ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
NÚMERO ATUAL - V. 3, N. 1, 2016 SÃO LUIS – MARANHÃO – JANEIRO – MARÇO
2014 – ano de MARIA FIRMINA DOS REIS
2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES
2016 – ANO DE COELHO NETO
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA CLORES HOLANDA SILVA Presidente COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Presidente CONSELHO EDITORIAL Sanatiel de Jesus Pereira Presidente Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659 Ou Centro de Criatividade Odylo Costa, filho Sala de Multimeios Praça do Projeto Reviver
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com
NOSSA CAPA: Escudo da ALL
Retrato de Coelho Neto
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322
NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março)
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33 DIRETORIA 2016-2017
Presidente -
DILERCY ARAGÃO ADLER
Vice Presidente – SANATIEL DE JESUS PEREIRA Secretário Geral – CLORES HOLANDA SILVA 1º Secretário –
MÁRIO LUNA FILHO
2º Secretário –
DANIEL BLUME DE ALMEIDA
1º Tesoureiro –
RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO
2º Tesoureiro –
RAIMUNDO GOMES MEIRELES
CONSELHO FISCAL
ROQUE PIRES MACATRÃO (Presidente) ÁLVARO URUBATAM MELO MICHEL HERBERT FLORENCIO
CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO
ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938
CONSELHO EDITORIAL
PRESIDENTE
EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CADEIRA 21
SUMÁRIO 3 6
EXPEDIENTE SUMÁRIO A VISTA DO MEU PONTO Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Editor)
11 15
EFEMÉRIDES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ CONTRIBUIÇÕES DE FRAN PAXECO À INTRODUÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DOS ESPORTES NO MARANHÃO (BRASIL) JOSÉ NERES / LUIS AUGUSTO CASSAS DEZ ANOS SEM JOSUÉ MONTELLO ALDY MELLO JOSUÉ MONTELLO E A SAGA MARANHENSE ANTOLOGIA LUDOVICENSE – L.G.D. VAZ MANUEL ODORICO MENDES - PATRONO MÁRIO MARTINS MEIRELES - PATRONO CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA - PATRONO JOSÉ TRIBUZI PINHEIRO GOMES (BANDEIRA TRIBUZI) - PATRONO JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS - PATRONO CLORES HOLANDA SILVA - FUNDADORA
25 42 44 48 49 52 58 63 71 77
80
2016 – ANO DE COELHO NETO EDMILSON SANCHES COELHO NETTO, 150 ANOS. E DAÍ? HELENA DAMASCENO SOB O PESADO SIGNO DO ESQUECIMENTO EDMILSON SANCHES PROCURA-SE COELHO NETTO EDMILSON SANCHES OS DESCENDENTES DE HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETTO DO BLOG DO LEOPOLDO VAZ - COELHO NETO – 150 ANOS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; DELZUITE DANTAS BRITO VAZ ESPORTE & LITERATURA – MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ COELHO NETO ERA CAPOEIRA… FRANCISCA GIRLENE DA SILVA CONTRIBUIÇÕES DO ESCRITOR CAXIENSE COELHO NETO PARA O ESPORTE BRASILEIRO
ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE – UMA PERIODIZAÇÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE – GUARNICÊ EDMILSON SANCHES CRÔNICA DA ESPERANÇA CRÔNICA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CORRIDA DE TORAS – PRÁTICA DOS GUARETIS E CAICAÍZES – 1685-1687 DILERCY ARAGÃO ADLER NO APAGAR DAS LUZES DE 2015, UM ADEUS INESPERADO: homenagem a Manoel de Jesus Sousa (1942-2015) EDMILSON SANCHES UM JORNALISTA DESPRETENSIOSO... E PIONEIRO AYMORÉ ALVIM A PROVA DE OBSTETRÍCIA DILERCY ADLER MARIA FIRMINA DOS REIS: pequeno recorte de uma grande e gloriosa vida de mulher OSVALDO GOMES HOMENAGEM AOS 258 ANOS DE FUNDAÇÃO DE GUIMARÃES
81 83 85 89
91 95 97
100 101 109 116 118 124 126 129 131 134
HAMILTON RAPOSO A PONTA D’AREIA E A PONTE. DINACY CORRÊA EUCLIDES DA CUNHA: LITERATURA, HISTÓRIA, JORNALISMO E CIÊNCIA TECENDO OS SERTÕES – LEMBRANDO OS 150 ANOS DE UM GRANDE ESCRITOR BRASILEIRO AYMORÉ ALVIM O CORAJOSO. ÁLVARO URUBATAN (VAVÁ) MELO THANATOS HAMILTON RAPOSO BASES E BOATES: UM PASSEIO NOSTÁLGICO! HAMILTON RAPOSO MADRE DEUS E O GLAMOUR MARANHENSE! HERBERT DE JESUS SANTOS RIBAMAR FEZ SEU PIOR LAVA-PRATOS, EM 69 ANOS, E FILHOS QUEREM ORIGINAL DE VOLTA RAMSSÉS DE SOUZA SILVA OS DESCENDENTES DE POMBAL NO MARANHÃO CHICO PINHEIRO TIÃO CHEGOU!!!! RAMSSÉS DE SOUZA SILVA O SINISTRO RITUAL DO ENFORCAMENTO DE BECKMAN AYMORÉ ALVIM O TOQUE DANIEL BLUME A PRAIA (DE) ONTEM LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 40 ANOS DEPOIS... ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO JOHN MAYNARD KEYNES AYMORÉ ALVIM A SAGA DA MULHER ATRAVES DA HISTÓRIA AYMORÉ ALVIM A PAIXÃO DE CADA QUAL
135 136 141 142 143 144 145 148 149 151 153 155 156 168 169 171
ALL NA MÍDIA
173
O IMPARCIAL – CADERNO IMPAR - Editor: SAMARTONY MARTINS São Luís, domingo, 2712/2015 RECONHECIMENTO - ENTRE A JUSTIÇA E A LITERATURA – SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO P E N C L U B E D O B R A S I L - Boletim Informativo Sobre ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Do G1 PA - VEJA COMO FOI A FUNDAÇÃO DE BELÉM EM 1616 E CONHEÇA SUA HISTÓRIA Depoimentos de ANA LUIZA ALMEIDA FERRO e ANTONIO NOBERTO ALDY MELLO INVEJA NO MARANHÃO ALDY MELLO O MUSEU DO AMANHÃ ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO ORDEM FISCAL LITERARTE - ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE ESCRITORES E ARTISTAS/PREFEITURA DE OURO PRETO-MG. TROFÉU MELHORES POETAS 2015/2016 - PARA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO POR QUE SOBEM AS TAXAS DE JUROS ALDY MELLO ÉTICA NO CARNAVAL – MERO DEVANEIO FILOSÓFICO? SOBRAMES – HONRA AO MÉRITO SOBRE MICHEL HERBERT PH REVISTA – MELHORES DO ANO – O ESTADO 11/02/2016 SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO MHARIO LINCOLN ENTREVISTA LEOPOLDO VAZ ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ENTRE A BATINA, A TOGA E AS MUSAS
174 176 177 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189
FESTIVAL INTERNACIONAL DE POESÍA "BENIDORM & COSTA BLANCA"! PARTICIPAÇÃO DE DILERCY ARAGÃO ADLER ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO PENSADORES ENFRENTAM DESAFIOS ALDY MELLO A ERUDIÇÃO NAS UNIVERSIDADES
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Ilhavirtualpontocom
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com entrevista concedida por Ana Luiza Almeida Ferro, França Equinocial nos 403 anos de São Luís. Youtube Entrevista com Antonio Noberto BENEDITO BUZAR EU SOU DO TEMPO EM QUE…
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PROGRAMA “ALGO MAIS” DA PAULINHA LOBÃO, EM 27 DE FEVEREIRO... FALANDO DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO E DA HISTÓRIA DE SÃO LUÍS - ANTONIO NOBERTO FÉLIX ALBERTO LIMA – o ESTADO, 28/02/2016 – Opinião, p. 5 NO LABIRINTO DE ESPELHOS DE DANIEL BLUME REVISTA CULTURAL LUDOVICENSE - SÃO LUÍS 400/2012 A “DESCOBERTA” DO MARANHÃO", por Leopoldo Vaz ALDY MELLO O ECO DE HUMBERTO O LIVRO MÁRIO MEIRELES: HISTORIADOR E POETA RECOMENDADO NO DOMINGÃO DO FAUSTÃO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO SANATIEL PEREIRA VIDA DUPLA CONCURSO NACIONAL “COLETÂNEA INTERNACIONAL BILÍNGUE – SEM FRONTEIRAS PELO MUNDO... VOLUME VERSO SOBRE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO VEREDA TROPICAL SANATIEL PEREIRA VIVA JOÃO LISBOA!
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POESIAS & POETAS
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“PEDRA DE TOQUE" - dedicado a Wilson Ferro "in memoriam" ODE A SÃO LUÍS JORGE ANTÔNIO SOARES LEÃO NAS ÓRBITAS DE NAURO: COMENTÁRIO SOBRE A OBRA “AS ÓRBITAS DA ÁGUA”, DE NAURO MACHADO MHARIO LINCOLN (Acervum - Suplemento Nacional de Literatura e Artes) : CELSO BORGES ENTREVISTA: KISSYAN CASTRO RESGATA A POÉTICA SIMBOLISTA DE MARANHÃO SOBRINHO DINACY CORRÊA CENTENÁRIO DE RIBAMAR GALIZA -José de Ribamar Nóbrega de Galiza MICHEL HERBERT O INDISPENSÁVEL ESPÍRITO SANTO PEQUENO-GRANDES DESAFIOS MHARIO LINCOLN AH! MINHA PAZ... AYMORÉ ALVIM. FELIZ ANO NOVO! SERA? AMANTES PARA SEMPRE CINZAS NO RÍTMO DA VIDA Ah! QUANTAS LEMBRANÇAS A ADÚLTERA MANOEL DE PÁSCOA MEDEIROS TEIXEIRA CANÇÃO AO POETA: A CRÍTICA CULTURAL VANDA LÚCIA DA COSTA SALLE - Excelentíssima Presidenta da ALL, Senhora Dilercy Adler, FELICITAÇÕES ANA LUIZA ALMEIDA FERRO O REI INFANTE ADEUS O NÁUFRAGO VIII
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DILERCY ADLER BOM DIA FOGÃO A LENHA LIBERTAÇÃO A ESSÊNCIA INVISÍVEL DO “ELA” ULTIMATUM - 1917 - NOVENTA E NOVE ANOS DEPOIS PARTO AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=42184 CLEVANE PESSOA MHARIO LINCOLN POETA DO SÉCULO XX/POETA ESTRANGEIRO FRANCISCO ALARCÓN NUNCA SOLO DINACY MENDONÇA CORRÊA; LEILIANE COSTA BARBOSA RESUMO DAS OBRAS LITERÁRIAS DE BRANDT E SILVA Romances de Pe. Brandt de Arari – sínteses narrativas DINO CAVALCANTE; JOSÉ NERES A POESIA ESPARSA DE MARANHÃO SOBRINHO CELITO MEDEIROS QUAL A ORIGEM DAS GUERRAS? MHARIO LINCOLN DE GONÇALVES DIAS À ANTROPONÁUTICA DE CASSAS MHARIO LINCOLN A PRECIOSA ESTREIA DE MÁRCIO MINATO DILERCY ARAGÃO ADLER LER E PRODUZIR OBRAS LITERÁRIAS : prazeres vitais para o mundo humano ANTONIO AÍLTON RICARDO LEÃO E SUA “MINIMÁLIA OU O JARDIM DAS DELÍCIAS” FERNANDO BRAGA SONETÁRIO DO QUIXOTE VENCEDOR CLORES HOLANDA MARÇO ELOY MELONIO CLUBE DA POESIA DE SÃO LUÍS FERNANDO BRAGA ALÉM DA ESPERANÇA DEMETRIOS GALVÃO ANTONIO AÍLTON - POEMAS JUÇARA VALVERDE MULHER EM TEMPO INTEGRAL ELIZA BRITO NEVES MULHER, TEU NOME É VITÓRIA SÉRGIO SAYEG
GONÇALVES DIAS REVISITADO ANTOLOGIA LUDOVICENSE – L.G.D. VAZ
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245 248 249 250 252 253 254 256 258 263 266 268 269 270 271 274 275 276 278
NASCIDOS ENTRE JANEIRO E MARÇO FERNANDO EUGENIO DOS REIS PERDIGÃO JORGE NASCIMENTO CARLOS ALBERTO DA COSTA NUNES EDUARDO JÚLIO DA SILVA CANAVIEIRA FRANCISCO JOSÉ SANTOS PINHEIRO GOMES JOSÉ DO COUTO CORRÊA FILHO FRANCISCO SOTERO DOS REIS JUNIOR RAUL DE AZEVEDO JOSÉ DE ALMEIDA NUNES RAIMUNDO NONATO DA SILVA SANTOS
279 280 282 284 285 288 289 290 293 294
LUÍS AUGUSTO CASSAS RICARDO ANDRÉ FERREIRA MARTINS VIRIATO SANTOS GASPAR JOSÉ DE RIBAMAR DE OLIVEIRA FRANKLIN DA COSTA CARLOS ALBERTO MADEIRA JUSTO JANSEN FERREIRA JOSÉ NASCIMENTO MORAES EUCLIDES LUDGERO CORRÊA DE FARIA GENTIL HOMEM DE ALMEIDA BRAGA JORGE ANTÔNIO SOARES LEÃO SÉRGIO SMITH DANIELLE ADLER NORMANDO MILENA ADLER NORMANDO DE SÁ
295 300 308 318 319 320 323 324 325 327 329 330 331
A VISTA DO MEU PONTO
ALL SOB NOVA DIREÇÃO: Presidente -
DILERCY ARAGÃO ADLER
Vice Presidente – SANATIEL DE JESUS PEREIRA Secretário Geral – CLORES HOLANDA SILVA 1º Secretário –
MÁRIO LUNA FILHO
2º Secretário –
DANIEL BLUME DE ALMEIDA
1º Tesoureiro –
RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO
2º Tesoureiro –
RAIMUNDO GOMES MEIRELES CONSELHO FISCAL ROQUE PIRES MACATRÃO (Presidente) ÁLVARO URUBATAM MELO MICHEL HERBERT FLORENCIO
DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO
CONSELHO DOS DECANOS ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938
Começamos Novo Ano, sob nova Direção. Eleita por aclamação - chapa única – conforme reza o Estatuto, sem que algum outro membro se candidatasse a alguma função individualmente, também como permite o Estuto. Ao publicar o número anterior, coloquei que seria a última de 2015, e aguardaria uma posição da nova administração se continuaria responsável pela edição da revista eletrônica... no mesmo dia (29/12) a Presidente ligou, tranqüilizando-me: deves continuar a fazeres teu trabalho. Disse que tinha liberdade total para tal, condição que Dr. Roque me propiciara, sem interferência... Nada respondeu... Nesse mesmo dia comecei, de qualquer forma, com as incertezas, a construir o presente número... Estou pensando em algumas modificações, especialmente no ALL NA MÍDIA, transcrevendo apenas os artigos publicados nos diversos meios; o resgate das citações e menções aos membros toma muito espaço. No número anterior, tive muita dificuldade para reduzir 119 MB para menos de 25 MB, quantidade máxima para publicação na ferramenta ISSUU, da qual me sirvo. Além das inúmeras fotos – a maioria para retratar a participação na FELIS 2015... Recorri à Jackeline Sousa para passar dois dias inteiros reduzindo as fotos ao tamanho mínimo, e os PDFs das páginas de jornais... mesmo assim, tive que cortar algum material, até conseguir o numero de MB máximo para publicação... Vamos ver como os Membros se comportam nesse trimestre... se estarão em evidencia, muita, como no trimestre passado. Visibilidade da ALL, muito embora em algumas das reportagens não tenha havido menção de que era sócio-atleta de nossa Academia... Essa a condição para estar visível em nossa Revista. Terminou o ano, e não conseguimos, ainda, o registro junto ao IBICT – indexação – com a obtenção do ISSN; contratada consultoria para fazer o registro, e as modificações necessárias, com minha saída da Secretaria Geral, passou para a responsabilidade de quem assumiu a mesma, à Comissão de Publicação e
Eventos, e à Comissão de Bibliografia... apenas contratação de local para deposito do acervo, na nuvem, para que possa se efetivar o devido registro, e temos a recomendação do consultor de qual seria o melhor para a ALL... aguardamos o posicionamento da nova diretoria sobre o assunto!!! Da mesma forma ficou pendente a publicação do volume I de Discursos, com a apresentação e elogio ao patrono – dos fundadores – e o dircurso de posse, dos primeiros ocupantes. Nesse primeiro volume, devidamente apreciado pelas Comissões, e aprovado, seriam 22 (vinte e dois) os contemplados. Havia se deliberado que caberia à Comissão de Publicação e Eventos, recebido os originais, buscar gráfica e/ou editora, fazer o orçamento, e cada um dos autores (não os apresentadores...) bancariam o custo da edição, mediante o pagamento antecipado de alguns números. Nada foi feito, haja vista que se dedicou apenas à edição dos livros em homenagem a Maria Firmina dos Reis. O volume II, somente quando as cadeiras restantes – 23 – estiverem ocupadas. Atualmente, são 27 os ocupantes... Também já colocado à disposição o Indice da ALL em Revista, em seus oito números publicados. Pensei em fazer uma análise abordando a elite dos autores, mas apresento apenas a tabela para seu cálculo: 1 autor 1 1
ARTIGOS, CONTOS, CRONICAS 2 artigo 52 31
3 1x2 52 31
1 1 1 1
28 19 18 14
28 19 18 14
1 1 1 1 3 3 2 4 1 11 15 49
11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
11 10 9 8 21 18 10 16 3 22 15 305
4 autor
POESIAS 5 poesia
6 4+5
1 1
30 28
30 28
1 2 1
14 13 11
14 26 11
1 1
9 8
9 8
2 2
6 5
12 10
2 7 24 45
3 2 1
6 14 24 192
Total geral 1+4 1 1 1 2 1 1 1 2 2 1 2 2 3 5 4 4 3 18 40 94
3+6 52 31 30 56 19 18 28 26 22 10 18 16 21 30 10 16 9 36 59 497
OBS. (1 )– NÚMERO DE AUTORES; (2) – NUMERO DE ARTIGOS POR AUTOR; (3) NUMERO DE AUTORES X NUMERO DE ARTIGOS POR AUTOR; (4) – NUMERO DE POETAS; (5) – NUMERO DE POESIAS POR POETA; (6) – NUMERO DE POETAS X NUMERO DE POESIAS POR POETA. Alguns artigos tem mais de 1 autor, contados como 1; alguns autores aparecem tanto na coluna artigos como de poesias, contados separadamente (duas vezes)
Temos, pois, 94 autores, com 497 contribuições... Pertencem à ELITE DE AUTORES aqueles que publicaram 22 (22,2) ou mais contribuições. Autores com 22 ou mais contribuições temos 5; se considerarmos apenas textos – artigos, crônicas, contos, teremos como pertencente à elite de autores aqueles que contribuíram com 18 ou mais artigos – temos 5 nessa posição; considerando apenas poesias, 13,8 (14) ou mais, com 3 poetas... Nomina-los, só buscando no Indice... Não foram consideradas nesses números poesias incompletas, citadas nos artigos, nem o que o Editor, na sua função, publicou. Estas informações e dados foram desconsiderados. Volto a insistir: na seção EFEMÉRIDES é dado espaço para que os titulares das cadeiras falem sobre seus Patronos, preferentemente, alguma novidade ou aspecto não abordado, artigo novo sobre o mesmo e suas atividades; aos membros, nascidos no período abarcado pela numero da Revista, que se apresentem elogios ao mesmo, à sua atuação juno à ALL, ou mesmo maiores detalhes de sua biobibliografia. Sempre novidades!!! Na sesssão POESIA & POETAS começamos, desde o numero anterior, a publicar também criticas e comnentários sobre poetas e suas poesias, para além de apenas poesias dos membros da ALL. Alguns cronistas têm publicado nas redes sócias suas impressões sobre a cidade, seus costumes, lembranças nossas; temos aproveitado essas memórias para descrever a cidade – o que foi, o que é, replicando aqui... mesmo daqueles que não fazem parte da ALL, mas têm trabalho no resgate de São Luís de nossas lembranças...
Embora em recesso, Janeiro foi um mês bem movimentado, em termos de participação na divulgação das coisas da literatura ludovicense. Imagina quando se retornar das férias... Mas ainda tenho me servido de crônicas sobre a cidade de pessoas não pertencentes aos quadros da ALL. Devemos registrar a cidade!!! Seus acontecimentos, suas festas, seus folclores, nossas lembranças de uma cidade que um dia foi provinciana... E regrediu!!! Essa opção se dá por falta de membros da ALL se dedicarem a esses registros. Temos Aymoré, que lembra sempre de sua Pinheiro natal, e dos atos e fatos dos tempos de seminarista e depois estudante de medicina; temos Vavá, escrevendo sobre sua São bento, de seus personangens, e que de alguma forma tem algo com são Luis; Batalha – quanto tempo – sobre sua Arari... Mas e São Luis? Vamos voltar a falar dos novos membros. Quando vai se permitir a entrada de novos membros? Tantos novos poetas poetando pela cidade, publicando livros, fazendo movimentos e a ALL não participa, fechada em si mesma... Quantos poetas e escritores surgiram e deveriam!!! – estar na Academia de Letras e não estão... para que, afinal, se fundou a de São Luis? Para repetir os erros e omissões? Às vezes, sinto que as críticas que se faziam à Academia de Letras, desde os anos 30 para cá, procedem e cabe a carapuça... Vamos abrir as vagas, ou não? Vamos continuar a panelinha que estamos nos tornando? A resposta, da plenária de janeiro foi: sim!!! Tal qual caranguejo, andamos de lado, com viés para trás. Voltamos a discutir o capelo, voltamos a discutir a revista, voltamos a discutir as indicações de novos sócios, voltamos... E criam-se comissões para fazer o quê afinal? As obrigações de comissões já formadas e estatutárias? E os diretores, fazem o que mesmo? Apresentado o novo calendário, para 2016, aguardando-se o Plano de Metas para 2016/17. Este ano, de Coelho Neto... Tal como se decidiu, 2014 foi o ano de Maria Firmina dos Reis, e 2015, o de Mário Martins Meirelres, 2016 será dedicado à Coelho Neto. Apresentamos o que já temos... E que o ocupante da Cadeira patroneada pelo ilustre caxiense se manifeste – apresente seu Elogio ao Patrono... Haverá um “150 poemas para Coelho Neto”? ; “Sobre Coelho Neto” será publicado aqui, nesses quatro edições do ano de nossa ALL em revista. Aguardamos contribuições... Na sessão POETAS & POESIAS, como já comunicado, além de poesias de nossos ‘socios-atletas’, publicamos de confrades e mesmo de ‘não-academicos’, e que estão produzindo – e muito – e disseminando suas obras através das redes sociais, já que a publicação de livros está se tornando proibitiva, pelos autos custos. Temos exemplos de escritores que vêm bancando suas produções, de há muito... Lenita é um exemplo, de seu ultimo livro... Senti a falta dos confrades no lançamento, apenas Ceres e Vavá, como sempre. Mas retornando, foi proposta pela Presidente um ‘momento de poeisa e/ou crônica” ao termino das Plenárias - “PEDRA DE TOQUE", iniciado com homenagem a Wilson Pires Ferro, um dos aniversariantes do trimestre. Assim, crítica literária, pertinente ao momento que vivemos, por estranhos aos quadros acadêmicos, serão sempre bemvindas. Pelo menos damos conhecimento ao que se está escrevendo, publicando, analisanso, já que o Guesa Errante está com periodicidade incerta. Sentimos falta... Abrindo um parêntese: (nos parágrafos acima, alguns temas reaparecem, pois na medida em que há necessidade de exclarecer algum ponto, ou que novoas decisões ou fatos/acontecimentos o justifique, vamos relatando o dia-a-dia da Academia... suas marchas e contramarchas, virando um ‘relatório’ informal dos acontecimentos sob o meu ponto de vista – daí ter mudado de ‘apresentação’ para ‘a vista do meu ponto’. Fechando o parenteses, as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva do escrevinhador da mesma... Na proposta de construção de uma Antologia Ludovicense – a que estou me dedicando – trago os aniversariantes do trimestre, poetas e prosadores, não pertencentes ao quadro das ALL... Vou atualizar as estatísticas referentes à ALL EM REVISTA, neste dia 29 de fevereiro de 2016, às 09:17 horas de La mañana... Apenas os últimos 30 dias: para quem for verificar: https://issuu.com/home/statistics/publications
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590
Jul 5, 2015
All em Revista, vol 2, no. 1, março / 2015
10
1,404
Mar 29, 2015
ALL EM REVISTA, vol 1, n 4, set dez 2014
8
815
Jan 1, 2015
All em revista vol 1, n 3, julho setembro 2014
2
727
Sep 28, 2014
All em revista volume 1 numero 2 junho 2014
9
204
Jul 28, 2014
All em revista volume 1 numero 1 março 2014
3
216
Jun 14, 2014
Chamo atenção pelo numero de leitores, por país – os 10 mais cotados – que acessam nossa Revista – e a do IHGM... Na Croácia e Ucrania, temos leitores! Ainda a Secretaria Geral, não divulgou as datas das reuniões e eventos, apenas a listagem... até quando, melhor, quando haverão as reuniões? Ainda se está discutindo – e novamente acatado – de que nossas reuniões acontecerão – sempre – no ultimo sábado de cada mês, pela manhã, mas em lugar incerto e não sabido... Boa leitura... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
REUNIÃO DA DIRETORIA – JANEIRO 2016 – PLANEJANDO O ANO
SANATIEL, DILERCY, ANDRÉ, CLORES, CAMPOS, MÁRIO
PRIMEIRA PLENÁRIA 2016 – SALA DOS POETAS – MEMÓRIA REPUBLICANA
CLORES, MEIRELES, CAMPOS, DANIEL, ANA LUIZA, BRANDÃO, MACATRÃO, DILERCY, SANATIEL Participaram, ainda: LEOPOLDO, MICHEL, MÁRIO LUNA, MARIA TEREZA
PRESIDENTE DILERCY & VICEPRESIDENTE SANATIEL
PLENÁRIA: ANTONIO NOBERTO, MICHEL FLORENCIO, BRANDÃO, SANATIEL, CAMPOS, MACATRÃO, MEIRELES, DANIEL, MARIA TEREZA TEREZA, ouvindo LEOPOLDO, na mesa, CLORES e DILERCY
CLORES, DILERCY, LEOPOLDO
Pela ‘enésima’ vez, apresentação do capelo, com novas modificações; onde éstá ‘ouro’ entenda ‘ceu’, onde está franja ‘anoitou’; sem mostrar a barriga... Modelo: Campos
Conforme deliberado na Assembleia Geral Ordinária, do dia 27 de fevereiro de 2016, convocada pelo Edital de Convocação nº. 001/2016, de 15 de fevereiro de 2016, estamos encaminhando a Vossa Senhoria em anexo, o CALENDÁRIO DE ATIVIDADES DE 2016, aprovado na referida Assembleia, a fim de ser preenchido o campo PEDRA DE TOQUE, que tem como objetivo apresentar ao final das assembleias gerais ordinárias da ALL a leitura de poesia e crônica. Caso tenha interesse em participar, informar a data, o título e o autor. Atenciosamente, CORES HOLANDA SILVA Secretária Geral
CALENDÁRIO DE ATIVIDADES 2016 MÊS JANEIRO FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL
MAIO
JUNHO
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
DIA 07 04 14 27
ATIVIDADE RECESSO Reunião da Diretoria Reunião da Diretoria Reunião Informal no AP de Dilercy Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Festiva – Cerimônia de Posse da Diretoria Gestão 20162017 Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Festiva Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Mostra de Literatura Aniversário da ALL Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Festiva FELIS Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Festiva
TEMÁTICA
CORES HOLANDA SILVA Secretária Geral
OBS
AUDIÊNCIA COM O PREFEITO DE SÃO LUÍS Uma comissão formada por Dilercy Adler Presidente, Clores Holanda, Secretária Geral, Daniel Blume, Segundo Secretário, Osmar Gomes, Membro Fundador e André Gonzales, Membro Fundador, acompanhada ainda pelo vereador Osmar Gomes filho, esteve com o prefeito de São Luís, Dr. Edvaldo Holanda Filho, que também é Presidente de Honra da ALL. Na oportunidade, foi requerido o agendamento de data para o recebimento do aludido título, bem assim a viabilização de uma sede à ALL, seja definitiva (Casa das Letras), seja provisória (espaço/sala em prédio público municipal). Também solicitou uma subvenção mensal para colaborar com os custeios da Academia, na medida das possibilidades municipais, em prol da cultura literária de São Luís. Na ocasião a ALL ressaltou também a sua missão de contribuição e fomento às letras da Cidade, razão pela qual se encontra à disposição para integrar todo e qualquer conselho ou comissão ligada à arte, cultura, história e literatura de São Luís. E ainda ofereceu ao Município uma ideia de simples execução (e de baixo custo), mas de inestimável relevância histórico-administrativa, qual seja, a fixação ao chão de uma placa de bronze no local do marcozero de São Luís (ponto de fundação), na Rua Pedro II (centro), nos moldes de Paris e Recife. A ALL apresentará o respectivo projeto circunstanciado, em caso de haver interesse público discricionário. Acreditamos que hoje foi dado um passo muito importante na direção da ALL conseguir atingir um dos seus objetivos mais essenciais como instituição, que é o seu espaço físico e na disposição para as relações com outras instituições, integrando conselhos ligados ás arte, cultura, história e literatura de São Luís. E Pontualmente, sugeriu à Prefeitura a ideia da criação do marco-zero de São Luís (ponto de fundação). Temos confiança que todos nós aprenderemos muito neste caminhar que estamos empreendendo desde 2013, e cada vez com mais compreensão, solidariedade e dinamismo. Tudo isso vem reafirmar que todos juntos somos mais fortes e eficazes do que qualquer um de nós individualmente
EFEMÉRIDES CADEIRA
PATRONO (A)
FUNDADOR (A) 1º. OCUPANTE DA CADEIRA
DATA NASCIMENTO
JANEIRO Wilson Pires Ferro
07 14 24 03 20 27
Aluísio Tancredo Gonçalves Azevedo Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho Manoel Odorico Mendes José Pereira da Graça Aranha
39 02 28 18
José Tribuzzi Pinheiro Gomes Antonio Vieira Astolfo Henrique de Barros Serra Henrique Maximiniano Coelho Neto
06 40 31 21 04 30 19 33 32 05 14
Cândido Mendes de Almeida José Ribamar Sousa dos Reis Mário Martins Meireles Manuel Fran Paxeco Francisco Sotero dos Reis
24 11 23 23 14 10 04 28 29 26 05 12 12
Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho
FALECIMENTO 20/012014 21/01/1913
23/01/1884 24/01/1799 26/01/1931 José de Ribamar Fernandes F E VE R E I R O
30/01/1938 02/021927 06/02/1608 19/02/1978 21/02/1864
MARÇO 03/03/1881 03/03/1947 08/03/1915 09/03/1874 10/03/1871 Clores Holanda Silva João Dunshee de Abranches de Moura Carlos Orlando Rodrigues de Lima Josué Montello João Francisco Lisboa
11/03/1960 11/03/1941
Aldy Mello de Araújo Raimundo Nonato Serra Campos Filho Osmar Gomes dos Santos ABRIL
14/03/1920 15/03/2006 22/03/1812 25/03/1962 10/04/1967
André Gonzalez Cruz
11/04/1984
Álvaro Urubatan Melo
14/04/1940 14/04/1857
Domingos Quadros Barbosa Álvares
13/04/1904
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo Joaquim de Sousa Andrade – Sousândrade Francisco Sotero dos Reis Astolfo Henrique de Barros Serra Maria de Lourdes Argollo Oliver – Dilú Melo
21/04/1902 22/04/1808 22/04/1900 24/04/2000 João Batista Ribeiro Filho –
João Francisco Lisboa José Ribeiro do Amaral José Ribeiro do Amaral
29/04/ 26/04/1863 30/04/1927 03/05/1853
MAIO 15 33 33 17 16 28 31 26
Raimundo da Mota de Azevedo Correia – Raimundo Correia
05/05/1859 Paulo Roberto Melo Sousa
06/05/1960
Carlos de Lima Catulo da Paixão Cearense
09/05/2011 10/05/1940 Aymoré de Castro Alvim
Astolfo Henrique de Barros Serra Ana Luiza Almeida Ferro Raimundo Corrêa de Araújo
13/05/1940 22/05/1900 23/05/1966 29/05/1885
JUNHO 11 36 20
Celso Tertuliano da Cunha Magalhães – Celso Magalhães João Miguel Mohana José Pereira da Graça Aranha
09/06/1879 15/06/1925 21/06/1868
08 13 19 10 34 31 37 34 02 20 21 09
JULHO Dilercy Aragão Adler Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo João Francisco Batalha Joaquim de Sousa Andrade – Sousândrade Lucy Teixeira Mario Martins Meireles Maria da Conceição Neves Aboud Lucy de Jesus Teixeira Antonio Vieira
12 07 36 30 32 26 32 01 19 39 16 38 35 15 21 03 35 09 39 25 17 08 37 06 18 13 27 29 15 05 17 02 07 04 36 08 11
06 25 16
09/07/2007 10/07/2003 10/07/1925 11/07/1922 18/07/1692 Arquimedes Viegas Vale Leopoldo Gil Dúlcio Vaz
Antonio Henriques Leal Mário da Silva Luna dos Santos Filho Wilson Pires Ferro AGOSTO Michel Herberth Alves Florencio
07
07/07/1950 07/07/1955 08/07/1944 09/07/1832
Antonio Gonçalves Dias 10 DE AGOSTO DE 2013 – FUNDAÇÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS João Miguel Mohana Odylo Costa, filho Josué de Souza Montello Raimundo Corrêa de Araújo Aldy Mello de Araújo Antonio José Noberto da Silva SETEMBRO João Dunshee de Abranchews de Moura José Tribuzzi Pinheiro Gomes Antonio Batista Barbosa de Godois 08 DE SETEMBRO DE 1612 – FUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO Dagmar Desterro e Silva Domingos Vieira Filho Raimundo da Mota de Azevedo Correia Manuel Fran Paxeco (em Lisboa) Manuel Odorico Mendes Domingos Vieira Filho Antonio Henriques Leal José Cláudio Pavão Santana OUTUBRO Laura Rosa Catulo da Paixão Cearense Maria Firmina dos Reis Maria da Conceição Neves Aboud Cândido Mendes de Almeida Arthur Almada Lima Filho Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo Humberto de Campos Veras Maria de Lourdes Argollo Oliver – Dilú Melo Raimundo da Mota de Azevedo Correia Daniel Blume de Almeida Raimundo Nonato Serra Campos Filho Raimundo Gomes Meireles NOVEMBRO João Batista Ericeira Antonio Gonçalves Dias Antonio Augusto Ribeiro Brandão Raimundo da Costa Viana Maria Firmina dos Reis Celso Tertuliano da Cunha Magalhães – Celso Magalhães Maria Tereza de Azevedo Neves Roque Pires Macatrão Laura Rosa Antonio Batista Barbosa de Godois
22/07/1949 23/07/1952 24/07/1828 27/07/ 30/07/1936 1º./08/ 10/08/1823 12/08/1995 19/08/1979 21/08/1917 24/08/1951 28/08/1940 30/08/1970 03/09/1867 08/09/1977 04/09/1923 09/09/1925 11/09/1981 13/09/1911 17/09/1952 17/09/1864 25/09/1924 29/09/1885 30/09/1956 1º./10/1884 08/10/1863 11/10/1825 13/10/2005 14/10/1818 17/10/1929 22/10/1908 25/10/1886 25/10/1913 27/10/1977 29/10/1951 31/10/1962 02/11/1946 03/11/1864 08/11/1934 09/11/1939 11/11/1917 11/11/1849 12/11 13/11/1935 14/11/1976 19/11/186
23 18 23
Domingos Quadros Barbosa Álvares Henrique Maximiniano Coelho Neto Domingos Quadros Barbosa Álvares
28/11/1880 28/11/1934 29/11/1880 DEZEMBRO Ceres Costa Fernandes
27 40 30 22 23
Humberto de Campos Veras José Ribamar Sousa dos Reis Odylo Costa, filho. José Américo Cavalcante dos Albuquerques Maranhão Sobrinho Domingos Quadros Barbosa Álvares
OBS: Faltam datas de nascimento: Claude D’Abbeville Falecimento: Dagmar Desterro (38)
São Luís, 23 de fevereiro de 2016. CLORES HOLANDA SILVA Secretária Geral
28/12/ 05/12/1934 09/12/2010 14/12/1914 20/12/1879 26/12/1946
CALENDÁRIO 2016 – efemérides – Janeiro a Março ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
EFEMÉRIDES ? ? 20 21 23 24 26 30 02 06 19 21 03 08 09 10 11 14 15 22 25
? ?
- NASCIMENTO DE CLAUDE D´ABEVILLE – PATRONO DA CADEIRA 1 - FALECIMENTO DE CLAUDE D´ABEVILLE – PATRONO DA CADEIRA 1 JANEIRO 2014 - FALECIMENTO DE WILSON PIRES FERRO – FUNDADOR DA CADEIRA 07 1913 – FALECIMENTO DE ALUISIO DE AZEVEDO – PATRONO DA CADEIRA 14 1884 – NASCIMENTO DE MANUEL VIRIATO CORRÊA – PATRONO DA CADEIRA 24 1799 – NASCIMENTO DE MANOEL ODORICO MENDES – PATRONO DA CADEIRA 3 1931 – FALECIMENTO DE JOSÉ P. DA GRAÇA ARANHA – PATRONO DA CADEIRA 20 1938 - NASCIMENTO DE JOSÉ DE R. FERNANDES – FUNDADOR DA CADEIRA 27 FEVEREIRO 1927 – NASCIMENTO DE BANDEIRA TRIBUZI – PATRONO DA CADEIRA 39 1608 – NASCIMENTO DE ANTONIO VIEIRA - PATRONO DA CADEIRA 2 1978 – FALECIMENTO DE ASTOLFO SERRA PATRONO DA CADEIRA 28 1864 – NASCIMENTO DE COELHO NETO – PATRONO DA CADEIRA 18 MARÇO 1881 – FALECIMENTO DE CANDIDO MENDES DE ALMEIDA – PATRONO DA CADEIRA 6 1947 – NASCIMENTO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 40 1915 – NASCIMENTO DE MARIO MARTINS MEIRELES – PATRONO DA CADEIRA 31 1874 - NASCIMENTO DE MANUEL FRAN PAXECO, PATRONO DA CADEIRA 21 1871 – FALECIMENTO DE FRANCISCO SOTERO DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 4 1960 - NASCIMENTO DE CLORES HOLANDA SILVA – FUNDADORA DA CADEIRA 30 1941 – FALECIMENTO DE DUNSHEE DE ABRANCHES – PATRONO DA CADEIRA 19 1920 – NASCIMENTO DE CARLOS DE LIMA – PATRONO DA CADEIRA 33 2006 – FALECIMENTO DE JOSUÉ MONTELLO – PATRONO DA CADEIRA 32 1812 – NASCIMENTO DE JOÃO FRANCISCO LISBOA – PATRONO DA CADEIRA 5 1962 - NASCIMENTO DE OSMAR GOMES DOS SANTOS – FUNDADOR DA CADEIRA 14
09 DE MARÇO DE 1874 - NASCIMENTO DE MANUEL FRAN PAXECO, PATRONO DA CADEIRA 21
CONTRIBUIÇÕES DE FRAN PAXECO À INTRODUÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DOS ESPORTES NO MARANHÃO (BRASIL) LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Centro de Ensino Médio “LICEU MARANHENSE” RESUMO Registra-se a participação de Fran Paxeco na introdução da Educação Física e dos Esportes no Maranhão (Brasil), nos primeiros anos do Século XX. Educação Física. História. Maranhão
FRAN PAXECO Fonte: VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXECO E OUTRAS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957.
Manuel Fran Paxeco (nascido Manuel Francisco Pacheco), mais conhecido como Fran Paxeco1 (Setúbal, 9 de Março de 1874 — Lisboa, 17 de Setembro de 1952) foi um jornalista, escritor, diplomata e professor português; cônsul de Portugal no Maranhão, no Pará, em Cardiff e em Liverpool. Chegou a São Luís do Maranhão em 2 de Maio de 1900, sendo autor de diversas obras sobre temas de interesse para a região 2: O Uruguai, prefácio a este poema de Basílio da Gama. Rio de Janeiro, Livraria Clássica de Alves & Comp, 1895. O Guarani, proêmio ao libreto da ópera de Carlos Gomes. Belém-Pará, 1896. O Centenário Indiano, manifesto das associações portuguesas do Pará. Belém-Pará, 1897. O Sangue Latino. Lisboa, 1897. O Album Amazônico. Genova, 1898. Os escritores portuguezes: Teófilo Braga. Manaus, Tipografia do Diário de Noticias, 1899. Jubileu de João de Deus - folheto. Manaus, 1899. Os Escândalos do Amazonas. Manaus, 1900. A Questão do Acre, manifesto dos chefes acreanos. Belém-Pará, 1900. O Sr. Sílvio Romero e a literatura portugueza. São Luís do Maranhão, A. P. Ramos d'Almeida, 1900. Mensagem do Centro Caixeiral do Dr. Teófilo Braga. São Luís, 1900. Juiz sem Juízo, comédia de A. Bisson, versão com Antônio Lôbo. O Porvir Brasileiro (série de longos artigos em vários números d'A Revista do Norte). São Luís, 1901. O Maranhão e os Seus Recursos. São Luís do Maranhão, 1902. O Sonho de Tiradentes, peça num ato. São Luís do Maranhão, 1903. O Comércio maranhense, relatório da Associação Comercial do Maranhão. São Luís do Maranhão, 1903. Os interesses maranhenses. São Luís do Maranhão, A Revista do Norte, 1904, XXVIII. O Departamento do Juruá. Cruzeiro do Sul, 1906. A literatura portugueza na Idade Média: conferência. São Luís do Maranhão, Universidade Popular do Maranhão, 1909. O Maranhão: subsídios históricos e corográficos. São Luís do Maranhão, 1912. Portugal e a Renascença. São Luís do Maranhão, 1912. Os Braganças e a restauração. São Luís do Maranhão, Tipografia da Pacotilha, 1912. O Maranhão. São Luís do Maranhão, 1913. As normas ortográficas, na Revista da Academia Maranhense. São Luís do Maranhão, 1913. A Língua portuguesa, por Filipe Franco de Sá, organização e posfácio. São Luís do Maranhão, 1915. Angola e os alemães. Maranhão, 1916. O trabalho maranhense. São Luís do Maranhão, Imprensa Oficial, 1916. A escola de Coimbra e a dissolução do romantismo. Lisboa, Ventura Abrantes, 1917. A visão dos tempos. Coimbra, 1917. Teófilo no Brasil. Lisboa, Ventura Abrantes, 1917. Visão dos tempos - epopeia da humanidade: conferência realizada em 21 de Fevereiro de 1917. Lisboa, Academia das Ciências de Portugal, 1917. Separata dos Trabalhos da Academia das Ciências de Portugal A cortiça em Portugal (resumo de informações do ministério dos estrangeiros). Lisboa, 1917. 1VAZ,
Leopoldo Gil Dulcio. “FRAN PAXECO E A EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO”. REVISTA IHGM, NO. 44, março de 2013, p 12. Disponível em http://issuu.com/leopoldogildulciovaz/docs/revista_ihgm_44_-_mar_o_2013 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “FRAN PAXECO”. ALL EM REVISTA, V. 1, N. 1, janeiro/março 2014, p. 27, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “FRAN PAXECO – UM DOS PROPUGNADORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO”. In XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DOS ESPORTES, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, Londrina-Pr, 19 a 22 de agosto de 2014. ANAIS... VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “FRAN PAXECO – UM DOS PROPUGNADORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO”. in: ALL EM REVISTA, N. 3, julho/setembro 2014, p. 109, http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “FRAN PAXECO E DUNSHEE DE ABRANCHES - VIDA E MORTE...”. in ALL EM REVISTA, São Luis, v.2, n.1, janeiro/março 2015, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no, p. 50 2 VIEIRA DA LUZ, Joaquim. FRAN PAXECO E OUTRAS FIGURAS MARANHENSES. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957.
As normas ortográficas, in Revista da Academia Maranhense. São Luís do Maranhão, 1918. João Lisboa: livro comemorativo da inauguração da sua estátua contendo estudos críticos de vários autores (org. da Academia Maranhense). São Luís de Maranhão, Imprensa Oficial, 1918. Portugal e o equilíbrio europeu, conferência, na Pacotilha. São Luís do Maranhão, 1918 (I-XII). Portugal e o Maranhão, folheto. São Luís do Maranhão, 1919. O Pará e a colónia portuguesa, folheto. Belém do Pará, 1920. Geografia do Maranhão. São Luís do Maranhão, 1923. Trabalhos do congresso pedagógico do Maranhão. São Luís do Maranhão, 1923. Cartas de Teófilo Braga (com um definitivo trecho autobiográfico do mestre e duas "confissões" de Camilo) (prefácio e compilação). Lisboa, Tip. da Emp. Diário de Noticias, 1924. O Portugal primitivo, folheto. Belém do Pará, Tip. Grafarina, 1925. Sobre Teófilo Braga, genealogia, folheto. Belém do Pará, 1925. O século português (1415-1520), conferência longa, proferida na capital do Pará e publicada no País, do Rio de Janeiro. 1926. Setúbal e as suas celebridades. Lisboa, Sociedade Nacional de Tipografia, 1930/1931. Portugal não é ibérico (antelóquio de Teófilo Braga). Lisboa, Tipografia Tôrres, 1932. O poema do Amadis de Gaula, conferência lida em 10-11-1932, na Universidade de Cardiff. Coimbra, Coimbra Editora, 1934 (separata da Biblos). The intellectual relations between Portugal and Great Britain. Lisboa, Império, 1937. Da chegada de Fran Paxeco ao Maranhão, Humberto de Campos faz referencia em sua obra “Memórias Inacabadas”3: “Fran Paxeco, escritor português, discípulo e devoto de Teófilo Braga, chegara ao Maranhão, procedente de Manaus, onde o seu temperamento combativo lhe havia criado grandes e aborrecidas incompatibilidades. Idólatra do seu mestre saíra a defendê-lo de Sílvio Romero, que o acusara de gravíssima desonestidade literária. [...] Aportando ao Maranhão, Fran Paxeco viveu aí como na sua terra. São Luís era, aliás, por esse tempo, uma cidade portuguesa, e em que dominava, ainda, o reinol. O diretor de uma das folhas mais vibrantes da cidade era o português Manuel de Bittencourt. À frente do diário que defendia o Governo estadual, estava o português Carvalho Branco, a que o Partido oficial, reconhecido pelos serviços relevantíssimos que ele lhe prestara nos trabalhos de alistamento eleitoral, havia dado, numa recompensa expressiva, o privilégio para fabricar caixões de defunto. O comércio era, quase todo, português. De modo que, estabelecendo-se na capital maranhense, Fran Paxeco se sentia tão à vontade como se tivesse desembarcado no Porto ou em Lisboa. As vantagens que ele trazia, com a sua vivacidade e com o seu entusiasmo, justificavam, aliás, a cordialidade do acolhimento. Habituado a olhar o português como gente de casa, a mocidade maranhense, que saía do Liceu, e se iniciava nos cursos superiores fora do Estado, saudou Fran Paxeco à chegada, e proclamou-o um dos seus guias e mestres. E o hóspede se identificou de tal maneira com ela, que olvidou a sua condição de estrangeiro, e passou a participar da atividade social da terra generosa com uma solicitude bárbara, mas que era, em tudo, de uma sinceridade intensa e profunda. Miúdo e barbado, era, todo ele, nervos e cérebro. Mais tarde, tirou as barbas. Mas conservou inalteráveis o temperamento, o espírito e o coração, até o dia em que Portugal o removeu para Cardiff, como vice-cônsul, isto é, em um posto equivalente ao que o Brasil dera, ali, anos antes, a Aluísio Azevedo”. N´a Pacotilha de 3 de janeiro de 1900: FRAN PAXECO, nomede que usa nas lettras desde algum tempo o escritor portuguez Francisco Pacheco, que esteve há tempo no Rio, no corpo de redacção dum dos jornaies diários, e se acha presentemente no norte, estrá escrevendo uns esbocetos litterários, de que enviou-nos de 3
CAMPOS, Humberto de. MEMÓRIAS E MEMNÓRIAS INACABADAS. São Luis: Instituto Geia, 2009 SAMUEL, Rogel. Fran Paxeco segundo Humberto de Campos. In ENTRE-TEXTOS, publicado em 20/11/2011, disponível em http://www.45graus.com.br/fran-paxeco-segundo-humberto-de-campos,entre-textos,86963.html
manaos o primeiro consagrado ao estudo da individualidade de Theophilo Braga. Somos gratos à finerza da offerta. Na imprensa maranhense deixou uma colaboração tão diversificada e ao mesmo tempo copiosa, que ainda hoje aguarda e reclama a seleção temática da qual resultarão seguidos volumes de interesse para o estudo da vida maranhense. Tais volumes viriam somar-se às obras maranhenses desse autor de vasta bibliografia que compreende assuntos tão variados quanto foram os campos de interesse de seus estudos. PROPUGNADOR DA EDUCAÇÃO FÍSICA Djard MARTINS (1989) 4 registra que com o nascimento das atividades esportivas no Maranhão, o hábito de repousar nos fins de semana é substituído pelas festas, corridas de cavalo, partidas de tênis, regatas, corso nas avenidas, matinês dançantes, e pelo futebol. A “gymnástica” era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende de anúncios publicados nos jornais. O Euterpe, fundado em 1904, também passou a difundir atividades esportivas, como o “tiro ao alvo“, tênis, o tênis de mesa (ping-pong), etc. 5 Nessa primeira década do século XX, a juventude maranhense estava principiando a entender o quanto era importante praticar esportes e desenvolver a formação física. Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989). O então presidente da Província - Bendito Leite (governador do Maranhão, de 1 de março de 1906 a 25 de maio de 1908) 6 - ante o espetáculo proporcionado lamentou não poder manter nas escolas públicas o ensino regular da ginástica... Desde 1901 o “Regimento para as Escolas Estadoaes da Capital” (Decreto nº16 de 04 de Maio de 1901; NASCIMENTO, 2007a, 2007b,) 7, instituía, no seio de suas diretrizes gerais, questões referentes a “inspecção e asseio” normatizando desde a entrada dos alunos em que caberia às professoras proceder á uma revista do asseio dos mesmos “tomando as providencias necessárias em ordem a estarem todas as condições regulares de limpeza de mãos, unhas, rosto e penteado do cabello, no momento de serem iniciados os exercícios escolares” (REGIMENTO, 1901, p.80) conforme a classe a que pertence o estudante. Percebemse nítidos traços de influência militar em termos de linguagem e recomendações na modelagem deste corpo escolarizado, quando instituem os exercícios abaixo descritos: a) Os da primeira classe constarão de marchas e contramarchas com variações apropriadas a darem facilidade de movimento dos alumnos; b) Os da segunda versarão sobre movimentos em varios tempos, com e sem flexão dos membros, desacompanhados de instrumentos; c) Os da terceira se comporão dos mesmos exercicios das segunda, mas com instrumentos; d) Os da quarta de exercicios de barra de extremidades esphericas, barra fixa, apparelhos gyratorios. (REGIMENTO, 1901, p.80, grifos nosso).
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MARTINS, Dejard. ESPORTE, um mergulho no tempo. São Luís : SIOGE, 1989 http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/10.pdf http://www.efdeportes.com/efd61/jogos.htm http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/atlas-esporte-maranhao-2/ http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2012/08/13/atlas-do-esporte-no-maranhao-ginastica/ 6 Benedito Pereira Leite (Rosário, 1857 — 1909) foi um político brasileiro. Foi um dos membros da Junta governativa maranhense de 1891. Foi governador do Maranhão, de 1 de março de 1906 a 25 de maio de 1908. 7 REGIMENTO PARA AS ESCOLAS ESTADOAES DA CAPITAL, a que se refere o Decreto nº16 de 04 de Maio de 1901. In: Collecção das leis e decretos do Estado do Maranhão de 1912. Republica dos Estados-Unidos do Brazil. Maranhão: Imprensa Official, 1914. NASCIMENTO, Rita de Cássia Gomes. A EDUCAÇÃO HIGIÊNICA EM SÃO LUÍS NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX. São Luís: Universidade Federal do Maranhão, 2007b. (Graduação em Pedagogia). NASCIMENTO, Rita de Cássia Gomes. PELAS CRIANÇAS DESVALIDAS: o Instituto de Assistência à Infância do Maranhão nas primeiras décadas do século XX. São Luís: Universidade Estadual do Maranhão, 2007a. (Graduação em História). 5
A "gymnástica" era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende desse anúncio, publicado em 1904: "PARA OS ALUMNOS DE AULA PARTICULAR DE GYMNÁSTICA "A Chapellaria Allemã acaba de despachar: "camizas de meia com distinctivos "Distinctivos de metal com fitas de setim e franjas d'ouro "Distinctivos de material dourado para por em chapéus " Chapellaria Allemã de Bernhard Bluhnn & Comp. 23 - Rua 28 de julho - 23" (A CAMPANHA, 6ª feira, 8 de janeiro de 1904, p. 5). O sexo feminino também tinha suas aulas de ginástica, pois fazia parte do currículo da Escola Normal 8, conforme resultado dos exames publicados, como era comum à época: "CURSO ANEXO "Foi este o resultado dos exames de hontem: "GYMNÁSTICA “Núbia Carvalho, Maria Varella, Neusa Lebre, Hilda Pereira, Margarida Pereira, Almerinda Parada, Leonor Rego, Rosilda Ribeiro, Fanny Albuquerque, Agrippina Souza, Cecilia Souza, Roza Martins, Esmeralda Paiva, Neusa Silva, grau 10 "Faltaram 12". (O MARANHÃO, Sexta-feira, 15 de novembro de 1907). No Programma Didactico para o Curso de Pedagogia (1906; COUTINHO e NASCIMENTO, s.d.) 9, direcionado à Escola Normal do Maranhão, o professor e Dr. Almir Parga Nina 10, então membro da Associazione Pedagogica, de Roma, e da Ligue pour L’Hygiene Scolaire, de Paris, foram lançadas as disposições regulamentares do curso destinados à formação pedagógica das moças da elite da capital ludovicense. Neste programa ressaltavam-se como fins da Escola Normal além da instrução geral, a “instrucção techica que instruirá e adestrará nos methodos e processos de cultura physica, mental e moral da mocidade” (NINA, 1906, s/p, grifos nossos). Referente às questões sobre cultura física e higiene escolar, este programa colocava que no primeiro ano de pedagogia as alunas teriam contato com conhecimentos gerais – anatômico-fisiológico, psicológico e antropológico – sobre as crianças a fim de embasar a chamada Pedagogia Reparadora relacionada á correção das moléstias e vícios adquiridos dentro e fora da escola (NINA, 1906) 11. No segundo ano do curso, por sua vez, teriam as normalistas acesso à organização material (estrutura física) e organização pedagógica (programa didático - roteiros, horário, recreio, promoções, exames, férias) da instituição escolar. Porém, dentro da chamada organização pedagógica, estava inserido um ponto relevante denominado “Pathologia Escolar” 12. (NINA, 190613; COUTINHO e NASCIMENTO, s.d.14). 8
“A Escola Normal do Maranhão foi criada pelo decreto nº 21 de 15 de Abril de 1890 e, logo após, dia 19 de Abril de 1890, foi criada a Secretaria de Instrução Pública. Seu criador foi o Dr. José Tomás de Porciúncula (RJ/1854-RJ/1901). Médico, nomeado Interventor pelo presidente da República, uma de suas preocupações foi reorganizar o Ensino e criar a Escola Normal” 9 COUTINHO, Adelaide Ferreira; NASCIMENTO, Rita de Cássia Gomes. IDEÁRIO NACIONAL, DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO E CONTROLE NA PEDAGOGIA HIGIÊNICA EM SÃO LUÍS NO LIMIAR DO SÉCULO XX. Disponível em http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe5/pdf/897.pdf , acessado em 12/10/2012 10 NINA, Dr. Almir Parga. PROGRAMMA DIDACTICO- ROTEIRO PARA O CURSO DE PEDAGOGIA EM 1906. Maranhão: Typografia Frias, 1906, citado por COUTINHO e NASCIMENTO, s.d., disponível em http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe5/pdf/897.pdf , acessado em 12/10/2012. 11 NINA, 1906, obra citada. 12 As normalistas estudariam as “molestias escolares propriamente ditas; molestias que a escola determina, mas que o meio escolar pode aggravar; molestias que a escola pode diffundir e propagar; molestias devidas á má organisacao pedagogica; Desvios e incurvações da columna vertebral; escolioses, cyphose, lordose.Myopia. Tuberculose [...] Anemias-Rachitismo [...]. Hydrocephalia em suas relações com o desenvolvimento das faculdades psychicas [...] Paralysia Infantil-Epilepsia [...] Paludismo, especialmente nas escolas ruraes [...] Molestias infecciosas agudas [...] Variola, Sarampão, escalartina, diphteria, parotidite, coqueluche, dysenteria etc moléstias da pelle e do couro cabelludo, sarna, tinhas, etc; Ophtalmias; Frequencias das otites e otorreas (escorrimento pelos ouvidos) nas creancas, sua influencia na audição, cansaço cerebral – surmenage escolar (NINA, 1906, s/p) 13 NINA, 1906, obra citada.
Para implantar esse programa, em 1903, foi contratado, no Rio de Janeiro, o professor de educação física Miguel Hoerhann15. É o próprio Miguel quem confirma essa condição, em nota publicada no jornal “O Paiz” em 21 de novembro de 1909, no Rio de Janeiro: ‘EDUCAÇÃO PHYSICA/CARTÃO COMEMORATIVO DE 20 ANOS DE TRABALHO NO BRASIL/ Mens sana in corpore sano;/ vita non este vivere;/sede vivere Miguel Hoerhann, capitão-tenente honorário da armada nacional, professor de educação física da Escola Naval, Colégio Militar, Externato Aquino, e professor de ginástica e esgrima do Automóvel Club do Brasil – Ex-professor dos colégios Brasileiro-Alemão, Abílio Rouanet, João de Deus, Instituto Benjamin Constant, e Instituto Nacional de Surdos Mudos, no Rio de Janeiro. Ex-professor dos colégios São Vicente de Paulo, Notre Dame de Sion, Ginásio Fluminense e Escola Normal Livre; sócio-fundador e 1º. Turnwart do Turnerein Petrópolis, em Petrópolis. Ex-professor da Escola Normal e grupos escolares Menezes Vieira e Barão de Macaúbas e do colégio Abílio, em Niterói. Ex-diretor do serviço de Educação Física; ex-professor da Escola Normal, Escola Modelo Benedito Leite; Instituto Rosa Nina, Liceu Maranhense, e escolas estaduais e municipais; fundador e 1º presidente e 1º diretor dos exercícios do Club Ginástico Maranhense; em S. Luis do Maranhão. Ex-professor do Ginásio São Bento e ex-secretário do I. e R. Consulado da Áustria e Hungria, em São Paulo. 20 anos de devotado trabalho no Brasil (de 24 até 44 anos de idade, desde 1889 a 1909). Ex-Instrutor da imperial e real marinha de guerra da Áustria, condecorado com a medalha militar de bronze, conferida por sua imperial e real majestade apostólica Francisco Jose I, Imperador da Áustria-Hungria (desde 15 até 23 anos de idade, 1880-1888). Miguel Hoerhann foi instrutor de artilharia do império austro-húngaro, professor de esgrima e ginástica sueca nos estados do Maranhão e Rio de Janeiro. Nesta cidade, a ginástica era voltada para o treinamento militar dos novos cadetes e oficiais da Marinha Brasileira e do Colégio Militar. Miguel tem vasta produção de artigos em periódicos e é autor do livro Esgrima de Baioneta, publicado no Maranhão em 1904. Na Gazeta de Petrópolis, edição de 15 de setembro de 1903, informa-se que Miguel Hoerhann estava em São Luis, nomeado que fora Diretor da Educação Physica, conforme a edição 204 de “A Pacotilha”, da capital do Maranhão. No dia 04 de junho de 1903 aparece anuncio n´A Pacotilha em que Miguel Hoerhann, como já fizera em Petrópolis e Niterói, oferece seus serviços como professor particular de ginástica; Logo no dia 05/06, anuncia o inicio das aulas; A 30 de junho, outro aviso, convocando os alunos inscritos.
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COUTINHO, NASCIMENTO, s.d., obra citada, acessado em 12/10/2012 VAZ Leopoldo Gil Dulcio. “MIGUEL HOERHANN - PIONEIRO DA EDUCAÇÃO PHYSICA NO MARANHÃO”. In XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DOS ESPORTES, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, Londrina-Pr, 19 a 22 de agosto de 2014. ANAIS...
No mês de agosto novo anuncio em A Pacotilha, do dia 31, já assinado como Diretor da Divisão de Educação Física do Maranhão, sobre a realização de um concurso poético, tendo por tema a Ginástica. Verifica-se que se referia ao Turnen, haja vista a citação dos “4 Fs”, como a divisa da ginástica: “Abre-se aos cultores das musas uma produção poética, em que entrem as palavras que constituem a divisa da gymnastica: FIRMA, FORTE, FRANCO, FIEL, e que tenha por tema a glorificação da abnegação, do trabalho perseverante e nobre, do vigor do espírito como consequência dos exercícios physicos [...]” A primeira referencia que se tem desse professor de educação física é de um diploma dado a diversas autoridades e intelectuais, dentre os quais, Fran Paxeco, Cônsul Honorário de Portugal no Maranhão; consta ‘aos propugnadores da educação physica’ e está assinada por Miguel Hoerhann, Diretor da Educação Physica, e foi passado em 18 de maio de 1904:
O QUE DIZ O DIPLOMA DE FRAN PAXECO Não é sem grande risco da futura humilhação e grave comprometimento da nossa raça que poderá continuar a indiferença, o abandono e desprezo da educação física da infância do Brasil”. Dr. Eduardo de Magalhães”. “Concedido ao Exmo. Sr. Fran Paxeco pela propaganda literária que tem feito a favor da Educação Física”. “Para que uma raça se assinale na história como um fator poderoso de civilização e de progresso, para que possa distinguir-se pelo seu amor enérgico e viril à liberdade e à gloria, é preciso que a educação física do homem seja objeto de serias preocupações e desvelado cuidado. “O Diretor de Educação Física “(MIGUEL HOERHANN) “Maranhão, 18 de maio de 1904”.
Fran Paxêco escreve em Pacotilha de 11 de fevereiro de 1904 sobre o concurso que Miguel Hoerhann instituira, como primeiro ato na função de Diretor do Serviço de Educação Física do Estado do Maranhão – concurso de poesia16: RASPÕES CRITICOS FORÇA E POESIA: - o estimulo da educação física pelas criações literárias. O Sr. Miguel Hoerhann, em boa hora nomeado pelos poderes públicos para dirigir o serviço da educação física na capital do Maranhão, abriu um concurso poético entre os literatos maranhenses. O seu tema é a glorificação dos exercícios ginásticos, dentro destas e daquelas bases. Não discutiremos se o esforçado professor procedeu avisadamente, ao demarcar esses limites, pois configura-se-nos que bastava determinar a orientação geral dessas composições. Mas cremos que os concorrentes, descingindo-se das minúcias desses liames, não encontrarão o mínimo repudio por parte do júri. O Sr. Hoerhann, que encara as suas funções oficiaes como um apostolado, não contente com as suas palestras e artigos de propaganda e com as suas aulas particulares, a que ocorreram muitos moços, pensou bizzaramente, ao inaugurar o edificante incentivo dos concursos poéticos. Os três eleitos desse duplamente aprezivel certamen serão galardoados com coroas, já expostas nos Armazens Teixeira, - uma de louro, de ouro, outra de louro, de prata, e uma terceira, de folhagem verde, artificial. Deseja depois o Sr. Hoerhann, que encerra o concurso no dia 18 do corrente, fazer uma entrega solene dos prêmios aos escolhidos, num dia próximo, talvez lá para março, quando “os ares,que uma nuvem escurece” retomarem a sua limpidez habitual. E não haveria então oportunidade para efetivar, conjuntamente, o seu anclo de uma festa ginástica – em aparelhos -, no próprio edifício da Escola? Acrfetiamos que os jovens poetas do Maranhão não hesitarão em associar-se às belas intenções do ilustrado e indefesso propugnador da educação física. A Beletristica, em qualquer dos seus departamentos, é hoje a grande filtradora das conquistas ontidas peça sciencia. Com os seus dixies, transvertendo essas verdades cruas em alegorias acessíveis às multidões, que se deixavam arrastar mais pela imaginação do que pelo raciocínio, a poesia, o romance e o drama, assimilando as conclusões dos laboratórios e da filosofia, converteram-se em inespugnáveis instrumentos de aperfeiçoamento social. A arte pela arte evolouse. Só os palavrosos, inanes e resiveis, é que ainda hoje a cultivam. E que melhor missão poderiam ambicionar os beletristas que ai despontam do que a de contribuir, cantando, idealizando, para o robustecimento dos seus coestadanos?... Não há presentemente – nação ou homem de governo, higienista ou simples publicista – quem não faça incidir os seus intuitos de regeneração da humanidade sobre este ponto basilar – o da instrução física, para que o corpo suporte prazenteiro a sobrecarga dos que-fazeres espirituaes que a civilisação lhe impõe, no seu infreavel galoupar. Nas sanguisedentas eras do regimen militar, franco e exclusivo, a seleção operava-se no campo da batalha. E a Grecia não trepidava até em enganar os que nasciam valetudinários. Dos seus ginásios saíram os artistas, os beletristas, os scientistas, os filósofos, os estadistas, os guerreiros. Mens sana in corpore sano. Respirava-se Força e Poesia por todos os poros. Executava-se, no alvorecer da fecunda ocidentalidade, a divisa de Camões – “braço à armas feito mente às musas dada”. As guerras, século em fora, foram rareando. As sociedades foram-se capacitando de que era mais enobrecedor viver do trabalho livre do que da pilhagem desbragada. Nisto, empolgado o militarismo pelo industrilismo, descortina-se um novo alvo: as aventuras da vida canibalescamente belicosa transmutam-se na relativa placidez das expedições marítimo-comerciaes. Há combates, ainda, mas já como um meio, não como um fim. E, neste interregno bendito, o vigor vae-se submergindo, entorpecendo-se as gerações, que ficam lassas. A riqueza atrofia – e nessa época era-se luxuosamente rico ou pensava-se em sê-lo. É neste momento de fausto que a Inquisição, desesperado arranque do catolicismo, manietado pelo jesuitismo,
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Publicado no Blog do Leopoldo Vaz em 10/01/2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/01/10/fran-paxeco-ea-introducao-da-educacao-fisica-no-maranhao-novos-achados/ Publicado no CEV, Comunidade Educação Física no Maranhão, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/fran-paxeco-ea-introducao-da-educacao-fisica-no-maranhao-novos-achados/
vibra a mais profunda machadada dos povos que a toleraram. Uns foram despenhados nas fogueiras nos conventos. Não aconteceu o mesmo aos paizes protestantes, onde as idéias de liberdade hastearam e manutiram o equilíbrio do organismo individual e coletivo. O seu gênio esportivo, exercitando nos vagares recreativos os furores que antigamente se aplicavam ao tropel mavortico, é que os previlegiou com o nervo da resistência que os abroquela. E foram as suas provas que serviram de espelho aos latinos, os quaes tiveram na França, em Edmond Damolins, o seu maior campeador. O mundo caminha para a paz, - di-lo a evolução humana. (Não nos aparteiem com a contenda russa-japoneza, porque ela concretisa exatamente o principio do fim, ou seja o desarmanento universal, ujma vez resolvida a partilha da Turquia e da China). É necessário, portanto, desaparecidos os derivativos bélicos, que avigoravam as nacionalidades, prover e prever a organisação duma sociedade ginástica pedagógica, estudando as as paragens em que ela se houver de exercer e aclimar. É uma tese a tratar, em tal presuposto, a da influencia da educação física nas regiões tropicaes. E é este o caso do Maranhão. O que ninguém refuta é que todo aquele que, em criança, se privou dos exercícios ginásticos, se mais tarde se embrenha por profissões puramente inteletuaes, permanece eternamente engoiado. O seu ser – ou se esgota prematuramente ou degenera a breve trecho. Só as inúmeras variantes do esporte dos nossos dias podem outorgar aos pacíficos cidadãos do século XX a harmonia que falece as suas anemiadas faculdades. E concorrer para a realisação deste fito, pela palavra ou pela Penna, é concorrer para o advento do reinado ideal duma Fôrça altruísta e duma Poesia consoladora. Porque ser forte é ser bom e belo! Fran PAXECO. Fran Paxeco, após alguns anos afastado de São Luis – fora trabalhar no Acre, em Juruá – e de lá fora preso em função de falsas acusações, internado com sérios problemas de saúde, e requerida sua remoção para hospital de alienados, primeiro para Manaus e depois, para o Rio de Janeiro. Lá, em função de habeas corpus foi solto e retorna à São Luis – 31 de agosto de 1907 -, restabelecido, e voltando às lides jornalísticas e literárias. Retoma os artigos sobre educação física e esportes. A10 de dezembro de 1907, Fran Paxeco aparece como candidato a vice presidente do Clube Euterpe Maranhense17, fundado em 1904. Após sua volta, já estava participando da Associação Cívica Maranhense, do qual era um dos secretários, junto com Luso Torres, e palestrante. A Oficina dos Novos reúne-se na sede do Euterpe, com a presença de Fran Paxeco, saudando os novos sócios. 18 Em 3 de janeiro de 1908, fora indicado para a presidência da mesma, tendo preferido permanecer como secretário 19. Também retoma as conferencias, junto com Antonio Lobo, da Universidade Popular. 20 Em sua coluna d´Pacotilha, faz abordagem sobre a higiene escolar, comentando o terceiro congresso mundial, ocorrido em Paris. Sobre a Educação Física anota, das recomendações: [...] 2º Que a educação fízica seja ministrada obrigatoriamente, em todos os estabelecimentos de ensino (masculino e feminino), sob princípios uniformes; que os exames compreendam obrigatoriamente uma parte relativa à educação corpórea. 3º Que campos de jogos e espaços livres sejam preparados pelas municipalidades e postos à dispozição dos alunos [...] Em Pacotilha, Maranhão – segunda-feira, 14 de agosto de 1911 21: A EDUCAÇÃO FÍZICA 17
PACOTILHA, 10 de dezembro de 1907. PACOTILHA, 30 de dezembro de 1907. 19 PACOTILHA, 04 de janeiro de 1908 20 PACOTILLHA, 05 de janeiro de 1908. 21 Publicado no Blog do Leopoldo Vaz, em 09/01/2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/01/09/contribuicoesde-fran-paxeco-a-introducao-da-educacao-fisica-e-dos-esportes-no-maranhao-brasil/ Publicado no CEV/Comunidade Educação Física no Maranhão, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/contribuicoesde-fran-paxeco-introducao-da-educacao-fisica-e-dos-esportes-no-maranhao-brasil 18
Transmite uma lenda que, em idades imemoriais, o fantástico Hercules instituiu os jogos helênicos. Alguns mitógrafos aventam que “houve, em Piza, o rei Anomacs, que tinha uma filha. Claro quem linda, e muito requestada pelos príncipes de cem léguas em redor. Reuniram-se quinze, nada menos, está visto que apolíneos, sedutores. A princesa uzava o rebarbativo nome de Hipodameia. Surge, no meio disto, a profecia dum oráculo – o pajé daquelas épocas soberbas. E era que o monarca morreria às mãos do jenro. Anomaos, tremulo, alvitrou que os apaixonados se batessem com ele. O triunfador, em premio, receberia a joven e os correlativos tezouros. Esquecia-nos dizer que a formozura apetecida se ufanava com uns olhos de pervinca. Deu-se o repto. Os namorados, um a um, expiaram o mseu devanio, na luta com o jigante. Mas o resultado seria fatal. As pitonizas não se enganavam. E, num dia de sol gloriozo, irrompeu um novo pretendente – pelops, filho de Tántalo e chefe dos lídios. Anomaos foi fulminado e a cortejada Hipodameia passou a pertencer ao musculozo mancebo. Elis estabeleceu, depois, a noroeste do Peloponezo, a cidade de Olimpia. Dos primeiros jogos, que nela se realizaram, derivou a célebre designação. Os louros dos gladiadores consistiam num delicado ramo de oliveira. Os atletas de hoje, sabe-se, exijem muito mais. Essas estimulantes provas de amor à robustez caíram em dezuzo, na faze da mitolójica batalha de Tróia. Restabeleceram-se, perto de nove séculos antes da era vulgar, e tomaram um considerável impulso, no ano de 776, também anterior à nossa era.Os gregos principiaram, nesta data, as suas olimpíadas. Chamaram olimpíadas ao intervalode 4 anos, transcorrido entre duas celebraçõis consecutivas dos jogos, e serviam-se desse período prá contajem dos tempos. De tal homenajem ao vigor fízico dimanou a imorredoura grandeza do pequeno povo da Hélada, - paradigma da civilização ocidental. Provado mesmo, pelos entendidos, que a vida nos quartéis atrofia o organismo, e tendo o invento da pólvora submerjido a bravura individual, os pensadores, os hijienistas e os governos trataram de organizar a educação do corpo, aparelhando-a com variadissimos métodos. A Suiça, por ex., tão digna de estudos, em tanta coiza, efetua uma concorrida festa nacional, todos os anos, a que vão numerozissimas massas dos seus populosos 22 cantõis. Avultam, nesse tocanhte culto cívico, os exercícios de tiro e destreza. A renovação dos trabalhos em prol do prezervamento corpóreo vem do sueco Pehr Henrik Ling, nascido em 1776. Indo a Copenhague, em 1799, dedicou-se às línguas modernas. Permaneceu ali 5 anos, com interruçõies, devidas a viajens, pela França, Inglaterra e Alemanha. Aprendeu esgrima com uns emigrantes francezes. E notando que os assaltos esgrimisticos lhe produziam um rápido alivio, num braço gotozo, rezolveu, ato contínuo, consagrar os seus cuidados a semelhnate ramo de conhecimentos. “Logo percebeu que não era somente um meio para robustecer a saúde – escreve o Sr. Miguel Hoerhann, a quem o Maranhão deve um enorme esforço nesse sentido -, mas ainda uma importantíssima disciplina para a educação da mocidade, carecendo, porém, para esse fim, de baze científica.” Ling dividiu a materia em quatro partes essenciais: - jinástica pedagógica, pela qual a criatura alcança o domínio do corpo; jinástica militar, com que, pelas armas, ou pela própria força fízica, viza subjugar outrem; jinástica médica, que procura, por poziçõis e movimentos adequados, minorar as dores e curar as moléstias anormais; jinástica estética, por que se tenta manifestar o ser intimo, o sentir, os pensamentos. O notável poeta e mestre de enerjia transformou os moldes educacionais da sua pátria. Fundou, em Estocolmo, coadjuvado pelo governo, o Instituto central de Jinástica, que dirijiu, pçor espaço de 25 anos. O seu processo propagou-se pela Escandinávia inteira. Introduziram-o, obrigatoriamente, no exército , na marinha e em todos as cazas de ensino do paiz. A jinástica médica – terapêutica -, conhecida por jinástica sueca, divulgou-se pelo universo. O custeio anual do afamado Instituto orça por 45 contos, moeda brazileira. A maioria dos freqüentadores compõe-se de oficiais de terra e mar, que se matriculam nele, assim que deixam as respectivas escolas Concluido o curso de professores de jinástica, ou jinastas-médicos, solicitam uma licença de 3 anos, sem vencimentos, e seguem prá Inglaterra, Canadá, Russia, Arjentina, Estados Unidos, etc., a exercer a jinástica pedagógica ou médica. O jinásta, nos bons coléjios, opéra sob indicações dum médico, conhecedor da especialidade. Os poucos médicos suecos, ou estudantes de medicina, que se devotam à quinesiterapia, vão-se apresentar no Instituto de Jinástica Ortopédica. Existem outros estabelecimentos de egual espécie, equipardos aos da Suécia.
Dêstes saem, anualmente, centenas de pessoas, de ambos os sexos, que se propõem dezempenhar o seu mister em diversas terras. O desporto assumiu uma feição intrincada. Temos o pedestrianismo ou estradismo, o alpinismo, o ciclismo, a natação, as regatas, o hipismo, o atletismo, o jiu-jitsu, os campeonatos de sabre, de esgrima, de tiro ao alvo, o foot-ball, etc. O dinamarquêz J. P. Muller abranje, com a denominação de atlética, todos os torneios corporais. “Por desporto – afirma -, entendo todos os movimentos e exercícios que se executam, titando a distração, pra ser mais hábil do que os outros, em certa especialidade, ou pra se obter prêmios em concursos. Chamo jinástica a todo mo trabalho executado com a intenção consciente de aperfeiçoar o corpo e aumentar a saúde, a fôrça, a ajilidade, a rezistência, a lijeireza, a astúcia, etc.”. (O meu sistema, trad. Portugueza, pajs. 23). E, já agora, ouçam um pedacinho de Marcel Prévost: - “os desportos ensinam ao espírito a sinceridade e a modestia, a emulação e a vontade, e ainda uma coiza mais relevante, prá saúde moral e prá felicidade humana: criam a confiança e a esperança, que brotam, espontâneas, na enerjia disciplinada”. Neste assunto, ninguém o ignora, há pano pra mangas. Fran Paxeco. A 17 de agosto, desse ano de 1911, escreve outro artigo, também publicado n´Pacotilha 22: O culto da saúde A verdadeira pedra filozofal está simplesmente numa vida regrada. Assim no-lo prega o dinamarquêz Muller, no livro o meu sistema, traduzido em mais de uma dúzia de línguas. O afamado apóstolo da cultura fízica leciona e executa. Obteve, em diversos campeonatos, 130 e tantos prêmios. É perito nas corridas de velocidade e rezistência, salto em comprimento, remo, natação, mergulho, jogo do martelo, lançamento da bola de 16 libras inglezas, luta Greco-romana, alteres, jogos da bola de 56 libras, disco, dardo, lutas de tração, de cinco e dez pessoas. Sai-se perfeitamente no box e no foot-ball. Leu, muito moço, obras de fiziologia e jinastica. Um artigo sobre pedestrianismo, visto depois, ensinouo a correr nos bicos dos pés. Travou conhecimento, a seguir, dos volumes do austríaco Vitor Silberer, que introduziu o gosto do desporto em sua terra. Caiu-lhe sob os olhos, a breve trecho, um guia popular de saúde . Esperimentou , após, todos os sistemas jinásticos, incluzive o sueco, então em voga. “Mas foram os exercícios em caza – confessa -, organizados por mim só, e as corridas ao mar livre, que transformaram a criança doente, que era, num rapaz robusto e sadio”. Refere-se ao processo de Sandow, que se divulgou bastante. “MO método é bom, pra produzir bicipetes salientes; mas como se sabe, a fôrça vital não está no braço. – Acho preferível ter coração, pulmõis, pele, dijestão, rins e fígado normais a bons bicipetes. Condena Sandow, porque “despeza completamente a boa atitude jeral do corpo”, exibindo os seus educandos “com o dorso e as pernas arqueados”. Ling “conduz ao escesso oposto” e abandona muitas coisas úteis. Declara, por fim, que o seu sistema “conjstitue uma média, entre estes dois estremos”. Chegai à concluzão, acentua o sr. Muller – de que os pontos por onde a maioria dos corpos humanos se afasta do mideal da saúde e da beleza são a pele e o ventre. 90% dos reprezentantes da nossa espécie necessita de exercícitar os nusculos e os órgãos abdominais e tratar da pele. O manual do bravo jinasta, elucidado por ilustraçõis, dispensa outro indicador. Qualquer, seguindolhe o rejimem, poderá enrijar-se e prevenir moléstias. Promanon da esperiencia de séculos a solida ciência da nossa época. Assim, das contraprovas do atletismo, proveiu a remodelação e aperfeiçoamento dos órgãos do reino humanal. Os fiziólogos intervieram, no momento psicolojico, - deixam passar o chacoteante chavão -, com as suas teorias, completando, nos laboratórios, o que a prática dos curiozos desnudára. Mas, antes de Mosso, Lombroso, Demeny, Toulouse, Marey, Desfosses e uma lejião doutros se manifestar. Gladstone, aos 80 anos, pra que o vigor se lhe não entorpecesse, rachava os mais pétros carvalhos, Tolstoi e Zola amavam o ciclismo, Brieux 22
Publicado no Blog do Leopoldo Vaz, em 09/01/2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/01/09/12321/ Publicado no CEV/Comunidade Educação Física no Maranhão, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/novacontribuicoes-de-fran-paxeco-introducao-da-educacao-fisica-e-dos-esportes-no-maranhao-brasil-1
ostentava-se um belo jinasta, Prévost adora os jogos ao ar livre, mPaul Adam e Pierre Mael são atletas. Etc. O dr. Tissié e o professor Demeny profligam os torneios e voltas preconizados por Ling, proclamando a jinastica hijienica, afim de equilibrar, no meio-termo, o evolver corpóreo. Ao tenaz sueco todavia, não se deve negar o grande méritode atrair as almas prá sistematização, nos tempos modernos, do que fora um hábito instintivo dos antigos. Muller e Demeny, marcadamente, evanjelizam a jinastica racional, ou educativa, harmonizando o que metodizam com os movimentos naturais, sem sacrifício da compleição particular de cada um. Num dos paragrafos de seu livro, G. Demeny afirma-nos que a influencia psíquica do exercício se consegue, em conjunto, na dansa associada à múzica, nos jogos em comum, nas aplicaçõis úteis, exijindo iniciativa, coragem, audácia. Os desportos de todas as categorias, as lutas, os assaltos, os combates – são a melhor escola do caráter e da personalidade. Depara-se ai o laço da solidariedade e da dsciplina, junto à maior independência. É preciso rebater, pelos jogos livres, a sensaboria e a rijidez duma jinastica escluziva. Pode ser-se regrado, sem tais inconvenientes. Os efeitos somáticos dos movimentos não são os únicos dezejaveis. Menosprezar as conseqüências psíquicas – alegria, entuziasmo e as qualidades éticas mais altas do individuo – é truncar a educação, reduzir-lhe disparadadamente o alcance. Vê-se que os motivos de reputado professor francez se estribam em irrefragáveis doutrinas, hoje aceitas pelos sabedores e pelos ignorantes. O dr. Toulouse, que alcançou numa nomeada mundial, com o seu escrito, sobre o ciclópico romancista de Rougon-Macquari, enviou ao pariziense Excelsior, o jornal-revista da moda, um lúcido artigo acerca do debatissimo surmenage. Conta-nos que os neurastênicos pejam mnos consultórios médicos e os azilos, ameaçando aniquilar ou pelo menos, dimunuir o valor da raça. Começa por nos descrever um homem rico, seu conhecido, que contraiu uma séria perturbação nervoza, por se ocupar em demazia, e sem ordem, duma pequena serie de raridades livrescas, a cujo exame, bibliografia e classificação só se entregava – quando lhe dava na gana. Divide em duas classes o labor mental. Um é fácil, espontâneo, como quando meditamos em assuntos pouco nítidos, sonhos ambiciozoz, lembranças do passado, reflexõis dissemilhantes. O espírito divaga, passeia, regressa ao ponto central, evade-se, ao sabor de mil pequenos ajentes, não domináveis. Esta atividade é a menos fatigante. Um trabalho, em que aq criação seja o elemento preponderante, toma a maior parte das vezes esse aspeto, embora isto sorprenda muitas criaturas, que respeitam as elevadas especulações inteletuais. Eis porque os artistas, os sábios, os inventores,, os homens de negócio são capazes de conservar horas a fio no seu posto, sem pestanejar. A segunda face do labor mental é voluntária. A alteração consciente é constante e mantem o espírito num limite estreito, de que não pode arredar. O esforço rezulta penozo. Há serviços maquinais, que fatigam com facilidade, ainda que o gasto inteletivo ou muscular na seja intenso. Os afazeres voluntários demonstram-se como os mais exaustivos. Aconselha que se crie o costume de ter tanto menos pressa quanto mais houver que fazer. Já Franklin assim reciocinava, ao esternar que – “os homens ocupados são os que teem mais tempo”. Quando houver trabalho em barda, cumpre que se descanse mais e se moderem os jestos, que se relacionam diretamente com o pensamento. Não se deve concentrar a atenção em vários assuntos. Mas, quando mo campo em que ela se exerce é muito estrito, há num novo perigo, - objeta ainda o0 considerado médico francez. Se se não varia uma tarefa esgotante, chega-se depressa ao estado em que a só idéia dessa tarefa basta para neurastenizar. O ramerão do serviço diário possue outra desvantagem: abate o interesse, sem o qual a boa vontade se some e a canseira sobrevem rapidamente. A mesma incongruência aparece, quando ocorre o contrário, quando o interesse é demaziado, passional, caraterizando-se pela angustia do sucesso, o receio sw peoceder maL, o escesso de amor próprio. Como reconhecer, pergunta o dr. Toulouse, que o trabalhar nos alenta? Basta um sinal, esclarece. O trabalho não será demais, se o espírito, ao repouzar, estiver izento de preocupacõis, não se fizar na faina que tem entre mãos, se o sono for tranqüilo, inabalável. Com este avizos, secos e precizos, somente maltratará o organismo quem de todo se recuzar a súber a suave escada, prescrita pelos jinastas e fiziolojistas. Topar-se-á, no cimo dela, o gôzo duma razoável saúde. Fran Paxêco.
Logo a seguir, sai a notícia de que Fran Paxeco fora nomeado Cônsul português para o Maranhão e Piauí23. Na década de 1920, havia debates sobre a educação escolar higiênica, bem como do exercício da cultura física representada nas atividades lúdicas (jogos e brincadeiras) e na chamada ginástica pedagógica como meios de desenvolver a mente e corrigir possíveis desvios do corpo escolarizado. (COUTINHO e NASCIMENTO) 24. Logo após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) ocorreu no Brasil muitas mobilizações para discutir publicamente e fortalecer a identidade nacional - a republicana. O debate sobre a identidade nacional tornou-se pauta comum entre os políticos e intelectuais brasileiros, foi considerado como uma necessidade pública para estabelecer ordem e progresso à Nação. E no Estado do Maranhão não foi diferente! Iniciativas particulares e filantrópicas começaram a mobilizar a grande massa analfabeta dos centros urbanos até mesmo em cursos noturnos (OLIVEIRA, 2012) 25. Para Rosangela Silva Oliveira (2012)59, a instrução pública no Estado do Maranhão, na Primeira República, adestrou comportamentos e sentimentos aos interesses do governo liberal republicano: Discuti-la publicamente alimentava o sonho popular de sair da escuridão das trevas do espírito (o analfabetismo) e trazia o crédito eleitoral e influência política ambicionados por muitos profissionais urbanos. Sempre secundarizada em favor de outras ações governamentais, ficava em evidência somente em momentos de crise política quando suas fragilidades eram expostas para desviar a atenção pública de outras mazelas sociais (OLIVEIRA, 2004) 26. Fran Paxeco idealiza e organiza o Primeiro Congresso Pedagógico do Estado do Maranhão entre o final de 1919 e início de 1920: Por estes dias, reunidos em sessão pedagógica da Faculdade de Direito, o diplomata português Fran Paxeco, presidente administrativo do Instituto da Assistência à Infância, diretor-geral do jornal local “A Pacotilha”, professor da Faculdade de Direito no Estado do Maranhão e lenthe da Congregação do Lyceu Maranhense, propôs aos colegas bacharéis e docentes do Instituto Superior acima mencionado a realização de um Congresso Pedagógico para apresentar teses e reflexões sobre a instrução pública maranhense, suas limitações e possibilidades. (OLIVEIRA, 2012)59. Nos Anais do 1º Congresso Pedagógico no Estado do Maranhão consta que no dia 18 de agosto de 1919, em reunião pedagógica presidida pelo vice-diretor desta Faculdade, o Dr. Henrique Couto, secretariado por Domingos de Castro Perdigão, os docentes Godofredo Viana, Manoel Jánsen Ferreira, António José Pereira Junior, António Lopes, Leôncio Rodrigues, Alcides Pereira, Costa Gomes, Lemos Viana, Abranches Moura, António Bona, Fabiano Vieira e Raimundo Lopes ouviram de Fran Paxeco o convite para realizarem um Congresso Pedagógico em fevereiro do ano vindouro (1920). A proposta foi aceita por unanimidade e imediatamente elegeram uma comissão organizadora, formada pelos drs. Godofredo Vianna, Fabiano Vieira, António Bóna, António Lopes e o próprio Fran Paxeco (MARANHÃO, 1922, citado por OLIVEIRA, 2012) 27. 23
PACOTILHA, 16 de setembro de 1911 COUTINHO, Adelaide Ferreira; NASCIMENTO, Rita de Cássia Gomes. IDEÁRIO NACIONAL, DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO E CONTROLE NA PEDAGOGIA HIGIÊNICA EM SÃO LUÍS NO LIMIAR DO SÉCULO XX. Disponível em http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe5/pdf/897.pdf , acessado em 12/10/2012 25 OLIVEIRA, Rosângela Silva. FRAN PAXECO, LENTHE DA REVITALIZAÇÃO PEDAGÓGICA MODERNA NO ESTADO DO MARANHÃO, ORGANIZADOR DO 1º CONGRESSO PEDAGÓGICO EM 1920. IX Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação – Rituais, Espaços e Patrimónios Escolares, Lisboa, 12 a 15 de julho de 2012, ANAIS IX COLUBHE 2012. http://colubhe2012.ie.ul.pt/ , disponibilizado por Dra. Rosa Paxeco Machado através de correspondência eletrônica pessoal em 12/10/2012 http://sn125w.snt125.mail.live.com/default.aspx#n=1557179640&fid=1&fav=1&mid=4b2f82ba-1480-11e2-b36f-00215ad9df80&fv=1 26 OLIVEIRA, R. S. Do contexto histórico às ideias pedagógicas predominantes na escola normal maranhense e no processo de formação das normalistas na Primeira República. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Universidade Federal do Maranhão, 2004 27 Maranhão. Trabalhos do I Congresso Pedagógico. São Luis: Imprensa Oficial, 1922, in OLIVEIRA, 2012. 24
A carta-circular datada de 12 de janeiro de 1920 expedida pela Comissão Organizadora, destinada às escolas oficiais, aos colégios particulares e demais interessados em participar e/ou inscrever trabalhos, apontou os ramos de educação adotados e abertos para o diálogo pedagógico. Foram eles: I – Educação Física: Jogos e brinquedos. Canto Coral. Despórtos. Recreios. Higiene Escolar e Doméstica. Inspècção médica. Assistência aos estudantes pobres. Caixas escolares. Cantinas. Balneários. Colónia de férias. II – Educação Intelètual: A) Música. Desenho. Lingua materna. Escrita e leitura. Aritmética e geometria. Sciéncias naturais. Geografia. História. Algebra e trigonometria. B) Astronomia. Fisica e química. Linguas estranjeiras. Psicologia. Filosofia. C) Trabalhos manuais. Agricultura. Economia. III – Educação técnica: Relações do ensino primário, secundário e superior com o ensino agrícola, veterinário, médico, jurídico, industrial e comercial. IV – Educação moral: Sentir, pensar, proceder. Culto da casa, da família, da pátria, da humanidade. Pais e professores. Deveres e direitos dos cidadãos. Consciéncia. Espirito Solidário. Toleráncia. Altruismo. V – Educação Estética: Arquitetura, mobiliário, decoração dos edifícios escolares. Conforto do lar e da aula. Simpatia pelos objetos e pelos estudos. Influxo das artes plásticas, na estrutura física, afetiva e mental dos sères humanos. Teses especiais sòbre: Faculdades, escolas de pedagogia, licèus. Educação vocacional. Atribuições pedagógicas e financeiras da União, dos estados e dos municípios. Organismos de técnicos, para superintender na escolha de horários, ortografia, livros, material, casas, etc. Estatística. Taxa escolar. Exames e promoções. Nomeação de professores. Escolas móveis ou ambulante (primárias e agrícolas). Exposições e museus. Bibliotecas infantis. Código do ensino: leis, decretos e regulamentos. Construções. Colégios particulares. Equiparações. Artes e ofícios. Colónias correcionais. Intercámbio de catedráticos das escolas superiores. (MARANHÃO, 1922 p. 4-5, citado por OLIVEIRA, 2012)59, 61. O regimento interno elaborado para o Congresso Pedagógico apresentou como objetivo geral de “obter e apreciar quaisquer estudos ou informações, preocupando-se designadamente com a instalação da escola, os métodos educativos, a escolha de compêndios e o preparo técnico dos professores” (MARANHÃO, 1922 p. 19) em oito sessões plenas: uma de abertura, uma de entrega das teses e da sua distribuição aos relatores, três para ao debate das matérias contidas nas cinco sessões, uma para as teses separadas, uma para a leitura das conclusões e de encerramento, com a obrigatoriedade de publicar os trabalhos apresentados. (OLIVEIRA, 2012)59. A terceira sessão, em 24 de fevereiro, presidida pelo prof. José Ribeiro do Amaral, presidente da Academia Maranhense, recebeu um público de treze professores, três alunas da Escola Normal, dois professores maristas, os quintanistas de medicina Domingos Perdigão e Mário Carvalho. Fran Paxeco registra a ausência de professores da rede municipal nas atividades do Congresso Pedagógico, abariu o debate sobre a primeira parte do programa Educação Física e recebeu as seguintes contribuições: duas indicações didáticas para a área temática de Jogos e Brinquedos, a indicação coletiva de sugerir oficialmente às autoridades governamentais um dia letivo específico para ensaios de hinos escolares e patrióticos, a proibição de ginástica em aparelhos para menores de dez anos, a solicitação de inspeção médica como medida de uma boa Higiene Escolar e Doméstica, também reclamaram a necessidade de um debate amiúde sobre a assistência aos estudantes pobres. (OLIVEIRA, 2012)59. A oitava sessão do Congresso Pedagógico, presidida pelo coronel Frederico Figueira, presidente da Comissão de Ensino do Congresso Legislativo, no dia 29 de fevereiro com um público de vinte e cinco professores e uma quartanista da Escola Normal, se constituiu de debates e reflexões sobre as condições estruturais das escolas primárias, a superlotação das salas de aulas, destacando as vantagens dos jogos e brincadeiras para o infante maranhense. (OLIVEIRA, 2012)59.
Uma nona sessão ainda foi realizada, dia 1 de março, para a leitura dos Relatórios com as conclusões na área de Educação Física relatado por Luiz Viana, Educação Intelectual por Antonio Lopes da Cunha, Educação Moral por Rosa Castro e rápidas considerações sobre Educação Técnica, Educação Estética e Teses Especiais: Contou com a visita-surpresa do governador do Maranhão, o dr. Urbano Santos que expressou em discurso as desvantagens do ensino clássico e livresco, incentivando os professores presentes a deixarem ridículas verbiagens e aplicarem em sala de aula, com constância, a virtude da vontade de aprender. Fugir da parolajem inútil de conteúdos abstratos, idéia pedagógica moderna de Pestalozzi e Froebel. (OLIVEIRA, 2012)59. Entre as teses apresentadas, anexadas por Fran Paxeco nos Anais deste Congresso Pedagógico estão diretrizes pedagógicas importantes à instrução pública no Estado do Maranhão. Na primeira seção do 1o Congresso Pedagógico estão as teses especiais sobre educação ou cultura física onde os principais assuntos são apresentados pelo professor maristas Paulo Domingos. Ele reflete sobre as vantagens de realizar jogos no colégio. Ele não apoia muito o esporte “football” na escola, mas aprecia jogos recreativos no pátio da escola. “Dos jogos no Colégio” do Prof. marista Paulo Domingos ‘É preciso que os alunos brinquem, se distráiam, dispendam em passatempos inocentes a exuberáncia de seiva, a vivacidade do humor, o ardor do sangue que néles corre. Faz-se indispensável o ar, o espaço, o sol, o movimento, o barulho, para o crescimento do seu sèr e o desenvolvimento de suas energias (MARANHÃO, 1922 p. 43). Em outra comunicação a Prof. Rosa Castro chega a explicar didaticamente como realizar os jogos e brincadeiras. Sobre a “Cultura Física”, da Profa. Hermindia Augusta Soares Ferreira Quando um aluno estiver inactivo, deve-se inspeccioná-lo, porque, doente o físico, enfèrmo ficará o espírito (MARANHÃO, 1922, p. 51). A aplicação dos jogos merece, entretanto, um especial cuidado dos professores ou, melhor, dos inspectores médicos, a quem incumbe a verificação da capacidade física e mental dos alunos e consequente separação, entre os normais e os anormais, calibrando, de acordo com este critério, a prática dos exercícios. Também é digna de interesse a racional classificação dos jogos, afim de se conseguir a sua gradação pedagógica ( ibid, p. 52). Luiz Viana, o relator desta seção aponta o francês Tissier (Philippe Tissiê iniciador da educação física na França) 28 como a influência pedagógica aceita pelos professores normalistas, mas não ignora a classificação de Courmont, Desfosses. A fines del siglo XIX, una importante fracción del campo intelectual europeo intuyó que sobre su época se cernía la sombra de la decadencia. Una falta de pujanza embargaba al espíritu fin-desiècle y una palabra reflejó la situación: fatiga. Phillipe Tissié (1914), publicista francés de la gimnasia racional, anotó: "La presente generación ha nacido fatigada; es el producto de un siglo de convulsiones" (p.45; traducción libre) (ROLDÁN, 2010).29 Em 1901, Philippe Tissié defendia que a Educação Física não deveria ser interpretada como simples exercícios musculares do corpo, mas também como um processo psicomotor, que se traduz pela constante
28 (http://www.ciepre.puppin.net/considiniciais.html ). 29 ROLDÁN, Diego P. Discursos alrededor del cuerpo, la máquina, la energía y la fatiga: hibridaciones culturales en la Argentina fin-de-siècle. HIST. CIENC. vol. 17 no.3 - Manguinhos saude Rio de Janeiro 2010. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702010000300005
relação entre o movimento e o pensamento (Costa, 2008) 30. Tissié foi precursor da intervenção sobre o corpo, porém ainda voltado às áreas médicas, divide o conhecimento científico com abordagem corporal em dois ramos: ginástica pedagógica, destinado ao acompanhamento do desenvolvimento das crianças e a ginástica médica, voltados à reabilitação das crianças (SILVA, 2007) 31. Precursor dos psicomotricistas atuais por ter-se oposto, na França, à ginástica, propondo que fossem consideradas as relações entre pensamento e movimento, quando então surge a disciplina que será denominada Educação Física. Opõe-se à educação física militarizada e propõe uma educação pelo movimento, posteriormente retomada por Le Boulch32. Esse pode ser considerado como o nascimento do que se denomina: Educação Psicomotora e Reeducação Psicomotora. Não há registro escrito feito por Fran Paxeco, mas o relator Luiz Viana declara que houve nesta sessão a solicitação de pedir ao governo do Maranhão a construção de um prédio (que ele chamou de pavilhão) no Parque Dr. Urbano Santos para a realização de exercícios físicos. Para Oliveira (2012) 59, internalizando princípios escolanovistas, as proposições destas diretrizes pedagógicas propõem reflexões para educar o corpo e a mente dos alunos com estímulos importantes para atrair sua atenção, curiosidade, desejo e vontade de aprender conhecimentos teóricos pela e na experiência prática, segundo orientava a Pedagogia Moderna, apoiada em estudos de Pestalozzi33 e Froebel34, entre outras contribuições teóricas. Não se pode negar a grande contribuição de Fran Paxeco (OLIVEIRA, 2012) 59, seu idealizador, que, obviamente, não faria tudo sozinho, mas sem a sua obstinação e articulação política pouco seria feito. O testemunho escrito das theses organizadas nos Anais deste evento mostraram a seriedade e profundidade do conhecimento científico exibido, o que aponta sua grande contribuição à instrução pública. As palavras escritas no seu tratado de Geografia e História exprimem seu amor ao Maranhão, ao magistério e aos infantes maranhenses, com um espírito pestalozziano moderno: “Sejamos geógrafos. Prendâmo-nos ao solo. Despeguemo-nos das alturas nebulozas do abstrato, e regressemos ao campo da ação rial, da humanidade e da vida” (MARANHÃO, 1922, p. 640-41; (OLIVEIRA, 2012)59. Mas vale ressaltar que o otimismo pedagógico construído no seio da instrução pública do Estado do Maranhão não foi suficiente para resultar em reformas educacionais imediatas. Estas só ocorreram uma década depois, em 1931, e continuou alto o índice de pessoas analfabetas na classe popular.
