O TOK
IHGM EM REVISTA EDIÇÃO ELETRÔNICA
1574 ou 1576, Almodôvar, Portugal – outubro de 1643, lha de Joanes)
ANO DE LUIS FIGUEIRA
Número 10 – OUTUBRO / DEZEMBRO 2024 SÃO LUIS – MARANHÃO
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor. EXPEDIENTE DIRETORIA DO IHGM GESTÃO 2023-2025
CONSELHO FISCAL
NOSSA CAPA: LUIS FIGUEIRA,
Revista INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Rua de Santa Rita, 230, Centro 65015-430 - São Luis – Maranhão O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) é uma instituição da sociedade civil de estudos de caráter científico que tem como objetivos estudar, debater e divulgar questões sobre história, geografia e ciências afins, referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão, dentre outras finalidades. Fundado em em 20 de novembro de 1925, na cidade de São Luís, em comemoração ao centenário do imperador D. Pedro II, sendo sócios fundadores da instituição: Antônio Lopes da Cunha, Justo Jansen, José Domingos da Silva, José Ribeiro do Amaral, Wilson da Silva Soares, Domingos de Castro Perdigão, Barros e Vasconcelos, Pe. Arias de Almeida Cruz, Pe. José Ferreira Gomes, José Pedro Ribeiro e José Eduardo de Abranches Moura. Entre suas finalidades estão: estudar, debater e divulgar questões sobre história, geografia e ciências afins, referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão; cooperar com os poderes públicos em estudos que visem ao engrandecimento científico e cultural do Estado, colocando-se à disposição das autoridades para responder a consultas e emitir pareceres sobre assuntos pertinentes às suas finalidades; defender e velar pelo patrimônio histórico do Maranhão. O IHGM possui um calendário cultural anual para comemoração das datas relevantes da história, promovendo palestras, seminários, conferências, simpósios, cursos, além de disponibilizar o acervo para consultas e promover visitas guiadas. Atualmente o IHGM é composto por sessenta membros. IHGM - Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
SUMÁRIO EXPEDIENTE SUMÁRIO MENSAGEM DE NATAL CONCURSO HISTÓRICO-LITERÁRIO DO CENTENÁRIO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM REGULAMENTO FALA DA PRESIDENTE FALA DA DIRETORA ANIVERSARIANTES PRESIDENTE EM AÇÃO DISCURSO PROFERIDO PELA PRESIDENTE DILERCY ARAGÃO ADLER NA SESSÃO SOLENE COMEMORATIVA DO ANIVERSÁRIO DE 99 ANOS DE FUNDAÇÃO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO (IHGM), CASA DE ANTÔNIO LOPES, EM 20 DE NOVEMBRO DE 2024 O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE ALCÂNTARA ACONTECEU NOTAS & ARTIGOS & Antonio Guimarães – uma biografia ASSEMBLEIA CONCEDE MEDALHA ‘MANUEL BECKMAN’ A JOSÉ MÁRCIO LEITE LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - INDIOS PROTESTANTES NO MARANHÃO COLONIAL: MISSÃO DO IPIAPABA TELA HISTÓRICA-DECORATIVA "ALDEIA DA IBIAPABA" JOÃO BOSCO GASPAR - AS CAPITANIAS REAIS... TEMA IGNORADO POR MUITOS HISTORIADORES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - SOBRE OS AÇORIANOS NO MARANHÃO PATRÍCIA CUNHA - A HISTÓRIA QUE VAI ALÉM DO MARANHÃO DEU NO JP – COMO TU FALAS, MANEZINHO? Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - A MISSÃO DO “RIO DO MARANHÃO” FEITO O ANO DE 1603 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - BATALHA DE GUAXENDUBA (1614): UMA SIMPLES ESCARAMUÇA? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - OS “MANEZINHOS” DA “DÉCIMA ILHA” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - ALGUMAS NOTAS ACERCA DO MARANHÃO HOLANDES WELLINGTON CORLET DOS SANTOS - ENTERRO ESTRANHO, MOEDAS DE ANTANHO, COLEÇÃO QUE GANHO, INVESTIMENTO TAMANHO - A Numismática e o colecionismo LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - IHGM – 160 ANOS? OU OS 99 QUE SE ESTÁ COMEMORANDO? EUGES LIMA - O HISTORIADOR CÉSAR MARQUES RUY PALHANO SILVA - O FIM DO ANO A SAÚDE MENTAL EM PERSPECTIVA EUGES LIMA - CATÓLICOS E PROTESTANTES NA FRANÇA EQUINOCIAL LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - AS CAVALHADAS E AS FESTAS DO DIVINO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - TRABALHO, TEMPO LIVRE E LAZER LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE E LAZER LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - MANIFESTAÇÕES DO LÚDICO E DO MOVIMENTO NO MARANHÃO EUGES LIMA - O NASCIMENTO DE JESUS
ROSA MARIA SOARES BUGARIN - POEMA DE NATAL; PRECE JOSEMIR CAMILO DE MELO - CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR 200 ANOS - O MOVIMENTO NO PARÁ
MENSAGEM DE NATAL É com grande júbilo que saúdo a todos os confrades do IHGM e seus familiares, aos amigos da ABROL e suas famílias, aos nossos funcionários e convidados que se encontram reunidos neste salão para comemorar o Natal de Jesus, a despedida do Ano Velho, que leva consigo nossas alegrias e dissabores, e a saudação ao Ano Novo, pedindo a Deus que nos traga muita felicidade! Quero também me referir ao dia de hoje, 13 de dezembro, sexta-feira, a última sexta-feira do ano. Coincidentemente, foi o dia que conseguimos conciliar, em meio a tantos compromissos de fim de ano, para a nossa confraternização de Natal. O dia 13, associado à sexta-feira, carrega vários significados e interpretações, com raízes em lendas, superstições e história. É uma data que possui um simbolismo profundo, e que, neste ano, como já mencionado, foi escolhido, aleatoriamente, para a nossa confraternização. Esperamos que essa determinação do calendário cristão só nos traga felicidade. Nesse sentido, desejamos que o Natal seja um momento de profunda renovação espiritual, onde possamos nos conectar com o legado de amor, compaixão e solidariedade que Jesus Cristo nos deixou. Que, em seu exemplo, possamos cultivar um espírito de fraternidade, harmonia e respeito mútuo, estendendo nosso amor e cuidado não apenas entre os seres humanos, mas também à fauna, à flora e, ou seja, a todo o ecossistema do nosso planeta. Que possamos abraçar a diversidade humana, independentemente das crenças, culturas e condições de cada ser, reconhecendo a riqueza que essa multiplicidade de determinações traz à nossa convivência. Que a essência do Natal nos inspire a: •
Amar incondicionalmente – sem barreiras, sem julgamentos, com o coração aberto.
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Perdoar generosamente – permitindo que a paz habite nossos corações.
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Respeitar a diversidade – reconhecendo a beleza nas diferenças que nos tornam mais fortes.
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Promover a justiça e igualdade – para que todos tenham as mesmas oportunidades e dignidade.
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Valorizar o essencial – experienciando o bem, a fraternidade, e tendo o amor como inspiração maior em todas as esferas de nossa vida!
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Proteger o meio ambiente – cuidando da Terra com a mesma dedicação com que cuidamos de nossas relações e de nós mesmos.
E assim, possamos celebrar o Natal de Jesus não apenas com presentes materiais, mas com o presente do afeto sincero e da solidariedade. Que o brilho do Natal ilumine nossos corações e nos guie em direção a um futuro mais justo, pacífico e harmonioso. E que, ao entrarmos no Ano Novo, possamos carregar a esperança renovada de um amanhã melhor, onde cada dia seja uma oportunidade de construir um mundo de amor, solidariedade e união. Quanto ao nosso sodalício, que cada associado consolide o sonho do seu patrono, Antônio Lopes, e que o IHGM seja um formoso templo! Feliz Natal! E um Ano Novo repleto de luz, realizações e amor para todos! São Luís, 13 de dezembro de 2021. Dilercy Adler
Edital Nº 15/2024 CONCURSO HISTÓRICO-LITERÁRIO DO CENTENÁRIO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM REGULAMENTO O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), por meio da Comissão Especial para o Concurso Histórico-Literário em Comemoração ao Centenário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, torna pública a realização do Concurso HistóricoLiterário “O Centenário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão ”, mediante as regras estabelecidas neste Regulamento. DO CONCURSO Art. 1º O Concurso Histórico-Literário “O Centenário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão” será oferecido e organizado pelo IHGM com a finalidade de promover e divulgar estudos sobre a instituição nos campos da História e da Literatura. DOS OBJETIVOS Art. 2º O Concurso tem como objetivo geral estimular a produção e divulgação de conhecimentos sobre o IHGM no contexto do centenário da instituição, a fim de apresentar a história, as produções e ações dele no âmbito da sociedade maranhense, refletindo sobre as significações deste sodalício no passado e no presente. Art. 3º O Concurso tem como objetivos específicos: a) propiciar um espaço de divulgação de pesquisas históricas e produções literárias sobre o IHGM; b) estimular produções sobre o IHGM com múltiplas leituras alusivas ao tema no contexto de celebrações do centenário dele. DO TEMA Art. 4º Este concurso consiste na apresentação de um trabalho de carácter histórico ou literário sobre o tema: “O Centenário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão”. DO PÚBLICO-ALVO Art. 5º Poderão participar pesquisadores, professores da Educação Básica e estudantes universitários que tenham desenvolvido pesquisas sobre o tema do concurso. 2 DO TRABALHO Art. 6º O Concurso aceitará obras na Modalidade Inédita e Original em uma das seguintes categorias: a) Investigação Histórica (ensaio, biografia dos fundadores); ou b) Textos Literários (poesia). § 1º Entende-se por inédita a obra não publicada, parcialmente ou em sua totalidade, em qualquer meio de comunicação. § 2º O texto literário contempla o gênero poético, estando nele incluídas as espécies a ele pertencente Art. 7º O trabalho concorrente deverá respeitar os seguintes requisitos, sob pena de desclassificação: a) ser original; b) redigido em português; c) digitado em fonte Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5. d) abordar o tema proposto; d) ter sido escrito de forma individual. § 1º Entende-se por original a obra que é primitiva, que não foi copiada ou imitada. § 2º Os trabalhos da categoria Investigação Histórica devem ter entre 15 e 20 páginas e os trabalhos da categoria Textos Literários devem ter no máximo 10 páginas.
§ 3º Para decisão quanto à classificação e à premiação da obra, a Comissão Julgadora avaliará os critérios de adequação e pertinência ao tema proposto, a tipologia textual, coerência e coesão, adequação gramatical, criatividade e o conteúdo. DA INSCRIÇÃO Art. 8º As inscrições deverão ser efetuadas, obrigatoriamente, por meio do envio do trabalho devidamente digitalizado, em formato PDF, para o endereço eletrônico concurso.centenarioihgm.ma@gmail.com, sendo obrigatório que o envio ocorra até as 23h59min (horário de Brasília) do dia 30 de abril de 2025. § 1º No assunto do e-mail deve conter apenas o texto: Inscrição Concurso “O Centenário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão”. § 2º Os arquivos, em formato PDF, devem ser nomeados utilizando o título do trabalho e a identificação do/a autor/a, o título da obra, cidade e Estado do autor/a e os contatos. 3 § 3º O arquivo de trabalho que estiver corrompido ou impossibilitado de ser lido por má qualidade na digitalização será automaticamente desclassificado. § 4º O IHGM não se responsabiliza pelo não recebimento de inscrição por motivos de ordem técnica dos computadores, falhas de comunicação, bem como outros fatores que impossibilitem a transferência eletrônica das informações. D O JULGAMENTO Art. 9º Os trabalhos apresentados serão recebidos e analisados pelo IHGM, por meio da Banca Julgadora criada para este fim, composta por até 4 (quatro) membros do Instituto. Parágrafo único - Os membros da Banca Julgadora serão designados em ato específico do IHGM. Art. 10 A Banca Julgadora não se responsabilizará pelo não recebimento da inscrição enviada pelos participantes, bem como por qualquer impossibilidade de participação em razão de falhas ou erros de envio ocasionados por problemas no provedor de Internet utilizado, ou por impossibilidade de leitura do arquivo enviado por e-mail. Art. 11 A Banca Julgadora é soberana para eleger, dentre os trabalhos desenvolvidos, os classificados e os melhores em cada categoria, conforme metodologia que julgar adequada, respeitando-se os critérios de julgamento citados neste Regulamento. Art. 12 Não caberá recurso de qualquer espécie em relação às decisões e julgamentos da Banca Julgadora. Art. 13 Os trabalhos serão classificados segundo os seguintes critérios de avaliação e julgamento: a) adequação e pertinência ao tema proposto e tipologia textual; b) coerência (clareza, organização das ideias, progressão temática) e coesão (ligação de ideias, substituição e paragrafação); c) adequação gramatical; d) criatividade; e) conteúdo. DO PRÊMIO Art. 14 Os autores dos melhores trabalhos em suas categorias serão premiados com pagamento em dinheiro, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) para o primeiro lugar dos trabalhos de cada categoria, certificação de participação emitido pelo IHGM, além do trabalho publicado em formato e-book e divulgado nos meios de comunicações. 4 DO RESULTADO E PREMIAÇÃO Art. 15 O resultado do Concurso com o nome dos ganhadores será divulgado no site do IHGM até o dia 15 de julho de 2025. Parágrafo único O prêmio é pessoal e intransferível.
DO CRONOGRAMA Art. 16 Em sua 1ª e única edição, o concurso obedecerá ao seguinte cronograma: a) 30 de abril de 2025: data limite para o envio dos trabalhos; b) 07 de maio de 2025: publicação dos trabalhos inscritos; c) 15 de julho de 2025: publicação do resultado final d) 28 de julho de 2025: premiação. DOS DIREITOS AUTORAIS Art. 17 A formalização da inscrição no Concurso pelo participante, implica, em caráter irrevogável, irretratável e gratuito, a autorização de uso de nome, voz, imagem, profissionais ou biográficos, depoimentos e entrevistas, em todas e quaisquer ações e atividades relacionadas ao Certame, ou para fins acadêmicos, educacionais e científicos e em quaisquer materiais relacionados à sua implementação e divulgação, bem como de seus resultados, sem qualquer restrição de espaço, idioma, número de impressões, reimpressões, quantidade de exemplares, número de emissões, transmissões, retransmissões, edições, reedições, divulgações ou veiculações. § 1º Ao se inscrever, o participante autoriza também que as entrevistas e depoimentos que porventura sejam por ele concedidos ao IHGM em virtude do Concurso sejam reproduzidos por esta entidade, por si ou por terceiros e divulgados nos materiais, suportes, mídias e meios indicados neste Regulamento. § 2º As obras e os direitos de que tratam este artigo poderão ser usados pelo IHGM, direta ou indiretamente, total ou parcialmente, por si ou por terceiros, em conjunto ou separadamente, inclusive com outros direitos de terceiros, obras intelectuais, materiais e suportes, para os fins acima previstos, em qualquer mídia ou meio físico, visual ou sonoro, inclusive eletrônico, digital e quaisquer outros existentes. Art. 18 A disposição, diagramação, ordenação, compactação, compilação, edição, organização ou editoração das obras e a utilização de uso poderão ser realizadas pelo IHGM, a seu exclusivo critério. 5 Art. 19 O IHGM exime-se de toda e qualquer responsabilidade decorrente do uso indevido por terceiros, no todo ou em parte, dos projetos ou dos direitos bem como de quaisquer suportes, materiais, mídias e meios em que eles estejam incluídos, inclusive mediante sua reprodução ou divulgação, no todo ou em parte, em sítios eletrônicos, blogs, comunidades virtuais e sítios desta natureza. Art. 20 Caberá ao participante a responsabilidade exclusiva e integral pela autoria dos trabalhos inscritos, bem como por eventuais violações a direitos de autor decorrentes de sua participação no concurso. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 21 Serão desclassificados os trabalhos que não se enquadrarem no tema, nas especificações deste Regulamento, bem como aqueles decorrentes de plágio ou fraude e, ainda, os enviados em desconformidade com as orientações deste Regulamento. Art. 22 Em nenhum caso, os trabalhos recebidos serão devolvidos. Art. 23 A Banca Julgadora tem competência para dirimir eventuais omissões deste Edital. São Luís, 20 de novembro de 2024 Dilercy Aragão Adler Presidente do IHGM
PALAVRA DA PRESIDENTE Vamos renovar os laços de união e alegria que fortalecem a nossa Casa de Antônio Lopes. (Convite para a Confraternização Natalina - 13/12/2024).
Com essas palavras, inicio a "Palavra da Presidente" nesta última edição do "IHGM EM REVISTA - Edição Eletrônica" do ano de 2024. Neste último trimestre, a exemplo dos três anteriores, a Casa de Antônio Lopes promoveu e participou de importantes atividades e comemorações. De 14 a 17 de outubro, o IHGM participou do "XIX Seminário Internacional Mulher e Literatura", apresentando trabalhos, no Rio de Janeiro, por meio da Presidente, da Profa. Dra. Diomar Mota, e do Dr. Raimundo Nonato Campos Filho, sócios efetivos do IHGM, e da Profa. Dra. Renata Barcellos e Eurídece Hespanhol, sócias correspondentes (RJ) do IHGM. Nesse período, a Presidente do IHGM agendou uma reunião com o Presidente do IHGB, Dr. Victorino Coutinho Chermont de Miranda, e uma Visita Guiada à exposição temporária "Eckhout: Trânsitos do Olhar", cujo curador é o Prof. Dr. Paulo Knauss, Diretor do Museu do IHGB e professor do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense, além de Sócio Correspondente do IHGM. No dia 22/10, o IHGM promoveu uma homenagem à poeta Laura Rosa e ao escritor José Chagas, com a concessão de Diplomas de Sócios Honorários in memoriam para ambos. O evento contou com palestras da Profa. Diomar das Graças Motta e da pesquisadora Águida Cristina Jovino sobre Laura Rosa e José Chagas, respectivamente. Nas primeiras semanas de novembro, foi realizada a 17ª Feira do Livro de São Luís (FeliS), de 1º a 10, na Praça Maria Aragão, promovida pela Prefeitura de São Luís, por meio das secretarias municipais de Cultura (Secult) e de Educação (Semed). O IHGM, a exemplo das edições anteriores, participou com um estande que compartilhou com a Academia Maranhense de Trovas (AMT) e a Academia Brasileira Rotária de Letras (ABROL), reafirmando a valorização de parcerias. As três instituições, além da exposição e venda de livros, promoveram lançamentos e encontros com os seus membros. Membros do IHGM, que também integram a Sociedade de Cultura Latina do Brasil (SCLB), participaram, nos dias 15 e 16 de novembro, em Manaus, do “V Encontro Nacional da Sociedade de Cultura Latina do Brasil - SCLB”. Na ocasião, a Profa. Dra. Dilercy Adler, Presidente da SCLB, passou o cargo de Presidente para o escritor Raimundo Colares, também sócio correspondente do IHGM. Ambos são os organizadores da “II Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil: Construindo Pontes”, lançada nesse período. O evento contou com uma extensa programação, com palestras, exposições, lançamentos de livros e recitais de poesia. O ponto alto das realizações do IHGM no mês de novembro foi a comemoração do aniversário de 99 anos de fundação do IHGM. A programação foi realizada em dois dias 20 e 21, com três atividades distintas: a primeira, a Sessão Solene em comemoração ao aniversário, o Fechamento do “Ano Cultural Pe. Luís Figueira”, que contou com a palestra da Profa. Dra. Elizabeth Sousa Abrantes, 1ª Secretária do IHGM, abordando o Centenário de “O Sertão”, da escritora maranhense Carlota Carvalho, que apoiou a fundação do IHGM, segundo Antônio Lopes, embora não figure entre os fundadores da Instituição; a apresentação de um vídeo sobre o Pe. Luís Figueira e a outorga de “Comendas Antônio Lopes” ao Dr. Jackson Kepler Lago (in memoriam), à Profa.Theresa Soares Pfhueger (in memoriam) e ao Prof. Dr. Felipe Costa Camarão. A segunda atividade, no dia 22 foi realizado pela manhã: o II Encontro de Institutos Históricos e Geográfico do Estado do Maranhão e terceira atividade também no dia 22 à tarde: o II Encontro de Sócios Correspondentes, no formato híbrido (plataforma meet), com apoio da Fundação Sousândrade. Na ocasião o Presidente do IHGB foi representado pela historiadora e escritora Mary Del Priore, também sócia correspondente do IHGM (RJ).
Por fim, no dia 13 de dezembro, como encerramento oficial das atividades do IHGM foi promovida a confraternização de fim de ano em conjunto com a ABROL, como dita o espírito Natalino: com muita alegria e muitas esperanças no novo ano que em breve iniciará. No entanto, ainda no mês de dezembro, a Presidente do IHGM recebeu o convite do escritor Paulo Melo Sousa, Diretor do Museu Histórico de Alcântara e Presidente da Academia Alcantarense de Letras, Ciências, Artes e Filosofia (ALCAF), para participar da XII Edição do Projeto Pão, Música e Poesia, articulado pelo Museu Histórico de Alcântara, em parceria com a ALCAF para realizaar a palestra “O Processo de Criação de um Instituto Histórico e Geográfico para Alcântara”, e lançar o seu livro Esfinge: decifra-me ou te devoro, recentemente classificado no Prêmio Maranhão de Literatura, de acordo com o Edital Nº 15/2024 UGADC/SECMA - MAIS ARTES LITERÁRIAS. Ainda, ao final deste trimestre, veio a público a existência de um processo judicial/ação popular que visa remover o nome de Raimundo Nina Rodrigues da denominação do hospital psiquiátrico do Estado do Maranhão. Raimundo Nina Rodrigues é patrono da Cadeira nº 28 do IHGM. A Diretoria reconhece o direito de cada membro de registrar suas opiniões sobre a questão. No entanto, em nome da Instituição, apenas será emitido um parecer após acuradas análises no seu âmbito. Desse modo, a Diretoria promoverá, nos primeiros dias de janeiro de 2025, um seminário no âmbito da Instituição acerca da questão, objetivando analisá-la e debatê-la exaustivamente, até porque há um entendimento da Diretoria sobre a delicadeza, complexidade e multideterminação que a envolve. Posteriormente, as principais premissas serão submetidas à apreciação de uma Assembleia Geral convocada para esse fim. A partir daí, a Casa de Antônio Lopes apresentará uma posição oficial. Essa proposta fundamenta-se nas finalidades do IHGM expressas em seu estatuto, conforme determina o artigo 1º, que inclui “o estudo, debate e divulgação de questões sobre História, Geografia e Ciências afins referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão”. Do exposto, temos a reconhecer que o “IHGM EM REVISTA - Edição Eletrônica” cumpre, mais uma vez, o seu importante papel como ferramenta de divulgação das atividades do IHGM e de outras instituições culturais do Estado do Maranhão, além de constituir um espaço de difusão do conhecimento, por meio do qual estudiosos, pesquisadores e professores podem compartilhar suas reflexões e análises. Nesta última edição deste ano, agradecemos a todos os membros da Diretoria e do Conselho Fiscal, aos sócios e parceiros da Casa de Antônio Lopes. Nossa gratidão aos colaboradores deste número e, em especial, ao seu editor, o confrade Leopoldo Gil Dulcio Vaz, que, com muito zelo, vem se dedicando há décadas à publicação de revistas e livros, e entre eles esta revista que chega agora às suas mãos, caro leitor. Que o Ano Novo nos traga Paz, Fé, União, Energia e Muita Luz para continuarmos a trabalhar no sentido da consolidação do sonho de Antônio Lopes: "Que o IHGM seja um Formoso Templo". FELIZ 2025 para todos! Que haja Paz no mundo! Boa leitura! 31 de dezembro de 2024. Dilercy Adler
PALAVRAS DA DIRETORA Prezados associados, leitores, colaboradores e admiradores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Com profunda gratidão e esperança renovada, encerro o ano de 2024 refletindo sobre tudo o que vivenciamos neste período, que nos trouxe desafios, conquistas e, acima de tudo, uma reafirmação do propósito que move o nosso Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Este foi um ano marcante, tanto pela força coletiva de nossos associados e colaboradores quanto pela oportunidade de reforçarmos o compromisso de preservar e disseminar a história e a cultura do Maranhão. Este ano nos convida a celebrar um marco histórico de imensurável significado: os 99 anos de existência do nosso querido IHGM. Não é apenas um número, mas a representação de quase um século de dedicação ao resgate, preservação e valorização da memória de nosso estado. Ao longo dessas nove décadas, o IHGM se tornou uma das instituições mais respeitadas e relevantes do Maranhão, um verdadeiro pilar de nossa identidade cultural e um espaço de diálogo entre gerações, saberes e perspectivas. Desde sua fundação em 1925, o IHGM tem cumprido com excelência a missão de documentar e proteger a rica história do Maranhão. É uma trajetória construída por homens e mulheres visionários, cujos esforços e paixões criaram as bases sólidas sobre as quais seguimos construindo. Eles compreenderam que a história não é apenas um registro do passado, mas um guia que nos orienta no presente e nos inspira para o futuro. Cada evento, cada publicação, cada encontro promovido pelo Instituto é, antes de tudo, uma celebração desse legado, um elo vivo que conecta nosso passado glorioso com os desafios e oportunidades do presente. Ao longo de 2024, fortalecemos nossos projetos e ampliamos nosso alcance. Realizamos palestras, exposições e publicações que ressoaram dentro e fora do Maranhão, reafirmando nosso compromisso com a disseminação do conhecimento histórico e cultural. Cada uma dessas ações reforça o papel do IHGM como um espaço inclusivo e democrático, onde ideias se encontram e onde diferentes vozes têm a oportunidade de dialogar, aprender e ensinar. Como Diretora de Serviços de Divulgação, é com imensa honra que contribuo para tornar visível o trabalho do IHGM. Minha missão é levar adiante essa história, conectando-a com novos públicos, utilizando ferramentas modernas e garantindo que nossa mensagem alcance todos os cantos, desde as cidades mais movimentadas até os vilarejos mais distantes do Maranhão. A tecnologia, nesse sentido, tem sido uma grande aliada, permitindo-nos expandir nossas fronteiras e levar a riqueza de nosso trabalho a lugares que antes pareciam inalcançáveis. Os 99 anos do IHGM representam mais do que um marco cronológico; são uma prova do que podemos alcançar quando trabalhamos juntos por um objetivo comum. Cada associado, pesquisador, colaborador e parceiro que passou por esta instituição deixou sua marca, contribuindo para que o IHGM se tornasse o que é hoje: um símbolo de resistência, resiliência e relevância cultural. Cada nome, cada esforço e cada iniciativa ecoam no tempo, lembrando-nos de que fazemos parte de algo muito maior do que nós mesmos. Estamos à beira de um momento extraordinário: o centenário do IHGM, que será celebrado em 2025. Esta data será mais do que uma comemoração; será uma oportunidade de reafirmarmos nossa missão, de projetarmos novas metas e de inspirarmos futuras gerações a continuar este trabalho. Estamos planejando ações que honrarão nosso passado, celebrarão nosso presente e abrirão caminhos para o futuro. Queremos que todos se sintam parte dessa celebração, pois o IHGM é, acima de tudo, um patrimônio coletivo, um espaço que pertence a todos os maranhenses. Quero aproveitar este momento para agradecer profundamente a cada um de vocês que, de alguma forma, contribuem para a continuidade dessa história. Aos associados que participam ativamente de nossas atividades; aos pesquisadores que mergulham em nossos acervos para revelar tesouros escondidos; aos colaboradores que dedicam tempo, talento e energia para fortalecer nossas iniciativas; e a todos os admiradores e amigos do IHGM que, mesmo à distância, nos apoiam e se inspiram por nosso trabalho. Vocês são a essência desta instituição, e é graças a vocês que podemos olhar para o futuro com tanto otimismo.
Encerro esta mensagem com um desejo sincero de que 2025 seja um ano de grandes realizações para todos nós. Que possamos continuar avançando, construindo pontes entre o passado e o presente, e inspirando novas gerações a valorizar a história e a cultura do Maranhão. Que a celebração de nossos 99 anos seja um prelúdio para o centenário grandioso que nos aguarda e que cada um de vocês se sinta parte dessa jornada. Deixo também meus votos de um Feliz Ano Novo! Que 2025 seja repleto de saúde, paz, prosperidade e momentos significativos. Que seja um ano de união, aprendizado e transformação, onde continuemos a construir, juntos, uma história que nos orgulha e que inspira o mundo. Viva o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão! Viva o Maranhão! Viva a história que nos une e o futuro que juntos construiremos! Com profunda gratidão e entusiasmo, Rita Ivana Barbosa Gomes Diretora de Serviços de Divulgação Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
ANIVERSARIANTES
PRESIDENTE EM AÇÃO MEMBROS DA ALL, CONDUZIDOS POR SEU PRESIDENTE, O CONFRADE SANATIEL DE JESUS PEREIRA FORAM RECEBIDOS PELO MAGNÍFICO REITOR DA UFMA, O PROF. FERNANDO CARVALHO SILVA. O OBJETIVO PRINCIPAL DESTE ENCONTRO FOI APRESENTAR A ALL PARA O REITOR DA UFMA E FIRMAR PARCERIAS PARA O BOM DESEMPENHO DE NOSSAS ATIVIDADES. A CONFREIRA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO FEZ UMA EXCELENTE EXPLANAÇÃO SOBRE NOSSO SODALÍCIO E DOOU UM LIVRO DE SUA AUTORIA SOBRE A HISTÓRIA DA ALL, AO REITOR.
IHGM PRESTIGIA XIX SEMINÁRIO INTERNACIONAL, MULHER E LITERATURA NO RIO O evento reuniu autoridades de vários países durante os dias 14 a 17 de outubro em Niterói-RJ e principais pesquisadoras da crítica literária feminista nacional e internacional Por: Alberto Pessoa (novaimagemrevista.com.br) O IHGM - Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão -, marcou presença no XIX Seminário Internacional, Mulher e Literatura no Rio de Janeiro nos dias 14 a 17 deste. A Instituição Maranhense foi representada pela Presidente Dilercy Adler, pela sócia efetiva, Diomar das Graças Motta e pelas sócias correspondentes do IHGM, Renata Barcellos (RJ) e Algemira de Macedo Mendes (PI), que apresentaram trabalhos no decorrer da programação. O XIX Seminário Internacional Mulher & Literatura foi organizado pelo GT da Anpoll “A mulher na literatura: crítica feminista e estudos de gênero”, pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Contou com 12 Simpósios temáticos e 300 trabalhos apresentados. Por ocasião de uma visita guiada ao Museu do IHGB Dilercy Adler agendou com o presidente do IHGB, Victorino Chermont, uma visita ao Instituto em São Luís.
Estiveram presentes na reunião com o Presidente do IHGB, Dilercy Adler, Diomar das Graças Motta, Eurídice Hespanhol (sócia correspondente do IHGM e Presidente da UBE-RJ) e Renata Barcellos que também transmitiu o seu Programa "Pauta Nossa" da sede do IHGB, que teve como primeiros entrevistados, Victorino Chermont, as professoras Dilercy, Diomar e Eurídice. "Foram dias de muitas atividades, ricos contatos e aprendizados", destacou Dilercy. O tema geral do Seminário foi Discursos Transdisciplinares, voltado para leituras de textos literários e outras manifestações artísticas produzidas por mulheres cis e trans, para a crítica literária feminista e para os estudos de gênero, sexualidades e suas intra/interseccionalidades. A programação desta edição contemplou aproximadamente trabalhos...https://www.facebook.com/share/p/4mYMkjekKReTdGP2/
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apresentações
de
O IHGM está compartilhando o seu stand com a AMT e a ABROL. A Presidente da AMT, Wanda Cunha é Sócia Efetiva do IHGM e o Presidente da ABROL, Prof. José Augusto é o Vice - Presidente do IHGM.
na FeliS, no Show Musical de Socorro Lira, finalmente ela recebeu a Medalha "Maria Firmina", a mais alta honraria da ALL, que foi a ela outorgada, ainda em 2022, por ocasião da comemoração do bicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis
NECESSIDADE DE ALTERNÂNCIA: transmissão da Presidência da SCLB
É com o coração leve e a certeza do dever cumprido que neste momento tenho a honra de passar a Presidência da Sociedade de Cultura Latina do Brasil (SCLB) para Raimundo Colares Ribeiro. Considerando que a residência do presidente e a sede da Sociedade estão intimamente ligadas, entendemos ser oportuna a vez de um estado da Região Norte ocupar a presidência e a sede da SCLB. Assim, Raimundo Colares Ribeiro e o Estado do Amazonas foram indicados pela atual presidente e aprovados por unanimidade pela Diretoria, sendo posteriormente aclamados em Assembleia Geral, no dia 16 de novembro, para assumir a Presidência e a sede da instituição, respectivamente. Em seus 36 anos de fundação, a SCLB teve como 1º Presidente Clério Borges, com sede no Espírito Santo (1988); a 2ª Presidente, Maria Aparecida de Mello Calandra, em São Paulo (2002); a 3ª Presidente, Nina de Almeida, no Rio Grande do Sul (cujo mandato, por motivos de saúde, foi abreviado); e a 4ª Presidente, Dilercy Aragão Adler, no Maranhão. Segundo o nosso Fundador Emérito da SCLB, Joaquim Duarte Batista, (Emérito no sentido de “pessoa com muito conhecimento em determinada área”): Na nossa Entidade não há cotização. Somos uma Entidade Participativa, Solidária, Fraternal e Democrática. [...]. Queremos um padrão de cultura brasileira através da união de todos os que por várias formas contribuam para ela. Queremos trabalhar por um Brasil culto. Por um Brasil líder da Cultura.
(Excerto da Carta de Joaquim Duarte Batista, Secretário Executivo da Sociedade de Cultura Latina de São Paulo, para Arnoldo Ferraz de Carvalho Santos, em 8 de outubro de 1988).
Com base nessa assertiva, trabalhamos com desvelo em prol da cultura do Brasil e pela cultura latina, mas sabemos que a alternância da Presidência e da Diretoria são necessárias para a continuidade e o fortalecimento da nossa Instituição. Durante nossa gestão, realizamos três Encontros Nacionais, um Encontro Internacional e duas Antologias (com coautores nacionais e internacionais). O III Encontro Nacional (o primeiro desta gestão) aconteceu em Vitória/ES (2017), em parceria com a SCLES, com Clério Borges como Presidente. O IV Encontro foi realizado em São Luís/MA (2018), na própria sede da SCLB, e o V Encontro está ocorrendo agora em Manaus, com a SCLAM como anfitriã. O III Encontro Internacional (o primeiro desta gestão) foi realizado em Carrazedo de Montenegro/Portugal (2019). A ideia era realizar encontros bianuais, alternando-os entre nacionais e internacionais. No entanto, o V Encontro Nacional da SCLB, planejado para o Rio de Janeiro em 2020, não pôde ser efetivado devido à pandemia da COVID-19. No que se refere às duas Coletâneas Poéticas organizadas e publicadas nesta gestão, ambas trazem o título: “Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil: construindo pontes”, variando apenas a numeração (I e II). Na nossa Apresentação da segunda Coletânea, lançada neste Encontro em Manaus, registramos o seguinte: No art. 1° do seu Estatuto, a Sociedade de Cultura Latina do Brasil se define como "uma entidade civil, sem fins lucrativos, devendo difundir, divulgar e, primordialmente, lutar pela democratização da cultura brasileira.” Em seu parágrafo único explicita: “Por Democratização da cultura entendem-se formas de propiciar educação ao povo brasileiro, de boa qualidade e que atenda a demanda da população.” E entre as suas finalidades, consta a promoção de atividades culturais: literárias, artísticas, esportivas e folclóricas, tendo em vista incentivar e fortalecer a confraternização entre os povos latinos, em particular, assim como entre as demais nações. É este, portanto, o objetivo precípuo desta publicação: “construir pontes” ...pontes entre pessoas, grupos e nações. E essa missão apresenta-se como essencial, considerando o passado na construção da nossa “dita civilização”, e o próprio presente, considerando que ainda hoje alguns países ambicionam impor-se arbitrariamente a dominar outras nações por meio da força material e ideológica. Diante disso, é importante exortar a necessidade de paz, pois ao construirmos pontes, elos, entre os povos, almejamos que a intolerância, o individualismo, a cupidez, o culto ao dinheiro e ao poder, que dele advém, se diluam. Nessa construção está incluído o amor à natureza, o cuidado com as matas, as águas de rios e oceanos e com a atmosfera; tudo, enfim, que constitui o ecossistema do planeta terra, porque ele também se rebela frente ao uso inadequado da sua riqueza que nos é ofertada gratuitamente. Assim, achamos por bem, e até inspirados no contexto ambiental deste rico e glamouroso estado do Amazonas, dedicar esta nossa produção literária aos povos originários, tão explorados ao longo da construção da vergonhosa e controvertida história da humanidade.
Temos a certeza do dever cumprido! Temos a certeza do nosso amor à Sociedade de Cultura Latina do Brasil, à qual pertencemos desde 1997, com a fundação da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão. Agradeço à Diretoria Executiva, à Diretoria Fiscal e aos Presidentes Honorários de Portugal e Cabo Verde pelas parcerias nas ações realizadas ao longo destes 11 anos (2013-2024). Minha gratidão à Diretoria Executiva: Vicente Alencar (CE), Magnólia Pedrina Silvestre (ES), Gaetano Laertes Pereira Antonaccio (AM), Raimundo Colares Ribeiro (AM), Raimundo Nonato Serra Campos Filho (MA), João Roberto Vasco Gonçalves (ES), Jucey Santos de Santana (MA), Renata da Silva de Barcellos (RJ), Arlindo Nóbrega (SP). Também à Diretoria Fiscal: Ângela Lino de Jesus Veríssimo (ES), Soemia Pimentel Cypreste (ES), Breno Bonni (PR). E a Antônio Luiz Alves (Tony Alves), Presidente Honorário da Sociedade de Cultura Latina do Brasil para a Região Norte de Portugal, e Bernardina de Oliveira Salústio (Dina Salústio), Presidente Honorária da Sociedade de Cultura Latina do Brasil em Cabo Verde.
Parabéns, Presidente Raimundo Colares! Parabéns, Amazonas! Parabéns, Brasil! Viva a Sociedade de Cultura Latina do Brasil!
Manaus, 16 de novembro de 2024. Dilercy Aragão Adler
Relançamento do Livro Fragmentos de uma vida, de Nascimento Moraes Filho
CONFRATERNIZAÇÃO ALL
O PROCESSO DE CRIAÇÃO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE ALCÂNTARA Da importância das Instituições Culturais As Academias de Letras e os Institutos Históricos e Geográficos, em sua essência, têm a função de resguardar e disseminar o saber acumulado ao longo da história. Essas instituições são espaços de preservação de documentos, memórias e narrativas que constituem a identidade cultural e histórica de uma região ou país. Além disso, elas promovem a reflexão intelectual e científica sobre temas como literatura, história, geografia e outras áreas do conhecimento, ao reunir especialistas, escritores e pensadores. Assim, as entidades privadas, sem fins lucrativos, são fundamentais para a educação e para a formação de novas gerações de pesquisadores, escritores e artistas, ao promover eventos, palestras, publicações e outras atividades que incentivam o debate e o aprofundamento de temas culturais e científicos. Elas também desempenham um papel relevante na construção de um campo de referências que ultrapassa o academicismo, influenciando diretamente a sociedade em sua compreensão do passado e da produção intelectual do presente, com o objetivo de projetar-se para o futuro. A importância dessas instituições é, portanto, multidimensional: elas preservam o legado histórico, criam espaços de reflexão e formação intelectual, fomentam a educação e atuam como promotoras do desenvolvimento cultural local e nacional. Fundar uma instituição cultural privada, sem fins lucrativos, como um Instituto Histórico e Geográfico, representa um grande ganho intelectual e educacional para a população local e para além dela, mas também um esforço significativo. As dificuldades que se impõem vão desde burocracias e questões financeiras até a criação de um impacto duradouro na sociedade. Das Dificuldades de Fundar uma Instituição Cultural Sem Fins Lucrativos Apesar da relevância indiscutível dessas iniciativas, fundar e manter uma instituição cultural privada sem fins lucrativos enfrenta uma série de dificuldades, como mencionado anteriormente. Pode-se afirmar que a captação de recursos financeiros constitui uma das maiores barreiras para qualquer projeto dessa natureza. O financiamento público para a cultura, especialmente em países emergentes, ainda é inadequado, talvez em virtude de o desenvolvimento econômico, social e tecnológico não estar plenamente consolidado no mercado internacional, somado à falta de vontade política, como é o caso do Brasil. Em consequência, as instituições privadas dependem de doações, patrocínios e apoio de membros para se sustentarem, pois o financiamento público, na maioria das vezes, é limitado ou inexistente. A gestão administrativa também se apresenta como um desafio constante. Administrar uma instituição sem fins lucrativos exige um planejamento cuidadoso, com a implementação de processos claros e transparentes, que garantam a continuidade do trabalho, a divulgação de suas ações e a responsabilidade sobre os recursos. A falta de uma estrutura profissionalizada pode comprometer a qualidade das atividades desenvolvidas e a imagem da instituição. Outro obstáculo significativo é o engajamento da sociedade. Para que uma instituição cultural se torne relevante e eficaz, é fundamental que ela consiga atrair e engajar não apenas intelectuais e pesquisadores, mas também o público em geral. Isso exige estratégias de divulgação eficazes, criação de eventos de impacto e a capacidade de estabelecer uma conexão com diferentes públicos, o que pode ser desafiador sem uma rede de apoio consolidada. Além disso, a legislação e os aspectos burocráticos representam uma barreira adicional, pois é necessário lidar com uma série de regulamentações jurídicas, fiscais e administrativas para a constituição e manutenção da instituição. O cumprimento dessas exigências pode ser complexo e exigir um conhecimento profundo do sistema jurídico e tributário, especialmente quando se busca isenção de impostos ou outros benefícios fiscais típicos das organizações sem fins lucrativos.
Por fim, as instituições culturais, especialmente as que se dedicam a áreas como a literatura, a história ou a geografia, podem enfrentar o desinteresse de uma parte da população. Em uma sociedade cada vez mais voltada para a tecnologia e a instantaneidade, há o risco de que temas como a preservação da memória histórica ou o debate literário sejam vistos como secundários ou distantes da realidade cotidiana. Isso pode representar um desafio para a relevância e a longevidade da instituição. Isso posto, entende-se que fundar uma instituição cultural privada sem fins lucrativos, como uma Academia de Letras ou um Instituto Histórico e Geográfico, é uma ação de grande importância para a sociedade, pois contribui para a preservação da cultura, da memória histórica e da reflexão intelectual. No entanto, esse tipo de iniciativa enfrenta diversas dificuldades, como a captação de recursos, a gestão administrativa, o engajamento do público e as barreiras legais. Superar esses desafios exige dedicação, planejamento estratégico e o envolvimento de diversos setores da sociedade, para garantir que essas instituições possam continuar cumprindo sua missão de preservar e promover a cultura para as futuras gerações. Sobre o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM Após a fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) em 1838, o Instituto de História e Geografia do Maranhão, como era então chamado, foi o 16º a ser criado no país, dos quais 09 (nove) estavam no Nordeste, 01 (um) no Norte e 06 (seis) nas demais regiões. Antônio Lopes, sócio fundador, secretário perpétuo e patrono do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, nos anos de 1920 a 1925, declarou a premente necessidade de criação de uma associação científica, trazendo programas de estudo das tradições e da terra do Maranhão e assuntos vitais relativos a essas questões, coordenando, desse modo, os esforços dos que se ocupassem de tais pesquisas. Após algumas tentativas frustradas de criação da referida instituição, Antônio Lopes tomou para si essa iniciativa e relata a esse respeito em seu livro Antônio Lopes: estudos diversos: Em 1925, tomei a iniciativa de reunir alguns homens de boa vontade na livraria de Wilson Soares, expondo-lhes a minha ideia de se comemorar o centenário do nascimento de Dom Pedro II com a inauguração, nesta capital, de um instituto de História e Geografia. Os que prestaram apoio à ideia foram: Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilson Soares e José Ferreira Gomes. Mais tarde, incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de São Luís, apoiaram fortemente a ideia Raimundo Lopes, Fran Paxeco, Carlota Carvalho e Antônio Dias, que também foram considerados sócios fundadores do Instituto (LOPES, 1973, p. 110). Convém esclarecer que 1925 foi considerado um ano significativo para a concretização do desejo de fundação do Instituto Histórico no Maranhão, por se materializar uma forma de homenagear o Imperador Dom Pedro II: a comemoração do seu centenário de nascimento, em 02 de dezembro do referido ano. Desse modo, em 20 de novembro, foi realizada a sessão inicial, que teve como presidente da Assembleia Geral José Ribeiro do Amaral, na qual foi apresentado, discutido e votado o Estatuto, e eleita a primeira diretoria, cujo presidente foi Justo Jansen. A data escolhida para a realização da primeira sessão cívica dessa nova sociedade e, portanto, sua inauguração, foi o dia 02 de dezembro, em homenagem ao centésimo aniversário de nascimento do Imperador. A cerimônia ocorreu no Salão da Câmara Municipal de São Luís, às 10 horas da manhã. Sobre Alcântara Alcântara é uma cidade encantadora e consagrada, com 376 anos de história. Sua fundação remonta a 22 de dezembro de 1648, quando a aldeia Tapuitapera (antiga tapera dos Tapuias) foi elevada à categoria de vila, recebendo o nome de Vila de Santo Antônio de Alcântara. No entanto, é pertinente enfatizar que, originariamente, a aldeia Tupinambá correspondia à antiga aldeia dos índios Tapuias, etnia rival, que foram
expulsos pelos Tupinambás (subgrupo dos Tupis). A denominação de Vila de Santo Antônio de Alcântara. O nome Alcântara é de origem árabe: Al = A, Kantara = Ponte e remete a uma antiga ponte romana situada nos arredores de Lisboa, cidade de origem do donatário da capitania de Cumã, Antônio Coelho de Carvalho. Em 1836, Alcântara foi elevada à categoria de cidade e prosperou progressivamente em todos os setores, tornando-se o maior centro produtor do Maranhão, com grandes fortunas à época, constituindo a aristocracia rural agroexportadora de algodão, inclusive devido ao elevado número de escravos, vivendo assim um longo período de grandiosa ascensão no final do século XVII, chegando a "rivalizar" com São Luís. Por possuir um conjunto arquitetônico e urbanístico com características do século XVIII, em 1948, a cidade foi tombada pelo IPHAN e, nesse mesmo ano, recebeu o título de Cidade Monumento Nacional. Em 2004, o IPHAN passou a considerar o patrimônio de Alcântara como de valor cultural, histórico, artístico, paisagístico, urbano e arqueológico. Foram tombados 400 imóveis, datando de meados do século XVII até quase o final do século XIX. São pujantes os dados históricos de Alcântara, mas o que me move hoje é o desejo de traçar um paralelo entre o tempo da fundação desta cidade e o da criação do seu Instituto Histórico e Geográfico. Nesse contexto, se registra uma diferença de mais de 376 anos. O mesmo aconteceu com São Luís, em que existe uma diferença de 401 anos entre a fundação da cidade e a fundação da sua Academia de Letras, especialmente quando as duas cidades são berços de muitos intelectuais, e observa-se na história de ambas, em diferentes momentos, o desejo de alguns intelectuais de fundar as Academias em suas cidades. É pertinente pensarmos na importância das instituições culturais em uma cidade, um estado, um país, pois, juntamente com as instituições educacionais, corroboram a consolidação da soberania do país, por meio de um povo dotado de conhecimento para garantir sua autonomia, atrelada a uma ética humanizada. A cidade de Alcântara, no Maranhão, é um exemplo marcante da interseção entre história, cultura e modernidade no Brasil. Sua relação com a escravidão está fortemente ligada ao período colonial, quando grandes fazendas de açúcar, que utilizavam mão de obra escrava africana, dominaram a economia local. Isso resultou na construção de uma base cultural rica e multifacetada, cuja herança é visível nas tradições e manifestações artísticas que até hoje caracterizam a cidade. Alcântara é um ponto de confluência do legado dos povos originários e dos descendentes afro-brasileiros, com destaque para os quilombos e as aldeias indígenas que preservam saberes, costumes e histórias que remontam aos tempos da escravidão e da resistência. Essas comunidades têm sido fundamentais na preservação da identidade cultural da cidade, com festas, danças e rituais que refletem essa ancestralidade. Entretanto, a cidade não é apenas um repositório de memória histórica. A presença do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) acrescenta uma camada de modernidade ao município. Este centro espacial é um dos mais importantes do Brasil, oferecendo uma posição geográfica privilegiada, próxima à linha do Equador, o que potencializa a eficiência dos lançamentos de foguetes. O CLA tornou-se um motor de desenvolvimento econômico e tecnológico, ao mesmo tempo que suscitou debates sobre a convivência entre as necessidades de modernização e os direitos das comunidades tradicionais locais. Em Conclusão Do exposto, Alcântara se configura como um rico local de memória histórica, onde a convergência do legado cultural afro-brasileiro e indígena coexiste com os avanços da ciência e da indústria aeroespacial, tornandose, assim, um espaço/objeto privilegiado para estudos e pesquisas, enriquecendo a construção de conhecimentos em diversas áreas do saber. Para finalizar, lembramos que o Maranhão tem 217 municípios e apenas 15 Institutos Históricos e Geográficos. Por essa razão, traçamos entre as Estratégias de Ação do Plano de Gestão desta Diretoria, desde 2021: • Incentivo, fomento e assessoramento à criação de Institutos Históricos e Geográficos no Maranhão, interiorizando assim a pesquisa e o estudo da História, Geografia e das Ciências afins.
