A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE
MARANHA-Y REVISTA DE HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO
Revista eletrônica
EDITOR
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com
Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076 98 9 82067923
CHANCELA
Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 16 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da IHGM EM REVISTA, desde 2023; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, números 1 a 10; Editor da Revista do Léo, desde 2017, e desta MARANHAY – Revista Lazeirenta, dedicada à(s) História(s) do Maranhão; Editor da Revista Ludovicus, dedicada à literatura ludovicense/maranhense, desde 2024; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
UM PAPO
Esta revista eletrônica destina-se a resgatar a(s) História(s) do Maranhão – entidade geográfica – que, em seu apogeu, se estendia do Cabo de São Roque, passando pelo Mucuripe (Ceará), pelo Piauí, o próprio Maranhão, o Pará, o Amazonas, o Amapá, Roraima, Rondônia, Acre, Tocantins, e parte do Mato Grosso... o Estado Colonial do Maranhão, instituído em 1617, implantado em 1619, subsistindo até a chegada da família real, em 1808, quando passou à província do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves... em 1823 foi anexado ao Império Brasileiro. Essas, são as suas histórias...
Está aberta a contribuições...
Estão tentando cometer um assassinato moral, de um dos maiores intelectuais que esta terra já teve: Nina Rodrigues.
Faz-se referência à introdução do Handebol de Salão no Maranhão...
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
MARIO CALHEIROS, EM ALGUM LUGAR DE SÃO LUÍS - MA, DÉCADA
A primeira fotografia da postagem foi tirada entre os anos 1940 e 1950, em algum lugar pitoresco de São Luís, podemos ver um moço tirando fotos com a sua câmera, portando óculos, uma bolsa, sentado no casco de uma embarcação numa paisagem de maré vazante. Fotografia feita provavelmente por Oswaldo Paraíso, o nome desse fotógrafo que está sendo fotografado é Mário Calheiros. Mário Calheiros era super próximo de Oswaldo Paraíso, os dois eram fotógrafos amadores e faziam parte do Foto Clube do Maranhão. Mário Calheiros era funcionário do Banco do Brasil, casado com Lunila Pires Calheiros, teve 3 filhos. O filho mais velho de Mário Calheiros, Edmundo Calheiros (herdou o nome do pai de Mário Calheiros), é afilhado de Oswaldo Paraíso. Mário Calheiros morava na Rua Grande, perto do Estádio Santa Isabel. Mário Calheiros era filho do português Edmundo Calheiros e da América do Sul Nunes Calheiros, seus irmãos eram Yolanda, América e Marília. O pai de Mário Calheiros era um comerciante da praça, mas era considerado culto e dotado de uma sensibilidade artística, inclusive, o pai de Mário Calheiros também foi fotógrafo amador. Já as outras fotografias da postagem, mostram alguns membros do Foto clube do Maranhão, destacamos com o X quem era o Mário Calheiros. A fotografia dos membros do Foto clube foi retirada do álbum de família do saudoso poeta Celso Borges, publicado em um artigo do portal Agenda Maranhão.
Aqui fica um agradecimento para os familiares de Oswaldo Paraíso, em especial para Nyana Paraíso(@nyanaparaiso) e a Yolanda Paraíso, que nos forneceram algumas informações de Mario Calheiros, que era muito amigo de Oswaldo Paraíso e família. Estamos à espera da manifestação dos familiares de Mário Calheiros para acrescentar ou corrigir as informações fornecidas no nosso texto.
1: Fotografia de Oswaldo Paraíso via Nyana Paraíso(@nyanaparaiso)
2 e 3: Álbum da família de Celso Borges encontrado no site Agenda Maranhão(@agenda.maranhao)
Texto e Pesquisa: São Luís Memória(@slzmemoria) em colaboração com Nyana
Paraíso(@nyanaparaiso)
OS ESCRAVOSAÇORIANOS NO BRASIL
O desejo de um futuro melhor nem sempre se concretizava, e muitos emigrantes açorianos acabaram como escravos no Brasil.
Por Márcio Magalhães
Os escravos açorianos no Brasil
Em Portugal, a emigração organizada dirigida à colonização foi um fenómeno marcante nos séculos XVII e XVIII, destacando-se especialmente na direção do Brasil. Na época, o Brasil era visto como uma terra de promessas e novas oportunidades, uma possibilidade de melhores condições de vida para os portugueses, particularmente para aqueles provenientes das ilhas como os Açores. Contudo, o destino que prometia prosperidade eramuitas vezes ilusório,e a experiênciaparamuitos emigrantes acaboupor ser amarga e repleta de sacrifícios.
Ao longo destes séculos, o número de portugueses a emigrar aumentou consideravelmente, especialmente o dos açorianos, que enfrentavam condições adversas e uma escassez de recursos nas suas terras. A partir da década de 1830, o fluxo migratório intensificou-se ao ponto de as autoridades e a opinião pública reconhecerem a gravidade do fenómeno da “escravatura branca” ou “escravatura açoriana”, nome dado à emigração clandestina e exploradora.
Esse termo surgiu, em particular, para descrever a exploração ilegal que recaía sobre açorianos, na sua maioria mulheres, que chegavam ao Brasil em condições extremamente precárias, sendo muitas vezes obrigadas a trabalhar em situações de exploração e em locais degradantes, como prostíbulos.
Os escravos açorianos no Brasil
Para tentar controlar esta situação, Getúlio Vargas, presidente do Brasil, promulgou uma lei que instituía cotas de imigração no país, limitando o número de estrangeiros que entravam. No entanto, apesar das restrições, o fluxo de açorianos e de outros portugueses continuou a ser uma realidade durante o início do século XX.
Era um fenómeno difícil de extinguir, já que os açorianos eram considerados trabalhadores fiéis e esforçados, exatamente o perfil desejado pelas Companhias de Colonização. Para muitos, sair de Portugal representava a única esperança de escapar à miséria e à falta de trabalho, mesmo que para isso tivessem de arriscar a vida numa viagem incerta e sujeita a abusos.
Este tipo de “escravatura” incluía, na maioria das vezes, contratos de trabalho extremamente desvantajosos para os emigrantes, que assinavam acordos injustos e abusivos com a promessa de uma vida melhor. Além das péssimas condições de trabalho no Brasil, o transporte marítimo já era uma provação: os navios estavam sobrelotados e careciam das mínimas condições de segurança e higiene, resultando em muitas mortes antes mesmo de os emigrantes chegarem ao destino.
Aqueles que sobreviviam, chegavam enfraquecidos e vulneráveis, tornando-se presas fáceis para os empregadores, que os mantinham numa espécie de servidão económica, já que estes tinham de pagar a sua passagem com o salário que recebiam, ficando assim perpetuamente endividados.
Na imprensa portuguesa, os jornais começaram a dedicar-se à consciencialização das autoridades e da população acerca das condições sofridas pelos emigrantes. Relatos de portugueses falecidos no Brasil eram publicados regularmente, e apelava-se até aos padres locais para que desencorajassem a população de embarcar para o Brasil. O objetivo era claro: combater o aliciamento e as falsas promessas que levavam tantas famílias a desfazerem-se de todos os seus bens, deixando para trás a sua terra natal em busca de uma prosperidade ilusória.
O termo “escravatura branca” foi cunhado na década de 1830 pelo secretário de Estado José Maria Capelo, que denunciou este tráfico que afetava principalmente pessoas dos Açores, Madeira e norte de Portugal. Em 1839, Almeida Garrett, deputado e escritor, levantou a sua voz contra esta exploração, frisando a desigualdade sofrida pela população açoriana em relação ao continente. Nos anos seguintes, o governo português tentou
tomar medidas para controlar este tráfico, embora as limitações fossem evidentes, uma vez que, tecnicamente, não existia nenhuma lei que proibisse a mudança de domicílio.
Apesar de portarias e regulamentações diversas, como a obrigatoriedade de passaporte e de melhores condições no transporte dos emigrantes, estas medidas eram frequentemente ignoradas ou insuficientes para travar a clandestinidade. Em 1859, a situação era tão preocupante que o governo enviou o Primeiro-Tenente da Armada, Aires Pacheco Lamare, à ilha de São Miguel, nos Açores, para estudar soluções para a crise migratória.
Mais tarde, em 1863, o Regulamento Geral de Polícia incluiu medidas mais rigorosas para monitorizar as embarcações destinadas ao transporte de emigrantes e estipulou tipos específicos de navios para estas travessias. Mas, ainda assim, o problema persistiu.
