredar-me no sentimentalismo, liame da amizade nutrida à empossada, hoje estendida ao seu cônjuge, o amigo Dr. Antônio Carlos. Outra crônica que muito me tocou e nos aproximou, aludia-se sua viagem marítima à baixada, e em São Bento a dificuldade em encontrar a residência do casal Zé de Nana, desconhecido com esse nome, mas vulgarizado e popular Zé de Lázaro e Nana de Chocolate. Tive a petulância de comentá-la, em artigo publicado no Estado do Maranhão. Já apresentados, quando de sua posse na AML, manifestei-me, com a liberdade de parabenizá-la pelo evento e por ser saudada pelo erudito acadêmico Joaquim Itapary, que após ter lido a aplaudida oração, presenteou-me. Ei-la. Senhores Confrades, Arquimedes, Lourival, Franco, Edna Pinheiro e Marita Gonçalves, em segundo artigo a ela dedicado, ostentei meu orgulho pela substancial e permanente presença de sãobentuenses, nossos conterrâneos, nesta Casa de Antônio Lobo, participes construtores da respeitabilidade desta Catedral das Letras, e o fizerem com inteligência, obras e dedicação de cada um. Sete os efetivos: Domingos Barbosa entre os fundadores, dois a presidiram Luso Torres e Joaquim Itapary, Clarindo Santiago, Luís Lobato Viana, Emilio Azevedo e Evandro Sarney. Filhos de são-bentuenses José Sarney, Odilon Soares (crescidos e lá alfabetizados), Fernando Viana, Jomar Moraes, Américo Azevedo Neto, Ivan Sarney, agora eleito Turíbio Santos. Netos: Luiz Alfredo e Waldemiro Bacelar Viana, Ney Barros Bello Filho. Sim, nessa galeria de intelectuais abrilhantam-na, também, por pulsar nas veias da nossa nova empossada e do seu irmão Ronaldo Costa Fernandes, o sangue materno da são-bentuense, sua genitora dona Maria Isabel Soares Fernandes, membro da família Soares, uma das primeiras do município, patriarcada por José Alexandre Soares, proprietário de terras. Mais distante, seu bisavô Raimundo José Soares, o avô Januário Soares (Zozoca), pai de primeiras núpcias de sua tia Rosa Clara França Soares, com sua mãe foram professoras municipais. O estimadíssimo tio e protetor Zoquinha, uma das mais simpáticas, queridas e educadas criaturas que muito o mimou contando causos da nossa terra, dos apelidos e de Zuleide Castanhoba com suas duas bolsas. Em segundas núpcias, seu avô casou-se com dona Aldenora Brenha, minha prima legítima de 2° grau. Desse consórcio a mui bonita Vanda, Wanderley e Maria de Jesus. Com respeito à ascendência paterna, ressalta-se à tradicional família Costa Fernandes, sobressaindo-se as insignes figuras de seu pai, o Desembargador Francisco Costa Fernandes, emérito
professor da Faculdade de Direito, antes promotor público da comarca de São Bento, quando lá conheceu e encantou-se com a beleza da jovem Maria Isabel e a desposou. Seu avô Henrique da Costa Fernandes, famoso jurista, historiador e jornalista, realizador de seus desejos. Essa herança intelectiva continua tão bem preservada e enaltecida pela nossa brilhante confreira. Senhores, se conspícuas a ascendência da nossa confreira, mui preclara sua descendência. Como na mitologia, Ceres a deusa romana, Deméter a grega, a nossa Ceres também cultiva a terra, o amor matriarcal e se orgulha da sua notabilíssima prole. Filhos: Márcio Costa Fernandes Vaz dos Santos, biólogo e professor da UFMA. Tatiana Vaz dos Santos Oliveira, engenheira civil, Carla Vaz dos Santos Ribeiro, professora da UFMA, Glauco Costa Fernandes Vaz dos Santos, advogado e navegador. Donos de sua liberdade os netos: Helena, Eduarda. Lucas, David, Tales, Paula, Júlia, Fernando, Pedro e Marilia. Senhores, Ceres Fernandes, essa apaixonada maranhense de alma e de raízes, cantora dos encantos desta São Luís lírica e apaixonante, e paladina do resgate da Praia Grande, nasceu em Salvador, Soterópolis, portanto é soteropolitana. Dois berços – um de nascença, conterrânea de Castro Alves; outro de opção, Gonçalves Dias. Dois dos maiores poetas brasileiros- Segue deles a esteira, tanto que, aos oito anos de idade, explode sua verve poética e surpreende o mundo literário com as peças: - A Noite. A noite se debruça – meu coração soluça – esperando por ti. (Estava flechada por Cupido), Em seguida vem: - OS DADOS. Jogam os dados - na mesa larga e – comprida; os jogadores- reclamam por falta de torcida. (Que poder de observação da neófita poetisa). Prossegue: – O SINO – Cintilam os pingos – de chuva o sino – toca na igreja esperando amor – que traz flores de cereja. Simplesmente magnífico. (Devia acompanhar-se de véu e grinalda). Essas estrofes bastaram para consagrá-la respeitada emérita arquiteta da palavra sentimental. Quem o fez? A opinião abalizada e douta do jornalista Lago Burnet, em publicação no jornal Imparcial. Se sua poética inicial, pueril, é tão harmoniosa, expressa poesia pura, entendidos à primeira leitura, imaginemos as jorradas na juventude e na maturidade. Certamente, verdadeiras obras-primas. Precisamos conhecê-las. Sua vocação para literatura e afins é atestada pela sua permanente e exigida presença nos grandes movimentos do Estado, pendores extraordinários que justificam seu festejado ingresso na cadeira 39, desta AML. De muitos vitoriosos episódios de sua vida particular, um é exemplar. Ao construir bem cedo seu lar, suspendeu curso ginasial, e para recuperar o tempo, a jovem mãe confiou em sua inteligência, e para alcançar o deslumbrante futuro glorioso que o acenava glórias, fez por correspondência o curso Madureza, concluiu o colegial, bacharelou-se em Letras e doravante com predicados pessoal conquistou seu mundo. Senhores, pela grandeza de seu currículo, permitam-me abreviá-lo. - Licenciada em Letras – Inglês e Português – UFMA - Mestra em Letras – pela Pontifícia Universidade Católica – PUC –RJ - Cursos de Especialização: Especialização em Metodologia do Ensino Superior, Semiologia Aplicada à Literatura e Ensino à Distância.
- Magistério: professora da TV Educativa do Maranhão. - Professora aposentada do Curso de Letras da UFMA, onde ministrou Inglês, História da Literatura, Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa. Cargos e funções: Digno de elogios merece a eficiente educadora, tanto na UFMA quanto à Secretaria de Educação, sobretudo, peregrina do livro didático, em desconfortáveis viagens pelo interior maranhense, melhorada quando passageira do “Pé na Cova”, pilotado pelo meu saudoso amigo e parente, competente e maluco comandante José Peperiguassu Brito Rayol. Que o Deus tenha em lugar alegre como viveu. (Relevem-me por essa menção). Chefe da Divisão de Estágio Curricular – UFMA; Pró-Reitora de Graduação UFMA; Assessora de Relações Internacionais UFMA; Assessora Especial de Educação da Gerência Regional de São Luís equivalente à época a uma Secretaria, com as 192 escolas estaduais existentes nos quatro municípios da Ilha de São Luís sob sua responsabilidade; Governo do Estado do Maranhão: Gestora de Programas Especiais do Governo do Estado, abril de 2003 a dezembro de 2006 desenvolvendo o Projeto Saúde na Escola, um programa educativo de melhoria de qualidade de vida dos alunos do ensino fundamental das escolas estaduais e municipais, atingindo 130 municípios. Alcançou a meta de três milhões de atendimentos. Diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho da Secretaria de Estado da Cultura. (2009 a 2014) Membro do Conselho Estadual de Cultura MEDALHAS E OUTRAS HONRARIAS: - Medalha do Mérito Timbira Governo do Estado do Maranhão - Medalha Laura Rosa (concedida às mulheres educadoras que se destacaram em outros ramos do saber) - Medalha Odorico Mendes da Academia Maranhense de Letras. - Palmas Universitárias (distinção honorifica). - Medalha Mérito Timbira Grau de Comendador do IV Centenário de São Luís. - Medalha do 4º Centenário de São Luís, relevantes e inestimáveis serviços prestados à cidade de São Luís, no século XX e no atual. BIBLIOGRAFIA: - Surrealismo & loucura e outros ensaios. São Luís: Editora Uema, 2008. - O narrador plural na obra de José Saramago. São Luís: Edufma,1990. - O narrador plural na obra de José Saramago. São Luís: Lithograf, 2003, 2 ed. Todos sabemos ser a autora declarada admiradora e estudiosa desse escritor. - Apontamentos de literatura medieval – literatura e religião.
- O último pecado capital & outras histórias. São Luís: Edições AML, 2000. - Seleta. São Luís: Edigraf, 2001. Obra em que Josué Montelo reconhece a autora como completa romancista. - Seleta maranhense de contos e crônicas/ Ceres Costa Fernandes e José Chagas. org., e notas de Jomar Moraes. São Luís: - Participação em Contos e crônicas – livro de leitura recomendada para o vestibular de junho de 2002 da FAMA – Faculdade Atenas Maranhense – org., introdução. e notas de Jomar Moraes. São Luís: Edições AML, 2002. Senhores confrades, comigo a satisfação de haver indicado para o quadro de fundadores desta confraria, ínclitos nomes que o valorizam. Alegra-me e envaide-me a prerrogativa da formulação do convite à recém-eleita, e haver convencido a aceitá-lo. Confreira Ceres, na qualidade de signatário da proposta, e dela um dos relatores, demos primazia do julgamento, escolhendo para patronear a cadeira 34, a imortal e sua amiga Lucy de Jesus Teixeira, por sinal, nome por muitos desejados. Em apreço aos seus atributos, inclusive os aqui não mencionados, mais sua contundente franqueza de expor seus sentimentos, soem as trombetas, estendam o tapete, soltem a girândola de foguetes de taboca de São Bento e vinde receber o amplexo de seus pares porque nossa Academia nesta noite se debruça – seu coração soluça – esperando por ti.
ELOGIO À PATRONA LUCY DE JESUS TEIXEIRA
CERES COSTA FERNANDES Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Maranhense de Letras Excelentíssimas confreiras Excelentíssimos confrades Senhoras e senhores presentes A minha satisfação ao cumprir este rito acadêmico de iniciação é dupla, significa o ingresso no sodalício da novel e promissora Academia Ludovicense de Letras, que vem somar-se às outras academias pertencentes à FALMA, e a oportunidade de lançar um foco de luz sobre a importância da obra literária de Lucy Teixeira, que reputo uma das maiores escritoras do Maranhão e do Brasil, tão pouco conhecida e divulgada entre nós. Recordo, neste momento, a emoção de conhecer pessoalmente Lucy. Peço licença a esta plateia ilustre para plagiar a mim mesma, encaixando aqui um fragmento de uma crônica escrita na ocasião, que traduz todo o meu encantamento daquele instante. Não o poderia narrar de forma diferente, tal o modo como ele traduziu o que senti naquele momento e o que sinto agora: “Na primeira vez em que encontrei Lucy Teixeira, achei imediatamente que ela só poderia chamar-se Lucy. Explico: quando sou apresentada a alguém, tenho a mania de conferir se o nome do novo conhecido combina com o seu físico e o jeito de ser. Às vezes me bate um não sei quê de estranhamento e sinto que outro nome seria mais adequado à pessoa. E nesse caso, que difícil é lembrar depois como se chama o novo conhecido! Com Lucy, foi diferente, o nome, curto, leve, estrangeirado, me pareceu perfeitamente apropriado àquela mulher miúda e vivaz.”
Foi no dia em que a conheci sem que ma apresentassem. O dia de sua posse na Academia Maranhense de Letras, em 1979 – tempo em que eu nem sonhava em pertencer à AML, mas gostava de frequentá-la nos seus eventos, sempre abertos ao público. Já havia lido algo da poesia de Lucy e também sabia um pouco de sua vida antes de vê-la nesse dia. Ouvindo-a discursar, lembrava o que soubera do papel representado por aquela mulher à frente de seu tempo no movimento de renovação
da literatura maranhense, ao lado de Bandeira Tribuzi, que chegara de Portugal em 1946, trazendo Fernando Pessoa, Sá Carneiro, José Régio, Miguel Torga, entre outros, e as novas ideias literárias que corriam por lá desde 1915 e que não eram, ainda, conhecidas dos maranhenses nem depois da Semana de Arte Moderna de 1922. A admiração, o respeito, a sensação de inferioridade cultural e literária inibiram-me de aproximar-me e cumprimentá-la, acreditem. Não pareço tímida, mas, sou. Eram essas as poucas informações que eu dela possuía. O contato com Lucy me aguçou a curiosidade. Quis saber mais sobre aquela figura pequenina e descobri: Que nascera em Caxias, em 11. 07. 1922, a maior cidade maranhense de então, mudara-se com a família, de largas tradições culturais, ainda criança, para São Luís. Em uma palestra, intitulada “Sobre a Poesia”, sem data, realizada em um de seus vários retornos a Caxias, ela diz: ...É aqui que nasci e aqui passei boa parte de minha infância. Aqui se iniciou o meu contato com a poesia. Devia ter seis anos, quando a minha professora do Jardim de Infância, D. Julinha Carvalho, me escolheu para recitar a “Canção do Exílio”, numa tarde, em plena Praça Gonçalves Dias. Devia ser 10 de agosto, quando se comemorava o nascimento do poeta. Era muito tímida e tinha medo de errar. Mas depois o próprio ritmo do verso, creio, me manteve tranquila do começo ao fim, quase como se me embalasse Descobri, também, que, enquanto Bandeira Tribuzi chegava de Portugal e divulgava as ideias dos modernistas portugueses, Lucy Teixeira, por sua vez, chegou de Minas Gerais, também no mesmo ano emblemático de 1946. Lucy, a meu ver, foi mais além, trouxe notícias frescas do que ocorria na literatura pós-modernista brasileira. Enquanto cursava Direito, engajou-se literariamente, de 1942 a 1946, com ninguém menos que os escritores Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Murilo Rubião, componentes do que seria depois o famoso “grupo mineiro”. Durante a sua permanência em Minas Gerais, ela escreveu, publicou e conquistou prêmios em âmbito nacional. Que mulher extraordinária! Pensei. De volta a São Luís, trabalhou em O Imparcial, o mais lido e importante jornal da época, escrevendo crônicas diárias, sob o pseudônimo de Maria Karla; exerceu as funções de secretária do Tribunal de Justiça do Maranhão e, principalmente, desenvolveu intensa atividade cultural, animando iniciativas no campo da literatura e das artes plásticas. Participou ativamente do grupo que se chamou depois Movimento da Movelaria Guanabara, por se reunirem na movelaria de propriedade do pintor Pedro Paiva. Lá se reuniam, além de Lucy, os pintores Floriano Teixeira, Cadmo, o próprio Paiva, Bandeira Tribuzi, José Sarney, Lago Burnett, Luís Carlos Bello Parga e mais tarde Ferreira Gullar, entre outros. Esse grupo de jovens lutava com as poucas armas à disposição na província, pela renovação das artes e contra a estagnação da literatura maranhense que se encontrava dominada pela estética parnasiana e romântica. José Sarney, no seu discurso de recepção a Lucy na Academia Maranhense de Letras, em 1979 ,reconhece essa liderança e diz:
Havia um certo mistério que boiava nos seus passos ligeiros. Éramos solenes e contidos junto dela e, não foi preciso muito tempo para que soubéssemos que ela aqui chegara com muitos anos-luz na nossa frente. [...] Era mestre e mestra. Sua poesia já tinha uma forma definida e madura, sua cultura sedimentada se chocava com o nosso atraso daqueles tempos. Seu mistério era delicadeza [...] Lia o que escrevíamos e, como não queria avançar lugares comuns, ficava contida no silêncio. [...] dois grandes polos marcam a vida literária daqueles anos. A importância que iriam ter na nova geração é marcante [...] Tribuzi traz os poetas novos portugueses, lança em termos do presente os reencontros da lírica portuguesa no Maranhão. E Lucy o acompanha nos caminhos, nas perplexidades dos jovens, numa busca angustiosa de novas formas, novas expressões. (José Sarney. Falas do bem-querer: conferências e discursos, Brasília: Artenova, 1983).
Hoje, quando se fala na renovação cultural e literária do final dos anos quarenta do século passado, o nome destacado é sempre o de Bandeira Tribuzi. Lucy é apagada, mencionada en passant como uma simples participante do grupo. Por que será que isso acontece, quando Sarney, testemunha da história, a reconhece como “mestre e mestra” do grupo e “um dos dois grandes polos que marcam a vida literária daqueles anos”? O talento de Lucy foi reconhecido até mesmo por Oswald de Andrade, pouco antes de sua morte, em 1954, em entrevista concedida à jornalista Radhá Abramo: Mas me esqueci de falar dos escritores de hoje. Primeiramente encontro Guimarães Rosa, autor de Sagarana, e Clarice Lispector, em lugar mais acentuado. Há um grupo muito interessante e que muito promete: Oliveira Bastos, Ferreira Gullar e Lucy Teixeira, estes últimos poetas. (Os dentes do dragão – textos de Oswald de Andrade, organizado por Maria Eugênia Boaventura, Editora Globo, 2009).
Jornalista, cronista, dramaturga, crítica literária, poeta e crítica de arte, Lucy conviveu com os jovens artistas e literatos maranhenses de então, sedentos de saber, exercendo quase um magistério. Durante dois anos, colabora em O Imparcial, onde se notabilizou com o pseudônimo de Maria Karla. Suas crônicas trazem um sopro novo no jornalismo maranhense. Creio mesmo que nem sempre era entendida pelos leitores, a maioria pouco versada nos avanços da literatura no Brasil. Divirto-me pensando nos leitores: damas elegantes e senhores enfatuados perplexos ante as os avanços das crônicas de Lucy. Com Ferreira Gullar, grande amigo, organizou, em São Luís, o Congresso Súbito de Poesia, de que resultou a fundação do Movimento Antiquentismo, “de repúdio ao sentimento fácil na poesia”. Não sei de produções decorrentes desse movimento. Diga-se que Lucy foi a primeira leitora de Luta corporal (1949) da autoria de Gullar. Uma semana depois da morte de Lucy, Ferreira Gullar escreve uma crônica onde fala sobre ela. Assinante da Folha dei com o nome de Lucy, fui conferir a referência e transcrevo alguns fragmentos: [...] a lembrança do dia em que a vi pela primeira vez, na casa de sua família, quase na esquina da Avenida Beira-Mar [...] Eu tinha 20 anos, e você, uns oito mais, tanto que já morava no Rio de Janeiro, onde todo o poeta de província, naquela época, sonhava viver. Menos eu que era sonho demais para mim. Você achava que não, tanto que me deu para ler a tese escrita por Mário Pedrosa sobre a natureza afetiva na forma da obra de arte, certa que seria capaz de
entender aquilo [...] Você disse então que eu tinha de ir para a capital do país, pois o meu destino era aquele. Eu me empolguei e vim. (Folha de São Paulo – Ilustrada- 15 de julho de 2007.
E, mais tarde, em 2009, ele reitera: Posso dizer que dei sorte na vida porque sempre encontrei pessoas generosas que me ajudaram. Não consigo imaginar que rumo teria tomado se não as tivesse conhecido, por exemplo, Lucy Teixeira, lá em São Luís do Maranhão não me houvesse incentivado a vir para o Rio, teria vindo? [...] Lucy apresentou-me Otto Lara Rezende, que me admitiria na revista “Manchete” onde havia ótimos professores com os quais muito aprendi. Folha de são Paulo – Ilustrada – 30 de agosto de 2009.
Declarações gentis, até carinhosas, se quiserem, mas que não me satisfazem. Acho pouco o que Gullar confessa sobre a sua relação literária com Lucy. Seria mais honesto e generoso se ele revelasse que, além do incentivo à viagem ao centro cultural do Brasil de então, Lucy funcionou como guia nas suas leituras e o fez conhecedor de um pouco do muito que ela tinha acumulado em anos mineiros e cariocas .Além de introduzi-lo no mundo literário da Capital Federal, onde ela tinha acesso à nata da literatura e da arte, com muitos amigos, dentre os quais Manuel Bandeira, Mauro Pedrosa e Drummond de Andrade. Final de 1949. Lucy transfere-se de vez para o Rio de Janeiro, onde passou a colaborar em diversos suplementos literários daquela capital. Em apenas um ano, Lucy ganha 13 importantes prêmios literários. Em 1950, esteve na Europa, pela primeira vez, como bolsista do Governo Italiano. Retorna ao Rio de Janeiro, forma-se em Museologia, em 1951, cursa três anos de Medicina e se transfere para Psicologia, curso que concluiu. Em 1958, a inquieta Lucy volta a Roma, por meio de uma bolsa do governo italiano. Faz, na Universidade de Pádua, doutorado em Neurolinguistica e, depois, em Filosofia Estética, nesta, a sua tese versou sobre L’ Estetica Crociana e l’arte contemporanea”. Em funções diplomáticas do Governo Brasileiro, foi adida cultural na Bélgica, Espanha e Itália. Poliglota, falava lia e escrevia em cinco línguas. Após aquele primeiro encontro impactante, por longo tempo não mais me encontrei com Lucy. Mulher cosmopolita, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e os países Bélgica, Espanha e Itália eram sua morada. Em São Luís, tinha apartamento cativo no Panorama Palace Hotel e, por fim, no Hotel Pestana, para suas longas temporadas de retorno às origens. Finalmente, em outro evento da Academia, fomos apresentadas e, aí, descobrimos uma série de coincidências a nos ligar. De conversa em conversa, descobrimos que ambas moramos muitos anos na Rua Montanha Russa (em épocas diversas) e que ela conheceu e conviveu com duas pessoas marcantes na minha vida: a minha sogra Maria José Vaz e meu pai, Francisco Costa Fernandes Sobrinho, rapaz do seu tempo. A ACADÊMICA LUCY TEIXEIRA No primeiro quartel do século XX, os dias de fastígio da nossa intelectualidade haviam-se perdido, ancorados no passado, em uma época que a cultura maranhense era reverenciada por todo o Brasil. Contudo, não se pode negar que uma chama persistia. Os numes da outrora Atenas Brasileira,
se não mais encontravam representantes à altura, eram fortemente reverenciados. Pululavam grupos de jovens intelectuais, reunidos em grêmios e oficinas culturais, particularmente estimulados pela visita de Coelho Neto à nossa terra em 1893. Diz-nos Jomar Moraes, no prefácio da 3ª edição de os Perfis acadêmicos: Como resultado da intensa vida literária que São Luís conheceu entre a última e a primeira década dos séculos XIX – XX, diversas agremiações culturais foram fundadas, duas das quais tiveram particular importância: a Oficina dos Novos e a Renascença Literária.
A história do nascimento da Academia Maranhense de Letras entrelaça-se com a história da literatura maranhense. A Academia Maranhense de Letras nasceu precisamente a 10 de agosto de 1908 – homenageando seu patrono, Gonçalves Dias –, como decorrência dessa efervescência literária. Lucy Teixeira foi a quinta mulher a transpor os umbrais da Casa de Antonio Lobo, a Academia Maranhense de Letras. Nela chegando, encontrou outras duas confreiras: a escritora Conceição Aboud, consagrada romancista, cuja entrada se deu em 1955, e a poeta e prosadora Dagmar Desterro, que tomara posse em 1974, quase 20 anos após Conceição. As duas primeiras acadêmicas já eram falecidas, tal o espaço de tempo entre as admissões de cada representante feminina. Laura Rosa, a primeira, que inaugurou a entrada do elemento feminino, tomou posse em 1943 e Mariana Luz, a segunda, professora e poeta, foi recebida em 1948. Lucy ocupou a Cadeira nº 7, tendo como patrono Gentil Braga, sendo recebida por José Sarney, em 28 de julho de 1979. Um traço comum prepondera em todas essas mulheres: a personalidade forte e a persistência na sua vocação. Mulheres que tiveram a coragem de expor suas produções literárias ao julgamento público; considerando-se a sociedade de seu tempo, de costumes misóginos, reinantes até bem pouco. Mesmo hoje, passados 106 anos de sua fundação, A Academia Maranhense de Letras aceitou o ingresso de apenas oito mulheres entre seus 142 membros. A misoginia inicial refletia bem o espírito da época. Considerando esse espírito, podemos reconhecer até avançada a posição da AML, na admissão da acadêmica Laura Rosa, já em 1943, enquanto que a ABL somente veio a render-se à entrada feminina com a admissão de Rachel de Queirós, apenas em 1977. A Academia Ludovicense de Letras, mais em consonância com os tempos atuais, conta com três fundadoras; seis mulheres, ao todo, no seu quadro de eleitas, sem contar que a patrona da casa é uma mulher, a escritora Maria Firmina do Reis. AS PUBLICAÇÕES DE LUCY Lucy muito escreveu e pouco publicou. O que não diminui o valor de sua obra. Escritores há que escrevem apenas um livro e basta para se notabilizarem para todo o sempre. O que foi editado por Lucy é suficiente para consagrá-la. Lucy tem 2 livros de poesia publicados: Elegia fundamental , Rio de Janeiro: Atelier das Artes, 1962, e Primeiro palimpsesto, São Luís: Sioge, 1978. Escreveu para o teatro: Quem beija o leão? Reuniu alguns de seus contos no livro No tempo dos alamares & outros sortilégios. Rio de Janeiro: Editora Revan, 1999.
O único romance editado, Destino provisório. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2001. Um grande número de crônicas diárias foram publicadas apenas no jornal O Imparcial, nos anos 1947 a 1949. Nunca foram reunidas em livro. Tem volumosa produção de poesia e prosa, que se mantém inédita. LUCY POETA ELEGIA FUNDAMENTAL Na plantação há somente a perspectiva de uma só viagem. Quando um dos plantadores cai, em definitivo, cuidadosamente é posto numa caixa – justo o seu tamanho – e um lenço lhe cobre a face. Então o seu rosto é beijado muitas vezes, sem que ele possa retribuir a esse sinal de carinho pois o silêncio já lhe ocupou toda a boca. E eis que ele desaparece sob o chão Onde trabalhadores afanados haviam preparado A fossa. Dentro desta, o plantador segue deitado, com a inutilidade de suas mãos unidas, como se os dedos se quisessem fazer companhia. ...................................................... Pela manhã ergue-se o ervatário indo colher no campo vagas ervas medicinais Colhe a luz do teu sorriso plantador cujas mãos, cobertas de anéis de areia agora possuem a Terra (fragmento, Roma, 1962)
O poema, escrito após a morte de sua mãe, é prenhe de emoção e beleza, de um lirismo simples e forte, despido de literariedades e pieguismo. Lucy despe-se de sentimentos subjetivos e mergulha no mistério da morte universal. Elegia fundamental, poema da dor filial transfigurada em beleza, é reconhecidamente dos melhores poemas da literatura brasileira. PRIMEIRO PALIMPSESTO (para a cidade de São Luís e Ferreira Gullar) ...no adro da noite jovem e velhíssima abraçaram-se nossas ruínas azuis Corpos de terracota brasileira fragmentados aqui e ali calafetados de lichino ...mechas de fios que se embebiam nas feridas profundas para as drenar nas saudades corroídas Teu nome é meu irmão no meio da noite do adro que flutua tuas mãos de repente acenaram renovado o sinal da louca cintilação quando sorríamos e as estrelas sussurravam São Luís Agora tua voz ceifa no campo devastado erguendo estátuas de som em nossas bocas enganosas enganadas na escuma da vida atravessei sem querer encontrando-me cheio de escuro com alucinados relâmpagos que atravessavam o teu rosto no meu rosto Teu soluço era seco Meu mar de palhas secas mas sólido de ausência São Luís a madrugar pelas esquinas esbatidas da memória Mas em abril ventos lendários desenhavam a Praça Gonçalves Dias das sete colinas de Roma .................................. Minha São Luís cristais pelo meu sangue me feri eis o cadáver para o qual contribuímos com fidelíssima obsessão quis levanta-lo uma duas vezes era de sombra era de eis-nos aqui quase miticamente em casa de Ana Letycia que não vai nem vem pela sala falando de Miquel Ângelo Ana Letycia com seu rosto de subterrâneas ternuras Passa como um veludo entre nós dois ..................................... (Primeiro Palimpsesto - 1978)
Poema, que poderia ser chamado de a canção do exílio de Lucy, marca o começo de seu retorno ao Brasil. Foi publicado em 1978, no ano seguinte da morte de Bandeira Tribuzi, ocorrida em 1977. É uma canção de amor e dor. Com cristais ferindo as veias. Ele nos pega desprevenidos: a linguagem é inusitada, o verso seguinte nunca é o esperado. O eu lírico é angustiado, de expressão por vezes difusa e alucinatória ou muda e que, logo, a seguir, se mostra leve e despreocupada, prenhe de “objetos frágeis”, mas sempre rica em profundidade. LUCY CONTISTA Lucy relançou, em São Luís, seu livro de contos, “No tempo dos alamares e outros sortilégios”, em 1999, no espaço familiar da Academia Maranhense de Letras. Fui ao lançamento, ansiosa por conhecer o que ela escrevera e participar da festa literária. Mal retorno a casa, me lanço à leitura do pequeno volume. Reproduzo o que disse, em crônica, na ocasião: “Sou tomada de sentimentos vários: estranhamento, prazer estético e um tanto de desconcerto. Se o jeito de menina travessa, com um ar moleque combina perfeitamente com o nome ligeiro, um tanto coquete, o texto que se me apresenta, representação do eu poético de Lucy, discorda de ambos. É um texto maduro e denso como uma estrela anã. Embora os significantes, fluindo em ondas como notas de uma pauta musical, nos passem, por vezes, uma sensação de leveza, até de superficialidade, vê-se que isso é apenas um artifício enganoso engendrado por Lucy para atrair-nos, tal qual o flautista de Hamelin, no seguimento do seu texto. Apanhados por seu sortilégio, já sem desejo de volta, somos tomados pelo redemoinho do significado que nos suga a uma profundidade da qual não podemos/ queremos fugir. Que difícil e gostoso é analisar Lucy! Seu texto é rebelde a classificações. Dizem-no da linha intimista de Clarice, mas há muito mais a dizer. Sensato seria apenas deixar-nos embalar por ele e fruir do seu prazer como nos aconselha Roland Barthes. Mas como, se ele nos desafia, instiga? Começaremos por dizer que ele não é uno (e esse é mais um ingrediente de sua fascinação). Ora se mostra em contos engendrados com um leve fio narrativo não linear, mas que sempre nos contam histórias, como “Companheiros no Exílio”, “Com Água Tofana” ou “Nusch”. Ora o fio, por vezes fragmentado (como convém ao fluir do inconsciente), empenha-se em rebordar os alamares, indo e voltando - agulha de máquina desenhando labirintos no bastidor – construindo “Recordações de Amelinda” e “Meu Lindo Amor”. Ora faz poesia pura, como em “O Convalescente Amoroso” : Cântico dos Cânticos pós-moderno – a fala do Esposo transparecendo em palimpsesto: A manhã é alta demais para a minha desenvoltura; mas ninguém ousaria afirmar que não caberias em meus braços, oh! beleza! és tu, íntima da grama do jardim onde tua cabeça, rolando, assusta as margaridas. Desejo ficar louco varrido para sair caçando borboletas para você. E peixinhos amendoados cor de coral.
Ou ”Seu perfil navalhou de beleza o vestíbulo” ou “A recomendável Amelinda, com todos os diabos a serviço da vida, deslizando entre as ondas do seu sangue vermelho como a recente aurora que os galos beliscavam por cima das nuvens nos entremeios do canto.”
Com frases como esta, Lucy inventa e desinventa o código linguístico, brindando-nos com o inesperado. Suas imagens e metáforas estalam de novas. Quentinhas, parecem ter sido apanhadas, agora mesmo, da massa estelar à disposição dos poetas e modeladas ao jeito de Lucy. ROMANCE Em outro instante da prosa de Lucy Teixeira, há o Romance Um destino provisório, exemplo de domínio técnico da estrutura romanesca, prosa enxuta e escorreita, por vezes pura poesia, joia de delicadeza e vigor. Brinda-nos com um final surpreendente, lírico e belíssimo, ponto mais alto do romance. Mas, permitam-me dizê-lo, a poesia e os contos de Lucy se sobrepõem literariamente ao seu romance, em ousadia e avanço por caminhos sem trilha, onde corre destemidamente mais riscos. LUCY CRÍTICA LITERÁRIA E CRONISTA Lucy escreveu, de 1947 a 1949, curtas crônicas diárias no jornal O Imparcial, no pequeno espaço que lhe era reservado em meio a anúncios comerciais e destaques da vida em sociedade. Entre os pequenos escritos havia crônicas e crítica literária. Transcrevo aqui uma pequena amostra do seu pensamento moderno na crítica. Parte de uma análise da poesia de Marcos Konder Reis, consagrado poeta catarinense, feita por ela, em 1949: Mas é necessário perguntar: qual o sentido do místico na obra do jovem poeta? Observemos, em primeiro lugar, que a misticidade fornece a Marcos Konder Reis uma ‘tristeza mansa”, evanescente, meio vaga como que oriunda de zona intermediária, apaziguadora dos conflitos entre o anjo e o demônio. Daí notar-se não a raiva de não ser divino (o que seria próprio de um místico sem Deus), mas certo desânimo, assim visível no soneto etc...etc...
Esse tipo de crítica não se assemelhava ao comum das críticas feitas pelos escritores da Ilha, acostumados às tradicionais críticas impressionistas. E vejam, isso em 1949! Quanto à crônica em si, já em 1947, Lucy se mostra pós-moderna, como diz o fragmento abaixo (O Imparcial, 30/01 1947 ). OS OBJETOS FRÁGEIS Onde está o jugo do cotidiano? Que queria dizer Berdiaeff? O que é preciso é viver a vida antes de tudo. Falso o artista que pretendia exclamar: “ Livrai-nos do cotidiano! ” Aí estão os pequenos grandes segredos. Aí é lançado o grito da existência. Porque outra superação da vida? Nenhuma escravidão exerce o dia-a-dia. Há sempre uma coisa, o segredo, dizer, pérolas que geladas flutuarão depois. Os objetos frágeis nunca estarão esgotados por nós. Às vezes um vago rumor de passos, uma cabeça que aponta na janela como uma coisa loura, o vento da tarde, o pedido que veio e voltou numa submersão por demais profunda para retornar. É a fragilidade que perdura. A força da fragilidade, paradoxalmente, é verdadeira. Não resistimos ao adeus, à lagrima, à nudez das calçadas, à presença silenciosa das flores. À nossa própria conformação não resistimos, porque somos, antes de tudo, objetos frágeis.
Mais nos estenderíamos aqui sobre a crônica de Lucy, “se não fosse para tão longa literatura, tão curto tempo de discurso”, parodiando o poeta. Mas queremos apenas citar joias, tão belas e atuais como as crônicas “Bom Senso” (22/02 de 1947) e “O Abrigo” (23/02 de 1947), a ombrearem-se com peças de Drummond de Andrade ou de Rubem Braga. A cultura e a arte de Lucy Teixeira eram múltiplas e multifacetadas. Ela também era pintora e exerceu a crítica de arte. Fazia parte do grupo de Mário Pedrosa, porta-voz dos movimentos de vanguarda no Rio de Janeiro, critico do Concretismo e futuro diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Lucy já havia exposto em Monte Carlo – Mônaco, com sucesso da crítica. Mas dizia que pintava apenas para os amigos. Aposentada, em 1990, do Ministério das Relações exteriores, residiu em Limeira, SP. Mas, a partir de 1979, passava largas e constantes temporadas em São Luís dividindo-as com as temporadas em Roma, até que regressou de vez à sua São Luís, onde veio a falecer em 7 de julho de 2007.. A inquietude de Lucy, levando-a a procurar o conhecimento sempre mais alto e mais longe, fê-la afastar-se de São Luís, ainda muito jovem. Retornou em 1946, para alçar voo novamente em final de 1949, já agora em busca de saberes em outros países. Após 1950, passa longos anos fora do Brasil. As gerações seguintes pouco sabem de Lucy. Outro fator contribuiu enormemente para o desconhecimento da obra de Lucy Teixeira: a modéstia, melhor dizendo, seu desprendimento, em relação à fama ou ao reconhecimento do seu valor, que a levaram a não cuidar da publicação das obras que escrevia incessantemente, em várias línguas e que se quedam inéditas até hoje. Talvez sejam estas as causas do desconhecimento da grande escritora que se esconde por trás daquela mulher pequenina e modesta. Seus livros só tiveram uma única edição e são raros, mesmo os mais novos. Por essas razões, talvez, quando se fala na renovação da literatura maranhense no final da década de quarenta do século passado, a nossa geração de 45, os nomes maiormente citados são os de Bandeira Tribuzi, Lago Burnett, Ferreira Gullar e José Sarney. Figuras que se mantiveram na mídia, publicando obras com renovada frequência e grande divulgação e projeção nacional e até internacional, no caso dos dois últimos. A obra inédita de Lucy é como um baú enorme, pejado de riquezas de conteúdo pouco conhecido, nele há poesias, contos, artigos escritos em jornais maranhenses e de outras partes do Brasil. E também há peças teatrais, critica literária e de artes plásticas. Artigos literários, ensaios e teses escritos em línguas estrangeiras. Tenho certeza que, em qualquer lugar que enfiemos a mão neste baú, traremos à luz um punhado de joias rutilantes. É ter disposição para a garimpagem: Lucy escrevia a lápis! As obras resgatadas, somadas às conhecidas, consolidarão para Lucy o lugar que é seu na literatura maranhense e brasileira. Quando da morte física de Lucy Teixeira, eu escrevi: “A Academia Maranhense de Letras perde um grande nome, perdemos nós, seus amigos, uma doce e talentosa figura humana. Mas não há perda na arte. Lucy cumpriu a sua missão de vida transfigurada em literatura, Cabe a nós, maranhenses, não deixar esse mundo especial criado por Lucy desvanecer-se na memória do porvir.” Como disse, são obras de características diversas, ricas, multifacetadas. Difícil rotulá-las. Mas há uma pista, um indício que, se seguido, nos faz chegar sempre a Lucy: a recusa ao aprisionamento do pensamento, com opção pela felicidade e pela subversão seja ela de ordem política ou individual. Essa opção se reflete no conteúdo e na forma de sua obra. Isso, porém, não acontece de forma tranquila. A aprendizagem do parecer ao ser revela-se dolorosa e, por vezes, voluntariamente, não se dá por conclusa. Insatisfeita, Lucy segue sempre em busca de um aperfeiçoamento maior, como soem fazer os verdadeiros e grandes escritores.
Agradeço a GIOVANNA LEGNANI, amiga e curadora da obra de Lucy Teixeira, o acesso a seu acervo e o empréstimo e doação de obras e textos que me fez, além de informações valiosas sobre a biografia de Lucy. Sem o que não poderia realizar este elogio. Agradeço, também, as informações e dicas de fontes de Jomar Moraes, que muito me ajudaram a compor o perfil de Lucy.
PAULO MELO SOUSA ELOGIO AO PATRONO EM 12 DE FEVEREIRO DE 2015 PAULO MELO SOUSA 38
FUNDADOR CADEIRA 33 06 de maio de 1960 Posse em 14 de dezembro de 2013 Concursos Poeme-se Graal Papoético Novos poetas do Maranhão Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ39 Maranhense de São Luís nasceu em 06 de maio de 1960. Poeta, jornalista, professor, ambientalista, pesquisador de cultura popular e fundador da Sociedade de Astronomia do Maranhão- SAMA. Foi um dos idealizadores do Jornal Folha de Gaia, o primeiro jornal ecológico do Maranhão (1990/1992), um dos fundadores do grupo Poeme-se (1985/ 1994), de Literatura, e criador do Grupo Graal, de poesia e performance (1997). Também incursiona na área de cinema e vídeo, trabalhando como ator e codiretor. Formado em Desenho Industrial e em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Possui Especialização em Linguística Aplicada ao Uso das Línguas Materna e Estrangeira e em Jornalismo Cultural (UFMA). É Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Em 2012, foi agraciado pelo governo do Estado do Maranhão com a Medalha do Mérito Timbira, grau de Comendador do 4º Centenário, pelos relevantes serviços prestados á cultura maranhense. É membro fundador da Academia Ludovicense de Letras - ALL (setembro de 2013), cujo patrono é o escritor Carlos de Lima, sendo ainda Diretor Cultural da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão. Escreve no Jornal Pequeno (JP Turismo), de São Luís, abordando temas de jornalismo científico, turístico e cultural, e na Revista Cazumbá de Turismo. Mantém nesse suplemento, desde 2006, a coluna “Alça de Mira”, na qual publica poemas de autores maranhenses. Atua ainda na área cultural como conferencista. Atualmente, articula o “Projeto Cultural Papoético”, desde 2010, e é diretor da Galeria de Arte Trapiche Santo Ângelo, que organiza o Salão de Arte de São Luís. Autor dos livros:
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/paulo_melo_souza.html VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizador). OS LUDOVICENSES - UMA ANTOLOGIA, VOLUME III. São Luis, (inédito), 2014.
- “Rua Grande: Um Passeio no Tempo” - Texto (História do Maranhão, Pancrom/1992); - “Oráculo de Lúcifer”, poesia (Prêmio Sioge/Secma, 1994); - “Vi(s)agem” (poesia) - Prêmio Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís- 2001); - “Arte das Mãos: Mestres Artesãos Maranhenses” - Texto (SEBRAE/2007); - “Nagon Abioton: Um estudo fotográfico e histórico sobre a Casa de Nagô”- Texto, livro que recupera a memória oral afro-maranhense da Casa de Nagô, um dos mais importantes terreiros de Tambor de Mina do Maranhão, - “Banzeiro” (poesia) - Prêmio Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 2004; - “Vespeiro” (poesia) - Prêmio Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 2009. Seu nome está incluído em várias antologias, dentre as quais a “Antologia da Poesia Maranhense do Século XX”, organizada por Assis Brasil. No material que estou a organizar sobre os literatos ludovicenses40 – uma antologia – na introdução “Breve olhar sobre a literatura ludovicense”, consta a participação de Paulão – como é mais conhecido – em diversos ‘movimentos’ a partir da década de 1970, como “CONCURSOS41”, POEME-SE, GRAAL, PAPOÉTICO, e NOVOS POETAS: [...] A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, aponta, em seu Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Dente os mencionados42 estão Paulo Melo Sousa, Dilercy Adler, cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica. (In GUERRA ERRANTE, 2012)43. [...] Paulão também aparece, já em 1984, na Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista, reunindo-se 25 poetas e 60 poemas. De Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo Melo Souza. Logo a seguir, 1985, surge o “Poeme-se” - que deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografia de Mobi, é desenvolver uma poesia social, “tentar fazer da poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 44. [...] Sobre o POEME-SE, José de Ribamar Silva Filho diz que até 1980 costumava frequentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. Em 1984, José de Ribamar Feitosa abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. E eu fiquei com aquela ideia de botar um negócio desses, num local fechado e organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e 40
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. OS ATENIENSES – UMA ANTOLOGIA. Volume IV-B: da movelaria Guanabara em Diante. São Luis: 2014 (Inédito). Surgem o Plano Editorial SECMA e o Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”, com objetivo de incentivar a produção intelectual e literária de alto nível do Maranhão. Para Leão (2008), os novos nomes revelados pelos concursos literários “Gonçalves Dias” e “Cidade de São Luís”. 42 Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, 43 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 44 LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara; Guarnicê, 2003. 41
eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEME-SE 45. O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o “espaço” Papoético! O Projeto Papoético tem a finalidade de estimular e socializar a atual produção poética realizada em língua portuguesa por autores inéditos. O projeto foi idealizado e é executado pelo poeta e jornalista Paulo Melo Sousa46. [...] Zeca Baleiro47, antes de partir para São Paulo em 1989, publica a revista Undegrau (1988), na linha do Guarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e Outros (2003) 48. Paulo Melo também participa, junto com outros poetas de sua geração49: E esta outra geração (1990/2000...) 50 que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas e urbanoides.
Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmicouniversitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo [...]. (In GUESA ERRANTE, 2012) 51. [...] Outro movimento de que participa é o “movimento Poesis” iniciado em 2006 a partir da iniciativa de Geane Lima Fiddan e do poeta Bioque Mesito, os quais convidaram Antonio Aílton, Rosimary Rego, Hagamenon de Jesus, Paulo Melo Sousa, Raimundo Nonato Costa (Natinho Costa), Daniel Falcão Bertoldo (músico), e Danilo Araújo 52. [...] Para Dyl Pires53, a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam.
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CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/ , publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 46 http://www.uema.br/2013/09/ii-festival-de-poesia-do-papotico-prmio-nauro-machado/ 47 Sobre o apelido de Zeca Baleiro: “Não sabe aquele teu xará (José de Ribamar Coelho Santos), de ARARI ? Chegava à universidade, no tempo de estudante, com os bolsos cheios de balas (balinhas de hortelã, de café, de chocolate…), degustando-as, distribuindo entre as garotas e pegou, também, um apelido engraçado, que hoje o identifica como a celebridade Zeca Baleiro! Viu como é o negócio? Tem apelidos carismáticos…”. In CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/, publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 48 LIMA e Outros, 2003, obra citada. 49 Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma. A revista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone, Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi, Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa, Ramsés Ramos, e Edgar Rocha. 50 Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura 51 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 52 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico. 53 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254
[...] As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. [...] Em 1995, segundo Leão (2008) 54, surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense. Antonio Aílton Santos Silva (2014) 55, um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especial do Curare, deu um depoimento muito esclarecedor: [...] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires.
[...] Dilercy Adler em 1995 56 organiza a antologia (a primeira) Circuito de Poesia Maranhense – 100 poemas, 61 autores. O objetivo era mostrar a produção maranhense de poesias durante a 47ª Reunião Anual da SBPC, realizada em São Luis. Contou com a colaboração de Paulo Melo Sousa, dentre outros 57. Dilercy, logo a seguir (1998), começa a organizar as antologias da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, Latinidade58. A SCL-MA59 tem em sua diretoria, além da Dilercy (presidente), Ana Maria Costa Felix (vice), Roberto Mauro Gurgel Rocha (1º Secretario); Cesar Maranhão (2º Secretário); José Rafael Oliveira (Tesoureiro), e Paulo Melo Sousa (Diretor Cultural). [...] Em 2011, é realizada a exposição TrezeAtravésTreze60, de poesia e artes plásticas com 26 artistas (13 poetas + 13 artistas plásticos) que dialogam entre si, direta ou indiretamente, apresentando um painel de escritores e pintores maranhenses de um período que cobre os últimos 30 anos: final do século 20 e início do 21. Versos de 13 poetas atravessando os traços de 13 artistas plásticos, poética plástica que vem ocupando salões, galerias e livrarias do Maranhão e do Brasil. A produção é da Galeria HUM e da revista cultural Pitomba! TrezeAtravésTreze é um exercício, uma possibilidade de aproximação entre artistas maranhenses que nas últimas três décadas se destacam 54
LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS - DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico. 56 ADLER, Dilercy Aragão. CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE. São Luis: UNICEUMA, 1995 57 Colaboração de José Chagas, Arlete Machado, Alberico Carneiro, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Leda Nascimento, e do grande homenageado, Nauro Machado. 58 ADLER, Dilercy (Organizadora). I COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 1998. 59 A SCL foi fundada em 1909 na Itália; em 1942, a segunda, em Portugal; o Brasil foi o terceiro país a recebê-la, pelo final dos anos 70, fundada por Joaquim Duarte Batista; no Maranhão foi criada em 25 de junho de 1997, no Palácio Cristo Rei. No ano seguinte, sai a sua primeira coletânea; com periodicidade de dois anos. Foi até a quarta edição, em 2004. In ADLER, Dilercy (Organizadora). II COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2000. ADLER, Dilercy (Organizadora). III COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2002. ADLER, Dilercy (Organizadora) IV COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2004. 60 http://ponteaereasl.wordpress.com/2011/12/13/exposicao-de-poesia-e-artes-plasticas-reune-26-artistas-na-galeria-hum/ 55
na literatura e nas artes visuais”, diz Celso Borges. Dentre os poetas selecionados, lá estava Paulo Melo Sousa...61. Quando da execução do Projeto Gonçalves Dias62, em 2013, foi criada a Academia Ludovicense de Letras; dentre seus fundadores, nosso Poeta, que ora faz seu Elogio ao Patrono...
ELOGIO DE ALMA PARA A ALMA DE UM MENINO63 Simplesmente impossível para mim, nesta hora, não ser passional, muito me faz pensar em armadilhas foucaultianas no que se refere à ordem do discurso. Na verdade, é justamente pensando na desordem de qualquer discurso que começo a tecer, sem maiores preocupações, estas linhas, sem a mínima preocupação se serão bem ou mal traçadas. Sim, pois o que move os dedos no teclado do computador não é a mente, mas, a emoção. Surgida a partir de uma perda que não é somente dos parentes de Carlos de Lima, mas, também minha, dos amigos do historiador, que era um poeta incorrigível na vida e nas palavras, uma perda para a cidade, para o Maranhão, para o país. Há alguns anos atrás, quando entrevistei Cristóvam Buarque sobre o seu livro "O Colapso da Modernidade Brasileira", ele me disse que quando se perde uma espécie no planeta ficamos mais pobres. Imaginemos então quando o planeta perde um homem, e procure-se imaginar a envergadura dessa perda quando esse homem possui a estatura moral, intelectual e humana de um ser ímpar como Carlos de Lima. Sim, estamos mais pobres. Bem mais pobres nesta terra já tão minguada de homens de valor. Conheci seu Carlos através de dois dos filhos dele, Pablito e Fábio, amigos de infância, cúmplices das peladas nas ruas do Apeadouro, do Chuta Lata, das lanceadas de papagaios, das guerras de baladeira municiadas por sementes de mamona, dentre outras brincadeiras mais saudáveis. Eu tinha, nessa época, uns dez anos de idade, mais ou menos. A nossa turma era grande, Ivar e Júnior Saldanha, Marcos Itapary, Nélson Rego, Lucídio Santos, Tadeu, Tonho e Luís Cunha Lima, João Carlos, o Joca, Canela, Rui Mendonça, o Fuinha, Sérgio Sombra, Gustavo Marques, muita gente boa e amiga. Com o passar dos anos, o nosso ponto de encontro passou a ser a casa de seu Carlos e de dona Zelinda Lima, que foram, literalmente, nossos segundos pais. Ali, na casa do Apeadouro, esquina com a rua Astolfo Marques, também moravam Álvaro, Danúzio e Débora, a filha caçula, irmãos de Pablito e Fábio. Naquela casa sempre fomos acolhidos com carinho, atenção e respeito. Mais tarde, depois da mudança de seu Carlos para o Olho D'água, a casa foi transformada na escola Colméia, gerenciada pela filha Débora. Naquela casa, amigos de seu Carlos, como Jorge Amado e Zélia Gatai, que sempre freqüentavam o ambiente quando vinham a São Luís, Reinaldo Faray, dentre tantos outros artistas, fizeram parte do nosso cotidiano ao longo dos anos. Em maio e junho, grupos de Bumba-Boi faziam 61
Poetas: Antonio Ailton | Celso Borges | Couto Correa Filho | Diego Menezes Dourado | Dyl Pires | Eduardo Júlio | Fernando Abreu | Jorgeana Braga | Josoaldo Rego | Lúcia Santos | Luís Inácio | Paulo Melo Souza | Reuben da Cunha Rocha; Artistas Plásticos: Almir Costa | Ana Borges | Claudio Costa | Cosme Martins | Ednilson Costa | Edson Mondego | Fernando Mendonça | Marçal Athayde | Marlene Barros| Ton Bezerra| Roberto Lameiras | Paulo Cesar | Victor Rego. 62 ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1a_-_parte_1; http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1b_-_parte_2; CARNEIRO, Alberico. ILHA DO AMOR – GONÇALVES DIAS E ANA AMÉLIA. IN ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/livro_alberico_1_ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/sobre_gd2a_1. 63 http://www.jpturismo.com.br/noticia.asp?id=13052011-elogio-de-alma-para-a-alma-de-um-menino
apresentações em frente à casa, e éramos expectadores privilegiados. Nesse ambiente foi crescendo em mim o gosto pela arte e pela cultura dita popular. No entanto, o aprendizado maior, ali, foi uma grande lição de humildade, simplicidade, respeito, carinho, compreensão com que todos os amigos dos seus filhos, inclusive eu, sempre fomos tratados. Esse aprendizado não se encontra nos livros, amigos. Dias felizes. Sim, é impossível não ser passional. Em todos esses anos, sinceramente, nunca vi seu Carlos zangado, mesmo nos momentos em que ficava sério, austero, impondo a sua autoridade paterna, que era extensiva a todos nós, adolescentes e deliciosamente irresponsáveis, parecia que no fundo ele estava apenas nos testando, curtindo um pouco com a nossa cara. Sim pois seu Carlos era um gozador. Lembro-me de muitos momentos em que isso vinha á tona, quando, por exemplo, assistíamos em sua casa aos jogos do Flamengo, filando, de vez em quando, uma cervejinha. As piadas faziam parte do espetáculo. Numa ocasião, ele me perguntou, com a maior seriedade: "seu Paulo, o senhor viu com que cor pintaram a fachada da igreja de Santo Antônio?" (mostarda). Ainda não, seu Carlos, eu respondia. E ele vinha com a pilhéria: "cor de merda". Era sempre uma gargalhada. Noutra ocasião, fez uma argumentação que ainda hoje é atualíssima, argumentação que não será ouvida por nossos gestores públicos, surdos como portas encardidas: "Os camelôs e os hippies não deixam mais a gente andar pelas calçadas e, quando reclamamos, dizem que o espaço é público. Justamente por ser público é que eles não deveriam loteá-los". Precisão cirúrgica. Seu Carlos fez o prefácio de meu primeiro texto publicado: "Rua Grande - um Passeio no Tempo", livro organizado e publicado pelo arquiteto Gustavo Marques, amigo de infância do Apeadouro, gente da nossa turma. Ele se dispôs, já com mais de 70 anos, a caminhar durante uma tarde inteira comigo pela Rua Grande, contando-me a história da rua, da sua Rua Grande. Faloume da casa onde funcionava o Casino Maranhense, da Turma do Sereno, da qual fazia parte, faloume da sua juventude como carnavalesco, do Cine Éden e seus bailes, foi um belo passeio no tempo. Nas questões sobre História do Maranhão, sempre foi para mim um orientador de primeira linha, da mesma forma como abordou de forma magistral a Festa do Divino Espírito Santo, em Alcântara, fazendo-me apaixonar não somente pela cidade, mas também pelas belas e animadas festas que anima na velha Tapuitapera. Seu Carlos deixou obra expressiva, muitos falarão dela. No entanto, quero me reportar a apenas uma, que sempre me tocou de forma indelével: "Réquiem para um Menino", livro dedicado a seu filho morto precocemente, Leôncio Neto, o Netinho. Nele, seu Carlos chora a ausência do filho. Não somente por causa do livro, sempre senti essa morte do filho na fala de seu Carlos, nos seus olhos, na sua alma, na sua fala um pouco trêmula, em certos momentos. Também sofri uma perda parecida, um primo amigo de infância, quando ele tinha nove anos, de forma trágica, de tal maneira que, sem que ele soubesse, sempre estive solidário com a sua dor. O livro é tocante, poético: "por acaso um astro se enclausura,/e guarda-se no cofre um pensamento? /Engaiola-se a brisa/passageira,/sepulta-se o amor?... É a missa de réquiem para o meu filho. Boneco que fiz e Deus quebrou". Esse livro sempre me emocionou, em razão da pureza de alma que dele flui, naturalmente. E agora seu Carlos se vai, como um menino, nem parecia que estava morto quando fui vê-lo pela última vez, segunda-feira passada, parecia que estava apenas dormindo, um menino de 91 anos. Irretocável. Talvez esta seja a palavra mais adequada, se é que existe alguma, para que se possa tentar realizar a captura da síntese da trajetória de vida de um homem como Carlos de Lima, personalidade iluminada, abençoado pelo dom da simplicidade, um espírito impagável, inapagável, alegre e permanentemente espirituoso. Pare ele, eu tiro o meu chapéu. Parafraseando o outro Carlos, o Drummond de Andrade: Vai, seu Carlos, continuar sendo anjo, na outra vida. E que Deus ilumine e conforte toda a sua família, e a todos nós, órfãos dessa insubstituível clareira de luz.
