MARANHA Y 22 NOVEMBRO 2024

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MARANHAY

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor. EXPEDIENTE

MARANHA-Y REVISTA DE HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com

Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais

65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076

98 9 82067923

CHANCELA

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 16 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da IHGM EM REVISTA, desde 2023; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, números 1 a 10; Editor da Revista do Léo, desde 2017, e desta MARANHAY – Revista Lazeirenta, dedicada à(s) História(s) do Maranhão; Editor da Revista Ludovicus, dedicada à literatura ludovicense/maranhense, desde 2024; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

UM PAPO

Esta revista eletrônica destina-se a resgatar a(s) História(s) do Maranhão – entidade geográfica – que, em seu apogeu, se estendia do Mucuripe (Ceará), passando pelo Piauí, o próprio Maranhão, o Pará, o A,azonas, o Amapá, Roraima, Rondonia, Acre, Tocantins, e parte do Mato Grosso... o Estado Colonial do Maranhão, instituído em 1617, implantado em 1619, subsistindo até a chegada da família real, em 1808, quando passou à província do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves... em 1823 foi anexado ao Império Brasileiro. Essas, são as suas histórias...

Temos, fixos, dois importantes colaboradores: Áureo Mendonça, geógrafo, que está a resgatar a história de sua cidade, Viana; e João Bosco Gaspar, guardião da memória da Serra da Ibiapaba, especialmente aqui replicado, quando referências ao Estado do Maranhão, o colonial, e/ou ao Bispado do Maranhão, que por bom período englobava as capitanias do Piauí e do Ceará – ai incluída a Serra...

Está aberta a contribuições...

Sempre que nas mídias sociais sair algum artigo/postagem de interesse, que possa esclarecer algo sobre a nossa História, será aqui replicado, mencionando-se a fonte.

Alguns artigos inéditos, outros, republicados quando fato novo o justifique sua atualização.

O meu GeegGuru, meu irmão Laércio Pereira, manda-me sua MIMTREVISTA revista... um muito daHistória dos Esportes no Maranhão... um marco... Fala de um conflito entre católicos e protestantes ocorrido lá nos anos 1970... motivado pelo esporte... vale a pena recordar de novo...

Lembrando, eu já vim para o Maranhão por conta do Projeto Rondon. O Campus Avançado da UFPR era em Imperatriz, e fui convidado para uma temporada de 30 dias, quando da realização de uma colônia de férias. Fui da Equipe 49, de Janeiro de 1976. Equipe de Educação Física, composta por professores e acadêmicos, e alguns de apoio, de medicina e (deu branco: o pessoal que faz exames laboratoriais...). O diretor àquela época, era o Alberto Milléo Filho, professor de educação física, e tinha um projeto de implantar a matéria na região de influencia do Campus. Já formado – Milleo e sua esposa, Sibonei, eram conhecidos, amigos de minha família – convidaram-me para lá permanecer dentro de um programa de fixação de mão-de-obra.

Tinha planos de ir para a Alemanha, fazer um Mestrado; tudo já estava arranjado... decidi aceitar o convite, e fui para Imperatriz... Milleo arranjou-me um emprego na Escola Santa Teresinha, e junto ao Interventor Municipal,CoronelBebeto–umdosmaioresatletasdoMaranhão,especialmentedoBasquete,criouaDivisão de Educação Fisica Esportes e Recreaç~çao e fui nomeado seu chefe. E assinei o contrato com o FunRondon, de um ano, no ProFix...

Foi assim que conheci Laércio, Marcão, Lino, e depois Sidney, Zartú e a turma de Paulistas que foram ter no Maranhão, a partir dos anos 1974...

ESCARAMUÇA?

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira

Aproxima-se as comemorações da ‘Batalha de Guaxenduba’, ocorrida entre 19 e 21 de novembro de 1614. Buscamos na Imprensa maranhense o que foi escrito sobre esse acontecimento e praticamente não encontramos nada: sete artigos, em três jornais, da coleção existentes na Hemeroteca da Biblioteca Nacional, em A Pacotilha (4), Diário de São Luís (2) e Jornal do Maranhão (1). O mais elucidativo, a de que ela nunca tenha existido, como batalha. Segundo o autor – R.A., seria Rubem Almeida? – houve umas simples escaramuças...

Em “Pacotilha” (MA) - 1910 a 1938, edição de 21/11/1917: sob o título A BATALHA DE GUAXENDUBA, consta: Perfazem-se, hoje (21/11/1917), 303 anos que as forças portuguesas venceram as comandadas por La Ravardiére. Dessa memorável batalha resultou o desalojamento dos franceses, que se haviam instalado aqui, em 1612.

João Lisboa reproduz a opinião do coronel de engenheiros A. Bernardino Pereira do Lago, autor da Estatística histórico-geográfica do Maranhão, o qual julga que a enseada de Guaxenduba, nome este que se perdeu, corresponde à baía de Anajatuba. Outros autores, porém, que seja a baia de São José aquela em que se feriu o decisivo combate, a 19 e 21 de novembro de 1914 (sic). Continua: “A armada francesa era em verdade formidável, se a compararmos com o extenuado e desprovido destacamento português, pois se compunha de sete navios de alto bordo e de quarenta e seis canoas grandes, com quatrocentos soldados europeus e para mais de dois mil índios”. Assim fala o insigne historiador, classificando essa hora de –“momento supremo, que para sempre decidiu dos destinos de nossa Pátria” E, em diversas passagens, repudia “as acusações injustas contra os nossos genuínos maiores”. Os lusos maranhenses, que replicaram duas invasões estrangeiras, têm bastantes motivos para se ufanar desses feitos gloriosos, deveras inesquecíveis.

No ano seguinte, a 19 de dezembro: com o mesmo título A BATALHA DE GUAXENDUBA: Decorre hoje o 306’ aniversario desta luta, da qual derivou a vitória das forças portuguesas sobre as francesas e a consequente posse do Maranhão pelos vencedores, confirmada em 1615. A falta de espaço inibe-nos de publicar um artigo a respeito desse fato histórico, o que faremos nas próximas edições.

Em A Pacotilha de 04 de agosto de 1922, em matéria sobre o centenário da Independência, e referindo-se à reforma da Catedral, uma pequena nota lembrando de seu nome: Nossa Senhora da Vitória: [...] A escasses de tempo inibe o eminente antistete de redigir uma narrativa das fases atravessadas pelas catedral, desde o inicio, afim de comemorar a vitória dos portugueses sobre os franceses, na batalha de Guaxenduba, ferida aos 17 de novembro de 1614. Mas, confiando nos eruditos da terra, acreditemos que se fará esse trabalho necessário.

Na edição de 04 de setembro de 1938 aparece o seguinte artigo:

GUAXENDUBA: Página ainda não criticada nessa da história da colonização francesa em nossa terra. Quantos a versaram, nada mais fizeram do que incondicionais e ridículos, realizar, sob novo estilo, o relato de seu historiador, sem se aperceberem de que, parte profundamente interessada nos sucessos, não podia esquivar-se á eira da parcialidade e do exagero.

Testemunha ocular, é certo, conhecedor dos menores detalhes, coparticipe de primeiro plano, seu diário ressente-se, entretanto, de tantas quixotices que chega a estranhar ninguém até a presente houvesse posto

reparo. Nem atentaram ao significado oculto do qualificativo ‘milagrosa’, imputada aos capuchinhos, pelas dificuldades no preparo e no cometimento, quando a verdade é ter advindo do apodo do êxito de escaparem de mais ou menos ilesos ao ataque dos que vinham acatar.

Compreende-se, e justifica-se a atitude de Diogo de Campos Moreno, autor da “Jornada”... argumento, porém, oportuno para o estudo elaborado de sua peresonalidade e obra. Limitemo-nos por agora a aprrsentar o resultado da analise eempreendida, despido o relatório der toda a falsa moldura de retumbantes acontecimentos, mercê dos quais esperava ainda gratidão

Sentimos ter de profundamente decepcionar aos maranhenses, ciosos dos feitos de seus maiores, assegurando-lhes, entre outros, que:

1. Não houve a apregoada batalha de Guaxenduba.

2. Não foram os franceses os vencidos, senão os vencedores.

3. Não foram expulsos.

NÃO HOUVE BATALHA

Somos os primeiros a reconhecer o escandalo dessa afirmativa inicial. Então, não houve a batalha que os historiadores têm dedicados os mais fortes adjetivos, colocando-a ao par dos maximos feitos de arma da história pátria?! Cada um, entretanto, e para isso basta o animo de boa vontade e do bom senso se der à tarefa de examinar, com o devido cuidado, o livro em que primeiro foi relatada, e, não satisfeito e ainda relataram os copistas de agiganta-la, cada um verificará por si o que garantimos, e nossa recompensa será apenas a da prioridade da empresa de reconstituição histórica a que há dois bons decenios, nos vimos entregando. Não houve batalha! Houve, sim, um encontro, rusga, refrega, escaramuça ou sinonimo qualquer, aliás, a varios outros anteriores.

Acompanhe-nos o leitor, neste exame à “Jornada”...

Chegara a expedição a Guaxenduba no dia 26 de outubro de 1614, vinda da ilha de Santana, aonde já os tinham ido inquietar os franceses de Du Pratz, atacando-lhes o quartel de S. Tiago. Mal se estabelecem no novo quartel de Santa Maria de Guaxenduba denominado,recomeçam os ataques dos franceses. Dia não se passa sem que que não os venha molestar uma impertinencia qualquer dos visinhos, que ali mandam indios espiões acompanharem a marcha do estabelecimento. Na tarde de 2 de novembro investe-os Du Pratz, o mesmo que já assolara o quatel de N. S. do Rosário, no Ceará, e o da ilha de Santana. Enviam os portugueses naus a Pernambuco, pedindo reforços; intercepeta-lhes os franceses a correspondencia. Novo assalto a 7. Resolvem mudar de sítio. Impossível! Estão inteiramente sitiados, marcando os franceses o ataque definitivo para o dia 19, e mandando disso adverti-los.

A armada francesa, com 7 naus de altop bordo e 46 canoas, 400 soldados e 4.600 indios aliados, amanhece fundeada diante de Guaxenduba. Pesteux desembarca com 200 conterraneos e 2.000 indios: divide-os em dois corpos, o de vanguarda confiado a Du Pratz, e o seu, na praia, onde arma a trincheira, comunicando-se com as que La Fos Benart e De Canonville acabam de levantar no monte fronteiro ao do forte. Ravardiére, Rassily, Maillart, acompanham de bordo o desembarque. Acantonados, não sabem os portugueses que partido tomar. Situação eminentemente critica. Sesanimo na tropa. Murmurios de sublevação. Conferencia de Jeronimo e Diogo.

É quando, estabelecido o cerco por terra e por mar, cerco a que os portugueses assistem impassiveis, chegam ao forte o trombeta e tambor com uma carta de Ravardiére, concedendo-lhes 4 horas para a rendição. Era, como se vê, legitimo ‘ultimatum’. Jeronimo e Diogo aventuram um ultimo recurso: surpreender os inimigos com um ataque decisivo inesperado. É o que sucede. Nesse ataque, inteiramente desprevenido, porque todos aguardavam a resposta, morrem Pesteux e uns tantos companheiros; 9 feridos, são aprisionados. A armada francesa entra em cena. Os 3 navios contrarios, imprestaveis, varados, não podem responder. Bandeira branca no forte de Guaxenduba. Menos de uma hora durára a refrega. Não obstante, contada ´pr interessado, tornou-se na imponente batalha de Guaxenduba.

NÃO FORAM VENCIDOS OS FRANCESES. Sem dúvida não no foram. E esta verdade todos a podem verificar, por mais que se esgote em torna-la o cronista ora apreciado.

Pois que! Assenta Felipe II,para cardeal de sua politica expansionista, a expulsão definitiva, do Brasil de quanto protestantes aqui estivessem estabelecidos, franceses, ingleses ou holandeses, continuando aliás o plano debalde empregado pela nação de que se acabava de assenhorar; dá, nesse sentido, ordens terminantes a Manoel Teles Barroso, seu primeiro governador geral. Insiste junto aos sucessores, de Francisco de Sousa a Diogo de Meneses; biparte novamente o governo para maior facilidade na empresa – e com todas essas providencias gerais, a que se agregavam inumeras outras politicas europeias apenas consegue desloca-los; eis uma prova o quanto estavam fortes! Corram-se, de fato, as paginas d´”A expansão colonial” (1581-1620) e apreciem-se os repetidos assaltos, sempre vitoriosos, de Cavendish, Lancaster, Verneer, Pain de MP Pieterzoon, van Leijen, van Noord, Riffault, des Vaux, Ravardiere, etc., etc. e conclua-se a situação de nossa terra. Gaspar de Sousa situa-se em Olinda, expede a Jeronimo de Albuquerque; é malogrado. Idem a de Martins Soares Moreno, como também a de Pero Coelho de Sousa, Luis Figueira e Francisco Pinto (este morto em combate com os franceses de Ibiapaba e jamais pelos indios). Estamos no tempo da ‘jornada milagrosa’. Ainda no Ceará, já eram seus componentes ostilizados pelos franceses. Tornaram-se a salvo em Santana. Em Guaxenduba acabamos de mostrar como se portaram. E dai em diante. Pedem socorros médicocirurgicos e farmaceuticos; elaboram uma correspondencia que tanto tem de cavalheiresca para os franceses quanto para eles humilhante, pois que nem sequer escrever em ‘bom espanhol ou frances sabiam; que aceitam incondicionalmente e do mesmo modo cumprem o Tratado de Treguas; visitam as aldeias e os estabelecimentos, onde são principescamente recebidos; observam os fortes; viajam os arredores; recebem mapas e demais informes, enfim, praticam com os inimigos as melhores demonstrações de boa paz. Perguntase a esta altura: é isto proprio do vencedor ou do vencido?

NÃO FORAM EXPULSOS. De fato. Quando se verificou a decantada expulsão? Em novembro de 1615. E para quando determinava o Tratado a sua retirada? Precisamente para novembro de 1615. E por que é asado perquirir, não se conservou Ravardiere na colonia? Por varias razões, entre as quais estas duas: a noticia de que fora demitido por Maria de Medici, a pedido de Felipe II; e ado casamento de Luis XIII com Ana d´Áustria. Conquanto dispusesse do apoio da Inglaterra e da Holanda, que tinham armas prontas para socorre-lo, preferiu cumprir a palavra empenhada, e por isso deixou São Luis, para amargar 3 anos de cativeiro na Torre de Belém.

Estes os fatos na sua crualidade.

Meditem sobre eles os maranhenses estudiosos; R. A.

A teoria de que os Cavaleiros Templários chegaram ao Brasil muito antes das grandes navegações é uma ideia intriganteeamplamente discutidaentreestudiosos alternativos, historiadores amadores eentusiastas deteorias da conspiração. Embora essa hipótese não seja apoiada pela história oficial, ela sugere que os Templários, após a dissolução da ordem no século XIV, teriam empreendido viagens ao Novo Mundo e estabelecido contatos ou bases no que hoje conhecemos como o território brasileiro.

Aqui estão os principais pontos dessa teoria:

A Dissolução dos Templários e o Tesouro Perdido - Em 1307, a Ordem dos Templários foi formalmente dissolvida pelo Papa Clemente V, e seus membros foram perseguidos pelo rei Filipe IV da França. Segundo a teoria, alguns templários teriam escapado com parte do lendário tesouro da ordem e embarcado em viagens para o Oeste, em busca de um lugar seguro para se esconder. Para alguns entusiastas, essa fuga poderia ter incluído uma viagem ao continente sul-americano, chegando à costa do Brasil.

Indícios e Símbolos Templários no Brasil - Defensores da teoria apontam a existência de símbolos templários, como cruzes e marcas em rochas, principalmente no interior do Brasil, que acreditam ser traços da passagem doscavaleirospelaregião.EmlocaiscomoMinasGeraiseolitoraldeSãoPaulo,foramencontradasinscrições rupestres e cruzes que, para os adeptos da teoria, seriam marcas deixadas pelos Templários em seu trajeto. Conexão com o Império Português -Portugal tinhaumaligaçãohistóricapróximacom os Templários.Quando a ordem foi oficialmente dissolvida na Europa, o rei D. Dinis de Portugal fundou a Ordem de Cristo, que absorveu grande parte dos membros e bens dos Templários em Portugal. Esta ordem desempenhou um papel crucial nos descobrimentos portugueses e na expansão ultramarina, o que fortalece a teoria de que os Templários ou seus sucessores poderiam ter navegado para o Brasil bem antes do “descobrimento” oficial em 1500.

A Mítica Rota dos Templários - Algumas teorias afirmam que os Templários poderiam ter seguido uma rota marítima secreta, passada através de conhecimentos náuticos adquiridos ao longo de cruzadas e expedições

no Mar Mediterrâneo. Segundo essa linha de pensamento, os cavaleiros teriam desenvolvido mapas secretos que incluíam o “Novo Mundo”, o que lhes permitiu explorar e chegar ao Brasil bem antes das explorações oficiais europeias.

O Mito do “Brasil Secreto” e das Primeiras Expedições - Há também a ideia de que os Templários buscavam o mítico "Brasil" (palavra que na época referia-se a uma ilha lendária no Atlântico), onde poderiam construir uma nova sociedade longe da perseguição da Igreja e das monarquias europeias. Para os defensores dessa teoria, o Brasil era o refúgio ideal, com terras vastas e longe do alcance dos poderes estabelecidos.

Diante da falta de provas conclusivas, fica a pergunta: a presença templária no Brasil é apenas fruto da imaginação ou há, de fato, algo escondido nas profundezas da nossa história, esperando para ser desvendado?

MIMTREVISTA DO LAÉRCIO PEREIRA um pouco de nossa memória do esporte…

A ideia do MIMTREVISTA (sim, com M) está rodopiando nos meus projetos desde que li um artigo do nosso primeiro mestre da internet no Brasil, o Sergio Charlab, que era colunista do Jornal do Brasil e também da nova revista Internet World (em 1995). O que pegou foi um artigo incitando cada um a fazer o seu FAQ. Como tenho implicância quaresmática (Ixi!) com expressões estrangeiras fiquei procurando uma tradução para Frequent Asked Questions. Passamos a usar na internet o Perguntas & Respostas, e Perguntas Frequentes … mas não alcançava. O que podia alcançar mesmo era o MIMTREVISTA. Daí li o saboroso “Edney entrevista Interney” e fiquei convencido.

Como estamos na Internet, a MIMTREVISTA pode ser atualizada a qualquer momento. Basta constar a data da atualização. Sim, tenho pena da turma do tempo do Gutembergue, que tinha que escrever outro livro ou artigo quando mudava de idéia.

Vamos, pois.

Pergunta. Você é maranhense?

Laercio. Morei muitos anos e construí castelos no Maranhão, tenho filho nascido em São Luis e tudo, mas nasci em São Caetano do Sul. Tenho gen nordestino, do Rio Grande do Norte. Depois de muitas secas meu pai saiu do sertão, tomou “um Ita no Norte” e foi pra recém-criada São Caetano do Sul, trabalhar como peão na General Motors. Depois mandou buscar minha mãe e uma fieira de tios e parentes.

P. Como você foi parar na Educação Física? Vc sempre pensou em ser professor de EF.

L. Virei um professor de Educação Física apaixonado, mas nunca tinha pensado que alguém poderia viver disso até encontrar, durante o Cursinho do Grêmio – pra sociologia -, com uma amiga, Janice, que me contou que existia o curso. Nem fui saber o resultado da sociologia. Me inscrevi, fiz o cursinho “teórico-prático” do CA Ruy Barbosa e fui cursar EF no Ibirapuera. Nas lutas e passeatas dos meiaoito conseguimos, participando do movimento de criação da UNESP, fazer com que a EF fosse pra USP, por ser em São Paulo. As faculdades do interior foram para as UNESP.

P. O que influenciou nessa decisão brusca de mudar da sociologia pra EF?

L. Passei a infância jogando bola e sendo escoteiro no clube da GM. Tive um excelente Chefe no Grupo Escoteiro João Ramalho (Chefe José Gonçalves) e ótimos professores de Educação Física no Ginásio (Diogo, Valdebi Romani no Amaral Wagner, e no Senai (Renato, em Santo André onde fiz ajustagem mecânica e Muller – Tuta – no Senai do Brás, quando cursei ferramentaria).

P. Por que Vc mudou tanto, morou em tantos lugares?

L. Porquevimpravidaapasseio,nãoemviagemdenegócios(comodiziaoCarlitoMaia).Tambémcoleciono uma legião de amigos que é uma beleza em volta dessas 34 casas em que morei.

P. E o CEV, como foi isso?

L. Toda a minha vida profissional girou em torno de publicações, desde o Opinião, que a gente fazia em papel-jornal e tudo no CA Ruy Barbosa, numa gráfica inconsequentemente em frente ao DOPS. Tenho admiração pelas profissões de jornalistas, bibliotecários – sou um dos admiradores incondicionais de Jorge Luis Borges – e os que conseguiram chegar à condição de mestre ensinada pelo Octavio Paz “Os verdadeiros mestres são os que sabem fazer rir com seus pensamentos e pensar com as suas histórias engraçadas”. Do Barão de Itararé, passando pelo Millôr e chegando no Luis Fernando Veríssimo. O CEV foi um jeito de juntar tudo. Amigos, publicações, especialidades. Eu sempre tive a preocupação da informação técnica e científica da EF chegar até o professor de Barra do Corda, no sul do Maranhão. Também foi a maneira que eu encontrei para cumprir a vida com alguma utilidade. Não posso deixar de citar aquela ponta de egoísmo de professor: luto para melhorar o mundo e vou ser beneficiado com isso.

P. Gostaria de acrescentar mais alguma coisa.

L. Gostaria, mas vou esperar as atualizações e as provocações que, torço, aconteçam aqui no blog. 12 comentários. Comentários

Como você consegue estar em tantos lugares diferentes, tanto presencial quanto virtualmente? Tem um clone, por acaso? []s Por Cláudia Bergo

Opa, Claudia, isso é um bom elogio. Vc sempre me dando força. Acho que essa rodação faz parte da minha irresponsabilidade. Mas eu podia achar que não tinha clone, mas, em todos os lugares vem alguém me cumprimentar errado, achando que eu sou outro baixinho, careca de barba :-( Por Laércio Elias Pereira tem uma brinquedo “novo”: http://www.formspring.me/ - basicamente, uma plataforma de entrevista. pergunta e resposta. fulano entra lá, pergunta, vc responde. isso é divulgado no seu twitter, facebook, etc. vi teu MIMTREVISTA e pensei… que tal ter isso mais estruturado, no CEV? e aberto? compondo seu perfil no CEV? entro em http://cev.org.br/qq/laercio e vejo as perguntas e respostas já publicadas. faço a(s) minha(s) pergunta(s). vc responde. e assim vamos… que tal? Por Alê M.

Opa, Alexandre, eu tava pensando nisso, mas sem coragem de sugerir. Acho ótimo! Por Laércio Elias Pereira

Logo logo vamos ter o MEntrevista no Quem é Quem do CEV. Acho que vai dar jogo… aguarde! Por Alê M.

E’ verdade que você participou dos Jogos Olimpicos de Munique ? Como foi isso ? Por Alvaro Ribeiro

Opa, Alvarus, foi bom o treino de Vc deixar a bola pingando na área Minha geração saiu de mochila e, depois de formado, andei pela Espanha e França, fazendo curso de handebol com meus mestres. De carona fui até Munique e me matriculei para voluntário no Sporthalle, onde pela primeira vez na Olimpiada teve handebol de salão – antes foi ginástica, quando eu apareci na TV mundial. Eu fui o varredor de pozinho número 3 na barra fixa. Reencontrei meus mestres treinando as equipes que disputaram enquanto supervisionava as geladeiras de cocacola numa passadinha rápida à noite. O crachá de fiscal de geladeira me dava acesso a tudo antes do atentado. Quando eram os jornalistas paquistaneses que vinham no caminhão da madrugadaeu ajudavaadescarregareagentecomemoravacomalgumuisqueamigoesquecidonasgeradeiras, pra espantar o frio e animar nossas conversas de reformar o mundo. Estive abaixo dos helicópteros e a gritaria dos BOPE alemães com os terrorista da Vila (era pertinho). Teve missa e tudo no dia seguinte. Só assustei no avião de volta. Depois de quatro horas de idas-vindas e revistas o avião conseguiu decolar. Abri o jornal e estava na manchete de primeira página:”Setembro Negro promete explodir um avião da Lufthansa”. Justo onde eu estava. Ainda bem que um amigo que trabalhava na companhia – descoberto no metro de Munique –tinha descolado uma conexão esticada, que me deu o direito de relaxar dois dias num hotelzin cheio de estrelas numa praia do Marrocos. Ajudou. Por Laércio Elias Pereira //

Laércio: você foi a primeira pessoa que conheci torcendo para o São Caetano, ou o Saad. Você gosta de ser do contra? Por João Freire

Opa, Jão, a gente que é meio metido-a-besta sempre acha uma comparação disparatada pra fazer. Gosto do Carlos Drummond ter escrito que quando ele nasceu a mãe mandou ele “ser gauche na vida”. Acho que é uma vocação de surfe. O Surfo nas ondas pequenas ou contra todas as grandes ;-). Tem tambem a questão de companhia. Esse negócio de ser a favor de tudo acaba parecendo que o sujeito é do PMDB ou do DEMO. Já pensou? Por Laércio Elias Pereira

Laércio: você lembra do Volkswagen Clube? Lá a gente se conheceu e muita coisa começou por ali. Você, o Marcos, acho que o Lino, e vocês decidiram ir para o Maranhão. Fale um pouco sobre isso. Por João Freire

Opa, Jão, cometi um curso de Handebol no Maranhão (eu era técnico da GM, da seleção paulista estudantil

feminino, a maioria minhas atletas da GM). Pra ir dar o curso no começo de 1973 pedi pra um namorado de uma atleta manter os treinamentos da seleção na minha ausência (já que ele sempre ia aos treinos levar a noiva). No Maranhão, durante o curso, aproveitei pra dar treino pra seleção maranhense. O Claudio Vaz, que havia me convidado, esticou o convite pr’eu ajudar com as equipes do Maranhão nos JEBs. Eu disse que não podia, pois era técnico de São Paulo. Niqui cheguei em São Paulo esse noivo da atleta me explicou que o chefe (acho que era o Zaninetti) tinha dito que o técnico agora era ele, comunicando a minha dançada. Liguei pro Claudio dizendo que poderia ir pelo Maranhão e foi o que acontecewu. Isso foi em julho. Em setembro voltei para o Maranhão para arbitrar um conflito entre católicos e protestantes (os dois times de handebol do Dimas, Marista e Batista, tinham ido pra final e eu fui apitar). Nessa levei o Biguá (grande comunicar do rádio e TV, que até ganhou a cidadania maranhense, hoje diretor da Confederação Brasileira de Voleibol). O Biguá era atleta da GM. Em janeiro de 1974 mudei pro Maranhão e levei mais dois atletas, Horácio – hoje de volta a São Caetano depois de viver rodopiando por mais de 100 países – e o Vitché, o melhor atleta da GM, que hoje é professor da UFMA. Em 1974 ainda convidamos o prof Domingos Salgado pra montar o processo do curso na hoje UEMA (criado por lei em junho de 1974, mas que nunca decolou). Depois foi o Sidney Zimbres – até hoje lá – que foi quem convidou o Lino. Acho que quem puxou a fieira desse flanco foi o Marcão (ele trabalhava comigo no SESI de São Caetano), que foi em 75. Eu conheci o Lino no Maranhão. Acho que quem sabe melhor essas histórias é o o mano Leopoldo, incansável cevnauta, e que é membro do Instituto do Patrimônio Histórico do Maranhão, para o nosso orgulho, e andou escrevendo sobre isso. http://cev.org.br/comunidade/historia/debate/memoria-handebol-maranhao/ Por Laércio

Laercio vc foi um marco no esporte maranhense. O nosso handball foi exemplo em todo Brasil. Que DEUS continue te iluminando. Um grande abraço Gilson

A CONQUISTA DA IBIAPABA

Academia Ludovicense de Letras

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Academia Poética Brasileira

Centro Esportivo Virtual

Tenho me dedicado a desvendar a(s) História(s) do Maranhão. Entendendo-o, agora, como um ente geográfico, “não Brasil”. Citado desde tempos imemoriais, como ‘o Maranhão” ora é atribuído ao Rio, ora ao espaço geográfico. Como rio, confunde-se os relatos com sua localização, ora, como sendo o Amazonas, ora como a Ilha localizada no Golfão Maranhense. Tanto o delta do Amazonas, quanto o delta dos rios que desaguam no Golfão, se confundem, pela sua semelhança e localização.

Na construção deste texto, vi-me compelido a ir adiante, em alguns relatos, e depois voltar no tempo, para recuperar a cronologia dos fatos. Idas e vindas, no tempo, fazem parte da recuperação da memória... ‘Ad fontes!’

A conquista da Serra do Ibiapaba foi crucial para a definição do Maranhão atual, pequeno espaço territorial quejáfoi,um dia,grande!!!Etevegranderiquezas...essas,buscadas portodos os povos europeus, na tentativa de chegar às minas de prata do Potosi. Essa conquista pelo Norte, começa com a dita ‘descoberta’ da Terra de Santa Cruz, a Ilha Brasil dos textos antigos. O local onde se estabeleceram os Sete Povos.

É notório que a lenda dos sete povos perpassa toda a história. Também a tivemos, como um mito tupi, agora comprovada pela ciência, a sua localização, quem sabe, a antiga Atlantida!!! Desde o mapa de Peri Reis ela é localizada no Atlantico, frente às Antilhas, onde a colocavam Platão e outros pensadores gregos. E lá já estavam os Sete Povos. E eram Tupis.

Mas o Maranhão existia como a república dos tupinambás, já antes da fundação de Tupaón. Os sete povos tupis, que tomaram posse do norte do Brasil, cerca de 1500 anos A.C., entram pela foz do rio Parnaíba, procurando as serras em ambos os lados desse rio. Do lado oriental ficam os tabajaras, do lado ocidental os tupinambás; os outros cinco povos estenderam-se para o sul e sudeste. Todos os sete povos formaram uma confederação e as Sete Cidades (no Piauí) era a capital federal, isto é, o lugar, onde se reuniam todos os anos o Congresso dos Sete Povos. (Schwennhagen, 1925).

No ano de 1473 aparecem relatos de registros visuais da lendária “Ilha das Sete Cidades” e as tentativas de sua posse. Um dos casos mais consistentes foi carta apresentada ao rei D. Afonso V de Portugal pelo açoriano Fernão Teles. Do roteiro que então mostrou constava uma longa costa, com várias ilhas, baías e rios, que ele declarava ser parte das Sete Cidades. Embora se acredite que pudesse ser a costa do Norte do Brasil, entre o Maranhão e o Ceará, com o delta do rio Parnaíba, apenas se pode afirmar com certeza que aquele território se situaria na margem ocidental do Atlântico. Aparentemente o rei não terá acreditado totalmente na descoberta, ou não considerou Fernão Teles suficientemente digno, pelo que da carta de doação concedida não consta referência às Sete Cidades, mas apenas a uma grande ilha ocidental que se pretenderia povoar. Insatisfeito com a carta de doação, Fernão Teles insiste no pedido das Sete Cidades. Consultado, o cosmógrafo genovês Paolo del Pozzo Toscanelli (1398- 1492), declarou que a Antília (designação dadaàs ilhas doMardas Caraíbas) ea Ilha das SeteCidades seriam naquela margem doAtlântico. Em 1476 a carta solicitada pelo açoriano Fernão Teles foi concedida, mas não se conhece a existência de qualquer expedição subsequente por parte daquele donatário ("Insula Septem Civitatum", que significaria Ilha das Sete Tribos ou Ilha dos Sete Povos, mas acabou fixada nas línguas modernas em Ilha das Sete Cidades http://pt.wikipedia.org/wiki/Sete_Cidades_(lenda)

1928-AntigaHistoriadoBrasil.pdf (institutodoceara.org.br)

Lenda das Sete Cidades – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

"Insula Septem Civitatum", que significaria Ilha das Sete Tribos ou Ilha dos Sete Povos, mas acabou fixada nas línguas modernas em Ilha das Sete Cidades, cujos nomes são Aira, Antuab, Ansalli, Ansesseli, Ansodi, Ansolli e Con, datam das fontes clássicas latinas, provavelmente incorporando tradições mais antigas dos povos mediterrâneos, nomeadamente dos maiores navegadores da antiguidade europeia, os fenícios.

Quase todas as cartas e portulanos medievais onde se representava o Mar Oceano, o atual Atlântico, a apresentam, embora com posições e formas variadas. A par da ilha do Brasil ou da Ilha de Man, a Antília, no contexto da tradição brendaniana, a Ilha das Sete Cidades é uma das referências geográficas mais persistentes da proto-geografia atlântica.

A migração dos povos Tupi ao Norte do Brasil pode ser calculada para a data de 3000 a 2000 a.C. As últimas levas entraram quando se quebraram as terras do golfo do México e do mar Caraibico. Assim se pode colocar a ocupação e cultivação da ilha do Maranhão na época de 2000 anos a.C., ou 3500 anos antes da chegada dos europeus. (Schwennhagen (1924)

Seriam os primitivos tupinambás, vindos de uma cidade afundada na costa da Cuba, provavelmente de origem fenícia.

Diziam os remanescentes, da segunda leva aqui chegados, ao tempo dos descobrimentos/achamentos, que vinham de uma cidade que afundara, e foram resgatados por grandes barcos, e trazidos para a costa, provavelmente Venezuela, Guianas e, de lá, iniciado uma trajetória de descolamentos que os trouxeram Amazonia abaixo, até chegar à Ilha Encantada – que seria a de Upaón-Açú.

Por essa mesma época, já se registrava a passagem e o comércio desses mesmos Fenícios pelo Maranhão –True-Tóia, a Verdadeira Tróia, e mesmo Upaon, além da presença no lago Cajari, e as minas de salitre de Ubajara.

Com o afundamento dessa ilha, estabeleceu-se a lenda e o mito. Os Tupis, quando da primeira fase do afundamento, a qual ilha denominavam País dos Cárias, tentaram fugir, pelo mar, para o continente – para o Norte, Estados Unidos e México; para o Sul, Venezuela e Guianas. Muitos morrem...

Quando da segunda fase de afundamento, foram socorridos pelos Fenícios e trazidos para a Venezuela e Guianas. Daí, começaram sua migração para o sul, ou contornando a Cordilheira dos Andes, indo até a Patagonia e, contornando o extremo sul do continente, retornam pelo outro lado, subindo-o. Outra leva, desce os rios, em direção ao Amazonas, seguindo pelo litoral atlântico, até encontrar seus irmãos, e retornam, então, impulsionados pela presença e escravidão – acometida pelos portugueses. Será a sua segunda passagem pela Ilha do Maranhão... a busca da Ilha Encantada, a Terra sem Males... a Tupaon – a terra de Tupã.

EmAPacotilha(30demaiode1925),LudovicoSchwennhagen publicaartigocomoseguintetítulo: MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. Realizando pesquisas em vários estados do Brasil, deteve-se no Piauí e no Maranhão. Sobre o Maranhão, em seu relato, sustenta a tese de que a cidade de São Luís – como Tutóia - foi fundada por navegadores fenícios:

As duas cidades, porém, não eram cidades fenícias; somente os fundadores e organizadores eram gente que chegara ao Mediterrâneo. A grande massa dos habitantes era tupis: em Tutóia, tabajaras, em Tupaón, tupiniquins. (Schwennhagen, 1925).

Chegados por estas terras por volta do ano 1.000 a.C - relacionaram-se com os habitantes da terra – tupis –fundando Tu-Troia – Tutóia – e Tupaón –Upau-açú:

OS FENICIOS E OS TUPIS

Os fenícios já estavam desde muito tempo em relações com os povos tupis; mas estes não tinham portos de mar, querendo viver só em terras altas e solidas. Entretanto, ficou terminada, no Mediterrâneo, a guerra de Tróia, em 1080 A.C. Caiu em poder dos aliados pelasgo-gregos a grande fortaleza que dominava o estreito dos Dardanelos e a entrada para a Ásia.

Os fenícios, os carios e muito outros povos da Ásia Menor eram amigos ou aliados de Tróia, mesmo as briosas guerreiras e cavaleiras amazônicas, das quais morreram centenas no vasto campo troiano.

Os sobreviventes dos povos vencidos andavam em navios dos fenícios, procurando nova pátria, e por isso aparecem, cerca do ano 1000 a.C., em diversos países, cidades com o nome de Tróia Nova ou Tróia Rediviva. Para o norte do Brasil chegaram também sobreviventes da grande guerra e fundaram Tu-Troia, ajudaram a fundar Tupaón, e os sobreviventes da Amazonas fundaram no Brasil uma sociedade de mulheres montadas amazônicas, que deu finalmente seu nome ao grande rio. Essas são as deliberações que indicam o tempo de 1000 anos a.C. para a fundação de Tutoia e de Tupaón (S. Luis). (Schwennhagen, 1925).

Vieira tratava desses acontecimentos como um mito, o da criação; hoje, confirma-se os acontecimentos com descobertas geológicas, ocorridos nas datas em que estes, os Tupis, acreditavam ter acontecido.

A passagem pela Ilha do Maranhão se deu há pelos menos 3.000 anos – confirmados por descobertas arqueológicas; a segunda, por volta de 1560/80, quando os franceses, então, já procuravam locais para negociar especiarias com os nativos, estabelecendo-se, então, na Ilha do Maranhão. Estamos falando do período de 1580 a 1612... essa a data do estabelecimento da colônia denominada de França Equinocial. Bandeira (2013) traz que a ocupação do Vinhais Velho data de pelo menos 3.000 anos de duração:

As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luís, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75).

[...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76).

[...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito

semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76).

[...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76).

A última ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII.

Trata-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...]

[...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).

Os índios da nação tabajara galgaram os alcantis da Ibiapaba no ocaso do século XV, após vários meses de perigosa viagem entre o litoral da Bahia e a parte setentrional da imensa cordilheira conhecida como "Terra Talhada". Arribaram de sua terra natal após serem derrotados em disputas tribais com "outros principais mais poderosos", conforme relataram ao padre Ascenso Gago. Após perigosa caminhada através dos "sertões de dentro", avistaram, enfim, o imenso cordão montanhoso que compõe o que hoje chamamos de Serra Grande. Os tabajaras que abandonaram o litoral da Bahia faziam parte de três grupos distintos. Um grupo partiu em direção a Chapada do Araripe, outro grupo fixou residência nos altiplanos da Ibiapaba e o último grupo rumou para as terras do "rio do Maranhão".

Em abril de 1500 o português Pedro Álvares Cabral descobre oficialmente a nossa antepassada Vera Cruz, legitimando para todos os efeitos a posse de Portugal sobre o que viria a ser o Brasil. Mas os interesses e a atenção da Coroa Portuguesa se deslocavam para bem longe daqui, importando ao rei D. Manuel apenas o lucro sem qualquer investimento em suas colônias. E mesmo em se tratando de lucros, a colônia brasileira se resumia à sede da Corte, na Bahia.

O uso do termo "descoberta" para este evento histórico considera o ponto de vista dos povos da Europa. Eles o registraram na forma de história escrita, e o registro expressa uma concepção eurocêntrica da história. Embora usado quase exclusivamente em relação à viagem de Pedro Álvares Cabral, o termo "descoberta do Brasil" também pode se referir à chegada, no final de 1499, de parte da expedição liderada por Alonso de Ojeda, da qual Américo Vespúcio participou. Além disso, à expedição liderada pelo navegador e explorador espanhol Vicente Yáñez Pinzón. Chegou ao Cabo de Santo Agostinho, promontório localizado no atual estado de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500. Este é o mais antigo desembarque europeu confirmado em território brasileiro.

O mapa de Juan de la Cosa, um mapa feito em 1500 a pedido dos primeiros reis da Espanha – conhecidos como os Reis Católicos – mostra a costa sul-americana adornada com bandeiras espanholas desde o Cabo de la Vela (na atual Colômbia) até o ponto mais oriental do continente. O texto que acompanha diz:

"Este cavo se descubrio en año de mily IIII X C IX por Castilla syendo descubridor vicentians" (lit. 'Este cabo foi descoberto em 1499 por Castela, com Vicente Yáñez como o descobridor').

Provavelmente Schwennhagen (1925) se refere à chegada de Pinzón ao Cabo de Santo Agostinho no final de janeiro de 1500. Em 1924, a 4 de setembro, também em A Pacotilha e sob o título “São Luis na Antiguidade” afirma que a Ilha do Maranhão tem um grande passado histórico. Que

“Pinson, o companheiro de Colombo, tinha noticias duma grande ilha, que era o centro da nação dos Tupinambás, um trato de terra muito rico e populado”. (Schwennhagen, 1925)

Chegando às Antilhas, desligou-se de seu companheiro para procurar o continente, situado ao Sul, “onde a Ilha do Maranhão devia ser, conforme as antigas histórias que viviam ainda na memória dos índios, a cabeça de ponte para entrar no continente”. Não sabemos se Pinson realmente esteve nesta ilha, “mas fora de duvidas que a procurou”. (Schwennhagen, 1925)

Em 1448, Jean Cousin teria chegado a uma terra desconhecida, na foz de um rio caudaloso, identificado como o largo delta do Rio Amazonas; tese confirmada em 1785 por Desmasquete, e em 1878 por Paul Gaffarel (segundo MEIRELES, Mário Martins. O BRASIL E A PARTIÇÃO DO MAR-OCEANO. São Luís: AML, 1999, p. 98).

Porém, existe uma possível expedição secreta, a do navegador português Duarte Pacheco Pereira em 1498, com o objetivo de identificar territórios pertencentes a Portugal ou Castela de acordo com o Tratado de Tordesilhas de 1494. Pereira participou das negociações do tratado. A viagem hipotética é baseada exclusivamente no relato do explorador em Esmeraldo de Situ Orbis (1505), um livro de sua autoria. Pacheco Pereira afirma explicitamente que o rei de Portugal "ordenou a descoberta da parte ocidental", sugerindo que não falavadeexplorações próprias,massim detudo oquejáfoiexploradoporváriosnavegadores econhecido por volta de 1505. Essa visão é apoiada pelas latitudes e longitudes fornecidas, que vão desde a Groenlândia até a atual região sul do Brasil. Além disso, a possibilidade de uma política de sigilo por parte dos monarcas portugueses, proposta na primeira metade do século XX pelo historiador Damião Peres, não é sustentável, pois era prática comum, na ausência de um tratado, reivindicar a soberania sobre uma terra divulgando sua descoberta.

A passagem do Esmeraldo que deu margem a tais considerações é a seguinte:

“e portanto, bemaventurado Príncipe, temos sabido e visto como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde nos Vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar oceano, onde é achada e navegada uma tão grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela, que se estende a setenta graus graus de ladeza da linha equinocial contra o polo ártico e, posto que seja assaz fora, é grandemente povoada, e do mesmo círculo equinocial torna outra vez e vai além em vinte e oito graus e meio de ladeza contra o polo antártico, e tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma parte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela ... [...]; e indo por esta costa sobredita, do mesmo círculo equinocial em diante, per vinte e oito graus de ladeza, contra o polo antártico, é achado nela muito e fino brasil com muitas outras coisas que os navios nestes reinos vêm grandemente carregados...”

Planisfério de Cantino (1502), a mais antiga carta náutica portuguesa conhecida, mostrando o resultado das viagens de Vasco da Gama à Índia, Colombo à América Central, Gaspar Corte Real à Terra Nova e Pedro Álvares Cabral ao Brasil, com o meridiano de Tordesilhas assinalado. (Biblioteca estense universitária de Módena)

Já no Livro de Marinharia de João de Lisboa (c.1470-1525, João de Lisboa – Wikipédia, a enciclopédia livre) tem 1514 como única data inscrita pelo autor, e apresenta um notável globo terrestre, em representação polar, cuja execução coloca em causa todo o conhecimento marítimo à época da sua morte. Nesse mapa, para além decontornos muito precisos detodaaAmérica, nomeadamentedoEstreitodeMagalhães, incluem-semenções explícitas aoJapão eàNovaGuiné.Acresceum mapadaAméricaCentral ePeruquetornaevidenteapresença de castelos portugueses na área de influência inca, territórios que depois seriam ocupados pelos espanhóis, de acordo com a divisão de Tordesilhas. Acerca da importância deste livro de marinharia diz Francisco Adolfo de Varnhagen:

Consignemos porém de passagem que com o Magalhães ia o piloto portuguez João de Lisboa, que já no Brazil havia estado antes, e que escreveu um livro sobre marinharia, cujo aparecimento seria talvez de trascendente importancia para a historia geographica. Descobrimentos portugueses – Wikipédia, a enciclopédia livre

Na representação da 'América do Sul', feita no final do século XVI pelo cartógrafo Arnoldus Fiorentinus, o Maranhão aparece como uma região completamente integrada ao Vice-reinado do Peru, separada fisicamente do Estado do Brasil.

Feito em fins do século XVI, apesar da deformação no contorno, nele já aparecem bem definidos toda a costa brasileira e o estreito de Magalhães. Esse mapa está reproduzido no livro de Leo Bagrow, História da Cartografia., publicado em Berlim, Alemanha.

Para Cardoso (2011), no início do século XVII, o Maranhão gozava de relativa notoriedade a julgar pela documentação diplomática espanhola. De fato, constam informações sobre essa região em pareceres de importantes autoridades hispano-lusas, a exemplo de d. Diego Sarmiento de Acuña, embaixador espanhol na Inglaterra; d. Iñigo de Cardenas, embaixador espanhol na França; d. Juan de Ciriza, conhecido secretário do rei Felipe III (1598-1621), e também d. Diogo de Menezes, então governador-geral do Estado do Brasil. Além disso, a situação dessa zona de fronteira é amplamente debatida em diversos outros documentos produzidos pela burocracia castelhana, disponíveis hoje no Archivo General de Simancas, e também no Archivo General de Indias. Essas fontes, ao mesmo tempo em que ajudam a definir melhor o que era chamado de 'Maranhão' antes de possuir formalmente definição de 'Estado', também fornecem dados importantes para uma reflexão sobre o papel reservado ao norte da América Portuguesa no contexto da União Ibérica (1580-1640).

Diego Sarmiento de Acuña, conhecido como o Conde de Gondomar, foi um diplomata espanhol que atuou como embaixador na Inglaterra entre 1613 e 16221 Ele mencionou o Maranhão em seus pareceres diplomáticos, destacando a importância estratégica da região durante o período da União Ibérica (1580-1640), quando Portugal e Espanha estavam sob a mesma coroa. Sarmiento de Acuña reconheceu o Maranhão como uma área de interesse geopolítico devido às disputas entre várias potências europeias, incluindo franceses, ingleses e holandeses. Ele enfatizou a necessidade de consolidar o controle sobre a região para proteger os interesses ibéricos no Atlântico Sul

D. Iñigo de Cárdenas, embaixador espanhol na França no início do século XVII, destacou a importância estratégicado Maranhão em suas correspondências diplomáticas. Em 1615,eleescreveuao rei Felipe IIIsobre a preocupação com a presença de franceses e ingleses na região, mencionando que essas potências poderiam "apertar a garganta das Índias". Isso reflete a visão de Cárdenas sobre a necessidade de consolidar o controle ibérico no Maranhão para proteger os interesses espanhóis e portugueses no Atlântico Sul

D. Juan de Ciriza foi um importante secretário do rei Felipe III da Espanha durante o período da União Ibérica (1580-1640), quando Portugal e Espanha estavam sob o mesmo monarca1. Ele desempenhou um papel significativo na administração e na política da época, incluindo questões relacionadas à conquista e ocupação

do Maranhão. A conquista do Maranhão, ocorrida em 1615, foi parte de um esforço maior para consolidar o controle ibérico sobre territórios estratégicos no Atlântico, em resposta às ameaças de outras potências europeias, como França, Inglaterra e Holanda. D. Juan de Ciriza, como secretário do rei, estava envolvido na formulação e execução dessas políticas de expansão e defesa territorial.

D. Diogo de Menezes foi um dos governadores do Estado do Brasil durante a União Ibérica. Ele desempenhou um papel crucial na preparação para a conquista do Maranhão. Durante seu governo (1608-1612), ele planejou a ocupação do território, que foi efetivamente concluída por seu sucessor, D. Gaspar de Sousa, em 1615 A conquista do Maranhão foi parte de um esforço maior para consolidar o controle ibérico sobre territórios estratégicos no Atlântico, em resposta às ameaças de outras potências europeias, como França, Inglaterra e Holanda

Sabemos que cronistas como Carvajal, Lopez de Gómara, Cieza de León, Oviedo y Valdés e, ainda, António Herrera, entre outros, já tinham informações sobre a ligação entre as 'Indias' e o Atlântico, feita através de uma região portuguesa localizada entre o Vice-reinado do Peru e o Estado do Brasil.

Francisco de Carvajal foi um militar espanhol que desempenhou um papel importante na conquista do Maranhão. Ele foi um dos líderes da expedição enviada para expulsar os franceses que haviam se estabelecido na região. A conquista do Maranhão em 1615 foi parte dos esforços da União Ibérica para consolidar o controle sobre territórios estratégicos no Atlântico

Francisco López de Gómara foi um historiador espanhol conhecido principalmente por suas obras sobre a conquista do México, como a "Historia general de las Indias". No entanto, ele não teve uma ligação direta com a conquista do Maranhão. A conquista do Maranhão, ocorrida em 1615, foi parte dos esforços da União Ibérica para consolidar o controle sobre territórios estratégicos no Atlântico. Essa conquista foi liderada por figuras como Jerônimo de Albuquerque e Alexandre de Moura, que expulsaram os franceses da região

Pedro Cieza de León foi um cronista e conquistador espanhol conhecido principalmente por suas obras sobre a conquista do Peru, como a "Crónica del Perú" não teve uma ligação direta com a conquista do Maranhão, pois suas atividades e escritos estavam focados principalmente na região andina da América do Sul. Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés foi um cronista e historiador espanhol conhecido por suas obras sobre a conquista das Américas, como a "Historia general y natural de las Indias"; ele não teve uma ligação direta com a conquista do Maranhão, pois suas atividades e escritos estavam focados principalmente nas regiões do Caribe e da América Central.

Atentos à presença de vastas florestas com “Pau Brasil” (usado no tingimento de tecidos) no litoral brasileiro, os franceses logo estabeleceram relações comerciais com os indígenas. Os portos franceses na Normandia, especialmente o de Rouen e Dieppe, onde no século XVI estava estabelecida uma indústria têxtil florescente quesetornavaaprincipalatividadeeconômicaquecompetiacomPortugalpelomercadobrasileiro.Aprimeira viagem data de 1503-1504, quando a embarcação “Espoir” chegou às costas brasileiras.

Desde pelo menos 1504, quando da viagem da nau L’Espoir de Honfleur, os franceses estiveram na costa da nova terra, carregando com pau-brasil os navios de armadores normandos e bretões (Baião e Dias 1923: 60)1

Admite-se que no ano de 1513, tanto Diogo Ribeiro tenha chegado ao Golfão Maranhense e que a ele se deva o nome de Trindade dado à Ilha de São Luís, quanto Estevão Fróes, assim como Diogo Leite, vindo de Pernambuco a explorar a costa por ordem de Martins Afonso de Sousa tenha alcançado a foz do Rio Gurupi e deu nome à Abra de Diogo Leite (Baia do Gurupi) . De ordem de Martin Afonso de Sousa, Diogo Leite, reconhecendo o litoral norte do Brasil, chega à foz do Gurupi (1531). Atribuem-se a ele os nomes de São José e São Marcos dados às baías que formam o Golfão Maranhense, pelos dias, no calendário romano, em que as tenha alcançado.

Lima registra Diogo de Sordas.

1 BAIÃO, Antônio. “O comércio do pau brasil” in Carlos Malheiro Dias (org.). História da colonização portuguesa do Brasil. vol. II, Porto, Litografia Nacional, 1922, pp. 317-347.

DIAS, Carlos Malheiro. “A expedição de 1501” in DIAS, Malheiro (org.). História da Colonização Portuguesa do Brasil, vol. II, pp. 171-222

Portugal reagia como podia às investidas francesas, financiando “varreduras costeiras” entre Pernambuco e o rio da Prata, de 1516 a 1519 e de 1526 a 1528, ambas realizadas por Cristóvão Jacques, pois os franceses costumavam visitar a costa brasileira entre o cabo de São Roque e a Angra dos Reis, mais fácil e acessível. Em 1524 vamos encontrar Guérard e Roussel, corsários de Dieppe, visitando o Maranhão.

Todo o Brasil setentrional estava completamente abandonado pelo colonizador luso e, portanto, nas mãos de comerciantes de outras nações, aí também incluídos ingleses, holandeses, espanhóis, escoceses, dentre outros.

Vale lembrar que, nesta época, o último reduto português era a fortaleza do Natal, edificada em 1599 por Mascarenhas Homem com a participação de Jerônimo de Albuquerque.

Este abandono fez o historiador maranhense João Lisboa declarar no livro Jornal do Tímon que os franceses não invadiram o Maranhão. Eles ocuparam uma terra vaga, desabitada, e que os donatários régios de Portugal e Espanha estavam sujeitos às penas de comisso, pois já se passara mais de um século sem as terras terem sido ocupadas.

Após estes primeiros contatos, multiplicaram-se as expedições. Em 1531, dois navios franceses e 120 homens sobocomandodeJeanDupéret,aportaramnas costasbrasileiras.NailhadeSantoAleixo(próximodeRecife), chamada pelos franceses de “Ile Saint-Alexis”, eles construíram um forte e uma feitoria comercial. Esta feitoria francesa teve vida breve. Os portugueses capturaram os navios franceses na sua viagem de volta à Europa e, em dezembro, sitiaram o forte francês até a rendição.

Os franceses fizeram três outras tentativas para se estabelecerem no Brasil. A primeira delas foi no Rio de Janeiro (1555-1560), a segundaem Ibiapaba-Ceará (1590-1604), e a terceira em SãoLuís do Maranhão(16121615).

O norte do Brasil permaneceu por muitos anos como terra de ninguém. Somente três décadas depois do descobrimento do Brasil D. João III resolveu dividi-lo em capitanias hereditárias.

É possível dizer, assim, que o Maranhão era concebido como uma 'entidade geográfica' que fazia parte do império hispano-luso, mas ainda não havia sido dominado militar e politicamente. Na própria cartografia do século XVI, o nome Marañón é utilizado para definir o limite das terras luso-brasileiras ou para nomear o rio que faz essa divisão. Essas fontes confundem o rio Marañón, na bacia do Vice-reinado do Peru, com o rio Amazonas, às vezes chamado de 'Mar Dulce' ou 'rio de Orellana'.

Neste contexto, não havia uma capitania chamada "Piauhy". Com a divisão das conquistas portuguesas na América em territórios distintos, ou seja, o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão, outras capitanias foram surgindo, sobretudo no Estado do Maranhão: Tapuitapera (Alcântaras), Cabo do Norte (Amapá), Ilha Grande de Joanes (Marajó), Vigia entre outras.

Nas últimas décadas do século XVI, esse território era quase sempre identificado como zona de transição, nem propriamente parte formal do Estado do Brasil, nem ainda Índias de Castela. Mesmo sem definição formal, estamos falando de uma área que corresponderia mais ou menos aos atuais Estados 'brasileiros' de Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Tocantins, Piauí, Maranhão e Mato Grosso (ao Norte do paralelo 16º). Além disso, em certos períodos do século XVII também fazia parte do Maranhão o Ceará, este último considerado a fronteira natural do Estado do Brasil. Quase toda essa região está localizada a Oeste do meridiano de Tordesilhas, limite que começava a ser francamente ignorado.

ACartaRégiade8 demarçode1535eForal de11demarçodomesmo ano,designavam oterritóriolocalizada entre a foz do Turiaçu e a baía de São José à João de Barros e Aires da Cunha no contexto de "conquista do Nordeste". Frei Vicente de Salvador , também, reitera a presença de Aires da Cunha e os filhos do falecido João de Barros no Maranhão, região descrita como grande baía com uma ilha, São Luís.

O Maranhão já aparece em 1535 como uma das 'capitanias donatárias', criadas pelo rei d. João III. A colonização do Brasil tem seu início em 1534, visando a conquista de suas novas terras "descobertas" pela expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500, dividindo-as entre seus vassalos, pois estava preocupado com a presença de corsários franceses que navegavam por estas costas desde 1504. Estabelece o sistema de Capitanias Hereditárias (Regimento Castanheira).

Com a implantação do sistema de Capitanias hereditárias (1534), Coroa Portuguesa no Brasil, a costa do atual estado do Maranhão ficou dividida em dois lotes, o primeiro da altura do rio Gurupi à baía de Cumã, doado a João de Barros e a Aires da Cunha, e o segundo, da baía de Cumã até à foz do rio Paraíba, doada a Fernando Álvares de Andrade. Os três donatários, associados, organizaram uma frota de dez navios, transportando novecentos colonos e cem cavalos, para colonizar a região (1535).

Na altura da ilha de Trindade (atual São Luís), Aires da Cunha pereceu num naufrágio. Os demais colonos fundaram, na própria ilha, uma colônia com o nome de Nazaré, em março de 1536 Para a sua defesa, foram erguidas três fortificações: uma à entrada da barra de Nazaré, outra na confluência dos rios Mearim e Pindaré, e uma terceira no curso do rio Pindaré, até onde era possível a navegação. O núcleo de povoamento foi abandonado, face à hostilidade dos Tupinambás, em meados de 1538 (ESCOBAR, s.d.:67).

A 'Cidade de Nazaré', fundada em março de 1536 pelo capitão Aires da Cunha na ponta da Ilha Grande do Maranhão (Ypaon-açu) por conta dos donatários - o grande humanista João de Barros (que possuía aí perto a Quinta de Alitém, a sul de Pombal) e o poderoso financeiro Fernão Álvares de Andrade - com o objetivo escondido de ir conquistar por terra o mítico reino inca do El Dorado ou “Birú”, ou seja o Peru, de que por esses mesmos anos Pizarro e seus companheiros se andavam apropriando; mas esquecidos, desmoralizados e abandonados a si mesmos pelo poder real, começaram por volta de 1570 a se “indianizar”, convivendo e fundindo com os Tapuias ou Jê locais, falando sua língua e adoptando sua cultura e forma de vida. Mas nunca abandonaramousodoferro,tantoemarmascomo emutensílios,econservaramotraçogenéticodapilosidade, que lhes deu o nome porque eram conhecidos pelos vizinhos (como também os Méxica chamavam os espanhóis por suas longas barbas). Antes dessa perda de identidade, muitos tentaram voltar a Portugal nos navios disponíveis, mas foram ter, perdidos e desgarrados, nas ilhas do Caribe, dando talvez origem à designação de Barbados dada à mais oriental entre elas. (Rafael Moreira. 2021)

de

traduzindo a concepção de "ilha-Brasil", onde se localiza a Cidade de Nazaré

Mapa
1602

A 'Cidade de Nazaré', fundada em março de 1536 pelo capitão Aires da Cunha na ponta da Ilha Grande do Maranhão (Ypaon-açu) por conta dos donatários - o grande humanista João de Barros (que possuía aí perto a Quinta de Alitém, a sul de Pombal) e o poderoso financeiro Fernão Álvares de Andrade - com o objetivo escondido de ir conquistar por terra o mítico reino inca do El Dorado ou “Birú”, ou seja o Peru, de que por esses mesmos anos Pizarro e seus companheiros se andavam apropriando; mas esquecidos, desmoralizados e abandonados a si mesmos pelo poder real, começaram por volta de 1570 a se “indianizar”, convivendo e fundindo com os Tapuias ou Jê locais, falando sua língua e adoptando sua cultura e forma de vida. Mas nunca abandonaramousodoferro,tantoemarmascomo emutensílios,econservaramotraçogenéticodapilosidade, que lhes deu o nome porque eram conhecidos pelos vizinhos (como também os Méxica chamavam os espanhóis por suas longas barbas). Antes dessa perda de identidade, muitos tentaram voltar a Portugal nos navios disponíveis, mas foram ter, perdidos e desgarrados, nas ilhas do Caribe, dando talvez origem à designação de Barbados dada à mais oriental entre elas. (Rafael Moreira. 2021)

Os que ficaram - dum contingente inicial que montava a 1500 casais e 130 soldados a cavalo num total de 12 barcos: armada “tam poderosa como as de Colombo, Vasco da Gama, Cortez e Pizarro reunidas” (LISBOA, 1865, p. 44) - foram se afastando do litoral, frequentado por corsários, aventureiros e traficantes de pau-brasil, e estabeleceram no baixo vale do Itapecuru, perto da Ilha Grande.

Comenta Moreira (20121):

Cremos ainda não ter sido notado que o conhecido mapa da Biblioteca Nacional do Brasil (Rio de Janeiro) 'Descripçam dos Rios Para e Maranham' de João Teixeira Albernaz de cerca 1632 (cota: CAM.01.002 - Cartografia), apresenta bem visível na margem esquerda do rio Itapecuru, acima da 'Cachoeira' e 'Fortaleza' que seguem à sua foz, frente a um 'Emgenho de asucar' e antes de outro, uma vasta área terraplanada tendo do lado a legenda: “Aqui se ha de fazer a Pouoação pera cabeça do estado”.

Os próprios filhos de João de Barros, vindos dirigir a colônia durante cinco anos (1556-1561) após a morte de Aires da Cunha, a fim de tentar salvar o investimento feito, haviam construído uma fortaleza na foz do rio e lançado as bases da colonização agrícola e pecuária, prosseguida por Luís de Melo da Silva, também naufragado em 1573 no mesmo fatídico lugar do fundador, a identificar com as traiçoeiras rochas submarinas do Parcel de Manuel Luís (MOREIRA, 1966).

O que não retira significado à iniciativa pioneira do cronista e gramático João de Barros: “the cause that Brasil was first inhabited by the Portingales” , como dizia em 1578 o explorador inglês Richard Hakluyt ao embaixador de Portugal em Londres, Antônio de Castilho (BOXER, 1981, p. 31).

Se o ensaio colonizador de Duarte Coelho no Nordeste - o primeiro bem-sucedido, em 1535 -, não passara de umaredede“vilas”depequenoporte,a tentativafrustradadeBarros nacostaNortetinhao altoestatuto oficial de “cidade”, só igualado por Salvador da Bahia 15 anos mais tarde. (Rafael Moreira. 2021)

Talvez seja esse o motivo porque a historiografia dominante no Brasil - de maioria sulista - tem ignorado o feito da cidade de Nazaré, relegada ao domínio do mito e do malogro histórico (VARNHAGEN, 1907, p. 187192). Não fazia mais que continuar a versão oficial do poder luso, a que interessava alimentar a crença na inacessibilidade da faixa litoral à navegação, pelo regime de correntes, ventos e marés, perigos dos baixios e ausência de bons portos, como meio de manter afastada dessa região equatorial a concorrência dos navios das potências rivais: da França, sobretudo. (Rafael Moreira. 2021)

O Maranhão atual, por sua extensão litorânea do Paraíba ao Gurupi, está compreendido nas duas mais setentrionais, dentre elas: a de Fernão Alvares de Andrade, com 70 léguas de costa contadas da foz do Mundau (Camocim) aos Mangues Verdes (Golfão Maranhense) e uma segunda, de João de Barros, com 50 léguas, dos Mangues Verdes à foz do Gurupi. João de Barros e Fernando Álvares de Andrade associam-se a Aires da Cunha, na tentativa de apossarem-se dela, sem resultado. Eram lotes enormes, de cerca de 350 km de largura, até à linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, interior adentro:

"Dez anos depois de criadas, as desordens internas, as lutas com os índios e a ameaçadora presença dos franceses acabaram provocando o colapso do sistema que o rei e seus conselheiros haviam optado por aplicar ao Brasil" (BUENO, 1999).

Originalmente, o Maranhão faria parte de uma tríplice seção de terras que deveria ser administrada por João de Barros, famoso historiador da Índia portuguesa, Ayres da Cunha, antigo capitão-mor de Malaca, e ainda Fernando Álvares de Andrade. Apesar de algumas tentativas de ocupação, organizadas por esses donatários, o Maranhão permanecerá como região virtualmente desconhecida até a época de Felipe III (1598-1621).

O nome Marañón, mesmo designando algo impreciso, passará a ser comum nas crônicas da época. O Maranhão já aparece em 1535 como uma das 'capitanias donatárias', criadas pelo rei d. João III para incrementar a defesa e aproveitamento produtivo da costa luso-brasileira.

“(...) Fosse de Pernambuco uma armada, por ordem de Sua Majestade, para lançar aos franceses do Maranhão. Com clareza, darei uma breve notícia do Rio Maranhão, ou Amazonas, ou Orellana, que estes três nomes lhes dão as histórias. Chama-se Maranhão ou Orellana, tomando estes nomes dos primeiros espanhóis que por ele navegaram, Francisco Orellana, outro Antônio Maranhon; chama-se das Amazonas por correr pelas terras das Amazonas . Com nossos portugueses, usando do nome do gentio lhe chamamos, Pará, que quer dizer, Mar. (...). Oitenta léguas está uma ilha, na boca destes Rios chamados Muni, Itapuerte, Meari, os quais antes de se meterem no mar, se ajuntam em um, formando-lhe a ilha, a que agora chamamos Maranhão (...)". Fonte: Carta (trecho) do padre jesuíta Manuel Gomes, datada de 10 de outubro de 1615, destinada ao Provincial do Brasil – O padre Manuel Gomes fazia parte da Armada de Alexandre de Moura, na conquista do Maranhão em 1615. Biblioteca Nacional de Portugal. Link: ( https://purl.pt/15266 ). Por João Bosco Gaspar.

Estabelecer fronteiras fundamentado nessas antigas capitanias (não)hereditárias, é um grave anacronismo histórico. Por conta da malograda "Associação Trina de Colonização", formada por João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, os donatários tiveram que devolver seus quinhões ao senhorio da coroa portuguesa... tudo era terra do rei, "Nosso Senhor", como afirma Pero de Magalhães Gandavo. Essas terras foram revertidas à coroa portuguesa ainda no reinado de Dom Sebastião; por volta do ano de 1570 já não se falava mais nessas doações.

Tem escapado aos historiadores que o foco do poderio militar francês, o Fort Saint-Louis fundado no alto da acrópole da Ilha Grande do Maranhão (onde hoje está a esplanada do Palácio do Governo e a Sé Catedral de São Luís),foierguidosobreas ruínas da antiga cidadeportuguesa deNazaré, despovoada eabandonadaquatro décadas antes. Afirma-o sem lugar a dúvidas um relato oficial espanhol de c.1640 (“Descripcion y principio deaquelestado”[Brasil],namiscelânea“Sucessos delAño1624”:BIBLIOTECANACIONALDEESPAÑA, Madri, Ms. 2355, fols. 51-56). O anônimo relator espanhol escreve, depois de narrar a tentativa frustrada da cidade de Nazaré:

“Los que entraron con Juan de Barros, discurriendo el Marañon, y siendo la navegación en aquel tiempo menos entendida, nos se consumieron, y otros pasaron a Indias Occidentales, y no quedó de su fundación mas memoria que en la Isla de San Luís algunos vestígios de una fortaleza que empeçaron los fundadores, cuyos cantones y esquinas eran de piedra de Alcantara [calcário branco dos arredores de Lisboa], y sobre estos erigió Monsieur de la Reberdiere la que hallamos el año de 1615.” (f. 53v); e mais adiante: “...la isla que llaman de San Luís en que los franceses tenían la fuerça de San Luís, que mudamos el nombre en el año de 1615 quando se echó de ella a Monsiur de Rauardiere, y la llamamos San Phelippe, y aqui fue la población que empeçaron los hijos de Juan de Barros, y no continuaron por no ser en aquel tiempo la nauegacion para alla tan bien entendida, y les faltó socorros.” (f. 56v).

Nas palavras do amazonista inglês John Hemming, “Uma das mais indomáveis tribos das florestas do Maranhão era a dos barbados”. Mas deles por enquanto quase não se ouve falar: esquivos e fugidios como todo Tapuia, estes 'índios de corso' (isto é: errantes, sempre de corrida) tinham-se afastado para sul espalhando-se nos vales do Itapecuru, Monim e Mearim sem pouso certo, infiltrando-se entre outros grupos de sua nação linguística Jê para assaltar os locais portugueses - fazendas, engenhos, fortes -, que ripostavam como podiam. Sabemos que em 1690-95 aí foram atacados pelo paulista Francisco Dias de Siqueira - um bravo bandeirante para uns, bandoleiro para outros -, mas sem qualquer êxito (HEMMING, 1978, p. 541); e em 1715-1716 o governador do Maranhão Cristóvão da Costa Freire assaltou em vão uma aldeia da “belicosa nação” dos Barbados (BERREDO, 1749, p. 363), mas sem conseguir capturar nenhum de seus moradores. Novos dados (RENÔR FERREIRA DE CARVALHO, 2015) falam do ramo de Barbados 'Verdadeiros' deambulando pelos vales do Monim e Mearim, talvez até ao Jaguaribe, forçados em 1683 por vaqueiros - da Casa da Torre de Garcia de Ávila, sem dúvida - a se estabelecer no Parnaíba, com sua aldeia mais populosa, 'Óbos', acima do delta na região de Caxias, sem querer fazer a paz com ninguém; e de outros Barbados, os 'Ronxé', muito violentos com os demais índios, de que haviam assassinado dezenas de crianças para comer e expulso de suas terras “por ser grande o número de [sua] gente e muito espalhados”. Uma 'Descrição do sertão doPiauíremetidaao...BispodePernambuco'em1697cita36etniasporessasribeiras,masnão adosBarbados (ENNES, 1938, p. 387-9).