O aliciamento de emigrantes era difícil de travar. Os agentes de emigração percorriam aldeias e vilas em busca de candidatos, prometendo-lhes fortuna e uma vida de abundância. Muitas pessoas, numa situação de pobreza e desespero, vendiam os seus bens e embarcavam, sem suspeitar das verdadeiras condições que as esperavam do outro lado do Atlântico.
Segundo a VortexMag, os contratos eram desleais, o trabalho árduo e, em muitos casos, perigoso. A esperança de um futuro melhor era substituída pela dura realidade da exploração, e para muitos, o sonho de uma nova vida terminava tragicamente.
A história da emigração açoriana para o Brasil reflete um capítulo difícil e sombrio da nossa história. Este fenómeno sublinha a coragem e resiliência do povo português, que, mesmo em condições adversas, procurou um futuro mais promissor para si e para os seus.
Fontes consultadas:
Documentos oficiais portugueses: Arquivo Nacional da Torre do Tombo e Bibliotecas Nacionais (Decretos de 1830 e 1863 sobre emigração e regulamentação).
José Maria Capelo: Registos e discursos parlamentares de Capelo sobre a “escravatura branca”.
Almeida Garrett: Escritos e discursos de Garrett sobre a desigualdade dos emigrantes açorianos.
Imprensa portuguesa: Arquivos de jornais portugueses, como o “Diário de Lisboa“, abordando a exploração dos emigrantes.
Registos consulares e de imigração: Arquivos históricos relacionados à imigração portuguesa no Brasil, incluindo os Registos de Emigrantes Portugueses.
Estudos académicos sobre imigração: Livros e artigos de historiadores especializados, como Luís Carlos de Lima.
A HISTÓRIA DO BLOCÃO DO FOFÃO: O RESGATE DO PERSONAGEM CARNAVALESCO
Conheça o projeto de resgate idealizado por Uimar Junior, do personagem maranhense e carnavalesco, Fofão.
Foto: Divulgação
Por: Ana Carolina Nunes - Especial para O Imparcial19 de Janeiro de 2025
Fofão, o mais autêntico personagem do carnaval maranhense, com sua máscara colorida, alegre e ao mesmo tempo assustadora, caracteriza a originalidade da cultura carnavalesca de São Luís.
O personagem que sempre esteve presente na vida de muitas pessoas que adoram pular carnaval, com o tempo foi sendo marginalizado, proibido nas ruas e quase apagado da cultura ludovicense. Até que o artista Uimar Junior, no carnaval de 2018 da Madre Deus, teve a ideia de criar o Blocão do Fofão, com o objetivo deresgatar o personagem e seu significado para a história do carnaval de rua.
“Eu sempre gostei de brincar no carnaval de rua. Em 2018, quando eu passei na Madre Deus, eu percebi que o fofão estava sumindo das ruas e perdendo sua originalidade. Então, eu tive a ideia de criar o primeiro encontro do personagem fofão do Maranhão, em 2019, no bairro da Madre Deus e 60 pessoas apareceram”, conta o idealizador do Blocão do Fofão, Uimar Junior.
O sétimo encontro do Blocão do Fofão acontecerá em 2025, na segunda-feira de Carnaval. A concentração será na Rua do Passeio, no Bar do Silvio, às 16h.
Atualmente, Uimar é diretor da Galeria Trapiche, localizada no Centro, onde também são oferecidas oficinas de confecção de máscaras artesanais do Fofão maranhense para toda a comunidade. “Oferecemos as oficinas para que as pessoas aprendam sobre o Fofão maranhense e possam passar de geração em geração sem deixar que o personagem morra”, explica Uimar.
Para Uimar, o Blocão do Fofão e as oficinas são importantes para a população por ser uma forma de resgate da cultura do carnaval popular e também uma demonstração do que há de bonito em São Luís. “Esse é o nosso objetivo, mostrar para o turista, para quem nos visita, o que há de mais bonito na nossa cultura popular. Além de dar ênfase ao que é nosso, uma maior valorização do nosso carnaval de rua”, afirma Uimar Junior.
MANUEL BENINGER
Inspirado em um antigo mapa de Arthur Ramos, um importante antropólogo brasileiro( e um dos primeiros a se dedicar a estudar o negro) o mapa apresentado é uma simplificação de um período muito complexo, que foi a escravidão no Brasil, e das influências de diferentes grupos africanos. É importante ressaltar que TODAS as regiões foram influenciadas tanto por sudaneses quanto por bantos. O mapa apenas destaca uma predominância. ( que em alguns casos pode ser relativa, a exemplo do Maranhão, que recebeu um grande número tanto de povos bantos como "sudaneses"). O mesmo aconteceu no Rio Grande do sul, tanto os "minas" como os povos de Angola e Congo tiveram uma grande importância.
A interiorização dos negros no mapa se deve em grande parte ao Ciclo do Ouro que trouxe muitos africanos para irem trabalhar nas minas de ouro no interior do Brasil ( hoje atual Goiás, Tocantins, Minas Gerais e Mato Grosso).
BANTOS.
O termo "Banto" refere-se a um amplo conjunto de povos e culturas da África Central, sendo originado do grupo linguístico banto, que engloba diversas línguas africanas com características comuns.
O domínio de Portugal na Guiné, Angola, na atual República Democrática do Congo e o fluxo posterior de Moçambique facilitaram a exportação em massa desses africanos para o Brasil. Entre 1580 e 1850, aproximadamente 75% dos africanos escravizados trazidos para o Brasil eram de origem banta.
Essa migração forçada resultou na incorporação significativa de características culturais bantas na formação do povo brasileiro, influenciando profundamente a música, as danças, os jogos e as lendas do país.
SUDANESES.
O termo "sudanês" refere-se a grupos da África Ocidental, como os iorubás da Nigéria, os jejes (Ewe-Fon) do Daomé e os Fanti-Ashanti da Costa do Ouro. Estes povos, trazidos ao Brasil principalmente durante o final do século XVIII e início do XIX, influenciaram profundamente a cultura urbana do Nordeste e Sudeste, especialmente em Salvador, Recife e São Luís.
A cultura sudanesa trouxe consigo complexas tradições religiosas e sociais. A influência do islamismo entre os povos fulas, mandingas e haussás também deixou marcas em comunidades como a dos Malês, no Brasil, que protagonizaram a Revolta dos Malês em 1835, uma insurreição de escravizados islâmicos na Bahia. A herança cultural sudanesa se faz sentir especialmente no candomblé nagô, nos toques e ritmos dos atabaques e na formação das primeiras irmandades religiosas e sociedades secretas de africanos em solo brasileiro. Referências.
HEYWOOD, Linda M.* Diáspora negra no Brasil*. São Paulo: Ed. Contexto, 2008.
LIMA, Laura Pereira. "Menosprezada pela história, herança banto é um pilar central da formação do Brasil." *Jornal da USP*, 25 jul. 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/.../menosprezada-pela-historia.../.
RAMOS, Arthur. O negro brasileiro. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.
CASCUDO, Luís da Câmara. *Dicionário do Folclore Brasileiro*. 12. ed. São Paulo: Editora Global, 2012.
São Luís Continental
(*) João Francisco Batalha
Publicado no Mural da ALL, do Jornal Pequeno, em 09.02.2025.
Engana-se quem pensa que o município da capital (São Luís), sempre se restringiu à ilha de Upaon Açú.
Dele fez parte uma vasta porção territorial continental que avançava 38 léguas às margens do Mearim acima até o Arari. Lugar outrora rico em atividade pesqueira, campos nativos matagais frutíferos, com riqueza exuberante da fauna e da flora nas orlas as quais sobrevoavam bandos de pequenas araras que tingiam seus céus de verde e amarelo avermelhado.
Essa localidade recebeu o nome de Arary não se sabe se por causa dessas pequenas aves Psitácidas da família dos Canindés, da ordem dos Psittaciformes, do gênero Ara aqui outrora abundante, para nós conhecidas como Jandaia ou Arary, ou por causa do igarapé antes com essa denominação e depois pela antonomásia de Nema, devido alguém com esse sobrenome ter vivido nas margens de sua embocadura.
Se confirmada essa versão, teriam existido, nessa região, quatro igarapés com a nomenclatura Arary: O Nema, o existente Igarapé do Arari, o Arariaçu e o Arariaçu-mirim.