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COSTA, J. (2008). Um olhar para a criança: Psicomotricidade Relacional. Lisboa: Trilhos Editora. http://brincarecrescercomapsicomotricidade.blogspot.com.br/2011/10/historia-e-evolucao-da-psicomotricidade.html 31 SILVA, Daniel Vieira da. Educação Psicomotora, no Brasil Contemporâneo: decomo as propostas tangenciam a relação educação-trabalho. Curitiba, 2007. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal do Paraná (UFPR). Disponível em:<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=99866> acesso em 21 abr. 2012 32 (http://www.ciepre.puppin.net/considiniciais.html ). 33 Johann Heinrich Pestalozzi (Zurique, 12 de janeiro de 1746 — Brugg, 17 de fevereiro de 1827) foi um pedagogo suíço e educador pioneiro da reforma educacional. Em 1801 Pestalozzi concentrou suas idéias sobre educação num livro intitulado "Como Gertrudes ensina suas crianças" (Wie Gertrude Ihre Kinder Lehrt). Ali expõe seu método pedagógico, de partir do mais fácil e simples, para o mais difícil e complexo. Continuava daí, medindo, pintando, escrevendo e contando, e assim por diante. http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Heinrich_Pestalozzi. 34 Friedrich Wilhelm August Fröbel (Oberweißbach, 21 de abril de 1782 — Schweina, 21 de junho de 1852) foi um pedagogo alemão com raízes na escola Pestalozzi. Foi o fundador do primeiro jardim de infância. http://pt.wikipedia.org/wiki/Froebel; VER também http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/formador-criancas-pequenas-422947.shtml
DEZ ANOS SEM JOSUÉ MONTELLO JOSÉ NERES
Há dez anos perdíamos um de nossos grandes Romancistas. Esperemos que o silêncio sobre sua obra não faça morada na vida dos amantes da literatura. Ele não gritou, não cantou, não rebolou... apenas escreveu (e muito!)... Talvez por isso muitas pessoas nem saibam quem ele foi e o que ele produziu... Mas sua vasta produção continua à disposição de quem queira entrar no mágico mundo da ficção Josué Montelo,em minha opinião e a despeito do amplo credenciamento de Aluizio Azevedo,é o maior romancista que o Maranhão gestou e pariu para a rica história da prosa brasileira.
A TÍTULO DE HOMENAGEM- Publicado no Jornal O Estado do Maranhão em 26/03/2006:
Era para ser uma tarde comun, como outra tarde qualquer,mas quando a noite desceu sobre Alcântara, sobre o Largo do Desterro e sobre o Cais da Sagração, e os bentivis começavam a procurar um beiral para descansar, uma notícia deixou a cidade duas vezes perdida: Josué Montello, a cabeça de ouro da vida literária maranhense,acabara de receber sua última convidada. Naquele momento a morte deixava de ser apenas uma sombra na parede e levava o criador de mil imagens para uma viagem fantástica por um labirinto de espelhos, deixando entre seus conterrâneos, além de mais de uma centena e meia de obras, um camarote vazio e uma escola de saudade. Naquela hora, como se estivéssemos no silêncioa de uma confissão, tudo muda na cidade: a lanterna vermelha perde o brilho, a estante giratória pára, o fio da meada se perde, o caminho da fonte se fecha e os longos diários recebem o ponto final. Josué deixa de estar entre nós. Sua indesejada aposentadoria definitivamente chega para levá-lo para junto dos tesouros de Dom José, para viver mil aventuras de Calunga, ou para, através do olho mágico da eternidade, quem sabe na próxima noite de natal, ou numa noite de papel picado, ver glorinha, com seu rosto de menina, recitando os versos do anel que tu me deste ou brincando com os bichinhos do circo. Montello, que ainda na casa dos quarenta, já dominava Cervantes e o moinho de vento, já mostrava para seu povo a beleza clássica de Ricardo Palma, Antônio Nobre, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Gonçalves Dias e Stendhal, entre outros, sempre alinhando uma palavra depois da outra, aos quase noventa anos, com as janelas fechadas, mas com a alma aberta para o infinito, põe um ponto final em sua vasta obra, que não é miragem, nem peso de papel, mas sim arte, vida, amor e dedicação. Então, naquele triste 15 de março de 2006, ao som dos tambores, sem precisar de um baile de despedida, Josué Montello subiu os degraus do paraiso e, em uma viagem sem regresso, sob a luz da estrela morta, os anjos em aleluia foram mostra para a pedra viva das letras maranhenses seu apartamento no céu, com uma bela varanda sobre o silêncio, de onde, enquanto o tempo não passa, ele para sempre será lembrado.
DEZ ANOS SEM JOSUÉ MONTELLO
LUIS AUGUSTO CASSAS
Como bem assinalou Franklin de Oliveira,em ensaio de rica excepcionalidade dimensão crítica, a familia dos prosadores é composta de dois grupos: o dos preservadores e o dos renovadores. Para Franklin,Josué Montelo é um grande prosador de feitio tradicional, sem que isso lhe barre ou obscureça sua literatura os altos cimos que atingiu a sua escritura. Autor de memória prodigiosa e vida rica em acontecimentos literários e culturais, conversador de mérito confessional que surpreendia todos com que palestrava com sabedoria e bom humor, homem de coração aberto aos jovens e aos amigos de todas as gerações com que mantinha relações prolongadasJosué Montelo construiu uma monumental obra literária de mais de cem títulos,sobressaindo-se o maior romance maranhense de todos os tempos " Os Tambores de São Luis" Vale ressaltar seus méritos como critico,ensaista,historiador,professor,palestrador,etc,etc. Mas só conversava um assunto que era o seu cardápio diário e seu alimento principal: literatura. Tive a honra de,em pleno vintenário, colher os frutos de sua admiração pela minha pequena poesia.Escreveu-me o prefácio do primeiro livro "República dos Becos",artigos no Jornal do Brasil, O Globo e Revista Manchete, sobre outros livros e distinguiu-me sempre, assim como D. Ivone, com afeto,sinceridade e estima,recebendo-me várias vezes em seu apê na Avenida Atlântica,no Rio de Janeiro. Nenhum lapso da história apagará o seu valor.
JOSUÉ MONTELLO E A SAGA MARANHENSE ALDY MELLO Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro do IHGM e ALL
Josué Montello é um romancista clássico que nasceu na época de Balzac. Clássico na linguagem narrativa, deixando-se guiar, como Guimarães Rosa, pelos imperativos da memória involuntária e sentimental. Veio de suas atitudes literárias aquilo que a história chamou de saga maranhense, que consistia nos livros que se situavam em Alcântara e São Luis, onde nasceu o romancista. Foi de Josué a seguinte frase: “As memórias nada mais são do que aquilo que nos restou de nossos esquecimentos”. Seu estilo, como o de tantos outros escritores de seu tempo, era sofisticado e preciosista. Embora não tenha trazido em suas obras um determinismo vidente como Euclides da Cunha, soube muito bem descrever a saga do negro brasileiro e suas lutas pela sobrevivência. Josué é dono de uma linguagem rebuscada, com humor, fortes figuras de linguagem e sabedoria. Em toda a sua obra ele dedica referências especiais a São Luis: “Agora, quando as noites se fechavam, estilhaçando-se em estrelas por cima da cidade adormecida, ouvia-se o som compassado dos zabumbas, das matracas e dos maracás, madrugada a dentro, por cima do baticum ritual dos tambores da Casa das Minas. Vinham de vários pontos da Ilha, sobretudo da Maioba, do Turu, de Vinhais, do Anil e do Matadouro, e não se limitava à percussão dos instrumentos, porque trazia consigo a toada dos cantadores, nos ensaios do bumba-meu-boi”. Essa era uma das maneiras originais de Josué Montello sentir a cidade onde nasceu – através de seus tambores. Os Tambores de São Luis encarna a tragédia libertadora da negritude brasileira, tendo sido editado em 1975, quatro anos após o sucesso de Cais da Sagração. Josué Montello foi um novelista universal para Tristão de Ataíde. Esse foi o melhor romance do autor e o mais completo. Josué Montello tinha uma excepcional qualidade de escritor. A penetração dos Tambores de São Luis no social, com uma abordagem literária incomum, fez desse livro a mais cientifica de suas obras. Ele é o romance da servidão como afirmam vários críticos, inclusive os franceses, em Les tambours noirs, publicado pela editora Flammarion, em Paris. Josué, como bom maranhense, soube muito bem falar de São Luis, sua terra, destacando seus movimentos políticos e religiosos, suas conquistas através do tempo e, o mais importante, a forma simples de viver dos ludovicenses com sua vocação lúdica. São Luis, para o famoso romancista, era um território livre com seus ventos embalados nos sons dos tambores trazidos pelos bois de São José de Ribamar, da Maioba, do Maracanã ou da Fé em Deus. Tudo lembrava os negros e suas lutas em busca da liberdade. A Casa de Cultura Josué Montello, instalada na rua das Hortas, 327, em São Luis, órgão da Secretaria de Cultura do Estado, criada por lei estadual, possui uma importante biblioteca sobre o romancista e suas obras constituindo-se o melhor de pesquisas e consultas sobre o escritor. Em 15 de março de 2006, Josué partiu para se juntar aos gênios e poetas, deixando-nos apenas a saudade de 10 anos de ausência. Minhas palavras são muito pobres diante da riqueza e iluminação que é o nome de Josué Montello e sua trajetória literária, neste país, pelas qualidades de caráter, seu estilo de vida e sua inteligência, como personalidade marcante na literatura universal, distinguindo-se como lídimo representante da literatura brasileira, especialmente maranhense, nascido com a certeza de quem foi e sempre será iluminado pelas e para as letras. Josué Montello é dono de uma produção literária diversificada. Em seus 120 livros ele foi o mesmo no conto, na novela e no romance, aqui onde se concentra o apogeu de obra literária. Sua fama igualmente se estende aos ensaios e na crítica, deixando ao mundo uma biografia literária de alto quilate.
HOMENAGEM AO POETA NAURO MACHADO NO DIA DA POESIA O diretor do Convento das Mercês, o poeta, escritor e também membro fundador da Academia Ludovicense de Letras, o jornalista Paulo Melo Sousa, promoveu merecida homenagem ao imortal Nauro Machado, inaugurando o auditório “Casa do Poeta Nauro Machado”. Presente a ilustre escritora Arlete Nogueira da Cruz, esposa e o filho, Frederico Machado. A da Academia Ludovicense de Letras –ALL se fez representar por, além do próprio Paulo Melo Sousa, pela presidente, Dilercy Adler, pela secretária geral Clores Holanda e pela confreira Ceres Costa Fernandes.
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ANTOLOGIA LUDOVICENSE
CADEIRA 3 - MANUEL ODORICO MENDES – PATRONO 35
24 de janeiro de 1799 / 17 de Agosto de 1864 Nasceu em São Luis do Maranhão em 24 de janeiro de 1799, onde residiu até aos dezessete anos de idade. Descende de família tradicional. Desde muito cedo toma contacto com a poesia dos clássicos gregos e latinos, interessando-se pelo seu estudo. Com o objetivo de fazê-lo cursar medicina, o pai envia-o em 1816 para Coimbra, onde, depois de cursar os estudos preparatórios, ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Completou o curso de Filosofia Natural, após ter cursado Filosofia Racional e Moral e a cadeira de Língua Grega. Em Coimbra, Odorico Mendes viveu intensamente o conturbado momento político que Portugal atravessou depois da Revolução do Porto. A influência das Cortes Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, do vintismo, a independência do Brasil e a intensa atividade acadêmica e política que então vivia em Coimbra, marcaram a sua formação cívica, levando-o à leitura de Rousseau e Voltaire e ao convívio com alguns dos futuros vultos do movimento liberal em Portugal. Os anos em Coimbra foram decisivos e tiveram influência direta em toda a sua atividade política e literária futura. É neste contexto que trava amizade com Almeida Garrett e escreve os seus primeiros versos: ‘’Hino à tarde’’, onde canta a saudade da pátria e infância. O falecimento do pai, ocorrido em 1824, e a escassez de dinheiro forçam-no a regressar ao Maranhão sem terminar a sua formatura em medicina. O objetivo seria regressar e terminar os estudos, mas a complexa situação política que encontra na sua cidade natal acaba por prolongar a sua presença, fazendo gorar em definitivo os seus projetos acadêmicos. Odorico Mendes chega ao Maranhão quando a instabilidade resultante da independência brasileira, ocorrida dois anos antes, leva ao agudizar de tensões internas no Brasil e ao aparecimento da Confederação do Equador, proclamada no Pernambuco e em outras províncias setentrionais, num movimento republicano que é dura e cruelmente subjugado pelas armas imperiais, levando ao fuzilamento e enforcamento público dos contrários, cujos episódios finais então se viviam. Mesmo sem ter participado diretamente na Confederação do Equador, o Maranhão foi duramente atingido pela guerra civil, e, a quando da volta de Odorico Mendes, os ânimos ainda não haviam arrefecido. Incitado por amigos e pelo forte patriotismo, Odorico Mendes passa a redigir um jornal, o Argos da Lei, que faz oposição ao partido representado na imprensa por outros dois jornais dirigidos e redigidos por portugueses: o Amigo do Homem e Censor Maranhense, este último editado por João António Garcia de Abranches. Trava com este fortes polemicas que se prolongarão até ao encerramento do Censor Maranhense em Maio de 1830 e à expulsão do seu redator para Portugal. A influência do Argos da Lei leva a que Odorico Mendes, poucos meses após fundação do jornal, seja eleito como deputado à primeira Assembleia Geral Legislativa do Brasil. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde se afirma como cultor das belas letras, político e jornalista. Integra a Falange Liberal, e dá início a uma vigorosa e crescente oposição ao governo imperial, só interrompida em 1831, face ao desfecho da revolução 35
Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção http://pt.wikipedia.org/wiki/Odorico_Mendes LEAL, Antônio Henriques. PANTHEON MARANHENSE: ensaios biográficos dos maranhenses já falecidos. 2ª. Edição, Tomo I. Rio de Janeiro: Editorial Alhambra, 1987 JORGE, Sebastião. POLÍTICA MOVIDA A PAIXÃO – O JORNALISMO POLÊMICO DE ODORICO MENDES. São Luís: Departamento de Comunicação Social/UFMA, 2000. JORGE, Sebastião. OS PRIMEIROS PASSOS DA IMPRENSA NO MARANHÃO. São Luís, PPPG/EDUFMA, 1987. JORGE, Sebastião A LINGUAGEM DOS PASQUINS. São Luís: Lithograf, 1998. http://www.guesaerrante.com.br/2008/3/12/Pagina977.htm
que culminou na queda do primeiro Imperador. Orador eloquente, ganha reputação como deputado e como polemista ativo na Câmara e na imprensa. Com a abdicação de D. Pedro, a 7 de Abril 1831, Odorico Mendes exerce influência na escolha dos membros da Regência e votou em favor da manutenção da monarquia. Embora acalentasse ideais republicanos, reconhecia a imaturidade das instituições para permitir a implantação imediata da república, até porque o recente exemplo do que aconteceu em Portugal após do período revolucionário de 18201822 recomendava cautela. De fato, a antiga metrópole, depois dos tempos revolucionários do Vintismo, caíra nas mãos reacionárias do rei absolutista D. Miguel. Nesse período escreve em vários jornais do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Maranhão, sendo reeleito com ampla margem para um segundo mandato, agora obtido sem o apoio do governador do Maranhão. Em 1833, em plena Regência, concorre ao terceiro mandato e é estrondosamente derrotado. É o resultado da posição moderada que assumiu após a revolução, quando apoiou a anistia dos apoiantes do regime deposto e a manutenção da ordem constitucional, contrariando o revanchismo reinante. Embora a sua posição tivesse prevalecido, a moderação que demonstrou acabou por esmaecer-lhe o prestígio de político liberal que lhe devotava o Maranhão. Contudo, no ano seguinte foi chamado para ocupar uma vaga deixada por um deputado que fora nomeado senador, regressando assim à Câmara. Terminado o mandato, passa a exercer funções na Fazenda, prosseguindo uma carreira devotada ao jornalismo e à literatura. Depois de um longo hiato na atividade parlamentar, em 1845, já no Segundo Império, é novamente eleito, agora pela província de Minas Gerais. Exerce o mandato sem o arrebatamento que o notabilizara nas primeiras legislaturas, moderado pelo tempo e pela evolução política. Finda a legislatura, em 1847, já viúvo e aposentado, com os cinco filhos e a irmã Mitilina, muda-se para a França, onde se dedica inteiramente à vida literária, abandonando em definitivo a atividade política. Depois de uma vida dedicada à política e à literatura, faleceu subitamente em Londres, a 17 de Agosto de 1864. Foi o primeiro tradutor da Ilíada para português, considerado por muitos como o mais acabado humanista lusófono. Atividade literária - Com exceção da sua obra como publicista e jornalista, as produções literárias desta fase da vida de Odorico Mendes na sua grande maioria perderam-se, sem que ele se tenha esforçado na sua recuperação e arquivo. Um projeto que Odorico Mendes há muito acalentava era verter ao português as obras primas dos clássicos gregos e latinos, recriando na língua portuguesa a sua poesia. Como posteriormente declarou no prólogo da sua Eneida,... Não possuindo o engenho indispensável para empreender uma obra original, ao menos de segunda ordem, persuadi-me, todavia, de que o estudo da língua e a frequente lição da poesia me habilitavam para verter em português a epopeia mais do meu gosto... Para além do seu interesse pelos clássicos, interessou-se pela literatura francesa, publicando em verso português a tradução das obras Mérope (1831) e Tancredo (1839), ambas de Voltaire. A partir de 1847, instalado em França e desligado da atividade política, dedica-se a transcriar em português os clássicos, começando por Virgílio. Em resultado desse labor, publica no ano de 1854, na Tipografia de Rignoux, em Paris, a Eneida em português, numa edição que se esgotaria em quinze dias. Quatro anos depois, em 1858, edita a obra completa do poeta latino, concentrando a Eneida, as Bucólicas e as Geórgicas, com as respectivas notas, numa cuidada edição de oitocentas páginas sob o título de Virgílio Brasileiro. Em 1860 publica em Lisboa um ensaio sobre a novela medieval O Palmeirim de Inglaterra36, de Francisco de Morais, onde lhe prova a autoria portuguesa. Odorico era leitor de Morais desde a adolescência. Afora a produção jornalística, este ensaio, além das notas que escreveu às suas traduções, é a única publicação em prosa de Odorico Mendes. Tendo já traduzido a obra completa conhecida de Virgílio, inicia a tradução em verso dos épicos de Homero, mas falece em Londres, a 17 de Agosto de 1864, quando já tinha completada e aperfeiçoada e pronta para edição, a tradução da Ilíada37 e da Odisseia38. A Ilíada teve sua primeira edição em 1874, editada pelo maranhense Henrique Alves de Carvalho, e a Odisseia apenas veio a público em 1928. 36 37
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/palmeirimodorico.html http://iliadadeodorico.wordpress.com/
ILÍADA39 Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos, Verdes no Orco lançou mil fortes almas, Corpos de heróis a cães e abutres pasto: Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem O de homens chefe e o Mirmidon divino. Nume há que os malquistasse? o que o Supremo Teve em Latona. Infenso um letal morbo No campo ateia; o povo perecia, Só porque o rei desacatara a Crises. Com ricos dons remir viera a filha Aos alados baixéis, nas mãos o cetro E a do certeiro Apolo ínfula sacra. Ora e aos irmãos potentes mais se humilha: “Atridas, vós aqueus de fina greva, Raso o muro Priâmeo, assim regresso Vos dêem feliz do Olimpo os moradores! Peço a minha Criseida, eis seu resgate; Reverentes à prole do Tonante, Ao Longe-vibrador, soltai-me a filha
LUIZ NAPOLEÃO40 Medroso ante a misérrima Veneza, Depois que em Solferino triunfante, A Itália, que acendeste, abandonaste ; Infâmia eterna, pérfida baixeza ! A teu carro a Sardenha atada e presa, Com todo o continente a malquistaste, Áustria iludiste, Roma atraiçoaste, E tens a Europa toda na incerteza. Mentes ao Papa, mentes à Inglaterra Que já nos paroxismos da amizade, As queixas guarda e se aparelha à guerra. Desprezas, Bonaparte, a humanidade, Volves do Inferno, Luiz Onze, à terra... Oh ! poço de falácia e de maldade !
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http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/odisseiap.html http://www.letras.ufmg.br/nuntius/data1/arquivos/007.2.01-Jose_Quintao7-21.pdf 40 Extraído de SONETOS BRASILEIROS Século XVII – XX. Colletanea organisada por Laudelino Freire. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cie., 1913, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/manuel_odorico_mendes.html 39
CADEIRA 31 - MÁRIO MARTINS MEIRELES – PATRONO 41
8 de março de 1915 / 10 de maio de 2003 Nasceu em São Luís, Maranhão, em 8 de março de 1915, filho de Vertiniano Parga Leite Meireles e Maria Martins Meireles. Iniciou seus estudos primários em Santos-SP, em 1920, deu-lhes continuidade em Manaus-AM e no Rio de Janeiro-RJ, e os terminou em São Luís-MA, em 1926, na Escola Modelo Benedito Leite. Fez o curso secundário em São Luís, concluindo-o em 1931, no Instituto Viveiros. Em sequência, principiou o Curso de Direito na Faculdade do Maranhão, porém o interrompeu, em 1934, na da Bahia. Em 1966 fez o Ciclo de Estudos da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, em São Luís. De 1933 a 1965 foi funcionário do Ministério da Fazenda, lotado na então Divisão do Imposto de Renda, tendo servido nos estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais e no Distrito Federal e exercido as funções de Chefe da Seção da Tributação e Fiscalização da Delegacia Regional em Minas Gerais, Inspetor e Delegado Seccional em Juiz de Fora (MG) e Delegado Regional do Maranhão. Após aposentar-se no cargo de Agente Fiscal de Tributos Federais em 1965, foi Diretor-Secretário do hoje extinto Banco do Maranhão e Secretário-Chefe do Gabinete Civil do Governo do Estado do Maranhão, durante a administração de Pedro Neiva de Santana (1972-75). Lançou-se no magistério secundário em 1939, como professor de História Universal e do Brasil no Colégio Cysne, da capital maranhense, e, em 1953, foi catedrático-fundador da cadeira de História da América, no Curso de Geografia e História da Faculdade de Filosofia de São Luís do Maranhão, incorporada em 1966 à atual Universidade Federal do Maranhão, de que foi Professor Titular, depois aposentado, e na qual foi Chefe do Departamento de História, criador e Coordenador do Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica e Geográfica, Presidente da Comissão Editorial, Chefe de Gabinete da Reitoria, Vice-Reitor Administrativo e membro do Conselho Universitário. Foi membro titular do Conselho Diretor da Instituição, Consultor-Técnico do Diretório Regional de Geografia (MA), Diretor do Departamento de Licenciatura da Sociedade de Cultura Artística do Maranhão – SCAM e membro da Subcomissão Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC-MA), do Conselho Municipal de Cultura (São Luís) e do Conselho Estadual de Cultura (MA). Foi sócio efetivo e presidente da Academia Maranhense de Letras e sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Associação Comercial do Maranhão e da Sociedade dos Amigos da Marinha (MA); sócio correspondente dos Institutos Históricos e Geográficos Brasileiro (RJ), Paraibano (João Pessoa) e de Santos (SP) e das Academias de Letras Paulista (SP), Carioca (RJ), Paraense (Belém), Santista (SP) e do Triângulo Mineiro (Uberaba). Na Academia Maranhense de Letras, ocupou a Cadeira nº 9, patroneada por Antônio Gonçalves Dias e fundada por Inácio Xavier de Carvalho. Teve como antecessor Catulo da Paixão Cearense. Recebeu várias condecorações. Foi comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (Portugal), Cavaleiro da Ordem das Palmes Académiques (França) e Oficial da Ordem do Rio Branco (Brasil). Possuiu, dentre outras medalhas, a do Mérito Timbira, a do Tricentenário da Fundação de São Luís, a do Sesquicentenário da Adesão do Maranhão à Independência, a João Lisboa, a de La Ravardière, a Sousândrade do Mérito Universitário e a Simão Estácio da Silveira (Maranhão). Tornou-se Cidadão Honorário de Caxias (MA) e
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Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção http://www.jornalpequeno.com.br/2007/8/28/Pagina62830.htm http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/25/mario-meireles-e-a-historia-do-maranhao-1385.htm
membro honorário da Tripulação do Contratorpedeiro Maranhão, da Marinha de Guerra do Brasil, e do Corpo de Bombeiros do Maranhão. Faleceu em São Luís a 10 de maio de 2003, vítima de uma dengue. Teve sua obra História de São Luís (São Luís: Faculdade Santa Fé, 2012), organizada por Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar, publicada postumamente. É autor de numerosos livros, sendo um dos maiores historiadores maranhenses, indubitavelmente “a maior figura da historiografia maranhense dos séculos XX e XXI”, na expressão de Milson Coutinho. Possui diversos trabalhos inéditos. Esta é a sua extensa bibliografia: 1) O imortal Marabá (São Luís, 1949, em coautoria com Achilles Lisboa); 2) Gonçalves Dias e Ana Amélia (São Luís, 1949); 3) José do Patrocínio (São Luís, 1954); 4) Panorama da literatura maranhense (São Luís: Sioge, 1955); 5) Veritas liberabit nos (São Luís, 1957, em coautoria com José Maria Ramos Martins); 6) Antologia da Academia Maranhense de Letras (Rio, 1958, em coautoria com Arnaldo Ferreira e Domingos Vieira Filho); 7) Pequena história do Maranhão (Rio: Senac, 1959); 8) O 5º Centenário do Infante D. Henrique no Maranhão (São Luís: Federação do Comércio do Maranhão, 1960); 9) História do Maranhão (Rio: DASP, 1960; 2. ed., São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980); 10) França Equinocial (São Luís: Departamento Universitário de Rádio, Imprensa e Livro, 1962; 2. ed., São Luís, 1982); 11) Guia turístico – São Luís do Maranhão (Rio: Bloch, 1962); 12) Glorificação de Gonçalves Dias (São Luís: Departamento de Cultura do Estado, 1962, em coautoria); 13) Catulo, seresteiro e poeta (São Luís: Tip. São José, 1963); 14) São Luís, Cidade dos Azulejos (Rio: Gráfica Tupy, 1964); 15) História da Independência no Maranhão (Rio: Artenova, 1972); 16) Símbolos nacionais do Brasil e estaduais do Maranhão (São Luís/Rio: FUNC/CEA, 1972); 17) Santos Dumont e a conquista dos céus (São Luís: Sioge, 1976); 18) Melo e Póvoas – governador e capitão-general do Maranhão (São Luís: Sioge, 1974); 19) Discursos na Academia (São Luís: Sioge, 1976; em coautoria com Dagmar Destêrro); 20) História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão (São Luís: UFMA/Sioge, 1977); 21) Dom Diogo de Sousa, Governador e Capitão-General do Maranhão e Piauí (1778-1804) (São Luís: UFMA, 1981); 22) O ensino superior no Maranhão (São Luís: UFMA, 1981); 23) Apontamentos para a história da Farmácia no Maranhão (São Luís: UFMA/Capes, 1982); 24) Os negros no Maranhão (São Luís: UFMA, 1983); 25) O brasão d’armas de São Luís do Maranhão (São Luís: Ed. Alcântara/Prefeitura de São Luís, 1983); 26) São Luís com S (São Luís: AML/UFMA, 1984, em coautoria com Manuel Lopes e José Chagas); 27) O Maranhão e a República (São Luís: Sioge, 1990); 28) Holandeses no Maranhão: 1641-1644 (São Luís: UFMA, 1991); 29) História do comércio do Maranhão, v. 4 (São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992; continuação da obra homônima de Jerônimo de Viveiros); 30) Apontamentos para a história da Medicina no Maranhão (São Luís: Sioge, 1993); 31) Rosário do Itapecuru-Grande (São Luís: Sioge, 1994); 32) Dez estudos históricos (São Luís: Alumar, 1994); 33) Junta Comercial do Estado do Maranhão (São Luís: Jucema, 1995); 34) João de Barros, primeiro donatário do Maranhão (São Luís: Alumar, 1996); 35) O Brasil e a partição do mar-oceano (São Luís: Edições AML, 1999); CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM
GENERAL CESÁRIO MARIANO DE ALBUQUERQUE CAVALCANTI Ano IV, n. 4, junho de 1952 54-56 OS PRIMEIROS MÉDICOS DO BRASIL E DO MARANHÃO No. 20, 1998 31-38 POESIA: MEU ESPELHO De meu espelho a lâmina barata, numa manhã de inverno, escura e fria, mostrou-me, na mudez de uma ironia, meu primeiro fio cor de prata. Olhei-me bem, na face lisa e chata que meu rosto surpreso refletia e quanto mais olhava mais o via... Era um cabelo branco, cor de nata... E eu murmurei, atônito, pensando: – não pode ser..., não pode..., não, não deve... Ou vejo mal, ou luz está faltando... Anuviou-se o espelho então de leve e eu vi meu rosto aos poucos se enrugando e meus cabelos todos cor de neve!... (Soneto inédito, sem data definida) “QUE ME PERDOE O POETA” 42, 43 Que me perdoe o poeta De quem os versos roubei, Pois que estes versos, bem sei, Outra paixão já cantaram... Mas, certo estou do perdão, Pois que ele, vate imortal, Não negaria a um mortal As glórias que lhe sobraram! O IMORTAL MARABÁ44, 45 I Ó guerreiros da raça tapuia! Ó guerreiros da raça tupi! Vossos deuses inspiraram meus cantos... Ó timbiras, meus cantos ouvi! Esta noite era a lua tão linda, Entre nuvens, serena, a vagar, E eu olhava as estrelas brilhantes, No futuro, tristonho, a pensar. Relembrava o mau sonho que tive, A visão da desgraça por vir; 42
MEIRELES, Mário Martins. O IMORTAL MARABÁ. Discurso de posse na AML. São Luis: Tip. M. Silva, 1948 Poesia escrita em 1935; “E quando pensaria eu em 1935, ao escrever essa poesia, que hoje – treze anos após! – estaria me empossando nesta poltrona acadêmica sob o patrocínio daquele cujos versos eu roubara para melhor cantar os meus amores da mocidade?” p. 20. 44 MEIRELES, Mário Martins. O IMORTAL MARABÁ. Discurso de posse na AML. São Luis: Tip. M. Silva, 1948, p. 37-39, 45 Poema de Mário Meireles, decalcado da Canção do Piaga, de Gonçalves Dias, e inspirado no quadro da morte do Poeta, da autoria do pintor maranhense Eduardo de Sá, existente no salao nobre do Palácio do Governo do Maranhão. 43
Nossos filhos perdidos nas matas, Da deshonra e da morte a fugir... Nossas tabas, sem gente, sem vida... Nossa gente, se glporia, a morrer... Nossa raça, sem força e vencida, Seu passado de gloria a esquecer! De vergonha, eu chorava sosinho, Implorando o favor de Tupá, E pedia que a morte chegasse. Mesmo vindas das mãos de Anhangá Eis no céu se me mostra outro quadro Diferente daqueles que vi! Vossos deuses inspiram meus cantos! Ó timbiras! Meus canros ouci! II Entre os restos de igara gigante, Sobre as ondas bravias do mar, Vi um branco de pálido rosto Sobre as águas, sem vida, a boiar. Brancas folhas, que eu nunca antes vira, Apertava-as, bem vi, nesta mão; Descansava-lhe a outra no peito, Bem aqui..., sobre seu coração. O fantasma de um índio timbira - que surgiu ou do céu ou do mar – Recurvando-se sobre o cadáver, A cabeça lhe vi coroar! E o oceano, bramindo, rocando, Vi-o grande, terrível, se erguer, E o cadáver, no seio das águas, Para sempre, e de vez, se perder! Em seguida, falou-me o fantasma - o fantasma de um índio bem vi – E eu repito o que disse o guerreiro... Ó timbira, meus cantos ouvi! III “Tu bem viste, ó piaga divino!, Este branco que eu vim coroar, Cujo corpo sagrado tu viste O oceano zeloso guardar. E não sabes, piaga, quem seja? Não t´o disse o cruel Anhangá?! Não é branco, ó piaga!, é dos nossos... Será nosso – será marabá... Entre os brancos será nossa gloria, Pois que gloria dos brancos será;
Dos timbiras a fama guerreira Nos seus cantos o Mundo ouvirá! E o poeta será como nunca Entre os brancos se viu ou verá, Pois seus cantos serão inspirados Quais se fossem do próprio Rudá! O seu nome será venerado, Pois o quer, por vingança, Tupá: O maior dos poetas brancos Será nosso – há de ser marabá! Bem aí, onde estás tu sentado, Entre as palmas, olhando este mar, Hão de os brancos, em pedra esculpida, Sua estatua do chão elevar. E os seus filhos virão no seu dia - que ele um dia na História terá! – Cultuar o Cantor dos Timbiras, O sublime e imortal marabá! Ele é filho de deuses, te digo, E por isso, no fundo do mar, O seu corpo, entre flores e cantos, Hão de iaras ciumentas guardar... Os guerreiros convoca, ó piaga!, Faze ouvir teu fiel maracá... Manitós já fugiram da taba... A vingança há de vir, ó Tupá1”
TEXTO HISTORIOGRÁFICO: XI – A França Equinocial em três séculos e meio [...] Nascida de amor proibido, que seu pai herege e estrangeiro, um pai, diziam-no seus avós tupinambás, foi criada pela mãe-pátria na tradição de sua cultura, na observância de seus costumes e no culto de seus antepassados e, na primeira infância, no ódio ou na indiferença à origem paterna, pois que o progenitor um corsário, ou mesmo um pirata, um roulier de la mer; e sobretudo um herege que fora batido, expulso e aprisionado pelos guardiães da donzela que ele seduzira e conquistara. Vis Jus Prœponderat, inscreveram-lhe no brasão nobiliárquico de origem para que nunca esquecesse a superioridade dos que diziam ser somente seus ancestrais sobre aqueles outros, gauleses e batavos, que haviam sido vencidos e escorraçados, uns após outros. Crescida e maior, porém, e muito embora orgulhosa sempre de sua naturalidade lusitana, daquela estirpe de barões assinalados, pois que neta também de um Albuquerque terrível, zelosa de sua educação coimbrã que lhe concedeu a graça de falar melhor e mais bonito a língua de Camões além-mar, veio a saber, por fim, a verdade sobre sua história. E de então, mais envaidecida mostrou-se entre suas irmãs porque ela não era só diferente; era filha de um [...] [fidalgo] francês que sabe hoje, ao contrário do que lhe ensinaram, que não repudiara aquele amor de que ela nascera, não olvidara a terra virgem em que fora concebida, antes, saudoso e enamorado, tentara voltar a ela, mesmo a serviço dos que o tinham aprisionado por tê-la conquistado. Os fados no entanto não lho permitiram e La Ravardière morreu dando a impressão de que a esquecera e de que aquele amor não fora mais que uma aventura fugaz.
E por isso, porque a História lhe ensinou depois a verdade, São Luís, no mais recôndito de seu coração, tem um quê de filial carinho pelo infeliz fidalgo que a fez nascer, aquele Daniel de la Touche cujo sonho de uma França Equinocial desfez-se no enredo das intrigas matrimoniais de seu Rei com uma infanta espanhola. Por isso, chama-se a si própria, numa afetividade muito íntima, de Cidade de La Ravardière; e guarda dele um retrato ideal, em bronze, ali mesmo onde ele, há trezentos e cinqüenta anos, colocou-lhe o berço, dentro de uma moldura agreste de palmeiras, guaiacos e murtas. E deu-lhe o nome a uma de suas modernas artérias e a outra, avenidas ambas, disse-a dos franceses e ao Rei e Santo, seu patrono, entronizou-o em uma de suas praças e pô-lo também à entrada do Museu em que conserva suas relíquias. Ali o tem, o seu La Ravardière, no lugar mesmo do berço que ele lhe dera e cultua-lhe a memória, dele, dos que com ele vieram e de seu Rei, com carinhoso desvelo..., embora a pátria de seu progenitor nem se lembre de que neste pedaço do Novo-Mundo, que é o Brasil, exista uma São Luís que é em verdade uma Saint-Louis, em homenagem a um seu rei – Luís XIII, de França e Navarra, neto distante de São Luís, Luís IX [...].
CADEIRA 33 - CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA – PATRONO 46
14 de março de 1920 / 09 abril de 2011 Carlos de Lima47 nasceu em São Luís, a 14 de março de 1920. Técnico em contabilidade fez os cursos de Crítica Cinematográfica; História Cultural e Social de São Luís; Cenotécnica; Interpretação Teatral; Folclore; Museologia; Arte Moderna; Iniciação às Artes Plásticas; Museografia; Metodologia do Uso de Fontes Orais. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, historiador, folclorista, escritor, ator e poeta. É membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Comissão Maranhense de Folclore. Colabora na imprensa de São Luís, no jornal O Estado do Maranhão, na coluna Quinquilharias. Carlos de Lima foi ator de teatro. Atuou nas peças encenadas pelo grupo Teatro Experimental do Maranhão (Tema), sob a direção de Reinaldo Faray: “A ratoeira”, de Agatha Christie; “Gimba presidente dos valentes”, de Gian Francesco Guarniere; “O processo de Jesus”, de Henri Ghéon; “A revolução dos beatos”, de Dias Gomes; “Por causa de Inês”, de João Mohana. No cinema atuou em “A faca e o rio”, dirigido por Sloizer; “Uirá, um índio à procura de Deus”, dirigido por Gustavo Dahl; “Carlota Joaquina”, dirigido por Carla Camurati. Como escritor, publicou: (Fonte: Site AML) a) folclore: Bumba-meu-boi, 1968 (2ª ed. 1973, 3ª ed. 1982); Bumba-meu-boi do Maranhão, 1969 (coletânea de toadas); A festa do Divino Espírito Santo em Alcântara, 1972 (2a ed. 1988); Lendas do Maranhão. São Luís: [s.n.], 2006. b) história: História do Maranhão, 1981; Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara, 1997; Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos, 2002; Breve história da Igreja dos Remédios de São Luís do Maranhão, 2004; História do Maranhão: a colônia. São Luís: Instituto Geia, 2007. c) cordel: Carta ao compadre Triburtino, 1995; ABC do SEBRAE, 1995; Lendas do Maranhão, 1996. Publicou ainda: “As minhas e as dos outros: estórias maranhenses”, 1988, livro de crônicas e contos; “Uma elegia, Réquiem para um menino”, 1982; com Mário Meireles e Kátia Bogea, “Palácio Arquepiscopal: 100 anos de história”, 2002. DO IHGB – Pesquisadores: LIMA, Carlos Orlando Rodrigues de, 1920São Luis, MA Bancário aposentado Áreas de pesquisa: História regional Obras: História do Maranhão (2006), Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara (....) e Caminhos de São Luís (....) Dos: IHGMA
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Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção 47 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. EM MEMÓRIA. CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA. Rev. Revista do IHGM, n. 37, junho de 2011. http://www.ihgb.org.br/ihgb62.php?l=l http://www.jornalpequeno.com.br/2011/5/9/governadora-lamenta-falecimento-do-pesquisador-carlos-de-lima-155058.htm
“Com profunda tristeza, a governadora Roseana Sarney recebeu a notícia do falecimento do pesquisador Carlos Orlando Rodrigues de Lima, aos 91 anos, na madrugada desta segunda-feira (9), vítima de leucemia. Membro da Academia Maranhense de Letras, o escritor que dedicou sua vida à investigação minuciosa da história do estado e de São Luís, publicando livros como “Lendas do Maranhão”, “História do Maranhão” e “Caminhos de São Luís”, deixa um legado de humildade, sabedoria e trabalho. Reconhecendo o talento e a competência de um dos pesquisadores mais dedicados ao estado, a governadora se solidariza com a mulher dele, a pesquisadora Zelinda Lima, os familiares e amigos. “A obra e a admiração dos maranhenses pelo trabalho de Carlos de Lima eternizarão o pesquisador e manterão para sempre viva sua lembrança”, ressaltou a governadora.”
DIÁRIO DO ANDRÉ relatos da rotina, jornalismo cultural e mais.48 Internado desde terça-feira por problemas cardíacos, no UDI Hospital, o escritor Carlos de Lima, um dos maiores pesquisadores de cultura e história maranhenses, morreu aos 91 anos às 0h40. Combatia desde o ano passado uma leucemia. Entre as suas principais obras, estão os livros “Lendas do Maranhão”, a trilogia “História do Maranhão” e “Caminhos de São Luís”. Carlos de Lima era membro da Academia Maranhense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Era casado há 64 anos com a folclorista e pesquisadora Zelinda Lima, depois de namorar por sete anos, um total de 71 anos de relacionamento. Sempre bem humorado e vivaz Carlos de Lima, que enfrentava uma leucemia desde 2010, mantinha no jornal O Estado do Maranhão a coluna dominical “Bisbilhotices”, na qual retratava diversas histórias burlescas, nas quais misturava bom humor, pesquisa histórica e o melhor que o ludovicense sabe fazer – como ele mesmo dizia - fuxico. Em diversos textos, o escritor sempre atribuiu o seu prazer pela pesquisa aos diversos bons professores que teve em vida, como Mário Meirelles e outros. Além de um competente e incansável pesquisador, Carlos de Lima era uma figura engraçada, educada e espirituoso, que fará falta à cultura e intelectualidade do estado. Nesta manhã, o escritor e jornalista Ubiratan Teixeira lamentou por telefone a perda do amigo.
CARLOS DE LIMA49- MEMÓRIAS. São Luís, 1996 “O LICEU “Ingressei no Liceu Maranhense em 1933, após ter levado uma surra de mamãe por ter tirado a nota sete em Matemática, nas provas de exame de admissão. Hoje, num ‘jogo de azar’... com 3, entra-se na Universidade. “O velho colégio funcionava na Rua Direita, no prédio ainda existente, que ia da Rua da Estrela à Rua do Giz, atualmente dividido para abrigar a Secretaria de Administração e uma repartição da Agricultura. “Relembrando-o agora, vejo-me galgando os degraus de cantaria da entrada, ao lado de Mário de Moraes Rego, nós ambos protegendo as cabeças com os braços, sob as biscas e os cascudos dos alunos veteranos. “De seus Diretores, lembro-me de Mata Roma, Helvídio Martins, Dr. Cordeiro (Dr. Bundinha). “Mata Roma chamou-me, um dia, e me disse: ‘- Vamos receber a visita de uma delegação do Liceu de Teresina. Vais fazer o discurso de saudação’. Comecei a pensar no assunto, a coordenar idéias, a alinhavar frases. Mas nada escrevi.
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http://diariodoandre.com/2011/05/09/morre-o-escritor-maranhense-carlos-de-lima/
Inédito, manuscrito enviado aos autores : VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito.“LICEU MARANHENSE – MEMÓRIA, PESQUISA, DOCUMENTAÇÃO”. Inédito. Este trecho das “Memórias” de Carlos de Lima foi encaminhado aos autores quando estavam elaborando trabalho de resgate da história do “Liceu Maranhense – memória, pesquisa, documentação”, ainda inédito. O Prof. Carlos foi convidado a falar aos alunos do Liceu, em evento comemorativo a mais um ano de sua fundação, naquele ano de 1996. Estava escrevendo suas memórias...
“No dia da tal visita, ao cruzar comigo no corredor, interpelou-me : ‘Está pronto?’ Fiz um gesto afirmativo com a cabeça. ‘ - Traga-o ao meu gabinete, quero lê-lo.’ Criando coragem, respondi ’- Não o tenho escrito, está na minha cabeça.’ - Pois, então, não vais falar nada! “Fiquei triste. Os colegas solidarizaram-se comigo e me incentivaram à desobediência. “Na hora da recepção, não esperei mais e... mandei brasa. Não me lembro do que disse, sei que fui muito aplaudido, principalmente pelos colegas revoltados. Decerto minhas palavras não mereciam tão vibrantes palmas, mas foi a expressão da uma rebeldia e eu, o seu porta-voz. O professor visitante veio cumprimentar-me, Mata Roma falou depois, saudando o professor chefe da embaixada. “Quando os visitantes se retiraram, Mata Roma veio ao meu encontro, abraçou-me e disse: ‘- Um belo discurso, parabéns. Estás suspenso por dois dias! “(Cabe uma explicação do porque da minha escolha para orador oficial daquela solenidade): “As provas de Português constavam de duas partes: dissertação, valendo 70 pontos, e gramática, os 30 restantes. Na prova caiu como tema de dissertação, o Forte da Ponta d’Areia. Fiquei frio. A parte de Gramática eu não sabia. (Nunca soube) e o forte eu só conhecia de longe, da amurada da Avenida Beira-mar. Nunca havia ido à Ponta d’Areia que só se atingia, naquele tempo, de barco, ou na lancha do ‘Chocolate’, um mulato gordo e bundudo, cujo defeito nas pernas obrigava-no a andar desengonçado como um boneco de mola. “E agora, José? Olhei em volta e não achei quem me socorresse na gramática. A dissertação... como ‘soprar’ uma página inteira, pelo menos? Durante muito tempo fiquei olhando para o teto, com o lápis na boca, à espera de um milagre. E ele aconteceu. De-repente, chegou-me a inspiração e comecei”’- Oh! velho epônimo dos campos, por que permaneces de pé quando os teus coévos já tombaram?!’ E por aí fui, arrimado na citação de Afonso Arinos, numa embromação de grande estilo que me valeu os 70 pontos inteiros! “Numa visita que nos fez outro professor do Pedro II, do Rio de janeiro, Mata Roma, após ler-lhe essa minha composição, mandou que eu ficasse de pé, e apresentou-me com estas palavras: ‘- Este é o autor, Carlos de Lima. Inteligente, mas vagabuuuuuundo! e encompridava o adjetivo para dar mais ênfase à esculhambação. “Não se deduza daqui que o Mata Roma fosse mau. Ao contrário, tinha um grande coração, nós o adorávamos e ele gostava de nós. Em três ou quatro domingos reuniu-nos no quintal da casa do Sr. Bandeira, na rua dos Afogados, com a rua das Flores (atual Sindicato dos Bancários) para, de picaretas e enxadas nas mãos, construirmos uma quadra de vôlei e basquetebol, com o material que ele conseguiu pedindo aos seus amigos comerciantes. E todos trabalhavam alegres e felizes para alegra o mestre! “Ali jogaram os times ‘Oito de Maio’, ‘Vera Cruz’, drible’ e outros mais, cujos nomes agora me escapam. Eu era muito ruim atleta e sempre mofava no banco de reservas, pois o técnico não tinha coragem de me escalar. Um dia, porém,. por premente necessidade, visto como os ‘cobras’ tinham sido eliminados por falhas, e como não havia mais ninguém, foi obrigado a me por na quadra. Por favor, acreditem, eu juro de pés juntos: perdíamos por um ponto, faltava pouco para acabar o jogo; no último minuto passaram-me a bola; lancei a ‘pedrada’ e ... fiz a cesta da vitória do ‘8 de maio’! “Eram craques desse tempo: Rubem Goulart, Paulino e José Carvalho, Gontran, Eurípedes Chaves, José Dourado e muitos outros. “No mirante dessa casa da rua dos Afogados deu-se um fato doloroso: um filho do Dr. Fontenele, Chefe de Polícia, matou, acidentalmente, com um tiro, o colega do Liceu, filho do Sr. bandeira; examinava o revólver, ou brincava com ele, quando a arma disparou mortalmente o amigo. “Foram meus colegas de Liceu, entre outros, José Chagas (não confundir com o poeta), Bernardino..., Celso Figueiredo (Banco do Brasil), Tácito Barreiros Martins (Banco do Brasil), Tasso Vieira, João Duailibe (engenheiro), Lisle Novais, Listênia Taboada, Celeste Vieira, Danúzio e Franklin da Costa, Colbert..., José Borgnhet (Nada a ver com o político), Ivar Madureira (médico), Elci Freitas, Paulo Castelo Branco, Alexandre Costa (senador), José Figueira (Não é o desembargador), por apelido ‘Carioca’, Pedro Ferreira, Jomar Roland Braga, Agderson Carvalho, Jorge Mota, Mário Rego, etc., etc. “José Chagas era um preto alto, sempre risonho, irmão do motorista de praça muito popular chamado ‘Vareta’. Nossa professora de Geografia era D. Zoé Cerveira, uma mulata enorme e meio estrábica. Severíssima. Nesse tempo faziam-se duas provas parciais por ano e algumas argüições para notas mensais. Essas provas mensais eram sempre corrigidas em aula. Numa dessas correções, D. Zoé mostrou uma prova, pedindo que se identificasse o autor. Como mostrasse uma fisionomia alegre e acolhedora, o que era raro nela, o Zé Chagas, esperançoso de uma boa nota, apresentou-se. E D. Zoé, dirigindo-se à turma: ‘- Vejam o que esse imbecil escreveu: Os relevos da Europa como vêm no capítulo anterior... ’ Tudo copiado timtim por timtim do livro de Aroldo de Azevedo!
“Mata Roma ensinava Português. Certo dia, discorria sobre as vantagens de recente reforma da língua, elogiando as novas regras que permitiam acentuar qualquer palavra, mesmo sem saber o significado dela. Lá atrás, o Adgerson Carvalho, péssimo aluno, rei da molecagem, ergueu a mão: ‘- Fale, disse o mestre.’. E ele, muito sério: ‘- Professor, por obséquio, acentue esta palavra: bolololocofto.’. ‘- Acentuo já, meu besta,’ e , abrindo a caderneta, pespegou-lhe um redondo zero e expulsou-o da sala. “De todos os companheiros ao que mais me ligava era o Danúzio Franklin de Oliveira Costa, o ‘Fenômeno’, irmão do grande ensaísta Franklin de Oliveira. De estatura meã, forte e feio, a cabeçorra valeu-lhe o apelido. Era calado, arredio, triste, e não sei se foi isso que nos aproximou. Gostávamos muito um do outro, eu lhe frequentava a casa, um sobrado, na ladeira da rua das Barrocas (Isaac Martins). Todas as vezes que nos encontrava, sempre juntos, sentenciava Mata Roma: ‘- Assinus assinum fricat, e traduzia: um burro coça o outro! “Uma única vez, em toda a minha vida, fui reprovado: no 4o. ano do ginásio e em Latim. Fui estudar nas férias com minha prima Marília, aluna distinta do “Santa Teresa’, para prestar exame de segunda época com o mesmo professor Arimatéa Cisne. “Por falar nele, vale a pena descrever-lhe a figura e o caráter: era alto, vermelho, gordo, o bigode cobrindo-lhe inteiramente a boca, a roupa sempre amarrotada, os bolsos cheios sei de quê, as pontas dos dedos escuras de nicotina, pois, além de fumar exageradamente, acendendo um cigarro no outro, chupava a bagana até não, poder segurá-la sem se queimar. Fora padre, tinha um simplicidade, uma candura, que beiravam a puerilidade, destes tipos desligados para quem tudo está bem. Não tolerava burrice. Contou-me o ‘Zé Careca’ (José Araújo, conselheiro do TCE) que, numa argüição de Matemática, o velho Arimatéa apertava-o, passando no quadro negro carroções, equações, que ele não conseguia resolver. Perguntou-lhe o professor, afinal, o que sabia? Respondeu o José: ‘- Eu só sei cousas difíceis, logaritmos, cálculo integral, etc.’ O velho mandou chamar a mulher: ‘- Iaiá, manda para cá todos os alunos que estiveram na casa (‘Colégio Cisne’, na rua de São João (13 de maio). Com a presença de todos, declarou: ‘Vocês estão diante de um gênio (e apontava o Zé Araújo), este homem sabe tudo, sabe mais do que eu, do que todo mundo! Não pode permanecer nesta escola. Dá baixa nele agora.’ Disse-me o Zé que só consentiu na sua permanência no Colégio Cisne por intervenção de uma pessoa muito importante, muito amiga de seu pai e do velho Arimatéa. “Aula de Latim: ‘- Seu Paulo (Paulo Castelo Branco, ou Paulo Pupupu, porque era gago), decline Ora orae. Paulo dizia apenas o começo das palavras deixando incompreensíveis as terminações, pois a verdade é que não sabia a declinação. Arimatéa não gostou daquela burla, mandou que repetisse. Ele gaguejou e repetiu sem melhor resultado. Arimatéa: ‘- Diga de novo’, ordenou, com a mão em concha no ouvido. ‘- Qui, qui, qui eu já disse e não di, di, digo mais! “De outra feita, ensinava Português, voz passiva e voz ativa. ‘- Eu comi a galinha. Passe para a voz ativa, seu Paulo. ‘- A ga, ga, galinha me, me, comeu!’ ‘- Meu filho, tu não lascas, tu não lascas mesmo nada!, respondeu o Arimatéa, esfregando a palma da mão direita no dorso da esquerda. “Ainda a propósito, certa vez fui companheiro do velho mestre numa viagem a Ribamar [São José de Ribamar], no tempo das ‘lotações’, pequenas e muito desconfortáveis caminhonetes, que antecederam os ônibus. Viagem enjoada, demorada, com muitos ‘pregos’. Os radiadores antigos eram expostos e o do nosso carro tinha como rolha um pedaço de buriti mal talhada, que deixava escapar, a cada solavanco, na estrada esburacada, uma porção de água quente que vinha sobre nós pela abertura larga, outrora, houvera um pára-brisa. O chofer era um velho mal vestido, com uns óculos remendados com papel e barbante, um pobre coitado que tirava o sustento da família a ir e vir, todos os dias, naquele calhambeque. As reclamações eram muito grosseiras, a que ele, pacientemente, fazia ouvidos de mercador. O professor Arimatéa permanecia silencioso, alheio a todos aqueles percalços, chupando pachorrentamente, seu cigarrinho. À chegada, depois de horas e horas de percurso, todos os passageiros profundamente irritados, intimamente só desejavam bater no velho. O Arimatéa foi o primeiro a descer. Apertou a mão do motorista, abraçou-o carinhosamente e disse: ‘- Meu amigo, muito obrigado. Foi uma viagem excelente, muito obrigado !’. Depois disto ninguém teve coragem de dizer alguma coisa. “Outros professores do Liceu eram Milton Paraíso (Física), Jerônimo Viveiros (que me ensinou a gostar de História), Mário Soares (responsável por eu detestar Matemática até hoje) Flor de Lis Vieira Nina (História), Amaral de Matos (irmão do médico), professor de Matemática, Nascimento de Moraes (Geografia). Cometa compareceu uma única vez no semestre, para fazer prova. Chegou e perguntou: ‘- Qual é a matéria dada? ’. ‘-Professor, informamos, esta é a primeira aula! ’. ’- Então escrevam: dissertação: Fascismo e comunismo.’. A prova era de Geografia! O professor Braga ensinava inglês (Diziam os entendidos que não sabia inglês), mademoiselle Mariah, francês, Vicente maia (inglês), Escrevia nos jornais muitos versos nesta língua), Maria Mendes (francês), Luís Gonzaga dos Reis (química). “Contava-se deste mestre a seguinte anedota: Gordo, corado e calvo (muito parecido com o comentarista esportivo Luis Mendes), sempre de terno branco, tinha um estranho sestro em três tempos: 1o.) um aperto com os cotovelos nas ilhargas, os braços dobrados como quem vai fazer cooper; 2o.) sungava, então, as calças com o auxílio da parte
interna dos pulsos, à altura da cintura; 3o.) finalmente empalmava a genitália e dava-lhe um súbito puxão para cima. Uma vez, descrevendo a alambique, disse que se compunha de corcúbita, e comprimia a costelas, capitel (deu um aperto na cintura) e serpentina, no momento exato em que repuxava os ovos. “Foi no Liceu que conheci José Erasmo Dias, mais adiantado do que eu, inteligência brilhante, para quem todo mundo previa um futuro extraordinário. Infelizmente deixou-se vencer pela bebida... Fez muito, escreveu, discursou, foi deputado estadual; poderia, porém, chegar às culminâncias e não chegou. “O recreio fazia-se no pátio interno, onde briguei pela primeira vez. Conto: Nesse pátio jogava-se futebol com bolas de papel, pedras, apagadores de lousa, pedaços de pau, o que fosse. Os jogadores, em grande número, chocavam-se uns com os outros, chutava-se a esmo, para qualquer lado, apenas para gastar energias. Num desses lances, o pedaço de pau que chutei subiu demais e acertou a boca do Bernardino, um caboclo do interior, forte e zangado, que partiu para agredir-me. Instintivamente, em puro reflexo, dei-lhe um soco em cada olho, antes que pudesse atingir-me. Surpreso com a reação daquele fedelho magro, ele ficou por instantes meio atordoado, esfregando os olhos, enquanto os colegas entreviam e cobriam minha retirada para a sala de aula. Ele, porém, jurou-me, desafiou-me durante toda a semana, chamando-me covarde. Por mais que lhe pedisse desculpas, com este meu espírito cordato, explicando-lhe que tudo não passara de um acidente, que minha raiva momentânea se desfizera e não havia motivo para levar o desentendimento adiante, ele queria brigar. Afinal, convenceu-se e ficamos amigos e a última vez que o vi, já maduro, nos abraçamos, mas sem lembrar o ocorrido. “Lembro-me com saudade de muitos companheiros, como João Duailibe, hoje engenheiro, em São Paulo (irmão de Alfredo, Antonio e Alberto) cantando óperas, a plenos pulmões, em dueto com Tasso Vieira, este como soprano, aquele fazendo de tenor. “Os bedéis do Liceu eram Nerval Lebre Santiago, o Cunha e o Euclides, por apelido ‘Bentivi’, autor dos seguintes versos, estampados na porta do sanitário: “Jesus, Maria, José,/ santo Deus, quem nos acode?/ Helvídio Maia Martins/ a paciência nos fode/ é pior do que alastrim ceifando culhão de bode’, alusão à naturalidade piauiense do Diretor. Todos sabíamos de quem era a autoria, mas ninguém abriu o bico para denunciar o poeta. “Estes eram o Liceu e os colegas de meu tempo. Belo colégio, bons amigos, por onde andarão? Muitos, decerto, já se foram; de outros perdi o contato ... assim é a vida. Há anos, encontrei, casualmente, o Ivar Madureira, velho, grande cirurgião, no Hospital Moncorvo Filho, no Rio de janeiro. Alexandre Costa é senador da República e vem se recuperando de uma trombose. “Outro episódio ressurge do passado. No largo do Carmo, na esquina da Rua do Egito, havia o bar ‘Excelsior’, dos irmãos Lobão, dois velhos gordos e sanguíneos, um dos quais tinha um belo calombo sobre a têmpora direita, do tamanho de um limão grande. Era um estabelecimento chique, amplo, com três portas para a praça e outras tantas laterais. A rua do Egito era estreita e para alargá-la demoliram o bar e a ‘Farmácia Jesus’ e ergueram, na metade do espaço, o prédio modernoso da Caixa Econômica. Nós, eu e o inseparável Danízuo, costumávamos gritar: ‘- Bicho Feio’ para o motorneiro do bonde ‘Gonçalves Dias’, quando ele fazia parada defronte do bar. Gritávamos e saíamos correndo, escapulindo pela porta lateral, perseguidos pelo ofendido, que, no entanto, era obrigado a voltar ao seu posto, frustrado. Certo dia, lanchávamos, despreocupadamente, caldo de cana e ‘engasga-gato’ (um bolo, espécie de manuê), quando vimos, aterrados, o ‘Bicho Feio’ interditando a única porta da garapeira, que ficava na rua de Nazaré, ao lado da ‘Casa Ribamar’, especialista em instrumentos musicais e de propriedade do Sr. Almeida, pai do radialista Marcos Vinicius, espaço hoje ocupado pelo Banco Nacional. Gelamos, os dois e, sem qualquer combinação prévia, pusemos os copos sobre o balcão e desabamos para a rua, conforme nos permitia o corredor estreito entre o balcão e a parede. Ele não conseguiu agarrar-nos, mas, na passagem, deu violentos murros em nossas cabeças e costas. “De outra vez, participei de nova molecagem, no largo dos Remédios. Festa de Nossa Senhora dos Remédios, no mês de outubro, que João Lisboa imortalizou e eu ainda alcancei bela e animada, com muitas barracas de comes-e-bebes, de sortes, de leilões, multidão de povo passeando, após a reza, enquanto muitos ficavam apenas apreciando o movimento, sentados nas cadeiras que o pai de Jaime Souza, o velho ‘Cu Suado’ colocava na calçada, desde a casa das Arches da Silva até a porta da igreja. Eram duas filas longas, as cadeiras amarradas umas às outras. Nessa noite, sobraram alguns metros de corda, que ficaram emboladas, no chão. No prédio junto à Escola Normal (atual sede da Reitora da UFMA), morava o português Joaquim Braga, cuja filha era noiva do Dr. Antônio Pires ferreira, médico maranhense, recém-chegado à cidade. Todas as noites ele visitava a noiva e deixava a ‘baratinha’branca, conversível, cujo pneu socorro ficava exposto na tampa da mala, estacionada à porta. Não sei de quem foi a idéia, se do Adgerson, do Franklin (‘Mata Virgem’), do Danúzio, do Mário Rego (‘Carrapatinho’), do Jorge Mota (‘Cara Cagada’). O certo é que eu fazia parte do grupo que formou uma parede junto ao automóvel para esconder o incumbido de amarrar a ponta da corda no estepe da ‘barata’. Aí fomos para a praça defronte para esperar o resultado. Quando o Pires Ferreira despediu-se da noiva e deu partida, as cadeiras saíram arrastadas pela rua, uma fila após a outra, enquanto o Souza corria atrás, desesperado, a barriga volumosa atrapelando as pernas curtinhas, as abas do paletó aberta ao vento, gritando-lhe que parasse. Foi um Deus nos acuda, alguns pouco que ainda
estavam sentados foram ao chão, felizmente sem maiores consequências, dado o adiantado da hora, de reduzida frequência. “E foi nesse meu tempo de Liceu que conheci uma menina, aluna do Colégio Santa Teresa, que seria, pouco depois, a grande paixão de minha adolescência. O engraçado é que comecei a namorar uma sua amiga, a Naná (Natália), bonita, comunicativa, e que viria a casar-se com o jornalista e político Neiva Moreira, e acabei enfeitiçado por Benzinho Mota. Mas esta já é outra estória.”.
CADEIRA 39 - JOSÉ TRIBUZI PINHEIRO GOMES (BANDEIRA TRIBUZI) – PATRONO 50
2 de fevereiro de 1927 / 8 de setembro de 1977 Bandeira Tribuzi51 nasceu em São Luís do Maranhão em 2 de fevereiro de 1927 e faleceu a 8 de setembro de 1977. Filho de Joaquim Pinheiro Ferreira Gomes, comerciante português, e Amélia Tribuzi Pinheiro Gomes, brasileira descendente de italianos. Aos cinco anos de idade seguiu com os pais para Portugal. Pela vontade paterna seria um frade franciscano e para satisfazê-lo, apesar de não ter vocação sacerdotal, permaneceu nos educandários religiosos até a conclusão do Seminário Maior. Estudou nas cidades de Porto, Aveiro e Coimbra. Nessa última, em sua famosa Universidade, dedicou-se às Ciências Econômicas e Filosóficas. Até 1946 viveu em Portugal, quando retornou a São Luís, passando a exercer intensa atividade intelectual, sendo considerado por muitos o divulgador do modernismo no Maranhão. Trouxera da Europa um acentuado sotaque português e a leitura de Fernando Pessoa, José Régio, Mário de Sá Carneiro, García Lorca... A admiração pelo poeta Manuel Bandeira o levou a antepor o “Bandeira” ao sobrenome Tribuzi para formar o pseudônimo. A publicação e o lançamento de sua obra poética Rosa da Esperança, em 1948, foi um acontecimento marcante: Rosa da Esperança estava permeada de livre-metrismo, ausência de pontuação e rimas, explosão da sintaxe tradicional, violação dos cânones e códigos do soneto clássico-neoclássico-parnasiano, subversão estrófica, métrica e rímica, supressão de letras maiúsculas, privilegiação da metonímia, em oposição à metáfora, o que bem expressa o caráter da modernidade da linguagem transracional.52
Bandeira Tribuzi instaura, então, uma nova dicção poética em São Luís, entre poetas mais jovens, que logo aderiram aos recursos técnicos e imagéticos, que só trariam, como resultado, um salto qualitativo estético 50
Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção 51
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_Tribuzi http://www.panoramadapalavra.com.br/poesia_maior65.asp http://www.portalveras.com/2013/02/bandeira-tribuzi-um-caso-de-amor-com.html http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm http://joseneres.blogspot.com.br/2011/04/bandeira-tribuzi.html http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2013/02/06/pagina239345.asp http://maranharte.blogspot.com.br/2008/09/pedra-peciosa-bandeira-tribuzi.html http://pt.cyclopaedia.net/wiki/Jose-Tribuzi-Pinheiro-Gomes http://www.blogdomarcial.com/2013/02/bandeira-tribuzi-um-caso-de-amor-com.html http://oredemoinho.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html 52 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm
altamente promissor 53. Se, de um lado, enfureceu a ala conservadora, por outro, agradou deveras os poetas jovens, como Ferreira Gullar e Lago Burnett, dentre outros. O poeta Ferreira Gullar 54 reconhece que foi Tribuzi o primeiro a mostrar aos maranhenses versos do Modernismo. Até 1946, data na qual Tribuzi regressou de Portugal e 24 anos depois da Semana de Arte Moderna de 1922, os autores locais ainda escreviam com rimas e simetria de versos. Outro dado novo que Bandeira Tribuzi trouxe para o texto literário maranhense foi uma poesia voltada para o cotidiano, com o privilégio de mostrar a importância dos fatos aparentemente banais e corriqueiros, apresentando o poema como denúncia, irônico e satírico, de cunho, às vezes, paródico.55
Tribuzi agremiará ao redor de si (mesmo involuntariamente) um grupo de jovens entusiastas que mudarão a nossa Literatura. Ao lado do ex-presidente José Sarney, Luci Teixeira, José Bento, e outros escritores, fez parte de um movimento literário difundido através da revista que lançou o modernismo no Maranhão, A Ilha, da qual foi um dos fundadores: [...] a revista literária A Ilha, sendo que desta vez Tribuzi dividirá as responsabilidades (e críticas) com José Sarney (que bancará as edições), Murilo Ferreira, Domingos Vieira Filho, Belo Praga e Lucy Teixeira. Lentamente, outros periódicos surgirão e o modernismo com suas idéias de liberdade de criação se instalará até mesmo entre aqueles que criticavam tal atitude artística. No mesmo ano, casa-se com Maria dos Santos Pinheiro, (seu único e real “porto seguro”) e publicará seu segundo livro de poesia Rosa da Esperança, dedicado “aquela moça falante que discutia filosofia (era formada na área), poesia e política com a mesma desenvoltura”. (MENEZES, 2008) 56
Foi também junto com o ex-presidente o fundador do jornal O Estado do Maranhão. A canção "Louvação a São Luís", de Bandeira Tribuzi tornou-se o hino oficial da cidade Em 1949, juntamente com Corrêa da Silva, J. Figueiredo, Lucy Teixeira, José Brasil e outros criará o pequeno jornal sobre literatura; “Malazarte” (nome da incompreendida peça teatral do maranhense Graça Aranha). Segundo alguns autores, será apenas nesse pequeno periódico que serão publicados os primeiros poemas de Drummond e dos Andrades na “Terra das Palmeiras” (MENEZES, 2008) 57. É concluída também neste ano a peça RosaMonde (o touro da morte) que só será publicado em 1985 e que infelizmente não se tem registro de uma adaptação em nossos palcos, talvez por sua proposta inovadora de combinar tragédia grega com o folclore maranhense. Foi poeta, novelista, romancista, dramaturgo, compositor (com 93 composições musicadas, incluindo o hino oficial da cidade de São Luís), ensaísta, crítico literário, historiador e professor. Trabalhou como jornalista em diversos órgãos de imprensa, criou a revista Ilha e dirigiu vários jornais, como o Jornal do Povo e O Estado do Maranhão. Foi funcionário público, na condição de economista e Chefe de Relações Públicas do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, e também Diretor do Banco do Estado do Maranhão. Tornou-se uma das figuras mais destacadas do planejamento econômico estadual, redigindo planos de governo e assessorando governadores. Representou o Maranhão no V Encontro Nacional de Secretários de Planejamento, em Porto Alegre, em 1973. Sua estréia em livro foi em 1947 com a coletânea de poemas Alguma existência, edição do Autor, seguindose Rosa da esperança, Guerra e paz, Safra, Sonetos, Pele & osso, Breve memorial do longo tempo e, em edições póstumas, Poesias completas, de 1979, incluindo vários inéditos, Tropicália consumo & dor, de 1985 e Obra poética, de 2002. Em maio de 1977, foi-lhe prestada, em comemoração ao seu cinqüentenário, uma homenagem da intelectualidade brasileira, em São Luís, da qual participaram figuras proeminentes da literatura, da 53
http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm http://maranhaomaravilha.blogspot.com.br/2012/02/maranhenses-ilustres-bandeira-tribuzi.html 55 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 56 MENEZES, Flaviano. Pedra Peciosa IV - Bandeira Tribuzi. In MARANHARTE, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2008/09/pedra-peciosa-bandeira-tribuzi.html, sábado, 6 de setembro de 2008, ACESSADO EM 28 DE MARÇO DE 2014. 57 MENEZES, Flaviano. Pedra Peciosa IV - Bandeira Tribuzi. In MARANHARTE, disponível em http://maranharte.blogspot.com.br/2008/09/pedra-peciosa-bandeira-tribuzi.html, sábado, 6 de setembro de 2008, ACESSADO EM 28 DE MARÇO DE 2014. 54
sociedade e da política, em que se destacavam Ferreira Gullar, Odylo Costa, filho, Jorge Amado, Josué Montello e José Sarney, entre outros. Bandeira Tribuzi morreu poucos meses depois, em São Luís, a 8 de setembro de 1977. "Ao mesmo tempo que soube ser o intérprete das grandes angústias humanas no ritmo de seus poemas, Tribuzi foi a voz de seu povo e de sua província, com um modo de ser genuinamente maranhense. Já acentuei que não devemos confundir, nos escritores da província, os provincianos e os provinciais. Os primeiros só existem em função da província, ao passo que os segundos têm a dimensão universal embora vivam na Província, e a cantem, e a celebrem, e nela reconheçam o recanto do mundo que não trocariam por nenhum outro. Tribuzi é bem o poeta provincial por excelência, como Gonçalves Dias na Canção do exílio. Sua obra é uma convergência de problemas e sentimentos universais, a que o poeta empresta a beleza do seu canto. Creio que, sob esse aspecto, ninguém mais representativo do que ele, no quadro geral da poesia maranhense contemporânea." (Josué Montello, 1979)58
Dono de uma obra multiforme, rica, versátil e definitiva, entre os 19 59 e os 50 anos, Bandeira Tribuzi tem, em sua poesia, aquela carnalidade, aquele fogo, aquela singularidade do espírito do homem da América Latina. Em sua obra literária da última fase, principalmente a de Consumo&Dor há a comunhão, também, com a poesia metafísico-social dos Quatro Quartetos, de T. S. Eliot. 60 Em outras palavras, em 1948, Bandeira Tribuzi representou, para a Literatura Maranhense, o que Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade representaram para a Literatura Brasileira, entre 1922 e 1933, ou seja, como pioneiro introduziu no panorama da cultura literária maranhense as melhores conquistas do Modernismo. 61 Obras do autor62 Alguma existência (1948) Rosa da Esperança (1950) Safra (1960) Sonetos (1962) Pele & Osso (1970) Poesias Completas (1979) Poesia Reunida Antologia poética póstuma] São Luis: SECMA; Rio de Janeiro: Alhambra,1986 ITINERÁRIO DO CORPO 63 A Afonso Felix de Sousa I O pequeno lugar predestinado: cama – lençóis, colchão e travesseiro: objetos banais pousados sobre a armação de madeira para dois. Pequeno apartamento de cidade! Pequenos corpos e cansados despem-se, MONTELLO, Josué. “O LEGADO LITERÁRIO DE BANDEIRA TRIBUZI”. In: Tribuzi, Bandeira.Poesias Completas. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília: INL, 1979.) 59 Aos 21 anos de idade, Bandeira Tribuzi estava afinadíssimo com a revolução estética que acontecera na Rússia, na Inglaterra, na França, na Alemanha e, particularmente, em Portugal. http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 60 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 61 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina340.htm 62 http://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_Tribuzi http://bandeiratribuzi.blogspot.com.br/ 63 http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/bandeira_tribuzi.html 58
despem roupas, sapatos, conveniências à pequenina luz que afaga as coisas. Estão nus, lado a lado, sobre o leito e se entrelaçam para desafogo de raivas, lutas, ilusões, sentidos. Talvez não saibam por que assim se prendem, Já cantam sino pelo novo filho! II Entre o campo de neve a vida fende-se barbaramente, para dar passagem à colheita que vem sem estações: bicho da terra que se chama homem. Nove meses guardado e construído com silêncio, carne, sangue e esperança, ei-lo que rasga o ovo e se apresenta disforme, placentário, precioso. Ela está como o campo após a ceifa. De seus peitos já mana o claro líquido onde a vida se côa como um filtro. Olha o pequeno corpo que se deita a seu lado, entre o sonho e a realidade, e, brandamente, diz apenas: - Filho! III Infância triste, tempo de castigos e doces ilusões mas sem brinquedo que teus olhos encontram nas vitrines e tua débil mão jamais alcança. Porém o corpo vai rompendo elástico pesar do tempo amargo em que floriste. Teus olhos já se pousam sobre a vida embora ignorando-lhe a inocência. Assim, surgindo vens dos alimentos, cuidados e remédios e o alicerce da sapiência que são letra e número. Assim te formas resumido corpo que será de homem e continuará brincando em nova trágica maneira. IV Resides entre o sonho e coisas ásperas, a confusão do trágico e a rosa, a escola, o emprego, o livro clandestino, a refeição modesta, o sono limitado. Teu corpo é apenas máquina de sexo e coração: toda a razão de ser
está na amada, amada inconsistente: olhos, cabelos, seios, agressivos somente, mas tu a colocas lá bem no centro do mundo e lhe declamas baladas, vossos corpos se aproximam. Entre comícios, agressões, revoltas, pressa, atenção, estudo, devaneio, estás defronte ao mundo e interrogas. V A resposta és tu mesmo: corpo de homem, o sentimento e pensamento de homem, passo seguro de homem, ombros de homem, boca, face, palavra e gestos de homem. O que sabes do mundo! Gestos mágicos te multiplicam ao calor dos corpos. Uma coragem funda, o olhar sábio, avanças com o tempo e o constróis. A noite existe – não a das carícias, de sono leve, corpos repousando – noite pesando sobre cada coisa. Avanças bloqueado pela Noite (há muitos, muitos corpos avançando) e teus passos vão dar na madrugada. VI És fogo que se apaga lentamente. Folhas que vão tombando despem a árvore. Árvore a quem a seiva foi faltando, tua missão se acaba e envelheces. Teus olhos já cansados de aprender formas, gestos e a grande cor do mundo. Tua boca já cansada de alimentos, de beijos, de palavras, de protesto. Outros vêm substituir tua coragem com novos braços para a mesma luta, e passos fortes para o mesmo fim. Tua hora vem chegando necessária. O corpo se dissipa. Tua passagem não terá vermes para devorá-la. CONCLUSÃO PARA CONSOLO64 Bicho da terra estás apenas morto. Já a terra de que és bicho te recobre e uma pequena flor acena, leve, 64
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um pequenino adeus sobre teu túmulo. Tua mulher jamais esquecerá tua sólida figura. Nem teus filhos que em si a reproduzem e prosseguem tua presença em gestos e palavras. O tempo que rompeu teu rude corpo como inverno passando sobre o campo, não cortou a semente indispensável. Ele mesmo será propício à nova árvore forte que sustém o mundo e reverdece o chão da vida mágica.
Lamentação do quase ex-príncipe Menino sou do tempo que se acaba e, consequentemente, sou aquele para quem tudo que de novo venha recorda o anterior que mais amava. Sou filho do ruído das palavras de que abusava para, sem sentido, me ver de cores vivas revestido. Não ter lugar real facilitava o meu estar entre diversas forças, neutro. Menos a idéia que o proveito exerci. Filho do tempo e inculpável, sempre exaltei gratuitas circunstâncias. Não sei se me defendo, se me odeio, se iludo o meu saber-me e odiar-me. PAISAGEM65 Eis aqui um cão e defronte um homem: ambos o pão da fome comem. Olha o cão a vida triste das pedras (coitado do cão que não pasta ervas) e por fim já morde o osso das trevas. Olha a vida o homem com saudade amarga. Os olhos do homem já não olham nada. Só, em seus ouvidos de carne fanada, teimam os latidos 65
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da morte e do nada.
SAFRA66 poemas MCMLXI (...) Viaja a roda do tempo na cadeia ininterrupta, de milhões de dentes. Ondeia o verde trigo e o pão ondeia e ondeia o segredo das sementes. A pouco e pouco na ampulheta descem finos, inesgotáveis grãos d e areia. Quando a mão colhe o trigo que semeia já um novo trigal novas mãos tecem. E a onda vem e volta e vai voltando, viva maré da vida flutuando — asa de pássaro entre a morte e o ovo. Ter sido já vai sendo o que será. A cada morte um ventre se inchará e o sangue que morreu nasce de novo. (...) Por ela quebro a rota do silêncio e canto este meu canto duro e amargo: rapsódio rude de sombrio tempo, sonora lástima do corpo sob o látego. Pela manhã que vem nas águas puras do rio cujas lágrimas são ondas e por ti, natureza, pelo som das sinfonias da semente em fúria. Contempla, companheiro, esta macia e viva cor da vida nestes dias quando se rompe o ventre dos trabalhos na maré viva de pomo, vinho e pão e o vento, pelas árvores, violão longo e lento, se perde em seus atalhos. Os dias acontecem sobre a carne do tempo objetivo e singular. Ao poeta, além da vida que lhe cabe, cabe também o ofício de cantar. E é tão maduro o tempo e incisivas são de tal modo as circunstâncias de que se vê rodeado o poeta que cantando, canta apenas coisas vivas. Para que sonha se o luar adulto já é um sonho positivo e claro: objeto sem forma, apenas vulto macio e real. Que sonho raro será mais puro e belo e mais profundo do que esta viva máquina do mundo? (...)
De Bandeira Tribuzi – SAFRA: poemas MCMLXI. São Luis: Departamento Estadual de Cultura, 1961 http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/bandeira_tribuzi.html 66
CARTA (IMAGINÁRIA) A SÃO LUÍS 67 Ponta d’Areia, 8 de setembro de 2012
Exausto da solidão ilhéu, já não trago a rebeldia dos cabelos e a carnação azul da barba séria. Já não trago mais. O tempo me consumiu pulmão e coração e mais ainda consome em velocidade a cidade velha. Não sobraram versos, nem a sandália tem sobrado. Daqui os olhos saltam o mar e encontram as paredes puídas e o vestido roto da tua meia morada. Sobre a paz de tua imagem flutuando no Atlântico flui a música do tempo e cresce o musgo dos telhados. Os meus oitenta e cinco anos não são os teus quatrocentos anos, a minha história é bem menor que a tua. Mas nos encontramos pelo menos uma vez por ano na finitude desse chão batido de setembro, aterrado, banhado de sal e sol. Fui a tua última ponte, o teu anel, mandei o teu parnaso ao beleléu e me entreguei ao ludo real da poesia menina, aveira, sem formulário. Hoje, jubilado sob o cimento sem cor ou vida, entre o céu e o mar estou como um barco vivendo as marés, e a espuma vem dar em meus peitos em dias de ressaca. O arco do sol me refaz esperando o torvelinho dos teus dias. Morro onde o vento se revolta e faz a curva. No teu novo ano, não venho com um canto de louvação ou um breve memorial pra despistar a minha fadiga. Deixo o louvor aceso no castiçal das igrejas e me visto de padre ou economista para compreender as tuas novas castas. Deixo no primeiro ano do teu quinto centenário o meu marco regulatório, tão em voga nos dias de hoje! De queixa e assombro, afinal sou filho do ruído das palavras. Em verdade, vai-se acabando o tempo da homenagem, o tempo do reconhecimento. O que permanece é esse sempiterno musgo nos beirais da memória. Se ainda não chegou o final dos tempos em 2012, então chegou o dia do triunfo da folhagem. É esse o marco regulatório que prenuncio. Sem soberba alguma, o memorial que tu me deste era pouco e se acabou. Nada contra o cheiro forte do capim que me cobre a face, mas me sinto vegetal e terra a consubstanciar-se com meus ossos. Vizinho está o mar com sua espuma, com sua raiva e sua ânsia, misturando sua maresia com o acre cheiro do mato. Do memorial me pego a ver os navios se afastando e uma saudade que não é de amigos nem de parentes subindo aos olhos. É a saudade do futuro que me aflige. Pelos próximos quatrocentos anos deverei ainda dormir à sombra de grandes árvores em noites de espanto, próximas do medo, do frio silêncio, da paz intangível, para depois despertar com o mundo vegetal e as aves roçando meus ombros materiais, sentindo-me pedra. Sim, sinto-me pedra com o barulho das pedras do reggae que ao lado sacodem a minha estrutura de concreto. Acordo um trapo, um trapiche. Desculpe-me se no século passado não tive traquejo para o teu chamego parnasiano. E me perdoe se não levo jeito agora para a tua ginga jamaicana.
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LIMA, Feliz Alberto. In REDEMOINHO. Disponível em http://oredemoinho.blogspot.com.br/2012_09_01_archive.html ; texto baseado livremente em fragmentos de poemas de Tribuzi. Acessado em 28 de março de 2014.
Não, não te escrevo para lamuriar. Por todos os caminhos do mundo por onde fui ou ouvi falar, a erva cresce daninha, entre as ruínas de um homem qualquer destroçado. Onde havia poesia, há paredes carcomidas nas quais bichos espreitam sobejos de alguma estrofe. Diga a Maria que ainda habito um outono enorme. Que um dia quando pó forem meus nervos e minha carne, quando já nada reste dos meus erros, possa ao menos alguém lembrar ao ler o mais triste dos poemas e, lembrando, ouça a música incontida da palavra comigo sepultada: doce, nítida, pura, azul e alada. Ao povo diga que jamais haverá quem corte o laço que a ti me prende, anel unindo o amante à sua amada, no fatal abraço em que se funde a vida coruscante. E antes que a morte me proíba de renascer as manhãs, deixa-me contemplar mais uma vez essa nesga do teu céu. Ainda velarei o azul dos teus dias com o que me sobra de esperança. Ainda hei de aprender a tua poesia. Felicidade. Bandeira Tribuzi
40 - JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – PATRONO 68
22 de março de 1947 / 07 de dezembro de 2010 Nasceu em 22 de março de 1947, em São Luis do Maranhão; filho de Antônio Sebastião dos Reis e Rosy Sousa dos Reis; casado com Maria Osmina Sousa dos Reis, com quem teve seis filhos: José Ricardo Santos dos Reis; José Ribamar Sousa dos Reis Júnior; Rosy Maria Santos dos Reis; Maria Firmina Costa dos Reis; Antônio Sebastião dos Reis Neto e Francisco Amaral Sousa dos Reis. Somados a sete netos. Graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Maranhão em 1973; com Curso de Ciências Jurídicas incompleto; no seu currículo constam os mais diversos cursos de especialização em pré-planejamento; sua área de estudos era pesquisa socioeconômica. Faleceu em São Luís na tarde de 07 de dezembro de 2010. Ocupou diversos Cargos e Funções Públicas, como Coordenador Geral e Diretor Presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais do Maranhão – IPES; Assessor Técnico da Secretaria de Administração do Estado do Maranhão; Assessor Técnico da Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Estado do Maranhão – SEPLAN; Assessor Técnico do Escritório Técnico de Administração Municipal – ETAM; Assessor Técnico Instalador da Loteria Estadual do Maranhão – LOTEMA; representante no Estado do Maranhão e Coordenador Regional do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais do Recife; Coordenador Regional da Fundação Joaquim Nabuco do Ministério de Educação e Cultura; Secretário Executivo Adjunto da Fundação Cultural do Maranhão; Membro do Grupo de Coordenação do Projeto Praia Grande; Presidente do Conselho Regional de Economia 15 a. Região; Coordenador de Marketing do Banco VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – em memória. Revista do IHGM n. 35, dezembro 2010, Edição Eletrônica http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1212201008.htm by ESTÊVÃO BERTONI http://jornalpequeno.com.br/edicao/2010/12/08/morre-em-sao-luis-o-escritor-e-economista-jose-ribamar-reis/ http://jornalpequeno.com.br/edicao/2007/03/23/ribamar-reis-60-anos-de-maranhensidade/ http://avozdaraposa.blogspot.com.br/2011/06/180-dias-sem-ribamar-reis.html http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2371780 http://diretodaaldeia.blogspot.com.br/2010/12/morre-jose-ribamar-reis-autor-da.html http://antonio.noberto.zip.net/arch2011-11-27_2011-12-03.html 68
de Desenvolvimento do Maranhão S.A.; Assessor da Superintendência de Planejamento do Banco do Estado do Maranhão S.A.; Chefe do Departamento de Estatística do Bando do Estado do Maranhão S.A.; Grande Secretário de Cultura e Orientação do Grande Oriente do Maranhão, tendo ainda exercido outros relevantes cargos e funções nas áreas de pesquisas sócio-econômicas, planejamento e financeira do Estado. Historiador, pesquisador, escritor e poeta com diversos livros publicados dos quais se destacam, Poesias: Marcas; Verdade e Esperança; Lance de Rumo; Flor Mulher e Recital Poético (CD). Ensaios: Bumba-meu-Boi, O Maior Espetáculo Popular do Maranhão – Três edições esgotadas; Bumba-Boi – Alegria do Povo; Folclore Maranhense – quatro edições esgotadas; Feira da Praia Grande – duas edições esgotadas, Raposa: Seu Presente, Sua Gente, Seu Futuro (Perfil Psicossocial dos Municípios Maranhenses – Projeto Piloto); Newton Pavão – Mestre das Artes; Contos da Ilha; São José de Ribamar: A Cidade, O Santo e sua Gente; João Chiador, 50 Anos de Glória, Meio Século de Cantoria; Praia Grande, Cenários: Históricos, Turísticos e Sentimentais; ZBM: O Reino Encantado da Boêmia, São João em São Luís: O Maior Atrativo Turístico-Cultural do Maranhão; Sertão da Minha Terra, A Saga das Quebradeiras de Coco (contos); O ABC do Bumba-Boi do Maranhão, duas edições esgotadas; Amostra do Populário Maranhense; Terreiro do Riacho “Água Fria” (novela); Carimã (contos); Folguedos e Danças Juninas do Maranhão; Mãe Tomázia (contos). Inéditos: Ilha de São Luís: Processo de Metropolização; São Pantaleão / Madre Deus: O maior Pólo da Cultura Popular São-luisense; Os Fuzileiros da Fuzarca: Relíquias da Batucada Maranhense; As Maiobas: A Capital do Bumba-Boi da Ilha; De Pericumã a Cumã (contos-ficção/realidade); O Pajé Curador de Canelatiua (contos-ficção/realidade); Da Casa das Tulhas a Feira da Praia Grande; Brincadeiras Populares do Maranhão; Baixada Maranhense em Prosas e Versos; Mapeamento das Manifestações Culturais do Estado do Maranhão; Dicionário da Maranhensidade (Lingüística Histórica); A Saga de Seu Bento: O Retirante (novela) e Trincheira da Maranhensidade em Artigos e Crônicas. Sua colaboração jornalística é marcante com milhares de artigos e crônicas publicadas nos principais jornais maranhenses. Atualmente, mantinha sua colaboração, semanalmente, às sextas-feiras no Suplemento Cultural JP-Turismo do Jornal Pequeno, onde é titular da Coluna Trincheira da Maranhensidade. Colaborou, diariamente, com o Jornal O Estado do Maranhão, com uma página econômica pelo período de um ano e meio, além de inúmeras participações em palestras, debates, seminários e simpósios locais, regionais, nacionais e internacionais. Freqüentemente era convidado para participação de eventos dessa natureza, com destaque maior para os que tratam do tema sobre a Cultura Popular Maranhense. Autor da Simbologia de Auto-Estima dos Maranhenses: a Maranhensidade, cria deste historiador, membro efetivo do IHGM, entre controvérsias e aplausos é a fase modal da Cultura Maranhense, principalmente a área da Cultura Popular, o que não deixa de ser mais uma prova do eficiente e diuturno labor deste abnegado defensor das coisas e da gente deste torrão. CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM DISCURSO DE JOSE DE RIBAMAR SOUSA DOS REIS, POR OCASIÃO DO LANÇAMENTO DO LIVRO DE SUA AUTORIA “RAPOSA: PRESENTE, SUA GENTE, SEU FUTURO’, NO IHGM EM 27.5.1998 No. 21, 1998 48-52 DA CASA DAS TULHAS A FEIRA DA PRAIA GRANDE: A NECESSIDADE DE CONHECER PARA PRESERVAR! N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 92- 94 HOJE É DIA DO LIVRO FOLCLORE MARANHENSE N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 110-111 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: A CASA DE ANTÔNIO LOPES. 84 ANOS DE HISTÓRIA FAZENDO HISTÓRIA N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 178-180 MÃE TOMÁZIA: MAIS UM PRESENTE PARA NOSSA CODÓ REVISTA IHGM 32 - MARÇO 2010, p. 90 FALTA DE RESPEITO AOS RESTOS MORTAIS DE MARIA FIRMINA DOS REIS REVISTA IHGM 32 MARÇO 2010, p. 92 TRINCHEIRA DA MARANHENSIDADE: DISCURSO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS AO RECEBER O TÍTULO DE CIDADÃO RAPOENSE. REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 113 AS NOSSAS FESTAS JUNINAS & O MERCADO DA GLOBALIZAÇÃO CULTURAL! REVISTA IHGM 33 – MARÇO 2010, P 115
DISCURSO PROFERIDO NO PLENÁRIO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO, EM REUNIÃO ORDINÁRIA, DIA 25 DE SETEMBRO DE 2002. Rev. do IHGM, No. 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 108-112 4º CENTENÁRIO DA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 150
400 ANOS DO MARANHÃO/SÃO LUÍS/VILA DE VINHAIS
4º CENTENÁRIO DA CIDADE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO Postado em: 03/09/2010 14:45:42 Precisa ser Priorizado pela Imprensa Local! Como bons brasileiros; nós maranhenses não seriamos o contrário! As coisas mais urgentes e necessárias sempre continuam ficando para as últimas horas. Ai é um corre-corre dos maiores e haja improvisos repletos de imperfeições e muitas das vezes grandes injustiças e sérias inversões de valores que acabam sendo o pior! A data oficial de criação da Musa Maior dos Poetas Atenienses: São Luís do Maranhão é 08 de setembro de 1612; desta maneira, no próximo 08 de setembro de 2012, a bela e romântica capital maranhense ostentando, mesmo ainda muito maltratada, cenários incríveis de uma beleza onde a natureza se mescla com os dotes imensuráveis da cultura desta urbe dupla: a velha e histórica São Luís e a moderna, metrópole Grande São Luís, repleta de aranhas-céu, túneis e elevados, que a cada minuto nos enche de orgulho e vaidade de sermos ludovicense. Na Capital Ludovicense Patrimônio da Humanidade suas veias poéticas explodem pelos cantos e encantos de suas ruas estreitas, decoradas com pedras de cantaria, que mostram seus casarios com os ricos e deslumbrantes beirais. Nos belos telhados os vegetais parecem desafiar os conceitos científicos e proliferam formando verdadeiros jardins suspensos, mesmo maltratos e muito pouco valorizados! O Centro Histórico são-luisense não se pode deixar de conceituá-lo como o Maior Museu A Céu Aberto das Américas é imensurável o acervo de lindas peças, cujo conjunto é um dos maiores atrativos turístico-culturais dos nossos “brasis”. Com destaque maior para o bairro da Praia Grande, um Monumento Colossal! Se todos esses encantos e belezas nos deixam extasiados de contentamentos e nos inspiram poeticamente; a outra vertente moderna de São Luís nos deixa deveras preocupados com o sério conjunto de problemas oriundos da grande explosão populacional quer por isso ou aquilo a Grande São Luís vive atualmente um de seus maiores êxodos rurais já acontecido, somado a uma forte demanda de espaço físico pelo constante fluxo de migrantes que buscam em terras de Bandeira Tribuzi melhores dias! Desta maneira, se avolumam situações negativas na infra-estrutura geral da cidade, no saneamento básico; surgem constantemente problemas ambientais; a segurança por mais esforços que as autoridades priorizem, ainda fica a mercê de melhoras; agravam-se a falta de atendimentos na saúde e a educação não é mais a da velha e inesquecível, São Luís do Liceu Maranhense, da Escola Normal, da Escola Modelo, dos Maristas, do Colégio São Luís, do Ateneu Teixeira Mendes e tantas outras escolas, colégios que muito contribuíram para o resplandecer de uma cultura reconhecida internacionalmente, com as mais diversas participações que galgaram ressonâncias nacionais. Nos reportamos a fase áurea de São Luís Atenas Brasileira; claro que a nossa cultura continua vibrante e forte. Mas, a cidade se agigantou deixando de ser aquela acolhedora tapinha para ser hoje a São Luís de quatro séculos! Mas, a bem da verdade os quatrocentos anos estão bem ai e nada oficialmente foi feito e/ou programado por qualquer segmento da sociedade; alguns rápidos comentários já chegaram ao nosso conhecimento: da Universidade Federal; do Instituto Histórico e Geográfico e alguns outros. Na verdade o que está faltando é o despertar da Maranhensidade, o interesse, o orgulho de descobrir a identidade cultural e principalmente a auto-estima do ludovicense com sua cidade-luz. O saudoso Mestre Nascimento Moraes Filho preconizava uma afirmativa das mais sérias e corretas: “O Maranhense não conhece o Maranhão!” Eis uma oportunidade de unidos sem baixarias de politicagens ou tendências de grupinhos em nome da Cultura e muito principalmente em consideração e respeito a São Luís façamos das comemorações destes quatrocentos anos uma grande mostra do que fomos e do que somos; despertando em cada cidadão são-luisense amor pela sua rua, bairro. A cidade é de todos nós! Necessitamos conhecer para amá-la! É preciso que cada cidadão conheça seus direitos e deveres para também funcionar como agente de preservação tanto do patrimônio arquitetônico, quanto histórico-cultural. Para que esta idéia se realize, supomos que somente através da união e a intervenção maciça da Imprensa Maranhense, quando poderemos formar um grande mutirão sem cores
de times ou partidos políticos com a finalidade de montarmos um grupo polivalente e específico que trate das comemorações do IV Centenário da nossa São Luís do Maranhão. As ações produzidas separadamente por este e aqueles segmentos sociais não terão o impacto dessas mesmas ações deflagradas em conjunto e com o apoio das áreas mais representativas da sociedade local. São Luís merece uma grande festa nos seus 400 anos, afinal são quatro séculos não são quatro dias ou semanas. Na verdade são 146.000 dias de lutas, vitórias e glórias! Sonhamos com uma programação extensa, que seja executada o ano inteiro, com a participação prioritária dos jovens estudantes; dos colégios; das Universidades; dos Produtores Culturais em Geral; todos os órgãos governamentais, não governamentais sem distinção de níveis municipal, estadual ou federal; associações; Classe Empresarial, enfim todos segmentos representativos da sociedade são-luisense sem qualquer exclusão e claro principalmente a mídia e seus Sistemas de Comunicações. Devemos colocar a disposição do grande público, que com certeza buscará conhecer ou visitar a quatrocentona cidade, informações, livros, brochuras, exposições, peças teatrais, guias e tudo mais para que esses demandantes tenham satisfeito suas necessidades de ser bem informado sobre a cidade que visitarão no seu 4º Centenário. Dando prioridade também a concursos estudantis locais, nos mais diversos níveis, sobre a temática. Para iniciarmos a montagem deste Mutirão sugere-se que os órgãos representativos da Imprensa Maranhense e seus Sistemas Midiáticos produzam um Seminário ou Mesa Redonda com seus associados, profissionais e convidados especiais para tratarem especificamente de estratégicas de como proceder para que os objetivos da idéia sejam alcançados o mais rapidamente. Bom, que se repita um artigo aqui, outro acolá não irá ter a repercussão de uma ação conjunta, a qual é necessária e da maior urgência. Partamos de que a idéia é de todos nós militantes diretos ou indiretamente da imprensa local! Vamos ao Mutirão da Imprensa em prol do 4º Centenário da Cidade de São Luís do Maranhão! FALTA DE RESPEITO AOS RESTOS MORTAIS DE MARIA FIRMINA DOS REIS69 José Ribamar Sousa dos Reis Membro Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nossa Trincheira hoje é de protesto indignação e séria perplexidade, jamais nos passou pela mente que pesquisando sobre a Região Baixada Maranhense, principalmente sobre a cidade de Guimarães iríamos receber um choque ao nos deparamos com uma notícia em um dos blogs viamarenses, mais precisamente o http://vimarense.zip.net – um recanto para matar as saudades de Guimarães sobre o saqueamento, desprezo, desrespeito para com os restos mortais de uma das mais ilustres mulheres maranhenses de todos os tempos. Exatamente a primeira romancista brasileira; autora do hino da abolição da escravatura no Brasil, a digna representante da Maranhensidade pela sua etnia; cultura e coragem de defender as coisas e a gente deste torrão. Poetisa que assim cantou e decantou a cidade de Guimarães: “Tomei a lira mimosa / De festões a engrinaldei / E pus-lhe cordas de ouro / teus encantos cantei!” Eis a resposta: o sepulcro da Mestra, poetisa, abolicionista e folclorista Maria Firmina dos Reis, a sua última morada escolhida pela própria em terras viamarenses, não era para ser tratado de uma maneira rude e vulgar. Chegando a ponto de estar arrombado, totalmente danificado, pela foto o leitor observa que não se pode afirmar se, os restos mortais da insigne autora de Úrsula (1859), obra que corre ainda o mundo, estejam sem ter sido molestados ou até mesmo roubados, a exemplo do que aconteceu também aos restos mortais de Francisco Sotero dos Reis, que se encontravam em baixo do seu medalhão na Praça Pedro II, esculpido por Newton de Sá e por ocasião de uma reforma foram levados pelo vento ou piratas de sepulturas. Basta de ingratidões; de falta de reconhecimento; de inversões de valores a Vates que deram a vida em defesa de nossas coisas e nossa gente e agora olhem o reconhecimento! Em contrapartida, outros tantos e tantos calhordas, que fizeram e fazem o contrário do que a criadora da primeira escola mista em terras maranhenses e onde foi? No solo de Guimarães, enquanto os verdadeiros valores são desprezados; os picaretas culturais aumentam e são até condecorados. Já a Mestra Régia que deu seu sangue e grande parte de sua existência na alfabetização de tantas e tantas gerações viamarenses seus restos mortais vagueiam, necessitando que saiamos de pires na mão para o reparo de seu sepulcro. Reflitamos sobre tal cenário! Foi a poetisa a Dama da Abolição da Escravatura Brasileira.
