ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
EDIÇÃO COMEMORATIVA AO PRIMEIRO ANIVERSÁRIO
NÚMERO ATUAL - V. 1, N. 3 2014 SÃO LUIS – MARANHÃO – JULHO A SETEMBRO
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA Leopoldo Gil Dulcio Vaz Presidente Ana Luiza Almeida Ferro André Gonzalez Cruz COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Dilercy Aragão Adler Presidente Aldy Mello de Araújo Antonio José Noberto da Silva Sanatiel de Jesus Pereira CONSELHO EDITORIAL Sanatiel de Jesus Pereira Presidente Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659 Ou Centro de Criatividade Odylo Costa, filho Sala de Multimeios Praça do Projeto Reviver
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrando-se as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com
NOSSA CAPA: Escudo da ALL Foto oficial dos Membros Fundadores no 1º aniversário da ALL
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322
NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro)
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33 DIRETORIA PRESIDENTE VICE PRESIDENTE SECRETARIO GERAL 1º SECRETARIO 2º SECRETARIO 1º TESOUREIRO 2º TESOUREIRO
ROQUE PIRES MACATRÃO DILERCY ARAGÃO ADLER LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ÁLVARO URUBATAN MELO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO CLORES HOLANDA SILVA CONSELHO FISCAL
MEMBRO MEMBRO MEMBRO
ALDY MELLO DE ARAUJO AYMORÉ DE CASTRO ALVIM JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES CONSELHO DOS DECANOS
DECANO CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO
ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938 RAIMUNDO DA COSTA VIANA – 09. 11.1939 CONSELHO EDITORIAL
SANATIEL DE JESUS PEREIRA PRESIDENTE ALDY MELLO DE ARAÚJO DILERCY ARAGÃO ADLER
MEMBROS FUNDADORES E OCUPANTES DAS CADEIRAS CADEIRA 1 PATRONO - Claude d’Abbeville FUNDADOR - Antonio Noberto (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 02 PATRONO - Antônio Vieira FUNDADOR - João Batista Ericeira (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 3 PATRONO - Manuel Odorico Mendes FUNDADOR - Sanatiel de Jesus Pereira (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 4 PATRONO - Francisco Sotero dos Reis FUNDADOR - Antônio Augusto Ribeiro Brandão (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 5 PATRONO - João Francisco Lisboa FUNDADOR - Raimundo Nonato Serra Campos Filho (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 6 PATRONO - Cândido Mendes de Almeida FUNDADOR - Roque Pires Macatrão (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 7 PATRONO - Antônio Gonçalves Dias FUNDADOR - Wilson Pires Ferro (POSSE 14/12/2013) (falecido janeiro 2014) 1º OCUPANTE - vaga CADEIRA 8 PATRONO - Maria Firmina dos Reis FUNDADORA - Dilercy Aragão Adler (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 9 PATRONO - Antônio Henriques Leal 1º OCUPANTE - vaga CADEIRA 10 PATRONO - Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) 1º OCUPANTE - Mario da Silva Luna dos Santos Filho (a tomar posse) CADEIRA 11 – PATRONO - Celso Tertuliano da Cunha Magalhães FUNDADOR - André Gonzalez Cruz (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 12 PATRONO - José Ribeiro do Amaral FUNDADOR - Michel Herbert Alves Florencio (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 13 PATRONO - Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo 1º OCUPANTE - Maria Thereza de Azevedo Neves (a tomar posse)
CADEIRA 14 PATRONO - Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo FUNDADOR - Osmar Gomes dos Santos (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 15 PATRONO - Raimundo da Mota de Azevedo Correia 1º OCUPANTE - Daniel Blume Pereira de Almeida (a tomar posse) CADEIRA 16 PATRONO - Antônio Batista Barbosa de Godois FUNDADOR - Aymoré de Castro Alvim (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 17 PATRONO - Catulo da Paixão Cearense FUNDADOR - Raimundo Gomes Meireles (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 18 PATRONO - Henrique Maximiano Coelho Neto FUNDADOR - Arthur Almada Lima Filho - (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 19 PATRONO - João Dunshee de Abranches Moura FUNDADOR - João Francisco Batalha (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 20 PATRONO - José Pereira da Graça Aranha FUNDADOR - Arquimedes Viegas Vale (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 21 PATRONO - Manuel Fran Paxeco (Fran Paxeco) FUNDDOR - Leopoldo Gil Dulcio Vaz (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 22 PATRONO - José Américo Olímpio Cavalcante dos Albuquerques Maranhão Sobrinho 1º OCUPANTE - vaga CADEIRA 23 PATRONO - Domingos Quadros Barbosa Álvares FUNDADOR - Álvaro Urubatam Mello (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 24 PATRONO - Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho 1º OCUPANTE - vaga CADEIRA 25 PATRONA - Laura Rosa 1º OCUPANTE - vaga CADEIRA 26 PATRONO - Raimundo Corrêa de Araújo 1º OCUPANTE - João Batista Ribeiro Filho (POSSE 06/05/2014) CADEIRA 27 PATRONO - Humberto de Campos Veras FUNDADOR - José de Ribamar Fernandes (POSSE 14/12/2013)
CADEIRA 28 PATRONO - Astolfo Henrique de Barros Serra 1º OCUPANTE - vaga CADEIRA 29 PATRONA - Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello) 1ª OCUPANTE - Eva Maria Nunes Chatel (a tomar posse) CADEIRA 30 PATRONO - Odylo Costa, filho FUNDADORA - Clores Holanda Silva (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 31 PATRONO - Mário Martins Meireles FUNDADORA - Ana Luiza Almeida Ferro (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 32 PATRONO - Josué de Souza Montello FUNDADOR - Aldy Mello de Araujo (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 33 PATRONO - Carlos Orlando Rodrigues de Lima FUNDADOR - Paulo Melo Sousa (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 34 PATRONA - Lucy de Jesus Teixeira 1ª OCUPANTE - Ceres Costa Fernandes (a tomar posse) CADEIRA 35 PATRONO - Domingos Vieira Filho 1º OCUPANTE - vaga CADEIRA 36 PATRONO - João Miguel Mohana FUNDADOR - Raimundo da Costa Viana (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 37 PATRONA - Maria da Conceição Neves Aboud 1º OCUPANTE - vaga CADEIRA 38
PATRONA - Dagmar Destêrro e Silva 1º OCUPANTE - vaga CADEIRA 39 PATRONO - José Tribuzi Pinheiro Gomes (Bandeira Tribuzi) FUNDADOR - Jose Claudio Pavão Santana (POSSE 14/12/2013) CADEIRA 40 PATRONO - José Ribamar Sousa dos Reis 1º OCUPANTE - vaga
SUMÁRIO EXPEDIENTE SUMÁRIO APRESENTAÇÃO CALENDÁRIO 2014 REGIMENTO GERAL ICNOGRAFIA
ELOGIO AO PATRONO AO PENSADOR, COM CARINHO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA Nº 02 da ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, PADRE ANTONIO VIEIRA, proferido pelo Professor JOÃO BATISTA ERICEIRA APRESENTAÇÃO DE DILERCY ARAGÃO ADLER NO DIA DE SEU “ELOGIO AO PATRONO” ANDRÉ GONZALEZ CRUZ ELOGIO À PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense; hoje, uma missão de amor! DILERCY ARAGÃO ADLER HOMENAGEM A MARIA FIRMINA DOS REIS OSVALDO GOMES
ALL NA MÍDIA "O PORTEIRO" Revista italiana Il Convivio, de Poesia, Arte e Cultura, da escritora e poeta maranhense ANA LUIZA ALMEIDA FERRO MEDICINA E RELIGIÃO Conferência na Residência de Psiquiatria / UFMA AYMORÉ ALVIM SOBRE "FORTES LAÇOS” Livro do Prof. ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO; registro na Página oficial da UFMA A POÉTICA DE DILERCY ARAGÃO ADLER, NO PANORAMA DA LITERATURA BRASILEIRA CAMPO DE PERIZES OU DE PERIS? ANTONIO NOBERTO A FRANÇA EQUINOCIAL E SEU LEGADO – PALESTRA – II MOSTRA DE LITERATURA ANTONIO NOBERTO NOTAS EM ‘O IMPARCIAL’ E ‘O ESTADO DO MARANHÃO’ – 1º ANIVERSÁRIO INFLUENCIA MILITAR NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR XIII CONGRESSO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA – 2014: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ MIGUEL HOERHANN - PIONEIRO DA EDUCAÇÃO PHYSICA NO MARANHÃO XIII CONGRESSO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA – 2014: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ FRAN PAXECO – UM DOS PROPUGNADORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO XIII CONGRESSO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA – 2014: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O “CHAUSSON/SAVATE” INFLUENCIOU A CAPOEIRA? XIII CONGRESSO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA – 2014: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... XIII CONGRESSO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA – 2014: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS FOI CELEBRADO NA UFMA MENINOS, EU VI! ANA LUIZA ALMEIDA FERRO NA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS JURÍDICAS O FUNDADOR ESQUECIDO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO AS VELAS DE SÃO LUÍS CERES COSTA FERNANDES
2 8 10 12 13 34 54 55 59 67 70 85 88 89 90 91 92 93 94 95 96 102 109 115 125 133 136 138 139 141
A REFUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS JOÃO BATISTA ERICEIRA LIVRO, ACADEMIA E INCLUSÃO SOCIAL SANATIEL PEREIRA PALESTRA EM LYON ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO
143 145 147
CRONICAS, CONTOS, OPINIÕES. ÉTICA COMO PRÁTICA DA VIDA HUMANA ALDY MELLO UM BISPO PARA SER LEMBRADO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO SÃO JOÃO EM PINHEIRO AYMORÉ ALVIM A SAGA DE JUCA DE HONORATA AYMORÉ ALVIM TEMPOS BONS! AYMORÉ ALVIM E PINHEIRO VIROU VILA AYMORÉ ALVIM PRIMAVERA EM PARIS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO AS JABUTICABAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ PIMENTA NOS OLHOS ARQUIMEDES VALE A PARTIDA DE FUTEBOL AYMORÉ ALVIM GONÇALVES DIAS, SÃO LUÍS E REFERÊNCIAS CULTURAIS ANA MARIA COSTA FELIX
POESIAS MARIA FIRMINA DOS REIS UMA TARDE NO CUMAN NO ÁLBUM DE UMA AMIGA O MEU DESEJO AH! NÃO POSSO SEU NOME AYMORÉ ALVIM QUE DÚVIDA! OS SENTIDOS DA VIDA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO O PORTEIRO ARQUIMEDES VALE MEU TEMPO DILERCY ADLER PSICANALITICAMENTE FALANDO ORAÇÃO DEUS ANA MARIA FELIX GARJAN POEMAS DE AMOR A SÃO LUÍS 402, EM 8 DE SETEMBRO DE 2014 SÃO LUÍS – ILHA ATEMPORAL ALMA DA CIDADE EM MANTRA POÉTICO SINERGIA DO TEMPO EM TI SÃO LUÍS DA HUMANIDADE
150 151 160 162 164 166 168 170 172 175 178 180 197
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203 206 207 208
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APRESENTAÇÃO Merece especial registro a festa de nosso Primeiro Aniversário; festa digna de nosso sodalício, tão bem preparada pelos membros da Comissão de Publicações e Eventos, tendo à frente a Confreira Dilercy Adler.
Tivemos o lançamento de três (03) livros, pelo selo da Editora da ALL: “Perfis Acadêmicos – Fundadores”, organizado por Leopoldo G. D. Vaz; “Mil poemas para Gonçalves Dias - Diário de Viagens”, organizado por Dilercy Aragão Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz; e “Elogio ao Patrono – Maria Firmina dos Reis”, este da Confreira Dilercy Adler. Lançamento feito por ocasião de nossa festa. Sim! Graças ao empenho do Confrade Campos estamos devidamente regularizados: finalmente saiu nosso cadastro junto à Receita Federal – CNPJ. Nosso Alvará de Funcionamento; e aberta nossa conta no Banco do Brasil... Existimos, de direito, e agora de fato... O legado de nosso Confrade Wilson Ferro está registrado, também, no sitio ILHAVIRTUALPONTOCOM - Número 22 - 1º trimestre 2014, inteiramente dedicado a ele; Não incluímos em nossa NA MÍDIA, pois o material ali divulgado já foi publicado em nossas revistas; fica, pois, o registro. Nosso Regimento Interno finalmente foi aprovado; neste número temos a publicação do mesmo, e de hora em diante nos regerá, junto com o Estatuto Social. Nossos parabéns à Comissão, em especial a Confreira Ana Luiza, que a presidiu, e ao Confrade Aldy Mello. Nossa participação na II Mostra da Literatura Maranhense foi um sucesso. Nossa Confreira Ceres Fernandes à frente do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho não mediu esforços para sua execução; e o convite para a participação da ALL como legítima representante do município de São Luis. Ao término da mesma declarou: A ALL participou com brilhantismo da II MOSTRA ESTADUAL DE LITERATURA, realizada nos dias 16 a 19 de agosto de 2014. O estande designado
a esta Academia apresentou uma quantidade significativa de livros, versando sobre literatura e diversas áreas do saber, destacando-se os lançamentos: Em 18/08: - "Interpretação Constitucional: a Teoria Procedimentalista de John Hart"; “Versos e Anversos"; "Quando"; " A Odisseia Ministerial Timbira"; e - "O Náufrago e a Linha do Horizonte". Todos de autoria da escritora Ana Luíza A. Ferro Em 19/08 - "Poesia Feminino: estranha arte de parir palavras", da poeta Dilercy Aragão Adler. Teve lugar também o lançamento dos primeiros volumes publicados pela Editora da ALL, contendo os “Perfis Acadêmicos – Fundadores”, organizado pelo Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz, Secretário Geral; do “Mil Poemas para Gonçalves Dias: Diário de Viagem”, organizado por Dilercy Adler e Leopoldo Vaz; e o “Elogio à Patrona Maria Firmina dos Reis – ontem, uma maranhense; hoje, uma missão de amor!” de Dilercy Aragão Adler. A ALL ainda se destacou, no dia 18/08, com a apresentação da palestra "A França Equinocial e seu Legado", proferida pelo acadêmico Antônio Noberto, apoiado em vasta documentação e que arrancou merecidos aplausos. O Acadêmico Arquimedes Vale proferiu palestra sobre “Literatura minimalista”. A acadêmica e poeta Dilercy Adler participou ativamente das “Intervenções Poéticas”, recitando no sábado, dia 19, poesias de sua lavra, que foram bastante apreciadas. Ceres”
Continuamos com nossa mesopotâmica tarefa de incentivar nossos membros – fundadores e primeiros ocupantes – no cumprimento do ritual de passagem para os quadros, isto é, o pronunciamento do “Elogio ao Patrono” e o “Discurso de Posse”, com a respectiva apresentação. Tarefa ingrata, essa... Marcações e desistências seguem-se rotineiramente... E os prazos se esgotando. Para os Fundadores, já com a prorrogação do segundo tempo, termina em 20 de dezembro; para os primeiros ocupantes, termina em outubro, podendo haver prorrogação por seis meses... Apenas dois dos novos membros se manifestaram... Cumprir-se-ão os prazos? No-lo sabemos... Dois grandes eventos se nos esperam nos próximos meses: as comemorações dos 100 anos de nascimento de Mário Meireles; e os 190 anos de Maria Firmina dos Reis, ambos os Patronos... A serem lançados agora – os projetos de execução – e executados ao longo de 2015. Lembrando que temos, a partir de 2015, a Semana da Literatura da ALL, a ser executada em Julho, conforme aprovado já desde o inicio do ano... Já devemos começar a pensar, também, nesse evento, que fará parte de nosso calendário. Feira do Livro de São Luis – FELIS; Mostra Maranhense de Literatura, são outros dois grandes eventos que já estamos, também, comprometidos em participar... Continuamos com os ‘eternos’ colaboradores: Aldy, Ana Luiza, Aymoré, Brandão, Ceres, Dilercy, Ericeira, Leopoldo, Noberto; juntam-se: Sanatiel, Arquimedes, Ana Maria Felix... Apenas para lembrar que a Revista é aberta a todos os membros para dar vazão às produções – literárias, poéticas, crônicas, historietas, e mesmo artigos de caráter científico, como a crítica literária e outros mais, mister a profissão/ocupação de cada um. LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ EDITOR
CALENDÁRIO DE ELOGIO AO PATRO E POSSE CADEIRA 23 21 32 16 26 02 08 12 20 10 36 11 15 28 01 07 31 19 14 30 13 06 05 04 34 29 03 17 18 27 33 39 09 22 24 25 35 37 38 40
PATRONO
FUNDADOR RITUAL CUMPRIDO Domingos Quadros B. Álvares – Álvaro Urubatan Mello Manuel Fran Paxeco Leopoldo Gil Dulcio Vaz Josué de Souza Montello Aldy Mello de Araujo Antônio B. Barbosa de Godois Aymoré de Castro Alvim Raimundo Corrêa de Araújo João Batista Ribeiro Filho Antônio Vieira João Batista Ericeira Maria Firmina dos Reis Dilercy Adler DATA MARCADA – ALGUNS APENAS O MÊS DEFINIDO José Ribeiro do Amaral Michel Herbert Alves Florencio José Pereira da Graça Aranha Arquimedes Viegas Vale Joaquim de Sousa Andrade Mario da S. Luna dos Santos Filho João Miguel Mohana Raimundo da Costa Viana Celso T. da Cunha Magalhães – André Gonzalez Cruz Raimundo Correia – Daniel Blume Pereira de Almeida Astolfo H. de Barros Serra Sálvio de Jesus de Castro Costa Claude d’Abbeville Antonio Noberto Antônio Gonçalves Dias Wilson Pires Ferro in memoriam Mário Martins Meireles Ana Luiza Almeida Ferro João D. de Abranches Moura João Francisco Batalha Aluísio de Azevedo – Osmar Gomes dos Santos Odylo Costa, filho Clores Holanda Silva Artur de Azevedo Maria Thereza de Azevedo Neves Cândido Mendes de Almeida Roque Pires Macatrão João Francisco Lisboa Raimundo Nonato S. Campos Filho Francisco Sotero dos Reis Antônio Augusto Ribeiro Brandão Lucy de Jesus Teixeira Ceres Costa Fernandes Maria de Lourdes A. Oliver Eva Maria Nunes Chatel AINDA SEM DATA MARCADA – PRAZO: ATÉ 20 DE DEZEMBRO Manuel Odorico Mendes Sanatiel de Jesus Pereira Catulo da Paixão Cearense Raimundo Gomes Meireles Henrique M. Coelho Neto Arthur Almada Lima Filho Humberto de Campos Veras José de Ribamar Fernandes Carlos Orlando R. de Lima Paulo Melo Sousa José Tribuzi Pinheiro Gomes Jose Claudio Pavão Santana CADEIRAS VAGAS – A SEREM PREENCHIDAS NO PRÓXIMO ANO Antônio Henriques Leal vaga José Américo O. C. dos A. vaga Maranhão Sobrinho Manuel Viriato C. B. do Lago F. vaga Laura Rosa vaga Domingos Vieira Filho vaga Maria da Conceição N. Aboud vaga Dagmar Destêrro e Silva vaga José Ribamar Sousa dos Reis vaga
DATA 31/01/2014 31/01/2014 22/02/2014 31/05/2014 06/06/2014 26/07/2014 09/08/2014 24/10/2014 24/10/2014 24/10/2014 25/10/2014 OUTUBRO OUTUBRO OUTUBRO 27/11/2014 27/11/2014 27/11/2014 NOVEMBRO DEZEMBRO 14/12/2014 16/12/2014 19/12/2014 20/12/2014 28/01/2015 FEVEREIRO FEVEREIRO
REGIMENTO INTERNO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS TÍTULO I DO REGIMENTO INTERNO E DE SUA FINALIDADE Art. 1º Este Regimento Interno tem por escopo regulamentar o funcionamento dos órgãos e serviços da Academia Ludovicense de Letras – ALL. Parágrafo único. Sempre que necessário, a Diretoria expedirá normas complementares ao Regimento Interno. TÍTULO II DA ACADEMIA CAPÍTULO I DA SEDE, DO FORO E DA COMPOSIÇÃO Art. 2º A Academia Ludovicense de Letras, cognominada Casa de Maria Firmina dos Reis, tem sede e foro em São Luís, capital do Estado do Maranhão, e foi fundada a 10 de agosto de 2013 por Aldy Mello de Araújo, Álvaro Urubatan Melo, Ana Luiza Almeida Ferro, André Gonzalez Cruz, Antônio Augusto Ribeiro Brandão, Antonio José Noberto da Silva, Arquimedes Viegas Vale, Arthur Almada Lima Filho, Aymoré de Castro Alvim, Clores Holanda Silva, Dilercy Aragão Adler, João Batista Ericeira, João Francisco Batalha, José Cláudio Pavão Santana, José de Ribamar Fernandes, Leopoldo Gil Dulcio Vaz, Michel Herbert Alves Florêncio, Osmar Gomes dos Santos, Paulo Roberto Melo Sousa, Raimundo da Costa Viana, Raimundo Gomes Meireles, Raimundo Nonato Serra Campos Filho, Roque Pires Macatrão, Sanatiel de Jesus Pereira e Wilson Pires Ferro. Art. 3° A Academia é composta por: I – membros efetivos, em número de 40 (quarenta); II – membros honorários, correspondentes e beneméritos, em número ilimitado. Art. 4º Os membros efetivos, denominados Acadêmicos em sentido estrito, os únicos com direito a voto nas sessões da Academia, ocupam as cadeiras do sodalício, em número de 40 (quarenta), as quais são numeradas e identificadas pelo patronato de figuras notórias da vida cultural e literária ludovicense e maranhense, por ordem cronológica de nascimento, já falecidas. Art. 5º Os quadros especificados no art. 3º integram este Regimento e seguem publicados em anexo. CAPÍTULO II DOS FINS Art. 6º Os fins da Academia serão cumpridos mediante as seguintes iniciativas e atividades: I – reuniões mensais dos Acadêmicos; II – reuniões da Diretoria e do Conselho Fiscal; III – sessões solenes destinadas a: a) dar posse a acadêmicos; b) receber personalidades; c) homenagear instituições ou personalidades; d) receber ou entregar honrarias; e) comemorar fatos ou datas de alta relevância cultural; IV – reuniões especiais para a realização de eventos culturais da Academia ou de terceiros, neste caso, mediante pedido formalizado por escrito perante a Diretoria e por esta previamente aprovado;
