LUDOVICUS 44 - OUTUBRO/DEZEMBRO 2024

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LUDOVICUS

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

LUDOVICUS

MAGAZINE EDITADO POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

DEDICADO À LITERATURA LUDOVICENSE /MARANHENSE

Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem livros e capítulos de livros publicados, e mais de 500 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor das “Revista do Léo”, “Maranha-y”, e agora, LUDOVICUS; Condutor da Tocha Olímpica –Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Esta é uma Revista Eletrônica, dedicada à Literatura Ludovicense/Maranhense. Com a decisão de não mais publicar uma revista dedicada aos esportes no/do Maranhão, devido ao fato de os podres poderes públicos deste Bananão não se importarem com essa atividade rica, de Lazer = esportes + cultura -, passo a utilizar este espaço, dedicado ao Lazer intelectual = leitura, para me manifestar sobre os esportes.

Tivemos o passamento de três grandes mestres:

Manuel Constantino, português, presidente do Comitê Olímpico de Portugal, e grande pensador da Educação Física/Motricidade Humana; deixa-nos um grande legado. Vinha sempre ao Brasil, prestar seus serviços de professor.

E, neste início de outubro, Silvino Santin, filosofo gaúcho, da Universidade Federal de Santa Maria, que ‘pensava’ a Educação Física... Pena que as ‘novas gerações’ não lhe conheceram, a obra... teriam muito o que aprender, sobretudo sobre Ética!!!

Mais um passamento ocorre nesse período – GILMÁRIO PINHEIRO – o GIL – do Voleibol. Nos deixa aos 71 anos, após quase cinquenta de atividade no Maranhão e Rondônia. Cearense, veio ainda jovem para o Maranhão, para jogar Voleibol, naquela fase de importação de atletas e técnicos, no inicio dos anos 70. Gil veio e ficou... De atleta, para técnico... Na sua passagem por Rondônia, já técnico, lá permaneceu por alguns anos. Retornou ao Maranhão recentemente, onde veio a falecer, vítima do diabetes...

E agora nos vem a notícia da morte de FREDRIC LITTO, da ECA, orientador do Laércio, e grande amigo e pensador...

Como diz Laércio, só morre gente do nosso lado... e a fila anda... Oremos

Neste início de outubro – 10/10 – o CEV atingiu 100.000 obras cadastradas...

Para a publicação da Revista na plataforma que utilizo, tenho um limite de páginas: 300!!! No trimestre anterior, antes de se completar os dias, já tinha chegado ao limite. Pois bem, a última quinzena de setembro estará nesta edição, e a seguir, o que ocorreu no final do ano literário.

Fiz uma pequena mudança, na apresentação das matérias, como podem ver pelo sumário... Iniciaremos pela Coluna da ALL no Jornal Pequeno, depois, a Sacada Literária, editada pelo Antonio Ailton, seguida pelos cronistas, meu Primo Ozinil, e meu Mestre Jorge. A seguir, o que aconteceu – lançamentos e eventos, para seguir com as novas matérias: dos membros da ALL, da APB, de Mhario, e do IHGM... quando houver, de outras instituições, como a FALMA e AML... Encerrando com os acontecimentos do Esporte/lazer...

Eseapresentaumagrandedúvida...seriaTeresaMargaridadaSilvaeOrta-AventurasdeDiófanes- publicado em 1752, realmente o primeiro romance escrito em língua portuguesa por uma mulher? Vamos ver o que Mhario tem a dizer...

A literatura maranhense se destaca por várias características únicas que a diferenciam de outras regiões do Brasil. A história colonial do Maranhão, com suas influências francesas e portuguesas, moldou a literatura local de maneira distinta. A cidade de São Luís, conhecida como a “Atenas Brasileira”, foi um centro cultural e literário importante no século XIX, e frequentemente incorpora elementos do folclore local, como lendas, mitos e tradições populares, que são menos presentes em outras regiões Tem suas raízes no início do século XVII, com as crônicas dos europeus Claude d’Abbeville e Yves d’Evreux, que escreveram sobre suas viagens e experiências na região No entanto, considera-se que a literatura maranhense propriamente dita começou em 1832, com a publicação do poema “Hino à Tarde” de Odorico Mendes

Que amável hora! Expiram os favônios;

Transmonta o Sol; o rio se espreguiça;

E, a cinzenta alcatifa desdobrando

Pelas azuis diáfanas campinas,

Na carroça de chumbo assoma a tarde...

Salve, moça tão meiga e sossegada;

Salve, formosa virgem pudibunda,

Que insinuas cos olhos doce afeto,

Não criminosa abrasadora chama!

Em ti repousa a triste humana prole

Do trabalho do dia, nem já lavra

Juiz severo a bárbara sentença,

Que há de a fraqueza conduzir ao túmulo.

Lasso o colono, mal avista ao longe

A irmã da noite coa-lhe nos membros

Plácido alívio: posta a dura enxada,

Limpa o suor que em bagas vai caindo..

Que ventura! A mulher o espera ansiosa

Cos filhinhos em braço, e já deslembra

O homem dos campos a diurna lida;

Com entranhas de pai ledo abençoa

A progênie gentil que a olho pula.

Não vês como o fantasma do silêncio

Erra, e pára o bulício dos viventes?

Só quebra esta mudez o pastor simples,

Que, trazendo o rebanho dos pastios,

Coa suspirosa frauta ameiga os bosques...

Feliz! que nunca o ruído dos banquetes

Do estrangeiro escutou, nem alta noite

Foi à porta bater de alheio alvergue.

Acha no humilde colmo os seus penates,

Como acha o grande em soberbões palácios.

Ali também no ouvido lhe estremecem

De mãe, de amigo os maviosos nomes;

Conviva dos festins da natureza,

Vê perfazerem-se as funções mais altas:

O homem nascer, morrer, e deixar prantos...

Agora ia entre prados, após Laura,

O ardido vate magoando as cordas;

E a selvática virgem, recolhendo

A grave dor cristã, que a assoberbava

Do mancebo cedia à paixão nobre, Grande e sublime, como os troncos do ermo...

Ai! mísera Atalá!... mas rasga o fogo,

E o sino soa pelas brenhas broncas.

Tarde, serena e pura, que lembranças

Não nos vens despertar no seio d'alma?

Amiga terna, diz-me, onde colhes

O bálsamo que esparges nas feridas

Do coração? Que apenas dás rebate,

Cala-se a dor; só geras no imo peito

Mansa melancolia, qual ressumbra

Em quem sob os seus pés tem visto as flores

Irem murchando, e a treva do infortúnio

Ante os olhos medonha condensar-se.

Longe dos pátrios lares, quem não sente

Os arrebóis da tarde contemplando

Um súbito alvoroço? Então pendíamos

Dos contos arroubados que verteram

Propícios deuses nos maternos lábios;

E branda mão apercebia o berço

Em que ternos vagidos

Infausto anúncio de vindouras penas.

Sobre o poial sentada a fiel serva

Que vezes atentei chamando ao pouso

A ave tão útil que arrebanha os filhos,

E adeja e canta, e pressurosa acode!

Coa turba de inocentes companheiros,

Agora sobre a encosta da colina,

A casta Lua como mãe saudávamos,

E suplicando que nos fosse amparo,

Em jubilosa grita o ar rompíamos.

Mas da puerícia o gênio prazenteiro

Já transpôs a montanha; e com seus risos

Recentes gerações vai bafejando.

A quem ficou a angústia que moderas,

Ó compassiva tarde? Olha-te o escravo,

Sopeia em si os agros pesadumes:

Ao som dos ferros o instrumento rude

Tange, bem como em África adorada,

Quando (tão livre) o filho do deserto

Lá te aguardava; e o eco da floresta,

Da ave o gorjeio, o trépido regato,

Zunindo os ventos, murmurando as sombras,

Tudo, em cadência harmônica, lhe rouba

A alma em mágico sonho embevecida.

Não mais, ó musa, basta; que da noite

Os pardos horizontes se tingiram,

E me pesa e carrega a escuridade.

Oh! venha a feliz era que da pátria

Nessas fecundas, dilatadas veigas

Tu mais suave a lira me temperes

Da singela Eponina acompanhado

Na escura gruta que nos cava o tempo

Hei de ao vale ensinar canções melífluas

Nos lindos olhos, nos mimosos beiços,

Nos alvos pomos, no ademã altivo

Irei tomar as cores que retratem

Da natureza os íntimos segredos.

Do ardor da esposa; do sorrir da filha;

Do rio que espontâneo se oferece

Da terra que dá fruto sem o arado

Da árvore agreste que na densa grenha

Abriga da pendente tempestade

A sobreolhar aprenderei haveres,

A fazer boa sombra ao peregrino,

A dar quartel a errado viandante

Lá estendendo pelos livres ares

Longas vistas, nas dobras do futuro, Entreverei o derradeiro dia... Venha; que acha os despojos do homem justo Ó esperança, toma-me em teus braços; Com a imagem da pátria me consola!

Manuel Odorico Mendes (São Luís do Maranhão, 24 de janeiro de 1799 Londres, 17 de agosto de 1864) foi um político, tradutor, poeta, publicista e humanista brasileiro, mais conhecido por ser autor das primeiras traduções integrais para português das obras de Virgílio e Homero, sendo precursor da moderna tradução criativa Odorico Mendes –Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Um dos berços do romantismo no Brasil, com Gonçalves Dias sendo uma figura central desse movimento, se destacando como um dos maiores poetas brasileiros, conhecido por suas obras que exaltavam a natureza e a cultura indígena.

Graça Aranha é reconhecido nacionalmente e suas obras são estudadas em todo o Brasil, contribuindo para a formação do cânone literário brasileiro - um conjunto de livros considerados como referência num determinado período, estilo ou cultura.

Graça Aranha foi um escritor e diplomata brasileiro, nascido em São Luís, Maranhão, em 21 de junho de 186812 Ele é conhecido por sua participação no movimento pré-modernista no Brasil e por ser um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL) em 1897 Uma de suas obras mais importantes é o romance “Canaã” (1902), que aborda temas como racismo, preconceito e imigração2 Graça Aranha também teve um papel significativo na Semana de Arte Moderna de 1922, onde proferiu o discurso de abertura intitulado "A Emoção Estética na Arte Moderna" Além de “Canaã”, outras obras notáveis incluem “Malazarte” (1914), “A Estética da Vida” (1921) e “O Espírito Moderno” (1925) Ele faleceu no Rio de Janeiro em 26 de janeiro de 1931.

No Brasil, o cânone literário inclui obras que marcaram a história e o desenvolvimento da literatura brasileira, influenciando gerações de leitores e escritores. Já cânone maranhense é composto por obras e autores que são fundamentais para a literatura do Maranhão e que também contribuíram significativamente para a literatura brasileiracomo um todo,pois literaturamaranhenseéricaem regionalismoseexpressõeslocais, queconferem autenticidade e proximidade ao leitor com a realidade maranhense Autores como os irmãos Azevedo, Arthur e Aluísio Azevedo - abordaram questões sociais e urbanas, refletindo as tensões raciais e sociais da época.

Artur Azevedo, nascido Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, foi um renomado escritor, dramaturgo, poeta, contista, cronista e jornalista brasileiro12 Ele nasceu em São Luís, Maranhão, em 7 de julho de 1855, e faleceu no Rio de Janeiro em 22 de outubro de 1908 Azevedo é amplamente reconhecido por suas peças teatrais, muitas das quais são comédias que criticam os costumes da sociedade carioca da época Algumas de suas obras mais conhecidas incluem “O Mambembe”, “A Capital Federal” e "Amor por Anexins"2 . Ele também foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ao lado de seu irmão, Aluísio Azevedo Além de sua contribuição literária, Artur Azevedo foi um grande defensor da construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, que foi inaugurado pouco depois de sua morte

Aluísio Azevedo foi um escritor, jornalista, caricaturista e diplomata brasileiro, nascido em São Luís, Maranhão, em 14 de abril de 1857 Ele é amplamente reconhecido como o principal autor do movimento naturalista no Brasil2 Entre suas obras mais notáveis estão: “O Mulato” (1881): Este romance é considerado o marco inicial do Naturalismo no Brasil

e aborda o preconceito racial. “Casa de Pensão” (1884): Descreve a vida de jovens estudantes em uma pensão no Rio de Janeiro “OCortiço” (1890): Uma das suas obras mais famosas, retrata a vida em um cortiço no Rio de Janeiro e é um importante estudo das condições sociais da época. Aluísio Azevedo também foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 4 Ele faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913

No início do século XX, o modernismo trouxe novas perspectivas e estilos. O Maranhão também palco de vários movimentos literários e culturais, com a fundação da Academia Maranhense de Letras em 1908, que vem a desempenhar um papel crucial na promoção da literatura e cultura local, incluindo o folclore, as tradições populares e a história colonial. Muitos autores maranhenses abordam questões sociais e políticas em suas obras, refletindo as realidades e desafios da sociedade maranhense.

Autores como Josué Montello e Ferreira Gullar contribuíram significativamente para a literatura brasileira, com obras que exploravam temas sociais e existenciais.

Josué Montello foi um renomado escritor, jornalista, professor e teatrólogo brasileiro, nascido em São Luís, Maranhão, em 21 de agosto de 1917. Ele é conhecido por sua vasta produção literária, que inclui mais de 150 livros, abrangendo romances, ensaios, crônicas, novelas e peças de teatro Algumas de suas obras mais destacadas são: “Cais da Sagração” (1971): Um romance que explora a vida e os conflitos de personagens em São Luís “Os Tambores de São Luís” (1975): Considerado um de seus trabalhos mais importantes, este romance aborda a história e a cultura do Maranhão “Duas Vezes Perdida” (1966): Parte de uma trilogia que inclui “Glorinha” (1977) e “Perto da MeiaNoite” (1985) Montello também teve uma carreira notável como diretor da Biblioteca Nacional e do Museu da República, além de ter sido membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira nº 29

Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, foi um poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro, nascido em São Luís, Maranhão, em 10 de setembro de 1930. Ele é amplamente reconhecido como um dos maiores poetas brasileiros do século XX e um dos fundadores do movimento neoconcreto Algumas de suas obras mais importantes incluem: “Poema Sujo” (1976): Escrito durante seu exílio em Buenos Aires, é considerado uma de suas obras mais emblemáticas. “A Luta Corporal” (1954): Um marco na poesia concreta brasileira “Dentro da Noite Veloz” (1975): Uma coletânea de poemas que reflete suas experiências e visões políticas. Ferreira Gullar também foi membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 37 a partir de 201412 Ele faleceu no Rio de Janeiro em 4 de dezembro de 2016

Após os anos 1930, vários outros poetas e escritores maranhenses se destacaram no cenário literário brasileiro. Aqui estão alguns dos mais notáveis:

Bandeira Tribuzi, pseudônimo de José Tribuzi Pinheiro Gomes, foi um poeta e escritor brasileiro nascido em São Luís do Maranhão em 2 de fevereiro de 1927 Ele é conhecido por ter iniciado o modernismo no Maranhão em 1948 com a publicação do livro de poesia "Alguma Existência". Além de sua contribuição literária, Tribuzi também é lembrado por sua canção “Louvação a São Luís”, que se tornou o hino oficial da cidade Ele foi um dos fundadores da revista literária “A Ilha” e do jornal "O Estado do Maranhão". Há um memorial em sua homenagem próximo ao Espigão Costeiro, e uma das pontes mais importantes da capital, a Ponte Bandeira Tribuzi, leva seu nome

Nauro Machado foi um poeta e escritor maranhense, nascido em São Luís, Maranhão, em 2 de agosto de 1935 Ele é conhecido por sua poesia profunda e reflexiva, marcada por temas existenciais e uma linguagem poética rica e complexa.Algumas de suas obras mais notáveis incluem: “Campo sem Base” (1958): Seu primeiro livro de poesia, que já mostrava sua inclinação para temas filosóficos e existenciais “O Cavalo de Tróia” (1982): Considerado um de seus trabalhos mais importantes, que lhe rendeu reconhecimento nacional. “Esôfago Terminal” (2014): Uma obra que reflete sua luta contra o câncer e suas reflexões sobre a vida e a morte Nauro Machado recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o Prêmio da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte Ele faleceu em 28 de novembro de 2015, em São Luís

Arlete Nogueira da Cruz é uma escritora e poeta brasileira, nascida em Cantanhede, Maranhão, em 8 de maio de 1936. Ela é conhecida por sua vasta produção literária, que inclui poesia, contos e romances. Arlete é licenciada em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e possui mestrado em Filosofia Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde defendeu uma dissertação sobre Walter Benjamin Entre suas obras mais notáveis estão “Litania da Velha” (1976), que acompanha as reflexões de uma mulher idosa sobre a vida e o tempo, e “Compasso Binário” (1972)2 . Ela também é conhecida por seu trabalho como professora na UFMA e na PUCRio Arlete foi casada com o poeta maranhense Nauro Machado e é mãe do cineasta Frederico Machado. Sua obra “Litania da Velha” foi adaptada para um curta-metragem dirigido por seu filho, que recebeu vários prêmios

Lenita Estrela de Sá é uma escritora multifacetada nascida em São Luís, Maranhão, em 15 de dezembro de 1961. Ela é romancista, contista, dramaturga, roteirista e poeta. Filha de Cecílio Sá, um marceneiro e teatrólogo responsável pela criação do Teatro Amador no Maranhão, Lenita começou a escrever muito jovem. Ela publicou seu primeiro livro de poesia, “Reflexo”, aos 17 anos Entre suas obras mais conhecidas estão a peça “Ana do Maranhão”(1980),olivroinfantil“AFilhadePaiFrancisco”(1995),eacoletâneadepoemas “Pincelada de Dali e Outros Poemas” (2015), que foi prefaciada por Ferreira Gullar Em 2018, ela lançou “Brasas Ardentes nas Pontas dos Dedos”, uma coleção de contos. Lenita também é servidora do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão e possui graduação em Direito e Letras, além de pós-graduação em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas Materna e Estrangeira

Esses autores contribuíram significativamente para a literatura brasileira, cada um trazendo sua própria perspectiva e estilo

E temos uma geração que insurge nos anos 1970, século passado...

E novamente extrapolou-se o número de páginas máximas por edição. Vamos fazê-lo em duas partes, pois...

SUMÁRIO

Expediente

Editorial Sumário

SILVINO SANTIN

GIL PINHEIRO

FREDRIC LITTO

‘RESTOS’ DE SETEMBRO SOBRE OS AÇORIANOS NO MARANHÃO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

JORNAL PEQUENO – EDIÇÕES AOS DOMINGOS - EDITOR: VINÍCIUS BOGÉA

Editor: ANTONIO AÍLTON

SAMARA VOLPONY, poemas

5 poemas do livro “SOLO”, de SEBASTIÃO RIBEIRO

MANANCIAL – POEMAS DE WILLIAM AMORIM

PAULO RODRIGUES ENTREVISTA O POETA SALGADO MARANHÃO

PALAVRAS DO MESTRE JORGE

ASSIM FALOU MEU PRIMO OZINIL

ACONTECEU

ARTIGOS & CONTOS & CRÔNICAS & POESIAS

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

NEM EXISTEM ROSAS...

DODÔ E AS ELEIÇÕES

O RIO É UMA FESTA

LAURA ROSA 140 ANOS DE NASCIMENTO

A LÓGICA INEXATA DO FUTEBOL INCOERENTE

AVE, IVES!

JOAQUIM HAICKEL

CERES COSTA FERNANDES

LUIS THADEU

JOSÉ NERES

OSMAR GOMES DOS SANTOS

JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA O GRITO NÃO SE CALA

A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE

ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA

E.. SE R2-D2 E C-3PO CHEGASSEM DE FÉRIAS NOS LENÇÓIS MARANHENSES?

JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA

JOSÉ NERES

MHARIO LINCOLN

O QUE ESTÁ POR TRÁS DO PRIMEIRO ROMANCE ESCRITO POR UMA MULHER NO BRASIL: “ÚRSULA”, DE MARIA FIRMINA DOS REIS?

À PROPÓSITO: A BANALIZAÇÃO DO ENSINO BRASILEIRO NÃO É PONTUAL

MHARIO LINCOLN

JOSÉ NERES

LEONETE OLIVEIRA ou Ângela Grassi brasileira – UMA BRILHANTE E DESCONHECIDA POETA DO ENTRESSÉCULOS XIX - XX ANTONIO AÍLTON

INFLUENTE CRÍTICO E POETA EQUATORIANO ANALISA POESIA DE MHARIO LINCOLN. HUMBERTO NAPOLEON VARELA ROBALINO PATRÍCIA TENÓRIO DIALOGA COM POEMAS DE ANTONIO AÍLTON E ALTAIR MARTINS

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

ÍNDIOS PROTESTANTES NO MARANHÃO COLONIAL: MISSÃO DO IPIAPABA

OS “MANEZINHOS” DA “DÉCIMA ILHA”

OUTRAS INSTITUIÇÕES LITERÁRIAS/CULTURAIS

Zeca tocantins

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

LUÍS PIRES – O ÚLTIMO SABIÁ DO BONFIM

MATRIOSKA E OUTROS POEMAS – de Kissyan Castro

INFINITOS SENTIMENTOS OU A INCÓGNITA DE UM SONHO

DOS ESPORTES & LAZERES

ANIVERSÁRIO DO MOTO CLUB DE SÃO LUÍS Rayssa Leal é CAMPEÃ MUNDIAL em Roma.

KISSIAN CASTRO

JOSÉ EWERTON NETO

TIME DO CAPIM AÇU É DESTAQUE NA REVISTA ELETRÔNICA LUDOVICUS 43 JULHO/SETEMBRO DE 2024. PIO XI É CAMPEÃO BRASILEIRO DE FUTSAL FEMININO SUB-17

MARANHENSES CONFIRMADOS NO BRASILEIRO SHOTOKAN CAMPEONATO ESTADUAL DE TÊNIS DE MESA

DRIBLES, POESIA E CANHOTEIRO

MARANHENSE É CAMPEÃ MUNDIAL DE BEACH TENIS

UMA PAIXÃO CHAMADA MARANHÃO!

EDUCAÇÃO FÍSICA

BRUNO ASSIS

FUTEBOL DE TRAVINHA

RAYSSA LEAL DÁ SHOW E É CAMPEÃ DO MUNDIAL DE SKATE STREET EM ROMA

28 DE OUTUBRO É O DIA DO JUDÔ!

HANDEBOL BARRA-CORDENSE TRAZ DOIS TROFÉUS DE CAXIAS

GUIMARÃES, EXEMPLO A SEGUIR

LUIZ RENATO ROBLE

Silvino Santin é um renomado acadêmico brasileiro com uma vasta trajetória na área de Filosofia e EducaçãoFísica.ElepossuigraduaçãopelaUniversidadeRegionaldoNoroestedoEstadodoRioGrande do Sul (1966), especialização pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1968), mestrado pela UniversitédeParisX,Nanterre(1972)edoutoradopelaUniversitédeParisIV(Paris-Sorbonne)(1974)

SantineraprofessortitularnaUniversidadeFederaldeSantaMariaeorientadornoProgramadePósGraduação em Ciências do Movimento Humano na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)3 Eletemumavastaproduçãoacadêmica,incluindoartigoselivrosqueabordamtemascomo corporeidade,éticaebioéticanaeducaçãofísica.

“Educação Física: Raízes Europeias e Brasilidade” -Nestaobra,Santinanalisaainfluênciaeuropeia naeducaçãofísicabrasileira,destacandoasparticularidadeseadaptaçõesculturais.

“Corporeidade e Educação” - Um estudo aprofundado sobre a importância da corporeidade na educação,abordandoaspectosfilosóficosepráticos.

“Ética e Bioética na Educação Física” - Este livro aborda questões éticas e bioéticas relacionadas à práticadaeducaçãofísica,propondoreflexõessobrearesponsabilidadedosprofissionaisdaárea.

Os livros de Silvino Santin abordam uma variedade de conceitos fundamentais na interseção entre EducaçãoFísicaeFilosofia.Aquiestãoalgunsdosprincipaisconceitosdiscutidosemsuasobras:

Corporeidade:Santinexploraaideiadequeocorponãoéapenasumobjetofísico,masumadimensão integraldaexistênciahumana.Eleargumentaqueacorporeidadeéessencialparaacompreensãodo serhumanoemsuatotalidade.

Ética e Bioética: Em suas obras, Santin discute a importância da ética na prática daeducação física, abordandoquestõescomoaresponsabilidadedosprofissionaiseosdilemasmoraisquepodemsurgir nocontextoesportivoeeducacional.

Educação Integral:Eledefendeumaabordagemholísticadaeducaçãofísica,ondeodesenvolvimento físico é integrado ao desenvolvimento mental e emocional, promovendo o crescimento integral do indivíduo.

Influência Cultural:Santinanalisacomoaspráticasdeeducaçãofísicasãoinfluenciadasporcontextos culturaisespecíficos,destacandoaimportânciadeadaptaressaspráticasàsrealidadeslocais.

Relação Corpo-Mente: Ele investiga a interconexão entre corpo e mente, propondo que a educação físicapodecontribuirsignificativamenteparaobem-estarmentaleemocionaldosindivíduos.

EssesconceitossãocentraisparaacompreensãodascontribuiçõesdeSilvinoSantinàeducaçãofísica eàfilosofia

IMPACTOS

Revalorização da Corporeidade:Santintrouxeumanovaperspectivasobreaimportânciadocorpo na educação, promovendo uma visão mais holística e integrada do desenvolvimento humano. Sua abordagemteminfluenciadocurrículosepráticaspedagógicasemdiversasinstituiçõesdeensino.

Ética na Educação Física: Suas discussões sobre ética e bioética têm levado a uma maior conscientizaçãosobrearesponsabilidadedosprofissionaisdeeducaçãofísica.Issotemresultadoem práticasmaisresponsáveisereflexivas,tantonoensinoquantonapráticaesportiva.

Interdisciplinaridade: Ao conectar a educação física com a filosofia, Santin tem incentivado uma abordageminterdisciplinarqueenriqueceacompreensãoeapráticaeducacional.Issotemfomentado colaboraçõesentrediferentesáreasdoconhecimento.

Influência Internacional:AsobrasdeSantintêmsidoreconhecidaseutilizadasnãoapenasnoBrasil, mastambémemoutrospaíses,contribuindoparaodebateglobalsobreeducaçãofísicaefilosofia.

Formação de Profissionais:Muitosprofissionaiseacadêmicostêmsidoinfluenciadosporsuasideias, levandoessasperspectivasparasuaspráticasepesquisas.Issotemajudadoaformarumanovageração deeducadoresfísicosmaisconscientesepreparadosparalidarcomosdesafioséticosefilosóficosda profissão.

EssesimpactosdemonstramarelevânciaeaprofundidadedascontribuiçõesdeSilvinoSantinaocampo acadêmico

SilvinoSantinabordaadiversidadeculturalcomumaperspectivainclusivaereflexiva,reconhecendoa importância de adaptar práticas educacionais e esportivas aos contextos culturais específicos. Aqui estãoalgumasmaneiraspelasquaiselelidacomadiversidadeculturalemsuasideias:

Adaptação Cultural: Santin enfatiza a necessidade de adaptar as práticas de educação física às realidades culturais locais. Ele argumenta que as metodologias e abordagens devem ser sensíveis às tradições,valoresenecessidadesdascomunidadesondesãoaplicadas.

Valorização das Culturas Locais:Emsuasobras,eledestacaaimportânciadevalorizareintegraras culturaslocaisnaspráticaseducacionais.Issoincluioreconhecimentoeaincorporaçãodejogos,danças eatividadesfísicastradicionaisquefazempartedopatrimônioculturaldeumacomunidade.

Educação Inclusiva: Santin defende uma educação física que seja inclusiva e acessível a todos, independentemente de suas origens culturais. Ele acredita que a diversidade cultural enriquece o ambienteeducacionalepromoveumacompreensãomaisamplaeempáticaentreosalunos.

Diálogo Intercultural: Ele promove o diálogo intercultural como uma ferramenta essencial para a educação. Ao incentivar a troca de experiências e conhecimentos entre diferentes culturas, Santin acreditaqueépossívelconstruirumambientedeaprendizadomaisricoecolaborativo.

Crítica às Influências Externas: Santin também critica a imposição de modelos estrangeiros de educaçãofísicaquenãoconsideramasespecificidadesculturaislocais.Eledefendeacriaçãodepráticas educacionaisquesejamautênticaserelevantesparaascomunidadesondesãoimplementadas.

OlegadodeSilvinoSantinnaformaçãodeprofessoresdeeducaçãofísicaévastoeprofundo.Aquiestão algunsdosprincipaisaspectosdesuacontribuição:

Enfoque na Corporeidade: Santin trouxe uma nova compreensão sobre a importância da corporeidadenaeducaçãofísica,influenciandoaformaçãodeprofessoresparaquevalorizemocorpo comoumtodointegrado,nãoapenascomouminstrumentodedesempenhofísico.

Ética e Responsabilidade: Ele enfatizou a importância da ética na prática profissional, preparando professoresparalidarcomdilemasmoraiseparaatuardemaneiraresponsáveleconscienteemsuas carreiras.

Educação Holística: Santin promoveu uma abordagem holística na formação de professores, incentivando-osaconsiderarodesenvolvimentofísico,mentaleemocionaldosalunos.Issotemlevado apráticaspedagógicasmaisintegradaseeficazes.

Sensibilidade Cultural: Sua ênfase na adaptação cultural e na valorização das tradições locais tem ajudadoaformarprofessoresquesãosensíveisàsnecessidadesecontextosculturaisdeseusalunos, promovendoumaeducaçãomaisinclusivaerelevante.

Produção Acadêmica:AvastaproduçãoacadêmicadeSantin,incluindolivroseartigos,temservido como referência fundamental para a formação de novos professores. Suas obras são amplamente utilizadasemcursosdelicenciaturaepós-graduação,influenciandogeraçõesdeeducadores.

Inovação Pedagógica:Eleincentivouainovaçãonaspráticaspedagógicas,desafiandoosprofessores abuscarnovasmetodologiaseabordagensquepossamenriqueceroprocessodeensino-aprendizagem naeducaçãofísica.

EssesaspectosdemonstramcomoSilvinoSantintemmoldadoaformaçãodeprofessoresdeeducação física,deixandoumlegadoduradouroquecontinuaainfluenciaraeducaçãoeapráticaprofissional Blog do Santin

SILVINO SANTIN: um currículo não acadêmico

(publicadonarevistaMotrivivênciaAnoXXI–n.32/33–junhoedezembro/2009)

Nascinameia-tardedodia26desetembrode1937.Nacasapaternaemplenaárearural.Geralmente, naquelaépoca,costumava-senascerànoite.Umaquestãoderecato,acho.Aparteira,práticaemtodos os sentidos, sabia que o parto ia ser difícil. Recomendou evacuar a casa. Conseqüência pré-natal: espanteitodosmeusirmãosmaisvelhos.Inteligente!Osmaisnovosnãotinhamnascido.Eláseforam “brincar” na casa da vizinha. Os gemidos da mãe para abrir o caminho ao nascituro cabeção, ou cabeçudo,podiam assustar, traumatizar.Nenhumrecursodeobstetrícia científica.Apenasosolhares dosquadrosdesantoseotestemunhodocolchãodepalhadesfiadademilho.

Desde esse primeiro registro de vida até chegar à escola, fui sobrevivendo mergulhado na vida pluridimensional. Bastavaviver. Reforço vindodeumestágioinfantilna casa danona Rosa.Láhavia

vida em toda parte. Tudo era vivo. Sentia-me o legítimo matuto, filho do mato. Conclusão tirada das raras vezes que era levado até a vila para a missa dominical. Entrava-se na primeira rua à direita. O necessárioparaentrarnaigreja.Muitasvezestenteiimaginarparaondeiriasecontinuasseemfrente. Nenhumaconclusão.Tinhacertezaqueestariaperdido.Nomato,eusabia,oscaminhosqueeuabriame levariamaondeeuqueriair.

Aos sete anos me matricularam no Colégio das freiras. Não sabia falar português. No primeiro mês recebiumprêmioporserbemcomportado,silenciosoeatento.Muitomaistarde,concluiqueoprêmio erainjusto.Obomcomportamentoeradevidoaofatodenãosaberfalarportuguês.

Depoisfui–memandaram–estudarnoseminário.MeuDeus,quantasregrasgramaticais!Delínguas vivasemortas.Ostempospassaram.Deunoquedeu.Largueioarado.Olheiparatrás,semdignidade, comorezamosevangelhos.Recupereiomundo.

SoulicenciadoemFilosofia,maisporoportunidadedoqueporconvicção.Ovivermemostrouquevaleu apena.Acertei,errando.

Atenção!Asminhasdescobertassãosempremuitotardias.

Em1968tenteiummestradoemculturabrasileironaFaculdadedeLetrasdaUFRJ.Tema:Categorias existenciais em Seara Vermelha de Jorge Amado e Vidas Secas de Gracilhano Ramos. Orientador, Eduardo Portela. Participei da passeata dos 100 mil, muito mais como colono do que como revolucionário. O AI 5 deletou tudo. Emprestei a minha ex-dissertação a um professor de teoria da literatura.Enuncamais.

Em1970,cavei,porrazõesdodestino,umabolsadogovernofrancêsparamestradoedoutoradoem filosofia da linguagem nas obras de Heidegger (mestrado) e Maurice Merleau-Ponty (doutorado). Orientador EmmanuelLevinas. Nas primeirasférias trabalhei de motorista da empresa AVIS. Ganhei dinheiro.Compreicarroebarraca.Acampeipor17países.Emfinalde1974volteicomosdoiscanudos. Fuiestreá-losnaUnijui.Aconteceualgumruído.Jáem1975,comeceicomoprofessorconvidado,depois, como professor visitante me transferi para lecionar no recém credenciado curso de mestrado em FilosofiadaUniversidadeFederaldeSantaMaria.Aesposameacompanhou.Ondenasceuonossocasal dereposição.

Uma surpresa inesperada. Eu chegara para filosofar, mas a tendência era ensinar filosofia. Criei a disciplinadeFilosofiadaLinguagem.Perdiomando.Umprofessorargentinoatransformouemlógica. O chefe de departamento, sabendoque eu nãoenjeitava parada, todavez que algum curso solicitava umacadeiradefilosofia,láiaeufilosofar.Assim,filosofeicomosquímicosnomestradodequímica,com osengenheirosnumcursodepatologiadaconstruçãocivil,comosmestrandosdocursodeextensão rural, com os calouros na medicina e do curso de letras. Por fim, recebi permissão para filosofar na Educação Física. Eta, mundo novo! E criei raízes. No princípio, quando a educação física precisava mostrarsuaidentidade, osdebatespedagógicos, sociológicos, psicológicos, filosóficos, políticoseram acalorados. Carregado por esses ventos participei de inúmeros eventos em quase todo o Brasil. Em 1992,recebiohonrosoconviteparacomporocorpodocentedomestradodaESEF-UFRGSduranteseis anos.Lembro,também,osgratificantesefreqüentesconvitesparaparticipardeatividadesacadêmicas daESEF-UFSC.

Não tardou que as caravelas cabralinas invadissem o território e o entulhassem com índices performativos, técnicas de rendimento, talentos esportivos e, especialmente, com o princípio de competiçãocomoideologiadedominaçãoedesuperioridadeaqualquerpreço.Ocorpodeixoudeser vidaecentrodeamor,parasermáquinaderecordes.Aíosmercantilistaschegarameinstalaramseus bazares.

Nãopossoesqueceroimensoecarinhosoespaçoabertoparaasminhasfilosofadaspelaenfermagem daUFSC,daUFP,daUFRGS,daUFSM.

Aeducaçãofísicaeaenfermagemmemostraramduasfacesdocorpo.Afaceforte,saudávelaservivida ouexplorada.Eafacefragilizada,enferma,sofridapedintedecuidadoecarinho.

Publiqueiumadúziadelivrosindividuais, umadezenaemparceriaeumbomnúmerodeartigosem revistasejornais.

Depois desta virada tecnicista, já aposentado, optei por escrever textos e enviar aos congressos, seminários sem me preocupar se seriam aprovados. Continuo com a minha determinação, eu quero filosofar,nãopreenchernúmerodepáginas.

Descobri,agora,queoprincípiodareversibilidadedeMerleau-Pontyseaplicaparaomeucurrículoea minhabiografia.

S.SantinSantaMaria,26.08.2010.

ScannedDocument(ufsc.br)

CORPOREIDADE E EDUCAÇÃO FÍSICA: A OBRA DE SILVINO SANTIN EM PAUTA NO BIBLIOTECA DE IDEIAS(wordpress.com)

OCORPOSIMPLESMENTECORPO|Movimento(ufrgs.br)

TEXTOS(ufsc.br)

SilveiraMartins:PatrimônioHistórico-Cultural-SilvinoSantineAntonioIsaia-TraçaLivrariaeSebo (traca.com.br)

Ocearense,nascidoem18dedezembrode1952,foiradicadonoMaranhãoesetornouumdos maioresatletasdovoleiboldoBrasil

Faleceunamadrugadadestaquarta-feira,9,nohospitaldaIlha,emSãoLuís,FranciscoGilmário Pinheiro,aos71anos.Elesofriadediabeteseestavabastantedebilitadoporcontadadoençaesuas complicaçõeseacabounãoresistindo.

GilfoitécnicodevôleidocolégioMaristadurantelongosanosefoiumdosmelhoresjogadoresquejá atuaramnoBrasil.

FranciscoGilmárioPinheiro,conhecidocomoGil,foiumafiguraimportantenovoleibolbrasileiro.Ele faleceunamadrugadadehoje,9deoutubrode2024,aos71anos1.GilfoitécnicodevôleidoColégio MaristaemSãoLuíspormuitosanosetambémjogoupelaseleçãobrasileira.Eleeracearense,masse radicounoMaranhão,ondesetornouumdosmaioresatletasdovoleiboldoBrasil1

Gil, ou Francisco Gilmário Pinheiro, teve uma carreira notável no voleibol brasileiro. Ele começou como jogador e, ao longo dos anos, se destacou tanto em quadra quanto fora dela. Aqui estão alguns pontos importantessobreacarreiradele:

1. Jogador da Seleção Brasileira:Giljogoupelaseleçãobrasileiradevoleibol,ondedemonstrouseu talentoepaixãopeloesporte.

2. Técnico de Vôlei:Apóssuacarreiracomojogador,elesededicouatreinarjovensatletas.Foitécnico doColégioMaristaemSãoLuís,ondeinfluencioueinspiroumuitosjovensaseguiremcarreirano voleibol.

3. Contribuição ao Voleibol Maranhense:GilseradicounoMaranhãoesetornouumafiguracentral nodesenvolvimentodovoleibolnoestado.Eleajudouaelevaroníveldoesportenaregiãoefoium mentorparamuitosatletas.

4. Legado: Mesmo após sua aposentadoria, Gil continuou a ser uma inspiração para a comunidade esportiva.Seulegadoviveatravésdosmuitosatletasqueeletreinoueinspirouaolongodosanos. Gil será lembrado não apenas por suas habilidades técnicas, mas também por seu compromisso com o desenvolvimentodoesporteeseuimpactopositivonavidademuitosjovensatletas.

Vôlei de Luto: morre o melhor técnico que Rondônia já teve

PorLúcioAlbuquerque

Elechegouaquicomaintençãodeir,comomuitosdesuaidadedizendoque,comooutrosnaquelaépoca, pretendiairparaMachu-Pichu,masacabouenvolvidopelosque,nofinaldadécadade1970,começavama darosprimeirospassosparaorganizarovoleibolnoaindaTerritórioFederal.

Levadoporumamigoparaconversarcomoutroapaixonadopelovoleibol,oentãosecretárioportovelhense deAdministraçãoChiquilitoErse,queoconvenceuaficareconseguindosuacontratação,ocamaradaque queriacurtirMachu-Pichuficou.

Ontem,numhospitalemSãoLuís,MA,ocearensedeMaranguapeFranciscoGilmárioPinheiro,queomundo dovoleibolconheceupor“Gil”nosdeixou,aos71anos,conformeainformaçãomandadapelaesposa,agora viúva,arondonienseLenaPinheiro.

QUEM FOI Gil começou no voleibol incentivado por padres, em Fortaleza. Depois de chegar à seleção cearense, ele mudou para São Luís participou, pelo Maranhão, do zonal Norte do troféu Olímpico, em Manaus.EmPortoVelhooGil,quejáforatreinadordevoleibolemFortalezaeSãoLuís,etrabalharacom formaçãodeatletasnaquelasduascapitaisimplantouescolinhasdevoleibol,alémdeassumirtreinamento deseleçõeseclubesdeRondônia.

Foioquesepodechamarde“épocadeouro”dovoleibolrondoniense,quandooesportefoilevadoparao interioremuitosatletasparticiparamdasseleçõeslocais.Nofinaldadécadade1980oGilvoltaaSãoLuís. DesdeentãoeleesteveemPortoVelho3vezes,naúltimaquandofeznoFerroviárioolançamentodeseu livro“5setssemprevencedores”.

https://youtu.be/sqS2zVnbZuk

TIO FRED com o MANO PEREIRA

Professor emérito da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde lecionou de 1971 a 2005; foi Coordenador-Fundador do laboratório de pesquisa “Escola do Futuro da USP”, de 1989 a 2006; e é Presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância-ABED desde 1995. Em 30 de novembro de 2011, ele recebeu seu segundo Prêmio Jabutí da Câmara Brasileira do Livro, na categoria Tecnologia e Informática, pelo seu livro Aprendizagem a Distância (São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010). Ele é membro do Conselho Editorial das seguintes revistas científicas: American Journal of Distance Education (EUA), Open Learning (UK), International Review of Research on Open and Distance Learning (Canadá), Journal of Online Learning and Teaching (Australia/EUA), e Revista Interamericana de Educación a

FREDRIC MICHAEL LITTO

Distancia (Espanha). No period 2012 a 2016 ele foi membro do Board of Trustees do ICDE – International Council of Open & Distance Learning (Noruega). Em dezembro de 2013, o Sindicato de Engenheiros do Estado de São Paulo conferiu a ele o título de “Personalidade em 2013 na Tecnologia de Empreendedorismo e Inovação em Educação para services em prol do desenvolvimento de Engenharia e Tecnologia no Brasil”. Em março de 2014 os Diretores e Comité de Premiações do OpenCourseWare Consortium (M.I.T.) o selecionou a ser o recipiente do “Prémio para Realizações durante toda sua Vida” em “reconhecimento dos seus esforços durante toda sua carreira para aumentar acesso à educação e a promoção de recursos educacionais abertos”.

Conheci-o quando fazia o Mestrado em Minas Gerais, levado pelo Laércio, até seu apartamento em São Paulo. Lá, me emprestou um material que tinha trazido dos Estados Unidos, de um Congresso de Educação – Gardener – As múltiplas inteligências... àquela época, eram ‘apenas’ 5, hoje, já são mais de 50...

Muito importante para a Educação Física brasileira, um grande amigo que se vai... mais um...

UNESCO nomeia o Rio de Janeiro a Capital Mundial do Livro 2025

A diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, designou o Rio de Janeiro (Brasil) a Capital Mundial do Livro para 2025.

Os livros são veículos essenciais para acessar, transmitir e promover a educação, a ciência, a cultura e a informação em todo o mundo. Graças aos livros, nós nos mantemos informados, nos divertimos e somos capazes de entender melhor o nosso mundo. É por isso que, todos os anos, a UNESCO designa uma Capital Mundial do Livro. Depois de Acra, em 2023, e Estrasburgo, em 2024, eu tenho o prazer de anunciar a nomeação do Rio de Janeiro como Capital Mundial do Livro para 2025.

Audrey AzoulayUNESCO Director-General

A UNESCO e o Comitê Consultivo da Capital Mundial do Livro reconheceram o fato de o Rio de Janeiro demonstrar a importância de seu patrimônio literário, juntamente com uma visão claramente definida e um plano de ação para promover a literatura, a sustentabilidade do mercado editorial e a leitura entre os jovens, aproveitando as tecnologias digitais. Esta é a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa é nomeada Capital Mundial do Livro.

Em conformidade com as prioridades expressas na Carta da Capital Mundial do Livro, o Rio de Janeiro concebe seu projeto como tendo a capacidade de promover mudanças sociais – por exemplo, por meio da alfabetização, da educação e da erradicação da pobreza – e produzir benefícios econômicos sustentáveis relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. O ano de comemorações terá início em 23 de abril de 2025, no Dia Mundial do Livro e dos Direitos Autorais. Sobre as capitais mundiais do livro

As cidades nomeadas Capital Mundial do Livro pela UNESCO se comprometem a promover o livro e a leitura para todas as faixas etárias e grupos sociais, dentro e fora das fronteiras nacionais, e a organizar um programa de atividades para o ano.

Como a 25ª cidade a ostentar o título desde 2001, o Rio de Janeiro segue Madri (2001), Alexandria (2002), Nova Deli (2003), Antuérpia (2004), Montreal (2005), Turim (2006), Bogotá (2007), Amsterdã (2008), Beirute (2009), Liubliana (2010), Buenos Aires (2011), Erevã (2012), Bangkok (2013), Porto Harcourt (2014), Incheon (2015), Breslávia (2016), Conacri (2017), Atenas (2018), Xarja (2019), Kuala Lumpur (2020), Tiblíssi (2021), Guadalajara (2022), Acra (2023) e Estrasburgo (2024).

O Comitê Consultivo da Capital Mundial do Livro da UNESCO é formado por representantes da Federação Europeia e Internacional de Livreiros (EIBF), do Fórum Internacional de Autores (IAF), da Federação Internacional de Associações de Bibliotecas (IFLA), da Associação Internacional de Editores (IPA) e da própria UNESCO.

LANÇAMENTOS

ComaamigaeescritoraCeresFernandes,querealizoumagistraltrabalhodeampliaçãodasatividadesculturaisdo CentrodeCriatividadeOdyloCosta,filho,atéqueoGovernoanterior,demaneirainexplicável,resolveuformalizaro desmantelamentodesuaestrutura.AtéoVampiroconfessou-mesuasolidariedadeeapoioaelaeseutrabalho.Acorda, SãoLuís

LANÇAMENTO DA ANTOLOGIA "MURAL DAS MINAS", organizada pelo Prof. Dr Marcos Fábio da UFMA. (17/09), na AMEI

São 50 escritoras (e eu, muito honrada, em estar entre elas). Prefácio do acadêmico (da AML e ALL), José Neres.

SAFRA DE QUARENTENA

(ZECA TOCANTINS)

Joãozinho Ribeiro um é uma espécie de parabólica acoplada a um transmissor que as divindades celestiais espalharam pelo planeta terra, cumprindo uma determinação do todo poderoso, para manter-se informado em tempo real da evolução ou mesmo da degradação de seus filhos. Um agente secreto que codifica as informações e transmite em forma de poesia e de canções. Agora mesmo ele nos apresenta Safra de Quarentena, um relatório de suas atividades secretas.

Muita gente não conseguiu atravessar essa quarentena e aqueles que conseguiram, creio, ficaram feridos pela perda dos que ficaram. Esse impacto deveria produzir um novo comportamento "sempre calma e sem demora, inundou de fios de prata a cabeça da senhora", essa descoberta, esse reconhecer "ser passageiro" deveria ser suficiente para apontar uma nova forma de convivência. Nem bem tinha terminado a quarentena, as nações começam se degladiar. A riqueza das bombas produzindo a miséria da vida.

"A insuportável Esperança" grita o poeta entre o estouro das bombas e apela: "Se o amor não é pra sempre ser, que seja agora, enquanto dure. Que seja eterno, enquanto cure". Apesar de todo esse desejo é impossível esconder o desânimo. Era de se esperar que aqueles que venceram a quarentena vencessem também as suas ganâncias, que o famigerado tempo dos senhores e dos escravos ficassem no passado. Sendo visitado apenas para mostrar que aprendemos a lição, somos iguais, somos irmãos e a vida é um bem coletivo.

Alguém já disse que a palavra anseia ser música, também posso ter dito em algum momento. Creio que a busca da musicalidade pode fazer o poema, indicar os seus cortes, criar ritmos e palavras, ampliar a poética, a beleza e a verdade do verso. Tenho também a música no coração. Joãozinho Ribeiro é um grande mestre nestas duas linguagens poéticas; os seus poemas estão prontos para o palco e para a vida. O poeta capta aqui e ali as palavras em diálogo com a poesia da vida. O filósofo espanhol Ortega e Gasset diz: “Eu sou eu mais as minhas circunstâncias”. E o poeta da música/músico da poesia viaja no imaginário, mas está sempre atento às circunstâncias da vida; com ternura e compaixão acessa os seus versos e nos presenteia com generosa amizade - sempre delicado com a existência e com o verbo.

O livro Safra de Quarentena é mais um exemplo da sua criação poética mesmo em tempos difíceis, quando a sagrada Pachamama corre riscos sérios de destruição das formas de vida, quando o ser humano embrutecido está cego, e imperativo destrói a sua própria casa. Talvez um dos mistérios da poesia seja entender a múltipla leitura das palavras dos poetas, quando buscam a mutação do bruto dia em poesia, e salvam a vida do naufrágio, e as palavras do silêncio dos dicionários. Sim, adiar o fim do mundo, como diz o nosso poeta-filósofo de Gaia, Ailton Krenak. E Joãozinho vai a desfiar os sofrimentos e as mazelas do planeta, dos meninos, dos pobres, da vida insana e cruel; mas acredita que o amor cura feridas, manchas.

“Se o amor não é para sempre ser, /Que seja agora enquanto dure, / Que seja eterno, enquanto cure.”

Evoé! ” Que sempre viva em nosso coração o Poeta-menestrel Joãozinho Ribeiro! www. poetahamiltonfaria.com

Canal Poeta Hamilton Faria

Youtube: Canal do Poetariado

lançamento recente do livro “Safra de quarentena”, do poeta @joaobatistaribeirofilho (@joaozinhoribeiromilhoesdeuns). Porque amanhã, às 11h, haverá mais um lançamento, agora na Feira do Livro. Abaixo, um trecho da apresentação que fiz da obra, no Convento das Mercês (o texto na íntegra está na página oredemoinho.blogspot.com):

Joãozinho Ribeiro faz uso da linguagem do povo, fluida, para fundar a sua poesia concisa, sem rodeios ou contorcionismos semânticos. Um violeiro refinado, urbano, bramindo aqui e ali por uma felicidade urgente, mas nunca uma felicidade superficial, instantânea, como um post de rede social.

“Safra de quarentena” é uma obra para quem, mesmo em tempos de desolação, ainda se permite acreditar na invenção do futuro, que pode ser agora. É um convite para encontrar, nos escombros, a colheita da paixão, da sorte, da rebeldia, dos lírios e de algum delírio.

ACONTECIMENTOS

SOBRE

AÇORIANOS NO MARANHÃO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Academia Ludovicense de Letras

Academia Poética Brasileira

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Centro Esportivo Virtual

Aconteceu nesta semana, terça-feira, um encontro da Casa dos Açores no Maranhão, com a presença de um representante daquela comunidade, Dr. José Andrade.

Os participantes da mesa se referiram à chegada dos primeiros açorianos aqui chegados, à partir de 1619.

A relação das Ilhas dos Açores com o Maranhão é anterior à restauração portuguesa /espanhola ocorrida em 1615. Sabemos que no período de 1580 a 1640 a região pertencia à Espanha, pois o reino de Portugal perdera seu último soberano, e a coroa então passou para o domínio espanhol. É neste período que a França ocupa a região, e Portugal tenta retomá-la.

Na guerra de (re)conquista territorial, muitos militares do exército português/espanhol, assim como sacerdotes participaram dos eventos ocorridos, principalmente à partir de 1603. Vejamos:

A primeira tentativa para expulsar os franceses do Maranhão foi a do açoriano Pêro Coelho de Sousa que chegou de Pernambuco em 1603 e desembarcou no Ceará com 65 soldados e mais de 200 índios. Já Barretto (1958)dizqueintegravam aexpedição 86europeus e200 indígenas,e àfrente, Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda. Jacques Riffault percorria o litoral do Ceará entre 1603-1604, quando o Capitãomor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: [...] “descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem” . Em 1604, Pero Coelho de Souza passou rumo a Ibiapaba, e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contra os franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim). Barretto (1958) informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92).

PERO COELHO DE SOUZA (Ilha de São Miguel, fins do século XVI Lisboa, meados do século XVII) foi um explorador português, oriundo dos Açores. Chegou ao Brasil em 1579 e foi o primeiro representante da Coroa Portuguesa a desbravar os territórios das capitanias da Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará, entre os séculos XVI e XVII. Concunhado de Frutuoso Barbosa exerceu interinamente o governo da Paraíba após a administração deste, e foi vereador da câmara da Cidade da Parahyba pelos anos de 1590

Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa, por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que há anos atuavam na capitania do «Siará Grande». Esse fidalgo da casa do rei e militar experiente, partiu da Paraíba para a conquista as terras cearenses.

Pero Coelho morreu em Lisboa, depois de passar longos anos a requerer, inutilmente, a paga dos seus serviços.

Logo após essa tentativa de se chegar ao Maranhão, houve, em 1607, outra, com dois padres jesuítas, o açoriano Francisco Pinto, de Angra, Ilha Terceira, de cinquenta e três anos e o alentejano Luís Figueira, de Almodávar, que desembarcaram na foz do rio Ceará e foram trucidados pelos índios, com Francisco Pinto sendo devorado.

FRANCISCO DA COSTA PINTO, padre Jesuíta, nascido em 1552, da cidade de Angra, Ilha de Terceira. Morto em 11 de janeiro de 1608, na Chapada de Ibiapaba

Açoriano, veio para o Brasil, quando criança, acompanhando a família que imigrou para o Brasil. Aos 17 anos de idade, deixou o Estado de Pernambuco seguiu para a Bahia e em 31 de outubro de 1568 ingressou na Companhia de Jesus. Não chegou a completar o curso, recebendo a o título de Coadjutor espiritual formado. Em 1588 recebeu a ordens sacras, sendo considerado padre. Devido a seu conhecimento das línguas indígenas é indicado para a Missão do Maranhão No dia 20 de janeiro de 1607, partiu do Recife, em uma embarcação que ia buscar sal coletado nas salinas na foz do Rio Mossoró[4], juntamente com o padre Luís Figueira para o Siará Grande, com o intuito de catequizar os nativos daquele território.

Da conquista, efetiva, com a expulsão dos franceses, participaram outros açorianos:

Alírio Cardoso (2011) apresenta, em um quadro, a origem de alguns oficiais que participaram da Conquista do Maranhão e Grão-Pará (1615-1616, baseado em Berredo (1988). São eles:

NOME

Manuel de Sousa de Eça

Diogo de Campos Moreno

POSTO ORIGEM

Capitão-Mor/ Capitão de Infantaria

Ilhas dos Açores

Sargento-Mor Tanger ou Ilha Terceira

Bartolomeu Ramires Incerto

Domingos Correia

Ilhas dos Açores

Maestro de Caravela Ilha Graciosa (Açores)

FONTE: CARDOSO (2011), de acordo com BERREDO, Anais Históricos do Estado do Maranhão. São Luís: Alumar, 1988 [1749], § 198-199; § 248; §304-308; §436; § 763-780.

MANUEL DE SOUSA (DE SOUZA) DE EÇA (DEÇA) (DE SÁ) (E SÁ). Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Capitão-môr do Pará que participa en la conquista de Maranhão. Fue enviado, con el rango de capitão-môr o de capitão de Infantaria, como parte de la flota de socorro integrada por siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses (CARDOSO, 2011, p. 331, CARDOSO, 2012, p. 164

DIOGO DE CAMPOS MORENO Nacido en Tanger o en la Ilha Terceira, participó como alférez en la Guerra de Flandes, en los ejércitos de Alejandro Farnesio. Nombrado Sargento mor do Brasil en 1602 cuando va a Brasil con el gobernador Diogo Botelho (Alvará de 25 de enero de 1602). A su vuelta a Europa en 1613 el rey Felipe III extinguió el cargo, pero lo volvió a nombrar para el mismo en 1613 cuando lo mandó a la conquista de Maranhão (Alvará de 19 de diciembre de 1613). Participó en las campañas para la conquista de Maranhão de 1614 y 1615. Según Cardoso (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164)

BARTOLOMEU RAMIRES Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Enviado con cargo desconocido o "Incerto" en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 con el fin de arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164).

DOMINGOS CORREIA - Lugar de nacimiento: Ilha Graciosa. Mestre de caravela. Enviado en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164). Recebeu em julho de1635 Carta de Capitão de infantaria da armada do Brasil. 1Recebeu em junho de 1635 Carta de Provedor do Rio de Janeiro.

Depois daocupação doimportanteponto estratégicodailhadoMaranhão, em 1615,Jerónimo deAlbuquerque ficou ao comando das forças lusas na cidade de São Luís, fundada, em 1612, pela força expedicionária gaulesa derrotada (ALMEIDA, 2012); diz-nos esta autora: “que nesta altura estava a ser dada prioridade à ocupação efectiva e controlo desta região por parte dos governantes”:

Em 1615 Jorge de Lemos Bettencourt propôs-se a encaminhar dos Açores para o Pará mil pessoas de forma a constituir-se um núcleo populacional, mas na prática só conseguiu transportar cerca de metade dos efectivos. Quando esses colonos chegaram ao Maranhão, em 1618, souberam através da população local das

condições inóspitas e das dificuldades que iriam encontrar no estabelecimento na região do Pará. A própria região do Maranhão carecia de gente para a constituição de povoados, pelo que se dava prioridade ao expediente de povoar essa zona comparativamente ao restante conjunto brasílico. O próprio governador do novo Estado do Maranhão tardou a ocupar o seu posto. [...].

O capitão-mor JORGE DE LEMOS BETTENCOURT (ou Betancor, como também se encontra nos documentos da época) era natural das Ilhas de Açores e fidalgo da Casa Real. Seu pai havia servido em Pernambuco e seu avô, o fidalgo João de Bettencourt de Vasconcellos, fora degolado por ordem do Prior do Crato quando prestava serviços ao soberano na Ilha Terceira. Bettencourt ofereceu-se para levar duzentos casais provenientes das Ilhas dos Açores para povoarem o Maranhão e o Pará, arcando com todas as despesas da viagem até a chegada à terra. (1636. AHU_ ACL_CU_009, Caixa 1, Doc. 109, IN . CORRÊA, 2012).

Jorge de Lemos de Bettencourt, nascido em 1540, era filho de Jorge de Lemos, o velho, filho de João Dias de Lemos (1480), nasceu em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e de Maria Gonçalves De Ávila, nascida em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e tinha duas irmãs,. Francisca de Lemos, e Ignez Gomes de Ávila, 1560, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal. Casado com Joana Bettencourt de Vasconcelos, pais de Pedro de Lemos Betancur, nascido em 1580, na Terceira; Francisco de Lemos Bettencourt; Jorge de Lemos Bettencourt, (II); Pedro de Lemos Betancur e Ignes Betancurt.

A 12 de julho de 1619, Antonio Ferreira de Bittencourt, natural da ilha de São Miguel, conseguiu uma autorização da Fazenda Real dos Açores para transportar, no período de três anos, cerca de 50 casais para o Maranhão, tudo à custa da sua fazenda. De fato, o navio São Francisco chega ao Maranhão no dia 29 de outubrode1621 com 40 casais, totalizando148pessoas,conformeconstaacertidãodatadade24denovembro de 1622, apresentada pelo provedor da Fazenda Real dos Açores .

“Estavam esses colonos contemplados no plano de governo metropolitano de instalar a indústria de açúcar incluindo dois engenhos de moer cana-de-açúcar, o primeiro sendo instalado na terra firme à margem do rio Itapecuru.” (MARIN, 2002, citado por MARQUES, 2005)).

“Eu me resolvo que esta é a melhor terra do mundo, donde os naturais são muito fortes e vivem muitos anos, e consta-nos que, do que correrem os portugueses, o melhor é o Brasil, e o Maranhão é Brasil melhor [...].” (SILVEIRA, 2001). Em 1624, quando estas palavras são escritas o Maranhão contava já com 300 habitantes, divididos nas fortalezas de São Felipe e São Francisco em São Luís; São José, no povoado de Itapari e a de Nossa Senhora da Conceição na região de Itapecuru. Além dessas, contavacomduasestânciasondemoravamalguns francesesqueficaramnailha,depoisdecasados comíndias, mestiços e portugueses, assim como nove aldeias espalhadas nas circunvizinhanças, cujos índios serviam aos colonos. (MARQUES, 2005).

A partir de 1633, novas levas de imigrantes estimulados pelas palavras de Simão Estácio da Silveira chegaram no Maranhão em dois períodos distintos, jádepois dePortugal ter reconquistadoasua independência em 1640. O primeiro foi em 1648-1649 quando um decreto real, expedido em 19 de setembro de 1648, quis recrutar 100 casais na ilha de Santa Maria, ou mais ou menos entre 500 a 600 pessoas, tarefa que foi concedido por ordem do Conselho Ultramarino de 6 de abril de 1649 ao mercador alemão Martin Filter. Deste modo, além dos 52 casais que foram de Santa Maria, outras 365 pessoas da ilha de São Miguel chegaram ao Maranhão em agosto do ano seguinte, conforme relata Manuel de Sousa Menezes num artigo de 1952 (citado por MARQUES, 2005).

A discussão girou em torno das migrações após a conquista... esquecendo-se da participação de açorianos de antes da criação do estado Colonial do Maranhão...

CHAMADA PÚBLICA no site da Prefeitura!

A 17ª Feira do Livro de São Luís – FeliS, será realizada no período de 1º a 10 de novembro de 2024, das 9h às 21h, Praça Maria Aragão.

As inscrições para lançamento de livros iniciam na segunda-feira, 23/09, na Secretaria Municipal de Cultura - SECULT.

ESTIVE ONTEM PELA SEGUNDA VEZ NA FELIS...DEI UMA ESPIADA NA " HOMENAGEM" A JUSTO JANSEN...

GENTE??!! ESSAS OBRAS AQUI NAO SAO DO DR. JUSTO JANSEN FERREIRA...O MEDICO, PROFESSOR E GEOGRAFO MARANHENSE.... É UM HOMÔNIMO....QUE LOUCURA...NÃO DÁ PRA

LEVAR A SERIO....ENSINANDO ERRADO...?? QUEM SAO OS CURADORES DESSA FEIRA....??

RODA DE CONVERSA "ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS Infantojuvenil sua função social na transformação e incentivo de jovens escritores maranhenses", na Feira do Livro de São Luís

Recebendo o autógrafo de José Carlos Sanches, que, neste domingo, lançou vários livros, entre eles, O voo da Poesia, na Feira do Livro de São Luís.

Parabéns pela intensa produção literária!

FEIRA DO LIVRO SÃO LUIS DO MARANHÃO - ACADEMIA INTERCONTIBENTAL DE ARTISTAS E POETAS

Convite Entrega do Troféu Revelação 2024 dia 09.11.2024, sábado, início 14h, será a SOLENIDADE de HONRARIAS da AÍAP BRASIL, no Auditório Viriato Corrêa, 17aFELIS -Feira do livro de São Luís do Maranhão, na praça Maria Aragão. Conto com a presenç a de todos os membros da AIAP Maranhão. Tatiana Azevedo Presidente AÍAP Posse de Irandi Marques Leite na Academia Intercontinental de Artistas e Poetas AIAP

Na tarde de 10 de novembro, na 17ª Feira do Livro de São Luís recebemos a Antologia "Ecos" publicada pela @amtrovas, que foi entregue pela presidente @wanda_cunha na companhia de outros trovadores.