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Blog do Leopoldo Vaz disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2010/01/20/maria-firmina-dos-reis/
Antes de qualquer coisa os feitos de Maria Firmina dos Reis foram e representaram para a eternidade grandes participações nacionais de uma legítima maranhense, cujas ações nos enche de jubilo e orgulho. Deste modo, o caos que se encontra sua sepultura não merece tão somente, a solicitação mesmo que tarde do vereador vimarense Osvaldo Gomes, a qual como já falamos mesmo tardias foram válidas tais intervenções do referido edil, inclusive aprovada em 7 de novembro de 2009 pela Câmara Municipal de Guimarães. Abrindo aqui um parêntese, solicitamos a quem interessar possa, que resida na cidade de Guimarães, que nos informe sobre o estado que se encontra a referida sepultura, hoje, para que possamos tomar as devidas providências. Aproveitamos para lembrar as autoridades maranhenses de que estes descasos imorais, que estão acontecendo com o sepulcro desta Emérita Poetisa não são de culpas individuais de quem quer seja. Mas, sim de todos nós maranhenses. Desta maneira, esperamos que providências urgentes e cabíveis sejam tomadas por quem de direito no sentido de que seja construído condignamente um túmulo para Maria Firmina dos Reis, cujo sepulcro, na afirmação do Mestre Turismólogo e Escritor Antônio Norberto, deve se tornar uma das maiores atrações turísticas para a cidade de Guimarães. Vamos recordar aos esquecidos, um pouco quem foi esta guerreira maranhense. Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão em 11 de outubro de 1825, no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, teve por pais João Esteves (ele negro) e Leonor Felipa dos Reis (ela portuguesa) e viveu por algum tempo no bairro de São Pantaleão. Mas embora tenha nascido em São Luís, Maria Firmina passou a maior parte de sua vida na cidade de Guimarães. Foi autodidata, principalmente por ter aprendido francês sozinha. Professora primária por quase toda a vida, profissão esta, que teve início quando fora aprovada em primeiro lugar em um concurso público estadual no ano de 1847 para mestra régia – isto é, professora concursada, e não leiga -, aposentou-se em 1881, porém, um ano antes da sua aposentadoria fundou a primeira escola mista no Maranhão. Faleceu em 11 de novembro de 1917 aos 92 anos; cega e pobre. Iniciou sua carreira literária com a publicação do romance Úrsula (publicada sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”) em 1859. Posteriormente começou a colaborar com o jornal A Imprensa (1860), principalmente com poesias e em 1861 começa a publicar Gupeva no jornal Jardim das Maranhenses. Entre 1863 e 1865, republica Gupeva nos jornais Porto Livre e Eco da Juventude, somados a tantos outros escritos, bem como, colaborou com os mais diversos jornais maranhenses. Outra faceta da primeira romancista brasileira é a de ser também compositora musical, tanto de músicas clássicas, somadas a lindas toadas do bumba-meu-boi maranhense. Seu grande biógrafo; o saudoso escritor, pesquisador José Nascimento Moraes Filho, lhe atribui na sua obra meritória: Maria Firmina dos Reis, Fragmento de uma Vida, a precedência feminina na cultura maranhense, no jornalismo, na poesia, no romance, no conto e até na música popular e erudita Eclética é a obra de Firmina.
CLORES HOLANDA SILVA70
Fundadora da Cadeira 30 da ALL Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Clores Holanda Silva, nasceu na Cidade de Presidente Dutra, no Estado do Maranhão, no dia 11 de março de 1960. É filha de Geraldo Holanda Cavalcante (in memoriam) e Maria Nazaré Gomes Cavalcante, conhecida por Zazá Holanda (in memoriam). Seu estado civil é Divorciada. De uma irmandade de nove irmãos, sendo a antepenúltima. O irmão caçula faleceu em 1996. Do fruto de seu casamento com Ricardo Luís Costa Mendes nasceu Marcella Holanda Mendes. Cursou o Jardim de Infância e o primário na Cidade de Presidente Dutra. Em 1971 passou a residir com seus pais e irmãos na cidade maranhense de Santa Inês. Nela, submeteu-se ao antigo Exame de Admissão para ingressar no Ginásio, obtendo aprovação, permanecendo lá durante dois anos. Em 1972 retornou com sua família à terra natal, Presidente Dutra. Em 1973, a convite de sua irmã e madrinha, Nazi Holanda de Alencar foi morar em Aracajú, Capital do Estado de Sergipe. Em 1975, com a mudança de seus pais para São Luís, resolve deixar Aracaju e fixa residência na Capital do Maranhão, submetendo-se a seleção e sendo aprovada para estudar no Colégio Santa Tereza, tendo concluído o Ginásio e iniciado o 1º. Ano do antigo Científico. Em 1976 pediu transferência do Colégio Santa Tereza para o Instituto Tecnológico de Aprendizagem – ITA, de São Luís, cursando o 2º. Ano de Estudo Profissionalizante em Técnicas de Laboratório, concluindo o 2º. Grau – Formação Geral em 1978. Graduou-se em História Licenciatura em 1996, pela Universidade Federal do Maranhão. Neste ano foi selecionada pela UFMA – Projeto “Prata da Casa” para cursar o Mestrado em História e Cultura Social, pela UNESP – Universidade Estadual de São Paulo, em Franca – SP. Por motivos familiares, cursou apenas 01 (um) semestre, retornando a São Luís. No ano de 2003 iniciou a pós-graduação no Curso de Especialização em Gestão de Arquivo, pelo Departamento de Biblioteconomia, da UFMA, concluindo em 2004. Iniciou sua vida profissional na Universidade Federal do Maranhão, no dia 30 de novembro de 1979, na função de Arquivista, no Arquivo do Centro de Ciências Sociais. Aposentou-se em 30 de janeiro de 2014, na função de Administradora do Palácio Cristo Rei e Coordenadora do Memorial Cristo Rei, museu da UFMA, perfazendo um total de 34 anos trabalhados na Instituição. Na sua gestão o Memorial Cristo Rei se consolidou como um espaço de memória e integração da sociedade, obtendo o reconhecimento, através das publicações do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM: Revista da Semana Nacional de Museus, Revista Museália e Guia dos Museus Brasileiros; e na Revista da Biblioteca Nacional. Desde o ano de 2010, Coordena o Projeto de Pesquisa “Os Reitores da UFMA”, de sua iniciativa, cujos resultados das pesquisas foi a publicação livretos das gestões dos reitores: Pedro Neiva de Santana, Cônego José de Ribamar Carvalho, Josué Montello, Manoel Soares Estrela e José Maria Ramos Martins; assim como os livretos sobre “O uso das vestes talares na UFMA”, a Bandeira da UFMA e “Histórico do Palácio Cristo Rei”. Fundou a Biblioteca “Mísula do Saber”, do Memorial Cristo Rei, inaugurada em 13 de maio de 2013, cujo acervo foi adquirido por doação, através da parceria firmada com o Instituto Brasileiro de Museus, Instituto do Patrimônio Artístico Nacional – IPHAN e o Museu Imperial, do Rio de Janeiro. O acervo contempla publicações nas áreas de Museologia, História da UFMA, Artes e Cidade de São Luís. 70
Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção
Atualmente, permanece como Administradora do Palácio Cristo Rei com a missão de coordenar as ações culturais do Memorial Cristo Rei. Toda a sua carreira profissional esteve e está vinculada a Universidade Federal do Maranhão, objeto de suas pesquisas. Eleita, no ano de 2012, Sócia-Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ocupando a Cadeira nº. 18, Patroneada por João Francisco Lisboa; ocupou cargo de Diretoria, 1ª. Secretária. É sócia da Associação de Amigos da Universidade Federal do Maranhão e Sócia Fundadora da Academia Ludovicense de Letras, ocupante da Cadeira nº. 30, Patroneada por Odylo Costa, filho, eleita a 2ª. Tesoreira. Honrarias recebidas: Comenda “Palmas Universitárias”, conferida em reconhecimento àqueles que se distinguiram no exercício de suas atividades profissionais, conferida pelo Reitor da UFMA, Dr. Natalino Salgado Filho, no Centro de Convenções Governador Pedro Neiva de Santana, no dia 6 de outubro de 2009. Por unanimidade foi escolhida para fazer o discurso em nome dos Técnicos-Administrativos; Comenda Coral Madrigal Santa Cecília, em 2010, concedida pela Associação de Amigos da Universidade Federal do Maranhão, no Teatro Artur Azevedo; Comenda Guará da Amizade, concedida pela Associação de Amigos da Universidade Federal do Maranhão, em 14 de março de 2011; Comenda “Mulheres de Expressão”, recebida da Jornalista Rosenira Alves, do Jornal Pequeno, em 9 de abril de 2011 em homenagem ao Dia Internacional da Mulher por o seu nome e o seu perfil se enquadrarem e honrarem a classe, razão pela qual foi indicada para receber a homenagem, que no ano chegou a sua 11ª. edição. A solenidade ocorreu no Brisamar Hotel, às 21h30, em São Luís – Maranhão. Indicada pelo Vereador Ivaldo Rodrigues para receber a outorga Medalha “Mãe Andresa”, a mais alta honraria do Poder Público Municipal às personalidades em prol da Cultura de nossa Cidade, em 20 de setembro de 2012; Medalha e bênção de São Francisco, em reconhecimento por sua colaboração nos últimos anos, que contribuiu para o sucesso de estudo, partilha e devoção à missão Capuchinha de evangelizar, concedida pelo Museu da Igreja do Carmo e da Província Capuchinha Nossa Senhora do Carmo, por ocasião dos 400 anos da presença dos Missionários Capuchinhos no Brasil – 1612-2012, em São Luís – Maranhão; Comenda Gonçalves Dias, considerando a participação e o empenho na consecução do Projeto Gonçalves Dias, realizado no período de 10 a 13 de agosto de 2013 pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em São Luís – Maranhão; “Tupi de Caxias”, por ocasião das comemorações alusivas aos 190 anos de Antonio Gonçalves Dias, concedido pela Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (ASLEAMA), o Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e a Academia Caxiense de Letras (ACL) – Sabiás da Cultura Gonçalvina, na Cidade de Caixas – Maranhão, no dia 11 de agosto de 2013; Comenda Memorial Cristo Rei 20 Anos, em reconhecimento de seu trabalho em prol da memória da Instituição, concedido pela Comissão Organizadora da Comemoração dos 20 anos do Memorial Cristo Rei, da Universidade Federal do Maranhão. Em março de 2011 foi homenageada pelo Jornal “O Estado do Maranhão”, no Caderno DOM, Coluna Perfil, através de uma reportagem do Jornalista Jack Jeam que a entrevistou. A notícia foi veiculada no dia 27 de março de 2011 Trabalhos apresentados e publicados: “Nascendo das Cinzas”: O papel do Memorial Cristo Rei na preservação da memória da UFMA nos 15 anos de existência”, durante o VIII Encontro Humanístico, do Centro de Ciências Humanas, da Universidade Federal do Maranhão, realizado no período de 17 a 21 de novembro de 2008; Memorial Cristo Rei: um instrumento de preservação, registro, difusão e reflexão sobre a história da Universidade Federal do Maranhão, na primeira fase do 1º. Ciclo de Estudos/Debates dos 400 anos de São Luís, intitulado: Das primeiras tentativas de ocupação até a consolidação da conquista da terra, realizado no Palácio Cristo Rei, da Universidade Federal do Maranhão, no dia 28 de julho de 2011, na modalidade comunicação oral; Palácio Cristo Rei “guardião das memórias da UFMA": Patrimônio histórico arquitetônico do Estado do Maranhão, por ocasião do XV Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD N/NE, na modalidade oral, realizado pelo curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará – Campus Cariri, ocorrido nos dias 15 a 20 de janeiro de 2012, em Juazeiro do Norte – Ceará; Palácio Cristo Rei “Guardião das Memórias da UFMA”: Patrimônio Histórico Arquitetônico do Estado do Maranhão, no V Encontro Maranhense de História da Educação, que teve como tema Patrimônio cultural em rituais, gestos e objetos escolares na História da Educação, promovido pelo Núcleo de Estudos e Documentação em História da Educação e Práticas Leitoras – NEDHEL, realizado no período de 15 a 18 de maio de 2012, em São Luís – MA; Memorial Cristo Rei: Do resgate a integração, por ocasião do XVII Congresso Brasileiro de História da Medicina e do I Congresso Maranhense de História da Medicina, na qualidade de Expositora, realizado no Hotel Praiamar, no período de 7 a 10 de novembro de 2012, em São Luís – Maranhão. Participação em eventos nacionais: 4º. Fórum Nacional de Museus Brasília 2010, promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus, nos dias 12 a 17 de julho de 2010, em Brasília – DF; Semana Nacional de Museus durante 7 anos seguidos (2007 a 2014); Primavera de Museus durante 6 anos seguidos (2007 a 2013). Participação em eventos internacionais: VI Encontro de Museus de Países e Comunidades de Língua Portuguesa, realizado em Lisboa – Portugal, nos dias 26 e 27 de setembro de 2011, promovido pelo Conselho Internacional de Museus, com o trabalho intitulado: A contribuição do Memorial Cristo Rei na formação do profissional do museu e na preservação, resgate e divulgação da história da Universidade Federal do Maranhão, em
forma de artigo e apresentação de pôster, tendo sido publicado nas Actas 2012, do Museu do Oriente, de Lisboa – Portugal; Iniciação na vida literária: Ciclo de Palestras sobre História e Universo Luso-Brasileiro, ministrado pelo doutor Milton Torres, no período de 4 a 7 e 14 de maio de 2004, na Academia Maranhense de Letras. Participou da comissão de trabalho do Projeto Gonçalves. Fala na Solenidade de Abertura do Projeto “Mil Poemas para Gonçalves Dias”, em 10 de agosto de 2013, na condição de Presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em exercício, proferida no Auditório dos Colegiados Superiores, do Palácio Cristo Rei com a presença de poetas de São Luís, Argentina, Peru, Assis – SP, Belo Horizonte – MG, Cabo Frio – RJ, Caxias – MA; Esperantinópolis – MA, Fortaleza – CE, Goiânia – GO, Imperatriz – MA, Inhapim – MG, Itapecuru-Mirim – MA, Itaituba – PA, Lago da Pedra – MA, Rio de Janeiro – RJ, Salvador – BA, Sambaíba – MA, São José dos Campos – SP, São Paulo – SP, Taguatinga – DF, e Vinhedo – SP. Nos dias 11 e 12 também participou do evento nas cidades de Caxias e Guimarães, do Estado do Maranhão. Nesta solenidade a Academia Ludovicense de Letras foi fundada. Liceo Poético de Benidorm São Luís do Maranhão – Brasil – Leitura Poética Global “Pela materialização da justiça social”, participou no dia 28 de setembro de 2013 (Galeria Trapiche), dia 13 de novembro de 2013 (Casa de Espanha) e em 2014 (Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), declamando as poesias de sua autoria: Injustiça Social (poesia elogiada pelo Confrade Wilson Pires Ferro onde disse que a autora já era uma poeta), Poema Branco e Ilha do Terror, e de outros autores. Vale ressaltar que neste evento é que teve a coragem de tornar públicas as suas poesias; embora, desde a sua adolescência gostasse de escrever poemas, acrósticos e crônicas. Pretende lançar um livro com esses escritos.
ANDANÇAS NUMA TARDE CHUVOSA DE MARÇO Andando pelas ruas do Centro Comercial de São Luís segui sem companhia. Trilhei caminhos no compasso dos anos vividos numa caminhada de nostalgia. Nessa passagem vivi momentos de desilusão. Caminhando, olhando e parando observei tudo ao meu redor. Encontrei calçadas quebradas onde o esgoto escorreria provocando um forte odor. Cruzei asfalto esburacado em tarde chuvosa na Ilha do Amor. A cidade desfigurada e maltratada pede socorro por não suportar tanta dor. Lixo acumulado em frente às lojas e prédios sem preservação por descaso do seu gestor. Ocupação irregular por vendedores informais por ausência de fiscalização. Ruas maltratadas, casas desgastadas, e muitas lojas de portas trancadas. Muitas promoções em cada estabelecimento comercial sendo poucos os que compravam. Lojas esvaziando na tentativa de vender suas últimas peças, amareladas com cheiro de mofo. O povo sumiu. Cadê o freguês? Quem vai comprar? E quem pode comprar? Em cada passo dado, o impacto dos meus pés nos paralelepípedos incompletos da Rua Grande. Atravesso ruas e sigo meu caminhar numa tarde chuvosa de março. Comigo guardo lembranças do meu olhar por esta cidade quando aqui cheguei em 1975. O centro comercial de São Luís foi palco de desfiles de moda, encontros e desencontros. Hoje busco passear em shopping para alimentar a minha vaidade, aguardando por um momento de calma aparente.
BANDEIRA BRANCA A bandeira branca está pichada de tanto lamento de um povo a se calar. Fica cada vez mais difícil hastear nas ruas quando vou caminhar. Em cada calçada, rua ou avenida a falta de tranquilidade vive a reinar. Peço a Deus libertar o ser humano perturbado das algemas da impunidade. E que o Governo garanta a paz, o amor e a compreensão entre irmãos. Vamos buscar a serenidade almejada na consciência de cada um. Dando atenção ao irmão carente de comida, roupa, saúde, moradia, amor e compreensão. Nesta Capital chamada São Luís, do Estado do Maranhão. A bandeira que eu quero levantar
Nas terras do meu Maranhão deve ser hasteada sem nenhuma mancha. Significando paz e tranquilidade pública, entre irmãos. Cada um enfrentando os problemas com dignidade e muita ação. Limpando as pichações de cada coração. Quem sabe um dia os libertará dessa coisa chamada corrupção. Que há anos vem manchando a honra dos cidadãos. Enquanto outros trabalham com dignidade em prol de nossa nação.
OUTUBRO DE FEIRAS NUMA SEXTA-FEIRA DE ALLOWEEN Feira de livro, feira de alimentos, feira de artesanato. O povo se encontrando livremente. Cada qual querendo comprar. Quem sabe uma abóbora do Halloween. Para afastar os maus espíritos duma sexta-feira que não é 13. O saber dos escritos nutre a mente, vestindo a alma dum povo sofrido. Uns plantam; outros colhem; e, outros vendem. Até chegar o tempo da colheita dos frutos do conhecimento. Sinto o sabor dos saberes da arte de um povo. Há Sexta-feira inusitada! Sentindo emoções que vinham de gestos ardentes. Estava envolvida em pedaços de memória da vida familiar. Tentando remendar aquilo que sobrou do tempo que passou. Nesta sexta-feira de bruxas com suas vassouras voadoras. Peço a proteção de Nosso Senhor.
2016 ANO DE COELHO NETO
COELHO NETTO, 150 ANOS. E DAÍ? EDMILSON SANCHES
IHGM - INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO - 10 DE FEVEREIRO DE 2014 ·
Todos nós maranhenses sabíamos que o escritor Coelho Netto completaria 150 anos de nascimento em 2014. Sabíamos, ou deveríamos saber. Em especial as autoridades político-administrativas deveriam saber. Deveriam agir. Afinal, desde que veio à luz em 21 de fevereiro de 1864, Coelho Netto teria -- morto ou, por milagre, vivo -- 150 anos neste ano. De geração em geração, os anos foram passando e, com eles, as décadas, os quartos de século, os meios séculos, até o século e meio. "Sesquicentenário, marco extraordinário", dizia a letra da musiquinha dos 150 anos da independência do Brasil que eu ouvia em Caxias em 1972. E o que fizemos nós maranhenses para nos apropriar apropriadamente dessa data-- uma entre outras, tanta e tão notável é a quantidade de filhos que ilustraram o Maranhão e o Brasil com suas obras e seus feitos singulares? O que fizemos? O que planejamos nós como conterrâneos citadinos e coestaduanos de Coelho Netto? Não sei o que é pior na Política e na Gestão Pública: se o excesso de paixão ou se a falta dela. Há uma evidente ausência de entusiasmo na Administração Pública. Há uma desagradável sensaboria, uma desgostosa insipidez na forma como gestores administram nossos municípios e outros espaços geopolíticos. Nada de criatividade. Nada de ousadia. Não há sonho-- só o mesmo ramerrame, a repetição fastidiosa dos atos de governo. Trata-se de um monte de gente besta que acha que não lhe sabemos de seus compromissos subalternos e de seus comprometimentos nada ortodoxos, envernizados pela douração de pílula das notas midiáticas e pela resina superficial das notas fiscais. Essa gente, que se traveste de pessoas interessadas quando, no âmago, são gente interesseira... Gente assim não é nem será líder -- mal é uma referência, aquilo que tecnicamente chamamos "liderança estatutária". Pois ser líder não é ganhar eleição, ter cargo ou mandar: é inspirar, encantar, inda que -- ou mesmo depois de -- morto. Você aqui, leitor, tem algum político no Maranhão que verdadeiramente lhe comova, que você olha para ele e suas falas e atitudes e se sente realmente orgulhoso, motivado, energizado para ir à luta com ele, pois que ele seria um padrão de honestidade e de competência? Pois bem; voltando à vaca-fria: Coelho Netto completa 150 anos no dia 21. Daqui a 11 dias. E daí?
No momento em que escrevo estas mal traçadas linhas estou com cópia da programação das solenidades dos 100 anos de Coelho Netto na Caxias de 1964. Que programação! E que lição -- não aprendida... -- nossos conterrâneos de ontem nos dão. A cidade exultava... Nos 150 anos de Coelho Netto, pelo menos em Caxias e também em nível estadual, não sabemos o que vai ser feito de grandioso, de portentoso, mesmo majestático, à altura do tempo transcorrido e do talento desenvolvido do grande escritor. Essa era uma data para ser planejada com a necessária antecedência-- mas, para certas autoridades políticas e gestores públicos, História, Arte e Cultura são frescuras de intelectuais. Não bastam notinhas em jornais e espaços em redes sociais e mídia eletrônica e concursos sazonais e palestras superficiais e outros que tais. Tudo isso é bem-vindo. Mas Caxias e o Maranhão deveriam viver em permanente estado de ebulição cultural. Afinal, não há nome de inteligência neste país e mesmo "de fora" que não reconheça em nossa cidade e estado a grandeza histórica e o talento especialíssimo de um grande número de maranhenses que agregaram valor à Literatura, à Cultura, à Arte e à História brasileiras. O Maranhão é sobretudo um estado de espírito -- mas falta-lhe espírito de estado. Não temos espírito de corpo -- e ainda nos sobram em gente "espírito de porco". Temos de deixar de ser um estado de dependência e assumirmos nosso "status" de competência. O Maranhão não é só Pedrinhas. Pedras maiores, lamentavelmente, se põem ou são postas no caminho do nosso pleno desenvolvimento. Mas, mais que pedras, há pessoas. Que nem Coelho Netto. Cuja casa onde nasceu, no centro de Caxias, já foi descaracterizada (como a de Gonçalves Dias, também no centro caxiense, que foi destruída). Já foi transformada em casa de bailes. Foi transformada em restaurante "self-service".Já foi quase tudo menos o que deveria ser: um centro de preservação, de produção e de divulgação da cultura literária de Caxias e do Maranhão. 150 anos de Coelho Netto. E daí? O Maranhão, no geral, não liga. Caxias não liga. Na vida de Coelho Netto-- à maneira de João Neves da Fontoura, que sucedeu o caxiense na Academia Brasileira de Letras em 1937 --, na vida de Coelho Netto, o Maranhão e Caxias são tão-somente um acidente geográfico... Que a nossa omissão confirma... 150 anos de Coelho Netto. Pêsames. Pois a pior morte é a indiferença. O silêncio. A apatia. O descaso. O desprezo. O esquecimento.
SOB O PESADO SIGNO DO ESQUECIMENTO. HELENA DAMASCENO Pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura e Ensino pela UEMA. Professora das redes pública e privada, nas cidades de Aldeias Altas-MA e Caxias-MA.
Quando em conversas casuais, acadêmicas ou de trabalho falo a respeito do escritor Coelho Netto, noto o grande desconhecimento que há acerca daquele que é um dos maiores expoentes da literatura brasileira. Especialmente percebo um ar de inquietação por parte de seus conterrâneos, quando se dão conta de que nada, ou muito pouco, sabem sobre um dos bens culturais caxienses de grande e acentuada relevância para a história e a literatura brasileiras. Henrique Maximiano Coelho Netto nasceu na cidade de Caxias-MA, no dia 21 de fevereiro de 1864, mesmo ano de falecimento do também caxiense Gonçalves Dias, há exatos 150 anos, na Rua da Palma, casa de número 5, hoje Rua Coelho Neto. Filho único do negociante português, Antônio da Fonseca Coelho e de D. Ana Silvestre, índia civilizada, seu primeiro grande esteio na vida. Ficou órfão de pai na adolescência tornando-se pródigo. Assumindo já a responsabilidade de único homem da casa, passa a dar aulas particulares, à noite, para ajudar no sustento da casa. A partir daí começa a desenvolver o espírito de provedor, que o acompanharia por toda a sua vida como homem virtuoso e um exemplar chefe da numerosa família que teve, além de um exímio e respeitado escritor. São apropriadas as palavras de seu filho, o biógrafo Paulo Coelho Netto: “Foi legítimo expoente da inteligência nacional”. Coelho Netto faleceu desgostoso da pátria a quem tanto se dedicou e amou, mas que o atirou no anonimato e esquecimento. Coelho Netto possuía uma mente fértil, por isso a facilidade criadora. É dono de uma vasta bibliografia. Escreveu 130 volumes, mas segundo Paulo Coelho Netto ele poderia ter acumulado mais de 400 volumes, se fossem acrescidas as inúmeras crônicas publicadas em jornais e revistas. Por isso é conveniente notar o que seu amigo e admirador, Machado de Assis (1957) asseverou: Coelho Netto tem o dom da invenção, da composição, da descrição e da vida, que coroa tudo. É dos nossos primeiros romancistas, e geralmente falando, dos nossos primeiros escritores. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários: crônicas, contos, poesias, memórias, romances, teatro, literatura infantil, novelas, fábulas, ensaios e outros. Por causa de seu ecletismo e volumes produzidos, recebeu o título de Príncipe dos Prosadores Brasileiros. Foi eleito em três candidaturas consecutivas deputado pelo Maranhão; foi representante do Brasil no exterior; ocupou cargos altíssimos na administração pública; intitulou cidades como o Rio de Janeiro de Cidade Maravilhosa e Teresina de Cidade Verde, eternizando-os para a posteridade. Foi professor, teatrólogo, contista, cronista, conferencista erudito, a exemplo temos a conferência a respeito da letra do Hino Nacional; conferência proferida por ocasião da morte de Euclides da Cunha; conferência da translação do corpo dos últimos imperadores do Brasil, entre muitas outras. Foi idealizador do projeto de lei para a letra do Hino Nacional. Foi admirado e respeitado por seus pares como: Olavo Bilac, Aluízio Azevedo, Euclides da Cunha, Sílvio Romero, Osório Duque Estrada, Santos Dumont, Machado de Assis, e muitos outros, homens e mulheres, que fazem parte do cânone literário brasileiro. Há muito que se falar a respeito de Coelho Netto, pois ele teve uma vida intensamente produtiva e dedicada à pátria e à família. Mas, se Coelho Netto teve essa trajetória memorável, por que ele é esporadicamente mencionado? Alguém pode estar se perguntando. É da natureza humana o indivíduo passar pelo processo da consagração ou do esquecimento, o autor de Turbilhão viveu os dois momentos. Desde muito cedo a vida mostrou sua dura face ao escritor caxiense. Às duras penas, e pela pena, conseguiu edificar um nome e respeito na sociedade da época, mas o que escrevia e, como escrevia, incomodava algumas pessoas de seu tempo: os modernistas, que o acusavam de passadista e nefasto, e empreenderam uma campanha difamatória contra o escritor de Inverno em flor, um ataque gratuito. O autor de Rei Negro era abolicionista e a crítica que lançava em cima daqueles que defendiam a política de imigração lhes era inaceitável, também se inquietava
com a situação econômica e social vigente, as quais desfavoreciam os menos afortunados, portanto pode-se dizer que seus escritos são atuais para a sociedade moderna. Ainda hoje paira sobre Coelho Netto o flagelo da injustiça, quando as pessoas se veem desinformadas, o que acarreta em um isolamento perene. A campanha anti Coelho Netto promovida por seus opositores ainda respinga nos dias atuais, muitas pessoas justificam não lerem suas obras por causa do rebuscamento, alegam que pra entendê-lo precisam do auxílio de um dicionário, particularmente acho essa justificativa inconsistente, o verdadeiro leitor não vê dificuldades em ler qualquer autor, qualquer estilo ou gênero textual, ele concebe isso como um desafio que o tornará cada vez mais fluente. As pessoas não deixam de ler os grandes clássicos só porque a leitura apresenta um nível de “dificuldade” maior, e Coelho Netto foi influenciado por grandes escritores, ainda menino já traduzia textos, em latim, do filósofo Cícero e lia clássicos universais. A meu ver seu estilo de escrita nada tem a ver com escolha lexical, mas com uma tendência natural adquirida e, caro leitor, não é incompreensível ler Coelho Netto, seus textos são atuais e abordam temáticas do cotidiano humano. Além do mais todos devem se permitir lê-lo para experimentar e tirar suas próprias impressões e conclusões, antes de aceitar as alheias. Ademais, reflita: porque Coelho Netto incomodou tanto para ser atacado? Que sentido teria? Que ameaças ele representava? Por que o antagonismo gratuito? Não seria conveniente descobrir os por quês? E é fato que Coelho Netto não ser lido, hoje, só reproduz o ataque que o vitimou no passado. E à sociedade cabe a responsabilidade de anular o “atestado de óbito literário” emitido à revelia, e sanar a dívida contraída ao colocar o escritor, e patriota, Coelho Netto no túmulo do esquecimento. Encerro esta homenagem com a fala de Ruy Barbosa(1957), em solidariedade ao amigo Coelho Netto, quando do enfrentamento de problemas políticos, aqui no Maranhão: Acredito que, se a inteligência maranhense, o sentimento maranhense e a mocidade maranhense tivessem voto na pendência, a representação da terra de João Francisco Lisboa, Odorico Mendes e Gonçalves Dias, não varreria de si o nome de Coelho Netto.
PROCURA-SE COELHO NETTO EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br Nascido em 21 de fevereiro de 1864, em Caxias (MA), o romancista Coelho Netto alcançou em vida glórias que o pós-morte não sustentou. Quando se casou, em 24 de julho de 1890, o padrinho foi o presidente da República, marechal Deodoro da Fonseca. Machado de Assis, José do Patrocínio e Olavo Bilac, entre outros, eram nomes ilustres que estiveram presentes ao casamento. Coelho Netto faleceu em 28 de novembro de 1934, no Rio de Janeiro, três anos depois da morte de sua esposa, dona Gaby. A ausência da mulher "aniquilou-o completamente, tornando-o indiferente a tudo", diz seu filho, Paulo Coelho Netto, autor de um estudo magistral sobre o próprio pai, intitulado Imagem de Uma Vida. Coelho Netto, segundo relaciona seu filho Paulo, escreveu e publicou 130 livros. As cerca de 8.000 crônicas que publicou em jornais e revistas daria para outros 200 volumes. Outros 100 livros poderiam ser feitos com o material de suas improvisações. Teve semana de, em São Luís, pronunciar 64 discursos; e, em São Paulo, em 1921, na cidade boiadeira de Barretos, o maranhense improvisou 31 discursos e uma conferência, no espaço de 60 horas. O homem era polígrafo. No ABC da literatura, escrevia de tudo, sobre tudo: apólogo, comédia, conferência, conto, discurso, drama, fábula, história, novela, pastoral, poesia, romance. Tinha ano de publicar 11 livros, quase um por mês! E foi pai de 14 filhos, dos quais oito viu morrerem, além da esposa. Paulo Coelho Netto -- filho que, pelo que escrevia, devia lhe devotar verdadeira adoração -- calcula que o pai escreveu cerca de 21.000 páginas e poderia ter chegado a algo entre 75.000 e 80.000 páginas. De Coelho Netto disse um dia Humberto de Campos, outro grande escritor maranhense: "O senhor Coelho Netto não é um autor; é uma Literatura". Tanto que, em 43 anos de produção, de 1891 a 1934, foi publicado um total ao redor de 600.000 exemplares das obras de Coelho Netto, ou cerca de 14.000 volumes por ano, no cálculo do filho Paulo. É como se todo santo dia, incluindo-se sábados, domingos e feriados, perto de 40 exemplares de livros de Coelho Netto saíssem da gráfica, durante 43 anos seguidos! Contagens feitas a partir de seus textos apontam-no como o escritor de mais rico vocabulário. Lembrome de ter lido em algum lugar que, enquanto o comum dos mortais nasce, vive e morre utilizando-se de 2.000 a 4.000 palavras, Coelho Netto já teria chegado às 20.000. Esse seu estilo rico -- Brito Broca anota: "opulento e luxuriante" -- contribuiu para sua posterior rejeição e para uma das piores campanhas de degradação a um intelectual brasileiro ainda em vida. Isso tudo e mais a morte da mulher foram desanimando o espírito e afinando o corpo do "Último dos Helenos" (como Netto se autodenominou). Ao morrer, não pesava mais do que 40 quilos. Como sempre, em relação a um grande escritor, sua obra, com certeza, era o que pesava mais. É desse gigante da literatura brasileira, ainda por ressuscitar, que uma amiga minha, escritora, dramaturga, pesquisadora, moradora no Rio de Janeiro, esteve (Ainda está? Não sei...) a procurar-lhe os herdeiros, para tratar de assuntos relacionados a direitos autorais, de vez que a obra de Coelho Netto, em termos legais, ainda não havia passado ao domínio público. Sabendo-me conterrâneo caxiense de Coelho Netto, pediu-me há alguns dias ajuda para saber de um herdeiro, parente, familiar ou equivalente, com quem pudesse tratar sobre uma possível autorização para inclusão de um poema do maranhense em uma obra de referência que abarcaria os 500 anos da poesia brasileira. À primeira vista, parecia-me simples. Recomendei a ela que procurasse a Nova Fronteira, editora que comprou a Nova Aguilar, que publicara em 1958 uma seleta (quase 1.500 páginas) da farta obra coelhonetiana, quando a Nova Aguilar ainda se chamava Editora José Aguilar Ltda. Com certeza, na editora teriam as pessoas de contato. A certeza logo se desfez: a editora disse não ter os direitos autorais dos poetas que publicou. Segundo a Nova Fronteira, o poeta Manoel Bandeira era quem cuidava disso.
Não desisti da busca. Nas semanas seguintes contatei diversas pessoas. O desconhecimento de todas elas em relação aos herdeiros e familiares de Coelho Netto só me põe mais alerta e vontadoso de achar um familiar responsável pela obra de Coelho Netto. (CONTINUA) _____ Foto: Coelho Netto, já idoso.
Na busca de notícias de familiares e herdeiros do escritor Coelho Netto, conversei com o maranhense (de Brejo) Tobias Pinheiro, no Rio de Janeiro. Tobias, à época o rijo jornalista e escritor setentão, que vive há décadas no Rio de Janeiro, ele e sua mulher, dona Ozita (que certa vez, em seu apartamento, na Barra da Tijuca, me brindou com um prato de favas, no jantar. Parece que ela adivinhava que eu gostava de favas.) Tobias é também um polígrafo, uma enciclopédia viva, uma memória admirável. Disse-me que teve contatos com Violeta, irmã de Coelho Netto, e dona Zita, filha, esta que congregava na mesma igreja da mulher dele, Tobias. Mas, melancolicamente, Tobias Pinheiro disse-me que não teve mais contatos com eventuais descendentes ou familiares do "Último dos Helenos". Informou que os familiares de Coelho Netto moravam em Laranjeiras, lá mesmo na capital carioca. Falei com outro grande escritor maranhense, pesquisador de nomeada, autor de obra monumental sobre Gonçalves Dias -- Jomar Moraes, na época presidente da Academia Maranhense de Letras. Mas, apesar da boa-vontade, Jomar também não tinha mais elementos. Foi aí que me lembrei de Josué Montello e também José Louzeiro, ambos grandes escritores maranhenses que vivem no Rio. Em um final de agosto, pouco depois do meio-dia, conversei longamente com o Josué Montello, depois de, na noite da véspera, eu ter incomodado dona Ivone, sua esposa, que lamentou o fato de seu marido já ter se recolhido mais cedo que de costume, em função de uma solenidade da qual ele viera, muito cansado, como é de seu direito natural estar (Josué de Sousa Montello, maranhense nascido em São Luís em 21 de agosto de 1917, faleceu no Rio de Janeiro, em 15 de março de 2006). Montello já superara a sesquipedálica obra de Coelho Netto: igualmente polígrafo, escreveu mais livros e -- disse-me – tinha pelos menos uns cinco na boca do forno, para impressão, e outros já desenhados na cabeça. Mas Josué Montello, que tanto sabia de coisas e loisas do mundo intelectual (como o registram seus diversos Diários) não sabe de familiares de Coelho Netto. Disse que Coelho Netto se afastou muito da Academia; que a obra de Coelho Netto ficara em silêncio depois da morte do autor; que o editor Ênio
Silveira (da Civilização Brasileira) reeditou dois títulos de Coelho Netto, mas não houve repercussão; que tanto o Paulo Coelho Netto (que era quem cuidava da obra do pai) e uma filha ou familiar, que era cantora, morreram... Enfim, não teve mais notícias de herdeiros do escritor caxiense. Antes de conversar com Josué Montello, eu havia falado com dona Zezé, da secretaria da Academia Brasileira de Letras. Disse-me ela que, depois que um acadêmico morre, normalmente cessa a movimentação administrativa em torno dele. Era o caso de Coelho Netto. Não havia registros de endereço(s) ou familiares. Agora, resta-me continuar a procura, ou esperar. Temos de descobrir alguém que seja o responsável legal pelo espólio Coelho Netto. Saberiam sobre isso o José Louzeiro e outras fontes, como o ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão, Jacques Inandy, ex-presidente da Academia Caxiense de Letras (ACL)? O desembargador Arthur Almada Lima Filho, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias? O Rodrigo Otávio Baima Pereira, memorialista e arquivador-mor das coisas de Caixas? O poeta Renato Menezes, ex-secretário de Cultura de Caxias? O Wybson Carvalho, atual presidente da ACL? O Jorge Bastiani, o Jotônio Viana, além de outros representantes da velha guarda intelectual caxiense? Coelho Netto constituiu família no Rio de Janeiro, para aonde foi aos 6 anos de idade e onde está enterrado, no cemitério São João Batista. Foi Coelho Netto quem deu o título de "Cidade Maravilhosa" para o Rio de Janeiro e, também, o nome de "Cidade Verde" para Teresina. Ainda tenho foto e lembrança da casa onde nasceu Coelho Netto, local que de há muito é sede do Centro Artístico e Operário Caxiense, na rua Coelho Netto -- na verdade uma ruazinha, de poucos metros, um quarteirão só, bem no centro da cidade que é "Princesa do Sertão". Portanto, estou no encalço -- e no aguardo... – de notícias sobre familiares e herdeiros do escritor caxiense Henrique Maximiano Coelho Netto, o "Príncipe dos Prosadores Brasileiros". Sua família não pode ter desaparecido. ____ Coelho Netto (ao centro), com Euclides da Cunha (direita) e Goulart de Andrade, no Rio de Janeiro (RJ), voltando do cinema, onde assistiram a um filme "cowboy".
ENCONTRADOS! Localizados diversos descendentes de Coelho Netto. Pelo menos em nível de Caxias e, quiçá, de Maranhão, não se tinham informações acerca de onde estariam os filhos, netos, bisnetos e outros familiares do notável escritor conterrâneo. Pessoalmente estive no Rio de Janeiro, em anos anteriores, e fui a instituições e a pessoas, inclusive altos nomes da literatura brasileira de origem maranhense. Agora, com o auxílio da Internet, localizei e já fiz contato com descendentes diretos (bisnetos) de Henrique Maximiano Coelho Netto. O primeiro contato foi às 13h14min deste 13/02/2014, hora de Brasília. Para este ano de 2014, em que Coelho Netto completa 150 anos de seu nascimento e 80 anos de sua morte (novembro), é animador o fazer-se contato com os descendentes de um dos mais completos e férteis autores de toda a literatura brasileira. Eureka! Achei! Depois, mais informações.
OS DESCENDENTES DE HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETTO EDMILSON SANCHES Da "Folha do IHGC" - edição especial (fevereiro/2014) Localizados no Rio de Janeiro bisnetos do escritor caxiense. Em Brasília há familiar de quem Coelho Netto é tio-avô. Já escrevi na edição passada desta Folha (07/02/2014) sobre a busca de descendentes do escritor caxiense Coelho Netto. Na época disse que eu havia feito pesquisas no Rio de Janeiro junto à Academia Brasileira de Letras, ao Tobias Pinheiro, dos contatos por telefone com Josué Montello... No Maranhão e em Caxias, fiz contato com meio mundo de gente da área. Nada. Resumi tudo isso em um artigo que republiquei aqui, chamado “Procura-se Coelho Netto”. Pois bem. Localizei. Foram encontrados -- embora não estivessem “perdidos”. Os descendentes de Coelho Netto, bisnetos e trinetos, existem, estão bem e são “tutti buona gente”. Só pelo sobrenome de meu principal contato eu jamais localizaria: há muita diferença entre o brasileiríssimo “Coelho Netto” e um germaníssimo... “Kurtz”. Foi com Ricardo Kurtz que estabeleci os primeiros e posteriores contatos, e ele logo de pronto me confirmou: era bisneto de Henrique Maximiano Coelho Netto. Ainda voltarei ao assunto, mas por enquanto adiante-se o que me conta o Ricardo: A seguir, Ricardo lista os filhos de Coelho Netto que chegaram à idade adulta: 1) EMANUEL (Mano), que, revela, morreu (sem herdeiros) “em decorrência de uma infecção generalizada provocada por um pontapé, levado, involuntariamente, em uma partida de futebol)”. É para ele que Coelho Netto escreveu o livro “Mano”. 2) JOÃO (Preguinho), “casado, mas não teve filhos biológicos. Parece que adotou uma sobrinha de sua esposa”. Preguinho foi capitão da seleção brasileira de futebol em 1930 e foi autor do primeiro gol da equipe em Copa do Mundo. 3) PAULO – “Teve dois filhos, Maurício [falecido] e Paulo Henrique, que mora na casa onde residiu Coelho Netto, em Laranjeiras [Rio de Janeiro]. 4) MAURO – Avô de Márcia e outros. 5) ZITA, “que não casou e não teve filhos”. 6) DINA, “que teve uma filha, Ana Maria, a qual foi ‘miss’, mas faleceu nova. Ana, por sua vez, teve dois filhos: Bruna e Daniel”. 7) “Por fim, VIOLETA, minha avó, que foi uma famosa cantora lírica. Ela teve três filhos: Maria Cecília, já falecida, mãe de Ana Paula e Ana Elisa (Lika). O segundo filho é meu pai, Jorge Henrique, que teve 5 filhos: Renata, Paulo Eduardo (falecido), eu, Marcelo Roberto (falecido) e Jorge Henrique; o último filho é Jorge Eduardo, pai de Daniela Porto e Juliana (Juju)”. Uma bisneta de Coelho Netto, Dóris, é esposa de Leônidas Pires Gonçalves, que foi Ministro do Exército. Em Brasília (DF), reside Francisco José Coelho Chaves, que, em correspondência comigo, diz ser Coelho Netto seu tio-avô. Registra que “faz um tempo” que não vem a Caxias, mas que estará aqui em março. Deu endereço residencial completo e informou: “(...) minha família ainda mora em Caxias”. (Fotos: Coelho Netto e a esposa, Gaby)
GABY COELHO NETTO A musicista de talento que se tornou esposa do escritor caxiense Coelho Netto A foto mostra Maria Gabriela Brandão Coelho Netto, esposa do escritor caxiense Henrique Maximiano Coelho Netto. Filha do educador Alberto Olympio Brandão, do Rio de Janeiro, Dona Gaby, como era chamada, teve com Coelho Netto 14 filhos. Era uma musicista de grande talento, registram os livros. Os filhos Paulo e Zita documentam a lembrança da mãe ao piano, tocando Chopin, entre outros compositores, e contando histórias... Gaby Coelho Netto era a dedicação em pessoa à família. A fotografia está nas páginas iniciais do livro Relicário, de Paulo Coelho Netto, cuja segunda edição foi lançada em 1957, pela Borsoi (Rio de Janeiro). Tenho um raro exemplar com dedicatória e autógrafo de 15 de abril de 1957.
COELHO NETO – 150 ANOS Por Leopoldo Vaz • segunda-feira, 03 de fevereiro de 2014 às 17:24 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2014/02/03/8714/ “Coelho Neto continua, no silêncio do seu túmulo, muito mais vivo do que os vivos que se comprazem em passar-lhe atestado de óbito literário”. (Josué Montello) Fonte: (http://panoramadireitoliteratura.blogspot.com.br/2011/12/coelho-neto-vastidaodo-caminho.html)
ESPORTE & LITERATURA – MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – Mestre em Ciência da Informação – ALL; IHGM DELZUITE DANTAS BRITO VAZ – Especialista em Metodologia do Ensino – CEM “Liceu Maranhense” Resumo Através do resgate e do registro de manifestações culturais esportivas na literatura maranhense, procura-se reconstruir a história do esporte, do lazer e da educação física, propõe-se reunir textos literários da cultura brasileira, com o objetivo de reconstituir a trajetória do esporte em nosso país, com a construção de uma antologia brasileira de textos esportivos. Palavras-chave: Educação Física. Esportes. Literatura. Abstract Through the rescue and the registration of sportive cultural manifestations in Maranhão literature, one tries to reconstruct the history of sport, leisure and physical education, is proposed to gather in our country, with the construction of a brazilian anthology of sport texts. Key-words: Physical Education. Sports. Literature.
Introdução: O esporte, como tema literário, aparece pela primeira vez com Píndaro, embriagado pelos feitos atléticos dos campeões olímpicos. Depois dele, muitos outros: Virgílio, Horácio, Tíbulo, Propércio, em Roma; Dante e Petrarca, na Idade Média; Rebelais, Cervantes, Camões, Francisco de Quevedo, Jeronimo Mercurialis, Rousseau, na Idade Moderna (Vieira e Cunha & Feio, s.d). Justificam a feitura de uma antologia de textos esportivos afirmando que o desporto, ao contrário do sensocomum que se tem dessa manifestação, não se resume a “uma atividade meramente corporal que, no setor da ciência, se confunde com a Medicina, no campo da convivência, com a expressão apaixonada da agressividade natural e manifestando o mais redondo desconhecimento pelo mundo da cultura” (p. 7). Afirmam ser o desporto uma pujante afirmação de cultura; uma síntese original de criação artística e de contemplação estética; uma meio de educação e de comunicação de excepcional valia; e um “fenômeno social capaz de concorrer à Paz, à Saúde, à Tolerância, à Liberdade, à Dignidade Humana” (p. 8). Também na Literatura Brasileira é significativa a presença de escritores a evidenciarem uma simpatia pela prática esportiva. O objetivo deste estudo é o de, articulando-se o trabalho de investigação e o trabalho de resgate, recuperar e organizar fontes literárias e documentais, procurando reagrupá-las, tornando-as pertinentes, para constituírem um conjunto através do qual a memória coletiva passe a ser valorizada, instituindo-se em patrimônio cultural (Favero, 1994).
Alguns autores maranhenses Vaz e Vaz (2000) apresentaram uma proposta e algumas contribuições para a “construção de uma antologia de textos esportivos da cultura brasileira” durante o VII Congresso Brasileiro de História da Educação Física, Esportes, Lazer e Dança, realizado em Gramado. Abordaram a contribuição de dois autores maranhenses: João DUNSHEE DE ABRANCHES Moura e ALUÍSIO Tancredo Gonçalves DE AZEVEDO. Agora, trazem outros autores maranhenses que trataram do esporte em sua obra: Henrique Maximiano COELHO NETTO – nasceu em Caxias, Maranhão no dia 20 de fevereiro de 1864 faleceu no Rio de Janeiro no dia 28 de novembro de 1934. Foi para o Rio de Janeiro com dois anos de idade; estudou Medicina e Direito mas não concluiu nenhum dos cursos. Em 1885 relacionou-se com José do Patrocínio, que o introduziu na relação da Gazeta da Tarde; nesse jornal deu início à sua Lista Abolicionista e Republicana. Em 1891, foi publicada sua primeira obra “Rapsódias”, um livro de contos. Dedicou-se a literatura com entusiasmo, publicando obras atrás de obras. Escreveu algumas peças teatrais, mais de cem livros e cerca de 650 contos. Foi também um orador de grandes recursos; em 1909 foi catedrático da mesma matéria. Foi deputado na Legislatura de 1909 a 1911; esteve em Buenos Aires como Ministro Plenipotenciário, em Missão Especial. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Em 1928, foi consagrado como “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”. De sua extensa obra literária, destacam-se: “A Capital Federal”, “Fruto Proibido”, “O Rei Fantasma”, “Contos Pátrios”, “O Paraíso”, “Mano”, “As Estações”, “Sertão”, “Mistério do Natal”, “Fogo Fátuo” e “A Cidade Maravilhosa”. Também poeta, escreveu um soneto que se tornaria famoso: “Ser Mãe”; Coelho Neto é o exemplo de fidelidade e dedicação às letras. Em várias de suas crônicas, tratou dos esportes; na revista “O Bazar”, em 1922, escreveu sobre a capoeira, em uma crônica intitulada “O NOSSO JOGO”: “… Concordamos in limini com o que diz o articulista, valho-me da oportunidade que me abre tal escrito para tornar a um assunto sobre o qual já me manifestei e que também já teve por ele a pena diamantina de Luiz Murat. “A capoeiragem devia ser ensinada em todos os colégios, quartéis e navios, não só porque é excelente ginástica, na qual se desenvolve, harmoniosamente, todo o corpo e ainda se apuram os sentidos, como também porque constitui um meio de defesa pessoal superior a todos quantos são preconizados pelo estrangeiro e que nós, por tal motivo apenas, não nos envergonhamos de praticar. (negrito do Editor) “Todos os povos orgulham-se dos seus esportes nacionais, procurando, cada qual dar primazia ao que cultiva. O francês tem a savate, tem o inglês o boxe; o português desafia valentes com o sarilho do varapau; o espanhol maneja com orgulho a navalha catalã, também usada pelo “fadista” português; o japonês julga-se invencível com o seu jiu-jitsu e não falo de outros esportes clássicos em que se treinam, indistintamente, todos os povos, como a luta, o pugilato a mão livre, a funda e os jogos d`armas. Nós, que possuímos os segredos de um dos exercícios mais ágeis e elegantes, vexamo-nos de o exibir e, o que mais é, deixamo-nos esmurraçar em ringues por machacazes balordos que, com uma quebra de corpo e um passe baixo, de um “ciscador” dos nossos, iriam mais longe das cordas do que foi Dempsey à repulsa do punho de Firpo. “O que matou a capoeiragem entre nós foi…a navalha. Essa arma, entretanto, sutil e covarde, raramente aparecia na mão de um chefe de malta, de um verdadeiro capoeira, que se teria por desonrado se, para derrotar um adversário, se houvesse de servir do ferro. “Os grandes condutores de malta ” guaymús e nagôs, orgulhavam-se dos seus golpes rápidos e decisivos e eram eles, na gíria do tempo: a cocada, que desmandibulava o camarada ou, quando atirada ao estomago, o deixava em síncope, estabelecido no meio da rua, de boca aberta e olhos em alvo; o grampeamento, lanço de mão aos olhos, com o indicador e o anular em forquilha, que fazia o mano ver estrelas; o cotovelo em ariete ao peito ou ao flanco; a joelhada; o rabo de raia, risco com que Cyriaco derrotou em dois tempos, deixando-o sem sentidos, ao famoso campeão japonês de jiu-jitsu; e eram as rasteiras, desde a de arranque, ou tesoura, até a baixa, ou bahiana; as caneladas, e os pontapés em que
alguns eram tão ágeis que chegavam com o bico quadrado das botinas ao queixo do antagonista; e, ainda, as bolachas, desde o tapa-olho, que fulminava, até a de beiço arriba, que esborcinava a boca ao puaia. E os ademanes de engano, os refugos de corpo, as negaças, os saltos de banda, à maneira felina, toda uma ginástica em que o atleta parecia elástico, fugindo ao contrário como a evitá-lo para, a súbitas, cair-lhe em cima, desarmando-o fazendo-o mergulhar num “banho de fumaça”. “Era tal a valentia desses homens que, se fechava o tempo, como então se dizia, e no tumulto alguém bradava um nome conhecido como:Boca-queimada, Manduca da Praia, Trinca-espinha ou Trindade, a debandada começava por parte da polícia e viam-se urbanos e permanentes valendo-se das pernas para não entregarem o chanfalho e os queixos aos famanazes que andavam com eles sempre de candeias às avessas “Dessa geração celebérrima fizeram parte vultos eminentes na política, no professorado, no exército, na marinha como ” Duque Estrada Teixeira, cabeça cutuba tanto na tribuna da oposição como no mastigante de algum paróla que se atrevesse a enfrentá-lo à beira da urna: capitão Ataliba Nogueira; os tenentes Lapa e Leite Ribeiro, dois barras; Antonico Sampaio, então aspirante da marinha e por que não citar também Juca Paranhos, que engrandeceu o título de Rio Branco na grande obra patriótica realizada no Itamaraty, que, na mocidade, foi bonzão e disso se orgulhava nas palestras íntimas em que era tão pitoresco. “A tais heróis sucederam outros: Augusto Mello, o cabeça de ferro; Zé Caetano, Braga Doutor, Caixeirinho, Ali Babá e, sobre todos o mais valente, Plácido de Abreu, poeta comediógrafo e jornalista, amigo de Lopes Trovão, companheiro de Pardal Mallet e Bilac no O COMBATE, que morreu, com heroicidade de amouco, fuzilado no túnel de Copacabana, e só não dispersou a treda escolta, apesar de enfraquecido, como se achava , com os longos tratos na prisão, porque recebeu a descarga pelas costas quando caminhava na treva, fiado na palavra de um oficial de nome romano. “Caindo de encontro às arestas da parede áspera ainda soergue-se, rilhando os dentes, para despedir-se com uma vilta dos que o haviam covardemente atraiçoado. Eram assim os capoeiras de então. “Como os leões são sempre acompanhados de chacais, nas maltas de tais valentes imiscuíam-se assassinos cujo prazer sanguinário consistia em experimentar sardinhas em barrigas do próximo, deventrando-as. “O capoeira digno não usava navalha: timbrava em mostrar as mãos limpas quando saia de um turumbamba. “Generoso, se trambolhava o adversário, esperava que ele se levantasse para continuar a luta porque: “Não batia em homem deitado”; outros diziam com mais desprezo: “em defunto”. “Nos terríveis recontros de guaiamus e nagôs, se os chefes decidiam que uma questão fosse resolvida em combate singular, enquanto os dois representantes da cores vermelha e branca se batiam as duas maltas conservam-se à distância e, fosse qual fosse o resultado do duelo, de ambos os lados rompiam aclamações ao triunfador. “Dado, porém, que, em tais momentos, estrilassem apitos e surgissem policiais, as duas maltas confraternizavam solidárias na defesa da classe e era uma vez a Força Pública, que deixava em campo, além do prestigio, bonés em banda e chanfalhos à ufa. “O capoeira que se prezava tinha oficio ou emprego, vestia com apuro e. se defendia uma causa, como aconteceu com do abolicionismo, não o fazia como mercenário. “O capanga, em geral, era um perrengue, nem carrapeta, ao menos , porque os carrapetas, que formavam a linha avançada, com função de escoteiros, eram rapazolas de coragem e destreza provadas e sempre da confiança dos chefes.
“Nos morros do Vintém e do Néco reuniam-se, às vezes, conselhos nos quais eram severamente julgados crimes e culpas imputados a algum dos das farandulas. Ladrões confessos eram logo excluídos e assassinos que não justificassem com a legitima defesa o crime de que fossem denunciados eram expulsos e às vezes, até, entregues a policias pelos seus próprios chefes. “Havia disciplina em tais pandilhas. “Quanto às provas de superioridade da capoeiragem sobre os demais esportes de agilidade e força são tantas que seria prolixa a enumeração. “Além dos feitos dos contemporâneos de Boca queimada e Manduca da Praia, heróis do período áureo do nosso desestimado esporte, citarei, entre outros, a derrota de famosos jogador de pau, guapo rapagão minhoto, que Augusto Mello duas vezes atirou de catrambias no pomar da sua chacarinha em Vila Isabel onde, depois da luta e dos abraços de cordialidade, foi servida vasta feijoada. Outro: a tunda infligida um grupo de marinheiros franceses de uma corveta Pallas, por Zé Caetano e dois cabras destorcidos. A maruja não esteve com muita delonga e, vendo que a coisa não lhe cheirava bem em terra, atirou-se ao mar salvando-se, a nado, da agilidade dos três turunas, que a não deixavam tomar pé. “A última demonstração da superioridade da capoeiragem sobre um dos mais celebrados jogos de destreza deu-nos o negro Cyriaco no antigo Pavilhão Paschoal Segreto fazendo afocinhar, com toda a sua ciência, o jactancioso japonês, campeão do jiu-jitsu. “Em 1910, Germano Haslocjer, Luiz Murat e quem escreve estas linhas pensaram em mandar um projeto a Mesa da Câmara dos Deputados tornando obrigatório o ensino da capoeiragem nos institutos oficias e nos quartéis. Desistiram, porém, da idéia porque houve quem a achasse ridícula, simplesmente, por tal jogo era…brasileiro. “Viesse-nos ele com rótulo estrangeiro e tê-lo-íamos aqui, impando importância em todos os clubes esportivos, ensinado por mestres de fama mundial que, talvez, não valessem um dos nossos pés rapados de outrora que, em dois tempos, mandariam um Firpo ou um Dempsey ver vovó, com alguns dentes a menos algumas bossas de mais. “Enfim…Vamos aprender a dar murros ” é esporte elegante, porque a gente o pratica de luvas, rende dólares e chama-se Box, nome inglês. Capoeira é coisa de galinha, que o digam os que dele saem com galos empoleirados no alto da sinagoga. “É pena que não haja um brasileiro patriota que leva a capoeiragem a Paris, batisando-a, com outro nome, nas águas do Sena, como fez o Duque com o Maxixe. “Estou certo de que, se o nosso patriotismo lograsse tal vitória até as senhoras haviam de querer fazer letras, E que linda seriam as escritas! Mas, se tal acontecesse, sei lá ! muitas cabeçadas dariam os homens ao verem o jogo gracioso das mulheres”.
Ainda encontramos referencias a Coelho Neto quando se fala da Capoeiragem no Brasil: SEGUNDO O REGULAMENTO INTERNACIONAL DE CAPOEIRA Artigo 18- A Nomenclatura Histórica de Movimentos foi colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, a saber: Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma). A mesma poderá ser ampliada em função da evolução das pesquisas científicas. Parágrafo 3°- Legado de Coelho Neto – 1928: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. Categoria Atlas do Esporte no Maranhão • Ciência & Informação • História • Literatura & Esporte
COELHO NETO ERA CAPOEIRA… Por Leopoldo Vaz • sábado, 19 de dezembro de 2009 às 08:13 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/12/19/coelho-neto-era-capoeira/
O lançamento do livreto do Roberto ainda vai dar muito trabalho… O tempo despendido à espera que a cerimonia de lançamento iniciasse foi (muito) bem gasto em conversas com diversos Mestres: Marco Aurélio, Nelsinho, Índio do Maranhão, Bamba, e Patinho, dentre outros… Em um dado momento, falando sobre os capoeiras antigos, referi-me a Coelho Neto – sim, o ‘nosso’ Coelho Neto, o escritor… Lembrei que fora exímio Capoeira, que escrevera muito sobre esportes, e sobre a Capoeira… ante o que os presentes à “roda de papoeira” mostraram-se surpresos; mais ainda, quando disse que é reconhecido pela FICA como um dos precursores, na descrição e nominação dos movimentos… Artigo 17- A Nomenclatura de Movimentos de Capoeira está estabelecida em duas partes: ANomenclatura Histórica; BNomenclatura Oficial. A Nomenclatura Histórica de Movimentos foi colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, a saber: Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma). A mesma poderá ser ampliada em função da evolução das pesquisas científicas (Artigo 18). No Parágrafo 3° aparece o que se considera o Legado de Coelho Neto – 1928: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Pontapé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. Chamo atenção para a denominação ‘cocada’, pois Roberto, em sua fala, disse que aprendera um golpe novo, c0om o Velho Diniz, a cocada…
EXÍMIO CAPOEIRA: Henrique Maximiano Coelho Neto (Caxias, 21 de fevereiro de 1864 — Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1934) foi um escritor, político e professor brasileiro. Biografia Nascido na vila de Caxias interior do Maranhão. Foram seus pais Antônio da Fonseca Coelho, português, e Ana Silvestre Coelho, de sangue índio. Tinha seis anos quando seus pais se transferiram para o Rio de
Janeiro. Fez os seus preparatórios no Externato do Colégio Pedro II. Tentou o curso de Medicina, logo desistindo. Em 1883 matriculou-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, morando na pensão em que vivia Raul Pompeia, que também frequentava a Academia de São Paulo à época. Seu espírito irrequieto encontrou ali ótimo ambiente para destemidas expansões, e logo ele se viu envolvido num movimento dos estudantes contra um professor. Antevendo represálias, transferiu-se para a faculdade de Recife, onde completou o primeiro ano de Direito, tendo sido aluno do jurista e poeta Tobias Barreto. Regressando a São Paulo, dedicou-se ardentemente à campanha abolicionista e republicana, atitude que rendeu-lhe novos atritos com o corpo docente da Faculdade do Largo de São Francisco. Em 1885 desistiu, por fim, de suas pretensões jurídicas, e transferiu-se para o Rio de Janeiro. Fonte: VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; RUBIERA CUERVO, E. Javier. CHRONICAS DA CAPOEIRA(GEM): algumas considerações. Pesquisa em andamento. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atlas da Capoeira(gem) no Maranhão. in www.atlasesportebrasil.org.br. http://cap-dep.blogspot.com/2009/09/coelho-neto-desarma-luchadores-de.html Categoria A VISTA DO MEU PONTO • Atlas do Esporte no Maranhão • Capoeira • Literatura & Esporte
CONTRIBUIÇÕES DO ESCRITOR CAXIENSE COELHO NETO PARA O ESPORTE BRASILEIRO, POR FRANCISCA GIRLENE DIAS SILVA FRANCISCA GIRLENE DIAS SILVA http://textosencantadores.blogspot.com.br/
Do Blog do Leopoldo Vaz • quarta-feira, 13 de maio de 2015 às 10:09 Contribuições do escritor caxiense Coelho Neto para o Esporte Brasileiro “Já escrevi mais de 100 livros e ainda sou apontado na rua como o pai do Preguinho.” (C.N.) O caxiense Henrique Maximiano Coelho Neto, considerado o “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, tinha apenas seis anos de idade quando seu pai, Antônio da Fonseca, decidiu mudar com toda a família para o Rio de Janeiro por causa de perseguições políticas aqui no Maranhão. Em terras cariocas, Coelho Neto estudou, casou e fez a vida literária. Além de brilhante escritor, era um desportista visionário e torcedor apaixonado pelo Fluminense Futebol Clube. Coincidência ou não, a ele foi atribuída, pelo cronista e jornalista esportivo brasileiro Luiz Mendes, a autoria das expressões “torcida” e “torcedor” como forma de apoiar e estimular a equipe em uma partida de futebol: “[…] No começo do futebol, ir ao estádio era um ato de elegância, principalmente, no Fluminense. Por isso o Fluminense até hoje tem essa fama de clube aristocrático. As mulheres se enfeitavam como se fossem ao Grande Prêmio Brasil, colocavam vestidos de alta costura, chapéus, luvas. Mesmo que a temperatura na cidade estivesse por volta dos 40º graus, elas iam de luvas. Como o calor era muito grande, elas tiravam as luvas e ficavam com as luvas nas mãos, e como ficavam nervosas com o jogo, elas as torciam ansiosamente. Os homens usavam a palheta, um chapéu de palha muito comum na época, muito elegante e também ficavam com o chapéu na mão enquanto torciam. […] pois o Coelho Netto escreveu uma crônica em que ele usava a expressão “as torcedoras”, referindo-se às mulheres, e dali a expressão pegou e nasceu a “torcida”. Havia quem dissesse que torcida vinha do fato de as pessoas torcerem os fatos, de o torcedor torcer os fatos a favor de seu clube, mas não foi daí que o termo veio não. Apesar de que quem torce realmente torce as coisas e até distorce. Mas, na verdade, não foi por isso, foi mesmo pelo gesto das moças, principalmente, das que torciam as luvas entre as mãos.” (Mendes apud Barros, 2015). Tamanho era o envolvimento de Coelho Neto com o esporte que ele comprou uma casa e foi morar em frente ao clube tricolor. Escreveu hinos e diversas crônicas esportivas. Acreditava que a atividade física era uma forma de educar os jovens e fez de seus filhos grandes desportistas: * João Coelho Neto (o Preguinho) – conquistou 55 títulos pelo Fluminense, alcançando a marca de 387 medalhas em dez modalidades diferentes: remo, vôlei, basquete, pólo aquático, saltos ornamentais, atletismo, hóquei, tênis de mesa, natação e futebol. Como futebolista foi o autor do primeiro gol da Seleção Brasileira de Futebol em Copas do Mundo (Uruguai, 1930). * Violeta Coelho Neto – venceu vários campeonatos de natação pelo Fluminense Futebol Clube e pelo Clube de Regatas Guanabara. * Emmanoel (o Mano) – era titular do Fluminense, foi tricampeão carioca (1917, 1918, 1919) e campeão sul-americano (1919). Porém, um acontecimento trágico nos gramados acabaria encerrando prematuramente a vida do jogador. Em 1922, aos 24 anos, Mano disputava o campeonato carioca contra o São Cristóvão no estádio das Laranjeiras (Rio de Janeiro) quando recebeu uma pancada violenta no abdome, resultando no seu falecimento dias depois. * Paulo e Georges Coelho Neto praticaram diversas modalidades esportivas, entre elas: atletismo, futebol e polo aquático. Quanto a Marieta (Zita) e Dina sabe-se apenas que brilhavam nos saraus do clube tricolor.
Coelho Neto assistia a todas as competições dos filhos. Não satisfeito em ser apenas um mero torcedor, protagonizou a primeira invasão de campo na história do futebol em um clássico Fla x Flu no ano de 1916: “Em jogo disputado no dia 22 de outubro de 1916, o Flamengo vencia o Fluminense por 2 a 1 quando o árbitro R. Davies marcou um pênalti contra o time das Laranjeiras desperdiçado por Rienner. Logo depois, o juiz marcou outro pênalti contra o Fluminense. Sidney cobrou e Marcos de Mendonça defendeu. O juiz mandou cobrar outra vez alegando que não havia apitado. Sidney bateu e novamente Marcos de Mendonça defendeu. O árbitro mandou cobrar de novo, alegando que jogadores do Fluminense haviam invadido a área. Foi aí que o escritor Coelho Neto e o delegado de polícia Ataliba Correia Dutra pularam a grade e correram para o campo. Os torcedores também invadiram o gramado provocando a primeira anulação de um jogo no campeonato carioca.” (Revista Veja,2012). É fato que o escritor caxiense foi defensor ferrenho do futebol. Enfrentou com sabedoria a “Liga Contra o Foot-ball” liderada por Lima Barreto (1881-1922), e contribuiu significativamente para que o esporte se disseminasse entre todas as camadas sociais e tornasse a “Paixão Nacional” que é hoje. Mas a Capoeira também foi bastante defendida pelo escritor, que propôs inclusive que a capoeiragem, antes marginalizada, fosse ensinado nas escolas, navios e Forças Armadas: “A capoeiragem devia ser ensinada em todos os colégios, quartéis e navios, não só porque é excelente ginástica, na qual se desenvolve, harmoniosamente, todo o corpo e ainda se apuram os sentidos, como também porque constitui um meio de defesa pessoal superior a todos quantos são preconizados pelo estrangeiro e que nós, por tal motivo apenas, não nos envergonhamos de praticar. Todos os povos orgulham-se dos seus esportes nacionais, procurando cada qual dar primazia ao que cultiva. O francês tem a savate, tem o inglês o boxe; o português desafia valentes com o sarilho do varapau; o espanhol maneja com orgulho a navalha catalã, também usada pelo “fadista” português; o japonês julgase invencível com o seu jiu-jítsu e não falo de outros esportes clássicos em que se treinam, indistintamente, todos os povos, como a luta, o pugilato a mão livre, a funda e os jogos d`armas.Nós, que possuímos os segredos de um dos exercícios mais ágeis e elegantes, vexamo-nos de o exibir.” (Coelho Neto apud Vaz, 2015). Em seu artigo intitulado “Coelho Neto era Capoeira” (2009), o professor Leopoldo Vaz faz referência ao escritor caxiense como um “exímio capoeira” e aborda nomenclaturas criadas por ele, inseridas no Código Desportivo Internacional de Capoeira (art. 12, parágrafo 3º), como: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço, Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. Por fim, a história de Coelho Neto é digna de ser contada e recontada por todos nós, tantas foram as contribuições de nosso conterrâneo para as letras e para o esporte. Apesar de ter sido um dos escritores mais lidos e um dos homens mais influentes do Brasil (fim do século XIX e inicio do século XX), suas obras caíram no esquecimento do público. Sonho com o dia em que a casa onde nasceu esse importante escritor aqui em Caxias seja transformada em uma Biblioteca Pública de suas obras ou no Museu Coelho Neto. Referências Bibliográficas: ABL. Academia Brasileira de Letras. “Biografia de Coelho Neto”. <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgila.exe/sys/start.htm?infoid=417&sid=94/>. Acesso em: 07/05/2015. BARROS, Rodrigo. “Indubitavelmente, o Primeiro Torcedor Era Fluminense”. em:<http://www.memorialtricolor.com.br/torcida/indubitavelmente-o-primeiro-torcedor-erafluminens>.Acesso em: 27/04/2015.
Disponível
CHALHOUB, Sidney; Neves, Margarida S.; Pereira, Leonardo A. M. História em cousas miúdas: capítulos de história social das crônicas no Brasil. Campinas: SP, Editora da Unicamp, 2005. COELHO NETTO Paulo. Bibliografia de Coelho Netto. Brasília: Ministério da Educação e Cultura – Instituto Nacional do Livro, 1972.
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SCHWARCZ L. M. Uma história de diferenças e desigualdades: as doutrinas raciais do século XIX. In: O espetáculo das raças – cientistas, instituições e questão racial no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. VAZ, Leopoldo. “COELHO NETO – 150 ANOS”. Disponível em:<http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2014/02/03/8714/>. Acesso em: 28/04/2015 . _____. “Coelho Neto era Capoeira”. Disponível em:<http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/12/19/coelho-neto-era-capoeira.> Acesso em: 06/05/2015. _____. “COELHO NETO E O ESPORTE… ou seria desporto?”. Disponível em: <http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2011/02/22/coelho-neto-e-o-esporte-ou-seria-desporto/.>. Acesso em: 15/05/2015.
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BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE – UMA PERIODIZAÇÃO In BLOG DO LEOPOLDO VAZ Domingo, 27 de dezembro de 2015 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/12/27/breve-olhar-sobre-a-literatura-ludovicense-periodizacao/
da Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40 […] Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis[…] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011 Antologia, de acordo com a Wikipédia[1], (ανθολογία ou “coleção de flores”, em grego), é uma coleção de trabalhos literários (ou musicais) agrupados por temática, autoria ou período. A palavra vem do nome da mais antiga antologia que se tem conhecimento, organizada pelo poeta grego Meléagro. É usado para categorizar coleções de obras curtas, tais como histórias curtas e romances curtos, em geral agrupados em um único volume para publicação. Refe-se a coleção de trabalhos literários. T.S. Eliot, em O que é poesia menor? [2], nos assegura que o valor primordial das antologias, como de resto de toda literatura, é “nos dar prazer, embora outras serventias possam prestar aos leitores interessados”. Entre elas, assinala o poeta-crítico, “as antologias são uteis porque ninguém tem tempo de ler tudo, e existem poemas dos quais apenas algumas passagens permanecem vivas (in BARBOSA FILHO, 2004)[3].
No Maranhão, foram publicadas, já, várias antologias que se tornaram clássicas, como: Parnaso Maranhense, de Gentil Homem de Almeida Braga; Panteon Maranhense, de Henriques Leal; Os novos atenienses – subsídios para a história literária do Maranhão, de Antônio Lobo (2008, 3 ed.), a do cinquentenário da Academia Maranhense de Letras, Antologia AML 1908-1958[4], de Mário Meireles; Arnaldo de Jesus Pereira; Domingos Vieira Filho (1958; 2008); para a construção da presente antologia recorreremos a elas, sempre que necessário, mas a principal fonte será Clóvis Ramos: Nosso céu tem mais estrelas – 140 anos de literatura maranhense (1972); Onde canta o sabiá – estudo histórico-literário da poesia do Maranhão (1972); Roteiro literário do Maranhão – neoclássicos e romanticos (2001); Rossi Corrêa, com O modernismo no Maranhão (1989); Formação social do Maranhão – o presente de uma arqueologia (1993); e Atenas Brasileira – a cultura maranhese na civilização nacional (2001); Jomar Moares com seu Apontamentos de literatura maranhense (1976); e quando necessário nos Perfis Academicos da AML (1993); Assis Brasil e A poesia maranhense no século XX (1994); Arlete Nogueira da Cruz, com o seu magistral Sal e Sol (2006); José Henrique de Paula Borralho, com Uma Athenas equinocial – a literatura e a fundação de um Maranhão no Império brasileiro (2010) e Terra e Ceu de Nostalgia – tradição e identidade em São Luis do Maranhão (2011); e por fim, Ricardo Leão: Os atenienses – a invenção do cânone nacional (2011). Leão (2011)[5] refere-se à utilização do terno atenienses para definir a condição de literatos do Maranhão: Entende-se por ‘atenienses’ um grupo de intelectuais surgidos durante o século XIX, mais especificamente em São Luis do Maranhão, decorrente do epíteto de ‘Atenas Brasileira” que a cidade recebeu em função da movimentada vida cultural e do número expressivo de intelectuais e literatos ali nascidos ou residentes – depois em parte migrados para a Corte no Rio de Janeiro -, com um papel muito importante na configuração da vida politica e literária do país que tinha acabado de emancipar-se
da antiga metrópole portuguesa. Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis, a qual teria sido um dos poucos centros de intensa atividade intelectual do primeiro e segundo periodo imperial brasileiro. […]. (p. 33).
Esclarece, ainda, que a adoção do tropo ateniense também se inspira na obra do crítico maranhense Frederico José Correia, em seu Um livro de crítica (1878)[6], no qual critica a invenção em torno da Atenas Brasileira, particularmente endereçada ao biógrafo maranhense Antonio Henriques Leal, autor do Pantheon Maranhense.
Esse autor utiliza o conceito de “cânone” que é, com efeito, uma seleção de obras que atende critérios de eleição e exclusão, os quais podem: […] orientados pela questão da representatividade histórica e da fundação e formação de uma literatura, compondo, enfim, a arqueologia do campo intelectual e dos letrados de um país ou, no caso específico da literatura, seguir uma orientação de acordo com a representatividade estética dos textos. (p. 34). […] O cânone, portanto, é uma lista de textos, autores e obras, coadjuvada por uma elaborada narrativa historiográfica que, apesar de sua pretenção em ser verídica, como se resto o é toda historiografia, traz consigo motivações que, pelo fato de incluir excluindo, trai e solapa a sua pretenção histórica enquanto verdade absoluta, natural e indubitável. (p. 36).
Reis Carvalho (citado por DURANS, 2012)[7] dividiu a literatura maranhense em três ciclos, admitindo que, para essa classificação, não houve “na realidade fatos decisivos e característicos na sua evolução, capazes de representar as linhas divisórias de cada ciclo”. Ele, porém, demarca cronologicamente a literatura da seguinte maneira: “o primeiro ciclo vai de 1832 a 1868”; “o segundo ciclo da literatura maranhense abrange a geração nascida das duas primeiras décadas do último semi-século, de 1850 a 1870”; “O terceiro ciclo […] compreende os escritores nascidos nas duas primeiras décadas da última geração do século passado, 1870 a 1890” (CARVALHO, 1912, v. 4, p. 9737, 9742 e 9748)[8]. Mário Meireles[9], seguindo e citando a periodização de Reis Carvalho, admite, no século XIX, a presença de três grandes ciclos, embora ressaltando que, no início daquele século, ocorreu um ciclo de transição (1800-1832) que, para ele, não apresentava relevância para a história literária do Maranhão. No prefácio da Antologia da AML apresentam as seguintes fases: Primeira fase: de maior extensão de tempo, que vai dos séculos XVII a XVIII, da “literatura sobre a terra”; Segunda fase: de transição, do primeiro quartel do seculo XIX, de características essencialmente coimbrão, periodo do romantista classicista[10]; Terceira fase: do segundo ao terceiro quartel da centúria oitocentista, quando surge a imprensa periódica, regresso dos doutores de Coimbra, que em constituir o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro[11]; São Luis torna-se a Atenas Brasileira; Quarta fase: do terceiro ao ultimo quartel do seculo passado (o livro é de 1958…), com o surgimento do naturalismo[12], do parnasianismo[13], do simbolismo[14]; os intelectuais da terra são afastados para fora dela, reconhecidos como literatos nacionais; Quinta fase, e para os Autores, a penultima, dos ultimos anos do seculo XIX para o primeiro quartel do seculoo XX, ciclo do decadentismo[15]; Sexta, e ultima fase analisada pelos antologistas da AML, atual, para eles, que que corresponde ao ciclo do modernismo[16]. Meireles (1980)[17] caracteriza, os ciclos literários maranhenses através dos títulos dos capítulos de sua obra: “Séculos XVI e XVII – Literatura sobre o Maranhão”; “Século XVIII – Ainda literatura sobre a terra”; “Século XIX – O ciclo de transição do seu primeiro quartel (1800-1832)”; “Século XIX – Segundo Ciclo (1832-1868) – O grupo maranhense no Romantismo brasileiro. O Maranhão Atenas Brasileira”; “Século XIX – o ciclo de 1868 a 1894. Os homens de letras do Maranhão passam a ser, essencialmente, literatos nacionais”; “Século XX: o ciclo de 1894 a 1932, o decadentismo; a reação local para estabelecer, no Maranhão, os foros de Atenas Brasileira”; “Os tempos atuais”.
Na primeira edição de História do Maranhão[18] – no capítulo intitulado Panorama Cultural do Maranhão no Império -, aponta os ciclos literários maranhenses, traçando um esquema parecido com os dos autores supracitados. Ele, porém, associa características econômicas a esses ciclos : Este Grupo Maranhense abrange, no tempo, o ciclo que vai de 1832 a 1868 e corresponde assim, no campo econômico, ao ciclo do algodão”. E continua: “Com o ciclo do açúcar, sobrevém o ciclo literário de 1868 a 1894 […] desfazendo-se o Grupo local, os nossos homens de letras passam a emigrar cedo para o Sul, onde, granjeando justo renome, fazem-se essencialmente literatos nacionais (MEIRELES, 1980, citado por DURANS, 2009; 2012) [19].
Durans (2009; 2012) [20] afirma que no século XVII, inicia-se uma literatura descritiva acerca do Maranhão produzida pelos colonizadores, a fim de identificar, caracterizar, relatar e descrever a terra conquistada: Essa produção inicial é denominada ‘literatura de viajantes’, ‘relatos de viajantes’, entre outras denominações. Esses textos tinham como função descrever os aspectos naturais, econômicos e sociais das terras descobertas, com o fim de servir como fonte de informação e de propaganda da terra conquistada. Com o tempo e sua ampla divulgação na imprensa européia, tais produções vão se tornando cada vez mais bem elaboradas.
Já Jomar Moraes é responsável por consolidar a demarcação da literatura maranhense em ciclos, uma vez que se propõe a atingir o objetivo de […] apreciar a evolução da literatura maranhense, assim como o papel que lhe cabe no contexto da literatura brasileira, examinando a questão sob seus aspectos mais relevantes […]: o da importância pessoal de certas figuras e o da repercussão que como grupo geracional foi possível alcançar […]. (MORAES, 1976, grifo nosso)[21].
Para Durans (2012) [22] esse objetivo fica mais evidente com a própria organização do livro, em capítulos e tópicos, apresentados de forma temporalmente linear e delimitando momentos literários. A partir da segunda parte, intitulada Autonomia literária, aparecem os seguintes capítulos: “1832-1868 – Grupo maranhense”; “1870/1890 – Um vigoroso sopro renovador”; ”1899/1930 – Os Novos Atenienses”; “Depois de 1922”. Prossegue Durans (2012) [23], para quem: A literatura maranhense apresenta três grandes ciclos, nascendo de fato com a geração romântica, uma vez que antes dela somente existiam relatos sobre o Maranhão e não uma literatura do Maranhão propriamente dita. Didaticamente, muitos autores que se debruçam sobre a crítica, análise e história da literatura maranhense dividem-na em ciclos e gerações que encerram especificidades consoantes ao tempo em que foram produzidos.
A versão oficialmente estabelecida da história da literatura maranhense, com a recente renovação dos debates sobre esse tema, está sendo revista. Lacunas e contradições têm sido apontadas nas investigações históricas até então empreendidas, instigando novos estudos, novas versões, novos olhares – às vezes olhares desconfiados (DURANS, 2009; 2012). É Ramos (1972, p. 9-10)[24] quem afirma que “o Maranhão sempre participou dos grandes movimentos culturais surgidos no Brasil, dando ele mesmo, em muitas ocasiões, o grito de renovação que empolga”. Esse autor classifica nossa literatura em nove fases: 1ª fase – de extensa duração, é “a da literatura sobre a terra”, feita pelos cronistas a contar dos padres capuchos d´Abbeville e d´Evreux; 2ª fase – a do ciclo de transição, em que desapareceram os ultimos cronistas e ensaia-se a literatura da terra, já no primeiro quartel do século XIX, literatura que se caracteriza pela feição coimbrã, fruto do classicismo;
3ª fase – a que surge a imprensa periódica – “o Conciliador”, “O Argos da Lei”, e “O Censor”, e que os filhos da terra, formados em Coimbra, de regresso da Europa, constituem o chamado Grupo Maranhense do romantismo brasileiro, justamente a geração de Odorico Mendes, Sotero dos Reis, João Francisco Lisboa, e Gonçalves Dias; 4ª fase – a partir de 1865, a que possibilitou o surgimento do naturalismo, do parnasianismo e do simbolismo, de poetas e escritores levados por força do fator economico a se transferirem para o Sul do país, e foram, muitos deles, literatos nacionais: Teixeira Mendes, Teófilo Dias, Adelino Fontoura, Artur e Aluisio Azevedo, Coelho Neto, Dunshee de Abranches; 5ª fase – com inicio em 1900, em consequencia da visita de Coelho Neto ao Maranhão, de intelectuais que procuraram, permanecendo na terra natal, desenvolve-la, faze-la outra vez grande centro de cultura, a geração de Antonio Lobo, Correa de Araujo, e Nascimento de Moraes, fase áurea do simbolismo no Maranhão, que viu também, como escritores nacionais, Humberto de Campos, Viriato Correa, e Graça Aranha; 6ª fase – ciclo do modernismo, segundo Meireles (1958) a fase atual, mas de transição, de poetas ainda apegados a velhas formulas, neoromanticos uns, neoparnasianos outros, neosimbolistas grande parte, já se firmando alguns poucos, nos canones trazidos pelo modernismo: a fase inaugurada em 1927 por Astolfo Serra; 7ª fase – inicio do movimento “Renovação”[25], sob a orientação de Antonio Lopes, é a geração de 45[26], quando o modernismo se impôs no Maranhão, principalmente na pintura com J. Figueiredo, cubista; Floriano Teixeira, na mesma linha de Portinari; Cadmo Silva, surrealista, e Jorge Brandão; a fase de Erasmo Dias, em que o Maranhão viu emigrar mais alguns de seus melhores talentos: Josué Montello, Manoel Caetano Bandeira de Melo, Franklin de Oliveira, e Osvaldo Marques; 8ª fase – a da geração de 50, que prosseguiu com exito, a renovação modernista, chegando à poesia concreta[27] e neoconcretista[28], ao mesmo tempo em que parte dela se voltava para o romantismo e o simbolismo, fenomeno que também ocorreu no ambito nacional; 9ª fase – a patir de 1969, de jovens que buscavam, atraves de movimentos como a Antroponáutica[29], novas formulas poeticas e, como reação ao modernismo, já concluindo o seu ciclo, o movimento dos trovadores[30].
Recorremos, ainda, a Clóvis Ramos (2001) [31] – fênix renasce das cinzas, ao propor-se a realizar o “sonho do Dr. Eliezer Moreira Filho”, com a publicação de uma Antologia escolar maranhense. Abrangência das fases diversas da rica vida literária do Maranhão. São elas: Volume I – quando a brilhante aurora despertava: cronistas franceses, os portugueses da fase colonial e a poesia neoclássica do Maranhão; Do sol meridiano a luz dourada – os românticos da geração de Gonçalves Dias; Um Sol de fogo – geração de Sousândrade; Volume II – onde as estrelas cantam – no tempo de Frutuoso Ferreira, tempo também de Teófilo Dias, Raimundo Correia, Catulo, Coelho Neto e Graça Aranha (fase do movimento naturismo e do parnasianismo); De rosas cor de rosa no sol posto – o simbolismo no Maranhão; Vão se abrindo as estrelas e as juremas – sobre o sincretismo, que resultou nos caminhos abertos para o modernismo, entre nós; Volume III – Asas cantando sob um céu lilás – os ecléticos e os da geração de Corrêa da Silva; Volume III – o despenhadeiro das auroras – a geração de 45, de poetas e escritores voltados ao hermetismo, à poesia de vanguarda – pós-modernos, uns e outros ainda apegados aos ritmos tradicionais; Rosas manhãs – contendo a poesia atual do Maranhão; Um quarto volume, sendo preparado para apresentar, ainda, autores maranhenses, antigos e modernos, que não foram incluídos nos roteiros, e já prontos.
E mais adiante, apresenta-nos novo roteiro, com os títulos que formam o Novo Parnaso Maranhense: A irmã da noite – a grande poesia do Maranhão, estudo e antologia; A pedra e o monte – a poesia neoclássica do Maranhão; O astro das manhãs – o Maranhão na poesia romântica e utra-romantica; A flor do abismo – ainda os românticos e parnasianos do Maranhão ou a geração de 1880; No infinito mar – poetas tradicionalistas, de estilo clássico-romantico; Sinos do entardecer – que exalta bandeira Tribuzzi – ainda com a poesia tradicionalista de poetas imbuídos de sincretismo; Soluços nas ramadas – começo do modernismo no Maranhão ou geração de 1900; Velário das estrelas – o modernismo no Maranhão, a geração de 1930; A música dos violinos ou a geração de 45; Verbo em chamas – movimentos de vanguarda, poetas pós-modernos, ou a geração de 60; Espelho grande do tempo – movimentos de vanguarda, pós-modernos; Brisa e espuma – a nova poesia do Maranhão; O céu é a mesma luz – que o continua, reunindo poetas do final do século XX, de Enes de Sousa (João Nascimento Sousa), Antonio Carlos Alvim, Leonardson dos Santos Castro, Lenita de Sá, Francisco de Assis Peres Sousa, Paulo Melo Souza, Cesar William, e Luís Inácio Araujo – nascidos nas décadas de 1960/70, e outros, a João Fábio Ramos de Souza, o mais moço, nascido em 1983 […]
Assis Brasil (1994) [32] faz um “retrospecto poético”, antes de entrar na Poesia do Século XX, considerando que a evolução histórica e estética de nossa (brasileira) poesia pagou tributo, por longos anos, à evolução da poesia portuguesa, desde os séculos XVI a XIX, de tradição erudita e pomposa, cultivando metáforas e referencias mitológicas, influenciada pela poesia greco-latina. Para esse autor, as mudanças – aos trancos e barrancos – vieram com os pré-românticos, mudando a linguagem e a estrutura dos poemas, com imagens mais simples, perdendo a ortodoxia nas rimas, com versos mais curtos. Junto com preocupações mais intimas – lirismo – surgem os temas populares e folclóricos. “O Poeta corria atrás da nacionalidade”. Afirma, ainda, que chegou a falar-se, “em pleno fastígio do Neoclassicismo e do pré-romantismo, em Modernismo ‘avant la lettre’, uma ligeira prova do um ‘avantgoût’ que viria à frente” (BRASIL, 1994)[33]. Apresenta uma nova ‘“temporalidade”, numa corrida de revezamento, de “forma pendular”, das correntes e movimentos literários, onde uma escola ou estética rígida, formal, algo cerebral, sempre tem sido substituída por uma mais libertária, mais objetiva, como foi a passagem do classicismo para o romantismo, voltando à rigidez com o parnasianismo: Cronologicamente, a geração de poetas maranhenses que está viva no começo da primeira e segunda décadas do século, e que já experimentara as mudanças romântico-parnasian, enfrentará, mais uma vez, a mudança daquele pendulo estético (p. 21).
Durans (2012) [34] servindo-se de Moisés (2004) [35] estabelece um critério cronológico para distinguir os termos geração, era, época, período e fase: […] Para o autor, era designa um lapso de tempo maior em que se fragmenta a história de um povo; época designa a subdivisão de uma era; período, por sua vez, é a subdivisão de uma época; e finalmente fase constitui uma subdivisão do período ou da biografia de autores. Geração poderia, então, ser identificada com período ou fase, enquanto era e época designariam sucessões de gerações irmanadas pelos mesmos ideais. O uso do termo geração pode se dar ainda no sentido biossociológico, ou seja, de faixa etária. Esse é, portanto, um conceito polissêmico, frequentemente empregado, ainda, em sentido político-ideológico (de engajamento político ou militância política), ou em alusão a uma determinada concepção estética, artística ou cultural (escolas). O termo geração no sentido de mesma faixa etária tem sido amplamente usado pela historiografia, frequentemente associado à intelectualidade, à noção de herança, de grupo de intelectuais que dão continuidade a certos referenciais de outros que viveram em épocas anteriores, figurando como patrimônio dos mais velhos.