V – manutenção de: a) programa editorial compreendendo, obrigatoriamente, as publicações oficiais da Academia; b) livraria destinada, prioritariamente, à difusão do livro ou autor maranhense, com destaque para a literatura ludovicense; c) biblioteca, batizada em homenagem ao membro idealizador e fundador Wilson Pires Ferro, reunindo o mais completo acervo de autores ludovicenses; d) arquivo atualizado dos patronos e acadêmicos; e) acervo documental constituído por multimeios; VI – realização de cursos, seminários, simpósios, conferências, palestras, concursos e outras atividades similares; VII – intercâmbio com entidades culturais do Brasil e do exterior, observada a prioridade em relação às sediadas no Maranhão; VIII – organização de um museu literário do Maranhão ou de uma sala memória, com destaque para os autores ludovicenses ou cuja vida ou obra haja sido ou seja intimamente ligada à cidade de São Luís. § 1º Em nenhuma hipótese as dependências da Academia serão cedidas para a realização de atos de natureza político-partidária ou religiosa. § 2º Além das iniciativas e atividades elencadas neste artigo, caberá à Academia adotar e desenvolver todas as demais compatíveis com os seus fins. § 3º A Academia buscará atingir os seus fins utilizando meios e recursos próprios ou obtidos em regime de colaboração ou de subvenção pública. CAPÍTULO III DA CONSTITUIÇÃO E DO FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS Seção I DOS ÓRGÃOS Art. 7º São órgãos da Academia: I – o Plenário; II – a Diretoria; III – o Conselho Fiscal; IV – o Conselho dos Decanos; V – as comissões permanentes e temporárias. Seção II DO PLENÁRIO Art. 8º O Plenário, órgão máximo da Academia, de cunho deliberativo e consultivo, com atribuições de assembleia geral, é composto pela reunião de seus membros efetivos, funcionando sob a forma de sessões. § 1º Os membros efetivos têm direito a voz e ao voto individual. § 2º O Plenário está apto a exercer todas as suas atribuições com a presença, no mínimo, de 10 (dez) membros efetivos, deliberando pela maioria dos votos destes, salvo disposição estatutária ou regimental em contrário. § 3º Quando, na hora estabelecida para o início da sessão, não se haja concretizado o quorum especificado no parágrafo anterior, a sessão será aberta 15 (quinze) minutos depois, desde que presentes, no mínimo, 5 (cinco) membros efetivos, 2 (dois) dos quais, pelo menos, componentes da Diretoria. § 4º Dependendo da matéria, serão computados no número de participantes do Plenário os membros efetivos ausentes que se houverem manifestado, por correspondência ou em sessão, sobre o assunto em pauta. § 5º A competência do Plenário, em decorrência da exigência de quorum, para efeito de deliberação, apresenta a seguinte classificação:
I – absoluta, quando reunida a maioria absoluta dos membros efetivos, os quais poderão, excepcionalmente, fazer-se representar mediante documento conclusivo sobre a matéria a ser discutida e votada; II – relativa, mediante o quorum previsto no § 2º deste artigo; III – restrita, mediante quorum inferior ao do inciso anterior e igual ou superior ao mínimo fixado no § 3º deste artigo. Art. 9º O Plenário reunir-se-á em sessões ordinárias, sessões extraordinárias de trabalho ou sessões extraordinárias públicas. Art. 10. Todas as sessões da Academia realizar-se-ão na sua sede, ressalvados casos excepcionais, assim considerados pela Diretoria. Art. 11. As sessões ordinárias serão realizadas mensalmente, no último sábado útil de cada mês, ou, na hipótese de feriado, no sábado anterior, a partir das 10 horas, independentemente de convocação, salvo na reabertura dos trabalhos, ao término do recesso. § 1º O dia e o horário das sessões ordinárias da Academia poderão ser temporariamente alterados, mediante decisão fundamentada da Diretoria, sujeita à revisão do Plenário. § 2º Não haverá sessões ordinárias nos períodos de recesso e de luto oficial da Academia. § 3º Os períodos de recesso serão anualmente estabelecidos pela Diretoria, recaindo, preferencialmente, entre o final de dezembro e o final de fevereiro. Art. 12. As sessões extraordinárias serão expressamente convocadas, por via eletrônica ou postal, com antecedência que permita aos Acadêmicos tomarem conhecimento dos assuntos que motivaram a sua convocação. § 1º As sessões extraordinárias de trabalho serão convocadas para a apreciação de assunto relevante e de inadiável resolução. § 2º As sessões extraordinárias públicas destinam-se à realização das solenidades de posse de Acadêmicos, recebimento de personalidades, homenagem a instituições ou personalidades, recebimento ou entrega de honrarias e celebração de fatos ou datas de alta relevância cultural. Art. 13. Das sessões ordinárias e extraordinárias de trabalho participarão os membros efetivos e ainda, eventualmente: I – membros honorários, correspondentes e beneméritos, com direito a voz; II – pessoas especialmente convidadas pela Diretoria ou por Acadêmico por esta autorizado. § 1º Apenas os membros efetivos participarão das sessões sigilosas ou da parte delas com tal natureza. § 2º Os participantes das sessões previstas no parágrafo anterior deverão guardar sigilo a respeito dos assuntos nelas tratados; do mesmo modo, as atas respectivas consignarão somente as deliberações adotadas. Art. 14. Havendo quorum, o Presidente ou o seu substituto estatutário declarará aberta a sessão, que, sendo ordinária, terá esta sequência: I – leitura, discussão e votação da ata da sessão anterior; II – leitura, discussão e deliberação sobre a Ordem do Dia; III – leitura: a) das Efemérides Acadêmicas do período compreendido entre a data da sessão e a véspera da sessão seguinte; b) da correspondência recebida e da expedida; IV – apresentação das publicações recebidas e informação sobre as remetidas; V – comunicações do Presidente; VI – apresentação, por membro da Diretoria, de comissões, de outros órgãos ou por Acadêmicos especialmente designados, de relatórios, pareceres ou outros resultados de seus trabalhos.
§ 1º Em seguida será facultada a palavra aos Acadêmicos, que dela farão uso de acordo com a ordem de inscrição e pelo tempo que lhes for concedido, para: I – apresentar proposta, indicação ou requerimento; II – tratar de assunto de interesse administrativo ou institucional da Academia; III – dar notícias, fazer comentários ou apreciações de natureza cultural; IV – apresentar trabalhos literários; V – fazer outras comunicações relevantes. § 2º As intervenções listadas no parágrafo anterior serão, preferencialmente, apresentadas por escrito e lidas por seu signatário ou pelo Acadêmico que lhe represente na tarefa. § 3º É facultado ao Acadêmico falar sentado nas sessões ordinárias e extraordinárias; nas sessões públicas e solenes deve falar da tribuna, com exceção do Presidente, que fala de seu lugar na mesa. § 4º Salvo deliberação em contrário ou nos casos excepcionados, as matérias que dependerem de discussão e votação serão prontamente submetidas ao Plenário, havendo quorum para esse fim. § 5º As matérias que não forem discutidas e votadas na sessão serão automaticamente inscritas para a sessão seguinte, e nesta apreciadas em caráter prioritário. § 6º O Presidente envidará esforços visando designar Acadêmicos ou convidar outras pessoas para apresentarem trabalhos de natureza cultural nas sessões, hipótese na qual estas poderão ter a sua parte inicial abreviada ou suprimida. § 7º As eleições e os assuntos econômico-financeiros terão preferência sobre as demais matérias, bem como, nas discussões, usufruirão preferência os Acadêmicos com inscrição para tratar de idêntico assunto. § 8º É facultado a qualquer Acadêmico solicitar apartes, suscitar questões de ordem, prestar ou pedir esclarecimentos, encaminhar votações, propor a inclusão de assuntos na Ordem do Dia e o encerramento ou adiamento de discussões ou votações. § 9º O encerramento ou adiamento das discussões depende de aprovação do Plenário. § 10. As votações serão simbólicas, nominais ou secretas, adotando-se a primeira forma sempre que o Estatuto, este Regimento ou o Plenário não dispuser em contrário. § 11. Nas votações simbólicas ou nominais, o Presidente apenas votará em caso de empate. Art. 15. Nas sessões extraordinárias de trabalho serão observadas, no que couberem, as prescrições do artigo anterior, desde que não seja vislumbrado prejuízo algum para o alcance dos objetivos de sua convocação. § 1º As sessões mencionadas no caput serão convocadas pelo Presidente, pela maioria da Diretoria ou por, pelo menos, 1/5 (um quinto) dos membros efetivos, mediante circular, por via eletrônica ou postal, que indicará, obrigatoriamente: I – data, local e hora de início dos trabalhos, em primeira e em segunda convocações, com intervalo mínimo de 15 (quinze) minutos; II – finalidade da convocação e resumo preciso dos assuntos a serem tratados. § 2º A convocação será instruída com a íntegra dos documentos a serem discutidos e votados. Art. 16. As sessões extraordinárias públicas terão rito próprio, consoante sua natureza, observado o seguinte, afora outras prescrições estabelecidas no Estatuto, neste Regimento e em manual específico: I – programação prévia e limitada à finalidade da sessão; II – expedição de convites especiais, segundo modelos apresentados no Anexo; III – palavra deferida apenas aos oradores oficialmente designados para a solenidade. Art. 17. Compete ao Plenário, além de outras atribuições prescritas no Estatuto e neste Regimento, o seguinte: I – alterar o Estatuto, inclusive no tocante à administração; II – eleger os membros efetivos; III – aprovar a dissolução da Academia;
IV – destituir, no todo ou em parte, os membros da Diretoria, do Conselho Fiscal ou de outros órgãos; V – eleger ou reeleger os membros da Diretoria, do Conselho Fiscal e das comissões permanentes; VI – aprovar a admissão dos membros honorários, correspondentes e beneméritos; VII – aprovar a exclusão de membros; VIII – autorizar a aquisição ou a alienação, pela Academia, de bens móveis de uso duradouro ou de bens imóveis; IX – decidir, após proposta formal da Diretoria apreciada conclusivamente por comissão para tal fim designada, a respeito de alienações, contratos, ajustes, aceitação de doações com ônus e quaisquer outros encargos da Academia; X – decidir sobre a aceitação, pela Academia, de auxílios, doações e legados, bem como encargos de natureza cultural; XI – apreciar e aprovar a programação anual de atividades da Academia; XII – aprovar as contas; XIII – exercer outras atribuições, em matérias expressamente avocadas ou submetidas pela Diretoria à sua apreciação e pronunciamento; XIV – decidir sobre todas as matérias que lhe sejam submetidas, por convocação promovida por, pelo menos, 1/5 (um quinto) dos membros efetivos; XV – discutir e aprovar as atas das suas sessões; XVI – conhecer da correspondência e das publicações recebidas e expedidas. § 1º No caso dos incisos I a IV, a competência do Plenário é absoluta; no dos incisos V a XIV, relativa; e no dos incisos XV e XVI, restrita. § 2º No caso dos incisos I a XV, a competência do Plenário é privativa. Seção III DA DIRETORIA Art. 18. A Diretoria é órgão executivo, deliberativo e, subsidiariamente, consultivo. Parágrafo único. A Diretoria será eleita em sessão do Plenário, por voto secreto ou, excepcionalmente, conforme o caso, por aclamação, para mandato de 2 (dois) anos, podendo ser reeleita, individual ou coletivamente. Art. 19. A Diretoria da Academia será composta por: I – Presidente; II – Vice-Presidente; III – Secretário-Geral; IV – 1º Secretário; V – 2º Secretário; VI – 1º Tesoureiro; VII – 2º Tesoureiro. Art. 20. A administração geral da Academia é de responsabilidade da Diretoria e será exercida consoante disposto no Estatuto e neste Regimento. Art. 21. A Diretoria reunir-se-á periodicamente, com o mínimo de 3 (três) de seus membros, passando a deliberar com a presença da maioria absoluta. § 1º As reuniões da Diretoria serão convocadas pelo Presidente ou pelo mínimo de 3 (três) de seus componentes. § 2º Das reuniões de que cuida este artigo serão lavradas atas. Art. 22. As decisões da Diretoria consistirão em: I – resoluções, redigidas segundo modelo apresentado no Anexo; II – despachos, autorizações, comunicações e outras matérias de expediente.
Art. 23. Em suas faltas ou impedimentos, os membros da Diretoria serão substituídos, sucessivamente, nos seguintes termos: I – o Presidente, pelo Vice-Presidente ou pelo Secretário-Geral; II – o Secretário-Geral, pelo 1º Secretário ou pelo 2º Secretário; III – o 1º Secretário, pelo 2º Secretário; IV – o 1º Tesoureiro, pelo 2º Tesoureiro. § 1º Os substitutos exercerão as funções eventuais cumulativamente com as de seu cargo. § 2º Ocorrendo as hipóteses previstas no caput, por tempo ou em medida que comprometa o bom funcionamento da Academia, serão, por proposta da Diretoria e aprovação do Plenário de competência relativa, designados substitutos interinos. § 3º Qualquer membro da Diretoria poderá solicitar licença de suas funções, por prazo não superior a 60 (sessenta) dias. Art. 24. Vagando algum cargo na Diretoria, observar-se-á o seguinte: I – se a vaga ocorrer antes de concluída a primeira metade do mandato, será eleito pelo Plenário de competência relativa, dentro de 30 (trinta) dias, novo titular do cargo vago, depois de verificada a sucessão, na ordem firmada pelo art. 23, para substituições, exceto se o sucessor natural decidir em contrário; II – se a vaga ocorrer depois de concluída a primeira metade do mandato, a sucessão nos cargos que remanescerem vagos, consoante estabelecido no inciso anterior, será feita por indicação da Diretoria e aprovação do Plenário de competência relativa. § 1º Nas hipóteses dos incisos I e lI, os sucessores finalizarão os mandatos dos sucedidos. § 2º Vagando ao mesmo tempo todos os cargos da Diretoria, assumirá a Presidência da Academia o mais antigo Acadêmico residente em São Luís, que, auxiliado pelos Acadêmicos que designar, promoverá, dentro de 45 (quarenta e cinco) dias, eleições para mandatos integrais. Art. 25. Compete à Diretoria: I – cumprir e fazer cumprir o Estatuto, este Regimento e as demais normas da Academia; II – zelar pelos bens da Academia e promover, de modo permanente, a sua conservação; III – autorizar a admissão e a dispensa de empregados, bem como fixar-lhes a remuneração; IV – expedir atos relativos a: a) emendas ao Regimento Interno; b) normas complementares ao Regimento ou de interpretação deste e do Estatuto; c) criação, extinção ou modificação de órgãos; d) composição e funcionamento de órgãos ou serviços; e) regulamento de concursos e outros eventos; f) criação, características e critérios para concessão de medalhas, condecorações e demais honrarias; g) todas as demais matérias que dependam de regulamentação. Art. 26. O Presidente é o representante legal da Academia, dirigindo-lhe os trabalhos. Art. 27. Compete ao Presidente: I – cumprir e fazer cumprir os preceitos estatutários e regimentais, as demais normas da Academia e as decisões tomadas pela Diretoria e pelo Plenário; II – representar a Academia, seja judicial ou extrajudicialmente, ativa ou passivamente; III – presidir e dirigir as sessões do Plenário e as reuniões da Diretoria, mantendo a ordem dos trabalhos, sendo-lhe facultado fazer advertências, cassar a palavra, suspender ou encerrar as sessões ou reuniões e adotar outras providências que considerar necessárias; IV – convocar as sessões do Plenário, quando dependentes de tal providência, e as reuniões da Diretoria; V – rubricar os livros oficiais; VI – assinar atas, termos, diplomas, certificados, notas e outros documentos oficiais; VII – despachar o expediente e a correspondência da Academia; VIII – aprovar a Ordem do Dia de cada sessão;
IX – designar, por deliberação sua ou da Diretoria, os membros das comissões e de outros órgãos; X – designar Acadêmicos para a representação da Academia em solenidade para a qual tenha sido convidado e para a recepção dos membros efetivos; XI – apresentar, preferencialmente na última sessão de cada ano, o relatório de atividades e o programa dos trabalhos da Academia para o ano seguinte; XII – supervisionar e inspecionar permanentemente os serviços da Academia; XIII – autorizar as despesas extraordinárias, submetendo-as à aprovação prévia ou posterior da Diretoria, ouvido o 1º Tesoureiro; XIV – adotar as demais providências necessárias à administração da Academia. Art. 28. Ao Presidente, além do direito de sufrágio na condição de Acadêmico, é reservado o voto de qualidade, nas deliberações ordinárias. Art. 29. Compete ao Vice-Presidente substituir o Presidente, em suas faltas ou impedimentos, e suceder-lhe, no caso de vaga. Parágrafo único. O Vice-Presidente, além das atribuições que lhe forem expressamente cometidas, auxiliará o Presidente nas missões que este lhe confiar. Art. 30. Compete ao Secretário-Geral: I – substituir o Presidente, nas faltas ou impedimentos deste e do Vice-Presidente; II – suceder ao Presidente ou ao Vice-Presidente, na hipótese de vacância, salvo decisão pessoal em contrário; III – dirigir e superintender os trabalhos da Secretaria, articulando-se, para tal, com os demais Secretários; IV – lavrar as atas e os termos, assim como lê-los em sessão; V – fornecer dados e subsídios para a elaboração de relatórios, pareceres, inventários e outros documentos; VI – facilitar e subsidiar o trabalho das comissões; VII – coletar e organizar as matérias destinadas às publicações oficiais da Academia; VIII – assinar, com o Presidente, atas, diplomas e certificados; IX – comunicar aos candidatos o deferimento ou indeferimento de seus pedidos de inscrição. Art. 31. Compete ao 1º Secretário: I – substituir o Secretário-Geral, em suas faltas ou impedimentos, e suceder-lhe, em caso de vaga, salvo decisão pessoal em contrário; II – auxiliar o Secretário-Geral e desempenhar as atribuições que este lhe delegar; III – manter organizados os arquivos; IV – ler, nas sessões, as Efemérides Acadêmicas; V – ler, em sessão, a correspondência recebida e a expedida; VI – dar conhecimento das publicações recebidas e expedidas; VII – examinar previamente os pedidos de inscrição de candidatos e, sendo o caso, diligenciar no sentido de sua tempestiva regularização; VIII – fazer os registros e anotações de praxe. Art. 32. Compete ao 2º Secretário: I – substituir, em suas faltas ou impedimentos, pela ordem da enumeração, o 1º Secretário ou o Secretário-Geral, e suceder-lhes, na hipótese de vaga, salvo decisão pessoal em contrário; II – auxiliar o 1º Secretário e o Secretário-Geral; III – superintender os trabalhos da Biblioteca Wilson Pires Ferro e dos arquivos em geral ou auxiliar pessoa ou comissão especialmente para tal designada. Art. 33. Compete ao 1º Tesoureiro:
I – dirigir os trabalhos da Tesouraria, tendo, sob sua guarda e administração, os bens e títulos que constituem o patrimônio da Academia, assim como os que lhe venham a ser doados, inclusive para a instituição de prêmios em prol da literatura; II – manter sob sua guarda e supervisão todos os livros, documentos e registros relativos a: a) receita e despesa; b) depósitos, extratos e outros documentos bancários; c) pendências ativas e passivas; d) inventários de bens, controles de estoque e documentos afins ou assemelhados; e) qualquer outra situação que represente ou envolva o patrimônio material ou imaterial da Academia; III – manter permanentemente, atualizado e sob seu controle, tudo quanto se refira à situação econômico-financeira da Academia; IV – receber as contribuições, doações e eventuais rendas da Academia, assinando os recibos e documentos necessários e depositando em banco escolhido pela Diretoria as importâncias sem aplicação imediata, podendo, todavia, manter em caixa quantia razoável para atender às despesas de expediente e outras de pronto pagamento; V – atender, dentro das possibilidades orçamentárias, ao pagamento das despesas autorizadas pela Diretoria ou pelo Presidente, ad referendum da Diretoria, assinando, conjuntamente com o Presidente, os cheques e demais papéis relativos à movimentação de valores; VI – apresentar, encerrado o exercício financeiro, o balanço geral da receita e despesa do ano findo, acompanhado do demonstrativo dos bens e valores que constituam o patrimônio da Academia ou estejam sob sua guarda e administração, devendo a prestação de contas ser submetida, pelo Presidente, à análise do Conselho Fiscal; VII – apresentar, preferencialmente na última sessão do ano, a proposta de orçamento para o exercício seguinte, levando em consideração o programa dos trabalhos da Academia para o ano seguinte; VIII – dar conhecimento à Diretoria e ao Plenário dos assuntos pertinentes às suas atribuições. Art. 34. Compete ao 2º Tesoureiro: I – substituir o 1º Tesoureiro, em suas faltas ou impedimentos, e suceder-lhe em caso de vaga, salvo decisão pessoal em contrário; II – auxiliar o 1º Tesoureiro, consoante por este solicitado, inclusive desempenhando, permanentemente, os encargos que lhe forem cometidos. Seção IV DO CONSELHO FISCAL Art. 35. O Conselho Fiscal é o órgão responsável pela fiscalização da administração financeira e patrimonial da Academia, incumbido do exame e da aprovação preliminar das contas, anualmente, bem como do pronunciamento, mediante provocação, a respeito dos demais assuntos econômico-financeiros da Academia. Art. 36. O Conselho Fiscal, composto por 3 (três) Acadêmicos, será eleito nas mesmas condições da Diretoria, nos termos do art. 18, parágrafo único. Art. 37. O Conselho Fiscal escolherá, entre seus membros, o Presidente, reunindo-se conforme decisão de seus integrantes ou mediante convocação do Presidente da Academia ou da maioria da Diretoria. Art. 38. O quorum para deliberações do Conselho Fiscal é de 2/3 (dois terços). § 1º Nos casos de urgência, não havendo quorum, o Conselho Fiscal poderá escolher, entre os Acadêmicos não componentes da Diretoria, membro ad hoc. § 2º As faltas ou impedimentos de membro do Conselho Fiscal serão supridas por membro interino designado pelo Plenário de competência relativa.