Além dessas informações, Frei Vicente de Salvador acrescenta a figura de Luiz de Mello da Silva no intento de descobrir uma boa capitania para tomar posse, sendo assim o Maranhão por ele conhecido por suas riquezas, motivando o pedido ao Rei para doação. Concedida a capitania, porém com o fracasso da intenção de povoamento e conquista da região. Por seguinte a região foi deixada de lado pela Coroa portuguesa, e

assim, os franceses acabaram por tornar , desde o final do século XVI, essa região em escala obrigatória de navios franceses:

No tempo que se começou a descobrir o Brasil, veio Luiz de Mello da Silva, filho do alcaide-mor de Elvas, como aventureiro, em uma caravela a correr esta costa, para descobrir alguma boa capitania, que pedir a el-rei, e não podendo passar de Pernambuco desgarrou com o tempo e águas, e se foi entrar no Maranhão, do qual se contentou muito, e tomou língua do gentio, e depois na Margarita de alguns soldados que haviam ficado da companhia de Francisco de Orelhana, que como testemunhas de vista muito lha gabaram, e prometeram muitos haveres de ouro, e prata pela terra dentro, do que movido Luiz de Mello se foi a Portugal pedir a el-rei aquela capitania para a conquistar e povoar, e sendo-lhe concedida, se fez prestes na cidade de Lisboa, e partiu dela em três naus e duas caravelas, com que chegando ao Maranhão se perdeu nos esparsos e baixos da barra, e morreu a maior parte da gente que levava, escapando só ele com alguns em uma caravela, que ficou fora do perigo, e 18 homens em um batel, que foi ter à ilha de Santo Domingo, dos quais foi um meu pai, que Nosso Senhor tenha em sua glória, o qual sendo moço, por fugir de uma madrasta, e ser Alentejano, como o capitão, da geração dos Palhas, e com pouco grau para sustentar a vida, se embarcou então para o Maranhão, e depois para esta Bahia, onde se casou, e me houve, e a outros filhos e filhas. Depois de Luiz de Mello ser em Portugal se passou à Índia, onde obrou valorosos feitos, e vindo-se para o reino muito rico, e com tenção de tornar a esta empresa, acabou na viagem na nau São Francisco, que desapareceu sem se saber mais novas dela; nem houve quem tratasse mais do Maranhão o que visto pelos franceses, lançaram mão dele, como veremos no livro quinto. Mas hão se aqui por fim deste de advertir duas coisas: a primeira que não guardei nele a ordem de tempo e antigüidade das capitanias, e povoações, senão a do sítio, e contiguação de umas com outras, começando do sul para o norte, o que não farei nos seguintes livros, em que seguirei a ordem dos tempos, e sucessão das coisas. A segunda, que não tratei das do Rio de Janeiro, Sergipe, Paraíba, e outras, porque estas se conquistaram depois, e povoaram por conta del-rei, por ordem de seus capitães, e governadores gerais, e terão seu lugar quando tratarmos deles nos livros seguintes.(Frei Vicente do Salvador, 1627)

Osdireitos de João de Barros, por exemplo,orei dom Sebastiãoordenouque,"porsuamorteficasse cinquenta mil reis de tensa a sua mulher dona Maria de Almeida". As capitanias reais da Parahyba e Rio Grande são conquistas da coroa portuguesa, fundadas no ocaso do século XVI, assim como as do Ceará, Maranhão e Pará, criadas entre os anos de 1615 e 1619. A capitania do Piauhy só foi instituída em 1718, e instalada em 1759. A capitania do Piauhy não fazia parte do Brasil, estava inserida no Estado Colonial do Maranhão.

Na lista de naufrágios do Maranhão (naufragiosdobrasil.com.br) consta a caravela de Nicolau de Rezende, de 1571, mas não especifica o local, que se supõe ter sido a foz do rio Parnaíba. Reginaldo Miranda, em matéria para o Portal Entretextos (27-12-2017), afirma que “pouco se sabe sobre esse aventureiro, senão que era náufrago, estava perdido”, citando que o padre Cláudio Melo havia afirmado que Nicolau teria vivido entre indígenas. Eneas Barros | Beba de minha fonte O MITO DE "NICOLAU DE REZENDE E AS TONELADAS DE OURO" PERDIDAS NO DELTA DO RIO PARNAÍBA. A VERDADE SOBRE A EXPEDIÇÃO DE GABRIEL SOARES DE SOUSA. Como é sabido, a obra do cronista Gabriel Soares de Sousa, intitulada “Tratado Descriptivo do Brazil – Em 1587”, foi escrita na Europa, distante do Novo Mundo, entre os anos de 1584 e 1587, com o nítido objetivo de “justificar seus projetos” e “angariar as graças” de Dom Filipe II, rei de Espanha e Portugal (União Ibérica). Seu alvo principal eraoMinistroDomCristóvãodeMouraeTávora,amentebrilhantedafidalguiaportuguesa no contexto da União Ibérica. Frei Vicente do Salvador (História do Brasil), Francisco Adolfo de Varnhagen (História Geral do Brasil) e Jaime Cortesão (História do Brasil nos Velhos Mapas), são alguns dos grandes nomes da historiografia brasileira e portuguesa que tratam da vida do cronista Gabriel Soares de Sousa. Varnhagen informa que:

“Era Gabriel Soares nascido em Portugal, talvez na própria cidade de Lisboa, onde tinha duas irmãs. Em 1567, passava a Monomotapa, acompanhando a Francisco Barreto, quando, arribando à Bahia, preferiu ficar nesta cidade, onde foi medrando; chegando a fazer-se até senhor de um grande engenho de açúcar no rio Jequiriçá. Por morte de seu irmão João [Soares de Sousa], de

quem já tratamos, herdeiro do seu itinerário do descobrimento de várias minas nos sertões, resolveu passar à Europa, a requerer concessões e privilégios; mas houve tal dilação no despacho de seus requerimentos que, tendo partido da Bahia em fins de agosto de 1584, só depois de meados de dezembro de 1590 foi despachado. Nesse intervalo, talvez com objeto de recomendar-se, ofereceu no 1º de março de 1587, a D. Christovam de Moura, estadista influente no governo, o precioso escrito acerca do Brasil de que já demos notícia” [01, p. 381].

Foi neste período, de 1584 e 1587 que Gabriel Soares “redigiu o longo memorial, como ele próprio lhe chamou, que conservado inédito até o século XIX [1879], foi nele publicado sob títulos diferentes [Tratado Descriptivo do Brazil – Em 1587], o qual constitui uma verdadeira enciclopédia do Brasil à data da sua composição”.

Mas, quais foram os motivos que levaram Gabriel Soares a embarcar para o reino? Varnhagen informa que Gabriel Soares, herdou:

“um roteiro, que, conforme dissemos, uns sete anos antes, recebera, deixado por seu irmão João [Soares] de Sousa, o qual, depois de haver percorrido os sertões durante três anos, e de haver neles descoberto metais preciosos, e, segundo parece, até diamantes, ao falecer, quando regressava de tais descobrimentos, nas cabeceiras do rio Paraguassú [Bahia], lhe mandara entregar a sua derrota por um portador de confiança” [01].

Jaime Cortesão, prossegue:

“O autor de <<Tratado Descriptivo do Brazil>> , na posse do roteiro de seu irmão, João Soares de Sousa, que antes dele buscara alcançar, partindo da Bahia, o Médio S. Francisco, embarcou para a Espanha em 1584 e, durante sete anos [1584 a 1590] de pertinazes esforços junto a côrte de Filipe II, logrou alcançar, por fim, o apoio indispensável para a sua grande empresa em busca das minas de ouro” [02].

Gabriel Soares de Sousa sonhava com o “Lago Mítico”, a “Lagoa Dourada” ou ainda a “Lagoa Eupana”, localizada nas cabeceiras do Rio São Francisco, no coração do Brasil, de onde procediam diversos rios que se espalhavam em várias direções.

Em 1590, sob o comando de Adolf Montbille - (o corsário "Mambille" ou "Bombille" para os colonizadores portugueses) -, uma expedição francesa se estabeleceu em Ibiapaba (Viçosa-Ceará), onde os franceses fundaram uma feitoria e um forte, e comercializavam “pau brasil” com os índios que habitavam o núcleo comercial francês. Os franceses viveram em paz com os indígenas por 14 anos, mas em 1604 uma expedição portuguesa chefiada por Pero Coelho atacou a colônia e após uma batalha violenta, foçaram os franceses a se renderem.

“Alí perdera Jaques Riffault dois navios, em 1594; e gente sua estava entre os índios que resistiram aos portugueses em 1604. (...). Participava da expedição o mesmo Charles de Vaux, companheiro outrora de Riffault e por muitos meses morador na Ibiapaba com os índios inimigos dos portugueses”. Trecho do livro “História do Brasil, Tomo 2” de Pedro Calmon, ano de 1941, P. 33.

“Foram os franceses que tiraram os Tabajaras do isolamento cultural em que viviam e os colocaram em constante comunicação com o Maranhão e com a Europa. A costa de Camocim e a cuesta da Ibiapaba foram, por longo tempo, manancial de fonte de matéria prima e de produtos comerciais dos bretões e normandos. Foi de Dieppe que partiu Adolfo Mombille, com seus companheiros, com a missão de estabelecer na Ibiapaba um ponto de apoio para abastecer o comércio clandestino de especiarias, principalmente exemplares da flora e fauna brasileiras, bastante procuradas na feira portuária daquela cidade normanda”. Fonte: Livro "Estudos Ibiapabanos" deF. SADOC, 1979, p. 24).

Também chegando em 1590, e se estabelecendo em 1594, Riffault, Des Vaux, e Davi Migan... E fundam Miganville, mais junto à aldeia de Uçuaguaba, a primeira povoação ocupada continuamente desde então por europeus, na grande ilha do Maranhão.

É de Jacques Riffault a primeira ideia de ocupação do Maranhão. Em 1594, animado pelas boas relações que mantinhacomo chefeselvagemUirapive,seassociouaoutrosaventureiros,e,commeiossuficientes, recrutou e veio para o Brasil em três navios, aportando no Maranhão, longe do local do objetivo inicial, mas decidiu fixar-se ali como base de partida para outras incursões ao longo do litoral brasileiro.

Sua estada na região do Maranhão tinha começado por um acidente: já fazia viagens regulares à região havia alguns anos, e perdera ali um de seus navios e fora obrigado a deixar parte de sua tripulação. De acordo com o sítio “NAUFRÁGIOS NO BRASIL/MARANHÃO” consta que o naufrágio da nau de Jacques Riffault se deu em 1590.

Para Bueno (2012), Riffault - em 1593 -, retornando à França depois de ter inspecionado a então denominada ilha do Maranhão, conseguiu convencer um rico cavalheiro francês, Charles de Vaux, a investir seu dinheiro numa expedição colonizadora. Em 15 de março de 1594, Riffault e Des Vaux partiram para o Maranhão, com cerca de 150 colonos e soldados a bordo de três navios. Um naufrágio e uma série de outras dificuldades fizeram fracassar a empresa (p. 84).

O dia era 26 de julho, o ano 1594, o local, a Ilha de Sant’ Ana:

Sr. Redactor, amigo. – Começo esta n´um dia memorável para a província: o em que Jacques Rifault e Charles dês Vaux, primeiros franceses vindos ao Maranhão, chegaram à nossa ilha de Sant’ –Anna, nome que lhe pozerão, com seus quatro capuchinos, no dia desta santa.

Desse naufrágio, os tripulantes de dois navios franceses, dos três que formavam a frota de Jacques Riffault, ficaram perdidos na ilha de Santana, e conviveram pacificamente com os índios Tupinambás. Des Vaux foi um dos que ficaram com a gente de Usirapive – chefe tupi com quem Riffault tinha selado aliança. Aqui desembarcados, fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas”.

Charles des Vaux, um nobre de Touraine, aí permanece entre os selvagens; o estabelecimento de Miganville, em 1594, é fruto das ações de Jacques Riffalut, Charles Des Vaux, e de David Migan, antecessores de Daniel DeLa Touche e sua troupe, os Sancy e Rassilys.

Charles Des Vaux aprendeu a língua dos índios e prometeu trazer-lhes outros franceses para governá-los e defendê-los. De volta à França, Des Vaux conseguiu do rei Henrique IV que Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, o acompanhasse ao Maranhão, para verificar as maravilhas que lhe narrara, e prometeu-lhe a conquista da nova terra para a França.

A segunda invasão acontece no Maranhão, a partir de 1594. Depois de naufragar na costa maranhense, os aventureiros Jacques Riffault e Charles des Vaux estabelecem-se na região. Diante do lucro obtido com o escambo, conseguem o apoio do governo francês para a criação de uma colônia, a França Equinocial. Em 1612, uma expedição chefiada por Daniel de la Touche desembarca no Brasil centenas de colonos, constrói casas e igrejas e levanta o forte de São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão.

Os companheiros de Riffault, que ficam em terra tornam-se os “truchements“ - “tradutores” - quando da chegada dos capuchinhos:

Os tradutores são geralmente franceses que viveram muito tempo no Brasil, onde praticavam o comércio do pau-brasil e que se associaram à aventura colonial da França equinocial. Dois desses tradutores aparecem nos textos e são citados como sendo os interlocutores aos quais os índios se dirigiam, trata-se de Sieur des Vaux, francês de Touraine que se tornou líder de guerra no Brasil sob o apelido de Itajiba (Arm Wrestling) e de Migan, que chegou ainda criança ao Brasil e aí cresceu. Para os líderes indígenas, esses tradutores são, por sua vez, homens brancos, mas também homens que falam sua língua, que compartilham de seus costumes e que estreitaram alianças com eles (Castelnau-L’Estoile, 2013)

Os tradutores, os “truchements“, podiam ser em número suficiente para contatos de comércio, porém, para a fundação de uma colônia duradoura, os franceses levaram ao Brasil crianças que deveriam aprender a língua indígena nas aldeias:

O melhor “truchement“ da colônia foi David Migan de Dieppe (para o prenome ver Abbeville Historia, 32 r.), um marinheiro que vivia no Brasil desde o tempo da sua juventude (“qui dés son enfance avoit tousiours demeuré dans ce païs” Claude, Histoire,153 v.). Migan foi o seu nome verdadeiro, talvez um pouco alterado para se pronunciar como “mingau“, produto conhecido na colônia (“bouillie de farine”, ver Yves d’Évreux Suitte, 4 r./Denis 12). Ele foi chamado nos momentos de conflitos entre índios e europeus (Suitte 150 v./Denis 151 r. seguintes) e pôde restabelecer a autoridade dos franceses. Voltou com o Padre Claude à França, sendo provavelmente quem, com os índios, apresentou uma dança para Marguerite de Valois. Malherbe fala dessa dança em uma carta de 15.04.1613, citada em Leite de Faria (1961, p. 192-193). Essa dança é também ilustrada numa folha volante de que falaremos depois. Sabemos que Migan morreu na batalha entre portugueses e franceses, em 1615.

O segundo tipo social do “truchement” é representado por Charles des Vaux, que esteve no Brasil em 1594, com uma expedição do capitão Riffault, no Maranhão, da qual fala Abbeville no início do seu livro. Ele ficou ali e vivia como os índios, segundo os seus costumes “se façonnant tousiours aux moeurs e coustumes du païs” (Abbeville, Histoire, 13 r.) Voltou à França para convencer a corte de fundar uma colônia na região. De volta ao Brasil, foi capturado nas guerras com os portugueses e morreu na cadeia em Portugal. Foi um outro tipo de “truchement“: pode ter sido o segundo filho de uma família nobre sem esperança de herdar o domínio e queria fazer fortuna na América. (Obermeier , 2005).

Des Vaux é aprisionado por Feliciano Coelho, capitão mor da Paraíba – junto com 13 companheiros aqui deixados por Riffaul em 1594, quando do naufrágio na Ilha de Sant´Ana:

O Pará e o Rio Amazonas eram lugares bem conhecidos destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do Maranhão para fundar Belém (1615) levou consigo Des Vaux e Rabeau para auxiliarem na navegação e nos primeiros contatos com os índios de lá.

Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação europeia.

O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia) (NOBERTO DA SILVA, 2012). Para Feitosa, 1987:

[...] Além das referencias anotadas, encontram-se as denominações de ‘Jeviré’, ‘Ilha da Trindade’ e ‘Ilha das Vacas.

Raros são os trabalhos que citam o vocábulo ‘Jeviré’ como designativo da ilha ocupada pelos franceses em 1612. Descrevendo a cidade de São Luiz, SERRA (1941:155) assinala que a ilha onde foi construído o Forte de São Luiz, era denominada ‘Jeviré’ pelos índios, sendo cristianizada com o nome fidalgo de São Luiz.

No relato do desembarque da expedição de Daniel de La Touche, na então Ilha de Upaon-Açu, d’Abeville (1975:53) escreveu: ‘...chegamos a Javiré, na então Ilha do Maranhão, habitada por índios tupinambás’, Para MEIRELES (1982:41), o vocábulo ‘Jeviré’ designava o porto indígena de Upaon-Açu, não sendo mais que uma corruptela de Nazaré, na língua nativa’. Nazaré teria sido uma povoação construída na Ilha de Upaon-Açu por indivíduos salvos do naufrágio da expedição colonizadora de Aires da Cunha, ocorrida em 1535, em águas do Golfão Maranhense. A existência da povoação de Nazaré é muito questionada. InGEONORDESTE,anoiv, no1, 1987, p. 71/76

Interessante, que a escolha para edificar o forte, segundo Meireles (2012, p. 21): [...]seria escolhida justamente a Ilha da Trindade, também então conhecida como das Vacas.

Das Vacas, possivelmente, pela tradução deturpada e literal do gentílico pessoal de Charles dês Vaux; mas Varnhagen diz que a das Vacas não era a Upaon-açú, e sim a Upaon-Mirim, a de Sant’ Ana.

Gaspar e Licar (2012, p. 24) esclarecem:

A ilha, hoje de São Luis, ou do Maranhão, como também é chamada, e que os indígenas diziam Upaon-Açú, ilha grande, além dos nomes Trindade e das Vacas, teve os de Ilha do Ferro e de Todos-os-Santos, como pretendeu batizá-la Alexandre de Moura. Carlota Carvalho, em seu ‘O Sertão’ (2000), diz que, quando a ela chegou Jacques Riffault, em 1594, ela era conhecida como de Jeviré.

Gabriel Soares de Sousa voltou ao Brasil em 1591 com uma expedição de 360 colonos e quatro frades, a qual naufragou no litoral de Sergipe. O que restou da malograda expedição de Gabriel Soares, marchou para a Bahia, ainda com o fito de descobrir a “Lagoa Dourada” localizada nas cabeceiras do São Francisco. Embevecido pelo desejo de encontrar o “Lago Mítico” repleto de esmeraldas, Gabriel Soares de Sousa embrenhando-se pelos sertões da Bahia onde veio a falecer no final de 1591, perto das cabeceiras do rio Paraguaçu, sem ter conseguido, porém, atingir os seus objetivos.

A obra de Gabriel Soares de Sousa, "Tratado Descritivo do Brazil de 1587", serviu para criar no Piauí, o mito da primazia da colonização feita a partir do litoral, e a lenda de várias "toneladas de ouro" perdidas por um náufrago chamado Nicolau de Resende no Delta do Parnaíba... coisa que Gabriel Soares de Sousa não relatou na sua obra. Fontes: Livros [01] “História Geral do Brasil – Tomo I” de Francisco Adolfo de Varnhagen e [02] “História do Brasil nos Velhos Mapas – Tomos I, II e III” de Jaime Cortesão.

Estando os franceses aqui já estabelecidos, o Imperador Felipe II, de Espanha, manda que se busquem notícias dessa ocupação de ‘suas terras’, estabelecidas pelo ‘testamento de Adão’, o Tratado de Tordesilhas... cumpre esclarecer que as terras do chamado ‘novo mundo’ foram divididas entre Espanha e Portugal; com a união das duas coroas ibéricas – 1580/1640 –essetratadodeixou detersentido.Foram os portugueses, agorasubalternos à coroa espanhola, encarregados de retomar essas terras, daqueles que chamavam de corsários, de invasores: franceses, ingleses, holandeses...

A Ibiapaba era o principal obstáculo para se chegar à essas terras. Não só devido aos aspectos geográficos –de transpor a Serra – como a existência de índios hostis, que, aliados aos franceses, eram inimigos dos Portugues. E isso devido às atrocidades que estes, os portugueses, cometiam contra as nações indígenas que encontravam. Mesmo firmando amizades, as aprisionavam e as tornavam escravas. Traindo-as...

Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste (atual Camocim) – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. No mês de agosto de 1597, uma esquadra francesa composta por treze naus zarpou do rio Potengi para atacar a fortaleza de Cabedelo, em Filipéia de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa; sabe-se que a alma da ofensiva é Riffault, que frei Vicente do Salvador chama Rifot e os portugueses Rifoles e Refoles. Henrique IV, de França, concede a René-Marie de Mont-Barrot, Carta Patente datada de 8 de maio de 1602, autorizando-o a arregimentar 400 homens e fundar uma colônia no norte do Brasil; se associa a Daniel de La Touche, transferindo-lhe a empreitada. O Senhor de la Ravardière, com o navegador Jean Mocquet, parte a 12 de janeiro de 1604 com dois navios, chegando as costas da Guiana (Oiapoque) a 8 de abril, retornando àquele porto a 15 de agosto.

Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard.

Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil (PROVENÇAL, 2012).

Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava:

"[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem".

Em 1604, Pero Coelho de Souza, passou rumo a Ibiapaba e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contra os franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim). Barreto (1985) informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92).

F. SADOC, 1979, p. 24). Por João Bosco Gaspar

O interior do Maranhão era bem conhecido pelos franceses. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú, Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a Europa. Nosoutrosrecantos, ahistóriafaz mençãoa elesno constantecomércio com os potiguaras, noportodo Rifoles – na margem direita do Rio Potengi; nos dois ataques à Fortaleza do Cabedelo, na Paraíba, realizadas em 1591 e 1597. Nesta última, Migan foi gravemente ferido, mas sobreviveu.

Antonio Noberto apresenta-nos o quadro ‘O Potengi e o Rifoles”, quadro idealizado por ele, após pesquisa, e pintado em espátula pelo grande artista plástico Rogério Martins. Retrata a região da foz do rio Potengi por volta de 1594, onde alguns anos depois foi fundada Natal, a capital do Rio Grande do Norte. No detalhe do canto inferior direito, observa-se o Rifoles, ancoradouro onde atracavam as naus do capitão francês Jacques Riffault, de onde partiu para começar a colonização do Maranhão

Essa estância pertenceu a Jacques Riffault mais conhecido por Refoles. Foi o mesmo Refoles quem negociou antes da descoberta do Brasil (sic) com os índios potiguares espelhos, tintas e outros objetos em troca de paubrasil, de modo especial as existentes na margem direita do rio Potengí. Essa foto mostra o local onde ficava o corsário francês a negociar com os silvícolas. Longe da colonização de Natal, Jacques Riffault negociou toda sorte de suprimentos e até as mulheres índias que partiram para a França Foram eles que fundaram o núcleo urbano de Viçosa do Ceará, sendo que a cidade ainda hoje conserva os topônimos do legado francês. Barreto (2006; 2012), ao narrar a história de Viçosa do Ceará, diz que, por volta de 1590, franceses provenientes do Maranhão estabeleceram-se na Grande Serra, firmando suas bases junto às principais lideranças Tabajaras. Esses franceses, em número de 16 milicianos, tinham no comando o seu compatriota de nome Adolf Montbille (Adolphe de Montville). Lideravam os nativos o índio Jurupariaçu e o irmão de nome Irapuã, também conhecido por Mel Redondo, se bem que o primeiro tivesse suas possessões no reduto de Biapina ou Ibiapina (p. 12).

Atraídos por notícias de existência de ouro, o reduto transformou-se em verdadeira cidade, com cerca de 12 mil indivíduos, incluindo rabinos, calvinistas e católicos se confundindo em suas batalhas de pregação (p. 14). Por 14 anos os franceses estiveram ali, quando chega Pero Coelho, em janeiro de 1604, acompanhado de cerca de cinco mil indivíduos, entre militares, índios validos, velhos, mulheres e crianças. Ao cabo de seis meses os lusos triunfam; os franceses, aprisionados e algemados, são conduzidos a Pernambuco.

A região fora descoberta pelos espanhóis, na qual haviam tentado algumas vezes se estabelecer, especialmente em Caiena, onde se situavam as terras compreendidas entre o Vicente Pinzón e o Amazonas, reivindicadas pelos portugueses e ocupadas, nessa data, em vários pontos, por ingleses e holandeses. Mas foi encarregado, logo em seguida, de verificar no Maranhão dos portugueses o que havia de verdadeiro nos relatos de Charles des Vaux a propósito das riquezas do país e das excelentes intenções dos índios, que, dizia Des Vaux, queriam “receber o Cristianismo” e pediam ao rei da França que lhes “enviasse alguma pessoa de qualidade para defendê-los de todos os inimigos”.

Assim, no ano de 1603 começa a conquista do Maciço da Uruburetama/Serra da Lolaia (antiga Serra dos Corvos), nos municípios de Irauçuba e Uruburetama... A antiga aldeia de Diabo-Grande (Juripariguaçu) é conquistada por Pero Coelho de Sousa, em 1604.

"de descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer pazes aos gentios" e fundar "povoação e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem, procurando a amizade dos índios, oferecendo-lhes paz e a lei evangélica" (Regimento da expedição. apud STUDART FILHO, 1937:8)2.Nesse contexto, em 1604, atacaram e destruíram esta posição francesa, derrotando os Tabajaras, seus aliados (BARRETTO, 1958:84).

ANO DE 1604 - O CACIQUE MEL REDONDO E O FRANCÊS ADOLF DE MOMBILLE, LUTAM CONTRA PERO COELHO DE SOUSA E MARTIM SOARES MORENO, NOS ALCANTIS DA IBIAPABA.

A aldeia de Mel Redondo (Irapuã), foi a primeira das 70 aldeias da Ibiapaba, conquistadas pela Bandeira de Pero Coelho de Sousa no ano de 1604. Pero Coelho de Sousa recebeu a incumbência do governador Geral do Brasil, Diogo Botelho, para "conhecer e conquistar as províncias de Jaguaribe, Siará e Mel Redondo".

CAMOCIM E DIEPPE – TABAJARAS E FRANCESES:

“Foram os franceses que tiraram os Tabajaras do isolamento cultural em que viviam e os colocaram em constante comunicação com o Maranhão e com a Europa. A costa de Camocim e a cuesta da Ibiapaba foram, por longo tempo, manancial de fonte de matéria prima e de produtos comerciais dos bretões e normandos. Foi de Dieppe que partiu Adolfo Mombille, com seus companheiros, com a missão de estabelecer na Ibiapaba um ponto de apoio para abastecer o comércio clandestino de especiarias, principalmente exemplares da flora e fauna brasileiras,

2 STUDART FILHO, Carlos. Notas para a História das Fortificações no Ceará (Separata do Boletim do Museu Histórico do Ceará). Fortaleza: Ramos & Pouchain, 1937

bastante procuradas na feira portuária daquela cidade normanda”. Fonte: Livro "Estudos Ibiapabanos" de F. SADOC, 1979, p. 24). Por João Bosco Gaspar

Ante a desistência de Mont-Barrot, o monarca francês, por Carta Patente de 6 de julho de 1605 nomeia La Ravardière seu Lugar-tenente e vice-almirante nas costas do Brasil. A primeira concessão a Daniel de La Touche, data do mês de julho:

“Luis, a todos os que virem a presente. Saúde. O defunto rei Henrique, o Grande, nosso muito honrado senhor e pai [...] tendo por cartas patentes de julho de 1605 constituído e estabelecido o Sr. De Ravardiére de La Touche seu lugar-tenente na América, desde o rio do Amazonas até a ilha da Trindade [...]

Pero Coelho de Souza, português de nobre família, filho dos Açores, veio para as terras do Ceará Grande em 1603 e, não resistindo à tentação de subir à Serra da Ibiapaba, conhecida como a terra da Promissão, veio ter à Ibiapina, passando pela Aldeia de Irapuan (provavelmente Viçosa). Pero Coelho de Souza liderou a expedição na Ibiapaba para expulsar os franceses e conquistar os indígenas, realizando um massacre contra os Tabajaras e trazendo inúmeras doenças. Após isso, o governo português tenta fundar uma aldeia na serra, enviando dois jesuítas sob o comando do padre Francisco Pinto, que se estabelece na aldeia de Juripariguaçu, um cacique Tabajara (atual Ibiapina).

Partindo de Pernambuco os padres Luiz Figueira e Francisco Pinto foram para a Serra da Ibiapaba onde tiveram o primeiro contato com Irapuan de onde seguiram para a Aldeia de Diabo Grande, tendo-lhes servido de guia Diabo Ligeiro.

Os jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira cruzaram essas serranias no ano de 1607, em busca da longínqua, no contexto da Missão ao Rio do Maranhão, em 1608 estiveram na aldeia de Diabo Grande, onde edificaram uma igreja de palhas de babaçu e ergueram um grande cruzeiro. Os jesuítas cruzaram essas serranias no ano de 1607, em busca da longínqua Ibiapaba

Em 1607, chega ao local a Companhia de Jesus, chefiados por Francisco Pinto e Luís Figueira. Para Antonio Bezerra (1918), em ALGUMAS ORIGENS DO CEARÁ, Edição fac-similar, Fundação Waldemar Alcantara, 2009:

1607 20 de janeiro. Na passagem Pinto e Figueira fizeram amizade com Amanaí, e com auxílio dêste fundáram as aldeias de Caucaia, Porangaba e Paupina. Ephem. do Ceará, pag. 6. Há engano. Os dois padres Francisco Pinto e Luis Figueira, quando passáram pelo Ceará, apenas comunicáram e instruiram os Índios potiguares, que tinham ficado na expedição de Pedro Coelho, e os que já eram ali moradores; pois que, batidos no Rio- Grande, se haviam retirado para o Rio Jaguaribe e Rio Pirangí, pouco depois Siará. Podiam ter fundado aldeias, mas nunca podiam elas ter aquelas denomi- nações. Não há escritor que confirme essa asserção, afora Candido Mendes. O ilustre senador baseou-se no livro do padre José de Moraes História da Companhia de Jesus, na extinta província do Pará e Maranhão, livro quase sem valor pelo que se lê no Post Facio da História das lutas dos Holandeses.

[...]

Diogo de Campos diz á pág. 164 que Martim Suares sendo despachado Capitão do Ceará em 1611, fez vir Jacauna a alojar-se meia legua do forte com sua aldeia. Meia légua distante do forte do Ceará (barra do rio dêsse nome), não póde ser o local de Caucaia, nem de Porangaba (3) e nem de Paupina. À Aldeia de Jacauna não tinha nome, e quando o; sargento-mór descreve o desembarque no Iguape dos indios que faziam parte da força destinada á conquista do Maranhão, no dia 7 de setembro de 1613, diz apenas que caminháram para as Aldeias do Ceará; e é de simples intuição, que se já a êsse tempo existissem as Aldeias de Paupina e Porangaba, o autor nelas ou pelo menos numa teria falado; pois que os índios no estado lastimoso em que vinham, naturalmente por aí haviam de descansar antes de se encaminharem ao presídio, que distava dez leguas, e era feita a viagem. por terra do Iguape à barra do rio Ceará, passando êles sem dúvida pelo local que depois devia ser ocupado pela Aldeia Paupina.

A Missão Jesuítica foi o ponto de partida para a fundação da futura vila de Ibiapina, que apesar das lutas constantes, extinguindo-se e renascendo, consolidou-se o domínio e a pacificação dos nativos, resultando na definitiva edificação do arruado de 1820.

na aldeia de Diabo Grande, edificaram uma igreja de palhas de babaçu e ergueram um grande cruzeiro.

“Da missão que fizeram o Padre Francisco Pinto e o Padre Luís Figueira ao rio de Maranhão. Corre de Pernambuco para a parte do norte, e do rio do Maranhão uma grande costa de mar do Brasil pertencente à conquista desta coroa perto de duzentas léguas, toda povoada de infinitos índios bárbaros e selvagens, como são todos os do Brasil, entre os quais até agora principalmente os que estão mais afastados de Pernambuco carecem da luz do sagrado Evangelho (...).

Partiram, pois, de Pernambuco por ordem do padre provincial e com licença e ajuda do governador Diogo Botelho em janeiro de 1607 (...).

Chegaram a uma serra chamada Ibiapaba, donde até o Maranhão havia ainda cem léguas, mas estas todas daqui por diante povoadas de infinitos bárbaros tapuias, e como era necessário passar pelo meio deles e isto não havia de ser com força de armas, começaram a tratar de pazes, as quais bem se temeram que fossem de pouco efeito pela pouca constância destes bárbaros, que as não fazem mais que por aquele ato, mas acabado ele, matam quem podem (...)”. Trecho do livro

“Relação anual das coisas que fizeram os padres da Companhia de Jesus em suas missões” Tomo II, publicado em Coimbra, Portugal, no ano de 1931, p. 425-426. Por João Bosco Gaspar

A Ibiapaba entrou na rota dos missionários por três motivos: primeiro, pelo fato de ser habitada por “gente amiga”; segundo, para averiguar se havia franceses na região, e terceiro, para suprir com mantimentos os missionários.

A “Missio Ad Fluvium Maranhão” via Ibiapaba, foi realizada mediante autorização do padre Claudio Acquaviva, Superior Geral da Companhia de Jesus. Essa jornada missionária é narrada em detalhes pelo padre Luís Figueira no documento intitulado “Relação do Maranhão".

Para Rubem Almeida (1923), esta se constitui a terceira etapa da conquista do Maranhão: a segunda foi a das tentativas malogradas, ocorridas entre 1539 e 1594:

Mais afortunado, porém, foi o Frances Riffault, a quem as próprias tespestades (sic)– diz-se – aos portugueses tão inimigas, vieram atirar ao littoral onde dominava a forte nação dos Tupinambás, iniciando assim, a terceira etapa – a do Maranhão preza que franceses, holandezes e verdadeiros donos vão disputar...

É dai, parece-nos razoável affirmar, que verdadeiramente começamos a ter historia. A colonização é obra, ora de leigos, fidalgos alguns como Ravaediére, piratas outros, como de Vaux, ora de missionários que se entregam à catechese.

Encontramos em “A Pacotilha”, de 25 de novembro de 1927, de Fulgêncio Pinto o que segue – Um conto de Natal:

Era o ano de 1609, em Saint Malo, ilha de França, cidade dos corsários. Numa taberna reuniamse muitos homens a gritar, a falar alto

[...] De repente surge um cavalheiro de olhos azues, porte esbelto e fidalgo, vestindo um gibão escarlate, trazendo sob a cinta de couro de serpente, um punhal de cabo de prata.

Ele chegava de longe, de outras terras, de lugares desconhecidos.

- De onde vem?

- Quem será ele?

- Para onde irá?

- Parece-me que o conheço!...

- Creio que fazia parte da tripulação de Jacques Riffault.

- Não estás enganado?

- Por Deus, que não. Não me são estranhos, este rosto e esta voz.

Eram estes os commentarios em torno da figura simpatica daquele homem que ali entrara, pedira um copo de cidra, e o esquecera em cima da mesa, entretendo-se a examinar um velho mapa.

Ele havia chegado em companhia de alguns indios, dois dias antes numa das naus que ali estavam ancoradas no porto.

Ali viam-se homens de todos os aspectos, de todas as raças, de todas as nacionalidades, de todas as cores, desde os mais ferozes até os mais pacíficos.

Misturavam-se as línguas; ora ouviam dialetos sonoros, ora idiomas duros e quasi imperceptíveis.

A fumaça dos cigarros diluindo-se no éter deitava uma iaca enjoativa, acre, misturando-se com o cheiro de alcatrão e da maresia.

Aquela velha casa onde se reunia tanta gente, era a taberna cuja porta encimava garbosamente este letreiro ’Au rendez vous dês corsaires’ sobre uma grossa chapa de ferro.

Em frente desdobrava-se uma paizagem marítima, banhada pela margem do oceano aformoseando o horizonte, quer nas manhãs magníficas quer nas tardes silenciosas, quando o sol com seus aparatos de riquezas sumiam-se no mundo do sonho e do nada.

Quatro mesas enormes estavam cercadas de bancos de carvalho.

Apesar da grita o homem que entrara ha pouco, esquecia-se da cidra e continuava a estudar o mapa com muita atenção.

- Diabo! Quem será aquele cavalheiro? Gritou um corsário.

- Não o incomodeis, berrou Tricon, pronto para fazer calar com um murro, o curioso.

A’ porta da taberna assomaram mais dois cavalheiros. Um era François Dupré, filho único de um rico armador de Saint Malo, que havia conquistado nome e fortuna no Corso; o outro Raul Renaud, antigo professor em Paris, na Universidade de Sorbona, conhecido como sábio em sciencias naturaes.

Entram e sem dirigir palavras aos demais que ali se embebedavam, tomam assento justamente, diante do desconhecido que lia o mapa.

- Carlos Des Vaux!... Vós aqui!

Já vos tínhamos como morto!... gritou admirado Dupré.

O homem, espantado ouvia-lo o seu nome levantou a vista, e reconhecendo no jovem, o pequeno Dupré, o garoto que deixara ainda imberbe quanto partira para as suas correrias pelo oceano, poz-se de pé e estendeu-lhe as mãos entusiastamente.

- Bravo Dupré! Estaes um perfeito homem.

- Onde andaveis vós?

- Cruzando os mares – responde o pirata.

- O que tanto vos prende a esse papel

- Um sonho, pequeno.

- De amor?

- Não, de conquista.

- Que papel é esse Des Vaux?, Um mapa?

- Sim, um mapa.

- E que sonho de conquista será esse?

Dupré apresentou-lhe o seu velho amigo e mestre Raul Renaud.

-Ouçam-me o grande sonho – pediu Des Vaux.

Contentes achegaram os bancos de carvalho, e debruçados da mesa, quedaram-se sobre o mapa que Carlos Des Vaux tinha entre as mãos, apontando-lhes ali, num belo discurso, os encantos de uma terra prodigiosa e moça, para la do oceano, em que ele havia habitado por muito tempo entre os índios.

Quinze anos eram decorridos, desde o naufrágio de Jacques Riffault num dos baixios ao norte do Brasil, nas proximidades da costa do Maranhão.

Quinze anos aquele homem de olhos azues, cor bronzeada, pele queimada pelo sol caustigante dos trópicos, que ali estava a conversar animadamente, errara pelas matas da formosa terra moça pelos litoraes, pelos ínvios sertões, e depois de haver alcançado victoria brilhantes ao lado dos índios nos conflitos de Hibiapaba, resolvera fixar residência no ponto mais pitoresco numa ilha arborizada, seguro da amizade dos Tupinambás, tornando-se o homem de confiança de toda a tribo, que lhe admirava a bravura e a bondade do coração.

Era ali a formosa ilha dos Tupinambás, ilha do sol, vivendo na exuberância da sua luz, tecendo magníficos cortinados nas franças dos arvoredos selvagens, cheia de mistérios e explendores, flora maravilhosa, vales rumorosos, que ao revelhar-lhes os encantos, o pirata, sentia uma certa transfiguração de espirito, e o cérebro embriagava-se de sonhos magníficos.

Era ali que Japiassú grande amigo e aliado de Des Vaux, era chefe, principal, irradiando o seu alto poder, de Juniparan, a aldeia mais notal de quantas existiam na ilha.

Terminada a narração ele o pirata explicou aos amigos que voltava à pátria afim de oferecer à sua magestade cristianíssima Henrique IV, rei de França e senhor de Navarra, não só a posse do território fertilíssimo como também a amizade e obediência dos Tupinambas.

Os três homens esquecidos do tudo quanto os cercava, confabularam em armar uma expedição, em demanda da terra previlegiada, expedição que mais tarde foi levada a efeito auxiliada pelo conde de Sulley, então governador da Bastilha, conselheiro de sua magestade Henrique IV, sob o comando do senhor de La Ravardiere, que foi ali fundar uma cidade em honra a Luis XIII, na regência de Maria d Medicis.

[...] onde fica essa formosa terra tão linda, tão moça de Carlos dês Vaux.

[...] essa formosa terra moça e previlegiada é S. Luis é o Maranhão [...]

- É Maranhão!...

- E quem era Carlos Des Vaux?

Era um Frances, amigo do Maranhão que sacrificara tudo, para fundar aqui a França Equinocial!

Ao colocar o que chama de "intérpretes-embaixadores" como protagonistas da história da França Equinocial, a antropóloga Perrone-Moisés (2013) lança luz sobre estratégias fundamentais de contato e de conquista ainda pouco visíveis para a historiografia oficial:

Depois de serem expulsos pelos portugueses da Guanabara e da costa nordeste do Brasil, os franceses se voltaram para a região do Maranhão. Embora não atingida pela colonização portuguesa, ela já havia sido brevemente explorada por Aires da Cunha, Diego Nunes e Luís de Mello, a serviço do rei de Portugal. (Faleiros, 2013, Beatriz Perrone-Moisés (2013)

Des Vaux é quem negocia o local onde seria instalado o forte e o convento dos religiosos, nas colinas desocupadas, onde não se encontravam instalados os primitivos habitantes:

[...] O padre Abbeville enumera no seu livro 27 aldeias dos Tupinambás, explica a situação geográfica de todas elas, dá todos os nomes, conta o número de habitantes de cada uma; mas o livro não contem qualquer noticia a respeito da situação da cidade de S. Luis. Em vão procuramos alguma indicação a respeito das colinas onde foi construído o forte e onde estavam as habitações dos antigos moradores. Ele narra que, na sua chegada, o francês Dês Vaux tratou longamente

com o “príncipe” da ilha e com os outros principais, para lhe cederem eles um pequeno terreno, onde pudessem fazer o forte, e entregassem a metade da colina de Santo Antonio, para nela fundar um estabelecimento religioso. Os chefes dos índios cederam esses dois pontos, que não estavam ocupados. Mas isso quer dizer, que as outras partes do território, onde está hoje S. Luis, eram ocupadas pelos antigos habitantes. (PINTO, 1927).

Ludwig Schwennhagen (1924) estranha a ‘censura’ ao livro do primeiro cronista do Maranhão, com a supressão de três capítulos, justamente os que falam da ‘cidade’ de São Luís, já que aquele sacerdote descreve todas as aldeias instaladas na Ilha e adjacências

Ao voltar, La Ravardière desistiu de sua concessão na Guiana e “solicitava outras Cartas patentes para fundar uma colônia ao sul da linha equinocial. De LaTouche certifica-se de que as informações sobre a terra eram verdadeiras e pede licença ao rei para explorá-la. Mas com o assassinato de Henrique IV, sucede-lhe ao trono Luis XIII, ainda menor, governando em seu nome Maria de Medicis. É esta quem concede licença à Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, de formar uma companhia para explorar as "terras" de Riffault: “[...] e havendo ele feito duas viagens às Índias para descobrir as enseadas e rios próprios para o desembarque e estabelecimento de colônias, no que seria bem sucedido, pois apenas chegou nesse país soube predispor os habitantes das ilhas do Maranhão e terra firme, os tupinambás e tabajaras, e outros, a procurarem nossa proteção e sujeitarem-se à nossa autoridade, tanto por seu generoso e prudente procedimento [...] de lhe fazer expedir nossas cartas patentes de outubro de 1610 para regressar, como Chefe, ao dito país, continuar seus progressos, como teria feito e aí demorar-se-ia dois anos e meio com os portugueses.”, em paz e 18 meses tanto em guerra como em tréguas”.

FONTE: ANTONIO NOBERTO

FONTE: ANTONIO NOBERTO

As cartas lhes foram concedidas em 1º de outubro de 1610, com a condição expressa de ocupar apenas cinquenta léguas de cada lado do primeiro forte que construísse. Foi então que, extrapolando seus poderes, empreendeu a “grande tentativa frustrada de uma França equinocial” (C. da Silva, § 34). A companhia que devia arcar com as despesas da expedição só pôde ser organizada em 1612, com o apoio da família Razilli. Numerosos cavaleiros alistaram-se. La Ravardière, François de Razilli e Nicolas de Harlay de Sancy foram nomeados “tenentes-generais do rei nas Índias Ocidentais e nas terras do Brasil” pela regente Maria de Médicis, que lhes concedeu ao mesmo tempo estandartes e divisa.

De acordo com Moreira (1981) essa concessão foi uma farsa dos franceses, pois na verdade eles não tinham credencial nenhuma e tanto é verdade, que Maria de Médicis, que reinava em nome de seu filho, ainda menor, Luís XIII, estava há muito tempo negociando o casamento dele com a princesa Ana d’Austria, filha de Felipe III, que era portador das coroas Espanha e Portugal. Nutria esse desejo de muito tempo e por isso, não iria autorizar um aventureiro e conhecido pirata Daniel Ravardiere, inimigo da sua religião, a invadir terras que eram da coroa portuguesa, desde a assinatura do Tratado de Tordesilhas, homologado pelo Papa Alexandre VI, há 118 anos, isto é, antes da descoberta do Brasil.

O Historiador Euges Lima registra a passagem de Holandeses, em 1610. As incursões holandesas ao norte do Brasil eram frequentemente financiadas por homens ricos e politicamente influentes, como Jan de Moor, um burgomestre1 de Flessingue que capitaneava uma companhia destinada a explorar a colonização do Amazonas. Flessingue ou Flissinga (em neerlandês: Vlissingen) é um município e uma cidade localizada

no sudoeste dos Países Baixos. A cidade está localizada na ilha de Walcheren entre o rio Escalda e o Mar do Norte, onde teve um grande porto que facilitava o vai-vem de produtos para a Coroa Neerlandesa por séculos. O burgomestre de Flassinge tinha uma feitoria por aqui:

A 24 de julho de 1612, Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy largam âncora na ilha de Sant' Ana e a 6 de agosto a esquadra entra no golfo, indo fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), onde se localizavam as feitorias de Du Manoir e do Capito Guerard. Os franceses atravessam o braço de mar, indosefixaremumpromontórioonde,a12deagosto,umasexta-feira,diaconsagrado aSantaClara, celebram o santo ofício da missa.

A 8 de setembro, uma quarta-feira, dia consagrado à Santíssima e Imaculada Virgem Maria, é realizada a solenidade de fundação da Colônia.

Du Manoir, Riffault, dês Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos.

O historiador Antonio Noberto continua:

“Segundo, tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba / Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. Terceiro, o porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia)”.

Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville.

Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627 ou 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola:

“[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornou-se morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011).

Para Noberto, é quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas.

“[...]Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan” (NOBERTO SILVA, 2011).

Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia.

"Livro que dá razão do Estado do Brasil -1612" escrito (em 1612) por quem conheceu "in loco" a conquista das terras do Maranhão... Diogo de Campos Moreno. Diogo de Campos Moreno era tio de Martim Soares Moreno, "fundador do Ceará".

ÍNDIOS DO MARANHÃO E DA SERRA DA IBIAPABA SÃO ENVIADOS À FRANÇA - ANO DE 1612. No contexto da França Equinocial (1612-1615) os padres capuchinhos Claude d'Abbeville e Yves d'Évreux foram enviados ao Maranhão pelo governo do seu país. No retorno dos capuchinos ao Velho Mundo, por deliberação dos próprios índios, seis membros das nações tupinambá e tabajara foram enviados a França para “prestar homenagem a Sua Majestade”. Diz o padre d'Abbeville, que:

“Já pronta a nossa equipagem e em vésperas de embarcarmos, deliberaram mandar conosco seis membros de sua nação para prestarem homenagem e oferecerem seus serviços ao cristianíssimo Rei de França, e solicitarem proteção para os súditos, da nova França Equinocial. (...) Tem o mais velho trinta e oito anos pouco mais ou menos. E natural da grande montanha de Ibiapaba. Seu pai, o principal de Caietê, chamava-se Uará-uaçu, nome de peixe, e sua mãe Uirá-iará, pássaro que é apanhado. Antes de ser batizado, usava o nome de ltapucu, que quer dizer barra de ferro, ou de Jtapuiçã, que significa âncora de navio; tem, porém, mais de dez outros nomes comemorativos das batalhas travadas contra seus inimigos e nas quais se comportou valentemente. Em seu andar e suas palavras revela-se o soldado e mostra-se a firmeza de seu espírito. Compraz-se grandemente em fazer discursos e não se cansa jamais de falar a respeito de seus feitos guerreiros e de nossa fé. Aprecia especialmente tudo o que diz respeito à honra de Deus e ao valor de um coração magnânimo. Ao aproximar-se da Câmara de Suas Majestades para lhes prestar homenagem, advertiu-lhe um dos guias que atentasse para o que ia dizer. Respondeu-lhe imediatamente que descendia de excelente família e por isso dispensava a advertência; que sabia muito bem o que tinha a dizer e não precisava de instruções. Doutra feita, antes do batismo, estando com os nossos, próximo ao altar, para ouvir a prédiea que o Reverendo Padre Serafim de Chateau Thierry fazia por ocasião dos funerais do primeiro de seus companheiros, contemplavamno inúmeros senhores fidalgos. Chamou então um dos intérpretes e disse: “Dize a êsses senhores que Deus lhes fala pela boca do profeta que está no púlpito; portanto, devem olhar para êle e não para nós”. Censura seus companheiros quando os vê menosprezar o que deve saber um bom cristão e assim faz apenas porque deseja que sejam úteis ao seu país. Nós o considerávamos um dos nossos melhores instrumentos na conversão de seu semelhante. Seu juízo firme, seus discursos piedosos, sua palavra feliz, seu zêlo devoto servirão grandemente a Deus se lhe dispensar sua graça. Será mais um centurião convertido que, juntando o saber à coragem e a piedade à palavra, edificará, dentro em pouco, como o esperamos, uma bela Igreja a Deus, não com pedras, mas com almas convertidas". Fonte: “História da missão dos padres capuchinhos na ilha de Maranhão e terras circunvizinhas” livro publicado na França em 1614 Claude d'Abbeville. Por João Bosco Gaspar.

O BATISMO DE ITAPUCU, ÍNDIO DA IBIAPABA, EM PARIS, FRANÇA, NO ANO DE 1613.

“(...) Batizaram-se os índios [da Ibiapaba e do Maranhão] na Igreja do Convento dos Padres Capuchinhos, no bairro de Saint-Honoré em Paris. Estava a Igreja ornamentada com cortinados de sêda bordados a ouro, nos quais se estampava a vida do glorioso precursor de Nosso Senhor Jesus Cristo. O altar-mor estava ricamente preparado e o santuário ornado de sêda. Do lado da nave foi levantado um tablado para sustentar as pias batismais, cobertas com uma grande e bela bacia de prata, ornada de esmalte dourado, por cima da qual havia uma colcha de tafetá branco achamalotado, tão grande que chegava até o chão. Mais ou menos às quatro horas da tarde compareceu a Rainha, logo seguida pelo Rei. O sr. Bispo de Paris, que bondosamente quis ser o celebrante, revestiu então suas vestes pontificais. Apresentaram-se imediatamente os três índios restantes, já preparados e catequizados para a cerimônia. Traziam vestes de tafetá branco, abertas e enfeitadas com botões de sêda, de cima até em baixo na frente, e de cima até a cintura atrás, para com maior facilidade lhe serem aplicados os santos óleos. Principiou a interrogá-los acerca do batismo o sr. Bispo de Paris, servindo eu de intérprete para transmitir aos índios as perguntas a que respondiam em sua língua. Em seguida rezaram o Padre-Nosso a Ave-Maria e o Credo também em sua língua. Não é possível dizer, nem sequer imaginar que terão feito os anjos tutelares desde séculos para a conversão dêsses pagãos e infiéis, principalmente por ter Deus lhes ordenado que amassem aquêles que tinham sob sua proteção. Com que alegria não terão presenciado a conversão, não de um pecador apenas, mas de uma infinidade de almas? E, além do mais, de

almas que não eram somente de pecadores, mas sim de bárbaros, de entes cruéis e inumanos? Entrementes, enquanto ocorriam êsses acontecimentos, não cessavam os coros de músicos de Sua Majestade de louvar a Deus, com harmonia incomparável de vozes e instrumentos, pela santa ação. Mas havia ainda outra harmonia não menos agradável ao criador. Essa harmonia de louvores íntimos dessas pequenas almas recém-regeneradas e lavadas no sangue precioso do cordeiro imaculado; essa harmonia dos votos que faziam, em face da Igreja. Tudo terminado, Itapucu, o mais velho dos três, agradeceu humildemente a Suas Majestades a honra e os benefícios recebidos ao serem todos os três feitos filhos de Deus, e pediu respeitosamente que prodigalizassem os mesmos favores aos seus compatriotas. Respondeu-lhe a Rainha que orassem a Deus pelo Rei seu filho e por ela, pois dêles, índios, ela cuidaria com carinho e tôda a proteção possível. Em seguida ajoelharam-se Suas Majestades. Entoou-se o Te Deum Laudamus em ação de graças, e o sr. Bispo de Paris deu sua bênção (...)”.

Fonte: Trecho do Livro “História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas” do padre Claude d'Abbeville, publicado no ano de 1614, na França.

Os franceses buscaram explorar a região. Uma expedição francesa foi enviada ao Rio Mearim em 1612 ou 1613, mas a maior parte das informações dessa viagem foram perdidas numa lacuna entre os capítulos III e VI na obra de Évreux. Uma segunda expedição explorou uma área de terra firme, distante 40 ou 50 léguas do Mearim, onde os franceses encontraram terra fértil e adequada ao cultivo de cana-de-açúcar. Esta região compreende uma "(...) vasta e comprida planície de junco e caniços, atravessando água pela cintura (...)" e "(...) A terra é cortada por muitos riachos (...)", tratando-se possivelmente da Região dos Lagos da Baixada Maranhense. Um terceiro grupo, liderado por Louis de Pézieux, explorou o Uarpi (possivelmente o Rio Gurupi), com os objetivos de procurar minas de ouro e prata e fazer contato com comunidades indígenas da região. Monsieur du Prat explorou o Rio Grajaú, onde encontrou uma nação de tapuias

Em 2 de julho de 1613, Yves d'Evreux relata que, quando de uma missa celebrada em Upaon-Açú, quando a água benta foi aspergida, algumas gotas atingiram o chefe índio de Tapuitapera, a quem o frei d'Abbeville, na visita feita àquela cidade, em companhia de Rassily, Des Vaux, Arséne de Paris induzira a vir a São Luís. Tal fato penetrou tão profundamente na alma do chefe indígena, que este percebeu ser necessário converter-se ao cristianismo para salvar-se, tendo se batizado com o nome de Marinho Francisco

Em8dejulhode1613, DanieldelaTouchepartiu paraumaexpediçãocom destinoao RioAmazonas,levando 50 franceses e 20 indígenas. O grupo passou por Tapuitapera e seguiu para Caeté (atual Bragança), de onde partiu em 17 de agosto. Em seguida, passaram pela aldeia Meron, e adentraram o Rio Pará, onde encontraram muitas aldeias habitadas. Numa dessas aldeias, os chefes suplicaram aos franceses que guerreassem contra os camarapins, um povo inimigo descrito como cruel e praticante de canibalismo, e ofereceram um grande reforço à expedição, que passou a contar com 1.200 membros. Os franceses entraram no Rio dos Pacajarés, depois no rio Parisop. Chegaram a uma grande aldeia chamada Uacuaçu, que simpatizou com a expedição e concedeu um novo reforço de combatentes. Estes conduziram o grupo à povoação dos inimigos, que moravam em palafitas construídas com grossas árvores, denominadas "iuras". Os franceses e seus aliados atacaram os nativos da área com armas de fogo, matando pelo menos 60 deles. Os camarapins resistiram de forma obstinada e se provaram muito habilidosos no uso do arco, e não se renderam, apesar da desvantagem tecnológica. Essa tribo aparentemente está extinta, mas o relato de Yves d'Évreux não deixa claro se os franceses conseguiram ou não subjuga-los naquela ocasião.

Atualmente, são desconhecidas as localizações exatas de Parisop, do Rio dos Pacajarés e da aldeia dos camarapins. Uma hipótese é a de que Daniel de la Touche navegou pelo Rio Tocantins, visitou a Aldeia dos Parijós, na área da atual cidade de Cametá e, em seguida, explorou o Rio Pacajá. Segundo o historiador Franz Obermeier, os camarapins seriam os habitantes das margens do Rio Camaraipi, que banha o atual município de Portel. Segundo Monsieur de la Planque, outro nobre que participou da viagem, o Rio dos Pacajarés forma um salto de mais de 25 toesas de altura naquela região. Sendo assim, outra hipótese afirma que os franceses navegaram apenas pelo Rio Tocantins, chegando possivelmente às corredeiras de Itaboca, submersas após a construção da Hidrelétrica de Tucuruí.

Voltemos ao Padre Pinto... A tentativa de colonização falha após uma chacina que matou um padre e alguns Tabajaras, em um ataque dos indígenas Takarijús. Em 1608, a 11 de janeiro, os índios tucurijus atacam a pequena aldeia; Luiz Figueira sobrevive... (p. 16). Em sua Relação do Maranhão (de 1608) confirma a presença de franceses:

Mandamos recado a outra aldea para sabermos se nos quirião la e q' viessem alguns a falar cõ nosco, e tãbem nos queriamos emformar dos q' tinhão vindo do maranhão q' la estavão principalmente acequa dos frãcesez que tinhamos por novas que estavão la de assento com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio maranhão.

Os jesuítas relatam que as doenças, guerras e escravização trazida pelos lusitanos ficou marcado em inúmeras tribos indígenas do Ceará, desde as tribos do Rio Jaguaribe, até as da Ibiapaba, por isso, os tabajaras migraram aos montes para o Maranhão, onde viviam seus parentes Tupinambás, o que resultou na redução das setenta aldeias locais, para só duas grandes aldeias (de Irapuã e Juripariguaçu). Mas uma tragédia ocorre em 11 de Janeiro de 1608, quando o padre Francisco Pinto é assassinado por Tokarijús, incentivados por franceses que ainda mantiam contato na região. O assassinato do padre marcou o povo Tabajara que sepultou seu corpo no sopé da serra e elevou a imagem do padre a um espírito conhecido localmente como "Pai Pina". Por fim, o jesuíta Luís Figueira foge da serra e os tabajaras iniciam um conflito com os Tokarijús, de origem tapuia, estes habitavam principalmente os sertões do oeste, indo até o atual município de São Miguel do Tapuio.

“(...) Pôde a terra comer o corpo deste insigne varão nas raízes da serra da Ibiapaba, onde o tinha depositado a incansável diligência de seu companheiro, o padre Luiz Figueira; mas nunca o descuido pode gastar a memória que do seu missionário tinham os índios naturais do Jaguaribe. Todos estes anos que passaram depois da sua morte, acalentaram os seus desejos com a esperança que ainda tinham de o ter, senão vivo, ao menos morto, na sua companhia. Despertou mais esta sua vontade, a grande seca que por este ano (...) experimentara. Incitados de uma tão grande conveniência, tomaram a resolução de ir buscar a todo o risco, os ossos do seu Amonaiara; e para o porem em execução , determinaram os principais, dia certo, em que haviam de partir; e armados em guerra, como se houvessem de conquistar um grande reino, se puseram a caminho, e chegaram finalmente ao lugar, que pelos sinais era o mesmo que lhe tinha relatado o padre Figueira. Mandaram abrir a sepultura e acharam o precioso depósito, como tesouro escondido debaixo da terra. Meteram os ossos, com toda veneração em um caixotinho que levavam, e partindo alegres para a sua terra, os colocaram em uma das principais aldeias daquele distrito (...)”. Trecho do livro “Corographia histórica, chronographica, genealogica, nobiliaria e política do Império do Brasil”, p. 85/86, de Alexandre José Mello Moraes, publicado em 1858.

Foi durante essa estadia na aldeia de Juripariguaçu [Ibiapina], que os missionários jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira presenciaram um fenômeno raro: avistaram o cometa Halley (ainda sem essa denominação) cruzar apoteótico os céus da Ibiapaba, fato esse registrado na íntegra pelo padre Luís Figueira:

“Rematãdo nossas cousas na Aldea do diabo grande aonde nos detivemos passando de quatro meses tentando pazes cõ os tapuyas sem terem effeito, no fim de settembro de 607 apareceo hu cometa para banda do maranhão a loeste, o qual estendia hua muy comprida cauda p.ª a banda de leste, e durou muitos dias” Fonte: FIGUEIRA, Relação do Maranhão, Revista do Instituto do Ceará, RIC 1903, p. 119. Em 1607 foi tida como prenúncio da morte do padre Francisco Pinto na Serra da Ibiapaba.

PRIMEIROS MISSIONÁRIOS

DA COMPANHIA DE JESUS QUE NO BRASIL PASSARAM POR TERRA AO MARANHÃO; SEUS TRABALHOS. MORRE NA EMPRÊSA O VENERÁVEL PADRE

FRANCISCO PINTO, E OUTROS.

Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource

Pelos anos de 1605, sendo já pacificadas as guerras, que em Pernambuco foram mui porfiadas da parte dos naturais pelas violências de certo capitão português, se tornaram a pôr em armas todos os índios avassalados que havia desde o Rio Grande até o Ceará, onde ainda não tínhamos a fortaleza que hoje defende aquêle sítio.

E como em todo o Brasil tinha mostrado a experiência o particular talento e graça que Deus deu aos religiosos da Companhia de Jesus para compor os ânimos desta gente, a petição do governador do Estado, que então era Diogo Botelho, foi nomeado para esta emprêsa o padre Francisco Pinto, varão de grandes virtudes, e mui exercitado e eloqüente na língua da terra, e, por seu companheiro, o padre Luís Figueira.

Era o padre Francisco Pinto muito aceito aos índios pela suavidade do seu trato, e pelo modo e indústria com que os sabia contentar; e, sobretudo, o fazia famoso entre êles um novo milagre, com que poucos dias antes, indo o padre a uma missão, acompanhado de muitos, e morrendo todos à sêde em uns desertos, sendo as maiores calmas do estio, com uma breve oração que o padre fêz ao céu, pondo-se de joelhos, no mesmo ponto choveu com tanta abundância, que, alagados os lugares mais baixos daquelas campinas, que eram muito dilatadas, houve em tôdas elas, por muitos dias de caminho, água para todos: com estas assistências tão manifestas do céu foram recebidos os padres como embaixadores de Deus, e não do governador do Brasil, e sem haver entre todos aquêles índios, pôsto que agravados nas vidas, nas honras e nas liberdades, quem

pusesse dúvida a tudo o que o padre lhes praticou, puseram logo em suas mãos as armas, e nas de el-rei, e de seus governadores a obediência, a que dali por diante nunca faltaram.

Concluída tão felizmente esta primeira parte da sua missão, traziam os padres por ordem que intentassem os sertões do Maranhão, que naquele tempo estava ocupado pelos franceses, apalpando a disposição dos índios seus confederados, e vendo se os podiam inclinar à pureza da fé católica, que entre os franceses estava mui viciada de heresias, e à obediência e vassalagem dos reis de Portugal, a quem pertenciam aquelas conquistas. Assim o fizeram logo os padres, sendo êles os primeiros pregadores da fé, e ainda os primeiros portuguêses que do Brasil passaram às terras do Maranhão.

E marchando por terra com grandes trabalhos e dificuldades, por irem abrindo o mesmo caminho que se havia de andar, chegaram enfim à Serra de Ibiapaba, onde viviam, como acasteladas, três grandes povoações de índios tobajarás, debaixo do principal, Taguaibunuçu, que quer dizer Demônio Grande; e, verdadeiramente, se experimentou depois sempre nesta missão que residia ou presidiam naquele sítio não só algum demônio, senão grande demônio, pela grande fôrça, grande astúcia, grande contumácia, com que sempre trabalhou, e ainda hoje trabalha, por impedir os frutos e progressos dela; levantaram os padres igreja na maior povoação da serra, sem contradição dos naturais, antes, com grandes demonstrações de contentamento, e enquanto insistiam quotidianamente na instrução dos adultos, e declaração dos mistérios da nossa santa fé, com grande fervor dos mestres e dos ouvintes, conhecendo uns e outros de quanta importância seria para a conservação e aumento desta nova conquista de Cristo ter pacificadas e quietas as nações bárbaras de tapuias, que cercavam e infestavam os arredores da serra, trataram os padres no mesmo tempo de trazer a si com dádivas tôdas estas nações feras, e fizeram pazes entre êles e os tobajarás, sendo os mesmos padres os medianeiros, e ficando como por fiadores de ambas as partes.

Mas, debaixo dêste nome de paz, traçando-o assim o demônio, sem mais ocasião que a fereza natural dêstes brutos, entraram um dia de repente pela aldeia e pela igreja os chamados tocarijus; e, estando o padre Francisco Pinto ao pé do altar para dizer Missa, sem lhe poderem valer os poucos índios cristãos que o assistiam, com frechas e partasanas, que usavam de paus mui agudos e pesados, lhe deram três feridas mortais pelos peitos e pela cabeça, e no mesmo altar, onde estava para oferecer a Deus o sacrifício do corpo e sangue de seu Filho, ofereceu e consagrou o de seu próprio corpo e sangue, começando aquela ação sacerdote, e consumando-a sacrifício.

Com a morte ou martírio do padre Francisco Pinto, cuja sepultura Deus fêz gloriosa com o testemunho de muitos milagres, que se deixam para mais larga história, o padre Luís Figueira, ficando só, e sem língua, porque ainda a não tinha estudado, se retirou por ordem dos superiores para o Brasil, tão sentido porém de nâo ter acompanhado na morte como na vida ao padre, a quem fora dado por companheiro, e com tanta inveja daquela gloriosa sorte, que logo fêz voto de voltar, quando lhe fosse possível, a levar por diante a mesma emprêsa, e buscar nela o mesmo gênero de morte que Deus então lhe negara, ao que êle dizia, por indigno.

Mas ambos êstes desejos cumpriu Deus depois a êste grande zelador de seu serviço, porque no ano de 1623, sendo já de maior idade o padre Luís Figueira, e tendo ocupado com muita satisfação os maiores lugares da Província, veio outra vez à missão do Maranhão onde trabalhou por espaço de catorze anos, com grande proveito das almas dos portuguêses e dos índios; e, levando-o o mesmo zêlo a Portugal a buscar um grande socorro de companheiros, que o ajudassem a trabalhar nesta grande seara, partindo de Lisboa, e chegando à barra do Grão-Pará no ano de 1643, com onze de quinze religiosos que trazia consigo, foi cair nas mãos dos tapuias aroás da boca do Rio das Amazonas, onde êle e os mais foram primeiro mortos com grande crueldade, e depois assados e comidos daqueles bárbaros.

Toda a Serra de Ibiapaba era dominada por dois poderosos e temíveis chefes indígenas: Diabo Grande e Mel Redondo. Vários combates foram travados e, nos primeiros se sobressaía a figura de Martins Soares Moreno.

3

Martim Soares Moreno3 , Capitão-mor do Ceará (Santiago do Cacém, c.1586 Portugal, após 1648), foi um militar católico que defendeu os interesses da coroa lusitana no Brasil, objetivando fazer com que todos os países europeus reconhecessem o Tratado de Tordesilhas. É considerado o fundador do atual Ceará Martim Soares Moreno escreveu uma carta de grande valor para os cearenses. A carta se chama "Relato do Ceará".

Nascido em 1586 (ou talvez 1585, era filho dos portugueses Martim de Loures Moreno e Paula Ferreira Soares. Seu tio, Diogo de Loures Moreno diz que "mui pequeno o havia mandado com Pero Coelho de Sousa, para que servindo naquela entrada aprendesse a língua dos índios, e seus costumes, dando-se com eles, e fazendo-se seu mui familiar, e parente, ou compadre, como eles dizem". Participou da expedição de Pero Coelho ao Ceará em 1603 e acabou por se tornar, anos mais tarde (1612), o virtual fundador daquela capitania. Na margem direita da foz do rio Ceará, com a ajuda de índios Potyguaras e seus soldados, construiu o Fortim de São Sebastião e uma ermida dedicada a Nossa Senhora do Amparo.

No mesmo ano foi, a mando de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, reconhecer o Maranhão, ocupado pelos franceses, que haviam sublevado o gentio daquela terra. Na volta, entretanto, seu navio foi jogado pelos ventos às Antilhas. Em 1614 estava em Sevilha, na Espanha

No ano seguinte, já capitão, retornou ao Maranhão, junto com um reforço de 900 homens, que tornaram possível a expulsão definitiva dos franceses e a captura da cidade de São Luís. Em 1616 foi capturado em alto mar por um navio corsário francês, após violento combate, que o deixou seriamente ferido, com uma cutilada no rosto e uma mão a menos. Nessa embarcação foi reconhecido por familiares das vítimas do Maranhão e foi preso. Ao chegar na França foi julgado e chegou a ficar preso até 1618.

Sendo repatriado a Portugal no mesmo ano, graças negociações diplomáticas, escreveu uma carta patente de 26 de maio de 1619 fez mercê da capitania do Ceará a Martim Soares Moreno, em atenção aos seus serviços. Lá, em 1624 e 1625, repeliu os ataques de duas naus neerlandesas. Em 1630 deu-se a invasão holandesa de Pernambuco. Martim Soares, partiu do Ceará com uns poucos índios e soldados e chegou ao Arraial do Bom Jesus em junho de 1631. Na fase inicial da luta, tomou parte no bloqueio das forças holandesas postadas em Recife e Olinda. Destacou-se sempre, como combatente e intérprete junto aos índios. Nos anos seguintes, tomou parte na defesa da Paraíba e de Cunhaú (na capitania do Rio Grande).

Tendo os holandeses derrotado a resistência luso-brasileira, e restaurada a monarquia portuguesa em 1640, foi firmada uma trégua entre Portugal e a Holanda. Contudo, em 1645, Martim Soares Moreno tomou parte no movimento clandestino que culminou na guerra de restauração do Brasil. Retornou definitivamente para Portugal em 1648 aos 62 anos de idade, após 45 anos servindo a coroa lusitana no Brasil, sem ser reconhecido por esta.

Em 2018 seu nome foi inscrito no Livro de Aço dos heróis nacionais do Brasil depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves [1]

O histórico Vale do Lambedouro em Viçosa do Ceará, trajeto da bandeira de Pero Coelho de Sousa e Martim Soares Moreno na conquista da Ibiapaba nos idos de 1604.

MARTIM SOARES MORENO - A ESPADA E A CRUZ - (texto de Licínio Nunes de Miranda - Fortaleza Antiga). "Pintura <<A espada e a cruz>> representando o momento da chegada do jovem capitão Martim Soares Moreno à barra do Ceará, em 1611. Ao lado dele, o padre Baltasar João Correia, primeiro clérigo secular a ser enviado pela coroa ao Ceará. Eles estão acompanhados de seis soldados portugueses e alguns

indígenas potiguares da tribo do chefe Jacaúna. Vieram todos de onde hoje é o estado do Rio Grande do Norte. A imagem mostra o encontro do grupo de viajantes com outra tribo de índios potiguares, que ali havia se estabelecido em 1607, e convertidos ao cristianismo pelo padre Luís Figueira, da ordem dos jesuítas. É a fundação do Ceará (e os primórdios da cidade de Fortaleza). É de autoria de Rodval Matias.

Em 1613, Martim Soares realizou, por ordem do governador do Estado do Brasil, Gaspar de Sousa, uma viagem de reconhecimento da costa do Maranhão. Sua pequena frota experimentou o grande problema da navegaçãoentreoEstadodoBrasileoMaranhão:osfortesventoscontráriosdessapartedoAtlântico.Levados pelas correntes, que sopravam na direção do Mar do Caribe, a viagem termina em agosto de 1613 na cidade de Santo Domingos. Martim Soares se apresenta às autoridades locais como navegador com ordens de Sua Majestade. Por isso, seu navio foi consertado com custo de 230 ducados, que deveriam ser pagos pela Casa de Contratacion de Sevilha, como avisam os diversos informes existentes sobre a jornada.

Esse tipo de missão de reconhecimento servia, também, para registrar os principais grupos de piratas e corsários que andavam pelo Maranhão. Antes de abordarmos os projetos de conquista propriamente hispanolusos, cabe fazer um resumo da atividade dos principais grupos não ibéricos nessas terras”. Trecho do livro “A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica,1596-1626” de Alírio Cardoso, P. 321-322. Desenho de Ernane Pereira “A Fortificação”.