• Fortalecimento das relações com os Institutos Históricos do Estado, também com os Institutos do Nordeste e os Nacionais, e com as instituições de natureza, finalidade e caráter semelhantes, assegurando o diálogo e a colaboração mútua nos interesses comuns, estabelecendo e fortalecendo parcerias. Assim, hoje podemos comemorar o marco inicial da realização de um grande feito: a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Alcântara, com o objetivo de ser mais um guardião da rica história e do patrimônio material e imaterial do Estado. São Luís 20 de dezembro de 2024. Dilercy Aragão Adler Presidente do IHGM
ACONTECEU INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO- IHGM. Comemoração dos noventa e nove anos do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Registro das atividades do dia 21 de novembro em comemoração dos 99 anos do IHGM. II Encontro de Institutos Históricos e Geográficos do Estado do Maranhão II Encontro de Sócios Correspondentes do IHGM.
DISCURSO PROFERIDO PELA PRESIDENTE DILERCY ARAGÃO ADLER NA SESSÃO SOLENE COMEMORATIVA DO ANIVERSÁRIO DE 99 ANOS DE FUNDAÇÃO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO (IHGM), CASA DE ANTÔNIO LOPES, EM 20 DE NOVEMBRO DE 2024 Excelentíssimo Senhor Governador em exercício, Vice-Governador do Estado do Maranhão, Prof. Dr. Felipe Costa Camarão; Digníssima Senhora Professora Doutora Mônica Picolo Almeida, representante do Magnífico Senhor Reitor, Professor Doutor Walter Canales Santana, Magnífico Reitor da Universidade Estadual do Maranhão; Digníssimos Membros das Academias de Letras e dos Institutos Históricos e Geográficos; Saúdo também a todos os presentes nesta solenidade, agradecendo pela honra de sua presença. Caríssimos Confrades e Caríssimas Confreiras, Senhoras e Senhores. Hoje, 20 de novembro de 2024, é para o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM, Casa de Antônio Lopes, um dia de grande significação, cuja importância está expressa em nosso Estatuto, no Art. 38, que declara: "A data de 20 de novembro, comemorativa da fundação do Instituto, é considerada a data magna da Instituição." Criar uma instituição cultural no Brasil não é tarefa simples. E se fundar o IHGM foi um grande desafio, mantê-lo vivo e fiel aos seus propósitos ao longo dos anos exige esforço contínuo. Por isso, nesta celebração, é nossa responsabilidade, mas também um prazer, louvar não apenas os fundadores da Casa de Antônio Lopes, mas todas as diretorias que, ao longo desses 99 anos, se dedicaram à preservação e ao fortalecimento de nossa instituição, enfrentando dificuldades e vicissitudes, e sempre com o objetivo de cumprir nossa missão cultural e científica. Em seus 99 anos de existência, o IHGM consolidou sua notabilidade, tornando-se um pilar de cultura e história no Maranhão. Fundado em 1925, após 87 anos da criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), o Instituto de História e Geografia do Maranhão, como era então chamado, foi o 15º a ser fundado no Brasil, destacando-se entre as instituições do Nordeste, Norte e de outras regiões do país.
Conforme recorda Antônio Lopes, um dos sócios fundadores, Secretário Perpétuo e Patrono do IHGM, havia uma forte necessidade de uma associação científica para estudar as tradições e a terra do Maranhão. Lopes ainda relata como, em 1925, reuniu um grupo de intelectuais na livraria de Wilson Soares para idealizar a criação do IHGM, que, naquele ano, se tornaria realidade. Os que prestaram apoio à ideia foram: Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilson Soares e José Ferreira Gomes. Mais tarde incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de São Luís apoiavam calorosamente a ideia Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Carlota Olympia de Carvalho (Carlota Carvalho) e Antônio Dias que também foram considerados sócios fundadores do Instituto. Desse modo, em 20 de novembro, foi realizada a sessão inicial, presidida por José Ribeiro do Amaral, na qual foram apresentados, discutidos e votados o Estatuto e a primeira Diretoria, cuja presidência ficou a cargo de Justo Jansen. A data escolhida para a realização da primeira sessão cívica dessa nova sociedade e, portanto, para sua inauguração, foi 2 de dezembro, em homenagem ao centenário de nascimento do Imperador Dom Pedro II. A cerimônia ocorreu no Salão da Câmara Municipal de São Luís, às 10 horas da manhã. Neste momento, é necessário reconhecer o empenho dos intelectuais que abraçaram o sonho de Antônio Lopes e, com dedicação, fundaram o IHGM, assim como aqueles que continuaram esse trabalho ao longo dos anos, sempre cumprindo sua missão. A história do IHGM é marcada pela contribuição incansável de grandes nomes, como Justo Jansen Ferreira (1925-1930), José Domingues (1930-1933), João Braulino de Carvalho (19331953), Leopoldino Lisboa (1953-1955), Elisabeto Barbosa de Carvalho (1955-1957), Ruben Ribeiro de Almeida (1961-1972), José Ribamar Seguins (1972-1994), Jorge Hédel Ázar (1994-2000), Edomir Martins de Oliveira (2000-2002), Nywaldo Macieira (2002-2006), Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo (20062010), Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo (2010-2014), Euges Silva de Lima (2014-2018), José Augusto Silva Oliveira (2018-2021), que me precederam na presidência e, com o mesmo compromisso, mantiveram a relevância do nosso Instituto. Antônio Lopes, em sua visão perspicaz, reconhecia o Maranhão como uma terra rica em talentos e varões ilustres, mas também lamentava o fato de que, muitas vezes, os maranhenses não prestavam a devida homenagem a seus grandes nomes, nem enquanto vivos, nem após sua morte. Foi em sua memória que nossa diretoria decidiu criar a Comenda Antônio Lopes, com a RESOLUÇÃO - IHGM Nº. 002/2022, a qual visa reconhecer as personalidades e instituições que prestam serviços relevantes à nossa cultura, à ciência e à educação no estado do Maranhão. Nesta celebração, temos a honra de outorgar a Comenda Antônio Lopes a três ilustres personalidades: Dr. Jackson Kleper Lago (in memoriam), Profa. Theresa Soares Pflueger (in memoriam) e Prof. Dr. Felipe Costa Camarão. Esta comenda, a mais alta honraria do IHGM, é um reconhecimento ao trabalho desses cidadãos em prol do nosso Instituto e da cultura maranhense. Hoje, também coroamos a homenagem ao “Patrono do ano de 2024”, Pe. Luís Figueira, Patrono da Cadeira nº 05, do Instituto, atualmente ocupada por Raimundo Nonato Serra Campos Filho. O Pe. Luís Figueira foi um padre jesuíta de grande importância no Brasil colonial, conhecido por suas contribuições linguísticas e por ser um dos primeiros a escrever uma gramática da língua tupi, a partir do contato com os potiguaras, tupinambás, tabajaras e caetés, denominada Arte da Língua Brasilica, impressa pela primeira vez em 1621. Sua trajetória é um exemplo de dedicação ao estudo e à preservação da cultura brasileira, além de também homenagearmos Carlota Carvalho. Ademais, celebramos, neste 20 de novembro, o “Dia da Consciência Negra”, instituído como feriado nacional pela Lei nº 14.759/23, e também o “Dia Nacional de Zumbi dos Palmares”, símbolo da luta e resistência dos negros escravizados. Zumbi é um ícone da nossa história, líder do Quilombo dos Palmares, que resistiu bravamente à opressão e deixou um legado de coragem e liberdade. Embora a frase do ator Morgan Freeman, dita em 2005, sobre a 'Consciência Humana', ainda gere controvérsias — 'O dia em que pararmos de nos preocupar com Consciência Negra, Amarela ou Branca e nos preocuparmos com Consciência Humana, o racismo desaparece' —, quero adicionar a ela uma citação de Martin Luther King, proferida em seu discurso em 28 de agosto de 1963, há 61 anos, diante do Memorial de
Abraham Lincoln, em Washington: 'Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença: manter as raízes da verdade óbvia: de que todos os homens são criados iguais. Este é o sonho de igualdade e liberdade que nos inspira, assim como as palavras de Maria Firmina dos Reis, em seu romance Úrsula, que denuncia a escravidão e nos convoca à reflexão sobre a opressão. Senhor Deus! quando calará no peito do homem a tua sublime máxima - ama a teu próximo como a ti mesmo - e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante [...] [...] As almas generosas são sempre irmãs [..] dia virá em que os homens reconheçam que são todos irmãos. Túlio, meu amigo, eu avalio a grandeza de dores sem lenitivo, que te borbulha na alma, compreendo tua amargura, e amaldiçoo em teu nome ao primeiro homem que escravizou a seu semelhante (REIS,1988, pp.27-28). (Grifos meus). Com essas citações, quero lembrar que existe um fio tênue entre o sonho e a realidade. Sonhos, como os de Ícaro, Zumbi e Martin Luther King, podem se tornar realidade. O caminho para isso exige mais do que esperança; exige ação, compromisso e luta. Como nos ensina Paulo Freire, o esperançar está no agir transformador. Sonhemos e ajamos com a convicção de que um dia, o sonho de Martin Luther King e o de Maria Firmina serão concretizados, e a verdadeira “Consciência Humana” será alcançada. Senhoras e senhores, Estamos reunidos neste auditório do Curso de História da UEMA, em uma celebração grandiosa, e é com alegria que brindamos à vida, ao amor, à paz e à igualdade entre as pessoas. Obrigada!
ESCRITOR LUIZ THADEU É O MAIS NOVO IMORTAL DA ABRASCI
O escritor e colaborador do Portal Só Sergipe, Luiz Thadeu Nunes e Silva, tomou posse, ontem, como imortal do do Colegiado Acadêmico de Ciência Humana. A solenidade ocorreu no Rio de Janeiro e foi bastante prestigiada.https://www.sosergipe.com.br/escritor-luiz-thadeu-e-o-mais-novo-imortal-da-abrasci/
Acadêmicos e Acadêmicas Acredito que os senhores e senhoras já sabem que é na simplicidade que procuro traduzir sentimentos que me enchem o coração, a ponto de transbordar e chegar aos outros. Sem nenhuma vaidade, afirma que me sobram bons sentimentos. Não mínguam os meus recursos de expressão literária produtiva, o que me faz sempre ir em frente com o meu simples sonhos da imortalidade. Apresento, portanto o eu, como realmente o sou. Sou intenso como e deixo transparecer realmente o que sinto e o que almejo. Através dessa, informo minha biografia e obras publicadas ou ainda para publicar. Segue-se: Antonio Guimarães de Oliveira, nasceu no povoado Lago Limpo, município de Lago Verde, Estado do Maranhão. Professor, lecionando História, Filosofia e Ética. É especialista em Educação Ambiental pela Fundação Getúlio Vargas. Livros publicados O Algodão no Mearim: É uma análise acerca do algodão pelo enfoque dos migrantes nordestinos que se instalaram nas cidades do vale rio Mearim, evidenciando-se o plantio e a comercialização do “ouro branco”. O Parto da Insônia: Proporciona uma visão crítica, cômica e caótica do mundo em que vivemos. Põe o leitor a tirar suas conclusões acerca do mundo contemporâneo. O Arquivista Acidental: Ao longo do livro, imagina o Autor o que podemos realizar e fazer, individualmente e/ou coletivamente, para que tudo isso termine e para que não se repita. O mundo encontra-se repleto de bons intencionados, porém, os resultados são deploráveis: se não somos capazes de tornar mais amena a vida na sociedade de que fazemos parte, o que estamos fazendo aqui? Algodão: Ouro Branco (Tempo e Espaço): Representa o esforço do autor para registrar historicamente a cotonicultura como uma atividade econômica que foi capaz de forjar uma identidade diferenciada para a cidade de São Luís.
A Fuga do Perfume: O existir não é difícil de ser visto. Ele está em qualquer circunstância da vida, basta irmos ao seu encontro. Mesmo estando na escuridão do óbvio, a sabedoria humana fulmina seus segredos. Com este título, Antonio Guimarães de Oliveira faz a sua viagem para um mundo de indagações, numa clarividência bem explícita da vida. Estação Ecológica “Sitio do Rangedor”: uma proposta Educacional. Livro que explica como utilizar racionalmente o Sitio do Rangedor, visando práticas ambientais inclusivas. São Luís: Memória e Tempo: livro que reconta a história dos 400 anos da cidade e suas transformações por meio de bilhetes tipográficos, bilhetes postais, cartões postais, cartões fotográficos e álbuns de lembranças, em 8.500 imagens de diferentes locais. O livro tem registros importantes de grandes desenhistas e gravuristas. É considerado tão importante quanto outros quatros álbuns fotográficos da cidade: o da Tipografia Teixeira (1899), o álbum de Gaudêncio Cunha (1908), o de Godofredo Viana (1923) e o de Miécio Jorge (1950). São Luís em Cartões Postais e Álbuns de Lembranças: muitas foram as transformações de São Luís. Neste livro, o Autor faz uma viagem pelo acervo de grandes colecionadores e fatos ocorridos em São Luís. São imagens do tempo em que reinavam os bondes tracionados por animais, barcos, bailes familiares, surgimento do Tirirical, aviões plainando na Baía de São Marcos, lojas, tecelagens, cinemas, palácio e etc. Pregoeiros & Casarões: documenta o palco ludovicense do início do século XX, através dos gritos de pregoeiros vendendo diversidades – bugigangas, subindo e descendo as ladeiras ladeadas por sobrados e casarões desta amada São Luís. Becos & Telhados: livro que representa a contínua e recorrente viagem do autor ao passado de São Luís, através dos seus logradouros e edifícios históricos, que assim ajudam a contar a história por meio da sua iconografia fotográfica, produzida ao longo dos séculos XIX e XX, a partir da lente e olhar do fotógrafo de “plantão” da época, como um Gaudêncio Cunha; um José Farias; um Henrique Elias Neves; um Costa & Sobrinho; um Manassés; um Amorim; um Dreyfus Azoubel; um Clodomir Pantoja; um José Mendonça; um Ribamar Alves; um Chico Foto Flash; um Fernando Sah; um Foto Nômade, e anônimos e amadores. Este livro vem trazendo também, novos cartões postais não mostrados, das ruas, becos, travessas, largos e avenidas, sempre destacando a duplicidade ou multiplicidade dos nomes das tradicionais e históricas artérias de São Luís do Maranhão; Pêndulos & Fiéis: para os que adoram escritas cartesianas, lineares, retilíneas, autoexplicáveis, unidimensionais, advirta-se: os textos de “Pêndulos & Fiéis” nem sempre desabrocharão seu (s) sentido (s) ao primeiro ataque dos olhos. Nem sempre se desvelarão ao primeiro roçar dos dedos pelas páginas. Não haverá amor à primeira vista... Adagas & Punhais: na presente obra, o autor aborda o modo de vida no Nordeste brasileiro, como sendo: Os Clãs, Cangaceiros, Volantes, Maçons militares que combateram Lampião, Coronéis com patentes, sem patentes, Interventores, Chefes Políticos, Coluna Prestes, Potentados, Rábulas, Tabeliões, Beatos, Messiânicos, Padres, Prisões, Desobrigas, Retratistas, Sitiantes, Estafetas, Eugenia, dentre outros, onde são definidos fatos históricos. Trata-se de um livro complexo e detalhista, com fontes primárias, orais, onde há análise, sem qualquer peso em uma virtual balança “imprecisa”, e sem pender a qualquer um dos lados. As respostas e os questionamentos, são interpretados em conformidades com a História, cabendo o leitor efetuar seu julgamento, e formular seu veredito. São 556 páginas de pesquisas que consumiram doze anos da minha vida, em andanças no Maranhão e em todo Nordeste brasileiro, inclusive na Grota do Angico. Nesse livro, entendo que na sua maioria, os personagens são Adagas ou Punhais, daí título. Coautor dos livros HERANÇA LITERÁRIA: traduz o sentimento e a sensação de pertencimento que se encontra embutido na envolvente subjetividade;
REPÚBLICA DOS TEXTOS: produções literárias impecáveis, que encantam os leitores com muita leveza; UM TRIBUTO A TOM JOBIM: homenageia este poeta - um dos maiores contemporâneos do Brasil; NAS NUVENS: além de compartilhar a subjetividade e conhecimento humano, seleciona as ideias borbulhantes de temas universais; 500 ANOS DO NASCIMENTO DO PRÍNCIPE DOS POETAS – CAMÕES: serve como um ponto entre o passado e o presente. Justa homenagem à imortalidade ao grande poeta universal; QUE SEJA INFINITA ENQUANTO DURE... (UMA HOMENAGEM AO POETA VINÍCIUS DE MORAES): mostra toda a genialidade, sensibilidade e legado do multifacetado artista; 122 POETAS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE: reúne 122 poetas do Brasil e Portugal, visando mostrar através de poemas, o legado do maior poeta contemporâneo do Brasil; GUERREIRAS LITERÁRIAS: evidencia poetas ou poetisas que abriram caminho na literatura brasileira. Obra extremamente poética e pioneira; CANGAÇO EM PERSPECTIVA (O SERTÃO EM LUTAS): tem como principal objetivo a preservação da memória do sertão nordestino brasileiro; SERTÃO DE BRAVOS: o homem nordestino e suas origens, mesmo antes de possuírem habilidades para abstrair e conceituar a natureza. Complexo e repleto de linguagens do nordeste brasileiro; OS PATRONOS DA ACADEMIA MAÇÔNICA MARANHENSE DE LETRAS: Livro biográfico, que descreve os feitos de todos os patronos da Academia Maçônica Maranhense de Letras. Um livro de pesquisa. Livros a publicar A Luz, O homem, Gurupi e sua aldeia, Insurreição no arquivo, Sobrados & palacetes, Sítios & chácaras, Rapazinhos & capitães, Extermínios & dois, O físico e o general, Pedreiros & faiscadores, Solidão & cárcere, Raiz & prefácio, Mariposas & rufiões, O senhor da razão, Estações & trens, Última pedra, Babilônia & Sião, Massada & Álamo, Chão descoberto, Sociedade de ombros vencidos, Tribos & aldeias, Gaiolas nos dedos, Os setes rosados do Apocalipse. Artigos publicados Publicou inúmeros artigos nos jornais Tribuna do Nordeste, Jornal Pequeno, Folha do Maranhão e Gazeta do Povo, O Imparcial, Estado do Maranhão. Atualmente publica artigos, crônicas e poemas em sua coluna no facebook: Antonio Guimarães de Oliveira Guimarães e no Instagram: Antonioguimaraes355, e além dos mencionados trabalhos, desenvolve pesquisas sobre a história do Brasil e do Maranhão. Pertence à AMEI - Associação Maranhense de Escritores Independentes, associação que surgiu da vontade de vários escritores independentes maranhenses, sempre com o espirito de renovo da Athenas Brasileira. Ocupa a cadeira nº 09 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, como sócio efetivo, que tem como patrono o Historiador Bernardo Pereira de Berredo e Castro Mediante tudo que escrevi, solicito seu voto, cadeira n° 04, antes ocupada por Joaquim Itapary. Ergamos as nossas taças num brinde a essa vida de mortal, no qual se busca a felicidade em sua plenitude. Atenciosamente, Antonio Guimarães de Oliveira
Cinco Curiosidades sobre Agenor Gomes Semana de mais homenagens a maranhenses no quadro Curiosidades sobre Escritores, desta vez, o escritor, pesquisador e Juiz de Direito, Agenor Gomes:
Agenor Gomes é maranhense, nascido na cidade de Guimarães.
Escritor, Pesquisador e Juiz de Direito. Graduado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e Pós-graduado em História e Cultura no Brasil (UNESA). É presidente da Comissão Permanente de Avaliação Documental do Tribunal de Justiça do Maranhão. Foi prefeito de Guimarães (1989-1992).
Fundador da "Folha de Guimarães" (1981). Presidente da Academia Vimaranense de Letras, Artes e Ciências. Membro fundador e titular da cadeira de número seis do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães (MA). Membro titular do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.
Em março de 2023, recebeu menção honrosa no prêmio Luiz Alves Ferreira de Promoção à Diversidade e Combate à Discriminação do Tribunal de Justiça do Maranhão, como reconhecimento às contribuições para as ações institucionais realizadas no fortalecimento da Política Judiciária de promoção da Diversidade e Antidiscriminação.
Autor de "Maria Firmina dos Reis e o cotidiano da escravidão no Brasil", editado pela Academia Maranhense de Letras (AML) e lançado em 2022. https://www.instagram.com/p/DAYtc5Qp7-_/?igsh=eGp1ZmVlM2N4MTZl
SERTÃO DE BRAVOS Com grande alegria, recebi da Academia Brasileira de Estudos do Sertão Nordestino - ABRAES, a antologia: Sertão de Bravos, da qual sou coautor. Trata-se de uma coletânea com grandes nomes da literatura brasileira. Agradeço a todos os confrades, em especial ao nosso Presidente Leonardo Gominho. Muito obrigado. ANTONIO GUIMARÃES DE OLIVEIRA. DATA:06.10.2024. SÃO LUÍS-MA).
Lançamento do novo livro do escritor confrade Nataniel Nogueira, Engenheiro Agrônomo, sócio correspondente do IHGM, na data de 23/10, no espaço da Livraria AMEI. O escritor Nataniel Nogueira traz agora com Vintém de ouro algo diferente na literatura brasileira numa descontraída conversa entre o avô e seus netos, falando de diversos assuntos, numa bela conversa entre gerações.
TEMA: XIII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO IESB Título: As Relações Brasil - África: Quais as Janelas de Oportunidades? Data: 30/10/2024 Horário: 15h00 🇧🇷 / 20H00 🇲🇿 Com transmissão pelo Link: https://meet.google.com/aai-xdjs-dge
ASSEMBLEIA CONCEDE MEDALHA ‘MANUEL BECKMAN’ A JOSÉ MÁRCIO LEITE AUTORIA DA PROPOSIÇÃO FOI DO DEPUTADO ARNALDO MELO
Homenagem da Assembleia Legislativa do Maranhão ao médico José Márcio Leite Soares |Facebook|Twitter|Whatsapp|Email Agência Assembleia A Assembleia Legislativa do Maranhão concedeu, em sessão solene realizada nesta quinta-feira (24), a Medalha do Mérito Legislativo 'Manuel Beckman' ao presidente da Academia Maranhense de Medicina (AMM), médico, escritor e professor José Márcio Soares Leite. A autoria da proposição foi do deputado Arnaldo Melo (PP). Participaram do evento autoridades, profissionais da área da saúde, professores, acadêmicos, dirigentes de entidades, amigos e familiares do homenageado. O ato solene foi presidido, alternadamente, pelos deputados Arnaldo Melo e Jota Pinto (Podemos), com a presença dos deputados Vinicius Louro (PL), Zé Inácio (PT) e Davi Brandão (PSB).
Homenagem foi proposta pelo deputado Arnaldo Melo, que disse se sentir privilegiado em poder entregar a Medalha 'Manuel Beckman' a José Márcio Leite Compuseram a mesa de honra, dentre outras autoridades, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM/MA), José Albuquerque de Figueiredo Neto; o corregedor do CRM/MA, Cláudio de
Rezende Araújo; a conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão (TCE/MA) Flávia Gonzales Leite; o ex-deputado estadual Fábio Braga; a ex-deputada estadual Helena Helluy; a ex-prefeita de São Luís e ex-deputada estadual Conceição Andrade; a ex-prefeita de São Luís Gardênia Gonçalves e o ex-reitor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Natalino Salgado.
José Márcio Leite proferiu emocionado discurso de agradecimento, no qual dirigiu agradecimentos, em especial, ao deputado Arnaldo Melo e à presidente da Alema, deputada Iracema Vale Reconhecimento Na saudação ao agraciado, Arnaldo Melo disse se sentir privilegiado em poder render homenagem ao médico José Márcio Leite, cujo trabalho em favor da causa da saúde transcendeu os limites do Maranhão. “Esta Casa, por unanimidade, aprovou a concessão dessa que é a maior honraria do Poder Legislativo Estadual ao Dr. José Márcio Soares Leite. É um reconhecimento e uma forma de agradecer pelos relevantes serviços por ele prestados ao Maranhão e ao Brasil no exercício dos diversos cargos públicos exercidos, dentre eles, o de secretário municipal de Saúde de São Luís, secretário de Estado da Saúde do Maranhão e coordenador do Curso de Medicina da Universidade Ceuma. É uma homenagem revestida de justiça e reconhecimento”, ressaltou. “É um reconhecimento por ele ser um homem público que tem prestado serviços especialmente à saúde maranhense. Foi com ele que municipalizamos a saúde em São Luís e enfrentamos outros grandes desafios na área. Esse é um momento de reconhecimento”, afirmou a ex deputada e ex-prefeita de São Luís Conceição Andrade.
Diversas autoridades participaram da homenagem, incluindo deputados, ex-deputados, ex-prefeitos e colegas de profissão de José Márcio Leite Agradecimento José Márcio Soares Leite proferiu discurso no qual dirigiu agradecimentos, em especial, ao deputado Arnaldo Melo e à presidente da Assembleia, deputada Iracema Vale (PSB), bem como aos demais parlamentares. “Este momento é, sem dúvida, um dos marcos mais significativos da minha trajetória de vida, tanto pessoal quanto profissional. Ser condecorado com a maior distinção concedida por esta Casa muito me honra. Meu sentimento de gratidão à Assembleia pelo reconhecimento ao trabalho de toda uma vida dedicada à saúde pública, sem favorecimentos indevidos, mas com um lastro científico e moral”, disse José Márcio Leite Soares. Trajetória José Márcio Soares Leite é graduado em Medicina pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professor aposentado do Departamento de Saúde Pública da UFMA. Médico auditor aposentado do Ministério da saúde. Dentre outros cargos, foi secretário municipal de Saúde de São Luís, secretário de Estado da Saúde do Maranhão, diretor de Planejamento do Hospital Universitário da UFMA e presidente da Comissão Inter Gestores Bipartite do Maranhão. É membro do Conselho de Gestão Estratégica das Políticas Públicas do Governo do Maranhão. Atualmente, exerce o cargo de professor de pós-graduação da Universidade Ceuma.
Palestra DUQUE DE CAXIAS: UM CORAÇÃO MAIOR QUE O MUNDO, ministrada pelo Acadêmico José Augusto SilvaOliveira, no dia 30/10/2024, na Livraria AMEI, pela Academia maranhense de ciências, letras e artes militares- AMCLAM. Na ocasião também foi lançamento do livreto do mesmo tema .
Vídeo do WhatsApp de 2024-10-26 à(s) 11.04.12_dc579047.mp4
Explore o Rio de Janeiro do século XIX como você nunca viu! Em Rio de Janeiro: século XIX — Pedro Henrique Miranda Fonseca traz relatos surpreendentes de estrangeiros que ficaram fascinados pela beleza e chocados pelos contrastes da cidade. Uma leitura imperdível para quem ama história, cultura e quer descobrir o Rio além das praias! Garanta o seu e embarque nessa viagem ao passado. #HistóriaDoBrasil #RioDeJaneiro #PedroHenriqueMirandaFonseca #literatura #riodejaneiro #historia #ibislibriseditora #livronovo #ibislibriseditora
Com grande alegria, divulgamos este livro que congrega experiências com acervos de natureza históricoeducativa em diferentes regiões do país. Com prefácio de Rosa Fátima de Souza-Chaloba, as organizadoras Nádia Gaiofatto Gonçalves, Andréa Bezerra Cordeiro (ambas da UFPR) e Simone Burioli (UEL), reuniram contribuições teóricas, e sobretudo práticas, que estão em curso em prol do cuidado e preservação do patrimônio educativo no Brasil. Nas palavras de Rosa Fátima: "Por um lado, o livro oferece um manancial de relatos sobre a constituição e organização de diferentes acervos e o trato com fontes específicas. Por outro lado, de forma transversalizada, são apresentadas diferentes estratégias de divulgação dos acervos e as relações que eles mantêm com a comunidade escolar e/ou com a sociedade local (...) e a potencialidade das instituições de preservação documental em educação desenvolverem atividades articuladas de ensino, pesquisa e extensão. As experiências relatadas perspectivam as múltiplas facetas do cotidiano dessas instituições e os esforços dos envolvidos em um incessante trabalho colaborativo, reflexivo e formativo." Acesse aqui para folhear: https://editoracrv.com.br/produtos/detalhes/38961-crv
ECOMUSEU SÍTIO DO FÍSICO. Nesta manhã, fizemos a primeira reunião ampliada do Projeto de Extensão do edital da Pós-graduação da @ageufmaoficial Una-se Polo Coroadinho, com a presença de vários parceiros da @ufmaoficial, @pgcult1956 , @ufma_prodema, PPGCIN e PPGAC, @sitio_do_fisico , @redecoroadodenatal, Batalhão Flotestal do PArque Estadual do Bacanga, professores, estudantes, lideranças e com a presença do ilustre Prefeito de São Luís, @eduardobraide ! Será um ano de muita construção coletiva e atuação no campo do meio ambiente, sustentabilidade, cultura, sociedade e economia!
ARTIGOS & NOTAS
ÍNDIOS PROTESTANTES NO MARANHÃO COLONIAL: MISSÃO DO IBIAPABA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Centro Esportivo Virtual Em certos períodos do século XVII também fazia parte do Maranhão o Ceará, este último considerado a fronteira natural do Estado do Brasil. Quase toda essa região está localizada a Oeste do meridiano de Tordesilhas, limite que começava a ser francamente ignorado. A partir da França Equinocial, o Ceará (desde o Buraco das Tartarugas – Jericoacoara) passou compreender parte do Maranhão, o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Grão-Pará. Quando é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, separado da jurisdição do Estado do Brasil, a região do Maranhão era conhecida por diversos nomes ou títulos: 'terra do rio das Amazonas', 'terra dos tupinambás', ou mesmo 'terra dos caraíbas'. Muitas Crônicas, Cartas, Memoriais e Planisférios chegam a representar o Maranhão como uma espécie de 'não-Brasil'. O CABO DE SÃO ROQUE - A FRONTEIRA DAS DUAS COLÔNIAS DA AMÉRICA PORTUGUESA... O BRASIL E O MARANHÃO
“Entendem-se, desde logo, os condicionamentos políticos que a geografia econômica impôs à colonização. Com efeito, a separação entre o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão (1621), cujos limites começavam exatamente na altura do cabo de São Roque, responde ao quadro de ventos e marés predominantes na costa sul-americana: facilidade de comunicações com a Corte e transtorno da navegação litorânea sul-americana levam à criação de duas colônias distintas no espaço da América portuguesa. Na mesma perspectiva, uma das críticas feitas ao estabelecimento do Tribunal da Relação na Bahia (1609) decorria da dificuldade de encaminhar àquele tribunal os pleitos oriundos das outras capitanias, dependentes das monções favoráveis à navegação de cabotagem, “o que dilata muito o despacho dos negócios”. Mais valia enviar os requerimentos das outras capitanias diretamente aos tribunais do reino (p. 59). Correnteza mais rápida de todo o litoral brasileiro, atingindo velocidades de 2,5 nós no costão que vai do cabo de São Roque (Rio Grande do Norte) ao cabo Orange (Amapá), a corrente das Guianas facilitava grandemente a navegação para o Norte. Tamanha é a força das águas rolando nessa área que, mesmo com as velas meio arriadas, navios grandes podiam cobrir em três dias as trezentas léguas separando o cabo de São Roque do porto de São Luís. Em contrapartida, a corrente representava um obstáculo quase intransponível à navegação a vela no retorno do Estado do Maranhão ao Estado do Brasil. Até o advento dos barcos a vapor, nos meados do século xix, só as sumacas — barcaças pequenas de dois mastros — conseguiam sair da Bahia, de Pernambuco, ou mais do Sul, e bordejar na torna-viagem do Pará e do Maranhão. Ainda assim, tudo dependia da sorte (p. 58)”. Fonte: Trecho do Livro “O Trato dos Viventes – A formação do Brasil” de Luiz Felipe de Alencastro. Por João Bosco Gaspar Manuel Guedes Aranha, administrador colonial português que governou o Estado do Maranhão e Grão-Pará de 03 de setembro de 1667 a março de 1668, fala o seguinte: “Fica o Estado do Maranhão correndo do Brazil pela costa de leste, e começa sua demarcação 65 léguas de Pernambuco junto aos baixos de São-Roque em 4 graus e 4 minutos do sul; ficando dali ao Ceará 125 léguas, em 3 graus e 30 minutos do sul. Do Ceará ao Maranhão há 120 léguas,
em 2 graus e 40 minutos latitude do sul, longitude 338. Do Maranhão à barra do Pará vão 228 léguas, em 18 minutos do norte; e dali ao Cabo do Norte, que é a ponta da terra da outra banda em 1 grau e 50 minutos do norte vão 60 léguas, que tem de largo o rio das Amazonas na boca, e do cabo do rio Vicente Pinzon 30 minutos norte, latitude que é aonde chega a demarcação da coroa de Portugal e começa a da Espanha”. (p. 01-02). [01] Fonte: Livro “Papel político sobre o Estado do Maranhão” 1665, Manuel Guedes Aranhão, Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, ano de 1883, Tomo XLVI 1ª parte, Rio de Janeiro, conforme informa João Bosco Gaspar
Pela Bula “Super Universas Orbis Ecclesias”, o Papa Inocêncio XI instituiu o Bispado do Maranhão em 1677. Essa Bula diz que seu território começava no “Cabo do Norte, ao longo do litoral e pelo interior da terra até à Fortaleza do Ceará”. Em Latim: "Capite Nortis, per oram marítima et terram intus, usque ad arcem de Seará"... Até a Fortaleza do Ceará. !!!! A Bula “Inscrutabili Caelestis Patris” de 1725, pela qual o Papa Bento XIII, "desmembrou, separou e dividiu a capitania do Piauhy do bispado de Pernambuco, e a uniu e anexou ao bispado do Maranhão, com todos os benefícios, mosteiros e igrejas do território da dita capitania", diz que, após a incorporação da capitania do Piauhy ao Bispado do Maranhão, a fronteira litorânea do dito Bispado (Maranhão) permaneceu no mesmo
lugar estabelecido pela Bula de 1677, não foi alterada... ou seja, o Bispado do Maranhão ia "até a Fortaleza do Seará". Esse fato foi lembrado pela Mesa da Consciência e Ordens no ano de 1755, quando o Bispo do Maranhão apresentou uma Representação acerca dos limites do seu Bispado. Até o ano de 1755 a "questão da divisão dos bispados da América Portuguesa" ainda não tinha sido resolvida pelo Rei. Havia disputas entre os Bispados do Maranhão e Pernambuco (pela Serra da Ibiapaba), Maranhão e Pará (pelas Minas de São Félix e Natividade, e Rio de Manuel Alves) e Pará e São Paulo (nas terras novas de Goyás). Fonte: Livro “Bullarium Patronatus Portugalliae Regum In Ecclesiis - Tomo II, 1601-1700”, de autoria de Vicecomite (Visconde) de Paiva Manso, Ex Typographia Nationali, Roma, 1870.
As invasões holandesas no Nordeste brasileiro ocorreram durante o século XVII e foram motivadas principalmente pelo interesse dos holandeses no lucrativo comércio de açúcar. A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais liderou essas incursões. A primeira invasão significativa aconteceu em 1624, quando os holandeses ocuparam Salvador, na Bahia, mas foram expulsos no ano seguinte. Em 1630, eles voltaram a atacar, desta vez em Pernambuco, onde conseguiram estabelecer uma colônia que durou até 1654. Entre os anos de 1637 e 1654 os holandeses mantiveram um porto no rio Camocim (rio Coreaú) nas proximidades da atual cidade de Granja. As especiarias recolhidas pelos batavos nos altiplanos da Ibiapaba e na Costa do Ceará, eram enviadas para a Europa via porto do Camocim. A preparação da invasão holandesa foi decidida por documento escrito na cidade de Middelburg, província da Zelândia, pelo commandeur Gideon Morris. Trata-se da Breve descrição do Maranhão, escrita no ano de 1637. Morris era figura bem conhecida entre os diretores da WIC e suas cartas e relatórios resumem muito do que os neerlandeses conheciam sobre a Amazônia. O commandeur havia sido prisioneiro dos portugueses, supostamente permanecendo na região por cerca de oito anos, experiência que garantia um grau de fidelidade na comparação com outras crônicas e relatórios desse período. De fato, durante muito tempo, Morris foi considerado um dos únicos holandeses especialistas em navegação fluvial amazônica de longo curso. Na documentação neerlandesa, ele também é apresentado como habilidoso articulador político, fluente na língua dos nativos e influente junto aos seus principais (Cardoso, 2017). A Breve descrição do Maranhão é um documento que procura explorar certas expectativas sobre a região. Não era a primeira vez que o Heren XIX recebia um documento sobre o tema, mas em
comparação com cartas, relatórios e mapas anteriores, o texto de Gedion apresentava uma vantagem: apesar de não se distanciar muito das fórmulas já encontradas nas crônicas portuguesas e espanholas, não era uma simples reprodução dos argumentos luso-espanhóis, na medida em que seu autor esteve efetivamente naquelas terras. Aliás, este argumento de autoridade, bem comum nos escritos da época, é reivindicado, a todo momento, no texto. Mais do que um relatório, o escrito apresentado ao Conselho Supremo faz uma projeção futura sobre a conquista neerlandesa da Amazônia, suas vantagens e possíveis desafios. Por isso, duas coisas são devidamente enfatizadas: a vocação comercial da região e a importância das nações indígenas em qualquer projeto pensado para o Maranhão e o Grão-Pará. Em 1641, uma esquadra holandesa com dezenove navios e dois mil soldados invadiu a Ilha de São Luís . A ocupação holandesa no Maranhão foi marcada por conflitos com os colonos portugueses e luso-brasileiros, além de dificuldades como doenças e a resistência local. Em 1644, os holandeses foram finalmente expulsos da região.