Não só o Arari pertenceu ao município da capital, mas também São José de Ribamar no extremo leste da ilha, reconstituído em 24 de setembro de 1952; Paço do Lumiar, localizada na antiga Vila do Paço, recriado em sete de dezembro de 1957; e Raposa, de frente para a praia do mesmo nome, próximo ao paraíso de areias do Carimã, emancipado em 10 de novembro de 1994.
Enquanto isso pesaadúvidaseVitóriadoMearim, um dos municípiosmaisantigos doMaranhão,emancipado em 19 de abril de 1833, teria sido parte territorial de Viana ou se se desmembrou também de São Luís.
Quanto ao Arari, a Câmara Municipal de São Luís, em ato de 22 de outubro de 1820, diz:
Emseuitem58,ditanormasquedizem:“noMearimeemAraryolocalparavendadepeixeseoutrasatividadesserãoqualquer lugar que o Juiz de Paz determinar por seu Edital. Não podendo negociar em outra qualquer parte, sob pena de multa de mil réiseadobranasreincidências”.
O ato reforça a tese de que o município de Arari, em 1820, pertencia ao município da capital e somente em 13 de janeiro de 1834 passou a integrar ao Arraial da Vitória.
O Prof. Mauro Rego, de Anajatuba, estudioso da história do Maranhão e dos costumes da Baixada Maranhense, em depoimento oral, afirma que Vitória do Mearim foi emancipado de Viana.
Em busca da verdade, que se faça uma investigação maior para esclarecer a dúvida se Vitória do Mearim desmembrou-se de Viana, ou se também do município da capital, como esclarecido o caso do Arari.
(*) João Francisco Batalha é baixadeiro, de Arari; titular da Cad. 19 da Academia Ludovicense de Letras – ALL, patroneada por João Dunshee de Abranches.
A DESCOBERTA DO RIO AMAZONAS PELOS ESPANHÓIS
Os Espanhóis foram os pioneiros da Exploração do Amazonas. Em 1500, o explorador espanhol Vicente Yáñez Pinzón e a tripulação liderada por ele foram os primeiros europeus a navegarem no Rio.
Porém a primeira expedição organizada para explorar o Amazonas ocorreu após a Conquista do Império Inca. Em 1541, um dos tenentes de Gonzalo Pizarro, Francisco de Orellana, partiu numa expedição em 1541 para explorar a região a leste de Quito, rumo ao interior do continente, em busca do El Dorado e do "País da Canela".
Orellana posteriormente narraria a vitória das beligerantes "mulheres" icamiabas sobre os invasores espanhóis a Carlos I de Espanha que, recordando-se das amazonas da mitologia grega, batizou o rio de Amazonas - nome pelo qual ele ainda é conhecido em espanhol e português. O relato de Orellana foi retratado pela primeira vez nos mapas-múndi de Sebastião Caboto (1544)
Na época, no entanto, o rio foi designado pelos membros da expedição como Grande Río ("Grande Rio"), Mar Dulce e Río de la Canela ("Rio da Canela").
Após longa descida dos Andes, e atravessar o Rio sem achar o mítico ouro, Orellana, organizou outra expedição com 300 homens, patrocinado pelo Rei Carlos I da Espanha, porém Orellana morreu no meio da Expedição em um ataque de índios hostis. Dos 300 Homens da Expedição, apenas 44 sobreviveram e se estabeleceram na América Central, Peru e Chile.
Ilustração do Livro "História das guerras do Reino do Brasil: ocorridas entre a coroa de Portugal e a República da Holanda" de Frei João José de Santa Teresa. 1698, baseado em gravura de Frans Post. A Gravura celebra a expulsão dos holandeses da Capital do Maranhão em 1644.
Borba de Moraes descreve o livro como "uma das obras mais suntuosas publicadas no século XVII sobre um assunto brasileiro. O Livro foi subsidiado por 5 mil cruzados pelo Rei D. Pedro II, e os gravadores mais famosos da época como André Orazi , Giacomo Giovanni Rossi, Huberto Vincent e Antonius Donzel fizeram as gravuras, sendo notável a influência de Frans Post na composição das vistas que o ilustram, todas copiadas dos desenhos que o artista holandês fez para a obra de Barleus décadas antes, conhecedor sensível das paisagens nordestinas e companheiro de Nassau, em 1638, quando o governador holandês viajou pelo Brasil, do Maranhao a Pernambuco. Um dos monumentos históricos fundamentais sobre o Brasil seiscentista, a obra foi primorosamente impressa por Blaeu, em Amsterdã, conquistando fama e admiração imediata. Um dos exemplares das cópias foi presenteado a D.João IV, pelo embaixador de Portugal, Francisco de Souza Coutinho, na Holanda, na época do seu lançamento em 1647. É clara (e declarada, aliás) a intenção do Autor de escrever para estrangeiros os sucessos gloriosos de Portugal na luta contra a potência que, em meados do século XVII, detinha a primazia do poder militar. Já ficou indicado antes que o Autor se utilizou da coleção cartográfica reunida pelo Cardeal Ottoboni, Futuro Papa Alexandre VIII com desenhos de Frans Post com paisagens do Brasil
FEMININA JAZZ BAND DO MARANHÃO, idealizada por Aliete Ribeiro de Sá formado apenas por mulheres.
Segundo a historiadora Regina Faria (2012), havia em torno de 30.000 pessoas sob condição de escravizadas no Maranhão, em 1888. Entre elas, estavam os avós e a mãe do maestro Adhemar Corrêa, que estaria completando hoje 126 anos. Sua mãe se chamava Iracema Amancia de Berredo, atuante como cozinheira e bordadeira após conquistar a "liberdade". Seus avós maternos se chamavam Otávia e Marcelino Berredo, quem ainda viu trabalhar na máquina de moer cana. Nascido livre em 08/11/1896, os primeiros anos de Adhemar foram passados na fazenda da família Berredo (sobrenome que fazia questão de ocultar, uma vez que fora fruto de violência sexual cometida contra a sua mãe), localizada no pequeno povoado de Sincorá, abaixo de Bacabal, às margens do Rio Mearim. Veio para São Luís com apenas 5 anos de idade, por volta de 1901. Tentou servir à Marinha, mas não suportou os terríveis maus tratos. Pediu baixa e se tornou barbeiro, quando pôde, talvez, ter contato com alguma boemia e com a música. Somente em 1912, porém, começou a tomar aulas com o maestro Pedro Gromwell dos Reis, na Escola de Aprendizes Artífices (1910-1937).
Completou sua formação instrucional em 1916, monido também de conhecimentos de matemática, história, geografia, português, desenho, além dos ofícios de torneiro e chofer (ele, aliás, fundou o primeiro curso prático profissional de habilitação por estas plagas).
Além de tocar vários instrumentos, também os construía. Como professor, formou vários músicos, contribuindo para a história da música popular urbana de São Luís.
Nesta foto tirada na Maçonaria Grande Oriente, no começo dos anos 1950, Adhemar está acompanhado de suas pupilas: as integrantes da afamada FEMININA JAZZ BAND DO MARANHÃO, idealizada por Aliete Ribeiro de Sá. Como se pode observar, o conjunto era formado apenas por mulheres negras de origem humilde.
Foto: Acervo de Iracema Corrêa.
4 de fevereiro de 1974, foi morto Osvaldão, aos 35 anos de idade, e para servir de exemplo e acabar de vez com o mito do guerreiro invencível, ele teve sua cabeça decepada e exposta em público.
“Vi cortar a cabeça do Osvaldão. O sargento pegou a faca, lubrificou a faca e disse: É bandido, tu agora não miamais (...). Aí pegoua faca,pegouacabeçadele, botou um pauem baixo efoicortando, cortando, cortando. Eu não tive coragem de olhar até ele terminar. Na hora que ele cortava eu não agüentei e afastei.” Esse testemunho em detalhe foi publicado no semanário Movimento (9/7/79), na entrevista “Cabeças cortadas do povo da mata” e o nome da testemunha foi omitido.
Osvaldo Orlando da Costa, nasceu em 27 de abril de 1938, em Passa Quatro, Minas Gerais.
Entre 1952 e 1954 morou em São Paulo, onde fez o Curso Industrial Básico de Cerâmica, o que lhe assegurou a condição de artífice em cerâmica. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde diplomou-se em técnico de construção de máquinas e motores pela Escola Técnica Federal no ano de 1958. Nesse período, participou ativamente das lutas estudantis.