Rodrigues (2008) [36] afirma com base em Ortega y Gasset e Julian Mariais, que as gerações literárias compreenderiam, grosso modo, um período de 15 anos. Esta seria a escala. A poesia do Século XX é, então, dividida em “gerações”, começando pela de Sousândrade, presidente de honra da Oficina dos Novos; seguindo-se a geração de Correa da Silva, a de Bandeira Tribuzi, e a de Luis Augusto Cassas. No Maranhão, segundo Castro (2008) [37], a criação de uma academia de letras destinava-se ao cultivo das letras pela ação coletiva ou individual dos seus membros, que buscavam resgatar as glórias intelectuais perdidas durante o suposto Decadentismo[38]. Para os literatos maranhenses do início do século XX, urgia salvaguardar esse passado de glórias que, segundo eles, suplantava o de todas as outras províncias. Domingos Barbosa afirmava: Somos uma terra de gramáticos… pelo menos, é assim que todos, a uma voz, nos apelidam […] Não sei, assim de terra que tenha origem mais fidalga, nem seja mais nobre pela velha e pura linhagem da inteligência e do saber. E, desde os seus princípios até hoje – haveis de perdoar ao maranhense a imodéstia da afirmação – não sei qual possa arrolar maior número de nomes famozos do que os daquêles que entre nós têm cintilado, assim nas ciências como nas letras. (Revista da Academia Maranhense de Letras, 1917, p. 53, citado por Castro, 2008). NOTAS [1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Antologia [2] ELIOT, T. S. Ensaios de Doutrina Crítica. Lisboa: Guimarães Editores, 1977, citado por BARBOSA FILHO, Hildeberto. LITERATURA NA ILHA (POETAS E PROSADORES MARANHENSES). São Luis: Lithograf, 2004. [3] BARBOSA FILHO, Hildeberto. LITERATURA NA ILHA (POETAS E PROSADORES MARANHENSES). São Luis: Lithograf, 2004. [4] MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958 MEIRELES, Mário; FERREIRA, Arnaldo de Jesus; Vieira filho, Domingos. ANTOLOGIA DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS – 1908 – 1958. São Luis: AML, 1958. Edição fa-similar comemorativa do centenario de fundação da Academia Maranhense de Letras, AML, 2008. [5] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011 [6] CORRÊA, Frederico José. UM LIVRO DE CRÍTICA. São Luis: Tip. Do Frias, 1878. [7] DURANS, Patrícia Raquel Lobato. A LITERATURA MARANHENSE NA HISTORIOGRAFIA LOCAL: representações e contradições. In LITTERA ON LINE, Número 05 – 2012, Departamento de Letras | Universidade Federal do Maranhão, disponível em file:///C:/Users/Leopoldo/Downloads/1270-4439-1-PB%20(1).pdf , acessado em 08 de março de 2014 [8] CARVALHO, Antônio dos Reis. A literatura maranhense. In: BIBLIOTECA Internacional de Obras Célebres. Rio de Janeiro: Sociedade Internacional, 1912. v. 20. (citado por DURANS, 2012). [9] MEIRELES, Mário. Panorama da literatura maranhense. São Luís: Imprensa Oficial, 1955; MEIRELES; FERREIRA; e vieira filho, 1958; 2008, obras citadas; [10] O Classicismo teve início na Itália no século XIV e apogeu no final do século XVI, espalhando-se rapidamente pela Europa, com a criação da imprensa as informações eram divulgadas com maior rapidez – ocorreu dentro do Renascimento. É uma literatura antiga que sofreu várias influências principalmente greco-latinas, devido à criação das primeiras universidades. Em 1527, quando Francisco Sá de Miranda retornava a Portugal, vindo da Itália, trazendo o doce estilo novo (soneto + medida nova). Clóvis Monteiro assinala que o Classicismo em Portugal durou três séculos de atividades literárias: iniciado em 1527 e encerrado em 1825. No Brasil Colônia, o Classicismo português do período cultista também influenciou a literatura, como por exemplo, na obra Prosopopéia de Bento Teixeira, que imitava os versos de Camões, até meados do século XVIII, quando surgiria uma literatura nacional ou brasileira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_classicista [11] O Romantismo no Brasil teve como marco fundador a publicação do livro de poemas “Suspiros poéticos e saudades”, de Domingos José Gonçalves de Magalhães, em 1836, e durou 45 anos. Ainda no mesmo ano, no Brasil – momento histórico em que ocorre o Romantismo, 14 anos após a sua Independência – esse movimento é visível pela valorização do nacionalismo e da liberdade, sentimentos que se ajustavam ao espírito de um país que acabava de se tornar uma nação rompendo com o domínio colonial. Três fundamentos do estilo romântico: o egocentrismo, o nacionalismo e liberdade de expressão. O egocentrismo: também chamado de subjetivismo, ou individualismo. Evidencia a tendência romântica à pessoalidade e ao desligamento da sociedade. O artista volta-se para dentro de si mesmo, colocando-se como centro do universo poético. A primeira pessoa (“eu”) ganha relevância nos poemas. O nacionalismo: corresponde à valorização das particularidades locais. Opondo-se ao registro de ambiente árcade, que se pautava pela mesmice, vendo pastoralismo em todos os lugares, o Romantismo propõe um destaque da chamada “cor local”, isto é, o conjunto de aspectos particulares de cada região. Esses aspectos envolvem componentes geográficos, históricos e culturais. Assim, a cultura popular ganha considerável espaço nas discussões intelectuais de elite. A liberdade de expressão: é um dos pontos mais importantes da escola romântica. “Nem regra , nem modelos “- afirma Victor Hugo, um dos mais destacados românticos franceses. Pretendendo explorar as dimensões variadas de seu próprio “eu”, o artista se recusa a adaptar a expressão de suas emoções a um conjunto de regras pré-estabelecido. Da mesma forma, afasta-se de modelos artísticos
consagrados, optando por uma busca incessante da originalidade. Primeira geração – Indianista ou Nacionalista; Segunda geração – Ultrarromantismo ou Mal do Século; Terceira geração – Condoreira. http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo_no_Brasil [12] Naturalismo – literária conhecida por ser a radicalização do Realismo, baseando-se na observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. O naturalismo como forma de conceber o universo constitui um dos pilares da ciência moderna, sendo alvo de considerações também de ordem filosófica. No Brasil, as primeiras obras naturalistas são publicadas em 1880, sendo influenciada pela leitura de Émile Zola. O primeiro romance é O mulato (1881) do maranhense Aluísio de Azevedo, o escritor que melhor representa a corrente literária do naturalismo brasileiro. Além dessa obra, foi o responsável pela criação de um dos maiores marcos da literatura brasileira: O cortiço. http://pt.wikipedia.org/wiki/Naturalismo#Naturalismo_em_Portugal_e_no_Brasil [13] O parnasianismo é uma escola literária ou um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo do Realismo-Naturalismo. Um estilo de época que se desenvolveu na poesia a partir de 1850, na França. No Brasil, o parnasianismo dominou a poesia até a chegada do Modernismo brasileiro. A importância deste movimento no país deve-se não só ao elevado número de poetas, mas também à extensão de sua influência, uma vez que seus princípios estéticos dominaram por muito tempo a vida literária do país, praticamente até o advento do Modernismo em 1922. http://pt.wikipedia.org/wiki/Parnasianismo#No_Brasil [14] Simbolismo é um movimento literário da poesia e das outras artes que surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da época. Movido pelos ideais românticos, estendendo suas raízes àliteratura, aos palcos teatrais, às artes plásticas. Não sendo considerado uma escola literária, teve suas origens de As Flores do Mal, do poeta Charles Baudelaire [15] Decadentismo é uma corrente artística, filosófica e, principalmente, literária que teve sua origem na França nas duas últimas décadas do século XIX e se desenvolveu por quase toda Europa e alguns países da América. A denominação de decadentismo surgiu como um termo depreciativo e irônico empregado pela crítica acadêmica, mas terminou sendo adotada pelos próprios participantes do movimento. http://pt.wikipedia.org/wiki/Decadentismo [16] O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu fortemente sobre a cena artística e a sociedade brasileira na primeira metade do século XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plásticas. O movimento no Brasil foi desencadeado a partir da assimilação de tendências culturais e artísticas lançadas pelas vanguardas europeias no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, como o Cubismo e o Futurismo. Considera-se a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no Brasil. Porém, nem todos os participantes desse evento eram modernistas: Graça Aranha, um pré-modernista, por exemplo, foi um dos oradores. Não sendo dominante desde o início, o modernismo, com o tempo, suplantou os anteriores. Foi marcado, sobretudo, pela liberdade de estilo e aproximação com a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais radicais em relação a esse marco. Didaticamente, divide-se o Modernismo em três fases: a primeira fase, mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de irreverência e escândalo; uma segunda mais amena, que formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada PósModernismo por vários autores, que se opunha de certo modo a primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de Parnasianismo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo_no_Brasil; http://www.infoescola.com/literatura/modernismo/ [17] MEIRELES, 1955, obra citada; [18] MEIRELES, Mário. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980. [19]DURANS, Patrícia Raquel Lobato. OS NOVOS ATENIENSES E O IMAGINÁRIO DE DECADÊNCIA: as representações em Missas negras, de Inácio Xavier de Carvalho. São Luis, 2009. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Orientadora: Prof. Dra. Maria Rita Santos. Disponível em http://www.geia.org.br/pdf/Monografia_Patr%C3%ADcia_Normalizada.pdf , acessada em 11 de março de 2014. DURANS, 2012, obra citada; [20] DURANS, 2009; 2012, obras citadas; [21] MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976 [22] DURANS, 2009, obra ciatada. [23] DURANS, 2012, Obra citada. [24] RAMOS, Clovis. NOSSO CÉU TEM MAIS ESTRELAS – 140 anos de literatura maranhense. Rio de Janeiro: Pongetti, 1972. [25] “O movimento de renovação colocado pelas escolas literárias não consiste necessariamente na exclusão de uma geração anterior, mas um retorno a um movimento que vem antes do modelo negado. Assim aconteceu com o Arcadismo, que revisita os modelos clássicos; com o Parnasianismo, que retoma o Classicismo; e com o Simbolismo, que reassume o subjetivismo romântico. Assim também ocorreu com a literatura neo-ateniense, que pretendia revalidar o foro de Atenas Brasileira, igualando-se a todos os outros”. DURANS, 2009, obra citada. [26] Na literatura brasileira, a chamada Geração 45 surgiu a partir de trabalhos de poetas que produziam uma literatura oposta às inovações modernistas de 1922. Uma fase de literatura intimista, introspectiva e de traços psicológicos. http://www.infoescola.com/literatura/geracao-de-45/ [27] Poesia concreta é um tipo de poesia vanguardista, de caráter experimental, basicamente visual, que procura estruturar o texto poético escrito a partir do espaço do seu suporte, sendo ele a página de um livro ou não, buscando a superação do verso como unidade rítmico-formal. Surgiu na década de 1950 no Brasil e na Suíça, tendo sido primeiramente nomeada, tal qual a conhecemos, por Augusto de Campos na revista Noigandres de número 2, de 1955, publicada por um grupo de poetas homônimo à revista e que produziam uma poesia afins. Também é chamada de (ou confundida com) Poesia visual em algumas partes do mundo. O poema concreto é um objeto em e por si mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjetivas. seu material: a palavra (som, forma visual, carga semântica) . seu problema: um problema de funções- relações desse material. fatores de proximidade e semelhança, psicologia de gestalt. ritmo: força relacional. o poema concreto, usando o sistema fonético (dígitos) e uma sintaxe analógica, cria uma área linguística específica – “verbivocovisual”- que participa das vantagens da comunicação não-verbal, sem abdicar das virtualidades da palavra, com o poema concreto ocorre o fenômeno da metacomunicação: coincidência e simultaneidade da comunicação verbal e não verbal, com a nota de que se trata de uma comunicação de formas, de uma estrutura-conteúdo, não da usual comunicação de mensagens. a poesia concreta visa ao mínimo
múltiplo comum da linguagem, daí a sua tendência à substantivação e à verbificação : “a moeda concreta da fala” (sapir). daí suas afinidades com as chamadas “línguas isolantes”( chinês) : “quanto menos gramática exterior possui a língua chinesa, tanto mais gramática interior lhe é inerente ( humboldt via cassirer) . o chinês oferece um exemplo de sintaxe puramente relacional baseada exclusivamente na ordem das palavras ( ver fenollosa, sapir e cassirer). http://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_concreta [28] Neoconcretismo foi um movimento artístico surgido no Rio de Janeiro, Brasil, em fins da década de 1950, como reação ao concretismo ortodoxo. Os neoconcretistas procuravam novos caminhos dizendo que a arte não é um mero objeto: tem sensibilidade, expressividade, subjetividade, indo muito além do mero geometrismo puro. Eram contra as atitudes cientificistas e positivistas na arte. A recuperação das possibilidades criadoras do artista (não mais considerado um inventor de protótipos industriais) e a incorporação efetiva do observador (que ao tocar e manipular as obras torna-se parte delas) apresentam-se como tentativas de eliminar a tendência técnico-científica presente no concretismo. O movimento neoconcreto nunca conseguiu impor-se totalmente fora do Rio de Janeiro, sendo largamente criticado pelos concretistas ortodoxos paulistas, partidários da autonomia da forma em detrimento da expressão e implicações simbólicas ou sentimentais. O MANIFESTO NEOCONCRETO – No dia 23 de março de 1959, o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil , (dirigido por Reynaldo Jardim, participante do movimento) publicou o ‘Manifesto Neoconcreto’, assinado por Ferreira Gullar , Reynaldo Jardim , Theon Spanudis , Amílcar de Castro , Franz Weissmann , Lygia Clark e Lygia Pape . http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoconcretismo. [29] Em 26 de maio de 1972, foi lançada, em Noite de Autógrafos, em São Luís do Maranhão, a antologia poética Antroponáutica, que apresenta poemas de poetas até então inéditos, em livros. Eram eles Chagas Val, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar e Valdelino Cécio. Para eles, alguma coisa estava errada, já que a Semana de Arte Moderna havia acontecido, de maneira ruidosa, há 52 anos antes, em 1922, no Teatro Municipal de São Paulo e poucos, à exceção de Nascimento Moraes Filho, Ferreira Gullar, Bandeira Tribuzi, Oswaldino Marques, Lago Burnett e José Chagas, pouquíssimos outros dela tomaram conhecimento, decorridas cinco décadas. Era como se São Luís vivesse ainda em plena época do soneto parnasiano sem tomar conhecimento sequer da linguagem revolucionária de O Guesa, de Sousândrade. GASPAR, Viriato. Os Trinta Anos Pós-Antroponáutica. GUESA ERRANTE, Suplemento literário – Jornal pequeno, São Luis, 29 de novembro de 2005. [30] Com a instituição dos Jogos Florais no ano de 1960, o movimento dos trovadores (então sob a égide do GBT, Grêmio Brasileiro de Trovadores) teve um grande impulso, embora ainda incipiente. Com a fundação e o estatuto definitivo em 1966, a entidade passa a multiplicar-se pelo país inteiro. http://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Brasileira_de_Trovadores [31] RAMOS, Clóvis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: neoclássicos e românticos. Quando a brilhante aurora despontava – do sol meridiano a luz dourada – um sol de fogo. Niterói: Clovis Ramos, 2001 [32] BRASIL, Assis, obra citada [33] BRASIL, Assis, obra citada. [34] DURANS, 2012, Obra citada. [35] MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004, citado por DURANS, 2012 [36] RODRIGUES, Geraldo Pinto. A Geração de 45 na poesia brasileira. In POETA POR POETA. São Paulo, Marideni, 2008, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/ensaios/geracao_de_45_na_poesia_brasileira.html , acessado em 09 de março de 2014 [37] CASTRO, Ana Caroline Neres. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: UM SÉCULO INVENTANDO TRADIÇÕES (1908-2008). Outros Tempos, Volume 5, número 5, junho de 2008-Dossiê História da América [38] Na literatura clássica maranhense, esse período situado entre os anos de 1894 a 1932, foi marcado pelo “marasmo” e “letargia” na produção local, ocasionada pela ausência dos literatos que foram para outras regiões do país em busca de melhores oportunidades. Também pode ser caracteriza do pela tentativa de reação dos intelectuais que permaneceram na capital maranhense, autointitulados “Novos Atenienses”. (CASTRO, 2008, obra citada). Categoria A VISTA DO MEU PONTO • Literatura & Espor
BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE – GUARNICÊ BLOG DO LEOPOLDO VAZ Domingo, 27 de dezembro de 2015 às 16:58 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/12/27/guarnice/
À Lenita… O GUARNICÊ Leopoldo Gil Dulcio Vaz Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40 INTRODUÇÃO Uma advertencia: “Escrevi para aprender”[1]. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a construção do que tratamos por espaço intelectual e análise das estratégias de afirmação[2], disputas e repertórios nele acionados, constituíram-se em importantes fontes para obtenção de dados relativos aos agentes em questão, as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Buscaram-se, mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhemos informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sites particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem… in BREVE OLHAR SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE – OS ATENIENSES UMA ANTOLOGIA VOLUME IV-B DA MOVELARIA GUANABARA EM DIANTE
O GUARNICÊ Os anos 70/80, aqui (no Maranhão) convencionados Geração Luís Augusto Cassas: […] abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)… Este último, tendo participação confirmada na vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie. (Corrêa, 2010) [1].
O Movimento “Antroponáutica” nasceu no Liceu[2] entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)[3]; segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)[4]. Dinacy Corrêa (2010) [5] diz ser integrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento: Luís Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1948), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” [6], – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80. Para Mesito[7], a antologia Hora de Guarnicê, dos anos 70, corresponde a uma geração muito boa e que projetou nomes como Chagas Val, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa, Raimundo Fontenele e Luís Augusto Cassas. A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirmam que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas – e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”… Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) [8], assim se coloca: Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa. Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia. Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo.
Em outro contato, Corrêa [9]confirma: […] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica. Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto
estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas. Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. [como você vê esse(s) movimento(s)? percebe-se que vocês participaram de vários desses, a partir dos anos 70… o que significou e por que naquele cadinho, surgiram tantos movimentos tentando revitalizar a literatura/poesia de São Luís? qual a efetiva participação de vocês?] Na minha compreensão, mais ou menos formais, pouco se me deu, pouco se me dá, os movimentos foram os acontecimentos reais, que alimentaram vocações e permitiram que a fidelidade à causa da cultura sobrevivesse no cenário da história do Maranhão. A nossa efetiva participação era simplesmente total. Estávamos congraçados e arrebanhados, como sugeria Bandeira Tribuzzi – ‘mantenham-se arrebanhados’ – e assim permanecemos até que cada um passasse a escrever de maneira singular o seu destino intelectual. Deste cadinho de gente surgiram nomes como os de Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, César Teixeira, Josias Sobrinho, Cyro Falcão, Edmilson Costa, Ribamar Corrêa e outros mais, cujas pegadas deixaram marca na areia, na poesia, na música, na pintura, no jornalismo e nas ciências humanas. A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’.
Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “… um neorromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) [10]. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968). Concordamos que se deva ser acrescentada nessa fase o grupo do Guarnicê, “nascidos” em 1982, tendo como participes Joaquim Haickel junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (irmão de Joaquim, Nagib Haickel Filho), que produziam e apresentavam o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Rádio Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense, se servindo do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense (VAZ, 2011)[1]; chegaram a publicar uma Revista – Guarnicê. Seria uma 10ª fase? A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração acima [2] [a anterior], aponta, em seu Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica. (In GUERRA ERRANTE, 2012) [3].
Sobre o Guarnicê, buscamos tanto em Haickel (2014) [4]: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra… a primeira é do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”,
quanto em Corrêa (2014) [5], a explicação necessária sobre esse “movimento”: Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, Johão Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu). Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o ‘interesse literário’ da Polícia Federal do Maranhão.
O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero[6]. E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília.
FONTE: Lima, 2003, ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, p 9; 100
“Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) [7]. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponáutica: Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponáutica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino
Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira.
1984 surge a Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista. Reúne 25 poetas e 60 poemas. De Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo Melo Souza. Recebe capa e ilustrações de Erico Junqueira Ayres e a seleção dos poemas fica a cargo de Celso Borges e Joaquim Haickel. Nauro Machado, no Caderno Alternativo, publica uma critica implacável à Antologia Guarnicê, que segundo ele, os poemas ali editados representavam “um simples ódio contra o sistema ou a vida”, com a média beirando a “entronização de um compromisso que se pretendendo político consegue apenas baratear a Arte como um produto também cultural”. Recomenda que os poetas se submetam à orientação de alguém experimentado. Não tarda a resposta, dada por Celso e Joaquim… No ano seguinte, a Antologia Erótica Guarnicê. No dizer de Roberto Kenard, o Guarnicê nunca chegou a ser um movimento. Era tão somente uma publicação. Lima (2003) [8] afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson Brito, Aldo Leite, e muitos outros. Em setembro de 1974, surge o jornal A Ilha, criado por Paulo Detoni, Luis Carlos Jatobá e João Gonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes, Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme Junior, José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger, Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas.
Marcelo Chalvinski, Fernando Abreu, Garrone, Joe Rosa, de óculos escuros, Zé Maria Medeiros
Os membros desses diversos movimentos são identificados, também, como a Geração Mimeógrafo, iniciada pelo poeta Ribamar Feitosa – natural de Parnaíba-PI -; com o nome de José Rimarvi publica, em 1969, o livro Planície quase minha, impresso no SIOGE. Em 1978, lança – em parceria com José Maria Medeiros – o livro Jo-Zé, datilografado em estêncil e rodado em mimeografo. Depois de alguns lançamentos nesse mesmo formato, e ao lado de poetas estudantes da UFMA, já em 1979, cria a revista Vivência, portaestandarte do movimento Arte e Vivência, e como integrantes, além do próprio Feitosa, Celso Borges, Antonio José Gomes, José Maria Medeiros, Robson Coral, Rita de Cássia Oliveira, Nonato Pudim, Ivanhoé Leal, Luis Carlos Cintra, Euclides Moreira Neto, Cunha Santos Filho, Kiko Consulim. – Geração Mimeógrafo, e que integrou a última fase dos Párias. Ano – 92/93, uma das fotos para matéria do oitavo lançamento da revista ‘Uns & Outros’, o “Oitavo Andar” [9].
Em 1984, Feitosa aparece nas páginas da revista Guarnicê… Em suas páginas, também aparece João Ewerton, manifestando suas inquietações sobre o futuro das artes plásticas: ele é o presidente da Associação Maranhense de Artes Plásticas, onde transitam, entre os anos 1970 e 1980, Nagy Lajos, Ambrósio Amorim, Dila, Jesus Santos, Antonio Almeida, Péricles Rocha, Lobato, A. Garcês, Rosilan Garrido, Luiz Carlos, Airton Marinho, Ciro Falcão, Fransoufer, Marlene Barros, Rogério Martins e Tercio Borralho, utilizando-se dos mais diversos espaços para suas exposições, como o Cenarte, da Fundação Cultural do Maranhão; Galeria do Beco, de Zelinda Lima e Violeta Parga; Solar Nazeu Quadros, da UFMA; Centro de Arte Japiassu, criando em 1972 por Rosa Mochel, Fátima Frota e Péricles Rocha; Galeria Eney Santana, ateliê de Nagy Lajos, e a galeria da Caixa Econômica Federal. Da geração de artistas que se firmam nos anos 80, Miguel Veiga, Paulo Cesar, Donato, Geraldo Reis, Fernando Mendonça, Cosme Martins, Marçal Athaide. Segundo Lima (2003), os cadernos de cultura, por essa época, ainda eram raros, embora São Luis estivesse vivendo um processo de ebulição cultural, com os seus teatros, músicos, artistas, poetas, escritores e movimentos literários. Mas, diz ele, entre as publicações e periódicos de São Luis, entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e Carlos Andrade. Pelas folhas do tabloide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira Ayres. Américo Azevedo Neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento, com seções de literatura, crônicas, poesia e musica, além de cinema. Abre caminho para os chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo. Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro… Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado… Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE – conforme Lima (2013)[10]; e outros de maneira independente. Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico Carneiro. Bioque Mesito[11] respira fundo e desabafa: Ufa! Chegamos à década de 80. O que falar dessa década se até os críticos, professores acadêmicos, literatos fecham os olhos para ela? Nós, não. A poesia das décadas de 80, 90 e início deste século vem com muita felicidade (apesar de todos os contras) honrado, com bastante autoridade, a tradição dos poetas da Cidade de Sousândrade. Sempre quando se trata da poesia dessa época, recai o conceito de poesia marginal, contra o sistema, panfletária. O que não se observa em um primeiro momento é o que de potencial tem esses poetas. Mesmo a “Akademia dos Parias” e suas performances pelos becos do Centro Histórico de São Luís possuiu sua importância nos ditames de nossa literatura.
Lima (2003) faz outro registro importante do período: a coleção Documentos Maranhenses, da Academia Maranhense de Letras, idealizada por Jomar Moraes e com o apoio das ALUMAR. “Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra […] assim eu posso trabalhar tranquilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão.
NOTAS [1] VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL, Cadeira 47. Proferido em 13 de Setembro de 2011. Revista do IHGM, no. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 47, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 [2] [Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Some-se a esses nomes, o de Lago Burnet, Déo Silva, José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.] IN http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400—os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm [1] CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembro-dezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf [2] Escola fundada em 1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde Sotero dos Reis foi primeiro diretor e professor. [3] ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d. [4] BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX – antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. [5] CORRÊA, 2010, obra citada [6] BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008 [7] MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm [8] CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. [9] CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 20 de maio de 2014. [10] ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994 [3] http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400—os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea4400.htm [4] HAICKEL, Joaquim. Em Correspondência pessoal a Vaz, Leopoldo, em 11/03/2014: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra… a primeira é de do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”. [5] CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. [6] BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. [7] LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003. [8] LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 [9] Informações de Marcelo Chalvisnki, e de Paulo Melo, através de correspondência eletrônica, em 30/04/2014. [10] LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 [11] MESITO, Bioque. A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade. Guesa Errante, 15 de novembro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/11/14/Pagina836.htm [1] MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18 [2] SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão.
CRÔNICA DA ESPERANÇA CRÔNICA EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br Pé ante pé. Dia após dia. E de repente, “não mais que de repente”, já não havia mais tempo, já não havia mais dia. O ano se acabou. Um século se passou. Um milênio se completou. O lugar do calendário é uma parede vazia, cheia de cor, quadro-verde onde traçaremos, a giz, os passos de mais um ballet de esperança. Esquecida no chão, resta a folhinha de um último dia, ponto de partida, sinal de largada para uma nova maratona, teste de resistência. E sobrevivência. *** Não; nós nunca esqueceremos 2015. Não devemos. Não podemos esquecer (alguns bem que gostariam). O ano morto está vivo dentro de nós. Sabemos: 2015 foi danado, agoniado, sapato acochado, faca afiada, de dois gumes. Mas resistimos. “Resistir é permanecer”. Vamos encarar 2016, de peito estofado e queixo erguido. Vamos recuperar, ou fortalecer, a confiança deste Povo, os méritos deste País. Sem falsas expectativas nem exageradas angústias. Mas serenidade e espírito de luta, como sempre. E, como sempre, vale a pena um bocadinho de oração, um pouquinho de reflexão, em quaisquer lugares, insabidos ou incertos. Pode ser de manhãzinha na igreja, ou à tardinha no bar. Nesses momentos, com o copo ou com o rosário, mais uma vez o que vale é a intenção, o que importa é o homem. O homem e sua alma. Pois nem tudo está perdido. *** Muito bem. Nem oito nem oitenta. Nem nove nem noventa. Nem cem ou mil. Dois mil. E dezesseis. Quem sabe, com 2016 estaremos ganhando um belo futuro. De presente. Vamos ter esperança. De quê? Em quê? Ora... Na gente mesmo. Vamos dar uma geral na vida. Uma geral no trabalho. Uma geral no País. Em nosso estado. Em nossa cidade. Bem que precisa. Precisamos. Pois todo ano novo é sempre um novo ano, de sonhos fartos e visões nuas que embalam su-a-ve-men-te os viventes destas ruas. *** Há lágrimas nos olhos. Há um aperto no coração. Há um nó na garganta. Há uma dor no peito, um frio no lombo, suor nas mãos... Mas há sorrisos também. E disposição para continuar vivo. É assim mesmo –– perfeição é coisa de Deus; não ficou para o homem. Então, vamos lá! Pelas palavras do Poeta, temos a certeza de que “o último dia do ano não é o último dia do tempo. O último dia do tempo não é o último dia de tudo.
Novas coxas e ventres se abrirão e nos comunicarão o calor da vida”. *** Perdemos 2015. Mas não perdemos a vida nem a vontade de viver. Ganhamos 2015, porque ultrapassamos sua própria marca, transpusemos suas barreiras. Chegamos ao seu fim sem nos finarmos. Em 2015 tanta esperança nos foi frustrada, tanta coisa nos foi tirada... Mas nada, nada neste mundo de meu Deus, impedirá que a vida sobreviva, que a esperança continue. Por tudo isso, e por isso tudo, feliz, mas feliz mesmo, FELIZ ANO NOVO! EDMILSON SANCHES. edmilsonsanches@uol.com.br
CORRIDA DE TORAS – PRÁTICA DOS GUARETIS E CAICAÍZES – 1685-1687 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ 71 Instituo Histórico e Geográfico do Maranhão - Cadeira 40 Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21 Professor de Educação Física – Mestre em Ciência da Informação
RESUMO
A "corrida de toras" é primeira atividade "esportiva" praticada no Maranhão. Os Canelas, ao codificarem as corridas realizadas em suas aldeias - regras dos bisavós -, estão repetindo o que fizeram outras culturas. Se for aceita a codificação das regras de corridas pelos Gregos em seu período clássico como precursora das regras atuais do Atletismo, também deve ser aceita a corrida entre os Canelas (Guaretis e CaíCaí) como a primeira manifestação desse esporte em terras maranhenses (brasileiras) 72. Aqui, relata-se a descrição de uma corrida entre os indios Guaretins em visita aos Caicaízes, por João Velho do Valle, em sua Jornada feita nos anos de 1685 a 1687, em reconhecimento dos rios Itapecuru, Monin, Mearim e Paraguaçu (Parnaiba).
http://www.funai.gov.br/indios/jogos/novas_modalidades.htm#005
João Renôr nos dá a conhecer uma nova edição da Jornada de João Velho do Valle neste final de 201573: RELAÇÃO DA JORNADA que vou fazendo com o gentil CaiCai a fazer pazes com o gfentil de Paraguassú e os rios Itapewcurú donde habitam vásrias Nações e descobrimento para a parte do Brasil e também para fazer todo o possível para fazer descer algumas Nações para este rio Itapecurú por mandado do senhor Gomes Freire de Andrada, Governador e Capitão General deste Estado (João Vellho do valle, 10/11/1685).
71
Publicado em 06/01/2016 em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/corrida-de-toras-pratica-dos-guaretis-ecaicaizes-1685-1687/ , EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO/CEV.ORG.BR BLOG DO LEOPOLDO VAZ, http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/01/06/corrida-de-toras-pratica-dos-guaretis-ecaicaizes-1685-1687/ 72 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CORRIDA ENTRE OS ÍNDIOS CANELAS. Painel apresentado NA III JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, 1995; Artigo publicado na COLETÂNEA INDESP - DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília: Ministério Extraordinário dos Esportes/Instituto Nacional de Desenvolvimento dos Desportos, 1996, p. 106-111. Revisto e ampliado. 73 CARVALHO, João Renôr Ferreira de. JORNADA DE JOÃO VELHO DO VALLE EM RECONHECIMENTO DOS RIOS ITAPECURU, MONIN, MEARIM E PARAGUAÇU (1685-1687) FAZENDO ACORDOS DE PAZ COM AS NAÇÕES: CAICAÍ, GUARETI, GUANARÉ E CHARUNA. Teresina: EDUFPI, 2015.
Logo na 2ª parte, quando trata da “relação dos rios, aldeias, nações indígenas e Murubixabas visitados por João Velho do valle durante sua jornada (1685-1687), item 15 (p. 44), em visita a Ynáya Merim (principal ou Morubixaba): Os machos levando às costas um trôço de pau de cinco palmos de roda e seis de comprimento levando-o numa carreira tomando-o uns das costas dos outros sem descansarem até chegarmos à aldeia donde achamos o Principal Ynáyá Merim (JORNADA NO 7).
Catharino (1995) 74 ao fazer uma análise do “Trabalho índio em terras de Vera ou Santa Cruz e do Brasil” refere-se, dentre esses trabalhos a dois que nos interessam particularmente: “O trabalho desportivo” e “O trabalho locomotor”. Ao analisar o trabalho desportivo considera que nesse mundo, antes da chegada dos brancos, a sobrevivência exigia qualidades atléticas, exercícios constantes, com descanso e repouso intercalados, de duração sumamente variáveis. Por isso, os índios se tornavam atletas naturais, para sobreviver, pois tinham que, em terra, andar, correr, pular, trepar, arremessar, carregar, e, na água, nadar, mergulhar e remar. Realizar trabalho-meio, autolocomotor, com suas próprias forças, apenas e/ou, também, com auxílio de instrumentos primitivos, para obtenção de produtos necessários: “Entre prática guerreira e desportiva há um nexo de causalidade circulativo, proporcionalmente inverso. Mais prática desportiva, menos guerra. Mais guerra, menos aquela. Causas produzindo efeito repercutindo sobre a causa. Nexo fechado, de recíproca causalidade e efeito. O trabalho-meio, autolocomotor, servia de aprendizado e adestramento – atlético que era – ao competitivo”.
Entre a infância e a puberdade, e a adolescência e a virilidade ou maioridade, entre os 8 e 15 anos, a que chamamos mocidade, os kunnumay, nem miry nem uaçu, tomavam parte no trabalho dos seus pais imitando o que vêem fazer. Não se lhes manda fazer isto, porém eles o fazem por instinto próprio, como dever de sua idade, e já feito também por seus antepassados: “Trabalho e exercício, esses mais agradáveis do que penosos, proporcionais à sua idade, os quais os isentavam de muitos vícios, ao qual a natureza corrompida costuma a prestar atenção, e a ter predileção por eles. Eis a razão porque se facilita à mocidade diversos exercícios liberais e mecânicos, para distraí-la da má inclinação de cada um, reforçada pelo ócio, mormente naquela idade”.
Após essas explicações, o Autor informa que essa seção – o trabalho desportivo – é dedicada ao trabalho competitivo entre índios, embora caçando e pescando, competissem amiúde com outros animais, considerados irracionais, o que faziam desde a infância. Sem falar nos jogos educativos: “... jogos e brinquedos (Métraux) dedicou um só parágrafo, quase todos graças a d’Evreux, acerca dos feitos pelos Tupinambás. “Tratava-se de ‘arcos e flexas proporcionais às suas forças’. O jogo, educativo para a caça, pesca e guerra, era possível porque reunidos plantavam, e juntavam cabaças, que serviam de alvo, ‘adextrando assim bem cedo seus braços’. Assim, brincavam os meninos de 7 a 8 anos. Kunumys-mirys. As meninas, na mesma faixa etária, Kugnantins-myris, além de ajudarem suas mães, faziam ‘uma espécie de redesinhas como costuma por brinquedo, e amassando o barro com que imitam as mais hábeis no fabrico de potes e panelas’. 74
CATHARINO, José Martins. TRABALHO ÍNDIO EM TERRAS DA VERA OU SANTA CRUZ E DO BRASIL – TENTATIVA DE RESGATE ERGONLÓGICO. Rio de Janeiro: Salamandra, 1995
Ao descrever as atividades da educação física no Brasil colonial, MARINHO (s.d.)75 afirma serem a "pesca, a natação, a canoagem e a corrida a pé processos indispensáveis para assegurar a sobrevivência de nossos índios". O “esporte nacional dos Tapuya”, que praticavam uma corrida a pé carregando peso, é registrado por dois historiadores franceses - Claude d´Abeville – “História da Missão dos padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas”, de 161476; e Ives d´Evreux – “Viagem ao Norte do Brasil feitas nos anos de 1613 a 1614”77, publicada em 1864. No Brasil holandês, se distinguiam a população indígena entre os ‘brasilianos’ ou ‘brasilienses’ e os ‘tapuias’. As relações entre os holandeses e os tapuias são tratadas abundantemente nas fontes neerlandesas, como é o caso das narrativas de Gerrit Gerbranstsz Hulck, publicada em 1635: “Breve descrição dos tapuias no Brasil”; e a narrativa de viagem de Rouloux Baro em seu contato com Janduí, o chefe tapuia do Rio Grande do Norte, aliado dos holandeses: “[...] Ao nascer do sol, o ancião ordenou às mulheres que fizessem farinha e aos homens que fossem à caça de ratos e voltassem logo após o meio-dia, a fim de correr a árvore. Obedeceram e entrementes dois tapuias trouxeram sobre suas espáduas dois troncos de árvores, de mais de vinte pés de comprimento. Tiraram-lhes a casca na chama do fogo e poliram a madeira toda em volta, sem deixar nenhum nó. E quando todo o povo regressou cada qual pintou o corpo em diversas cores. Isto feito, aqueles que tinham apanhado ratos soltaram-nos na planície, depois parte deles carregou prontamente aqueles troncos, correndo com uma velocidade inigualável atrás dos ratos. Quando um deles parecia cansado, outro o substituía sem retardar a corrida, que durou mais de uma hora. Depois de terminada, cada um que voltava contava como e de que modo perseguira, ferira e matara os ratos. O ancião Janduí correra com eles e Ra coisa maravilhosa ver um homem de mais de cem anos (segundo a opinião dos seus, de mais de 160) correr com tanta destreza.” (in “Relação da viagem de Rouloux Baro”, anexa a Pierre Moreau, História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses, Belo Horizonte, 1979, p.99, citado por MELLO, 2010, p. 269; grifos nosso)78.
A “Corrida das Toras” é absorvida pela Igreja Católica, e incorporada aos ritos religiosos dos padres jesuítas que chegaram ao final do século XVI. A exemplo da tradicional festa da Puxada do Mastro, em Olivança, e os mastros levantados em inúmeras festas religiosas, de hoje em dia. 79 Acreditam Dieckert & Mehringer (1989a, 1989b, 1994)80 ser "através da criação e da valorização cultural da corrida de toras... a base para a sua [dos Canelas] sobrevivência física e cultural" .
75
MARINHO, Inezil Penna. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL. São Paulo: Cia. Brasil Ed.(s.d.). ABBEVILLE, Claude d´. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975. 77 EVREUX, Ives d´. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL FEITAS NOS ANOS DE 1613 A 1614. São Paulo: Siciliano, 2002. 78 MELLO, Evaldo Cabral de (org.). O BRASIL HOLANDÊS (1630-1654). São Paulo: Penguin Classics, 2010. 79 PUXADA DO MASTRO AGITA OLIVENÇA. In CIA DA NOTÍCIA, disponível em http://www.ciadanoticia.com.br/v1/tag/derrubada-de-toras/, 08/01/2011, acessado em 23/01/2011 80 DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas (relatório de pesquisa provisório). ZEITGSCHIFT MUNCHER Beltrdzur Vulkerkunde, julho, 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. . A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE - V.15 - N.2 - 1994. 76
Como curiosidades longínquas, é ainda interessante observar os registros sobre corridas em que se levam sobre os ombros pedras, no Assam (Índia), e mesmo outros homens, no Havaí (Damm, 1970 [1960] 81, citado por VIANNA, 2001)82. A corrida de toras Na etnologia sul-americana, as corridas de toras são geralmente apontadas como traço característico dos Jê ou, no máximo - levando-se em conta testemunhos acerca de povos extintos ou que as teriam realizado no passado -, estendidas ao tronco lingüístico Macro-Jê (Melatti, 1976). Nos tempos correntes, praticam-nas os jês centrais Xavante e Xerente, os Panará e os grupos timbiras.(VIANNA, 2001) 83. Vianna (citando MARTÍNEZ-CROVETTO, 1968b)84, informa sobre práticas similares entre sub-grupos guaranis na Argentina e Paraguai.
Autor(a) Roberto Castro http://br.olhares.com/corrida_de_tora_foto261655.html
Obedecendo a seus ritos tradicionais de significados social, religioso e esportivo, ela está associada a algum rito e, conforme esses ritos variam os grupos de corredores, assim como o percurso e o tamanho das toras. Essas atividades são realizadas sempre com duas toras praticamente iguais. Os participantes se dividem em dois grupos de corredores “rivais”, cabendo apenas a um atleta de cada grupo carregar a tora, revezando-se em um mesmo percurso. As corridas se realizam no sentido de fora para dentro da aldeia, nunca de dentro para fora, ou mesmo dentro dela, quando estabelecem os pontos de largada e chegada no pátio de uma casa chamada woto, uma espécie de oca preparada para todas as atividades culturais, sociais e política. É sempre realizada ao amanhecer e ao entardecer. As corridas vindas de fora acontecem geralmente no final das tardes, quando os Krahô retornam de alguma atividade coletiva (caça ou roça). A corrida de tora é praticada nos rituais, festas e brincadeiras. Nesses casos, as toras podem representar símbolos mágicos81
DAMM, Hans. 1970 [1960] - "The so-called sport activities of primitive peoples". Em: (editado por Günther Lüschen) THE CROSS-CULTURAL ANALYSIS OF SPORT AND GAMES, Champaign (Illinois, EUA): Stipes Publishing Company, pp.: 52-65. 82 VIANNA, Fernando Fedola de Luiz Brito. A bola, os "brancos" e as toras: futebol para índios xavantes. Universidade de São Paulo Faculdade de filosofia, letras e ciências humanas, Departamento de antropologia. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL, sob orientação da Profa. Dra. Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo, dezembro/ 2001. Disponível em http://www.ludopedio.com.br/rc/upload/files/260016_Vianna%20(M)%20%20A%20bola,%20os%20brancos%20e%20as%20toras_futebol%20para%20indios%20xavantes.pdfM, São Luís, n. 36, março de 2011(pré-print). 83 VIANNA, 2001, obra citada. 84 MARTÍNEZ-CROVETTO, Raul. 1968b - "Juegos y deportes de los indios guaranies de Misiones". Em: ETNOBIOLOGICA, 6, marzo, pp.: 1-29.
religiosos, como durante o ritual do Porkahok, que simboliza o fim do luto pela morte de algum membro da comunidade. Pela manhã, a corrida ganha um sentido de ginásticas para a preparação do corpo. Corre-se apenas com as toras já usadas ao redor das casas, no sentido contrário do relógio. (FUNAI) 85. Observa-se que em diferentes culturas e diferentes épocas houve alguma forma de manifestação do movimento representado pela corrida (DICKERT & MEHRINGER, 1989a, 1989b, 1994; JUNG & BRUNS, 1984)86 e esta sempre teve, primeiro, um caráter de sobrevivência. Ritualizada, passa a fazer parte da cultura onde representam os valores e as normas sociais, o mesmo ocorrendo quando levadas para a esfera do lazer (lúdico). Os indios maranhenses, ao codificarem as corridas realizadas em suas aldeias - regras dos bisavós -, estão repetindo o que fizeram outras culturas. Se é aceita a codificação das regras de corridas pelos Gregos em seu período clássico como precursora das regras atuais do Atletismo (BRASIL, 1989 87; VAZ, 1991, 1996, 200188), também se deve aceitar a corrida entre os Canelas como a primeira manifestação desse esporte em terras maranhenses, pois quando as diversas nações européias modernas aqui chegaram por volta dos anos 1.500 já encontram diversas outras nações, sendo a mais antiga delas os Canelas. Retornemos ao texto de Renôr: 6. Pela sexta (feira) tarde me despedi deles [Guachinarés] e me fui recolher ao nosso arraial. (i.e.: acampamento). Consta o arraial dos novos Guaretis de cinquenta indios bons, todos mocetões (jovens); dobrados serão9 duzentas almas entre todos (os) meninos e mulheres. No dia seguinte, doze do dito mês de dezembro (ano de 1695) pela manhã tornei ao dito arraial e reparti a metade dos velórios que trazia com o ‘molherio’ (mulheril) e os Principais [...](p. 61) 7. Despedi-me deles e fui-me para o arraial (acampamento). Neste dia, pela vésdpera, vieram os Principais a pagar-me a visita. E estiveram comigo até a noite contando-me várias cousas de suas antiguidades e guerras. A treze do dito mês (desembro de m1685) foram todos à caça, assim os Caícaízes como Guaretis que trouzeram muito de anta, porcos-queixadas e caça miúda em quantidade. Neste dia aumenta (a) barafia (confusão) de comer e seus bailes. Aos quatorze do dito (mês) partrimos para a aldeia dos Caícaízes que dali nos fica tres quartos de léguas, todos incorporados; os machos levando às costas um trôço de pau de cinco palmos de roda e seis de comprimento levando-o numa carreira tomando-o uns das costas dos outros sem descansarem até chegarmos à aldeia donde achamos o Principal Ynáyá Merim. (p. 61-62)
85
FUNAI. JOGOS DOS POVOS INDÍGENAS. Disponível em http://www.funai.gov.br/indios/jogos/novas_modalidades.htm#005 DIECKERT, MEHRINGER, 1989, obra citada. DIECKERT, MEHRINGER, 1989b. obra citada. DIECKERT, MEHRINGER, 1994, obra citada. 87 BRASIL, CBAt. ATLETISMO - REGRAS OFICIAIS. Rio de Janeiro: Palestra, 1989. 88 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A história do atletismo maranhense. "O IMPARCIAL, 27 de maio de 1991, p. 9. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In SOUSA E SILVA, José Eduardo Fernandes de (org.). Esporte Com Identidade Cultural: Coletâneas. Brasília: INDESP, 1996, p. 106-111; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, v.4, n. 2, jul/dez 2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista. 86
NIMUENDAJÚ, Curt. A corrida de toras dos timbira. Mana v.7 n.2 Rio de Janeiro oct. 200189
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NIMUENDAJÚ, Curt. A corrida de toras dos timbira. MANA v.7 n.2 Rio de Janeiro oct. 2001
NO APAGAR DAS LUZES DE 2015, UM ADEUS INESPERADO: homenagem a Manoel de Jesus Sousa (1942-2015)
DILERCY ARAGÃO ADLER
Ao cair da última noite de 2015, febres, tremores, frios e dores trouxeram o manto da morte... e, aos poucos, Manoel de Jesus Sousa foi se despedindo da vida neste plano material para o outro que se nos apresenta misterioso, desconhecido e inspirador através das várias teses apresentadas pelas motivações e crenças de cada autor. E esta Igreja, a I Igreja Presbiteriana Independente de São Luís, onde seu corpo foi velado tem um significado marcante na vida da nossa família. A nossa mãe amava esta Igreja e nos levava a todos, todos os domingos pela manhã para a Escola Dominical e à noite, para o Culto. Eu mesma me batizei ainda criança, e me casei na “nossa” Igreja. Depois que crescemos nem todos os seus filhos continuaram a frequentá-la, mas, Manoel, no seu Adeus, nos reuniu aqui, hoje, na “nossa Igreja”, exatamente no dia do aniversário de 91 anos de nascimento de mamãe (1º de Janeiro). As primeiras lembranças que tenho de Manoel de Jesus datam da minha pré--adolescência quando frequentava a nossa casa nas suas visitas à querida e doce namorada Darcy. Ele, um rapaz moreno vistoso, de belos olhos verdes com os quais, com certeza, encantou Darcy. Casaram-se no dia 20 de março de 1965, numa cerimônia simples, porém muito bonita, na nossa casa, um sobrado na Rua da Cruz, no centro de São Luís. Da união nasceram três filhos: James, Christiane e Liana; oito netos: Jamile, James Jr., Kauê, Ike, Camila, Isabella, Hiago e Manuela, e quatro bisnetos: Levi, Benjamim, Maria Alice e Isadora. Quando Manoel entrou na nossa família e nós na dele, ele chamava a nossa atenção também por seu vigor e pela disposição ao trabalho. Era comerciário naquele tempo, mas alimentava sonhos de crescer profissionalmente como todo jovem cheio de ideais. Cursou a faculdade de Direito, em cuja profissão fez uma carreira notória, galgando o cargo de Procurador de Justiça para orgulho (no sentido de satisfação pela sua capacidade) de toda a sua família. Mas não era apenas no trabalho que Manoel se destacava. Mais do que o esposo ou pai, era o avô que ele personificava que me encantava. Um avô extremoso, amoroso, provedor. Além do trabalho, da família, um talento que lhe era próprio era o de intelectual. Era um dedicado membro da Academia Sambentuense de Letras (da cidade em que nasceu, São Bento), tornando-se assim também imortal através do mundo das Letras. E é pertinente enfatizar que colocava entre suas prioridades a frequência às reuniões da Academia, deslocando-se mensalmente de São Luís à cidade de São Bento com essa finalidade. Tenho certeza de que a mensagem que Manoel, de qualquer lugar onde ele esteja, assim como sua esposa, seus filhos e netos, em suma, toda a sua família vai querer ouvir são palavras impregnadas de confiança, de fé, de conforto e de amor e estas eu só poderia encontrar de forma singular na Bíblia Sagrada, em algumas passagens de alguns de seus Livros. A primeira diz respeito à Confiança em Deus, no Livro dos Salmos, Capítulo 3 Versículos 3-5: Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória e o que exalta a minha cabeça. Com a minha voz clamo ao Senhor, e Ele do seu santo monte me responde. Deito-me e pego no sono, acordo, porque o Senhor me sustenta.
E em Provérbios, Capítulo 3, Versículos 4 a 5 e 23 a 24: Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas
[...] Então andarás seguro no teu caminho, e não tropeçará o teu pé. Quando te deitares, não temerás; deitar-te-ás e o teu sono será suave.
Essas palavras, impregnadas de fé e confiança dão conforto, independentemente do plano em que estejam, tanto para aqueles que aqui estão quanto para aqueles que já empreenderam a sua viagem. Em ambas as situações, encontram-se seguros e por isso podem se sentir abrigados, protegidos. Já o amor, pela sua sublimidade, encontra ressonância nos Cantares de Salomão. Assim, para este contexto, escolhi uma fala da Esposa para o seu Amado extraído do Capítulo 6, Versículos 2 e 3: Esposa O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para pastorear nos jardins e para colher lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele pastoreia entre os lírios.
Palavras e cenário com que todo amante pode expressar livre e poeticamente o seu amor que vai além do tempo, de espaços e formas. Portanto, dedico aos dois essas palavras de Salomão. Todavia, gostaria de fechar esta homenagem, como amante das letras que sou, com uma poesia de minha lavra que traduz um pouco da minha compreensão acerca da morte. Que Deus abençoe Manoel de Jesus Sousa aonde quer que ele vá e onde quer que esteja, assim como a toda a sua família. Sua cunhada Dilercy Aragão Adler São Luís, 1º de Janeiro de 2016.
VELEJANDO Um dia eu vou dormir não vou sonhar contigo com nada que mais amo nem acordar vazio... um dia eu vou dormir e não ver mais a lua nem vou sentir a chuva ... cheiro de terra molhada... um dia eu vou dormir o sono – eterna noite – sem medo sem veneno sono sereno cheio de paz velejo! In: GENESES IV Livro, p. 36, 2000.
UM JORNALISTA DESPRETENSIOSO... E PIONEIRO EDMILSON SANCHES
Sebastião Negreiros, pioneiro do jornalismo imperatrizense, completa o centenário de nascimento em abril. O que Imperatriz fará? A história jornalística de Sebastião Negreiros e sua participação como cidadão na vida política e sociocomunitária de Imperatriz e região ainda está por ser objeto da pesquisa de estudantes de Comunicação Social, colegas da Imprensa, historiadores e pesquisadores em geral. Fui sucessor de Sebastião de Almeida Negreiros à frente da sucursal imperatrizense de "O Imparcial", da rede "Diários Associados", fundada por Assis Chateaubriand. Negreiros é verbete na "Enciclopédia de Imperatriz", que escrevi. Da sucursal conheci Dª Maria da Guia, a esforçada Odete (da área administrativa), Maria José e, se não me engano, a colunista social Teresinha Chaves além do Tasso Assunção que me auxiliava na condução da Associação de Imprensa da Região Tocantina, a AIRT, entidade que fundei em 26 de junho de 1986 para organizar a crescente categoria de jornalistas, radialistas e assessores de Imprensa (fui o primeiro primeiro presidente; não quis a reeleição e o Jurivê de Macedo foi eleito, em votação feita no auditório do Hotel Posseidon). Tenho boas relações de amizade com alguns dos filhos do Sebastião -- por exemplo, Dª Sinésia, o advogado Judas Thadeu e a Aurea Cristina Rocha Negreiros, hoje residente em São Luís. Também fui procurado, há poucos dias, pela primeira filha de Sebatião, Dª Semízia Negreiros, de São Luís. Sebastião de Almeida Negreiros é pai de nove filhos: do primeiro casamento, com Dª Neomízia, teve Semízia (o nome reúne a primeira sílaba do nome do pai com as duas últimas do nome materno), Sinésia (mora em Imperatriz), José Olímpio (Fortaleza - CE), Francisco José ("in memoriam", morreu após o parto em Fortaleza), Judas Thadeu Portela (bem sucedido advogado em Imperatriz), Maria de Fátima e Neomízia,
residentes em São Luís); e com Dª Maria da Guia teve o casal de filhos Áurea Cristina e Sebastião Júnior, ambos também residentes em São Luís. Quando pela segunda vez fui presidente da Academia Imperatrizense de Letras, coube-me o penoso dever de, em 2003, redigir a nota de falecimento do pioneiro jornalista (ocorrido em 17 de junho daquele ano), e, em 2004, declarar vaga a Cadeira nº 24, que tem como patrono Toshiaki Saito, até aquela altura ocupada por Sebastião de Almeida Negreiros. Entre tantas lutas e causas que defendia, em favor de Imperatriz e região, lembro-me de dos esforços de Sebastião Negreiros para criar o Instituto Histórico de Imperatriz. Convidou-me para integrar o quadro inicial de membros, o Instituto foi criado (tenho sua ata de fundação) e não me recordo do porquê de a entidade não ter ido adiante. Quem sabe, sua reativação possa se tornar um tributo à memória e ao desejo do velho homem de Imprensa. Neste ano e no próximo, o jornal "O Imparcial" e os Diários Associados, os filhos e familiares de Sebastião Negreiros, a cidade de Imperatriz e o curso de Comunicação Social da UFMA em Imperatriz têm pelo menos dois motivos (além de tantos outros) para homenagear a memória desse patriarca: 1º) porque em 2015 ele completaram-se 70 anos de seu início no Jornalismo, em Teresina (PI), em 1945, final da Segunda Guerra Mundial; e 2º) porque no próximo dia 21 de abril de 2016 completa-se o primeiro CENTENÁRIO de nascimento do grande Sebastião de Almeida Negreiros. Creio que a memória de Negreiros e sua prestação de serviços ao sul do Maranhão contentar-se-iam com alguns eventos do tipo: relançamento do livro "A História de um Jornalista Despretensioso"; lançamento de obra "post-mortem" com coletânea de parte da extensa produção jornalística de Negreiros; reencontro dos descendentes e outros com colegas jornalistas em Imperatriz; um encontro com a Imprensa e o curso de Comunicação Social da UFMA em Imperatriz, onde se trataria da história de vida e ofício e o pioneirismo de Sebastião Negreiros; uma página ou espaço gratulatório em jornal de Imperatriz etc. etc. O LIVRO - A única obra de Sebastião Negreiros foi lançada pela Ética Editora, do Adalberto Franklin, em 1996 -- mas desde 1994 estava pronta. Negreiros creditou a produção e/ou publicação de sua "História" à "insistência incentivadora" de sua esposa, Maria da Guia, e à "cobrança" que lhe fizeram alguns amigos, entre eles o ex-prefeito Renato Cortez Moreira e o advogado, escritor e ex-deputado estadual Sálvio Dino. Como membro da Academia Imperatrizense de Letras, o juiz, educador, escritor, ex-prefeito de Imperatriz e ex-governador do Maranhão José de Ribamar Fiquene ("in memoriam") assinou o prefácio da obra. "A História de um Jornalista Despretensioso" tem 202 páginas, das quais 103 são dedicadas ao relato de Negreiros, ilustrado por 27 raras fotografias em preto & branco e alguns textos jornalísticos que ele escreveu, e ainda uma matéria sobre ele e uma historinha de autor desconhecido que ele reproduziu. Nas demais páginas, três textos sobre Imperatriz e, como anexo, um alentado trabalho de 28 páginas sobre aspectos econômicos e sociais de Imperatriz, de autoria do historiador doutor João Renôr de Carvalho (membro da Academia Imperatrizense de Letras e à época professor da Universidade do Amazonas). O livro se encerra com a reprodução de 49 artigos que Sebastião Negreiros publicou em "O Progresso", jornal de Imperatriz. A capa do livro traz uma fotografia de Brawny Meireles com Negreiros, no estúdio do fotógrafo. Na quarta capa (os "fundos") do livro, Negreiros colocou em moldura um texto -- "Aos estudantes de Comunicação" --, onde a "arte de escrever" é o assunto. Santo Sebastião!.... Abaixo, a nota de pesar que escrevi em 2003, quando presidente da Academia Imperatrizense de Letras, pelo falecimento de Sebastião de Almeida Negreiros. Após a nota, um pequeno texto biográfico que está na "Enciclopédia de Imperatriz", obra que traz também, na parte intitulada "Para Conhecer Mais e Melhor Imperatriz", um destaque ao livro de Sebastião Negreiros. *** ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS Nota A Academia Imperatrizense de Letras comunica o falecimento, na terça-feira, 17 [de junho de 2003], em São Luís (MA), do jornalista e escritor Sebastião de Almeida Negreiros, pioneiro do jornalismo diário de
Imperatriz. Sebastião Negreiros, nascido em Pau dos Ferros (RN), tinha 86 anos e foi vítima de parada cardíaca. Era membro desta Academia, escreveu o livro autobiográfico “A História de um Jornalista Despretensioso” (1996) e fundou o Instituto Histórico de Imperatriz. Ao tempo em que lamenta, junto com a comunidade imperatrizense, a morte de Sebastião Negreiros, a Academia manifesta sua honra por ter tido em seu quadro de membros o operoso homem das letras e da notícia. A Academia renova, nesta oportunidade, os votos de pesar e apresenta aos filhos e demais familiares de Sebastião Negreiros o desejo de todos os acadêmicos para que a energia da espiritualidade e da paz os reconforte a todos nestes momentos de perda, dor e saudade. Edmilson Sanches Presidente
ENCICLOPÉDIA DE IMPERATRIZ (2003) - SEBASTIÃO DE ALMEIDA NEGREIROS - Jornalista e escritor. Trabalhou na lavoura até os 15 anos, reservando duas horas por dia para frequentar a escola do professor Luís Amâncio, em sua cidade natal, São Miguel de Pau dos Ferros (RN). Aos 15 anos, mudou-se para o povoado Alagoinha, fronteira com o estado da Paraíba, onde se empregou em uma loja de tecidos. Depois de três anos, mudou-se para Fortaleza (CE), seguindo para Teresina (PI) e para o Maranhão. [...] Publicou "A História de um Jornalista Despretensioso", onde relata diversos aspectos da história recente de Imperatriz. [...]"
A PROVA DE OBSTETRÍCIA. AYMORÉ ALVIM AMM, ALL, IHGM, APLAC. . O ano foi 1965. Estávamos no 5º ano da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Maranhão. Nossa turma era pequena. Éramos apenas vinte e um alunos. Um deles era Rodrigo de Sousa Pinto, o Rodrigão, que sempre se apresentava como “Rodrigorum vostrorum amigorum”. Gente muito fina, boa praça, bom papo, sempre alegre e bonachão. Não tinha a virtude dos bons alunos, mas não era relaxado. Estudávamos em grupo e Rodrigão sempre estudava bastante. Com algumas dificuldades, ia passando de ano. Era expert em provas de segunda época. Tirava de letra. Nas provas finais daquele ano, algo inusitado ocorreu com Rodrigão, na de Obstetrícia. A prova era prático-oral. Local: Maternidade Benedito Leite. Na vez de Rodrigão... - Seu Rodrigo, perguntou-lhe o professor, de quanto você está precisando para nos deixar em paz? - Que é isso, mestre, eu gosto muito de suas aulas. Mas como o senhor está perguntando, 6 (seis) já me é suficiente. - E você estudou bastante? - Como soe acontecer, meu mestre, não desgrudei a vista do “Resende” (livro de Obstetrícia) à noite toda. Tô com tudo, na ponta da língua. - Então, vamos lá. - Pra onde, mestre? - Pra parte alguma. O sr. quer brincar comigo, seu Rodrigo? - De que, mestre? - Seu Rodrigo, não me tire do sério, seu Rodrigo. - Mas de jeito algum, meu caro professor. - Ah! Bem. Vamos ver se estudou mesmo como diz. Diga-me o que é aborto. - Ah!, professor, nem me fale. É algo horrível, penoso. Eu mesmo nunca vi um, mas imagino a dor que a mulher deve sentir. E a criancinha, o senhor já imaginou? Nelson Parada, Israel e Weber não paravam de rir. - Seu Rodrigo, não me faça perder a paciência com o senhor. - Que é isso, professor, se o senhor acha que não doi, eu retiro tudo que eu disse. Vamos esquecer essas particularidades. O professor levou, então, Rodrigão para o leito de uma senhora que estava em trabalho de parto. - Diga-me, quantos meses faz que esta mulher ficou grávida. - Professor, eu não gosto de me meter na vida particular de ninguém. Isso é segredo dela com o marido. Mas se o senhor faz mesmo questão de saber, pergunte pra ela. Não me meta nisso, professor. - Ah!, seu Rodrigo, o senhor é um caso perdido. Vamos à última pergunta. Vou fazê-la de outra maneira. É dez ou zero. - Quanto tempo tem a gestante? - Qual delas, mestre? A mulher estava morta de rir. - Essa senhora aí na sua frente.
- Bem, vejamos. Rodrigão olhou por uns tempos para a mulher, ficou pensando alguns segundos e disparou.... - Meu caro professor, após examiná-la, minuciosamente, cheguei à conclusão de que ela deve está beirando a casa dos 40 anos. Acertei? - É zero, seu Rodrigo. - Mas, professor, onde foi que errei? - Seu Rodrigo, eu lhe perguntei qual o tempo de gestação desta senhora. - Ah!, professor, se o senhor tivesse me perguntado o tempo de evolução fetal, eu lhe diria que ela estava na 36ª semana, completando, portanto, os 9 meses, por isso estava entrando em trabalho de parto. - Pois taí, seu Rodrigo, você é um gênio. Sua nota é 7. - Só, professor, mas já dá pra passar. Bem que o senhor reconheceu meus dotes. A risada foi geral. Rodrigão, após as outras provas, foi concluir o sexto ano que correspondia ao estágio, no Rio de Janeiro. Nunca mais o vi, mas também nunca mais esqueci da prova de Obstetrícia de “Rodrigorum vostrorum amigorum”, o Rodrigão
MARIA FIRMINA DOS REIS: pequeno recorte de uma grande e gloriosa vida de mulher DILERCY ADLER Maria Firmina dos Reis nasceu em 1825, em São Luís, Maranhão. Seu pai, João Pedro Esteves, era negro, e sua mãe, Leonor Felipe dos Reis, branca, de origem portuguesa. Por parte de mãe, é prima do escritor maranhense Sotero dos Reis e viveu com uma tia materna cuja situação financeira era relativamente boa. Desde muito jovem, aos 22 anos, Maria Firmina dedicou-se ao magistério, uma das poucas atividades trabalhistas designadas às mulheres de sua época. Após ser aprovada em um concurso público (1847), passou a lecionar como professora de primeiras letras na cidade de Guimarães - MA, tornando-se a primeira Mestra Régia desse município. Um episódio que demonstra sua sensibilidade e consciência política diz respeito ao dia em que foi receber o título de nomeação para exercer o cargo de professora. Seus familiares queriam que fosse de palanquim (espécie de liteira em que as pessoas mais ricas se faziam transportar, conduzidas por escravos) e ela recusou-se irrevogavelmente explicando: Negro não é animal para se andar montado nele. De forma inteligente e verdadeiramente cristã afirmava que a escravidão contradizia os princípios do cristianismo, que ensinava o homem a amar o próximo como a si mesmo. Não podemos duvidar que Maria Firmina foi e continua sendo considerada uma mulher, a exemplo de algumas outras, à frente do seu tempo, uma irrefutável visionária que ousou contribuir para a desconstrução da ideologia etnocêntrica e masculina vigente na sociedade da época por ela vivida. Outro realce necessário nessa empreitada é reconhecer a importante contribuição das artes, entre elas, a literatura, como instrumento de construção do conhecimento na ciência, no mundo social e político. No caso de Maria Firmina, as barreiras a serem transpostas eram recrudescidas, pois, enquanto os homens brancos e ricos iam para a Europa estudar nas melhores faculdades, até meados do século XIX, poucas eram as mulheres educadas formalmente. A educação para mulheres, ainda de forma precária, foi iniciada no período imperial, com a chegada da família real ao Brasil. Ainda assim, Maria Firmina provou que a busca pelo conhecimento não tem fronteiras físicas e deu ao mundo um romance pleno de denúncias, prova da sua rejeição às injustiças arraigadas na sociedade patriarcal e machista que tinha no escravo e na mulher suas principais vítimas. Vale salientar que a imprensa foi um importante veículo nesse processo; produções femininas começaram a ser publicadas na forma de artigos, crônicas e poesias, com o objetivo de contribuir para a superação da supremacia do pensamento preconceituoso dominante, ao qual eram submetidas. A ousadia da época pululava em temas revolucionários, abordando e defendendo direitos como o divórcio e também a abolição da escravidão. Neste último caso, libertando parte da população brasileira que ainda era considerada instrumento de trabalho, privada, portanto, da sua cidadania e de sua humanidade. Nesse contexto, seu romance Úrsula (1859), escrito quando tinha 34 anos, ganha relevância, uma vez que o enredo, além de incluir temas polêmicos que tratam de questões de gênero e etnia, delicados para a época, intencionava, também, propagar a produção literária feminina. O romance Úrsula, uma de suas obras mais marcantes, faz com que diversos historiadores atribuam à autora não apenas o título de a primeira romancista abolicionista brasileira, mas também como a escritora que publicou o primeiro romance da literatura afro-brasileira. Paralelamente às atividades de professora, Maria Firmina tinha participação constante na imprensa local, publicando diversas poesias, crônicas, contos e charadas. Segundo Morais Filho, a entrada oficial de Maria Firmina dos Reis na Literatura maranhense foi bem recepcionada pela imprensa maranhense com palavras de entusiasmo e estímulo à estreante.
[...] rompendo a cadeia dos preconceitos sociais que segregavam a mulher da vida intelectual, vinha contribuir com suas forças, seus sonhos e ideais para a criação da Literatura maranhense, para a presença maranhense na formação da Literatura Brasileira - ainda em nossos dias o embrião de uma vida em laboriosa gestação (MORAIS FILHO, 1975, p. 3).
Entretanto, ainda conforme esse autor, Maria Firmina foi vítima posteriormente de uma amnésia coletiva, ficando totalmente esquecidos o seu nome e a sua obra, aproximadamente durante um século, mas, como a Fênix, ressurgiu também das cinzas. É conveniente enfatizar ainda o registro de Morais Filho (1975), no que diz respeito a duas individualidades femininas: Maria Firmina dos Reis e D. Ana Jansen, que deram outras dimensões à mulher maranhense e acerca das quais ele traça um paralelo interessante e pertinente: Com elas a Mulher maranhense deixa de ser apenas a “Senhora Prendada” dos salões, que a escola educou, não para a vida, e sim para o casamento [...] Donana Jansen deu-lhe Personalidade Política e Maria Firmina dos Reis deu-lhe Personalidade Literária (grifo meu).
Isso porque, segundo esse escritor, enquanto Donana Jansen era senhora de um Império Econômico, que tinha São Luís como capital, Maria Firmina dos Reis era senhora de um Reino Encantado, que tinha por sede Guimarães. E mais, aliada à individualidade de Maria Firmina dos Reis, além da denominação honorífica de Primeira Personalidade Literária Feminina do Maranhão, configurava uma Personalidade Educacional, por ela ter sido a primeira Mestra Régia em Guimarães e por ter criado a primeira escola mista também em Guimarães. Atrevo-me, porém, a acrescentar a essas Personalidades a ela atribuídas a Personalidade Política, por toda a sua postura revolucionária, visionária e humanizada, tanto na sua literatura como na sua prática educacional, e ainda nas questões cotidianas, a exemplo da recusa de ser carregada por escravos, uma prática das pessoas de prestígio, a qual ela refutou concretamente na sua história de luta, contribuindo para a desconstrução dos preconceitos e apartheids (no sentido africano, de vidas separadas) vigentes na sociedade do seu tempo, embora muitos deles perdurem nos dias atuais, em outras formas e linguagens. No meu entender, a sua Personalidade Política, retratada no seu inquestionável engajamento político, é o sustentáculo da sua obra literária e da sua vida. Essa certeza me encanta através da clara visão dos seus atos e palavras passando por todas as questões que limitam a felicidade do ser humano em seu coletivo. Quanto à Donana Jansen, é importante mencionar que, além de senhora de um Império Econômico, também é considerada uma grande incentivadora da cultura, pois os conhecidos saraus por ela realizados materializavam veículos de difusão da cultura. Talvez um dos atos mais significativos dessas mulheres tenha sido tirar a mulher do silêncio a ela imposto por séculos. No caso de Maria Firmina, esta, gritando a sua palavra, a palavra da mulher, somandoa à dos homens, possibilitou o nascimento da palavra feminina. Palavra é criação! A exemplo do que é expresso em João 1:1: No princípio era o verbo, [...], cujo versículo tomo emprestado: NO PRINCÍPIO ERA O VERBO O verbo é o princípio de tudo “no princípio era o verbo” o verbo no mundo o verbo nos muda o verbo deixa-nos mudos! é o verbo o princípio de tudo no princípio era o verbo!...
In: GENESIS IV LIVRO, ADLER, 2000.
Segundo os biógrafos de Maria Firmina, ela Teve em vida o privilégio de presenciar a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. Inclusive a Abolição inspirou Maria Firmina, com a sensibilidade que lhe era peculiar, a compor o HINO DA LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS (letra e música), em 1888. Apesar de toda a sua luta por uma sociedade mais justa e igualitária, Maria Firmina faleceu pobre e cega, no dia 11 de novembro de 1917, aos 92 anos, e sem chegar a ver sua principal obra reconhecida. Segundo Nascimento de Morais Filho, aos 80 anos retratava o quadro da velhinha negra de cabelos grisalhos, amarrados atrás da nuca, vestida de roupas escuras e sandálias. Imagino a cena... E vejo-a com o peso dos anos somado à dor de um tempo cruel, a exemplo de outros tantos, que rouba partículas essenciais de vida, sugando de forma perversa e incessante o que de mais belo um ser humano pode ter. Hoje, dentre os esforços para reparar as lacunas dos registros existentes e buscar fortalecer o reconhecimento, à Maria Firmina, os membros fundadores da Academia Ludovicense de Letras –ALL deram o seu nome à Casa que os abriga. E neste mês de março, no qual todas as mulheres são homenageadas, o nome de Maria Firmina dos Reis, deve ser lembrado juntamente com todas as representantes das filhas de Eva, habitante do panteão da Mulher, que abriga todas as mulheres da História da humanidade, as deusas, as humanas [...], as reveladas ou as invisíveis [...], que ousaram e ousam ainda quebrar os paradigmas opressores do seu tempo, e destemidamente fizeram da fragilidade feminina a sua força, o seu escudo, a sua lança nos embates indispensáveis da vida, sem esquecer o amor e o erotismo, forças geratrizes de vida e de criação (ADLER, 2011 p.3). E, oportunamente, lhe dedico este acróstico como mais uma singela homenagem. ACRÓSTICO MARIA FIRMINA M aria Firmina A mou a humanidade R esgatou o sentido da vida e da liberdade I ncansável e A morosamente em cantos versos e gestos de solidariedade! F oi fiel aos verdadeiros princípios cristãos I ndignou-se contra a vil e ignóbil escravidão R evolucionou os costumes da sua época M ansa e tenazmente I mpôs-se heroicamente numa luta desigual N o limbo - sob o tapete hibernou mais de um século- injustiçada A gora – hoje- te damos esta casa para seres por nós e muitos outros sempre sempre lembrada!!!!
(ADLER, junho de 2014) REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO À PATRONAMARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense; hoje, uma missão de amor! São Luís: Academia Ludovicense Letras, 2014. ________. GENESIS IV LIVRO, São Luís: Estação Gráfica, 2000. MORAIS José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975. NASCIMENTO, Camila Maria Silva. DILERCY ADLER: a tecelã de Eros nos trópicos maranhenses. São Luís: Estação Gráfica, 2011.
DISCURSO DO VEREADOR OSVALDO GOMES NA SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AOS 258 ANOS DE FUNDAÇÃO DE GUIMARÃES REALIZADA EM 19 DE JANEIRO DE 2016. Comemoramos hoje (19 de janeiro) 258 anos de fundação de Guimarães, a quinta mais velha do Estado do Maranhão. Para nós vimarense é um orgulho sermos filhos de uma terra mágica e encantada, que nos prende por ser acolhedora, pacata e bela. Com uma rica história cultural. Nós te saudamos, Guimarães, Cidade mãe de muitas outras cidades, princesa do litoral norte maranhense, outrora terra prospera dos engenhos de açúcar, das plantações de algodão ou simplesmente conhecida como a terra do camarão. Foste uma aldeia, acolheste os irmãos africanos e os portugueses, a porta de entrada para o Pará e o ponto de partida através do mar para a conquista de muitos sonhos. Neste teu dia quero saudar a todos e em especial a cada um vimarense, homem e mulher que constroem esta cidade e a cada minuto continua a escrever a sua história; Saudar a José Bruno de Barros, herdeiro da fazenda Guarapiranga que doou este pedaço de chão à Coroa Portuguesa; Saudar ao Capitão Gonçalo Pereira Lobato e Sousa, Governador do Maranhão, que instalou no dia 19 de Janeiro de 1758 a “ Villa de Guimaraenz” mais tarde denominada “ Villa de São José de Guimarenz do Cumam”; Saudar Sousândrade, poeta Maria Firmina dos Reis, mulher audaciosa, primeira romancista brasileira; Saudar Monsenhor Estrela, grande orador sacro, João Pedro Dias Vieira, ministro do império; Saudar a Urbano Santos, politico, governador da Providencia, vice-presidente da Republica. O tempo é curto e não posso saudar a todos e todas que fizeram e os que ainda fazem a História de Guimarães. São muitos e muitos e isto nos orgulha. Não poderia deixar esquecidas aqui as nossas conquistas alcançadas, o batuque do tambor de crioula, o som das zabumbas que nos orgulha de sermos os pioneiros, das nossas lendas (quem nunca ouviu falar do homem que sentava no telhado do sobrado? Da folhinha percorrendo as ruas durante as noites? Da mãe d’agua?) Não podemos perder o que ainda resta do nosso patrimônio histórico cultural. A cada dia estamos perdendo um pouco, a essência indo embora. Quero abraçar a cada um novo cidadão e cidadã vimarense. Parabéns pela homenagem,sei que cada coração pulsa mais forte neste momento de emoção. Quero agradecer em Especial a professora Aurea Prazeres, Secretária de Estado da Educação, que tem em suas mãos uma grande missão de mudar o cenário educacional do Maranhão, e que a Senhora olhe com um olhar especial para Guimarães, que foi um grande centro educacional deixado aqui pela Missão Canadense. Aqui foi plantada uma semente, que cresceu e frutificou. Olhe com carinho pelo CEC, este prédio construído pelo povo não pode ficar de portas fechadas. Vamos abri-la. Quero brindar com todos vocês estes 258 anos da nossa cidade, pois somos teus filhos Guimarães!!! crescemos em suas ruas, aprendemos a liberdade, aprendemos a ama-la. Guimarães, minha pátria Bemamada!!!
A PONTA D’AREIA E A PONTE. HAMILTON RAPOSO Houve um tempo em o que veículo ou meio de transporte mais rápido e eficaz ligando o centro histórico de São Luís à Ponta d’ Areia era a lancha de Chocolate. Não se falava em mobilidade urbana, VLT, sistema de transporte, greve de motoristas, aumento da tarifa, Termo de Ajustamento de Conduta ou Canidé Barros, o que realmente nos preocupava era as oscilações das marés, maré cheia ou maré baixa, esta era a única condição de interesse e importância para o trajeto. A lancha de Chocolate sempre estava à disposição e sempre comportava mais um. Não me lembro de nenhum acidente na travessia, e se houvesse, todos estariam salvos, não pela existência de coletes salva vidas, naquela época nem existia este acessório de segurança, o que existia era Felipe Camarão, pai dos amigos Phil, John e Baby, que costumava atravessar diariamente a nado o trecho da Avenida Beira Mar / Ponta d’ Areia e salvaria qualquer um em caso de acidente. A Ponta d Areia aos nossos olhos era uma praia paradisíaca e quase que inacessível. A quantidade de pés de muricis e de bombons do mato dividia a beleza do lugar com a imponente e minúscula capela da Ponta d’Areia e que ainda resiste ao tempo e aos condomínios. A construção da Ponte do São Francisco tirou um pouco do romantismo da travessia, transformou a Ponta d’Areia em “península”, modificou o São Francisco e trouxe uma novidade para os boêmios, estudantes, solteiros e notívagos, a Peixaria Carajás, que servia uma suculenta e gordurosa peixada, ornamentada com um ovo cozido em cada prato, refeição que curava ressaca e recuperava qualquer gasto energético noturno. A ponte reduziu a distância, o risco e a sensação de aventura da travessia. A urbanização acabou com pés os muricis e de bombons do mato. A praia estava acessível. Os bares tomaram conta da praia e tinha um que reunia uma turma que jogava futebol e vôlei, e desta turma vale lembrar de Sérgio Cão, Ribinha e André que já estão no céu e de outros como Riba Simões, Danilo Brito Passos, Clineu, Afonsinho, Nélio Tavares, Tininho, Catel, Reges Sales, Chicó e muitos outros que continuam fazendo festa em outros lugares.
EUCLIDES DA CUNHA: LITERATURA, HISTÓRIA, JORNALISMO E CIÊNCIA TECENDO OS SERTÕES – LEMBRANDO OS 150 ANOS DE UM GRANDE ESCRITOR BRASILEIRO DINACY CORRÊA90 Livro posto entre a literatura e a sociologia naturalista, Os Sertões assinalam um fim e um começo: o fim do imperialismo literário, o começo da análise científica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade brasileira (no caso as contradições contidas na diferença de cultura entre as regiões litorâneas e o interior). [...]. O poderoso ímã da literatura interferia com a tendência sociológica, dando origem àquele gênero misto de ensaio, construído na confluência da história com a economia, a filosofia ou a arte, que é uma forma bem brasileira de investigação e descoberta do Brasil, e à qual devemos a pouco literária história da literatura brasileira, de Sílvio Romero, Os Sertões, de Euclides da Cunha. Populações do Brasil, de Oliveira Viana, a obra de Gilberto Freire e as Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda. Não será exagerado afirmar que esta linha de ensaio – em que se combinam com felicidade maior ou menor a imaginação e a observação, a ciência e a arte – constitui o traço mais característico e original do nosso pensamento. Notemos que, esboçada no século XIX, ela se desenvolve principalmente no atual (séc. XX), onde funciona como elemento de ligação entre a pesquisa puramente científica e a criação literária, dando, graças ao seu caráter sincrético, uma certa unidade ao panorama da nossa cultura. (Antônio Cândido) RESUMO BIOGRÁFICO DO AUTOR Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha (Cantagalo-RJ, 20 de janeiro de 1866-15/de agosto de 1909). Filho de Manuel Rodrigues da Cunha Pimenta e Eudósia Alves Moreira da Cunha. Órfão de mãe aos três anos é criado por familiares (tios e avós). Na infância e na adolescência, vem a residir em algumas cidades interioranas, fixando-se, em definitivo, no Rio de Janeiro, onde dá início aos estudos em engenharia em (1885 – tendo que abandonar o curso por falta de condições) e se torna um dos fundadores do Jornal O Democrata, no qual publicou artigos e poemas. Em 1886, ingressa na Escola Militar (ensino gratuito). Em 1888, como um dos manifestantes, em protesto contra a repressão das ideias republicanas, entra em atrito com do ministro da Guerra (ao lança-lhe aos pés seu espadim de cadete), vindo a ser, em consequência, expulso da escola – na qual é readmitido, no ano seguinte, com a proclamação da República. Como militar, chega a tenente, mas deixa as Forças Armadas do Exército Brasileiro em 1896, por razões políticas, mudando-se, então, para São Paulo – onde reinicia o curso de engenharia e passa a escrever no Jornal A Província de S. Paulo (hoje, O Estado de S. Paulo). Como jornalista correspondente, acompanha, no sertão baiano, o movimento chefiado pelo beato Antônio Conselheiro, no Arraial do Belo Monte, em Canudos. O trabalho resultante, publicado no jornal, dá origem ao romance Os Sertões (1902) – um clássico da literatura nacional e latino-americana, com o qual o jornalista, ganha reconhecimento nacional, como escritor e entra para o Instituto Histórico e Geográfico e para Academia Brasileira de Letras (eleito em 21 de setembro de 1903, ocupando cadeira nº 7 da ABL). O ano de 1909 (15 de agosto) marca o seu falecimento no Rio de Janeiro, aos 43 anos de idade, numa troca de tiros com o amante de sua esposa Ana Sólon Ribeiro – tragédia que comove o público fluminense e carioca da época. Obras do autor: Os Sertões (1902); Contrastes e Confrontos (1906); Peru Versus Bolívia (1907); Castro Alves e o Seu Tempo (1908); À Margem da História (1909).
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- Professora Estadual – SEDUC e UEMA – Mestre e Doutora em Letras-UFRJ.
DOS SERTÕES – breves comentários críticos/analíticos Eclético, versátil, plurivalente, SUR-PRE-EN-DEN-TE!! – em suas abordagens várias, incursionando pela história, a geografia, o jornalismo, a sociologia, a antropologia, a etnologia, a crítica humana... Transitando, simultaneamente, pelos domínios do discurso científico e sociológico, Os Sertões de Euclides da Cunha (e na esfera sui generis da linguagem literária), conjuga arte e ciência, que se interpenetram na composição de uma epopéia/(tragédia) sertaneja, a refletir a luta constante do homem com o meio ambiente e no inexorável confronto com as forças militares/governamentais. Euclides percebia, de forma dramática, o conflito entre a natureza e a história, e tomou os sertões como cenário, cuja vegetação, com galhos secos e retorcidos, permitiria antever o martírio dos sertanejos. Recriou, pelo ritmo binário e pela sintaxe labiríntica, as oscilações climáticas da caatinga e as formas conturbadas de suas plantas e habitantes. (VENTURA, 2002, p.24).
É José Veríssimo quem primeiro reconhece, na obra em referência as interfaces da literatura, da história e da ciência é José Veríssimo (Correio da Manhã: RJ, 03.12.1902), também o primeiro a elogiar, do seu autor, as qualidades de poeta, romancista e artista – ainda que criticando-lhe o que considerou exagero dos termos técnicos, bem como os neologismos, as frases rebuscadas, o estilo artificial. Pelo que Euclides, por sua vez, agradecendo ao crítico literário (em carta da mesma data – Lorena/SP), defende o emprego do vocabulário técnico e a aliança entre a ciência e a arte (“tendência mais elevada do pensamento”), argumentando que “a expressão artística exige a notação científica” e postulando a criação de uma “tecnografia própria”, apta a integrar as diferentes áreas do saber. Para Euclides da Cunha, “o escritor do futuro será forçosamente um polígrafo”. A propósito... O que temos em Os Sertões é uma obra polifônica, isto é, vários gêneros dialogam, incluindo-se o jornalismo, a poesia, a narrativa ficcional, múltiplas vozes se confrontam: a da cultura costeira e urbana, a das filosofias do século XIX, a dos militares e políticos, a da Igreja, etc. Existe no livro uma espécie de convivência interdisciplinar e multidiscursiva. Noutros termos, várias áreas do conhecimento cruzam o livro, assim como diferentes tipos de discursos (CITELLI, 1996, p. 90).
Contextualizando-se ao período convencionado Pré-modernista da Literatura Brasileira, Os Sertões é obra decorrente de uma série de artigos jornalísticos retrabalhados, versando sobre a Guerra de Canudos (para onde Euclides da Cunha fora enviado como repórter), vindo a ser concluído em 1897, em São José do Rio Pardo (onde o autor fixara residência entre 1898 e 1901, como engenheiro, na missão de reconstruir uma ponte sobre o rio que atravessa aquela cidade interiorana de São Paulo). Ao longo do enredo narrativo, se vai revelando, às vezes com crueza e pessimismo, o quadro organizacional de uma sociedade brasileira dividida, social e geograficamente, em dois grandes contingentes: o povo do litoral e o do interior (o sertanejo). O litorâneo, imbuído de um nacionalismo exacerbado, alheio à realidade do Outro, a investir, brutal e desumanamente, contra a sociedade mestiça (o nordestino interiorano), culminando num genocídio abominável. Eis o grande tema abordado n’Os Sertões, ou seja: o trágico desfecho da história de Canudos, “inexplicável e sanguinolenta guerra civil, no fundo dos sertões ignotos da Bahia”, contra os considerados fanáticos de Antonio Conselheiro, temidos pelas populações circunvizinhas. E num competente e admirável estudo da terra (o meio geográfico), do homem (o mestiço do nordeste), em sua heróica luta contra as intempéries daquele deserto inusitado. E tudo com uma admirável sapiência e positiva lucidez, espírito crítico, implicações científicas, imparcialidade ante os fatos e, ao mesmo tempo, tamanha exaltação na defesa dos direitos das vítimas e na condenação dos responsáveis por aquela tragédia nacional, em uma linguagem de força artística tão original e superior, que dariam a Os Sertões o título de Bíblia da Nacionalidade, como obra-prima da épica em prosa, na língua portuguesa, em todos os tempos (BRANDÃO, 2005, pp. 14 e 15).
Publicado em 1902, em seu arcabouço ideológico, a obra recebeu (e possivelmente por força de Benjamin Constant – ex-professor de Euclides, no Colégio Aquino, reencontrado em 1886, na Escola Militar de Praia Vermelha, RJ) influxos de correntes filosóficas e científicas, tais como: Determinismo (Taine); Evolucionismo (Spencer); Darwinismo racial (Charles Darwin); Positivismo (Comte e Littré); a visão do herói, segundo a qual a história é feita sob a ação dos grandeshomens (Thomas Carlyle). Ressalte-se ainda, nesse contexto, a importância da Matemática (instrumento poderoso, no estudo dos fenômenos naturais, na concepção de Auguste Comte), matéria predileta do nosso escritor; dos raciocínios demonstrativos; da crença na capacidade transformadora, motivada pelo progresso técnico-científico; e ainda a adesão total e irrestrita deste às lutas abolicionistas e antimonárquicas, aos princípios liberais e democráticos – que, na maneira pessoal e artística com que se imiscuem na obra, referencializam as orientações e ações iniciais do seu autor, garantindo-lhe atualidade. Com o passar dos anos e o advir da maturação do pensamento cognitivo, porém, o jornalista/ensaísta/engenheiro/escritor se vai libertando de algumas dessas crenças que enformam o perfil ideológico do seu livro-revelação (chegando mesmo a criticar alguns dos seus representantes, como Auguste Comte). Paralelamente, começa a acessar novos pensadores, como: Ernest March, Durkein, Karl Marx (num cânone doutrinário eclético, implicando as variações do Positivismo e do Socialismo revolucionário). O motivo gerador da obra magna desse letrado fluminense de Cantagalo – a Guerra de Canudos – circunscreve-se num fato trivial, de somenos importância, não fora a grande repercussão e as trágicas consequências que vem a acarretar. Pode-se considerar, pois, com Carneiro Filho (2012, p. 89) que, literariamente, esse nosso autor em foco, ora sesquicentenário, nasceu em 1902, ano em que a Editora Laemert lançou, no Rio de Janeiro, a primeira edição de Os Sertões, obra que inaugura na Literatura Brasileira um novo estilo narrativo, cuja ficção tem base visceral na realidade histórica. Portanto, a obra literária de Euclides da Cunha assinala um momento de ruptura com a tradição, quando constrói um texto, cujo realismo nasce da própria reportagem jornalística, registro que documenta o extermínio ou genocídio de quase 20 mil habitantes de Canudos ou Bela Vista, na Bahia, em 1897, massacre hediondo que, sob a capa de proteger a República, acabou satisfazendo interesses escusos de latifundiários, religiosos, políticos e militares.
Reiterando, recordemos, mais detalhadamente o fato histórico que gerou Os Sertões. Vejamos: em vias de concluir uma igreja, Antônio Conselheiro manda comprar (1896/Juazeiro-Ba.), pagando adiantado, um carregamento de madeiras. Prazo vencido, não tendo chegado a encomenda, o beato manda dizer que irá buscá-la, pessoalmente. O juiz de Direito local (Dr. Arlindo Leone, antigo desafeto do líder canudense), interpreta o recado como “um desafio à lei e uma ameaça de invasão a Juazeiro”. Assim, antecipando-se aos fatos, pede reforço militar de Salvador. Ao chegar a primeira expedição, com os 107 soldados, sob o comando do tenente Pires Ferreira, a ordem é para atacar Antonio Conselheiro (não para defender Juazeiro, que sequer fora molestada). Despreparados, entretanto, os “atacantes” não resistem às agruras do imenso sertão adverso, em período de seca e, impotentes, batem em retirada. É o estopim da Guerra de Canudos. E vem uma segunda expedição que, comandada pelo major Febrônio de Brito, reunindo 560 soldados, duas metralhadoras Nordenfeldt e dois canhões Krupp, marcha para “Belo Monte”, no início de Janeiro de 1897, na intenção de, rápido, destruir o local e dispersar os “conselheiristas”. Novamente derrotados, os soldados do governo fogem em debandada pela caatinga, deixando para trás armas e munições (recuperadas e reutilizadas pelos canudenses em combates vindouros). A terceira expedição, chefiada pelo coronel Antônio Moreira Serra (herói da Guerra do Paraguai e com fama de autoritário, truculento e facínora), com 1300 soldados, farta munição e canhões Krupp, tem o
mesmo destino final das anteriores: derrota, fuga e abandono de armas (e do próprio corpo do coronel Moreira Serra, ferido de morte no início do embate) pela caatinga. O cúmulo da humilhação. Euclides vê, no fracasso da expedição Moreira Serra, uma oportunidade de regeneração para a República, que se afastara de seus princípios e ideais de origem: “Vejo nesta situação dolorosa um meio eficaz para ser provada a fé republicana” – escreve, em março de 1897, ao político mineiro João Luís Alves (apud VENTURA, 2002, p.21). O clima, porém, é de tensão e medo (de um suposto movimento monarquista contra a República). E O Estado de São Paulo não deixa por menos em suas reportagens de 8 e 9 de março de 1897, donde o excerto: “A conspiração está sendo tramada. Faça-se a repressão; com a lei, se for possível; fora da lei, se for necessário” (apud CITELLI, 1986). Ocorrem manifestações populares da parte das cidades costeiras, cujos habitantes saem às ruas, para expressar sua incredulidade ante os fatos e seu desejo de vingança. Verificam-se, mesmo, atos de vandalismo e consequente fechamento de jornais monarquistas. Em São Paulo, o Estado pára, enlutado pela morte de Moreira Serra e clamando por atitude imediata de Prudente de Morais. Assim, uma quarta expedição – último ataque a Canudos, com duração de oito meses – é organizada (março de 1897), tendo por comandante-em-chefe o general Artur Oscar de Andrade Guimarães, numa mobilização nacional, envolvendo dez unidades da Federação e arregimentando cerca de dez mil soldados, munidos de canhões e equipamentos, os mais avançados que as Forças Armadas brasileiras poderiam dispor àquelas alturas. Lutando heróica e bravamente, Canudos resiste e não desiste. O general Artur Oscar tem mesmo que pedir novos reforços (que chegam com a brigada Girard e as demais brigadas procedentes de vários Estados do Brasil e a participação em pessoa do ministro da Guerra, o marechal Carlos Machado Bittencourt). Enfim, totalmente isolados, minados pela fome, enfraquecidos pelas doenças, os jagunços conselheiristas sucumbem e Canudos é exterminada em 5 de outubro de 1897. Quase vinte mil seres humanos (“afora alguns velhos e crianças”) executados! “No dia 6, acabaram de destruir, desmanchando-lhes as casas, 5.200, cuidadosamente contadas” – registra o autor em Os Sertões. A obra (que segue um rigoroso esquema naturalista/determinista, baseado, sobretudo, na teoria de Hippolyte Taine – historiador francês, 1828/1893 – que concebe a história a partir de três fatores: raça, meio, momento) estrutura-se em três partes, coesa e coerentemente integradas: A terra, O homem, A luta, cuja leitura integral pode revelar como o seu autor percebeu e elaborou o universo sertanejo, bem como todo o contexto de Canudos e a complexa dinâmica social, cultural e política de um Brasil finissecular oitocentista. E ainda como superou o determinismo geográfico, ao admitir a transformação do meio pelo homem (na construção de açudes e canais, por exemplo). Para melhor compreensão do procedimento euclidiano, ainda a abalizada explicação de Citelli (1996, p. 41): [...] Euclides da Cunha partia do pressuposto segundo o qual para se entender de forma científica a totalidade dos eventos de Canudos, era necessário considerar o cruzamento dos fatores ambientais, geográficos (A terra); dos aspectos antropológicos, que mostrassem os cruzamentos raciais e o surgimento do tipo sertanejo (O homem); das circunstâncias históricas, culturais, políticas e sociais, ensejadoras dos acontecimentos, no caso a Guerra de Canudos (A luta). O esquema que dirige a obra é resultante daquela convivência com o Cientificismo do final do século XIX, particularmente do Determinismo de Taine. No entanto, o rigor desta estrutura, conquanto se mantenha como uma coluna diretora da narrativa, na prática é flexibilizada pela escrita euclidiana, maior do que os esquemas, mais lúcida do que a fórmula e a certeza racionalista, segundo a qual, para se chegar a bom termo, num texto era preciso adotar um bom sistema explicativo dos fenômenos que estavam sendo apresentados” (grifos nossos)”.
Assim, em A terra, o autor discorre sobre a geologia e a geografia do sertão, (clima, flora, fauna, a problemática das secas), traçando um panorama mesológico/ambiental da região – descrita em seus violentos contrastes: “A natureza compraz-se em um jogo de antíteses entre os verões queimosos e os invernos torrenciais”.
Em O homem – “secção mais paradoxal e marcada por contradições”, (CITELLI, 1996, p. 45) – argumenta sobre as origens do homem americano, as bases antropológicas do brasileiro e a formação étnica do sertanejo. E ao fazê-lo, orientado pelas teorias raciais do século XIX (em especial a do sociólogo austríaco Ludwig Gumplowicz: “a história se faz pelo domínio das raças fortes sobre as mais fracas”) e transpondo modelos da Biologia e das Ciências Naturais para os estudos sociais e culturais, emite conceitos (e preconceitos) negativos acerca da mestiçagem e do sertanejo, visto como amálgama de múltiplos cruzamentos, numa involução biológica, acarretando incapacidade de absorção das grandes transformações civilizatórias. Em A luta, narra os acontecimentos da guerra, que culminam com o extermínio da comunidade, mostrando as duas faces do conflito: a do litoral e a do sertão, ambas dominadas pelo fanatismo religioso e político: os soldados, honrando a memória do marechal Floriano Peixoto (cuja efígie estampavam no peito); os jagunços, clamando pelo Bom-Jesus... Enfim, “Euclides da Cunha tem de ser visto e entendido como um intelectual em progresso, marcado por certo ecletismo teórico no qual a busca das leis positivas que regem a sociedade estão sempre presentes. [...] dotado de um comportamento ético obsessivo, desejando ardentemente “ser um homem de linha reta”, mas que não conseguiu fugir a uma série de contradições decorrentes da compreensão, muitas vezes superficial, de tendências filosóficas que se punham diante do seu espírito inquieto. Indagador e desejoso de se ajustar permanentemente às novas realidades da ciência e das teorias sociais, Euclides buscou, enfim, apreender com grande honestidade a natureza das transformações que marcavam o seu tempo, absorvendo, com maior ou menor profundidade, tendências do final do século XIX e começo do XX” (CITELLI, 1996, pp 17 e 18).
E muito, MUITO MAIS há para dizer sobre Os Sertões de Euclides da Cunha REFERÊNCIAS BRANDÃO, Adelino. Os Sertões – Uma revolução literária. In: Cunha, Euclides da.. Os Sertões (Campanha de Canudos). São Paulo: Martin Claret, 2005, Introdução. CÂNDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. São Paulo: Nacional, 1973. CARNEIRO FILHO, Alberico. Editorial. In: Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante (Anuário, nº. 08). São Luís: Jornal Pequeno, 2012. CORRÊA, Dinacy. Os sertões de Euclides da Cunha: arte e ciência na tessitura de uma saga nordestina. In: Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Anuário, nº. 08. São Luís: Jornal pequeno, 2012, p. 91 a 93. ______________. Euclides da Cunha: entre a ciência e http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/ (publ. em 23 de julho de 2012).
a
literatura.
In:
CITELLI, Adilson. Roteiro de Leitura: Os Sertões de Euclides da Cunha. São Paulo, Ática, 1996. CUNHA, Euclides da. Os Sertões (Campanha de Canudos). Col. A obra-prima de cada autor. São Paulo: Martin Claret, 2005. MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides – breve história da literatura brasileira. 3º. ed. Rio de Janeiro, Topbooks, 1996. VENTURA, Roberto. Euclides da Cunha e Os Sertões. In: LEITURA – publicação cultural da Imprensa Oficial do Estado – São Paulo, ano 20, nº. 09, Setembro de 2002.
O CORAJOSO. AYMORÉ ALVIM ALL, APLAC, IHGM, AMM.. Em uma dessas manhãs, preparando uma palestra para os alunos de História da Medicina sobre Medicina e Religião, li um pouco sobre as concepções filosóficas de Platão a respeito de alma e espírito. Isto me fez lembrar uma presepada ocorrida em 1961 quando fazia o primeiro ano do Curso Médico. Sempre após as aulas noturnas de Filosofia com o padre Ribamar Carvalho, um grupo da minha turma ia discutir Filosofia, na Praça Gonçalves Dias, até tarde da noite. Depois descíamos a Rua dos Remédios para uma cervejinha num bar que ficava, no final da rua esquina com na Praça do Panteon, onde atualmente funciona uma agência da Caixa Econômica. Em uma dessas aulas, o padre falou da Filosofia platônica focando a temática alma e espírito. - Turma, eu não acredito nesse negócio de alma e espírito. Isso é mesmo coisa de padre. Nunca vi nada disso. Disse-nos um cético colega cujo nome não declino porque continua entre nós. Ainda não virou espírito. - Rapaz, disse-lhe Israel, se tu não acreditas nem em alma e nem espírito, tu passarias meia noite de sextafeira, no Cemitério? - E por que não, Xaxá, como amigavelmente o chamávamos, essa coisa de alma foi cultura forjada pela Igreja, na Idade Média, baseada nesses gregos que não faziam outra coisa a não ser pensar. - Uma caixa de cerveja, topas? Perguntou-lhe Zé Carlos. - Fechado. Na sexta feira seguinte, fomos ao Cemitério e falamos com um coveiro que nos arranjava, de vez em quando, uns ossos que depois preparamos para estudar anatomia. Contamos para ele o desafio do corajoso. Depois fui com o Parada, Marival e Malheiros ao Hospital Geral onde conseguimos um velho lençol e o entregamos ao coveiro. Deixamos tudo preparado. Nessa mesma noite, fomos todos para a Praça da Saudade e entre as 11 e meia noite o levamos até o portão. O porteiro, que também já sabia, abriu e ele entrou. Ficamos o aguardando na praça, na expectativa do desfecho. Daí há pouco, ouvimos: - Que é isso, meu Deus? Gente me acode. Ai! mamãe. Vai, vai pra lá. Eram gritos desesperados que partindo lá de dentro. Não demorou, vimos o corajoso pular de cima do muro que fica no sentido praça – Lira e, em desabalada carreira, subir a Rua do Passeio. Preocupados, corremos atrás e quanto mais a gente pedia que ele parasse mais ele corria gritando: Sai daí. Fomos encontrá-lo deitado no chão em frente à Biblioteca Benedito Leite, cansado, coração saindo pela boca, olhos esbugalhados. - Gente eu vi. Cruz credo, mas eu vi. - Vistes o que, rapaz? Perguntou-lhe Malheiros. - Uma coisa me chamando, ai meu Deus, virge! Só podia ser uma alma penada... - Então paga a caixa de cerveja, disse-lhe Marival. Pago o que vocês quiserem, mas me levem para casa. No outro dia, sábado à noite, fomos todos para a Zona, mas só para beber a cerveja do cético e corajoso futuro doutor.
Uma lição ele aprendeu: nunca duvide daquilo que você não pode provar.
THANATOS ÁLVARO URUBATAN (VAVÁ MELO)
Tanatos voltou a rondar as cercanias da Academia Sambentuense. É o décimo confrade transmigrado para o Olimpo. Lá florescem no jardim de Academus, espargem perfumes arrefecedores de nossas saudades. Convictos dessa verdade, rendemos preito ao saudoso confrade Manuel de Jesus Sousa, patrono fundador da Cadeira 2, falecido nas últimas horas do ano findante – 31 de dezembro. Sem pretensão de alardear-me, todas as mortes dos confrades me abalaram, com marcas indeléveis de gratas recordações, mas a dele, surpreendente, pelo nosso forte e assíduo relacionamento foi a mais impactante. Conheci-o pelos idos de 1945, em visita que fazia ao tio-avô Juvenal Sousa, residente em frente a nossa casa, hoje Pingo de Ouro. Fez a parte do nosso grupo de montadores de carneiros: Pedro Cabacinha, Hilton Nunes, Ibraim Almeida e com este, em 1948, foi passista da primeira batucada de São Bento, chamada Turma do Quinto. Mudou-se para São Luís, continuou os estudos. Cabo do Exército Brasileiro, pediu baixa, ingressou na Petrobrás, mas com o desejo de continuar os estudos universitários, demitiu-se dessa promissora empresa(antes do Lava-jato). Com vocação de mecenas, tornou-se empresário livreiro. Lecionou português no Colégio de São Luiz. Promotor público concursado, serviu nas comarcas de Viana, Guimarães, Carolina, Imperatriz, Cível de São Luís, diretor da Procuradoria. Em São Bento, por convocação especial, funcionou em dois juris. No primeiro conseguiu a condenação; no segundo, sem constatar culpas, pediu absolvição ao corpo de jurados. Aplaudido. Aposentou-se como procurador de Justiça. Membro da OAB – Maranhão. Casado com dona Darcy Adler Sousa, pais de James, Cristiane e Liani. Com a criação da Academia, participou desde a primeira reunião. Foi um dos nove. Revelou-se um membro ativo, com profícua participação. Nessa convivência, principalmente no escritório dele, pude conhecer suas virtudes. Sem familiares em São Bento, com poucos contemporâneos e alguns amigos, devotava uma paixão pela terra, com visitas constantes. Dois objetivos que norteavam seus sonhos, com relação a São Bento, foram cremados: construir casa em seu terreno para nela residir, e instalar uma biblioteca pública. Jesus era homem excessivamente familiar. Guardava, carinhosamente, afeições aos avós Manuel Pinheiro e Dadá, quem os criou, dando-lhes virtuosos exemplos assimilados e cumpridos. Ultima lembrança. Visitou-me pelo Natal. Levou-me vinho, entregou-me o de Joaquim Melo, e dos demais confrades entregaria pessoalmente. Nesse encontro acertamos viagem a São Bento para ele distribuir cestas, prática anual. Queria passear no Porto Grande, palco de sua alegre infância, e dessa vez levaria a idolatrada e inseparável neta, companheira nas reuniões da entidade. Nosso confrade era amante da botânica. Foi ele quem, no encontro de setembro levou de seu sítio mudas que foram plantadas no “Panteon Florestal” da Academia Sambentuense, na Praça Carlos Reis, em homenagens aos confrades falecidos. Estava tão feliz, oferecia mudas. E agora, quem doará a sua? Pouco importa. A natureza, com a seus prodígios encarregar-se-á dessa missão. Será mais uma importante árvore que, com as congêneres, medrará viçosa oferecendo sombras aos transeuntes; frutificará para os pássaros. Frondosa será farfalhante e exalará olores. Plantas, que o poder público e a população as preservem. Assim a Academia simula construir o Cenotáfio da memória de seus mortos.
BASES E BOATES: UM PASSEIO NOSTÁLGICO! HAMILTON RAPOSO São Luís é uma cidade belíssima, a melhor cidade do mundo. Sempre venho insistindo na vocação cosmopolita da cidade. Andamos na frente ou ao lado das grandes cidades, nada chegou depois ou por acaso. Os grandes fenômenos, as grandes causas, os modismos ou qualquer outra coisa, sempre foram compartilhados com os grandes centros. Existem determinadas situações ou determinados lugares do qual somos pioneiríssimos. Um exemplo disso é a “Base da Pedrita”. Talvez seja a primeira boate GLTS do Brasil. E quando ninguém falava no Brasil em um lugar de diversão para um público específico, São Luís oferecia uma fábrica de diversão. O filme a “Gaiola das Loucas” mostrava a cidade de Miami nos EUA como point para o público GLTS e a boate como melhor atração da cidade. A “Base da Pedrita” já existia e divertia sua clientela há muito tempo. Penso que um filme sobre a “Pedrita” explicaria melhor o lugar e sua clientela. Ir para a “balada” foi um termo cunhado no sudeste e significa ir para uma diversão ou uma festa. Maranhense não ia para a balada, maranhense fazia ”base”. Aqui não tinha Leblon, Ipanema, Jardins, Augusta ou outra rua ou bairro específico para diversão. Existiam as “bases” espalhadas por toda a cidade que ofereciam muita diversão. As bases eram bares, boates ou pontos de encontros e alguns ficaram famosos e estão a décadas instaladas e com um público fidelíssimo, o exemplo fica com a “Choperia Marcelo” e a casa de stripe “Splash”. Algumas bases tiveram duração efêmera e suas marcas permanecem na memória de muitos. O Recanto das Panteras ou a Base das Coroas remetem a uma sensação inigualável de prazer e saudade. A Base do Pompeu despertava em meus sobrinhos a sensação de curiosidade e de incomodo pelo barulho causado pela voz de Amado Batista e Valdick Soriano. As Boates “Gata Mansa” e “Menina Veneno” fizeram sucesso e os nomes sugestivos davam a sensação de liberdade em plena recessão política da década de 1970. E o antigo “Caluca” com a homo Rita, quando o retão (/corridas de carros) era realizada na Av. Guajajara ainda na piçarra, o Caluca lá estava localizada no Tirirical, e o Caluca era o cabaré da moda, Jikiri, Jacaré e a turma do Filipinho não saíam do Caluca sem antes passar no Pompeu ali naquela esquina atrás do Posto de Combustível que descida para o Sacavém. No início da década de 1980 um bar em São Luís tentou mudar o padrão de diversão da cidade, o “Tom Marrom” que ficava no bairro de São Francisco e com características modernas fugia do contesto de “bases”, durou pouco tempo e não resistiu a tentação carnal das “bases”. A URBV e a UBRA eram clubes sociais da classe média proletária e funcionavam como lazer nos finais de semana nos bairros de Fátima e Anil. A “Ziloca”, boate e base que reunia boêmios e humanos comuns, ditava os ritmos e apresentava os primeiros de Djs da cidade. O registro das bases e boates mostram o avanço e a contemporaneidade de São Luís e quem pensa que tudo isso era putaria, está totalmente enganado!