Após dez meses de ocupação holandesa no Maranhão, em 30 de setembro de 1642, tem início no Itapecuru, a reação portuguesa. Muniz Barreiros e mais cinquenta homens, usando de táticas de guerrilhas, vão retomando dos holandeses, um a um, os engenhos de açúcar e a fortaleza do Calvário, situada na embocadura do rio. Empolgados com as vitórias em Itapecuru, as tropas portuguesas, ganham mais adeptos e passam para Ilha de São Luís. Em 21 de novembro de 1642, as tropas lusas, comandadas por Muniz Barreiros e Teixeira de Melo, emboscaram a coluna inimiga do comandante Sandalim e a derrotam. Essa batalha ocorreu na região do rio Cutim, onde hoje fica o monumento do Outeiro da Cruz. A resistência luso-brasileira, incluindo a famosa Batalha dos Guararapes, foi crucial para a expulsão definitiva dos holandeses. A presença holandesa no Nordeste deixou um legado cultural e arquitetônico significativo, especialmente em Recife e Olinda. “(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar. Pedro Poti - aliado dos neerlandeses contra os lusitanos -, chegou a ser levado para a Holanda, onde foi recebido como herói e tratado com honrarias. Em 19 de fevereiro de 1649, durante a Segunda Batalha dos Guararapes caiu prisioneiro dos portugueses, período em que viveu um calvário na prisão – escreveu a seu cunhado Felipe Camarão o que segue: “(...) Eu me envergonho da nossa família e nação ao me ver ser induzido por tantas cartas vossas à traição e deslealdade, isto é, a abandonar os meus legítimos chefes, de quem tenho recebido tantos benefícios. Ficae sabendo que serei um soldado fiel aos meus chefes até morrer. Os cuidados que dizeis ter por mim e o favor que os portuguezes nos dispensariam não são mais que histórias contadas para nos iludir. Não acreditais que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os hollandezes, entre os quais fui educado. Por outro lado, em todo paiz se encontram os nossos, escravizados pelos perversos portuguezes, e muito ainda o estariam si eu não os houvesse libertados. Sou christão e melhor do que vós: creio só em Christo, sem macular a religião com idolatria, como fazeis com a vossa. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos e perigosos portuguezes e vinde juntar-vos conosco. No meu acampamento, 31 de outubro de 1645 (assinado) o regedor e comandante do regimento de índios
da Parahiba, Pedro Poti (...)”. Fonte :Trecho do livro “Fastos Pernambucanos" do Dr. Pedro Souto Maior, ano de 1913, p. 156/157. Por João Bosco Gaspar. Filipe Camarão, nascido Poti, foi um indígena brasileiro e herói da Insurreição Pernambucana. Ele recebeu o nome cristão de Antônio Filipe Camarão após ser batizado. Em 1614, o índio potiguar acompanhou o capitão Jerônimo de Albuquerque Maranhão na reconquista da capitania do Maranhão, onde os franceses haviam fundado a cidade de São Luís. Felipe Camarão reuniu 200 dos seus melhores guerreiros que se juntaram aos 300 portugueses. Jerônimo de Albuquerque e seus comandados estabeleceram-se na baía de São Marcos, em frente a São Luís e logo fundaram o arraial de Santa Maria, em Guaxenduba, onde aguardaram o ataque dos franceses. O ataque aconteceu em 19 de novembro de 1614. Mesmo com menor número de homens, a tropa de índios e portugueses saiu vitoriosa. Após a expulsão dos franceses da “França Equinocial”, iniciouse a reconstrução de São Luís. Lutou contra os invasores holandeses e franceses, sendo reconhecido como "Capitão-Mor de Todos os Índios do Brasil". Ele foi um líder militar e um dos heróis da Batalha dos Guararapes... A luta pela expulsão dos holandeses de Pernambuco teve início em 1645, um ano depois da partida do Conde Maurício de Nassau. O chefe da Insurreição Pernambucana foi João Fernandes Vieira, um dos mais ricos habitantes da região. Ao seu lado combateram Filipe Camarão, André Vidal de Negreiros e Henrique Dias. Após a capitulação holandesa de 1654, o Estado do Maranhão foi reorganizado sob o governo de André Vidal de Negreiros, agora com o nome de "ESTADO DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ". Naquela ocasião, André Vidal recebeu do rei de Portugal um Regimento com 58 artigos para melhor gerir o novo governo do Maranhão. Constituído, a princípio, pelas capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará (ainda não havia a capitania do Piauí), o Estado do Maranhão começava nos Baixios de São Roque e terminava na linha do Tratado de Tordesilhas. Os dois primeiros artigos do Regimento, tratavam da Capitania Real do Ceará. Por João Bosco Gaspar No ano de 1655, André Vidal de Negreiros assumiu o governo do Estado Colonial do Maranhão. Entre as suas principais incumbências estava a construção de um forte na foz do rio Camocim, para garantir a extração do pau-violeta (nome científico “Dalbergia Cearensis”) nos sopés da Ibiapaba e do âmbar nas praias do Camocim. “Cortava-se o pau violeta, nas fraldas da serra de Ibiapaba, onde estas montanhas mais se avizinhavão do mar, e nas praias se encontrava muito âmbar. Para assegurar o commercio d'estes gêneros queria elle plantar um forte á foz do Camuci, mas não era couza esta que podesse fazer-se sem formar allianças com os índios”. Fonte: Livro “História do Brazil” traduzida do inglês por Luiz Joaquim de Oliveira e Castro, publicado em 1862, Tomo IV, p. 230. Vieira, que regressara pela segunda vez ao Maranhão, em 1655, afirma que o Governador André Vidal de Negreiros : [...] intenta uma fortaleza na boca tio Rio Camuci, emprêsa que dependia da vontade dos habitadores da serra. Escreve-lhe o padre Antônio Vieira. Sucesso da resposta da sumaça que com materiais e soldados partiu a levantar a fortaleza. Este era o miserável estado da Cristandade da serra, quando no ano de 1655 chegou segunda vez ao Maranhão o padre Antônio Vieira, com ordens de Sua Majestade, para que a doutrina e govêrno espiritual de todos os índios estivesse à conta dos religiosos da Companhia; e, posto que o estado referido daqueles cristãos, de que já então havia notícias por fama, prometia mais obstinação que remédio, considerando, porém, os padres que a sua obrigação era acudir à reformação dos índios já batizados, e que êstes da serra tinham sido os primogênitos desta missão, e de quão pernicioso exemplo seria para os que se houvessem de converter, e para os já convertidos, a vida escandalosa em que estavam, e muito mais a imunidade dela. Era ponto êste que dava grande cuidado a toda a missão, e que muita se encomendava a Deus, esperando todos que chegariam ao céu as vozes da sangue do seu Abel, o padre Francisco Pinto, e que, amansadas aquelas feras, que já estavam marcadas com o caráter do batismo, tornariam outra
vez ao rebanho de que eram ovelhas. Ajudou muito esta esperança um novo intento do governador André Vidal de Negreiros, o qual chegou no mesmo ano ao Maranhão, resoluto a levantar uma fortaleza na boca do Rio Camuci, que é defronte das serras, para segurança do comércio do pau violete, que se corta nas fraldas delas, e do resgate do âmbar, que a tempos sai em grande quantidade naquelas praias. Esta é a suavidade da Providência divina, tantas vêzes experimentada nas missões de ambas as Índias, onde sempre entrou e se dilatou a fé, levando sobre as asas do interêsse. Comunicados os pensamentos do governador e superior das missões, julgaram ambos que primeiro se escrevesse aos índios de serra, de quem não só dependia o comércio, mas ainda a fábrica e sustento da fortaleza. Mas dificultava, ou impossibilitava de todo a embaixada, a dificuldade do caminho de mais de cem léguas, atalhado de muitos e grande rios, e infestado de diversas nações de tapuias feros e indômitos, que a ninguém perdoam, e, confirmado tudo com a experiência da mesma viagem, intentada outra vez com grande poder de gente de armas, e não conseguida. Contudo, houve um índio da mesma nação tobajará chamado Francisco Murereíba, o qual, confiado em Deus, como êle disse, se atreveu, e ofereceu a levar as cartas. O teor delas, foi oferecer o governador, em nome de el-rei, a todos os índios que se achavam na serra, perdão e esquecimento geral de todos os delitos passados, e dar-lhes a nova de serem chegados ao Maranhão os padres da Companhia, seus primeiros pais e mestres, para sua defensa e doutrina. E o mesmo escreveu o padre superior das missões, dando a si, e a todos os padres, por fiadores de tudo o que o governador prometia, e referindo-se umas e outras cartas ao mensageiro, que era homem fiel, e de entendimento, e ia bem instruído e afeto ao que havia de dizer. Partiu Francisco com as cartas em maio de 1655, e, como fôssem passados nove meses sem nova dêle, desesperado de todo êste primeiro intento, no fevereiro do ano seguinte, que sâo as monções, em que de alguma maneira se navega para barlavento, despachou o governador uma sumaça, com um capitão e quarenta soldados, e os materiais e instrumentos necessários à fábrica da fortaleza do Camuci, e na mesma sumaça ia embarcado o padre Tomé Ribeiro com um companheiro, para saltarem em terra no mesmo sítio, e praticarem aos índios, e darem princípio àquela missão. Animou também muito a resolução do mesmo governador, e intentos dos padres, a paz que por meio dêles vieram buscar ao Maranhão os teremembés, que são aqueles gentios que freqüentemente se nomeiam no roteiro desta costa com o nome de alarves, cuja relação nós agora deixamos por ir seguindo a sumaça, e não embaraçar o fio desta história. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource; Descrição da Ibiapaba - Wikisource OS ÍNDIOS CALVINISTAS DA SERRA DA IBIAPABA E A “PARÁBOLA DOS TALENTOS”. Segundo Souto Maior (1993) Firmada a Rendição de Taborda em janeiro de 1654, os índios calvinistas das capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam obstinados em direção aos altiplanos da Ibiapaba. Tencionavam criar em solo ibiapabano um enclave indígena de cunho protestante: "a República de Cambressive". Antônio Paraupaba, seu líder, homem de muita influência junto a Companhia das Índias Ocidentais, viajou duas vezes (1654 e 1656) para a Holanda com o propósito de conseguir dos batavos, apoio financeiro e militar para realizar seu intento. Ao se dirigir aos nobres senhores holandeses, Paraupaba ratifica a crença do seu povo “como suditos bons e firmes na sua fidelidade para com este Estado e a Religião Reformada de Christo, a única verdadeira”, e diz que o auxílio batavo seria de fundamental importância, para que aqueles que, segundo ele, “foram uma vez trazidos ao conhecimento da verdadeira religião”, não fossem privados do “reino de Jesus Christo”. Antônio Paraupaba, como conhecedor das Escritura Sagradas, faz alusão a Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-30), insinuando que os batavos receberam de Deus a incumbência de multiplicar em terras brasileiras, as ovelhas do seu rebanho: “Nem deixem que elles recaiam na selvageria entre as feras nos sertões bravios. Pois teriam de prestar contas ao Grande e Todo Poderoso Deus que é contra os que por usura enterram a sua libra com medo de gastar”. Termina Paraupaba implorando socorro imediato aos “pais e defensores dos oprimidos
e desamparados”, para que as quatro mil pessoas refugiadas em Cambressive (Ibiapaba), inclusive mulheres e crianças, pudessem sobreviver naquelas paragens, para o bem delas e “para a conservação da Igreja Christã Reformada, a única verdadeira”. Fonte: Livro “Fastos Pernambucanos” de Pedro Souto Maior, Imprensa Nacional, 1993. Por João Bosco Gaspar. Para John Hemming (1978), foi em 1654 que : “(...) Os índios fortificaram-se entre os tobajaras, na serra de Ibiapaba. Denominaram sua república Cambressive e chegaram a fazer uma tentativa, aliás malograda, de obter auxílio dos holandeses. Antônio Paraupaba foi enviado à Holanda e fez um comovente apelo aos Estados Gerais em agosto de 1654. Como nada aconteceu, fez um segundo apelo em 1656. O suplicante é enviado por aquela nação que se refugiou com suas esposas e filhos em Cambressive, no sertão além do Ceará, para escapar aos furiosos massacres dos portugueses. Eles estavam lá havia dois anos, mas ainda se mantinham leais ao governo dos holandeses. Se deixar de receber ajuda, aquele povo finalmente deverá cair nas garras dos cruéis e sanguinários portugueses, que desde a primeira ocupação do Brasil têm destruído centenas de milhares de pessoas naquela nação. Paraupaba declarou não poder acreditar que os holandeses deixariam de ajudar os índios, de recompensar seus anos de leais serviços e de proteger a religião reformada (...)”. Fonte: Trecho do livro “Ouro Vermelho” de John Hemming, ano de 1978 p. 454). Por João Bosco Gaspar. Leslie Bethell, (1997), afirma que no ano de 1654: “(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar. Já para F. A. Pereira da Costa (1952), no ano de 1654: “(...) Os índios que serviram no exército holandês, e os que seguiram seu partido e abraçaram a sua religião, a de reforma calvinista e luterana, não se julgando seguros em Pernambuco após a sua restauração [1654], apesar do prometido esquecimento do passado e do perdão geral concedido aos indivíduos de qualquer nação, qualidade e religião, ainda mesmo que fossem rebeldes à coroa de Portugal, o que tudo constava do termo de capitulação dos holandeses firmado em 26 de janeiro deste ano de 1654, emigraram logo para os sertões do Ceará, e depois se foram refugiar na serra da Ibiapaba, seus extremos norte, onde lhes parecia, não recear o ataque dos seus inimigos, e fazendo assim de tais paragens o seu baluarte, a sua vendéa, contra os vencedores, e pretendendo mesmo alguns dos mais instruídos e exaltados, fundar ali um estado índio independente, exclusivamente da sua gente e repelindo a branca. Os índios refugiados na serra da Ibiapaba, nos limites norte do Ceará, atingiam a um número superior a quatro mil almas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Anais Pernambucanos, Tomo III, 1635-1665” de autoria de F. A. Pereira da Costa, p. 393-394, 1952). Por João Bosco Gaspar. Carlos Studart Filho (1959) coloca que: “(...) Vale a pena salientar que, nos perturbados momentos da Restauração Pernambucana, numerosos indígenas, parciais dos flamengos, temendo muito justamente as represálias sempre tão cruéis por parte dos portugueses, haviam debandado da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, encaminhando-se em grandes magotes à Ibiapaba. Afinados, muitos deles, pelos
contatos da cultura flamenga, iam na esperança um tanto romanesca de criar, em plena selva brasileira, um estado indígena por completo fechado à influência de estranhos de Além-Mar. Acastelados em atitude hostil naqueles chapadões que bordam o Ceará a oeste, passaram efetivamente esses rebeldes a encabeçar a resistência à expansão dos luso-brasileiros que, em meados do século XVII, tentaram derivar para aquelas bandas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Fundamentos Geográficos e Históricos do Estado do Maranhão e Grão Pará” de Carlos Studart Filho, ano de 1959, p. 291. Por João Bosco Gaspar. Já o padre Antônio Vieira confirma que: “(...) Entraram os índios rebeldes nas capitulações da entrega com perdão geral de todas as culpas passadas; mas eles como ignorantes de quão sagrada é a fé publica, temendo que os portugueses, como tão escandalizados, aplicariam as armas vitoriosas a vingança, que tão merecida tinham, e obrigados de certo rumor falso de que os brancos iam levando tudo a espada, lançaram-se cega e arrebatadamente aos bosques, com suas mulheres e filhos, onde muitos pereceram a mão dos tapuios, e os demais se encaminharam as serras de Ibiapaba, como refúgio conhecido, e valhacouto seguro dos malfeitores (...)”. Fonte: Trecho do livro “Cartas Várias” do padre Antônio Vieira, ano de 1885, p. 340. Por João Bosco Gaspar. Prossegue Vieira: Com a chegada dêstes novos hóspedes, ficou Ibiapaba verdadeiramente a Genebra de todos os sertões do Brasil, porque muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses, sem outro exemplo nem conhecimento da verdadeira religião. Os outros militavam debaixo de suas bandeiras com a disciplina de seus regimentos, que pela maior parte são formados da gente mais perdida e corrupta de todas as nações da Europa. No Recife de Pernambuco, que era a corte e empório de toda aquela nova Holanda, havia judeus de Amsterdão, Protestantes de Inglaterra, calvinistas de França, luteranos de Alemanha e Suécia, e todas as outras seitas do Norte, e desta Babel de erros particulares se compunha um ateísmo geral e declarado, em que não se conhecia outro Deus mais que o interêsse, nem outra lei mais que o apetite; e o que tinham aprendido nesta escola do inferno é o que os fugitivos de Pernambuco trouxeram, e vieram ensinar à serra, onde, por muitos dêles saberem ler, e trazerem consigo alguns livros, foram recebidos e venerados dos tobajarás como homens letrados e sábios, e criam déles, como de oráculo, quanto lhes queriam meter em cabeça. Desta maneira, dentro em poucos dias, foram uns e outros semelhantes na crença e nos costumes; e no tempo em que Ibiapaba deixava de ser república de Baco - que era poucas horas, por serem as borracheiras contínuas de noite e de dia - eram verdadeiramente aquelas aldeias uma composição infernal, ou mistura abominável de todas as seitas e de todos os vícios, formada de rebeldes, traidores, ladrões, homicidas, adúlteros, judeus, hereges, gentios, ateus, e tudo isto debaixo do nome de cristãos, e das obrigações de católicos. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource
TELA HISTÓRICA-DECORATIVA "ALDEIA DA IBIAPABA" de autoria do mestre viçosense Ernane Pereira. Essa obra de arte faz parte da decoração do Centro de Formação Padre Ascenso Gago, em Viçosa do Ceará. Representa a Aldeia da Ibiapaba (Viçosa) como sede da Missão Jesuítica dedicada à São Francisco Xavier, período de 1656 a 1662, fundada pelo padre Antônio Vieira. No ano de 1660 o padre Antônio Vieira esteve na ibiapaba, fato registrado no memorável livro "A Missão de Ibiapaba" de sua autoria.
AS CAPITANIAS REAIS... TEMA IGNORADO POR MUITOS HISTORIADORES. JOÃO BOSCO GASPAR A capitania real era "Terra do Rei, Nosso Senhor". Informa João Bosco Gaspar que, além da Bahia e do Rio de Janeiro, a Paraíba, o Rio Grande do Norte, o Ceará, o Maranhão e o Pará, figuram no rol das capitanias reais criadas nos séculos XVI e XVII. Os lotes doados aos fidalgos João de Barros, Antônio Cardoso de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, foram revertidos (devolvidos) à coroa, e transformados em "Capitanias Reais". Para esse Historiador da Ibiapaba, João Bosco Gaspar, ainda tem historiador que não conseguiu se desvencilhar da narrativa arcaica e anacrônica envolvendo as terras doadas aos fidalgos João de Barros, Antônio Cardoso de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade. Estabelecer fronteiras fundamentado nessas antigas capitanias (não)hereditárias, é um grave anacronismo histórico.
As capitanias hereditárias foram uma forma de administração territorial implementada pela Coroa Portuguesa no Brasil em 1534, com o território brasileiro dividido em grandes faixas de terra, que se estendiam do litoral até o interior, e cada uma dessas faixas foi concedida a um donatário, geralmente um nobre de confiança do rei D. João III.
Os donatários tinham a responsabilidade de colonizar, administrar e defender suas respectivas capitanias. Eles podiam distribuir terras, fundar vilas e cobrar impostos, mas também tinham que arcar com os custos de defesa e desenvolvimento das áreas sob seu controle. Esse sistema foi uma tentativa de acelerar a colonização e exploração do território brasileiro, mas muitas capitanias fracassaram devido à falta de recursos e apoio. Os donatários das capitanias hereditárias enfrentaram várias dificuldades significativas, incluindo: 1. Falta de Recursos: Muitos donatários não tinham os recursos financeiros necessários para investir no desenvolvimento de suas capitanias. Isso dificultava a construção de infraestrutura básica, como estradas, portos e fortificações. 2. Resistência Indígena: A resistência das populações indígenas foi um grande obstáculo. Muitos donatários enfrentaram conflitos violentos com os povos nativos, que defendiam suas terras e modos de vida. 3. Isolamento e Comunicação: As capitanias eram frequentemente isoladas umas das outras e da metrópole, dificultando a comunicação e o apoio mútuo. Isso também complicava a administração e a defesa das capitanias. 4. Falta de Mão de Obra: A escassez de mão de obra qualificada para trabalhar na agricultura e na construção foi um problema constante. A escravidão indígena e, posteriormente, a africana foram utilizadas para tentar suprir essa necessidade, mas com grandes custos humanos e sociais. 5. Ataques de Piratas e Invasores: As capitanias litorâneas eram vulneráveis a ataques de piratas e de outras potências europeias, como os franceses e holandeses, que tentavam estabelecer colônias na América do Sul. Esses desafios contribuíram para o fracasso de muitas capitanias, levando a Coroa Portuguesa a centralizar a administração colonial com a criação do Governo-Geral em 1549, uma forma de administração centralizada para melhorar a gestão das colônias brasileiras, que enfrentavam muitos problemas sob o sistema de capitanias hereditárias. As principais funções do Governo-Geral incluíam: 1. Centralização Administrativa: Coordenar as atividades das capitanias hereditárias e implementar políticas uniformes em todo o território colonial. 2. Defesa e Segurança: Fortalecer a defesa contra ataques de piratas e outras potências europeias, além de mediar conflitos com os povos indígenas. 3. Desenvolvimento Econômico: Promover a agricultura, especialmente a produção de açúcar, e incentivar a exploração de recursos naturais. 4. Justiça e Ordem: Estabelecer um sistema judicial e garantir a aplicação das leis portuguesas na colônia. O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, que chegou ao Brasil com a missão de organizar a administração colonial e fortalecer a defesa contra invasores e ataques indígenas. Tomé de Sousa fundou a cidade de Salvador, que se tornou a primeira capital do Brasil e o centro administrativo do Governo-Geral. Essa centralização ajudou a estabilizar a colônia e a promover seu desenvolvimento econômico e social. As capitanias hereditárias, incluindo a do Maranhão, foram revertidas para a Coroa Portuguesa devido a vários fatores, principalmente o fracasso administrativo e econômico. A Capitania do Maranhão, especificamente, enfrentou dificuldades desde o início. Os donatários João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade não conseguiram estabelecer uma colonização efetiva, e a capitania foi abandonada após a morte de Ayres da Cunha em um naufrágio em 1535 A reversão formal das capitanias hereditárias para a Coroa ocorreu gradualmente, mas foi oficialmente consolidada em 1759, quando o Marquês de Pombal aboliu a hereditariedade das capitanias. Esse processo permitiu à Coroa Portuguesa reestruturar a administração colonial e implementar um controle mais direto sobre o território brasileiro.
Por conta da malograda "Associação Trina de Colonização", formada por João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, os donatários tiveram que devolver seus quinhões ao senhorio da coroa portuguesa... tudo era terra do rei, "Nosso Senhor", como afirma Pero de Magalhães Gandavo. No entanto, João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade foram figuras importantes na história das capitanias hereditárias no Brasil. Eles foram donatários da Capitania do Maranhão, uma das capitanias hereditárias estabelecidas por D. João III de Portugal no século XVI.1 Essas terras foram revertidas à coroa portuguesa ainda no reinado de Dom Sebastião, pois por volta do ano de 1570 já não se falava mais nessas doações. Os direitos de João de Barros, por exemplo, o rei dom Sebastião ordenou que, "por sua morte ficasse cinquenta mil reis de tensa a sua mulher dona Maria de Almeida". As capitanias reais da Parahyba e Rio Grande são conquistas da coroa portuguesa, fundadas no ocaso do século XVI, assim como as do Ceará, Maranhão e Pará, criadas entre os anos de 1615 e 1619. Neste contexto, não havia uma capitania chamada "Piauhy". Com a divisão das conquistas portuguesas na América em territórios distintos, ou seja, o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão, outras capitanias foram surgindo, sobretudo no Estado do Maranhão: Tapuitapera (Alcântaras), Cabo do Norte (Amapá), Ilha Grande de Joanes (Marajó), Vigia entre outras. A capitania do Piauhy foi instituída em 1718, e instalada em 1759. A capitania do Piauhy não fazia parte do Brasil, estava inserida no Estado Colonial do Maranhão.
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Aqui, Gaspar faz uma pequena confusão. A Associação Trina de Colonização não é um termo historicamente reconhecido. Porém, houve sim, uma Associação Trina de Colonização. A ACC foi uma organização que desempenhou um papel crucial no processo de imigração e colonização no Brasil durante o século XIX. Sua missão incluía coordenar o recrutamento, transporte e instalação de imigrantes nas colônias brasileiras. A ACC utilizava barcos a vapor para transportar os imigrantes e gerenciava estruturas como armazéns e depósitos para acolhê-los. SciELO - Brasil - Do depósito à hospedaria de imigrantes: gênese de um "território da espera" no caminho da emigração para o Brasil Do depósito à hospedaria de imigrantes: gênese de um "território da espera" no caminho da emigração para o Brasil
REPÚBLICA PROTESTANTE DE CAMBRESSIVE – ALGUMAS BREVES NOTAS
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Centro Esportivo Virtual Quando se busca pela formação do “Maranhão” – entendido como ente geográfico (e ‘não-Brasil’) – deparamo-nos, na ‘nuvem’ – redes sociais -, com uma série de documentos estudados e transcritos pelo pesquisador cearense João Bosco Gaspar, quem procura escrever a História da Serra do Ibiapaba. Aqui, não apresentamos nada inédito, simplesmente nos preocupamos em organizar aquilo que ‘copiamos e colamos’ para constituir-se em memórias para entender a formação do Estado Colonial do Maranhão e Grão-Pará. Chamou-nos atenção a formação de uma “República protestante de Cambressive”, estabelecida na Serra de Ibiapaba, por índios potiguaras, fugidos dos portugueses para a região, quando da derrota dos holandeses pelos portugueses, e sua consequente expulsão do então Estado do Brasil – separado, naqueles tempos, do Estado do Maranhão. Cumpre informar que, no Novo Mundo ibérico, desde 1617/21 houve a divisão das terras deste lado do Atlantico em dois estados independentes, sob administração do Vice-Reinado de Portugal. Naquela época, Portugal era administrado pela Espanha, por força da união dos países ibéricos, ocorrida no período de 1580 a 1640. Nesse período, estendendo-se até a expulsão dos holandeses, em meados dos 1650, é que ocorreram esses fatos. A conquista da Serra foi primordial para a formação do Maranhão. Lembrando que o Estado do Maranhão começava no Cabo de São Roque e se estendia até a Amazonia, com inúmeras variações territoriais, ora separando, ora anexando territórios do Estado do Brasil, devido às dificuldades de comunicação por mar, e por terra – caminhos conhecidos apenas pelos indígenas, estes. O Ceará, onde a Serra de Ibiapaba está localizada, pertenceu ao Estado do Maranhão. Fixada a fronteira desde o Mucuripe até a Amazônia – entendida Pará, Amapá, Amazonas, Roraima, Rondônia, Acre, parte do Mato Grosso e Tocantins, hoje, além do Piauí – constituindo ora o Estado do Maranhão e Grão-Pará, ora o Estado do Grão-Pará e Maranhão. Gaspar (2024) faz referência à tese de Viração, Francisca Jaquelini de Souza -“Cambressive: uma história de resistência Potiguara (1654 – 1660)” São Leopoldo-RS, 2021, FACULDADES EST2, que analisou a resistência dos potiguaras protestantes que se refugiaram na serra da Ibiapaba, Ceará, após a expulsão dos holandeses em 1654 até a chegada do padre jesuíta Antônio Vieira em 16603. Esta parcela da nação potiguara, após a expulsão dos holandeses em 1654, não aceitou o perdão português contido na Capitulação de Taborda de 16544, formulando um plano de resistência, migrando para a serra da Ibiapaba, no Ceará e enviaram Antônio Paraupaba para informar os Estados Gerais Holandeses de tal plano, que inicialmente seria uma espera de dois anos. Porém, os potiguaras resistiram por pelo menos seis anos, o que despertou o interesse português em enviar Antônio Vieira. 2
(Cambressive: uma história de resistência Potiguara (1654 – 1660) A Missão Jesuítica da Ibiapaba foi fundada pelo padre Antonio Vieira em data de 1655, em oposição a pretensa República de Cambressive, estabelecida na Serra Grande por Antônio Paraupaba e seus liderados indígenas procedentes de Pernambuco. Os primeiros missionários da Companhia de Jesus na Ibiapaba foram os padres Pedro Padrosa e Francisco Ribeiro, os quais foram substituídos pelo padre Ascenso Gago. A Missão Jesuítica da Ibiapaba cuja sede era a atual cidade de Viçosa do Ceará, foi destituída em 1758 por Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marques de Pombal. https://pt.wikipedia.org/wiki/Miss%C3%A3o_Jesu%C3%ADtica_da_Ibiapaba 4 Foi a capitulação neerlandesa aos portugueses assinada no Campo do Taborda, no Recife, às 23:00 horas de 26 de janeiro de 1654. O tratado chamou-se Taborda, pois este foi feito nas terras da casa do pescador Manuel Tarborda,, em frente ao Forte das Cinco Pontas https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Taborda 3
O plano de resistência é descrito por Antônio Paraupaba na sua primeira representação aos Estados Gerais, em 1654: Altos e Nobres Senhores, etc. Antonio Paräupába, ex-Regedor dos Brasilianos no Rio Grande faz ver com todo o respeito a V. as Ex.as que toda a nação Brasiliana (ainda não há muito tempo habitando aquela região do Brasil e obedientes ao governo deste Estado até a última conquista feita pelos perjuros Portugueses) têm vivido e perseverado até agora como súditos bons e firmes na sua fidelidade para com este Estado e a Religião Reformada de Cristo, a única verdadeira. Sendo por isso o suplicante enviado a V. as Ex.as por esta nação que se refugiou com mulheres e crianças em Cambressive no sertão além do Ceará, a fim de escapar aos ferozes massacres dos Portugueses, para asseverar a V. as Ex.as em nome destas infelizes almas, não somente a constância de sua fidelidade, como também que procuraram a sua subsistência pelo tempo de dois anos, nos sertões, no meio de animais ferozes, e mesmo ainda mais procurarão, conservando-se à disposição deste Estado e fieis à Religião Reformada que aprenderam e praticam, contanto que possam esperar auxílio e socorro de V. as Ex.as.( HULSMAN, Lodewijk (Trad). Índios do Brasil na República dos Países Baixos: as representações de Antônio Paraupaba para os Estados Gerais em 1654 e 1656. Revista de História (USP), São Paulo, v. 1, n. 154, p. 37-69, jun. 2006. p. 52) Antes, Pedro Poti já se manifestara sobre a religiosidade dos potiguaras, de seu acampamento antes da segunda batalha dos Guararapes. Em carta a seu cunhado, Filipe Camarão, chama-o de traidor de seu povo, por haver aderido aos portugueses: “(...) Eu me envergonho da nossa família e nação ao me ver ser induzido por tantas cartas vossas à traição e deslealdade, isto é, a abandonar os meus legítimos chefes, de quem tenho recebido tantos benefícios. Ficae sabendo que serei um soldado fiel aos meus chefes até morrer. Os cuidados que dizeis ter por mim e o favor que os portuguezes nos dispensariam não são mais que histórias contadas para nos iludir. Não acreditais que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os hollandezes, entre os quais fui educado. Por outro lado, em todo paiz se encontram os nossos, escravizados pelos perversos portuguezes, e muito ainda o estariam si eu não os houvesse libertados. Sou christão e melhor do que vós: creio só em Christo, sem macular a religião com idolatria, como fazeis com a vossa. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos e perigosos portuguezes e vinde juntar-vos conosco. No meu acampamento, 31 de outubro de 1645 (assinado) o regedor e comandante do regimento de índios da Parahiba, Pedro Poti (...)”. Fonte :Trecho do livro “Fastos Pernambucanos" do Dr. Pedro Souto Maior, ano de 1913, p. 156/157. (GASPAR, 2004). Variação (2021) identifica alguns desses sujeitos: Pedro Poty nasceu em 1605. Seu primeiro contato com os holandeses foi no encontro com a frota de Baudwin Hendrizom, em 1625, na Baía da Traição, de onde embarcou com mais doze índios para Holanda. Nesse país, Poty aprendeu a ler e escrever, bem como as lições da fé reformada, a qual se converteu, retornando ao Brasil em agosto de 1630. Em carta datada de 1631 , Poty escreve aos Senhores XIX, relatando ações de mediação cultural de Poty no Nordeste, tentando formar alianças de aldeias no Ceará para os holandeses. Depois disso, ele praticamente desaparece das fontes, retornando apenas em 1637. [...] Domingos Fernandes Carapeba foi o líder potiguara da aldeia da Tapisserica, local que sediou o maior encontro de líderes potiguaras durante a ocupação holandesa no que hoje é nordeste brasileiro, em 1645. Lá, foi eleito por cerca de 200 chefes das aldeias aliadas aos holandeses como regedor-mor da Câmara de Goiânia – que correspondia a Pernambuco e Itamaracá – juntamente com Pedro Poty da Paraíba e Antônio Paraupaba do Rio Grande. Após a Capitulação de Taborda, de 1654, muito provavelmente foi ele um dos líderes da marcha potiguara rumo à Serra da Ibiapaba no Ceará, a fim de se refugiar e se proteger das autoridades luso-brasileiras.
Antônio Paraupaba Nascido em 1595, filho de Gaspar Paraupaba, líder dos potiguaras do Ceará, foi um dos 13 índios que embarcaram na frota de Hendrizom rumo à Holanda. Lá, foi-lhe ensinado a ler e a escrever, a exemplo de Domingos Carapeba, converteu-se igualmente à fé reformada. Ao retornar ao Brasil, Paraupaba desenvolveu seu papel de mediador e foi eleito regedor-mor dos índios do Rio Grande. Embarcou rumo à Holanda para informar aos Estados Gerais a situação dos índios refugiados na serra da Ibiapaba e pedir por socorro, vindo a falecer em 1656. Frontispício da Representação de Antonio Paraupaba de 1657
[...]Índios do Brasil na República dos Países Baixos: as representações de Antônio Paraupaba para os Estados Gerais em 1654 e 1656 | Revista de História [...] João Gonçalves foi um dos mestres – escola, muito provavelmente educados na aldeia Maurícia aos pés do pastor Davi Van Doreslaer. Desenvolveu-se bem na arte da escrita e na leitura, que logo se tornou um dos “professores” indígenas. No diário de Mathias Beck 5 é mencionado que Gonçalves foi assistente do pastor Thomas Kemp, no Ceará, em 1649. Possivelmente, Gonçalves esteve entre os refugiados na Ibiapaba. Padre Vieira, em seu relatório à missão da Ibiapaba, relata o fervor indígena. Creio que para que isso fosse possível, deveria haver, entre eles, pessoas mais entendidas na doutrina reformada. Um mestre - escola com experiência como assistente de pastor, poderia muito bem ter sido ordenado ministro pelos índios na Ibiapaba. Além disto, é bem possível que após os seis anos em Ibiapaba, Gonçalves tenha fugido, tanto de ser enviado ao Maranhão, quanto de ser aldeado na Ibiapaba, e se escondido sertão à dentro, buscando refúgio entre os Janduís. Há um documento que relata a prisão de um João Pregador em 1692, descrevendo-o como um dos principais líderes indígenas na guerra entre portugueses e tapuias no Rio Grande do Norte.6 [...] Sujeitos com contato direto com os índios Joaquim Soler – espanhol, é considerado o pai da missionação reformada neerlandesa aos indígenas. Ele foi pastor na igreja francesa no Recife, grande incentivador do trabalho missionário com os indígenas e é citado em várias fontes. Soler pregava aos domingos pela manhã 5 6
BECK. Mathias. Diário da expedição de Mathias Beck ao Ceará em 1649. Fortaleza: Revista do Instituto do Ceará, 1903. p. 342. Disponível em: http://www.liber.ufpe.br/ultramar/modules/visualizador/i/ult_frame.php?cod=1585 Acesso: 25 jan. 2018.
em sua igreja e durante a tarde partia para pregar aos índios. O predicante era também um ativo inspetor do material catequético, além de arguidor de novos candidatos ao pastorado. Pode-se afirmar, então, que Soler é a mente por trás de quase tudo o que era ensinado aos índios e ao resto da população sobre a doutrina reformada. [...] Davi van Doreslaer, dedicado missionário entre os índios, foi pastor em tempo integral para servir nas aldeias da Paraíba. Foi Doreslaer quem mais se empenhou na causa de formar índios professores de catecismo – a ele é creditado o famoso Catecismo Tupi. Além dos cuidados pastorais, responsabilidade direta de um pastor, foi também um dos mais atuantes no quesito de manter os índios nas aldeias e denunciar abusos da Companhia das Índias Ocidentais. Residiu entre as aldeias da Paraíba e Goiânia, a partir de janeiro de 1638. Em 1660, o padre Antonio Vieira havia sido enviado a Portugal com a missão de recatolizar os potiguaras aliados aos holandeses, que haviam se refugiado na Serra da Ibiapaba no Ceará. O refúgio não era passivo, ou seja, não esperavam apenas se esconder dos portugueses, mas ativamente esperavam para que o Estado Holandês ouvisse as duas petições feitas por Antônio Paraupaba em 1654 e 1656 em Haia, a fim de socorrer os índios. Assim, pode-se dizer, que mesmo após a restauração, uma parte desse “Estado Potiguara Holandês” ainda resistia. Em sua “Relação da Missão da Serra da Ibiapaba” discorre sobre a variedade religiosa existente no Brasil Holandês. Porém, reprovava a todas – o que não poderia ser diferente em sua condição de padre jesuíta. Vieira identifica como “calvinistas de França” os huguenotes, luteranos alemães e suecos; no entanto, usa o termo “protestantes da Inglaterra”, talvez porque se referisse a vários grupos. É possível que existissem calvinistas, anglicanos e batistas entre os ingleses: No Recife de Pernambuco, que era a corte e empório de toda aquela nova Holanda, havia judeus de Amsterdã, protestantes de Inglaterra, calvinistas de França, luteranos de Alemanha e Suécia, e todas as outras Seitas do Norte, e desta Babel de erros particulares se compunha um ateísmo geral e declarado, em que não se conhecia outro Deus mais que o interesse, nem outra lei mais que o apetite. Vieira chama a Ibiapaba de Rochela, uma nítida referência à cidade francesa de La Rochela, símbolo da resistência protestante depois do cerco de 1573. Vieira acredita que com a ida “dos de Pernambuco” ao Maranhão, se espera grande quietação e proveito espiritual de uns e outros, porque os pernambucanos, com a vizinhança e sujeição dos portugueses, estando debaixo de suas fortalezas, acudiram a suas obrigações, como têm prometido, e poderão ser obrigados a isso por força, quando o não façam por vontade. Pois, se de fato não houve evangelismo ou, ao menos, uma grande influência teológica ou comportamental nos tabajaras, por que a saída dos potiguaras de Pernambuco seria tratada como um fato que traria quietude e proveito espiritual a todos na ótica de um padre católico? – pergunta Variação (2021). Além disso, Vieira destaca um aspecto que para ele pode ser uma solução, mas que para Paraupaba é uma preocupação – a convivência com os portugueses. Em suas representações, Paraupaba deixa claro seu temor de que os índios percam a fé por falta de professores. Vieira demonstra acreditar nessa possibilidade e, portanto, a vê com bons olhos. Essa perspectiva também explica a afirmação do padre [...] e os da serra, sem o exemplo e doutrina dos pernambucanos, que eram os seus maiores dogmatistas, ficarão país desimpedidos e capazes de receber a verdadeira doutrina, e de os padres lhes introduzirem a forma da vida cristã, o que, endurecidos com a contrária, se lhes não imprimia. Na tentativa de conquistar a confiança indígena, o general Francisco Barreto publicara, em 4 de maio de 1654, um perdão geral aos índios que se aliaram aos holandeses:
Hei por bem de conceder, como pelo presente concedo, em nome de Sua Majestade (Deus Guarde) perdão geral a todos os índios, de qualquer nação que sejam, de todos os erros e rebeldias passadas, os quais dou por esquecidos como se nunca fossem cometidos, pelo que podem todos os ditos índios vir sujeitar-se à obediência de Sua Majestade diante dos Capitães-mores e Governadores que estiverem governando as Capitanias onde os tais índios residirem, aos quais Capitães-mores e Governadores encomendo por parte de Sua Majestade aceitem benevolamente a amizade dos ditos índios e lhes deem bom tratamento, tomando o juramento aos seus capitães ou principais de como prometem serem leais vassalos de Sua Majestade El Rei de Portugal Nosso Senhor e bem assim professarem verdadeira amizade com a Nação Portuguesa, como são obrigados e devem à razão de parentesco tão chegado [...]. Recife, 4 de maio de 1654. Francisco Barreto. Quando se analisa a carta de Poty e as representações de Paraupaba, é perceptível algo evidente que os potiguaras querem evitar: a escravidão. Não, Filippe, vós vos deixais illudir; é evidente que o plano dos scelerados portuguezes não é outro senão o de se apossarem deste paiz, e então assassinarem ou escravizarem tanto a vós como a nós todos. (...) Não tenhais a menor duvida: os Portuguezes terão de se escapulir; esses bandidos hão de desapparecer como vento. Os potiguaras destacam, então, a iminência desses perigos: Faltando esse auxílio, este povo terá necessariamente de cair afinal nas garras dos cruéis e sanguinários Portugueses, que desde a primeira ocupação do Brasil têm destruído tantas centenas de milhares de pessoas da sua nação. Especialmente depois que procurou a proteção das armas deste Estado e adotou o verdadeiro culto divino, e que agora, se for abandonado, terá de pagar penitência sendo completamente extirpado. Em 1660, é decretado o fim da “República protestante de Cambressive”, quando os índios ‘hereges’ de Pernambuco são retirados da Ibiapaba e conduzidos para o Maranhão: “Ordem de Sua Majestade, que há de vir ao capitão da fortaleza do Ceará. Que por quanto sua Majestade tem ordenado que todos os índios retirados de Pernambuco que se achavam desde o sítio do Ceará até o da Ibiapaba, e suas vizinhanças, e em qualquer lugar daquelas costas ou sertões, se recolham todos ao Maranhão”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, AHU -Ceará, Caixa nº 01, Doc. nº 46. OS ÍNDIOS DA SERRA DA IBIAPABA, CAPITANIA DO CEARÁ, JURAM FIDELIDADE À IGREJA CATÓLICA ROMANA E AO REI DE PORTUGAL - ANO DE 1660. TRANSCRIÇÃO INTEGRAL – ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO DE PORTUGAL - AHUCEARÁ, CAIXA Nº 01 DOCUMENTO Nº 46. "Carta de Sua Majestade [o Rei de Portugal], para Dom Simão Taguaibuna, principal dos índios tabajaras da Serra da Ibiapaba. Que por carta do padre Antônio Vieira (...), se recebeu o aviso do juramento que o dito principal havia feito nas mãos do dito padre, de ser fiel vassalo de Sua Majestade toda à sua nação e todos os seus descendentes, e de como assim ele, como os outros principais haviam recebido suas legítimas mulheres conforme os ritos da Igreja Romana, e prometido de em tudo o mais guardarem a lei de Deus, como verdadeiros cristãos, e tratarem de ajudar ao descobrimento do Rio Pará [Parnaíba] e conquista de todas as outras nações vizinhas às suas terras [Ibiapaba], para se reduzirem todos a fé de Deus e vassalagem de Sua Majestade, de que todos, Sua Majestade recebes [com] grande contentamento, pelo desejo que Sua Majestade
tem de que todas essas nações venham ao conhecimento do verdadeiro Deus; e lhe agradece o zelo e vontade com que se tem disposto a esta empresa, cujo sucesso Sua Majestade fica esperando para lhe mandar fazer mercê, e que o mesmo diga da parte de Sua Majestade aos demais principais, aos quais todos encarrega Sua Majestade, particularmente a obediência e respeito que devem ter aos padres como ministros de Deus e da Santa Madre Igreja, seguindo em todos seus conselhos”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – Documentos da Capitania do Ceará – AHU-CE, Caixa nº 01, Documento nº 46, ano de 1660. Transcrição: João Bosco Gaspar.
ANO DE 1660 - O PADRE ANTÔNIO VIEIRA VINDO DO MARANHÃO EM VISITA A MISSÃO JESUÍTICA DA IBIAPABA. PINTURA DO ARTISTA DESCARTES GADELHA (MEMORIAL PADRE VIEIRA, VIÇOSA DO CEARÁ)
AS NOTAS:
"O CEARÁ SOB DOMÍNIO HOLANDÊS. Os holandeses, já estabelecidos em Pernambuco, tentaram invadir o Ceará em 1631. A primeira tentativa fracassou. Em 1637, o território foi finalmente tomado, graças a uma parceria com os índios nativos. Os portugueses foram feitos prisioneiros e levados para Recife. Os holandeses chegaram a usar o Ceará como ponto de apoio à conquista do Maranhão. O Forte da Barra foi reformado e outro foi construído em Camocim. Pesquisas foram feitas para exploração das salinas e, em 1639, George Marcgraf fez uma expedição que percorreu o oeste cearense. Os holandeses permaneceram no Ceará até 1644, quando Gedeon Morris e sua tropa, retornando do Maranhão, foram mortos em emboscada pelos índios. O Fortim de São Sebastião foi destruído. Gaspar Barléu assim descreve a capitania (*): “O Ceará se acha entre as capitanias do Brasil setentrional, com um âmbito somente de dez ou doze léguas, de poucos habitantes, os quais ocupavam o próprio forte. Tem porto pouco idôneo para navios de grande porte, e não é regado por nenhum rio notável. Somente à raiz do monte sobre o qual está assentado o forte, corre do continente um ribeiro. Próxima da fortaleza está a casa do governador português, a qual é rodeada de algumas habitações esparsas dos moradores portugueses, nada resistentes contra as investidas dos inimigos. Produz a região cana-de-açúcar, o qual, entretanto, não se fabrica ali em nenhum engenho. Vivem os bárbaros dos arredores em discórdias e lutas perpétuas com os portugueses. Aqueles que, em 1609, chegaram a esses lugares disseram que lá se viam homens de corpo avantajado, catadura deforme, cabeleira comprida, orelhas furadas e pendentes quase até os ombros, com a cútis tingida de cor negra, desde os olhos até a boca. Tinham alguns o lábio inferior esburacado, e outros também as ventas, em que metiam para ornato pedrinhas e ossinhos.” (*) Fonte: BARLÉU, G. História dos feitos recentemente praticados durante oito anos no Brasil e noutras partes sob o governo do Ilustríssimo João Maurício Conde de Nassau etc. Brasília: Senado Federal, 2005.
Imagem: Arnold Montanus: “Siara” – Gravura em cobre aquarelada a partir de Frans Post; 25,5 x 36 cm; 1671" Texto e imagem: Brasil Holandês
CAMBRESSIVE = IBIAPABA: UMA HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA POTIGUARA (1654-1660): “A presente tese tem por objetivo analisar a resistência dos potiguaras protestantes que se refugiaram na serra da Ibiapaba, Ceará, após a expulsão dos holandeses em 1654 até a chegada do padre jesuíta Antônio Vieira em 1660. A tese defende que desde o primeiro encontro entre potiguaras e holandeses em 1625, na Baía da Traição, Paraíba; uma aliança foi formada entre as duas nações. Esta parcela da nação potiguara contribuiu, desde os planos de invasão em 1630 em Pernambuco, à ampliação e consolidação da Nova Holanda, e até mesmo após a expulsão dos holandeses em 1654. Não aceitaram o perdão português contido na Capitulação de Taborda de 1654, formularam um plano de resistência, migraram para a serra da Ibiapaba, no Ceará e enviaram Antônio Paraupaba para informar os Estados Gerais Holandeses de tal plano, que inicialmente seria uma espera de dois anos. Porém, os potiguaras resistiram por pelo menos seis anos, o que despertou o interesse português em enviar Antônio Vieira. Esta tese defende que o fato de estes potiguaras terem se convertido à fé reformada, associada a interesses políticos e militares de ambos os lados, foi fator determinante para essa aliança. E, especificamente, no caso do refúgio na Ibiapaba, o conceito de resistência se expressou na prática em uma espera em Deus, dentro desse contexto específico, tornou-se, além de uma espera religiosa, uma resistência política. A tese conclui não ser mais possível olhar para o Brasil Holandês, somente como holandês, sem a participação decisiva dos potiguaras. Assim, viram neste projeto colonizador a oportunidade de se livrarem do perigo da escravidão, como também a possibilidade real de fazerem parte deste estado, resguardadas às devidas proporções. E que sua temporalidade deve se estender até a assinatura do Tratado de Haia em 1661, pois houve uma resistência político-religiosa potiguara na Ibiapaba entre a expulsão em 1654 e a assinatura do Tratado em 1661.
A tese analisou fontes primárias, tanto produzidas pelos indígenas, quanto as que contêm impressões sobre eles, para verificar a quantidade de conhecimento teológico contido nelas, comparando-as com os documentos doutrinários da Igreja Reformada Holandesa. E se utilizou das Ciências Sociais para fazer a crítica devida às fontes, principalmente da nova história indígena que considera o protagonismo das populações indígenas”. Fonte:Trecho da Tese de Doutorado “CAMBRESSIVE: UMA HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA POTIGUARA (1654-1660)” de FRANCISCA JAQUELINI DE SOUZA VIRAÇÃO. Por João Bosco Gaspar
O CEARÁ NÃO SE DESVENCILHOU DO ESTADO DO MARANHÃO EM 1656: “(...) 8 de julho de 1656 — O Conselho Ultramarino recomenda a El-Rei que em virtude das notícias chegadas a Lisboa e de acordo com o que requisitara André Vidal de Negreiros, ordena que de Pernambuco vão os socorros de que carecer o Ceará, enquanto o Maranhão por falta de cabedal não puder fornecê-los. Esse parecer do Conselho foi aprovado por El-Rei em data de 13 de Julho de 1656. Pode-se, portanto, datar desse tempo a separação do Ceará do governo do Maranhão. Não há carta régia de tal ou tal data determinando que o Ceará ficasse separado do Maranhão, o que houve é o que fica aqui resumido. Impossibilitado o governo do Maranhão de socorrer o Ceará, que estava sob sua jurisdição, decidiu El-Rei a 13 de Julho de 1656 que o socorro lhe fosse ministrado daquela data em diante por Pernambuco, praça muito mais forte e rica e de mais recursos (...)”. ANO DE 1660 – O FIM DA “REPÚBLICA PROTESTANTE DE CAMBRESSIVE”. OS ÍNDIOS “HEREGES” DE PERNAMBUCO SÃO RETIRADOS DA IBIAPABA: “Ordem de Sua Majestade, que há de vir ao capitão da fortaleza do Ceará. Que por quanto sua Majestade tem ordenado que todos os índios retirados de Pernambuco que se achavam desde o sítio do Ceará até o da Ibiapaba, e suas vizinhanças, e em qualquer lugar daquelas costas ou sertões, se recolham todos ao Maranhão”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, AHU -Ceará, Caixa nº 01, Doc. nº 46. Por João Bosco Gaspar, pósgraduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará.