POEMA DESCALÇO64 se me devoro é porque tenho fome de mim todo silêncio possui a palavra que merece qualquer existência pode ser camaleônica um mar inexplicável habita minhas entranhas há muita sede no mundo bem poucos sabem beber
MARÉ DE LUA65 caminho todas as tribos mas não sou de nenhuma cada animal é dono de uma astúcia antes de conhecer o miolo das coisas viventes precisa pelejar pra ter entendimento das saídas labirinto é bicho esquivado entrar é fácil BEM ANTES DO PRIMEVO ADÃO as vísceras da pedra são devoradas pela fome dos séculos DISPUTA negras palavras florescem nos olhos da ruína garras afiadas disputam mundos almas delicadas não suportam o fascínio da morte o coração do poeta pediu aviso prévio bebe o crepúsculo na esquina jogando pôquer com o destino
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/paulo_melo_souza.html Melo Souza, Paulo. Visagem. São Luís: Lithograf/FUNC, 2002. p.31-35 SOUZA, Paulo Melo. Oráculo de Lúcifer. Poesia. São Luis, MA: SIOGE, 1994. 144 p. 14x23 cm. Capa: Iramir Araújo. ISBN 85-7207-08-1-8 SOUSA, Paulo Melo. Vespeiro. Poesia. São Luis: FUNC, 2010. 60 p “Premiado no concurso literário e artístico ´Cidade de São Luis´ 2009 – Prêmio Sousândrade“ Col. A.M. (EA) SOUSA, Paulo Melo. Banzeiro. Poesia. São Luis, Maranhão: 2010. 60 p. “Premiado no Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luis” 2004. Prêmio Sousândrade. Composto em tipologia Elante corpo 11-15, impresso em papel Offset 75 gr., capa em papel cartão supremo 250 gr. Col. A.M. (EA) 65
ARIADNE deglutia flores amassadas na maionese acionava os alarmes da aurora despertava no país do sono brincava de cabra-cega na beira dos precipícios palitava os dentes à espera do apocalipse HERMÉTICO o cadáver da pedra se apavora com o esqueleto da própria sombra no músculo das palavras cabe toda a carta celeste o maxilar da morte anoitece devorando omoplatas de cetim um poeta se diverte espancando os dentes na máquina de escrever Está tudo bem quando eu sangro e os outros dormem Faço de mim meu próprio espetáculo caminhando nu pela praça mijando estátuas com bigodes e paletós gritando ao mundo a palavra orgasmo quando a lua cínica me seduz e me trai pontualmente mês após mês e até sempre e sempre Então saio pela noite feito um lobisomem bebendo a cântaros oferecendo brindes à minha própria loucura PARTO a poesia dispensa guarda-costas ela é medula habita a flora da linguagem constrói sua febre das cinzas do céu e do inferno fênix da palavra basta a si mesma para explicar sua gênese. ATESTADO ando só comigo muito mal acompanhado
sou para sempre meu inimigo pĂşblico nĂşmero um VIAGEM De Sirius a Belatrix sete segundos bastam formigas adoram navegar em mapas celestes
NOBERTO, BUZAR (AML), MACATRテグ, ZELINDA LIMA, PAULO
DISCURSO DO MEMBRO-FUNDADOR ANTONIO NOBERTO EM APRESENTAÇÃO AO TAMBÉM MEMBRO-FUNDADOR PAULO MELO SOUSA, OCUPANTE DA CADEIRA Nº 33, PATRONEADA POR CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA
São Luís, 12 de fevereiro de 2015. Presidente da Academia Ludovicense de Letras, confrade Roque Pires Macatrão, Presidente da Academia Maranhense de letras, confrade Benedito Buzar, Meu amigo, poeta e confrade Paulo Melo, Demais autoridades, confrades e confreiras, professores, familiares e amigos do apresentando, amigos da imprensa, meus amigos, funcionários da casa, senhoras e senhores, boa noite! Saudação a um grande poeta Preparar um discurso às vésperas da maior manifestação popular do mundo não é fácil, ainda mais para um assessor de comunicação da Polícia Rodoviária Federal, instituição muito demandada neste período carnavalesco. Mas sempre acreditei que é mais fácil uma pessoa ocupada ajudar alguém que precisa de uma mãozinha, que um desocupado, porque o ocupado já é acostumado a trabalhar e a servir. Ele sempre vai achar um tempinho na agenda para dar uma ajuda a quem precisa. Já o ocioso não tem esse hábito e, portanto, achará uma desculpa, ainda que esfarrapada para se escusar de tarefas e obrigações. Quando Paulo Melo recebeu a notícia de que sua esposa não poderia fazer sua apresentação aqui na ALL, pois, segundo normas internas, só um membro pode fazê-lo, ele foi taxativo: “eu quero que o Antonio Norberto me apresente!” A principio pensei que a incisividade tivesse sido em razão desse “r” a mais que as pessoas generosas geralmente colocam no meu nome, posto que vinculam à riqueza dos “parentes” proprietários da empreiteira NORBERTO ODEBRECHT, depois imaginei que seria em razão da humanidade e cultura da França somada à causa de Daniel de La Touche, fundador de São Luís, que tanto lutou por este torrão sendo eu um grande entusiasta e admirador da sua diplomacia e dos seus esforços. Mas fazendo o método da eliminação, depreendi que não é pelo erre a mais, pois os empreiteiros estão meio enrolados em alguns casos, digamos, pouco ortodoxos. E também não deve ser por conta da França e de Daniel de La Touche, pois desde as manifestações de junho de 2013,
quando os brasileiros ocuparam as ruas pedindo mais probidade e eficiência, o governo se apressou a fabricar heróis, sendo Jerônimo de Albuquerque apresentado como tal. Fui descartando outros motivos: beleza não, pois tem muitos outros confrades e confreiras que são mais atraentes; eloquência também não, a ALL tem muitos tribunos; poderia ser pela coragem, pois hoje é véspera de sexta-feira 13 e Noberto é chegado a um passeio no cemitério. Mas não poderia ser isso... E depois de tantas outras elucubrações e eliminações cheguei à conclusão mais razoável: Paulo Melo me escolheu por amizade, afinidade e irmandade. Não que tenhamos tempo para prosear muito tempo ou jogar conversa fora. Simplesmente por que temos um veio popular que nos une. E quando isso acontece as almas também se unem. O meu amigo é ligado às questões afro. Noberto também. Ele gosta de pesquisa. Noberto também. Paulo é ávido por cultura popular, Noberto idem. É pessoa e escritor simples, que fala a língua do povo e faz incursões no mundo literário, tal qual Noberto. E não se pode esquecer também o lado louco de cada um, afinal, um gosta de fazer passeios no cemitério, enquanto o outro trabalha quase que exclusivamente por amor, apenas para granjear o pão. Então, meus amigos, confrades e confreiras, senhoras e senhores, com tantas afinidades não poderia ser outro a ocupar esta tribuna nesta bela noite. Mas vamos em frente que a madrugada não tarda. Paulo Melo Sousa é um poeta ludovicense, nascido no Hospital Português, no Centro da capital maranhense, pelas mãos do Dr. Amaral de Matos e pela parteira Dona Doquinha, a mais famosa parteira de São Luís daquela época. Morou na Rua Grande até aos sete anos de idade, numa casa que ficava quase defronte da entrada do Diamante. O fundo da casa dava para a antiga Quinta do Barão, depois terreno do Colégio Marista, onde havia uma vacaria, local onde ele brincava com alguns colegas. Estudou no Colégio Pituchinha, Parque Urbano Santos, ao lado do Ginásio Costa Rodrigues, e ali fez o Jardim de Infância, e estudou até o segundo ano do antigo Primário. Depois passou no exame de admissão do Marista, escola onde estudou por dez anos, até concluir os estudos, em 1978. O contato com o Centro Histórico, portanto, vem desde a infância. Os pais levavam-no para caminhar pela Rua Grande durante os domingos, desde o Palacete Gentil Braga até o Largo do Carmo, e a diversão era olhar as vitrines das lojas. Mais tarde, passeavam de carro pelo Centro, e era sagrado passar pelo Viaduto do Palácio, ao fim das tardes, apreciando o mar da baía de São Marcos ou as croas de areia na maré baixa naqueles tempos românticos. Nosso poeta hoje é uma “criança” de 1.90m – sem mencionar a envergadura! Mas quando não passava de um metro e meio, sua brincadeira predileta era empinar papagaio (ele era o que, na gíria dessa brincadeira se chama de "capela", secura ou viciado). E empinava papagaio até de noite... As primeiras leituras foram sobre Ciência. Leu biografias de cientistas famosos: Einstein, Darwin, Pasteur, Fermi, Openheimer... Leu sobre Teoria da Relatividade aos 13 anos e estudou astronomia a finco. Dessa forma, criou, aos 16 anos, a Sociedade de Astronomia do Maranhão SAMA, ao lado do amigo de Marista, Carlos Eduardo Portela, instituição que existe até hoje. Dessa época ficaram muitos amigos, como Rogério Coqueiro, Antonio Medeiros Filho, Ângelo Fernandes e
tantos outros. Leu sobre tudo, e a Literatura foi uma consequência natural de todo esse processo, bem como o interesse pela cultura popular. Nosso poeta é jornalista, professor, ambientalista, pesquisador, designer, membro fundador da Sociedade de Astronomia do Maranhão - SAMA. Integrou, no início dos anos 80, a Fundação Bandeira Tribuzi, tendo colaborado no Suplemento Guarnicê e, em 1984, publicou textos na Antologia Guarnicê, que comemorou o primeiro ano do Suplemento / Revista, publicação que reuniu 25 poetas e 60 poemas. Foi um dos idealizadores do Jornal Folha de Gaia, o primeiro jornal ecológico do Maranhão (1990/1992), um dos fundadores do grupo Poeme-se (1985/1994), de Literatura, e criador do Grupo Graal, de poesia e performance (1997). Também incursionou na área de cinema e vídeo, trabalhando como ator e codiretor. Formado em Desenho Industrial e em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA, possui Especialização em Linguística Aplicada ao Uso das Línguas Materna e Estrangeira e em Jornalismo Cultural (UFMA). É ainda Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA, com a dissertação de mestrado “As Performances Cômicas do Bumba-Meu-Boi de Alcântara”, o que evidencia mais uma de suas vertentes de pesquisador de cultura popular. Em 2012 foi agraciado pelo governo do Estado do Maranhão com a Medalha do Mérito Timbira, grau de Comendador do 4º Centenário, pelos relevantes serviços prestados à cultura maranhense. É membro fundador da Academia Ludovicense de Letras - ALL (setembro de 2013), cujo patrono é o escritor Carlos de Lima, tendo sido Diretor Cultural da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão. A poetisa e romancista Arlete Nogueira da Cruz assinala, em seu livro “Nomes e Nuvens” (Unigraf, 2003), a presença do poeta na literatura maranhense: “outra geração se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura, rica de nomes e de direcionamentos, mas todos (dentre os quais Paulo Melo Sousa) respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global, com expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma ‘aldeia global’, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas”.
O jornalista escreveu no Jornal Pequeno (JP Turismo), de São Luís, abordando temas de jornalismo científico, turístico e cultural, e na Revista Cazumbá de Turismo. Paulo manteve nesse suplemento, desde 2006, a coluna “Alça de Mira”, na qual publicou poemas de dezenas de autores maranhenses. Atua ainda na área cultural como conferencista. Articulador do “Projeto Cultural Papoético”, desde 2010, Paulo Melo, atualmente, é diretor da Galeria de Arte Trapiche Santo Ângelo, que organiza o Salão de Artes Visuais de São Luís, equipamento da Fundação Municipal de Cultura - FUNC. O escritor é autor dos livros “Rua Grande: Um Passeio no Tempo” - Texto (História do Maranhão, Pancrom / 1992); “Oráculo de Lúcifer”, poesia (Prêmio Sioge / Secma, 1994);“Vi(s)agem” (poesia) - Prêmio Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 2001); “Arte das Mãos: Mestres Artesãos Maranhenses” - Texto (SEBRAE/2007), livro em parceria com Márcio Vasconcelos; “Nagon Abioton: Um estudo fotográfico e histórico sobre a Casa de Nagô” -
Texto, livro que recupera a memória oral afro-maranhense da Casa de Nagô, um dos mais importantes terreiros de Tambor de Mina do Maranhão, em parceria com Márcio Vasconcelos; “Banzeiro” (poesia) - Prêmio Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 2004; “Vespeiro” (poesia) - Prêmio Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 2009. Além disso, figura como co-autor e organizador de inúmeras obras ligadas ao setor cultural. Sobre o poeta, lê-se o seguinte: “esta não é uma poesia de conceitos ou de fórmulas adredemente preparadas para a benfeitoria humana das almas sedentas de paz e amor. Pela sua metaforização ingente, sabendo que ‘uma pantera furta-cor / engole tragos de arco-íris’, esse elaborador de espantos que é Paulo Melo Sousa integra o que de melhor vem sendo realizado pela poesia maranhense contemporânea”, declara com muita propriedade o poeta Nauro Machado. O escritor está incluído em várias antologias, dentre as quais a “Antologia da Poesia Maranhense do Século XX”, organizada por Assis Brasil, que assim se refere ao poeta: “Paulo Melo Sousa tem uma linguagem forte, por vezes contundente, naquela acepção que dá o crítico norte-americano Harold Bloom: o poeta forte deseja o prazer da linguagem (no que se constitui toda poesia) e não propriamente a verdade. Já chamado de poeta turbulento e apocalíptico, desenvolve um amplo espectro do signo, e se satisfaz com o lúdico das expressões, rompendo a norma comum da língua, com dicção clara e veemente”.
Outro olhar sobre o poeta pode ser observado nestas palavras: “seus versos são predominantemente livres, mas, em certos poemas, quase se pode dizer que livres não são propriamente os versos e sim as próprias palavras entre si, colocadas como que em pontos estratégicos na página, mas estabelecendo uma correlação própria, não raro insuspeitada, dentro de uma pessoal estrutura rítmica. E transmite-nos visualmente uma ideia de extensão para a qual a página também contribui, com seu apoio expressivo e não apenas como um simples lugar do poema”
informa o poeta José Chagas. O poeta está no homem assim como o homem está no poeta. No seu livro de estreia, lemos sobre Paulo Melo Sousa o seguinte depoimento do exigente escritor, crítico literário e tradutor Oswaldino Marques, então professor de Teoria da Literatura da Universidade de Brasília - UNB e ex-professor catedrático da Universidade de Wisconsin (Estados Unidos): O objetivo colimado pelo poeta Paulo Melo Sousa não é o de entretecer os elos de uma cadeia narrativa que proponha a linearidade do discurso. O lance é de outra natureza. Interpenetramse vetores significativos convergentes e divergentes numa trama plurívoca. Lembre-se que texto é uma metáfora têxtil. Estamos ante uma criação sinfônica onde reina a simultaneidade da música sob a batuta da inventividade. Não é preciso insistir mais, pois aqui nos é proporcionada a convivência com um autêntico, verdadeiro poeta.
São pessoas inesquecíveis e do coração de Paulo Melo, seus familiares: o pai José de Ribamar Bezerra de Sousa (in memorian), a mãe, Élia Melo Sousa; a tia, Eulina Melo da Silva, os irmãos Silvana, Vera e Carlos Melo Sousa. As sobrinhas Renata Sousa, Lissa Roberta e Clarisse Pinheiro, a esposa, a advogada Luziane Martins. Dos amigos do coração ele mencionou na entrevista, a turma do Apeadouro, que era muito grande: Ivar e Júnior Saldanha, Marcos Itapary, Nélson Rego, Lucídio
Santos, Tadeu, Tonho e Luís Cunha Lima, João Carlos, o Joca, Canela, Rui Mendonça, o Fuinha, Sérgio Sombra, Gustavo Marques, muita gente boa e amiga. Mais tarde, a turma da UFMA, Ed Wilson Araújo, amigo do peito, Rose Mendes. A turma da poesia, Lenita Estrela de Sá, Laura Damous, Dyl Pires, Bioque Mesito, Celso Borges, e ainda Chico Saldanha, Deusdédit Leite Filho, Moisés Matias. Os amigos de Brasília, os músicos Celso Bastos e Newton Guimarães, a grande amiga Viviane Martins, além de Carime Jadão e tantos outros que moram no imenso coração do nosso homenageado. Este homem que agora vos anuncio - confrades e confreiras -, é um profeta da cultura e da poesia maranhense, vindo do berço desta cidade quadricentenária, com toda sua bagagem de conhecimento do folclore e da cultura popular. Ele abrilhantará ainda mais, com sua luz e magia, a nossa elevada Academia Ludovicense de Letras. Mas vou ficando por aqui, pois esta retrospectiva – quase uma regressão – poderá despertar o desejo dele de empinar papagaio à noite, e aí ele terá um tempinho, antes que o sino anuncie a meia noite de sexta-feira 13, e Ana Jansen, a rainha do Maranhão, saia do cemitério em sua carruagem sinistra tomando conta das ruas do centro Histórico e botando para correr os atrasados, desavisados e os viciados em empinar pipa. Parabéns, amigo e confrade Paulo Melo! Seja bem vindo à ALL. Muito obrigado pela atenção! Antonio Noberto, membro-fundador da ALL. Cadeira 01 – Claude Abbeville.
ELOGIO DE ALMA PARA A ALMA DE UM MENINO
PAULO MELO SOUSA Em memória de minha tia, fada madrinha Eulina Melo da Silva Caro presidente da Academia Ludovicense de Letras, Roque Pires Macatrão, Caro Presidente da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar, Demais integrantes da mesa, Caros confrades e confreiras da Academia Ludovicense de Letras - ALL, Meus diletos familiares, irmãos e sobrinhas, minha mãe, minha mulher, minha sobrinha Clarisse Pinheiro, Queridos amigos e amigas, Minha seleta plateia, boa noite!
Lanço mão destas minhas palavras não para inocular nos ouvintes ou nos leitores os germens de ideias fora das ideias ou de fatos fora dos fatos. Vim para esgrimir um discurso sobre um homem que soube alicerçar sua obra com a argamassa da simplicidade e, a partir desse alicerce, erigir a complexidade de sua construção intelectual. Numa de suas obras menos conhecidas, intitulada “O Menestrel”, William Shakespeare nos deixou esta pérola: “plante seu jardim e decore sua alma, em vez de esperar que alguém lhe traga flores”. Trata-se de uma proposição, uma filosofia de vida. Sem sombra de dúvida, Carlos Orlando Rodrigues de Lima, intelectual que escolhi como patrono desta cadeira que ora ocupo, o que muito me honra, leu Shakespeare e, talvez, ao se deparar com estas palavras sábias do velho bardo, de imediato, tenha se reconhecido nelas. Sim, porque seu Carlos, assim como carinhosamente o chamávamos, nunca deixou de espalhar boas sementes no jardim da própria alma, e por essa razão, mereceu a dádiva das flores: sua amada esposa, dona Zelinda de Castro Lima, seus filhos e netos, seus incontáveis e sinceros amigos. Nascido em São Luís do Maranhão no dia 20 de março de 1920, seu Carlos foi um homem crescido e envelhecido no Maranhão, como gostava de dizer. E aqui, nesta cidade, ali na velha Rua Grande, viveu sua infância, e viu a pequena São Luís, provinciana, romântica, cada vez mais se expandir, inchar urbanisticamente. E ele, testemunha ocular das mudanças que o tempo costuma impor a nós, meros mortais, muito se sensibilizou e muito se aborreceu por conta disso.
Certa feita, ao me conceder uma entrevista, seu Carlos se referiu a uma senhora, a velha Ludovica, que trabalhou durante anos em sua casa. Dizia a sábia senhora sobre a questão do progresso: “Quá, seu Carlos, tem uns amioramentos que não passam de apioramentos”. Assim também pensava Carlos de Lima, para quem, assim como eu, entendia que mudança não significa, a priori, progresso, como costumam alardear alguns néscios. As intervenções urbanísticas e arquitetônicas sobre o patrimônio histórico da cidade o afetavam profundamente, era como se lhe fosse tirado um pedaço da própria alma. Para nosso pesar, a insanidade dessas intervenções modernosas continua a dilapidar a nossa história, sobretudo no Centro Histórico de São Luís, pois ainda falta sensibilidade e olhar acurado para quem se encontra apeado no poder, e confunde alhos com bugalhos. Havia no discurso de Carlos de Lima uma saudável e profunda preocupação com a manutenção da memória da cidade, com a memória do Maranhão. Lembrando o inominável Jorge Luís Borges, “para além dos acasos e da morte / duram, e cada qual tem sua história, / mas isso tudo ocorre nessa sorte / de quarta dimensão, que é a memória”. Nesse filão investigativo, perscrutando os meandros de outras dimensões interpretativas, ele garimpou fundo em nossas raízes culturais e da ganga bruta fez brotar algumas obras que merecem constante visitação. Navegando nesse amplo território surgiram textos seminais tais como “A festa do Divino Espírito Santo em Alcântara”, livro de 1972, “As minhas e as dos outros - estórias maranhenses” (crônicas, contos), de 1988, “Carta ao compadre Triburtino” (Cordel), de 1995, “ABC do SEBRAE” (Cordel), de 1995, “Lendas do Maranhão” (Cordel, de 1996), “Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara” (História, de 1997), “Lendas do Maranhão”, de 2006, e o indispensável “Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos”, de 2002. Nesta obra, em particular, Carlos de Lima palmilhou e alargou a mesma trilha anteriormente aberta por insignes antecessores, tais como Antônio Bernardino Pereira do Lago, com a obra “Itinerário da Província do Maranhão (1872), e Astolfo Serra, com o palatável “Guia Histórico e Sentimental de São Luís do Maranhão”. Em Carlos de Lima, contudo, o texto possui um tempero a mais, a paixão, sobretudo quando ele se refere à nossa capital, patrimônio cultural da humanidade, pois Non potest civitas abscondi supra montem posita (“Não pode esconder-se uma cidade situada sobre o monte” (Mateus, Cap. V, versículo XIX). Nas questões sobre História do Maranhão, seu Carlos sempre foi para mim um orientador de primeira linha, da mesma forma como abordou de forma magistral a Festa do Divino Espírito Santo, em Alcântara, fazendo-me apaixonar não somente pela cidade, mas também pelas belas e animadas festas que ainda hoje animam a velha Tapuitapera e, sobretudo, o povo que ali habita, as minhas amigas caixeiras do Divino Espírito Santo, os pescadores, os mestres do Tambor-de-Crioula, os palhaceiros do Bumba-Meu-Boi, os herdeiros da antiga aristocracia rural de Alcântara, cidade envolta em magia com suas lendas e mistérios. Lembremo-nos, porém: Em uma sociedade como a nossa, conhecemos, é certo, procedimentos de exclusão. O mais evidente, o mais familiar também, é a interdição. Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa,
diz Michel Foucault, em “A Ordem do Discurso”. No entanto, cabe ao cronista, ao historiador, ao pesquisador, a obrigação de buscar dizer o máximo, mesmo que seja através do mínimo de meios e,
nesse contexto, Carlos de Lima auscultou com propriedade a essência de seus objetos de estudo, e desse artesanato estilístico se aufere a eficácia de seu texto e, por extensão, da sua obra. O ingrediente diferenciado da paixão, indispensável para quem deseja lidar com a cultura de uma terra naturalmente rica em sua expressão e diversidade, também se manifestou de forma mais acurada em obras de largo fôlego, nas quais despontou a curiosidade do pesquisador, assim como a linha crítica do historiador. Nessa latitude textual, mais arguta e reflexiva, nasceram obras tais como “História do Maranhão”, de 1981, “História do Maranhão” (A Colônia), de 2006, “História do Maranhão” (A Monarquia), de 2008, e “História do Maranhão” (A República), de 2009, além de artigos e crônicas em jornais e revistas. Carlos de Lima, nestas obras, deixou um sólido legado intelectual. Autodidata, fato que nunca negou e que, na verdade, o honrava muito, o escritor imprimiu sua marca textual, de forma indelével, caracterizando a sua escrita, peculiar, ímpar, lapidada pelo bom humor que sempre o acompanhou pela vida. Essa impressão digital do seu estilo está evidente no livro “História do Maranhão”, de 1981: Não se pode, pois, exigir deste escriba uma imparcialidade e isenção que excluam de todo sua empatia pessoal expressa em sua maneira de ver, e que muitas vezes há de estar em desacordo com a opinião do leitor. Procurou ele, no entanto, apoiá-la em documentos e obras que lhe confiaram autoridade, não raro, porém, recorrendo a deduções que lhe pareceram lógicas e plausíveis para suprir as lacunas da história. Dizia o saudoso professor Rubem Almeida que ‘história é bom senso’. E, em parte, tinha razão.
Em certos momentos, e por conta da sua convicção, o escritor se emaranha nas prenoções, armadilhas denunciadas por Pierre Bourdieu, que adverte sobre o perigo das opiniões primeiras. Contudo, as deduções do historiador, particularíssimas, sempre alicerçaram as construções intelectuais de Carlos de Lima e, não somente no terreiro da História, o escritor exercitou essa prática. Sua perspicácia interpretativa se estende, em sua obra, às suas produções ficcionais e àquelas nas quais expõe seu olhar crítico sobre as mutações inevitáveis da cultura popular, da qual era profundo admirador. Conheci seu Carlos através de dois dos filhos dele, Pablito e Fábio, amigos de infância, cúmplices das peladas nas ruas do Apeadouro, do Chuta Lata, das lanceadas de papagaios, das guerras de baladeira municiadas por sementes de mamona, dentre outras brincadeiras mais saudáveis. Eu tinha, nessa época, uns dez anos de idade, mais ou menos. A nossa turma era grande, Ivar e Júnior Saldanha, Marcos Itapary, Nélson Rego, Lucídio Santos, Tadeu, Tonho e Luís Cunha Lima, João Carlos, o Joca, Canela, Rui Mendonça, o Fuinha, Sérgio Sombra, Gustavo Marques, muita gente boa e amiga. Com o passar dos anos, o nosso ponto de encontro passou a ser a casa de seu Carlos e de dona Zelinda Lima, que foram, literalmente, nossos segundos pais. Ali, na casa do Apeadouro, Avenida Getúlio Vargas, esquina com a rua Astolfo Marques, também moravam Álvaro, Danúzio e Débora, a filha caçula, irmãos de Pablito e Fábio. Naquela casa sempre fomos acolhidos com carinho, atenção e respeito. Mais tarde, depois da mudança de seu Carlos para o Olho D'água, a casa foi transformada na escola Colméia, gerenciada pela filha Débora. Naquela residência, amigos de seu Carlos, como Jorge Amado e Zélia Gatai, que sempre frequentavam o ambiente quando vinham a São Luís, Reinaldo Faray, dentre tantos outros artistas, fizeram parte do nosso cotidiano ao longo dos anos. Em maio e junho, grupos de Bumba-Boi faziam apresentações em frente à casa, e éramos expectadores privilegiados. Nesse ambiente foi crescendo em mim o gosto pela arte e pela cultura dita popular. No entanto, o aprendizado maior, ali, foi uma grande lição de humildade, simplicidade, respeito, carinho, compreensão com que todos os amigos
dos seus filhos, inclusive eu, sempre fomos tratados. Esse aprendizado não se encontra nos livros, amigos. Dias felizes. Sim, é impossível não ser passional nesses momentos. Nessa época, ainda existia a apresentação das comédias, mais tarde denominadas de autos do Bumba-Meu-Boi, espetáculo cênico, de cunho teatral, cuja forma mais cristalizada é a conhecida estória de Pai Francisco e Mãe Catirina, hoje desaparecido das apresentações dos grupos pelos arraiais da cidade. Nesse contexto, Carlos de Lima produziu obras tais como “Bumba-Meu-Boi”, de 1968, “Bumba-Meu-Boi do Maranhão” (toadas: coletânea), de 1969, e o inédito, e ainda com título provisório, “Tratado do Universo Mágico do Bumba-Meu-Boi”, que ora tenho a honra de revisar, requalificar e prefaciar. Sobre essa obra, escreve Carlos de Lima: [...] o trabalho que ora oferecemos ao público foi feito aos poucos, cuidadosa e apaixonadamente durante meio século, com a indispensável e valiosa colaboração de quantos estudam e praticam o folclore, em memoráveis contatos com o Bumba-Meu-Boi e os brincantes dessa manifestação cultural. Entrevistas, conversas, informes, anotações, leituras, gravações, estudos, confrontos de opiniões, participação efetiva e continuada com o assunto.
Novamente, em suas palavras, detectamos o denodo, a paixão intrínseca com o seu objeto de estudo. Essa abordagem investigativa, levada a cabo por esse dedicado pesquisador maranhense, encontra eco em proposições sociológicas e antropológicas contemporâneas. Howard Becker, um dos mais incisivos representantes da contemporânea antropologia social, no livro “Falando da Sociedade: Ensaios Sobre as Diferentes Maneiras de Representar o Social”, ao discorrer sobre as variadas representações sociais, informa que está “interessado em romances, estatísticas, histórias, etnografias, fotografias, filmes e qualquer outra forma pela qual pessoas tenham tentado contar a outras o que sabem sobre sua sociedade ou alguma outra sociedade que as interesse. Chamarei os produtos de toda essa atividade em todos esses meios de relatos sobre a sociedade, ou, por vezes, representações da sociedade”. Essa perspectiva se amolda de forma extremamente coerente com a práxis de pesquisa adotada por Carlos de Lima em seu último livro sobre o Bumba-Meu-Boi, o que enriquece a obra em comento. Esse envolvimento até corporal com seu objeto de estudo, que lida com a percepção fina das coisas, remete-nos a Mircea Eliade que, na obra “O Sagrado e o Profano - A Essência das Religiões” elabora o conceito de hierofania, termo cujo conteúdo implica que algo de sagrado se nos mostra, como ocorre no Bumba-Meu-Boi, manifestação cultural que une, de forma indissociável, o sagrado e o profano. Nesta sua obra póstuma, Carlos de Lima tece continuadamente a relação entre os dois universos, não como termos que se digladiam, mas interdisplinarmente interligados e umbilicalmente dependentes, o que denuncia a sua precisão cirúrgica na análise do tema, seja de forma intuitiva ou com o lustro da informação acadêmica. Incursionando em vários gêneros literários, cabe citar, dentre suas obras, uma Elegia, que sempre me tocou de forma indelével: "Réquiem para um Menino", livro publicado em 1982, dedicado a seu filho morto precocemente, Leôncio Neto, o Netinho. Nele, seu Carlos chora a ausência do filho. Não somente por causa do livro, sempre senti essa morte na fala embargada de seu Carlos, nos seus olhos, na sua alma, na sua dicção um pouco trêmula, em certos momentos. O livro é tocante, poético, e dele extraímos algumas gemas: "por acaso um astro se enclausura, / e guarda-se no cofre um pensamento? / Engaiola-se a brisa / passageira, / sepulta-se o amor?... É a missa de réquiem para o meu filho. / Boneco que fiz e que Deus quebrou". Esse livro sempre me emocionou, em razão da pureza de alma que dele flui, naturalmente.
O escritor ainda investiu em outras plagas. Publicou uma biografia: “Djalma Marques: o homem, o médico, o político”, livro de 2008, e ainda “Ficções – Tempestade no Lago – Memórias de um garoto de programa – O Segredo”, de 2009. Deixou inéditas as obras “Outras mais: estórias” (crônicas, contos), “Poesias Esparsas” e “Arquivo Morto” (Memórias). Foi Carlos de Lima quem escreveu o prefácio de meu primeiro texto publicado: "Rua Grande Um Passeio no Tempo", livro organizado pelo arquiteto Gustavo Marques, amigo de infância do Apeadouro, gente da nossa turma. Seu Carlos se dispôs, já com mais de 70 anos, a caminhar durante uma tarde inteira comigo pela Rua Grande, contando-me a história dessa artéria, enfim, das estórias do seu tempo. Falou-me da casa onde funcionava o Casino Maranhense, da Turma do Sereno, da qual fazia parte, falou-me da sua juventude como carnavalesco, do Cine Éden e seus bailes; foi um belo e inesquecível passeio no tempo. Carlos Orlando Rodrigues de Lima, que nos deixou em 2011, foi um ser irretocável, na acepção da palavra em si, no intuito de se tentar realizar a captura da síntese da trajetória de vida desse homem, personalidade iluminada, ímpar, abençoada pelo dom da simplicidade, um espírito impagável, inapagável, alegre e permanentemente espirituoso, um grande e afetuoso amigo que nos deixou maravilhosas saudades. Seu Carlos de Lima, meu caro, para você eu tiro, em contrita reverência, o meu chapéu!
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ANDRÉ GONZALEZ CRUZ, OSMAR GOMES DOS SANTOS E POSSE DE DANIEL BLUME PEREIRA DE ALMEIA 24 DE FEVEREIRO DE 2014
MESA: André, Osmar, Ericeira (AMLJ); Macatrão, José Carlos (AML), Ana Luiza, Daniel
UMA DAS APRESENTAÇÕES DE ANA LUIZA
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POSSE EM 24 DE FEVEREIRO DE 2015
São Luis, 27 de outubro de 1977
Eleito para a cadeira em 28 de fevereiro de 2014 Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 66
É maranhense de São Luís, nasceu em 27.10.1977, filho de Sonia Almeida (professora universitária, poeta, escritora e membro AML) e Djalma Almeida (engenheiro civil e empresário). Estudou na escola Literato, cursou Direito na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e se especializou em Processo e Direito Eleitoral pela Faculdade Cândido Mendes (RJ). É advogado militante, procurador do Estado do Maranhão e professor da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OAB-MA. Autor do livro Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Lithograf, 2003), já teve publicados os seguintes trabalhos jurídicos: A Inconstitucionalidade de Normas Constitucionais (Revista da OAB/MA n. 02, 2002), Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Revista do Tribunal de Contas do Distrito Federal n. 27, 2001), Parlamentar e Tributo (www.pge.ma.gov.br e JUS-MA, 2007) e Publicação da Sentença Condenatória em Jornais de Grande Circulação (Júris Síntese e Revista da OAB/MA n. 05, 2008). É colaborador eventual do jornal O Estado do Maranhão, na condição de cronista, e poeta com poemas publicados na I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (1998), Antologia de Poesias e Crônicas Scortecci (1998), II Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (2000) e Palavras de Amor (2000). Em 2009, lançou o livro de poesias Inicial pela Editora Belas Artes. Atualmente exerce a Presidência da Associação dos Procuradores do Estado do Maranhão – Aspem e da Comissão da Advocacia Pública da OAB-MA. É membro do Conselho Federal da OAB e do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Um texto, alguns poemas: SÃO LUÍS SITIADA Sempre é tempo de gritar que a violência em São Luís está avassaladora e generalizada. Parece ter saído das frias páginas policiais, que muitas vezes pareceram narrativas de uma realidade longínqua, para a esquina ao lado. Ninguém a salvo. Não reconheço mais a cidade em que cresci. Até quando? Sem exceção, todos os dias, conversas, jornais, redes sociais dão conta de mais uma vítima de assalto, golpe, latrocínio, assassinato. Destaco o caso da Sra. Lena Murad, pessoa, mulher, mãe, cidadã que – ao terminar uma simples caminhada na Lagoa da Jansen – foi abordada por bandidos 66
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizador). OS LUDOVICENSES - UMA ANTOLOGIA, VOLUME III. São Luis, (inédito), 2014.
menores de idade, que a alvejaram com um tiro no rosto, ao pôr do sol, num dos principais pontos turísticos da Cidade. Quase o seu pôr da vida. Na Litorânea, os crimes idem são constantes. Não se pode dizer que o problema se agrava porque as autoridades estariam isentas desta realidade. Todos estão sujeitos aos riscos a que a violência expõe. Cito o vereador Ivaldo Rodrigues e o Secretario de Estado Alberto Franco, pois divulgaram os incidentes. Outros casos – apesar de ter conhecimento – deixo de especificá-los, seja por falta de autorização, seja mesmo por ausência de espaço. Não disponho aqui de tomos. Da mesma forma, um sem-número de cidadãos, cada dia sempre e mais. Eu próprio já fui roubado na Lagoa à mão armada, oportunidade em que me foram levados tênis, relógio e tranquilidade. Talvez o primeiro passo a ser dado seja reconhecer o problema como grave e real. Sabe-se que o crescimento da violência é um problema nacional, porém, em São Luís, os índices são singularmente alarmantes. No ano de 2012, tivemos seiscentos e trinta e cinco homicídios. Em 2013, já foram duzentos e vinte e três. Só em abril, há registro de nada menos que setenta e seis assassinatos na Ilha, segundo mês mais violento da história. Terra que sangra encurralada, cercada não apenas de água, mas especialmente de criminalidade. Todavia, para desespero ou revolta de muitos, alguns integrantes da segurança pública preferem minimizar a endemia, tratando-a como uma doença tópica, pontual. Pior que há quem afirme que a escalada da violência seria ilusória, não passaria de ficção, sensação artificial. Absurdo. Estaríamos então loucos, vivendo em O Alienista de Machado Assis? Será que tiro na cara e revólver na nuca são pura ilusão? Cada gota de lágrima e de sangue das vítimas que vão (e das que ficam) seriam obra da imaginação popular, uma espécie maligna de folclore? A tranquilidade, a integridade e a dignidade da população de São Luís não merecem e não podem ser tratadas com sofismas. Sangue humano não é ficção. Desde 2007, na crônica O Sangue de São Luís já lamentava que, infelizmente, homicídios e assaltos passaram a fazer parte do nosso dia a dia. Agora, não estão eles apenas esporadicamente noticiados nos jornais lidos pela manhã. O terror está, com freqüência, na porta de casa, na lagoa, na litorânea, nos shoppings, nos semáforos, nos bares, nos cafés, nos restaurantes. No cotidiano, temor. Disse, na época, que a violência que atinge São Luís gera espanto até em cariocas que nos visitam. Porque, mesmo no Rio de Janeiro (capital marcada pela violência urbana protagonizada pelo tráfico organizado de drogas), não se vê encapuzados entrando nos bares e restaurantes para roubar ou matar, especialmente, na dita área nobre da cidade. Mas isso ocorre aqui em São Luís. O ludovicense ou mesmo o turista nem pode mais passear com sua família tranquilamente. E se for, deve ir preparado para uma agressão. Lamentável. Todas estas afirmações permanecem atuais e alarmantes, haja vista também o crescimento demográfico da Capital. Assim, não se pode compreender como alguns insistem em dizer que a sensação de violência de São Luís é artificial ou que está (quase) tudo bem com a segurança pública em nossa cidade. As evidências dispensam comentários, vez que revelam o oposto. Ainda urge providência. Frente à São Luís sitiada, fica o até quando... PASSAGEIRA Desta forma ela vem: rápida, mas sorrateira. Insana, porque cega, violenta e incontrolável. Temerária. Enfim, sem ser amor, há paixão:
aflita e duvidosa, mas urgente e imprescindível. Perigosa e mordaz, e imprecisa, e intensa, e desequilibrada e terrível, ela invade a estacão, derrete a neve. No máximo dos frios, ela altera invernos. Mas, de passagem, ela vai.
CEM VEZES Às vezes, cem motivos pra chorar, sorrindo. Cem razões para fugir, parado. Sem olhar, mas enxergando, sendo tudo como foi... Sem ética e moral. Cem controvérsias. Cem paradoxos. Sem vontade de gritar – calado. Sem força para andar – parado. Cem motivos pra ficar. Sem vontade de estar cantando. Cem motivos para estar vivendo. Cem sonhos, no entanto, pra sonhar. Cem cenários no olhar. Sem sentido de sorrir. Sem força centrípeta. Sem centro: perdido. Sem razão para aceitar, sendo tudo como está... Cem semanas se passaram: memória. Cem semestres chegarão, talvez. Sem-números pra contar. Sem sóis, cem luas, sendo sempre como é... Cem sentenças para o ser sentido. Cem senzalas para estar sentindo, sendo tudo como irá...
Cem motivos. Só cem passos para ir. Cem saberes encantados. Cem vezes, às vezes. No encanto, caminho.
VERDADE Há casos em que omitir é melhor que dizer a verdade; ou mesmo melhor é mentir para deixar... a realidade punhal coberta pela bainha
IMPUREZA As palavras esgotaram-se, o descobrir, não. Persiste crescente, infelizmente. Agora o dizer finda, entregue ao cansaço e à impaciência. Dizem: é a maturidade. Silêncio. A criança dorme.
DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO OSMAR GOMES DOS SANTOS, DA CADEIRA Nº 14 DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS67
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Ocupante da Cadeira nº 31 da ALL A 25 de março de 1962, nascia, para a felicidade de seus pais, o lavrador José Basílio dos Santos e a doméstica Maria Gomes dos Santos, no lugar Enseada Grande, no município maranhense de Cajari, Maranhão, o Confrade Osmar Gomes dos Santos, a quem tenho, nesta ocasião solene, a subida honra de apresentar e a quem agradeço, desde já, penhoradamente, a deferência de minha escolha para tal mister, em nome da Academia Ludovicense de Letras – ALL. Alguém nascido numa grande enseada e cujo prenome, do germânico, significa “o ilustrado”, “glória dos deuses”, só poderia estar destinado a grandes navegações. Todavia, o nosso personagem foi forjado em fogo, não em água. Ainda no pequeno povoado aonde veio ao mundo, perdeu, na tenra idade de quatro anos, o pai, vítima da enfermidade vulgarmente conhecida como “barriga d’água”, fato que levou a sua genitora, hoje no alto de seus 86 anos, a labutar bravamente como quebradeira de coco e lavradora para assegurar o sustento dos seis filhos. O menino Osmar procurava auxiliá-la na limpeza da casa humilde, coberta de palha e tapada de barro, porém jamais negligenciou o estudo na escola do povoado vizinho, Ilha das Pragas. Apreciava jogar futebol com bola de meia e pescar piaba para cooperar na alimentação da família. Aos nove anos, Osmar mudou-se para a Cidade dos Azulejos com sua mãe e sua irmã Zuíla, seguindo a trilha antes percorrida pelos demais irmãos, a essa altura morando em residências de parentes nesta cidade, em busca de um horizonte mais promissor. A viagem durou dois dias e foi realizada a bordo da lancha “Ribamar”, de propriedade de Neném Froz. Na chegada à Rampa Campos Melo, os olhos do menino foram seduzidos pela iluminação da ponte do São Francisco. No jipe do seu “Tote”, em que foi acomodado tudo o que lhes pertencia, enveredaram por um capinzal entre os atuais prédios da TV Mirante e do Banco do Brasil, parando na beira da maré, onde eram aguardados pelos irmãos de Osmar. Lá estava a sua nova habitação, consistindo num único cômodo de aproximadamente 16 m2, sobre a água, coberta de palha, com paredes cercadas de zinco e piso de assoalho, composto por tábuas de construção. O desalento não encontrou guarida, apesar das dificuldades; a reunião de toda a família foi motivo de genuína alegria. Em uma semana, o menino Osmar já vendia jornais em frente ao Mercado Central, vaga que lhe foi obtida pelo parente chamado
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Proferido no Auditório Desembargador José Joaquim Ramos Filgueiras, do Fórum Desembargador Sarney Costa, no Calhau, em São Luís-MA, na data de 24.02.2015.
de “Pedro Bó”, e, em um mês, mais familiarizado com os caminhos da Capital, já saía pelas ruas do centro bradando: “Estado!”, “Pequeno”!, “Imparcial!” Durante a semana, o jornaleiro das manhãs transmutava-se, pelas tardes, em aplicado aluno da Escola Lia Varela, no bairro São Francisco. Nos finais de semana, vendia jornais nos lugares de sempre pela manhã e pão cheio na Ponta d’Areia, feito pela mãe, às tardes, passando, quando lograva desincumbir-se mais cedo da tarefa, a vigiar carros até o findar do dia, momento em que volvia fagueiro ao seu lar, entregando todo o dinheiro conseguido à sua genitora, assim contribuindo para o sustento da família e para a aquisição de seus cadernos e lápis. Com o intento de ser um dos primeiros a receber jornal nos fins de semana, chegou a dormir na calçada do prédio do Jornal Pequeno. Aos onze anos, o garoto das notícias tornou-se ajudante de pedreiro, tendo trabalhado na construção de diversas casas no São Francisco, Renascença e Calhau. Exerceu essa profissão até a aprovação no vestibular, mas não procurou aprender o ofício de pedreiro porque nutria outros sonhos. Osmar concluiu o antigo primário na Escola Lia Varela em 1974. O curso ginasial fê-lo nos colégios CEMA, Nina Rodrigues e Lia Varela, onde o concluiu em 1978. No ano seguinte, principiou o curso técnico de Administração na Unidade Integrada Gonçalves Dias e o curso científico no Colégio Silva Martins, concluindo o derradeiro em 1981. Um ano depois, iniciou o Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, terminado em 1986. Formou-se com chave de ouro, na qualidade de orador oficial da turma, como já o fora na oportunidade do encerramento dos cursos primário e ginasial no Lia Varela. Ao ingressar na tradicional Faculdade de Direito, Osmar passou a ministrar aulas particulares com o propósito de custear o seu transporte. Posteriormente lecionou português e matemática no Colégio Pentecostal Cândido Rodrigues e, em sequência, a disciplina Direito e Legislação no Centro Caixeiral. No meio universitário, o jovem Osmar integrou o movimento estudantil. Foi Secretário-Geral do Diretório Acadêmico de Direito, cerrando fileiras com os companheiros Fernando Reis, Roberto Feitosa, Roberto Gomes e tantos outros componentes da chapa “Direito de ter direito”. O nosso Confrade foi um dos fundadores da Juventude da Frente Liberal no Maranhão, tendo participado ativamente da campanha das “Diretas Já”, movimento que culminou com o triunfo de Tancredo Neves sobre Paulo Maluf no Colégio Eleitoral. Logo após conquistar a graduação no curso de Direito, Osmar foi aprovado num seletivo para uma das duas vagas de advogado do Banco Bradesco S/A, onde trabalhou durante três anos, vindo a chefiar o Departamento Jurídico da instituição financeira, responsável pela Regional Maranhão e Piauí. Mas esse ainda não era o seu sonho. Aprovado em concurso público, assumiu o cargo de Delegado de Polícia Civil. Na nova profissão, desempenhou os cargos em comissão de AssessorChefe e Coordenador de Polícia Especializada da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Maranhão. No ano de 1992, ainda como Delegado de Policia, Osmar viu-se numa dessas encruzilhadas da vida. Atraído pela Política, concorreu ao cargo de prefeito de seu município, Cajari, contudo, apesar da expressiva votação, não se elegeu, sentindo-se vítima de abuso de poder econômico, vício que desafortunadamente acomete o nosso sistema eleitoral, particularmente para quem representa a oposição. Essa adversidade o levou a repensar a sua escolha e a perseverar nos caminhos de Têmis. Em 1993 e 1994, posto à disposição da Câmara Municipal de São Luís, Osmar exerceu o cargo de Secretário-Chefe do Gabinete daquela assembleia. No ano subsequente, deixou a Polícia para ocupar o cargo de Procurador Adjunto da referida casa legislativa, seu último ofício antes de
transpor, mediante aprovação em novo concurso público, os fúlgidos umbrais da magistratura na aurora de 1997, como Juiz de Direito Substituto deste Estado. Hodiernamente, o nosso personagem é Juiz de Direito de entrância final, mais precisamente titular da Primeira Vara do Tribunal do Júri do Termo Judiciário de São Luís, da Comarca da Ilha de São Luís. Ademais, de meados de dezembro de 2014 até o presente, desempenha, com capacidade e talento, a função de Diretor do Fórum Desembargador Sarney Costa. Ainda nas fileiras do Poder Judiciário, é Membro Substituto do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão e titular da 93.ª Zona Eleitoral, a qual compreende os municípios de Paço do Lumiar e Raposa. Antes, no interior do Maranhão, cumpriu o seu nobre mister de julgador, na melhor tradição salomônica, nas comarcas de Barreirinhas, Coelho Neto e Bacabal, onde foi Diretor do Fórum por cinco anos consecutivos. Alcançou todas as promoções por merecimento. Nos domínios acadêmicos, ele é pós-graduado em Direito Civil e Processual Civil, Direito Constitucional e Eleitoral, Direito Penal e Processual Penal, além de cursar o Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais, promovido pela Universidad del Museo Social Argentino, e a pós-graduação em Gestão Pública, pela UFMA. Também enriquecem o seu currículo o Curso de Formação para Delegados de Polícia Civil, em nível de pós-graduação; o Curso de Formação para Magistrados, oferecido pela Escola Nacional da Magistratura; a Oficina de Produção Científica; o Curso de Combate e Prevenção da Lavagem de Dinheiro e Recuperação de Ativos; o Curso de Atualização em Psicologia Jurídica e Psiquiatria Forense; o de Aperfeiçoamento para Magistrados em Direito Eleitoral; e o de Capacitação em Poder Judiciário. Tomou parte em mais de uma centena de seminários e cursos de capacitação de curta duração neste estado e em outras unidades federativas. Finalmente, é professor universitário e palestrante. É igualmente membro da Academia Maranhense de Letras Jurídicas – AMLJ, como titular da Cadeira n.º 18, patroneada por Casemiro Alves de Carvalho, à qual prestou o relevante serviço de Diretor Financeiro durante o período em que exerci a presidência (2011-2013), bem como membro da Associação Brasileira por um Planeta Verde e da Associação Brasileira dos Juízes e Promotores Eleitorais. Foi Vice-Presidente e Diretor Social da Associação dos Magistrados do Maranhão, VicePresidente do Instituto Maranhense de Direito Eleitoral – IMADE e Presidente da Associação dos Palafitados do bairro São Francisco, por quatro mandatos consecutivos, logrando eleger o seu sucessor. O nosso Confrade devota-se à leitura de obras jurídicas, contos e poesias. Escreveu a obra Manual Prático do Candidato a Cargo Eletivo, pela Editora Ática, além de vários artigos jurídicos. Outras publicações estão a caminho, a exemplo de Quesitação no Tribunal do Júri e Sonhos de um cajariense. Entre os artigos, podem ser citados: “Capitação ilícita de sufrágio – o problema da corrupção eleitoral no Brasil”; “Fases del desarrollo del Derecho Romano”; “Provas ilícitas”; “Posse de coisas móveis não registráveis”; “Espécies de usucapião na Argentina”; “El Derecho y las transformaciones sociales en Mercosur”; “La actividad judicial y la función social: el Juez de la Niñez y La Juventud en Argentina y Brasil”; “O voto no Estado Democrático de Direito, garantias eleitorais e capitação ilícita de sufrágio”; e “Licitações e contratos”. Como frutos de seu compromisso social, Osmar concebeu os projetos sociais intitulados “Justiça Integrada e Solidária”, “Natal Feliz” e “Estágio Pró-Cidadania”, o terceiro divulgado nacionalmente, por intermédio da TV Justiça. Foi agraciado com diversas condecorações, como a Medalha Simão Estácio da Silveira, maior honraria do Poder Legislativo são-luisense; a Medalha Bento Moreira Lima, do Tribunal de Justiça do Maranhão; a Medalha Alferes Moraes Santos, do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão; a Medalha Madalena Serejo, da Associação dos Magistrados do Maranhão, na categoria Presteza da Atividade Jurisdicional, em 2014; o Selo Enasp, do Conselho Nacional de Justiça, ano 2014, em
reconhecimento à sua expressiva operosidade na Semana Nacional do Júri; e a Excelência Judiciária, na Primeira Vara do Tribunal do Júri, anos 2013 e 2014, e Diretoria do Fórum, ano 2014, vencedora na Gratificação de Produtividade Judiciária do Tribunal de Justiça do Maranhão. E ainda detém os títulos de cidadania dos municípios de São Luís, Barreirinhas, Coelho Neto, Afonso Cunha, Bacabal e Loreto. Não apenas é bem-sucedido na seara profissional; mantém, com a sabedoria do magistrado, um feliz casamento de 30 anos com a Sra. Maria Félix Rodrigues dos Santos, de que são vistosos rebentos os jovens Osmar Gomes dos Santos Filho e Bianca Rodrigues dos Santos. Para alguém que se tornou destacado intérprete das leis, vestindo a toga do magistrado com a mesma dignidade com que vendia jornais, para orgulho dos seus, cujo prenome se traduz em “glória dos deuses”, “glória dos ases”, nada mais natural do que ocupar, como membro fundador, na novel, mas já deveras operante, Academia Ludovicense de Letras, a Cadeira nº 14, patroneada por Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, maior figura do Naturalismo brasileiro. Hoje Osmar Gomes dos Santos, oriundo da Baixada Maranhense – que é mais do que uma região, é quase uma profissão de fé, berço de tantas figuras notáveis –, pode dizer, como o general romano Júlio César, Veni, vidi, vici (“Vim, vi, venci”). Não com a arrogância de um conquistador de povos, mas com a sabedoria de um capitão que soube conduzir a sua nau, com habilidade, competência e perseverança, por águas tempestuosas e em meio a recifes traiçoeiros, até ancorá-la, por méritos próprios, em porto seguro. Por fim, recorro a estes versos do poema vitoriano “Invictus”, do poeta inglês William Ernest Henley (1849-1903), que já inspiraram personalidades do quilate de Nelson Mandela e bem refletem a vida do nosso Confrade: It matters not how strait the gate,/How charged with punishments the scroll,/I am the master of my fate:/I am the captain of my soul (“Não importa quão estreito o portão/Quão repleto de punições o pergaminho,/Eu sou o senhor de meu destino/Eu sou o capitão de minha alma”). Muito obrigada.