Na Antologia consta uma seção em homenagem aos 107 anos de nascimento do escritor Josué Montello, evidenciando Trovas produzidas por trovadores membros da Academia.

Nossa gratidão pela gentileza!

No dia 07 de Novembro, na Feira de Livros de São Luís, aconteceu a apresentação oficial da Academia Maranhense de Letras Infantojuvenil.

A Roda de Conversa teve como tema a função social da Academia na transformação e incentivo de jovens escritores maranhenses". Esse evento foi verdadeiramente transformador e inspirador. Durante as discussões, foi apresentado sobre como o Processo Seletivo para os membros por meio de edital, A diretoria presente, leitura da Carta da presidente da @amlij.slz Sharlene Serra por Maria Eduarda Soares (10 anos) e poesia recitada por Isabelle Santos (9 anos) ambas foram selecionadas para serem membro da Academia. Foi incrível ver que o sonho está criando força e o quanto existem criancas e jovens que amam a literatura e precisam do nosso incentivo no hoje, para que continuem a espalhar o mundo com histórias e poesias. Estamos criando um espaço onde as vozes jovens podem ser ouvidas e celebradas. Além disso, foi abordado sobre a Cerimônia de Posse, que acontecerá no dia 25/11/24, com transmissão ao vivo no Instagram, na Academia Maranhense de Letras (AML), São Luís, Maranhão.Isso representa um marco importante para todos nós, pois a AMLIJ está determinada a incentivar e a contribuir com as novas gerações de leitores e escritores. Agradeço a toda diretoria presente que fizeram uma excelente condução neste momento Feito semente, a criança em solo fértil, germina.

O @cafefreudianoslz de outubro homenageará o ilustre e saudoso poeta José Chagas , que faria 100 anos neste mês.

José Chagas, juntamente com Bandeira Tribuzi , Ferreira Gullar e Nauro Machado, forma o quarteto fantástico da literatura maranhense.

Apesar de toda nossa tradição literária e sua importância para a construção da literatura nacional , não deixa de ser impressionante que o Maranhão tenha produzido , em uma mesma época , esses quatro gigantes da poesia.

Nesta edição especial do Café Freudiano, teremos várias atrações artísticas , como o demonstra o card , e as participações especialíssimas das professoras e escritoras Arlete Nogueira da Cruz e Sônia Almeida , profundas conhecedoras da obra de Chagas, que ocupou a Cadeira 28 na Academia Maranhense de Letras.

Junte-se a nós nessa justa homenagem ao grande poeta que se fez maranhense .

Data: 19/10/2024 (Sábado)

Onde: Teatro Napoleão Ewerton (teatro do Sesc - em frente ao Íbis Hotel) - Av. dos Holandeses.

Hora: 09h30 - Coffee e retirada de ingr

TRIBUTO A JOSÉ CHAGAS

(em memória do amigo, meu mestre e referência)

Viriato Gaspar

Passamos, meu amigo. Vamos túrgidos dessas manhãs que agora já são nunca. Alguém, de vez em canto, esbarra em nós, na voz que cavalgamos, derrotida. Depressa o mundo vai, e já não cabe a flor que escancaramos, nossos dedos crispados sobre a hora e seus tropeços, os Canhões do Silêncio retumbando pela noite sem voz de nossas sombras, a desvendar mirantes, praças, bairros, onde os pobres se aprumam aos domingos neste triste país de fome e nojo. Só fomos bem ali, colher a tarde, depois daquela esquina que se dobra sem saber onde vai, aonde vamos, se lá se escreve versos, se há repouso. Passamos, meu amigo. O tempo agora usina outros bagaços, mas de gentes, de sonhos, de esperanças, de premências que não nos cabem mais. Passou. Passamos. Viriato Gaspar

Leitura e exposição de poemas do Poeta Hagamenon de Jesus

Vídeo do WhatsApp de 2024-10-26 à(s) 21.00.45_f5db3b38.mp4

EM

VISITA AO

OBSERVATÓRIO DO ESPORTE, EM MARINGÁ, COM O PROF. DR. GIULIANO PIMENTEL

CONGRESSO

EM FORTALEZA TEM PALESTRAS DE EDMILSON SANCHES

O jornalista, escritor e consultor maranhense Edmilson Sanches ministrará duas palestras no 2ª Congresso Internacional Lítero-cultural “Imortais da Humanidade”, que será realizado em Fortaleza (CE), de 14 a 17 de novembro de 2024.

A abertura solene do evento ocorrerá na noite do dia 14. No dia seguinte, a convite do escritor Camilo Martins, presidente mundial da Academia Mundial de Letras da Humanidade (AMLH), organizadora do Congresso, Edmilson Sanches fará a abertura dos trabalhos com a palestra “DA CULTURA À CIÊNCIA, DAS LETRAS AOS NÚMEROS: A CONTRIBUIÇÃO DO "BRAIN DRAIN" NORDESTINO PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL”, em que destacará a participação de grandes talentos da Região, sobretudo do Estado do Maranhão, para o progresso do País nas diversas áreas. Fruto de muitos anos de uma paciente, inédita e ainda não concluída pesquisa, Sanches recolheu centenas de exemplos de mulheres e homens maranhenses e nordestinos que foram pioneiros de atos, protagonistas de ações e iniciadores de realizações que auxiliaram positivamente na construção da identidade nacional e no avanço da sociedade brasileira. “Maranhenses e nordestinos em geral, de muito talento, espírito cívico e capacidade de trabalho, doaram-se incansável e ilimitadamente no passado para tornar possível um Brasil mais íntegro e menos injusto no presente”, diz Sanches. Fundada em 2019, a AMLH tem sede no estado de São Paulo e seccionais em diversas Unidades federativas e cidades do Brasil, além de representações em diversos países.

No mesmo dia 15/11, o jornalista e escritor maranhense abrirá o ciclo vespertino proferindo, a partir das 14h, a palestra “SER HUMANO: A RAZÃO HUMANA DE SER CULTURA, HISTÓRIA E LITERATURA UNINDO PESSOAS, CRIANDO HUMANIDADE”. Neste pronunciamento, Sanches abordará contradições e estranhamentos, escolhas, caminhos e perplexidades humanas, em densas e ao mesmo tempo claras reflexões que vão do macro ao micro e o papel do ser humano como agente e destinatário, criador e usufrutuário de literatura, história e cultura.

Todas as palestras do evento ocorrerão no auditório do Palácio da Luz, sede da Academia Cearense de Letras (ACL), no centro de Fortaleza. No sábado, 16, em Museu da capital cearense, haverá lançamentos e sessão de autógrafos, com Edmilson Sanches relançando quatro de seus mais recentes livros: “A Canção do Brasil” (uma abordagem inédita sobre a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias), “Do Incontido Orgulho de Ser Caxiense” (sobre pessoas e locais, fatos e valores da terra de Gonçalves Dias, Coelho Netto...), “Maranhão Não é Mentira” (uma tentativa de “desconstrução” acerca de falsos argumentos e etimologias ligadas ao nome “Maranhão” e ao povo maranhense) e “Teixeira Mendes Esse Nome é Uma Bandeira” (sobre o caxiense e “gigante da cidadania brasileira” que criou a B andeira do Brasil).

Do Rio de Janeiro, os escritores, professores e musicólogos Newton Nazareth e Regina Brito, presidente e vice-presidente da Academia Pan-americana de Letras e Artes (APALA - RJ) enviaram documento credenciando Edmilson Sanches a representar a Entidade carioca no Congresso da AMLH. No documento, a Presidência da APALA-RJ expressa: “A importante incumbência está coerente com a sua distinção como Vice-Presidente do Conselho Fiscal [...]. Portanto, está autorizado a divulgar o objetivo de nossa Associação de estreitar os laços de cooperação cultural nas relações nacionais e internacionais, fazendo jus a nossa legenda [...]”.

OUTRAS PALESTRAS – A convite da escritora Nery Mendonça, de São Luís, Edmilson Sanches falará na Feira do Livro (FELIS) da capital maranhense. A palestra será na próxima segunda-feira, 5 de novembro, às 18h, em auditório climatizado na Praça Maria Aragão, local da Feira, quando do relançamento da obra “Tudo Azul de Bolinhas Brancas”, de Nery Mendonça, que documenta ricos aspectos da vida, pensamento e trabalho da maranhense Raimunda (Raimundinha) Mendonça. O livro, ilustrado, de 246 páginas, inaugurou os lançamentos literários de 2024 em São Luís e já está em segunda edição.

Ainda este ano, como parte do ciclo de palestras da Academia Maranhense de Ciências, Edmilson Sanches, que é membro da Entidade, irá proferir duas palestras em salão de eventos de “shopping center” de São Luís. 

O INSTITUTO JACKSON LAGO E A BIBLIOTECA PÚBLICA BENEDITO CONVIDAM O PÚBLICO EM GERAL PARA A ABERTURA DA EXPOSIÇÃO "A VIDA É COMBATE", EM HOMENAGEM À JACKSON

LAGO, QUE ACONTECERÁ NO DIA 5 DE NOVEMBRO, TERÇA-FEIRA, ÀS 17H, NA BIBLIOTECA PÚBLICA BENEDITO LEITE.

A EXPOSIÇÃO COMPÕE A PROGRAMAÇÃO DE CELEBRAÇÃO DOS 90 ANOS DE JACKSON

LAGO(IN MEMORIAM) POR SUA VIDA INTEIRAMENTE DEDICADA EM FAVOR DO POVO E DOS DIREITOS SOCIAIS NO MARANHÃO.

A PARTIR DE QUARTA-FEIRA, 06 DE NOVEMBRO, DAS 8H30 ÀS 18H30, FICARÁ ABERTA PARA VISITAÇÃO PÚBLICA, NO SALÃO DE REFERÊNCIA DA BIBLIOTECA PÚBLICA BENEDITO LEITE.

SÁBADO VOCÊ TEM UM ENCONTRO MARCADO COM O HISTÓRIA EM DEBATE ESPECIAL“RIBAMAR BOGÉA (ZÉ PEQUENO)”

O JORNALISTA E HISTORIADOR, MARCUS SALDANHA CONVERSA COM O JORNALISTA E ESCRITOR, VINÍCIUS BOGÉA MEMBRO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL) E ACADEMIA MARANHENSE DE CULTURA JURÍDICA, SOCIAL E POLÍTICA (AMCJSP) QUE PUBLICOU RECENTEMENTE UMA OBRA BASEADA NA VIDA DO AVÔ, RIBAMAR BOGÉA, “O GUARDIÃO DA LIBERDADE”, FUNDADOR DO JORNAL PEQUENO.

ASSISTA E PARTICIPE SINTONIZANDO A RÁDIO TIMBIRA 95,5 FM, ACESSE PELOS APP TUNEIN/RADIOSNET OU ASSISTA PELO CANAL TV TIMBIRA NO YOUTUBE. HTTPS://WWW.YOUTUBE.COM/LIVE/EGNSNBLL1ZS?SI=AQF04UTZEN92AFDL

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA!

EM 2024, NOSSO TEMA É: A BUSCA DA UNIDADE PARA ALÉM DAS DIFERENÇAS! VAMOS CELEBRAR ESSE MOMENTO ESPECIAL COM UMA SEMANA DE EVENTOS INCRÍVEIS E GRATUITOS

EM SÃO LUÍS. CONFIRA NOSSA PROGRAMAÇÃO GERAL, QUE VAI DO DIA 18 AO DIA 23 DE NOVEMBRO.

NÃO PERCA, ESTAMOS TE AGUARDANDO LÁ! FALE COM NOSSO VOLUNTÁRIOS PARA SE INSCREVER NOS EVENTOS DE SEU INTERESSE!… VER MAIS

JORNAL PEQUENO –

EDIÇÕES

AOS DOMINGOS

- EDITOR: VINÍCIUS BOGÉA

ACADEMIA SAMBENTUENSE DE ARTES E LETRAS

Centenário de Nascimento Dr. Isaac Lobato Filho, médico são-bentuense que contribuiu, sobremaneira, com progresso da medicina catarinense, homenageado em São Bento, dando nome ao Centro Cirúrgico do Hospital Municipal.

Nasceu em São Bento, no bairro Porto Grande, a 7 de agosto de 1924.Filho de Isaac Napoleão Lobato (1888 a 1954), nascido na região do Munin, município de Axixá, negociante e embarcadiço chegou a São Bento vendendoprodutosdesuaregião.Desportista,umdosfundadoresdotimedefutebolTUPAN.Político,elegeuse vereador em 1924. Casou-se com srta. Martiminiana Rosa da Costa Lobato, filha do sr. José de Adriano Costa.Entreosprimosvivos,oPresidenteJoséSarney,asmédicasJosethSarneyedossão-bentuenses,médica Ana Maria Sarney Bastos, bacharéis Ronaldo e Norma Furtado Sarney

Aos dezesseis anos, concluído primário em São Bento, o ginásio em São Luís, no Liceu Maranhense. A chamado do irmão primogênito, médico Milton José Lobato, seguiu sozinho de navio para o Rio de Janeiro. Por aquele influenciado e com a mesma vocação, bacharelou-se pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, atual UFRJ.

Formado, fiel a missão de cuidar da saúde, o menino da pequena cidade de São Bento, expressão dele, dava plantão num Pronto Socorro, hoje o Hospital Presidente Vargas, chegou a fazer jornadas de 24 horas, com pacientes nos finais de semanas.

Com dois empregos no Rio, ganhava 8 mil cruzeiros. Para atender a falta em Santa Catarina de cardiologistas e pneumologistas, área que foi um dos precursores, convidado pelo Governador Aderbal Ramos, ofereceu-lhe 6 mil, recusado. Para evitar prejuízos financeiros retornou. Para não o perder, o IPASE, na pessoa do Dr. Benedeth, solicitou que o retornasse, complementou a diferença. Santa Catarina precisa dele.

Na cidade, responsável pela introdução e desenvolvimento do serviço de cirurgia de tórax e a cardíaca, o que levou o governador Celso Ramos construir novo hospital.

De sua entrevista concedida extraímos:

“Em 1957, Associação Catarinense de Medicina (ACM), instituição que presidiu de 1963/1965, o nomeou membro para criar o curso de Medicina. Foi, também, um dos criadores do Instituto de Cardiologia de Santa Catarina. Em julho, primeiro ano de funcionamento da ACM, cometeu a loucura – expressão dele -.de criar a Faculdade de Medicina, desafiando a descrença geral, decidida em Assembleia Geral de julho de 1957, comissão formada pelos médicos Roldão Consoni – presidente; Isaac Lobato Filho –tesoureiro; Henrique Prisco Paraíso – secretário.

“Nos primeiros anos, a Associação Catarinense de Medicina funcionava em duas salas alugadas na rua João Pinto. Ali, num sobradinho modesto, um grupo de médicos cometeu a “loucura” (expressão do próprio Isaac Lobato) desafiando a descrença geral da própria categoria de criar a Faculdade de Medicina, antes mesmo da Universidade de Santa Catarina, professor até aposentar-se. A ACM era presidida pelo médico Antônio Moniz de Aragão quando, em julho de 1957, uma assembleia geral extraordinária foi realizada com a finalidade de fundar a Faculdade. A comissão organizadora era formada pelos médicos Roldão Consoni (presidente), Isaac Lobato Filho (tesoureiro) e Henrique Prisco Paraíso (secretário), o único “não estrangeiro” (como eram chamados os profissionais de outros Estados) da equipe.

Não havia recursos para implantar a faculdade, mais eles encontraram uma saída. Lobato conta: Ele dizia o seguinte: Nós conseguimos um lugar na rua Ferreira Lima. Tinha um grupo de 200 pessoas espíritas que não

tiveram mais dinheiro [para erguer o edifício] e consegui comprar aqueles títulos, e assim tomamos conta daquele prédio”.

Com passagem pelo Gabinete do Planejamento Estadual, Lobato e os demais membros do grupo contaram também com recursos do governo de Santa Catarina, do Ministério da Saúde, de doações espontâneas de pessoas físicas e jurídicas para concluir a obra.

Superintendeu a Federação Catarinense de Saúde, responsável pelos Institutos de Diagnóstico Precoce do Câncer a Hemoterapia, transformado em Fundação Hospitalar de Santa Catarina.

No caso do Hemoterascopias (Centro de Hematologia e Hemoterapia de SC), a gênese foi com o Centro Hemoterápico Catarinense.

Em 1964, quando começou a fazer cirurgias de tórax precisava de sangue e de um hemoterapeuta para dar conta do trabalho.

“A capital catarinense não tinha anestesista, teve que convencer o amigo Danilo Duarte Freire a passar uma temporada para estagiar no Rio de Janeiro e voltar como especialista na área”.

Para melhor desenvolver suas atividades, com colegas comprava cachorros para operar e aprender técnicas de cirurgias pulmonares e cardíacas extracorpóreas com o coração parado. Tornou-se, assim, pioneiro na área de cirurgias cardiotorácicas.

Dono do registro nº 23 no Cremesc (Conselho Regional de Medicina), ele lembra com lucidez de muitos momentos da carreira, desde que deixou o Maranhão até se tornar o pioneiro na área de cirurgia cardiotorácica em Florianópolis. Figuras como o dr. Francisco Benedetti, sócio do hospital onde o governador Aderbal Ramos da Silva foi fazer um tratamento pulmonar, e colegas das iniciativas heroicas de cinco ou seis décadas atrás, são sempre lembradas por ele.

Uma das primeiras cirurgias feitas no hospital Nereu Ramos foi tirar um pulmão atacado pela tuberculose –um acontecimento extraordinário para o tamanho da cidade. Um repórter da época publicou no jornal uma reportagem de página inteira dizendo: “sete médicos salvam a vida de um paciente”.

Superintendeu a Federação Catarinense de Saúde, responsável pelos Institutos de Diagnóstico Precoce do Câncer e de Hemoterapia, transformados em Fundação Hospitalar de Santa Catarina.

Sócio vitalício da SIMEC;

Em reconhecimento a relevância e avanço dados à Medicina, recebeu 1986, o título de cidadão Honorário de Florianópolis.

O Dr. Isaac, viúvo, deixa quatro filhos e vários netos e o nome eternizado na história da medicina catarinense, anteriormente marcada pela atuação de outro médico são-bentuense, Urbano Ferreira da Mota. Faleceu em Florianópolis, 16 de setembro de 2020, e a cerimônia de cremação ocorreu no Cemitério Jardim da Paz.

Oirmãosupracitado,MILTONJOSÉLOBATOnasceua3demaiode1914efaleceunoRioem2004.Médico cirurgião pneumologista e fisiologista no Rio de Janeiro, formado pela Faculdade de Medicina do Rio. Líder comunista de Luis Carlos Prestes, e vereador no Rio de Janeiro. Escreveu o livro Cigarro: invalidez ou morte. Dr. Isaac Lobato foi o segundo médico são-bentuense a atuar em Santa Catarina. O primeiro foi Urbano Ferreira da Mota, considerado dos melhores profissionais com atuação nesse Estado.

Discurso do acadêmico Álvaro Urubatan (Vavá Melo) proferido na Câmara Municipal de São Bento, local final das solenidades oferecidas pelo Secretário de Saúde, Dr. Moises Rodrigues Barros.

PARÓQUIA DE SÃO JOÃO BATISTA, DE VINHAIS – 412 ANOS

POR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ E DELZUITE DANTAS BRITO VAZ

“[…] o bem-aventurado Gabriel Malagrida (…) À noite, retornava à aldeia da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida […]”.MEIRELES (1964)

O hoje bairro de São Luís, Vinhais Velho – ou Vila Velha de Vinhais como também é conhecido – já foi independente; isto é, se constituiu, no dizer de hoje, em município. Em 1º de agosto de 1757, a Aldeia da Doutrina, sob a invocação de São João dos Poções, foi elevada à categoria de Vila com a denominação de Vinhais, sendo criada nesse mesmo dia a freguesia de São João Batista de Vinhais, em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757.

Isso ocorreu durante o consulado pombalino (1755-1777), quando o Marques de Pombal expulsou os jesuítas da metrópole e das colônias (setembro 1759), confiscando seus bens, sob a alegação de que a Companhia de Jesus agia como um poder autônomo dentro do Estado português e as suas ligações internacionais eram um entrave ao fortalecimento do poder régio.

A 24 de julho de 1612, Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy largam âncora na ilha de Sant’ Ana e a 6 de agosto a esquadra entra no golfo, indo fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), onde se localizavam as feitorias de Du Manoir e do Capitão Gerard. Os franceses atravessam o braço de mar, indosefixaremumpromontórioonde,a12deagosto,umasexta-feira,diaconsagrado aSantaClara, celebram o santo ofício da missa. A 8 de setembro, uma quarta-feira, dia consagrado à Santíssima e Imaculada Virgem Maria, é realizada a solenidade de fundação da Colônia.

Fundada a França Equinocial, saíram De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D’ Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha:

“(…) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, aonde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (…)”. (D’ABBEVILLE, 1975, p. 114). (grifos nossos).

O que é confirmado, também, por Noberto, quando afirma que após a implantação da França Equinocial, Uçaguaba / Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d’Evreux de “o sítio Pineau” em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia.

Capistrano de Abreu esclarece que: ” EUSSAUAP – nom do lieu, c’est à dire le lieu ori on mange les Crabes. – Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, particípio de u comer: o que, ou onde se come caranguejos, conforme com a definição do texto …”. ( apud D’ ABEVILLE, 1975, p.107).

Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento-Mor.

Os moradores de Eussauap tinham esperança de que um dos padres aí se fixasse. Por isso “haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado”. Além da capela construíram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi rezada a missa.

Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão, vindo com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619: “A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco …”. (MORAES, 1987, p.58).

A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com Cavalcanti Filho (1990) a missão jesuítica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei: “… Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão … desta primeira, denominada ‘Aldeia da Doutrina'”.(p. 31).

Cesar Marques (1970), em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, informa sobre Vinhais – freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura, principiaram a estabelecer residências – ou missões de índios, sendo a primeira que fundaram:

“… foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Pernambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos. Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina. [,,,]“Fundada pelos jesuítas, parece-nos haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldeia ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir às obras públicas pagando-se-lhes o seu jornal’. […] “Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educá-los. Em 22 desse mesmo mês representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. … foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (p. 632-633).

Meireles (1964), conta-nos que o bem-aventurado Gabriel Malagrida – a quem César Marques chamou de “o desgraçado apóstolo do Maranhão” – costumava logo pela manhã percorrer as ruas da pequenina cidade de não mais deumameiadúziademilhares dehabitantes,aconvocá-los, com acampainhaqueiafazendotilintar, para a Santa Missa e o exercício do catecismo. E lá voltava ele, cheio de alegre beatitude, acompanhado de um bando irrequieto de meninos que o seguia até o Colégio. Depois, o confessionário e a visita aos enfermos e aos presos, consumia-lhe o resto do dia, pela tarde afora; À noite, retornava à aldeia da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida…

Não há referência à Eussauap, Uçagoaba, Uçaguaba ou Aldeia da Doutrina na relação dos templos existentes na Ilha por ocasião da elevação de São Luís à sede de Bispado em 1677, pela Bula “Super Universas Orbis Ecclesias”, muito embora em 1740 conste da relação das freguesias do Maranhão:

Pois bem, a antiga Aldeia da Doutrina é elevada à categoria de vila em 1o. de agosto de 1757 com a denominação de Vinhais – Vila Nova de Vinhais – a nossa hoje Vila Velha de Vinhais.

Coelho (1990) em seu “Política indigenista no Maranhão Provincial”, ao analisar “o lugar do índio na legislação: a questão da terra”, afirma que

” a situação das terras dos indígenas é caracterizada por um acúmulo de esbulhos e usurpações” e o processo oficial elevação das aldeias indígenas, onde haviam missões, à categoria de vila ou lugar, de acordo com o número de habitantes”. Cita, dentre outros exemplos, que ” a aldeia da Doutrina, em 1º de agosto de 1757, foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vinhais”.

D. Felipe Condurú Pacheco (1968) informa que em 1751, os jesuítas e os franciscanos tinham no Estado do Maranhão e Grão-Pará 80 missões e grande número de “doutrinas”, e que em oposição às numerosas propriedades dos demais religiosos, Ao listar as paróquias da Ilha do Maranhão, “[…] no meado do século XVIII, conta de 1758,… distante da cidade … Vila Nova de Vinhais, a que foi elevada a 1o. de agôsto de 1757, (antes, S. João dos Poções) dos franciscanos[…]”. (p. 61).

DeacordocomBarbosadeGodói(1904),o colégiodosjesuítasnoMaranhão,“segundo os Annaes Litterarios, contava estas residências: Conceição da Virgem Maria, em Pinheiros; S. José, na aldeia de S. José de RibaMar; S. João Baptista, em Vinhais; S. Miguel, no Rosário”. Às páginas 633, do Dicionário de César Marques, consta que houve contestação quanto à propriedade das terras da Aldeia da Doutrina, pertencente, então, ao Convento de Santo Antônio. Esta vila, situada ao N.E. da Ilha do Maranhão uma légua distante da capital, à margem do ribeiro Vinhais, ora transformada em Vila de Vinhais e, para dar fim à qualquer contestação, sobre a quem pertenceria as terras, passou-se a seguinte certidão, que, segundo Cesar Marques, não deixa de ser curiosa:

Ainda em Cesar Marques, descobrimos que os presbíteros Domingos Pereira da Silva, vigário colado da freguesia de São Bernardo da Parnaíba, e Maurício José Berredo de Lacerda, vigário de São João Batista de Vinhais, apresentaram requerimento colocando sob suspeição a divisão da freguesia da Sé e a criação da de Santana, em 17 de janeiro de 1803 (p. 446).

Sobre a igreja existente em Vinhais, Moraes (1989) lembra que a capela de São João de Vinhais, construída no século XIX (sic), substituiu templo muito anterior, que ruíra, e que fora matriz da freguesia, criada pela Resolução Régia de 18 de junho de 1757.

A reconstrução da igrejinha do Vinhais foi feita pelo 15o. Bispo do Maranhão, D. Marcos Antonio de Souza. Em carta a seus auxiliares, datada de 30 de dezembro de 1838, “julgando aproximado o tempo de descer aos silêncios da sepultura”, pede para ser enterrado na Matriz de São João Batista de Vinhais, que mandara reedificar: No ALMANAK DO MARANHÃO para o ano de 1849, consta da relação dos párocos do Bispado do Maranhão o nome de Manoel Bernardo Vaz, como vigário colado da Igreja de São João Batista do Vinhais. D. Manoel Joaquim da Silveira, 17o. Bispo do Maranhão, inicia, a 27 de dezembro de 1854, uma visitação às paróquias. Sobe o

“São Francisco” – “braço de mar em que deságua o rio Anil”, em dois escaleres do brigue “Andorinha: “… Pitoresco o promontório dos remédios, com a alvura deslumbrante e devota da Ermida de Nsa. Senhora. Com pouco mais de 3 quartos de hora de viagem, estão no pôrto de “Vinhaes, outrora Villa, e muito mais povoada que actualmente’. Foguêtes, recepção, bençãos ‘Hospedagem ecellente em casa de propriedade do Vigário Geral. Visita dos ingênuos habitadores dêste pacífico lugar’. “Na manhã seguinte começam os trabalhos. Pouca frequência. Não há confissões: 75 crismas. ‘Pequena a Matriz de pedra e cal; airosa, porém e mui bem ornada’. Construída por D. Marcos, já está arruinada. Ajudado com 4:000$000 da Província e com o produto de loteria, D. Manoel fez os reparos desta… “… a 3 de janeiro, por Vinhais, retorna S. Excia. à Capital”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 234-235).

Ana Jansen, em meados do século XIX, monopolizava o abastecimento de água de São Luís, utilizando-se de aguadeiros, seus escravos, que se abasteciam nas fontes do Apicum e Vinhais, transportando suas pipas para o centro da cidade, vendendo o caneco por vinte réis, de acordo com Viveiros.

CatarinaMina – CatharinaRosaFerreiradeJesus – umaescravaque amealhougrandefortunacom o comércio de seu corpo, e comprou sua alforria – no dizer de Graça Guerreiro, tornara-se uma Xica da Silva doMaranhão – achando-se adoentada – em 19 de fevereiro de 1886 – e sendo solteira e sem herdeiros, abriu mão de seus bens em testamento, deixando-os para seus escravos – sim, os possuía, e muitos ! – além da alforria dos mesmos. Entre as exigências que fez, pediu aos herdeiros que “enquanto lhes permitissem os seus recursos, não deixassem de fazer a festa de São Pedro em Vinhaes, como de costume”. (BARBOSA, 2002; 2002b). (Grifos nossos).

O Deputado Francisco Antonio Brandão Junior, em 1892, apresenta projeto de criação de uma cadeira de “primeiras letras” em Vinhais. Essa, deve ser a origem da nossa Escola Oliveira Roma…

Em 1985, os moradores da Vila velha do Vinhais pedem ajuda aos moradores do Conjunto Recanto dos Vinhais para a reconstrução da Igrejinha … o telhado estava no chão, mais uma vez … A primeira pessoa que, nessa época estendeu a mão, foi uma médica, que mandou reconstruir o telhado. Depois, alguns moradores reuniram-se e resolveram ajudar, criando uma comissão – informal – pró-reconstrução da Igreja…

Muito embora conste do “Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados”, do Ministério da Cultura, que em 1995 tenha sido restaurada pela Secretaria de Cultura do Estado, através do Departamento de Patrimônio Histórico e Paisagístico (MinC, 1997) – recurso de R$ 8.000,00 (oito mil reais) – isso nunca se deu; desde

1985, todas as intervenções físicas se deram com recursos arrecadados junto à comunidade, sem qualquer interferência de qualquer poder público – seja nacional, estadual, ou municipal…

1997, perde a titularidade de Paróquia, para a recém-construída Igreja de Nossa Senhora Aparecida da Foz do Rio Anil…

2012, retorna a ser sede de paroquia, quando das comemorações dos 400 anos da fundação da França Equinocial, e da primeira missa rezada em Vinhais.

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Mural da Academia Ludovicense de Letras

Artigo de Leopoldo Gil Dulcio Vaz destaca a importância de Cláudio Vaz dos Santos para o esporte maranhense.

O esporte maranhense tem três fases: uma de seu início até a década de 1950; a segunda, inicia com a Geração de 53, pós anos 50, e vai até os anos 1990. Destaca-se na chamada Geração de 53 o esportista Cláudio Vaz dos Santos.

Cláudio Vaz para alguns e Alemão para outros tantos, é um dos homens mais importantes no esporte maranhense. Tanto quanto Dimas, Rubem Goulart, Furtado, Dejard Martins e tantos outros e muitos que já partiram, entre os iniciantes e, Tião, Canhoteiro, Djalma Campos, Ronaldo “Codó” Maciel, e os atuais Felipe Cunha, Frederico Castro, Iziane e China, Cláudio Antonio Vaz dos Santos éo nosso quarto ocupantedo pódio. Para ele estamos criando a medalha de brilhante. (José de Oliveira Ramos).

Cláudio Antônio Vaz dos Santos, Cláudio “Alemão” Nasceu em São Luís, no dia 24 de dezembro de 1935, filho de Antônio Rodrigues da Costa Santos e Maria José Raposo Vaz dos Santos. Divorciado, pai de oito filhos.

Foi atleta de Basquetebol, Voleibol, Futebol de campo e de salão, Atletismo e Natação. Pertenceu à famosa “Geração de 53” do esporte maranhense, atuante nas décadas de 1950 e 1960.

O apelido de “Alemão” vem de quando era aluno do Colégio Marista; fez exame de admissão – 4º primário, vindo do Colégio São Luís Gonzaga, da Zuleide Bogéa, onde estudou do primeiro ao terceiro ano primário. Iniciou os estudos no Jardim de Infância Antônio Lobo – ao lado da Igreja do Santo Antônio, onde sua mãe era professora, lá estudou até os seis anos de idade, transferindo-se então para o Colégio São Luís Gonzaga, ali na Rua do Sol.

Na época em que foi para o Maristas, morava na Rua Montanha Russa – naquela casa na Rua Newton Prado 22; ele e meu irmão nasceram ali. O Maristas nesse tempo funcionava junto ao Palácio do Bispo, na Avenida Dom Pedro II. Ao chegar ao Maristas já praticava futebol e espiribol. Segundo Cláudio, era um esporte que hoje “parou”, isto é, não se pratica mais.

O irmão Manuel era considerado o diretor de esportes do Colégio Marista; foi ele quem chamava Cláudio de Alemão, pois nessa época loiro maranhense eram poucos; e começou o Manuel – “Cláudio: – Alemão, Alemão, Alemão”, e fico “Alemão” até hoje; Cláudio diz sentir orgulho de seu apelido de colégio, o que o marcou muito sua vida – “Cláudio Alemão”, que Fontenelle, passou a chamar de Cláudio Vaz – o Alemão. Isso, quando passou a ser dirigente esportivo…

Cláudio Alemão estudou no Maristas desde o 4º ano primário, no Colégio Maranhense e também no Cearense, até 1952… Quando começou a praticar esportes…

Cláudio insiste – em seu depoimento – que, em sua época de estudante, não tinham professor de Educação Física. Sua geração só teve prática de esportes, comandada sempre pelos irmãos Maristas:

Cláudio inicia-se no Boxe ainda na década de 1940. Aos 10 anos e idade: Eu ainda era garoto, esse tempo foi em 1945, aprendi uma técnica que nessa época ninguém tinha a briga aqui era de cabeça naquele tempo a briga era um negócio saudável quando se decidia alguma rivalidade era uma coisa saudável, amanhã estava tudo bem, era uma briga sem nenhuma maldade e o que aconteceu, Lupercínio me ensinou a bater, eu transformei essa técnica futuramente numa defesa que eu fui ter e foi como é que vai… Lupercino [Almeida] era um lutador de boxe do Maranhão e eu sempre fui entusiasmo pela prática do esporte, eu acordava cedo, eu ia para a Beira-Mar, onde eu morava, caminhar, correr, tudo; eu conheci o Lupercino,

que era um lutador de boxe, e eu tive a felicidade, na época, de ser a primeira pessoa a aprender a técnica do boxe, aprender a bater: ponta de queixo, coração, fígado, baço, estômago, supercílio, aquilo tudo ele me ensinou os movimentos.(VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA

Em 1952 Cláudio Vaz dos Santos, ao ingressar no Colégio de São Luís, do Prof. Luis Rego, participa dos Jogos Olímpicos Secundaristas, organizado pelo jornalista Mario Frias, como atleta de Basquetebol, Voleibol, Futebol de Campo, Atletismo e Natação.

Noanoseguinte(1953),juntocomoutrosatletasdaépoca,devárias escolas,fundaaequipedos “Milionários”, que faz história no esporte maranhense, especialmente no Basquetebol, por mais de 20 anos; a equipe era formada por Gedeão Matos, os irmãos Mauro e Miguel Fecury, Aziz Tajra, Raimundinho Sá, Poé, Denizar, Canhotinho, Fabiano Vieira da Silva, Cleon Furtado, Jaime Santana, os irmãos Zé Reinaldo e Silvinho Tavares, Wilson Bello, Sá Valle, Joaquim Itapary, Henrique Moreira Lima, Márcio Viana Pereira. Com a extinção d´“Os Milionários”, fundam o “Cometas”, que além de basquete e vôlei, participam dos jogos de Futebol de Salão.

Alemão lembra Jaime Santana, um dos praticantes de esporte, tanto vôlei como o basquete, futebol de campo, futebol de salão: Nós jogávamos tudo; é que toda essa geração jogava tudo, ninguém jogava futebol de praia, futebol de salão, futebol de campo, Jaguarema então era o nosso celeiro. Foi o grande Jaguarema na época, então o que a gente praticava de esporte era direto… (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA).

Cláudio praticava também o Atletismo, iniciado no Colégio São Luís. Era corredor de 100 metros, e 200 metros, lá pelos anos de 1952/53 – já na época da famosa “Geração de 53”: Natação, a primeira piscina que teve no Maranhão, nós não nadávamos por competição, nós nadávamos por recreação, foi na casa de Domingos Mendes, na rua Grande onde é hoje o Colégio do Manga, eu não sei se a piscina ainda existe lá; nós fazíamos natação recreativa, não tinha natação competitiva, a primeira natação que veio já foi da piscina do Jaguarema, foi o primeiro aparelho de piscina do Maranhão Clube, nós já tivemos competições dirigidas já com professores e orientando.(VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA).

Alemão vinha se dedicando ao Futebol de Salão desde 1960, jogando (como reserva) no Athenas, Drible e Santelmo. Após um acidente e se envolver numa briga, refugia-se no Rio de Janeiro entre 1965 a 1969 –quando retorna a São Luís, já como praticante de Judô. Na época, Fiscal de Rendas do Estado, ainda não trabalhava na área dos esportes, era apenas praticante do esporte: Vôlei e Basquete. O vôlei ainda não tinha fundado a sua federação, ainda, apenas o Basquete.

Já na década de 1960, e de acordo com Antonio Matos – um dos maiores nomes do Judô maranhense, junto com Cláudio Vaz, Emílio Moreira, e James Adler; praticavam no do-jo família Leite. Depois, surgiu o Major Vicente, o que é confirmado por Cláudio Vaz.

Lembremos que em 1968, Cláudio retorna do Rio de Janeiro, já como praticante de Judô. Com a chegada do Major Vicente é criada a Academia “Samurai”, que funcionava atrás do Ginásio Costa Rodrigues. Além de Cláudio, praticavam Marco Antonio Vieira da Silva, seu irmão Fabiano Vieira da Silva, Paulo “Juca Chaves” Miranda. Cláudio Vaz perdeu dois campeonatos para Paulo Miranda. O judô só era defensivo, como lembra Cláudio: “não valia pontos ofensivos, só valia a defesa, você sempre contra atacava, mas não valia o ataque, só valia a defesa”.

Em 1968 fezvestibular– oprimeirovestibularunificadoquetevenoMaranhão -,paraEconomia; nessetempo o curso funcionava na Rua Afonso Pena, em frente ao jornal pequeno, era a Academia de Comércio.

Cláudio Alemão lembra que no ano de 1970 tiveram um problema, em que se envolveram vários dos amigos da época de juventude: Jaime Santana, Zé Reinaldo também atleta – Zé Reinaldo governador. O pai de Jaime Santana em 1970, ainda não era o governador. (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA). Aqueles jovens precisaram da quadra do Ginásio Costa Rodrigues para treinar a Seleção de Basquete, que iria a Porto Alegre, mais precisamente a Santa Cruz do Sul; o técnico era o Chico Cunha, “Cearense”. Era mineiro, mas trabalhava no Ceará; e veio trabalhar aqui na época, Governo Sarney. Precisaram do Ginásio, e foram pedir. Foram informadosdequenãopoderiasercedidoparaostreinamentosdaseleçãoporqueestavatendojogral; aídepois do jogral não podia, porque ia ter uma reunião. Cláudio não informa o nome da pessoa

Quando em 1970, Neiva Santana assumiu o governo, Jaime me chama – olha, tu vai ser Coordenador de Esporte da Prefeitura; Haroldo Tavares, nós começamos primeiro na Prefeitura, foi nosso primeiro passo, foi na Coordenação de Esportes, Haroldo Tavares, Prefeito de São Luís. (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA).

Foi ai que eu entrei, fui dirigir pela primeira vez… Isso foi em 71, nós entramos no Governo, se não me engano, foi em março ou por aí; em setembro, nós tivemos o primeiro FEJ (Festival Esportivo da Juventude) Semana da Pátria, onde o Colégio São Luiz foi o primeiro campeão do FEJ, onde eu trabalhei.

[…] não tinha professor de Educação Física no Maranhão e eu queria fazer um trabalho de nível, eu tinha de pensar primeira coisa que tinha de ter, era o professor tanto para quem quisesse transferir conhecimento, então eu não tinha nada acadêmico, nada elevado nessa área aqui, só tinha professor já superado, dois que já não trabalhavam mais, Braga que era professor daqui [ETFM, hoje IF-MA] e não sei se era formado, Braga, Zé Rosa, Rinaldi Maia.

Aí foi que o Dimas começou, trabalhamos juntos, nós acumulávamos, nós éramos árbitros, técnicos. Tudo nós fazíamos, tanto o Dimas quanto o Laércio (de São Paulo) já me ajudou nessa época; foi o primeiro que veio para cá; opessoal crioumuito problemacomigoporqueeu estava enchendo depaulista.(VAZDOS SANTOS, ENTREVISTA).

Aí teve o segundo FEJ, foi quando o Jaime criou o Departamento de Educação Física e Desportos, Pedro Neiva me nomeou no lugar da Mary Santos. Já foi no governo de Pedro Neiva, com Haroldo Tavares – que agora é que tu vais entender -, eu entrei primeiro na Prefeitura, Haroldo Tavares era cunhado de Pedro Neiva, irmão da mulher de Pedro Neiva, que é a mãe de Jaime Santana; então para que eu pudesse assumir o Estado, nesse tempo podia acumular; então criaram o Departamento de Educação Física e Deporto do Estado; saiu o Serviço [de Educação Física] para Departamento. Nesse tempo, na Secretaria de Cultura, o nível do Departamento era mais acima de Serviço, então para que eu fosse para o Estado foi criado o Departamento de Desporto do Estado, para que eu pudesse assumir, acabar o Serviço; então era novo o cargo e aí que eu fui para o Estado, eu acumulei Coordenador de Esporte da Prefeitura e Diretor do Departamento de Educação Física e Desporto do Estado, ligado à Secretaria de Educação, do professor Luis Rego; era o Secretario na época, professor Luís Rego, primeiro Secretário que eu trabalhei. Depois, eu trabalhei com o Magno Bacelar, que foi Secretário; e depois, com o Pedro Rocha Dantas Neto, que também foi Secretário.

Já em 72, fui nomeado Diretor do Departamento, onde foi que ficou o Departamento? Lá no Costa Rodrigues; ai eu transferi a Coordenação, acumulei no Costa Rodrigues, eu levei tudo para lá. Eu era Coordenador Diretor do Departamento de Educação Física do Estado e Presidente do Conselho Regional de Desportos.

Isso em 72, como era cargo de quem era diretor [do departamento de Educação Física], era o Presidente do C.R.D, automático; não tinha vínculo político nisso, era uma tradição de desporto ligado ao C.N.D (Conselho Nacional de Desporto), onde era [ptrsidente] o Brigadeiro Jerônimo Bastos…

Ai foi que eu fiz a minha equipe, aí foi que o Dimas entra com a parte principal, quando nós estávamos para fazer o segundo FEJ em 72; seria em setembro.

Dimas foi a Belo Horizonte, trouxe toda a informação, e o Maranhão podia participar do JEB’s em 72; ele trouxe em 71, ele foi no JEB’s em julho e trouxe….

Dimas me trouxe, eu organizei a primeira equipe com o Dimas, era do Handebol, primeira equipe que nós viajamos para o JEB’s; Ginástica Olímpica e Handebol, o Dimas; Coronel Alves, Basquete; Voleibol, Graça Hiluy; Coronel Alves antes era Major, foi isso para dar coletivo que eu levei foram 52 pessoas que eu levei, não levamos atletismo, natação, não levamos nada.

Muito bem, com o que Dimas me trouxe, me presenciei muito ao DED. Aí eu já tinha uma parte ativa comigo, porque eu precisava do Dimas, não só como técnico, mas também como conselheiro, porque como eu te falei, eu não sou formado; eu sempre procurava olhar uma pessoa que tivesse um conhecimento acadêmico para poder me orientar, é uma de nossas iniciativas foi justamente essa de criar esses jogos escolares, foi o primeiro e o segundo e depois nós o transformaremos em JEM’s, o primeiro JEM’s foi em 73, sempre tenho essa dúvida; o pessoal não guarda isso, mas o primeiro FEJ foi em71, o segundo FEJ em 72, e o primeiro JEM’s em 73. Porquê?Nósparticipamos doJEB’seasiglapesava,masporbem achamos melhormudarparaJEM’s. Jogos Estudantis Maranhenses foi que viemos, nós já tínhamos passado o primeiro e o segundo FEJ com sucesso, com a mudança, com a formação das escolas, a conscientização, que e a primeira coisa a nascer numa escola era a força da Educação Física através dos esportes, foi a maneira que nós encontramos de valorizar o Professor de Educação Física, ele que era praticamente um esquecido dentro da área educacional, achava – se que era desnecessária a Educação Física onde não se praticava nem a Educação Física, nem os esportes, nós criamos esses jogos para provocar nos colégios essa necessidade de se formar atletas, assim como também

transmitir Educação Física e valorizar o professor, porque nós não tínhamos campo de trabalho para eles,e passou a ter; esse foi o ponto marcante do nosso trabalho, que realmente hoje, o que tem, começou ai, onde nós provocamos.

Nós íamos fazer uma Escola de Educação Física particular, já tinha toda a documentação, o professor Salgado deu para mim.

Como eu sentia a necessidade de ter professores formados e o que eu trazia eram poucos em relação à necessidade que nós tínhamos, nós achamos um início para formar a Escola de Educação Física particular… (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA).

Como informa, precisava de massa crítica para concretizar seus planos de elevar o nível da Educação Física e dos Esportes. Recorreu à importação de professores graduados, já com alguma experiência e, ao mesclá-los com ‘da terra’, teria um grupo altamente qualificado.

Para Dimas […] o Cláudio Vaz começou a trazer esse pessoal de fora, em 74 ou 76, Laércio, Marcão, Biguá Vitché , então nessa época eu passei o Handebol praticamente para eles; então eu já vinha trabalhando em Ginástica Olímpica e passei a me dedicar mais à Ginástica Olímpica; trabalhava como professor de Educação Física – nessa época eu trabalhava muito com Natação também, principalmente em aulas particulares, em piscinas particulares – e o Laércio praticamente continuou o meu trabalho no Handebol no Maranhão, e aí eu passei a me dedicar mais à Ginástica Olímpica, à natação e às outras coisas… (DIMAS. Entrevistas).

Cláudio vai para Brasília no período de 1976 a 1979. Vai à disposição do Governo do Distrito Federal, indo trabalhar no DEFER, com cargo de assessor, e assumiu a U. D. E. – Associação Desportiva, e o complexo esportivo, como Diretor Administrativo no Ginásio Nilson Nelson. Lembra que na época da revolução, em que acabou a revolução, arrancaram o nome dele, e botaram Nilson Neves, Jornalista. Foi Diretor do Autódromo de Brasília.

1980 retorna a São Luís, trabalhar na Fundação Municipal de Esportes. Mauro Fecury assumira a Prefeitura de São Luis pela segunda vez e cria a Fundação Municipal de Esportes.

Logo após, Cláudio passa a trabalhar na SEDEL, conforme diz, “já foi mais um encosto meu”. Phil Camarão, Secretário de Esportes no Governo Lobão o nomeou Coordenador de Esporte:

Quando Paulo Marinho assumiu a prefeitura de Caxias, “ele disse”, coincidência: – “Você quer trabalhar comigo na Secretaria?”; respondi: “Eu vou”. Passou dois anos, quase três anos, com Paulo Marinho. Foi quando Marly Abdalla assumiu a Secretaria de Esportes e me convidou: – tu vai ser meu Coordenador de Esporte:

Já no Governo Roseana, o segundo governo: […] aí, Luisinho foi ser secretário, aí foi uma lástima para mim, eu não me dei bem com ele, a maneira que ele trabalhava e de lidar com as pessoas foi que eu me afastei, sai de lá. (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA). Passou a trabalhar com o então Deputado Manoel Ribeiro, na função deCoordenadorParlamentar,se afastando daárea do esporte: […]nessegovernodeRoseana, primeiro eu fui muito ativo com a Marly, que era Secretaria e me deu muita força, onde eu trabalhei, agora, no segundo, eu não tive nenhuma posição de mando, eu fui marginalizado. (VAZ DOS SANTOS, ENTREVISTA).

CARTA AO RUBEM GOULART, FILHO - Novas contribuições à história da educação física maranhense

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Mestre em Ciência da Informação Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão

Caro Rubinho,

Como é de seu conhecimento, há anos venho tentando resgatar a História da Educação Física e dos Esportes em nosso Estado. Preocupa-me a nossa falta de memória, pois “a cada 15 anos, esquecemo-nos dos últimos 15”. Sei que outros colegas têm procurado resgatar a memória da Educação Física, dentro de tarefas acadêmicas realizadas junto à Universidade Federal do Maranhão. Cito os trabalhos do Demóstenes Mantovani e do Vicente Calderoni Filho, infelizmente dado a conhecimento de uns poucos privilegiados. É de vital importância que a UFMA se preocupe em divulgar as pesquisas produzidas por seus Cientistas. Em trabalho publicado pelo jornalista Djard Martins – Esporte, um mergulho no tempo – é-nos dado conhecimento da primeiracompetiçãodeatletismo realizadaem nossa Upaon-Açú,em 27 deoutubro de1907. Em artigo publicado em 1991, demonstro ser esta a primeira competição oficial de atletismo disputada no Brasil. Antes mesmo da “primeira competição disputada por brasileiros, em São Paulo, no ano de 1918″, conforme reconhece a própria Confederação Brasileira de Atletismo. Nosso amigo comum, Roberto Gesta –Presidente da CBAt – já recebeu cópia desse trabalho e ficou de tomar as providências cabíveis: reconher a primazia do Maranhão como o local do início oficial do Atletismo no Brasil.

Continuando com a ” descoberta” de nossa história, apresentei trabalho no XVIII Simpósio Internacional de Ciências do Esporte, realizado em São Caetano do Sul – SP em outubro de 1992. Nessa pesquisa procuro resgatar as “Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial”, onde apresento como primeira manifestação “esportiva” praticadas em terras maranhenses, por brancos, o “Jogo da Argolinha”, ainda disputado no interior de Minas Gerais.

Anterior ao período colonial, em “A corrida entre os Canelas” descrevo a corrida de toras praticada pelos Rankrakomekrás do Escalvado. Essa competição, do grupo das corridas de revezamentos, é praticada por nossos índios desde há 7 mil anos, contemporânea da sistematização das regras do atletismo feitas pelos gregos. Pode-se considerar, assim, que esta é a primeira manifestação “esportiva” do Maranhão, pois possui todos os requisitos para reconhecimento de um esporte: regras definidas, aceitas pela comunidade que a pratica, e, fundamental, disputada com “fair-play”.

Na busca de novas informações sobre a Educação Física no Maranhão tenho realizado, junto com o Prof. Laércio E. Pereira – seu professor na UFMa – pesquisa na área da Documentação em Ciências do Esporte. Já fizemos 12 índices de periódicos. Recentemente, chegou às nossas moãs a coleção completa dos “Arquivos da Escola Nacional de Educação Física e Desportos”, da antiga Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Bem, Rubem, permita-me transcrever, para você, parte do conteúdo da página 129 do volume 1, número 1, publicado em outubro de 1945 dos “Arquivos”:

“RECORDS DE ATLETISMO

DOS ALUNOS DA ESCOLA NACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA

100 metros rasos Rubens Teixeira Goulart .11″ 30/10/43

400 metros rasos Rubens Teixeira Goulart 54″1 30/10/43

Salto em Altura Du-Clerc Carvalho Rubens Teixeira Goulart lm70 1m70 20/11/41

25/07/42

Salto em Distância Rubens Teixeira Goulart 6m20 29/07/42

Decathlon Rubens Teixeira Goulart 5.027 pts 30-31/10/43

Observações: são considerados ‘Records’ oficiais, toda a performance conseguida em competições internas ou externas, desde que sejam oficiais ou oficializadas.”

Parece-me que o recorde de salto em distância só foi batido por Ary Façanha de Sá, no início da década de 50. O Prof. Ary Façanha, maranhense de Guimarães, participou da Olimpíada de 1952 realizada na Finlândia. Mas esta é outra história, que também precisa ser contada.

Fica, portanto, a “provocação” aos alunos da UFMA para resgatar a “história de vida” do Prof. Rubem, pai, dentro da obrigatoriedade de se redigir monografia de graduação, pois muitos contemporâneos desse ilustre maranhense ainda estão vivos e podem resgatar a memória de nossa educação.

O JOGO DAS ARGOLINHAS: O INÍCIO DO ESPORTE NO MARANHÃO

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Mestre em Ciência da Informação

Professor de Educação Física do CEFET-MA

Uma função essencial do calendário é a de ritmar a dialética do trabalho e do tempo livre. Trata-se de permitir o entrecruzamento do tempo mais disciplinado, mais socialmente controlado, com o tempo cíclico das festas e, mais flexível, do jogo.

Uma das funções do calendário está em articular os tempos de trabalho e de não-trabalho, ou ainda, articular o tempo linear-regular do trabalho com o tempo cíclico da festa, do jogo e, do mesmo modo, do esporte.

O calendário seria o resultado complexo de um diálogo entre a natureza e o homem; diálogo este não estranho ao lazer, ao esporte e ao jogo. (Le GOFF, 1992; GEBARA, 1997, 1998).

Em São Luís do Maranhão, a Câmara tinha que mandar celebrar, além da procissão de Corpus Christis, quatro festas anuais: a de São Sebastião em janeiro, a do anjo Custódio em julho, a da Senhora da Vitória em novembro, e a da restauração de D. João IV, chamado especialmente el-rei, em dezembro. Fora essas datas, só se realizavam cerimônias festivas quando assumia um novo governador ou, depois, quando chegava um novo bispo Esses tempos de festa serviam para regular o calendário do trabalho. Ao contrário do uso do tempo após a revolução industrial, o tempo era regulado pela natureza. O ritmo do trabalho era dado pelo ritmo do homem no comando de ferramentas e instrumentos de trabalho (GEBARA, 1997, 1998).

Em 1678, D. Gregório de Matos – primeiro bispo do Maranhão (1679-1689) – foi recebido com uma festa. Teve lugar, no adro da igreja, uma comediazinha. Finda ela, foi D. Gregório para a casa de Manuel Valdez, onde, por oito dias consecutivos, ou mais, houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria. (MEIRELES, 1977).

A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras. Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile de que fala um documento da Câmara de Coimbra, citado por Viterbo, aludindo em 1464, à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas. (CÂMARA CASCUDO,1972).

Esse autor registra o termo “cavalhada” referindo-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha (CÂMARA CASCUDO,1972). Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria, como afirma GRIFI (1989), ao referir-se às atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. Ao descrever as distrações na Idade Média, Oliveira Marques ensina que, uma vez a cavalo, o nobre medieval podia entrega-se a uma série de exercícios desportivos. Desses, os mais vistosos e conhecidos eram sem dúvida as justas e os torneios, embora seja difícil distinguí-los. Em princípio, a justa travava-se entre duas pessoas, enquanto o torneio assumia foros de contenda múltipla.

No dizer de GRIFI (1989), a “giostra” era disputada somente entre dois cavaleiros, diferente do torneio que era combate em times. Eram usadas “armas corteses”, isto é, armas desapontadas ou cobertas por uma defesa. O confronto consistia de uma corrida a cavalo de um contra o outro, lança em riste, com o objetivo de desequilibrar o adversário, melhor ainda, de fazer cair, ao mesmo tempo, cavalo e cavaleiro.

Em torno do século XIV espalhou-se o mau costume de usar lanças ou armas desapontadas. Variante das justas eram as chamadas canas. Em vez de lanças, os jogadores, a cavalo, serviam-se de canas pontiagudas com que se acometiam. O jogo possuía as suas regras, evidentemente muito diferentes das que regiam os torneios. Popularíssimos no fim da Idade Média mostrava-se espetáculo quase obrigatório nos festejos públicos, ao lado das justas e das touradas.

O jogo das canas, de antiga tradição nacional, continuou em uso, nos séculos XVII e XVIII, com grande aparato e luzimento, quando nele intervinham pessoas da alta nobreza. Da cavalaria medieval, que durante longo tempo conservou a tradição dos exercícios viris da antiga efebia e cuja decadência foi um dos consectários do aperfeiçoamento das armas, ficou em Portugal, de onde veio para o Brasil com os primeiros Governadores, o gosto pelo jogo das canas.

As cavalhadas constituíram nos tempos coloniais e no Império um atraente exercício. Embora quase privativo dos jovens afortunados. Ao povo habituado à pasmaceira elas valeram por oferecerem espetáculos ou, como Fernando Azevedo escreveu, ‘memoráveis torneios de opulência aristocrática’.

Será preciso distinguir as cavalhadas que os mancebos ricos disputavam daqueles outros jogos que no Rio de Janeiro foram conhecidos como o jogo das manilhas e em tantos outros cantos do país com o jogo das argolinhas.

A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e, de acordo com GRIFI (1989), a corrida dall’anello – corrida do arco – consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos.

No Brasil, desde o século XVI se corre a argolinha, e chegou a estender-se até meados do século XIX. MARINHO (s.d.) refere-se a uma cavalhada realizada em abril de 1641, no Recife. Portugal estava sob o domínio da Espanha e esta em guerra com a Holanda. Os holandeses haviam invadido o Brasil quando sobreveio a trégua entre estes e os espanhóis, a qual, naturalmente, se estendeu às colônias. Para festejá-la, foram organizados torneios eqüestres em que portugueses e brasileiros competiram contra holandeses. Já CÂMARA CASCUDO (1972) registra uma encamisada realizada em março desse mesmo ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV.

Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas, não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão.

Para LOPES (1975), nesses torneios do tempo colonial os corcéis eram árdegos, de viçosa estampa e traziam arreios de preço. Os cavaleiros e seus ‘peões’ vestiam com esmero trajes de cores vivas e os primeiros, montados à gineta ou bastarda, exibiam a sua destreza na arte nobre de bom cavalgar.

Além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha (LOPES, 1975).

Concluindo, encontramos no Maranhão, ainda no Século XVII, como parte da herança cultural portuguesa, além das danças e comédias representadas no adro das igrejas, o entrudo e as cavalhadas, estas sob as formas de encamisadas, do jogo das canas e do jogo das argolinhas.

É a argolinha a primeira “manifestação esportiva” praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado (citado por CÂMARA CASCUDO, 1972), referindo-se à mais famosa corrida realizada no Brasil, promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 – ou abril, conforme MARINHO (s.d.) -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses.

BIBLIOGRAFIA

CÂMARA CASCUDO, Luís da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. 3a. ed. atual. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972.

GEBARA, Ademir. Considerações para a história do lazer no Brasil. in BRUHNS, Heloísa Turini. (org). Introdução aos estudos do lazer. Campinas: Unicamp, 1997, p. 61 -81

GEBARA, Ademir. “O tempo na construção do objeto de estudo da história do esporte, do lazer e da educação física”. Grupo de História da Educação Física, Esporte e Lazer, FEF/UNICAMP. http://www.unicamp,br/fef/gehefel/texto-Gebara-2.txt. >. (26/06/98).

GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre: D.C. Luzzatto, 1989. Le GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 1992

LOPES, Antônio. Meios de transporte na ilha de São Luís. in LOPES, Antônio. DOIS ESTUDOS MARANHENSES. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1975, p. 45-58. MARINHO, Inezil Penna. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL. São Paulo: Cia. Brasil Ed.(s.d.). MEIRELES, Mário M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís: UFMA/ SIOGE, 1977. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial. in SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, XVIII, São Caetano do Sul-SP, outubro de 1992. ANAIS… São Caetano do Sul: CELAFISCS: UNIFEC, 1992, p 27. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial in ONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, VIII, Belém-Pa, setembro de 1993. ANAIS… . Belém: UFPA, 1993, p 137.

VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio; FEIO, Noronha. HOMO LUDICUS – ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA PORTUGUESA. vol. 2. Lisboa: Compendium, (s.d.).

Laura Rosa - Revista Elegante 1898

Editor: ANTONIO AÍLTON

SAMARA VOLPONY, poemas Samara Volpony (Samara Laís Silva, Arari/MA, 1990). Poeta brasileira nascida à beira do rio Mearim. Autora dos livros Contramaré (Patuá, SP, 2017) e Lua de Memórias (Primata, SP, 2021). Vencedora do 4º Concurso Internacional Poesia Urbana, promovido pelo Centro Universitário de Brusque – UNIFEB e 2ª colocada no 2º Concurso Internacional de Poesia da Casa de Espanha. Tem poemas publicados em antologias, jornais e revistas nacionais e internacionais. Contatos: Email: samaravolpony@gmail.com Instagram: @samaravolpony homini

nada em nós a não ser o homem de ontem que palita os dentes o homini lupus de plauto preso noutro tempo nada em nós a não ser o homem de ontem de gestos arcaicos tocando violoncelo na fogueira das bruxas nada em nós a não ser o homem de ontem empurrado ladeira abaixo pela pedra bárbara de um sísifo ao avesso nada em nós de ontem a não ser o homem.

genealogia do deserto

sou da linhagem das ninfas sem nome, da terra onde corre o rio entre as pedras: lençol de água dos dragões.

sou do clã dos herdeiros das fomes e minha pátria é uma miragem, que ninguém sabe ao certo onde vivemos (in)felizes para sempre, cada um no seu deserto.

nunca aprendemos o código da humanidade.

suite nº 3

como são terríveis as primeiras horas do dia e seu desejo de loucura: suportar o seu desastre sob as nuvens numa pátria parva e um corpo em declínio à espera do abraço

tocamos árias de bach para não oferecer à vista o lamento fizemos todo amor que não demos solfejamos serenatas

dançamos insanamente ao som de monocórdios para contrariar fragilidades enquanto tento não ruir junto ao salitre das paredes desta casa sem entes.

stella maris

quando vier o mal e nos assaltar a sorte, serei o boi condenado ao abate, que preferiu o naufrágio a ajoelhar-se à morte.

babel em progresso

nosso tempo é curto, não nos desesperemos, não nos desesperemos, ainda.

avancemos, pois, na urgência dos dias sem razão. babel se ergueu sobre nós, mas não nos precipitemos ao caos, demo-nos as mãos para que não nos percamos.

o asfalto sepultou todas as flores. o progresso sepultou todas as flores. nos gabinetes e escritórios, são fabricados sonhos de caneta e papel. arquivam-se outros tantos, e, assim, nascem gerações inteiras e infinitas: milhares de rostos que não sei.

o tempo do progresso chegou, a ideia do progresso. vivemos o progresso e o deleite. mastigamos o grito do progresso, do mais fino e absurdo.