MADRE DEUS E O GLAMOUR MARANHENSE! HAMILTON RAPOSO São Luís nasceu francesa e por conta da sua origem elitizada sobrevive com um glamour tupiniquim. O maranhense é muito esnobe e tudo devido aos franceses. Quando chega época de carnaval, por esnobação, o maranhense se enche de brio e vai passar o carnaval em outro estado, os escolhidos geralmente são o Rio de Janeiro e a Bahia, aqueles meios que desafortunados não perdem a viagem e vão para Pinheiro ou Cururupu. Tudo por culpa do glamour francês! Alguns que ousam passar o carnaval fora de São Luís passam o maior perrengue e tudo tem uma explicação, o charme e o glamour decadente francês! No final da década de 1960 por aqui chegou um festejado cabelereiro a procura do charme ludovicense, cearense de nascimento e maranhense por escolha e aqui criou raízes e vínculos sociais, o nosso personagem é o amigo Bezerra, o mais famoso cabelereiro da cidade, o nosso Bezerra’s! Bezerra é da geração de Bennys e Jackson, pioneiros e de muita representatividade social, os primeiros a pontificarem nas colunas sociais da cidade. Bezerra, Bennys e Jackson transformaram-se em ícones do carnaval maranhense, revolucionaram o carnaval de clubes e de rua com suas ousadas fantasias em plena ditadura militar na década de 1970. O sucesso da festa de segunda-feira de carnaval do Jaguarema estava no desfile de fantasias, e a apresentação de um deles, era ansiosamente aguarda por milhares de foliões e não foliões, todos esperavam qual seria a ousadia de Bezerra. Bezerra é fantástico e tinha uma personalidade que ia além do seu tempo. Desfilava com aplausos e ao som de uma claque que gritava "b..., bi...”, um grito homofóbico, porém, em nenhum momento sentia-se ameaçado ou desrespeitado, desfilava e depois cumprimentava e era cumprimentado por todos, antes de cair na folia ludovicense. As escolas de samba, principalmente a Flor do Samba, Turma do Quinto e Favela, que modificaram a maneira de se fazer carnaval de rua ou de passarela, disputavam acirradamente a presença de Bezerra como destaque e levava vantagem na disputa pelo título de campeã do carnaval, quem conseguisse sua participação. Bezerra fez história na cidade que o recebeu e aqui se sentia mais maranhense do que muitos nativos. Por ser cearense, Bezerra talvez não tenha a alma “afrancesada”, daí ter escolhido a cidade e o seu carnaval como os melhores do mundo. São Luís nunca se sentiu província, sempre se sentiu metrópole. A convivência com uma diversidade cultural que não é vista em lugar nenhum causa inveja ao mundo todo, afinal somos Patrimônio Cultural da Humanidade! A Madre Deus é “divina”, e o carnaval é de todos!
RIBAMAR FEZ SEU PIOR LAVA-PRATOS, EM 69 ANOS, E OS FILHOS QUEREM ORIGINAL DE VOLTA91 HERBERT DE JESUS SANTOS (jornalistas e escritor) (Em 2016, aos 70 anos, não está com cara de que terá o carnaval maranhense de novo) Quem acompanha o Carnaval do Lava-Pratos de São José de Ribamar, há décadas, focalizou, no de 2015, a decadência de haver sido o pior de todos, em público e manifestações, sem lembrar, um pouco que fosse, seus tempos áureos, idos após as gestões dos prefeitos Ribamar Moraes, João Alves (Tirintintim) e J. Câmara, a partir dos quais, baixou até ser feito com exclusividade por bandas de axé, e criticado com força, neste ano. Equivale dizer que a descaracterização perniciosa começou na administração Júlio Matos (com algumas brincadeiras originais ainda, vindas de São Luís, no seu começo, e rendido à praga do carnaval baiano, em trio elétrico), e se estendeu com Luís Fernando Silva ao atual, Gil Cutrim, desprestigiando as tradições maranhenses: escolas de samba, blocos tradicionais, fofões, tambor de crioula, etc. Há uns dez anos, eu assisti à cena terrível de um tambor de crioula do Bairro de Fátima, animado por Malvino Alencar, diretor do Boi de Maracanã e funcionário da Secretaria estadual da Cultura (Secma), ser retirado do Lava-Pratos por funcionários da prefeitura, na Praça do Cemitério, sob meu protesto, com registro, enquanto o reggae de radiola, em inglês, nas alturas, corria frouxo. Escolas de samba criaram o primeiro carnaval fora de época do Brasil Quando saíram nos meios de comunicação versões diferentes para o início do Lava-Pratos e seus fundadores, inclusive a entrevista do garçom Salviano, ali, com 37 anos, para a TV Mirante, de que, quanto o bloco Bacalhau do Batata, em Olinda (PE), o primeiro carnaval fora de época do País fora criação dos garçons, que não podiam festejar os dias gordos de carnaval, moradores mais velhos, para a reportagem do JP Turismo, feita por mim, desmentiram-no logo, pois o primeiro garçom de Ribamar fora o popular Cangatã, na década de 1960, no Bar do Joca, e o Lava-Pratos de Ribamar era de 1946. Preocupado em levar ao público a notícia verdadeira, no JP Turismo, em 2003, entrevistei Nicolau Sodré (com 87 anos) e Zé Tavó (84), ambos carpinteiros navais e criadores do Lava-Pratos e do Batuqueiro Naval, que revelaram tudo haver começado no Carnaval da Vitória, em 1946 (em alusão ao fim da 2.ª Guerra Mundial, em agosto de 1945), quando a agremiação ribamarense foi até à sede da Turma do Quinto (na Madre de Deus), Turma de Mangueira (João Paulo) e Águia do Samba (Anil), que na tarde do primeiro domingo da quaresma pagaram a visita, na sede do Batuqueiro, na Rua Nova, e de lá, os quatro desfilaram na Rua Grande, iniciando a tradição. Filhos e admiradores querem de volta o Lava-Pratos de verdade “Meu pai, conhecido por Juçareira, trazia brincantes de São Luís, no começo do Lava-Pratos, em seu transporte tipo jardineira, e já chamei atenção de Salviano, que nem nasceu aqui, para não falar mais na televisão que garçons começaram a história, pois não tinha aqui, na época, como já falou até Gonçalo Maior, que é o garçom mais antigo”
afirmou José Ribamar Dias (Mijão), nascido em Ribamar, servidor federal aposentado, na manhã de domingo, na mercearia-bar de D. Iraci Pavão, na Rua Grande, onde o espírito dominante, no local, era a
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Replicado, a pedido da Profa. Dinacy Corrêa, para divulgar a verdadeira origem do Lava-pratos de Ribamar.
precisão de haver o regresso urgente do sucesso do evento que coloria e alegrava a cidade, desde cedo, com as manifestações maranhenses do período. Comungavam da mesma ideia, ali, este repórter, são-luisense, que convive há décadas com naturais e grupos culturais nativos, como Hélio Ribeiro Santos (farmacêutico) e Timóteo Filho (bancário aposentado); e os ribamarenses da gema, Edelçy Teixeira Ferreira-Zuquinha (dentista), todos sessentões, e Josemar (PM reformado), setentão, e João Henrique Pavão (Buião), comerciante, de 49 anos. Agora é só banda baiana, nem enfeitaram a Rua Grande Na Praça Nicolau Sodré, a popularizada Praça do Cemitério e da Tesoura, a contrariedade de moradores idosos estava na ponta da língua: “Nem ornamentaram a Rua Grande esse ano, nem a Casinha da Roça veio mais; esses que mandam na prefeitura, no turismo e na cultura nem são daqui, e os mais recentes, que eram e sabiam como se fazia o lava-prato melhor, largaram de mão e deram tudo pra banda da Bahia! Nem deram mais um ônibus, pro Fuzileiro da Fuzarca, que vai pro carnaval do bis de São Simão, em Rosário!”
Os 70 anos, com os fundadores e o retorno de brincadeiras nativas A Prefeitura de Ribamar poderia aproveitar que, em 2016, o Lava-Pratos fará 70 anos, e festejá-lo à altura, inclusive com a participação de dois dos fundadores, Quinto e Mangueira, já que a Águia não existe mais, como o Batuqueiro, que tem descendentes dos fundadores vivendo no município. Para facilitar o acesso, maiores que as antigas turmas, Quinto e Mangueira viriam só com seus puxadores, baterias, passistas, e mestres-salas, e porta-bandeiras, assim como as outras escolas de samba, que sempre prestigiaram o encontro carnavalesco. A comissão organizadora aproveitaria o ensejo e retornaria com o genuíno carnaval, que desfilaria na Rua Grande (Av. Gonçalves Dias), e aí, com boa divulgação, incrementaria o turismo. Eram feitos até concursos, dos melhores conjuntos, e com entrega de troféus e medalhas, pelas autoridades municipais, no palanque oficial, perto da igreja. É só convidarem e acertarem os transportes com as entidades, menos despesas que as bandas de fora, quando nem a nossa excelente Banda Reprise é prestigiada. Horário nobre com Bicicleta do Samba, Turma do Vandico e Mákina do Tempo Se houver interesse da Municipalidade, realmente, em resgatar o clima contagiante do Lava-Pratos original, motivando a presença de milhares de pessoas de fora, também, contrataria para animarem os foliões, num palco ou em cima de trio elétrico, na orla, sucesso garantido onde tocam, como em São Luís, as bandas da Bicicleta do Samba, Turma do Vandico e da Mákina do Tempo, ases em samba-enredo e marchinha, com os dois primeiros ainda fazendo arrastão de fãs, na Rua Grande, antes de seus shows, que seriam na tarde do domingo. As bandas baianas se exibiriam em menor número, mesmo porque se incentivaria o ouro da cultura popular maranhense, que não é prestigiada na terra dos outros.
A turma da mercearia-bar de Iraci Pavão, no sentido horário, lastimou a decadência do Lava-Pratos: Hélio, Zuquinha, Timóteo, Mijão, Herbert, Dênis (filho de Domingos Careca)e Josemar; ao fundo, Buião Foto : Santinho Menezes
OS DESCENDENTES DE POMBAL NO MARANHÃO RAMSSÉS DE SOUZA SILVA
Por mais inusitada que possa parecer esta informação, Sebastião José de Carvalho e Melo (o Marquês de Pombal), pelo lado materno, deixou muitos descendentes em uma determinada região da Baixada Maranhense, mais especificamente na cidade de Viana-MA. Tudo iniciou-se com o Capitão-mor José Feliciano Botelho de Mendonça, parente de D. Teresa Luísa de Mendonça e Melo (mãe de Pombal) que encontra-se, no fim do séc. XVIII, domiciliado na Vila de Viana, como ajudante do riquíssimo Mestre-de-campo José Nunes Soeiro, que havia arrematado o antigo engenho de São Bonifácio do Maracu, pertencente aos jesuítas e fazendas anexas. Era uma época em que tais patriarcas tinham uma família legítima e, muitas vezes, outras tantas bastardas. José Feliciano Botelho de Mendonça, o "Adão do Pinaré", teria, portanto, deixado extensa prole nesta região da baixada, hoje ocupada essencialmente pelo município de Viana-MA. Muitos "Botelho", "Mendonça" e "Lopes da Cunha" dessa região são descendentes diretos da mãe do Marquês de Pombal. Inclusive alguns "Mendonça Furtado" ou "Furtado Mendonça" também descendiam do pai de Pombal (Manoel Carvalho de Ataíde), como Antônio Correia Furtado de Mendonça e Antônio José Correia de Azevedo Mendonça, citados por Baena como figuras representativas das famílias maranhenses mais ilustres do Período Colonial. Entre os descendentes ilustres da mãe do Marquês, podemos destacar Raimundo Lopes da Cunha (pioneiro da antropogeografia e arqueologia brasileira), Antônio Lopes da Cunha (irmão de Raimundo Lopes e um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM) e Celso da Cunha Magalhães (o promotor do caso do Crime da Baronesa de Grajaú). FONTE: "Uma Região Tropical" (Raimundo Lopes da Cunha)
TIÃO CHEGOU!!!! CHICO PINHEIRO
E hoje faz quatro dias do falecimento de TIÃO do "C. de ASA". Quando vim a saber, ele já havia sido sepultado. Com muito mérito, ele era o maior símbolo da alegria, não só do citado bloco carnavalesco do qual era porta-estandarte, mas de toda a cidade. Pois era um ritmadissimo e elegante dançarino.Inclusive, grande improvisador de movimentos. Na foto abaixo, retrata-se um dos costumeiros momentos em que os foliões do bloco, afoitos para cair na folia, esperavam por ele, para assumir a frente. E e nosso amigo gritava:- "Peraí! Tô acabando de tomar meu grode!" E sua bebida era água de coco! E a turma bradava- TIÃO CHEGOU!!Calma que já vamos sair! E assim foi durante todos os seus carnavais. A minha homenagem a ele, vai na lembrança de dois incríveis momentos: O primeiro foi quando, em um encontro de pagodeiros, no CEPRAMA, nosso dançarino das ruas, soltava a sua arte corporal no meio do samba; improvisando os passos. de acordo com as letras das músicas. E eis que um cavaquinista ataca de Nossa Senhora, de Roberto Carlos, em ritmo de samba. Pois ele juntou as mãos em postura de oração e, sempre olhando pro céu começou a fazer movimentos sinuosos dos ombros pra cima, tal qual as dançarinas orientais.E da cintura pra baixo, o samba sassaricava rasgado, como se ele tivesse dois corpos independentes. No segundo e muito nobre momento, estava eu adentrando a Fribal(Açougue) do Vinhais, quando ele me abordou estendendo a mão, e foi logo pedindo: - O senhor pode comprar pra mim aí qualquer coisa pra cozinhar? Pode ser só um tiquinho! Compadecido perguntei:- TIÃO, tu tá passando fome? No que ele respondeu:- Não é pra mim.Eu tô recolhendo é pra cozinhar e dar pros " meus colegas", que quando saem do hospital ficam na rua comendo coisas do lixo!
Por essas e outras é que imagino a sua chegada no céu e, após o registro na " portaria", São Pedro dando boas vindas e anunciando alegre em direção à " sala do trono":- TIÃO CHEGOU!!!!
O SINISTRO RITUAL DO ENFORCAMENTO DE BECKMAN RAMSSÉS DE SOUZA SILVA Fonte: A Revolta de Bequimão, de Mílson Coutinho (1984).
A Revolta de Beckman é considerada a primeira revolta nativista do país, ainda no período colonial, deflagrada por Manoel Beckman, senhor de engenho e líder do movimento contra o famoso "estanco"; cobranças tributárias abusivas da Coroa sobre os produtos de exportação da colônia. Pois bem, esse não é o foco principal desta postagem e ficará para uma próxima oportunidade. O alvo do artigo são os acontecimentos durante e após a sua macabra execução, tempos depois de seu aprisionamento. O engenho de Manoel Beckman ficava na ribeira do rio Mearim, num lugar chamado Vera Cruz, onde hoje se acha a cidade de Vitória do Mearim e foi lá que ele foi capturado, entregue que foi pelo seu traidor Lázaro de Melo, seu afilhado e, até então, amigo. O organograma dessas execuções era rigorosamente previsto na legislação colonial e, no Maranhão, religiosamente cumprido. Nos 3 dias que antecederam sua execução, já na prisão, o Bequimão passou horas de retiro espiritual, acompanhado de 3 religiosos da Irmandade da Misericórdia, que se revezavam nos confessionários. Comida leve lhe foi administrada durante esse tempo, enviada pela Santa Casa. 10 da manhã do dia 10 de novembro de 1685. Sai o malogrado cortejo, com detalhes ritualísticos de deixar qualquer um bestializado. Segue a marcha. Aberta por um destacamento militar de soldados rasos. Duzentos metros atrás, segue o grupo de oficiais, que lerão em voz alta a sentença. Logo atrás, o Relator (juiz), com manto de seda preto e chapéu de pena à Henrique IV. Mais atrás, a bandeira da irmandade e mais dois candelabros e 10 padres, um deles com um enorme crucifixo amarrado nas mãos. O cortejo passa. Chega a vez de Bequimão; vestido num dominó branco e cabeça coberta por um capuz. Nada vê. Sabe que sua hora é chegada. Ouve apenas lamúrias do povo atônito por onde passa. O capuz deixa, no entanto, à mostra as cordas, já entrelaçando o seu pescoço. Acompanham Bequimão dois carrascos negros, escoltados por Oficiais de Justiça e acorrentados um ao outro. Um segura a calda das longas vestes de Beckman, o outro, leva consigo 2 enormes facões, para cortar as cordas no momento da execução. Seguem-se mais 2 negros. Um carrega um banco de madeira e o outro uma cesta com alimentos.
Ainda não havia acabado. O cortejo devia passar, obrigatoriamente, em frente à uma igreja, onde Bequimão ouviria a missa e, antes da comunhão, seguiria até o destino final. Bequimão, enfim, chega à Praia do Armazém, onde a forca o espera. Ele não a vê; ainda de capuz e de costas pra esta, ele ouve a sentença, lida em voz alta pelos Oficiais. Os padres, agora, lhe oferecem alimento contido na cesta. Terminada a caridade, ele é levado ao pé da forca, onde beija as chagas de uma imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo entalhada no enorme crucifixo. Sai o cortejo religioso. Dois confessores o ajudam a subir as escadas da forca de costas até o penúltimo degrau. Um dos carrascos conecta as cordas da forca ao pescoço de Bequimão. O outro, lhe amarra os pés. Tiram-lhe o capuz. Um dos religiosos pede ao povo clemência pela alma do executado. A corda já está bem apertada no pescoço de Bequimão. Um dos carrascos sobe sobre seus ombros. O outro, ergue-lhe as pernas e o derruba da escada para que o peso do primeiro lhe abrevie a vida rapidamente. "Pelo povo do Maranhão, morro contente!", diz Bequimão antes de ter seu corpo precipitado para o cadafalso da morte. Nada mais se ouve a não ser o barulho das ondas e o soprar da brisa. É o fim de Bequimão. Descem às pressas seu corpo da forca. Era hora de executar outro revoltoso; Jorge de Sampaio. Bequimão agora segue em outro cortejo, o fúnebre. Seu corpo é conduzido somente por amigos e parentes para o sepultamento junto à extinta capela da Misericórdia, onde hoje funciona o Banco do Brasil da Av. Dom Pedro II. Chora a parentela. Choram os amigos. Está tudo terminado. E ali jazem, provavelmente até os dias atuais, os restos mortais de Manoel Beckman, o Bequimão...
O TOQUE AYMORÉ ALVIM. AMM, ALL, IHGM. APLAC. Tibúrcio era um pequeno agricultor que morava para os lados do Engenho Queimado, do outro lado do Pericumã. Em um certo dia, apareceu na Farmácia da Paz para falar com meu pai. - Bom dia , seu Alvim. Desejo ter um particular com o senhor. - Bom dia, Tibúrcio. Entra pra cá. O levou para o seu escritório que ficava por trás da Farmácia. - Seu Alvim, ultimamente, ando urinando com muita dificuldade. Quando não é fininho, é em gotas e arde muito. Já bebi muito chá de “quebra-pedra” e até “garrafada” e nada de melhorar. A coisa fica ainda pior depois das funções com a patroa. - Tibúrcio, tu já tiveste doença do mundo? - Pra lhe ser sincero, não. Eu vivo, há muito tempo, com a patroa e uma caboclinha que toma conta de uma venda que tenho lá perto do Rio da Prata. - Então, Tibúrcio, isso deve ser inchação na goiaba. - Só pode ser mesmo, seu Zé, porque eu sinto o apertume lá na raiz do pau. - Mas é, Tibúrcio, para essa doença não tem jeito aqui em Pinheiro. Tu vais para a Capital e lá procuras o Dr. Guilherme Macieira, no Hospital Geral, que trata dessas coisas de uretra. Tibúrcio, então, partiu para a capital. Hospedou-se numa pensão à rua Jacinto Maia e, no outro dia, foi ao Hospital Geral. Marcou uma consulta com o Dr. Guilherme e esperou. Daí a pouco, foi chamado e relatou o seu caso ao médico. Após as perguntas e os exames de praxe, Dr. Guilherme chamou o auxiliar de enfermagem que trabalhava com ele quando o paciente era homem. Climério, prepara o Tibúrcio lá dentro que eu vou já. - O senhor vai abaixando as calças e fique de boi em cima desta mesa. - O que sô? Eu não sou homem dessas liberdades, moço. O senhor me respeite que eu sou um homem velho e tenho idade pra ser seu pai. - Seu Tibúrcio, se acalme. Não é pra mim e pro Doutor. - Seja pra quem for, rapaz. Eu nunca fui dado a essas liberdades na minha vida. Atraído pela confusão armada por Tibúrcio, entrou na sala Dr. Guilherme. - Mas, Tibúrcio, você ainda não está no ponto? - Não faça isso comigo, seu doutor! Eu sou homem de respeito, nunca ninguém passou a mão ou usou meus quartos. Dr. Guilherme sempre muito brincalhão: Cuida logo, Tibúrcio, todos dizem isso. Não prestou. Tibúrcio se espalhou na sala que deu luta para acalmá-lo. Por fim, Dr. Guilherme conseguiu convencê-lo a fazer o exame. - É, Tibúrcio, vamos ter que te operar. - Dr., eu só vou a Pinheiro buscar um dinheirinho porque vim meio desprevenido. Acertado tudo, seu Tibúrcio partiu. Ao chegar a Pinheiro foi aonde meu pai. - Como é, Tibúrcio, correu tudo bem?
- Seu Alvim, eu só não gostei do sujeito bulir nos meus quartos. Aquilo não se faz com homem sério. - Deixa de ser besta, Tibúrcio. Aquele exame que o doutor fez é o TOQUE que foi pra verificar as condições e tamanho da goiaba. - Mas ele falou num outro nome bem encrencado, diferente desse que a gente conhece aqui. - É próstata, Tibúrcio. Quando tu voltas para operar? - Eu vou primeiro arrumar um dinheiro pras despesas. Mas dessa vez eu levo a patroa. Se só pra esse exame foi esse vexame todo, imagina essa operação? Tá certo, Tibúrcio, mas não demora senão tua uretra fecha e aí vai ser pior. - Tá certo, seu Alvim. Até breve. - Até.
A PRAIA (DE) ONTEM DANIEL BLUME Membro da ALL Fim-de-semana em São Luís. O ano é este mesmo. À noite, um jovem pai vai para a cama, mas apenas seu corpo se deita. Sua mente continua acordada. Retorna a um recente passado distante, nas praias do Meio, Olho D’água, Araçagi, em passeios com parentes e amigos. Naquele tempo, a única preocupação era o lancear de pipas, o jogo de bola e a escolha do sorvete – se de coco ou bacuri – servido com colher de sopa na casquinha de biscoito caseiro. O “moço da água de coco” passava com seu burrinho apeado e, quase sempre, permitia um passeio. O menino com a tábua de pirulitos (açúcar e mel em forma de cone em palitos de ponta feita a facão) já era até conhecido de todos. Hoje, nem se vê e nem se conhece nenhum, ou quase isso. Quanto aos adultos, precisavam ficar atentos apenas aos filhos no mar e ao subir da maré. Quando cheia, hora de voltar para casa ou de ir almoçar. Sobremesa, na Sorveteria Elefantinho: sorvete de juçara, tapioca, bacuri, cupuaçu, leite ou sapoti. Gosto de infância. Atualmente, além dos assaltos nas praias de São Luís, há inúmeras motos e quadriciclos zanzando em altíssima velocidade, pondo em risco, em xeque, a vida e a saúde de adultos e crianças, o que já foi inclusive objeto de reportagem no Fantástico. Porém, quase nada foi feito. Fantástico. Quanto aos assaltos, a intranqüilidade é incrível. As alianças vão à praia sob perigo, nem as finas são dispensadas pelos larápios. Os carros não podem mais ser deixados abertos. Os relógios ficam em casa, porém o “dinheiro do ladrão” jamais deve ser esquecido; ele pode se zangar. Agora, as crianças nem mais podem correr sozinhas como nas praias de seus pais. Nem pensar. Vai que algum ladrão ou quadriciclo aparece em segundos. Perigo. Entre o ontem e o hoje, a decepção: os carros da polícia passam – às vezes – nas praias; a insegurança não. Percebe-se, então, que aquele recente e alegre passado de tranqüilas idas e vindas à praia com a família desapareceram de São Luís. A tranqüilidade não se encontra mais nas praias, assim como os pirulitos açucarados. Da mesma forma, os burros. Estão em outro lugar (ou somente em outro tempo). Confesso, por fim, ser eu aquele pai, que – como diversos maranhenses – apenas sonha em ir à praia, em família, tranqüilo, seguro, enfim, em paz, como antes sempre. O sono me é roubado pelo sonho do ser possível encontrar saída para este outro tempo que a realidade de São Luís me obriga a chamar de passado. danielblume@gmail.com
40 ANOS DEPOIS... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Professor de Educação Física Mestre em Ciência da Informação Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras
Ano passado, 17 de dezembro, comemoramos 40 anos de formados. Em outubro, fizemos nosso encontro anual da turma de formandos de 1975...
Neste ano, comemoro 40 anos de Maranhão. Membro da Equipe 49, do Projeto Rondon, aqui cheguei, junto com vários colegas da Escola de Educação Física e Desportos do Paraná – a maioria já formados – e outros das áreas de Medicina, Farmácia e Bioquímica, para a realização da segunda colônia de férias da cidade. O diretor do Campus Avançado da Universidade Federal do Paraná era o Alberto Milléo Filho, professor de educação física, e havia implantado a colônia de férias no ano anterior, além de criação da Olimpíada Colegial de Imperatriz – OCOI -, depois mudado o nome para Jogos Escolares de Imperatriz – JEI.
Turma 49, no Hotel Anápolis, apresentando-se, Gralha Azul
Assim, naquele janeiro de 1976 desenvolvemos nosso trabalho – Colônia de Férias do Rondon – e apresentamos a cerca de 500 jovens, de 7 a 17 anos, os primeiros fundamentos de várias modalidades esportivas... Naquela época, na cidade, só se praticava o Futebol de poeira – pelada de rua -, o Futsal, na quadra do Mourão Rangel – escola estadual -, ou quem freqüentasse o SESI/Imperatriz, e, para as meninas, o Voleibol... Alguns poucos tinham acesso às quadras do Juçara Clube – Futsal – e às do quartel do 50º BIS.
A sede do Campus Avançado tinha uma quadra de vôlei – areia – e um campo de futebol. Em alguns horários, franqueado à população, principalmente jovens. E era tudo!
Milleo e Roberto Gelobom – sorveteria de sua propriedade, daí seu apelido – iniciaram um movimento, em 1975, e criaram a Olimpíada Colegial, com as modalidades de – lógico – Futebol, Futebol de Salão – ainda não era Futsal -, Voleibol, Atletismo – algumas provas de corridas e salto em distância, e corrida de bicicleta, e xadrez... outras modalidades, como Basquete e o handebol, não foram disputadas, pois não houve equipe inscrita, eram desconhecidas no meio estudantil...
Lembrando que a Prefeitura Municipal de Imperatriz encontrava-se sob Intervenção estadual; o Interventor era o Coronel PM Carlos Alberto Barateiro da Costa – o conhecido Bebeto, Cel. Bebeto. Bebeto
era um dos grandes nomes do esporte maranhense, chegando a jogar profissionalmente futebol, praticante do basquete e do voleibol.
Juntando um interventor esportista, um professor de educação física na direção do Campus Avançado, era natural o incentivo que se começava a dar às atividades esportivas, e a tentativa de implantação da Educação Física nas escolas da rede publica municipal. Por essa época, apenas o colégio do estado – Mourão Rangel -, e a escola do SESI, e uma ou duas escolas particulares mantinham aulas de educação física, dentre elas a Escola Santa Teresinha. Mary de Pinho e sua irmã, Sônia, eram as professoras do Mourão Rangel, e para o masculino, um sargento da polícia militar – dava aulas fardado, com o revolver na cintura, e sempre, sempre, e apenas, futebol de salão... no SESI haviam dois recreadores, sendo um deles a Zezita.
Milléo estava deixando a direção do Campus. Em 1975, de férias, em Curitiba, foi à EEFDPr convidar os alunos, em especial os do 3º ano, - formandos – para comporem aquela famosa equipe, a 49 do Rondon... Fizemos a inscrição, nos formamos, fizemos o treinamento e, na primeira semana de janeiro de 1976, desembarcávamos em Imperatriz. Milléo, e sua mulher Sibonei, eram conhecidos de minha família. O pai de Sibo fora sargento da aeronáutica, do mesmo período que meu avô, Leopoldo Masson Vaz; Milléo praticara esporte durante seu compromisso com as forças armadas e é dessa época que conhecera meu pai, corredor de rua, da equipe da Aeronáutica, jogador de futebol do amador do Coritiba F.C. – chegou a se profissionalizar... Conversávamos muito e manifestou seu desejo de que alguém da turma aceitasse ficar em Imperatriz... Resolvi aceitar o convite. Retornei a Curitiba para preparar minha volta ao Maranhão... nas conversas, na volta de Imperatriz, uma colega de turma, minha atleta do Clube Duque de Caxias, manifestou que voltaria, também. Chegando a Curitiba, conversamos com Milléo e acertamos nossa volta para Imperatriz. Eu já tinha uma atuação junto à Federação Desportiva Paranaense, o Ney Pacheco como presidente, eu ocupava uma das diretorias, além de secretariar a federação de ciclismo, onde atuava também como árbitro. Técnico de Atletismo do Duque de Caxias, também, das equipes de Voleibol, Basquete, além de jogar Faustball – Punhobol. Na EEFDPr, pertenci à equipe de Atletismo, e à de Esgrima; na da faculdade de Direito de Curitiba, além de Atletismo, Natação, Voleibol, e Basquetebol.. Atuava mais como administrador esportivo, coordenando as diversas equipes da Duque de Caxias, e das federações das quais participava... Essa experiência me foi útil, ao chegar à Imperatriz naquele março de 1976... buscava alguma experiência, haja vista que pretendia passar um ano e depois seguir para o Mestrado na Alemanha... não fui!!! Chegando à Imperatriz, junto com a Marilene Mazzaro, ficamos hospedados no Campus Avançado, junto com Milléo e sua família. Cumpriu sua parte, arranjando-nos emprego na Escola Santa Teresinha, como professores de educação física. Na Prefeitura, o Cel. Bebeto criou o Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação e nos nomeou para função. Passamos a organizar a segunda edição das Olimpíadas Escolares, a implantar a educação física nas escolas da rede municipal. Para isso, organizamos um Curso de Monitores de Educação Física, parceria da SEDUC com o Campus Avançado, e selecionamos cerca de 100 (cem) jovens atletas da cidade, além de outras pessoas interessadas, com alguma experiência em algum esporte... Muitos alunos dos cursos da Faculdade de Educação de Imperatriz, dos cursos de Ciências, Estudos Sociais, e Letras...
No decorrer do curso, firmamos convenio com a Coordenação de Educação Física do Estado, que nos mandou alguns professores – Lino Castellani Filho, Sidney Zimbres, Paulo Tinoco, Zartú Cavalcante, Marcos Gonçalves... Formamos cerca de 60 (sessenta) monitores, que foram os primeiros professores de educação física da cidade, em um curso com 120 horas de duração... todos aproveitados pelas diversas escolas da rede publica municipal, e principalmente, pela particular. Estava formada a base para a implantação da educação física e dar prosseguimento à OCOI... e à participação da cidade nos Jogos Escolares Maranhense – JEMs. Nas semanas que antecederam os Jogos Escolares daquele ano – 1976 – o DEFER/SEDUC ofereceu vários cursos, e alguns professores de Imperatriz compareceram – eu, para o de Atletismo; João Pires, da Escola Fortaleza, para o de Handebol; Giorvani, Sônia e Mary de Pinho – do Mourão Rangel, Escola Técnica Amaral Raposo - para o de Voleibol... o compromisso é que na volta todos transmitíssemos o que viramos para os demais professores, egressos daquela primeira turma do Projeto Rondon. Semana da Pátria, a SEDUC responsável pela organização do Desfile Estudantil, eu à frente da organização... fui chamado ao 50º BIS, para o planejamento; o Cel. Comandante, recém-chegado, não admitia atraso no mesmo, colocando três oficiais à disposição, para que tudo saísse a contento. Cel. Goulart e Cel. Bebeto ‘disputando’ quem mandava mais, e eu no meio dos dois... O maior problema e queixa dos diretores de escolas, eram os atrasos e os atropelos, em especial da Escola Técnica Amaral Raposo, que sempre fazia um verdadeiro desfile – de escola de samba, com alegorias e carros... às demais, escolas pobres do município, sempre em segundo plano. Resolvemos mudar isso; o desfile iniciara pelas escolas municipais, a estadual, depois as particulares, sempre em ordem alfabética; havia limite do numero de alunos, sendo o máximo de 50 para as escolas da rede municipal – desfilariam 20 escolas, sendo 10 da sede, as maiores, e 10 vindas dos diversos povoados - a seguir, a do Estado e o SESI, com no máximo 100 alunos; e as da rede particular, com também máximo de 75 alunos. Como algumas escolas tinham suas fanfarras, os alunos das mesmas não contavam no total dos peletões que desfilariam. E sem alegorias: apenas o uniforme das fanfarras, e trajes de gala, para as que tivessem, senão uniforme do dia–a-dia. Poderia haver um pelotão de atletas, uniformizados... Tudo acertado, reunião no gabinete do prefeito, para provar o regulamento do desfile, acordado com a direção das escolas e do Exercito, e da PMMA. O inicio, às 8 da manhã, em ponto!!! Lembrando que no ano anterior, o desfile marcado para as 8 da manhã só começou às 2 da tarde, com as crianças aguardando as
‘autoridades’ chegarem ao palanque montado em frente à Prefeitura... Isso não poderia se repetir!!! O Interventor me deu carta branca...
No dia 7, às 07:30 da manhã, junto com dois oficiais do 50º BIS começamos a revista às escolas, para ver se todas estavam em seus lugares... Não estavam!!! Uma delas – a Escola técnica Amaral Raposo – escola do juiz de direito da cidade... estava em uma rua lateral, toda enfeitada, com cavalos, carros alegóricos, e cerca de 500 alunos, além da fanfarra... Um dos tenentes disse: não desfila! E comunicou ao Cel. Comandante o fato... a ordem: não entra!!! As 7:50, o Cel. Acompanhado pelo Interventor saíram do palanque, em sentido contrário, para dar inicio ao desfile... ao passar por mim, a ordem do prefeito: espere até minha mulher chegar ao palanque, acaba de sair de avião de São puis, dentro de 1 hora deve estar chegando... só depois dela passar inicie... Não tive o que dizer a não ser: sim, senhor!!! O Tenente que me acompanhava como uma sombra ouviu a ordem e a repassou para o Cel. Comandante; este disse: tão logo passemos, e cheguemos ao palanque inicie o desfile!!! Sim, comandante!!! As 8:15 horas a banda do 50º BIS começou a tocar, dando inicio ao desfile estudantil daquele ano. A Escola Técnica foi impedida de atravessar na frente das outras escolas, caso não se adequasse ao regulamento... todas as escolas passaram, o Pelotão da PMMA, o carro da Marinha, e o Pelotão do Exército, o ultimo a desfilar... e a Escola técnica saiu depois do Exército, com o desfile já encerrado, oficialmente... crise no mesmo dia, entre o Juiz-Diretordono, os dois coronéis, a secretária de educação, e claro, eu, no meio do rolo, coordenador do desfile daquele ano... A esposa do interventor chegou ás duas da tarde... Na opinião de todos, foi o melhor desfile de todos, saindo no horário, com distribuição de água aos alunos da rede pública, e às escolas do interior, almoço no quartel do Exército... Entre mortos e feridos, salvaram-se todos... o Interventor caiu logo em seguida... Quando da ida à São Luis, para o curso de aperfeiçoamento em atletismo, lá fiquei para acompanhar os JEMs; o coordenador da modalidade, Prof. José Luis Fernandes, teve problemas familiares e teve que retornar para São Paulo; eu acabei assumindo a coordenação do atletismo dos JEMs daquele ano...
Retornando à Imperatriz, eu e João cumprimos nosso compromisso... ministramos cursos de Atletismo, de Handebol e de Basquetebol; não houve de Voleibol, que seria de responsabilidade dos irmãos Pinho; depois, ministramos um de Voleibol, do qual Giorvani participou. Ao termino de cada curso, realizamos um campeonato específico, em que cada professor dos cursos montava suas equipes, nas escolas em que atuavam e a prova final, era a participação dessas equipes nos diversos campeonatos que organizamos, através do DEFER/SEDUC com o Projeto Rondon e o 50º BIS e SESI... tendo em vista a participação na OCOI... Em 1977, a educação física estava funcionando em 27 escolas da rede municipal, e em mais de 15 escolas da rede particular e confessional. A terceira OCOI foi um sucesso, parando a cidade... Vieram árbitros de São Luis, que ministraram cursos de arbitragem nas diversas modalidades... formamos um quadro de árbitros, com aqueles nossos alunos que já ultrapassaram a idade de participar dos jogos como atleta, muitos deles nossos monitores de educação física, alunos do ensino de 2º Grau e os da Faculdade... Nesse ano, fui admitido na faculdade de educação, como professor de educação física... aulas aos sábados pela manhã, saindo dessas turmas vários professores de educação física – formandos em Ciências, em Letras e em Estudos Sociais, mas que atuavam na Educação Física, mudando o nível dos professores que atuavam na área, agora, com curso superior, na área da educação... Meu contrato com o Projeto Rondon acabara em maio, e só atuava, agora, na FEI, no Santa Teresinha e na Prefeitura...
Em 1978, prosseguimos com a expansão da educação física e dos esportes, novos cursos, em São Luis. Realizamos a OCOI, mas a Prefeitura não teve recursos para mandar as equipes para São Luis. Já havia mudado o Interventor; assumira um médico, Herbert Leitão, e houve mudanças na Secretaria de Educação, saindo Loreta Salvatori e assumindo o Prof. Batista. Andei dando algumas declarações sobre o estado da educação e fui exonerado. Mary de Pinho assumiu meu lugar, mas logo em seguida o DEFER foi extinto. Naquele ano, novos cursos em São Luis, novamente o aperfeiçoamento em Atletismo, novamente fiquei para coordenar a modalidade nos JEMs; então recebi convite para ir para São Luis, com contrato de trabalho na Escola Técnica Federal do Maranhão, pois o professor de atletismo da escola se aposentara...
Fiz o curso de Especialização em Metodologia do Ensino Superior, junto com os demais professores da FEI, para o reconhecimento dos Cursos de Licenciatura Curta. Houvera concurso para professor do Centro de Ensino de 2º Grau Graça Aranha, a ser implantado em Imperatriz. Passei e fui nomeado professor do Estado. Com o problema na SEDUC e minha exoneração, resolvi aceitar o convite da Escola Técnica. Já casado, minha mulher também professora concursada no estado, para o Graça Aranha, e demitida de sua função na SEDUC, também, resolvemos que era hora. Vim para São Luis, fiz o concurso – de títulos – para a ETFM, pedi transferência do Estado para São Luis e passei para o Plano de Governo, na equipe de implantação da Secretaria de Desportos e Lazer – SEDEL. Em janeiro de 1979 estava já residindo em São Luis, iniciando as aulas na ETFM. Quando de minha saída de Imperatriz, sai do Santa Teresinha e da FEI. Agora, em São Luis, continuava como professor do estado, lotado no Liceu Maranhense, e à disposição do Plano de Governo, na equipe que estava preparando a criação/implantação da primeira secretaria de esportes e lazer do Brasil... e começava minhas atividades na Escola Técnica Federal do Maranhão. No meio do ano, sou chamado à FESM – Federação das Escolas Superiores do Maranhão, hoje UEMA – Universidade Estadual do Maranhão. O Reitor, Dr. Fiquene – Juiz de Direito, de Imperatriz, dono do Amaral Raposo, e Reitor da FEI – convidou-me para reingressar no ensino superior; como o processo de reconhecimento dos cursos de Imperatriz estava adiantado, e meu nome constava como professor (titular) de educação física, não havia como substituir-me; sugeriu a anulação de minha demissão – o que aceitei – e a transferência para São Luis. Aqui, estava-se providenciando o reconhecimento dos cursos da FESM; já havia saído portaria reconhecendo os cursos da FEI – eu como titular de educação física – e por essa razão meu nome foi incluído no reconhecimento dos cursos de Engenharia e Medicina Veterinária, como titular da cadeira de educação física; o que foi aceito, e passei a ser professor titular da FESM/UEMA. Assim, fiquei com uma jornada de trabalho de 20 horas no Estado – agora já na SEDEL; 20 horas na ETFM; e 20 horas na UEMA. Começava minhas aulas às 6:00 horas da manhã. Na ETFM cumpria meus
horários as 3ª./5ª./Sab, manhã e tarde, com os treinamentos de Atletismo – por 10 anos as equipes infantojuvenil e juvenil, foram campeãs dos JEMs, até que deixei a função em 1989...; na UEMA dava aulas às 2ª./4ª. Três turmas pela manhã e três pela tarde, começando às 7:00 horas. Terminado o expediente, por volta das 9:00 horas, na ETFM e na UEMA, ia para a SEDEL, onde estava na Coordenação de Desportos; depois passei para a Assessoria do Secretário, quando sai, em 1982, retornando para a SEDUC. Quando pedi exoneração. Ao sair da SEDEL/SEDUC imediatamente passei a 40 horas na ETFM; além de professor de atletismo, assumi a Coordenação de Atividades Formativas – responsável pelas disciplinas do antigo art. 7º da 5692: Educação Física, Educação Artística, Ensino Religioso e EPB, depois juntando Filosofia e Sociologia... a seguir, passei a Coordenador de Ensino. Por três anos, fui técnico de atletismo das seleções estaduais que participaram dos Jogos Escolares Brasileiros – JEBs; no período em que passei na SEDEL – 1979/1982; como atuava como técnico da ETFM, não podia mais coordenar os JEMs; na SEDEL uma de minhas funções era de preparar toda a documentação necessária para regularizar as federações especializadas – havia a FMD, eclética, que ficou só com o futebol, FMF; havia a de Basquetebol, criada nos anos 50, mas sem quaisquer atualização ou registro junto ao CND ou à confederação brasileira, totalmente irregular; a federação de handebol, apenas fundada, sem quaisquer outro registro; e a de voleibol na mesma situação. Parti para regularização, atualização dos estatutos segundo a legislação vigente, registro em cartório e eleição das diretorias; em seguida a fundação de várias federações, iniciando pela de Atletismo, Ciclismo, Judô, Desportos Aquáticos, Tênis de Mesa... Em 1982, tomei a decisão de sair da SEDEL, por não compactuar com certas práticas... Voltei para a SEDUC... cabe lembrar que quando a SEDEL foi criada todos os professores de educação física do estado, do quadro da SEDUC foram relotados na SEDEL, menos eu, que não aceitei a relotação, mas fui colocado à disposição daquela nova Secretaria (em 1979, mês de maio, quando de sua criação...). Na SEDUC fui para a Assessoria do Secretário preparar projetos na área da educação física. Cabe esclarecer que as aulas de educação física, naquela época, em função dos Jogos Escolares eram, na realidade, aulas de esportes. Os professores eram ‘técnicos esportivos’, que davam as diversas modalidades, daquelas que eram disputadas nos JEMs. Tinham-se vários professores atuando em várias escolas, como técnico de Atletismo, Basquete, Handebol, Voleibol, Ginástica Olímpica, Judô, Natação, Futebol de Salão, Futebol de Campo, Tênis de Mesa, Capoeira... professores da rede publica atuavam também na rede particular. Pouquíssimos professores formados em Educação Física; a grande maioria – como até hoje!!! – leigos, ex-atletas, que passavam a treinar nas escolas, mesmo nas da rede publica, nomeados. Cito o caso de um professor, da cidade de Caxias, na modalidade de atletismo, do Centro de Ensino de 2º Grau (hoje, ensino médio), que, quando fui dar um curso lá, acabei descobrindo que era analfabeto!!! Não respondia às provas, entregava-as em branco. Ao indagar se não havia entendido, fui informado que não sabia ler nem escrever... e era professor nomeado pelo Estado e dava aulas em diversas escolas da rede particular... encontrei muito dessa situação nas minhas andanças pelo interior do Maranhão dando cursos de atletismo. No inicio dos anos 1980, o CND começou um projeto de construção de praças esportivas, a serem instaladas em diversos municípios. O Maranhão foi contemplado com 40 delas e a SEDEL, CRD, e a ETFM assinaram um convenio para a formação dos técnicos em educação física e esportes que iriam administrar essas praças. Cada prefeitura deveria mandar um representante. Curso Técnico em Educação Física, duração de um ano, tempo necessário para a construção das praças. A maioria das prefeituras não tinha como manter o funcionário na Capital por esse período, então a solução foi recrutar interessados em cursar e depois se transferir para o interior... não precisa dizer que não funcionou. Mas o Curso de Educação Física da ETFM fora criado. Depois, a SEDUC deu continuidade, para a qualificação de seu quadro de professores. Foram formadas duas turmas, de 40 alunos cada. Mantivemos o curso por alguns anos, até quer o estado deixou de passar os recursos. Mas foram mais de 500 técnicos formados, habilitados a atuar até a 6ª seria do antigo 1º grau – Parecer 45, adicional ao magistério, que formava professores normalistas especializados e podendo atender da 1ª à 6ª serie do 1º grau. Mas... a maioria passou a atuar em todo o 1º grau e quase todos no 2º grau... O Curso de Educação Física da UFMA não atendia à demanda. Até hoje temos nossos antigos alunos atuando nas diversas escolas públicas, nomeados, como professores de educação física. Fui professor de Atletismo e de História da Educação Física. Mais tarde, com a criação do Curso Seqüencial de Educação Física da UEMA, passei a dar aulas – contratado – de Atletismo, História e
Metodologia do trabalho Científico, em São Luis e em algumas cidades do Interior. Foi quando comecei meu trabalho de pesquisa e resgate da memória dos esportes, da educação física e lazer no Maranhão. Nesse mesmo período, fiz um curso de especialização em Lazer e Recreação, pela UFMA. Dos 35 alunos, apenas eu conclui... foi o primeiro curso do gênero no Brasil. Minha segunda especialização... Na UEMA, além dos cursos do seqüencial de educação física, ministrei aulas no de especialização em qualidade e produtividade, de metodologia do trabalho científico. No CEFET-MA, como tinha dois pareceres como professor de educação física para lecionar no ensino superior, fui indicado como titular de educação física dos cursos superiores do CEFET-MA, as Licenciaturas então oferecidas, além de professor de Didática Geral e de Metodologia do Ensino, além de Metodologia da Pesquisa Científica, esta, inclusive, nos cursos de especialização então oferecidos pelo CEFET-MA. Também dei aulas na UFMA, de Sociologia do Lazer, e de Planejamento de Eventos, no Curso de Turismo, como professor visitante. Com a expansão do CEFET-MA, atendendo 56 municípios do interior, com cursos superiores na área das ciências e tecnologias, a disciplina educação física fazia parte do currículo. Então passei a dar aulas em diversos municípios, e em vários deles implantando a educação física, como em Itapecuru – no povoado de Magníficat, experiência piloto na implantação de atividades de extensão do CEFET-MA. E em Barreirinhas, onde a partir dessas aulas, demos continuidade a projeto de capacitação de professores de educação física para o Município, e implantação da educação física e praticas esportivas – participação nos Jogos Escolares Maranhenses. Começamos o trabalho em 2001... Quando da transformação da ETFM em CEFET-MA – 1989 – passei a atuar como Assistente do Diretor de Relações Empresarias, respondendo por diversos períodos pela Diretoria, na ausência do titular quando de seus afastamentos para tratamento de saúde. Foi nesse período que se iniciou a interiorização do CEFET-MA e a oferta dos cursos superiores nos diversos municípios maranhenses e a atuação da educação física como precursora dos projetos de extensão. A qualificação dos professores, com a saída de muitos para o mestrado e doutorado. A criação de nosso mestrado e do doutorado em educação profissional. Estabelecido o programa de qualificação, foi quando fui para o Mestrado em Ciência da Informação, na Universidade Federal de Minas Gerais – 1992/1993. Já atuava na área de documentação esportiva, havia criado, junto com o Prof. Laércio Elias Pereira, um Centro Referencial em Informação e documentação em Educação Física, Esportes e Lazer – CEDEFEL-MA. Precisamos de um referencial teórico para atuar melhor. Foi aberto o curso de Ciência da Informação e lá fui eu, para Belo Horizonte, aluno da segunda turma, primeiro a concluir. Em um ano! Fiz todos os créditos. Área de concentração: informação em ciência e tecnologia. Quando de meu retorno, assumi, na nova administração, a Diretoria de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão. Foi uma época que entrava na escola às 6:30 da manhã, dava minhas aulas de educação física até as 9:30 e ia para o expediente burocrático, até as 19:30, e iniciava o terceiro expediente com as aulas no ensino superior – que funcionavam apenas à noite. Aulas de educação física 3ª./5ª./Sábado. Terças e quintas pela tarde, a partir das 16 horas até as 18:30, educação física... Segunda, quarta e sexta, à noite, de Didática, Metodologia do Ensino e Metodologia do Trabalho Cientifico... foram três anos nesse regime. No começo dos anos 80, como disse, inicio do curso de educação física da ETFM e foram contratados alguns professores. Dentre eles dois professores especializados em atletismo, que também passaram a atual na SEDEL. Com a chegada desses professores – marido e mulher – deixei de atuar como técnico de atletismo das seleções estaduais; mas continuava na ETFM. Dei aulas no curso de educação física e, juntos, atuávamos na Federação de Atletismo. Eu, presidente, Trajano diretor técnico e Aparecida vice-presidente. Trajano foi indicado, por mim, para acompanhar uma seleção brasileira em um campeonato mundial. Na volta, começou a pressão para que ele assumisse as equipes da Escola. Em 1989 houve um problema na organização dos JEMs, em que várias escolas se afastaram em especial das disputas do Atletismo. Eu tinha aproximadamente 250 alunos, dentre os do ensino médio e superior além dos ex-alunos que treinavam na escola. O Chefe do Departamento achou por bem que eu dividisse a equipe com o Trajano, afinal ele fora técnico da seleção brasileira e merecia uma chance na Escola. Então, entreguei as equipes – todas! – para Trajano (juvenil e adulto), para Carvalhinho (infanto) e para Aparecida (feminino). E fui dar aulas de natação e voleibol... não mais participaria do esporte de competição! Foi o fim das equipes da escola... naquele ano de 1989, não houve alunos-atletas para disputa dos jogos escolares, interrompendo uma seqüência de 16 títulos estaduais consecutivos, dez dos quais comigo como técnico.
Afastei-me do atletismo de competição. Inclusive da Federação. Voltei a ser ‘apenas’ professor de educação física. Na volta do Mestrado, assumindo a Diretoria de Apoio e, na reforma da estrutura do CEFET-MA, esta extinta, passei a Diretor de Ensino. Cargo, ambos, equivalentes à pró-reitor. Foi quando fui responsável pela criação dos cursos de mestrado e doutorado no CEFET-MA, na área de educação profissional, em convenio com Cuba. Inscrito e aprovado no Doutorado, fiz os créditos, quando por injunções políticas, foi o mesmo modificado – o que alterava o meu projeto substancialmente -, decidindo-me por abandoná-lo, já com a tese pronta e os créditos concluídos. Justifiquei, como o fizera Estevão Rafael de Carvalho, que o fizera em busca de conhecimentos, e não de títulos ou láureas. Mesmo porque não tinha um orientador para me atender e queriam que eu modificasse minha área de estudos, para me adequar às disponibilidades da nova entidade, de Cuba, encarregada dos cursos de pós-graduação no Brasil... devíamos atender a eles, e não à legislação brasileira. Já antevia as dificuldades que viriam, com as mudanças propostas. Resultado: 98% dos professores ainda não conseguiram a revalidação dos diplomas; no CEFET-MA, foram 63 no mestrado e 19 no doutorado... E olha que avisei que aconteceria! Me envolvi no projeto de expansão do ensino técnico, no projeto da pesca, e cada vez mais apenas com a educação física, até a aposentadoria, em 2008. Virei vagabundo oficial!!! E deixei o IF-MA após 30 anos de atuação. 42 anos de contribuição com a previdência, 38 deles como professor... Aposentado, voltei para a UEMA, através de concurso, em 2012. Não agüentei um ano... e não renovei o contrato de trabalho. Não havia mais o que fazer, nada modificara nesses anos que ficara fora, a mesma burocracia, a mesma falta de estrutura, as mesmas “sacanagens’... Prestei algumas consultorias, ao SEBRAE-MA, na área de qualificação profissional, na área do petróleo e gás... Em 2008, ingressei no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; em 2012, ajudei a fundar a Academia Ludovicense de Letras – membro fundador. Continuo estudando, escrevendo, publicando... sobretudo, aprendendo!!! Pois é, 40 anos passam rápido...
JOHN MAYNARD KEYNES
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista e escritor. Membro da ACL e da ALL
A “Teoria Geral” está completando 80 anos da sua publicação. Keynes nasceu em Cambridge e morreu em Sussex, na Inglaterra. Viveu 62 anos e, segundo muitos, foi o economista “mais influente do século XX”. Além de economista, foi homem de negócios bemsucedido, funcionário público e diretor do Banco da Inglaterra, o Banco Central Inglês. Influenciado principalmente pelas idéias de Adam Smith, David Ricardo e Alfred Marshall, influenciou Paul Samuelson, John Kenneth Galbraith, Joseph Stiglitz e Paul Krugman. Durante as últimas quatro décadas, a partir de 1970, os governos partidários da presença cada vez menor do Estado comandaram um intenso processo de desregulamentação da economia. Acreditavam que os mercados desempenhariam naturalmente o seu papel em prol do desenvolvimento e “ofereceriam automaticamente empregos aos trabalhadores contanto que eles fossem flexíveis em suas demandas salariais”. O tempo provou que essa experiência mostrou-se ineficiente ao enfrentar momentos de crise, efeitos cíclicos de recessão e de depressão, e de “bolhas” de qualquer natureza. Desde 1930, após o “crash” de 1929, Keynes deu início ao que se convencionou chamar de “uma revolução no pensamento econômico”, opondo-se às idéias clássicas. Em 1932, o desemprego grassava nas principais economias capitalistas e foi então que ele começou a pensar na intervenção estatal, no aumento dos gastos públicos que deveriam “garantir níveis elevados de demanda e de emprego”. Na década de 1970, com as economias americana e britânica enfrentando problemas, Milton Friedman e outros economistas neoliberais o criticaram duramente descrentes da “capacidade do Estado de regular o ciclo econômico com políticas fiscais”. As idéias de Keynes estão de volta desde a crise que “estourou”, em 2008, nos Estados Unidos, e ainda espalha seus efeitos mundo afora. Para que 1929 não se repetisse, um grande auxílio à liquidez proporcionou fôlego ao sistema financeiro dos países desenvolvidos em estratégia montada pelo Banco Central desses países. Para Keynes, que publicou a “Teoria Geral”, em 1936, “a mensagem básica do livro está contida nas muitas vezes repetida proposição de que o sistema capitalista tem um caráter intrinsecamente instável”, justificando a intervenção do Estado nessas circunstâncias. Keynes foi um pensador eminentemente pragmático; “a economia como ciência pura era-lhe muito menos interessante do que a economia a serviço de políticas”, políticas públicas naturalmente, portanto, economia política. Na microeconomia as forças de mercado fariam com que a oferta e a demanda se equilibrassem quaisquer que fossem preços e valores dados; a macroeconomia, entretanto, trata dos grandes agregados, ou seja, da inter-relação de todas as empresas no mercado, “intrinsecamente instável”, sujeito às incertezas. Para reverter “expectativas de rendas esperadas” diante da incerteza provada do mercado, sem que haja boa base de previsão, e reverter essas expectativas desfavoráveis quando ocorrerem, é que Keynes recomendava a intervenção do Estado na economia. As idéias de Keynes, através dos seus discípulos, estão de volta.
A SAGA DA MULHER ATRAVES DA HISTÓRIA AYMORÉ ALVIM Por que tinha que ser assim? Afinal a ciência nos diz que são mais resistentes, suportam melhor a dor, respondem com mais eficiência às infecções, possuem elevada capacidade de tolerância, são menos propensas aos estados depressivos e costumam ter uma expectativa de vida maior que a do homem. É, realmente, um ser diferente e bastante forte. Tudo indica que o homem, desde a pré-história, descobriu essas qualidades da companheira e passou a temê-la. Procurou tolher as suas iniciativas e passou a atribuir-lhe apenas as funções de coleta (raízes, frutos), cuidar dos afazeres da caverna e da criação dos filhos. E, assim, começou a saga da mulher, na história da humanidade. Não obstante o Gênesis nos contar que o Senhor Deus quando a criou, a partir de uma costela, é porque Ele queria que o seu lugar fosse ao lado do companheiro. Nenhum passo a frente nem atrás. Ambos sempre lado a lado. Como companheira, deveria participar, nas mesmas proporções, das vantagens da convivência, dos benefícios resultantes dos seus trabalhos e das riquezas que geravam. Mas, não foi isso que aconteceu. Parece que desconfiado, o homem tratou de adiantar os passos, deixando a companheira de criação cada vez mais atrás. Sensível e dócil, a mulher não se apercebeu das artimanhas em que era enredada pelo companheiro. Quando notou a distância já era bem grande. O homem, nesse percurso, foi criando uma série de obstáculos que parecia no mais das vezes intransponíveis. A mulher iniciou, então, a sua luta solitária, contra tudo e contra todos, em busca dos seus direitos que lhe foram concedidos pelo ato criador. E por que não? Já lutou bastante. Muitas vitórias, várias derrotas, mas não desistiu. Resiliente, prossegue na sua saga perseguindo seus objetivos. Esse comportamento do homem em relação à sua companheira não o vejo como simples discriminação, mas fruto de uma cultura misógina que foi sendo cultivada e sedimentada, progressivamente, ao longo da história. Na sociedade machista da Grécia antiga, era confinada no gineceu onde aprendia as artes domésticas como tecer, costurar e outros serviços além de obedecer sempre o antigo companheiro aqui travestido de seu senhor. Compartilhar? Só o leito. A mulher ateniense nada mais era que uma máquina de parir. O adultério era punido severamente com a supressão da liberdade ou da pouca liberdade que dispunha ou com a morte. Podia, ainda, ser vendida como escrava. Na sociedade patriarcal dos hebreus a poligamia masculina era um atentado à estabilidade da mulher esposa. Os conflitos vivenciados por Sara e sua escrava Agar, na trenda de Abraão ou os vividos por Raquel e Lia, na tribo de Jacó, retratam bem esse quadro sem falar da morte por apedrejamento a que eram submetidas quando suspeitas de adultério. Ao longo da Idade Média com a difusão do Cristianismo na Europa, não obstante a valorização da mulher que Cristo dispensara às que viviam em seu grupo de seguidores e mesmo as admoestações que fazia em suas parábolas com respeito à dignidade da mulher, uma onda de perseguições foi desencadeada com milhares de assassinatos, espancamentos e outros tipos de torturas a que era submetida à guisa de prática de bruxarias. O movimento humanista que floresceu no Renascimento não lhe trouxe muitas expectativas. Mais tarde, a declaração dos “Direitos dos homens e dos cidadãos” elaborada, na Revolução francesa, apesar dos avanços político-sociais do movimento em nada contemplou a mulher que continuou relegada a segundo plano. Os seus direitos eram concessões do seu marido e senhor. Mas o dia 8 de março é muito emblemático nessa luta. A data se reporta ao fatídico dia, no ano de 1857, quando cerca de 130 trabalhadoras pereceram pelo fogo, num trágico incêndio ocorrido durante uma manifestação de protestos, em Nova Iorque, Estados Unidos,
contra os baixos salários que recebiam e as insalubres condições, no trabalho, às quais eram submetidas. A data também é alusiva ao movimento grevista por “pão e paz” das mulheres russas que por fim conseguiram o direito ao voto, ocorrido a 23 de fevereiro de 1917 pelo calendário Juliano, adotado na Rússia, que corresponde a 8 de março, no calendário Gregoriano seguido por outros países Mas, apesar de todos esses obstáculos, várias conquistas a mulher já conseguiu registrar. Satisfeitas? Acho que não. A luta prossegue. Os descompassos existentes em função de peculiaridades culturais e religiosas não as nivelam, ainda, na plena posse dos bens sociais até agora conquistados, nas diferentes partes do mundo. Portanto, neste dia, presto a minha grande homenagem a essa guerreira, que destemida se levanta na busca do pleno direito que lhe confere a sua condição de cidadã. A minha admiração, na parceria construtiva, à essa companheira de cumplicidade e amiga de todos os momentos.
A PAIXÃO DE CADA QUAL AYMORÉ ALVIM AMM, APLAC, ALL, IHGM. Cada um faz a sua. Eu fiz a minha. Foi no final da década de 1940. Pedi a dona Inês que me liberasse os três cômodos que ficavam atrás da cozinha da nossa casa, em Pinheiro. Os dois maiores abriam para uma área do quintal que parecia uma praçinha que eu e dona Mó chamávamos de Praça do Coqueiro, devido à palmeira que se erguia bem no centro. O outro era menor cuja porta dava para uma área chamada Praça da Mangueira que ficava no terceiro quintal. Bem ao centro, havia um pé de “manga paris” que pelo jeitão e gosto acho muito parecida com a manga”constantina”. Creio ate que deva ser a mesma. Não sei. Com Apolônia e Maria Lobato que moravam lá em casa, preparamos os dois primeiros quartos. Em cada um erguemos um trono. O primeiro era de Herodes e o segundo de Pilatos. O terceiro, menor, Apolônia transformou numa gruta e colocou lá dentro duas caixas de madeira cobertas por um lençol. Seria lá o Santo Sepulcro. Com a ajuda do meu primo Tinche, peguei um fio embebido de pólvora e goma e rodeamos a porta da gruta. Na ponta do fio, coloquei uma bomba de morrão. Pedi a dona Inês um vidro de Biotônico Fontoura e Camélia preparou umas broas de fubá de milho. Eram para a Santa Ceia. Estava tudo pronto. Era só chamar a turma. Mó se encarregou das mulheres, as primas e as amigas; eu dos homens: Gutemberg ou seu Guta que seria o Cristo, Inácio e Pijá eram Herodes e Pilatos. Zé Lobato, Zé de Militina, Nacá, Careca, Lauro e Coruja eram os soldados de Caifás. Todos caracterizados de romanos e judeus por Apolônia e Maria Lobato. Na Quarta-feira Santa pela manhã desse ano, fomos todos para o quintal do Grupo Escolar Elizabeto Carvalho que ficava ao lado da nossa casa. Lá encontrei pastando um jumentinho de seu Armindo Campos. Mandei Zé Lobato segurá-lo e montamos seu Guta. O restante da turma com galhos de mato saudava o Cristo entrando em Jerusalém. A certa altura do cortejo, Zé Lobato dá uma xuxada no jumento que pula e dispara jogando seu Guta no chão. Zé de Militina, lá do fundo do quintal, grita: - Eh! Aymoré. O teu Cristo caiu do burro. - Junta o Cristo e monta de novo, gritou Coruja. - Quá, Aymoré, nesse bicho eu não monto mais, disse seu Guta. Apaziguados os ânimos, partimos para a Santa Ceia. Seu Guta foi chegando e comendo logo uma broa de milho. - Guta, o Cristo não comeu no dia, disse-lhe Moema. - Mas este come, retrucou Guta. - Assim não dá, Aymoré. Seu Guta quer avacalhar a Paixão, disse-me Moema. Para evitar mais confusão mandei os soldados de Caifás entrarem e prender o Cristo. - Ai, assim não dá, Aymoré. É só pra amarrar, bater não. Isso é só de brincadeira. Reclamou seu Guta depois de Zé Lobato dar-lhe uma relhada pelo lombo. Levaram, então, o Cristo para Pilatos, depois para Herodes que o retornou a Pilatos. Este chaga à porta do palácio e pergunta: - Que devo fazer com este homem? A turma reunida na Praça do Coqueiro gritou:
- Crucifica, crucifica. Trouxeram, então, a cruz que Tinche havia preparado, colocaram uma coroa de mato em seu Guta e o cortejo começou. Moema era Nossa Senhora e Maria Helena a Verônica. Cai, seu Guta, dizia Lauro. Nessa hora, Nacá jogava água de urucum em seu Guta e Maria Helena enxugava. De vez em quando, Zé Lobato e sua turma queriam esquentar o couro de Guta. - Assim não dá, assim não dá, já falei. Eu deixo de ser Cristo. Dizia já chateado seu Guta. E, assim, chegamos à Praça da Mangueira onde ficava o Calvário. Amarramos Guta na cruz e o colocamos de pé. As mulheres choravam e os homens resmungavam num linguajar esquisito para dizer que estavam falando a língua da época. Por fim, Cristo morreu e foi levado para a gruta onde ficava o sepulcro. Colocaram Guta sobre as caixas e dona Mó com as outras chorando passavam banha de porco em seu Guta para dizer que estavam untando-o com óleo. Chegou a hora da ressurreição. Eu lhe disse: Guta levanta e fica de pé na porta. Quando abrir, levanta os braços e a turma bate palmas. Tudo preparado, Tinche abriu a porta e eu acendi a bomba de morrão pra dizer que houve um grande trovão. Na hora da explosão, Guta sai correndo: - Ai, mamãe, o que foi isso? - Vem cá, Jesus, foi o trovão da ressurreição, disse-lhe Zé de Militina. E, assim, partimos para a hora da Ascensão. Trouxe uma corda bem comprida que papai comprou para quando fossem limpar o poço. Amarramos um pau numa das pontas e escanchamos seu Guta. Depois passamos uma corda pelo tórax de seu Guta para prendê-lo à corda afim de possibilitar-lhe abrir os braços quando estivesse subindo. A outra ponta passamos num dos galhos da mangueira e Careca, Coruja e Zé Lobato, os mais velhos, começaram a puxar. - Vão devagar, dizia seu Guta. - Rapaz, tu vais subir pro céu. Abre os braços. Antes de Guta chegar ao céu, a corda enganchou numa forquilha e Guta não subia nem descia. - Eh! Aymoré, o que aconteceu? Me tira daqui. Ai minha mãe, mamaezinha. Eu vou cair daqui. - Espera um pouco, Guta. Tu vais pro céu, disse-lhe Zé Lobato. - Não quero. Me tira daqui, Aymoré. Com muita dificuldade tiramos o Guta. - Acabou a brincadeira. Não subo mais. Disse-nos Guta. Então, sem o Cristo, nada de ressurreição. A brincadeira acabou. Voltamos todos para a Praça do Coqueiro para comer canjica e pamonha que Camélia havia preparado. Ufa. Não repetimos a brincadeira. Não encontrei mais ninguém que quisesse ser o Cristo.
ALL NA Mテ好IA
IMPAR Editor: SAMARTONY MARTINS samartonymartins@gmail.com São Luís, domingo, 27 de dezembro de 2015
RECONHECIMENTO ENTRE A JUSTIÇA E A LITERATURA Escritora vence prêmio com obra que trata da França Equinocial, da fundação da cidade de São Luís e dos primórdios da colonização do Maranhão PATRICIA CUNHA A Promotora de Justiça, poeta e escritora Ana Luiza Almeida Ferro é a vencedora da edição 2015 do Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil, na Categoria Ensaio, com sua obra 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís (Curitiba: Juruá, 2014, 776 p.), que trata da França Equinocial, da fundação da cidade de São Luís e dos primórdios da colonização do Maranhão. A cerimônia de premiação foi prestigiada por representantes de várias associações culturais, a exemplo do presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) e do presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Na oportunidade, o PEN Clube do Brasil, presidido pelo escritor Cláudio Aguiar, fez a entrega aos vencedores dos prêmios literários concedidos anualmente pelo Clube Literário. “Eu fiquei muito feliz com essa premiação por duas coisas: primeiro porque concorri com várias outras publicações do Brasil, e segundo porque é um ensaio que fala de São Luís”, comenta a promotora. Criado em 1938, o tradicional Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil é um dos mais antigos e prestigiosos certames brasileiros. O Prêmio, em sua fase atual, é oferecido a todos os escritores brasileiros que tenham publicado obra nas categorias Poesia, Ensaio ou Narrativa nos últimos dois anos, ou seja, entre 1º de janeiro de 2013 e 31 de dezembro de 2014. A Comissão Julgadora, após examinar todas as obras inscritas, premiou, além de Ana Luiza Ferro, os autores Izacyl Guimarães Ferreira e C yro de Mattos. O livro 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís, tem uma versão europeia (Lisboa: Juruá Editorial), sob o título 1612: os franceses na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís e já recebeu a Menção Honrosa do Prêmio Pedro Calmon – 2014, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 18 de março deste ano. Com mais de uma dezena de livros publicados, Ana Luiza ocupa a Cadeira nº 31 da Academia Ludovicense de Letras (ALL), patroneada pelo historiador Mário Meireles. Ela é Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG), Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica, sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e membro de várias academias de letras (AMLJ, ALL, ACL, APLJ). É autora dos livros O Tribunal de Nuremberg(2002), Versos e anversos (2002, em coautoria), Escusas absolutórias no Direito Penal (2003), Robert Merton e o Funcionalismo (2004), O crime de falso testemunho ou falsa perícia (2004), Quando: poesias (2008), A odisséia ministerial timbira: poema (2008), Interpretação constitucional (2008), Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009), pelo qual foi entrevistada no Programa do Jô (Rede Globo), O náufrago e a linha do horizonte: poesias (2012), Criminalidade organizada (2014, em coautoria), 1612 (edições brasileira e europeia, 2014), entre outras publicações. Ana Luiza se junta à conquista de outros maranhenses que também foram premiados no PEN, a exemplo de Josué Montello, Odylo Costa Filho, Ferreira Gullar, entre outros. “É uma honra ter vencido esse prêmio que é tão tradicional e por onde já passaram pessoas tão importantes da literatura”, diz Ana Luiza. Dentre os autores que ao longo das décadas conquistaram o Prêmio Pen Clube do Brasil, estão: Antônio Calado, Jorge Amado, Antonio Cândido, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Marques Rebelo, Álvaro Lins, Cyro dos Anjos, Cassiano Ricardo, Dalton Trevisan, Josué Montello, Nelson Werneck Sodré, Rubem Fonseca, João Cabral de Melo Neto, Alceu Amoroso Lima, Orígenes Lessa, Érico Veríssimo, Odylo Costa Filho, Lygia Fagundes Telles, Gilberto Freire, Marcus Accioly, Barbosa Lima Sobrinho, Moacir Scliar, Ivan Junqueira, Luíza Lobo, Salgado Maranhão, Ferreira Gullar. FIQUE SABENDO Sobre 1612... O livro, prefaciado pelos historiadores Lucien Provençal e Vasco Mariz, tem como tema central a fundação da França Equinocial no Maranhão em 1612, focalizando desde os seus antecedentes até os primeiros anos que se seguiram à expulsão dos franceses do norte do Brasil. É uma viagem exploratória e crítica que acompanha a Era dos Descobrimentos e a partição do Mar-Oceano, as primeiras tentativas portuguesas de povoamento e colonização do Brasil e do Maranhão, a definição nebulosa da origem do nome “Maranhão”, as investidas dos gauleses pelo Novo Mundo, as guerras de religião que ensanguentaram a França na segunda metade do século XVI e cujos efeitos ainda assombrariam o país e seus empreendimentos no século seguinte, a chegada de cerca de 500 franceses (os “papagaios amarelos”, como eram chamados pelos índios) à Ilha do Maranhão em 1612, o reconhecimento da terra, a fundação da cidade de São Luís, a decretação das leis institucionais da colônia, a convivência
dos padres capuchinhos Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux com os tupinambás da ilha e das circunvizinhanças, o regresso de François de Razilly à França, os antecedentes, a deflagração e os desdobramentos da Batalha de Guaxenduba, a subsequente trégua firmada entre os gauleses e os lusos, a rendição do Forte São Luís, o destino das principais figuras da disputa francoibérica pelo Maranhão e os sucessivos govern os de São Luís até a invasão holandesa. Nesse estudo é reafirmada inequivocamente, em primeiro plano, a atribuição da honra da fundação de São Luís aos gauleses; ademais, são analisadas as fases e características do mito da “origem” lusitana de São Luís e é destacado o fato de que Razilly, diferentemente de La Ravardière, por muito tempo teve o seu papel na implantação da França Equinocial e na fundação da cidade subestimado. ESCRITORES PREMIADOS Categoria Poesia: w Izacyl Guimarães Ferreira, com Altamira e Alexandria (Scortecci Editora, São Paulo, 2014); Categoria Ensaio: w Ana Luiza Almeida Ferro, com 1612 - Os Papagaios Amarelos na Ilha do Maranhão e a Fundação de São Luís (Editora Juruá, Curitiba, 2014); Categoria Narrativa: w Cyro de Mattos, com Os Ventos Gemedores (LetraSelvagem, Taubaté / SP, 2014). Eu fiquei muito feliz com essa premiação por duas coisas: primeiro porque concorri com várias outras publicações do Brasil, e segundo porque é um ensaio que fala de São Luís Ana Luiza Almeida Ferro, promotora de Justiça, poeta e escritora 1938 Ano que foi criado o tradicional Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil
PENCLUBEDOBRASIL Há 79 anos promovendo a literatura e defendendo a liberdade de expressão
Boletim Informativo Rio de Janeiro – Ano V – Dezembro de 2015 – Edição Online
DESTAQUES DO MÊS PEN CLUBE REALIZA JANTAR DE CONFRATERNIZAÇÃO NATALINA 2015 No dia 14 do corrente foi realizado o jantar de confraternização natalina do PEN Clube do Brasil no Terraço Panorâmico do Instituto Histórico e Geográfico Bra-sileiro (IHGB), Rio de Janeiro. O jantar contou com a presença dos Acadêmicos Ge-raldo Holanda Cavalcanti e Domício Proença Filho, respectivamente, presidente e secretário-geral da ABL, Arno Wehling, presidente do IHGB, além de sócios, repre-sentantes de entidades literárias e culturais e amigos do PEN Clube. Na ocasião foram entregues os prêmios literários concedidos anualmente por este Clube aos seguintes escritores: Categoria Poesia: Izacyl Guimarães Ferreira, com o livro Altamira e Alexandria (Scortecci Editora, São Paulo, 2014); Categoria Ensaio: Ana Luiza Almeida Ferro, com 1612 - Os Papagaios Amarelos na Ilha do Mara-nhão e a Fundação de São Luís (Editora Juruá, Curitiba, 2014); e, Categoria Narrati-va: Cyro de Mattos, com Os Ventos Gemedores (LetraSelvagem, Taubaté / SP, 2014). A Comissão Julgadora esteve integrada pelos seguintes professores da área de Letras: Luiza Lobo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Delia Cam-beiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); e Maria Luiza Belotti, da Universidade Estácio de Sã do Rio de Janeiro. Ana Luiza Almeida Ferro teve a sua poesia "Marexistência" publicada na última edição da Revis-ta Il Convivio (n. 62, Seção "Poesia in portoghese"). A revista é uma publicação trimestral de poe-sia, arte e cultura da Accademia Internazionale 'Il Convivio', de Castiglione di Sicília (CT), Itália. Esta mesma Academia concedeu-lhe, no ano passado, o segundo lugar no Prêmio “Poesia, Prosa ed Arti figurative”, Sezione Stranieri, Libro edito in portughese, pela obra Quando: poesias (São Pau-lo: Scortecci).
Veja como foi a fundação de Belém em 1616 e conheça sua história Cidade surgiu para defender entrada da Amazônia de estrangeiros. 400 anos após sua fundação, Belém acumula encantos e desafios Do G1 PA http://g1.globo.com/pa/para/belem-400-anos/noticia/2016/01/veja-como-foi-fundacao-de-belemem-1616-e-conheca-sua-historia.html Antonio Noberto, Ana Luiza Almeida Ferro e Rodrigo Norte na reportagem especial dos 400 anos de Belém, que veio ao ar no sábado, dia 9 de janeiro no Pará.Um belo trabalho da TV Liberal daquele estado, conduzido pela jornalista Jalilia Messias. Vale a pena assistir... Veja como foi a fundação de Belém em 1616 e conheça sua história Cidade surgiu para defender entrada da Amazônia de estrangeiros. 400 anos após sua fundação, Belém acumula encantos e desafios g1.globo.com
A história de Belém começa em outra capital, a vizinha São Luís, no Maranhão: foi a partir dela que a coroa portuguesa planejou conquistar uma terra nova no vale do rio Amazonas, para garantir proteção contra invasores de outras partes da Europa. “O documento que enviou no caso Francisco Caldeira Castelo Branco para o Pará foi assinado também aqui, ele é datado do dia 22 de dezembro de 1615. O mundo português precisava de proteção ali pra entrada do Amazonas onde os holandeses, franceses, ingleses e irlandeses mantinham contato com as populações indígenas de Cametá, Bragança, os Caetés, pacajá e outras regiões” explica o turismólogo e historiador Antônio Norberto. A preocupação da coroa portuguesa começou em 1615 – três anos após os franceses fundarem a cidade de São Luís em 1612. “A preocupação de Portugal era que esses franceses que estavam aqui, chegassem a região de Belém, então pra consolidar essa presença portuguesa, foi enviado Francisco Caldeira pra fundar a cidade de Belém”, disse o historiador Rodrigo do Norte. Por conta disso, pode se afirmar que o marco zero de São Luís – o Palácio dos Leões – também faz parte da história de Belém. “O norte do Brasil começou a ser colonizado pelos portugueses a partir de São Luís e Belém porque antes dos franceses chegarem e fundarem a cidade de São Luís, essa parte era abandonada", afirma a escritora Ana Luíza Almeida. Rumo ao norte A embarcação de Castelo Branco saiu do cais do porto de São Luís levando uma tropa de 120 soldados. A expedição foi um teste de resistência, com tempestades e rios estreitos. Mas depois de quase 20 dias navegando a tripulação avistou a baía do Guajará. Na época da fundação da cidade a baía era um grande mangue, e o que chamava a atenção era a elevação do terreno, perfeita para a construção de uma base que protegesse a entrada da Amazônia. Um local de difícil acesso, mas que parecia muito com o território onde foi erguida São Luís. Como Castelo Branco deixou a capital do Maranhão durante o natal, resolveu chamar a nova cidade de
Belém. Os exploradores montaram acampamento onde foi construído posteriormente o forte do Castelo, que ajudou a defender a terra de outras potências que queriam conquistar esta parte do Brasil. De lá surgiram as ruas da cidade, como a rua do norte – hoje Siqueira Mendes -, a primeira rua de Belém. “Todas as ruas, sem excessão, seguiam o traçado do rio”, explica o historiador Michel Pinho. Alguns prédios ainda contam parte desta história, preservando a arquitetura da época em seus beirais. O povoado, entretanto, precisava continuar crescendo: as primeiras grandes obras datam do século XVIII, e trazem a marca do arquiteto Antônio Landi. A casa das 11 janelas é uma destas obras. O prédio foi projetado com duas frentes: o lado voltado para a praça tem influência Portuguesa, e do outro lado a influência é italiana. A poucos metros também foi construída a igreja da Sé, uma das grandes obras de Landi: extraordinária por fora, e suntuosa por dentro. A obra da catedral já havia sido iniciada quando Landi chegou em Belém, mas ele transformou o projeto para fazer da igreja uma das maiores catedrais portuguesas fora da Europa. Tudo fazia parte de um grande projeto para deixar a cidade mais bonita. “Landi foi para Belém o que Niemeyer foi para Brasília”, explica o arquiteto Flávio Nassar. Profissão de fé Manoel Maria guarda na memória muitas histórias da igreja. Algumas lembranças são carregadas de saudade, como o local onde foi enterrado o amigo dom Vicente Zico, arcebispo emérito de Belém, e outras fazem parte do cotidiano: o cametaense ajudou na reforma do órgão da igreja, e trabalhou tocando os sinos de bronze da catedral. Imigração e história Muitas famílias estrangeiras desembarcaram em Belém, já que uma das preocupações de Portugal era aumentar a ocupação da colônia. A cidade Velha é o bairro que guarda a memória mais antiga de Belém: a casa da família libanesa de Marcelo Fadul, uma residência cuja arquitetura de pé direito alto ajuda a combater o calor de Belém, e com uma mobília que parece cenário de novela de época. Pudera: a história da família começa em 1900, quando Expiridião Fadul, avô de Marcelo, decidiu cruzar o oceano aos 13 aqnos para ganhar a vida em Belém. “O Dom Pedro I foi ao Líbano e dava cidadania pra todos os libaneses que quisessem trabalhar, porque já sabia que não teria mais escravos. Então os libaneses vieram pra economia na época da borracha, do café”, explica Marcelo. Expiridião virou comerciante, fez fortuna e comprou o casarão de portugueses em 1915. Aqui formou uma grande família, com nove filhas, netos e bisnetos. Os partos aconteciam na alvoca, o quarto do casal que até hoje guarda memórias da época. “Quando houve a revolução de 45 que o Barata assumiu o poder teve tiroteio aí na rua e até hoje nós temos marcas de bala que atingiram a casa”, relembra o proprietário, que garante não vender a casa mesmo diante de ofertas de compra milionárias. Além da residência dos Fadul, o bairro de ruas estreitas revela museus, palacetes, monumentos e casarões da chamada Bélle Époque, heranças da economia da borracha que são um patrimônio nacional. Para preservar a memória, o fotógrafo Apoena Augusto remontou cenas da cidade antiga, a Belém em Art Noveau que encantava e seduziu até o escritor Mário de Andrade, que registrou em uma carta ao amigo Manoel Bandeira suas impressões sobre a cidade.”Meu único ideal agora em diante é passar alguns meses morando no Grande hotel de Belém”, disse o escritor. Desafios A cidade tem 1,4 milhã ode habitantes, de acordo com o geógrafo Márcio Amaral. Muitos dos seus moradores vieram do interior do estado, em busca de oportunidades. Estas pessoas ocuparam áreas de
baixada, onde convivem com diversos problemas, como o acúmulo de lixo nos canais que geram alagamentos. Porém, apesar do crescimento desordenado, um pedaço da cidade continua preservado, mantendo a beleza da natureza – e para chegar lá, é preciso seguir o curso dos rios. Na ilha do Combu, uma das mais próximas e famosas do arquipélago que faz parte de Belém, é possível ver a cidade de concreto na outra margem do rio. Um contraste com a paisagem típica da Amazônia, onde até o tempo parece passar mais devagar.
Encanto da floresta O Combu é uma das 39 ilhas da capital que, somadas, representam 65% do território de Belém. Nelas, o principal sustento de muitas famílias é o açaí: durante a safra a coleta do fruto é diária. Morar na floresta tem muitas vantagens: um quintal grande, com frutos, pode ser um paraíso difícil de conseguir encontrar na cidade. A paisagem é inspiradora, e transformou a obra do artista visual Sebá Tapajós “Quando eu entrei aqui foi um presente de Deus, um insight, um estalo”, disse. A rota do grafite rio adentro começou na casa de Lúcio Deims Pereira, que ficou meio desconfiado a princípio, mas deu sinal verde para o artista usar a frente da sua casa. “Eu fiquei alegre, feliz porque a minha casa não era assim, era uma pintura simples. Valorizou mais”, disse o extrativista. A vizinhança também gostou da obra. “Até na ilha das onças, em Barcarena, eles comentam pra lá. Eles acham muito legal”, conta Pereira. O artista espera que os traços do grafite ajudem a despertar um novo olhar para a Belém das ilhas, a cidade que guarda a sabedoria da floresta, a biodiversidade amazônica e o equilíbrio entre o passado e o futuro. “O que eu gostaria de deixar como legado é o olhar turístico, o olhar federal do que a gente tem aqui né! Cara, que é a maior obra de arte do mundo assim, você tem o maior turismo, tá aqui....o tesouro é a Amazônia”, disse Sebá. A obra agradou a estudante Monica Souza. “Gostei, eu achei bonito, dá uma vida na casa que tava sem pintura, tava muito meio sem graça... Combina até com o povo, porque o povo daqui é um povo alegre, é um povo contente”, afirma. Por conta destes atrativos, as ilhas de Belém são um roteiro procurado por turistas. O grupo formado por Brasileiros, Indianos e Franceses ficou encantado com a floresta, suas flores e o hábito dos seus moradores – como seu Ladir que, aos 75 anos, impressionou pela vitalidade ao subir o açaizeiro. Mais do que todas as belezas, a região das ilhas oferece cheiros e sabores que fazem parte da vida de Belém – misturas que atravessam o rio para se encontrar na feira do Ver-o-peso.
INVEJA NO MARANHÃO ALDY MELLO Publicado no Estado do Maranhão de 07/12/2015
O Padre Antônio Vieira, já no século XVII, quando pregava aos peixes, com seu grande espírito e engenho, falava das mazelas do Maranhão. Se retornasse, hoje, certamente incluiria a inveja como um dos primeiros temas. Aqui se cultiva a inveja, não importa o talento das pessoas ou seus esforços para prosseguir no bem. A inveja é um sentimento mesquinho e traz consigo o instinto de difamação e de extermínio. Inveja é um sentimento dominado pelo egocentrismo e conduzido pela soberba. A inveja leva à maledicência e provoca equívocos. Qualquer que seja a motivação para a inveja, ela é um dos sentimentos mais torpes e difíceis que a alma humana pode ter. Com a cobiça e o orgulho, forma um trio de sentimentos que destrói a alma e afeta o coração das pessoas. Consoante ao que dizem os psicólogos, a inveja é um transtorno psicológico e de personalidade. Ela faz parte da natureza humana e está dentro de nós. Sentir inveja de alguém é como afirmar a nossa insegurança e a nossa falta de amor próprio. Inveja, em suma, é querer, é desejar o que é dos outros para si. É desejar as coisas dos outros sem fazer esforço nenhum para conseguir pelos meios materiais ou pelo merecimento. Invejosa é uma pessoa que, consciente ou inconsciente, consegue ter o sentimento de rancor contra outros que possuem algo que ela não tenha, não teve e que deseja ter. Formas de expressão do invejoso: crítica, ofensa, rejeição, difamação, rivalidade e agressão. São formas que chegam a causar rivalidade e até vingança. O invejoso é uma pessoa vil, difunde seu amargor e seu ódio no ambiente; enche o mundo de vileza porque ofende, difama, denigre a imagem das pessoas e, em regra geral, de pessoas que nunca lhe fizeram qualquer mal. O invejoso espalha veneno e ódio por onde passa. Reconhece que não tem capacidade de conquistar as coisas por si mesmo, por isso tem inveja de quem conquistou, de quem conseguiu sucesso e obteve êxito. Há temas motivacionais para a inveja. Em regra geral, os invejosos têm raiva e muito rancor por não possuírem o que outros têm como beleza, dinheiro, sucesso profissional, poder, sexo e até experiências. Todo invejoso quer ser maior que os outros, quer ser o melhor dentre todos. O invejoso sempre carrega um tema ou motivo para justificar a si mesmo sua atitude. Para alguns, esse tema motivacional é a sua própria falta da capacidade para ser o que não é ou para ter o que não tem. Para outros, é a falta de conhecimento dos próprios caminhos a seguir e, para outros, ainda, a sua baixa estima e o sentido que dá a sua vida. A nossa vida é comandada pelos sentimentos. Eles vão e vêm em nossos pensamentos, passam pelas nossas emoções e podem comandar as nossas ações. Cabe-nos, então, regrá-los conscientemente. Às vezes precisamos de um tratamento psiquiátrico para controlá-los. Sentimento é um estado de ânimo também - refere-se tanto a um estado de ânimo como a uma emoção. “Se é certo que o sentimento sem fiscalização do raciocínio pode conduzir ao absurdo, o raciocínio sem o sentimento pode conduzir ao mais lamentável”. (Chico Xavier em Dicionário da Alma, p. 2). O sentimento é uma disposição mental. É uma decisão que se toma. Dante Alighieri, em seu livro Divina Comedia, aos invejosos propõe que “tenham olhos fechados e costurados com arame”, pois toda inveja é uma raiva vingadora de alguém que prefere demonstrar sua impotência, a lutar pelos seus desejos e por eles concorrer. O tempo da escravidão nos mostra que as sinhás de então tinham tanta inveja dos dentes alvos e perfeitos das negras, e mandavam arrancá-los a martelo ou extraí-los a torquês. Não é à toa que certo autor dizia: “Não grite sua felicidade tão alto, a inveja tem sono leve”.
O MUSEU DO AMANHÃ ALDY MELLO Publicado no Estado do Maranhão de 10/01/2016
Acabei de visitar o Museu do Amanhã, inaugurado próximo ao Ano Novo pelo Governo do Rio de Janeiro. É uma obra erguida sobre tonelada de sonhos permitindo a todos que o visitam uma viagem fantástica ao futuro. O museu é uma arquitetura impressionante, cujos recursos tecnólogos interativos permitem a todos refletir sobre a vida humana, a ciência, e planejar o relacionamento das futuras gerações com a Terra. O museu leva os seus visitantes a ter uma vontade imensa de revolucionar o mundo e mudar os rumos da história. Por tudo que conheço, no mundo, o Museu do Amanhã é único e ímpar, com seu acervo imaterial trazendo conhecimentos do passado e do futuro, misturando poesia, arte, ciência e entretenimento em torno de cinco perguntas básicas: De onde viemos? Quem somos? Onde estamos? Para onde vamos? Como queremos ir? Tudo no Museu do Amanhã começa com uma narrativa que explora o Universo, indo até aos futuros cenários da Era da Humanidade. Os visitantes são levados a pensar no Amanhã, não importa o seu nível de saber. O primeiro grande contato com o conteúdo do museu é uma viagem ao COSMOS – De onde viemos? Entramos num domo negro onde assistimos a um filme de ficção científica, de 8 minutos, em 360 graus. Somos lembrados de que pertencemos a um Universo em todas as suas dimensões. Em seguida, temos o contato com a TERRA – Quem somos? E em três níveis nos descobrimos: matéria, vida e pensamento. Aqui encontramos a Ciência ao cubo, numa produção multimídia, com disse a imprensa nacional, com uma moderna videoinstalação com 400 mosaicos diferentes. Prosseguindo, deparamo-nos com o ANTROPOCENO, a Era dos Humanos – Onde estamos? Ficamos no meio de seis gigantescos pilares que expõem o caos da atualidade: desastres, explosões, raios e engarrafamentos, expressando a interferência do homem no planeta, desde as cavernas. Seguindo a orientação do folder que o museu distribui, chegamos à quarta parte que representa o AMANHÂ – Para onde vamos? Confrontamo-nos com as nossas definições e identidades para os próximos 50 anos. 13 painéis demonstram como será o planeta em 2065. Aqui está a meta do museu sobre três diferentes ângulos: a sociedade, o planeta e o ser humano. Finalmente, chegamos no momento das escolhas – Como queremos ir ? Entramos numa oca de 9 metros de altura, 17 de comprimento, com 428 lâmpadas que brilham de acordo com o movimento do nosso corpo, acompanhado de uma música futurista e um foco maior de luz que lembra a trajetória do sol. No centro da oca está o Churinga, a única peça museográfica do museu, representando a cultura aborígene. O Museu do Amanhã fica na Praça Mauá e sobre ela parece flutuar tamanha a leveza da obra. É uma construção portentosa de dois andares, com 18 mil metros quadrados, em concreto e estrutura metálica. O monumento é todo branco, com 338,3 metros de cumprimento e 20,85 metros de altura. O prédio é uma verdadeira obra de arte, criação do arquiteto espanhol Santiago Calatrava, inspirado numa bromélia. O Museu do Amanhã conta ainda com um Laboratório de atividades do amanhã em que instiga os visitantes à inovação e à experimentação com vistas ao futuro. É um momento estritamente educativo. O museu, além de ser diferente, é erguido sobre princípios éticos da sustentabilidade e permite aos visitantes a se engajar nas ações futuras de salvamento do planeta. É, portanto, um espaço que nos convida a interagir. A arquitetura do Museu do Amanhã se integra perfeitamente ao entorno natural do Rio de Janeiro, fazendo nascer a Praça Mauá, como âncora do processo da zona portuária, agora um imponente pólo cultural. Ao sair do Museu do Amanhã, tem-se a verdadeira consciência de que o amanhã é hoje e precisamos agir agora.
ORDEM FISCAL ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Publicado Mem O ESTADO, 17/01/2016
Faz tempo que se luta pelo estabelecimento de uma administração pública moderna e eficiente, de forma lenta e gradual. Um marco importante foi a edição da Lei 4320/64, conhecida como Lei do Orçamento-Programa, fixando regras de feitura e execução, que atualmente contempla a alocação de recursos em prioridades de investimento e custeio. Em 2001, surgiu um instrumento legal conservando as bases da Lei 4320, para tentar evitar a fraude, a corrupção, a malversação do dinheiro público, além de inibir a descontinuidade administrativa; contudo houve quem não gostasse. Diziam que era a “lei dos contrários” e inibia a ação dos governantes atrevidos a adotá-la; que tinha sido inspiração do Fundo Monetário Internacional - FMI, numa clara alusão à imposição de regras “de fora para dentro”. Desde 1944, em Bretton Woods - USA, o FMI tem sido o responsável pelos erros e acertos na tentativa de estabilizar a economia dos seus países-membros. Mesmo assim, acho que a LRF foi uma lei desejada pelos brasileiros e inspirada na imperiosa necessidade de um ajuste fiscal responsável e que pudesse devolver o equilíbrio às contas públicas. Não importa de onde tenha vindo a inspiração. Considero a LRF, do ponto de vista macroeconômico, um valioso instrumento de planejamento estratégico. É como um Plano Diretor, para qualquer cidade: define basicamente como deve crescer e usar bem seu espaço físico em proveito de suas diversas funções. Dentre as maiores conquistas da LRF merecem destaque os relatórios que são gerados a cada bimestre e quadrimestre: o Relatório Resumido de Execução Orçamentária - RREO e o Relatório de Gestão Fiscal RGF; são instrumentos de transparência absoluta e devem ser publicados em jornais de grande circulação, além de disponibilizados na Internet. Há os poderes constituídos e encarregados da fiscalização e aplicação da LRF: Tribunais de Contas, Assembleias Legislativas, Câmaras Municipais e o Ministério Público, também a sociedade organizada participante da discussão do orçamento; todos podem exercer sua missão na plenitude e acompanhar o que está sendo feito com o dinheiro público. Como decorrência da LRF as repercussões maiores ocorreram na área municipal: os planos de contas e os sistemas contábeis foram alterados ou sofrerem adequações, para poderem gerar os relatórios acima referidos; a contabilidade teve que perseguir uma atualização constante, a fim de permitir o fornecimento de informações em tempo real e indispensáveis à tomada de decisões. Não há dúvida de que as dificuldades de ajustamento à nova ordem fiscal foram diferentes e independentes do nível da administração pública; nos novos tempos, entretanto, essas limitações continuam sendo superadas e o cumprimento da LRF pode ser exigido na sua plenitude. A Lei do Orçamento Anual - LOA estima as receitas, mas fixa as despesas; para que o ajuste seja cumprido ou mantido há necessidade de um acompanhamento permanente da sua execução. Isto exige recursos humanos e materiais, informatização, programas de computador, para que as informações sejam sistematizadas e fluam em tempo real.
TROFÉU MELHORES POETAS 2015/2016, LITERARTE - ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE ESCRITORES E ARTISTAS/PREFEITURA DE OURO PRETO-MG.