ELOGIO AO PATRONO ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO, CADEIRA N.º 14 MEMBRO FUNDADOR: OSMAR GOMES DOS SANTOS Senhor Presidente da Academia Ludovicence de Letras, Confrade Roque Pires Macatrão Senhor Presidente da Academia Maranhense de Letras, aqui representado pelo acadêmico José Carlos Sousa e Silva Senhor Presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, aqui representado pelo Confrade João Batista Ericeira Em nome dos quais eu saúdo todos os membros da mesa e os integrantes das três academias, presentes a este ato. Confrade André Gonzalez Cruz e empossando Daniel Blume Pereira de Almeida, ao saudá-los quero dizer que muito me honra compartilhar a mesma solenidade com os senhores. Saúdo também todos os convidados e familiares aqui presentes, em especial a minha mãe, senhora Maria Gomes, minha esposa, Maria Felix Gomes, meus filhos Osmar Filho, Bianca e Erivelton e meus netos Osmar Neto e Maria Helena. Ao integrar a academia Ludovicence de Letras, sinto-me honrado, feliz e lisongiado. O
momento é especial, pois a importância deste sodalício já é notório para a cultura da nossa querida São Luis, pela importância de todos os seus membros. Senhores e senhoras, me sinto no dever de reportar-me a tão importante missão nesta casa de cultura. Sei que como toda academia do mundo, desde Platão até os nossos dias, esta se inspira no faustoso palácio e no mítico jardim de academo, abrigo, cenáculo e teatro de acaloradas discussoes: dele, do proprietario da casa e do jardim, a academia tira o seu nome. Sei que esse simples nome suscita, pelo menos da renascença até nossos dias, imagens das mais variadas: de reflexão filosófica e teológica e de pesquisa cientifica; de artes bélicas ou de belas artes; de ginástica e musculação ou de danca; de culinária ou de artesanato. Sei também quais são as idéias que muitos fazem das academias: que são grêmios elitistas e estanques, de uns poucos privilegiados; que são torres de
marfim inacessíveis; que são paraísos deleitáveis, olimpos ou empíreos, mas distantes do dia-a-dia do comum dos mortais; que são cumes altaneiros e soberbos mais destacados da planura. Isto, o que dizem, mas na verdade esta academia se define por um constante e aplicado servico à cultura. Para isso ela nasceu e existe como testemunha e promotora de cultura nesta nossa querida cidade, são Luís. Com isso faço minhas as palavras de Lucas Moreira Neves, ao ingressar na Academia Brasileira de Letras. Concebida a Academia Ludovicence de Letras e escolhidos nomes de Insignes escritores já falecidos como patronos de suas cadeiras, coube à de número 14 o patrocínio do romancista, contista, cronista, caricaturista, jornalista, desenhista e pintor ALUIZIO TANCREDO GONCALVES DE AZEVEDO. O patrono da cadeira n. 14, sobre quem acabei de me reportar nasceu aqui em São Luis, no dia 14 de abril de 1857 e faleceu no dia 21 de janeiro de 1913, em Buenos Aires. Aluisio de Azevedo, como sempre conhecido, teve como pai o Vice-Cônsul português David Gonçalves de Azevedo, o qual ainda jovem ficara viúvo de casamento anterior. Sua mãe era Emilia Amália Pinto de Magalhães, separada de um rico comerciante português, de nome Antônio Joaquim Branco. Ainda garoto, Aluísio de Azevedo presencia ao desabono da sociedade maranhense à união de seus genitores contraída sem segundas núpcias, o que se configurava um grande escândalo naquela época. Ainda pequeno Aluísio revela aptidão para o desenho e para a pintura, um dom que mais tarde lhe auxiliaria na produção literária. Aluísio era irmão mais novo do dramaturgo e jornalista Artur Azevedo, com quem, em parceria, veio a esboçar peças teatrais. Aqui em São Luís, Aluísio de Azevedo concluiu o curso preparatório, transferindo-se para o Rio de Janeiro no ano de 1876, aos 19 anos de idade, onde prossegue seus estudos na Academia Imperial de Belas-Artes, obtendo a título de sobrevivência imediata, o ofício de colaborador caricaturista de jornais, como o Fígaro, Mequetrefe, Zig-Zag e a Semana Ilustrada. Em 1878, Aluísio de Azevedo perdeu o seu pai, que foi chamado para junto do criador. Com isso volta ao maranhão para sustentar a família e, instigado por dificuldades financeiras, abandona momentaneamente os desenhos e dá início à atividade literária, publicando seu primeiro trabalho nesse gênero – uma Lágrima de Mulher, em 1879. Dois anos depois, em 1881, com a crescente efervecência abolicionista, o patrono da cadeira
n.º 14, pública o romance o Mulato, deixando a sociedade escandalizada pelo modo cru com que desnuda a questão racial e inaugura o naturalismo na literatura brasileira, em cuja obra já demonstra ser abolicionista convicto, movimento que chegou ao Brasil no final do século XIX, onde os escritores brasileiros abordaram a realidade Social Brasileira, destacando a vida nos Cortiços, O Preconceito, A Diferenciação Social, dentre outros Temas. O naturalismo, cuja característica principal foi o cientificismo exagerado que transformou o homem e a sociedade em objetos de experiências, com descricão minunciosa e linguagem simples, tinha preferência por temas como miséria, adultério, crimes, problemas sociais, taras sexuais, dentre outros. Escola que teve como principais autores os estrangeiros Emili Zola e Thomas Hardy e os brasileiros Aluisio de Azevedo, Adolfo Caminha, Ingles de Sousa, Raul Pompeia e Adherbal de Carvalho. Retomando, senhores e senhoras, diante da reação hostil da província, Aluisio de Azevedo volta à capital imperial e começa a produzir romances, contos, crônicas e peças teatrais.
Aluisio de Azevedo deixou inúmeras contribuições, destacando-se os romances de estética naturalista: o Mulato, em 1881; casa de pensão, em 1884 e o Cortiço, em 1890; além de memórias de um condenado; Condessa Vésper; Filomena Borges; O Homem; O Coruja; A Mortalha de Alzira; Demônios; dentre outros. Não podemos deixar de mencionar as peças teatrais, como Caboclo; Um Caso de Adultério; Venenos que Curam; República; Casa de Orates; como também a crônica, “O Touro Negro”. No ano de 1895, já com 38 anos de idade, Aluísio de Azevedo deixa definitivamente a pena e passa a ser Diplomata, passando a servir na Espanha, Inglaterra, ítália, Japão, Paraguai e Argentina. Em 1910, já cônsul de primeira classe, Aluízio de Azevedo volta a instalar-se em Buenos Aires, onde passou a conviver com Pastora Luquez, de quem adotou dois filhos. Quase três anos depois vem a falecer e é sepultado em Buenos Aires, tendo seus restos mortais sido transladados para São Luis, em 1918, por iniciativa do nosso cronista, folclorista e romancista Coelho Neto. Aluizio de Azevedo é membro fundador da cadeira n. 04, da Academia Brasileira de Letras, patroneada por Basílio da Gama, cadeira que após a sua morte passou a ser ocupada por Alcides Maya. Senhores e Senhoras, para encerrar me volto a Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo e a ele rendo todas as homenagens desta noite. Amor Amemos; quero de amor viver no teu coração! sofrer e amar essa dor que desmaia de paixão! na tu’alma, em teus encantos e na tua palidez e nos teus ardentes prantos suspirar de languidez! quero em teus lábios beber os teus amores do céu, quero em teu seio morrer no enlevo do seio teu! quero viver d’ esperança, quero tremer e sentir! na tua cheirosa trança quero sonhar e dormir! vem, anjo, minha donzela, minha’alma, meu coração! que noite, que noite bela! como é doce a viração! e entre os suspiros do vento da noite ao mole frescor, quero viver um momento, morrer contigo de amor! Muito obrigado!
DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO ANDRÉ GONZALEZ CRUZ, DA CADEIRA Nº 11 DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS 68
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Ocupante da Cadeira nº 31 da ALL Quando penso em André Gonzalez Cruz, transporto-me, quase que involuntariamente, ao mundo da mitologia greco-romana. Em prefácio ao livro Direito Criminal contemporâneo (2012), organizado por André, já disse que o considerava um argonauta à procura do ideal da Justiça, este Velo de Ouro há tanto perseguido pela humanidade. Mais do que isso, André é o Ícaro que deu certo, aquele que, em seu voo, sabe guardar a necessária distância das águas, para não molhar suas asas e não se afogar nas limitações do real, e do Sol, para não ver derreter a cera de suas asas e não despencar das alturas do sonho. Mas a ventura de tê-lo como filho não coube a Dédalo, mas a Nilo Cruz Filho e Silvia Tereza Penha Gonzalez. A 11 de abril de 1984, nascia o nosso Ícaro na Atenas Brasileira. Residiu parte de sua infância no Edifício Fábio, de propriedade de seus avós maternos, Raimunda Penha, mais conhecida como Bóba, e Julio Gonzalez, encravado na Rua dos Prazeres, dos quais muito usufruiu, no centro de São Luís. Fora do período das aulas, divertia-se brincando na companhia do irmão Nilo Neto e dos primos Saulo, Crystian e Thiago. Os apartamentos vizinhos eram território mais do que amigo, moradia de grande parte da família. Naqueles dias, André vivia enamorado da bola, dedicando-se ao esporte bretão no térreo do Edifício Fábio. A paixão se robusteceu quando, aos nove anos, ele se mudou para o Renascença II, já que o seu novo condomínio ostentava uma quadra poliesportiva. Numerosas foram as reuniões com Wilson, Roberto, Bruno, Hugo, André Henrique e Giuliano, dentre outros amigos do colégio Reino Infantil, sempre caracterizadas por uma famosa pelada, que também atraía vizinhos dos poucos edifícios existentes naquele tempo, limiar da década de 90, no novel bairro, os quais desciam ao cair da tarde para o Condomínio Alphaville, referência da época. O Brasil, Senhoras e Senhores, talvez haja perdido um Neymar, porque ele efetivamente pensou na possibilidade de seguir carreira no futebol, porém Têmis triunfou, ganhando um seguidor talentoso, de que muito ainda ouviremos falar. É o seu lado “Gonzalez”, tradicional sobrenome de origem espanhola, eminentemente globalizado, que assim o vaticina. Completado o 3º ano do ensino médio em 2001, no mesmo Reino Infantil, André, estimulado pela tradição familiar – ligada aos caminhos jurídicos, de que são representantes o avô Nilo Cruz e o 68
Proferido no Auditório Desembargador José Joaquim Ramos Filgueiras, do Fórum Desembargador Sarney Costa, no Calhau, em São Luís-MA, na data de 24.02.2015.
bisavô Fausto Silva, ambos Desembargadores –, não hesitou, decidindo prestar vestibular para o Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão, para o qual foi aprovado, começando-o em 2002. A essa altura, André Gonzalez, seu nome de guerra, já era concursado do IPEMAR, órgão delegado do INMETRO no Maranhão, com exercício na Assessoria Jurídica daquela instituição, sob a orientação do advogado Fernando Azevedo, com quem mantém sólida amizade desde então. Aliás, vários foram os amigos garimpados por André naquela repartição, tais como Adaltina, Gláucio, Nawenesson e Junior, seu fiel escudeiro. Em 2006, André obteve a sua disponibilidade para o Ministério Público do Maranhão, vindo a ser lotado na Promotoria de Proteção à Criança e ao Adolescente, sob a supervisão da Dra. Fátima Travassos, Promotora de Justiça na época. Lá, ele, já definitivamente divorciado da bola, enamorouse do Direito Criminal, mercê do contato cotidiano com os autos processuais, envolvendo vítimas crianças e adolescentes, oportunidade em que ofereceu significativa contribuição no combate a esta particular modalidade de violência. Ainda no período da faculdade, André principiou a escrever artigos, publicando-os em jornais, na internet e em revistas de circulação nacional. Em meados de 2007, André bacharelou-se no cobiçado curso, inclusive de forma antecipada, com o auxílio dos amigos Jamil Maluf e João Viana. Enquanto universitário, ele fez grandes e duradouras amizades, a exemplo de Marcelo Bruno, Alexandre, Reginaldo, James e Junior Cequeira. No crepúsculo do mesmo ano, o nosso Confrade aceitou convite para ser Assessor de Procurador de Justiça no Ministério Público timbira, mister que continua a desempenhar. Dois anos depois, foi nomeado para o cargo de Analista Ministerial, para o qual fora aprovado em concurso público. Exerce suas funções numa Procuradoria Criminal, ambiente de inspiração para a maioria de seus escritos. André Gonzalez, no verdor de seus 30 anos, é um prolífico autor de mais de 40 artigos publicados, alguns até figurando nas capas de revistas jurídicas de relevância nacional. De volta à Universidade Federal do Maranhão em 2010, desta feita na qualidade de Professor Substituto, instituiu o Prêmio “Jovem Criminalista”, visando incentivar os alunos de Direito da instituição mencionada ao cultivo das Ciências Criminais, sua especialidade. No mesmo ano, o nosso personagem alcançou a primeira colocação no 1º Concurso de Monografias Jurídicas, promovido pela seccional maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil, Prêmio “Advogada Célia Linhares”. Sua bibliografia já é assaz expressiva. Ele escreveu os livros A nulidade absoluta da audiência de instrução criminal realizada sem a presença do Ministério Público, A prisão penal brasileira e os seus efeitos sobre a família do século XXI: diagnóstico e propostas, A atuação do Advogado na Lei Maria da Penha, pelo qual recebeu Moção de Congratulações e Aplausos da Câmara Municipal de São Luís em 2011, e Sentimentos criminais, de poesias. Neste último, é patente a sua sensibilidade social, como demonstram estes versos: “E se um dia a casa quebra/Os poderosos não cairão/Pois nesse país só se arrebenta/Quem não tem nenhum tostão” (“Crime organizado”). Ou estes, condenando a violência doméstica: “Chega de tapinha de amor não dói/Em briga de marido e mulher/Nada de bom se constrói/Se ninguém mete a colher” (“Violência intramuros”). Igualmente organizou as obras Direito Criminal contemporâneo, Estudos atuais de Direito Constitucional e Compêndio de Regimentos Internos dos Tribunais Brasileiros. Tem, por fim, alguns capítulos de livros publicados em obras coletivas. Advogado inscrito na OAB/MA sob o nº 8.326, todavia licenciado, em virtude da sua atividade ministerial, André é membro do Instituto dos Advogados do Maranhão e da Academia Maranhense
de Letras Jurídicas, onde desempenhou, com extremada dedicação, competência e lealdade, o mister de Diretor-Secretário por dois mandatos, entre 2010 e 2014, colaborando na reestruturação daquele sodalício, inclusive durante o biênio em que exerci a presidência. André Gonzalez possui mestrado em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão e duas especializações em Ciências Criminais. Além disso, é Doutorando em Direito pela Universidad Nacional de Lomas de Zamora, da Argentina. No âmbito familiar, conta com mais dois irmãos paternos, Juliana e Felipe, os quais são bem mais novos. Na Academia Ludovicense de Letras – ALL, André Gonzalez Cruz, nosso Confrade caçula, membro fundador, tem assento na Cadeira nº 11, patroneada por Celso Tertuliano da Cunha Magalhães. A associação não podia ser mais promissora. Este, patrono do Ministério Público do Maranhão, escritor falecido aos 29 anos, “um jovem promotor público, no verdor dos anos, fora o maior paladino da Justiça de seu tempo, ao fazer sentar no banco dos réus a aristocrata que tirara a vida de um pequeno escravo”, nas palavras da Dra. Elimar Figueiredo de Almeida Silva, membro da Excelsa Academia Maranhense de Letras Jurídicas. Aquele, também um jovem e honrado jurista, a serviço do parquet, no viço de seus 30 anos, é um talentoso e competente amante das causas da Justiça, não menos atraído pelo canto de sereia das letras. André é um renascentista, impregnado de humanismo, que acredita no desenvolvimento universal das capacidades humanas, no poder civilizatório da Justiça, que tem fé no homem, enfim. É o seu lado “Cruz”. Por isso, é digno, leal, solidário, cheio de vida. Sentencia José Saramago, em A caverna, que nem “a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe”. Mas eu diria que André é um feliz paradoxo: ele sabe o que pode, ou, no mínimo, tem pressa em saber o que pode. E qual o seu lado “André”? Bom, André vem do grego Andreas, que significa “forte”, “másculo”, “varonil”. É o lado que faz sucesso na ala feminina. Mas que seja registrado: seu coração já tem dona, e ela se chama Karen. Meus agradecimentos ao meu amigo André pela deferência do convite para apresentá-lo nesta noite de tríplice celebração da nossa Academia, em pleno vigor de seu Ano Mário Martins Meireles. Muito obrigada a todos.
ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA Nº 11 CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES
ANDRÉ GONZALEZ CRUZ Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Dr. Roque Pires Macatrão, na pessoa de quem saúdo os demais integrantes da mesa, Excelentíssimos membros desta Academia e demais acadêmicos aqui presentes, meus familiares e amigos, senhoras e senhores, Inicialmente, tenho que registrar aqui a minha felicidade em fazer parte deste Sodalício, que, inclusive, já nasceu tardiamente. São Luís, capital maranhense, celeiro farto de grandes poetas e escritores, não possuía, até 2013, a sua própria Academia. Assim, o intuito da criação da Instituição foi agregar valores da nossa cidade, para o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense e para a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, dentre outros. Estou mais feliz ainda em ocupar a Cadeira nº 11 da Academia Ludovicense de Letras, patroneada por Celso Magalhães, um admirável homem. Celso Tertuliano da Cunha Magalhães nasceu numa fazenda chamada “Descanso”, então no Município de Viana, em 11 de novembro de 1849 e faleceu em São Luís no dia 09 de junho de 1879, com apenas 29 anos de idade. Eram os seus pais o Tenente-Coronel José Mariano da Cunha e Dona Maria Quitéria de Magalhães Cunha. Estudou suas primeiras letras com seus avós maternos Manoel Lopes de Magalhães e Maria Cecília Duarte Magalhães, na sua cidadezinha natal, que ele evocaria mais tarde saudosamente em sua poesia. Crescendo num clima de efervescência cultural, Celso Magalhães se atraiu pelo fascínio das letras. Dessa forma, em 1867, aos 18 anos, quando ainda residia em Viana, Celso Magalhães iniciou a sua vida literária publicando alguns poemas de sua autoria: “Desânimo”, “O Currupira e Adeus” e “O Escravo e o Avaro”. Passando brevemente por São Luís, Celso Magalhães seguiu para o Recife em maio de 1868, onde ingressou na Faculdade de Direito. Lá, ele passou a colaborar com a revista estudantil “Oiteiro
Democrático”, escrevendo, nesse mesmo ano, a comédia “Cerração no Bolso”. Já em 1870, o talentoso estudante teve sua obra poética “Versos” transformada em livro, o seu único publicado em vida. Celso da Cunha Magalhães escrevia romances, poesias e artigos jornalísticos de todo gênero, e, enquanto estudava em Recife, enviava material literário para jornais de São Luís. Desse modo, assinando sob o pseudônimo de Giacomo de Martorello, publicaria nos anos de 1870 e 1873, respectivamente, as novelas “Ela por Ela” e “Pelo Correio”. Estudando no Recife, ele participou de inúmeros movimentos de renovação literária e cultural. Teve, marginalmente, na sua época, os olhos abertos para os estudos de folclore como ciência. E, acadêmico ainda, mas de pensamento maduro e alicerçada cultura humanística, publicou no Recife um magistral ensaio intitulado “A Poesia Popular Brasileira”. (Antologia da Academia Maranhense de Letras – 1908/1958) Em 22 de novembro de 1873, Celso Magalhães se bacharelou em Direito, ao final de um curso brilhante, retornando neste mesmo ano ao Maranhão, onde, de pronto, foi visitar a sua cidade natal, Viana. No ano seguinte ao seu retorno ao Maranhão, em 1874, Celso Magalhães foi nomeado Promotor Público da Capital, em face de sua capacidade jurídica e seu reconhecido valor intelectual, os quais logo se fizeram saltar aos olhos dos seus contemporâneos. Era um profissional de mente brilhante e elevado senso de justiça. Em que pese todo seu mérito como poeta abolicionista, cronista, romancista, dramaturgo, folclorista, pioneiro do romance naturalista no Brasil, ele se eternizou no Maranhão na função de Promotor de Justiça, em virtude da sua corajosa atitude em acusar a Dona Anna Rosa Vianna Ribeiro de ter mandado assassinar o jovem escravo Inocêncio, de sua propriedade, em novembro de 1876, na residência da família, situada na Rua de São João, aqui em São Luís. Isto porque a acusada era esposa do médico e influente político Dr. Carlos Fernando Ribeiro, do Partido Liberal, que seria agraciado, em 1884, com o título de Barão de Grajaú, sendo a acusada, por decorrência, Baronesa de Grajaú. Dona Anna Rosa foi denunciada pelo Promotor Público Adjunto da Capital, Dr. Antônio Gonçalves de Abreu, durante licença de Celso Magalhães, por motivo de doença. Retornando às suas funções, o titular, com destemor e competência que lhe eram característicos, foi incansável na acusação. Julgada improcedente a acusação pelo juízo monocrático, Celso Magalhães recorreu ao Tribunal da Relação do Maranhão, dando este provimento ao referido inconformismo e submetendo a ré a julgamento pelo Tribunal do Júri, o qual a acusada aguardou presa, após pedido do Promotor Público nesse sentido. Naquele processo, a ré foi absolvida pelos jurados, em razão da composição elitista do tribunal popular na época, em fevereiro de 1877. Demonstrando ainda mais a sua consciência do dever e o seu destemor, Celso Magalhães recorreu de novo ao Tribunal da Relação, o qual julgou improcedente este recurso. Porém, o processo e a sua repercussão são páginas eloquentes da história da luta abolicionista em solo maranhense. O ano seguinte, 1878, marcou a história maranhense por uma demonstração de perseguição e vingança. Assumindo a presidência da Província interinamente, na condição de Vice-Presidente, o Dr. Carlos Ribeiro, esposo da Dona Anna Rosa, imediatamente exonerou ex officio dezenas de servidores públicos tidos como membros ou simpatizantes do Partido Conservador, dentre eles Celso Magalhães, “a bem do serviço público”.
O trauma deixado por este injusto ato causou muito sofrimento a Celso Magalhães, situação em que ainda se encontrava em 1879, muito embora tentasse tocar sua vida exercendo a função de redator do jornal “O Tempo”. Contudo, citado sofrimento se agravou com a morte do seu pai neste ano. Após passar alguns meses em Viana, retornou a São Luís, acompanhado de sua esposa, Dona Amélia Leal Magalhães, para montar banca de advocacia. Antonio Lopes lembra que, naquele ano, tendo subido ao Poder o Partido Conservador, estava Celso Magalhães apontado para Deputado na chapa das próximas eleições à Assembleia Geral do Império. Todavia, foi quando a morte o surpreendeu em 09 de junho, pois acometido de febre perniciosa, causando comoção geral. Celso Magalhães não deixou descendentes, mas, sim, um legado de bravura e de correção moral, que, até os dias atuais, é espelho para todos os maranhenses. Por isso, a minha escolha da cadeira patroneada por ele na Academia Ludovicense de Letras. Celso Magalhães sacrificou toda a sua vida pelos mais elevados ideais de justiça, sendo escolhido como o Patrono do Ministério Público do Estado do Maranhão. É ainda patrono da Cadeira nº 05 da Academia Maranhense de Letras, da Cadeira nº 16 da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, da Cadeira nº 25 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Cadeira nº 12 da Academia Vianense de Letras. Tenho certeza de que não há melhor lugar para o elogio a Celso Magalhães que o presente, servindo de inspiração para aqueles que por aqui transitam em busca de justiça. Muito obrigado!
APRESENTAÇÃO DE DANIEL BLUME
ANDRÉ GONZALEZ CRUZ Tenho a satisfação de hoje apresentar o meu amigo Daniel Blume como integrante da Cadeira nº 15 da Academia Ludovicense de Letras. Blume é poeta e advogado maranhense de São Luís, nascido em 27/10/1977, filho de Sonia Almeida (professora universitária, poeta, escritora e membro da AML) e Djalma Blume (engenheiro civil e empresário). Daniel estudou na escola Literato, cursou Direito na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e se especializou em Processo e Direito Eleitoral pela Faculdade Cândido Mendes. Em seu primeiro livro de poesias, chamado Inicial – entre o nó da gravata e o da garganta, Blume mostra a intersecção entre o advogado e o poeta, que tem permeado a sua vida, como bem descreve sua mãe na orelha do livro. Diz Sonia Almeida:
A memória trouxe à minha lembrança o dia em que deu nó na garganta do menino. Foi quando ele se deu conta de que o pé de laranja lima um dia provavelmente deixaria também de falar com ele. Decididamente, ele não queria mais ficar adulto. Naquele instante, eu não atinei que o poeta estava provocado pela vida, que o leitor estava afetado pela poesia e que aquele nó na garganta já tinha virado poema. Revirei alguns guardados e só agora me dou conta de que naquela época o menino já escrevia: encontrei dois livros que ele mesmo fez colando páginas, recortando letras para o título, escrevendo o próprio prefácio, com foto colada numa página reservada para a biografia do autor. Minhas palavras é de 1991 e Eu comigo mesmo provavelmente é anterior, porque está manuscrito. [...] Volto ao ponto e aprendo nesta obra o seguinte: enquanto o adulto reata os nós que usa como indumentária, o menino os desata. Entre esses dois limiares, o olhar do poeta resgata da frieza da lei a fragilidade de quem a produz. [...]
Revirando guardados, sinto que Daniel, que um dia pressentiu a dor de ser gente grande, hoje me ensina que a convicção de poder voar com a capa dos super-heróis não foi sufocada pelo nó da gravata. E isso só acontece quando a criança encoraja o homem.
Pois bem, eis o poeta-advogado ou o advogado-poeta Daniel Blume, que também é Procurador do Estado do Maranhão de carreira e professor da Escola Superior da Advocacia (ESA) da OABMA. Autor do livro Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Lithograf, 2003), já teve publicados os seguintes trabalhos jurídicos: A Inconstitucionalidade de Normas Constitucionais (Revista da OAB/MA nº 02, 2002), Natureza Jurídica das Decisões dos Tribunais de Contas (Revista do Tribunal de Contas do Distrito Federal nº 27, 2001), Parlamentar e Tributo (www.pge.ma.gov.br e JUS-MA, 2007), Publicação da Sentença Condenatória em Jornais de Grande Circulação (Júris Síntese e Revista da OAB/MA nº 05, 2008) e Relativização da Coisa Julgada na Ação de Desapropriação (Revista da PGE-MA, 2014, V. I). É colaborador eventual do jornal O Estado do Maranhão, na condição de cronista, e poeta com poemas publicados na I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (1998), Antologia de Poesias e Crônicas Scortecci (1998), II Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão: Latinidade (2000) e Palavras de Amor (2000). Em 2009, Blume lançou o livro de poesias Inicial pela Editora Belas Artes. Em 2015, lançará o seu segundo livro de poesias: Penal. É membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros – IAB Nacional e agora da Academia Ludovicense de Letras. Atualmente exerce a Presidência da Comissão da Advocacia Pública da OAB-MA e é membro da Comissão Nacional da Advocacia Pública da OAB. É membro substituto do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão e do Conselho Federal da OAB. Daniel Blume, nosso confrade, seja bem-vindo!
CADEIRA 15 PATRONO
RAIMUNDO DA MOTA AZEVEDO CORREIA FUNDADOR
DANIEL BLUME
DISCURSO DE POSSE DE DANIEL BLUME NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Dr. Roque Macatrão, na pessoa de quem saúdo os acadêmicos aqui presentes. Autoridades. Amigos. Minha família. Senhoras e Senhores. *** “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” (Fernando Pessoa) Raimundo da Mota Azevedo Correia nasceu sobre as águas, a bordo do vapor São Luís, navio da Companhia de Navegação a Vapor do Maranhão, no qual sua família retornava à capital da província. Era 13 de maio de 1859, na baía de Mangunça, Município de Cururupu. Filho do desembargador José da Mota de Azevedo Correia e de Dona Clara Vieira da Mota Azevedo Correia,foi juiz de Direito em uma das varas da então capital brasileira, o Rio de Janeiro. Na carreira diplomática foi secretário da Legação do Brasil em Portugal. Também exerceu intensamente o jornalismo. Fundou inúmeros jornais. Escreveu, por exemplo, em “A Gazetinha”, “A Comédia” (S. Paulo), “O Vassourense” (Vassouras, E. do Rio), “A Semana”, “O Mequetrefe”, “Diário Mercantil”, “O Álbum”, “O País” e “Revista Brasileira”. Raimundo Correia é membro fundador da Academia Brasileira de Letras, primeiro ocupante da Cadeira de número 06, que possui como patrono o romancista Bernardo de Guimarães. Já na Academia Maranhense de Letras, Raimundo Correia é patrono da Cadeira de número 16, fundada por Correia de Araújo e atualmente ocupada pelo reitor Natalino Salgado Filho. O patrono da cadeira de número 15 da Academia Ludovicense de Letras, que tenho eu a missão de ocupar, publicou os seguintes livros de poesia: Primeiros Sonhos. Tip. Da Tribuna Liberal – S. Paulo, 1879; Sinfonias. Tip. De Faro e Lino – Rio de Janeiro, 1882; Versos e Versões. Tip. E Lt. Moreira Maximino& Cia. – Rio de Janeiro, 1887; Aleluias. Cia. Ed. Fluminense. – Rio de Janeiro, 1891; e Poesias. Parceria Antônio Maria Pereira – Lisboa, 1898. Além dos citados livros de poesia, Raimundo Correia publicou vários contos, prefácios e trabalhos biográficos sobre Lucindo Filho e Valentim Magalhães. Destaco o poema Mal Secreto, onde Raimundo bem revela que – muitas vezes – um sorriso encobre profunda tristeza: Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse; Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo, Como invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja a ventura única consiste Em parecer aos outros venturosa!
Correia sempre foi um homem de pena pessimista intensa, mas de saúde tênue. Experimentou a maior das dores, a perda de um filho. Sofreu até o seu último dia de vida em 13 de dezembro de 1911, durante uma viagem de tratamento de saúde a Paris. Aos 52 (cinquenta e dois) anos, sucumbiu à doença e à dor, porém, permanece intenso, imortal, em sua obra. *** Este 24 de fevereiro de 2015 é para mim um dia de honra e de responsabilidade por me assentar na cadeira de número 15 desta Academia Ludovicense de Letras, espaço que agrega valores artísticos, literários e culturais compartilhados nesta Ilha que nos dá chão e raiz. Passando a ocupar o assento de número 15, que possui como patrono o poeta parnasiano Raimundo Correia, sinto-me comprometido pelo peso histórico da escolha do meu nome para compartilhar esses traços de identidade entre o que vivemos e sentimos ao enxergarmos o que somos a partir do que nos rodeia. Aprendi que a dimensão poética revela. Cresci procurando olhar além: ônix, o nome de um cachorro no quintal da minha memoria; a vida, uma instância além dos processos entre os raios que atravessam as frestas da persiana da janela do gabinete; o nó da gravata que convive este nó na garganta que sinto aqui agora. Por esse traço de identidade, confesso que fiquei satisfeito por ter como patrono Raimundo Correia, poeta e bacharel em Direito. Com certeza, para ele, a poesia foi essa maneira de curar-se de um mal que assola as consciências. Um mal secreto que usa a dimensão poética para alçar vôo na primeira pomba que se vai despertada “e em outras mais... mais outras”. No coração do advogado, vai-se o primeiro processo, vão-se outros mais, mais outros.Digo isso inspirado no poema de Raimundo Correia que mais o identifica, As Pombas: Vai-se a primeira pomba despertada.../ Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas/De pombas vão-se dos pombais, apenas/Raia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortada/ Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,/Ruflando as asas, sacudindo as penas,/Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam,/Os sonhos, um por um, céleres voam,/Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam,/Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,/E eles aos corações não voltam mais... Vão-se os primeiro sonhos, outros mais... mais outros.
*** Por tudo e, portanto, suponho alguns sentimentos poéticos que Raimundo da Mota Azevedo Correia tenha vivenciado como profissional do Direito, de tal forma que não permitiu que a frieza das normas contaminasse sua existência, mas alimentasse sua essência em busca do sentido extremo da balança equilibrada entre as palavras e a vida. Sobre isso, em Inicial, eu escrevi: No que a frieza chama o sol revela.../ser possível aqui haver poema,/pois do advogado brota poesia,/ quando vê cliente como gente,/ casos como vidas/ e processos como instrumentos de pacificação social,/ que materializam sonhos/de vencer, deter, conter ou derrotar. Basta permitir que o sol aja./Assim, o patrono (defensor e protetor)/ passa a ser também poeta judicial,/ numa intercessão diária. A luz revela:/o processo tem e, às vezes, é/um determinante avesso.
Confesso que despertei para essa transcendência poética no Colégio Literato, sempre cultivada por meus pais, depois de tê-la herdado da minha mãe, Sonia Almeida. É também alimentada por Priscila, Beatriz e Valentina. Então, eis-me aqui entre o advogado-poeta e o poeta-advogado, como membro da Academia Ludovicense de Letras. “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” Muito obrigado. Daniel Blume
SOBRE MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES69
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
D. Maria Thereza de Azevedo Neves nasceu em 12 de novembro de 1932, na antiga Rua da Paz, em São Luís; filha de Emílio Lobato de Azevedo e Maria José Costa Leite Azevedo. Seus irmãos: Maria Ruth e Américo Azevedo Neto, membro da Academia Maranhense de Letras. Ela sustenta, como uma representante das letras, a honra e o peso da responsabilidade de ser uma descendente direta do dramaturgo e jornalista Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, seu tioavô, irmão de Américo Azevedo, seu avô, e pai de Emílio Azevedo, seu progenitor. D. Maria Thereza foi interna do colégio Santa Teresa, onde viveu dos oito aos dezoito anos e de onde saiu somente para prestar exames ao vestibular de Medicina na Faculdade de Medicina do Ceará, em Fortaleza. Deixou o curso de Medicina pelo de Ciências Biológicas, agora na Faculdade de Filosofia do Recife, onde se formou em 1960. Casada com o Deputado José Bento Nogueira Neves, um dos mais notáveis políticos do Maranhão pós-revolução. A relação durou 50 anos, ficaram como prova viva desse tempo e desse amor as filhas, Rafaela, Eugênia e Virgínia; e o filho, Rodrigo Azevedo Neves; e, muito mais tarde, as netas, Maria Paula e Tarsila, e o neto, David. D. Maria Thereza tem o seu début literário em 2005, quando publica o livro de contos Atalhos e o de literatura infantil Historinhas, ambos na Lithograf. Após esse ano, em 2006, publicou o livro de memória Minha Árvore. Em 2008, 107 – Memórias. Em 2012, Pena Vadia: Cantando & Contando, outro livro de contos; e, em 2013, Café ou Chocolate?, também de contos. Maria Thereza de Azevedo Neves tem sua descendência direta de dois grandes vultos da literatura brasileira, Artur e Aluísio Azevedo, como também do seu próprio e incontestável talento como intelectual das letras. Benedito Buzar70 assim se refere à Maria Thereza, ser quem melhor e, com mais propriedade, escreveu sobre a vida e a obra de José Bento Nogueira Neves, pois foi a sua querida e amada esposa: 69
Texto baseado na apresentação que fará o acadêmico Sanatiel Pereira BUZAR, Benedito. JOSÉ BENTO NEVES, MEU CONTERRÂNEO. BLOG DO BUZAR, Por Buzar • domingo, 30 de setembro de 2012 às 10:32, disponível em http://www.blogsoestado.com/buzar/2012/09/30/jose-bento-neves-meu-conterraneo/
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Ela o fez por meio do livro intitulado “Minha Árvore”, lançado em 2006, quando José Bento já enfrentava o ataque de uma doença degenerativa, que o levou ao sofrimento físico e posteriormente, diria o poeta Drumond, a ficar encantado, na tarde de sexta-feira, dia 21 de setembro de 2012, exatamente 10 dias após completar 85 anos.
Buzar afirma não saber se José Bento chegou a ler o livro, feito com tanto ternura e amor por Maria Thereza, que ao longo de 137 páginas e ilustrado, tratou de contar fatos importantes sobre a vida do casal. Da análise da obra, Buzar coloca que: no livro, Maria Thereza, sem pieguice, revela como conheceu, namorou, noivou e casou com José Bento e com ele construiu uma família unida, enriquecida e fortalecida com o nascimento de quatro filhos: Raphaela, Eugênia, Virgínia e Rodrigo, todos bem encaminhados na vida. Traça a genealogia da novel Acadêmica da ALL:
Oriunda da família de intelectuais maranhense, do quilate dos tios-avós Arthur e Aluísio, filha de Emílio e irmã de Américo, todos Azevedo, não escapou da sua apreciação literária e sentimental, os 50 anos de convivência com José Bento.
Conclui Buzar:
Ao terminar essas considerações, evoco novamente o encantador livro de Maria Thereza, que, do começo ao fim, esmiúça em detalhes e na plenitude da paixão, a longa e bonita trajetória de vida edificada ao lado de seu inesquecível e idolatrado José Bento Nogueira Neves.
MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES POSSE EM 17 DE MARÇO DE 2015
APRESENTAÇÃO DE MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES EM SUA POSSE EM 17 DE MARÇO DE 2015
SANATIEL DE JESUS PEREIRA Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, ROQUE PIRES MACATRÃO, Senhora Vice-Presidente da Academia Ludovicense de Letras, DILERCY ADLER, Senhor Secretário da Academia Ludovicense de Letras, LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Senhores Confrades, Senhoras Confreiras, Autoridades que aqui se fazem presentes, Familiares, amigos e convidados, Senhoras e Senhores,
O destino, o senhor do tempo, de forma irrecusável, escolheu-me, novamente, para saudar e acompanhar a transpor os portões imaginários do grande edifício onde funciona a Academia Ludovicense de Letras uma das mulheres mais notáveis do Maranhão. A minha satisfação é imensa por compartilhar com ela este momento mágico. Confesso, entretanto, que ambos estamos fazendo parte de um caminhar novo, que ninguém sabe aonde vai chegar, porque assim é o mundo das letras e da imaginação. Este talvez seja o buraco na árvore onde o coelho nos mostra o caminho a trilhar. Ela traz a essência daqueles vinhos raros produzidos com uvas de colheitas tardias no melhor terroir encontrado na Terra: o Maranhão. Ela ficou todos esses anos em seu parreiral intelectual e meditativo, enchendo-se de inspiração e prenhe de motivação para escrever na hora oportuna o que quisesse, pois a sua casta é uma das mais nobres do Novo Mundo: Azevedo. Portanto, temos que festejar com muita alegria a chegada da nova confreira, que veio com a sua presença somar e agregar valor a esta infante confraria. D. Maria Thereza de Azevedo nasceu às quatorze horas do dia 12 de novembro de 1932, em um daqueles casarões da antiga Rua da Paz, em São Luís, quando a Lua se fazia Nova, e os ventos, trazidos do mar, sopravam sobre os telhados de cerâmicas francesas, vindos de Marselha, em pleno
século XIX, para refrescar os espíritos iluminados dos ludovicenses criadores daquela época. Provavelmente, os ruídos dos velhos bondes sacolejando sobre os trilhos de aço, que passavam por aquela importante via, foram os primeiros sons externos a lhe assegurar que havia chegado à ilha de Upaon-Açu e iniciado uma nova viagem neste planeta maravilhoso que os gregos chamavam de Gaia e os povos ameríndios, de Pacha Mama. Como primeira filha, não teve olhos de irmãos para espiar-lhe o choro, o sono e os primeiros sorrisos, mas os olhos e os braços de uma mãe dedicada e amorosa que haveria de lhe dar outros irmãos em pouco tempo: Maria Ruth e Américo Azevedo Neto, membro da Academia Maranhense de Letras. Filha de Emílio Lobato de Azevedo e Maria José Costa Leite Azevedo, já trouxe de berço o estigma das letras e a herança atávica dos grandes escritores que construíram a memória artística e cultural da Idade Contemporânea. Ela sustenta, como uma representante das letras, a honra e o peso da responsabilidade de ser uma descendente direta do dramaturgo e jornalista Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, seu tio-avô, irmão de Américo Azevedo, seu avô, e pai de Emílio Azevedo, seu progenitor. Ela nunca será medida pelos belos traços fisionômicos da sua juventude ou pelas suas medidas antropométricas, mas pelo seu legado cultural e artístico. Nem mesmo por esposa companheira e amiga ou mãe devotada pela família, mas pelos versos e anversos que ficarão para sempre guardados na memória daqueles que leram as suas obras, ou que com ela conviveram em seus grandes saraus. Confrades e Confreiras, eu tenho certeza de que a descendência ancestral daqueles que desapareceram se manifesta neste momento e neste local para participar desta faustosa cerimônia de recebimento de uma representante autêntica e à altura dos Azevedo na Academia Ludovicense de Letras. Enfileirar-se-á toda a geração para ver um ramo da mais viçosa vinha que se deixou açucarar para produzir, no outono da sua existência, os mais saborosos sonetos em cantos, rimas e expressões que já não se fazem nesta ilha encantada. O destino, entretanto, reservou-lhe grandes surpresas na vida, as quais se configuraram como atos de uma grande ópera de Verdi em que ora desempenhava o papel principal de cantora, ora um papel de coadjuvante da peça como componente do coro. Mas ela estava lá, no palco, cantando, sorrindo, dançando e, muitas vezes, orando. D. Maria Thereza adentrou os caminhos das letras como interna do colégio Santa Teresa, onde viveu dos oito aos dezoito anos e de onde saiu somente para prestar exames ao vestibular de Medicina na Faculdade de Medicina do Ceará, em Fortaleza. Foram anos difíceis, mas necessários para desenvolver a sua capacidade de caminhar resoluta na busca da sua própria felicidade. Ela já sabia o que queria, por isso deixou o curso de Medicina pelo de Ciências Biológicas, agora na Faculdade de Filosofia do Recife, onde se formou em 1960. Confrades e Confreiras, D. Maria Thereza nem sabia onde o destino iria a colocar, pois, quando menos pensava, estava casada com o Deputado José Bento Nogueira Neves, um dos mais notáveis políticos do Maranhão. Ainda chegam aos meus ouvidos os seus discursos inflamados apontando novos caminhos para este Estado ainda em construção. Eu pensava comigo mesmo: atrás de um homem poderoso e cheio de sonhos, deve existir uma grande mulher. Desta relação que durou 50 anos, ficaram como prova viva desse tempo e desse amor as filhas, Rafaela, Eugênia e Virgínia; e o filho, Rodrigo Azevedo Neves; e, muito mais tarde, as netas, Maria Paula e Tarsila, e o neto, David. Ainda não havia chegado o tempo de escrever e publicar, somente o de sonhar através das letras dos que já se fizeram famosos e encantavam o mundo através da Biblioteca das Moças, como os romances de M. Delly. Foram-se os dias de Toutinegra do moinho, de Émile de Richebourg; Por quem os sinos dobram, de Hemingway; O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brönte. Só mais
tarde vieram A casa dos Espíritos, de Izabel Alende; A guerra do fim do mundo, de Vargas Llosa; e a extensa lista das obras de Saramago. Sem que ela percebesse, o senhor do tempo a estava preparando para a escrita pretérita, condensada, como o orvalho na noite, sob a forma de crônicas, contos e romances. Sem duvidar do destino, bons mestres ele lhe deu: os melhores autores; as fases pregressas da sua vida, como filha amada e feliz; jovem alegre a festejar sempre a vida; irmã presente e fraterna; esposa amiga, companheira, parceira – a dama de ouros –, apaixonada; mãe gratificada e realizada. Amiga sincera e leal. Mulher feliz! Todos os ingredientes estavam e estão às suas mãos – por que não dizer, precisamente, aos seus dedos? –, para viver este momento maravilhoso que presenciamos agora. D. Maria Thereza tem o seu début literário em 2005, quando publica o livro de contos Atalhos e o de literatura infantil Historinhas, ambos na Lithograf. Após esse ano, em 2006, publicou o livro de memória Minha Árvore. Em 2008, 107 – Memórias. Em 2012, Pena Vadia: Cantando & Contando, outro livro de contos; e, em 2013, Café ou Chocolate?, também de contos. Apresentar Maria Thereza de Azevedo Neves à sociedade maranhense como membro da Academia Ludovicense de Letras não é somente uma satisfação incomensurável, mas um privilégio diante da sua descendência direta de dois grandes vultos da literatura brasileira, Artur e Aluísio Azevedo, como também do seu próprio e incontestável talento como intelectual das letras. Hoje, a Academia Ludovicense de Letras se torna mais rica e digna, tanto por abrigar a memória daqueles que construíram o substrato intelectual das letras maranhenses, quanto pelas representações atuais dos seus membros. D. Maria Thereza, de forma oportuna e, quiçá, necessária, representa o elo de ouro entre os vultos notáveis da literatura maranhense do início do século XX e o que de melhor se pode encontrar no início deste século XXI. Quem sabe ela seja o vaso de cristal que traz o vinho tardio para as festas literárias deste século, que, somente agora, começa a mostrar a sua cara. Confreiras e Confrades, Senhor Presidente, abramos os braços cheios de alegria para recebê-la em nosso seio e desejar-lhe boa sorte na missão mágica e divina do ato de escrever. Confreira, que sejas bem-vinda e que tragas a Paz, o Amor e a União em teu coração. Muito obrigado!
ELOGIO AO PATRONO
MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES
Excelentíssimo Senhor Doutor Roque Macatrão, Presidente da Academia Ludovicense de Letras, através do qual eu saúdo todos os membros desta casa. Senhoras e Senhores. Ouço a voz de um poeta que fala de “estrelas vivas sobre homens adormecidos, atrás de janelas fechadas”. Então?!... Por que não?! Mesmo com o prazo de validade prestes a vencer, confesso que continuo faminta de luz, ansiosa por janelas abertas. E, assim, reformulei minha reação negativa ao prof. escritor Sanatiel Pereira, arauto da Academia Ludovicense de Letras, quando eu disse não ao seu chamado. Também o acaso, esse comandante de nossos destinos, me fez deparar com o conceito de Tempo, sob a visão de nossa linda velhinha Cora Coralina: - “não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas curta ou longa, que seja intensa, verdadeira e pura, enquanto dure”. Já Mário Vargas Lhosa, o quase insuperável Nobel peruano, fala que “a literatura não é algo que nos faça felizes, mas nos ajuda a defendermo-nos da infelicidade”. Humildemente, escondida em meu insignificante casulo, ouso discordar. A literatura, as artes definitivamente nos fazem felizes, sim. Felizes quando constatamos que existe realmente magia na leitura de um grande livro; quando choramos de emoção com aquele poema; quando ficamos enlevados ouvindo aquela musica ou vendo aquela tela. Há sempre, nestas oportunidades, um descompasso no ritmo cardíaco. É algo de transcendental, de tamanha beleza que nos leva a ter a veleidade de voar como os anjos. Isto é felicidade, meu genial Nobel. E aqui, olhando os valores e brilhos que agregam esta academia, eu estou feliz sabendo do prazer de todos na degustação da beleza de sonhar e criar. É da liturgia acadêmica tecer considerações sobre o ocupante anterior de sua cadeira. Antecessores ainda não os temos, já que esta Casa é um vagido inicial.