5 poemas do livro “SOLO”, de SEBASTIÃO RIBEIRO

Apesar

Como se nada me pertencesse sinto na pele a memória do que sequer compartilhei

todas as mãos os olhos os pelos foram maré

a distância em toda a vida me dispensou numa praia azul

Não que eu assim veja mas há dias em que sou segredo

deduzo que há mais dois ou três entre bilhões que entenderiam a patetice em meu corpo

essa mesma que me afasta do que conheço e pretendo

Almejo nessas cenas espremidas na cabeça grandezas de filme destinos acima do controle delícias que contornem o esquecimento

por trás do tráfego em cada

minuto tramo o sono que funde otimismo e fato

procuro qualquer abraço que me carregue além desse fetiche fantologia entendida pela forja de minhas ignorâncias

procuro qualquer um que não julgue não me deixe

mas às vezes me entenda como o cupom amassado que assovia que o vento toma e atravessa pela Estrada de Ribamar

Misofonia

Contando o imposto e a previdência estou parte dos dez por cento mais ricos do meu país ao menos nesse dia & era do ano da graça de dois mil e vinte um mesmo ano de um expressivo aumento no consumo de salsicha macarrão instantâneo ossos

ainda que obstinado a viver meu privilégio além de um caráter que considero razoável seco de choros me embalo em um pai-nosso oco que não sei se por distância recusa ou necessitar de milhões

As linhas acima não servem de epitáfio ao menos não o meu acredito que meu plano funerário não o cobre mas não se pode alegar inteireza ou ilibação dos que não alcançam além dos jornais dos memes das urnas acabo oferecendo surras e rendas arabescadas com o mesmo peso prosaico dos bons-dias

Ainda faço parte dos que não tomam ansiolíticos dos que insistem em desistir mas seguem por dúvida ou dívida dos que guardam demolições dos amantes que ainda não se mataram por não terem sido convidados me peço progresso arrastando esqueletos nas mãos olhos lépidos de criança que pede nos ônibus aos sábados que carregam mais dados poéticos que todo esse esgoelar-se na ilha Bouvet

Ainda faço parte da espera já que rodízios de carne e cervejas importadas me encolheram em se tratando da luta ainda faço parte da mentira repetida envolto em cosmogonias íntimas às vezes me excedo me permito acender alimentado descansado vestido e banhado quase estouro a cabeça enamorado por prestígio influência uma canção ou um beijo mas o que se extrai dessa postagem que sirva à aldeia? Dou a volta e (de)componho provo a própria carne desenvolvo planejo formato mas me calo – para sorte do mundo pervinca é a cor da estação em breve saberemos qual será o hit do verão todos levam a sério aforismos em reality shows

se você abrisse os olhos esperando me encontrar

se no escuro meu peso não te fosse suficiente

se aquele segurar minha mão não fosse por um medo que

um susto destrancou do sono

se sentíssemos a mesma linha de baixo agulhando no lugar de nossas línguas

se entrar fosse chegar tão próximo que sentiríamos os planetas

se eu trocasse os sentidos por esperança

se eu conversasse querendo ficar

se eu não fosse incrédulo feito desertos

se não visse esmeraldas nas garrafas quebradas

se eu continuasse você me alcançaria assim

aqui?

Solo 4

Se feito do barro, há sentido me sinto um tijolo antigo

Se do estouro, me afirmo no sonoro prego caído

De qualquer maneira, há a celeuma e o infinito

Viro-me acomodo-me torto entre grandezas onde só percebo o acabamento as miudezas me absorvem me concentram

No imenso esquema humano em que o poder é propriedade física da matéria o que seria um tiro por trás de quem seguia adiante

Avalio que em todos há uma fundação de variados escapes – a minha é consumir até as cinzas

contemplando qualquer beleza da varanda dos prédios

Será possível um prazer avassalador que nos cubra os olhos da história que nos carrega?

Sei tanto quanto hoje (menos agora que anos atrás)

mas quase simples era encarar a verdade de um perfume que mora nas hastes dos óculos no

anel esquecido no banheiro na despedida de algo em mim onde até este verso questiono sua utilidade.

À cidade

(do Solar Cultural da Terra)

Como pintor incompleto do que meus olhos aspiram semiagraciado me entendi disposto ao pedaço da cidade que é a primeira cidade absoluta e além

das festas dos batimentos no vigia das costas de quem dorme em suas pedras do cheiro dos que agora transam

Não canto a cidade a assovio: é preferível me sentir nas flores que lhe usam a terra

nas danças que assiste dos astros sem prefeituras

suas feiras, silhuetas o arrastar de sandálias em suas ruas deitadas camadas de tudo e tantos

feito caminhos em meu presente corpo justificado pelo prazer

Felizmente ela nos enterrará

uma pá de sal em nossa ausência na mesa dos bares a contemplando

ausência feita do mesmo fantasma que me embaça o sentimento que absorve sua beleza entremeada do cobalto da madrugada em meu riso.

Sebastião Ribeiro (1988) é autor de vários livros de poesia, dentre eles Ménage – Antologia Trilíngue de Poesia – com Antonio Ailton (Helvetia Éditions, 2020) e Outro (Penalux, 2022). Seu 5º livro, Solo (Litteralux, 2024) foi premiado com o 2º lugar do Prêmio Claudio Willer de Poesia 2023, realizado pela União Brasileira de Escritores (UBE-SP).

MANANCIAL – POEMAS DE WILLIAM AMORIM

Há um vento de alhures a sussurrar que o amor vem de norte a sul , vem por aqui, por ali, com a imprecisão de um mapa inacabado a se trilhar. Ainda que não acredites, não sou impossível de tocar. Orgulho, medo ou timidez abismam nossos corpos, mas o desejo é uma potência cega e certeira que não arrefece, pura água impondo-se desde o chão. Não há pressa, teus passos vacilantes não errarão mais o caminho nunca andado, eu sei. Ouça, amor, a macia canção do vento que varre de um lado para outro os passinhos indeléveis do amor que aqui espera e sonha. Vem.

O tempo ameaça os dias, trai os vorazes de eternidade acorrentados em corpos por fora desgastados. A mesa posta em algum quintal entorpece Cronos, desperta a criança de além dos muros da memória. O café invade as narinas até os longes, o pão é a hóstia atemporal. A banalidade cotidiana vela a transitoriedade da vida, a beleza do que não é excepcional, o brilho de opacas rotinas. E porque a vida não basta, há que se bebericar pequenos goles de transcendência.

Gestos contidos velam intimidade enjaulada: o não-dito sonha um tempo perdido, incontáveis primaveras.

Semi-ditos: notas musicais à sombra, assombram muda espera. Tímidos afetos inibem afagos, riscos de amor.

Silêncios, hiatos de fala e ato, regulam caudalosa pujança de insondável amor que em mim vem de ti, minha nascente. Manancial.

IV

Escrevo violenta liberdade quando despossuído de mim busco um outro sem a ilusão do Um.

Escrevo violenta liberdade quando a diferença é nada mais que diferença.

Nem deficiência nem ofensa nenhum escândalo.

William Amorim de Sousa: escritor, poeta, contista e ensaísta, Prof. Me. Departamento Acadêmico de Letras/IFMA – Campus Monte Castelo, Especialista em Saúde Mental, Psicanalista membro e Diretor do Corpo Freudiano Escola de Psicanálise Seção São Luís, Fundador e Presidente do CIAMM – Clínica da InfânciaeAdolescência MaudMannoni. Desenvolveuestudos deformação eestágios clínicos em instituições internacionais de referência no tratamento de sujeitos autistas e psicóticos: École Expérimentale de Bonneuilsur-Marne – Paris/França; Institut Médico-Pédagogique Notre-Dame de la Sagesse Le Courtil – Bélgica; membro permanente do Conselho Editorial da Coleção Janus, Ed. Contra Capa/Rio de Janeiro; escreveu prefácios, apresentações e posfácios de livros de literatura, artigos para revistas nacionais e jornais locais; autor do livro O amor em uma aprendizagem ou o livro dos prazeres: uma abordagem psicanalítica (Viegas Ed.), coautor dos livros Internautas: os chips reinventando o nosso dia a dia (São Paulo: Ed. Melhoramentos, 2011), Clínica e estrutura (Rio de Janeiro: Contra Capa, 2014); Gatos (Viegas Ed. 2019) – livro de poemas com Roseana Murray); Poemas em espelho (e-book com Roseana Murray – 2020. Site rosenamurray.com); Coletânea Poetas Maranhenses: prêmio Gonçalves Dias (Viegas Ed. 2020); Balaio de felicidades – Com Roseana Murray – (Ed. Estrela Cultural/SP, 2023); e-book Um abraço em Galeano (Minas Gerais: Ornitorrincobala, 2024).

“ORNITORRINCO”,

DE THEOTONIO FONSECA – EM PREFÁCIO DE ROGÉRIO ROCHA

Prefácio de “Ornitorrinco”, de Theotonio Fonseca de Sousa, Rogério Rocha

É com grande satisfação que apresento este prefácio sobre o livro “Ornitorrinco”, assinado pelo talentoso autor Theotonio Fonseca de Sousa. Como um estudioso da literatura, sinto-me no dever de destacar logo de saída: trata-se de obra singular e multidimensional.

Após uma breve leitura, percebe-se, sem muito esforço, que “Ornitorrinco” desafia qualquer categorização simplista. Sobretudo porque Theotonio Fonseca estrutura sua poesia através de uma escrita que se emaranha entre o barroco/neorrococó e o contemporâneo, o clássico e o moderno.

Fico com a impressão de que ele intenciona reorganizar o universo pela via particular da linguagem. Ou como diz em “Pacto fáustico”: “anseio pela silhueta do campo unificado[…]que traduza a plenitude da mente de Deus”.

Seus versos de muitas faces estão carregados de imagens impressionistas – para não dizer impressionantes – que oscilam entre o passado e o presente. Com eles o autor produz uma densa nuvem de sentidos na miscigenação de referências não só a outros poetas, mas às mitologias greco-romana, judaico-cristã, africana e dos nossos povos originários.

Essa fusão de influências termina por criar uma linguagem rica em simbolismos e texturas. Mediante utilização de temas e abordagens pouco comuns, Fonseca tinge de novas cores antigos e conhecidos pilares estéticos da poesia ocidental.

Poeta Theotonio Fonseca. Fonte: literaturaefechadura.com.br

Antes de dar continuidade ao prefácio, necessito, entretanto, voltar ao título do novo livro. Afinal, é importante esclarecer o que seja um ornitorrinco.

O ornitorrinco é um mamífero encontrado na Austrália e Tasmânia. Da família da não menos esquisita equidna, esse animal interessante, conhecido por sua aparência estranha, nos remete às aberrações encontradas na natureza.

É um mamífero semiaquático que combina características de diferentes animais. Tem o bico de um pato, o corpo de uma lontra e a cauda semelhante à de um castor. Esse animal peculiar é um dos seres mais incomuns do mundo.

Nesse ponto, título e produção do livro convergem para sinalizar ao público a origem pouco convencional do estilo do autor, cuja poesia busca respaldo em imagens que justificariam denominá-la de uma poética ornitorrinca. Poética capaz de provocar alguns abalos theotônicos, diria o saudoso Carvalho Júnior.

O poeta não teme explorar os recantos mais profundos da simbólica universal. Ao conduzir-nos por um labirinto de expressões, ideias-força e terminologias pouco ortodoxas, encontramos ecos do esoterismo, ocultismo, magia e misticismo entrelaçados com passagens bíblicas e fragmentos do ideário do folclore brasileiro.

As religiões de matriz africana e a filosofia também deixam suas marcas, encontrando espaço nos poemas aqui apresentados. Convivem, assim, numa equação imprevisível, mas com efeitos bastante proveitosos.

A poética de Theotonio resulta em uma nova cosmogonia. Seus versos orbitam corpos celestes por vezes não identificados. Eles criam um catálogo de movimentos curiosos e desafiadores em um universo próprio. Características distintivas também presentes em seus livros anteriores.

Cada poema se configura, portanto, como uma constelação singular, e “Ornitorrinco” representa a galáxia que os acolhe.

Este livro propõe ao leitor um desafio instigante: a exploração dessas dimensões e a descoberta dos enigmas embutidos na coreografia das palavras, conduzidas com maestria e conhecimento.

“Ornitorrinco” é, deste modo, a coroação da caminhada poética de Theotonio Fonseca. Com este livro, o poeta de Itapecuru-Mirim dá por concluída a sua missão dentro do gênero ao qual se dedicou apaixonadamente.

Demonstrando coerência com seus princípios, finaliza sua jornada com uma obra digna de representar a melhor síntese do que escreveu até hoje. Essa obra intrigante nos envolve com sua beleza, guiando-nos pelos mistérios de um universo peculiar ainda por ser explorado.

A LÓGICA INEXATA DO FUTEBOL INCOERENTE

*Por Osmar Gomes dos Santos

Costumamos brincar com a máxima de que “o Brasil não é para amadores”; expressão carregada de simbolismos e significados transversais. Resolvi então, a partir dessa premissa, fazer uma analogia ao mundo do futebol, após uma escolha da Bola de Ouro que surpreendeu o mundo.

Depois de tanta estrada percorrida, tanto futebol jogado, títulos conquistados, lembrei daquela fatídica narração de Cléber Machado, no GP de Fórmula 1, na Áustria. Rubens Barrichello liderava, no entanto, recebeu ordens para deixar Schumacher ultrapassá-lo. “Hoje, não; hoje, não; hoje sim”.

Isso mostra como outros interesses, sejam eles quais forem, não encontram espaço no esporte. A dor, o sofrimento, a paixão, a emoção, o inesperado, a superação fazem a magia do esporte, não interessa a modalidade.

Daí porque o esporte, em especial o futebol, não é uma ciência exata. A regra é que seja imprevisível, tanto quanto fantástico. O drible improvisado, o recurso tirado da cartola, a capacidade de gerar resultados. Essa foi a temporada de Vinicius Júnior, o Vini, carinhosamente conhecido, ou melhor, as últimas temporadas do nosso craque.

Não falo com patriotismo, mas sobretudo como amante e apreciador do futebol, e assim, exponho meu ponto de vista. Com respeito ao eleito, Vinicius Júnior foi preterido por outro jogador que sequer era cogitado a estar entre os três melhores da atualidade, embora tenha suas qualidades.

Já vimos alguns prêmios de melhor de uma Copa do Mundo recair ao vencido, como espécie de consolação. Entretanto, o prêmio de melhor do mundo não comporta tal cortesia, devendo recair sobre quem realmente merece a conquista.

O nome, inclusive, já resume tudo: conquista. Não é algo dado de bom grado, mas buscado na raça, enfrentando adversidades. No caso de Vini, batendo de frente com as ofensas, preconceitos, perseguição e violências. Sua luta contra o racismo mexeu com aqueles ditos especialistas que votam e fazem as escolhas, enviesadas sob o prisma de um eurocentrismo e distante da realidade do resto do mundo. Ou seria a compreensão do futebol alémmar diferente do restante do globo?

Vini é o ousado, o preto, latino. Atravessou o oceano para lembrar ao mundo como é o bom futebol. Superou a adaptação e hoje brilha nos gramados mundo afora. Mas enquanto alguns aplaudem, outros o chamam de abusado, atrevido, macaco.

Daí porque iniciou uma luta no futebol, batendo de frente com a Federação Espanhola, com torcidas, com racistas. Isso desagradou a parcela hipócrita e demagógica de uma elite, parte dela responsável por depositar o voto na urna. Algumas de suas declarações foram transformadas em “polêmicas”. Seriam de fato ou não passaram de alardes por uma mídia conservadora, que guarda traços do segregacionismo e que tudo vê como mimimi?

Para nós, Vini, assim como para a grande parte do mundo, onde seu rosto é amplamente conhecido, você já é o melhor há duas ou três temporadas. E, para isso, não precisa de lógica matemática, mas de um coração que ama futebol. Vini decidiu campeonatos, direta e indiretamente, incluindo o mais difícil do mundo. É o que, hoje, o futebol tem de melhor para oferecer. Une a irreverência e a alegria de tempos passados ao estilo moderno do futebol objetivo e que busca resultados. E ele encanta por conseguir entregar ambos.

Longe de qualquer comparação com o futebol jogado, entretanto, fazendo uma relação direta com a cor da pele, o mesmo mal que sofreu o nosso rei do futebol, glorioso Pelé.

Não dá para colocar no mesmo patamar um atacante goleador e decisivo com um volante. Ademais, pela lógica dos últimos 20 anos, exceção do zagueiro Cannavaro (2006), os melhores do mundo foram atacantes.

Qual a criança que ama futebol e sonha ser um zagueiro, lateral ou volante? No entanto, todas querem ser Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo, Vinicius. A bem da verdade, até mesmo o vencedor da Bola de Ouro, se pudesse votar, escolheria Vini Jr.

PAULO RODRIGUES ENTREVISTA O POETA BIOQUE MESITO

Bioque Mesito poeta, nascido em 3 de fevereiro de 1972. Possui vários prêmios em concursos de poesia em âmbito local, regional e nacional. É autor dos livros de poesia A inconstante órbita dos extremos (Editora Cone Sul-SP, 2001); A anticópia dos placebos existenciais (Edfunc-MA, 2008); A desordem das coisas naturais (Editora Penalux-SP, 2018); Odisseia do nada registrado (Editora Penalux-SP, 2020) e Uma estranha maneira de se comparar amanhãs (Editora Penalux-SP, 2021).

Paulo Rodrigues – Poeta Bioque Mesito, o filósofo Heidegger afirmava: “a liberdade é importante para que o homem consiga livremente formar sua própria essência”. A poesia foi uma escolha?

Bioque Mesito – Para mim, a poesia nunca foi uma escolha. Ela me encontrou, como um chamado inevitável, como algo que sempre esteve à espreita, aguardando o momento certo para emergir. Escrevo porque a vida exige isso de mim, porque preciso captar o pulsar da existência e, de algum modo, transformar o que sinto em palavras.

A poesia é minha maneira de lidar com a imensidão de ser humano, de confrontar cada momento, cada lampejo de beleza, cada dúvida e vazio que a vida carrega. Não há nada de racional ou calculado no ato de escrever; é como se cada verso fosse um fragmento da minha própria condição. Escrevo porque, de alguma forma, a humanidade me inspira a existir assim, em palavras.

Paulo Rodrigues – Há traços do existencialismo na sua poesia. Você se considera um poeta existencialista?

Bioque Mesito – Sim, eu me considero um poeta existencialista, mas não porque escolhi sê-lo é mais uma consequência de como vejo o mundo e de como a vida me atravessa. A poesia, para mim, é uma busca por significado em meio ao caos, uma tentativa de compreender o que é ser neste mundo, onde tudo é transitório e nada é certo. A cada poema, eu examino as profundezas do que significa existir: o sofrimento, o amor, a solidão, e o absurdo que ronda cada escolha, cada renúncia. A minha poesia nasce desse confronto com a própria existência, dessa tentativa de dar forma ao que muitas vezes parece indizível. Então, se ser existencialista é escrever para entender, para desafiar o vazio, para mergulhar no mistério da condição humana então, sim, sou um poeta existencialista.

Paulo Rodrigues – Poeta, você poderia comentar um pouco sobre suas principais influências na poesia?

Bioque Mesito – Minha poesia é um reflexo de um universo vasto e diversificado de influências que me moldaram ao longo do tempo. Poetas como Bandeira Tribuzi, Ferreira Gullar, Nauro Machado, José Chagas e Luís Augusto Cassas trouxeram suas nuances e sabedoria, abrindo novos caminhos para a minha escrita. A riqueza da poesia francesa, com Jacques Prévert, me ensinou sobre a musicalidade das palavras, enquanto a força da poesia russa, representada por Maiakovski, me impactou com sua intensidade. Sinto que a tradição modernista brasileira também me motivou, especialmente através das vozes de Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Affonso Romano de Sant’Anna, que expandiram os limites da linguagem poética. Poetas como Roberto Piva e Paulo Leminski acrescentaram camadas de inovação e experimentação com as quais pude experimentar. Porém, Jorge Luis Borges é um dos autores que mais admiro, com sua capacidade de explorar a linguagem e a existência de maneiras que me provocam e me colocam em ares inovadores. Essa diversidade de influências serviu e serve para que eu tenha respeito pelos que vieram antes e continue no processo da escrita, mas também me levou a questionar e refletir sobre a condição humana, que é o verdadeiro cerne da poesia.

Paulo Rodrigues – Boa parte da poesia contemporânea brasileira está inserida na busca pela criação e pela experiência. Como você avalia os poetas contemporâneos? Há bons autores na poesia contemporânea do Maranhão?

Bioque Mesito – Acredito que a poesia contemporânea no Maranhão está repleta de vozes valiosas. Não posso deixar de mencionar Hagamenon de Jesus, um poeta do qual aprendi muito e continuo a aprender; Antonio Aílton, um dos maiores expoentes da nossa poesia e um crítico literário de olhar certeiro; Dyl Pires, radicado em São Paulo, mas de origem ludovicense, que é outra voz importante nesse cenário; Ricardo Leão, que se destaca com sua habilidade de utilizar formas e temáticas variadas; Natan Campos, que brilha tanto na prosa quanto na poesia; Geane Fiddan, radicada em Recife, mas que é uma poeta sensível e consciente; Rafael Oliveira, um poeta de mão cheia que sabe lidar bem com as palavras; Cláudio Terças, que é muito cuidadoso com o que diz em poesia; e César William, que apresenta uma obra sólida e impactante.

Os irmãos Marinho, Samuel (uma poesia ultracontemporânea) e Samarone (existencialmente poético), têm se mostrado grandes contribuintes para o panorama poético, enquanto Wanda Cunha mantém um trabalho coerente e profundo. Também cito César Borralho, que possui um tom poético muito inventivo, e Rogério Rocha, que vem cavando seu espaço de forma admirável.

Paulo Rodrigues desponta como uma grande voz da nossa poesia, além de tecer comentários críticos muito interessantes. Não posso esquecer Luiza Cantanhêde, Anna Lis e Evilásio Junior, que são parte da turma do Vale do Pindaré, contribuindo de maneira significativa e vibrante à cena literária. Poetas como Silvana Meneses, que usa a síntese da poesia como marca singular; Sebastião Ribeiro, com uma poética robusta que merece mais leitura; Neurivan Sousa, que possui um trabalho muito particular e cuidadoso com a palavra; Lindevania Martins, que brilha tanto na prosa quanto na poesia; Daniel Blume, que a cada novo livro vem crescendo; e Júlio César, que conheci recentemente, são outros poetas que merecem destaque.

O poeta Eduardo Júlio se revela sintético, mas sempre lúcido. Marcelo Chalvinski, com sua poesia madura e enviesada, Fernando Abreu e Paulo Melo Sousa escrevem com maturidade, trazendo reflexões que nos tocam. E, claro, não posso deixar de lembrar meus amigos Rosemary Rêgo, Carvalho Junior e Celso Borges, que nos deixaram cedo, mas cuja influência permanece. Peço desculpas se deixei alguém de fora, mas são essas as vozes que me vêm à mente e às quais tenho apreço. A cena poética contemporânea está rica em diversidade e profundidade, e acredito que estamos apenas começando a explorar todas as suas possibilidades.

Paulo Rodrigues – Para que serve a poesia hoje? Qual é a ambição da poesia de Bioque Mesito?

Bioque Mesito – Acredito que a poesia hoje serve como um reflexo das nossas inquietações e um meio de conexão entre as pessoas. Em tempos de tanta complexidade e desafios, a poesia nos permite expressar a profundidade das coisas e questionar a realidade ao nosso redor. A minha maior contribuição para a poesia é compartilhar e divulgar a literatura de meus pares, celebrando a riqueza e a diversidade das vozes contemporâneas. Ao destacar o trabalho de outros poetas, não só enriqueço meu próprio processo literário, mas também ajudo a criar uma rede de apoio e reconhecimento que fortalece a cena poética. Acredito que, ao fazer isso, estou contribuindo para um diálogo mais amplo sobre a importância da literatura na nossa sociedade, mostrando que cada poema, cada livro, tem o poder de transformar e de nos conectar.

Paulo Rodrigues – Bioque, como você avalia a relação entre os poetas do Maranhão?

Bioque Mesito – A relação entre os poetas do Maranhão é marcada por uma grande comunhão, onde diferentes estilos convivem harmoniosamente. Tanto os que estão na trilha há mais tempo, como Salgado Maranhão, Luís Augusto Cassas, Laura Amélia Damous, Alberico Carneiro, Viriato Gaspar, Rossini Corrêa, Wybson Carvalho, Morano Portela, e José Ewerton Neto, quanto os poetas mais novos que têm lançado seus trabalhos recentemente e se destacado, trazem uma riqueza de vozes que enriquece nosso panorama literário. Essa diversidade é essencial, pois cada poeta traz sua perspectiva única, suas vivências e suas experiências, criando um diálogo constante entre gerações.

Essa convivência não apenas fortalece a cena poética, mas também gera um espaço de aprendizado e troca, onde todos nós, independentemente do tempo de carreira, podemos crescer juntos. Essa interconexão entre poetas é um dos aspectos mais bonitos da nossa literatura, e me sinto privilegiado por fazer parte desse movimento coletivo. Dentro desse contexto, não posso deixar de mencionar o grupo [de rede social] “Integrantes da Noite”, que reúne uma parcela significativa desses poetas e escritores de vários estilos. Esse coletivo é um verdadeiro reflexo da diversidade literária do Maranhão, onde cada membro traz sua própria voz e abordagem, enriquecendo ainda mais o diálogo criativo.

Paulo Rodrigues – Como funciona o processo criativo do poeta Bioque Mesito?

Bioque Mesito – Meu processo criativo é profundamente influenciado pelo que observo no mundo ao meu redor, especialmente pelo esfacelamento da humanidade e pelos atos de brutalidade que marcam a nossa realidade. Cada experiência, cada imagem e cada sentimento que surge diante de mim se transforma em um questionamento que busco expressar por meio da poesia. Para mim, a criação é um reflexo da minha percepção crítica do que nos rodeia, um convite à reflexão sobre as contradições que vivenciamos.

Transformo essas inquietações em poemas, buscando não apenas descrever a realidade, mas também questioná-la e, em certo sentido, transcender suas limitações. A poesia se torna, então, uma ferramenta para explorar a essência humana, um espaço de resistência onde posso dar voz ao que muitas vezes é silenciado. Nesse processo, cada palavra é cuidadosamente escolhida, cada imagem é evocada com intenção. Ao compartilhar essas inquietações, eu me conecto com os outros e provoco uma discussão mais profunda sobre a condição humana. Assim, meu trabalho poético se torna um reflexo e um questionamento do mundo, um diálogo entre o que vejo e o que sinto, sempre em busca de uma transformação existencial.

Paulo Rodrigues – Bioque, quais são os novos projetos literários que você está desenvolvendo?

Bioque Mesito – Estou sempre inquieto, e essa inquietude me acompanha desde os meus primeiros passos na escrita. Atualmente, meus projetos mais imediatos incluem o lançamento da Antologia dos Integrantes da Noite, que será uma coletânea de vozes e estilos diversos que compõem o nosso grupo. Além disso, estou trabalhando no meu sexto livro intitulado Revoada de Interrogações. Outro projeto que me entusiasma é a exposição de poemas, que contará com a participação de alguns poetas maranhenses. Essa iniciativa pretende celebrar a riqueza da nossa literatura e proporcionar um espaço para que essas vozes se entrelacem, compartilhando suas experiências e perspectivas. Cada um desses projetos reflete minha busca constante por diálogo e conexão com a literatura, contribuindo para o panorama poético do Maranhão e além.

Paulo Rodrigues – Você teria alguma curiosidade literária que pudesse partilhar com os leitores?

Bioque Mesito – Tenho sempre curiosidades, sejam literárias ou de outras vertentes, e uma que me intriga é o porquê do esquecimento da literatura, especialmente da poesia, por parte da iniciativa pública. É doloroso ver como a poesia, essa expressão tão rica da condição humana, é deixada de lado. Evento como a Feira do Livro de São Luís (Felis) parece agonizar a cada ano, pela falta de inventividade e valorização dos escritores maranhenses. A diminuição dos festivais de poesia é outra questão que me preocupa, pois esses espaços eram vitais para a divulgação e celebração da nossa arte. Porém, existe luz em meio a esses absurdos culturais e, aqui, desejo vida longa ao Concurso da Sobrames, capitaneado pelo poeta Rafael Oliveira, que com recursos próprios, fez uma linda festa com poetas de várias cidades do Maranhão. É interessante ressaltarmos isso, porque, enquanto instituições com poucos recursos conseguem fazer algo, a prefeitura e órgãos da cultura que seriam responsáveis têm negligenciado o Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, que é lei municipal. É encorajador perceber que as academias de letras, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e a Academia Ludovicense de Letras (ALL), estão se esforçando para fomentar a literatura. Elas têm promovido homenagens, saraus, lançamentos de livros e aproximado o público amante da literatura dos poetas e escritores, criando um ambiente mais acolhedor e incentivador. Essas iniciativas são um sopro de vida para a cena literária, lembrando-nos que a poesia e a literatura, em geral, ainda têm um lugar importante em nossas vidas.

Paulo Rodrigues – Deixe uma mensagem para os nossos leitores.

Bioque Mesito – Vivam da melhor forma possível e com integridade, porque viver é o que nos conecta à melhor poesia, que é a nossa existência.

Todo os poemas abaixo são parte integrante do livro ainda inédito “Revoada de interrogações”.

AS CONDIÇÕES TEMPORÁRIAS

a que se destinam as tecnologias se carnificinas são mais céleres

do que protótipos oriundos

de inteligências artificiais

há um estado virtualizado que amordaça o arbítrio seduzido pelos impactos

de robozinhos implacáveis ontens emergindo de nós

oferecidos em bitcoins negociados no metaverso não são mais pura ficção

um sestro que se especializa em reter nossas sensações

CEGUEIRA REMOTA

a vida seria plena se tivéssemos tempo de cessar a pressa

à antiga maneira de contar os ponteiros o pouso lento das máquinas

ao contrário de nossa busca pendulamos nossos destinos o livre arbítrio à porta

só se vive por algum motivo o bambúrrio de amar sem incumbências

o que não se pode mascarar a gente emperra

A CASA DAS PRIMEIRAS INVENÇÕES

a minha avó limpando o terreiro me lembrava a velha da litania as paisagens mórbidas e sutis do antigo bairro do sacavém

não sei ao certo o que ela catava talvez folhas ou inúteis pedregulhos ficava imaginando aquele mundo como se as tardes fossem minhas em seus estampados de chita dançava sinuosa entre a chuva segurando as cadeiras na varanda

observava subir entre os telhados pegando frutos que caíam maduros sem saber que tudo um dia acabaria

CIRCUNSCREVE

a Salgado Maranhão

no sangue que desce da minha pálpebra famigerada linha contumaz entre moucos perpassa a imagem de um tempo inviolável tentando esmiuçar as flores de minha janela no contexto parecido com as batidas torpes do chão das minhas coronárias estúpidas

são meus dragões que não sabem dos amanhãs incerteza pétrea ao avançar sob as tutelas vãs

o afagar da tua mão em minha desnorteada clareza pende entre obscuros movimentos uma chaga de destemperos a aniquilar o som que perpassa sinalizando as cruas fechaduras nos invernais sentimentos que nos atropelam do mistério que caminha rouco ao tom da vida

PAULO RODRIGUES ENTREVISTA O

POETA SALGADO MARANHÃO

Salgado Maranhão nasceu em Caxias (MA) e desde 1973 vive no Rio de Janeiro. Seus primeiros poemas foram editados na antologia Ebulição da escrivatura (Civilização Brasileira, 1978). É autor, entre outros livros, de Aboio ou saga do nordestino em busca da terra prometida (1984), O beijo da fera (1996) e Solo de gaveta (2005). Ganhou vários prêmios, entre os quais, o Jabuti (1999, com Mural de ventos) e o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras (2011, com A cor da palavra). Seus poemas foram traduzidos para o inglês, italiano, francês, alemão, sueco, hebraico, japonês e esperanto. Como compositor, tem gravações e parcerias com grandes nomes da MPB, como Alcione, Elba Ramalho, Dominguinhos, Paulinho da Viola, Ivan Lins e Ney Matogrosso

1. Paulo Rodrigues – Poeta Salgado Maranhão, você viaja bastante pelo Brasil e exterior, por conta das palestras em torno da sua obra. A poesia é a dona da sua existência?

Salgado Maranhão – Eu viajo bastante pelo Brasil e, também, pelo exterior levado pela poesia e pela minha diferenciada história de vida, que têm gerado interesse em muitos lugares. De 2007 para cá, fui aos EUA 9 vezes a convite de mais de 100 universidades, em 35 estados americanos, onde estudam minha obra e onde editaram 5 livros meus. Além disso, meus poemas traduzidos pelo grande tradutor, Alexis Levitin, foram publicados em mais de 60 revistas literárias (até no The New York Times). Em Harvard, um professor de literatura e estudos brasileiros, me disse, certa vez: “Nós queremos sua poesia, porque, semelhante a João Cabral e Guimarães Rosa, ela nos dá um Brasil que nós não tínhamos.”

2. Paulo Rodrigues – Poeta, você afirmou em uma entrevista: “o Oriente me deu a disciplina formal de um samurai”. O processo criativo de Salgado Maranhão é disciplinado?

Salgado Maranhão – Tendo chegado ao Rio de Janeiro, ainda muito jovem, sozinho, sem família, para trabalhar e estudar, escolhi o amparo da filosofia e das práticas ritualísticas e marciais do Oriente, ao invés de afundar o pé no mundo dionisíaco abundante que a cidade oferecia. Isso me trouxe uma saudável disciplina que me ajudou em todos os sentidos, desde os cuidados com a alimentação, à criatividade literária, propriamente dita. Em si, a poesia já é aleatória em sua própria forma de entregar-se (não a escrevemos quando queremos, mas, quando ela quer), porém, precisamos estar aparelhados para recepcioná-la, conhecer nosso instrumento de trabalho. Afinal, não se consegue beber o rio sem fechar as mãos.

3. Paulo Rodrigues – Como foi seu contato com a Tropicália? E com Torquato Neto? Esses contatos foram definitivos, na vida de Salgado Maranhão?

Salgado Maranhão – Quando emigrei com minha família para Teresina, no final da década de 1960, pré-adolescente, ainda não tinha completado minha alfabetização, mas, logo depois, descobri uma biblioteca pública, que, a rigor, foi minha grande professora. Ali havia alguns dos melhores clássicos da literatura universal, que foram fundamentais na minha formação. Eu os levava emprestado e os lia à luz da lamparina, tal o grau de pobreza em que vivia (se existe uma coisa que fiz desde menino, foi deliberar o que eu quis ser, ao invés de ficar me queixando e botando a culpa nos outros). Com a leitura, dei um tremendo salto qualitativo: tanto nas matérias do meu currículo escolar, quanto na organização da forma de pensar. Quando saí da região rural, com a sintaxe fraturada, foi iminente o choque cultural, que com a inserção da leitura, fui perdendo a fala camponesa, sem adquirir a voz urbana, fator que ocorre a muita gente que sai do campo para a cidade. Com a leitura, dei ordem a meu discurso e, muito mais, criei um jeito próprio de expressar-me que alimenta minha linguagem até hoje. Toda essa perspicácia cognitiva, levou-me a encontrar meus pares no mundo da cultura. Assim, quando em 1972 eu conheci Torquato Neto, já era um produto humano aproveitável para alcançar novos voos.

4. Paulo Rodrigues – Você é um compositor destacável da Música Popular Brasileira. Como você elaborou a música Caminhos do Sol, em parceria com Herman Torres? Tem parcerias novas? É um poeta da canção como o foi Vinicius de Moraes?

Salgado Maranhão – Minha canção Caminhos de Sol surgiu numa tarde carioca ensolarada: meu parceiro Herman Torres telefonou-me pedindo que eu fosse à sua casa letrar uma melodia que ele acabara de compor para sua mulher que tinha ido embora com seus dois filhos pequenos. Eu fui ao seu encontro e a letra saiu em 20 minutos, como num passe de mágica. O resto da história todos já conhecem, virou sucesso nacional com a Zizi Possi e com o grupo Yahoo, na novela da Globo A Viagem.

No Brasil, a década de 1970 foi o repositório das transformações que começaram em 1960, sobretudo na MPB. Os discos Clube da Esquina, de Nascimento e sua turma, é de 1972; também os discos Transa, do Caetano Veloso, Construção, do Chico Buarque, Expresso 2222, de Gilberto Gil e Acabou Chorare, dos Novos Baianos. Além de uma grande coleção de gravações lançadas pela Editora Abril Cultural, em que os discos eram acompanhados de fascículos com a história detalhada dos artistas envolvidos (que iam de Pixinguinha, Luiz Gonzaga, Caymmi a Milton, Chico e Caetano, Paulinho da Viola…) e, naturalmente, seus parceiros. Foi aí que eu fiquei sabendo da importância da Tropicália e da existência do Torquato Neto. Todas essas informações somadas às que eu já tinha, explodiram minha cabeça. Foi quando, em junho deste mesmo ano, o Torquato veio Teresina passar uns dias com seus pais e tive oportunidade de conhecê-lo e receber sugestões de caminhos valiosas até o dia de hoje.

5. Paulo Rodrigues – A antologia A Voz que Vem dos Poros, lançada pela editora Malê, tem recebido muitos elogios por parte da crítica. Como foi o processo de escolha dos textos? É um trabalho que resume a poética de Salgado Maranhão?

Salgado Maranhão – A antologia A Voz Que Vem dos Poros foi uma ideia do editor da Malê, Vagner Amaro e do professor, Rafael Quevedo, da Universidade Federal do Maranhão. Eu apenas corroborei dando alguns pitacos. Não quis interferir muito, como sempre faço com tudo que envolve meu trabalho. Deu certo. Saiu matérias e resenhas nos principais jornais do país. Agora, o livro segue sua trajetória em feiras literárias e lançamentos. Ele é um estrato bem representativo de tudo que eu produzi nestas últimas décadas.

6. Paulo Rodrigues – Salgado, você também é autor de literatura infantil. Fale um pouco sobre esse trabalho. É importante oferecer literatura desde cedo para as crianças?

Salgado Maranhão – Além de publicar 15 livros de interesse geral, escrevi também alguns infantis com temas regionais, ilustrados por Antônio Amaral, um gigante da iluminação. O objetivo dessas obras é desenvolver na criança um olhar poético sobre as coisas. Mostrar que tudo que se vê na vida tem desdobramentos e transcendência. Essa sensibilidade pode-se criar desde a mais tenra idade, um olhar perscrutador, que não se renda ao óbvio.

7. Paulo Rodrigues – Poeta, como está a sua programação e o seu trabalho cultural, no momento? Quais os projetos novos?

Salgado Maranhão – No momento, eu estou com vários projetos em curso, como sempre. Ainda este ano sairá mais um livro infantil com temas eminentemente maranhenses. Também sigo a produzir canções com meus parceiros para gravações futuras. No próximo ano sairá pela Editora Malê o livro de uma grande poeta americana (Tracy Smith)), que tem tradução minha e de Alexis Levitin (alguns desses poemas já saíram em 3 páginas da Revista Piauí de setembro. Minha inquietação não me permite indolência.

8. Paulo Rodrigues – Você foi eleito para a Cadeira 7 da Academia Maranhense de Letras, que era ocupada pelo escritor Antônio Carlos Lima. Como será a posse? O que a AML pode esperar do encantador de palavras?

Salgado Maranhão – A Academia Maranhense de Letras pode contar com meu espírito de respeito e harmonia na convivência com meus confrades e confreiras. E, mais do que isto, minha boa vontade em colaborar com a instituição, na medida dos meus limites

9. Paulo Rodrigues – Por tudo que tem feito pela poesia de Língua Portuguesa, você é cotado para uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Pretende concorrer novamente?

Salgado Maranhão – Minha vida, desde o momento em que descobri a poesia e a abracei como instrumento de crescimento pessoal e diálogo ético e estético com meus semelhantes, tem sido o de aperfeiçoar, cada vez mais, meu olhar e minha linguagem. Um poeta fala a partir do seu lugar de origem, projetando-se em direção a quaisquer outrens. A língua é sua ponte de sustentação para esse encontro. Por isso, é importante que o poeta conheça a medida e o peso de cada vocábulo. Não para ser subserviente a seu significado previsível, mas, para prospectar novos significantes que atendam situações imprevistas que não cabem mais em velhas palavras. Eu, da minha parte, não busco, necessariamente, a palavra exata, busco, na maioria das vezes, a palavra resvalante, que, uma vez acenando ao que está posto, esgarça a sintaxe rumo a outro entendimento. Porém, isso não pode ser uma fórmula, nem deve ter aplicação regular, é somente a luz da forma sem o método. Concorrer é plausível.

10. Paulo Rodrigues – Deixe uma mensagem para os nossos leitores.

Salgado Maranhão – O que tenho a dizer ao leitor de poesia e aos poetas, é que mergulhem nos grandes autores, lendo com o sentimento de apreensão do espírito do poema, não só da morfologia, onde a palavra é apenas carne. Ressuscitem o prazer da leitura pelas afinidades com seus autores favoritos, sem alegria de viver, ninguém suporta a existência.

Obrigado, meu poeta. AbraSal!

Poemas de Salgado Maranhão

Lacre 1

Uma larva de espinho mordeu-me o sonho. E atravesso a noite sangrando pétalas. Com esses uns que alumbram meus arco-íris através dos olhos

durmo sob a Via Láctea e a cortesia dos predadores.

Desolada em seu próprio couro, geme a poesia na porta do matadouro.

Lacre 2

Sonhei uma flecha Karajá chispando o vento. Da taba à Civilização do prepúcio. Sonhei um ramo de espírito: o urucum no Corão.

Que mar é esse que inunda meus guizos? que arcabouço alçará minhas ramas de luz?

Um sol há de haver para os que têm fome de aurora, para os roedores de silêncio.

Há um tempo de negar o sangue ao sepulcro (negar o osso ao machado).

A vingança entornou-se no furor que devassa o nosso umbigo (e onde Deus esqueceu-se das anjos?).

São matilhas uivando o que resta.

Lacre 3

O mundo em seu lacre de vidro,

agenda-se para nutrir abismos: seu pacote de raios; seu tempo em demasia.

(E os anjos jantando crack, e os porcos na sacristia).

Por isso edito esta cruz de sabres nesse cardume de ontens, nesse arremedo de eternidade.

Juro que vi o século enfermiço decapitado na cara da TV (a morte globalizando-se em Pedrinhas ou em Kandarhar);

Juro que vi a morte narcísica e seu personal trainer: não matam para infamar os céus, matam pelo prazer de doer, matam para querer ser Deus.

PALAVRAS DE MEU MESTRE

JORGE OLÍMPIO BENTO

Professor Catedrático Jubilado da Universidade do Porto

ROMARIA DOS CHÃOS

Este ano não vou lá. A ausência dói muito. Não me bastam os dias profanos, preciso do tempo sagrado, que é recuperável, não muda nem se esvai. O Natal, a festa de Bragada e a Romaria dos Chãos não conservam o figurino de outrora, mas reencontro nelas o sagrado da infância, tal como os meus pais reencontravam o dos ancestrais. Alterou-se a manifestação do profano; mantém-se o sentido do sagrado.

O ‘homem religioso’ ficou para trás. Todavia, não consigo viver apenas na dimensão do profano. Sinto a necessidade de ligação ao eterno; e este é o sagrado, mesmo sendo intermitente. O tempo profano e destrutivo carece de substituição e renovação cíclicas mediante a evocação e celebração de rituais e mitos inventados na esteira da civilização. A Romagem e a capela do Divino Senhor da Agonia dos Chãos configuram um tempo e templo de cosmogonia, de recriação da realidade primordial, a divina, sublimadora e superadora do ambiente caótico anterior a ela e persistente em todas as épocas.

QUE CHAMADA TÃO MERDOSA!

Voltairetinharazão:paraaprenderváriosidiomasestrangeirosbastamumoudoisanos;paradominaroidioma pátrio é preciso a vida inteira e muitas vezes esta não chega.

Enfim, quem põe cobro à traição ao português e à subserviência ao inglês? Parece que este tem mel no ânus; e há muitas línguas que o apreciam

Perguntas e respostas

Se formularmos boas perguntas na hora certa, obteremos ótimas respostas. Se não as fizermos, o tempo não nos deixará sem resposta. Mas pagaremos juros de mora, quiçá pesados.

Seres de 'distantes'

Assim nos definiram os clássicos gregos. Vemos de 'antemão' e somos capazes de estabelecer objetivos e metas, que estão muito à frente. Para os alcançar é preciso caminhar atrás deles e da sua realização, vencer a distância com passos determinados e esforçados, caindo aqui e ali, levantando-se em seguida e indo além das desculpas.

Perda e renovação da utilidade

Platão avisou: “Temei a velhice, porque ela não vem só!” O avanço da idade traz consigo a perda da destreza, da força e de muitas capacidades performativas da juventude; e abre a porta à vinda de fragilidades e até doenças. Pouco a pouco, a vida tira-nos coisas e perdemos utilidade. Todavia, não nos tornamos inúteis, mesmo que necessitemos cada vez mais dos outros. Deste jeito contribuímos para avivar a ética do cuidado recíproco, fundadora da humanidade. E aprendemos a valorar e cultivar o que o labor profissional tantas vezes condena ao descaso: o aconchego e carinho familiar, a estética e serenidade das relações. Simultaneamente damos testemunho dos erros cometidos, dos caminhos transviados, da necessidade de os emendar e mudar de rumo. Com isto nasce uma nova utilidade: com menos exuberância dionisíaca, porém apolínea e clarividente.

Do engano dos espertos

São sujeitos de pó; vão para onde sopra o vento e cuidam-se donos do mundo. Mas estão redondamente enganados. O mundo é das pessoas honestas, frontais e verdadeiras. Os espertos e oportunistas são, mais tarde ou mais cedo, descobertos; e então procuram um buraco fundo debaixo da terra para esconder o opróbrio e a vergonha. Enquanto os honestos e decentes passeiam à luz do dia e afirmam-se como exemplo de conduta para o presente e o futuro. A esperteza corrompe e afunda; a honestidade enobrece e eleva a existência.

Da liberdade

Leve é a graça. Semelhante à gravidade, a liberdade sobrecarrega-nos com o peso dos princípios e valores que escolhemos para balizar o nosso caminho. É custosa; não existe sem lhe pagar o devido tributo, exigido pela consciência acordada e inquieta. Constitui, pois, uma forma de ‘sujeição’. Porém, não deprime, nem causa sofrimento. A depressão, diz Byung-Chul Han, é o fardo suportado pelo indivíduo fatigado de si mesmo e cansado para o Outro, agarrado a si, enclausurado em si, vergado pela maximização da carga de ambição e produtivismo que transporta, imaginando que assim se expande. Eis a via para a exaustão e a autodestruição, percorrida por um ego patologicamente hipertrofiado.

Ao invés da miragem ilusória da egolatria, a liberdade assume a nossa fragilidade ôntica e metafísica. Voltase para o Outro; precisa de estabelecer compromissos e pontes com ele, sem obedecer a cálculos de ganhos e proveitos,masdesejosadecompartilharoespaçoexistencial.Escuta-o,respondeporele,atribui-lheprioridade ética. Assemelha-se à amizade e ao amor: é a cena de dois, não apenas de um. Munidos do precioso dom da liberdade, os humanos associam a honra e dignidade próprias à busca da harmonia e do bem comum, inventam a ‘comunidade’ e criam a aventura da vida.

Na hora da partida

Estáaprestes aterminara estadianaUNICAMP, aoabrigodoprograma‘CésarLattes doCientistaResidente’. É a segunda vez que usufruo de tamanho privilégio, concedido pelo IDEA-Instituto de Estudos Avançados. A primeira ocorreu entre 29 de maio e 16 de junho de 2012. Agora a residência teve a duração de um mês e por tema abrangente ‘Lusofonia e Universidade: em viagem para um mundo novo’. Dei o melhor que posso e sei, ciente de que é pouco e fica aquém da necessidade própria e alheia. Aguilhoa-me, por isso, o imperativo de agradecer a extraordinária generosidade e o elevado crédito do Professor Christiano Lyra, ilustre e sorridente Diretor do IDEA, do Professor Rafael Dias, da equipa que os assessora e me recebeu com flores nos atos e nos lábios, assim como da Reitoria. O agradecimento envolve os dirigentes, docentes e estudantes da FCA e

da FEF que me atenderam e escutaram com paciência os meus devaneios. É de elementar justiça que preste um tributo especial ao Professor Paulo César Montagner e família.

A estadia constituiu um passeio na alameda dos afetos e mimos ofertados pelos muitos e queridos Amigos que conto nesta preclara instituição. Peço desculpa por não referir todos os nomes; o texto ficaria extenso. Para eles e suas famílias peço as radiosas graças do Céu e da Terra. Já sinto a saudade; realmente esta é agridoce, um mal de que se gosta e uma bênção de que se padece. Parto com o peito a abarrotar da cordialidade recebida eaboca atransbordarde gratidãocomovida. Faltam-meas palavras paraexpressar o que mehabita pordentro; tenho-as, mas ficam engasgadas na garganta. Apenas consigo balbuciar que levo comigo tão raras e caríssimas pessoas. São estrelas cintilantes que viajarão na minha memória até ao fim dos meus dias. Quero ainda repetirlhes o que já sabem: amo o Brasil tal como é, com as suas altas virtudes e baixos defeitos; vejo nele, em germinação, a utopia da Humanidade futura, redimida pela música e poesia, pela beleza, doçura e lhaneza dos olhares e rostos misturados e multicoloridos. Até sempre!

Professor, quem és tu?

Sei que possuis um fidedigno diploma superior, de licenciatura, de mestrado e talvez até de doutoramento. Mas… que uso fazes dele? Sim, que papel desempenhas no teatro de realização da educação e de transformação da escola? O figurino das funções confiadas e a modalidade da respetiva configuração correspondem ao escopo intelectual da tua formação ou és apenas marioneta de ordens recebidas, sem espaço para autonomia e soberania? E no plano da cidadania e da tomada de posição em face dos males que corroem o país e o mundo, como te comportas? Tens noção das obrigações ínsitas na tua missão e do modo como as observas? É verdade ou mentira que, perante o dever da afirmação, metes o rabo entre as pernas e ficas calado como um rato?

Apetecia-me continuar a desfiar o rosário das perguntas, mas percebo que franzes a testa e pões um ar de manifesto enfado. Não fiques irritado! O perguntar quer ser tão-somente um safanão para acordar quem anda demasiado ensonado.

Heterónimos do professor

Nas aulas o professor está perante dezenas de personagens. Encara-as com as energias do ânimo e as luzes do intelecto. Todas são diferentes. Cada uma possui predicados singulares: um nome, uma maneira de ser, estar, falar e vestir, uma história de vida, uma data de nascimento, um horóscopo e um destino pela frente. Algumas não gostam dele e até o detestam. Porém ele não pode atirar fora nenhuma; tem que carregar e alimentar uma família tão diversa e numerosa. Quão difícil e duro trabalho o seu! No final da carreira honrada e suada fará o balanço: os alunos são heterónimos que conheceu e viveu.

Da técnica: ao serviço da ética e estética

Aprendamos a descobrir e realizar o que a técnica tem por dentro e ocasiona por fora.

É instrumento da metafísica: leva-nos além do que somos, mediante a transcendência e a vontade. E é concomitantemente salvífica: possibilita a libertação da animalidade e faz de nós seres artísticos, membros da Humanidade.

Nunca teremos tecnicidade suficiente para apurar e expressar a sensibilidade, afeiçoar as reações, as palavras, os gestos, as atitudes e a convivialidade. Somos sempre reféns da insuficiência e precariedade.

Percebes, ó professor e treinador, a tua responsabilidade?! Ensina bem, o melhor que te seja possível; mesmo assim será aquém da necessidade. Sem técnica não se concretiza a ética, nem a estética alcança o cume da sublimidade. As três categorias estão ligadas por íntima e profunda cumplicidade. Se quebrarem esta tríade, o desporto e as demais artes performativas tornam-se bastião da incivilidade.

Seminário Brasília – Porto 2024 "Património, Turismo, Sustentabilidade e CPLP"

Especialistas convidados debaterão a preservação do património cultural e linguístico, bem como a promoção da sustentabilidade ambiental e a cooperação universitária nos países de língua portuguesa. Não perca a oportunidade de compartilhar ideias e construir um futuro juntos. Inscreva-se e participe!

22 a 24 de Outubro, no Instituto Pernambuco Porto Brasil, Rua das Estrelas 123, Porto

Dia santificado

Regressado das Terras de Santa Cruz, era imperioso que fosse ao berço prestar contas aos ancestrais, narrar as graças recebidas e pedir a bênção para prosseguir a via sacra. Bragada começou a vestir-sede outono. As primeiras chuvas já vieram renovaro caudal da ribeiraque, apartir daqui, recebe o nome de Rio Azibo. Ainda há figos tardegos, bons para colher e comer, embora a água caída do céu lhes tenha roubado algum açúcar. Os castanheiros estão pimpões de úberes cheios; não tarda nada vão começar a estrumar o chão com castanhas.

Cumprida a obrigação e devoção, e após o almoço no Centro de Convívio, destinado a angariar fundos para a festa da aldeia (início de maio de 2025), o regresso ao Porto fez-se num rufo. Trago sempre nos olhos tanto os que comigo habitaram o lugar no passado como os que cuidam dele no presente. Uns e outros são parte da memória e consciência de preocupação. Afinal, a migração é uma ilusão: ninguém sai donde nasceu; apenas acrescenta estações de renascimento.

UNICAMP: uma Universidade viva

A Universidade Estadual de Campinas é uma grande instituição. A apreciação não se baseia nas muitas centenas de hectares que aquela ocupa no campus principal, nos dois campi de Limeira (onde se situam a FT, o COTIL e a FCA) e na Faculdade de Odontologia em Piracicaba. É devida, sobretudo, à energia criadora que nela se sente e respira.

Ali não há apenas uma extensa panóplia de cursos de graduação e pós-graduação ou de centros de pesquisa fundamental e aplicada com notória relevância social e alto padrão de reconhecimento internacional. Basta andar pelo campus para perceber a inexistência de inibições e proibições de pensar o impensado e opinar sobre o reclamado. Não faltam cartazes afirmativos de reivindicações dos estudantes e funcionários, nem anúncios de exposições, simpósios e discussões sobre diversos e candentes assuntos e problemas da realidade nacional e do contexto global. A Instituição não se omite em relação ao caos neoliberal, conforme observei numa clarividente mesa-redonda efetuada no Instituto de Filosofia. E o Conselho Universitário não se coibiu de aprovar, por unanimidade, uma declaração condenatória do genocídio em Gaza.

Na UNICAMP florescem a ciência, a inovação e a tecnologia, de mãos dadas com as artes. Todos os dias se mantém em cena uma instigante agenda cultural. Durante a estadia e sem prejuízo das minhas obrigações, frequentei debates, visitei várias exposições, assisti à ópera ‘Dido e Eneias´ (Orquestra Sinfónica da UNICAMP e Grupo Coral de Campinas), à atuação do Grupo Coral interpretando madrigais da Idade Média Europeia, e à exibição de um documentário acerca de diálogos entre Angola, Brasil e Portugal, no anfiteatro da Associação de Docentes. Ah, esta dispõe de edifício próprio, provido de restaurante e meios de usufruto do tempo livre, tal como sucede com a Associação dos Funcionários! Também se encontra no campus o DEDIC com apoios e ofertas educativas para filhos dos servidores, desde os 6 meses até aos 14 anos de idade. Desperta particular atenção o Centro de Convenções, porquanto fervilha de atividades que o preenchem continuamente. E abundam as feiras, nomeadamenteade artesanato realizadapor pessoas idosas,pertencentes ao programa UniversIDADE, que acedem aos espaços da instituição, têm cartão dela e podem almoçar no ‘bandejão’.

Apraz-me referir, com exultante contentamento, a íntima ligação ao Desporto, cultivada pela Faculdade de Educação Física. Por exemplo, o proficiente labor desenvolvido pelo DCE, DEFH e DEAFA traduz-se na ascensão do Brasil a potência mundial nas variantes da disciplina de Ginástica e nos ótimos resultados obtidos nos últimos Jogos Paralímpicos.

A Universidade possui uma fundação, a FUNCAMP, responsável pela gestão de inúmeros projetos e por um hotel acolhedor, dotado de restaurante com excelente gastronomia e de uma loja de venda de artigos alusivos à entidade e livros da editora institucional.

Quero ainda destacar algo deveras importante nesta era de ignoração e menoscabo do Outro. Obviamente, na UNICAMP existem conflitos de interesses, divergências de ideias e opções; isso não impede o funcionamento de redes de afetos e cumplicidades.

Talvez alguém deseje perguntar se considero a UNICAMP uma Universidade exemplar e perfeita. Não congrego saber para compreender o alcance da pergunta e para formular a correspondente resposta. Porém sei que a imperfeição é uma dádiva bendita, quando vigora a noção do quanto há e sempre haverá por fazer. Sei igualmente que sobejam as universidades moribundas e escasseiam as vivas. Ora a UNICAMP está viva e cumpre, de feição admirável, as obrigações ínsitas na missão prescrita por Humboldt, o fundador da Universidade da Modernidade. A visão humanista e ‘politécnica’ não constitui exclusivo de ninguém; é compartilhada por engenheiros, economistas, físicos, químicos, filósofos, médicos, linguistas e demais especialidades. Acresce que o Reitor não é nomeado por Conselheiros externos, nem recebe ordens deles e de Curadores emplumados. Enfim, na UNICAMP vive acordado e pujante o Espírito Livre, proclamando que outra não deve ser a chama da Pólis universitária. É assim que a vejo, contemplo e exalto; tenho, pois, enorme orgulho em contar com a amizade de muitos dos insignes autores da obra feita, movidos pelo desafio e sentido do aprimoramento da provocativa imperfeição.

Espera em vão pelo Espírito Livre

No início de todas as semanas recebo, no endereço eletrónico, a folha informativa da UP. Vem cheia de êxitos alcançados pela instituição nos mais diversos planos; alegro-me com eles. Porém tenho esperado ansioso a notícia que nunca mais vem. É a do levantamento da comunidade académica contra a ignóbil tutela do Conselho Geral e do Conselho de Curadores. Não cabe no meu entendimento que um ‘Magnífico’ Reitor seja escolhido pelo primeiro e receba ordens de ambos, integrados e presididos por criaturas externas. E também não consigo perceber como é que docentes tão doutos fazem jus ao estatuto e se sentem bem num ambiente de acabrunhante sujeição. Então a Universidade não é a casa e sede do Espírito Livre?! Afinal, aqueles preferem ver este açaimado.

Pentatlo do Professor

Repara, Professor, na forma como a Madre Teresa de Calcutá prescreve os ofícios da tua função: "Ensinarás a voar... Mas os alunos não voarão o teu voo. Ensinarás a sonhar... Mas não sonharão o teu sonho. Ensinarás a viver... Mas não viverão a tua vida. Ensinarás a cantar... Mas não cantarão a tua canção. Ensinarás a pensar... Mas não pensarão como tu. Porém, toda a vez que voem, sonhem, vivam, cantem e pensem, aí estarão a semente e o fruto do caminho ensinado e aprendido!"

Consideras isso pouco? Não é. Eis, sim, a excelsa e generosa coroação do teu labor!

Ética e moral

Não são sinónimos, nem equivalentes. A ética situa-nos na fronteira da escolha entre o bem e o mal; a moral na fronteira do permitido ou legal e do proibido e ilegal. A primeira propõe valores absolutos e universais e a respetiva obediência, mesmo que não sejam obrigatórios. A segunda possui valia relativa e local; varia de um contexto para outro.

A ética é revolucionária e utópica; vai na dianteira, mostra e justifica os caminhos para andar e as mudanças a adotar. A moral representa a parte das proposições éticas que, pouco a pouco, são instituídas como costumes, vigentes enquanto outros não forem assumidos na regulação da Cidade e Comunidade. Ora, o limiar da sensibilidade altera-se e a civilização é uma categoria em evolução; logo a ética está sempre em marcha e convida a moral a segui-la, a não ficar refém da conformidade e estagnação.

Em ‘Artetude’

Pessoas vindas de diferentes paragens e ofícios congregaram-se, durante três dias, em ‘artetude’. O termo e a ideia são da autoria da Dra. Danielle Rocha Athayde, de Brasília. Sim, foi daquele jeito que estivemos no Instituto Pernambuco-Porto, irmanados pela vontade e esperança de colorir com a arte as nossas vidas, os atos e as palavras, as reflexões, expressões e reações, o ambiente natural e o edificado. Debruçamo-nos sobre a CPLP, o património material e o imaterial; e cuidamos de proclamar a beleza e defesa da língua que perfaz a nossa identidade e idiossincrasia. Não somos sósias ou duplos uns dos outros; somos distintos, complementares, aumentados e multiplicados. Move-nos o fito de propor a edificação de pontes para uma genuína comunidade e convivialidade. Temos noção de que navegamos contra a forte corrente da recusa em escutar o Outro. Porém dispomos do astrolábio da reta intenção de sublimar o passado. Vimos de longe e é para lá que vamos. Em ‘artetude’ no presente e com saudade do futuro.

Queda na barbárie

Vivemos numa era rigorosamente avaliada pela acurada visão de Hannah Arendt: “A morte da empatia é um dos primeiros e mais reveladores sinais da queda de uma cultura na barbárie.”

A filósofa alemã e judia sabia do que falava. Experienciou a realidade que hoje se repete com novas autorias, formas e vítimas. Os factos não mentem e as consequências também não. A empatia está a morrer, enquanto a indiferença às dores do outro e às feridas do mundo cresce e ganha seguidores. Aqui, mesmo ao lado de nós. Urge reanimá-la!

Do caráter

Não conheço uma definição suficientemente abrangente do caráter exemplar. Escolho a conduta da Helena Cristina, aniversariante no dia de hoje, para tentar expor dimensões que o perfazem. A honestidade, o apego à verdade, a aversão à mentira, à indecência e ao oportunismo, a coragem e valentia para denunciar a fraude e a hipocrisia, a firmeza para enfrentar a pulhice, a prepotência e a perseguição, a resiliência para sustentar o sentido de justiça, a solidariedade indefectível, a frontalidade das posições, a convicção e o rigor das afirmações. Herdou dos avós maternos e paternos, e também da mãe e do pai, os genes destas disposições; mas cuida de as cultivar no dia-a-dia, assumindo a conta e fatura dos riscos. Dá assim expressão ao que é costume designar por ‘elegância cívica’. Obviamente, estou a falar da minha filha, isto é, em causa própria. Porém isso não me afeta o juízo da avaliação; consigo manter a devida distância no julgamento dos membros da família.

Defesa dos direitos ‘difusos’

Um direito ‘difuso' não tem destinatário específico. Inscrevem-se neste capítulo, por exemplo, os direitos a viver num ambiente limpo, sadio e seguro, a ser bem tratado, a respirar ar puro, a usufruir da beleza no entorno natural e edificado, a receber educação e informação sem propósitos de alienação e manipulação, a remuneração decentepelotrabalho realizado,a acedera cuidadosdesaúde, adispordecondições paracumprir a tarefa da existência com dignidade, etc.

Isso interessa e compromete a todos e situa no campo da axiologia, donde muitos fogem a sete pés. Trata-se de Imperativos categóricos, ditados pela razão pura, conforme Kant. São inegociáveis. Estamos obrigados a defender essas muralhas e torres, erguidas para proteger a civilização e a humanidade das arremetidas da insanidade.

Cloacas da democracia

São inimigos ferozes do Estado, da equidade e justiça social, do trato humano do Outro e por aí fora. Ególatras e arautos do individualismo puro e duro, viram costas à sorte dos frágeis e à exclusão dos perdedores na falaciosa corrida do sucesso. Não veem que assim se criam guetos e vespeiros. Estou farto de ouvir e ler as suas críticas às consequências das causas que advogam e sufragam quando votam. Ainda por cima, têm o desplante de poluir o ambiente com apelos à defesa da democracia, idênticos a arrotos vindos do intestino

grosso. Sim, a democracia precisa de ser defendida da voracidade dos tubarões que se apossaram dela para seu benefício exclusivo. Esó sedefendeaprofundando-a epromovendo a melhoriadavidaquotidianadetodas as pessoas e não apenas das elites. Se não servir esse fim, para que a queremos?