Osvaldo Orlando, do alto de seus 1,98 metros de altura, pesando cem quilos e com seus sapatos número 48 fazia parte da equipe de boxe do Botafogo, e foi campeão competindo pelo time.
Também tornou-se oficial da reserva do exército brasileiro, após servir no CPOR/RJ.
Ingressou no Partido Comunista do Brasil – PCdoB.
Em Praga, Checoslováquia, formou-se em engenharia de minas.
Osvaldão foi um dos primeiros militantes do PCdoB a chegar à região do Araguaia, por volta dos anos de 1966-67 e tinha a tarefa de criar condições para a chegada de novos militantes e mapear a área. Embrenhouse nas matas e percorreu os rios se apresentando como garimpeiro e mariscador. Tornou-se rapidamente conhecido e amigo dos camponeses, participou de caçadas e pescarias, trabalhou na roça, tornou-se grande conhecedor das matas. Em 1969, passou a viver na margem do rio Gameleira.
Foi comandante do destacamento B e dirigiu vários combates. Foi, ao lado de Dina (Dinalva Conceição Oliveira), o mais conhecido e respeitado guerrilheiro entre a população do Araguaia. Ele fazia parte do contingente guerrilheiro que rompeu exitosamente o cerco militar quando atacado por um grande número de tropas do exército em 25 de dezembro de 1973.
Segundo depoimentos de moradores da região, ele foi morto em abril de 1974, perto da localidade de São Domingos, próximo à Semana Santa. Foi ferido com um tiro de espingarda 22 na barriga disparado por Piauí, um bate-pau que fez isto por dinheiro. Em seguida foi fuzilado pelos militares. Seu corpo foi dependurado por cordas em um helicóptero que o levou de Saranzal, local onde foi morto, até o acampamento militar de Bacaba e de lá para Xambioá. Quando seu corpo foi içado pelo helicóptero, caiu e quebrou o pé esquerdo.
Posteriormente sua cabeça foi decepada e exposta em público. Na base militar de Xambioá, seu cadáver foi mutilado por chutes, pedradas e pauladas dadas pelos militares e, finalmente, queimado e jogado no buraco, também chamado de "Vietnam" – vala situada ao final da pista de aterrizagem da Base Militar de Xambioá onde eram jogados os mortos e os moribundos. Com o término das operações militares nesta área, foi feita uma grande terraplanagem, que descaracterizou o local.
Os depoimentos colhidos pelos familiares nas diversas vezes que estiveram na região e as informações de jornais são coincidentes e se complementam.
O Relatório do Ministério do Exército diz que "foi morto em 7/fev/74". [Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964, Companhia Editora de Pernambuco, 1995]
Em seu artigo O pugilista vermelho, Rui Moura narra duas das histórias que imortalizaram o guerrilheiro Osvaldão na memória da população do Araguaia:
"Um grileiro foi ameaçar tirar a terra de Osvaldão e acordou, na sua casa, com o cano de um 38 cutucando seu rosto e a ordem, dada por ‘um negrão de quase dois metros de altura e com dois braços que pareciam duas pernas’, segundo descrição dos que o conheceram:
Em vez de você ficar com minha terra, você dá a sua a uma família muito necessitada. A família já está aí, esperando. Vou lhe levar até a rodoviária e você não aparece mais aqui, senão morre. E se achar ruim morre agora que fica mais fácil...
O grileiro saiu com a surpresa de encontrar os novos proprietários e mais de 30 pessoas das redondezas que aplaudiam a atitude de seu Osvaldão, homem justo."
E outra:
"Estando de passagem em casa de uma família camponesa, encontrou a mulher desesperada porque não tinha dinheiro para comprar comida para seus filhos. Era uma casa pobre. Não tinham nada. Osvaldo perguntou-lhe se queria vender o cachorro. A mulher, sem outra alternativa, disse que sim. Tanto ela como Osvaldo sabiam o que significava a perda do cão: mais fome, pois na região, sem cachorro e arma é difícil conseguir caça. Osvaldão pagou-lhe o preço do cão e, a seguir, disse-lhe: guarde-o para mim que eu não poderei levá-lo para casa agora."
BLOCO DE CARNAVAL "É SÓ PRA OLHAR", CARNAVAL DE SÃO
Essa fotografia registra o bloco de Carnaval chamado "É Só Pra Olhar". Temos poucas informações sobre esse bloco, principalmente ano de fundação e o nome da maioria dos membros desse bloco. Só sabemos da participação de duas mulheres: Yolanda Maranhão e Lisete Nascimento. As meninas do bloco "É Só Pra Olhar" posaram para a objetiva da Revista Athenas, uma revista que circulou no Maranhão entre o fim dos anos 1930 e início dos anos 1940, era uma revista produzida e impressa pelo jornal O Imparcial.
"É Só Pra Olhar" tem características de ser um bloco de clube formado por mulheres, principalmente mulheres da classe média para cima chamadas também de "mulheres da sociedade" que se apresentavam de forma animada em bailes de clubes e disputavam concursos carnavalescos com outros blocos de clubes no Cassino Maranhense,GrêmioLíteroRecreativoPortuguês,TeatroArthurAzevedoeoutrosclubesdeelite.Nosantigos carnavais, existiam esses blocos de clubes que eram compostos por membros de classes abastadas. Dentro desses blocos de clubes, tinha os blocos que eram formados majoritariamente por mulheres que se apresentavam em clubes sociais de elite. Além dos clubes, havia também grupo de mulheres de posição social alta que saíam nas ruas da cidade em cima dos corsos nas ruas de São Luís para os dias momescos, tocando pandeiro, jogando confeites e lança perfume.
Reiterando: Caso algum dos seguidores tenha nos seus álbuns de família alguma fotografia de Carnaval que rememora os antigos carnavais de São Luís, podem mandar a fotografia na nossa DM do Instagram ou no Messenger do Facebook
: Athenas Revista do Maranhão Para o Brasil, Março de 1939, Número 3, Acervo Biblioteca Pública Benedito Leite(@bpbloficial)
Texto e Pesquisa: São Luís Memória(@slzmemoria)
OS ESCRAVOS AÇORIANOS NO BRASIL:
UMA HISTÓRIA QUASE DESCONHECIDA
O desejo de encontrar um futuro melhor nem sempre corria como se esperava e muitos emigrantes açorianos acabaram por ser escravos no Brasil.
by VxMag
Emigrantes açorianos no Brasil
Em Portugal, o fenómeno da emigração organizada dirigida para a colonização foi predominante nos séculos XVII e XVIII, impondo-se à emigração espontânea. Isto acontecia especialmente para o Brasil, que era visto como um destino cheio de novas oportunidades e de melhores condições de vida para os portugueses que para lá fossem. Mas nem tudo eram rosas…
Ao longo destes séculos, a emigração de portugueses, especialmente de açorianos, aumentou e, a partir da décadade30doséculoXIX,ofluxoaumentoudetalformaqueautoridades eaopiniãopúblicaseaperceberam do fenómeno da chamada “escravatura branca” ou “escravatura açoriana”, com relação à emigração clandestina, e que afetava todo o território nacional.
Assim, num tempo em que se procurava abolir a escravatura, o foco da emigração eram mulheres açorianas que chegavam ao Rio de Janeiro e eram forçadas a trabalhar em prostíbulos, vítimas de contratos ilegais e abusivos. Getúlio Vargas estabeleceu uma lei que instituía cotas de migração para o Brasil, numa tentativa de conter a chegada de pessoas vindas de outras regiões, ajudando assim no combate ao fenómeno. No entanto, ainda era perceptível o fluxo de açorianos no Brasil em inícios do século XX.
Estas transações foram denunciadas por várias vozes, mas a verdade é que em alturas de crise e de escassez, o único contorno para a falta de empregos e de meios de subsistência era a emigração, mesmo que ilegal. Como os açorianos tinham a fama de bons trabalhadores e se encaixavam no perfil de pessoas que as Companhias de Colonização queriam fazer chegar ao Brasil, as atividades nesta ilha foram muito marcantes e prolongadas, à revelia da lei.
Na maior parte das vezes, este tipo de escravatura dizia respeito a contratos de trabalho desvantajosos, ou mesmo à própria venda da mão-de-obra no Brasil. Para além das condições de trabalho desumanas no país de destino, o transporte destas pessoas era feito em navios sobrelotados e sem condições, o que levava a que muitos não chegassem ao seu destino, e que os sobreviventes ficassem em condições precárias de saúde.