ANO DE 1609... AS ÚLTIMAS CAPITANIAS DA AMÉRICA PORTUGUESA NO NORTE DO BRASIL. Consta no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal, um documento com o título “Relação das Praças Fortes e Coisas de Importância que Sua Majestade Tem na Costa do Brasil”, datado de 1609, escrito por Diogo de Campos Moreno (tio de Martim Soares Moreno), relatando a localização das últimas capitanias da América Portuguesa no norte do Brasil. No ano de 1609, não havia as capitanias do Ceará, Maranhão e Pará. Como é sabido, as capitanias doadas a Antônio Cardoso de Barros, João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando deAndrade,foram revertidas àcoroa(foram devolvidas),aindanoreinadodeDomSebastião(15571578), quando a histórica “Costa Leste-Oeste” (a partir de Itamaracá), passou a ser “colonizada” às expensas da coroa portuguesa. As capitanias “reais” da Paraíba e Rio Grande, por exemplo, pertenciam ao rei. Diogo de Campos Moreno, afirma que: “correndo a costa (...) em seis graus está a capitania da Paraíba que é de Sua Majestade, porque a conquistou e tirou das mãos dos Pitiguares gentios da terra e dos franceses com guerras e mortes de muitos anos”. A capitania real do Rio Grande, segundo relata Diogo, era a última capitania da Costa Leste-Oeste, rumo ao rio do Maranhão. As capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará, foram criadas entre os anos de 1615 e 1619, e em 1621, com a criação do Estado Colonial do Maranhão, passaram a integrar a nova colônia da América Portuguesa. Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Portugal, PT-TT-MR1-68. Imagem: Planta da Fortaleza dos Reis Magos, no Rio Grande, a última conquista portuguesa no norte do Brasil, até o ano de 1609. Desenho feito por Diogo de Campos Moreno, em 1609. Por João Bosco Gaspar –Link. https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4242957

“Antes de Alexandre de Moura, nenhum dos emissários enviados do Maranhão para Pernambuco e Baía conseguiu voltar por água ao ponto de partida. Martim Soares foi em duas ocasiões victima dos caprichos dos alísios e das correntes oceânicas, quando tentava regressar ao Ceará. A primeira vez, em 1613, quando, fugindo aos franceses, foi por ventos contrários levado á ilha da Trindade, e a segunda, em 1616, quando houve de arribar a S. Domingos. Não teve melhor sorte Manuel de Sousa D’Eça, enviado a Pernambuco, levando cartas de Jeronymo de Albuquerque. Batido dos ventos o barco que o conduzia, viu-se o piloto obrigado a dar fundo na ilha de PortoRico”. Fonte: Carlos Studart Filho – RIC ano de 1937. Por João Bosco Gaspar

No início do século XVII, se inicia o processo de expulsão dos franceses do território pertencente ao domínio ibérico, sendo o ano de 1615 a criação das Conquistas do Maranhão, Pará e Cumã, por Alexandre de Moura. Porém, a consolidação do domínio ibérico se delimita à Conquista do Maranhão, enquanto conflitos nas demais conquistas ocorriam contra franceses, batavos, ingleses e indígenas.

Outrainformaçãofornecidapor FreiVicentedeSalvador,ondeoreligiosorelataque,apósamortedoCapitãomor do Maranhão, Jerônimo de Albuquerque, no dia 11 de fevereiro de 1618, a Capitania do Maranhão ganha o título de governo independente do governo do Estado do Brasil.

O projeto hispano-luso de ocupação do Maranhão não era exatamente a construção de um 'novo Potosí', apesar de essa ideia estar presente no período (Marques, 2009, p.317-319; Reis, 1978; Magalhães, 1978, p.14).

Os projetos hispano-lusos para o Maranhão inclinavam-se na direção de uma 'economia de fronteira', aproveitando o melhor do Estado do Brasil (o açúcar), e o melhor das Índias (circulação de metais e mercadorias, exploração comercial de 'drogas da terra'). O Estado do Brasil, considerado distante fisicamente do Maranhão, deveria garantir seus primeiros passos na direção da autonomia política e econômica. No futuro, o Maranhão deveria reforçar as relações entre as partes portuguesa e castelhana do império. No final das contas, muitas dessas ideias e intenções tinham como pressuposto a continuidade da União Ibérica. E, como sabemos, muitas dessas propostas sobre o que deveria ser o Maranhão, e o Estado do Brasil, teriam de ser (em parte) repensadas após 1640. (Cardoso, 2011)

Para as autoridades hispano-lusas todas essas categorias tinham seu nível específico de perigo, de acordo com certas circunstânciasinternacionais. Assim,senas últimas décadas doséculoXVIos informes falam bem mais

sobre a ameaça inglesa e francesa, a partir, sobretudo, das primeiras duas décadas do século XVII, o grande perigo a ser extirpado será a presença holandesa. Portugueses e espanhóis sabiam da existência de outros projetos europeus para a América Portuguesa, com ênfase sobre o norte do Estado do Brasil.

“RIO DO MARANHÃO”... UMA ENTIDADE GEOGRÁFICA – DESCRIÇÃO FEITA EM 1615 pelo padre Manuel Gomes, da Companhia de Jesus:

“(...) Fosse em [de] Pernambuco uma armada, por ordem de Sua Majestade, para lançar aos franceses do Maranhão. Com clareza, darei uma breve notícia do Rio Maranhão, ou Amazonas, ou Orellana, que estes três nomes lhes dão as histórias. Chama-se Maranhão ou Orellana, tomando estes nomes dos primeiros espanhóis que por ele navegaram, Francisco Orellana, outro Antônio Maranhon; chama-se das Amazonas por correr pelas terras das Amazonas . Com nossos portugueses, usando do nome do gentio lhe chamamos, Pará, que quer dizer, Mar. (...). Oitenta léguas está uma ilha, na boca destes Rios chamados Muni, Itapuerte, Meari, os quais antes de se meterem no mar, se ajuntam em um, formando-lhe a ilha, a que agora chamamos Maranhão (...)". Fonte: Carta (trecho) do padre jesuíta Manuel Gomes, datada de 10 de outubro de 1615, destinada ao Provincial do Brasil – O padre Manuel Gomes fazia parte da Armada de Alexandre de Moura, na conquista do Maranhão em 1615. GOMES, Manuel, S.J. fl. 1621, [Carta de Manuel Gomes sobre a expedição de missionários Jesuitas no norte do Brasil em 1618, que acompanhou o general Alexandre de Moura na conquista do Maranhão aos franceses, e em que dá notícia da missão e da sua viagem para Portugal] / M[anu]el Gomes. -2 de Julho de 1621. - [11] f. ; 31 cm Biblioteca Nacional de Portugal. Link: ( https://purl.pt/15266 ).

Em 1614, na célebre batalha de Guaxenduba, os franceses comandados por De Pizieuz foram fragorosamente derrotados, apesar da superioridade numérica (quase 500 homens) e bélica, sendo mortos 115 franceses e aprisionados nove.

Seguindo projeto feito pelo engenheiro Francisco Frias de Mesquita iniciou-se a construção de um povoado, próximo ao forte deixado pelos franceses, sendo a primeira povoação no Brasil a ter a sua planta previamente traçada em uma malha urbana octogonal, posicionada no sentido dos quatro pontos cardeais. Quanto à Cidade do Maranhão, afirma GAIOSO (1970, p. 73), que a cidade de São Luís teria sido fundada em 1616, por Jeronimo de Albuquerque, em torno da fortaleza do mesmo nome, e iniciada sua povoação naquela ocasião pois:

"Livre o Maranhão n'aquelle dia de toda a sugeição franceza [9 de janeiro de 1616, quando Alexandre de Moura se fez a vela para Pernambuco levando consigo o senhor de la Ravardieire], aplicou Jeronimo de Albuquerque todo o seu cuidado na fundação de huma cidade n'aquelle mesmo sitio; dentro de pouco tempo adiantou consideravelmente a povoação, e reduzindo a sua nova fundação á regular forma de republica, debaixo da proteção de Maria Santissima com o augusto titulo de N. Sra da Victoria, em memoria da que tinha alcançado sobre os Francezes, lhe declarou a invocação de S. Luiz, ou porque estando já tão conhecida aquella ilha pela participação da sua fortaleza, ou porque não quiz confundir o nome com a mudança delle, ou finalmente porque se lisongeava na conservação da mesma memoria, segurar melhor as suas recomendaçoens na posteridade. E como destes dias por diante se entrou a intitular afortaleza com o nome de S. Felipe, he de presumir o fizessem por lizonja á Majestade de Felippe II, a quem então obedecia a monarquia Portugueza."

O que é confirmado por CONDURÚ PACHECO (1968, p. 75), quando afirma que o Forte de São Luís é transformado na cidade de São Luís pois

"repartidas as terras pelos portuguêses, o Capitão-mór Jerônimo de Albuquerque formou logo o seu Govêrno e mandou que mudassem aqueles tugurios em mais agradáveis edifícios, construindo

'uma bem regulada cidade' (Moraes, História da Companhia de Jesus no Maranhão, p. 75)". (grifos meus)

Ou, como consta da "Crônica da Companhia de Jesus no Maranhão", onde Jacinto de Carvalho afirma ser Jerônimo de Albuquerque, livre a influência de Alexandre de Moura, o fundador de São Luís: "deu princípio a uma cidade em o mesmo sítio em que os franceses tinham o seu forte e reparos, por ser sítio muito acomodado, assim para a defesa de inimigos, como por ter bom porto e ancoradouro seguro para navios; fica entre dous rios, dominando a ponta em que está o forte uma espaçosa enseada que faz o mar entre a terra e aponta de Nossa Senhora da Guia e a terra da Ponta da Areia e ilha de São Francisco, a mais abundante de peixes e mariscos que se tem achado em todas a costa do domínio de Portugal".

Ora, é também Bernardo Pereira de BERREDO (1988, p. 116-117) - governador da província do Maranhão de 1726 a 1729 -, quem afirma que Jeronimo de Albuquerque funda naquele mesmo lugar (FORTE) uma cidade - São Luís do Maranhão :

“Logo que o General Alexandre de Moura saiu da baía do Maranhão, aplicou Jerônimo de Albuquerque o principal cuidado à útil fundação de uma cidade naquele mesmo sítio, obra de que também se achava encarregado por disposições da corte de Madri com repetidas honras justissimanente merecidas: e como o seu zelo, e a sua atividade não sofriam demoras na execução de qualquer projeto, depois de bem premeditados os interesses dele, dentro de pouco tempo adiantou tanto a povoação, que reduzida a regular forma de república, debaixo da proteção soberana de Maria Santíssima com o augusto título de Vitória, que já lhe tinha decretado no feliz lugar de Guaxenduba, lhe declarou a invocação de São Luís; ou fosse porque estando tão conhecida já aquela ilha pela natural participação de sua fortaleza, se não atreveu a confundirlhe o nome com a mudança dele; ou porque quis na conservação desta mesma memória segurar melhor a sua nas recomendações da posteridade; e como deste dia por diante acho sempre a invocação de São Felipe na tal fortaleza, me persuado fundamentalmente a que lhe foi posta em lugar da primeira, dando-se desde logo por transferida, por lisonja sem dúvida à magestade de Felipe III de Castela, a quem então obedecia a monarquia de Portugal”.

ApartirdaFrançaEquinocial,oMaranhãopassoucompreenderpartedoCeará(desdeoBuracodasTartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Ceará e o Grão-Pará.

Tal divisão era praticamente igual aos limites extraoficiais do empreendimento conquistado por Riffault, Des Vaux, e Davi Migan, e depois capitaneado por La Ravardière... Miganville era sua capital...

Após inúmeros combates, os franceses renderam-se, desistindo do Maranhão (1615). Entretanto, conseguiram uma indenização que compensava as perdas que entendiam ter tido.

FONTE: ANTONIO NOBERTO

Mapa de João Teixeira Albernaz, c. 1632, com a descrição dos rios da costa do Maranhão e Grão-Pará, incluindo a Ilha de Marajó. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

Ciente das dificuldades para a ocupação do Grão-Pará, como a inexistência de caminhos regulares e seguros, a política filipina assumiu como finalidade principal, tanto por meio de ações guerreiras quanto por meio do povoamento, garantir o monopólio ibérico na área. Assim, no Natal de 1615 acontecia uma investida em direção à foz do chamado "Rio das Amazonas", liderada por Francisco Caldeira Castelo Branco, que participara da luta contra os franceses no Maranhão.

Após a rendição dos franceses, Alexandre de Moura investiu Jerônimo de Albuquerque no governo - 16141618 -, como Capitão-mor da Conquista - Capitania do Maranhão:

"E porque a maior parte dos índios da ilha, temerosa, pois aliados dos franceses, tivesse fugido para Cumã e Tapuitapera, nomeou Martins Soares Moreno 'capitão das terras ditas ... como uma capitania à parte". (LIMA, 1998, p. 28).

Vindos junto com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619:

"A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco ...". (MORAES, 1987, p.58).(grifos meus)

A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luís de FigueiraeBeneditoAmodei. De acordocom CAVALCANTIFILHO(1990,p.31) amissão jesuítica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei:

"... Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão ... desta primeira, denominada 'Aldeia da Doutrina'".

Em 1615 o Rei Filipe III de Portugal e Espanha determinou o envio de uma expedição à foz do rio Amazonas, com vistas a consolidar a sua posse sobre a região. Uma expedição de três embarcações, sob o comando de Francisco Caldeira Castelo Branco, foi enviada, nela seguindo o então alferes Pedro Teixeira. A 12 de janeiro de 1616, as embarcações ancoraram na baía de Guajará onde, numa ponta de terra, foi fundado o Forte do Presépio, núcleo da atual cidade de Belém.

Noinício de1616, cumprindo ordens do governador-geral, os colonizadores construíram um fortede madeira, que chamaram de Presépio, origem da atual cidade de Belém. O local, estratégico, permitia controlar qualquer investida estrangeira. Auxiliados pelos índios tupinambás, construíram uma igreja e algumas habitações, estabelecendo um núcleo inicial de povoamento, o de Nossa Senhora de Belém.

Detalhe de prospecto da cidade de Belém, cuja fundação foi estratégica para controlar o acesso às minas de prata do Peru pela região amazônica. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

1619, Novembro – Regimento que cria o cargo de Ouvidor-geral do Estado do Maranhão, medida que demonstrava a intenção de Portugal, na época sob o domínio espanhol, em separar essa região do Estado do Brasil, o que de fato aconteceu em 1621. Também foi criado, nessa mesma data, o cargo de provedor-mor do Estado do Maranhão

A destruição das feitorias Holandesas e Inglesas no Rio Amazonas foi liderada pelo Capitão português Pedro Teixeira entre os anos de 1623 a 1629. Em 1623, comandou uma grande operação para destruir o forte holandês de Mariocai , onde ele e Bento Maciel Parente ergueram o forte de Santo Antônio para proteger o entorno contra incursões estrangeiras, o povoado ao redor do forte seria mais tarde conhecido como cidade de Gurupá.

Francisco Coelho de Carvalho é nomeado Governador do Maranhão (1625/1636), agora separado do estado colonial do Brasil. Sua posse dá-se a 03 de setembro de 1625. Doa a Capitania de Cumã a seu irmão Antônio Coelho de Carvalho, através da carta de doação de 12 de junho de 1627. Informa Carlos de Lima que essa carta só se tornou conhecida pelo translado feito a 24 de junho de 1662:

"O novo governador capitão general do Estado do Maranhão e Grão Pará recebera provisão real dando-lhe poderes para repartir as terras e capitanias entre povoadores e cultivadores, que tivessem substâncias e cabedais. Requereu-lhe o irmão a doação de uma capitania na costa, onde já tinha engenho". (p. 40-41)

Ele também liderou várias outras campanhas e expedições na Amazônia derrotando os holandeses em seus fortes de Orange e Nassau , ambos no rio Xingu , e em 23 de maio de 1625 atacou a fortaleza de Mandiatuba, enfrentando as forças do comandante holandês Nicolau Ouaden, e o comandante inglês Philip Pursell, ambos mortos pelas forças de Teixeira em Tucujus. Em 21 de outubro de 1625 derrotou os holandeses no forte de Taurege ( Tourege/Torrego ), os expulsando de suas posses na Amazônia. Pedro Teixeira teve o auxílio de cerca de dois mil homens, a maioria indígenas flecheiros em noventa e oito canoas tendo por objetivo atacar e apoderar - se dos estabelecimentos. Em setembro de 1629, Teixeira sitiou e conquistou o forte inglês de Taurege.

Pedro Teixeira foi responsável por achar o melhor caminho terrestre-fluvial entre o Pará e o Maranhão, via para as transações comerciais entre as cidades de Belém e Bragança, que antes ocorria somente via rio Caeté, necessitando assim, de outras vias para efetivar a economia. Assim encontrou o Caminho doMaranhão, criado pelos índios Tupinambás - também serviu para condução do gado de Piauí à Belém.

Entre os anos 1637 e 1639, Pedro Teixeira realizou uma expedição pelos rios Amazonas e Negro, que permitiu incorporar várias terras ao território. Sua viagem ser registada pelo jesuíta Cristóbal de Acuña. O momento foi colocado numa obra que foi editada em 1641.

Em 1637, Pedro Teixeira chefiou uma expedição que partiu do Maranhão com 70 soldados, 45 canoas, 1200 “flecheiros” e remadores indígenas. O percurso realizado foi a subida do curso do rio Amazonas até Quito, no Equador, para delimitar as terras de Portugal e de Espanha, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, ele fundou o povoado da Franciscana, na confluência do rio Napo com o Aguarico, no alto sertão.

Pedro Teixeira, o português que conquistou a Amazónia

Essareconquistadas terras donortedoBrasil éo ponto departidaparaoavançodosistemacolonial português. Já nos anos de 1620 e 1621, a colonização foi iniciada por ilhéus açorianos chegados em duas levas, dando a São Luís uma feição de burgo, transformando o simples posto militar avançado em uma povoação de colonos a que se precisaria dar uma administração civil.

Evolução territorial do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

As terras de Tapuitapera foram doadas a Jerônimo de Albuquerque, como recompensa pela conquista do Maranhão aos franceses.

Pelo Regimento outorgado a Martim Soares Moreno a 2 de janeiro de 1616, ficou criada a capitania de Tapuitapera, que deveria abranger, sem limites definidos as terras da baía de São Marcos até o Pará. Contava a seu serviço, naquele arraial, 1 alferes, 20 soldados e 5 canoas. Cumã se constituiu num pequeno posto militar no caminho da Amazônia.

Ficando doente, Martins Soares Moreno regressa a Portugal e assume, em seu lugar, Matias de Albuquerque Maranhão - Matias era um dos filhos de Jerônimo de Albuquerque, que acrescentara Maranhão ao seu nome, dada à conquista que empreendera.

É nesse período que ocorre o primeiro levante dos tupinambás, contra os portugueses, devido à diferença de trato que recebiam, primeiro, dos franceses, de quem eram aliados e, depois, de Soares Moreno. Os índios foram dizimados, com os sobreviventes tomados como escravos, como era costume na época. É dos acontecimentos subsequentes que se tem notícia da punição que se deu a um índio, de nome Amaro, que iniciou o levante. Capturado, foi amarrado à boca de um canhão e executado com um tiro, em São Luís.

Em meados de 1617 começaram a chegar homens e equipamentos, tanto da capitania de Pernambuco como do Reino, para garantir o fortalecimento daquele núcleo urbano. Entre eles, frades franciscanos incumbidos da catequese dos nativos. Entretanto, esse processo de ocupação ocorria em meio a questões que envolviam choques entre os colonizadores e os colonos e a presença de estrangeiros comerciando com tribos da área. Ingleses e holandeses chegaram a construir fortes em pontos ribeirinhos do Amazonas, gerando conflitos que exigiram, além de providências do Reino, a mobilização da população local. Isso incluía os índios aldeados coordenados pelos franciscanos.

A conquista do Maranhão também chamou a atenção de outros Co vassalos de Felipe III. Gaspar de Sousa, por exemplo, escreve ao rei comunicando que um oficial do Reino de Nápoles chamado Constantino Paolo Garrafa, 'bem-nascido', e que já tinha servido ao soberano na Guerra de Flandres, pedia para ir ao Maranhão

como Capitão de Artilharia. Sousa estava inclinado a enviar o dito capitão napolitano em função da necessidade de 'gente' nessas terras, e por "não ser ele dos estrangeiros proibidos". ("Sobre Constantino Paulo Carrafa". 30 mayo 1620. Archivo General de Simancas, Secretarias Provinciales, 1552. flº. 290.)

De fato, o 'chamado real' para o serviço nas novas terras teve rapidamente resposta. Muitos portugueses que já haviam circulado por outras partes do império começam a pedir cargos para ir à conquista do Maranhão. Há vários exemplos a respeito. Simão Carvalho (da cidade do Porto) pede o cargo de Alferes no Maranhão, por ter participado da expulsão dos franceses, e da proteção da terra contra os holandeses. Agostinho Ferreira (natural de Lisboa), que já havia servido a Felipe II na Bretanha, pede o cargo de Sargento-Mor para servir no Maranhão. Outro português, André Soares, que servia em Sevilha, diz que foi 'voluntariamente' à conquista do Maranhão com mulher, filhos e 'escravos', e que lá 'vive a lei da nobreza', pede a Felipe IV o cargo de Escrivão da Câmara de São Luís. De fato, umas das questões mais emblemáticas sobre a conquista do Maranhão é a adesão voluntária à fórmula de Co vassalagem oferecida pela União Dinástica. No mesmo sentido, as referências à conquista do Maranhão aparecem, muitas vezes, em processos de habilitação para as trêsOrdensMilitares,mesmoapósofinaldaUnião Ibérica.OcapitãoAyres deSousaChichorro,porexemplo, pede o Hábito de Cristo, ainda em 1650, alegando ter participado da jornada do "rio das Amazonas quando se mandarão desalojar os holandeses e ingleses que nele estavam fortificados, como no tempo que a cidade de São Luís esteve ocupada dos mesmos holandeses, e outros reencontros que ouve com os inimigos estrangeiros, e naturais da terra".

Portanto, a memória das ações militares filipinas ainda estava fresca no governo dos primeiros Bragança após a Restauração de 1640. ( "Do Conselho de Portugal". 15 mar. 1624. Archivo General de Simancas, Secretarias Provinciales, 1467, flº. 27; "Andre Soares casado e morador no Maranhão". 15 mar. 1624, flº 30. Archivo General de Simancas, Secretarias Provinciales, 1467, flº 30; "Ayrez de Souza Chichorro". Lisboa, 7dez. 1650. Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, Registro Geral de Mercês, Portarias do Reino, livro II, flº 318), conforme Cardoso, 2011.

Por Carta Régia de 4 de maio de 1617, Felipe III de Espanha, e II de Portugal cria o Estado do Maranhão, autônomo, compreendendo as duas capitanias gerais do Maranhão e do Grão Pará; ficava considerado parte do Brasil, para o fim para ele mandarem degredados.

Nascia, verdadeiramente, o Maranhão, Evolução

Corroboram a afirmativa da existência de outros fundadores – além de LaTouche e Razzily (FERRO, 2014) –as discussões em torno de comemorações do aniversário de São Luís, ocorrida no início do século passado, conforme publicação dos jornais “Diário de São Luís”, e “A Pacotilha”, de 26 de agosto de 1922. A proposta - feita pelos Professores Raimundo Lopes, Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva - de um marco comemorativo – projeto de Paula Barros - em que deveriam constar o nome dos fundadores; incluo Migan; no Diário de São Luís, sob o titulo O Centenário:

O município escolheu o dia 8 de setembro para a sua parte nas festas do centenário, por ser esse o dia da fundação da cidade de São Luiz em 1612, pelos franceses comandados por La Raverdiére.

Entre outras homenagens à data, o Sr. Coronel prefeito municipal, depois de se entender com os Srs. Dr. Antonio Lopes, professor Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva, resolveu inaugurar na Avenida Maranhense, em frente à Casa do Município, um marco comemorativo da fundação da cidade, que perpetue o acontecimento e lembre os nomes dos fundadores.

O projeto, elaborado pelo Sr. Paula Barros de acordo com as indicações dos professores acima, comporta um obelisco de mármore em assente num plinto do mesmo material. Numa das faces do plinto será gravada a flor de lis simbólica da França ao tempo da fundação. Na parte oposta, o escudo do Estado. Nas duas outras faces inscripções, sendo uma alusva a inauguração com a data – 8 de setembro de 1922 – e a outra com os nomes de Charles dês Vaux, Ives d´Evreux e Claude d´Abeville, os funddores de São Luis, e a da – 8 de setembro 1612.

O marco terá ao todo 5m, 24 de altura.

E na Pacotilha, sob o título A festa do Centenário:

Tendo o municipio escolhido o dia 8 de setembro para as suas homenagens ao centenário da independencia nacional esta sendo elaborado um programa para esse dia, do qual sabemos constar a inauguração do marco comemorativo da fundação da cidade de S. Luis, ocorrida no dia 8 de setembro de 1612.

É uma ideia feliz. Não há na cidade uma lembrança do feito inicial da vida do Maranhão, essa aventura da França Equinocial que tanto se individua como episódio à parte da história do Brasil. Sabe-se o dia em que se fudou São Luis, sabe-se que o ato solene da fundação teve lugar na esplanada hoje correpondente á Avenida Maranhense, e não há nada na cidade que rememore o seu começo. O marco que isso lemmbre será um momento indispensável.

O marco comemorativo da fundação da cidade foi encomendado hoje. Executa-lo-a, sob projeto do sr. Paula Barros, e dentro da brevidade do prazo daqui até 7 de setembro, o marmortista sr. A. F. Brandão. O projeto consta de um obelisco de marmore que assentará sobre um plinto em cujas faces se lerão uma inscrição alusiva a inauguração, com a data de 8 de setembro de 1922 e outra com os nomes de La Raverdiere, Charles des Vaux, Claude d´Abbeville e Ives d´Evreux. Nas duas outras faces, a flor de lis simbolo da França e o escudo do Maranhão. O monumento terá, ao todo 5,m24.

Para comemorar a tomada de São Luis pelos portugueses, ergue-se, remodelada, com a estatua de N. S. da Vitória, a nossa Catedral.

Ou conforme consta no Diário de São Luis, de 20 de junho de 1946:

Marco comemorativo da fundação da cidade

Na avenida Pedro II, praça do tempo da Missão Francesa, foi levantado o “Marco Comemorativo da Fundação da Cidade de S. Luiz”, erigido pelo município, no centenário da independência nacional, a 8 de setembro de 1612.

Sobre uma base toda de pedras do Estado foi assentado um prisma retangular revestido de mármore, ao cimo do qual descansa uma pirâmide de granito maranhense, levantada por garras da mesma pedra.

Numa face do pedestal foram gravados os nomes das proeminentes figuras da missão: Charles dês Vaux, Rasilly, La Ravardiére, Ives d´Evreux, Claude d´Abeville – 8 de setembro de 1612.

Um mapa da América, 1612 | Abraham Ortelius (meisterdrucke.pt)

“Criado por carta régia de 21 de fevereiro de 1620, à época em que Portugal encontrava-se sob o domínio de Espanha, o Estado do Maranhão, enquanto unidade administrativa separada do Estado do Brasil e diretamente subordinada a Lisboa, correspondia ao propósito de garantir a posse daqueles vastos domínios do Norte. É o que expressa a carta do rei Filipe III:

“[...] houve por bem de erigir em governo distinto e separado do [Estado] do Brasil as terras do Maranhão e Pará com as fortalezas que há nelas para [as] cousas daquela conquista se assentarem melhor e se poder cultivar e povoar a terra [...]”.

A carta régia de 13 de junho de 1621 confirmou a criação do Estado do Maranhão e sua independência administrativa do Estado do Brasil”. Constituído, a princípio, pelas capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará, o Estado do Maranhão criado em 1621, deveria ser a “pedra angular” dos historiadores que se aventuram

a escrever sobre a história colonial, sobretudo a história das capitanias da Costa leste-oeste. de Tordesilhas, limite que começava a ser francamente ignorado.

Vencidos os franceses em Guaxenduba(19/11/1614)estabelecem-seno Maranhão os portugueses. E em 1615, os franceses são expulsos e a região é incorporada aos domínios lusitanos durante a união das Coroas Ibéricas – 1580/1640. Vindos junto com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619:

"A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco ...". (MORAES, 1987, p.58).(grifos meus)

A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de FigueiraeBeneditoAmodei. De acordocom CAVALCANTIFILHO(1990,p.31) amissão jesuitica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei:

"... Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão ... desta primeira, denominada 'Aldeia da Doutrina'".

Em 1615 o Rei Filipe III de Portugal e Espanha determinou o envio de uma expedição à foz do rio Amazonas, com vistas a consolidar a sua posse sobre a região. Uma expedição de três embarcações, sob o comando de Francisco Caldeira Castelo Branco, foi enviada, nela seguindo o então alferes Pedro Teixeira. A 12 de janeiro de 1616, as embarcações ancoraram na baía de Guajará onde, numa ponta de terra, foi fundado o Forte do Presépio, núcleo da atual cidade de Belém.

1619, Novembro – Regimento que cria o cargo de Ouvidor-geral do Estado do Maranhão, medida que demonstrava a intenção de Portugal, na época sob o domínio espanhol, em separar essa região do Estado do Brasil, o que de fato aconteceu em 1621. Também foi criado, nessa mesma data, o cargo de provedor-mor do Estado do Maranhão

A Destruição das feitorias Holandesas e Inglesas no Rio Amazonas foi liderada pelo Capitão português Pedro Teixeira entre os anos de 1623 a 1629. Em 1623, comandou uma grande operação para destruir o forte holandês de Mariocai , onde ele e Bento Maciel Parente ergueram o forte de Santo Antônio para proteger o entorno contra incursões estrangeiras, o povoado ao redor do forte seria mais tarde conhecido como cidade de Gurupá.

Ele também liderou várias outras campanhas e expedições na Amazônia derrotando os holandeses em seus fortes de Orange e Nassau , ambos no rio Xingu , e em 23 de maio de 1625 atacou a fortaleza de Mandiatuba, enfrentando as forças do comandante holandês Nicolau Ouaden, e o comandante inglês Philip Pursell, ambos mortos pelas forças de Teixeira em Tucujus. Em 21 de outubro de 1625 derrotou os holandeses no forte de Taurege ( Tourege/Torrego ), os expulsando de suas posses na Amazônia. Pedro Teixeira teve o auxílio de cerca de dois mil homens, a maioria indígenas flecheiros em noventa e oito canoas tendo por objetivo atacar e apoderar - se dos estabelecimentos. Em setembro de 1629, Teixeira sitiou e conquistou o forte inglês de Taurege.

Pedro Teixeira foi responsável por achar o melhor caminho terrestre-fluvial entre o Pará e o Maranhão, via para as transações comerciais entre as cidades de Belém e Bragança, que antes ocorria somente via rio Caeté, necessitando assim, de outras vias para efetivar a economia. Assim encontrou o Caminho doMaranhão, criado pelos índios Tupinambás - também serviu para condução do gado de Piauí à Belém.

Essareconquistadas terras donortedoBrasil éo ponto departidaparaoavançodosistemacolonial português. Já nos anos de 1620 e 1621, a colonização foi iniciada por ilhéus açorianos chegados em duas levas, dando a São Luís uma feição de burgo, transformando o simples posto militar avançado em uma povoação de colonos a que se precisaria dar uma administração civil.

Evolução territorial do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

A Amazônia colonial portuguesa contava, na segunda metade do século XVII, com 10 capitanias: Maranhão, Grão-Pará, Ceará, Cametá, Alcântara, Caeté, Cabo do Norte, Piauí, São José do Rio Negro e Marajó. Embora Avellar (1970) indique a existência de 11 capitanias, a capitania do Xingu nunca saiu do papel e a do Cabo do Norte deixou de existir ainda naquele século.

Devido à imensidão da área a ser administrada, na perspectiva da política mercantilista, e às dificuldades de acesso a partir do Brasil, após os primeiros anos de sua ocupação, ela foi separada do “Estado do Brasil” e, em 13 de junho de 1621, passou a ser um segundo Estado português no continente: o Estado do Maranhão, criado por Filipe II. Tal iniciativa visava à consolidação do controle ibérico no delta do rio Amazonas e no norte da região. A cidade de Belém passou a ser a base de inúmeras expedições ao interior do continente. Posteriormente, no período compreendido entre 1627 e 1632, diversas capitanias foram criadas no novo estado do Maranhão e Grão-Pará por Felipe III, visando estimular ações individuais de expansão do território (MAURO, 1991). Em 1652, o Brasil volta a ser um só Estado, mas, dois anos depois, Portugal recria o outro Estado do Norte, agora denominado Maranhão e Grão-Pará. Finalmente, em 1751, torna-se o Grão-Pará e Maranhão, com capital em Nossa Senhora de Belém. (DIAS; BOMBARDI; COSTA, 2020, p. 11). (DAMASCENO, MIRANDA. Origens do Estado do Grão-Pará e Maranhão e a política pombalina: discursos e relações de poder. In Novos Cadernos NAEA • v. 24 n. 2 • p. 37-61 • maioago 2021

"Diz Martim Soares Moreno, que foi o primeiro povoador e fundador da capitania e fortaleza do Ceará, e por esse e outros serviços Vossa Majestade o despachou por dez anos para a dita praça e, porque ele suplicante leva sua casa, e pretende de meter fabrica na dita capitania de criações e negros, e fazer um trapiche de açúcar, de que há de resultar grande proveito à Real fazenda de Vossa Majestade e aos moradores dali. Pede a Vossa Majestade lhe faça mercê de doze léguas em quadra de terra na dita capitania, começando na baía de Mocoripe para o Noroeste até onde alcançar as ditas doze léguas que se entenderão outras tantas pela terra dentro pelos rumos ordinários, com suas águas e madeiras e tudo o mais que nelas houver, livres de forca e de dízimos a Deus para ele, suplicante, e seus filhos e herdeiros. Espera receber mercê. Martim Soares Moreno. Setúbal, 4 de agosto de 1620. Fonte: Livro "Memória Colonial do Ceará - 1618-1698", Tomo I, p. 54.

O CABO DE SÃO ROQUE - A FRONTEIRA DAS DUAS COLÔNIAS DA AMÉRICA PORTUGUESA... O BRASIL E O MARANHÃO

(a pedra de tropeço dos historiadores).

“Entendem-se, desde logo, os condicionamentos políticos que a geografia econômica impôs à colonização. Com efeito, a separação entre o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão (1621), cujos limites começavam exatamente na altura do cabo de São Roque, responde ao quadro de ventos e marés predominantes na costa sul-americana: facilidade de comunicações com a Corte e transtorno da navegação litorânea sul-americana levam à criação de duas colônias distintas no espaço da América portuguesa. Na mesma perspectiva, uma das críticas feitas ao estabelecimento do Tribunal da Relação na Bahia (1609) decorria da dificuldade de encaminhar àquele tribunal os pleitos oriundos das outras capitanias, dependentes das monções favoráveis à navegação de cabotagem, “o que dilata muito o despacho dos negócios”. Mais valia enviar os requerimentos das outras capitanias diretamente aos tribunais do reino (p. 59). Correnteza mais rápida de todo o litoral brasileiro, atingindo velocidades de 2,5 nós no costão que vai do cabo de São Roque (Rio Grande do Norte) ao cabo Orange (Amapá), a corrente das Guianas facilitava grandemente a navegação para o Norte. Tamanha é a força das águas rolando nessa área que, mesmo com as velas meio arriadas, navios grandes podiam cobrir em três dias as trezentas léguas separando o cabo de São Roque do porto de São Luís. Em contrapartida, a corrente representava um obstáculo quase intransponível à navegação a vela no retorno do Estado do Maranhão ao Estado do Brasil. Até o advento dos barcos a vapor, nos meados do século xix, só as sumacas barcaças pequenas de dois mastros conseguiam sair da Bahia, de Pernambuco, ou mais do Sul, e bordejar na torna-viagem do Pará e do Maranhão. Ainda assim, tudo dependia da sorte (p. 58)”.Fonte:Trecho do Livro “O Trato dos Viventes – A formação do Brasil” de Luiz Felipe de Alencastro. Por João Bosco Gaspa

O ANTIGO PORTO DO RIO “CAMUSSY” E O FORTE HOLANDÊS DE 1641... LUGARES DISTINTOS?.

É sabido que durante o período colonial o porto do rio Camussy (rio da Cruz, Coreaú) esteve localizado nas proximidades da antiga povoação da Macaboqueira (Granja), distante do oceano, e não na sua foz, onde hoje está localizada a cidade de Camocim. Essa é a tese defendida pelo historiador André Frota de Oliveira, no livro “A Fortificação Holandesa do Camocim” publicado em 1995; o que não fica esclarecido pelo autor, é a exata localização do forte holandês construído no mesmo rio “Camussy” em meados do século XVII. André Frota defende, entretanto, que acentuada a exata localização do antigo porto, é possível estabelecer de modo “mais preciso e correto o sítio ondeselocalizavao fortequeos flamengosergueram às margens doCamocim”, e levanta “a hipótese de que a praça militar holandesa estivesse situada nas vizinhanças da atual cidade de Granja”. João da Maia da Gama, ex-governador do Estado do Maranhão, em vistoria realizada nas barras dos rios das capitanias do norte por ordem do rei de Portugal (1728), afirma que: “os índios praticaram comércio com os ocupantes que a coberto do forte da barra do Camocim, haviam construído ferrarias e olarias”, e que por ocasião daquela visita, “encontrou vestígios das ruínas do forte e das casas, onde, outrora, haviam progredido os holandeses”. Maia da Gama encontrou, ainda, junto às ruínas do antigo forte “grandes porções, abandonadas, de pau violeta extraídas dos sopés da Ibiapaba” conforme declara em seu parecer. Com relação a consistência da fortaleza batava, André Frota levanta a seguinte questão: “Mera tranqueira levantada às margens do Camocim, ou fortificação de maneira mais sólida?”. Sobre essa indagação, Maia da Gama, que conheceu “in loco” aquelas ruínas, cerca de 74 anos após a capitulação holandesa, disse o seguinte: “os holandeses que aqui estiveram nas <<barreiras>> acima declaradas, tiveram um forte e ferraria, e olaria de fazer tijolos, e se achavam, e se tem achado muitas ferramentas, e cobres, e se vêem ainda tijolos e as ruínas do forte, e casas que tinham de uma parte e outra”. Além de confirmar a robustez do antigo reduto holandês, Maia da Gama fala da exata localização do forte: “observei esta barra do Camossy, e a costa que é esparcelada uma légua ao mar, e tem da parte de oeste <<umas barreiras>> na boca, em que os holandeses tiveram um forte”. Pelas declarações de Maia da Gama, depreende-se que o Forte Holandês construído por volta do ano de 1641 na costa do Ceará, estava localizado na “Praia das Barreiras”, atual zona urbana de Camocim. Fontes: livros “A Fortificação Holandesa do Camocim” lde André Frota de Oliveira, e “Um Herói Esquecido – João

da Maia da Gama” tomos 01 e 02, do historiador português Francisco d’Assis Oliveira Martins. Por João Bosco Gaspar.

Foto da orla marítima de Camocim, praia das Barreiras.

A preparação da invasão holandesa foi decidida por documento escrito na cidade de Middelburg, província da Zelândia, pelo commandeur Gideon Morris. Trata-se da Breve descrição do Maranhão, escrita no ano de 1637. Morris era figura bem conhecida entre os diretores da WIC e suas cartas e relatórios resumem muito do que os neerlandeses conheciam sobre a Amazônia. O commandeur havia sido prisioneiro dos portugueses, supostamente permanecendo na região por cerca de oito anos, experiência que garantia um grau de fidelidade na comparação com outras crônicas e relatórios desse período. De fato, durante muito tempo, Morris foi considerado um dos únicos holandeses especialistas em navegação fluvial amazônica de longo curso. Na documentação neerlandesa, ele também é apresentado como habilidoso articulador político, fluente na língua dos nativos e influente junto aos seus principais (Cardoso, 2017).

A Breve descrição do Maranhão é um documento que procura explorar certas expectativas sobre a região. Não era a primeira vez que o Heren XIX recebia um documento sobre o tema, mas em comparação com cartas, relatórios e mapas anteriores, o texto de Gedion apresentava uma vantagem: apesar de não se distanciar muito das fórmulas já encontradas nas crônicas portuguesas e espanholas, não era uma simples reprodução dos argumentos luso-espanhóis, na medida em que seu autor esteve efetivamente naquelas terras. Aliás, este argumento de autoridade, bem comum nos escritos da época, é reivindicado, a todo momento, no texto. Mais do que um relatório, o escrito apresentado ao Conselho Supremo faz uma projeção futura sobre a conquista neerlandesa da Amazônia, suas vantagens e possíveis desafios. Por isso, duas coisas são devidamente enfatizadas: a vocação comercial da região e a importância das nações indígenas em qualquer projeto pensado para o Maranhão e o Grão-Pará.

Pouco tempo antes da conquista holandesa do Maranhão, em 1640, Gedeon Morris assina outro relatório, desta vez em colaboração com o aventureiro holandês John Maxwell, este último teria também habitado a região por cerca de dez anos, corroborando várias informações prestadas por Gedeon no relatório anterior. Trata-se, na verdade, de uma atualização dos dados e conclusões apresentados na Breve descrição do Maranhão, corrigindo possíveis falhasdodocumentoanterior.Nesteúltimorelatório,háoutroforteargumento apresentado como justificativa para a conquista daquelas terras: sua localização geográfica entre o Estado do Brasil e as Índias castelhanas. Assim, Gedeon e Maxwell consideram que a Amazônia poderia estabelecer comércio com áreas do Peru e do Caribe na medida em que, segundo dizem, “todos os navios que vão para o Ocidente devem passar por aqueles lugares”.

SÃO LUIS DO MARANHÃO GRAVURA DE FRANZ POST 1647
SÃO LUÍS DO MARANHÃO ATLAS OF MUTUAL HERITAGE JOHANNES VIGBONNS 1665

Para Alírio Cardoso (1917), o combate à presença holandesa na Amazônia pode ser dividido em três períodos: instalação de feitorias fortificadas (1598-1636), domínio militar formal (1637-1644) e retração e reorientação (1645-1654). Essa cronologia corresponde não apenas às diferentes fases dos projetos neerlandeses na região, mastambém diz respeito àinserçãodo Maranhão e doGrão-Parános embates queocorriam, aomesmotempo, no resto do Atlântico

[...] entre 1637 e 1644, é o período da ocupação militar do Estado do Maranhão pelo exército da WIC. Tradicionalmente, considera-se que o breve “Maranhão holandês” começaria em novembro de 1641, com a chegada da frota neerlandesa composta por 19 embarcações, cerca de 2 mil homens, ao porto da cidade de São Luís, operação coordenada pelo experiente coronel Koin Anderson. Entretanto, para a realidade geopolítica da América portuguesa do século XVII, é possível dizer que a ocupação do Maranhão seria um movimento estratégico natural, após a tomada da fortaleza do Ceará que, em 1637, foi dominada pelas forças conjuntas do major Joris Garstman e do índio principal Amaniú. A capitania do Ceará era então considerada uma zona de transição entre os estados do Brasil e do Maranhão, passagem obrigatória aos navios que frequentassem essa rota. As circunstâncias que definiam o Ceará como zona de passagem entre as duas macrorregiões da América portuguesa não eram desconhecidas entre os navegadores da época. Em 1619, o famoso capitão Martim Soares Moreno, em carta enviada ao rei Filipe III, descreve o Ceará como “necessária escala dos navios e caminhantes que vão do Brasil ao Maranhão”. Apesar das dificuldades da rota Brasil-Maranhão, a capitania do Ceará era vista como ponto de transição, a partir do qual seria possível estacionar os navios na espera de melhores condições de navegabilidade.

A 25 de novembro de 1641 invasão do Maranhão pelas tropas holandesas Após dez meses de ocupação holandesa no Maranhão, em 30 de setembro de 1642, tem início no Itapecuru, a reação portuguesa. Muniz Barreiros e mais cinquenta homens, usando de táticas de guerrilhas, vão retomando dos holandeses, um a um, os engenhos de açúcar e a fortaleza do Calvário, situada na embocadura do rio. Empolgados com as vitórias em Itapecuru, as tropas portuguesas, ganham mais adeptos e passam para Ilha de São Luís. Em 21 de novembro de 1642, as tropas lusas, comandadas por Muniz Barreiros e Teixeira de Melo, emboscaram a coluna inimiga do comandante Sandalim e a derrotam. Essa batalha ocorreu na região do rio Cutim, onde hoje fica o monumento do Outeiro da Cruz que em placa de mármore já desgastada, possui a seguinte inscrição:

No mesmo ano de sua elevação, Alcântara passou a Comarca, desmembrada da do Maranhão, e seu primeiro Ouvidor foi Manoel de Souza Coelho. A elevação de Tapuitapera à vila ocorreu no período exato de maior centralização de D. João IV - 1640-1656 -, em pleno domínio do absolutismo na Europa.

Antônio Coelho de Carvalho elevou o arraial, em 22 de dezembro de 1648, a vila - Vila de Santo Antônio de Alcântara - sede da capitania de Cumã, fazendo a implantação do Pelourinho e instituindo-lhe a Câmara:

"Deve o nome ao do ilustre taumaturgo Santo Antônio de Lisboa e Pádua e às gratas lembranças da Quinta real de Alcântara, nos arredores lisboetas, onde Antônio tinha casa de campo. Alcântara é vocábulo árabe e significa Al=A, kantara=ponte, um sítio perto de Lisboa, onde existiu numa ponte romana anterior ao século IV, hoje incorporado ao perímetro urbano". (LIMA, 1998, 60).

Em 1654, o líder potiguara Antônio Paraupaba chega na Ibiapaba acompanhado de milhares de indígenas potiguaras de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, vinham fugindo após o fim do domínio holandês no Nordeste

“(...) Vale a pena salientar que, nos perturbados momentos da Restauração Pernambucana, numerosos indígenas, parciais dos flamengos, temendo muito justaente as represálias sempre tão cruéis por parte dos portugueses, haviam debandado da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, encaminhando-se em grande magotes à Ibiapaba. Afinados, muitos deles, pelos contatos da cultura flamenga, iam na esperança um tanto romanesca de criar, em plena selva brasileira, um estado indígena por completo fechado à influência de estranhos de Além-Mar. Acastelados em

atitude hostil naqueles chapadões que bordam o Ceará a oeste, passaram efetivamente esses rebeldes a encabeçar a resistência à expansão dos luso-brasileiros que, em meados do século XVII, tentaram derivar para aquelas bandas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Fundamentos Geográficos e Históricos do Estado do Maranhão e Grão Pará” de Carlos Studart Filho, ano de 1959, p. 291.

Antônio Paraupaba tinha objetivo de fundar uma república calvinista na Ibiapaba, com apoio dos holandeses, sendo chamada "República Cambressive".

“(...) Os índios fortificaram-se entre os tobajaras, na serra de Ibiapaba. Denominaram sua república Cambressive e chegaram a fazer uma tentativa, aliás malograda, de obter auxilio dos holandeses.

Antônio Paraupaba foi enviado à Holanda e fez um comovente apelo aos Estados Gerais em agosto de 1654. Como nada aconteceu, fez um segundo apelo em 1656. O suplicante é enviado por aquela nação que se refugiou com suas esposas e filhos em Cambressive, no sertão além do Ceará, para escapar aos furiosos massacres dos portugueses. Eles estavam lá havia dois anos, mas ainda se mantinham leais ao governo dos holandeses. Se deixar de receber ajuda, aquele povo finalmente deverá cair nas garras dos cruéis e sanguinários portugueses, que desde a primeira ocupação do Brasil têm destruído centenas de milhares de pessoas naquela nação. Paraupaba declarou não poder acreditar que os holandeses deixariam de ajudar os índios, de recompensar seus anos de leais serviços e de proteger a religião reformada (...)”Fonte: Trecho do livro “Ouro Vermelho” de John Hemming, ano de 1978 p. 454).

“(...) Entraram os índios rebeldes nas capitulações da entrega com perdão geral de todas as culpas passadas; mas eles como ignorantes de quão sagrada é a fé publica, temendo que os portugueses, como tão escandalizados, aplicariam as armas vitoriosas a vingança, que tão merecida tinham, e obrigados de certo rumor falso de que os brancos iam levando tudo a espada, lançaram-se cega e arrebatadamente aos bosques, com suas mulheres e filhos, onde muitos pereceram a mão dos tapuios, e os demais se encaminharam as serras de Ibiapaba, como refúgio conhecido, e valhacoito seguro dos malfeitores (...)”. Fonte: Trecho do livro “Cartas Várias” do padre Antônio Vieira, ano de 1885, p. 340.

“(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar.

“(...) Os índios que serviram no exército holandês, e os que seguiram seu partido e abraçaram a sua religião, a de reforma calvinista e luterana, não se julgando seguros em Pernambuco após a sua restauração [1654], apesar do prometido esquecimento do passado e do perdão geral concedido aos indivíduos de qualquer nação, qualidade e religião, ainda mesmo que fossem rebeldes à coroa de Portugal, o que tudo constava do termo de capitulação dos holandeses firmado em 26 de janeiro deste ano de 1654, emigraram logo para os sertões do Ceará, e depois se foram refugiar na serra da Ibiapaba, seus extremos norte, onde lhes parecia, não recear o ataque dos seus inimigos, e fazendo assim de tais paragens o seu baluarte, a sua vendéa, contra os vencedores, e pretendendo mesmo alguns dos mais instruídos e exaltados, fundar ali um estado índio

independente, exclusivamente da sua gente e repelindo a branca. Os índios refugiados na serra da Ibiapaba, nos limites norte do Ceará, atingiam a um número superior a quatro mil almas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Anais Pernambucanos, Tomo III, 1635-1665” de autoria de F. A. Pereira da Costa, p. 393-394.

Pedro Poti - aliado dos neerlandeses contra os lusitanos -, chegou a ser levado para a Holanda, onde foi recebido como herói e tratado com honrarias. Em 19 de fevereiro de 1649, durante a Segunda Batalha dos Guararapes caiu prisioneiro dos portugueses, período em que viveu um calvário na prisão – escreveu a seu cunhado Felipe Camarão o que segue:

“(...) Eu me envergonho da nossa família e nação ao me ver ser induzido por tantas cartas vossas à traição e deslealdade, isto é, a abandonar os meus legítimos chefes, de quem tenho recebido tantos benefícios. Ficae sabendo que serei um soldado fiel aos meus chefes até morrer. Os cuidados que dizeis ter por mim e o favor que os portuguezes nos dispensariam não são mais que histórias contadas para nos iludir. Não acreditais que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os hollandezes, entre os quais fui educado. Por outro lado, em todo paiz se encontram os nossos, escravizados pelos perversos portuguezes, e muito ainda o estariam si eu não os houvesse libertados. Sou christão e melhor do que vós: creio só em Christo, sem macular a religião com idolatria, como fazeis com a vossa. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos e perigosos portuguezes e vinde juntar-vos conosco. No meu acampamento, 31 de outubro de 1645 (assinado) o regedor e comandante do regimento de índios da Parahiba, Pedro Poti (...)”. Fonte:Trechodo livro“Fastos Pernambucanos" doDr.PedroSouto Maior, ano de 1913, p. 156/157. Por João Bosco Gaspar.

Filipe Camarão, nascido Poti, foi um indígena brasileiro e herói da Insurreição Pernambucana. Ele recebeu o nome cristão de Antônio Filipe Camarão após ser batizado. Em 1614, o índio potiguar acompanhou o capitão Jerônimo de Albuquerque Maranhão na reconquista da capitania do Maranhão, onde os franceses haviam fundado a cidade de São Luís. Felipe Camarão reuniu 200 dos seus melhores guerreiros que se juntaram aos 300 portugueses. Jerônimo de Albuquerque e seus comandados estabeleceram-se na baía de São Marcos, em frente a São Luís e logo fundaram o arraial de Santa Maria, em Guaxenduba, onde aguardaram o ataquedos franceses. Oataqueaconteceuem19denovembrode1614.Mesmocommenornúmerodehomens, a tropa de índios e portugueses saiu vitoriosa. Após a expulsão dos franceses da “França Equinocial”, iniciouse a reconstrução de São Luís Lutou contra os invasores holandeses e franceses, sendo reconhecido como "Capitão-Mor de Todos os Índios do Brasil" Ele foi um líder militar e um dos heróis da Batalha dos Guararapes...

A luta pela expulsão dos holandeses de Pernambuco teve início em 1645, um ano depois da partida do Conde Maurício de Nassau. O chefe da Insurreição Pernambucana foi João Fernandes Vieira, um dos mais ricos habitantes da região. Ao seu lado combateram Filipe Camarão, André Vidal de Negreiros e Henrique Dias.

MARANHÃO, O ESTADO COLONIAL PORTUGUÊS.

Após a capitulação holandesa de 1654, o Estado do Maranhão foi reorganizado sob o governo de André Vidal de Negreiros, agora com o nome de "ESTADO DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ". Naquela ocasião, André Vidal recebeu do rei de Portugal um Regimento com 58 artigos para melhor gerir o novo governo do Maranhão. Constituído, a princípio, pelas capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará (ainda não havia a capitania do Piauí), o Estado do Maranhão começava nos Baixios de São Roque e terminava na linha do Tratado de Tordesilhas. Os dois primeiros artigos do Regimento, tratavam da Capitania Real do Ceará. Por João Bosco Gaspar

Após a capitulação holandesa de 1654, o Estado do Maranhão foi reorganizado sob o governo de André Vidal de Negreiros, agora com o nome de "ESTADO DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ". Naquela ocasião, André Vidal recebeu do rei de Portugal um Regimento com 58 artigos para melhor gerir o novo governo do Maranhão. Constituído, a princípio, pelas capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará (ainda não havia a capitania do Piauí), o Estado do Maranhão começava nos Baixios de São Roque e terminava na linha do Tratado de Tordesilhas. Os dois primeiros artigos do Regimento, tratavam da Capitania Real do Ceará. Por João Bosco Gaspar

ANO DE 1655 – A EXTRAÇÃO DO PAU-VIOLETA (JACARANDÁ) NAS FRALDAS DA IBIAPABA.

No ano de 1655, André Vidal de Negreiros assumiu o governo do Estado Colonial do Maranhão, constituído (até aquela data) pelas capitanias do Ceará, Maranhão, Cabo do Norte e Grão-Pará. Entre as suas principais incumbências estava a construção de um forte na foz do rio Camocim, para garantir a extração do pau-violeta (nome científico “Dalbergia Cearensis”) nos sopés da Ibiapaba e do âmbar nas praias do Camocim. “Cortava-se o pau violeta, nas fraldas da serra de Ibiapaba, onde estas montanhas mais se avizinhavão do mar, e nas praias se encontrava muito âmbar. Para assegurar o commercio d'estes gêneros queria elle plantar um forte á foz do Camuci, mas não era couza esta que podesse fazer-se sem formar allianças com os índios”. Fonte: Livro “História do Brazil” traduzida do inglês por Luiz Joaquim de Oliveira e Castro, publicado em 1862, Tomo IV, p. 230.

Vieira, que regressara pela segunda vez ao Maranhão, em 1655, afirma que o Governador André Vidal de Negreiros :

[...] intenta uma fortaleza na boca tio Rio Camuci, emprêsa que dependia da vontade dos habitadores da serra. Escreve-lhe o padre Antônio Vieira. Sucesso da resposta da sumaça que com materiais e soldados partiu a levantar a fortaleza.

Este era o miserável estado da Cristandade da serra, quando no ano de 1655 chegou segunda vez ao Maranhão o padre Antônio Vieira, com ordens de Sua Majestade, para que a doutrina e govêrno espiritual de todos os índios estivesse à conta dos religiosos da Companhia; e, posto que o estado referido daqueles cristãos, de que já então havia notícias por fama, prometia mais obstinação que remédio, considerando, porém, os padres que a sua obrigação era acudir à reformação dos índios já batizados, e que êstes da serra tinham sido os primogênitos desta missão, e de quão pernicioso exemplo seria para os que se houvessem de converter, e para os já convertidos, a vida escandalosa em que estavam, e muito mais a imunidade dela. Era ponto êste que dava grande cuidado a toda a missão, e que muita se encomendava a Deus, esperando todos que chegariam ao céu as vozes da sangue do seu Abel, o padre Francisco Pinto, e que, amansadas aquelas feras, que já estavam marcadas com o caráter do batismo, tornariam outra vez ao rebanho de que eram ovelhas. Ajudou muito esta esperança um novo intento do governador André Vidal de Negreiros, o qual chegou no mesmo ano ao Maranhão, resoluto a

levantar uma fortaleza na boca do Rio Camuci, que é defronte das serras, para segurança do comércio do pau violete, que se corta nas fraldas delas, e do resgate do âmbar, que a tempos sai em grande quantidade naquelas praias. Esta é a suavidade da Providência divina, tantas vêzes experimentada nas missões de ambas as Índias, onde sempre entrou e se dilatou a fé, levando sobre as asas do interêsse. Comunicados os pensamentos do governador e superior das missões, julgaram ambos que primeiro se escrevesse aos índios de serra, de quem não só dependia o comércio, mas ainda a fábrica e sustento da fortaleza. Mas dificultava, ou impossibilitava de todo a embaixada, a dificuldade do caminho de mais de cem léguas, atalhado de muitos e grande rios, e infestado de diversas nações de tapuias feros e indômitos, que a ninguém perdoam, e, confirmado tudo com a experiência da mesma viagem, intentada outra vez com grande poder de gente de armas, e não conseguida. Contudo, houve um índio da mesma nação tobajará chamado Francisco Murereíba, o qual, confiado em Deus, como êle disse, se atreveu, e ofereceu a levar as cartas. O teor delas, foi oferecer o governador, em nome de el-rei, a todos os índios que se achavam na serra, perdão e esquecimento geral de todos os delitos passados, e dar-lhes a nova de serem chegados ao Maranhão os padres da Companhia, seus primeiros pais e mestres, para sua defensa e doutrina. E o mesmo escreveu o padre superior das missões, dando a si, e a todos os padres, por fiadores de tudo o que o governador prometia, e referindo-se umas e outras cartas ao mensageiro, que era homem fiel, e de entendimento, e ia bem instruído e afeto ao que havia de dizer. Partiu Francisco com as cartas em maio de 1655, e, como fôssem passados nove meses sem nova dêle, desesperado de todo êste primeiro intento, no fevereiro do ano seguinte, que sâo as monções, em que de alguma maneira se navega para barlavento, despachou o governador uma sumaça, com um capitão e quarenta soldados, e os materiais e instrumentos necessários à fábrica da fortaleza do Camuci, e na mesma sumaça ia embarcado o padre Tomé Ribeiro com um companheiro, para saltarem em terra no mesmo sítio, e praticarem aos índios, e darem princípio àquela missão. Animou também muito a resolução do mesmo governador, e intentos dos padres, a paz que por meio dêles vieram buscar ao Maranhão os teremembés, que são aqueles gentios que freqüentemente se nomeiam no roteiro desta costa com o nome de alarves, cuja relação nós agora deixamos por ir seguindo a sumaça, e não embaraçar o fio desta história. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource; Descrição da Ibiapaba - Wikisource

ORDEM DO REI DE PORTUGAL AO CAPITÃO MOR DO CEARÁ, PARA QUE SE RETIREM OS ÍNDIOS PROTESTANTES DA SERRA DA IBIAPABA, E PARA QUE SE DESCUBRA O RIO PARNAÍBA. O JURAMENTO DE FIDELIDADE DOS ÍNDIOS DA IBIAPABA, À IGREJA CATÓLICA E AO REI DE PORTUGAL - ANO DE 1660.

TRANSCRIÇÃO INTEGRAL – ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO DE PORTUGALAHU-CEARÁ, CAIXA Nº 01 DOCUMENTO Nº 46.

“Ordem de Sua Majestade que há de vir ao capitão mor da Fortaleza do Ceará. Que por quanto, Sua Majestade tem ordenado que todos os índios retirados de Pernambuco que se acharem desde o sítio do Ceará até o da Serra da Ibiapaba e suas vizinhanças, e em qualquer lugar daquelas costas ou sertões, se recolham todos ao Maranhão, e sendo com ofícios passados à dita capitania, como o principal Paulo Bernardes, o maior número dos ditos índios.

Alguns ficaram escondidos na Serra [da Ibiapaba], e outros se entendem haverem passados ao Ceará, donde também se não se abalaram ainda os que lá estavam. Ordena Sua Majestade ao dito capitão mor da Fortaleza do Ceará, que tanto que recebas esta ordem, mande embarcar a todos os índios pertencentes as aldeias de Pernambuco, que se acharem naquelas partes, fazendo-os buscar e prender se necessário, com toda a diligência e cautela; de modo que com efeito sejam todos trazidos ao Maranhão, segurando-os em nome de Sua Majestade, que pelos delitos passados se lhe não dará castigo algum; e que não havendo outra embarcação senão o barco que vem à dita Fortaleza [do Ceará] mandar os soldados, [que] vão os ditos índios ao Maranhão no dito barco, salvo se julgarem que por terra iriam bastantemente seguros, com escolta de soldados e

outros índios fiéis, e indo presos os que houver de maior suspeita. No que tudo seguirá o dito capitão mor [do Ceará] ao conselho dos padres missionários pelas notícias, e mais particularmente que tem desta matéria, e do que é necessário para o expediente seguro e efetivo dela. E que essa ordem guarde-a inteiramente o dito capitão mor [do Ceará], sem embargo algum, nem ainda de ordem que tivesse em contrário de seus maiores, por cumprir assim ao serviço de Vossa Majestade com as outras recomendações”.

“Carta de Sua Majestade para Dom Simão Taguaibuna, principal dos índios tabajaras da Serra da Ibiapaba. Que por carta do padre Antônio Vieira, Superior dos índios do Maranhão, se recebeu o aviso do juramento que o dito principal havia feito nas mãos do dito padre, de ser fiel vassalo de Sua Majestade toda à sua nação e todos os seus descendentes, e de como assim ele, como os outros principais haviam recebido suas legítimas mulheres conforme os ritos da Igreja Romana, e prometido de em tudo o mais guardarem a lei de Deus, como verdadeiros cristãos, e tratarem de ajudar ao descobrimento do Rio Pará [Parnaíba] e conquista de todas as outras nações vizinhas às suas terras [Ibiapaba], para se reduzirem todos a fé de Deus e vassalagem de Sua Majestade, de que todos Sua Majestade recebes [com] grande contentamento, pelo desejo que Sua Majestade tem de que todas essas nações venham ao conhecimento do verdadeiro Deus; e lhe agradece o zelo e vontade com que se tem disposto a esta empresa, cujo sucesso Sua Majestade fica esperando para lhe mandar fazer mercê, e que o mesmo diga da parte de Sua Majestade aos demais principais, aos quais todos encarrega Sua Majestade, particularmente a obediência e respeito que devem ter aos padres como ministros de Deus e da Santa Madre Igreja, seguindo em todos seus conselhos”.

“Ordem de Sua Majestade para o dito principal [Dom Simão Taguaibuna]. Que por quanto Sua Majestade é informado que dos índios retirados de Pernambuco, que Sua Majestade mandou passar todos para o Maranhão, ficando alguns escondidos na Serra [da Ibiapaba]; ordena Sua Majestade ao dito principal, que tanto que recebas esta ordem, as faça buscar a todos, e os remeta ao Maranhão com toda a segurança e cautela, e presos se for necessário, prometendo aos ditos índios em nome de Sua Majestade, que por todos os delitos passados se lhe não dará castigo algum, e no que no expediente desse negócio, siga em tudo o conselho que lhe derem os padres, para que não haja falta na execução”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal –Documentos da Capitania do Ceará – AHU-CE, Caixa nº 01, Documento nº 46, ano de 1660. Por João Bosco Gaspar.

Rapidamente a coroa portuguesa reagiu e tentou impedir, enviando o jesuíta Francisco Ribeiro, para liderar outratentativadealdeamento naserra.Aochegar, érecebido pelos Tabajaras queaindacelebravam a memória de "Pai Pina", ele registra toda sua experiência no documento "Relação da Ibiapaba".

Mesmo após o fracasso da República de Cambressive (devido a falta de apoio holandês), o jesuíta registra o impacto desse evento nos indígenas tupi da Ibiapaba, onde uma parte possuíam uma religião com traços cristãos, enquanto outros já eram completamente evangelizados no protestantismo, devido a influência holandesa e francesa. Também nota que parte da população usava roupas de seda, vindas de trocas com holandeses e franceses do Maranhão, além de terem alguns indivíduos bem letrados.

A serra foi visitada em 1660 pelo famoso jesuíta António Vieira, porém dois anos depois, os jesuítas são novamente expulsos da Ibiapaba em um conflito com o tuxaua Simão Tagaibuna dos Tabajaras, que se revoltou contra a repressão que os indígenas estavam sofrendo pelos jesuítas, tendo seus costumes e tradições marginalizados. As forças coloniais prendem o líder Tabajara por um tempo, por ter levado o fracasso da missão jesuíta na serra. 1904-RelacaodaMissaodaSerradaIbiapaba.pdf

ANO DE 1660 - O PADRE ANTÔNIO VIEIRA VINDO DO MARANHÃO EM VISITA A MISSÃO JESUÍTICA DA IBIAPABA. PINTURA DO ARTISTA DESCARTES GADELHA (MEMORIAL PADRE VIEIRA, VIÇOSA DO CEARÁ)

“Na serra de Iguapába estam cantidade de índios Tabajáras, e Putiguaras que se recolheram do Brazil, depois de terem feito grandes insolências aos Portugueses em companhia dos Framengos Olandezes, Vivem com grande vigilancia: na sua aldeia estão dois Religiosos da Companhia de Jesus: permita Deos que façam muito fructo nelles, e os tragam ao grémio da Santa fé Catholica”. Fonte: Trecho do livro “Descripção do Estado do Maranhão, Pará, Curupá e Rio das Amazonas”, p.15, escrito pelo ouvidor-geral do Maranhão, Maurício de Heriarte, no ano de 1662 e publicado no ano de 1720.

Vieira, que regressara pela segunda vez ao Maranhão, em 1655, afirma que o Governador André Vidal de Negreiros :

[...] intenta uma fortaleza na boca tio Rio Camuci, emprêsa que dependia da vontade dos habitadores da serra. Escreve-lhe o padre Antônio Vieira. Sucesso da resposta da sumaça que com materiais e soldados partiu a levantar a fortaleza.

Este era o miserável estado da Cristandade da serra, quando no ano de 1655 chegou segunda vez ao Maranhão o padre Antônio Vieira, com ordens de Sua Majestade, para que a doutrina e govêrno espiritual de todos os índios estivesse à conta dos religiosos da Companhia; e, posto que o estado referido daqueles cristãos, de que já então havia notícias por fama, prometia mais obstinação que remédio, considerando, porém, os padres que a sua obrigação era acudir à reformação dos índios já batizados, e que êstes da serra tinham sido os primogênitos desta missão, e de quão pernicioso exemplo seria para os que se houvessem de converter, e para os já convertidos, a vida escandalosa em que estavam, e muito mais a imunidade dela. Era ponto êste que dava grande cuidado a toda a missão, e que muita se encomendava a Deus, esperando todos que chegariam ao céu as vozes da sangue do seu Abel, o padre Francisco Pinto, e que, amansadas aquelas feras, que já estavam marcadas com o caráter do batismo, tornariam outra vez ao rebanho de que eram ovelhas. Ajudou muito esta esperança um novo intento do governador André Vidal de Negreiros, o qual chegou no mesmo ano ao Maranhão, resoluto a levantar uma fortaleza na boca do Rio Camuci, que é defronte das serras, para segurança do comércio do pau violete, que se corta nas fraldas delas, e do resgate do âmbar, que a tempos sai em grande quantidade naquelas praias. Esta é a suavidade da Providência divina, tantas vêzes experimentada nas missões de ambas as Índias, onde sempre entrou e se dilatou a fé, levando sobre as asas do interêsse. Comunicados os pensamentos do governador e superior das missões, julgaram ambos que primeiro se escrevesse aos índios de serra, de quem não só dependia o comércio, mas ainda a fábrica e sustento da fortaleza. Mas dificultava, ou impossibilitava de todo a embaixada, a dificuldade do caminho de mais de cem léguas, atalhado de muitos e grande rios, e infestado de diversas nações de tapuias feros e indômitos, que a ninguém perdoam, e, confirmado tudo com a experiência da mesma viagem, intentada outra vez com grande poder de gente de armas, e não conseguida. Contudo, houve um índio da mesma nação tobajará chamado Francisco Murereíba, o qual, confiado em Deus, como êle disse, se atreveu, e ofereceu a levar as cartas. O teor delas, foi oferecer o governador, em nome de el-rei, a todos os índios que se achavam na serra, perdão e esquecimento geral de todos os delitos passados, e dar-lhes a nova de serem chegados ao Maranhão os padres da Companhia, seus primeiros pais e mestres, para sua defensa e doutrina. E o mesmo escreveu o padre superior das missões, dando a si, e a todos os padres, por fiadores de tudo o que o governador prometia, e referindo-se umas e outras cartas ao mensageiro, que era homem fiel, e de entendimento, e ia bem instruído e afeto ao que havia de dizer. Partiu Francisco com as cartas em maio de 1655, e, como fôssem passados nove meses sem nova dêle, desesperado de todo êste primeiro intento, no fevereiro do ano seguinte, que sâo as monções, em que de alguma maneira se navega para barlavento, despachou o governador uma sumaça, com um capitão e quarenta soldados, e os materiais e instrumentos necessários à fábrica da fortaleza do Camuci, e na mesma sumaça ia embarcado o padre Tomé Ribeiro com um companheiro, para saltarem em terra no mesmo sítio, e praticarem aos índios, e darem

princípio àquela missão. Animou também muito a resolução do mesmo governador, e intentos dos padres, a paz que por meio dêles vieram buscar ao Maranhão os teremembés, que são aqueles gentios que freqüentemente se nomeiam no roteiro desta costa com o nome de alarves, cuja relação nós agora deixamos por ir seguindo a sumaça, e não embaraçar o fio desta história. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource; Descrição da Ibiapaba - Wikisource

OS ÍNDIOS CALVINISTAS DA SERRA DA IBIAPABA E A “PARÁBOLA DOS TALENTOS”.

Segundo Souto Maior (1993)

Firmada a Rendição de Taborda em janeiro de 1654, os índios calvinistas das capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam obstinados em direção aos altiplanos da Ibiapaba. Tencionavam criar em solo ibiapabano um enclave indígena de cunho protestante: "a República de Cambressive". Antônio Paraupaba, seu líder, homem de muita influência junto a Companhia das Índias Ocidentais, viajou duas vezes (1654 e 1656) para a Holanda com o propósito de conseguir dos batavos, apoio financeiro e militar para realizar seu intento. Ao se dirigir aos nobres senhores holandeses, Paraupaba ratifica a crença do seu povo “como suditos bons e firmes na sua fidelidade para com este Estado e a Religião Reformada de Christo, a única verdadeira”, e diz que o auxílio batavo seria de fundamental importância, para que aqueles que, segundo ele, “foram uma vez trazidos ao conhecimento da verdadeira religião”, não fossem privados do “reino de Jesus Christo”. Antônio Paraupaba, como conhecedor das Escritura Sagradas, faz alusão a Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-30), insinuando que os batavos receberam de Deus a incumbência de multiplicar em terras brasileiras, as ovelhas do seu rebanho: “Nem deixem que elles recaiam na selvageria entre as feras nos sertões bravios. Pois teriam de prestar contas ao Grande e Todo Poderoso Deus que é contra os que por usura enterram a sua libra com medo de gastar”. Termina Paraupaba implorando socorro imediato aos “pais e defensores dos oprimidos e desamparados”, para que as quatro mil pessoas refugiadas em Cambressive (Ibiapaba), inclusive mulheres e crianças, pudessem sobreviver naquelas paragens, para o bem delas e “para a conservação da Igreja Christã Reformada, a única verdadeira”. Fonte: Livro “Fastos Pernambucanos” de Pedro Souto Maior, Imprensa Nacional, 1993. Por João Bosco Gaspar.