§ 3º Na hipótese de vacância, o Plenário de competência relativa elegerá, dentro de 30 (trinta) dias, novo membro do Conselho Fiscal, conferindo-lhe mandato complementar ao do sucedido. Art. 39. Compete ao Conselho Fiscal exercer as atribuições enumeradas no art. 35, para o que examinará tudo quanto diga respeito à situação econômico-financeira do sodalício, emitindo parecer, especialmente, com periodicidade anual, sobre a prestação de contas da Academia. § 1º O resultado da atuação do Conselho Fiscal será expresso em pareceres conclusivos, após o cumprimento de diligências, se for o caso. § 2º Nenhuma prestação de contas será apreciada pelo Plenário sem o prévio pronunciamento do Conselho Fiscal. Seção V DO CONSELHO DOS DECANOS Art. 40. O Conselho dos Decanos, órgão consultivo, é composto pelos 5 (cinco) membros efetivos mais antigos, a contar das datas de posse. Parágrafo único. Quando mais de um membro efetivo houver tomado posse na mesma data, a precedência caberá ao mais idoso. Art. 41. O Decano da Academia é o Presidente do Conselho dos Decanos e, em suas reuniões, será substituído, por motivo de ausência ou impedimento, pelo mais antigo membro presente. § 1º O quorum para deliberação do Conselho dos Decanos, em suas reuniões, é de, no mínimo, 3 (três) Acadêmicos. § 2º Para perfazer o quorum exigido no parágrafo anterior, serão convocados, na condição de membros ad hoc, pela ordem de antiguidade e disponibilidade de comparecimento, membros efetivos presentes em São Luís. Art. 42. Compete ao Conselho dos Decanos atuar por iniciativa própria ou em atendimento a consultas, emitindo pareceres e outras manifestações, consoante cada caso. Seção VI DAS COMISSÕES E DE OUTROS ÓRGÃOS Art. 43. Além das comissões temporárias, constituídas para a execução de encargos específicos e com prazo determinado de funcionamento, poderão ser criados outros órgãos ou comissões permanentes. § 1º As comissões temporárias serão designadas pelo Presidente e, em situações excepcionais, pela Diretoria. § 2º Além das comissões ou órgãos permanentes referidos neste Regimento, poderão ser criados outros por ato da Diretoria ou do Plenário, no qual se lhes especificará a composição, a forma de provimento, a finalidade, o funcionamento e demais prescrições necessárias. Art. 44. As atribuições das comissões e dos outros órgãos permanentes que vierem a ser criados serão fixadas pelos respectivos atos de criação. Art. 45. As comissões permanentes, integradas por, no mínimo, 3 (três) membros, sob direção de um Presidente, serão eleitas nas mesmas condições da Diretoria, nos termos do art. 18, parágrafo único. Art. 46. A Academia mantém as seguintes comissões permanentes, especializadas em assuntos técnicos: I – Comissão de Bibliografia; II – Comissão de Publicações e Eventos. § 1º À Comissão de Bibliografia, cujo Presidente exerce as funções de Diretor da Biblioteca Wilson Pires Ferro, incumbe:
I – superintender os trabalhos da Biblioteca; II – fazer organizar, semestralmente, a lista de obras importantes recebidas ou adquiridas pela Academia e incorporadas à Biblioteca; III – encaminhar à Biblioteca as obras e publicações destinadas à Academia e colaborar na seleção das que mereçam ser adquiridas. § 2º À Comissão de Publicações e Eventos incumbe: I – preparar e executar as atividades culturais e os eventos da Academia; II – escolher, auxiliada pelo Secretário-Geral e ou pelo 2º Secretário, os trabalhos destinados à publicação na Revista da Academia Ludovicense de Letras, na ALL em Revista e na Antologia da Academia Ludovicense de Letras, bem como os textos a serem incluídos na obra Perfis acadêmicos; III – escolher, auxiliada pelo Secretário-Geral e ou pelo 2º Secretário, outras obras a serem editadas pela Academia; IV – elaborar as notas e os prefácios das publicações da Academia, quando for o caso; V – tratar da publicação e do lançamento da Revista, da ALL em Revista, da Antologia e dos Perfis acadêmicos, entre outras obras. Art. 47. Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis acadêmicos e a Antologia, além da ALL em Revista, esta eletrônica, todas com registro próprio. Art. 48. A Academia organizará, anualmente, um programa de atividades culturais, do qual constem cursos sobre arte e história literária e, em especial, sobre romance, poesia, conto, crônica, ensaio, linguagem e crítica, e ou conferências comemorativas e outras de relevante interesse, a cargo de Acadêmicos ou personalidades convidadas. Art. 49. Em havendo meios, a Academia poderá conceder, anualmente, mediante concurso, prêmios em dinheiro a composições literárias. Seção VII DAS COMPETÊNCIAS EM GERAL Art. 50. Além das competências especificadas no Estatuto, neste Regimento e nas demais normas, os órgãos e mandatários da Academia terão, em caráter residual, todas as competências correspondentes ao âmbito de sua atuação, desde que não sejam específicas de outro mandatário ou instância. TÍTULO III DOS ACADÊMICOS Art. 51. Os acadêmicos eleitos somente serão inscritos nos quadros da Academia e passarão a gozar das prerrogativas que lhes caibam, depois de empossados pessoalmente, em sessão solene, se efetivos, ou de declararem, em carta à Academia, por via postal ou eletrônica, que aceitam a eleição, se correspondentes. § 1º Se assim o desejarem, consoante comunicação ao Presidente, os eleitos para o quadro de membros correspondentes poderão tomar posse em sessão solene, para o que serão respeitados os mesmos prazos e formalidades respeitantes aos membros efetivos, no que for pertinente. § 2º No caso dos acadêmicos honorários e beneméritos, a inscrição nos quadros respectivos da Academia é condicionada tão somente à eleição do indicado. Art. 52. É de 6 (seis) meses o prazo para a posse ou o recebimento da carta de aceitação da eleição, a contar da data da comunicação de que cuidam os artigos 82, § 1º, e 83, parágrafo único.
§ 1º Na hipótese de força maior devidamente comprovada, poderá o prazo de posse ser prorrogado por até 6 (seis) meses, em razão de pedido formal aprovado pelo Plenário de competência relativa. § 2º Expirados os prazos estabelecidos neste artigo, sem verificação da posse ou do recebimento da carta de aceitação da eleição, o Presidente comunicará o fato na primeira sessão ordinária que se realizar, declarando, imediatamente, que a cadeira permanece vaga e que se acham reabertas as inscrições de candidatos para nova eleição, no caso do quadro de membros efetivos, ou que o acadêmico eleito como membro correspondente deixou de preencher o requisito final para a sua inscrição no quadro respectivo da Academia. Art. 53. Ao ser empossado, o novo acadêmico, do quadro de membros efetivos, deverá evocar resumidamente os seus antecessores e discorrer, obrigatoriamente, sobre a personalidade e a obra do patrono de sua Cadeira e de seu antecessor imediato, em discurso escrito e previamente encaminhado à Diretoria, que sobre ele poderá manifestar-se até 3 (três) dias antes da data designada para a solenidade, assim o exigindo os interesses do sodalício. Art. 54. Ao ser empossado, o novo acadêmico, do quadro de membros correspondentes, deverá discorrer, obrigatoriamente, sobre a personalidade e a obra de uma figura destacada da vida cultural e literária ludovicense e maranhense, em discurso escrito e previamente encaminhado à Diretoria, que sobre ele poderá manifestar-se até 3 (três) dias antes da data designada para a solenidade, assim o exigindo os interesses do sodalício. Parágrafo único. A figura notória da vida cultural e literária ludovicense e maranhense deverá ser escolhida em sessão anterior do Plenário da Academia. Art. 55. Nas solenidades de posse será observado o seguinte: I – composição da Mesa, com reserva de lugares ao empossando e aos convidados especiais que dela participarão; II – designação de comissão integrada por três Acadêmicos que acompanharão ao recinto o empossando e, por derradeiro, o convidado que seja chefe de Estado ou alto dignitário; III – abertura oficial da solenidade e sucinta informação a respeito de seus fins; IV – concessão da palavra ao empossando, para proferir seu discurso da tribuna; V – declaração de que o novo acadêmico está empossado; VI – aposição das insígnias acadêmicas; VII – entrega do Diploma de Acadêmico; VIII – concessão da palavra ao acadêmico que, em nome da Academia, saudará o empossado, em discurso escrito sobre a sua personalidade e obra; IX – leitura do Termo de Posse, que será assinado pelo Presidente, pelo empossado e pelo 1º Secretário; X – encerramento da solenidade. Art. 56. Os membros da Academia, depois de devidamente empossados, poderão declarar tal condição nos trabalhos que publicarem, bem como portarão o distintivo de lapela e, nas solenidades da Academia, o Colar Acadêmico. Parágrafo único. Enquanto não empossados, os eleitos poderão participar das sessões, observadas as restrições do art. 13, I e § 1º. Art. 57. Nas reuniões da Academia, privadas ou públicas, será dado aos acadêmicos o tratamento de Senhor(a) ou Vossa Excelência. Art. 58. O Colar Acadêmico é privativo do membro efetivo e de uso obrigatório nas solenidades promovidas pela Academia. Parágrafo único. O membro efetivo também poderá usar o Colar nos atos solenes promovidos pelas Academias afiliadas. Art. 59. A joia de admissão de membro efetivo deverá ser quitada antes da posse.
Art. 60. O Presidente baixará ato decretando luto oficial da Academia durante: I – oito dias, pelo falecimento de membro efetivo; II – três dias, pelo falecimento de membro honorário, correspondente ou benemérito. Parágrafo único Salvo decisão em contrário dos familiares, o acadêmico falecido será velado no Salão Nobre da Academia, de onde, após a cerimônia de despedida, o ataúde sairá coberto pela bandeira da Instituição, para sepultamento. Art. 61. É perpétuo o título de acadêmico. § 1º Na hipótese de pedido de desligamento de qualquer acadêmico, obrigatoriamente formalizado em documento dirigido ao Presidente da Academia, este tomará conhecimento oficial do fato, comunicando a efetivação da exclusão ao Plenário e ao demissionário, ao mesmo tempo em que providenciará a abertura de inscrições para candidatos à cadeira vaga, no caso de membro efetivo. § 2º O acadêmico que se demitir não mais será admitido como candidato. Art. 62. Será excluído da Academia, por justa causa, mediante deliberação fundamentada em sessão extraordinária do Plenário, convocada especificamente para esse fim, assegurado direito de defesa e de recurso, o membro que venha a descumprir reiteradamente norma(s) estatutária(s) ou regimental(is), causar prejuízo moral ou material para a instituição, praticar, fora do âmbito da Academia, ato maculador de sua idoneidade moral ou conceito social ou ser condenado pela prática de crime ou improbidade administrativa em sentença judicial transitada em julgado, considerando-se excluído pela verificação de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos votos dos Acadêmicos. TÍTULO IV DAS ELEIÇÕES CAPÍTULO I DAS NORMAS GERAIS Art. 63. As eleições da Academia, de que participarão todos os membros efetivos, poderão realizar-se em até 3 (três) escrutínios. § 1º Não sendo obtidos os votos exigidos para eleição em primeiro escrutínio, os escrutínios seguintes serão realizados imediatamente. § 2º Quando, realizados os 3 (três) escrutínios, não forem obtidos os votos necessários à eleição, haverá reabertura de prazo para inscrição de candidatos e realização de novo pleito, permitida nova inscrição de não eleitos para a mesma vaga. Art. 64. Sendo ímpar o número de membros efetivos, a maioria absoluta corresponderá à metade do número imediatamente superior àquele. Art. 65. Na impossibilidade de comparecimento pessoal, os Acadêmicos poderão votar por correspondência. § 1º Os votos, em 3 (três) escrutínios, serão sempre pessoais e secretos, sob pena de nulidade. § 2º Os votos por correspondência serão postos na urna antes de serem tomados os votos dos Acadêmicos presentes. Art. 66. As eleições serão convocadas com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, mediante edital divulgado por via eletrônica ou postal, dirigido a todos os Acadêmicos, acompanhado de: I – informações precisas sobre data e horário de início do sufrágio; II – documentos e formulários referentes à votação. § 1º O edital poderá também ser divulgado em jornal, procedimento esse obrigatório no caso das eleições dos membros efetivos. § 2º Salvo em circunstâncias excepcionais, assim reconhecidas pela Diretoria, as eleições darse-ão no curso de sessões ordinárias.
Art. 67. Na data e horário estabelecidos, após aberta a sessão, e examinados os assuntos inadiáveis ou urgentes, passar-se-á à parte especial dos trabalhos destinada à eleição. § 1º Depois de declarar que a sessão passa a funcionar como órgão eleitoral, o Presidente designará dois Acadêmicos para comporem a Comissão Escrutinadora, à qual compete conduzir a votação, apurar os votos e anunciar os resultados, guardados os seguintes procedimentos: a) conferência e anotação dos votos enviados por correspondência; b) abertura das sobrecartas, rubrica e colocação, na urna, das cédulas referentes ao escrutínio; c) chamada nominal, por ordem alfabética, dos acadêmicos presentes, aos quais será entregue, devidamente rubricada, a cédula correspondente ao escrutínio. § 2º Os membros da Comissão Escrutinadora serão os últimos a votar. § 3º Encerrada a votação, a Comissão Escrutinadora fará a apuração, mediante a leitura dos votos, cédula a cédula, e divulgará o resultado obtido. § 4º As cédulas de cada escrutínio concluído e apurado serão incineradas pelo Presidente, na presença de todos. § 5º A cada eleição corresponderá um Mapa de Votação e Apuração, composto consoante modelo apresentado no Anexo. § 6º Conhecido o resultado final da eleição, o Presidente proclamará os eleitos ou convocará nova eleição, adotando, para tal escopo, as providências necessárias. Art. 68. Os prazos relativos às eleições da Academia não fluirão durante o período de recesso.
CAPÍTULO II DAS ELEIÇÕES DA DIRETORIA, DO CONSELHO FISCAL E DAS COMISSÕES PERMANENTES Art. 69. A Diretoria e o Conselho Fiscal serão eleitos, preferencialmente, na penúltima sessão ordinária do ano imediatamente anterior ao do término dos mandatos em curso. Parágrafo único. Os membros da Diretoria e do Conselho Fiscal poderão ser reeleitos individual ou coletivamente. Art. 70. A convocação de que cuida o art. 66 mencionará todos os candidatos à Diretoria e ao Conselho Fiscal que se houverem apresentado, opportuno tempore, coletiva ou isoladamente, mediante comunicação escrita, lida em sessão ordinária e devidamente consignada em ata. § 1º Cabe aos candidatos que se apresentarem posteriormente à convocação das eleições para a Diretoria e o Conselho Fiscal dar conhecimento desse fato aos Acadêmicos, depois da devida comunicação à Diretoria. § 2º Até antes de formalmente iniciadas as eleições, será admitida a apresentação de candidaturas isoladas ou coletivas. Art. 71. Serão proclamados eleitos ou reeleitos os candidatos à Diretoria e ao Conselho Fiscal que obtiverem os votos: I – da maioria absoluta dos membros efetivos, no primeiro escrutínio; II – da maioria simples dos votantes, no segundo ou no terceiro escrutínio. Parágrafo único. Quando, no primeiro escrutínio, não for alcançado o quorum exigido, apenas passarão aos escrutínios seguintes os 2 (dois) concorrentes mais votados. Art. 72. Na hipótese de chapa única de candidatos, as eleições para a Diretoria e o Conselho Fiscal serão realizadas por aclamação dos Acadêmicos presentes, desde que não haja oposição fundamentada ao procedimento e que seja preenchido o requisito do quorum.
Art. 73. Os membros da Diretoria e do Conselho Fiscal somente poderão ser destituídos pelo voto expresso, pessoalmente ou por escrito, da maioria absoluta dos membros efetivos, em sessão extraordinária do Plenário, convocada especificamente para esse fim, com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, garantido a 1/5 (um quinto) dos membros efetivos o direito de promover tal convocação. Art. 74. A eleição para as comissões permanentes deverá coincidir com as eleições para a Diretoria e o Conselho Fiscal. CAPÍTULO III DAS ELEIÇÕES DOS ACADÊMICOS Art. 75. Ocorrendo vaga na categoria de membros efetivos, o Presidente comunicará oficialmente o fato na primeira reunião que se realizar e, após declarar vaga a cadeira, estabelecerá o prazo de 30 (trinta) dias para apresentação de candidaturas. Art. 76. A formalização de candidaturas obedecerá ao seguinte: I – para candidatos a membro efetivo, o envio de: a) carta dirigida ao Presidente, solicitando-lhe inscrição como candidato à cadeira vaga; b) curriculum vitae ou síntese curricular, com destaque para a sua bibliografia; c) exemplares dos livros e de quaisquer outros trabalhos de que o candidato seja autor, coautor, colaborador, organizador, tradutor ou editor, apresentados em caráter de doação à Biblioteca Wilson Pires Ferro; d) declaração, nos termos do Modelo X, incluído no Anexo, de que conhece as normas e demais preceitos da Academia, e de que se compromete a observá-los fielmente; e) juntada de comprovação de residência na ilha de São Luís há, pelo menos, 10 (dez) anos ininterruptos, na hipótese de o candidato não ser ludovicense; II – para candidatos a membro honorário ou correspondente, o envio de: a) proposta dirigida ao Presidente, instruída de justificativa e subscrita por, no mínimo, 2 (dois) membros efetivos; b) curriculum vitae ou síntese curricular, com destaque para a bibliografia do candidato; c) exemplares da produção cultural e literária do proposto, apresentados em caráter de doação à Biblioteca Wilson Pires Ferro; III – para candidatos a membro honorário pertencentes ao quadro de membros efetivos, o envio de proposta dirigida ao Presidente, instruída de justificativa nos termos do § 2º e subscrita por, no mínimo, 2 (dois) membros efetivos; IV – para candidatos a membro benemérito, o envio de proposta dirigida ao Presidente, instruída de justificativa e subscrita por, no mínimo, 2 (dois) membros efetivos. § 1º A inscrição do candidato a membro efetivo pode ser feita pessoalmente ou mediante procurador devidamente habilitado, não componente do quadro associativo. § 2º Poderão migrar para a categoria de membros honorários os membros efetivos com mais de 25 (vinte e cinco) anos de serviços prestados à Academia ou com mais de 80 (oitenta) anos de idade. § 3º A indicação do membro honorário que recaia sobre um membro efetivo ou do membro correspondente deverá estar instruída, além do já mencionado nos incisos II e III, com a expressa manifestação de vontade do proposto. § 4º A proposta de concessão do título de membro benemérito poderá ser formulada pela Diretoria. Art. 77. São condições de elegibilidade para membro efetivo da Academia: I – ser ludovicense ou, não o sendo, ter, no mínimo, 10 (dez) anos ininterruptos de residência na ilha de São Luís; II – exercer notória atividade literária ou de relevante valor cultural; III – haver publicado, no mínimo, um livro de reconhecido valor literário ou científico.