Mas, patronos, figuras imortais, nós os proclamamos. Somos conscientes de nossa transitoriedade, de nossa finitude – “vínculo e passagem”- assim nos rotulou o poeta Exupery. Mas alguns ficam, deixam pegadas distintas. Na literatura, na poesia, na política, na história, na pintura, na música, nos esportes. E aí estão, visíveis, as marcas dos que receberam o galhardão de santidade. Estes são os que fizeram de suas vidas um enredo colorido. São os imortalizados, os patronos. Por feliz coincidência, pude ter como patrono da cadeira nº 13, alguém que me habituei a “ver” desde criança. “Ver”, neste contexto, significa reconhecer fotos e ouvir constantes e domésticas referências ao seu nome. Afinal, apesar de apenas duas gerações nos separarem, eu não poderia tê-lo conhecido, dada a distância entre nossos tempos vividos. Explico, então, o porquê do vê-lo. Na sereníssima e arrumadíssima sala da casa do meu tio David Lobato Azevedo – (Rua Grande, 483) havia uma foto. Uma foto enorme de Arthur Nabantino Gonçalves Azevedo: modelo ideal para o pintor colombiano Fernando Botero, graças à fartura de suas papadas. Lá do alto de sua moldura, de gravata e pincenez, ele olhava sério... e piscava. Piscava para as incautas crianças que por ali se aventurassem a perturbar a paz dos adultos. Eu, pessoalmente, nunca fui agraciada com uma única piscadela do velho Arthur. E é ele, esse Arthur que classifico de hedonista, o meu patrono. Um dos que deixam rastros, que o tempo não apaga porque (aqui cito Josué Montello em seu rico livro “O Anedotário da Academia Brasileira de Letras”): - “ninguém pode escrever a história literária brasileira do século 20, sem levar em conta a enorme repercussão da obra de Arthur Azevedo”. Criança ainda, logo demonstrou paixão pelo teatro. Aos 9 – nove – anos de idade, escreveu sua primeira peça: “Trinta contos de réis” – representada por outras crianças, dirigidas por ele, numa sala dos fundos de sua casa. Aos 13 anos, começou a trabalhar. Foi apenas mais um menino caixeiro nas casas comerciais da Praia Grande. Sem salário. Mas eis Artur envolvido em conflitos com estudantes, divididos em grupos sobre preferências entre duas lindas atrizes que chegaram a São Luís. Liderando um dos grupos, ele acaba chamado pela polícia e a consequência é perder o emprego no armazém do português. Aos 15 anos escreveu “Amor por anexins”, peça que teve mais de mil apresentações no século passado. Passa para o serviço público. Começa a publicar sátiras em formas de versos “Carapuças”. Lança uma revista literária, com o irmão Aluízio: “O Domingo”. Já desponta, então, o crítico que é. E quando as críticas apontam para cima, para governo e autoridades, ele perde o outro emprego. É quando resolve ir para o Rio de Janeiro. Vai para a Corte tentar viver livre. Professor, tradutor, cronista, poeta, contista, teatrologo. Teatrólogo nasceu. Tradutor tornou-se porque, na infância, aprendeu Francês para ler os livros da estante de seu pai. Os primeiros tempos são difíceis, mas são superados. E ele, obtendo enorme sucesso, aos 21 anos, com a peça “A filha de Maria Angu”, afirmou-se em definitivo, como teatrólogo.
Cria um círculo de amizade fraternal com escritores, poetas, como Rui Barbosa, Quintino Bocaiuva, Coelho Neto, José do Patrocínio, Olavo Bilac e muitos outros. Sua obra cresce. Assim tem oportunidade de viajar para a Europa e perambular por vários países, sempre com acuidade e curiosidade sobre o Teatro do velho mundo, vitrine de riquezas e ostentação. Arthur Azevedo é reconhecido como um dos responsáveis pela construção do belíssimo Teatro Municipal do Rio de Janeiro, por ter liderado, durante 30 anos, campanhas com essa finalidade. Teatro que, infelizmente, não viu ser inaugurado porque morreu um ano antes. Foi um dos fundadores, ao lado do irmão Aluízio Tancredo, da Academia Brasileira de Letras. Mas foi o Teatro o veículo de sempre na difusão de suas ideias. E Arthur soube, como poucos, aproveitar-se dele para expandir, entre outras coisas, a política abolicionista, contribuindo grandemente em campanhas contra a escravidão, assim como em jornais e revistas. O jornal “O Mequetrefe” foi uma jóia a mais a enfeitar aquele momento. Arthur é fruto de um intricado romance que certamente teria feito Shakespeare apreciar seu enredo: um jovem cônsul português, viúvo, conhecido como “David, o Belo”, atravessou o Atlântico e, aportando ao Brasil, chegou a São Luís. Encontrou, então, aqui, uma conterrânea: uma portuguesinha magoada, revoltada e linda que é um inesperado troféu para dissipar as saudades da pátria de David Gonçalves de Azevedo. Uma paixão que se transforma em intenso amor, base de uma união longa e estável, tornando Emília Amália Pinto Magalhães o centro de um violento cismo social, vítima daquela sociedade forjada em subterfúgios, hipocrisias e preconceitos da qual foi hostilizada e estigmatizada. Ela, Emília que, aos 16 anos, foi dada em casamento a um senhor rico, que lhe era um estranho, homem de hábitos grosseiros, foi uma verdadeira escrava do senhor seu marido Antônio Joaquim Branco. Quando sentiu-se grávida de sua 1ª filha, imaginou que talvez esse fato pudesse, conforme suas próprias palavras, “adoçar-lhe o gênio feroz e os costumes pervertidos e depravados”. Mas nada mudou. E Emília saiu fugida desse casamento, tornando-se, assim à época, a personagem central do maior escândalo do Maranhão. Sinto-me na obrigação de citá-la porque a visão que tenho dessa mulher, minha bisavó, é do mais absoluto respeito por uma destemida jovem vanguardista (não a feminista exaltada a queimar sutiãs), mas da mulher que ousou, que rompeu amarras, e que, cônscia, enfrentou um mundo de valores mesquinhos. Ela foi a responsável, a pedra angular, na formação dos seus filhos que pugnaram pela luta em defesa de liberdade e justiça. Dunchee de Abranches,em seu livro “O cativeiro” escreveu: /’em plena florescência da juventude, tida como a moça mais formosa do seu tempo, juntou-se ao chanceler recém-chegado. Refugiaram-se em uma casa (rua do Sol, esquina com Mangueira) onde nasceram os cinco filhos do casal: Arthur, Aluísio, Américo (meu avó), Camila e Maria Emília. Dessa casa, Emília Amália, que se autodefiniu como “prisioneira do amor”só saiu dentro de um caixão, morta, para o cemitério. Segundo Antônio Martins Araujo, reconhecido e respeitado intelectual: “Arthur Azevedo escreveu satirizando hábitos daquela sociedade maranhense dos anos 1800, cujo lazer era a maledicência. Sua picardia traduz, fielmente, a agilidade mental, o espírito atento e zombeteiro do maranhense. Hábil e irônico, aí está a explosão do gênio”. Ao morrer, deixou 500 peças teatrais e uma imensa coleção de telas, óleos, litografias, etc. A pedido do escritor Coelho Neto, o governador do Maranhão à época, Luiz Domingues, comprou todo o acervo por 30 contos de réis, que, coincidentemente, foi o título de sua primeira peça teatral. O Palácio dos Leões guarda essa preciosa herança: atração para visitantes ilustres.
Estudando a obra de A.A., vemos realmente que toda ela é produto direto de sua esfuziante personalidade, na qual, é óbvio, pontificaram seu bom humor e sua irreverência. Um estilo despojado, sem artifícios, aliado ao absoluto domínio gramatical, construiu o nome brilhante que ficou no universo da intelectualidade brasileira. Ele não foi o juiz inclemente, o carrasco impiedoso como Aluízio, seu irmão, que escreveu a ferro e fogo causando turbulências. Josué Montello definiu Aluízio com “um imã para a inveja”. É o mesmo Josué que se refere a Arthur como “aquele que dispara seu precioso estilo, ao lançar críticas envenenadas com sonoras gargalhadas.” Ele não herdou a beleza física dos pais(como os irmãos) a vaidade do cônsul, homem de muitas gravatas, chapéus e luvas. Com um apurado senso crítico, a vida o divertia, navegando em mansas águas. Arthur Azevedo não foi um trágico, um Shakespeare; Arthur Azevedo não foi um atormentado, como Hemingway; Arthur Azevedo não foi um grande épico, como Camões; não foi um romântico como Gonçalves Dias; um realista bárbaro, como Eça de Queiroz; um desencantado, como Miguel de Cervantes; não brandiu a espada flamejante de Castro Alves. Ele foi o analista de seu tempo e, quando foi necessário ou imposto pela vida, foi trágico, atormentado, épico, romântico. Lutou quando as circunstancias assim o exigiram e deixando de sonhar por alguns momentos, foi realista também. Só não foi –nunca- um desencantado, pois encantado permaneceu até seus últimos dias. Encantado e encantando, ainda e sempre, amigos e admiradores representados nas multidões que encheram as ruas e acompanharam o féretro, simbolicamente batendo as palmas para a última cena que não escreveu, mas eternizou. Muito obrigada!!!
SANATIEL DE JESUS PEREIRA PEREIRA ELOGIO AO PATRONO EM 27 DE MARÇO MARÇO DE 2015
APRESENTANDO SANATIEL DE JESUS PEREIRA
MÁRIO LUNA FILHO SANATIEL DE JESUS PEREIRA é natural de São Bento (1950), Maranhão, Brasil. Filho de Felix do Sacramento Pereira e Neuza França Pereira. Fez o primário no Grupo Escolar Gentil Braga e seus estudos secundários no Liceu Maranhense, em São Luís. Graduou-se em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia Civil do Maranhão (1974). Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1984). Doutor em Ciências Florestais pela Universidade Federal do Paraná (2001). Como Engenheiro Civil trabalhou nos primeiros vinte anos da sua vida profissional em grandes empresas de engenharia do Brasil. Participou da construção de obras importantes no nosso Estado, como a construção da barragem do Rio Pericumã, na Baixada Maranhense, no município de Pinheiro. Participou da construção da Unidade Materno Infantil, assim como da reforma e ampliação do Hospital Universitário Presidente Dutra, em São Luis, Maranhão. Construiu a unidade fabril do Grupo Vicunha, no Distrito Industrial em São Luis, Maranhão. PROFESSOR ASSOCIADO do Departamento de Desenho e Tecnologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e do Programa de Pós-Graduação em Design. Foi fundador e primeiro Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMA. Coordena o Núcleo de tecnologias das Madeiras e das Fibras da UFMA. Membro do Comitê Científico da UFMA na área de Ciências Exatas e Tecnológicas. Pesquisador com diversos trabalhos publicados em Congressos, Revistas, e Periódicos Científicos. Com diversas orientações em trabalhos de conclusão de Curso em Designe da UFMA. Formou diversos pesquisadores na sua área de concentração. Atualmente ocupa o cargo de Diretor da Editora da Universidade federal do Maranhão – EDUFMA – e Presidente do Conselho Editorial. Cronista com diversos artigos publicados em jornais. Publicou os livros de crônicas “Mulheres de Atenas” (2007); “Os Quatro Elementos” (2010), e o de conto “Severiano Marinheiro” (2011). Tem o livro de crônicas “Janelas do Tempo” e “O Poço”, de contos publicados em 2015, sendo que o lançamento destes dois últimos se dá nesta noite. Na área acadêmica tem publicado com selo EDUFMA o “Pequeno Dicionário de Ciências e Tecnologias da Madeira” (2010). Foi coautor do livro “Madeiras Tropicais de Uso Industrial do Maranhão” (2001) publicado sob a chancela do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA. Membro Fundador da Academia Sambentuense, ocupante da cadeira 4 patroneada por D. Felipe Conduru Pacheco, onde já ocupou o cargo de vice-presidente e presidente. Membro
colaborador da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – SOBRAMES/Seccional do Maranhão. Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras, onde ocupa a cadeira 3, patroneada por Manuel Odorico Mendes. Membro correspondente da Academia Codoense de Letras e Artes. Sanatiel Pereira foi testemunha viva dos movimentos literários dos anos 60 e 70 do Liceu Maranhense. Silenciosamente, mas atento. Pode ter sido ai o seu despertar literário. Dessa época um pouco distante vem o nosso companheirismo. Em “Mulheres de Atenas”, seu livro de estreia oficial na literatura, em 2007, já se pontificou como grande cronista, despertando o interesse do Prof. Antonio Carlos Beckman, que nos disse: “Ele brinda a literatura maranhense com um primoroso colar de pérolas – pérolas ou gotas diamantinas de orvalho? – cuja preciosidade se encontra mas na riqueza das ideias e dos valores humanos por ele enfocados do que nos singelos fatos e doces reminiscências evocadas, toscas conchas onde foram pescadas essas ideias”.
Dele também fala o poeta Arquimedes Vale: “A fisionomia do espírito de Sanatiel Pereira não está no seu estilo: leve, escorreito, de fácil absorção e acima de tudo honesto, mas também nas suas expressões de humanismo e ecologismo”.
Em “Os Quaro Elementos”, como ensaísta, dissemos: “Ele já nos chega vestido com sua indumentária da maturidade literária, cristalizada em ‘Mulheres de Atenas’”. Mais adiante, destacamos: “Sua alma transita ora por abismos profundos, ora adentra por catedrais imensas, numa procura incessante de si m esmo, mergulhando visceralmente nas pegadas de Aristóteles e São Tomaz de Aquino, numa visão escolástica dos fundamentos basilares do ser humano”.
Em “Severiano Marinheiro” a professora Maria José Farias, da Academia Sambentuense de Letras, nos coloca a duvida de quem ele foi: “[...] um vidente, um místico, um poeta?... Ou os três? Ou subliminarmente foi ou é Sanatiel? Afinal somos um pouco de nossos personagens...”.
E agora Sanatiel nos chega com “As janelas do Tempo” e o seu metafórico “O Poço”. Que possamos olhar a vida pelas janelas do tempo ou beber das águas cristalinas desse poço. Nós que temos sede de justiça e de excelente literatura. Aí está Sanatiel que vos apresento neste seu caminhar, posicionando-se ao lado de todos nós, Confrades e Confreiras. Alegremo-nos, pois, visto que a literatura maranhense está em festa.
MANUEL ODORICO MENDES
Elogio ao Patrono ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
SANATIEL DE JESUS PEREIRA
Cadeira 3 Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, ROQUE PIRES MACATRÃO, Senhora Vice-Presidente da Academia Ludovicense de Letras, DILERCY ARAGÃO ADLER, Senhor Secretário da Academia Ludovicense de Letras, LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, Senhores Confrades, Senhoras Confreiras, Autoridades que aqui se fazem presentes, Familiares, amigos e convidados, Senhoras e Senhores,
As traduções de Virgílio e Homero de Manuel Odorico Mendes não serão de fato “inspirações” ou “obras inspiradas”? Perguntando ao escritor espanhol J. J. Benítez, quando do lançamento do oitavo volume da sua obra Operação Cavalo de Tróia, no Brasil, se aquela não era uma obra inspirada, devido ao número de volumes escritos e à complexidade do tema tratado, ele respondeu fazendo-me outra pergunta: “O que você acha: Jesus é cósmico ou terrestre?”. Ficamos nos fitando, olhos nos olhos, conversando e nos dizendo que ambas as respostas podem estar fora do âmbito da compreensão e do conhecimento humano. Portanto, nos perguntaríamos de onde vem tão extraordinário talento do brasileiro Odorico Mendes para traduzir para a língua portuguesa, com perfeição, aqueles que foram os dois pilares das literaturas grega e romana, que assombram os homens até hoje. Somente a Luz Divina impregnada em Odorico Mendes poderia dar a ele o dom e a capacidade para trazer para a língua de Camões o sabor autêntico daquelas obras. Odorico, iluminado, percebendo a sua missão, escolheu os maiores vultos da literatura greco-romana, porque sabia que eles sobreviveram ao pó em que se transformaram aquelas civilizações. Imbuído dessa mesma energia, fez Jean-Francois Champollion, contemporâneo de Odorico Mendes, traduzir a Pedra da Roseta. Ele sabia que estava em suas mãos a grafia das civilizações que se perderam na poeira do tempo. A atmosfera que reinava nesse século, com certeza, propiciava a execução de tarefas tão notáveis.
João Lisboa, em sua biografia sobre Odorico Mendes, de 1862, não só se reporta a detalhes da vida, mas também o enaltece o tempo todo, deixando patente o seu sentimento de estima e veneração. Reconhecendo o seu talento transcendental, chama-lhe de “célebre filósofo e escritor”. João Lisboa, ao perceber que a obra de Odorico estava escrita para outros tempos, assim como as de Homero e Virgílio, defende a sua obra daqueles contemporâneos que, por ignorância ou inveja, manifestaram-se contra a sua publicação como literatura brasileira. Entusiasmado, ele pergunta: “Entre todos esses homens eminentes que deste lado do Atlântico apenas mal se conhecem pelos nomes, Odorico Mendes ocupa um dos lugares mais distintos. Cultor apurado e assíduo da língua que falamos os dois povos irmãos, e um dos primeiros entre os mais abalizados dos seus mestres; defensor entusiasta da antiga glória lusitana; e admirador ardente e apaixonado de Camões, Ferreira, Moraes e Nascimento, quem mais que ele merecia ser lembrado e preconizado?”. Logo depois de seu desaparecimento, Machado de Assis assim se referiu ao ilustre maranhense: “Odorico Mendes é uma das figuras mais imponentes de nossa literatura. Tinha o culto da antiguidade, de que era, aos olhos modernos, um intérprete perfeito. Naturalizara Virgílio na língua de Camões; tratava de fazer o mesmo ao divino Homero. De sua própria inspiração deixou formosos versos, conhecidos de todos os que prezam as letras pátrias. E não foi só como escritor e poeta que deixou um nome; antes de fazer a sua segunda Odisséia, escrita em grego por Homero, teve outra, que foi a das nossas lutas políticas, onde ele representou um papel e deixou um exemplo. Era filho do Maranhão, terra fecunda de tantas glórias pátrias, e tão desventurada a esta hora, que as vê fugir – referindo-se à morte de Gomes de Sousa, recente –, uma a uma, para a terra da eternidade”. Meu conterrâneo, o jornalista Sebastião Jorge, em seu livro Política Movida a Paixão, declara que Odorico Mendes “muito trabalhou não apenas como político, mas, e principalmente, usando a pena, para expor as idéias e conquistar espaço na luta pelo reconhecimento dos direitos e da cidadania de todos”. Prossegue: “o que desejava no fazer jornalismo era provocar o leitor, levando-o a pensar, o que implicaria irreversivelmente a uma tomada de consciência, quanto à gravidade das questões debatidas”. Para muitos, Manuel Odorico Mendes foi político, publicista e humanista brasileiro, autor das primeiras traduções integrais para português das obras de Virgílio e Homero. Para alguns, foi escritor, jornalista, poeta e filósofo. Para os maranhenses, é símbolo de determinação, de ousadia e da busca em realizar a vida e mostrar em suas obras que ele passou, de forma significante e notável, pelas terras do Maranhão. Eu, pensador do mundo das Ciências Exatas, fico imprensado na retórica do meu patrono, conhecedor mais do que eu da natureza humana dos seus conterrâneos daquela época, em que borbulhavam as insurgências contra a Monarquia. Inteligentemente, percebia que a nação brasileira não estava preparada para as transformações que queria que fossem instaladas. Vi-me como que em um caldeirão de acontecimentos, mal compreendidos e traduzidos daquela época, mas que era aquecido, por se tratar de Manuel Odorico Mendes, por uma chama inextinguível do fogo sagrado, que aquece e cozinha o homem com o dom divino. Rogo, portanto, que este mesmo fogo me alimente para honrá-lo e digno de por ele ser patroneado. Tal qual artesão das fibras maranhenses, dediquei-me meses para construir este pequeno discurso em forma de tapete, que mais se parece a uma colcha de retalhos, pelo muito que pesquisei em busca de informações de Odorico Mendes, para reconhecer e entender esse homem nas mais facetadas fases da sua gloriosa vida. Descendente de família portuguesa, Manoel Odorico Mendes era filho do capitão-mor Francisco Raimundo da Cunha, fazendeiro em Itapicuru, e de D. Maria Raimunda Corrêa de Faria, filha do fidalgo Manoel Corrêa de Faria. Nasceu em São Luís do Maranhão, em 24 de janeiro de 1799, onde residiu até os 16 anos de idade. Tomou o nome de seu tio, padrinho e pai adotivo, Manoel
Mendes da Silva, irmão de D. Rosa Marina Mendes, mãe de Francisco Raimundo, que o levou à pia batismal na Igreja da Sé, a 26 de março do mesmo ano. Lançando luz à verdade histórica, Milson Coutinho, citando Lopes, declara, sem maiores explicações, que João Inácio da Cunha, visconde de Alcântara, era tio de Manuel Odorico Mendes, assim como também o fez Henriques Leal. O testamento de Francisco Raimundo da Cunha, irmão do visconde de Alcântara, e a justificação de batismo, em processo eclesiástico, requerida pelo próprio Odorico, esclarecem que o grande tradutor das obras de Virgílio era filho, fora do casamento, do citado Francisco Raimundo da Cunha, fazendeiro no Itapicuru, com Maria Raimunda Corrêa de Faria, filha, de fato, do fidalgo Manoel Corrêa de Faria, residente em São Luís. Demais disso, quem criou Odorico até os 16 anos de idade, quando mandado para Portugal, foi Manoel Mendes da Silva, tio de seu pai, Francisco Raimundo. Esse tio era irmão de Rosa Mariana Mendes, mãe de Francisco Raimundo, grande lavrador e militar, que, embora sendo chamado a depor perante o vigário das justificações de foro eclesiástico, ainda solteiro, não teve a honradez para declarar-se pai de Odorico Mendes, que foi considerado exposto na casa de Manoel Mendes da Silva. Desde muito cedo, Odorico Mendes toma contato com a poesia dos clássicos gregos e latinos, interessando-se pelo seu estudo. Foi estudando latim no Convento de Nossa Senhora do Carmo que conheceu seu coprovinciano Francisco Sotero dos Reis, aquele que seria considerado o melhor professor de latim, literatura e língua portuguesa da Província, tendo depois lecionado para alunos brilhantes, como João Lisboa. Sotero dos Reis apareceu anos depois (1925), pela primeira vez, na imprensa através do jornal Argos da Lei, de Odorico Mendes. Após Odorico Mendes ter concluído, em São Luís, alguns estudos de humanidades, o pai adotivo, com o objetivo de fazê-lo cursar Medicina, envia-o em 1816 para Portugal, onde, depois de cursar os estudos preparatórios, ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Completou o curso de Filosofia Natural, após ter cursado Filosofia Racional e Moral e a cadeira de Língua Grega. Em Coimbra, Odorico Mendes viveu intensamente o conturbado momento político que Portugal atravessou depois da Revolução do Porto (1820). A influência das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, do Vintismo, a Independência do Brasil e a intensa atividade acadêmica e política que então vivia em Coimbra marcaram a sua formação cívica, levando-o à leitura de Rousseau, considerado um dos principais filósofos do Iluminismo e um dos precursores do Romantismo, e de Voltaire, conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, inclusive da liberdade religiosa e do livre comércio, além do convívio com alguns dos futuros vultos do movimento liberal em Portugal. Os anos em Coimbra foram decisivos e tiveram influência direta em toda a sua atividade política e literária futura. É nesse contexto que se torna amigo íntimo do brasileiro Manoel Alves Branco e do português Almeida Garrett, ambos depois viscondes, e quando escreve os seus primeiros versos: “Hino à tarde”, onde canta a saudade da pátria e da infância. O falecimento de Manoel Mendes da Silva, seu pai adotivo, ocorrido em 1824, e a falta de dinheiro para permanecer em Portugal forçaram Odorico Mendes a regressar ao Maranhão sem terminar a sua formatura em Medicina. Ele acalentava o sonho de regressar e terminar os estudos, mas a complexa situação política que encontrara em São Luís acabou por prolongar a sua presença, fazendo malograrem-se em definitivo os seus projetos acadêmicos. Odorico Mendes tinha nessa época 25 anos. Odorico Mendes chegou ao Maranhão quando a instabilidade resultante da Independência Brasileira (1822), ocorrida dois anos antes, levava ao aparecimento de tensões internas no Brasil e da Confederação do Equador, proclamada em Pernambuco e em outras Províncias setentrionais, num movimento republicano que é dura e cruelmente subjugado pelas armas imperiais, levando ao
fuzilamento e ao enforcamento público dos contrários, cujos episódios finais então se viviam. Mesmo sem ter participado diretamente da Confederação do Equador, o Maranhão foi duramente atingido pela guerra civil, cujos ânimos ainda não haviam arrefecido, quando da volta de Odorico Mendes. Incitado por amigos e pelo forte patriotismo, Odorico Mendes passa a redigir o jornal Argos da Lei, que faz oposição ao partido representado na imprensa por outros dois jornais dirigidos e redigidos por portugueses: O Amigo do Homem e Censor Maranhense, este último editado por João António Garcia de Abranches. Trava com estes fortes polêmicas que se prolongarão até o encerramento do Censor Maranhense, em maio de 1830, e a expulsão de seu redator para Portugal. A influência do Argos da Lei leva a que Odorico Mendes, poucos meses após a fundação do jornal, seja eleito como deputado pela sua Província, na primeira legislatura, em 1826, à primeira Assembleia Geral Legislativa do Brasil. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde se afirma como cultor das belas letras, político e jornalista. Integra a Falange Liberal e dá início a uma vigorosa e crescente oposição ao governo imperial, só interrompida em 1831, face ao desfecho da revolução que culminou na queda do primeiro Imperador. Orador eloquente, ganha reputação como deputado e como polemista ativo na Câmara e na imprensa. Liga-se nessa época a Paula e Souza, Freijó e Costa Carvalho, futuro Marquez de Monte-Alegre. Com a abdicação de D. Pedro I, a 7 de abril 1831, Odorico Mendes exerceu influência na escolha dos membros da Regência e votou em favor da manutenção da Monarquia. Embora acalentasse ideais republicanos, reconhecia a imaturidade das instituições para permitir a implantação imediata da República, até porque o recente exemplo do que aconteceu em Portugal após o período revolucionário de 1820-1822 recomendava cautela. De fato, a antiga Metrópole, depois dos tempos revolucionários do Vintismo, caíra nas mãos reacionárias do rei absolutista D. Miguel. Nesse período, escreve em vários jornais do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Maranhão, sendo colaborador do jornal O Constitucional, de Sotero dos Reis, no qual defendia a moderação e o abandono das antigas tensões e rivalidades entre portugueses e brasileiros, após a abdicação de D. Pedro I. Foi reeleito com ampla margem para um segundo mandato, agora obtido sem o apoio do governador do Maranhão. Em 1833, em plena Regência, concorre ao terceiro mandato e é estrondosamente derrotado. É o resultado da posição moderada que assumiu após a revolução, quando defendeu a anistia dos apoiantes do regime deposto e a manutenção da ordem constitucional, contrariando o revanchismo reinante. Embora a sua posição tivesse prevalecido, a moderação que demonstrou acabou por esmaecer-lhe o prestígio de político liberal que lhe devotava o Maranhão. Contudo, no ano seguinte, foi chamado para ocupar uma vaga deixada por um deputado que fora nomeado senador, regressando, assim, à Câmara. Terminado o mandato, passa a exercer funções na Fazenda, prosseguindo uma carreira direcionada ao jornalismo e à literatura. Em 1939, voltou à imprensa periódica, escrevendo com Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, depois visconde de Sepetiba, a Liga Americana, patriótico sonho inspirado pelo ressentimento de ofensa ao brio nacional. Durante alguns anos, foi inspetor da Tesouraria da Província do Rio de Janeiro e nessa função se aposentou. Depois de um longo hiato na atividade parlamentar, em 1845, já no Segundo Império, retornou à Câmara dos Deputados, agora eleito pela Província de Minas Gerais, e com Paulo Barbosa da Silva elaborou o projeto de reforma eleitoral, o qual, com algumas modificações, foi adotado oferecendo garantias e recursos a todos os partidos políticos. Exerce o mandato sem o arrebatamento que o notabilizara nas primeiras legislaturas, moderado pelo tempo e pela evolução política. Finda a
legislatura, em 1847, já viúvo e aposentado, com os cinco filhos e a irmã pelo lado materno, D. Militina Janser Müller, muda-se para a França, onde se dedica inteiramente à vida literária, abandonando em definitivo a atividade política. Humanista, jornalista polêmico, político e literato, o maranhense Manuel Odorico Mendes fez parte do círculo literário dos autores pré-românticos do século XIX, tornando-se personalidade marcante nos acontecimentos políticos, sociais e culturais desde o Primeiro Reinado. Foi admirador da literatura da Antiguidade Clássica e o primeiro brasileiro a traduzir na íntegra as obras poéticas virgilianas e as epopeias homéricas para o português. Com exceção da sua obra como publicista e jornalista, a grande maioria das produções literárias desta fase da vida de Odorico Mendes perdeu-se sem que ele tenha se esforçado em sua recuperação e arquivo. Ainda hoje, pesquisadores atentos e amantes do literato maranhense encontram partes ainda desconhecidas dos seus trabalhos em arquivos do Museu Imperial em Petrópolis que tratam de materiais catalogados, como “Estudos do Imperador”, que pertenceram ao Imperador Dom Pedro II, que tinha interesse pelas traduções de Odorico Mendes. Um projeto que Odorico Mendes há muito acalentava era verter ao português as obras-primas dos clássicos gregos e latinos, recriando na língua portuguesa a poesia deles. Como posteriormente declarou no prólogo da sua Eneida: “... Não possuindo o engenho indispensável para empreender uma obra original, ao menos de segunda ordem, persuadi-me, todavia, de que o estudo da língua e a frequente lição da poesia me habilitavam para verter em português a epopeia mais do meu gosto...”. Odorico era um poeta primoroso, mas de inspiração muito morosa, muito meditativa, e corrigida ainda antes de se produzir. Por isso, Odorico pouco deixou em composições originais, mas o seu Hino à Tarde é um canto admirável cheio de doçura, de enlevo, de doce melancolia e de verdade, que terá de atravessar os séculos, conservado pelo gosto mais puro. Para além do seu interesse pelos clássicos, interessou-se pela literatura francesa, publicando em verso português a tradução das obras Mérope (1831) e Tancredo (1839), ambas de Voltaire. Em 1860, publica em Lisboa um ensaio sobre a novela medieval O Palmeirim de Inglaterra, de Francisco de Morais, na qual prova a autoria portuguesa. Odorico era leitor de Morais desde a adolescência. Afora a produção jornalística, este ensaio, além das notas que escreveu às suas traduções, é a única publicação em prosa de Odorico Mendes. A partir de 1847, instalado na França e desligado da atividade política, dedica-se a transcriar em português os clássicos, começando por Virgílio. Odorico Mendes traduziu primeiramente o épico virgiliano, sob o título de Eneida brasileira, ou tradução poética da epopéia de P. Virgílio Maro (Paris, Tipografia Rignoux, 1854), numa edição que se esgotaria em quinze dias. Publicou, quatro anos depois, as Bucólicas e as Geórgias, em edição bilíngue, com as respectivas notas, numa cuidada edição de oitocentas páginas sob o título de Virgílio Brasileiro, ou tradução do Poeta latino (Paris, Tipografia de W. Remquet & Cia., 1958). A sua tradução de Homero teve edição póstuma: a Ilíada de Homero em verso português saiu em 1874, sob edição e revisão de Henrique Alves de Carvalho (Rio de Janeiro, Tipografia Guttemberg). Já a Odisséia em verso português, que escapou por um triz de extraviar-se, veio, depois, a ser a mais divulgada das traduções odoricanas: a primeira edição, integrando a Biblioteca de Autores Maranhenses, coleção que esteve aos cuidados de Humberto de Campos, é de 1928 e saiu no Rio de Janeiro pela Livraria Leite Ribeiro Freitas (Freitas Bastos & Cia). Uma segunda edição veio à luz em 1954 (São Paulo, Editora Atenas). Logo depois, em 1957, a terceira edição, sem notas e comentários do tradutor, apareceu na Bahia (Salvador, Livraria Progresso Editora). A quarta edição foi publicada em 1993 (São Paulo, Edusp, 1993). Do restante de sua obra, a Eneida foi reeditada, primeiro, numa publicação dos poemas de Virgílio, que reunia, além da sua tradução, a das Bucólicas, de Leonel da Costa, e a das Geórgicas, de Antônio Feliciano Castilho (São Paulo, Edições
Cultura, 1943. Série Clássica de Cultura, “Os mestres do pensamento”, v. 26). Depois, em 1995, foi publicada em São Luís, pela Editora de Universidade Federal do Maranhão, uma edição do Virgílio Brasileiro ou Tradução do Poeta Latino (EDUFMA, 1995) por Duarte (1995, p. II). Odorico Mendes foi Comendador da Ordem de Cristo e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa. É patrono da Cadeira 17 dos sócios-correspondentes da Academia Brasileira de Letras, fundada por León Tolstöi, e da Cadeira 15 da Academia Maranhense de Letras, fundada por Godofredo Viana. Depois de uma vida dedicada à política e à literatura, Odorico Mendes faleceu no dia 17 de agosto de 1864, dentro de um vagão de passageiros da linha férrea de Londres, quando vinha com a sua irmã D. Militina da localidade de Norwood, próximo ao Palácio de Cristal, onde haviam jantado na casa do Sr. Alexander Reid, antigo amigo, com quem travara relações no Brasil. Ele foi sepultado no cemitério de Kensal-Green. Gonçalves Dias, então em Paris, escreveu uma carta para o Maranhão, transcrita pelo Jornal do Comércio de 16 de outubro de 1864, que fala da perda irreparável da morte de Odorico Mendes, sem saber que dali a alguns dias iriam se encontrar nos reinos do Céu, pois viria a falecer em 3 de novembro daquele mesmo ano. Franklin Américo de Menezes Dória, presidente da Província do Maranhão, através da Lei nº 809, de 25 de junho de 1867 – quadragésimo sexto ano da Independência e do Império –, autorizou e mandou transladar de Londres para esta capital os restos mortais de Odorico Mendes e Gomes de Sousa. O mesmo governo despendeu os recursos necessários para a transladação e para a colocação de lápides na capela-mor da igreja de N. S. do Carmo. Apesar dos esforços do presidente da Província, Odorico Mendes só foi transladado de Londres em 1913. Os ossos do tradutor de Homero descansam sob um pedestal estilizado, onde se encontra assentado o seu busto, de frente para a Rua dos Remédios, que foi inaugurado em 1905, em uma praça que lhe leva o nome, em São Luís, localizada entre as ruas dos Remédios e das Hortas. A Praça Odorico Mendes foi assim denominada desde 14 de julho de 1901. As duas lápides de mármore branco que figuravam no túmulo do poeta em Londres foram transportadas para cá e estão colocadas na parte inferior do pedestal, contendo as seguintes descrições: "Manoel Odorico Mendes. Exímio poeta brasileiro. Político e patriota extremo. Transladou Homero e Virgílio em fiel conciso verso português. Nasceu no Maranhão (Brasil) a 24 de Janeiro de 1799. Morreu em Londres a 17 de Agosto de 1864". Em 1930, a praça passou por completa reforma: nova disposição dos canteiros, iluminação subterrânea e postes de concreto. Somente em 1959, porém, com a administração do prefeito Ivar Saldanha, ela tomou feição moderna e cuidada. Odorico Mendes contou, entre seus descendentes, com uma neta famosa, a francesa Laure Thérèse Cros, filha de Leonilla Mendès e Teixeira e do Rei Antoine Hippolite Cros III, Rei da Araucânia e da Patagônia, que, com a morte do pai, tornou-se Laure Therese IV, Rainha do Reino da Araucânia e da Patagônia. A Rainha Laura Thérèse reinou de 1 de novembro de 1903 até 12 de fevereiro de 1916 e faleceu em 12 de fevereiro de 1916. Odorico Mendes contou também com um trineto famoso, o escritor francês Maurice Samuel Roger Charles Druon, que visitou o Brasil e o Maranhão por duas vezes, nos últimos anos, a convite do escritor e acadêmico José Sarney, que o recebeu na Academia Brasileira de Letras e por quem foi recebido na Academia Francesa. Nas duas ocasiões, em São Luís, visitou a Aliança Francesa e a Academia Maranhense de Letras. Na primeira vez, ao visitar a Praça Odorico Mendes, ajoelhou-se, respeitoso e emocionado, diante do busto do trisavô ilustre.
Nascido em Paris, em 23 de abril de 1918, Maurice Druon era sobrinho do escritor Joseph Kessel, com quem escreveu o Canto dos Partidários, que servira de hino aos movimentos da Resistência durante a Segunda Guerra Mundial. O autor de Os Reis Malditos passou a sua infância na Normandia e fez os seus estudos secundários no Liceu Michelet. Laureado do Concurso Geral (1936), começou a publicar, à idade de 18 anos, em revistas e jornais literários e, ao mesmo tempo, era aluno de Ciências Políticas (1937-1939). Aluno Oficial de Cavalaria na Escola Saumur (1940), participou da Campanha da França. Após a sua desmobilização, permaneceu na zona livre e lá fez representar a sua primeira peça, Mégarée. Durante a Segunda Guerra Mundial, combateu no interior da França até o momento do Armistício (1941). Ingressou, então, nas forças da Resistência, deixando a França em 1942, atravessando clandestinamente a Espanha e Portugal para inscrever-se nas fileiras dos serviços de informações da chamada "França Livre", em Londres, trabalhando com De Gaulle. Torna-se Ajudante de Campo do General François de Astier do Vigerie, seguidamente é elevado ao posto "Honra e Pátria", antes de ser encarregado da missão, para o Comissariado do Interior e da Informação; é também correspondente de guerra junto dos exércitos franceses, até o fim das hostilidades. A partir de 1946, consagra-se a sua carreira literária, recebendo o Prêmio Goncourt (1948) por sua novela As Grandes Famílias e diversos prêmios prestigiosos pelo conjunto da sua obra. Era conhecido mundialmente pela sua única obra infantojuvenil, "O menino do dedo verde", publicada em 1957. A 8 de dezembro de 1966, foi eleito, na Academia Francesa, à Poltrona 30, sucedendo Georges Duhamel. Além disso, foi Secretário Perpétuo dessa instituição, a partir de 1985, mas escolheu em 1999 renunciar a esta última função, cedendo o lugar a Hélène Carrère de Encausse. Foi Ministro dos Negócios Culturais durante os anos de 1973 e 1974 e deputado de Paris de 1978 a 1981. Maurice Druon recebeu a Grande-Cruz da Legião de Honra, era Comendador das Artes e das Letras e titular de muitas outras condecorações. Em 2 de março de 2007, torna-se decano da Academia Francesa, devido à morte do então decano, Henri Troyat. Maurice Druon, depois de escrever dúzias de livros entre 1942 e 2007, faleceu em Paris a 14 de abril de 2009. Por tudo que realizou no seu tempo, não temos dúvida de que havia muito de Odorico Mendes na herança genética de Druon. Seus passos no caminho parecem um pouco da vida pregressa do grande tradutor de Virgílio que nos deixou a pérola da paixão à terra encantada que não voltaria mais a ver: Tarde serena e pura, Que lembranças Não nos vens despertar no seio d’alma? Amiga tenra, Dize-me, Onde colhes O bálsamo que esparges nas feridas Do coração? Que apenas dás rebate Cala-se a dor; Só geras no imo peito Mansa melancolia, Qual ressumbra Em quem sob os seus pés tem visto as flores Irem murchando, E a treva do infortúnio Pouco a pouco Ante os olhos Condensar-se.
Vida longa a Odorico Mendes! Obrigado.
ALL NA Mテ好IA
CIRCULO DE FUEGO REVISTA DE LITERA LITERAT ITERATURA / EDICION NO VENAL / PERU Año 5 / Nro. 24 - Diciembre 31 del 2014 Director: Feliciano Mejía Director de arte: Diego Lino Editor: Roberto Ortega Año 5 / Nro. 24 - Diciembre 31 del 2014 Una publicación del Movimiento Amaro - amaro.editorial@gmail.com Calle Valladolid 189 – Lima 12 – Perú
AQUÍ, con emoción y alegría, cerrando el año 2014, los poemas de una gran poeta brasilera: poemas de amplio registro: ningún tema, existencial o cotidiano, didáctico o ético, deja de mirar la poeta. Con una constante: serenidad y ternura. Ello aunado a una formidable fuerza de animadora cultural a todos los niveles, hacen de su quehacer un poderoso motor de impulso cultural en el Brasil. De ahí nuestro regocijo. EL DIRECTOR
DILERCY (ARAGÃO) ADLER71 FIOS INVISÍVEIS Fios invisíveis que tecem ideias libertam fantasmas saciam a alma!!... palavras em fios invisíveis que se amarram entre si cimentando ideias aprisionando sonhos em castelos jardins sempiternos cavernas com seus tons bizarros que assustam e matam de medo muita gente! ah! palavras minhas palavras tuas palavras nossas palavras que sejam benditas! que sejam divinas! dividindo e multiplicando
71
São 24 páginas, e 10 poemas. Contém currículo...
a Paz na Terra!!!
CONTRADIÇÃO Gosto amargo na boca aperto no coração suores nas mãos... nada disso combina com este ensolarado dia de inenarrável verão!!!
LIVRO Que livro é esse que está em tuas mãos? para que o lês? para que te serve? pra que servem os livros? pra que tanta instrução - se não revelarmos ao outroo que nos vem ao coração? Aqui está o meu livro entrego-te de pronto ponho todo ele em tuas mãos plenamente aberto com todas as suas páginas sem nenhuma restrição!
NÓS O maior inimigo do amor é o tédio o maior elemento do amor é o desejo! desejo... lampejo... ardente... incandescente... pra sempre em nós!!! Dilercy (Aragão) Adler. Nasceu em São Vicente Férrer/MA/Brasil, em 07/07/50. É Psicóloga-CEUB/DF, Doutora em Ciências Pedagógicas-ICCP/CUBA, Mestre em Educação UFMA/MA e tem Especialização em Sociologia- UFMA/MA e Especialização em Metodologia da Pesquisa em PsicologiaUFMA/MA . Aposentada da UFMA. Atualmente é professora da Graduação e Pós-graduação da Faculdade Candido Mendes do Maranhão-FACAM e do Instituto Maranhense Diversidade CientíficaIMDIC. Integra o Banco de Avaliadores do Sinaes - BASis/INEP. Publicou: “Crônicas & Poemas Róseos-Gris”, em 1991, São Luís/MA; ”Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário”, em 1997, Rio de Janeiro/RJ, “Arte Despida”, São Luís/MA, 1999, “Genesis-IV Livro”, São Luís/MA, 2000, “Cinqüenta vezes Dois Mil human(as) idade(s)”, São Luís/MA, 2000 “Seme...ando dez anos”, São Luís/MA, 2001, “Joana Aragão Adler: uma história de amor e de fé...uma história sem fim...”, São Luís/MA, 2005; “Desabafos... flores de plástico... libidos e licores liquidificados”, em 2008, São Luís/MA; “Uma história de Céu e estrelas”, São Luís/MA, 2011; “Poesia feminina: estranha arte de parir palavras, São Luís/MA,
2011; TINKUY (Juntamente com o poeta peruano Feliciano Mejía), 2012, Lima/Peru”. É organizadora da Exposição (poesia e fotografia-100 poemas-posters de 61 poetas maranhenses) e Livro “Circuito de Poesia Maranhense” (1995/1996); ainda das Coletâneas Poéticas: “LATINIDADE-I, LATINIDADE-II, LATINIDADE III e IV da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, (1998/2000/2002/2004) “Mil poemas para Gonçalves Dias” e “Sobre Gonçalves Dias” (2013). LIVROS (ACADÊMICOS) PUBLICADOS: “Alfabetização & Pobreza: A escola comunitária e suas implicações” São Luís-MA: Estação Produções/2002. “Carl Rogers no Maranhão: Ensaios Centrados” (org.) - São Luís/MA: Estação Produções 2003. “Tratamiento Pedagógico de los valores Morales: de la comprensión teórica a la práctica consciente” -São Luís/MA: Estação Produções, 2005. Organizou cinco antologias poéticas e tem participação em mais de cem antologias nacionais e internacionais. Já recebeu vários prêmios, troféus e menções honrosas por trabalhos poéticos e culturais. É membro das Entidades que seguem: Membro fundadora e Vice-Presidente da Academia Ludovicense de Letras - ALL, ocupando a Cadeira de nº 8. Titular da Cadeira Nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM. Presidente fundadora da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão_SCL-MA, Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil e Senadora da Cultura do Congresso da SCL do Brasil. Titular da cadeira nº 13, patronímica de Henrique Coelho Neto do Quadro II, de Membros Correspondentes da Academia Irajaense de Letras e Artes-AILA, Rio de Janeiro; Membro Correspondente da Academia de Letras Flor do Vale Ipaussu/São Paulo; Diretora Estadual da Federação Brasileira de Alternativos Culturais e Membro Correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Comissione di lettura Internazionale da Edizioni Universum, Trento/Itália; International Writers And Artists Association-OHIO/EUA; Casa do Poeta do Rio de Janeiro; Associação Profissional de Poetas e Escritores do Rio de Janeiro-APPERJ; Associação dos Escritores do Amazonas- ASSEAM; Coordenadora Estadual no Maranhão do Proyecto Sur–Cuba; Correspondente-representante, em São Luís/MA do LITERARTE- São Paulo; Representante da aBrace no Estado do Maranhão; Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores-Regional Maranhão-SOBRAMES-MA; Corresponsal Internacional da Sociedad Argentina de Letras, Artes y Ciencias - S.A.L.A.C. Representante no Brasil do Periódico Porta Dell Uomo- Itália. Socia y Miembro Correspondiente de la Unión de Escritores y Artistas de Tarija-Bolívia. Grado Honorífico de Embajadora Universal de la Cultura del Estado Plurinacional de Bolivia: Gobernacion del Departamento de Tarija; Honorable Concejo Municipal de Tarija, Univerdidad Autonoma “Juan M. Saracho”, Unión de Escritores y Artistas de Tarija (UEAT), Union Latinoamericana de Escritores (ULATE) en Reconocimiento a la Produción Literaria, Educativa y Artística. Membro e Laureada pela Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture. Delegada Cultural em Maranhão-Brasil do Liceo Poético de Benidorm (Espanha) e Embaixadora do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz.
REGIANA TAVARES - DESVELO DE UM MUNDO ESPECIAL À GUISA DE APRESENTAÇÃO Eu tenho vários dons, de fazer mensagens bonitas, e fazer alguns trabalhos que não ficam muito bonitos, mas eu faço. Regiana Tavares
Sinto-me honrada em tecer algumas considerações sobre este livro, para que o leitor, a partir de um conhecimento maior acerca de algumas condições específicas da nossa sociedade, da nossa humanidade e da nossa autora, possa degustar com mais intensidade as palavras desta obra que são urdidas nem sempre com fios verticais, mas que consegue de forma contundente fazer a trama, o enredo de toda uma vida, por fim desvelada, de forma leve e perspicaz, o que talvez escape ao leitor desavisado. Por isso, a premente necessidade de iniciar esta apresentação pela gênese da história deste livro. Estava eu em Guimarães, mais uma vez, depois de ter sido levada pelas mãos imortais de Gonçalves Dias, e adentrando na cidade pela generosidade inicial do atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães, IHGG, o ilustre professor Osvaldo Gomes, e posteriormente da prefeita Nilce Farias e de todo o povo vimarense (que, diga-se de passagem, é um povo hospitaleiro e de grande amabilidade). Na ocasião estávamos comemorando o aniversário de 189 anos de Maria Firmina, lançando o Projeto dos “Cento e noventa poemas para Maria Firmina”, que inclui duas publicações: uma de poemas e outra de estudos e pesquisas, em homenagem a essa grande escritora ludovicense, que passou a maior parte da sua vida em Guimarães. A programação foi realizada em São Luis e em Guimarães, e como parte da programação de Guimarães estava a criação da Academia Vimarense de Letras – AVL. Muita gente reunida: autoridades, estudantes, professores e comunitários. Muitas falas, sorrisos, alegria! Era uma manhã de domingo ensolarada, como a maioria das manhãs do Maranhão. Entre o público, uma jovem mulher de aspecto frágil, mas, ao mesmo tempo, revelando força, coragem, ousadia. Falava dos seus trabalhos de literatura e assinou o Livro de Ata dos membros fundadores da AVL. Regiana Tavares chamou a atenção da professora e escritora Vanda Salles, membro correspondente da Academia Ludovicense de Letras-ALL, que lá estava juntamente com o acadêmico José Neres, para proferirem palestras sobre Maria Firmina. As duas conversaram muito, e eu fiquei admirando a beleza do encontro entre pessoas que se acolhem de forma incondicional como deveriam ser todos os encontros entre as pessoas... Todas as pessoas! Conversamos um pouco sobre os trabalhos da Regiana e tanto a Vanda como eu intercedemos para que o seu trabalho fosse publicado. E este livro significa isso!!! Essa grande vitória de Regiana Tavares, que, a despeito de todas as barreiras, consegue hoje realizar o seu sonho e faz parte do meu também, no sentido de que defendo a possibilidade de partilhar com o nosso coletivo os nossos pensamentos, nossos sentimentos e nossos desejos, para que conheçamos mais profundamente a alma humana: a minha e a do outro. Regiana Tavares reforça neste livro de prosa e poesia a ideia de que Nada acontece por acaso. Assim, entendo que aquela manhã de domingo estava entre os fatos que tinham que acontecer embalados pelo encantamento de Gonçalves Dias e Maria Firmina. O viés mais forte desta obra é o sentimento. As ideias não são trabalhadas em termos de erudição ou sofisticação literária, mas de uma forma simples, coloquial. E uma a uma vão traduzindo de forma contundente as marcas da dor da rejeição materna; a beleza da união possível entre um homem e uma mulher na contramão da agressão ainda sofrida por muitas mulheres por parte de seus
companheiros; a questão do poder das autoridades e dos deveres e direitos, embora às vezes contraditórios; a necessidade de igualdade real e concreta entre as pessoas, de modo que o preconceito e o desejo de dominar o outro fiquem sem vez de expressão. Outra característica desta obra, que me provoca inusitada comoção, é a clara e vigorosa Ousadia e incontestável Fé. Fé no sentido da certeza, da convicção da realização do fato ou da existência daquilo que não se vê como dito em Hebreus 11:1: A fé consiste em realizar o que se espera, é uma certeza do que não se vê. Foram a Fé, a coragem, a ousadia, sem dúvida, que moveram Davi na defesa do seu povo contra o gigante dos Filisteus. Também depreendo essas qualidades neste trabalho da Regiana. Ela mesma se coloca como uma mulher guerreira, que luta pelos seus direitos, e o seu grito é ouvido e isso é bom! “[...] o verbo nos muda/ o verbo deixa-nos mudos! (ADLER, 2000). Neste caso o verbo é gritado para ser ouvido e empreender mudanças... Este livro é uma prova disso! Convém enfatizar que para a produção literária é imprescindível sensibilidade, inspiração e exercício na ação de tecer os fios invisíveis e imprevisíveis das palavras impregnadas de sonhos, desejos, delírios, loucuras, dor, amor e amor, muito amor, no fim de tudo... Sempre amor! Traduzir o mundo de forma crua ou romântica, com suavidade ou pesada obsessão, transformada em leveza suprema e insustentável do ser-no-mundo... Isso configura o desafio do poeta. O poeta não nasce pronto. Nasce com o potencial para sê-lo, e o coletivo tem fundamental importância nessa tarefa, considerando que é o coletivo que aprova, aplaude ou refuta tudo que lhe é apresentado. Quero estar no público que reforça positivamente, não por irresponsabilidade ou benevolência, mas por reconhecer as preciosidades mesmo ainda quando não totalmente lapidadas. Neste caso específico vejo um diamante que está à minha frente e quero juntar as minhas mãos às de Regiana para, quem sabe, me inspirando em César Maranhão (ADLER; MARANHÃO, 2015), juntas cavarmos uma cacimba para aplacarmos na urgência da sede de alguns, essa necessidade... Necessidade de beber amor, beber vida, beber dor, sorver denúncia, ruminar a revolução necessária para um mundo mais humanizado de fato!!! Regiana Tavares coloca num dado momento de suas reflexões: A minha presença pode causar-lhe alegria ou tristeza. Você fica feliz quando eu chego ou quando saio? Para finalizar deixo a pergunta: A leitura deste livro causou-lhe prazer? Aguçou a sua sensibilidade? Redirecionou o seu olhar para situações e objetos até então ignorados? Conseguiu identificar os vários tons da mesma cor? Foi capaz de se embevecer com várias notas musicais em diferentes combinações de novas sinfonias? A sua resposta só você tem. A minha deixo aqui registrada: Esta leitura a mim só fez bem!!! Dilercy Adler Vice –Presidente da Academia Ludovicense de Letras-ALL São Luís/MA, 11 de janeiro de 2015.
BOLETIM INFORMATIVO DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS JURÍDICAS Nº 2 - Ano 1 | Novembro - Dezembro | 2014 NOTÍCIAS ACADÊMICAS 1 - A Promotora de Justiça e escritora Ana Luiza Almeida Ferro, membro efetivo da AMLJ, da qual foi Presidente no biênio 2011-2013, sócia do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) e membro fundador da Academia Ludovicense de Letras (ALL), participou da cerimônia de premiação da Accademia Internazionale Il Convivio, da Itália, a qual teve lugar na cidade de Giardini Naxos, na província de Messina, Sicília, naquele país, no dia 26 de outubro de 2014. O livro Quando: poesias (São Paulo: Scortecci), da jurista e poeta, logrou o segundo lugar no Premio “Poesia, Prosa ed Arti figurative”, Sezione Stranieri, categoria "Libro edito in portughese", promovido pela academia referida.