Para John Hemming (1978), foi em 1654 que :

“(...) Os índios fortificaram-se entre os tobajaras, na serra de Ibiapaba. Denominaram sua república Cambressive e chegaram a fazer uma tentativa, aliás malograda, de obter auxílio dos holandeses. Antônio Paraupaba foi enviado à Holanda e fez um comovente apelo aos Estados Gerais em agosto de 1654. Como nada aconteceu, fez um segundo apelo em 1656. O suplicante é enviado por aquela nação que se refugiou com suas esposas e filhos em Cambressive, no sertão além do Ceará, para escapar aos furiosos massacres dos portugueses. Eles estavam lá havia dois anos, mas ainda se mantinham leais ao governo dos holandeses. Se deixar de receber ajuda, aquele povo finalmente deverá cair nas garras dos cruéis e sanguinários portugueses, que desde a primeira ocupação do Brasil têm destruído centenas de milhares de pessoas naquela nação. Paraupaba declarou não poder acreditar que os holandeses deixariam de ajudar os índios, de recompensar seus anos de leais serviços e de proteger a religião reformada (...)”. Fonte: Trecho do livro “Ouro Vermelho” de John Hemming, ano de 1978 p. 454). Por João Bosco Gaspar.

Leslie Bethell, (1997), afirma que no ano de 1654:

“(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses,

a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar.

Já para F. A. Pereira da Costa (1952), no ano de 1654:

“(...) Os índios que serviram no exército holandês, e os que seguiram seu partido e abraçaram a sua religião, a de reforma calvinista e luterana, não se julgando seguros em Pernambuco após a sua restauração [1654], apesar do prometido esquecimento do passado e do perdão geral concedido aos indivíduos de qualquer nação, qualidade e religião, ainda mesmo que fossem rebeldes à coroa de Portugal, o que tudo constava do termo de capitulação dos holandeses firmado em 26 de janeiro deste ano de 1654, emigraram logo para os sertões do Ceará, e depois se foram refugiar na serra da Ibiapaba, seus extremos norte, onde lhes parecia, não recear o ataque dos seus inimigos, e fazendo assim de tais paragens o seu baluarte, a sua vendéa, contra os vencedores, e pretendendo mesmo alguns dos mais instruídos e exaltados, fundar ali um estado índio independente, exclusivamente da sua gente e repelindo a branca. Os índios refugiados na serra da Ibiapaba, nos limites norte do Ceará, atingiam a um número superior a quatro mil almas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Anais Pernambucanos, Tomo III, 1635-1665” de autoria de F. A. Pereira da Costa, p. 393-394, 1952). Por João Bosco Gaspar.

Carlos Studart Filho (1959) coloca que:

“(...) Vale a pena salientar que, nos perturbados momentos da Restauração Pernambucana, numerosos indígenas, parciais dos flamengos, temendo muito justamente as represálias sempre tão cruéis por parte dos portugueses, haviam debandado da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, encaminhando-se em grandes magotes à Ibiapaba. Afinados, muitos deles, pelos contatos da cultura flamenga, iam na esperança um tanto romanesca de criar, em plena selva brasileira, um estado indígena por completo fechado à influência de estranhos de Além-Mar. Acastelados em atitude hostil naqueles chapadões que bordam o Ceará a oeste, passaram efetivamente esses rebeldes a encabeçar a resistência à expansão dos luso-brasileiros que, em meados do século XVII, tentaram derivar para aquelas bandas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Fundamentos Geográficos e Históricos do Estado do Maranhão e Grão Pará” de Carlos Studart Filho, ano de 1959, p. 291. Por João Bosco Gaspar.

Já o padre Antônio Vieira confirma que:

“(...) Entraram os índios rebeldes nas capitulações da entrega com perdão geral de todas as culpas passadas; mas eles como ignorantes de quão sagrada é a fé publica, temendo que os portugueses, como tão escandalizados, aplicariam as armas vitoriosas a vingança, que tão merecida tinham, e obrigados de certo rumor falso de que os brancos iam levando tudo a espada, lançaram-se cega e arrebatadamente aos bosques, com suas mulheres e filhos, onde muitos pereceram a mão dos tapuios, e os demais se encaminharam as serras de Ibiapaba, como refúgio conhecido, e valhacouto seguro dos malfeitores (...)”. Fonte: Trecho do livro “Cartas Várias” do padre Antônio Vieira, ano de 1885, p. 340. Por João Bosco Gaspar.

Prossegue Vieira:

Com a chegada dêstes novos hóspedes, ficou Ibiapaba verdadeiramente a Genebra de todos os sertões do Brasil, porque muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses, sem outro exemplo nem conhecimento da verdadeira religião. Os outros militavam debaixo de suas bandeiras com a disciplina de seus regimentos, que pela maior parte são formados da gente mais perdida e corrupta de todas as nações da Europa. No Recife de Pernambuco, que era a corte e empório de toda aquela nova Holanda, havia judeus de Amsterdão, Protestantes de Inglaterra, calvinistas de França, luteranos de Alemanha e Suécia, e todas as outras seitas do Norte, e desta Babel de erros particulares se compunha um ateísmo geral e declarado, em que não se conhecia outro Deus mais que o interêsse, nem outra lei mais que o apetite; e o que tinham aprendido nesta escola do inferno é o que os fugitivos de Pernambuco trouxeram, e vieram ensinar à serra, onde, por muitos dêles saberem ler, e trazerem consigo alguns livros, foram recebidos e venerados dos tobajarás como homens letrados e sábios, e criam déles, como de oráculo, quanto lhes queriam meter em cabeça. Desta maneira, dentro em poucos dias, foram uns e outros semelhantes na crença e nos costumes; e no tempo em que Ibiapaba deixava de ser república de Baco - que era poucas horas, por serem as borracheiras contínuas de noite e de dia - eram verdadeiramente aquelas aldeias uma composição infernal, ou mistura abominável de todas as seitas e de todos os vícios, formada de rebeldes, traidores, ladrões, homicidas, adúlteros, judeus, hereges, gentios, ateus, e tudo isto debaixo do nome de cristãos, e das obrigações de católicos. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource

TELA HISTÓRICA-DECORATIVA "ALDEIA DA IBIAPABA" de autoria do mestre viçosense Ernane Pereira. Essa obra de arte faz parte da decoração do Centro de Formação Padre Ascenso Gago, em Viçosa do Ceará. Representa a Aldeia da Ibiapaba (Viçosa) como sede da Missão Jesuítica dedicada à São Francisco Xavier, período de 1656 a 1662, fundada pelo padre Antônio Vieira. No ano de 1660 o padre Antônio Vieira esteve na ibiapaba, fato registrado no memorável livro "A Missão de Ibiapaba" de sua autoria.

Presos na Fortaleza do Ceará desde a rebelião que resultou na retirada dos padres Pedro Pedrosa e Gonçalo de Veras dos altiplanos da Ibiapaba no ano de 1662, o morubixaba Dom Simão e os demais índios na nação tabajara, foram, finalmente, libertados no ano de 1665. A liberdade dos “rebeldes da Ibiapaba”, deu-se graças às intermediações do padre Jacob Cocleo.

“Para obter a liberdade dos índios que foram presos por causa do tumulto, Cocleo enviou cartas tanto para o Provincial, quanto para o Vice-rei. Desse último conseguiu a liberdade do Principal e dos demais índios presos: <<E Vossa Paternidade o gosto de ver esses índios livres, e o Principal reduzido a obediência da Igreja, e o serviço de Del-Rei meu Senhor em que Vossa Paternidade se mostra tão igualmente Zeloso>>. Todos seguiram para Ibiapaba, e lá se estabeleceram por “alguns meses” até conseguirem restabelecer as pazes com os indígenas. Assim Cocleo descreve essa jornada”:

“Após caminhada de doze dias, que pus no novo e escolhido lugar as relíquias dos índios a nós favoráveis e que lá me encontraram os rebeldes do monte Ibiapaba com o principal Dom Simão para tratar do acordo de paz, obtida com as condições de readmitirem nossos padres como curadores de suas almas, que se aplicassem a semear cereais continuamente no novo sítio, com o qual pacto eu obteria de Vosso Rei perdão para os culpados, e do Padre Provincial algum sócio que os assistisse” (Archivum Romanum Societas Iesu - Carta de Jacob Cocleo ao Padre Geral Oliva. Ceará, de 12 de setembro de 1665). Fonte: Trecho do livro “Mapas da América Portuguesa, Extraído do Original” de Valquíria Ferreira da Silva.

O CEARÁ NÃO SE DESVENCILHOU DO ESTADO DO MARANHÃO EM 1656:

“(...) 8 de julho de 1656 O Conselho Ultramarino recomenda a El-Rei que em virtude das notícias chegadas a Lisboa e de acordo com o que requisitara André Vidal de Negreiros, ordena que de Pernambuco vão os socorros de que carecer o Ceará, enquanto o Maranhão por falta de cabedal não puder fornecê-los. Esse parecer do Conselho foi aprovado por El-Rei em data de 13 de Julho de 1656. Pode-se, portanto, datar desse tempo a separação do Ceará do governo do Maranhão. Não há carta régia de tal ou tal data determinando que o Ceará ficasse separado do Maranhão, o que houve é o que fica aqui resumido. Impossibilitado o governo do Maranhão de socorrer o Ceará, que estava sob sua jurisdição, decidiu El-Rei a 13 de Julho de 1656 que o socorro lhe fosse ministrado daquela data em diante por Pernambuco, praça muito mais forte e rica e de mais recursos (...)”.

CEARÁ, MARANHÃO, PARÁ E CABO DO NORTE - AS CAPITANIAS DO ESTADO

COLONIAL

DO MARANHÃO.

Manuel Guedes Aranha, administrador colonial português que governou o Estado do Maranhão e Grão-Pará de 03 de setembro de 1667 a março de 1668, fala o seguinte: [01]

“Fica o Estado do Maranhão correndo do Brazil pela costa de leste, e começa sua demarcação 65 léguas de Pernambuco junto aos baixos de São-Roque em 4 graus e 4 minutos do sul; ficando dali ao Ceará 125 léguas, em 3 graus e 30 minutos do sul. Do Ceará ao Maranhão há 120 léguas, em 2 graus e 40 minutos latitude do sul, longitude 338. Do Maranhão à barra do Pará vão 228 léguas, em 18 minutos do norte; e dali ao Cabo do Norte, que é a ponta da terra da outra banda em 1 grau e 50 minutos do norte vão 60 léguas, que tem de largo o rio das Amazonas na boca, e do cabo do rio Vicente Pinzon 30 minutos norte, latitude que é aonde chega a demarcação da coroa de Portugal e começa a da Espanha”. (p. 01-02). [01] Fonte: Livro “Papel político sobre o Estado do Maranhão” 1665, Manuel Guedes Aranhão, Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, ano de 1883, Tomo XLVI 1ª parte, Rio de Janeiro. Por João Bosco Gaspar

Em 7 de março de 1681, por ordem régia, foram criadas as Juntas das Missões na América Portuguesa (Brasil e Maranhão): Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranhão. As Juntas das Missões eram compostas pelos governadores das capitanias (governo temporal), os Bispos (governo espiritual), os Ouvidores Gerais e os Provedores da Fazenda Real. Entre os anos de 1711 e 1715 a Junta de Missões de Pernambuco era presidida pelo governador Félix José Machado de Mendonça (governo temporal) e Dom Manuel Álvares da Costa (governo espiritual), numa circunscrição territorial que abrangia as capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba, Rio Grande e Ceará. A capitania Real do Ceará vivenciava um caso "sui generis" naquela ocasião... era governada por Pernambuco nas esferas TEMPORAL (governador) E ESPIRITUAL (Bispado), porém, tinha cerca de 50% (cinquenta por cento) do seu território dentro do Bispado do Maranhão.

No ano de 1755, quando o Bispo do Maranhão acionou o Rei de Portugal através da Mesa da Consciência e Ordens, no sentido de "estabelecer os limites" entre os Bispados do Maranhão, Pernambuco, Pará e São Paulo, essa discussão veio à tona.

Naquela ocasião (1755), o Bispo do Maranhão diz que:

"Pertencendo-lhe todo o distrito que é desde o Maranhão até a Fortaleza do Seará, se contentava com o que compreendia desde o simo da Serra da Hybiapaba vertentes ao Ryo da Parnahyba para a parte do Maranhão". (AHU-MA, Cx. 35, Doc. 3528).

A Mesa da Consciência e Ordens, porém, em parecer enviado a "Sua Majestade", alertou sobre a situação dúbia vivenciada pela capitania do Ceará... estava dividida entre dois Bispados (Pernambuco e Maranhão) e era governada, na esfera temporal, pela capitania de Pernambuco:

"E que entrando a ponderar [avaliar] o direito que cada um destes Bispados poderia ter àquele distrito [da Ibiapaba], diria a Vossa Majestade que a posse pacífica estava por Pernambuco, e que sendo Vossa Majestade servido se aplicasse também ao Bispado do Maranhão, em tal caso seria preciso dividir também daquele governo [de Pernambuco], porque estando o seu Bispo no Maranhão e o seu governo com Pernambuco, não se podiam coadjuvar as duas jurisdições [temporal e espiritual], dependendo muito alternativamente uma da outra. Não se podiam também governar os índios [da Ibiapaba], porque a Junta de Missão se havia precisamente compor de Bispos e governadores, e que no Maranhão se resolveria uma coisa por parte dos Bispos, e em Pernambuco outra por parte dos governadores. As partes recorreriam uma ao Bispo, outra ao governador, cada qual instruiria os seus requerimentos com diversos documentos, que naquelas Américas comumente eram falsos, pelo que se persuadia [aceitava] que desta divisão só podia resultar desordens". (AHU-MA, Cx. 35, Doc. 3528). Por João Bosco Gaspar. Fonte: Livro de Assentos das Juntas das Missões de Pernambuco - Biblioteca Nacional de Lisboa, Portugal.

Em 7 de março de 1681, por ordem régia, foram criadas as Juntas das Missões na América Portuguesa (Brasil e Maranhão): Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranhão. As Juntas das Missões eram compostas pelos governadores das capitanias (governo temporal), os Bispos (governo espiritual), os Ouvidores Gerais e os Provedores da Fazenda Real. Entre os anos de 1711 e 1715 a Junta de Missões de Pernambuco era presidida pelo governador Félix José Machado de Mendonça (governo temporal) e Dom Manuel Álvares da Costa (governo espiritual), numa circunscrição territorial que abrangia as capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba, Rio Grande e Ceará.

A capitania Real do Ceará vivenciava um caso "sui generis" naquela ocasião... era governada por Pernambuco nas esferas TEMPORAL (governador) E ESPIRITUAL (Bispado), porém, tinha cerca de 50% (cinquenta por cento) do seu território dentro do Bispado do Maranhão.

No ano de 1682, o governador Francisco de Sá de Menezes (1682-1688) organizou a primeira Companhia de Comércio do Maranhão - também referida como Companhia do Estanco do Maranhão ou Companhia de Comércio do Estado do Maranhão e Grão-Pará - , foi uma empresa comercial privilegiada, de caráter monopolista, do comércio entre a colônia e o reino de todas as drogas, fazendas, gêneros e negros da costa da África. Criada sob o reinado de dom Pedro II de Portugal (1667-1706). Seu administrador era Paschoal Pereira Jansen. Essacompanhiavinha a substituiroEstancoda FazendaReal. Duroude 1682a1685.

Em 1684, sobreveio a revolta de Bequimão "para acabar com o monopólio mercantil-político dos capitãesgenerais e a gargalheira econômica-pedagógica dos jesuítas" (LIMA. 1991), os quais foram expulsos pela segunda vez. Foram os moradores de Alcântara quem deram a notícia da rebelião ao governador, em Belém, hipotecando-lhe solidariedade e "repulsando as ativas instâncias dos sediosos", para reafirmar "a constância de ânimo daquele povo em dar sempre as mais seguras provas de fidelidade que professavam". Bequimão e Eugênio Ribeiro Maranhão - este casado em importante família alcantarense - foram a Alcântara inutilmente. Da Câmara de Belém veio a Bequimão uma carta, pelas mãos de Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, o Moço, filho do 3º donatário de Cumã, negando-lhe apoio: "... E se não mandou as tropas do Pará acometer São Luís, enviou Antônio um emissário, na pessoa de Hilário de Souza de Azevedo, que brindou ao Beckman, diz Berredo, com o suborno de quatro mil cruzados, altivamente rejeitados, após o que retirou-se e 'se foi consolar com Antônio Albuquerque, donde ambos se recolheram ao Pará'." (LIMA, 1998, p. 67).

Gomes Freire de Andrade (1685-1687) assume o governo, sem resistência, havendo debandada geral dos sediosos. Bequimão refugia-se no Mearim; Eugênio Maranhão oculta-se em Alcântara, sendo preso, ali, pelo capitão-mor Henrique Lopes Gama, remetendo-o a São Luís.

Carlos deLimaensinaqueos donatários administravam as capitaniasatravés deCapitães-mores, loco-tenentes e procuradores. Foram propostos:

- de Antônio Coelho de Carvalho - Luís do Rego Barros, Manoel Rodrigues Cantanhede e Francisco de Albuquerque Coelho de Carvalho, o Sardo;

- de Inês de Coelho de Carvalho - Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho, o Velho;

- de Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho, o Velho - Jacinto de Araújo Pestana, Antônio de Carvalho Albuquerque e Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, o Moço; e Henrique Lopes da Gama, que passou a seu filho,

- de Francisco Albuquerque de Carvalho, o primeiro - Henrique Lopes da Gama.

Em 1685, Gomes Freire de Andrade determinou as providências para a construção de um forte que atendesse à segurança do território de Alcântara. Esse forte foi construído por Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, o Moço - governou o Maranhão de 1690 a 1701 - no ano de 1695 e recebeu o nome de "Santo Antônio", de acordo com planta do capitão-engenheiro Pedro Carneiro de Azevedo, sendo encarregado de sua construção o capitão-mor Enrique Lopes da Gama. Tendo desmoronado, os padres ali construíram sua casa, em 1710.

Foi no governo de Antônio de Albuquerque, o Moço que os bandeirantes paulistas chegaram às fronteiras do Maranhão e se descobriu o caminho para o Estado do Brasil, pelos confins do vale do Parnaíba e do alto sertão baiano. Em 19 de abril de 1695, o sargento-mor Francisco dos Santos entregou ao governador da Bahia a carta que lhe mandara o do Maranhão, Antônio de Albuquerque, o Moço. Foi um dos mais zelosos administradores dos domínios ultramarinos de Portugal, herói da Guiana e do Amazonas e o maior vulto do governo colonial da América, segundo renomados historiadores.

ANO DE 1691... A MISSÃO JESUÍTICA DA SERRA DA IBIAPABA, CAPITANIA DO CEARÁ, É ELOGIADA PELO REI DE PORTUGAL, DOM PEDRO II “O PACÍFICO”.

Consta no Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal (AHU-PE Cx. 15, Doc. 1550 de 1691), a Ordem Régia do teor seguinte:

“Por carta de vinte e oito [28] de janeiro do corrente ano [1691], ordena Vossa Majestade faça praticar de novo suas Reais Ordens para que as aldeias dos índios se reduzam a oito [8], com fundamento de que sendo menos o número delas, ser mais bem assistidas de Missionários, e que os cem [100] tapuyas que cativaram os paulistas em guerra por ordem do governador e capitãomor, e que como presa dela [guerra] se tinham vendido, se torne a resgatar pela Fazenda de Vossa Majestade, e entregar aos Superiores dos padres da Companhia, para os repartirem pelas aldeias, fixando-se editais para que tenha a notícia de todos que eles são livres na forma da lei de Vossa Majestade, pelos que os manda se reputem só por prisioneiros de guerra, e não por cativos, e o mesmo fizesse a saber ao Mestre de Campo dos Paulistas que assiste naquela guerra, e que agradecesse muito em nome de Vossa Majestade, aos padres da Companhia, o zelo e trabalho incansável com que se tem havido NA MISSÃO DA SERRA DA IBIAPABA, PERTENCENTE A CAPITANIA DO CEARÁ, e os podres de São Phellipe de Neri, na outra missão que fez o padre João Lobo com os tapuyas do Ararobá, reduzindo-os a aldeias. E respondendo a todos estes pontos, digo-vos que quanto a reformação das aldeias, de serem reduzidas todas ao número de oito [8], conferi com o Bispo, e foi de parecer que visto ele ter já visitado as capitanias do norte [Paraíba, Rio Grande e Ceará], e haver de visitar este ano [de 1691] as do sul, examinará com a vista e ouviria os Missionários que assistem nelas, e com toda a madureza e circunspeção [ato de observar com cautela], e sugeria [propunha] os sítios mais convenientes para se estabelecer as ditas oito [8] aldeias (...)”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal (AHU-PE Cx. 15, Doc. 1550 de 1691). Por João Bosco Gaspar – Tianguá-CE.

A título de memória de projetos malogrados, temos a carta régia de 7 de fevereiro de 1692, quando o rei de Portugal mandou dividir os “portos da Costa do Ceará” em capitanias, e doá-las a quem tivesse condição de povoar. Dom Pedro II ordenou ao governador de Pernambuco, Antônio Félix Machado da Silva e Castro (o Ceará era capitania administrada por Pernambuco) que resolveu, “dividir em capitanias os portos da costa do Ceará e que havendo nessa capitania pessoa que as queira povoar e fazer as fortificações a que tocar e se lhe forem requeridas”. Lembra, F. A. Pereira da Costa, que: “com a denominação de costa do Ceará, era também compreendida toda a zona que se estende desde Timonha até Tutóia” (Cronologia Histórica do Estado do Piauí, Tomo I, p. 49). Antes, porém, em 1691, o governador do Maranhão, Arthur de Sá de Meneses (o Ceará era capitania inserida no território do Estado do Maranhão), recebeu ordens do rei para “dividir a costa cearense” para “que havando pessoas que quisessem povoar e fazer fortificações". Atenta o rei, que se desse prioridade aos moradores do Maranhão e do Pará na concessão das terras: “querendo-as os moradores do Maranhão e Pará antes de serem dadas a outrem, seriam preferidos”. NOTA: Foram enviadas cartas régias aos governadores do Maranhão e de Pernambuco, porque a capitania real do Ceará encontrava-se inserida no território do Estado do Maranhão, porém, era provida e administrada por Pernambuco, desde 1656. Fontes: Fonte: “Documentos para a história do Brasil, especialmente a do Ceará” Barão de Studart, RIC 1922, p. 219220 e João Capistrano de Abreu, “Ceará e Rio Grande”, Revista do Instituto do Ceará, 1921, p. 144. Por João Bosco Gaspar.

NOTA: Durante boa parte do período colonial, a capitania do Ceará viveu uma situação dúbia... era parte integrante do território do Estado Colonial do Maranhão, porém, a partir de 1656 (capitulação holandesa) passou a ser “provida e administrada” pela capitania de Pernambuco, a qual fazia parte do Estado do Brasil. No âmbito espiritual não era diferente. A capitania do Ceará fazia parte de dois Bispados: Pernambuco e Maranhão. Criado em 1676, o bispado de Pernambuco começava no Rio São Francisco e terminava na “Fortaleza do Seará”. Criado em 1677, o Bispado do Maranhão começava no Cabo do Norte (atual Amapá) e terminava na “Fortaleza do Ceará”. De modo que, a “Fortaleza do Ceará” era assistida pelo bispado de Pernambuco, e as “Serras da Ibiapaba” localizadas no oeste da capitania do Ceará eram parte do Bispado do Maranhão. Por: João Bosco Gaspar.

ANO DE 1693 - O governador do Maranhão, diz que "As Serras de Ibiapaba" pertenciam ao Ceará. Existe no Arquivo do Conselho Ultramarino de Portugal - AHU-MA. Cx. 8, Doc. 870 do ano de 1693, o documento do teor seguinte: Carta do governador do Maranhão, Gomes Freire de Andrade, ao Secretário do Conselho Ultramarino: Transcrição Integral

“Nesta carta, representa a Sua Majestade o Provincial de Nossa Senhora do Carmo, Frei Antônio da Piedade, que se acha governando o Bispado do Maranhão, como os índios das Cerras de

Goapaba [Serras de Ibiapaba] pediram Missionário ao governador, e que pelo não haver da Companhia de Jesus, lhe mandara um da Ordem do Carmo, que se recolheu com pouco efeito; porém, que os mesmos índios instam [instar = pedir com instância] que não tem Missionário, queixando-se de que Sua Majestade não ocupe nas Missões os seus religiosos, para o que alegam muitas razões, e ultimamente pede a Sua Majestade lhe conceda as Missões daquelas Cerras [Serras].

O governador [do Maranhão] tem dado conta pela Junta das Missões do que tem sucedido com estes índios, e creio que o Bispo de Pernambuco contenha as oito [8] Missões do Ceará, A QUE PERTENCEM AS CERRAS [Serras] REFERIDAS, e como não tenho verdadeira notícia do cotado [quantia] em que se acham estas Missões, nem de que religião são os operários que andam nelas, e instantemente ignoro o que o governador tem obrado nesta matéria, não posso informar nela. S. L. 24 de novembro de 1693 [assinado] – Gomes Freire de Andrade”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – AHU-Maranhão, Caixa nº 08, Documento nº 870, de 24 de novembro de 1693. Por João Bosco Gaspar – Tianguá-CE.

Por volta do ano de 1694, Ascenso Gago viajou para Pernambuco com o objetivo de requerer a “piedosa liberalidade do El-Rei” através do governo de Pernambuco, para conseguir “alguma esmola para com ela comprar em o Ceará [Fortaleza] 20 ou 30 novilhas para levar para a missão, porque multiplicando estas em aqueles campos que são novos poderiam os religiosos, que ali assistem, sustentar-se da carne, e os couros, que se podiam conduzir ao Ceará, se venderiam para se remediarem das ferramentas necessárias para os índios”.

Em outra ocasião Ascenso Gago ratifica o pedido: “Que V. Majestade deve ser servido que lhe assine terra bastante para nela se plantarem dois currais de gados, que tenha cada um até quatrocentas cabeças de gados. Com cujos rendimentos possam sustentar os padres que assistem no hospício”.

De fato, por volta do ano de 1695, o padre Ascenso Gago “situou alguns gados no Rio Camuci, no lugar hoje denominado “Missão”. Foram os primeiros, diz Ascenso Gago, "que se levantaram naqueles sertões”.

No ano de 1698 o jesuíta (e cartógrafo) Jacobo Cocleo, concluiu o mapa do "novo caminho entre São Luís e Salvador" via Vale do Itapecuru e sertões do Piauhy. Esse "novo caminho" afastou, de vez, os aldeamentos indígenas da Serra da Ibiapaba da órbita do Estado do Maranhão, abrindo caminho para, no século seguinte, os luso-pernambucanos se estabeleceram nas terras do Siará-Grande. Fonte: Arquivo Histórico do Conselho Ultramarino de Portugal, AHU-MA, cx. 9, doc. 957, ano de 1698. Por João Bosco Gaspar

ANO DE 1714 - MANDU LADINO TENTA INVADIR À ALDEIA DA IBIAPABA – O EMBATE ENTRE TAPUYOS E TABAJARAS.

Texto extraído das cartas inéditas escritas em latim pelo jesuíta João Antônio Andreoni (Cartas Annuas de 1714-1716 e 1721).

Narra o padre Andreoni, que a revolta indígena levantada entre os anos de 1712-1719 e que ficou conhecida como a <<Revolta dos Tapuyos>>, “exigiu constante sacrifício dos padres residentes na povoação de Ybiapaba com os índios domesticados, e lhes fez correr grande perigo”.

PROSSEGUE o padre Andreoni, relatando os fatos ocorridos depois do assassinato do mestre de campo Antônio da Cunha Souto Maior, levado a efeito pelo <<bando de Mandu Ladino>>:

“Estes mataram à traição em [rio] Parnahyba o comandante dos soldados que os tratava mal e não lhes pagava o soldo, como também assassinaram a mulher do comandante em chefe, tendo posto em fuga os soldados e sentinelas das fortificações, e matando de manhã cedo os que encontravam indefesos; apoderando-se das armas, pólvora, balas e de quase trezentas espingardas. Esta presa levantou os ânimos guerreiros dos tapuyos, acostumados a antes combater (...) com armas desiguais, servindo-se do arco e da flecha, e assim tendo tirado a estes o seu melhor meio de defesa, resolveram assaltar a povoação de Ybiapaba, a maior de todas naquela região, e confiada à administração dos nossos padres”. [...] “Estava ausente o comandante em chefe [Dom Jacó de Sousa e Castro], que fora à Parnahyba com os índios mais esforçados afim de cessar os tumultos, e tendo-se descoberto a resolução dos inimigos [tapuyos], enquanto estes esperavam outros que haviam chamados e passavam inutilmente o tempo a alimentar-se de carne bovina, tiveram os padres ocasião de mandar um mensageiro aos ausentes [Dom Jacó e demais tabajaras], e pedir armas ao governador da Fortaleza [do Siará], ainda que distasse 80 léguas da povoação [de Ybiapaba]”. [...] “Neste interim o Superior [da Missão de Ybiapaba], por necessidade, exerceu com denôdo [bravura] o cargo de comandante e chefe dos soldados [tabajaras], já exercitando os índios ao combate e preparando as fortificações, já designando as sentinelas, enviando espias, e procurando mantimentos, ao mesmo tempo que com os outros padres consolavam as mulheres que choravam segundo seu costume e oravam com elas na Igreja, pedindo a Deus não entregasse para serem devoradas pelas feras sanguinárias aqueles que confessavam seu nome. Vendo-se indefesos e expostos aos ataques dos inimigos [tapuyos], os vaqueiros dispersos naqueles campos se refugiaram na povoação [de Ybiapaba] com suas armas e escravos, com o consentimento do Superior [da Missão]. Aumentando assim a força para a resistência, desapareceu entre todos o temor, sendo mortos quase 400 tapuyos, alguns feridos, outros postos em fuga, e outros com grande aflição dos padres reduzidos a cativos pelos comandantes que moviam a guerra”. [...] “O que os contristou naqueles meses foi a falta que houve do necessário para a quotidiana celebração do Santo Sacrifício, que dificilmente se oferecia aos domingos. Durante dois anos não aportou um só navio em porto cearense (...) porque não eram enviados de Pernambuco (...). Em meio a tantas calamidades não se interromperam, contudo, os costumes e exercícios da piedade, a pregação, a catequese nem a frequência dos sacramentos. Houve 335 confissões, 228 batizados e 46 casamentos”. O padre Andreoni relata, ainda, a primeira visita feita aos altiplanos da Ibiapaba, pelo padre João Guedes (sucessor do padre Ascenso Gago), em dezembro de 1714, e diz que: “O padre João Guedes visitando a mandado do padre Provincial à povoação de Ybiapaba, onde se contam 3.000 índios e índias, e afastou energicamente da empresa a um estranho <<perturbador, que pretendia dividir a povoação e constituir novos chefes à sua vontade>>, dizendo-se primo do governador dos índios [Dom Jacó de Sousa e Castro], e mostrou-lhes que o cuidado dos índios e das demais coisas daquela povoação [de Ybiapaba] confiadas à Companhia [de Jesus] pelo Rei, dependia só dos padres, tanto no espiritual como no temporal”. Finaliza o padre Andreoni, já na Carta Anua de 1721, dizendo que: “Neste ano [1721] os nossos padres que cuidam dos índios residentes na serra da Ybiapaba, conduziram das florestas para os aldeamentos um grande numero de selvagens, quase 5.000 e se esforçaram por reuni-los aos demais habitantes da povoação”. Fonte: Cartas inéditas escritas em Latim pelo jesuíta João Antônio Andreoni (1714-1721), traduzidas para o português por José Gerardo Ferreira Gomes, a pedido do historiador cearense Barão de Studart. “Documentos da Collecção Studart” da Revista do Instituto do Ceará. Pesquisa: João Bosco Gaspar.

ANO DE 1718... O REI DE PORTUGAL DIZ QUE A FRONTEIRA OESTE DA CAPITANIA DO CEARÁ ERA O RIO PARNAYBA...

EM “CARTA ASSINADA E SELADA COM O SELO GRANDE DE MINHAS ARMAS”.

Encontra-se Registrada nos Arquivos de Portugal, na Chancelaria de Dom João V, livro nº 51às fls. 769 [381], datada de 09 de maio de 1718, a confirmação de Carta Patente, do teor seguinte:

“Dom João, por graça de Deus, rei de Portugal, etc. Faço saber aos que esta minha carta patente de confirmação virem, que tendo respeito a Domingos Machado Freire, e estar provido pelo

governador da capitania de Pernambuco, Dom Lourenço de Almeyda, no posto de capitão de cavalos do Distrito da Ribeira do Camosy [Camocim] e das mais povoações desde o Rio Acaracu até a Parnayba da capitania do Ceará, que vagou por deixação que dele fez Miguel de Machado Freire [irmão de Domingos], que não estaria confirmado por mim, e atendendo ao dito Domingos Machado Freire, por ser um dos homens nobres e afazendados daquele Distrito [e por ter] servido no posto de tenente de cavalos, fazendo várias entradas ao gentio bravo, com boa satisfação e zelo do meu Serviço Real, e por esperar dele que da mesma sorte se haverá daqui em diante, em tudo de que for encarregado dele, conforme a confiança que faço de sua pessoa.

Hei por bem, fazer-lhe mercê de o confirmar, como por esta confirmo, no dito posto de Capitão de Cavalos do Distrito da Ribeira do Camosy [Camocim] e das mais povoações até o Rio Acaracu e Parnayba, que vagou por deixação que dele fez Miguel de Machado Freire (...), confirmado por mim, em que fora provido pelo dito governador da capitania de Pernambuco, com o qual não vencerá soldo algum da minha fazenda, mas gozará de todas as honras e privilégios, liberdade, isenções e franquezas que por zelo que ao dito posto lhe tocarem.

Pelo que mando ao meu governador de Pernambuco, conheça o dito Domingos Machado Freire por Capitão de Cavalos do dito Distrito e povoações referidas, e como tal o honre e estime, e o deixe servir e exercitar debaixo da mesma posse e juramento que se lhe deu quando nele entrou, e aos oficiais e soldados da mesma Companhia, ordeno também que em tudo lhe obedeçam e cumpram suas ordens, por escrito e de palavras, como devem e são obrigados; e por firmeza de tudo, lhe mandei esta carta patente de confirmação por duas vias por mim assinadas e seladas com o selo grande de minhas armas.

Dada na cidade de Lisboa Ocidental, aos nove dias do mês de mayo, Dionízio Cardoso Pereira, a fez, no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christos de mil e setecentos e dezoito [1718]”.

FONTE: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – AHU, ano de 1718. Chancelaria de Dom João V, Livro nº 51 fls. nº 769. Por João Bosco Gaspar – pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio – Membro do CELDITEC, Comitê de Estudos de Limites e Divisas Territoriais do Estado do Ceará.Link para confirmação: https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=3882730

MANDU LADINO - O FIM DO LÍDER DOS TAPUIAS - ANO DE 1719.

Não existe honra alguma em assassinar uma pessoa. A pecha de “matador” é o conceito mais vil que permeia a sociedade. Entretanto, existe um princípio jurídico que diz: “Suum Cuique Tribuere”, ou seja, “a cada um o que é seu”. Com a História não é diferente... devemos atribuir a cada um, o fruto dos seus atos. Com relação a morte do líder indígena Mandu Ladino, ocorrida na segunda década do século XVIII, o que dizem as fontes primárias e secundárias?

Por incrível que pareça, os principais historiadores que tratam sobre Mandu Ladino são estrangeiros: o britânico, Charles Ralph Boxer, o canadense John Hemming e a portuguesa Virgínia Rau. Virgínia Rau diz que:

“Até [o ano de] 1700 estivera sossegado o gentio vizinho da aldeia da serra da Ibiapaba, porque os padres tinham feito as pazes com os tapuias, que todos os anos as vinham renovar à aldeia. Viera perturbar este estado, o desatino duma tropa do Ceará. Ordenando el-Rei de Portugal ao capitão-mor do Ceará que mandasse sondar a barra do rio Parnaíba, recomendando que a tropa não ofendesse o gentio e apenas se defendesse se fosse atacada, enviara o capitão-mor [do Ceará] Francisco Gil Ribeiro, 700 homens, dando-lhes por cabo o coronel Leonardo de Sá [irmão do exgovernador do Ceará, Sebastião de Sá], a quem ordenara que fizesse toda a diligência por trazer alguns cativos. Descobrira a tropa o resto dos tapuias chamados Vidais e, perseguindo-os, encontraram-nos, matando e cativando muitos e entre eles a mulher do seu principal (...). Os que escaparam, foram imediatamente à ribeira de Piracuruca, vingando-se nos moradores e fazendo grande estrago nas suas fazendas”

[01]. Na exposição que o padre Antônio de Sousa Leal fez ao Rei de Portugal, consta que:

“Em 1708, depois de muitas guerras, Antônio da Cunha Soto-Maior fizera a paz com os que ainda restavam destes tapuias, exceptuados os Anapuruassus (...). [Que] os soldados do Maranhão tiravam-lhes as mulheres e filhas, e tratavam-nos como escravos, sem qualquer recompensa. Além disto, enforcara quatro ou cinco Arayos, desterrara e mandara matar outros, entre os quais uma irmã do Mandu Ladino e o seu marido”

[01]. Charles R. Boxer informa que:

“Em 1712-13, quando uma revolta geral dos <<tapuias do norte>> envolveu não só muitos dos que tinham sido anteriormente dominados naquela região, mas numerosas tribos dos distritos fronteiriços do Maranhão e Ceará. Dois destacamentos grandes e bem armados, compostos de moradores e soldados, foram feitos em pedaços pelos selvagens, cujo perigoso chefe era um exconvertido dos jesuítas, chamado Mandu Ladino. Existiam 400 sítios naquela região quando a revolta começou, e mais de uma quarta parte deles foi destruída ou teve de ser evacuada. Depois de muitos combates, Mandu Ladino foi morto e a retaguarda da revolta abatida, embora alguns pontos de resistência permanecessem em distritos mais remotos durante vários anos. A extinção da revolta foi devida, em grande parte, à lealdade dos índios da missão jesuíta da Serra de lbiapaba, no Ceará, que se mostraram muito mais eficazes do que os brancos nos combates dentro dos matagais. Bernardo Carvalho [mestre de campo do Maranhão e Piauhy] estava ansioso para que aqueles índios fossem separados da capitania do Ceará e incluídos no Estado do Maranhão, mas tal sugestão encontrou forte resistência por parte dos missionários jesuítas e dos moradores do Ceará”

[02]. John Hemming, informa que:

“Em junho de 1712 todas as tribos assentadas no acampamento de Soto-Maior, com exceção de duas, se rebelaram, mataram o comandante [Soto-Maior] e a maioria de seus oficiais, vinte soldados e alguns criadores de gado (...). A revolta foi comandada por Mandu Ladino (...). Os quatrocentos homens de Mandu Ladino se apoderaram de trezentas armas de fogo e de munição, e sua rebelião espalhou-se pelo Piauí e Ceará (...). Em 1718 o Conselho Colonial em Lisboa manifestou sérias preocupações com as guerras empreendidas por Mandu Ladino que se travavam no Maranhão, Piauí e Ceará (...). Afinal foram outros índios que derrotaram Mandu Ladino. Os tabajaras da serra da Ibiapaba, que tinham estado sob a influência dos jesuítas desde a partida dos holandeses, eram tupis e tradicionais inimigos dos tapuias que viviam mais além. Os

tabajaras, comandados pelo cacique Dom Jacó de Sousa e Castro, avançaram contra os tapuias sem a companhia de quaisquer brancos, que constituíam um embaraço para eles nas florestas” [03]. Defato, amortedeManduLadino, ocorridaantesdenovembrode1719,deu-sepelasarmas dos tabajaras da Ibiapaba, capitania do Ceará, justamente no período em que o mestre de campo Bernardo Carvalho de Aguiar, estava ausente do Piauí. Vejamos o que diz o padre João Guedes, contemporâneo daqueles fatos: “Que se podia guerrear os tapuias revoltados sem mestres-de-campo nem arraiais, provavam-no as cinco grandes vitórias que tinham tido os índios da serra da Ibiapaba, nos dois anos em que o citado mestre-de-campo [Bernardo Carvalho de Aguiar] estivera ausente do Piauí”

[01]. A narrativa coesa desses três grandes historiadores, encontra respaldo nas palavras do Rei de Portugal, Dom João V, sobretudo nas três cartas-patente concedidas aos principais índios da serra da Ibiapaba, com o hábito de Cavaleiros da Ordem de Santiago: Dom José de Vasconcelos, Dom Felipe de Sousa e Castro e Dom Sebastião Saraiva Coutinho. Na carta concedida a Dom Felipe de Sousa e Castro (e nas demais), consta que tal mercê foi conferida em virtude da sua participação na luta que tinha: “desenfestado os gentios bárbaros das capitanias do Ceará e Piauhy, alcançando muitas vitórias e ultimamente em que mataram o índio Mandu Ladino, um dos mais cruéis inimigos nossos”. Essa fonte primária encontra-se registrada no livro do Registro Geral de Mercês de D. João V, livro 12 fls. 660. Por João Bosco Gaspar.

[01] Livro “Os Manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval Respeitantes ao Brasil – Volume II”, de Virgínia Rau – Professora da Universidade de Lisboa.

[02] Livro “A Idade do Ouro no Brasil - Dores de crescimento de uma sociedade colonial”, de Charles Ralph Boxer – Professor Emérito da Universidade de Londres.

[03] Livro “Ouro Vermelho – A Conquista dos índios Brasileiros” de John Hemming – Diretor da Royal Geographic Society de Londres. Créditos da imagem: Correio do Norte.

O TITULO DE “DOM” CONCEDIDO AO ÍNDIO FELIPE DE SOUSA E CASTRO.

Dom Felipe foi agraciado com o Hábito de Cavaleiro da Ordem de Santiago da Espada, por ter comandado a nação tabajara no extermínio do índio MANDU LADINO em 1719, passou a receber uma tença de 8 mil reais descontados dos dízimos da capitania do Ceará.

NOTA: Lei Filipina - Desde 1611, que por lei do rei Filipe II de Portugal (III de Espanha), o uso do título de “Dom” passou a ser privilégio dos Grandes do Reino, compreendendo estes a realeza (rei, rainha, príncipes e infantes), os membros do alto clero (cardeais, arcebispos e bispos), os membros da Alta Nobreza (duques, marqueses, condes, bem como viscondes e barões com honras de Grandeza), os oficiais generais do exército e da armada e os grão-mestres das Ordens de Cavalaria.

TRANSCRIÇÃO INTEGRAL

Livro de Registro Geral de Mercês do Reinado de Dom João V de Portugal. Livro nº 12, fls. 333 (660), ano de 1721.

“D. Felipe de Sousa e Castro, filho de D. Jacob. Houve Sua Majestade por bem, e com respeito aos muitos serviços que os índios da Serra da Ibiapaba se tem feito <<não só na restauração de Pernambuco mas também continuamente desde que os padres da Companhia os aldearam e instruíram na fé católica>> desinfestando os gentios bárbaros das capitanias do Ceará e Piauhi, e alcançando muitas vitórias, e ultimamente em que mataram o índio Mandu Ladino, um dos mais cruéis inimigos nossos, e ser um dos principais índios que se achava nas referidas ocasiões, com muito valor e zelo de seu Serviço Real, D. Felipe de Sousa e Castro, filho do governador que foi dos índios, D. Jacob de Sousa; e por sua Majestade, espera dele, que da mesma maneira se haverá daqui em diante em tudo do que for encarregado do seu serviço; Hei por bem fazer-lhe mercê a DOM DE ARMAS [Senhor das Armas], que pelos mesmos respeitos que lhe fez do posto de mestre de campo dos ditos índios; que vagou-se pela promoção de D. Joseph de Vasconcelos que o exercitava de antes; com o qual posto [de Dom] gozará o dito D. Felipe de Sousa e Castro, de honras e privilégios, liberdades, favores e franquezas que em razão dele lhe tocarem, da qual, por esta o há, Sua Majestade, emitido de posse do que lhe foi passada carta a 28 de janeiro de 1721”. A CARTA PADRÃO DE TENÇA DE CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIAGO, 8 MIL RÉIS, PAGOS PELA CAPITANIA DO CEARÁ.

“Houve Sua Majestade por bem, tendo respeito aos valorosos serviços que tem feito a esta coroa os índios da Serra da Ibiapaba, não só na restauração de Pernambuco mas também continuamente desde que os padres da Companhia os aldearam e instruíram na fé católica, desinfestando dos gentios bárbaros as capitanias do Ceará e do Piauhi, alcançando muitas vitórias contra eles, matando-lhe o seu cabo de corso [Mandu Ladino, como dito acima] que fazia grandes hostilidades de mortes e fazendas destruídas, e se tem os ditos índios da mesma Serra da Ibiapaba, este vencimento; e ser um dos principais índios que se acha nestas jornadas e ocasiões, com muito valor e zelo do Real Serviço, o D. Felipe de Sousa e Castro, filho de D. Jacob, já falecido, Hé Sua Majestade, por bem, fazer-lhe mercê a DOM DE ARMAS, que com os mesmos respeitos fez na 81ª sentença e registro, por contados 20, com que foi impedido, porque dos 12 que faltava para o cumprimento dela [sentença], se repassou outro padrão para os ter como CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIAGO, os quais 8 [mil réis em tença] lhes serão assentados nos rendimentos dos DÍZIMOS DO CEARÁ e por os da capitania do Rio Grande, e os começará a vencer do dia que dele se lhe fizer assento. De que esta foi passada ao dia 15 de fevereiro de 1721”. Fonte: Livro de Registro Geral de Mercês do Reinado de Dom João V de Portugal. Livro nº 12, fls. 333 (660), ano de 1721. Por João Bosco Gaspar – Pós-Graduado em História, Cultura e Patrimônio - Tianguá – Ceará Link para confirmação: https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=1890501

CARTA RÉGIA DE 1720 – DOAÇÃO DE “TODA A TERRA QUE FICA EM CIMA DA SERRA, AOS ÍNDIOS DA ALDEIA DA IBIAPABA, CAPITANIA DO CEARÁ". Existe no Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – AHU-CE, Caixa nº 06, Documento nº 415, página 07, o documento do teor seguinte: DISSE O REI:

“Dom João, por graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve, d’aquém e d’além mar em África, Senhor da Guiné, etc. Faço saber a vos capitão-mor da capitania do Ceará, que por parte dos índios da aldeia da serra da Ibyapaba, se me representou, que por serem muitos, e se lhes ter agregado mais tapuias que passavam hoje de quatrocentos, estavam experimentando graves fomes porquanto as terras que lhes foram demarcadas estavam de muitos penedios e quebradas inúteis, e as que eram capazes de plantar e de darem frutos além de serem poucas, estavam já cansadas, e por esta causa não tinham terras capazes aonde pudessem plantar e cultivar os seus mantimentos, e que a não ser a caridade que os padres missionários faziam, acudindo-lhes com algum gado que criam, morreriam de fome, e principalmente as muitas viúvas desamparadas e os meninos órfãos, que se acham na dita aldeia, cujos pais e maridos morreram na guerra em climas estranhos. Pedindo-me-lhes mandasse alargar os distritos das suas terras, concedendo-lhe toda a que fica em cima da serra. E sendo visto este seu requerimento, atendendo as justas razões deles, e se terem feito merecedores pelo serviço que me tem feito na defesa desta capitania [do Ceará] e da do Piauhy na guerra que nela tem havido contra os índios nossos inimigos. Houve por bem, por resolução minha de cinco do presente mês e ano, em consulta do meu Conselho Ultramarino de lhes conceder toda a terra que fica em cima da serra além das que lhes estavam dadas para seu ministério, começando o seu distrito desde a ladeira da Uruoca até o lugar chamado Itapevuna por serem capazes de criar gados em que seus pais e avós sempre plantaram, e hoje se acharem descansadas, capazes de darem mantimentos, não estando ditas terras dada de sesmarias outrem; porém, constando que alguma pessoa tem data nela, vos ordeno me informeis se as tem cultivado ou não, e da qualidade das ditas terras e de seu valor caso que estejam conferidas em alguns sujeitos para que conforme a esta notícia, possa mandar providencia necessária. El-Rei, Nosso Senhor, o mandou por João Telles da Silva e Antônio Rodrigues da Costa, Conselheiro de seu Conselho Ultramarino, e se passou por duas vias. Miguel de Macêdo Ribeiro a fiz em Lisboa Occidental a dez de dezembro de 1720. O Secretário André Lopes da Silva a fiz escrever. João Telles da Silva, Antônio Rodrigues da Costa. Segunda via por El-Rei, ao capitão-mór da capitania do Ceará. Estava o sello Real”.

FONTE: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – AHU-CE, Caixa nº 06, Documento nº 415, página 07. Por João Bosco Gaspar – membro do CELDITEC.

INQUISIÇÃO NA ALDEIA DA IBIAPABA, CAPITANIA DO CEARÁ, BISPADO DE PERNAMBUCO – ANO DE 1720.

“Dá conta a este Tribunal da Santa Inquisição Dom Jacobo [Jacó] de Sousa e Castro, índio principal e governador da sua nação de tabajaras da aldeia da Serra da Ybiapaba da capitania do Ceará Grande, bispado dePernambuco,que em a ditasuaaldeiaháumamulhercazadapornome AntôniaGurágassu, quefaz aparecer o demônio em forma vizivel de índio, segundo a voz a fama publica daquela aldeia, sem contradição de pessoa alguma, disse (...) que esta índia querendo chamar o demônio, toma umas grandes fumaçal de tabaco em cachimbo até ficar como fora de si, e logo se levanta aos ares saindo pelo teto da caza que é de palha, sem a destruir; e nos ares dá um grande assobio e logo cai outra vez na mesma caza, e tem ela o demônio, o qual responde a varias perguntas do outro mundo, e as vezes diz que a alma de alguma parenta desta feiticeira, que havia anos era defunta. O que pode constar perguntando se naquela aldeia os índios são mais capazes, pois entre índios nada é oculto, e o que um faz sabem todos, nem há perigo de infâmia ou outra alguma desordem, porque é gente que nenhum sentimento toma.

Que a mesma feiticeira veio uma noite na caza dele denunciante, estando ele muito doente de dores de estômago, e lhe disse vinha fazer-lhe umas menzinhas para o curar; e veio aquelas horas, sem duvidas para que não soubessem os missionários, e disse-lhe que queria chamar o demônio para a ajudar, que não tivesse medo, e logo sentiu ele denunciante, uma pancada na caza, como pessoa que caiu do telhado no meio da caza; e temendo naturalmente se quis benzer, porém esta pessoa que caiu de cima, em voz desconhecida e na língua dos índios, lhe disse que não tivesse medo, que ele, ainda que era o curador, lhe não faria mal; mas que vinha a chamado daquela mulher a curar-lhe, e estendendo a mão lha pôs no estômago, tão fria que nem parecia de pessoa viva; e como ele denunciante se inquietou, assustado e atônito, não quis consentir, calou-se e desapareceu dali aquela figura, ficando unicamente esta mulher feiticeira e uma sua irmã que hoje é defunta, que com ela vinha; porém ele denunciante não sabe divisar bem o vulto, por fazem muito escuro, mas creu (...) ser o demônio, e pela fama que a dita feiticeira tem da qual se preza e seus parentes, tem hoje por certo, ser verdadeiramente feiticeira. Também na mesma aldeia, alguns índios e índias tem a mesma fama, porém não tão certa como parece a desta dita índia (...). E tem se por certo que se não fizer algum castigo, tirando estes mais culpados daquela capitania, nunca os índios hão de ser verdadeiramente cristãos, e todos se perderão. Assim o sentem os missionários desta capitania. Assinado a rogo por Dom Jacó de Sousa e Castro, o padre Antônio de Sousa Leal – Lisboa 21 de agosto de 1720”.

Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Portugal, Cadernos do Promotor nº 286, p. 1170 (585). Por João Bosco Gaspar. Link para confirmação.

https://digitarq.arquivos.pt/details?id=3259951

DOMINGOS FERREIRA DE VERAS – CORONEL DE ORDENANÇAS DA SERRA DA IBIAPABA, CAPITANIA DO CEARÁ – ANO DE 1720.

“Dom João, por graça de Deus, Rei de Portugal, faço saber aos que esta minha carta patente de confirmação virem, tendo respeito a Domingos Ferreira de Veras, estar provido por Dom Lourenço de Almeida, governador que foi da capitania de Pernambuco, no posto de coronel de infantaria das ordenanças do distrito da Serra da Ibiapaba até o distrito da vila da Parnaíba que criou de novo em virtude de uma ordem minha de vinte de janeiro de 1699 por ser conveniente a meu serviço que nas freguesias do sertão daquela capitania haja capitães-mores e mais cabos necessários que deem auxilio de braço militar para boa administração da justiça; atendendo ao dito Domingos Ferreira de Veras ser um dos homens nobres e afazendados daqueles sertões (...), com o qual fez séquito e alguns vezes guerra ao gentio bárbaro em defesa não tão somente das suas próprias fazendas, mas de outras muitas que há na sua vizinhança, nas quais o dito gentio executou muitas extorsões e hostilidades naqueles moradores por ficarem muito distantes da vila do Ceará havendo-se nestas ocasiões com reconhecido zelo de meu Real Serviço”. Lisboa, 18 de maio de 1720. Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo – Portugal – Chancelaria de D. João V, livro nº 52 fls. 757 e verso.

NOTA: Por esse tempo, Domingos Ferreira de Veras já era possuidor da Sesmaria “Salinas”, localizada entre as barras dos rios Igaraçu (braço do Parnaíba) e Camurupim, capitania do Ceará. Foi nessa fazenda das “Salinas” que o ex-governador do Maranhão, João da Maia da Gama, no ano de 1729, em viagem de regresso ao reino, diz ter iniciado a sua “MARCHA PELAS PRIMEIRAS TERRAS DA JURISDIÇÃO DO ESTADO DO BRASIL E DA CAPITANIA DO CEARÁ”. Link para confirmação: https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=3882731 ( por João Bosco Gaspar).

ANO DE 1720 -OS ÍNDIOS DASERRADA IBIAPABADIZEMQUE "ANTES QUEREMMORRER, QUE VIVER NO PIAUHY".

Encontra-se registrada nos Arquivos de Portugal, uma Resolução do Conselho Ultramarino, onde os índios da IbiapabamanifestamseurepúdioaoDecretoReal, quemandavaanexaraaldeiadaSerradaIbiapabaaoEstado do Maranhão:

“(...) e finalmente, se vissem que sendo a sua aldeia anexada a capitania do Piauhy e ao de estar sujeitos ao Maranhão, a qual sujeição lhes aborrecem tanto que dizem que antes querem morrer do que viver nela; e porque a consideração de tudo isso poderá causar neles a resolução que se tem, de largarem a aldeia e fugirem para as mais remotas serras dos sertões para nunca mais serem vistos, com perda de suas almas (...). P[revine] a Vossa Majestade, que para evitar a ruina de tantas almas, seja servido de suspender a execução do dito decreto, ordenando ao governador de Pernambuco e capitão mor do Ceará, que assim a façam, ficando a aldeia como até agora estava, anexada a capitania do Ceará e sujeita ao governo de Pernambuco (...)”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal - Códice nº 266, anos 1712-1749, p. 109. Por João Bosco Gaspar.

PORTO DO RECIFE, ANO DE 1720.OS ÍNDIOS DAIBIAPABARETORNAMDE LISBOA...“DOM JACÓ NÃO ESTAVA ENTRE ELES, ESSE, FOI COLHIDO PELA MORTE EM TERRAS DE PORTUGAL...”. Diz o Barão de Studart, que “Em 1720 aportava em Pernambuco a frota vinda do Reino. Eram passageiros dela o jesuíta João Guedes e os chefes da serra da Ibiapaba, mestre de campo Dom Felipe de Sousa [e Castro] e o capitão Cristóvão de Sousa. Não pudera acompanhá-los Dom Jacó [de Sousa e Castro], pai de Dom Felipe, que esse a morte colhera em Lisboa, para onde os três haviam ido afim de impetrar d’El-Rei Dom João V, a volta da Missão da Serra [da Ibiapaba] ao governo de Pernambuco”. Fonte: “Duas Memórias do Jesuíta Manuel Pinheiro” do Barão de Studart, Revista do Instituto do Ceará, ano de 1932, p. 177.

NOTA: No ano de 1720, os índios da nação tabajara e os missionários da Companhia de Jesus, foram ao reino, tratar diretamente com o rei, para impedir que a aldeia da Serra da Ibiapaba fosse desanexada da capitania do Ceará e anexada ao Estado do Maranhão... conseguiram!!!.

PERDEU PIAUHY... DECISÃO COLEGIADA DO CONSELHO ULTRAMARINO DE PORTUGAL, DE 16 DE OUTUBRO DE 1720, QUE INFLIGIU A PRIMEIRA DERROTA AO PIAUHY, COM RELAÇÃO ÀSERRADAIBIAPABA – ARQUIVO HISTÓRICOULTRAMARINO DE PORTUGAL, CÓDICE Nº 266, P. 100 A 103.

TRANSCRIÇÃO INTEGRAL

“Satisfação ao que Sua Majestade ordena sobre as Petições e Representações que fizeram o padre João Guedes da Companhia de Jesus como procurador das Missões do Brasil, e o padre Antônio de Souza Leal, missionário no mesmo Estado, e vão os papéis que se achavam.

Por Decreto de 25 de setembro do presente ano [1720], ordena Vossa Majestade que vendo-se neste Conselho as petições e Representações inclusas contidas na memória de que se acompanha o dito Decreto, as quais apresentaram João Guedes da Companhia de Jesus como procurador das Missões do Brasil e Antônio de Souza Leal, clérigo do hábito de São Pedro, missionário no mesmo Estado, se consultem com aquela atenção que pede a sua importância, tanto do serviço de Deus como de Sua Majestade.

Na Representação do padre João Guedes, se mostra o grande dano que se poderá seguir à conservação da Aldeia da Serra da Ibiapaba, se se executar e observar a Resolução de Vossa Majestade, em que manda desmembrá-la da jurisdição da capitania do Ceará e uni-la a do Piauhy, e que este será o meio não só de se arruinar a dita Aldeia, mas em consequência privando-se o Ceará dos seus defensores, ficando em notório risco as fazendas dos suplicantes, se forem infestadas pelos gentios bárbaros, e que se não virá a conseguir, afim deles se unirem para o serviço da guerra do Piauhy, para que os pediu o mestre de campo Bernardo de Carvalho Aguiar, <<sendo que se entende, foi mais levado dos seus interesses do que da utilidade do serviço de Vossa Majestade, e ocupá-los nos seus currais e guarda dos seus gados e em outras consequências>>, tendo-se por certo que se chegar a desunir do Ceará a dita Aldeia, os índios dela, como lamentam, não só não irão para o Piauhy pelas opressões que padeceram em tempo que assistiam naquele distrito, mais que absolutamente se apartariam da dita Aldeia em que vivem a muitos anos, e passariam para os [s]certões mais distantes, descrenciados [descrença] pelos muitos casos acontecidos, em que se é concludente ser a nova tirania (...) de todos os movimentos e alterações dos índios, e aponte os meios por onde se pode estabelecer uma paz firme e sossego público naquela capitania, resultando dela umas mais crescidas conveniências para a fazenda real e para os vassalos (...); sendo o principal, de se conservar a dita Aldeia da Ibiapaba no Estado antigo, sem se unir ao Piauhy, o que não só <<pedem os índios habitadores dela com lágrimas e gemidos>>, mas mandaram seu governador D. Jacobo de Souza e Castro e a seu filho [Filipe de Souza e Castro] à presença de Vossa Majestade, a fazer a Vossa Majestade o mesmo requerimento, e que neste caso seria o certo (...), Vossa Majestade dar licença ao dito governador, e em sua falta a seu sobrinho D. José de Vasconcelos, mestre de campo, para que em nome de Vossa Majestade, possa conceder pazes a todos os tapuyas aos quais se tem feito guerra nas ditas capitanias, insinuando-lhes que Vossa Majestade lhe fez este favor, afim de obrigá-los a que vivam quietos, em boa amizade com os brancos.

E o segundo [ponto], que Vossa Majestade seja servido dar faculdade aos mesmos dois índios, na falta de um o outro, a que possam levantar na sua Aldeia [da Ibiapaba], uma polé [instrumento de tortura], em ordem a intimidar aos tapuyas e castigá-los, no caso que alguns deles torne a fazer algum agravo (...), e nos termos que eles se não queira sujeitar a este castigo, ou alguma nação inteira torne a levantar-se , então lhe seja lícito fazer-lhe guerra, e estes acaba-los; com proibição severa, que nenhum branco se intrometa nesta guerra, porque do contrário, se segue muitas desordens e injustiças.

Em terceiro [ponto], que os brancos não deem motivos aos tapuyas a levantar-se, sendo para este efeito o melhor instrumento, ordenar Vossa Majestade que nenhum deles, em diante, cative ou mate tapuya algum, sob pena de perder toda as terras que tiver no [s]certão, as quais darão os capitães mores logo por devolutas, tanto que lhe constar o delito, e as poderão dar a quem pedir, como se nunca tivessem dono, e no caso que o delinquente não tenha terras no [s]certão, seja condenado a algum degredo, ou para Angola ou para a terra da Nova Colônia, cuja execução se há de recomendar com toda eficácia aos capitães mores, fazendo o mesmo padre João Guedes, perante a Vossa Majestade, que se isto se observar, não há dúvida que haverá uma constante paz nos [s]certões (...), e tudo será em aumento, e os missionários poderão tratar da convivência do gentio, o qual lhe terá mais respeito, vendo que por via deles alcançaram a sua aquietação que [há] tantos anos desejavam, sem poder alcançá-la, e Deus e Vossa Majestade serão servidos.

E atento ao que o padre missionário alega, e documentos que ajuntou como seu papel, por onde se comprova concludentemente não ser conveniente inovar-lhe nada na dita Aldeia da Serra de Ibiapaba, antes do contrário, se experimentarão mais danos (...).

Pareceu ao Conselho que suplicando Vossa Majestade na carta inclusa, tomasse a resolução de que se unisse esta Aldeia [da Ibiapaba] à capitania do Piauhy, ficando debaixo da sua jurisdição os índios dela, na consideração de que estando naquele distrito, mais fielmente poderiam ajudar no progresso da guerra do gentio bárbaro, que se entendeu ser conveniente se continuasse por este meio, [e] se atalhasse as repetidas insolências e crueldades que experimentaram os moradores da dita capitania, como dito, <<foi nascida somente da Representação do mestre de campo Bernardo Carvalho de Aguiar, e não procedeu informação alguma do governador de Pernambuco e capitão mor do Ceará>>, por onde se pode examinar os prejuízos que esta

determinação podiam resultar, e agora se colhe evidentemente ali pelas mesmas cartas do governador de Pernambuco, capitão mor do Ceará e dos missionários, e atestação que fazem muitos capitães mores do Ceará, do grande e irreparável dano que se pode seguir ao serviço de Vossa Majestade, como à conservação da dita Aldeia da Ibiapaba e a defesa da capitania do Ceará, se a privarem da sujeição destes índios, e a grande repugnância que eles mesmos mostraram de os separarem do lugar em que se tem há muitos anos, tangido do mal que já padeceram quando estiveram nas vizinhanças do mesmo Piauhy, podendo recear justamente, que não só não queiram ir viver naquela capitania [do Piauhy], mas que se os coagirem a sentirem esta violência a queiram desesperados se ausentaram para o [s]certão em grande distância, o que não é conveniente, e obrigados dos seus sentimentos, mandaram mais fielmente aos pés de Vossa Majestade, o seu governador D. Jacobo de Souza e Castro (...), que nesta atenção, seja Vossa Majestade, por bem de ordenar que a dita Aldeia fique como de antes no domínio do governo de Pernambuco e capitão mor do Ceará, com declaração que sendo necessário alguns índios para a guerra do Maranhão da mesma Aldeia, se deem prontamente como por repetidas ordens tem Vossa Majestade determinado, e como a paz dos tapuyas seja sempre o meio mais seguro de se pacificarem os [s]certões e lograrmos as utilidades que eles prometem nos produtos dos seus frutos, em que se interessa a fazenda real e os vassalos de Vossa Majestade, que se deve permitir que os índios da mesma Aldeia façam pazes com todos os índios, assim como os que não estão em guerra, como com os que estão desavidos [desavença] conosco, o qual ajuste farão sempre com a direção do seu padre missionário, e da mesma maneira que possam ir em sua companhia a praticar [com] os que estão no Araripe, para os trazer à nossa amizade e obediência, segurandoos que não só hão de experimentar os efeitos da real grandeza de Vossa Majestade, mas que hão de sem bem tratados e premiados conforme ao seu serviço e lealdade, e porque pode ser necessário que em algumas ocasiões, que se possa oferecer que os ditos índios vão armados de diferente armas das que usam, que Vossa Majestade lhe mande 50 armas de fogo com as munições competentes, as quais vão dirigidas ao seu mesmo missionário, para que as tenha em seu poder, e lhes dê quando entenda e pede a ocasião, e acabada ela, que as torne a recolher na casa que estiver destinada para armazém das ditas armas; e suposta a tirania de que usam muitos homens brancos, mulatos e mamelucos com os miseráveis índios, matando sem razão (...), que devem tirar os Ouvidores devassas das ditas mortes, e podendo contra os delinquentes, conforme dispõem as nossas leis; e com esta ocasião, tornar a lembrar a Vossa Majestade, o melhor que for preciso, que na capitania do Ceará haja um Ouvidor Geral letrado, como Vossa Majestade se tem feito (...), porque este será o meio que com a agilidade, cuidado e zelo do dito ministro, se atalhe tantos insultos quantos se cometem naquela conquista, por não haver quem administre (...) aqueles povos.

Ao Conselheiro Antônio Rodrigues da Costa, pareceu que ainda que o Conselho, na carta inclusa, foi de parecer que a Serra e Aldeia dos índios da Ibiapaba se unisse à capitania do Piauhy, desanexando-se da capitania e governo do Ceará, e Vossa Majestade assim o resolveu, como o motivo que para isso <<houve foi somente a Representação que fez o mestre de campo Bernardo Carvalho de Aguiar, a quem se encarregou da guerra contra o gentio bravo na capitania do Piauhy>>, e então por se não retratar a resolução deste negócio em que parecia ser precisa a brevidade, se não mandou tomar informação pelo capitão mor do Ceará e governo de Pernambuco, para se vir no conhecimento dos inconvenientes que podia haver nesta alteração; hoje, que informou deles o mesmo capitão mor e governador de Pernambuco, e os índios impugnam esta mudança, e se mostram (...) desconsolados, com eles as autoridades do Ceará e os missionários e pessoas eclesiásticas e seculares mais consideráveis daquela capitania, representaram os graves prejuízos que podem resultar aquela capitania desta desmembração, e mostram o grande receio que tem, de que os índios exasperados [exaltados] com aquela sujeição ao governo do Maranhão, o qual já experimentaram intoleravelmente em dois anos e meio que estiveram naquele jugo, cuja tirania os obrigou a fugirem e se meterem nos matos (...); <<que nestas considerações, todas graves e dignas de atenção, deve Vossa Majestade ser servido mandar suspender a execução da Ordem que foi ao capitão mor do Ceará e governo de Pernambuco, por esta desanexação, e que a Serra e Aldeia da Ibiapaba fique como estava no governo do capitão mor do Ceará>>, e entendendo também a que os índios desta Aldeia, <<em dois anos e meio que esteve ausente o mestre de campo Bernardo de Carvalho, eles só sem ajuda de branco, destruíram

os tapuyas que infestavam a capitania do Piauhy e aquela parte do Ceará que lhe fica contígua>>, parece se fica escusada [desnecessária] aquela despesa que precisamente se há de fazer com o Arrayal do Piauhy e com os soldados brancos e 400 índios que lhe mandaram dar, e que ao mesmo [Arrayal], poderá bastar a metade daquela gente, em que mais, encarregando-se estes índios da Serra a desenfestarem aquele distrito do gentio bravo, sem que Vossa Majestade a esta defesa concorra com outra cousa mais que mandar lhe dar algumas armas e pólvora e chumbo para eles, e faculdade ao seu principal para que possa conceder-lhe pazes em nome de Vossa Majestade aos índios e tapuyas que acharam-se levantados, o que parece não só justo, mas convenientíssimo, porque só com a mão dos índios poderemos sujeitar os tapuyas e gentio bravo, e só eles são capazes de penetrar os matos e [s]certões, e de defender melhor as nossas fronteiras, <<como fizeram estes da Serra da Ibiapaba no tempo que faltou no Piauhy o mestre de campo>>, vencendo o gentio bravo em cinco encontros, e matando lhe os seus maiorais; e para que continuem nesta defesa, será conveniente que Vossa Majestade lhe mande dar 50 ou 60 armas de fogo, com pólvora e bala competente, com declaração que as ditas armas e munições devem estar em poder dos missionários, para que só usem delas os índios com a permissão e licença dos ditos missionários, e por este modo, sem mais despesa alguma, e com a faculdade de fazer pazes, poderão atrair ao domínio de Vossa Majestade muitos vassalos, e a presente execução que intentam, de trazerem os seus parentes da Serra do Araripe, para que se oferecem, não só se lhe deve dar faculdade e algumas ferramentas e <<vellórios>> que pedem, mas incitá-los melhor a que com efeito façam logo esta expedição tão conveniente ao serviço de Vossa Majestade e ao de Deus, pois nela se interessa ter mais naquela parte 4 ou 5 mil vassalos, que tantos dizem que serão, e converteremse a fé, ao que senão pode faltar por nenhum respeito, com gravíssimo escapulo de consciência por ser esta a primeira obrigação com que Vossa Majestade poderá ter o domínio daquelas terras que verdadeira e legitimamente são daqueles homens a quem Deus os deu desde a sua origem e fez nascer o sol sobre bons e sobre os maus, e que a faculdade que pede o maioral desta Aldeia para levantar nela polé [instrumento de tortura] para intimidar os seus índios e os tapuyas com quem fizer pazes, parece se lhe deve conceder, com a condição que não usará deste castigo sem a permissão dos seus missionários, e que nunca os tratos que derem, poderão ser de braços soltos, e que no caso que o delito seja capital, não sendo cometido em guerra, seja o tapuya remetido perante ao Ouvidor, para proceder contra ele como por justiça.