Art. 78. É condição de elegibilidade para membro honorário ser brasileiro ou estrangeiro de notável merecimento cultural, revelando, em obras de cunho literário ou científico, ou ainda em suas atividades profissionais, apreciável interesse pela vida intelectual de São Luís. Art. 79. É condição de elegibilidade para membro correspondente ser profissional de reconhecido mérito no campo literário ou científico, nacional ou estrangeiro, não residente na ilha de São Luís. Parágrafo único. O membro em questão deve ainda preencher os requisitos ínsitos no art. 77, II e III. Art. 80. É condição de elegibilidade para membro benemérito haver prestado relevantes serviços à Academia. Art. 81. As cartas e as propostas de inscrição de candidatos, acompanhadas, obrigatoriamente, das peças especificadas no art. 76, serão entregues, mediante recibo, na Secretaria da Academia, até o final do expediente do último dia do prazo para tal assinalado. Art. 82. Encerrado o prazo para apresentação de candidaturas, o Presidente, na primeira sessão ordinária que se realizar, dará conhecimento aos presentes dos pedidos formalizados e dos despachos de admissibilidade proferidos. § 1º Na hipótese de o Presidente entender que algum pedido ou proposta de inscrição não preenche as condições de admissibilidade, exporá, circunstanciadamente, suas razões ao Plenário, que sobre o assunto decidirá, em caráter irrecorrível. § 2º Sobre os candidatos inscritos pronunciar-se-á uma Comissão Especial, designada pelo Presidente, na primeira sessão realizada após a expiração do prazo para apresentação de candidaturas. § 3º A Comissão a que alude o parágrafo anterior, integrada por 3 (três) membros, que entre si escolherão o Presidente, o Secretário e o Relator, apresentará, em até 30 (trinta) dias contados de sua designação, Parecer Informativo sobre os candidatos. § 4º Redigido em termos objetivos e com o máximo de informações a respeito dos candidatos, o Parecer Informativo dirá se eles preenchem as condições de elegibilidade exigidas pelo Estatuto e por este Regimento, não podendo emitir juízo de valor, sob pena de rejeição liminar. § 5º O Parecer Informativo será lido em sessão e, se aprovado pelo Plenário, encaminhado aos Acadêmicos, juntamente com todo o material referente à eleição, que se realizará em prazo não inferior a 30 (trinta) dias contados dessa data. § 6º Não sendo aprovado o Parecer Informativo, o Presidente da Academia designará imediatamente nova Comissão Especial para emiti-lo, no prazo máximo de 15 (quinze) dias. § 7º O Presidente da Academia, por ato expresso e fundamentado, declarará extinto o processo sucessório em curso e abrirá outro, com os mesmos prazos e formalidades, caso todos os candidatos não tiverem seus pedidos ou propostas de inscrição admitidos ou suas condições de elegibilidade reconhecidas. Art. 83. Será proclamado eleito o candidato a membro efetivo que obtiver os votos: I – da maioria absoluta dos membros efetivos, no primeiro escrutínio; II – da maioria absoluta dos votantes, no segundo ou terceiro escrutínio, apenas possíveis entre os 2 (dois) candidatos anteriormente mais votados, desde que o número de participantes do sufrágio represente, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos membros efetivos. § 1º Apurada a eleição e alcançado o quorum exigido, o Presidente proclamará o eleito, fato do qual lhe dará imediato conhecimento. § 2º Na primeira sessão seguinte à da eleição de novo Acadêmico, ouvido este, o Presidente designará o membro efetivo que saudará o eleito na solenidade de sua posse. Art. 84. A eleição dos membros honorários, correspondentes e beneméritos é realizada em sessão do Plenário, com a presença, no mínimo, de 10 (dez) membros efetivos, considerando-se aprovada a indicação que obtiver, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos votos dos Acadêmicos.
Parágrafo único. Finda a apuração, o Presidente, se for o caso, proclamará o eleito, fato do qual lhe dará conhecimento o mais brevemente possível. Art. 85. Será enviado ao membro honorário eleito, por ofício, o diploma a que faz jus. Parágrafo único. Ao ensejo de sua primeira visita à Academia, será o membro em questão recebido em sessão especial, ocasião em que será saudado por Acadêmico indicado pelo Presidente. Art. 86. Optando o novo membro correspondente, na sua carta de aceitação da eleição, por não tomar posse em sessão solene, ser-lhe-á enviado, por ofício, o diploma a que faz jus. Parágrafo único. Ao ensejo de sua primeira visita à Academia, será o membro em questão recebido em sessão especial, nos mesmos termos do art. 85. Art. 87. No caso do membro benemérito, aprovada a proposta, dar-se-á a este, por escrito, conhecimento da concessão do título, cujo diploma ser-lhe-á entregue em sessão solene, em data com ele acordada pelo Presidente, cuja realização deverá ocorrer, no prazo, prorrogável por igual tempo, de 6 (seis) meses, a contar da sessão em que o título haja sido concedido. § 1º Na sessão solene, o agraciado será saudado pelo Acadêmico designado pelo Presidente, sendo-lhe facultada a palavra, após a entrega do diploma correspondente. § 2º Nas sessões solenes de entrega do título de membro benemérito, observar-se-ão, no que couber, as formalidades atinentes às sessões de posse de membro titular. Art. 88. Caso a proposta para membro honorário, correspondente ou benemérito não mereça acolhida na sessão da Academia, o decidido não será divulgado externamente. Art. 89. Aos membros honorários, correspondentes e beneméritos é facultado comparecer às sessões da Academia, podendo usar da palavra, sem, contudo, ter direito a voto. Art. 90. Rejeitado o candidato a membro honorário, correspondente ou benemérito, somente 5 (cinco) anos depois poderá ser ele novamente proposto para o mesmo quadro. TÍTULO V DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 91. A Academia possui, como símbolos: brasão, bandeira, ex-líbris, carimbo e selo, consoante modelos descritos e reproduzidos no Anexo deste Regimento. Parágrafo único. A Diretoria e a Presidência poderão adotar bandeiras ou insígnias, de conformidade com resolução que as instituir. Art. 92. A Academia somente se fará representar em solenidades oficiais e nos atos de caráter cultural ou científico. Art. 93. A Academia manterá, em sua sede, galerias de retratos dos Patronos, dos Fundadores e dos Presidentes, todos devidamente identificados. § 1º Poderão também ser colocados nas dependências da Academia placas, retratos, medalhões e outras peças alusivas a fatos ou vultos notórios da cultura e da literatura, bem como a instituições e pessoas declaradas benfeitoras da Academia, por ato da Diretoria. § 2º É vedado dar a espaços da Academia nome de pessoas vivas. Art. 94. A Biblioteca Wilson Pires Ferro e o Arquivo dos Patronos e Acadêmicos terão regimentos próprios, se assim decidir a Diretoria, e funcionarão em consonância com os seguintes princípios: I - registro, conservação e catalogação dos acervos; II - organização e publicação de catálogos;
III - acesso à consulta e à pesquisa. § 1º A Biblioteca Wilson Pires Ferro, destinada, precipuamente, a reunir e manter o acervo bibliográfico ludovicense mais completo possível, terá estas coleções, além de outras que venham a ser organizadas: a) de Referência; b) de Livros de Arte; c) de Obras Raras. § 2º As consultas e pesquisas dar-se-ão no local da Biblioteca, mediante prévio preenchimento de formulário específico. § 3º Somente aos Acadêmicos poderão ser emprestadas obras, excluídas as classificadas como raridades bibliográficas, e observado o seguinte: a) preenchimento do formulário de solicitação de empréstimo; b) devolução do livro no prazo fixado, que não pode ser superior a 20 (vinte) dias, admitida uma prorrogação por igual prazo, desde que inexista registro de solicitação de pesquisa naquela obra, formulada por outrem; c) reposição da obra eventualmente extraviada ou, sendo isso impossível, indenização justa, sob a modalidade de doação de livros ou pagamento em dinheiro. § 4º O Arquivo dos Patronos e Acadêmicos e os demais que forem criados adotarão, no que for cabível, as prescrições relativas à Biblioteca Wilson Pires Ferro, salvo no tocante a empréstimos, vedados em qualquer hipótese. Art. 95. No caso de dissolução da Academia, o remanescente do seu patrimônio líquido será destinado a instituição pública ou privada municipal ou estadual, de fins culturais, escolhida em deliberação dos membros efetivos. Art. 96. A reforma deste Regimento, de competência da Diretoria, poderá ser proposta por qualquer membro efetivo. § 1º A proposta de que cuida este artigo, instruída com justificativa e texto do projeto de reforma, será apreciada pela Diretoria, que, se a admitir como objeto de discussão, designará Comissão para, no prazo de 30 (trinta) dias, emitir parecer preliminar. § 2º A proposta e o parecer preliminar serão encaminhados a todos os membros efetivos, que terão 30 (trinta) dias para apresentação de sugestões a respeito. § 3º A Comissão referida no § 1º apreciará todas as sugestões recebidas e, em até 90 (noventa) dias contados de sua constituição, apresentará à Diretoria seu parecer final e conclusivo. § 4º Somente pelo voto de, no mínimo, 2/3 (dois terços) da Diretoria será o Regimento Interno alterado. § 5º Nenhuma parte deste Regimento que reproduza uma norma do Estatuto ou expresse uma decisão anterior do Plenário poderá ser alterada por simples ato da Diretoria. Art. 97. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria e submetidos ao referendo do Plenário de competência relativa. § 1º Caso julgue conveniente, a Diretoria da Academia poderá previamente consultar o Plenário de competência relativa e ou o Conselho dos Decanos sobre esses casos. § 2º A Diretoria da Academia, caso considere pertinente, poderá baixar normas complementares a propósito desses casos. Art. 98. O presente Regimento entrará em vigor na data de seu registro em cartório. Roque Pires Macatrão Presidente da ALL Leopoldo Gil Dulcio Vaz Secretário-Geral Membro da Comissão de Elaboração do Regimento Interno
Ana Luiza Almeida Ferro 2ª Secretária Presidente da Comissão de Elaboração do Regimento Interno Aldy Mello de Araújo Membro da Comissão de Elaboração do Regimento Interno QUADRO DOS PATRONOS E MEMBROS EFETIVOS Cad. 1 2 3 4 5
Patronos CLAUDE D’ABBEVILLE (Frei) ANTÔNIO VIEIRA (Padre) Manuel ODORICO MENDES Francisco SOTERO DOS REIS JOÃO Francisco LISBOA
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CÂNDIDO MENDES de Almeida Antônio GONÇALVES DIAS MARIA FIRMINA DOS REIS Antônio HENRIQUES LEAL SOUSÂNDRADE (Joaquim de Sousa Andrade) CELSO Tertuliano da Cunha MAGALHÃES José RIBEIRO DO AMARAL ARTUR Nabantino Gonçalves de AZEVEDO ALUÍSIO Tancredo Gonçalves de AZEVEDO RAIMUNDO da Mota de Azevedo CORREIA Antônio Batista BARBOSA DE GODOIS CATULO DA PAIXÃO Cearense Henrique Maximiano COELHO NETO João DUNSHEE DE ABRANCHES Moura José Pereira da GRAÇA ARANHA FRAN PAXECO (Manuel Francisco Pacheco) José Américo Olímpio Cavalcante dos Albuquerques MARANHÃO SOBRINHO DOMINGOS Quadros BARBOSA Álvares Manuel VIRIATO CORRÊA Baima do Lago Filho LAURA ROSA Raimundo CORRÊA DE ARAÚJO HUMBERTO DE CAMPOS Veras
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Fundadores Antonio José Noberto da Silva João Batista Ericeira Sanatiel de Jesus Pereira Antônio Augusto Ribeiro Brandão Raimundo Nonato Serra Campos Filho Roque Pires Macatrão Wilson Pires Ferro Dilercy Aragão Adler
Acadêmicos atuais Antonio José Noberto da Silva João Batista Ericeira Sanatiel de Jesus Pereira Antônio Augusto Ribeiro Brandão Raimundo Nonato Serra Campos Filho Roque Pires Macatrão 1
Dilercy Aragão Adler 2
André Gonzalez Cruz
André Gonzalez Cruz
Michel Herbert Alves Florêncio
Michel Herbert Alves Florêncio 3
Osmar Gomes dos Santos
Osmar Gomes dos Santos 4
Aymoré de Castro Alvim
Aymoré de Castro Alvim
Raimundo Gomes Meireles Arthur Almada Lima Filho
Raimundo Gomes Meireles Arthur Almada Lima Filho
João Francisco Batalha
João Francisco Batalha
Arquimedes Viegas Vale
Arquimedes Viegas Vale
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Álvaro Urubatan Melo
Álvaro Urubatan Melo
João Batista Ribeiro Filho5 José de Ribamar Fernandes
José de Ribamar Fernandes
Wilson Pires Ferro, membro fundador e primeiro ocupante desta Cadeira, faleceu em 20 de janeiro de 2014. 2 Mario da Silva Luna dos Santos Filho, indicado pelo membro fundador Arquimedes Viegas Vale, foi eleito para esta Cadeira na sessão do Plenário de 29 de março de 2014, mas ainda não foi empossado. 3 Maria Thereza de Azevêdo Neves, indicada pelo membro fundador Sanatiel de Jesus Pereira, foi eleita para esta Cadeira na sessão do Plenário de 29 de março de 2014, mas ainda não foi empossada. 4 Daniel Blume Pereira de Almeida, indicado pelo membro fundador André Gonzalez Cruz, foi eleito para esta Cadeira na sessão do Plenário de 29 de março de 2014, mas ainda não foi empossado. 5 João Batista Ribeiro Filho, indicado pelo membro fundador Antonio José Noberto da Silva, foi eleito para esta Cadeira na sessão do Plenário de 29 de março de 2014 e empossado em 6 de junho do mesmo ano.
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ASTOLFO Henrique de Barros SERRA DILÚ MELLO (Maria de Lourdes Argollo Oliver) ODYLO COSTA, FILHO MÁRIO Martins MEIRELES JOSUÉ de Souza MONTELLO CARLOS Orlando Rodrigues DE LIMA LUCY de Jesus TEIXEIRA DOMINGOS VIEIRA FILHO JOÃO Miguel MOHANA Maria da CONCEIÇÃO Neves ABOUD DAGMAR DESTÊRRO e Silva BANDEIRA TRIBUZI (José Tribuzi Pinheiro Gomes) José RIBAMAR Sousa dos REIS
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Clores Holanda Silva Ana Luiza Almeida Ferro Aldy Mello de Araújo Paulo Roberto Melo Sousa
Clores Holanda Silva Ana Luiza Almeida Ferro Aldy Mello de Araújo Paulo Roberto Melo Sousa 8
Raimundo da Costa Viana
Raimundo da Costa Viana
José Cláudio Pavão Santana
José Cláudio Pavão Santana
Nota: È de 25 (vinte e cinco) o número de fundadores da Academia.
QUADRO DOS MEMBROS HONORÁRIOS Ainda sem membros QUADRO DOS MEMBROS CORRESPONDENTES Ana Maria Félix Garjan – Fortaleza-CE QUADRO DOS MEMBROS BENEMÉRITOS Ainda sem membros
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Sálvio Dino Jesus de Castro e Costa, indicado pelo membro fundador João Batista Ericeira, foi eleito para esta Cadeira na sessão do Plenário de 29 de março de 2014, mas ainda não foi empossado. Eva Maria Nunes Chatel, indicada pela associada fundadora Ana Luiza Almeida Ferro, foi eleita para esta Cadeira na sessão do Plenário de 29 de março de 2014, mas ainda não foi empossada. Ceres Costa Fernandes, indicada pelo membro fundador Álvaro Urubatan Melo, foi eleita para esta Cadeira na sessão do Plenário de 29 de março de 2014, mas ainda não foi empossada.
REGIMENTO INTERNO CARACTERÍSTICAS DOS SÍMBOLOS:
I – Brasão Trata-se de projeto da Acadêmica Ana Luiza Almeida Ferro, aprovado em sessão de 25 de janeiro de 2014. Compõe-se de 2 (dois) ramos de louros em sinople (verde) circundando quase completamente um medalhão com 1 (uma) face externa e outra interna. Na face externa do medalhão, em campo de prata (branco), na metade superior, encontra-se a inscrição Academia Ludovicense de Letras em sable (preto) e letras capitais. Na metade inferior, há 8 (oito) estrelas em jalne (ouro), sendo 4 (quatro) de cada lado, abaixo das quais está inscrita, também em sable (preto), a data 2013, ano da fundação do sodalício. Na face interna do medalhão, em campo blau (azul), encontra-se um portal colonial em jalne (ouro), no meio, contendo 1 (um) livro aberto, centralizado, cujo lado esquerdo apresenta 1 (uma) página completamente preenchida por linhas manuscritas em sable (preto) e cujo lado direito está em branco, sem linhas escritas, mas com 1 (uma) pena em jalne (ouro), sobreposta, diagonalmente. De forma simétrica, posicionadas na reta imaginária horizontal que passa pelo meio da face interna do medalhão, encontram-se 2 (duas) flores-de-lis em jalne (ouro), uma à esquerda e outra à direita do portal, do lado de fora, além de 1 (uma) terceira, igualmente em jalne (ouro), do lado de dentro do portal, em sua metade inferior, centralizada, abaixo do livro. No tímpano do portal em estilo colonial, no topo, encontra-se a divisa Savoir pour transformer (“Saber para transformar”) em goles (vermelho) e letras capitais. A opção pelo idioma francês reverencia a origem da cidade de São Luís. Abaixo da inscrição há um vitral dividido, por contornos em jalne (ouro), de tonalidade mais forte, em 4 (quatro) pedaços de vidro em goles (vermelho), a lembrar a colonização e urbanização da cidade pelos portugueses. O louro, na tradição heráldica, como é sabido, exprime a virtude e a coragem. Das 8 (oito) estrelas, 7 (sete) são uma referência à constelação das Plêiades, representando São Luís, conhecida como Atenas Brasileira, “na evocação dos vultos maiores do Grupo Maranhense na História da Literatura Brasileira, a saber – Gonçalves Dias, João Lisboa, Odorico Mendes, Gomes de Sousa, Sotero dos Reis,
Henriques Leal e Belarmino de Matos”.9 Na mitologia greco-romana, as Plêiades ou Atlântidas, filhas de Atlas e Plêione, são 7 (sete): Maia, Electra, Taíget, Estérope, Mérope, Alcíone e Celeno. Sofrendo perseguição do caçador Orião, elas suplicaram o auxílio de Júpiter, que as transmutou em pombas e as pôs no céu. No caso do Brasão da Academia, bem como no do Município de São Luís do Maranhão, todavia, as Plêiades trazem à lembrança, antes de tudo, os 7 (sete) grandes poetas do período helenístico, os quais, sob o governo do rei egípcio Ptolomeu Filadelfo II (285 a 247 a.C.), formaram, em Alexandria, uma sociedade literária denominada Plêiade. A oitava estrela, por outro lado, emblema a escritora ludovicense Maria Firmina dos Reis (1825-1917), patrona da Academia, autora da obra Úrsula (1859), considerada o primeiro romance brasileiro abolicionista e um dos primeiros escritos por uma mulher no Brasil. As 8 (oito) estrelas da face externa do medalhão, por derradeiro, são uma referência ao oitavo mês do ano, agosto, no qual foi fundada a Academia. Na face interna do medalhão, o portal simboliza uma porta para o mundo do conhecimento, do saber, que tem o condão de transformar as pessoas. Daí a divisa insculpida no tímpano: SAVOIR POUR TRANSFORMER. O livro aberto está à frente do portal porque dá acesso ao conhecimento. Sua página do lado esquerdo está totalmente preenchida porque representa o passado; sua página do lado direito, ao contrário, ainda não foi escrita porque reflete o futuro. A pena, em posição de uso, é o instrumento do presente a construir o futuro. As flores-de-lis são uma homenagem à fundação da cidade de São Luís pelos franceses, indicando as 3 (três) naus da expedição da França Equinocial. As 2 (duas) flores-de-lis laterais, externas ao portal, evocam, da esquerda para a direita, respectivamente, a nau Charlotte e o patacho Sainte Anne; a flor-de-lis posicionada dentro do portal identifica a nau capitânia Régent. A disposição, a cor e o número das flores-de-lis são também uma alusão, na heráldica, ao brasão conhecido como “França Moderna”, formado por 3 (três) flores-de-lis em ouro sobre campo azul, geralmente com 2 (duas) posicionadas na primeira linha e 1 (uma) na segunda, inserido no brasão real das Grandes Armas de França e Navarra (1589-1792), adotado pelos reis gauleses sob a dinastia Bourbon, lembrando-se que a expedição da França Equinocial deu-se em 1612, sob o governo de Maria de Médicis (1575-1642), e que o nome da cidade de São Luís é um tributo ao Rei Luís XIII (1601-1643). A flor-de-lis, isto é, o lírio, constitui o símbolo da realeza francesa desde o episódio, consagrado pela tradição, no qual Clóvis I (466-511), primeiro rei dos francos a unir sob a sua liderança todas as tribos dessa nação, base da futura França, o escolheu, diante do campo florido utilizado como lugar de descanso de seus soldados em sequência ao triunfo na Batalha de Tolbiac contra os alamanos (496). O Brasão, no tocante à representação em preto e branco, deverá observar as convenções da obra Tesserae gentilitiae (1638), do Padre Silvestro da Pietrasanta.