POR QUE SOBEM AS TAXAS DE JUROS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Publicado em O estado, 31/01/2016 As decisões das Autoridades Monetárias constituem o principal instrumento de controle da moeda, que é considerada uma variável externa capaz de ser administrada. É certo, porém, que a quantidade de meios de pagamento existente na economia deve guardar proporções com a taxa de crescimento da produção de bens e de serviços. A prática tem demonstrado uma tendência: quanto maior e mais acelerado for o crescimento da oferta monetária, maior deverá ser a taxa de juros, e vice-versa. Segundo o famoso economista Milton Friedman, professor da Universidade de Chicago, três efeitos conjugados explicam o comportamento da taxa de juros: liquidez, preço e renda, e antecipação de preços. Mais ainda: a taxa de juros é o preço do crédito, não do dinheiro. Quando o Banco Central compra títulos - fazendo uso de um dos principais instrumentos de política monetária - aumenta a disponibilidade do sistema bancário para emprestar dinheiro, afetando as taxas de juros para baixo. Com as taxas de juros baixas haverá um incentivo para o consumo aumentando a produção das empresas e, como consequência, a renda. Uma vez estabelecido um processo de expansão da economia, de aumento de produto e renda, aumentará a demanda por recursos disponíveis para empréstimos forçando uma tendência de aumento na taxa de juros. E quando os preços começarem a subir acompanhando a subida das taxas de juros, e as pessoas passarem a acreditar que esses preços continuarão a subir ainda mais, todos reterão menos dinheiro em relação à renda recebida e passarão a buscar proteção: ou gastando por antecipação - o que contribuirá para uma subida ainda mais acelerada dos juros - ou investindo em ativos reais, menos na produção. Assim, um incremento da oferta monetária provocará, de início, uma redução na taxa de juros, depois um aumento e, finalmente, uma elevação para um patamar ainda mais alto do que o anterior. É por isso que os fatores monetários respondem pela inflação e são, em certos momentos, os mais importantes, embora não sejam os únicos. Estas considerações vêm a propósito do que volta a acontecer na economia brasileira: os preços estão subindo, o que, por si só, já seria um fato inibidor do consumo. Mesmo assim, o Banco Central vem elevando a taxa básica de juros de forma a encarecer o crédito ainda mais e, consequentemente, evitar um aumento na demanda, embora os efeitos colaterais dessas decisões (aumento da dívida pública) acabem se voltando contra o próprio governo. É importante, portanto, para o seu próprio bem, que as pessoas revertam suas expectativas em relação a um fenômeno passageiro causado principalmente pelos produtos cujos preços dos insumos estejam atrelados ao dólar, muito embora a política dos chamados preços administrados (tarifas públicas) tenha grande participação no que está acontecendo; caso contrário, se prevalecerem os aspectos psicológicos do mercado - de que amanhã os preços serão ainda maiores -, estaremos chancelando a volta da inflação. Economista, membro da ACL e da ALL
ÉTICA NO CARNAVAL – MERO DEVANEIO FILOSÓFICO? ALDY MELLO Publicado em O ESTADO, 07 de fevereiro de 2016
A ética continua a ser um tema de permanente atualidade, mesmo que busquemos suas origens nos gregos. Thomas More, em 1535, já pensava numa nova ordem social, onde se pudessem evitar as injustiças sociais. A essa nova ordem ele chamou de utopia, um estado que evitasse a injustiça. Por essa razão é que cultivamos as nossas utopias: um lugar de justiça, um lugar de igualdade, um lugar onde se possa alcançar o ideal. Como queria Aristóteles, um lugar onde o homem encontrasse o bem humano maior, a justiça. A ética diz respeito a um conjunto de conhecimentos sobre o comportamento humano e obedece a princípios e regras morais. Ética e moral tratam da moralidade dos costumes e regras existentes, do agir e do modo de ver do homem consigo mesmo e com os outros homens. Falar em ética é falar de valores que orientam as ações humanas. Para os gregos, a ética era um modo de ser, enquanto a moral se relacionava com os costumes e as normas vigentes. Vivemos, hoje, uma realidade onde os homens são cada vez mais fascinados pelas mudanças. Para os autores é a nova confluência histórica em busca de uma terceira onda. Fala-se numa patropia, no lugar da utopia de Thomas More, onde todos procuram uma vida totalmente nova. Buscamos o admirável, o fascinante mundo onde tudo possa ser mais prático e prazeroso. Por isso adoramos os avanços tecnológicos e científicos que estamos vivendo. Nesse terreno a corrupção tem lugar reservado. Será o colapso do bom senso? A história do pensamento ético que teve sua origem na Grécia antiga evoluiu até os dias atuais. Ética para Sócrates baseava-se no princípio de que as pessoas deveriam agir conforme o entendimento do que era certo e do que era errado. Para Platão o raciocínio ético estava amparado na teoria do conhecimento (epistemologia). Para decidir sobre o que era certo e errado, era preciso ter conhecimento do que é bom e do que é mau. A ética para Aristóteles fundamentava-se na busca da felicidade. Para isso o homem precisava atingir a excelência da vida humana, ou seja, ser virtuoso. O pensamento da Igreja Católica foi o pensamento que predominou no mundo medieval, dominado pelo teocentrismo. A sede de um ideal coletivo será benéfica para levar o cidadão ao exercício de sua criatividade e de sua conduta ética? Será que a ética realmente sumiu? Só existe ética humana quando a minha atitude ou meu comportamento não prejudique o outro, mesmo que essa atitude ou esse comportamento seja legal ou esteja de acordo com as normas. Jamais devemos permitir que a ética seja um mero devaneio filosófico, mesmo no Carnaval.
TRIBUTO À SOBRAMES-MA Com muita humildade e uma dose de orgulho que relembro aquele momento de reconhecimento do presidente nacional Luiz Barreto ao nosso trabalho frente a nossa agremiação medico literária. Minha trajetória dentro da SOBRAMES dista 16 anos de convivência fraterna pacífica e profícua . O que vi e vivi quando fazia parte da SOBRAMES paulista foi marcante e vou levar para a vida . Grandes nomes da medicina do Brasil em suas especialidades compartilham em tertúlias a voz da sua alma (pizza Literaria na época no espaço da pizzaria Livorno ).Naqueles idos eu era um residente de Pediatria que se descobria na paulicéia em um processo de ebulição literária. Vejo hoje ,como que talvez um mecanismo fisiológico do meu ser , um antídoto para harmonizar aquela convivência com o "caos exterior" . E ali no meio de anciãos com currículos invejáveis na ciência e na arte compartilhava o belo e emocionava me com o carinho recebido . Ciente de que ali deixava-me semear pela semente do amor phillos como também pela arte literária . Nesta arte busco experimentar a liberdade e a cura para meus anseios, semear sonhos , descobri enfim o que penso e quem sou como parte integrante deste mundo. Graça a Deus conseguimos trazer para nosso Estado este mesmo sentimento , a harmoniosa convivência e reproduzir a mesma essência terapêutica do amor fraterno e eterno entre nós .A todos os Sobramistas dedico este prêmio . Pois não se chega ao topo sozinho. Certamente o meu maior orgulho é ver vossos talentos brilharem. É o que desejo do fundo do meu coração . Michel Herbert
O ESTADO, 11 DE FEVEREIRO DE 2016
MHARIO LINCOLN ENTREVISTA LEOPOLDO VAZ
Deu liga. Foi muito boa a entrevista que fiz com o paranaense Leopoldo Gil Dulcio Vaz, hoje residindo em São Luís (e pretende não mais sair, segundo ele mesmo). Vaz veio para o Maranhão somar. E como somou. Hoje é referência quando se fala de literatura e artes locais. Aguarde a íntegra da entrevista. Quem sabe, na mesma trilha, não venha somar também o Osmarosman Aedo. Vamos aguardar. Hoje mesmo falei com Joana Bittencourt da Fundação Beto Bitencourt e ela me disse de seu interesse em conhecer pessoalmente Aedo. Quem sabe, no futuro, ele não venha a compor a Companhia de Bonecos Beto Bitencourt? Vamos aguardar.
ENTRE A BATINA, A TOGA E AS MUSAS ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Promotora de Justiça, Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG), Sócia efetiva do IHGM e membro da ALL alaferro@uol.com.br Publicado em O ESTADO, 14 de fevereiro de 2016 A 19 de fevereiro de 1978, aos 77 anos, transpôs o umbral da eternidade um dos personagens mais fascinantes e destacados das letras maranhenses. Um homem de muitas facetas, que navegou, com semelhante desenvoltura, pelos mares do sacerdócio, da política, do jornalismo, da magistratura e das letras. Um padre que fez história. Nasceu em Matinha, onde aprendeu as primeiras letras, findando o curso primário na cidade de Viana. Em São Luís, estudou no Seminário de Santo Antônio. Ordenado sacerdote em 1925, cedo trocou o púlpito do clérigo pela tribuna do político. Apoiou a Coluna Prestes e integrou a Aliança Liberal, qualificando-se como uma das principais figuras da causa da Revolução de 1930 no Maranhão, para a qual contribuiu ativamente como jornalista e orador inflamado. Governou o Maranhão pelo breve e tumultuado período de 09 de janeiro a 18 de agosto de 1931, como Interventor Federal, com o assentimento a custo de D. Octaviano de Albuquerque, arcebispo de São Luís, batendo-se contra sérios problemas administrativos e a feroz oposição liderada por Reis Perdigão e Tarquínio Lopes Filho. E ganhou repercussão no país a notícia de sua convivência em palácio com uma mulher casada, mãe de um filho seu. Foi suspenso das ordens sacras e retirado das rédeas do Executivo. Preso, por poucos dias, em 1935, em razão de sua simpatia pela Aliança Nacional Libertadora, mudou-se, em 1937, para o Rio de Janeiro. Lá renunciou à batina e ocupou vários cargos públicos, de início sob a era Getúlio Vargas e, depois, sob o governo de Eurico Gaspar Dutra, destacando-se a sua nomeação, em 1949, para ministro do Tribunal Superior do Trabalho, de que exerceu a presidência em 1964. Mas a pena do magistrado jamais sombreou a do escritor. Celebrado historiador, memorialista e poeta, possui caudalosa bibliografia, com trabalhos publicados e inéditos: Gleba que canta e Profetas de fogo (poesias); Homenagem à mulher maranhense; Noventa dias de governo, Aspectos de uma campanha e Discursos políticos (política); O Guesa errante, um estudo sobre o poema homônimo de Sousândrade; Terra enfeitada e rica (crônicas); Caxias e o seu governo civil na Província do Maranhão, obra historiográfica de fôlego sobre o Patrono do Exército brasileiro, com prefácio de Eurico Gaspar Dutra; A vida simples de um professor de aldeia, biografia de seu pai Joaquim Ignácio Serra; A Balaiada, sem dúvida, seu livro mais conhecido; A vida vale um sorriso e Uma aventura sentimental (novelas); Gonçalves Dias e os problemas da economia nacional, outro estudo; e a deliciosa obra Guia histórico e sentimental de São Luís, dentre outros preciosos legados. Algumas dessas obras e fotografias, diplomas e outros documentos ligados à sua trajetória de vida podem ser encontrados no Centro de Memória e Cultura do TRT-MA, localizado no fórum local que leva o seu nome. Integrou os quadros da AML e do IHGM. Tenho o privilégio de ocupar a Cadeira nº 36 deste instituto, patroneada pelo padre secular que fez história, seja como protagonista, seja como seu intérprete: Astolfo Henrique de Barros Serra.
FESTIVAL INTERNACIONAL DE POESÍA "BENIDORM & COSTA BLANCA"!
PENSADORES ENFRENTAM DESAFIOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO PUBLICADO EM O ESTADO, 14 DE FEVEREIRO DE 2016
Meu terceiro livro “Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory” faz uma análise dinâmica da crise da “bolha” iniciada nos Estados Unidos e repercutida na Europa, principalmente na eurozona, entre 2008/2015. Foi lançado recentemente na EAESP da FGV-SP. Precisamos de novas teorias à adequação de práticas “inovadoras” de mercado ou de correção de rumos à ordem econômica há tempos estabelecida? A verdade é que a teoria construída pelos grandes nomes do passado ainda pontifica nos dias de hoje, mas sua aplicação vai a sentido contrário, por exemplo: o comportamento racional do consumidor; a emissão primária de moeda e outros ativos financeiros não monetários; a autorregulação e equilíbrio desses mercados. Há contradições em pauta. O Banco Central prevê recuo na demanda interna por causa da recessão em curso gerando desemprego e baixa de renda, isso tudo agravado pela instabilidade política e expectativas desfavoráveis em relação ao futuro; mas, mesmo assim, o governo federal pretende usar o pagamento das “pedaladas” ao estímulo do setor imobiliário em crise. Onde os tomadores desses recursos, sem subsídios, para que os investimentos decorrentes feitos com créditos dos bancos oficiais possam compensar, pela geração de impostos, os impactos no pretendido ajuste fiscal? Outra justificativa no contido em “Desafios/Challenges”, de certa forma também o foco deste texto, é o artigo do colunista financeiro Federico Fubini, publicado no “Valor Econômico”, edição do dia 7 de janeiro deste ano, sob o título “O mercado fechado das idéias econômicas”. Ele diz textualmente: “A economia mudou, mas a lista dos economistas mais influentes não”, e fala da forma como eles “veem a si mesmos e a sua disciplina”. Faz isso baseado em dados confiáveis relacionados a ensaios, análises, artigos, livros e programas de computador produzidos, escritos e utilizados pelos especialistas, além de algumas curiosidades incluindo como os economistas são vistos por seus próprios colegas, quais aqueles mais influentes ao longo do tempo. Fubini pergunta como ficariam as idéias de Robert Lucas (economista americano da Universidade de Chicago, detentor de prêmio em homenagem a Alfred Nobel, em 1995) e de Eugene Fama (americano conhecido por suas contribuições teóricas e empíricas em teoria do portfólio e precificação de ativos), depois do estouro da “bolha” imobiliária e da queda no preço dos ativos financeiros, cujos agentes poderiam maximizar a utilidade econômica e refletirem todas as informações disponíveis. Depois de fazer considerações gerais sobre mudanças na posição dos economistas e de pessoas mais ricas num “ranking”, Fubini fica surpreso ao constatar que em evidência continuam praticamente os mesmos, apesar das controvérsias sobre a teoria econômica estabelecida há tempos. E conclui: “Será que os esses economistas estão tão preocupados em proteger suas próprias ideias que ignoram inovações provenientes de locais inesperados”? Então, do que precisamos realmente: produzir novas teorias ou novas interpretações sobre a teoria existente? Esses são os desafios a enfrentar. *Economista. Membro da ACL e da ALL.
A ERUDIÇÃO NAS UNIVERSIDADES ALDY MELLO PUBLICADO EM O ESTADO, 21 DE FEVEREIRO DE 2016
Pródigo em comemorações, o mês de Março está incluído no calendário erudito: dia 08 é o dia internacional da mulher, 12 é o dia do bibliotecário, 14 é dia da poesia e 21 é o dia do teatro. A Mulher, cantada e encantada em toda impressa nacional, como bem presenciamos, lembra uma flor que mesmo depois de murcha, o seu perfume continua. Bibliotecário, com profissional da atualidade, lembra biblioteca e esta nos lembra o livro, a leitura. Poesia e teatro são dois componentes daquilo que também chamamos a erudição nas universidades, tendo como cenário principal os seus cursos de Letras. As universidades precisam ter alma e alma sublime, onde este processo se faça pela erudição e não apenas pela cientificidade dos conhecimentos. É através das letras e da expressão humana que configuramos a erudição na academia universitária e disso os gregos já entendiam e nos ensinaram juntamente com o crescimento da universidade no mundo inteiro. Erudição é e será sempre uma qualidade de quem é erudito. A leitura e o conhecimento advindo dela é um dos fatores mais importantes da erudição. Só poderei ter a certeza de que a linguagem de Vieira é típica do barroco europeu, se eu conhecer bem o barroco europeu, seja pelos seus ornamentos, pelo seu humanismo ou pela elaboração de seus conceitos. Uma universidade não pode esquecer que é, por excelência, um locus privilegiado para a educação superior. E por falar em educação, nunca devemos esquecer que se trata de ensinar e aprender. É através das Licenciaturas que formamos pessoas para o magistério, em qualquer nível educacional. A Licenciatura, ao lado do Bacharelado e do Tecnólogo, é um grau acadêmico que habilita os formandos para o processo de ensino-aprendizagem. As Licenciaturas representam para as instituições de ensino superior o compromisso com a qualidade da educação no desenvolvimento de uma região ou de um país. Uma universidade sem Licenciaturas é uma universidade sem alma. A importância das Licenciaturas na Universidade Brasileira reaparece com a nova política do Ministério de Educação. Cursos como Pedagogia, Letras, Ciências Biológicas, Educação Física, Matemática, Química e Física passam a ter mais importância na política educacional brasileira. Hoje, os estudos de humanidades não mais pertencem ao grupo nobre da formação universitária, por isso não contam mais com o apreço dos governantes nem dos empresários da educação, priorizando a tecnologia e as ciências consideradas nobres, as quais representam o retorno de investimentos financeiros ao poder público. Até os exames relacionados ao ensino superior ENEM e ENADE levam a esses fins, porquanto a avaliação educativa busca agentes e gestores, e não homens de formação humanística. Filosofia e Sociologia, Ética e Moral são disciplinas menosprezadas pelos currículos escolares e a elas os governantes não dispensam qualquer consideração e apreço. É importante não se confundir a erudição com uma boa educação, bons costumes, etiqueta e mesmo com o refinado comportamento das elites. Ter cultura erudita não representa mero poder aquisitivo. É, sim, um poder que tem sua garantia no saber adquirido. Erudição e cultura erudita estão em nosso imaginário, como integrantes da sociedade ocidental, como cultura humana, podendo ser buscadas, assim como a cultura popular,também nas universidades.
Já está online o 27º número do Ilhavirtualpontocom, com entrevista concedida por Ana Luiza Almeida Ferro, um breve estudo sobre sua obra e também sugestões de livro e CD. Visite nossa página e leia o informativo: http://www.joseneres.com/ilhavirtual
Uma reportagem bem interessante que fala um pouquinho sobre a França Equinocial nos 403 anos de São Luís. Vale a pena conferir! https://www.youtube.com/watch?v=kQ-SpiIYRwo
EU SOU DO TEMPO EM QUE… BENEDITO BUZAR Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes
Na semana passada, mudei de idade. Sou um setentão assumido e bem conservado, daí porque não me queixo da vida. Ao chegar aonde cheguei, devo dizer que ora caminhei por estradas pedregosas, ora por vias bem pavimentadas, estas, felizmente, bem mais numerosas do que as outras. Também passei por dissabores, que os considero insignificantes e desprezíveis quando os comparo e os contabilizo com as venturas, os sucessos e as alegrias acumuladas e vividas, sem esquecer a família que construí e os amigos que me cercam. Concordo com o escritor mineiro Pedro Nava quando disse que a vida é um carro andando numa estrada com as luzes traseiras ligadas. Assim é a minha vida. As luzes que a iluminam estão sempre bem acesas para que a escuridão não atropele os meus passos, que embora curtos e modestos, sempre me levaram ao caminho do bem. Nesse percurso em busca da felicidade e de fazer o bem, não esqueço o meu passado, do qual, sem ser saudosista, tenho saudade de tantas coisas boas que presenciei e desfrutei, que recordo, lembro e não saem da minha memória, e agora recorro para vangloriar-me de que eu sou do tempo em que… Só se sabia o sexo da criança depois do parto, quase sempre realizado em casa, mas sob a assistência das benditas parteiras. A minha chamava-se Agostinha Chupeta se chamava pipo e tênis (calçado) tinha o engraçado nome de chulipa. Filho não sentava à mesa antes dos pais, cujas refeições diárias eram preparadas em fogões movidos a lenha ou em fogareiro e carvão. Aos domingos, não se dispensava o almoço-ajantarado. Meninos e meninas dormiam de chambre e não se deitavam sem antes rezar e serem abençoados pelos pais. Para o descanso noturno, não se dispensava a rede, debaixo da qual não podia faltar o penico ou urinol. O local onde se fazia as necessidades fisiológicas chamava-se sentina, instalada estrategicamente no fundo do quintal da casa. As mulheres usavam peças íntimas chamadas sunga, corpete e anágua e os homens ceroulas e cuecas samba-canção. No verão, um calçado de madeira era usado em larga escala por homens e mulheres: tamanco ou chamató. No inverno, as galochas, produtos de borracha, protegiam os pés e sapatos. As roupas masculinas eram feitas por alfaiates e as femininas por costureiras. Caligrafia e tabuada eram livros obrigatórios no curso primário e os professores dos cursos secundários davam aulas de terno e gravata.
As famílias sentavam nas portas das casas para as habituais conversas de finais de tardes. O castigo físico era um procedimento natural para corrigir filhos, sendo a palmatória o instrumento preferido para fazê-los entrar na linha. Gripe se chamava constipação e curava-se com remédio caseiro à base de agrião e mel, sob a forma de xarope. Carne, peixe e frango se compravam em mercados; gêneros de primeira necessidade em mercearias e quitandas. As fardas colegiais eram feitas de tecidos grossos, do tipo cáqui ou brim. Os homens só cortavam cabelo com barbeiros e as mulheres gostavam de um penteado chamado permanente. Festas dançantes, em clubes, eram animadas por orquestras. Em residências particulares, por radiolas ou toca-discos, que funcionavam à base de discos vinil. Defuntos eram velados em residências e a roupa preta era sinal de luto. Calcigenol, Biotônico Fontoura, Emulsão de Scott, Melhoral, Pomada Minâncora, Anaseptil, Phimatosan, Elixir Xavier, Bicabornato de Sódio, Pílulas de Vida do Dr. Ross, Bromil, Leite de Magnésia Philips, Elixir de Inhame Goulart, Ozonil, Cibazol e Coramina eram remédios mais procurados nas farmácias. Sabonetes Phebo, Eucalol e Lever; pasta dental Kolinos e Philips; óleo de cabelo Glostora; talco Gessy, perfumes Regina, desodorantes Leite de Rosas ou Leite de Colônia, eram produtos de uso pessoais mais consumidos. Padres usavam batina preta, celebravam os ofícios religiosos em latim e de costas para os fiéis. Ninguém comungava sem antes confessar os pecados aos padres. Jogo de futebol era chamado match. Quem jogava no gol era keeper; na defesa, back; na intermediária, half; centro avante, center ford ward. Juiz da partida, referee. Automóveis de passageiros eram conhecidos por carros de praça e o ato de levá-los para algum lugar chamava-se corrida. Wisky era bebida de rico. Cerveja, cinzano, vermute e conhaque, da classe média; cachaça, dos menos aquinhoados. Mulheres do baixo meretrício, respondiam pelos nomes de prostitutas, raparigas, mariposas, gatos. Homem que não pagava mulher depois do ato sexual chamava-se xexeiro. Zica era uma famosa dona de pensão de raparigas da Rua 28 de Julho.
PROGRAMA “ALGO MAIS” DA PAULINHA LOBÃO, EM 27 DE FEVEREIRO... FALANDO DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO E DA HISTÓRIA DE SÃO LUÍS
O ESTADO, 28 de fevereiro de 2016 – OPINIÃO, p. 5
Revista Cultural Ludovicense - São Luís 400/2012 com Leopoldo Gil Dulcio Vaz e Leopoldo Gil Dulcio Vaz. 13 h ·
A direção da Revista Cultural Ludovicense - São Luís 400 / 2012 tem a satisfação de divulgar o artigo A “DESCOBERTA” DO MARANHÃO", por Leopoldo Vaz, em sua coluna no kornal O ESTADO DO MARANHÃO, na data de hoje, 28/02/2016. Trata-se de um importante registro histórico, literário e cultural. O autor é Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Membro fundador da Academia Ludovicense de Letras - ALL,, Professor de Educação Física.
* Link: http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/02/28/12649/
--- Divulgação: Ana Félix Garjan ArtePoesia Literatura.- idealizadora, editora e divulgadora da RCL - SL 400/2012
DIA 23/04/2016- EM LISBOA-PORTUGAL: PALESTRA DE VANDA SALLES: DA POESIA COEXISTENCIALISTA: NÓS- AS CANTORAS DESPUDORADAS A PARTIR DE CITAÇÃO DA POÉTICA DAS POETAS/ESCRITORAS E/OU PROFESSORAS UNIVERSITÁRIAS: AMÉLIA DALOMBA FILOMENA VIEIRA DILERCY ADLER LÍRIA PORTO VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES ANDRA VALLADARES ROSEANA MURRAY LIA LUFT REGIANA TAVARES LILLY FALCÃO E MADALENA FERIN
O ECO DE HUMBERTO ALDY MELLO Publicado em O ESTADO, 05 de fevereiro de 2016 Humberto Eco faleceu no dia 19 de fevereiro de 2016, em Milão, onde residia. Foi o maior escritor, filósofo e semiólogo da atualidade, reconhecido a nível internacional. Era professor de Semiologia e Ciências Humanas na Universidade de Bolonha, na Itália, e ensinava em outras universidades americanas e canadenses. Costumava-se dizer, nos meios intelectuais da Itália, que Humberto Eco era o homem pósrenascença que sabia tudo. Foi um grande jornalista, contra o mau jornalismo e aqueles que manipulam os jornais, lutando abertamente contra a corrupção. Eco fala das redes sociais e o papel delas na sociedade moderna, abordando de modo especial a Internet, como sistema global de redes de computadores interligados no mundo inteiro. Humberto Eco dedicou-se como filósofo à estética medieval, baseado em Santo Tomás de Aquino. A partir da década de 60, avançou com seus estudos sobre pluralidade de significados, foi quando publicou seu livro sobre sociedade de massa e meios de comunicação. Nessa área, Humberto Eco não se distanciou muito de Marshall McLuhan que considerava a cultura de massa como um tipo de integração democrática. Buscando conhecer mais o entendimento humano, criou a Semiótica na comunicação, baseado nas ideias de John Locke, empirista inglês do século XVII, afastando-se da conhecida Semiologia vinda da Escola Europeia. Sobre Semiologia, escreveu nada mais que um tratado – Tratado de Semiologia Geral, em 1975, e sobre cultura de massa e os meios de comunicação publicou para os comunicadores, em 1965, Apocalípticos e Integrados. Sabemos que Semiologia a ciência que estuda os signos e os sistemas de significado muito usados em Medicina para identificar os sinais e os sintomas das doenças humanas. Humberto Eco dedicou-se à Semiótica da imagem. Estudioso dos meios de comunicação de massa e como ensaísta italiano e doutor em estética mostrou familiaridade com a escolástica. Para o famoso escritor e filósofo, a imagem ganhou notoriedade na Idade Contemporânea, sobretudo com a televisa, inventada a civilização da imagem. Para Humberto, signos, símbolos, significados e significantes unem coisa a alguma imagem concreta. Entre suas diversas obras, destacam-se o Nome da Rosa, publicado em 1980, levado à categoria de filme de sucesso no mundo todo. O romance trata de misteriosos crimes ocorridos em uma abadia em plena Idade Média. O Pêndulo de Foucault, em 1988, tratou de uma história onde três intelectuais desenvolveram um plano para dominar o mundo. O Cemitério de Praga, em 2010, é um romance histórico que trata de atos desumanos envolvendo Alfred Dreyfus, Hitler e Guiseppe Mazini. Humberto Eco foi laureado com vários prêmios, inclusive o prêmio austríaco da Literatura Europeia, em 2004, doutor honoris causa por mais de 25 universidades do mundo e integrava o Fórum dos Sábios na Mesa do Conselho da UNESCO. Humberto partiu, mas seu Eco ficou entre nós, sobretudo para os amantes da comunicação. Sua lucidez mordaz ficou em suas obras. Deixa como legado, dentre outros, sua análise crítica sobre o papel da tecnologia na integração dos homens entre si e seus reflexos na sociedade.
O livro Mário Meireles: historiador e poeta (Curitiba: Ed. Juruá, 2015) de autoria de Ana Luiza Almeida Ferro acaba de ser recomendado no Domingão do Faustão, da Rede Globo...
DILERCY ADLER, PRESIDENTE DAS ALL NA ESPANHA – LICEO DE BENEDORM – ENCONTRO DE POETAS 2016
VIDA DUPLA SANATIEL PEREIRA Membro da ALL, ACLAC e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA
Novamente em meu confessionário ouvi uma alma justa e cheia de luz me falar de coisas que ainda não tinha pensado. Ele me veio falar sobre o homem desconhecido que vive dentro de nós – nas palavras dele –, do qual não tomamos conhecimento na maior parte da nossa existência. Antes que ele iniciasse a sua homilia em tom baixo, quase um murmúrio, em fala mansa, já estava eu a pensar: puxa vida! Se viver com este homem externo já é difícil, o que fazer com mais um que vive dentro de nós? Mas, com todos os meus ouvidos, pus-me a escutá-lo com a máxima atenção. Existem dois homens vivendo a mesma existência. Um homem bom e outro mau. Embora aos olhos humanos pareçam dissociados, por conceito, um do outro, eles não são inimigos. Muito pelo contrário, o que os une é um sentimento de preservação, proteção e sobrevivência. Um segue e se ajusta aos ditames do coração; o outro, aos da razão. Um se move pelo caminho da justiça; o outro, pelo do direito. Um desenvolve atitudes de confiança e solidariedade; o outro, de inquisição. Um cede naturalmente; o outro cobra regularmente. Um se entrega; o outro se preserva. Um dialoga; o outro manda, exige. Um compreende; o outro desconfia. Um está no exercício do poder; o outro, no serviço devocional. Depois de um longo suspiro, ele reiniciou a fala, de olhos fechados, como se dialogasse com a sua parte interior, pedindo autorização para expor o assunto. Uma coisa nós temos que compreender: não existe nenhuma imposição de ambas as partes. Como mestres de diferentes escolas do pensamento e do sentimento, eles dialogam sem deixar que o outro goze a sua condição de homem livre. Isso é uma lei para ambos e condição essencial para a existência do ser em que habitam. Dessa forma, subsiste somente a decisão de cada um em aceitar ou não a sugestão do outro. A lei do livre arbítrio é inegociável. Depois de acordada a questão, ninguém cobrará do outro a decisão tomada, mesmo porque cada um tem responsabilidade diante da própria decisão e das consequências que haverão de vir. Com quem está a verdade? A que mestre devemos seguir? Que verdade? Haverá isso no mundo desses que habitam os seres ou não será isso uma quimera de mentes desorientadas que não tiveram coragem de experimentar a vida como ela é? Afinal, cada um é feliz do seu jeito. Para o servidor, os projetos são existenciais, qualitativos; enquanto que, para o pensador, nada que não se quantifique vale a pena perseguir. Com quem está a verdade? Ninguém sabe! Certo dia, encontrei outro livre pensador que, adiantando-se, confessou-me da verdade nada querer saber. Porquanto não veio para consertar o mundo e não gostaria de ser cobrado por coisas que deveria supostamente saber e aplicar. E me adiantou mais: “e se isso for tudo mentira?”. Eu não tive nem tempo de perguntar a ele quem estava dizendo aquelas verdades: se sua parte externa, mundana; ou sua parte interna, divina. Eu vou novamente nivelar os fatos pelo conselho do Dalai Lama: “se você nada quiser deste mundo, viva nele como um turista”. Particularmente, acredito que este é um bom conselho para quem não quer gastar neurônios em busca de utopias.
Vejam o carinhoso presente que o Confrade Sanatiel, da Academia Ludovicense de Letras (ALL), me deixou nas pĂĄginas d'O Estado do MaranhĂŁo de 14.03.16...
CONCURSO NACIONAL “COLETÂNEA INTERNACIONAL BILÍNGUE – SEM FRONTEIRAS PELO MUNDO... VOLUME VERSO
Em festa de gala no Castelo Suíço, realizada na noite de 18 de março, em Blumenau, Ana Maria Almeida Ferro foi homenageada pela trajetória literária, recebendo, ao lado de outras pessoas, o Troféu “Imprensa sem Fronteiras”, outorgado pela Rede Mídia de Comunicação Sem Fronteiras, em celebração ao 3º aniversário do Jornal Sem Fronteiras, na categoria Literatura (“por mérito e reconhecimento, promoveu o engrandecimento da Cultura do País”). No dia seguinte, pela manhã, no Hotel Plaza Blumenau, lancou os livros Quando, O náufrago e a linha do horizonte e Mário Meireles: historiador e poeta. À noite, em elegante cerimônia no Teatro Carlos Gomes, recebeu o troféu referente ao 2º lugar no Concurso nacional “Coletânea Internacional Bilíngue – Sem Fronteiras pelo Mundo... Volume Verso”, com o poema “O náufrago VIII”, o qual me foi conferido pela Editora Rede Sem Fronteiras, em certame do qual participaram poetas de todo o país. Autografou exemplares da coletânea bilíngue (inglês-português) mencionada, lançada na mesma ocasião. O Jornal Sem Fronteiras é distribuído em várias cidades brasileiras e em mais de uma dezena de países. Nesse evento de três dias, teve o prazer de conhecer e reencontrar escritores dos quatro cantos do país e do exterior (eram quase 200 por lá). Foram muito bem recebidos na cidade. Destaca-se a apresentação da Banda Municipal de Blumenau, que representará o Brasil em festival no Canadá. Além de tocarem e cantarem, os seus integrantes dançam rock, MPB etc.
VEREDA TROPICAL ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e da ALL PUBLICADO EM O ESTADO, 26 DE MARÇO DE 2016
Lembranças vieram à minha mente depois de ver um documentário sobre o grupo de músicos cubanos que tocava na antiga casa de shows Buena Vista Social Club, em Santiago de Cuba, por volta dos anos 50. Muitos deles já eram famosos quando o regime de Fulgêncio Batista suspendeu o funcionamento da Casa; ficaram no ostracismo por mais de dez anos, sem poder tocar seus instrumentos e levando uma vida de profunda necessidade. Aí aconteceu quase um milagre: o produtor musical americano Ry Cooder, em sucessivas viagens a Havana, redescobriu esses talentos levando-os à realização de gravações e de shows memoráveis em Amsterdã e Nova York, transformando as suas vidas ainda que próximas do fim. Agora, diante dos esforços concretos dos Estados Unidos e de Cuba ao reatamento de relações diplomáticas e comerciais, difícil não relembrar aquela época com o que acontecia em São Luís, principalmente no Lítero Português do Largo do Carmo, nas festas animadas pelo Jazz Alcino Bílio. Regido pelo maestro Chaminé e seu acordeão, mais o Roque e seu contrabaixo, Lauro Leite e seu piano, José Hemetério e seu violino, além de outros músicos não menos virtuosos, o Jazz executava um repertório que incluía boleros, rumbas, mambos, chá-chá-chás e outros ritmos caribenhos. Havia como que uma febre por esses ritmos, uma verdadeira vereda tropical que nos conduzia sistematicamente aos sucessos daquele momento: a orquestra de Rui Rey, especializada em rumbas e correlatos, e os boleros originalmente gravados por Gregório Barrios, Chucho Martinez, Pedro Vargas, Bienvenido Granda e Lucho Gatica. Quantos encontros e desencontros não foram embalados por aquele som dançado aqui como se estivéssemos lá; quantos acertos e desacertos nesse procedimento. Aconteceram rompimentos que certamente permitiram a cada um acabar encontrando o seu melhor caminho, a sua alma gêmea, mas também o risco de ter perdido exatamente essa possibilidade. De qualquer forma, era a regra do jogo, usos e costumes de uma época áurea e sadia. Começar a namorar, então, deveria supor rapazes e moças livres de outros compromissos; as complicações seriam decorrentes e circunstanciais: namorar sendo fiel, noivar quando estivesse certo da escolha, com o consentimento das famílias e pelo tempo que fosse necessário; casar e permanecer na eternidade enquanto durasse, e até que a morte os separasse. Hoje, como são os relacionamentos? Todos muito “modernos” experimentando e exercitando práticas sem limites nem fronteiras, misturando e confundindo sentimentos; que falta nos faz a oportunidade de voltar a bailar, de murmurar ao ouvido, que nada até agora substituiu a magia do abraço no prazer de dançar. Salve, portanto, o Buena Vista Social Club e o Grêmio Lítero Recreativo Português. Salve Compay Segundo, Rubén González, Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo, Eliades Ochoa. Salve o maestro Chaminé, Roque, Lauro Leite e José Hemetério. Salve Ruy Rei, Gregório Barrios, Chucho Martinez, Pedro Vargas, Bienvenido Granda e Lucho Gatica. Salve todos esses músicos e cantores sensacionais, nos espaços sagrados de Havana e de São Luís, pelos momentos inesquecíveis que proporcionaram à minha geração.
VIVA JOÃO LISBOA! SANATIEL PEREIRA Membro da ALL, ACLAC e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA. Publicado em O IMPARCIAL, de 28 de março de 2016 Somente quando cheguei, no final da tarde, à Puerta del Sol, pude compreender por que aquela praça era considerada um dos locais mais famosos e concorridos da cidade de Madri. Embora fosse um dia qualquer da semana, tive impressão de que estava ocorrendo uma grande festa naquele logradouro. A atmosfera se revestia de um colorido fantástico por conta de grupos culturais que se apresentavam e pelo semblante de alegria em cada rosto que via. O encanto era maior ao perceber naquele lugar a reunião de uma boa parte de diversas etnias do nosso planeta, as quais se permitiam um abraço fraterno. O meu sorriso se abria em ressonância àquela alegria reinante. Depois de voltar para São Luís, percebi um fato que está em frente aos nossos olhos, mas não vemos: nossa cidade perdeu o coração. O Largo do Carmo, que depois se tornou a Praça João Lisboa, está abandonado. Aquela que funcionava como o epicentro de todas as atividades administrativas, sociais e culturais perdeu a alma. Todo o conjunto, praça, prédios e vias, está vivendo o mais triste outono: sem cantos, sem falas, sem amor. Este quadro mostra e marca a decadência de um povo que não soube preservar e valorizar as suas raízes. Somente um punhado de pessoas, membros moribundos de uma resistência cultural em desencanto, permanece naquele local, realizando atividades marginais. Em seus olhos, enxergase o pavor deste novo tempo, carente de valor, respeito e segurança com a memória do passado. Todos que viveram nos dias do século XX, em São Luís, sabem do valor histórico da Praça João Lisboa. Ela se constituía a principal via de acesso a qualquer lugar da cidade. Primeiramente, com os bondes da empresa americana Ulen & Company se cruzando em manobras frenéticas de seus motorneiros, que pouco se importavam com quem pagava ou driblava o cobrador na hora de receber a passagem. Ali estacionaram os primeiros táxis, a maioria de cor preta; eram automóveis Prefect, da marca Ford. As primeiras cafeteiras italianas foram vistas no café do Jorge, no abrigo novo, ainda existente. O pudim de maisena e ameixa do famosíssimo Moto Bar, servido pelos gorduchos garçons paramentados com gravatasborboleta. O hotel Serra Azul, com seus hóspedes ilustres espiando, extasiados, das suas janelas, os autênticos telhados de telhas francesas, vindas de Marselha, que cobriam os casarões daquela Praça. A turma da PM, com suas discussões acaloradas sobre todos os acontecimentos da província do Maranhão. Os sapatos de couro luzidos por um engraxate instruído, consciente e feliz com aquilo que fazia. O Convento do Carmo, que preparou a maior parte dos homens notáveis do século XIX, inclusive o próprio João Lisboa, iniciado no latim com o não menos notável Sotero dos Reis. A recuperação, o repovoamento e a vitalização da Praça João Lisboa constituem uma questão de honra para o povo ludovicense. Sem a praça, São Luís não tem coração, sede da alma, e continuará ad infinitum em seu triste coma espiritual. Espero que São Luís não permita que isso aconteça e promova a revitalização da Praça, da cidade e de seu povo. Que assim seja!
POESIAS & POETAS
“PEDRA DE TOQUE" dedicado a Wilson Ferro "in memoriam" ODE A SÃO LUÍS Na baía de São Marcos, de um perfil soberano, uma ilha grande, formosa, num golfão do oceano. Upaon-açu dos nativos, colônia dos portugueses, habitada por primitivos, fundada pelos franceses. Terra de escritores e poetas, amantes, afeitos à literatura, berço de talentosos estetas, celeiro invulgar de cultura. Na economia realçou o algodão, matéria-prima para os tecidos, várias fábricas na sua confecção, um ciclo nos tempos perdidos. Fase de prosperidade evidente, a capital cresce, se expande, a nobreza, a classe emergente, ricas moradas na Praia Grande. Inúmeros, centenários casarões, a cidade, a Lisboa assemelhada, palacetes com amplos salões, azulejos revestindo as fachadas. Miragem de sinuosos telhados, arqueados, graciosos beirais, a beleza de antigos sobrados dos áureos tempos coloniais. Sobradões de poucos andares, no interior, artísticas escadas, ambiente de discretos olhares, debruçadas, solarengas sacadas. Imponente, no último andar, um soberbo, altivo mirante, uma visão da praia, do mar mirando longe o horizonte. Notável expressão do romantismo, em uma coluna no centro da praça, em poesias, exaltando o indianismo, Gonçalves Dias, o poeta da raça.
Olhos d'água fluindo de minas, mananciais em aprazíveis locais, fontes de águas puras cristalinas, do Ribeirão, do Bispo, outras mais. Ruas estreitas, estreitas calçadas, em aclives e declives, as ladeiras, escadarias, charmosas escadas, nas praças, vistosas palmeiras. Nas ruas, pitorescos transportes, os condutores, gentis motorneiros, veículos confortáveis, bem fortes, percorriam fascinantes roteiros. Destes, só lembranças passadas, quando o futuro parecia alvissareiro, os trilhos sob as ruas asfaltadas, hoje nem bonde nem passageiro. Não se ouve o apitar do trem, uma atração constante, diária, a cidade já teve, mas não tem, a estação não é mais ferroviária. Igrejas embelezando ruas e praças, repletas de fiéis em sublime oração, de joelhos, nos altares, buscam graças, templos sagrados de fervor e devoção. São repositórios de eventos, na memória, guardam estilos de épocas já distantes, patrimônio cultural de muita história, recordando o passado a cada instante. Ao tempo, resistem os monumentos, lembram feitos dos heróis e bravos, de alegres e tristes acontecimentos, da Cafua, o mercado de escravos. Lendas envolvem o seu passado, tempos lembrados em cada canto, muitos fatos ainda não contados, a cidade admirada pelo encanto. Extensas praias, sol e maresias, povo alegre, sofrido, mas feliz, cantores ensaiam melodias, gorjeiam sabiás e bem-te-vis, poetas declamam poesias, hinos de louvor a São Luís.
NAS ÓRBITAS DE NAURO COMENTÁRIO SOBRE A OBRA “AS ÓRBITAS DA ÁGUA” DE NAURO MACHADO
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JORGE ANTÔNIO SOARES LEÃO PARTE 1: Nauro pensa a morte “Mas a morte zomba dos enigmas. Ela é que os propõe.” Maurice Druon – O menino do dedo verde Os tons menores da música poética de Nauro Machado surgem como sinais matinais, no anúncio de uma palavra que se impõe como porta de acesso ao vulcão da existência, à “palavra mortal” que guarda, para o ser humano, e somente para ele a chegada da morte. O tema da morte tem sido exaustivamente trabalhado e discutido por inúmeros filósofos, desde Platão (Cf. Fédon), até Heidegger (Cf. Ser e Tempo). Quando nada mais resta a dizer, resta o silêncio, diante da certeza inexorável do fim. Este tema é uma das preocupações contidas na obra do poeta maranhense Nauro Machado, explicitado nos sonetos de sua obra “As Órbitas da Água”. Nos versos de Nauro Machado, pode-se encontrar mais que um diagnóstico frio e irrefutável do fato em si mesmo, como ocorre nas mesas dos médicos legistas. Ao contrário, o poeta alarga os horizontes da procura fundamental do humano, acerca do sentido possível para a morte, quando, quase sempre, tal tema é objeto de distanciamento, de dogma religioso ou de tratamento cético, pois impenetrável em sua linguagem. A poética de Nauro Machado, contudo, lança elementos presentes no enredo trágico que lança o homem para a morte, como afirma o filósofo Martin Heidegger, em sua conhecida expressão “ser-para-amorte”93. Neste sentido, a linguagem poética do autor maranhense desvela o que antes era resguardado ao silêncio inacessível do mistério, ressurgindo, com isso, como significado existencial do que se pode pensar acerca do problema fundamental da existência, isto é, o de encontrar um sentido humano para a finitude. Por isso, a reflexão contida em “As Órbitas da Água” nos conduz para o pensar a morte como um problema humano e não para a simples evidência do fim da vida. Assim, o poeta lança a questão sobre o lugar fundamental da morte para a existência humana, por meio da linguagem. No início do Soneto 2, lê-se: Desenrolar o verbo finamente para a mortalha que afinal lhe veste. Aqui, o finito encontra-se na possibilidade do dito, do verbo, vestido por tal “mortalha”. Durante a existência, o nada surge como sentido primeiro diante da morte, lugar resguardado sobretudo pelo poder da “palavra mortal”. Nauro Machado situa a existência humana na terra que permanece apavorada pela finitude, batendo constantemente à sua porta, quando assinala, no Soneto 3: entre a terra e o pavor, meu céu devasso, entre o Ser e o meu ser, o infindo espaço, entre mim e ninguém, meu nada, só isso. Então, o que fica para além da morte? Neste âmbito, é possível lançarmos uma questão: em que sentido o Nada, enquanto reflexo de um Niilismo existencial na poética de “As Órbitas da Água”, abriga a possibilidade de um falar acerca da morte? Talvez uma das vias de superação, ou mesmo da manutenção da 92 93
Obra vencedora do Prêmio “Sousândrade” – Cidade de São Luís, em 1979. Cf. Ser e Tempo, 2ª Seção, ∫ 53 , pp. 43-51.
contradição, seja a presença da idéia de Deus na obra do poeta maranhense, como um de seus elementos mais citados e problematizados. Contudo, o lugar de Deus implica na busca por uma dúvida autêntica, o que somente pode ocorrer por meio de uma filosofia da morte. Ou seja, o concreto absurdo da morte, estampado no cotidiano comum do dia-a-dia fatalmente distancia o ser humano desta tarefa. Desse modo, o poeta aponta outra morte possível, que é concreta na vida podre sem sentido, que pode figurar também como um niilismo, que conduz a experiência imediata da superficialidade ao drama da frustração alienante do senso comum das coisas. Esta via de interpretação pode ser observada, ao lermos um trecho do Soneto 4, quando diz: Dize pois, cruz na idéia cravada: pior que a morte, sob a sepultura, não existe nada? nada existe? nada?! - Pior que a morte, sim, existe ter a morte viva, a podre criatura a todo instante e hora em nosso ser. A existência é aqui convocada a pensar a morte, escapando de sua ruína em vida. É o que se observa na proposta de Heidegger, em “Ser e Tempo” 94, ao afirmar que “determinamos a idéia da existência como o poder-ser que compreende, e onde está em jogo seu próprio ser”. Enquanto impulso originário, a consciência do fim da existência, que chamamos de “morte”, perfaz o trajeto fundamental do ser que se revela como definido no tempo, a partir de duas possibilidades fundamentais, a saber: 1) a fuga diante do fato da morte, e 2) o pensar autenticamente a morte como problema95. No primeiro caso, confirma-se o distanciamento do sentido da busca. O ser é tomado pela cotidianidade de suas experiências fortuitas, de caráter acumulativo. O tempo determina que o fato da vida é envelhecer, e, fatalmente, morrer. Muitas pessoas entram em pânico ao ouvirem falar na palavra “morte”. Por isso, a reação aqui é de medo, insegurança, desconforto. No segundo caso, porém, o ser humano é levado a questionar o fato da morte, entrando em processo de redimensionar o tempo a partir de sua possibilidade originária, no pensar a morte não mais como fato, mas como problema, que busca um significado humano, retirando da cena a sensação de temeridade e fuga, e ultrapassando até mesmo o próprio pensamento. O poeta vê-se então como arquiteto do sentido vital da morte, em sua “arquitetura da alma forma rara” 96, sendo tarefa do ser humano em sua solidão, uma vez que: Só ao homem só pertence o pesadelo de conceber, além do pensamento, a aranha insone de mortal novelo97. A morte escapa ao sentido lógico da tarefa de organizar argumentos explicativos diante do fato em si que é morrer. Ainda assim, tal evidência passa a habitar a consciência no absurdo da morte, na permanência do caminho humano na finitude. Desse modo, o poeta pergunta sobre o fato em si, fazendo-se autor de si mesmo no pensar que pensa o absurdo da morte: Existe morte? Existe uma outra roupa para cobrir a mesma e alvar nudez? Uma coberta além? Qualquer estopa para tapar o fundo que não vês?98 Com isso, Nauro Machado, em “As Órbitas da Água”, adentra em uma filosofia da morte, no sentido de um questionamento radical sobre a mesma. A morte, por si só, constitui um fato da vida. Não apenas para o ser humano, mas todo e qualquer ser vivo. Tudo o que vive, um dia morrerá. Entretanto, ao contrário dos 94
Cf. 2ª Seção, ∫ 45, p. 11. O termo “problema”, tomado a partir de uma abordagem filosófica, é tudo aquilo que exige uma solução por meio da racionalidade humana. 96 Cf. As Órbitas da Água, Soneto 7. 97 Idem, Soneto 8. 98 Ibidem, Soneto 12. 95
demais, o ser humano pode se perguntar sobre o sentido deste fato, enquanto discorre sobre o mesmo sobre o prisma de uma problematização, ao questionar: existe morte? A morte é uma realidade no tempo, por isso, pensar a morte é pensar também acerca do tempo. PARTE 2: Nauro pensa o tempo O tempo passa em fuga, o tempo passa na simplicidade das horas, e com ele sua lavoura despedaçando aquilo que plantamos no início da tempestade, que chega de modo inesperado na efemeridade da existência. Para muitos, tempestade implica em bonança posterior. Para outros, em angústia profunda. O certo, porém, é que a tempestade da existência passa, seja qual for sua duração. O ser humano encontra-se neste intervalo, como num trajeto temporal em que figura como personagem protagonista, canalizando para o momento trágico da morte o desfecho inevitável para o sentido de sua vida, assim como fizera o Hamlet, de Shakespeare, no último de seus suspiros 99. Nauro Machado escala a montanha do tempo, lendo a presença do humano nos passos em decomposição do ser que se encaminha para a morte. O tempo surge como a esfinge tebana a ser decifrada. Quem é o homem afinal? Como no caso do príncipe Édipo100, o poeta lança a pergunta decisiva que quebra a passagem da existência apenas como ordem linear cronológica. O próprio poeta é consciente deste drama, ao assinalar: Se para mim, ó tempo, sou o meu chão, para outros seres, sonho de ilusão, para outros seres, sou nenhum morrer: para mim próprio, estranho e mudo, ó tempo, como foi possível tudo? como possível ser foi-me este ser?101 Com isso, a efemeridade da existência é consumada pela presença do tempo. Mas, então, surge uma questão necessária: pensar sobre o tempo é o mesmo que sentir o tempo passando? Primeiramente, deve-se admitir que a tênue linha entre percepção e reflexão do tempo surge no horizonte da consciência. Por isso, o tempo apresentado por Nauro Machado, em “As Órbitas da Água”, constitui um drama, uma vez que implica na vivência da angústia, ou da medida existencial fadada a ter o tempo como morada. Martin Heidegger, em “Ser e Tempo” 102 usa a expressão “temporalidade”, que ilustra o modo como o homem toma esta questão em sua abrangência existencial. Com efeito, é no calor das chamas interiores da alma que o tempo passa verdadeiramente. Nauro Machado é o poeta que se deixa atordoar pela angústia pensante do tempo e da morte. É o “outro ser” do poeta que clama: Do fundo rio fundo um ser desvelo, um monstruoso ser, que em vão me abraça. (...) dos dois que sou nenhum já sou, nem resta de mim o meu no ser da alma que é minha!103 Nada sobrevive ao drama da existência. A alma, tomada aqui como morada da angústia, vê-se esfacelada diante da radical pergunta que move o ser: “que sou diante do tempo que me conduz ao fato inexorável da morte?”. A alma do poeta, por isso, permanece apoiada na música dos contrapontos do tempo, e assim também será abandonada ao fixo transcurso da inexistência, como água que se evapora na panela escaldante das horas. A este drama clama o poeta em agonia: 99
Cf. Hamlet, Ato 5. Cf. Édipo Rei, de Sófocles. 101 Cf. As Órbitas da Água, Soneto 13. 102 Cf. Ser e Tempo, 2ª Seção, ∫ 45, pp. 13-14. 103 Cf. As Órbitas da Água, Soneto 16. 100
Minha alma é rainha abandonada à hora eterna da nefasta hora em que a deitarei, ao pó desvirginada, mais morta ainda do que a tenho agora. (...) a minha alma, que por dentro é pó e nada, terá igual morte à que meu corpo é fora. (...) a minha alma cairá sobre ladeiras - com boca e fala campo de frieiras – cessando o sonho e morto o pesadelo.104 Como estampa de um poder coercitivo, o tempo marca a impossibilidade de sua volta. A linha do tempo possui uma única direção, e o que passa é vivido apenas como lembrança, pois jamais retornará em sua singularidade. Não volta mais o que vivido foi, não volta mais o que se rememora. (...) não volta mais o que contudo dói.105 Portanto, o agora é o caminho do tempo que se configura diante do Nada, abismo inefável à beira da morte. Ao ser humano cabe esta existência, na solidão de sua busca angustiada, e nela, a cuidar de sua morada poética, durante o percurso temporal que consuma no “exílio” de sua alma 106. Resta no tempo a condição humana de ser para além do traço efêmero das horas que passam. Somente ao ser humano é dado este parto de dor, a dor do sentido, conquanto seja a morte a sombra do vazio que o atormenta durante o transcurso de sua existência. Todavia, a angústia do poeta 107 suspira como anseio ao chão duro da terra, ao olhar incessante diante da miséria da dor. Assim diz o poeta: A angústia foi-me a agrura da agonia, a angústia foi-me o ser que apedrejei. Antes de louco fizesse-me o guia da minha mente, que eu em mim não me sei.108. Contudo, não se lança a porta da existência ao abandono, mas ao sentido de sua busca na trajetória temporal de si mesma, “nesta existência de ânsia e desespero” 109. PARTE 3 A cidade e suas órbitas O poeta encontra-se situado no tempo e no espaço de sua história citadina. É um ser situado, um ser histórico, um morador da ilha de São Luís, no Maranhão, em fins da década de 1970. Em seu processo perceptivo dos acontecimentos da existência de sua cidade, este ser faz poesia. Ele se chama Nauro Machado. Desde suas lembranças nos tempos de infância110, até a maturidade de seus anos maduros nas ruas de sua pólis contemporânea. Ele é o ser que se move na poesia de sua cidade. Não a abandona em suas reflexões e em suas peregrinações cotidianas. Nauro não apenas habita em São Luís, mas tem uma relação de amor concreto com ela. Ele a pensa como inspiração de sua angústia diuturna.
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Idem, Soneto 17. Cf. Idem, Soneto 23. 106 Ibidem, Soneto 28. 107 Ibidem, Soneto 74. 108 Ibidem, Soneto 41. 109 Ibidem, Soneto 40. 110 Cf. As Órbitas da Água, no final do Soneto 9. 105
Mas, como o poeta vê a cidade em que vive? Qual o olhar que recai sobre ela? Que impressão esta ilha de ruelas e sobrados causa ao poeta? Nos versos de “As Órbitas da Água”, a cidade é vista sob a solidão do poeta: Morrerei cada vez mais solitário, guardando o sonho, a dor, o Deus, as mágoas.111 No espaço de sua percepção, o poeta vê uma cidade às seis da tarde 112, com o seu “povo alienado”, em mais um dia findado. Seu instante, porém, difere da constância de um ritmo previsível das calçadas. O tempo, em Nauro Machado, é o tempo da angústia 113. O poeta caminha solitário como quem a tomar para si a indiferença do mundo, estampada na cidade contaminada pela “peste” 114 da cotidianidade, sem saber, porém, que está doente. A doença do supérfluo ater-se aos fenômenos do mundo, sem deles extrair um sentido. É o que se observa, ao ler-se: Às seis da tarde, na estrada de ferro. Solitariamente escuto o berro saído mudo das bocas humanas.115 No Soneto 49, observa-se outro exemplo que exprime o sentido do olhar poético sobre a cidade. Das pedras nas ruas, dos transeuntes perdidos, do cheiro pútrido das esquinas, tudo fala da cotidianidade percebida pelo poeta quem não apenas caminha, mas pensa seus passos situados no mundo. A cidade encontra-se arruinada. Sua falência está no dia-a-dia mecânico de seus afazeres, mostrando a si mesma o caos de seu próprio abandono. Nauro Machado exprime a crueza de sua beleza, que agora é cinzenta, na passagem do tempo figurada na idade secular de seus muros e sobrados em decadência. Logo no início do Soneto 49, vemos o quanto isso é sintomático para o poeta, quando exclama: Mostra a cidade à própria cidade! Mostra a cidade, sua ruína e fama, aos esplendores que o teu sexo invade na imunda boca sobre imunda mama. A relação sexual é metaforizada como amor do poeta a uma mulher amada, sofrida, e, ao mesmo tempo, odiada. A tormenta desta entrega revela a cama como tumba, lugar da excrescência mortal deste amor. É o que se lê, ainda no Soneto 49: Abre-te toda! Mostra-nos tua idade: trezentos e mais anos!, e derrama - como mulher – tua cumplicidade de quem se entrega, nua, à tumba-cama.
O concreto desta relação situa-se na incompletude, como um ato de amor a ser suprido ainda pelo homem. O gozo é efêmero, mas nada satisfaz o desejo voraz desta mulher na busca por satisfazer o ímpeto sexual. O poeta apenas deixa algumas marcas no caminho tortuoso desta jornada carnal. E continua no mesmo soneto: Goza com ela, no teu orgasmo duplo, o que de mim te falta e que não supro multiplicado n vezes, em n´s. Abre-te toda, mãe despossuída, por mim levada no que a própria vida desbaratou em pó, em feze, em pedra, em pênis. 111
Cf. Idem, Soneto 46. Ibidem, Soneto 47. 113 Idem. 114 Cf. Op. cit, Soneto 46. 115 Idem, Soneto 47. 112
PARTE 4: Deus nas águas de Nauro A temática sobre Deus é um dos pontos centrais da obra poética de Nauro Machado. Em “As Órbitas da Água”, tal preocupação surge como uma de suas principais idéias. O alheio do ser encontra em Deus um eixo de fecunda relação com o humano, oposto a toda regra de norma ou doutrina. Este Deus habita no porão da angústia humana, no Nada da existência conduzida pelo drama do ser. As águas de Deus conduzem o homem ao abismo de sua consciência em conflito. Ele “vai me levando ao outro lado, por me / teres feito de nada, Tu, o alheio extremo”116. Fecunda é assim a idéia de Deus, a mastigar a essência humana de sentido, pela angústia que lhe é cara. O poeta rumina Deus, em seu vale de angústia. A sua relação fere a teologia tradicional do ser absoluto que vê o homem de cima, em algum céu distante e pré-julgatório. Ao contrário, Deus é o próprio alimento diário do poeta: Mastigo tanto o espírito!, e sei o credo Deus, espinafre podre a ensandecer - na estrela-víscera – o cio em Deus Pai ...” 117 Com isso, a partir deste ponto, vê-se que é na fecunda expressão da palavra que o humano se reencontra com Deus, sabendo-se na finitude que concebe o eu na dimensão do divino: “eu, o Senhor de mim, verbo assinalado”118.Com efeito, Deus surge como um tecido a ser construído pelas mãos diligentes do alfaiate-homem, no aqui temporal de sua angústia, de seus impasses, de suas fornalhas ardentes, como diria o romancista russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881). Para o poeta, falar a respeito de Deus é uma de suas maiores tormentas. Esta imagem ganha um espaço fundamental na vasta obra poética de Nauro Machado. Ele mesmo diz a esse respeito que Deus: É o círculo cujo centro está em todas as partes e o ponto terminal no fim de todo início; exceto a possibilidade de vê-Lo, de cheirá-Lo, Deus é o desafio encarnado de um Verbo no espaço cego da mutez mais vasta na boca do Nada que se anseia às portas do Tudo.119 Por isso, esse traço existencial de Deus, pela palavra, ressoa como um dos elementos de maior relevância na obra do poeta maranhense. Em “As Órbitas da Água”, especificamente, Deus encontra-se no drama do mundo, como “Deus-mundo”, “Deus-fruto”120, no espaço fecundo de um eterno voltar-se a Deus, ainda que persistam na terra o silêncio, as dúvidas e o vazio repetido pela palavra angustiada da existência: Dói demais o muito do Teu opaco, a Tua transparência tão nenhuma, Senhor rasgado, qual cosido saco do todo inteiro em arruinada ruma.121 A melodia da música divina depara-se com o Nada122, isto é, com a ausência absoluta de sentido, sobretudo diante da finitude humana, na presença da morte. Nada mais duro que as pedras que falam e “batem na minha esperança”, “para fazer-me Deus de um outro eterno” 123. Deste rogar, à guisa de uma
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Cf. As Órbitas da Água, Soneto 6. Idem, Soneto 9. 118 Ibidem, Soneto 10. 119 Cf. DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO MARANHÃO, Ano LXXIX, Edição especial, nº 06, São Luís, Maranhão, Agosto de 1986, p. 52-53, apud: LEÃO, Ricardo. Tradição e Ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado, São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 2002, p.130-131. 120 Cf. As Órbitas da Água, Soneto 21. 121 Idem, Soneto 22. 122 É significativa a metáfora utilizada pelo poeta para ilustrar a relação entre o Nada e Deus, no final do Soneto 24, quando o poeta assinala: “Ó treva póstuma do outro caminho: / amanhecendo está, devagarinho, / dormindo o nada e Deus na mesma cama”. 123 Cf. As Órbitas da Água, Soneto 53. 117
súplica existencial, brotam as pedras da angústia e da morte, que, finalmente, conduzem o poeta ao Paraíso Perdido de si mesmo. Contudo, “toda uma idéia é um mar em Deus imerso” 124, o que conduz a existência ao ponto nevrálgico das águas atormentadas pela pedra de Deus. Esta pedra figura como as águas da existência, que o poeta percebe em movimento centrífugo. É de lá que surge o conteúdo para a expressão de sua morada originária, que é a palavra como momento único, jamais repetido, isto é, o tempo singular da mortal fala humana acerca do divino. É neste âmbito que o poeta existe, na ambiência do sagrado, pois se sabe como portador de um olhar efêmero, mas raro: enquanto o tempo já fatal me míngua, cuido da alvenaria de Deus na língua, na mesma dor do fim que somos ambos.125 Em seu aspecto único, paira a poesia de Nauro Machado na sublime “sensação de Deus”126, como a exprimir, como ser existente, toda solidão, crueza, beleza e sentido de uma palavra que se desespera de si, na contemplação faminta do humano em curso para a morte, desde “a anca do túmulo à altura de Deus, este tamanho de coisa acabada”127. Assim resplandece a poética de Nauro Machado, em “As Órbitas da Água”, no padecimento da existência como angústia, gerando a consciência atormentada de que, mesmo enquanto seres finitos, rompemos a lacuna da morte, ao descobrirmos o espaço poético na alma, conflitada pela presença metafísica de Deus. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA MACHADO, Nauro. As Órbitas da Água (sonetos) – Prêmio “Sousândrade” – Cidade de São Luís, 1979. LEÃO, Ricardo. Tradição e Ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 2002. LOBATO, Maria de Nazaré Cassas de Lima. A Revelação de Nauro Machado. São Luís: EDUFMA, 1987. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo – Parte II. 3 ed. Tradução de Márcia de Sá Cavalcante. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. SHAKESPEARE, William. Hamlet. Coleção Obra Prima de cada Autor. São Paulo: Martin Claret, 2003. SÓFOCLES. Édipo Rei. Coleção Obra Prima de cada Autor. São Paulo: Martin Claret, 2003.
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Idem, Soneto 55. Cf. As Órbitas da Água, Soneto 82. 126 Idem, Soneto 86. 127 Idem, Soneto 75. 125
Acervum Suplemento Nacional de Literatura e Artes Editor-Sênior: Mhario Lincoln (jornalista Mtb-1015)
http://www.acervum.com.br/#!kissyan/d0pl4
MARANHÃO SOBRINHO REVISITADO EM LIVRO Kissyan Castro resgata a poética simbolista de Maranhão Sobrinho Convidado: Celso Borges128 - (A entrevista foi enviada pelo autor Kissyan Castro) A ENTREVISTA O poeta Maranhão Sobrinho morreu há exatos 100 anos, no natal de 1915, em Manaus, de cirrose hepática, cinco dias antes de completar 36 anos de idade, longe de sua Barra do Corda (MA), onde nasceu em 1879. De lá pra cá sua obra viveu quase na sombra. A grandeza de sua poesia não merecia tanto descaso. Pra começar a virar a página desse esquecimento, o poeta Kissyan Castro, conterrâneo do autor de Papéis velhos, Estatuetas e Vitórias Régias, está lançando o livro Maranhão Sobrinho – Poesia Esparsa, que reúne 105 poemas inéditos, coletados de sua vasta produção dispersa em publicações da imprensa. 1- Que outro conteúdo o trabalho traz além dos poemas inéditos? O livro é uma edição alusiva ao Centenário da Morte de Maranhão Sobrinho. Assim, pensei incluir também um apêndice que contivesse informações pertinentes ao evento, como por exemplo: Que repercussão teve sua morte? Houve de fato algum projeto que concedeu perpetuidade à sua sepultura? E por que, então, essa lei foi violada? Maranhão Sobrinho deixou algum trabalho inédito? Onde se encontra hoje o seu espólio literário? O que dele disseram os amigos de convívio e a crítica nacional? O trabalho é complementado por uma extensa biografia do poeta, a que preferi chamar de “Itinerário Biográfico”, tanto pelo duplo circuito São Luís-Belém-Manaus, como pelo caráter dinâmico das raras “paradas” de Maranhão Sobrinho. 2- O livro revela alguma grande descoberta biográfica? Ao organizar a parte biográfica, procurei incluir o máximo de elementos novos e, entre esses, algumas grandes descobertas. Por exemplo, quando ele deixa Barra do Corda, sua intenção era seguir para o Rio de Janeiro, onde pretendia cursar engenharia na Escola Militar, mas acaba mudando de ideia. Fica um tempo em São Luís e depois vai para Belém. Ali, num primeiro momento, envolve-se no jornalismo engajado, político, militante, em protesto às injustiças sociais. Acreditava-se que a vida inteira de Maranhão Sobrinho girava em torno do sonho jamais realizado de transferir-se para a capital do país e publicar ali sua “obra prima”. No entanto, quando a tão esperada oportunidade lhe é oferecida pelo governador Luís Domingues, amigo de Urbano Santos, então vice-presidente da República, rejeita e prefere seguir para Manaus. Até então acreditávamos que a atuação poética de Maranhão Sobrinho limitava-se ao seu estado natal, Pará e Amazonas, mas acabei encontrando poemas e artigos de jornais e revistas também no Ceará, Pernambuco, Alagoas, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, dentre outros, onde já usufruía, mesmo em vida, do respeito e reconhecimento do seu gênio poético. 3- Por que a obra de Maranhão Sobrinho é tão importante? Qual o seu diferencial como poeta simbolista? 128
Celso Borges é jornalista e poeta - Especial para o Estado do Maranhão
O escritor Josué Montello disse certa vez que “o que distingue Maranhão Sobrinho é a clareza simbólica”. O verbo “sugerir”, caro à estética simbolista, é raramente encontrado em sua obra. Esforça-se antes por desvelar sua tragédia interior. “Do modo que ele recebe a impressão das coisas, assim a transmite; do modo que lhe vem a comoção assim a exterioriza”, disse dele Nascimento Moraes. Além disso, não devemos esquecer que Maranhão Sobrinho transitou pelo Romantismo, Parnasianismo e Simbolismo com maestria, sem dever a nenhum daqueles que se bitolaram a apenas uma dessas escolas. Extraiu o que de melhor havia em cada uma dessas vertentes para inaugurar o seu apostolado estético. Cabe ao poeta recuperar o sentido primeiro das palavras. Eis o débito que a Língua Portuguesa (em particular) tem para com o poeta: ele não deixa a Língua morrer. Nesse sentido, vale a pena ler Maranhão Sobrinho, esse recuperador de mitos, esse celebrador de antigos episódios, guardião da caixa de absurdos e tensões, pois, além disso, em sua obra encontramos várias expressões que são únicas na Língua. Não encontraremos seus neologismos em nenhum dicionário convencional. 4- Ele é um poeta pouco reeditado. Há alguma justificativa para esse silêncio? Creio que o fato de Maranhão Sobrinho estar longe dos grandes centros favoreceu, de certa forma, esse silêncio em torno de sua obra. O próprio poeta acreditava que transferindo-se para a capital e publicando seu livro de estreia pela editora Garnier ou Laement, segundo nos informa Antonio Lobo, lhe daria a projeção almejada. No entanto, no início de 1910, ele desiste do sonho de reconhecimento nacional, abandona completamente as propostas estéticas que vinha cultivando e que lhe permitiria um voo mais alto, refugia-se no Amazonas e volta a escrever poemas de cunho romântico. Mas já era tarde. 5- Há alguma diferença de estilo entre esses poemas inéditos e os que conhecemos dos três livros publicados do poeta? Há mais diferenças que semelhanças, assim como acontece entre os três livros que publicou em vida, e por que não dizer dentro de uma própria obra, como é o caso do bloco de poemas intitulado “Cromos”, pastoris, que destoam dos demais, de predominância simbolista, no livro Papéis Velhos. Como deixo claro numa nota introdutória, meu livro não constitui uma seleção oficial de Maranhão Sobrinho, nem possui caráter antológico, no sentido de extrair o “suprassumo” da sua obra, mas mostrar sua trajetória poética desde a fase temporã de suas lucubrações estéticas, fase tida como condoreira, a partir de 1896, até o salto soberbo na produção de sonetos magistrais que lhe renderam a fama de “o mais completo sonetista da língua”, como nos informa o Jornal do Brasil, de 10 de janeiro de 1939. 6- Há ecos da poesia de MS em algum poeta contemporâneo? Existe um fio condutor que percorre toda a obra de Maranhão Sobrinho, a que costumo chamar de “Itinerário do Voo”, indo desde a ânsia do voo em Papéis Velhos, à execução e frustração em Estatuetas, e, por fim, o término do voo, com a deposição das asas, em Vitórias-Régias. Há, nos dois primeiros livros, um visível desencanto com o mundo, sem qualquer interesse de interferência no sentido de modificá-lo. Por outro lado, não se desengana, nem perde a esperança; pelo contrário, torna-se o fundador de outra pátria, dessa vez celestial, sem qualquer relação com o Céu cristão, já que neste seu “chalé de luz e flores” só há lugar para ele e sua amada, com quem trava discurso em quase todos os poemas que compôs. Daí a recorrência de expressões como: asas, voo, ninho e azul, símbolos de todo esse processo. É em VitóriasRégias, entretanto, que notamos o desencanto por ambos os mundos, constituindo-se, assim, num livro nostálgico, derradeiro. Olhando por essa ótica, não encontrei, até o momento, nenhuma ressonância em qualquer poeta contemporâneo.
E há dentro em mim mistérios e vertigens.../ Vejo passar, entre o tropel dos sonhos, /Corpos hirtos e nus de mortas virgens... (M.Sobrinho).
ALBA Vens da glória das nuvens luminosas Do céu, em sonhos límpidos, voando, Entre aromas de mirtos e de rosas, Das estrelas do azul no etéreo bando... Trazes nas asas céleres, radiosas, Misticismos em lágrimas brilhando... Beijos frios de mortas nebulosas, Sob um luar, como as plumagens, brando... E ao ver-te, de asas pelas nuvens, calma, Resvalando nos céus, amplos, risonhos, Fecho-me dentro da corola d’alma... E há dentro em mim mistérios e vertigens... Vejo passar, entre o tropel dos sonhos, Corpos hirtos e nus de mortas virgens...
SONETO III Virgílio, às vezes, me convida: “Vamos Nós dois beber bucólicas nas matas!” E, nas verdes florestas, penetramos, Como num templo, em místicas oblatas... Vendo as asas beijarem-se nos ramos E ouvindo as harpas de ouro das cascatas, Os nossos pensamentos permutamos, Longe do mundo das paixões ingratas... – Mestre! Eu exclamo, em tudo há luz e festa! Tudo parece amar! O amor palpita Em tudo! A tudo o amor sua luz empresta? Virgílio, então, me diz: “Deus grande e mudo É o amor! Deus é o amor, e em tudo habita; Logo o sereno amor habita em tudo!”
(M.Sobrinho)
BIOGRAFIA DO AUTOR KISSYAN CASTRO, nascido em 23 de dezembro de 1979, maranhense de Barra do Corda, publicou três livros de poesia: Sete Amores em um Só (Palmas, 2002), Vau do Jaboque (CBJE, Rio de Janeiro, 2005) e Bodas de Pedra (Chiado Editora, Lisboa, 2013), sendo o primeiro em coautoria com outros três poetas que compunham o grupo “Fênix”, do qual fez parte. Pesquisador, organizou a obra esparsa em verso de Maranhão Sobrinho, que consta neste livro, e prepara as edições de “Maranhão Sobrinho – Prosa Esparsa” e “O Meu Pranto é Cantar”, antologia que resgata a obra do poeta Luís Pires, o último sabiá do Bonfim. Tem colaborado com crônicas, poemas e haikais em vários sites, suplementos e revistas eletrônicas, entre as quais Recanto das Letras, A Garganta da Serpente, Germina e Poesia dos Brasis. Participou das antologias “Caleidoscópio” (São Paulo: Andross, 2006), “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos" (Rio de Janeiro: CBJE, 2012) e “Os 50 Melhores Sonetos do Ano” (Academia Jacareyiense de Letras, 2013). Tem inéditos os autorais “Rio Conjugal” e “Farelos”.
CENTENÁRIO DE RIBAMAR GALIZA José de Ribamar Nóbrega de Galiza DINACY CORRÊA
03/12/2015 – centenário de um escritor maranhense que enaltece a nossa romanesca local e nacional RIBAMARGALIZA (1915-2015): ainda um “ilustre desconhecido”, a merecer visibilidade,afluindo das profundezas do esquecimento para a nossa memória literária. Na melhor linha do “romance de costume”, reanimando a vida sem forçá-la em seu realismo e sua simplicidade, revela esse ficcionista que prefere não inventar para projetar o que testemunha. Não há, em suas páginas, qualquer especulação e nem se revela a preocupação em revolucionar os caminhos clássicos da novelística. Em seu comportamento tradicional, narrando quase sempre com a língua comum do povo, Ribamar Galiza situa o romance de costumes no ciclo regional. É tudo isto que faz do seu romance um livro raro no momento em que as problemáticas subjetivas sacrificam a movimentação episódica e a configuração humana das personagens. (Adonias Filho) Com este livro “À Sombra das Gameleiras”, ganha a ficção brasileira mais um nome de merecido relevo, cujos primeiros passos no gênero deixam entrever bem mais que uma simples promessa. Ribamar Galiza, de fato, já é uma autêntica vocação a serviço da moderna literatura brasileira. (Edgar Proença)
Ribamar Galiza (José de Ribamar Nóbrega de Galiza – Vitória do Mearim-MA. 03.12.1915/Rio de Janeiro - RJ.05.12.1987). Aqui autobiografado. Ouçamo-lo, que se apresenta129 nos termos a seguir: Nasci em Vitória do Mearim, em 3-12-1915, filho de Calixto Nóbrega de Galiza e Bárbara Sousa Galiza (Dona Pepita). Meu pai, que se especializara em iluminação a carbureto, pára lá fora, levado por empreitada pública, e decerto algumas instalações particulares, sabendo-se da inexistência de luz elétrica àquela época. [...] de lá saí, com pouco mais de um mês, já devidamente batizado e registrado, tendo como madrinha Elisa Lopes Gonçalves. Quanto ao padrinho, não sei. Certamente, já esvaziada a especialidade de “Seu Calixto” e, por conseguinte, já encurtados os ganhos, ele resolveu arrumar as trouxas para “ir cantar em outra freguesia” e aí nos tocamos pra Grajaú, subindo o rio, sabe Deus como, e eu, como se vê, ainda nos cueiros. Dois ou três anos mais e a família crescendo, com meninos e dificuldades, foi bater com os costados em Balsas, daí partindo, afinal, para Bacabal, eu com seis anos e meu pai disposto a fixar-se lá, como de fato aconteceu. Bacabal crescia como uma menina que se tornava mulher a olhos vistos, mas nem assim meu pai, coitado, conseguia firmar-se em recursos. Funileiro, maleiro, santeiro e mil dificuldades para sustentar a numerosa família, como milhões de brasileiros por estes brasis afora (ou adentro). Terminado o primário, mandaram-me para Pedreiras, sacristão do Pe. Jaime, a fim de “aprimorar” os meus estudos, com vistas ao Seminário Santo Antônio, em São Luís, o curso gratuito para meninos pobres. Não dei para padre nem aprimorei os estudos... Bacabal novamente. Agora de biscate no telégrafo, ajudado por um tio que era agente da repartição. Mas também eu o ajudava, e como! Taxava, transmitia e recebia telegramas, entregava-os aos destinatários, e de plantão nos horários, ali firme, e o meu tio, despreocupado no seu joguinho de gamão com os habituais companheiros, à sombra gostosa que se alargava no correr da tarde, à porta da rua. 129
Transcriçãode trechos de uma carta do escritor em foco, enviada ao pesquisador/historiador, promotor de justiça e também escritor, fundador da Academia Arariense-Vitoriense de Letras (AVL), Washington Cantanhede.
Depois, professor municipal aos 14 anos. Aliás, por nomeação incentivadora de um vitoriense, Ranulfo Fernandes, o prefeito. Dois anos após, com o dinheirinho economizado, eu tomava a grande decisão: a Capital, sozinho, senhor do meu nariz e escravo de minhas saudades. 4 ou 5 longos dias de viagem descendo o Mearim, o único meio de transporte de então. Nessa ocasião foi que conheci Vitória propriamente. Novembro de 1923. Emocionado, desembarquei e percorri pequenos trechos da cidade, o tempo que me permitia a parada do vapor. Revi a exnamorada, Maria de Bizantino, que de Bacabal viera passar uma temporada em casas de parentes, cuidar do enxoval ou coisa que o valha, que pretendente seguro ela já havia encontrado. E eu me pergunto (perdoem os meus conterrâneos a este filho ingrato) se a minha emoção maior era ver Vitória ou rever Maria, aquela minha primeira namorada... São Luís. Dificuldades nem se contam. Seria a história de milhares de jovens pobres e estudiosos, na luta incessante por um lugar ao sol. No meu caso, eu tive a sorte da aprovação, três anos depois, no concurso para os correios e telégrafos (viu o quanto valeu o que aprendi em Bacabal com o meu tio?). Telegrafista e ao mesmo tempo professor de matemática nos colégios mais afamados. Matemática e vocação literária, como é que pode? Três anos depois, eu entrava no Banco do Brasil. Outro concurso bem sucedido. Bom, aí a coisa melhorou e portanto vamos andar mais depressa. Várias agências como gerente e, afinal, em São Luís, onde exerci aquela função durante nove anos, após o que, vim transferido para o Rio, em 1966, e logo em seguida posto à disposição do BNDE para o desempenho de outro cargo de direção em uma sua subsidiária, a Finame. E a Literatura? As atividades no Banco, dadas as funções que eu exercia – e procurava exercêlas bem – não me permitiam maiores incursões literárias. “À Sombra das Gameleiras” saiu em 1958, exatamente quando eu assumia a gerência em São Luís. Só depois que me aposentei, é que publiquei “O Povoado” e “Apetrechos do Amor”. Ainda não disse que o cenário do romance “À Sombra das Gameleiras” é o Bacabal da minha meninice, Bacabal que, certamente não existe mais”. [...]. *** Um dos patronos da Academia Arariense-Vitoriense de Letras-AVL (Cadeira nº. 33, ocupada pelo poeta/escritor vitoriense Paulo Tarso Barros), entre a Matemática e Literatura, produziu as obras: A Outra Dolores (1958) – contos; À Sombra das Gameleiras (1958); O Povoado (1970); Apetrechos de Amor (1983); OCantar das Casuarinas (1986) – romances. Na cidade Maravilhosa, participou da Antologia Conto e o Dono do Conto (1987 – do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, organizada por Heli Samuel e Hélio Moraes). Uma breve síntese dos seus romances: À SOMBRA DAS GAMELEIRAS (1958) – 35 capítulos, distribuídos em 294 páginas, a retratamo Bacabal da “meninice” do autor, provinciano, rural, destacando-se o palmeiral típico da época(a justificar-lhe o topônimo), seus habitantes característicos, em seu falar regional – meados do século XX.Manancial ilustrativo da memória do escritor, reconhecidamente hábil em transpor, para a ficção literária, sua percepção/captação do mundo, da vida, o romance imprime cor e dinamismo às paisagens e tipos humanos que dinamizam a referida obra, transladados do real. O POVOADO (1970) – outro longo romance (24 capítulos, 233 páginas vívidas), a comprovar a genialidade de um ficcionista exímio. Aqui, na mesma linha regionalista/ruralista, a narrativa se vai desprendendo da memória, reconstituindo ambientes, os indivíduos, modelos típicos do meio rural, absorvendo-lhes, incorporando, com muita naturalidade, a linguagem popular, força modeladora da narrativa, no traduzir do diálogo comum, cotidiano, assim revelando um escritor de grande maestria descritiva. APETRECHOS DE AMOR (1983) – excelente “crônica de costumes”, na opinião abalizada de Nelson Werneck Sodré (prefácio da obra), em que o enredo se vai texturizando, no entrelace de dois fluxos narrativos: o da reconstituição dos costumes (urbanos/provincianos) e o do amor entre dois jovens (ponto fulcral da narrativa) – um oficial militar e uma pobre garota de 17 anos, desprotegida, experimentada nas
agruras da vida e entregue a sua própria sorte. A obra faz emergir das profundezas da nossa memória histórica, a São Luís urbana e suburbana da época. O CANTAR DAS CASUARINAS (1987) – romance, de 225 páginas, ao longo das quais (e no já comprovado talento literário do autor), se vão conjugando e/ou revezando amor/fidelidade; dúvida, ciúme, culminando com a separação, o remorso... num contexto narrativo marcado por: tragédia; contato íntimo com a natureza, na luta pela sobrevivência e na busca do caminho perdido; reencontro com a civilização – mergulhando o leitor nas profundezas e mistérios da alma humana. Tudo fluindo, jorrando, de um sistema narrativo como que migrado do palco da vida para a ficção literária, iluminando a dramática aventura de Margarida e Marcelo (perdidos na mata); de Margarida e Luís (esposos – temporariamente distantes, por conta de um desastre aéreo na rota São Luís/Imperatriz-Ma). Ao longo da narrativa, se nos é dado perceber duas instâncias que se vão, paralelamente, interseccionando: a malograda viagem da esposa, em visita aos pais e parentes, na “Imperosa”, seguindo-se o desastre, o desespero do marido, as buscas inúteis (por um lado); a luta pela sobrevivência, na floresta, a situação da mulher, sozinha, ao lado de um homem desconhecido (por outro).Conseguirá, a jovem, bela e atraente mulher, manter-se casta e fiel, em tais circunstâncias? É ler (o romance) para crer. *** Fontes de Pesquisa CORRÊA, Dinacy. RIBAMAR GALIZA: centenário de escritor maravitoriense que enriquece a Literatura Nacional. Disponível em: http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/Letras&Artes. Obras do autor: GALIZA, José de Ribamar. À Sombra das Gameleiras. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. _______. O Povoado. Rio de Janeiro: Artenova, 1970 _______. Apetrechos do Amor. Rio de Janeiro, Editora Codecri, 1983 _______. O Cantar das Casuarinas. São Paulo: Nova Fronteira, 1986. Genealogia Galiza by Ana Helena. Disponível em http://genealogiagalliza.blogspot.com.br/
MICHEL HERBERT O INDISPENSÁVEL ESPÍRITO SANTO (É o que eu desejo para minha vida e para todos em 2016).
Sem o seu poder, promessas não seriam cumpridas ; os planos revelados não se concretizariam ; o evangelhos a todos os povos não alcançariam ; as palavras das escrituras não teriam autoridades; nem os verbos de ação teriam tanto poder é verdade ; nem todas as promessas seriam consumadas ; os perseguidos não teriam resistência ; o sobrenatural não se manifestaria ; a cura milagrosa não alcançariam; os cativos não seriam libertos; a grande comissão não seria um ministério ; apenas uma simples profissão sem paixão ; sem o seu poder sobrenatural não seria possível uma vida abundante nem teríamos a vitória do nosso espírito sobre a nossa carne. Por isto, és para nós indispensável ó Espírito Santo para vermos vencer o bem sobre o mal .
PEQUENO-GRANDES DESAFIOS. Descobri que para o bem viver é necessário vencer pequeno -grandes desafios : Reconhecer que o meu maior adversário sou eu mesmo; Que urgentemente preciso dominar o que me domina, esteja dentro em mim, ou fora de mim; Saber usar com certa dose de sabedoria aquilo que disponho no presente, incluindo aí o tempo que a mim foi agraciado viver. Preciso alcançar o equilíbrio das minhas necessidades:comer, beber, dormir, ter bens e prazer na medida da suficiência, nem mais nem menos. Para que não tenha com que reclamar, nem me vangloriar com a abundância . Não me falte a capacidade de reconhecer que nada sou, e que mais ainda falta de mim,ser o que ainda serei. Que eu possa habilmente transformar as circunstâncias adversas em momentos de aprendizagem. Nem que para isso precise matar o meu orgulho e simplesmente empreste o meu silêncio à tua voz . Desejo ter a cada novo dia a percepção mais límpida e completa dos fatos que me cercam para que com sabedoria possa fazer escolhas pautadas no bom senso
MHARIO LINCOLN
AH! MINHA PAZ...
Se minha Paz fosse imorredoura, Avassaladora, indutora, mantenedora, Gestora, sedutora, sonhadora, Professora, inovadora, curadora... Se tivesse felicidade, saudade, acuidade Liberdade, intensidade, luminosidade Acessibilidade, caridade, bondade Alcançabilidade, fraternidade, academicidade... Seria perfeita, eleita, escorreita... Seria aceitável, aplicável, sonhável... Seria ministéria, séria, gualtéria... Poderia ser amada, louvada, tentada Poderia ser eterna, lanterna, fraterna Poderia ser... Paz, Contumaz, Faz....
(Jornalista, editor-sênior da Revista Poética
AYMORÉ ALVIM ALL, APLAC, AMM, IHGM. FELIZ ANO NOVO! SERA?
O velho se foi, O novo chegou. O tempo é que passa Ou a gente passou? Se foram as conquistas Foi tudo passando Só o que não passa Foi o que ficou. Ficaram os preços Bastante elevados Dos livros, escolas, Nos supermercados. O caos, na saúde O velho deixou. Agora me digam O que foi que mudou? Matar continua, “A torto e a direito”. O roubo campeia Por todo lugar. É corrupção E insegurança. Não sei, minha gente, O que mais esperar? Rouba o funcionário público, Político e empresário. A roubalheira se alastra Só não se acha o culpado. Não alimentem esperança O recado está dado. Ficando toda essa turma Não vai mudar coisa alguma Se tudo não for mudado. Agora com a inflação Caminhando nas alturas, Há também o velho PIB Não avança só recua. O dólar sempre subindo A incerteza é tamanha Não se sabe, nesta terra, Quem perde mesmo ou quem ganha.
Como se já não bastasse Vem o imposto do cheque Que parece uma gangorra Vai e vem nada acontece. Tem, ainda, a gasolina, Água, luz, IPVA Só não tem o aumentozinho Pra ajudar a pagar. Não há dinheiro que chegue Pra essa turma “aloprada”. Que torra a grana da gente Depois nos manda pagar. Só mesmo aqui no Brasil, De um povo bom, varonil, Mas que dorme, em berço esplêndido, Sob um céu de puro anil. Vou parando por aqui Não vou mais me alongar Nem frustrar as esperanças Que tiveram ao ano entrar. Mas uma coisa lhes digo Chegue o ano que chegar Se não criarmos vergonha Isto nunca vai mudar.
AMANTES PARA SEMPRE No gorjear dos pássaros, no meu caminho, Eu vou ouvindo tua voz chamar por mim. E no jardim de rosas que plantei Eu me deixei abandonar pensando em ti. Nas rosas rubras que tu tanto adoras Uma mensagem de amor eu te envio Antes d’estio vem sempre a primavera Que eu quisera reviver contigo. A bela luz que os teus olhos refletem E que me aquece com o teu carinho É um novo sol brilhando em meu caminho Com um fascínio que alegra e me enternece. Absorto em pensamentos entreguei-me E dediquei-me, inteiramente, a ti. E entendi porque tu me dizias Que ficarias comigo ate o fim. Transcendi, por momentos, a outros planos, Sem desenganos, caminhando seguiremos, Nas asas de um amor forte e profundo, E ao fim do mundo como amantes chegaremos
CINZAS Cinzas, Somente, cinzas E nada mais! Foi tudo o que restou De um mundo de quimeras Que acabou E que durou Apenas quatro dias. Quanta alegria Quantas fantasias Contagiaram Pierrôs e Colombinas, Nesse mundo mágico De pura ilusão. Mas, quantas dores, Desilusões e dissabores Deixaram, no coração dos Arlequins, Que marcarão Para sempre Suas vidas. Se é pura diversão Por que não se brincar? Por que tanta amargura Poderá deixar, Tantas tristezas, E resignações? Alguns brincaram Aproveitando a vida. Muitos, no entanto, Viveram em fantasias, Enquanto a outros Não haverá mais carnavais
NO RÍTMO DA VIDA. . Tudo se foi. Partiu. Nada ficou. E, também, nada deixou. Ah! Deixou lembranças. E saudades? Estas levou. As lembranças Sempre ficam. E as saudades Sempre vão. Elas ficam e vão passando Qual um bálsamo que alivia O dano de cada dia E, por fim, Desaparecem. Assim, é o ritmo da vida Para mim é o que parece. Tudo que vem Vai embora E um dia Tudo se esquece.
Ah! QUANTAS LEMBRANÇAS Não sei por que de ti eu não esqueço E já faz anos que nos separamos E não me engano, pois é esse o grande apreço De quem te amou e, mesmo assim, inda te ama. Quando de ti me aproximo, já não me ufano. Tudo é estranho, foi-se toda a alegria Daqueles dias que em teu colo descansava Quantas saudades! Bons momentos nós passamos. Já faz bom tempo que te sinto indiferente Por mais que tente já não mais me reconheces E nem parece te lembrares como eu era. Boas lembranças inda ficaram em minha mente Dos bons momentos que se foram para sempre Quando eu brincava em Pinheiro, a minha terra.
A ADÚLTERA. 5º Domingo da Quaresma ou Domingo da Adúltera ou da Misericórdia.
Por que choras, mulher, O que fizeste? Tu bem sabes, Senhor, Do meu pecado. Das razões que me levaram A este estado De ser julgada como vês Por adultério. Que crime contra vós Foi praticado, Bando de víboras, Fariseus hipócritas? Cumprimos de Moisés A santa Lei. Que manda apedrejá-la Ate à morte. Foi o vosso coração Duro qual pedra. Impregnado de impurezas e paixões. Incapaz de sentir misericórdia Por um tropeço, na vida do irmão. Quem dentre vós a julgará primeiro Se carregais iniquidade, em vossas mãos? Como vês, mulher, Ninguém te condenou. Nem eu, tampouco, te condenarei. Vá e sê feliz como mereces E não esqueças: Não peques outra vez. Não te iludas com o fascínio deste mundo. Que corrompe, degrada e aniquila. Mantém teu coração fiel e puro E viverás feliz por toda a vida.
MANOEL DE PÁSCOA MEDEIROS TEIXEIRA CANÇÃO AO POETA: A CRÍTICA CULTURAL (Homenagem a Gonçalves Dias)
Se, se tu voltasses, poeta, não saberias rimar porque acabaram as belezas da terra do sabiá. Existem poucas palmeiras, alguns sabiás a cantar... na mata da Boa Vista, poucos pés de jatobá. As nossas palmeiras bonitas são desvastadas no chão por invasores estranhos na terra do Maranhão. Eu sinto a dor e a tristeza daquele verde acabado, as matas viraram desertos e os índios abandonados. Quando o poeta dizia, em sua canção centenária, que os nossos bosques têm vida... hoje não existe mais nada. Só resta apenas, poeta, o céu no infinito do além... porque a maldade dos homens não alcançaram também. Está tudo danificado, desrespeitaram a cultura; não conservaram o passado nem a riqueza da nossa história. Agora suplico a força da divina proteção! descansa em paz, alma poética... (nas águas lindas e pardas do mar) meu velho indianista da mata da Boa Vista, poeta nacional, o líder imortal Antônio Gonçalves Dias.
homenageado do 8º NA PELE DA PALAVRA)
VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES Excelentíssima Presidenta da ALL, Senhora Dilercy Adler, FELICITAÇÕES Nesse cinco de Janeiro, ano de 2016, com as graças e bênçãos do Nosso Senhor, do alto desse meu Cristo Redentor, aqui, nesse meu Rio de Janeiro, venho saudar-lhe, e a todos e todas, bem sabes, por essa façanha arretada na Arte/primor/ baluarte, ó pequena, do Maranhão ( pro Mundo/Uni-verso, abestalhada, confesso de contentamento não só na rima desses humildes versos) em liça e missão de amor pois vos tornastes, como bem desejastes, estrela-guia maior dessa Academia tão sua/ nossa, que já é a mais fina flor, conhecida em Macau, asseguro, Canadá e China Portugal, Espanha, Argentina, e em inúmeros países, assim também, Na Maré e no Forro de Mina- RainhaALL : Casa de Maria Firmina dos Reis, a Paladina desse Brasil, pátria injusta e injustiçada, que a se buscar reafirma no peito do seu povo arderá a mais pura poesia em canto mais-que-perfeito de confrades/confreiras de sanhaços e bem-te-vis em Naves/ loas/Avoé/Viva, o Estado Democrático de Direito! Saúde, Paz e Luz!!!
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO O REI INFANTE Houve uma vez em terra distante um rei infante sem coroa sem cetro sem metro. Por berço, a manjedoura por palácio, uma gruta por súditos, reis e pastores por estandarte, o amor por brasão, a cruz das dores — a cruz da redenção. Era especial talvez porque sua transcendência fosse mais preciosa que sua permanência; seu olhar, mais profundo que o mar; sua mão, mais poderosa que uma legião; sua palavra, mais fecunda que a lavra; seu andar, mais firme que o jatobá, cuja sombra cobre de luz o coração das gentes os corpos e as mentes. Uma luz inesgotável marcante intensa divina exuberante. Uma chama brilhante, que jamais se apagou, recrudescendo no Calvário, para iluminar o mundo... Não é mais distante a terra do rei infante...
(Do livro Versos e anversos, 2002)
ADEUS130 Partiste nem disseste adeus tua chama se apagou como se apaga uma vela vela acesa a Deus. Voaste deixaste a gaiola que a este mundo frouxamente te prendia livre pedra que rola. Partiste buscaste o fundo azul do céu abriste tuas longas asas há muito e tanto adormecidas teu corpo de ti revel. Voaste como voa um passarinho lugar de pássaro não é na terra mas na imensidão do céu e a pena a repousar no ninho. Adeus.
(Do livro Quando: poesias)
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É com grande tristeza e já imensa saudade que informo o falecimento do meu mui estimado tio Mário Pires Ferro, formado em Mat emática, dedicado funcionário dos Correios, exímio jogador de damas, em Brasília, onde residia, vítima de enfarto. Seu nome era uma homenagem de meu avô, João Meireles Ferro, ao historiador MárIo Meireles. Meus profundos sentimentos à minha querida tia Etelvina Torres Ferro. Em homenagem a meu tio, ofereço estes versos, originalmente feitos quando do falecimento da nossa grande matriarca, Vovó Izabel Pires Chaves Ferro.
O NÁUFRAGO VIII131 Navego pelas ondas de teu corpo sem saber que rochedos evitar sou uma errante vaga de teu anticorpo a explorar as profundezas do mar perto do iceberg que me afundará se eu perder o controle do timão ou do braço que me oferecerá pequenas tábuas de salvação quando alguma tormenta se avizinha busco o porto seguro de teu peito e a bujarrona não é mais minha até o próximo coração desfeito as tuas veias sorvem o meu sangue e eu naufrago na tua imersa ilharga ágil volvo à tona e repouso langue e confio a tuas mãos a carga refugio-me sob os teus ombros e guardo no seio os sonhos submersos agarro-me aos numerosos escombros que a maré acolheu e refez em versos.
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poema premiado no concurso do Jornal Sem Fronteiras, cuja cerimônia de premiação ocorreu em Blumenau, no dia 19/03/2016
DILERCY ADLER BOM DIA
Que todo mal se dilua e se reconstitua como bem... como amor... nesta vida neste dia! Que toda dor derreta o pranto e floresça e cresça e cresça e se estabeleça em gigantesca beleza se revelando em flor em grande porção de flor que se abre e se oferece a cada abelha que errante faz seu caminho de flor em flor!... e jaz a dor e nasce o mel adocicando a vida adocicando o ser adocicando eu e você! Bom dia! que o bem e o amor floresçam neste dia!
FOGÃO A LENHA Fogão a lenha... amor aquecido ao calor das chamas dos galhos secos e amor correspondido!!! fogão a lenha que queima a alma com a sua chama e lava a lágrima da solidão dorida que agora jaz seca rejuvenescendo a pele que brilha ... brilha crepitantemente como a luz da chama na parede envolvente reluzindo beleza perene!!! fogão a lenha... jaz no tempo... na lembrança... eternamente reluzindo e acalentando sonhos!!!!
LIBERTAÇÃO Aprisiono o verbo devoro a “carne” –pecado humanocerne do desejo tresloucado do fruto proibido insaciavelmente insano!... aprisiono a dor em amargas palavras algemadas –cárcere privadoesvaziada da linguagem erótica ... recrio liturgias procissões santos e rezas que se pretendem assépticos e no entanto mostram-se contagiam com os seus próprios venenos exoticamente tóxicos! aprisiono o amor no papel A4 que jaz na impressora do meu computador e digito tácita e indolentemente cada letra cada sílaba cada sentença cada cicatriz intensa da vida que se expõe e ao se mostrar completamente nua sem qualquer reserva se ergue se levanta alça vôo ...se liberta... e me liberta também!!!
A ESSÊNCIA INVISÍVEL DO “ELA”
Mesmo quando aparentemente ela é boba e superficial alienada e frívola existe dentro dela uma mulher incrível inesperada forte soberba linda e muito gente que precisa apenas ser buscada descoberta e livre para sobrepujar o que fi zeram dela ... o que a forçaram a ser e que ela infelizmente muitas vezes nem se dá conta!...
ULTIMATUM - 1917 - NOVENTA E NOVE ANOS DEPOIS A Álvaro de Campos ( in memoriam) Não quero ser poeta das causas injustas nem quero louvar a dominação pode até serem causas perdidas... no confronto da ideologização mas nunca nunca mesmo dentro do meu esperançoso coração! não quero ser como Cabral que "sem querer descobriu" o Brasil o Brasil tinha dono tinha gente gente inocente isenta de ambição ... com valores que jamais expressavam qualquer tipo de exploração gente que vivia à beira do mar à sombra de sua ilusão... gente que vivia a sonhar seus próprios sonhos que nada tinham a ver com acumulação!... sou uma intrépida viajante singro mares nuvens paixões meu coração sangra muitas vezes mas não desisto - continuo a velejar enfrento vagalhões saio ferida lesada cansada sem nunca nunca desistir... tenho fé na justiça dos homens na justiça de Deus que não vai se omitir Sua justiça não falha ... jamais vai falhar ou trair os espoliados do mundo aqueles que vivem hoje a sofrer - tenho certeza -
... a justiça há de se cumprir a igualdade então vai reinar e todos voltarão a sorrir!
PARTO Minha emoção singra mares meu coração sangra paixões meu pensamento voeja nuvens lineares meu corpo treme sem razão... meu tempo nega viço fresco verdejante... minh'alma pede sonhos ilusão... meu canto - elegia pura desintegra o incauto minh'alma entoa divina canção! eu sou eu estou eu vou eu fico de fato sou luz ... ...também escuridão! esgrimo o ódio exalto o amor sempre estou/sou a imensidão a lua do alto me contempla não diz nada! só emite luz - a sua luz a dela se confunde com a minha e parimos juntas o infinito então!!! 26 de março de 2016
AS MULHERES POETAS NA LITERATURA BRASILEIRA http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=42184
CLEVANE PESSOA (1947) poeta potiguar, psicóloga e jornalista. Trabalhou na imprensa de Juiz de Fora, nos anos de chumbo da ditadura, mantendo a página Gente, Letras & Artes e a coluna diária Clevane Comenta. Já viveu em Belo Horizonte, São Luiz, São Paulo e Belém. Publicou vários livros de poemas: Asas de Água, Partes de Mim, Olhares teares,saberes e Erotíssima são alguns títulos. CICLO A fonte murmurante O rio rumoroso A cachoeira barulhenta Todos errantes, Participantes de uma orquestra Cujo regente Fica invisível à luz dos dias, Oculto à luz do luar, Torna-se dourado junto às luas claras... Mais tarde, serão Garoa Neblina Orvalho pranto: Sutis presenças Com lições de umidade, De humildade, De humanidade...