E porque se tem notícia certa que o padre João Guedes, como procurador das Missões, se queixa também de que os portugueses, ainda os mestiços e mamelucos matam aos tapuyas e índios impunemente, e muitas das vezes por cousas levíssimas, e ainda sem elas; e tem forçado suas mulheres e filhas, e estas atrocidades são tão frequentes principalmente no Rio Grande e Ceará, será preciso que Vossa Majestade ordene aos Ouvidores, que todos os anos tirem uma devassa das injustiças e violências que se fizerem aos índios e tapuyas, e que procedem contra os culpados com todo o rigor das leis, como se as tais violências fossem feitas ao homem branco, porque sendo estes homens vassalos de Vossa Majestade ou estando nas terras do seu domínio, é Vossa Majestade obrigado a livrar-lhes de violências injustas, e se aqueles homens virem que se lhe foi justiça, e se castigados as injustiças que se lhe façam satisfatoriamente, que terão de viver e servir debaixo do justo domínio de Vossa Majestade, o qual na forma em que hoje se acha é totalmente intolerável; e os Ouvidores se deve ordenar que deem conta a Vossa Majestade todos os anos por este Conselho, do que resultar da devassa e da informação particular que também deve tirar em segredo, vista como ordinariamente, não por ter mais as testemunhas de pôr o que sabem pelo medo que tem dos culpados, os quais sempre serão mais poderosos e respeitados que os pobres índios, encarregando-lhe que neste particular se informem dos missionários os quais também acertado que Vossa Majestade encarregue-lhe deem conta de todo o mau trato e violência que se fizer a estes miseráveis; porque sabendo-se que Vossa Majestade, em cuidando em livrar aqueles pobres das tiranias e injustiças que padecem, e que há de ser informado da verdade por diferentes pessoas (...); é este o meio de Vossa Majestade vir a saber o que passa neste particular, [e] poderá conter os homens que [es]tão abusando com tanta injustiça e crueldade da inocência e paciência daqueles homens que devem viver seguros debaixo da justiça e amparo de Vossa Majestade, a quem se sujeitam (...) na terra que Deus lhes deu para receberem este benefício de viverem em paz, livres de violências. Lisboa Ocidental, 16 de outubro de 1720”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – Códice nº 266, fls. 100-103. Por João Bosco Gaspar.

CARTA RÉGIA DE 1721, PELA QUAL O REI DE PORTUGAL DETERMINOU QUE A “SERRA DA IBYAPABA E A ALDEYA DOS ÍNDIOS DELA”, CONTINUASSE NA JURISDIÇÃO DA CAPITANIA DO CEARÁ.

“Ordem de Sua Majestade, para que a Serra da Ibyapaba e Aldeya de Índios dela, fique na Jurisdição deste Ceará. Dom João, por graça de Deus, Rey de Portugal e dos Algarves, d’aquem e d’alem mar em Àfrica, Senhor da Guiné, etc. Faço saber a vos governador e capitão general da capitania de Pernambuco, que por ser melhor informado de pessoas fidedignas e desinteressadas, como também pelo que me representastes e o capitão mor da capitania do Ceará, sobre a resolução tomada para que a Aldeya dos Índios da Serra da Ibyapaba, se desanexasse daquela capitania do Ceará, e se unisse a do Piauhy, e que da execução dela se podem seguir grandes e irreparáveis danos, assim ao meu serviço, como a conservação da mesma Aldeya, e defesa da capitania do Ceará, pela desconsolação com que esses índios se acham com a referida mudança, de cuja alteração pode nascer o desaparecimento da sua Aldeya, ausentando-se para o Sertão, em grande distância, [e] ser conveniente evitarem-se tantos danos, me pareceu ordenar por resolução do presente dia, mês e ano, em consulta do meu Conselho Ultramarino, que a dita Aldeya fique como de antes, no domínio desse governo de Pernambuco e capitão mor do Ceará, e que se suspenda por hora, as ordens do Maranhão, com declaração que sendo necessário alguns índios de guerra para o Maranhão da mesma aldeya, se deem prontamente , como por repetidas ordens tenho determinado; de que vos aviso para terdes entendido a resolução que foi servido tomar nesta matéria, e vos ordeno a façais registrar nas câmaras, e que tocar, e que se publique na mesma aldeya [da Ibyapaba]. El Rey, Nosso Senhor, o mandou por Antônio Rodrigues da Costa e o doutor José de Carvalho Abreu, Conselheiros do seu Conselho Ultramarino, e se passou por duas vias. Manoel Gomes da Silva a fez em Lisboa Ocidental a trinta de abril de mil sete centos e vinte e um [1721]. O Secretário André Lopes de Lavre, a fiz escrever (...)”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – Arquivo Nacional da Torre do Tombo - Chancelaria de Dom João V –Arquivo Público do Estado do Ceará – Livro de Ordens Régias nº 6, fls. 26-27. Por João Bosco Gaspar – Tianguá-CE.

Por volta de 1721, segundo o padra João Guedes, então superior da missão, “eram três fazendas, e opulentas” e no ano de 1759, quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, a riquíssima Missão Jesuítica da Ibiapaba contavacom quatro fazendas: Imbueira,Missão,TiaiaePitinga,quesomavam “4.709cabeças degadovacum, 470 de gado cavalar e 200 de gado miúdo”. Fonte: “Documentos Para a História Colonial, Especialmente a Indígena no Ceará”, de Francisco José Pinheiro. Por: João Bosco Gaspar.

ANO DE 1724 – OS CURRALEIROS DO ACARAÚ AMEAÇAM INVADIR À ALDEIA DA IBIAPABA.

A briga entre o padre Matinhos e os jesuítas da Ibiapaba.

“(...) 1º - Que vindo ele suplicante [padre João Guedes] no ano de 1722 à Missão da Serra da Ibiapaba a dar cumprimento a certas ordens de Sua Majestade, o Reverendo Cura do Acaraú o padre João de Matos Monteiro [padre Matinhos] teve suspeita, sem outro fundamento do que o que se podia dar a sua própria consciência, de que o suplicante trazia também ordem para prender a ele [padre Matinhos], e esta suspeita publicou ele mesmo entre os seus fregueses. 2° - Que penetrado ele desta sua suspeita, considerou de que maneira poderia frustrar esta ordem no caso que a houvesse, e tomou por meio persuadir aos seus fregueses que fossem à Missão a botar fora não somente ao suplicante, mas também os mais religiosos, valendo-se da ocasião da festa que ali se havia de fazer à Nossa Senhora da Assunção, orago da Missão. 3° - Que Henrique da Rocha (...) fora o que notificou alguma gente do Acaraú e do Aracati-Mirim para o efeito de botar fora os religiosos [da Ibiapaba], e que o mesmo escrevera (...) uma carta sem nome ao capitão José de Moura, em que dizia que acudisse com seus parentes, e que assim lhe pedia seu cura o padre João de Matos Monteiro. 4° - Que com efeito se ajuntou no dia acima citado na Missão, um grande número de curraleiros e com eles seu cura o padre João de Matos Monteiro, e porque o coronel Sebastião de Sá também se achou nesta ocasião (...), o convidaram à que junto com eles expulsassem da Missão os religiosos, mas ele, resolutamente lhes disse que com suas armas e escravos defenderia os religiosos contra toda insolência que se intentava (...)”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, AHU-Ceará, Caixa n° 02, Documento n° 87. Por João Bosco Gaspar

Em “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, pelo

Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”:

“São as águas deste Rio tão salutíferas que seis dias purgou com suavidade, a quantas por ele navegamos. Toda a margem deste Rio é de claras areias, em partes descampadas, em parte rendadas em aprazível selva, em partes cobertas de arvoredos copado, em partes cortados de água e lamenta, a que chamam os naturais igarapé, em partes com ribanceiras de altura de dez palmos, de cima das quais desfazem de quando em quando torrentes de frias águas da grossura de um homem encorpado com suave sussurro, a que chamam os naturais tororoma.

“Pelas costas das margens do Rio se levantam grossas árvores entremeadas em parte de vistosas palmeiras entremeadas com as celebres Baunilhas, droga hoje tão apreciada para sal do chocolate, e como rezam; pois é tal a sua graça que não há fera nem aves que a não procure.

Apresenta, também, a etimologia do nome Maranhão:

“AS POROROCAS DO MARANHAY

“Foi de indústria, por dar gosto a Vossa Revma. que, como tão perito na língua brasílica, folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por boca e por escritos antigos, sobre nunca assentarem em nada de

quanto disseram nada tem fundamento no meu fraco entender. Veja os antigos manuscritos da missão.

“O padre Bartolomeu Leão, da Província do Brasil, reformador do catecismo da língua brasílica, me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me avistasse com o padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma brasílico, soubesse dele o que sentia nesse ponto. Ambos morreram ignorantes do que aqui quero dizer, e nunca o dissera sem ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhay. Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos e de um substantivo. Os verbos são maramonhangá, que significa brigar e anham que significa correr (até aqui atinava o dito Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra ou letra que significa água, e ainda tirada de Maranhão por corrupção de palavra, assim como estão infinitos nomes da língua brasílica corrupta pela pronúncia dos portuguese. “Nesta palavra não podia atinar o padre Leão sem ver ou lhe disserem o que passa pelo Maranha. Deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava que são as pororocas, cujo aspecto é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay – água que corre brigando. Perguntar-me-hão pois porque não se chama o Maranhay pororoca; respondo que pororoca é a palavra que explica o que se ouve; parece-me que se compõe da palavra opõe, que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan, que significa roncar continuamente, como o mar; ou é palavra simples, feita pela freqüêntativa, tirada sempre do verbo opõe. De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar ou estalar, de onde do que se ouve se chama aquela fúria das águas –pororoca; e do que se vê se chama todo este Estado – Maranhão”. (RAMOS, 2001, p. 3-4; MARQUES, 1970, p. 437).

“Terá Vossa Reverendíssima reparado na ortografia com que escrevo a palavra – Maranhay –contra o comum. Foi de industrias por dar gosto a V.R. que como tão perito na língua Brasílica folgará lhe diga o que por mim tenho alcançado acerca da etimologia desta palavra Maranhão, ponto em que tenho ouvido alternar por bocas e por escritos antigos, e sobre nunca assentarem em nada, de quanto disseram, nada tem fundamento no meu fraco entender; Vejam-se os antigos manuscritos da missão. O Padre Bartolomeu Leão da Província do Brasil, reformador do Catecismo da língua Brasílica me recomendou muito quando vim para o Maranhay, que me avistasse com o Padre Ascenso Gago, o mais perito que por então reconhecíamos neste idioma Brasílico, soubesse dele o que sentia neste ponto; ambos morreram ignorantes de que aqui quero dizer, e nunca o disseram ser ter visto com os meus olhos as pororocas do Maranhãy: Pelo que digo que a palavra Maranhay se compõe de dois verbos, e de um substantivo, os verbos são MARAMONHANGÁ, que significa brigar; e anham que significa correr (até aqui atinavam desta padre Bartolomeu Leão) e o substantivo é a palavra, ou letra, que significa água, e ainda tirada da palavra Maranhan, por corrupção da palavra, assim como estão infinitos nomes, da língua Brasílica corruptos pela pronúncia dos Portugueses: nesta palavra não podia atinar o Padre Leão sem ver ou lhe dizerem o que passa pelo Maranhay; deram os naturais este principal nome a esta terra do que nela mais principalmente avultava, que são as pororocas; cujo efeito é uma briga das águas correndo. Tudo isto diz a palavra Maranhay, água que corre brigando. Perguntar-meão, pois por que não se chama Maranhay, pororoca: respondo que pororoca é palavra que explica o que descreve; parece-me que se compõem da palavra opõe que significa rebentar de estouro, como o ovo quando rebenta, e da palavra cororan que significa roncar continuamente, como o mar. Ou é palavra simples feita freqüentativa, tiradas sempre do verbo opõe.

“De qualquer sorte que tomem a palavra pororoca, sempre significa estourar, ou estalo donde do que se ouve se chama aquela infernal fúria das águas pororoca e do que se vê se chama todo este Estado Maranhay.

“Dizem os cronistas que há aqui um Rio que se chama Maranhon, do qual tomam a denominação todo o Estado é para mim consideração para que ele fizeram. E se não digam-me onde está este Rio ?

“Já que entretive a Relação com estas curiosidades mais próprias para Crônica, quero dizer o que entendo da fundada da pororoca ou causa dela. É de saber que como estas terras são tão rasas visivelmente se se vê a terra abaixando do sertão para o mar, isto se vê sem embaraço de

duvidas no Rio Itapecurú pelo qual quem vai navegando vê ao longe terra alta de uma a outra parte. Chega ao lugar em que mascara a terra alta e a vê a rasas como a de donde marcar a tem alta.

“Deste mesmo lugar já demarca outra tem alta, e chegando a dela terra tão baixa ao parecer como o de donde demarcara terra alta, e assim todo o Rio até onde chamam as areias.

“Donde a vir descendo a terra para o Mar de quatro centos e mais léguas. Faz que venham as águas com peso. Para mais peso sobre o Rio Pinaré e Rio Meari; por uma mesma faz, unidos estes dois grandes pesos d’água, acham o mar em que deságuam encanado com meia légua de largura. Por esta meia légua de mar, saírem estes dois Rios Pinaré e Meari, até chegarem e faz, que se forme entre a Ilha dos Caranguejos, e a terra firme. Em quanto a maré vaza tudo vai em paz em a maré enchendo começam a pelejar em um lugar a enchente que vem do Oceano com a vazante que vem dos ditos Rios, o lugar desta peleja dista da barra dos dois rios com vinte léguas; brigam ali a enchente com a vazante sem a maré passar daquele lugar para diante por esforço de três horas. Nestas três horas torna a enchente força e nas águas vivas torna maior força; Forma grande pé atrás alteia sobre a vazante, a maneira de dois homens que estiveram forcejando peito a peito e um deles vencendo levasse o outro a largo de costas, assim vence a enchente, que naquele lugar só alterca por três horas e no instante que cavalga sobre a vazante dá tal esturro, e continua com tal urrar, e corre com tal violência com três marés ou três serras d’água lançando para trás a modo de gadelha branca desgrenhada uns fios de água, acometendo a tudo o que há com tal fúria a que parece vai a ofender a seus caminhos, ou a acudir a algum da Natureza, arrancando árvores, derrubando ribanceiras, e cobrem em três horas tudo quanto havia cobrir nas seis ordinárias de uma maré.

“Daqui vem vazar a maré até onde se forma a pororoca nove horas e daí para cima enche em três horas. Deixada aqui estas notícias, e continuando minha navegação pelo Rio Muni acima.

“Esta Relação foi tirada de uma carta que o Padre da Companhia João Tavares, Missionário no Maranhão escreveu ao seu Visitador Geral o Padre Jacinto de Carvalho no ano de 1724.“Biblioteca Pública Eborence “Códice CV 1 = 7 = a folha 165

Às páginas 437/448, sob o verbete Maranhão, César Marques passa analisar a etimologia desse nome Maranhão, com base em textos disponíveis e explicações apresentadas. Afirma aquele autor que, para servir de contrapeso às hipóteses de algumas destas pretendidas etimologia:

“... acrescentaremos outra opinião, que se não for a verdadeira terá ao menos o mérito de ser fundada em inéditas indagações sobre a língua brasílica. O Padre João Tavares não escreve na sua carta Maranhão, mas sim Maranhay, do que dá a seguinte satisfação - ...” (p. 437).

transcrevendo o que Clóvis Ramos (2001) traz como sendo das páginas 454/455 daquele Dicionário, acima já transcrito ... Ainda à página 438, e ainda referindo-se ao estado do Maranhão, traz que:

“O alegado Padre Tavares, para quem o país era tão familiar, escreveu na carta sobredita o seguinte: ’Dizerem os cronistas que há aqui um rio, que se chama Maranhão, do qual tomou a denominação todo o Estado, é para mim consideração pia, que eles fizeram. E, se não, digam-me: onde está esse rio?’”.

Alguns autores trazem esse rio como sendo o Mearim Rossini CORRÊA (1993), comenta uma carta de João Tavares a um superior seu – seriam as “Breves descrições...” ? -, descrevendo a paisagem da Ilha de São Luís, ante a chegada possível de missionários europeus ao Maranhão. Afirma que aqueles religiosos deixariam as delícias da Itália, não pelos trabalhos, mas pelas recreações do Maranhão, conforme consta das “Breves descrições...”, tecendo os seguintes comentários: "Como na Ilha Grande foi decantada pelo espaço contrário aos trabalhos (os quais, no mínimo, resguardaria) antieticamente haveria de apresentar expressiva contenção de exercícios

corporais, enquanto expressão de labuta, de fadiga e de descanso decorrentes de diligência em atividade física. Permitiria - na contrapartida da terra de gente excepcional - a alternativa das recreações para o cultivo e o requinte do espírito. Desdobrado da hipótese das recreações coletivas, o raciocínio desenclausurado outro não é, senão o de que, no Maranhão, seria comunitária a amizade pelas luzes, pela razão, pela sabedoria etc., considerada a educação do pensamento e do sentimento um fragmento indispensável das recreações. ." (40).

“A afirmativa do padre João Tavares foi riquíssima, porque vaticinou uma permuta - as delícias (da Itália) pelas recreações (do Maranhão). Sociologicamente significativa, haja vista que, na substituição, as delícias européias não terminariam trocadas pelos trabalhos americanos. Ao contrário, o fundamento do intercâmbio seria a validade indicada como vantajosa - a das recreações maranhenses." (p. 39).

"NEM OS OSSOS SE TEM DADO AO SAGRADO"... OPADREANTÔNIOTROIANONACAPITANIADESÃOJOZÉDOPIAUHY.Sendoanexadaa capitania de São José do Piauhy ao bispado do Maranhão em 1725, o padre Antônio Troiano, administrador do bispado, veio tomar posse da nova jurisdição espiritual. Escreveu o seguinte: "mandei designar lugares e benzê-los para se poderem enterrar os que faleciam, pois se estando enterrando junto dos seus currais, de muitos nem os ossos se lhe tem dado ao sagrado". Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal.

ANO DE 1725 – BERNARDO CARVALHO DE AGUIAR, NÃO CONSEGUINDO ANEXAR A SERRA DA IBIAPABA AO PIAUHY, RECORRE AO REI DE PORTUGAL, PARA QUE O GOVERNADOR DE PERNAMBUCO, ENVIE OS ÍNDIOS DA IBIAPABA, NA GUERRA CONTRA OS TAPUIAS.

Encontra-se registrada nos Arquivos Históricos Ultramarinos de Portugal (AHU-PE, Caixa nº 31, Documento nº 2832), a Ordem Régia passada ao governador de Pernambuco, Manoel Rolim de Moura, recomendando o envio dos índios da Serra da Ibiapaba, capitania do Ceará, para ajudarem Bernardo Carvalho de Aguiar, na guerra contra os tapuias do Piauhy.

“Dom João, por graça de Deus, Rey de Portugal e dos Algarves, d’aquém e d’além mar em África, Senhor da Guiné, etc. Faço saber a vos Dom Manoel Rolim de Moura, governador e capitão general da capitania de Pernambuco [a capitania do Ceará era subalterna à capitania de Pernambuco], que por ser conveniente ao meu serviço, me pareceu ordenar-vos, que pedindo se faz por parte do governador do Maranhão, alguns índios da Serra da Ibiapaba para ajudarem a guerrear contra os índios nossos inimigos (...)”. AVERBAÇÃO. O governador de Pernambuco não cumpriu a Ordem Régia, e respondeu o seguinte: “Pela presente carta de doze de março do corrente ano [1725], me ordenara Vossa Majestade, mande para o Piauhy os índios que entender podem ser necessários para a expedição da guerra que está encomendada ao Mestre de Campo da Conquista, Bernardo Carvalho de Aguiar, no caso que no Ceará não haja guerra a que possa acudir, porque então me devo regular conforme a necessidade que for mais urgente. E se se mandarem os índios da Serra da Ibiapaba ao Maranhão para assistirem no Arrayal que o dito Mestre de Campo levantou no Miari e por toda a capitania do Piauhy, em manifesto perigo de perder-se, pois não obstante a ficarem estes índios continuamente em campanha, a cada passo se devem os moradores do Piauhy e da Parnahyba, infestados do gentio bárbaro, e farão maiores hostilidades se souberem que estes índios [da Ibiapaba] estão no Maranhão; quanto mais, que em tal caso, não somente infestarão as nações mais vizinhas, mas até os barbados[sic] e os das Aldeias Altas, vendo-se perseguidos do Mestre de Campo no Meary, sabendo que lhes falta o amparo dos índios da Aldeia da Serra da Ibiapaba, os quais por estas razões, SE NÃO PODEM DIVIDIR DE NENHUMA [nen hua] MANEIRA PARA O MARANHÃO, principalmente no tempo presente, em que tem experimentando grande fome, e lhes é necessário tratar das suas lavouras e acudirem também e atalharem as sublevações do Ceará, quando seja necessário (...). Vossa

Majestade determinará o que for servindo. Pernambuco, 10 de julho de 1725. [assinado] Dom Manoel Rolim de Moura”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, AHU-PE, Caixa nº 31, Documento nº 2832, de 10 de julho de 1725. Por João Bosco Gaspar – pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá-CE.

ANO DE 1728 - DESCRIÇÃO DA BARRA DO RIO CAMURUPIM, CAPITANIA DO CEARÁ.

João da Maia da Gama, ex-governador do Estado do Maranhão, no estrito cumprimento do seu dever, de vistoriar as barras dos rios entre o Maranhão e a Parayba, por ordem de Sua Majestade:

“(...) despedi um próprio do Reverendo padre Francisco de Lira, superior da missão da Serra da Ibiapaba para me mandar 50 ou 60 índios mais abaixo da última barra do rio Parnaíba ao Porto que chamam das Salinas (...), para do dito Porto das Salinas principiar a minha marcha já pelas primeiras terras da jurisdição do Brasil, e da capitania do Ceará [p. 53]. Fui ver a barra do rio chamado Camurupim que fica cinco léguas para leste da última barra do Parnaíba e do último seu braço chamado Igaraçu. E a boca deste rio Camurupim é muito larga, mas muito baixa e desparcelada com canal só para lanchas e deita ao mar coroas em que rebentam o mar por mais de uma légua [p. 58]”. Descrição que fez o ex-governador do Estado do Maranhão, João da Maia da Gama, no ano de 1728/1729. Fonte: Trecho do livro “Um Herói Esquecido – João da Maia da Gama” do historiador português Francisco d’Assis Oliveira Martins.

A DESTRUIÇÃO DA VILA DE N. SRA. DO MONTE SERRAT DA PARNAÍBA.

O ex-governador do Estado do Maranhão, João da Maia da Gama, no estrito dever de “executar a real ordem de Sua Majestade, de ver e examinar as barras desde o Maranhão até Pernambuco”, após constatar que os irmãos “Lopes”, genros do falecido João Gomes do Rego, tinham “desmantelado” a povoação fundada a mando do coronel Pedro Barbosa Leal, consignou o seguinte em seu relatório: Dia 6 de janeiro de 1729, “Neste sítio quis Pedro Barbosa Leal fundar uma vila, e pediu a Vossa Majestade licença e o senhorio dela, que até agora não tenho notícia lhe fosse concedida (...). E nela fez uma grande casa de taipa em que assistia seu procurador o capitão João Gomes, e nela se assentou e defendeu no levante dos índios de que era cabeça o índio chamado Mandu Ladino (...). Aqui juntou alguns moradores com casas e fez uma tal ou qual povoaçãozinha a qual por morte do dito procurador João Gomes, quase se extinguiu; e casando as filhas com uns três irmãos chamados os “Lopes”, tiraram a telha as casas, e as desmantelaram e puseram ao tempo para se arruinarem como estão, só para despovoarem o dito sítio e pedirem aquelas terras, como pediram no meu tempo, com engano (...); mas, suponho que Pedro Barbosa em tendo notícia, embargará a dita data (...)”. Fontes:Arquivo HistóricoUltramarinodePortugal,AHU-Avulsos, caixa 04, Doc. 396, ano de 1728 e livro “João da Maia da Gama – Um Herói Esquecido” do historiador português F. A. de Oliveira Martins, publicado em Lisboa no ano de 1944. Por João Bosco Gaspar.

FOZ DO RIO CAMURUPIM, PRAIA DE MACAPÁ, EM LUÍS CORREIA PIAUÍ - FOI DADA EM SESMARIA A THOMAZ FERREIRA DE VERAS, PELO CAPITÃO MOR DO CEARÁ NO ANO DE 1733.

“Leonel de Abreu e Lima, professo na Ordem de Cristo, capitão maior da capitania do SiaráGrande e governador da Fortaleza de Nossa Senhora da Asunção, por Sua Majestade, que Deus o guarde etc. Faço saber aos que esta minha Carta de Data e Sesmaria virem, que a mim representou em sua petição o sargento-mor Thomaz Ferreira de Veras, cujo teor é o seguinte: Diz o sargento-mor Thomaz Ferreira de Veras, morador na ribeira da Ubatuba, termo da vila de Nossa Senhora da Assunção da capitania do Siará-Grande, que ele suplicante se acha falto de terras para nelas criar seus gados vacum e cavalares, e porque tem notícias de um riacho que se foi pedido e se acha deserto, e prescrito sem criar, e sem pagar dízimos a sua Majestade há muitos anos, cujo riacho chamado Camurupim nasce na serra da Ibiapaba e mete por si no mar, e nele pede o suplicante lhe concede três léguas de terras de comprido e uma de largo pelo dito riacho acima (...)”. NOTA: O território da Freguesia da Amarração (Luís Correia), conquistado por Ordem Real com as armas do Ceará entre os anos de 1699 e 1702 através do Coronel Leonardo de Sá, foi trocado pelo território piauiense da comarca de Príncipe Imperial (Crateús) no ano de 1880. Thomaz Ferreira de Veras, primeiro proprietário daquelas terras, foi o sogro do mestre de campo Diogo Alves Ferreira, construtor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário das Frecheiras da Lama, em 1781. Fonte: livro de Datas e Sesmarias do Ceará, volume nº 12, documento nº 56, ano de 1733. Foto: Foz do Rio Camurupim, praia de Macapá, em Luís Correia-PI. Por João Bosco Gaspar.

AS MINAS DE PRATA DAS SERRAS DA IBIAPABA E DOS COCOS - PROVISÃO DE 1739, CONCEDENDO A ANTÔNIO GONÇALVES DE ARAÚJO

O DIREITO DE EXPLORAÇÃO:

“Eu, El-rei, faço saber aos que esta minha provisão virem que tendo consideração a me representar Antônio Gonçalves de Araújo que ele tinha descoberto na Serra dos Cocos e Ibiapaba da capitania do Ceará, distrito de Pernambuco e em outros lugares do Sertão do Brasil entrando naquela diligência e especulação e seus progressos em ordem do vice-rei do estado do governador de Pernambuco, capitão-mor do Rio Grande e Ouvidor do Ceará, rogado também e com recomendação do superintendente-geral das minas daquele estado, Manoel Francisco dos Santos da Soledade o qual lhe havia cedido e doado as terças partes das terras e mais pertenças de que eu lhe havia feito mercê por uma provisão. E porque ao presente se achava o mesmo suplicante e o dito superintendente nesta corte com requerimento sobre abertura e continuação das ditas minas, e das que demarcara o dito superintendente por conta de poderem dar umas e outras os interesses que prometiam, e da escritura que apresentava constava fazer o dito superintendente aquela doação mais vigorosa, e evidentemente provável, com as mesmas cláusulas e condições em que por mim lhe foram concedidas aquela mercê para assim e pelos motivos insertos na própria escritura melhor poder o suplicante cobrir-se da despesa que tinha feito nos tais descobrimentos e concluir a fim de pôr em execução como convém abertura de umas e outras minas descobertas e demarcadas, e se reduzirem a cultura as terras que eram doadas para benefício das próprias minas. E era necessário para mais utilidade da dita seção e trespasso, que eu fosse servido havêlo assim por bem, aprovando na pessoa dele suplicante a nomeação que lhe fizera o dito superintendente para o dito feito, fazendo efetiva na mesma mercê de modo que fora concedida ao próprio superintendente, e por esta cedida ao suplicante para que na forma da Dita escritura poder entrar nas mais diligências necessárias com as mesmas cláusulas e condições declaradas na sobredita provisão. E atendendo às suas razões: Hei por bem confirmar ao suplicante a seção que por escritura de dezessete de junho de mil setecentos e trinta e oito em a nota do tabelião Manoel de Oliveira, fez nele Manoel Francisco dos Santos da Soledade, da sesmaria, e mais jurisdições que foi servido conceder-lhe por provisão minha de oito de janeiro de mil setecentos e trinta e com as mesmas cláusulas e condições que na dita provisão se contém com declaração que sendo os cedentes pela não cumprir removido, ou por abusar das ditas jurisdições, se ficará desvanecendo também a parte e administração cedida e pela mesma forma será o cedente obrigado pelo fato do suplicante e pela inobservância das mesmas condições ou abuso referido ainda que para isso não concorra, e a divisão da terça parte cedida não terá efeito antes de se findarem os anos concedidos e se de marcar as sesmarias de que fiz mercê ao dito Manoel Francisco dos Santos Soledade, pelo que mando ao meu vice-rei e capitão-general de mar e terra do estado do Brasil governadores e Capitães-mores, e mais ministros e pessoas a que tocar cumpram e guardem esta provisão e a façam inteiramente cumprir e guardar como nela se contém sem dúvida alguma, a qual valerá como carta sem embargo da ordenação do livro 2° título 40, em contrário e se passou por duas vias e deu fiança à folha 193 verso do livro primeiro a elas a pagar os novos direitos que dever como constou por certidão dos oficiais da chancelaria. Lisboa Ocidental, 13 de novembro de 1739. Rei. Provisão porque Vossa Majestade há por bem confirmar a Antônio Gonçalves de Araújo a seção que por escritura de 17 de junho de 1738 em a nota do tabelião Manoel de Oliveira fez nele Manoel Francisco dos Santos Soledade da sesmaria e mais jurisdições que Vossa Majestade foi servido conceder-lhe por provisão de oito de janeiro de 1730 com as mesmas cláusulas e condições que na dita provisão se contém com declaração que sendo o cedente pelas não cumprir removido, ou por abusar das ditas jurisdições se ficará desvanecendo também a parte e administração cedida e pela mesma forma será o cedente obrigado pelo fato do suplicante e pela inobservância das mesmas condições, ou abuso referido ainda que para isso não incorra, e a divisão da terça parte cedida não terá efeito antes de se findarem os anos concedidos e se demarcar a sesmaria de que vossa Majestade fez mercê ao dito Manoel Francisco dos Santos Soledade como nela se declara que vai por duas vias. Para Vossa Majestade ver. Por decreto de Sua Majestade de 23 de Março de 1739. José Carvalho de Abreu. José Inácio de Aroche”. Fonte: livro “Memória Colonial do Ceará” V5T1, p. 341-346. Por João Bosco Gaspar

“Tem esta serra vários nomes; no princípio chama-se Ibiapaba sendo por este nome mais conhecida; é muito alta e muito larga de sorte que no alto dela estão situados vários moradores com suas fazendas, e têm nela os padres da Companhia uma numerosa aldeia (...). A esta mesma serra no meio dão nome de serra dos Cocos, aonde agora há um descoberto de minas de prata, e cobre; dizem-me que já se fez a primeira fun[diç]ão com grande conta do que ainda duvido, e espero por mais evidentes notícias (...)". [p. 119].

NOTA: A documentação colonial é clara quanto as várias denominações atribuídas a essa imensa cordilheira que, principiando nas praias do mar, termina nas ribeiras do rio São Francisco. Os nomes mais conhecidos são: Ibiapaba, Serra dos Cocos, Serra da Joaninha e Serra dos Dois Irmãos. A “Ibiapaba”, propriamente dita, corresponde, tão somente, a porção setentrional da cordilheira, começando nas proximidades do litoral e terminando no lugar Itapeuna (Guaraciaba do Norte), depois do rio Inhuçu. Como afirma dom Manuel da Cruz, a Ibiapaba, naqueles idos (1744), era assistida pelos padres da Companhia de Jesus. Pois bem... No ano de 1694, através de Carta Régia firmada em 26 de novembro (AHU-Códices, cod. 1213 (1), p. 278-280), a Missão da Ibiapaba foi transferida para a jurisdição do Ceará, assistida pelos jesuítas vindos de Pernambuco.

No ano de 1720, através de outra Carta Régia, os limites da Missão Jesuítica da Ibiapaba foram traçados de forma INCONTESTE.Naquelaocasião,D.João V, doouaos índios daAldeiada Ibiapaba,“TODAA TERRA QUE FICA EM CIMA DA SERRA”, da ladeira da Uruoca até o lugar Itapeuna... redação mais clara não existe.

IMAGEM: Vista aérea do relevo da Serra Grande - No contexto do período colonial, a Serra Grande era dividida em áreas distintas, entre as quais, a "Serra da Ibiapaba" e a "Serra dos Cocos". Linha "vermelha" = a Serra da Ibiapaba; Linha "verde" = a Serra dos Cocos; Bolinhas "vermelhas" = curso do riacho Inhuçu, que depois de alguns quilômetros recebe o nome de rio Macambira; Bolinha "verde" = Cânion do rio Poti. Fonte: Cartografia do Exército Brasileiro. Livro: Copiador de algumas cartas particulares do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Dom Frei Manuel da Cruz, Bispo do Maranhão e Mariana (1739-1762) / Transcrição, revisão e notas por Aldo Luiz Leoni. – Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2008. Por João Bosco Gaspar.

SESMARIA DAS FRECHEIRAS DA LAMA: FAZENDA PACOTY, NAS EXTREMAS DO ESPÍRITO SANTO DE CIMA, NA PARAGEM QUE CHAMAM “OS ATOLEIROS”, DOADA A DIONÍZIO DIAS – ANO DE 1744.

“Registo de hua Carta de Datta e Sexmaria passada a Dionizio Dias. Joao’ de Abreu de Castel Branco do Conselho de Sua Magestade Governador e Capitam General do Estado do Maranham [sinal público]. Faço saber aos que esta minha Carta de Datta e Sexmaria virem que Dionizio Dias me Reprezentou que elle havia povoado com gado vacum e cavalar a fazenda chamada pacoty, e porque dellas nao’ tinha titulo me pedia fosse Servido consederlhe em nome de Sua Magestade por Datta e Sexmaria tres Legoas de terra de comprido e hua de largo pegando nas estremas do Espirito Santo de sima correndo para a boca da mata da agoa fica fazendo peâo na paragê a que chamao’ os atoleiros Legoa e meya para sima e Legoa e meya para baixo, ficando o dito seu citio pacoty incluhido na mesma terra com todas as pontas e abras, que se acharem; ao que attendendo e a informaçao’ do Provedor Mor da Fazenda Real, e Ser em utilidade da mesma fazenda Curtivarense as terras neste Estado. Hey por bem consederlhe Legoas de terra de comprido, e hua de largo na forma que pede com as confrontacoens Referidas e condicoens expressadas nas Reaes ordens, e com a de naó fazer traspasso por meyo algum em nenhum tempo a pessoa alguma Religiao’ ou Comunidade sem primeiro dar parte na Caza da Fazenda ao Provedor Mor della para se me fazer prezente e ver se se deve ou naó Consentir no tal traspasso sub pena de ficar nulla esta Datta, e Se poder conseder novamente a outrem; e nesta forma se lhe passa sua Carta para que o dito Mathias Dionizio Dias haja, Logre e possua a dita terra como couza sua propria para elle e todos os seus herdeiros ascendentes, e descendentes Sem pençao’ nem tributo algum’ Mais que o Dizimo a Deos Nosso Senhor dos frutos, que nelas houver, e Lavrar: a qual concepçao’ lhe faço naó projudicando a treceyro, nem a Sua Magestade e Se no dito Citio quizer mandar fundar alguma villa Rezervando os paos Reais que nellas houverem para embarcaçoens, com declaraçao’ que mandará com firmar esta Datta por Sua Magestade dentro dos tres annos primeiros Seguintes; E cultivará as ditas terras de modo que dem fruto, e dará caminhos publicos, e particulares onde forem’ nesessarios para pontes, fontes, portos e pedreiras e se demarcará ao tempo da posse por humo de corda e braças craveiras, como hé Estillo e Sua Magestade manda: e havendo nas terras aqui concedidas Rio navegavel que nesessite de Canoa para atravessar ficarâ Reservada meya Legoa de terra de hua das margens para o uso publico: e outro Sim nao’ poderao’ suceder nellas Relligioens, nem outras pessoas Eccleziasticas, por nenhum titulo que Seja, e acontecendo possuhilas Será com o emcargo de pagar dellas [Dízimos] como Se focem possuhidas por secullares: e faltando a [qualquer] destas clauzulas se haverao as ditas terras por devolutas, E se darao’ a quem as denunciar, como o dito Senhor ordena. Pelo que mando ao Provedor da fazenda Real, e mais Menistros e pessoas a que tocar que na forma Referida deixem ter, e pessuhir as ditas terras ao dito Dionizio Dias como couza sua propria para elles e todos os seus herdeiros ascendentes, e descendentes; Cumprao,’ e goardem esta minha Carta de Data tao’ inteiramente como nella Se contem a qual lhe mandey passar por mim aSignada e Sellada com o Sinete de minhas armas que se Registará onde tocar, e Se passou por duas Vias. Dada na cidade de Sao Luiz do Maranham’ aos vinte e dous dias do mez de Setembro Anno do Nascimento de Nosso Senhor JESUZ Christo de mil sette Centos quarenta e quatro E eu Jozé Gliz da Fonca ssecretario do Estado afiz escrever”. Fonte: Livro de Registro de Datas e Sesmaria do Estado do Maranhão, nº 12, fls. 96, Título nº 116. Por João Bosco Gaspar.

Em 1753, Mendonça Furtado recebe do rei plenos poderes para tratar da questão dos limites na região, constituindo-se Primeiro Comissário para as conferências e demarcações. Devido à sua participação na Comissão de Limites, encarregada de delinear as fronteiras lusas na América, parte, em 2 de outubro de 1754, para o Rio Negro juntamente com vários especialistas estrangeiros enviados de Lisboa sob os auspícios do governo português, devido à ausência de técnicos capazes de compor turmas de campo. Reiterando um conjunto de estratégias coloniais, as fronteiras do Rio Negro passariam a conviver, de forma mais sistemática apartirdasegundametadedos Setecentos, com ainstalaçãodefortificações eacriação/ revitalização denovos estabelecimentos coloniais. A implantação de um governo na região, subordinado a Belém, fazia parte de um conjunto de ações administrativas com forte caráter estratégico-militar e, até o final da administração

pombalino, serão construídos na região vários fortes que cobrirão as áreas de fronteira (REIS, 1993, p. 57-58 apud SAMPAIO, 2003, p. 82, citados por Damasceno e Miranda, 2021).

Após essa viagem, em que conheceu, fiscalizou, registrou e exerceu as atribuições a que tinha direito nas aldeias sob sua jurisdição, retornou a Belém, de onde sairia novamente em 16 de janeiro de 1758, já com o intuito de instalar as novas unidades administrativas, transformando as “Aldeias” em “Lugares” ou “Vilas”, de acordo com o tamanho de sua população, e lhes dando nomes previamente escolhidos e designando os missionários como agentes desta implantação: [...] porém, os aldeamentos formados se constituíam em realidades problemáticas porque esses missionários pouca experiência tinham no trato das missões, se comparados aos jesuítas. Além de tudo, estavam muito envolvidos nos negócios do sertão e até mesmo no tráfico ilícito dos índios (SAMPAIO, 2003, p. 76, citado por Damasceno e Miranda, 2021).

Pela carta régia de 1º de junho de 1754, a capitania de Cumã, depois de 127 anos em poder de Antônio Coelho deCarvalho eseus descendentes,foiincorporadaà CoroaeentregueàadministraçãodoDr.Manoel Sarmento. O antigo donatário foi indenizado com terras em Portugal. D. José I comprou para a Coroa portuguesa os direitos da Capitania de Cumã de Francisco de Albuquerque Coelho de Carvalho, o segundo. Sendo ele também dono da capitania de Camutá, foram as duas trocadas por uma pensão anual de três mil cruzados. Alcântara, nessa época, estava já completamente arruinada, sendo "... público e geral a pobreza desta cidade, na qual se não achava senhor de engenho algum com fábrica que pudesse dar aumento aos açúcares e apenas havia alguns molinetes que fabricavam aguardente, e por curiosidade algum pouco açúcar para suas casas particulares e por isso não é possível a eleição de Procurador." (Relatório da Câmara de São Luís, enviado ao Ouvidor da Comarca do Maranhão, Manoel Sarmento, em 1754, apud LIMA, 1998, p. 75-76).

Como o estado "se achava reduzido à extrema miséria", nas palavras do governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado - 1751/1759 -, os moradores se propuseram a constituir uma companhia de comércio, com capitais da terra. Constatada a impossibilidade de reunir os cabedais necessários, apelaram para a Coroa. Pombal, então o todo poderoso ministro do Reino aprovou um plano. Criou-se a Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão. Essa companhia foi responsável pela regeneração econômica da capitania.

Bandeira da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão em 1755

A partir do advento da Companhia Geral de Comércio, segundo o historiador Manuel Nunes Dias, percebe-se uma conjuntura mais favorável em relação à economia do Estado. Defensor entusiasta da dita Companhia, criada por Pombal em 1755, Dias argumenta exaustivamente sobre a necessidade sentida àquela época de articulação entre o comércio e a segurança militar, no que tange à defesa do patrimônio ultramarino da Coroa portuguesa. Diz ele:

“Na segunda metade do século XVIII o ponto saliente da política ultramarina da Coroa residia, com efeito, na predominância da defesa da Amazônia brasileira. A segurança e regularidade do giro mercantil exigiam, porém, o estabelecimento de fortalezas” (DIAS, 1970, p. 13, citado por Damasceno e Miranda, 2021).

Se o início do Governo Mendonça Furtado no Grão-Pará e Maranhão tem como marco documental as “Instruções régias...”, nas quais já constam referências aos religiosos, seu término pode ter como marco documental o “Discurso economiástico...”, de autoria do Secretário do estado José Gonçalves de Fonseca. Nesse discurso, que se trata, na verdade, de uma tentativa de síntese histórica do governo de Mendonça Furtado, Fonseca resgata brevemente o processo de formação daquele Estado e disserta sobre os problemas do governador com os religiosos (principalmente os jesuítas), fazendo referências explícitas a excessos de padres na administração temporal de suas aldeias, retomando o tema dos conflitos entre Estado e Companhia deJesus no Grão-Pará.Após livreinterpretaçãodos acontecimentos prévios ao governodeMendonça Furtado, que serviram de “[...] breve e sucinto detalhe de turbulência que combatia e consternava aquela dilatada conquista” (MENDONÇA FURTADO, 1963, tomo III, p. 1209), o escriba passa então a narrar a chegada do irmão de Carvalho e Melo e seu desempenho à frente do grande Estado.

“As expugnações que ocupavam todo o seu cuidado [...] são sintetizadas em dois objetivos principais do novo governador, quais sejam desalojar os Regulares do governo temporal dos índios aldeados, e libertar do poder dos moradores milhares dos outros índios” (MENDONÇA FURTADO, 1963, tomo III, p.1210-1211, citado por Damasceno e Miranda, 2021).

Fica, desse modo, comprovada a tese de que Mendonça Furtado já chegara ao Grão-Pará e Maranhão cônscio da tarefa de enfrentamento com os religiosos. O atencioso Secretário omitiu, entretanto, a questão da demarcação dos limites como objetivo importante de sua presença na região, pois era esta também uma estratégica missão a ele confiada. As demarcações dos limites territoriais na parte norte do vale amazônico eram imprescindíveis para a coroa lusitana. Mas requereu um esforço considerável para pôr em prática.

[...] Para esta finalidade, era importante percorrer os mais diversos locais e rios da região e fixá-los aos domínios da Coroa. No tocante ao gerenciamento das funções, era importante nomear um chefe de confiança para comandar as tropas. Tais tropas teriam oficiais militares, astrônomos, geógrafos, capelães, cirurgiões, soldados e gente de serviço: um número considerável de pessoas. Portanto, é perceptível que as demarcações dos limites tinham um contingente expressivo de grupos indígenas a seu serviço, isto fica evidente num ofício encaminhado pelo Provincial do Carmo, padre José da Natividade, para o Diogo Mendonça, o conteúdo do ofício que ressalta a grande quantidade de índios cedidos para as demarcações nos rios Negro e Solimões (GUZMÁN; RAIOL JUNIOR, 2019, p. 185, citado por Damasceno e Miranda, 2021).

Entretanto, esta iniciativa apresentava dificuldades: Adefesado patrimônio, istoé,apreservaçãodas colônias, é, evidentemente, na ordem lógica, a primeira tarefa que enfrenta sempre uma metrópole colonizadora. O que, no caso português, e em especial em relação ao Brasil, tornava essa manutenção territorial um problema, era, de um lado, a defasagem que acima assinalamos no ritmo de desenvolvimento econômico da metrópole em relação às principais potências europeias; de outro lado, a desproporção entre a imensidão dos domínios e a pequenez da metrópole (NOVAIS, 1983, p. 136, citado por Damasceno e Miranda, 2021).

Criado no ano de 1755 por orientação do Marquês de Pombal, o “Directorio dos Índios” ou “ Directorio Pombalino”, foi direcionado, exclusivamente, ao Estado Colonial do Maranhão, uma das entidades administrativas da América Portuguesa. Somente no ano de 1758, através de um Alvará Régio datado de 17 de agosto, as determinações do “Directorio dos índios” foram estendidas ao Estado do Brasil, sobretudo para serem aplicadas na capitania de Pernambuco e suas anexas = Ceará, Rio Grande e Paraíba.

“Dentre as principais disposições, substituía os missionários por diretores leigos, nomeados pelos governadores, cujas obrigações abrangiam o incentivo à agricultura, à mestiçagem por meio de casamentos mistos e à adoção de hábitos e da língua portuguesa, com o fim de promover a <<civilidade dos índios>>” [01].

“(...) Sendo Sua Majestade servido pelo Alvará com força de Ley de 7 de Junho de 1755, abolir a administração Temporal, que os Regulares exercitavam nos Índios das Aldeas deste Estado [do Maranhão e Grão-Pará], mandando-as governar pelos seus respectivos Principais (...)”. [02].

“(...) Havendo o dito Senhor declarado no mencionado Alvará, que os Índios existentes nas Aldeas, que passarem a ser Vilas, sejam governados no Temporal pelos Juízes Ordinários, Vereadores, e mais Oficiais de Justiça; e das Aldeas independentes das ditas Vilas pelos seus respectivos Principais (...)”. [02].

“(...) Em primeiro lugar cuidarão muito os Diretores em lhes persuadir o quanto lhes será útil o honrado exercício de cultivarem as suas terras; porque por este interessante trabalho não só terão os meios competentes para sustentarem com abundância as suas casas, e famílias; mas vendendo os gêneros, que adquirirem pelo meio da cultura, se aumentarão neles os cabedais à proporção da lavoura, e plantações, que fizerem (...)”. [02].

Em 12 de maio de 1798, o Diretório dos Índios foi abolido nas duas Colônias da América Portuguesa (Brasil e Maranhão) através de uma Carta Régia firmada por Dona Maria I. A figura polêmica do “Diretor dos Índios”, no entanto, não deixou de existir. A escolha do “Diretor”, que era um ato previsto no “Directorio dos Índios”, passou a ser, doravante, uma prerrogativa das Câmaras Administrativas.

ANO DE 1754 - A DIVISÃO DOS BISPADOS DE PERNAMBUCO, MARANHÃO, PARÁ E SÃO PAULO. CONSULTA da Mesa da Consciência e Ordens ao Rei D. José, sobre a Representação do Bispo do Maranhão, relativa a Divisão dos Bispados de Pernambuco, Maranhão, Pará e São Paulo – Ano de 1754-1755. AHU-MA Cx. 35, Doc. 3528

Transcrição “verbo ad verbum”

“Por remissão de Vossa Majestade, de dezesseis [16] de março de mil e setecentos e quarenta e sete [1747], foi Vossa Majestade servido, que revendo-se neste tribunal, uma Representação do Bispo do Maranhão, com efeito de se encontrar aquele parecer; em cuja Representação refere estar informado com certeza de que a Bulla porque fora desmembrada a capitania do Piauhy do Bispado de Pernambuco e unida ao do Maranhão, em compensação do Bispado do Pará que dele se desmembrara, tivera execução muito diminuta; e também, que o sítio das vertentes do Tocantins para a parte do Maranhão e Riacho de Manuel Alves [vide – AHU-MA, Cx 25 Doc 2625] e seus distritos novamente povoado em distância de mais de quinhentas léguas do Bispado de São Paulo, e mais de quatrocentas léguas do do Pará, e só cento e vinte léguas do do Maranhão, estava sem prelado certo, e outras mais freguesias divididas, dando ocasião a discórdias entre os prelados, prejuízos das consciências e escândalo dos povos; vendo estes procedimentos de censuras e declaração de nulidade de sacramentos, sendo a causa de todos distúrbios, não se haverem demarcado os limites dos Bispados confinantes, na forma das divisões, demarcações e uniões; e porque ele suplicante, para o serviço de Deos [Deus] e de Vossa Majestade, e melhor expedição do múnus episcopal , empregando-se só neste, livre de contendas, e para satisfazer a obrigação do seu juramento, devia recorrer a Vossa Majestade para lhe dar providência. E esperava que à vista das ditas Bullas fosse Vossa Majestade servido mandar fazer a divisão e demarcação formal de cada um dos Bispados do Maranhão, Pará, Pernambuco e São Paulo, dando a cada um assento [registro], para os prelados saberem os confins dos seus territórios e os vassalos de Vossa Majestade as dioceses a que pertencem.

Ordenou-se ao governador capitão general do Estado do Maranhão, informar-se com seu parecer, ao que satisfez dizendo que sendo criado de novo o Bispado do Pará no ano de 1719, era certo que todo o seu distrito se desmembrara do Bispado do Maranhão, e se unira a este [Bispado do Maranhão] a capitania do Piauhy que pertencia ao de Pernambuco, para recompensa da desmembração referida, declarando-se na Bulla Pontifícia, pertencer ao [Bispado do] Maranhão todo aquele continente que é desde aquela capitania até a Fortaleza do Seará.

Que se a omissão com que se houvera o Doutor Antônio Troyano governador do Bispado do Maranhão, em não tomar posse de todo o terreno que lhe pertencia pela dita Bulla, não

prejudicava a Jurisdição Episcopal do mesmo Bispado, era certo que com justiça recorria o Bispo atual para se recuperar nesta parte com a moderação que pedia, pois pertencendo-lhe todo o distrito que é desde o Maranhão até a Fortaleza do Seará, se contentava com o que compreendia desde o simo da Serra da Hybiapaba vertentes ao Ryo da Parnahyba para a parte do Maranhão, e que tanto para evitar distúrbios que tinham havido entre os padres da jurisdição de Pernambuco com os do Maranhão, como por ser mais fácil o recurso dos moradores aquela capitania, se por terra ou por mar, lhe parecia mais conforme a Real clemência, de Vossa Majestade, que pela Serra da Hybiapaba se dividisse o Bispado de Pernambuco do do Maranhão, ficando pertencendo a este todas as vertentes ao Ryo Parnahyba, na forma que se pratica nas divisões do Brazil.

Que por esta mesma razão das vertentes, devia tocar ao mesmo Bispado do Maranhão as do dito Ryo Parnahyba, e dos Ryos Mearim, Pinaré, e Itapecuru, com todas as povoações que tinham de presente e tivessem para o futuro; porém, como o Ryo chamado de Manuel Alves [vide – AHUMA, Cx 25 Doc 2625] que deságua no do Tocantins e faz barra no das Amazonas no distrito do Bispado do Pará, e estar este mesmo Bispado na posse de administrar as freguesias que havia no dito Ryo de Manuel Alves e outras que lhe eram contíguas como as de São Felix e Natividades [vide – AHU-PA, Cx 38 Doc 3526], que tudo era nas terras novas de Goyás, lhe parecia se devia conservar nela enquanto pela parte de Goyás não houvesse prelado a que pertencesse, e Vossa Majestade mandaria o que fosse servido.

Dando-se vista ao procurador da fazenda da repartição de ultramar, respondeu que nesta divisão podia ser prejudicado o Bispo de Pernambuco e do Pará, e não era justo que se fizesse sem serem ouvidos, pelo que entendia se devia mandar que respondessem sobre esta Representação [do Bispo do Maranhão], ordenando-se a todos que se conservassem na posse em que se achavam, sem alguma alteração, até Vossa Majestade resolver este negócio.

Dando-se, também, vista ao procurador geral das ordens, respondeu que lhe parecia o mesmo que ao procurador da fazenda.

Ordenou-se aos Reverendos Bispos de Pernambuco e Pará, respondessem à Representação do Bispo suplicante [do Maranhão], conservando-se na posse em que se achavam, sem alteração alguma, até Vossa Majestade decidir este negócio, ao que satisfez os Reverendos. O Bispo de Pernambuco, dizendo que, o que podia responder a Vossa Majestade naquela parte, era que por então se haviam contratado os dois Bispos com a execução que se dera a Bulla porque o Bispo de Pernambuco, D. José Fialho, se satisfizera com o aumento da côngrua [remuneração mensal] que então superara em quatro mil cruzados, e o Bispo do Maranhão se dera por satisfeito com a capitania do Piauhy, que era melhor e mais rico certão [sertão] que os de Pernambuco, e ficaram confinando os dois Bispados pela Serra dos Cocos, cujas vertentes para a parte do Maranhão os dividiam.

Que estando assim as coisas, e sem haver mais questão nesta matéria, se descobriram na Serra dos Cocos minas de prata, estando esta serra até ali sem controvérsia pertencente ao Bispado de Pernambuco, entrara por ela querendo administrar os sacramentos, o cura da Piracuruca, Bispado do Maranhão, dizendo lhe pertencia aquele distrito. Não fora necessário proceder contra ele com censuras, porque nenhum dos moradores lhe quis obedecer, por se achar o Bispado de Pernambuco na pacífica posse daquela serra.

E se recorrera o cura da Piracuruca ao seu prelado, e com instâncias e informações, movera a este, requerimento. Que acabando as minas de prata e supunha ele Bispo, também acabado, e este era o fato sobre o que caira esta Representação. E que entrando a ponderar [avaliar] o direito que cada um destes Bispados poderia ter àquele distrito, diria a Vossa Majestade que a posse pacífica estava por Pernambuco, e que sendo Vossa Majestade servido se aplicasse também ao Bispado do Maranhão, em tal caso seria preciso dividir também daquele governo [de Pernambuco], porque estando o seu Bispo no Maranhão e o seu governo com Pernambuco, não se podiam coadjuvar as duas jurisdições [temporal e espiritual], dependendo muito alternativamente uma da outra. Não se podiam também governar os índios, porque a Junta de Missão se havia precisamente compor de Bispos e governadores, e que no Maranhão se resolveria uma coisa por parte dos Bispos, e em Pernambuco outra por parte dos governadores. As partes recorreriam uma ao Bispo, outra ao governador, cada qual instruiria os seus requerimentos com

diversos documentos, que naquelas Américas comumente eram falsos, pelo que se persuadia [aceitava] que desta divisão só podia resultar desordens. E no que tocava a divisão entre os Bispados de São Paulo e Maranhão, não podia dizer coisa certa a Vossa Majestade, que mandaria o que fosse servido.

E por não ter respondido o Bispo do Pará, se lhe repetiu nova ordem, na conformidade da primeira que se lhe tinha expedido. O que satisfez, dizendo que lendo com a reflexão devida a Representação que o Bispo do Maranhão fizera a Vossa Majestade, que vendo-se de que a Bulla porque se desunira do Bispado de Pernambuco a capitania do Piauhy, e se incorporara no do Maranhão, em compensação do Pará que deste se desmembrara, tivera a execução muito diminuta, não tinha que responder nesta parte, por ser direito pertencente ao Bispado de Pernambuco. Em quanto a segunda parte, na qual o mesmo suplicante [Bispo do Maranhão] representa que o riacho de Manuel Alves e seus distritos não tinham prelado certo, lhe parecia que o Bispo do Maranhão fora muito mal informado, como ele mesmo lhe confessara em vida, dizendo a ele Bispo do Pará, que fizera esta Representação por assim lhe persuadir [convencer] um clérigo achando-se ainda nesta corte. Era este riacho de Manuel Alves chamado assim, por ser o tal Manuel Alves o primeiro que deu notícia dele, tinha as suas vertentes para os Tocantins, a qual, sem disputa, pertencia ao Bispado do Pará, por ter a sua foz junto quase aquela cidade [Belém]. Este riacho se compreende com todos os distritos nos limites das minas da Natividade, os quais tinham governado sempre espirituosamente os Bispos do Pará seus antecessores, desde a primeira criação do mesmo Bispado, e que ele Bispo pacificamente se conservava na mesma posse. Que não podia duvidar que as minas da Natividade distavam daquela cidade de Bellém quatrocentas léguas, pouco mais ou menos, mas que toda esta distância procedia de se não permitir a comunicação com as ditas minas pelos Ryos ou Capim, ou Tocantins, da mesma sorte que Vossa Majestade fará agora, servindo permitir pelo Ryo da Madeira com as minas de Matto Grosso, a respeito das quais lhe parecia que o Bispado do Pará tinha igual direito, por se acharem situadas nas margens do Ryo Sararé, que pela parte oriental deságua no Ryo Gaporé, o qual tem suas vertentes para o Ryo Madeira, como já tinha exposto a Vossa Majestade.

Que enquanto à recomendação que Vossa Majestade se dignava fazer, de que se conservasse na posse em que se achasse, sem alteração alguma, não podia haver preceito mais suave para a obediência dele, Bispo, e que se lhe fosse lícito deixar de expor a Vossa Majestade o direito que pertencia aquele Bispado, não só pediria humilde e oficialmente a Vossa Majestade, que não estendesse os limites da sua jurisdição, mas que lhe coarcta-se [restringir-se, reduzir-se], com especialidade a respeito dos territórios de minas, nas quais, pela experiência das que governara, regularmente só viviam homens facínoras, indígenas da direção espiritual de um prelado que desejavam satisfazer as obrigações do seu ministério.

Dando-se vista ao procurador da fazenda da repartição de ultramar, respondeu que o importante negócio da divisão dos Bispados da América, estava afecto [dedicado] a Vossa Majestade, e que a sua Real presença tinham subido já as petições e papéis que havia sobre esta matéria, para determinar ultimamente; e que para o mesmo fim, se devia consultar agora este requerimento, para Vossa Majestade lhe deferir como fosse servido na divisão geral, pois tratando-se dela não se devia fazer a particular que se requeria.

E dando-se vista ao procurador geral das Ordens, respondeu, que como o negócio da divisão dos Bispados estava na Real presença de Vossa Majestade, se devia pôr na Real presença de Vossa Majestade este requerimento, para o atender na resolução que tomasse nesta matéria. O QUE TUDO VISTO. Parece à mesa, mesmo que aos fiscais, e espera que Vossa Majestade antes de resolver a divisão geral dos Bispados, a ouça, assim como agora fez sobre esta divisão particular, que é conforme com as reais resoluções de Vossa Majestade, enquanto toca ao governo espiritual das conquistas. Lisboa, doze [12] de novembro de mil setecentos e cinquenta e quatro [1754]. (assinado) Marquês Presidente – Phillipe Maciel – José Fenª de Horta – José Simões Barbosa de Azambuja – Fernando José de Castro – Manoel da Costa Mimoso – Manoel Fenª de Lima –Caetano Alberto de Oliveira”. Transcrição: João Bosco Gaspar Tianguá-Ceará.

A partir do advento da Companhia Geral de Comércio, segundo o historiador Manuel Nunes Dias, percebe-se uma conjuntura mais favorável em relação à economia do Estado. Defensor entusiasta da dita Companhia, criada por Pombal em 1755, Dias argumenta exaustivamente sobre a necessidade sentida àquela época de articulação entre o comércio e a segurança militar, no que tange à defesa do patrimônio ultramarino da Coroa portuguesa. Diz ele:

“Na segunda metade do século XVIII o ponto saliente da política ultramarina da Coroa residia, com efeito, na predominância da defesa da Amazônia brasileira. A segurança e regularidade do giro mercantil exigiam, porém, o estabelecimento de fortalezas” (DIAS, 1970, p. 13, citado por Damasceno e Miranda, 2021).

Fica, desse modo, comprovada a tese de que Mendonça Furtado já chegara ao Grão-Pará e Maranhão cônscio da tarefa de enfrentamento com os religiosos. O atencioso Secretário omitiu, entretanto, a questão da demarcação dos limites como objetivo importante de sua presença na região, pois era esta também uma estratégica missão a ele confiada. As demarcações dos limites territoriais na parte norte do vale amazônico eram imprescindíveis para a coroa lusitana. Mas requereu um esforço considerável para pôr em prática.

[...] Para esta finalidade, era importante percorrer os mais diversos locais e rios da região e fixá-los aos domínios da Coroa. No tocante ao gerenciamento das funções, era importante nomear um chefe de confiança para comandar as tropas. Tais tropas teriam oficiais militares, astrônomos, geógrafos, capelães, cirurgiões, soldados e gente de serviço: um número considerável de pessoas. Portanto, é perceptível que as demarcações dos limites tinham um contingente expressivo de grupos indígenas a seu serviço, isto fica evidente num ofício encaminhado pelo Provincial do Carmo, padre José da Natividade, para o Diogo Mendonça, o conteúdo do ofício que ressalta a grande quantidade de índios cedidos para as demarcações nos rios Negro e Solimões (GUZMÁN; RAIOL JUNIOR, 2019, p. 185, citado por Damasceno e Miranda, 2021).

Entretanto, esta iniciativa apresentava dificuldades: Adefesado patrimônio, istoé,apreservaçãodas colônias, é, evidentemente, na ordem lógica, a primeira tarefa que enfrenta sempre uma metrópole colonizadora. O que, no caso português, e em especial em relação ao Brasil, tornava essa manutenção territorial um problema, era, de um lado, a defasagem que acima assinalamos no ritmo de desenvolvimento econômico da metrópole em relação às principais potências europeias; de outro lado, a desproporção entre a imensidão dos domínios e a pequenez da metrópole (NOVAIS, 1983, p. 136, citado por Damasceno e Miranda, 2021).

Evolução territorial do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Assim, essa divisão administrativa perduraria até 1652, quando pela Carta Régia de 25 de fevereiro foi extinto o Estado do Maranhão, agora sob a denominação de Maranhão e Grão-Pará; em 1651 o Pará passou a ser cabeça do Estado, denominando-se do Grão-Pará e Maranhão. A Carta Régia de 6 de agosto de 1653 repartiuo em quatro capitanias – São José do Piauí; Maranhão; Grão-Pará; e São José do Rio Negro – todas sujeitas a um governador e capitão-general, e tinha como sede a cidade de Belém.

Evolução territorial do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

No ano de 1755, quando o Bispo do Maranhão acionou o Rei de Portugal através da Mesa da Consciência e Ordens, no sentido de "estabelecer os limites" entre os Bispados do Maranhão, Pernambuco, Pará e São Paulo, essa discussão veio à tona. Naquela ocasião (1755), o Bispo do Maranhão diz que:

"Pertencendo-lhe todo o distrito que é desde o Maranhão até a Fortaleza do Seará, se contentava com o que compreendia desde o simo da Serra da Hybiapaba vertentes ao Ryo da Parnahyba para a parte do Maranhão". (AHU-MA, Cx. 35, Doc. 3528).

A Mesa da Consciência e Ordens, porém, em parecer enviado a "Sua Majestade", alertou sobre a situação dúbia vivenciada pela capitania do Ceará... estava dividida entre dois Bispados (Pernambuco e Maranhão) e era governada, na esfera temporal, pela capitania de Pernambuco:

"E que entrando a ponderar [avaliar] o direito que cada um destes Bispados poderia ter àquele distrito [da Ibiapaba], diria a Vossa Majestade que a posse pacífica estava por Pernambuco, e que sendo Vossa Majestade servido se aplicasse também ao Bispado do Maranhão, em tal caso seria preciso dividir também daquele governo [de Pernambuco], porque estando o seu Bispo no Maranhão e o seu governo com Pernambuco, não se podiam coadjuvar as duas jurisdições [temporal e espiritual], dependendo muito alternativamente uma da outra. Não se podiam

também governar os índios [da Ibiapaba], porque a Junta de Missão se havia precisamente compor de Bispos e governadores, e que no Maranhão se resolveria uma coisa por parte dos Bispos, e em Pernambuco outra por parte dos governadores. As partes recorreriam uma ao Bispo, outra ao governador, cada qual instruiria os seus requerimentos com diversos documentos, que naquelas Américas comumente eram falsos, pelo que se persuadia [aceitava] que desta divisão só podia resultar desordens". (AHU-MA, Cx. 35, Doc. 3528). Por João Bosco Gaspar. Fonte: Livro de Assentos das Juntas das Missões de Pernambuco - Biblioteca Nacional de Lisboa, Portugal.

ANO DE 1754 - A DIVISÃO DOS BISPADOS DE PERNAMBUCO, MARANHÃO, PARÁ E SÃO PAULO.

CONSULTA da Mesa da Consciência e Ordens ao Rei D. José, sobre a Representação do Bispo do Maranhão, relativa a Divisão dos Bispados de Pernambuco, Maranhão, Pará e São Paulo – Ano de 1754-1755. AHUMA Cx. 35, Doc. 3528

Transcrição “verbo ad verbum”

“Por remissão de Vossa Majestade, de dezesseis [16] de março de mil e setecentos e quarenta e sete [1747], foi Vossa Majestade servido, que revendo-se neste tribunal, uma Representação do Bispo do Maranhão, com efeito de se encontrar aquele parecer; em cuja Representação refere estar informado com certeza de que a Bulla porque fora desmembrada a capitania do Piauhy do Bispado de Pernambuco e unida ao do Maranhão, em compensação do Bispado do Pará que dele se desmembrara, tivera execução muito diminuta; e também, que o sítio das vertentes do Tocantins para a parte do Maranhão e Riacho de Manuel Alves [vide – AHU-MA, Cx 25 Doc 2625] e seus distritos novamente povoado em distância de mais de quinhentas léguas do Bispado de São Paulo, e mais de quatrocentas léguas do do Pará, e só cento e vinte léguas do do Maranhão, estava sem prelado certo, e outras mais freguesias divididas, dando ocasião a discórdias entre os prelados, prejuízos das consciências e escândalo dos povos; vendo estes procedimentos de censuras e declaração de nulidade de sacramentos, sendo a causa de todos distúrbios, não se haverem demarcado os limites dos Bispados confinantes, na forma das divisões, demarcações e uniões; e porque ele suplicante, para o serviço de Deos [Deus] e de Vossa Majestade, e melhor expedição do múnus episcopal , empregando-se só neste, livre de contendas, e para satisfazer a obrigação do seu juramento, devia recorrer a Vossa Majestade para lhe dar providência. E esperava que à vista das ditas Bullas fosse Vossa Majestade servido mandar fazer a divisão e demarcação formal de cada um dos Bispados do Maranhão, Pará, Pernambuco e São Paulo, dando a cada um assento [registro], para os prelados saberem os confins dos seus territórios e os vassalos de Vossa Majestade as dioceses a que pertencem.

Ordenou-se ao governador capitão general do Estado do Maranhão, informar-se com seu parecer, ao que satisfez dizendo que sendo criado de novo o Bispado do Pará no ano de 1719, era certo que todo o seu distrito se desmembrara do Bispado do Maranhão, e se unira a este [Bispado do Maranhão] a capitania do Piauhy que pertencia ao de Pernambuco, para recompensa da desmembração referida, declarando-se na Bulla Pontifícia, pertencer ao [Bispado do] Maranhão todo aquele continente que é desde aquela capitania até a Fortaleza do Seará.

Que se a omissão com que se houvera o Doutor Antônio Troyano governador do Bispado do Maranhão, em não tomar posse de todo o terreno que lhe pertencia pela dita Bulla, não prejudicava a Jurisdição Episcopal do mesmo Bispado, era certo que com justiça recorria o Bispo atual para se recuperar nesta parte com a moderação que pedia, pois pertencendo-lhe todo o distrito que é desde o Maranhão até a Fortaleza do Seará, se contentava com o que compreendia desde o simo da Serra da Hybiapaba vertentes ao Ryo da Parnahyba para a parte do Maranhão, e que tanto para evitar distúrbios que tinham havido entre os padres da jurisdição de Pernambuco com os do Maranhão, como por ser mais fácil o recurso dos moradores aquela capitania, se por terra ou por mar, lhe parecia mais conforme a Real clemência, de Vossa Majestade, que pela

Serra da Hybiapaba se dividisse o Bispado de Pernambuco do do Maranhão, ficando pertencendo a este todas as vertentes ao Ryo Parnahyba, na forma que se pratica nas divisões do Brazil.

Que por esta mesma razão das vertentes, devia tocar ao mesmo Bispado do Maranhão as do dito Ryo Parnahyba, e dos Ryos Mearim, Pinaré, e Itapecuru, com todas as povoações que tinham de presente e tivessem para o futuro; porém, como o Ryo chamado de Manuel Alves [vide – AHUMA, Cx 25 Doc 2625] que deságua no do Tocantins e faz barra no das Amazonas no distrito do Bispado do Pará, e estar este mesmo Bispado na posse de administrar as freguesias que havia no dito Ryo de Manuel Alves e outras que lhe eram contíguas como as de São Felix e Natividades [vide – AHU-PA, Cx 38 Doc 3526], que tudo era nas terras novas de Goyás, lhe parecia se devia conservar nela enquanto pela parte de Goyás não houvesse prelado a que pertencesse, e Vossa Majestade mandaria o que fosse servido.

Dando-se vista ao procurador da fazenda da repartição de ultramar, respondeu que nesta divisão podia ser prejudicado o Bispo de Pernambuco e do Pará, e não era justo que se fizesse sem serem ouvidos, pelo que entendia se devia mandar que respondessem sobre esta Representação [do Bispo do Maranhão], ordenando-se a todos que se conservassem na posse em que se achavam, sem alguma alteração, até Vossa Majestade resolver este negócio.

Dando-se, também, vista ao procurador geral das ordens, respondeu que lhe parecia o mesmo que ao procurador da fazenda.

Ordenou-se aos Reverendos Bispos de Pernambuco e Pará, respondessem à Representação do Bispo suplicante [do Maranhão], conservando-se na posse em que se achavam, sem alteração alguma, até Vossa Majestade decidir este negócio, ao que satisfez os Reverendos. O Bispo de Pernambuco, dizendo que, o que podia responder a Vossa Majestade naquela parte, era que por então se haviam contratado os dois Bispos com a execução que se dera a Bulla porque o Bispo de Pernambuco, D. José Fialho, se satisfizera com o aumento da côngrua [remuneração mensal] que então superara em quatro mil cruzados, e o Bispo do Maranhão se dera por satisfeito com a capitania do Piauhy, que era melhor e mais rico certão [sertão] que os de Pernambuco, e ficaram confinando os dois Bispados pela Serra dos Cocos, cujas vertentes para a parte do Maranhão os dividiam.

Que estando assim as coisas, e sem haver mais questão nesta matéria, se descobriram na Serra dos Cocos minas de prata, estando esta serra até ali sem controvérsia pertencente ao Bispado de Pernambuco, entrara por ela querendo administrar os sacramentos, o cura da Piracuruca, Bispado do Maranhão, dizendo lhe pertencia aquele distrito. Não fora necessário proceder contra ele com censuras, porque nenhum dos moradores lhe quis obedecer, por se achar o Bispado de Pernambuco na pacífica posse daquela serra.