ANO DE 1662 – ÍNDIOS PROTESTANTES NA SERRA DA IBIAPABA: “Na serra de Iguapába estam cantidade de índios Tabajáras, e Putiguaras que se recolheram do Brazil, depois de terem feito grandes insolências aos Portugueses em companhia dos Framengos Olandezes, Vivem com grande vigilancia: na sua aldeia estão dois Religiosos da Companhia de Jesus: permita Deos que façam muito fructo nelles, e os tragam ao grémio da Santa fé Catholica”. Fonte: Trecho do livro “Descripção do Estado do Maranhão, Pará, Curupá e Rio das Amazonas”, p.15, escrito pelo ouvidor-geral do Maranhão, Maurício de Heriarte, no ano de 1662 e publicado no ano de 1720. Vieira, que regressara pela segunda vez ao Maranhão, em 1655, afirma que o Governador André Vidal de Negreiros : [...] intenta uma fortaleza na boca tio Rio Camuci, emprêsa que dependia da vontade dos habitadores da serra. Escreve-lhe o padre Antônio Vieira. Sucesso da resposta da sumaça que com materiais e soldados partiu a levantar a fortaleza. Este era o miserável estado da Cristandade da serra, quando no ano de 1655 chegou segunda vez ao Maranhão o padre Antônio Vieira, com ordens de Sua Majestade, para que a doutrina e govêrno espiritual de todos os índios estivesse à conta dos religiosos da Companhia; e, posto que o estado referido daqueles cristãos, de que já então havia notícias por fama, prometia mais obstinação que remédio, considerando, porém, os padres que a sua obrigação era acudir à reformação dos índios já batizados, e que êstes da serra tinham sido os primogênitos desta missão, e de quão pernicioso exemplo seria para os que se houvessem de converter, e para os já convertidos, a vida escandalosa em que estavam, e muito mais a imunidade dela. Era ponto êste que dava grande cuidado a toda a missão, e que muita se encomendava a Deus, esperando todos que chegariam ao céu as vozes da sangue do seu Abel, o padre Francisco Pinto, e que, amansadas aquelas feras, que já estavam marcadas com o caráter do batismo, tornariam outra vez ao rebanho de que eram ovelhas. Ajudou muito esta esperança um novo intento do governador André Vidal de Negreiros, o qual chegou no mesmo ano ao Maranhão, resoluto a levantar uma fortaleza na boca do Rio Camuci, que é defronte das serras, para segurança do comércio do pau violete, que se corta nas fraldas delas, e do resgate do âmbar, que a tempos sai em grande quantidade naquelas praias. Esta é a suavidade da Providência divina, tantas vêzes experimentada nas missões de ambas as Índias, onde sempre entrou e se dilatou a fé, levando sobre as asas do interêsse. Comunicados os pensamentos do governador e superior das missões, julgaram ambos que primeiro se escrevesse aos índios de serra, de quem não só dependia o comércio, mas ainda a fábrica e sustento da fortaleza. Mas dificultava, ou impossibilitava de todo a embaixada, a dificuldade do caminho de mais de cem léguas, atalhado de muitos e grande rios, e infestado de diversas nações de tapuias feros e indômitos, que a ninguém perdoam, e, confirmado tudo com a experiência da mesma viagem, intentada outra vez com grande poder de gente de armas, e não conseguida. Contudo, houve um índio da mesma nação tobajará chamado Francisco Murereíba, o qual, confiado em Deus, como êle disse, se atreveu, e ofereceu a levar as cartas. O teor delas, foi oferecer o governador, em nome de el-rei, a todos os índios que se achavam na serra, perdão e esquecimento geral de todos os delitos passados, e dar-lhes a nova de serem chegados ao Maranhão os padres da Companhia, seus primeiros pais e mestres, para sua defensa e doutrina. E o mesmo escreveu o padre superior das missões, dando a si, e a todos os padres, por fiadores de tudo o que o governador prometia, e referindo-se umas e outras cartas ao mensageiro, que era homem fiel, e de entendimento, e ia bem instruído e afeto ao que havia de dizer. Partiu Francisco com as cartas em maio de 1655, e, como fôssem passados nove meses sem nova dêle, desesperado de todo êste primeiro intento, no fevereiro do ano seguinte, que sâo as monções, em que de alguma maneira se navega para barlavento, despachou o governador uma sumaça, com um capitão e quarenta soldados, e os materiais e instrumentos necessários à fábrica da fortaleza do Camuci, e na mesma sumaça ia embarcado o padre Tomé Ribeiro com um companheiro, para saltarem em terra no mesmo sítio, e praticarem aos índios, e darem princípio àquela missão. Animou também muito a resolução do mesmo governador, e intentos
dos padres, a paz que por meio dêles vieram buscar ao Maranhão os teremembés, que são aqueles gentios que freqüentemente se nomeiam no roteiro desta costa com o nome de alarves, cuja relação nós agora deixamos por ir seguindo a sumaça, e não embaraçar o fio desta história. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource; Descrição da Ibiapaba - Wikisource
OS ÍNDIOS CALVINISTAS DA SERRA DA IBIAPABA E A “PARÁBOLA DOS TALENTOS”. Segundo Souto Maior (1993) Firmada a Rendição de Taborda em janeiro de 1654, os índios calvinistas das capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam obstinados em direção aos altiplanos da Ibiapaba. Tencionavam criar em solo ibiapabano um enclave indígena de cunho protestante: "a República de Cambressive". Antônio Paraupaba, seu líder, homem de muita influência junto a Companhia das Índias Ocidentais, viajou duas vezes (1654 e 1656) para a Holanda com o propósito de conseguir dos batavos, apoio financeiro e militar para realizar seu intento. Ao se dirigir aos nobres senhores holandeses, Paraupaba ratifica a crença do seu povo “como suditos bons e firmes na sua fidelidade para com este Estado e a Religião Reformada de Christo, a única verdadeira”, e diz que o auxílio batavo seria de fundamental importância, para que aqueles que, segundo ele, “foram uma vez trazidos ao conhecimento da verdadeira religião”, não fossem privados do “reino de Jesus Christo”. Antônio Paraupaba, como conhecedor das Escritura Sagradas, faz alusão a Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-30), insinuando que os batavos receberam de Deus a incumbência de multiplicar em terras brasileiras, as ovelhas do seu rebanho: “Nem deixem que elles recaiam na selvageria entre as feras nos sertões bravios. Pois teriam de prestar contas ao Grande e Todo Poderoso Deus que é contra os que por usura enterram a sua libra com medo de gastar”. Termina Paraupaba implorando socorro imediato aos “pais e defensores dos oprimidos e desamparados”, para que as quatro mil pessoas refugiadas em Cambressive (Ibiapaba), inclusive mulheres e crianças, pudessem sobreviver naquelas paragens, para o bem delas e “para a conservação da Igreja Christã Reformada, a única verdadeira”. Fonte: Livro “Fastos Pernambucanos” de Pedro Souto Maior, Imprensa Nacional, 1993. Por João Bosco Gaspar. Para John Hemming (1978), foi em 1654 que : “(...) Os índios fortificaram-se entre os tobajaras, na serra de Ibiapaba. Denominaram sua república Cambressive e chegaram a fazer uma tentativa, aliás malograda, de obter auxílio dos holandeses. Antônio Paraupaba foi enviado à Holanda e fez um comovente apelo aos Estados Gerais em agosto de 1654. Como nada aconteceu, fez um segundo apelo em 1656. O suplicante é enviado por aquela nação que se refugiou com suas esposas e filhos em Cambressive, no sertão além do Ceará, para escapar aos furiosos massacres dos portugueses. Eles estavam lá havia dois anos, mas ainda se mantinham leais ao governo dos holandeses. Se deixar de receber ajuda, aquele povo finalmente deverá cair nas garras dos cruéis e sanguinários portugueses, que desde a primeira ocupação do Brasil têm destruído centenas de milhares de pessoas naquela nação. Paraupaba declarou não poder acreditar que os holandeses deixariam de ajudar os índios, de recompensar seus anos de leais serviços e de proteger a religião reformada (...)”. Fonte: Trecho do livro “Ouro Vermelho” de John Hemming, ano de 1978 p. 454). Por João Bosco Gaspar. Leslie Bethell, (1997), afirma que no ano de 1654: “(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de
solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar. Já para F. A. Pereira da Costa (1952), no ano de 1654: “(...) Os índios que serviram no exército holandês, e os que seguiram seu partido e abraçaram a sua religião, a de reforma calvinista e luterana, não se julgando seguros em Pernambuco após a sua restauração [1654], apesar do prometido esquecimento do passado e do perdão geral concedido aos indivíduos de qualquer nação, qualidade e religião, ainda mesmo que fossem rebeldes à coroa de Portugal, o que tudo constava do termo de capitulação dos holandeses firmado em 26 de janeiro deste ano de 1654, emigraram logo para os sertões do Ceará, e depois se foram refugiar na serra da Ibiapaba, seus extremos norte, onde lhes parecia, não recear o ataque dos seus inimigos, e fazendo assim de tais paragens o seu baluarte, a sua vendéa, contra os vencedores, e pretendendo mesmo alguns dos mais instruídos e exaltados, fundar ali um estado índio independente, exclusivamente da sua gente e repelindo a branca. Os índios refugiados na serra da Ibiapaba, nos limites norte do Ceará, atingiam a um número superior a quatro mil almas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Anais Pernambucanos, Tomo III, 1635-1665” de autoria de F. A. Pereira da Costa, p. 393-394, 1952). Por João Bosco Gaspar. Carlos Studart Filho (1959) coloca que: “(...) Vale a pena salientar que, nos perturbados momentos da Restauração Pernambucana, numerosos indígenas, parciais dos flamengos, temendo muito justamente as represálias sempre tão cruéis por parte dos portugueses, haviam debandado da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, encaminhando-se em grandes magotes à Ibiapaba. Afinados, muitos deles, pelos contatos da cultura flamenga, iam na esperança um tanto romanesca de criar, em plena selva brasileira, um estado indígena por completo fechado à influência de estranhos de Além-Mar. Acastelados em atitude hostil naqueles chapadões que bordam o Ceará a oeste, passaram efetivamente esses rebeldes a encabeçar a resistência à expansão dos luso-brasileiros que, em meados do século XVII, tentaram derivar para aquelas bandas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Fundamentos Geográficos e Históricos do Estado do Maranhão e Grão Pará” de Carlos Studart Filho, ano de 1959, p. 291. Por João Bosco Gaspar. Já o padre Antônio Vieira confirma que: “(...) Entraram os índios rebeldes nas capitulações da entrega com perdão geral de todas as culpas passadas; mas eles como ignorantes de quão sagrada é a fé publica, temendo que os portugueses, como tão escandalizados, aplicariam as armas vitoriosas a vingança, que tão merecida tinham, e obrigados de certo rumor falso de que os brancos iam levando tudo a espada, lançaram-se cega e arrebatadamente aos bosques, com suas mulheres e filhos, onde muitos pereceram a mão dos tapuios, e os demais se encaminharam as serras de Ibiapaba, como refúgio conhecido, e valhacouto seguro dos malfeitores (...)”. Fonte: Trecho do livro “Cartas Várias” do padre Antônio Vieira, ano de 1885, p. 340. Por João Bosco Gaspar. Prossegue Vieira: Com a chegada dêstes novos hóspedes, ficou Ibiapaba verdadeiramente a Genebra de todos os sertões do Brasil, porque muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses, sem outro exemplo nem conhecimento da verdadeira religião. Os outros militavam debaixo de suas bandeiras com a disciplina de seus regimentos, que pela maior parte são formados da gente mais perdida e corrupta de todas as nações da Europa. No Recife de Pernambuco, que era a corte e empório de toda aquela nova Holanda, havia judeus de Amsterdão, Protestantes de Inglaterra, calvinistas de França, luteranos de Alemanha e Suécia, e todas as outras seitas do Norte, e desta Babel de erros particulares se compunha um ateísmo
geral e declarado, em que não se conhecia outro Deus mais que o interêsse, nem outra lei mais que o apetite; e o que tinham aprendido nesta escola do inferno é o que os fugitivos de Pernambuco trouxeram, e vieram ensinar à serra, onde, por muitos dêles saberem ler, e trazerem consigo alguns livros, foram recebidos e venerados dos tobajarás como homens letrados e sábios, e criam déles, como de oráculo, quanto lhes queriam meter em cabeça. Desta maneira, dentro em poucos dias, foram uns e outros semelhantes na crença e nos costumes; e no tempo em que Ibiapaba deixava de ser república de Baco - que era poucas horas, por serem as borracheiras contínuas de noite e de dia - eram verdadeiramente aquelas aldeias uma composição infernal, ou mistura abominável de todas as seitas e de todos os vícios, formada de rebeldes, traidores, ladrões, homicidas, adúlteros, judeus, hereges, gentios, ateus, e tudo isto debaixo do nome de cristãos, e das obrigações de católicos. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource
TELA HISTÓRICA-DECORATIVA "ALDEIA DA IBIAPABA" de autoria do mestre viçosense Ernane Pereira. Essa obra de arte faz parte da decoração do Centro de Formação Padre Ascenso Gago, em Viçosa do Ceará. Representa a Aldeia da Ibiapaba (Viçosa) como sede da Missão Jesuítica dedicada à São Francisco Xavier, período de 1656 a 1662, fundada pelo padre Antônio Vieira. No ano de 1660 o padre Antônio Vieira esteve na ibiapaba, fato registrado no memorável livro "A Missão de Ibiapaba" de sua autoria.
ANO DE 1665 – OS JESUÍTAS JACOB COCLEO E PEDRO CASSALI VISITAM OS ALTIPLANOS DA IBIAPABA – A LIBERDADE DE DOM SIMÃO TAGUAIBUNA. Presos na Fortaleza do Ceará desde a rebelião que resultou na retirada dos padres Pedro Pedrosa e Gonçalo de Veras dos altiplanos da Ibiapaba no ano de 1662, o morubixaba Dom Simão e os demais índios na nação tabajara, foram, finalmente, libertados no ano de 1665. A liberdade dos “rebeldes da Ibiapaba”, deu-se graças às intermediações do padre Jacob Cocleo. “Para obter a liberdade dos índios que foram presos por causa do tumulto, Cocleo enviou cartas tanto para o Provincial, quanto para o Vice-rei. Desse último conseguiu a liberdade do Principal e dos demais índios presos: <<E Vossa Paternidade o gosto de ver esses índios livres, e o Principal reduzido a obediência da Igreja, e o serviço de Del-Rei meu Senhor em que Vossa Paternidade se mostra tão igualmente Zeloso>>. Todos seguiram para Ibiapaba, e lá se estabeleceram por “alguns meses” até conseguirem restabelecer as pazes com os indígenas. Assim Cocleo descreve essa jornada”: “Após caminhada de doze dias, que pus no novo e escolhido lugar as relíquias dos índios a nós favoráveis e que lá me encontraram os rebeldes do monte Ibiapaba com o principal Dom Simão para tratar do acordo de paz, obtida com as condições de readmitirem nossos padres como curadores de suas almas, que se aplicassem a semear cereais continuamente no novo sítio, com o qual pacto eu obteria de Vosso Rei perdão para os culpados, e do Padre Provincial algum sócio que os assistisse” (Archivum Romanum Societas Iesu - Carta de Jacob Cocleo ao Padre Geral Oliva. Ceará, de 12 de setembro de 1665). Fonte: Trecho do livro “Mapas da América Portuguesa, Extraído do Original” de Valquíria Ferreira da Silva.
SOBRE OS AÇORIANOS NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Centro Esportivo Virtual Aconteceu nesta semana, terça-feira, um encontro da Casa dos Açores no Maranhão, com a presença de um representante daquela comunidade, Dr. José Andrade.
Os participantes da mesa se referiram à chegada dos primeiros açorianos aqui chegados, à partir de 1619. A relação das Ilhas dos Açores com o Maranhão é anterior à restauração portuguesa /espanhola ocorrida em 1615. Sabemos que no período de 1580 a 1640 a região pertencia à Espanha, pois o reino de Portugal perdera seu último soberano, e a coroa então passou para o domínio espanhol. É neste período que a França ocupa a região, e Portugal tenta retomá-la. Na guerra de (re)conquista territorial, muitos militares do exército português/espanhol, assim como sacerdotes participaram dos eventos ocorridos, principalmente à partir de 1603. Vejamos: A primeira tentativa para expulsar os franceses do Maranhão foi a do açoriano Pêro Coelho de Sousa que chegou de Pernambuco em 1603 e desembarcou no Ceará com 65 soldados e mais de 200 índios. Já Barretto (1958) diz que integravam a expedição 86 europeus e 200 indígenas, e à frente, Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda. Jacques Riffault percorria o litoral do Ceará entre 1603-1604, quando o Capitãomor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: [...] “descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem”. Em 1604, Pero Coelho de Souza passou rumo a Ibiapaba, e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contra os franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim). Barretto (1958) informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92). PERO COELHO DE SOUZA (Ilha de São Miguel, fins do século XVI — Lisboa, meados do século XVII) foi um explorador português, oriundo dos Açores. Chegou ao Brasil em 1579 e foi o primeiro representante da Coroa Portuguesa a desbravar os territórios das capitanias da Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará, entre os séculos XVI e XVII. Concunhado de Frutuoso Barbosa exerceu interinamente o governo da Paraíba após a administração deste, e foi vereador da câmara da Cidade da Parahyba pelos anos de 1590 Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa, por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governadorgeral do Brasil, o título de capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que há anos atuavam na capitania do «Siará Grande». Esse fidalgo da casa do rei e militar experiente, partiu da Paraíba para a conquista as terras cearenses. Pero Coelho morreu em Lisboa, depois de passar longos anos a requerer, inutilmente, a paga dos seus serviços.
Logo após essa tentativa de se chegar ao Maranhão, houve, em 1607, outra, com dois padres jesuítas, o açoriano Francisco Pinto, de Angra, Ilha Terceira, de cinquenta e três anos e o alentejano Luís Figueira, de Almodávar, que desembarcaram na foz do rio Ceará e foram trucidados pelos índios, com Francisco Pinto sendo devorado. FRANCISCO DA COSTA PINTO, padre Jesuíta, nascido em 1552, da cidade de Angra, Ilha de Terceira. Morto em 11 de janeiro de 1608, na Chapada de Ibiapaba. Açoriano, veio para o Brasil, quando criança, acompanhando a família que imigrou para o Brasil. Aos 17 anos de idade, deixou o Estado de Pernambuco seguiu para a Bahia e em 31 de outubro de 1568 ingressou na Companhia de Jesus. Não chegou a completar o curso, recebendo a o título de Coadjutor espiritual formado. Em 1588 recebeu a ordens sacras, sendo considerado padre. Devido a seu conhecimento das línguas indígenas é indicado para a Missão do Maranhão. No dia 20 de janeiro de 1607, partiu do Recife, em uma embarcação que ia buscar sal coletado nas salinas na foz do Rio Mossoró[4], juntamente com o padre Luís Figueira para o Siará Grande, com o intuito de catequizar os nativos daquele território.
Da conquista, efetiva, com a expulsão dos franceses, participaram outros açorianos: Alírio Cardoso (2011) apresenta, em um quadro, a origem de alguns oficiais que participaram da Conquista do Maranhão e Grão-Pará (1615-1616, baseado em Berredo (1988). São eles: NOME
POSTO
ORIGEM
Manuel de Sousa de Eça
Capitão-Mor/
Ilhas dos Açores
Capitão de Infantaria Diogo de Campos Moreno
Sargento-Mor
Tanger ou Ilha Terceira
Bartolomeu Ramires
Incerto
Ilhas dos Açores
Domingos Correia
Maestro de Caravela
Ilha Graciosa (Açores)
FONTE: CARDOSO (2011), de acordo com BERREDO, Anais Históricos do Estado do Maranhão. São Luís: Alumar, 1988 [1749], § 198-199; § 248; §304-308; §436; § 763-780.
MANUEL DE SOUSA (DE SOUZA) DE EÇA (DEÇA) (DE SÁ) (E SÁ). Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Capitão-môr do Pará que participa en la conquista de Maranhão. Fue enviado, con el rango de capitão-môr o de capitão de Infantaria, como parte de la flota de socorro integrada por siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses (CARDOSO, 2011, p. 331, CARDOSO, 2012, p. 164 DIOGO DE CAMPOS MORENO Nacido en Tanger o en la Ilha Terceira, participó como alférez en la Guerra de Flandes, en los ejércitos de Alejandro Farnesio. Nombrado Sargento mor do Brasil en 1602 cuando va a Brasil con el gobernador Diogo Botelho (Alvará de 25 de enero de 1602). A su vuelta a Europa en 1613 el rey Felipe III extinguió el cargo, pero lo volvió a nombrar para el mismo en 1613 cuando lo mandó a la conquista de Maranhão (Alvará de 19 de diciembre de 1613). Participó en las campañas para la conquista de Maranhão de 1614 y 1615. Según Cardoso (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164) BARTOLOMEU RAMIRES Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Enviado con cargo desconocido o "Incerto" en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 con el fin de arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164). DOMINGOS CORREIA - Lugar de nacimiento: Ilha Graciosa. Mestre de caravela. Enviado en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164). Recebeu em julho de1635 Carta de Capitão de infantaria da armada do Brasil. 1Recebeu em junho de 1635 Carta de Provedor do Rio de Janeiro.
Depois da ocupação do importante ponto estratégico da ilha do Maranhão, em 1615, Jerónimo de Albuquerque ficou ao comando das forças lusas na cidade de São Luís, fundada, em 1612, pela força expedicionária gaulesa derrotada (ALMEIDA, 2012); diz-nos esta autora: “que nesta altura estava a ser dada prioridade à ocupação efectiva e controlo desta região por parte dos governantes”:
Em 1615 Jorge de Lemos Bettencourt propôs-se a encaminhar dos Açores para o Pará mil pessoas de forma a constituir-se um núcleo populacional, mas na prática só conseguiu transportar cerca de metade dos efectivos. Quando esses colonos chegaram ao Maranhão, em 1618, souberam através da população local das condições inóspitas e das dificuldades que iriam encontrar no estabelecimento na região do Pará. A própria região do Maranhão carecia de gente para a constituição de povoados, pelo que se dava prioridade ao expediente de povoar essa zona comparativamente ao restante conjunto brasílico. O próprio governador do novo Estado do Maranhão tardou a ocupar o seu posto. [...]. O capitão-mor JORGE DE LEMOS BETTENCOURT (ou Betancor, como também se encontra nos documentos da época) era natural das Ilhas de Açores e fidalgo da Casa Real. Seu pai havia servido em Pernambuco e seu avô, o fidalgo João de Bettencourt de Vasconcellos, fora degolado por ordem do Prior do Crato quando prestava serviços ao soberano na Ilha Terceira. Bettencourt ofereceu-se para levar duzentos casais provenientes das Ilhas dos Açores para povoarem o Maranhão e o Pará, arcando com todas as despesas da viagem até a chegada à terra. (1636. AHU_ ACL_CU_009, Caixa 1, Doc. 109, IN . CORRÊA, 2012). Jorge de Lemos de Bettencourt, nascido em 1540, era filho de Jorge de Lemos, o velho, filho de João Dias de Lemos (1480), nasceu em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e de Maria Gonçalves De Ávila, nascida em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e tinha duas irmãs,. Francisca de Lemos, e Ignez Gomes de Ávila, 1560, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal. Casado com Joana Bettencourt de Vasconcelos, pais de Pedro de Lemos Betancur, nascido em 1580, na Terceira; Francisco de Lemos Bettencourt; Jorge de Lemos Bettencourt, (II); Pedro de Lemos Betancur e Ignes Betancurt.
A 12 de julho de 1619, Antonio Ferreira de Bittencourt, natural da ilha de São Miguel, conseguiu uma autorização da Fazenda Real dos Açores para transportar, no período de três anos, cerca de 50 casais para o Maranhão, tudo à custa da sua fazenda. De fato, o navio São Francisco chega ao Maranhão no dia 29 de outubro de 1621 com 40 casais, totalizando 148 pessoas, conforme consta a certidão datada de 24 de novembro de 1622, apresentada pelo provedor da Fazenda Real dos Açores . “Estavam esses colonos contemplados no plano de governo metropolitano de instalar a indústria de açúcar incluindo dois engenhos de moer cana-de-açúcar, o primeiro sendo instalado na terra firme à margem do rio Itapecuru.” (MARIN, 2002, citado por MARQUES, 2005)). “Eu me resolvo que esta é a melhor terra do mundo, donde os naturais são muito fortes e vivem muitos anos, e consta-nos que, do que correrem os portugueses, o melhor é o Brasil, e o Maranhão é Brasil melhor [...].” (SILVEIRA, 2001). Em 1624, quando estas palavras são escritas o Maranhão contava já com 300 habitantes, divididos nas fortalezas de São Felipe e São Francisco em São Luís; São José, no povoado de Itapari e a de Nossa Senhora da Conceição na região de Itapecuru. Além dessas, contava com duas estâncias onde moravam alguns franceses que ficaram na ilha, depois de casados com índias, mestiços e portugueses, assim como nove aldeias espalhadas nas circunvizinhanças, cujos índios serviam aos colonos. (MARQUES, 2005). A partir de 1633, novas levas de imigrantes estimulados pelas palavras de Simão Estácio da Silveira chegaram no Maranhão em dois períodos distintos, já depois de Portugal ter reconquistado a sua independência em 1640. O primeiro foi em 1648-1649 quando um decreto real, expedido em 19 de setembro de 1648, quis recrutar 100 casais na ilha de Santa Maria, ou mais ou menos entre 500 a 600 pessoas, tarefa que foi concedido por ordem do Conselho Ultramarino de 6 de abril de 1649 ao mercador alemão Martin Filter. Deste modo, além dos 52 casais que foram de Santa Maria, outras 365 pessoas da ilha de São Miguel chegaram ao Maranhão em agosto do ano seguinte, conforme relata Manuel de Sousa Menezes num artigo de 1952 (citado por MARQUES, 2005). A discussão girou em torno das migrações após a conquista... esquecendo-se da participação de açorianos de antes da criação do estado Colonial do Maranhão...
A MISSÃO DO “RIO DO MARANHÃO” FEITO O ANO DE 1603 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Centro Esportivo Virtual “RIO DO MARANHÃO”... UMA ENTIDADE GEOGRÁFICA – DESCRIÇÃO FEITA EM 1615 pelo padre Manuel Gomes, da Companhia de Jesus: “(...) Fosse de Pernambuco uma armada, por ordem de Sua Majestade, para lançar aos franceses do Maranhão. Com clareza, darei uma breve notícia do Rio Maranhão, ou Amazonas, ou Orellana, que estes três nomes lhes dão as histórias. Chama-se Maranhão ou Orellana, tomando estes nomes dos primeiros espanhóis que por ele navegaram, Francisco Orellana, outro Antônio Maranhon; chama-se das Amazonas por correr pelas terras das Amazonas . Com nossos portugueses, usando do nome do gentio lhe chamamos, Pará, que quer dizer, Mar. (...). Oitenta léguas está uma ilha, na boca destes Rios chamados Muni, Itapuerte, Meari, os quais antes de se meterem no mar, se ajuntam em um, formandolhe a ilha, a que agora chamamos Maranhão (...)". Fonte: Carta (trecho) do padre jesuíta Manuel Gomes, datada de 10 de outubro de 1615, destinada ao Provincial do Brasil – O padre Manuel Gomes fazia parte da Armada de Alexandre de Moura, na conquista do Maranhão em 1615. Biblioteca Nacional de Portugal. Link: ( https://purl.pt/15266 ). Por João Bosco Gaspar.
Muitas Crônicas, Cartas, Memoriais e Planisférios chegam a representar o Maranhão como uma espécie de ‘não-Brasil’. Na representação da ‘América do Sul’, feita no final do século XVI pelo cartógrafo Arnoldus Fiorentinus, o Maranhão aparece como uma região completamente integrada ao Vice Reinado do Peru, separada fisicamente do Estado do Brasil. É possível dizer, assim, que o Maranhão era concebido como uma ‘entidade geográfica’, que fazia parte do império hispano-luso, mas ainda não havia sido dominado militar e politicamente. Na própria cartografia do século XVI, o nome Maranon é utilizado para definir o limite das terras lusobrasileiras ou para nomear o rio que faz essa divisão. Essas fontes confundem o rio Marañón, na bacia do Vice Reinado do Peru, com o rio Amazonas, às vezes chamado de ‘Mar Dulce’ ou ‘rio de Orellana”. Trecho do livro “A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica,1596-1626” de Alírio Cardoso, P. 319.
Ao se tratar do “Maranhão” temos que entender que se trata de uma entidade geográfica. Os textos encontrados do período dos descobrimentos – sejam do Brasil, sejam do Maranhão – tratam-no como ora pertencente à Portugal, por força do Tratado de Tordesilhas, ora à Espanha, por conta da junção das coroas ibéricas, ora à França, por conta da ocupação do território por ocasião da colonia aqui estabelecida. Outras nações tamém ocuparam o Maranhão de então. Assim como ao se referir ao ‘Maranhão’, o local, o rio, o estado, se se referia ora ao Amazonas e à sua foz, ora ao Golfão maranhense, confundido-se e misturando-se. A procura do Rio do Maranhão se dá quando da ocupação francesa do Golfão, a partir dos anos 1590, quando de uma passagem de Jacques Riffault e seu posterior estabelecimento, definitivo, em 1594, com a feitoria Miganville. CHARLES DE VAUX E SEUS AMIGOS TABAJARAS: “Alí perdera Jaques Riffault dois navios, em 1594; e gente sua estava entre os índios que resistiram aos portugueses em 1604. (...). Participava da expedição o mesmo Charles de Vaux, companheiro outrora de Riffault e por muitos meses morador na Ibiapaba com os índios inimigos dos portugueses”. Trecho do livro “História do Brasil, Tomo 2” de Pedro Calmon, ano de 1941, P. 33.
O primeiro contato europeu na região, foram os franceses que estabeleceram a Feitoria da Ibiapaba, comercializando e trocando com os Tabajaras desde 1590. O maior aliado dos francos, era o cacique Irapuã (ou Mel Redondo), que possuia sua aldeia na região de Viçosa e Tianguá. Sabededores da ocupação por parte dos franceses, portugues do Vice-reinado foram mandados, por Felipe II, a verificar as notícias que circulavam pela Europa, de uma ocupação francesa ao seu território. Lembrando que, por essa época, as duas coroas ibéricas se juntaram, não havendo, pois, a delimitação estabelecida pelo “testamento de Adão”, de que estas terras ou eram portuguesas ou espanholas. Tornara-se, pois, um só dominio, e este era espanhol. Em 1603, o capitão português Pero Coelho de Souza liderou uma expedição na Ibiapaba para expulsar os franceses e conquistar os indígenas, realizando um massacre contra os Tabajaras e trazendo inúmeras doenças. Após isso, o governo português tenta fundar uma aldeia na serra, enviando dois jesuítas sob o padre Francisco Pinto, que se estabelece na aldeia de Juripariguaçu, um cacique Tabajara (atual Ibiapina). Mas, a tentativa de colonização falha após uma chacina que matou um padre e alguns Tabajaras, em um ataque dos indígenas Takarijús. Pero Coelho de Souza, português de nobre família, filho dos Açores, veio para as terras do Ceará Grande em 1603 e, não resistindo à tentação de subir à Serra da Ibiapaba, conhecida como a terra da Promissão, veio ter à Ibiapina, passando pela Aldeia de Irapuan (provavelmente Viçosa)7. Pero Coelho de Souza (Ilha de São Miguel, meados do século XVI — Lisboa, meados do século XVII) foi um explorador português, oriundo dos Açores.[1] Chegou ao Brasil em 1579 e foi o primeiro representante da Coroa Portuguesa a desbravar os territórios das capitanias da Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará, entre os séculos XVI e XVII.[2] Considerado homem nobre do Brasil Colônia, Coelho foi o primeiro europeu, juntamente a Martim Soares Moreno a ter seu nome ligado à escravidão das populações indígenas no Brasil, tornando primeiro os índios da Ibiapaba, de Jaguaribe e do Rio Grande do Norte reduzidos à escravidão.[3][4] Concunhado de Frutuoso Barbosa,[nota 1] exerceu interinamente o governo da Paraíba após a administração deste, e foi vereador da câmara da Cidade da Parahyba pelos anos de 1590.[1][2][nota 2] Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa, por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos tabajaras com os franceses que há anos atuavam na Capitania do Ceará.[5] Em junho de 1603 partiu da Paraíba por terra com destino à região que compreendia a costa da primeira sesmaria concedida na Capitania do Ceará, que começava na foz do rio Apodi, onde haviam as salinas chamadas Jaguaribe. Para a foz do rio Jaguaribe foram mandadas três embarcações com mantimentos. A comitiva de Coelho, ou bandeira, como se chamava naquela época, constava de 65 soldados comandados por Martim Soares Moreno (sobrinho de Diogo de Campos, soldado famoso do serviço real), Simão Nunes Correia e Manoel de Miranda; e 200 potiguaras, comandados pelos caciques Mandioca-púba, Batatan, Caraguatin e Guaratinguira.[3] Coelho fundou em 10 de agosto de 1603, numa barra do rio Jaguaribe, o presídio Fortim de São Lourenço, e seguiu em direção ao Mucuripe[3] e à Ibiapaba. Em 18 de janeiro de 1604, prosseguindo sua marcha pela costa do Ceará, Coelho chega à foz do rio Coreaú, em Camocim, de onde, parte no dia seguinte para a Ibiapaba. Travou batalha com 7
Viçosa foi antiga aldeia de índios. Foi desbravada ao findar o século XVI, quando do contato dos índios com os franceses, vindos do Maranhão. Os franceses estiveram na região ibiapabana entre 1590 e 1604, data em que foram expulsos por Pero Coelho de Sousa, quando este fazia tentativas de colonização portuguesa no Ceará. Ainda em 1607, religiosos em busca de terras e riquezas para ostentação de igrejas, estiveram na Ibiapaba, com o objetivo de enganar os índios. Há ainda informações históricas de que estes chamados de missionários fora trucidado por índios Tucurujus, assim que perceberam suas trapaças. https://www.achetudoeregiao.com.br/ce/vicosa_do_ceara/historia.htm# Viçosa do Ceará foi o primeiro povoamento português na Serra da Ibiapaba, inicialmente habitada por indígenas Aconguaçús, que dominavam o extremo norte da serra, além da grande nação Tabajara, conhecidos como "Senhores da Serra". Além destes, ao longo da história houve migrações de povos de outras regiões como os Anacés, Areriús, Anapurus-Açus e Anapurus-Mirins.[7]
os tabajaras, chefiados por Jeroparyassú (Diabo-grande) e Irapuan (Mel-redondo), aliados do corsário francês Adolf Montbille. Nesse confronto armado saíram vencidos os tabajaras, os quais foram levados como escravos e vendidos nos engenhos do litoral.[6] Coelho conquista definitivamente a região da Ibiapaba e continua pela costa em direção ao Maranhão, no entanto, voltou do rio Parnaíba e recolheu-se a Nova Lisboa, situada entre a Barra do Ceará e Vila Velha. Lá ergue, decididamente à margem direita do rio Ceará, o presídio Fortim de São Tiago da Nova Lisboa, capital da Nova Lusitânia, em 25 de julho de 1604.[3], que guarnece com 45 soldados que estavam em sua companhia, capitaneados por Simão Nunes Correia. Após tal construção, deixa seus homens no então erguido forte e retorna à capitania da Paraíba para angariar mais recursos e trazer sua família. Dezoito meses depois da sua ida à Paraíba, Pero Coelho retorna ao Ceará, em 1605, juntamente com a Maria Tomásia Cardiga, sua esposa, e seus filhos. Contudo, devido à seca que então assolava as terras cearenses na época, assim como os desânimos de seus homens, os ataques dos índios e a não chegada dos recursos prometido por Diogo Botelho, que saíram de Recife, sob ordens de João Soromenho, que extraviou os mantimentos.[3]Pero Coelho abandona o Fortim de São Tiago e ruma de volta à Paraíba, abandonando definitivamente a capitania do Ceará. Ainda nessa jornada de abandono, Coelho perde o filho mais velho. Pero Coelho morreu em Lisboa, depois de passar longos anos a requerer, inutilmente, o pagamento dos seus serviços.[7]
Toda a Serra de Ibiapaba era dominada por dois poderosos e temíveis chefes indígenas: Diabo Grande e Mel Redondo. Vários combates foram travados e, nos primeiros se sobressaía a figura de Martins Soares Moreno.
Martim Soares Moreno8, Capitão-mor do Ceará (Santiago do Cacém, c.1586 — Portugal, após 1648), foi um militar católico que defendeu os interesses da coroa lusitana no Brasil, objetivando fazer com que todos os países europeus reconhecessem o Tratado de Tordesilhas. É considerado o fundador do atual Ceará. Martim Soares Moreno escreveu uma carta de grande valor para os cearenses. A carta se chama "Relato do Ceará". Nascido em 1586 (ou talvez 1585, era filho dos portugueses Martim de Loures Moreno e Paula Ferreira Soares. Seu tio, Diogo de Loures Moreno diz que "mui pequeno o havia mandado com Pero Coelho de Sousa, para que servindo naquela entrada aprendesse a língua dos índios, e seus costumes, dando-se com eles, e fazendo-se seu mui familiar, e parente, ou compadre, como eles dizem". Participou da expedição de Pero Coelho ao Ceará em 1603 e acabou por se tornar, anos mais tarde (1612), o virtual fundador daquela capitania. Na margem direita da foz do rio Ceará, com a ajuda de índios Potyguaras e seus soldados, construiu o Fortim de São Sebastião e uma ermida dedicada a Nossa Senhora do Amparo. No mesmo ano foi, a mando de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, reconhecer o Maranhão, ocupado pelos franceses, que haviam sublevado o gentio daquela terra. Na volta, entretanto, seu navio foi jogado pelos ventos às Antilhas. Em 1614 estava em Sevilha, na Espanha. No ano seguinte, já capitão, retornou ao Maranhão, junto com um reforço de 900 homens, que tornaram possível a expulsão definitiva dos franceses e a captura da cidade de São Luís. Em 1616 foi capturado em alto mar por um navio corsário francês, após violento combate, que o deixou seriamente ferido, com uma cutilada no rosto e uma mão a menos. Nessa embarcação foi reconhecidos por familiares das vítimas do Maranhão e foi preso. Ao chegar na França foi julgado e chegou a ficar preso até 1618. Sendo repatriado a Portugal no mesmo ano, graças negociações diplomaticas, escreveu uma carta patente de 26 de maio de 1619 fez mercê da capitania do Ceará a Martim Soares Moreno, em atenção aos seus serviços. Lá, em 1624 e 1625, repeliu os ataques de duas naus neerlandesas. Em 1630 deu-se a invasão holandesa de Pernambuco. Martim Soares, partiu do Ceará com uns poucos índios e soldados e chegou ao Arraial do Bom Jesus em junho de 1631. Na fase inicial da luta, tomou parte no bloqueio das forças holandesas postadas em Recife e Olinda. Destacou-se sempre, como combatente e intérprete junto aos índios. Nos anos seguintes, tomou parte na defesa da Paraíba e de Cunhaú (na capitania do Rio Grande). Tendo os holandeses derrotado a resistência luso-brasileira, e restaurada a monarquia portuguesa em 1640, foi firmada uma trégua entre Portugal e a Holanda. Contudo, em 1645, Martim Soares Moreno tomou parte no movimento clandestino que culminou na guerra de
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1987TE-MartinsSoaresMorenoOCapitaodoCeara.pdf 2020_15_O_Martim_Soares_Moreno_o_Cotiabo_e_Heroi_da_Patria.pdf
restauração do Brasil. Retornou definitivamente para Portugal em 1648 aos 62 anos de idade, após 45 anos servindo a coroa lusitana no Brasil, sem ser reconhecido por esta. Em 2018 seu nome foi inscrito no Livro de Aço dos heróis nacionais do Brasil depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves.[1] O histórico Vale do Lambedouro em Viçosa do Ceará, trajeto da bandeira de Pero Coelho de Sousa e Martim Soares Moreno na conquista da Ibiapaba nos idos de 1604.
Após Pero Coelho, outra missão se segue. Partindo de Pernambuco os padres Luiz Figueira e Francisco Pinto foram para a Serra da Ibiapaba onde tiveram o primeiro contato com Irapuan de onde seguiram para a Aldeia de Diabo Grande, tendo-lhes servido de guia Diabo Ligeiro. Os dois missionários conseguiram dominar os silvícolas, erguer capela, fundar escola e pacificar os mais exaltados. A Missão Jesuítica foi o ponto de partida para a fundação da futura vila de Ibiapina, que apesar das lutas constantes, extinguindo-se e renascendo, consolidou-se o domínio e a pacificação dos nativos, resultando na definitiva edificação do arruado de 1820.
À desastrosa retirada de Pero Coelho, seguiu-se, em 1607, a tentativa de catequese dos selvícolas pelos jesuitas. Partirem:
ROTA DOS JESUÍTAS - ANO DE 1607-1608. Vista panorâmica do Maciço da Uruburetama/Serra da Lolaia (antiga Serra dos Corvos), nos municípios de Irauçuba e Uruburetama, Ceará. Os jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira cruzaram essas serranias no ano de 1607, em busca da longínqua Ibiapaba.
Os Jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira, no contexto da Missão ao Rio do Maranhão, em 1608, estiveram na aldeia de Diabo Grande, onde edificaram uma igreja de palhas de babaçu e ergueram um grande cruzeiro. MISSÃO AO "RIO DO MARANHÃO" - 1606: (ainda não havia a capitania do Maranhão, criada em 1615): “Da missão que fizeram o Padre Francisco Pinto e o Padre Luís Figueira ao rio de Maranhão. Corre de Pernambuco para a parte do norte, e do rio do Maranhão uma grande costa de mar do Brasil pertencente à conquista desta coroa perto de duzentas léguas, toda povoada de infinitos índios bárbaros e selvagens, como são todos os do Brasil, entre os quais até agora principalmente
os que estão mais afastados de Pernambuco carecem da luz do sagrado Evangelho (...). Partiram pois, de Pernambuco por ordem do padre provincial e com licença e ajuda do governador Diogo Botelho em Janeiro de 1607 (...). Chegaram a uma serra chamada Ibiapaba, donde até ao Maranhão havia ainda cem léguas, mas estas todas daqui por diante povoadas de infinitos bárbaros tapuias, e como era necessário passar pelo meio deles e isto não havia de ser com força de armas, começaram a tratar de pazes, as quais bem se temeram que fossem de pouco efeito pela pouca constância destes bárbaros, que as não fazem mais que por aquele ato, mas acabado ele, matam quem podem (...)”. Trecho do livro “Relação anual das coisas que fizeram os padres da Companhia de Jesus em suas missões” Tomo II, publicado em Coimbra, Portugal, no ano de 1931, p. 425-426. Por João Bosco Gaspar
A Ibiapaba entrou na rota dos missionários por três motivos: primeiro, pelo fato de ser habitada por “gente amiga”; segundo, para averiguar se havia franceses na região, e terceiro, para suprir com mantimentos os missionários. A “Missio Ad Fluvium Maranhão” via Ibiapaba, foi realizada mediante autorização do padre Claudio Acquaviva, Superior Geral da Companhia de Jesus. Essa jornada missionária é narrada em detalhes pelo padre Luís Figueira no documento intitulado “Relação do Maranhão". Nessa mesma jornada o padre Francisco Pinto foi cruelmente assassinado pelos índios tocarijus. OS ÍNDIOS DO JAGUARIBE, CEARÁ, RESGATAM O CORPO DO PADRE FRANCISCO PINTO. “(...) Pôde a terra comer o corpo deste insigne varão nas raízes da serra da Ibiapaba, onde o tinha depositado a incansável diligência de seu companheiro, o padre Luiz Figueira; mas nunca o descuido pode gastar a memória que do seu missionário tinham os índios naturais do Jaguaribe. Todos estes anos que passaram depois da sua morte, acalentaram os seus desejos com a esperança que ainda tinham de o ter, senão vivo, ao menos morto, na sua companhia. Despertou mais esta sua vontade, a grande seca que por este ano (...) experimentara. Incitados de uma tão grande
conveniência, tomaram a resolução de ir buscar a todo o risco, os ossos do seu Amonaiara; e para o porem em execução , determinaram os principais, dia certo, em que haviam de partir; e armados em guerra, como se houvessem de conquistar um grande reino, se puseram a caminho, e chegaram finalmente ao lugar, que pelos sinais era o mesmo que lhe tinha relatado o padre Figueira. Mandaram abrir a sepultura e acharam o precioso depósito, como tesouro escondido debaixo da terra. Meteram os ossos, com toda veneração em um caixotinho que levavam, e partindo alegres para a sua terra, os colocaram em uma das principais aldeias daquele distrito (...)”. Trecho do livro “Corographia histórica, chronographica, genealogica, nobiliaria e política do Império do Brasil”, p. 85/86, de Alexandre José Mello Moraes, publicado em 1858. Foi durante essa estadia na aldeia de Juripariguaçu [Ibiapina], que os missionários jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira presenciaram um fenômeno raro: avistaram o cometa Halley (ainda sem essa denominação) cruzar apoteótico os céus da Ibiapaba, fato esse registrado na íntegra pelo padre Luís Figueira: “Rematãdo nossas cousas na Aldea do diabo grande aonde nos detivemos passando de quatro meses tentando pazes cõ os tapuyas sem terem effeito, no fim de settembro de 607 apareceo hu cometa para banda do maranhão a loeste, o qual estendia hua muy comprida cauda p.ª a banda de leste, e durou muitos dias” Fonte: FIGUEIRA, Relação do Maranhão, Revista do Instituto do Ceará, RIC 1903, p. 119. Em 1607 foi tida como prenúncio da morte do padre Francisco Pinto na Serra da Ibiapaba.
O “navegante francês, De Vaux, que esteve anos perdido entre os índios, na sua volta à França teria convencido Henrique IV a iniciar os planos para a ocupação desta parte da América Portuguesa. Em 1611, a Regente francesa Maria de Médici passa instruções gerais para a efetivação do projeto. A frota de três navios e cerca de quinhentos homens saiu do porto de Cancale, na Bretanha, em março de 1612, fazendo uma primeira escala na ilha de Fernando de Noronha, depois na Capitania do Ceará.
Os franceses chegam ao Maranhão em julho de 1612, ocupando uma das ilhas menores (Santa Anna) e logo passam à Ilha Grande, onde fundam imediatamente uma fortificação”. (Alírio Cardoso, “The conquest of Maranhão and Atlantic disputes in the geopolitics of the Iberian Union -1596-1626”. Por João Bosco Gaspar. O CEARÁ COMO “PONTA-DE-LANÇA” NA CONQUISTA DO MARANHÃO: “Antes da tomada definitiva do Maranhão existem importantes viagens prévias, realizadas com ou sem a permissão expressa de Madri. A mais conhecida foi a jornada feita pelo capitão e alcaide do Ceará, Martim Soares Moreno. Esse capitão português tinha grande fama de especialista em línguas indígenas e experto em navegação pelo litoral norte da América Portuguesa.
MARTIM SOARES MORENO - A ESPADA E A CRUZ - (texto de Licínio Nunes de Miranda - Fortaleza Antiga). "Pintura <<A espada e a cruz>> representando o momento da chegada do jovem capitão Martim Soares Moreno à barra do Ceará, em 1611. Ao lado dele, o padre Baltasar João Correia, primeiro clérigo secular a ser enviado pela coroa ao Ceará. Eles estão acompanhados de seis soldados portugueses e alguns indígenas potiguares da tribo do chefe Jacaúna. Vieram todos de onde hoje é o estado do Rio Grande do Norte. A imagem mostra o encontro do grupo de viajantes com outra tribo de índios potiguares, que ali havia se estabelecido em 1607, e convertidos ao cristianismo pelo padre Luís Figueira, da ordem do jesuítas. É a fundação do Ceará (e os primórdios da cidade de Fortaleza). É de autoria de Rodval Matias e pertence a minha coleção pessoal. Eu tive o cuidado de pesquisar para que fosse o mais fidedigna possível" Em 1613, Martim Soares realizou, por ordem do governador do Estado do Brasil, Gaspar de Sousa, uma viagem de reconhecimento da costa do Maranhão. Sua pequena frota experimentou o grande problema da navegação entre o Estado do Brasil e o Maranhão: os fortes ventos contrários dessa parte do Atlântico. Levados
pelas correntes, que sopravam na direção do Mar do Caribe, a viagem termina em agosto de 1613 na cidade de Santo Domingos. Martim Soares se apresenta às autoridades locais como navegador com ordens de Sua Majestade. Por isso, seu navio foi consertado com custo de 230 ducados, que deveriam ser pagos pela Casa de Contratacion de Sevilha, como avisam os diversos informes existentes sobre a jornada. Esse tipo de missão de reconhecimento servia, também, para registrar os principais grupos de piratas e corsários que andavam pelo Maranhão. Antes de abordarmos os projetos de conquista propriamente hispanolusos, cabe fazer um resumo da atividade dos principais grupos não ibéricos nessas terras”. Trecho do livro “A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica,1596-1626” de Alírio Cardoso, P. 321-322. Desenho de Ernane Pereira “A Fortificação”.
“ESTADO DO MARANHÃO” A PEDRA DE TROPEÇO DE MUITOS HISTORIADORES. “Criado por carta régia de 21 de fevereiro de 1620, à época em que Portugal encontrava-se sob o domínio de Espanha, o Estado do Maranhão, enquanto unidade administrativa separada do Estado do Brasil e diretamente subordinada a Lisboa, correspondia ao propósito de garantir a posse daqueles vastos domínios do Norte. É o que expressa a carta do rei Filipe III: “[...] houve por bem de erigir em governo distinto e separado do [Estado] do Brasil as terras do Maranhão e Pará com as fortalezas que há nelas para [as] cousas daquela conquista se assentarem melhor e se poder cultivar e povoar a terra [...]”. A carta régia de 13 de junho de 1621 confirmou a criação do Estado do Maranhão e sua independência administrativa do Estado do Brasil”. Constituído, a princípio, pelas capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará, o Estado do Maranhão criado em 1621, deveria ser a “pedra angular” dos historiadores que se aventuram a escrever sobre a história colonial, sobretudo a historia das capitanias da Costa leste-oeste. Os grandes mestres Alírio Cardoso (Maranhão) e Evaldo Cabral de Mello (Pernambuco), por exemplo, fundamentam suas narrativas históricas nessa sólida pedra angular, para outros, no entanto, o tema “Estado do Maranhão” tornou-se a “grande pedra de tropeço”. Fontes: Arquivo Nacional da Torre do Tombo, chancelaria de Felipe III, livro 18 fls. 73, livro “O governo das Conquistas do Norte” de Fabiano Vilaça dos Santos. Foto: imagem colhida na Internet.