Os emigrantes, na impressão de que iam para um destino melhor, empenhavam tudo o que tinham na partida. O seu contrato, no entanto, obrigava-os a descontar do futuro salário o pagamento da passagem, acabando estes por ficarem abertos a todo o tipo de situações abusivas. Como não sabiam contar e desconheciam a moeda, tornavam-se presas fáceis para os empregadores estrangeiros, dos quais se tornavam dependentes. Como forma de desmistificar a ideia da terra de oportunidades que o Brasil poderia representar, os jornais dedicaram-se à consciencialização das autoridades locais, regionais e nacionais, publicando testemunhos de pessoas que tinham sido vítimas do fenómeno e lançando-se contra o negócio do aliciamento. Tornaram-se frequentes as listas de portugueses mortos no Brasil, e apelava-se até aos padres para que persuadissem os crentes a não embarcarem na viagem.
Chegada dos emigrantes açorianos ao Brasil
Na década de 30, surgiu a expressão “escravatura branca”, usada pela primeira vez pelo secretário de Estado José Maria Capelo, referindo-se ao tráfico de migrantes, vindos especialmente dos Açores, Madeira e norte de Portugal.
Em inícios de 1839, o deputado Almeida Garrett denunciava igualmente o fenómeno, dando particular relevo aos Açores, pelasuapopulaçãoestarsujeitaauma manifestadesigualdadeem relação aocontinente. Em 1840, o deputado Sá Nogueira alertava para a necessidade de manter uma comissão que propusesse meios de travar este fenómeno nocivo.
Em 1842, por intervenção do Ministério da Marinha e do Ultramar, o governo procurou restringir o tráfico da escravatura açoriana, o que se revelou difícil, já que nenhuma lei proibia a mudança de domicílio.
Mesmo assim, publicou-se uma portaria pelo Major General da Armada, os seus intendentes e outras autoridades que, entre outras medidas, obrigava à apresentação de passaporte, e ao transporte de passageiros em conformidade com as regras definidas (o que incluía um abastecimento de comestíveis e de água).
De pouco resultaram estas medidas, porque em 1859, os índices de emigração clandestina nos Açores chegaram a tal nível que o Primeiro-Tenente da Armada, Aires Pacheco Lamare, foi destacado para ir à ilha de S. Miguel, de forma a propor os meios adequados para pôr travão ao fenómeno.
Em 1863, o Regulamento Geral de Polícia voltava a incluir medidas relativas ao policiamento das embarcações, chegando a estipular as tipologias de navios destinados ao transporte de emigrantes. A questão ressurgiu em 1876, graças à falta de meios ou à inércia das autoridades.
Mas a verdade é que o aliciamento de emigrantes era um problema de difícil extinção, já que os agentes iam de aldeia em aldeia a anunciar ilusões de fortuna a quem os quisesse ouvir, levando a que os locais vendessem tudo o que tinham e assinassem uma escritura, pagando a passagem com o seu trabalho e, muitas vezes, com a sua vida.
Muito antes de os portugueses chegarem ao Brasil e iniciarem a colonização, grupos indígenas como os papanases, os guaianases, os tupinambás e os cadieus escravizaram uns aos outros
Seja através dos aldeamentos ou pela imposição da escravidão, fato é que a política da coroa portuguesa sempre pregou, por meio de intervenções, a integração dos índios à sociedade portuguesa no Brasil. Aos índios que aceitavam a conversão, a liberdade era reconhecida e aos mesmos determinava-se que fossem reunidos em aldeamentos a fim de serem cristianizado
Livres, eram senhores de suas terras nas aldeias, passíveis de serem requisitados para trabalharem para os moradores mediante pagamento de soldo. Deles dependia o sustento dos moradores e a defesa do território contra inimigos externos. Nessa interação e aculturação, muitos dos capitães das aldeias indígenas compravam escravos africanos dos padres Jesuítas ou dos engenhos vizinhos para trabalharem em suas fazendas ou roças
Os indígenas aldeados também obtinham escravos negros através das guerras contra os Quilombos. Em 1599 o chefe potiguar Zorobabé foi enviado para submeter um mocambo, um esconderijo de escravos negros que haviam fugido de um engenho em Salvador para as matas do Itapicuru. Os sobreviventes de seus ataques, ele escravizava ou vendia para comprar roupas, armas e bandeiras, as quais acreditava lhe darem a mesma pompa dos militares brancos
Os chefes das aldeias indígenas se consideravam membros da nobreza Reinol, e adotavam hábitos culturais dos mesmos, como a posse de escravos. Em 1796, Manoel Jesus e Souza capitão-mor da Aldeia de São Lourenço, descendente do cacique Araribóia, em uma consulta do Conselho Ultramarino, consta que ele deveria continuar no cargo por causa de ”sua descendência nobre" no seu inventário , consta a posse de cerca de 37 escravos.
Em 1817, Pedro Peixoto Capitão Mor da Aldeia de São Pedro de Cabo Frio, era dono de um plantel de 17 “escravos” (africanos e brasileiros), que trabalhavam no campo e na sua casa.
Os Jesuítas montaram, desde o século XVI, uma extensa e complexa estrutura de poder econômico e social. Argumentando precisar de terras para manter e ampliar o processo de catequização dos índios, obtiveram gigantescas extensões de terras concedidas pelas autoridades através da doação de sesmarias e ampliadas posteriormente graças às compras e doações de particulares.
Após a expulsão dos mesmos e o confisco de seus bens no Brasil em 1759, os inventários destas fazendas, foi possível identificar que, além dos padres, os próprios indígenas dos aldeamentos possuíam escravos. Os relatos de viajantes da época destacam a presença de pardos e negros , escravos ou agregados às famílias dos indígenas de aldeias históricas, como a de São Lourenço em Niterói ou de São Pedro da Aldeia em Cabo Frio
Fonte: Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro
Livro por Maria Regina Celestino de Almeida
Imagens: Ilustração de Ivan Wasth Rodrigues Detalhes de Pinturas de Frans Post
BARILOCHE FUTEBOL CLUBE E O MURO DA CASA DE GEDEÃO
HAMILTON RAPOSO DE MIRANDA FILHO
O transporte coletivo de São Luís sempre foi um problema. Houve um tempo, em decorrência da falta de ônibus, que a maioria dos veículos de transporte eram kombis, a simpática van da Volkswagen, chamadas pela população de lotação e que hoje seriam as vans de transporte alternativo. E justamente nestas Kombis é que o Bariloche Futebol Clube embarcava e desembarcava para as suas partidas de futebol no Jaguarema ou na Ponta D’Areia.
O Bariloche era um time de pelada que foi formado durante as férias de julho em São José de Ribamar na década de 1970 e permanecido como time de pelada por alguns anos.
Jogavam no Bariloche Rui e Rubem Lamar, Stelinho, Geraldo Mathias, Paulo, Paulista, Valois, eu, Zé Lopes, Gedeão, Afonso e outros que passavam temporariamente para reforçar o time em algum clássico de “pernas de pau”.
A dissolução do Bariloche aconteceu por absoluta falta de vitórias e nas poucas que aconteciam, tivemos a providencial ajuda de São Pedro, sempre chovia nos dias em conseguimos vencer algum adversário. O desempenho do time era sofrível se comparado com o Fluminense de Ricardo Dualibe, Paulo Sérgio Oliveira e Fred; do Flamengo de Fernando Sarney, Tininho e Lobatinho. Resolvemos acabar o time, afinal de conta não queríamos ser um Íbis da vida, considerado como o pior time do mundo!
Após a dissolução do time, eu, Rubem e Rui fomos jogar na Medicina; Paulo e Paulista formaram um grupo de pagode e resolveram estudar, na música eram piores que no futebol, Paulo é administrador em Belém e Paulista trabalha em São Paulo; Geraldo é engenheiro aposentado; Valois foi escrivão da Polícia Federal e foi descansar no céu; Zé Lopes e Stelinho são comerciantes; Gedeão é advogado. Penso que o Bariloche além de formar amigo, serviu também para formar cidadãos e profissionais. Éramos muitos unidos e aprendemos a dirigir ao mesmo tempo e da maneira mais irresponsável e menos recomendável que existe. Rubens Lamar sabia passar a marcha ré no automóvel do seu pai. Retirávamos escondido o carro sempre depois das 22 horas, enquanto dormia embalado pela brisa de São José, e nos revezarmos na direção. O percurso era grande, contornávamos a Igreja, subíamos a Rua Grande até o Cruzeiro e voltávamos pela Rua Grande repetindo o percurso com cada um na direção, sem nenhuma responsabilidade ou orientação.