9
MEIRELES, Mário Martins. O Brasão d’Armas de São Luís do Maranhão. In: MEIRELES, Mário Martins. Dez estudos históricos. Apresentação de Jomar Moraes. São Luís: Alumar, 1994. p. 25. (Coleção Documentos maranhenses).
ICNOGRAFIA
PLENÁRIA DE JULHO
ANIVERSÁRIO DA ALL 09 DE AGOSTO DE 2014
José Neres
Quem foi à Ufma hoje pela manhã para acompanhar o evento comemorativo ao primeiro ano de fundação da Academia Ludovicense De Letras não teve de que se arrepender. Desde a brilhante apresentação da Banda do 24º BIL (antigo 24º BC) que demonstrou bom gosto musical, indo de Maria Firmina dos Reis a Michael Jackson, passando com competência por diversos estilos musicais. O evento teve também relevante aspecto de divulgação literária, com André Gonzalez apresentando o perfil biobibliográfico da escritora e professora Dilercy Aragão Adler, que brindou o público com uma bela exposição sobre nossa Maria Firmina dos Reis. Todos os acadêmicos estão de parabéns pelo evento.
Carlos Brunno S. Barbosa Associação dos poetas de Mil Poemas para Gonçalves Dias
Início de tarde de 09 de agosto de 2014, São Luís/MA - É claro que eu, aproveitando a viagem para a Comemoração de 1 ano da Academia Ludovicense de Letras, no Auditório Central da UFMA, em São Luís/MA, não deixaria de levar meu sétimo livro “Bebendo Beatles e Silêncio” comigo e também não deixaria de fazer uma intervenção poética no lugar. Com o apoio do professor e vereador de Guimarães/MA, Osvaldo Luis Gomes, e de professores e artistalunos do Centro de Ensino Médio “Nossa Senhora da Assunção”, de Guimarães/MA, minhas subversões poéticas em homenagem a George Harrison invadiram os jardins do Auditório Central da UFMA, em São Luís/MA. https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=87hQzfiLjYc https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=87hQzfiLjYc
Agradeço especialmente a poetamiga Dilercy Aragão Adler e ao escritoramigo Leopoldo Gil Dulcio Vaz pelo convite e a todos do Centro de Ensino Médio “Nossa Senhora da Assunção”, que deram um sotaque beatle maranhense, com a magia lírica de Guimarães/MA, aos meus poemas valencianos-teresopolitanos georgeharrisonianos.
*** Pensamento, Filosofias, Cultura, Ciência, Arte, *** São Luís - 402 anos: Passado, Presente. Futuro? Ilustríssimos Senhores Acadêmicos e Senhoras Acadêmicas da Academia Ludovicense de Letras - ALL:
O tempo conta. O tempo encanta. O tempo é o Grande Senhor! Chegou o final mês de agosto, e antes que ele termine para dar lugar ao mês de setembro, envio congratulações ao Ilustríssimo Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, à Ilustríssima Senhora Vice-Presidente, aos Ilustríssimos Senhores Membros Fundadores, aos Membros da Diretoria, aos Membros Efetivos e colaboradores, pelo primeiro aniversário de fundação da "Casa de Maria Firmina", realizada em 09 de agosto deste ano, no auditório da Cidade Universitária do Bacanga/UFMA. Na mesma data, há um ano, em 09 de agosto de 2013, o Espaço Cultural Gonçalves Dias em Caxias foi fundado, e a festa de inauguração foi realizada em 10 de agosto, dia do aniversário dos 190 anos do nascimento de Antônio Gonçalves Dias. No dia seguinte, em 11 de agosto, a Comitiva da Arca de Gonçalves Dias saiu de São Luís em direção às cidades relacionadas com a vida e morte de Gonçalves: Caxias, onde nasceu e Guimarães perto do local onde faleceu foi recepcionada por algumas instituições relacionados com o poeta maior, e recepcionada naquele fim de tarde de domingo, pelo Espaço Cultural Gonçalves Dias - Patrono da nossa organização, que foi idealizada em junho de 2011. Votos de exitosas realizações à nova academia de letras que homenageia, também, a cidade de São Luís - Patrimônio Cultural da Humanidade, que no próximo dia oito de setembro será homenageada por seus 402 anos de fundação. Cordiais saudações acadêmicas, Ana Maria Felix Garjan Membro Correspondente da ALL Grupos ArtForum Brasil XXI, Cultura Humanista - Planetária
II MOSTRA MARANHENSE DE LITERATURA 13 A 16 DE AGOSTO DE 2014
PLENÁRIA DE AGOSTO 2014
PLENÁRIA DE SETEMBRO
Secretário Geral – Presidente – Vice- Presidente
1º Tesoureiro, Prof. Campos, expondo a situação financeira
Verificando as contas...
Plénário
Ericeira
Exposição dos Projetos em andamento – Centenário de Mário Meireles
Aniversário de Maria Firmina
Ana Luiza expondo os modelos de capelo
Secretário Geral expondo sobre a participação na felis 2014
ELOGIO AO PATRONO
AO PENSADOR, COM CARINHO10
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Esta modesta apresentação, que certamente ficará aquém das virtudes e títulos do apresentado, poderia ter o seguinte título: “Ao Mestre, com carinho”. Sim, porque se trata de um legítimo representante da mais nobre das profissões: a de professor, de quem, a propósito, tive a honra de ser aluna. Mas o ser João Batista não caberia no horizonte, conquanto amplo e pleno de possibilidades, do magistério. À sombra da imortal obra de Auguste Rodin, prefiro ressaltar-lhe outra qualidade, tão em falta no Brasil hodierno. E por isso darei a esta apresentação outro título: “Ao Pensador, com carinho”. Nascido na cidade maranhense de Pedreiras a 2 de novembro de 1946, professor universitário, advogado, jurista, jornalista e escritor, Mestre em Direito e Estado pela Universidade de Brasília, profissional nacionalmente respeitado e cultivador de notáveis conhecimentos nos domínios do Direito, História, Sociologia, Filosofia e Política, João Batista Ericeira é Vice-Presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ), Vice-Diretor-Geral da Escola de Formação de Governantes do Maranhão (EFG-MA), Vice-Diretor da Associação Brasileira de Advogados Eleitorais (ABRAE) e Presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA/Seccional Maranhão). É também membro do Instituto dos Advogados do Brasil e da Junta Administrativa de Recursos de Infrações do Maranhão e sócio majoritário do escritório “João Batista Ericeira Advogados Associados”. Foi membro do Conselho Consultivo e Secretário-Geral da Escola Nacional de Advocacia, do Conselho Federal da OAB, Vice-Presidente do Conselho Editorial e da Comissão de Defesa da República e da Democracia, da OAB-MA, Presidente da seccional maranhense do Colégio Brasileiro de Faculdades de Direito, Diretor da Revista da ENA, membro do Conselho Estadual de Trânsito e do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social do Maranhão. É graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1971). Pela Fundação Getúlio Vargas, concluiu os cursos de Administração Financeira e Regime Jurídico do Mar Territorial. Em 1973 fez o curso de Aperfeiçoamento em Língua Inglesa, mediante bolsa do John Kennedy Center, no 10
Discurso referente à apresentação do Confrade João Batista Ericeira, proferido na solenidade de Elogio ao Patrono Padre Antônio Vieira, da Cadeira nº 2 da Academia Ludovicense de Letras, no dia 26 de julho de 2014.
E.L.S. Miami, Flórida, nos Estados Unidos. Especializou-se em Direito Empresarial pela Universidade de Brasília e Universidade Federal do Maranhão; e em Didática de Nível Superior, na segunda. Em 1980 tornou-se Mestre em Direito e Estado, pela Universidade de Brasília, onde igualmente cursou Teoria Geral do Direito Privado, Informática Jurídica (em parceria com o Senado Federal), Introdução à Ciência Política, Pensamento Político Brasileiro e Introdução às Relações Internacionais. Em 1974 coordenou a Campanha Nacional de Alimentação Escolar no Maranhão e, no âmbito da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão, no período entre 1974 e 1976, atuou como Delegado Regional de Polícia em Caxias, Assessor, Perito Criminal, Diretor da Divisão de Criminalística, Corregedor de Polícia e Chefe de Gabinete. Entre 1979 e 2003 desempenhou o cargo de assessor jurídico do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, exercendo, em caráter eventual, o mister de Procurador Eleitoral. Em 1976 principiou a sua bem-sucedida carreira no magistério superior, como professor do Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), lecionando as disciplinas Filosofia do Direito, Sociologia Jurídica, Metodologia Geral da Pesquisa Social e Jurídica, Metodologia do Ensino do Direito, Lógica Jurídica, Direito da Família, Teoria Geral do Direito Agrário, Introdução ao Estudo do Direito e a Vida Jurídica, Direito Civil e Direito Agrário. Desempenhou numerosos cargos e atribuições até sua aposentadoria em 2003, entre os quais os seguintes: Assessor do Gabinete do Reitor, Chefe do Departamento de Direito, Procurador-Chefe, Coordenador do Núcleo de Pesquisas Jurídicas, e do Programa de Estudos, Pesquisas e PósGraduação em Direito. Foi candidato nas eleições para Reitor da UFMA, compondo a lista sêxtupla submetida à apreciação do Colégio Eleitoral. Afora as atividades de docência, foi pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Casa de Rui Barbosa. Também integrou a Associação Latino-Americana de Metodologia do Ensino de Direito e o Grupo de Ricerca Sulla Diffusione Del Diritto Romano (Universidade de Sassari, Itália). Participou da Comissão Constituinte do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) que acompanhou os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, elaboradora da Carta Magna de 1988. No seio da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Maranhão, integrou a Comissão de Exame de Ordem, presidiu a Comissão de Ensino Jurídico, atuou como Conselheiro Estadual e Federal e, a reafirmar o seu indissolúvel caso de amor com o magistério, desta feita na esfera administrativa, foi Vice-Diretor e Diretor da Escola Superior de Advocacia (ESA). Na esfera da advocacia municipalista foi Consultor Jurídico da FAMEM, tendo exercido o seu mister, como escritório de advocacia e assessoramento jurídico, em prol dos municípios maranhenses de Pedreiras, São José de Ribamar, Caxias, Morros, Presidente Vargas, Vargem Grande e Grajaú. A advocacia eleitoral é mais um de seus campos de atuação, pela qual assumiu cargos de consultor jurídico para os partidos PFL-MA (DEM), PSOL e PL. O interesse pelo aristotélico animal político e pela obra deste o levou a assessorar juridicamente vários candidatos ao governo do Estado e de municípios e à Câmara de Vereadores, além de deputados federais e estaduais. De meados dos anos 1980 ao amanhecer dos anos 2000 foi articulista no jornal O Estado do Maranhão, exercitando a sua pena aos domingos, a semear palavras e pensamentos que se transmutariam em valiosa matéria de futuros livros. Hodiernamente
escreve no jornal O Imparcial regularmente, às quartas-feiras. Igualmente publica seus artigos no site www.ericeiraadvogados.com.br e no blog jbericeira.blogspot.com. Em seus artigos, já fez de tudo: reuniu todos os homens do Presidente e todas as mulheres do mundo, examinou a tragédia brasileira, calçou as sandálias do pescador, perguntou-se se o Brasil é um país sério, exibiu a República dos nossos sonhos, descortinou a utopia possível e o Direito Alternativo de corpo e alma, acusou a mentira eleitoral, olhou os lírios do campo, rechaçou o novo colonialismo, entreteve conversa à beira-mar, seguiu conselhos de mestre, enfrentou trânsito selvagem e o desafio do futuro, denunciou novas ilusões e explicou a ilusão da Justiça e a igualdade dos desiguais, deu lições da História e de vida, apresentou a suprema lei e o julgamento de Jesus, percorreu os caminhos de Joel, falou do idiota latino-americano e do Homem de Direito, reviveu Lacerda e Castelo Branco e apontou os órfãos de Jânio, discorreu sobre a revisão da História no País do Carnaval e de Jorge Amado, preocupou-se com a restauração da moralidade pública, fundeou no Porto dos Milagres, dançou o último tango, recolheu as lágrimas de Heráclito, celebrou a magia do Natal, dissecou as ligações perigosas, viu além do horizonte e foi além do jardim, combateu a idolatria do mercado, expressou os compromissos da advocacia, fez reflexões maquiavélicas e de fim de ano, evocou o sonho republicano, ofereceu o olhar da Justiça para aplacar a fome de Justiça, passeou pelas noites de Bagdá, revelou os amigos do Rei, reprovou a universidade do crime, exaltou a dignidade dos velhos, partiu em busca da felicidade. Suas pesquisas e trabalhos foram objeto de publicação em várias revistas pelo país, tais como: Forense (Rio de Janeiro), Síntese (Universidade Federal de Santa Catarina), da Associação dos Antigos Alunos da PUC-Rio, da recente Revista Juris, primeiro fruto amadurecido do promissor Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública, entre outras. Na sua expressiva bibliografia, figuram: A crise do Direito e o emergimento do novo Direito Civil em um contexto de liberdade, nos Anais da Conferência da OAB (Manaus, 1980); Pequenos ensaios de Direito de Família, pela Associação LatinoAmericana de Metodologia do Ensino de Direito (1981); Extratos de jurisprudência eleitoral do Maranhão, pelo Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (1982); Questão agrária, pelo CNPq (1983); Como decidem os juízes no Estado do Maranhão, pela Editora da UFMA (1994); O olhar da justiça, iniciador de uma trilogia, coletânea dos artigos publicados no jornal O Estado do Maranhão de 2000 a 2003, pela Escola de Formação de Governantes (2004); A reinvenção do Judiciário: coletâneas de artigos publicados de 1996 a 1999, pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Maranhão, por meio de sua Escola Superior de Advocacia (2006); e Crise da crise da advocacia: coletânea de artigos publicados de 1992 a 1995, pela Editora Fiuza, de São Paulo (2008). E que tipo de intelectual é João Batista Ericeira? Raimundo Palhano, no prefácio do livro O olhar da justiça, assim se referiu, com aguda percepção, a Ericeira: “Nesta obra, seja como intelectual, seja como profeta, Ericeira é sobretudo um Ensinador da Justiça. Aqui, o Direito com ‘D’ maiúsculo é percebido como a centralidade principal da vida em sociedade. Não conheço em nosso Estado alguém que por anos a fio tenha batido nesta tecla com tamanha freqüência e igual nível de perseverança. Seja no magistério, seja como jornalista colaborador, o autor deste livro é acima de tudo um tribuno da Justiça e do Direito, algo que ele faz como ninguém. [...] Por tudo isso e por sua alta qualidade literária, O OLHAR DA JUSTIÇA é um colírio para os olhos vesgos de hoje.” Fábio Konder Comparato, no prefácio da obra Crise da crise da advocacia,
após enumerar importantes iniciativas cívicas de Ericeira em defesa da República e da democracia, menciona a sua “esclarecida liderança”. Na apresentação do mesmo livro, Jhonatan Uelson Pereira Sousa assegura, com propriedade, que esta obra “resgata o desafio socrático, de pensar com a própria cabeça”, apresentando-se como um “útil manual introdutório da arte de pensar”. Sentencia Pascal: L’homme est visiblement fait pour penser; c’est tout sa dignité et tout son mérite; et tout son devoir est de penser comme il faut (“O homem é visivelmente feito para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever é de pensar bem.”). João Batista Ericeira é, pois, um pensador, e um que pensa bem. Um pensador capaz de caminhar, com igual desenvoltura, habilidade e segurança, pelos campos semeados por figuras notáveis como Sócrates, Maquiavel, John Rawls, Rui Barbosa, Miguel Reale, entre muitos outros... Capaz de reavivar, no Maranhão e alhures, a chama do pensamento cristão, a partir de sua fonte, ao mesmo tempo divina e humana: Jesus... “Deus é gracioso”, “Deus deu, presenteou”, é isto que significa “João”, do hebraico. E Deus presenteou o casal José Ribamar e Terezinha de Jesus Bonfim Ericeira e o Maranhão com um novo pensador. Mas não bastava ser João, tinha também de ser Batista. O da Bíblia, que é um dos santos juninos, cujo nascimento é celebrado no dia 24, pregou para multidões com fome e sede de Deus, foi o profeta judeu que preparou o caminho do Salvador, que veio “para dar testemunho da luz” (João 1: 8). O nosso João Batista também veio ao mundo para dar testemunho da luz, mas a sua luz particular é a Justiça, uma Justiça que não se olvida dos seus valores cristãos. Nas trincheiras políticas brasileiras, na mais legítima tradição humanista, ele não clama por um Salvador da Pátria. Deveras atual é a sua advertência no artigo “Reflexões maquiavélicas”, publicado em 2002: “Sociólogos e antropólogos [se] lembram de duas pedras que poderão atrapalhar o caminho do futuro governante: o sebastianismo e o populismo. O primeiro, legado da cultura lusitana, nos faz acreditar no homem providencial, algo messiânico, que por suas qualidades pessoais está destinado a libertar o povo de todos os sofrimentos, conduzindo-o ao reino de paz e prosperidade geral. O segundo, produto típico da cultura política ibero-americana, elege a figura do líder populista ou caudilho, que prescindindo de Parlamento, de partidos políticos, do institucional organizado, estabelece ligação direta com o povo, a quem distribui os bens sociais do Estado.” Mas todo pensador precisa de uma musa. Seguindo a lei do amor, João Batista, o Ericeira, perdeu a cabeça (ou a ganhou, conforme o ponto de vista) pela senhora Maria das Graças Correa de Araújo, hoje Ericeira. E desse feliz e abençoado encontro nasceram outro José Ribamar, outro João Batista e um David, porque, sem dúvida, já há bastante Golias no mundo. Para quem faz da palavra escrita, da ilustração e do raciocínio envolvente um recurso de eloquência e ensino, nada mais natural do que ocupar uma cadeira cujo patrono é um exímio esgrimista da palavra, mestre da oratória. Assim, João Batista Ericeira, membro fundador da Academia Ludovicense de Letras, ocupa a Cadeira nº 2, patroneada pelo Padre Antônio Vieira, o supremo homenageado desta manhã. Não poderia haver associação mais propícia. E então encerro Confreiras e Confrades, Senhoras e Senhores, esta modesta apresentação, dedicada ao Pensador, com carinho, meu eterno Professor, João Batista Ericeira. Muito obrigada.