2 - Na oportunidade, ela recebeu diplomas e um troféu. Trata-se de premiação internacional no campo das letras e das artes. A cerimônia foi exibida pela TVR (Randazzo), canal 285, e está disponível no Youtube. O site da Accademia é www.ilconvivio.org. O concurso relativo ao Premio “Poesia, Prosa ed Arti figurative”, em sua edição 2014, teve 978 participantes, dos quais 892 eram italianos e 86 de outras nacionalidades (franceses, espanhóis, argentinos, portugueses, brasileiros).
FESTA DE REIS E DE SÃO SEBASTIÃO Por Leopoldo Vaz • quarta-feira, 07 de janeiro de 2015 às 14:42
BLOG DO LEOPOLDO VAZ http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/01/07/festa-de-reis-e-sao-sebastiao LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ[1] Academia Ludovicense de Letras Como toda cidade do interior, Paraibano[2] tinha suas festas. As festas religiosas dedicadas a um santo, e as festas populares realizadas quando de alguma data significativa. O primeiro registro dessas manifestações foi a Festa de São Sebastião, comemorada por cerca de dez dias no mês de Janeiro. Havia duas festas em devoção a São Sebastião. A “oficial”, de 10 a 20 de janeiro promovida pelos moradores da localidade, com os “Paraibanos”[3] à frente, e a “oficiosa”, promovida por Dona Noca[4], no período de 21 a 30 de janeiro. A existência das duas festas é um fato, mas o porquê da existência de duas, é desconhecido. Sabe-se que Dona Noca briga com o Padre Constantino[5], que a promovia, e passa a realizar uma segunda, na semana seguinte. Pura provocação… Em sua festa mandava montar carrossel, mandava levantar um mastro e trazia ‘raparigas’, “carradas de mulheres, só para insultar os Paraibanos”, no dizer do Sr. Valentim, morador do Marajá[6]. Manetinha[7] também se refere às festas de São Sebastião. Informa que tinha todo tipo de animação: carrossel, jogo de baralho, roleta. Havia um ônibus, que vinha ou de Teresina ou de outra cidade grande da região, a que chamavam “Galinha” que promovia passeios, da porta da igreja até o “João Leite” numa distancia de três quilômetros, ao preço de um cruzado. As festas folclóricas, com cunho religioso, realizadas geralmente próximas ao Natal e ao dia de Reis – Festa de Reis e Lapinha. Os Reis eram liderados por Belchior Araujo, que catava o ‘reis’ por escala; a lapinha, por Maria Dantas Brito[8]. Passemos a descrição dessas manifestações, na entrevista de Manetinha, do qual participou Rosely Brito Agostinho – Rosinha[9] – filha de Antonio e Mariquinha[10]. Percebe-se a riqueza dos detalhes e a nostalgia de um tempo que já se foi: “RA – A Lapinha constava das Pastoras, que era, por exemplo, fazia duas filas, cinco pastoras de cada lado; atrás das Pastoras vinham que representava a Borboleta, quem representava os três Reis, quem representava as Baianas, quem representava Mercúrio e cada um tinha uma musica que representava aquilo; por exemplo, eu representava a Borboleta… CC – Tu sabes a música… RA – Não sei, mas todo ano era a Borboleta; eu chorava porque queria participar… Era como o Reis, logo depois do Natal… Mais na zona rural, mas Maneta esqueceu-se de dizer o seguinte, a festa de Reis, diziam, era uma promessa; e aí vinha uma pessoa com uma sanfona, e lês tiravam musica e a gente estava dormindo; e eles começavam a cantar de porta em porta, depois das dez da noite; eu me lembro que a musica começava assim: Santo Rei, Santo Rei Santo Rei do Oriente Que mandou que cá viesse … mais ou menos assim… (CC –) Santo Rei mandou dizer Que a sua esmola desse…
RA – ai demorava a abrir a porta, pois muita gente gostava de ouvir aquilo; ai eles colocavam na musica, era como se fossem esses cantores repentistas, que vão cantando e ia citando que tinha mais gente para visitar… CC – era os Reis, eram pessoas, poetas, como nós vemos aqui em São Luis, são criadores de toadas de boi; de seu intimo… Muitas vezes não sabem ler, não sabem nada; então o Reis era dessa maneira… Ó de casa, ó de fora Lá de dentro, nobre gente, Tá chegando em vossa porta Santo Rei do Oriente… Era uma emoção que se tinha; hoje, com as mudanças dos tempos, acabou; acompanhava pessoas para animar, quer dizer, chamava Careta; quando você abria a porta para entrar a pessoa do Rei, chegava um cara com um bastão, vinha abusando, pedindo cachaça; você tinha que levar na esportiva… (a musica da Borboleta) Borboleta bonitinha Sai fora e vem dançar Ta-ra-raHoje é dia de Natal… RA – Eu sei que todo lugar o povo pedia a Borboleta, porque as Pastorinhas pediam para dar passagem para a gente e essas outras partes que tinhao representante, o Mercúrio, era de acordo com o que o dono da casa pedia e tinha dia que aborrecia poruqe o povo som pedia a Borboleta…”.
Ainda hoje, segundo Ribeiro (2002) [11] no período natalino se paga promessas dos Santos Reis, onde os bons de violas, pifes, acordeons, cantores improvisam quartetos, lembrando a visita feita pelos Reis Magos ao Menino Jesus, louvando os donos da casa. A Autora traz como exemplo a seguinte musica: “Oi de casa, oi de fora, Lá de dentro nobre gente É chegado em vossa casa Santo Reis do Oriente Deus lhe pague sua esmola Nossa Senhora lhe abrace No céu entra quem merece Quem Deus caiu em graça”. (Autor desconhecido).
Sobre aqueles músicos, que faziam as toadas para os Reis e a Lapinha, há a lembrança de Belchior Araujo; os irmãos Mariano Araujo Lima e Raimundo Nonato Lima; José Pereira Lucena; Aristides Pereira Lucena. Alguns ainda cantam Reis, pagando promessas. Além dessas festas, uma na zona rural (Reis) e a outra na zona urbana (Lapinha), que se apresentavam a noite, logo após o período do Natal, havia a Festa do Divino Espírito Santo, que acontecia nos meses de agosto e setembro, durante o dia. Tinha o Bumba, a Bandeira. O dono da casa quem levava a bandeira, e cantava junto com o repentista. Passavam por toda a casa, com a Bandeira (o Divino Espírito Santo), a Caixinha, e as pessoas iam a todos os cômodos da casa, começando pelos quartos, cantando nos cantos; se davam esmolas. Na casa onde era realizada, previamente agendada, se servia bolo, café, e as esmolas.
A Festa do Divino Espírito Santo é feita com muita fé conduzindo a cada lar cristão a imagem e o tradicional estandarte, conforme informa Ribeiro (2002, obra citada). Aos sons de violas e pifes, cantadores improvisam quartetos lembrando a visita feita pelo Anjo São Gabriel a Nossa Senhora, louvando os donos das casas a darem suas esmolas. Exemplo: “Oh meu Divino Espírito Santo (bis) Divino consolador (bis) Consolai as nossas almas (bis) Quando deste mundo for (bis) Deus vos salve altar bento (bis) Onde Deus fez a morada (bis) Onde mora o cálice bento (bis) E a hóstia consagrada (bis). (Autor desconhecido)
Festeja-se, ainda, São Gonçalo e São Benedito, com rodas de danças formando círculos de homens e de mulheres avançando um passo e recuando o outro; os homens batendo com uma colher em garrafas e cumbuca de coité, em sons ritmados, trinados das violas, cantando em frente ao altar dos santos, conforme descrição de Ribeiro (2002, obra citada): “São Gonçalo do Amarante Feito de cedro cheiroso Dizei-me meu são Gonçalo São Gonçalo do Amarante É meu santo protetor É uma estrela brilhante Afilhado do nosso senhor Em cima daquela mesa Alumeia diamantes De longe bem me parece Com São Conçalo de Amarante É um santo Pretim (bis) No meio dos outros É o mais bonitim”. (Autor desconhecido).
Havia, ainda, os bailes e comemorações, realizadas nas casas daquelas famílias de melhor posição social na cidade. Comemorava-se um casamento, um aniversário. Procurava-se uma das famílias com bom conceito social, e que tivesse uma sala grande, que comportasse os convidados e ali se realizava um baile, tocado pelo acordeom. Na época, existiam pessoas que tocava harmônica, como o Sr. Valentim Florêncio de Carvalho, do Marajá. Essas festas eram realizadas na casa de Manoel Coelho de Sousa (no Sobrado, adquirido de Antonio Paraibano); na casa de Neuton Noleto de Sá, Miguel Reinaldo dos Santos, conforme lembra Manetinha. Algumas vezes, vinha uma orquestra tradicional, com doze músicos, de São João dos Patos ou de Floriano. Os bailes populares devem datar do inicio do povoado, pois o Sr. João Furtado de Brito lembra-se de uma dessas festas, realizada entre 1936 e 1942 (não lembra com certeza a data…) quando a cidade, segundo ele, começa a se modernizar. Era costume, nessa época, as mulheres usarem o óleo de coco babaçu para armar os cabelos. Quando começavam a suar, começava a escorrer e a cheirar mal. Para frequentar esses bailes, as mulheres se serviam de costureiras, como Dorelice de Freitas Brito, Maria Raimunda Coelho (Dona Dica); para os homens, havia os alfaiates: José Osório Lima, Venâncio da Silva, Raimundo Noleto…
Além daqueles cantadores que faziam as toadas para essas festas, havia os poetas e o maior de todos era Adão Lopes de Sousa[12]. Há lembrança de uma de um de suas musicas, composta em 1953, quando foi a São Luis: “Eu trabalho e faço tudo Pra viver na Capital Lá a vida é uma beleza, Que a vida é colossal. Tem médico e doutor, Enfermeiro e zelador, Consultório e hospital. Tem automóvel e caminhão, Bonde e avião, Tem o tráfego de trem, Outros transportes além, São marítimos e fluvial. Tem fé em São Severino Que conserve o meu destino Meu desejo é imortal.
Manetinha[13] nos relata como eram essas viagens a São Luis, ainda nos anos 1950. Conta que Adão Lopes de Sousa, genro de Quintino Paraibano, foi a São Luis no ano de 1953, onde passou uma semana. Para se chegar a São Luis, gastava-se quatro dias, indo a Floriano, de La para Teresina, e em Teresina tomava-se o trem para São Luis. NOTAS [1] VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito; SANTOS, Eliza Brito Neves dos. HISTÓRIA(S) DE/DE PARAIBANO (memória oral). São Luis: 2009 (inédito). VAZ, Delzuite Dantas Brito. HISTÓRIA DE PARAIBANO NA MEMÓRIA ORAL: da chegada de Antonio Paraibano a Brejo – município de Pastos Bons – à fundação da cidade de Paraibano. Monografia de Graduação em História. São Luís: UFMA, 1990. Orientador: João Renor Ferreira de Carvalho. SANTOS, Elisa Brito Neves dos. DEPOIMENTOS. Entrevista concedida a VAZ, Delzuite Dantas Brito. HISTÓRIA DE PARAIBANO NA MEMÓRIA ORAL: da chegada de Antonio Paraibano a Brejo – município de Pastos Bons – à fundação da cidade de Paraibano. Monografia de Graduação em História. São Luís: UFMA, 1990. Orientador: João Renor Ferreira de Carvalho. CAMPOS, Clodomir Lima. DEPOIMENTO. Entrevista concedida a VAZ, Delzuite Dantas Brito. HISTÓRIA DE PARAIBANO NA MEMÓRIA ORAL: da chegada de Antonio Paraibano a Brejo – município de Pastos Bons – à fundação da cidade de Paraibano. Monografia de Graduação em História. São Luís: UFMA, 1990. Orientador: João Renor Ferreira de Carvalho VAZ, Loreta Brito; VAZ, Louise Brito. Sobre Paraibano – Maranhão. O IMPARCIAL, São Luís, segunda-feira, 10 de abril de 2000, Caderno Opinião. VELOSO FILHO, José Ribamar. HISTÓRIA E VIDA DE PARAIBANO. Paraibano: Secretaria de Educação; São Luís: Secretaria Estadual de Educação, 1984. [2] Paraibano é uma cidade do interior do Maranhão, fundada por Antonio de Brito Lira, Toninho ou Antonio Paraibano, migrante pernambucano que se estabeleceu na região de Pastos Bons na década de 1920. Cabe lembrar que não só Paraibano surgiu da saga de Antonio de Brito Lira e seus filhos; Sucupira do Norte também foi fundada pelos “Paraibanos”. O município de Paraibano está localizado a margem da BR-135, a 540 km de São Luis, capital do estado do Maranhão, situado na região das Chapadas do Alto Itapecuru, com área de 535 km2. [3] Família de Antonio de Brito Lira – o Paraibano. Embora tenha recebido essa alcunha, era natural de Taquaritinga, naquela época municipio de Surubim – Pernambuco. A família tem início com o casamento de um Senhor de Engenho, casado com uma portuguesa, da qual descendeu Francisco de Brito Lira. De seu casamento com Ana Maria da Conceição nasceram vinte filhos, dos quais sobreviveram dezoito e, destes, tem-se notícias apenas de ANTONIO (Antonio Paraibano); JOSÉ (Zé de Brito); JOAQUIM; JOÃO; FIRMINO;QUINTINO; FLORENTINO; ANTONIA; CONCEIÇÃO; JOSEFA; JOAQU INA. Acompanharam Antonio Brito Lira, além dos filhos, outros membros de sua família – irmãos e sobrinhos – que também se instalam na região a medida que o povoado começa a se desenvolver em torno das casas que
constroem. Chega sua mãe, a Sra. Ana Maria da Conceição que morava em Surubim, depois Lagoa do Arroz. Um irmão, José de Brito, que adquire uma gleba de terra de Vitorino Fernandes, filho de José Fernandes. Essa gleba se chamou “Chapada do Zé de Brito”. Mais tarde, chegaram outros irmãos – Quintino de Brito Lira, Florentino de Brito Lira; e Antonia de Brito Lira – Totonha -, esta veio se localizar na Ponta da Serra. Sobrinhos, como João Furtado de Brito. [4] Joana da Rocha Santos, conhecida como “A Rainha do Sertão”. [5] Padre Constantino Vieira. Líder religioso, além de padre, era Juiz de Direito, Delegado de Policia, Médico. A mulher brigava com o marido, ia pedir uma opinião a ele. Foi um dos maiores oradores sacros do Maranhão, ombreando com Vieira. [6] VALENTIM FLORENCIO DE CARVALHO, entrevista concedida em 12 de abril de 1990, no Bairro do Marajá, em Paraibano-MA. Seu Valentim nasceu no Marajá, em 1905. [7] Como é conhecido o Sr. Clodomir Lima Campos; nasceu no povoado Cana Brava; casado com Raimunda Brito Campos, filha de Bernardino de Brito Lira. [8] Mariquinha, viúva de Antonio Paraibano, mãe de Delzuite Dantas Brito Vaz, Del. [9] Rosinha é filha de Antonio de Brito Lira, de seu segundo casamento, com Mariquinha. Nasceu no Brejo do Paraibano. [10] CAMPOS, Clodomir Lima. DEPOIMENTOS. In VAZ, 1990, obra citada. [11] RIBEIRO, Sandra Maria. PERFIL ECONOMICO, POLITICO E CULTURAL DO MUNICIPIO DE PARAIBANO. São Luis: UFMA, 2002. Monografia apresentada a disciplina de Geografia do Maranhão do Curso de Geografia da UFMA para obtenção da terceira nota. (Miniografado). [12] Genro de Quintino de Brito Lira. [13] (CAMPOS, Clodomir Lima. DEPOIMENTOS, in VAZ, 1990, obra citada).
ANTOLOGÍA MUNDIAL “UN TREN CARGADO DE SUEÑOS”
NOME DA AUTORA: DILERCY ARAGÃO ADLER (Como deve ser publicado DILERCY ADLER):
MINI BIOGRAFIA: Dilercy (Aragão) Adler. Nasceu em São Vicente Férrer/MA/Brasil, em 07/07/50. É Psicóloga, Doutora em Ciências Pedagógicas, Mestre em Educação, Tem Especialização em Sociologia e em Metodologia da pesquisa em Psicologia. Publicações: 09 livros de poesia, 01 biográfico, 01 de história infantil e 03 acadêmicos, organizou 07 antologias poéticas e tem participação em mais de cem antologias nacionais e internacionais. Já recebeu vários prêmios, troféus e menções honrosas por trabalhos poéticos e culturais nacionais e internacionais. VIDA E MORTE Sangue e carne ... vida! vida e morte drama... dor ... dor e prazer inferno em vida prazer em conta gotas... gotas gotejando como pingos de chuva amenizando o sofrer refrigerando a alma fazendo valer viver de sonhos valendo muito a pena ... apenas viver!! MUNDO INJUSTO Mundo injusto desigual imoral que deixa muitas pessoas... multidões... a mercê da sorte da morte morte dos próprios sonhos de vida melhor... e lá se vão em caminhões barcos ou trens à busca do bem que para poucos privilegiados é apenas migalha mas que para essa multidão de explorados do mundo
para essa multidão de excluídos da sociedade é muito é o sonho é o tudo! é tudo o que buscam que necessitam para terem um pouco da irrevogável e imprescindível dignidade! COMBOIO DE SONHOS
CONVOY DE SUEÑOS
Miséria dor sofrimento sonhos se misturam se movem e fazem mover pessoas vidas passagens paragens lugares em trens que levam além... além terra além mar além desertos além dor além coiotes além perigos de vida enfrentando a sorte o azar ou mesmo a morte... não importa!
Miseria dolor sufrimiento sueños que se mezclan se mueven y hacen mover personas vidas billetes paradas lugares en trenes que llevan más allá ... más allá de la tierra más allá del mar más allá de los desiertos más allá del dolor más allá de los coyotes más allá de los peligros de la vida enfrentando a la suerte al azar o incluso a la muerte ... No importa!
O desespero é tanto tamanho que move o corpo movimenta-o! Estrangula o pesadelo pela esperança de encontrar e ainda poder viver no paraíso... e esse sonho encanta esse sonho embala esse sonhe move tirando a vida do lugar que está para o encanto do encontro com o sonho ou até quem sabe ... a morte!
La desesperación es tan grande que mueve el cuerpo lo sacude! Estrangula la pesadilla en la esperanza de encontrar e incluso poder vivir en el paraíso y ese sueño encanta ese sueño empaqueta ese sueño mueve llevando la vida desde el lugar en el que está hacia el encanto del encuentro con el sueño o hasta quizás ... con la muerte! tradución al español: Julio Pavanetti
UFMA recebe doação de livro que reconstrói a fundação de São Luís pelos franceses Pela sua pesquisa, François de Razilly, coronel que fez todos os contatos com os índios de aldeia em aldeia, teria fundado São Luís, ao invés de Daniel de La Touche, que era protestante e não podia participar da missa de fundação de São Luís
SÃO LUÍS – A Universidade Federal do Maranhão recebeu, na última semana, doação de livros que falam da Criminalidade Organizada no Brasil e da História do Maranhão e da Fundação de São Luís. Os livros foram doados pela ex-professora do Núcleo de Cultura Linguística da UFMA (NCL), graduada em Letras pela Universidade Federal do Maranhão, Ana Luiza Almeida Ferro, na presença do reitor Natalino Salgado. Dos livros doados por Ana Luiza Ferro, um tem como título ‘1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís’. Este tem como tema central a fundação da França Equinocial no Maranhão em 1612, focalizando desde os seus antecedentes até os primeiros anos que se seguiram à expulsão dos franceses do norte do Brasil. O livro, além de oferecer um estudo abrangente, aprofundado e crítico sobre a França Equinocial, tema pouco explorado, mas fundamental para a compreensão de como se verificou a colonização do norte do Brasil no século XVII, inova ao descrever e analisar o mito português relativo à fundação da cidade de São Luís, em suas fases e características. Também fez um resgate importante do papel desempenhado pelo cofundador esquecido de São Luís, François de Razilly. A autora conta que a cidade de São Luís não teria sido batizada por Daniel de La Touche, mas sim por François de Razilly, que, na época, era o coronel que fez todos os contatos com os índios de aldeia em aldeia. Isso porque, segundo a autora, Daniel de La Touche era protestante e não podia participar da missa de fundação de São Luís, que é uma celebração católica. Um ponto importante que foi tratado no livro também é sobre o mito português da fundação de São Luís. A autora, Ana Luiza Almeida Ferro, questiona o por que os franceses foram chamados de invasores, ao invés de fundadores. Ela faz uma análise através de vários aspectos, como urbanísticos, jurídico, político e outros, para esta tese. O outro livro tem como título Criminalidade Organizada: comentários à Lei 12.850, de 02 de agosto de 2013, que faz análise, artigo a artigo, dessa nova lei de controle do crime organizado. http://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/noticias/noticia.jsf?id=44614
UM ENCONTRO NECESSÁRIO – sobre literatura ateniense… Por Leopoldo Vaz • segunda-feira, 19 de janeiro de 2015 às 11:18 BLOG DO LEOPOLDO VAZ
http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/01/19/um-encontro-necessario-sobre-literatura-atiniense/
Semana que passou ‘rolou’ na ‘nuvem’ – facebook – uma foto emblemática, reunindo um grupo de literatos atenienses:
Antonio Aílton, Hagamenon de Jesus, Natan Campos (Natanílson Campos -à esquerda); Bioque Mesito, à frente, e Dyl Pires mais atrás (à direita)[1]
Em OS ATENIENSES - UMA ANTOLOGIA VOLUME IV-A (ainda inédito), escrevi: […] Leão (2011)[1] refere-se à utilização do terno atenienses para definir a condição de literatos do Maranhão: “Entende-se por ‘atenienses’ um grupo de intelectuais surgidos durante o século XIX, mais especificamente em São Luis do Maranhão, decorrente do epíteto de ‘Atenas Brasileira” que a cidade recebeu em função da movimentada vida cultural e do número expressivo de intelectuais e literatos ali nascidos ou residentes – depois em parte migrados para a Corte no Rio de Janeiro -, com um papel muito importante na configuração da vida politica e literária do país que tinha acabado de emancipar-se da antiga metrópole portuguesa. Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis, a qual teria sido um dos poucos centros de intensa atividade intelectual do primeiro e segundo periodo imperial brasileiro. […]”. (p. 33).
[…] Aparecem, assim, novos grupos organizados, como o caso do Poeisis, ao qual pertence Antônio Aílton, Bioque Mesito, e pelos poetas cogeracionais Danyllo Araújo, Geane Fiddan e Natinho Costa. Outros nomes que aguardam publicação, possuindo obras inéditas de grande relevo estético, são a poeta Jorgeana Braga (A casa do sentido vermelho, Sangrimê, Cerca Viva), Nilson Campos (o romance A Noite, além de contos e poemas), e a sensível poeta Rosemary Rego, com uma obra lírica
surpreendente. Uma geração, afinal, não se faz somente de poetas publicados e, às vezes, alguns de seus melhores talentos estão entre aqueles inéditos em vida, como é o caso de vários exemplos, como o de Konstantinos Kaváfis, Emily Dickinson e Cesário Verde[1]. Sobre esse movimento, Antonio Aílton[2] deu-me o seguinte depoimento: O “movimento Poesis” iniciou-se em 2006, a partir da iniciativa de Geane Lima Fiddan e do poeta Bioque Mesito, os quais convidaram Antonio Aílton, Rosimary Rego, Hagamenon de Jesus, Paulo Melo Sousa, Raimundo Nonato Costa (Natinho Costa), Daniel Falcão Bertoldo (músico), e Danilo Araújo, grupo que foi crescendo por convites a outros poetas, tais como José Couto Corrêa Filho e César Borralho (este na verdade mais como “participação” em alguns momentos), além de Graziella Stefani, que não escrevia, mas deveria fazer o marketing do grupo. A ideia era promover ações abrangentes de realizar projetos de incentivo à leitura, de criação e encontros literários e, sobretudo divulgação, unindo, nesta divulgação poesia e música erudita através de recitais em locais públicos e significativos de São Luís, com ideia de expansão para o interior do Estado. Foram montados grandes recitais públicos acompanhados de piano, violoncelo, percussão, violão, flauta, gaita, etc., sendo o mais marcantes na Praça Gonçalves Dias, na Escola de Música do Maranhão e no Teatro João do Vale[3], o maior e mais importante deles[4], o último com direção da Cássia Pires. Foram feitas chamadas pela TV para esses recitais, e foram filmados [registro fílmico]. Receberam certo [e parco] patrocínio particular e público. Pela necessidade de receber patrocínios mais significativos, o que só seria possível como pessoa jurídica, foi criada a POIESIS – ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES, em 19/05/2006, totalmente legal, com registro civil de pessoa jurídica e estatuto próprio, com Antonio Aílton Santos Silva como presidente, Geane Lima Ferreira Fiddan como vice-presidente, Fábio Henrique Gomes Brito [Bioque Mesito] como primeiro secretário, Raimundo Nonato Costa e Rosemary como tesoureiros. Hagamenon e Paulo ficaram no Conselho Fiscal. Na verdade, após a criação da Associação seguiu-se apenas o que já estava programado, isto é, os recitais e organizou-se um projeto de “feira literária”, que não foi em frente porque se soube que a Prefeitura de São Luís começava a organizar a 1ª Felis, como ocorreu logo depois. Com a dispersão de muitos membros para estudos e saídas do estado, como foi o meu caso, a Associação ficou em latência, cada um realizando projetos individuais até o momento.
Outro grupo que surge nessa época, o Grupo Carranca, capitaneado pelos poetas e escritores Mauro Ciro Falcão e Samarone Marinho, comparsas das atividades do Curare – e vice-versa. A partir de 2000, a existência dos dois grupos se encontra praticamente paralelas, e confundidas. Pertencentes a uma faixa geracional um pouco diferente – embora quase coeva –, os membros do Grupo Carranca aceitaram dividir seus espaços e iniciativas, durante algum tempo, com o Grupo Curare. Durante vários anos, as reuniões e encontros do Grupo Curare e Grupo Carranca aconteceram na casa do jornalista Gojoba, sempre com bastante aconchego e diversão. A participação de vários membros do antigo Curare consta das antologias de poemas e contos organizadas pelo grupo Carranca, que agitaram o cenário literário de São Luís entre 1999 e 2002. De lá para cá, os membros de ambos os grupos, agora identificados pelos laços comuns, com seus projetos e propostas definidos, trabalham para construir a identidade da nova literatura maranhense[5]. Antonio Aílton também se refere a esses grupos, Curare, e Carranca[6]: Em relação ao CURARE, é bom ressaltar que os diálogos, discussões e encontros informais – determinantes para o impulso e maturação da literatura de muitos de seus membros -, consolidaram uma amizade duradoura entre partes de seus membros, tanto que alguns consideram que um certo ‘espírito’ desse grupo não se extinguiu. O papel aglutinante desse grupo foi sempre do poeta Hagamenon de Jesus (junto com Antonio Aílton, Ricardo Leão, Dyl Pires, Bioque Mesito). Houve também uma confluência dessa amizade com membros do
grupo Carranca (jovens e iniciantes poetas), o qual era encabeçado por Mauro Ciro e Elias Rocha, encontrando-se dominicalmente na residência do jornalista Gojoba, pai de Mauro Ciro. A principal contribuição do grupo (reduzido a um pequeno núcleo) foi ou tem sido, a meu ver, o incentivo e impulso para a busca de uma superior qualidade da produção (poética ou teórica), o incentivo ao crescimento e destaque de cada um – o que pode ser constado nas premiações recebidas pelos membros do grupos (ver relação dos concursos), as quais são motivos de alegria e discussão conjunta.
Leão (2008) [8] – ao comentar os resultados dos concursos de 2007 da SECMA e do Concurso Literário “Cidade de São Luis”, afirma que todos estes novos talentos fazem parte, ao fim e ao cabo, de um mesmo grupo, a maior parte na mesma faixa geracional, outros em faixas diferentes, de poetas, escritores e intelectuais que, lutando por visibilidade e reconhecimento no cenário da literatura maranhense contemporânea: […] já vêm trabalhando há pelo menos dez anos, quando não mais, no sentido de produzir uma obra capaz de continuar, com dignidade e competência, a tradição de literatura que o precede, com profundo respeito aos grandes autores maranhenses do passado, mas também com ousadia e inovações.
Para Dyl Pires[9], a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam. Entre seus livros de formação, estão A Poesia Maranhense no Século 20 – Antologia (1994), organizado por Assis Brasil; o último número da revista publicada pela Academia dos Párias (8º Andar); O Circuito da Poesia Maranhense, livro organizado por Dilercy Adler; as antologias poéticas do Grupo Carranca; o Suplemento Vagalume, de Alberico Carneiro. As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. “Couto abria sua casa para nos receber em sábados dionisíacos. Ali era a nossa Movelaria Guanabara”, lembrou. Ele destacou também a importância dos projetos de fomento à produção literária promovidos pela Fundação Municipal de Cultura, a Secretaria Estadual, o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas (SIOGE), entre outras instituições. Já Bioque Mesito[10] reconheceu que a geração daquela época foi sendo valorizada quando passou a assinar prefácios de livros e a participar de suplementos literários. Ele ressaltou nomes de outros artistas fora da literatura que contribuíram para a formação da estética do trabalho deles, como o artista visual Binho Dushinka. Assumindo uma postura mais contemporânea, afirmou não ter influência da poesia de Nauro Machado e que nomes como Augusto Cassas, Mauro Portela, Aberico Carneiro, Celso Borges, Chagas Val e Fontenelle foram mais importantes na sua formação como poeta. Estamos diante da GERAÇÃO 90, que tinha entre seus membros, além de Dyl Pires, Bioque Mesito e Sebastião Ribeiro, representantes do grupo de poetas daquela geração, nomes como Agamenon Almeida, Eduardo Júlio, Antônio Ailton, Ricardo Leão, Jorgeana Braga, Mauro Ciro, Lúcia Santos, Marco Polo Haickel, Natan, entre outros perdidos na lembrança. Em 1995, segundo Leão (2008) [11], surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários
diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense: Tratava-se, destarte, de um projeto pretensioso. Porém, não se produz arte literária, sobretudo dentro de uma tradição longa e respeitada como a maranhense, de modo impune e sem grandes pretensões, até mesmo alguma megalomania. É necessário, portanto, recapitular um pouco dessa história, antes que sejamos os únicos que ainda se lembrem dela. […] O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro.
Ricardo Leão recorda que a ideia inicial de montar o grupo fora dele e de Dyl Pires, após um encontro ocorrido em 1995 na Biblioteca Pública Benedito Leite, no anexo aos fundos, onde se elaborou uma lista inicial de amigos e conhecidos comuns, constante de uns 25 nomes, entre os quais vários que já se vinham destacando em concursos locais e nacionais. O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Polo Haickel. O encontro havia, pois, acontecido. Como o projeto da revista naufragou após um tempo, faltou um evento que registrasse e existência do grupo (LEÃO, 2008). Antonio Aílton Santos Silva (2014) [12], um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especial do Curare, deu um depoimento muito esclarecedor, ao pedir sua biobibliografia; transcrevo-a em parte – a integra está no devido lugar -, pois muito diz sobre como funcionavam esses movimentos, ou grupos, e esclarece muitos pontos. Vamos aos “FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS”: As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. […] Apague-se certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” – Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). […] Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA […] O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. […] Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce… Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?… […] Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, […] além da jovem poeta Rosemary Rego. […] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones,
experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa… Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais. Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996). […] O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este, sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix – Concours “Brésil, Terre Latine”, Alliance Française/UFMA/Academia Maranhense de Letras. O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002). […] Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007.
NOTAS [1] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011 [1] Antonio Aílton Santos Silva Caro Leopoldo Gil Dulcio Vaz, os gajos são, na foto grande: eu, Hagamenon de jesus, Natan Campos – ou seja, Natanílson Campos (à esquerda); Bioque Mesito, à frente, e Dyl Pires mais atrás (à direita). 17 de janeiro às 08:39, disponível em https://www.facebook.com/photo.php?fbid=754805847922014&set=a.469966329739302.1073741826.100001778182652&type=1& theater [1] LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm [2] SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico. [3] Geane Lima pode dar informações mais precisas sobre estes recitais, pois ela os organizou mais efetivamente e era quem dialogava com os músicos, sobretudo sobre questões financeiras. [4] Não lembro a data, mas tenho a filmagem. OBS: Da relação “Poiesis” em seu texto, não participaram Jorgeane Braga nem Natanílson Campos. Estes eram sim do CURARE. Também não me lembro de Mobi fazer parte desse grupo, ao menos com esse nome… [5] LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm [6] SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico [7] Antonio Aílton Santos Silva Caro Leopoldo Gil Dulcio Vaz, os gajos são, na foto grande: eu, Hagamenon de jesus, Natan Campos – ou seja, Natanílson Campos (à esquerda); Bioque Mesito, à frente, e Dyl Pires mais atrás (à direita). 17 de janeiro às 08:39, disponível em https://www.facebook.com/photo.php?fbid=754805847922014&set=a.469966329739302.1073741826.100001778182652&type=1&th eater [8] LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm [9] Estética da poesia dos anos 90 é debatida na Feira do Livro. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 [10] Estética da poesia dos anos 90 é debatida na Feira do Livro. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 [11] LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm [12] SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS – DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico. Categoria Literatura & Esporte
O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 1º de fevereiro de 2015, Caderno Alternativo, p. 6
Minhas palavras iniciais são de agradecimento às autoridades da Universidade de Coimbra e de sua Faculdade de Economia. Venho proferir uma Palestra cheia de invocações ligadas à história do Brasil e de Portugal, plena de assuntos do particular interesse dos atuais e futuros economistas, e comentar sobre o meu mais recente Livro, que autografarei em seguida. Autoridades aqui presentes, colegas professores e estimados alunos de Coimbra, onde “pelas ruelas pipocam as tradicionais e animadas repúblicas dos estudantes” e que, desde 1537, “perambulam com livros debaixo do braço, ocupam as mesas dos cafés e dos bares, cantam fado e fazem festa noite adentro”. Esta visita tem para mim um significado todo especial. Estou na vetusta e histórica Universidade de Coimbra, fundada no século XIII, em 1290, que teve papel fundamental na formação da elite brasileira; e tenho raízes portuguesas advindas de minha avó materna, Maria Laura da Silva Ribeiro, nascida na província de Trás-os-Montes e Alto Douro, legando-me o gosto pelos produtos da terra e o amor pelas conquistas dos Grandes Navegadores. Até meados do século XIX, a maioria dos nossos ministros graduou-se em Coimbra, como é o caso de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), considerado Patriarca de Independência do Brasil (1822), e os escritores Antero de Quental, Eça de Queirós. Luís de Camões, Mário de Sá Carneiro, Gregório de Matos e Tomás Antônio Gonzaga. Atualmente, a Universidade de Coimbra é a instituição no exterior com mais estudantes brasileiros, pelos diversos Termos de Cooperação celebrados e renovados com suas congêneres nacionais, como é o caso da Universidade Federal do Maranhão, e represento-a neste momento solene. A Universidade de Coimbra, referência internacional na área de direito, tornou-se mais recentemente também um pólo respeitado na Europa em pesquisa de saúde e produção de tecnologia, e desde o período medieval e Renascimento, é uma depositária de fontes documentais.
Um lídimo representante desse referencial, Manuel Fran Paxeco, nascido Manuel Francisco Pacheco (1874-1952), jornalista, escritor, diplomata e professor de português, foi Cônsul de Portugal no Maranhão, aonde chegou no dia 2 de maio de 1900; autor de várias obras e de grande amor pelo Estado foi membro fundador da Academia Maranhense de Letras e casou-se com a maranhense Isabel Eugênia de Almeida Fernandes, natural de São Luis, de quem teve uma filha, Elza Fernandes Paxeco, “primeira senhora doutora pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa”. O Maranhão e seus intelectuais, diz Rossini Correa, tiveram um papel fundamental na formação de uma identidade nacional, quando o nosso Estado foi rico [...], os filhos das classes mais abastadas iam estudar na Europa e traziam o conhecimento acumulado para aplicar no Brasil [...]. Destacaram-se na literatura nesse período Gonçalves Dias, Odorico Mendes, Gomes de Souza, Vieira da Silva, que ajudaram a fundar o humanismo no Brasil; depois os irmãos Artur e Aluísio Azevedo, mesmo finda a opulência, surgiram como nomes na literatura estadual [...]. Desejo ressaltar que venho à Universidade de Coimbra, e a esta sua prestigiada Faculdade de Economia, em nome da Universidade Federal do Maranhão; venho também em nome das Academias Caxiense de Letras, em Caxias, minha terra natal, e da Academia Ludovicense de Letras, em São Luís. A Universidade Federal do Maranhão é uma instituição relativamente nova, pois foi oficialmente criada em 1966. Antes existiram Escolas isoladas e que foram transformadas em uma Fundação. Atualmente, tendo à frente o Magnífico Reitor Natalino Salgado Filho, nossa Universidade tem experimentado franco progresso na melhoria e expansão dos seus diversos cursos pelos inúmeros campi, além de significativa ampliação das suas instalações no campus do Bacanga, em São Luís, onde mantém sua sede; estamos vivendo um acelerado progresso em todos os sentidos.
O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 8 de fevereiro de 2015, Caderno Alternativo, p. 6
Em 1980, tive oportunidade de viajar aos Estados Unidos, para frequentar um Seminário sobre o mercado de capitais e financeiro realizado na Universidade de Nova York. Naquela oportunidade, visitando a Bolsa de Valores, a NYSE, perguntei a um expositor: você acha que a crise de 1929 poderá repetir-se? Ele respondeu que sim, mas que “haveria salvaguardas”. Agora, a partir da “crise da bolha” de 2008, penso ter entendido o que ele, intuitivamente, quis dizer.
Finda a Segunda Guerra Mundial, buscava-se uma nova ordem econômica; esse objetivo, quando o conflito acabou, foi concretizado predominantemente à custa da intervenção estatal no domínio econômico, o chamado “Estado do Bem-Estar Social”, sob a presidência de Franklin Delano Roosevelt. A célebre Conferência de Bretton Woods, em julho de 1944, que culminou com a criação do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento-BIRD, o Banco Mundial, e do Fundo Monetário Internacional-FMI, fundamentou essa nova ordem. John Maynard Keynes liderou e teve ampla influência em quase tudo que foi discutido naquela oportunidade; já àquela altura houve “argumentação insistente de países que pretendiam ter quotas maiores no capital do FMI, significando maior poder de voto”, como continua sendo reivindicado até os dias atuais. Aliás, a recente criação do banco dos emergentes, o banco dos BRICS, reafirma esse desejo e, no caso, a disponibilidade de um “colchão de reservas” em proveito próprio, para enfrentamento de resistência a possíveis novas crises. As questões debatidas em Bretton Woods voltaram à baila desde a chamada “crise das hipotecas”, iniciada nos Estados Unidos, em 2007, e repercutida e ainda repercutindo na Europa, principalmente nos países da zona do euro. O afrouxamento monetário, que invadiu o mundo capitalista com trilhões de dólares, foi recentemente anunciado pelo Banco Central Europeu, na Conferência de Jackson Hole, nos Estados Unidos, como uma das soluções à recuperação da eurozona. Por ação dos próprios bancos centrais dos países desenvolvidos, mais as maciças emissões primárias da chamada dívida soberana, com recompras garantidas no mercado secundário de títulos, fez-me lembrar das “salvaguardas” que, segundo aquele expositor da NYSE, existiriam no futuro. Foi evitada uma “quebradeira” geral, mas os efeitos estão aí a impedir a retomada do crescimento e a diminuição do endividamento, e a regulação dos mecanismos financeiros. Há uma verdadeira financeirização dos mercados e a microeconomia está perdendo seus pressupostos básicos, como a racionalidade do consumidor e a autossuficiência desses mercados. Além disso, avançam práticas da chamada “contabilidade criativa”, mascarando resultados. Até meados dos anos 70, a igualdade Produto-Renda-Despesa refletia o equilíbrio. Nos tempos atuais, a moeda, como reserva de valor, de fato e de direito deixou de ser lastreada; a dívida pública soberana ultrapassou todos os limites em relação ao PIB; os bancos alavancaram além do seu patrimônio; surgiram os famosos derivativos e a financeirização passou a predominar entre os agentes econômicos. A verdade é que o capitalismo financeiro desconhece o sistema produtivo e passa a existir apesar dele, contudo, moeda em circulação sem contrapartida de produto, gera inflação, e ela já está chegando aos países de economia reflexa. A recuperação da economia dos países desenvolvidos, segundo os especialistas, trará reflexos negativos consideráveis na dos emergentes; recuperação econômica na Europa, ainda com ameaças de estagnação e deflação na eurozona, inclusive Alemanha, França e Itália, e nos Estados Unidos. O afrouxamento monetário sendo adequado pela menor oferta de dólares no mundo gerando repatriamento de capitais; como consequência, ao menos no curto prazo, além da desvalorização de moedas nacionais, menos investimento interno, maiores custos de importação, níveis de inflação mais altos, aumento da taxa de juros, e o acúmulo de reservas. A recuperação da economia mundial segue, portanto, potencialmente lenta e fraca, e desigual, tanto nas desenvolvidas quanto nas emergentes, agravada pelas crises políticas antigas e mais recentes. O que Keynes faria em 2014? Para quem não sabe, além de economista famoso e mais influente do século XX, Keynes ganhou muito dinheiro no mercado de capitais administrando fundo de ações. Keynes foi partidário de programas intervencionistas liderados pelo poder público; políticas monetárias e fiscais para enfrentar os ciclos econômicos; níveis de renda afetando o nível de emprego; a taxa de juros como prêmio à liquidez; a importância das expectativas supondo que o presente estado de coisas continuará indefinidamente, a menos que haja razões específicas para esperar mudanças.
Finalizando, dirijo-me ao magnífico reitor da Universidade de Coimbra, professor doutor João Gabriel Silva; ao diretor da sua Faculdade de Economia, professor doutor José Joaquim Dinis Reis; à sua vicediretora professora Lina Coelho; à senhora Ana Serrano, chefe da Biblioteca Geral da UC, que deu sequência aos nossos contatos iniciais; aos professores e alunos aqui presentes prestigiando este Evento. Agradeço, mais uma vez, a todos em meu nome pessoal e pela deferência à Universidade Federal do Maranhão, na pessoa do magnífico reitor Natalino Salgado Filho; à Academia Caxiense de Letras, pelo seu presidente Antônio Pedro Carneiro; e à Academia Ludovicense de Letras, pelo seu presidente Roque Pires Macatrão. Agradeço aos meus familiares aqui presentes Mônica Regina Soares Brandão dos Santos, filha, advogada, e Fábio Lúcio Campos dos Santos, genro, médico, dedicados companheiros desta e de outras viagens. Agradeço aos amigos de São Luís, que gostariam de ter sido possível atravessar o Atlântico, para prestigiar-me, mas não puderam. Muito brigado a todos.
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Maranhense de Caxias é economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, em 1959, e Pós-Graduado em Administração Contábil e Financeira pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, em 1976. Foi professor fundador titular da Escola de Administração Pública do Estado do Maranhão-EAPEM, em 1968, e da Federação das Escolas Superiores do Maranhão-FESMA, atual Universidade Estadual do Maranhão-UEMA, em 1982, e Professor Assistente da Universidade Federal do MaranhãoUFMA, em 1978, por onde se aposentou, em 1997. Na EAPEM, lecionou Teoria Econômica e na UFMA, Economia Monetária, Mercado de Capitais e Introdução à Economia, nos cursos de Administração, Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Direito e Pedagogia, respectivamente; exerceu atividades de pesquisa e extensão valendo mencionar a coordenação da “Pesquisa sobre o desenvolvimento de São Luís”, em fins da década de 60, em convênio entre o governo do Estado do Maranhão, Prefeitura de São Luís e Universidade, mobilizando os então cursos isolados de Economia, Filosofia e Serviço Social. Ocupou cargos em áreas da administração federal, estadual e municipal, e no ensino universitário, em Brasília, Rio de Janeiro, São Luís e Caxias, respectivamente: Coordenador de Sistemas Regionais do Ministério de Ciência e Tecnologia, em 1987; Assessor da Secretaria de Previdência do INSS, em 1988; Chefe de Gabinete da Secretaria de Viação e Obras Públicas, em 1968; Secretário de Administração da Prefeitura de São Luís, 1971/74; Diretor da Companhia Progresso do Maranhão, 1979/87; Superintendente Administrativo da FESMA, 1974; Chefe de Gabinete e Diretor do Departamento Administrativo-Financeiro da TELMA, 1979/85; Auditor Geral, Gerente de Desenvolvimento Econômico, e de Desenvolvimento Humano, da Prefeitura de Caxias, 2001/04; Vice-Diretor Geral da Faculdade do Vale do Itapecuru, 2002/03. Atual Superintendente de Área de Órgãos de Governo da Secretaria de Planejamento e OrçamentoSEPLAN, da Prefeitura de São Luís, a partir de 2005. Participou em programas de Reforma Administrativa e de Planejamento Governamental nas três esferas de governo; freqüentou diversos Cursos e Seminários, no Brasil e no exterior, destacando-se o de Mercado de Capitais, na New York University, em Nova York, em 1980. Trabalhou em empresas voltadas para resultados, no Rio de Janeiro, onde residiu entre 1954 e 1965, principalmente na Fosforita Olinda S/A, 1957/65, empresa mineradora sediada em Recife.
Foi Secretário da primeira diretoria da Federação das Academias de Letras do Maranhão-FALMA, entre 2008/12; é membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras. Autor dos livros “Fortes Laços”, lançado em 2007, na 1ª Feira do Livro de São Luís, e que também está em bibliotecas de universidades da França, Espanha e Portugal; e “Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans”, lançado em 2012, no Palácio Cristo Rei, editado pela da Universidade Federal do Maranhão sob os auspícios de sua Associação de Amigos, objeto de Palestra e seção de autógrafos no Instituto de Estudos Brasileiros da Université Lumière 2, de Lyon, França, e na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Portugal. Escreve para jornais de São Luís.
MATÉRIA PUBLICADA SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO NO BRISTOL WHO'S WHO, DE NEW YORK. Here is a link to your published PR: http://www.bristolwhoswho.com/?p=62145 Bristol Who's Who: +1 (888) 262-0403 641 Lexington Ave., 15th Floor, New York, NY 10022 http://www.bristolwhoswho.com
Bristol Who’s Who Recognizes Ana Luiza Almeida Ferro, JD February 3, 2015
Dr. Ana Luiza Almeida Ferro is a public prosecutor (D.A.) in the Office of the Attorney General in Maranhão State (MPMA), Brazil. Actively representing the government in the prosecution of criminal offenses, Dr. Ferro also works as a law professor for the School of the Attorney General’s Office in Maranhão (ESMP) and for the University Ceuma, where her research and teaching focuses on criminal law and criminology. She is also a writer, historian and lecturer. Dr. Ferro majored in the English Language at the Federal University of Maranhão (UFMA), receiving her degree in 1988. She then continued her studies in the United States at the University of Oregon, where she undertook pre-Master’s studies in English literature with a focus on English Drama. Again in Brazil she studied Law at the Federal University of Maranhão and went on to achieve her master’s degree in Law in Penal Sciences at the Federal University of Minas Gerais (UFMG). Continuing at UFMG, in 2006 she completed her Doctor of Law in Penal Sciences. After a brief time as an English Language Professor at the Linguistic Culture Center (NCL) of the Department of Liberal Arts, UFMA, Dr. Ferro began her work as a public prosecutor in São Luís, MA, Brazil, in 1994. She has remained at the Office of the Attorney General in Maranhão State for over 20 years, and has left a truly significant impact on her department. In addition to her legal duties, she also served as Criminology Professor at the School of the Attorney General’s Office in Minas Gerais Foundation (FESMPMG), teaching graduate courses in Criminal Sciences in Belo Horizonte. Dr. Ferro also acted as Coordinator of Research for the Graduate Program in Law of ESMP/MA and Advisor of Justice Attorney General in 2009 and 2010. From 2011-2013, she became President of the Academy of Maranhão Legal Letters (AMLJ). In addition she is a member and one of the founders of the Academy of São Luís Letters (ALL). As the author of several criminal law books, the most recent ones exploring organized crime and criminal organizations worldwide, Dr. Ferro was interviewed on the Jo’s Program (Programa do Jô) on the national Brazillian TV network Rede Globo. Author of several legal and historical articles and procedural documents published in journals, including the Journal of the Courts (Revista dos Tribunais) and the Journal of IHGM (electronic edition), she also writes poetry and history books, such as 1612, about Equinoctial France, simultaneously published in Brazil and Portugal. A
cornerstone of the legal community, she is an Honorary Member of the Brazilian Society of Forensic Psychology (SBPJ), a member of the Brazilian Union of Writers (UBE) and the Management Committee on Institutional Memory Program of the Office of the Attorney General in Maranhão State (MPMA). Dr. Ferro is fluent in Portuguese and English and was bestowed the First Certificate in English and Certificate of Proficiency in English by the University of Cambridge, England. She also speaks with working proficiency in French, holding a Certificat Pratique de Langue Française (1er degré), the Diplôme D’Études Françaises (2e degré) and the Diplôme Supérieur D’Études Françaises (3e degré) from the Université de Nancy II, France. Dr. Ferro also has basic knowledge of Spanish, German and Italian. Bristol Who’s Who Member Ana Luiza Almeida Ferro, JD can be found on the Who’s Who Directory where she is looking forward to networking with you.
O ESTADO DO MARANHテグ, Sテ」o Luis, 12 de fevereiro de 2015, quinta-feira, Caderno Alternativo, p. 8
O ESTADO DO MARANHテグ, Caderno Alternativo, EM CENA, Coluna do Nedilson Machado, p. 7, 12 de fevereiro de 2015, quinta-feira
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S達o Luis, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015, GERAL, p. 6
TRIBUTO A JOSÉ MÁRIO SANTOS JOÃO BATISTA ERICEIRA ALL, AMLJ Publicado em O IMPARCIA, São Luis, 04 de março de 2015
O passado repercute sempre no presente, assim pensava o escritor francês Marcel Proust, como manifestou na obra “La Recherche du Temps Perdu”. Publicada em 1913, influenciou a literatura e a ciência, na sua incessante procura pelo espaço oculto em que o tempo para. Um sentimento proustiano me envolveu naquela noite de 5 de Dezembro do ano passado, quando proferia a oração de recepção a Sálvio Dino na Academia Maranhense de Letras Jurídicas. Na plateia estava José Mario Santos e a esposa Cleide, presentes à cerimônia prestigiavam o amigo empossando. Logo o tempo da memória me fez retornar a São Luís de meados dos anos sessenta, da nossa praça João Lisboa, coração da cidade, do Estado, do Brasil e do mundo. Ali tudo era passado e repassado, e uma das inteligências que iluminava a nossa compreensão era a de José Mário. Haviam outras, Bandeira Tribuzi, Sálvio Dino, Ricardo Bogea, Benedito Buzar, para falar de alguns sempre presentes em nossas rodas de conversas. O cafezinho do Lobato sempre à disposição, os lanches do abrigo matavam a nossa fome, enquanto mergulhávamos em assuntos complexos da política, da literatura, da economia. Nada escapava ao nosso exame. Sempre repito, foi a primeira universidade por mim cursada, ela me forneceu régua e o compasso para poder cursar as outras, deu-me instrumentos para conviver no mundo. Percebendo a presença de José Mário, citei-o no discurso, rememorei o episódio de um estudante de medicina que por ele perguntado sobre seu candidato a governador respondeu: em São Bento eu sou Costa Rodrigues; em Codó Renato Archer; e em Pinheiro, José Sarney. José Mario o advertiu das implicações éticas de sua postura, e por brincadeira passou a desenvolver exercício filosófico demonstrando que ele não existia. Tamanha era a sua capacidade de argumentação e de persuasão dialética, que a certa altura da argumentação, o jovem amarelou, e muito nervoso pediu que ele parasse, pois estava duvidando da própria existência. Tinha a inteligência fulgurante, de brilho inexcedível, o jornalista Napoleão Saboia em texto assinado sob o título: “Zé Mário, o semeador de humanismo” ressalta a sua erudição, a jovialidade e o bom humor, assinalando: “Sem arvorar-se em líder, promoveu agitação de ideias, dentro da Faculdade de Direito, do Diretório Acadêmico, do Parlamento-Escola; desencadeou movimentos pela modernidade cultural e política; combateu o vitorinismo, encabeçou na cidade a maior passeata de todos os tempos contra a fraude eleitoral no Estado”. Em 1962 candidatou-se a vereador pelo Partido Social Progressista-PSP, elegeu-se com votação elevada. Na época, eu era um adolescente secundarista, mas percorri os bairros de São Luís, no Caminhão do Povo, integrando caravana, o compositor João do Vale à frente, para pedir os votos que o levaram à Câmara Municipal, onde teve desempenho excepcional, como tudo que fazia. Em 1964 sobreveio a noite do arbítrio, iniciada a temporada das cassações, a Câmara Municipal de São Luís submetida aos humores dos detentores do poder, resolveu cassar-lhe o mandato parlamentar sem qualquer explicação plausível. A acusação poderia ser excesso de inteligência e defesa de ideias socializantes. Triste é a sociedade que pune alguém pela simples defesa de ideias ou por ser inteligente. Mas não é novidade na História da Humanidade, a começar pela condenação de Sócrates na velha Atenas. A Câmara Municipal de São Luís ficou a dever-lhe a reparação, devolvendo-lhe simbolicamente o mandato que lhe foi ilegitimamente tomado, agora, após a sua morte física, poderá fazê-lo “post mortem” na pessoa de sua companheira inseparável e viúva Cleide.