Essa autoescola improvisada e ilegal acabou quando Paulo e Rubens derrubaram o muro da casa de Gedeão. A confusão estava formada. Todos foram punidos, inclusive Gedeão, vítima e algoz ao mesmo tempo. O assunto foi amplamente discutido entre as meninas, companheiras das férias: Lucia e Fátima Mathias, Celinha irmã de Paulo, Fátima Queiroz, Maria Estela, Lídia e Liduina, Raquel, Helena, Gracinha, Mônica e Ana Maria irmã de Stelinho.
As férias acabaram, nossos pais tiveram que pagar o prejuízo e o grupo nunca mais se encontrou com o fim do Bariloche Futebol Clube, uma pena, mas ficou a lembrança e o meu casamento com a Lúcia anos depois
A CASA DAS MINAS (1977)
João Sette Barros e Nunes Pereira
"Na década de 1970 eu conheci, através do meu amigo Rolando Monteiro, o antropólogo Nunes Pereira, autor do livro A Casa das Minas. Ficamos amigos, embora ele já tivesse quase 90 anos e eu era ainda um garoto, passamos muitos anos nos encontrando, ele morando em Santa Teresa e eu no Alto da Boa Vista.
Assim nasceu, nesses encontros, o desejo de filmarmos esse seu extraordinário livro, em dois segmentos, um aqui no Rio e outro em São Luís do Maranhão. Faríamos um filme de longa metragem sobre o culto vodu no Brasil. Um trabalho de fôlego, pois não havia produção e nem dinheiro para as viagens. É uma longa história que um dia ainda vou contar com detalhes.
Esse vídeo que aqui está é um registro achado em uma cópia VHS que eu digitalizei e que não tem a qualidade do material original que está perdido. Serve como registro e lembrança. Ainda tenho esperança de encontrar todo o material que foi filmado em 16 mm - cor e possa então fazer uma telecinagem decente dos dois filmes. Enquanto isso fica aqui o que foi possível ser feito. Vale a pena conhecer. O som permanece bom.
O Querebentã de Zomadonu, ou Casa das Minas, é dos terreiros Jêje mais antigos do Brasil. Teve grande expansão no fim do século XIX e primeira metade do século XX. É muito conhecido na literatura nacional e internacional sobre religiões afro-brasileiras. Os voduns da casa agrupam-se em três famílias principais e duas secundárias. Sua chefe mais importante e conhecida foi a nochê Mãe Andresa de Sousa Ramos (Roiançama / Rotopameraçuleme) que faleceu aos 100 anos, em 1954 e governou a casa durante os últimos 40 anos de vida, desde 1914. Desde essa data, não foram mais feitas iniciações completas que preparavam as voduncis-gonjai, que recebiam uma entidade feminina infantil denominada tobóssi. As gonjais eram mães-de-santo das vodunci-he que tinham primeiro grau de iniciação."
UMA LENDA BRASILEIRA DE DOM SEBASTIÃO
Todos conhecemos a lenda de que o rei D. Sebastião irá voltar numa manhã de nevoeiro para salvar o país. Ela aparece, entre outras obras, na "Mensagem "de Fernando Pessoa. Porém, muitas outras lendas existem por detrás da ideia do Sebastianismo e do Quinto Império. Exemplo disso é esta lenda oriunda do Brasil, chamada Dom Sebastião e o Touro Encantado: Na praia dos Lençóis, entre Turiaçu e Cururupu, no Maranhão, nas noites de sexta-feira, não havendo luar, aparece um grande touro negro com uma estrela resplandecente na testa. Quem estiver na praia será tomado de um pânico irresistível. Quem estiver no mar ouvirá o canto das açafatas, entoado do fundo das águas, onde está a cidade encantada de EL-Rei Dom Sebastião. Quem tiver a coragem de ferir o touro na estrela radiante vê-lo-á desencantar-se e aparecer El-Rei D. Sebastião. A Cidade de São Luís do Maranhão submergir-se-á totalmente, e diante da praia dos Lençóis emergirá a Cidade Encantada, onde o rei espera o momento de sua libertação. Na praia dos Lençóis é proibido pelos pescadores levar-se qualquer recordação local (...). Tudo pertence a este rei e é sagrada a sua posse.
Nasceu em Viana-MA, em 1965. Pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci, obteve a graduação como Geógrafo e pós-graduação lato sensu em Metodologia do Ensino em Geografia. Experiência na área de Ciências Sociais Aplicadas com ênfase em Gestão de Pessoas. Pesquisador, servidor público, ocupa o cargo de Técnico Administrativo em Educação, no IFMA Campus São Luís Monte Castelo. Em sua árvore genealógica, Áureo tem descendência paterna do tronco português, em Sebastião José de Carvalho e Melo – o “Marquês de Pombal” que foi Secretário de Estado do Reino, durante o Reinado de Dom José I, sendo considerado uma das figuras mais controversas e carismáticas da história portuguesa. O autor é herdeiro da veia literária de Sávio Mendonça, autor do livro “História de um menino pobre”, e neto da famosa bordadeira de “lombo de boi” Olívia Mendonça.
tem se destacado por suas iniciativas para preservar e promover a história de Viana. Ele tem trabalhado em projetos que visam documentar e divulgar a história local, incluindo a publicação de artigos e a organização de eventos culturais. Além disso, ele tem colaborado com instituições locais para a preservação de documentos históricos e a promoção do patrimônio cultural da cidade.
Essas ações têm sido fundamentais para manter viva a memória histórica de Viana e para educar as novas gerações sobre a importância do patrimônio cultural da região.
Já recebeu diversos reconhecimentos por seu trabalho em Viana. Ele foi homenageado por instituições locais e regionais por suas contribuições para a preservação da história e cultura da cidade. Além disso, seu trabalho tem sido destacado em publicações e eventos acadêmicos, reforçando a importância de suas iniciativas para a comunidade.
Esses reconhecimentos são um testemunho do impacto positivo que ele tem tido em Viana e da importância de seu trabalho para a preservação do patrimônio cultural da região.
Publicou vários artigos e obras sobre a história de Viana. Um dos destaques é o livro “Resgate histórico de Viana”, lançado em 2022. Este livro é uma importante fonte de pesquisa sobre a história, os costumes e a cultura de Viana1 Além disso, ele tem contribuído com artigos em revistas acadêmicas e participado de eventos como palestrante, compartilhando suas descobertas e insights sobre a cidade23 .
Aureo
Mendonça
· Memórias de Viana.
Relembrando os personagens vianenses dos anos 1970. Época que se praticava algumas modalidades esportivas na cidade. Além do futebol de campo, muito tradicional, recordo-me que também se praticava o voleibol e o futsal.
Foto de autor desconhecido capturada na quadra do Grêmio, entre os atletas estão Zé Mário de Lica e o saudoso Professor José Raimundo, alguém recorda os demais atletas da foto. Curte, comente e escale o time.
Vários atletas inclusive os que estão na foto fizeram parte da minha infância e fazem parte da história e da memória da cidade de Viana.
Memórias do futebol vianense.
Saudades do tempo que Viana tinha um celeiro de craques e times competitivos com bons jogadores, período que não se importava jogadores, foi a melhor época do futebol vianense.
O futebol vianense sagrou-se Bi campeão do torneio intermunicipal de futebol maranhense e vice campeão do mesmo torneio por duas vezes.
Atualmente o Esporte Clube Viana tem o time mais frágil do campeonato, já são seis jogos e seis derrotas, continua sem nenhum ponto na oitava e última posição no campeonato maranhense na zona de rebaixamento.
Na equipe da foto: Em pé Pedro de Constantino, Vavá, Ladislau, Raimundo Cambute e Antônio Carlos. Agachados Jabo, Humberto Ericeira, Aluísio, Zé Vieira, Valdir e Ze Baixinho.
Foto: Acervo de Zé Santos
Na época da minha infância conheci o Senhor Raimundo Gomes conhecido em Viana como Palestra, com a criação da União Operária e a instalação da oficina de irmã Berta, ficando na responsabilidade de Palestra, conheci a oficina que ficava localizada na Baixa do Capim, logo depois da Barrerinha. Além da oficina mecanica Palestra também realizava boi de promessa.