ELOGIO AO PATRONO DA CADEIRA Nº 02 da ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, PADRE ANTONIO VIEIRA,
proferido pelo Professor
JOÃO BATISTA ERICEIRA em sessão da Academia, dia 28 de junho de 2014. Dedico este elogio ao meu tio materno Cônego Antônio Bonfim, com quem aprendi desde cedo a amar a manifestação do verbo. EXCELENTÍSSIMA SENHORA PRESIDENTE EM EXERCÍCIO DILERCY ARAGÃO ADLER, Excelentíssimos Confrades e Confreiras, Senhoras e Senhores, Iniciando evoco o Seminário que coordenei entre os dias 4 e 5 de Setembro de 1997, no auditório da Academia Maranhense de Letras, em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado, a Academia, o Conselho Seccional da OAB, a Ufma, o Colégio Brasileiro de Faculdades de Direito, e o Consiglio Nazionale dele Richerche da Itália. De Roma vieram os professores Sonia Netto Salomão e Silvano Peloso, da Universitá di Roma “La Sapienza”. Aquele evento recordava os 300 anos da morte do imperador da língua, ocorrida na cidade de Salvador em 18 de julho de 1697. Ali se discutiu a ampla e
profunda influência por ele exercida na cultura luso-brasileira. As reflexões expressadas na ocasião, tal como Vieira procedia em seus sermões, são aqui recolocadas, pela obvia razão de continuarem tendo a mesma validade. Tento demonstrar a existência de um pensador do Direito no inexcedível orador sacro. Senão vejamos. Começo estas pálidas reflexões sobre a luminosa obra do Padre Antônio Vieira, citando-lhe um apotegma: “as artes ou ciências práticas não se aprendem só especulando, senão exercitando. Como se aprende a escrever? Escrevendo. Como se aprende a esgrimir? Esgrimindo. Como se aprende a navegar? Navegando”. O orador sacro, o estadista, o teólogo, o criador da língua, teve sensibilidade também para a ciência jurídica? Por certo. Não há campo da atividade humana que tenha escapado ao exame do gênio de Vieira. Há quem entenda ser o Direito mera peça de retórica, nesse diapasão, não poderia deixar de ser examinado pelo gênio da oratória sacra. Mas não é tarefa fácil para mim, simples leguleio forense, na parqueza da bibliografia disponível, localizar as pérolas do seu pensamento sobre a arte, a ciência ou a técnica denominada Direito. Os romanos, imbuídos do mesmo senso prático de que era acometido Vieira, definiam a ciência do Direito como a que estuda as coisas humanas e divinas, obviamente, a serviço de fins eminentemente pragmáticos. Aos romanos interessava dominar pelas armas para impor a língua, o comércio, a cultura e as leis do Império. O Direito era instrumento da dominação de Roma nas terras bárbaras conquistadas. Assim o foi na Península Ibérica, de onde herdamos as instituições políticas, a cultura e o Direito. Vieira depois profetizaria o Quinto Império Mundial, sediado em Portugal, fadado a preservar os valores da civilização ocidental e cristã. Síntese da alma luso-brasileira deixou múltiplas marcas em nossa herança cultural, incluindo o Direito. Era o homem da ação, nele, o verbo materializava-se em sermões, relatórios e cartas com propósitos eminentemente práticos, como expressava: “para falar ao vento bastam palavras; para falar ao coração, são necessárias obras”. Como religioso, movia-lhe a ideia-força teológica de levar as almas para Deus, nessa linha, o Direito Natural dos Homens é mero reflexo da “Lex Aeterna”, manifestada na racionalidade da natureza humana. Tal como concebida pela “Suma Teológica” de São Tomás de Aquino, esta por sua vez recepcionaria dos pressupostos da filosofia aristotélica. O silogismo desta se faz presente na estrutura da pregação, por exemplo, do Sermão de São Antônio aos Peixes, proferido na festa do seu patrono, em São Luís, assim: Exórdio (conceito predicável) - a frase do Evangelho: “vos estis sal terrae” [Vós sois o sal da terra], indagando sobre a razão de o sal da terra, a palavra de Deus, não frutificar. Introito – plano a seguir no desenvolvimento. Invocação – a Maria, mãe de Jesus, e “senhora do mar”. Argumento/desenvolvimento – plano do sermão. Louvores gerais dos peixes; Louvores de alguns peixes em particular. Defeitos gerais dos peixes; Defeitos de alguns peixes em particular. Conclusão e peroração - aos peixes, para que louvassem sempre a Deus.
Sabia, contudo separar as esferas do poder, o temporal, o espiritual, colocando obviamente aquele a serviço deste. Distinguia o Direito Natural das leis temporais. Estas se legitimavam se tivessem de acordo com aquele, ao contrário, seriam injustas Sobre o poder temporal, no Primeiro Sermão da Terceira Dominga do Advento, pregado na Capela Real, no ano de 1644, revela-se mais uma vez o racionalista na versão tomista: “O poder tudo consiste em poder algumas coisas, e não poder outras; consiste em poder o lícito e justo; e em não poder o ilícito e injusto, e só quem pode e não pode desta maneira é todo poderoso”. Soldado da Companhia de Jesus, ardentemente apegado ao pensamento de São Tomás de Aquino, que admite o Direito de rebelião contra o príncipe injusto, é por outro lado ousado, ao refutar os argumentos de autoridade filosóficos e científicos da época, Sustentou em pleno século XVII: “Os pilotos e marinheiros portugueses souberam mais e filosofaram sobre um dia de vista, que todos os sábios do mundo em cinco anos de especulação”. Motivo da afirmação: os descobridores haviam desbravado e encaminhado almas e terras para o Império espiritual da fé católica. Sobre as atrocidades cometidas pelos colonos no Maranhão na pessoa das silvícolas a quem defendia, sob o argumento de pertencerem à unidade adâmica, dotados, portanto de alma imortal, admoestou-os: “Quem trouxe ao Maranhão a praga dos holandeses (referindo-se a invasão de 1641)? Quem trouxe a praga das bexigas? Quem trouxe a esterilidade? Estes cativeiros”. E completava: “Ah fazendas do Maranhão, se esses mantos e essas capas se torcessem haviam de lançar sangue”. E sentenciava condenando em nome de Deus, as sevícias, as torpezas, as crueldades da escravidão, mandando ao inferno os colonos praticantes das arbitrariedades. Tomado de amor pelo Maranhão, mas não menos de indignação pelos atos cometidos pelos colonos, em prejuízo dos silvícolas, e de sua missão nestas terras, no Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, proferido em São Luís, em 1654, lembrou o abecedário composto por Dreagélio, enfatizando as palavras iniciadas por M, a eles verberando para dizer: “M de Maranhão; M de murmurar; M de motejar; M de maldizer; M de malsinar; e, sobretudo M de mentir. Mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos, que de todos e por todos os modos aqui se mente”. No estilo vieiriano o sentimento, a emoção, encandeiam-se na mais pura lógica tomista-aristotélica com o desiderato de servir a Igreja e ao reino português. Afora as praxes das Ordenações e os velhos textos do Direito Romano, o pensamento jus filosófico do seu tempo impregnava-se integralmente da retórica teológica. Afinal, o Direito e a Teologia são retóricas persuasivas, a primeira caudatária do poder temporal, a segunda, veículo do poder espiritual. Para Vieira ambas imbelicavamse no regaço do fim maior: salvar as almas para Cristo. Antônio Vieira erigiu-se a condição de advogado da causa dos índios que o chamavam de Paiaçu, quer dizer, pai grande na língua tupi. Desejava salvá-los pela catequese, pela persuasão, pela conquista do coração, abominava a utilização da força bruta da civilização dos colonos.
Defendia de forma avançada para a época, a partir de vanguardismo antropológico sem precedentes, despido de preconceitos etnocêntricos, o respeito aos hábitos e costumes de aborígenes e de africanos. É o precursor do sincretismo religioso brasileiro que evoluiu incorporando elementos de crenças indígenas e africanas nos cultos da Igreja Católica. Outra causa que o apaixonou foi a dos cristãos novos, obrigados a emigrarem de Portugal, deixando um país empobrecido economicamente, pode-se dizer falido, chegando a perder a independência política para a Espanha em 1580, com o desaparecimento do Rei Dom Sebastião, no norte da África, na batalha de AlcácerQuibir. Foram sessenta anos de domínio espanhol. Restaurada a independência de Portugal pela dinastia Bragança em 1640, ascendeu ao trono o duque do mesmo nome, com o título real de Dom João IV, logo se fez o estadista, o diplomata, no afã de crescer e fazer prosperar o reino, que na profecia da “História do Futuro”, seria o Quinto Império, exercido temporalmente pelos príncipes, instrumentos da missão evangelizadora dos pastores da Igreja Católica. Principiando por Dom João IV, fadado a ressuscitar para inaugurar o novo tempo, na linha da tradição sebastianista. Na obra de Vieira, fundem-se de forma quase perfeita, em conteúdo e forma, a razão, a intuição, o sofrimento, a paixão. Acreditava no poder da profecia, do Direito revelado, pressupondo ser o amor a sua principal lei. Dele fala com todas as letras: “usar de razão e amar são duas coisas que não se ajuntam. Tudo conquista o amor quando conquista a alma, porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade febricitante que não tivesse o entendimento frenético. O amor deixará de variar, se for firme, mas não deixará de tresvariar, se é amor... O amor é um espírito sempre inquieto, e quem aquieta muito, sinal é que ama pouco. E porque o amor não sabe aquietar, por isso não pode dormir. Talvez adormeçam os sentidos, mas o amor sempre vela, porque sempre lhe faz sentinela o coração”. (Série Sermões do Mandato- 1645). O Direito Natural de Antônio Vieira, revelado pelas escrituras bíblicas, lhe fez pagar o preço do exílio em Roma e da prisão no Porto e Coimbra, mas a ele nunca renunciou. Fez da sua pregação uma obra de vida. Precursor da luta abolicionista, da causa dos Direitos Humanos nas Américas, é, sem duvida alguma, um dos mais importantes vultos da cultura não apenas lusobrasileira, mas também da ibero-americana. Cultuá-lo, festejá-lo, é o mínimo que podemos fazer, nós, os herdeiros de sua pregação, de sua pedagogia, resultantes que somos do cadinho de raças que ele sonhou e que se materializou. Pois para ele, todos os sonhos da profecia eram realizáveis, inclusive o de vivermos em uma sociedade regida pela lei do amor, pelo Direito da Justiça. Fruto do espírito dominante do tempo em que viveu, transcendeu ao período seiscentista ou barroco, tal como sustentei no texto “Vieira e as CEBs” incluído no livro “A Reinvenção do Judiciário”, publicado pela OAB, utilizado em uma reunião da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Ali, advogo a tese de que a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base têm raiz vieiriana, partem do postulado jus naturalista da unidade adâmica, que nos faz a todos iguais, filhos do mesmo Deus, titulares do Direito de rebelião contra o príncipe injusto.
É inquestionável a atualidade da pregação vieiriana. A escravidão, por exemplo, desapareceu ou mudou a forma? Infelizmente continuam nas modalidades da servidão financeira e tecnológica a que estão sujeitos os pobres do mundo, condenados a doença e a morte pelos novos amos, os donos do capital financeiro e tecnológico. Quando se fala de Governança Mundial retorna a utopia vieiriana de um Império Mundial, alicerçado nos hodiernamente chamados Direitos Fundamentais do Homem, na essência, ligados ao cristianismo, tão falados, mas tão desprezados nestes tempos de globalização. Na comemoração do quarto centenário do nascimento do seu nascimento, em 12 de março de 2008, escrevi artigo sob o título “As Cinzas de Vieira” para traduzir o quanto a nossa pátria, a língua portuguesa, lhe era devedora ao longo de quatro centúrias de evolução da última flor do Lácio inculta e bela, utilizando a consagrada expressão de Olavo Bilac. Principiei citando o sermão da quarta-feira de cinzas da Quaresma de 1670, pregado na igreja de Santo Antonio dos Portugueses, em Roma, quando assegurou: “o pó em que nos haveremos de nos converter é visível, (está à vista), mas o pó presente, o pó que somos, como poderemos entender essa verdade?” O orador continuou dissertando sobre a efemeridade e fragilidade da vida terrena, e sobre a certeza da vida eterna. No seu tempo, a Igreja Católica e o Império português, as duas instituições a que servia, eram os centros da vida pública. O Brasil começava a ser povoado, intensificava-se a exploração da cana-de-açúcar, do algodão, que fariam a fortuna dos senhores de engenho. A vida privada desenvolvia-se nas casas grandes e senzalas, como descreveu Gilberto Freire. O Maranhão dava os primeiros passos da colonização, planejada pela União dinástica que se fizera entre Portugal e Espanha, encerrada pela rebelião do Duque de Bragança, o Dom João IV, amigo de Vieira, que o serviu como diplomata em várias missões. A metrópole fazia-se presente na pessoa dos representantes do rei, donatários de capitanias, governadores, com séquito armado; de funcionários da Justiça, e dos padres jesuítas, ordem religiosa do notável pregador, nascido a 6 de fevereiro de 1608, em Lisboa. Com a idade de seis anos, sua família deixou a capital do Império luso para sediar-se na Bahia, pois seu pai Cristóvão Vieira Rovasco, era funcionário do reino, desde 1609 exercendo o cargo de escrivão do Tribunal da Relação. Criou-se em Salvador. Completados quinze anos ingressou no Colégio dos Jesuítas. A invasão holandesa obriga a comunidade jesuítica a refugiar-se em uma aldeia indígena, em seguida, transfere-se para o Colégio da ordem religiosa em Olinda, onde principia a ensinar retórica, a arte em que se tornou inigualável. Ordena-se sacerdote em dezembro de 1634, ponto de partida de uma carreira ascendente que o faz ser nomeado pregador régio dez anos depois, diplomata, desempenhando missões junto aos governos da França e da Holanda, com vistas à devolução das terras da colônia invadidas pelos holandeses de denominação protestante. O padre Vieira caíra nas graças do rei de Portugal, Dom João IV, a quem induz a criação da Companhia Geral do Comércio do Brasil, com o fito de desenvolver a colônia, alvo da cobiça internacional pela potencialidade de suas matérias-primas. Para explorá-la, atraiu o capital judaico, negociou o repatriamento de judeus, expulsos da península ibérica pela perseguição movida pelo Tribunal da Inquisição. Tornou-se alvo dos inquisidores portugueses, que o processaram acusando-o de heresia, por suas teses condescendentes em relação ao capital a aos juros, mas, sobretudo pelo exercício do dom da profecia. Para ele, o Quinto Império Mundial cristão, luso-
brasileiro, seria sediado no Brasil. O breve tempo de vida de um homem é curto, assim, Dom João IV, seu protetor, ressuscitaria para governar por longo período de paz entre os homens de fé católica do ocidente. Vieira possuía efetivamente o dom da profecia, que consiste em antever o futuro. Duzentos anos depois do seu nascimento, em 1808, a sede do Império português, transferiu-se para o Rio de Janeiro com o traslado do príncipe real, depois Dom João VI, e a família imperial para o Brasil. Os historiadores são unânimes em sustentar a tese de que a mudança da família real para a colônia brasileira garantiu a integridade territorial e política de Portugal e do Brasil, transformados em Reino Unido a Algarves. Portugal só pôde manter-se independente por força das riquezas da colônia, dela explorou os produtos agrícolas, o ouro, arrecadou impostos, garantidores da integridade territorial, política e linguística do hoje indiscutível mercado lusófono. A busca da unidade política do Brasil, Portugal, dos países de língua portuguesa da África, da Ásia, das comunidades que falam a língua em todas as partes do mundo é essencial para a preservação futura do idioma e de sua cultura, nela incluída a fé cristã. Na sua compreensão o Quinto Império Mundial era o Estado luso-brasileiro, instrumental da propagação da fé católica, da construção do reino eterno, já que o desta terra se faz do pó dos homens de agora e dos de amanhã. Na verdade, Vieira, afrodescendente, sua mãe, Maria de Azevedo, era filha de uma negra, falava português com sotaque baiano, é um dos principais construtores da língua portuguesa. Gênio político anteviu o fenômeno da globalização. Na condição de visitador da Companhia de Jesus, pregou nos púlpitos do Maranhão, da Bahia, de Portugal e de Roma, sempre denunciando os vícios dos colonos, dos funcionários do Rei e do próprio clero. Depois extasiou o Papa, a Rainha Cristina da Suécia, Recusou o convite por ela feito para ser confessor. Naquela quarta-feira de cinzas comemoravam-se os 400 anos do seu nascimento, afirmei então: o seu corpo retornou ao pó de onde veio, como verberou no sermão de cinzas de 1670, mas a sua palavra é eterna, como prova a sobrevivência da nossa pátria, a língua portuguesa, no dizer de Fernando Pessoa, que o celebrou nos versos constantes de “Mensagem”, de 1934, único livro aliás publicado ainda em vida pelo poeta, que relata haver se emocionado às lágrimas ao ler pela primeira vez um texto de Vieira. Intitula-se “Antônio Vieira”: O céu estrela o azul e tem grandeza. Este, que teve a fama e a glória tem, Imperador da língua portuguesa. Foi-nos um céu também. No imenso espaço seu de meditar, Constelado de forma e de visão, Surge, prenúncio claro do luar, El-Rei D. Sebastião. Mas não, não é luar: é luz do etéreo. É um dia; e, no céu amplo de desejo, A madrugada irreal do Quinto Império Doira as margens do Tejo.
O poeta Pessoa, com Camões e Vieira, integra a tríade básica, o alicerce da língua portuguesa. Vejamos em suas palavras a emoção da primeira leitura do mago da retórica: Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há, porém páginas de prosa quem têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa seleta, o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão: ‘fabricou Salomão um palácio...’. E fui lendo, até o fim, trêmulo, confuso; depois rompi em lágrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierárquico da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais – tudo isso me toldou do instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda choro. Não é – não – a saudade da infância, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder ler a primeira vez aquela grande certeza sinfônica.” (Fernando Pessoa).
Sua obra é vasta, do apurado até agora resultou: duzentos sermões; seiscentos e cinquenta cartas publicadas após a sua morte; a História do Futuro, editada pela primeira vez em 1718; Defesa perante o Tribunal do Santo Ofício, de 1957. A Clavis Prophetarum veio à luz em Portugal em 2000. Especialistas acreditam ser possível encontrar outros textos de sua autoria ainda não conhecidos. Exemplo disso é o discurso proferido na Academia Real de Roma em 1674, a publicação originária, em italiano, data de 1709. A versão portuguesa é de 1710. Integra o tomo XIV dos Sermões, de tradução atribuída a Dom Francisco Xavier de Meneses, o Conde da Ericeira, seu amigo e correspondente. Achado pela pesquisadora Sonia Netto Salomão, esta tomou o original italiano, deu-lhe nova tratamento, por tratar-se de disputa filosófica, travada com o padre Girolamo Cattaneo, este último defendendo o filósofo Demócrito e a primazia do riso, cabendo a Vieira a defesa da hegemonia das lágrimas. O trabalho de autoria da professora Sonia, desenvolvido no âmbito do Programa de Estudos Vieirianos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro mereceu a publicação da Editora 34 em 2001. O primoroso texto é, em verdade, a redescoberta do Antônio Vieira filósofo de largo alcance, do profundo conhecedor dos pré-socráticos. Quantos trabalhos seus ainda poderão ser redescobertos? Muito teria a dizer neste humílimo panegírico, pequeno para a glória do patrono, do orador sacro, do homem de Estado, do diplomata, do filósofo, do amante da Justiça. Sobre ela asseverou: “A verdade é filha legítima da justiça, porque a justiça dá a cada o que é seu. E isto é o que faz e o que diz a verdade, ao contrário da mentira. A mentira, ou vos tira o que tendes, ou vos dá o que não tendes; ou vos rouba, ou vos condena. A verdade não: a cada dia um dá o seu, como a justiça.” (PAIS, 2010, p. 85). Concluindo, pergunto-me, existiriam o Brasil e o Maranhão não fora Vieira e as suas ideias de constituição da Companhia de Comércio do Brasil, de povoamento da Colônia, da pregação politica, que considerava a arte das artes, devendo esta por obrigação colocar-se a serviço do bem comum da sociedade, pautada pelo Direito e pela lei do amor.
Ensinou para sempre como se pratica a verdadeira politica: Importa que daqui por diante sejais mais repúblicos e zelosos do bem comum e que este prevaleça contra o apetite de cada um, para que não suceda que, assim como hoje vemos a muitos de vós tão diminuídos, vos tenhais a consumir de todo. (PAIS, 2010, pag. 73). [Sermão de Santo Antônio aos Peixes]
Encerro utilizando os versos de Chico Buarque de Holanda para a música de Sivuca, na composição João e Maria: “pela (sua) Lei, a gente era obrigado a ser feliz (...)”. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1992. ERICEIRA, João Batista. A reinvenção do judiciário: coletâneas de artigos publicados de 1996 a 1999. São Luís: ESA/OAB, 2006. JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. João Francisco Lisboa: Jornalista e Historiador. São Paulo: Ática, 1977. MORAES, Jomar. Apontamentos de literatura maranhense. São Luís: Editora Sioge, 1977. LISBOA. João Francisco. Obras de João Francisco Lisboa. 4 ed. vol. IV. São Luís: Edições AML, 2012. MEIRELES, Mario M. Panorama da literatura maranhense. São Luís: Imprensa Oficial, 1955. PAIS, Amélia Pinto. Padre Antônio Vieira: o imperador da língua portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. TIM, Emerson. 318 citações do Padre Antônio Vieira: escolhidos por Emerson Tim. São Paulo, SP: Tordesilhas, 2011. SARNEY, José. O imperador Antônio Vieira. Brasília: Senado Federal, 2008. VIEIRA, Antônio. As lágrimas de Heráclito: fixação dos textos, introdução e notas de Sonia N. Salomão. São Paulo: Ed. 34, 2001. VIEIRA, Antônio. Essencial Padre Antônio Vieira: organizações e introdução de Alfredo Bosi. São Paulo: Penguim Classics Companhia das Letras, 2011. VIEIRA, Antônio. Sermões: Tomo primeiro. Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro-Editor. VIEIRA, Antônio. Sermões: Tomo segundo. Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro-Editor. VIEIRA, Antônio. Sermões. Rio de Janeiro: Editora Três, 1974.