Telegrama para um Amigo

Vim hoje à capital, para te ver na catedral onde foste pontífice. A tua palavra permanece viva; ressoa e é escutada como um canto gregoriano.

As pessoas são boas e têm consideração por ti. O Presidente do COI veio prestar-te uma homenagem. Foi bonita a festa, pá! As badaladas dolentes do sino da memória adentraram-me a alma e embalaram a saudade. Continuas presente, com muito para contar e encantar. Até sempre, Odisseu!

A MELHOR DO MUNDO. Laranja do Algarve.

"No séc XVI, os portugueses “trouxeram” a laranja para Portugal e, assim, foram os portugueses que a introduziram na Europa.

Não é à toa que em alguns casos deparamo-nos com o rótulo: Portugal, o país das laranjas! Por este motivo, e por incrível que pareça, hoje em dia as laranjas são denominadas portuguesas em alguns países europeus! Sim, é no mínimo engraçado.

Ora vejamos: em romeno laranja diz-se "portocálâ", em búlgaro "portokal", em grego "portokáli" e em turco "portokal".

Mas esta associação não se fica pelas línguas europeis. Em farsi (persa), língua oficial de países como o Irão ou o Afeganistão e falado em países como a Arménia, a Geórgia ou o Iraque, a palavra portugal (em farsi: لاغترپ – lê-se: porteqal) significa laranja! Em árabe, uma língua falada em cerca de 20 países (países como o Egipto, Líbia, Síria, Argélia, Arábia Saudita, etc.), com aproximadamente 280 milhões de falantes, em todas as suas derivações, a palavra Portugal (em árabe: لاقترب – lê-se: bortuqal ou burtuqálum) designa também o fruto laranja."

És uma bruxa!

Não reajas com irritação, sem ler a saudação! Venho transmitir-te a noção que tenho de ti. No idioma sânscrito - a língua sagrada da Índia - ‘bruxa’ significa ‘mulher sábia’. E no latim o termo quer dizer ‘larva de borboleta’. Ora, somando os dois significados, ‘ser bruxa’ é possuir a sabedoria e o condão de se transformar numa melhor configuração. Saúdo todas as ‘bruxas’, porquanto, seguindo a intuição ou sexto sentido, convertem as situações ruins numa fonte de aprendizagem e saem delas voando!

Pedido e resposta

Os partidos ecologistas europeus, nomeadamente o alemão e francês, pediram a Jill Stein, candidata do partido verde dos EUA, que retirasse a candidatura em proveito de Kamala Harris. Jill Stein respondeu deste jeito: “Apelo aos partidos verdes europeus que deixem de apoiar o genocídio em Gaza e de reprimir a democracia durante as eleições americanas.”

Tudo como dantes

Já se anuncia o vencedor do óscar. Triunfou o ator da boçalidade, menos por mérito dele e mais devido à degeneração dos ditos civilizados; estes criaram aquele. O espetáculo degradante, grotesco e trágico vai manter-se em cena. Todavia, o resultado da eleição não altera o rumo da política externa do país. Este continuará, em nome do bem, a combater o mal, a exportar e ditar a ‘sua’ democracia aos povos que precisam de outra. Será reafirmada a preferência pela guerra e não pelo comércio, pela ingerência e não pela cooperação, pela imposição e não pelo diálogo. A exibição da força, perante os desejosos do mundo multipolar, seguirá em frente. Nada mudará na atitude imperial; talvez ela piore. O rei não abdicará da arrogância e majestade. Tudo ficará como dantes no quartel-general de Abrantes

Tempo de Dom Quixote

Fazendo fé no panorama mediático, não é mais normal que o cão alce a pata e urine no poste; a norma hodierna impõe que o poste mije no cão.

Estamos a viver numa era que não reconhecemos. É como se a estupidez tivesse entrado pela porta e a lucidez fugido pela janela. Contra a corrente reafirmo a convicção de que os humanos voltam sempre à necessidade de beleza, verdade, discernimento, esplendor ético e estético, de inteligência e sapiência. Mas vejo-me desmentido pela conjuntura.

Este é o tempo de Dom Quixote: intima a beirar a transcendência e acaba na frustração; em vez da apoteose da superação, reina um silêncio amargo de resignação. Resta a solidão e aceitar os limites das possibilidades, à luz das palavras do rabino Hilel (c.60 a.C. – c. 09): “Onde não houver Homens, esforçai-vos para agir como um Homem”. Ninguém obriga a realizar a obra; tampouco nos dispensa dela. Ludwig Wittgenstein aguilhoanos: “Não sei porque estamos aqui (…) não é para nos divertirmos”. É para subir a ladeira íngreme dos princípios e ideais civilizacionais e universais.

Nos dias e noites da dúvida opressora ilumina-nos o clarão de Mário Quintana: “A vida são deveres que trouxemos para fazer em casa”. Para os guardar e cumprir, mesmo que caídos em desuso. A consciência acordada põe-nos em cima dos ombros uma pesada carga de trabalhos. Todavia, não invejo o destino dos que fingem ignorar as obrigações ínsitas na nossa matriz ética. À espera dos dissimulados está um inexorável castigo: ser o que são e não o que deviam e podiam ser. Falhos de identidade, são uma multidão desfigurada que não consegue andar de cara levantada; afinal, o seu sucesso é a redução ao nada.

Mentira, estupidez e fascismo atual

Andamos, há três décadas, a ser ludibriados e colonizados pela mentira neoliberal. Sim, o neoliberalismo mente logo no nome, porquanto é uma ideologia antiliberal, impositiva da visão única e proibidora do pensamento divergente.

Uma das aldrabices mais grosseiras é a de que o empreendedorismo e o sucesso estão ao alcance de todos; basta querer e dar os passos recomendados pelos ‘coachs’. A falácia tornou-se uma crença à qual se sujeitou acefalamente um grande número de criaturas, sobretudo jovens. Foi a partir dela que se expandiu o hiperindividualismo e libertou a estupidez coletiva. Esta, apesar das imagens insinuarem o contrário, não acontece tão frequentemente nos restantes animais. Venham, pois, eles salvar-nos!

É verdade que os resultados das recentes eleições, nos EUA e na Europa, podem ser entendidos como uma reação dos cidadãos a decénios de invisibilidade e ostracismo, a que foram condenados pela democracia dita liberal. Num ato de desespero, entregam o voto à direita extrema e neofascista que promete tirá-los da situação caótica. Esta vai agravar-se, porquanto os eleitos estão ao serviço da estrutura que os eleitores querem derrubar. Eles não veem que apenas votam noutros gestores da plutocracia; mas não a tiram do poder, antes a legitimam pelo voto. Eis a cegueira com que andam entretidos.

Como vamos soltar-nos da teia montada pelas elites corrompidas que alimentam o vazio espiritual? O desafio é irrealizável sem despir o hábito da animalidade e pôr a Dignidade Humana à frente do bezerro do mercado, venerado pelos profetas que, com manha e vergonha, chamam ‘neoliberalismo’ ao fascismo e totalitarismo contemporâneo.

Homenagem a um duende

Dos semeadores de ventos da desgraça e do mal, e dos omissos perante as veias abertas da Humanidade não se falará bem no futuro. Mas fala-se de ti, porque ardeste como uma vela até ao fim, para alumiar os contemporâneos e os vindouros. Continuas entre nós, investido na função de um duende que vela pela preservação do espírito e sentido do desporto como altar ecuménico e instrumento da convivialidade.

Sonho e utopia

As aspirações de cada um dependem das circunstâncias que o amparam ou comprimem. Para muita gente sonho e utopia é ter o que comer e vestir e onde morar. Mas essas são necessidades básicas, dir-me-ão; pois, são! Não dá para conceber outras, enquanto não forem satisfeitas. A luta pela sobrevivência não deixa espaço e tempo para cuidar de elevar a existência ao plano do Ser Humano. As cadeias da necessidade aprisionam a liberdade de sonhar. Esta tem diversos graus; não é a mesma para todos. Se a valoramos e apregoamos tanto, então devemos elaborar o mapa-múndi consciencial e social da sua configuração e reparar nas portas que para ela se abrem ou fecham, por exemplo, às crianças dos condomínios e bairros residenciais, cá dentro, ou às de Gaza lá fora.

Sou conservador!

Sim, conservador me confesso! Nesta conformidade imploro pelo regresso da educação e gentileza, do cavalheirismo e elegância, das regras e boas maneiras da civilidade e da convivialidade nas instituições e no espaço público. Pela reaparição das famílias sólidas e harmoniosas. Pela multiplicação das mães, dos pais e avós com tempo e amorosidade para cuidar dos filhos e netos, brincar e passear com eles. Pela consagração legal da ética do cuidado e do respeito devidos ao Outro, aos professores, aos idosos, aos frágeis. Pelo fim da censura ao enaltecimento da feminilidade e à afirmação da masculinidade. Pela reposição das tradições que fizeram e fazem de nós melhores seres humanos. Pela volta da democracia que, nos últimos 30 anos, foi substituída pela plutocracia. Pela vinda do que tanto nos falta e tanta falta nos faz.

Seres brilhantes

O brilhantismo intelectual não basta para constituir a Pessoa admirável. A história está cheia de pulhas com elevado nível de inteligência. Hoje também não há falta de criaturas luzentes; atingem o cume do sucesso, gozam de celebração e premiação na política, nos media e em várias instituições, inclusive as de educação e formação. São brilhantes, mas nada acrescentam ao bem-comum e à Humanidade, nem tampouco querem saber disso. Os dramas do outro, próximo ou distante, não lhes dizem respeito. No mapa-múndi só conhecem dois pontos: o seu ego e umbigo.

Felizmente, contamos com muita gente que caminha noutra direção. Ao fulgor do saber alia a ética que é um querer ser e agir bem. Essa, sim, brilha na nossa admiração.

Da alegria pura

Temos tanta necessidade de alegrias grátis e puras, daquelas sem contaminação alguma, que nos põem a rir por dentro e a sorrir para fora! São ainda mais necessárias, por serem deveras escassas, nesta era de infrene competitividade. Deviam surgir espontaneamente nas horas de êxito pessoal, porém este acontece, não raras vezes, em cima do insucesso alheio. A prática desportiva e afim oferece-as na superação pessoal e na realização de uma habilidade que parecia inatingível; também se colhem nas aprendizagens escolares, na confeção da obra artística, na escrita do texto bem conseguido, no convívio da família e com os amigos e por aí fora. A alegria mora em muitas atividades, quiçá adormecida e requerente de ganhar asas e vida. O júbilo resultante da vitória do clube e seleção da nossa afeição podia pertencer a esse rol; precisa de se soltar da tristeza do adversário. É pura a causada pelos recordes olímpicos ou mundiais, porquanto beneficiam a todos: incarnam o triunfo da Humanidade inteira contra os limites e o impossível.

Carecemos da alegria ingénua e simples como a que jorra dos jogos infantis e dos versos dos poetas. Sintoa na saudade do nascimento, dos primeiros passos e das primeiras palavras dos filhos e da neta, das brincadeiras da minha infância, do Natal e do toque do sino que repicava no Sábado de Aleluia. Urge aumentar os oásis onde brota e floresce; e dar-lhes visibilidade, para combater a secura que se estende pelo mundo.

Doem-me as notícias de Moçambique. Há anos, o amigo Mussá Tembe enviou-me uma carta onde dizia o seguinte: “Na minha meninice não jogávamos a bola de cautchu, não senhor. Porque o seu preço dava para comprar muitos quilos de arroz, camisas e sapatos. Na sua ausência, o prélio era com a bola de bexiga comprada ao Mwamarumbo (nome dado a um vendedor de tripas) que todos os dias passava pontualmente às 15,00 horas pelo bairro. Descalços, uns de tronco nu para diferenciar, perseguíamos a menina num areal abrasado pelo sol tropical do verão. A mudança de campo e a vitória aconteciam por contagem de golos (mudança aos 2 e final aos 4); se não houvesse vencedor, o jogo continuava no dia seguinte até haver um vencido. Mais tarde, foi adquirida, por contribuição de todos, uma Facobol, assim chamada por ser produzida na Fábrica Colonial de Borracha; e com ela aprendemos as magias do futebol.”

Hoje a roda da fortuna das crianças moçambicanas parece não ter andado muito para diante. Quando jogam, o mundo é uma esfera de cristal que, qual cartomante, lhes lê a sina e ilude o destino; ri e fala de esperança e de uma vida em ritmo de festa. Por breves instantes separa-se o bem do mal. No resto do tempo o mundo é uma pedra angulosa e disforme, com arestas cortantes de agrura e amargura, de abandono e desespero, de palavras de desilusão e tristeza.

Os meninos de Moçambique nasceram das entranhas da guerra, em campos de minas e em aldeias e cidades minguadas de brincadeiras do faz de conta, de contos e lendas de boas fadas e madrinhas. Há nos seus olhos e protestos uma profunda e calada mágoa, por terem sido obrigados a renunciar precocemente ao encanto da idade e a ser adultos e idosos antes do tempo.

Estão marcados com o ferrete da insegurança e do receio de ter à espreita, em todo o momento e esquina, a fealdade do homem do surrão. Cresceram com a desconfiança e tragédia. É imperioso que não se afaçam a elas, que assumam a condição infantil, a de soltar ao sol e ao vento papagaios de papel com todas as cores e feitios da imaginação; cortar-lhes o cordel e deixá-los subir tão alto que toquem no azul do céu e no infinito.

Ouço-os, nestes dias, gritar a necessidade de brincar e jogar, de tirar o olhar do chão e de o erguer para uma tela tecida com os seus anseios e sonhos. Querem ir além da linha do horizonte e, sobre a desdita, inaugurar um caminho e futuro de vencedores alegres, audazes e perseverantes. Reivindicam jogos que encenem a ideia e a forma redonda e humana da Terra. Levantam a bandeira da fraternidade para dizer que ninguém pode jogar, ser feliz e salvar-se sozinho. Estão convictos de que, assim, metem golos na baliza da desesperança e ressuscitam a fé nos filhos do Homem. Sim, eles reclamam pão para comer, roupa para vestir, um teto para os albergar e uma cama para dormir. Sobretudo, imploram por razões para sorrir.

ASSIM FALOU MEU PRIMO

OZINIL MARTINS DE SOUZA

Possui graduação em Geografia pela Fundação Universitária Regional de Joinville (1971). Atualmente é professor do Colégio São Paulo de Ascurra. Em 2017/18 exerceu o cargo de Secretário de Educação do município de Indaial - SC. De 2015/16 foi professor da Faculdade Metropolitana de Blumenau no curso de Administração. de 2012/13 foi Reitor do Centro Universitário Leonardo da Vinci; também exerceu o cargo de pró-reitor de ensino de graduação presencial do Centro Universitário Leonardo da Vinci e professor licenciado do Centro Universitário Leonardo da Vinci. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Administração, atuando principalmente nos seguintes temas: administração para resultados, avaliação e resultado, planejamento, negociação, competitividade e empreendedorismo

Meu primo, filho de Tia Negra, irmã de minha avó Alice.

"COM

TECNOLOGIA, TRABALHO E A FALTA DE QUALIFICAÇÃO DAS PESSOAS

O PROCESSO DE ROBOTIZAÇÃO E MECANIZAÇÃO, APROFUNDADOS PELA IA, HAVERÁ DEMANDA CADA VEZ MAIOR POR PROFISSIONAIS TÉCNICOS"

Não vi, em nenhum momento das várias campanhas eleitorais que estou acompanhando o tema, título desta coluna, sendo abordado com a profundidade que merece.

Claro que o mundo mudou, óbvio que muitos dos tumultos que estamos acompanhando são originários da insegurança que as pessoas, às vezes inconscientemente, percebem ou sentem. Não há mais espaço para as pessoas sem qualificação nas áreas de atividades profissionais. A formação não pode mais ser somente teórica/conceitual; deve ser, fundamentalmente, prática. Cresce a importância da formação técnica e a necessidade de abandonarmos nossa cultura bacharelesca.

Com as mudanças sendo processadas quase que instantaneamente, não se justificam cursos de longa duração com uma porção de disciplinas que nada acrescentam. É fundamental rever a estrutura dos cursos de formação universitária, é imperioso rever o nível do ensino médio, pois não é com R$200, mensais mais R$ 1.000, ao concluir o curso que será possível mobilizar os jovens para a Educação. Há que tornar os cursos práticos e interessantes, com professores mobilizados e interessados em fazer parte de uma revolução que se torna, a cada dia, mais necessária.

Conforme divulgado pelo estudo Education at a Glance 2024 um em cada quatro brasileiros, entre 25 e 34 anos, não trabalham nem estudam; isto representa 24% da população nesta faixa etária. O estudo foi divulgado no dia 10.09.2024 pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Se este não é um dado assustador e que deveria mobilizar todos os poderes constituídos do Estado brasileiro, não sei mais definir prioridades.

Além de sepultar sonhos de milhões de jovens está se comprometendo o futuro do país de forma irremediável. Será que tem alguém, com nível mínimo de lucidez, que acredita poder construir bases sólidas de um país com uma população de analfabetos (7% da população acima de 15 – IBGE) e analfabetos funcionais (30% da população entre 15 e 64 anos – Instituto Paulo Montenegro)?

O problema é mundial, pelo avanço da IA e pelo descrédito com o futuro demonstrado pelos jovens. Sei que este não é o papel dos prefeitos a serem eleitos neste ano. Mas, quais são suas propostas para atrair empresas de tecnologia para seus municípios? Quais suas propostas para identificar áreas de oportunidades a serem exploradas? O que os candidatos de sua cidade têm como propostas para a geração de empregos?

A Alemanha é um bom exemplo e, se formos inteligentes, deveríamos segui-lo.

Os empregos mais qualificados estão na indústria e, com o processo de robotização e mecanização, aprofundados pela IA, haverá demanda cada vez maior por profissionais técnicos. Essa é uma, se não a única, maneira de distribuir renda e de permitir o crescimento sustentável do país.

Este é um aviso aos pais, já que as autoridades parecem não se sensibilizar pelo tema! Entre fazer um curso superior sem aproveitamento pelo mercado, oriente seu filho a fazer um curso técnico que o qualificará para o mercado de trabalho.

Brasil e alguns de seus paradoxos!

"O país está sentado sobre seus problemas"

O Brasil é, inegavelmente, um país rico! Além de sua dimensão física, o país tem riquezas em todas as áreas da economia e, principalmente, um subsolo generoso em termos de riquezas minerais. Hoje, o país se reserva a ser uma grande fazenda com alguns vagões de minérios atrelados, por óbvias opções de quem nos gerencia e da opaca visão de futuro. Na verdade o país está acumulando uma série de problemas que esta coluna pretende apontar a seguir.

Paradoxo – carga de impostos x retorno à população. Há muito ouvimos e lemos sobre o cipoal tributário que incide sobre as empresas que aqui atuam. Não bastasse esta loucura tributária, tomamos conhecimento que, na comparação com países das Américas, temos a segunda maior carga tributária do continente americano. A reforma tributária, segundo alguns economistas, pode elevar a carga tributária já reconhecida como pesadíssima. Quando se analisa o retorno à população depara-se com uma situação crítica. Na Educação, saúde, segurança, infraestrutura, os indicadores apontam para uma situação crítica o que obriga a população, que tem condições financeiras, a buscar apoio em serviços particulares.

Paradoxo – saneamento básico x concentração populacional. Os dados coletados pelo recente recenseamento feito pelo IBGE indicam que a concentração urbana continua a acontecer e, principalmente, na faixa litorânea no fenômeno que se convencionou chamar de “litoralização.” 84,32% dos brasileiros vivem em concentrações urbanas com todas suas consequências. Ao mesmo tempo em que isto ocorre, esta população que vem em busca de emprego e moradia, encontra cidades sem a infraestrutura de saneamento básica que lhes permita viver com um mínimo de qualidade de vida; mais de 100 milhões de brasileiros não têm acesso à rede de saneamento básico, 32 milhões de brasileiros não têm acesso à água encanada (Instituto Trata Brasil) e 1,2 milhões não têm acesso a banheiro em casa. (IBGE).

Paradoxo – Educação precária x Novas necessidades na formação profissional. Nesta área os números são absurdos. Os jovens, entre 15 e 24 anos, que não estudam nem trabalham, compõem 20,6% do número total de jovens nesta faixa etária. Quase 10 milhões de jovens deixaram de estudar em 2023. As entrevistas de rua feitas com jovens mostram o efeito deste abandono. Enquanto isto, o perfil profissional exigido pelas empresas fica cada vez mais exigente, com empresas abdicando de requisitos educacionais para formar seus próprios profissionais. Com isto perdem as escolas, as pessoas e o país.

Paradoxo – Aumento dos programas sociais x diminuição da população contribuinte. O governo, pródigo em fazer demagogia com o dinheiro alheio, cada vez cria mais benefícios para manter o povo embretado em suas necessidades. A população que depende dos benefícios governamentais só faz crescer e, por outro lado, quem sustenta toda esta parafernália começa a encolher, ou por se aposentar ou por diminuir a taxa de natalidade. Até onde irá o folego de quem paga para sustentar o sistema?

Paradoxo – Sistema de aposentadoria x diminuição da taxa de natalidade. A taxa de natalidade no Brasil em 2023 situou-se em 1,57%. Isto significa dizer que não atingiu a taxa de reposição que é de 2,1 filhos por casal. Suas consequências são óbvias e sem necessidade de um pensar mais profundo. Enquanto ocorre a diminuição da população aumenta o número de beneficiários do sistema de aposentadorias e o número de beneficiários dos sistemas de benefícios. Esta equação não fecha! O país está sentado sobre seus problemas e o acionamento da “bomba” já foi feito. Questão de tempo!

Em meados dos anos 60 duas guerras chocaram o mundo. A Guerra dos seis dias envolvendo Israel e os árabes e a Guerra de Biafra e Nigéria.

Uma durou 6 dias e as forças árabes foram destruídas por Israel que estendeu suas fronteiras até o Canal de Suez (Egito), tomou as colinas de Golan (Síria) e avançou no território da Jordânia. O General Moshe Dayan tornou-se uma lenda no mundo militar.

Na África a Nigéria tentava sufocar o movimento separatista em Biafra. O massacre durou quase 10 anos e morreram milhares de soldados na frente de batalha e milhares de crianças e adultos pela fome. Foi um genocídio!

Frederick Forsyth, na época correspondente de guerra, escreveu o livro A História de Biafra, que encontrei em um sebo em Floripa e que acabei de ler relembrando o que, como jovem oficial do Exército, acompanhei com interesse profissional.

Nada de novo no front. A geopolítica e o interesse dos países que mandam no mundo prevaleceu. As vidas humanas não importam! Ao mesmo tempo em que defendiam a rendição de Biafra, EUA, Inglaterra e União Soviética, alimentavam a Nigéria com armas e equipamentos e manejavam para que Biafra nada recebesse.

Assim é o mundo! As pessoas e as nações periféricas não importam; os interesses sempre prevaleceram e prevalecerão. Desculpem o texto longo.

A CULPA PELA CRISE DOS FUNDOS DE PENSÕES ESTATAIS E DO INSS É DO POVO QUE TEIMA EM

CONTINUAR VIVENDO DEPOIS DE SE APOSENTAR.

Talvez os brilhantes governos que estão espalhados por este mundão de Deus adotem o modelo exposto no livro "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley: a morte por idade!

Não interessa se você tem saúde, está bem física e intelectualmente, contribuindo para a sociedade; atingiu a idade limite, vai para O hospital designado para cumprir a tarefa.

Os "gestores" continuarão dilapidando os fundos, o INSS continuará sendo a casa da Mãe Joana e você, que contribuiu a vida toda será culpado por viver demais.

Claro que é ironia, mas em tempos de turbulência é bom ressaltar.

ENQUANTO O ENDIVIDAMENTO DO GOVERNO SE APROXIMA, PERIGOSAMENTE, DE 80% DO PIB AS NOTÍCIAS QUE NOS ATROPELAM NÃO SÃO BOAS.

Segundo o próprio governo 600 mil crianças necessitam de vagas em creches. Enquanto os especialistas em Educação lembram que é nesta fase que se lançam as bases para uma boa formação, elas crescem a deriva. O país do "Brasileiro Bonzinho" (quem lembra?) fez com que o Google desenvolvesse novos recursos para dificultar o roubo de celulares. Bloqueio de Detecção de Roubo, Bloqueio remoto e Bloqueio Off Line. Os testes estão sendo feitos no Brasil onde há a maior incidência de roubo de celulares.

Será que uma notícia tem a ver com a outra?

A VERDADE QUE NÃO É DITA:

O Brasil é, ainda, a 7ª economia do mundo. Produto Interno Bruto (PIB), em 2014, superior a 2 trilhões de dólares.

Porém somos o 79º país no Índice de Desenvolvimento Humano(IDH). Saúde precária, Educação inexistente e saneamento básico... O que é isso mesmo?

Se somos um país rico, por que o povo é pobre?

- A corrupção corrói boa parte do PIB;

- A Educação precária do povo faz com que tenhamos baixa "massa crítica" (entre 11 e 12% do povo tem curso superior);

- A concentração de renda é brutal. Não porque quem a detém seja mesquinho, mas porque povo sem qualificação não valoriza seu "passe".

- A existência de políticos que se perpetuam no poder pela baixa educação do povo;

Estórias de vida

"Deem tempo ao tempo, aprendam com pessoas mais experientes"

Acredito, piamente, que a melhor forma de educar é pelo exemplo. Ao longo da vida tive a oportunidade de conviver com pessoas que, naturalmente, ensinavam pelo exemplo. Daí surgiu uma crença, que carrego até hoje, de que o bom professor é o “Contador de Estórias.”

Este é o professor que deixa marcas e, é reconhecido pelos estudantes como um grande professor e carregado, em suas memórias pela vida. Se perguntarmos a qualquer adulto sobre os professores que o marcaram, nomes e estórias surgirão natualmente.

Antes de começar escrever as estórias que passarei a relatar lembro que as influências recebidas ajudaramme a ser um professor comprometido. No Educandário Nossa Senhora Menina, em Curitiba, as Irmãs Passionistas Letícia e Alda, no Colégio Bom Jesus os professores Daniel Van Der Brooke e Osvaldo Arns e, na Faculdade, em Joinville, os professores Paulo Lago, Sílvio Coelho e Hélio Romito ajudaram a construir este que lhes escreve.

Outra importante consideração é que nem todo exemplo vem de um professor, há pessoas que nos ensinam, sem serem professores. Tive, em toda minha vida profissional, algumas pessoas que se transformaram em referências.

A primeira estória, que redundou em profunda aprendizagem, assim aconteceu. Recém-transferido para Florianópolis onde iria ocupar um cargo de maior relevância fui trabalhar com a pessoa que, em dois anos, se aposentaria e a quem substituiria. Substituição programada, com período de aprendizado, ação típica de grande empresa. Trabalhávamos e viajávamos, veterano e aprendiz, na mesma batida. É óbvio que, com o passar do tempo, ocorreram pequenos atritos, frutos da convivência diária. Determinado dia, já próximo de assumir o cargo, cheio de ideias e uma vontade imensa de voar só, procurei o diretor da área e falei que estava muito difícil trabalhar com meu tutor. O diretor respondeu-me: “O mais inteligente dos dois resolve”!

Sabe o que é ir a nocaute? Um soco no meio do rosto? Pois, foi assim que me senti. Eu, iniciando em uma posição de gestão, com todo um futuro pela frente, comportando-me com a imaturidade própria de um adolescente. Do outro lado um homem com uma história de vida sedimentada, cheio de respeito e de realizações. Lição assimilada!

A segunda estória se passa em Joinville. Eu, um jovem de 22 anos, oficial do Exército, do 13º Batalhão de Caçadores. O comandante da Cia um Capitão experiente e extremamente cuidadoso e profissional. Fui designado a conduzir a Cia a exercícios na região do Rio Piraí.

Deslocamento aproximado de 15 km em que a tropa iria a pé (aproximadamente 100 soldados). Um caminhão nos dava apoio no transporte das tralhas que acompanham o movimento da tropa. Após o caminhão levar o material, retornou e colocou-se a disposição. Na ânsia de ganhar tempo, decidi transportar parte da tropa no caminhão. Extrapolei a capacidade do caminhão e na primeira curva a carroceria cedeu e espalhou soldado por toda a pista. Gente machucada, sem grande gravidade, caminhão, temporariamente inutilizado e, um tenente desarvorado.

Apresentei-me ao Capitão, relatei o fato e assumi a responsabilidade. Sua resposta: “Tenente: você foi, pela sua juventude, inconsequente. Mas, a responsabilidade é minha e eu a assumo.”

Naquele momento eu aprendi o que é lealdade, equipe, respeito e camaradagem!

Aos jovens afoitos de hoje uma recomendação. Deem tempo ao tempo, aprendam com pessoas mais experientes, convivam com pessoas diferentes, não deixem que pessoas de seu convívio limitem seu crescimento. Reporto-me aqui a uma frase do Giovani Gavio, da seleção de voleibol, “Tem gente que diz que aprendemos com nossos erros e, isso é correto, mas é muito melhor aprender com erros dos outros”. A escolha sempre é nossa!

A COMUNICAÇÃO MUDOU; O POVO CONTINUA O MESMO!

A comunicação eficaz só existe quando o que uma pessoa fala é compreendida pela outra Comunicar é transferir significados. Ao longo da história da humanidade o desenvolvimento da fala permitiu a interação entre as pessoas, porém nem sempre a comunicação atinge o objetivo proposto em razão das diferenças entre os interlocutores. A comunicação eficaz só existe quando, o que uma pessoa fala é compreendida pela outra. Muitas vezes, o comunicador fala no vazio porque seu interlocutor não entende o que está ouvindo. É bastante comum a dissociação entre o comunicador e seu ouvinte em função das diferenças existentes entre ambos. Portanto, conhecer com quem se vai falar é princípio básico para o bom comunicador.

Esopo, provavelmente intuitivamente, percebeu que comunicar não era algo simples e criou um modelo interessante de comunicação. Esopo, escravo grego que viveu no século VI a.C, criou as fábulas como maneira de comunicar-se. É uma forma de composição literária curta, escrita em prosa ou verso, em que as personagens são animais que apresentam características humanas e é frequentemente usada na literatura infantil. Normalmente, as fábulas trazem como conclusão, forte componente moral. Esta forma de comunicação é muito usada na educação infantil pela facilidade de entendimento e fácil de ser compreendida.

Jesus Cristo, comunicador que já perdura por mais de dois mil anos, percebeu que para atingir seu público teria que usar uma linguagem diferente e optou pelas parábolas. Parábola é uma narrativa curta que transmite um conteúdo moral através de linguagem figurada. As curtas estórias que contava e que foram eternizadas e estão presentes em nossas vidas até os tempos atuais carregam uma forte simbologia. O povo ignorante (sentido de conhecer) aprendeu e fixou, através das estórias, princípios religiosos e éticos que chegaram até os dias de hoje.

Mas, o mundo e as intenções nem sempre são as melhores e vive-se atualmente a comunicação das narrativas; é uma forma desenvolvida para a comunicação de ideias, conceitos e propostas com fins nem sempre honestos e verdadeiros. O importante é tentar transformar ideias em atos concretos mesmo que não verdadeiros. Isto só é possível em função do baixo nível educacional do povo.

O sistema de benefícios concedidos ao povo no Brasil cria as condições ideais para gerar um ciclo de poder calcado sobre inverdades. Você deve estar lembrado que o povo “ia voltar a comer sua picanha e tomar sua cervejinha” ou que o marginal que rouba o celular de alguém que ainda nem o pagou, está cometendo um crime de baixo potencial ou como dizem alguns “o capitalismo gera necessidades que as pessoas não podem atingir.”

Um dado interessante das narrativas é que elas têm lado. O que para um lado é considerado crime para o outro é esperteza e, assim segue o barco criando no povo a sensação de insegurança e de que tudo é permitido aos que detém o poder, seja ele de direito ou pelo poder da força.

Triste ver que a base que, tudo isto permite, é a precariedade da Educação que se pratica no país. Como escreveu há tempos George Carlin (comediante americano) “o poder não quer uma população capaz de elaborar pensamentos críticos, ele quer trabalhadores obedientes, pessoas inteligentes para operarem máquinas, e burras o bastante para aceitarem, pacificamente, a própria situação”.

Há uma dúvida consistente em minhas verdades.

Há 21 anos o Brasil é governado por partidos à esquerda do espectro político.

Então há perguntas que têm que ser feitas:

- Por que a Educação, que nunca foi maravilhosa, está pior do que nunca? De 8 milhões de alunos do 3º ano 56% não sabe ler e escrever e outro tanto não sabe fazer as operações básicas de matemática.

- por que nosso IDH (79ª posição) é tão baixo se somos a 7ª economia do mundo? País rico e povo pobre e estúpido interessa a quem?

- Por que, após 21 anos de distribuição de terras, o MST ainda existe? Pior sem nunca ter sido pessoa jurídica recebe milhões de reais todos os anos.

Se alguém conseguir responder a uma só ficarei contente.

A HISTÓRIA MAL CONTADA!

"A colonização e, sua face nefasta, permanece em alguns casos, até os tempos atuais"

O continente africano junto com o asiático têm países muito pobres e populações vivendo em condições de miséria absoluta. Quando se aprofunda a busca das razões do porquê isto acontece somos remetidos ao período da colonização.

A África, como é de conhecimento comum, foi colonizada por países europeus que criaram países com fronteiras artificiais e sem respeitar as características tribais que marcam o continente.

As colônias francesas na África constituem os atuais países: Marrocos, Tunísia, Guiné, Camarões, Togo, Senegal, Madagascar, Benin, Níger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Chade, República do Congo, Gabão, Mali, Mauritânia, Argélia, Comores, Djibouti e República Centro Africana. Em sua grande maioria estes países tornaram-se independentes no decorrer dos anos 60 do século passado.

As colônias inglesas na África são as que seguem: África do Sul (1910), Egito (1922) Líbia (1951). Sudão (1956), Gana (1957), Somália (1960), Nigéria (1960), Serra Leoa (1961), Camarões (1960) e Tanzânia (1961). As datas da independência estão entre parênteses. Além de França e Reino Unido, os africanos foram colonizados por Espanha, Portugal, Alemanha e Holanda.

Importante considerar que a exploração dos povos colonizados foi, absolutamente, predatória e permitiu, aos colonizadores, a transferência de riquezas que lhes garantiram o Estado de bem-estar que predomina até os dias de hoje.

Só para reforçar o exemplo de exploração predatória basta considerar Botsuana; quando da independência, em 30.09.1966, era considerado uma grande extensão de terra com 12 km de estradas asfaltadas, alguns hospitais, agricultura de subsistência e 22 pessoas com curso superior. Hoje, 50 anos após sua independência, Botsuana é considerado um dos países mais avançados da África.

A colonização e, sua face nefasta, permanece em alguns casos, até os tempos atuais. Recentemente, 2021, Mali sofreu um golpe militar que derrubou o governo em exercício e, o motivo estava ligado a ação da França na exploração do urânio que alimenta as centrais nucleares que operam naquele país.

Mas, não é necessário ir muito longe para explicar o que acontece quando a exploração se estabelece entre países ou dentro do próprio país. Quando da Proclamação da República em 1889 foi implantado no Brasil o regime federativo que nos serve de orientação. Lá foi estabelecido que os Estados mais ricos, deveriam ajudar os Estados mais pobres. Lá se vão mais de 130 anos e o sistema continua o mesmo e, a sangria dos Estados que são melhores administrados continua a acontecer para suprir de recursos financeiros os Estados mais pobres.

As perguntas que não querem calar: Por que os Estados que são beneficiários de um dinheiro que lhes é repassado nada fazem para alterar a situação em que se encontram? Até quando os Estados que produzem, trabalham e arrecadam continuarão pagando a conta de Estados que nada fazem para melhorar seus desempenhos?

MANIPULAR A MANIPULAÇÃO!

"A manipulação faz parte da natureza humana"

Quando buscamos no dicionário o significado de manipular encontramos a seguinte definição: fazer com as mãos, por em funcionamento, entre outros significados. De manipular para manipulação foi uma questão de tempo.

Em essência manipulação significa, grosso modo, em fazer os outros se sentirem usados por interesses próprios de quem os manipula. Muitas vezes a manipulação é inconsciente.

A verdade é que somos manipulados, ou por pessoas ou pela sociedade, desde que o mundo é mundo. A partir de cada nascimento surge uma figura a ser manipulada; pais cansados e com sono, criança chorando depois de tudo feito, isto é, fralda trocada, alimentação, ambiente propício ao sono, mas o choro não para. Aí surge a chupeta como primeira forma de manipulação. Hoje, há uma cena recorrente em restaurantes; crianças usando telefones celulares enquanto os pais usufruem do espaço. Mudam os recursos, mas a intenção é a mesma. É a vida!

Depois conforme a idade avança, a manipulação se sofistica; se você se sair bem nas provas escolares vai ganhar isto ou, se você lavar a louça do almoço terá dinheiro para o final de semana. Assim segue a vida e se distorcem os valores.

A pessoinha cresce e começa a ver que a manipulação é uma moeda de troca. Se fizer isto ganhará aquilo e, começa a ver que em toda a sociedade este padrão de comportamento acontece. A empresa “X” diminui a quantidade de produto para manter o preço e não informa os consumidores; a empresa “Y” acrescenta sódio em sua água mineral para aumentar o consumo, a empresa “Z” forte defensora do meio-ambiente, vez por outra, faz o rio que recebe seus rejeitos, mudar de cor.

O fato mais recente e que vem acompanhado de uma preocupação enorme é o grande balcão de jogos em que se transformou o país. Pessoas iletradas, sem dinheiro, vivendo em condições precárias e usuários de benefícios sociais acreditam e veem nos jogos eletrônicos a saída para seus problemas. Esquecem que a banca nunca perde e de todos os interesses existentes por trás dos jogos. São manipulados por cenouras mágicas colocadas à frente de seus olhos e tornam-se vítimas da cobiça.

Porém, a maior manipulação a que estamos submetidos acontece de 2 em 2 anos. Como você sabe a cada período de 2 anos há eleições no país. O eleitor ciente de seu dever cívico procura se informar sobre os candidatos, analisa-os e faz suas opções. O que a grande maioria não sabe é como acontece à escolha dos candidatos em que ele votará. Os candidatos são previamente escolhidos pelos dirigentes partidários de acordo com os interesses do grupo que domina o partido. Infelizmente, enquanto o voto for obrigatório e não se permitir as candidaturas avulsas a manipulação continuará.

Enfim, parece que a manipulação faz parte da natureza humana e, mesmo quando é benigna, o resultado final, é sempre negativo.

Pessimismo, otimismo ou realismo?

Observar o cotidiano nos dias atuais não nos dá condições para ser otimista

Alguns dos amigos mais próximos, às vezes, dizem-me que sou pessimista. Costumo responder que sou, apenas, um observador do cotidiano. E, cá para nós, observar o cotidiano nos dias atuais não nos dá condições para ser otimista.

Quando comparamos o passado recente do país (1950) com os tempos atuais é claro que a evolução foi excepcional; de um país agrário nos transformamos em um país industrial; o nível de vida do povo evoluiu significativamente; a infraestrutura teve um crescimento exponencial. O agronegócio é um dos mais eficientes e produtivos do mundo; somos competitivos em vários campos do interesse humano. Mas, pecamos no essencial. A Educação brasileira está entre as piores do mundo e, não temos nenhuma universidade entre as 100 mais importantes do ranking internacional. Neste mesmo período em que crescemos tanto, imaginem o que teríamos crescido se tivéssemos uma Educação de qualidade. Pelo potencial de crescimento e pelo que desperdiçamos, pelos erros de planejamento e corrupção é que temos a lamentar. Gosto de comparar dois países, Brasil e Coreia do Sul, tendo por base os anos 50/60 do século passado.

Coreia do Sul invadida pela Coreia do Norte em 1950 em uma guerra que perdura até os tempos atuais e sob um armistício firmado pelos países, com aval dos Estados Unidos e China, no ano de 1953. A paz está pendente até os dias de hoje. Neste período a Coreia do Sul tinha um PIB per capita de US$ 100, e o Brasil o equivalente a US$ 1.600. Atualmente a Coreia do Sul tem um PIB per capita de US$ 33.300, e o Brasil de US# 10.000,. Por que esta diferença é tão grande?

A resposta está na Educação. Logo que a guerra foi encerrada o governo sul coreano priorizou a Educação em seu planejamento estratégico. Hoje, a Coreia do Sul tem 100% de sua população alfabetizada e os estudantes, na faixa etária de 15 anos e, com intenção de ingressar na Universidade, chegam a dedicar 14 horas por dia aos estudos. A estrutura educacional atende as crianças, gratuitamente, até complementar os estudos fundamentais; o ensino médio é pago, mas os valores são acessíveis e, com assistência do governo. Enquanto 97% dos estudantes concluem o ensino médio na Coreia, no Brasil este número, em 2023, chegou a 30,6% dos estudantes que iniciaram o curso.

69,8% dos sul coreanos têm algum tipo de ensino superior e 34,2% têm algum curso de bacharelado sendo, segundo a OCDE, um dos melhores índices educacionais dos Estados participantes. Óbvio que, com este perfil educacional, a economia seria a grande beneficiária. Hoje, a Coreia do Sul, é um dos países mais inovadores do mundo e um grande “player” no mercado econômico mundial. Samsung, Hyundai, LG, Hybe Corporation, YG Entertainnement e Posco são nomes conhecidos e, provavelmente, o leitor já usou ou tem algum dos produtos produzidos naquele país.

Na Coreia do Sul os professores são considerados ídolos e os melhores alunos do ensino médio são direcionados à Pedagogia. Já no Brasil, os estudantes com as piores classificações no Enem têm como destino o curso de Pedagogia.

Enfim, enquanto continuarmos brincando de construir um país com enormes diferenças sociais e, fingirmos que a distribuição de auxílios produzirá a igualdade, pelo mundo, alguns países continuarão a fazer a diferença.

Noruega: um excelente exemplo!

"A Educação foi privilegiada e a Noruega transformou-se no país com a melhor qualidade de vida do mundo"

No início dos anos 70 a Noruega era um dos países mais pobres da Europa. Vivia, basicamente, da pesca do bacalhau. A partir da descoberta de petróleo no Mar do Norte a situação mudou.

Como o petróleo é uma riqueza finita, seus governantes criaram um Fundo Soberano para garantir às futuras gerações os benefícios da riqueza que estava sendo produzida.

A renda per capita do país gira ao redor de U$ 95 mil e situa o país entre os 10 mais ricos do mundo; na Noruega não existe salário mínimo e estes são estabelecidos por faixas, dependendo do trabalho a ser feito. A inicial corresponde a 2.368, Euros. Como consequência da qualidade de vida no país a perspectiva de vida de seus habitantes é uma das mais elevadas do mundo, 80 anos para os homens e 84 anos para as mulheres.

A Educação foi privilegiada e a Noruega transformou-se no país com a melhor qualidade de vida do mundo. Sua população está protegida pelos próximos anos de crises que, inevitavelmente, virão. Os impostos podem chegar a 42% do rendimento auferido, mas isto é altamente compensado pelos benefícios sociais concedidos.

Hoje o Fundo Soberano da Noruega investe em empresas pelo mundo, bem como tem participação nas principais bolsas de valores e, sua capitalização está em U$ 1,72 trilhão.

O intuito desta coluna é mostrar que quando há planejamento e se investe em Educação o futuro fica mais fácil de ser projetado.

Enquanto isso, em um país ao sul do Equador, gigante por natureza e privilegiado por recursos naturais, a dívida interna bate em 84% do PIB quando, nos países emergentes, gira ao redor de 50ª 60%. Mantido o nível de gastos do governo atual a relação dívida x PIB deve chegar, até o fim do governo em 94%.

Com a dívida crescente e o aumento de taxação de impostos sobre a classe média é óbvio que o empobrecimento da população é inevitável. Por outro lado, os serviços públicos que deveriam ser prestados pelo governo estão a cada dia piores. O colapso da Previdência Social é irreversível (só não se sabe a data), a Saúde em crise permanente, a Segurança Pública nos coloca entre os países mais violentos do mundo e cresce a força do crime organizado (Rio de Janeiro e Bahia são exemplos básicos).

O exemplo da Noruega, Japão, Suécia, Suíça, Cingapura, mostra que espaço físico é só um item que forma um país, mas que o fundamental é a Educação de um povo. Países sempre bem classificados nos vários exames educacionais feitos, com respeito profundo à disciplina e a ordem democrática e com planejamento que garantirá como já é o caso do Japão, o envelhecimento seguro de sua população.

O Brasil caminha a passos largos para continuar a ser um país periférico, com altos níveis de violência e, sem perspectivas para as futuras gerações. Sinto que quem deveria se preocupar com isto parece não ter a visão de que isto poderá acontecer.

Mudar para continuar igual ou pior!

"O problema da Educação no Brasil não é dinheiro, é gestão e definição de prioridades"

Existem várias formas de se manter o povo submisso e a fazê-lo acreditar que está tudo bem ou até, melhorando. O governo quando exercita sua criatividade, tenha certeza, não está pensando em melhoria de padrão de vida do povão, mas em olhar para seu próprio umbigo e ver que vantagens podem ser criadas em benefício próprio.

Assim tem sido ao longo da história e poucos são os países que privilegiam o povo em detrimento das vantagens de seus governantes. Estes, pessoas acima de qualquer suspeita, costumam sacrificar-se ao colocar sua vida a serviço da coletividade. Vender esta imagem para pessoas não esclarecidas (para ser politicamente correto) é muito simples, basta criar benefícios intitulados de bolsas. Quanto maior o número de auxílios maior será a submissão do povo a seus líderes.

Porém, a criatividade para exercer este domínio sub-reptício, verdade seja dita, é infinita. Vale tudo para mostrar que, para beneficiar o povo, os sacrifícios praticados pelos governantes ou, de forma mais abrangente, os detentores do poder, aí inclusos todos os poderes da República, vai além das fronteiras do sacrifício.

Começa com a escolha das pessoas que serão as condutoras das massas excluídas. Deverão ter condutas adequadas, passado ilibado e livre de qualquer suspeita e com exemplar folha de serviços prestados à comunidade. Ah! Não pode mentir!

Isto posto é importante salientar que uma das maneiras de tornar exequível a situação é a troca de nomes. Quando se pretendeu dar a Educação o “status” merecido abandonaram-se os termos antigos de Primário, Ginásio e Científico ou Colegial e adotou-se Fundamental I e II e Ensino Médio. Com esta mudança acabaramse os problemas da Educação! Estamos formando uma elite de futuros homens e mulheres que, com base no aprendido, mudarão o curso da história e colocarão o país no rumo certo. Sem esquecer que, agora, cada aluno receberá R$ 200, por mês até sua formatura. Metodologia de ensino, qualificação dos professores, condições das instalações… Tudo besteira!

Importante lembrar que o Enem, em andamento, substituiu o antigo vestibular. Vestibular que era realizado pelas Universidades de forma individual e que hoje é centralizado. Por quê? Para privilegiar a mediocridade! 4,3 milhões de estudantes estavam inscritos para o último Enem e 73,4% compareceram. A ausência de 26,6% dos estudantes indica o claro descompromisso dos estudantes com o teste que os qualificariam para as instituições de ensino superior.

Como a diminuição da taxa de natalidade é um fato constatado em indicadores específicos, atualmente é de 1,57%, importante concluir que deve estar sobrando dinheiro para a Educação. Menos crianças, é óbvio, sobra mais dinheiro no orçamento... Porém, este dinheiro não chega aonde deveria chegar! Onde para? Há indícios claros que o programa Pé de Meia, que remunera os estudantes, tem sérios problemas de desvios e falta de registros sérios sobre o manejo deste dinheiro.

Uma certeza existe; o problema da Educação no Brasil não é dinheiro, é gestão e definição de prioridades. Talvez um bom caminho seja a descentralização! Dar mais autonomia a Estados e Municípios para qualificar seus estudantes. Desinchar o Ministério da Educação seria um primeiro passo importante.

Será a estupidez a doença do século?

"Sei que Santa Catarina e seu desenvolvimento econômico e social incomodam aos incompetentes deste imenso país"

A razão direta do surgimento e da rápida expansão da doença do século está no aumento exagerado da população e da falência da Educação na maioria dos países. A estupidez é uma pandemia que se alastra com rapidez vertiginosa e não escolhe raça, nem cor, sexo, nem nível intelectual. Existem estúpidos de todas as matizes e, quase sempre, em grandes quantidades.

A proliferação da estupidez ocorre em todos os ambientes; estádios de futebol, universidades, transporte coletivo, instituições políticas, templos religiosos, nas artes, enfim, permeia a sociedade e contamina em velocidade impressionante.

Um exemplo interessante está na tentativa de reescrever a história baseado em versões de grupos ideológicos que, criam narrativas que as desobrigam de defender seus argumentos e, provocam nos atingidos a necessidade de explicações que, quase sempre, são ironizadas pelos criadores destas narrativas. Assim sempre colocam os atingidos em posição de defesa enquanto vivem no mundo ficticiamente criado.

O Sul do país e, em especial Santa Catarina, vivem permanentemente uma situação de ataque sobre as pechas de racistas, nazistas, entre outras qualificações tão ou mais agressivas que estas. O mais recente foi a observação maldosa sobre o Portal de entrada de Joinville; comparar as pás dos moinhos com a suástica nazista é ir longe demais. Importante lembrar que o moinho do Portal com suas pás foi entregue à cidade em 1979 e, somente agora, foi notada sua orientação nazista. Brincadeira tem hora!

Sei que Santa Catarina e seu desenvolvimento econômico e social incomodam aos incompetentes deste imenso país, mas os fatos, quando veem a tona, desmancham os castelos de mentiras, criados por argumentos que a história se encarrega de desmentir.

Para encerrar esta despretensiosa coluna, vale lembrar que o Estado de Santa Catarina, que no último censo reconheceu-se com 4,02% de sua população como origem negra, elegeu sua primeira deputada estadual negra, Antonieta de Barros em 1935, sendo ela a primeira mulher negra a ser eleita no país. Enquanto isto a Bahia, que no último censo reconheceu-se com 22,4% de sua população como origem negra, só elegeu sua primeira deputada estadual, negra, em 2018. Olívia Santana do PCdoB é seu nome. A história acontece e traz a verdade; as narrativas visam confundir e apresentar à sociedade aquilo que alguns pretendem transformar em verdade.

Santa Catarina e de forma geral o Sul são produtos de uma colonização que impediu as grandes propriedades, que acolheu imigrantes de várias etnias, que criou um empreendedorismo forte, que acreditou no trabalho como redenção da pobreza e que, no conservadorismo encontrou sua ideologia, pois acredita que a família é a célula base da sociedade e os valores aqui cultivados eternizam o respeito ao próximo.

Resgatando o saudoso colunista social Ibrahim Sued “enquanto os cães ladram a caravana passa!”

ACONTECEU

A inclusão verdadeira acontece no coracao. Venham se inspirar conosco! Dia 08/10, às 20h20, estarei ao vivo com a consultora educacional e palestrante Rosimar Mendes para falar sobre meu novo livro, “Guia Poético para Inclusão: Versos que transformam”. Vamos explorar como a poesia pode ser uma poderosa ferramenta de inclusão e transformação. Não percam!

Centenário de Nascimento do Poeta do Maranhão, José Chagas

Homenageados com a Medalha Maria Firmina dos Reis pelo trabalho de divulgação e pesquisa da vida e obra da Primeira romancista brasileira

ARTIGOS & OPINIÕES & CONTOS & CRÔNICAS &

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ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

Sabes que gosto de ti?

Lembro-me com que carinho me acolheste, No verdor, ainda, da minha adolescência.

Mas, que posso fazer por ti?

Nada ou quase nada.

Hoje, eu vejo com tristeza

Que o mar que te rodeia

Desmancha-se em lágrimas

Aos teus pés.

A brisa mansa que sopra do Atlântico

Já não traz o frescor que permeava

Com a sua aragem teus velhos casarões.

Agora, espalha apenas mal cheiro

Que do teu corpo exala.

Como gosto de ouvir tuas histórias.

Dizem que eras bela, radiante e verde.

Criada por índios,

Cobiçada por ingleses e espanhóis.

Amada por franceses e portugueses

E por holandeses deflorada.

Mas, continuas linda e fascinante.

Cantada por poeta e seresteiros,

Criando os filhos que em ti deixaram.

Mas, envelheceste.

Teus filhos não cuidam de ti.

Aproveitam-se apenas da tua herança.

Teus becos, vielas e ruas são vandalizados.

Tuas praças já não acolhem mais. Afastam.

O medo das tuas antigas carruagens

Puxadas por mulas sem cabeça

Transformou-se em pavor

Para os teus filhos.

O que infligiste, no passado,

Àqueles que esperavam de ti uma guarida

Recai, agora, sobre os que abrigas.

O chicote transformou-se em balas

Que fazem cair os teus filhos

Que, diariamente, choras.

Agora, estás só, desamparada.

Vestes rasgadas, mal cheirosa, agredida.

Os que dizem querer cuidar de ti, te proteger,

Apenas te exploram.

Ah! Querida e velha dama,

Que futuro ter espera?

Poderás ter, ainda, uma sorte melhor.

JOAQUIM HAICKEL

Quando eu era apenas um jovem mancebo com pretensões de entrar para a lide política, ouvi falar em um artigo que se tornou célebre na história da política maranhense. Esse artigo é coisa do tempo em que a política ainda tinha algum valor. Escrito por Zé Sarney, “Quando as rosas começam a murchar”, cujo conteúdo era duro, sacramentava o rompimento entre ele, que era naquele momento senador e havia sido governador, e o então governador Pedro Neiva de Santana.

Até por volta dos anos 1970, 1980, ainda se podia dizer que a política era coisa que se praticava apenas com o aval de um fio de bigode, coisa que nos últimos anos do século passado caiu em completo desuso e parece que não mais voltará a moda.

Se o rompimento político já foi coisa para acontecer de forma cavalheiresca, por menos cavalheiresca que a política possa ser, hoje em dia os rompimentos têm menos pompa e circunstância, mesmo que sejam mais velados e recheados de sorrizinhos amarelos, constrangidos tapinhas nas costas e fotos desconsoladas.

De quando as rosas começaram a murchar até hoje, muitos rompimentos políticos aconteceram, alguns até bem mais polêmicos que o do citado “buquê”, como foi o caso do estridente rompimento entre Castelo e Sarney, pelo primeiro não aceitar Albérico Ferreira como seu sucessor na transição de mandato, do sutil e muito velado rompimento de Cafeteira e Sarney, quando o então governador não aceitou Sarney Filho para sucedê-lo, e o mais explosivo de todos, o de Zé Reinaldo com Sarney, que causou o começo do fim da hegemonia do grupo do maior político da história do Maranhão. É importante observar que em todos esses rompimentos Sarney estava envolvido, pois ele era o líder hegemônico do Estado.

O que estamos vivenciando agora é o prelúdio de um rompimento surdo, feito de gestos pontuais, coisas muito próprias dos estilos de seus contendores. Mas antes de falarmos do rompimento propriamente dito, acredito ser necessário falarmos das causas e das raízes dele.

Durante oito anos o atual governador, Carlos Brandão, comeu o pão que o diabo amassou como vicegovernador de Flávio Dino, mas como é próprio de seu temperamento sertanejo, Brandão fez tudo que precisava fazer para chegar aonde desejava chegar, e chegou. Flávio não poderia jamais ter imaginado que iria dar as cartas como bem desejasse depois que Brandão se tornasse governador.

Acreditoqueelenuncaseiludiuquantoaisso. Durantealgumtempoas coisasaindasemantiveram emrelativa harmonia, porém, o grupo mais ligado a Flávio jamais assimilou a perda natural de poder, coisa que não afetou a Flávio diretamente, pois ele é inteligente demais para deixar que isso lhe afetasse, ocorre que ao afetar seus mais próximos correligionários, isso também o atingiu.

O tempo passou e o fato de todas as decisões do governo, fossem elas políticas, administrativas e financeiras dependerem única e exclusivamente de Brandão e de um grupo muito restrito em torno dele, fez com que o grupo que outrora fora comandado com força e tenacidade por Flávio se rachasse, ficando quatro quintos dele com Brandão e apenas um quinto com Dino. Uma divisão proporcionalmente normal nesses casos.

O último bastião dinista no governo Brandão era Felipe Camarão, vice-governador indicado por Flávio, que ocupava até recentemente a secretaria de educação.

A saída de Camarão da SEDUC, em meu modesto ponto de vista, faz o papel do artigo das flores murchas e sacramenta o rompimento que já havia sido prenunciado com a saída da esposa de Marcio Jerry da secretaria na qual estava alojada, assim como outros tantos pequenos acontecimentos.

Sobre Felipe Camarão, uma pessoa por quem tenho profundo carinho e respeito, devo dizer que ele não teve o mesmo estômago forte que Brandão teve, enquanto vice-governador, pois eles são pessoas forjadas em outras forjas, resultado da liga de outros metais, e mais que isso, Brandão não tinha a quem prestar contas, como Felipe tem.

Moral da história: se na década de 1970 as rosas murcharam, hoje não existem rosas, só espinhos, mesmo que o ponderado Secretário Chefe da Casa Civil do Governo, Sebastião Madeira, desejasse ver o buquê de seu casamento com Regiane nas mãos de Carlos e Flávio, o que não aconteceu.

Os próximos episódios dessa novela serão marcados por importantes e vitais decisões que Brandão terá de tomar: Resolver se vai sair do governo para concorrer ao senado, e em fazendo isso terá que resolver quem o sucederá interinamente. Felipe é o vice e está pronto para assumir!... Em caso de permanecer no governo, Brandão precisará resolver quem serão seus candidatos a governador, a vice e as duas vagas de senador, sem contar com as bancadas de deputados federais e estaduais.

Pelo que tudo indica, a colina pariu um tigre!

DODÔ E AS ELEIÇÕES

Ceres Costa Fernandes

Já estava com saudades destes dias felizes da propaganda eleitoral para prefeito e vereadores, em que vislumbro uma cidade de sonhos que, de tão perfeita, deu vontade de me mudar para lá. Sim porque a cidade prometida, como a bíblica Canaã, que “jorrava leite e mel”, certamente não é onde moro. Mas não é bom desconfiar de véspera, o candidato eleito – às horas que escrevo, ainda não sei qual é – cumprirá todas as promessas feitas aos ilhéus.

Eleições trazem à baila a amiga Dodô ( Doralina Gonçalves, quando aqui morava). Muitos querem saber notícias da trêfega maranhense casada com o boa-praça Olaf, um milionário sueco. Dodô acredita fielmente no matrimônio, tanto que casou oito vezes.

Encontrei-a em ligeira viagem que fiz ao interior de São Paulo. Foi em Campinas, na eleição passada, ela fazia compras, acompanhada de um sujeito barbudo, chinelão de dedo, camiseta, tipo intelectual alternativo anos 60, um tanto diferente das amizades de Dodô. Dadas as beijocas de costume, ela me solta a grande novidade: era candidata a prefeita em uma cidadezinha do interior de Minas. Ué, desde quando te interessas por política? Ah, foi o Miguel que descobriu o meu carisma político e me fez ver as minhas qualidades de liderança.

E me apresenta o cujo: Miguel, meu amigo e intelectual. Dodô andando com intelectuais? Então mudou. Ela não é propriamente a “loura burra”, embora esteja louríssima e seu interesse por leitura não vá além de revistas sobre a alta sociedade. Prazer, digo, o senhor é professor, qual a sua área, tem obras publicadas? Ah não, amiga, Miguel é jornalista, faz resenhas de livros para jornal. Penso comigo, leitor de orelhas de livros, um pouco acima do cara que faz a seção de horóscopos, ou não.

Corroborando sua cultura de almanaque, Miguel joga em cima de mim um monte de autores, traduções e editoras e eu me mostro devidamente impressionada – não posso decepcionar a minha amiga. Aliás, nem adianta levantar suspeitas sobre o seu novo guru. Dodô não aceitaria. Miguel defende as minorias, sejam elas quais forem e acredita na vitória de Dodô. Reforça o ponto forte da plataforma da candidata, criação de marketing dele próprio: todos os habitantes abaixo da linha de pobreza de Ipê Amarelinho terão direito a um aparelho sanitário em seus casebres. Esqueci-me de dizer que uma das indústrias de Olaf, o maridão, é de louças sanitárias. O levantamento feito por Miguel chega a 180 mil “residências” a serem atendidas, aquelas em que os moradores vão à casinha, no fundo do quintal ou detrás da moita mesmo.

Tento objetar, Mas Dodô, e o encanamento, fossa, água corrente, esses detalhes insignificantes? Ah, amiga, isso não é comigo. Dou o vaso e pronto. O incentivo à higiene está feito. Sinto comunicar que a minha amiga não ganhou a eleição, que foi decidida no primeiro turno com a vitória do outro candidato que prometia televisões e cursos de corte e costura gratuitos. Também não sei lhes informar que fim levou o intelectual Miguel após seu insucesso como marqueteiro. Deve ter saído com alguns contos a mais. Dodô é rica e generosa. No entanto, posso lhes garantir, firmada no conhecimento de longos anos, que Dodô realmente possui de carisma tanto quanto lhe falta em tino político.

Fico imaginando o que fariam os favelados de Ipê Amarelinho com tantos vasos sanitários doados. Quem sabe serviriam para outros usos: com um pequeno tampo, uma mesa; dispensa para alimentos de cesta básica doada ou um gracioso canteiro de horta. É, não seriam de todo inúteis.

LAURA ROSA 140 ANOS DE NASCIMENTO

JOSÉ NERES

O texto de hoje é uma singela homenagem ao 140⁰ ano do nascimento da escritora Laura Rosa. Ela nasceu no dia 1⁰ de outubro de 1884 e faleceu ao 92 anos, em 1976. Foi a primeira mulher a ingressar nos quadros de sócios efetivos da Academia Maranhense de Letras e deixou para a posteridade um consistente trabalho em prosa e em versos.

Infelizmente seu nome caiu no esquecimento, bem como sua obra. Mas, aos poucos, um trabalho de resgate de sua produção tem sido feito por alguns pesquisadores.

LAURA ROSA - VIOLETA DO CAMPO

José Neres

Ei, preste muita atenção,

Que uma história vou contar, Mas não se assuste não, Pois serei breve ao falar

De uma mulher com missão

De uma flor se tornar.

A história não vou contar

Com começo, meio e fim.

Sou tonto, só sei narrar

O que está dentro de mim…

Do coração vou tirar

O não, o talvez e o sim.

Em São Luís ela nasceu

Dia primeiro do mês

De um outubro todo seu

Bem caloroso talvez,

Mas seu pai não conheceu, Pois ele apenas a fez.

Cecília da Conceição

Era sua mãe amada.

Parda, de bom coração, Era por todos estimada. Por não saber dizer não, Acabou sendo enganada.

Mil oitocentos e oitenta

E quatro era aquele ano

Que Cecília apresentaEnvolta em um limpo panoA menina friorenta

A este nosso mundo insano.

Sem presença do pai, Um dia foi batizada

Como Laura Rosa e vai

Ser pela madrinha educada

De casa quase não sai

Sem ser bem acompanhada.

Dona Lucy, a madrinha, E o padrinho Antenor

Cuidaram da menininha

Com todo carinho e amor, Fizeram-na uma rainha

Num espaço de favor.

De estatura pequenina

Com a tez amorenada, Laura Rosa era uma mina De poesia acumulada, Foi nossa musa divina

De história não contada.