A família Palestra tem tradição na cultura vianense e as apresentações do bumba-meu- boi os chamados boi de promessa, a tradicional família na década de 1970 já realizava os festejos juninos que são tradição na cidade de Viana. Também participam ativamente do carnaval vianense com o bloco Piteuzinho. Após o falecimento de Palestra seu filho Nonato de Palestra como era conhecido em Viana ficou realizando os festejos juninos que ficou famoso em Viana.
Raimundo Nonato Gomes o Nonato de Palestra nasceu em Viana em 08 de janeiro de 1954, quando jovem estudou no Colégio Zilda Dias Guimarães e logo ficou muito conhecido em Viana. Um cidadão honrado e trabalhador que construiu muitas amizades em Viana e herdou do seu pai a profissão de mecânico e o legado cultural do bumba-meu-boi. Nonato também militou no esporte em Viana especificamente no futebol onde comandou os times do Paulistano e Santa Cruz.
O som das matracas junto com o maracás e o tambor Onça são algo que encantam o povo vianense, no tradicional festejo junino na cidade, o boi de palestra faz parte da cultura popular e tradição cultural continua.
Na riqueza da cultura de Viana, muita gente amanhece com o batalhão pesado na casa da família Palestra. As festas juninas tem lugar especial, pois além de valorizar as tradições, também revelam elementos históricos, religiosos e mitológicos. Um dos tradicionais é o Boi de Narciso que esteve ano passado no terreiro Palestra que mantém viva a tradição do guarnicê.
Nonato faleceu em São Luís no dia 22 de fevereiro de 2025 aos 71 anos, deixando saudades eternas aos familiares e uma legião de amigos e a cultura vianense de luto. Meus profundos e sinceros sentimentos à família Palestra.
Lembram dessa relíquia que guardo com muito carinho há 22 anos, camisa oficial da época em que o Esporte Clube Viana disputava o campeonato Brasileiro da série C era patrocinado pela Loja Vianense com o apoio do poder público e o time dava muita alegria aos torcedores do Leão da Baixada.
FREQUENTAVA OS BAILES, MATINAIS E VESPERAIS NO GRÊMIO NOS ANOS 1970 SE
RECORDA DE DUSSANTOS.
Texto e Foto. Crédito Zé Santos.
Julião dos Santos Costa, conhecido popularmente como Dussantos, é mais um dos muitos talentos vianenses cujo falecimento deixa um vácuo na arte musical de nossa cidade. Pouco conhecido fora de Viana, era um vocalista de primeira. Começamos como cantores, praticamente juntos no extinto grupo de Nonato Travassos e seu Conjunto no início da década de 1970, quando Nonato foi pioneiro na história musical de nossa cidade, ao adquirir duas guitarras e um contrabaixo, para, com instrumentos de sopro e bateria, formar o que seria nos dias de hoje uma banda. Além de Nonato no sax, Roquinho, de São João Batista, Manoelzinho e Zico, estes dois de Penalva se revezando nas guitarras, Urbano se desdobrando no contrabaixo e Domingos Preto e Luizinho Fumanchu na bateria, eu e Dussantos nos esmerando nos vocais, vivemos a época de ouro dos grandes carnavais do Grêmio Vianense, além de também sermos contratados para grandes festas na Baixada, especialmente em Matinha, Cajari, São Vicente Ferrer, Cajapió, e outros locais da região, pois o conjunto de Nonato era a novidade musical, rivalizando com o grupo de Renato Balby em Penalva, e fez assim grande sucesso naquele início de década. Humilde, figura dócil que jamais vi estressado, mesmo nos momentos mais complicados de nossa aventura musical. Talentoso cantor que aprendeu a arte, em cima dos próprios erros, os quais superou com muito esforço, era também um poeta nato. Lamentável apenas, que por seu desaparecimento precoce, talvez não tenha deixado registros escritos de sua arte. Hoje já é uma saudade pra todos nós que o conhecemos e privamos de sua amizade. Os céus ganharam mais um anjo cantador. Vai em paz, parceiro!
JOÃO BOSCO GASPAR
– poeta, pesquisador e historiador. Filho de Gerardo Vieira Gaspar e Perpétua das Neves Gaspar. Nasceu nos alcantis paradisíacos da Serra Grande (em Tianguá-Ce), numa manhã de inverno tipicamente fria e neblinada, no dia 14 de janeiro de 1964, precisamente na residência da parteira Alcety Moita, no quadrilátero que circunda a atual catedral de Santana.
De origem humilde, estudou no Ginásio Municipal de Tianguá e na Escola de 2º Grau Regina Coeli. Graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, e Pós-Graduado (Lato Sensu) em História, Cultura e Patrimônio pelas Faculdades INTA (Instituto Superior de Teologia Aplicada), ambas de Sobral-CE. É casado com a Sra. Angelita Fontenele Magalhães, pai de dois filhos (João Victor e João Arthur Fontenele Magalhães Gaspar) e trabalha no Cartório do 1º ofício (Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelionato de Notas) da comarca de Tianguá, como Tabelião Substituto. Foi chefe do Grupo de Escoteiros Mons. Agesilau de Aguiar (hoje Dom Timóteo); apresentador de programa de rádio; projetista cinematográfico (Cine Santana); representante da juventude da Paróquia de Santana, junto à diocese de Tianguá; membro fundador da Pastoral de Juventude do Meio Popular (PJMP) na diocese de Tianguá; participou deváriosencontros,seminários, palestras, assembleias e cursosrepresentandoajuventude da diocese de Tianguá junto ao Regional Nordeste I da CNBB; foi presidente do Centro Cívico da Escola de 2º Grau Regina Coeli; membro fundador do Grupo de Artes e Tradições Folclóricas Serra Grande; presidente da comissão permanente de licitação e assessor administrativo da câmara municipal de Tianguá; foi membro da Comissão Censitária municipal de Tianguá em 2007, e é membro do Conselho de Sentença do Tribunal Popular do Júri da Comarca de Tianguá.
Foi um dos autores da Lei Municipal nº 473/2007, que dispõe sobre a preservação mediante tombamento, do patrimônio (material e imaterial) histórico, artístico, ambiental e cultural do município de Tianguá, e “autor” da Lei Municipal nº 487/2007 que instituiu o Ipê-Amarelo (Pau-D’arco-Amarelo) como árvore símbolo do município de Tianguá. É autor do pedido de tombamento da tanajura como patrimônio imaterial do município de Tianguá.
Ao retornar ao Recife no ano de 1604, Pero Coelho de Sousa levou consigo, na condiçãode escravizados, centenas deíndios capturados nas aldeiasdeMel Redondo (ViçosadoCeará)e DiaboGrande(IbiapinaCe).Najustificaçãoque feznacidadedoRecife,PeroCoelhodeSousa alegou queos gentiosdaIbiapaba “devem ser julgados cativos” porque “rebelaram-se, quebraram o pacto, ajudando os franceses e tomaram armas contra nossa gente" [Fonte 01]. O governador Diogo Botelho, porém, “dirigiu-se à coroa, a fim de que a questão fosse decidida definitivamente pelas instâncias competentes da metrópole”. [Fonte 02]. E em data de 22 de setembro de 1605, Dom Filipe II de Portugal e Espanha, firmou a seguinteordem:“CartadeEl-Rei aoGovernadorDiogo Botelhoordenandopormeiodealvará se dê a liberdade aos índios que Pero Coelho de Sousa e a sua companhia cativaram [na Ibiapaba] e mandaram a Pernambuco. Lisboa, 22 de setembro de 1605”. [Fonte 03].
Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará
Fonte 01: “Correspondência de Diogo Botelho, governador-geral do Brasil”. Fonte 02: “Política indigenista dos portugueses no Brasil:1500-1640”. Fonte 03: “Biblioteca da Ajuda, Lisboa, 51-IX-29, fls. 16”.
O SEPULTAMENTO DO PADRE FRANCISCO PINTO... AO PÉ DA SERRA DA YBIAPABA... NO LUGAR ABAYÁRA... ANO DE 1608.
“(...) tinhase achado hua roupeta minha a qual lhe vestimos, e lavãdolhe o rosto e cabessa cheya de sangue e terra e feita em pedaços o cõpusemos em hua rede p.a o trazermos p.a o pe da serra (...). Cõ isto me fui e deci da serra trazendo diante de my o corpo do p.e, e ao pe da serra o enterrey (...). Depois q’ enterrey o p.e ao pe daquella alta serra da Ybiapaba em hu logar q’ particularmente se chama Abayára ao longo de hu rio dentro de hu mato (...)