O tempo da memória me faz lembrar o seu casamento em São José de Ribamar, a que quase todos os membros do Clube do Urucuzeiro estiveram presentes para celebrar as bodas do seu ilustre integrante. Dentre os seus membros, o poeta José Fernandes, ele mesmo integrante, recorda no texto “O Sarau dos Estudantes”, de mim, Edmar Santos, Ney Melo, José Carlos Salgueiro, Emilio, Gaspar, Edson Vidigal. Eu acrescento: Fernando Moreira, João Alberto Campos (Jones), José Raimundo Campos, Laudemiro Rabelo. Isso para falar dos estudantes. Entre os profissionais estavam Sálvio Dino, Ricardo Bogea, Benedito Buzar, José Mário Santos, José Bento Neves, José Maria de Jesus e Silva, Fernando Ferreira, Nagib Jorge Neto, Fernando Macieira, Joaquim Itapary, Celso Coutinho, Cícero Oliveira, Helena e José Ribamar Heluy, Santiago (Chabela). São alguns nomes que acorrem à memória. Qual era ideologia do Clube do Urucuzeiro? Nacionalismo, desenvolvimento com justiça social, isto é, socialismo democrático. Nesse espectro haviam várias tendências. Como o urucu é vermelho, para a época a defesa desses postulados parecia muito avançada, associava-se ao socialismo e ao comunismo. Eis a explicação. José Mário Machado Santos era nosso ícone e paradigma, razão porque em nome dos frequentadores do Clube presto-lhe este justo e imorredouro tributo.
MARCO ZERO SANATIEL PEREIRA Engenheiro, escritor, pesquisador e professor da UFMA, membro da ALL e da SOBRAMES. Publicado em O ESTDO DO MARANHÃO, São Luis, 04 de março de 2015
Outro dia falei dos imigrantes, hoje vou falar de um turista que veio de longe e deixou um recado bastante interessante. Existe coisa que está ao nosso lado e não conseguimos ver por excesso de luz ou por estar na escuridão. Este meu amigo turista, que pela segunda vez visita São Luís, deixou-me atônito por uma pergunta banal para ele, mas de significância capital para a nossa cidade: “Onde está o marco zero de São Luís?”. Não soube lhe responder, porquanto não sabia se existia, ou onde estaria localizado. O marco zero, para quem não sabe, é o nome que se dá ao local presumível de fundação de uma cidade. Para encontrar alguma pista, apresentei, na primeira oportunidade, ao turista incidental o livro “1612” – por que não dizer thesaurus? –, recém-lançado pela minha confreira Ana Luiza Ferro, que trata, de forma detalhada, da versão francesa da fundação de São Luís. Na página 259 dessa obra, encontramos escrito que o Palácio dos Leões, sede do Poder Executivo, tem seus “alicerces mais profundos” exatamente no “Forte de São Luís, erigido em 1612 por La Ravardière e Rasilly”, consoante comunicação do ilustre historiador maranhense Mário Meireles. Depois de encontrar essa informação, o meu visitante curitibano emitiu um som gutural denotando expressar muitas coisas. Em seu discurso, fez-me ver que a maioria das cidades importantes do mundo tem o seu marco zero, como representação material – quase um carimbo – da sua fundação, ou mais que isso: certidão histórica do início da sua existência sobre a face da Terra. A cidade que não o possui está dissociada de um princípio, portanto não tem origem nem paternidade. Mudamente, disse-me que São Luís é uma cidade importante, mas precisa ser assumida como tal pelo seu povo e identificada oficialmente pelo selo representativo da sua fundação, senão permanecerá órfã ad infinitum. A explanação do meu amigo viajante levou-me imediatamente ao marco zero de Paris, situado em frente à Catedral de Notre-Dame, a qual, por uma necessidade de todo turista curioso, tive a oportunidade de fotografar, quando por ali passei em uma das minhas viagens ao continente europeu. Ali estava o marco simbólico, magnífico e edificante, demonstrando que o homem daquele tempo exerceu a sua capacidade de erigir uma vila, sonhando, quem sabe, que no futuro poderia ser uma das cidades mais importantes e influentes do mundo. Depois me lembrei do imenso marco zero de Lisboa, construído aos pés do Monumento aos Descobrimentos, nas imediações do Mosteiro dos Jerônimos. No Brasil, quase todas as capitais têm seu marco zero. Em Porto Alegre, a Fonte Talavera de La Reina, presente da colônia espanhola, revestida de azulejos espanhóis, encontra-se instalada em frente ao prédio da Prefeitura desde 1935, representando o marco zero da cidade. Em Curitiba, o marco zero está na Praça Tiradentes, nas cercanias da Catedral. Em São Paulo, fica na Praça da Igreja da Sé. Em Recife, no Nordeste, localiza-se na famosa Praça Rio Branco. Os brasileiros que vivem nessas cidades sabem que é necessário dar uma certidão de nascimento para nossas capitais, outorgando a elas dignidade e respeito para aqueles que as visitam. Mas veio-me à cabeça outra questão: será que São Luís tem sido administrada, nestes anos todos, dessa forma porque não tem paternidade? Será que os gestores pensam ser esta uma terra de ninguém? Se isso é um fato, acredito, podemos remediá-lo imediatamente. Façamos um pacto social com todos os poderes e lancemos, no solo do sítio onde foi levantada por Rasilly a cruz, o marco
zero da sua fundação, para mostrar a nossa filiação e respeito com a terra colonizada dos tupinambás e com as suas tradições. Dessa forma, tiraremos a ilha de Upaon-Açu definitivamente da orfandade, fazendo com que ela se sinta uma urbe importante, digna – cheia de Luz –, parte da grande teia de vilas que rodeiam a Terra, onde habitam homens de boa vontade. Não discuto nem discutirei a verdade histórica sobre a fundação de São Luís. Mas só peço aos que estão em conflito sobre este fato que me respondam a seguinte pergunta: por que o nome da.
Caros amigos e amigas, Confrades e Confreiras do IHGM: É com alegria que anuncio que o livro 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís, de minha autoria (Curitiba: Juruá, 2014, 776 p.), indicado pelo IHGM, recebeu Menção Honrosa no Prêmio Pedro Calmon do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro IHGB. O certificado será entregue na solenidade de Abertura do Ano Social de 2015 do IHGB, em sua sede, na Glória, Rio de Janeiro, no dia 18 de março. A grande homenageada do livro é a nossa São Luís.
O ESTADO DO MARANHテグ CADERNO ALTERNATIVO, p. 8 Sテ」o Luis, 26 de marテァo de 2015
ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS, & OPINIÕES!
SOBRE MARIA FIRMINA72 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - Cadeira 21 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – Cadeira 40
E lá vamos nós de novo!!! E ‘la nave vá’... O telefone toca, e do outro lado a Dilercy: tive uma ideia!!! - De novo, não!!! – e sem me deixar ao menos balbuciar um protesto, lá vai ela: Outra das minhas ideias que você diz serem mirabolantes: que tal “190 poemas para Maria Firmina dos Reis”, para o ano que vem? Veja, ela fará 190 anos de nascimento – daí aproveitamos a ideia dos ‘1.000 Poemas... ’ e a homenageamos com ‘190 Poemas’, o que achas?
Com Dilercy não dá para achar nada: ela já se decidiu e ponto!!! A pergunta do que eu acho, é apenas retórica para dizer – vais participar... Vamos fazer de novo, “com duas obras, a primeira eu organizo, de poesias; a outra, para não reclamares do trabalho, sobre a vida e obra, que você organiza. Repetimos a parceria...”. Nem deu tempo para responder... – Depois mando mais detalhes, estou com pouco tempo agora... vá pensando... lançamos agora, em agosto; vou antecipar meu Elogio ao Patrono para o dia do aniversário da ALL, lançamos a ideia e vamos em frente: teremos um ano pela frente, e lançamento dos dois livros ano que vem, no aniversário dela... Mesma proposta dos “Perfis Acadêmicos”, e do volume quatro da Antologia sobre Gonçalves Dias – consórcio para a publicação....
Pronto!!! Mais um ano sem ter tempo para nada, e sem tempo para levar adiante os meus projetos... Conhecendo a Dilercy, nem adianta protestar – ela já decidiu, e pelos dois... Vamos ao Projeto, acima exposto... “Sobre Maria Firmina dos Reis”, como explicitado já, se trata de uma Coletânea, de caráter acadêmico, onde se procura reunir estudos sobre a vida e a obra dessa ludovicense/vimarense... Simples assim. Já temos alguns trabalhos selecionados – alguns já publicados em nossa “ALL em Revista”, e em outros veículos. Resolvi, a exemplo do que fiz na Antologia sobre Gonçalves Dias perscrutar – vixe!!! – jornais maranhenses em que MFR colaborou com poemas, charadas, artigos, e em que se têm notícias sobre a mesma. Dilercy alerta para que não se repita poemas... Acredito que lê-los no original, retirados dos jornais em que aparecem, será interessante... É um resgate... Mãos à obra; essa a minha colaboração! O primeiro registro que encontrei73 é do ano é 1861, publicado em 25 de setembro, no. 21 do jornal “O Jardim das Maranhenses”, periódico semanário, literário, moral crítico e recreativo e se refere ao início da publicação do folhetim que fora encaminhado pela professora pública de Guimarães Maria Firmina dos Reis. Logo a seguir aparece a publicação, em capítulos do romance brasileiro Gupeva (O Jardim das Maranhenses, n. 25, domingo, 13 de outubro de 1861).
72
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE MARIA FIRMINA DO REIS. São Luis: 2015; ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. 190 POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS, 2015. Inéditos. 73 Hemeroteca Digital, da Biblioteca Nacional
Nos números disponíveis na Hemeroteca Digital, da Biblioteca Nacional, se obteve mais estas referencias, desse periódico: recomendação de leitura de poesia da distinta literária maranhense, colaboradora do Jornal
“O Jardim das Maranhenses”, 1861
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“O Jardim das Maranhenses”, 1861 No ‘SEMANÁRIO MARANHENSE”, ano de 1868, setembro:
‘SEMANÁRIO MARANHENSE”, 1868
O Domingo, 1872
Mas nem tudo são flores. Maria Firmina, por ser mulata, sofreu discriminação – e por parte da autoridade policial da Vila de Guimarães, como vemos nessa nota, publicada em 1868:
Maria Firmina dos Reis era funcionária pública, professora régia, desde 1847 na vila de Guimarães. Lançou seu livro Úrsula aos 34 anos de idade, em 185974. Para Silva75, Provavelmente a escrita de Úrsula tenha se dado pelos anos de 1853 e 1854, período em que pede licença várias vezes, por meses seguidos, alegando problemas de saúde. Mesmo após o lançamento do livro, novos pedidos de licença, como notas publicadas nos anos de 1859 - Publicador Maranhense. Em diversas ocasiões requereu novas licenças, conforme despacho do dia 13 de janeiro de 1863, 1866, 1868 (esse requerimento não se sabe a que se refere, solicitando-se que provasse o que alegava); 1871, 1874, em O Publicador. Encontramos registro da inspetoria de educação referente a 3ª Comarca, de Guimarães, sobre a frequência de alunos às aulas. Em 1880, na Assembleia Provincial discutiu-se novo pedido de licença, com intenso debate entre os Deputados, conforme consta dos Anais, publicados em O Publicador Maranhense. Em 1881, a 18 de fevereiro, é publicada sua aposentadoria. Em 1911 recebe a visita do Governador do Estado. Quando do lançamento de “Úrsula”, recebeu acolhida relativa pelos jornais da cidade. Ao final da vida, Maria Firmina representava o mundo de mulheres76 da segunda metade do século XIX, como mulher escritora numa sociedade na qual a literatura era além de exercício de distinção, também espaço para se pensar sobre o mundo e o meio que a cercava (Silva, 2014) 77. Para essa autora, utilizando-se de Sevcenko78: “o século XIX foi o século da literatura”; onde a literatura – moderna – ganhou espaço, pois ocupava lugar de destaque e servia como distinção social: 74
MORAIS FILHO, José Nascimento. MARIA FIRMINA: fragmentos de uma vida. São Luís: COCSN, 1975. SILVA, Régia Agostinho da Silva. REPRESENTAÇÕES DE MULHES EM MARIA FIRMINA DOS REIS. In PACHECO FILHO, Alan Kardec Gomes; CORRÊA, Helidacy Maria Muniz; PEREIRA, Josenildo Jesus. SÃO LUÍS 400 ANOS - (con)tradições de uma cidade histórica. São Luis: Café & Lápis; EDUEMA, 2014. 76 Acompanhamos Silva (2014), que utiliza ‘mulheres’, no plural, por entender que, ao abordar uma história das mulheres, só podemos compreendê-la a partir de um ponto de vista diversificado, de raça, cor, classe. Conforme SAMARA, Eni de Mesquita. FAMILIA, MULHERES E PENSAMENTO: São Paulo, Século XVII. Bauru: EDUSC, 2003. SILVA, Régia Agostinho da Silva. Obra citada, 2014. 77 SILVA, Régia Agostinho da Silva. Obra citada, 2014. 78 SEVCENKO, Nicolau. LITERATURA COMO MISSÃO: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. In SILVA, Régia Agostinho da Silva. Obra citada, 2014. 75
[...] Era preciso publicar versos para ser considerado como um individuo pensante e que se diferenciava dos demais. Na ‘Ilha de letrados em um oceano de analfabetos’79, fazer versos e publicá-los em jornais era sinal de distinção. 80.
Após Maria Firmina, a literatura feita por mulheres não seria mais a mesma. Até então se tratava de uma literatura de ‘bicos e bordados’, falando de amores açucarados, de borboletas azuis, de amores galantes: [...] Pouquíssimas foram as mulheres escritoras que ousaram criar coisa diferente, falar de outras temáticas, e falar sobre e ser contra a escravidão; foi raríssimos, na segunda metade do século XIX, só conhecemos, até agora, os textos de Maria Firmina dos Reis. 81.
Ser mulher, e escritora, na província do Maranhão em pleno Oitocentos, não deve ter sido fácil... Buscando informações na “nuvem”, encontramos na Wikipédia o que segue: Maria Firmina dos Reis (São Luís, 11 de outubro de 1825 — Guimarães, 11 de novembro 1917)1 foi uma escritora brasileira, considerada a primeira romancista brasileira. “Maria Firmina dos Reis nasceu na Ilha de São Luís, MA, em 11 de outubro de 1825. Foi registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Mulata, bastarda, é prima do escritor maranhense Sotero dos Reis por parte da mãe. Em 1830, mudou-se com a família para a Guimarães Maranhão, no continente, município de Viana. Viveu parte de sua vida na casa de uma tia materna ‘melhor situada economicamente’”. Em 1847, concorreu à cadeira de Instrução Primária nessa localidade e, sendo aprovada, ali mesmo exerceu a profissão, como professora de primeiras letras de 1847 a 1881.”2
Obras3
Úrsula. Romance, 1859. Gupeva. Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da Juventude). Poemas em: Parnaso maranhense, 1861. A escrava. Conto, 1887 (A Revista Maranhense no. 3) Cantos à beira-mar. Poesias, 1871. Hino da libertação dos escravos. 1888. Poemas em: A Imprensa, Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do Maranhão; Pacotilha (jornal); e Federalista. • Composições musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); Hino à Mocidade (letra e música); Hino à liberdade dos escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação (“à Praia de Cumã”; letra e música). • • • • • • •
Literatura secundária • BLAKE, AUGUSTO VICTORINO SACRAMENTO. «Maria Firmina dos Reis» Em: _______. Diccionario Bibliographico Brazileiro. Vol. 6, p. 232. Referências 1. SOUZA DOREA, ALFREDO. Maria Firmina dos Reis, negra Maranhão. Em: Cadernos do Ceas. Salvador da Bahia, 1995. ISSN 0102-9711 79
memória
do
CARVALHO, José Murilo de. A CONSTRUÇÃO DA ORDEM: a elite política imperial, Teatro das sombras: a política imperial. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007. In SILVA, Régia Agostinho da Silva. Obra citada, 2014. 80 In SILVA, Régia Agostinho da Silva. Obra citada, 2014. 81 SILVA, Régia Agostinho da Silva. Obra citada, 2014.
2. MUZART, Zahidé Lupinacci Antologia. Florianópolis/Santa Cruz 272. ISBN 85-86501-09-3 3. Seleção tida de: MUZART, Zahidé Antologia. Florianópolis/Santa Cruz 272. ISBN 85-86501-09-3
(org.). Escritoras brasileiras do século XIX: so Sul: Editora Mulheres/EDUNISC, 1999, p. 271Lupinacci (org.). Escritoras brasileiras do século XIX: so Sul: Editora Mulheres/EDUNISC, 1999, p. 271-
As buscas na nuvem nos trazem inúmeros estudos já realizados sobre a vida e obra dessa – ao que parece não tão esquecida - escritora ludovicense. Soube, inclusive, de um Grupo de Estudos constituído na UNICAMP: [...] na verdade, é algo bem simples e pequeno ainda. Talvez tome maiores proporções no futuro, mas é algo incerto. A pesquisa é devido à uma disciplina de Teoria Literária que estamos cursando na faculdade. O grupo é constituído por três pessoas apenas; duas meninas, além de mim. Ainda estamos no segundo período de nossa graduação. A pesquisa tem o objetivo de coletarmos dados acerca de um determinado autor e sua obra, para construirmos ao final do semestre um dossiê que reúna todos esses dados coletados. Escolhemos Maria Firmina como a autora a ser pesquisada por ela constar na lista de autores disponibilizada pela professora. Eu e as meninas do grupo não conhecíamos Maria Firmina, porém nos interessamos bastante (eu, pelo menos) por ela após começarmos a pesquisa, de modo que, quem sabe numa pós, mestrado, etc., uma de nós possa ainda investir na pesquisa sobre a autora. Creio que os dados que coletamos não apresentam nada de excepcional, mas pretendemos montar um dossiê bem bonito e, de qualquer forma, o enviaremos a você depois de finalizado (Carvalho, Júlia, 13 de novembro de 2014, Correspondência pessoal)82
Também disponível na nuvem, os seguintes trabalhos: ANDRETA, Bárbara Loureiro ; ALÓS, Anselmo Peres Alós. A VOZ E A MEMÓRIA DOS ESCRAVOS: ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS. IDENTIDADE! | SÃO LEOPOLDO | V.18 N. 2 | P. 194-200 | JUL./DEZ. 2013 | ISSN 2178-0437X. DISPONÍVEL EM: HTTP://PERIODICOS.EST.EDU.BR/IDENTIDADE; http://periodicos.est.edu.br/index.php/identidade/article/viewFile/952/1114
Resumo: O romance Úrsula, escrito pela maranhense Maria Firmina dos Reis, teve sua primeira publicação em 1859, voltando a ser estudado na década de 1970 a partir da publicação de sua edição fac-similar por Horácio de Almeida. Úrsula foi o primeiro romance de autoria afrodescendente da literatura brasileira, o qual se apresenta como pioneiro no tratamento da escravidão, visto que esta é narrada a partir da perspectiva dos escravos. Neste romance, a autora dá voz para que relatem, a partir de suas memórias (não só de sua terra natal, mas da travessia até chegar ao Brasil), a violência a que os escravos eram submetidos.
BARBOSA, Elizângela Fernandes. REPRESENT(AÇÕES) LITERÁRIAS EM A ESCRAVA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS. Anais do XIV Seminário Nacional Mulher e Literatura / V Seminário Internacional Mulher e Literatura. http://www.telunb.com.br/mulhereliteratura/anais/wp-content/uploads/2012/01/elizangela_fernandes.pdf
RESUMO: o artigo tem como ponto de partida o conto A escrava, publicado na revista Maranhense (1887:1, nº3), de Maria Firmina dos Reis, escritora negra, criadora de uma literatura engajada no auge da campanha abolicionista2. A investigação se concentra no modo que a narração possibilita a discussão da alteridade e, simultaneamente, a denúncia da condição crítica do escravo e da mulher. A figura da “louca” e sua ligação com a autoria feminina, a luta por autonomia e resistência criativa à dominante sociedade
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CARVALHO, Julia. Correspondência eletrônica pessoal, em novembro de 2014, várias trocas de mensagens sobre Maria Firmina dos Reis.
patriarcal brasileira do século XIX, em busca de novos papéis e expectativas sociais, é uma questão que deve ser também considerada neste trabalho.
BARROS, Maria Aparecida de. VOZES FEMININAS E ÉTNICAS: A NARRATIVA ENQUANTO EXPRESSÃO DA VIDA. Terra roxa e outras terras – Revista de Estudos Literários. Volume 17-B (dez. 2009) - ISSN 1678-2054 – http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa ; http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa/g_pdf/vol17B/TRvol17Bc.pdf
ABSTRACT: The memory of two african descendants, one from the 19th century tale “A Escrava” by Maria Firmina dos Reis, and the other from the 21st century, a deponent to my research, is a vertex in this work. Approaching these voices permeated with the taste of the african culture although apart in time and space reveal what is to be a black woman in an exclusive society.
CORREIA, Janaína Santos: MARIA FIRMINA DOS REIS, VIDA E OBRA: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A ESCRITA DA HISTÓRIA DAS MULHERES E DOS AFRODESCENDENTES NO BRASIL. http://www.feminismos.neim.ufba.br/index.php/revista/article/view/27 Resumo - Maria Firmina dos Reis aventurou-se a escrever dentro das possibilidades que a sociedade brasileira do século XIX impunha a época, driblou as agruras de seu tempo e em 1859 publica seu romance “Úrsula”, obra singular por ser composta por uma mulher de descendência africana na qual evidencia a condição de desigualdade a que as mulheres, africanos e seus descendentes estavam submetidos no Brasil oitocentista, em decorrência do regime patriarcal. Arte e vida se entrelaçam e vem contribuir para o resgate desses sujeitos históricos. Ao analisarmos sua luta em adentrar espaços até então negados, ao analisar sua obra a partir de uma perspectiva étnica e de gênero podemos encontrar denúncias contundentes à situação da mulher e do negro na sociedade de seu tempo, “essa obra atribuiu ao negro a configuração até então negada: a de ser humano, portador de sentimentos, memória e alma (MENDES, 2006, 2008)”.
DUARTE, Constância Lima Duarte. GÊNERO E ETNIA NO NASCENTE ROMANCE BRASILEIRO. RESENHAS: Úrsula. REIS, Maria Firmina dos. 4. ed. Atualização do texto e posfácio de Eduardo de Assis Duarte. Florianópolis: Editora Mulheres; Belo Horizonte: PUC Minas, 2004. 288 p. Rev. Estud. Fem. vol.13 no.2 Florianópolis May/Aug. 2005. Revista Estudos Feministas Print version ISSN 0104-026X. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2005000200019 RESENHA Uma importante reedição acaba de ser realizada pela Editora Mulheres, de Florianópolis, em parceria com a Editora da PUC Minas. Trata-se da publicação do romance Úrsula, que veio a público originalmente em São Luis do Maranhão, no ano de 1859, pela mão afro-brasileira de Maria Firmina dos Reis. A autora é considerada uma das pioneiras da ficção escrita por mulheres em nosso país, ao lado de Nísia Floresta e Ana Luísa de Azevedo e Castro. Mas o mérito da edição não se resume a isso. O livro permaneceu fora de circulação por mais de um século e seu resgate vem contribuir para a reescrita de nossa história literária. Até porque inaugura uma perspectiva diferenciada quanto ao trato do problema da escravidão, que não se encontra na obra dos demais escritores do período romântico. A autora – mulher mestiça, bastarda e criada sem a presença dos pais – assume o ponto de vista do outro, tanto no que diz respeito à representação dos escravizados, quanto no inédito enfoque das relações de dominação patriarcal sob a perspectiva da mulher. A instigante novidade do texto de Maria Firmina reside na preocupação com a história e as raízes negras, bem como na referência constante à África, apesar do enredo protagonizado pelos jovens brancos Úrsula e Tancredo. O papel atribuído aos cativos na trama revelar-se-á fundamental para o desfecho. Além disso, os escravos aí representados em nenhum momento se identificam com os valores dominantes, nem reproduzem estereótipos, como do "negro de alma branca", a exemplo de Pai Tomás, Domingos, Isaura e tantos outros, submetidos à "consciência social subordinada", a que mais tarde se reportaria Clóvis Moura. Ao contrário, conservam sua etnicidade e suas práticas culturais como forma de resistência. E essa atitude integra o processo de sua afirmação como sujeitos.
"A mente! Isso sim ninguém pode escravizar!", afirma o personagem de Maria Firmina. Ao contrário do que se praticava na literatura da época, o parâmetro moral existente no texto não se coaduna com os valores sociais hegemônicos: as qualidades de Túlio são derivadas da nobreza de seu sangue africano, e se tornam mesmo elemento de comparação entre o escravo e o personagem branco: "é que em seu coração [dele, Tancredo], ardiam sentimentos tão nobres e generosos como os que animavam a alma do jovem negro" (grifos nossos, p. 25). Outro fator a ressaltar é o ponto de vista gendrado, que permite a crítica às formas de subordinação da mulher no patriarcado brasileiro, herdeiro das relações coloniais. Em uma reflexão inédita na escrita de seu tempo, Maria Firmina dos Reis fala como mulher e associa a dominação de raça à de seu sexo, vinculando, portanto, gênero e etnia. O texto evidencia que a ausência de liberdade do negro emana do mesmo sistema que subordina a mulher... E isso muito antes de Simone de Beauvoir promover a equiparação dessas categorias. A mulher é o outro, tanto quanto o negro. Nesse sentido, ganha importância a cena em que a jovem Úrsula, presa ao território familiar enquanto aguarda o príncipe encantado, inveja a mobilidade adquirida pelo escravo alforriado. Além disso, a autora constrói, nos personagens Túlio e Tancredo, traços do ideal do homem sensível, capaz de amar e de sofrer por amor. Este último, em tudo se opõe à brutalidade imperante nas relações entre os gêneros, de que é exemplo o próprio pai: Não sei por quê, mas nunca pude dedicar a meu pai amor filial que rivalizasse com aquele que sentia por minha mãe, e sabeis por quê? É que, entre ele e sua esposa, estava colocado o mais despótico poder: meu pai era o tirano de sua mulher; e ela, triste vítima, chorava em silêncio e resignava-se com sublime brandura (p. 60). Nessa crítica, marcada pela fala pesarosa do filho, a autora expressa sua desaprovação ao regime patriarcal. Tancredo ressalta com veemência o "gênio rude" do pai, responsável pela doença e morte da própria esposa, e pela perseguição e infelicidade amorosa do filho. Desse modo, a narrativa de Maria Firmina incorpora os nascentes valores românticos e liberais para contribuir de modo exemplar com o surgimento de um novo homem, que vai propiciar, por sua vez, a existência de uma nova mulher. Essas questões, que estão na ordem do dia na contemporaneidade, por si só justificam o a presente edição. No momento em que se buscam as articulações entre as 'minorias' com vistas a políticas comuns de combate à exclusão, e em que se clama pela solidariedade anti-hegemônica, essa narrativa de 145 anos atrás bem demonstra o valor de nossas primeiras escritoras. Além do romance, a edição reproduz em apêndice o conto "A escrava", publicado por Maria Firmina dos Reis em 1887, no auge da campanha abolicionista. E novamente o leitor se depara com o discurso do outro, emoldurado pelo ponto de vista dos submetidos. O escravo e a mulher tomam a palavra e falam por todos os que não tinham voz na sociedade e na política brasileira daquele momento. Há que se ressaltar ainda o primoroso trabalho editorial que valoriza o romance, e a cuidadosa atualização do texto feita pelo organizador Eduardo de Assis Duarte, a partir do cotejo com as primeiras edições. A 'tradução' para o português contemporâneo limitou-se ao plano vocabular, a fim de conservar a pontuação original e o estilo muito próprio da escritora. Outro ponto a destacar é o posfácio – acurado estudo crítico, que vem acrescentar dados novos à análise das obras. Assim, o leitor contemporâneo tem a oportunidade de conhecer melhor essa história oculta que o texto literário vem iluminar, e também acrescentar uma nova escritora ao panteão das letras nacionais.
EDITAL
PARA
A
MOSTRA
FOTOGRÁFICA
MARIA
FIRMINA
DOS
REIS.
http://coimama.com.br/editais/edital-mostra.pdf
A comissão científica do I COIMAMA, I ENVERSUS (Encontro Nacional do VERSUS) e I EMLAM (Encontro Maranhense de Ligas Acadêmicas de Medicina), vêm por meio deste tornar público o presente Edital da MOSTRA FOTOGRÁFICA MARIA FIRMINA DOS REIS, que regulamenta inscrições de participantes que tenham interesse em participar da Mostra que será realizada nos citados eventos. 1. DO OBJETO Construir a Mostra Fotográfica Maria Firmina dos Reias, que acontecerá durante o I COIMAMA, o I ENVERSUS e o I EMLAM, a partir dos eixos temáticos descritos neste edital. 2. DO OBJETIVO Evidenciar aspectos relacionados à história da saúde no brasil e do maranhão, vivências de trabalhadores, estudantes e movimentos sociais na realidade do Sistema Único de Saúde (SUS),
incentivando a produção fotográfica e a utilização de linguagem artística na saúde, nas categorias profissional e amador, e a partir dos eixos temáticos: 1- História da Saúde no Maranhão e no Brasil; 2- Vivências dos Trabalhadores do SUS e Participação popular no Sistema Único de Saúde; 3- Os olhares de trabalhadores ou intercambistas da saúde internacional; 4- Vivências do movimento estudantil no Sistema de Único de Saúde; 5- Ligas Acadêmicas da Saúde e o desenvolvimento do tripé: ensino, pesquisa e extensão; 6- Saúde além do convencional.
EUFRÁZIO, Ana. MARIA FIRMINA DOS REIS: ORGULHO DE SER NORDESTINA. A gota D'água - Do antigo "Amélia é a mãe". http://anaeufrazio.blogspot.com.br/2013/09/maria-firmina-dos-reis-orgulhode-ser.html.
Fonte: http://www.editoramulheres.com.br/ursulaposfacio.htm
FERNANDES, Maria Angélica Rocha. MARIA FIRMINA DOS REIS – “À AUTORA DOS SEUS DIAS” -! Caderno Seminal Digital Ano 16, nº 14, V. 14 (Jun.- Dez/2010) – ISSN 1806 -9142. http://www.dialogarts.uerj.br/admin/arquivos_seminal/seminal_14.pdf
HOSHINO, Aline Eiko. UM ESTUDO SOBRE A REPRESENTAÇÃO DE MÃE SUSANA NO LIVRO ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS EM 1859. II Colóquio da Pós-Graduação em Letras UNESP – Campus de Assis ISSN: 2178-3683. http://www.assis.unesp.br/Home/PosGraduacao/Letras/ColoquioLetras/alineeiko.pdf ; www.assis.unesp.br/coloquioletrascoloquiletras@yahoo.com.br
RESUMO: Analisar as representações afro-brasileiras, por meio do livro Úrsula de Maria Firmina dos Reis, considerada a obra-prima da autora, escrita em 1859. Busca-se perceber como o livro trata as questões raciais e de gênero em especial na personagem feminina de Mãe Susana. Através dessa análise buscam-se as representações da sociedade escravocrata do Maranhão do século XIX, através dos olhos da escritora Maria Firmina.
JORGE ALBERTO. ÚRSULA - MARIA FIRMINA DOS REIS. COLÉGIO PRO CAMPUS – A PAZ ESTÁ NA BOA EDUCAÇÃO – COMENTÁRIOS DE OBRAS UESPI HTTP://WWW.PROCAMPUS.COM.BR/VESTIBULAR/RESUMOS/UESPI2009/%C3%9ARSULA%20%20M%20FIRMINA%20DOS%20%20REIS.PDF
LEITURAS PRETAS – MARIA FIRMINA DOS REIS: MULHER, MULATA, ABOLICIONISTA! – GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA. Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador. NOVEMBRO – 2014 Promovendo leituras dramáticas de textos da literatura afrobrasileira, o projeto, iniciado em 2011, apresenta nesta edição produções da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis. http://www.agendacultural.ba.gov.br/2014/07/18/leituras-pretas-%E2%80%93-maria-firmina-dos-reis-mulher-mulata-abolicionista/
LUNA E SILVA, Danielle de. MATERNIDADE E AFRODESCENDÊNCIA EM ÚRSULA E A ESCRAVA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS. Cadernos Imbondeiro. João Pessoa, v.2, n.1, 2012. periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/ci/article/download/14155/8766 MELO, Thamires. COMPOSIÇÃO ESTÉTICA DO ROMANCE: “ÚRSULA” DE MARIA FIRMINA DOS REIS. http://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Composi%C3%A7%C3%A3o-Est%C3%A9tica-DoRomance-%E2%80%9C%C3%9Arsula%E2%80%9D-De/47372925.html ; Enviado por thamiresmelo10, fev. 2014 | 17 Páginas (4224 Palavras) MENDES, Algemira Macêdo. MARIA FIRMINA DOS REIS E AMÉLIA BEVILÁQUA NA HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA: REPRESENTAÇÃO, IMAGENS E
MEMÓRIAS NOS SÉCULOS XIX E XX.
http://meriva.pucrs.br/dspace/bitstream/10923/4207/3/000390035-
Texto%2BCompleto-0.pdf
RESUMO - O presente trabalho, Maria Firmina dos Reis e Amélia Beviláqua na história da literatura brasileira: representação, imagens e memórias do século XIX e XX, tem como suporte teórico a História da Literatura, História, Histórias das Mulheres e Teoria Literária. Seu objetivo foi rastrear o processo de inclusão e de exclusão das escritoras Maria Firmina dos Reis e Amélia Beviláqua na historiografia literária brasileira do século XIX e século XX. Realizou-se estudo extratextual e intratextual das obras Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, assim como dos romances Angústia eJeanete de Amélia Beviláqua, verificando as memórias, imagens e representações do estatuto da mulher no contexto sociopolítico e cultural no qual as obras se inserem.
MENDES, Joselma . A VOZ FEMININA NO ROMANCE MARANHENSE: UMA ANÁLISE DA OBRA ÚRSULA DE MARIA FIRMINA DOS REIS. http://pt.slideshare.net/Joselmajp/rsula-maria-firmina Uploaded on Jul 25, 2014
Este trabalho pretende evidenciar a presença da mulher na Literatura Maranhense através da obra Úrsula de Maria Firmina dos Reis, uma escritora maranhense e afro-descendente. Busca ainda retratar de forma sucinta o papel da mulher no seculo XIX e a condição do negro na época, usando sua voz para relatar sua condição.
MENDES, Melissa Rosa Teixeira. MARIA FIRMINA DOS REIS: MULHER E ESCRITORA OITOCENTISTA. RevIU IMEA-UNILA Vol. 2, Num. 1, p. 39-48, 2014 Https://ojs.unila.edu.br/ojs/index.php/ https://revistas.unila.edu.br/index.php/IMEA-UNILA/article/viewFile/202/256 MOLINA, Lívia Menezes da Costa: MARIA FIRMINA DOS REIS, 150 ANOS DE PURA OUSADIA. http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/102/mariafirminacritica02.pdf MUZART, Zahidé Lupinacci Muzart. UMA PIONEIRA: MARIA FIRMINA DOS REIS. Muitas Vozes, Ponta Grossa, v.2, n.2, p. 247-260, 2013. www.revistas2.uepg.br/index.php/muitasvozes/article/download/.../3886
NASCIMENTO, Juliano Carrupt do. O ROMANCE ÚRSULA DE MARIA FIRMINA DOS REIS: ESTÉTICA E IDEOLOGIA NO ROMANTISMO BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ. 106 fl. 2009. Dissertação de Mestrado em Literatura brasileira. http://www.letras.ufrj.br/posverna/mestrado/NascimentoJC.pdf
Resumo - Esta dissertação desenvolve a crítica sobre a construção narrativa do romance Úrsula (1859), demonstrando que a mulher e o negro, como personagens, desorganizam o mandonismo patriarcal e escravocrata vigente na cultura e literatura brasileiras do século XIX. A contribuição de Maria Firmina dos Reis para a visibilidade feminina e a elaboração da identidade africana do negro escravo está ligada ao travejamento discursivo da estética romântica. A investigação se concentra no modo que o romance se constrói, na distribuição de vozes que tecem o encadeamento narrativo. A estratégia do deslocamento do poder efetuado pela narradora, através de seu recurso estilístico, cria o efeito estético que se harmoniza à concepção ideológica localizando a mulher e o negro como personagens não cordiais em relação aos senhores da terra.
OLIVEIRA, Adriana Barbosa de. GÊNERO E ETNICIDADE NO ROMANCE ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS. ANAIS DO SETA, Número 1, 2007. http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/seta/article/view/282/244
RESUMEN: Mi interés en este trabajo es presentar mi proyecto de máster, cuyo principal objetivo es hacer una lectura de la novela Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, que evidencie la denuncia, presente en la obra, de la condición de desigualdad a que las mujeres y los africanos y sus descendientes estaban sometidos, en Brasil, en el siglo XIX, debido a la actuación de un patriarcado opresor. Para ello, pretendo analizar la
construcción de los personajes, principalmente los negros, las mujeres y Tancredo, a fin de explicitar el papel que ejercen en la narrativa y las relaciones entre género y etnia.
NEGRAS HISTÓRIAS. http://www.criola.org.br/nnh/nnh_maria_firmina_dos_reis.htm#Maria Firmina dos Reis Apesar de ser considerada por alguns autores como a primeira romancista brasileira - seu livro Úrsula é de 1859 - pouco se sabe da vida desta maranhense bastarda e negra. Nascida em São Luís (1825-1917), disputou em 1847 uma vaga para a cadeira de professora de primeiras letras em Guimarães. Orgulhosa com a vitória da filha, a mãe alugou um palanquim - espécie de cadeira carregada por dois escravos - para que fosse receber o documento da nomeação. Revoltada, Maria Firmina recusou, afirmando que negro não era animal para andar montado nele! Contrária à escravidão em suas atitudes, também usou os seus escritos para denunciá-la. Acreditava que a escravidão contradizia os princípios do cristianismo, que ensinava o homem a amar o próximo como a si mesmo. Via o escravo como uma pessoa digna, capaz de sentimento nobres mesmo tendo vivido tantos anos sob o regime degradante do cativeiro.Seu livro Úrsula pode ser considerado o primeiro romance abolicionista escrito por uma brasileira. Colaborou ainda na imprensa local com poesias e contos; escreveu um livro em comemoração ao 13 de maio, além de ser autora de vários folguedos. Aos 55 anos, um ano antes de aposentar-se do magistério público oficial, fundou em Guimarães uma escola mista e gratuita para crianças pobres. Como professora era enérgica, mas falava baixo e não usava castigos corporais. Quem lembra dela, na casa dos 80, fala da velhinha negra de cabelos grisalhos, amarrados atrás da nuca, vestida de roupas escuras e sandálias. Apesar de pobre e solteira, teve alguns filhos adotivos e inúmeros afilhados. Faleceu cega, aos 92 anos de idade, na casa de uma amiga ex-escrava, e até hoje, em Guimarães, "a uma mulher inteligente e instruída chamam: Maria Firmina"!
NEGROS GENIAIS. MARIA FIRMINA DOS REIS, POETISA, ESCRITORA E EDUCADORA (1825-1917). http://negrosgeniais.blogspot.com.br/2014/04/maria-firmina-dos-reis-poetisa.html Quem procurar por Maria Firmina na internet, encontrará poucos textos que dirá que ela tem alguma relação com heranças africanas além do que escreveu. Ou seja, achará que ela era branca. Também irá tropeçar em verbetes como no Wikipédia, dizendo coisas como: "mulata bastarda". O termo mulato é atribuído a pessoas descendentes de negros e brancos. Mas também é ostensivamente utilizado para varrer para debaixo do tapete a negritude de pessoas geniais, como Machado de Assis, Lima Barreto, Jece Valadão, Mário de Andrade, entre outras personalidades. Como Maria Firmina dos Reis. Enfrentando todas as barreiras do preconceito, publicou em 1859, o romance "Úrsula", considerado nosso primeiro romance abolicionista e um dos primeiros escritos por mulher brasileira. Também compôs o "Hino à Libertação dos Escravos". Maria Firmina nasceu na Ilha de São Luís do Maranhão em outubro de 1825, filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Aos cinco anos, mudou-se para a casa de uma tia materna, na vila de São José de Guimarães, no município de Viamão, situado no continente e separado da capital pela baía de São Marcos, e lá viveu boa parte de sua vida. Aos vinte anos, concorreu à cadeira de Instrução Primária e, depois de aprovada, tornou-se professora de primeiras letras de 1847 a 1880. Em 1859, publicou “Úrsula”, em 1887, o conto "A Escrava" e, em 1871, publicou a obra de poesias "Cantos à Beira-Mar". Ao se aposentar da carreira de professora, no início da década de 1880, fundou uma escola gratuita mista (para meninos e meninas), o que causou escândalo no povoado de Maçaricó. A escola foi fechada em pouco tempo. Também colaborou intensamente para a imprensa local, publicando poesia, ficção, crônicas e até enigmas e charadas. Maria Firmina teve participação relevante como cidadã e intelectual ao longo de seus noventa e dois anos de uma vida, dedicada a ler, escrever e ensinar. Atuou como folclorista, na preservação de textos da literatura oral. Atuou também como compositora, sendo responsável, inclusive, pela composição de um hino para a abolição da escravatura.
"Úrsula" permaneceu fora de circulação por mais de um século. Ao escrevê-lo, Maria Firmina assinou como “Uma Maranhense”, pseudônimo que se justifica nas limitações, nos preconceitos a que as mulheres eram submetidas. No prólogo do livro, diz saber que “pouco vale esse romance, porque escrito por uma mulher e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados”. Essas palavras revelam a condição social de quem não pôde estudar na Europa para ter uma educação mais apurada, assim classificando o seu livro de “mesquinho e humilde”, mas desafiando: “ainda assim o dou a lume”. (Luisa Caroline Campos Santos). Trecho de "Úrsula": "E o mísero sofria; porque era escravo e a escravidão não lhe embrutecera a alma, porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantara no coração, permaneciam intactos e puros como sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e por isso seu coração estremeceu-se na presença da dolorosa cena, que se lhe ofereceu à vista." Obras: “Úrsula”. Romance, 1859; “Gupeva”. Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da Juventude); Poemas em: “Parnaso Maranhense”, 1861. “A Escrava”. Conto, 1887 (A Revista Maranhense no. 3); “Cantos à Beira-Mar. Poesias, 1871; “Hino da Libertação dos Escravos”, 1888. Poemas em: A Imprensa, Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do Maranhão; Pacotilha (jornal); e Federalista. Composições musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); Hino à Mocidade (letra e música); Hino à liberdade dos escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação (“à Praia de Cumã”; letra e música).
RIO, Ana Carla Carneiro. A HETEROTOPIA DO CEMITÉRIO NO ROMANCE ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS. Caderno de Resumos da Jopelit v. 1, n. 1 (2013). http://www.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/jopelit/article/view/676
Resumo- O romance Úrsula de Maria Firmina dos Reis foi escrito após a “independência” do Brasil. O país não se apresentava totalmente ruralizado, pois se iniciava o processo de industrialização, o desejo de abolir a escravidão e construção de uma república. Um traço marcante na obra é a preocupação com a paisagem, lugares, espaços, enfim o modo de descrever a nação, que o narrador suscita como características que deixa o homem ameno e o torna feliz. Os espaços na obra são descritos numa visão ufanista e amorosa, denotando um forte sentimento de “brasilidade”. O texto literário problematiza temáticas como a igualdade social, de raças e gênero. Os espaços no romance possibilitam ações que caracterizam o perfil das personagens, o espaço natural que é característica marcante na obra corrobora com os sofrimentos e alegrias das personagens. A natureza representa o espaço da criação divina e lugar onde guarda os segredos da protagonista. No decorrer da narrativa esse espaço “ruralizado”, abrigo, refúgio da protagonista é quebrado pela presença de um caçador tirano, desse modo, o que era ambiente de meditação e acolhimento, torna-se sombrio. Vários são os espaços heterotópicos presentes na obra. Para Foucault, a heterotopia seria esse espaço do desassossego, “tem o poder de justapor, em um só lugar real, vários espaços, vários posicionamentos que são em si próprios incompatíveis” (FOUCAULT, 2001: 418). O cemitério é um deles. É um lugar diferente dos outros espaços sociais, é uma heterotopia, pois causa inquietação, angústia, ou seja, um lugar real que denota o surgimento de outros espaços. O narrador define esse espaço como “cidade da morte”, “lugar do esquecimento eterno”, “última morada do homem”, espaço onde é guardado todos os segredos do morto.
ROSA, Soraia Ribeiro Cassimiro. UM OLHAR SOBRE O ROMANCE ÚRSULA, DE MARIA FIRMINA DOS REIS. http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/102/mariafirminacritica05.pdf
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo a abordagem do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, tendo como perspectiva a sua leitura dentro do panorama da literatura brasileira canônica e a articulação própria que faz entre discurso literário e histórico. O romance foi publicado em 1859, em pleno romantismo, e é marcado por uma visão peculiar no que tange ao possível discurso das minorias no século XIX. Sua narrativa divide uma estrutura bastante conhecida dos chamados romances românticos e a inovação de um discurso que parece romper com a tradicional visão do negro difundida nos romances da época.
SILVA, Cristina da Conceição (UERJ/UCAM/UNIGRANRIO); ROCHA, José Geraldo (UNIGRANRIO); RANGEL, Patrícia Luisa Nogueira (UNIGRANRIO). HISTÓRIA LITERÁRIA: O OLHAR DE MARIA FIRMINA DOS REIS, MULHER E AFRODESCENDENTE. XVIII CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA. CADERNOS DO CNLF, VOL. XVIII, Nº 08 – HISTÓRIA DA LITERATURA E CRÍTICA LITERÁRIA. RIO DE JANEIRO: CIFEFIL, 2014. http://www.filologia.org.br/xviii_cnlf/cnlf/tomo_08/006.pdf SILVA, Juliana. FUNDAÇÃO PALMARES - PERSONALIDADE NEGRA – MARIA FIRMINA DOS REIS. sexta-feira, 19 / setembro / 2014 by juliana.silva. http://www.palmares.gov.br/?p=34293
Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís, no Maranhão, no dia 11 de outubro de 1825. Filha bastarda de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Foi uma escritora brasileira, considerada a primeira romancista brasileira. Em 1847, aos 22 anos, ela foi aprovada em um concurso público para a Cadeira de Instrução Primária, sendo assim a primeira professora concursada de seu Estado. Maria demonstrou sua afinidade com a escrita ao publicar “Úrsula” em 1859, primeiro romance abolicionista, primeiro escrito por uma mulher negra brasileira. O romance “Úrsula” consagrou Maria Firmina como escritora e também foi o primeiro romance da literatura afro-brasileira, entendida esta como produção de autoria afrodescendente. Em 1887, no auge da campanha abolicionista, a escritora publica o livro “A Escrava”, reforçando sua postura antiescravista. Ao aposentar-se, em 1880, fundou uma escola mista e gratuita. Maria morre aos 92 anos, na cidade de Guimarães, no dia 11 de novembro de 1917. Em 1975, Maria recebe uma homenagem de José Nascimento Morais Filho que publica a primeira biografia da escritora, Maria Firmina: fragmentos de uma vida.
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Resumo: O presente artigo analisa duas obras de Maria Firmina dos Reis, o romance “Úrsula”, 1859 e o conto “A Escrava”, 1887, onde a autora maranhense, nascida em São Luís em 1825, discute a relação entre senhores e escravos, colocando-se como uma voz abolicionista no Maranhão do século XIX. Na análise dessas duas obras procura-se também discutir a autoria feminina no Brasil ao longo do século XIX.
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de 1887, buscamos compreender como Maria Firmina dos Reis representou e compreendeu o mundo dos cativos e das mulheres da segunda metade do século XIX no Maranhão. Também utilizamos jornais do período para poder captar a atmosfera cultural na qual Maria Firmina dos Reis esteve inserida
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ALL EM REVISTA, N. 2, abril/junho 2014, p. 80,
http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_
DILERCY ARAGÃO ADLER SELO COMEMORATIVO - HISTÓRICO E JUSTIFICATIVA. ALL EM REVISTA, N. 2, abril/junho 2014, p. 164, http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ ELOGIO À PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense; hoje, uma missão de amor! ALL EM REVISTA, N. 3, julho/setembro 2014, p. 70, http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista__vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 ACRÓSTICO MARIA FIRMINA. ALL EM REVISTA, N. 3, julho/setembro 2014, p. 83 PROJETO “’190 POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS”. ALL EM REVISTA, n. 4, outubro/dezembro 2014, p. 24 1ª CONVOCATÓRIA - “CENTO E NOVENTA POEMAS PARA MARIA FIRMINA DOS REIS” - 01 de Outubro de 2014 a 31 de Janeiro de 2015. ALL EM REVISTA, n. 4, outubro/dezembro 2014, p. 32 NOTA EXPLICATIVA SOBRE E EM HOMENAGEM À MARIA FIRMINA DOS REIS E A GONÇALVES DIAS. ALL EM REVISTA, n. 4, outubro/dezembro 2014, p. 299 FERNANDO BRAGA A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA. ALL EM REVISTA, n. 4, outubro/dezembro 2014, p. 271 JOSÉ NERES MARIA FIRMINA DOS REIS: PIONEIRA EM PROSA E VERSO. ALL EM REVISTA, n. 4, outubro/dezembro 2014, p. 292 MARIA FIRMINA DOS REIS HINO À LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS. ALL EM REVISTA, N. 3, julho/setembro 2014, p. 70 NO ÁLBUM DE UMA AMIGA. ALL EM REVISTA, N. 3, julho/setembro 2014, p. 73 O CANTO DO TUPI. ALL EM REVISTA, N. 3, julho/setembro 2014, p. 79 VALSA. ALL EM REVISTA, N. 3, julho/setembro 2014, p. 81 UMA TARDE NO CUMAN. NO ÁLBUM DE UMA AMIGA. O MEU DESEJO. AH! NÃO POSSO. SEU NOME. ALL EM REVISTA, N. 3, julho/setembro 2014, p. 198, http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 HINO À LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS. ALL EM REVISTA, n. 4, outubro/dezembro 2014, p. 288 A UMA AMIGA. ALL EM REVISTA, n. 4, outubro/dezembro 2014, p. 297
OSVALDO GOMES
HOMENAGEM A MARIA FIRMINA DOS REIS. ALL EM REVISTA, N. 3, julho/setembro 2014, p. 85, http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18
VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES O PRIMADO DA IMAGINAÇÃO: um estudo arteterapêutico em Maria Firmina dos Reis. ALL EM REVISTA, n. 4, outubro/dezembro 2014, p. 273
FALTA ALMA À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANTONIO NOBERTO83 Uma primeira característica necessária a qualquer gestor público é a competência técnica para exercer e cumprir o que lhe foi proposto, e, mais importante ainda, é estar bem intencionado na gestão da coisa pública e no interesse coletivo. Por outro lado, por mais capacidade que o servidor apresente e por mais bem intencionado que estiver, isto não será suficiente para ele estar totalmente de acordo com as demandas da sociedade atual, pautada em novos conhecimentos e aspectos característicos da era do conhecimento e da virtualidade. Além de eficiência e resultados objetivos é preciso sensibilidade para estar em sintonia com o momento atual, a final, “nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas”, como falou Cora Coralina. Todos sabem que por mais que o estado favoreça a população trazendo ganhos coletivos, algumas vezes, por questão de necessidade, sobrevivência ou por decisão equivocada mesmo, ele age de forma “desalmada”, “sem piedade” e impositivamente. Mas isso, infelizmente, faz parte do vai e vem do processo político-sócio econômico. O que não deveria ser comum é a ausência de alma e de vida na administração pública, lócus de prevalência da burocracia inerte e da frieza do papel e da letra morta, que muitas vezes justificam desmandos e ineficiência. A filosofia é uma ciência que busca soluções aos problemas que ocorrem no meio político, econômico e social. Desde os grandes filósofos gregos da antiguidade percebemos essa constante busca. Sócrates, Platão e Aristóteles continuam sendo figuras proeminentes na concepção do pensamento administrativo e no estudo da organização do estado, como também é referência o italiano Nicolau Maquiavel, o inglês Francis Bacon, o francês René Descartes, Karl Marx, Adam Smith e tantos outros. Todos com uma concepção teórica ou prática que se preocupava com a administração. Os ares contemporâneos chegados a partir da segunda metade do século passado adicionaram ingredientes ao pensamento que passou a dominar a pauta pós-industrial. A nova sociedade passou a ser caracterizada por aspectos, tais como sensibilidade, feminilidade, virtualidade, automação, dentre outros. Novo ambiente que passou a demandar do gestor maior aproximação ao seu público – que muitas vezes almeja mais o diálogo e a segurança que o contato proporciona, que aportes e soluções verticais. A horizontalidade, aliás, é uma característica das instituições de sucesso mundo afora. Uma história bíblica ilustrativa da sensibilidade com relação à causa alheia é a história do jovem rico. O rapaz colocava seus bens acima de valores espirituais e da própria alma. Jesus percebeu a sede da alma do jovem. Situação que o apóstolo São Marcos descreveu: “E Jesus, olhando para ele, o AMOU e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me”(Marcos 10 : 21). O Brasil carece de mais gestores que se preocupem menos em acumular e que amem com mais intensidade as pessoas, ainda que digam coisas que nem sempre agradarão aos interlocutores, mas que tente movêlos e trazê-los para a razão e a luta coletiva. E isto só se consegue estando e caminhando entre eles, na rua, na igreja, no mercado, na feira, na praça e na “montanha”, como o fez o Mestre dos mestres. Todo mundo quer repetir a moda, quer preservar uma imagem perfeita ditada pelos interesses localizados, quer cumprir um protocolo de formalidades e liturgias, mas quase ninguém quer mais renunciar a nada, se esvaziar do poder que lhe foi outorgado e caminhar sem medo entre os mortais mais simples. Certa vez o senador distrital Cristovão Buarque, após derrota na tentativa de reeleição ao governo do Distrito Federal, foi perguntado pelo jornalista Roberto d’Ávilla sobre o porquê do insucesso nas urnas depois de uma gestão tão boa e eficiente. Ao que ele respondeu, com um ar de 83
Turismólogo e escritor. Ex-secretário Municipal em Vargem Grande – MA; ex-presidente da Associação Brasileira de Bacharéis de Turismo, seccional Maranhão – ABBTUR/MA. Curador da Exposição França Equinocial para sempre. Sócio-efetivo do IHGM e membro da Academia Ludovicense de Letras – ALL.
sinceridade que lhe é peculiar, que entre os motivos estava o erro de não ter caminhado entre as pessoas o suficiente... “eu fiz muito, mas não abracei as pessoas..., não coloquei criancinhas no colo... e não fui para os braços do povo”, reconheceu o senador o grave erro. Por mais que isso possa parecer uma característica puramente política ou eleitoreira, é preciso entendê-la como uma característica atual, vez que é preciso muito mais que competência técnica e vocação pública, é mister ao homem público brasileiro dos novos tempos o entrosamento com as pessoas, a simplicidade e a capacidade de se sensibilizar com a dor alheia e estar mais junto da população descobrindo suas virtudes, queixas, dificuldades e tentando dar solução aos problemas. É preciso ter alma e compaixão para entender o que precisa ser feito e se desviar de desmandos, facilidades e assédios que sempre aparecem para quem ocupa os postos estratégicos do poder. É preciso coragem e desprendimento para cumprir com qualidade este sacerdócio! É preciso ver a vida como parte de um processo histórico. É preciso ter fé, seguir o Mestre e ir ao meio da multidão levando boas novas! Só gestores com estas características poderão trazer alma à fria administração pública. Fica a dica para os novos governantes de todo o país. Um ano abençoado para você! A gente se vê!