PREDIÇÃO O tempo é mesmo esse contraste: escorre entre a morte e a vida, entre o ancestral e o devir. Ascendentes e descendentes Repetem-se Ou Transformam-se. Os traços hereditários Luzem na escuridão. Os mutantes Desafiam leis. As novas crianças nascerão cantando.
THEORGASMIA Desnuda parte do corpo, parte a alma E oferece a Marte, o espelho de Vênus, Onde observa a arte dos seios plenos Bela, curiosa, intimorata e calma... Em breve, dois deuses nus, Deu-se o fato, o olfato se aprofunda, A vulva, a pélvis, as nádegas, O falo, o talo, a flor profunda. Deus goza, enquanto, voyeur De tempos imemoriais, Interpreta todos os sinais. E o esperma divino banha o casal,
Agora incapaz de distinguir o Bem do Mal.
SOB O SOL, DESPETALA-SE MAIS UM BRASILEIRO... De frente para o Ministério das Minas e Energia, Eudes do Carmo Pereira da Silva pede uma vaga de emprego aos parlamentares e empresários que ali passavam, saindo da Aneel, na posse do novo Diretor da mesma. Desempregado despetalado (de si), desarticulado(do sistema) desacreditado (pela família) o homem está desesperado não é mais esperado para a sopa cotidiana, para o corpo bem amado, para o papo animado... Eudes, prenome de herdeiro real, submete-se à humilhação de pedir emprego num cartaz cheio de erros de português. Não foi bem educado. Não possui poupança, esse homem que já foi criança e acreditou em seu país... Que nos diz a expressão desse homem em pé, pousando para alguém, por uma fração de segundo, esperançado? Sua fração de minuto de glória termina rapidamente. No calor do veranico, um homem chamado Eudes, (qual o descendente do imperador, um dos De Orleans e Bragança), com esse sobrenome que dá no Brasil como banana em penca, “Pereira da Silva”, de sol tisnado e totalmente cansado, talvez com os pés inchados de muito caminhar para lá, para cá, aperta os olhos marejados e em Brasília nem tem mar... Será que nasceu dia de Nossa Senhora do Carmo, num dia 16 de julho? Será que a mãe fez promessa para que nascesse, ou quando nasceu? Esse homem,com cara de honesto, escreve errado mas tem um desejo certo: quer trabalhar... Quando será que vai começar o “desemprego Zero”? Empregado, o brasileiro teria fome? Só se fosse de amor... A pátriaindamadabrasil, está cheia de Eudes do Carmo... Semi-analfabetos famintos,
desestruturados, das famílias separados, “arrazarados”... Enquanto isso, em Brasília, “parlamentares e empresários saíam da Aneel”. Fazia sol de verão. O homem desempregado suava. Eles também, sob os ternos eternos e as gravatas que enforcam... Mas, enforcado sem gravata alguma, estava o homem sem emprego, Eudes do Carmo. Por ele, me armo inutilmente embora, de Poesia, pois os poetas também não são mais ouvidos...
POETA DO SÉCULO XX/POETA ESTRANGEIRO MHARIO LINCOLN
O CONSELHO SÊNIOR DA REVISTA POÉTICA BRASILEIRA, (Jornalista Orquídea Santos, imortal Edomir Martins de Oliveira, advogada e escritora jurídica Mary Santos, advogado Angelo Santos e pedagoga Cristina Marão Martins, sob a presidência do jornalista Mhario Lincoln), após reunião aqui em São luís-Ma, acaba de aprovar por unanimidade o nome do imortal Humberto Napoleón Varela Robalino para receber o título de POETA DO SÉCULO XX/Poeta Estrangeiro, pelo extraordinário trabalho literário e tradutório desse ilustre homem internacional de letras, prestigiado e cultuado não só em Quito/Equador, mas, com publicações ao redor do Planeta. Caso não possa comparecer ao evento de recebimento da Comenda, aqui no Brasil, em local ainda a ser marcado, o representará com grandes mérito a confreira POETA DO SÉCULO XX/Brasil, já condecorada no ano passado, em encontro na cidade de Curitiba-PR, a imortal Clevane Pessoa. NAPOLEÃO HUMBERTO VARELA Robalino Napoleon Humberto Varela Robalino, Tulcán - Equador, 07 de dezembro de 1941, professor universitário, autor de 12 livros no Equador, Uruguai e Brasil. Depreende-se uma dúzia de antologias América Latina e Europa. Seus trabalhos são citados também em jornais e revistas literárias, bem como em periódicos especializados em estudos Acadêmicos, Artes Internacionais, Letras e Ciências, como "A Palavra do Século 21" - ALPAS 21/2015/Brasil. DEDOS Mis dedos multiplicadas manos peces multiplicados multiplicadas aves te rozan te caminan te habitan dedos provocadores de tu alegría sentidores de tus primeras humedades cuerdas que sostienen el péndulo del gozo. …almendras líticas que roturan la corteza de tu deseo… dedos míos… dedos abundancia racimos dedos llenan tu boca para buscar palabras.
FRANCISCO ALARCÓN (Mexico, 1954-2016)
NUNCA SOLO siempre este Viento acariciador esta Tierra que nos susurra a los pies este anhelo desmesurado de ser pasto árbol corazón. **************************** Tierra Poemas y mariposas con alas sobrevuelan cualquier frontera
De: Flor y Canto – Flowers and Song – Bláth agus mhrán
*** * El poeta chicano Francisco Alarcón ha escrito 20 libros, unos también en Nahuatl, la lengua de los toltecas y de los aztecas. Murió este mes.
RESUMO DAS OBRAS LITERÁRIAS DE BRANDT E SILVA Romances de Pe. Brandt de Arari – sínteses narrativas132 DINACY MENDONÇA CORRÊA LEILIANE COSTA BARBOSA
Um escritor comprometido com a terra, com o ser humano, com a realidade sociocultural do seu povo. (Luciene Rocha Garcia-TCC-Letras/Uema-2009)
FOLHA MIÚDA – João, homem honesto, bom esposo e bom pai, lavrador de profissão, vive modestamente mas feliz, com os filhos e a esposa Rita (grávida, já, de um terceiro rebento), até que um dia, chega, pelos arredores, Dico Lopes (dizendo-se encarregado daquelas terras, ameaçando os humildes roceiros, exigindo-lhes pagamento de foros, sob pena de serem banidos dali) que, juntamente com seus capangas, o surpreende e domina. João passa quatro dias na prisão – tempo suficiente para pôr em risco a vida de sua esposa, que não resiste e morre pós- parto. Só e desamparado, João não desiste da sua luta de pai de família responsável e a roça continua a produzir, generosamente, legumes e frutas. Dico Lopes volta a investir, com intenções homicidas, contra o pobre e indefeso lavrador que, dessa vez, atento e preparado, mata, em legítima defesa, o inimigo, refugiando-se no vizinho Estado do Pará, deixando os filhos sob os cuidados de Noca – com quem se casará mais tarde – quando volta para buscá-los e construir, ao lado da nova mulher, uma nova vida e uma nova história. LUZIA DOS OLHOS VERDES – Ainda criança, Luzia muda-se, com os pais, de Esperança para a distante Joselândia, voltando à terra de origem somente aos 50 anos, para viver seus últimos dias. Antes, porém, lavra um testamento em que estabelece o destino dos bens que possui em vida: para o Pe. João, deixa uma caixa de madeira, fechada a cadeado – que guardara com esmerado cuidado e que, juntamente com a chave, fora entregue ao clérigo, após o seu sepultamento (de Luzia), “numa tarde de grande tristeza em Esperança”. Na caixa,ao cla chve fora entregue da inteira, coma cadeado no dos bens que poira, em vida: a casa com os m Desde estão os escritos/registros das grandes emoções, dos momentos inesquecíveis de sua vida, nas entrelinhas das folhas dos antigos cadernos escolares, que o padre vai puxando, aleatoriamente, e lendo, entre uma missão pastoral e outra, e assim conhecendo a alma sublime daquela excelsa mulher.
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http://www.adenildobezerra.com.br/
OS CAMINHOS DE SILVÂNIA – Menina pobre, do interior, sempre muito viva e precocemente sedutora, Silvânia, aos 14 anos, envolve-se com Geraldo, recém-casado e prestes a ser pai. Os dois fogem para Belém do Pará, onde conseguem viver bem, por algum tempo, até que Geraldo a surpreende em atitudes suspeitamente claras de adultério e a abandona em situação de penúria. Só e desamparada, a moça vê, como única opção de sobrevivência, o cabaré “Mundo Azul”, onde passa a viver como “mulher da vida”, submetendo-se a todo tipo de baixezas, chegando às drogas. O calvário de amarguras sofridas, as muitas humilhações, as lágrimas vertidas levam-na a uma reflexão e autoanálise. Arrependida, a jovem está disposta a encontrar “uma luz no fim do túnel”. Assim é que, num dia em que perambula, vestida em trapos, pelas calçadas de Belém, depara-se com um padre a quem conta, chorando, a sua desdita. Piedoso, este a encaminha a duas freiras missionárias que desenvolvem um trabalho humano e cristão em prol das mulheres vítimas da prostituição e que se dispõem a ajudar a perdida jovem a reconstruir a sua vida, a trilhar por um novo caminho. ARNALDO – Menino simples, puro e encantador, Naldo, como é chamado em família, vive no meio rural, numa rotina que consiste em ir à casa dos avós, pedir-lhes a bênção, ouvir histórias e queixar-se dos maus tratos, das injustiças, impingidas por seu pai contra os empregados e os pobres lavradores que cultivam aquelas terras. Aos doze anos, ainda sem saber ler, é levado pela tia Aldenora para estudar na cidade. Na escola, é bem recebido na classe dos alunos em “idade avançada” para a alfabetização, sendo bem sucedido nos primeiros anos, até que, sob os maus influxos de Pedro Rato, entra num processo gradativo de corrupção moral, indo às últimas consequências: assaltos, tráfico de drogas, ele mesmo viciando-se, tornando-se agressivo e violento. Enfim, ambos na prisão, em celas separadas, por obra e graça do Padre Jacinto, Arnaldo, aos poucos, se vai convertendo, até que, conquistando a liberdade, volta para Morada Nova – onde reúne os empregados e lavradores, divide e distribui, de forma justa, o latifúndio entre todos. ***Excerto condensado dos resumos dos romances do Padre Brandt. In: Teares da Literatura Maranhense – Pe. Brandt de Arari: clérigo, educador e escritor – Relatório Final-PIBIC-Uema 2008/09 – Professora Dinacy Mendonça Corrêa (orientadora) Leiliane Costa Barbosa (orientanda) Nucleo de Estudos Linguísticos e Literários (NELL) – Curso de Letras-Cecen-Uema/São Luís-Ma..
A POESIA ESPARSA DE MARANHÃO SOBRINHO DINO CAVALCANTE (Doutor em Literatura, Professor da UFMA) JOSÉ NERES (Professor, pesquisador e membro da Academia Maranhense de Letras) Há 136 anos nascia, em Barra do Corda, um jovem com nome (de) gigante: José Américo Augusto Olímpio Cavalcante de Albuquerque Maranhão Sobrinho e há exatos 100 anos falecia, nos arredores de Manaus, o poeta e gênio literário Maranhão Sobrinho, então com 36 anos de uma vida dedicada à Poesia. Desde a infância, o poeta mostrou uma alma irrequieta, sedenta de novos ares e saberes. Sua cidade então ficou pequena para seus sonhos. Assim, em meados de 1900, transferiu-se para a capital do Maranhão, para continuar a sua árdua busca pelo conhecimento. Matriculou-se na Escola Normal, porém, por motivos diversos, deixou a escola regular e ingressou numa outra mais ampla e livre: a escola da vida, da boemia, do jornalismo, da literatura, da viagem, etc. Viajou ao Pará e ao Amazonas, sempre colaborando em todos os veículos de informação e cultura nos quais encontrou as portas abertas, deixando-nos dezenas de, artigos, poemas e textos diversos em jornais de vários Estados, como Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pará e Amazonas, entre outros. O problema que ocorre numa situação como essa é que um pesquisador terá sempre muitos problemas para coletar e analisar uma obra assim, podendo levá-lo a interpretações mais ou menos superficiais ou apressadas. Foi para dirimir algumas interpretações apressadas que o pesquisador e membro da Academia Cordina de Letras Kissyan Castro, lançou-se ao encalço da produção esparsa do poeta de Papéis Velhos... Roídos pela Traça do Símbolo. E o resultado desse exaustivo trabalho é o livro “Maranhão Sobrinho: Poesias Esparsas”, publicado pela ABCL (Sigla da Academia) e pela 360 Graus Editora, no simbólico ano de 2015. O livro traz algumas informações preciosas para estudantes e pesquisadores da obra do vate simbolista, como a discussão sobre as três possíveis datas de nascimento do poeta, um percurso biográfico que privilegia episódios relevantes da vida do poeta, além do que é o principal objetivo do livro: uma reunião de poemas de Maranhão Sobrinho, mas que se estavam publicados jornais. E esses poemas, antes perdidos, mas agora devolvidos à sociedade pelo jovem poeta e pesquisador Kissyan Castro, revelam ainda mais a genialidade desse intelectual com uma capacidade criadora que ia muito além da média dos poeta da época. Com a leitura de poemas, podem-se depreender algumas questões até então obscuras para os pesquisadores, como por exemplo, a relação entre Maranhão Sobrinho e os poetas românticos, da segunda e terceira gerações, isto é, de que maneira a poética de Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e de Castro Alves aparece nos versos do poeta cordino. E isso se verifica com a leitura de poemas, como A Escola (publicado em 1903, em São Luís), Necrópole (publicado em 1906, em Manaus), e em vários outros nos quais emergem vozes dos poetas românticos nos versos do nosso simbolista. Com essa pesquisa e consequentemente com essa publicação, Kissyan Castro presta um relevante trabalho à sociedade leitora do Maranhão, pois devolve a ela um trabalho de um dos nossos mais importantes nomes de nossa fecunda literatura. Podemos dizer que, neste centenário de morte de Maranhão Sobrinho, é o Maranhão que recebe o maior presente.
QUAL A ORIGEM DAS GUERRAS? CELITO MEDEIROS A mentira é a grande inimiga da verdade. A Guerra a grande inimiga da Paz. Afirmações incontestáveis. Nós queremos saber os fundamentos. Não queremos mentiras encobrindo a verdade. Quem está controlando e enganando os Povos? O ódio vem antes das Guerras. O amor existia antes do ódio. Quando iniciaram as Guerras? Busquem a razão fundamental Não culpem nada e ninguém Sem antes ter as respostas. A origem das Guerras está no domínio dos Povos. Não está na ordem moral, na religião ou na economia. Não está na diferença de costumes, raças ou sociedades. Todos podem encontrar as mentiras encobrindo a verdade. De onde vem os valores do domínio, status, poder e dinheiro? Aqui está a chave em que os Povos já começam a compreender! Ninguém derrotará quem tenha conhecimento e experiência. Ninguém oferecerá coisas ruins para enganar a todos. A Liberdade e a Paz virão pela decisão dos Povos. CERCLE UNIVERSEL DES AMBASSADEURS DE LA PAIX (SUISSE / FRANCE)
DE GONÇALVES DIAS À ANTROPONÁUTICA DE CASSAS MHARIO LINCOLN Editor-Sênior da Revista Poética Brasileira www.revistapoéticabrasileira.com.br http://www.acervum.com.br/#!cassas/osci2 / http://www.acervum.com.br/#!cassas-ii/t57g2 Luis Augusto Cassas despontou entre as décadas de 70/80. Na época também, surgiram nomes como Jorge Nascimento, Cunha Santos Filho, João Alexandre Júnior, depois Chagas Val, Alex Brasil e Francisco Tribuzi. Com eles, pude acompanhar, mesmo de longe, um dos movimentos mais incríveis de resgate da poesia maranhense; uma nova poesia, mais vigorosa, mais autêntica, sem as rimas e conceitos europeus. Esse movimento ficou conhecido como Antroponáutico 1972/73 implodindo a mesmice e abrindo as portas para muitos dos jovens poetas, que nem mesmo haviam publicado suas obras. E lá já estavam viçosos como nunca Luis Augusto Cassas, Chagas Val, Valdelino Cécio, Raimundo Fontenele. O movimento explodiu como barris ao vento, relembrando o 26 de março de 1954, quando o bólido-cargueiro 'Maria Celeste', consumiu-se no Cais da Sagração. Foi, então, inevitável sua continuidade, mas, com o nome de Hora de Guarnicê – A nova Poesia do Maranhão. Nessa antologia foi que conheci o belo trabalho de Rossini Corrêa e fortifiquei minha admiração por Luis Augusto Cassas. Admiração essa que se integralizou de vez quando compareci ao lançamento de República dos Becos (em 1981), onde Cassas mostra toda sua habilidade de trabalhar com as palavras e temas, inaugurando uma poesia de grande sustentação literária e historiográfica. Nesse livro, Cassas consegue mexer com os brios dos poetas tradicionais brasileiros e assume a dianteira dos seus iguais maranhenses, sendo fartamente elogiado pela crítica nacional. E como ele, subiram também nessa nova casta poética, a criatividade de Laura Amélia Damous e a coragem poética de Roberto Kenard. Uma época simplesmente de ouro para a poesia do Maranhão. O tempo passa, "mas os livros bons ficam de pé..", como afirma Josué Montello, que aliás, prefaciou 'República dos Becos'. Esse livro, agora em 2016, completa 35 anos, ainda de pé. Tão em riste, que Josué, lá de cima, anda feliz com sua premonição prefacial: “É preciso guardar o nome deste poeta: Luís Augusto Cassas. E igualmente os poemas deste livro de estreia: República dos Becos”, disse ele no aludido prefácio. Volto a São Luís e reencontro o poeta. Sou-lhe grato pela amizade e apoio em minhas convicções. Reencontro, inclusive, Cassas de obra nova, nas livrarias: "A Poesia sou Eu -Poesia Reunida (I e II)", aplaudidas pela crítica nacional, após aquele vôo extraordinário decolando na pista celestial de 'República dos Becos'. O importante de tudo isso é que nas centenas de páginas de pura poesia, passando pela poesiaromance, onde amor, paixão, perdão, crítica, grito, sonhos, noites e dias, Deus, o Diabo, tarô, elementos do SEICHO NO IE, restauros do ecológico, do espiritual como um todo, o metafísico, ora usando técnicas da Constelação Familiar de Bert Hellinger, ora o mais abissal dos sentimentos pessoais, acabam sendo elementos fundamentais na construção do todo poético, transformando essa obra, numa gigantesca metade de nós mesmos, seus leitores. Quanto à maturidade poética, Luís Augusto Cassas já a havia alcançado há 35 anos, com sua estréia tão contundente de República dos Becos. E nessa última - Poesia Reunida, finca definitivamente o nome na galeria dos mais autênticos poetas maranhenses.
E se eu quiser perguntar a ele, se toda essa fama lhe trouxe enriquecimento material, com certeza, ainda com ensinamentos de Seicho Taniguchi no coração, ele me responderá: "Êxito não é ganhar dinheiro nem fama; é alcançar o progresso e a evolução da Vida." Luis Augusto Cassas tem uma grande virtude como poeta: Renascer a cada verso. E isso lhe condiz ser um dos maiores poetas vivos do Brasil, abeçoado por críticos, desamado por musas, numa busca constante para decifrar e dintinguir claramente as coisas de Deus e as coisas do Mundo. Um gigante, quando escreve, um menino quando ama, um humano quando sofre... E tudo isso, Cassas reuniu em Coletânea que o imortalizou, em definitivo. Trata-se de 'A poesia Sou Eu, Poesia Reunida' (IMAGO), dividido em dois volumes, a obra de fôlego, reúne mais de trinta anos de intensa dedicação deste consagrado poeta maranhense à poesia, sendo considerado um dos mais belos projetos de nossa lírica contemporânea.
A OBRA e biografia Três décadas depois de estrear com República dos Becos, livro que mereceu entusiasmado reconhecimento crítico, o poeta Luis Augusto Cassas se permite um olhar retrospectivo sobre uma vasta produção poética com os dois volumes de “A Poesia Sou Eu”, sua Poesia Reunida. Artista pouco dado a convenções, o maranhense surpreende mais uma vez ao fazer uma espécie de testamento literário em pleno exercício de sua maturidade artística. Com aproximadamente 1.400 páginas, os dois volumes enfeixam os dezesseis livros publicados, além de quatro inéditos e alentada fortuna crítica. O lançamento possibilita ao leitor o conhecimento integral da poesia deste criador que vem de São Luís do Maranhão, região que povoa o imaginário poético brasileiro por meio dos versos e imagens que vão de Gonçalves Dias a Sousândrade e Ferreira Gullar. Luís Augusto Cassas (2 de Março de 1953, em São Luís do Maranhão) nasceu longe, como as utopias, desenvolvendo a vocação para o horizonte. Trilha o caminho do meio, mas há risco de abocanhar o inteiro. Após ciclo de mortes e transformações, novo nascimento entre duas palavras. Tendência à profundidade, por estar sempre em queda. Teórico do mais. Hoje, discípulo do menos. Poeta do alto e do baixo, do externo e de dentro; às vezes é fogo; às vezes, vento. De índole solitária, não é membro de nenhuma academia, sindicato ou entidade de classe. Mas aprecia longas caminhadas e bom papo. Gosta de contemplar a unidade, dispersa na criação: “Embora o olho não perceba, sabe-o o coração”. A serviço da luz, do belo e do verso. Para ele, o mundo é pura poesia. 'O último pensamento a sair, acenda a luz." LAC
NOVOS POETAS & NOVAS POESIAS
A PRECIOSA ESTREIA DE MÁRCIO MINATO
MHARIO LINCOLN Editor-Sênior da Revista Poética Brasileira www.revistapoéticabrasileira.com.br http://www.acervum.com.br/#!poetas/pteub Márcio Antonio Pereira Evangelista, conhecido como Márcio Minato, tem 27 anos e escreve desde os 10 anos de idade influenciado pelas obras de Casimiro de Abreu, Cervantes e Neruda, leituras comuns em sua infância. Oriundo da cidade de Bacabal - MA, Márcio Minato mora em São Luís do Maranhão desde o ano de 2006 onde chegou para estudar música. Na Universidade Estadual do Maranhão ingressou no curso superior de Licenciatura em Música, curso que trancou no 4º período. Graduou-se em Ciências Contábeis, atua na área gerencial, porém nunca abandonou a música, a literatura, seus contos e poemas. No ano de 2012, Márcio Minato participou do XXXVI Concurso Internacional Literário da Editora AG, conseguindo o 5º lugar geral para 4 de seus poemas e, como prêmio, seus poemas foram publicados na Antologia Poética das Edições AG, que teve o título Os 7 pecados capitais. Em 2014, foi participante do Concurso Nacional Novos Poetas da Editora Vivara, onde seu poema Breve Momento Antigo foi selecionado, dentre mais de 80 mil poemas de todo Brasil, para integrar a Antologia Poética do Concurso. Os poemas de Márcio Minato também foram usados em composições musicais em parcerias de artistas maranhenses como Carlos Quirino, Mano Lopes e Leo Hori. Hoje Márcio Minato está em meio ao projeto de edição do seu primeiro livro de poesia, onde pretende lança-lo até o final do ano de 2017. São Luís, 18 de janeiro de 2014
E ENTÃO VEIO O FIM Ficastes nua e plena a cada verso recitado, Num passear moderado de pele e sons. Cada gemido representava a dor de um começo E cada começo é vítima de um final, feliz ou não. As roupas rasgadas aos teus pés, As portas trancadas limitando os alheios, Os feitos sádicos de uma ilusão sem tamanho – a mesma que cultivastes por simples capricho – Torturavam-te pela máscara que escolheu carregar. Nem o melhor poema de Drummond te acalmaria, Muito menos os acordes arranhados te deixariam meiga. Os cacos de um passado próximo são o teu sustento E o teu ego pulsa sob o olhar de uma ou mais doses. A maciez tua que adormece e repousa quase escondida, Pergunta-te, a cada instante, o quão imaculada será A capacidade de amar aquilo que distante está. Receba o amor, esse mesmo que o mar nos trouxe, E se amanhã sentires o frio amargo da solidão, Que em tua vida paira nas comas de outrora, Lembra-te do beijo quente que guardei pra te dar, Das folhas secas que o vento mundo a fora faz voar, E esquece-te... Esquece-te da lucidez que nos faltou, Da raiz que te prendeu e do fardo que tornei. Esquece-te, sobretudo, de mim. Márcio Minato.
LER E PRODUZIR OBRAS LITERÁRIAS: prazeres vitais para o mundo humano Profa. Dra.Dilercy Aragão Adler Sócia efetiva do IHGM– Cadeira 1 RESUMO Reflexão acerca da leitura e produção de obras literárias a partir da compreensão de que essas atividades materializam prazeres vitais para o mundo humano. Parte da exposição da obra literária enquanto arte e forma de conhecimento. Analisa a criatividade na produção da arte e finaliza abordando o específico da criação. Palavras-chave: Obras literárias. Arte. Conhecimento. Criatividade.
Lavra na terra o sulco da vida lavra idéias lava a “culpa” e o “pecado do mundo” limpa com idéias revolve o sumo do inominável com tuas idéias! Dilercy Adler INTRODUÇÃO Este artigo busca refletir acerca da leitura e da produção de obras literárias como possibilidades humanas e, ainda, como prazeres vitais para o mundo humano. Engendra a análise a partir da obra literária como forma cultural de conhecimento, passando pela possibilidade criativa na produção da arte finalizando com o específico da criação. Busca, ainda, utilizar uma linguagem direta, exemplificada, não rebuscada, de modo a viabilizar ao leitor o vislumbre das suas próprias possibilidades tanto na leitura quanto na criação de textos poéticos, literários, jornalísticos ou acadêmicos. O fato é que a produção de textos acadêmicos e artísticos poderia ser maior se as condições socioculturais que interferem na dimensão individual de cada cidadão apresentassem condições facilitadoras para a expressão da sua criatividade no e para o seu coletivo. Por outro lado, a escola é considerada nos argumentos explicitados como espaço precípuo para o desenvolvimento da possibilidade criativa do seu alunado, mas para tal é indispensável que os seus objetivos propostos, as suas metodologias de ensino, os seus procedimentos em geral estejam dirigidos para a formação de leitores e autores. Assim, é importante compreender que a interação entre múltiplos fatores é que vai possibilitar a emergência e o reconhecimento da criação e de um número maior ou menor de produtos criativos. Sem esquecer a importância da sensibilidade aguçada, que permite captar o belo no mais inusitado objeto, é que se levantam estas argumentações como provocação para mais buscas e mais explicações acerca da indispensável atitude de refletir o mundo e interpretá-lo. OBRA LITERÁRIA COMO FORMA CULTURAL DE CONHECIMENTO A Ciência, a Filosofia e a Arte constituem três formas culturais de conhecimento (LYRA, 1993, p.24). Diferentemente do filósofo e do cientista, o artista não se prende à verdade factual. Isso significa dizer que o trabalho do artista não objetiva preencher as lacunas do saber, investigando o ainda ignorado (como na
ciência), ou demonstrar teses acerca do homem no mundo e do mundo do homem (como na filosofia), mas o de explorar criativamente todas as possibilidades expressivas do seu objeto. Para tal, é permitido ao artista lidar e manusear, tanto com a ignorância, como com a própria inverdade, a exemplo das poesias que seguem: DIFÍCIL VERDADE Haverá talvez verdades que fiquem além da linguagem o que nos faz seres solitários! faço esforço sobre-humano para dizer o que sinto... ...e nem sempre consigo! faço esforço incrível para viver o que penso... ...nem sempre é possível! faço esforço tamanho para tornar-me clara e facilmente interpretada ...mas muitas vezes me flagro diferente na percepção do outro! são essas verdades além da palavra do gesto da expressão essas verdades não ditas que nos condenam a essa insólita solidão! ADLER, 1991, p.103) (coloca a dúvida e os limites humanos) INSONDAVELMENTE SENDO Conhecer-me como é possível? se eu mesma me debato e desabo toda se sou arrebatada e me arrebento inteira entre dúvidas desatinos e "certezas" questionáveis que me amordaçam me violentam me dividem! conhecer-te mais difícil ainda ... eis a insondabilidade do ser humano! (ADLER, 1991, p. 15)
(Coloca os limites acerca do próprio conhecimento, do conhecimento do outro e questiona as certezas). Assim, o campo da arte é o imaginário. Daí porque nesse sentido pode ser afirmado que é mais vasto do que o da Filosofia e mais ainda que o da Ciência. Com base nessa premissa talvez não seja pretensioso colocar que a arte termine se firmando como uma forma privilegiada do conhecimento. “Dentre as artes pode-se dizer que a Literatura apresenta maior capacidade de abrangência. Isso porque nenhuma outra linguagem artística apresenta o alcance da palavra” (LYRA, 1993, pp. 35-50).
No que diz respeito à palavra do poeta, inicia-se a argumentação através da seguinte afirmação psicanalítica: Mélanie Klein diz que "o que me impede de ver é a inveja, o mau olhar [...] o invejoso não vê com bons olhos, pois a inveja ataca-lhe a visão [...] o contrário da inveja é a gratidão [...] o invejoso, ao contrário do poeta, sob a ação da pulsão de morte, amaldiçoa, vê com maus olhos e diz más palavras" (REZENDE, 1993, pp. 110-124). O papel do poeta, segundo a mitologia grega, comentada por Marcel Détienne, em seu livro. "Os mestres da verdade na Grécia antiga", era exatamente o de fazer o elogion - o elogio. Tomado ao pé da letra o elogio significa a boa palavra, a qual consiste em dizer bem ou bem - dizer e no latim benedicere significa abençoar (REZENDE, 1993, p. 111). O poema FALA DE POETA expressa um pouco essa questão: A palavra do homem habitat-corpotransita na boca a boca que beija o beijo que trai a palavra do homem habitat -corpoferinamente fere a mão que se estende e não se fecha jamais!... ...fala poeta por ti e por nós a palavra de amor por sob os lençóis a palavra benigna que não fere jamais a palavra de vida que lava a ferida tantas chagas e dor fala poeta palavras palavras em rimas de amor! (ADLER,1997, p. 19).
Fica claro que o poeta olha o mundo muito mais com o espírito e comunica um pouco do seu espírito para os demais. Desse modo, a linguagem poética transmutada é advinda do olhar do poeta que transcende à materialidade observável a exemplo de: RITUAL colho orvalho - lágrimas do cosmo na noite enlutada engulo luares - dos nostálgicos amantes – bucolicamente solitários rumino compulsivamente todas as saudades que me fazem a tua ausência digiro tácita solidão num ritual sem trégua à tua espera! (ADLER, 1997, p.20)
(no sentido factual não se pode engolir luares, ruminar saudades ou digerir solidão) DESEJO Quero extrair mais um poema das entranhas... estranha arte de parir
palavras! (ADLER, 2000, p.20)
Assim, o olhar do poeta torna-se instrumento de tradução do mundo, e nessa tradução reside tanto a minimização das dores e da crueza da realidade, como uma infinidade de prazeres vitais para o mundo humano. A CRIATIVIDADE NA PRODUÇÃO DA ARTE A criatividade, como qualquer outro traço ou característica humana, necessita de condições adequadas para que possa se desenvolver. Algumas destas condições se relacionam com o espírito da época, com o clima psicológico ou social que predomina em uma determinada sociedade ou em determinado povo. Estas condições, mais ou menos favoráveis, estão também relacionadas aos valores dominantes na família, aos traços de personalidade e características reforçadas e cultivadas. Desse modo, tantos os fatores intrapessoais, interpessoais, individuais e sociais, têm um impacto significativo na produção criativa do indivíduo e da sociedade. No tocante à escola é muito importante que os objetivos propostos, as metodologias de ensino adotadas, os procedimentos em geral que aglutinam normas, valores, estejam dirigidos para a formação de leitores e autores. É a interação entre múltiplos fatores que vai possibilitar a emergência e o reconhecimento da criação e de um número maior ou menor de produtos criativos. Em termos de características de um contexto social propício à criatividade salienta-se a extensão em que as contribuições criativas de seu povo são bem aceitas e valorizadas, bem como a existência de condições que estimulem a inovação, a exploração de ideias e a criação de novos produtos. A importância do reconhecimento social também é de fundamental importância. Por isso é necessário que aqueles que convivem com o indivíduo valorizem a sua criatividade; o ambiente deve oferecer o apoio necessário e aceitar o trabalho criativo quando apresentado. Sabe-se também que o desenvolvimento e a expressão da criatividade não dependem somente dos esforços do próprio indivíduo, mas ainda do contexto social em que se acha inserido. No tocante a este último, esse desenvolvimento se dá quando os seus cidadãos têm liberdade e oportunidade para estudar e preparar-se profissionalmente, explorar e questionar, expressar-se, serem eles mesmos. Outras condições de um ambiente que facilitam o comportamento criativo são: redução de fatores que produzem frustração, redução de experiências e situações competitivas que implicam ganhos ou perdas, encorajamento do pensamento divergente, eliminação de ameaças ambientais, aceitação de fantasias, minimizações de coerções, ajuda à pessoa em sua compreensão de si e de sua divergência em relação às normas. SOBRE O ESPECÍFICO DA CRIAÇÃO Para que haja a criação, o criador necessita da sua capacidade de perceber o objeto... as pessoas... as coisas humanas... o mundo. Nessa perspectiva, o olhar é entendido no sentido de ir ao encontro do mundo, de trazê-lo para dentro de si, devolvendo-o para o coletivo reinterpretado e esse agir implica a disposição de abrir-se ao mundo. Essa é talvez a primeira condição para a criação. É ainda fundamental dispor do olhar sempre atento aos pequenos detalhes, percepção que implica sensibilidade e capacidade de expressar o sentido, o sentimento, a emoção inspirada pelo objeto percebido. Assim, é imprescindível, sensibilidade que permita captar o belo no mais inusitado, a exemplo da poesia para a Poesia a seguir: Poesia Eu te capto entre os espigões de concreto que se afogam no mar morto do asfalto
eu te vejo mesmo na solidão do eco do salto alto nervoso apressado... eu te acho no poço escuro sombrio do elevador lento e inabalável ... eu só me calo quando me falas eu sempre grito as tuas dores mas também digo os teus prazeres e ainda bendigo por me fazeres teu instrumento!... (ADLER, 1997, p.19)
Ou nesta outra: POEMA No frio e pálido papel eu me debruço debulho irrefutavelmente tantos prantos quanto me custa! degusto prazerosamente todos os sabores que me devassam e afloram corpo e mente quantos licores! e o papel se enche transborda vida! (ADLER, 1997, p.13)
Por outro lado, convém enfatizar que todos têm sensibilidade. O que acontece é que alguns reprimem a sua, por variados motivos, ou ainda, a sociedade não cria as condições facilitadoras para o seu desenvolvimento e expressão. É urgente que se busquem estratégias de desenvolvimento (para quem já deixa emergir em si) da sensibilidade e de resgate, para posterior desenvolvimento, para aqueles que perderam essa condição em si, já que essa é inerente ao ser humano. Ler e produzir obras literárias devem se firmar como prazeres vitais para o mundo humano. O mundo humano necessita, para a sua continuidade e felicidade dos seus habitantes, da criação da ciência e das artes, em todas as suas vertentes, mas, necessariamente, devem ser obras permeadas por uma ética humanizada que resulte da convivência amorosa entre as pessoas. REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos - Gris. São Luis/MA: Graphos,1991. ________. Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário. Rio de Janeiro: Blocos, 1997. ________. A ARTE E A POESIA ENQUANTO CAMPO DE CONHECIMENTO: à guisa de reflexões. Revista Eletrônica do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM. Nº 32, março 2010. ______. GENESES: IV livro. São Luís/MA:Estação Produções, 2000 LYRA, Pedro. Literatura e Ideologia Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. REZENDE, Antonio Muniz de. Bion e o futuro da psicanálise. Campinas/SP: Papirus, 1993.
DUARTE, João Francisco Júnior. A política da loucura. Campinas / SP: Papirus, 1987.
RICARDO LEÃO E SUA “MINIMÁLIA OU O JARDIM DAS DELÍCIAS” ANTONIO AÍLTON On fevereiro 29, 2016fevereiro 29, 2016 por antonioailton https://antonioailton.wordpress.com/2016/02/29/ricardo-leao-e-sua-minimalia-ou-o-jardim-dasdelicias/?fb_action_ids=1269588626403847&fb_action_types=news.publishes
RICARDO REVÉM Sobre Minimália ou O jardim das delícias Minimália ou o jardim das delícias tem seu lado irônico: um livro com 200 poemas cujas delícias (associadas geralmente aos aspectos eróticos e aos prazeres do corpo) estão fundamentalmente inscritas no corpo da palavra, no prazer da experiência escritural a que o leitor pode se entregar, mais que a qualquer outra manifestação explícita dos deliciosos “jardins”. O jardim se torna essa possibilidade de gozo (ainda possível) do mundo na e através da palavra poética, de uma presença deste mundo criado pela palavra – profana, consciente e crítica, dessacralizada – e cujo centro não é o paraíso ou o inferno libertino, mas simplesmente um espaço de negociações e de sobrevivência que inclui o espelho. Ricardo, enfim, convida para sua poesia o espaço mundano, a ressonância política inclusive do corpo esvaziado (deus sexualizado ou o lado zero de Eros), É noite no cosmos. /Somente eu percebo/ Que estou só e sólido/ No vácuo do corpo. Apesar dessa carnalidade mundanal que se manifesta – ou que deseja se manifestar – à revelia dos nadas “atrás dos discursos” e dos tenros vazios que nos capturam às sombras da linguagem, como não poderia deixar de ser essa poesia estará lastreado pela obsessão das habitações da escrita e do imaginário (meta)poético. Entre a realidade e a escritura é que este poeta se localiza (“Esqueço/Meu corpo/No texto” – Espelho), como talvez, afinal, todos nós que lidamos com essa realidade especular da literatura, mas que nesse poeta em especial essa limiaridade lhe foi e se mostra cada vez mais marcadamente vital: “Habito o homem/Que ainda há em mim/(…) De, comigo, sê-lo./ Escrevo-lhe cartas/Sem selo, rua ou via” (Usança). Lembro-me aqui do poema-epígrafe Busca de Sandro Fortes: “É animal? Mineral? Vegetal? É real/ Ou imaginário? Ilusão? Pé no chão?/ O que vasculhas, o que perscrutas/ Além do teu próprio rosto, absorto? /Que outro, que corpo, que escopo? (…) Que temas, que fonemas, que dilemas?”. Ele nos diz muito das acomodações especulares, simbólicas e análogas, que Ricardo abre nas fendas no signo arbitrário. As vozes furiosas/ Do mudo poema/ Gritam no silêncio/ Da carne trêmula./ Somente agora,/ Corpo de pássaro,/ Soluço vocábulos/ De um puro aço. (Noturno)
Depois de Os dentes alvos de Radamés (2009), um poema narrativo, e do longo poema No meio da tarde lenta (2012), a proposta de Minimália se encontra em seus poemas-sínteses, não exatamente sintéticos (alguns o são), mas composições estabelecidas sobre um trabalho de concisão e contenção formal, sobretudo na extensão dos versos que, agora, não seguem a desobrigação discursiva geralmente espontânea, solene mas irregular, de No meio da tarde lenta, por exemplo. Ou o ritmo dissoluto, às vezes desembestado, de Os dentes alvos… Os poemas de Minimália resgatam uma regularidade tradicional, atualizando o corte que mede o verso e adensa o sentido do que cabe dentro dessa pancada mínima, ao mesmo tempo em que ressalta um investimento na sonoridade, uma tonância de rimas e correspondentes sonoros bem distribuídos. Dir-se-ia que Ricardo refinou os instrumentos e adensou sua poética. Não que o fato por si mesmo de investir neste processo construtivo (de aproveitamento construtivista) possa fazer alguém mais ou menos poeta, senão evidenciar tal técnica, mas no caso de Ricardo Leão lhe deu novo fôlego, um fôlego que flui e nos conquista, em uma leitura que se torna leve, pelo tamanho dos poemas, pela fluidez e abertura dessa linguagem, apesar de algumas imagens localizadas entre o estranhamento e a herança do hermético. Podemos assim compartilhar do entusiasmo do poeta que transforme essa poesia em delícia, e que me relata: “[Na feitura desse livro], a poesia tomou conta de mim, de forma incontrolável e diária. (…) uma sensação de plenitude, de poder sobre o verso e o verbo”. Houve, portanto uma mudança de rumo (para melhor) na poética de Ricardo, na exploração e na concretização de uma latência, ao que me parece, tanto no sentido de um “exercício de metalinguagem” que se amplia em exercício de linguagem, quanto de um dizer cada vez mais vigoroso, para além da clara e reiterada afirmação da “mudez”, em Minimália – do poeta mudo, do poema “mudo”, isto é: do grito que a linguagem contém e retém, ao ser impossibilitada de poder dizer TUDO –, num achado seguro para o exercício da pulsão poética e da (con)figuração do vivido. Naquela retomada da forma-outra e da experiência especular, quer dizer, da tradição e do intertexto (talvez se possa falar de hipertexto), as quais possivelmente se tornaram parte fundamental e estrutural da escrita de Ricardo, encontramos um de seus grandes interlocutores: Nauro Machado. Não se trata apenas da dedicatória do livro, neste momento em que toda uma geração de poetas que conviveram com o grande bardo sentem o impacto de sua morte (acontecida em 28 de novembro de 2015), tampouco da obviedade dos poemas que lhe são dedicados ou fazem alusão a ele, como O terceiro dia, os Sonetos a Nauro, A Sagrada Família ou Dístico ao Silêncio. Trata-se, isto sim, de uma sutil presença que poderíamos chamar de “espírito” em certas imagens, em certa pronúncia, em certas retomadas da experiência poética – sem nenhuma angústia. Evidentemente a poesia aí não decresce, mas se ultrapassa e mais se eleva, sem esquecer a justa homenagem a quem Ricardo sempre teve reconhecimento. Assim, Bêbada é a noite/Por entre as pálpebras/Da última manhã.
(Delirium tremens)
Na ressonância daquela tematização do duplo, do ser divido, tão característica de Nauro, tal como vibra nos poemas Usança, Sísifo, Anima Mea ou To be or not to be (Talvez jamais/ serei eu mesmo/ no verso a esmo) – que lembra o poema O Parto, de Nauro: “Meu corpo está completo/o homem, não o poeta”). Como também, por exemplo, no gozo do Eterno em Big Bang, em Estestoscópio, ou na fortíssima imagem na confluência Nauro-Pessoa do futuro cadáver e do eterno que se lasca, no Imperativo: É forçoso que me torne/ O meu futuro cadáver./ Que esteja vivo na morte/ E que o eterno se lasque. A poesia de Ricardo não se restringe a esse diálogo, porém. A título de exemplo, quero ressaltar dois poemas, dos melhores, entre tantos excelentes do livro. No primeiro, Zaratustra strikes again, composição de apenas um quarteto, Ricardo sintetiza séculos de itinerário do pensar e do pensamento humano, com o apoio da referência a Nietzsche, lembrando os escombros da crença no Homem metafísico, da essência de um homem deificado, como sujeito centrado, racional, imerso no vislumbre do Bem e do Mal, da Verdade (e do Belo), e sua queda de fundo niilista para os pés sujos da história, da violência (o homem é lobo do próprio homem, lobisomem), das muletas pragmáticas, do descentramento e da revolta – revolta às vezes com a própria condição demasiado humana. Por outro lado, a mesma figura de Zaratustra e a referência aos “anjos ateus” não deixa de nos remeter à mítica do gauche iluminado, e, com ela, ao gauchismo poético, tão bem explorados em nossa literatura pelo Poema de 7 faces, de Drummond e Com licença poética, de Adélia Prado: “anjos tortos”.
Já no poema Impeachment, onde inclusive aparece de novo a passagem do deus ao humano (uma constante a ser pensada), e que o liga ao gauchismo, de Zaratustra a Big Bang, etc., e à “encarnação” erótica, à sexualização, ou à “corrupção” transformadora de uma impassibilidade solitária e vazia, Ricardo consegue estabelecer uma correspondência entre as instâncias da subjetividade e as instâncias da objetividade, em que o ato particular do sujeito transforma-se em ato público, político, ou vice-versa: o contexto histórico-social (a atualidade do Brasil, diga-se), tem um correspondente na representação poética como tomada de consciência, e portanto uma decisão política da/na vida íntima do sujeito (o ego – de quem?, de qual “eu”? – está deposto). Bom lembrar também da superposição e correspondência de contextos e situações que amplificam as dimensões de sentido do poema: o “adeus” no mês de agosto, relacionado à deposição, evoca também e deixa em suspenso como provocação de fundo o “adeus” do agosto de 1954, adeus-suicídio de Getúlio Vargas, um ato pessoal com implicações para o resto da história do Brasil. Mas o poema aponta para um outro lado: a deposição como sacrifício que remete à liberdade e ao gozo final, à saída do subjugo do ego. Em Minimália, portanto, o menos é mais. Assim, Ricardo mais se acrescenta quanto mais iluminação lança sobre si mesmo, e sobre nós. Ricardo Leão strikes again.
SONETÁRIO DO QUIXOTE VENCEDOR FERNANDO BRAGA133 Disse certa vez Dom Quixote a Sancho que contasse algum conto para entretê-lo, como teria prometido, ao que Sancho correspondeu que de boa vontade o fizera, se o modo do que estava ouvindo lho consentisse: - Mas enfim – disse ele – seja como for farei diligências para contar uma história. Dê-me Vossa Mercê toda atenção que já principio, a contar uma aventura sobre o próprio Cavaleiro andante, mas como se fora ele, o leal escudeiro, Sancho Pança, que assim o via através de seus olhos de fiel servidor e acompanhante... Era uma vez... O que era; como atrás de tempos, tempos vêm... Era uma vez um cavaleiro poeta apaixonado não por Dulcinéia Del Toboso. Mas por Nirciene Rosa, o que, não muito desigual ao da Triste Figura, assim começou, enamorado, um canto, a dizer ter perdido o destino: “Vede: Sou um louco sonhador cretino, / a quer o mundo sem dor, mal e peste / - pobre Quixote que perdeu o destino...” E depois do caminho, distraído, perdeu Rocinante: “E desenganado, sofre a dor angustiante / e vai trotando no vazio seco de um graveto / - pobre Quixote que perdeu Rocinante”. Adiante, o poeta cavaleiro, perdeu o próprio caminho: “Cruéis para mim foram os fados: / [tudo em mim foi dor ou desvario, / olhos postos na luz, e já vazados] / sempre morrer de calor dentro do frio”. E desditoso, o cavaleiro poeta perdeu a fantasia: “Sem uma gota de verdadeira poesia, /naufrago no pantanoso areal da Vida / - pobre Quixote que perdeu a fantasia...” E tempo há, dentro do tempo, que o cavaleiro poeta perde a amizade: “Se querem saber: sou eu mesmo Sancho. / Ele é o outro de mim mesmo dispersado. / E, pela metade, eu agora me desmancho, / que um não pode ser o ser dilacerado.” Lá pelas páginas tantas, Sancho diz que o amigo perdeu o projeto / e sem planta baixa edificou a casa. / Mas, mesmo assim, arquitetou o teto / escondeu na alma um pedaço de asa.” Pobre Quixote – o herói de La Mancha, desta vez perde o melhor de seu, a vergonha: “Mesmo que contra o homem tudo deponha, / inclusive, por ser este animal que bate, / tudo logo corrompe em que a mão ponha: / e infamando seu cão, cruel, ainda late...” Depois, agora, para melhor, “Nobre Quixote perdeu a tristeza / e recuperou o horizonte da alegria. / Tirou o pombo da cartola da beleza /e na fileira do bem inventou o dia.” Neste momento, ele, Quixote, que também não é o andante da triste figura, ma o Cavaleiro poeta, da bela postura, apruma-se e canta uma Elegia dos Visionários: “E Quixote, todo ancho, / colherá um verde lírio / e responderá: bom Sancho, / somos filhos do delírio.” E Nirciene Rosa, que não é Dulcineia e tampouco Aldonza, mas o grande amor dest’outro Quixote, o poeta da bela figura, passa pelos moinhos de vento com o nome disfarçado de “Mona Lisa... Infinita das minhas emoções”, e a caminho, “Infinita Mona Lisa das minhas quimeras...”, e em serenata “Infinita Mona Lisa da minha guitarra” [...] E os dois, cansados de tantas andanças, chegam à Santa Helena, onde Bonaparte amargou a sorte de grande soldado, para dizer, ele, o Quixote poeta e da bela alegria, não de La Mancha, mas de uma Ilha com o epíteto de ser “dos amores”, não aquela cantada por Camões e pintada por Malhoa, mas a de São Luis do Maranhão... Descobrimo-lo pelo coloquial do termo, que só naquela doce ilha é usado, e brada feliz: “Como Bonaparte vão sonhando no caminho, / lambendo-se no cio à sombra de um vinho, / noivos chamando-se pequeno e pequena”. Depois, o nosso herói que já se misturou com as histórias minha e de Sancho, chega à Ibéria, e canta sob o belo azul peninsular: “Colorido dia de Espanha, / de Espanha e Portugal: / [este ouro que o azul 133
Fernando Braga, in “Caderno Alternativo” do \jornal “O Estado do Maranhão”, de 4 de novembro de 2015. Em tempo: Rossini Corrêa é um dos homens mais cultos que tive a felicidade de conhecer, meu queridíssimo amigo, a quem tanto respeito e muito amo, o irmão que nunca tive, e, para loas do meu espírito, é ele, ainda, meu compadre de alma.
apanha e transforma em mel e sal]”. Este ouro não será o reflexo das areias do Tejo, visto pelos olhos de Sancho? Finalmente, o Quixote poeta e brilhante chega ao Quinto Encontro, ao lembrar-se talvez do Quinto Império, predito pelo Bandarra, sapateiro de tanto espanto: “Nunca jamais se turvam/ mesmo a Lisboa do alto... Com uma vontade de salto, / Lisboa meu chão de nuvem”. Por fim, lança esta sentença ao seu escudeiro: “Hás de saber, Sancho amigo, que eu nasci por determinação do Céu nesta Idade de Ouro para ressuscitar bela a de ouro ou dourada. Eu sou aquele para os que estão dados os perigos, as grandes façanhas, os valorosos feitos...” E assim tem sido este cavaleiro, poeta e da brilhante figura, ma transmitir bênçãos alegrias... E esperanças! Este livro, ‘Sonetário do Quixote Vencedor’, “fora escrito entre o Cairo, no Egito e Valletta, em Malta. “em nítida demonstração de que o verbo, o princípio, a energia, o espírito e a substância são universais, legando ao barro humano e ao bicho da terra destinos estrelares. Nascer é renascer a cada dia, sob o norte, a bússola e o signo prognóstico da reinvenção do humano a melhor, com um par de asas suplantando os pés de ferro, chumbo e concreto.” E quem será este Cavaleiro da fidalga e culta figura? É o escritor, poeta, jornalista, Doutor em Direito professora, Doutor em Filosofia, em Teologia e em Sociologia, além de ser um dos maiores advogados em exercício atualmente em Brasília, um pensador e um jusnaturalista por convicção e ciência, membro da Academia Brasiliense de Letras, a quem simplesmente o clássico Claude Lévi-Strauss o qualificou “como um sol, nos tristes nevoeiros dos trópicos, reconhecendo-o enquanto mestre na arte de pensar, na sua incontrastável vocação brasileira para a reflexão superior...” De José Rossini Campos do Couto Corrêa, ou simplesmente Rossini Corrêa, dissera Josué Montello, nos momentos de sua derradeira estada na Europa, como Embaixador do Brasil junto a UNESCO, através do saudoso erudito Sérgio Corrêa da Costa... “Em Paris, Rossini Corrêa é considerado um dos dez mais expressivos pensadores do segundo milênio da Cristandade.”
CLORES HOLANDA MARÇO Março que tem mar, Março que tem ar Março que faz eu respirar. Mês que Deus me colocou no mundo Somente para amar e saber perdoar. Há esse mar é meu! Sou do signo de peixes, vivo a sonhar. Numa Ilha que tem mar e nem sequer aprendi a nadar. Tento dá braçadas num solo de um mar seco. Querendo mergulhar. Fecho os olhos, tampo o nariz e solto o ar. Borbulho nesta poluição. Meus olhos começam a lacrimejar. São Pedro manda chuva, abre a torneira do meu olhar. Março é o terceiro mês do ano. As águas de março guardaram-me na placenta de minha mãe. Livrando-me do perigo durante os nove meses de gestação. Para no dia 11 de março eu aniversariar. Comemorar a vida até Nosso Senhor determinar. São Luís, 1º. de março de 2016.
CLUBE DA POESIA de São Luís ELOY MELONIO
No dia 28 de fevereiro (domingo) deste ano, na pracinha do Eloy, área cimentada em frente à casa do sócio-fundador Eloy Melonio (Rua V-12, quadra 18, casa 30, Parque Shalom), um grupo de três poetas (Eloy Melonio, Márcio Minato e Mhário Lincoln) se reuniu para fundar o CLUBE DA POESIA de São Luís. Em evento simples, após um café da manhã, os três poetas decidiram pela organização de uma entidade que congregue poetas de nossa cidade para, em conjunto, desenvolverem várias atividades. Assim, os fundadores comunicam oficialmente, neste documento, a fundação do CLUBE DA POESIA de São Luís. O destino do Clube será definido à medida que outros poetas se associarem e trouxerem suas propostas e ideias. A ideia inicial é de uma entidade informal, com o objetivo único de reunir poetas para trocarem ideias e experiências. No entanto, um esboço de projeto já está elaborado para ser efetivado assim que o Clube adquirir personalidade e número satisfatórios para se tornar de fato e de direito um Clube ou uma Associação. Inicialmente, estou enviando anexo o projeto de fundação do Clube e ficha de inscrição, que devem ser preenchidas e remetidas para este mesmo email. Aproveito para pedir aos sócios efetivos (com inscrição feita) que enviem 2 poemas sobre o tema “poesia e fazer poético” para a primeira semana da nossa Fan Page. Aguardo ansiosamente suas providências com relação ao exposto. Um cordial abraço, ELOY MELONIO ( No ato, Eloy Melonio foi devidamente convidado para ser um dos co-editores da REVISTA POÉTICA BRASILEIRA, no Maranhão).
ALÉM DA ESPERANÇA FERNANDO BRAGA Prefácio de “Além da esperança”, de Roberto Franklin.
Roberto Franklin Falcão da Costa nos traz à lembrança, neste segundo livro de poemas, imagens criadas pelo charme poético de J.G. de Araújo Jorge, que com seus belíssimos e antológicos sonetos, levavam à “loucura”, nos meados do século passado, normalistas e balzaquianas; digo assim porque o poeta acreano, dentre outros, como é vezo notar-se, faz parte do grupo parental de Roberto Franklin no subjetivismo artístico que ambos dedicam ao culto do amor... Sintamo-lo em “Inequívoca visão”: “Visão de um passado/ Que tenho saudades!.../Quando me encontrei, / Estava parado, inerte, / [...] /Não era a mesma imagem /Que, ainda viva, se parecia presente.” Roberto Franklin neste livro “Além da esperança”, e belo título, por sinal, nos encanta, como nos encantou “Todos os sonhos”, principalmente quando a este canta em “Meu primeiro livro”, aquele que se torna responsável por toda explosão de emoções que sentimos pela vez primeira, e que também guarda aqueles erros irremediáveis, que aos lê-los depois, no dão um natural arrepio de desapontamento, mas que amanhã, se nos tornarão num grande prazer, porque são eles que dirão aos pósteros quais foram os nossos balizadores nos limites do aprendizado ao engatinhar em meio ao lúdico e real... “Acabaste de chegar.../ [...] / És para mim como um filho que anuncia/de mim o que realmente sinto...” E seu oráculo ao amor não se contém apenas à mulher amada, neste caso Luciane, a “Lu”, sua mulher, a força de seus dias, mas também à sua cidade, a velha São Luis, quando diz: “Saudades de um tempo ingênuo,/onde deixei sonhos,/onde vozes emudeceram,/onde passos cessaram.” E em “Fim de tarde”, soluça terno e puro como um menino que perdeu seu brinquedo nalguma praça ou parque: “Procuro, mas não te encontro,/ Nem o rastro de teus passos descubro.” E novamente frontal à saudade, se lembra entre fantasias e emoções de “Minha família antiga” e canta melancólico: “Triste vida, a morte esfacela tudo e dos!.../Sinto saudades da época louca /de um domingo em família, / [...] /Das brigas da minha mãe,/da barulhenta alegria do meu pai...” E finaliza neste “Falo de amor”, assim, com sua peculiar ternura em “dulce far niente”: “O amor que me fez sorrir,/o amor que um dia amei,/um amor que não retribuí,/ um amor que não me foi dado...” Nestas breves linhas, a guisa de prefácio cabe-me dizer com muita alegria que Roberto Franklin, como se nos determina a lógica, em vista já de alguma experiência nesta arte de bem dizer dos sentidos, nos volta neste livro mais maduro e mais técnico... E essa alegria se estende, como extensa é alma, na cósmica visão de Fernando Pessoa, porque literalmente eu me lembro de quando Roberto Franklin fisicamente nasceu, como me enternece também ter visto seu nascimento literário...Emociona-me, sobremaneira, estes dois acontecimentos, tão raros, quanto até metafísicos... No mundo das artes, outros há, na guarda de momentos como estes, sendo que, em minha lembrança, registro aqui um dos mais clássicos dentre muitos, guardando, evidentemente, as devidas proporções, é o de Flaubert ter pegado ao colo, como se diz, o ainda pequerrucho Guy de Maupassant que era afilhado de batismo do pai do genial autor de “Madame Bovary.” Poeta Roberto Franklin, o caminho está aberto, apesar de acidentado, árido e cheio de curvas, veredas, peripécias e contradições, mas também de flores a margeá-lo, segue-o sem medo e confiante, porque a poesia já é tua!
ANTONIO AÍLTON - POEMAS DEMETRIOS GALVÃO134 HTTP://CIDADEVERDE.COM/JANELASEMROTACAO/75392/ANTONIO-AILTON-POEMAS
Antonio Aílton é um homem em trânsito. Nasceu no município de Bacabal-MA, vive em São Luís e cursa Doutorado em Teoria da Literatura na Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Sempre poeta, sempre um sujeito cuja experiência de mundo canaliza para a literatura. Publicou os livros As Habitações do Minotauro (Poesia, São Luís – FUNC, 2000) e Humanologia do eterno empenho (Ensaio, São Luís – FUNC, 2003), ambos premiados em edições do “Concurso Cidade de São Luís”, além de poemas em antologias e revistas, tais como a Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional. Foi vencedor da categoria poesia do “Prêmios Literários Cidade do Recife”, em 2006, com o livro Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis, o qual foi publicado pela Fundação de Cultura Cidade do Recife em 2008. Colabora regularmente com ensaios críticos para o Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante (São Luís-MA). Em 2015, publicou pela Paco Editorial seu mais recente livro: Compulsão Agridoce.
Cirrosas 1. nosso ap foi construído sobre a casa sequestrada à altura do domus com habitação creditada nós esvaziamos nossos corpos na cidade fantasma 134
Poeta, professor universitário e historiador, com mestrado em História do Brasil (UFPI). Autor dos livros de poemas Insólito (2011), Bifurcações (2014) e do objeto poético Capsular (2015). Foi membro do coletivo poético Academia Onírica (2010/2012) e atualmente é um dos editores da revista Acrobata.
no país fantasma nosso Desejo foi dormir sobre um antigo cemitério indígena pet sematery retornamos um século depois de mortos e aqui estamos entre nossas peles e nossa película um pouco mais cínicos e violentos precisamos estar vivos para o ritual da vingança
2. A carne fechada que aduba a cama estica sua data de vencimento de dia aguarda a noite de noite aguarda o dia em que, tocada, seja aberta sem ranhuras sem derramamento de palavras ou de sangue até o dia desperto em que nada acontece na vida enlatada na memória ou no mármore do azinhavre onde encarcera o olho pálido e a salmonela
3. novo corpo ou novo copo o que o tempo Prometeu e a vida não cumpriu já não importa é o gole do santo ou do abutre do cometimento ou do acontecimento que te renova
partir no óbvio a corrente ou simplesmente partir o que importa é permitir ao prisioneiro (que já não morre) sua liberdade provisória sua conjunção de colorido condicional na escritura do batente e do balcão se Rose ou cirrose a vida é dose
JUÇARA VALVERDE MULHER EM TEMPO INTEGRAL
Amor sem amizade é palavra vazia esquece a alegria dos dias azuis despido de porquês e senões. Com afeto e ternura viaja no tempo supera culpas e desculpas aprecia um dia de cada vez. Abusa do prazer do agora esquecendo atas, atos e ateus. É livre, leve e solto. Vê o desfile da vida no choramingo de neto, na risada de filha nas lembranças do ontem. Percebe o encontro do perdão os abraços da esperança o calor de um dia de sol. Na conquista diária, de quando em vez abre o livro vira a página. E quando ele sopra o vento das possibilidades torna a mulher plena e completa.
8 de março de 2016 – Dia Internacional da Mulher.
ELIZA BRITO NEVES
MULHER, TEU NOME É VITÓRIA Mulher do gineceu, na Grécia antiga, Presidiária do lar, objeto do seu senhor, Injustos castigos padeceste, até por intriga, Sem direito, sequer, de escolher teu amor. Mulher nas vias públicas apedrejada, Defendida por Jesus Cristo, o Salvador, Para o anonimato, por nações és obrigada, Esconder a beleza: com véu, burca ou chandor. Mulher de tribos asiática e africanas, Na pré-adolescência, cruelmente mutilada, Vítima tu és de crenças e práticas desumanas, Onde a sensação de prazer tem que ser eliminada. Mulher do meu Brasil, incapacitada De gerir negócios, ou de dar opinião, Tu foste impedida de votar e de ser votada, Até que enfim se alterasse nossa Constituição. Mulher sofrida, na luta e na vitória, Pela defesa dos direitos te empenhaste, Na caminhada, já mudaste rumo da História, E continuas fiel, combatendo o bom combate.
SÉRGIO SAYEG CONTRO VERSOS https://www.facebook.com/Contro-Versos-774254949370780/…
PARA UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE POETAS NASCIDOS NO PRIMEIRO TRIMESTRE
FERNANDO EUGENIO DOS REIS PERDIGÃO
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05 de janeiro de 1908 # 1990 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luís, em 1908 e faleceu no Rio de janeiro, em 1990. Sucedeu seu pai no IHGM, Domingos de Castro Perdigão. Estudou Primário e Secundário no Liceu Maranhense, formando-se na Faculdade de Direito do Maranhão, onde depois se tornou Catedrático de sua sucessora, a Faculdade de Direito de São Luís. Participou ativamente dos movimentos revolucionários de 1922,1924 e 1930. Como jornalista teve atuação destacada escrevendo editoriais para O Imparcial. Em 1951, aprovado no concurso para ministrar a disciplina Economia Politica vincula-se ao quadro de docentes da Faculdade de Direito da Fundação Paulo Ramos e no mesmo ano é nomeado por decreto do presidente Getúlio Vargas. Exerceu vários cargos públicos durante sua vida, tanto em São Luís, como no Rio de Janeiro, onde foi diretor jurídico dos Diários Associados. Foi também jornalista e escreveu em vários jornais de São Luís, inclusive o Imparcial. Escreveu o livro “Contribuição do Maranhão à Cultura Jurídica Brasileira” e pertenceu a Academia Maranhense de Letras. Em São Luís, há uma escola publica estadual de ensino médio, localizada à Avenida Castelo Branco no bairro do Monte Castelo batizada com seu nome. CEMITÉRIO DO GAVIÃO 136 Os meus olhos pasmados de menino tímido abriam-se, curiosos e inquietos, para aquele mundo triste, de que eu tinha vaga e aterrorizada noção. Levantavam-se para a ramagem entrelaçada das altas árvores e perdiam-se na brancura dos mármores, na sucessão infindável das cruzes, que apontavam, piedosas, para o céu. Era a minha primeira visita à casa dos mortos. Ali stavam, bem perto de mim, as casuarinas, que só de longe até então eu vira, acinzentando o horizonte para os lados de São Pantaleão. Naqueles túmulos, cuja alvura espalhava, por todo o ambiente, o tom pálido e baço das coisas sem vida, moravam os defuntos temerosos. Dali é que saiam, à meia-noite, as almas do outro mundo... Quartel general de duendes!... Reduto da assombração!... [...]
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LIMA, Euges Silva. DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA DE N.º 22, COMO SÓCIO EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO; Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 94 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012
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MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 239-240
JORGE NASCIMENTO137 8 de janeiro de 1931 Fez o primário na Escola Modelo Benedito Leite e o Secundário no Ateneu Teixeira Mendes. Em Belém do Pará, trabalhou dois anos no Conselho Nacional de Petróleo, de 50 a 52. Trabalhou em São Luis no Jornal do Povo, como revisor e repórter, 1956/58; após ser classificado em segundo lugar num concurso para revisor do Jornal do Brasil, trabalhou nesse periódico entre 1957/1959. Colaborava na revista Legenda, na década de 60. Andarilho, aprendiz de jornalista, poeta aprendiz... É em Recife que apura a linguagem e cria os primeiros poemas – Ausencia restituida é de 1972, muito elogiado pela critica. Lá foi revisor tipográfico, respectivamente, do Jornal do Comércio, 1974; do Diário de Pernambuco 1975 e Diário da Tarde, também em 75. De volta ao Rio de Janeiro, trabalhou no Ministério da Educação e Cultura, como revisor de textos, indicado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade. De volta ao Maranhão, se reintegra à vida jornalistica e cultural do Estado,; Na Rádio Educadora, 64/66; no Jornal Pequeno, 75/79; no O Estado do Maranhão, 80/92, como repórter e copidesque; Secretário da Fundação Joaquim Nabuco, entre 1981/1982. Membro da do Centro Cultural Gonçalves Dias; funcionário da Secretaria de Cultura do Maranhão, e depois no SIOGE. De 1987 é Os mortos não leem os epitáfios das manhãs
Auto-retrato
Cresce dentro de mim, doloroso, humilde pranto; Alma surda e esquizofrênica, inútil de tristezas, Desertei da vida pela aspiração do amargo canto E mesmo assim ainda tive que banhar-me de torpezas; Quem agora irá prover a insanidade do meu sonho, Eu, que sempre tive o bem ajustado e negro desvario De nunca permanecer nas proporções onde me ponho, Errante e só, comandado pela minha bússola de desvio Sempre a refulgir, nos oceanos de uma sinistra paz; Meu reino imbecil, descoberto por defeituoso impostor, Repetente de todas as classes da infâmia sempre audaz; Minha terra sombria de obscenidade, na voz de um homem A quem determinaram inteira sujeição ao destino opressor, Abençoado, enquanto vida tiver, as horas que me consomem! De “AUSÉNCIA RESTITUÍDA, Poesia”, edição do Departamento de Cultura do Maranhão, Secretaria de Educação e Cultura, 1972. O livro está dividido em duas partes: “Átila” e “Nódoas de Carvão”, das quais foram selecionados os sonetos:
ÁTILA: Antes da Batalha
Se, de repente, a presença da morte fosse mais além do pensamento, Numa definição de eternidade julgada para o obstáculo do castigo, O que seria de mim, sem filosofia para escapar deste vil tormento De dúvidas flagrantes para destruir o alvo do meu coração inimigo ?
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BRASIL, Assis. JORGE NASCIMENTO - Uma Biografia de Jorge Nascimento. In GUESA ERRANTE, http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/20/Pagina651.htm, acessado em 11/05/2014 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SÉCULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/jorge_nacimento.html , dezembro de 2008
20 de janeiro de 2006
, disponível em
E padeço despido de metafísica ouvindo o lento suor cu.e vai crescer Dentro de minha rebelião pornográfica, contra este espírito de calma, Assassino mercenário, vindo do exterior doido para matar o meu prazer, Inútil e degenerada fortaleza da cristandade, jagunço dos céus da alma, Imaterialissimamente abstraio, caindo aos pedaços para vir saudar-me A mim, seu dono e senhor nas solidões onde o pântano nunca se atreve Com a megalomania dos seus bruxedos universais na tome de retalhar-me, Igual a tantos outros viajantes reverenciosos nas enfermarias esganados, Como as vacas esquartejadas no matadouro fulminante desta hora breve, Deslizando no corredor vermelho sem os gritos dos infortúnios lancetados ! O Arconte Executado
A boca dos mortos é igual a um escorpião corrupto sem perspectiva, Observada apenas pelo verdugo quando vai se ajoelhar com o destino, Depois que os sentidos caíram com o olhar da fronte real e fugitiva, Longe do estrado, além. da crina verde do fantástico cavalo assassino, Amaldiçoando as pastagens toscas com os resíduos da geada indiferente, Doendo a imaginação com a infinidade dos longos amores já corrompidos, Antes de receber na masmorra o candelabro para iluminar o inconsciente E devolvê-lo aos mendigos farsantes e cruéis, na pocilga dos grunhidos, Reacendendo a vergonha da nudez que recorda o Santo da montanha homicida Para destruir o ilusionismo da sobrevivência, com o logro da eternidade, Quando tudo está consumado, até mesmo a última parcela da Ceia dolorida, Repercutindo nas trevas anónimas o grito selvagem do Inquisidor no cansaço, Onde a luz do jazigo será insculpida para a nascente origem da deslealdade, Com a epiderme da Face cravando-se nos antropofágicos filamentos do espaço! NÓDOAS DO CARVÃO: Desencontro
Sol é coletivo de relâmpagos, quando chovem estacas do pensamento, Descendo em verticalidade dolorida ao remontar o passado no desejo Pavoneando-se de lascívia, ao ver o negro antes do seu linchamento: Comovente macho africano, subjugado na raiva inflamada de um beijo Lambendo o corpo todo, contra a maciez dos seios nos olhos impuros Desta branca tão bela quanto o transatlântico voando pêlos espaços O peso de suas ancas para ferir anaconda enroscada acima dos muros De vegetais sanguíneos, defendidos por quatro serpentes: os braços, Mordendo-se desesperados na forragem dos cavalos, perto da vacaria, Agora em silêncio furioso rolando pela grama que logo se desprende No combate dos centauros de duas cabeças beijando o chão da agonia, Sem perceber o latido dos cães rastejadores atrás da honra perdida, Trazendo à frente o caçador de adúlteros num espanto que ofende: Olhando o negro agressivo espojado em bestialidade no animal da vida!
CARLOS ALBERTO DA COSTA NUNES138 19 de janeiro de 1897 # Sorocaba, 9 de outubro de 1990 Filho de José Tito da Costa Nunes e Cândida Amélia da Costa Moura, fez os seus estudos primário e secundário em São Luís do Maranhão. Em 1920, formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia. Exerceu clinica no Acre, ainda em tempos da ferrovia Madeira-Mamoré. Passou a residir no Estado de São Paulo, onde exerceu medicina no vilarejo de Bom Sucesso (hoje cidade de Paranapanema), em Angatuba, Tatuí, Santa Cruz do Rio Pardo, Fartura e Guaratinguetá, para, depois, definitivamente estabelecer-se na capital paulista, onde trabalhou até a aposentadoria no Instituto Médico Legal. Esse cargo de médico legista, obteve por concurso. Quando de sua passagem por Angatuba, Carlos Alberto Nunes conheceu a jovem e viúva professora Filomena Turelli (1897-1983), filha de um paciente, o italiano Francesco Turelli. Como ele, o pai de sua futura esposa apreciava o estudo de história e literatura clássica. Após namoro, uniram-se Carlos e Filomena definitivamente em casamento realizado na cidade de Tatuí. Segundo depoimento de seu cunhado Ulisses: "Dr. Carlos era vindo de família de inteligentíssimos, porém todos padecentes de tuberculose. Naqueles tempos (início do século XX), quem morava em São Luís preferia ir fazer compras em Portugal do que vir até ao Rio de Janeiro, isso facilitado pela rota ser mais curta. Assim, numa dessas viagens feitas de navio ao velho continente, quando do percurso de retorno ao Brasil, seu pai já estava muito debilitado, veio falecer dessa doença. O funeral ocorreu em alto mar". Filomena teria sido a maior incentivadora em suas primeiras tentativas como tradutor. O casal era bem considerado nos meios literários de São Paulo e, ao final de suas vidas, doaram uma rica obra homeriana à Academia Paulista de Letras. Ele também pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Carlos Alberto Nunes veio a falecer em Sorocaba no dia 9 de outubro de 1990. Seus restos mortais foram levados ao local onde estão os de sua esposa, no cemitério municipal de Angatuba. No túmulo consta a frase: "UIXERUNTQUE MIRA CONCORDIA PERMUTUAM CARITATEM ET IN UIGEM SE ANTEPONENDO". Não deixou filhos. Obra - Em 1938 publicou pela editora Elvino Pocai o poema épico nacional "Os Brasileidas". Graças ao poema foi convidado a preencher a vaga na cadeira número cinco da Academia Paulista de Letras e isso se concretizou no dia 8 de março de 1956. Ali ele também viria trabalhar no quadro adminstrativo. Júlio Dantas comentou certa vez: "O poeta é simplesmente extraordinário. Que dignidade de expressão, que nobreza de imagens, que alto sentido do estilo épico, que vigor e que movimento nas narrativas, que conhecimento substancial da língua, que domínio absoluto do verso branco, quase sempre escultural". Um dos maiores legados deixados pelo escritor foi o trabalho como tradutor de idiomas. Traduziu do alemão Clavigo e Stella de Goethe (1949), Judith de Christian Friedrich Hebbel (1969), do inglês o teatro completo de Shakespeare (1955), do latim a Eneida de Virgílio (1975) e do grego antigo a Ilíada e a Odisseia (1962), bem como as obras de Platão[7] . Trata-se de enorme patrimônio deixado à cultura nacional brasileira. Redigiu também os dramas Estácio (1971) e Moema (1950), além da obra Os Brasileidas. Corpus Platonicum - A sua tradução do grego do Corpus Platonicum (1973-1980) para a língua portuguesa é obra de referência nas universidades brasileiras. Na edição utilizou os textos em grego de Burnett (Platonis Opera, Oxford, 1892-1906), Friderici Hermann (Opera, Firmin Didot, 1891), Hirschigii (Platonis Opera, Firmin Didot, 1891) e da Société de Belles Lettres (Paris, 1920). Ademais, empregou a paginação de Stephanus/Burnet ao texto, o que explicitou à época o maior rigor de sua tradução. A tradução dos diálogos platônicos, editada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), tinha 14 volumes. O primeiro volume era introdutório, chamava-se Marginália Platônica. Entre 1986-1988 houve uma reedição de três desses volumes. Entre 2000 e 2007, houve uma reedição de outros sete volumes da Obra, coordenada pelo sobrinho do tradutor, o filósofo Benedito Nunes. Atualmente, a editora da UFPA resolveu re-editar em 18 volumes, numa edição bilíngue (grego-português), os diálogos completos de Platão traduzidos por Carlos Alberto Nunes. Os primeiros 3 volumes são: O Banquete, Fédon (ou "Fedão") e Fedro. Ilíada e Odisseia - No caso da tradução da Ilíada e da Odisseia de Homero, Nunes conseguiu estabelecer uma rima inédita, feita diretamente a partir do grego antigo. Suas traduções de Homero são consideradas um paradigma tanto por filólogos quanto por helenistas no Brasil. No prefácio da edição da Ilíada, Nunes lembra da famosa questão homérica, comenta a posição de autores como Ulrich von Wilamowitz-Moellendorff, Christian Gottlob Heyne e Heinrich Pestalozzi (no livro: "Die Achilleis als Quelle der Ilias") e, por fim, rejeita a unidade "intransigente" dos poemas (Ilíada e Odisseia), defendendo a Escola Analítica e o seu método. Ali ele explica: “O método analítico, 138
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_da_Costa_Nunes
fazendo ressaltar os temas e aprofundando os motivos poéticos, permite-nos surpreender o poeta, ou os poetas, no próprio ato de sua criação”. Teatro Completo de Shakespeare - Em 1954 Nunes termina a tradução da obra de Shakespeare, originalmente publicada pela editora "Melhoramentos". O tradutor certamente não é o primeiro a traduzir Shakespeare, mas é o primeiro a traduzir a obra completa em português. Para tanto, utilizou na tradução da prosa e de versos decassílabos heróicos. Em 2008, a editora Agir publica, agora em três volumes reunidos, o Teatro Completo de Shakespeare, totalizando 1.912 páginas. Obras Os Brasileidas (1938 - Editora Elvino Pokai e após, pela Melhoramentos) Beckmann (edição particular) Estácio (edição particular) Adamastor ou O Naufrágio de Sepúlveda (edição particular) Clávigo (traduzido de Goethe) Ifigênia em Tauride (ano 1964 Goethe-Instituto Hans Staden) Tragédias (traduzido de Friedrich Hebbel - Editora Melhoramentos) Shakespeare (tradução da obra completa - Editora Melhoramentos) Ilíada (traduzido do grego antigo - Editora Melhoramentos) Odisseia (traduzido do grego antigo - Editora Melhoramentos) Diálogos de Platão (tradução em 14 volumes, Editora da Universidade do Pará - Universidade Federal do Pará): Marginália Platônica: volume introdutório à edição completa dos diálogos Volume 1-2: Apologia de Sócrates - Critão - Menão - Hípias Maior Volume 3-4: Protágoras - Górgias - O Banquete - Fedão (2a. Ed. Belém: EDUFPA, 2002 - ISBN 85-247-0216-8) Volume 5: Fedro - Cartas - o Primeiro Alcibíades Volume 6-7: A República (3a. edição, Belém: EDUFPA, 2000 Volume 8: Parmênides - Filebo Volume 9: Teeteto - Crátilo (3a. edição, Belém: EDUFPA, 2001 Volume 10: Sofista - Político - Apócrifos duvidosos Volume 11: Timeu - Crítias - O segundo Alcibíades - Hípias Menor Volume 12-13: Leis e Epínomis Virgílio (tradução) História da Academia Paulista de Letras.
EDUARDO JÚLIO DA SILVA CANAVIEIRA139 19 de janeiro de 1971 São Luís (MA), 19 de janeiro de 1971. Morou no Oriente Médio, Iraque, entre 1975 e 1980. Voltou ao Brasil, residindo por quatro anos em Salvador (BA). Fixou-se em São Luís desde 1985, onde formou-se em jornalismo. Poeta e jornalista, nos fala do silêncio que dói em nossos corações, um porto abandonado, sonhos partidos, cais de eternas partidas, amores compartidos, cúmplices... Porto140 "Diante da eternidade deste cais O silêncio é sobra do abandono A ausência tem cor azul e dói Como se não fosse céu Aquele mar que pretendíamos O próximo silêncio parece leve Mas por instantes Cala uma cumplicidade."
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http://varejosortido.blogspot.com.br/2008/10/xvi-congresso-brasileiro-de-poesia.html Poema do livro de poesia Alguma Trilha Além, Edição Secma, 2006, reproduzido em Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante Anuário, São Luis (MA), n.7, 2009, disponível em http://cargueirodeletras.blogspot.com.br/2012/04/porto-eduardo-julio.html 140
FRANCISCO TRIBUZI141 FRANCISCO JOSÉ SANTOS PINHEIRO GOMES São Luís do Maranhão / 24 de janeiro de 1953 Geração Cassas Grupo da Rua Candido Ribeiro Filho do saudoso escritor José Tribuzi Pinheiro Gomes e da Sra. Maria dos Santos Pinheiro Gomes. Nasceu em São Luís do Maranhão, Brasil, em 24 de janeiro de 1953. Fez o curso primário no Instituto Lourenço de Moraes e no Colégio Zoé Cerveira. O segundo grau, no Colégio Nina Rodrigues. No Colégio de São Luís, o Curso Técnico em Contabilidade. Formou-se em Química pela Universidade Federal do Maranhão,UFMA. Profissionalmente, exerceu o magistério, nos colégios Nina Rodrigues, Almirante Tamandaré e Unidade Integrada Bandeira Tribuzi. Foi chefe de gabinete do Instituto de Tecnologia e Meio Ambiente, no Governo João Castelo. É funcionário da Companhia Energética do Maranhão, onde trabalha, há 16 anos, como assessor de Comunicação Empresarial. Do primeiro matrimônio com Izaíde de Araújo Rodrigues, nasceram Clarice Rodrigues, poeta, e Vinicius Tribuzi Pinheiro Gomes. Do segundo matrimônio, com Maria das Dores, nasceram Artur e Raul Tribuzi. A priori, optou pela pintura, seguindo a trilha do italiano Domingos Tribuzi, tio-avô do seu pai. Expôs seus trabalhos em várias mostras, nas quais logrou prêmios. No final da década de 70, ele entremisturou-se de pintura e literatura: “achava, a princípio, que a pintura era a minha arte. Ela não deixou de ser a minha arte, mas foi suplantada por uma arte maior, que é a poesia”, observa. Publicou, em 1978, seu primeiro livro de poesia, intitulado “Verbo Verde”. Declama o Poema das Tardes, de sua lavra, com o qual ratifica a contiguidade entre palavras e cores: “Existe a tarde que eu invento e que arde/ Existe a outra tarde./A minha tarde é cinzenta/ e a tarde que existe e arde não é igual à tarde que se inventa./ Existe uma tarde e outra tarde/ entre a tarde que eu invento”. É um poeta amplamente aplaudido nas principais antologias poéticas do Maranhão: “Atual Poesia do Maranhão”, de Arlete Nogueira Machado; “Hora de Guarnicê – 1 e 2”, “Poetas da Ponte” e “Poesia Maranhão do Século XX”, organizada por Assis Brasil. Também, os seus trabalhos foram publicados em “As Lâmpadas do Sol”, ensaio de Carlos Cunha e “Um degrau”, revista literária da UFMA. Lembra os tempos de Guarnicê: “Foi uma antologia altamente festejada, porque mostrava toda a nova safra de poetas de São Luís. A antologia virou movimento", afirma. Mesmo fincado à terra Natal, propagou sua poesia no Sul do País. Recebeu menção honrosa especial no 5º Concurso Nacional de Poesia, em dezembro de 1992, organizado pelo Instituto da Poesia Internacional, em Porto Alegre. Conquistou o 1º lugar no Concurso de Poesia “Dia Luz”, promovido pela Cemar, em 1995. Com o poema “Delírio Tremens”, recebeu medalha de ouro, no 18º Concurso Nacional de poesia, pela Revista Brasília, em 1996. Foi destaque especial no Concurso Nacional de Poesia, através da Revista Brasília, neste ano. “Achei por bem mandar minha poesia para fora do Estado, para melhor dimensioná-la”, assevera. Em constante produção literária, Francisco Tribuzi leva ao prelo três livros: “Azulejado”, prefaciado por Herberth de Jesus Santos e “Tempoema”, ambos de poesias. O terceiro, intitulado “Sob a ponte”, reúne contos. Ainda há uma safra de 60 crônicas, entre as quais trinta foram publicadas em jornal. Aplaude os poetas do seu tempo: Rossini Correia, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Roberto Kenard, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio, João Ubaldo, Celso Borges e outros. Respeita e admira a nova geração: “Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, irmã de Zeca Baleiro, Fernando Abreu... Os poetas da nova geração estão coesos e estão tentando fazer um trabalho mais organizado junto à AME”. Mas desabafa: “A Literatura Maranhense é muito individualista”. Seu pai, Bandeira Tribuzi, num plano espiritual superior, certamente retribui o orgulho que o filho sente do pai. E em nome do pai, do filho e da poesia, Francisco Tribuzi encontrou sua própria identidade: “Por mais que eu não quisesse, todos os dias eu amanheceria com a poesia norteando todo os meus caminhos. Por mais que eu quisesse fugir da poesia, ela continuaria me perseguindo e eu me sinto feliz, por ser um eterno aprendiz dela.”
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CUNHA, Wanda. FRANCISCO TRIBUZI: ENTRE O VERBO E A COR (Reportagem). In RECANTO DAS LETRAS, Disponível em http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2394790, acessado em 24/04/2014. 50 ANOS DE FRANCISCO TRIBUZI. In Suplemento Cultural e Literário JP GUESA ERRANTE, publicado em 29 de novembro de 2005. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina224.htm, acessado em 24/04/2014
Francisco Tribuzi é da geração de Rossini Corrêa e Cunha Santos Filho. De livro, publicou apenas Verbo Verde, poesia, composto e impresso pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, São Luís, MA, julho, 1978. No entanto, participou de várias antologias, entre outras, A Atual Poesia do Maranhão, organizada por Arlete Nogueira Machado; As Lâmpadas do Sol, organizada por Carlos Cunha, e em outras antologias como Hora de Guarnicê I e II, Poetas da Ponte; Poesia Maranhense do Século XX, organizada por Assis Brasil. Também participou da revista literária Um Degrau. Tem premiação em vários concursos: Menção Honrosa Especial do 5º Concurso Nacional de Poesia, organizado pelo Instituto de Poesia Internacional, Porto Alegre-RS, dezembro, 1972; 1º lugar no Concurso de Poesia Dia de Luz, da Companhia Energética do Maranhão – CEMAR, em 1995, com o poema Delirium Tremens, Medalha de Ouro no 18º Concurso Nacional de Poesia, promovido pela revista Brasília, 1996. É membro fundador da Associação Maranhense de Escritores (AME). Tem alguns livros inéditos: Azulejado e Tempoema, poesia, e Sob a Ponte, conto. Ode Ao Jornalista
Acorda que a cidade dorme e o silêncio perpetua a imensidão das coisas. Acorda que a madrugada é fria e principia a manhã sonhada. Acorda que logo mais o jornaleiro estará nas ruas e as notícias cruas desvendará: o que aconteceu, a vida que morreu nessa noite a mais. Noite em que o jornalista não dormiu e a tudo assistiu madrugada afora, e colheu a notícia na hora e aproveitou a essência da rosa recém-nascida para colocar em manchete no jornal de seus olhos onde não dormem nunca o Segredo e a Madrugada. (Poema do livro Verbo Verde) Delirium142 Vomitando nuvens no dia de chuva atropelo sonhos dos jardins de ócio no fel da fantasia falsa da uva criatura expulsa, réu do mau negócio Arrepios dissonantes de tantas noites vãs tecendo as trevas do abandono apagando os sóis telúricos das manhãs incendiando a noite irreal, no sono tanto mar defronte e tanta brisa eu turvando a vida do lado de dentro com a alma solta o corpo agoniza distorcendo o mundo no perdido centro Ó pesado álcool que me aprisiona ao submundo mudo dos precipícios na cadeia escura e cruel da zona onde bebo e como todos os hospícios Onde Deus que me levantasse desse chão de cuspe medo e solidão 142
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e me arrependesse e me atirasse desse mundo alheio para outro chão Onde sonhos sóbrios me arrematassem das trevas trêmulas da desilusão e num rio límpido me lavassem e me devolvessem pleno, salvo e são para o raiar de um novo dia feito do pão puro da poesia! (Do livro inédito Tempoema)
JOSÉ DO COUTO CORRÊA FILHO143 26 de janeiro de 1954 Grupo da Rua Candido Ribeiro Ex-funcionário público federal e ex-professor de Filosofia, matéria na qual lhe foi outorgado, em 1999, o título de Doutor Hororis Causa pela Faculdade de Teologia Antioquia Internacional. É crítico de Artes Plásticas e curador independente, atualmente exercendo a curadoria do Projeto de Exposições Artísticas do Brisamar Hotel, em São Luis. Em, 1993, publicou Bailado Flamenco, seu primeiro livro de poemas, embrião deste Por Espanha. Possui sete classificaçõe em concursos nacionais de poesia; duas premiações nacionais e uma internacional, a saber: 2º lugar no 3º Concuros internacioal de Prosa e Verso – Premio Liter´rio Cidade de Ponta Grossa – PR/2001; 2º lugar na categoria Adulto do 7º Premio Cidadõ de Poesia, realizado pelo Sindicato dos Comerciários de Limeira SP/2002; 3º lugar no 2º Concurso Nacional de Poesia, promovido pelo Alternativo Cultural Intervalo – Rio de janeiro – RJ/2002. Em 2004, obteve o 1º lugar no 28º Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luis - Premio Sousandrade. Em 2005, conquistou o 1º lugar no Concurso Premios Literários Cidade do recife, na categoria de Poesia, premio Eugenio Coimbra, com o livro Por Espanha. Participa das seguintes Antologias Brasileiras de Poesia: 11ª Antologia Poética Hélio Pinto Ferreira, publicada pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo – São José dos Campos – SP/1996. Antologia do 4º Premio Ciddão de Poesia – Limeira – SP/1998. Antologia do 5º Premio Escriba de Poe3sia – Piracicaba – SP/1998. 13º Antologia Poética Helio Pinto Ferreira - São José dos Campos – SP/2001. Antologia do Concurso Noite e Poesia de Tatuí – SP/2002. Antologia dos Premiados do 2º Concurso nacional de Poesia, realizado pelo Alternativo Cultural Intervalo – Rio de Janeiro – RJ/2002. Cultor das Artes marciais, nos idos dos anos setenhtas, século passado foi pioneiro no Karatê do Maranhão. Recentemtnete foi honrado com a outorga da faixa preta 4º Dan Honorário pela federação de Karatê Shotokai do Maranhão, do qual é consultor. Em 2005 estrelou, juntamente com Yaponaira Abgreu, o vídeo curta-metragem “Na beira de nenhuma estrada”, baseado num conto do escrito moçambicano Mia Couto, roteirizado e dirigido por Arturo Sabóia. Possui dois livros inéditos de poesia. Atualmente prepara um livro sobre Artes Plásticas.
BALADA DA PRAÇA DE TOUROS
Em uma praça de touros Desfruta-se a herança De uma arte insensata (?) Em uma praça de touros Vibram através do coro Aqs cordas vocais da massa. Em uma praça de touros Às cinco horas da tarde Um dia a luz se faça. Em uma praça de touros O toureiro é a astúcia O teouro é a casta. Em uma praça de touros O touro é quem investe O toureiro disfarça. Em uma praça de touros A dor é vermelha Sangue que grassa. Em uma praça de touros Valente é o touro O mais é falácia. Em uma praça de touros Onde muitos são Testemunhas da desgraça. Em uma praça de touros Quem sente é o touro Por tudo o que ele passa. 143
SOBRE O AUTOR. COUTO CORRÊA FILHO. Por Espanha.(1987-2005). São Luis (s.d.).
FRANCISCO SOTERO DOS REIS JUNIOR 144 1º de fevereiro de 1833 # Poeta, jornalista, político. Um dos festejados poetas do romantismo no Maranhão. Figurou com a ‘A virgem do meu amor’, no Parnaso maranhense. Seus versos cantantes, repassados de ternura, falam de ‘tranças caídas, bem meigas tristeza trazendo ns faces’, num ritmo que denota influencia de Gonçalves Dias. Safir viu-o como autor de versos ligeiros. Colaborou no Semanário Maranhense e atestam seu valor ‘estar no ceu’ e ‘Deus’. Mário Meirelres diz que trocou ‘poesia a pelo magistério’. ESTAR NO CÉU
Quando vejo, alegre e lindo, Sem rigort, o rosto teu, Não sei o que sinto n´alma, E sonho que estou no céu! Se acaso, ó bela piedosa, Teu olhar cruzas com o meu, Todo em gozo me desfaço, E sonho que estou no céu! Se mais terna ainda te mostras, E dás-me um sorriso teu, Desmaio de amor, deliro, E sonho que estou no céu! Mas, quando na face ardente Recebes um beijo meu, Olha, meu bem, tu me matas; E sonho que estou no céu!
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RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001.
RAUL DE AZEVEDO145 3 de fevereiro de 1875 / 27 de abril de 1957 Nasceu a 3 de fevereiro de 1875, na cidade de S. Luiz do Maranhão, falecendo a 27 de abril de 1957, no Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério de São João Batista. Foram seus pais Belmiro Paes de Azevedo e Francisca Rosa de Brito. Fez seus estudos na cidade natal, não chegando, porém, a realizar nenhum curso de ensino superior. Sua aguda inteligência e contÍnua leitura, baseada em ótima inclinação filosófica, lhe deram uma cultura bem larga e profunda, nos objetivos de sua vida burocrática e literária. Viu, no Amazonas, a estrela polar do seu destino de homem de Sociedade. Para lá se dirigiu, na qualidade de jornalista, procurando um lugar ao sol. Foi festivamente recebido e, logo, é convidado pelo governo do Capitão Fileto Pires Ferreira para exercer a alta função de Secretário Geral do Estado, cargo esse que lhe permitiu ficar em contacto com o mundo oficial e com a elite da população. Foi o seu ponto de partida numa estrada que teria de per lustrar por mais de 65 anos, ora transitando por cima de flores, ora de espinhos. Uma das características da compleição moral de Raul de Aze vedo, foi a lealdade posta a prova de fogo nos entrechoques do partidarismo, quando os cameleões da política aproveitam a oportunidade para mudar de cor, procurando saber para onde se inclina o fiel da balança. Convém realçar esse procedimento das almas nobres, hoje raro, reportando-nos a um episódio de antanho com o qual se concretizou a renúncia de Fileto Pires Ferreira, alijando-o do governo para o qual fora eleito. Fileto que se achava fora do Estado, uma vez em Belém, sabedor do que se passava em Manaus freta um navio para imediatamente regressar. No meio da viagem é cientificado de que Manaus estava em pé de guerra e ali não desembarcaria. O cabo telegráfico sub-fluvial estava interrompido, no momento. Sabe-se naquela que o navio em que viajava S. Excia. partira para aportar em dia certo, pela manhã. Com receio da aventura, volta a Belém, enquanto que na outra capital, de nada se informa. Raul de Azevedo, Redator-Chefe do “Rio Negro”, órgão do seu Partido e do governo alijado, prepara um número especial para a recepção em “hora-certa”. Nesse número, havia um noticiário bombástico em que se avisava haver S. Excia. chegado e que girândolas de foguetes estrugiram nos ares, o povo se apinhava no litoral dando vivas a S. Excia. e que o Sr. Dr. F. proferiu um empolgante e comovido discurso de agradecimento, bem assim que o Coronel Ramalho Júnior ainda no Poder fugiu com seus amigos. O “Rio Negro” já havia sido distribuído pela madrugada e pela manhã do “dia certo”. Corre o dia todo e nada de S. Excia. Somente à noite é que realmente Manaus foi informada, pela chegada de outra embarcação, do que acontecera. A antecipação do noticiário do órgão oficioso foi um grande “tableau”; gargalhadas se davam na cidade. E Raul de Azevedo, vexadíssimo, teria de conjecturar uma explicação. E achou-a, dizendo, no dia seguinte, em outro jornal, que tudo resultou de um erro dos revisores (como esses auxiliares da imprensa têm as costas largas...); que todos os verbos do noticiário estavam no futuro e que eles, por um descuido, passaram-no para o pretérito perfeito... Esse “dia certo” foi fatídico por ser o último para aquele jornal e para o Partido de Raul. Foi o “canto de cisne” de uma situação do “consumatum est”, da qual Campos Salles, então Presidente da República não quiz tomar conhecimento. Esta explicação de um fato escandaloso e deprimente para o Amazonas parece uma pertinência pueril, no meio de uma biografia. Passou para a História e da geração atual, pouca gente a conhece. Raul de Azevedo caíra de pé. Aparentemente derrotado, para quem o jornalismo não era apenas um ofício, mas um sacerdócio, não ficou desempregado pois sua lealdade ao amigo, foi-lhe uma recomendação. Entrado na política e no apreço dos homens, fez-se Deputado à Assembléia Legislativa por várias vezes como em cargos de importância e de confiança dos altos Poderes do Estado. Serviu de Chefe de Gabinete de vários governadores, destacadamente de Silvério Nery e Antônio Bittencourt. Foi Cônsul do Chile por muitos anos e exerceu o desempenho de Comissões importantes do Estado e Federal. Fundou vários jornais. Concorreu para criar algumas associações culturais e científicas, entre outras a Academia Amazonense de Letras e o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. Sua função permanente foi a de Diretor do Departamento dos Correios e Telégrafos no Amazonas, em Juiz de Fora e no Rio de Janeiro, servindo de Diretor Geral por algumas vezes. Não conheci melhor burocrata, sob o ponto de vista de dinamismo e probidade. Com ele, tudo andava na linha. Os seus Relatórios constituem atestados de quanto pode um homem na direção de um serviço imenso, complexo e de enorme pessoal. Raul de Azevedo aposentou-se nesse Departamento do Serviço Público Federal. Aproveitava suas férias em viagens pela Europa. Era um grande admirador de Paris, onde esteve creio que por três vezes. Como jornalista e publicista foi dos mais ativos. Sua bibliografia conta cerca de 30 obras, fora os folhetos e numerosos artigos de jornais. Vejamos, dentre outros livros, os seguintes: “Doutor Renato”, “Tríplice Aliança”, “Amores de Gente Nova”, “Onde está a 145
Agnello Bittencourt. Dicionário amazonense de biografias. Rio de Janeiro, Ed. Conquista, 1973. pp.421-423). In Blog do Rogel Samuel, publicado em 16 de fevereiro de 2008, disponível em http://literaturarogelsamuel.blogspot.com.br/2008/02/raul-de-azevedo.html, http://www.portalentretextos.com.br/colunas/cronica-de-sempre/raul-de-azevedo,189,396.html
felicidade?” “Roseiral”, “Aquela Mulher”, “Amigos e Amigas”, “Senhores e Senhoritas”, “Homens e Livros”, “Alma inquieta das mulheres”, “Aspectos e Sensações”, “Louras do Sul, Morenas do Norte”, “Meu livro de Saudades”. Os livros do escritor, com exceção de dois, pararam na primeira edição. A Raul de Azevedo não faltavam qualidades para realizar sempre e sempre um bom livro. Não seja por isso que devamos menosprezar um homem que teve, na sua psiquê, a mania absurda, em plena velhice, amor às jovens, ainda que em retrato desnudo, diante de sua banca de trabalho, para achar inspiração para novos romances. Raul de Azevedo foi casado, por duas vezes. No primeiro casamento com a Sta. Julieta Lessa, de cujo enlace nasceram o Dr. Herbert Lessa de Azevedo, assassinado tragicamente em Coari e a Sta. Marilda Lessa de Azevedo, alta funcionária do Ministério da Fazenda. E no segundo matrimônio com a Sta. Camélia Cruz, com quem teve duas filhas. Devo reafirmar que o Coronel Raul de Azevedo — assim o chamavam — honesto, culto, trabalhador, morreu pobre, jamais possuindo uma casa própria. Também não foi um perdulário. Amou as jovens, louras e morenas, como amou as flores, os perfumes, o teatro, a música. E partiu para o Oriente Eterno, com saudade desta vida, como se estivesse nos seus vinte anos. Bibliografia 146 Artigos e crônicas. 1896; Ternuras. 1896 (contos); Na rua. 1902 (crôn.); A esmo. 1903 (crôn.); Doutor Renato. 1903 (rom.); Homens e livros. 1903 (crít.); Tríplice aliança. 1907 (rom.); Aspectos e sensações. 1909 (crôn.); Terra a terra. 1909 (crôn.); D’além mar. 1913 (viag.); Vida elegante. 1913 (contos); Amores de gente nova. 1916 (rom.); Confabulações. 1919 (ens.); Onde está a felicidade. 1919 (rom.); Amigos e amigos. 1920 (misc.); A alma inquieta das mulheres. 1924 (confer.); Senhoras e senhorinhas. 1924 (contos); Roseiral. 1932 (rom.); Hora de sol. 1933 (misc.); Aquela mulher 1934 (rom.); Bazar de livros. 1934 (crít.); Meu livro de saudades. 1938 (crôn.); Vida dos outros. 1938; Vida e morte de Stefan Zweig. 1942 (biogr.); Louras do sul, morenas do norte. 1947 (rom.); Terras e homens. 1948 (ens.); Brancos e pretos. 1955 (rom.); Elisabete. 1955 (contos e teatro); Dona Beija. 1957 (ens.). Fundou e dirigiu a rev. Aspectos, Rio de Janeiro. Colab. em periódicos de Manaus, AM, Fortaleza, CE, e Rio de Janeiro. REF.: Albuquerque, Medeiros e. Páginas de crítica. 1920. p. 169-76; Blake Dic., VII, 101; Coutinho Brasil, 1, 118; Ferreira, Carlos. Feituras e feições. 1905. p. 260-3; Inocêncio Dic. XVIII, 341; Lima Estudos, 1, 292; Meneses Dic. , 78; Ribeiro Crítica, III, 289-91; Souza Teatro, II, 93. ICON.: Confabulações. 1919 (do autor); Ilust. Bras., maio/jun. 1957. AZEVEDO, Raul de (São Luís MA, 3 fev. 1875 — Rio de Janeiro, RJ, 29 abr. 1957), romancista, contista, teatrólogo, crítico, ensaísta, conferencista, político, da Acad. Amaz. Letr., Acad. Maranh. Letr., Acad. Cear. Letr., Mina Literária (Belém, PA, 1895- 1899). Pseud.: Iberê, Raulim. BRANCOS E PRETOS Aquela mulher loura e alta, muita clara, a pele duma limpeza integral, apaixonara-se pelo homm forte, másculo, inteligente, culto – negro. Já o leitor ou a leitora, nste momento, sente uma vaga repulsa pelos dois... Haverá decerto raras exceções. Mas serão exceções. Ela – chamava-se Clara Maria dos Santos Guedes e ele Lauro Gomes da Silva. Clara era de família distinta, cheia de tradições. Quando os pais, irmãos e irmãs, noataram a preferência de Clara Maria, chamaram a sua atenção, recriminando-a. Não podia ser, não consentiriam. - Mas, respondia a moça, ele é um medico distinto, um cientista, cirurgião notável, bem educado, honesto, de maneiras distintas, rico. - Sim, mas é preto... Clara sentia-se revoltada com aquele preconceito racial. Ela pensava – o amor não tem cor; este não é preto nem branco, quando muito poderá ser azul, na imaginação dos poetas líricos. Lauro vestia-se muito bem, e discretamente. Era um encanto a sua conversa, pontilhada de graça e de anedotas leves, que faziam sorrir. Tinha trinta e oito oun quarenta anos. Uma boa clinica geral dava-lhe conforto. Viajara, fizera um curso em Paris. Mas no intimo, sentia que os brancos, inclusive diversos de seus colegas, faziam-lhe restrições. Consultavam-no, ,chamavam-no para conferencias medicas. E a sua opinião era geralmente a vencedora. Mas, quando davam recepções, em suas casas, com suas famílias, ele não era convidado... O doutor Lauro Gomes da Silva não podeia compreender aquelas restrições. O Brasil, há quase quinhentos anos, vinha gritando que não tinha problema racial. Mas o certo é que ele, e os outrtos, há séculos, sofriam moral e materialmente as consequências desse pigmento luzidio. 146
ENCICLOPÉDIA DE LITERATURA BRASILEIRA (A.COUTINHO & J.GALANTE DE SOUSA):
Passava vezames. Torturava-se. Era vitima de afrontas. Na classe popular, sentia-se bem, não o desconsideravam. Mas na media, ou na sociedade chamada alta, não podia penetrar – era sumariamente alijado. A ultima humilhação que sofrera em publico deixara-o indignado. Os seus colegas de turma festejavam o décimo aniversario de formatura. \convidaram-no, para o jantar num hotel em Copacabana. Concorrera com sua quota. E na noite marcada comparecera à hora determinada, de smoking, como os outros. Quando penetrava no salão, observatram-lhe que não podia entrar, nem sentar-se à mesa. Diversos de seus colegas se revoltaram, e reagiram. Ele observou: - Não. Fiquem todos. Agradeço a distinção de vocês. E ao champanha lembrem-se do colega que não tem a culpa de ter nascido preto... Ele retirou-se. O jantar não foi alegre. Pairava no ar aquele mal-estar de alma que não passa nem com a musica, nem com as danças, nem com os vinhos...., Havia uma tristeza em tudo.