APRESENTAÇÃO DE DILERCY ARAGÃO ADLER NO DIA DE SEU “ELOGIO AO PATRONO”
ANDRÉ GONZALEZ CRUZ Dilercy Aragão Adler nasceu na cidade de São Vicente Férrer, interior do Maranhão, no dia 07/07/1950. É filha de Francisco Dias Adler e de Joana Aragão Adler, mãe de Danielle, Milena e Michelle e avó de Daniel Victor, João Marcelo, Caetano, Arthur, Lara, Diana e Gabriela. Aos seis anos de idade, Dilercy já sabia ler e escrever. Ela fez o curso primário na “Escola Modelo ‘Benedito Leite’”, entre os anos de 1957 e 1961, conseguindo, logo em seguida, aprovação no “Ginásio Estadual do Instituto de Educação”, onde cursou o Ginásio e o Curso Normal. Já em 1968, graduou-se como Professora Normalista e, ao final desse curso, foi para Brasília, fazer vestibular para o curso de Psicologia. Na ocasião, submeteu-se, também, ao concurso para Professor da “Fundação Educacional de Distrito Federal”, obtendo aprovação em ambos. Assim, em 1969, Dilercy iniciava os seus estudos em Psicologia, no Centro de Ensino Unificado de Brasília, e o seu trabalho como Professora Primária na Rede de Ensino Pública de Brasília. No ano de 1972, ela se graduou em Bacharel e Licenciatura em Psicologia no Centro de Ensino Unificado de Brasília e, já no ano seguinte, graduou-se em Psicologia. Em nível de Pós-Graduação, Dilercy tem Doutorado em Ciências Pedagógicas pelo ICCP, de Cuba, concluído em 2005 e revalidado pela UnB em 2007. Possui ainda Mestrado em Educação pela Universidade Federal do Maranhão, concluído em 1990, e 2 Especializações, uma em Metodologia da Pesquisa em Psicologia, pela UFMA, em 1981, e outra em Sociologia, também pela UFMA, em 1984. Isto fora os vários cursos de aperfeiçoamento realizados. Ela iniciou a sua carreira profissional na área pedagógica, como já falado anteriormente, na Fundação Educacional de Distrito Federal, em 1969, como Professora alfabetizadora nas periferias de Brasília, mantendo, portanto, um contato próximo com as camadas mais pobres da sociedade, o que, certamente, ajudou na formação da sua personalidade, que se revela marcada por traços de simpatia, simplicidade e honestidade, em especial no trato com as pessoas que lhe cercam. Tais características restaram fortalecidas quando Dilercy Adler fez, após aprovação na respectiva seleção, um curso de Aperfeiçoamento e Treinamento para Professores de Educação Musical, bem como quando ela trabalhou com alunos portadores de necessidades especiais durante os 2 últimos anos na Fundação
Educacional de Distrito Federal, onde permaneceu até 1974, momento em que solicitou a rescisão de seu contrato, para o seu retorno a nossa cidade de São Luís. Nesse mesmo ano, já nesta capital, iniciou trabalho clínico num consultório particular, com a sua contratação, pouco após, para trabalhar na Fundação do Bem-Estar Social do Estado do Maranhão, exercendo a função de Psicóloga, onde permaneceu até 1976. Já em 1978, Dilercy foi contratada para trabalhar na Companhia de Desenvolvimento de Distritos Industriais do Maranhão, como Assessora Técnica, onde permaneceu até 1980, quando iniciou os seus trabalhos na Universidade Federal do Maranhão. Entre 1974 e 1980, desenvolveu alguns trabalhos sem vínculo, a exemplo de atendimentos psicológicos a alunos da APAE (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais). Dilercy Adler fundou a Associação Profissional de Psicólogos do Estado do Maranhão, da qual foi a 1ª Presidente, entre 1986 e 1989. Ainda foi representante no Conselho de Psicologia da 2ª Região entre os anos de 1983 e 1992. Já na UFMA, trabalhou durante 16 anos, de 1980 a 1996, ano da sua aposentadoria. Nesse interregno, coordenou inúmeros projetos, como o “Pré-escolar Comunitário da Vila Palmeira”, “Em Busca da Reconstrução da Escola Normal” e “Psiquiatria Comunitária”. Exerceu também atividades de direção em campus universitários da UFMA, representando a Universidade em inúmeros eventos e em outras instituições. Nesse olhar, destaca-se que a grande maioria dos projetos que foram desenvolvidos ou tiveram a participação de Dilercy na Universidade Federal do Maranhão tiveram como público-alvo pessoas das camadas mais pobres da capital maranhense e do interior do Estado, demonstrando todo o seu engajamento com a questão social. Ela foi Professora dos cursos de Graduação e de Pós-Graduação da UFMA e desenvolveu atividades de pesquisa na Graduação do UniCEUMA. Em 1995, Dilercy Adler participou de intercâmbio entre a UFMA e o Centro de Psiquiatria Social de Tradate, na Itália, onde desenvolveu serviços clínicos. Atualmente, ela é professora da Graduação e da Pós-Graduação da Faculdade do Maranhão (FACAM) e membro do Banco de Avaliadores do SINAES, do INEP. É autora de inúmeros artigos e de outras publicações. Sua primeira publicação é datada de 1991, chamada “Crônicas & Poemas Róseos-Gris”. De lá para cá, foram muitos os trabalhos publicados, como “Arte Despida”, do ano de 1999, “Alfabetização & Pobreza”, datada de 2002, “Joana Aragão Adler: uma história de amor e de fé... uma história sem fim”, de 2005, “Poesia feminina: estranha arte de parir palavras”, de 2011, e mais recentemente, em 2013, “Mil poemas para Gonçalves Dias”, somente a título exemplificativo. Dilercy é membro de várias entidades. Ela é titular da Cadeira nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Presidente fundadora da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, dentre outras, e ocupa a Cadeira nº 8 desta Academia Ludovicense de Letras, sendo uma de suas fundadoras e primeira e atual VicePresidente.
Já recebeu vários prêmios e títulos literários e culturais, alguns até de envergadura internacional, na Itália, na Bolívia e nos Estados Unidos, por exemplo. Por fim, quero registrar que estas palavras não são suficientes para expressar a grandiosidade dessa mulher. Quem a conhece, sabe muito bem do que estou falando. Mas cumpro aqui o meu dever. Esta é Dilercy.
ELOGIO À PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense; hoje, uma missão de amor!
DILERCY ARAGÃO ADLER
Cadeira nº 8 São Luís, 09 de agosto de 2014 Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Maria Firmina Dos Reis MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem, uma maranhense¹; hoje, uma missão de amor! (1825-1917) Hino à libertação dos escravos Salve Pátria do Progresso! Salve! Salve Deus a Igualdade! Salve! Salve o Sol que raiou hoje, Difundindo a Liberdade! Quebrou-se enfim a cadeia Da nefanda Escravidão! Aqueles que antes oprimias, Hoje terás como irmão! Maria Firmina dos Reis
Não foi por acaso que sugeri o nome de Maria Firmina para esta Casa; também não foi por acaso que a escolhi como patrona. Mas, antes de qualquer argumentação, quero agradecer às confreiras e aos confrades que acataram a minha sugestão do nome para a Casa e permitiram-me ficar com esta Cadeira que pretendo honrar com todo o empenho e com toda a alegria e entusiasmo do meu coração... O que eu denomino, hoje, Uma missão de amor! Escolhi Maria Firmina dos Reis11 para minha patrona, deliberadamente e com prazer, como já me referi, e essa intenção, fortemente acalentada, nasceu em uma cidade, num dia e num momento específicos, não tão distantes. Esse desejo nasceu na V Semana Literária Maria Firmina dos Reis, promovida pelo Centro de Ensino Médio Nossa Senhora da Assunção, localizado no município de Guimarães, no período de 26 a 30 de novembro de 2012. Na ocasião, propus ao Professor e Vereador Osvaldo Gomes que integrasse à programação desse evento uma homenagem póstuma (mesmo um pouco atrasada) a Gonçalves Dias. Essa homenagem estaria, por sua vez, dentro da programação do Projeto Mil poemas para Gonçalves Dias. A proposta foi aceita e eu fui a Guimarães participar do evento, juntamente com Clores Holanda (representando o IHGM). Lá falei dos Mil Poemas para Gonçalves Dias e foi celebrada uma missa em memória de Gonçalves Dias, em Araoca/Atins/Guimarães. Ainda nessa ocasião, nesse bem-aventurado evento vi, ouvi e vivi Maria Firmina na voz e interpretação teatral dos alunos da escola e me encantei!... Voltei a São Luís determinada a buscar mais informações sobre ela e iniciei as minhas pesquisas sobre a sua vida. E o encanto se fortaleceu e me embeveci com a história de Maria Firmina, desde como esta foi concebida, fruto de um amor proibido... Proibido pela moralidade equivocada, distorcida e desumana da época... Encantei-me com a sua tenacidade e pertinente teimosia, ao insistir em desempenhar funções e papéis que não cabiam à mulher da sua sociedade... Encantei-me com sua inteligência que extrapolava os seus conhecimentos e com sua capacidade de expressá-los oral e graficamente, burlando as barreiras machistas, através de pseudônimos, entre outros, para não deixar morrer as ideias, o eco dessas mensagens de igualdade, de liberdade, do verdadeiro sentido de humanidade!... É verdade também que não conseguiu definitivamente o seu objetivo, embora participasse ativamente da vida intelectual maranhense publicando livros, participando de Antologias e sendo colaboradora de revistas e jornais no momento do seu despontar de escritora na sociedade maranhense. No entanto, foi posteriormente esquecida e excluída do Panteão dos grandes nomes da cultura local e brasileira por mais de um século.
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Antes de assinar o seu próprio nome nas suas obras, Maria Firmina utilizou dois criptônimos: - “Por uma Maranhense” – da literatura novel (1859) com romance e – “M.F.R.”- com uma poesia (1860), porém, logo desaparecem para dar lugar, definitivamente, ao nome Maria Firmina dos Reis. (MORAIS FILHO, 1975, p. 3).
Apesar desse lamentável episódio da nossa historiografia literária, após longo período de hibernação, voltou ao cenário das letras, e suas obras foram reveladas, (re)descobertas, trazidas à luz, pelas abençoadas mãos de Nascimento Morais Filho (maranhense) e Horácio Almeida (paraibano). Vejo no seu trabalho forte traço de teimosia, como já mencionei, e graças a ela, com força e leveza próprias da linguagem literária, coloca à mostra, de alguma forma, as suas elucubrações teóricas. Arlete Nogueira da Cruz, no seu livro Sal e Sol (2006), fundamentando-se no trabalho intelectual de Janilto Andrade, A Nação das Dobras da Ficção, explicita:
[...] Não fosse José Nascimento Morais Filho, o nosso Zé Morais, este contumaz andarilho de trilhas nunca antes percorridas, Maria Firmina dos Reis não teria vindo à luz. E quando ele a trouxe (no momento em que também a trazia o escritor paraibano Horácio Almeida), lembro bem, foram alvo de zombarias em São Luís: Zé Morais, Maria Firmina e o seu livro Úrsula; muitos considerando que era de pouca serventia aquele achado e exagerada a relevância que Zé Morais dava à sua descoberta. Pelos daqui, Maria Firmina dos Reis deveria permanecer onde se achava: no limbo. E a sua obra sob o tapete (CRUZ, 2006, p.265).
No limbo... Sob o tapete... Expressões que retratam não apenas rejeição, mas desprezo, o que não deixa de retratar a alienação e falta de humanidade no trato com as pessoas e suas obras por aqueles que se julgam donos do saber e da verdade. Todavia, a despeito de todas as condições e características adversas: mulata, pobre, bastarda, mulher, tudo isso em um Brasil escravocrata no século XIX, ainda assim, com os mais louváveis méritos, Maria Firmina dos Reis se estabelece, reconhecidamente hoje, como uma das escritoras mais admiráveis de toda a literatura brasileira... A justiça está sendo feita! Pois, como assevera Cruz (2006 p. 265):
Venho também insistindo que já é hora de abandonar essa mania de seguir a mesma trilha, de repetição, louvação e imitação, concordando mais uma vez com Zuleide Duarte quando ela cita Robert Frost: “Quem anda sempre pelo mesmo caminho nunca vai saber o que há nas outras estradas e isto faz toda a diferença”.
Ou seja, é indispensável sempre se percorrerem caminhos antagônicos àqueles traçados por uma elite intelectual e econômica, porque não se pode negar a força de tudo aquilo que por essa elite é ditado. No tocante a essa questão, no Posfácio do livro de Camila Maria Silva Nascimento (2011), é registrado por mim:
[...] a criatividade, como qualquer outro traço ou característica humana, necessita de condições adequadas para que possa se desenvolver. Algumas destas condições se relacionam com o espírito da época, com o clima psicológico ou social que predomina em uma determinada sociedade ou em determinado povo [...] Desse modo, tanto os fatores intrapessoais, interpessoais quanto individuais e sociais têm um impacto significativo na produção criativa do indivíduo e da sociedade. [...] Assim sendo, convém reforçar a importância do reconhecimento social como fundamental estímulo à criação. Assim também é necessário que aqueles que convivem com o indivíduo valorizem a sua criatividade.
A despeito da falta de todas essas condições elencadas, Maria Firmina não se atemorizou nem se recolheu; ousou continuar a externalizar e disponibilizar naquele tempo produções que pudessem ser valorizadas mais contundentemente, talvez em outros tempos... Assim a sua voz seria ouvida e o seu grito compartilhado com a força real com que tais obras foram produzidas!
[...] Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar. [...] Não queiras a vida Que eu sofro - levar, Resume tais dores Que podem matar. E eu as sofro todas, e nem sei Como posso existir! Vaga sombra entre os vivos, - mal podendo Meus pesares sentir." Excertos de: No Álbum de Uma Amiga In: CANTOS À BEIRA MAR, 1871.
Da sua biografia destaco a seguir alguns dados e episódios que, com certeza, não farão jus à grandiosidade de sua obra, em razão da minha visão limitada, limite insuperável da minha condição humana. Maria Firmina dos Reis nasceu em 1825, em São Luís, Maranhão. Seu pai, João Pedro Esteves, era negro, e sua mãe, Leonor Felipe dos Reis, branca, de origem portuguesa. Por parte de mãe, é prima do escritor maranhense Sotero dos Reis e viveu com uma tia materna cuja situação financeira era relativamente boa. Desde muito jovem, aos 22 anos, Maria Firmina dedicou-se ao magistério, uma das poucas atividades trabalhistas designadas às mulheres de sua época. Após ser aprovada em um concurso público (1847), passou a lecionar como professora de
primeiras letras na cidade de Guimarães - MA, tornando-se a primeira Mestra Régia desse município. Um episódio que demonstra sua sensibilidade e consciência política diz respeito ao dia em que foi receber o título de nomeação para exercer o cargo de professora. Seus familiares queriam que fosse de palanquim (espécie de liteira em que as pessoas mais ricas se faziam transportar, conduzidas por escravos) e ela recusou-se irrevogavelmente explicando: Negro não é animal para se andar montado nele. De forma inteligente e verdadeiramente cristã afirmava que a escravidão contradizia os princípios do cristianismo, que ensinava o homem a amar o próximo como a si mesmo. Esse episódio me faz lembrar Gandhi que falou certa vez para alguns ingleses: Eu admiro o Cristo de vocês, mas não compreendo o cristianismo de vocês (no sentido do espírito cristão do amor, da solidariedade, pois a Inglaterra dominava cruelmente a Índia). Não podemos duvidar que Maria Firmina foi e continua sendo considerada uma mulher, a exemplo de algumas outras, à frente do seu tempo, uma irrefutável visionária que ousou contribuir para a desconstrução da ideologia etnocêntrica e masculina vigente na sociedade da época por ela vivida. Sua luta, considero-a mais contundente (do que a atual), por ser uma luta que persiste em função dos ranços das ideologias existentes ainda na nossa sociedade. Outro realce necessário nessa empreitada é reconhecer a importante contribuição das artes, entre elas, a literatura, como instrumento de construção do conhecimento na ciência, no mundo social e político. Segundo Lyra,
Dentre as artes pode-se dizer que a Literatura apresenta maior capacidade de abrangência. Isso porque nenhuma outra linguagem artística apresenta o alcance da palavra (LYRA, apud ADLER, REVISTA IHGM N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 128-137).
Corroborando essa argumentação, ADLER pontua: [...] O poeta assim serve-se de recursos que impeçam o esquecimento das memórias que se tornaram indesejáveis pelas normas do coletivo intolerante gerando a censura, a qual resulta no recalcamento da verdade rejeitada incompatível com o convívio dos demais. Nesse sentido, o poeta busca o desnudamento, o desmascaramento, a quebra do espelho, a quebra dos ídolos, expressando a verdade negada, que por sua vez provoca as mais profundas transformações no homem e no seu meio (ADLER, REVISTA IHGM N. 31, novembro 2009 ed. Eletrônica 128-137).
No caso de Maria Firmina, as barreiras a serem transpostas eram recrudescidas, pois, enquanto os homens brancos e ricos iam para a Europa estudar nas melhores faculdades, até meados do século XIX, poucas eram as mulheres educadas formalmente. A educação para mulheres, ainda de forma precária, foi iniciada no período imperial, com a chegada da família real ao Brasil. A partir de então, segundo Lívia Menezes da Costa Molina, as mulheres começaram a moldar uma nova visão acerca do seu papel e passaram a materializar, nas artes, o instrumento de visibilidade do seu potencial e capacidade intelectuais. Vale salientar que a imprensa foi um importante veículo nesse processo; produções femininas começaram a ser publicadas na forma de artigos, crônicas e poesias, com o objetivo de contribuir para a superação da supremacia do pensamento preconceituoso dominante, ao qual eram submetidas. A ousadia da época pululava em temas revolucionários, abordando e defendendo direitos como o divórcio e também a abolição da escravidão. Neste último caso, libertando parte da população brasileira que ainda era considerada instrumento de trabalho, privada, portanto, da sua cidadania e de sua humanidade. Nesse contexto, seu romance Úrsula (1859), escrito quando tinha 34 anos, ganha relevância, uma vez que o enredo, além de incluir temas polêmicos que tratam de questões de gênero e etnia, delicados para a época, intencionava, também, propagar a produção literária feminina. No entanto, concomitante à sua audácia, podemos inferir que a verbalização da introjeção do sentimento de inferioridade é advinda da sua própria origem étnica, do gênero e do substrato social ao qual pertencia. Contudo, a mim não fica claro se é real (se ela se via realmente assim), ou se assim se expressava para diminuir o impacto da sua obra que ia de encontro aos valores e à moral da época, pois inicia o Prólogo do seu romance Úrsula, dizendo:
[...] mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a lume. Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo (REIS, 2004 p 13 apud MOLINA) (grifo meu).
Ainda assim, Maria Firmina provou que a busca pelo conhecimento não tem fronteiras físicas e deu ao mundo um romance pleno de denúncias, prova da sua rejeição às injustiças arraigadas na sociedade patriarcal e machista que tinha no escravo e na mulher suas principais vítimas.
O romance Úrsula, uma de suas obras mais marcantes, faz com que diversos historiadores atribuam à autora não apenas o título de a primeira romancista abolicionista brasileira, mas também como a escritora que publicou o primeiro romance da literatura afro-brasileira. Paralelamente às atividades de professora, Maria Firmina tinha participação constante na imprensa local, publicando diversas poesias, crônicas, contos e charadas. Entretanto, não chegou a ver sua principal obra reconhecida. Outro dado digno de realce é que, se ainda hoje é difícil publicar um livro, imagine-se no cenário do século XIX emoldurado por uma mulher e mestiça. Essas condições resultaram em que a sua obra e luta revelada ao grande público apenas se afirmaria na década de 1970, através dos estudos de Horácio de Almeida e de José Nascimento Morais Filho. Este último, grande pesquisador das obras da romancista, colheu depoimentos e registros de intelectuais de épocas que o antecederam. Morais Filho relata no seu livro MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA (1975, p. 3):
[...] Descobrimo-la, casualmente, em 1973, ao procurarmos nos bolorentos jornais do século XIX, na Biblioteca “Benedito Leite”, textos natalinos de autores maranhenses para nossa obra “Esperando a Missa do Galo”. Embora participasse da vida intelectual maranhense publicando livros ou colaborando quer em jornais e revistas literárias quer em antologias. -“Parnaso Maranhense”- cujos nomes foram relacionados, em nota, sem exceção, por Sílvio Romero, na sua “História da Literatura Brasileira”, registrada no “cartório intelectual” de Sacramento Blake - o “Dicionário Bibliográfico Brasileiro” - com surpreendentes informações, quase todas ratificadas por nossa pesquisa, Maria Firmina dos Reis, lida e aplaudida no seu tempo, foi como que por amnésia coletiva totalmente esquecida o nome e a obra!...