O TURISMO NO MARANHÃO AINDA NÃO DECOLOU CINCO EXPLICAÇÕES PARA ISSO ANTONIO NOBERTO Turismólogo e escritor. Membro da Academia Ludovicense de Letras e sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão- IHGM. O mundo inteiro ainda lembra do grande crescimento da Espanha a partir dos anos noventa. O país europeu deu um salto na economia e entrou no grupo das sete nações mais ricas do mundo ao quadruplicar o PIB turismo, quando saltou de 4% para 16% em uma década. O país de Pablo Picasso não é o único lugar que despontou mundialmente a partir do investimento organizado na atividade turística. Os exemplos são fartos, inclusive na América Latina. No Brasil, as portas para a tecnologia, o lazer, o turismo, o entretenimento e os serviços de qualidade ainda não estão devidamente abertas, prevalecendo as bases da economia colonial do agronegócio. O PIB turismo nacional gira em torno de 3%, enquanto outros países geograficamente próximos de nós ostentam o dobro ou o triplo do nosso PIB turismo. O Maranhão, secularmente espoliado por interesses de grupos e segmentos, é um caso sui generis no que tange ao turismo, pois não obstante a tantas potencialidades, como o maior acervo colonial português da América, única capital brasileira fundada por franceses, Atenas brasileira, conjunto variado de manifestações populares, reggae, cultura negra e indígena, praia e sol, hospitalidade e uma série de atrativos capazes de motivar o turismo doméstico e internacional, a atividade não representa 1% na conta exportação do estado. É um cenário difícil de acreditar, quando olhamos exemplos de sucesso como o vizinho Ceará, que não apresenta atrativos superiores aos do Maranhão. Foi querendo auxiliar no entendimento deste cenário, que elencamos alguns motivos estruturais e conjunturais, históricos e atuais que explicam nosso baixo desempenho neste importante setor. I. O Histórico oligárquico do estado desfavorece o crescimento e o desenvolvimento Oligarquia significa governo de poucas pessoas. Poder que se prevalece do clientelismo, do uso da máquina pública e da fraude, que ao mesmo tempo em que favorece a um grupo, enfraquece o poder coletivo. Nesse modelo se sobressai a política do quanto pior (para a coletividade), melhor (para os que estão no poder), pois o caos não é ruim para todo mundo. O Maranhão é o estado brasileiro que mais tempo esteve nas mãos de grupos oligárquicos, sendo o primeiro a dominar o estado o político Benedito Leite, que foi governador e teve as rédeas do Maranhão até a sua morte, ocorrida em 1909. O segundo foi Vitorino Freire, que manteve o poder até 1965, quando foi vencido por José Sarney. Este, ressalvados alguns períodos em que a oposição chegou ao poder, manteve o estado sob seu cetro até a posse do atual governador, Flavio Dino, ocorrida no dia 1º de janeiro deste ano de 2015. O turismo, ao contrário do modelo oligárquico, na maioria dos casos, através do seu efeito multiplicador, favorece a coletividade como um todo, pois traz infraestrutura, incremento da economia e desenvolvimento, sem falar em uma visão mais aberta, diversa e menos xenófoba à população receptora. II. Histórico de marginalização do estrangeiro. A marginalização é resultado da dominação colonial brasileira. A estratégia ibérica de colonização, domínio e controle do Brasil foi pautada na dizimação do índio, escravização do africano e na marginalização do estrangeiro. Foi neste perverso tripé que se estabeleceu o privilégio branco que alcançou os nossos dias dominando a pauta e a alma nacional. A semeadura contra o estrangeiro se valeu de termos como: hereges, contrabandistas, ladrões, invasores, promíscuos, forasteiros, etc. O Maranhão é um dos maiores exemplos da deturpação da história. Os franceses foram os primeiros colonizadores da região, e não obstante o bom exemplo que deram, foram
severamente marginalizados pelo vencedor. E mesmo com tantas facilidades de comunicação atual, sendo os gauleses ainda hoje os maiores visitantes estrangeiros do Maranhão, que aqui contribuem com a economia, a maledicência contra eles continua, disseminada por interesses estatais localizados na máquina pública e no seio acadêmico, que tenta semear o antigalicismo entre os maranhenses. São as querelas e os interesses localizados dominando a pauta, em detrimento do interesse coletivo. O escritor Mario Jorge Pires, na obra Raízes do turismo no Brasil (MANOLE, 2001), denunciou a marginalização do estrangeiro e revelou que o reino português proibia a presença estrangeira e tentava esconder a todo custo as riquezas do país. Quem entrasse sem permissão infligir-se-ia a pena de morte. Foram quase dois séculos de proibição de entrada do estrangeiro. O Maranhão, por seu turno, ainda não favorece a contento a entrada de fluxos internacionais, pois o acesso a esta terra timbira continua difícil. Europeus e norte-americanos geralmente precisam voar até o Sudeste para depois chegar até São Luís. Aqui chegados, ainda precisam se virar com a língua, pois falta capacitação para recebê-los. O atendimento também tem reflexo colonial, pois “servir e atender eram coisas delegadas aos escravos”, finaliza Jorge Pires. Algo bem ilustrativo é que nos shoppings de São Luís, logo após as refeições, os ludovicenses não tem o hábito de levar a bandeja até a lixeira. III. Falta conhecimento do potencial econômico do turismo Muitos falam em turismo, mas poucos sabem de fato o peso econômico e social da atividade. Em época de campanha eleitoral o turismo vira discurso pronto de muita gente, que simula conhecimento e comprometimento com a causa, mas tudo sem lastro ou conexão com a realidade. Muitos ainda vêem o turismo como algo para gente sem ocupação, quase uma brincadeira, e não como de fato ele é: atividade econômica que mais gera emprego e renda nos cinco continentes. Em um estado com diversidade e atrativos culturais tão ricos é um pecado não abraçar a economia da cultura e gerar emprego e renda usando seu potencial turístico. A Bahia é um belo exemplo de como é possível aproveitar seus atrativos transformando-os em emprego, renda e impostos, que, através de um ciclo virtuoso, gera mais produção cultural e atrai mais visitante. Some-se que os atrativos histórico-culturais – que o Maranhão tem larga oferta – permitem um turismo de qualidade reconhecida, pois são mais sedimentáveis, atrai um turista que, via de regra, degrada menos, é menos suscetível a sazonalidade, dentre outros. Os atrativos naturais, que o estado também tem de sobra, entram na composição do produto turístico final. Outros, como Lençóis maranhenses, podem assumir o papel de atrativos principais em razão do largo potencial. IV. Falta racionalizar e profissionalizar o setor Todo local turístico de sucesso tem uma marca e trabalha com algum tipo de segmentação. O Maranhão tem um incrível poder de seduzir quase todos os públicos em face da diversidade de atrativos, porém, é importante que cada região ou pólo tenha a sua marca bem definida e que seja de fácil acesso e consumo. O filósofo Sêneca tem uma frase bem ilustrativa: “Nenhum vento será favorável para o marinheiro que não sabe para onde quer ir”. É preciso foco e convicção daquilo que somos e queremos. Nesse processo o estado ainda engatinha, basta ver que a maioria dos municípios maranhenses sequer tem um inventário turístico ou trabalha seus atrativos. A infraestrutura ainda não foi racionalizada ou preparada para atender a demanda da população nativa, muito menos a dos visitantes. Existe restaurante na Litorânea, cartão postal da capital, que não aceita cartão ou cheque. Faltam capacitação e valorização dos profissionais da área. V. Falta orçamento para a pasta do turismo E para o turismo cair na veia e virar moda é preciso investimento adequado. O orçamento das secretarias estaduais e municipais de turismo em quase todo o país é proporcional ao orçamento do Ministério do Turismo. Ou seja, é quase pró-forma. No Maranhão, muitas secretarias de turismo tem
dificuldades até em manter o prédio onde funcionam, pagar os custos fixos (aluguel, luz, água, telefone, etc.). E não é raro faltar dotação para diárias, divulgação e outros investimentos importantes. O pífio orçamento, por sua vez, é um banho de água fria que desmotiva a gestão e emperra o setor. Estes são apenas alguns motivos que explicam o baixo desempenho do setor turístico no Maranhão. Existem vários outros que em maior ou menor proporção também se associam aos resultados aquém do satisfatório. A timidez do marketing é um deles. A dica é aproveitar o novo governo para abrir discussão sobre o problema. A gente se vê!
LICEU, LICEISTA E O ENEM. HAMILTON RAPOSO MIRANDA FILHO https://www.facebook.com/hamiltonraposo.mirandafilho/posts/986286144733916?fref=nf
São Luís sempre teve seus encantos e mesmo nas maiores dificuldades, a cidade sempre teve resiliência, superou todos os obstáculos e renasce dia após dia. Fale-se muito em ENEM, escolas avaliadas, notas baixas e outras consideradas boas. Não vi o meu velho e querido Liceu entre os de cima e muito menos entre os de baixo. A grandeza do Liceu não se mede por um ENEM, este método de avaliação é muito pequeno para o que representa o Liceu no cenário educacional brasileiro. Estudei no Liceu Maranhense durante a minha adolescência, um privilégio para poucos. Estudar no Liceu não é simplesmente frequentar uma escola pública, é incorporar o espirito de ser Liceista e de ter a consciência que se estuda no melhor lugar do mundo. Quando estudei no Liceu tinha-se a opção de pertencer a dois grupos de resistência estudantil: o CIL (Clube dos Intelectuais Liceistas) ou o CCCL (Clube Cultural Científico Liceista). Pertencer a um desses grupos era a condição e a possibilidade de chegar ao Centro Liceista, o grêmio estudantil. O CIL e o CCCL eram os “partidos políticos” do velho e tradicional Liceu Maranhense. Era o exercício da democracia. Com o arrocho da ditadura militar veio o fim de tudo. O último presidente do Centro Liceista foi Antônio Henrique de Moraes Rego, conhecido como bigodudo, elegeu-se em uma das eleições mais disputadas do Liceu, tive a honra de participar da sua diretoria. O Centro Liceista acabou por “força estranha”. O fim do Centro Liceista não acabou com o espírito de liberdade do colégio, e se não podíamos fazer política, fazíamos outras coisas e ali se fez de tudo, de tudo que se podia e de tudo que não era permitido. Fizemos gincana, torneio de esportes, festival de teatro, música, poesia e muita rebeldia. Desses festivais ressalto: Cassas, Cesar Teixeira, Leda Nascimento, Alcione, Ivone, Helena, Chico Saldanha, Antônio Saldanha, Cristina Costa, Valdelino, Welligton, Tampinha, Ivaldo, Roseana, os irmãos Medeiros e muitos outros. A vida do Liceu era intensa e começava sempre na Praça Deodoro, bem antes das 7 horas da manhã, com a colheita do oiti, uma fruta travosa e muito deliciosa que abundava na praça. Havia também a entrada das meninas do Colégio Rosa Castro, carinhosamente apelidadas de “bombeiro” devido à semelhança da farda com os bombeiros militares. Após o ritual da colheita e da paquera estávamos perfilados para a aula de educação física com Prof. Luís Aranha. A aula era imperdível e o professor um caso a parte, sempre de calça de linho branco, camisa também de linho e de mangas longas e entre os dedos um tradicional Minister. Após uma sessão de polichinelos, apoios e agachamentos, vinha a tradicional e animada “pelada” que às vezes se estendia pela manhã toda. O senso de responsabilidade era o da não exigência, não era cobrado nada, tornava-se responsável pela liberdade concedida. A caderneta com as notas mensais talvez fosse a única exigência da escola, e era entregue zelosamente por um dos maiores maranhenses de todos os tempos, o eterno Nerval Lebre Santiago, que em toda a sua vida de funcionário público do Colégio Liceu Maranhense, nunca teve uma falta ou perdeu a paciência com algum aluno, exceto quando ouvia o nome da sua amada esposa, e no rol dos bagunceiros estava o seu filho, o meu amigo e irmão Nelson Santiago. As aulas de matemática do Professor Sued e o seu método surreal de ensinar, fazia da matemática a matéria mais fácil de ser entendida e suas aulas concorridíssima. Os Professores Vicente Maia e Buti davam as aulas de inglês. Concita Quadros comandava o latim, espanhol e português. Maria da Graça Jorge ensinava português com competência singular. Floriano e seu inseparável cigarro Continental fazia da história uma aventura no tempo. Os Professores Botão e
Beckham dirigiram o Liceu com estilos diferentes. O saudoso Murilo com seu cabelo penteado e cuidadosamente lustrado com brilhantina ensinava pacientemente química e física. As aulas do Liceu nunca acabavam, são eternas, são recordações para sempre. E com este time de professores nós Liceistas éramos nota mil no ENEM! “Gazear” uma aula, faltar voluntariamente, fazia parte da grade curricular do Liceu, não conheço nenhum ex-aluno que não tenha gazeado uma aula. O destino da falta voluntaria era variado. Alguns iam para a Rua Grande ou para frente do Colégio Rosa Castro, outros ficavam nas escadarias da biblioteca tocando violão e nesse grupo havia o meu grande amigo Júlio Cesar Bezerra Neves assíduo frequentador das escadarias da biblioteca. Em algumas ocasiões gazeava-se para tomar banho de mar na Avenida Beira-Mar ou atravessar um canal que havia no Jenipapeiro para jogar bola em uma croa que se formavam em frente do Asilo de Mendicidade. Meus pais descobriram a minha peraltice e a confusão se formou, de castigo e proibido de uma série de regalias, minha mãe me vigiava diariamente e uma das suas “revistas”, consistia em me lamber, para se cientificar se estava ou não salgado, melhor: se continuava ou não banhando de mar. Nos jogos escolares quem mandava era a turminha do Liceu. Tínhamos nossos ídolos e grandes atletas como: Gimba, Tribi, Timóteo, Binga, Ivone, Helena, Júlio, Carlito, Juca, Catel, Tininho e muitos outros. Por ocasião dos jogos escolares costumávamos cantar: “Quem não conhece e quem nunca ouviu falar, na famosa turminha do Liceu, que no esporte nunca perdeu, já se comenta pelo Brasil, Liceu, Liceu vitórias mil!” O Liceu não era somente um colégio, era um estado de espírito. Não se ia simplesmente para um colégio adquirir conhecimento. Frequentava-se e vivia-se uma escola intensamente. O Liceu é e será uma lembrança eterna!
LÍNGUA PORTUGUESA? ANTONIO NOBERTO *Turismólogo, escritor e Sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Reproduzido de http://www.netoferreira.com.br/politica/2012/03/lingua-portuguesa/
Posted on abril 5, 2012 by Editor HTTPS://BRASILIANO.WORDPRESS.COM/2012/04/05/1399/#COMMENT-3120
Um amigo europeu que sempre passa férias no Brasil, não faz muitos meses, trouxe-nos uma questão que não é nova. Queria saber o porquê do nosso idioma ainda se chamar português. Ele resumiu que, para os europeus mais inteirados da cultura brasileira, em razão da maiúscula participação de termos indígenas, africanos e estrangeiros na língua brasileira, é incompreensível o país ainda manter algo que não interessa à cultura, a política e, muito menos, à economia nacional. Finalizou dizendo que nossa língua é O BRASILEIRO, e não o português. “É uma questão de justiça e independência”, arrematou. As palavras do nosso amigo, entre outras coisas, nos fizeram refletir também sobre a recente adequação ou revisão ortográfica da língua portuguesa. Em Portugal a resistência à alteração na gramática é assaz acentuada. Tem gente chiando barbaridade, como uma portuguesa que, em um site, sobre a reforma, postou o seguinte: “Mais uma vez Portugal rebaixa-se, porque razão é que temos que ser nós a mudar e não os brasileiros, eles é que não tiveram inteligência suficiente para aprender a língua corretamente, e agora por causa disso somos nós que temos que aprender nossa língua novamente? Como é que vamos pôr nas cabecinhas das nossas crianças que a maneira como aprenderam a escrever agora já não é a correta. Quanto a mim vou continuar a escrever como sempre escrevi, sou portuguesa não sou brasileira”. Ela chega a nos chamar de “burros brasileiros”. Mas, como toda moeda tem dois lados, perguntamos: será que ela não tem lá suas razões? O seu sagrado direito de, no mínimo, espernear? Portugal errou quando fez sua primeira grande reforma a um século e – como era de se esperar – não consultou o Brasil, aumentando, com isto, a distância linguística entre o dois países. O certo é que o Brasil tem quase duzentos milhões de habitantes e Portugal apenas dez. Ou este se adéqua a mudança ou “não sabemos” o que lhe poderá acontecer. A adequação é questão de sobrevivência para o país do Velho Mundo, que, mesmo com a irrelevante e frágil economia, nunca perdeu o hábito de querer ser colonizador. Mas não percamos o foco… Até meados do século XVIII vigorava no Brasil o escambo, vez que, pela escassez de cédulas e de moedas de metal, a moeda corrente era o pano ou rolo de algodão. O famoso escritor Laurentino Gomes, repetindo as palavras de um viajante francês, disse: “Antes da chegada da Corte ao Rio de Janeiro, o Brasil era um amontoado de regiões com pouco contato, isoladas umas das outras, sem comércio ou qualquer outra forma de relacionamento”. E a língua mais falada até aquela época era o tupi-guarani. Isso mesmo, a língua indígena foi a língua mais falada no
Brasil até a metade daquele século. Nessa época a população branca era consideravelmente pequena. Em 1600, por exemplo, era de apenas 30.000 e em 1766 a população livre girava em torno de 800.000 (Cronologia de história do Brasil Colonial – 1500 – 1831 / Andrea Slemian… et al. São Paulo; FFLCH-USP. 1994). Em 1756 o Marquês de Pombal proibiu a utilização de qualquer outra língua, inclusive a língua geral, de base tupi. Os africanos foram escravizados e os indígenas dizimados, o mesmo, felizmente, não conseguiram fazer totalmente com a língua destes povos que, incorporada ao idioma oficial do país, atravessou séculos e permanece viva através dos milhares de termos que usamos no dia a dia. O legado da cultura negra é bastante presente no Brasil, percebemos isto na religião, na comida, música, no modo de ver a vida, nos mitos e lendas, e também na própria língua. Para cá vieram negros de quase toda a África, sendo o destaque por conta de dois grandes grupos: o guineano-sudanês e o banto – que habitava o litoral africano. Provenientes em sua maioria do Benin, Angola, Nigéria e Congo, falavam diversas línguas e dialetos como o quimbundo, quicongo e o umbundo, dos quais herdamos inúmeros termos, sendo: vatapá, quitute, farofa, acarajé, canjica, mandinga, oxalá, iemanjá, ogum, senzala, Bangu, quilombo, miçanga, tanga, samba, berimbau, maxixe, maribondo, camundongo, mangangá, mutamba, dendê, quiabo, moleque, bagunça, cachimbo, coringa, dengo, quitanda, fubá, bunda, calombo, banguela, e incontáveis outros. Algumas se misturaram com o português: pé-de-moleque, angu-de-caroço, mini-tanga, molecagem, etc. Um maiúsculo legado para nossa língua que não cabe em um simples texto, mas em um volumoso dicionário. Do tupi-guarani são milhares as palavras herdadas dos primeiros habitantes do Brasil. “Do Oiapoque ao Chuí!” a língua inicial tira de letra. São nomes de lugares – a maioria dos nomes dos estados brasileiros são de origem indígena –, acidentes geográficos, nomes de pessoas, etc. A culinária brasileira típica é profundamente indígena. Mas a gente pode começar por uma palavra que pipocou na rede mundial, ao menos aos usuários do Facebook: cutucar – tocar alguém com algo em forma de ponta. Não menos lembradas: cuia, embiocar, espocar, canoa, igapó, abacaxi, capenga, aipim, jacá, araçá, Aracaju, taquara, beiju, bocó, boitatá, buriti, bruaca, iara, Ipanema, Itaipava, Itamaracá, Itapemirim, tororó, jiqui, jirimum, jururu, piracema, pirão, pitada, pixaim, Piauí, Ceará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Pará, Goiás, Acre, perereca, peteca, pipoca, pindorama, mandioca, maniçoba, maruim, mingau, mirim, moqueca, mussum, mutirão, mutuca, paçoca, socar, pamonha… E tantas e tantas outras. Os termos indígenas e africanos não raro sofreram um doloroso processo de depreciação, como parte de uma política de dominação do vencedor luso. Vemos isto, por exemplo, em mulher (cunhã), menino (curumim), interiorano (caipira), garoto (guri), morada (tapera), piolho / sovina (muquirana), vadia (piranha), pobre (pindaíba), bruxaria / ritual (pajelança), lerdo / tonto (pamonha), pereba, etc. A influência estrangeira na nossa língua e cultura também é muito presente. Temos então, a título de exemplo. Do francês: abajur, ateliê, baguete, baton, bege, bistrô, bijuteria, boate, carrossel, capô, cassetete, etc. Catalã: beldade, baixela, capacete, convite, disfarçar, esmalte, faixa, nau, moscatel, etc. Do inglês: bife, blecaute, blefe, club, coquetel, craque, dólar, drinque, futebol, gol, etc., quase todos os termos utilizados na informática. E tantas outras participações alógenas. A mudança da nomenclatura da língua – de português para O BRASILEIRO – será um enorme ganho, principalmente através da atividade turística, uma ótima oportunidade de divulgação da cultura nacional genuína, uma forma de emergir a cultura local gerando riquezas e empregos aos nacionais, pois o estrangeiro ainda tem muita curiosidade com relação à cultura brasileira. Outro ganho imensurável é que as incursões governamentais que tentam diminuir a desigualdade entre ricos
e pobres ganhariam reforço, vez que o resgate de tão valoroso legado afro-indígena traria para a pauta as duas culturas secularmente marginalizadas pelo privilégio branco. Para um país que vem galgando enormes passos e vencendo degraus na economia é importante atentar também ao campo cultural sob pena deste não acompanhar a contento o avanço do nosso mercado e não fincarmos marcos mais profundos, quando todos sabem que o poder não prescinde de uma forte produção cultural (existe exemplo mais flagrante do que a produção Hollyhoodiana?). Os galhos do poder constituído são uma tentação, é verdade, mas não devemos ter receio das idéias alternativas, pois, neste caso, a justa adoção dO BRASILEIRO, ainda que não nos leve ao Jardim do Éden, aumentará a estima dos brasileiros e poderá ser um vetor a mais na atração de fluxos estrangeiros a este paraíso para conhecerem esta terra ainda tida por muitos como sem males. Sonho do imaginário estrangeiro que perdura, sem, no entanto, ser devidamente explorado através da nossa atividade turística. Viva o idioma BRASILEIRO!
O CAPITALISMO AVALIADO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista e Membro da ALL e da ACL. Em artigo “Considerações sobre as ideias de Thomas Piketty”, publicado neste jornal no dia 17/10/2014, falei sobre o anunciado “O Capital no século XXI” desse economista francês tornado famoso e àquela altura ainda não lançado no Brasil. No mês de novembro seguinte estando em Lisboa, adquiri o citado Livro vertido em língua portuguesa, na centenária e famosa Livraria Bertrand, no Chiado; desde então estou dedicado à leitura das suas 910 páginas, cheias de gráficos e quadros, e de notas adicionais. Mas é fácil de ser lido. Numa entrevista a um programa de TV, João Sayad afirmou que “é o Livro menos arrogante dos últimos tempos escrito por um economista”. Algumas teses de cunho marxistas são aproveitadas pelo autor na explicação das deformações havidas no sistema capitalista nos séculos mais recentes, principalmente XX e XXI, apoiado em estatísticas de mais ou menos vinte países, em quinze anos de investigação. Como embasamento dos seus estudos e pesquisas, Piketty cita: Harrod (1900-1978) e Domar (1914-1997), formuladores do modelo pos-keynesiano de crescimento; Solow (1924), com seu modelo neoclássico de crescimento; Marx (1818-1883), que escreveu “Crítica da economia política”; Kusnets (1901-1985), autor de “Desigualdade de renda” e “Crescimento do produto”; Malthus (1766-1834), e sua teoria sobre o controle do crescimento populacional; e Ricardo (1772-1823), um dos fundadores da escola clássica inglesa da economia política. No seu Livro, Piketty trata essencialmente “dos rendimentos e do patrimônio” ao longo do tempo, da produção dos bens e dos benefícios auferidos pelos fatores de produção; seu processo de acumulação e distribuição entre os proprietários do capital e do trabalho, e considera algumas das variáveis que interferem no processo: taxa de crescimento do produto, da poupança e da população, variáveis importantes da chamada “Lei fundamental do capitalismo”. Ressalta problemas conjunturais e de comportamento dos agentes econômicos e regimes de governo. Muita coisa pode ser dita sobre isso. Os mercados não são perfeitos nem regulados automaticamente e reagem a fatores internos e externos extemporâneos, como as guerras e seus antecedentes ou conseqüentes rumos políticos. O capitalismo, desde épocas imemoriais, tem sido um sistema “eficiente” concentrador de renda e seu péssimo distribuidor. Dinheiro chama dinheiro, por razões evidentes, e a mão de obra, desde os tempos da “mais valia”, vai a reboque; a função de produção e os investimentos realizados na formação do patrimônio fixo determinam a sua atração e tamanho, de maior ou menor utilização do capital e do trabalho. Piketty diz sobre a relação entre rendimentos e produção: “a desigualdade capital-trabalho é extremamente violenta no plano simbólico”, e que “o rendimento é um fluxo e o capital um stock”. Pensando no Brasil, em particular, a relação capital-trabalho tem melhorado, mas não é muito diferente; o país beneficiou-se até recentemente de um fluxo de recursos capaz de ajudar na formação do seu capital fixo, principalmente no setor industrial, o que, infelizmente não ocorreu.
A desigualdade no plano mundial opõe países em que o rendimento médio por habitante é da ordem dos 150-250 euros por mês [...] a países em que o rendimento por habitante atinge 25003000 euros por mês [...], ou seja, entre dez e vinte vezes mais.
Neste particular, para efeito de comparação, tendo um salário mínimo de 788 reais por mês, equivalentes a mais ou menos 254 euros ao câmbio atual, estaríamos somente um pouco acima do maior nível vigorante na África “subsaariana” e Índia! No conceito de classe média, também, estamos distantes do que seriam os efeitos da oferta de emprego e da geração de renda e mais próximos da concessão de crédito, de incentivos e de subsídios, insustentáveis no longo prazo. Piketti conclui, enfim: [...] que é preciso desconfiar de todo e qualquer determinismo econômico, e que a história da distribuição da riqueza é sempre uma história profundamente política e não poderia ser reduzida a mecanismos puramente econômicos”; [...] a dinâmica da distribuição da riqueza põe em jogo mecanismos poderosos que, de forma alternada, puxam no sentido da convergência e da divergência, e não existe nenhum processo natural e espontâneo que permita evitar que as tendências desestabilizadoras e geradoras de desigualdades prevaleçam no longo prazo.
Pensemos, de novo, nos nossos atuais mecanismos artificiais de distribuição de renda, que não tem sido “um processo natural e espontâneo”. A acumulação no sistema capitalista prosseguirá indefinidamente, mais aqui e menos ali, a menos que ações de governo sejam adotadas. Piketti sugere a taxação das chamadas “grandes fortunas”, inclusive das herdadas, como forma de inibir ou diminuir essa concentração de renda, ideia que, desde já, tem ensejado grande polêmica.
A CIDADE EM DOIS TEMPOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO
“Um homem não chora. Mas por que não? Deixa escorrer teu pesar”. Do livro Terra e Cinzas – Um conto afegão, de Atiq Rahimi (Estação Liberdade).
Costumo circular por Caxias tendo visões diferentes da cidade. Essas visões podem variar dependendo das circunstâncias, pois, conforme alguém já disse, “nós somos nós e nossas circunstâncias”. Se estiver pensando no passado – o que acontece com mais frequência - e sentindo saudades de tudo e de todos, a visão é cheia de imagens coloridas e de pessoas com as quais convivi; se estiver no presente, enfrentando a realidade nua e crua do dia-a-dia, a visão é cheia de muitas imagens desgastadas e de algumas pessoas estranhas. Depois que Antônio Brandão, meu saudoso pai, morreu – e ele morreu em Caxias -, fiquei quase dez anos sem ver a cidade; acho que foi uma espécie de mágoa – talvez sem razão - que me manteve fora dali por tanto tempo. É que ele, naqueles dias, estava exatamente cuidando da reforma de um bem que era nosso maior patrimônio: a casa situada à rua Benedito Leite (antiga rua do Cisco), nº 721 (atual 23), onde moramos desde 1946, bem próximos da que pertenceu ao pai e morou o poeta Antônio Gonçalves Dias. A morte de meu pai foi um grande choque para todos nós; ele sempre dizia: “quero ser enterrado no solo em que morrer”, mas minha mãe não permitiu. Eu mesmo fui buscá-lo, numa manhã de janeiro daquele longínquo 1980, trazendo seu corpo para ser enterrado onde está, aqui, em São Luís, no cemitério do Gavião. Até aquele ano podíamos ir a Caxias e - embora já residissem, em São Luis, quase todos da nossa família - desfrutar do aconchego daquela casa, dos que nela ainda viviam, da vizinhança, dos amigos de então. Em alguns momentos, tenho ainda hoje uma visão romântica da cidade. Penso que, ao adentrá-la, possa ainda ver o João Severo, no balcão da loja que leva o seu nome na fachada, no Largo da Cadeia; mais adiante consiga fazer compras no Mercado, no mesmo Largo; passando pelo Largo da Matriz, seja possível avistar membros das famílias Barbosa, Cruz, Pereira, Lobo, sentados à porta; subindo a rua Aarão Reis tenha a oportunidade de olhar o Zé Simão, o Gentil Menezes, meu pai no escritório da sua Casa Brandão (ainda hoje o nome está lá, gravado no chão da calçada, em letras de cimento branco que teimam em não desaparecer). Passando pela Praça Gonçalves Dias não posso deixar de lembrar, de “ver” moças e rapazes “rodando”; de ouvir o som dos alto-falantes; de presenciar o ir-e-vir ao (do) Cine Rex; de dançar nos bailes do antigo Cassino – isto mesmo, com dois “s”. Acreditem: sou capaz até de sacudir a porta da nossa antiga casa, da rua do Cisco, querendo entrar e encontrar as pessoas que nela viveram. Ninguém pode avaliar essa visão senão os mais velhos. É muita nostalgia, uma melancolia que teima em não sair de mim. É muito amor pela terra e sua gente. A outra visão que tenho da minha cidade, do seu presente, é bem diferente. Tudo – ou quase tudo - está no mesmo lugar: as casas, as ruas, as praças, as igrejas; o tempo, contudo, encarregou-se de desgastar essas imagens, de quase todas as coisas, de fazer desaparecer casas tradicionais, de modificar usos e costumes. As pessoas são outras e não têm obrigação de conhecer os que vieram
antes delas, nem sua história nem suas vitórias e derrotas; simplesmente vivem o presente, vieram depois, suas lembranças são de outros tempos, suas referências históricas mais recentes. Para mim, Caxias continua sendo aquele espaço mágico da infância e da adolescência, da minha juventude: ouvíamos muito rádio, íamos muito ao cinema, “curtíamos” muita e boa musica na voz dos grandes cantores nos alto-falantes, namorávamos “rodando” na praça... De vez em quando essa cidade amanhece em brumas, como nos meus tempos de soldado, de jogador de “peladas” no Santa Luzia... Como era verde o meu vale!
AS CINZAS DA HISTÓRIA JOÃO BATISTA ERICEIRA Hoje o calendário litúrgico da Igreja Católica adverte a crentes e a não crentes que somos pó da terra, e a ela voltaremos, que tudo o mais, como adverte o Eclesiastes, é vaidade, no final, retorna-se as cinzas. Na mesma data o Papa anualmente lança a Campanha da Fraternidade, este ano sob o lema: “Eu vim para servir”. Em vários documentos pontifícios vem sendo assinalada a necessidade de o político colocar-se na postura do prestador de serviços à sociedade, e não o contrário, como se vem generalizando, a postulação de cargos públicos é motivada pela busca de negócios privados, como se comenta na linguagem coloquial, para dar-se bem, na procura de privilégios e de mordomias. Antigamente dizia-se: o Código Penal era a lei dos delinquentes, enquanto a Civil, o Estatuto da cidadania. Presentemente, operou-se a inversão, a política, enquanto atividade, vê-se envolvida pela legislação penal, enquanto a civil é reservada ao cidadão comum. Não há dia em que as páginas policiais não noticiem escândalos, prisões, relacionadas ao exercício da vida pública, parecendo ser esta área de atuação dos fora da lei. O que está determinando a criminalização da política? Estudiosos buscam explicações sociológicas, ligadas a hegemonia dos mercados, subordinando os estados, e a sobreposição do financeiro sobre os valores e as funções tradicionais das organizações estatais. Em parte sim, mas é oportuno revolver o passado para encontrar marcas que são transmitidas de geração em geração. O historiador José Murilo de Carvalho, em excelente biografia do Imperador Pedro II, registra as queixas do monarca sobre a falta de espírito público e o oportunismo dos “casacas”, como eram chamados os políticos de então, atrás de bons negócios, e o seu descompromisso com os interesses da população, salvo raras e honrosas exceções. Os escravocratas tão logo realizada a abolição em 1888, viraram republicanos, em razão dos interesses contrariados e sem nenhuma convicção. As reformas tentadas no Império eram discursadas pelos liberais, mas executadas pelos conservadores. Mudou alguma coisa? É a repetição do mesmo carma cultural, adotando a terminologia do respeitado historiador inglês Arnold Toynbee. As mais importantes reformas políticas preconizadas no Império para aperfeiçoar o sistema de representação eleitoral eram sistematicamente adiadas, pela simples razão de contrariarem os interesses dos “casacas”, no final, a monarquia desmoronou por não mais interessar, e a república instalou-se mediante golpe do Estado, proclamada pelo marechal Deodoro da Fonseca, um monarquista convicto. Desde a promulgação da Constituição de 1988 que se fala da necessidade da Reforma Política como indispensável a realização do seu espirito de transformar a cidadania em centro do efetivo do poder político, inconcebível com a permanência da legislação partidária e eleitoral do ciclo autoritário. Apesar da retórica ela vem sendo mantida, com certeza preservando óbvios interesses que teimam em se manter, não obstante o grito das ruas. A cantora Maria Bethânia, celebra 50 anos de carreira, iniciada com o show “Opinião” em 1965, ao lado do nosso conterrâneo João do Vale. Na peça escrita por Ferreira Gullar, Vianinha, entoava a canção “Carcará”, primeiro grito de resistência à ditadura que se instalara no ano anterior, agora, lamenta os descaminhos da corrupção da nossa República: “estou com muita pena do Brasil. Tenho pena, mas não desanimo, porque acho o Brasil maior, de alguma maneira ele ganha. Já vi lindas respostas do Brasil e não falo só das pessoas, falo da floresta, das águas. Você vê que está todo mundo zangado. A água foi se aquietar, para ver se volta ou não”.
Bela demonstração de patriotismo, de crença nas possibilidades do nosso povo. O ano legislativo iniciado poderá dar respostas ao grave problema da criminalização da política que ameaça o atual sistema de representação eleitoral e as suas instituições. Em 1917 em resposta a tuberculose que o acometera o poeta Manoel Bandeira publicou “As Cinzas das Horas”, como resposta a enfermidade depois superada por seu organismo. O organismo nacional do mesmo modo está enfermo pela disfunção da política e dos políticos. Sua finalidade é servir e não servir-se da coisa pública. Da leitura da História e de suas cinzas poderão surgir terapias capazes de resgatar a grave crise da atual República. Dentre os remédios prescritos, um deles, com certeza será a administração de políticos imbuídos de patriotismo e do espirito de servir, como ensinou o mestre dos mestres.
AS ÁGUAS DE MARÇO. AYMORÉ ALVIM IHGM, ALL, APLAC. Nada mais convidativo para se permanecer na cama de manhã cedo do que uma chuvinha como aquela que caia na madrugada de ontem, 3 de março. Acordei. Fiquei por alguns instantes mais aguardando o sono. Que nada, não voltou. Talvez sejam os primeiros sinais da velhice se aproximando. Eu não disse que chegou, mas se aproximando. O certo é que fui para a janela olhar a chuva cair e me deixei levar pelos devaneios. A chuva continua lá fora. Aqui, as lembranças foram chegando. Chuva de manhã é danada pra trazer recordações. Lembrei-me de que, quando criança, era comum ouvir das pessoas mais velhas, em Pinheiro, que as chuvas de março eram decisivas para garantir um bom período de fartura em peixe e colheita segura e vantajosa. Caso não chovesse ou chovesse pouco até 19 de março, dia de São José, era de se esperar um inverno muito fraco. Parece não ser o caso este ano. Lembro-me das expectativas que alimentávamos, ao longo da Quaresma, passados os burburinhos do carnaval, de invernos copiosos que nos garantissem campo cheio, com os olhos voltados para as tradicionais porfias de canoas, no Domingo de Ramos, muito milho cozido e assado, pamonhas e canjica, além das brincadeiras de afogamento de “judas”, nas manhãs de Sábado de Aleluia, no “poste de ferro”. Por outro lado, as enchentes, na periferia de Pinheiro, prejudicavam bastante quem por ali se aventurava morar. Os afogamentos, na Faveira e no Laguinho, ocorriam com muita frequência. O trânsito, nessa época, é claro que de pedestres, tanto pela Baixinha, onde hoje se ergue a rodoviária, quanto pelas ruas que levavam ao matadouro e à Igreja, cheias de fojos e poças de água, era uma verdadeira aventura. Dentre as minhas divagações, lembrei-me de uma presepada engendrada lá pelos idos de 1950. Tinha dez anos. Foi a primeira vez que viajei para São Luís. Vim com dona Inez. Papai já estava aqui nos esperando. Um dia saí com ele para passear de bonde e tomar sorvete, no Moto Bar, que ficava, no Largo do Carmo. Depois passamos por uma Livraria e ele comprou para mim um livro de história sobre o Império Romano. Nele havia umas figuras que me chamaram atenção. Guardei-as e, ao chegar a Pinheiro, procurei pô-las em prática. Chamei, numa certa manhã, Zé Lobato, Pijá, Seu Guta, Nacá, Zé de Militina, Seu Ré e Tiquara. Pegamos, não sabíamos de quem, uma canoa e uns remos, no porto de Antenor Correia. Sentado, na proa, ia Nacá, o menor e mais novo de todos, batendo numa lata como se fosse um tambor. Na popa, estava eu de pé com uma toalha às costas como se fosse um manto. Era o imperador romano. Os outros se distribuíram ao longo da canoa, cada um com um remo. Zé Lobato, bem no meio, armado com um cinto, batia e a turma remava. De vez em quando, uma reclamação: “Assim não dá, Zé, bate devagar que isto é só de brincadeira”. Já estávamos perto do “poste de ferro” quando Zé Lobato me disse: Imperador, olha quem está ali!
Como uma onça enjaulada, dona Inez andava de um lado para o outro, no Porto Veneza dos Gonçalves. - Turma, pega o rumo da Faveira. - Lá, não, Aymoré, é muito fundo. É melhor a gente voltar. Tu pegas uma sova, mas isso não mata ninguém. Voltamos. Ao saltar da canoa, peguei o rumo da Avenida Paulo Ramos e dona Inez atrás com um cinto na mão. Eu corria e ela atrás. Eu só ouvia Zé Lobato com aquela sua gargalhada inconfundível, gritar: Corre imperador, ela vai te pegar. E pegou. Apanhei umas “cintadas” e prometi, com os dedos cruzados, claro, que nunca mais iria brincar no campo. Fui, ainda, umas duas vezes, aos sábados de aleluia. E, assim, sempre que chegam as chuvas de março me vem a lembrança da cena: Um imperador que apanhou da mãe diante de seus súditos e nem por isso ficou frustrado.
A CANTADA FATAL. AYMORÉ ALVIM IHGM, ALL, ACREP. O cabra era matreiro, safado, mulherengo. Trabalhava como peão, na fazendo de João Firmino ou João de Floro que ficava lá pras bandas do Tiquireiro. As mulheres para resistirem a uma cantada do malandro precisam ter muita experiência de vida porque as ingênuas caiam todas. Numa dessas tardes mormacentas do interior, Mariano resolveu se passar pra Maria da Graça, a Gracinha, filha do seu patrão, quando o mandou arrear o cavalo para ir dar um passeio. Ao regressar, Mariano a ajudou apear e lhe ofereceu uma flor. - Apanhei para a senhora, dona Gracinha. Perdoe-me a liberdade, mas para uma linda mulher somente uma flor. O caboclo era escolado. Já conhecia o Rio de Janeiro onde passou uma temporada com uma tia quando a mãe morreu. Ao voltar, o pai o empregou na fazenda de João de Floro onde era o capataz. Gracinha, muito bonita e jeitosa, mal conhecia Pinheiro aonde ia de vez em quando com a mãe para a festa do padroeiro Santo Inácio ou fazer compras. Inexperiente na arte do galanteio, nunca tinha ouvido de um homem tanta ousadia. Recebeu a flor e foi eufórica para casa. Quantos pensamentos não povoaram aquela cabecinha naquela noite! No outro dia, Gracinha voltou e no outro e, também, no outro. Ficou diarista. Num desses dias quando ela chegou para passear a cavalo... - Gracinha, você já se viu no espelho, hoje. - Não, por que? - Cada dia que passa seus olhos parecem mais brilhantes como duas estrelas, no céu das suas lindas faces. - Mariano, papai já falou pra vocês daqui não se engraçarem de mim. - Eu sei, Gracinha. Eu sou um pobre vaqueiro. Nem pensar. Mas quem é que manda no coração da gente? - Você diz isso para todas as moças. - Não, Gracinha, agora é só pra você. - Mariano, o que você quer mesmo de mim? - Quero te amar. Fazer de ti a mulher da minha vida, a mãe dos meus filhos, a razão do meu viver. Eu te amo tanto que já nem trabalho direito, só pensando em ti. Algo inexplicável percorreu, nessa hora, o corpo de Gracinha. Suas faces ficaram vermelhas, sua voz tremeu, ela baixou os olhos. O cretino aproveitou do momento, agarrou Gracinha pela cintura e tacou-lhe um beijo na boca. A menina ficou zonza, tremia dos pés à cabeça. Conseguiu se
desvencilhar e saiu correndo para casa. Essa já tá no papo, pensou consigo Mariano. Dito e certo. No outro dia de tarde, Gracinha veio para o passeio a cavalo. Mariano disse-lhe que antes queria ir apanhar umas pitangas, no mato, para ela. - Vamos, Gracinha. Pegou-lhe pela mão e a foi levando com suavidade. Gracinha não se fez de rogada. Foi. Após alguns instantes, passou pela estrada João de Floro. Ouviu umas risadas, desceu do cavalo e entrou no mato... - Seu cabra desgraçado, o que tu estás fazendo com minha filha, miserável? - Seu João, pelo amor de Deus, eu não fiz nada. Dona Gracinha veio apanhar pitanga e ela caiu. - Seu cabra safado, donde “tu já viu” se apanhar pitanga levantando saia de mulher, desgraçado? Gracinha, vá já pra casa e me espera lá. E tu leva teu pai esta noite lá em casa. Nós precisamos ter uma conversa séria. Mais tarde após o jantar, chegaram os dois meio desconfiados. - Boa noite, seu João. - Rapaz, deixa de rapa pé comigo e vai sentando aí com teu pai que nós vamos ter um entendimento de homem pra homem, - Diga, meu patrão. Disse-lhe o pai de Mariano que era o capataz da fazenda. - Jovino, eu peguei teu filho, hoje à tarde, no mato com Maria da Graça. - Já to sabendo, patrão, mas ele jurou pra mim e pela mãe dele que não fez nada. - Se fez ou não fez eu não quero saber. Eu mandei te chamar pra te dizer que teu filho vai ter que casar com Gracinha. Não vou ficar com mulher falada dentro da minha casa. - Casar, seu João, mas eu não fiz nada. Adiantou-se Mariano. - Casar, cabra safado, senão eu faço de ti um leitão gordo e roliço. - Bem, se é assim eu caso. E casaram. Viveram felizes para sempre como nos contos de fada. Obs. Agradeço a dona Isaltina, bisneta de João de Floro que me contou este “causo” dos seus avós paternos.
POR QUE SOBEM AS TAXAS DE JUROS? ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO “O mercado financeiro é insaciável e imprevisível, não por causa das pessoas que trabalham nele, mas porque a lógica é perversa.” PAUL SINGER, economista brasileiro nascido na Áustria. As decisões das Autoridades Monetárias constituem o principal instrumento de controle da moeda, que é considerada uma variável externa capaz de ser administrada. É certo, porém, que a quantidade de meios de pagamento existente na economia deve guardar proporções com a taxa de crescimento da produção de bens e de serviços. A prática tem demonstrado uma tendência: quanto maior e mais acelerado for o crescimento da oferta monetária, maior deverá ser a taxa de juros, e vice-versa. Segundo o famoso economista Milton Friedman, professor da Universidade de Chicago, três efeitos conjugados explicam o comportamento da taxa de juros: liquidez, preço e renda, e antecipação de preços. Mais ainda: a taxa de juros é o preço do crédito, não do dinheiro. Quando o Banco Central compra títulos – fazendo uso de um dos principais instrumentos de política monetária - aumenta a disponibilidade do sistema bancário para emprestar dinheiro, afetando as taxas de juros para baixo. Com as taxas de juros baixas haverá um incentivo para o consumo aumentando a produção das empresas e, como consequência, a renda. Uma vez estabelecido um processo de expansão da economia, de aumento de produto e renda, aumentará a demanda por recursos disponíveis para empréstimos forçando uma tendência de aumento na taxa de juros. E quando os preços começarem a subir acompanhando a subida das taxas de juros, e as pessoas passarem a acreditar que esses preços continuarão a subir ainda mais, todos reterão menos dinheiro em relação à renda recebida e passarão a buscar proteção: ou gastando por antecipação – o que contribuirá para uma subida ainda mais acelerada dos juros - ou investindo em ativos reais, menos na produção. Assim, um incremento da oferta monetária provocará, de início, uma redução na taxa de juros, depois um aumento e, finalmente, uma elevação para um patamar ainda mais alto do que o anterior. É por isso que os fatores monetários respondem pela inflação e são, em certos momentos, os mais importantes, embora não sejam os únicos. Estas considerações vêm a propósito do que volta a acontecer na economia brasileira: os preços estão subindo, o que, por si só, já seria um fato inibidor do consumo. Mesmo assim, o Banco Central vem elevando a taxa básica de juros de forma a encarecer o crédito ainda mais e, consequentemente, evitar um aumento na demanda, embora os efeitos colaterais dessas decisões (aumento da dívida pública) acabem se voltando contra o próprio governo. É importante, portanto, para o seu próprio bem, que as pessoas revertam suas expectativas em relação a um fenômeno passageiro causado principalmente pelos produtos cujos preços dos insumos estejam atrelados ao dólar, muito embora a política dos chamados preços administrados (tarifas públicas) tenha grande participação no que está acontecendo; caso contrário, se prevalecerem os aspectos psicológicos do mercado – de que amanhã os preços serão ainda maiores -, estaremos chancelando a volta da inflação.
CARTA AO CONFRADE AYMORÉ – OU A ARTE DE CURAR NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Caro Confrade sei de seu interesse em relatar uma história da arte de curar no Maranhão; ou uma História da Medicina no Maranhão. Sei que temos o cirurgião de Daniel de La Touche como o primeiro ‘médico’ a atuar por aqui. Mas me pergunto se em Miganville não havia um físico-mor também. Afinal, a feitoria de Jacques Riffault contava com cerca de 400 homens brancos ali vivendo, onde é hoje a nossa Vila Velha de Vinhais desde 1594. Ainda não temos registros, mas já li que havia um padre jesuíta (?) entre eles... Vamos ao que interessa; não sei se o Confrade já localizou o P. ANTONIO PEREIRA84, natural de São Luis do Maranhão, onde nasceu em 1638. E entrou para a Companhia de Jesus nesta mesma cidade pelo ano de 1655. Estudou parte em Portugal, parte na Bahia e entre os seus estudos se incluem algumas noções de Medicina. Voltou ao Maranhão, onde ficou Mestre de Noviços. E como quer que pelo Brasil, onde tinha estudado curso de Teologia, havia também concorrido com os enfermos, e dando-se por entendido em matéria de curá-los, era buscado dos doentes aos quais acudia assim para a saúde do corpo como a da alma com muita caridade. (BETTENDORF, 1990) 85.