"O Antigo Estado do Maranhão e suas Capitanias Feudais", do historiador cearense Carlos Studart Filho. Uma raridade... Um tesouro. Carlos Studart Filho é uma das maiores autoridades em "Estado Colonial do Maranhão"
ANO DE 1660 - O PADRE ANTÔNIO VIEIRA VINDO DO MARANHÃO EM VISITA A MISSÃO JESUÍTICA DA IBIAPABA. O ANTIGO TERRITÓRIO DA MISSÃO JESUÍTICA DA IBIAPABA É HOJE PARTE INTEGRANTE DA DIOCESE DE TIANGUÁ. PINTURA DO ARTISTA DESCARTES GADELHA (MEMORIAL PADRE VIEIRA, VIÇOSA DO CEARÁ)
BATALHA DE GUAXENDUBA (1614): UMA SIMPLES ESCARAMUÇA? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Aproxima-se as comemorações da ‘Batalha de Guaxenduba’, ocorrida entre 19 e 21 de novembro de 1614. Buscamos na Imprensa maranhense o que foi escrito sobre esse acontecimento e praticamente não encontramos nada: sete artigos, em três jornais, da coleção existentes na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, em A Pacotilha (4), Diário de São Luís (2) e Jornal do Maranhão (1). O mais elucidativo, a de que ela nunca tenha existido, como batalha. Segundo o autor – R.A., seria Rubem Almeida? – houve umas simples escaramuças... Em “Pacotilha” (MA) - 1910 a 1938, edição de 21/11/1917: sob o título A BATALHA DE GUAXENDUBA, consta: Perfazem-se, hoje (21/11/1917), 303 anos que as forças portuguesas venceram as comandadas por La Ravardiére. Dessa memorável batalha resultou o desalojamento dos franceses, que se haviam instalado aqui, em 1612. João Lisboa reproduz a opinião do coronel de engenheiros A. Bernardino Pereira do Lago, autor da Estatística histórico-geográfica do Maranhão, o qual julga que a enseada de Guaxenduba, nome este que se perdeu, corresponde à baía de Anajatuba. Outros autores, porém, que seja a baia de São José aquela em que se feriu o decisivo combate, a 19 e 21 de novembro de 1914 (sic). Continua: “A armada francesa era em verdade formidável, se a compararmos com o extenuado e desprovido destacamento português, pois se compunha de sete navios de alto bordo e de quarenta e seis canoas grandes, com quatrocentos soldados europeus e para mais de dois mil índios”. Assim fala o insigne historiador, classificando essa hora de – “momento supremo, que para sempre decidiu dos destinos de nossa Pátria” E, em diversas passagens, repudia “as acusações injustas contra os nossos genuínos maiores”. Os lusos maranhenses, que replicaram duas invasões estrangeiras, têm bastantes motivos para se ufanar desses feitos gloriosos, deveras inesquecíveis. No ano seguinte, a 19 de dezembro: com o mesmo título A BATALHA DE GUAXENDUBA: Decorre hoje o 306’ aniversario desta luta, da qual derivou a vitória das forças portuguesas sobre as francesas e a consequente posse do Maranhão pelos vencedores, confirmada em 1615. A falta de espaço inibe-nos de publicar um artigo a respeito desse fato histórico, o que faremos nas próximas edições. Em A Pacotilha de 04 de agosto de 1922, em matéria sobre o centenário da Independência, e referindo-se à reforma da Catedral, uma pequena nota lembrando de seu nome: Nossa Senhora da Vitória: [...] A escasses de tempo inibe o eminente antistete de redigir uma narrativa das fases atravessadas pelas catedral, desde o inicio, afim de comemorar a vitória dos portugueses sobre os franceses, na batalha de Guaxenduba, ferida aos 17 de novembro de 1614. Mas, confiando nos eruditos da terra, acreditemos que se fará esse trabalho necessário. Na edição de 04 de setembro de 1938 aparece o seguinte artigo: GUAXENDUBA: Página ainda não criticada nessa da história da colonização francesa em nossa terra. Quantos a versaram, nada mais fizeram do que incondicionais e ridículos, realizar, sob novo estilo, o relato de seu historiador, sem se aperceberem de que, parte profundamente interessada nos sucessos, não podia esquivar-se á eira da parcialidade e do exagero. Testemunha ocular, é certo, conhecedor dos menores detalhes, coparticipe de primeiro plano, seu diário ressente-se, entretanto, de tantas quixotices que chega a estranhar ninguém até a presente houvesse posto reparo. Nem atentaram ao significado oculto do qualificativo ‘milagrosa’, imputada aos capuchinhos, pelas dificuldades no preparo e no cometimento, quando a verdade é ter advindo do apodo do êxito de escaparem de mais ou menos ilesos ao ataque dos que vinham acatar. Compreende-se, e justifica-se a atitude de Diogo de Campos Moreno, autor da “Jornada”... argumento, porém, oportuno para o estudo elaborado de sua peresonalidade e obra. Limitemo-nos por agora a aprrsentar
o resultado da analise eempreendida, despido o relatório der toda a falsa moldura de retumbantes acontecimentos, mercê dos quais esperava ainda gratidão. Sentimos ter de profundamente decepcionar aos maranhenses, ciosos dos feitos de seus maiores, assegurando-lhes, entre outros, que: 1. Não houve a apregoada batalha de Guaxenduba. 2. Não foram os franceses os vencidos, senão os vencedores. 3. Não foram expulsos. NÃO HOUVE BATALHA Somos os primeiros a reconhecer o escandalo dessa afirmativa inicial. Então, não houve a batalha que os historiadores têm dedicados os mais fortes adjetivos, colocando-a ao par dos maximos feitos de arma da história pátria?! Cada um, entretanto, e para isso basta o animo de boa vontade e do bom senso se der à tarefa de examinar, com o devido cuidado, o livro em que primeiro foi relatada, e, não satisfeito e ainda relataram os copistas de agiganta-la, cada um verificará por si o que garantimos, e nossa recompensa será apenas a da prioridade da empresa de reconstituição histórica a que há dois bons decenios, nos vimos entregando. Não houve batalha! Houve, sim, um encontro, rusga, refrega, escaramuça ou sinonimo qualquer, aliás, a varios outros anteriores. Acompanhe-nos o leitor, neste exame à “Jornada”... Chegara a expedição a Guaxenduba no dia 26 de outubro de 1614, vinda da ilha de Santana, aonde já os tinham ido inquietar os franceses de Du Pratz, atacando-lhes o quartel de S. Tiago. Mal se estabelecem no novo quartel de Santa Maria de Guaxenduba denominado,recomeçam os ataques dos franceses. Dia não se passa sem que que não os venha molestar uma impertinencia qualquer dos visinhos, que ali mandam indios espiões acompanharem a marcha do estabelecimento. Na tarde de 2 de novembro investe-os Du Pratz, o mesmo que já assolara o quatel de N. S. do Rosário, no Ceará, e o da ilha de Santana. Enviam os portugueses naus a Pernambuco, pedindo reforços; intercepeta-lhes os franceses a correspondencia. Novo assalto a 7. Resolvem mudar de sítio. Impossível! Estão inteiramente sitiados, marcando os franceses o ataque definitivo para o dia 19, e mandando disso adverti-los. A armada francesa, com 7 naus de altop bordo e 46 canoas, 400 soldados e 4.600 indios aliados, amanhece fundeada diante de Guaxenduba. Pesteux desembarca com 200 conterraneos e 2.000 indios: divide-os em dois corpos, o de vanguarda confiado a Du Pratz, e o seu, na praia, onde arma a trincheira, comunicando-se com as que La Fos Benart e De Canonville acabam de levantar no monte fronteiro ao do forte. Ravardiére, Rassily, Maillart, acompanham de bordo o desembarque. Acantonados, não sabem os portugueses que partido tomar. Situação eminentemente critica. Sesanimo na tropa. Murmurios de sublevação. Conferencia de Jeronimo e Diogo. É quando, estabelecido o cerco por terra e por mar, cerco a que os portugueses assistem impassiveis, chegam ao forte o trombeta e tambor com uma carta de Ravardiére, concedendo-lhes 4 horas para a rendição. Era, como se vê, legitimo ‘ultimatum’. Jeronimo e Diogo aventuram um ultimo recurso: surpreender os inimigos com um ataque decisivo inesperado. É o que sucede. Nesse ataque, inteiramente desprevenido, porque todos aguardavam a resposta, morrem Pesteux e uns tantos companheiros; 9 feridos, são aprisionados. A armada francesa entra em cena. Os 3 navios contrarios, imprestaveis, varados, não podem responder. Bandeira branca no forte de Guaxenduba. Menos de uma hora durára a refrega. Não obstante, contada ´pr interessado, tornou-se na imponente batalha de Guaxenduba. NÃO FORAM VENCIDOS OS FRANCESES. Sem dúvida não no foram. E esta verdade todos a podem verificar, por mais que se esgote em torna-la o cronista ora apreciado. Pois que! Assenta Felipe II,para cardeal de sua politica expansionista, a expulsão definitiva, do Brasil de quanto protestantes aqui estivessem estabelecidos, franceses, ingleses ou holandeses, continuando aliás o plano debalde empregado pela nação de que se acabava de assenhorar; dá, nesse sentido, ordens terminantes a Manoel Teles Barroso, seu primeiro governador geral. Insiste junto aos sucessores, de Francisco de Sousa a Diogo de Meneses; biparte novamente o governo para maior facilidade na empresa – e com todas essas providencias gerais, a que se agregavam inumeras outras politicas europeias apenas consegue desloca-los; eis uma prova o quanto estavam fortes! Corram-se, de fato, as paginas d´”A expansão colonial” (1581-1620)
e apreciem-se os repetidos assaltos, sempre vitoriosos, de Cavendish, Lancaster, Verneer, Pain de MP Pieterzoon, van Leijen, van Noord, Riffault, des Vaux, Ravardiere, etc., etc. e conclua-se a situação de nossa terra. Gaspar de Sousa situa-se em Olinda, expede a Jeronimo de Albuquerque; é malogrado. Idem a de Martins Soares Moreno, como também a de Pero Coelho de Sousa, Luis Figueira e Francisco Pinto (este morto em combate com os franceses de Ibiapaba e jamais pelos indios). Estamos no tempo da ‘jornada milagrosa’. Ainda no Ceará, já eram seus componentes ostilizados pelos franceses. Tornaram-se a salvo em Santana. Em Guaxenduba acabamos de mostrar como se portaram. E dai em diante. Pedem socorros médicocirurgicos e farmaceuticos; elaboram uma correspondencia que tanto tem de cavalheiresca para os franceses quanto para eles humilhante, pois que nem sequer escrever em ‘bom espanhol ou frances sabiam; que aceitam incondicionalmente e do mesmo modo cumprem o Tratado de Treguas; visitam as aldeias e os estabelecimentos, onde são principescamente recebidos; observam os fortes; viajam os arredores; recebem mapas e demais informes, enfim, praticam com os inimigos as melhores demonstrações de boa paz. Perguntase a esta altura: é isto proprio do vencedor ou do vencido? NÃO FORAM EXPULSOS. De fato. Quando se verificou a decantada expulsão? Em novembro de 1615. E para quando determinava o Tratado a sua retirada? Precisamente para novembro de 1615. E por que é asado perquirir, não se conservou Ravardiere na colonia? Por varias razões, entre as quais estas duas: a noticia de que fora demitido por Maria de Medici, a pedido de Felipe II; e ado casamento de Luis XIII com Ana d´Áustria. Conquanto dispusesse do apoio da Inglaterra e da Holanda, que tinham armas prontas para socorre-lo, preferiu cumprir a palavra empenhada, e por isso deixou São Luis, para amargar 3 anos de cativeiro na Torre de Belém. Estes os fatos na sua crualidade. Meditem sobre eles os maranhenses estudiosos; R. A. OBSERVAÇÃO: por limitação do espaço, deixamos de apresentar o que consta no DIÁRIO DE SÃO LUIS - 1920 a 1949 -, edição de 30 de agosto de 1947, em entrevista dada pelo Cônego Bacelar, este diz ser necessária “[...] uma reparação histórica que se impõe: o feito de Guaxenduba [...]”, e propõem mudar-se o nome de Morros para “Guaxenduba”: Já à 17 de setembro de 1947, em artigo sobre a instalação do Municipio de Primeira Cruz há apenas uma referência à Batalha: E no Jornal do Maranhão: Semanário de Orientação Católica - Jornal a serviço da Família e do Povo (MA) 1954 a 1971, edição de 22 de maio de 1960:
OS “MANEZINHOS” DA “DÉCIMA ILHA” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Poética Brasileira Centro Esportivo Virtual E cumpre-se a professia “elle como profetizando disse os primeiros pouoadores dessas Ilhas roçarão, e trabalharão, e seus filhos semearão, os netos uenderão, e os mais descendentes fugirão dellas o que assim aconteçeo, conforme o que ate aqui os tempos nos tem mostrados” (CORDEIRO; MADEIRA, 2003) Frei Diogo das Chagas, por meados do século XVII, se socorria de um hipotético dito, em tom profético, atribuído ao infante D. Fernando, que parecia condensar o que já então era uma realidade nas ilhas. A participação açoriana na colonização do Estado do Maranhão e Gão-Pará foi significativa. No total, se acrescentarmos os de alguns recrutamentos militares que também se efetuaram nas ilhas açorianas, a documentação disponível para o século XVII permite apontar para uma corrente migratória considerável, entre os 5.000 e os 6.000 indivíduos: ANOS
ILHAS
NÚMEROS
1618
Grupo Central
95 casais / 561 almas
1621
São Miguel ?
40 casais / 148 pessoas
1649
Santa Maria, São Miguel
52 casais / 365 pessoas
1666
Faial
50 casais
1675
Faial
234 pessoas
1677
Faial
223 pessoas
Quadro 1: Contingentes de povoadores dos Açores na Amazónia (século XVII). Rodrigues (2015)
Jorge de Lemos de Bettencourt, capitão e fidalgo da Casa Real, se ofereceu para, à sua custa, já em 1615, transportar duzentos casais dos Açores para o Pará, num total de mil pessoas. A leva de colonos partiu dos Açores em 1618 e, segundo os dados apresentados por frei Vicente do Salvador, chegaram ao Maranhão somente 95 casais, com alguns solteiros, num total de 561 almas, transportadas em três navios. A primeira leva terá chegado somente em 11 de Abril de 1619: “A colónia do Maranhão prosperou constantemente: em 1621 duzentos colonos [casais?] dos Açores [possivelmente aqueles que terão chegado em 1619] aos quais seguiram mais quarenta, vieram reparar os danos causados pelas bexigas”. Em terras amazónicas, o conflito estalou entre Jorge de Lemos de Bettencourt e os colonos, que, ao invés de seguirem para o Pará, ficaram no Maranhão. Os ilhéus não se mostraram disponíveis para acatar as ordens do chefe da expedição e, em requerimento feito em São Luís do Maranhão a 11 de Maio, assinado por 34 dos naturais das ilhas, apresentaram as suas razões, reclamando que ficasse no Maranhão a terça parte dos mil indivíduos que Jorge de Lemos de Bettencourt se obrigara a transportar e declarando que, aparentemente, o contratador pretendia que todos fossem para o Pará, o que eles recusavam, pois o Pará era então uma região em estado de guerra e sem “modo de povoar”. Devido a este insucesso e ao não cumprimento do estipulado, o rei questionaria mesmo Jorge de Lemos de Bettencourt acerca desta questão. Martins (2002) afirma tratarse dos 40 casais que António Ferreira de Bettencourt se tinha proposto transportar para o Maranhão. Nova proposta de transporte de ilhéus para a conquista. Desta vez, o licenciado António Ferreira de Bettencourt, natural de São Miguel, conseguiu a mercê do ofício de provedor da Fazenda Real dos Açores por
três anos ao oferecer-se para trazer da Flandres dois mestres na arte do fabrico de salitre e pólvora e para colocar no Maranhão cinquenta casais, tudo à custa da sua fazenda. Em 1621, é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, com capital em São Luís do Maranhão, reconhecendose a importância estratégica e económica da foz e bacia do Amazonas, assim como das dificuldades de comunicação que existiam entre o Maranhão e a sede do governo da América portuguesa, situada em São Salvador da Baía. A 24 de Novembro 1622, , o provedor da Fazenda Real dos Açores apresentou o traslado autêntico de uma certidão emitida pelo escrivão da Fazenda na conquista do Maranhão, datada de 29 de Outubro de 1621, confirmando a chegada no navio São Francisco de quarenta casais, perfazendo 148 pessoas. Por alvará de 21 de Março de 1624, o Estado do Maranhão e Grão-Pará fosse separado do Estado do Brasil. No ano de 1628, estariam prontos mais 200 casais que aguardavam a chegada de navios que os transportassem para as “conquistas do Maranhão” Após a expulsão dos Holandeses em 1644, o recém-criado Conselho Ultramarino defendeu a necessidade de povoamento do Estado do Maranhão e, em consulta de 29 de Julho desse mesmo ano, sugeriu a D. João IV que fossem concedidas passagens e mantimentos a todos aqueles que pretendessem seguir para aquela região de fronteira. Trata-se dos 40 casais que António Ferreira de Bettencourt se tinha proposto transportar para o Maranhão Nos anos de 1648-1649, mais alguns casais das ilhas de Santa Maria e de S. Miguel eram conduzidos à capitania do Maranhão: pelo Decreto de 19 de Setembro de 1648, pretendia-se recrutar, em Santa Maria, 100 casais, “que constavam de quinhentas para seiscentas pessoas”. E a 23 de Abril de 1649, partiram, de Santa Maria e de S. Miguel, para o Maranhão 52 casais, com 365 indivíduos, onde terão chegado em Agosto do ano seguinte. Esta leva, em particular, não agradou ao Governador do Maranhão, Luís de Magalhães, que, solicitava lhe enviassem degredados para colmatar a falta de gente, porque “a q. elle se enuiou da Ilha de S.ta Maria não hauer sido de nenhum seru.ço, nem utilidade, por seu pouco prestimo, e coitadisse q. não presta para mais q. p.a fogir ao trabalho, e pedir esmolas p.las portas”. O padre António Vieira, em carta dirigida a D. João IV, escrita no Maranhão e datada de 4 de Abril de 1654, numa referência explícita à situação vivida em La Rochelle durante os conflitos religiosos em França: “O Maranhão e o Pará é uma Rochela de Portugal, e uma conquista por conquistar, e uma terra onde V. M. é nomeado, mas não obedecido”. 1666-1667, segunda leva por gente do Faial, terão transitado para ali 50 casais da ilha do Faial, que se estabeleceram no Pará. Comenta Rodrigues (2015) [...] mesmo com a chegada de novos povoadores oriundos das ilhas, por meados do século XVII existiam apenas nove povoações portuguesas na região, com menos de 3.000 moradores brancos e, em 1663, o procurador do Estado do Maranhão, Manuel da Vide Souto Maior, afirmava que o número de moradores naquele território era de 700, uma cifra que incluía somente a população adulta e masculina. Por esse motivo, e face à apetência das nações rivais pelas riquezas das terras do Maranhão, Paulo da Silva Nunes, representante dos moradores, defendia que, para a defesa daquele Estado, eram necessários “muitos mil moradores brancos” e que a solução estaria em povoar o Estado do Maranhão com casais da Madeira, determinando a coroa que “em cada anno, sem duvida alguma, se lhe remetão sincoenta cazaes de moradores das ditas ilhas ou de outras partes, quando naquellas já os não haja”. [...] No Pará, o cenário era ainda pior: uma carta do governador do Estado informava, em 1674, que o número de moradores não excedia os duzentos casais e que as três companhias pagas aí existentes não atingiam os sessenta homens. Face a este panorama, o Conselho Ultramarino emitiu um parecer sublinhando o “quanto convinha, que V. A. mandasse cazais das Ilhas, para povoarem aquella Conquista”. Devido às erupções que atingiram a Ilha de Faial, a 22 de Dezembro de 1672, os oficiais da câmara da vila da Horta escreveram ao Infante D. Pedro, então curador do rei e governador dos reinos, solicitando que os moradores das freguesias do Capelo e da Praia, no norte da ilha, passassem ao Maranhão, devido à sua muita pobreza. Assim, a 7 de Outubro de 1673, a questão foi abordada em consulta do Conselho Ultramarino e, a 28 de Novembro, este órgão examinou a proposta de João Pereira Seixas de levar para o Maranhão os casais da ilha do Faial a bordo da sua fragata, assunto que foi retomado em consulta de 13 de Janeiro de 1674
Em consulta do Conselho Ultramarino é especialmente útil para a análise do mecanismo de transporte dos casais até terras sul-americanas na medida em que nos permite conhecer a relação de custos apresentada por João Pereira Seixas: os casais (marido e mulher), em idade útil e com filhos, num total de 400 praças, implicariam um investimento de 1.600.000 réis, ou seja, 4.000 réis por casal; a roupa, 400.000 réis; as ferramentas e as armas, outros 400.000 réis; e o fretamento do navio, 600.000 réis. (RODRIGUES, 2015) Desconhece-se se este transporte de casais teve lugar, informa Rodrigues, 2015. O capitão-mor da ilha do Faial, Jorge Goulart Pimentel, tinha já prontos 100 casais que deveriam seguir no ano seguinte para o Brasil·. Exigia-se, então, que os casais fossem compostos “dos homens mais idoneos para o trabalho, cujas mulheres sejam capazes de propagação e tenham mais filhos para se formar uma nova povoação; para cujo effeito ordenareis sejam de todos os officios: lavradores, pedreiros, carpinteiros, e ferreiros, serralheiros, sapateiros e alfaiates”. A 18 de Agosto de 1675 partia daquela ilha a fragata Nossa Senhora da Palma e São Rafael com 50 casais faialenses (234 pessoas), tendo por destino o Pará. O capitãomor Jorge Goulart Pimentel dava ainda conta de “que os outros cincoenta cazais ficarão promptos, e muytos delles, por pobres, em cazas suas, sustentandoos à sua custa; e que alem destes 50 que estão promptos, se podem tirar daquella Ilha, e da do Pico (de que he Governador) cem cazais mais, sem todos estes fazerem falta”. Em todo este processo, Jorge Goulart Pimentel contou com as prestimosas colaborações do provedor da Fazenda Real nos Açores, Agostinho Borges de Sousa, e do almoxarife do Faial, Jorge Furtado de Arês, motivo pelo qual seriam elogiados pelo Conselho Ultramarino, que, em consulta de 20 de Outubro de 1675, sugeriu ao príncipe regente que a todos agradecesse . Na charrua Nossa Senhora da Penha de França e São Francisco Xavier, propriedade de Francisco da Costa, da ilha Terceira, partia , em 1677, a segunda leva de colonos para o mesmo porto (Pará), num total de 50 homens, 47 mulheres e 126 “pessoas de família”, com uma ajuda de custo de 8.000 réis para cada casal e levando em sua companhia, por vontade do governador, o padre Carlos de Andrade. Nesse mesmo ano, encontravam-se também a aguardar transporte 200 casais de gente da ilha Graciosa, que “hera muyto pobre faltos de todo necessario”. Para o período 1665-1706, Rafael Chambouleyron (2008) identificou cerca de 90 sesmarias concedidas pelos governadores e na sua maioria, confirmadas pelos monarcas portugueses, o que revela “uma lógica particular de ocupação do território pela agricultura, a partir do sistema fluvial composto pelos rios Acará, Moju, Capim e Guamá, na capitania do Pará; e principalmente na ilha de São Luís e na fronteira oriental da capitania do Maranhão”. Cordeiro e Madeira (2003) registram o sucesso desses colonos: Independentemente do sucesso, ou não, destas movimentações, já havia, pelo menos na década de 1670, no Maranhão, açorianos que tinham arrecadado uma fortuna considerável. Numa dessas levas, provavelmente das primeiras décadas de seiscentos, terão chegado os irmãos Pereira de Lemos – Bartolomeu, António e Catarina –, filhos de João Pereira de Lemos e Isidra Gonçalves Vilalobos, naturais da freguesia de N. Senhora do Rosário (Topo), da ilha de S. Jorge. No testamento do primeiro, Bartolomeu Lemos, solteiro, realizado em São Luís do Maranhão, em 29 de Julho de 1676, é perceptível que tinha acumulado fortuna, constituída por terras, casas, escravos, engenhos de açúcar, gado e dinheiro. O numerário provinha, sobretudo, de actividades comerciais que mantinha, inclusivamente com a ilha Terceira, para onde enviava essencialmente açúcar. Encontrava-se perfeitamente integrado na sociedade de São Luís do Maranhão, sendo membro de várias irmandades, destacando-se, por exemplo, a Santa Casa da Misericórdia, de que tinha sido provedor. O irmão, António Pereira de Lemos, também solteiro, de posses um pouco mais modestas, pelo que se pode perceber do seu testamento, efectuado em 21 de Agosto de 1679, foi criador de gado e proprietário de algumas fazendas. Também foi irmão da Santa Casa da Misericórdia de São Luís do Maranhão O recurso aos casais das ilhas foi interrompido no final da década de 1670, apesar de todos os obstáculos, uma dinâmica de ocupação e exploração do solo amazónico continuou a manifestar-se na viragem para o século XVIII, embora o fluxo emigratório açoriano foi mais contido na primeira metade do século. A promulgação da lei de 20 de Março de 1730, com aplicação nas ilhas, constituiu forte entrave à livre circulação de pessoas entre o Reino e o Brasil, ao exigir uma justificação documental a todos os que para ali pretendessem deslocar-
se.Ao longo da primeira metade de Setecentos a Coroa continuou, contraditoriamente, a apoiar e a promover a saída de casais ilhéus. Interessava, sobretudo, povoar, explorar e defender as regiões fronteiriças do Sul – Sacramento, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – e do Norte – Maranhão e Pará. CORDEIRO E MADEIRA, 2003). Em 1747, alguns dos casais matriculados foram encaminhados para o Pará e Maranhão. E em 1751, encontravam-se alguns casais “que se tinhão alistado para irem para o estado do Pará e Maranhão”. As Instruções régias, de Maio, para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que foi desempenhar o cargo de Governador e Capitão General do Estado do Grão Pará e Maranhão, davam conta da necessidade de se proceder, com a maior brevidade, à instalação daqueles casais. Em correspondência para seu irmão, Sebastião José de Carvalho e Melo, Mendonça Furtado afirma: “achei já o navio do transporte dos casais das Ilhas dos Açores, que tinha chegado a êste porto em 29 de agôsto [de 1751], e entregou 486 pessoas [86 casais], não lhe morrendo na viagem mais do que quatro, porém, nas que trouxe da Ilha Terceira vieram alguns velhos e muitas crianças”. Referindo-se aos povoadores, o Governador queixava-se: “não têm servido até o presente mais que de uma desordem contínua, e perturbação de esta terra”. Ainda assim, em Janeiro, esses povoadores seriam instalados na nova povoação de São José do Macapá e o Governador aguardava a chegada de outro navio das ilhas. Em Novembro, chegaram mais 430 pessoas das ilhas. Segundo Francisco Xavier de Mendonça Furtado, estes ilhéus participaram na colonização das vila de Bragança e de Ourém, nas “margens dos rios Guaçu e Caeté” Em 1753, José Rodrigues Esteves e Bento José, propõem-se arrematar à coroa o transporte de gente dos Açores para o Brasil. Como muitos casais haviam desistido de partir, os armadores apresentam uma proposta para os substituir pelo transporte de 900 soldados açorianos para o Pará. 1754, Setembro, outro navio com casais ilhéus naufragou já com o Pará à vista. Transportava 74 pessoas, das quais 38 acabaram por perecer 1758, a lei de 4 de Julho é peremptória em limitar a emigração, sob o argumento da insuficiência de mão-deobra para assegurar o normalidade da vivência insular. Judith Bogéa Bittencourt (2019), em correspondência pessoal, informa-nos, sobre os acontecimentos posteriores, já no século XIX: [...] a vinda dos açorianos para a fazenda onde hoje está estabelecido o Povoado Colônia, em Mirinzal. O Quilombo do Frechal em Guimarães, MA também pertenceu a Torquato Coelho de Souza, filho do colonizador açoriano Manoel Coelho de Souza como cita Souza Neto, 1976 depois foi propriedade por herança de família do Dr. Hugo Napoleão Coelho de Souza que foi Juiz em Vitória do Baixo Mearim e casou com Maria Raymunda Fernandes Bogéa (Bogéa Coelho de Souza, após casada). [...] Em pesquisas no Observatório de 24.08.1854 n. 549, a matéria Advertência relata que vieram açorianos para a Villa S. João de Cururupu e para o Alto Itapecuru e Gurupi para empresas do português Sr. Antonio Corrêa de Mendonça Bittencourt, esse empreendimento que buscava integrar pessoas da região e os açorianos não foi avante porém a proposta do Bittencourt além de pretender unificar portugueses e brasileiros dessa região almejava através de trabalhos diversificados contribuir para o desenvolvimento do Litoral Ocidental do Maranhão que na minha percepção poderia replicar sua ação a vizinha Baixada Maranhense e seus municípios lindeiros a esse setor do litoral maranhense. A saga desse português está sendo descrita pelo historiador Eulálio Leandro que esteve presente no recente Congresso dos 400 anos da vinda dos açorianos para o Maranhão.
Refere-se à Colonia Santa Izabel, assentada em Guimarães – (hoje, Mirinzal), mais duradoura, mesmo com a troca de direção devido à morte do coronel Torquato Coelho de Souza, seu fundador. Ainda em 1861 o presidente de província noticiava que esta continuava a “florescer”. Apesar de o contrato ter sido assinado em abril de 1852, os colonos só mudaram-se para as terras destinadas á colônia em Dezembro de 1853, com 51 portugueses, mas o relatório de presidente de província de 1853 contava 48 indivíduos, devido à morte de uma mulher e dois recém-nascidos. Em Outubro deste ano chegavam mais 11, aproximandose dos 80 que foram prometidos. Entre os 59 que iniciaram Santa Izabel, 40 eram homens e 19 eram mulheres, sendo entre eles 16 menores de ambos os sexos. O mais antigo registro da área datada de 1792, quando por sesmaria foi concedido um quinhão ao português Manoel Coelho de Souza, havendo de tornar-se uma das mais prósperas lavoura de cana-de-açúcar' e algodão da freguesia de Guimarães, a quem a região pertencia geográfica e politicamente. José Coelho de Souza e
Torquato Coelho de Souza deram continuidade ao florescimento dessa produção, entretanto em 1925 ocorreria um fato inusitado. O Último herdeiro de tal família, Artur Coelho de Souza, endo contraído uma grande divida, hipotecou as Terras de Frechal. Conscientes das dificuldades, os negros trabalharam arduamente e, com uma só safra da lavoura de algodão, conseguiram saldar a divida. Agradecido, o fazendeiro deixou em testamento parte das terras de Frechal aos negros.
ALGUMAS NOTAS ACERCA DO MARANHÃO HOLANDES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Centro Esportivo Virtual Acabo de receber a referencia de um livro sobre o Brasil holandês, de Pieter Martius Netscher, com tradução de Mario Sette, 1853. Aqui, após leitura, destacarei as referencias ao Maranhão: A narrativa, aqui apresentada ao leitor, já viera à luz, em parte, entre 1848 e 1849, em vários números do Moniteur des Indes-Orientales et Occidentales, um mensário editado em Haia, sob os auspícios de S. A. R. Príncipe Henrique, dos Países Baixos, e dirigido pelo Barão Melvill de Carnbée. Essa publicação, porém, deixou de sair por algum tempo, por haver sido, o sr. Melvill, que é oficial de marinha, destacado para servir nas Índias Orientais Seus artigos no Moniteur formavam um resumo histórico escrito no intuito de esclarecer uma parte interessante e pouco conhecida de nossa história, e de exaltar os feitos gloriosos de nossos antepassados na América Meridional, no século XVII. O autor esclarece que, por causa do emprego da língua francesa, deu a este livro o título de Os Holandeses no Brasil em vez de Os Nerlandeses. Esta última denominação seria mais exata, porque abrangeria todos os habitantes das províncias dos Países Baixos, ao passo que holandeses são apenas os filhos da província da Holanda. Todavia, essa expressão "holandeses" era de tal modo usada no estrangeiro, na época aludido, e mesmo atualmente, que preferiu adotá-la. Origem da colônia do Brasil e viagens dos holandeses à América do Sul antes da fundação da Companhia das Índias Ocidentais - 1500 – 1621: O Brasil foi descoberto em janeiro de 1500, quase simultaneamente, por Vicente Yanez Pinzon e Diogo de Lepe, companheiros de Colombo. Desembarcaram nas proximidades da foz do Maranhão ou Amazonas, não se tendo, porém, aí demorado. Em abril do mesmo ano o almirante português Pedro Alvares Cabral, no decorrer de uma viagem às Índias Orientais, tocou involuntariamente em Porto Seguro onde desceu tomando posse da terra em nome de S. M. o Rei de Portugal. Deu à nova colônia a denominação de Santa Cruz, mais tarde mudada para Brasil em virtude da grande quantidade de madeira assim chamada por seu préstimo em tinturaria e naquela região abundante. 4) — Esse nome de rio das Amazonas, ou também de rio de Orellana, foi-lhe dado em 1540 por Orellana, companheiro de Pizarro. Ele descera o rio desde as suas nascentes, que ficam no Peru, até a foz. Tendo visto, durante a viagem, algumas tribos de índios imberbes, tomou-os por mulheres guerreiras, do que resultou as mais absurdas histórias. (Hartsinck - I pág. 131; Raynal e Herrera). Após alguns reveses, a nova possessão começou a prosperar, principalmente a partir de 1549, quando passou a ser governada por Tomé de Souza, homem de espírito superior. Não tardou essa prosperidade a despertar a avidez de outras potências; sobretudo os franceses realizaram várias expedições ao Rio de Janeiro, Rio Grande, Paraíba e ilha do Maranhão, mas, como disse Raynal, "a impaciência não lhes permitiu colher os frutos, geralmente demorados, dessas empresas", e bem depressa abandonaram essas novas conquistas. A partir de 1531, quando essa magnífica região caiu, com Portugal, sob o domínio espanhol, ficou exposta às ousadas investidas dos holandeses, então em pleno estado de guerra com a Espanha. Todavia, somente numa época mais distante começou a série de sangrentos combates, quer no mar, quer em terra, constituidores do assunto desta narrativa. 8) — Encontra-se a narrativa da fundação dessas duas pequenas colônias pelos holandeses, às margens do Amazonas, à página 206 do 1º volume da célebre obra de Hartsinck, Beschrijvinc Van Guijana, e em Benoit, Viagem a SurinameParis — 1839 (Esta obra é explendidamente ilustrada por Madou e Wauters). A respeito da sorte desses primeiros estabelecimentos à margem do Amazonas nada podemos dizer com segurança; nenhum historiador holandês a elas se refere. Achamos apenas em dois livros portugueses estas indicações: "Em 1616, o capitão português Castelo Branco foi mandado pelo governador do Maranhão para
expulsar os holandeses que queriam se estabelecer às margens do Amazonas". (Compêndio das eras da província do Pará, por Baena, Pará, 1838). No outro livro a que aludimos há este tópico: "Em 1616 tendo os holandeses fundado à margem norte do rio Amazonas algumas colônias, de onde faziam vantajoso comércio com os indígenas, Caldeira, governador do Pará, mandou o sub-tenente Pedro Teixeira a combatê-los. Esse militar foi bem sucedido nessa empresa, tendo incendiado um navio holandês cuja artilharia foi remetida para Belém, capital do Pará." (Sinópsis ou dedução cronológica, pelo general Abreu Lima, Pernambuco, 1845). Vê-se, portanto, que um desses estabelecimentos, se não os dois, foi destruído em 1616 1642 - "O total das forças militares, nas possessões da Companhia, não passava de 4.343 homens, sob os comandos dos coronéis Koin e Henderson. Desse total existiam somente 3.064 soldados para guarnecer as vilas e as praças fortes de Sergipe, Pernambuco, Itamaracá, Paraíba, Rio Grande e Ceará; os demais guarneciam Maranhão, São Tomé e Angola, numa distância que não lhes permitia prestar um auxílio urgente num caso de necessidade. No arsenal havia apenas 150 mosquetões, 1.000 libras de chumbo e 60.000 libras de pólvora estragada. Não existiam sabres nem lanças. O estado dos depósitos de víveres e de fardamento era, se acaso possível, ainda pior. No correr de 1642, os acontecimentos na colônia vieram demonstrar que João Maurício havia tido toda a razão em não considerar segura a situação, e supor que os portugueses, na aparência conformados com o jugo holandês, alimentavam projetos de liberdade. Eles não podiam empregar a força, mas recorriam à astúcia e à traição, sendo apoiados pelos patrícios que habitavam São Salvador. Achava-se, desde janeiro, naquela cidade, o novo vice-rei, Dom Antônio Teles da Silva, homem tão inteligente quanto ardiloso. Após haver tomado posse do cargo, enviou a Lisboa afim de prestar contas de sua gestão, dois dos regentes interinos que tinham substituído Montalvão quando da sua injusta destituição (83). E, desde então, Silva não cessou de animar o seu povo a uma revolta capaz de restituir a Portugal a rica colônia caída às mãos dos holandeses. Antes do fim desse ano deu-se um levante na província do Maranhão, há pouco conquistada. Havia sido, desacertadamente, escolhido governador dessa província um homem de procedimento desregrado e de caráter desumano. Oprimiu de todas as maneiras os portugueses, e um parente seu próximo, Negenton, prendeu, sob ignorado pretexto, 24 Portugueses, de todo inocentes, mandando-os abandonar num trecho deserto do litoral onde foram surpreendidos por uma tribo dos antropófagos Tapuias que os mataram, banqueteando-se depois com seus corpos. Para vingar esse ato de selvageria, vários e numerosos grupos de patrícios das vítimas tendo recebido reforços da capitania vizinha, Grão Pará, atacaram os holandeses, dirigidos por Antônio Muniz Pereira, Pedro Maciel e Antônio Teixeira. De surpresa investiram contra o forte Monte Calvário onde enforcaram toda a guarnição, a exceção do comandante Schade e três outros militares. Sitiaram, em seguida, São Luiz, capital da ilha e da capitania do Maranhão. Em janeiro de 1643, por ordem de Maurício, Henderson foi até ali, com 300 soldados e 200 índios, e conseguiu não somente castigar Negenton e seus cúmplices, como reconquistar a ilha. O continente, no entanto, permaneceu ocupado por 700 portugueses e 3.000 índios que interceptavam o transporte de mantimentos e tornavam muito crítica a situação dos ocupantes da ilha Pedro de Albuquerque, que já se distinguira notavelmente em Rio Formoso, no ano de 1633, e exercia, agora, o cargo de governador de Grão Pará, veio auxiliar seus patrícios, trazendo reforços chegados da Europa, porém morreu pouco tempo após sua chegada. Todavia a valorosa guarnição de São Luiz suportou essa situação deplorável durante mais de um ano, porém ao estalar a revolta em outras províncias, de onde lhes eram enviados víveres e munições, foram forçados a evacuar a ilha (1644) Nessa época, de acordo com as reiteradas ordens dos diretores da Companhia, toda a força armada existente no Brasil (inclusive os bloqueados do Maranhão), estava reduzida a 2.656 homens, sem contar os oficiais, cuja metade, mais ou menos, for a licenciada e, por isso, em grande parte se alistara no exército português, em São Salvador. Os movimentos sediciosos, rebentados nas capitanias de Pernambuco e do Maranhão, foram seguidos da perda do Ceará. A guarnição desse forte com o seu comandante Gideon Morritz foi toda trucidada pelas índios, em abril de 1644.
Nessa época, André Vidal, um dos mais considerados portugueses da Bahia e pessoa da simpatia do vice-rei Antônio Teles da Silva, fora nomeado governador do Maranhão e, a caminho de seu novo posto, demorará uns dias no Recife para visitar a família. Vieira inteirou-o dos seus planos e pediu-lhe que voltasse a São Salvador para levar ao vice-rei uma mensagem na qual lhe expunha as probabilidades de êxito de uma insurreição
ENTERRO ESTRANHO, MOEDAS DE ANTANHO, COLEÇÃO QUE GANHO, INVESTIMENTO TAMANHO A Numismática e o colecionismo
WELLINGTON CORLET DOS SANTOS (*)
Enterro estranho “Ontem à noite, o meu avô me contou uma estória sobre um enterro estranho: havia peça de antanho, protagonizada por uma cunhada de ouro!” Para a maioria das pessoas, essa afirmação soará com um significado bem comum. Contudo, para um pequeno grupo de pessoas, os numismatas, ela terá outro, que não tem nada a ver com o que todos estão pensando. Desde muito pequenos, todos nós nos acostumamos a ouvir dos nossos avós aquelas estórias de antanho, dos tempos remotos das suas juventudes e, até mesmo, dos tempos dos avós deles, de tempos imemoriáveis. Estórias da crendice popular que falam de tesouros, “enterros” ou “botijas” cheias de moedas de ouro ou prata escondidas e, casualmente, encontradas por alguém. E tudo ganha mais crédito, fica mais misterioso e instigante ainda, quando nós mesmos acompanhamos esses idosos aos mercados e testemunhamos eles se referirem ao dinheiro como “mirréis ou mil-réis, patacas, contos, tostões, vinténs, e cruzados”. Essas estórias podem conter, nos seus enredos, “sonhos reveladores” ou serem protagonizadas por algum fantasma, ou alma penada, ou espectro, que aparece sob a forma de “visagem” para alguém, indicando o local de um tesouro. São estórias esquecidas pelo tempo, envoltas em mistérios sobrenaturais. Nesse caso, essas estórias prosseguirão no tempo e no espaço, de uma geração para outra, por aquele velho costume familiar: “quando eu era pequeno, o meu avô me contava que, quando ele era jovem,...um amigo dele havia tido uma visagem de que num determinado local havia um enterro, uma botija enterrada, cheia de moedas de ouro e prata dos tempos coloniais”, e por aí vai. E, por incrível que pareça, eu mesmo já ouvi várias delas e já tive até sonhos, mas nunca encontrei nada. Em geral, são belíssimas estórias para cativar a atenção de qualquer jovem. Na maioria das vezes, as pessoas crescem não dando muita importância para essas estórias, motivo pelo qual elas acabam virando lendas, enriquecendo o nosso folclore e sendo apenas mais uma no repertório das estórias de ninar. Câmara Cascudo, no seu “Dicionário do Folclore Brasileiro”, define: Dinheiro enterrado, o mesmo que botija para o sertão do Nordeste, ouro em moeda, barras de ouro ou de prata, deixados pelo holandês ou escondidos pelos ricos, no milenar e universal costume de evitar o furto ou o ladrão de casa de quem ninguém se livra. Os tesouros dados pelas almas do outro mundo dependem de condições, missas, orações, satisfação de dívidas e obediência a um certo número de regras indispensáveis (...) O tesouro é encontrado unicamente por quem o recebeu em sonho (...) Se faltar alguma disposição, erro no processo de extrativo, o tesouro transformar-se-á em carvão. Todos os sinais desaparecerão, se o silêncio for interrompido, mesmo que por um grito inopinado ou por uma oração. A primeira moeda encontrada é a que deve ficar no lugar do tesouro. (CASCUDO, 2001, P.676) Atiçando ainda mais a curiosidade, os livros e o cinema incutiram no imaginário coletivo aquelas estórias sobre os tesouros repletos de “dobrões” de ouro e de “peças de oito”, de prata, que os piratas enterravam em aNão por acaso, muitos desses fatos são histórias que realmente ocorreram, pelo menos quanto aos objetos preciosos encontrados. Por esses motivos, os artigos 607 até 610, do Código Civil de 1916, previam disposições para os casos em que alguém encontrasse “depósito antigo de moeda ou coisas preciosas, enterrado, ou oculto, de cujo dono não haja memóriNa memória nacional não faltam exemplos de encontros
fortuitos de “tesouros”, “enterros” ou “botijas”, tais como: o “tesouro de Jundiaí”, composto por barras e moedas de ouro coloniais, que foram encontrados em 1916, numa velha casa de fazenda localizada em RioAbaixo, perto de Jundiaí – SP; a “botija de Rio Formoso”, que tantas polêmicas rende até hoje, composta por centenas de moedas e barras de ouro, prata e cobre do período da ocupação holandesa no Nordeste, que teriam sido encontradas em Rio Formoso - PE, em 1967; a “botija do Engenho Jindaí”, composta por centenas de moedas de ouro coloniais de 6.400 Réis, encontrada em Sirinhaém - PE, em 1977; a “botija de Maragogi”, composta por centenas de patacões (moedas de prata de 960 Réis), encontrada por trabalhadores, que realizavam obras para instalação da rede de esgotamento sanitário, sob uma rua, em Maragogi – AL, em 2004; as “moedas coloniais de ouro de Japaratinga”, encontradas em Alagoas, em 2013; e, por último, o “tesouro de Colares”, composto por centenas de moedas de cobre coloniais, encontradas em Colares – PA, em 2021. Em geral, e segundo o Código Civil, o nome que se dá a esses achados fortuitos é “tesouro”. Contudo, na Região Centro-Oeste, a palavra “enterro” é a mais utilizada, e na Região Nordeste, a palavra mais utilizada é “botija”, em alusão aos potes ou moringas de barro dentro das quais normalmente as moedas são encontradas. Todos esses relatos, de fatos ou de lendas, existentes na nossa cultura, sobre encontros fortuitos de tesouros preciosos, se devem, principalmente, aos seguintes aspectos: nos tempos coloniais, durante o Império e até a República Velha, os nossos ancestrais viveram em épocas de grande instabilidade, insegurança e inquietação (guerras, lutas por terras, naufrágios, pirataria, bandidagens, cangaço e doenças); naqueles tempos circulavam moedas de ouro e prata, cujos metais não se degradam e nem perdem o valor com o passar do tempo; e, finalmente, não existiam locais adequados e seguros para guardar as fortunas acumuladas, fazendo com que muitas pessoas as enterrassem, emparedassem ou escondessem em troncos ocos de árvores. Um exemplo de instabilidade e insegurança, ocorrido no Maranhão, foi a Revolta da Balaiada (1838 – 1841), iniciada em fins do Período Regencial. Com o passar do tempo, os legítimos proprietários dessas fortunas iam morrendo e, junto com os seus tesouros, ficavam condenados ao esquecimento. Por isso, não menos importante, e também fascinante, são as histórias que foram “escondidas” junto com cada tesouro (ou enterro). São histórias de um passado distante, de tempos esquecidos, que vem de muito antes das memórias das gerações anteriores, sobre: as pessoas envolvidas; a época do enterro; os motivos da acumulação dos bens preciosos e da sua ocultação (economias de uma vida inteira; um grande negócio; produto de crimes; pagamento de tropas; dote de algum casamento; recolhimento de impostos; oferendas religiosas; pagamento de promessas; etc); e os motivos pelos quais a pessoa que enterrou não voltou para buscar; etc... Portanto, seria muito natural que alguma estória como essa se tornasse realidade no Maranhão. Afinal, a presença humana nessas terras é antiga, assim como as riquezas que nelas circularam, as ocorrências de guerras e de tempos de insegurança. No Maranhão, ainda persistem as lendas sobre um fabuloso tesouro do navegador português Nicoláo de Rezende, que teria naufragado no delta do Rio Parnaíba, em 1571, e que teria convivido com os índios por dezesseis anos, tentando resgatar o seu tesouro. Tal lenda teria como ponto de partida o capítulo VII do “Tratado Descriptivo do Brazil em 1587”, obra de Gabriel Soares de Souza, publicado no Rio de Janeiro, em 1851. Moedas de antanho As primeiras moedas que circularam na “Terra Sancta Crvcis” (“Terra de Santa Cruz”) foram trazidas pelos primeiros colonizadores, jesuítas, invasores, corsários, piratas e degredados. Esse dinheiro em circulação foi formado de modo aleatório, com moedas trazidas de diversos países. Devido ao Tratado de Tordesilhas (1494), as moedas portuguesas predominaram na porção Leste do território e as moedas espanholas predominaram na porção Oeste.
Fig. 1 - Tostão de prata, cunhado na época do reinado de D. Manuel I, uma das primeiras moedas a circular na Terra de Santa Cruz. (Fonte: Coleção particular do autor)
Os holandeses, da Companhia das Índias Ocidentais Holandesas (WGC), cunharam as primeiras moedas no território brasileiro para pagar as suas tropas, entre 1645 e 1654. Essas moedas obsidionais (os “Florins” ou “Ducados” de ouro e os “Stuivers” ou “Soldos” de prata) foram cunhadas em Recife, e foram as primeiras a trazer a inscrição “BRASIL”.