E se recorrera o cura da Piracuruca ao seu prelado, e com instâncias e informações, movera a este, requerimento. Que acabando as minas de prata e supunha ele Bispo, também acabado, e este era o fato sobre o que caira esta Representação. E que entrando a ponderar [avaliar] o direito que cada um destes Bispados poderia ter àquele distrito, diria a Vossa Majestade que a posse pacífica estava por Pernambuco, e que sendo Vossa Majestade servido se aplicasse também ao Bispado do Maranhão, em tal caso seria preciso dividir também daquele governo [de Pernambuco], porque estando o seu Bispo no Maranhão e o seu governo com Pernambuco, não se podiam coadjuvar as duas jurisdições [temporal e espiritual], dependendo muito alternativamente uma da outra. Não se podiam também governar os índios, porque a Junta de Missão se havia precisamente compor de Bispos e governadores, e que no Maranhão se resolveria uma coisa por parte dos Bispos, e em Pernambuco outra por parte dos governadores. As partes recorreriam uma ao Bispo, outra ao governador, cada qual instruiria os seus requerimentos com diversos documentos, que naquelas Américas comumente eram falsos, pelo que se persuadia [aceitava] que desta divisão só podia resultar desordens. E no que tocava a divisão entre os Bispados de São Paulo e Maranhão, não podia dizer coisa certa a Vossa Majestade, que mandaria o que fosse servido.

E por não ter respondido o Bispo do Pará, se lhe repetiu nova ordem, na conformidade da primeira que se lhe tinha expedido. O que satisfez, dizendo que lendo com a reflexão devida a

Representação que o Bispo do Maranhão fizera a Vossa Majestade, que vendo-se de que a Bulla porque se desunira do Bispado de Pernambuco a capitania do Piauhy, e se incorporara no do Maranhão, em compensação do Pará que deste se desmembrara, tivera a execução muito diminuta, não tinha que responder nesta parte, por ser direito pertencente ao Bispado de Pernambuco. Em quanto a segunda parte, na qual o mesmo suplicante [Bispo do Maranhão] representa que o riacho de Manuel Alves e seus distritos não tinham prelado certo, lhe parecia que o Bispo do Maranhão fora muito mal informado, como ele mesmo lhe confessara em vida, dizendo a ele Bispo do Pará, que fizera esta Representação por assim lhe persuadir [convencer] um clérigo achando-se ainda nesta corte. Era este riacho de Manuel Alves chamado assim, por ser o tal Manuel Alves o primeiro que deu notícia dele, tinha as suas vertentes para os Tocantins, a qual, sem disputa, pertencia ao Bispado do Pará, por ter a sua foz junto quase aquela cidade [Belém]. Este riacho se compreende com todos os distritos nos limites das minas da Natividade, os quais tinham governado sempre espirituosamente os Bispos do Pará seus antecessores, desde a primeira criação do mesmo Bispado, e que ele Bispo pacificamente se conservava na mesma posse. Que não podia duvidar que as minas da Natividade distavam daquela cidade de Bellém quatrocentas léguas, pouco mais ou menos, mas que toda esta distância procedia de se não permitir a comunicação com as ditas minas pelos Ryos ou Capim, ou Tocantins, da mesma sorte que Vossa Majestade fará agora, servindo permitir pelo Ryo da Madeira com as minas de Matto Grosso, a respeito das quais lhe parecia que o Bispado do Pará tinha igual direito, por se acharem situadas nas margens do Ryo Sararé, que pela parte oriental deságua no Ryo Gaporé, o qual tem suas vertentes para o Ryo Madeira, como já tinha exposto a Vossa Majestade.

Que enquanto à recomendação que Vossa Majestade se dignava fazer, de que se conservasse na posse em que se achasse, sem alteração alguma, não podia haver preceito mais suave para a obediência dele, Bispo, e que se lhe fosse lícito deixar de expor a Vossa Majestade o direito que pertencia aquele Bispado, não só pediria humilde e oficialmente a Vossa Majestade, que não estendesse os limites da sua jurisdição, mas que lhe coarcta-se [restringir-se, reduzir-se], com especialidade a respeito dos territórios de minas, nas quais, pela experiência das que governara, regularmente só viviam homens facínoras, indígenas da direção espiritual de um prelado que desejavam satisfazer as obrigações do seu ministério.

Dando-se vista ao procurador da fazenda da repartição de ultramar, respondeu que o importante negócio da divisão dos Bispados da América, estava afecto [dedicado] a Vossa Majestade, e que a sua Real presença tinham subido já as petições e papéis que havia sobre esta matéria, para determinar ultimamente; e que para o mesmo fim, se devia consultar agora este requerimento, para Vossa Majestade lhe deferir como fosse servido na divisão geral, pois tratando-se dela não se devia fazer a particular que se requeria

E dando-se vista ao procurador geral das Ordens, respondeu, que como o negócio da divisão dos Bispados estava na Real presença de Vossa Majestade, se devia pôr na Real presença de Vossa Majestade este requerimento, para o atender na resolução que tomasse nesta matéria.

O QUE TUDO VISTO.

Parece à mesa, mesmo que aos fiscais, e espera que Vossa Majestade antes de resolver a divisão geral dos Bispados, a ouça, assim como agora fez sobre esta divisão particular, que é conforme com as reais resoluções de Vossa Majestade, enquanto toca ao governo espiritual das conquistas. Lisboa, doze [12] de novembro de mil setecentos e cinquenta e quatro [1754]. (assinado) Marquês Presidente – Phillipe Maciel – José Fenª de Horta – José Simões Barbosa de Azambuja – Fernando José de Castro – Manoel da Costa Mimoso – Manoel Fenª de Lima – Caetano Alberto de Oliveira”. Transcrição: João Bosco Gaspar

O DIRETÓRIO

POMBALINO NA ALDEIA DA IBIAPABA, CAPITANIA DO CEARÁ GRANDE. Criado no ano de 1755 por orientação do Marquês de Pombal, o “Directorio dos Índios” ou “ Directorio Pombalino”, foi direcionado, exclusivamente, ao Estado Colonial do Maranhão, uma das entidades administrativas da América Portuguesa. Somente no ano de 1758, através de um Alvará Régio datado de 17 de agosto, as determinações do “Directorio dos índios” foram estendidas ao Estado do Brasil, sobretudo para serem aplicadas na capitania de Pernambuco e suas anexas = Ceará, Rio Grande e Paraíba.

“Dentre as principais disposições, substituía os missionários por diretores leigos, nomeados pelos governadores, cujas obrigações abrangiam o incentivo à agricultura, à mestiçagem por meio de casamentos mistos e à adoção de hábitos e da língua portuguesa, com o fim de promover a <<civilidade dos índios>>” [01].

“(...) Sendo Sua Majestade servido pelo Alvará com força de Ley de 7 de Junho de 1755, abolir a administração Temporal, que os Regulares exercitavam nos Índios das Aldeas deste Estado [do Maranhão e Grão-Pará], mandando-as governar pelos seus respectivos Principais (...)”. [02].

“(...) Havendo o dito Senhor declarado no mencionado Alvará, que os Índios existentes nas Aldeas, que passarem a ser Vilas, sejam governados no Temporal pelos Juízes Ordinários, Vereadores, e mais Oficiais de Justiça; e das Aldeas independentes das ditas Vilas pelos seus respectivos Principais (...)”. [02].

“(...) Em primeiro lugar cuidarão muito os Diretores em lhes persuadir o quanto lhes será útil o honrado exercício de cultivarem as suas terras; porque por este interessante trabalho não só terão os meios competentes para sustentarem com abundância as suas casas, e famílias; mas vendendo os gêneros, que adquirirem pelo meio da cultura, se aumentarão neles os cabedais à proporção da lavoura, e plantações, que fizerem (...)”. [02].

TRATO COM O DEMÔNIO E FEITIÇARIA NOS SERTÕES DO PIAUHY.

Encontram-se registradas no Arquivo Nacionalda Torredo Tombo, em Portugal (CadernosdoPromotor,livro nº 313, fls. 125-127 = 261-267), as confissões das escravizadas Joana Pereira de Abreu e Custódia de Abreu, de propriedade do capitão-mor José de Abreu Bacellar, que assumiram junto ao Tribunal do “Santo Ofício”, participação em “cultos demoníacos” realizados entre os anos de 1750 a 1758, na Vila da Moucha (Oeiras) e na freguesia de Nossa Senhora do Livramento.

“Eu, Custódia de Abreu, de idade de dezoito anos, com pouca diferença, vinda pequena do gentio Gueguê (...), escrava do capitão-mor José de Abreu Bacellar, moradora nesta sua fazenda do sítio das Cajazeiras (...)”. Essas declarações foram registradas pelo padre jesuíta Manuel da Silva, “por ella não saber ler e nem escrever, no sítio das Cajazeiras, do capitão-mor José de Abreu Bacellar, aos 10 de abril de 1758”. Entre as confissões feitas, consta o seguinte: “Então me disse ela que eu havia de ir nua à porta da Igreja da mesma vila de Moucha, em que vivíamos, e na qual a Igreja da vila se conserva sempre o santíssimo sacramento, que ali havia de bater com as partes prepósteras [nádegas] assim nua umas três vezes na porta da Igreja indo sempre para trás, e havia no mesmo ponto de chamar por este nome e vocábulo: Tundá, o qual vocábulo nem eu lhe sei bem decifrar a significação inteira e cabal, mas julgo ser nome do Demônio. E que dali havia de endireitar nua para (…) o Enforcado, (…). E que ali me havia de aparecer um moleque e que eu pondo-me na postura de quatro pés, ele me havia de conhecer pela prepóstera [nádegas]”. fls. 125-127, Cadernos do Promotor, livro nº 313 Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Link https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=2318108 Por João Bosco Gaspar

ANO DE 1760. FRANCISCO MARCELINO DE GOUVEIA, PROPÕE AO CONSELHO ULTRAMARINO, QUE A SERRA DA IBIAPABA SEJA TRANSFERIDA DO CEARÁ PARA A CAPITANIA DO PIAUHY:

“(...) O ouvidor da parte do norte, estabelecendo a sua ouvidoria na Villa de Campo Mayor, pode igualmente ficar com o distrito do seu termo, e das Villas de Velença, Marvão e Parnahiba, e assim mesmo, com a povoação de índios da Serra da Ibiapaba, que hoje se denomina de Villa Viçosa Real, quanto ela como o seu termo, se una também à capitania do Piahuy, separando-se da do Ceará-Grande, a que hé pertencente (...)”.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – AHU-PI – Caixa nº 06, Documento nº 395, Data 20 de fevereiro de 1760.

NOTA: A palavra "termo" mencionada por Marcelino Gouveia, representava toda a "circunscrição territorial" que circundava uma vila. No caso de Vila Viçoza Real, o seu "termo" se estendia da Ladeira da Uruoca, até o lugar Itapevuna (Guaraciaba do Norte). Por João Bosco Gaspar

JOÃO PEREIRA CALDAS, PROPÕE AO CONSELHO ULTRAMARINO, QUE A ALDEIA DA SERRA DA IBIAPABA, SEJA RETIRADA DO CEARÁ E ANEXADA A CAPITANIA DO PIAUHY - ANO DE 1761.

“Ao mesmo tempo, julgo (...) que seria mais útil aos interesses desta capitania [do Piauhy], que ao governo dela fosse sujeita aquela grande povoação de índios que há no alto da referida serra”.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal - AHU-PI, caixa 8, doc. 472, data de 16 de setembro de 1761. Por João Bosco Gaspar

INQUISIÇÃO - 1761:

(Durante seu ministério pastoral, o padre Malagrida esteve em Viçosa e Piracuruca).

“Em julho correu o rumor que Malagrida, preso no forte da Junqueira, seria levado ao Santo Officio, e queimado a 31 d' esse mez, para commemorar a festa de Santo Ignacio (...). Aos lados do jesuíta heresiarcha caminhavam dois confessores, que o exortavam. Dois fidalgos da primeira nobreza do reino, o duque de Cadaval e o conde de Villa Nova, familiares do Santo Officio, lhe faziam escolta, pavoneando-se, ufanos do encargo. Por longas horas; em quanto não chegou a vez de lhe ser lida a sentença, Malagrida sentado, de cabeça baixa, os cotovellos fincados nos joelhos, as mãos enclavinhadas à altura do rosto, immovel e silencioso, a tudo que se lhe passava em torno parecia alheio. Ainda ali, consoante disse aos confessores, a voz etherea Ihe falou. Em certo momento pediu mesa, isto é, quiz falar aos inquisidores. Durou a conferencia uma hora e, terminada, voltou tranquillo ao seu logar. Os espectadores observavam-no com interesse infatigavel; pode-se dizer que sobre elle somente todas as atenções convergiam. O acto final da tragedia approximava-se. Leu-se a sentença, o que levou duas horas, e, todo esse tempo ajoelhado e submisso, posto que sem ar de humilhação, nunca a serenidade o abandonou. Paramentou-se em seguida, como que inconsciente, e quase risonho, para a formalidade da degradação: seu espírito desprendera-se dos objectos terrenos, e librava-se agora ao sonhado paraíso. O arcebispo de Lacedemonia arrancou-lhe as vestes sagradas, e com ellas a roupeta de jesuíta, que até esse instante conservara, contra os usos da Inquisição. Formava o intento de quem ditou aos juízes a condenação, patentear que não era um membro só, mas o corpo inteiro da Ordem, ao menos symbolicamente, justiçado nesse dia. D'ahi a pouco, os restos calcinados de Malagrida, morto pelo garrote, eram por mão do executor dispersos ao vento”. Trecho do Livro “Os Jesuítas no GrãoPará: suas missões e a colonização” de João Lúcio D’Azevedo, páginas 302/306 - Lisboa, 1901. Por João Bosco Gaspar. Imagem de ilustração colhida na Internet

ANO DE 1777 - A JUNTA TRINA DE (DES)GOVERNO DA CAPITANIA DO PIAUHY, PROPÕE AO CONSELHO ULTRAMARINO, QUE VIÇOSA SEJA A CAPITAL DO PIAUHY.

No ano de 1777, foi proposto ao rei de Portugal, via Conselho Ultramarino, “a criação de um novo governo geral” englobando as capitanias do Piauí e Ceará. Vejamos:

“A capitania do Piauhy subordinada ao governo do Pará e a capitania do Ceará subordinada ao governo de Pernambuco, podem constituir, pelos seus atuais limites, o território e divisa do dito novo governo”. Prossegue dizendo que o chefe do governo deverá “ter graduação de capitão general” e que sua residência deverá ser estabelecida “em Vila Viçosa Real da Serra da Ibiapaba, fazendo ali casa para sua acomodação, cadeia, quartel e hospital para a guarnição; suprimindose os postos de governador do Piauhy e de capitão mor do Ceará, como desnecessários com a criação do sobredito novo governo”. Propunha ainda a criação “de uma nova ouvidoria com a denominação de ouvidoria do Piauhy da parte do norte, estabelecendo o ouvidor a sua residência na mesma [capital de Vila Viçosa Real], e tendo o termo dela e das vilas da Parnahyba, Campo Mayor e Marvão por divisa da comarca, ficando o outro ouvidor na parte do sul, e a do Ceará com o restante das respectivas comarcas em que já se acham estabelecidas”.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, AHU-AVULSOS (BG), caixa 22, documento 1959, ano de 1777.

(http://resgate.bn.br/docreader/docmulti.aspx?bib=resgate...)

. Por João Bosco Gaspar

Em 12 de maio de 1798, o Diretório dos Índios foi abolido nas duas Colônias da América Portuguesa (Brasil eMaranhão)através deumaCartaRégiafirmadaporDonaMaria I.Afigura polêmicado“Diretordos Índios”, no entanto, não deixou de existir. A escolha do “Diretor”, que era um ato previsto no “Directorio dos Índios”, passou a ser, doravante, uma prerrogativa das Câmaras Administrativas.

Instalada no ano de 1759, logo após a expulsão dos jesuítas do território da Ibiapaba, a notável “Vila Viçoza Real”, teve os seguintes Diretores Indígenas - Período de 1759 a 1814: Diogo Rodrigues (Roiz) Correia; Antônio da Rocha Franco (filho de Pedro da Rocha Franco e de Victoria Rodrigues da Câmara, sobrinha do padre Ascenso Gago); Inácio de Amorim Barros (genro de Antônio da Rocha Franco e dono da Sesmaria Morro da Canastra); Amaro Rodrigues de Souza; padre Bonifácio Manuel Antônio Lelau (vigário colado de Vila Viçosa e dono da Sesmaria do Assimim); Antônio do Espírito Santo Magalhães (casado com a índia tabajara Feliciana dos Reis da Conceição) e Manoel da Silva Sampaio. Essas autoridades foram nomeadas através de cartas-patente firmadas pelos governadores das capitanias de Pernambuco (até o ano de 1799) e do Ceará, respectivamente. FONTES: [01] (Diretores/Diretórios dos Índios - Angélica Ricci Camargo); [02] (Trecho do “Directorio dos Índios – ano de 1755). Por João Bosco Gaspar

MAPA DAS CAPITANIAS DO SIARÁ-GRANDE, PIAUHY E MARANHÃO,

feito pelo capitão

Antônio Joaquim Simões da Veiga, membro da Real Academia das Ciências Matemáticas da Marinha portuguesa, no ano de 1798.

Joaquim da Veiga, foi, também, capitão agregado das entradas da Barra do rio Igaraçu (braço do Parnaíba), termo da vila de Granja, capitania do Ceará (1798), e procurador da Irmandade de Nossa Senhora da Graça, da vila da Parnaíba, capitania do Piauhy. Esse mapa delineou os rios e as barras das três Capitanias:

“Capitania do Siará-Grande: Jericoaquara, borgalhão, e Coral Branco, Coral, e Areia Groça, Coral Rouxo, Areia e Conxa, Lago, Rio Camosim, Rio Timonia, Rio Igarasú.

Capitania do Piauhy: Barra d’Igarasú, Vila da Parnaíba.

Capitania do Maranhão: Ilha d’João Leite, Barrada pau que areou, Barra do meio, Barra das Canárias, Barra do Caju, Vila da Feitoria, Lago, Rio das Preguiças (...)”.

Esse “Mapa da Costa do Brazil” foi oferecido ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dom Diogo de Souza, Fidalgo da Casa de Sua Majestade e Membro do seu Conselho, Coronel dos Seis Exércitos e Governador General do Estado do Maranhão. http://objdigital.bn.br/.../ahu-ma_842/ahu-ma_842.html

Consta nos Arquivos do Conselho Ultramarino de Portugal, o registro da Desobriga feita na Missão Jesuítica da Ibiapaba pelo padre João Brewer, no ano de 1756, constatando a existência de 6.106 (seis mil cento e seis) índios aldeados, na maior aldeia indígena do norte do Brasil.

“CERTIFICO eu o padre João Brewer da Companhia de Jesus, visitador do Real Hospício do Ceará e Missões a ele anexas, que visitando no princípio do presente ano [1756] a Missão da Serra da Ibiapaba, me deu o Reverendo padre Rogerio Canísio, Superior da dita Missão, no rol da desobriga do ano passado, casais de índios Tabajaras 869, e de três nações de tapuyos Agoanacés, Guacongoaçus e Fretijus, casais 131, que por todos somam 1.000 casais. Chegando o número das almas de índios a 5.474 e dos tapuyos a 632, somando por tudo as almas atualmente existentes na dita Missão 6.106, não entrando neste número os que andam há anos por fora. E por constar da verdade, passei esta por mim feita e assinada. Real Hospício do Ceará, aos 13 de fevereiro de 1756. (assinado) padre João Brewer”. Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, Capitania do Ceará, AHU-CE, Caixa nº 06, Documento nº 416 – ano de 1756. Por João Bosco Gaspar.

Instalada no ano de 1759, logo após a expulsão dos jesuítas do território da Ibiapaba, a notável “Vila Viçoza Real”, teve os seguintes Diretores Indígenas - Período de 1759 a 1814: Diogo Rodrigues (Roiz) Correia; Antônio da Rocha Franco (filho de Pedro da Rocha Franco e de Victoria Rodrigues da Câmara, sobrinha do padre Ascenso Gago); Inácio de Amorim Barros (genro de Antônio da Rocha Franco e dono da Sesmaria Morro da Canastra); Amaro Rodrigues de Souza; padre Bonifácio Manuel Antônio Lelau (vigário colado de Vila Viçosa e dono da Sesmaria do Assimim); Antônio do Espírito Santo Magalhães (casado com a índia tabajara Feliciana dos Reis da Conceição) e Manoel da Silva Sampaio. Essas autoridades foram nomeadas através de cartas-patente firmadas pelos governadores das capitanias de Pernambuco (até o ano de 1799) e do Ceará, respectivamente. Por João Bosco Gaspar. FONTES: [01] (Diretores/Diretórios dos Índios - Angélica Ricci Camargo) [02] (Trecho do “Directorio dos Índios – ano de 1755) Por João Bosco Gaspar

A PRISÃO DOS PADRES JESUÍTAS DA ALDEIA DA IBIAPABA

"A 4 de junho de 1759, chegam à Aldeia [da Ibiapaba] o Ouvidor de Pernambuco Bernardo Coelho da Gama Vasco com luzido acompanhamento. Vinha para prender e exilar os padres [era Superior o padre Rogério Canísio]. <<Pelas 10 horas da manhã entramos na aldeia da Ibiapaba, freguesia de Nossa Senhora da Assunção; e toda a comitiva, que vínhamos, receberam os dois Reverendos padres da Companhia, com todo amor a caridade >>. Presos e exilados, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção foi entregue ao pároco que os veio substituir. A Ibiapaba elevou-se a vila, e grande vila, para o tempo, com 4.800 índios que a habitavam, sem contar os dispersos.

Chamou-se Vila Viçosa Real".

NOTA: O padre Rogério Canísio, que por algum tempo foi companheiro demissão do padre Gabriel Malagrida, faleceu nos cáceres de São Julião da Barra, a 6 de Abril de 1773.

Fonte: Trecho do livro "História da Companhia de Jesus no Brasil, Tomo III" do padre Serafim Leite.

CARTA PATENTE DO ÍNDIO DOM JOSÉ DE SOUSA E CASTRO, CAPITÃO-MOR DA NAÇÃO TABAJARA DA SERRA DA IBIAPABA-CEARÁ. ANO DE 1760. ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO DE PORTUGAL – AHU-CEARÁ, CX. 09, DOC. 584. (Transcrição Integral).

“Luís Diogo Lobo da Silva, do Conselho de Sua Majestade Fidelíssima e Comendador da Comenda de Santa Maria da Ordem de Christo, governador e capitão general de Pernambuco, Parayba e demais capitanias anexas [Ceará e Rio Grande]. Faço saber aos que esta carta patente virem, que por quanto se acha vago o posto de capitão-mor da nação Tabajara de Vila Viçosa Real, é dever provê-lo em índio da mesma nação e Vila, e por ser informado da capacidade e merecimento de D. José de Sousa e Castro, de quem espero que daqui em diante procederá conforme a confiança que dele faço, HEY por bem e na conformidade do capítulo 20 do Regimento de governo e Decreto de 14 de abril de 1758, nomear, como por esta nomeio, ao dito D. José de Sousa e Castro no referido posto de capitão-mor da nação Tabajara da Vila Viçosa Real, ficando por esta obrigado a IMPEDIR O USO DA ANTIGA LÍNGUA [tupi] e a desterrar de seus patrícios a ociosidade, com o qual posto não vencerá soldo algum, mas gozará de todas as honras, graças e privilégios que em razão dele lhe pertencerem, pelo que ordeno ao mestre de campo da dita Vila Viçosa, D. Felippe de Sousa e Castro, por tal o receba, honre e estime, e aos seus subordinados que em tudo lhe obedeçam e cumpram suas ordens, como devem e são obrigados. Em firmeza do que lhe passei a presente, por mim assinada e selada com o sinete de minhas armas, que se registrará na Secretaria deste governo. Dada nesta praça do Recife de Pernambuco, ao primeiro dia do mês de setembro do ano de mil e setecentos e sessenta (1760) [assinado] – Luís Diogo Lobo da Silva [governador de Pernambuco e capitanias anexas, Parayba, Rio Grande e Ceará]”.

FONTE:ArquivoHistóricoUltramarinodePernambuco –AHU-CEARÁ, Caixanº09, documento nº 584, ano de 1760 – Registrada em 1782. Por João Bosco Gaspar – Tianguá-CE.

Em 1772, a região recebeu nova organização administrativa, repartindo-se em dois estados: o Estado do GrãoPará e Rio Negro, e o Estado do Maranhão e Piauí.

Evolução territorial do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Evolução territorial do Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

RELAÇÃO

DE TODOS OS POSSUIDORES DE TERRAS NA FREGUESIA DA PIRACURUCA, CAPITANIA DE SÃO JOZÉ DO PIAUHY, EM 1762.

Nodia20desetembro de1759,naViladaMocha(Oeiras),JoãoPereiraCaldas tomavapossecomo oprimeiro governador da capitania de São Jozé do Piauhy.

“Em sua equipe estão no Piauí vários agentes que mobilizou para estruturar os negócios da Administração, entre eles pessoal da área de engenharia-cartográfica, à frente Henrique Antônio Galúcio e Francisco Marcelino de Gouveia, para assisti-lo na composição do mapa da situação fundiária-demográfica da capitania”.

Concluídos os trabalhos no ano de 1762, referentes a Carta Geográfica de Galúcio e uma Relação Minuciosa de todos os possuidores de terras no Piauí, o desembargador Francisco Marcelino de Gouveia encaminhou ao Secretário de Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, os originais (carta) cartográficos do ajudante de engenheiro Henrique Galúcio, bem como a relação dos ditos possuidores de terras:

“Ilmº e Exmº Senhor. Pela carta junta de dezenove de junho do ano próximo passado, se servio V. Exa. de determinar me, remetesse à Real presença de Sua Majestade, com a carta Chorográfica que tirou o Capitão de Infantaria, com o exercício de Engenheiro, Henrique Antônio Galúcio, uma exata, e individual Relação dos Possuidores todos das terras desta Capitania (...). Oeiras do Piauhy, a 16 de novembro de 1762. Francisco Marcelino de Gouveia – Desembargador” [02].

Entre os documentos enviados para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, num total de 218 páginas, destacamos os possuidores de terras da circunscrição territorial da Freguesia de Nossa Senhora do Monte do Carmo da Piracuruca, termo da recém-criada Vila da Parnaíba, a porção mais setentrional dos sertões do Piauhy. Trata-se de “Sítios” e “Fazendas”, medindo entre duas ou três léguas de largura, com uma de comprido, num total de 96 propriedades. Vejamos:

01 – Fazenda Jacarehy de Cima – de Antonio Machado de Ciqueira.

02 – Fazenda Gamileira – de José Rodrigues de Medeiros

03 – Fazenda Taboleiro – de José da Silva Cezar

04 – Fazenda Mocambo – de Maria Pinta de Azevedo

05 – Fazenda Nossa Senhora do Rosário (Cocal) – de Diogo Alves Ferreira

06 – Fazenda Mocamdo – de Diogo Alves Ferreira

07 – Fazenda Espírito Santo de Cima – de João Fernandes R. de Queiroz

08 – Fazenda Nossa Senhora do Rosário (Cocal) – de Domingos Alves Ferreira

09 – Fazenda d Barra – de Matheus Mendes da Silva

10 – Fazenda Piedade - de Matheus Mendes da Silva

11 – Fazenda da Botica - de Matheus Mendes da Silva

12 – Fazenda (Tucuns?) de Cima - de Matheus Mendes da Silva

13 – Fazenda As Amazonas - de Matheus Mendes da Silva

14 – Fazenda Vitória de Baixo – de Maria Rodrigues Campos

15 – Fazenda Currais Novos – de João Pereira da Cunha e outros

16 – Fazenda S. Antônio do Columiguara – de João de Araujo Borges

17 – Fazenda Piracuruca – de Duarte Teixeira

18 – Sítio São Boa Ventura – de Duarte Teixeira

19 – Fazenda São Luiz – de Manoel Teixeira de Souza

20 – Fazenda São Miguel – de Manoel Teixeira de Souza

21 – Fazenda Genipapo – de João da Rocha Pitta

22 – Fazenda Santa Catarina – de João da Rocha Pitta

23 – Fazenda Alagoa – de João da Rocha Pitta

24 – Fazenda Espírito Santo de Baixo – de João Fernandes R. Cerqueira

25 – Fazenda Buriti dos Lopes – herdeiros de José Lopes da Cruz

26 – Fazenda Pirangi (rio Pirangi) – herdeiros de José Lopes da Cruz

27 – Fazenda São Vicente (rio Longá) – herdeiros e José Lopes da Cruz

28 – Fazenda Ipueiras de Cima – de Maria Nogueira da Conceição

29 – Fazenda Viados – de Nossa Senhora do Carmo da Piracuruca

30 – Fazenda Macambira - de Nossa Senhora do Carmo da Piracuruca

31 – Fazenda Boqueirão - de Nossa Senhora do Carmo da Piracuruca

32 – Fazenda Algodões (rio Pirangi) – de Adrião Antunes Trigo

33 – Fazenda Tinguis – de João Carvalho de Siqueira

34 – Fazenda São Francisco – de Antônio Lins Teixeira

35 – Fazenda Cabeça do Boi – de Antônio Lins Teixeira

36 – Fazenda Sobrado – de Inácio Correia de Miranda

37 – Fazenda Capivaribe – de Pedro Ribeiro dos Santos

38 – Fazenda Cadós – de Braz de Almeida

39 – Fazenda Santa Anna – de Antônio Pereira Dutra e outros

40 – Fazenda Gamileira – de Manoel Gonçalves da Costa

41 – Um Engenho em Cima da Serra da Columiguara (Pedro II) – de Manoel Gonçalves da Costa.

42 – Fazenda Pitombeira – de Francisco Xavier de Abreu

43 – Fazenda Covoada – de José Lopes Dias

44 – Fazenda Almecegas – de José Pereira de Souza

45 – Fazenda Genipapo das Carcandas – de Manoel Maciel de Araújo

46 – Sítio Carnaival – de Manoel Maciel de Araújo

47 – Fazenda Riacho Fundo – de João Mendes e seus filhos órfãos

48 – Fazenda Baixa Comprida – de Antônio Mendes e outros

49 – Fazenda Alagoa – de Estevão Gomes

50 – Fazenda Ponta da Serra – de Gaspar Fernandes Avelar

51 – Fazenda Capivara – de Antônio Pereira da Costa, comprada de Antônio Rodrigues Barros

52 – Fazenda São Gonçalo – de Antônio Pereira da Costa

53 – Fazenda Belém – de Domingos da Costa Araújo

54 – Fazenda Bohiba – de José Pereira Montaldo

55 – Uma Posse em Cima da Serra – de João de Sá

56 – Fazenda Santo Hilário (Cocal) – de Fco Alves Antunes e outro

57 – Fazenda ILHA, entre os rios Parnaíba e Igaraçu – de Luiz Carlos Pereira de Abreu Bacellar

58 – Fazenda chamada “VILA DA PARNAÍBA” – de Luiz Carlos Pereira de Abreu Bacellar

59 – Fazenda São Domingos (rio Longá) – de Martinho Teixeira Sampaio

60 – Fazenda São Caetano (rio Longá) de Martinho Teixeira Sampaio

61 – Fazenda Cajazeiras – de Maria Pinta de Azevedo

62 – Fazenda São Remigio (rio Longá) – de Jerônimo F. de Azevedo

63 – Fazenda Soledade (rio Parnaíba) – de João Gonçalves Tomas

64 – Fazenda Capueiro (rio Parnaíba) – de José da Costa de Oliveira

65 – Fazenda São Francisco - de José da Costa de Oliveira

66 – Fazenda São Gregório - de José da Costa de Oliveira

67 – Fazenda Inlhumas - de José da Costa de Oliveira

68 – Fazenda São Nicolau (rio Parnaíba) - de João da Costa de Oliveira

69 – Fazenda Morro do Chapéu – de João da Costa de Oliveira

70 – Fazenda São José do Concador – de Inácio Alves

71 – Fazenda Melancias – de Luiz F. dos Reis

72 – Fazenda Chapada – de José da Costa Amaral

73 – Fazenda Riacho do S. Antônio do Enjeitado – de Domingos de Meyra

74 – Fazenda no Riacho do Taquari - da viúva Maria Tereza

75 – Fazenda São João (rio Longá) – de Manoel da Cunha Carvalho

76 – Fazenda São João Acima – de Manoel da Cunha Carvalho

77 – Fazenda Taquari – de Manoel da Cunha Carvalho

78 – Fazenda Boa Esperança (rio Longá) – de Antônio de Carvalho

79 – Fazenda Tranqueira (rio Longá) – de Antônio de Carvalho

80 – Fazenda Vitória de Baixo – de Antônio de Carvalho

81 – Fazenda Carahibas (rio Longá) – de Antônio de Carvalho

82 – Fazenda Sítio Novo – de Antônio de Carvalho

83 – Fazenda São João – de Antônio de Carvalho

84 – Fazenda Santo Antônio (rio Longá) – de Diogo Alves Ferreira e Domingos Pires Ferreira.

85 – Fazenda Almas (rio Longá) – de Diogo Alves Ferreira e Domingos Pires Ferreira

86 – Fazenda São Francisco (rio Longá) – do padre Antônio Rodrigues

87 – Fazenda Barras (rio Piracuruca) – do padre Antônio Rodrigues

88 – Fazenda Vitória de Cima – de Fco Freire dos Reis

89 – Fazenda Santa Tereza (rio Longá) – de João Barbosa

90 – Fazenda Passagem (rio Longá) – de Maria da Costa de Oliveira

91 – Fazenda S. Antônio de Lisboa – de Manoel Leyte Távora

92 – Fazenda Santa Quitéria (rio Altamira) – de Manoel P. Dutra

93 – Fazenda em Cima da Serra da Columiguara – de Manoel Pereira Dutra

94 – Fazenda São José (rio Piracuruca) – de Antônio Bernardes Ayres

95 – Jacarehy de Baixo – de Maria Ayres Ferreira

96 – Fazenda Santa Catharina – de Nataria da Silva (fim).

Pois bem... A carta geográfica (original) denominada de “Mappa Geográfico da Capitania do Piauhy”, foi levada para os arquivos do governo do Estado do Grão-Pará e Maranhão, sem que ficasse uma cópia, sequer, em poder das autoridades da recém-instalada capitania de São José do Piauhy.

Dez anos depois, ou seja, em 1770 (Galúcio já havia morrido), com o fito de instalar “o primeiro serviço regular de correios” ligando as sete vilas da capitania do Piauhy, o mandatário Gonçalo Lourenço Botelho,

solicitou do governo do Estado do Grão-Pará e Maranhão, que se “dignasse enviar-lhe uma cópia [do Mappa de Gallucio] para poder utilizar em proveito da capitania”. Em ofício datado de 14 de março de 1770 (dez anos depois da elaboração do mapa), Gonçalo Lourenço, informa que o “Excelentíssimo Senhor Henrique Antônio Gallucio que veio fazer a carta geográfica desta capitania retirou-se sem deixar uma cópia do seu trabalho”. (Fonte: Arquivo Público do Piauí (APEPI) – Códice 149, Seção de Manuscritos – Correspondências ao General do Estado (17701781). Pág. 2). Em outubro do mesmo ano (1770), Gonçalo Lourenço Botelho escreveu ao governador do Estado, acusando o recebimento da cópia solicitada. (Fonte: Arquivo Público do Piauí (APEPI) – Códice 149, Seção de Manuscritos – Correspondências ao General do Estado (1770-1781). pg. 4).

Figura 1: Mappa Geográfico da Capitania do Piauhy, delineado por Henrique AntonioGalúcio (1760). Fonte: Arquivo Histórico do Exército. Rio de Janeiro – RJ. Foto Vicente de Mello Fontes: [01 - Terras no Piauí – Registros Históricos: Fonseca Neto]. [02 – AHU-PI, Caixa 08, documento nº 513, ano de 1762] Por João Bosco Gaspar.

MAPA

DAS CAPITANIAS DOSIARÁ-GRANDE, PIAUHYE MARANHÃO,feitopelo capitão Antônio

Joaquim Simões da Veiga, membro da Real Academia das Ciências Matemáticas da Marinha portuguesa, no ano de 1798.

Joaquim da Veiga, foi, também, capitão agregado das entradas da Barra do rio Igaraçu (braço do Parnaíba), termo da vila de Granja, capitania do Ceará (1798), e procurador da Irmandade de Nossa Senhora da Graça, da vila da Parnaíba, capitania do Piauhy. Esse mapa delineou os rios e as barras das três Capitanias:

“Capitania do Siará-Grande: Jericoaquara, borgalhão, e Coral Branco, Coral, e Areia Groça, Coral Rouxo, Areia e Conxa, Lago, Rio Camosim, Rio Timonia, Rio Igarasú.

Capitania do Piauhy: Barra d’Igarasú, Vila da Parnaíba.

Capitania do Maranhão: Ilha d’João Leite, Barrada pau que areou, Barra do meio, Barra das Canárias, Barra do Caju, Vila da Feitoria, Lago, Rio das Preguiças (...)”.

Esse “Mapa da Costa do Brazil” foi oferecido ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dom Diogo de Souza, Fidalgo da Casa de Sua Majestade e Membro do seu Conselho, Coronel dos Seis Exércitos e Governador General do Estado do Maranhão. http://objdigital.bn.br/.../ahu-ma_842/ahu-ma_842.html

Com a transferência da Corte portuguesa para o Brasil, em 1808, e a consequente elevação da colônia lusa da América à condição de Reino Unido ao de Portugal e Algarves, em 1815, o Maranhão passou a ser uma Província, subordinada ao Rio de Janeiro. Dessa maneira, alcançaria a Independência. (Cavalcanti Filho, 1990).

O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves foi um estado criado em 16 de dezembro de 1815, com a elevação do então Estado do Brasil (1549–1815) a reino, unido com o Reino de Portugal e dos Algarves (sua metrópole soberana até então), na sequência da transferência da corte portuguesa para o Brasil. htps://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_Unido_de_Portugal,_Brasil_e_Algarve

O Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves teve apenas dois monarcas, Maria I (que era já a Rainha de Portugal antes da elevação do Brasil ao estatuto de reino, unido com Portugal) e João VI (que antes de sua mãe, a rainha Maria I, morrer, já governava efetivamente como príncipe regente). A primeira corte (capital) do reino foi a cidade do Rio de Janeiro, porém após os acontecimentos da revolução liberal do Porto (que mudou o regime político doreino deuma monarquiaabsolutista para uma monarquia constitucional), acapital foi transferida para Lisboa. Durante a vigência do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, foi a partir de suas capitais primeiramente o Rio de Janeiro e a partir de 1821 a cidade de Lisboa que foi exercida a soberania de Sua Majestade Fidelíssima sob todos os territórios europeus, americanos, africanos, asiáticos e oceânicos portugueses.

O príncipe regente e futuro rei João VI, durante o período final do reinado de sua mãe, Maria I, elevou, em 1815, o Brasil da condição de estado colonial à parte integrante de Portugal, intitulando-se desde então pela Graça de Deus Príncipe-Regente de Portugal, Brasil e Algarves, d'aquém e d'além-mar em África, senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia. O título oficial anterior era o mesmo, apenas não incluindo a palavra "Brasil".

Posteriormente, durante o Congresso de Viena em 1815, como consequência do estabelecimento da Casa de Bragança e da capital do império português no Rio de Janeiro, no referido ano de 1808, durante as guerras napoleônicas, João VI estabeleceu a nova designação de Reino Unido para a sua coroa, em regime jurídico similar ao do atual Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda (ou seja, uma união política).

Carta régia de elevação do Brasil à Reino (Impressão Régia).

Os domínios portugueses da época ficaram a partir de então oficialmente designados como Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e João VI passou a ostentar o título de Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil eAlgarves. Apósa mortedesuamãe, considerada aprimeirarainhadoReino UnidodePortugal, Brasil, e Algarves, João foi aclamado na corte do Rio de Janeiro, como sucessor real. Maria I de Portugal, Brasil e Algarves, que permanecera com o título por apenas meses, pois logo faleceu.

O Príncipe Pedro de Alcântara, último herdeiro da Coroa portuguesa a ostentar o título de Príncipe do Brasil, não chegou a ser rei do Reino Unido de Portugal, Brasil, e Algarves, pois proclamou-se Imperador do Brasil quando declarou sua Independência, em 7 de setembro de 1822. Só depois da morte de seu pai, Pedro I do Brasil foi considerado Rei de Portugal como Pedro IV de Portugal. Chegou a receber, contudo, o título de Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

Este mapa de (1821) retrata a dimensão do Brasil na época do Reino de Portugal Brasil e Algarves, Origem: Biblioteca Nacional de Portugal, República Portuguesa "Exposição":purl.pt Site Geral:bnportugal.gov.pt

Até 1811, o Piauí ficou subordinado ao Maranhão.

Cabe ressaltar que a criação de vilas na região Amazônica teve início a partir dos anos de 1750, “[...] dentro de uma política que visou substituir os antigos aldeamentos por vilas com uma deliberada conversão toponímica de substituição dos nomes indígenas dos lugares por nomes inspirados nos mais antigos

municípios de Portugal” (COSTA, 2019, p. 122), porém, foi Mendonça Furtado que esteve à frente de boa parte da criação de vilas e lugares no Estado, sobretudo no ano de 1758.

ANO DE 1825 - ÍNDIOS DA IBIAPABA INVADEM A VILLA DA GRANJA... ARCOS E FLECHAS CONTRA OS REVOLUCIONÁRIOS DA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR.

“No dia 22 de janeiro de 1825, de ordem do presidente da província [do Ceará], foi a villa [de Granja] novamente invadida por uma tropa de 200 índios aldeados, de villa Viçosa, com a ordem de prendê-lo [o coronel João de Andrade Pessoa Anta] e a seu irmão Joaquim de Andrade Pessoa. Os índios se dispersaram pelas ruas [de Granja] e cometeram toda sorte de violências, saqueando e açoitando homens e mulheres, até famílias importantes. Dezenove pessoas sofreram esse vilipêndio. O tabelião Chaves foi gravemente espancado; o patriota José Tibúrcio de Almeida Fortuna, recebeu um ferimento de seta; finalmente, pessoas as mais influentes da villa foram posta em fuga. Após isso, os índios [da Ibiapaba] tomaram quartel na Casa da Câmara. Valeu muito à população a intervenção de D. Joanna da Motta, mulher de Manoel Antônio de Almeida, que tratou de ganhar o sargento-mor dos índios, chefe ostensivo deles, com fazendas e quinquilharias (...)”. Fonte: RIC, ano de 1889, Tomo III. p. 66-68. Foto: Imagem atual da “Casa de Câmara e Cadeia” da cidade de Granja-CE, construída entre os anos de 1877 e 1879, não existia no período da Confederação do Equador – 1824/1826.

O LIVRO DE FIDIÉ...

“O bravo João José da Cunha Fidié, a rogos e instancias dos Piauhyenses, se propoz a sustentar ali o systema das Cortes Portuguezas. De acordo com o Governo do Maranhão, pedio soccorro ao Páya vai querer ficar...

ará, que lhe enviou cento e cincoenta homens; porém o povo cearense em massa, invadio o Piauhy; capitaneado por José Pereira Filgueiras, e á força de mil excessos, ali fez jurar-se a Independencia. Fidié retirou-se a Caxias com um punhado de Soldados, e sustentou valente, e generosa defensa, até que, reduzido a sós noventa defensores, fez a sua brilhante capitulação do morro da Taboca; e recusando agradecido os empregos com que os Brasileiros lhe querião retribuir generosidade, por generosidade, deixou o paiz onde com respeito se lhe escuta ainda o nome”. Trecho do livro “Vária Fortuna D’um Soldado Portuguez - Offerecida ao publico pelo Brigadeiro Fidié”, p. 101 e 102, publicado no ano de 1850, em Lisboa, Portugal.

O PADRE

REBELDE:

"José Martiniano Pereira de Alencar: O Padre Rebelde. José Martiniano Pereira de Alencar (1794-1860) foi um ex-padre, jornalista e político cearense. Foi o pai do escritor José de Alencar e do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, barão de Alencar.

Nascido a 27 de outubro de 1798 em Mecejana, na Província do Ceará. Ao lado da mãe Bárbara de Alencar e dos irmãos Tristão Gonçalves e Carlos José dos Santos, tomou parte da revolução de 1817 e da Confederação do Equador (1824). Sendo ainda seminarista, foi à sua província com o fim de propagar as ideias da mesma revolução e, com efeito, de batina e roquete chegou a pregar a 3 de maio desse ano na vila, hoje Cidade do Crato, depois da missa em favor da independência, lendo as proclamações que trazia. Após missa na Matriz do Crato, subiu ao púlpito e proclamou a Republica. Foi preso no dia 11 Mai 1817, tendo ficado nos cárceres da Bahia ate sua anistia em Ago 1821.

Após ser preso por causa da Confederação do Equador, surpreendentemente volta como Presidente da província, e uma de suas ações, foi perseguir e punir o torturador de sua mãe [Bárbara de Alencar], João André Teixeira Mendes, o Canela Preta, personagem cruel e assassino da Vila de Icó.

Foi Deputado pela Província do Ceará na legislatura de 1830 a 1833, tendo tomado posse no dia 25 de abril de 1830 na vaga do Deputado eleito José Inácio Gomes Parente, que pediu licença. Foi Deputado Constituinte na Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa do Império do Brasil de 17 de abril a 12 de novembro de 1823 (posse no dia 3 de maio). Foi, também, Deputado pela Província do Ceará nas Cortes Gerais Constituintes da Nação Portuguesa convocadas em Lisboa de 1821 a 1822. Nomeado Senador, tomou posse em 2 de maio de 1832.

Em 1834 fundou em Fortaleza a Loja maçônica "União e Beneficência". Mesmo sendo padre, teve com uma prima que tomou por companheira, 13 filhos, dentre eles, o escritor José de Alencar. Foi um dos lideres do "Golpe da Maioridade", pois foi na sua casa que as reuniões que antecederam ao golpe que resultou na emancipação de D. Pedro II foram realizadas.

A Casa de José de Alencar é um monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O local fica em distrito Messejana do município de Fortaleza e foi a residência particular de José de Alencar no período em que foi presidente do estado.

Publicou as seguintes obras: Oração Fúnebre, Ceará, 1827; Preciso dos sucessos que ocasionaram o grande acontecimento do faustoso dia 7 de abril, dirigido as cearenses pelos seus deputados, Rio de Janeiro, 1831;

Carta dirigida aos eleitores da província do Ceará, Rio de Janeiro, 1830; Discursos pronunciados na sessão do Senado de … agosto de 1859, Rio de Janeiro, 1859.Faleceu no dia 15 de março de 1860".

Texto e imagem: Brazil Imperial.

REVOLTA DOS BALAIOS - OS APETRECHOS DOS FERREIRA DE VERAS - GUERRA NAS FRECHEIRAS DA LAMA - 1840:

"Depois de caminhar 7 léguas, que se contam da Lagoa Cocal, as fazendas de José Alves, no município de Parnaíba, província do Piauí, encontrou os rebeldes em um Olho d’Água, nas matas (...); e ali começou um regíssimo fogo de ambos os lados, tornando-se renhida a questão, por três quartos de hora, mas a coluna do capitão Jacarandá ganhou o campo inimigo, tendo um soldado morto, um cabo e quatro soldados feridos gravemente, e um soldado levemente. Do inimigo, 14 rebeldes mortos, bem como um prisioneiro, dez mulheres, quatro meninos, um escravo e uma escrava, ambos velhos, do finado José Alves Ferreira de Veras [pai de Domingos Ferreira de Veras]. O capitão Jacarandá tomou toda a bagagem do inimigo, que se compunha de 58 cavalgaduras, muitas cangalhas, grande número de caçuás de couro, algumas selas velhas, algum chumbo e balas, um caçuá de arroz e outro de feijão, um clavinote, um bacamarte, cinco clavinas e duas cargas de sal (...). Teve ainda um tiroteio pequeno, que muito concorreu para o completo debandamento dos rebeldes, pois que os dois infames chefes, [Domingos Ferreira de] Veras e [Antônio de Sousa] Cabral, aconselharam ao restante das pessoas que os acompanhavam, procurassem seu rumo (...)”.

Fotos: Imagem de Ilustração - Internet. Pesquisa: João Bosco Gaspar

ÍNDIOS DA IBIAPABA NAS FRECHEIRAS DA LAMA – 60 CASAIS DE ÍNDIOS SE UNEM AO LÍDER DOMINGOS FERREIRA DE VERAS (Série: Balaiada).

“Abandonados os indígenas a si mesmos, desconsiderados no regime de suas aldeias, opressos, e sempre lesados em seus contratos pela maior esperteza dos da nossa raça; estão desgostosos de sua posição social e suspiram pelo antigo regime; excitando-os esta disposição a tomar o partido da rebelião; como ultimamente sucedeu com grandíssimo numero dos índios de Villa Viçoza, que desertaram da Povoação de São Pedro [de Ibiapina] com suas famílias em numero de mais de 60 cazaes, para se reunirem aos rebeldes das Frecheiras [da Lama, termo da vila da Parnaíba, província do Piauhy], abandonando suas cazas, e lavouras, das quais algumas se achavam em estado esperançozo. Julgo, que por analogas rasões eles se aliaram com os partidos rebeldes no Maranhão, e no Pará, prestando os seus serviços aos inimigos da ordem, e da paz do Império com extrema perseverança e contínuos sofrimentos e privações”.

Fonte: Trecho do Relatório do Presidente da Província do Ceará, apresentado na Assembleia Legislativa, em data de 01 de agosto de 1840.

NOTA: A Igreja de Nossa Senhora do Rosário das Frecheiras da Lama (Cocal-PI) foi construída no ano de 1781 pelo casal, Diogo Alves Ferreira (português) e Francisca Tomazia Ferreira de Veras (Granja-Ceará). Diogo e Tomazia são os avós de Domingos Ferreira de Veras (o novo), líder dos "Balaios" no norte do Piauí entre os anos de 1839 a 1841.

Por João Bosco Gaspar.

Após o cerco da fazenda Curral Grande (Granja-CE) ocorrido em 21 de junho de 1840, que resultouna captura do coronel Chico Elias (Francisco Elias Fontenele) “e sua gente”, o governador do Ceará, Francisco de Souza Martins, resolveu “fechar” o cerco contra aos balaios entrincheirados nas Frecheiras, termo da Parnaíba. Aquela próspera povoação, levantada em meados do século XVIII por colonizadores luso-pernambucanos baseados na Caiçara (Sobral), era, de fato, o cômpito de vários caminhos, pelo menos sete, conforme registros da época.

Em relatório datado do dia 15 de julho de 1840, o governador do Ceará informa: “Participo a V. Exª. que no dia 15 do corrente, nossas tropas ocuparam a povoação das Frecheiras, para onde entraram por sete estradas que para lá convergiam” (p. 41). Assim sendo, o êxito das forças chefiadas pelo governador do Ceará consistia em sitiar a povoação rebelde, tarefa difícil, visto que o sítio das Frecheiras representava um vasto labirinto com acesso para todos os lados.

No dia 13 de julho de 1840 o governador Souza Martins já se encontrava na fazenda Boayba, próximo ao riacho dos Angicos, e no dia 14, pela manhã, chegou na fazenda Capibary, proximidades das Frecheiras.

SouzaMartins relataque“as colunasdoCearáavançaram pordiferentespontos”,sendoobatalhãocomandado pelo tenente-coronel Antônio da Silva, o primeiro a adentrar na povoação rebelde. A coluna chefiada pelo governador entrou em seguida, e sucessivamente, a do major João Martins, vinda da estrada do Capibary; a do major Damásio Pinto da Veiga, vinda da vila da Parnaíba; a do capitão Simplício José da Silva, vinda da estrada das Porteiras e Caldeirões; a do major Ribeiro vinda da estrada da Matta-Fria, e finalmente, a do capitão Antônio José Lins de Oliveira, vinda da estrada dos Tucuns.

Souza Martins não ficou satisfeito com o resultado “desta empresa”, visto que o seu “sucesso não foi tão completo como o desejado. Tivemos 19 feridos, 5 gravemente, e creio que dos rebeldes foram 15 mortos e poucos prisioneiros”. O líder, porém, Domingos Ferreira de Veras, mais uma vez, conseguiu escapar do cerco. Souza Martins diz que: “Domingos Ferreira de Veras, com mais dose dos seus, passaram na estrada do Capibary, para se ir esconder em uma antiga situação sua, denominada Remédios”.

Fonte: RIC, Tomo XV. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

A COMISSÃO

CIENTÍFICA

DE EXPLORAÇÃO NA IBIAPABA – FREIRE ALEMÃO VISITA AS EXTREMAS DO PIAUÍ – ano de 1860:

“(...) partimos do Retiro eram talvez cinco horas, e chegamos à fazenda denominada Brejo do Sr. José Joaquim Pacheco (...). Fazem de Viçosa ao Brejo umas oito léguas (...). O Sr. José Joaquim Pacheco, homem de 45 anos, bem disposto, jovial, conversador, e contador engraçado é casado e tem só dois filhos, já moços. A fazenda é sua própria, e está situada na fronteira do Piauí, que fica uma meia légua distante da casa (...). Terça-feira amanhece bom tempo, almoçamos e nos aprontamos para irmos até Piauí. Era isso que ali me levou, queria eu ver por meus olhos como do Ceará se descia para o Piauí e foi bem, porque eu estava muito enganado. O Sr. Pacheco quis ser o nosso guia (...). Entramos pelo território do Piauí, obra de uma légua, até o lugar chamado Sítio, onde há duas ou três palhoças miseráveis (...). Estava eu muito enganado a respeito da conformação da serra Grande para o lado do Piauí. Dizia-me o Dr. Théberge, e outros me confirmaram, que a serra Grande, tendo salinados para o lado do Ceará, e do Piauí descia insensivelmente até a margem do Parnaíba (...). De tarde passamos na rede ouvindo contar história o Sr. Pacheco, às cinco horas chegou também o Sr. Bevilaqua e a conversa caiu sobre o

Piauí, onde ambos já estiveram (...). Eis o que disseram do Piauí. Quem viaja pelo Piauí deve levar tudo, ali não se é recebido em parte alguma; não se da água, nem rede, nada; nem se vende coisa alguma [nisto deve haver exageração]. As mulheres nunca aparecem. Mesmo na Parnaíba elas não saem de casa, senão para irem ao banho de noite. Não vão à igreja, não ouvem missa, os homens sim, não se visitam. Um homem branco (...) que chegar em uma casa não tem com quem conversar, mas um preto, ou gente dessa laia, vai para a cozinha e logo é rodeado da família, que começa a conversar, e falar, e a perguntar tudo, na maior familiaridade. Quase toda a gente branca tem mescla de negro. Tem todos grande ojeriza aos cearenses. Se ali se encontra agasalho e bom trato em uma casa, pode se estar certos que os donos são cearenses ou pernambucanos. Os piauienses são indolentes, sem indústrias (...).” Trecho do livro “Diário de Viagem de Freire Alemão – Comissão Científica de Exploração ano de 1860 ” p. 377-381, Editora da Fundação Waldemar Alcântara, Fortaleza-CE, 2011.

ÁUREO VIEGAS MENDONÇA

Nasceu em Viana-MA, em 1965. Pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci, obteve a graduação como Geógrafo e pós-graduação lato sensu em Metodologia do Ensino em Geografia. Experiência na área de Ciências Sociais Aplicadas com ênfase em Gestão de Pessoas. Pesquisador, servidor público, ocupa o cargo de Técnico Administrativo em Educação, no IFMA Campus São Luís Monte Castelo.

Em sua árvore genealógica, Áureo tem descendência paterna do tronco português, em Sebastião José de Carvalho e Melo – o “Marquês de Pombal” que foi Secretário de Estado do Reino, durante o Reinado de Dom José I, sendo considerado uma das figuras mais controversas e carismáticas da história portuguesa. O autor é herdeiro da veia literária de Sávio Mendonça, autor do livro “História de um menino pobre”, e neto da famosa bordadeira de “lombo de boi” Olívia Mendonça.

tem se destacado por suas iniciativas para preservar e promover a história de Viana. Ele tem trabalhado em projetos que visam documentar e divulgar a história local, incluindo a publicação de artigos e a organização de eventos culturais. Além disso, ele tem colaborado com instituições locais para a preservação de documentos históricos e a promoção do patrimônio cultural da cidade.

Essas ações têm sido fundamentais para manter viva a memória histórica de Viana e para educar as novas gerações sobre a importância do patrimônio cultural da região.

Já recebeu diversos reconhecimentos por seu trabalho em Viana. Ele foi homenageado por instituições locais e regionais por suas contribuições para a preservação da história e cultura da cidade. Além disso, seu trabalho tem sido destacado em publicações e eventos acadêmicos, reforçando a importância de suas iniciativas para a comunidade.

Esses reconhecimentos são um testemunho do impacto positivo que ele tem tido em Viana e da importância de seu trabalho para a preservação do patrimônio cultural da região.

Publicou vários artigos e obras sobre a história de Viana. Um dos destaques é o livro “Resgate histórico de Viana”, lançado em 2022. Este livro é uma importante fonte de pesquisa sobre a história, os costumes e a cultura de Viana1 . Além disso, ele tem contribuído com artigos em revistas acadêmicas e participado de eventos como palestrante, compartilhando suas descobertas e insights sobre a cidade23

DIA DO PROFESSOR:

EDUCADORES

VIANENSES

A cidade histórica de Viana sempre manteve uma tradição educacional desde o período da educação jesuítica até os dias atuais, sempre existiram excelentes educadores que deixaram um legado para a educação da cidade de Viana, pois a história da educação em Viana possui inúmeros educadores memoráveis.

Em tempos remotos os professores e professoras vianenses foram a senhora conhecida como Biloca que era mãe do poeta Levi Coelho de Sousa, e outras três professoras que mesmo não tendo nascido na cidade de Viana prestaram grande contribuição para a educação vianense foram Amélia Cândida Ferreira de Carvalho (Amélia Carvalho) , Ozita Guimarães e Maria José Lobato.

Da geração de vianenses se destacaram Coia Sahima Serzedelo de Carvalho (Coia Carvalho) neta do parlamentar maranhenses e jornalista Estêvão Rafael de Carvalho, João de Parma Montezuma e Silva, que foi o idealizador da Bandeira do município de Viana e subintendente (espécie de vice-prefeito em exercício), Maria Leopoldina Carvalho (Maroca Carvalho) filha de Leonel Carvalho e irmã de Ozimo de Carvalho, Etelvina Gomes Pinheiro (Santoca) Ana Soriano Ramos (Anica Ramos), Egídio do Patrocínio Rocha (Egídio Rocha), Zélia Barros (Zelica), Nhazita Gomes, Benedita das Mercês Balby de Sousa (Bibi Balby), as irmãs Faraildes Campelo Silva, que foi a primeira diretora do Grupo Escolar Estevam Carvalho e Maria Raimunda Campelo Santos, Maria de Lourdes Muniz, Raquima da Silva Azevedo Gomes, Raquima Gomes Pinheiro, Zilda Dias Guimarães, Iraci Rodrigues Cordeiro, Dayse Cunha Rodrigues, Edith Nair da Silva Furtado, Zeíla Cunha Laulleta, Benedita Rodrigues, Raimundo Benedito Pinto, Etéldera Dias, Palmério César Maciel Campos, que além de professor era promotor de justiça, Raimunda do Socorro Magalhães Mendonça (Didi Magalhães), Vanice Silva Barros, Luís Carlos Pereira, Maria Celeste de Carvalho Gomes (Celeste Carvalho), Socorro Serejo, Berenice Fonseca da Cunha, Josefina Cordeiro Cutrim, Maria Antonia Gomes Costa, Paulo Fernandes Salgado (Paulo Carteiro), José Raimundo Santos, Juarez, Zidorinha, Aldeyde Mendonça Silva, Euzébia Silva Costa que nasceu na vila de Matinha, Luizinha Gomes, Ovídia Araújo Pinheiro, Walter Coelho de Sousa, Terezinha Cordeiro, Rosa Maria Pinheiro Gomes, Baducha Gomes, Hildenê Mendonça, Assunção de Maria Mendonça da Silva, Maria do Socorro Sousa Cutrim (Socorro Cutrim), Iracema Gouveia Mendonça, MariaSousa, Vilmados Reis Gomes, JuracyCampelo, AltarirAtham, LuisaGomes Pereira, MariadeLourdes Cardoso, Maria Vitória Santos, Socorro Soeiro, Maria da Graça Mendonça Cutrim (Gracinha Cutrim), Marinês Campelo, Filuca Cordeiro, Maria da Graça Mendonça Barros (Gracinha Magalhães), as irmãs, Lucimar Gonçalves Morais, Dagmar Gonçalves e Mariinha Gonçalves, Assunção Costa, Batista Cunha, Margareth Aragão, Conceição Perna Mendonça, Lucinda, Maria Izaura Santos Lopes, Maria de Jesus Silva Amorim (Juju), Maria da Conceição Silva Angelim, os irmãos Marcone Veloso e Veloso, além tantos outros que me falha a memória e provavelmente não foram citados nesse texto, e a geração atual de educadores. Destaco alguns educadores e educadoras memoráveis que já não estão mais entre nós e deixaram um legado para a educação da cidade de Viana.

Bibi Balby

Benedita das Mercês Balby de Sousa, conhecida como professora Bibi Balby, nasceu em Viana, no dia 24 de setembro de 1891, filha de João Batista Balby que foi prefeito da cidade no período de 01 de janeiro de 1916 a31dedezembrode1918edeAngélicaPereiraBalby.BibiBalbysecasoucomoex-seminaristaJoséAntônio Couto de Sousa conhecido em Viana como Zezé Couto.

A professora Bibi Balby exerceu o magistério primário, em Viana, desde os tempos das Escolas Urbanas, mantidas pelo Governo do Maranhão, no final da década de 1920 e início de 1930 e marcou a história educacional de Viana durante algumas décadas. A professora Bibi Balby personalidade que se destacou na educação vianense, faleceu em São Luís no dia 19 de julho de 1977, aos 85 anos de idade. A Academia Vianense de Letras homenageou a professora Benedita Balby de Sousa como patrona da Cadeira n° 32, que atualmente tem como titular o acadêmico José Raimundo campelo Franco.

Edith Furtado

A professora Edith Nair Furtado da Silva, nasceu no Barro Vermelho (atual cidade de Cajari), em 28 de junho de 1904, filha de Francisco da Silva Sobrinho e Maria Furtado da Silva. A professora Edith lecionou em varias escolas em Viana, entre elas no Ginásio Bandeirantes, no Dom Hamleto de Angelis e na Escola Normal Nossa Senhora da Conceição. Foi professora do Ginásio Professor Antônio Lopes desde junho de 1964, tornando-se sua diretora de 1969 a 1972, foi um expoente da educação vianense.

Possuía muitos conhecimentos, sobretudo na disciplina de Geografia, considerada a melhor professora de Geografia da cidade de Viana, faleceu em 09 de novembro de 1992. A Academia Vianense de Letras homenageou a professora Edith Nair Furtado da Silva como patrona da Cadeira n° 2, que foi ocupada anteriormente pelo Padre Eider e José Raimundo Santos e atualmente tem como titular a acadêmica Maria Susana Silva Pinheiro.

Didi Magalhães

A professora Raimunda do Socorro Magalhães Mendonça, conhecida em Viana como Didi Magalhães, que nasceu na Cidade de Viana em 14 de dezembro de 1924, que coube a honrosa missão de ensinar o B-A-BÁ na época da cartilha do A.B.C. a várias gerações de vianenses com ela se aprendia as primeiras letras antes de ingressar no antigo primário, a referida professora foi casada com Raimundo Augusto Campelo Mendonça e marcou época na educação de Viana por seu jeito simples de ser e a sua incrível didática adotada em sala de aulanasuacasanoinício daruadaConceiçãopróximoaigrejadaMatrizdeViana.ProfessoraDidiMagalhães escreveu uma página na história da educação em Viana e muitos vianenses que foram seus alunos tornaramse profissionais de renome espalhado por todo o país. A professora faleceu em 21 de agosto de 1996 com 71 anos de idade, deixando saudades aos familiares e amigos e aos vianenses em geral pela grande contribuição a serviço da educação.

A Professora Didi Magalhães, foi responsável por educar muitas gerações na cidade de Viana e sempre serão lembrados por várias geração por sua dedicação portanto, uma notável professora de várias gerações de vianenses.

Maria Antonia Gomes

A professora Maria Antônia Gomes Costa, nasceu na cidade de Viana, em 17 de junho de 1930. Filha de José de Oliveira Gomes e Raquima da Silva Azevedo Gomes, casou com João Damasceno Costa, em 1962 tiveram os seguintes filhos: Fernando, Lisiane e Damasceno Júnior (já falecido). Lecionou na cidade de Viana no Grupo Escolar Dom José Delgado, pertencente à Diocese de Viana, no Ginásio Professor Antônio Lopes onde também exerceu o cargo de Diretora na década de 1970, na Escola Normal “Nossa Senhora da Conceição” onde também foi diretora, no antigo Ginásio Bandeirantes “Dom Hamleto de Angelis”, e por mais de dez anos foi diretora do Colégio São Sebastião. Deixando sua marca na educação vianense.

Na politica se filiou ao então MDB - Movimento Democrático Brasileiro, onde se elegeu vereadora para a legislatura de 1973 a 1976, primeira mulher a se eleger vereadora em Viana, tendo como defesa a educação. Também exerceu o cargo de gestão como Secretária Executiva do Gabinete do então Prefeito Walber Duailibe em seu primeiro mandato,

A professora Maria Antônia Gomes faleceu em São Luís, no dia 7 março de 2005 e foi sepultada na cidade de Viana.

A Professora Maria Antônia Gomes Costa é Patrona da cadeira de nº 34 da Academia Vianense de Letras, ocupada pela acadêmica Laurinete Costa Coelho.

Fotos de 3 grandes educadoras vianenses que muito contribuíram para a minha formação e que tenho maior respeito e admiração e jamais serão esquecidas pela minha geração. Vilma Reis, Maria Sousa e Vitória Santos. (*) Áureo Mendonça é pesquisador escritor e membro fundador do IHGV ocupante da cadeira número 8 que tem como patrono Sálvio Mendonça.

SEDE DO PODER EXECUTIVO DE VIANA.

Em um dos salões nobre deste imóvel na década de 1840 foi oferecido um baile ao Duque de Caxias. Tempos depois na época em que não existiam os clubes sociais, o prédio da Prefeitura no período de carnaval seus salões eram usados para os bailes carnavalescos.

O vianense Raimundo Nonato Serra Nunes o Mundico Serra foi o único prefeito de Viana a governar o município por três mandatos intercalados e ainda foi eleito o primeiro vice-prefeito de Viana na primeira administração Antônio Serafim da Costa.

Foto: Sivam Barros da Silveira

Na segunda metade dos anos 1960, nos anos 1970 e início dos anos1980, a empresa Florêncio era quem fazia alinhaViana/SãoLuís/Viana,ospassageirosembarcavamnopau-de-araranocasarãodenominadoporãoonde era a agência que ficava na Rua dos Canudos atual Rua Celso Magalhães e depois se mudou para a Praça da Matriz no casarão colonial pertencente a família Coelho onde atualmente é o Hotel Vianense e ao chegarem na Cachoeira a travessia dos passageiros era realizada em canoas, na outra margem do Rio Pindaré estava este ônibus da empresa Florêncio à espera para prosseguir viagem até São Luís. A história completa está no livro Ruas de Pedras do escritor vianense Áureo Mendonça.

do Livro "Ruas de Pedras " de Aureo Mendonça .

Lançamento

JOÃO BOSCO GASPAR

– poeta, pesquisador e historiador. Filho de Gerardo Vieira Gaspar e Perpétua das Neves Gaspar. Nasceu nos alcantis paradisíacos da Serra Grande (em Tianguá-Ce), numa manhã de inverno tipicamente fria e neblinada, no dia 14 de janeiro de 1964, precisamente na residência da parteira Alcety Moita, no quadrilátero que circunda a atual catedral de Santana.

De origem humilde, estudou no Ginásio Municipal de Tianguá e na Escola de 2º Grau Regina Coeli. Graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, e Pós-Graduado (Lato Sensu) em História, Cultura e Patrimônio pelas Faculdades INTA (Instituto Superior de Teologia Aplicada), ambas de Sobral-CE. É casado com a Sra. Angelita Fontenele Magalhães, pai de dois filhos (João Victor e João Arthur Fontenele Magalhães Gaspar) e trabalha no Cartório do 1º ofício (Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelionato de Notas) da comarca de Tianguá, como Tabelião Substituto. Foi chefe do Grupo de Escoteiros Mons. Agesilau de Aguiar (hoje Dom Timóteo); apresentador de programa de rádio; projetista cinematográfico (Cine Santana); representante da juventude da Paróquia de Santana, junto à diocese de Tianguá; membro fundador da Pastoral de Juventude do Meio Popular (PJMP) na diocese de Tianguá; participou deváriosencontros,seminários, palestras, assembleias e cursosrepresentandoajuventude da diocese de Tianguá junto ao Regional Nordeste I da CNBB; foi presidente do Centro Cívico da Escola de 2º Grau Regina Coeli; membro fundador do Grupo de Artes e Tradições Folclóricas Serra Grande; presidente da comissão permanente de licitação e assessor administrativo da câmara municipal de Tianguá; foi membro da Comissão Censitária municipal de Tianguá em 2007, e é membro do Conselho de Sentença do Tribunal Popular do Júri da Comarca de Tianguá.

Foi um dos autores da Lei Municipal nº 473/2007, que dispõe sobre a preservação mediante tombamento, do patrimônio (material e imaterial) histórico, artístico, ambiental e cultural do município de Tianguá, e “autor” da Lei Municipal nº 487/2007 que instituiu o Ipê-Amarelo (Pau-D’arco-Amarelo) como árvore símbolo do município de Tianguá. É autor do pedido de tombamento da tanajura como patrimônio imaterial do município de Tianguá.

Asnações "quehabitam a Serra da Ibiapabasão índios delínguageral, denaçãoT[a]obajaraquevaleo mesmo que em nosso idioma "SENHORES DO ROSTO". A razão deste nome é a singularidade com que entre todos os Tapuias, e a maior parte das nações ainda de língua geral conservam os rostos limpos de lavores artificialmente perpétuos (...). Outros interpretam Tabajaras como "Senhores da Frente" ou "Senhores do Rosto da Terra". Fonte: Livro "Documentos para a História Colonial, especialmente a Indígena no Ceará" de Francisco José Pinheiro. NOTA: Dizem que o uso do TEMBETÁ, ou "a pedra do beiço, o batoque", era comum entre os índios da nação tabajara. Fonte: livro "Vocabulário Tupi - Guarani - Português" do professor SilveiraBueno.Imagem deIlustraçã.PorJoãoBoscoGaspar,pós-graduado emHistória,CulturaePatrimônio, Tianguá Ceará.

RESQUÍCIOS DO REAL HOSPÍCIO DOS JESUÍTAS NO CEARÁ.

Edificado apartirdo anode1727,"o Real HospícioJesuíticodoCeará[Aquiraz]ficounaHistóriada instrução e educação pública, como o da primeira instituição cearense onde se ensinaram Humanidades; e também na História eclesiástica do Ceará, por ter sido, de fato, o seu primeiro Seminário".

Fonte: Livro "História da Companhia de Jesus no Brasil, Tomo III", de Serafim Leite. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

SOARES DE SOUSA.