Com a madrinha aprendeu

Muito bem inglês falar

A todos surpreendeu

Por gostar de estudar.

Tinha um sonho todo seu: Professora se formar.

Encontrou em Antônio Lobo

Um querido professor

Que ensinava com arroubo

De ilustre educador

Que além de ser homem probo Ensinava com amor.

Ainda quase menina

Muitas aulas recebeu

Do professor Almir Nina, Grande mestre do Liceu, Por quem teve grande estima

E com quem muito aprendeu.

Ela escrevia poesia

Bem recheada de encanto

Sob o sol ou maresia

Com sorrisos ou com pranto.

Um nome adotou um dia: De Violeta do Campo.

Foi por esse novo nome Que ficou mais conhecida. Versos que o povo consome…

Um dia foi bastante lida.

Depois de uma treva insone, Acabou sendo esquecida.

Foi contista de primeira, Mas não escrevia às pressas, Com competência certeira

Publicou suas “Promessas”, Obra boa e verdadeira

Que não teve outras remessas.

Nesse livro pouco estudado, Nossa grande Laura Rosa

Mostra como ser tratado

Um sutil texto em prosa. Livro bem elaborado

Em escrita tão formosa!

Um dia subiu-lhe à pele

Sonho de ser imortal.

Entrou para a AML

Pela porta principal.

Ao discurso não repele, Cumprindo todo o ritual.

Foi recebida com festa Por Nascimento Morais

Então presidente desta Casa de ilustres mortais.

A Academia era modesta Como nos tempos atuais.

A Cadeira vinte e seis

Ela esse dia fundou

Fez tudo de uma só vez

Um sonho realizou

Não por falta ou escassez

De fãs se imortalizou.

Escolheu como patrono

Seu ilustre professor

Que fizera seu outono

De modo devastador

Que da Casa ficou dono

E seu eterno protetor.

Colaborou em jornais, E em revistas também.

Poetou sobre animais, Sobre coisas do além, Ganhou aplausos demais, Recebeu pouco vintém.

Logo depois de formada

Professora Normalista

Foi por muitos convidada

Como douta cientista

Para palestra marcada, Pois era especialista.

Na palestra fez um passeio

Por países e culturas

Discutindo sem receio

Sobre as pequenas criaturas

Que deixam das mães o seio

Sempre cheio de ternura.

Tal palestra virou obra

Intitulada “As Crianças”,

Onde Laura se desdobra

Para trazer esperanças, Onde nossa autora cobra

Ensino de confiança.

Mas grande mistério há

Sobre sua produção:

De seus “Castelos no ar”

Não temos informação.

É preciso pesquisar

Sobre essa publicação.

Breve folha a fenecer

Foi fonte de inspiração

Para um soneto nascer

Depois ganhar projeção

Seu “Esqueleto” foi ser Sua maior criação.

Esse “Esqueleto de folha” É um soneto perfeito.

Bela página de recolha

Escrita com muito jeito. Uma excelente escolha, Bons versos de bom efeito.

Professora concursada, Foi em Caxias morar.

Lá foi idolatrada

E fez dali seu lugar.

Fixou sua morada, Compôs ao som do luar.

Além de ser professora, De ensinar tanto menino, De escola foi diretora,Pra educar tinha tinoLaura também foi inspetora Do sistema de ensino.

Nas letras, fez quase tudo… Entre os símbolos e a forma, Preferiu o conteúdo. Sua obra segue a norma, Mas precisa de estudo, Pois a nós muito informa.

Os versos de Laura Rosa, Habitam além do tempo E também sua prosa Servirá como um alento.

Sua obra caprichosa Esbanja tanto talento.

Vida de noventa e dois

Anos teve nossa Laura. Teve um antes e um depois, Sempre de forma bem clara Mas nosso tempo lhe impôs O que o tempo não declara.

Ficou bom tempo esquecida Solta no limbo da história. Bem raras vezes foi lida Ou citada sua glória, Teve ausência imerecida. Que falta ao povo? Memória!

Seus textos estão espalhados Por revistas e jornais

Do seu e de outros estados. Alguns, parece, jamais Serão recuperados, Isso é triste. Nada mais!

Porém, é digno de nota

Todo um árduo trabalho De busca da Islene Mota, Do vate Wybson Carvalho, Da grande Diomar da MottaHonrados guias nesse atalho.

Também Miriam Angelim, E Denise Salazar

Têm pesquisado enfim

Os modos de divulgar

Todo dia até o fim

A Laura em todo lugar.

Por aqui já vou parando, Eu satisfeito já fico, Se há alguém escutando Sobre a autora que indico Eu rouco estou já ficando, Dizem que com tudo intico.

Agora, antes de partir, Peço apenas um favor: Não deixem Laura sumir Como se fosse um vapor. De água a breve se diluir No ano de Nosso Senhor.

Já faz cento e quarenta anos Que Laura Rosa nasceu Numa fábrica de enganos Que tantos fios teceu Para traçar longos planosUm dela, um seu e um meu.

Com meus botões acredito Que a homenagem maior Que a vocês eu solicito É ler a Laura sem dó Olhando para o infinito, Nem que seja um verso só.

Só me resta agradecer

Por tanta luz, tanto encanto Por poder ler e reler

A Violeta do CampoMulher de muito saber E de quem gosto tanto.

São Luís, 28 de setembro de 2024.

AVE, IVES!

A PENA DO PAVÃO

As redes sociais divulgaram, com ênfase, que a Associação Brasileira de Imprensa – ABI – apresentou representação contra o jurista Ives Gandra Martins perante o Conselho Seccional da OABSP.

Segundo colhi, a acusação é de que o professor e advogado teria inspirado o movimento de tentativa de golpe de estado em face de defender a aplicação do art. 142, que trata do poder de moderação – não se trata de poder moderador – atribuído às forças armadas pelo constituinte de 1987/1988.

Confesso não ter tido acesso à “peça vestibular” – como se diz no juridiquês – e nem à defesa do representado. Contudo, o que importa a mim é a constatação irrefutável: o patrulhamento de quem deveria defender a liberdade já é quase siamês com a ideologia hitlerista de comunicação.

Vivemos uma época de notória repressão ideológica por quem sequer sabe o preço de estar fazendo (de forma equivocada) o que um dia fomos todos proibidos de fazer: falar.

Noto que na esquerda do Brasil muitos poucos, lembro de Gabeira, tiveram a sinceridade para confessar que a resistência ao regime militar nunca foi em busca de democracia, mas de instauração e instalação do projeto da ditadura do proletariado.

O fato é que o que não foi confessado é nitidamente agora revelado. Essa gente tem no pretérito um presente que não terá futuro porque as ideias desbotadas nunca deram certo em lugar algum.

Quando lembro de jornalistas que sofreram nos calabouços, torturados, ultrajados na dignidade pessoal, executados até com versões falaciosas de suicídio. Quando lembro de mulheres estupradas, humilhadas, vilipendiadas perante seus filhos menores que assistiam às sessões de tortura eu chego a indagar: Essa gente que se envolve em jornalismo tem a noção verdadeira do preço da liberdade? Penso que não.

Bom, o certo é que o professor Ives Gandra Martins, nonagenário e destacado profissional do Direito e das letras não precisaria da defesa de um professor provinciano como eu. Mas da província nasce a indignação de quem exerce o mesmo ofício e se sente indignado.

Acompanhando parte da obra do professor Ives Gandra Martins com ele concordo plenamente quanto à compreensão do que enuncia o art. 142. Como ele, também, sei diferenciar poderes de Poderes e, por isso mesmo, sabemos que só existem três – art. 2º da CRFB.

Ora pois bem, defender a moderação como visto na Constituição em nada se aproxima dessa estapafúrdia compreensão de que defender norma constitucional expressa seria estimular golpe contra instituições democráticas. No mínimo o próprio pressuposto da representação não guarda contornos lógicos, como se pode deduzir.

Imagine o leitor que o professor defende uma previsão expressa da Constituição. Pois se nela está como poderia existir permissivo para uma proposição antidemocrática? No próprio texto constitucional que está sendo interpretado? Não seria um absurdo uma Constituição possuir dispositivo que preveja sua derrocada?

Néscios há por toda parte e isto é um fato. Mas entre ser ignorante – por ignorar o tema – e se haver de notória perfídia há uma longa distância.

O episódio lembra muito bem a estrutura da propaganda nazista concebida e executada por Joseph Goebbels, uma prática que visa desmoralizar a quem a integridade moral está estampada na própria história de vida.

A ideia é ultrajante contra a pessoa de um homem temente a Deus e repleto de adornos que o fazem singular na história do Brasil, inclusive porque foi parte ativa durante a concepção da Constituição e sabe bem do que fala, pois entende, no propósito do art. 142, uma alternativa que não foi posta em prática pela covardia ou conivência de quem poderia e se omitiu.

É lastimável que a ABI, que foi coadjuvante da OAB e da Igreja Católica na luta pela redemocratização do país, sirva, agora, como apanágio do “dedurismo” inconsequente e infundado. Resta à OABSP mostrar se também perdeu sua utilidade.

Por essas e por outras é que jornalistas há que defendem a censura e nisto põem o motivo para apoiar o controle das redes sociais, porque querem permanecer protagonistas dos fatos. “Perdeu, Mané!”. É a liberdade que nos dá vida.

Minha admiração sempre e minha solidariedade ao professor Ives Gandra Martins.

Ave, Ives!

*POR OSMAR GOMES DOS SANTOS

As crônicas costumam ser textos escritos para trazer casos do cotidiano, traçados na efemeridade da linha do tempo que não regressa e serve apenas como registro, recorte temporal do episódio vivido aos olhos do escritor.

Manifesto minha audácia de ensaiar uma crônica que deve ficar para posteridade. Naturalmente, remete a algo ocorrido, mas que seus efeitos se estendem, e assim deve ser, pelos dias que se sucedem, estando presente nas rodas de conversa, seja entre familiares, amigos, quiçá desconhecidos.

Falo, pois, sobre a Semana de Mobilização pela Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos, ação conjunta da Corregedoria do Foro Extrajudicial do Maranhão, Colégio Notarial e Central de Transplantes. Foi uma semana pela vida.

Costumamos dizer que somos feitos de ciclos. Ciclos anuais, quando comemoramos nossas primaveras; fases boas ou ruins; etapas que trazem amarguras, maturidade, sabedoria, felicidade. Ciclos.

Todavia, para todos chega o fim deste ciclo existencial maior, chamado vida. Para alguns mais cedo, outros mais tarde. Fato é que não escapamos ao inexorável destino que a todos aguarda.

Mas, uma chama que se esvai não necessariamente precisa ser o encerramento de um ciclo. Pode ser, por outro lado, o reinício de tantos outros, bastando um simples gesto de amor, esperança e fé: doar os órgãos para que outras vidas sigam suas caminhadas.

Durante a dita campanha, fui abordado com uma indagação: você deseja ser doador? Pensei um pouco e, antes mesmo de responder, veio-me o segundo e arrebatador questionamento: e se fosse você na fila de transplante, gostaria de receber um órgão e ter a chance de poder continuar a vida?

Muitas vezes pensamos apenas sob uma perspectiva de ser doador, de poder salvar a vida de alguém. Mas não nos damos conta de que, amanhã, poderá ser um de nós (eu) a precisar de um órgão. E como será bom saber que outros tomaram a atitude de serem doadores.

Por óbvio, não trarei o discurso romantizado do herói ou da heroína das telas de cinema para esta pauta. Mas você, como ser humano em essência, pode adotar uma postura altruísta. Decidindo pela doação de órgãos, um dia, você poderá salvar a vida de, pelo menos, outras dez pessoas.

Se essa mensagem alcançou você, procure saber mais. Busque fonte de informações confiáveis, livres de preconceitos, tabus ou desinformação e tire suas dúvidas. Acenda o debate com amigos e familiares, leve-o para mesa de bar, fila da padaria ou mercado, reuniões de escola, ambiente de trabalho. Multiplique!

Não sigamos a mesma máxima do imaginário social que nos afeta de forma particular, de achar que “isso nunca vai acontecer comigo”.

O destino todos os dias bate em portas diferentes para mostrar que tudo pode acontecer com todos. Não importa idade, cor, sexo, religião, classe. E, agora, vos bate à porta para dizer: você tem a oportunidade de ser doador e deixar esse desejo registrado com a autorização eletrônica.

Nesta virada de semana, que possamos refletir sobre essa importante mobilização, estando de parabéns a COGEX, mostrando que o Judiciário, definitivamente, rompeu as barreiras dos processos para alcançar a sociedade em outras dimensões, bem como os demais órgãos envolvidos.

Inicialmente falei dos ciclos, curtos e longos, tal como este diálogo que ora encerro. Neste novo ciclo semanal, que agora inicia, adote a atitude de ser doador de órgão. Faça sua Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos pela internet. Na dúvida, procure o cartório de notas de sua confiança.

*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.

O GRITO NÃO SE CALA

A PENA DO PAVÃO,

Lembro bem, foi há poucos anos, quando uma ministra do STF usou essas palavras que visitaram a infância de muitos: cala a boca já morreu!

Fiquei encantado. Finalmente alguém teria compreendido a previsão do art. 220 da Constituição da República – foi o que imaginei, notadamente pelo que a regra contida no § 2º do mesmo artigo pontua: É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

Qual o quê! A decepção viria a seguir com a célebre suspensão da Constituição, excepcionalmente, como sustentado no voto da mesma ministra, quando integrava o TSE. Embora confessada a preocupação diante de expressa disposição constitucional, na minha opinião, foi o episódio dos mais danosos à institucionalidade do Brasil e que produzirá efeitos danosos por longos anos.

Desde então o Brasil convive com uma espécie de censura das mais nefastas – não que exista censura boa –mas é aquela a qual chamo de “censura-trans”- a que se identifica como defensora da democracia, mas que, na realidade, não passa de censura direta e inequívoca diante do texto constitucional.

Desde logo pontuo, para que fique bem claro: perante a Constituição da República de 1988 entendo que não existe nenhuma possibilidade para que se conclua ser razoável censurar a produção intelectual, qualquer que seja ela. A regra geral é a liberdade de manifestação.

E o discurso de ódio? – Indagarão alguns açodados. Bom, só se pode concluir aquilo que se apresenta como ódio quando se possa examiná-lo objetivamente perante as situacionalidades fáticas. Logo, prevalece a liberdade de manifestação que, se exceder o pacto constitucional estabelecido e a compreensão mínima de civilização, é que se pode enunciar o resultado. Só, então, será razoável, lícito e compreensível a reação com os instrumentos legais vigentes.

Estaria eu defendendo o discurso de ódio? Claro que não! O que defendo é a liberdade ampla de manifestação, com a mesma intensidade com a qual reprovo que se subverta a percepção da palavra ódio como sinônimo de tudo aquilo que desagrade o meu algoz. Seria o caos.

Discursos que degradem a dignidade humana só serão assim identificados se forem verbalizados, por óbvio. Mas, ainda assim, não há espaço para censores que se autoproclamam salvadores da pátria sem legitimidade democrática qualquer.

Sobre essa temática lembrei que escrevi – “INDEX LIBRORUM PROHIBITORUM” – em face do estabelecido pelo TSE, através da Portaria-TSE n° 230, de 8 de março de 2022[1], texto a que remeto o leitor por ser útil ao assunto.

É fato que o STF tem em seus anais anotado o entendimento de que o direito de manifestação não é absoluto, o que impediria a liberdade de fazê-lo sobre determinados temas considerados sensíveis[2]. Quanto a isto, guardo reservas e explico.

Historicamente só o Código de Napoleão falava em direito de usar, gozar e dispor, da maneira a mais absoluta, para qualificar o domínio da propriedade. A previsão, contraditória no próprio enunciado que estabelecia graus ao superlativo, seria desmontada com a possibilidade fática da invasão do imóvel.

Claro ficou, doutrinariamente, que o conceito de absoluto para o Direito passou a servir apenas como sinônimo de oponibilidade a terceiros. Assim, nem mesmo a vida é direito absoluto, bastando examinar o que ocorre nos estados que adotam a pena de morte.

Como, então, a liberdade de manifestação ganhou contornos mais supressivos quando ela é inata ao homem? Só mesmo a partir da imposição objetiva que não se encontra estabelecida pela Constituição da

República. Essa supressão do direito nasce a partir de uma interpretação redutiva que vai atingir as cláusulas pétreas.

Lembrei do registro histórico denominado Kristallnacht, em que a violência antissemita explodiu pela Alemanha e cercanias[3]. Mas lembrei também da noite da queima de livros[4] promovida por estudantes alemães. E como não lembrar de Uberto Eco com a célebre obra O Nome da Rosa?

Minhas reflexões sobre a liberdade de manifestação tem sido uma constante, observando fatos, circunstâncias, episódios que envolvam a Constituição da República. Busco compreender a dinâmica judicial perante o acervo legislativo vigente, para que, assim, possa diferenciar compromisso e comprometimento constitucional como fatores indispensáveis à formação de um sentimento constitucional em completo desalinho no Brasil – mais uma das linhas de pesquisa que desenvolvo.

Semana passada o Brasil foi tomado de surpresa com a retirada de circulação e destruição de exemplares de livros jurídicos em que há o possível discurso de ódio contra mulheres e pessoas lgbtqia+, com o adicional de pena pecuniária.

Claro que as peculiaridades de cada caso ofertam singularidades que só o exame dos autos permite a conclusão definida cautelarmente no caso concreto. Mas este não é meu propósito aqui, se não o que buscar, no texto constitucional, a abertura que dê abrigo à supressão – inclusive definitiva com a destruição das obras – da liberdade de manifestação expressa nas obras acadêmicas.

Pois bem, quando se cala um autor dele não se retira o direito de pensar ao permanecer calado. Mas silenciar quem produz uma obra jurídica (ou de qualquer outro ramo cultural) é como que fossilizar o conhecimento e o discernimento de cada pessoa, porque o estado imiscui-se no conteúdo, em nome de um entendimento de que não existe liberdade de expressão como direito absoluto.

Uma coisa é falar-se em manifestação desmedida, sendo outra, completamente diferente, falar-se em manifestação absoluta.

Se o propósito é temperar a liberdade de manifestação que sejam alcançados todos os livros que fazem apologia à sexualização infantil (alguns distribuídos pelos próprios órgãos governamentais), como também aqueles que seduzem a juventude fazendo apologia ao uso de drogas, os aqueles outros que celebram a derrocada da família e da religião, como os que vitimizam e incensam bandidos, muitos dos quais com o beneplácito da elasticidade semântica oferecida a leis vigentes.

Ainda hoje no Brasil e no mundo é editado Mein Kampf, obra que prega as mais graves e claras definições de segregação. Com ela é possível descobrir o que um homem foi capaz de fazer contra um povo. Isto parece não incomodar os autores dessa ação que levou à decisão no meu juízo inadequada.

Penso que devemos admitir a presença de todas as obras e manifestações de modo mais livre o quanto possível. Nossa preocupação maior deve ser a defesa do direito de ter opiniões diferentes. Só assim avançaremos porque haverá como saber o que e quem nos cerca, para que possamos livremente escolher, sem as garras do estado para calar a boca.

O grito não se cala. A pessoa é integral também é ela e sua fala.

[1] https://apenadopavao.com/2022/12/13/index-librorum-prohibitorum/ < Consulta em 08 de novembro de 2024>

[2] Precedente emblemático é o Caso Ellwanger, julgamento do HC 82.424- RS, em que o tribunal usou a ponderação, logo, reconhecendo que há direitos que foram contrapostos para que se possa falar em ponderação.

[3] https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/kristallnacht <Consulta em 8 de novembro de 2024>

[4] https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/book-burning-abridgedarticle#:~:text=Em%20um%20ato%20simbólico%20de,nazista%20sobre%20toda%20a%20população. < Consulta em 08 de novembro de 2024.>

JOSÉ NERES

Quase que eu não conseguia escrever o texto de hoje. Depois de um dia cansativo, com aulas, palestras, e muitas outras atividades, o tempo foi escasseando, esvaindo-se pela ampulheta diária e me restou apenas um pouquinho de areia antes de virar esse mecanismo chamado corpo para aproveitar um novo dia que se aproxima (pelo menos espero)...

Como disse antes, quase que eu não conseguia escrever hoje. Mas Fátima saiu das sombras da memória e me fez lembrar que tudo passa. Tudo sempre passará… Foi ela que, sem querer, me ensinou que a primeira vez nós nunca esquecemos.

Mas você deve estar se perguntando: quem é Fátima? Que negócio é esse de primeira vez?... Fátima, ou Maria de Fátima, já não é - e faz muito tempo que já foi… que já se foi. Passou por minha vida, deixou suas marcas e partiu. Partiu sem que nem mesmo seu sobrenome eu soubesse.

Volto no tempo e revisito Maria de Fátima - possivelmente a menina mais bonita da escola. Devia ter uns treze anos. Justamente a minha idade na época. Estudávamos no mesmo colégio, mas não na mesma sala. Era muito bonita e trazia sempre um encantador sorriso como forma de recepcionar as pessoas.

Fátima, apesar da pouca idade, sabia conversar e tratar as pessoas com a cordialidade necessária para conquistar a confiança. Era bela, meiga e doce. Um dia, ela chegou a me oferecer um desses sorrisos e me chamar pelo nome. Logo eu, o garoto mais tímido, mais feio e mais sem graça da escola!!!...

Nesse mesmo dia - dizendo melhor - nessa mesma tarde -, Fátima também ofereceu a mim a primeira grande experiência que um garoto poderia ter ao entrar em contato com uma moça bonita. E que experiência!

Estávamos à porta da escola. Era final de tarde. Um calor abafado pronunciava uma noite fria. Foi quando ela passou e me dirigiu a palavra. Deu-me um sorriso, cumprimentou meu colega João Batista e se dirigiu a nossa professora.

Seu sorriso era encantador! Sua beleza era singular. A escola estava situada à beira de uma rodovia estadual e o dia corria normalmente. Tudo normal. Nunca imaginava que aquele final de tarde marcaria minha primeira vez na vida. Minha primeira experiência marcante. A mais definitiva…

Não ouvi o que Fátima disse à professora, mas ambas sorriram alto, bem alto, gargalharam saborosamente. Carinhosa, a professora chamou meu nome e o de João. Pediu um breve favor: deveríamos ir correndo à escola pegar uma pasta que ela havia esquecido na sala. Era preciso ir rápido. A escola estava para fechar.

A juventude nos dá velocidade nas pernas e bom fôlego nos pulmões. Gastamos menos de quatro minutos para realizar a tarefa. Tempo suficiente para que minha vida mudasse. Antes de eu sair correndo, registrei o majestoso sorriso de Fátima em minhas retinas.

Mas, ao voltarmos, ela já não estava ali. Ou, melhor, ela estava ali eternamente fixada em uma poça de sangue. Eternamente fixada nos gritos dos demais alunos e alunas que, em lágrimas, tentavam proteger seu corpo dos olhares curiosos.

Um caminhão parado a alguns metros dali era a prova que faltava. Um motorista com as mãos na cabeça chorava em desespero diante do que restou de Fátima depois daquele acidente, depois do choque daquele caminhão abarrotado de tijolos contra aquele jovem corpo agora sem vida.

Fátima, sem querer, acabou me ensinando que nossa primeira vez diante da morte não se esquece.

ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA

A @academiapoeticabrasileira é uma instituição onde podemos encontrar alguns dos maiores valores culturais de nossa contemporaneidade. Tudo muito bonito e comandado com muito zelo e carinho pelo querido @mhariolincoln

DE FÉRIAS NOS LENÇÓIS MARANHENSES?

Cronica de Mhario Lincoln resgatada após publicação de foto dos mascotes de STAR WARS, no Instagram do professor José Neres (APB).

Quando José Neres publicou uma foto dos mascotes da Star Wars no seu Instagram, imediatamente lembrei de uma brincadeira que fiz, após o lançamento do filme 01 da saga, a fim de incluir esse texto-roteiro numa promoção que estava sendo feita por uma agência de Viagens do Maranhão, iniciando pacotes (bate e volta) para Barreirinhas/Lençóis.

Infelizmente a direção dessa agência de viagens não entendeu a ideia do meu roteiro e acabou por arquivar minha sugestão publicitária. Diante desse entrevero, decidi adaptar esse mesmo roteiro, criando uma historinha que envolvesse R2-D2 e C-3P0 numa possível viagem de férias ao paraíso maranhense. A crônica ficou assim:

A guerra no Planeta X finalmente acabou. C-3PO, sempre impecável, ficou aliviado por não precisar mais se preocupar com negociações diplomáticas que envolviam seres de 12 tentáculos e uma certa propensão ao mau humor. R2-D2, por sua vez, já estava programando a próxima aventura algo mais relaxante, claro. Foi assim que surgiu a ideia: férias nos Lençóis Maranhenses, no Brasil.

"R2, eu realmente não sei se essa é uma boa ideia", começou C-3PO, enquanto observava o droide astromecânico girando alegremente suas rodas, já empolgado com a viagem. "Nós mal saímos da guerra e você quer... se banhar em lagoas? Você está ciente de que a água é salgada, não é? Isso pode corroer nossas engrenagens!"

R2-D2 emitiu uma série de bipes animados e luzes piscantes, argumentando que um bom banho de sol seria revigorante. Afinal, quem não quer pegar uma cor dourada depois de tanto tempo enclausurado em naves espaciais frias e escuras? Ele já estava até imaginando as dunas brancas, as lagoas de águas cristalinas... C-3PO suspirou dramaticamente. "Ah, claro, porque um banho de sol é exatamente o que nós, robôs, precisamos. Olhe para mim, R2! Eu sou de ouro, não preciso de bronzeado! E vamos falar da água salgada. Você sabe o que isso faz com circuitos eletrônicos?"

R2-D2 respondeu com um som que parecia quase gozador, girando sua cabeça para exibir, com orgulho, uma lata de óleo de motor que ele trouxera secretamente.

"Óleo de motor? R2, sinceramente..." C-3PO arregalou os olhos, suas articulações já tremendo, só de pensar na confusão. "Você acha que passar óleo em nossos corpos vai nos proteger do sol e da água salgada? Eu sou um droide fluente em seis milhões de formas de comunicação, não um turista improvisado!"

R2-D2soltouumasequênciadebipesrápidos,explicandoclaramentequeoóleocriariaumabarreiraprotetora, mantendo suas engrenagens seguras e reforçadas. Ele até deu a entender: “se algum humano nos ver, pensará que somos as versões robóticas de estátuas gregas, reluzentes sob o sol”.

"Versões robóticas de..estátuas gregas? Oh, céus, R2, sua lógica é tão peculiar quanto sua escolha de destinos de férias!" C-3PO balançou a cabeça, incrédulo. "Mas e o calor? Não nos esqueçamos que somos feitos de metal! O sol do Maranhão vai nos transformar em... churrasco robótico!"

R2-D2 rebateu com um bip que parecia uma risada, indicando que se colocassem sob um coqueiro com uma sombra estratégica. Ele até teve a possibilidade de instalar uma pequena sombrinha de praia na cabeça do C3PO, como um toque final.

"Uma sombrinha de praia? Na minha cabeça?" C-3PO estava claramente indignado. "R2, somos droides sofisticados, não enfeites de jardim!" Ele colocou as mãos na cintura, olhando o pequeno droide com uma mistura de resignação e fascínio. "E onde exatamente planejamos encontrar essa sombrinha? A última vez que verificamos, nossa nave não veio equipada com... acessórios de moda praianos."

R2-D2 fez um som de quem já tinha resolvido o problema ele hackearia um banco de dados terrestre e encontraria a sombrinha mais estilosa que os humanos já viram. Além disso, ele não poderia deixar de sonhar com as lagoas perfeitas. E, claro, uma selfie robótica para eternizar o momento.

C-3PO suspirou novamente. "Você realmente acha que uma viagem para os Lençóis Maranhenses vale todo esse esforço? Água salgada, sol escaldante, a chance de nós dois ficarmos presos na areia como um par de torradeiras defeituosas..."

R2-D2 piscou suas luzes com um "sim" enfático, seguido por uma série de bipes que sugeriam que eles precisassem de um descanso. Eles sobreviveram a uma guerra intergaláctica, afinal. Um pouco de diversão não faria mal, mesmo para robôs.

"Bem, suponho que você esteja certo." C-3PO deu de ombros, resignado. "Talvez um pouco de óleo, uma sombrinha e uma dose de sorte seja tudo o que precisamos. E, quem sabe, se sobrevivermos a isso, poderemos até considerar uma visita ao Cristo Redentor na próxima vez."

Com isso, os dois droides embarcaram em sua nave, rumo aos Lençóis Maranhenses. E enquanto o C-3PO ainda resmungava sobre areia nas engrenagens e óleo de motor, o R2-D2 já sonhava com os cliques robóticos perfeitos de suas novas férias no planeta Terra.

Na verdade, não seria o livro de Teresa Margarida da Silya e Orta - Aventuras de Diófanes - publicado em 1752, realmente o primeiro romance escrito por uma mulher?

Microsoft Word - Aventuras de Diófanes.doc (seed.pr.gov.br)

Mhario Lincoln

Designer poético de MHL *Maria Firmina dos Reis

Abaixo, a apresentação do livro pela autora em ortografia da época, quando foi publicada a edição original da obra, em 1859

Mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador do outros, ainda assim o dou a lume. Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor-próprio de autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual e quase nulo. Então por que o públicas? Perguntará o leitor. Como uma tentativa, e mais ainda, por este amor materno, que não tem limites, que tudo desculpa os defeitos, os achaques, as deformidades do filho—e gosta de enfeitá-lo e aparecer com elle em toda a parte, mostrá-lo a todos os conhecidos e vê-lo mimado e acariciado. 0 nosso romance, gerou-o a imaginação, e não n'o soube colorir, nem aformosentar. Pobre avisinha silvesre, ainda terra a terra, e nem olha para as planuras onde gira a águia.

Mas ainda assim, não o abandoneis na sua humildade e obscuridade, senão morrera à mingua, sentido e minguado, só afagado pelo carinho materno. Elle simelha à donzella, que não e formosa; porque a natureza negou-lhe as graças feminis, e que por isso não pode encontrar uma affeição pura, que corresponda ao affecto da su'alma; mas que com o pranto de uma dor sincera e viva, que Ilhe vem dos seios da alma, onde arde em chamas a mais intensa e abrasadora paixão, e que em balde quer recolher para a coração, move ao interesse aquele que a desdenhou e o obriga ao menos a olhá-la com bondade. Deixai pois que a minha URSULA, tímida e acanhada, sem dotes da natureza, nem enfeites e louçanias d'arte, caminhe entre vos. Não a desprezeis, antes ampare-a nos seus incertos e titubantes passos para assim dar alento a autora de seus dias, que talvez que com essa proteção cultive mais o seu engenho, e venha a produzir couza melhor, ou quando menos, sirva esse bom acolhimento de incentivo para outras, que com

imaginação mais brilhante, com educação mais acurada, com instrução mais vasta e liberal, tenham mais timidez do que nós

ACERCA DESTE PRÓLOGO, ABAIXO

Nota do editor; “(...) nesse prólogo acerca do livro de Maria Firmina dos Reis, uma prova inconteste que na época, muitos dos superliteratos maranhenses só olhavam para o próprio umbigo, achando que eram os suprassumos masculinos da integridade literária maranhense. Até hoje ainda acontece isso, impossibilitando a descoberta de novos talentos, mas sim, a repetição insuportável dos mesmos nomes (...)”. Jornalista e poeta Mhario Lincoln in ENSAIOS DA ESTUPIDEZA HUMANA (Volume I).

HORÁCIO DE ALMEIDA

“Esta edição sai a lume sob o patrocínio do Governador do Estado do Maranhão, Dr. Nunes Freire, em homenagem ao sesquicentenário de nascimento da autora, Maria Firmina dos Reis, que tantos anos dormiu no esquecimento dos seus próprios conterrâneos. Quem muito vem trabalhando para perpetuar a sua memória na terra natal e o acadêmico Nascimento Morais Filho, que não descansa na tarefa de reunir fragmentos para um volume da obra completa da autora, em edição atualizada. 0 exemplar único do romance Ursula, existente em meu poder, vai voltar ao Estado de onde saiu. É um prazer que tenho em presentear essa preciosidade biblioteca ao Maranhão, na pessoa do Governador Nunes Freire, que Ihe dará o destino competente”. (Horácio de Almeida).

O livro de que se tira desta edição fac-similada é talvez a maior raridade bibliográfica do Maranhão. Tratase de romance escrito por mulher e passa por ser o primeiro no Brasil de autoria feminina. Além do mais, só existe um exemplar conhecido da obra, fato que a torna mais valorizada, independente do seu mérito literário.

Pouco se sabe da autora. Seu nome, Maria Firmina dos Reis, permaneceu mais de um século sepultado no esquecimento. De espantar é que isso tenha acontecido no Maranhão, terra que foi no passado um viveiro de homens ilustres, muitos dos quais com repercussão além das fronteiras do Brasil.

Eram tantos os que se acotovelavam na literatura maranhense, entre jornalistas, poetas, escritores, ensaístas, historiadores, que São Luís, a gloriosa capital do Maranhão, granjeou fama de Atenas brasileira. Nenhum, entretanto, tomou conhecimento da autora, certamente porque era mulher, numa época em que o homem fazia alarde da proclamada superioridade do sexo. Os poucos que lhe declinaram o nome, limitaram-se a dar, através dos jornais e dos arquivos, atribui a Maria Firmina quatro livros, acrescentando o romance Gupeva aos três citados por Sacramento Blake. Mas onde estão esses livros para confirmação do asserto? Sacramento não os via, porque na hipótese afirmativa, teria mencionado de cada um o gênero literário, assunto tratado, número de páginas, data e lugar da edição, conforme método adotado em sua obra. Apenas relacionou pelo título os três volumes publicados, o que mostra haver feito o verbete à base do informado.

Ele própria declara no Vol. 7 do Dicionário que expedira mil circulares aos literatos de todo o país, pedindo dados para a obra que tinha em elaboração e bem poucas foram as respostas recebidas. Do livro de versos Cantos a Beira-Mar, Antonio Henriques Leal fez citação no Panteon, indicando inclusive o número da página. Logo, existe, embora continue desaparecido. Quanto aos outros, uma prova agora aparece para mostrar que Sacramento Blake estava bem-informado quando incluiu o romance “Úrsula” entre as obras publicadas por Maria Firmina dos Reis. 0 acaso, às vezes, ajuda a desanuviar o passado. Foi o que aconteceu quando me pôs às mãos este romance, que e, ao que parece, o único exemplar conhecido.

Faz coisa de seis ou oito anos comprei um lote de livros, entre os quais vinha uma pequena brochura, que me despertou a atenção. A bem dizer, foi por causa dessa brochura que adquiri os livros em apreço. A folha

de rosto assim rezava: Ursula/Romance Original Brasileiro/Por Uma Maranhense/San'Luis/Na Typographia do Progresso/Rua Sant'Anna, 49 1859.

O Livro não trazia assinatura alguma. Consultei Tancredo e outros dicionários de pseudônimos e nenhum me revelou quem fosse uma maranhense. Pensei em Sacramento Blake, mas só podia consultá-lo se tivesse o nome da autora, que era então para mim uma incógnita. Fui ao índice do seu Dicionário, levantado por Estados da Federação, obra bem curiosa de Otavio Torres, Salvador, Bahia. Percorrendo a relação dos escritores maranhenses, encontrei Maria Firmina dos Reis, que Sacramento Blake apresenta como autora do romance Ursula. Estava decifrado o enigma, mas o livro continuou sem leitura. Passados alguns anos, achei por bem fazer um trabalho para os Anais do Cenáculo sobre um tema que me pareceu interessante. Cogitava de saber qual o primeiro romance escrito no Brasil por uma mulher. As investigações feitas me levaram ao romance “Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis, dado a estampa em 1859. Antes, ninguém apontara outro. O que vale, no caso, e romance e não tradução de romance, como fez Nisia Floresta.

Também não entra aqui, em linha de cogitação, o romance de Teresa Margarida da Silya e Orta - Aventuras de Diófanespublicado em 1752, porque esse romance, em verdade, não é brasileiro. Teresa Margarida nasceu em São Paulo, de onde se retirou aos cinco anos de idade, levada por seus pais para Portugal. Nunca mais voltou ao Brasil.

0 romance que lá escreveu e publicou, enredado na fábula, foi, com efeito, a primeiro de mulher brasileira, mas o que se quer é romance escrito no Brasil, com tema e cor locais, saído da pena de uma mulher. Neste caso está “Úrsula”. É o primeiro de autoria feminina, surgido no Brasil, como o primeiro, de autoria masculina, é “0 Filho do Pescador”, de Teixeira de Souza, publicado em I843.

A autora, ou por modéstia ou temerosa da crítica, oculta-se no anonimato. Declara-se, no prefácio do livro, de pequeno cabedal nas letras para tão ousado empreendimento, sem convívio, ao menos, com homens letrados de quem pudesse receber conselhos. Era mulher e mulher do interior de uma província. Mesmo assim, ‘dava a lume o fruto de sua imaginação’, como a mãe matuta que enfeita o filho para com ele aparecer em público.

Os horizontes em que exerce a ação do livro são demasiado limitados. Uma prosa jungida a preocupações escorreitas, como era moda, ressoa através de duzentas páginas. Aqui e ali, como uma pedra de tropeço, topa o leitor com uma palavra fora de uso, exumada dos clássicos.

No mais, carece o romance de outros requisitos, como o colorido das descrições, a fixação dos costumes, a espontaneidade do estilo coloquial. Com relação ao coloquial, predomina o tratamento de vos entre todos os personagens, até mesmo os mais humildes, os escravos, que não claudicam nas formas verbais. Porventura, não são também artificiosas as obras literárias dos tempos românticos?

A autora vai além e não consente que o drama de amor, em que implanta a ação do livro, tenha consumado. Mata um a um todos os personagens, antes do tempo. Ursula, a principal figura do romance, morre assassinada, juntamente com o noivo, na hora em que a vida lhe palpita felicidade, quando sai do altar para o abraço nupcial.

O noivo é um bacharel cheio de bacharelice, que morto não faria falta. No entanto, Úrsula ama-o, com aquele amor clorótico dos tempos românticos. As cenas de amor e de ódio que no livro se sucedem, acontecem sem qualquer preparação psicológica. Cabe, todavia, a Maria Firmina dos Reis privilegio até então inédito de produzir o primeiro romance no Brasil, como pioneira da seara feminina, sem influência alienígena, onde um escravo, por seu caráter, por sua alma branca, ocupa lugar de destaque no piano da obra.

A gloria é também do Maranhão, terra já afamada pela safra imensa de valores humanos com que abasteceu o Brasil no século passado, para maior esplendor do pensamento brasileiro no campo da literatura.

Horácio de Almeida

Rio de Janeiro, setembro de 1975.

TERESA MARGARIDA DA SILVA E ORTA (São Paulo, 1711 - Lisboa, 24 de outubro de 1793[1]) é considerada a primeira mulher romancista em língua portuguesa[2]. Irmã de Matias Aires, publicou inicialmente sob o pseudônimo de Dorotéia Engrassia Tavareda Dalmira, um anagrama perfeito de seu nome.[3][4][5][6]

Biografia

Filha de José Ramos da Silva, cavaleiro da Ordem de Cristo, provedor da Casa da Moeda de Lisboa, e de Catarina de Orta, Teresa nasce em São Paulo, no Brasil Colonial[7]. Segundo Tristão de Ataíde, a família de

Teresa era um dos fenômenos sociais mais expressivos do Brasil do período. José Ramos da Silva, pai de Teresa Margarida, viera para o Brasil em 1695. Em 1704, casou-se com D. Catarina de Orta, de família ilustre paulistana. Nessa época, já era um dos homens mais ricos de São Paulo, proprietário de imóveis na cidade e de terras auríferas e diamantinas em Minas Gerais. Foi um dos que fizeram fortuna atuando como fornecedor dos “bandeirantes”, dos paulistas.[8]

Aquando do regresso da família a Lisboa, Teresa e a irmã estudam no [[Convento das Trinas, com o objetivo de seguirem a vida religiosa. Casa com Pedro Jansen Moller van Praet, com quem tem doze filhos[7]; e foi dama das Cortes de D. João V e D. José I[9]. É fluente em português, francês e italiano[7].

Depois da morte do seu esposo, quando apenas tem 42 anos, Teresa é acusada de mentir ao rei. Por ordem do Marquês de Pombal, Teresa é mantida em cativeiro, durante sete anos, no Mosteiro de Ferreira de Aves[2]. Em 1777 sai em liberdade, e passa a viver com o cunhado, monsenhor e inquisidor, Joaquim Jansen Moller[2]

Obras

Manuscritas

Theresa Margarida da Silva e Horta encerrada no mosteiro de Ferreira encaminha aos ceos os seus justissimos prantos no seguinte poema epico-tragico

Novena do Patriarcha S. Bento

Carta dedicatória À Abadessa D. Anna Josepha de Castel-Branco

Impressas

Máximas da virtude, e fermosura com que Diofanes, Clyminea, e Hemirena Principes de Thebas venceraõ os mais apertados lances da desgraça, Lisboa, Officina Miguel Manescal da Costa, 1752.

Aventuras de Diófanes, Imitando o sapientisssimo Fenelon na sua Viagem de Telemaco[10]

Aventuras de Diófanes, imitando o Sapientissimo Fenelon na sua Viagem de Telemaco por Dorothea Engrassia Tavareda Dalmira. Seu verdadeiro author Alexandre de Gusmão[11]

Historia de Diofanes, Clymenea e Hemirena, Principes de Thebas. Historia Moral escrita por huma Senhora Portugueza, Lisboa, Typographia Rollandiana, 1818

Obras póstumas

No livro Obra Reunida, da Série Revisões, publicado em 1993[12], além de suas Máximas de Virtude e Formosura (1752), encontram-se também os textos que escreveu na clausura do Mosteiro de Ferreira de Aves. São eles o Poema épico-trágico, a Novena do patriarca São Bento e a Petição que a presa faz à rainha N. Senhora. Sobre ela, na mesma coletânea há depoimentos dos primeiros críticos, como Rodrigo de Sá e Barbosa Machado, e textos críticos de Ernesto Ennes, Tristão de Athayde e Rui Bloem.

TERESA MARGARIDA DA SILVA E ORTA Nascida na cidade de São Paulo, provavelmente no final de 1711 ou no início de 1712, filha de um português abastado e de uma paulista,

Teresa Margarida da Silva e Orta seguiu, ainda criança, para Portugal com seus pais e irmãos. Em 1752, publicou, com o pseudônimo de Dorotéia Engrássia Tavareda Dalmira, as Máximas de Virtude e Formosuraou Aventuras de Diófanes, como passou a se chamar a partir da segunda edição - a primeira obra de ficção em língua portuguesa a se opor claramente ao Absolutismo, a reivindicar os direitos da mulher, a defender a autonomia das terras dos "ex-bárbaros" (numa velada alusão à colônia portuguesa na América). É, além disso, o mais antigo texto ficcional escrito de autoria brasileira de que se tem notícia.

AS BRASILEIRAS: Tereza Margarida | JORNAL DA BESTA FUBANA (luizberto.com)

JOSÉ DOMINGOS BRITO - MEMORIAL

AS BRASILEIRAS: Tereza Margarida

Publicado em 2 de julho de 2023

Teresa Margarida da Silva e Orta nasceu em São Paulo, SP, em 1711. Reconhecida como a primeira romancista em língua portuguesa, era irmã do filósofo Matias Aires e escrevia sob o pseudônimo de Dorotéia Engrassia Tavareda Dalmira, um anagrama perfeito de seu nome. Teve uma produção de obras autônomas e independentes e pode ser considerada, também, a primeira feminista brasileira.

Sua mãe era brasileira e o pai português -José Ramos da Silva- minerador e um dos homens mais ricos do Brasil Colonial. Aos 5 anos, a família mudou-se para Lisboa, onde viveu e publicou toda sua obra. Teve uma vida atribulada, mantendo bom relacionamento com a corte portuguesa e com o Marquês de Pombal. O pai internou-a num convento, mas ela saiu de lá para casar-se com alguém de sua escolha, algo incomum para a época, quando os casamentos eram arranjados. Após a morte do pai e do marido, lutou pelo direito de acesso aos bens da família e mais tarde foi presa sob a acusação de mentir à corte por defender o casamento do filho com uma nobre cuja família não aceitava a união.

Em 1752 publicou o romance político e feminista As aventuras de Diófanes, o primeiro da língua portuguesa escrito por uma mulher. O romance traz como pano de fundo ideias que subvertem os padrões absolutistas de Portugal, do século XVIII, num enredo cheio de imprevistos e reviravoltas. Suas ideias, insubmissas para a época, pregavam a educação igualitária entre meninos e meninas e trabalho para as mulheres, numa crítica à ociosidade que lhes era imposta. Tais ideais estavam afinados com o Iluminismo, que descortinava e se

constituía num posicionamento contrário ao Absolutismo praticado por Dom João V. Tais ideais eram compartilhados por seu irmão e seu amigo, o diplomata Alexandre de Gusmão.

Num romance didático e moralizante, como era o costume no século XVIII, temos um diálogo retórico, onde a autora apresenta suas máximas de virtuosidade: “São inumeráveis as heroínas que se tem visto tão inteligentes que umas têm parecido o milagre das artes e outras têm dado a entender que eles julgam ignorância o que são efeitos da modéstia.” Em algumas partes, ela deixa claro a reinvindicação pela igualdade de direitos das mulheres: “Não resplandece em todas a luz brilhante das ciências porque eles ocupam as aulas em que não teriam lugar se elas frequentassem, pois temos igualdade de almas e o mesmo direito aos conhecimentos necessários.”

Sobre o direito ao conhecimento, ela ressalta: “Nós não temos a profissão das ciências nem a obrigação de sermos sábias; mas também não fizemos voto de sermos ignorantes.” Seu feito é excepcional até mesmo na questão de gênero literário. Na época era incomum que as mulheres escrevessem em prosa, dedicando-se mais à poesia. Assim, foi precursora na literatura e no feminismo que se estendeu até o século XIX e ficou mais ou menos esquecida, mesmo com a reedição de sua Obra reunida, em 1993, pela Graphia Editorial.

Não obstante sua classe social e os elogios recebidos após a publicação do romance, a condição feminina relativizou a autoria de sua obra. Na terceira edição seu romance foi publicado como se fosse de Alexandre Gusmão, o que revela a noção inferiorizada que se tinha da mulher. Entre nós, ela é considerada pela Academia Brasileira de Letras como a primeira romancista do País. Assim, conforme os críticos, pode-se dizer que apesar de não ter vivido aqui, seus questionamentos se relacionam com o Brasil do século XVIII e, logo, não é totalmente alheio ao cenário nacional da época. Faleceu em Lisboa, em 24/10/1793.

Seu pioneirismo não passou despercebido no meio acadêmico aqui e em Portugal. Em 2004 Eva Loureiro Viralhele apresentou trabalho no VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, na Universidade de Coimbra, um questionamento intitulado “Fabricação de ideias e identidades na historiografia literária luso e brasileira: Começa a literatura brasileira com um romance, feminista e político escrito por uma mulher?”, disponível clicando aqui. Em 2006 Sofia de Melo Araújo publicou na Revista da Faculdade de Letras, Línguas e Literatura (Porto), vol. 23, o artigo “Aventuras de Diófanes de Teresa Margarida da Silva e Orta – Os ideais de Climenéia e Diófanes à luz dos tempos”, também disponível clicando aqui.

Entre nós, temos a dissertação de Tania Magali Ferreira Furquim, defendida, em 2003, na Unicamp: “Aventuras instrutivas: Teresa Margarida da Silva e Orta e o romance setecentista”. Mas, por enquanto, a primeira romancista em língua portuguesa, que é brasileira, está aguardando os biógrafos nativos com uma biografia a altura de sua importância para as letras brasileiras. Foi homenageada em São Paulo, nomeando uma EMEF-Escola Municipal de Ensino Fundamental, no bairro Campo Limpo.

Vista do Teresa Margarida da Silva e Orta. Problemáticas em torno da nacionalidade da primeira romancista em língua portuguesa (ufpb.br)

À PROPÓSITO: A BANALIZAÇÃO DO ENSINO BRASILEIRO NÃO É PONTUAL

Resgate de dois artigos escritos pelo professor José Neres, sobre a educação brasileira.

Professor José Neres. AML/APB/MA

*Mhario Lincoln

(Nota do editor): a expressão "banalização do mal", cunhada pela filósofa Hannah Arendt, descreve como atos prejudiciais podem ser cometidos por indivíduos comuns sem reflexão crítica, ao simplesmente seguirem normas ou ordens estabelecidas. Analogamente, observa-se um fenômeno preocupante nas universidades federais brasileiras: práticas e comportamentos, antes considerados inadequados para o ambiente acadêmico, que estão se tornando frequentes, sem a devida consideração de suas implicações éticas e pedagógicas. Mas isso, tem uma origem.

Então, aproveito essa explosão de opiniões, reclamos, apoios, palmas, gerados por uma mesa redonda na UFMA (outubro de 2024), discutindo assuntos relacionados a sexualidade e outros pormenores por demais indiscretos.

Tudo perfeito! Contudo, faltou alguém para falar no âmago da questão: o ensino brasileiro e sua qualidade educativa nos quesitos moral, ético e de informação real. Bom, nesse aspecto, a coisa vem de muito longe. Por isso, no meio desse tsunami de defensores e acusadores, fui pesquisar em fontes fidedignas e encontrei dois artigos fundamentais, publicados lá por 2010, ou seja, há 14 anos, mas que vieram no rumo do que eu pretendo passar aqui, a fim de mostrar que esse episódio ocorrido na semana passada, não é e nem será pontual.

Ambos foram escritos pelo professor e membro APB/MA, José Neres. O texto primeiro discorre sobre um livro-relatório publicado no início de 2010, intitulado “Factores asociados al logro cognitivo de los estudiantes de América Latina y el Caribe”, dos renomados pesquisadores da área de Educação da atualidade, Ernesto Treviño, Héctor Valdés, Mauricio Castro, Roy Costilla, Carlos Pardo e Francisca Donoso Rivas, no qual são discutidos problemas encontrados no processo educativo dos países que serviram de base para uma longa e exaustiva pesquisa, que teve início em 2004 e foi concluída em 2008.

In Litteris:

"Depois de meses de análise dos dados levantados, a pesquisa culminou no livro acima citado, publicado pela UNESCO e que se encontra disponível gratuitamente na internet. Em uma leitura rápida, alguém poderia pensar que o objetivo maior dos autores é comparar os sistemas educacionais dos países envolvidos na investigação, contudo, lendo página a página o trabalho, percebe-se que os autores vão mais além e sugerem soluções para diversos dos problemas que atravancam o progresso das crianças nas escolas dos países latinoamericanos e do Caribe. Um dos pontos que chamam a atenção no trabalho dos educadores-pesquisadores é o que fala da relação entre clima escolar e aprendizagem". (José Neres).

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Com base inicial nessas informações, acredito que o leitor começa a vislumbrar que a razão de se focar em um episódio pontual, no caso da mesa redonda da UFMA, (outubro de 2024), não é o importante. Mesmo porque, a olhos vistos, a educação brasileira vem se deteriorando ao longo dos tempos. Há inclusive de suscitar o grito de vários educadores ao afirmarem que essa "mudança violenta, começou com a falta da hierarquia necessária entre professor/aluno" (scripts.P.23). Alguns acrescentam que a educação como deveria ocorrer, moderna, ágil e respeitosa, começou a ruir a partir das ideias de Paulo Freire, cujo ponto básico do seu projeto, para e educação, como um todo, “(...) seria a prática de liberdade, através da educação como um processo de conscientização, onde professores e alunos participem de um diálogo horizontal, promovendo a reflexão crítica sobre a realidade e a transformação social". (Folha/UOL).

Ou seja, Freire defendia que a educação devesse partir da realidade dos alunos, valorizando suas experiências e conhecimentos prévios, além de enfatizar "a importância do diálogo e da participação ativa dos estudantes no processo educativo, visando a emancipação individual e social". (PEB/SP).

Claro que essas ideias de Freire até hoje são discutidas, aplaudidas (ou não). Porém, voltando à questão UFMA, porque, então, não olhar por um outro ângulo, a partir da transformação efetiva das ideias de uma “nova escola”, levando em consideração o choque de tantas teorias construídas ao longo dos últimos 30 anos que atingiram de forma direta a escola fundamental? Pois bem! Lá em cima falei do livro-pesquisa que o professor Neres citou. Nesse mesmo artigo, li:

"O clima escolar positivo então será um dos fatores responsável pelo prazer de aprender, por parte dos alunos e do prazer de ensinar, por parte dos docentes, o que se reflete diretamente na escola, na família e na sociedade em geral. Assim todos ganham e o futuro desde já agradece." (Neres).

Ora, fica inevitável não afirmar que todo esse "climão", criado em diversas universidades brasileiras, há alguns anos, não é produto da "universidade, em si". Mas de todo um histórico pedagógico/administrativo, onde as lições básicas de relacionamento ético, moral e qualitativo desapareceram das escolas e minaram de forma trágica o relacionamento aluno/professor/diretor dentro das salas de aula. E tal fato ultrapassa os umbrais das unidades de ensino e contamina inevitavelmente a família e a sociedade em geral. (Ou não?).

Com base nessa parte introdutória, nada mais posso acrescentar se não a totalidade de outro artigo publicado pelo professor Neres, data de maio de 2010, que ele, magistralmente, toca na ferida (há 14 anos), já imaginando o rumo que a educação brasileira vinha tomando desde aquela época.

É salutar reproduzir a íntegra desse artigo a fim de que os leitores possam tirar as conclusões acerca do episódio da mesa redonda da UFMA, mas olhando por um outro ângulo, tão necessário quanto o ar que respiramos. Então, chamo para a mesma mesa o professor José Neres, abaixo:

*SERIA BOM

SE FOSSE APENAS FICÇÃO...

José Neres

É totalmente visível o depauperamento da educação em nossa sociedade. Isso permite ao professor imaginar o que todos gostaríamos que fosse somente ficção. Desse modo, temos abaixo a angústia de um profissional da educação diante de uma sala que quer tudo, menos estudar. A aula começa. O professor ensaia as primeiras palavras relativas ao assunto a ser trabalhado. Desatenção quase que total. Toca um celular. Uma revista da Avon passa de mão em mão. As conversas são postas em dia. Um rapazinho conecta o fone de ouvido a seu mp4 e relaxa ao som de sua música preferida. Uma senhorita retoca a maquiagem diante do espelhinho. O rapaz metido a conquistador derrama seu olhar para a colega do lado... Tudo é tão importante! Tudo é tão mais importante que o assunto da aula!... Tudo é tão mais importante que o conhecimento!... Diante da turma apática para o saber, o professor, num monólogo sem interlocutores derrama seu tão suado conhecimento para dois ou três Seres Estranhos que teimam em aprender. Já foi feita a chamada? Dezenas de olhos seguem atentamente os ponteiros do relógio. Uma mensagem é enviada para o namorado: “Vou dar um jeito de sair mais cedo. Vem me buscar. Te amo”. O professor eleva o volume da voz, na vã tentativa de abafar os murmúrios das conversas paralelas. Para prazer do mestre, as duas ou três Figuras Estranhas fazem algumas perguntas pertinentes ao assunto. Algumas questões são bem inteligentes, outras nem tanto, mas pelo menos serviram para tirar do ar aquele ranço de monólogo. O ônibus vai passar... A chamada ainda não foi feita... Acho que minha namorada já está lá embaixo me esperando... Bateu uma fome... E essa aula que nunca acaba! O pobre professor, com o olhar perdido, busca o brilho do entendimento nos olhos dos alunos, mas só encontra o opaco cinza da indiferença. O professor respira fundo. Olha para o relógio e vê que o tempo passou. Olha para a turma e sente que seu tempo passou. Olha para o mundo e vê que os tempos mudaram... Uma pergunta invade a consciência do já combalido professor: “O que eu estou fazendo aqui?” Ele respira fundo e tenta sintetizar o assunto do modo mais prático possível. “Alguma dúvida?” O ar de indiferença é a mais pungente resposta. De repente, um aluno sonolento levanta a mão. O mestre acredita que finalmente conseguiu atrair a atenção da turma. Será que vira uma pergunta que inoculará

naqueles jovens o interesse pelo conhecimento? Posso ir ao banheiro? Decepção total. Aquelas duas ou três Figuras Estranhas acenam levemente com a cabeça. Eis a recompensa. É hora da chamada. Todos querem ser chamados em primeiro lugar. Alguns respondem com um “presente”, outros se limitam a levantar a mão. A maioria nem isso faz. Prefere sobraçar os livros e os cadernos quase virgens e se retiram de modo barulhento. Fim de horário. Metade da turma já está longe. A outra metade se prepara para não utilizar aquilo que não quis aprender. Todos nadam contra a correnteza do saber, buscando como tábua de salvação um diploma inflado com a certeza do nada ser. Na sala agora quase vazia, resta o que sobrou do mestre. Olhar vazio perdido em si mesmo. A consciência tranquila por ter ensinado trava uma feroz luta com a certeza de que quase nada foi aprendido. É hora de tomar um copo d’água e preparar-se para enfrentar outra turma apática. Uma nova aula começa...

*Este artigo de José Neres foi publicado, em sua primeira versão no Jornal Pequeno, em 30 de abril de 2009. Após reformulações e acréscimos foi publicado na revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa, nº 22, em março de 2010.

QUANDO O IPÊ CHORA LÁGRIMAS DE AMARELO-VERDE

*MHARIO LINCOLN

Eu e Joana Bittencourt temos uma linda história de amor. Nós dois nos apaixonamos pela poesia. Simples assim. Há mais de 30 anos temos uma convivência cheia de paz e harmonia sempre tocando nesse amor comum: a poesia, logo depois, incluída aí, a arte, o amor pelo teatro de bonecos que Joana aprendeu a amar junto com seu irmão, o inesquecível Beto Bittencourt.

Ao longo desses anos o fato de se gostar das mesmas coisas evoluiu muito e Joana decidiu me mostrar toda a sua produção lírica: simplesmente incrível o talento dessa confreira (APB-MA) em vários campos da arte e do bom senso, com uma personalidade suave, mesmo inquiritiva, ativa e dinâmica. Confesso que nunca vi Joana perder a classe, nem se zangar com bobagens, nem com algum erro que porventura tenha cometido e consertado logo em seguida. Confesso que admiro muito pessoas assim, pois invejo “pessoas assim”. Por essa razão, neste mês das resenhas do Facetubes (www.facetubes.com.br), que eu iniciei com a aplaudida poeta Nauza Luza Martins, (APB-DF), não resisti e pedi que Joana também me enviasse um de seus poemas para que eu incluísse na obra -RESENHAS POÉTICAS- a ser publicada no começo do ano que vem. Foi desta forma que li, reli e amei o lado bucólico de Joana Bittencourt em seu intimista "SOBRE O IPÊ QUE NÃO VI FLORESCER".

Não poderia começar a analisar essa obra sem lembrar que a nossa literatura é rica em poetas que fundiram a lírica com elementos da natureza, utilizando árvores, flores e estações como símbolos para explorar emoções humanas profundas. Basta lembrar Gonçalves Dias (Canção do Exílio "Nossos bosques têm mais vida,/Nossa vida mais amores"). E Manoel de Barros (O Livro das Ignorãças: "passa um galho de pau movido a borboleta"). Eles exploram com simplicidade e profundidade elementos naturais, transformando o cotidiano em poesia e revelando a essência das coisas através de uma linguagem esfuziantemente natural.

Assim vejo o poema "SOBRE O IPÊ QUE NÃO VI FLORESCER", de Joana Bittencourt, seguindo essa tradição, ao entrelaçar sentimentos pessoais com a simbologia da natureza. A espera pelo florescimento do ipê representa não apenas a antecipação de um evento natural, mas também a expectativa por transformações pessoais e momentos significativos que não se concretizaram.

Por outro lado, a mim me parece ser a repetição dos versos "Esperei tanto" algo como um anseio pela passagem do tempo. Porque a transformação do verde em amarelo, do ipê, pode simbolizar a esperança de renovação e beleza que Joana desejava presenciar. No entanto, a necessidade de partir antes de testemunhar esse florescimento, acaba por me fazer entender sobre perdas e oportunidades não vividas. É isso, Joana?

A referência à admiração coletiva ("Todos que te virem de esplendor coroado") e o convite à contemplação ressaltam a universalidade da beleza natural e sua capacidade de despertar emoções profundas em todos que a experienciam. A menção ao "Pai da criação" mostra para mim, uma dimensão espiritual, confirmando que a natureza é uma manifestação divina e, por isso, digna de veneração.

Como acostumei-me a fazer, sempre trago à mesa alguma relação com insights filosóficos. Desta vez, lembro os estoicos, especialmente as reflexões de Marco Aurélio: há uma ênfase na facilidade serena dos acontecimentos naturais e na harmonia com a natureza. No incrível "Meditações", cujo livro é um dos que repousam em minha cabeceira de cama, Marco Aurélio afirma: "Tudo o que acontece é tão comum e familiar como a rosa na primavera e o fruto no outono". Aliás, ao abrir o livro exatamente nessa citação, hoje bem cedo, despertou-me o start para escrever essa resenha.

Pois bem! Essa perspectiva estoica me mostra uma compreensão de que, segundo Marco Aurélio, “(...) a natureza segue seu curso e a serenidade é encontrada na acessibilidade dos eventos conforme ocorrem (...)”. Joana Bittencourt pegou essa estrada, quando começou a escrever seu "SOBRE O IPÊ QUE NÃO VI FLORESCER". Isso me leva a outra premissa: apesar de não ter visto o ipê florescer, a poeta maranhense, presidente da Sociedade Artística Beto Bittencourt, em S. Luís-Ma, encontra consolo na ideia de que outros contemplarão sua beleza.

Vide:

"(...) as lembranças / Daquele setembro distante".

Assim, ela transforma sua experiência pessoal em poesia, perpetuando a beleza e a emoção associada ao ipê florido, ou seja, a essência do poema reside na transitoriedade da vida e na beleza encontrada tanto na presença quanto na ausência. (Muito bom essa transitoriedade florescida/e-ou/ a florescer). Por isso acredito que Joana Bittencourt, neste poema bucólico e introspectivo, consegue capturar (e passar para o leitor que é ainda mais difícil), a melancolia da esperança e a resignação diante do progresso, enquanto celebra a perenidade da natureza e sua capacidade de inspirar e encantar gerações.

Por essas coisas que nós dois amamos poetar, não é Joana?

*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira. https://www.facetubes.com.br/.../rsenha-de-mhario-lincoln...

SOBRE O IPÊ QUE NÃO VI FLORESCER

Esperei tanto pra te ver florir,

Esperei tanto e tive que partir.

Esperei em cada primavera

Que em setembro me presenteasse

Quando teu verde em amarelo transmudasse.

Vi-te crescer portando a certeza

De que já adulto, certamente, Farias despertar a natureza

E sem demora, inopinadamente,

Explodiria em formosas cores

Brindando com formosas flores

Os olhos mais exigentes da beleza.

Pois que tudo que se torna belo, Há que ser muito apreciado...

Não pelos meus olhos de velado pungir, Mas por outras vistas que te verão florir.

E aí... Parem! Pasmem! Admirem!

Todos que te virem de esplendor coroado, Propalem o encanto que sentirem

Que o Pai da criação

Seja plenamente contemplado.