Fig. 2 - Moeda de XII Soldos, de prata, supostamente cunhada pelos holandeses no Recife, em 1654, proveniente da polêmica botija de Rio Formoso. (Fonte: Manoel Crispim Idelfonso)
No século XVII, na Capitania do Maranhão, devido à escassez de moeda metálica, o algodão (em novelos, meadas e tecidos) era largamente utilizado como meio de trocas. Segundo afirmou o Padre Antônio Vieira (1608 – 1697), durante o Sermão da Primeira Dominga da Quaresma (Primeiro Domingo da Quaresma), parágrafo IV, na cidade de São Luis do Maranhão, em 1653: O dinheiro desta terra é pano de algodão, e o preço ordinário por que servem os índios, e servirão cada mês, são duas varas deste pano, que valem dois tostões! Donde se segue que por menos de sete réis de cobre servirá um índio cada dia! Coisa que é indigna de se dizer, e muito mais indigna de que, por não pagar tão leve preço, haja homens de entendimento e de cristandade, que queriam condenar suas almas, e ir ao inferno. (VIEIRA, Pe Antônio, 1653) Nessa época tumultuada da História, circulavam na colônia os “Tostões” portugueses, os “Reales” espanhóis, e os “Florins” e “Soldos” holandeses. A descoberta de ouro nas “Minas Geraes”, no final do século XVII, motivou a criação da primeira casa da moeda portuguesa na “Terra Sancta Crvcis”, em 1695. Por ser “São Salvador da Bahya de todos os Sanctos”, atual cidade de Salvador, a capital da Colônia, essa casa da moeda foi instalada nessa cidade. Dessa forma, o padrão “Real” (“Réis”) português / brasileiro, cunhado na própria Colônia do Brasil, passou a circular e a predominar. Nesse período, entre 1724 e 1727, foram cunhados os “dobrões” (moedas cunhadas com valor facial de 20.000 Réis, pesando 53,78 g de ouro 22 quilates), que foram as maiores moedas de ouro que já circularam no Brasil.
Fig. 3 - Dobrão (moeda de 20.000 Réis, de ouro), cunhada em Minas Gerais, em 1724. (Fonte: ANUMIS-MS) No período entre 1695 e 1889, no sistema dos “Réis”, figuram diversos tipos de moedas que ficaram bem conhecidas: os “dobrões”, cunhados em ouro; os “J” (“Jotas”), cunhadas em prata; as “patacas”, também em prata, que foram as moedas que circularam por mais tempo no Brasil; e os “cruzados”, cunhados em prata, de 1834 até 1849, na Casa da Moeda do Rio de Janeiro, que substituíram as patacas. Segundo Augusto de Souza Lobo e Julius Meili, ainda no período colonial, o Rei Dom João V (1689 - 1750), por Decreto de 12 de setembro de 1748, mandou cunhar em Lisboa, para o Maranhão, a soma de 80.000$ (oitenta Contos de Réis), em moedas “Provinciaes”, de ouro (1.000 Réis, 2.000 Réis, e 4.000 Réis), prata (80 Réis, 160 Réis, 320 Réis, e 640 Réis) e cobre (V Réis, X Réis e XX Réis). É importante ressaltar que o “Maranhão”, a que o Rei se referia, era o “Estado do Maranhão e Grão-Pará”, que abrangia um território muito maior do que o do atual estado do Maranhão. Assim, a partir de 1749, o Maranhão passou a receber, da Casa da Moeda de Lisboa, as suas primeiras moedas exclusivas. Fig. 4 - Moeda de V Réis de cobre, cunhada em 1749, na Casa da Moeda de Lisboa, em Portugal, para circular especificamente na Capitania do Maranhão. (Fonte: Catálogo de Moedas do Brasil – de 1568 até a atualidade)
No início do Século XIX, a mineração, que já estava em decadência, ainda era a principal atividade, sendo a agropecuária secundária e tinha a finalidade de abastecer as necessidades básicas das populações das regiões mineradoras.
Fig. 5 - Patacão (moeda de 960 Réis, de prata), cunhada em 1813. (Fonte: ANUMIS-MS)
Por essa época, no Maranhão, o dinheiro que circulava era proveniente da Casa da Moeda do Rio de Janeiro e/ou da Casa da Moeda da Bahia: moedas de ouro (valores nominais 12.800, 6.400 e 4.000 Réis), moedas de prata (valores nominais 960, 640, 320, 160, e 80 Réis) e moedas de cobre (valores nominais LXXX, XL, XX, e X Réis ou 80, 40, 20, e 10 Réis), sem contar as barras de ouro quintadas (brasonadas) ou os seus recibos. Para que se tenha uma idéia, nos valores atuais, as moedas de ouro eram cunhadas em ouro 22 quilates. As moedas de 4.000 Réis pesavam 8,06 gramas, as de 6.400 Réis pesavam 14,34 gramas, e as de 12.800 Réis pesavam 28,68 gramas. Após a Independência do Brasil, a primeira moeda cunhada foi a “Peça da Coroação”, em ouro, para festejar a coroação de D. Pedro I. O Imperador autorizou a sua cunhagem em 1822, contudo, logo em seguida, mandou parar a cunhagem por ter detestado o projeto. A moeda continha a efígie dele com o busto nu e com a coroa de louros na cabeça, à moda dos imperadores romanos, e não continha as legendas “CONSTITUCIONALIS” (constitucional) e “ET PERPETUUS BRASILIAE DEFENSOR” (e perpétuo defensor do Brasil), o que poderia sugerir um desejo pelo poder absolutista. Além disso, D. Pedro I preferia que a sua efígie aparecesse nas moedas trajando uniforme militar, com o peito coberto pelas suas medalhas. Devido aos erros do projeto, foram cunhadas apenas 64 moedas, que não circularam. Atualmente, a “Peça da Coroação” é a moeda mais valiosa da numismática brasileira, uma das mais raras (atualmente só são conhecidos 16 exemplares), e uma das mais estudadas.
Fig. 6 – “Peça da Coroação” (moeda de 6.400 Réis, de ouro), cunhada no Rio de Janeiro, em 1822. A primeira moeda do Brasil independente. (Fonte: MHN) Pouco tempo após a abdicação de Dom Pedro I, com a finalidade de coibir a circulação de moedas de cobre falsas, o Governo Regencial publicou a Lei nº 52, de 3 de outubro de 1833, que instituiu o Segundo Sistema Monetário brasileiro (o primeiro genuinamente brasileiro) que, também, estabeleceu o “Troco do Cobre”, um tipo de papel-moeda (ou moeda-papel) em substituição às moedas de cobre. Contudo, além do papel não ter tido boa aceitação, ele não chegava à Província do Maranhão. Em conseqüência disso, em 1834, o Governo da Província aplicou contramarcas (carimbou) nas moedas de cobre dos valores de 80 Réis (LXXX Réis colonial), 40 Réis (XL Réis colonial) e 20 Réis (XX Réis colonial), reduzindo os valores faciais à sua quarta parte, com a finalidade de evitar a evasão das moedas metálicas da Província. Para tanto, foram criadas e aplicadas nas moedas de cobre que circulavam no Maranhão, as seguintes contramarcas, reduzindo o seu valor original a um quarto: CARIMBOS DO MARANHÃO NAS MOEDAS DE COBRE - 1834 Valor original da moeda (Réis)
20 ou XX
40 ou XL
80 ou LXXX
Carimbo de 1/4
Letra “M”, de Maranhão
M
M
M
Algarismo romano. Valor legal a partir de 1834 (*)
V
X
XX
OBSERVAÇÕES: (*) O novo valor, em algarismos romanos, pode estar entre pontos ou estrelas (cinco pontas) ou separados por eles.
Fig. 7 - Moeda de 80 Réis, de cobre, cunhada em 1832, carimbada no Maranhão, em 1834. A letra “M” significa Maranhão e as letras “XX” significam que o valor original da moeda foi reduzido para 20 Reis, ou seja, um quarto do valor original. (Fonte: ANUMIS-MS)
Em 1835, através da Ordem de 2 de março de 1835, do Governo da Província, foi criado um único carimbo, com a letra “M”, a ser aplicado no reverso das moedas de cobre, reduzindo à metade os seus valores originais. Assim, as moedas ainda não carimbadas tinham os seus valores originais reduzidos à metade, e as moedas anteriormente carimbadas, em 1834, tinham os seus valores faciais elevados ao dobro, ou seja, à metade do valor original, tentando, assim, diminuir a falta de numerário. Da mesma forma que o Maranhão, outras províncias do Império também instituíram os seus carimbos regionais, fato que provocou uma grande diversidade de moedas e carimbos, sem contar as falsificações. Com a finalidade de padronizar o sistema monetário, o Governo Regencial publicou a Lei nº 54, de 6 de outubro de 1835, instituindo o “Carimbo Geral”, que passou a valer em todo o país. No Segundo Império, durante a Guerra da Tríplice Aliança (1864 – 1870), além das moedas de cobre de baixo valor, circulavam moedas de 200, 500, 1.000 e 2.000 Réis de prata, e moedas de 5.000, 10.000 e 20.000 Réis de ouro. Portanto, em meio à insegurança da guerra, seria muito natural que as pessoas escondessem as suas fortunas, enterrando sob uma grande árvore ou pedra ou, ainda, emparedando nas suas casas. Nos tempos de antanho, muita riqueza circulou no Maranhão. De maneira geral, essas são as principais “moedas de antanho” que compõem os tesouros que entraram para o folclore como “enterros” e “botijas”. Dito isso, agora, todos já podem compreender que: o “enterro estranho” a que me referi no início do artigo, não é o sepultamento de uma pessoa; que “antanho” não é um autor; que “peça” não é uma obra teatral, apresentada durante o enterro; e que a “cunhada de ouro” não é uma irmã muito bacana do marido ou mulher de alguém, que atua como atriz. Em 1942, a entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundial, ao lado dos aliados, “decretou” o fim do padrão “Real” ou “Réis”, que vinha desde os tempos de antanho. Coleção que ganho A Numismática é a ciência que estuda as moedas, medalhas e cédulas num contexto histórico-cultural. A Numismática auxilia a História, a Cronologia, a Metrologia, a Simbologia, a Epigrafia, a Heráldica, a
Iconografia, a Geografia, a Economia, a Metalurgia, e as artes, dentre outras. Por isso, toda moeda tem algum valor para Numismática. As moedas possuem valor científico porque se constituem em verdadeiras “fontes primárias” de pesquisa, fornecendo informações sobre os povos que as cunharam, tais como: o idioma; a religião; o comércio; a cronologia; o tipo de governo; os nomes dos soberanos; as ligações comerciais; a extensão dos territórios sob uma mesma soberania; e o valor relativo dos bens; etc. No Brasil, o estudo da Numismática foi inaugurado por Augusto de Souza Lobo (1852-1922) e Hermann Friederich Julius Meili (1839 – 1907), o “Pai da Numismática Brasileira”, que em 1908, no Rio de Janeiro – RJ, publicaram o “Catalogo da Collecção Numismatica Brasileira”, primeira obra especializada sobre o assunto no Brasil. No dia 19 de janeiro de 1924, em São Paulo – SP, foi fundada a Sociedade Numismática Brasileira (SNB), existente até hoje. A Sociedade Numismática Maranhense (SNM) foi fundada em 25 de janeiro de 2020, e tem como finalidades promover pesquisas, eventos, exposições e publicações que enriquecem o conhecimento sobre a numismática e a sua relevância cultural. O seu atual Presidente é o Sr. Harvey Caldas (gestão 2024-2025). (Página na internet: https://snma.com.br/ E-mail: snm@snma.com.br ). Alguns museus brasileiros são bem conhecidos por possuírem magníficas coleções numismáticas, tais como: o Museu Histórico Nacional (Rio de Janeiro – RJ), criado em 1922, e que possui a maior coleção numismática da América Latina; o Museu de Valores do Banco Central (Brasília – DF); o Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro – RJ); o Museu Herculano Pires - Fundação Itaú (São Paulo – SP); e o Museu Numismático Julius Meili - SNB (São Paulo – SP).No Maranhão, destaca-se o Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), inaugurado em 1973, localizado no Solar Gomes de Souza, na cidade de São Luis, e que conta com uma coleção de numismática. O nosso Imperador Dom Pedro II, além de ter a sua efígie cunhada em várias moedas durante o seu reinado, foi um grande colecionador. O dia do Numismata é comemorado no dia 1º de dezembro, data do lançamento da primeira moeda brasileira (a “Peça da Coroação”) e, também, dia do Santo Elói ou São Elígio (588 - 660), que foi ourives e é padroeiro dos numismatas. Além da grande importância científica e cultural, as “moedas de antanho”, também servem como uma tradicional atividade de lazer, por meio do simples colecionismo ou acumulação. Hoje, saudoso, me recordo dos tempos de minha juventude: quando não existiam os celulares, tablets ou internet; e quando eu e os meus amigos nos reuníamos durante o recreio, nas escolas, ou nas ruas, perto de casa, para trocarmos moedas velhas, selos postais, figurinhas de jogadores, tampas de refrigerantes, e caixas de fósforos. Tudo sempre emoldurado por boas estórias. Tempos maravilhosos! Investimento tamanho Enquanto circulam, as moedas possuem o seu valor de curso legal, como meio padronizado de trocas, coerente com cada época. Depois que saem de circulação, elas transformam-se em “testemunhas do passado”, sem o valor de curso legal, mas mantendo um valor histórico e numismático que nunca se perde e que sempre aumenta, de acordo com o metal, o estado de conservação e a raridade. Algumas moedas de antanho, devido às suas composições metálicas e raridades, além do valor históricocultural, possuem altos valores monetários, para colecionadores. Algumas moedas raras, negociadas em leilões, chegam a alcançar valores muito maiores do que os prêmios acumulados das loterias, o que serve ainda mais para estimular as esperanças dos atuais “caçadores de tesouros” (“botijas e enterros”). Atualmente, confirmando que as lendas existem de fato, a Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961, em seus artigos 18 até 20, estabeleceu que “a descoberta fortuita de quaisquer elementos de interesse arqueológico ou pré-histórico, histórico, artístico ou numismático” deverá ser, imediatamente, comunicada à “Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional” (atual IPHAN), que o proprietário ou ocupante do imóvel
onde houve o achado, é o responsável pela conservação provisória da coisa descoberta, até pronunciamento e deliberação do IPHAN, e que os referidos objetos encontrados não poderão ser transferidos para o exterior, sem licença expressa do IPHAN. A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), trata do assunto “tesouro” nos seus artigos 1.264 até 1266. A CF 1988 trata sobre a proteção do patrimônio histórico-cultural nos seus artigos 23 (incisos III e IV), 24 (incisos VII e VIII), e 216 (inciso V). Dito isso, é necessário esclarecer, principalmente para os numismatas e colecionadores, que a legislação supracitada refere-se apenas aos “tesouros” encontrados fortuitamente, considerados como tal pelo IPHAN, mas não às relíquias legalmente adquiridas por meio de herança, compra e venda, doação, e outros meios. O valor histórico-cultural sempre existirá em qualquer moeda, confirmando aquelas estórias de antanho, sobre uma época muito anterior à nossa chegada nesse mundo terreno. Isso é natural do ser humano: “saber de onde viemos ?”. Por isso, esse aspecto é o mais importante de todos, porque é ele, mas não o valor do metal ou o possível enriquecimento imediato, que gera a curiosidade e o entusiasmo num jovem que ganha de presente uma simples moeda antiga de alguém. O mesmo raciocínio pode-se ter em relação aos selos postais, cédulas monetárias, medalhas, figurinhas e outros objetos colecionáveis que, durante a nossa infância, aceleravam o nosso tempo de lazer e nos proporcionavam grande interação social e muitos conhecimentos. Cabe a todos nós o dever de preservar e fazer chegar às gerações futuras o nosso patrimônio histórico e cultural, ainda que se trate apenas de uma simples moeda. Nesses pequenos eventos reside a beleza do colecionismo, em especial da Numismática. Wellington Corlet dos Santos (*) Associado Correspondente ao IHGM Associado Correspondente ao IHGMS Associado Correspondente do IGHMB Sócio efetivo da ANUMIS - MS REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm BRASIL. Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l3071.htm BRASIL. Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961. Dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/l3924.htm BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 11ª Edição. São Paulo, 2001. Global Editora. Disponível em: https://archive.org/details/dicionariodofolc00casc/mode/2up?q=tesouro Catálogo de Moedas do Brasil – de 1568 até a atualidade. 1ª Edição E-Book Digital. Versão 1.1. Janeiro de 2020. Disponível em: https://pdfcoffee.com/catalogo-de-moedas-do-brasil-2020-1pdfpdf-4-pdf-free.html LOBO, Augusto de Souza; MEILI, Julius. Catalogo da Collecção Numismatica Brasileira. Rio de Janeiro, 1908. MALDONADO, Rodrigo. Livro Bentes das Moedas do Brasil - Moedas Brasileiras – Livro Oficial (1500 – 2021). 7ª Edição (2020/ 2021). (ISBN: 978-88-906933-4-2) BENTES Group – MBA Editores. NUMIS. Museu Numismático. Carimbo Maranhão. Disponível em: https://www.numis.mus.br/assuntos/carimbomaranhao/?perpage=12&view_mode=masonry&paged=2&order=ASC&orderby=date&fetch_only=thumbnail%2Ccreation_date %2Ctitle%2Cdescription&fetch_only_meta=&taxquery%5B0%5D%5Btaxonomy%5D=tnc_tax_18429&taxquery%5B0%5D%5B terms%5D%5B0%5D=1611&taxquery%5B0%5D%5Bcompare%5D=IN
SNM. Sobre a Sociedade Numismática Maranhense - SNM. Disponível em: https://www.snma.com.br/sobre SOUZA, Gabriel Soares de. Tratado Descriptivo do Brazil em 1587. Rio de Janeiro, em 1851. Typographia Universal de Laemmert. Disponível em: file:///C:/Users/Uso%20Pessoal/Downloads/017204_COMPLETO.pdf VIEIRA, Padre Antônio. Sermão da Primeira Dominga da Quaresma. São Luis do Maranhão, 1653. Portal Catarina: Biblioteca Digital da Literatura Catarinense. Disponível em: https://portalcatarina.ufsc.br/documentos/?action=download&id=149303
Mural da Academia Ludovicense de Letras - Jornal Pequeno IHGM – 160 ANOS? OU OS 99 QUE SE ESTÁ COMEMORANDO? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - Cadeira 40 Com a criação dos cursos de História, em nossas Instituições de Ensino Superior – IES – começam a aparecer estudos e pesquisas aprofundando nossos conhecimentos sobre o Maranhão. Da recente bibliografia aparecida, destaco “UMA ATHENAS EQUINOCIAL – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império Brasileiro” de José Henrique de Paula Borralho, Edfunc 2010. As páginas 149 esse professor-doutor informa: “Quando ainda morava em São Luis [o Visconde de Vieira da Silva] foi um dos fundadores do Partido Constitucional em 1863 (...) Foi nessa época que, juntamente com João da Matta de Moares Rego, César Augusto Marques, João Vito Vieira da Silva e Torquato Rego, fundou o primeiro Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e, em 1865, dessa vez ao lado de Sotero dos Reis, Francisco Vilhena, Heráclito Graça, Antonio Henriques Leal, Antonio Rego, reunidos no colégio de Humanidades, dirigido por Pedro Nunes Leal, discutiam a formação de agremiações literárias e o futuro da vida cultural da província (...)”. (grifamos). Pois bem, escrevi ao Prof. Dr. Henrique Borralho, perguntando sobre essa informação: de onde a tirara? Se a fonte era confiável? Ao que me respondeu sim, a ambas as perguntas: a fonte seria Antonio Henriques Leal, na introdução do livro de Vieira da Silva sobre a Independência do Maranhão... Nada encontrei na edição que tenho. Em resposta a novas inquietações, Dr. Henrique informa que em “Fidalgos e Barões”, de Milson Coutinho, também aparecia a afirmação: “Vieira da Silva, ao regressar da Europa, encontro na terra natal a efervescência política e jornalística costumeira (...) parece ter dado conta de que a poesia não era seu forte, de modo que mergulhou no jornalismo (...). Em 1863 abriu cisão com seus antigos companheiros de credo político e fundou o Partido Constitucional, que tinha no jornal A Situação o órgão que defendia o programa desse novo grêmio político, integrado por Vieira da Silva, Silva Maia, José Barreto, Colares Moreira e outros mais. Foi por esse tempo que fundou o Instituto Histórico e Geográfico, instituição provincial que pretendia arregimentar a chamada classe literária, a exemplo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, cenáculo-maior das letras imperiais. Revela Dino (1974, p. 55) que o Instituto abrigou, inicialmente, nomes que futuramente ganhariam peso literário, dentre os quais João da Mata Moraes Rego, Cesar Marques, João Vito Vieira da Silva e Torquato Rego. “Sem maior futuro, o primeiro IHGM naufragou. Em seu lugar nasceu a Academia de Letras do Maranhão, iniciativa de Vieira da Silva, que funcionava numa das salas do Instituto de Humanidades, de Pedro Nunes Leal. Também não foi à frente. (...)” (p. 429-430). (grifamos) Encontramos, mais uma vez em Milson Coutinho (1986; 2007) mais informações sobre essa fundação, desta vez dando a data em que ocorreu: "Com amigos literatos da época, Vieira da Silva fundou, em 28.7.1864, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, do qual fizeram parte, como sócios, entre outros luminares de nossas letras, João da Mata de Moraes Rego, Dr. César Marques, Dr. João Vito Vieira da Silva e Dr. Torquato Rego. “ Pertenceu, igualmente, à primeira Academia de Letras do Maranhão, fundada em 1865, em uma das salas do Instituto de Humanidades, colégio dirigido pelo Dr. Pedro Nunes Leal. Daquele silogeu foram sócios homens da estirpe cultural de Sotero dos Reis, Francisco Vilhena, Herácito Graça, Henriques Leal, Antonio Rego e outros" (COUTINHO, 1986: 52; 2007: 277). Em “Fidalgos e Barões”, Milson Coutinho faz referência a Nicolau Dino, em biografia do Visconde de Vieira da Silva de onde teria obtido as informações sobre a fundação do IHGM naqueles idos de 1863:
"IX - NO SEIO DOS PRIMEIROS IMORTAID DA PROVINCIA "PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO - "em 28 de julho de 1864, Luiz Antonio Vieira da Silva era aclamado presidente do Instituto Histórico e Geográfico que se fundava naquele dia, em casa de Augusto Marques e com a colaboração deste, do Tenente Coronel Ferreira, Padre Dr. Cunha, João da Mata, Dr. Cesar Marques, Dr. Tolentino Machado, Tenente Coronel João Vito, Dr. Torquato Rego, Pedro Guimarães e Frei Caetano. O Dr. Cesar Marques leu um discurso relativo ao ato e o Padre Dr. Cunha apresentou o projeto dos estatutos da nova associação". (p 55-56). (grifamos) E em Nota de pé-de-página: “(30) Augusto Cesar Marques - farmacêutico, irmão de Cesar Marques. Tenente Coronel de engenheiros - Fernando Luis Ferreira. Padre Dr. João Pedro da Cunha. João da Mata de Moraes Rego - escrivão, autor de crônicas sobre a imprensa do Maranhão muito apreciadas. Dr. João Vito Vieira da Silva, engenheiro militar. Frei Caetano de Santa Rita Serejo maranhense, Superior do Convento dos Carmelitas” (p. 56) No Blog “Família Vieira” consta postagem em 1º de agosto de 2010 dados sobre os “VIEIRA DA SILVA E SOUSA – Maranhão” consta os VIEIRA DA SILVA, importante família do Maranhão, com ramificações no Ceará, à qual pertence o Brigadeiro Luiz Antônio Vieira da Silva, com carta de Brasão de Armas passada em 30 de julho de 1804 (Visconde de Sanches de Baena - Arquivo Heráldico Genealógico. Páginas 445, 446. No. 1761 - Lisboa. Typographia Universal, 1872), que deixou numerosa descendência do seu casamento em 1775, com Maria Clara de Souza. Entre os descendentes deste último casal: I - O filho, Joaquim Vieira da Silva e Souza, nascido em 12 de janeiro de 1800, no Maranhão e falecido em 23 de Junho de 1864, São Luiz, Maranhão; II - O filho, João Victor Vieira da Silva, Tenente-Coronel Graduado, em 1856. Engenheiro-Militar. Em 1857, servia na Província do Maranhão. Cavaleiro da Imperial Ordem de S. Bento de Aviz. Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa. III - O neto, Dr. Luiz Antônio Vieira da Silva, nascido em 2 de outubro de 1828, em Fortaleza, Ceará e falecido em 3 de Novembro de 1889, no Rio de Janeiro, Doutor em Leis e Cânones pela Universidade de Heidelberg, no Grão-Ducado de Baden, Alemanha. Literato, dedicado aos estudos da História. Secretário do Governo do Maranhão de 1854 a 1858. Diretor da Repartição de Terras de 1859 a 1860. Procurador Fiscal da Tesouraria da Fazenda em 1859. Deputado Provincial pelo Maranhão de 1860 a 1861. Deputado à Assembléia Geral Legislativa, pelo Maranhão, em 3 Legislaturas, de 1861 a 1863, de 1867 a 1868 e de 1869 a 1871, Senador do Império, pelo Maranhão de 1871 a 1889. 1.º VicePresidente da Província do Maranhão em 1875, tendo exercido a Presidência de 17 de Janeiro a 02 de Fevereiro de 1876. Ministro da Marinha de 1888 a 1889 e Presidente da Província do Piauí de 1869 a 1870. Conselheiro de Estado. Conselheiro de Sua Majestade. Moço Fidalgo da Casa Imperial. Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa. Foi agraciado com o Título de Visconde com Honra de Grandeza de Vieira da Silva por Decreto de 05 de Janeiro de 1889. (...) Com geração do seu casamento com Maria Gertrudes da Mota de Azevedo Correia, nascida em 1836 e falecida em 6 de Novembro de 1911, no Rio de Janeiro, Viscondessa de Vieira da Silva, filha do Conselheiro Joaquim da Mota de Azevedo Correia e de Maria Getrudes de Azevedo Correia. Destacamos do texto acima o que segue: Grão Mestre da Maçonaria. Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1863. Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa. Membro da Academia Real de Ciências de Lisboa. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco. (grifamos)
O HISTORIADOR CÉSAR MARQUES EUGES LIMA
“Apaixonado em extremo pelo estudo da nossa História, passou César Marques grande parte da sua vida, […] investigando os arquivos, levantando dados e reconstituindo fatos, e, desta maneira, adquiriu tal soma de conhecimentos, que se tornou, inquestionavelmente, depois de João Francisco Lisboa, o maior historiador do Maranhão,” assim assinala o historiador Jerônimo de Viveiros em 1954. Dia 12 de dezembro é o aniversário de nascimento desse importante historiador maranhense do século XIX, que também era médico, o Dr. César Augusto Marques. Ele nasceu na cidade de Caxias, Maranhão, no antigo Largo do Poço (hoje Praça Gonçalves Dias), em 1826, há 198 anos, era filho do português Augusto José Marques e da caxiense Maria Feliciana Marques. O pai era boticário, oriundo de Caldas da Rainha, Portugal, que se estabeleceu em Caxias, em 1814. César Marques teve três irmãos, o Comendador Augusto César Marques, Adelaide Maria Marques e Guilhermina Maria Marques. Em 1844, com dezoito anos, o jovem César Marques, foi para Portugal, fazer Medicina em Coimbra, mas após dois anos, foi obrigado a interromper os estudos e retornar a sua província, pois a Universidade foi fechada em consequência das convulsões políticas que ocorriam em Portugal naquele momento, era a revolução Maria da Fonte. Depois de um período de três anos que estava de volta ao Maranhão, resolve retomar seus estudos, em 1849 vai para Bahia, cursar medicina na Faculdade de Salvador. Conclui o curso em 1854, obtendo o grau de doutor em medicina com a tese “Breve memória sobre clima e moléstias mais frequentes da província do Maranhão”. Na Bahia, casa-se com Maria Joaquina Regis, dessa união nasceu uma filha, Eugênia Laura Evangelina Marques. Nessa província deu início a sua carreira profissional entrando para o corpo médico do Exército Imperial, assumindo a patente de alferes, em seguida veio servir no Maranhão, sendo transferido em 1856 para Manaus, onde lecionou matemática no Liceu amazonense. No ano seguinte, retorna novamente ao Maranhão, assumindo vários cargos ligados à saúde pública, como Provedor da Saúde do Porto e Secretário da Comissão de Higiene Pública. Com a segunda esposa, Rita de Cássia Marques, teve mais dois filhos, Augusto José Marques e João Batista Augusto Marques. Em 1858, o Dr. César Marques é transferido novamente, dessa vez para a província do Piauí, a partir daí o vai e vem das transferências e o pouco tempo de permanência pelas várias províncias do norte, por força de sua
condição de militar, acaba cansando-o, e ele então pede baixa da corporação militar. É nesse momento, quando de sua saída do Exército Imperial, fixando residência em São Luís, com mais tranquilidade, começa a dedicarse com mais afinco à pesquisa acerca da história do Maranhão, sempre conciliando as obrigações de médico, professor com o ofício de historiador. Como médico, trabalhou no Seminário das Mercês, na Guarda Nacional e na Casa dos Educandos Artífices. Também foi professor de história no Seminário da Companhia dos Aprendizes de Marinheiros, mordomo da Casa dos Expostos e Delegado Literário da Freguesia de N. S. da Vitória. Sua produção literária é vasta, começa quando ainda era acadêmico de medicina, em Salvador, lá, publicou em 1852, duas traduções do francês, “Provas da existência do outro mundo, fundadas sobre a natureza, história, filosofia e religião” e “ Conquistas da Religião Cristã”, de M.V. Robert. Em São Luís, sua produção historiográfica começa a tomar corpo a partir de 1861, quando publica o “Almanaque Histórico de Lembranças Brasileiras”, o primeiro de uma série de três, publicando os outros nos anos subsequentes. Em 1862, lança “Breve memória sobre a introdução da vacina no Maranhão”. Dois anos depois, em 1864, já com certa bagagem em termos de pesquisas históricas sobre o Maranhão, César Marques, publica os “Apontamentos para o Dicionário Histórico, Geográfico e Estatístico da Província do Maranhão”, uma espécie de ensaio para sua obra mais importante, o Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão de 1870. A ideia de se publicar um dicionário histórico-geográfico sobre o Maranhão era algo que acompanhava César Marques desde a época da faculdade de Medicina, em Salvador. Segundo ele, fora sugerido por dois amigos, o Arcebispo da Bahia, D. Romualdo Antônio de Seixas, Marquês de Santa Cruz e o Coronel Inácio Acioli de Cerqueira e Silva, que constantemente insistiam em cobrá-lo tal empreendimento. Sobre isso, assinala Marques (1970): “Dada a palavra, buscamos logo satisfazê-la, e por isso julgamos prudente estudar, e estudar muito a História Pátria.” A publicação do Dicionário Histórico-Geográfico da província do Maranhão, pela Tipografia do Frias, em 1870 e mesmo sua primeira versão, na forma de apontamentos, 1864, representou algo inovador à época, pela abrangência da obra e totalidade como busca tratar a história do Maranhão. Tivera uma recepção elogiosa na imprensa, rendendo a seu autor muito prestigio como historiador, dentro e fora da província, recebendo importantes condecorações, tais como Cavaleiro da Real Ordem Militar Portuguesa de Nosso Senhor Jesus Cristo, concedida pelo Rei de Portugal e a Imperial Ordem da Rosa, conferida por D. Pedro II. César Marques publicou ainda: “Aos meus meninos, contos úteis”, 1872; “Discurso que por ocasião de colocação da pedra fundamental para a edificação do prédio, onde deve funcionar a escola pública da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição”, 1873. Traduziu no mesmo ano, 1874, pela primeira vez para o português, os dois livros dos capuchinhos franceses, “História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças de Claude DAbbeville, 1614 e Viagem ao Norte do Brasil feitas no ano de 1613 a 1614 de Yves DEvreux, 1615, além de inúmeros artigos publicados em jornais e revistas. Foi membro de diversas sociedades literárias e científicas regionais, nacionais e estrangeiras, sócio correspondente de praticamente todos os Institutos Históricos provinciais de sua época, fundados a partir de 1862 e 1863, como o pernambucano e o baiano respectivamente. Participou da fundação do primeiro Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão no século XIX, a exemplo do que ocorria nas demais províncias do país, principalmente as do Norte. Nesse sentido, afirma Nicolau Dino, no seu livro “O Visconde de Vieira da Silva” (1974): “ Em 28 de julho de 1864, Luiz Antônio Vieira da Silva era aclamado presidente do Instituto Histórico e Geográfico que se fundava naquele dia, em casa de Augusto Marques e com a colaboração deste, do Tenente Coronel Ferreira, padre Dr. Cunha, João da Mata, Dr. César Marques, Dr. Tolentino Machado, Tenente Coronel João Vito, Dr. Tolentino Rêgo, Pedro Guimarães e Frei Caetano. Segundo Raimundo Nonato Cardoso, na apresentação da segunda edição do Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão (1970), César Marques já se encontrava no Rio de Janeiro em 1875, ocupando o cargo de Reitor do Internato do imperial Colégio Pedro II, ficando no cargo até 1880, quando foi sucedido por seu comprovinciano Antônio Henriques Leal. Na capital do Império, publicou “A província do Maranhão, breve memória”, 1876 e “Dicionário histórico, geográfico e estatístico da província do Espírito Santo”, 1878, resultado de uma encomenda feita pelo presidente dessa província. Tendo livre acesso ao rico acervo do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, o IHGB, do qual era um membro ativo e chegando a
ser seu terceiro vice-presidente, assim como aos demais arquivos do Império na Corte, tendo possivelmente, consultado talvez os famosos livros da Câmara de São Luís do período colonial, levados para Corte por Gonçalves Dias em 1851, em missão do governo imperial, César Marques continuo no Rio de Janeiro suas pesquisas sobre o Maranhão e trabalhava numa segunda edição revista e ampliada do seu Dicionário HistóricoGeográfico da Província do Maranhão, cuja publicação estava prevista para 1882 e que acabou não ocorrendo. O Dicionário Histórico-Geográfico só foi ter sua segunda edição, em 1970, patrocinada pela então SUDEMA (Superintendência do Estado do Maranhão). César Marques morreu aos 73 anos, em 5 de outubro de 1900, na casa do filho João Batista Marques, no Rio de Janeiro.
O FIM DO ANO A SAÚDE MENTAL EM PERSPECTIVA RUY PALHANO SILVA O fim do ano é um período marcante no ciclo anual da vida humana. Ele é carregado de simbolismos, rituais e expectativas, refletindo em diferentes âmbitos das experiências humanas, incluindo os aspectos psicológicos e psicossociais Este período, embora repleto de comemorações e reencontros, também pode ser uma época de tensões emocionais, cobranças internas e desafios relacionados à saúde mental. No aspecto psicológico, o fim do ano funciona como um marco temporal que estimula reflexões profundas sobre o ano que passou. Muitas pessoas se veem avaliando suas conquistas, fracassos e metas não alcançadas, o que pode gerar sentimentos de insatisfação, frustração ou, em casos mais graves, estados depressivos. Para alguns, essa introspecção pode ser positiva, promovendo crescimento pessoal e replanejamento. No entanto, para outros, ela pode exacerbar sentimentos de inadequação, principalmente quando comparados às imagens de "sucesso" propagadas por redes sociais e pela sociedade de maneira geral. A pressão para atingir padrões de realização idealizados pode se tornar um fardo emocional significativo. Esse peso é agravado pela tendência de muitas pessoas a ignorar suas pequenas vitórias, focando apenas nas metas não cumpridas. Sob o ponto de vista psicossocial, o fim do ano intensifica as dinâmicas de interação social, sejam elas familiares, de amizades ou de trabalho. As reuniões e celebrações de fim de ano trazem oportunidades de reconexão e fortalecimento de laços, mas também podem ser fontes de conflito ou desconforto para muitos. Questões mal resolvidas nas relações, cobranças familiares e expectativas sociais podem gerar tensão, especialmente em famílias com histórico de conflitos. Além disso, pessoas que vivem em situação de isolamento social ou que sofrem com luto e perdas recentes tendem a sentir de forma mais acentuada os impactos emocionais dessa época, potencializando sentimentos de solidão e tristeza. Esse tipo de sofrimento é agravado pela percepção de que todos ao redor estão celebrando e felizes, criando uma sensação de exclusão. No âmbito social, o fim de ano é frequentemente associado ao consumismo e às pressões culturais para participar de festas e eventos. A necessidade de atender às expectativas de presentes, organização de ceias ou viagens pode se tornar uma fonte de estresse financeiro e emocional. A desigualdade social também se manifesta de forma mais evidente, já que o contraste entre os que celebram com abundância e aqueles que enfrentam dificuldades materiais se torna mais visível. Essa realidade pode despertar sentimentos de exclusão e injustiça social, afetando não apenas indivíduos em situação de vulnerabilidade, mas também aqueles que observam e se sensibilizam com essas desigualdades. É comum que as festividades reforcem a ideia de que o sucesso é medido pela capacidade de consumir, o que contribui para pressões adicionais em uma época que deveria ser voltada à conexão humana e reflexão. A relação entre o fim do ano e a saúde mental é intrincada e multifacetada. A busca pelo "equilíbrio" emocional nesse período exige uma série de estratégias adaptativas. Em primeiro lugar, é fundamental reconhecer que nem todas as experiências precisam corresponder às expectativas culturais e sociais impostas. Criar espaço para vivências autênticas é essencial para preservar a saúde mental. Isso pode incluir o estabelecimento de limites em relação às demandas externas, como não comparecer a todas as celebrações ou reduzir os gastos com presentes, caso isso gere desconforto. Estabelecer prioridades com base no que realmente importa à pessoa é um ato de autocuidado que pode mitigar o estresse. Outro aspecto importante é cultivar a gratidão e o foco no positivo. Estudos mostram que exercitar a gratidão, mesmo em pequenos momentos, pode melhorar o bem-estar emocional e aumentar a resiliência. Durante o fim do ano, isso pode se manifestar em gestos simples, como valorizar a presença de amigos e familiares ou reconhecer as conquistas, por menores que sejam. É possível, também, criar novos rituais significativos que reforcem o senso de propósito e satisfação pessoal. É também necessário buscar apoio quando necessário. Para pessoas que enfrentam dificuldades emocionais significativas, conversar com amigos, familiares ou profissionais de saúde mental pode fazer uma diferença substancial. Em muitos casos, apenas expressar sentimentos de ansiedade, tristeza ou sobrecarga pode aliviar parte do peso emocional. Grupos de apoio ou iniciativas comunitárias também podem ser valiosas para promover conexão e pertencimento. Reconhecer que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem e cuidado consigo mesmo, é um passo importante para atravessar os desafios dessa época. Por fim, é relevante abordar a importância do autocuidado nesse período. Muitas vezes, o fim do ano é marcado por uma agenda cheia e pelo ritmo acelerado das festividades, o que pode levar ao esgotamento. Práticas como exercícios físicos, meditação, alimentação equilibrada e momentos de pausa podem ajudar a reduzir o estresse e melhorar o bem-
estar geral. Dedicar tempo para si mesmo, mesmo em meio às demandas, é uma forma de cultivar a energia necessária para lidar com os desafios do período. Em síntese, o fim do ano é um período que reflete a complexidade das experiências humanas, com seus desafios e oportunidades. Reconhecer e acolher as nuances emocionais dessa época é essencial para promover uma relação mais saudável com as demandas psicológicas e psicossociais que surgem. Ao priorizar a saúde mental e adotar uma abordagem consciente para atravessar essa época, é possível transformar o fim do ano em um momento de reflexão, crescimento e renovação para o ciclo que se inicia. Além disso, compreender que o verdadeiro significado dessa época está na experiência humana compartilhada, e não em padrões impostos, pode trazer leveza e um senso maior de paz.
CATÓLICOS E PROTESTANTES NA FRANÇA EQUINOCIAL O SONHO FRANCÊS EM ESTABELECER UMA COLÔNIA EM TERRAS DO MARANHÃO, REMONTA A VIAGEM DE JACQUES RIFFAULT AO NORTE DO BRASIL EUGES LIMA O sonho francês em estabelecer uma colônia em terras do Maranhão, remonta a viagem de Jacques Riffault ao Norte do Brasil, em 1594 e principalmente ao interesse do náufrago Charles des Vaux em convencer o rei da França, Henrique IV, em empreender projeto de colonização na Ilha dos Tupinambás. Além desses, Daniel de la Touche, Senhor de la Ravardière e François de Razilly, Senhor de Aumelles se interessaram e deram continuidade ao projeto, associando-se à vários nobres. Antes da partida dessa empresa para o Maranhão, ainda no porto de Cancale, na França, os principais integrantes, resolveram fazer votos de protesto e promessa para que tudo desse certo. Os comandantes estavam imbuídos de não cometerem os mesmos erros de desunião que contribuíram para o fracasso da experiência francesa anterior, em terras do Brasil meridional, a França Antártica de Villegagnon. Continua após a publicidade.. Previamente, selaram acordo para o sucesso da expedição. Segundo as diretrizes contidas em tal documento, o êxito da colônia francesa no Maranhão, dependia de três ações essenciais: obediência aos chefes, união entre os franceses e o bom governo entre os índios. Nestes termos, estava firmado em 1.º de março de 1612, o protesto da companhia, para o bom estabelecimento da colônia. Os franceses estavam convictos que o sucesso do empreendimento só lograria êxito se houvesse uma convivência pacífica, não só entre eles, mas também entre nativos e europeus. Para os conquistadores gauleses em terras americanas, o bom tratamento dispensado aos indígenas era estratégia imprescindível para captar apoio, tanto para os objetivos econômicos, quanto bélicos. Tinham consciência, que sem a ajuda dos índios Tupinambás, a possibilidade de implantação de uma colônia no Maranhão ficava inviável, para isso buscavam sempre o bom trato com essas nações indígenas. Havia uma exigência real que o catolicismo deveria ser a única religião a ser implantada nesse novo estabelecimento. A expansão do catolicismo em terras do Novo Mundo era também um dos objetivos da expedição, seja para dar um “colorido” religioso, conforme revelação de Razilly, contida no manuscrito do anônimo de Turim ou uma manobra política da Rainha Regente, Maria de Médicis, buscando legitimar-se junto ao Papa. A preocupação da Rainha em enfatizar que não deveria haver outra religião se não a católica nas novas terras a serem conquistadas no Norte do Brasil, explica-se também pela duplicidade de comando e a diferença religiosa entre Razilly e Ravardière, católico e huguenote, respectivamente. João Lisboa, em seu Jornal de Tímon, sugere que o estabelecimento francês no Maranhão, pudesse servir de abrigo para exilados calvinistas: “não é impossível também que Ravardière, sectário de Calvino como o mais da gente da expedição, traçasse em ânimo dispor nas novas conquistas um abrigo seguro em que pudesse os seus correligionários acolher-se, para diante, das perseguições, a que então andavam continuamente expostos no próprio país”. A especulação de Lisboa faz sentido, pois um dos líderes era adepto do calvinismo. De repente, no íntimo de Ravardière e demais huguenotes, que deslocaram-se até o Maranhão, existisse a ideia que a pretendida França Equinocial pudesse tornar-se um refúgio dos calvinistas na América. No entanto, o que demonstra os documentos existentes sobre esse período é que a expedição francesa no Maranhão foi do ponto de vista oficial uma empresa imperativamente católica e a religião que deveria predominar era de fato o catolicismo, porém, sabe-se que nesse estabelecimento, coabitaram católicos e protestantes. Como deve ter sido a convivência entre comandantes e comandados? Entre católicos e huguenotes? Conviveram estes franceses em plena harmonia na França Equinocial? Segundo Bernardo Pereira de Berredo autor de “Anais Históricos do Estado do Maranhão [1749]” - Não, este, insinua possíveis dissídios na incipiente colônia, possivelmente de origem religiosa. O autor chama a atenção para o silêncio de Claude
d’Abbeville, acerca dessas prováveis divergências religiosas, classificando-o de “culpável política”. Para Berredo, a diversidade de religião entre os colonos, era motivo de crescente discórdia. Embora Abbeville em sua crônica, “História da Missão dos Padres Capuchinho na Ilha do Maranhão...”, mantenha certa posição de silêncio sobre possíveis divergências, por outro lado, em alguns momentos, o capuchinho francês deixa escapar indícios da existência de divergências entre seus compatriotas, quando, por exemplo, antes do embarque para o Maranhão, ainda na Bretanha, atribui ao demônio um caso de rivalidades entre os tripulantes, gerando assim facções contrárias: “[...] não deixou [o diabo] de perseguir-nos, revolvendo para isso céus e terras, semeando a maldita intriga da divisão no coração dos franceses, para esmorecer o sr. Rasilly”. Há também evidências dessas divergências nos depoimentos de trabalhadores artífices que vieram ao Maranhão na nau Regente comandada pelo Capitão Du Pratz, em 1614 e que foram aprisionados pelos portugueses durante a Batalha de Guaxenduba. Nesses depoimentos, prestados diante de Jerônimo de Albuquerque e Diogo de Campos Moreno, não se percebe que na colônia prevalecesse um clima de harmonia entre governantes e governados, ao contrário, a insatisfação por parte dos colonos, parecia generalizada. Sobre isso, ressalta Sérgio Buarque de Holanda (2004): “Muitos desses prisioneiros mostraram claramente seu despeito contra Daniel de la Touche, o qual deveria ter regressado à França na mesma nau Regente, ou até antes da chegada desta, e não o fizera, conduzindo todos a uma desastrosa peleja. Um desses homens, que tinha vindo da Europa com a esposa, diz do Senhor de la Ravardière que “se intitula lugar-tenente general do rei da França” como se não fosse.” Embora haja fortes indícios que a convivência entre os franceses não fora tão harmônica, como desejara Maria de Médicis, não podemos afirmar, entretanto, que tivesse havido algum tipo de desentendimento sério a ponto que “a recíproca tolerância entre os chefes” não conseguisse contornar. Não há dúvida, que a pluralidade de chefia gerou um mal estar na França Equinocial, tanto em relação aos indígenas, quanto em relação aos franceses, no entanto, deve-se admitir que a forma como os chefes resolveram essa questão, deixa transparecer a vontade mútua de Ravardière e Razilly de solucionar o impasse, sem colocar em risco a segurança do projeto de colonização. A França Antártica era uma experiência que eles não queriam repetir. Ficou acertado entre os dois comandantes que La Ravardière permaneceria no comando da expedição só até a chegada de Razilly, que teria ido à França em busca de ajuda para continuidade do projeto. La Ravardière se mostra favorável em consentir que todo o poder passasse finalmente às mãos de Razilly, dando demonstração que ao contrário de possíveis atritos entre ambos, havia um relacionamento sempre tolerante. Mesmo tendo havido tolerância entre os chefes da colônia, como podemos explicar a capacidade de desprendimento de um La Ravardière? Em aceitar renunciar a sua chefia, em favor de Razilly e segundo ele próprio, “em benefício da colônia, que ganharia com a existência de um único chefe, o Senhor de Rasilly?” Como poderia La Ravardière, abandonar um projeto de colonização, tendo sido ele o primeiro a ser convidado por Sua Majestade de empreender tal estabelecimento? Para Sérgio Buarque de Holanda, a explicação do gesto de renúncia de La Ravardière, reside no fato de que Razilly, apesar de nomeado loco tenente general das Índias Ocidentais posteriormente a Ravardière e por ter sido convidado por este a associar-se a essa empresa, de fato, não ocuparia lugar secundário nos trabalhos de preparação e manutenção na França Equinocial. Seu papel teria sido muito mais importante do que aparentemente tem sido tradicionalmente demonstrado pelos historiadores. Foi a morte de Henrique IV, que provocou a modificação no projeto de ocupação e colonização do Maranhão. Sem querer arcar com todos os custos da expedição como prometera seu falecido marido, a Rainha Regente, Maria de Médicis, não deixara alternativa a La Ravardière se não buscar apoio junto a nobres influentes da corte. A modificação do projeto original, com a entrada de Razilly, provocara a duplicidade de chefia, assim como o papel imprescindível que ele ocupara para viabilização, manutenção e administração do estabelecimento francês no Maranhão. Favorecido por uma conjuntura existente na França, onde ainda havia divergências entre reformados e católicos, Razilly, merecedor da credibilidade dos católicos, ao contrário de La Ravardière,
ligado aos protestantes, reunia as melhores condições para obter apoio e patrocínio para o projeto de colonização do Norte do Brasil e aprovação da Coroa francesa. São essas condições favoráveis que reunia o Senhor de Razilly que o respaldava para que pudesse vir a assumir definitivamente posição de liderança única na França Equinocial. Portanto, uma explicação possível e plausível para renúncia sem contestação de Daniel de la Touche ao comando da colônia francesa na Ilha do Maranhão.