Como é sabido, a obra do cronista Gabriel Soares de Sousa, intitulada “Tratado Descriptivo do Brazil – Em 1587”, foi escrita na Europa, distante do Novo Mundo, entre os anos de 1584 e 1587, com o nítido objetivo de “justificar seus projetos” e “angariar as graças” de Dom Filipe II, rei de Espanha e Portugal (União Ibérica). Seu alvo principal eraoMinistroDomCristóvãodeMouraeTávora,amentebrilhantedafidalguiaportuguesa no contexto da União Ibérica. Frei Vicente do Salvador (História do Brasil), Francisco Adolfo de Varnhagen (História Geral do Brasil) e Jaime Cortesão (História do Brasil nos Velhos Mapas), são alguns dos grandes nomes da historiografia brasileira e portuguesa que tratam da vida do cronista Gabriel Soares de Sousa. Varnhagen informa que: “Era Gabriel Soares nascido em Portugal, talvez na própria cidade de Lisboa, onde tinha duas irmãs. Em 1567, passava a Monomotapa, acompanhando a Francisco Barreto, quando, arribando à Bahia, preferiu ficar nesta cidade, onde foi medrando; chegando a fazer-se até senhor de um grande engenho de açúcar no rio Jequiriçá. Por morte de seu irmão João [Soares de Sousa], de quem já tratamos, herdeiro do seu itinerário do descobrimento de várias minas nos sertões, resolveu passar à Europa, a requerer concessões e privilégios; mas houve tal dilação no despacho de seus requerimentos que, tendo partido da Bahia em fins de agosto de 1584, só depois de meados de dezembro de 1590 foi despachado. Nesse intervalo, talvez com objeto de recomendar-se, ofereceu no 1º de março de 1587, a D. Christovam de Moura, estadista influente no governo, o precioso escrito acerca do Brasil de que já demos notícia” [01, p. 381].

Foi neste período, de 1584 e 1587 que Gabriel Soares “redigiu o longo memorial, como ele próprio lhe chamou, que conservado inédito até o século XIX [1879], foi nele publicado sob títulos diferentes [Tratado Descriptivo do Brazil – Em 1587], o qual constitui uma verdadeira enciclopédia do Brasil à data da sua composição”.

Mas, quais foram os motivos que levaram Gabriel Soares a embarcar para o reino?. Varnhagen informa que Gabriel Soares, herdou: “um roteiro, que, conforme dissemos, uns sete anos antes, recebera, deixado por seu irmão João [Soares] de Sousa, o qual, depois de haver percorrido os sertões durante três anos, e de haver neles descoberto metais preciosos, e, segundo parece, até diamantes, ao falecer, quando regressava de tais descobrimentos, nas cabeceiras do rio Paraguassú [Bahia], lhe mandara entregar a sua derrota por um portador de confiança” [01].

Jaime Cortesão, prossegue: “O autor de <<Tratado Descriptivo do Brazil>> , na posse do roteiro de seu irmão, João Soares de Sousa, que antes dele buscara alcançar, partindo da Bahia, o Médio S. Francisco, embarcou para a Espanha em 1584 e, durante sete anos [1584 a 1590] de pertinazes esforços junto a côrte de Filipe II, logrou alcançar, por fim, o apoio indispensável para a sua grande empresa em busca das minas de ouro” [02].

Gabriel Soares de Sousa sonhava com o “Lago Mítico”, a “Lagoa Dourada” ou ainda a “Lagoa Eupana”, localizada nas cabeceiras do Rio São Francisco, no coração do Brasil, de onde procediam diversos rios que se espalhavam em várias direções.

Com relação ao pedido feito por Gabriel Soares ao rei Filipe II, Cortesão ratifica as palavras dos demais historiadores: “Para sustentar seu pedido, redigiu de 1584 a 1587, o <<Tratado descritivo do Brasil em 587>> (...), mas houve tal dilação no despacho de seus requerimentos que, tendo partido da Bahia em fins de agosto de 1584, só depois de meados de dezembro de 1590 foi despachado” [02]. Varnhagen, prossegue: “As concessões obtidas pelo mesmo Soares reduziram-se: A uma carta regia ao governador do Brazil, afim de que fossem postos às suas ordens duzentos índios frecheiros; e a mais oito alvarás, todos da mesma data, dispondo: Que o mesmo Gabriel Soares de Sousa, Capitão mor e governador da conquista e descobrimento do rio de S. Francisco, teria o direito de nomear, por seu falecimento, um sucessor que gozaria dos mesmos títulos e poder. Em ter faculdade de prover todos os ofícios da justiça e da fazenda no seu distrito. Em lhe ser concedido, para quatro cunhados e dois primos, que com ele iriam, o hábito de Christo, com 50 rs., e no fim da jornada, e foro de fidalgo e moradia para os mesmos; e mais dois hábitos para os capitães que o acompanhassem. Em poder conceder o foro de cavaleiros fidalgos até cem pessoas dos

do seu séquito. Em poder fazerpromessasde mais recompensas aos quesedistinguissem. Em lheser facultado o tirar das prisões, para levar consigo, os condenados a degredo que escolhesse, sendo de ofícios mechanicos, mineiros, etc. Em ser a estes contado, como tempo do degredo, o da expedição. Finalmente, em ficar autorizado, se quisesse, a prosseguir os descobrimentos ainda mais além do Rio de S. Francisco; e por conseguinte até dos próprios terrenos das atuais províncias de Goyaz e Matto Grosso, se Iá chegasse” [01].

Gabriel Soares de Sousa voltou ao Brasil em 1591 com uma expedição de 360 colonos e quatro frades, a qual naufragou no litoral de Sergipe. O que restou da malograda expedição de Gabriel Soares, marchou para a Bahia, ainda com o fito de descobrir a “Lagoa Dourada” localizada nas cabeceiras do São Francisco. Embevecido pelo desejo de encontrar o “Lago Mítico” repleto de esmeraldas, Gabriel Soares de Sousa embrenhando-se pelos sertões da Bahia onde veio a falecer no final de 1591, perto das cabeceiras do rio Paraguaçu, sem ter conseguido, porém, atingir os seus objetivos.

A obra de Gabriel Soares de Sousa, "Tratado Descritivo do Brazil de 1587", serviu para criar no Piauí, o mito da primazia da colonização feita a partir do litoral, e a lenda de várias "toneladas de ouro" perdidas por um náufrago chamado Nicolau de Resende no Delta do Parnaíba... coisa que Gabriel Soares de Sousa não relatou na sua obra.

Fontes: Livros [01] “História Geral do Brasil – Tomo I” de Francisco Adolfo de Varnhagen e [02] “História do Brasil nos Velhos Mapas – Tomos I, II e III” de Jaime Cortesão. Pesquisa: João Bosco Gaspar, pósgraduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará.

CIDADE DE IBIAPINA CEARÁ, ANTIGA ALDEIA DE DIABO-GRANDE (JURIPARIGUAÇU),

CONQUISTADA POR PERO COELHO DE SOUSA,

EM 1604. Os Jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira, no contexto da Missão ao Rio do Maranhão, em 1608, estiveram na aldeia de Diabo Grande, onde edificaram uma igreja de palhas de babaçu e ergueram um grande cruzeiro. Imagem da atual Igreja de Ibiapina, dedicada a São Pedro

DOS

- ANO DE 1607-1608.

Vista panorâmica do Maciço da Uruburetama/Serra da Lolaia (antiga Serra dos Corvos), nos municípios de Irauçuba e Uruburetama, Ceará. A Serra da Lolaia, é na verdade, a extremidade mais ocidental do Maciço da Uruburetama, que tem seus primeiros levantes nas proximidades da cidade de Irauçuba, e se dirige rumo ao Atlântico.

Os jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira cruzaram essas serranias no ano de 1607, em busca da longínqua Ibiapaba.

INDÍGENAS DA

CAPITANIA DO CEARÁ - ANO DE 1759. O EXÉRCITO DE DOM FILIPPE DE SOUSA E CASTRO.

Após a instalação da nova "Villa Viçosa Real" (em 1759), o governador dos índios da Serra da Ibiapaba, capitaniado Ceará, Dom FilippedeSousaeCastro,tinhasob seucomando,as seguintes CompanhiasMilitares Indígenas:

"Índios da Nação Tabajara: Companhia do mestre de campo D. Filippe de Sousa e Castro, total de 55 praças; Companhia de major João de Castro e Vasconcelos, total de 56 praças; Companhia do capitão André da Silva de Aragão, total de 51 praças; Companhia do capitão Artur Pinto de Sousa, total de 56 praças; Companhia do capitão D. Jacó de Sousa e Castro [o novo, fundador da cidade de São Benedito], total de 50 praças; Companhia do capitão Gaspar Pereira dos Santos, total de 61 praças; Companhia do capitão Gaspar de Jesus Santiago, total de 50 praças; Companhia do capitão Caetano Tavares da Silva, total de 55 praças; Companhia do capitão D. João de Sousa e Castro, total de 54 praças; Companhia do capitão Miguel Dias de Sepúlveda, totalde50praças;CompanhiadocapitãoLourençoTavaresdaSilva,totalde 49praças;Companhiado capitão Bento da Silveira, total de 61 praças; Companhia do capitão Paulo da Rocha, 52 praças; Companhia do capitão Simão Gonçalves, total de 49 praças. Índios da Nação Anacé: Companhia do capitão Sebastião Soares, total de 33 praças. Índios da Nação Coaçú: Companhia do capitão Manoel Soares de Aguiar, total de 32 praças. Índios da Nação Areriú: Companhia do capitão Francisco da Silva, total de 14 praças”.

Fonte: Secção de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro – BNRJ, I-28, 9, 13. Por João Bosco Gaspar.

PRÉDIO DA CÂMARA MUNICIPAL DE VIÇOSA DO CEARÁ.

A primeira Câmara da Villa Viçosa Real, antiga Aldeia da Ibiapaba e hoje cidade de Viçosa do Ceará, foi eleita em data de 7 de julho de 1759, no contexto da expulsão dos jesuítas dos altiplanos da Ibiapaba. Naquela ocasião a antiga Aldeia da Ibiapaba recebeu o status de Vila, com o título de Villa Viçoza Real. O principal cargo da Câmara Municipal era o de Juiz Ordinário. O índio tabajara e mestre de campo da Serra da Ibiapaba, Fillipe de Sousa e Castro, filho de Dom Jacó de Sousa e Castro, foi o primeiro Juiz Ordinário de Villa Viçoza Real. Por João Bosco Gaspar.

RELAÇÃO DE TODOS OS POSSUIDORES DE TERRAS NA FREGUESIA DA PIRACURUCA, CAPITANIA DE SÃO JOZÉ DO PIAUHY, EM 1762.

Nodia20desetembro de1759,naViladaMocha(Oeiras),JoãoPereiraCaldas tomavapossecomo oprimeiro governador da capitania de São Jozé do Piauhy.

“Em sua equipe estão no Piauí vários agentes que mobilizou para estruturar os negócios da Administração, entre eles pessoal da área de engenharia-cartográfica, à frente Henrique Antônio Galúcio e Francisco Marcelino de Gouveia, para assisti-lo na composição do mapa da situação fundiária-demográfica da capitania” [01].

Concluídos os trabalhos no ano de 1762, referentes a Carta Geográfica de Galúcio e uma Relação Minuciosa detodos os possuidores deterras noPiauí[02],o desembargadorFrancisco MarcelinodeGouveiaencaminhou ao Secretário de Ultramar, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, os originais (carta) cartográficos do ajudante de engenheiro Henrique Galúcio, bem como a relação dos ditos possuidores de terras:

“Ilmº e Exmº Senhor. Pela carta junta de dezenove de junho do ano próximo passado, se servio V. Exa. de determinar me, remetesse à Real presença de Sua Majestade, com a carta Chorográfica que tirou o Capitão de Infantaria, com o exercício de Engenheiro, Henrique Antônio Galúcio, uma exata, e individual Relação dos Possuidores todos das terras desta Capitania (...). Oeiras do Piauhy, a 16 de novembro de 1762. Francisco Marcelino de Gouveia – Desembargador” [02].

Entre os documentos enviados para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, num total de 218 páginas, destacamos os possuidores de terras da circunscrição territorial da Freguesia de Nossa Senhora do Monte do Carmo da Piracuruca, termo da recém-criada Vila da Parnaíba, a porção mais setentrional dos sertões do Piauhy. Trata-se de “Sítios” e “Fazendas”, medindo entre duas ou três léguas de largura, com uma de comprido, num total de 96 propriedades. Vejamos:

01 – Fazenda Jacarehy de Cima – de Antonio Machado de Ciqueira.

02 – Fazenda Gamileira – de José Rodrigues de Medeiros

03 – Fazenda Taboleiro – de José da Silva Cezar

04 – Fazenda Mocambo – de Maria Pinta de Azevedo

05 – Fazenda Nossa Senhora do Rosário (Cocal) – de Diogo Alves Ferreira

06 – Fazenda Mocamdo – de Diogo Alves Ferreira

07 – Fazenda Espírito Santo de Cima – de João Fernandes R. de Queiroz

08 – Fazenda Nossa Senhora do Rosário (Cocal) – de Domingos Alves Ferreira

09 – Fazenda d Barra – de Matheus Mendes da Silva

10 – Fazenda Piedade - de Matheus Mendes da Silva

11 – Fazenda da Botica - de Matheus Mendes da Silva

12 – Fazenda (Tucuns?) de Cima - de Matheus Mendes da Silva

13 – Fazenda As Amazonas - de Matheus Mendes da Silva

14 – Fazenda Vitória de Baixo – de Maria Rodrigues Campos

15 – Fazenda Currais Novos – de João Pereira da Cunha e outros

16 – Fazenda S. Antônio do Columiguara – de João de Araujo Borges

17 – Fazenda Piracuruca – de Duarte Teixeira

18 – Sítio São Boa Ventura – de Duarte Teixeira

19 – Fazenda São Luiz – de Manoel Teixeira de Souza

20 – Fazenda São Miguel – de Manoel Teixeira de Souza

21 – Fazenda Genipapo – de João da Rocha Pitta

22 – Fazenda Santa Catarina – de João da Rocha Pitta

23 – Fazenda Alagoa – de João da Rocha Pitta

24 – Fazenda Espírito Santo de Baixo – de João Fernandes R. Cerqueira

25 – Fazenda Buriti dos Lopes – herdeiros de José Lopes da Cruz

26 – Fazenda Pirangi (rio Pirangi) – herdeiros de José Lopes da Cruz

27 – Fazenda São Vicente (rio Longá) – herdeiros e José Lopes da Cruz

28 – Fazenda Ipueiras de Cima – de Maria Nogueira da Conceição

29 – Fazenda Viados – de Nossa Senhora do Carmo da Piracuruca

30 – Fazenda Macambira - de Nossa Senhora do Carmo da Piracuruca

31 – Fazenda Boqueirão - de Nossa Senhora do Carmo da Piracuruca

32 – Fazenda Algodões (rio Pirangi) – de Adrião Antunes Trigo

33 – Fazenda Tinguis – de João Carvalho de Siqueira

34 – Fazenda São Francisco – de Antônio Lins Teixeira

35 – Fazenda Cabeça do Boi – de Antônio Lins Teixeira

36 – Fazenda Sobrado – de Inácio Correia de Miranda

37 – Fazenda Capivaribe – de Pedro Ribeiro dos Santos

38 – Fazenda Cadós – de Braz de Almeida

39 – Fazenda Santa Anna – de Antônio Pereira Dutra e outros

40 – Fazenda Gamileira – de Manoel Gonçalves da Costa

41 – Um Engenho em Cima da Serra da Columiguara (Pedro II) – de Manoel Gonçalves da Costa.

42 – Fazenda Pitombeira – de Francisco Xavier de Abreu

43 – Fazenda Covoada – de José Lopes Dias

44 – Fazenda Almecegas – de José Pereira de Souza

45 – Fazenda Genipapo das Carcandas – de Manoel Maciel de Araújo

46 – Sítio Carnaival – de Manoel Maciel de Araújo

47 – Fazenda Riacho Fundo – de João Mendes e seus filhos órfãos

48 – Fazenda Baixa Comprida – de Antônio Mendes e outros

49 – Fazenda Alagoa – de Estevão Gomes

50 – Fazenda Ponta da Serra – de Gaspar Fernandes Avelar

51 – Fazenda Capivara – de Antônio Pereira da Costa, comprada de Antônio Rodrigues Barros

52 – Fazenda São Gonçalo – de Antônio Pereira da Costa

53 – Fazenda Belém – de Domingos da Costa Araújo

54 – Fazenda Bohiba – de José Pereira Montaldo

55 – Uma Posse em Cima da Serra – de João de Sá

56 – Fazenda Santo Hilário (Cocal) – de Fco Alves Antunes e outro

57 – Fazenda ILHA, entre os rios Parnaíba e Igaraçu – de Luiz Carlos Pereira de Abreu Bacellar

58 – Fazenda chamada “VILA DA PARNAÍBA” – de Luiz Carlos Pereira de Abreu Bacellar

59 – Fazenda São Domingos (rio Longá) – de Martinho Teixeira Sampaio

60 – Fazenda São Caetano (rio Longá) de Martinho Teixeira Sampaio

61 – Fazenda Cajazeiras – de Maria Pinta de Azevedo

62 – Fazenda São Remigio (rio Longá) – de Jerônimo F. de Azevedo

63 – Fazenda Soledade (rio Parnaíba) – de João Gonçalves Tomas

64 – Fazenda Capueiro (rio Parnaíba) – de José da Costa de Oliveira

65 – Fazenda São Francisco - de José da Costa de Oliveira

66 – Fazenda São Gregório - de José da Costa de Oliveira

67 – Fazenda Inlhumas - de José da Costa de Oliveira

68 – Fazenda São Nicolau (rio Parnaíba) - de João da Costa de Oliveira

69 – Fazenda Morro do Chapéu – de João da Costa de Oliveira

70 – Fazenda São José do Concador – de Inácio Alves

71 – Fazenda Melancias – de Luiz F. dos Reis

72 – Fazenda Chapada – de José da Costa Amaral

73 – Fazenda Riacho do S. Antônio do Enjeitado – de Domingos de Meyra

74 – Fazenda no Riacho do Taquari - da viúva Maria Tereza

75 – Fazenda São João (rio Longá) – de Manoel da Cunha Carvalho

76 – Fazenda São João Acima – de Manoel da Cunha Carvalho

77 – Fazenda Taquari – de Manoel da Cunha Carvalho

78 – Fazenda Boa Esperança (rio Longá) – de Antônio de Carvalho

79 – Fazenda Tranqueira (rio Longá) – de Antônio de Carvalho

80 – Fazenda Vitória de Baixo – de Antônio de Carvalho

81 – Fazenda Carahibas (rio Longá) – de Antônio de Carvalho

82 – Fazenda Sítio Novo – de Antônio de Carvalho

83 – Fazenda São João – de Antônio de Carvalho

84 – Fazenda Santo Antônio (rio Longá) – de Diogo Alves Ferreira e Domingos Pires Ferreira.

85 – Fazenda Almas (rio Longá) – de Diogo Alves Ferreira e Domingos Pires Ferreira

86 – Fazenda São Francisco (rio Longá) – do padre Antônio Rodrigues

87 – Fazenda Barras (rio Piracuruca) – do padre Antônio Rodrigues

88 – Fazenda Vitória de Cima – de Fco Freire dos Reis

89 – Fazenda Santa Tereza (rio Longá) – de João Barbosa

90 – Fazenda Passagem (rio Longá) – de Maria da Costa de Oliveira

91 – Fazenda S. Antônio de Lisboa – de Manoel Leyte Távora

92 – Fazenda Santa Quitéria (rio Altamira) – de Manoel P. Dutra

93 – Fazenda em Cima da Serra da Columiguara – de Manoel Pereira Dutra

94 – Fazenda São José (rio Piracuruca) – de Antônio Bernardes Ayres

95 – Jacarehy de Baixo – de Maria Ayres Ferreira

96 – Fazenda Santa Catharina – de Nataria da Silva (fim).

Pois bem... A carta geográfica (original) denominada de “Mappa Geográfico da Capitania do Piauhy”, foi levada para os arquivos do governo do Estado do Grão-Pará e Maranhão, sem que ficasse uma cópia, sequer, em poder das autoridades da recém-instalada capitania de São José do Piauhy.

Dez anos depois, ou seja, em 1770 (Galúcio já havia morrido), com o fito de instalar “o primeiro serviço regular de correios” ligando as sete vilas da capitania do Piauhy, o mandatário Gonçalo Lourenço Botelho, solicitou do governo do Estado do Grão-Pará e Maranhão, que se “dignasse enviar-lhe uma cópia [do Mappa de Gallucio] para poder utilizar em proveito da capitania”. Em ofício datado de 14 de março de 1770 (dez anos depois da elaboração do mapa), Gonçalo Lourenço, informa que o

“Excelentíssimo Senhor Henrique Antônio Gallucio que veio fazer a carta geográfica desta capitania retirou-se sem deixar uma cópia do seu trabalho”. (Fonte: Arquivo Público do Piauí (APEPI) – Códice 149, Seção de Manuscritos – Correspondências ao General do Estado (17701781). Pág. 2). Em outubro do mesmo ano (1770), Gonçalo Lourenço Botelho escreveu ao governador do Estado, acusando o recebimento da cópia solicitada. (Fonte: Arquivo Público do Piauí (APEPI) – Códice 149, Seção de Manuscritos – Correspondências ao General do Estado (1770-1781). pg. 4).

Figura 1: Mappa Geográfico da Capitania do Piauhy, delineado por Henrique AntonioGalúcio (1760). Fonte: Arquivo Histórico do Exército. Rio de Janeiro – RJ. Foto Vicente de Mello Fontes: [01 - Terras no Piauí – Registros Históricos: Fonseca Neto]. [02 – AHU-PI, Caixa 08, documento nº 513, ano de 1762] Por João Bosco Gaspar.

DO ALTO DA TORRE DA IGREJA DA GRAÇA, EM PARNAÍBA... “OS OLHOS SE DERRAMAM PELO HORIZONTE, ATRAVÉS DE DEZENAS DE LÉGUAS, E VISLUMBRAM A SERRA GRANDE, O PARAÍSO TERRESTRE”. (Por Humberto de Campos).

Entre as descrições feitas sobre as silhuetas da Ibiapaba, distinguidas ao longe por quem não a conhece in loco, a narrativa do escritor Maranhense, Humberto de Campos, é a mais fascinante. Trata-se de uma reminiscência dos seus tempos de criança, vivida no longínquo ano de 1895 no alto da torre da Igreja de Nossa Senhora Mãe da Divina Graça, de Parnaíba. Naquele ano, a família do infante Humberto de Campos, após a morte do patriarca Joaquim Gomes de Farias Veras, mudou-se para o litoral do Piauí, onde o órfão “dos brinquedos roubados” viveu essa experiência fabulosa.

Os Campos Veras passaram a residir na “casinha” construída junto “à Praça da Matriz, em frente à Intendência Municipal”, onde a Igreja da Graça e o prédio da Intendência representavam os marcos principais da cidade. E foi do alto da torre da Igreja da Graça, cuja construção remonta ao ano de 1778 após o licenciamento obtido pelo mestre de campo João Paulo Diniz junto ao bispado do Maranhão, que o infante Humberto de Campos, aos nove anos de idade, teve essa visão fabulosa do paraíso... Vejamos:

“Durante a nossa permanência nessa casa (...), recebi duas surpresas de que não mais perdi a lembrança. Uma, agradável e doce (...), foi a visão da serra da Ibiapaba (...). Próximo à nossa casa ficava a igreja da Graça, matriz de Parnaíba, cujo sino fornecia à cidade a hora mais ou menos certa, dando as badaladas do meio-dia, das seis da tarde e das oito da noite. Para os dois primeiros sinais, o sacristão, o velho Macário, subia ao alto da torre, e manejava lá os sinos miúdos, misturando-lhes os sons numa combinação modesta e harmoniosa, ou, aos sábados, em uma grazinada festiva de meninos vadios. Para o último, porém, que exigia apenas oito badaladas monótonas e espaçadas, deixava ele pendurada a corda no interior da torre, de modo a não precisar subi-la na escuridão, entre corujas e morcegos pressagos.

Uma tarde, ao anoitecer, brincava eu, na praça esburacada, apanhando filhotes de sapos nas poças d’água das últimas chuvas, quando vi o velho Macário, que ia subir à torre para anunciar as ave-marias. Aproximei-me, e ele, compreendendo o meu desejo, convidou-me para ir lá em cima.

Subimos. Escadas primitivas e toscas, apresentando um perigo em cada degrau. Imundície de aves noturnas que se hospedam na casa de Deus, como as superstições se instalam na alma dos homens. E chegamos ao alto. Parnaíba fica em uma planície, como, aliás, todo o Piauí. De modo que, de uma torre que terá, no máximo, quarenta metros, os olhos se derramam pelo horizonte, através dezenas de léguas.

De repente, porém, os meus descobriram alguma cousa que os detinha. Era uma fita azul, baixa, extensa, e igual, que não se distinguia sem esforço. – Está vendo... lá... acolá.... aquela fita azul? – disse-me o velho, o dedo estendido na direção em que havia alguma cousa, mas que os seus olhos de sexagenário não distinguiam mais. – Estou... que é? – É a Serra Grande...

Não me lembro haver, jamais, na vida, soltado uma exclamação, um grito de surpresa, de espanto, de admiração, de entusiasmo. Se o emiti, foi nessa tarde, diante dessa informação. Porque a Serra Grande era, para mim, alguma cousa como o Paraíso terrestre. Era a terra em que não fazia calor. Era a região em que as pessoas possuíam a pele rosada e fresca. Era o lugar de onde vinham as laranjas doces e douradas que se vendiam às vezes em Parnaíba. Era, em suma, o clima prodigioso, que sarava os enfermos com o seu beijo e embelezava as mulheres com o seu perfume.

Ver a Serra Grande era, assim, entrever o Éden.

E foi como uma das modalidades do Éden que ela ficou na minha imaginação”.

Trecho do livro “Memórias e Memórias inacabadas” de Humberto de Campos, São Luís: Instituto Geia, 2009 p. 112-113”.

Foto: Catedral de N. Sra. Mãe da Divina Graça de Parnaíba PI.

DO CEARÁ.

João da Maia da Gama, ex-governador do Estado do Maranhão, no estrito cumprimento do seu dever, de vistoriar as barras dos rios entre o Maranhão e a Parayba, por ordem de Sua Majestade: “(...) despedi um próprio do Reverendo padre Francisco de Lira, superior da missão da Serra da Ibiapaba para me mandar 50 ou 60 índios mais abaixo da última barra do rio Parnaíba ao Porto que chamam das Salinas (...), para do dito Porto das Salinas principiar a minha marcha já pelas primeiras terras da jurisdição do Brasil, e da capitania do Ceará [p. 53]. Fui ver a barra do rio chamado Camurupim que fica cinco léguas para leste da última barra do Parnaíba e do último seu braço chamado Igaraçu. E a boca deste rio Camurupim é muito larga, mas muito baixa e desparcelada com canal só para lanchas e deita ao mar coroas em que rebentam o mar por mais de uma légua [p. 58]”.

Descrição que fez o ex-governador do Estado do Maranhão, João da Maia da Gama, no ano de 1728/1729. Trecho do livro “Um Herói Esquecido – João da Maia da Gama” do historiador português Francisco d’Assis Oliveira Martins. Foto: imagem atual da foz do Rio Camurupim, na praia de Macapá.

NO INÍCIO DO SÉCULO XX O PIAUHY ENTROU EM DISPUTA COM O MARANHÃO, TENTANDO ANEXAR AO SEU TERRITÓRIO, A HISTÓRICA BARRA DA TUTOYA.

No limiar do século XX, o Piauhy entrou em disputa com o Maranhão pelas terras localizadas entre as barras das Canárias e da Tutoya, no Delta do Parnaíba. Ao final do embate, em 1922, o estado do Piauhy saiu DERROTADO.

Durante a disputa entre o Piauhy e Maranhão pelas terras do Delta Parnaibano, como subsídios para as defesas dos litigantes, foram publicados quatro livros:

(1)"Limitesentreos EstadosdoPiauhyedoMaranhão",deautoriadogovernadordoPiauhy,AntuninoFreire;

(02) "A Barra da Tutoya" de autoria do professor maranhense Justo Jansen Ferreira;

(03) "A Tutoya e o Delta do Parnaíba" do maranhense Dr. Benedito Barros e Vasconcelos; e por último

(04) "Limites do Maranhão com o Piauhy, ou, A Questão da Tutyoa" do grande mestre maranhense José Ribeiro do Amaral. Por João Bosco Gaspar

Dom Felipe foi agraciado com o Hábito de Cavaleiro da Ordem de Santiago da Espada, por ter comandado a nação tabajara no extermínio do índio MANDU LADINO em 1719, passou a receber uma tença de 8 mil reais descontados dos dízimos da capitania do Ceará.

NOTA: Lei Filipina - Desde 1611, que por lei do rei Filipe II de Portugal (III de Espanha), o uso do título de “Dom” passou a ser privilégio dos Grandes do Reino, compreendendo estes a realeza (rei, rainha, príncipes e infantes), os membros do alto clero (cardeais, arcebispos e bispos), os membros da Alta Nobreza (duques, marqueses, condes, bem como viscondes e barões com honras de Grandeza), os oficiais generais do exército e da armada e os grão-mestres das Ordens de Cavalaria.

TRANSCRIÇÃO INTEGRAL

Livro de Registro Geral de Mercês do Reinado de Dom João V de Portugal. Livro nº 12, fls. 333 (660), ano de 1721.

“D. Felipe de Sousa e Castro, filho de D. Jacob. Houve Sua Majestade por bem, e com respeito aos muitos serviços que os índios da Serra da Ibiapaba se tem feito <<não só na restauração de Pernambuco mas também continuamente desde que os padres da Companhia os aldearam e instruíram na fé católica>> desinfestando os gentios bárbaros das capitanias do Ceará e Piauhi, e alcançando muitas vitórias, e ultimamente em que mataram o índio Mandu Ladino, um dos mais cruéis inimigos nossos, e ser um dos principais índios que se achava nas referidas ocasiões, com muito valor e zelo de seu Serviço Real, D. Felipe de Sousa e Castro, filho do governador que foi dos índios, D. Jacob de Sousa; e por sua Majestade, espera dele, que da mesma maneira se haverá daqui em diante em tudo do que for encarregado do seu serviço; Hei por bem fazer-lhe mercê a DOM DE ARMAS [Senhor das Armas], que pelos mesmos respeitos que lhe fez do posto de mestre de campo dos ditos índios; que vagou-se pela promoção de D. Joseph de Vasconcelos que o exercitava de antes; com o qual posto [de Dom] gozará o dito D. Felipe de Sousa e Castro, de honras e privilégios, liberdades, favores e franquezas que em razão dele lhe tocarem, da qual, por esta o há, Sua Majestade, emitido de posse do que lhe foi passada carta a 28 de janeiro de 1721”.

A

CARTA

PADRÃO

DE TENÇA DE CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIAGO, 8 MIL RÉIS, PAGOS

PELA CAPITANIA DO CEARÁ.

“Houve Sua Majestade por bem, tendo respeito aos valorosos serviços que tem feito a esta coroa os índios da Serra da Ibiapaba, não só na restauração de Pernambuco mas também continuamente desde que os padres da Companhia os aldearam e instruíram na fé católica, desinfestando dos gentios bárbaros as capitanias do Ceará e do Piauhi, alcançando muitas vitórias contra eles, matando-lhe o seu cabo de corso [Mandu Ladino, como dito acima] que fazia grandes hostilidades de mortes e fazendas destruídas, e se tem os ditos índios da mesma Serra da Ibiapaba, este vencimento; e ser um dos principais índios que se acha nestas jornadas e ocasiões, com muito valor e zelo do Real Serviço, o D. Felipe de Sousa e Castro, filho de D. Jacob, já falecido, Hé Sua Majestade, por bem, fazer-lhe mercê a DOM DE ARMAS, que com os mesmos respeitos fez na 81ª sentença e registro, por contados 20, com que foi impedido, porque dos 12 que faltava para o cumprimento dela [sentença], se repassou outro padrão para os ter como CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIAGO, os quais 8 [mil réis em tença] lhes serão assentados nos rendimentos dos DÍZIMOS DO CEARÁ e por os da capitania do Rio Grande, e os começará a vencer do dia que dele se lhe fizer assento. De que esta foi passada ao dia 15 de fevereiro de 1721”.

Fonte: Livro de Registro Geral de Mercês do Reinado de Dom João V de Portugal. Livro nº 12, fls. 333 (660), ano de 1721. Por João Bosco Gaspar – Pós-Graduado em História, Cultura e Patrimônio - Tianguá - Ceará

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UM “SÍTIO, DONDE CHAMAM, A VILA DA PARNAÍBA”. ANO DE 1728 – A SESMARIA DE PAULO VIVEIROS AFONSO.

Encontra-se registrado no livro de sesmarias do antigo Estado Colonial do Maranhão, o requerimento (foi deferido) do sertanista baiano, Paulo Viveiros Afonso, respeitante a um Sítio “mui impropriamente” chamado de Vila da Parnaíba. VEJAMOS:

“Registro de hua Carta de datta de Sexmaria a Paullo [Viveiros] Afonsso no sitio chamado villa da Parnaíba de tres Legoas de terra. Joao da Maya da Gama [sinal público] Faço saber aos que esta minha Carta de data e sexmaria virem que a mim me inviou a dizer por Sua petiçao Paullo [Viveiros] Afonsso que elle tem povoado com gado vacum e Cavallar o citio donde chamao a villa da Parnaíba, Correndo pello Rio Igarasu assima e abaixo que terá tres Legoas de terra de Comprido e húa de Largo, Rezervando terras inúteis, por tanto lhe pedia fosce Servido Concederlhe as ditas terras por data de sixmaria. E atendendo Eu [João da Maia da Gama], as Rezoins que alegava como tambem ao que Respondeu o Provedor Mor da fazenda Real (...), Hey por bem de conceder ao supplicante em nome de sua Majestade, que Deos guarde, tres Legoas de terra de Comprido e huá de Largo no citio e Lugar que pede (...). Dada nesta cidade de Sao Luiz do Maranham aos doze dias do mes de [Mayo] Anno do Nascimento de nosso Senhor Jesus Chisto de 1728 eu (a) M.el Roiz Tavares secretario do Estado a fez [sinal público] Joao da Maya da Gama [sinal público]”.

NOTA: Os livros de sesmarias do Estado Colonial do Maranhão, mencionam duas doações feitas na margem ocidental do rio Igaraçu (braço do Parnaíba). Uma, datada de 14 de julho de 1725, feita em nome de João Gomes do Rego Barra, registrada no livro nº 02, às fls. 56-V sob nº 69, e outra datada de 12 de maio de 1728, feita em nome do sertanista Paulo Viveiros Afonso, registrada no livro nº 04, às fls. 63 sob nº 90.

João Gomes do Rego Barra foi preposto do coronel Pedro Barbosa Leal, e segundo o próprio governador Maia da Gama, levantou na margem do Igaraçu “uma grande casa de taipa (...), e nela se assentou e defendeu no levante dos índios de que era cabeça o índio chamado Mandu Ladino”.

João Gomes do Rego Barra morreu no ano de 1728, ocasião em que seus genros (os irmãos Lopes), “desmantelaram a povoaçãozinha” da margem do Igaraçu, com o fito de “pedirem aquelas terras” a título de sesmaria. O sertanista baiano Paulo Viveiros Afonso, em 3 de outubro de 1725, recebeu uma sesmaria medindo três léguas de comprimento por uma de largura, situada na margem esquerda do rio São Francisco, a qual abrangia as terras alagoanas da Cachoeira, conhecida, então, como "Sumidouro". Essa sesmaria é a origem da atual cidade de Paulo Afonso. Por João Bosco Gaspar.

RESQUÍCIOS DO REAL HOSPÍCIO DOS JESUÍTAS NO CEARÁ. Edificado a partir do ano de 1727, "o Real Hospício Jesuítico do Ceará [Aquiraz] ficou na História da instrução e educação pública, como o da primeira instituição cearense onde se ensinaram Humanidades; e também na História eclesiástica do Ceará, porter sido, de fato, o seu primeiroSeminário". Fonte:Livro"Históriada Companhiade Jesus noBrasil, Tomo III", de Serafim Leite.

UMA HERMENÊUTICA ARCAICA E ANACRÔNICA - AS TERRAS DE JOÃO DE BARROS, ANTÔNIO CARDOSO DE BARROS, AYRES DA CUNHA E FERNANDO DE ANDRADE.

Tem historiador que ainda não conseguiu se desvencilhar da narrativa arcaica e anacrônica envolvendo as terras doadas aos fidalgos João de Barros, Antônio Cardoso de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade. Essas terras foram revertidas à coroa portuguesa ainda no reinado de Dom Sebastião, por volta do ano de 1570 já não se falava mais nessas doações. Estabelecer fronteiras fundamentado nessas antigas capitanias (não)hereditárias, é um grave anacronismo histórico. Por conta da malograda "Associação Trina de Colonização", formada por João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, os donatários tiveram que devolver seus quinhões ao senhorio da coroa portuguesa... tudo era terra do rei, "Nosso Senhor", como afirma Pero de Magalhães Gandavo. Os direitos de João de Barros, por exemplo, o rei dom Sebastião ordenou que, "por sua morte ficasse cinquenta mil reis de tensa a sua mulher dona Maria de Almeida". As capitanias reais da Parahyba e Rio Grande são conquistas da coroa portuguesa, fundadas no ocaso do século XVI, assim como as do Ceará, Maranhão e Pará, criadas entre os anos de 1615 e 1619. Neste contexto, não havia uma capitania chamada "Piauhy". Com a divisão das conquistas portuguesas na América em territórios distintos, ou seja, o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão, outras capitanias foram surgindo, sobretudo no Estado do Maranhão: Tapuitapera (Alcântaras), Cabo do Norte (Amapá), Ilha Grande de Joanes (Marajó), Vigia entre outras. A capitania do Piauhy foi instituída em 1718, e instalada em 1759. A capitania do Piauhy não fazia parte do Brasil, estava inserida no Estado Colonial do Maranhão. Imagem: Fortaleza dos Reis Magos, no Rio Grande - Projeto Resgate. Por João Bosco Gaspar pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio

“Por Carta Régia de 19 de junho de 1761, foram concedidas a esta câmara [da vila da Parnaíba] quatro léguas em quadro para seu patrimônio:

“começando desta cidade em rumo de leste, duas léguas até a margem do rio também chamado Igaraçu, que se lança na barra deste nome e divide esta província com a do Ceará, e outras duas léguas, também, a partir desta cidade, rio acima, em rumo sul até o igarapé da ponte”.

Fonte: Cronologia Histórica do Estado do Piauí – Tomo 2, p. 484/485. Imagem: Vista parcial da cidade de Parnaíba, Piauí, criada com status de Vila no ano de 1761, na divisa com a então capitania do Ceará.

Por João Bosco Gaspa

Em 17 de abril de 1662, Francisco Barreto de Meneses, governador-geral do Estado do Brasil, baixou a seguinte provisão:

“Faço saber que os religiosos da Companhia de Jesus, missionários da costa do Ceará e Camosi e serras de Ibiapaba, me representaram que para a mesma missão poder ter o fim que se pretendia na redução daquela gentilidade e fé católica, e se conservar nela os índios já batizados sem as inquietações que atualmente padecem no injusto governo de Simão Taguaibuna que se havia introduzido nele com grande perturbação da doutrina cristã, (...) seria conveniente mandar prender e desterrar para sempre da dita costa e serras o dito Simão Taguaibuna, e igual o Capiranha e Francisco Chubeba (...)".

No ano seguinte (1663), após o alferes Fellipe Coelho de Morais haver cumprido as ordens do governadorgeral do Brasil, o padre Pedro de Pedrosa expressa seus agradecimentos pelo “zelo e honrado procedimento com que o alferes deu execução a ordem para ser preso o principal Dom Simão Taguaibuna e os mais que hoje se acham nesse Forte do Ceará (...)”.

Fonte: “Documentos para a história do Brasil, especialmente a do Ceará”, do Barão de Studart, p. 34-42. Foto: Imagem da Internet, ilustração. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará.

MANDU LADINO E O ASSASSINATO DO MESTRE DE CAMPO ANTÔNIO DA CUNHA SOTTO MAYOR – ANO DE 1712.

Em petição enviada ao Conselho Ultramarino de Portugal, o padre Antônio de Sousa Leal, relata que “em 1709, depois de muitas guerras, Antônio da Cunha Sotto-Mayor fizera a paz com os que ainda restavam destes tapuyos, exceptuados os Anapuruassus, e assim tivera licença no Maranhão para fazer um Arraial na Ribeira do Parnahyba, obrigando dez nações que então estavam em paz a lá assistir. Fizeram com eles muitos currais e caminhos e mandara muitas boiadas suas e de outras pessoas para a Bahia e Minas. Os soldados do Maranhão tiravam-lhes as mulheres e filhas, e maltratavam-nos como escravos sem qualquer recompensa. Além disto, enforcaram quatro ou cinco [índios] Arayos, desterrara e mandara matar outros, entre os quais uma irmã do Mandu Ladino” [01]

Em carta enviada ao mesmo Conselho, Bernardo Carvalho de Aguiar declara que “em junho daquele ano [1712], na sublevação que tinha havido no Arraial do Parnahyba, foram mortos pelo gentio, até então <<domesticado>>, o mestre-de-campo Antônio da Cunha SottoMayor, dois capitães de infantaria e a tropa que se achava em campanha” [01]

Sabe-se, embasado no que escreveu o padre Miguel de Carvalho no ano de 1697, que Antônio da Cunha SottoMayor, ocupou e povoou uma fazenda nas margens do Rio Canindé, que “corre do nascente para o poente até se meter no Rio da Parnahyba”. Essa fazenda de Antônio da Cunha Sotto-Mayor chamava-se “Craíbas” e localizava-se entre as fazendas de André Barbosa Correia e Constantino Ferreira, já nas proximidades da confluência dos rios Canindé e Parnaíba (N° 09 do Mapa).

Imagem: Mapa do padre Jacó Clocleo, “Mapa da maior parte da Costa, e Sertão, do Brazil”. Extraído do original (Map of the Greatest Part of the Coast and the Sertão of Brazil. Extracted from Fr. Cocleo’s original), por Valquiria Ferreira da Silva, em “Arte, ciência e técnica nos mapas da América portuguesa do Padre Cocleo”. [Fonte 01] Livro “Os Manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval Respeitantes ao Brasil – Volume II”.

Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará.

Texto extraído das cartas inéditas escritas em latim pelo jesuíta João Antônio Andreoni (Cartas Annuas de 1714-1716 e 1721). Narra o padre Andreoni, que a revolta indígena levantada entre os anos de 1712-1719 e que ficou conhecida como a <<Revolta dos Tapuyos>>, “exigiu constante sacrifício dos padres residentes na povoação de Ybiapaba com os índios domesticados, e lhes fez correr grande perigo”.

PROSSEGUE o padre Andreoni, relatando os fatos ocorridos depois do assassinato do mestre de campo Antônio da Cunha Souto Maior, levado a efeito pelo <<bando de Mandu Ladino>>:

“Estes mataram à traição em [rio] Parnahyba o comandante dos soldados que os tratava mal e não lhes pagava o soldo, como também assassinaram a mulher do comandante em chefe, tendo posto em fuga os soldados e sentinelas das fortificações, e matando de manhã cedo os que encontravam indefesos; apoderando-se das armas, pólvora, balas e de quase trezentas espingardas. Esta presa levantou os ânimos guerreiros dos tapuyos, acostumados a antes combater (...) com armas desiguais, servindo-se do arco e da flecha, e assim tendo tirado a estes o seu melhor meio de defesa, resolveram assaltar a povoação de Ybiapaba, a maior de todas naquela região, e confiada à administração dos nossos padres”.

PROSSEGUE A NARRATIVA:

“Estava ausente o comandante em chefe [Dom Jacó de Sousa e Castro], que fora à Parnahyba com os índios mais esforçados afim de cessar os tumultos, e tendo-se descoberto a resolução dos inimigos [tapuyos], enquanto estes esperavam outros que haviam chamados e passavam inutilmente o tempo a alimentar-se de carne bovina, tiveram os padres ocasião de mandar um mensageiro aos ausentes [Dom Jacó e demais tabajaras], e pedir armas ao governador da Fortaleza [do Siará], ainda que distasse 80 léguas da povoação [de Ybiapaba]”.

PROSSEGUE A NARRATIVA:

“Neste interim o Superior [da Missão de Ybiapaba], por necessidade, exerceu com denôdo [bravura] o cargo de comandante e chefe dos soldados [tabajaras], já exercitando os índios ao combate e preparando as fortificações, já designando as sentinelas, enviando espias, e procurando mantimentos, ao mesmo tempo que com os outros padres consolavam as mulheres que choravam segundo seu costume e oravam com elas na Igreja, pedindo a Deus não entregasse para serem devoradas pelas feras sanguinárias aqueles que confessavam seu nome. Vendo-se indefesos e expostos aos ataques dos inimigos [tapuyos], os vaqueiros dispersos naqueles campos se refugiaram na povoação [de Ybiapaba] com suas armas e escravos, com o consentimento do Superior [da Missão]. Aumentando assim a força para a resistência, desapareceu entre todos o temor, sendo mortos quase 400 tapuyos, alguns feridos, outros postos em fuga, e outros com grande aflição dos padres reduzidos a cativos pelos comandantes que moviam a guerra”.

PROSSEGUE A NARRATIVA:

“O que os contristou naqueles meses foi a falta que houve do necessário para a quotidiana celebração do Santo Sacrifício, que dificilmente se oferecia aos domingos. Durante dois anos não aportou um só navio em porto cearense (...) porque não eram enviados de Pernambuco (...). Em meio a tantas calamidades não se interromperam, contudo, os costumes e exercícios da piedade, a pregação, a catequese nem a frequência dos sacramentos. Houve 335 confissões, 228 batizados e 46 casamentos”.

O padre Andreoni relata, ainda, a primeira visita feita aos altiplanos da Ibiapaba, pelo padre João Guedes (sucessor do padre Ascenso Gago), em dezembro de 1714, e diz que:

“O padre João Guedes visitando a mandado do padre Provincial à povoação de Ybiapaba, onde se contam 3.000 índios e índias, e afastou energicamente da empresa a um estranho <<perturbador, que pretendia dividir a povoação e constituir novos chefes à sua vontade>>, dizendo-se primo do governador dos índios [Dom Jacó de Sousa e Castro], e mostrou-lhes que o cuidado dos índios e das demais coisas daquela povoação [de Ybiapaba] confiadas à Companhia [de Jesus] pelo Rei, dependia só dos padres, tanto no espiritual como no temporal”.

Finaliza o padre Andreoni, já na Carta Anua de 1721, que: “Neste ano [1721] os nossos padres que cuidam dos índios residentes na serra da Ybiapaba, conduziram das florestas para os aldeamentos um grande numero de selvagens, quase 5.000 e se esforçaram por reuni-los aos demais habitantes da povoação”.

Fonte: Cartas inéditas escritas em Latim pelo jesuíta João Antônio Andreoni (1714-1721), traduzidas para o português por José Gerardo Ferreira Gomes, a pedido do historiador cearense Barão de Studart. “Documentos da Collecção Studart” da Revista do Instituto do Ceará. Pesquisa: João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará.

Foto: Imagem de ilustração colhida na Internet, meramente ilustrativa.

Não existe honra alguma em assassinar uma pessoa. A pecha de “matador” é o conceito mais vil que permeia a sociedade. Entretanto, existe um princípio jurídico que diz: “Suum Cuique Tribuere”, ou seja, “a cada um o que é seu”. Com a História não é diferente... devemos atribuir a cada um, o fruto dos seus atos.

Com relação a morte do líder indígena Mandu Ladino, ocorrida na segunda década do século XVIII, o que dizem as fontes primárias e secundárias? Por incrível que pareça, os principais historiadores que tratam sobre Mandu Ladino são estrangeiros: o britânico, Charles Ralph Boxer, o canadense John Hemming e a portuguesa Virgínia Rau. Virgínia Rau diz que:

“Até [o ano de] 1700 estivera sossegado o gentio vizinho da aldeia da serra da Ibiapaba, porque os padres tinham feito as pazes com os tapuias, que todos os anos as vinham renovar à aldeia. Viera perturbar este estado, o desatino duma tropa do Ceará. Ordenando el-Rei de Portugal ao capitão-mor do Ceará que mandasse sondar a barra do rio Parnaíba, recomendando que a tropa não ofendesse o gentio e apenas se defendesse se fosse atacada, enviara o capitão-mor [do Ceará] Francisco Gil Ribeiro, 700 homens, dando-lhes por cabo o coronel Leonardo de Sá [irmão do ex-governador do Ceará, Sebastião de Sá], a quem ordenara que fizesse toda a diligência por trazer alguns cativos. Descobrira a tropa o resto dos tapuias chamados Vidais e, perseguindo-os, encontraram-nos, matando e cativando muitos e entre eles a mulher do seu principal (...). Os que escaparam, foram imediatamente à ribeira de Piracuruca, vingando-se nos moradores e fazendo grande estrago nas suas fazendas” [01].

Na exposição que o padre Antônio de Sousa Leal fez ao Rei de Portugal, consta que:

“Em 1708, depois de muitas guerras, Antônio da Cunha Soto-Maior fizera a paz com os que ainda restavam destes tapuias, exceptuados os Anapuruassus (...). [Que] os soldados do Maranhão tiravam-lhes as mulheres e filhas, e tratavam-nos como escravos, sem qualquer recompensa. Além disto, enforcara quatro ou cinco Arayos, desterrara e mandara matar outros, entre os quais uma irmã do Mandu Ladino e o seu marido” [01].

Charles R. Boxer informa que:

“Em 1712-13, quando uma revolta geral dos <<tapuias do norte>> envolveu não só muitos dos que tinham sido anteriormente dominados naquela região, mas numerosas tribos dos distritos fronteiriços do Maranhão e Ceará. Dois destacamentos grandes e bem armados, compostos de moradores e soldados, foram feitos em pedaços pelos selvagens, cujo perigoso chefe era um exconvertido dos jesuítas, chamado Mandu Ladino. Existiam 400 sítios naquela região quando a revolta começou, e mais de uma quarta parte deles foi destruída ou teve de ser evacuada. Depois de muitos combates, Mandu Ladino foi morto e a retaguarda da revolta abatida, embora alguns pontos de resistência permanecessem em distritos mais remotos durante vários anos. A extinção da revolta foi devida, em grande parte, à lealdade dos índios da missão jesuíta da Serra de lbiapaba, no Ceará, que se mostraram muito mais eficazes do que os brancos nos combates dentro dos matagais. Bernardo Carvalho [mestre de campo do Maranhão e Piauhy] estava ansioso para que aqueles índios fossem separados da capitania do Ceará e incluídos no Estado do Maranhão, mas tal sugestão encontrou forte resistência por parte dos missionários jesuítas e dos moradores do Ceará” [02].

John Hemming, informa que:

“Em junho de 1712 todas as tribos assentadas no acampamento de Soto-Maior, com exceção de duas, se rebelaram, mataram o comandante [Soto-Maior] e a maioria de seus oficiais, vinte soldados e alguns criadores de gado (...). A revolta foi comandada por Mandu Ladino (...). Os quatrocentos homens de Mandu Ladino se apoderaram de trezentas armas de fogo e de munição, e sua rebelião espalhou-se pelo Piauí e Ceará (...). Em 1718 o Conselho Colonial em Lisboa manifestou sérias preocupações com as guerras empreendidas por Mandu Ladino que se travavam

no Maranhão, Piauí e Ceará (...). Afinal foram outros índios que derrotaram Mandu Ladino. Os tabajaras da serra da Ibiapaba, que tinham estado sob a influência dos jesuítas desde a partida dos holandeses, eram tupis e tradicionais inimigos dos tapuias que viviam mais além. Os tabajaras, comandados pelo cacique Dom Jacó de Sousa e Castro, avançaram contra os tapuias sem a companhia de quaisquer brancos, que constituíam um embaraço para eles nas florestas” [03].

De fato, a morte de Mandu Ladino, ocorrida antes de novembro de 1719, deu-se pelas armas dos tabajaras da Ibiapaba, capitania do Ceará, justamente no período em que o mestre de campo Bernardo Carvalho de Aguiar, estava ausente do Piauí.

Vejamos o que diz o padre João Guedes, contemporâneo daqueles fatos:

“Que se podia guerrear os tapuias revoltados sem mestres-de-campo nem arraiais, provavam-no as cinco grandes vitórias que tinham tido os índios da serra da Ibiapaba, nos dois anos em que o citado mestre-de-campo [Bernardo Carvalho de Aguiar] estivera ausente do Piauí” [01].

A narrativa coesa desses três grandes historiadores, encontra respaldo nas palavras do Rei de Portugal, Dom João V, sobretudo nas três cartas-patente concedidas aos principais índios da serra da Ibiapaba, com o hábito de Cavaleiros da Ordem de Santiago: Dom José de Vasconcelos, Dom Felipe de Sousa e Castro e Dom Sebastião Saraiva Coutinho. Na carta concedida a Dom Felipe de Sousa e Castro (e nas demais), consta que tal mercê foi conferida em virtude da sua participação na luta que tinha: “desenfestado os gentios bárbaros das capitanias do Ceará e Piauhy, alcançando muitas vitórias e ultimamente em que mataram o índio Mandu Ladino, um dos mais cruéis inimigos nossos”. Essa fonte primária encontra-se registrada no livro do Registro Geral de Mercês de D. João V, livro 12 fls. 660. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará.

[01] Livro “Os Manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval Respeitantes ao Brasil – Volume II”, de Virgínia Rau – Professora da Universidade de Lisboa.

[02] Livro “A Idade do Ouro no Brasil - Dores de crescimento de uma sociedade colonial”, de Charles Ralph Boxer – Professor Emérito da Universidade de Londres.

[03] Livro “Ouro Vermelho – A Conquista dos índios Brasileiros” de John Hemming – Diretor da Royal Geographic Society de Londres.

Créditos da imagem: Correio do Norte.

Em 7 de março de 1681, por ordem régia, foram criadas as Juntas das Missões na América Portuguesa (Brasil e Maranhão): Pernambuco, Rio de Janeiro e Maranhão. As Juntas das Missões eram compostas pelos governadores das capitanias (governo temporal), os Bispos (governo espiritual), os Ouvidores Gerais e os Provedores da Fazenda Real. Entre os anos de 1711 e 1715 a Junta de Missões de Pernambuco era presidida pelo governador Félix José Machado de Mendonça (governo temporal) e Dom Manuel Álvares da Costa (governo espiritual), numa circunscrição territorial que abrangia as capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba, Rio Grande e Ceará. A capitania Real do Ceará vivenciava um caso "sui generis" naquela ocasião... era governada por Pernambuco nas esferas TEMPORAL (governador) E ESPIRITUAL (Bispado), porém, tinha cerca de 50% (cinquenta por cento) do seu território dentro do Bispado do Maranhão.

No ano de 1755, quando o Bispo do Maranhão acionou o Rei de Portugal através da Mesa da Consciência e Ordens, no sentido de "estabelecer os limites" entre os Bispados do Maranhão, Pernambuco, Pará e São Paulo, essa discussão veio à tona.

Naquela ocasião (1755), o Bispo do Maranhão diz que: "Pertencendo-lhe todo o distrito que é desde o Maranhão até a Fortaleza do Seará, se contentava com o que compreendia desde o simo da Serra da Hybiapaba vertentes ao Ryo da Parnahyba para a parte do Maranhão". (AHU-MA, Cx. 35, Doc. 3528).

A Mesa da Consciência e Ordens, porém, em parecer enviado a "Sua Majestade", alertou sobre a situação dúbia vivenciada pela capitania do Ceará... estava dividida entre dois Bispados (Pernambuco e Maranhão) e era governada, na esfera temporal, pela capitania de Pernambuco:

"E que entrando a ponderar [avaliar] o direito que cada um destes Bispados poderia ter àquele distrito [da Ibiapaba], diria a Vossa Majestade que a posse pacífica estava por Pernambuco, e que sendo Vossa Majestade servido se aplicasse também ao Bispado do Maranhão, em tal caso seria preciso dividir também daquele governo [de Pernambuco], porque estando o seu Bispo no Maranhão e o seu governo com Pernambuco, não se podiam coadjuvar as duas jurisdições [temporal e espiritual], dependendo muito alternativamente uma da outra. Não se podiam também governar os índios [da Ibiapaba], porque a Junta de Missão se havia precisamente compor de Bispos e governadores, e que no Maranhão se resolveria uma coisa por parte dos Bispos, e em Pernambuco outra por parte dos governadores. As partes recorreriam uma ao Bispo, outra ao governador, cada qual instruiria os seus requerimentos com diversos documentos, que naquelas Américas comumente eram falsos, pelo que se persuadia [aceitava] que desta divisão só podia resultar desordens". (AHU-MA, Cx. 35, Doc. 3528). Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará.

Fonte: Livro de Assentos das Juntas das Missões de Pernambuco - Biblioteca Nacional de Lisboa, Portugal.

VISITA DE MAIA DA GAMA AOS ALTIPLANOS DA IBIAPABA - DIA 2 DE FEVEREIRO DE 1729 - JOÃO DA MAIA DA GAMA E BERNARDO CARVALHO DE AGUIAR, PARTICIPAM DA MISSA DAS CANDEIAS NA ALDEIA DA IBIAPABA.

Dia 10 de janeiro de 1729, Maia da Gama, após cruzar o rio Igaraçu (braço do Parnaíba), escreveu o seguinte: “Parti (começa a capitania do Ceará) para a primeira fazenda chamada das sallinas [de Domingos Ferreira de Veras], e a doze [dia] fui ver a Barra do rio chamado Camurupim que fica cinco léguas para leste da ultima Barra do Parnaíba (...)”. Dia 21/01/1729. “Viemos a fazenda de Santo Antônio do Ibuassu do comissário geral Pedro da Rocha Franco; e as outras atrás são do coronel Domingos Ferreira de Veras (...)”. Dia 22/01/1729. “Fui ver a grande Aldeya da Serra de Ibiapaba que tem mais de três mil almas com o índio governador chamado Dom Fellipe [de Sousa e Castro], e outro mestre de Campo, e com dois religiosos da Companhia, de que é Superior o P. Francisco de Lira”. Dia 02/02/1729. “A dois de fevereiro, dia de Nossa Senhora [das Candeias], depois de confessados e comungados, e despedido o Mestre de Campo Bernardo de Carvalho [de Aguiar] que até aqui me quis acompanhar, por força sem haver rogo, ou persuasão que o movesse a deixar de ter comigo aquelas atenções, partiu, e eu me pus em marcha acompanhado do R.dº P. Superior da Serra, e do comissário geral Pedro da Rocha [Franco], e pretendendo ir dormir na fazenda da Guaramiranga”.

Fonte: Trecho do livro “Um Herói Esquecido – João da Maia da Gama”, em transcrição, literal, do relatório do ex-governador do Estado do Maranhão.

ANO DE 1729. OS IRMÃOS “LOPES” E A DESTRUIÇÃO DO ARRAIAL DO CORONEL PEDRO

BARBOSA LEAL NA BARRA DO PARNAÍBA. TINHAM COMO OBJETIVO, “DESPOVOAR” O SÍTIO PARA, POSTERIORMENTE, REQUERÊ-LO A TÍTULO DE SESMARIA.

O ex-governador do Estado do Maranhão, João da Maia da Gama, no estrito dever de “executar a real ordem de Sua Majestade, de ver e examinar as barras desde o Maranhão até Pernambuco”, após constatar que os irmãos “Lopes”, genros do falecido João Gomes do Rego, tinham “desmantelado” a povoação fundada a mando do coronel Pedro Barbosa Leal, consignou o seguinte em seu relatório:

“Neste sítio quis Pedro Barbosa Leal fundar uma vila, e pediu a Vossa Majestade licença e o senhorio dela, que até agora não tenho notícia lhe fosse concedida (...). E nela fez uma grande casa de taipa em que assistia seu procurador o capitão João Gomes, e nela se assentou e defendeu no levante dos índios de que era cabeça o índio chamado Mandu Ladino (...). Aqui juntou alguns moradores com casas e fez uma tal ou qual povoaçãozinha a qual por morte do dito procurador João Gomes, quase se extinguiu; e casando as filhas com uns três irmãos chamados os “Lopes”, tiraram a telha as casas, e as desmantelaram e puseram ao tempo para se arruinarem como estão, só para despovoarem o dito sítio e pedirem aquelas terras, como pediram no meu tempo, com engano (...); mas, suponho que Pedro Barbosa em tendo notícia, embargará a dita data (...)”.

Fontes: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, AHU-Avulsos, caixa 04, Doc. 396, ano de 1728 e livro “João da Maia da Gama – Um Herói Esquecido” do historiador português F. A. de Oliveira Martins, publicado em Lisboa no ano de 1944. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

SIUPÉ, BERÇO DA FAMÍLIA MAGALHÃES NO CEARÁ.

Capela de Nossa Senhora da Soledade do Siupé (S. Gonçalo do Amarante-CE), onde em 5 de março de 1738 foi realizado o casamento do capitão Antônio Rodrigues Magalhães e Quitéria Marques de Jesus, tronco secular da família Magalhães no Ceará. Ele filho do coronel Luís de Oliveira Magalhães, natural de Sergipe d’El Rei, e Isabel Gonçalves, natural do Rio Grande do Norte. Ela filha do sargento-mor Antônio Marques Leitão (natural de Óbidos, Portugal) e de Apolônia da Costa, natural do Ceará. Os Magalhães da Serra da Ibiapaba descendem do casal Inácia Maria do Nascimento (filha do capitão Antônio Rodrigues Magalhães), nascida em 1748, casada com Antônio do Espírito Santo de Oliveira Barcellos (filho de João de Oliveira Barcellos e Rosa Maria Barcellos). Antônio Marques Leitão, participou da perlustração da Barra do rio Parnaíba entre os anos de 1699 e 1702, na expedição de Leonardo de Sá, coronel de ordenança da capitania do Ceará. A perlustração da Barra do rio Parnaíba foi ordenada pelo rei de Portugal, e realizada às custas dos moradores do Ceará. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

IGREJA MATRIZ DE N. SENHORA DOS PRAZERES, EM GUARACIABA DO NORTE CEARÁ.

"Guaraciaba" é uma palavra de origem indígena, e significa "Loura, de cabelos cor do sol". Guaraciaba localiza-se no ponto mais alto da Cuesta da Ibiapaba, divisa com a Serra dos Cocos. A povoação começou a ser edificada por volta do ano de 1754, o status de vila, porém, data do ano de 1791, com o título de "Vila Nova d'El-Rei". Foi erguida dentro dos limites das terras dos índios tabajaras concedidas pelo rei de Portugal em 1720. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

IGREJA DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA DA PARNAÍBA - PIAUÍ

"Autuamento de um requerimento do Mestre de Campo João Paulo Diniz sobre a Capella de Nossa Senhora da Graça – 1778. Autuamento. Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil setecentos e setenta e oito [1778], nesta cidade de S. Luiz do Maranhão, aos vinte e nove [29] dias do mês de agosto do dito ano [de 1778], autuei e preparei fielmente na forma do estilo uma petição com outros documentos pertencentes a Capella de Nossa Senhora da Graça da Villa de São João da Parnahyba, tudo a requerimento do Mestre de Campo João Paulo Diniz, o que tudo autuei e preparei, e é o que se segue e adiante se vê. Do que para constar, fiz este autuamento, eu, o cônego José Bernardes da Fonseca, escrivão da Câmara eclesiástica que descrevo.

Diz o Mestre de Campo João Paulo Diniz, que Vossa Excelentíssima foi servido por requerimento de 26 de março do anno passado de 1776, conceder-lhe a elle e seus descendentes os privilégios e intenções dos verdadeiros fundadores da Capella mayor da nova Igreja da Villa de S. João da Parnahyba, para como tais poderem ter nella sepultura e fazerem aos lados da mesma tribuna, em que possam assistir aos officios divinos (...)”. Extraído dos Originais.

Fonte: Arquivo da Câmara Eclesiástica do Bispado do Maranhão, ano de 1778, Documento nº 128, p. 7. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá-CE.

O IMPOSTO DAS “POTABAS” COBRADO POR DOM FELIPE DE SOUZA E CASTRO, SOBRE OS REBANHOS QUE PASTAVAM NOS ALTIPLANOS DA IBIAPABA. ANO DE 1759.

Em junho de 1759, no contexto da expulsão dos jesuítas da capitania do Ceará, encontrava-se no Recife o índio tabajara Dom Felipe de Souza e Castro, Cavaleiro da Ordem de Santiago e governador dos índios da Serra da Ibiapaba. Foi tratar com o governador de Pernambuco (o Ceará era capitania subalterna à Pernambuco), Luís Diogo Lobo da Silva, sobre a instalação da nova Vila Viçoza Real, antiga Aldeia da Ibiapaba.

Dom Felipe, sob acondiçãodegovernadordos índios daSerrada Ibiapaba,que,segundoopróprio governador Luís Lobo “sete ou oito mil almas” governava “com inteira obediência, como por se achar condecorado com o hábito de Santiago”, cobrava dos seus comandados, o imposto das “potabas”, referente ao uso dos pastos nativos dos carrascais ibiapabanos (vertentes ocidentais). Naquela ocasião, Dom Felipe ouviu do governador, “que não era justo que ele recebesse contribuições daquelas mesmas pessoas de quem El Rey, Nosso Senhor, como legítimo Soberano os podia cobrar, e não cobrava”.

Em Carta enviada ao Conselho Ultramarino (AHU-PE, Cx. 91, Doc. 7284), em 13 de junho de 1759, o governador Luís Lobo declarou o seguinte:

“(...) O dito mestre de campo D. Felipe de Sousa [e Castro], se houve com tal bizarria [gentileza], que na minhapresença, cedeutodaacivilidade,quelheprovinhadas potaba,quecobravacomo principalda Ibiapaba, as quais consistiam em meia pataca que lhe passava cada índio que saía a comboiar gados por todo este continente (...)”.

NOTA: “Potaba” é uma palavra indígena que define: contribuição em espécie que se fazia ao morubixaba, chefe temporal, e ao pajé, chefe espiritual; dízimo; oferta.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – AHU-PE, Caixa nº 91, Documento nº 7284 de 13 de junho de 1759. Por João Bosco Gaspar.

OS BATALHÕES INDÍGENAS DA SERRA DA IBIAPABA, CAPITANIA DO CEARÁ - ANO DE 1759. O EXÉRCITO DE DOM FILIPPE DE SOUSA E CASTRO.

Após a instalação da nova "Villa Viçosa Real" (em 1759), o governador dos índios da Serra da Ibiapaba, capitaniado Ceará, Dom FilippedeSousaeCastro,tinhasob seucomando,as seguintes CompanhiasMilitares Indígenas:

"Índios da Nação Tabajara: Companhia do mestre de campo D. Filippe de Sousa e Castro, total de 55 praças; Companhia de major João de Castro e Vasconcelos, total de 56 praças; Companhia do capitão André da Silva de Aragão, total de 51 praças; Companhia do capitão Artur Pinto de Sousa, total de 56 praças; Companhia do capitão D. Jacó de Sousa e Castro [o novo, fundador da cidade de São Benedito], total de 50 praças; Companhia do capitão Gaspar Pereira dos Santos, total de 61 praças; Companhia do capitão Gaspar de Jesus Santiago, total de 50 praças; Companhia do capitão Caetano Tavares da Silva, total de 55 praças; Companhia do capitão D. João de Sousa e Castro, total de 54 praças; Companhia do capitão Miguel Dias de Sepúlveda, totalde50praças;CompanhiadocapitãoLourençoTavaresdaSilva,totalde 49praças;Companhiado capitão Bento da Silveira, total de 61 praças; Companhia do capitão Paulo da Rocha, 52 praças; Companhia do capitão Simão Gonçalves, total de 49 praças. Índios da Nação Anacé: Companhia do capitão Sebastião Soares, total de 33 praças. Índios da Nação Coaçú: Companhia do capitão Manoel Soares de Aguiar, total de 32 praças. Índios da Nação Areriú: Companhia do capitão Francisco da Silva, total de 14 praças”.

Fonte: Secção de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro – BNRJ, I-28, 9, 13. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

“No abundante ano de 1805, nasceu, na Fazenda Cachorros, do termo de Tamboril [Ceará], Vicente Lopes Vidal de Negreiros, filho legítimo do abastado fazendeiro João Lopes Vidal de Negreiros e Dona Rosa Maria da Conceição. Dotado de grande coragem a par de muita agilidade, de uma vigorosa inteligência, de memória prodigiosa e de grande força de vontade, aprendeu a ler ainda que mal e escrever com boa e inteligível caligrafia, e tocar viola bem ponteada, cantar bem e dançar com graça tanto o baião de galho e bem sapateado, dando estridentes castanholas com os dedos, como o miudinho, o lundu, o coco, o bagaço, o caranguejo, não-me-deixes e outras danças que nos foram transmitidas de Portugal e da Costa d’Africa, aliás, bem mais inocentes das que atualmente se usam. Homem branco, cheio de simpatia, a abnegação de Vicente pelos amigos era sem limites. Tinha maneiras de gentil-homem e dotes outros naturais, cantando, dançando e tocando viola como ninguém, o que aprendeu desde a infância e lhe valia o respeito e a amizade dos seus amigos e conterrâneos, que o queriam também pela sua capacidade de trabalho e dignidade na conduta. Com os animais de carga e escravos do pai, que se chamava João Lopes, Vicente ganhou a vida duramente, acumulando cabedais, enfrentando caminhadas longas e penosas, a comprar sal na barra do Acaraú a 40 réis o alqueire, para revendê-lo, no Piauí, a troco de couro de gado, dando cada terça (5 litros) de sal por dois couros, couros que eram depois curtidos e vendidos em Granja, exportando-se a sola para o Maranhão. Numa dessas viagens ao Piauí, quando de uma festa de casamento, Vicente conheceu a sua futura esposa, Dona Antônia Leonor Peres, moça dotada de uma beleza deslumbrante, segundo o Coronel Catunda, filha de um Caetano Peres de Oliveira. Vicente, toda vez que se levantava para dançar nessa festa, sacudia o lenço para Dona Antônia, o que obrigou o pai, Caetano, desconfiado de tantas mesuras e gentilezas, a abandonar a sala, retirando-se com a filha. Achou o velho que aquele cabeça-chata, negociante de sal e couro, estava em grande atrevimento com Antônia e “com suas cantarolas andava seduzindo as filhas alheias”. Queixou-se, por isso mesmo, ao poderoso do lugar, o Capitão-mor F. Leitão, que convocou Vicente à sua presença, ordenando que ele se retirasse da terra dentro de 24 horas “sob pena de ser recrutado, senão lhe acontecesse coisa pior”. Mas, qual! O galante respondeu que só saia depois de ultimar os seus negócios. E, chegando ao seu rancho de comboieiro, apanhou o “Canário” e a “Negra Velha” e foi buscar Dona Antônia em casa, que se achava no copiá a fazer renda, acompanhada de uma bela criada moça. Dona Antônia, que estava apaixonada pelo “cometa” do Ceará, montou na garupa do cavalo de Vicente e foi embora com ele. Um dos ajudantes de Vicente também apaixonou-se, casando então com a criada de Dona Antônia. Já casado, Vicente foi morar em Ferreiros, no Tamboril, reconciliandose, mais tarde, com o sogro, que muito o admirava e passou a querê-lo”.