Fontes primárias que tratam da morte e do sepultamento do padre jesuíta Francisco Pinto, ocorrida nos altiplanos da Ibiapaba no dia 11 de janeiro de 1608. O primeiro, "Relação do Maranhão" foi escrito pelo também jesuíta, padre Luís Figueira, companheiro de jornada do padre Francisco Pinto e testemunha ocular da morte do "Mártir da Ibiapaba". O segundo, "Carta do Padre Manuel Gomes" escrita no ano de 1615, no contexto da viagem da Esquadra de Alexandre de Moura que estava incumbida da expulsão dos franceses da "França Equinocial". Figueira diz textualmente que o Padre Francisco Pinto foi trucidado nas proximidades da Aldeia de Diabo Grande (Ibiapina CE), ou seja, "no couce [coice] da aldeia" ... na retaguarda da aldeia... nas costas da aldeia. Diz, ainda, que o corpo do padre Pinto foi levado serra abaixo numa rede e enterrado nos sopés da Ibiapaba. Manuel Gomes diz, em 1615, que o corpo do padre Francisco Pinto estava sepultado nas proximidades do Porto do Ceará, onde a Esquadra de Alexandre de Moura fez escala no trajeto ao Maranhão. Como é sabido, no ano de 1612 o corpo do padre Francisco Pinto foi trasladado dos sopés da Ibiapaba para o litoral.
Não existe honra alguma em assassinar uma pessoa. A pecha de “matador” é o conceito mais vil que permeia a sociedade. Entretanto, existe um princípio jurídico que diz: “Suum Cuique Tribuere”, ou seja, “a cada um o que é seu”. Com a História não é diferente... devemos atribuir a cada um, o fruto dos seus atos. Com relação a morte do líder indígena Mandu Ladino, ocorrida na segunda década do século XVIII, o que dizem as fontes primárias e secundárias? Por incrível que pareça, os principais historiadores que tratam sobre Mandu Ladino são estrangeiros: o britânico, Charles Ralph Boxer, o canadense John Hemming e a portuguesa Virgínia Rau. Virgínia Rau diz que: “Até [o ano de] 1700 estivera sossegado o gentio vizinho da aldeia da serra da Ibiapaba, porque os padres tinham feito as pazes com os tapuias, que todos os anos as vinham renovar à aldeia. Viera perturbar este estado, o desatino duma tropa do Ceará. Ordenando el-Rei de Portugal ao capitão-mor do Ceará que mandasse sondar a barra do rio Parnaíba, recomendando que a tropa não ofendesse o gentio e apenas se defendesse se fosse atacada, enviara o capitão-mor [do Ceará] Francisco Gil Ribeiro, 700 homens, dando-lhes por cabo o coronel Leonardo de Sá [irmão do ex-governador do Ceará, Sebastião de Sá], a quem ordenara que fizesse toda a diligência por trazer alguns cativos. Descobrira a tropa o resto dos tapuias chamados Vidais e, perseguindo-os, encontraram-nos, matando e cativando muitos e entre eles a mulher do seu principal (...). Os que escaparam, foram imediatamente à ribeira de Piracuruca, vingando-se nos moradores e fazendo grande estrago nas suas fazendas” [01]. Na exposição que o padre Antônio de Sousa Leal fez ao Rei de Portugal, consta que: “Em 1708, depois de muitas guerras, Antônio da Cunha Soto-Maior fizera a paz com os que ainda restavam destes tapuias, exceptuados os Anapuruassus (...). [Que] os soldados do Maranhão tiravam-lhes as mulheres e filhas, e tratavam-nos como escravos, sem qualquer recompensa. Além disto, enforcara quatro ou cinco Arayos, desterrara e mandara matar outros, entre os quais uma irmã do Mandu Ladino e o seu marido” [01]. Charles R. Boxer informa que: “Em 1712-13, quando uma revolta geral dos <<tapuias do norte>> envolveu não só muitos dos que tinham sido anteriormente dominados naquela região, mas numerosas tribos dos distritos fronteiriços do Maranhão e Ceará. Dois destacamentos grandes e bem armados, compostos de moradores e soldados, foram feitos em pedaços pelos selvagens, cujo perigoso chefe era um ex-convertido dos jesuítas, chamado Mandu Ladino. Existiam 400 sítios naquela região quando a revolta começou, e mais de uma quarta parte deles foi destruída ou teve de ser evacuada. Depois de muitos combates, Mandu Ladino foi morto e a retaguarda da revolta abatida, embora alguns pontos de resistência permanecessem em distritos mais remotos durante vários anos. A extinção da revolta foi devida, em grande parte, à lealdade dos índios da missão jesuíta da Serra de lbiapaba, no Ceará, que se mostraram muito mais eficazes do que os brancos nos combates dentro dos matagais. Bernardo Carvalho [mestre de campo do Maranhão e Piauhy] estava ansioso para que aqueles índios fossem separados da capitania do Ceará e incluídos no Estado do Maranhão, mas tal sugestão encontrou forte resistência por parte dos missionários jesuítas e dos moradores do Ceará” [02]. John Hemming, informa que: “Em junho de 1712 todas as tribos assentadas no acampamento de Soto-Maior, com exceção de duas, se rebelaram, mataram o comandante [Soto-Maior] e a maioria de seus oficiais, vinte soldados e alguns criadores de gado (...). A revolta foi comandada por Mandu Ladino (...). Os quatrocentos homens de Mandu Ladino se apoderaram de trezentas armas de fogo e de munição, e sua rebelião espalhouse pelo Piauí e Ceará (...). Em 1718 o Conselho Colonial em Lisboa manifestou sérias preocupações com as guerras empreendidas por Mandu Ladino que se travavam no Maranhão, Piauí e Ceará (...). Afinal foram outros índios que derrotaram Mandu Ladino. Os tabajaras da serra da Ibiapaba, que tinham estado sob a influência dos jesuítas desde a partida dos holandeses, eram tupis e tradicionais inimigos dos tapuias que viviam mais além. Os tabajaras, comandados pelo cacique Dom Jacó de Sousa e Castro, avançaram contra os tapuias sem a companhia de quaisquer brancos, que constituíam um embaraço para eles nas florestas” [03]. De fato, a morte de Mandu Ladino, ocorrida antes de novembro de 1719, deu-se pelas armas dos tabajaras da Ibiapaba, capitania do Ceará, justamente no período em que o mestre de campo Bernardo Carvalho de Aguiar, estava ausente do Piauí. Vejamos o que diz o padre João Guedes, contemporâneo daqueles fatos: “Que se podia guerrear os tapuias revoltados sem mestres-de-campo nem arraiais, provavam-no as cinco grandes vitórias que tinham tido os índios da serra da Ibiapaba, nos dois anos em que o citado mestre-de-campo [Bernardo Carvalho de Aguiar] estivera ausente do Piauí” [01]. A narrativa coesa desses três grandes historiadores, encontra respaldo nas palavras do Rei de Portugal, Dom João V, sobretudo nas três cartaspatente concedidas aos principais índios da serra da Ibiapaba, com o hábito de Cavaleiros da Ordem de Santiago: Dom José de Vasconcelos, Dom Felipe de Sousa e Castro e Dom Sebastião Saraiva Coutinho. Na carta concedida a Dom Felipe de Sousa e Castro (e nas demais), consta que tal mercê foi conferida em virtude
da sua participação na luta que tinha: “desenfestado os gentios bárbaros das capitanias do Ceará e Piauhy, alcançando muitas vitórias e ultimamente em que mataram o índio Mandu Ladino, um dos mais cruéis inimigos nossos”. Essa fonte primária encontra-se registrada no livro do Registro Geral de Mercês de D. João V, livro 12 fls. 660.
Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará.
[01] Livro “Os Manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval Respeitantes ao Brasil – Volume II”, de Virgínia Rau – Professora da Universidade de Lisboa.
[02] Livro “A Idade do Ouro no Brasil - Dores de crescimento de uma sociedade colonial”, de Charles Ralph Boxer – Professor Emérito da Universidade de Londres.
[03] Livro “Ouro Vermelho – A Conquista dos índios Brasileiros” de John Hemming – Diretor da Royal Geographic Society de Londres.