AS CAVALHADAS E AS FESTAS DO DIVINO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ E já tivemos cavalhadas em São Luís ... A "Festa do Divino Espírito Santo" foi trazida para o Brasil ainda no século XVI. Em Portugal, a "Festa do Divino" aparece desde as primeiras décadas do século XIV e foi estabelecida pela Rainha D. Izabel (12711336), casada com D. Diniz (1261-1325) e começou com a construção da Igreja do Espírito Santo em Alenquer. O cerimonial consta de passeio pela cidade, levantamento de mastro enfeitado de frutas naturais, feita por um grupo de caixeiras (tocadoras de caixa). Esta festa até hoje é realizada em Alcântara, com muita pompa e honraria. Mas sem as cavalhadas... No processo de colonização do Maranhão a Igreja teve um importante papel, indo além do mundo espiritual, representando o único freio moral de uma população brutalizada e ignorante. É na igreja que essa população encontra uma diversão e uma alegria que quebrasse a monotonia desesperada de uma vida prenhe de perigos e vazia. Essa alegria era representada pela beleza litúrgica do cerimonial religioso: O “TeDeum”, a missa, o sermão, a novena, a procissão, o canto coral, a música do cravo no coro, o repicar dos sinos nas torres e a comédia que os noviços representavam em dias de festas, no adro dos templos, eram a única distração e a única alegria que regularmente se concedia àquela gente. Em 1678, o primeiro bispo, D. Gregório de Matos (1679-1689), foi recebido com uma festa foi, "onde, por oito dias consecutivos houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria." As encamisadas constituíam-se, outrora, um cortejo carnavalesco que saía às segundas-feiras, com seus componentes vestidos de longas camisas e mascarados de branco, fazendo momices. Primitivamente foi ataque de guerreiro, onde os soldados punham camisas sobre as couraças como disfarce. Depois, mascarada noturna, com archotes. Tornou-se desfile, incluído nas festividades públicas. A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras. Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile, de que fala um documento da Câmara de Coimbra, aludindo em 1464, à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas. O termo cavalhada refere-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha. Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria e se constituíam em atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. Os principais e mais famosos jogos cavalheirescos eram: o torneio, o bigorno, a giostra, o carosello, o passo d'arma, a gualdana, a quintana, a corrida dall'anello. As primeiras cavalhadas realizadas no Brasil acontecerem em abril de 1641, no Recife, embora haja registro de uma encamisada realizada em março daquele ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas, não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão. Para Antonio Lopes, além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha.
A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos. Originária de antiqüíssima justa, desde o século XVI que se corre a argolinha no Brasil. No Mapa Cultural do IBGE, encontra-se a descrição de cavalhadas realizadas em Alagoas, Bahia, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraíba como cortejo e torneio a cavalo em que a parte mais importante consiste na retirada de uma argolinha com a ponta de lança, em plena corrida. Jomar Moraes registrar em seu "Guia de São Luís" que cavalhadas, congadas, fandangos, cheganças e mascaradas, tivemo-los durante o período colonial No Maranhão já as tivemos, as cavalhadas. Aliás, essa é uma frase que se costuma muito ouvir. Já tivemos... A argolinha é a primeira "manifestação esportiva" praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado, referindo-se à mais famosa corrida realizada no Brasil, promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 - ou abril -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses.
TRABALHO, TEMPO LIVRE E LAZER LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Centro Esportivo Virtual Retomo, aqui, alguns conceitos necessários para se entender as proposições de redução da carga horária de trabalho, liberando-se mais tempo para as atividades de não-trabalho, isto é, o tempo livre. Marx já dizia que: “Economizar tempo de trabalho é aumentar o tempo livre, isto é, o tempo que serve ao desenvolvimento completo do indivíduo. O tempo livre para a distração, assim como para as atividades superiores, transformará naturalmente quem dele tira proveito num indivíduo diferente...” (K. Marx, Fundamentos da crítica à economia política). Já afirmava que "graças aos lazeres e aos meios postos ao alcance de todos, a redução ao mínimo do trabalho social necessário favorecerá o desenvolvimento artístico, científico de cada um" O conhecimento do lazer , ou o lazer tomado como objeto de estudo, deve ser enfocado tomando sua historicidade, a qual está relacionado a processos sociais mais amplos de mudanças relacionadas ao desenvolvimento das forças produtivas e às relações de produção, os quais animam a prática social A palavra “lazer” provém do verbo francês "loisir", que tem origem por sua vez, na forma infinitiva latina de "licere", que significa “o permitido”. O francês "loisir" dá origem à expressão inglesa "leisure", que se utiliza tecnicamente para significar tempo livre. Não se encontra em espanhol o termo lazer, mas sim, "ócio". Há quem se refira às dificuldades de se definir o lazer - lazer ou as recreações ? - sendo mais comum que se pense nestas, e não em lazer como tal. Procurando uma definição, encontra-se alguns princípios do conceito de lazer. Assim, as recreações são "aquelas atividades eleitas livremente, segundo os gostos e as aspirações de cada um". Incluindo a predominância de certas atividades. Essas atividades são classificadas por DUMAZEDIER (1979) em • • • • •
lazeres físicos - aqueles que implicam esforço e exercício de tipo corporal; lazeres práticos - são os que exigem uma habilidade manual e especial; lazeres intelectuais - que têm que ver com o cultivo do intelecto e da cultura; lazeres artísticos - que têm a ver com a prática específica de uma arte; lazeres sociais - são os relacionados com aquelas atividades de diversão, descanso e desenvolvimento, praticadas de uma forma coletiva.
Ao se analisar o sentido etimológico do lazer, detecta-se três tendências: para a primeira, o que caracteriza o lazer é a ideia de permissão para atuar - o lazer seria um conjunto de atividades nas quais predomina a ausência de restrições, de censuras, de proibições, de repressão; para a segunda, derivada do sentido etimológico do lazer, seria a ausência de impedimentos de ordem temporal - o lazer seria, antes de tudo, um tempo livre, sem restrições, sem ataduras, sem compromissos; já para a terceira tendência, seu sentido etimológico radicaria em uma qualidade de ordem subjetiva - o lazer seria constituído por uma série de atividades livremente escolhidas, atividades autônomas e agradáveis, benéficas física e psicologicamente. Para quem busca o sentido de lazer em sua evolução, são agrupadas em duas fundamentadas posições histórico-evolutivas: a noção de lazer se origina na noção grega de "scholé", tempo ocupado por atividades ideais e nobres para o ser, por atividades livres como a contemplação teórica, a especulação filosófica e o ócio; para a segunda posição, o sentido atual de lazer provém da noção romana de "otium". O lazer hoje, não seria outra coisa que a transferência corrigida no tempo do "otium" romano, isto é, um fenômeno elitista, carente já de sentido filosófico, diferenciador de classes e ostentatório. O lazer não tem sido o mesmo, nem será, sempre igual, pois cada modelo de organização social lhe imprime suas funções e características, de acordo com o sistema de aspirações, necessidades e valores imperantes nesses momentos e válidas para toda a organização.
O lazer tomou a dimensão de hoje após a Revolução Industrial, quando então a jornada de trabalho começou a diminuir paulatinamente, muito embora "os fundamentos históricos do Lazer sejam anteriores à sociedade industrial, porque sempre existiu o trabalho e o não-trabalho em qualquer sociedade". A conquista de oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas de lazer marcou o início da humanização do trabalho e transformou a recreação e o lazer como fato um social. Com o reconhecimento das horas livres entre uma e outra jornada de trabalho, dos repousos semanais remunerados, das férias anuais e da cessação da vida de trabalho (aposentadoria) gerou-se, então, tempo de lazer compulsório. O problema da relação entre trabalho e lazer é questão que vem suscitando paixões, sejam em relação à sociologia do trabalho, seja em relação à sociologia do lazer. Aristóteles afirmava que "el tiempo libre no es el final del trabajo; és el trabajo el que limita el tiempo libre. Este debe consagra-se la arte, a la ciência y, preferentemente, a la filosofia". A palavra grega para indicar o tempo livre é significativa: "... e perturba a relação que nos é familiar entre o termo e o sentido que se lhe atribui correntemente. Scholé – traduz o dicionário - significa tempo livre, parada, descanso, ócio, falta de trabalho, pausa, ocupação das horas que se tornam livres do trabalho e dos negócios, estudo, conversação e acaba por significar 'o lugar onde se utiliza este tempo livre', a scholé precisamente, a escola, que hoje se interpreta somente como o lugar na qual o tempo livre é utilizado para ensinar e aprender". As dificuldades decorrentes da industrialização e da formação de concentrações urbanas, além do esvaziamento das zona rural, gerando imensos problemas, servem de incentivo para a formação de grupos, que se preocupam com o aproveitamento adequado das horas livres para a atividade de lazer: "a orientação das atividades nas horas livres tem por objetivo alterar (ou compensar) as condições de vida ... (física, psíquica e emocional) advindas das facilidades e dificuldades com que o indivíduo se ocupa durante as horas de trabalho. Aparece claro, então, que a satisfação do indivíduo durante o trabalho profissional reverte-se de novas características. Horas livres entre uma e outra jornada de trabalho, repouso semanal e férias anuais não são suficientes para o restabelecimento completo do organismo. Numa análise das atividades físicas de lazer na civilização industrial, há que afirme que "há pelo menos duas razões fundamentais que justificam as atividades físicas de lazer como necessidade para o sistema”. São apresentados, então, dois pontos de vista: um, econômico, que vê as atividades de lazer como uma exigência da sociedade capitalista - que considera o indivíduo como um mero apêndice da máquina, no dizer de Marx -, ressaltando os aspectos de compensação e de reajustamento; o outro, político, visto sob o ponto de vista de "fuga da realidade", quando o sistema promove atividades físicas de lazer para preservar a capacidade do indivíduo para o trabalho, destacando que as atividades de tempo livre, na realidade, constituem a melhor maneira de "neutralizar intelectualmente as massas". Ainda analisando esse aspecto político das atividades de lazer, temso que o tempo livre ocupado dessa forma leva a uma "despolitização da juventude e das massas" cumprindo, pois, as técnicas esportivas de lazer sua função de neutralizar intelectualmente o indivíduo: "Considerar tempo para o lazer um tempo 'socialmente' permitido após o cumprimento de todas as obrigações do indivíduo para com a sociedade é não levar em consideração que a maioria das atividades sociais do indivíduo, principalmente as de ordem profissional, são deficitárias no que diz respeito à saúde - 'bem-estar total, físico e social'. Se o sistema usufrui da força de trabalho do indivíduo por que então não se responsabiliza diretamente por essa recuperação ? Pergunta-se: como fugir a um lazer, pela atividade física, que contém, em seus pressupostos básicos, "os de compensação e reajustamento do trabalho mecanizado ou de fuga da realidade?", analisando -se o conceito de lazer emitido por DUMAZEDIER, pose-se afirma que: "... na prática está presente a permissividade ao indivíduo, do lazer enquanto recuperação psicossomática, essencial à saúde do sistema capitalista. O tempo livre é utilizado pelo lazer como forma de compensação, ou melhor dizendo, como mecanismo de compensação criado pela sociedade industrial". As atividades físicas de tempo livre funcionariam, então, como "antídoto contra o tédio causado por um trabalho monótono e enfadonho", havendo necessidade de orientar o jovem para organizar sua vida de forma equilibrada e racionalizada de modo que a recuperação após o trabalho constitua uma preocupação constante no regime de vida cotidiana.
A preparação para um lazer mais rico é uma questão pedagógica ou, num sentido mais amplo, de formação, e não dos menores. A nossa civilização tecnológica exige "... que ao assumir a nobre função de educar na plenitude do termo o cidadão, a escola esteja em todos os níveis preocupada em prepará-lo não apenas para o trabalho, mas também e cada vez mais para o lazer". Considera-se as atividades ao ar livre e determinadas atividades estéticas à base de expressão corporal como meios de utilizar esse lazer. O aspecto do aperfeiçoamento pessoal, pois, além de representar uma simples distração ou uma forma de compensar a sedentariedade, elas podem também tornar-se verdadeiras atividades culturais. A recreação, pode-se afirmar, é a forma mais ampla de utilizar o tempo livre. Sua energia e seu sentido estão presentes em todas as atividades do Lazer; Assim, as recreações, com o preenchimento - coletivo ou individual - do tempo do não trabalho, "nas recreações, há a possibilidade do exercício real da interação social, sob o império de processos associativos, cimentadores das relações comunitárias". Sobretudo, há um mínimo de alternativa a consolidar, no âmbito da liberdade de atividades - qual a festa, outra ou aquela, a lúdica, qual o folguedo a desfrutar. Aqui, os termos Recreação/Lazer: “representam a área do conhecimento cuja preocupação central é a vivência de conteúdos culturais que possibilitem aos sujeitos experienciarem o lúdico em sua vida, com chances de se apropriarem do seu desejo de ser e do espaço-tempo e lugar em que vivem. O lúdico, por sua vez, expressa a possibilidade de vivências da liberdade, da gratuidade e do prazer, que precisam ser dimensionados do ponto de vista existencial e cultural. Mas, o que acontece se o indivíduo não está preparado para usufruir desses direitos?
EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE E LAZER LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Dentro do pensamento moderno e contemporâneo, a Educação Física brasileira apresenta duas tendências: uma racionalista e outra anti-racionalista, com ambas se contrapondo à Educação Física “Tradicional”, sendo que a primeira dá indicações de se preocupar, primordialmente, com a criticidade e a segunda com a “conscientização” ou mesmo com o “prazer”, “felicidade”, etc. As correntes racionalistas souberam, corretamente, identificar no movimento corporal humano, enquanto objeto e instrumento da Educação Física, os elementos de reprodução ideológica, de doutrinarismo, de dominação clássica, etc. De fato, as ‘práticas corporais’, como nos ensinam os estruturalistas, ‘materializam’ a ideologia. Para fins de reprodução e inculcação ideológico-religiosa, por exemplo, mais vale a genuflexão do que a leitura do texto teórico. Todavia, as correntes racionalistas, frente a essa situação, nem sempre conseguem articular uma saída Detectando no movimento, na ‘prática corporal’, elementos não desejáveis, acabam por torná-los como a própria e exclusiva essência do movimento e, na sequência, concluem que é preciso que ‘alguma coisa de fora’ venha acrescentar-lhe criticidade, venha libertá-lo, libertando seu praticante. Essa coisa exterior é o discurso, que pode ter caráter sociológico, antropológico, político, etc. As correntes anti-racionalistas também identificaram no movimento corporal humano características favoráveis à acriticidade. Chegaram mesmo a falar que o movimento ‘aliena’ o homem ... O antirracionalismo critica a Educação Física ‘Tradicional’ pela robotização, pelo estereótipo, mas logo inverte a seta e, sem um estudo teórico mais rigoroso que elenque e hierarquize os determinantes do movimento corporal humano e das técnicas desse movimento, enquanto parametrizado pela sistematização da Educação Física, acaba por fazer apologia de situações espontaneístas. Contra o movimento estereotipado colocam o ‘movimento livre’, as ‘práticas alternativas’, a recreação não sistemática e, não raro, sucumbem a certas psicologias que fazem a inversão entre forma e conteúdo”. (GUIRALDELLI JUNIOR, 1990, p. 197-198) Ambas as tendências perdem o instrumento e o objeto da Educação Física quando a encontra, pois ao se voltar para o movimento, secundarizando o discurso crítico que se possa fazer sobre ele, cometem um erro fatal: “... os racionalistas dizem que ‘não se entende o jogo jogando, mas sim com uma teorização sobre ele’. Os anti-racionalistas rebatem que não se trata de entender o jogo, mas se trata de ‘vivenciar o jogo livremente’ na busca de uma prática corporal feliz, prazerosa, ....” (GHIRALDELLI JUNIOR, 1990, p. 198). Alguns autores levantam a hipótese de que o movimento corporal humano no interior da Educação Física possui elementos de reprodução e elementos de superação, pela característica contraditória própria do movimento enquanto atividade social-humana; o movimento corporal humano da Educação Física, enquanto técnica, não é nem neutro nem unidirecional. Todavia para participar dessa contradição que está vigente no interior do movimento em si é preciso não abrir o momento da reflexão teórico-crítica unidirecional. Sem captar as determinações últimas do movimento não se pode vislumbrar o que lhe é essencial em cada momento histórico-geográfico e não se pode, portanto sequenciar uma verdadeira prática onde os elementos transformadores inerentes ao movimento possam vir à tona para subalternizar os elementos meramente reprodutores unidirecional (GHIRALDELLI JUNIOR, 1990): “Para além do horizonte teórico colocado pela Pensamento Moderno, onde se fixam o racionalismo e o irracionalismo, a Dialética Materialista pode indicar uma abordagem onde o movimento corporal humano possa ser realmente apanhado concretamente, isto é, como síntese de múltiplas determinações articuladas e hierarquizadas. (GHIRALDELLI JUNIOR, 1990, p. 198) Ao apresentar suas “indicações para o estudo do movimento corporal humano na educação física a partir da dialética materialista”, GHIRALDELLI JUNIOR (1990) afirma que não é verdade que a Educação Física “separa corpo e mente”, pois as diversas concepções de Educação Física sempre encontram um ponto comum no fato de buscarem e buscam no e através do movimento corporal humano parametrizado atingir a “mente” pelo “corpo”: “... O movimento, na Educação Física, esteve sempre como instrumento do controle objetivo da subjetividade. Por exemplo, quando no Tiro de Guerra aprende-se a marchar, não se está preparando para a
guerra em ato - pois seria inconcebível marchar na guerra moderna, mas se está efetivamente, no uso do movimento enquanto algo que forja indivíduos com subjetividades capazes de se dirigirem ao campo de batalha. Aí o movimento corporal humano está como claro disciplinador da vontade e artífice de uma específica compreensão ‘teórica’ do mundo. O movimento corporal não se aparta da ’mente’, se integra a ela no seu comando e na sua construção. Mas até aí temos uma meia verdade. “De fato, a Educação Física ‘separa corpo e mente’. O movimento corporal humano como instrumento que busca forjar a ‘mente’, o faz construindo uma capacidade, ‘teórica’ e uma vontade determinadas, que não raro estão despojadas de criticidade e, portanto, alienadas de uma qualidade do pensamento humano historicamente desenvolvido, capacidade esta que circunscreve o campo da liberdade – entendida aí como conhecimento e reconhecimento da necessidade”. (GHIRALDELLI JUNIOR, 1990, p. 197). Outro autor, GAYA (1994), apresenta-nos duas tendências que expressam a identidade da Educação Física: a primeira, amplamente dominante, pretende configurar a educação física como uma ciência relativamente autônoma - uma disciplina acadêmica e/ou científica; dessa tendência decorrem duas perspectivas: 1. é o caso da ciência da motricidade humana, ciências do exercício, cinesiologia ou cineantropologia, a psicocinética ou praxiologia, que pretendem reunir dentro de um único espaço de investigação as diferentes formas e expressões da cultura corporal: “... querem constituir teorias capazes de abranger o desporto, a dança a ergonomia, o teatro, a expressão corporal, os jogos, as atividades circenses e laborais; além de agregar todas as disciplinas científicas que, num determinado momento, trate desses objetos.” (p. 3). 2. é o caso das ciências do desporto ou ciências do treino desportivo, que embora já limitando a abordagem a uma prática corporal e motora específica, pretendem a criação de um espaço capaz de albergar toda e qualquer disciplina científica que, de alguma forma, trata questões referentes ao desporto. A segunda tendência pretende a educação física como filosofia da corporeidade. Também apresenta duas perspectivas: uma existencialista, que configura a educação física um discurso filosófico da corporeidade, dando ênfase ao lúdico, a sexualidade, as práticas alternativas de expressão corporal; uma culturalista, que prevê a reconstrução da educação física na ótica do lazer, dos jogos populares e tradicionais. A corporeidade, sob o ponto de vista filosófico, não corresponde a um elemento mensurável, mas a uma imagem que construímos na mente (SANTIN, 1987, 1990). Pergunta-se, então: o que significa a palavra corporeidade ? na corporeidade existem aspectos filosóficos, assim como existem aspectos biológicos, mecânicos ou biológicos ? haverá uma realidade específica e concreta que corresponde ao que se denomina de corporeidade? (SANTIN, 1987, 1990, 1992, 1996). Após consultar dicionários e manuais, conclui que estes são ambíguos ao definir o que seja corporeidade: “a qualidade do ser corpóreo”, ou “aquilo que constitui o corpo como tal”, ou simplesmente, como “a idéia abstrata do corpo”. Portanto, “a corporeidade seria a propriedade básica que nos garante a compreensão do corpo” (SANTIN, 1990, p. 137). Parte de três atitudes, não excludentes entre si, para buscar os aspectos filosóficos da corporeidade: 1. a primeira atitude, ontológica, tem como objetivo específico definir corporeidade como a natureza ou a essência de um ser corpóreo. Lembra que a ontologia é a parte da metafísica que se aplica ao estudo do ser enquanto ser, independentemente de suas determinações particulares. Assim, a corporeidade significaria exatamente aquilo que constitui o corpo como tal (p. 137); 2. epistemológica, que tem como preocupação primeira garantir um conhecimento objetivo e seguro do corpo humano, não baseado em conceitos metafísicos, mas partindo de situações concretas dos corpos, através de sua observação direta. A corporeidade é tomada como a concretude espaço-temporal do corpo humano enquanto organismo vivo. As reflexões filosóficas estão obrigadas a partir das descobertas das ciências experimentais, sendo assumida essa tarefa pela biologia, pela genética, pela anatomia e pela fisiologia, tendo sido desenvolvida uma corrente filosófica denominada vitalista, que defende a idéia da evolução contínua dos seres vivos, inclusive o homem. A partir dos filósofos vitalistas, Santin conclui que
a corporeidade não é uma realidade dada, mas um processo de franco e contínuo processo de reorganização seguindo os passos das mutações e das transformações da dinâmica evolucionista (p. 137-138); 3. A terceira atitude, que chama de fenomenológica, não está preocupada nem em garantir as bases ontológicas, nem construir uma epistemologia objetiva e rigorosa da corporeidade, mas tentar descrever as imagens de corporeidade que o imaginário humano construiu ao longo da história da humanidade, incluídas também as imagens metafísicas e científicas. Ela tenta captar as possíveis implicações culturais, sociais, educacionais, políticas e ideológicas que tais imagens geraram nos indivíduos e na sociedade. A corporeidade, portanto, sob o ponto de vista dessa atitude, não se constitui num elemento mensurável, ela é apenas a imagem construída na mente a partir da maneira como os corpos são percebidos e vivenciados. (p. 138). O importante não é definir corporeidade, mas compreender as diferentes corporeidades que inspiram e determinam o tratamento dos corpos humanos, desenvolvidos pelas culturas humanas, em geral, e pelas atividades da Educação Física, em especial (SANTIN, 1990), já que as ações humanas se manifestam e se expressam corporalmente quando se pensa na multidimensionalidade do sujeito (ALVES, 1997). Volta-se o olhar, em primeiro lugar, para a corporeidade: “a corporeidade é a condição primeira para que se reinstaure a presença do ser humano. Na corporeidade situa-se o ponto central de encontro do homem consigo mesmo. Ela é a presença e a manifestação do ser humano...”. (SANTIN, 1996, citado por ALVES, 1997, p. 939). TAFFAREL & ESCOBAR (1994), ao analisarem as tendências explicitadas por Gaya, afirmam que a limitação da possibilidade crítica expressa por aquele autor pode ser explicada pela ausência da categoria “atividade” no sentido marxista, explicativa das mudanças trazidas pelo modo de produção capitalista. Citam como exemplo, a atividade lúdica do homem, que deve ser entendida como toda atividade humana, a qual “... aparece como um sistema incluído no sistema de relações da sociedade. A atividade humana não existe em absoluto fora destas relações (...) Quando se analisa a atividade temos que assinalar que a atividade objetiva gera não somente o caráter objetivo das imagens senão também a objetividade das necessidades, das emoções e dos sentimentos (Leontiev, 1979, p. 11-14)”. (TAFFAREL & ESCOBAR, 1994, p. 8). Todavia, prosseguem as autoras, argumentações como as utilizadas por Gaya explicam-se pela não consideração da Educação Física como produção não material que, em determinados estágios e pela influência de certos fatores próprios do sistema capitalista, sofre o mesmo processo de privação das suas qualidades sensíveis sofrido pela produção material. Marx, no Capítulo Sexto (Inédito) de O Capital, diferencia dois tipos de produto: 1. aquele que é de fato o produto material, e que tem todas as possibilidades de se integrar à lógica do valor de troca e se transformar em mercadoria à medida que se instauram relações sociais capitalistas; 2. aquele que é o produto não material, e que, pela sua própria natureza, coloca resistência à sua integração no âmbito das relações sociais capitalistas à medida que não se adapta à forma de mercadoria tão confortavelmente como o primeiro (citado por GHIRALDELLI JUNIOR, 1990, p. 199): “... O produto material (...) é produzido para consumo posterior. Quanto ao produto não material, aparece uma nova divisão: existem aqueles que podem ser consumidos posteriormente, como o livro, o Quadro, mas existem aqueles que são essencialmente consumidos no ato de produção, como o trabalho clínico do médico, a aula do professor, a efetivação na Educação Física do movimento corporal humano (em forma de aula, jogo, desporto, espetáculo, etc.). Aqui, neste segundo caso, é que o capitalismo e seu processo de mercadodização encontram mais resistência e só as vencem, dentro de certas medidas, alterando profundamente o produto em suas qualidades mais íntimas. (GHIRALDELLI JUNIOR, 1990, p. 199). A pergunta pelo que é a Educação Física pode ser interpretada como uma busca do ser da Educação Física, da essência. Mas o que é, então, a essência de algo ou de uma prática social ? BRACHT (1995) entende, como coloca Heidegger, que a essência da Educação Física seria aquilo que a define enquanto tal e concomitantemente a distingue de outras práticas ou fenômenos. Identidade é tomada como aquelas características que distinguem a educação física enquanto uma prática social específica, portanto conjunto de características que definem seu estatuto próprio e ao mesmo tempo a diferenciam (BRACHT, 1992). Buscando uma definição de termos básicos que delimitem, num primeiro momento, concretamente,
um campo/objeto, advoga a utilização do termo educação física para se referir a “prática pedagógica que tem tematizado elementos da esfera da cultura corporal/movimento” (BRACHT, 1992, p. 35). Manuel Sérgio VIEIRA E CUNHA (1982), quando fala da “prática e a educação física”, procura-se vincar que a transformação da realidade objetiva é um processo material onde se entrechocam contradições de vária ordem que se torna imperioso superar e resolver, na linha da construção do Homem por si mesmo. Para esse autor, a Educação Física possui um objeto específico: as condutas motoras (p. 30). Mais adiante, ao se referir às Culturas Física e Desportiva, afirma que esta advém daquela, entendendo por Cultura Física o aspecto criativo, subjetivo, original da pessoa, manifestado através da conduta motora do indivíduo. Do ponto de vista antropológico, Manuel Sérgio considera Cultura Física a maneira como os homens exprimem a sua conduta motora, em conformidade com a tradição e o modo de expressão grupal ou societária: “... Se a Cultura, na acepção usada neste passo, é o conjunto de comportamentos e de modos de pensar, próprios de uma sociedade, a Cultura Física não pode compreender-se desinserida de um clima gregário que preservou e perpetuou determinados valores e determinadas técnicas corporais. (...) “Daí que a Cultura Física, sob o ângulo de visão de que nos ocupamos agora, apresente os seguintes elementos culturais: usos e costumes, crenças, a linguagem, as tradições, a música, a dança, os padrões de comportamentos, etc. - e seja, por isso, o veículo transmissor de uma das feições, da conduta motora, que vão dar originalidade às Atividades Corporais de um povo. (...) “E, dessa forma, é possível descobrir na Cultura Física a história motora de uma comunidade e daqui partir em demanda da cultura e das estruturas sociais. A motricidade surge sempre carregada de sentido. Afinal, porque é ela a estar em jogo em qualquer actividade humana. (...) “... a cultura desportiva (...) representa um domínio da cultura física que sintetiza as categorias, as instituições e os bens materiais, criados para a valorização da actividade física, nos quadros da pedagogia, do lazer ou da competição, com o fim do aperfeiçoamento biopsicológico e espiritual do homem...”. (VIEIRA E CUNHA, 1982, p. 62-63). BRACHT (1992) afirma que: “... a materialidade corpórea foi historicamente construída e, portanto, existe uma cultura corporal, resultado de conhecimentos socialmente produzidos e historicamente acumulados pela humanidade ...” (p. 39). PEREIRA (1988) fala de uma cultura física como “... toda a parcela da cultura universal que envolve exercício físico, como a educação física, a ginástica, o treinamento desportivo, a recreação físico-ativa, a dança, etc.” (p. 20). BETTI (1992) lembra que Noronha Feio (s.d.) já se referiu a uma cultura física como parte de uma cultura geral, que contempla as conquistas materiais e espirituais relacionadas com os interesses físicoculturais da sociedade. KOFES (1985) afirma que o corpo é expressão da cultura, portanto cada cultura vai se expressar através de diferentes corpos, porque se expressa diferentemente enquanto cultura. Para DAÓLIO (1995) é evidente que o conjunto de posturas e movimentos corporais representam valores e princípios culturais. Ao falar das técnicas corporais, serve-se de MAUSS, que as definiu como as maneiras de se comportar de uma sociedade; esse antropólogo francês considerou os gestos e os movimentos corporais como técnicas próprias da cultura, passíveis de transmissão através das gerações e imbuídas de significados específicos: “Técnicas corporais culturais, porque toda técnica é um hábito tradicional, que passa de pai para filho, de geração para geração. Segundo ele, só é possível falar em técnica, por ser cultural (MAUSS, 1974, v.2)”. (DAOLIO, 1995, p. 26). O termo Cultura Corporal tem duplo sentido: no primeiro, se pressupõe uma técnica sobre o corpo, com a palavra cultura significando sinônimo de treinamento, adestramento do corpo; é nesse sentido que termos como culturismo e fisioculturismo são utilizados. O sentido de Cultura Corporal que utiliza parte da definição ampla de Cultura e diz respeito ao conjunto de movimentos e hábitos corporais de um grupo específico (DAÓLIO, 1995). A prática é a base do conhecimento humano, um processo que no decorrer do seu desenvolvimento faz surgir tarefas cognitivas que originam a percepção e o pensamento: “A atividade humana, na sua forma inicial e básica é sensorial, prática, durante a qual os homens se põem em contato prático com o mundo circundante,
experimentam em si mesmos as resistências desses objetos e atuam sobre eles, subordinando-se às suas propriedades objetivas (Marx)”. (GOELLNER, 1992, p. 290). A atividade deve ser entendida como uma forma de apropriação da realidade e de modificação dessa, que mediatiza a ação humana na natureza. É, portanto, uma propriedade inerente à vida e que se torna humana quando consciente. A atividade produz a consciência e esta se apresenta como uma linguagem psíquica que revela ao sujeito o mundo que o rodeia. É relevante discutir a apropriação do conhecimento, abordar a questão da internalização, que nada mais é do que a reconstituição interna de uma operação externa, e que não se dá apenas numa transição simples da atividade externa para o plano interior da consciência, mas na formação do próprio plano (GOELLNER, 1992): “... Daí ser possível afirmar que a construção do conhecimento e da cultura se dá, a princípio, num plano social e posteriormente, num plano individual. (...) “[Para Vygotsky (1989, p. 63), a internalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui os aspectos característicos da psicologia humana; é a base do salto qualitativo da psicologia animal para a psicologia humana.” (GOELLNER, 1992, p. 290) As práticas constituem uma expressão sistemática de modos de engendramento da interiorização da exterioridade e da exteriorização da interioridade (que é sempre apropriada como segunda hereditariedade) e que refletem, condicionalmente as condições de existência (DAMASCENO, 1997). Serve-se de Bourdieu (1993), para afirmar que “... Uma prática é, ao mesmo tempo, necessária e relativamente autônoma em relação à situação considerada em sua imediatidade pontual, porque é produto da relação dialética entre uma situação e um habitus”. SOARES (1987), ao refletir sobre o esporte, considerando-o objeto do aparelho cultural num contexto de análise althusseriana, verifica que esta atividade está sempre a serviço das ações e relações sociais subjetivas de aprendizagem dos “saberes práticos” (“dessavoir fair”). Essas ações e relações são veiculadas através de sua prática, e, geralmente, estão em consonância e no contexto da proposta da classe dominante, com igual disseminação de chauvinismo de primeira ordem: “Então, poderíamos usar de mediação para a transformação, negando um objeto para substituí-lo por outro, ou seja, será negando totalmente o modelopadrão de esporte elitista que daremos um salto para sua democratização ? Acreditamos que não. Adotando uma linha de pensamento Luckácsiana, não será através da ruptura com a cultura burguesa, em sua totalidade, que se fará emergir uma nova cultura. Mas, com a revisão crítica da cultura burguesa se resgatarão os elementos culturais válidos para qualquer situação de mudança.” (SOARES, 1987, p. 36). SILVA (1985), em suas “reflexões filosóficas e sociais acerca do desporto”, entende ser a prática o processo capaz de servir para transformar a natureza e as relações entre os homens; devendo se orientar por um conhecimento que sirva de luz para o operar e agir da prática. A unidade teórico-prática deve se constituir numa totalidade dialética, a qual não privilegia nenhuma isoladamente. A prática é fundamental, pois é no concreto das relações sociais que o homem transforma e se transforma.
MANIFESTAÇÕES DO LÚDICO E DO MOVIMENTO NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CORRÊA (1993) ao comentar carta do padre jesuíta João Tavares a um superior, descrevendo a paisagem da Ilha de São Luís, ante a chegada possível de missionários europeus ao Maranhão, afirma que aqueles religiosos deixariam as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhão: "Como na Ilha Grande foi decantada pelo espaço contrário aos trabalhos (os quais, no mínimo, resguardaria) antieticamente haveria de apresentar expressiva contenção de exercícios corporais, enquanto expressão de labuta, de fadiga e de descanso decorrentes de diligência em atividade física. Permitiria – na contrapartida da terra de gente excepcional - a alternativa das recreações para o cultivo e o requinte do espírito. Desdobrado da hipótese das recreações coletivas, o raciocínio desenclausurado outro não é, senão o de que, no Maranhão, seria comunitária a amizade pelas luzes, pela razão, pela sabedoria etc., considerada a educação do pensamento e do sentimento um fragmento indispensável das recreações. ." (CORRÊA, 1993, p. 40). Para CORRÊA (1993), a afirmativa do padre João Tavares foi riquíssima, porque vaticinou uma permuta - as delícias (da Itália) pelas recreações (do Maranhão). Sociologicamente significativa, haja vista que, na substituição, as delícias europeias não terminariam trocadas pelos trabalhos americanos. “Ao contrário, o fundamento do intercâmbio seria a validade indicada como vantajosa - a das recreações maranhenses." (p. 39). Ao se estudar fenômenos culturais tais como o lazer, o tempo livre, a recreação e os esportes, torna-se necessário identificar as variáveis que direta e/ou indiretamente determinam e interferem com eles para a devida análise e projeção futura. É preciso perceber que não se pode analisar tanto o lazer como o esporte independentemente do conjunto de suas práticas; é preciso pensar o espaço das práticas como um sistema no qual cada elemento recebe um valor distinto, ou seja, para compreender um esporte, é preciso reconhecer que posição ele ocupa no espaço dos esportes (BORDIEU, 1987, 1990). É preciso, também, relacionar este espaço do esporte com o espaço social, que se manifesta nele, estabelecendo, desta forma, as propriedades socialmente pertinentes que fazem com que um esporte tenha afinidade com interesses, gostos e preferencias de uma determinada categoria social. Em suma, o elemento determinante do sistema de preferências está associada a uma posição social e a uma experiência originária do mundo físico e social, qual seja, o hábitus (DAMASCENO, 1997). O habitus , como “o produto de uma aquisição histórica que permite a apropriação do adquirido histórico” (BORDIEU, 1989) -, é história incorporada, coletiva e individualmente na medida em que propicia formas particulares de manifestações: as práticas nele e por ele forjadas e expressas. Nenhuma prática social escapa ao controle ideológico do sistema de significações da ordem cultural. As invenções esportivas constituem apenas uma das possibilidades destas manifestações culturais. Um esporte é reconhecidamente pertencente a uma ordem cultural quando reproduz, no ato de sua instauração, os valores da cultura que lhe emprestou as condições de sua gênese. Toda sociedade sustenta-se sobre uma construção simbólica - uma representação, entendida como “ ‘ universos consensuais’ criados pelas interações sociais no âmbito das quais as novas representações vão sendo produzidas e comunicadas, passando a fazer parte desse universo como ´teorias´ do senso comum, que ajudam a forjar a identidade grupal e o sentimento de pertencimento do indivíduo ao grupo” (MAZZOTTI, 1994, citado por DAMASCENO, 1997) -, base de um sistema de significações, que dá força e inspiração a toda iniciativa de criação e de invenção. É necessário percorrer o caminho da (re)construção da estrutura do espaço do esporte e do lazer enquanto produtos objetivados das lutas históricas tal como se pode apreendê-los num dado momento do tempo, quer dizer, como se dá a formação desses enunciados (construção de novas representações), como eles se organizam entre si para constituírem-se em um novo conjunto de proposições que são aceitas e portanto, apreendidas.
Incorporadas pela sociedade que passa a assumir este novo estatuto de representação pois “não há outro modo de compreender as transformações a não ser a partir de um conhecimento da estrutura” (BORDIEU, 1990). O nosso problema se concentra justamente nesse tipo de produto não material que se consome no ato de produção. O movimento corporal humano é singular, se realiza e, concomitantemente, vai sendo consumido por praticantes e assistentes. Não pode ser reproduzido de forma alguma. Um jogo, uma dança etc., são situações históricas onde transcorrem subjetividades e relações objetivas particulares que jamais poderão se repetir. MARINHO (s.d.) e JORDÃO RAMOS (1974), ao estudarem a história da educação física e dos esportes no Brasil Colonial, apresentam as corridas, a natação, a caça, a pesca, a canoagem, o arco e flecha e a dança praticadas pelos índios como “primeira manifestação do lúdico e do movimento” (DICKERT e MERHINGER, 1989, 1989b, 1994), muito embora fossem essas atividades executadas no seu dia a dia, responsáveis por sua sobrevivência enquanto povo. A esse respeito, GEBARA (1994b; 1997, 1998), afirma que a máquina e o relógio transformaram o universo das ações motoras, “os homens não mais definem seu potencial e habilidade muscular” (GEBARA, 1994b; 1997, 1998). Instrumentos externos são introduzidos no sentido de “avaliar mais racionalmente, ou mais produtivamente, a atividade física do trabalhador. Está aí a chave para compreendermos a constituição dos esportes modernos” (GEBARA, 1997, p. 70; 1998, p. 6): “... Não é admissível , dessa maneira, pensar a História do Esporte no Brasil, a partir das atividades motrizes componentes do cotidiano indígena. O remar e o pescar, bem como o uso do arco e da flecha, estão determinados por ritmos musculares autônomos. Os remadores olímpicos de hoje, pelo contrário tem seu treinamento planejado a partir de ritmos cronométricos. A história do esporte, lazer e Educação Física no Brasil, a par das questões teóricas apontadas, implicam ainda um processo de colonização, no qual valores e atitudes foram aqui estruturados, tendo em vista, em muitos casos a iniciativa de colonizadores, e mais frequentemente de imigrantes...” (GEBARA, 1997, p. 70; 1998, p. 6) Mas HUIZINGA (1980) considera que “ ... mesmo as atividades que visam a satisfação imediata das necessidades vitais, como por exemplo a caça, tendem a assumir nas sociedades primitivas uma forma lúdica”. O lúdico - ludens - abrange tanto os jogos infantis como a recreação, as competições, as representações liturgias e teatrais e o jogo de azar. Aparece em todas as culturas e épocas, sob a forma de jogo, de festa, manifestação de uma dada cultura (HUIZINGA, 1980) O lúdico, como "forma significante", primária, é compreendido como fator cultural de vida. Em seus aspectos - luta por alguma coisa e representação de alguma coisa - representam, ambas as funções, uma figuração imaginária de uma realidade desejada. O jogo serve explicitamente para representar um acontecimento cósmico: "A palavra celebrar quase diz tudo: o ato sagrado é celebrado, isto é, serve de pretexto para uma festa", ensina HUIZINGA (1980). Esse autor não faz distinção entre "jogo" e "festa", pois ambos implicam uma eliminação da vida cotidiana, onde predominam a alegria; são limitados, ambos, no tempo e no espaço; e possuem regras estritas. Deve-se considerar que existe uma História que explica a esportivização dos jogos e práticas corporais, como existe uma outra História no que se refere a localização dessas práticas em espaços culturais e socioeconômicos distintos (GEBARA, 1994b, 1997, 1998). As manifestações A Igreja teve um importante papel no processo de colonização do Maranhão, indo além do mundo espiritual, representando o único freio moral de uma população brutalizada e ignorante. É na igreja que essa população encontra "uma diversão e uma alegria que quebrasse a monotonia desesperada de uma vida prenhe de perigos e vazia" (MEIRELLES, 1977, p. 65).Essa alegria era representada pela beleza litúrgica do cerimonial religioso: "O Te-Deum, a missa, o sermão, a novena, a procissão, o canto coral, a música do cravo no coro, o repicar dos sinos nas torres e a comédia que os noviços representavam em dias de festas, no adro dos
templos, eram a única distração e a única alegria que regularmente se concedia àquela gente.". (MEIRELLES, 1977, p.65). Essas festas eram realizadas em datas consagradas a algum santo. LISBOA (1990) nos relata que a Câmara de São Luís tinha que mandar celebrar, além da procissão de Corpus Christis, quatro festas anuais: "... a saber a de São Sebastião em janeiro, a do anjo Custódio em julho, a da Senhora da Vitória em novembro, e a da restauração de D. João IV, chamado especialmente el-rei, em dezembro ...". Fora essas datas, só se realizavam cerimônias festivas "quando assumia um novo governador ou, depois, quando chegava um novo bispo" (MEIRELLES, 1977). BETTENDORF (citado por LOPES, 1975) nos dá conta que, em 1678, quando da chegada do primeiro bispo ao Maranhão "fizeram-se várias representações de encamisadas a cavalo". D. Gregório de Matos (1679-1689) foi recebido com uma festa que durou mais de oito dias e “foi um verdadeiro carnaval”: "O carnaval já existia no Maranhão a esse tempo, haja vista que BETTENDORF informou, por exemplo, que tendo Pedro César de Menezes governado quase cinco anos sucedeu-lhe Inácio Coelho da Silva, no começo de 1678 pelo entrudo; em outra passagem, referindo-se à Revolta de Bequimão, diz que a primeira conjura do Convento de Santo Antônio foi uma dominga antes do entrudo do ano de 1684, que foi a 15 de fevereiro." (MEIRELES, 1977, p.81). O entrudo é o tempo do divertimento que compreende os três dias que antecedem a Quarta-feira de Cinzas. “Lembranças das saturnálias, februálias, florais, festas orgásticas assírias, medo-persas, babilônicas, revivem no Carnaval” (CÂMARA CASCUDO, 1972, p. 247): "Nenhuma crônica grega superava essa explosão de vida dionisíaca arrebatada, furiosa e brutal em sua espontaneidade. Juntem-se os aspectos violentos e brutais de pilhéria, denúncia, histórias infamantes improvisadas no momento e gritadas como proclamações radiosas, enfim outro traço evidente da corredela do entrudo português ... Foi, até meados do séc. XIX, o entrudo brutal e alegre ... pelo norte, centro e sul do Brasil, o movimento era igual. Água, farinha do reino, fuligem, goma, ensopando os transeuntes. Água molhando famílias e ruas inteiras, em plena batalha ... depois o entrudo admitiu formas mais doces com as laranjinhas-de-cheiro e borrachas com água perfumada ...". (p. 247). Esses tempos de festa serviam para regular o calendário do trabalho (GEBARA, 1994, 1994b, 1997; PILATTI, 1994, BRIGATTI, 1994). Ao contrário do uso do tempo após a revolução industrial, o tempo era regulado pela natureza. O ritmo do trabalho era dado pelo ritmo do homem no comando de ferramentas e instrumentos de trabalho, estes movimentados como extensão dos membros humanos (GEBARA, 1994, 1997). O controle, regularidade e universalização da mediação do tempo, através do relógio, somente acontece com o desenvolvimento do capitalismo industrial. Essa construção dos conceitos de tempo livre e tempo disponível aparecem em Marx, em algumas passagens nos “Grundrisse”, Elementos fundamentais para a crítica da economia política” (GEBARA, 1994, 1997). Uma função essencial do calendário é a de ritmar a dialética do trabalho e do tempo livre. Trata-se de permitir o entrecruzamento do tempo mais disciplinado, mais socialmente controlado, com o tempo cíclico das festas e, mais flexível, do jogo (Le GOFF, 1992, citado por GEBARA, 1994b, p. 183): “... uma das funções do calendário está em articular os tempos de trabalho e de não-trabalho, ou ainda, articular o tempo linear-regular do trabalho com o tempo cíclico da festa, do jogo e, do mesmo modo, do esporte (...) o calendário seria o resultado complexo de um diálogo entre a natureza e o homem; diálogo este não estranho ao lazer, ao esporte e ao jogo”. (GEBARA, 1997, p. 68-69). BRIGATTI (1994) chama a atenção para a relação que os exercícios físicos e os jogos mantiveram com as festas, “sejam elas de fundo ritual, religioso, recreativo, etc.” (p. 94). De maneira geral, parece que o quadro temporal dos exercícios físicos e jogos, organizaram-se em torno do tempo das festas. Voltemos à festa de D. Gregório. Teve lugar, a seguir, no adro da igreja: "... uma comediazinha ... finda ela, foi D. Gregório para a casa de Manuel Valdez ... onde, por oito dias consecutivos, ou mais, houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria." (MEIRELES, 1977, p. 76).