E quando eu sentir saudades

Do tempo de um Ipê infante

Semearei as lembranças

Daquele setembro distante.

UMA PÉROLA DO POETA

SOBRE JOÃO BATISTA DO LAGO

Texto resenhado e organizado pelo jornalista Mhario Lincoln, sob poema do poeta Maneol Serrão. 30/10/2024 às 07h47Atualizada em 30/10/2024 às 08h58

Por: Mhario LincolnFonte: Manoel Serrão/Mhario Lincoln

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Serrão, Machado e do Lago. (Arte:MHL).

NAURO & LAGO [Manoel Serrão]

Com uma lírica estilística de vigor verbal criador,

Um me atira de corpo e alma em versos para o alto.

O Outro de uma mestria poética de grandeza abissal,

Me ensina: Baudelaire, Musset, Gaston e François.

Um com a visceral idade do dentro das coisas

E a internalidade fraccionada dos seres,

Me atira nas águas profundas do verbo ser carne.

O Outro num versejado sóbrio e dorido de Quasimodo, Me ensina a pungente angustia do "Sou um homem só,

Um só inferno" – nas terras entranhas do Ser cavo.

Amo Nauro. Amo Lago.

Transcendência Poética

*Mhario Lincoln

O poema de Manoel Serrão, (+2020) com sua "lírica estilística de vigor verbal criador", evoca uma força expressiva que eleva o eu-lírico a uma dimensão transcendental, destacando a alma criativa de poetas como Nauro Machado e João Batista do Lago. Essa projeção poética em busca da transcendência, semelhante à explorada por Rainer Maria Rilke em "As Elegias de Duíno", uma obra que trata da angústia existencial e da relação entre vida e morte.

Serrão também faz referências a grandes mestres literários como Baudelaire e Musset, evidenciando a aprendizagem poética profunda que se conecta à tradição literária, semelhante à visceralidade presente nos

trabalhos de Sylvia Plath, especialmente em "Ariel", onde a imersão nas profundezas do ser é explorada de maneira intensa.

A declaração de amor a Nauro Machado e JB do Lago revela uma ligação emocional e intelectual entre esses poetas, demonstrando uma conexão profunda com suas influências contemporâneas, semelhante à admiração de Walt Whitman por outros escritores e, portanto, reflete uma linha sócio-filosófica que busca compreender a condição humana através da tensão entre os próprios eus-líricos.

Por fim, revela uma saudade profunda e uma homenagem sentida pelo poeta Nauro Machado, cuja presença e impacto continuam a ressoar. A tristeza por sua perda é acompanhada por um reconhecimento de sua contribuição à literatura, descrita com carinho e respeito, como evidenciado pela citação do cordelista Pedro Sampaio, que disse: "o perdemos, para o Céu ganhar."

ANTONIO AÍLTON RESGATA UM GRANDE NOME DA POESIA MARANHENSE (XIX - XX)

ANTONIOAÍLTON(Bacabal-MA,1968)époeta,professor,pesquisadordapoesiabrasileiracontemporânea. Doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco.

Nota do Editor: o imortal Antonio Aílton (ALL) tem uma perspectiva de análise, pesquisa, sensibilidade ética, descortino e responsabilidade aguçadas e marcantes, o que fazem de sua trajetória literária, desde as barrancas da Bacabal guerreira, trazendo no sangue a sina de um Manuel Bandeira, onde nascimento e morte se misturaram e prepararam "uma vitamina" de força e coragem, a fim de que as ideias desse menino Aílton se soltassem do centro dos Carpinas e seguissem o caminho não só da revolução estudantil na França e no Brasil (Idem:1968), como o fizeram ultrapassar as fronteiras, as mesmas, que na linguagem da professora paulista Edna Frigato, são estradas de vida "(...) onde não há faixa de pedestre, tampouco placa de sinalização delimitando sonho e realidade (...)". É assim que, a meu modo interior, que vejo Aílton, transitando entre um lado e outro dessa estrada - vitoriosa"sem o menor constrangimento, sem a preocupação de olhar pros dois lados antes de atravessar. Bem sei, que o máximo que pode acontecer, é me distrair de repente, e ser atropelada por um sonho. Como dizia Guimarães Rosa: [Felicidade se acha é em horinhas de descuido]”, à complementação de Edna Frigato. Portanto caríssimo Antonio Aílton, é uma honra recebê-lo nesta plataforma que não visa lucros, nem meios publicitários pessoais ou 'transferíveis', mas e antes de tudo, divulgar o que de melhorexistenestecenário dosaber,dando acontribuiçãodobeija-flor,nessefatídicoeinacreditável incêndio cultural pelo qual - nossas graças - têm sido incineradas ao longo dos anos. Seja sempre bem-vindo. (Mhario Lincoln, presidente da Academia Poética Brasileira e editor-sênior da Plataforma do Facetubes).

Antonio Aílton
Nesse flash recordatório, Antonio Aílton com Nauro Machado, um dos maiores poetas do século XX e a esposa Arlete Machado.

OLIVEIRA ou Ângela Grassi brasileira – UMA

*ANTONIO AÍLTON

A grande maioria dos que estudaram o Parnasianismo, desde a escola já ouviram falar, pelo menos, em uma mulher entre os austeros parnasianos, de poemas esculpidos e canção marmórea: a poeta paulista de “Musa Impassível”, Francisca Júlia.

Porém, entre os grandes nomes maranhenses que brilham na poesia brasileira na passagem entre o século XIX e o século XX, bem poucos ouviram o nome de Leonete Oliveira (São Luís, 1888-Rio de Janeiro, 1969). Esta, segundo um dos importantes registros daquele momento, do escritor e crítico Antônio Lobo (Diário do Maranhão, 05/06/1898), foi, por sua vez, a primeira poeta maranhense, embora talvez tenha se referido à sua “estatura” poética, não à precedência temporal.

Leonete Oliveira ou, conforme assinava em suas primeiras publicações nos jornais maranhenses, Ângela Grassi (escritora romântica espanhola), ganhou o título de “a maior e mais brilhante poetisa maranhense” (M. Nogueira da Silva, Jornal das Moças, 1917, p. 12¹). Leonete Oliveira era também professora e bibliotecária. Há realmente vários registros naqueles jornais finisseculares e de entresséculos. Mas quem resgata ultimamente esse nome tão importante, um tanto quanto apagado ou silenciado nas atuais matérias sobre a poesia daquele momento, é o incansável pesquisador Leopoldo Vaz, inconformado enquanto não alcança os últimos registros sobre o assunto que busca. Leopoldo publicou esse “apanhado” na sua Revista do Léo², onde pode ser pesquisado.

É somente através das espessuras e cortinas do tempo que podemos ver essa mulher, vivendo num contexto de poetas grandiosos, mas também de uma sociedade que de um modo ou de outro reprimia a voz feminina nos papéis intelectuais e culturais. O próprio Antônio Lobo levanta essa questão e relata que, infelizmente, e apesar de mesmo escassamente algumas vozes femininas ainda se sobressaírem nos grandes centros, na sociedade arcaica do Maranhão isso era muito mais difícil. A mulher, quando muito, se dedicava (ou era lançada) aos conventos. Era a educação familiar e religiosa, e haveria muito mais beatas que poetisas – na linguagem da época.

Mesmo através dessas cortinas do tempo, o que podemos encontrar nela é uma mulher forte, que penetrou aos poucos nos meios literários e intelectuais, participava de eventos cívicos e religiosos, viajou bastante (São Paulo, Lisboa, Fortaleza, Rio de Janeiro...), fez-se considerar pelos poetas e críticos até sua morte, inclusive poetas conhecidos no séculos XX que lhe submetiam os textos; deu palestras sobre a condição da mulher na Biblioteca Pública do Estado e na Universidade Popular, deu voz à mulher em seus poemas, e era membro correspondente da Academia Maranhense de Letras. Publicou, além de muitos poemas esparsos, pelo menos três livros de poesia: “Flocos” (1910), “Cambiantes” e “Folhas de outono” (1914-1917[?]).

A intenção aqui, obviamente não é fazer um tratado sobre a autora, sua vida e as questões complexas que envolvemseucontextoeobscurecimento.Nãoétampoucolevantardisputasdeseelafoiaprimeira,asegunda, ouaterceirapoetamaranhenseetc.,jáquehátambémnapautaoutrosnomesimportantes,comoMariaFirmina dos Reis, ou Mariana Luz, que têm sido merecidamente resgatadas ultimamente. São coisas e questões que exigem uma pesquisa madura e aprofundada. Creio que ela deve ser valorizada pelo que ela é, pelo seu papel, pela sua figura de poeta do momento, inclusive dentro de um sistema da história da literatura brasileira, que relega tantos autores importantes à marginalidade.

Podemos entender apoéticadeLeonete Oliveira fundamentalmentedentro doespíritodoParnaso, como assim compreendemos, por exemplo, Raimundo Corrêa. Porém, mais acentuadamente que este, a poeta pratica ainda uma experiência romântica patente e se estende até o simbolismo. Seus poemas de tom e teor simbolistas são, a meu ver, os melhores. Ela não deixa também de extravasar em alguns momentos forte erotismo, ou de, noutro registro, ironizar a questão masculina. Enfim, uma poeta de alto domínio formal que foi colocando ali, nas chaves parnasianas, o seu espírito e sua força.

E a força de um poeta pode ser medida pelo desejo que outros têm de imitá-lo(a) ou até plagiá-lo(la). Isto é, do impacto que sua poesia causa sobre outros. Foi o que aconteceu com um poema do Flocos, de 1910, de

Leonete Oliveira, que foi descaradamente plagiada por Carlos Porto Carreiro em 1924 – talvez por um desses acasos que o autor publica e fica na obscuridade, enquanto outros se aproveitam. Mas a verdade apareceu. Abaixo, escolhi alguns de seus fortes e encantadores sonetos, entretanto há muito mais a ser visto:

Sempre tiveste um coração vazio ermo de sonhos como um deserdado; nunca um raio de amor, mesmo tardio, pôde dar vida ao teu olhar gelado.

Sempre viveste só, mudo e sombrio como quem traz no peito lacerado, em vez de um coração forte e sadio, um pedaço de mármore guardado.

Mas um dia virá em, que, tristonho, cheio de dor e em lágrimas desfeito, hás de correr em busca de outro sonhos...

Em vão! Que em cada coração, decerto, encontrarás o gelo do teu peito a aridez infinita de um deserto.

(in: Flocos)

SUPLÍCIO DE TÂNTALO

Nasci de asas cortadas, no infinito dos meus sonhos de glória e de ventura, tentei em vão subir, no impulso aflito de quase desespero ou de loucura…

Olhando o espaço, o coração contrito, das belezas da vida ando à procura, e penso, e sinto, e sofro, e choro, e grito, no anseio de vencer esta tortura…

Diante de mim os pomos de ouro avisto e querendo alcançá-los fico inerme, sem saber se estou morta ou ainda existo…

E vendo em tudo um luminoso véu, eu continuo qual se fora um verme, rastejando na terra e olhando o céu!

(in: Folhas de outono)

E este jocoso soneto, a nos lembrar o simbolismo irônico: CASAR É BOM

- “Casar é bom - diz o burguês pacato, Por entre um riso de expressão brejeira - é muito bom ter-se uma companheira

Que nos faça a pastinha e escove o fato”.

- “Casar é bom, não com mulher faceira que vive empoada e trescalando extrato; quem tiver senso, o homem que for sensato que procure uma boa cozinheira...

Essa que tem de todos os sentidos somente o paladar, é o que chamamos o lindo ideal de todos os maridos;

não vê, não ouve, indiferente e fria, não pergunta zangada porque vamos todas as noite à maçonaria...”

(O Jornal, de 26 de abril de 1921)

¹ http://memoria.bn.br/pdf/111031/per111031_1917_00110.pdf

² https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019

ANTONIOAÍLTON(Bacabal-MA,1968)époeta,professor,pesquisadordapoesiabrasileiracontemporânea. Doutor em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco. Recebeu prêmios em livros de poesia e ensaio, tais como Prêmio Literário e Cultural Cidade de São Luís (poesia e ensaio) e o Prêmio cidade do Recife (poesia).

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Livros publicados: Cerzir - livro dos 50 (Poesia, Editora Penalux, 2019); Compulsão agridoce (Poesia, Paco Editorial, 2015); Os dias perambulados & outros tortos girassóis (Fundação de Cultura do Recife, 2008); As Habitações do Minotauro (Fundação Cultural de São Luís, 2001) e Humanologia do eterno empenho (ensaio, com o qual recebeu o Prêmio Cidade de São Luís, 2003).

Sua tese MARTELO E FLOR: Horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea, tese foi publicada, com mesmo título, pela Editora da Universidade Federal do Maranhão – EDUFMA, em 2018. É membro da Academia Ludovicense de Letras – ALL [Academia de Letras da cidade de São Luís –Maranhão], cadeira 22, patrono Maranhão Sobrinho.

Site: www.antonioailton.wordpress.com

Antonio

INFLUENTE CRÍTICO E POETA EQUATORIANO ANALISA POESIA DE MHARIO LINCOLN.

O poeta e literato equatoriano, Humberto Napoleon Varela Robalino, é um dos críticos literários mais influente em todas as Américas.

O poeta e literato equatoriano, Humberto Napoleon Varela Robalino, influente em todas as Américas, fez análisediretadopoemade MharioLincoln,"Afluentes",desdeQuito-Equador,tornandoessetrabalholiterário conhecido não só em seu país, como na América Latina.

Afluentes

*Mario Lincoln

Que bellos son los espasmos de la noche cíclica

En la apoteosis de los balzacianos adinerados.

"¡Y Venus envidia con razón el encanto sáfico!"

Yo era un hombre con estupideces arrepentidas, y la luz penetró hasta la cúspide de mi recinto.

"Que el viejo Platón frunca el ceño austeramente"

Loco, bajo el túnel de la falda de mármol:

Oda a Eros y Afrodita, sobre la misma textura:

"¡Y el amor reirá tanto ya sea en el infierno o en el cielo!

¿Qué quiere que hagamos la ley de los justos o de los injustos?"

Deja que se suelte la yema y la clara del mismo huevo, tan real como los placeres estéticos de un crisantemo; irreal como el ovario-árbol, discrecional: ¡pobre árbol!

"Finalmente hizo de su cuerpo el pasto supremo".

Ode a Baudelaire!

Diz Humberto Napoleon: "Leer a MHARIO LINCOLN es encontrarse con el MAESTRO DE LA POESÍA FILOSOFAL, es escuchar hablar a uno de los grandes poetas de la LÍRICA BRASILERA CONTEMPORÁNEA. Sigo de cerca a trayectoria de su inspirada pluma y siento palpitante el regocijo constructor y la paz y fraternidad que transmite este ícono de la lengua portuguesa. Estoy leyendo el poema de su inspiración titulado "AFLUENCIAS" y afirmo que es el ojo cósmico que todo lo ve, todo lo nombra y jamás lo olvida. Qué joya de poema, se decanta entre lo divino y lo profano. entre lo mitológico y la sabiduría humana, lo onírico y la realidad, ...

Los dioses también tienen pasiones, virtudes, aman, odian, saben de venganzas y perdones,... ;por eso, nosotros seres humanos hechos a su imagen y semejanza, imitamos y queremos ser dioses. MHARIO LINCOLN , sabio y poeta por antonomasia, elabora sus versos con células de dioses y de hombres. Solamente los grandes arquitectos del pensamiento y la palabra, como MARIO LINCOLN, pueden trazar con sus versos la línea equinoccial por donde nosotros podamos caminar con equilibrio entre la materia y la nada ,entre el principio y el fin, entre la luz y la sombra, entre lo inicuo y lo puro...

Noble amigo te leerán por siempre, eres inmortal."

Tradução livre: ("Ler MHARIO LINCOLN é conhecer o MESTRE DA POESIA FILOSÓFICA, é ouvir falar um dos grandes poetas da LÍRICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA. Acompanho de perto a trajetória de sua inspirada caneta e sinto palpitante a alegria construtiva, a paz e a fraternidade que este ícone da língua portuguesa transmite. Estou lendo o poema de sua inspiração intitulado "AFLUENCIAS" e afirmo que é o

olho cósmico que tudo vê, nomeia tudo e nunca esquece, entre o divino e o profano, entre a sabedoria mitológica e a humana, o onírico e a realidade. Os deuses também têm paixões, virtudes, amam, odeiam, sabem da vingança e do perdão. Portanto, nós, seres humanos feitos à sua imagem e semelhança, imitamos e queremos ser deuses. MHARIO LINCOLN, sábio e poeta por excelência, cria seus versos com células de deuses e homens. Somente os grandes arquitetos do pensamento e da palavra, como MHARIO LINCOLN, podem traçar com seus versos a linha equinocial, onde podemos caminhar com equilíbrio entre a matéria e o nada, entre o começo e o fim, entre a luz e a sombra, entre o perverso e o puro. Nobre amigo, te lerão para sempre, porque você é imortal."

Afluentes

*Mhario Lincoln

Como são lindos os espamos da noite cíclica

Na apoteose de balzaquianos afluentes.

"E Vênus com razão inveja o charme sáfico!"

Era, eu, um homem com estupidezas penitentes, e a luz impenetrava no vértice de minha clausura.

"deixa o velho Platão franzir a testa austera"

Insana, sob o túnel da saia de mármore:

Óde a Eros e Afrodite, sobre a mesma textura:

"E o amor tanto rirá seja do Inferno ou Céu!

A que nos quer a lei dos justos ou injustos?".

Que se libertem gema e clara do mesmo ovo, tão reais como gozos estéticos de um crisântemo; irreais como a árvore-ovário, discricionária: pobre árvore!

"De seu corpo ela fez enfim, pasto supremo".

Ode a Baudelaire!

(Tradução livre para o português.)

No poema acima, Mhario Lincoln cita os versos "E Vênus com razão inveja o charme sáfico!", do poema "Lesbos", de Charles Baudelaire.

Os versos "deixa o velho Platão franzir a testa austera" são do poema "Lesbos", de Charles Baudelaire.

Os versos "E o amor tanto rirá seja do Inferno ou Céu! / A que nos quer a lei dos justos ou injustos?", são do poema "Lesbos", de Charles Baudelaire.

Os versos "De seu corpo ela fez enfim, pasto supremo", são do poema "Lesbos", de Charles Baudelaire.

PATRÍCIA TENÓRIO dialoga com poemas de Antonio Aílton e Altair Martins

A camiseta foi preparada para os destroços e para o pão diário deste mundo (Aílton, p. 16)

Somos a paisagem e o que ela habita (Martins, p. 17)

A Camiseta de Atlas, com foto de Antonio AíltonLabirinto de pesca, com foto de Altair Martins – fonte: correiodopovo.com.br

Pablo Neruda já dizia que “o poema é de quem sente”. Parece que, com esse verso, Neruda conhecia, lá atrás, os poetas Antonio Aílton e Altair Martins, aqui na frente. E na minha frente se apresentam esses dois poetas maiores, Aílton e A camiseta de atlas*; Martins e Labirinto com linha de pesca**.

Neruda estaria correto se os considerasse irmãos. Os livros chegaram em minhas mãos em momentos diferentes (o de Aílton, em 2023; o de Martins, em 2021), mas parecem navegar juntos pelo cosmos da poesia há muito tempo. Com versos tais como

“Toda vez que um poema se completa, uma borboleta se desprega / dos pequenos guardados de Deus” (Aílton, p. 22)

“é porque dentro dos carros / alguém pode estar dirigindo molhado de música.” (Martins, p. 18)

Aílton e Martins nos guiam pelo mundo assoberbado que nos rodeia, onde as pessoas não param para degustar um pôr do sol, um nascer do dia, sorriso de criança, um simples guarda-chuva.

“e sustentar a tempestade interior / por uma frágil haste” (Aílton, p. 46) “Nada sei da natureza bela, porque prefiro a natureza pura.” (Martins, p. 39)

Ser poeta, nos dias atuais, é quase um palavrão, é ser pária na própria terra, patrícia – da pátria – mas sem pátria para pisar.

“O poeta é um ser desamparado / mas dispensa a minha ajuda e a tua” (Aílton, p. 51)

“Há de se subir escadas onde se subiram paredes / sem duvidar dos olhos a fabricar o leme.” (Martins, p. 60)

De repente, uma surpresa: a homenagem de Antonio Aílton para… Patricia Tenório.

“Que eu siga / teu prumo / a / Luz / do teu / rumo / fazendo / dos dias / o sudário / que cinges / com alegria” (Aílton, p. 55)

E Martins ressoa em eco, lança o anzol, apanha a isca do poema:

“Mas fui o que desviou da cerca, / o que ficou sem voz, / o que forneceu a isca.” (Martins, p. 74)

Sim, somos poetas-irmãos, dos que vieram antes, dos que estão vindo depois, quinze jovens escritoras e escritores que se lançam à primeira publicação coletiva e, nos primeiros raios de sol, nascem.

Enquanto

O mundo inteiro

Enlouquece

De guerras

Competições

E dor

Quinze jovens

Me entontecem

Com poemas

Escritas em prosa

E cor

“Quem escreve

É solidão

Mas

Escrita

Criativa

É comunidade”

Eu disse uma vez

Na Feira de Frankfurt

E direi

Quantas vezes

Forem necessárias

Até derrubarmos

As guerras

Os muros

Fronteiras

Orgulhos

Ser

Paz

Saúde

Amor

Turma de Estudos de Escrita Criativa, coordenados pela escritora/poeta Patrícia Tenório (Recife-PE)

Estudos em Escrita Criativa, com Partícia Tenório, Bernadete Bruto e Elba Lins

*A camiseta de atlas, de Antonio Aílton. São Luís, MA: EDUFMA, 2023.

**Labirinto com linha de pesca, de Altair Martins. Porto Alegre, RS: Diadorim Editora, 2021. (Tenório, “Escrita Criativa, me chama que eu vou!”, 07/11/2024, 11h29)

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO

MARANHÃO

ÍNDIOS PROTESTANTES NO MARANHÃO COLONIAL: MISSÃO DO IPIAPABA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Academia Ludovicense de Letras

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Academia Poética Brasileira

Centro Esportivo Virtual

ApartirdaFrançaEquinocial,oMaranhãopassoucompreenderpartedoCeará(desdeoBuracodasTartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Ceará e o Grão-Pará.

Quando é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, separado da jurisdição do Estado do Brasil, a região do Maranhão era conhecida por diversos nomes ou títulos: 'terra do rio das Amazonas', 'terra dos tupinambás', ou mesmo 'terra dos caraíbas'. Muitas Crônicas, Cartas, Memoriais e Planisférios chegam a representar o Maranhão como uma espécie de 'não-Brasil'.

Em certos períodos do século XVII também fazia parte do Maranhão o Ceará, este último considerado a fronteira natural do Estado do Brasil. Quase toda essa região está localizada a Oeste do meridiano de Tordesilhas, limite que começava a ser francamente ignorado.

O CABO DE SÃO ROQUE - A FRONTEIRA DAS DUAS COLÔNIAS DA AMÉRICA PORTUGUESA... O BRASIL E O MARANHÃO (a pedra de tropeço dos historiadores).

“Entendem-se, desde logo, os condicionamentos políticos que a geografia econômica impôs à colonização. Com efeito, a separação entre o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão (1621), cujos limites começavam exatamente na altura do cabo de São Roque, responde ao quadro de ventos e marés predominantes na costa sul-americana: facilidade de comunicações com a Corte e transtorno da navegação litorânea sul-americana levam à criação de duas colônias distintas no espaço da América portuguesa. Na mesma perspectiva, uma das críticas feitas ao estabelecimento do Tribunal da Relação na Bahia (1609) decorria da dificuldade de encaminhar àquele tribunal os pleitos oriundos das outras capitanias, dependentes das monções favoráveis à navegação de cabotagem, “o que dilata muito o despacho dos negócios”. Mais valia enviar os requerimentos das outras capitanias diretamente aos tribunais do reino (p. 59). Correnteza mais rápida de todo o litoral brasileiro, atingindo velocidades de 2,5 nós no costão que vai do cabo de São Roque (Rio Grande do Norte) ao cabo Orange (Amapá), a corrente das Guianas facilitava grandemente a navegação para o Norte. Tamanha é a força das águas rolando nessa área que, mesmo com as velas meio arriadas, navios grandes podiam cobrir em três dias as trezentas léguas separando o cabo de São Roque do porto de São Luís. Em contrapartida, a corrente representava um obstáculo quase intransponível à navegação a vela no retorno do Estado do Maranhão ao Estado do Brasil. Até o advento dos barcos a vapor, nos meados do século xix, só as sumacas barcaças pequenas de dois mastros conseguiam sair da Bahia, de Pernambuco, ou mais do Sul, e bordejar na torna-viagem do Pará e do Maranhão. Ainda assim, tudo dependia da sorte (p. 58)”. Fonte: Trecho do Livro “O Trato dos Viventes – A formação do Brasil” de Luiz Felipe de Alencastro. Por João Bosco Gaspar

As invasões holandesas no Nordeste brasileiro ocorreram durante o século XVII e foram motivadas principalmente pelo interesse dos holandeses no lucrativo comércio de açúcar. A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais liderou essas incursões.

A primeira invasão significativa aconteceu em 1624, quando os holandeses ocuparam Salvador, na Bahia, mas foram expulsos no ano seguinte. Em 1630, eles voltaram a atacar, desta vez em Pernambuco, onde conseguiram estabelecer uma colônia que durou até 1654

Entre os anos de 1637 e 1654 os holandeses mantiveram um porto no rio Camocim (rio Coreaú) nas proximidades da atual cidade de Granja. As especiarias recolhidas pelos batavos nos altiplanos da Ibiapaba e na Costa do Ceará, eram enviadas para a Europa via porto do Camocim.

A preparação da invasão holandesa foi decidida por documento escrito na cidade de Middelburg, província da Zelândia, pelo commandeur Gideon Morris. Trata-se da Breve descrição do Maranhão, escrita no ano de 1637. Morris era figura bem conhecida entre os diretores da WIC e suas cartas e relatórios resumem muito do que os neerlandeses conheciam sobre a Amazônia. O commandeur havia sido prisioneiro dos portugueses, supostamente permanecendo na região por cerca de oito anos, experiência que garantia um grau de fidelidade na comparação com outras crônicas e relatórios desse período. De fato, durante muito tempo, Morris foi considerado um dos únicos holandeses especialistas em navegação fluvial amazônica de longo curso. Na documentação neerlandesa, ele também é apresentado como habilidoso articulador político, fluente na língua dos nativos e influente junto aos seus principais (Cardoso, 2017).

A Breve descrição do Maranhão é um documento que procura explorar certas expectativas sobre a região. Não era a primeira vez que o Heren XIX recebia um documento sobre o tema, mas em comparação com cartas, relatórios e mapas anteriores, o texto de Gedion apresentava uma vantagem: apesar de não se distanciar muito das fórmulas já encontradas nas crônicas portuguesas e espanholas, não era uma simples reprodução dos argumentos luso-espanhóis, na medida em que seu autor esteve efetivamente naquelas terras. Aliás, este argumento de autoridade, bem comum nos escritos da época, é reivindicado, a todo momento, no texto. Mais do que um relatório, o escrito apresentado ao Conselho Supremo faz uma projeção futura sobre a conquista neerlandesa da Amazônia, suas vantagens e possíveis desafios. Por isso, duas coisas são devidamente enfatizadas: a vocação comercial da região e a importância das nações indígenas em qualquer projeto pensado para o Maranhão e o Grão-Pará.

E em 1641, uma esquadra holandesa com dezenove navios e dois mil soldados invadiu a Ilha de São Luís. A ocupação holandesa no Maranhão foi marcada por conflitos com os colonos portugueses e luso-brasileiros, além de dificuldades como doenças e a resistência local Em 1644, os holandeses foram finalmente expulsos da região.

Após dez meses de ocupação holandesa no Maranhão, em 30 de setembro de 1642, tem início no Itapecuru, a reação portuguesa. Muniz Barreiros e mais cinquenta homens, usando de táticas de guerrilhas, vão retomando dos holandeses, um a um, os engenhos de açúcar e a fortaleza do Calvário, situada na embocadura do rio.

Empolgados com as vitórias em Itapecuru, as tropas portuguesas, ganham mais adeptos e passam para Ilha de São Luís. Em 21 de novembro de 1642, as tropas lusas, comandadas por Muniz Barreiros e Teixeira de Melo, emboscaram a coluna inimiga do comandante Sandalim e a derrotam. Essa batalha ocorreu na região do rio Cutim, onde hoje fica o monumento do Outeiro da Cruz.

A resistência luso-brasileira, incluindo a famosa Batalha dos Guararapes, foi crucial para a expulsão definitiva dos holandeses. A presença holandesa no Nordeste deixou um legado cultural e arquitetônico significativo, especialmente em Recife e Olinda “(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar.

Pedro Poti - aliado dos neerlandeses contra os lusitanos -, chegou a ser levado para a Holanda, onde foi recebido como herói e tratado com honrarias. Em 19 de fevereiro de 1649, durante a Segunda Batalha dos Guararapes caiu prisioneiro dos portugueses, período em que viveu um calvário na prisão – escreveu a seu cunhado Felipe Camarão o que segue:

“(...) Eu me envergonho da nossa família e nação ao me ver ser induzido por tantas cartas vossas à traição e deslealdade, isto é, a abandonar os meus legítimos chefes, de quem tenho recebido tantos benefícios. Ficae sabendo que serei um soldado fiel aos meus chefes até morrer. Os cuidados que dizeis ter por mim e o favor que os portuguezes nos dispensariam não são mais que histórias contadas para nos iludir. Não acreditais que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os hollandezes, entre os quais fui educado. Por outro lado, em todo paiz se encontram os nossos, escravizados pelos perversos portuguezes, e muito ainda o estariam si eu não os houvesse libertados. Sou christão e melhor do que vós: creio só em Christo, sem macular a religião com idolatria, como fazeis com a vossa. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos e perigosos portuguezes e vinde juntar-vos conosco. No meu acampamento, 31 de outubro de 1645 (assinado) o regedor e comandante do regimento de índios da Parahiba, Pedro Poti (...)”. Fonte:Trechodo livro“Fastos Pernambucanos" doDr.PedroSouto Maior, ano de 1913, p. 156/157. Por João Bosco Gaspar.

Filipe Camarão, nascido Poti, foi um indígena brasileiro e herói da Insurreição Pernambucana. Ele recebeu o nome cristão de Antônio Filipe Camarão após ser batizado. Em 1614, o índio potiguar acompanhou o capitão Jerônimo de Albuquerque Maranhão na reconquista da capitania do Maranhão, onde os franceses haviam fundado a cidade de São Luís. Felipe Camarão reuniu 200 dos seus melhores guerreiros que se juntaram aos 300 portugueses. Jerônimo de Albuquerque e seus comandados estabeleceram-se na baía de São Marcos, em frente a São Luís e logo fundaram o arraial de Santa Maria, em Guaxenduba, onde aguardaram o ataquedos franceses. Oataqueaconteceuem19denovembrode1614.Mesmocommenornúmerodehomens, a tropa de índios e portugueses saiu vitoriosa. Após a expulsão dos franceses da “França Equinocial”, iniciouse a reconstrução de São Luís Lutou contra os invasores holandeses e franceses, sendo reconhecido como

"Capitão-Mor de Todos os Índios do Brasil". Ele foi um líder militar e um dos heróis da Batalha dos Guararapes

A luta pela expulsão dos holandeses de Pernambuco teve início em 1645, um ano depois da partida do Conde Maurício de Nassau. O chefe da Insurreição Pernambucana foi João Fernandes Vieira, um dos mais ricos habitantes da região. Ao seu lado combateram Filipe Camarão, André Vidal de Negreiros e Henrique Dias.

Após a capitulação holandesa de 1654, o Estado do Maranhão foi reorganizado sob o governo de André Vidal de Negreiros, agora com o nome de "ESTADO DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ". Naquela ocasião, André Vidal recebeu do rei de Portugal um Regimento com 58 artigos para melhor gerir o novo governo do Maranhão. Constituído, a princípio, pelas capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará (ainda não havia a capitania do Piauí), o Estado do Maranhão começava nos Baixios de São Roque e terminava na linha do Tratado de Tordesilhas. Os dois primeiros artigos do Regimento, tratavam da Capitania Real do Ceará. Por João Bosco Gaspar

No ano de 1655, André Vidal de Negreiros assumiu o governo do Estado Colonial do Maranhão, constituído (até aquela data) pelas capitanias do Ceará, Maranhão, Cabo do Norte e Grão-Pará. Entre as suas principais incumbências estava a construção de um forte na foz do rio Camocim, para garantir a extração do pau-violeta (nome científico “Dalbergia Cearensis”) nos sopés da Ibiapaba e do âmbar nas praias do Camocim.

“Cortava-se o pau violeta, nas fraldas da serra de Ibiapaba, onde estas montanhas mais se avizinhavão do mar, e nas praias se encontrava muito âmbar. Para assegurar o commercio d'estes gêneros queria elle plantar um forte á foz do Camuci, mas não era couza esta que podesse fazer-se sem formar allianças com os índios”. Fonte: Livro “História do Brazil” traduzida do inglês por Luiz Joaquim de Oliveira e Castro, publicado em 1862, Tomo IV, p. 230.

Vieira, que regressara pela segunda vez ao Maranhão, em 1655, afirma que o Governador André Vidal de Negreiros :

[...] intenta uma fortaleza na boca tio Rio Camuci, emprêsa que dependia da vontade dos habitadores da serra. Escreve-lhe o padre Antônio Vieira. Sucesso da resposta da sumaça que com materiais e soldados partiu a levantar a fortaleza.

Este era o miserável estado da Cristandade da serra, quando no ano de 1655 chegou segunda vez ao Maranhão o padre Antônio Vieira, com ordens de Sua Majestade, para que a doutrina e govêrno espiritual de todos os índios estivesse à conta dos religiosos da Companhia; e, posto que o estado referido daqueles cristãos, de que já então havia notícias por fama, prometia mais obstinação que remédio, considerando, porém, os padres que a sua obrigação era acudir à reformação dos índios já batizados, e que êstes da serra tinham sido os primogênitos desta missão, e de quão pernicioso exemplo seria para os que se houvessem de converter, e para os já convertidos, a vida escandalosa em que estavam, e muito mais a imunidade dela. Era ponto êste que dava grande cuidado a toda a missão, e que muita se encomendava a Deus, esperando todos que chegariam ao céu as vozes da sangue do seu Abel, o padre Francisco Pinto, e que, amansadas aquelas feras, que já estavam marcadas com o caráter do batismo, tornariam outra vez ao rebanho de que eram ovelhas. Ajudou muito esta esperança um novo intento do governador André Vidal de Negreiros, o qual chegou no mesmo ano ao Maranhão, resoluto a levantar uma fortaleza na boca do Rio Camuci, que é defronte das serras, para segurança do comércio do pau violete, que se corta nas fraldas delas, e do resgate do âmbar, que a tempos sai em grande quantidade naquelas praias. Esta é a suavidade da Providência divina, tantas vêzes experimentada nas missões de ambas as Índias, onde sempre entrou e se dilatou a fé, levando sobre as asas do interêsse. Comunicados os pensamentos do governador e superior das missões,

julgaram ambos que primeiro se escrevesse aos índios de serra, de quem não só dependia o comércio, mas ainda a fábrica e sustento da fortaleza. Mas dificultava, ou impossibilitava de todo a embaixada, a dificuldade do caminho de mais de cem léguas, atalhado de muitos e grande rios, e infestado de diversas nações de tapuias feros e indômitos, que a ninguém perdoam, e, confirmado tudo com a experiência da mesma viagem, intentada outra vez com grande poder de gente de armas, e não conseguida. Contudo, houve um índio da mesma nação tobajará chamado Francisco Murereíba, o qual, confiado em Deus, como êle disse, se atreveu, e ofereceu a levar as cartas. O teor delas, foi oferecer o governador, em nome de el-rei, a todos os índios que se achavam na serra, perdão e esquecimento geral de todos os delitos passados, e dar-lhes a nova de serem chegados ao Maranhão os padres da Companhia, seus primeiros pais e mestres, para sua defensa e doutrina. E o mesmo escreveu o padre superior das missões, dando a si, e a todos os padres, por fiadores de tudo o que o governador prometia, e referindo-se umas e outras cartas ao mensageiro, que era homem fiel, e de entendimento, e ia bem instruído e afeto ao que havia de dizer. Partiu Francisco com as cartas em maio de 1655, e, como fôssem passados nove meses sem nova dêle, desesperado de todo êste primeiro intento, no fevereiro do ano seguinte, que sâo as monções, em que de alguma maneira se navega para barlavento, despachou o governador uma sumaça, com um capitão e quarenta soldados, e os materiais e instrumentos necessários à fábrica da fortaleza do Camuci, e na mesma sumaça ia embarcado o padre Tomé Ribeiro com um companheiro, para saltarem em terra no mesmo sítio, e praticarem aos índios, e darem princípio àquela missão. Animou também muito a resolução do mesmo governador, e intentos dos padres, a paz que por meio dêles vieram buscar ao Maranhão os teremembés, que são aqueles gentios que freqüentemente se nomeiam no roteiro desta costa com o nome de alarves, cuja relação nós agora deixamos por ir seguindo a sumaça, e não embaraçar o fio desta história. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource; Descrição da Ibiapaba - Wikisource

OS ÍNDIOS CALVINISTAS DA SERRA DA IBIAPABA E A “PARÁBOLA DOS TALENTOS”.

Segundo Souto Maior (1993)

Firmada a Rendição de Taborda em janeiro de 1654, os índios calvinistas das capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam obstinados em direção aos altiplanos da Ibiapaba. Tencionavam criar em solo ibiapabano um enclave indígena de cunho protestante: "a República de Cambressive". Antônio Paraupaba, seu líder, homem de muita influência junto a Companhia das Índias Ocidentais, viajou duas vezes (1654 e 1656) para a Holanda com o propósito de conseguir dos batavos, apoio financeiro e militar para realizar seu intento. Ao se dirigir aos nobres senhores holandeses, Paraupaba ratifica a crença do seu povo “como suditos bons e firmes na sua fidelidade para com este Estado e a Religião Reformada de Christo, a única verdadeira”, e diz que o auxílio batavo seria de fundamental importância, para que aqueles que, segundo ele, “foram uma vez trazidos ao conhecimento da verdadeira religião”, não fossem privados do “reino de Jesus Christo”. Antônio Paraupaba, como conhecedor das Escritura Sagradas, faz alusão a Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-30), insinuando que os batavos receberam de Deus a incumbência de multiplicar em terras brasileiras, as ovelhas do seu rebanho: “Nem deixem que elles recaiam na selvageria entre as feras nos sertões bravios. Pois teriam de prestar contas ao Grande e Todo Poderoso Deus que é contra os que por usura enterram a sua libra com medo de gastar”. Termina Paraupaba implorando socorro imediato aos “pais e defensores dos oprimidos e desamparados”, para que as quatro mil pessoas refugiadas em Cambressive (Ibiapaba),

inclusive mulheres e crianças, pudessem sobreviver naquelas paragens, para o bem delas e “para a conservação da Igreja Christã Reformada, a única verdadeira”. Fonte: Livro “Fastos Pernambucanos” de Pedro Souto Maior, Imprensa Nacional, 1993. Por João Bosco Gaspar.

Para John Hemming (1978), foi em 1654 que :

“(...) Os índios fortificaram-se entre os tobajaras, na serra de Ibiapaba. Denominaram sua república Cambressive e chegaram a fazer uma tentativa, aliás malograda, de obter auxílio dos holandeses. Antônio Paraupaba foi enviado à Holanda e fez um comovente apelo aos Estados Gerais em agosto de 1654. Como nada aconteceu, fez um segundo apelo em 1656. O suplicante é enviado por aquela nação que se refugiou com suas esposas e filhos em Cambressive, no sertão além do Ceará, para escapar aos furiosos massacres dos portugueses. Eles estavam lá havia dois anos, mas ainda se mantinham leais ao governo dos holandeses. Se deixar de receber ajuda, aquele povo finalmente deverá cair nas garras dos cruéis e sanguinários portugueses, que desde a primeira ocupação do Brasil têm destruído centenas de milhares de pessoas naquela nação. Paraupaba declarou não poder acreditar que os holandeses deixariam de ajudar os índios, de recompensar seus anos de leais serviços e de proteger a religião reformada (...)”. Fonte: Trecho do livro “Ouro Vermelho” de John Hemming, ano de 1978 p. 454). Por João Bosco Gaspar.

Leslie Bethell, (1997), afirma que no ano de 1654:

“(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar.

Já para F. A. Pereira da Costa (1952), no ano de 1654:

“(...) Os índios que serviram no exército holandês, e os que seguiram seu partido e abraçaram a sua religião, a de reforma calvinista e luterana, não se julgando seguros em Pernambuco após a sua restauração [1654], apesar do prometido esquecimento do passado e do perdão geral concedido aos indivíduos de qualquer nação, qualidade e religião, ainda mesmo que fossem rebeldes à coroa de Portugal, o que tudo constava do termo de capitulação dos holandeses firmado em 26 de janeiro deste ano de 1654, emigraram logo para os sertões do Ceará, e depois se foram refugiar na serra da Ibiapaba, seus extremos norte, onde lhes parecia, não recear o ataque dos seus inimigos, e fazendo assim de tais paragens o seu baluarte, a sua vendéa, contra os vencedores, e pretendendo mesmo alguns dos mais instruídos e exaltados, fundar ali um estado índio independente, exclusivamente da sua gente e repelindo a branca. Os índios refugiados na serra da Ibiapaba, nos limites norte do Ceará, atingiam a um número superior a

quatro mil almas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Anais Pernambucanos, Tomo III, 1635-1665” de autoria de F. A. Pereira da Costa, p. 393-394, 1952). Por João Bosco Gaspar.

Carlos Studart Filho (1959) coloca que:

“(...) Vale a pena salientar que, nos perturbados momentos da Restauração Pernambucana, numerosos indígenas, parciais dos flamengos, temendo muito justamente as represálias sempre tão cruéis por parte dos portugueses, haviam debandado da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, encaminhando-se em grandes magotes à Ibiapaba. Afinados, muitos deles, pelos contatos da cultura flamenga, iam na esperança um tanto romanesca de criar, em plena selva brasileira, um estado indígena por completo fechado à influência de estranhos de Além-Mar. Acastelados em atitude hostil naqueles chapadões que bordam o Ceará a oeste, passaram efetivamente esses rebeldes a encabeçar a resistência à expansão dos luso-brasileiros que, em meados do século XVII, tentaram derivar para aquelas bandas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Fundamentos Geográficos e Históricos do Estado do Maranhão e Grão Pará” de Carlos Studart Filho, ano de 1959, p. 291. Por João Bosco Gaspar.

Já o padre Antônio Vieira confirma que:

“(...) Entraram os índios rebeldes nas capitulações da entrega com perdão geral de todas as culpas passadas; mas eles como ignorantes de quão sagrada é a fé publica, temendo que os portugueses, como tão escandalizados, aplicariam as armas vitoriosas a vingança, que tão merecida tinham, e obrigados de certo rumor falso de que os brancos iam levando tudo a espada, lançaram-se cega e arrebatadamente aos bosques, com suas mulheres e filhos, onde muitos pereceram a mão dos tapuios, e os demais se encaminharam as serras de Ibiapaba, como refúgio conhecido, e valhacouto seguro dos malfeitores (...)”. Fonte: Trecho do livro “Cartas Várias” do padre Antônio Vieira, ano de 1885, p. 340. Por João Bosco Gaspar.

Prossegue Vieira:

Com a chegada dêstes novos hóspedes, ficou Ibiapaba verdadeiramente a Genebra de todos os sertões do Brasil, porque muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses, sem outro exemplo nem conhecimento da verdadeira religião. Os outros militavam debaixo de suas bandeiras com a disciplina de seus regimentos, que pela maior parte são formados da gente mais perdida e corrupta de todas as nações da Europa. No Recife de Pernambuco, que era a corte e empório de toda aquela nova Holanda, havia judeus de Amsterdão, Protestantes de Inglaterra, calvinistas de França, luteranos de Alemanha e Suécia, e todas as outras seitas do Norte, e desta Babel de erros particulares se compunha um ateísmo geral e declarado, em que não se conhecia outro Deus mais que o interêsse, nem outra lei mais que o apetite; e o que tinham aprendido nesta escola do inferno é o que os fugitivos de Pernambuco trouxeram, e vieram ensinar à serra, onde, por muitos dêles saberem ler, e trazerem consigo alguns livros, foram recebidos e venerados dos tobajarás como homens letrados e sábios, e criam déles, como de oráculo, quanto lhes queriam meter em cabeça. Desta maneira, dentro em poucos dias, foram uns e outros semelhantes na crença e nos costumes; e no tempo em que Ibiapaba deixava de ser república de Baco - que era poucas horas, por serem as

borracheiras contínuas de noite e de dia - eram verdadeiramente aquelas aldeias uma composição infernal, ou mistura abominável de todas as seitas e de todos os vícios, formada de rebeldes, traidores, ladrões, homicidas, adúlteros, judeus, hereges, gentios, ateus, e tudo isto debaixo do nome de cristãos, e das obrigações de católicos. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource

TELA HISTÓRICA-DECORATIVA "ALDEIA DA IBIAPABA" de autoria do mestre viçosense Ernane Pereira. Essa obra de arte faz parte da decoração do Centro de Formação Padre Ascenso Gago, em Viçosa do Ceará. Representa a Aldeia da Ibiapaba (Viçosa) como sede da Missão Jesuítica dedicada à São Francisco Xavier, período de 1656 a 1662, fundada pelo padre Antônio Vieira. No ano de 1660 o padre Antônio Vieira esteve na ibiapaba, fato registrado no memorável livro "A Missão de Ibiapaba" de sua autoria.

A capitania real era "Terra do Rei, Nosso Senhor". Informa João Bosco Gaspar que, além da Bahia e do Rio de Janeiro, a Paraíba, o Rio Grande do Norte, o Ceará, o Maranhão e o Pará, figuram no rol das capitanias reais criadas nos séculos XVI e XVII.

Os lotes doados aos fidalgos João de Barros, Antônio Cardoso de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, foram revertidos (devolvidos) à coroa, e transformados em "Capitanias Reais".

Para esse Historiador da Ibiapaba, João Bosco Gaspar, ainda tem historiador que não conseguiu se desvencilhar da narrativa arcaica e anacrônica envolvendo as terras doadas aos fidalgos João de Barros, Antônio Cardoso de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade. Estabelecer fronteiras fundamentado nessas antigas capitanias (não)hereditárias, é um grave anacronismo histórico.

As capitanias hereditárias foram uma forma de administração territorial implementada pela Coroa Portuguesa no Brasil em 1534, com o território brasileiro dividido em grandes faixas de terra, que se

estendiam do litoral até o interior, e cada uma dessas faixas foi concedida a um donatário, geralmente um nobre de confiança do rei D. João III

Os donatários tinham a responsabilidade de colonizar, administrar e defender suas respectivas capitanias. Eles podiam distribuir terras, fundar vilas e cobrar impostos, mas também tinham que arcar com os custos de defesa e desenvolvimento das áreas sob seu controle

Esse sistema foi uma tentativa de acelerar a colonização e exploração do território brasileiro, mas muitas capitanias fracassaram devido à falta de recursos e apoio. Os donatários das capitanias hereditárias enfrentaram várias dificuldades significativas, incluindo:

1. Falta de Recursos: Muitos donatários não tinham os recursos financeiros necessários para investir no desenvolvimento de suas capitanias. Isso dificultava a construção de infraestrutura básica, como estradas, portos e fortificações.

2. Resistência Indígena: A resistência das populações indígenas foi um grande obstáculo. Muitos donatários enfrentaram conflitos violentos com os povos nativos, que defendiam suas terras e modos de vida.

3. Isolamento e Comunicação: As capitanias eram frequentemente isoladas umas das outras e da metrópole, dificultando a comunicação e o apoio mútuo. Isso também complicava a administração e a defesa das capitanias.

4. Falta de Mão de Obra: A escassez de mão de obra qualificada para trabalhar na agricultura e na construção foi um problema constante. A escravidão indígena e, posteriormente, a africana foram utilizadas para tentar suprir essa necessidade, mas com grandes custos humanos e sociais.

5. Ataques de Piratas e Invasores: As capitanias litorâneas eram vulneráveis a ataques de piratas e de outras potências europeias, como os franceses e holandeses, que tentavam estabelecer colônias na América do Sul.

Esses desafios contribuíram para o fracasso de muitas capitanias, levando a Coroa Portuguesa a centralizar a administração colonial com a criação do Governo-Geral em 1549, uma forma de administração centralizada para melhorar a gestão das colônias brasileiras, que enfrentavam muitos problemas sob o sistema de capitanias hereditárias. As principais funções do Governo-Geral incluíam:

1. Centralização Administrativa: Coordenar as atividades das capitanias hereditárias e implementar políticas uniformes em todo o território colonial.

2. Defesa e Segurança: Fortalecer a defesa contra ataques de piratas e outras potências europeias, além de mediar conflitos com os povos indígenas.

3. Desenvolvimento Econômico: Promover a agricultura, especialmente a produção de açúcar, e incentivar a exploração de recursos naturais.

4. Justiça e Ordem: Estabelecer um sistema judicial e garantir a aplicação das leis portuguesas na colônia.

O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, que chegou ao Brasil com a missão de organizar a administração colonial e fortalecer a defesa contra invasores e ataques indígenas. Tomé de Sousa fundou a cidade de Salvador, que se tornou a primeira capital do Brasil e o centro administrativo do Governo-Geral. Essa centralização ajudou a estabilizar a colônia e a promover seu desenvolvimento econômico e social.

As capitanias hereditárias, incluindo a do Maranhão, foram revertidas para a Coroa Portuguesa devido a vários fatores, principalmente o fracasso administrativo e econômico.

A Capitania do Maranhão, especificamente, enfrentou dificuldades desde o início. Os donatários João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade não conseguiram estabelecer uma colonização efetiva, e a capitania foi abandonada após a morte de Ayres da Cunha em um naufrágio em 1535

A reversão formal das capitanias hereditárias para a Coroa ocorreu gradualmente, mas foi oficialmente consolidada em 1759, quando o Marquês de Pombal aboliu a hereditariedade das capitanias. Esse processo permitiu à Coroa Portuguesa reestruturar a administração colonial e implementar um controle mais direto sobre o território brasileiro.

Por conta da malograda "Associação Trina de Colonização", formada por João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, os donatários tiveram que devolver seus quinhões ao senhorio da coroa portuguesa... tudo era terra do rei, "Nosso Senhor", como afirma Pero de Magalhães Gandavo.

No entanto, João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade foram figuras importantes na história das capitanias hereditárias no Brasil. Eles foram donatários da Capitania do Maranhão, uma das capitanias hereditárias estabelecidas por D. João III de Portugal no século XVI 1

1 Aqui, Gaspar faz uma pequena confusão. A Associação Trina de Colonização não é um termo historicamente reconhecido. Porém, houve sim, uma Associação Trina de Colonização. A ACC foi uma organização que desempenhou um papel crucial no processo de imigração e colonização no Brasil durante o século XIX. Sua missão incluía coordenar o recrutamento, transporte e instalação de imigrantes nas colônias brasileiras A ACC utilizava barcos a vapor para transportar os imigrantes e gerenciava estruturas como armazéns e depósitos para acolhê-los SciELO - Brasil - Do depósito à hospedaria de imigrantes: gênese de um "território da espera" no caminho da emigração para o Brasil Do depósito à hospedaria de imigrantes: gênese de um "território da espera" no caminho da emigração para o Brasil

A Terra de Santa Cruz

A jornada histórica de Fernão de Magalhães arrebatou vários viajantes improváveis ao longo do caminho, entre eles um menino de sete anos na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro. Meio português, meio índio tupi, ele é lembrado na história como Joãozito Lopes Carvalho, o "Carvalhinho". O jovem se tornou o primeiro nativo do Brasil e provavelmente de toda a América do Sul a cruzar o Oceano Pacífico em uma jornada de um ano e meio que para ele terminou em Brunei

Durante a expedição que se tornou a primeira viagem de circum-navegação ao globo terrestre de 1519 até 1522, o navegador português Fernão de Magalhães, avistou a Costa do Brasil em 1519, onde sua pequena frota aportou na Baia de Guanabara em 13 de Dezembro de 1519 onde ficou por duas Semanas.

Guiado por João Lopes de Carvalho, antigo integrante da Feitoria de Cabo Frio, Fernão de Magalhães conheceu os índios tupis da Baia de Guanabara e uma pequena população de "Mamelucos", mestiços de mulheres índias e portugueses, que já viviam naquelas terras, incluindo o filho de setes anos de idade de João Lopes de Carvalho, chamado de "Carvalinho"

O Navegador português esteve em terras Brasileiras pela primeira vez em 1511, como senhor do leme na nau Bretoa, Carvalho foi acusado pelo capitão de ter furtado alguns machados e, como castigo, largado em terra, algures no Cabo Frio. Mas Carvalho não desesperou. Tratou logo de conhecer uma mulher tupi com quem aprendeu o idioma local e teve um filho.

Carvalho retornou a Portugal em 1517, onde sua experiência ao longo da costa brasileira chamou a atenção de Magalhães. Ele acompanhou Magalhães de Lisboa para a Espanha e foi a escolha original de Magalhães para capitão do navio Santiago , embora oficiais comerciais espanhóis se opusessem porque Carvalho era português.

Em vez disso, Carvalho foi nomeado piloto do Concepción , um navio de 90 toneladas cuja tripulação de 45 homens incluía o capitão Gaspar de Quesada e o mestre Juan Sebastián Elcano. Quesada se tornou um líder do fracassado motim da Páscoa em abril de 1520 e foi executado e esquartejado logo depois. Elcano sobreviveu ao motim para mais tarde se tornar capitão do Victoria. Como tal, Elcano liderou a conclusão da famosa circum-navegação, trazendo Victoria de volta a Sevilha.

Pouco depois que a frota de Magalhães chegou ao Rio de Janeiro, a amante de Carvalho apareceu e apresentou o menino de sete anos. Carvalho reconheceu a criança como sua e levou Joãozito a bordo do Concepción como grumete.

É difícil imaginar o que se esperava que uma criança de sete anos contribuísse em tal jornada, e certamente os europeus do século XVI não compartilhavam visões modernas sobre bem-estar infantil. Na verdade, era uma prática dos navios da época trazer vários pajens infantis, alguns com apenas oito anos. Muitos eram órfãos, alguns foram tirados das ruas e forçados a embarcar.

A lista da frota de Magalhães lista de dois a três grumetes por embarcação, com um no Victoria. Seus deveres incluíam tarefas detestadas pela tripulação, como esfregar conveses e servir refeições.

Joãozito pode ter sido poupado de alguns deles, já que seu pai era o piloto do Concepción , um oficial superior. O navio transportava outros dois grumetes, um castelhano chamado Pedro de Chindarza e um garoto chamado Sean (Juan) Irés, listado como da Irlanda

Embarcar no Concepción deve ter sido traumático para um garoto de sete anos que cresceu em cabanas compartilhadas e passou grande parte da vida ao ar livre em uma terra de fartura.

Tão rápido quanto muitas crianças aprendem segundas línguas, é improvável que Joãozito tenha aprendido muito português com seu pai nas poucas semanas no Rio de Janeiro, e a bordo do Concepción , a língua comum era o espanhol.

A maioria da tripulação era castelhana, juntamente com dois artilheiros de Flandres, dois irlandeses, um genovês e um marinheiro da Grécia. Carvalho Sr. era um dos sete portugueses na tripulação.

Assim, durante as primeiras semanas no mar, o principal meio de comunicação de Joãozito teria sido expressões faciais e gestos. Fazer caretas diante do fedor constante e da comida de má qualidade teria sido uma lição de idioma precoce.

Além disso, para Joãozito Lopes Carvalho , aprender espanhol de significava literalmente sobrevivência. Joãozito de sete anos, viajou pelo estreito e sobreviveu à travessia do Pacífico com a Armada das Molucas de Fernão de Magalhães , tornando-se o primeiro brasileiro nativo a navegar no maior oceano do mundo. Ao longo do caminho, ele experimentou tanto as maravilhas da exploração quanto suas extremas crueldades ao longo de uma jornada de dezenove meses.

O povo da Guanabara raciocinou que os europeus poderiam ser deuses. “Fazia cerca de dois meses que não chovia naquela terra”, escreveu Pigafetta, “e quando chegamos àquele porto, aconteceu de chover, e eles disseram que viemos do céu e que trouxemos a chuva conosco”. Ele acrescentou que sua “simplicidade” os tornaria fáceis convertidos ao cristianismo.

Um pouco mais adiante no mar, Joãozito viu esses estrangeiros clamando a Deus por salvação.

Com o inverno chegando, a frota encontrou refúgio do clima na baía que Magalhães chamou de Puerto San Julian, mas as coisas estavam longe de ser calmas. Este foi o primeiro lugar onde o jovem Joãozito passou tempo suficiente para construir uma impressão duradoura.

Uma vez que os navios estavam ancorados, Magalhães cortou todas as rações, causando indignação entre a tripulação e os oficiais, e esmagando o moral que restava. Nesse ponto, Joãozito viu o lado raivoso dessa nova cultura e provavelmente aprendeu um pouco de sua linguagem mais desagradável também.

Joãozito estava a bordo do Concepción, um dos três navios que se juntaram ao motim da Páscoa que se seguiu. Nenhuma luta ocorreu no Concepción, mas seu capitão, Gaspar de Quesada, foi um dos principais conspiradores. Este era um homem que Joãozito teria visto frequentemente no convés, o homem que toda a tripulação ficava de olho.

Uma semana após o motim e uma corte marcial, Quesada foi decapitado por seu próprio escudeiro. Seu corpo e o corpo de Luis de Mendoza, capitão do Victoria , foram esquartejados, suas partes desmembradas exibidas em postes como um aviso um que toda a tripulação teria visto pelo menos de longe, Joãozito incluído.

Joãozito viu novamente a tripulação tomada por uma nova emoção coletiva, dessa vez maravilha. Em 28 de novembro de 1520, os três navios restantes da frota entraram no Pacífico, um evento que deixou a tripulação tão eufórica quanto aterrorizada. Este era o desconhecido Mar do Sul que Balboa havia encontrado. É improvável que Joãozito entendesse a gravidade do momento, mas ele teria percebido a excitação ao seu redor. Eles navegaram para o sul bem longe do mapa e agora estavam navegando para o norte no desconhecido mar oceânico.

Por duas semanas, os navios contornaram a costa, fazendo uma primeira excursão ao longo da costa sudoeste do Chile. Em 15 de dezembro, eles viraram para noroeste, deixando para trás o continente que tinham acabado de mapear.

Os três meses que se seguiram certamente tiveram a maior impressão em Joãozito. Magalhães esperava que a Ásia estivesse um pouco distante, e ventos fortes em um mar “pacífico” rapidamente colocaram um retorno fora de alcance. A frota só podia seguir em frente, dia após dia, se perguntando por que nenhuma terra foi avistada.

A frota passou mais de três meses no mar. Pelo menos dezenove homens morreram de escorbuto e fome, e outros trinta adoeceram.

“Comíamos… pó de biscoitos cheio de vermes, pois eles tinham comido o bom. Tinha um forte cheiro de urina de ratos. Bebíamos água amarela que estava podre há muitos dias”, escreveu Pigafetta. Eles também mastigavam couro de boi e comiam qualquer rato que pudessem pegar.

“Mas acima de todos os outros infortúnios, o pior foi o seguinte. As gengivas dos dentes inferiores e superiores de alguns dos nossos homens incharam, de modo que eles não conseguiam comer em nenhuma circunstância e, portanto, morreram.”

Joãozito teria testemunhado os poderosos estrangeiros doentes e morrendo no convés ao seu redor ele pode ter sido colocado para trabalhar cuidando de alguns.

Entre os mortos estavam dois outros nativos sul-americanos outro índio do Brasil e um dos dois gigantes patagônicos que a frota havia capturado como um estranho tipo de souvenir. Dos dois patagônicos capturados, um morreu cruzando o Pacífico, o outro morreu cruzando o Atlântico no San Antonio .

Joãozito, no entanto, sobreviveu. Possivelmente seu pai, o piloto do Concepción , possuía ou conseguiu obter provisões extras.

De qualquer forma, Joãozito Lopes Carvalho se tornou o primeiro nativo do Brasil a cruzar o Pacífico e visitar o Leste Asiático. Ele estava com a frota quando ela parou em Guam, Limasawa, Cebu e, eventualmente, Brunei, onde a jornada para ele terminou.

Então, nas Filipinas, em abril de 1521, a frota se desfez. Sua espinha dorsal e força motriz, Magalhães, foi morto em uma batalha na ilha de Mactan, e quatro dias depois, a maioria de seus oficiais e pilotos foram massacrados em uma emboscada em Cebu entre eles, os dois oficiais eleitos para substituir Magalhães: Duarte Barbosa , cunhado de Magalhães; e Juan Serrano.

O pai de Joãozito, João de Lopes Carvalho, também desembarcou naquele dia, mas no último minuto ele e outro oficial, Gonzalo Gómez de Espinosa, ficaram desconfiados e fugiram de volta para os navios em um escaler. Assim que chegaram, ouviram gritos vindos de além da praia. Os capitães e oficiais que desembarcaram estavam sendo mortos enquanto ouviam. Aparentemente, apenas Serrano e o escravo de Magalhães, Enrique, foram poupados, embora Serrano tenha sido levado para a praia, espancado e usado como refém.

Isso deixou o pai de Joãozito como um dos únicos oficiais superiores, e de acordo com um relato, Carvalho abandonou um Serrano chorando na praia e zarpou. Outros sugeriram que Serrano ordenou que Carvalho partisse.

De qualquer forma, com a saída de Magalhães, Barbosa e Serrano, Carvalho foi eleito capitão-geral (e capitão do Trinidad ), embora tenha sido superado pelo mestre do Concepción , Juan Sebastían Elcano. Foi uma escolha que se revelou lamentável para a frota e desastrosa para Joãozito.

Com muito poucos homens restantes para navegar todos os três navios, eles afundaram o Concepción , o navio em pior estado, queimando-o para não deixar nenhum monumento para trás. Carvalho começou como piloto do C oncepción. Joãozito presumivelmente foi transferido daquele navio para o Trinidad com seu pai. Neste ponto, os dois navios restantes se transformaram em uma frota pirata por um tempo, capturando e saqueando embarcações locais conforme avançavam. Eles vagaram por vários dias para encontrar provisões antes de sequestrar dois pilotos muçulmanos, a quem forçaram a guiar a frota para Brunei. Essas foram as mesmas táticas que Vasco da Gama e, logo depois, Pedro Álvares Cabral adotaram durante as primeiras incursões portuguesas na Índia: capturar navios, manter reféns e forçar pilotos locais a guiá-los.

De acordo com o cronista Antonio Pigafetta, que acompanhou a expedição de Magalhães, João Carvalho foi forçado a entregar seu filho Brasileiro ao Sultão de Brunei como punição por ter sequestrado o filho de um chefe islâmico local.