Fonte: Trecho do livro “O Bacamarte dos Mourões”, de Nertan Macêdo, p. 82/84. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

MAPA DA CAPITANIA DO PIAUHY, FEITO NO ANO DE 1760 POR HENRIQUE GALÚCIO, CORRIGIDO EM 1809 POR JOZÉ PEDRO CEZAR DE MENEZES, POR ORDEM E "DEBAIXO DAS VISTAS" DO GOVERNADOR

CARLOS CEZAR BURLAMAQUI:

“Carta Geografica da Capª de S. Jozé do Piauhy e das extremas das suas limítrofes, levantada em 1760 por Henrique Gaulucio Cap. Engenheiro. Copiada, corregida e acrescentada no ano de 1809 por Jozé Pedro Cezar de Menezes, debaixo das vistas e por ordem do Govº atual, o Exmº Srº. Carlos Cezar Burlamaqui. Como aquele Cap. Engenheiro quando levantou essa carta, a Capª estava quase despovoada e só ocupada por imensas nações selvagens, ele não pode por isso corrê-la e a tirou só da cidade de Oeiras a sua capital, e se contentou de lhe dar a sua configuração e direção, dando-a também aos Rios, regulando-se para isso pelas informações falsas que lhe deram, dando-lhe tão pequeno petipé, que por isso não é possível acomodar todas as fazendas que há, ficando a maior parte delas sem serem anotadas. Foi corrigida no que foi possível e aumentada com as fazendas que permitiu o pequeno espaço da dita carta, pondo-selhe as viagens que o dito Exmº Srº Govº Carlos Cezar Burlamaqui fez pela Capª. Todo o intervalo que diz = PIMENTEIRAS, está povoado não só por fazendas que já tem gados e lavouras, mas por outras que neste ano se vão povoar pela extinção do dito gentio, ao qual se fez guerra desde o ano de 1807. Todo o intervalo que diz = GILBOES, está inteiramente povoado porque aquele gentio já não existe, não vão contudo notadas as fazendas que ocupam aquele grande espaço, porque na ocasião em que esta carta se copiou, corrigiu e aumentou, não havia as necessárias, verdadeiras e exatas notícias dos nomes, posições e direções das ditas fazendas. Todo o espaço que diz = ACOROAZES, está, parte povoada e parte ainda ocupada pelo gentio, mas agora se acaba de reduzir a paz, e será imediatamente povoada, pela bondade e fertilidade do seu terreno”. Fonte: Arquivo Histórico do Exército Brasileiro – Rio de Janeiro-RJ. Mapa Digitalizado pelo Comitêde Estudos de Limites eDivisas Territoriais do Estado do Ceará, Órgão da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.

NOTA: Este documento faz parte dos Autos da Ação Cível Originária de 2011 (Litígio Piauí X Ceará) que tramita no STF, como parte do contraditório do Estado do Ceará. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

FRECHEIRAS DA LAMA VERSUS UBATUBA... DOMINGOS DE VERAS CONTRA CHICO

ELIAS - JUNHO DE 1840. (Série – Balaiada).

“Os rebeldes [das Frexeiras] são em número de 600 a 700; que tem 100 granadeiras, pouco mais ou menos, sendo clavinas o resto das suas armas; que se tem entrincheirado nas matas e pelas estradas que conduzem aquele ponto (...). Que desde o princípio do corrente mês, porém, os habitantes da Ubatuba no município de Granja tem sido continuamente incomodados pelas partidas do faccioso [Domingos de] Veras e seus sequazes. Este lugar [Ubatuba] acha-se a oito léguas de distância das Frexeiras, e por várias vezes seus habitantes tem sido sobressaltados com as visitas dos quadrilheiros que correm as casas tomando a pólvora e armamentos que encontram, assim como roupas, gados e o mais que podem pilhar. No dia 18 do corrente, o Inspetor daquele Quarteirão, Francisco Elias Fontenele, juntou alguns homens do lugar, e armados (...) dirigiramse para a parte das Frexeiras, e encontrando alguns rebeldes dispersos em um caminho os atacaram, matando a um deles. Eles, para tomar desforra deste ataque, vieram em grande número no dia 20 a Ubatuba, encontrando o mesmo Francisco Elias [Fontenele] e mais 50 praças de Guardas Nacionais de Granja”. Fonte: “O Telégrafo – 1839 a 1840”. NOTA: Frecheiras da Lama era termo da Vila de São João da Parnaíba, Piauí, e Ubatuba era termo da Vila de São José da Granja, Ceará. Por João Bosco Gaspa

"O FILHO DO PADRE".

No ano de 1866 a Mesa da Irmandade de Nossa Senhora d’Assunção de Villa Viçosa, enviou carta ao bispo do Ceará, Dom Luís Antônio dos Santos, acusando o padre Bevilaqua de celebrar missas ao lado do seu filho Clóvis:

“(...) O vigário representado continua no caminho do escândalo, ostentando e dando maus exemplos, entre estes o de levar em sua companhia para a Igreja nos domingos e dias santos, quando vai celebrar a missa conventual, o seu filho Clóvis !!! (...)”.

Fonte: Trecho do livro “As Irmandades Religiosas do Ceará Colonial” de Eduardo Campos, p. 104. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

“NÃO TEMOS VINHO PARA O OFÍCIO DA MISSA DA NOITE DE NATAL”. O CRIOULO CAETANO, O FURACÃO DA SERRA DOS COCOS.

Por volta do ano de 1840,no tempo em que o padre Manuel Pacheco Pimentel era o vigário colado da histórica Freguesia da Matriz de São Gonçalo da Serra dos Cocos, nos confins da Serra Grande, província do Ceará, residia naquelas paragens remotas dominadas pelos famigerados “Mourões”, o “célebre crioulo Caetano, natural do Ipu, geralmente conhecido por <<Caetano, o Caminhador>>. Protegido de Thomé Lourenço de Souza, faleceu em 1850; mas dele conta a fama ainda viagens tão extraordinárias pela velocidade que surpreende a imaginação. Um dia, era na véspera de Natal, e o vigário da Matriz de São Gonçalo da Serra dos Cocos, Manuel Pacheco Pimentel, soube que não havia vinho para a Sagração à Missa da meia noite. O povo da circunvizinhança começava já a reunir-se, e o vigário mais e mais se afligia, quando lhe vieram dizer que o Caetano se achava no povoado, e divertia-se com outros num samba no extremo da rua. Estava reparada a falta... Trazido a presença do vigário, pediu-lhe este que fosse ao Ipu comprar o vinho preciso, o que lhe foi prometido sem hesitação, garantindo o <<Caminhador>> estar de volta antes da hora da missa. Pelas duas horas com surpresa sua foi o padre Pacheco avisado de que Caetano ainda se achava a cantar em desafio no samba, e que talvez não pudesse fazer a viagem em consequência de embriaguez. Mandou-o chamar, repreendeu-o severamente da falta de palavra, mas teve em resposta que não seria por culpa sua que se deixaria de celebrar naquela noite. Parte sem mais demora em presença do vigário, e desapareceu na curva do caminho. Como havia prometido chegou antes da hora marcada. O que faz pasmar é que não encontrando vinho no Ipu, Caetano sobe a Serra da Ibiapaba, e vai comprá-lo no Campo-Grande [atual Guaraciaba do Norte], tendo caminhado nessa viagem 144 Kilômetros em nove horas”. Trecho do livro “Notas de Viagem” de Antônio Bezerra de Menezes, p. 191-194. Por João Bosco Gaspar, pósgraduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

AS TERRAS DA PROVÍNCIA DO PIAUHY QUE PASSARAM PARA O CEARÁ NO ANO DE 1880 – FAZENDAS E SÍTIOS DAS FREGUESIAS DO SENHOR DO BONFIM DO PRÍNCIPE IMPERIAL (CRATEÚS) E NOSSA SENHORA SANTANA DA POVOAÇÃO DE PELO SINAL (INDEPENDÊNCIA). LEI DE TERRAS DE 1850.

“Servirá este livro para nele se lançar o registro das terras possuídas nesta freguesia do Senhor do Bonfim do Príncipe Imperial da província do Piauhy, em 16 de agosto de 1854”, e “Há de servir este livro para nele se lançarem os registros das terras possuídas no distrito desta paroquia de Pelo Sinal, da província do Piauhy, em 16 de junho de 1854”.

Foram registradas na freguesia do Senhor do Bonfim (Crateús), 276 fazendas e sítios, e na freguesia de Pelo Sinal (Independência), 418 fazendas e sítios. Por João Bosco Gaspar, pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio, Tianguá Ceará

A PEQUENA NESGA DE TERRA DO MACAMBIRA... DIVISA ENTRE AS PROVÍNCIAS DO CEARÁ E PIAUHY, ACORDADA ATRAVÉS DO DECRETO IMPERIAL DE 1880

Como é sabido, o anteprojeto (o esboço) do Decreto Imperial de permuta de territórios entre as províncias do Ceará e Piauhy firmado em 1880, é de autoria do grande geógrafo cearense, o Dr. Thomaz Pompeu de Souza Brasil. Naquela ocasião (1880), em virtude do critério populacional, a província do Ceará era representada por 8 Deputados e 4 Senadores, e a província do Piauhy, por apenas, 3 deputados e 1 Senador (Paranaguá). Entre esses oito Deputados da província do Ceará, destacamos a presença do Dr. Thomaz Pompeu de Souza Brasil e do historiador Tristão de Alencar Araripe (filho do Tristão Gonçalves e neto de dona Bárbara de Alencar), além do que, a presidência do senado era exercida pelo cearense Visconde de Jaguaribe (Domingos José Nogueira Jaguaribe). É de autoria do grande geógrafo e deputado cearense, o Dr. Thomaz Pompeu de Souza Brasil, o esboço do projeto que resultou no Decreto de 1880, cujo teor é o seguinte:

“Art. 1° Fica pertencendo à província do Ceará a comarca do Príncipe Imperial e Independência, extremando com a província do Piauhy por uma linha que, partindo da cumiada da Serra Grande, e lugar Gravatá, alcance o boqueirão do Poty, e seguindo por este, chegue à confluência do rio Macambira, e continue por este nos limites reconhecidos até agora [1]”.

O presidente da Comissão de Estatística do Senado, o Senador (Província do Maranhão) Cândido Mendes de Almeida, inimigo dos cearenses, tentou modificar esse entendimento no âmbito do Senado do Império, o seu intento, porém, sucumbiu, e os interesses dos cearenses prevaleceram. De volta à Câmara dos Deputados, em sessão do dia 19 de agosto de 1880, o Projeto de permuta recebeu o seguinte parecer:

“Declaramos que votamos pela Emenda do senado ao art. 1º do Projecto de limites parciaes do Ceará e Piauhy, acompanhando a comissão de estatística do mesmo senado, ao governo e a maioria das duas câmaras na inteligência que deram a dita emenda, de entenderem os limites

nella declarados com o território tão somente da comarca do Príncipe Imperial e a pequena nesga de terra do Macambira, de que fala o referido parecer, não se alterando no demais a linha divisória de Ibiapaba, que permanece para as províncias referidas como tem sido até hoje [2]”

Afinal, onde fica a "PEQUENA NESGA DE TERRA DO MACAMBIRA” mencionada nos anais da história imperial?. O mapa organizado por Cláudio Lomellino de Carvalho, em 1883, retrata com precisão essa pequena faixa de terra localizada nos confins da Serra dos Cocos, vertentes do rio Poti [3]. Destacando, ainda, as povoações de Matriz do São Gonçalo da Serra dos Cocos (Ceará), Príncipe Imperial (Crateús) e Independência (incorporadas ao Ceará). Por João Bosco Gaspar.

Fontes: [01. Livro “Annaes do Parlamento Brazileiro, Câmara dos Deputados, ano de 1879, Tomo IV, p. 124].

[2. Livro "Annaes do Parlamento Brazileiro, ano de 1880, Tomo IV, p. 313-314].

[3. http://objdigital.bn.br/.../acervo_digital/div_cartografia].

O SENADOR CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA DISSE QUE OS “TERRENOS AO OCCIDENTE DA SERRA FICARÃO COM O CEARÁ”.

Você sabia que o causador dessa confusão relacionada aos limites entre o Ceará e o Piauhy foi o Senador Cândido Mendes de Almeida? Derrotado nas votações da Câmara e do Senado pelos parlamentares cearenses, Cândido Mendes de Almeida declinou das suas pretensões de anexar parte da Ibiapaba ao Piauhy, e mudou radicalmente seu discurso...NaSessãododia 23de setembro de1880, antes daaprovaçãodo Decreto Imperial nº 3012, Cândido Mendes de Almeida disse o seguinte:

“(...) houve quem temesse que parte da grande chapada da serra que vai do contra-forte de São Gonçalo dos Côcos ao mar, podia ser absorvida ou conquistada pelo Piauhy! Parece incrivel que se pudesse enraizar uma tal crença, tratando-se apenas, Sr. presidente, de um ponto na linha geral, do território de uma comarca – a do Príncipe Imperial (...)”. (Annaes do Senado do Império do Brazil, ano de 1880, Tomo 6, p. 315).

Na mesma fala, o Senador Cândido Mendes de Almeida acrescenta: “Desta sorte, sinto repetil-o, terrenos ao occidente da serra ficarão sob domínio do Ceará”. (Annaes do Senado do Império do Brazil, ano de 1880, Tomo 6, p. 315).

O Decreto Imperial nº 3.012 de 28 de outubro de 1880 que estabeleceu, parcialmente, a fronteira entre as províncias do Ceará e do Piauhy, não é fruto da vontade soberana do Imperador dom Pedro II, como já foi dito. Ele nasceu nas casas legislativas do Império do Brasil – Câmara e Senado – como resultado de um acordo feito entre os representantes (deputados e senadores) das províncias do Ceará e do Piauhy. Naquela ocasião (1880) a província do Ceará era representada por 4 senadores e 8 deputados, e a província do Piauhy por, apenas, 1 senador e 3 deputados (critério populacional).

Esse Decreto surgiu a partir de uma proposição apresentada na Câmara dos Deputados no ano de 1879, pela qual a província do Piauhy procurava anexar ao seu território a faixa litorânea localizada entre as barras dos rios Timonha e Igarassu (braço do Parnaíba, historicamente pertencente ao Ceará), o que acarretou no desarquivamento e discussão de outra proposição apresentada na mesma Câmara dos Deputados no ano de 1827, proposição essa que tratava da troca de territórios entre as províncias do Ceará e Piauhy.

Como fruto de um acordo celebrado entre vizinhos, foi discutido, emendado, votado e aprovado na Câmara e no Senado, obedecendo todas as etapas estabelecidas pelos regimentos das duas casas legislativas.

Antes, porém, em total respeito à “soberania dos povos envolvidos”, o projeto foi submetido ao “crivo popular”, ou seja, os cidadãos dos territórios de Príncipe Imperial (Piauhy) e da freguesia de Amarração (Ceará) foram devidamente consultados.

Por João Bosco Gaspar - pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio - Tianguá-CE

ANO DE 1803... A SESMARIA DO PADRE HENRIQUE JOSÉ DA SILVA... NA BARRA DA AMARRAÇÃO, DIVISA COM A CAPITANIA DO CEARÁ...

Existe nos livros de sesmarias da capitania do Piauí, a seguinte doação:

“Francisco Diogo de Moraes, Cavaleiro Professo na Ordem Militar de São Bento de Avis, Tenente Coronel do Regimento de Linha da cidade de São Luís do Maranhão, por Sua Alteza Real, e governador Interino da capitania de São José do Piauhy, faço saber aos que esta minha Carta de Data e Sesmaria virem, que Henrique José da Silva [era vigário da Parnaíba] presbítero secular e morador na vila de Parnaíba desta capitania, me representou que ele era possuidor de uma posse de terra na fazenda denominada Sítio das Palmeiras do termo da dita vila [da Parnaíba], que extrema com as fazendas Espírito Santo de Baixo, Ponta do Morro, Varjas e BARRA DA AMARRAÇÃO, capitania do Ceará-Grande, cuja posse houve por compra que fez a um dos herdeiros e possuidores (...)”. Fonte: Livro de Datas e Sesmarias da Capitania do Piauhy n° 01 de 1803, fls. 129, data de 08 de fevereiro de 1803. Por João Bosco Gaspar

ANO DE 1803... A SESMARIA DO PADRE HENRIQUE JOSÉ DA SILVA... NA BARRA DA AMARRAÇÃO, DIVISA COM A CAPITANIA DO CEARÁ...

Existe nos livros de sesmarias da capitania do Piauí, a seguinte doação:

“Francisco Diogo de Moraes, Cavaleiro Professo na Ordem Militar de São Bento de Avis, Tenente Coronel do Regimento de Linha da cidade de São Luís do Maranhão, por Sua Alteza Real, e governador Interino da capitania de São José do Piauhy, faço saber aos que esta minha Carta de Data e Sesmaria virem, que Henrique José da Silva [era vigário da Parnaíba] presbítero secular e morador na vila de Parnaíba desta capitania, me representou que ele era possuidor de uma posse de terra na fazenda denominada Sítio das Palmeiras do termo da dita vila [da Parnaíba], que extrema com as fazendas Espírito Santo de Baixo, Ponta do Morro, Varjas e BARRA DA AMARRAÇÃO, capitania do Ceará-Grande, cuja posse houve por compra que fez a um dos herdeiros e possuidores (...)”.

Fonte: Livro de Datas e Sesmarias da Capitania do Piauhy n° 01 de 1803, fls. 129, data de 08 de fevereiro de 1803.

Por João Bosco Gaspar

ALGUMAS NOTAS PARA ENTENDER NOSSA HISTÓRIA

MATIAS BECK, FUNDADOR DE FORTALEZA?

Matias [Mathias ou Mathijs] Beck foi um militar e administrador colonial que serviu a Companhia das Índias Ocidentais (WIC) no séc. XVII. No ano de 1635, o jovem Matias deixou Amsterdã, a bordo do navio ‘t Land van Belofte (Terra Prometida), com o destino ao Brasil, onde chegou em 1636.

Mais de 10 anos depois, apesar de já ter perdido muitos dos seus assentamentos em batalhas com os lusobrasileiros, a WIC estava decidida a levar adiante o plano para descoberta de minério no interior do Brasil. Em 1º de março de 1649, Matias Beck foi escolhido para a expedição ao Ceará. Saindo do Recife em 20 de março de 1649, com uma frota de cinco embarcações, ele atracou no Mucuripe em 3 de abril daquele ano.

Depois de contatos e negociações com os “brasilianos” locais, por intermédio de indígenas vindo do Recife, Beck marchou com sua tropa para o monte Marajaitiba em 6 de abril. No dia 7, foi erigida uma ponte sobre o riacho de mesmo nome. Em 10 de abril, Matias iniciou a construção do quartel para abrigar sua tropa, munições e mantimentos: o Forte Schoonenborch, considerado por Krommen (1997) a “pedra fundamental para o surgimento da cidade de Fortaleza”.

No Ceará, agilizaram-se a busca e a exploração das minas de prata. Expandiram-se as plantações de mandioca emilho entreas terras das serras daAratanhaedeMaranguape.Matias Beckfoidiplomáticocom osindígenas, conseguindo uma trégua nos conflitos entre as etnias Tupi e Tapuia. Além disso, exerceu a função de administrador neerlandês do Ceará até 1º de maio de 1654, quando aceitou a capitulação assinada no Campo do Taborda, no Recife.

Fonte: KROMMEN, Rita. Mathias Beck e a Cia. das Índias Ocidentais. Fortaleza: UFC, 1997.

Imagens: [1] Matias Beck (óleo sobre tela, por Floriano Teixeira; acervo do Museu de Arte da UFC); [2] “Siara” (publicado por John Ogilby em 1671); [3] Fortaleza vista do mar (1639); [4] Fortaleza em 1649 (com destaque para o Forte Schoonenborch); [5] “La description dela contrée de Chiara en Amerique a trois degrez du zud du temp quelaCompagniedes Indes Occidentalos lapossedoit et yavoienterigéle fort Schonenbourg” (Balthazar Gerbier, c. 1649-1653).

355 ANOS DE MANAUS

Fundadanasegundametadedoséculo XVIIao redorda FortalezadeSãoJosédaBarradoRio Negroeelevada à categoria de cidade em 24 de outubro de 1848, despontou, graças à exploração da borracha, entre o final do século XIX e a primeira década do XX, como um dos principais empórios comerciais do mundo. Mergulhada em uma profunda crise econômica a partir de 1920, ressurgiu no final da década de 1960 com a instalação da Zona Franca. Hoje é uma metrópole com mais de 2 milhões de habitantes e é a quinta maior economia do país.

IMAGENS:

Biblioteca Nacional, RJ.

Álbum do Amazonas, 1901-1902.

Alex Pazuello

COMPANHIA DE FIAÇÃO E TECIDOS RIO ANIL, ANIL, DÉCADA DE 1920

Fotografias que registram a antiga fábrica têxtil Companhia de Fiação e Tecidos Rio Anil, localizada no bairro do Anil, onde fica atualmente o IEMA Rio Anil, conhecido também como colégio Cintra. Fábrica inaugurada em 1893 e que esteve em funcionamento até meados da década de 1960. Nas imagens, podemos ver a fachada da fábrica (foto 1), os setores da fiação (fotos 2 e 3), o setor de tecelagem (foto 4) e o setor de branqueamento (foto 5). Fotografias que mostram a fábrica com a sua fachada externa e as partes internas com a presença de operários. Na época dessas fotografias, a fábrica pertencia aos sócios José Francisco Jorge, Anísio José Tavares e José da Cunha S. Guimarães.

1 até 5: Álbum da Colônia Portuguesa 1929, de Teófilo Carinhas via Acervo Biblioteca Pública Benedito Leite

Texto e Pesquisa: São Luís Memória(@slzmemoria)

300 ANOS DEPOIS...

Cemitérioindígenaaindaéutilizado

Umantigocemitérioindígena,datadodofinaldosanosde1600einíciode1700éutilizadoaté hoje,maisde300anosdepois,porcomunidadesqueresidemnasimediaçõesdolocal.

OcemitérioestálocalizadonointeriordeSãoLuizGonzaga,distantecercadeoitoquilômetros da rodovia BR 285 e quase 30km da cidade de São Luiz, ao lado das ruínas de São Lourenço Mártir.Oacessoéporestradaasfaltada,inauguradaemjunhodesseano

SãoLourençoMártirfoifundadaem1690, comnativosprovenientesdareduçãoargentinade SantaMarialaMayor,descendentesdosfugitivosdeGuaíra,queseinstalaramnolocalliderados pelo padre Bernardo de la Vega. Em 1731, o sítio tinha aproximadamente 6.400 indígenas, fazendodestaumadasmaioresreduçõesdosSetePovos.

Do cemitério, que nos anos de 1700 eram enterrados os indígenas que morriam na Redução Jesuítica, restam ainda resquícios da época. Por mais de um século ficou intocado, mas atualmente comunidades que residem nas imediações realizam enterros no local, principalmentedepessoasdalocalidade.

OSítioArqueológicoaindapreservaparedesepartesdochãodaantigareduçãomissioneira.

Edição:PortalLHFranqui

Fonte:NoroesteOnline

Foto:PauloMartinseEdlaineEggers

MANOEL DOS SANTOS NETO

A morte de Manoel Beckman (1630-1685), líder da Revolta de Beckman e patrono da Assembleia Legislativa do Maranhão, completa exatos 339 anos neste domingo (10). O antigo ilustre, mas hoje desconhecido herói comandou a insurreição popular que aconteceu no Maranhão, entre 1684 e 1685, motivada pela insatisfação da população com a administração colonial.

Cabe frisar que diversos intelectuais abordaram em suas obras este importante episódio da História do Maranhão, entre os quais a poetisa Stella Leonardos, os escritores João Francisco Lisboa, Sabbas da Costa, Clodoaldo Freitas, Bernardo Coelho de Almeida e Milson Coutinho.

Sobre o tema, o poeta, jornalista e prosador Bernardo Coelho de Almeida escreveu o romance “O Bequimão”. Trata-se de um livro histórico que conta a saga de.

É importante lembrar que, além de brilhante jornalista, Bernardo Almeida tornou-se grande escritor. E chamou para si a difícil tarefa de escrever um livro sobre este ilustre desconhecido: Manoel Beckman. De igual modo, é importante lembrar também que o historiador e jornalista Milson Coutinho consagrou sua vida ao estudo de nomes luminares como o de Manoel Beckman e lançou, no ano de 1984, “A Revolta de Bequimão” em homenagem ao herói denominado por ele como o primeiro mártir da independência do Brasil.

Por meio de um acurado trabalho de pesquisa, cuja edição original de 1984 coincidiu com o tricentenário da rebelião, deflagrada em São Luís no dia 24 de fevereiro de 1684, esta obra reconstrói todo o contexto histórico em que se deu o movimento liderado por Manoel Beckman.

“Na luta pela liberdade no continente americano, Manoel Beckman se antecipou a Jefferson, Tiradentes e Bolívar”, enaltece o autor, sem nenhum receio de revelar sua admiração pelo grande líder.

Em seu livro, Milson Coutinho conta que, na São Luís daquela época, “as desordens, as lutas e os escândalos em que viveu a terra desde que se expulsaram os franceses, foram tomando um caráter de violência crescente”. E é neste ambiente de agitação que estoura a notícia de que fora concedido a uma empresa de Lisboa, por 20 anos, o privilégio exclusivo do comércio no Maranhão.

Considerado mártir da luta dos maranhenses contra a exploração portuguesa, Beckman liderou a Revolta de Bequimão, também chamada de Revolta do Estanco, que aconteceu exatamente em 24 de fevereiro de 1684, dia da procissão do Senhor dos Passos, cuja imagem se trasladaria da Igreja do Carmo para o templo da Misericórdia.

Era a Semana Santa, no calendário litúrgico do Maranhão, um dos motivos do deslocamento de muitas famílias residentes no interior para suas casas em São Luís. Aproveitando a procissão, reuniu-se o povo num dos extremos da cidade, na chamada Cerca dos Capuchos, e foi ali que Manoel Beckman, com um discurso, sublevou a multidão. Era de noite, já tarde. A massa humana se deslocou para o interior da cidade, e foi despertando o resto da população, a gritar, a bater nas portas.

A onda humana cresceu, espalhou-se, tendo à frente Manoel Beckman, e dominou forças armadas, religiosos, autoridades. Diz-nos o padre Bettendorff, no relato do motim, que até os meninos das escolas engrossaram a turba, trazidos pelos pais. Foi nessa circunstância em que ocorreu o levante e a deposição do governador geral Francisco de Sá Menezes e do capitão-mor Baltasar de Sousa Fernandes. Manoel Beckman criou um governo provisório. Enviou seu irmão Tomás a Portugal para negociar, em nome dos revoltosos, com as autoridades. Preso em Lisboa, Tomás voltou ao Brasil em 1685, na mesma frota que trouxe o novo governador, General Gomes Freire de Andrade. Com a chegada do novo governante, os revoltosos foram presos.

A captura do líder da revolução, por ordem expressa de Gomes Freire de Andrade, tornou-se possível graças à delação de Lázaro de Melo de Freitas, afilhado de Bequimão, seu protegido e pessoa influente no governo rebelde. Tomás foi condenado ao desterro e Manoel Beckman, condenado à forca.

Deu-se o fato na manhã de 10 de novembro de 1685. Bequimão morreu enforcado, aos 55 anos de idade, na antiga Praia do Armazém, local onde hoje existe a praça que o homenageia na Avenida Beira Mar, em São Luís.

Além de Bequimão subiu à forca Jorge de Sampaio de Carvalho, um de seus principais companheiros de revolta. Francisco Dias Deiró, por ter fugido, foi enforcado em efígie; Belchior Gonçalves, açoitado e proscrito; Eugênio Ribeiro Maranhão e Tomás Beckman, advogado, poeta e irmão do líder da fracassada revolta, foram mandados presos para o Reino.

Ao ser executado em praça pública, Beckman encarou a morte com serenidade. Como verdadeiro cristão, do alto do patíbulo, em voz alta, pediu perdão a quem acaso tivesse ofendido. Em seguida, ele proferiu altivamente a célebre frase:

“Pelo povo do Maranhão, morro contente!”

Academia Ludovicense de Letras

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Academia Poética Brasileira

Centro Esportivo Virtual

Tenho me dedicado a desvendar a(s) História(s) do Maranhão. Entendendo-o, agora, como um ente geográfico, “não Brasil”. Citado desde tempos imemoriais, como ‘o Maranhão” ora é atribuído ao Rio, ora ao espaço geográfico. Como rio, confunde-se os relatos com sua localização, ora, como sendo o Amazonas, ora como a Ilha localizada no Golfão Maranhense. Tanto o delta do Amazonas, quanto o delta dos rios que desaguam no Golfão, se confundem, pela sua semelhança e localização.

A conquista da Serra do Ibiapaba foi crucial para a definição do Maranhão atual, pequeno espaço territorial quejáfoi,um dia,grande!!!Etevegranderiquezas...essas,buscadas portodos os povos europeus, na tentativa de chegar às minas de prata do Potosi. Essa conquista pelo Norte, começa com a dita ‘descoberta’ da Terra de Santa Cruz, a Ilha Brasil dos textos antigos. O local onde se estabeleceram os Sete Povos.

É notório que a lenda dos sete povos perpassa toda a história. Também a tivemos, como um mito tupi, agora comprovada pela ciência, a sua localização, quem sabe, a antiga Atlantida!!! Desde o mapa de Peri Reis ela é localizada no Atlantico, frente às Antilhas, depois configurada sua localização por Platão, e outros pensadores gregos. E lá já estavam os Sete Povos. E eram Tupis.

Com o afundamento dessa ilha, estabeleceu-se a lenda e o mito. Os Tupis, quando da primeira fase do afundamento, a qual ilha denominavam País dos Cárias, tentaram fugir, pelo mar, para o continente – para o Norte, Estados Unidos e México; para o Sul, Venezuela e Guianas. Muitos morrem...

Quando da segunda fase de afundamento, foram socorridos pelos Fenícios e trazidos para a Venezuela e Guianas. Daí, começaram sua migração para o sul, ou contornando a Cordilheira dos Andes, indo até a Patagonia e, contornando o extremo sul do continente, retornam pelo outro lado, subindo-o. Outra leva, desde os rios, em direção ao Amazonas, seguindo pelo litoral atlântico, até encontrar seus irmãos, e retornam, então, impulsionados pela presença e escravidão – acometida pelos portugueses. Será a sua segunda passagem pela Ilha do Maranhão... a busca da Ilha Encantada, a Terra sem Males... a Tupaon – a terra de Tupã.

Seriam os primitivos tupinambás, vindos de uma cidade afundada na costa da Cuba, provavelmente de origem fenícia. Diziam os remanescentes, da segunda leva aqui chegados, ao tempo dos descobrimentos/achamentos, que vinham de uma cidade que afundara, e foram resgatados por grandes barcos, e trazidos para a costa, provavelmente Venezuela, Guianas e, de lá, iniciado uma trajetória de descolamentos que os trouxeram Amazonia abaixo, até chegar à Ilha Encantada – que seria a de Upaón-Açú.

Por essa mesma época, já se registrava a passagem e o comércio desses mesmos Fenícios pelo Maranhão –True-Tóia, a Verdadeira Tróia, e mesmo Upaon, além da presença no lago Cajari, e as minas de salitre de Ubajara.

Vieira tratava desses acontecimentos como um mito, o da criação; hoje, confirma-se os acontecimentos com descobertas geológicas, que o confirmam e, ainda, ocorridos nas datas em que estes, os Tupis, acreditavam ter acontecido.

A passagem pela Ilha do Maranhão se deu há pelos menos 3.000 anos – confirmados por descobertas arqueológicas; a segunda, por volta de 1560/80, quando os franceses, então, já procuravam locais para negociar especiarias com os nativos, estabelecendo-se, então, na Ilha do Maranhão. Estamos falando do período de 1580 a 1612... essa a data do estabelecimento da colônia denominada de França Equinocial. Na representação da 'América do Sul', feita no final do século XVI pelo cartógrafo Arnoldus Fiorentinus, o Maranhão aparece como uma região completamente integrada ao Vice-reinado do Peru, separada fisicamente do Estado do Brasil.

É possível dizer, assim, que o Maranhão era concebido como uma 'entidade geográfica' (O que é : Entidade Geográfica (aeroengenharia.com), que fazia parte do império hispano-luso, mas ainda não havia sido dominado militar e politicamente. Na própria cartografia do século XVI, o nome Marañón é utilizado para definir o limite das terras luso-brasileiras ou para nomear o rio que faz essa divisão. Essas fontes confundem o rio Marañón, na bacia do Vice-reinado do Peru, com o rio Amazonas, às vezes chamado de 'Mar Dulce' ou 'rio de Orellana'.

Neste contexto, não havia uma capitania chamada "Piauhy". Com a divisão das conquistas portuguesas na América em territórios distintos, ou seja, o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão, outras capitanias foram surgindo, sobretudo no Estado do Maranhão: Tapuitapera (Alcântaras), Cabo do Norte (Amapá), Ilha Grande de Joanes (Marajó), Vigia entre outras.

Nas últimas décadas do século XVI, esse território era quase sempre identificado como zona de transição, nem propriamente parte formal do Estado do Brasil, nem ainda Índias de Castela. Mesmo sem definição formal, estamos falando de uma área que corresponderia mais ou menos aos atuais Estados 'brasileiros' de Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Tocantins, Piauí, Maranhão e Mato Grosso (ao Norte do paralelo 16º). Além disso, em certos períodos do século XVII também fazia parte do Maranhão o Ceará, este último considerado a fronteira natural do Estado do Brasil. Quase toda essa região está localizada a Oeste do meridiano de Tordesilhas, limite que começava a ser francamente ignorado.

Ainda não se conseguiu desvencilhar-se da narrativa arcaica e anacrônica envolvendo as terras doadas aos fidalgos João de Barros, Antônio Cardoso de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade. Essas terras foram revertidas à coroa portuguesa ainda no reinado de Dom Sebastião, por volta do ano de 1570 já não se falava mais nessas doações.

Estabelecer fronteiras fundamentado nessas antigas capitanias (não)hereditárias, é um grave anacronismo histórico. Por conta da malograda "Associação Trina de Colonização", formada por João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, os donatários tiveram que devolver seus quinhões ao senhorio da coroa portuguesa... tudo era terra do rei, "Nosso Senhor", como afirma Pero de Magalhães Gandavo.

O nome Marañón, mesmo designando algo impreciso, passará a ser comum nas crônicas da época. O Maranhão já aparece em 1535 como uma das 'capitanias donatárias', criadas pelo rei d. João III para incrementar a defesa e aproveitamento produtivo da costa luso-brasileira.

“(...) Fosse de Pernambuco uma armada, por ordem de Sua Majestade, para lançar aos franceses do Maranhão. Com clareza, darei uma breve notícia do Rio Maranhão, ou Amazonas, ou Orellana, que estes três nomes lhes dão as histórias. Chama-se Maranhão ou Orellana, tomando estes nomes dos primeiros espanhóis que por ele navegaram, Francisco Orellana, outro Antônio Maranhon; chama-se das Amazonas por correr pelas terras das Amazonas . Com nossos portugueses, usando do nome do gentio lhe chamamos, Pará, que quer dizer, Mar. (...). Oitenta léguas está uma ilha, na boca destes Rios chamados Muni, Itapuerte, Meari, os quais antes de se meterem no mar, se ajuntam em um, formando-lhe a ilha, a que agora chamamos Maranhão (...)". Fonte: Carta (trecho) do padre jesuíta Manuel Gomes, datada de 10 de outubro de 1615, destinada ao Provincial do Brasil – O padre Manuel Gomes fazia parte da Armada de Alexandre de Moura, na conquista do Maranhão em 1615. Biblioteca Nacional de Portugal. Link: ( https://purl.pt/15266 ). Por João Bosco Gaspar.

Assimpassaramporaquimuitosemuitos,atéqueemabrilde1500oportuguêsPedroÁlvaresCabraldescobre oficialmente a nossa antepassada Vera Cruz, legitimando para todos os efeitos a posse de Portugal sobre o que viria a ser o Brasil. Mas os interesses e a atenção da Coroa Portuguesa se deslocavam para bem longe daqui, importando ao rei D. Manuel apenas o lucro sem qualquer investimento em suas colônias. E mesmo em se tratando de lucros, a colônia brasileira se resumia à sede da Corte, na Bahia.

O norte do Brasil permaneceu por muitos anos como terra de ninguém. Somente três décadas depois do descobrimento do Brasil D. João III resolveu dividi-lo em capitanias hereditárias.

Originalmente o Maranhão faria parte de um tríplice seção de terras que deveria ser administrada por João de Barros, famoso historiador da Índia portuguesa, Ayres da Cunha, antigo capitão-mor de Malaca, e ainda Fernando Álvares de Andrade. Apesar de algumas tentativas de ocupação, organizadas por esses donatários, o Maranhão permanecerá como região virtualmente desconhecida até a época de Felipe III (1598-1621).

Osdireitos de João de Barros, por exemplo,orei dom Sebastiãoordenouque,"porsuamorteficasse cinquenta mil reis de tensa a sua mulher dona Maria de Almeida". As capitanias reais da Parahyba e Rio Grande são conquistas da coroa portuguesa, fundadas no ocaso do século XVI, assim como as do Ceará, Maranhão e Pará, criadas entre os anos de 1615 e 1619. A capitania do Piauhy só foi instituída em 1718, e instalada em 1759. A capitania do Piauhy não fazia parte do Brasil, estava inserida no Estado Colonial do Maranhão.

Estando os franceses aqui já estabelecidos, o Imperador Felipe II, de Espanha, manda que se busquem notícias dessa ocupação de ‘suas terras’, estabelecidas pelo ‘testamento de Adão’, o Tratado de Tordesilhas... cumpre esclarecer que as terras do chamado ‘novo mundo’ foram divididas entre Espanha e Portugal; com a união das duas coroas ibéricas – 1580/1640 –essetratadodeixou detersentido.Foram os portugueses, agorasubalternos à coroa espanhola, encarregados de retomar essas terras, daqueles que chamavam de corsários, de invasores: franceses, ingleses, holandeses...

A Ibiapaba era o principal obstáculo para se chegar à essas terras. Não só devido aos aspectos geográficos –de transpor a Serra – como a existência de índios hostis, que, aliados aos franceses, eram inimigos dos Portugues. E isso devido às atrocidades que estes, os portugueses, cometiam contra as nações indígenas que encontravam. Mesmo firmando amizades, as aprisionavam e as tornavam escravas. Traindo-as... Assim, no ano de 1603 começa a conquista do Maciço da Uruburetama/Serra da Lolaia (antiga Serra dos Corvos), nos municípios de Irauçuba e Uruburetama... A antiga aldeia de Diabo-Grande (Juripariguaçu) é conquistada por Pero Coelho de Sousa, em 1604.

Pero Coelho de Souza, português de nobre família, filho dos Açores, veio para as terras do Ceará Grande em 1603 e, não resistindo à tentação de subir à Serra da Ibiapaba, conhecida como a terra da Promissão, veio ter à Ibiapina, passando pela Aldeia de Irapuan (provavelmente Viçosa). Pero Coelho de Souza liderou a expedição na Ibiapaba para expulsar os franceses e conquistar os indígenas, realizando um massacre contra os Tabajaras e trazendo inúmeras doenças. Após isso, o governo português tenta fundar uma aldeia na serra,

enviando dois jesuítas sob o comando do padre Francisco Pinto, que se estabelece na aldeia de Juripariguaçu, um cacique Tabajara (atual Ibiapina).

Partindo de Pernambuco os padres Luiz Figueira e Francisco Pinto foram para a Serra da Ibiapaba onde tiveram o primeiro contato com Irapuan de onde seguiram para a Aldeia de Diabo Grande, tendo-lhes servido de guia Diabo Ligeiro.

Os jesuítas Francisco Pinto e Luiz Figueira cruzaram essas serranias no ano de 1607, em busca da longínqua, no contexto da Missão ao Rio do Maranhão, em 1608 estiveram na aldeia de Diabo Grande, onde edificaram uma igreja de palhas de babaçu e ergueram um grande cruzeiro. Os jesuítas cruzaram essas serranias no ano de 1607, em busca da longínqua Ibiapaba

A Missão Jesuítica foi o ponto de partida para a fundação da futura vila de Ibiapina, que apesar das lutas constantes, extinguindo-se e renascendo, consolidou-se o domínio e a pacificação dos nativos, resultando na definitiva edificação do arruado de 1820.

na aldeia de Diabo Grande, onde edificaram uma igreja de palhas de babaçu e ergueram um grande cruzeiro. “Da missão que fizeram o Padre Francisco Pinto e o Padre Luís Figueira ao rio de Maranhão. Corre de Pernambuco para a parte do norte, e do rio do Maranhão uma grande costa de mar do Brasil pertencente à conquista desta coroa perto de duzentas léguas, toda povoada de infinitos índios bárbaros e selvagens, como são todos os do Brasil, entre os quais até agora principalmente os que estão mais afastados de Pernambuco carecem da luz do sagrado Evangelho (...).

Partiram, pois, de Pernambuco por ordem do padre provincial e com licença e ajuda do governador Diogo Botelho em janeiro de 1607 (...).

Chegaram a uma serra chamada Ibiapaba, donde até o Maranhão havia ainda cem léguas, mas estas todas daqui por diante povoadas de infinitos bárbaros tapuias, e como era necessário passar pelo meio deles e isto não havia de ser com força de armas, começaram a tratar de pazes, as quais bem se temeram que fossem de pouco efeito pela pouca constância destes bárbaros, que as não fazem mais que por aquele ato, mas acabado ele, matam quem podem (...)”. Trecho do livro “Relação anual das coisas que fizeram os padres da Companhia de Jesus em suas missões” Tomo II, publicado em Coimbra, Portugal, no ano de 1931, p. 425-426. Por João Bosco Gaspar

A Ibiapaba entrou na rota dos missionários por três motivos: primeiro, pelo fato de ser habitada por “gente amiga”; segundo, para averiguar se havia franceses na região, e terceiro, para suprir com mantimentos os missionários.

A “Missio Ad Fluvium Maranhão” via Ibiapaba, foi realizada mediante autorização do padre Claudio Acquaviva, Superior Geral da Companhia de Jesus. Essa jornada missionária é narrada em detalhes pelo padre Luís Figueira no documento intitulado “Relação do Maranhão".

Mas a tentativa de colonização falha após uma chacina que matou um padre e alguns Tabajaras, em um ataque dos indígenas Takarijús.

OS ÍNDIOS DO JAGUARIBE, CEARÁ, RESGATAM O CORPO DO PADRE FRANCISCO PINTO.

“(...) Pôde a terra comer o corpo deste insigne varão nas raízes da serra da Ibiapaba, onde o tinha depositado a incansável diligência de seu companheiro, o padre Luiz Figueira; mas nunca o descuido pode gastar a memória que do seu missionário tinham os índios naturais do Jaguaribe. Todos estes anos que passaram depois da sua morte, acalentaram os seus desejos com a esperança que ainda tinham de o ter, senão vivo, ao menos morto, na sua companhia. Despertou mais esta sua vontade, a grande seca que por este ano (...) experimentara. Incitados de uma tão grande conveniência, tomaram a resolução de ir buscar a todo o risco, os ossos do seu Amonaiara; e para o porem em execução , determinaram os principais, dia certo, em que haviam de partir; e armados em guerra, como se houvessem de conquistar um grande reino, se puseram a caminho, e chegaram

finalmente ao lugar, que pelos sinais era o mesmo que lhe tinha relatado o padre Figueira. Mandaram abrir a sepultura e acharam o precioso depósito, como tesouro escondido debaixo da terra. Meteram os ossos, com toda veneração em um caixotinho que levavam, e partindo alegres para a sua terra, os colocaram em uma das principais aldeias daquele distrito (...)”. Trecho do livro “Corographia histórica, chronographica, genealogica, nobiliaria e política do Império do Brasil”, p. 85/86, de Alexandre José Mello Moraes, publicado em 1858.

Foi durante essa estadia na aldeia de Juripariguaçu [Ibiapina], que os missionários jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueira presenciaram um fenômeno raro: avistaram o cometa Halley (ainda sem essa denominação) cruzar apoteótico os céus da Ibiapaba, fato esse registrado na íntegra pelo padre Luís Figueira:

“Rematãdo nossas cousas na Aldea do diabo grande aonde nos detivemos passando de quatro meses tentando pazes cõ os tapuyas sem terem effeito, no fim de settembro de 607 apareceo hu cometa para banda do maranhão a loeste, o qual estendia hua muy comprida cauda p.ª a banda de leste, e durou muitos dias” Fonte: FIGUEIRA, Relação do Maranhão, Revista do Instituto do Ceará, RIC 1903, p. 119. Em 1607 foi tida como prenúncio da morte do padre Francisco Pinto na Serra da Ibiapaba.

Toda a Serra de Ibiapaba era dominada por dois poderosos e temíveis chefes indígenas: Diabo Grande e Mel Redondo. Vários combates foram travados e, nos primeiros se sobressaía a figura de Martins Soares Moreno.

Martim Soares Moreno4, Capitão-mor do Ceará (Santiago do Cacém, c.1586 Portugal, após 1648), foi um militar católico que defendeu os interesses da coroa lusitana no Brasil, objetivando fazer com que todos os países europeus reconhecessem o Tratado de Tordesilhas. É considerado o fundador do atual Ceará Martim Soares Moreno escreveu uma carta de grande valor para os cearenses. A carta se chama "Relato do Ceará".

Nascido em 1586 (ou talvez 1585, era filho dos portugueses Martim de Loures Moreno e Paula Ferreira Soares. Seu tio, Diogo de Loures Moreno diz que "mui pequeno o havia mandado com Pero Coelho de Sousa, para que servindo naquela entrada aprendesse a língua dos índios, e seus costumes, dando-se com eles, e fazendo-se seu mui familiar, e parente, ou compadre, como eles dizem". Participou da expedição de Pero Coelho ao Ceará em 1603 e acabou por se tornar, anos mais tarde (1612), o virtual fundador daquela capitania. Na margem direita da foz do rio Ceará, com a ajuda de índios Potyguaras e seus soldados, construiu o Fortim de São Sebastião e uma ermida dedicada a Nossa Senhora do Amparo.

No mesmo ano foi, a mando de Jerônimo de Albuquerque Maranhão, reconhecer o Maranhão, ocupado pelos franceses, que haviam sublevado o gentio daquela terra. Na volta, entretanto, seu navio foi jogado pelos ventos às Antilhas. Em 1614 estava em Sevilha, na Espanha

No ano seguinte, já capitão, retornou ao Maranhão, junto com um reforço de 900 homens, que tornaram possível a expulsão definitiva dos franceses e a captura da cidade de São Luís. Em 1616 foi capturado em alto mar por um navio corsário francês, após violento combate, que o deixou seriamente ferido, com uma cutilada no rosto e uma mão a menos. Nessa embarcação foi reconhecido por familiares das vítimas do Maranhão e foi preso. Ao chegar na França foi julgado e chegou a ficar preso até 1618.

Sendo repatriado a Portugal no mesmo ano, graças negociações diplomáticas, escreveu uma carta patente de 26 de maio de 1619 fez mercê da capitania do Ceará a Martim Soares Moreno, em atenção aos seus serviços. Lá, em 1624 e 1625, repeliu os ataques de duas naus neerlandesas. Em 1630 deu-se a invasão holandesa de Pernambuco. Martim Soares, partiu do Ceará com uns poucos índios e soldados e chegou ao Arraial do Bom Jesus em junho de 1631. Na fase inicial da luta, tomou parte no bloqueio das forças holandesas postadas em Recife e Olinda. Destacou-se sempre, como combatente e intérprete junto aos índios. Nos anos seguintes, tomou parte na defesa da Paraíba e de Cunhaú (na capitania do Rio Grande).

Tendo os holandeses derrotado a resistência luso-brasileira, e restaurada a monarquia portuguesa em 1640, foi firmada uma trégua entre Portugal e a Holanda. Contudo, em 1645, Martim Soares Moreno tomou parte no movimento clandestino que culminou na guerra de restauração do Brasil. Retornou definitivamente para Portugal em 1648 aos 62 anos de idade, após 45 anos servindo a coroa lusitana no Brasil, sem ser reconhecido por esta.

Em 2018 seu nome foi inscrito no Livro de Aço dos heróis nacionais do Brasil depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves [1]

O histórico Vale do Lambedouro em Viçosa do Ceará, trajeto da bandeira de Pero Coelho de Sousa e Martim Soares Moreno na conquista da Ibiapaba nos idos de 1604.

MARTIM SOARES MORENO - A ESPADA E A CRUZ - (texto de Licínio Nunes de Miranda - Fortaleza Antiga). "Pintura <<A espada e a cruz>> representando o momento da chegada do jovem capitão Martim Soares Moreno à barra do Ceará, em 1611. Ao lado dele, o padre Baltasar João Correia, primeiro clérigo secular a ser enviado pela coroa ao Ceará. Eles estão acompanhados de seis soldados portugueses e alguns indígenas potiguares da tribo do chefe Jacaúna. Vieram todos de onde hoje é o estado do Rio Grande do Norte. A imagem mostra o encontro do grupo de viajantes com outra tribo de índios potiguares, que ali havia se estabelecido em 1607, e convertidos ao cristianismo pelo padre Luís Figueira, da ordem dos jesuítas. É a fundação do Ceará (e os primórdios da cidade de Fortaleza). É de autoria de Rodval Matias.

Em 1613, Martim Soares realizou, por ordem do governador do Estado do Brasil, Gaspar de Sousa, uma viagem de reconhecimento da costa do Maranhão. Sua pequena frota experimentou o grande problema da navegaçãoentreoEstadodoBrasileoMaranhão:osfortesventoscontráriosdessapartedoAtlântico.Levados pelas correntes, que sopravam na direção do Mar do Caribe, a viagem termina em agosto de 1613 na cidade de Santo Domingos. Martim Soares se apresenta às autoridades locais como navegador com ordens de Sua Majestade. Por isso, seu navio foi consertado com custo de 230 ducados, que deveriam ser pagos pela Casa de Contratacion de Sevilha, como avisam os diversos informes existentes sobre a jornada.

Esse tipo de missão de reconhecimento servia, também, para registrar os principais grupos de piratas e corsários que andavam pelo Maranhão. Antes de abordarmos os projetos de conquista propriamente hispanolusos, cabe fazer um resumo da atividade dos principais grupos não ibéricos nessas terras”. Trecho do livro “A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica,1596-1626” de Alírio Cardoso, P. 321-322. Desenho de Ernane Pereira “A Fortificação”.

“Criado por carta régia de 21 de fevereiro de 1620, à época em que Portugal encontrava-se sob o domínio de Espanha, o Estado do Maranhão, enquanto unidade administrativa separada do Estado do Brasil e diretamente subordinada a Lisboa, correspondia ao propósito de garantir a posse daqueles vastos domínios do Norte. É o que expressa a carta do rei Filipe III:

“[...] houve por bem de erigir em governo distinto e separado do [Estado] do Brasil as terras do Maranhão e Pará com as fortalezas que há nelas para [as] cousas daquela conquista se assentarem melhor e se poder cultivar e povoar a terra [...]”.

A carta régia de 13 de junho de 1621 confirmou a criação do Estado do Maranhão e sua independência administrativa do Estado do Brasil”. Constituído, a princípio, pelas capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará, o Estado do Maranhão criado em 1621, deveria ser a “pedra angular” dos historiadores que se aventuram a escrever sobre a história colonial, sobretudo a historia das capitanias da Costa leste-oeste.

NONATO REIS

Quem anda pela rua Dom Hélio Campos, em Viana, não faz ideia da riqueza imaterial que ela carrega em seus paralelepípedos. Conectada ao marco zero da cidade – a Praça da Matriz – foi uma das primeiras vias abertas, quando o lugar ainda era um simples vilarejo - isso há mais de 200 anos. Não há como saber como se chamava no início da fundação, mas ao longo dos anos teve outras denominações, antes da identidade atual, como Rua do Sol e Dom Helvécio.

Rua do Sol, talvez por se estender em direção ao nascente. Ela tem início na Praça da Matriz, do lado direito da igreja de Nossa Senhora da Conceição, e se estende até a gurgueia, brejo que guarnece a entrada da cidade pelo lado dos campos, numa extensão aproximada de 200 metros.

Para além do aspecto meramente cronológico, a rua Dom Hélio Campos cresce em importância pela sua ligação com três personagens iconográficos de Viana. Ali, no número 166, residiram os irmãos Eider e Edith Silva. O primeiro fez história como padre e muito contribuiu para o fortalecimento da igreja católica. De visão progressista, atuou na criação e expansão das comunidades eclesiais de base, deu voz às demandas dos oprimidos e lutou até a morte por justiça social.

Edith Silva será para sempre lembrada como a professora que revolucionou o método de ensino-aprendizagem com uma didática toda própria. Dona Edith, como era conhecida, lecionava Geografia e costumava desenvolver suas aulas desenhando na lousa os mapas e acidentes geográficos das diversas regiões do país, o que tornava suas aulas interessantes e proveitosas.

Paracoroarasuasimbologiaefirmá-lacomo cartãodevisitadacidade,aruahomenageiaDomHélio Campos, o lendário bispo que, com sua visão privilegiada, não apenas modernizou a atuação da igreja católica nos municípios sob sua influência, como também expandiu os horizontes da cidade.

Dom Hélio Campos foi o segundo bispo de Viana, depois da criação da diocese em 1962. Nomeado em 1969, em substituição a Dom Hamleto de Angelis, Hélio Campos logo percebeu o isolamento físico da cidade, sem qualquer ligação por terra com a capital São Luís e os demais centros urbanos do país. Então nomeou uma comissão de vianenses ilustres, entre eles o Padre Eider Silva e Sebastião Furtado, para coordenar um movimento político pela construção de uma rodovia, ligando Vitória do Mearim a Pinheiro, interligando Viana, Matinha, Cajapió, São Vicente, São João Batista e São Bento.

Foram anos de luta, que acabaram coroados com a inauguração da MA-014, até hoje a principal via de ligação rodoviária da Baixada Maranhense com a capital São Luís e as demais regiões do País. Dom Hélio faleceu em 1975, causando forte comoção na cidade.

Sebastião Furtado, falecido em 2021, diz em seu livro “História de minha vida”, que Dom Hélio deixou saudade e um grande vazio na sociedade vianense. “Era um homem humilde que se identificava com os mais pobres e lutava pelo homem do campo. Sinto saudades do dinamismo e espírito de liderança que ele tinha”. A rua que leva o nome do bispo é, assim, um justo reconhecimento do seu legado, assim como remete a personagens históricos que ali residiram.

Crónica publicada esta quinta-feira no Jornal LusoPresse de Montreal

AS CASAS DOS AÇORES NO BRASIL

A primeira do Brasil e a segunda do Mundo é a Casa dos Açores do Rio de Janeiro, fundada em 1952. Curiosamente, 25 anos depois da primeira, em Portugal, e 25 anos antes da terceira, nos Estados Unidos. A sua criação foi impulsionada pelo importante escritor português Vitorino Nemésio, natural da Praia da Vitória, e a sua primeira Diretoria foi presidida pelo comendador da República Portuguesa João Soares de Medeiros, ainda nascido em Angra do Heroísmo. O seu atual presidente é João Leonardo Soares, um jovem filho de emigrantes terceirenses.

Vinte e oito anos depois do Rio de Janeiro, em 1980, é criada a Casa dos Açores de São Paulo, a segunda do Brasil, em Vila Carrão. Na nova associação, como no Estado em geral, os açorianos são maioritariamente provenientes da ilha de São Miguel. Esta Casa nasceu por obra e graça do Espírito Santo, já que a sua organização decorreu de uma festa realizada em louvor do Divino, e o seu primeiro presidente foi o emigrante micaelense Comendador Manuel de Medeiros. Cinco décadas depois, a Festa do Divino continua sendo o ponto alto do seu calendário anual, a par da Semana Cultural, mas a CASP conta também com um grupo folclórico, fundado logo em 1981, além do mais recente grupo coral “Cantares do Basalto”. Preside à sua diretoria o advogado paulista Marcelo Guerra.

Contemporânea de São Paulo é a Casa dos Açores da Bahia. Foi fundada também em 1980, na cidade de Salvador, e é maioritariamente constituída por açorianos provenientes da pequena ilha Graciosa. Mais do que para reunir os naturais dos Açores, esta Casa foi criada para que os descendentes de açorianos se pudessem conhecer e conviver em torno das suas referências identitárias. Por isso promove convívios regulares, na sua vivenda ajardinada, a pretexto de uma alcatra, um bacalhau ou um polvo, e por isso organiza anualmente uma festa em louvor do Divino Espírito Santo. O seu cofundador e atual presidente é o empresário graciosense Orlando Souza da Silva.

Mas a rede mundial das Casas dos Açores chegou também ao Sul do Brasil. Em 1999, foi fundada a Casa dos Açores de Santa Catarina, primeiramente presidida por Francisco do Vale Pereira e agora dirigida por Sérgio Luiz Ferreira. Trabalha em estreita cooperação com o Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal deSantaCatarina.Temsedeprovisórianumasalacedidapelogovernoestadual,emFlorianópolis,masprepara a sua instalação definitiva no ambiente açoriano de Santo António de Lisboa. Assegura o Grupo Folclórico Raízes Açorianas, desde 2010,eparticipanaorganização anual do“Açor – FestadaCulturaAçoriana deSanta Catarina”, que percorre há três décadas as cidades brasileiras de povoamento açoriano no litoral catarinense.

Quatro anos depois de Santa Catarina, em 2003, nasce a Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul. Régis Albino Marques Gomes foi o seu primeiro presidente, e o mais duradouro, até 2015. Sucederam-lhe Célia Silva Jachemet, Carla Marques Gomes e, agora, Viviane Peixoto Hunter. Mas a casa da Casa também tem a sua história. O Casarão dos Fonseca é um prédio de caraterísticas únicas – provavelmente, a mais açoriana das Casas dos Açores – que foi construído por Manuel Fonseca, filho de açorianos, em 1877. O grupo dinamizador da futura Casa dos Açores, liderado por Régis Gomes, recuperou o prédio arruinado nos anos 90 e transformou-o em imóvel tombado por lei municipal, hoje reconhecido como património arquitetónico e cultural do Município deGravataí. É nesta “embaixada cultural açoriana” que a mais representativa instituição dos Açores no extremo sul doBrasil promoveasua intensaatividade,designadamente,dinamizandoum grupo de danças gaúchas e um rancho folclórico de raiz açoriana. No outro extremo do país, vamos encontrar a segunda Casa mais recente do Brasil, mas que, historicamente, devia ter sido de todas a primeira. A Casa dos Açores do Maranhão foi fundada em 2019, por ocasião do congresso comemorativo do quarto centenário da primeira emigração açoriana para terras brasileiras. Está formalmente sedeada na capital estadual de São Luís do Maranhão e prepara a sua instalação efetiva com uma sede própria. Foi seu cofundador e primeiro presidente Paulo Matos, atual presidente honorário, que, entretanto, assumiu responsabilidades como Secretário de Turismo do Governo do Estado.

A “caçula” destas associações brasileiras é a Casa dos Açores do Espírito Santo, com sede no município de Apiacá, em pleno Vale de Itabapoana, próximo da divisa com o Estado do Rio de Janeiro. Foi fundada e é presidida pelo açordescendente Nino Moreira Seródio. A sua inauguração oficial ocorreu a 25 de julho de

2022, curiosamente, na sequência imediata da comemoração oficial do 70º aniversário da pioneira e vizinha Casa dos Açores do Rio de Janeiro.

Diretor Regional das Comunidades no Governo da Região Autónoma dos Açores Baseado num texto do seu livro Transatlântico – As Migrações nos Açores (2023)

Rare map Brazil & Portugal.

Johann Baptist Homann (1664-1724) - Portugalliae et Algarbiae cum finitimis Hispaniae regnis... (Representação do Brasil) Regnum Brasiliae in America Australi... J. B. Homann, Nuremberg, circa 1720. Med.49.0 x 56.5 cm. Belíssimo e raro mapa aquarelado a mãode Homann, com uma grande inserção do Brasil, mostrandosuas12capitanias.NoOceanoAtlânticoasfrotasinglesaseportuguesassobCarlosIII,odesignado contra-rei da Espanha. O belo título cartouche com Poseidon, Sereia e querubins tocando trombetas ao lado da Coroa Portuguesa.

CARTÓGRAFO:

Johann Baptist Homann nasceu em 1664em Oberkammlach.Elefundouseu negócio em 1702em Nuremberg, na Alemanha. Após um longo período de dominação holandesa na publicação de mapas, a editora Homann tornou-se o mais importante produtor de mapas e atlas na Alemanha. Tornou-se membro da Academia de Ciências em Berlim logo após ter publicado seu primeiro atlas em 1707. Após sua morte, em 1724, em Nuremberg, a companhia foi continuada por seu filho Johann Christoph. A editora foi legada a seus herdeiros após sua morte em 1730 e foi negociada sob o nome de Homann Heirs até o século seguinte.

HISTÓRIA E GEOGRAFIA - O LIVRO E O MAPEAMENTO GEOGRÁFICO DOS SOPÉS OCIDENTAIS DA IBIAPABA.

Baseado em dezenas de fontes primárias dos Arquivos de Portugal dos séculos XVII e XVIII, o livro "Análise Histórica das Divisas Cearenses - O Caso do Litígio de Terras entre o Piauhy e o Ceará", defende a tese "dos sopés ocidentais da Serra da Ibiapaba", como divisa histórica e documental entre o Ceará e o Piauhy. Os principais arrimos desta tese são as Cartas Régias de 1720 e 1721, respectivamente. Pela primeira, Dom João V de Portugal, doou aos índios da Aldeia da Ibiapaba, capitania do Ceará, "toda a terra que fica em cima da Serra", epelasegunda, revogouoato deanexação firmadoem 1718,emantevea"Serrada Ibiapabae aAldeya de índios dela, sob os domínios da capitania do Ceará". O estudo realizado em abril de 2024 pela equipe da pós-doutora Vanda Claudino Sales, mapeou de forma inconteste, "os sopés ocidentais da Ibiapaba", delimitando cientificamente a verdadeira divisa entre o Piauhy e o Ceará. O estudo da pós-doutora Vanda Claudino Sales foi incluído no Laudo do Exército Brasileiro divulgado recentemente, no contexto da Ação Cível Originária (Litígio Piauhy X Ceará) que tramita no STF.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Academia Poética Brasileira

Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Centro esportivo Virtual

O Maranhão tem cada História!!! Ao pesquisar sobre a Educação Física, Esportes e Lazer no/do Maranhão encontrei mais uma contribuição para o seu desenvolvimento. Além da “Capoeiragem tradicional maranhense”, com sua metodologia de ensino própria, desenvolvida a partir dos anos 1970, com a chegada de Mestre Sapo e dos ‘paulistas’ que vieram (re)implantar os Esportes no Maranhão, fruto do trabalho daquela geração que se denominou de “Geração de 53”, em correlação com a “Geração de 45”, de nossa literatura.

O Maranhão, nesse aspecto, é muito rico. Encontramos uma modalidade de corrida, praticada por nossos índios, que é sui generis, a “Corrida de Toras”, base da introdução dos jovens na vida social da tribo. Genuinamente Maranhense... Assim como nossa Capoeiragem...

Ao desvendar-se a História da Educação Física, vemos que é praticada, nas escolas, com características próprias,desdeomeadodosanos1800.Tivemosváriosprofessores,noLiceuMaranhense,eemoutras escolas públicas, e depois, quando começaram, nas particulares. Inclusive para as mulheres, como se dava na escola das irmãs Abranches.

No princípio dos anos 1900, se deu a criação de nosso Departamento de Educação Física, junto à Secretaria de Educação, com a contratação de um professor “alemão” – austríaco, de nascimento -, que veio lecionar a disciplina em nossa escola normal – de formação de professores. Tivemos nosso congresso pedagógico em 1920, onde a disciplina foi destaque, com muito incentivo.

Nos anos 30, várias modalidades de esportes, e o ensino da educação física nas escolas, eram incentivados, assim como nos anos 1940. Nessa década o Governo começa a aperfeiçoar os professores, mandando-os a estudar no Rio de Janeiro, tanto na Escola Nacional – hoje, UFRJ -, quanto na Escola de Educação Física do Exército.

Nessa época, um jovem militar, de nossa briosa Polícia, é mandado fazer o curso de monitoria, na Escola do Exército. Trata-se de Eurípedes Bernardino Bezerra... quem não o conhece?

Como era necessário o surgimento de novos professores de Educação Física para o atendimento da demanda – já despertada para a importância da prática de atividades físicas – Eurípedes Bezerra deu incentivos para que os outros apaixonados também buscassem uma formação de nível superior no Rio de Janeiro. Um movimento que foi crescendo a partir de 1942 com a ida para a Escola Nacional de Educação Física de renomados maranhenses, dentre eles os médicos Alfredo Duailibe, Carlos e Laura Vasconcelos e os professores Rubem Goulart, Mary Santos, Lenir Ferreira, Maria Dourado, Nego Braga, Zé Rosa, Rinaldi Maia e Dimas Araújo.

O método, então adotado, era o francês, a modalidade de ensino consistia em exercícios preparatórios e propriamente ditos, evoluções de marchas e depois os exercícios de saltar, trepar, levantar, e despertar, correr, atacar e defender e volta a calma, exercícios progressivos sem solução de continuidade. Era o mesmo método, pela Missão Francesa em 1922, para o Brasil.

Eurípedes torna-se Delegado de Polícia, além dos postos na Policia Militar, e é mandado para o interior, resolver alguns casos graves. Passa por várias cidades, e sempre introduzindo a Educação Física e a prática de esportes.

Recentemente, de minha passagem por Miranda do Norte, encontrei esse depoimento: [...] foto jurássica do nosso tempo do Colégio João Lisboa, com Josemar Bezerra Raposo, Rosemary Hayckel e alunos. Quando as aulas de Educação Física era carregar pedras pra construir a quadra da escola

Pedi, então, maiores informações e mandou-me o seguinte: “Passando pelo bairro do Turu, em São Luís, uma placa de identificação de rua me chamou a atenção: RUA CORONEL EURÍPEDES BEZERRA. Nesse momento uma enxurrada de recordações encheu minha memória! Me vi em 1977, com 12 anos, aluno da primeira turma do Colégio João Lisboa, às sete horas da manhã, fazendo polichinelo, tentando tocar o chão sem dobrar os joelhos e correndo no gramado da rua Velha, em Miranda quando ainda era povoado itapecuruense!

“Tudo isso sob os comandos fortes do meu professor de Educação Física, que geralmente às sextas-feiras, saia de São Luís para nos dar essas aulas. Não o fazia por necessidade. Fazia apenas pela amizade com o proprietário e diretor geral do colégio, o amado e inesquecível professor Dr. Josemar Bezerra Raposo.

“O professor Cel. Eurípedes Bezerra tinha um tom de voz poderoso como um trovão. Dava os comandos aos berros, através de números. Um... dois... três... para cada número gritado era um movimento que deveríamos fazer...

“Mas apesar da forma firme e até assustadora de comando, os gritos eram intercalados com palavras de incentivo e eu percebia um certo carinho dele com aquele "bando de menino do mato" (sic). Era ele, meu professor CORONEL EURÍPEDES BEZERRA. Não era meu parente, mas pelo mesmo sobrenome eu o via como um tio, ou pelo menos como alguém que, apesar dos exercícios massantes, "só queria meu bem".

Fui buscar maiores informações sobre essas passagens, e não se encontrava nada sobre essa passagem por Miranda, à época, povoado pertencente à Itapecuru-Mirim. Novidade..., mas encontrei referências a um Método adotado pelo Professor Eurípedes: Método CAGADO de Educação Física escolar: Método “CAGADO”:

C – Contínua (para que não sofresse interrupção);

A – Alternada (exercícios com menor e maior carga);

G – Graduada (para não cansar);

A – Atraente (para que todos se sentissem impelidos a praticar);

D – Disciplinada;

O – Observada (para que as falhas pudessem ser corrigidas pelo professor).

Em 1956 Eurípedes Bezerra esteve reunido com um grupo de amigos desportistas no Lítero, dentres eles Gedeão Matos, Rubem Goulart, Nego Braga, irmãos Marista Tárcisio e Pio, Nepumoceno, Cel. Júlio, Ten. Macedo e Cel. Riod

FESTA DA CONCEIÇÃO

O mês de dezembro em Viana é marcado pelo festejo da padroeira da cidade Nossa Senhora da Conceição que acontece no largo da Praça da Matriz. Antigamente existiam as barracas feitas de palha enfeitadas com bandeirinhas e a banda musical do maestro Miguel Dias tocando no coreto com muita alegria e fé cristã. A partir de 1936 a banda São Benedito de Ozias Mendonça, passou a animar os festejos. Depois surgiu a Banda Vadia que até hoje anima o largo.

Em tempos remotos quandonãoexistiaenergiaelétricanacidadeapraçaerailuminadapelos candeeiros época que o Padre Arouche comandava a igreja da Matriz, período em que a padroeira da cidade recebia doação dos fazendeiros, os animais doados eram leiloados para as despesas dos festejos e outros eram encaminhados para a fazenda da Santa, a fazenda Bacazinho.

No último dia dos festejos após a missa em ação de graças os fiéis saem em procissão pelas ruas estreitas da cidade histórica de Viana.

Um festejo religioso tradicional da nossa querida cidade de Viana que remete ao período da minha infância, a alvorada com fogos de artifícios e a retreta musical tocando no amanhecer na porta da igreja da Matriz.

Na retreta musical de hoje na abertura dos festejos aconteceu um encontro fantástico às 6 horas da manhã as duas gerações que mantém viva a tradição cultural da nossa Viana, a banda Vadia e a banda Os meninos da Vadia se juntaram para tocar no largo da Matriz, essas bandas mantêm viva a tradição cultural e fazem com que a cidade de Viana continue com o título a cidade dos músicos. A festa inicia hoje e vai até o dia 8 de dezembro. No dia 08 de dezembro data do encerramento das festividades as duas bandas musicais tocarão juntas novamente.

(*) Áureo Mendonça é pesquisador, escritor e membro fundador do IHGV.

ACADEMIA VIVA ÁGUA CELEBRA 40 ANOS !!

A Acadenia Viva Água está comemorando quatro décadas de história, aprendizado, amizade e muitas conquistas, neste mês de novembro (Dia 26).

Desde 1984, começando em uma pequena piscina, até se tornar um complexo esportivo de excelência, a Viva Água segue promovendo saúde e bem-estar para seus alunos e famílias, em sua sede, na Rua das Gaivotas, bairro do Renascença II, em São Luís (estado do Maranhão - Brasil).

Nestes 40 anos passaram pela Viva Água mais de 40 mil alunos orientados por professores dedicados e colaboradores incansáveis.

"Neste aniversário especial, olhamos para trás com orgulho e para o futuro com entusiasmo, prontos para continuar inovando e acolhendo a todos com carinho", afirma a diretora da Viva Água, Denise Araújo.

Viva Água 40 anos, uma travessia com estilo!

Viva esta história com a gente!

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