As encamisadas constituíam-se, outrora, um cortejo carnavalesco que saía às segundas-feiras, com seus componentes vestidos de longas camisas e mascarados de branco, fazendo momices: "... primitivamente foi ataque de guerreiro, onde os soldados punham camisas sobre as couraças como disfarce. Depois, mascarada noturna, com archotes. Tornou-se desfile, incluído nas festividades públicas" (CÂMARA CASCUDO, 1972, p. 368). A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras (CÂMARA CASCUDO,1972, p. 249): "Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile de que fala um documento da Câmara de Coimbra, citado por Viterbo, aludindo em 1464, 'à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares'. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas". (CÂMARA CASCUDO,1972, p. 259). As manifestações do entusiasmo popular talvez tenham nascido com as atividades recreativa que pipocaram em certos centros, conforme as feições econômicas das regiões. As cavalhadas, as vaquejadas, e até mesmo as touradas, assim como os sinais do reacritivismo admissível, tiveram arenas de atração transitória (LYRA FILHO,1974, p. 210): “Maior e mais amplo entusiasmo despertavam as cavalhadas, embora entre os grupos voltados para a cúpula da sociedade ainda em formação. O cavalo que lhes ajudou a ostentação há de ter cruzado sangue andaluz... O hipismo, como denominação genérica, fez viagem para o Brasil trazido pelos portugueses. No século XVIII, sobretudo, contou dias de fortuna e aristocracia ante o olhar do povo enfeitiçado...”. (LYRA FILHO, 1974, p. 222). CÂMARA CASCUDO (1972) registra o termo "cavalhada" referindo-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha. "Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria", afirma GRIFI (1989), ao referir-se às atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. De acordo com esse autor, os principais e mais famosos jogos cavalheirescos eram: o torneio, o bigorno, a giostra, o carosello, o passo d'arma, a gualdana, a quintana, a corrida dall'anello. ALMEIDA (1928) em sua História de Portugal, tomo V, ao descrever os costumes e aspectos sociais nos anos 1500-1600, registra uma encamisada realizada em 1619: "Encamisadas (cavalhadas) – Jogo das canas. - Em ocasiões de festa, um grupo de cavaleiros, que marchavam a cavalo, cobertos de brancos e com tochas, constituíam a encamisada. Em 1619 projectava-se uma encamisada para a recepção de Felipe III de Espanha em Lisboa..." (citado por VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d., p. 92). As primeiras cavalhadas realizadas no Brasil acontecerem em 1641. MARINHO (s.d.) refere-se à uma realizada em abril, no Recife: "Portugal estava sob o domínio da Espanha e esta em guerra com a Holanda. Os holandeses haviam invadido o Brasil quando sobreveio a trégua entre estes e os espanhóis, a qual, naturalmente, se estendeu às colônias. Para festejá-la, foram organizados torneios eqüestres em que portugueses e brasileiros competiram contra holandeses." (MARINHO, (s.d.), p. 17). Já CÂMARA CASCUDO (1972) registra uma encamisada realizada em março, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV, onde: "... foi o princípio das festas uma Encamisada em que passaram mostra alegrando todas as ruas da cidade cento e dezesseis cavaleiros. Descreve Nelson Vianna:' Já na véspera, houvera as impressionantes e tradicionais encamisadas. E os entusiasmados cavaleiros que iam ter a honra de tomar parte nas cavalhadas, haviam percorrido, a luz dos archotes, as principais ruas da cidade, numa demonstração antecipada da magnificência que iriam ostentar as comemorações." (CÂMARA CASCUDO, 1972, p. 368). Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas (LOPES, 1975) não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão: "E nesses torneios do tempo colonial os corcéis eram árdegos, de viçosa estampa e traziam arreios de preço. Os cavaleiros e
seus 'peões' vestiam com esmero trajes de cores vivas e os primeiros, montados à gineta ou bastarda, exibiam a sua destreza na arte nobre de bom cavalgar." (p. 49). As cavalhadas foram uma ostentação da vaidade e do poderio de cavaleiros que despendiam recursos de monta na montaria. Naquela época, um cavalo habilidoso, próprio para passeio, custava de vinte a trinta mil-réis, mas o de corrida variava entre quatrocentos e seiscentos mil-réis (LYRA FILHO, 1974): “... Alguns cavaleiros não se interessavam na retirada da argola, importando-lhes muito mais a pompa da pose e a grandeza da saliência. Os animais participavam das cavalhadas com ricas selas forradas de veludo, bordadas a ouro, e franjas de idêntico metal; os arreios eram de prata. Sobre a sela, uma larga manta - talim - também de veludo e bordados de ouro; as franjas de cada cavalo tinham cores diferentes. O pedestre, seu acompanhante, vestia calção curto, meias compridas, sapatos de entrada baixa com fivela dourada, colete, jaqueta com galão de ouro e chapéu de dois bicos. Os heróis das corridas apresentavam-se em estilo bizarro, com uniformes de veludo e ouro, jogo de pistolas na cinta, gorro finíssimo e lança de madeira trabalhada em prata.”. (LYRA FILHO, 1974, p. 232) Além dos encamisados, "jogaram, decerto, a cana e a argolinha" (LOPES, 1975). A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e, de acordo com GRIFI (1989), a corrida dall'anello - corrida do arco consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos. Originária de antiquíssima justa, desde o século XVI que se corre a argolinha no Brasil: "Pendendo de um arco ou poste enfeitado, uma argolinha deve ser tirada pela ponta da lança do cavaleiro, em desfilada. A argolinha enfiada em lança era oferecida a uma autoridade ou às moças e senhoras, havendo prêmios ... No meio do circo levantam-se dois postes aos quais se prende uma corda ou um arame um pouco frouxo; e deste arame pende uma ponta de um fio ou de uma fita uma pequena argola, mas presa por tal feitio que, sendo tocada ou antes enfiada por uma lança, imediatamente se desprende na ponta da lança. Feito isto, todos os cavaleiros se colocam em fila, defronte e bem longe da argolinha; e cada um por sua vez saindo da fila, firma-se na sela, enrista a lança e fazendo o cavalo disparar, passa entre os dois postes onde está a argolinha e tenta tirála." (CÂMARA CASCUDO, 1972, p. 103). No "Mapa Cultural" do IBGE (1980), encontra-se a descrição de cavalhadas realizadas em Alagoas, Bahia, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraíba como cortejo e torneio a cavalo em que a parte mais importante consiste na retirada de uma argolinha com a ponta de lança, em plena corrida: " Os doze cavaleiros ou pares são divididos em cordões azul e encarnado". MORAES (1989) ao registrar as festas de São Luís em seu "Guia", informa que "cavalhadas, congadas, fandangos, cheganças e mascaradas, tivemo-los durante o período colonial (...). De épocas mais recentes, apesar de virtualmente desaparecidas, são tambor de taboca, lindéo, caninha-verde (...)" (p. 178). CÂMARA CASCUDO (1972), em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, registra o verbete "Cana-Verde" ou "CaninhaVerde", mas referindo-se a uma dança cantada, originária de Portugal, da região do Minho. Consta de uma roda de homens e mulheres que se defrontam, cantando e permutando de lugares. Não se trata, naturalmente, da mesma manifestação, visto ser a "cana" um jogo do grupo das cavalhadas, conforme registra o Conde de Sabugosa (citado por VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d.), ao referir-se às "toiradas em Portugal": " ... pela transformação da arte militar acabaram as escaramuças, os jogos de canas e os desafios de cartel em que os mantenedores e aventureiros de armas brancas ao som de trombetas, sacabuchas, charamelas, pífanos e tambores defendiam em combates simulados as belas Celindaxas ... Juntamente com a cavalaria a gineta e o trajar pomposo do século passado, morreram as cavalhadas, a argolinha, a cabeça-de-turco e o pato ..." (p. 37). O mesmo Conde de Sabugosa, citando Garcia de Resende, enumera as virtudes de D. João II - neto de D. Duarte, o autor do "Livro de ensinança de bem cavalgar toda sella": "E as festas eram d'elle com grande veneraçam celebradas, e sempre n'ellas se vestia ricamente, e com grande estado real guardava os antigos
costumes dos reys seus antecessores convem a saber, no Natal consoada, na Páscoa Ressurreiçam, dia de Corpus Christi procissão e touros, vésperas de S. João grandes fogueiras, e no dia cannas reaes." (p. 38). Em "uma toirada de el-rei D. Sebastião", o Conde de Sabugosa descreve uma corrida de touros realizada no ano de 1575: "No dia 24 de junho começaram logo de manhã a encher-se os degraus dos palanques baixos, e todo o recinto destinado ao povo ... Outros relembravam as festas e os jogos da canas dados três anos antes em Santo Amaro pela chegada do Vice-Rei D. Luís de Ataíde, vitorioso dos reis da Índia, e duvidavam que estes festejos pudessem ser mais brilhantes ... “Evacuada a praça, entrou majestosa e grave a régia comitiva ... tinha então o neto de Carlos V vinte e um anos ... seguiam-no D. António, Prior do Crato ... o Duque de Aveiro ... Cristóvão de Távora ... D. Álvaro de Castro ... D. João de Castro ... Luís da Silva ... o Conde de Sortelha; D. Luís de Menezes; e muitos outros, que se dispuseram em ordem para as cortesias que deviam de proceder as canas reais ... “Dividiam-se em quatro companhias, tendo cada uma à frente o seu guia. Compunham as quadrilhas sessenta e quatro cavaleiros vestidos à mourisca de veludo de várias cores ... Acompanhava cada cavaleiro uma comitiva de oito pagens e oito lacaios, fazendo ao todo um exército de mil e vinte e quatro pessoas ... Separaram-se em dois corpos as quatro fileiras, e começaram com disciplinada ordem a sair dois a dois os combatentes, logo quatro a Quatro, e oito a oito, principiando os conflitos com o arremessar ágil das canas, prontamente aparadas nas adargas com elegância e destreza." (citado em VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d., p. 45-47). Ao descrever as distrações na Idade Média, em " a sociedade medieval portuguesa", Oliveira Marque ensina que, "uma vez a cavalo, o nobre medieval podia entrega-se a uma série de exercícios desportivos". Dessas, os mais vistosos e conhecidos eram sem dúvida as justas e os torneios, embora seja difícil distinguí-los. Em princípio, a justa travava-se entre duas pessoas, enquanto o torneio assumia foros de contenda múltipla. No dizer de GRIFI (1989), a "giostra" era disputada somente entre dois cavaleiros, diferente do torneio que era combate em times. Eram usadas "armas corteses", isto é, armas desapontadas ou cobertas por uma defesa. O confronto consistia de uma corrida a cavalo de um contra o outro, lança em riste, com o objetivo de desequilibrar o adversário, melhor ainda, de fazer cair, ao mesmo tempo, cavalo e cavaleiro. Em torno do século XIV espalhou-se o mau costume de usar lanças ou armas desapontadas. Variante das justas eram as chamadas canas: "Em vez de lanças, os jogadores, a cavalo, serviam-se de canas pontiagudas com que se acometiam. O jogo possuía as suas regras, evidentemente muito diferentes das que regiam os torneios. Popularíssimos no fim da Idade Média, mostrava-se espetáculo quase obrigatório nos festejos públicos, ao lado das justas e das touradas. Houve canas no casamento de D. Leonor, em 1450, como as houve no do príncipe D. Afonso, em 1490, e em muitas outras festividades." (citado por VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d., p. 84). Para SOUSA , o "jogo das canas, de antiga tradição nacional" (citado por ALMEIDA, in VIERA E CUNHA & FEIO, s.d., p. 665) , continuou em uso, nos séculos XVII e XVIII, com grande aparato e luzimento, quando nele intervinham pessoas da alta nobreza: " ... Em 1663, entre os festejos que em Vila Viçosa se fizeram, para solenizar o casamento do Duque de Bragança com D. Luisa de Gusmão, figurou um jogo de canas, com aquela solenidade e grandeza que os Duques davam sempre às suas festas: Dividiu-se o jogo – diz o autor da História Genealógica - em duas quadrilhas, cada uma de dezoito cavaleiros. A primeira era de D. Duarte com D. Luís de Noronha, caçador-mor; a segunda, de D. Alexandre com Fernão Rodrigues de Brito, camareiro-mor do Duque. Juntaram-se no campo do Carrascal, donde saindo por Santa Luzia à Rua da Corredoira, entraram na forma seguinte: à frente ia uma bastarda, e seis trombetas, quatro atabales, todos com vaqueiros guarnecidos de passamanes de prata, montados em mulas cobertas com gualdrapas de pano verde, bordadas de cortados amarelos: logo as lanças, e entre elas com divisão três ternos de charamelas, e as do Duque com sua libré; seguiam-se duas
azémolas de canas cobertas de reposteiros de veludo com as armas bordadas de ouro e prata com cadilhos de várias cores; as ferragens, arrochos e testeiras das armas eram de prata. "Entraram oitenta cavalos à dextra com jaezes de ouro e prata, os mais deles do Duque; dos últimos eram doze de D. Duarte e D. Alexandre, com jaezes de ouro, pérolas e aljofre, boçais e enceladas do mesmo, cobertas as celas de ricos telizes de várias cores; vinham presos pelos cordões das cabeçadas, que levavam homens vestidos com mariotas de tafetá azul e verde. Foram os padrinhos D. Cristóvão Manuel e D. Antonio de Melo, estribeiro-mor do Duque, que iam montados em soberbos cavalos; seguia-se o meirinho da Casa, doze moços da estrebaria e doze da guarda, que levavam no meio D. Duarte e à sua estribeira doze moços da Câmara, um dos quais levava a adarga com a sua empresa, que era de loureiro verde e quatro coras do próprio suspensas dele, com esta letra: Nondum aruit; e no estandarte da lança levava uma águia com os pés atados e a letra dizia: Semper cadem. "Tanto os desta Quadrilha como da outra quadrilha vestiam à mourisca, com marlotas e capelares de velilho de ouro e azul, franjados de ouro, foros de tafetá azul, barretes vermelhos sem plumas, e suas empresas. Não levava mais diferença D. Duarte, do que ter esporas e tranco de ouro, e aljofres; e o seu cavalo era baio, ia guarnecido com jóias, freio, encelada e boçais de ouro e aljofre. "Os da outra quadrilha vinham com larelotas e capelares de velilho de ouro verde; D. Alexandre montava um cavalo castanho-claro; no mais igualava em tudo com seu irmão, com outros tantos moços da Câmara, estribeiras e guarda: levava na adarga por empresa um sol saindo de uma nuvem escura, com esta letra: Post tenebras spero lucem; e no estandarte da lança uma harpa, com a letra que dizia : Quid erit in Coelo? "Ultimamente marchava um esquadro de duzentos soldados com bandeira, tambor e pífano, governados pelo alferes-mor do Duque, soldado veterano que tinha militado em Flandres, todos com luzidos vestidos, bandas e plumas. "Entram desde Santo Agostinho pela parte do Convento das Chagas: tanto que chegaram à janela em que estavam os Duques, tirando com bizarria as lanças do ombro, com baixar-lhes as pontas fizeram as cortesias, passando a dar princípio às carreiras, e no fim delas às canas, que correram com desembaraço e bizarria, e depois com uma vistosa escaramuça; e acabando ultimamente com carreiras, despediram-se como tinham entrado, o que aplaudiu o castelo com uma salva de artilharia; e saíram a passear as ruas da vila." (In VIEIRA E CUNHA & FEIO, s.d., p. 93-94). Luiz Edmundo em seu “O Rio de Janeiro no tempo dos Vice-Reis" descreve assim uma cavalhada: “... surge um corpo de pagens pelo vão da tranqueira aberta sobre a arena. Eles vêm a pé e deverão servir aos cavaleiros em suas escaramuças; embora sem espadas, vestem a indumentária dos tempos idos. Com o tricórnio na mão, cada pagem mostra sua cabeleira presa por um laço a catongan. O grupo vem dos fundos e marcha até o centro do terreno; alí, há uma parada para as cortesias do estilo ao Vice-Rei. Cada pagem recua o pé direito, toca o chão com o joelho, mantendo a cabeça recurvada, e junta o queixo a um dos ângulos do tricórnio posto em massa sobre o peito. O grupo avança, evoluindo em fila singela, para dividir-se ao meio. Agora, são duas metades: uma toma o caminho da direita e outra o da esquerda. Aos compassos da marcha batida, os pagens voltam e saem pelo vão da tranqueira; mas logo ressurgem, acompanhados das alimárias cheias de guisos transportados em largos surrões de couro. Ali estão os apetrechos destinados ao jogo: lanças, postes de argolinhas, cabeças em massa, alcanzias e numerosos outros de tamanhos reduzidos. “Os animais, antes do descarregamento, fazem o circuito da praça seguidos pelos seus guias; a carga é posta no chão, para ser utilizada pelos cavaleiros. Estes surgem, em seguida; são doze, distribuídos em duas filas iguais. Uns se distinguem dos outros pelas cores dos vestuários; os componentes de uma fila exibem vestimentas verdes e os da outra vestimentas cor-de-rosa. Todos os calçados são iguais: na mão esquerda uma luva branca e no tricórnio uma esguia pluma da mesma cor. As botas não ficam à vista: são cobertas por polainas igualmente brancas, altas e de
atacar. As selas dos animais pertencentes aos cavaleiros do grupo cor-de-rosa são vermelhas e as do grupo verde são amarelas; com tais cores combinam as rédeas, as cabeçadas, os rabichos e as pontas das guias. Mas os chairéis, os peitorais e os seus enfeites são uniformes. As ferragens, assim como os copos dos freios e dos estribos, são prateados. “Os cavaleiros trazem nas mãos lanças decontoadas. Logo de entrada fazem marchar a passo as suas cavalgaduras; mas não tiram os chapéus. Vão ao centro do anfiteatro. Majestosos e serenos, olham o camarim do Vice-Rei, perfilados, e fazem a continência dos sete tempos. Esta consiste em destro e elegante manejo executado pela lança, que toma sete posições diferentes até ser arremessada para trás ... os cavaleiros separam-se em dois grupos, em seguida. Então, levantando os cavalos de galope, terçam as lanças ao meio, empunhando-as com a mão direita voltada para baixo. O galope é vistoso; nas passagens dos dois grupos, um junto ao outro, os cavaleiros erguem os braços direitos e se entreolham com simpatia. “A cavalhada prossegue com a manobra dos círculos, em rodopios. Os cavaleiros da fileira central galopam seus animais ao revés, na ação de retorno para não voltarem o rosto aos componentes do outro grupo, que andam por fora. No desdobramento dos lances, os flagrantes revelam a destreza dos componentes da ambos os grupos e a de suas alimárias. Os lances chegam ao final com a ocupação dos pontos opostos da arena, separados os grupos conforme suas cores simbólicas ... então, os pagens portadores de cabeças de papelão pintado avançam e as vão colocando no chão, onde ficam espalhadas. Elas têm tamanho natural e são presas no solo pela base do pescoço. A arena volta a ser preparada para um novo encontro; as lanças decontoadas são trocadas por outras de ponta fina. A sorte é divertida. . O cavaleiro sai, de arma em riste, com o objetivo de nela trazer o maior número de cabeças... “Voltam os pagens, portadores de novas cabeças, agora colocadas em plintos altos, de metro e meio de altura. Substituem-se as lanças por pistolas. O jogo é simples, basta visar e atirar, que a cabeça, logo, se despenhará. E cabeça por terra, ponto marcado... “...Dois pagens de grupos opostos saem dos castelos rivais, onde os cavaleiros estão encantonados, e caminham em direção ao vulto embuçado ... eis que descidos os panos de damasco, surge à luz do sol o busto esplêndido de um homem de pau, trajado à romana; no braço esquerdo, um escudo e, no direito, um vastíssimo azorrague. A figura assenta um pivot sobre um pedestal robusto, ficando ao solo... “Os cavaleiros já estão em fila para o reinicio das escaramuças. O primeiro combatente sai, levando em riste a lança decontoada; já deu rédea ao cavalo, querendo-o livre na corrida, e, tem firme sob o braço a arma com que haverá de atingir, no centro, o escudo da figura. A expectativa do povo cresce. Na carreira, a lança fere em cheio o blaquel; o choque é rápido. O estafermo gira sobre o pino e lança no ar o azorrague terrível, que arremete contra cavaleiro e cavalo, sem atingi-los. O povo redobra os aplausos. A habilidade do combatente consiste em saber fugir ao látego, de sorte que a montada não o receba nem de leve... “No arremate, o preparo dos postes das argolinhas ... O cavaleiro vai ao encontro da dama preferida e lhe oferece a prenda que a lança recolhe...”. (citado por LYRA FILHO, 1974, p. 227231). HADDAD (1985) no conto "GAZUL", pertencente ao Romanceiro Mourisco, escritos por poetas espanhóis na Andaluzia nos séculos XVII e XVIII, depois que os mouros foram expulsos de Granada, refere-se, também, ao jogos das canas: "Na praça de Sanlucar, Gazul desce vestido de branco, de violeta e verde. Dirige-se ao jogo das canas em Gelves, onde o governador dá festas pelo dia dos reis (...) Quarta-feira, ao meio-dia, Gazul entra em Gelves; vai logo à praça e toma parte no jogo de canas." (p. 162-163). Para LYRA FILHO (1994), da cavalaria medieval, que durante longo tempo conservou a tradução dos exercícios viris da antiga efebia e cuja decadência foi um dos consectários do aperfeiçoamento das armas, ficou em Portugal, de onde veio para o Brasil com os primeiros Governadores, o gosto pelo jogo das canas:
“... As cavalhadas constituíram nos tempos coloniais e no Império um atraente exercício. Embora quase privativo dos jovens afortunados. Ao povo habituado à pasmaceira elas valeram por oferecerem espetáculos ou, como Fernando Azevedo escreveu, ‘memoráveis torneios de opulência aristocrática’. Será preciso distinguir as cavalhadas que os mancebos ricos disputavam daqueles outros jogos que no Rio de Janeiro foram conhecidos como o jogo das manilhas e em tantos outros cantos do país com o jogo das argolinhas. Com este último nome, o jogo chegou a estender-se até meados do século XIX. ............. “... Mas as cavalhadas não preservaram as mesmas características; aquelas que vogaram em Portugal, no tempo de nossa colonização, foram mais difundidas no Brasil; desde o século XVI aqui se corre a argolinha. “A cavalhada tomou vários nomes, dentre os quais desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo das argolinhas ou de manilhas; mas todos os encontros se distinguiram, um dos outros, por suas peculiaridades. A tradição dos desfiles de cavaleiros vara o tempo e o espaço, alojando-se na Antigüidade remota o seu nascedouro...”. (p. 234-235). Quanto ao "fandango" e as "cheganças", são originários das tradições portuguesas, com personagens vestindo fardas de oficiais da Marinha, lembrança da odisséia marítima, ocorrendo a presença de mouros que atacam a nau. Vencidos, são batizados. Denominam-se também "Barca" ou "Nau Catirineta" e é um auto do ciclo do Natal, orquestrado. Já a "congada" é um auto popular de origem africana, que rememora a luta da Rainha Ginga contra os portugueses. CÂMARA CASCUDO (1972) afirma ser trabalho da escravaria já nacional com material negro, "tal qual ocorre com o fandango, dança em Espanha e Portugal, e auto no Brasil, ao derredor da Nau Catirineta". Essas manifestações, registradas por MORAES (1989), pertencem a um período mais recente. No século XVII o fandango pode ter sido dançado, em par, como ocorria na Espanha, onde se originou. Essa distinção é necessária devido à controvérsia de quando se deu a introdução do africano no Maranhão, pois há quem registre o ano de 1686. Outros dão notícia do ano de 1680, mas com certeza foi após 1661 e antes de 1671, embora César MARQUES (apud MEIRELES, 1989) a dê em 1761 (sic). Ainda há o registro da "Festa do Divino Espírito Santo" trazida para o Brasil já no século XVI (IBGE, 1980). Em Portugal, a "Festa do Divino" aparece desde as primeiras décadas do século XIV e foi estabelecida pela Rainha D. Izabel (1271-1336), casada com D. Diniz (1261-1325) e começou com a construção da Igreja do Espírito Santo em Alenquer (CÂMARA CASCUDO, 1972). O cerimonial consta de passeio pela cidade, levantamento de mastro enfeitado de frutas naturais, feita por um grupo de caixeiras (tocadoras de caixa) (IBGE, 1980). esta festa até hoje é realizada em Alcântara, com muita pompa e honraria.
O NASCIMENTO DE JESUS EUGES LIMA Quando, onde e como Jesus nasceu? Essas são três, entre outras, perguntas- chave que a historiografia especializada sobre o estudo do “Jesus histórico” (o Jesus da história) tem se debruçado ao longo do tempo. A Natividade parece ser a principio a história mais contada e mais conhecida da humanidade nos últimos mais de dois mil anos, todos os fiéis a sabem na ponta da língua. Ela é periodicamente (re)contada, ano após ano no Natal, seja nas Igrejas, no cinema, no teatro, na televisão, na arte ou na literatura.
Natividade de Cristo. Georges de La tour, 1644 – Foto: Reprodução São três as versões sobre o nascimento de Jesus. A da tradição cristã e duas segundo os evangelhos. A primeira, que está no imaginário cristão e que foi construída pela tradição da Igreja Católica ao longo dos séculos, é a versão dos presépios, discorre sobre um casal, José, já idoso, ao lado de um burrico e Maria, que estava no último mês de gravidez, seguem para a cidade de Belém. Lá, eles não encontram mais hospedagem e Maria é obrigada a dar à luz ao seu filho num estábulo. O recém-nascido Jesus é colocado por sua genitora numa manjedoura, entre os animais. Pastores locais são avisados pelos anjos do nascimento do Salvador. Três reis magos vindos do Oriente, guiados por uma estrela, visitam o novo rei dos judeus. A principal fonte sobre a vida de Jesus continua sendo os evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João, o Novo Testamento, que foi escrito entre 40 a 100 anos após sua morte. Existem poucas referências sobre Jesus fora da Bíblia. Na historiografia do século I, podemos encontrar citações em Flávio Josefo – historiador judeu do primeiro século d. C. – no seu livro: “Antiguidades Judaicas”; em historiadores romanos, como Tácito, entre outros poucos, porém são muito superficiais, não obstante, comprovam a existência histórica de Jesus, tema já superado pela historiografia, no sentido de que se há algum consenso entre os pesquisadores é acerca da existência histórica de Jesus de Nazaré, pois além dessas fontes laicas, há achados arqueológicos sobre personagens contemporâneos, que fizeram parte dessa história e que são citados na Bíblia, a exemplo de Pôncio Pilatos, Herodes, Caifás etc… Entre os quatros evangelistas, apenas dois, Mateus e Lucas, os Evangelhos da Infância, discorrem sobre o nascimento de Jesus. De acordo com Mateus, capitulo 2, 1-11: “ E, tendo nascido Jesus em Belém de Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que uns magos vieram do oriente a Jerusalém, dizendo: onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo. E o rei Herodes, ouvindo isto, perturbou-se […] E, congregados todos os principais sacerdotes, e os escribas do povo, perguntou-lhes onde havia de nascer o Cristo. E eles disseram: em Belém de Judéia; porque assim está escrito pelo profeta […] Então Herodes, chamando
secretamente os magos, inquiriu exatamente deles acerca do tempo em que a estrela lhes aparecera […] E, tendo eles ouvido o rei, partiram […] E, vendo eles a estrela, regozijaram-se muito com grande alegria. E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra.” Segundo o evangelho de Lucas, capítulo 2,1-7: Jesus nasceu “naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse. Este primeiro alistamento [recenseamento] foi feito sendo Quirino governador da Síria [ o governo de Quirino na Síria e o de Herodes na Judeia, não foram contemporâneos, ocorreram em épocas diferentes, Lucas se equivoca na contextualização histórica]. E todos iam alistar-se cada um à sua própria cidade. E subiu também José da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi). A fim de alistar-se com sua mulher Maria, desposada por ele, a qual estava grávida. E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.’’ Os pesquisadores do Jesus histórico perceberam que os livros do Novo Testamento, quando analisados e comparados horizontalmente, passagens, que tratam dos mesmos temas, como é o caso acima, do nascimento de Jesus, abordadas por Mateus e Lucas, embora haja pontos em comum, várias contradições emergem, além de incongruências com fontes históricas da antiguidade fora da Bíblia. Por exemplo: Mateus, fala em magos (astrólogos) – a tradição católica diz reis magos -, já Lucas, cita pastores – a tradição juntou os dois, magos e pastores na narrativa da Natividade. Mateus fala que Jesus nasceu numa casa, já Lucas, sugere que Jesus nasceu num abrigo improvisado, o que se deduziu que poderia ser num estábulo. E Maria o “envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura […]”. Mais uma vez a tradição católica conciliou as duas narrativas, incluíram mais alguns elementos… Vacas… Burricos… Reis Magos, Pastores e criou a imagem do presépio que está no imaginário cristão. Segundo Lucas, não havia mais espaço na estalagem ou hospedaria (dependendo da tradução). Hospedaria seria um hotel como se entende hoje ou um quarto de hospede? No sentido dos evangelhos, provavelmente seria um quarto para hospedes, em casa de parentes e/ou conhecidos. Por fim, responderemos as duas questões iniciais do texto que faltam. Quando e onde, Jesus nasceu? Na verdade, o 25 de dezembro é uma data simbólica que coincidia com festas pagãs bastante conhecidas e praticadas na antiguidade, onde era celebrado o “Sol Invicto’’ e que ocorriam no período do solstício de inverno. Essa data, o 25 de dezembro, foi apropriada e cristianizada pela Igreja no século IV como referência para celebrar o nascimento de Cristo, pois não sabemos o dia exato do seu nascimento. Já sobre o ano de nascimento de Jesus, os historiadores, já conseguem uma estimativa melhor, entre os anos 4 a 6 a. C., pois há um atraso no nosso calendário ocidental de 4 a 6 anos, pois Herodes, o Grande, segundo fontes históricas, teria falecido no ano 4 a. C., portanto, o nascimento de Jesus é contemporâneo aos últimos anos de Herodes. Jesus nasceu antes de Cristo, por assim dizer, se levarmos em consideração o calendário gregoriano atual, que contem erros cronológicos. Piero dela Francesca. Natividade. Século XV – Foto: Reprodução Os dois evangelistas que tratam do nascimento de Jesus, Mateus e Lucas, embora divergindo em vários aspectos em suas narrativas sobre a Natividade, são convergentes quanto ao local do nascimento, ambos dizem que o menino Jesus nasceu em Belém, na Judéia. Porém, segundo os estudiosos do Novo Testamento, tudo indica que Jesus nasceu mesmo foi em Nazaré na Galileia (Jesus de Nazaré…o Galileu…), onde residiam e nasceram seus pais, Maria e José. Este é um dos consensos entre os historiadores do chamado Jesus histórico. A narrativa do nascimento em Belém foi mais um esforço literário dos evangelistas para criar uma coerência entre o Novo Testamento e o Antigo Testamento, cuja, as profecias, previam o nascimento do Messias na cidade do Rei Davi, Belém. Daí o malabarismo narrativo de Lucas que para justificar a viagem de Maria grávida de nove meses, com José, da cidade de Nazaré para Belém, cita certo censo demográfico que não há registro histórico sobre ele – muito provavelmente nunca existiu – supostamente decretado pelo Imperador Romano, Augusto, que obrigava as pessoas a se deslocarem às cidades de origem dos seus antepassados para se registrarem. Ou seja, tudo para “dar sentido às profecias do Velho Testamento e das tradições judaicas.” – Historiador, professor, bibliófilo, palestrante, membro do Centro de Investigação Joaquim Veríssimo Serrão (Portugal). Membro e ex-presidente do IHGM.
Tempo de Natal A ampulheta do tempo desgovernou.. A areia dos dias tombou, inflexivel, monotonamente, Não de forma calculada, harmonica, controlada e respeitosa, E sim na rapidez de fazer talvez, cessar esperas. Ontem era Natal.. Eu pintava com palavras, o quadro das esperanças,, das benditas emoções, nas festivas cores que cantavam em tons de amor, a chegada do Menino de Belem, Salvador do Mundo. E tudo era riso, abraços,beijos, trocas de ternura presentes, lagrimas de emoção falas de doçura, aconchego, revigoração. amorosidade. Hoje é Natal... Diferente... Nas transcorrências surpreendentes, Inesperadas, que trouxeram o poder das análises e quem sabe? A sabedoria do discernimento, anulando certezas obsoletas, confortáreis, acomodativas e repintando no acordar, um horizonte novo em luzes de esperanças, em tons de mudanças e crescimento. Hoje, nosso Natal se matiza daquele amor, que desafiou tempestades, inseguranças, medos,indefinições, nos embates do mar da vida, mas confiando na direção e controle do timoneiro que orientou e fortaleceu na fé, a temerária, incerta travessia. Hoje é Natal E o amor venceu o medo. A fé engrandeceu a espera. A esperança vestiu a confiança. A paciência, coroou esforços. A solidariedade enriqueceu os corações. A doação da ternura, degelou expectativas. A crença fortaleceu a humana fragilidade. E nesse Natal de soerguimento, nossa mensagem é simplesmente, a oferta das dores, angústias, desesperanças,
desânimos, silêncios transformadas pelo Divino Poder do Amor , no riso, que marca o momento de intenso viver, na gratidão que enobrece o espirito, no acerto que afirma o retorno sequencial, costumeiro, no canto de vida que brota, vibrante, potente, a coroar de luz essa noite onde nasceu o Salvador, trazendo "a paz na terra aos homens de boa vontade." Na estrela guia, que sempre norteou e norteará nosso caminhar, em serena, definitiva, firme, permanente e fiel certeza de vitorias. Assim seja..! Amem. Rosa Maria Soares Bugarin
Prece Senhor, peço em preces, Para meu humano sentir, o poder de Tua Divina Luz. Para minhas quedas, o esforço do levantar. Para minhas perdas, a riqueza do pleno das memórias. Para as longas lágrimas, a esperança do arco-íris, Para o hoje sombrio, O despertar em sol dourado e quente. Para as muitas dores, o consolo que advém, das passagens e superaçōes. Para o incolor desânimo, o céu azul, a suspirar poesia. Para o nada que se pode insinuar, a pintura do tudo que acena a posse e o galardāo. Para o cinza do incerto amanhā, a luz e a glória do hoje a ser vivido,
transformado e sentido. Para o temor da ida, a certeza do reencontro em Eterno Bem. Para o tumulto interior, a quietude de Deus, no silencio impulsionador da fé. Para os momentos de intensa solidāo, o acalanto de um coraçāo, batendo em sintonia. Para o desassossego de todas as questōes, o tranquilo entender de todas as respostas. Para a mudez dos lábios, a voz da alma em preces, genuflexa, aberta em retorno, na mais amorosa entrega.. No vislumbre da luz do Novo Ano, palpitando em acenos de renovo,, em descobertas, conquistas, vitórias, decisōes,acertos, Um novo Ano, todo branco que se reveste em cores e esperanças, em sonhos benfazejos de felizes recomeços, inspirando a pulsaçāo, dos acordes das promessas, em suspirado, desejado, e feliz cumprimento do salutar, resiliente, renovador, vivificante. luminoso Amor abrindo as portas de um 2025 a transcorrer, feliz.. Benvindo 2025
Rosa Maria Soares Bugarin
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR 200 ANOS - O MOVIMENTO NO PARÁ JOSEMIR CAMILO DE MELO Em artigo anterior, disse que Manoel de Carvalho já se portava como presidente desta “república do Equador”, sem, no entanto, nunca usar a palavra república, como se pode inferir da leitura de Ulysses (de Carvalho Soares) Brandão. Expus também que apesar de a Proclamação Confederação do Equador ter ocorrido em 2 de julho, no Recife, o autor informa que já estava definido o 1° de maio, para a adesão do Pará à Confederação do Equador. Como foi A “Proclamação da Confederação do Equador”, no Pará, durou apenas poucos dias. Há relatos históricos que narram a influência de Pernambuco sobre aquela província, que não fazia nem um ano ainda de independência de Portugal. O Pará só aderiu ao movimento de independência em 15 de agosto de 1823. Daí a baixa adesão para outra revolução, sendo esta ideológica e interna, na própria nação. Mesmo assim, passados cem anos desta tentativa o Instituto Histórico e Geográfico do Pará não deixou de comemorar a intenção republicana de alguns sonhadores. Celebração Em 2 de julho de 1924, esse Instituto celebrou a histórica data produzida pelos idealistas liberais pernambucanos rendendo homenagem aos patriotas da Confederação do Equador. O documento, hoje disponível na internet, traz, em sua capa, a bandeira da Confederação e uma quadrinha de Frei Caneca: “Tem fim a vida daqueles/ que a pátria não soube amar;/ A vida do Patriota/ Não pode o Tempo acabar”. “Salve! 2 de julho de 1824!”. Com esta introdução, o IHG do Pará exalta o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, destacando o elogio para a “figura mais eminente, para a qual convergem todas as homenagens da pátria agradecida, Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca. Apóstolo Chamado, aqui, de 'Apóstolo Predestinado', arrastava as multidões, no seu espinhoso itinerário, desde (...) os vibrantes editoriais do Typhis Pernambucano até os degraus da forca que o arrastou a inexorável cólera das Comissões militares do Império”. Como se nota, escapou atualizar a execução final, o fuzilamento em paredão. Constituição Na segunda página, o IHG do Pará reproduz cinco capítulos do que deveria ser a Constituição da Confederação do Equador, provavelmente adaptada, em Pernambuco, por Manoel de Carvalho, da constituição do Estados Unidos ou da Colômbia. Um erro na impressão tipográfica, Colômbia aparece como Colúmbia (personificação feminina da república norte americana dos Estados Unidos). Pelo que se sabe da historiografia pernambucana, a segunda parte destes escritos da Constituição nunca foram publicados, porque o grupo ideológico carvalhista logo entrou em fase de combates, perseguições, autodefesa e fuga, sem que se pudesse agilizar um consenso. Constituintes Sabe-se, ou suspeita-se, que este grupo de patriotas reunia além do presidente Manoel de Carvalho, seu secretário Natividade Saldanha, Frei Caneca e o jornalista e ensaísta português João Soares Lisboa. Este jornalista havia fundado o jornal Correio do Rio de Janeiro; crítico, terminou sendo processado, condenado a degredo e perdoado pelo Imperador, mas, desconfiado, preferiu fugir do Rio de Janeiro para evitar vinganças políticas e se auto asilou em Pernambuco. Na campanha dos confederados, foi atingido por bala, e seu corpo foi enterrado no leito do Capibaribe, pranteado por Frei Caneca.
Voltando ao texto sobre a Constituição, não transcrevo este documento impresso, pois seria necessário espaço de revista e não sou habilitado neste estudo. Modelo americano Fica claro, em termos de estrutura de governo que Manoel de Carvalho organizou a chefia da república no formato norte-americano e das demais repúblicas latino americanas, mutatis mutandis, afastando-se do ideal de Diretório que se aplicara na revolução republicana em Pernambuco, em 1817. Proselitismo Transcrevo a seguir trechos do autor M. Braga Ribeiro, historiando “A Confederação do Equador no Pará”. Relata que Manoel de Carvalho, com o fim de implantar a república, enviou para as sete províncias ao norte do rio São Francisco, emissários e material de propaganda política revolucionária. Para a província do Pará enviou a escuna Maria Felipa Camarão, sob o comando do capitão José Caetano de Mendonça, que lá chegou em começo de abril, levando os políticos Manoel de Almeida Coutinho de Abreu, Joaquim Antônio Tupinambá, Manoel Lourenço de Mattos, João Batista da Silva (apelidado Camecran) e Marcos Antônio Rodrigues Martins (Mundurucu Paiquicé), participantes da conspiração de um ano antes. Este grupo chegou com o intuito de espalhar exemplares da Constituição da Colúmbia e outras proclamações e instruções a favor da revolução. Conseguiram atrair o dr. Antônio Corrêa de Lacerda, o tenente-coronel Félix Antônio Clemente Malcher e Pedro Rodrigues Henriques, tendo este franqueado sua casa para as reuniões. Junta revolucionária no Pará A Junta paraense tentou dissuadir estes políticos, principalmente porque o próprio presidente da Junta, coronel Giraldo José de Abreu, tinha seu filho, o capitão Manoel de Almeida Coutinho de Abreu, envolvido. O grupo de revolucionários resolveu prender, em 27 de abril, não só o presidente, mas até seu filho que havia bem pouco, estado ao lado dos revolucionários. Além destes, o arcediago (vigário geral) também foi detido. Instalou-se a Junta Revolucionária Republicana, cujo presidente passou a ser o Dr. Antônio Corrêa de Lacerda, e composta por Pedro Rodrigues Henriques, cônego Joaquim Pedro de Moraes Bittencour, major João Roberto Ayres Carneiro, coronel Bento Garcia Galvão Haro Farinha e João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, que foram empossados em 30 de abril de 1824. Já estava designado o dia seguinte, portanto 1º de maio, para a adesão solene do Pará à Confederação do Equador. Em tempo: vale questionar para este momento a o lema Confederação do Equador, pois essa só seria proclamada em 2 de julho, sob esta denominação. Talvez o autor tenha se traído com o fenômeno post-factum. Ora, em tempo algum e em escrito algum há referências de Confederação (salvo melhor juízo), antes de 2 de julho. O que havia era crítica pesada ao ato ditatorial de D. Pedro em fechar a Assembleia Constituinte (Manifesto dos deputados constituintes, em Pernambuco, de 13 de dezembro de 1823) e a rejeição à nomeação de presidentes, substituindo o processo “democrático” da escolha de presidentes de Juntas. Estes são os dois gatilhos do que virá a ser a Confederação do Equador, de 2 de julho. De volta ao Pará Voltando ao que ocorreu no Pará, a Junta republicana recém-empossada ficou a ver navios, literalmente. Poucas horas depois de empossada, a Junta viu a embarcação Gentil Americana chegar a Belém com o presidente nomeado por D. Pedro, coronel paraense José de Araújo Roso e o brigadeiro José Ignacio Borges, como comandante das armas. O novo presidente tentou pacificar a cidade, conclamando uma reunião com a própria Junta republicana, a Câmara e a sociedade, resultando em sua posse, mas sem o comandante das armas, já que Roso era coronel e paraense, afastando-se então o brigadeiro nomeado. Este foi o fruto peco da revolução republicana naquela província. Heróis e mártires
A revista dedicou uma página de preito a heróis e mártires, trazendo a efígie de Frei Caneca, e uma trintena de nomes. O autor cometeu, entretanto, um deslize, hoje posto a nu pelos historiadores, pois neste “panteão” literário, a revista do Pará incluiu Manoel de Carvalho Paes de Andrade (não sustentou batalha alguma, apenas teve ideias anteriores e foi o primeiro a se refugiar sozinho em navio inglês). Além deste deslize, pasmem, um grande erro, ao incluir o major pernambucano, que servia nas tropas da Paraíba, José Antônio da Fonseca Galvão, apelidado de Pastorinha, do célebre motim que ficou com o seu apelido, agitando a bandeira de Portugal em pleno setembro de 1823. Além disto, Galvão foi o responsável pela perseguição aos confederados pelo interior da Paraíba e condutor dos revolucionários presos no Ceará, entre eles Frei Caneca, e levados para Pernambuco. Novamente, a revista se deixou levar por outro post-factum, ulterior à Confederação, já que Fonseca Galvão veio a se destacar na Guerra do Paraguai. Reverência Além disto, a comemoração paraense continua com sua reverência “Martírios de Frei Caneca”, (texto extraído de Rocha Pombo), poema “Frei Caneca”, de Leonam Nobre, “Um Santo da República”, de Ignácio Moura e reprodução de foto de uma página do Typhis. Depois deste intervalo encomiástico, prosseguem os artigos “O Ceará na Confederação do Equador” (por José de Carvalho), “Pernambuco na Confederação do Equador” (por Paulo Eleutherio) e “Confederação do Equador”, no Rio Grande do Norte (por Augusto Meira). Vale lembrar que anteriormente, após a publicação da “Constituição”, há um artigo de Oscar de Carvalho “Alagoas na Confedração do Equador”. Mas, ao final de tudo, Paul Veyne, minha gente! Paul Veyne!
SOCIEDADE, HOMINIZAÇÃO E VIOLÊNCIA Dilercy Aragão Adler A sociedade não é apenas algo externo a nós, ela se faz presente no nosso ser mais íntimo. Durante o processo de nosso desenvolvimento, vamos, paulatinamente, internalizando muitas das suas conformações. Assim, a sociedade
nos envolve, modela a nossa forma de pensar, sentir e agir. Logo, as estruturas da sociedade tornam-se, também, as estruturas do nosso próprio ser. Nessa perspectiva, a nossa singularidade, resulta da forma que apreendemos e reelaboramos (individualmente) determinadas características (em suas intensidades) do contexto social mais amplo, introjetando-as. Podemos afirmar que o processo de socialização é, na verdade, um processo de hominização. O indivíduo parte de um estágio bastante primitivo, para estágios mais avançados, nos quais se torna capaz de contatos verdadeiros com outro indivíduo, sentindo com ele, colocando-se em seu lugar e vendo as coisas por meio de suas perspectivas pessoais. Isto é, ele se torna capaz de amar, cooperar, compreender, acolher e respeitar o espaço do outro. Hominizar é, pois, simplesmente socializar. É fazer o projeto de homem alcançar, progressivamente, a configuração de homem, segundo o melhor parâmetro que o ser humano tenha alcançado. No entanto, ao lado da cooperação imaginária, da qual resultou a vida em sociedade, o homem desenvolveu formas de violência e dominação. A história da humanidade comprova que a civilização humana se erigiu com o uso da força e da violência, tanto nas relações entre indivíduos quanto entre sociedades. No caso do capitalismo, a necessidade de expansão de mercado e as suas leis, com vista à busca de lucros, resulta, em que, todos os valores autenticamente humanos sejam destruídos pelo capital, tudo passa a ser mercadoria, tudo pode ser comercializado. A competitividade e o individualismo nesse complexo emaranhado de valores com ênfase no ter (em detrimento do ser) e no consumismo exacerbado, levam os indivíduos, independentemente da classe social, a buscar meios de obter reconhecimento social a partir da riqueza, mesmo que para isso precisem utilizar meios ilícitos ou recorrer à própria criminalidade. Assim, convivemos também hoje com um medo constante e uma insegurança que nos faz temer tudo e todos. Um exemplo disso é testemunharmos hoje, no Brasil, um quantitativo considerável de crimes e transgressões cometidos por pessoas de classes sociais distintas, muitas vezes lado a lado. Convém lembrar que esse não é um fato novo; ele sempre existiu. Acredita-se, no entanto, que antes as barreiras para a elucidação e denúncia das corrupções e crimes envolvendo as elites eram mais difíceis de serem transpostas. É necessário deixar bem claro que o indivíduo realmente socializado é aquele capaz de uma verdadeira interação, que compreende uma relação em nível horizontal, onde há reciprocidade, afetividade e respeito mútuo e um autêntico compartilhar de sentimentos e situações, sem perda da identidade e da consciência. A verdadeira interação será sempre caracterizada por trocas mútuas e conscientes. Indivíduos que estão juntos, que “percebem” o outro, que cooperam entre si, que se doam, que se entregam, que se enriquecem, que compartilham emoções e sentimentos que participam de um mesmo clima emocional, com uma comunicação real entre si. Finalmente, os indivíduos que interagem não devem estar contaminados por interpretações ideológicas da realidade (no sentido de inversão do real), mas capazes de uma comunicação plena de significado para ambos. Raramente em uma sociedade marcada pela desigualdade o diálogo verdadeiro é possibilitado. Isto porque o diálogo verdadeiro só é possível em uma relação entre iguais. Convém lembrar que a igualdade aqui referida passa, principalmente, pelo respeito às diferenças sem o que não se pode falar em igualdade.
Pode-se concluir, do exposto, que a maioria das pessoas na sociedade contemporânea, embora já adultas e maduras, encontra-se, ainda, em um grau muito grande de atraso no processo de socialização, incapaz de relacionar-se de forma autêntica e solidária. Por isso, é premente que reflitamos sobre essa situação e busquemos, coletivamente, formas alternativas de superação dessa condição.