Até onde consigo entender, este seria nosso primeiro médico! Pois nascido em São Luis e aqui exercido a Medicina... Salvo melhor juízo... A chegada dos Jesuítas e a Fundação do Colégio - 1618 86 A presença de ordens religiosas na colônia prendia-se, teoricamente, aos interesses pela conversão e educação dos nativos, instrumento de dominação da política colonial europeia (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 30) 87. Em 1618, os jesuítas instalam-se em Maranhão, na antiga Aldeia da Doutrina (hoje, Vila do Vinhais Velho). Além dessa primeira, duas outras missões situavam-se na Ilha: a aldeia de São Gonçalo ou Tuaiaçu Coarati – que se destacou pela produção de sal; e a de São José, onde os padres da Companhia mais exercitaram suas funções, e foi aldeia de serviço de El-Rei. (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 31) 88. 84
LEITE, Serafim. ARTES E OFÍCIOS DOS JESUÍTAS NO BRASIL – 1549-1760. Natal/RN: Sebo Vermelho, 2008. Edição fac-similar da de 1953: Lisboa – Rio de Janeiro, Edições Brotéria e Livros de Portugal, p. 234 85 BETTENDORF, João Felipe. CRONICA DOS PADRES DA COMPANHIA DE JESUS NO ESTADO DO MARANHÃO. 2ª Ed. Belém: FCPTN/SECULT, 1990, p. 304 86 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dants Brito; VAZ, Loreta Brito. INDÍCIOS DE ENSINO TECNICO/PROFISSIONAL EM MARANHÃO: 1612 – 1916. São Luís: CEFET-MA, Novembro de 2003 87 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 88 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990.
Em 1622, fundam o Colégio 89 e a Igreja Nossa Senhora da Luz (atual Igreja da Sé). O “Colégio de Nossa Senhora da Luz” era a "cabeça" da missão jesuítica no Maranhão (CAVALCANTI FILHO, 199090; VAZ e VAZ, 199491; PELLEGRINI, 2000)92. De acordo com o Pe. José Coelho de Souza, em “Os jesuítas no Maranhão” 93, os jesuítas fundaram diversas estabelecimentos de ensino em São Luís, Alcântara, Parnaíba, Guanaré e Aldeias Altas, Vigia e Belém: colégios, seminários, escolas: Nesses estabelecimentos existiram escolas rudimentares de aprendizagem mecânica, o que hoje chamaríamos Escolas de Artes e Ofícios. Houve aí também as primeiras oficinas de pinturas e escultura, sendo essas oficinas postulado e conseqüência da construção dos colégios. No Colégio Nossa Senhora da Luz notava-se a Pinturia, vocábulo que não anda nos dicionários, mas é admiravelmente bem formado: era uma sala grande no corredor de cima, quase junto à portaria. Nela se ataviavam e pintavam as imagens que se esculpiam noutra oficina, a de escultor e entalhador, anexa à carpintaria. Era frequente o pedido a Portugal de se mandarem irmãos peritos em diversas artes, entre as quais a de pintor, para serem mestres. (p. 27).
São Luís foi a primeira cidade do Estado onde os jesuítas exerceram o ensino. O Colégio de Nossa Senhora da Luz, em curto espaço de tempo, tornou-se excepcional centro de estudos filosóficos e teológicos da ordem no Estado (universitate de artes liberais). Era o que melhores condições de estudos oferecia. Já em 1709, o Colégio do Maranhão era Colégio Máximo, nomenclatura usada pelos discípulos de Loyola para seus estabelecimentos normais de estudos superiores. Nesse colégio funcionavam as faculdades próprias dos antigos colégios da Companhia: Humanidades, Filosofia e Teologia, e, mais tarde, com graus acadêmicos, no chamado curso de Artes. Os estudos filosóficos compreendiam: no 1º ano, Lógica; no 2º, Física; no 3º, Matemática. O Colégio Máximo do Maranhão94 outorgava graus de Bacharel, Licenciado, Mestre e Doutor, como se praticava em Portugal e na Sicília, segundo os privilégios de Pio IV e Gregório XIII. Dentre os estabelecimentos de ensino dos jesuítas, as Escolas Gerais ocuparam um lugar de destaque, pelo fato de terem tornado o ensino popular ao alcance de todos. (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 36) 95. Ao se estudar a origem das Corporações de Ofícios 96 – Guilda, Grêmio – verifica-se que antes do século XII, tem-se notícia de uma “scholae” de pescadores e açougueiros em Ravena. O uso do termo “scholae” (associação de ofício) indica, provavelmente, que já não havia somente a preocupação coletiva com a formação de seus continuadores, mas ostentavam também um patrimônio cultural e pedagógico dotado de técnicas particulares de transmissão. Artesãos de vários gêneros formavam-se nas oficinas dos mosteiros que faziam às vezes de escolas de Arte no sentido lato, e cuidavam especialmente do treinamento de jovens, em laboratórios
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Os primeiros conventos, fundados pelas ordens religiosas, que abriram escolas para meninos, foram denominados de colégio; os outros conservaram o nome de conventos In ALMEIDA, José Ricardo Pires de. HISTÓRIA DA INSTRUÇÃO PÚBLICA NO BRASIL (1500 - 1889). São Paulo: EDUC; Brasília: INEP/MEC, 1989, p. 25 - nota de pé-de-página. 90 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 91 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal "O ESTADO DO MARANHÃO", São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28. 92 PELLEGRINI, Paulo. A descoberta da Arte Sacra. IN O IMPARCIAL, São Luís, Domingo, 23 de julho de 2000, Caderno Impar, p. 4-5. 93 SOUSA, José Coelho de. OS JESUÍTAS NO MARANHÃO. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1977. 94 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O COLÉGIO MÁXIMO DO MARANHÃO. IHGM, palestra. 95 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 96 RUGIU, Antonio Santoni. NOSTALGIA DO MESTRE ARTESÃO. Campinas: Autores Associados, 1998
artesanais destinados a instruir a mão-de-obra necessária. Essas “oficinas” deram origem às “universitates”. As universitates (associações) de artesãos são progressivamente institucionalizadas e conquistam proteção dos poderes públicos. Tal ascensão se iniciou no século XII e culminou no século XIV. É acompanhada da difusão das “universitates magistrorum” ou “universitates scholorum”, isto é, aquelas que hoje chamamos universidades, associações particulares dedicadas à produção de bens intelectuais típicos das Artes Liberais (trívio e quadrívio e depois também Teologia e Direito, e mais tarde ainda, Medicina), não ainda, porém, no vértice do prestígio cultural e social. Inicialmente, de fato, a distinção entre universitates de Artes “mecânicas” e universitates de Artes liberais eram pouco marcadas. As Artes Mecânicas compreendiam todas as atividades artesanais, inclusive aquelas dos médicos, desvalorizados pelo próprio nome de “mecânica” – derivado de mecor, aris (mechor, aris, no latim clássico = rebaixar, adulterar, depreciar). As Artes Liberais correspondiam a todas as atividades aplicadas no Trívio (gramática, retórica, lógica) e no Quadrívio (matemática, geometria, astronomia, música). (RUGIU, 1998, p. 25-26; 30). Nos aldeamentos, o comércio e o ensino de artes mecânicas deviam ser introduzidos entre os indígenas (ALENCASTRO, 2000, p. 87) 97. A "Aldeia da Doutrina" foi o primeiro aldeamento de índios implantado pelos jesuítas e estava localizada onde é, hoje, a Vila Velha do Vinhais (VAZ e VAZ, 1994) 98. Os aldeamentos distinguiam-se das tabas, por serem sítios de moradia de indivíduos de uma ou de várias tribos, compulsoriamente deslocados, misturados, assentados e enquadrados por autoridades do governo metropolitano. Forros, os índios dos aldeamentos só podiam ser utilizados mediante salário, nos termos da lei (ALENCASTRO, 2000, p. 120) 99. Os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura (1615), principiaram a estabelecer residências - ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Pernambuco (VAZ e VAZ, 1994100; MARQUES, 1970101; CAVALCANTI FILHO, 1990) 102: "E como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, nela estabelecessem todos os costumes, que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos".
Em 1664, ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, é levantado o Convento de Nossa Senhora da Assunção - que o povo chamou sempre de Convento das Mercês -, e nesse convento funcionavam, primeiro uma escola de primeiras letras e de música e, depois, uma aula de latim, de gramática, de filosofia e de cantochão, para rapazes. Era servida de uma boa biblioteca (MEIRELES, 1995, p. 34-35) 103.
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ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O TRATO DOS VIVENTES: formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal "O ESTADO DO MARANHÃO", São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28. 99 ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O TRATO DOS VIVENTES: formação do Brasil no Atlântico sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000 100 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal "O ESTADO DO MARANHÃO", São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28. 101 MARQUES, César Augusto. DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO. Maranhão: Tip. do Fria, 1870. (reedição de 1970). 102 CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís: SIOGE, 1990. 103 MEIRELES, Mário Martins. DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS. São Luís: Alumar, 1995. 98
Serafim Leite104 não traz somente esse ‘médico’ como praticante da arte de curar. Seu livro trata das artes e ofícios praticados pelos padres da Companhia de Jesus, localizando-os e, sempre que possível, trazendo suas origens. Utilizou-se dos arquivos gerais e outras obras. Esclarece que da ação dos jesuítas é conhecida a obra pedagógica, o esforço na liberação dos naturais da terra e a defesa contra seu extermínio, a catequese religiosa, a moralidade cristã dos costumes, a cultura literária, linguística, e científica, como elementos políticos a serviço da expansão e unidade territorial da nova nação que se criava. Explicita seu processo e método, as fontes de que se valeu, a bibliografia impressa, e passa a tratar dos Ofícios e dos Irmãos, dos ofícios domésticos, dos que não são comuns, propriamente os ofícios mecânicos, ai localizando os barbeiros, enfermeiros, cirurgiões, farmacêuticos... Os que nos interessam, responsáveis pela Arte de Cura. Na segunda parte, em ordem alfabética, identifica-os: ALBERTI, Domingos (1711 – 1751 – 1752...). Natural de Saluzzo, onde nasceu em 11 de abril de 1711. Entrou na Companhia em Roma a 9 de julho de 1736. Farmacêutico (pharmacopola). Chegou ao Maranhão em 1751, deixando de pertencer à Companhia no ano seguinte. COELHO, Domingos (1645 – 1678 – 1716). Natural de Castelo Rodrigo (Beira Baixa), onde nasceu em 1645. Entrou para a Companhia em Lisboa, a 1 de fevereiro de 1675. Chegou ao Maranhão em 1678. Conhecia bem a arte cirúrgica e farmacêutica. Faleceu no Colégio de São Paulo em 4 de maio de 1716. FERREIRA, Clemente (1713 – 1734 – 1741). Natural da Diocese de Coimbra (os Catálogos têm Vila Boa; a Lembrança, S. Pedro de Espinho); Nasceu em 1713. Entrou na Companhia a 25 de abril de 1734, chegado esse mesmo ano ao Maranhão. Farmacêutico e enfermeiro (pharmacopola et infirmarius). Faleceu em 8 de janeiro de 1741, no Maranhão. FONSECA, P. Manuel da (1734 – 1753 – 1782...). Natural de Vilar (Diocese de Braga), onde nasceu a 5 de abril de 1734. Entrou para a Companhia em 24 de março de 1753. Esteve no Maranhão e no Colégio do Pará. Conhecido como “Boticário do Maranhão ou Tapuitapera”. GAIA, Francisco da (1675 – 1700 – 1747). Natural de Santa Marta (Braga), onde nasceu por 1676. Entrou na Companhia a 15 de março de 1700. Residia no Colégio do Pará como enfermeiro e farmacêutico (pharmacopola). Faleceu no Pará em 20 de janeiro de 1747. JOSÉ, Romão (... – 1746 – 1750...). Entrou na Companhia no Maranhão em 1746. Farmacêutico do Colégio do Pará em, 1750. ORLANDINI, P. João Carlos (1646 – 1679 – 1717). Natural de Sena (Toscana), onde nasceu em 1646. Entrou na Companhia em Genova em 1662. Chegou a Lisboa em 1678 e embarcou para as Missões do Maranhão e Pará no ano seguinte de 1679. Foi missionário de grandes recursos. Era entendido em coisas de medicina e sabia como se deve acudir aos doentes e achacosos com tudo o que lhe parecesse necessário e útil. Faleceu em Itacuruçá (Xingu) a 29 de agosto de 1717. PEREIRA, João (1696 – 1718 – 1758). Natural de Açores (Diocese de Miranda do Douro) em Trás-osMontes, onde nasceu a 15 de agosto de 1696. Entrou na Companhia pelo Pará a 30 de setembro de 1696. Irmão de grande virtude e capacidade, que mostrou em vários ofícios incluindo o de enfermeiro no Colégio do Maranhão, em 1735. Faleceu com 62 anos de idade, no Maranhão a 13 de dezembro de 1758. PEREIRA, José (1717 – 1732 – 1793). Natural de S. Eulália de Ferreira (Figueira da Foz), onde nasceu a 5 de setembro de 1732. Foi enfermeiro do Colégio do Maranhão. Faleceu em 19 de dezembro de 1795 em Pesaro. PEREIRA, Manuel (1714 – 1732 – 1753). Natural de Poiares (uma das varias povoações deste nome, da Diocese de Braga). Nasceu em 10 de maio de 1714. Entrou na Companhia no Maranhão a 5 de julho de 1732.
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LEITE, Serafim. ARTES E OFÍCIOS DOS JESUÍTAS NO BRASIL – 1549-1760. Natal/RN: Sebo Vermelho, 2008. Edição fac-similar da de 1953: Lisboa – Rio de Janeiro, Edições Brotéria e Livros de Portugal, p. 234
De ofício barbeiro (barbitonsor) e enfermeiro. Passou depois ao Pará, onde veio a falecer em 1 de setembro de 1753. PINHEIRO, P. Luis (1698 – 1720 – 1733...). Natural de Celas (Coimbra), onde nasceu a 3 de março de 1698. Entrou na Companhia a 17 de fevereiro de 1720, seguindo neste mesmo ano para o Maranhão. Farmacêutico (pharmacopolas). Em 1730 chama-se-lhe “Padre Boticário”. RODRIGUES, Manuel (1630 – 1661 – 1724...). Natural de Ponta Delgada (Açores), onde nasceu em 1630. Entrou na Companhia em 1656 e embarcou de Lisboa para o Maranhão em 24 de novembro de 1660. Ocupou variados cargos dentre os quais enfermeiro e farmacêutico. Trabalhou com os Índios Guajajaras do Rio Pinaré. VIEIRA, Antonio (1681 – 1723 – 1750). Natural da freguesia de Nossa Senhora da Graça (Diocese de Funchal), onde nasceu em 1681. Chegou ao Pará com 17 anos. Entrou para a Companhia de Jesus a 6 de outubro de 1723. Foi enfermeiro do Colégio do Maranhão algum tempo. Faleceu a 22 de junho de 1750.
À GUIMARÃES “DE MARIA FIRMINA E GONÇALVES DIAS”: poesias juntando vidas MEU AGRADECIMENTO DILERCY ARAGÃO ADLER
Neste outubro próximo passado, publiquei um livro de poesia intitulado “De Súbíto... à Deriva”. A vida nos prega ou entrega peças que vamos juntando como um “quebra-cabeça”... Apesar de tudo isso queremos acreditar que somos donos do nosso destino. Também não creio que a nossa vida resulte de uma determinante predestinação. Prefiro acreditar no acaso, no aleatório, no sem intenção prévia, no “sem rumo”. É esse caso que me traz nesta tarde a esta cidade que abre as portas a oferecer a mim uma cidadania. Não poderia deixar de sentir uma extrema felicidade! Afinal a cidade é o bem mais precioso que um citadino pode ter. E, neste momento, sentir-me convidativamente acolhida me toma uma emoção ímpar, indescritível. Por que escolhi iniciar com a minha crença no acaso? Porque acredito que este momento é a soma de várias pecinhas que me foram entregues, as quais fui carinhosa e teimosamente juntando. No Diário de viagem que publicamos sobre o projeto Gonçalves Dias, inicio dizendo: O COMEÇO DE TUDO... Era uma vez no Chile... Uma casa de frente para o mar onde um poeta fazia poesias, muito poesia... E defendia a utopia de uma sociedade mais igualitária e assim se fez impar!...
Continuando o início da história... Nessa mesma casa onde muitas pessoas vão cultuar a memória de Pablo Neruda, tive a grande dádiva, de, ao atender à convocatória de Alfred Asis, para homenagear esse grande nome da poesia chilena, ser também intensamente provocada pela ideia de uma homenagem similar a um grande nome das letras brasileiras... Aí, nesse momento e lugar, foi gerada a ideia dos “Mil poemas para Gonçalves Dias”, claro que nas suas primeiras concepções... (ADLER;VAZ, 2013)
E, assim, entre tantas pessoas que foram embarcando no Projeto/Sonho/Arca de Gonçalves Dias estava Osvaldo Gomes, à época ilustre Professor, Vereador e importante cidadão de Guimarães. Naquele início de uma relação profícua o ilustre e querido amigo retrata no mesmo Diário de viagem, de uma forma que a mim muito agrada: Tudo começou com um simples telefonema, uma pessoa desconhecida que buscava informações e possibilidades. E blá blá blá blá, do outro lado da “linha” escutava e respondia mansamente a uma Professora Doutora ansiosa e cheia de ideias. Dessa conversa veio a primeira visita na V Semana Literária Maria Firmina dos Reis, promovida pelo CE Nossa Senhora da Assunção, escola de ensino médio, com a presença de Dra Dilercy Aragão Adler, Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, e de Clores Holanda, Diretora do Palácio Cristo Rei, para conhecer o local onde faleceu Gonçalves Dias, em três de novembro de 1864, a bordo do navio Ville de Boulogne.
Gosto muito de imaginar a cena porque me imagino no momento vivido tomada por intensa ansiedade e do outro lado a calma do meu interlocutor, o que não significa morosidade, já que o Prof. Osvaldo organizou, com a adesão de muitas pessoas, entre elas a Prefeita Nilce de Jesus Faria Ribeiro, um belo acontecimento aqui em Guimarães por ocasião da culminância do Projeto Mil poemas para Gonçalves Dias. Contudo, o mais surpreendente é que na minha primeira visita a Guimarães por conta desse Projeto, com o objetivo de apresentá-lo, tive a oportunidade de entrar em Guimarães pelas mão da cultura, da “V Semana Literária Maria Firmina dos Reis” realizada pelo “Centro de Ensino Médio Nossa Senhora da Assunção”, tendo à frente o seu Diretor à época, o Professor e Vereador Osvaldo Gomes, o qual atendeu a solicitação dos organizadores do Projeto, no sentido de incluir na Programação a homenagem a Gonçalves Dias. Na ocasião, a meu pedido, a programação contou com a celebração de uma missa in memoriam de Gonçalves Dias (1823 a 1864), considerando o seu aniversário de morte, em 03 de novembro. Assim, na ocasião foi inserida nas atividades culturais e foi rezada uma missa especial, na Praia da Araoca. Essa praia no Atins/Guimarães é o marco do naufrágio do navio Ville de Boulogne, no qual se encontrava Gonçalves Dias. A esse encontro seguiram-se outros. Todos marcados por muito desejo de reacender a chama do amor às artes, à cultura. Foi com alegria que testemunhei a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães e da Academia Vimarense de Letras. Todavia, o mais precioso achado por mim, em Guimarães, foi Maria Firmina. Confesso que não tinha maiores conhecimentos acerca da sua vida e obra até o momento de vê-la e senti-la através da sensibilidade e do talento dos alunos do “Centro de Ensino Médio Nossa Senhora da Assunção”. Nesse momento ela foi apresentada a mim de forma encantatória e implacável, ou seja, implacavelmente encantatória. Levei-a de volta para São Luís para dar-lhe um lugar que lhe cabe por direito: A Casa Maria Firmina dos Reis, que abriga os membros da Academia Ludovicense de
Letras-ALL. É claro que a sua marca registrada jamais será apagada ou retirada de Guimarães porque seus filhos têm zelado por ela. Esta terra de clima quente e úmido, com chuvas de dezembro a julho, sabe inspirar os seus filhos e todos aqueles que nela aportam para viver a sua vida, a exemplo de Maria Firmina, ou mesmo para dormir o sono eterno, a exemplo de Gonçalves Dias. Sem contar que é berço de nomes ilustres como Joaquim de Sousa Andrade, mais conhecido por Sousândrade, Monsenhor Benedito Estrela, Urbano Santos, João Pedro Dias Vieira, Lopes Bogéa, Jomar Morais, Paulo Oliveira, Guerreiro Júnior, Celso Coutinho entre tantos outros, ainda os ilustres anônimos que constroem a história desta cidade. Aqui estou, hoje, para somar aos filhos desta terra que muito generosamente me oferecem o privilégio de ser também mais uma cidadã vimarense. Volto então a me perguntar o que me trouxe hoje até aqui: o destino já traçado, predestinado? O acaso aleatório sem rumo certo? Eu diria um acaso intencional porque, em parte, fruto das minhas ações dentro de um contexto possível e propício, embora com dificuldades, muitas vezes. Estas se juntaram às ações de muitas outras pessoas, muitas mesmo, com diferentes formas de participação. Bendigo este momento e agradeço a todos que o possibilitaram. Mas não posso deixar de nomear o Vereador, Professor e Presidente Fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães, por ter indicado o meu nome para submeter à aprovação desta Casa, para receber esta honraria, assim como a todos que votaram a favor. Agradeço também à Prefeita Nilce de Jesus Faria Ribeiro, pelo constante apoio à cultura de Guimarães e às parcerias com São Luís, assim como a todos que se dispuseram a vir a esta Casa tanto para comemorar, neste mês de março, o dia Internacional da mulher quanto para participar deste ato que comprova a generosidade vimarense. Quero também, neste momento, parabenizar todas as mulheres deste auditório, desta terra e do mundo inteiro, por seu agir em suas sociedades, e desejar também que cada dia tenhamos melhores inspirações para orientar os nossos filhos e filhas a fim de que, através dos nossos ensinamentos e exemplos, possamos mostrar a eles um caminho mais propício à felicidade, a sua própria e a de todos que estão ao seu redor ou bem distante. Afinal vivemos numa Aldeia Global. Como poeta, não quero deixar de dedicar uma poesia que trata do espaço feminino, ao tratar dele também não deixamos de nos referir aos homens, seres igualmente importantes em nossas vidas. ESPAÇO FEMININO Dilercy Adler Espaço mulher mulher no espaço espaçonave espaço cósmico cômico espaço... inusitado! das normas do corpo do sexo... do leite materno que eterno sangra do peito
a jorrar a boca a dentro do homem!
IN: Cr么nicas & Poemas R贸seo-Gris, 1991
POESIAS & POETAS
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO É CARNAVAL... De dia, o sobe-e-desce da favela o cabelo negro em desalinho o passo irregular pelo caminho. De noite, o vai-e-vem da passarela o cabelo esculpido na fantasia o passo ritmado da folia. De dia, a dura tirania do cotidiano o ônibus que sempre atrasa a poeira que nunca acaba. De noite, o louco reinado do insano as plumas, os paetês, as alegorias no espelho da ilusão, caras alegrias. De dia, o árduo embate nas lidas o vinco no rosto cansado o troco no bolso rasgado. De noite, o reluzente toque de Midas o sorriso aberto na face ornamentos de luxo e classe. De dia, o acre suor da labuta a marcha de carros no engarrafamento a enchente, a dengue, o desabamento. De noite, o êxtase acalorado da suta a procissão de carros do outro mundo de um outro mundo, fértil, fecundo. De dia, o coro desafinado dos apitos a dívida, o salário mínimo, a feira o despejo, sem eira nem beira. De noite, a sinfonia eclética dos ditos a festa, a luz, a explosão de cores a máscara a espantar os dissabores. De dia, o porta-níqueis em um canto, as contas, a loteria, o puxa-saco, o cacete a buzina, o barraco, a prova e o macete. De noite, a porta-bandeira do encanto, o puxador e o mestre-sala do samba a serpentina, a mulata, o pandeiro e o bamba.
De dia, o cão que ladra e morde o traficante que se faz deus a polícia que não diz adeus. De noite, a carruagem do lorde a fada madrinha da bateria o confete, o holofote que inebria. De dia, o marca-passo do real a bala perdida, o prego na mão o assalto, o desemprego, a morte na desilusão. De noite, o sai-de-baixo virtual o laser, os fogos, a varinha de condão o sapato de cristal, a ressurreição. No desfile insondável da vida só o sonho não morre na avenida pois o enredo não é de valsa mas tem Tom e Cavaquinho não é de tango, nem é de salsa mas tem samba e chorinho. É carnaval... (Do livro Versos e anversos. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002).
AYMORÉ ALVIM. MEUS NATAIS PASSADOS. Saudades! Nostalgia! Só lembranças! De quando juntos, em natais passados, Quando as conversas fluíam entre risadas, Das piadas inocentes, Agradáveis. Como ela recebia com carinho Parentes e amigos convidados. As outras duas sempre conversando Com aqueles que sentavam ao seu lado. Tudo era festa, meu Deus! Só alegrias! Quantas saudades Dos Natais passados.
NATIVIDADE. Antes que surgissem as primeiras estrelas, Antes que brilhasse a primeira aurora Tu já estavas comigo. No meu amor, eu te gerei. Quando do nada Tudo eu tirei Tu estás comigo. Nunca estiveste, Nunca estarás, Tu estás. És o Senhor do tempo Embora não o conheças. O tempo é relativo, O tempo passa. Tu não passarás. Porque tu és quem és Como eu sou quem sou. Nunca foste, nem serás. Simplesmente, és. Enviei-te humano Por amor aos homens. Festejam a tua chegada Mas poucos, ainda, te conhecem. Muitos não te conheceram. Deste-lhes amor, E te devolveram o ódio. Mostraste o valor do perdão, Mas continuam cultivando a vingança. Comungaste com eles a fraternidade Mas te responderam com a exclusão. Concedeste-lhes a vida, No esplendor da natividade Mas continuam matando.
De quem comemoram, mesmo, a natividade
POR QUE? Blocos e mais blocos que se erguem, Na sisudez hermética do concreto, Impedem que eu te veja. Tudo mudou. Por que? Já não te encontro à janela Quando em meus passeios Pela tua rua Nem nos fins de tardes, Nos banquinhos lá da praça Para ver o sol poente. Ondas cibernéticas, Furiosas como raios, Cortando, a todo instante, os meus céus Já não me permitem sentir O frescor da tua boca Quando me falavas. Foram-se os tempos... As cartinhas perfumadas Não mais encurtam as distâncias. As mensagens pelo alto-falante, Em noites de festas, no largo da Igreja, Já não são portadoras Dos recados dos amantes. A paixão modificou costumes Afastando os limites do amor. Já não vivemos mais Na expectativa das núpcias. O dançar agarradinho, nos bailes, Foi separado pelo pular incessante das baladas. O perfume que envolvia corpos dançantes Cedeu lugar ao odor de corpos suados. Mas, tudo mudou. Por que? Por que o que é bom e prazeroso Tem que mudar? Oh! Tempos. Ah! Progresso! Por que mudam os costumes? CIUMES Escuta-me, Pelo menos só mais uma vez. Ouve tudo o que tenho a te dizer Porque foi que eu errei. Depois, então, Tu me condenas se fores capaz Mas eu te juro que tudo o que fiz Foi por te amar demais.
Sempre eu pensei Que o ciúme fosse prova de amor, Mas foi ele que te afastou Para sempre de mim. Perdoa-me, Eu te suplico, só mais esta vez, Esqueçamos tudo que eu te fiz E viver nosso amor. QUEM ME DERA! Somente tu sabes o quanto amei um dia. Somente tu sabes o quanto eu sofri. Mas o destino te fez surgir em minha vida Dando-me a chance outra vez de ser feliz. Somente tu sabes quanta alegria Me invade a alma quando estou perto de ti. Porem o tempo se interpôs em nossas vidas Transformando em fantasias todo o meu sentir. Inda te sinto bem perto, mas é longe que te vejo. No entanto só tu sabes o quanto eu almejo De viver esta ilusão como eu quisera. Dizem que os sonhos são frutos de um desejo. Como eu queria, ao menos num lampejo, Te ter só para mim. Ah! Quem me dera!
SAUDADES DE PINHEIRO. Quanta beleza eu lembro. Era criança. Quando em Pinheiro mais um dia amanhecia O sol cobria de luz os verdes campos, Anunciando a todos nós um outro dia. Tudo era belo para mim, uma festança. Ruas e praças se enchiam de alegria. Canoros pássaros, nas copas verdejantes, Saudavam o sol brilhante que surgia. Mas à tardinha lá da torre da Igreja Plangente som dos velhos sinos se ouvia Deixando a todos nós uma certeza Que o amanhã será sempre um novo dia. Vocês não podem imaginar quanta saudade E a tristeza que me invade por inteiro Ao relembrar da minha infância em Pinheiro E no que se transformou minha cidade.
DILERCY ADLER. PRECIOSO ACHADO A José Chagas Já perdi o fio da meada o fim da linha o meio da conversa tantas e tantas vezes!... já perdi a tão necessária paciência a tão imprescindível esperança até um amor tão belo que eu via “estar pra nascer”!... mas achei na João Pessoa nordestina com a faceirice de cidade menina o mais belo pôr-do-sol que eu já vi ... ...à beira mar ao som de um fax cristalino o mais belo bolero aquele apaixonantemente e inesquecível… … o Bolero de Ravel!! In: Desabafos... Flores de Plástico...Libidos e Licores Liquidificados, 2008.
TANTOS NATAIS Natal nascimento sempre vida vida nova comemoração! Natal sempre festa alegria comemoração! Natal gente reunida gente que se ama que se quer muito bem! Natal também revela sentimentos de vazio solidão quando alguém
que antes estava à mesa ao pé da árvore já se foi nos deixou deixando com a gente saudade em profusão deixando em seu lugar grande e imorredoura solidão! não estás neste Natal não vejo mais o teu sorriso não sinto aqui a tua alegria nem mais compartilho a tua companhia! nasce vida nasce saudade nasce solidão nasce gratidão dos tantos dias vividos ao pé da árvore ao redor da mesa e dentro bem fundo do meu coração!.
RISCO Corro por mil estradas sobre as águas do rio também em corredeiras imprevisíveis traiçoeiras!... corro ao sabor do vento sob as palmas dos coqueiros com areias esvoaçantes que se entranham em meus cabelos.... corro sem trégua por léguas e léguas ou línguas e línguas diversos sabores saberes burrices me entrego... - que vida !passa ligeira... tão ligeira!!!
correndo me arrisco mas durmo tranquila depois disso tudo sobre o meu travesseiro!... corro na vida me entrego me arrisco o risco que corro arriscando com amor é vida! é tudo! corra riscos também isso é -com certezao que nos convêm! FELIZ 2015! São Luís, 28/12/2014 Às 23h
(URGE)NTE(MENTE) Caem sombras sobre a terra é urgente a luz... morrem peixes nos oceanos é urgente a vida... morrem rios poluídos é urgente amar a natureza... muitas cidades sem rumo e beleza é urgente formosura graça prumo lindeza... murcham os jardins coloridos é urgente bouquet de azaleias rosas margaridas... todas elas! nascem egoísmos e vaidades é urgente muita solidariedade... morrem amores todos os dias é urgente guarida compreensão ressurreição... afeto amor e e alegria são urgentes nesta vida!!
EU BORBOLETA NESTA NOITE No efêmero intensamente vivido marcas profundas de voos inesquecíveis! Eu borboleta testemunho neste meu voo o teu tu e o meu eu num só suspiro... e quantos espirais e ais de amor neste instante se firmam se afinam em formas cruas esdrúxulas íngremes aos olhos dos que não sabem ver nem sentir o que é o amor ou o que é amar! Eu borboleta testemunho -simneste meu voo... ... testemunho! ah! como testemunho!
ANTOLOGIA BRASIL LITERARIO * POESIA SOBRE CACHAÇA * Dilercy Adler - MA Para: antologiabrasiliterario@gmail.com
Dilercy Adler – MA
Cachaça só a da emoção o álcool não é inspiração faz mal à saúde -engana o prazerQuando acaba o efeito... cadê?????
Dilercy (Aragão) Adler. Nasceu em São Vicente Férrer/MA/Brasil, em 07/07/50. É Psicóloga, Doutora em Ciências Pedagógicas (ICCP-Havana/Cuba). É Vice-presidente da Academia Ludovicense de Letras e sócia do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM,. Publicou 14 livros. Organizou cinco antologias poéticas e tem participação em mais de cem antologias nacionais e internacionais. Já recebeu vários prêmios, troféus e menções honrosas por trabalhos poéticos e culturais.
VANDA SALES NESSE NATAL Ele chegou sorridente apesar da barba por fazer, sorriu sentou-se à mesa farta e começou a descascar as castanhas marrons convidativas naquela travessa portuguesa com delicados detalhes florais por mãos humanas desenhados Ah, que emoção senti! Mamãe não estava mais aqui, somente esta intensa saudade a deflorar os sentidos... olhei a mesa vazia, o pano de prato com biquinhos de crochê, sua bíblia fechada e na taça de vinho tinto uma esperança pousada iluminuras de vida de rosas perfumadas... Nesse Natal Troquei o canal, em tempo real, e vi o pequeno emigrante sobrevivente por sobre os corpos de seus pais... Chorei tanto, era Natal!
AQUELE HOMEM DO PENSAR105 A Leopoldo Gil Dulcio Vaz I Naquele instante em que deslizam nas águas, barco e homem estancam-se Face a face E o mar escandalosamente geme seus sons II O farol eleva-se ao fundo a rota estende-se longe... Um livro celebra-se! A maresia impregna as narinas, garças adornam o cais... Levemente o sabor das jabuticabas vêm e as folhas perpetuam vidas
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SOBRE A REVISTA DA ALL... De vanda salles Salles Para: Leopoldo Vaz Gil Dulcio: Querido Leopoldo Vaz Gil Dulcio, Estou lendo aos poucos a Revista da ALL, já amei!!! Belíssimos artigos e poemas. Parabéns!!! Vi nela e li a publicação do meu ensaio, que beleza ficou, Coração bate acelerado, emocionado com tamanha honra, obrigada a você. Extensivo a todos da ALL.
III Um céu azulado, alegre, amplia o horizonte Liberdade tangencia-se na pele E a vida enche-se de graça e beleza... IV Da areia, a criança observa sorrindo o que vê
MICHEL HERBERT FLORENCIO UMA NUVEM DE GLÓRIA. És sobre mim Senhor a nuvem que e me guia de dia e que repousa sobre mim a noite. Que me faz permanecer ali onde tu estás.¹ Não me levantarei da tua presença. Nem me afastarei para longe de ti. Onde repousares repousarei. Pois para onde irei longe de ti? Se só tu tens a palavra da vida eterna. Se ao ermo caminhar no deserto eu morrerei pois só tu tens a fonte da vida eterna. Partir ou permanecer obedecer a tua voz e a tua vontade é a nossa missão Deus. como povo escolhido ou como nação. Hoje e sempre serás a minha nuvem de Glória. ¹Número :9-1-15 EU E ELA( A POESIA). Eu a entendo e ela também me entende Eu a respiro e ela me sente Eu a degusto e ela me embebe Eu a escuto e ela me escreve Eu me dou e ela me toma em seus versos Eu a chamo bem de dentro de mim Ela me toca, e em mim se envolve Eu a cruzo no caminho e ela me encontra no horizonte Eu a vejo na luz do luar Ela me espera ao amanhecer Eu a encontro na melodia de uma canção Ela me reconhece nas minhas paixões Eu a encontro em tudo E até mesmo no nada. Eu e ela somos uma só carne, um só verso. A MUDANÇA QUE QUEREMOS. Existem momentos que o nosso mundo pára, mas não por acaso Que tudo que está a nossa volta não importa O nosso eu interior se revolta consigo mesmo Com nossa apatia, com nosso próprio descaso. Com nossa inocência em acreditar que no outro ou naquele a quem escolhemos , confiamos e entregamos nosso destino é que tem a força e capacidade de fazer nossa história bem melhor bem mais digna e justa, e nos dá enfim a tão sonhada felicidade.
É quando nos apercebemos que estamos errados Que fomos por nós mesmos ludibriados Então surge em ebulição a força motivadora da esperança De uma mudança para outra realidade Que sonhamos ser a mais justa e a mais digna Este sonho por si só nos faz de novo viver Sonhar, agir, transformar, enxergar No horizonte e mesmo DENTRO DE Nós o que queremos e o que sonhamos. Que fazemos.
SOU GUARDIÃO, SOU ILUSÃO, NA CAPITAL DO REGGAE, SÃO LUÍS DO MARANHÃO106 Compositores: REINALDO COQUEIRO RODRIGUES (COQUEIRO DA ILHA), IRANDI MARQUES LEITE E RAIMUNDO NONATO MEDEIROS DA SILVA.
I Quem tem seu amor, Dança agarradinho. Quem tem seu amor, Dança de mansinho.
(bis)
II O som do Reggae vem entoar ô, ô, Como as ondas que bailam no mar. Encontra-se com a poesia, Estremece toda Ilha, Quando o som se dispersa no ar. III Eu vou viajar, eu vou, Nas curvas e retas da vida. A dança é sangue e contagia, Na terra dos Poetas, Sou Guardiões dessa folia.
(bis)
IV Sou sonhador, No compasso da canção, Sou ilusão, sou tradição, Na Jamaica Brasileira, (bis) São Luís do Maranhão.
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CARNAVAL 2015 SÃO LUÍS DO MARANHÃO - BLOCO TRADICIONAL OS GUARDIÕES
ANA MARIA FELIX DEVA GARJAN107
HOMENAGEM AO DIA DA POESIA, 14 DE MARÇO O jardim, a montanha e o barco azul Porque navegar é preciso. Ana Maria Felix Garjan Tenho um jardim em meu peito azul-violeta feito de gnomos, flores do campo, florais flores silvestres, pássaros, florais e borboletas. Aprendi com os pássaros a cantar novos sonhos. com as borboletas a voar pelos ares e ventos da arte das asas da liberdade que voa longe, longe! Dentro de mim há um jardim que virou barco iluminado de onde miro o céu e de lá vôo sobre montanhas, bem alto e volto para pousar em mar de corais do meu uni-verso. Dentro do meu coração estão as marcas das pegadas de anjos protetores dos sonhos da nossa humanidade. E no meu olhar atento vislumbro aquelas paisagens de belas cidades ainda desconhecidas... Onde estão os códigos e chaves da felicidade. Minha alma voa num barco azul em oceanos da vida. E esse barco não precisa de rotas, cartas, nem portos, Mas somente dos sonhos para navegar adiante. Dentro de todos nós há um jardim e um barco azul há um horizonte e um mar profundo, sem limites onde estão as chaves da nossa existência. E naquela cidade há um barco que aprendeu a voar. Há entre nós um oceano que virou nosso guia, onde há entre o meu barco, o teu e os sonhos um caminho que nos leva àquela montanha, a mesma de onde avistei um jardim imenso onde meu barco azul navega em águas claras. E desse meu barco que navega livre de bússolas E dessa montanha azul de onde avisto o mundo E desse imenso oceano onde navego sem medo Eu canto um hino ao mundo, aos céus e a todos. Peço aos Deuses... Paz para nossa humanidade!
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Ana Maria Felix Deva Garjan: Embaixadora da Paz, pelo Cercle Uni. des Embassadeurs de la Paix/FRANCE/SUISSE; Escritora, poeta, artista plástica. Caxiense de nascimento. Cidadã do mundo. Ludovicense de corpo e alma.
MATER LUX TERESA DE CALCUTÁ108 A humanidade precisa de paz, urgente E sua memória continua mais forte entre nós! Sua filosofia e humildade encantaram o mundo, Mas o mundo não consegue parar as guerras. Madre – Mãe da Paz, da sabedoria e do amor, Precisamos de teus exemplos de caridade e fé, Porque a humanidade sofre diversas guerras: As crianças palestinas morrem todos os dias! Como podemos falar de paz e amor nesse tempo? Como podemos cantar novos hinos de paz? Como podemos superar as tristezas da humanidade? Como podemos dominar as tragédias da sociedade? Os países se revoltam com tanta violência. Que fazer? As sociedades enfrentam as drogas e os jovens morrem, todos os dias, e todos os dias morrem milhares de sonhos. Que podemos fazer Madre Teresa, diante da violência? Queremos cantar hinos de esperança, fé e amor... Queremos realizar todos os nossos sonhos... Queremos desvendar os mistérios da vida... Queremos trilhar todos os caminhos da felicidade! Madre Teresa de Calcutá nos ilumine com tua luz, Inspire nossas mentes e nossos corações para a Paz! A humanidade do Bem precisa de mais esperança, Nós precisamos de mais consciência, fé e amor! Madre das luzes do coração e da alma és o espelho! Tuas palavras, frases e poemas continuarão no mundo, Sua doçura será o fermento para as novas gerações, Abençoa teus irmãos, protege as mulheres violentadas! Ave Lux Madre Teresa! Tua doçura será teu melhor legado! Que em teu nome a Paz dê voltas ao mundo! Teu nome é e será, para sempre, o mais belo sinal! Que as guerras e a violência na humanidade parem agora!
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Poema publicado na Antologia Mil Poemas a SOR TEREZA DE CALCUTA, Coordenada pelo poeta e escritor chileno Alfred Asís, em 2014.
UMA APRESENTAÇÃO NECESSÁRIA ÀS POESIAS NECESSÁRIAS, de ontem e hoje: APRESENTANDO REGINALDO TELLES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ109
Reginaldo Teles de Sousa nasceu em São Luís (MA), a 15 de novembro de 1925. Estudou o Primário em Fortaleza e o Secundário no Liceu Maranhense, em São Luís, diplomou-se em Direito na capital do Maranhão em 1952. Foi vereador da Câmara Municipal de São Luís e chefe de assessoria jurídica da prefeitura da referida cidade110. A Professora Denise Martins de Araújo chamou-me à sua sala, na Academia Viva Água: “Leopoldo preciso que edite um livro de poesias. De meu sogro Reginaldo Telles. Você o conhece?”. - Sim, o pai do Osvaldo e da Regina; - Sim, o político, ligado ao Dr. Jackson e ao Neiva Moreira; já fomos apresentados, quando da ida do Dr. Jackson ao bairro onde moro, levados pelo Julião Amim, há muitos anos... - Sim, o jornalista brilhante, de uma geração em que se fazia um jornalismo sério, sem paixão – sem a paixão político-partidária, a soldo de quem paga mais para ‘criar’ verdades e macular biografias... - Não. Não conheço o poeta! Mas sei que todo maranhense nasce poeta. Que todo poeta busca no jornalismo um meio de sobrevivência, para poder poetar... Existem meios, hoje, fugindo às ‘panelinhas’ e ‘q-i´s” tão imperiosos de nossas letras e órgãos culturais, de que só os amigos (dos poderosos de plantão) têm acesso ao ‘jabá’ de publicar... Podemos buscar uma dessas editoras alternativas, e mediante alguns reais, publicar uma edição comemorativa, de apresentação, do novo poeta do Maranhão. Conhecendo a história de vida do novel menestrel, preferiria essa alternativa, a que se submeter aos perigos do ‘compadrio político’. Seus filhos bancariam, fraternalmente, a edição... Uma justa homenagem a quem lhes deu a vida, um nome honrado, um orgulho... Fui apresentado, novamente, ao Reginaldo Telles. Conversamos um pouco. Ele me confiou uma pasta, amarela, com seus poemas... Alguns, em papel já amarelados pelo tempo de vida, manuscritos; outros, datilografados; e outros ainda, já digitados... Numerados, em dada ordem... Perguntando sobre quando os fez, disse-me que desde os tempos de adolescência que canta suas musas. Dos tempos do velho Liceu Maranhense, e o surgimento dos primeiros jornais estudantis, em que ousou dar a público suas primeiras poesias. Os poemas aqui listados foram cantos às musas, ao longo de toda uma vida. Os havia dos tempos de estudante, como dos tempos de jornalista militante, dos tempos de advogado atuante, dos tempos atuais... Alguns, do tempo de solteiro, em que a pena buscava descrever os amores juvenis. Muitos não correspondidos. Outros, corridos... Mas a maioria, feitos depois do namoro, noivado, casamento com a mãe de seus filhos – a derradeira e verdadeira musa, que ao poeta encanta e a quem o poeta canta...
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http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/01/02/acorda-mocidade-acorda-ateniense-apresentando-reginaldo-telles/ http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ 110 IN FARIA, Regina Helena Martins de; BUZAR, Benedito Bogéa. Apêndice C: Índice de verbetes de pessoas citadas nas entrevistas. In.: FARIA, Regina Helena M. de; MONTENEGRO, Antonio Torres (Orgs.). Memória de professores: histórias da UFMA e outras histórias. São Luís: UFMA; Dep. de História; Brasília: CNPq, 2005.
Leu-me alguns. Emocionado. Aos do tempo da juventude, com lágrimas a rolar as faces marcadas pelo tempo. Mas as lembranças permanecem vivas, como se tivessem acontecendo naquele momento, o encantamento... Pergunto: - “quem foi Elis?” sorri, disfarça, olha para a nora e o neto... os olhos marejam... E em resposta diz: “como sabes de Elis?” Respondo: “já li seus poemas...” e fiquei intrigado: “quem foi Elis?” retomo... sorri, pega o calhamaço de poesias, e seleciona uma: fala de Elis; outra, que também fala de Elis... Mas não responde: “quem foi Elis?” ou “o que foi Elis...” Não precisa responder. Basta sentir a emoção em declamar “Agora, é a frustração [...] agora, é o fracasso [...] agora, é a sensação de viuvez [...] agora, é o sino sem som [...] agora, é a solidão...” ou ‘está dando cupim dentro de mim [...] é assim na “ausência de Elis...” Mar, sol, sal, solidão... Uma constante. Enquanto lê mais alguns, seu neto Vitor pega do celular, coloca no modo ‘gravar’ e o dispõe sobre a mesa... Quer guardar esse momento, do encontro do Neto com o (passado do) Avô, sabendo, agora, que além de tudo que construiu na vida, ainda é Poeta... Gostou do que ouviu - e disse ao Avô. Ambos se olharam, emocionados, com os olhos cheios d´água... Quebro esse clima de confraternização, e de cumplicidade: Vitor também queria saber quem era Elis... Faço algumas perguntas. Se não poderia colocá-los em ordem cronológica... Fala dos tempos do Liceu... Pergunto sobre Sarney e sua militância estudantil, os jornais; disfarça, muda de assunto. Fala de poesia. Percebo que o político e o jornalista ficam para outro momento... Este é o do Poeta:
SOLIDÃO Agora, é a frustração do rio insatisfeito Que se infiltra e se acaba Nas areias do seu próprio leito E se esgota em si mesmo, vazio. Agora, é o fracasso da torrente, É o ímpeto que se ressente, Sem caudal, sem afluente Não tem força De chegar ao mar. Agora, é a sensação de viuvez, No estar sozinho É a dor da morte
De quem enterra a própria sorte Afinal, sem vez. Agora, é o sino sem som, Torre sem campanário, Contida a vocação, Praia deserta, Rio sem estuário, Águas insossas E o verão sem fim. Agora, é a solidão Deixa-me ultrapassar Estes limites Dá-me tua mão, Elis, Vamos para o mar.
AUSÊNCIA DE ELIS Está dando cupim Dentro de mim. Que dor aguda Esses minúsculos monstrinhos Causam aqui No coração, Roendo roendo Com suas trombas de aço Agudas, afiadas Incandescentes. É assim, Na ausência de Elis. Em vão busquei matar Esses bichinhos Em impulsos dispersivos Nos braços de mulheres indistintas Nas camas sem lençóis De sucessivos motéis Nos ais de gozo industrial Da insaciável carne Em momentos estéreis e incapazes de ajudar É assim Na ausência de Elis Estou cheio de cupim
ASPIRAÇÃO DE IMORTALIDADE Quero viver no céu dos corações Nem que seja como estrela cadente Ou mera evocação Dos instantes de luz dos vagalumes, Que passeiam no espaço ternamente
Como vadias fagulhas de esmeralda.
VOCAÇÃO O poder de amar na mulher É muito maior do que em geral Se imagina Através dos seios ela se dá À espécie e ao mundo, E acolhe a mensagem da vida Na vagina.
CARTA AO TEMPO Saudade Dos tempos de Tupinambá: Minhas raízes São Luis 1612 Que nostalgia incontida Que vontade de viver 200 anos até E de te ter também aos noventa Amamentando um filho meu: Rebento de amor Nas horas de relógio Sem ponteiros Que não marcam o tempo Nem limitam o desejo de te amar. Comer juntos muitos quilos de peixe moqueado Raízes cruas Montes de ostras, sarnambis e sururus Mel de abelhas Frutas e frutos silvestres Almoço nos ninhos das emas E sobremesa de ovos De pássaros E te ver Minha cunhã Tomando 12 banhos por dia Nos riachos de água fria Ou comigo fazendo amor Nas espumas das praias Doces ou salgadas Do Muni Do Olho d´Água ou Araçagi Ai1 que saudades Dos tempos de Tupinambá São Luís, paraíso 1612
Reginaldo Telles surge no período em que, além da chamada Geração de 30, ou sob sua interferência/influencia, aparece o Centro Cultural Gonçalves Dias. No dizer de Corrêa (1989) 111, organizada com a participação de intelectuais experimentados, como Luso Torres, Manoel Sobrinho, Clodoaldo Cardoso, Bacelar Portela e Nascimento de Moraes (pai), acrescido pelos representantes da mocidade, como Nascimento Morais Filho, Vera Cruz Santana, Arimatéia Atayde, Reginaldo Telles de Sousa, José Figueiras, Agnor Lincoln da Costa, Antonio Augusto Rodrigues, José Bento Nogueira Neves e Haroldo Lisboa Olimpio Tavares. Corrêa (1989, p. 66) traz o depoimento de um dos fundadores do Centro: Sentimos que a Academia Maranhense de Letras atravessava uma fase de silencio e que a juventude não recebia estímulos no plano literário. Resolvemos, por isso, fundar uma agremiação que pudesse acordar a Academia e, ao mesmo tempo, oferecer aos jovens, nos encontros semanais, oportunidade para o despertar de tendências. A entidade significou, assim, um movimento de reencontro com a tradição literária do Estado e de estímulo às iniciativas no plano das letras.
Cabe lembrar que Reginaldo Telles faz parte da “GERAÇÃO DE 45” - geração surgida em meados da década de 40 até meados da década de 60, período correspondente à oligarquia vitorinista112 (que será substituída por outra, a oligarquia Sarney, em 1965). Informa Barros (2005) 113: Os interventores que substituíram Paulo Ramos: Clodomir Serra Serrão Cardoso (23/3/1945 – 7/11/1945), Saturnino Belo (16/2/1946 – 10/04/1947) e João Pires Ferreira (10-14/4/1947). Os governadores no período vitorinista: Sebastião Archer (1947-1951), Eugênio Barros (19511956), José de Matos Carvalho (1957-1961) e Newton de Barros Bello (1961-1966). Neste cenário, terão papel fundamental membros da chamada “Geração de 45” e, em ambos os momentos, vozes se levantarão para pintar o Maranhão como decadente, mas pronto para reerguer-se revivendo supostos tempos áureos e prósperos de Atenas.
Importante lembrar que “Alvorada”, jornal do Colégio de 2º Grau “Liceu Maranhense”, então principal escola de Ensino Médio do Estado, é um dos principais jornais que significa a maranhensidade a partir dos motivos da velha Atenas de Gonçalves Dias. Em sua primeira edição, em 10/05/1945, está a poesia “Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa que, tomado pelo espírito da tentativa de revificação dos ditos verdadeiros valores da cultura e da sociedade maranhense, convoca a “mocidade”, declamando: “Acorda Mocidade! Acorda Ateniense! [...]114. Acorda Mocidade! Acorda Ateniense! Alça teu vôo pelo espaço e nas alturas, Recorda o teu passado e, em teu presente, vence, Batendo o ostracismo e as sombras mais escuras [...]
111
CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. Após o declínio do Estado Novo, a história maranhense foi marcada pela ascensão política de Victorino Freire, um dos principais articuladores da campanha do General Dutra à presidência e responsável pela organização do PSD no Maranhão, partido que tinha fortes ligações na esfera federal e mantinha-se internamente baseado em mandonismos locais e no uso sistemático da “Universidade da Fraude” nos processos eleitorais (in COSTA, Wagner Cabral da. O SALTO DO CANGURU: DITADURA MILITAR E REESTRUTURAÇÃO OLIGÁRQUICA NO MARANHÃO PÓS-1964. CIÊNCIAS HUMANAS EM REVISTA, São Luís, UFMA/CCH, v. 2, n. 1, p. 183-192, 2004. 113 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (19401960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181 114 BARROS, Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960. Caderno Pós Ciências Sociais. v.2 n.3 jan/jul, São Luis/MA, 2005 112
Acorda Mocidade! Acorda MaranhĂŁo! E mostra que depois de sonhos, despertado SorrĂs, como um Gigante, um Gigante ateniense Que vem haurir num templo imenso edificadoâ&#x20AC;?.