Outra versão sobre o destino do jovem brasileiro é do português Gaspar Correa, que alega que o filho do piloto português foi sequestrado pelo Sultão de Brunei, : " Siripada rogara ao Carvalhinho que lhe mandasse seu filho, na companhia dos que levavam o presente, porque os filhos meninos do sultão choravam porque

o queriam ver, e logo depois foi feito refém do Sultão, que temia que os portugueses conquistassem o Reino assim como em malaca dez anos antes"

Com seu filho para sempre refém do Sultão de Brunei, Carvalho morreu logo depois abordo da nau "Trindad" provavelmente envenenado por algum desafeto.

No ano e meio que Joãozito passou viajando do Rio para Brunei, ele teria se tornado pelo menos funcionalmente bilíngue e possivelmente trilíngue. As crianças aprendem línguas rápido, e aos sete anos ele foi arrancado de sua aldeia e levado para o mar. Espanhol era a língua principal da frota, e Carvalho Sr. era português, um dos sete na tripulação. E dado o tédio da vida no mar, Joãozito pode ter se perguntado também sobre a fala dos dois artilheiros do Concepción de Flandres ou dos dois jovens companheiros de tripulação da Irlanda.

Agora Joãozito se encontrava no Sultanato de Brunei, em uma cidade portuária multilíngue onde nenhuma de suas línguas tinha moeda. Quando Joãozito se juntou à frota de Magalhães, a sobrevivência diária dependia de aprender espanhol, apenas para encontrar comida e necessidades básicas. Ele havia sobrevivido àquele teste, mas em Brunei Joãozito estava começando tudo de novo. Um pensamento final, se Joãozito viveu, ele cresceu com alguma compreensão de onde ele era ou apreciou o feito de ter cruzado o Pacífico? Que memórias ele reteve? Mesmo na casa real em Brunei, eles podem não ter realmente entendido como os espanhóis viajaram para lá, ou de que terra o jovem Joãozito veio.

Fonte: Geografia Histórica do Rio de Janeiro - 1502-1700, Rio de Janeiro: Instituto Pereira Passos (IPP)/ Editora Andrea Jacobsen, 2010/Náufragos, traficantes e degredados: As primeiras expedições ao Brasil, 1500-1531. por Eduardo Bueno http://www.enriqueofmalacca.com/.../journey-of-joaozito...

OS “MANEZINHOS” DA “DÉCIMA ILHA”

Academia Ludovicense de Letras

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Academia Poética Brasileira

Centro Esportivo Virtual

Quais são nossas origens? Um cadinho de várias raças/etnias... Nativos, indígenas, tupis e tapuias chegaram primeiro. Os europeus, depois. E os africanos, mais tarde, na diáspora forçada... Somos uma entidade geográfica, assumida a mesma denominação – MARANHÃO -, como identificação de vários acidentes geográficos, em uma vasta região do continente sul-americano, ora espanhol, ora português, espanhol e português – União da Coroa Ibérica -, um estado colonial independente, e uma anexação por força das armas, a um império brasileiro; por fim, a Independência, a República e finalmente, o Maranhão. Pensado em divisão em dois...

Desde as primeiras tentativas de ocupação do vasto território, por quase três séculos, um ‘não-Brasil’. Isto é, a identificação do território como não fazendo parte do Brasil colonial. Depois dos indígenas, a ocupação foi portuguesa, com o abandono, passou a ser frequentada por franceses, holandeses, ingleses... mesmo, por força de Tordesilhas, a parte espanhola... Enfim, ocupada... ou tomada...

Efetivada a colonização – a princípio, francesa – e posteriormente, após o término da união das duas coroas ibéricas–portuguesa,seconstituiuemumestadocolonialseparadodoBrasil,que,comaparticipaçãojesuítica se estendeu até as atuais fronteiras, em quase sua totalidade... Uso posidetis... e temos o Grande Maranhão...

Aidentidade é açoriana, efetivamente,dadoque agrande maioria dos primeiros colonizadores para cátrazidos eram originários das Ilhas, Os Açores, outra entidade geográfica, um arquipélago português localizado no Oceano Atlântico composto por nove ilhas. As principais são:

1. São Miguel - A maior ilha, conhecida pela Lagoa das Sete Cidades e as Furnas.

2. Terceira - Famosa pela cidade histórica de Angra do Heroísmo, Patrimônio Mundial da UNESCO.

3. Faial - Conhecida pela Marina da Horta e o Vulcão dos Capelinhos.

4. Pico - Lar da montanha mais alta de Portugal, o Pico.

5. São Jorge - Destaca-se pelas suas fajãs, planícies costeiras formadas por deslizamentos de terra.

6. Santa Maria - Conhecida pelas suas praias de areia branca.

7. Graciosa - Famosa pelas suas paisagens verdes e a Furna do Enxofre.

8. Flores - Destaca-se pelas suas cascatas e lagoas.

9. Corvo - A menor ilha, conhecida pela sua cratera vulcânica, o Caldeirão.

Com ocupação da Ilha do Maranhão – a Upaón-Açú, ou Ilha Grande – tornamo-nos a DÉCIMA ILHA...

Outras vieram, como a Ilha do Desterro – onde está a atual Florianópolis, em Santa Catarina – a 11ª Ilha? Assim como as comunidades do Canadá e Estados Unidos..., mas, fomos os primeiros...

O que nos interessa é a Ilha de São Luís, e sua cidade do Maranhão...

E CUMPRE-SE A PROFECIA

“elle como profetizando disse os primeiros pouoadores dessas Ilhas roçarão, e trabalharão, e seus filhos semearão, os netos uenderão, e os mais descendentes fugirão dellas o que assim aconteçeo, conforme o que ate aqui os tempos nos tem mostrados” (CORDEIRO; MADEIRA, 2003)

Frei Diogo das Chagas, por meados do século XVII, se socorria de um hipotético dito, em tom profético, atribuído ao infante D. Fernando, que parecia condensar o que já então era uma realidade nas ilhas.

A participação açoriana na colonização do Estado do Maranhão e Grão-Pará foi significativa. No total, se acrescentarmos os de alguns recrutamentos militares que também se efetuaram nas ilhas açorianas, a documentação disponívelparaoséculo XVIIpermiteapontarparaumacorrentemigratóriaconsiderável, entre os 5.000 e os 6.000 indivíduos:

ANOS

ILHAS

NÚMEROS

1618 Grupo Central 95 casais / 561 almas

1621 São Miguel ? 40 casais / 148 pessoas

1649 Santa Maria, São Miguel 52 casais / 365 pessoas

1666 Faial 50 casais

1675 Faial 234 pessoas

1677 Faial 223 pessoas

Quadro 1: Contingentes de povoadores dos Açores na Amazónia (século XVII). Rodrigues (2015)

Jorge de Lemos de Bettencourt, capitão e fidalgo da Casa Real, se ofereceu para, à sua custa, já em 1615, transportar duzentos casais dos Açores para o Pará, num total de mil pessoas. A leva de colonos partiu dos Açores em 1618 e, segundo os dados apresentados por frei Vicente do Salvador, chegaram ao Maranhão somente 95 casais, com alguns solteiros, num total de 561 almas, transportadas em três navios.

A primeira leva terá chegado somente em 11 de abril de 1619:

“A colónia do Maranhão prosperou constantemente: em 1621 duzentos colonos [casais?] dos Açores [possivelmente aqueles que terão chegado em 1619] aos quais seguiram mais quarenta, vieram reparar os danos causados pelas bexigas”.

Em terras amazónicas, o conflito estalou entre Jorge de Lemos de Bettencourt e os colonos, que, ao invés de seguirem para o Pará, ficaram no Maranhão. Os ilhéus não se mostraram disponíveis para acatar as ordens do chefe da expedição e, em requerimento feito em São Luís do Maranhão a 11 de Maio, assinado por 34 dos naturais das ilhas, apresentaram as suas razões, reclamando que ficasse no Maranhão a terça parte dos mil indivíduos que Jorge de Lemos de Bettencourt se obrigara a transportar e declarando que, aparentemente, o contratador pretendia que todos fossem para o Pará, o que eles recusavam, pois o Pará era então uma região em estado de guerra e sem “modo de povoar”. Devido a este insucesso e ao não cumprimento do estipulado, o rei questionaria mesmo Jorge de Lemos de Bettencourt acerca desta questão Martins (2002) afirma tratarse dos 40 casais que António Ferreira de Bettencourt se tinha proposto transportar para o Maranhão.

Nova proposta de transporte de ilhéus para a conquista. Desta vez, o licenciado António Ferreira de Bettencourt, natural de São Miguel, conseguiu a mercê do ofício de provedor da Fazenda Real dos Açores por três anos ao oferecer-se para trazer da Flandres dois mestres na arte do fabrico de salitre e pólvora e para colocar no Maranhão cinquenta casais, tudo à custa da sua fazenda.

Em 1621, é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, com capital em São Luís do Maranhão, reconhecendose a importância estratégica e económica da foz e bacia do Amazonas, assim como das dificuldades de comunicação que existiam entre o Maranhão e a sede do governo da América portuguesa, situada em São Salvador da Bahía.

A 24 de Novembro 1622, , o provedor da Fazenda Real dos Açores apresentou o traslado autêntico de uma certidão emitida pelo escrivão da Fazenda na conquista do Maranhão, datada de 29 de outubro de 1621, confirmando a chegada no navio São Francisco de quarenta casais, perfazendo 148 pessoas

Por alvará de 21 de março de 1624, o Estado do Maranhão e Grão-Pará fosse separado do Estado do Brasil. No ano de 1628, estariam prontos mais 200 casais que aguardavam a chegada de navios que os transportassem para as “conquistas do Maranhão”

Após a expulsão dos Holandeses em 1644, o recém-criado Conselho Ultramarino defendeu a necessidade de povoamento do Estado do Maranhão e, em consulta de 29 de julho desse mesmo ano, sugeriu a D. João IV que fossem concedidos passagens e mantimentos a todos aqueles que pretendessem seguir para aquela região de fronteira. Trata-se dos 40 casais que António Ferreira de Bettencourt se tinha proposto transportar para o Maranhão

Nos anos de 1648-1649, mais alguns casais das ilhas de Santa Maria e de S. Miguel eram conduzidos à capitania do Maranhão: pelo Decreto de 19 de setembro de 1648, pretendia-se recrutar, em Santa Maria, 100 casais, “que constavam de quinhentas para seiscentas pessoas”. E a 23 de abril de 1649, partiram, de Santa Maria e de S. Miguel, para o Maranhão 52 casais, com 365 indivíduos, onde terão chegado em Agosto do ano seguinte Esta leva, em particular, não agradou ao Governador do Maranhão, Luís de Magalhães, que, solicitava lhe enviassem degredados para colmatar a falta de gente, porque “a q. elle se enuiou da Ilha de S.ta Maria não hauer sido de nenhum seru.ço, nem utilidade, por seu pouco prestimo, e coitadisse q. não presta para mais q. p.a fogir ao trabalho, e pedir esmolas p.las portas”.

O padre António Vieira, em carta dirigida a D. João IV, escrita no Maranhão e datada de 4 de abril de 1654, numa referência explícita à situação vivida em La Rochelle durante os conflitos religiosos em França: “O Maranhão e o Pará é uma Rochela de Portugal, e uma conquista por conquistar, e uma terra onde V. M. é nomeado, mas não obedecido”.

1666-1667, segunda leva por gente do Faial, terão transitado para ali 50 casais da ilha do Faial, que se estabeleceram no Pará. Comenta Rodrigues (2015)

[...] mesmo com a chegada de novos povoadores oriundos das ilhas, por meados do século XVII existiam apenas nove povoações portuguesas na região, com menos de 3.000 moradores brancos e, em 1663, o procurador do Estado do Maranhão, Manuel da Vide Souto Maior, afirmava que o número de moradores naquele território era de 700, uma cifra que incluía somente a população adulta e masculina. Por esse motivo, e face à apetência das nações rivais pelas riquezas das terras do Maranhão, Paulo da Silva Nunes, representante dos moradores, defendia que, para a defesa daquele Estado, eram necessários “muitos mil moradores brancos” e que a solução estaria em povoar o Estado do Maranhão com casais da Madeira, determinando a coroa que “em cada anno, sem duvida alguma, se lhe remetão sincoenta cazaes de moradores das ditas ilhas ou de outras

partes, quando naquellas já os não haja”. [...] No Pará, o cenário era ainda pior: uma carta do governador do Estado informava, em 1674, que o número de moradores não excedia os duzentos casais e que as três companhias pagas aí existentes não atingiam os sessenta homens. Face a este panorama, o Conselho Ultramarino emitiu um parecer sublinhando o “quanto convinha, que V. A. mandasse cazais das Ilhas, para povoarem aquella Conquista”.

Devido às erupções que atingiram a Ilha de Faial, a 22 de dezembro de 1672, os oficiais da câmara da vila da Horta escreveram ao Infante D. Pedro, então curador do rei e governador dos reinos, solicitando que os moradores das freguesias do Capelo e da Praia, no norte da ilha, passassem ao Maranhão, devido à sua muita pobreza. Assim, a 7 de outubro de 1673, a questão foi abordada em consulta do Conselho Ultramarino e, a 28 de novembro, este órgão examinou a proposta de João Pereira Seixas de levar para o Maranhão os casais da ilha do Faial a bordo da sua fragata, assunto que foi retomado em consulta de 13 de Janeiro de 1674

Em consulta do Conselho Ultramarino é especialmente útil para a análise do mecanismo de transporte dos casais até terras sul-americanas na medida em que nos permite conhecer a relação de custos apresentada por João Pereira Seixas: os casais (marido e mulher), em idade útil e com filhos, num total de 400 praças, implicariam um investimento de 1.600.000 réis, ou seja, 4.000 réis por casal; a roupa, 400.000 réis; as ferramentas e as armas, outros 400.000 réis; e o fretamento do navio, 600.000 réis. (RODRIGUES, 2015) Desconhece-se se este transporte de casais teve lugar, informa Rodrigues, 2015.

O capitão-mor da ilha do Faial, Jorge Goulart Pimentel, tinha já prontos 100 casais que deveriam seguir no ano seguinte para o Brasil·. Exigia-se, então, que os casais fossem compostos

“dos homens mais idôneos para o trabalho, cujas mulheres sejam capazes de propagação e tenham mais filhos para se formar uma nova povoação; para cujo effeito ordenareis sejam de todos os officios: lavradores, pedreiros, carpinteiros, e ferreiros, serralheiros, sapateiros e alfaiates”.

A 18 de Agosto de 1675 partia daquela ilha a fragata Nossa Senhora da Palma e São Rafael com 50 casais faialenses (234 pessoas), tendo por destino o Pará. O capitão-mor Jorge Goulart Pimentel dava ainda conta de “que os outros cincoenta cazais ficarão promptos, e muytos delles, por pobres, em cazas suas, sustentandoos à sua custa; e que alem destes 50 que estão promptos, se podem tirar daquella Ilha, e da do Pico (de que he Governador) cem cazais mais, sem todos estes fazerem falta”.

Em todo este processo, Jorge Goulart Pimentel contou com as prestimosas colaborações do provedor da Fazenda Real nos Açores, Agostinho Borges de Sousa, e do almoxarife do Faial, Jorge Furtado de Arês, motivo pelo qual seriam elogiados pelo Conselho Ultramarino, que, em consulta de 20 de outubro de 1675, sugeriu ao príncipe regente que a todos agradecesse .

Na charrua Nossa Senhora da Penha de França e São Francisco Xavier, propriedade de Francisco da Costa, da ilha Terceira, partia , em 1677, a segunda leva de colonos para o mesmo porto (Pará), num total de 50 homens, 47 mulheres e 126 “pessoas de família”, com uma ajuda de custo de 8.000 réis para cada casal e levando em sua companhia, por vontade do governador, o padre Carlos de Andrade. Nesse mesmo ano, encontravam-se também a aguardar transporte 200 casais de gente da ilha Graciosa, que “hera muyto pobre faltos de todo necessario”.

Para o período 1665-1706, Rafael Chambouleyron (2008) identificou cerca de 90 sesmarias concedidas pelos governadores e na sua maioria, confirmadas pelos monarcas portugueses, o que revela “uma lógica particular de ocupação do território pela agricultura, a partir do sistema fluvial composto pelos rios Acará, Moju, Capim e Guamá, na capitania do Pará; e principalmente na ilha de São Luís e na fronteira oriental da capitania do Maranhão”

Cordeiro e Madeira (2003) registram o sucesso desses colonos: Independentemente do sucesso, ou não, destas movimentações, já havia, pelo menos na década de 1670, no Maranhão, açorianos que tinham arrecadado uma fortuna considerável. Numa dessas levas, provavelmente das primeiras décadas de seiscentos, terão chegado os irmãos Pereira de Lemos – Bartolomeu, António e Catarina –, filhos de João Pereira de Lemos e Isidra Gonçalves

Vilalobos, naturais da freguesia de N. Senhora do Rosário (Topo), da ilha de S. Jorge. No testamento do primeiro, Bartolomeu Lemos, solteiro, realizado em São Luís do Maranhão, em 29 de Julho de 1676, é perceptível que tinha acumulado fortuna, constituída por terras, casas, escravos, engenhos de açúcar, gado e dinheiro. O numerário provinha, sobretudo, de actividades comerciais que mantinha, inclusivamente com a ilha Terceira, para onde enviava essencialmente açúcar. Encontrava-se perfeitamente integrado na sociedade de São Luís do Maranhão, sendo membro de várias irmandades, destacando-se, por exemplo, a Santa Casa da Misericórdia, de que tinha sido provedor. O irmão, António Pereira de Lemos, também solteiro, de posses um pouco mais modestas, pelo que se pode perceber do seu testamento, efectuado em 21 de Agosto de 1679, foi criador de gado e proprietário de algumas fazendas. Também foi irmão da Santa Casa da Misericórdia de São Luís do Maranhão

O recurso aos casais das ilhas foi interrompido no final da década de 1670, apesar de todos os obstáculos, uma dinâmica de ocupação e exploração do solo amazónico continuou a manifestar-se na viragem para o século XVIII, embora o fluxo emigratório açoriano foi mais contido na primeira metade do século. A promulgação da lei de 20 de março de 1730, com aplicação nas ilhas, constituiu forte entrave à livre circulação de pessoas entre o Reino e o Brasil, ao exigir uma justificação documental a todos os que para ali pretendessem deslocarse.Ao longo da primeira metade de Setecentos a Coroa continuou, contraditoriamente, a apoiar e a promover a saída de casais ilhéus. Interessava, sobretudo, povoar, explorar e defender as regiões fronteiriças do Sul –Sacramento, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – e do Norte – Maranhão e Pará. CORDEIRO E MADEIRA, 2003).

Em 1747, alguns dos casais matriculados foram encaminhados para o Pará e Maranhão. E em 1751, encontravam-se alguns casais “que se tinhão alistado para irem para o estado do Pará e Maranhão”. As Instruções régias, de maio, para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que foi desempenhar o cargo de Governador e Capitão General do Estado do Grão Pará e Maranhão, davam conta da necessidade de se proceder, com a maior brevidade, à instalação daqueles casais. Em correspondência para seu irmão, Sebastião José de Carvalho e Melo, Mendonça Furtado afirma:

“achei já o navio do transporte dos casais das Ilhas dos Açores, que tinha chegado a êste porto em 29 de agôsto [de 1751], e entregou 486 pessoas [86 casais], não lhe morrendo na viagem mais do que quatro, porém, nas que trouxe da Ilha Terceira vieram alguns velhos e muitas crianças”. Referindo-se aos povoadores, o Governador queixava-se: “não têm servido até o presente mais que de uma desordem contínua, e perturbação de esta terra”.

Ainda assim, em janeiro, esses povoadores seriam instalados na nova povoação de São José do Macapá e o Governador aguardava a chegada de outro navio das ilhas. Em novembro, chegaram mais 430 pessoas das ilhas. Segundo Francisco Xavier de Mendonça Furtado, estes ilhéus participaram na colonização das vilas de Bragança e de Ourém, nas “margens dos rios Guaçu e Caeté”

Em1753,JoséRodriguesEsteveseBentoJosé,propõem-searremataràcoroaotransportedegentedosAçores para o Brasil. Como muitos casais haviam desistido de partir, os armadores apresentam uma proposta para os substituirpelo transportede900soldadosaçorianos paraoPará. 1754,setembro,outronavio com casais ilhéus naufragou já com o Pará à vista. Transportava 74 pessoas, das quais 38 acabaram por perecer 1758, a lei de 4 de julho é peremptória em limitar a emigração, sob o argumento da insuficiência de mão-deobra para assegurar o normalidade da vivência insular

Judith Bogéa Bittencourt (2019), em correspondência pessoal, informa-nos, sobre os acontecimentos posteriores, já no século XIX:

[...] a vinda dos açorianos para a fazenda onde hoje está estabelecido o Povoado Colônia, em Mirinzal.

O Quilombo do Frechal em Guimarães, MA também pertenceu a Torquato Coelho de Souza, filho do colonizador açoriano Manoel Coelho de Souza como cita Souza Neto, 1976 depois foi propriedade por herança de família do Dr. Hugo Napoleão Coelho de Souza que foi Juiz em Vitória do Baixo Mearim e casou com Maria Raymunda Fernandes Bogéa (Bogéa Coelho de

Souza, após casada). [...] Em pesquisas no Observatório de 24.08.1854 n. 549, a matéria Advertência relata que vieram açorianos para a Villa S. João de Cururupu e para o Alto Itapecuru e Gurupi para empresas do português Sr. Antonio Corrêa de Mendonça Bittencourt, esse empreendimento que buscava integrar pessoas da região e os açorianos não foi avante porém a proposta do Bittencourt além de pretender unificar portugueses e brasileiros dessa região almejava através de trabalhos diversificados contribuir para o desenvolvimento do Litoral Ocidental do Maranhão que na minha percepção poderia replicar sua ação a vizinha Baixada Maranhense e seus municípios lindeiros a esse setor do litoral maranhense. A saga desse português está sendo descrita pelo historiador Eulálio Leandro que esteve presente no recente Congresso dos 400 anos da vinda dos açorianos para o Maranhão.

Refere-se à Colônia Santa Izabel, assentada em Guimarães – (hoje, Mirinzal), mais duradoura, mesmo com a troca de direção devido à morte do coronel Torquato Coelho de Souza, seu fundador.

Ainda em 1861 o presidente de província noticiava que esta continuava a “florescer”. Apesar de o contrato ter sido assinado em abril de 1852, os colonos só se mudaram para as terras destinadas á colônia em dezembro de 1853, com 51 portugueses, mas o relatório de presidente de província de 1853 contava 48 indivíduos, devido à morte de uma mulher e dois recém-nascidos. Em outubro deste ano chegavam mais 11, aproximando se dos 80 que foram prometidos. Entre os 59 que iniciaram Santa Izabel, 40 eram homens e 19 eram mulheres, sendo entre eles 16 menores de ambos os sexos.

O mais antigo registro da área datada de 1792, quando por sesmaria foi concedido um quinhão ao português Manoel Coelho de Souza, havendo de tornar-se uma das mais prósperas lavouras de cana-de-açúcar' e algodão da freguesia de Guimarães, a quem a região pertencia geográfica e politicamente. José Coelho de Souza e Torquato Coelho deSouzaderam continuidadeaoflorescimento dessaprodução,entretantoem 1925ocorreria umfatoinusitado.O últimoherdeirodetalfamília,ArturCoelho deSouza, tendocontraídoumagrandedívida, hipotecou as Terras de Frechal. Conscientes das dificuldades, os negros trabalharam arduamente e, com uma só safra da lavoura de algodão, conseguiram saldar a dívida. Agradecido, o fazendeiro deixou em testamento parte das terras de Frechal aos negros.

CAMINHO DA ESCOLA

ZECA TOCANTINS

OUTRAS INSTITUIÇÕES LITERÁRIAS/CULTURAIS

Menino rude, tempos difíceis, levava um tamborete na cabeça para receber as primeiras aulas, dona Zezé se esforçava para colocar algum conhecimento na minha cabeça, para ajudar tinha uma palmatória, instrumento que aterrorizava a meninada e mantinha a disciplina.

Cada etapa vencida me botava de cara com novas dificuldades, fiz o primário bolando de escola em escola, cheguei o ginásio na hora errada. Era o tempo da minissaia, adolescente, pra todo lado que olhava tinha uma calcinha me olhando. A professora insistia numa resposta convincente, eu respondia asneiras, minha mente insistia em decorar os detalhes de cada peça íntima. Não cabia conhecimento, a cabeça estava lotada, tinha pendurado todas aquelas especiarias no varal do pensamento.

Era um ambiente desfavorável para quem desejava adquirir conhecimento, com muito esforço saí do vermelho. Misturando estudo com trabalho cheguei a universidade onde concluí o curso de pedagogia. O meu trabalho com a cultura sempre foi professoral, tanto que é comum me chamarem de professor. Creio no ensino principalmente associado aos valores da cultura.

De cima desse meu diploma vejo o quanto a distância se estendeu e quanto ainda é preciso caminhar. Somente àqueles que se amaram de coragem para subir a montanha, tiveram o privilégio de desfrutar da

beleza da paisagem. Z T.

EU E OS FESTIVAIS

Quando me perguntam quantos festivais eu ganhei, respondo que todos. Estive do Amazonas a São Paulo, passando evidentemente por vários estados e minha música esteve por todo país cantada por vários artistas.

Nunca integrei o grupo dos "festivaleiros", pessoas que vivem do resultado financeiro dos festivais, ganho quando assisto, quando crio amizades e quando projeto minha música, e todo prêmio é sempre bemvindo.

Foram os festivais que me permitiram andar por esse Brasil e ser bem recebido na casa dos amigos, esse prêmio tem valor incalculável. Bem-vindos ao Festival de Música de Imperatriz, no mínimo, você vai ter uma boa história pra contar. Z T.

A CIÊNCIA DA CULTURA

Considero a Educação o primo rico da Cultura, claro que ela enfrenta vários desafios, principalmente com a invasão política, ela acaba sendo o braço direito do poder. O professor se revolta pelo baixo salário não pelo o que ele ensina. Mas ela dá as cartas e tem sua importância na construção social e, poderia ser muito útil fortalecendo os fazedores culturais. Não o faz. Prefere flertar com os políticos, de preferência os que estão no poder.

Já o primo pobre que é a cultura, foi totalmente marginalizado e não tem a menor importância na construção social. Os setores, ou seja, secretarias, fundações, departamentos, são entregues aos cabos eleitorais, amigos dos gestores. Não há resistência dos fazedores culturais que passaram achar normal, de tanto não ver resultados que pudessem influenciar os seus destinos.

A imprensa que tinha um papel relevante no debate político virou assessoria, pagou, ela fala bem. Os sindicatos ou órgãos afins, viraram escada para os interessados na carreira política. Enfim, de repente estes órgãos foram invadidos, até mesmo as igrejas foram alcançadas pelo vírus pernicioso dos partidos. No dizer popular: "tá todo mundo puxando a brasa pra sua sardinha". Esse interesse pessoal desqualhificou o coletivo.

Acontece que a sociedade é um corpo onde cada órgão precisa cumprir sua função, o coração não funciona como pulmão, cada qual tem sua importância, mas são funções diferentes. Não peça para seus pés respirarem.

Só vamos encontrar uma sociedade dinâmica, funcional, quando todas as instituições estiverem cumprindo o seu papel. Aí descobriremos a importância de cada uma e que nenhuma é mais importante que a outra. A Cultura como Ciência é o elo que liga os diferentes setores da sociedade, que nos liga ao nosso próprio espaço. Tornando-nos autor e personagem de nossa própria história, senhores de nosso lugar. E nosso lugar é onde estamos e contribuímos com seu desenvolvimento, com sua prosperidade. O nosso mundo é aquele que podemos alcançar, que podemos tocar e torná-lo mais humano.

A música, a literatura, são teares importantes dessa construção, mas o bom dia, o sino da igreja e o recital na Escola também estão incluídos. Somos todos operários dessa construção, onde o engenheiro tem consciência que sem a força do braço do servente jamais alcançará seu objetivo. Essa história do poeta andar com a cara pra cima, perdido nas drogas, isso é coisa contada pelo nosso primo rico. A verdade é que o poeta prefere viver desempregado que ensinar mentiras que o patrão mandou. Z T.

MARANHÃO, PIOR IDH DO PAÍS

Num tempo nem tão distante assim, quando a seca flagelava o nordestino, ele erguia a cabeça, fazia uma oração e pedia a seu santo de devoção que lhe ajudasse na escolha entre São Paulo ou Maranhão. Era as duas tábuas de salvação que se apresentavam naquele momento de tanta angústia, onde os bens materiais ruíram e o amor à terra natal também se partiu.

Era juntar o pouco que tinha e escolher uma direção, seja de pau de arara ou mesmo de precata feita de couro de boi. Aqueles retirantes eram socorridos pela bondade das pessoas encontradas pela estrada, muitas delas pobres que nem eles, mas não se negavam a dividir o pouco que tinham. Foi assim que muitos deles chegaram ao Maranhão, terra abençoada pelas chuvas.

Ver o nosso Estado desfilando em último lugar no IDH da Federação parte o coração de qualquer cristão. Por aqui passaram políticos de direita e de esquerda e que nada fizeram, a não ser usar a pobreza como escada de seus interesses, alguns viraram autoridades nacionais, mesmo assim não souberam ser gratos.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano é órgão responsável pela divulgação destes dados, que são adquiridos a partir das soma de três indicadores: Saúde - medida pela taxa de expectativa de vida das pessoas. Educação - calculada pela quantidade média de anos de estudo de uma população e Renda - baseada no valor médio do rendimento das pessoas e família. Pois bem, a soma destes ítens colocaram o Maranhão no último lugar da Federação.

Esse resultado nos mostra muita coisa, mas sobretudo a maneira desastrosa como este Estado vem sendo conduzido. Já fomos igualados a São Paulo quando da busca por melhores condições de vida, e muitos nordestinos optaram pelo Maranhão e aqui encontraram terra fértil e fizeram dessa fertilidade suas riquezas. Os verdes campos eram convites para criação de gado a Belém -Brasilia anunciava um novo tempo, a prosperidade nos visitava, Imperatriz se apresentava como a cidade dos sonhos.

Com toda essa oferta, era de nossa obrigação está entre os primeiros, mas não, somos os últimos e parece que isso não significa nada, os políticos continuam sufando nos seus discursos de grandes realizações, quando a realidade mostra o contrário. Z T

Afirma Sérgio Macedo; começava na casa de seu Natanael topógrafo e terminava segundo Domingos Cézar na casa de seu Crisanto, embora Jeová, filho do velho Alfredo um dos moradores mais antigos da rua garanta que começava na casa de seu Gabriel Pereira, vizinho de Odilon Barata e se estendia até a casa do senhor Sebastião Fateiro. Certo mesmo é que ela cabia confortavelmente em quatro quarteirões e nem era bem uma rua, era um caminho pontilhado de casinhas pobres que levava à Quinta de Ouro, à Quinta de seu Coló e tantas outras Quintas que depois viraram área urbana da cidade.

Com o tempo as casas foram se juntando, algumas até trocaram as palhas por Adobes crus para orgulho de seus moradores. No verão a areia acumulada na rua infernizava a vida dos jumentos que passavam vindos das olarias carregados de tijolos. No inverno as chuvas torrenciais ameaçavam botar tudo abaixo e arrastar na enxurrada. O fio parecia ignorar essas agruras e partia atravessando vales e matas virgens dos sertões maranhenses com seu ar de urbanidade.

Uma fileira de postes de madeira exibia o fio que dava nome a rua, mas aquele não era um fio qualquer, era o fio de telégrafo que ligava Imperatriz a São Luís. Uma demonstração que a cidade tinha vencido os longos anos de abandono, agora podia contar com a sua Capital. Sua relação até ali se dava de forma mais próxima com Belém, capital do Pará.

Aquele fio era a trombeta anunciando o novo tempo, enquanto operários rasgavam as matas para construírem a Belém-Brasília, a cidade via surgir da noite para o dia, bairros inteiros. Gente vinda de todas as partes do Brasil encontrou aqui o local adequado para realização de seus sonhos. A rua não é mais do fio, hoje ostenta o pomposo nome do imperador D. Pedro II, mas aquele fio cumpriu a missão de anunciar nossa cidade ao mundo. Z T.

MATAS DO PARÁ

Depois de Marabá, na direção de Parauapebas, um pouco mais de trinta quilômetros encontramos o pequeno povoado de Sororó, ali pegamos uma estrada vicinal que fica à direita. Há dezoito quilômetros chegamos na fazenda Flor de Abacaxi, um pouco mais chegamos a nosso destino, Sítio Cristo Voltará.

Meu compadreDelvan,seduzido porminha comadre Iraciane entranomercadode vendas depoupas defrutas, daí a busca de frutos de qualidade e preços compatíveis. Eis portanto o motivo de nossa viagem: encontrar os melhores açaís que brotam nativos nas matas do Pará, quase sempre em terras embrejadas.

Do alto dos açaízeiros seu Dourival, um artista de setenta anos exibe suas acrobacias, salta de uma árvore a outra com agilidade de um gato, destreza atlética, desce com três cachos de açaís escanchados nas cochas, numa rapidez impressionante.

Lava-se os frutos, depois deixa-se descansar na água morna, aí vem a batição na despoupadeira, tudo feito com muita disposição e muita alegria. Chega a noite continua a peleja, a mesma disposição, mesma alegria. O banho, a refeição, uma prosa e um sono rejuvenescedor abraça o cansaço num sonho bom. Madrugada, é hora da ordenha, mesma disposição, mesma labuta.

Esse é meu Brasil descente, de pessoas guerreiras, trabalhadoras, amigas, que fazem de suas labutas motivos de alegria. Que acreditam em Deus, na honestidade, que vêem o suor de seus rostos transformados em bênçãos do céu, no arrebentar das sementes e na colheita dos frutos, mesa farta pros seus e pra quem os visita. Z T.

UM SÉCULO DE EXISTÊNCIA

No dia 22 de Abril de 2024, a cidade de Imperatriz completará cem anos de emancipação. Na verdade, até hoje comemora-se a fundação da Colônia Militar de Santa Tereza do Tocantins, que aconteceu com a chegada no dia 16 de Julho de 1852 do Frei Manuel Procópio do Coração de Maria. Ele recebeu está incumbência das

mãos do então governador do Pará, a colônia teria a importante missão de apoiar os navegantes que subiam o rio Tocantins, única estrada disponível naquele tempo.

O Frei atravessou a fronteira dos estados e acabou fundando a Colônia em terras maranhenses, esse erro teria sido suficiente para o desastre da missão, visto que os governos deste Estado viviam de costas aos sertões, em virtude da capital está sediada no litoral e todo comércio era praticado pelo mar. Os sertões não conheciam estradas, a não ser aquelas feitas pelos cascos dos animais tangidos por tropeiros, entre o perigo das matas e a presença de índios.

Apesar do descaso, a Vila resistiu, foi muito importante a decisão do Frei em ficar por aqui, ajudando a organizar os primeiros moradores e a colonizar os aborígenes que habitavam a região. Ainda assim, foi preciso setenta e dois anos para conseguirem a emancipação, quando o povoado recebeu de fato sua Certidão de Nascimento como cidade. O acontecimento se deu através da Lei número 1. 179 decretada pelo governador Godofredo Viana.

Mesmo com o Certidão a cidade não recebeu a atenção necessária para seu desenvolvimento e, graças a luta dos bravos pioneiros, Imperatriz foi se destacando na região como cidade de oportunidades e agricultura produtiva. Até a proclamação da república ela era comandada pelo presidente da câmara e seu primeiro prefeito eleito foi Amaro Batista Bandeira.

Espera-se que nas festividades do século emancipativo, a Câmara Municipal reconheça a luta dos primeiros Vereadores, outorgando a seus descendentes este reconhecimento, para que os jovens conheçam a história daqueles homens valiosos que ajudaram a fazer de Imperatriz uma grande cidade. Z T.

NASCEU A PANELADA

Seu Acrisio já foiapessoamais esperada nahoradoalmoçonaminha Imperatriz,claroque a cidade eramenor e todo mundo se conhecia. Ele morava na rua Souza Lima, vizinho de seu Olívio pai de Lambau.

. É preciso apertar o zoom da memória para chegar até esse tempo. Era menino, minha mãe cozinhava arroz, feijão e ficava esperando seu Acrisio. De longe se via as panelas brilhando, era tudo muito bem ariado. Tinha outras iguarias, mas a vedete era a panelada. Quando levantava o texto o cheiro invadia a rua, as famílias compravam porções para complementar com o que já estava feito.

Ele saía empurrando seu carrinho pela rua, a meninada de água na boca. Era um adversário imbatível, sua panelada não tinha comparação. Os concorrentes tiveram muitas dificuldades para atingir aquela qualidade e se manterem no mercado. Foi graças a esse homem que a nossa iguaria se ergueu aos olhos do mundo e se transformou na mais saborosa de todas as outras.

Tudo tem seu nascimento, foi assim que nasceu o nosso patrimônio mais querido. Já lhe experimentei em diversas regiões, nenhuma pode ser comparada com a nossa. Todas daqui, tem o tempero e as mãos zelosas daquele que andava pelas ruas da cidade, vendendo a comida que se tornou a nossa mais rica iguaria. Z T.

NOTA: A Panelada é um prato tradicional do Maranhão, com raízes na culinária africana. Originalmente consumido pelos escravos na região, o prato evoluiu ao longo dos anos e se tornou uma iguaria popular no estado1 .

A Panelada é um cozido feito principalmente com vísceras de boi, como bucho e tripas, além de outros ingredientes como toucinho, linguiça e chouriço. O prato é temperado com uma variedade de especiarias, conferindo um sabor forte e marcante23 .

A origem da Panelada é um tema interessante e um pouco controverso. Existem duas principais teorias sobre sua origem:

1. Origem Portuguesa: Alguns historiadores acreditam que a Panelada tem raízes em Portugal, onde existe um prato semelhante chamado "Tripas à Moda do Porto"12

2. Origem Nordestina: Outros defendem que a Panelada é um prato genuinamente nordestino, com registros de consumo desde o século XV em vários estados do Nordeste brasileiro, especialmente no Ceará e no Maranhão123 .

Independentemente de sua origem exata, a Panelada se tornou um ícone da culinária nordestina e é especialmente apreciada no Maranhão. É um prato que reflete a rica história e a diversidade cultural da região.

Ingredientes Principais:

• Vísceras de boi: Bucho, tripas, e às vezes outras partes como o mocotó.

• Carnes adicionais: Toucinho, linguiça e chouriço.

• Temperos: Alho, cebola, pimenta, cheiro-verde, e outras especiarias que variam conforme a receita.

Modo de Preparo:

1. Limpeza: As vísceras são bem limpas e fervidas para retirar qualquer impureza.

2. Cozimento: Depois de limpas, são cozidas lentamente com os temperos e as carnes adicionais até ficarem macias.

3. Finalização: O prato é finalizado com cheiro-verde e outros temperos a gosto.

Acompanhamentos:

A Panelada é geralmente servida com arroz branco, farinha d’água e, às vezes, com pimenta de cheiro para dar um toque extra de sabor.

Curiosidade:

A Panelada é um prato muito nutritivo e era tradicionalmente consumido como uma refeição reforçada, especialmente em dias de trabalho pesado.

Se você tiver a oportunidade, vale a pena experimentar! E se você gosta de pratos com sabores intensos e ricos, provavelmente vai adorar.

O Maranhão tem uma culinária rica e diversificada, com influências indígenas, africanas e portuguesas. Aqui estão alguns pratos típicos que você pode gostar de experimentar:

1. Arroz de Cuxá

Um dos pratos mais emblemáticos do Maranhão, feito com arroz e um molho à base de vinagreira, camarão seco, gergelim e farinha de mandioca1 .

2. Peixada Maranhense

Um cozido de peixe com legumes, temperado com ervas e especiarias locais. É geralmente servido com arroz branco2

3. Torta de Camarão

Uma torta salgada recheada com camarão, leite de coco e temperos variados. É uma delícia e muito popular em festas e eventos2

4. Carne de Sol com Macaxeira

Carne de sol (carne seca) servida com macaxeira (mandioca) cozida ou frita. É um prato simples, mas muito saboroso1

5. Cuxá

Um molho típico feito com vinagreira, camarão seco, gergelim e farinha de mandioca. É usado como acompanhamento para diversos pratos, especialmente o arroz2 .

6. Caldeirada de Camarão

Um ensopado de camarão com leite de coco, temperos e ervas. É um prato muito saboroso e aromático3 .

7. Caranguejada

Caranguejos cozidos em um caldo temperado com ervas e especiarias. É um prato que exige um pouco de habilidade para comer, mas vale a pena2 .

8. Sururu ao Leite de Coco

Sururu (um tipo de molusco) cozido com leite de coco e temperos. É um prato típico das regiões costeiras2

Esses são apenas alguns exemplos da rica gastronomia maranhense. Cada prato tem sua própria história e sabor único. Se tiver a oportunidade, experimente alguns desses pratos e descubra as delícias do Maranhão!

setembro 23, 2024 por A PENA DO PAVÃO, publicado em Crônicas, Jurídico, Opinião, Política

Ano 12 – Vol. 09 – N. 52/2024

“Neste país, nem mesmo uma folha se move sem que seja a vontade de Pinochet” –

A Dura Vida Dos Ditadores – Fatos, crimes e segredos dos tiranos mais perversos da história. São Paulo: Faro Editorial, 2023.

Foi atribuída ao ex-presidente José Sarney (não posso assegurar) ter reagido às peripécias de um certo político jovem com bom humor: “Ele insiste em prolongar a adolescência”. Verdadeira ou não a afirmação, é útil para identificar uma das piores fases da história republicana deste país.

Homens e instituições nunca foram tão caricatos (ou seria tragicômicos?!), num processo acentuado de desprestígio interno e internacional. A contragosto estamos todos condenados a ficarmos de joelhos. Mas nós (We The People) não somos os adolescentes dessa quadra.

É fato que a adolescência é das fases mais difíceis de formação do homem. Muitas vezes nosso bom humor (ou ironia) nos faz batizá-la de “aborrecência”. As incertezas, a insegurança e, algumas vezes, a birra produzem seres que não conseguem simplesmente amadurecer.

Hoje há diagnósticos de todo tipo, mas a fase apenas pode mudar de grau e intensidade, porque todos fomos um dia adolescentes. Só que há os que insistem em estacionar nessa fase da vida e se agarram a mágoas passadas como se punissem, com suas doentias práticas, um passado mal resolvido com os seus. Esses são os verdadeiros “aborrecentes”.

“Nunca antes na história deste país” se assistiu a tantos atropelos institucionais que são protagonizados por dois dos homens mais omissos que a história desta república produziu. Refiro-me aos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Muito do que hoje ocorre de protagonismo e voluntarismos deletérios é obra dessas duas criaturas. Por conveniência, omissão e até prevaricação, este país mergulha em um cenário de absoluto abandono dos valores éticos e morais mínimos.

O Brasil só nominalmente possui uma Constituição que apropriadamente pode ser identificada como sendo o conjunto de folhas de papel reunidas, com uma série numeral de artigos, obedecendo apenas à composição orgânica formal. Ambos, como toda a qualquer autoridade constituída deste país, juraram cumprir o documento fundamental, mas, na prática, desobedecem e o transformam em frangalhos cotidianamente.

Imagino a cara de Ferdinand Lassalle (1825-1864) ao ver concretizada sua proposição de Constituição em sentido sociológico. Talvez se orgulhasse, mas, contraditoriamente, se espantasse, ao constatar que na sua concepção proposta ao menos se fala em reunião de fatores reais do poder expressos num documento formal; quando não se concretizassem na prática nada teríamos além de uma folha de papel.

No Brasil, hoje, o papel higiênico tem serventia, conquanto não sirva (permita-me o leitor) para limpar as cagadas vindas de Brasília. É muita merda!

Há um visível atropelo de competências que fazem do Congresso Nacional um circo para cujo espetáculo se cobram ingressos caros, com a clara conclusão de que ao final do espetáculo os palhaços são os contribuintes. No cenário o Executivo se perde entre acusar o governo passado pelos incêndios que ocorrem hoje, enquanto o país mergulha no inferno de devastação de escândalos sexuais por quem deveria dar o exemplo defendendo a integridade do ser humano. Aí é quando o espetáculo passa a se transformar em uma esbórnia de deixar Calígula de queixo caído.

Mas não haveria espetáculo se não houvesse quem deseja controlar a bilheteria. E é aí que o Judiciário entra, (ressalvada as exceções) como se fosse o proprietário do circo, impondo regras que não lhe são de poder próprio, costurando soluções que desafiam Direito, lógica e bom senso, posto sobreporem-se à folha de papel, tornando-a apenas expressão de delírios e aventuras. É o Ilusionismo Constitucional sobre o qual recentemente falei em evento promovido pela Universidade de Salamanca.

Adolescentes não são mais, embora permaneçam com suas temerárias práticas juvenis revestidas de critérios que mais parecem um exercício teratológico com pitadas de aparente tautologismo.

Conseguiram destruir a base orgânica deste país. Institucionalmente o Brasil está deformado pelas aventuras pessoais e mal concebidas prospecções jurídicas, acalentadas por excesso de judicialização e omissões legislativas, quando não decorrentes de criativismo judicial impróprio, com a cumplicidade de um Executivo que não consegue conviver com o jogo da democracia representativa, se não quando posto em prática o velho toma lá dá cá.

Ontem tivemos a constatação de que o Brasil foi publicamente elevado à condição internacional de pária. A voz rouca que falava como se estivesse no século que passou tornou-se irrelevante ao mundo quando os microfones foram encerrados. Uma vergonha épica.

Quem pode parar tudo isto? Bom, não preciso dizer, todos sabem. A questão que se põe no cotidiano é: Hoje tem espetáculo? Bom, nunca a expressão “ver o circo pegar fogo” foi tão apropriada.

O Brasil é um circo em chamas. Salve-se quem puder.

Mural das Minas, uma obra literária para posteridade lançada no MA

As escritoras Dilercy Adler Elany Morais, Anna Liz, Aline Piauilino, Conceição Formiga, fazem parte desta Antologia importante para o acervo literário brasileiro e maranhense

Por: Alberto Pessoa (novaimagemrevista.com.br)

A Antologia literária feminina maranhense Mural das Minas (2024), foi referenciada mais um vez pela sua grandeza e significância. No último dia 17 de setembro o lançamento da obra ocorreu na Associação Maranhense de Escritores Independentes (AMEI).

A obra reúne cinquenta escritoras contemporâneas que nasceram ou foram radicadas no Estado do Maranhão.

O livro foi lançado inicialmente na sede da Academia Imperatrizense de Letras (AIL), no dia 30 de agosto.

O projeto Mural das Minas, que foi idealizado pelos escritores Marcos Fábio Belo Matos (membro da Academia Imperatrizense de Letras) e José Neres (membro das Academias Maranhense e Ludovicense de Letras), surgiu em fevereiro de 2022, durante a pandemia da Covid-19, com o objetivo de difundir a literatura maranhense contemporânea escrita por mulheres.

Os cinquenta perfis de escritoras (contendo as suas respectivas biografias e textos literários), foram publicados simultaneamente no site: Notícias da Região Tocantina e na página da AIL no jornal O Progresso.

A OBRA

A Antologia Mural das Minas (2024) é composta pelas seguintes escritoras: Adriana Moulin, Anna Liz, Aline Piauilino, Conceição Formiga, Cristina Galletti, Cristiane Magalhães, Dilercy Adler, Diva Lopes, Elany Morais, Eliane Morais, Eró Cunha, Graça Barros, Heloísa Sousa, Liratelma Cerqueira, Luana Gonçalves, Luiza Cantanhede, Maira Soares, Márcia Reis, Natércia Garrido, Regilane Macedo, Rilnete Melo, Samara Volponi, Sharlene Serra, Tereza Bom-Fim, Wanda Cunha, Andressa Picoli, Arlene Azevedo, Betânia Pereira, Dorlene Macedo, Edna Ventura, Elisa Lago, Eva Soares, Floriza Gomide, Gabriela Lages Veloso, Geane Fiddan, Helena Frenzel, Hyana Reis, Liduína Tavares, Linda Barros, Lindevania Martins, Maria das Neves, Maria Eliete, Maria Helena Ventura, Maria Natividade, Marina Goretz, Neusilene Carvalho, Rakel de Pinho, Samanta Matos, Socorro Borges e Lilia Diniz.

https://www.instagram.com/p/DAQnMuSRDmb/?igsh=czF0OGt4NGxwbGF1

Essa, em primeiríssima mão, é o texto vestibular do novo livro (e mais maduro) do poeta Mhario Lincoln: “O SEXTO SEXO”

Mhario Lincoln e sua obra inédita.

Raimundo Fontenele*

Como definir ou redefinir o poema e/ou o verso, quando sua estrutura e seu, por assim dizer, “fazimento” fogem àquilo que o nosso domesticável e domesticado olho clínico e crítico acostumou-se a considerar verso, poema, poesia?

Assim como a mudez da fala não exclui o pensamento e a ideia que existem por trás dela, dentro mesmo do silêncio de uma fala amordaçada por tibieza, medo de chocar os doutos e pensadores que, em determinado tempo e lugar, ocupando púlpitos e cátedras, detém a verdade absoluta sobre tudo aquilo que o nosso intelecto é capaz de criar e produzir, ou chutando o balde como disse Rimbaud com outras palavras, o “tal desregramento de todos os sentidos”, va bene, a verdadeira poesia foi, é e permanece uma das criações do espírito humano mais impossível de se definir, explicar-se por si mesma, porque sendo revelação é consequentemente mistério.

Outros pensadores-poetas, talvez mais argutos e menos distraídos que eu, encontraram chaves e abriram portas que os conduziram a posições privilegiadas no mundo da criação intelectual e poética. O que Goethe escreveu é fascinante: o seu Fausto desce às profundezas da alma humana em busca de riqueza, poder e glória, mas ao fim e ao cabo a única coisa que deseja é a salvação ou redenção espiritual. Na terra e no engendramento das construções materiais e científicas, dialéticas ou vocacionais, não há nada que torne o homem feliz, porque não há nobreza e nem beleza na grande maioria das coisas que a humanidade faz. Tudo peso morto, carta fora do baralho.

Amamos as metáforas, os símbolos, os mitos e os signos porque temos a vocação para o amor e porque não podemos viver desgarrados dos nossos semelhantes.

Emergir de um lago estagnado, cuja água ameaça tornar-se pântano, e voltar a fluir qual um manso rio ou mar bravio, é uma tarefa para poucos.

Mhario Lincoln enfrentou esse desafio, que era o de transformar-se de um jornalista competente em um intelectual e sobretudo um poeta de excelência. Certamente décadas e um amontoado indizível de livros e pensamentos foram consumidos dia após dia, noite após noite, ano após ano, numa luta que é mesmo insana e, em determinados momentos, quase doentia.

Seu senso de humor e de trabalho, sua sofreguidão em arrancar as inúmeras máscaras que lhe encobriam e escondiam a essência, feitas com o arcabouço social que é sempre uma prisão, uma trava na porta que não é aberta porque ela conduz à luz do entendimento mais claro e completo e muitos permanecem e querem que todos permaneçam na escuridão. Pois o poeta arranca essas máscaras e traz à tona aquele verso impulsivo, que nasce rompendo vísceras, aquele verso trabalhado lenta e pacientemente ao correr dos anos, com as ferramentas que a leitura e a meditação foram pavimentando nesse seu caminhar em direção às palavras mais puras e às letras que se transformam no verbo sagrado que chamamos poesia. É esse o Mhario poeta que neste seu livro expande palavras e metáforas para além dos limites do que é permitido, e rompe a casca e a carapaça que nos protegem do tabu do sexo, dos salamaleques sociais e da urgência de só dizer verdades que são só suas, detentoras de uma marca original, seus poemas que buscam a perfeição e a glória de haverem sido ditos mesmo que incomodem os bem pensantes da colméia social cujo mel é travoso e amargo. O poeta tem sensibilidade e sabe dizer que:

“Amores imaginários espalhados pela casa onde, antes, éramos duas nadilhas: síndrome de Alice, no País das Maravilhas. Éramos um, ou outro, aborígena,

com síndrome da mão alienígena!

Éramos dois e não éramos

nenhum, algum; todos por um ou imitando Ogum para disfarçar intimidade!

Éramos um em dois, para logo depois, viver uma nudez involutária de maníaco com 'toque', para no amanhecer, postar no TIK-TOK.”

Ilusões telúricas?

Neste poema NUDEX o poeta Mhario Lincoln faz uma espécie de desnudamento, com muito bom humor, de alguns símbolos e signos da cultura do nosso tempo. Leveza e fluidez nos convidam a refletir como tudo é a um só tempo múltiplo e uno. E que o sexo, muito bem disfarçado, faz um bem enorme a nós todos. Esta é uma boa porta de entrada para começarmos a entender a multiplicidade dos versos e complexidade da sua poética, pois engana-se quem vê nestes versos apenas a leveza a que me referi. “Éramos dois e / não éramos / nenhum, algum;” eis aqui uma sólida construção poética de quem atingiu, por intuição ou por malícia no trabalho, no estudo ou no pensar poeticamente, um lugar cativo e de honra nas letras maranhenses.

Mhario Lincoln saiu de sua pátria confortável para empreender as viagens de circunavegação em torno de si e do mundo que o cerca, qual um Ulisses ultrajado na sua honra, porque sabe que homens medíocres espreitam-no em todos os lugares em que esteja.

E o poeta navega, agora livre e liberto de amarras psicológias e morais; na companhia de Vasco da Gama ou de Cabral pode fazer o percurso das águas e das lágrimas, sabedor, como aqueles antigos navegantes, nossos antepassados em suas embarcações de ouro, que “navegar é preciso, viver não é preciso”. E abre, assim, as comportas do seu canto:

Caminho das Índias: como bandeiras desfraldadas, sem mastros.

Coquilhas e lingeries soltas na cabeça de meses na água, flutuando no chão de estrelas: uma compensação factual de quem sonhou ser Vasco da Gama para conquistar insígnias, ou Álvares Cabral trocando espelhos e, de soslaio, olhando todos as partes das índigenas, com pelos arrepiados pela ignorante curiosidade máscula.

..........

"

Terra à vista e poemas a bordo, eu os convido a fazerem comigo a leitura dos versos deste poeta maduro, seguro de si e da qualidade excepcional da sua poética.

“Olhos esbugalhados por insônia noite Vi, pasmo, a borboleta virar larva entre os veios láticos dos dentes do ventre Vontade intangível de te ter, como eu queria. Olhos famintos vejo o sol correr da noite levando o resto polifônico dos berros do chantre Minha marca ébria se desenrola do cetim.

Dor de ostra, para suprir o ego de ser pérola!" ..........

Ler e reler para buscar o entendimento mais preciso e precioso de quem aprendeu a jogar com as palavras, tingindo-as com as cores da emoção mais substantiva, e subvertendo tudo: verso, verbo, o próprio coito e a linguagem:

“Como são lindos os espamos da noite cíclica Na apoteose de balzaquianos afluentes.

"E Vênus com razão inveja o charme sáfico!" Era, eu, um homem com estupidezas penitentes, e a luz impenetrava no vértice de minha clausura.

"deixa o velho Platão franzir a testa austera" Insana, sob o túnel da saia de mármore: Ode a Eros e Afrodite, sobre a mesma textura:

"E o amor tanto rirá seja do Inferno ou Céu!

A que nos quer a lei dos justos ou injustos?".

Que se libertem gema e clara do mesmo ovo, tão reais como gozos estéticos de um crisântemo; irreais como a árvore-ovário, discricionária: pobre árvore!

........

"De seu corpo ela fez enfim, pasto supremo”.

Não sendo eu, nem o poeta Mhario Lincoln adeptos da verborragia oca de mensagem e de sentido, nos damos por satisfeitos quando encontramos leitores e criadores do nosso nível: homens simples, sem a pavonive dos que se crêem superiores, e é isto a felicidade suprema das pequenas coisas: ele, feliz por ter seu nome inscrito no Pantheon da Cultura Maranhense, ao lado de tantas ilustres figuras, Sotero, Nauro, Tribuzi. E eu, feliz por ter a grata surpresa de reencontrá-lo décadas e décadas depois daquela nossa vidinha na São Luís dos anos sessenta, vivendo na Curitiba onde já vivi, e de lá nutrindo o nosso mundo de uma belíssima e verdadeira poesia que é toda nossa fé e esperança. Vamos ler o Mhario?

“O COITO

O fracasso é insólito, a decadência espirra fezes por sobre o último pio do austero gavião, morto por ciúmes. Os 'bruguelos' sentirão falta das bicadas e as cobras deixarão de sonhar voando. Lívida vida (des)humana de caatingas em caatingas, até se ancorar

em um poste de cimento qualquer, nas esquinas escuras da noite pálida. Gaviões, 'bruguelos' e cobras se arrastam para distrair a solidão dos becos e a insalubridade de um coração que cospe, após virar latrina de 10 reais: e não beijar mais. Supre-se do nojento ósculo escarrado de um gavião qualquer, morto por ciúmes à beira das ruelas do xirizal.

Há coito que não cala, nem sangra mais…"

Esta é apenas uma pequena, mas expressiva amostra da poesia que lhes espera ao mergulharem na profundidade da poética contida neste seu livro O SEXTO SEXO. Vamos ler juntos? *Escritor maranhense

AUTOFICÇÃO:

ROGÉRIO HENRIQUE CASTRO ROCHA

Neologismo cunhado pelo escritor e professor francês Serge Dubrovsky, a autoficção é um dos temas em evidência no cenário acadêmico deste início de terceira década de século. Objeto de uma crescente demanda de estudos no plano das pesquisas crítico-literárias, essa nova categoria, como é comum a qualquer nova pauta, tem dado margem a posições contraditórias. Contudo, segue na agenda das discussões atuais, ganhando corpo em relação à propositura de novos olhares em torno de si e do seu gênero matriz (a ficção).

Com base nesse debate, e no caráter de novidade do tema, faz-se necessária a reflexão a respeito do seu foco e dos seus entornos, na perspectiva de jogar, ainda que em caráter introdutório, algumas outras luzes sobre o objeto analisado.

Nas palavras de Doubrovsky (2011, p. 25), “a autobiografia não é nem mais verdadeira nem menos fictícia que a autoficção. Por sua vez, a autoficção é finalmente a forma contemporânea da autobiografia”.

Fazer da vida e do ego matérias literárias numa forma híbrida de levar os problemas da existência a um suposto novo gênero é como pode-se definir a autoficção.

Traz-se, com isso, para o campo das letras, o universo nem sempre sólido da unidade identitária, do eu subscrito na pele da personagem (real) posta em close, com toda a fluidez de suas impermanências. Movimento que parece colar ao terreno da subjetividade outros rótulos, que retiram do narrador sua condição de eu uno, denso e estruturado, para, então, conduzi-lo ao descentramento. O descentramento, por sua parte, acaba por assumir um nível de plasticidade extremamente elevado, rompendo com algumas noções já consolidadas na forma de descrição do mundo pelas técnicas de escrita. Desse modo, supera-se o real pela via da ficção, mediante o acesso ao plano de uma subjetividade múltipla, promovendo-se um deslocamento que leva consigo os elementos acima citados (ego, vida, identidade, subjetividade, etc.), na medida em que escreve uma história da qual se é parte, simultaneamente, enquanto criador e criatura. História que, em teoria, trata de um si envolvido num processo onde move-se da vida ao texto e do texto à vida ali pressuposta.

Um dos exemplos da ficcionalização de si, frequentemente lembrado pelos pesquisadores, é a obra “O filho eterno”, do brasileiro Cristóvão Tezza.

Situado na zona limítrofe entre biografema e autoficção, o livro trabalha com a narrativa de eventos retirados da vida do autor, bem como com a problemática existencial vinculada a aspectos da saúde do filho dele e do impacto decorrente dessa situação.

Tezza opera, portanto, com o artifício da autoficcionalização, fazendo integrar ao texto ficcional elementos da realidade, numa história comovente, cheia de humanismo, mas que não corresponde necessariamente a tudo que ocorrera na biografia do escritor depois do nascimento do ‘filho eterno’.

Vê-se, assim, que há muito de memória em jogo, do contar-se um conto a partir das vivências, das dores, do sofrimento, do bom e do ruim de um estar no mundo, mas também do dizer-se o não dito do que não fora visto ou vivido. Aquela linha inventiva alargada e aceitável do espírito criativo, com a presença necessária de um acabamento proporcionado pelas técnicas narrativas de expressão da subjetividade.

No jogo de entrelaçamentos proposto pela autoficção há um acúmulo de camadas que leva à fusão entre as identidades do narrador, personagem e autor(a), criando uma outra persona dentro da escritura. Um exercício ficcional sofisticado e que mexe com a superexposição de si, na medida em que transcreve intimidades que atiçam aos mais curiosos, dando margem, assim, à transgressão de princípios éticos, chegando mesmo a ferir bens jurídicos, penal e civelmente tutelados, na esfera dos direitos da personalidade, sobretudo quanto a terceiros (pessoas físicas ou jurídicas reais) eventualmente referenciados

na trama, como alerta Anna Faedrich Martins em excelente trabalho a respeito do tema e sua prática na literatura brasileira contemporânea.

Por fim, como escrita-limite que é, a ficcionalização de si (ou autoficção) é um daqueles fenômenos dignos de análise em gabinetes psicanalíticos, atuando qual fosse o sintoma de uma época de esfacelamentos, incertezas e não-lugares. Sintoma que parece disseminar-se pelas tradições das literaturas nacionais, sobretudo no campo das chamadas narrativas de introspecção, e que carrega consigo questões autobiográficas, bem (ou mal) resolvidas, que expõem fantasmas em busca, quem sabe, da catarse capaz de inscrevê-lo no âmbito de uma forma de escrita de cura.

KISSIAN CASTRO

Primeira Parte

“Assisto, assim, meu ser se destruindo, E nada de chorar – sempre sorrindo –Espero o sopro tétrico da morte”.

Assim se expressou aquele que sentiu na pele, literalmente, as piores amarguras da vida, e, o que é mais incrível, na mais absoluta e soberba resignação. Refiro-me ao poeta, jornalista, redator, editor, locutor, promoter, ator e figurinista Luís Pires, o último sabiá do Bonfim, aquele que, como poucos, soube transformar sua dor em arte, em beleza estética.

Luís Nascimento Pires nasceu em Barra do Corda, no dia 19 de abril de 1917, filho de Francisco Chagas do Nascimento, indígena egresso de Alto Alegre, e de Raimunda Oliveira Nascimento. Naquela época, o sarampo grassava por toda Barra do Corda, de modo que a população muito sofreu com a perda precoce de seus entes queridos, sobretudo crianças. O próprio pai de Luís Pires fez o registro de alguns óbitos ocorridos no seio de sua família, sendo dois numa mesma semana. Luís Pires não teve a felicidade de conhecer seus genitores, porque aos três meses de nascido, perdeu a mãe e, um mês depois, perdeu também o pai, que faleceu em Montes Altos, município de Imperatriz. Desta forma, o pequeno Luís, órfão e sobrevivente da epidemia, foi entregue às mãos de D. Josefa Nascimento Pires, irmã de seu pai, também aborígene, e esposa de Ricardo Leão Pires, um filho de Portugal descrito por Luís Pires como sendo um “aleijadinho que se locomovia por meio de uma cadeira de rodas e lecionava para crianças” (Se bem que não chegou a conhecê-lo, visto que Ricardo faleceu em 10 de agosto de 1910).