JOSÉ DE ALMEIDA NUNES147 20 de fevereiro de 1882 # Rio de Janeiro / 27 de agosto de 1940 Nasceu em São Luis aos 20 de fevereiro de 1882. Fez o curso de humanidades no antigo Liceu Maranhense, destacando-se como um dos alunos mais aplicados. Formou-se em Medicina pela faculdade de Medicina do Rio de janeiro. Foi secretário particular do dr. Luis Domingues quando este eminente maranhense governou o Estado. Médico culto, Almeida Nunes não se estritou nas especialidades de sua ciência. Teve a alma sempre escancarada para as solicitações estéticas e soube cimentar variada ilustração literária. Na Academia Maranhense de Letras fundou a cadeira 13, patrocinada por José Candidos de Morais e Silva. Faleceu no Rio em 27 de de agosto de 1940. Bibliografia: A cesariana conservadora (s.d.); A moléstia de Haine-Medin (s.d.); A alimentalçao infantil (s.d.); José Candido de Morais e Silva (1919 – discurso de posse na AML); escreveu estudos críticos sobre Luis Domingues, Odorico Mendes, e Francisco de Castro. JOSÉ CANDIDO MORAIS E SILVA [...] Mas, de qualquer modo, eis em São Luis o mais vibrante jornalista que ainda possuímos e o mais correto; o tribuno mais eletrizante que nunca tivemos, assim pela sinceridade e correção da sua palavra como pelo poder maghnetico de sua pessoa; o patriota mais insigne, mais intrépido, mais audaz que suscitou, entre nós a independencia. Bem poucos havia do seu tope, por então, no país todo, onde eram uma legião.
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MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra ciatada, p. 171-172
NONNATO MASSON RAIMUNDO NONATO DA SILVA SANTOS 148 28 de fevereiro de 1924149 # São Luis 08 de março de 1998 No Perfis Academicos, Jomar Moraes o dá como nascido em São Luis, a 28 de fevereiro de 1924, tendo militado na imprensa de São Luis até 1950, transferindo-se para o Rio de Janeiro, neste ano, onde permaneceu até 1980, quando se aposentou. Mas Buzar (2014)150 publica em seu Blog o seguinte: Nesta sexta-feira, 28 de fevereiro de 1924, há noventa anos, nascia na praia da Mamuna, no município de Icatu, uma criança que recebeu o nome de Raimundo Nonnato, o qual, tempos depois, o Maranhão e o Brasil passariam a conhecer por Nonnato Masson, sobrenome de origem controversa. Alguns dizem ser homenagem ao repórter-fotográfico da revista O Cruzeiro, Jean Mazon; outros atribuem à simpatia pela maçonaria. Os dois ss eram usados para disfarçar. Criado pelos avós, que lhe deram boa formação moral e educacional, fez o primário no colégio Sotero dos Reis, onde a professora Zila Paes descobriu a sua vocação para a escrita. Seus textos eram aproveitados no jornalzinho e no teatrinho da escola. O ginásio cursou no Liceu Maranhense. Quando não estava em sala de aula, aprendeu a tocar violino, telegrafia e tipografia. O primeiro emprego foi na Tipografia Teixeira, depois no cinema Eden, como operador. Para ganhar uma profissão definida, matriculou-se na Escola de Aprendizes Artífices, depois transformada em Escola Técnica Federal do Maranhão. Nessa época, o cine Rex, no bairro do João Paulo, oferecia o seu palco para quem gostava da arte cênica. Ali se apresentou como ator e autor de pequenas peças e constitui um grupo teatral que fez sucesso nos bairros da cidade. Como o teatro não lhe dava nenhum rendimento, procurou emprego em jornal. Foi parar no Correio da Tarde, onde o poeta Fernando Viana, dono da situação, aprovou um texto de sua lavra e lhe garantiu um lugar na redação. Depois foi levado pelo próprio Fernando Viana para o jornal O Combate. Deste, transferiu-se para A Pacotilha, dirigido por Miécio Jorge, graças a um concurso de reportagem em que tirou o primeiro lugar com a matéria “Fila para os mortos”. As excelentes reportagens publicadas em A Pacotilha chamaram a atenção do jornalista Pires de Saboia, vindo do Ceará para pilotar O Imparcial, que o convocou para com ele trabalhar. Com a instalação, em 1950, do Jornal do Povo em São Luis, montado pelo governador Ademar Barros para instrumentalizar o Partido Social Progressista, Nonnato recebeu convite de Neiva Moreira para fazer parte da equipe redacional. No Jornal do Povo não se deu bem e retornou aos quadros dos Diários Associados, onde chefiou a redação de A Pacotilha, mas sem deixar de produzir reportagens e textos teatrais, veiculadas pelas emissoras Timbira e Ribamar. Em 1956, São Luís recebe a visita da condessa Pereira Carneiro, proprietária do Jornal do Brasil. Masson entrevista-a e ela encanta-se com a sua matéria. Ela convida-o a trabalhar no matutino carioca. Topou a parada e no JB atuou como repórter, pauteiro, editor do Caderno B e correspondente em Brasília até a sua inauguração. Como repórter, fez parte da equipe que cobriu a participação do Brasil na Copa do Mundo, em que se sagrou como campeão na Suécia, bi-campeão no Chile e tricampeão no México. Também prestou serviços na revista Fatos e Fotos, onde publicou a reportagem “Aventura Sangrenta do Cangaço”, que lhe valeu o Prêmio Esso de Reportagem, em 1961. Em maio de 1976 casou com a maranhense, de Anajatuba, Maria Elenir, com quem teve cinco filhos. Como desejava que os filhos nascessem em São Luis, retornou às origens, depois de uma bem-sucedida trajetória na imprensa carioca, época em que por ela passaram os maiores ícones do jornalismo brasileiro. Na volta às plagas maranhenses, em 1977, como o correspondente do Jornal do Brasil em São Luis, o conheci pessoalmente. À época, eu escrevia a coluna política Roda Viva, em O Imparcial. Procurou-me para saber sobre uma crise política deflagrada no governo de João Castelo. Depois dessa conversa, os nossos encontros passaram a ser rotineiros e a amizade entre nós consolidou-se de modo firme e irreversível. Ao aposentar-se do Jornal do Brasil, mostrava-se disposto a abandonar definitivamente a imprensa. Aos poucos, consegui demovê-lo desse propósito e voltou a escrever crônicas no Caderno PH e, a convite de Antônio Carlos Lima, no “Hoje é Dia de”, em o Estado do Maranhão. Com a morte do médico e membro da Academia Maranhense de Letras, Salomão Fiquene, com o aval de Jomar Moraes, eu, PH e Antônio Carlos Lima fizemos um movimento para levá-lo à Casa de Antônio Lobo. Quebramos a sua resistência e a 24 de janeiro de 1986 ele tomou posse. Seu ingresso na vida acadêmica resultou na preparação de dois livros de crônicas – Inês é morta e Corpo de moça, publicados pelo Sioge. Por nunca haver exercido atividade na vida pública, recebeu convite de Joaquim Itapary para dirigir o Museu de Artes Gráficas da Secretaria da Cultura. No governo de João Alberto, eu, no exercício do cargo de Secretário da Cultura, o indiquei para
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MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993. MASSON, Nonnato. DEPOIMENTO, enviado ao autor via correio eletrônico em 05/05/2014, acerca das duvidas do local de nascimento de seu pai, o jornalista Nonnato Masson, confirma que ele – Nonnato pai, nasceu na praia da Mamuna, no município de Icatu, em 29.02.1924, falecendo em São Luis em 08.03.1998; morou no RJ trabalhando no Jornal do Brasil de 1957a1977; publicou livros de cronicas ines e morta e corpo de moça. 150 BUZAR, Benedito. NONNATO MASSON: UM JORNALISTA INESQUECÍVEL. BLOG DO BUZAR, domingo, 14 de fevereiro de 2014, disponível em http://www.blogsoestado.com/buzar/2014/02/23/nonnato-masson-um-jornalista-inesquecivel/, acessado em 04/05/2014. 149
integrar o Conselho de Cultura do Estado do Maranhão. Mas o coroamento da vida profissional de Masson deu-se quando José Sarney, na Presidência da República, o nomeou chefe da sucursal da Empresa Brasileira de Notícias. Com a extinção da EBN, seus problemas de saúde, sobretudo o diabetes, começaram a perturbá-lo, fazendo-o afastar-se de tudo e de todos. A perda parcial da visão e uma fratura do fêmur o impediram de movimentar-se e de ler e escrever. Para tentar recuperar a sua saúde, eu e Jomar conseguimos, pela ação de José Sarney, interná-lo no Hospital Sara, mas como tinha fobia a hospital, abandonou o tratamento e dali fugiu. Na noite de um sábado, 7 de março de 1998, o filho Elenato telefona-me para avisar que o pai fora internado no Socorrão. No dia seguinte, enquanto eu e Jomar tentávamos transferi-lo para o Hospital Universitário, somos informados de que ele não resistira à gravidade de uma implacável insuficiência respiratória. Naquele domingo, aos 74 anos, Nonnato Masson cumpria o que havia solenemente proclamado no dia de sua posse na Academia Maranhense de Letras: “Vim para São Luis para morar, viver e até morrer”. O PÃO ROUBADO151 (Jornal Pequeno, 11/08/1957) Toma-se o pulso do mundo e sente-se, apesar de não sermos médico, que ele está a precisar de coramina, tal qual o governador do Estado receitou ao Maranhão, após fazer-lhe um diagnóstico de aniversário de um aninho de mando. Agente que trabalha em jornal quase não percebe, de chofre, que Washington Luís morreu no sanatório, depois de ter sido presidente da República, depois de ter sido exilado, depois de ter tido a rara vergonha do nosso século de não se meter mais em política, refugiando-se em si mesmo e renunciando, em testamento, toda e qualquer honraria que lhe devesse o Estado. Estado, aliás, que, quando vivo era o “de cujos”, nada mais fez do que humilhá-lo e espezinhá-lo. Quase não se nota que Oliver Hardy, aquele fabuloso cômico (“o Gordo”), que vivia em constantes encrencas com Stan Laurel (“o Magro”), dos filmes mudos que nos alegraram a infância, faleceu vítima de paralisia. Assim como chega à redação do jornal, nos pontos e traços nervosos da telegrafia sem fio, desaparece dos nossos pensamentos a notícia de que foi assassinado o presidente da Guatemala e o seu matador suicidou-se após o magnicídio. Quase não se tem tempo para sentir a morte desse poeta brejeiro que foi Bastos Tigre e que nos acostumamos a ler as suas trovas no Almanaque de Bristol. Sabe-se que Zé Lins do Rêgo, de tantos romances que nos plasmaram a formação literária, está entre a vida e a morte, o pensamento não demora (é justo confessar) no seu drama agônico. Tem-se a certeza de que a gripe asiática paira, ameaçadora, sobre a cabeça do mundo, como se fora uma nova espada de Dámocles, e o fato não nos faz sair da rotina. Acontece, porém, que a gente sabe que uma menina de 11 anos tenta o suicídio e o episódio nos assalta o sentimento e nos surpreende em todos os sentidos. Amenina se chama Sônia. Sônia é nome de fada, está nos contos da caronchinha e com essa criança, que dorme em cada um de nós, configura-se o nosso desejo de saber de maiores detalhes acerca do caso de Sônia, pois Sônia poderia ser a nossa irmã caçula, os quindins da mamãe, a alegria da casa, de perninhas grossas, vestidinho curto, fazendo beicinho de malcriação, tão cheia de encanto e malcriação, e despertava depois os risos escondidos dos mais velhos. Procurando saber, descobrimos que Sônia (Soninha), tendo a mãe viúva e irmãzinha passando fome, num subúrbio do Rio de Janeiro (na faixa da capital da República dos Estados Unidos do Brasil), entrou em uma venda e pediu um pão fiado. O pão com a graça de Deus mataria a fome de sua mãe e de sua irmãzinha. Não sendo atendida, Sônia, réplica menina de Jean VaIjean, que Vitor Hugo fixou nas páginas de Os Miseráveis, roubou o pão. Foi descoberta e a sua situação tornou-se mais terrível do que a do menino Humberto de Campos quando roubou um brinquedo. No Brasil, um pão roubado é coisa mais séria do que um brinquedo roubado. E a dona da venda prendeu Sônia. Envergonhada (e foi isso que nos comoveu, pois Sônia com 11 anos teve vergonha e muita gente barbada não tem nestes brasis imensos), como íamos dizendo, envergonhada Sônia (Soninha) atirou-se da janela do cômodo. Atirou-se à rua, no gesto desesperado, para morrer, para evitar o escândalo, pois ela teve vergonha de ser presa, como ladra, pela Rádio Patrulha, que a vendeira já havia chamado pelo telefone, Depois de tudo isso, depois desse tremendo drama, o “fantasma voador”, que gere o nosso destino republicano, com uma bateria de fotógrafos, apresenta-se no seu terno mais impecável, com a barriga cheia, os bolsos transbordando, em casa da pobre viúva e da menininha, cuja miséria impulsionara Soninha ao duplo gesto do crime e da morte voluntária, com a promessa de ajudar aquelas criaturas a ter uma vida menos desgraçada.
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JORNALISTAS MARANHENSES - NONNATO MASSON. Disponível em http://sobrinhoeducacaotecnologia.blogspot.com.br/2012/04/jornalistasmaranhenses-nonnato-masson.html
Étarde! Tarde demais, presidente. Devera Vossa Excelência ter compreendido antes que muito mais importante do que Brasília é o destino dessa multidão de Sônias que existem do Oiapoque ao Chuí, se nos permitem o lugar comum. Depois do caldo derramado, nada mais adianta. E a vida de Sônia, símbolo da desamparada infância brasileira, está marcada por estigmas indeléveis que toda vossa ajuda não conseguirá remediar. E é pena. sabe?
LUÍS AUGUSTO CASSAS152 2 de Março de 1953 Galeria de Livros Antroponáutica Luís Augusto Cassas (2 de Março de 1953, em São Luis do Maranhão) nasceu longe, como as utopias, desenvolvendo a vocação para o horizonte. Trilha o caminho do meio, mas há risco de abocanhar o inteiro. Após ciclo de mortes e transformações, novo nascimento entre duas palavras. Tendência à profundidade, por estar sempre em queda. Teórico do mais. Hoje, discípulo do menos. Poeta do alto e do baixo, do externo e de dentro; às vezes é fogo; às vezes, vento. De índole solitária, não é membro de nenhuma academia, sindicato ou entidade de classe. Mas aprecia longas caminhadas e bom papo. Gosta de contemplar a unidade, dispersa na criação: "Embora o olho não perceba, sabe-o o coração'. A serviço da luz, do belo e do verso. Para ele, o mundo é pura poesia. Não é à toa que se chama universo 153. No final de 2012, a Imago Editora, do Rio de Janeiro, fez o lançamento de A Poesia Sou Eu 154, em 2 volumes encadernados, com quase 1400 páginas, apresentando toda a sua jornada poético- existencial reunindo 16 livros publicados e 4 inéditos, além de alentada fortuna crítica. As partes e o todo finalmente se encontraram. A visão de conjunto infunde novo sopro vital e propicia novas leituras e interpretações. É um grande painel lírico, uma multiinstalação? Também. Além de uma visão panorâmica, permite a avaliação da jornada mental de um poeta frente à vida e ás questões do seu tempo. E a confirmação de que mesmo morando distante dos grandes centros de irradiação cultural, não se deixou abater nem quando teve de renunciar ao mundo, transformando chumbo em ouro, permanecendo fiel à sua interioridade e sem fazer concessões ao gosto pasteurizado da época. Com 696 páginas, o Volume 1 encerra, além do livro de estréia, República dos Becos, os títulos A Paixão segundo Alcântara (na versão recente acrescida de novos poemas), Rosebud, O Retorno da Aura, Liturgia da Paixão, Ópera Barroca, O Shopping de Deus & A Alma do Negócio, Titanic – Boulogne: A Canção de Ana e Antônio e BhagavadBrita: A Canção do Beco. O Volume 2 agrupa em suas 672 páginas os livros Deus Mix: Salmos energéticos de açaí c/ guaraná e cassis, O Vampiro da Praia Grande, Em Nome do Filho: Advento de Aquário, Tao à Milanesa, (inédito) Evangelho dos Peixes para a Ceia de Aquário, Poemas para iluminar o Trópico de Câncer (inédito), A mulher que matou Ana Paula Usher: História de uma paixão, O Filho Pródigo: Um poema de luz e sombra, Bacuri-sushi: A estética do calor (inédito), A Ceia Sagrada de Miriam e O Livro, inédito que se desdobra dois: Livro I (O sentido – relatos da fumaça do incenso) e Livro II (O Paraíso Reencontrado). A Poesia Sou Eu, é um intenso e iluminado diálogo com o Verbo, um coro de muitas vivências interiores e um inusitado jogo verbal com o Eu Sou, matriz e self da Palavra EPIGRAMA PARA UMA MANHÃ DE VERÃO
Se por amor ou justiça, um dia eu brilhar, Na constelação a que me endereçaste, que eu não reluza como o sol do meio-dia, que embora forte, ofusca e a muitos faz cegar, mas resplandeça qual a luz de um sol de aurora, fogo fátuo que a tudo e a todos propicia, e em cuja luz, tênue e clara, dela ninguém foge, a não ser a inútil sombra da poeira das estrelas.
Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção 152
http://www.youtube.com/watch?v=OZIJgeIciEI http://www.youtube.com/watch?v=L6Jz1qWnVC0 LUIS AUGUSTO CASSAS: UMA LEITURA ALQUÍMICA DA INFÂNCIA DO FILHO EM SÃO LUÍS. In GUESA ERRANTE, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina285.htm http://hbois.blogspot.com.br/2012/03/poesia-luis-augusto-cassas.html http://www.mallarmargens.com/2013/12/14-coqueteis-liricos-de-luis-augusto.html http://severino-neto.blogspot.com.br/2014/04/a-poesia-segundo-luis-augusto-cassas.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/luac1.html http://www.sobresites.com/poesia/poeta/cassas.htm 153 http://luisaugustocassas.blogspot.com.br/ 154 http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/luis-augusto-cassas-entrevista-no-498/
Liturgia da Paixão (Opus da Compaixão), 1997 HOMEM SENTADO NA PRAÇA JOÃO LISBOA155
Homem sentado na praça na solidão do domingo; na solidão desta tarde newyorquina, londrina, ipanemense, ludovicense. Homem sentado na praça entre rosas, estátua, namorados, — o olhar sociológico perscrutando a multidão: — homem universalmente sozinho como se estivesse sentado na tarde de Londres, New York, Paris, São Paulo, Buenos Aires, Rio, no Central ou no Hide Park na Praça de La Concorde da Sé ou 9 de Julho (o sol reclina-se nos bancos) o olhar baço-sol apagando — fitando perto, nenhum lugar; o pensamento solto — como pássaro — cria projetos de paz e igualdade que as nuvens desfazem. Ah entardecer! Já pensou em soluções coletivas para a cidade e a humanidade (agora idealiza pombos na mão como se estivesse em Veneza). Homem sentado na tarde absorto, triste, indiferente, ruminando a solidão do domingo: e nem percebe quando as andorinhas — como uma rajada de metralhadora — batem asas contra a Igreja do Carmo avisando que a missa das seis já encerrou e a voz do padre e a tarde se extinguiram. (CASSAS, Luís Augusto. República dos Becos. Rio de Janeiro - RJ: Editora Civilização Brasileira S.A., 1981, p. 86 - 87)
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http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/25/homem-sentado-na-praca-joao-lisboa-1403.htm http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_augusto_cassas.html http://www.limacoelho.jor.br/index.php/Lu-s-Augusto-Cassas-animal-po-tico/
TRATAMENTO DE CHOQUE
Os verdadeiros loucos vestem uniformes brancos e dirigem os hospitais psiquiátricos amarrados em camisas-de-força. À noite, uivam como coiotes desterrados e tentam o suicídio com seringas hipodérmicas conversando com Stalin, Hitler e Mata Hari. Mas eu advogo que estão lúcidos pelo olhar furioso que destilam. Segundo um relatório assinado pêlos poetas Artaud, Ginsberg e Salomon, nunca terão alta. (CASSAS, Luis Augusto. Rosebud. Poemas. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1990;103 p. Ilus. da capa Edgar Rocha. Diagramação e produção: Shirley Stefanowski. formato 21x21 cm. autografado. Col. A.M. (EA))
RICARDO LEÃO156 RICARDO ANDRÉ FERREIRA MARTINS. 2 de março de 1971 POEME-SE CURARE / CARRANCA – AUÊ DE CULTURA E ARTES Radicado em São Paulo desde 1998, com um intervalo de 2 anos (2001-2003) no Paraná, em Cascavel e Ponta Grossa. Reside atualmente em Rio Claro, interior paulista. Detém alguns prêmios literários, com destaque para o III Festival Universitário de Literatura e o Festival Maranhense de Poesia Falada — premiação em livro e menção honrosa, respectivamente, em 1997 e 1999. Já apareceu em algumas antologias e revistas. Esteve ligado aos grupos literários maranhenses Curare, Carranca e às leituras de poesia organizadas pelo sebo Poeme-se. Edita atualmente, com amigos, o jornal literário O Beta, em Rio Claro. Tem dois livros inéditos: Primeira lição de física (poesia) e Os dentes alvos de Radamés (narrativa). É licenciado em Letras (UFMA, 1997), Mestre em Letras (UNESP, 2000) e doutor em Teoria e História Literária (UNICAMP, 2009). Desenvolve seu Pós-doutorado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/CNPq). Atualmente, é Professor Adjunto da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Campus de Irati, Paraná. Publicou os livros: Simetria do parto (2000, poesia), Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado (2002, ensaio), Primeira lição de física (2009, poesia), Os dentes alvos de Radamés (2009, ficção) e Os atenienses: a invenção do cânone nacional (2011, ensaio), com o qual, em 2012, ganhou o Prêmio de Ensaio e Crítica Literária da Academia Brasileira de Letras. Ricardo esteve ligado a alguns movimentos culturais de cunho literário em São Luís, dentre os quais os Grupo Poemese, Curare e Carranca. Trata-se de um dos escritores mais profícuos da geração 90 no Maranhão. METAPOEMA
Não quero o poema (ou a poesia) especulando acerca do que não sabe, ou se sabe, não revela: não o quero metendo o bedelho onde não for chamado, e nem diga (entre risos e versos) coisas fúteis como amor e nem se perca conjeturando o salário (de fome) do vizinho. Quero antes o poema (não a poesia) nas ruas, nos bares, nas esquinas (fatigado da existência) como um fuzil apontado para o balão de todas Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção 156
HTTP://WWW.GERMINALITERATURA.COM.BR/RICARDO_LEAO.HTM HTTP://JOSENERES.WORDPRESS.COM/2010/02/01/RICARDO-LEAO/ ESCRITOR MARANHENSE RICARDO LEÃO LANÇA LIVRO DE POESIAS NA GALERIA TRAPICHE. In O IMPARCIAL, São Luis, 25 de março de 2013, Caderno Impar, disponível em http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2013/03/25/interna_impar,132094/escritor-maranhense-ricardo-leao-lancalivro-de-poesias-na-galeria-trapiche.shtml , acessado em 28/05/2014 CAIRO, Luiz Roberto Velloso. RICARDO MARTINS [RICARDO LEÃO] - E a contribuição maranhense para a construção da nacionalidade. In GUESA ERRANTE, 14 de julho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/ricardo-martins-ricardo-leao---e-a-contribuicao-maranhensepara-a-construcao-da-1290.htm , acessado em 28/05/2014. HARDMAN, Francisco Foot. UMA PESQUISA DE FÔLEGO. In GUESA ERRANTE, 14 de julho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/uma-pesquisa-de-folego-1291.htm , acessado em 28/05/2014. ENTREVISTA DE RICARDO LEÃO a PESSOA, Ivan, in GUESA ERRANTE, edição de 7 de julho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/entrevista-de-ricardo-leao-1292.htm , acessado em 28/05/2014
as ideologias. Quero o poema cruel terrível corrosivo lisérgico sangrento amargo mas antes de tudo solidário (que nestes tempos de crise toda ternura é pouca). Não quero o poema (via aberta para o infinito) detrás dos guichês, nos out-doors, quero o poema livre como um pássaro que voasse (certeiro) à eternidade. Por esse motivo nada digo no poema que ele já não conheça: — além, é claro de dúvida, incerteza, solidão.
REVELAÇÃO DE SÍSIFO
A poesia, Fábio, roubou-me tudo. Mas deu-me, como prêmio, esta solidão. Dias e dias acumulados atrás de páginas, ainda virgens e inexploradas; o silêncio rouco das madrugadas; palavras sem sentido, fúteis tentativas de erguer uma parede ao redor do nada; milhares de poemas ainda não escritos; mulheres que não amam (e que não amarei nunca); muralhas de angústia, vozes sufocadas, hecatombes de palavras mutiladas; versos por fazer, que não dizem nada. A poesia, Fábio, não deu-me nada! (À parte disso, nenhum outro sentimento). Engano-me: — A poesia, Fábio, deu-me esta revolta! [De Simetria do parto]
II
O CORPO FOI QUANDO, na manhã seguinte, o círculo do céu fechou-se como um sinal, uma concha lúcida, escura e indevassável, de modo que não pude mais saber se o fim ainda principiava pelas frestas do silêncio. Aproximei-me e vi que o dia era belo e azul como uma pomba branca, exangue. Então, ordenei: "Haja Luz!". E houve luz. E vi que a luz era boa, e vi que o dia era bom. Mas não sabia mais porque tudo aquilo ainda me enfarava, ou porque o dia cheirava mal, entre corredores repletos de vermes e vômito, enquanto o cadáver, com um riso fácil, escarnecia de minha raiva indômita, sem motivo aparente. Neste momento, detive-me um pouco mais para observá-lo, aquele corpo ancestral que jazia há séculos ali, entre as flores, enquanto seu odor fétido se espalhava pelos quatro cantos do dia morto, sufocando a vizinhança com um hálito deletério e irrespirável. Nada em suas feições me pareceu reconhecível, de modo que seus traços fugidios em vão tentavam me comunicar algo que não conseguia mais lembrar, embora a minha memória me pregasse peças a todo o momento, sobretudo quando me deparava com a sua face bela e risonha desdenhando de meu esforço. Todavia, o fardo de sua presença já estava se tornando insuportável demais para carregar durante o tempo que ainda faltava para concluir a minha missão, o que me fez desejar a sua desaparição completa. Isto começou, a bem da verdade, a ser uma hipótese bastante aprazível, conquanto o dispêndio fosse bastante elevado até mesmo para mim. Eu estava certo disto, principalmente quando fui ao escritório fazer o levantamento por meio de planilhas que havia elaborado com todo o cuidado, atentando para todas as estatísticas, porém sempre obtendo, ao final, o mesmo irrisório resultado. Não havia, portanto, o que fazer, pois eu já não conseguia ocultar a sua podridão, apesar dos esforços ridículos que empreendi naquela tarde recompondo a duras penas o tecido gasto de sua pele, plantando hortênsias e murtas ao redor de minha residência a fim de estancar o mau cheiro que manava de maneira evidente e insofismável de meu porão. De qualquer modo, aquele cadáver estava consumindo quase todos os meus recursos, enquanto a minha criatividade, por igual, começava a escassear diante da ausência de expedientes que certamente poderia usar para o meu ambicioso projeto. Achei, por um momento, que já era tarde demais e que tudo estaria, de modo irremediável, perdido; o seu tecido já estava rígido, apesar do viço púbere que ainda havia em sua carne fresca e macia, enquanto as flores o recobriam, em vão. Só mais tarde percebi que o meu esforço era completamente inútil, como qualquer coisa que fizesse para compensar todo o investimento que fiz naquele rito que meus ancestrais me deixaram como legado. Eu, por meu turno, não poderia continuar por mais tempo naquela tarefa improfícua, uma vez que o corpo recusava-se aos ofícios que havia celebrado em sua memória. Não poderia, sobretudo, prosseguir calmo e indiferente àquela situação extravagante, posto que o meu desejo me consumisse em febres e delírios atrozes, que me esgotavam por completo, deixando em mim uma compleição débil demais para sair às ruas sem que fosse notado pelos meus verdugos. Aliás, há tempos que os pressinto em meus domínios, em momentos de silêncio e solidão, com a clara impressão que espreitam-me para além das fronteiras de minha propriedade. Não posso avaliar quem o seja, mas decerto não são os que vejo todos os dias, uma vez que percebo, com toda clareza, quem me hostiliza, apenas pelo olhar. Contudo, não sucedeu nada ao longo daquelas semanas de espera, pois ninguém, entre os que freqüentavam as cercanias de meu território, pareceu-me suspeito de alguma atividade que me fizesse temer pelo futuro. Entretanto, fiquei tão ocupado com o corpo, todos os dias, que às vezes esqueciame como meus inimigos costumam estar munidos dos mais variados e inteligentes ardis, embora com certeza pudesse me antecipar a todos os seus movimentos, bastando para isto que se colocassem em ação à luz do dia ou da noite. Enquanto isto, podia de forma tranqüila dedicar-me à leitura de meus antigos escritos, sentado solenemente à varanda, ouvindo os ruídos de galhos quebrando-se entre os arbustos da floresta e os uivos dos lobos para a lua cheia. Deste modo, os cuidados com o corpo não ocupariam o meu tempo em período integral, como vinha acontecendo durante as últimas semanas; isto me assegurava disponibilidade e ensejo para o exercício de outras tarefas que requerem a minha diligência, além de desviar a atenção de meus algozes para outra direção até que, exaustos e sem recursos, teriam que interromper a campana. O corpo, a esta altura, não teria mais qualquer importância para eles, pois a ausência de pistas os conduziria certamente a lugar nenhum, sendo obrigados, portanto, a abandonar o meu caso. Depois de algum tempo, o assunto não importaria nem mesmo a mim. O corpo, entretanto, ainda provocava em mim alguns arrepios e embaraços irremediáveis, o que tentei remediar mantendo-o afastado de toda exposição indesejável, sobretudo para o caso de algum incauto, porventura, invadir a minha residência com o propósito de denunciar-me, hipótese, aliás, pouco provável e, em definitivo, remota. Mas a presença do corpo continuava tenaz em minhas lembranças, pois era de uma mulher, linda como a morte, enquanto o tempo lá fora declinava sem que nada pudesse ser feito para evitá-lo. Como, portanto, eu poderia prosseguir em meu delito com total quietude e desprendimento? Eu havia feito uma compra de vulto em todos os supermercados e mercearias das redondezas, de modo que a casa estava lotada de víveres e ferramentas necessárias até o fim de meu empreendimento. Contudo, a algazarra das crianças que vinham brincar à porta de minha casa me incomodava de maneira contumaz, a ponto de desejar cometer uma infâmia, algo impensável, pois atrairia todo o ódio da vizinhança sobre mim, mas foi suficiente apenas espantálas com alguns expedientes que havia reservado para situações como estas. Depois disso, nunca mais as vi, então pude retomar o meu trabalho, embora toda aquela irritante distração por alguns instantes desviasse o rumo de minha concentração, exatamente como quando recebo visitas inoportunas,
obrigando-me a refazer parte do percurso e tomar certos cuidados extraordinários com o cadáver, que não cessava de apodrecer às minhas costas. Quando isto acontece, às vezes sinto um bafejo, como uma golfada de vento ou o hálito quente de um animal, soprando a minha nuca por detrás. Sou obrigado então a cessar as picaretadas por alguns instantes e sair para ver o que acontece lá fora, em meu jardim. Por um momento, penso que as crianças estão de volta para infernizar-me com suas travessuras diabólicas, mas percebo que os ruídos são surdos e os movimentos da criatura ágeis e rápidos demais. Então sinto que a vida se desprende do calendário, olho para a minha varanda quieta, onde algumas pegadas de água e um odor de pétalas fazem-me esperar, sôfrego e atônito, a fim de ver o vulto que se movimenta habilmente entre as sombras de minha propriedade. Então, como se uma fera saltasse do meio da escuridão indiscernível, tomo um susto e vejo aquele corpo putrefato correndo e dançando, nu e selvagem, em meio às plantas, gerânios, bromélias, buganvílias e jardins esquecidos, sob os telhados, mirantes, sobrados e mais além, onde a vista do mar alcançava-me invariavelmente entre sorrisos e sargaços. Neste dia, senti um grande ódio apossar-se, espasmódico, de mim, e quis mastigar a flora com os próprios dentes, enquanto um calor intenso consumiu-me por dentro como um sol que ardesse impiedosamente sobre a cidade. Quis romper o assoalho do alpendre com as mãos, saltar entre os arbustos com a velocidade de um guepardo faminto e assaltar, de modo violento e contundente, a carne majestosa daquele corpo de formas espetaculares, branco e pálido, como uma página virgem. Foi neste momento, fulgurante e repleto de êxtase, que me arrastei em silêncio entre cadeiras e mesas, quando fui ter em um amplo espaço onde a ausência relinchava, fundindo-se ao nada e ao tédio. Era uma biblioteca, com uma variedade incontável de tomos e volumes, o que me despertou a curiosidade; tomei um dos livros à mão, comecei a folheá-lo de maneira distraída, quando descobri que aquele corpo possuía uma genealogia antiqüíssima e imortal. Percorrendo as páginas aleatoriamente, reconheci o seu rosto em uma das múmias da tumba de Ramsés; percebi-o entre uma das aias de Cleópatra e Marco Antonio e também o vi nos rituais dos templos de Elêusis; um afresco trazia uma perfeita descrição de seus traços mais peculiares, mas surpreendi-me de fato ao vê-lo em algumas tapeçarias persas e peças de porcelana do império de Alexandre, o Grande. Olhei com mais percuciência, e vi, por igual, Iracema, a virgem dos grandes lábios de mel. De qualquer modo, tudo aquilo fez sentido e começou a parecerme extremamente inútil e sem importância. Levantei-me, fui até a janela, exausto e quase sem fôlego. Na desesperada tentativa de respirar, olhei a luz, a rua vazia, a porta aberta, meu corpo esquálido e nu, sob um céu palpitante de estrelas, quando olhei novamente para trás. Lá estava ele, o corpo, sorridente, de pernas abertas, como se me convidasse a penetrá-lo com fúria e asco. Fui. Contudo, o quarto estava escuro como a morte. Sangrei enquanto rolava até o canteiro com o corpo repleto de espinhos e garras que penetravam a carne dolorosamente. A noite era bela e turva. De repente, desatei a chorar. No meio das açucenas, angélicas, orquídeas, alecrins, comecei a chorar. Logo percebi que o cadáver ainda dava sinais de vida, então me aproximei de sua boca cheia de vespas e dentes que, no entanto, respirava, lenta e imperceptivelmente, de uma forma que quase não se ouvia. Ela gemia em meus ouvidos. Olhei para os seus seios que tremiam e intumesciam e tive vontade de mordê-los. Olhei para as suas pernas que se abriam e coravam e, em um derradeiro esforço, penetrei o seu sexo, com um desejo fremente e furioso. A garganta ardia, mas estava lúcido e senti que ela gozava com frêmito em minhas mãos. Pouco acima de suas sobrancelhas, jazia o orifício de uma bala, por onde escorria um líquido escarlate e vívido. Mas pouca atenção dei a este detalhe sórdido e insignificante, de modo que prossegui em minha leviandade noite adentro, sentindo o meu falo aquecido dentro de seu sexo cálido e macio com tal excitação que desejei permanecer naquela posição para sempre. Porém, o dia ameaçara transmontar, pois os primeiros raios de sol rompiam o horizonte; senti mais uma vez asco pelo que fazia e, sem júbilo algum, apartei-me daquele corpo que se decompunha e morria em meus braços; vi que era inútil trazê-lo de volta à vida, visto que o dia era escasso. Deixei-o ali, apodrecendo entre as folhagens, e fui dormir. No dia seguinte, não o encontrei mais. Então percebi que não me recordava mais do rosto do morto. Fui novamente à biblioteca, mas todos os livros haviam desaparecido, como em Alexandria, sem que tivesse sobrado a sombra do pó. Na dolorosa tentativa de reconstituir a voz do morto, o sorriso do morto, os olhos do morto, o aroma do morto, quase morri. Levantei-me e olhei para o relógio mais uma vez. Era exatamente meio dia e alguma coisa pela metade. Olhei para a janela. Olhei para o teto. Por último, olhei para o meu sexo ainda duro como uma vara inflexível e cheia de sangue. Olhei ainda para o piano à minha esquerda e logo avistei a porta. Ganhei a rua. A cidade reluzia luminosa e frenética, enquanto a multidão, sem pressa, passeava pelas avenidas. Prossegui até à praça. Ela não estava ali. Fui até a escadaria. Ela não estava ali. E porque ninguém mais estava ali, onde antes o corpo estava, onde antes ela estava, suja e ordinária, uma prostituta que se vende a qualquer preço. Esta cadela insone, que se abre como uma devassa, de uma forma que somente os deuses podem compreender e aceitar. Era tudo. Todos os objetos estavam jogados na rua, espalhados pelo quintal dos fundos, de forma que a vizinhança toda acendeu as luzes, a luz do sol; esta mesma luz inóspita que nos queima, o sol, o sal, a sala, o pálio aberto, não decerto nesta ordem, mas um delito qualquer, entre as flores pueris de maio, onde o cadáver é somente mais um, como qualquer outro, ordinário e sujo, com o mesmo sorriso de que rimos há séculos de nossa própria precariedade e imundície. E é por isto que ainda resisti contra todos, que inventei o cadáver, o sol, este artefato limpo, de aço puro, a insígnia de um corpo que matamos, entre orgias e orgasmos. O cadáver, no entanto, ainda fedia de uma forma repugnante, mas tinha o hálito de uma fêmea que arreganhava as pernas em flor, rindo entre crisântemos e obscenidades, rolando fulminante em êxtase pela garganta do vale, entre lírios conjugados. De repente, caí no jardim, solitário, alegre e contrafeito. Nem percebi quando o meu membro rompeu o hímen silencioso do corpo, de uma forma sublime como a última ruína de
um templo grego. Falo endurecido sobre o dorso incendiado de Apolo, o fogo ardia incessantemente pelo chão ainda úmido e escorregadio. O cadáver sorria, em meio às hortênsias, onde escrevi o meu nome, assinatura do diabo entre suas coxas. Depois, não o vi mais. Lembro-me perfeitamente do dia de sua partida. Uma chuva torrencial caía lá fora, enquanto a mobília mofava. O dia havia se partido, no meio do caos. Vi apenas duas colunas rachadas, sobre o solo recoberto de pegadas de animais estranhos, que a custo reconheci em meio ao inventário de pistas inúteis, por mim catalogadas em um dos tomos que salvei da biblioteca. Não havia mais nada o que fazer. O corpo, mais uma vez, enganara-me. [De Os dentes alvos de Radamés]
A BATALHA
1. a espera O poema aguarda: aguarda, tranqüilo, o tranqüilo reinício da calma batalha na vasta planície de toda palavra, onde o nada é água que logo evapora; na vasta planície onde o verso arde, sob o sol quente, à procura de oásis; com líquida sede de brancos papéis e castas palavras; o poema, no deserto de toda linguagem, dir-se-á eterno, como se buscasse ao instante seguinte morder a longa língua, a cauda do nada, o núcleo do silêncio.
2. a trincheira Cavo este solo: chão pulverizado de áridas palavras, entanto cálidas; esta minha mão (de poucos dedos, fundos estigmas), todavia, escreve (já sem esperança) sobre o solo áspero onde ainda brotam úmidas palavras;
de onde brotam rosas pútridas, que nutrem a fome de podres sílabas; que nutrem, ácidas, o silêncio amargo de coisas sonoras presas à boca; esta rósea boca que não pronuncia certas palavras, invisíveis ainda.
3. o desafio De tua língua, poema, tu não me guardas; a palavra maldizente, invisível vocábulo; tua metáfora inviável; de ti, poema, lúcido, eu nunca me guardo; nesta manhã ácida, fruto do desamparo, a morte está longe (embora ao nosso lado), quase como um pássaro.
4. o anúncio O poema marcha quase sem fala; flores solitárias crescem do nada; logo surgem nuvens no céu aberto; a espera de um dia, assim, plantada, parece uma pedra no meio da sala; uma flor que brota da áspera poesia de uma palavra; uma palavra única, que dá o calmo início de uma batalha.
5. o combate De ti, poema, não me guardo; teu belo rosto, esfinge do ocaso; tua tenra boca onde palavras brotam, insontes; o árduo combate de mudas sílabas; tua pele macia de carícias intata; tua mitologia de castos lábios; entanto, eterno, o sono prossegue durante a manhã repleta de tédio; cadela mordida por alvos dentes de alvar poesia, enquanto o poema (surdo vocábulo de força bruta), brota do nada.
6. o clímax O poema atravessa, como lâmina afiada, o silêncio pesado que cresce da fala; o trabalho da manhã, ainda não concluído, desta muda linguagem de sons e fonemas; roídos mecanismos, engrenagens da língua, do sigilo quase mudo em nossas bocas cheias de pútridas palavras; palavra, enigma do som, ainda não pronunciado, cuja sintaxe ainda jorra, como jorra a clara água da seca fonte; fonte que não sacia a sede, e jamais extingue a fome de outras palavras; vazias, em seu magro conteúdo, contudo quase tão belas como um homem morto em pé; palavras ainda livres
de qualquer sentido, mas que jorram frescas da fonte, da fonte que nunca seca; as mesmas palavras que, belas, nascem de qualquer fonte; fonte de coisas puras, ainda sem nome; fonte igual a qualquer fonte; fonte de sons, de coisas ácidas, alucinadas; som que nos impele à fala; a mesma fala, soturna, que nasce de qualquer língua; do fácil silêncio de qualquer palavra; deste combate diário entre o sono e a alegria, enquanto o poema cava o árido chão da poesia; palavra, difícil palavra, no verso ainda mínima que nasce, rosa tranqüila, em meio a um deserto de úmidas hortaliças. O poema jamais cessa seu trabalho inútil, ainda não concluído, pela extinta manhã. Enquanto surge o dia o poema atravessa, lâmina em brasa, a pele do silêncio: o núcleo do nada.
7. a trégua De ti, poema, louco, eu não me guardo; entre o nada e o silêncio, lavras o impossível; entanto, acima do espaço urbanizado do papel, tua bandeira tremula como símbolo de guerra.
VIRIATO SANTOS GASPAR VIRIATO GASPAR
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7 de março de 1952 / Filho de Clóvis Roxo Gaspar e Sebastiana Santos Gaspar. Fez seus estudos no Liceu Maranhense. Participou do Movimento Antroponáutica. Foi classificado em vários concursos literários, entre eles conquistou prêmios de concursos da Academia Maranhense de Letras, da Prefeitura de São Luís e da Sociedade de Cultura Artística do Maranhão. Em 1970, foi Menção Honrosa no Concurso Antonio Lobo, da Academia Maranhense de Letras com o livro Portos sem Rumos. No mesmo ano, venceu o prêmio Sousândrade, do Concurso Cidade de São Luís, instituído pela Prefeitura Municipal desta cidade, com o livro Teodisséia. Em 1971, novamente ganhou o mesmo prêmio com 50 Sonetos. Colaborou em vários jornais de São Luís. No final da década de 70, viaja para o Rio de Janeiro e, posteriormente, estabelece-se definitivamente em Brasília, onde vive atualmente. Em livro, estreou em 1984 com a obra Manhã Portátil, a que se seguiram Onipresença, 1986, Lamina do Grito , 1988, e Sáfara Safra, 1994, obra premiada pelo Plano Editorial do SIOGE. Vários críticos se pronunciaram sobre o poeta. Oswaldino Marques ao comentar textos de autores novos da Literatura Maranhense disse que o poeta “ mais próximo da autonomia de vôo é Viriato Gaspar. Surpreende-se nele inventividade, assenhoreamento formal, linguagem plástica, límpida, a inteligência do metamorfismo da expressão que o dota dos meios de manipulação apurada da palavra.” Lago Burnett: “...um poeta absolutamente senhor de seu instrumental.” Chagas Val, ao referir-se ao livro Manhã Portátil, declarou “ ... um livro forte e denso.” Moacyr Félix, “Com nitidez percebe-se, atrás do seu bem elaborado artesanato, a presença verdadeira de um poeta. Literatura e não literatice.” Wilson Pereira, “ Manhã Portátil já revela a energia criadora do autor, dotado de sopro mágico e de capacidade para articular a linguagem com expressivos recursos estilísticos.” Percorrendo o caminho vertiginoso por onde Viriato Gaspar manipula a linguagem no texto poético de Sáfara Safra, desaguadouro singular de inúmeras conquistas modernas a que teve acesso, percebe-se que ele tem o descortínio da estrada por onde os bons poetas começam e seguem, ao criar poemas que são paradigmaticamente, pela concisão e maturidade, exemplares. No caso Viriato Gaspar, as pegadas e rastros vão-se configurando e redesenhando através das dedicatórias dos poemas. Os nomes escolhidos soam como legítimas epígrafes: O Rastelo (a Ezra Pound); O Zôo (a Paul Éluard); O Selo (a José Saramago); O Escuro (a Mário de Sá-Carneiro); Os Restos Vitais (a Paul Valéry); Postal Vadio (a JeanArthur Rimbaud); A Logopéia (a Jules Laforgue); Fremilúnio (a Paul Verlaine); Boca da Noite (a Mário Faustino); O Anjo (a Garcia Lorca); A Porta (a Fernando Pessoa); A Gaze (a Gertrude Stein); O Salto Mortal (a Rainer Maria Rilke); O Carrapato (a John Donne); O Aluno (a Joaquim de Sousândrade); O (S)oco (a T. S. Eliot); O Brasão (a José Paulo Paes); As Tatuagens (a Stéphane Mallarmé); O Em Canto (a Carlos Drummond de Andrade); Hacéldama (a Anderson Braga Horta); Haiku (a Matsuo Bashô); A Gangorra (a Benjamin Moloise); O Pugilato (a Florbela Espanca); A Úlcera do Azul (a José Chagas); A Fomem (a Nauro Machado); A Clave (a Jorge de Lima); A Tempestade (a Cecília Meireles); A Engenharia (a João Cabral de Melo Neto); O Armazém (a Cesário Verde); O Prisma e o Arco-Íris (a Oswaldino Marques); O Trampolim (a Vladimir Maiakóvski); A Pirraça (a Manuel Bandeira); A Ponte (a Rainer Maria Rilke); Matinal (a Lago Burnett) e O Vôo (a Haroldo de Campos). Sáfara Safra é uma abundante colheita, uma viagem por alguns dos melhores caminhos poéticos da poesia neosimbolista e moderna universal. A seleção de homenageados é um pretexto para que o poeta possa proceder a uma viagem lúdica por vários laboratórios poéticos. Referência, reverência via releitura, humildade necessária para, descobrindo a verdadeira tradição poética não acadêmica, saber, a partir de um paideuma (ordenação do conhecimento poético) cada poeta encontrar-se na soma de poetas que leu e assimilou. A poética de Viriato Gaspar tem esse viés.
Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção 157
http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina191.htm http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/viriato_gaspar.html
Postal Vadio
(A Jean-Arthur Rimbaud) eu quero escancarar as minhas portas para que entrem nuvens de mendigos e arrastem pelas minhas veias tortas os ferros velhos dos verões antigos eu quero escancarar a minha aorta para que sangre o vento pelas ruas e biquem em minha boca as aves mortas os crespos corpos das mulheres nuas eu quero arregaçar a minha alma, deixá-la calcinada na calçada, até que as minhas mãos saltem das palmas e mordam o mundo em mar e madrugada, e jorrem pelos poros dos meus dentes os rios que bebi nas mãos alheias e nos meus olhos sujos luas cheias da mesma insônia antiga dos doentes eu quero escancarar os meus sapatos, rasgar meu coração em postas turvas, deixar entrar em mim todos os gatos para lamberem o hálito da chuva. (p.46) Hacéldama
(a Anderson Braga Horta) ó árduo território, onde Te lavro, semente de clarão, luar de fogo, e onde me jogo todo e turvo o roubo da noite-escuridão, oh descalabro da carne a descascar-me em sangue e lava: o coração é um sapo, em cujo aboio a alma se perde, dona, mãe, escrava, cheirando a trigo e recendendo a joio. ó árduo território do plausível, noturna obsessão de luas calvas, aqui Te lavro, Verbo, oh impossível jaula de vento, canavial das almas. aqui Te planto, Verbo, neste chão, agreste como as solas dos sapatos, para que roas o anzol do coração, para que cortes com teus dentes gastos a palma de meus dedos retorcidos, as lâminas das minhas clarabóias, e planes pelo mar dos meus sentidos teu brilho de punhal, sangrentas bóias, e mordas com teus olhos fulmegantes, com a luz de tuas trevas pelos flancos, não só as minhas mãos, mas meus instantes, e invadas toda a vida, como um cancro. II ó carne, lua magra a se espichar por entre os ossos podres na gamela do tempo (porto ou pedra?) pó & mar,
vitral de vícios, vulvas amarelas, raiz de solidão, jaula de vidro, que a vida é pouca (a vida é sempre pouca) e só nos restam as mãos, nossos sentidos, para inventar o sol da nossa boca, para rachar ao meio o que mais seja, e o que vier que venha (e sempre mais), que a vida é curta e a morte brotoeja por trás de cada instante, cada cais, a tocaiar-nos solta nas esquinas, a nos chamar do fundo do salão, cegueira escancarada nas retinas, punhal atravessando o coração.
Bilhete a Montale Que tempo este de agora e suas redes. O sol morre de frio e o mar, de sede. Que mundo este, que encheu só de vazio. A fome rói nas ruas seu fastio. Goramos o luar; só resta um mantra, e este gosto de agosto na garganta
A Caminho, de Volta (a Odylo Costa, filho, in memoriam) Os Anjos rasgarão nos meus cabelos estradas para Deus, e seus atalhos. Nas minhas mãos geladas trigo e orvalho Deus plantará depois, para eu bebê-los. Os Anjos brotarão dos meus joelhos e cantarão manhãs que nunca pude. Hão de nascer das plumas do alaúde as rosas da manhã, clarins vermelhos. Hei de cantar, cantar, cantar, cantar as luzes que engasguei, por mundo ou medo, os salmos que apaguei, por mal, por mim. E os Anjos me erguerão na altriz do altar, para eu sugar o Sol e arfar enfim o sopro antigo e novo do Segredo.
A Sesta (a Leonardo Boff) Não quero abrir no azul um céu chinfrim, que seja só um sol que nunca ladre. Não quero um Deus assim, morto de mim, cevado de senões, patrão de padres. Eu quero O Deus em mim, total de tudo, uma alva rede aberta em minha alma. Um cachorro enrolado em seu veludo, meu pai me dando adeus na tarde calma.
A Ilha Janelas. Poeira. Mosquitos. Meu pai ventava em azul as paredes da insônia. Lamparinas. Calor. Formigas. Fome. Os homens exercitavam vagas vidas vazias. Idéias. Ideais. Lixo. Luxo. Lisura espectral. Uma rede sozinha. Var/ando a var anda. Var/ânsias. Átrios de igrejas. Sé. Carmo. Remédios. Pam ta leão. Garrafas. Gumes. Cuspo. Fé. Fezes. Padre, dai-me a vossa bênção porque pe(s)quei. Ide em gás e que o terror vos arrebanhe. Mentiras. AMEN/tiras. Os dias despejavam adrenalina. Ossos magros. Fome. Fumo. Fama. Fúria. Os homens inventavam teorias para explicar o medo. Mastigar o medo. O muco murcho da matilha amorfa. A porca era gorda demais. E a gente tinha fome. As mulheres eram qualquer coisa secreta. Proibida. O veludo molhado da rosa incendiada na penugem. Uma dúzia de sonhos. Uma saga de dúvidas. Tesão. Teso. Ah ânsia de voar sobre as ladeiras e amanhecer assombros nos sobrados. A vida era o desfiar morrente de uma esperança sem futuro. Ex-v(a)ida a cada dia. Como o rosário comprido de minha mãe. Deus era o pavor absoluto. O nome extremo do medo. O sol sugava o sumo do suor do osso. Os outros, ostras incrustadas no estertor antigo. O coração ganindo a própria gana. A vida vindo em vão e vã voando. Veloz. Vaga. Vadia. A casa era pequena, mas cabia a tosse de meu pai e a sua rede. O armador tecia na parede um gemido asmático de animal doméstico. A noite se enchia de calor e paz com o roc-roc-roc da velha rede de meu pai, insone. O mundo era uma ilha sem horizontes. Os barcos passavam. Como os dias. O mar aberto era uma chaga alheia. A vida era uma ilha. Afogada em seu fogo vazio. A vida era uma ... (a vida foi se.) A Vinda
Chegaste de manhã, e era dezembro. O mar cuspia azul sobre as estrelas e marejava um cais para bebê-las. Teu rosto era um farol, é o que lembro. Chegaste como a chuva; pelo avesso, acendendo a manhã nas minhas unhas.
Agora foi depois, quando eu supunha não mais molhar-me o sol, seu sal espesso. Nunca disse teu nome, não cabia. A palavra era apenas seu esgar, um modo de morder a ventania. Só lembro do dezembro. E então o mar.
O Náufrago teu corpo negro iluminava tudo com seus segredos fundos de mulher e nele eu me enconchava em caramujo no refluir-fruir dessa maré de barcos emboscados no ar escuro tarrafando sargaços de suor teu corpo negro então ficava sujo de claridade e desmanchava o sol em golfadas de trêmulas espumas teu corpo negro pluma de penumbra a derramar manhãs no travesseiro e eu náufrago de tudo arremetesse as praias de teu corpo e me solvesse nos minérios malinos de teus pêlos.
O BUROCRATA
uma lua explode por dentro do terno. manda-a ao protocolo para carimba-la e num memorando baixa-a ao arquivo.
A CAIXA-PRETA
o morto no caixão o porto ou a floração? (ou só o conforto da conformação, o tateio torto pela contramão?)
ENTRONCAMENTO outubro já passou, novembro veio, e a vida continua pra dezembro. dezembro chegará, depois janeiro, e a vida continua em fevereiro. o calentário espichará seus dias em meses, anos, rugas e calvície, novos amigos, novas descobertas, (ou a simples ilusão de descobri-las), novas cidades, novas desventuras, novas mulheres e velhas ternuras. e a vida seguirá por mais um ano, mais outro e depois outro e a vida sempre a encompridar seu tempo e seu fastio, seu pasto de chacinas e vivências, seus enganos, seus medos, seus abismos; até que um dia a morte, enfim chegando, (num dia de dezembro ou de janeiro), acabe com a ciranda da agonia. e quando o trem das trevas apitar na esquina de meus ossos doloridos, eu quero entrar sem pressa e sem bagagem, como alguém que, depois de muitos anos. retorna finalmente para casa.
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(para Malu) aqui, nesta argamassa de neurônios, de músculos e nervos, pele e ossos, eu e a minha manada de demônios estamos sós no ranço dos remorsos. estamos sós no cio solitário do pus da nossa paz, fechada em fossos, no pó das postas do que sobra em sócios para o repasto oposto do inventário. aqui, neste congresso de torturas, sentamos, face a face, na impostura de impar e ser o avesso do que somos. enfartados de espantos e de espasmos, eu e a minha alcatéia de fantasmas choramos sós à sombra dos escombros. 21
primeiro ela sonhou que estava morta; depois, que viajara, que partira, mas não porque ela própria o decidira, mas porque havia o mundo além da porta. ela era a sombra do seu próprio vulto,
a imagem em nuvem do não-revelado. ela era tudo o que restava oculto, mas dentro dela mesma, em si guardado. e porque assim tivesse sido (ou era), ou nunca fosse, houvesse acontecido, talvez mais por alvor que só de avara, primeiro ela sonhou que não chegara, depois, ao ver que ver era um olvido, evaporou-se em sua própria espera. 27
inverno, meu amor, são esses ossos que a tarde desenterra em nossas veias, sempre sujos do sumo dos remorsos, lambuzados de loucas luas cheias. esse inverso, essa viva carne carma, o punhal, esse sabre que nos sobra, essa bomba que nunca se desarma, esse dobre a dobrar-nos na manobra. inverno são as drupas desses dias, essas tardes tardias, trastes, tantas; essas ruas repletas e vazias, esta gana a ganir-nos na garganta. inverno, meu amor: ossos e dias; e a gente a gangorrar sua agonia. 30 (a Wilson Pereira) Qualquer coisa nascida de si mesma como um ovo, um poema, uma ferida. Uma pena talvez, flecha fendida em trovões coruscando em lã/ma e lesmas. Qualquer coisa. Excrescente, dissoluta, fluida, fóssil, falaz, como cortiça. Manivela ou mormaço, a mó mortiça do seu grito de gueto, escampa escuta. Esse inverno vital, vulva que orvalha, galha oblívia do sestro na navalha. Uma coisa qualquer. Sabre em saliva. Qualquer coisa cerzida em urze ou asa, húmus ubre de rala ruma rasa: ▬ um verso, esse universo em carne viva. (do livro “A LÂMINA DO
GRITO”, de 1988)
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o azul pondo fagulhas no azulejo enquanto a tarde talha e a voz resvala no silêncio estalado em caranguejos e o breu do grito é o gume de uma bala.
o azul tecendo lu(r)zes nos sobrados e as ruas estuando em treva as teias. a sombra é um búzio dúbio debruado na renda rubra da paisagem alheia. o azul espelha paz no pó espesso enquanto as aves voam em vão no avesso e o instante estanca e tranca o trinco a seco. o azul plantando (p)lumes nos telhados e a tarde entalha o instante ali alado e enlaça o aço azedo enchendo os becos.
POEMAS INÉDITOS (selecionados por Angélica Torres Lima)
A QUERELA DO BAR ZIL As ruas estão rotas de mendigos, de putas e ladrões mal-ajambrados. Os que se deram bem vão bem guardados, no além das limusines, em abrigo. Nas praças só há pressa, e o medo empurra o bilro em nossas burras, ‘té a monta. Em cada esquina um rambo nos aponta um berro, e basta a nós se só nos curra. Nos palácios, nos templos, nas choupanas, é um salve-se quem der a xepa ou a xana, a vida vale um peido, um troco, um til. Há quem ferrando enrique ou nasce a lula, mas nas ruas é a fome, é a gana, a gula, oh pátria amada, à puta que pariu! O NINHO
Olha, lá fora, a trôpega manada que marcha, amorfa, à usura do futuro. Vê com que pressa passam na calçada, rumo a um arrimo esconso em seu escuro. Olha, aqui dentro, o ninho do meu vinho, o chão deste clarão, esta tontura. Vê com que vôo as aves da ternura rasgam seus ramos no meu ser sozinho. Ferve um inferno fosco no lá fora: aqui dentro, eu Te espero. Agora. Aurora. BILHETE À ROSA QUE ACENDEU O JARDIM
Tive um amor que desmanchou-se ao vento, mal soprara a manhã nos meus cabelos. Tentei talvez, a susto, ainda retê-lo, mas dissolveu-se em azul no céu cinzento. Tive um amor que encheu o mundo inteiro de um brilho, um fogo, um gás, um chão tão claro,
que até hoje, já escuro, ao relembrá-lo, ainda me acende o rastro do seu cheiro. Tive um amor assim, estranha estiva, a farfalhar seu mar em carne viva, o mundo em riste a borbulhar nas veias. O amor, no entanto, é um sopro que se apouca; no instante mesmo em que nos bica a boca já se ave em vôo, e nunca mais se apeia. NOI TURNO
A rua espicha as casas sonolentas pela ladeira suja enevoada. Só meus passos, no pasmo da calçada, ressoam mundo afora, à flor do vento. A rua se esparrama escuro adentro, uma ruma de casas desbotadas. Só a lua na rua amortalhada me vê passar sem pressa, a contra vento. De onde eu vim, para onde vou, pisando o mundo mudo, a rua morta, e eu quando? Só meus passos no escuro acendem o vento e toc toc tocam no silêncio. O JATOBÁ TOMBADO
A doença foi secando a minha mãe, até torná-la a sombra dela mesma. Na sua solidão de dor enferma, um mar de arpões-ferrões nas suas manhãs. Na mirrada figura que sumia um pouco mais, a cada abril do dia, havia um horizonte de sereno, grandeza no exercício do pequeno. Minha mãe me ensinou, com a dor e a reza, que sempre há vôo e luz, se a vida pesa.
RÚMULOS
Por aqu passou o Poeta: ▬ há cacos de estrelas acendendo o escuro; há um brilho estranho no pavor dos muros, e há um viço avesso acordando o mundo. O Poeta passou por este dia: fez brotar a manhã da noite fria, fez nascer um clarão no breu que havia e surgir em cada dor como um jardim, para depois, um raio, um risco ou um jasmim,
encantar-se por fim na ventania.
O LEGADO
(a Gabriel) aquele poema que não consegui, mas a duras penas carreguei em mim. aquela pequena coisa indefinida, que não foi poema nem encheu a vida. o sol escondido que não se acendeu. este não ter sido que em mim sou eu. (de Sáfara Safra )
ÍNDICE
A Ferreira Gullar O homem é a matéria do meu canto, qualquer que seja a cor do que ele sente. E não importa o motivo do seu pranto, é um homem, meu irmão, e estou doente de sua dor, e é meu o seu espanto do mundo e desta hora incongruentes. Na trincheira do Verbo me levanto contra o que contra o homem se intente. O homem é o objeto e o objetivo de quanto sei cantar, e o canto é tudo que pode me explicar porque estou vivo. Às vezes sou ateu, noutras sou crente, em outras sou rebelde, em algumas mudo: — sou homem, e canto o homem no presente. (de Manhã Portátil
JOSÉ DE RIBAMAR DE OLIVEIRA FRANKLIN DA COSTA FRANKLIN DE OLIVEIRA158, 159 12 de março de 1916 # Rio de Janeiro, 6 de junho de 2000 Figura das de maior realce em sua geração, poeta, crítico, jornalista e sobretudo, elegante cronista, cedo fixou residência no Distrito Federal, em cuja imprensa milita com brilho, depois de te-lo feito na sua terra natal. Pertenceu, em São Luis, ao Cenáculo Graça Aranha e ocupou na Academia Maranhense de Letras, a cadeira 38, patroneada por Adelino Fontoura. Começou a carreira de jornalista aos 16 anos, no Diário da Tarde, e em 1938 já estava no diário A Notícia, do Rio de Janeiro. Na década de 1930 trabalhou na revista Pif-Paf e, em 1944, foi para O Cruzeiro, onde tornou célebre sua coluna "Sete Dias", que escreveu por 12 anos. Em 1956, tornou-se editorialista e crítico do Correio da Manhã. Quatro anos depois, mudou-se para Porto Alegre, onde, no governo de Leonel Brizola, foi secretário-geral do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Sul e delegado desse estado no Banco de Desenvolvimento Regional do Extremo Sul. Exerceu cargos importantes na Petrobrás até que o governo militar instalado em 1964 cassou seus direitos políticos com base no AI-1. De volta ao jornalismo, foi redator n'O Globo e, na década de 1970, passou a colaborar com a Folha de S.Paulo, assinando artigos políticos. Em 1983, recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra, quatro anos depois de conquistar o prêmio Golfinho de Ouro de Literatura do Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro. Bibliografia – Ad Imortalitatem (1935), Sete dias (1948), A fantasia exata (1959), Rio Grande do Sul, um novo Nordeste (1962), Revolução e contra-revolução no Brasil (1963), Viola d’amore (1965), Morte da memória nacional (1967), A tragédia da renovação brasileira (1971), Literatura e civilização (1978), Euclides: a espada e a letra (1983), A dança das letras (antologia crítica, 1991), A Semana da Arte Moderna na contramão da história e outros ensaios (1993). Buzar (2013)160 escreve em seu Blog, sob o titulo Franklin de Oliveira - um Nome Nacional, traçando a trajetória desse que foi um dos maiores cronistas do país: No dia 31 de março de 1938, o Franklin de Oliveira, com 22 anos, decidiu mudar de residência. Trocou São Luis pelo Rio de Janeiro, a então capital da República. Nessa época, o Brasil vivia sob o domínio da ditadura de Getúlio Vargas, mas o jovem jornalista já estava com a cabeça politicamente organizada pelo convívio com militantes políticos e revolucionários, que atuavam na imprensa maranhense, a exemplo de José Maria dos Reis Perdigão. Com este trabalhou nos jornais A Pacotilha e Diário da Tarde e participou de embates ideológicos em favor dos trabalhadores. Seu primeiro emprego no Rio de Janeiro foi no jornal A Notícia, na função de redator. Com o decorrer dos anos, passou a desenvolver intensa atividade política e literária, colaborando em diversos jornais e revistas de circulação nacional, ressaltandose a revista O Cruzeiro, onde ele criou a coluna Sete Dias, uma página de lirismo e voltada para assuntos do cotidiano. Em 1945, com o fim da II Guerra Mundial e do Estado Novo, restabeleceu-se no país o regime democrático, que trouxe no seu bojo as eleições diretas, para os cargos majoritários e proporcionais. Franklin de Oliveira, pelo seu destacado desempenho na imprensa carioca, recebeu convite dos partidos de esquerda para ser candidato a deputado federal. Desejava atuar na cena política, mas não mostrou interesse em disputar cargo eletivo no Rio de Janeiro. O seu objetivo era participar da vida pública do seu estado de origem. Por isso, quando os partidos e os políticos começaram a desenvolver ações com vistas às eleições de 1950, Franklin de Oliveira veio a São Luís conversar com as lideranças partidárias e sondar o quadro político maranhense. Em vez de procurar os partidos oposicionistas, o jornalista de O Cruzeiro bateu nas portas do Palácio dos Leões, onde teve uma conversa amistosa com o senador Vitorino Freire, do qual recebeu convite para filiar-se ao Partido Social Trabalhista. Pela legenda que Vitorino criara – o PST, Franklin de Oliveira concorreu às eleições de 1950, para conquistar uma cadeira no Congresso Nacional. Como estava distanciado do Maranhão há bom tempo, ele tomou algumas iniciativas para tornar-se conhecido e conquistar o eleitorado maranhense. Duas merecem destaque. Primeira, convocou os novos intelectuais para se integrarem à sua campanha 158
MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 244-245 http://pt.wikipedia.org/wiki/Franklin_de_Oliveira http://www.academia.org.br/abl/media/Texto%20sobre%20Franklin%20de%20Oliveira.pdf http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/aluisio-azevedo--franklin-de-oliveira-5455.htm 160 BUZAR, Benedito. Blog do Buzar. FRANKLIN DE OLIVEIRA: UM NOME NACIONAL, 8 de abril de 2013, http://www.blogsoestado.com/buzar/2013/04/08/franklin-de-oliveira-um-nome-nacional/, acessado em 02/05/2014 159
disponível em
eleitoral. O estudante José Sarney Costa foi um dos que participou ativamente do processo eleitoral, na capital e no interior do Estado. Segunda, trouxe do Rio de Janeiro para o Maranhão uma gigantesca estrutura publicitária e um grupo de marqueteiros políticos, deixando os concorrentes perplexos e intimidados. Com recursos abundantes, instalou em São Luis e nas principais cidades, onde pontuava o eleitorado mais esclarecido, poderosos comitês políticos, dotados de modernos equipamentos de comunicação social, através dos quais os marqueteiros produziam e veiculavam peças publicitárias de bom gosto e de forte apelo popular. Nenhum candidato a qualquer cargo eletivo no Maranhão, até então, tivera a competência, a ousadia e o dinheiro para se apresentar ao eleitorado como o fizera Franklin de Oliveira. Cartazes de todos os tipos e tamanhos, coloridos ou em preto e branco, foram usados em profusão em jornais e colocados em pontos estratégicos da cidade. O que mais chamou a atenção do eleitorado foram os discos em vinil, com a música que funcionava como carro-chefe de sua campanha política. Como não havia ainda legislação restritiva à propaganda eleitoral, nada impedia o candidato de usar e abusar dos meios de comunicação. Em São Luis, ao longo do dia, só se ouvia o disco de Franklin de Oliveira, que tocava insistentemente em emissoras de rádio, serviços de alto-falantes e carros de som, novidades tecnológicas, que percorriam as ruas e os bairros, divulgando o nome do candidato e conclamando o povo a votar. A música, aliás, de boa qualidade, caiu de tal modo no gosto do povo, que passou a ser cantada por todos, fossem ou não seus eleitores. Quem lembrar a música, que solte a voz: “Eis aí um nome nacional Sempre a serviço do Maranhão Franklin de Oliveira cristaliza um ideal De manter viva essa terra-tradição Jornalista e escritor, homem capaz, trabalhador Indicado pela cidade de Caxias Faz jus à glória de Gonçalves Dias Nós e também você Votaremos no PST Para eleger Franklin de Oliveira Que tudo fará pela Atenas brasileira Como deputado federal ”. Mesmo com todo o aparato publicitário, de fazer inveja a qualquer candidato, Franklin de Oliveira não se deu bem nas eleições de outubro de l950. O seu marketing político, ainda que inovador, não funcionou. Resultado: sofreu impiedosa derrota, que pode ser atribuída a três fatores. 1) recebeu intensa e aguerrida campanha dos oposicionistas, que não o perdoaram pelo fato de, como escritor de esquerda, aderir ao grupo vitorinista, pelo qual sua candidatura foi homologada. 2) seu nome não foi priorizado e nem assimilado pelo esquema palaciano para ser um dos eleitos. Dos noves candidatos eleitos para a Câmara dos Deputados, cinco formavam no time dos governistas e quatro pertenciam aos quadros das Oposições Coligadas. Ele ficou numa suplência e sem nenhuma chance de ser convocado para assumir o mandato. 3) as eleições de 1950, tanto para os cargos majoritários como para os proporcionais, foram realizadas sob o beneplácito de escandalosa fraude eleitoral. O escritor maranhense não se beneficiou dos votos fraudulentos e muito menos dos votos válidos. Um final melancólico para quem lutou bravamente e empenhou-se, física e financeiramente, para ser um dos representantes do povo maranhense no Congresso Nacional. Se, por um lado, a música que Franklin de Oliveira usou na campanha eleitoral virou um tremendo sucesso popular, pois até hoje é lembrada e cantada por gerações que viveram aqueles tempos, por outro lado, proporcionou ao candidato do PST uma terrível herança política: o apelido de “Nome Nacional”, epíteto que virou galhofa popular e chegou até mesmo a irritá-lo. Nem depois de morto, conseguiu livrar-se dessa alcunha. MISTERIOSA É A VIDA DOS LIVROS 161 Misteriosa é a vida dos livros. Seu tempo não é o dos relógios e das folhinhas. Há romances que envelhecem em 24 horas e, depois, se tornam inúteis como um jornal atrasado. E não deixa de ser mágica, poética, essa faculdade de envelhecer em horas. Outros livros, porém, nasceram com a vocação da eternidade. Transmitem sempre a impressão, a surpresa, o frêmito inefável de uma primeira leitura. Nós já os conhecemos e, no entanto, eles parecem novos; cada pagina dá a sensação de um descobrimento. Assim o “Amanuense Belmiro”, de Ciro dos Anjos. Tem seus dez anos de vida bem vivida. Mas resiste heroicamente a essa experiência dramática no destino de um livro, que é a releitura. Bom livro é o livro que a gente relê dez, vinte, trinta vezes, e com que atento e apaixonado interesse. O livro é como sempre o foi. O autor não lhe alterou uma virgula, não lhe acrescentou uma frase. Mas sentimos, desde o primeiro período, que a obra-prima não será jamais a mesma. Algo se renova nas suas profundezas. O “Amanuense Belmiro” sugere essa impressão de coisas infinitamente mutável. Por quê sempre o lemos como se o fizéssemos póla primeira vez? Não há nessa obra uma página velha. Irei mais longe: não há uma frase que tenha apodrecido. Pois sabemos que, mesmo nas melhores criações, há valores que se desgastam, que se decompõem e que se tornam fétidos. O mistério do “Amanuense Belmiro”, da sua fascinação incessante, está, segundo me parece, na sua alta qualidade estilistica. A chamada língua “inculta e bela”, de soneto preconceituoso, se culturaliza. A grande lição liter´ria do “Amanuense Belmiro” pode ser resumida assim: os defeitos não são do idioma mas de nós mesmos, de nossa impotência verbal. Livros assim, deviam ser distribuídos, não às crianças de escolas, mas aos escritores que tornam inculta a nossa língua. 161
MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 244-245
CARLOS ALBERTO MADEIRA162 16 de março de 1920 # São Paulo, 4 de junho de 1998) Filho de José Francisco Madeira e de D. Juliana da Conceição Madeira. Era casado com a Sra. Maria da Paz Domingues Abreu Madeira. Fez o curso primário no Grupo Escolar Antonio Lobo, curso secundário no Liceu Maranhense, curso de Contabilidade na Escola Técnica de Comércio Centro Caixeiral, concluído em 1950, todos em sua cidade natal. Ingressou posteriormente na Faculdade de Direito de São Luís, conquistando o título de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais no ano de 1956. Desde muito jovem, aos 14 anos, começou a trabalhar como funcionário (telegrafista) da Estrada de Ferro São Luis Teresina (de 1935 a 1943) e depois no Departamento de Correios e Telégrafos, a partir de 15 de dezembro de 1943, permanecendo durante um ano. A seguir, em 15 de dezembro de 1944, ingressou na Panair do Brasil, onde desenvolveu suas atividades até 15 de fevereiro de 1965. Durante o período de abril de 1961 a abril de 1963, integrou o Conselho Consultivo da Fábrica Nacional de Motores. Exerceu a advocacia no Rio de Janeiro, de 1957 a 1965, quando retornou ao Maranhão para assumir o cargo de Assessor Jurídico do Governador, em 1966. Ainda em 1966 ingressou na Magistratura, como Juiz Auditor da Justiça Militar do Estado do Maranhão, sendo, no ano seguinte, nomeado Juiz Federal da Seção Judiciária do Maranhão, da qual foi Juiz Fundador, permanecendo no cargo até 1977. No período compreendido entre abril de 1967 e junho de 1972, atuou como Membro do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Em 1967 foi Membro da Comissão Redatora e Relator do Anteprojeto da Constituição Estadual do Maranhão e da Lei Orgânica dos Municípios, sendo Relator do Anteprojeto da Emenda Constitucional nº 1, de 1969, do Estado do Maranhão. Foi Professor Fundador e Titular da Cadeira de Direito Administrativo da Escola de Administração do Estado do Maranhão, Professor Emérito da Faculdade de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo e Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Maranhão. Como Professor convidado, ministrou aulas de Direito Administrativo, em 1982, na Escola Superior de Administração Fazendária, participando do Curso de Especialização em Direito Civil, para o corpo docente do Ceub, igualmente em Brasília. Por decreto de 6 de dezembro de 1977, foi nomeado para o cargo de Ministro do Tribunal Federal de Recursos, sendo empossado aos 19 dias desse mesmo mês e ano. Escolhido pelo Tribunal Federal de Recursos, participou como Juiz Substituto do Tribunal Superior Eleitoral, a partir de outubro de 1979, passando a Efetivo no biênio 1981-1983. Foi Corregedor-Geral da Justiça Eleitoral, em exercício, de 25 de setembro de 1981 a 17 de dezembro do mesmo ano, e, como titular, de 18 de dezembro de 1981 a 25 de agosto de 1982. Presidiu a Terceira Turma do Tribunal Federal de Recursos, de junho de 1980 a junho de 1985, sendo eleito Vice-Presidente da Corte em junho de 1985, função que desempenhou até setembro do mesmo ano. Nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, por decreto de 4 de setembro de 1985, do Presidente José Sarney, na vaga decorrente da aposentadoria do Ministro Décio Miranda, tomou posse em 19 do mesmo mês. A partir de 1991, passou a desempenhar as funções de Consultor Jurídico do Banco do Estado do Maranhão. Realizou conferências abordando os seguintes temas: “O Supremo Tribunal Federal”, na Universidade Federal do Maranhão (setembro de 1978); “Aspectos da Lei de Execuções Fiscais”, na Associação dos Juízes Federais, em São Paulo (dezembro de 1980), “Direito Civil e Direito Público”, no Centro de Ensino Unificado de Brasília — CEUB (1982) e “Problemas do Mandado de Segurança”, na Associação dos Magistrados do Maranhão (1983). Pertenceu à Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a Cadeira nº 34. Faleceu em São Paulo, em 4 de junho de 1998. Publicou os seguintes trabalhos jurídicos: Conversão dos Atos Jurídicos (1963), Efeitos da Falência nos Contratos de Trabalho (1965) e A Cláusula Escalar e a Segurança dos Contratos.
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MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Alberto_Madeira http://www.stf.jus.br/portal/ministro/verMinistro.asp?periodo=stf&id=24
JUSTO JANSEN FERREIRA
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16 DE MARÇO DE 1864 / 8 DE NOVEMBRO DE 1930 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
NASCEU EM SÃO LUIS EM 16 DE MARÇO DE 1864. FILHO DE TRADICIONAL FAMILIA MARANHENSE, SENDO SEU PAI O MÉDICO JOSÉ JANSEN FERREIRA: RESIDIA NA RUA RIO BRANCO. Formou-se em Medicina na Bahia, onde foi contemporâneo de Nina Rodrigues. Geógrafo, publicista, professor catedrático de Geografia Geral e Corografia do Brasil do Liceu Maranhense e de Física e Química, e Mineralogia da Escola Normal do Maranhão. Lecionou também no Instituto de Humanidades. Fundador da cadeira n. 4 da AML, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Histórico e Geográfico do Ceará, da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, e da Sociedade de Medicina do Paraná. Doutor em Medicina, era socio correspondente de varias sociedades cientificas estrangeiras, como a Sociedade Astronomica de Paris e de Geogrfia de Lisboa. Um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e seu primeiro presidente (12926-1927. Teve assento na cadeira 19 por ele fundada. Com o aumento das casdeiras deste Sodalicio, foi escolhido patrono da cadeuira 30. Na âmbito da geografia, implantou o ensino intuitivo de Geografia Física, administrativa e econômica através de conhecimentos diretos de determinada região habitada pelos alunos, o que orientaria na compreensão geral da geografia. Elaborou Carta Geográfica do Maranhão, Planta geográfica da Ilha de São Luis e Planta da Cidade de São Luis, todas publicadas em Paris em 1903, e nesta caputal em 1912. No governo de Luis Domingues adaptou-as ao ensino do Liceu Maranhense. Foi o sistematizador da cartografia maranhense. Foi um dos fundadores da Escola Onze de Agosto – Socioedade Promotora da Instrução Pública. Com o livro ‘A barra de Tutoia”, estabaleceu os fundamentos teóricos que puseram fim as duvidas sobre os limites a leste entre o Maranhão e o Piaui. Publicou artigos em revistas especalizadas sobre o ensino da Geografia, e a Barra de Tutoia em revista do Norte, de 1901 a 1903. Faleceu em 8 de novembro de 1930, nesta Capital. Bibiografia164 Fragmentos para a Corografia do Maranhão (1901); A Tuberculose (in Revista do Norte, 1902); O ensino da geografia (in Revista do Norte, 1903); a barra da Tutóia (in Revista do Norte, 1903); a proposito da carta geogr´sfica do Maranhão (1904); Breve noticias sobre o ensino da Física, Química e Mineralogia no Maranhão (1907); a viação ferrea no Maranhão (1927); A mulher e o ensino primário (1910); Discurso à professora normalista (1910); Pelo Maranhão (1916); Discurso proferido na sessão inaugural da Academia Maranhense de Letras (1917); A divisória pelo Parnaiba (1921).
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Por Joseth Coutinho Martins de Freitas. IN OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_40_-_mar_o_2012 164 http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/ http://books.google.com.br/books/about/A_barra_da_Tutoya.html?id=L7oEAAAAYAAJ&redir_esc=y
CANDIDO MENDES Para patentear o apanágio de Candido Mendes na política, vou relatar um significativo e nobre gesto, em que, conjuntamente, se lhe delineou a feição moral, austera e até sublime! Discutindo-se, em 1880, no Senado, a cessão que o Piauí fizera ao ceará de dois municípios, em troca do território da amarração, e vindo a ponto a barra da Tutóia, Candido Mendes, baseado a história, no direito e na confiança da da inteireza de caráter e do espírito de justiça do leal adversário, respondendo ao aprte, asseverou que não vacilaria, se surgisse tal pleito em escolher pelo arbítrio o venerando Marques de Paranaguá, eminente estadista do segundo império, à data Senador pelo Piauí. A este eloquente passo, honroso tanto ao nosso representante quanto ao do Piauí, perfeitamente se ajusta a judiciosa observação do notável professor de direito, da faculdade Livre do Rio, o Dr. Lacerda de Almeida, contida nestas palavras: “Candido Mendes foi uma das mais fulgentes glórias do Império, pelo saber, pelo caráter, que era então menos raro do que o saber”. Nesse inolvidável dia, em que, no prélio, se empenharam luminares do senado, ouvido com a costumada atenção, elustrou Candido Mendes o assunto, revelando uma vasta e profunda sabedoria. [...].
JOSÉ NASCIMENTO MORAES
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São Luis / 19 de março de 1882 # 22 de fevereiro de 1958 José do Nascimento Moraes nasceu em São Luis do Maranhão, no dia 19 de março de 1882 e faleceu em 22 de fevereiro de 1958, aos 76 anos. Foi poeta, romancista, cronista, ensaísta e jornalista. Além disso, alcançou os cargos de presidente da Academia Maranhense de Letras e professor do tradicional Liceu Maranhense. Descendente de escravos, Nascimento Moraes lutou, por meio de artigos jornalísticos, muitas vezes publicados sob pseudônimo, contra o mesmo preconceito de cor que precisou superar para obter o reconhecimento profissional e literário. Também em sua literatura, o escritor abordou de maneira crítica a temática do preconceito racial, sendo que seu livro de maior destaque, Vencidos e degenerados, primeiramente publicado no Maranhão em 1915, discute as consequências do 13 de Maio de 1888. Sobre a obra, afirma Manoel de Jesus Barros Martins: O cotidiano de São Luis, subsequente à abolição da escravatura, foi por ele mapeado anatomicamente, analisado sociologicamente e narrado com sagacidade e rigor dialético. Isso permitiu-lhe a montagem de um retrato multifacetado da vida ludovicense, no qual foram gravados com tinta naturalista (...) suas tensões sócio-culturais subjacentes, nuances da atmosfera abafadiça da decadência, reveladoras do desequilíbrio vigente em todo o corpo social tomado como objeto da narrativa. (MARTINS: 2002, 36).
José do Nascimento Moraes casou-se com Ana Augusta Mendes Moraes, com quem teve sete filhos: Nadir, Raimundo, João José, Ápio Cláudio, Talita, Paulo e José Os dois últimos, Paulo Nascimento Moraes e José do Nascimento Moraes Filho, obtiveram reconhecimento como importantes poetas e jornalistas. José do Nascimento Moraes Filho foi, inclusive, responsável pela descoberta e publicação de Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, provavelmente o primeiro romance escrito por uma afrodescendente no Brasil. O autor foi uma grande figura do cenário maranhense do início do século XX, destacando-se por suas obras jornalísticas e literárias, que focavam, sobretudo, a contraposição das questões elitistas e abolicionistas. Lutou contra os conceitos racistas da época, atraindo aliados e inimigos à sua causa. NASCIMENTO DE MORAES em uma crônica que retrata os costumes e ambientes de São Luís em fins do século XIX e início do XX, publicada em 1915, utiliza o termo capoeiragem166: “A polícia é mal vista por lá, a cabroiera dos outros também não é bem recebida e, assim, quando menos se espera, por causa de uma raparigota qualquer, que se faceira e requebra com indivíduo estranho ali, o rolo fecha, a capoeiragem se desenfreia e quem puder que se salve”. (2000, p. 95); em outro trecho da obra de Nascimento de Moraes, em que é mostrada com riqueza de detalhes uma briga, identificada como sendo a capoeira: “Ninguém melhor do que ele vibrava a cabeça, passava a rasteira. Armado de um ‘lenço’ roliço e pesado, espalhava-se com destreza irresistível, como se as suas juntas fossem molas de aço. Força não tinha, mas sabia fugir-se numa escorregadela dos pulsos rijos que avidamente o tentassem segurar no rolo. Torcia-se e retorcia-se, pulava, avançava num salto, recuava ligeiro noutro, dava de braço e pés para a direita e para a esquerda, aparando no ‘lenço’ as pauladas da cabroiera, que o tinha à conta dos curados por feiticeiros de todos os males. Atribuíam-lhe outros, a superioridade na luta, a certos sinais simbólicos feitos em ambos os braços, sinais que Aranha, muito de indústria, escondia ao exame dos curiosos, o que lhe aumentava o valor”.
Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção 165
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nascimento_Moraes http://www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/109/dados.pdf 166 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. ESPORTE & LITERATURA – MARANHÃO.
EUCLIDES FARIAS167 EUCLIDES LUDGERO CORRÊA DE FARIA 23 de março de 1846168 # Belém, 11 de outubro de 1911 ou 26 de março de 1837169 # Belém, 19 de outubro de 1911 Poeta, sobretudo humorista. Colaborador do Jrnal Civilização, onde manteve a seção “Secas e Mecas”, sob o psudonimo de Joaquim de Albuquerque. Famosa a polemica que sustentou com Aluisio Azevedo, sobre O Mulato. Obras: Diversos (1875); Arabescos (1875). Cartas ao comprade Tiburcio (1880); Miscelanea (1882); CVartas a Pai Tobias (1883); Retratos a giz (1866); Brisas da Amazonia (1897); O tacacá (1908). O JABUTI O jabuti mais velho e já caduco, Que não pode mexer-se de canseira, É mais veloz ainda na carreira, Que o paquete chamado Pernambuco. Quem viaja uma vrz nesta maluco Promete não cair mais noutra asneira, A fim de não levar a vida inteira Como siri pra trás, sobre o tijuco. Como se fosse invaliudo perneta, Nunca pode fazer jornada franca, Pela carga, que leva, da muleta. Quem faz uma viagem nesta tranca, Quando msai do Pará com barba preta, Chega ao Maranhgão com a barba branca!
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Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção 168 169
MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DE LITERATURA MARANHENSE. São Luis: SIOGE, 1976. RAMOS, Clovis. ROTEIRO LITERÁRIO DO MARANHÃO: NEOCLÁSSICOS E ROMANTICOS. Niteróis: Clovis Ramos, 2001.
GENTIL HOMEM DE ALMEIDA BRAGA
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25 de Março de 1835 / 25 de Julho de 1876 GENTIL BRAGA ou Flávio Reimar (pseudônimo) nasceu em São Luis, (1834171 ou 1835, conforme a fonte)172 nasceu a 25 de Março de 1835 e faleceu a 25 de Julho de 1876 173. Formou-se em direito na Faculdade de Recife. Foi advogado, lente de retórica e filosofia e deputado provincial de geral. Promotor Público (entre 1855 e 1858) de Codó, Caxias e Alto Mearim (São Luís Gonzaga) 174. Trabalhou com folhetins o que o tornou bastante popular. Entre suas obras literárias destacam-se o “`Parnaso Maranhense”, “Três Liras” e “Entre o Céu e a Terra”, o poema conhecido como Clara Verbana. Em sua residência, Gentil Braga movimentava a sociedade da época com o talento de artistas, poetas e intelectuais da época. É um dos patronos da Academia Maranhense de Letras. OBRAS Sonidos - livro de poemas. Entre o Céu e a Terra - folhetim. A Casca da Caneleira: (steeplechase) romance por uma boa dúzia de Esperanças2 . O ORVALHO175 Nas flores mimosas, nas folhas virentes Da planta, do arbusto, que surge do chão, Reúnem-se as gotas do orvalho nitentes, Tombadas à noite da aérea solidão. . Provindas dos ares, dos astros caídas Em globos argentos de um puro brilhar, Descansam nas flores, às folhas dão vida, Remontam-se aos astros, erguendo-se ao ar. . A luz das estrelas, do vidro mais fino O trêmulo, incerto, brilhante luzir, Não tem maior beleza, fulgor mais divino, Nem pode mais claro, mais belo fulgir. . E o sol, que rutila no manto dourado, Feitura sublime das nuvens do céu, Beijando estas gotas com um beijo inflamado, Desfaz tais prodígios nos beijos que deu. . Quem foi que as vertera, quem foi que as chorara, Quem, límpido orvalho, do céu vos lançou? Quem pôs sobre a terra beleza tão rara? Quem foi que nos ares o orvalho formou? .
Dos anjos, que outrora baixaram da esfera, Morada longínqua dos anjos de Deus, São prantos o orvalho, que amor os vertera, Depois que perdidos volveram-se aos céus. . 170
Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção 171
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gentil_Homem_de_Almeida_Braga http://www.cultura.ufma.br/paginas.php?cod=5 173 http://expressoespoeticasuniversais.blogspot.com.br/2013/07/o-orvalho-por-gentil-homem-de-almeida.html http://www.literaturabrasileira.ufsc.br/autores/?id=12593 174 http://www2.mp.ma.gov.br/memorial/indememorialgaleriapromotpublicoimperio_gentil.asp 175 http://www.jornaldepoesia.jor.br/gbraga01.html http://www.escritas.org/pt/poemas/gentil-braga 172
Baixados à terra, sedentos de amores, Gozaram delícias de um breve durar. Depois em lembrança dos tempos melhores Os anjos à noite costumam chorar. . E o pranto saudoso dos olhos vertido Converte-se em chuva de fino cristal; Procura das flores o cálix querido, Recai sobre as plantas do monte ou do val. . E os anjos sozinhos vagueiam no espaço, Buscando as imagens, que o céu lhes roubou, Seguidos das nuvens, do lúcido traço, Que o brilho das asas trás eles deixou. . E a voz que dos lábios lhes sai suspirante Semelha um queixume pungente de dor. E o ar, que circula girando incessante, Repete os suspiros só filhos do amor. . Em vão tai suspiros, tão tristes endeixas, Pesares tão fundos são todos em vão. Ninguém os escuta; carpidos ou queixas Vai tudo sumido na etérea solidão. . E os anjos, que outrora viveram de amores, Gozaram delícias de extremos sem par, Saudosos relembram seus tempos melhores E tem por consolo seu triste chorar. . E o pranto saudoso dos olhos vertido Converte-se em chuva de fino cristal; Procura das flores o cálix querido, Recai sobre as plantas do monte ou do val.
JORGE ANTÔNIO SOARES LEÃO176 JORGE LEÃO Nasceu em São Luis, 27 de março de 1975, na Rua do Alecrim, em casa de seu avô. Na universidade, como estudante de filosofia, junto com um grupo de amigos, formou o grupo Evoé! de poesia. Atualmente, trabalha como professor de Filosofia do IFMA, Campus Monte Castelo, e participa em um projeto no bairro da Divineia, pelo Movimento Familiar Cristão, com um grupo de crianças e adolescentes, chamado Semeando a Vida. SONETO 1177
Aquele que cultiva a terra repõe o jardim no sertão da mata que gera, em guerra, as aves partindo da mão. Seu vôo, contínuo, refaz o chão pisado por pés rachados, como barco sem cais, sem norte, na vida dos Zés... Tudo, porém, é distante. Nada, contudo, é ausente da terra que volta ao presente. Como nos tempos marcados do santo naquela estante, dos grãos na terra pisados. SONETO 2178
Vejo e tudo o que vejo e revejo é desejo de volta ao arado parado em terra preta. Quando anoitece, mais difícil é pensar em pedras opacas, pois no céu o relampejo reacende a ternura da água, feito trombeta a soar nos ouvidos de quem vive a chorar... Contudo, a chegada da chuva fecunda a tristeza, logo em seguida as crianças acordam, saindo das casas, vencendo a dureza do chão, com úmidos sorrisos, saúdam a tempestade da vida ao som da beleza terrena, a lavar os sonhos que mudam: agora o que vejo é o pasto habitado pelo frescor do arado, agora movido, molhado... SONETO 3179
Eis que chega o que adormece, no encanto cristalino das rosas plantadas no segredo que cresce em silêncio, na espera das prosas ao redor da fogueira, com os olhos contando as lembranças do distante passado voltando. É sentida a hora da dura partida ao além, de inteiro e freqüente plantar na aridez da terra da alma a tortura do calor na ferida. É quente o vestígio na palma 176
Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção 177 178 179
O AGRICULTOR - Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 - 2007 O AGRICULTOR - Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 - 2007 O AGRICULTOR - Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 - 2007
da m達o, que se entrega a lavrar a semente da aurora no doce momento dos sapos cantando ao canto do vento.
SÉRGIO SMITH
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Nasceu em São Luis, no dia 28 de março de 1966. Letras na UFMA. PRISMA OU PARADOXO O horizonte é o espelho do enigmático. A imagem do irreal. O reflexo do inexistente. O amor onipreente. O inicio e o fim do mundo.
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Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção
DANIELLE ADLER NORMANDO
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São Luis – MA – 10 de março de 1974. Reside em São Carlos/São Paulo desde 2001. É graduada em Pedagogia (1996). Autora de várias poesias inéditas e tem participação nas Antologias: Oficina Cadernos de Poesia (21), Rio de Janeiro-RJ, 1993 e I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Maranhão- LATINIDADE, São Luís-MA, 1998 POR UM GRANDE AMOR Suspiraste não por um nome apenas A chama de um grande amor em ti -se fez viva eternamente-... Não pudeste encontrá-lo na vida terrena -é certoMas na tua alma e no tempo perduraram e perduram para sempre... Como esperaste esse amor por toda a tua vida!... Como esperaste com toda calma e desespero que nele cabiam Como esperaste em todas as entrelinhas das tuas dores e alegrias... Ah como o esperaste!... Esperaste até no teu suspiro último de amor Nas águas doces do abraço de Ana Amélia Na última valsa amorosa do impiedoso mar que te tragou Mas amorosamente-quanta ironiapara a imortalidade te levou!
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Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção
MILENA ADLER NORMANDO DE SÁ182 São Luís – MA –01/1976. É formada em Contabilidade. É mãe de João Marcelo e Lara. O AMOR DE GONÇALVES DIAS Ele Amou o seu olhar... A amou à primeira vista Grande alegria!... Porque Ana Amélia o correspondia!!! Por ser mulato não a pode amar ... Seu grande amor se perdeu... não o pode realizar!... Amor eterno, Amor pleno, Amor verdadeiro, ANA AMÉLIA, Esse era o amor do eterno poeta altaneiro!!!
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Onde não consta a autoria da resenha, é de VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ANTOLOGIA LUDOVICENSE, em construção