Ardalião Américo Pires, filho do casal que o adotou e que seria mais tarde figura de destaque na vida política de Barra do Corda, foi quem inculcou nele os conhecimentos elementares e a “Carta de ABC”. Aos sete anos, matriculou-se no “Colégio São José da Providência”. Sua primeira professora foi a Irmã Rita, freira franciscana de quem guardou boas recordações. Depois vieram Irmã Estefânia e Irmã Paula, “não menos carinhosas, pacientes e boas que Irmã Rita”. Sua última professora formal foi Irmã Helena de Acaraú, sobre quem dá o seguinte testemunho: “Oh! Como gostei dos conhecimentos e ensinos desta minha ultima professora! Com ela eu aprendi a arte de representações teatrais”. Galeno Brandes, em seu magistral “Barra do Corda na História do Maranhão”, à pág. 401, diz-nos

que “entre os anos de 1937 e 1943, [Luís Pires] liderou um grupo de jovens que fizeram o melhor teatro da nossa historia. No Salão Pio XI, além de dramas litúrgicos e sacros, foram apresentados espetáculos inesquecíveis, no satírico e no sentimental”.

Antes disso, isto é, em 12 de agosto de 1933, morreu também D. Josefa Pires, obrigando-o a interromper os estudos para “viver buscando aprender outros meios de enfrentar os ritmos da vida”. Assim, “cedo teve que abandonar sua terra natal e caminhar pelas estradas do mundo, exercendo, então, um sem número de profissões, inclusive a de saltimbanco da companhia circense dos Irmãos Garcia. Depois, percorreu o interior do nosso Estado, representando peças teatrais que ele próprio criava”.

De suas andanças e devido a falta do mínimo de condições de higiene, consequência direta da ausência de políticas voltadas para a saúde pública, Luís Pires contrai Hanseníase, comumente chamada lepra, morfeia e mal-de-lázaro. Doença estigmatizada desde os tempos bíblicos e tida mesmo como um castigo do céu. Por isso, nosso multifacetado artista sofreu injúrias, agravos e privações, contudo sem nunca abater-se, a inteligência sempre viva e cintilante.

Seus padrinhos, Vitória Olinda Pires e Manoel Pirangi, por causa da proximidade constante e avizinhada, logo também contraíram o mesmo infortúnio. Pirangi era homem de posses e tinha uma filha chamada Legízia, que também ficou leprosa. Vitória Pires, que mais que madrinha, era também prima/irmã, também a adquiriu, assim como seus filhos Dionéa e Juarez. D. Fausta, que também era aparentada de Luís Pires e tinha duas filhas, Raimunda e Epifânia, também contagiou-se e foi morar distante do centro da cidade, no hoje

bairro “Cai N’água”, onde antigamente funcionava o depósito de dejetos públicos e leprosário. Raimunda, conhecida como Mundica da Fausta, era quem ía lá cuidar da mãe, levar comida, carregá-la nos braços até a beira do rio para o banho matinal. Epifânia, por sua vez, evitava qualquer aproximação, pois temia contaminar-se. Seu medo, porém, também foi sua fé: acabou ficando leprosa, enquanto que Mundica, que preferiu arriscar-se a ter que abandonar a mãe à própria sorte, escapou sã e ilesa. Enfim, a população barracordense sentia-se ameaçada por uma doença até então incurável e que se alastrava impiedosamente. Luís Pires, tornou-se, por isso, um notívago. Só saía de casa a noite para fazer serenata e beber sua “aguardente”. Sentava-se nas calçadas, mantendo sempre distância das pessoas. Lá vinha ele todas as noites com seu copo para a casa comercial do Sr. Oton Mororó Milhomem. Enquanto despejavam o conteúdo etílico ele mantinha o copo a certa distância para que o gargalo sequer tocasse na borda do copo. Enquanto a lepra carcomia sua pele, em sua alma desabria um ileso pássaro canoro.

Luís Pires amava nossos rios. Passava boa parte do dia imerso em suas águas, apenas com a cabeça para fora. Os moradores achavam que ele estava contaminando a água. A situação foi se agravando a tal ponto que a população passou a exigir que fossem tomadas providências urgentes. “Fora com estes leprosos!” – era o grito que soava a um só coro. Entre estes estavam amigos íntimos de Luís Pires que, na sua frente, lhe asseguravam apoio e proteção, mas que, no final das contas, iriam traí-lo covardemente.

Segunda Parte

A TRAIÇÃO E A SAÍDA COMPULSÓRIA PARA O LEPROSÁRIO-COLONIA DO BONFIM.

Na edição do jornal Alvorada nº 6, de março de 1955, acha-se publicado todo o drama vivido por Luís Pires em sua saída “compulsória” de Barra do Corda, descrita pelo próprio poeta. Completa e vívida como está, sem coisa alguma termos a acrescentar que não fosse supérfluo, transcrevemos integralmente a sua “REMINISCÊNCIA!...”.

Eis o que diz o poeta Luís Pires:

“Vinte e dois de junho de 1944, oito horas da manhã! Era domingo e o sino badalava lentamente, convidando os fiéis para o santo sacrifício da missa. Oito horas! O sol parecia desmaiar em seu próprio fulgor! Naquela manhã eu devia dar adeus para sempre ao meu inconfundível torrão natal, aos meus entes queridos, aos amigos, às pessoas que me eram gratas, e mesmo aos meus próprios perseguidores, a quem cada vez que me premiavam com suas calúnias, eu compensava com o meu perdão.

O momento se aproximava, e já uma massa compacta se encontrava frente à minha residência, esperando a hora da despedida. A passos lentos, encaminhei-me para o porto de embarque acompanhado daqueles que sempre me foram complacentes.

Embarquei! E de dentro daquele esquife-canoa que boiava nas águas cristalinas do meu saudoso rio Corda, e que havia de conduzir-me à “tumba dos mortos vivos”, hoje “cidade da esperança”, dirigi o olhar para os horizontes cordinos, e, com o coração lanhado, balbuciei algumas palavras de despedida. Enquanto alguns que compartilhavam da minha dor se debulhavam em lágrimas, eis que:

– “Larga o cabo, Caetano!” – Era o velho Pedro1 quem falava; aquele velho que tanto me prometera bondades, e que transformou as suas promessas num cálice de amarguras, durante o percurso daquela enfadonha viagem.

– “Larga o cabo, Caetano!” – E o Caetano largou o cabo!...

O esquife se afastou e deixou-se levar ao sabor das pequeninas ondas que lhe batiam no costado. Estava se dando início a partida. Ou melhor, iniciava-se o cortejo fúnebre!...

O esquife se afastava cada vez mais e não dispunha de pressão para, com um apito saudoso, corresponder ao aceno de lenços que tremulavam no ar. Adeus!

Enxergando ainda a humildade nos olhos daqueles que de mim se compadeciam, virei-me para contemplar pela última vez o portinho onde por muitos anos matei o calor que me envolvia nas horas calmas, e ali avistei três vultos que, apesar das lágrimas que já me perturbavam a visão, não deixei de reconhecer. Eram duas velhinhas de cabelos brancos e um homem de boa estatura, cabeça calva, porém dotada de inteligência.

As duas primeiras fitavam o céu na ganância de avistarem o próprio Deus, para melhor lhe recomendarem este que partia para não mais voltar. – Eram minhas tias2.

O terceiro portava-se firme no seu papel de homem. A sua face mostrava a palidez de uma flor de abóbora, denunciando o sentimento que lhe assomava a alma. – Era meu padrinho3.

Um soluço se estancou em minha garganta, e não pronunciei uma palavra sequer, apenas lhe acenei com um cadáver de mão4; enquanto o ataúde se distanciava cada vez mais, governado pelo “jacumã” impulsionado pela impetuosidade dos braços de seu mestre.

Ao passarmos pelo cemitério recitei uma prece em favor daqueles que ali jaziam, e lancei o último olhar para a minha cidade natal. Já não mais avistei o longo de suas ruas e nem a estrutura de seus luxuosos edifícios. Avistei apenas os tetos das últimas casinhas de palha, e, acima destes, no topo da serra, os longos braços de um cruzeiro ali edificado. Lembrei-me da paixão de Cristo, e dentro da minha paixão, abracei a minha cruz e prossegui a minha via dolorosa, aguardando a metamorfose das promessas do velho Pedro.

Oh reminiscência!... Oh, Deus Onipotente: ainda terei o prazer de avistar a minha querida terra e abraçar os meus íntimos?

A Tua resposta é o silêncio; porque o Teu poder é grande. Oh, Deus! – Que todos os que vivem na minha recordação, participem das tuas graças, Senhor! Edifica Tua morada no coração do povo de minha querida terra, para que ele possa crescer na paz e no progresso espiritual!

Barra do Corda! Tapete verde do meu agreste sertão alcatifado de flores! Rios e regatos cristalinos de meu torrão bendito! Por vossa causa transformei o meu coração numa redoma de saudades e meus olhos numa cacimba que vive a verter as lágrimas da minha reminiscência!... Da minha saudosa reminiscência!...

LUIZINHO PIRES”

POEMAS

Luar de Setembro

Castelo de sonho que no céu vagueia, Deslizando no azul, vai, lentamente. E a terra toda de esplendor é cheia Da luz serena do fulgor luzente. Fagueira brisa no ramal rodeia, Brincando à luz da lua sorridente, Que pouco a pouco o seu brilho se enleia Já por trás das cortinas do poente.

Em todo o mundo uma tristeza cresce, Enquanto alua, preguiçosa, desce, Desprende a terra do fatal clarão. E o véu negro, depois da claridade, Encontra em cada canto uma saudade E em cada ser humano uma ilusão. Resignação

Enquanto a morte aos poucos vem chegando, Integrado no rol dos conformados, Com o restinho dos dedos torturados, Seguro o meu cigarro e vou fumando...

Assim a vida amarga vou levando!

No decorrer dos dias malfadados, O meu pranto é cantar versos rimados

Nas tábuas de um caixao, tamborilando... Assisto, assim, meu ser se destruindo, E nada de chorar – sempre sorrindo –Espero o sopro tétrico da morte. Pois lá, na doce paz da sepultura, Não sentirei jamais tanta amargura, Nem farei versos a zombar da sorte.

A VIDA DE LUÍS PIRES NO ASILO-COLÔNIA DO BONFIM

Terceira Parte

A Colônia do Bonfim foi inaugurada em 17 de outubro de 1937. Na oportunidade, nenhum doente que ali seria isolado compareceu, restrita que foi às autoridades políticas, religiosas e médicas. Segundo a Exposição feita pelo Interventor Federal Paulo Ramos ao povo maranhense, em 15 de agosto de 1938, o asilo-colônia do Bonfim estaria dividida em três zonas: a ZONA SADIA, que começava do cais e possuía cinco residências confortáveis para o médico, capelão e demais funcionários, e um poço de água potável; a ZONA INTERMEDIÁRIA, onde ficavam os edifícios da Administração, entre os quais o parlatório; e a ZONA DOENTE, que era, por assim dizer, uma cidade em miniatura, com o pavilhão das clínicas, hospital, capela, cozinha, refeitório, quatro pavilhões com capacidade para 402 doentes, 82 casas distribuídas em duas ruas e uma praça, lavanderia a vapor, usina elétrica, caixa d’água de concreto armado para 65 mil litros cúbicos e três poços de água potável. Possuía ainda escola, cinema, comércio, barbearia, padaria, capela, necrotério, um pavilhão só de “mulheres da vida”, onde alguns internos solteiros iam para se “aliviar”, e uma cadeia para os internos que infringiam as normas da Colônia. Curiosamente, os jornais da capital informam que o interno Pery Gomes Feio, poeta hanseniano e amigo de Luís Pires, esteve por algum tempo preso por tentar fugir da Colônia. Soube-se que a intenção de Peri era chamar a atenção das autoridades pelas péssimas condições de vida a que eram submetidos os internos. Sua prisão, na verdade, objetivava calá-lo. Após a morte de Peri, em 1952, Luís Pires tornou-se o grande reivindicador das necessidades da Colônia.

Convém salientar que os que ficavam na zona sadia não podiam passar para a doente, nem os da zona doente para a sadia. O parlatório era o ponto de encontro entre ambas as zonas. Nele havia uma grande vidraça de separação através do qual os médicos consultavam e receitavam as medicações apenas vendo de longe os pacientes. Um detalhe: não eram os sadios que administravam as medicações, mas os próprios doentes, os chamados “melhorados” que, como o próprio nome indica, eram hansenianos em fase inicial e que não apresentavam ainda sinal de mutilação.

Foi nesse ambiente de isolamento social compulsório, segregação, preconceito, animalização e destruição do que há de humano no homem que viveu Luís Pires por 57 longos anos. Aí travou suas lutas, notabilizouse e ganhou o respeito e a admiração de todos da Colônia. Foi professor de Português e Literatura no Colégio Paulo Ramos durante décadas; foi locutor da “Voz do Bonfim”, na rádio Dagmar Brito; escrevia editais que eram lidos por Hélio Lisboa de Morais Brito, da Rádio Timbira, em São Luís; foi redator-chefe e diretor do jornal

“Alvorada”, fundado, mantido e dirigido pela UGA – União Gráfica Ateniense, de cuja diretoria foi membro, chegando a presidi-la; publicou dois livros: o primeiro, de memórias, intitulado “Hecatombe de Alto Alegre”, que foi o primeiro relato do massacre feita por um barra-cordense; o segundo, de poemas, intitulado “Farrapo”; artista plástico, pintou o Rio Jordão e Pia Batismal na Primeira Igreja Batista e uma magnífica paisagem na parede de fundo do cinema; escreveu várias peças teatrais que fizeram história no Bonfim, entre as quais destaca-se “Um Homem de Betânia e Outro de Nazaré”, cujo roteiro muitos egressos ainda o guardam na memória. Ele era quem organizava as festas e eventos sociais, desenhando e confeccionando todo o figurino, pois era também alfaiate. As peças eram apresentadas em datas especiais da Colônia e durante a visita de autoridades políticas e religiosas.

Luís Pires casou-se duas vezes e sobreviveu às duas esposas. A primeira foi Nair Mendes Oliveira, interna, proveniente de Caxias, e que tornou-se “figura conceituada” naquela sociedade. Após sua morte, Luís Pires escreveu um documento à direção da Colônia (isso já na década de 60, quando houve a mudança na política de internação, com maior abertura), pedindo para passar um tempo na Colônia Antônio Diogo, no Ceará, com um único propósito: arrumar uma nova esposa. Voltando, trouxe consigo Anelita Sardinha Sousa, a que seria sua segunda esposa e mãe de seu filho. Convém destacar também que, naquela época, todas os bebês de pais hansenianos que nasciam no Bonfim eram levados para educandários no momento em que nasciam; as mães não podiam tocar, nem sequer ver o próprio filho. Assim aconteceu com o filho de nosso poeta, o pequeno Joel de Jesus Nascimento Pires.

A despeito de tudo, Luís Pires jamais perdeu a alegria, o ânimo, a esperança, como o demonstra este soneto: SÚPLICA A JESUS

Senhor Jesus, que há séculos passados

Salvaste o bom ladrão e foste embora, Tem compaixão dos filhos deserdados, Da humanidade mísera que chora.

Não me deixe no rol dos condenados...

Oh! Vem, Senhor Jesus, vem sem demora, Aliviar do peso dos pecados

A quem o teu perdão, humilde, implora.

Quero ser teu e sempre andar contigo,

Meu defensor das garras do inimigo

Que sempre ruge na infernal caverna. Estou certo de que, contigo andando, Hei de passar, Senhor meu Deus, cantando, Das torturas da morte à vida eterna

OS ÚLTIMOS DIAS DE LUÍS PIRES NO BONFIM

Quarta Parte

Conduziram-me a um pavilhão de corredor extenso e sujo, quartos à direita e à esquerda, dezoito ao todo. Em cada um deles amontoavam-se quatro ou cinco pessoas, redes em ziguezague, a mobília escassa e mal disposta, contrastando-se com alguns internos que jaziam de cócoras pelos cantos ou mesmo refestelados no chão liso, farrapos enganchados em pregos que serviam de cabide, um banheiro coletivo e, no fundo, uma varanda.

– Este é o Pavilhão dos Solteiros. Você vai ficar aqui esta noite. Amanhã cedo farão a sua baciloscopia e o preenchimento da ficha para sua admissão, disse o senhor magro que me escoltara, dando-me as costas. Fiquei acompanhando com os olhos aquele homem que mal se equilibrava, menos por causa do negrume da noite que pela ausência de dedos em um de seus pés. Fiquei ouvindo o ruído das botinas miúdas que entortavam mesmo sob o peso insignificante de seu viandante. Depois enfrentei lentamente o apinhado de gente que ia cada vez mais engrossando e se fechando em torno de mim; um deles, homem novo, moreno, o mais vigoroso, fez a pergunta por todos:

– Como é o seu nome, novato?

– Luís.

– O meu é Herculano. E estendeu-me a mão atrofiada, desprovida de dedos.

Um grupo deles descambou a rir. Outros se entreolhavam, contendo a mesma inexplicável e cumpliciosa irrupção.

Algum, porém, incomodado, falou em má educação, em falta de respeito. A mim me pareceu uma manifestação de franca hostilidade. Recolhi-me, amassando o alfarrábio que trazia à mão. Certamente aqueles “gafos” não eram culpados do meu infortúnio, mas, por outro lado, não podia evitar o desconforto que aquela estranha reação me causara.

– Há algo de errado em meu nome? Em minha terra é um nome comum. Por aqui, não?

– Não leve a mal, amigo, é que eles mesmos não sabiam meu nome. Fazia tempos que não o dizia. Aqui atendo por 95.

– Quê?

– Trocando em miúdos: esqueça que um dia você se chamou Luís. Aqui você não passa de mais um número, e por meio dele se bebe, se come, se caga, e, se não der trabalho, pode até assistir a uma sessão de Mazzaropi, no Cineteatro Darci Vargas, atalhou uma voz rouca que vinha do interior do recinto, onde a luz da lamparina mal conseguia incidir.

– Sou um homem mutilado pelo destino e disso não me lamento. Mas minha identidade, meu nome, sim, tenho medo de perdê-lo. Um nome é tudo: Herculano Firmino Silva, repetia, cabisbaixo, movimentando o que lhe sobrara dos dedos, como a certificar-se da própria existência.

Enterneci-me. Desamassei o manuscrito e pus sobre ele a vista. Pensei na família, no velho Pedro que me traíra em troca de alguns mirréis. Tornei a contraí-lo dentro do punho cerrado e arremessei-o contra o assoalho mosaicado. Armei a rede na primeira escapa que encontrei desocupada e deitei-me. Tudo o que queria era esquecer o passado. A fumaça de um porronca alheio ardia em minhas ventas e subitamente me senti em casa.

– Você é o bicho, Luís! – pensava alto. Isso mesmo, o bicho, capaz de farejar de longe a menor ameaça. Escapara por pouco em Arari e ali estava, gordo e forte, esgravatando as unhas com a ponta de um graveto. Não tinha de que reclamar. Se pelo nome ou número seria conhecido a partir dali, não me importava, estava vivo. Nemésio é que não teve a mesma sorte, coitado. Eu bem que desconfiei que aquilo não era remédio. Pulei fora. Não tomo, não tomo! Iludido pela ânsia de cura, Nemésio deixou injetarem aquele negócio nele. Veneno. Pobre Nemésio! Maldito major Nogueira! Maldito Pedro Lau!

Baseado nos ligeiros relatos que deixou registrados no punhado de alfarrábios que disponho, Luís Pires assim descreveria sua chegada à Colônia do Bonfim. A partir daquele momento nem a sua vida nem a da Colônia seriam as mesmas. Pela equipe administrativa, foi identificado pelo número/alcunha 405; seus irmãos de infortúnio o chamavam “Caracol”. Ele assinava sob o pseudônimo “Lusserip”. Luís Pires transpôs o seu Calvário e sobreviveu a todos os que um dia lhe perseguiram. Sobreviveu também a muitos de seus familiares e amigos. Morreu lúcido e em boa velhice, à meia-noite do dia 1º de fevereiro de 2001, aos 83 anos. Chorou, amou, viu sua carne pouco a pouco esfacelar-se e, ao invés de tolher-se e amargurar-se, como era de esperar, escolheu a Poesia; ou melhor, foi por Ela escolhido. Luís Pires foi um resignado não no sentido de rendição passível, subserviência ou deposição da vida, mas por estar plenamente consciente de sua condição e limitações de hanseniano. O autor de “Farrapo” não entregou os pontos, não jogou a toalha, como parece indicar uma primeira leitura de seus versos. Seus poemas são também uma latente/velada denuncia/protesto contra uma sociedade que em nome de um pretenso progresso relegara seus “gafos” a mais absoluta reclusão, condenando-os a mais irreversível das lepras: o preconceito. Despidos de quaisquer pedantismo e convencionalismo insossos, seus versos são a mais legítima expressão da vida, são versos em carne viva, emitidos a partir da dor que lhe tangia. Seu mal era também seu estro. O poeta não compactua com a dor nem lhe tem a menor comunhão, ela é opressora, um inimigo necessário. A compulsória reclusão no Bonfim, seu exílico asilo, obrigou-o a voltar-se para o território de sua própria condição, elegendo-o seu arrimo. O cantor de “Farrapo” retira do mal irremediável em que se acha imerso o motivo aos versos que compõe e faz das chagas do seu corpo o esteio onde ergue seu edifício poético, pois através dele é que o vemos erguer-se como um Lázaro ressurreto.

Foi aqui que passei a mocidade

A sorrir e a cantar alegremente...

Se na vida existir felicidade, Nesta terra ela mora certamente...

O teu jardim, o teu povo, o teu poente, E tudo que for teu, bela cidade, Conservarei guardado eternamente

Na inapagável tela da saudade!

Da vida me atirando na jornada, Como quem lembra da mulher amada, Eu sempre evocarei tua visão...

Por seres linda e boa eu te bendigo, E minh’alma deixando aqui contigo

Teu vulto levarei no coração!...

BARRA DO CORDA1

PEDRO HENRIQUE MIRANDA FONSECA

Cururupu do pescado, da gastronomia, das palmeiras imperiais que lá chegaram oriundas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro no princípio do século XX , dos pés frondosos de oitis, das mangueiras de sombras fartas; das mulheres bonitas; da migração sírio-libanesa que deixou marcas; das festas juninas, do Carnaval, da festa de São Benedito e de São Jorge, do bumba-boi, do tambor de crioula; dos missionários canadenses e norte-americanos que muito contribuíram para a educação da juventude; dos apelidos bem colocados; das chuvas torrenciais que causavam erosões nas ruas não pavimentadas; dos vários filhos ilustres que não cito para não cometer o pecado involuntário da omissão; dos poetas, dos cronistas, dos compositores, dos artistas plásticos; da carpintaria naval; da cana de açúcar por onde tudo começou; da presença africana que fundo marcou a cultura; do ambiente rural dentro do urbano; dos maus tratos por quem deveria cuidar dela; da vanguarda na assistência hospitalar com a inauguração da Santa Casa em 14 de fevereiro de 1943; de preclaros e ineptos gestores públicos; da natureza pré-amazônica e atlântica, enfim, Jardim do Maranhão à beira-mar plantado onde nasci e formei meu caráter existindo muito em mim que recende a terra.

Rio de Janeiro, sábado, 26 de outubro de 2024, às 4:40 horas

CURURUPU E SEUS CONTRASTES

Cururupu está localizada no litoral Norte do estado do Maranhão. Cidade de belezas nativas que emergem de dentro do encantamento que existe na magia das águas e do corpo dos homens e mulheres mergulhados nessa grande mágica do ser ou não ser! Terra que cheira o molhado da chuva no seu mais resplandecente odor! Confunde o grito da guariba com chamamento do filho amado da terra para mais um amanhecer!

Muitos têm sido os poetas que decantaram através dos seus poemas a formosura, o magnetismo e o extraordinário que essa cidade possui. Gonçalves Dias falou no seu poema “Canção do Exílio”, que a terra dele tem palmeiras, onde canta o sabiá [...] Eu diria na minha modéstia , que a minha terra tem homens e mulheres que encantam quem chega por lá. Pessoas simples, pescadores, lavradores, que vivem em comunidades tradicionais, cuja a maioria sobrevive da pesca artesanal e da lavoura . Essas pessoas que nunca foram retratadas nos grandes poemas, e pelos grandes poetas como a principal fonte de sabedoria popular deste lugar. Povo criativo, garboso e elegante, seja com um calção amarrado por um barbante, têm o hábito de enfeitar-se e demonstrar satisfação e contentamento.

Povo sábio como os cururupuenses estou para ver! Dizem que uma pessoa “vaidosa” é querer ser o que a folhinha não marca ( Folhinha é o calendário anual); que “morrer” é bater a cachuleta ; cheio de bosta de galinha é uma pessoa complicada; Adeus, Inês é morta, fato já consumado; e assim sucessivamente. Existem coisas mais belas que esses ditados populares! Aurélio que me perdoe, mas fico do lado deles!

A população que se prepara o ano inteiro para as festas de São Benedito, e do Carnaval, com suas brincadeiras infinitas como: “O Cabeção”, “ O Penico”, escolas de samba, entre outros. Irradiando o coração de felicidade de cada um que ali vive. E tem mais, são arrebatados para essas festas, os que moram fora da cidade e muitas vezes fora do país. Este povo inquieto e inteligente que bate com as mãos tambores do boi de zabumba guarnecidos, depois de aquecidos pela fogueira. Este, só existe em Cururupu passando de geração para geração, hoje orgulho de todo o Maranhão!

Cururupu, oh! Cururupu! Tu és uma terra iluminada, cheia de contrastes, poetas, historiadores, pesquisadores, escritores, pescadores, lavradores, cantores, dançarinos, professores e tantos outros que fazem brilhar o céu com estrelas diferenciadas, colocando cada uma para desempenhar o seu papel neste Currículo grandioso que és tu Cururupu!

MATRIOSKA E OUTROS POEMAS – de Kissyan Castro

MATRIOSKA

que vontade de me meter outra vez no menino despir o incêndio da idade ser o desperdício de mim em pés alheios com a urina demarcar o enigma do totem: um circuito de cicuta no beiço da memória abrir em mim mesmo minha fuga para dar de cara enfim comigo

ESTOICO

buscar na chaga o que não for sangue buscar na cinza o que não for silêncio

o que não for ruína é caco de espelho: o rosto resiste outro ainda na doença se aninha o pássaro ainda na lágrima brota a paisagem há uma lua no lago: as mãos vazias a podem colher

UM POETA

vi um homem andando estrada fora cabeça baixa desfigurado não pisava o chão – espremia heroicamente a nervura dos dias algo farfalhava debaixo de sua pele: talvez sintagmas e o pomar de pústulas que o separava da estratosfera dos bolsos pendendo como língua uns restos de ilusão retórica

não lhe coube empacotar em 5 itens a solução para os dilemas do mundo não o preocupava o juízo que dele faziam juízo era o de menos as árvores continuariam acesas e as glândulas a rosnar sob os lençóis levava o desterro dos obsoletos e uma quota de ventos para um opúsculo não queria ser acolhido consolava-o a mão obscena acenando um poema que ninguém leria recuperava do chão o milagre da revolta.

Kissyan Castro nasceu em Barra do Corda, Maranhão, em 1979. É poeta e pesquisador, graduado em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Boa Esperança, MG, e pós-graduado em História e Literatura Brasileira. Publicou, entre outros livros de poemas, Bodas de Pedra (Chiado, 2013), O Estreito de Éden (Penalux, 2017) e Pássaros Lacunares (Penalux, 2023). Com participação nas coletâneas “Caleidoscópio” (Andross), “Além da Terra Além do Céu” (Chiado), Babaçu Lâmina (Patuá) e “Haicais e Tankas” (Persona), tem poemas publicados em diversos sites, jornais e revistas digitais, entre as quais Germina, Mallarmargens, Caqui, Literatura & Fechadura, Acrobata e Portal de Poesia Ibero-Americana.

INFINITOS

“ Infinitos Sentimentos, livrodeValériaSoares serálançadologo mais ànoite,naFELIZ,praçaMaria Aragão. Abaixo, o prefácio feito por este autor à guisa de indicação para os leitores. ”

Uma estrela caiu uma vez no meio de números. Foi procurada nas Somas, nas Integrais, nas Bissetrizes, nas Raízes quadradas, nos Determinantes, nas Regras de Três... Até ser descoberta, plácida e serena, num problema besta de equação:

Como encontrar a incógnita de um sonho?

O poema acima publicado no jornal estudantil da Escola de Engenharia Metalúrgica de Volta Redonda, RJ, no ano em que eu me formei, 1976, fez sucesso entre estudantes e membros do corpo docente da referida Escola e veio a ser reproduzido em outros jornais de faculdades pelo Sul do país, especialmente nos cursos de carreira técnica que, mesmo inconscientemente, faziam do exercício jornalístico de seus estudantes na produção dos jornais, uma conexão entre poesia e números.

Pode-se dizer que descobrir uma estrela perdida em meio aos números é o que busca cada um dos poetasmatemáticos que aqui inscreveram seus poemas, mesmo que jamais tenham atentado para isso?

Acreditamos que sim, porque essa sina de buscar estrelas tangencia aquilo que move cada ser humano em sua busca de dourar as vicissitudes da existência com o inalcançável e transcendente. Por isso soa tão pungente e categórico o poeta Manoel Bandeira em um dos mais belos poemas da língua portuguesa ao clamar: “ Eu quero a estrela da manhã! ”

Igualmente, é isso o que se pode dizer do exercício de garimpagem de Valéria Soares ao pedir a cada um dos matemáticos que tragam a público suas estrelas entre números ou, como disse o poeta, suas estrelas das manhãs, que precisam ser vistas para que nunca se apaguem. Assim, percorre a autora e inspiradora desta antologia a sua odisseia entre estrelas, que é a de dotar o mundo de uma verdade que se almeja, que antes estivera oculta no recôndito da alma, para transformá-la em realidade, o que é, em última análise, o exercício de todo poeta.

O peso desta verdade se configura tão denso que esta já é a segunda experiência da autora na produção de uma antologia de manifestações poéticas de professores de matemática, o que, com a progressiva mostra de seus talentos para a poesia já nem causa espanto. Ora, dizia-se, “Mas é possível se versificar tanto assim a Matemática”Claroquesime,comoestelivrotestemunha,estáaquisacramentadaessaintegraçãoentreambas, quase absoluta, desmentindo aquela ideia que ainda perdura na mente de muitos de que Matemática é uma coisa, Poesia outra.

COMO ENCONTRAR A INCÓGNITA DE UM SONHO? Pergunta o poema.

Conclui-se facilmente que a escritora Valéria Soares a encontrou e que essa resposta está na equação: Poesia + Matemática = Sonho realizado.

Conforme queríamos demonstrar

DOS ESPORTES

Hoje,13 de Setembro, o Feliz Aniversário vai para um dos maiores e mais tradicionais times do Maranhão e do Nordeste do Brasil: Parabéns ao Moto Club de São Luís e seus torcedores.

O Bicho-papão Rubronegro foi criado em 1937 por César Alexandre Aboud,notável empresário que decidiu fundar o time para ser originalmente uma equipe de motociclismo e ciclismo,e por este motivo o seu primeiro nome foi Ciclo Moto,tal como suas primeiras cores foram verde e branco. Porém,logo depois do seu segundo aniversário,em 17 de setembro de 1939,o Moto adotou toda a sua figuração atual de nome e de cores e estreou como time profissional de futebol num amistoso diante do então campeão estadual Ateneu,que terminou empatado por 1x1. Daí pra frente,apesar do nome,o Moto Club avançaria definitivamente para o futebol.

A grosso modo,nenhum dos times de São Luís (Moto,Sampaio Corrêa e Maranhão AC) possui atualmente um estádio próprio na capital maranhense,mas ainda em 1939,o Moto Club ganhou do seu fundador o Estádio Santa Isabel,batizado em homenagem à fábrica empresariada por César Aboud; e a nova casa não só tornou o Moto o único dos três a ter possuído seu próprio estádio em algum momento da história como ainda lançou a base para o time rubronegro conquistar sequencialmente os Estaduais de 1944 até 1950,tornando-se assim o único a ter conquistado um Hepta,a maior sequência de conquistas do futebol maranhense. Em 1972,o Santa Isabel acabou sendo demolido e dando lugar ao prédio local do Ministério da Fazenda,e desde então o Moto segue o mesmo rumo de seus rivais alternando suas partidas como mandante entre o Castelão de São Luís e o Nhozinho Santos.

Apesar do possível paradoxo,o estado do Maranhão pertenceu à Região chamada "Meio-Norte" do Brasil até a década de 1960; então,foi bem antes disso que o Moto Club ganhou o seu principal e mais famoso apelido de Papão do Norte,mas existem duas histórias prováveis para a origem da alcunha: a primeira diz que jornais se referiram ao time por este apelido depois de conquistar em 1948 a Copa dos Campeões do Norte derrotando Paysandu e Fortaleza em Belém; já uma outra remete ao fato do Moto ter cedido praticamente todos os jogadores à Seleção Maranhense que chegou à semifinal do Campeonato Brasileiro de Seleções de 1946 (uma época em que Estados do Brasil se enfrentavam formando seleções com jogadores de seus times). Fato é que este apelido alavancou o Moto ao nível nacional,e além dele,existe também o Rubro-Negro do Canto da Fabril,como referência ao bairro onde se situava o Estádio Santa Isabel.

Tido como rival máximo do Sampaio Corrêa,ambos protagonizam o Superclássico Maranhense,que registra uma larga quantidade de jogos e de gols: o primeiro Superclássico da história foi disputado em 14 de julho de 1940 e traz uma lembrança pra lá de amarga,pois terminou com uma surra do Sampaio por 7x2; porém,o maior resultado do histórico da rivalidade foi do Moto,que se vingou enfiando um 9x3 sobre o Tubarão em 1953.

Hoje dono de 26 conquistas Estaduais,junto às Séries B de 2010 e 2013 e a 8 Taças Cidade de São Luís (a última em 2004) dentro do Maranhão,o melhor resultado nacional do Moto Club em toda a sua vida foi ter alcançado as semifinais da Série D de 2016,campanha heroica que lhe rendeu um acesso à Série C,mas que acabou não durando muito. A jornada começou no Grupo 4,do qual o Moto acabou na vice-liderança invicta,atrás do Águia de Marabá e com ambos deixando para trás o Tocantinópolis e o Santos do Amapá. Na segunda fase,eis que o Moto reencontrou o Águia e desta vez resolveu a parada pra cima dos paraenses; nas oitavas,a vítima da vez foi a Juazeirense,que em São Luís perdeu por 3x1,e na Bahia conseguiu uma vitória mínima que serviu para quebrar a invencibilidade do Moto,mas não para conquistar a vaga; daí,nas quartas,o Atlético Acreano segurou o empate por 2x2 no Castelão,até que na volta,o Moto foi valente e conseguiu uma tremenda vitória fora de casa por 2x1 para assim avançar à semifinal e garantir o acesso à Série D,onde acabou não resistindo ao futuro campeão invicto Volta Redonda,mas mesmo assim,foi uma jornada de altíssimos momentos. Enquanto isso,na Copa do Brasil,o Papão jamais foi além da segunda fase em 14 disputas,mas está perto de alcançar a mesma marca histórica que,até o momento,apenas os também nordestinos Botafogo da Paraíba e ABC já conseguiram: se um dia conseguir desafiar o Flamengo original (já que enfrentou o do Piauí em 2001),o Moto irá se tornar o terceiro time a ter enfrentado os quatro grandes cariocas na história da maior competição nacional do Brasil. Mas enquanto isso,o dia é de rendermos todas as homenagens possíveis a mais este querido time,dono da maior torcida do seu Estado,pelo seu aniversário de 87 anos a ser comemorado na data de hoje.

MOTO CLUB DE TANTAS TRADIÇÕES,COLOCADO ENTRE GRANDES VENCEDORES; SAUDAÇÕES TRICOLORES AO BICHO-PAPÃO RUBRONEGRO MARANHENSE!!!!!

Rayssa Leal é CAMPEÃ MUNDIAL em Roma.

Rayssa Leal é campeã mundial de skate street, em Roma, na Itália. Neste sábado, a brasileira passeou nas suas duas primeiras voltas e deu uma virada espetacular nas manobras para subir no lugar mais alto do pódio. Momiji Nishiya ficou na segunda posição, seguida pela também japonesa Miyu Ito. Além da brasileira, sete japonesas disputaram a decisão.

Este é o segundo título da brasileira no torneio da World Skate (WS). O primeiro veio em Sharjah (2023). Rayssa também tem em seu currículo dois troféus da SLS (Street League Skateboarding), que também é considerada de nível mundial, e duas medalhas olímpicas: prata em Tóquio-2020 e bronze em Paris-2024.

“Estou muito feliz com essa conquista. Eu me senti um pouco desconfortável, mas minha equipe é a melhor de todas e me deu total apoio. Obrigado a todos que me acompanharam e puderam me incentivar. Vocês fazem a diferença”, disse Leal, que somou a pontuação total de 270,56 neste sábado.. Ainda neste sábado, o Brasil tem mais uma chance de título no torneio, com Kelvin Hoefler.

Veja a classificação da final do Mundial de skate street feminino

Rayssa Leal - Brasil - 270,56

Momiji Nishiya - Japão - 269,14

Miyu Ito - Japão - 249,53

Coco Yoshizawa - Japão - 232,16

Liz Akama - Japão - 169,54

Funa Nakayama - Japão - 156,72

Aoi Uemura - Japão - 29,25

Yumeka Oda - Japão - 4,80

Rayssa Leal disputou neste sábado a final do Mundial de

em Roma. Foto: World Skate via Instagram

Única brasileira no meio de sete japonesas na final feminina do Mundial de Skate Street, em Roma, na Itália, Rayssa Legal brilhou nas duas voltas que realizou e foi para as manobras em primeiro. A medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 cravou impressionantes 86,44 e 88,43.

skate street

TIME DO CAPIM AÇU É DESTAQUE NA REVISTA ELETRÔNICA LUDOVICUS 43 JULHO/SETEMBRO DE 2024.

TextodoescritorvianenseÁureoMendonça.

OtimedefuteboldeViana.OCapimAçu.

EntreosdestaquesozagueiroZéChaprão,goleiroJúnior,MagnoeRobertoBarros. TécnicoJoãoBarros(falecido)

Kaká,Marcelo,Junior,Magno,Marcão,Johnatan,Chaprão(falecido),JúniorBaiano,Geovane,Mixura,Bill, Edinelson,Marcelio,RobertoeMundinho.

OtimefoifundadopeloMagnoFroeseJúniorFroeseganhouessenomeporqueafamíliaFroesé origináriadalocalidadeCapimAçu.OMagnofoioprimeiropresidente.

OjogadorKakádepoisfoijogarBeachsoccerpelaseleçãomaranhense.

OutrosjogadoressedestacaramoRiquelmefoiBicampeão2006e2007.OElijoneGomeseraocamisa10 dotime.

OutrodestaquefoiCharlesquejogouapenas1anoedepoissemudouparaacidadedeMaracaçumé passandoajogarnaBR316ecampeonatosnabaixadaenolitoral.Atualmenteédirigentedaseleçãode MaracaçuméondedisputaacopaBRdeseleções.

PIO

Otimedefutsalfemininosub-17,docolégioPioXIdeBarradoCorda,participoudoCampeonato BrasileirodeFutsalSub-17,emBrasília,entre8a14desetembro.

Timesdetodospaísestavamdisputandootítulobrasileiro.

UmdiahistóricoparaofutsaldeBarradoCordaedoMaranhão.

NR:ParabénsàsgarotasdoColégioPioXI:jogadoras,comissãotécnicaediretoresdaescola.

VisitejornalTBnoInstagram.Cliquenolink: @jornalturmadabarra

SHOTOKAN

Ao todo, Maranhão contará com 16 atletas. Competição nacional vai ocorrer em Vitória (ES) no mês de outubro.

Karatê:MaranhensesconfirmadosnoBrasileiroShotokan.(Foto:GilsonFerreira)

Por: da redação com informações da AP Assessoria de Imprensa18deSetembrode2024

OMaranhãoestarápresentena28ªediçãodoCampeonatoBrasileirodeKaratêShotokan,competição promovidapelaConfederaçãoBrasileiradeKaratêShotokan(JKSBrasil)equeserárealizadanomêsde outubro,nacidadeVitória(ES).Em2024,aSeleçãoMaranhenseserácompostapor16caratecasechega aoeventonacionalcomboaschancesdemedalhas.

DosatletasmaranhensesconfirmadosnoCampeonatoBrasileirode2024,setedelesrepresentaramo Brasilnadisputada6ªediçãodoCampeonatoMundialdeKaratêShotokan,queocorreunomêsdejulho, nacidadedeTóquio,noJapão.AexperiênciaconquistadanoMundialeaboafasenocenárionacional colocamDanielCaripunas,GaranceDemousseau,GilbertDemousseau,JoãoGuilhermeMaciel,Marco AurélioMota,RadhyjaCostaeVítorAugustoMoraescomoasprincipaisesperançasdemedalhasparao Maranhão.

Alémdeles,aequipemaranhensetambémcontarácomosseguintescaratecas:HannyDiniz,HaykaDiniz, JoãoBatistaPereira,JoãoMicaeldaSilva,JoaquimHenriqueFilho,LeopoldoMartins,LuízaMendes,Paulo SilveiraeSamuelAmorim.Valedestacarquedestes,Hanny,Hayka,JoãoBatistaePauloforammedalhistas naediçãode2023doCampeonatoBrasileirodeKaratêShotokan,queocorreuemGoiânia(GO).

PorfalarnoBrasileirodoanopassado,oMaranhãoterminousuaparticipaçãonoeventonacionalcom33 medalhasnototal:8ouros,10pratase15bronzes.Dentreosmedalhistasmaranhenses,destaquepara MarcoAurélioMota,quesubiuquatrovezesaopódio.OutroatletaquefoimuitobemfoiVitorAugusto Moraesque,emsuaprimeiracompetiçãonacional,colocouoMaranhãoduasvezesnopódio.

Equipe Maranhão de Karatê Shotokan

DanielCaripunas,GaranceDemousseau,GilbertDemousseau,HannyDiniz,HaykaDiniz,JoãoBatista Pereira,JoãoGuilhermeMaciel,JoãoMicaeldaSilva,JoaquimHenriqueFilho,LeopoldoMartins,Luíza Mendes,MarcoAurélioMota,PauloSilveira,RadhyjaCosta,SamuelAmorimeVítorAugustoMoraes

Medalhadeouronocampeonatoestadualdetênisdemesa(MA).

Eodomingofoidiadeprata...Vice-CampeãdacategoriaAbsolutoCdocampeonatomaranhensedetênis demesa.

por Bruno Assis

DRIBLES, POESIA E CANHOTEIRO

https://bolaclassica.wordpress.com/2024/09/19/canhoteiro/?

“Umanjotorto.Umcanhoteiro.UmSãoJosédeRibamar.Umbailarino.Umbrasileiro.UmParaíba.UmCeará. Umpédeouro”,cantaocearenseFagner,emhomenagemaomestredabola,Canhoteiro. NascidoemCoroatá,noMaranhão,Canhoteiroeraummeninolevadoeinquieto.“Écoisadecriança,logo eleamadurece”,diziamosmaisvelhos.Maselenuncaamadureceu.Desdecedo,naspeladasderua,escutava: “Joga sério, moleque!”Masquem conseguiriatirar a bola dosseuspés?Para ele, tudoera futebol.Frutas, moedas,caixasdefósforo…qualquercoisaviravaumabolaparaelefazerembaixadinhas.

FoiparaoMotoClub,emSãoLuís,aindajovem,elogosedestacou.Endiabrado,ninguémconseguiapará-lo, a não ser com falta. Seus dribles não eram apenas eficientes, eram um espetáculo à parte. Gostava de humilhar os adversários com fintas desconcertantes, dribles que deixavam seus marcadores desmoralizados.

OAméricadoCearálogoocontratou,impressionadocomsuasatuaçõespelaesquerda.Odinheirocomeçou aentrar,eatéseupai,queantesbrigavacomsuas“molecagens”nofutebol,agoraoaplaudia.Aliás,todoso aplaudiam.

Então,imagineessegênioesquecidoedistantedosholofotesdagrandemídia.Oqueelefariaseestivesse nocentrodofutebolnacional?NãodemoroumuitoparaoSãoPauloFutebolClubedescobrirotalentodo “pédeouro,peladeiro,quematanopeitoebeijaosol,odonodaboladeefeito”.*

Logonasprimeirasaparições,Canhoteirochamouaatençãodostorcedores.Umsujeitocomumandarmeio torto,masquesetransformavaquandoabolachegavaaosseuspés.OlendárioTeixeirinha,donodapontaesquerdatricolor,começouasepreocupar:“Deondeveioessecara?”

O futebol, dizem, é resultado, lógica, pragmatismo. Mas não para Canhoteiro. Para ele, futebol era arte, espetáculo. O lado esquerdo do ataque era seu palco, e bastava um espaço minúsculo para que ele transformasseaquelelocalnumlatifúndiodejogadasgeniais.

Djalma Santos, uma dasmaiores lendas do futebol, tornara-se seu amigo. Era um dos poucos capazes de retribuir os dribles que levava de Canhoteiro, tamanha era sua habilidade. Idário, lateral do Corinthians, umavezameaçou:“Canhoto,sevocêviermuitoperto,voupassarminhacarroçaemcimadevocê”.Mas,na vésperadosjogoscontraCanhoteiro,Idáriomalconseguiadormir,preocupadocomoqueviria.

Em1957,foicampeãopaulistapeloSãoPaulo,ajudandoavenceropoderosoCorinthians.Oataquetricolor daqueletimeinesquecíveleraformadoporMaurinho,Amaury,Gino,Zizinhoe,claro,Canhoteiro.

Zizinho, o Mestre Ziza, que viu muitos craques ao longo da carreira, disse: “O fera do São Paulo era o Canhoteiro.Nuncavinadaigual”.AtéogenialDidi,companheirodePeléeGarrincha,admiravaacapacidade dedribledeCanhoteiro,mesmojátendojogadocomo“AnjodasPernasTortas”.

Namúsica“Futebol”,deChicoBuarque,oataquedossonhosécompostoporGarrincha,Didi,Pagão,Pelée Canhoteiro.PoderiatersidoesseoataquedaCopade1958?Sim,masCanhoteironãofoi.Suavidaboêmia eaindisciplinanostreinosoafastaramdaseleção.Elenãoguardavamágoas.Paraele,jogarbolaerauma paixão,umaarte,nãoumdever.

Canhoteironãocresceu.Continuoumoleque,paranossasorte.ComocantamFagnereZecaBaleiro:

“Corredisparapáragingaezás

(Corredisparapáragingaejazz)

Maisumzagueirovaiprochão

Essejáeranãolevantamais

Fintacanhotavoasamurai

Lávaiabolabaladecanhão

Seupédireitoéabombaquedistrai Oesquerdoéocoração

Umbelodrible

Decideojogo

Nograndebailedofutebol

Sóumartista

Umcanhoteiro

Acendeatardeinventaosol”*

“SenhoraseSenhorescomvocês:Canhoteiro”

*trechosdamúsica“Canhoteiro”deFagnereZecaBaleiro.

Ofuteboldetravinha,tambémconhecidocomo“futebolemcamporeduzido”,éumavariaçãodofutebol tradicionaljogadaemumcampomenor,geralmentecomdimensõesde30x20metros1 .Astravessão pequenasepodemserfeitasdemateriaisimprovisadoscomopedras,sandáliasougarrafas2 .

Essamodalidadeémuitopopularentrecriançasejovens,especialmenteemáreasurbanasepraias3 As regrassãoadaptadasparaoespaçoreduzidoeonúmerodejogadoresémenor,oquetornaojogomais dinâmicoeacessível

Ofuteboldetravinhatemsuasraízesnasbrincadeirasinformaisdecriançasejovensemáreasurbanas epraiasdoBrasil.Éumamodalidadequesurgiudeformaespontânea,adaptandoofuteboltradicional paraespaçosmenoresecommateriaisimprovisados,comopedrasouchinelosparaformarastraves1 .

Em 2015, a modalidade ganhou um reconhecimento mais formal com a criação da Confederação Brasileira de Futebol de Travinha (CBFT), fundada em João Pessoa, Paraíba1 .A CBFT padronizou algumasregrasepromoveuacriaçãodefederaçõesestaduais,ajudandoaorganizarcampeonatosea difundiraindamaisessaprática1

OfuteboldetravinhaéconhecidopordiferentesnomesemváriasregiõesdoBrasil,como“golzinho”, “gol caixote” e "barrinha"1. Apesar das variações regionais, a essência do jogo permanece a mesma: diversãoeacessibilidade.

Omaisimportantenofuteboldetravinhaéadiversãoeacamaradagementreosjogadores.Éumaótima maneiradeseexercitaresocializar!

Ofuteboldetravinhatemregrasadaptadasparaoespaçoreduzidoeainformalidadedojogo.Aquiestão algumasdasprincipaisregras:

1. Campo e Traves:Ocampoémenor,geralmentecercade30x20metros.Astravessãopequenas, comaproximadamente1metrodealturae1,20metrosdelargura1 .

2. Número de Jogadores:Cadatimetementre3a5jogadores,dependendodoespaçodisponívele donúmerodeparticipantes1 .

3. Duração do Jogo:Emtorneios,aspartidaspodemterdoistemposde10minutoscada.Em campeonatosmaiores,ostempospodemserde25minutos1 .

4. Início e Reinício do Jogo:Ojogocomeçacomumchuteinicialdocentrodocampo.Apósumgol,o timequesofreuogolreiniciaojogodamesmaforma.

5. Faltas e Penalidades:Asfaltassãogeralmenteresolvidasdemaneiraamigável,semcartões.Em casodefaltagrave,pode-seconcederumtirolivredireto.

6. Goleiro:Nãohágoleirofixo,equalquerjogadorpodedefenderogol.

7. Substituições:Assubstituiçõessãolivresepodemserfeitasaqualquermomentodojogo.

Essasregraspodemvariarumpoucodependendodaregiãoedoacordoentreosjogadores,masaessência dojogoésempreadiversãoeaacessibilidade2

UMAPAIXÃOCHAMADAMARANHÃO!

Hoje,dia24desetembro,comemoramosos92anosdetradiçãodogloriosoMaranhãoAtléticoClube,que desde 1932 nos presenteia com momentos inesquecíveis e dignos de orgulho para todo o estado. Nesse 2024,oquadricolordoParqueValérioMonteirocelebramaisumanodevitórias,garraepaixão,celebrados commuitaalegriaporsuafieltorcida!

Um ano que fica marcado com a primeira participação do Demolidor na Copa do Nordeste, e com o calendário nacional garantido por mais uma vez. Que venham muito mais anos de conquistas do nosso queridoBodeGregório!

Umamorquevesteemquatrocoresasmilharesdecoraçõesmaranhenses!

Avante,Maranhão!

RAYSSA LEAL DÁ SHOW E É CAMPEÃ DO MUNDIAL DE SKATE STREET EM ROMA

VEJA O RESULTADO DO MUNDIAL DE SKATE STREET 2024 NO FEMININO:

��RAYSSA LEAL - BRASIL - 270,56

�� MOMIJI NISHIYA - JAPÃO - 269,14

��MIYU ITO - JAPÃO - 249,53

4º - COCO YOSHIZAWA - JAPÃO - 232,16

5º - LIZ AKAMA - JAPÃO - 169,54

6º - FUNA NAKAYAMA - JAPÃO - 156,72

7º - AOI UEMURA - JAPÃO - 29,25

8º - YUMEKA ODA - JAPÃO - 4,80

Brasileira faz duas voltas impecáveis, brilha na disputa de manobras e fatura segundo título mundial na primeira competição após conquista do bronze nas Olimpíadas de Paris 2024

RayssaLealtira93,99naterceiramanobradafinaldoMundialdeSkateStreet

Campeãem2022eviceem2023,RayssaLealconquistounestesábadoseusegundotítuloMundialde skatestreetcomdireitoashownapistaemRoma,naItália.Emsuaprimeiracompetiçãodesdeas OlimpíadasdeParis2024,ondefaturouamedalhadebronze,askatistamaranhensede16anosfezduas voltasimpecáveis,brilhounadisputademanobraseconquistouavitóriacompontuaçãototalde270,56,à frentedeMomijiNishiya(269,14)eMiyuIto(249,53),numafinalemqueasseterivaiseram representantesdoJapão.Nomasculino,KelvinHoeflerterminouemoitavolugar.

RayssaLealtira88,43nasegundavoltadafinaldoMundialdeSkateStreet

Nafinaldestesábado,cadaskatistaentrounapistaparaexecutarduasvoltasde45segundos,coma melhornotasendocomputada,enasequênciabuscarasmelhoresmanobrasquedefinemapontuação total.Únicanão-japonesaentreasoitoskatistasnadecisão,Rayssainiciousuaparticipaçãosabendoque precisavadeumanotaaltadepoisdeLizAkama,medalhadeprataemParis,tirarum83,78.Abrasileira respondeucomumavoltaimpecávelparachegara86,44eassumiraprimeiracolocação.OuroemTóquio 2020,MomijiNishiyatambémbrilhoueconseguiuum85,33.

RayssaLealemaçãonafinaldoMundialdeskatestreetemRoma Foto:ReproduçãoTV

Líderabsoluta,amaranhenseiniciouadisputademelhormanobracomforçatotal,massofreuumaqueda emsuaprimeiratentativaenasegundachegouacompletaromovimento,masencostouamãonochão. Enquantoisso,MomijiNishiyaconquistouamelhornotadadisputa,um94,88,paraassumiraliderança com269,14,enquantoabrasileiraseguiazerada.Masnaterceirachance,Rayssavoltoudevezàbrigacom um88,14,ficandotemporariamenteemquartomesmocomumanotaamenos.

Comoresultado,RayssarepeteacampanhadeSharjah2022,quandoconquistouseuprimeirotítulodo Mundial.AmaranhensetambéméaatualbicampeãdaStreetLeagueSkateboarding(SLS),comasvitórias de2022e2023.

28 DE OUTUBRO É O DIA DO JUDÔ!

CelebramosoespíritodesseesporteeaproveitamosparaparabenizarosenseiGóespelaconquistade seutricampeonatonaCopaMonteBranco,noúltimofimdesemana.Suadeterminação,técnicaeamor aojudôinspiramcadaalunoecolegadetatame,mostrandoqueocaminhodadisciplinaedorespeito levaagrandesconquistas.

Queoexemplodosensei Góesmotivetodososjudocasacontinuarembuscandoomelhordesi, com honraededicação.

Parabéns,sensei!

Osmeninoscomotroféudesegundolugar; Asmeninascomaterceiracolocação;

Oqueéotorneio?

Em Caxias foi realizado o 1⁰ Torneio Intermunicipal de Handebol do Maranhão, que aconteceu no sábado(26)edomingo(27).

AlémdeCaxias,haviaequipesdascidadesdeTuntum,PresidenteDutra, DomPedroeBarradoCorda.

Osbarra-cordensesenviaramtrêsequipes:Duasmasculinaseumafeminina.

HandebolnaBarra

Desdeadécadade70quehápráticadehandebolemBarradoCorda. Mas,noperíododaprefeitaDarciTerceiro(1989-1992)foifortalecido.

SegundooprofessorLeonardoDelgado,presidentedaLigaDesportivaEscolareCultural,ohandebol foipraticadonosanos2000,mas"praticamenteextintode2007a2012".

Ecompleta:

-Apartirde2020,voltaafazerpartedoprogramadosjogosescolares

CasadoHandebol

AexpectativaéaquadradocolégioIsabelCafeteira,quereceberámarcaçãoespecialparaamodalidade esportivaeseráacasadohandebolemBarradoCorda.

SobreHandebol

AmaranhenseAnaPaulaRodrigues,37anos,éumalendadohandebolmundial.

Emagosto,acertousuatransferênciaparaoRocasaGranCanaria,daEspanha.

No seu currículo, participou de quatro olimpíadas, menos a de Paris. Mas ganhou três Jogos PanAmericanoseumtítulomundial.

FotosenviadasaoTBporLeonardoDelgado.

EDUCAÇÃO FÍSICA

Sempre gostei de esportes, como gosto de fígado, de política e de unha encravada. Nos tempos do ginásio,noColégioParanaenseInternato,ondeEducaçãoFísica,comonãopoderiaserdifreente,eraum item obrigatório, pra cumprir meu dever, fui obrigado, mesmo contra minha vontade, a entender o funcionamentoe,pelomenos,tentaraprendernaprática,váriosdosesportesexistentesnomundo..

Lembro-me bem de Lester, um dos professores, estilo militar, parada dura, com queixo de Urutu. Gostavamuitodaquelesquelevavamjeitopraesportes,enquanto,àquelesquenãosabiammuitooque fazercomabola,quenãoconseguiamsaltarcomvaraouquechagavamnalanterna,apóscorreralguns quilômetrospelosquarteirõesdobairro,elenemolhavanacara.

Segundo Kant: uma ação feita por dever, não tem seu valor moral na sua utilidade, mas na lei que impulsiona a ação. O dever somente deve ser impulsionado pela lei, devendo-se descartar qualquer sinaldevontadeprópria,guiadapeloqueseganhanocumprimentododever.

Lester e seu padrão, Nascido pra Matar, foi inesquecível, mas não foi o único professor a não tentar despertaremmimqualquersimpatiaporatividadesatléticas.Houveoutrosantesedepoisdele,apenas voltados aos que facilmente conseguiam bons resultados e não aos que exigiam deles, um certo empenho.

Esses tempos fuçando na rede, descobri algo que nunca tinha ouvido falar: meninos e jovens norteamericanos, queaoseremobrigadosaparticipardeatividadesfísicasnostemposescolares,àsquais talveznãogostassem,sofrendoporsuasinaptidões,ouatémesmogostandodelas,possamterpassado oquepassei,mascomumagravante:eramobrigadosapraticá-lasnus.

Poucagentefaladisso,mascontaahistória,queem1885,aYMCA,afamosaAssociaçãoCristãdeMoços, responsável,entreoutrascoisas,pelacriaçãodoVolleyedoBasket,aoabriraprimeirapiscinacoberta delazerdaAmérica,emNewYork,exigiuqueosrapazesnadassemnus,poisoscalções,entãofeitosde lã ou de algodão, eram armadilhas em potencial pra bactérias e doenças e suas fibras entupiam o sistemasimplesdefiltragemdapiscina.Naépoca,portanto,nadaremnus,pareceuserasoluçãomais sensata.

Comosurgimentodeoutraspiscinas,nãodemoroumuitopraquealgunsadministradoresseguissem este exemplo, até que as diretrizes da influente APHA, Associação Americana de Saúde Pública, responsávelpelogerenciamentodepiscinas,sugeriu,em1926,quealunosdeescolaspúblicasdosexo masculinonadassemnus.

Comoossistemasdefiltragemdepiscinasforamsendoaprimoradoseostrajesdebanhopassarama serfeitosdetecidosmodernos,comoonylon,fibrasdetecidoegermesnapiscina,jánãoerammaisum grandeproblemaeasdiretrizesdaAPHA,deixaramdevigorarapartirde1962.

Oinsólitoéquemesmodepoisqueaspiscinaspassaramainstalarsistemasdefiltragemmaisavançados enadarnusetornoudesnecessário,muitasinstituiçõesdeChicagoedeoutrascidades,continuaram com a obrigação, prorrogando aquela prática, aparentemente estranha, mas então tida como uma tradição,sejadeinspiraçãogregaoutroiana,pormaisvinteanos.

Naquelaépoca,poucagentequestionavaaregulamentaçãoouotalcostume,equandoissoacontecia, os responsáveis listavam motivos pra que tal regra fosse mantida: além de incentivar os meninos a ficaremmaislimposelivresdosgermes,alegavamqueanataçãonuaconstruíacoesãoentreosjovens, promovia uma interação sadia entre eles, reforçava a masculinidade por meio da aptidão física, do atletismo,dotrabalhoemequipe,dadisciplina,dosacrifíciopessoaleospreparavapravidaadulta.

Sealgummeninooualgumjovemsemostrasseincomodadocomaquelasituação,eravistocomoalguém comdificuldadedesociabilidadeoutinhasuamasculinidadecolocadaemdúvida.Asoluçãoportanto eraaceitarecontinuarnadando,nadando.

Penso que não há nada demais em campos de nudismo ou praias naturistas, onde, praticamente em todoomundo,praticantespraticamapráticadeconviveremnus.Tambémnãovejonadademais,num grupodeamigosqueresolvemnadarnusnumapraia,numlagoounumapiscinaprasedivertirnum lugarermo.

O que me parece estranho nessa velha história, foi obrigar todos os meninos e adolescentes, independentemente de suas vontades, semanalmente, durante suas vidas escolares, e isso se repetir pormaisdecincodécadas,aumaprática,nãoapenasdiantedosseusamigos,masdetodososcolegas, que nem sempre eram bons camaradas, de seus professores, e em ocasiões especiais, diante de suas colegasdeclasse,amigas,possíveisnamoradasedasrespectivasfamíliasdelas.

Poroutrolado,enquantoosmeninoserapazeseramobrigadosanadarnus,asmeninasemoças,que nadavamemseparado,emoutraspiscinasouemoutroshorários,eramobrigadasausarmaiôsdesde quesimples.Oargumentoeradeque,alémdasregrasmensais,elaserammaistímidasqueosmeninos.

Eradefendidonaépoca:queaoseolharocorpodeumamulher,hámaiscoisasmostradasdoquenos homens, como os seios e tudo o mais e que elas gostam de esconder muitas coisas, enquanto nos meninosháapenasumacoisaetodostêmamesmacoisa.

A obrigação de usarem os tais maiôs simples, entretanto, não as livrava de passarem por situações constrangedoras e humilhantes. Algumas escolas públicas, sabe-se lá porque, exigiam que as moças usassemmaiôscomcódigodecorespelotamanhodobusto. Moças com busto pequeno usavam maiôs na cor marrom, um pouco maior, azul marinho, depois vermelho, até chegar às mais avantajadas, que deveriam usar maiôs verdes. Imagine esse tipo de classificaçãonacabeçadeumameninadecatorzeanos.

VoltandoaovelhoebomKant:todososimperativosseexprimempeloverbodeveremostramassima relaçãodeumaleiobjetivadarazãoparaumavontadequesegundoasuaconstituiçãosubjetivanãoé por ela necessariamente determinada, ou seja uma obrigação. Eles dizem que seria bom praticar ou deixardepraticarqualquercoisa,masdizem-noaumavontadequenemsemprefazqualquercoisasó porquelheérepresentadoqueseriabomfazê-la.Praticamentebomé,porémaquiloquedeterminaa vontade por meio de representações da razão, por conseguinte não por causas subjetivas, mas objetivamente,querdizerporprincípiosquesãoválidosparatodooserracionalcomotal.

Comcerteza,amaioriadaquelesqueviveramisso,encaravamnumaboaenãoviamnadademaisnas taisobrigações.Poroutrolado,écertoqueoutrosnãoviamdeumaformatãopositiva,seremobrigados aseexpordestamaneira,todasemana,duranteanoseisso,certamentedevetergeradoemcadaum desses ex-alunos, conflito, raiva, confusão e ansiedade, quando lembram do pesadelo constante do bullyingaoqual,poranos,foramsubmetidos.

Eupelomenos,penso:quebomquenãotenhomaisqueencararoolharsinistrodoLester,numagélida manhãdesegunda-feira...

GUIMARÃES,EXEMPLOASEGUIR

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