Na mesma obra, Morais Filho cita a notabilíssima obra A Literatura do Brasil, de Afrânio Coutinho, que trata da Ausência de Tradição, e explicita:
[...] Vive a literatura brasileira num dilema: uma tradição anti-tradicional que luta por formar-se, abrir caminho e consolidar-se, e outra reacionária que defende um passado morto, sem significação para nós. Mas, devida àquela negação de continuidade, há uma periódica desintegração das tentativas de criação das tradições, que não resistem e degeneram em movimentos frustrados. Em vez daquele equilíbrio pendular da permanência e da mudança, o que se verifica entre nós é a antropofagia das gerações: cada nova geração, marcada pelo cepticismo e pelo iconoclastismo, em vez de procurar formar-se só tem uma diretriz, a destruição do que a antecedeu (COUTINHO apud MORAIS FILHO, 1975, p. 03).
Nessa perspectiva, segundo Morais Filho, a entrada oficial de Maria Firmina dos Reis na Literatura maranhense foi bem recepcionada pela imprensa maranhense com palavras de entusiasmo e estímulo à estreante. Convém transcrever:
[...] rompendo a cadeia dos preconceitos sociais que segregavam a mulher da vida intelectual, vinha contribuir com suas forças, seus sonhos e ideais para a criação da Literatura maranhense, para a presença maranhense na formação da Literatura Brasileira - ainda em nossos dias o embrião de uma vida em laboriosa gestação (MORAIS FILHO, 1975, p. 3).
Entretanto, ainda conforme esse autor, Maria Firmina foi vítima posteriormente de uma amnésia coletiva, ficando totalmente esquecidos o seu nome e a sua obra, mas, como a Fênix, ressurgiu também das cinzas. É conveniente enfatizar ainda o registro de Morais Filho (1975), no que diz respeito a duas individualidades femininas: Maria Firmina dos Reis e D. Ana Jansen, que deram outras dimensões à mulher maranhense e acerca das quais ele traça um paralelo interessante e pertinente:
Com elas a Mulher maranhense deixa de ser apenas a “Senhora Prendada” dos salões, que a escola educou, não para a vida, e sim para o casamento [...] Donana Jansen deu-lhe Personalidade Política e Maria Firmina dos Reis deu-lhe Personalidade Literária (grifo meu).
Isso porque, segundo esse escritor, enquanto Donana Jansen era senhora de um Império Econômico, que tinha São Luís como capital, Maria Firmina dos Reis era senhora de um Reino Encantado, que tinha por sede Guimarães. E mais, aliada à individualidade de Maria Firmina dos Reis, além da denominação honorífica de Primeira Personalidade Literária Feminina do Maranhão, configurava uma Personalidade Educacional, por ela ter sido a primeira Mestra Régia em Guimarães e por ter criado a primeira escola mista também em Guimarães. Atrevo-me, porém, a acrescentar a essas Personalidades a ela atribuídas a Personalidade Política, por toda a sua postura revolucionária, visionária e humanizada, tanto na sua literatura como na sua prática educacional, e ainda nas questões cotidianas, a exemplo da recusa de ser carregada por escravos, uma prática das pessoas de prestígio, a qual ela refutou concretamente na sua história de luta, contribuindo para a desconstrução dos preconceitos e apartheids (no sentido africano, de vidas separadas)
vigentes na sociedade do seu tempo, embora muitos deles perdurem nos dias atuais, em outras formas e linguagens. No meu entender, a sua Personalidade Política, retratada no seu inquestionável engajamento político, é o sustentáculo da sua obra literária e da sua vida. Essa certeza me encanta através da clara visão dos seus atos e palavras passando por todas as questões que limitam a felicidade do ser humano em seu coletivo. Quanto à Donana Jansen, é importante mencionar que, além de senhora de um Império Econômico, também é considerada uma grande incentivadora da cultura, pois os conhecidos saraus por ela realizados materializavam veículos de difusão da cultura. Talvez um dos atos mais significativos dessas mulheres tenha sido tirar a mulher do silêncio a ela imposto por séculos. No caso de Maria Firmina, esta, gritando a sua palavra, a palavra da mulher, somando-a à dos homens, possibilitou o nascimento da palavra feminina. Palavra é criação! A exemplo do que é expresso em João 1:1: No princípio era o verbo, [...], cujo versículo tomo emprestado:
NO PRINCÍPIO ERA O VERBO O verbo é o princípio de tudo “no princípio era o verbo” o verbo no mundo o verbo nos muda o verbo deixa-nos mudos! é o verbo o princípio de tudo no princípio era o verbo!... In: GENESIS IV LIVRO, ADLER, 2000.
Segundo os biógrafos de Maria Firmina, ela Teve em vida o privilégio de presenciar a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República. Mas me pergunto se isso pode ser intitulado de privilégio. Em relação ao primeiro fato - a Abolição da Escravatura-, em que ocorre a devolução de algo, que é inerente à vida humana, a seres que foram desumanamente expropriados através da força e violência. Ademais, essa devolução não é acompanhada de nenhuma compensação (se é que pode existir compensação quando se trata de vidas, de dores físicas e morais impingidas a semelhantes por um pequeno segmento imoral revestido de autoridade, elegância e religiosidade). Esse acontecimento levou Maria Firmina, com a sensibilidade que lhe era peculiar, a compor o HINO DA LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS (letra e música), em 1888. Quanto ao segundo fato - Proclamação da República -, apesar de historicamente ser considerado um avanço para a sociedade brasileira, não posso deixar de nomeá-lo também ilegítimo, porque a nossa República continuou a dominação anterior, vigente desde o descobrimento, firmando-se à custa do extermínio de muitos dos verdadeiros
donos desta terra, os quais até hoje sofrem segregação e depreciação dos seus valores culturais e políticos. Essas questões são tratadas literariamente tanto por Maria Firmina como por seu contemporâneo e compatriota Gonçalves Dias, mostrando convergências do pensamento humanista comungado por ambos. No tocante às nações indígenas, Gonçalves Dias escreveu Um canto de morte de I-Juca Pirama- Canto IV, que traduz parte desse momento de ruptura da vida do índio, antes permeada pela altivez e liberdade. Um povo bravo, que desconhecia a ambição e a perfídia. A seguir excertos do Um canto de morte:
IV [...] Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi. [...] Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado inconstante, Guerreiros, nasci; Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte; Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi. [...]
Maria Firmina publicou o seu romance GUPEVA, em 1861, e seu O CANTO DO TUPI também trata a questão indígena com respeito, igualdade e decanta a sua bravura.
O CANTO DO TUPI Sou filho das selvas – não temo o combate, Não temo o guerreiro - guerreiro nasci; Sou bravo - eu invoco do bravo o valor, Sou filho dum bravo, valente tupi [...] Eu vivo nas selvas – nas selvas imensas, Que vastas se estendem nas terras do norte; Se corro à peleja, bem sei que a vitória
Pertence ao meu braço, que é grande, que é forte. [...] Eu vivo nas selvas - nas selvas do norte Sou índio valente, valente tupi. Temido na guerra – do bravo temido, Possante guerreiro, nas salvas nasci. [...]
Lamentavelmente, a implacável violência do conquistador-dominador continua e seu teor é traduzido no poema a seguir. NA MISSÃO No aldeamento quem mandava não era mais o chefe indígena. Quem mandava era o missionário. Era o missionário que mandava plantar a roça. Era o missionário que mandava assistir à missa. Era o missionário que mandava construir as casas. O missionário mandava na vida do índio. Na missão os índios trabalhavam para os padres. Tinham que trabalhar três dias por semana para os padres. Tinham que trabalhar com hora marcada. Não podiam mais caçar na hora que queriam. Não podiam mais pescar na hora que queriam. Não eram mais eles que dividiam a caça. Não eram mais eles que dividiam todas as coisas da roça. O aldeamento da missão quase acabou com os índios. Os índios morreram de doença. Morreram de fome. Morreram de tristeza. IN: Conselho Indigenista Missionário – CIMI, 1975,- autor desconhecido.
É oportuno registrar que, além dos livros, contos, das poesias e charadas, Maria Firmina dos Reis incursiona pelo mundo da música compondo letras e melodias, entre os quais, hinos (à Libertação dos Escravos, à Mocidade), Auto de Bumba Meu Boi e outras composições. Contudo, além do Hino à libertação dos escravos, outra composição que me chama muito a atenção é uma música intitulada Valsa, cuja letra é atribuída a Gonçalves Dias, e música, à Maria Firmina, no livro de Nascimento de Morais Filho. De fato, ao analisar a letra, fico intrigada e tendente a questionar a autoria de Gonçalves Dias. E o que me leva a duvidar ser Gonçalves Dias o autor dessa poesia? É o próprio conteúdo: primeiro, por não acreditar que Gonçalves Dias fizesse uma poesia em sua própria homenagem e, em segundo lugar, só poderia ser de sua autoria se Gonçalves Dias tivesse tido uma premonição acerca das condições da sua morte. Osvaldo Gomes, Professor, Vereador, Presidente Fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães, afirma que tanto a letra quanto a música são de Maria Firmina. Comungo com essa afirmação.
A bela Valsa a seguir é, como podemos perceber, uma homenagem de Maria Firmina ao seu compatriota e companheiro de lutas por uma sociedade melhor, Antônio Gonçalves Dias.
VALSA Quem me pode escutar nesta altura Os segredos que minha alma contém. Quem me pode enxugar este pranto Que nas águas se embebem também. Estas ondas que vão para a terra Levarão meu barquinho tão só; Acharão meu cadáver nas águas Mergulhado num túmulo de pó. Não terei no sepulcro uma lousa Onde possa meu nome escrever; Onde a planta não brota uma flor E o cipreste não pode crescer Lá, na sombra do alto coqueiro, Dormirei sobre a praia ao luar; Pescadores que velam alta noite Acharão meu cadáver no mar. Amanhã na deserta enseada Onde as águas revoltadas vem. Entre espumas e búzios da praia. Acharão os meus restos também. Alta noite!... todos dormem!... Brilha a lua como um dia. Brilha um poeta entre os búzios. - Antônio Gonçalves Dias!
Poesia Gonçalves Dias e Música de Maria Firmina dos Reis ou Poesia e Música de Maria Firmina dos Reis. Outro ponto de conexão da escritora com Gonçalves Dias é o Canto de recordação, composição (letra e música) de Maria Firmina dedicada a uma praia do município de Guimarães, chamada Cumã, no local onde o navio Ville de Boulogne afundou, fazendo como única vítima o poeta caxiense. Quem sabe o amor à vida, à luta pela humanização do ser humano levou Gonçalves Dias a dar os seus últimos suspiros nas águas da baía de Cumã: Nesta praia de límpidas areias./ Prateada de noite pela lua./ Passo horas cismando em meus amores./ me perdia olhando a imagem sua. [...] Ainda na última estrofe dessa canção, assim diz o primeiro verso: Meu recinto não passa desta praia./. Então lá ficou Gonçalves Dias, se encantou como dizem os
vimarenses, no abraço das ondas da praia da qual Maria Firmina dizia: Meu recinto não passa desta praia. Nesse recinto estão os dois, com certeza! Vale lembrar que 1975 foi instituído como o Ano Internacional da Mulher e nesse mesmo ano foi também comemorado, no dia 11 de outubro, o Sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis, que contou com uma vasta programação, e, entre as homenagens prestadas a ela, a Prefeitura e a Câmara Municipal de Guimarães decretaram esse dia feriado municipal a partir daquele ano. Por fim, é triste registrar também que, apesar de toda a sua luta por uma sociedade mais justa e igualitária, Maria Firmina faleceu pobre e cega, no dia 11 de novembro de 1917, aos 92 anos. Segundo Nascimento de Morais Filho, aos 80 anos retratava o quadro da velhinha negra de cabelos grisalhos, amarrados atrás da nuca, vestida de roupas escuras e sandálias. Imagino a cena... E vejo-a com o peso dos anos somado à dor de um tempo cruel, a exemplo de outros tantos, que rouba partículas essenciais de vida, sugando de forma perversa e incessante o que de mais belo um ser humano pode ter. Ante o exposto, reafirmo que esta Academia deve primar pela consecução da sua finalidade, constante no seu Estatuto:
[...] o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior.
E acrescento: sem distinção de gênero, credo, raça, religião, condições econômicas, ou outra qualquer que possa segregar cidadãos, pessoas, para que não se repitam injustiças na nossa história cultural. Nesse sentido, devemos reavivar a nossa memória, principalmente no que concerne àqueles que não tiveram o devido reconhecimento no seu tempo ou depois dele. Assim, como ocupante da sua Cadeira nesta Casa, a Casa Maria Firmina dos Reis, prometo empreender esforços para reparar as lacunas dos registros existentes e buscar fortalecer o reconhecimento, as homenagens à Maria Firmina. Esse é o meu propósito, uma das minhas missões dentro desta Casa. Presto, desse modo, esta homenagem à Maria Firmina dos Reis, uma bela representante das filhas de Eva, habitante do panteão da Mulher, que abriga todas as mulheres da História da humanidade, as deusas, as humanas [...], as reveladas ou as invisíveis [...], que ousaram e ousam ainda quebrar os paradigmas opressores do seu tempo, e destemidamente fizeram da fragilidade feminina a sua força, o seu escudo, a sua lança nos embates indispensáveis da vida, sem esquecer o amor e o erotismo,
forças geratrizes de vida e de criação (ADLER, 2011 p.3). E, oportunamente, lhe dedico este acróstico como mais uma singela homenagem.
ACRÓSTICO MARIA FIRMINA M aria Firmina A mou a humanidade R esgatou o sentido da vida e da liberdade I ncansável e A morosamente em cantos versos e gestos de solidariedade! F oi fiel aos verdadeiros princípios cristãos I ndignou-se contra a vil e ignóbil escravidão R evolucionou os costumes da sua época M ansa e tenazmente I mpôs-se heroicamente numa luta desigual N o limbo - sob o tapete hibernou mais de um século- injustiçada A gora – hoje- te damos esta casa para seres por nós e muitos outros sempre sempre lembrada!!!! (ADLER, junho de 2014) ESPAÇO FEMININO Espaço mulher mulher no espaço espaçonave espaço cósmico cômico espaço... inusitado das normas do corpo do sexo do leite materno que eterno sangra do peito a jorrar boca a dentro do homem! Dilercy Adler In: Crônicas & Poemas Róseos-Gris, 1991
REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. GENESIS IV LIVRO, São Luís: Estação Gráfica, 2000. ________.A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville Revista do IHGM N. 31 – , novembro 2009 ed. Eletrônica (44-53). ________A ARTE E A POESIA ENQUANTO CAMPO DE CONHECIMENTO: à guisa de reflexões. Revista do IHGM N. 31, novembro 2009, ed. Eletrônica (128137). ______POESIA FEMININA: estranha arte de parir palavras. São Luís: Estação Gráfica, 2011. CRUZ, Arlete Nogueira da. Sal e Sol. Rio de Janeiro: Imago, 2006. CONSELHO MUNDIAL DOS POVOS INDÍGENAS, Port Alberi, 1975. IN: ZENUN, Katsue. DUARTE, Eduardo de Assis. MARIA FIRMINA DOS REIS E OS PRIMÓRDIOS DA FICÇÃO AFRO-BRASILEIRA. Florianópolis:Editora Mulheres; Belo Horizonte :Ed. PUC Minas, 2004. LYRA, Pedro. LITERATURA E IDEOLOGIA Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. MOLINA, Lívia Menezes da Costa www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/102/mariafirminacritica02.pdf MORAIS José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975. NASCIMENTO, Camila Maria Silva. DILERCY ADLER: a tecelã de Eros nos trópicos maranhenses. São Luís: Estação Gráfica, 2011. REIS, Maria Firmina dos. ÚRSULA. Florianópolis: Editora Mulheres; Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2004.
HOMENAGEM A MARIA FIRMINA
OSVALDO GOMES Homenagem da Cidade de Guimarães à Maria Firmina dos Reis: - Osvaldo Gomes: Sobre Maria Firmina Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Senhores Acadêmicos, Autoridades aqui presentes e representantes, Meus alunos, caros amigos, Meus senhores, minhas senhoras. Nesta manha de agosto, esta Academia de Letras completa um ano de fundação. Sinto-me feliz por poder participar desta comemoração e estar aqui, junto com os nossos alunos e professores do C. E. Nossa Senhora da Assunção, escola de Ensino Médio - que no próximo dia 15 de agosto estará completando 57 anos de fundação. A missão Canadense plantou sementes nas terras férteis de Guimarães, e estas sementes estão dando frutos. Guimarães, cidade bicentenária que foi fundada em 1758, pelo Governador Gonçalo Pereira, originada da fazenda Guarapiranga de propriedade de José Bruno de Barros, o herdeiro filho do Alcantarense João Teófilo de Barros com a sua escrava Silvana. Fazenda esta que prosperou e consequentemente transformou-se um pequeno vilarejo. Terras que eram habitadas pelos tupinambás, onde iniciava a estrada para o Pará e tem nas páginas dos livros uma bela História que nos orgulha de sermos vimarenses. Por lá, nessas terras que não são tão distantes daqui, onde o céu é mais azul, o vento a sibilar, as palmeiras a dançarem, e onde está encantado o poeta maior do Maranhão – Antônio Gonçalves Dias -, nasceram grandes homens que deixaram suas contribuições para o nosso País, cito: Urbano Santos, Monsenhor Estrela, João Pedro Dias Vieira, Sousândrade, Jomar Moraes, Lopes Bogea, Paulo Oliveira e tantos outros que levaria tempo para cita-los, mais são lembrados em pensamentos.
Dentre estes vimarense citados e os lembrados, não poderiam deixar esquecida, por ser ludovicense de nascimento, mas vimarense de Coração, e motivo que nos fez atravessar este imenso mar que separa a ilha do continente, do descanso do sábado: Maria Firmina dos Reis, patrona desta casa, que precisa ter a sua obra estudada e sempre lembrada, e que nos orgulha pela mulher que foi: Romancista, autora de crônicas, charadas, folclorista, compositora. A quem, nesse momento, expresso as minhas sinceras homenagens, e da cidade de Guimarães. Aos cinco anos de vida, muda-se com a sua mãe para Guimarães onde vive até os 92 anos. O magistério: sua paixão conquistada, através do concurso público para a “Cadeira de Instrução Primária” na cidade de Guimarães-MA aos 22 anos de idade. Ao falecer, em 11 de novembro de 1917, é conduzido à última morada, no cemitério Publico de Guimarães, ficando no esquecimento até ser encontrada nos porões dos arquivos pelo jornalista Nascimento Moraes Filho, no inicio dos anos de 1970, e apoiado nas suas pesquisas pela Sr.ª Alice Gomes Nogueira, que teve o privilegio de morar na mesma casa em que foi da primeira romancista brasileira, privilegio este de poder sentir a inspiração das suas obras. Esta Alice, fã de Maria Firmina, não deixou passar em branco o seu 150º aniversario de nascimento, em 11 de outubro de 1975 ao organizar a maior festa já realizada em homenagem à escritora, na administração do meu saudoso pai Agenor Oswaldo Gomes Filho prefeito da época, que deu total liberdade para a realização do evento. Nessa mesma data foi promulgada a Lei Municipal que torna o dia 11 de outubro, Feriado Municipal – “Dia da Mulher Vimarense” – Dia de Maria Firmina dos Reis como é lembrado por muitos moradores. Aprendeu ler e escrever sozinha. Falava francês fluentemente, e tinha como ídolo o poeta de “Ainda uma vez Adeus. Não sabemos, não temos registro que os dois se conheciam, mesmo assim imaginamos esse encontro deles em algum lugar, em algum momento. Maria Firmina foi uma mulher audaciosa, por viver numa sociedade em que as mulheres eram apenas vistas como objeto particular dos homens, preparadas para o casamento, obrigadas a aprenderem bons modos, um pouco de francês, saber cozinhar e costurar. Ler e escrever uma raridade. Ela rompeu tudo isso e foi a luta, e mais ainda saiu na frente de todos ao escrever do ponto de vista de uma mulher negra, um romance, “Úrsula” - que inaugura em nossas letras, a trajetória do romance de introspecção, que evoca os sentimentos e sensações das personagens, para além de um tempo cronológico, como é característico dos romances dessa natureza primeiro romance abolicionista da literatura brasileira, é também o primeiro da literatura afro-brasileira, entendida como produção de autoria afrodescendente, que tematiza a negritude a partir de uma perspectiva interna e comprometida politicamente em recuperar e narrar a condição do negro em nosso país.” O mar servia de inspiração para as suas poesias assim como a escravidão. Fez da literatura um instrumento de denúncia da escravidão, mostrando o quanto sua existência era contraditória com a fé cristã professada pela sociedade. Foi compositora, autora de valsas, como os famosos versos da Garrafa, ou o Hino da Abolição. À Beira- mar, com certeza declamava: Em março de 1881, foi aposentada, revolucionando a pequena Vila ao fundar em Maçarico no ano de 1880 a primeira escola mista, com ensino gratuito para quase todos os alunos e alunas, causando escândalo e por isso foi obrigada a fecha-la depois de dois
anos e meio. Sua vida também é repleta de fatos que demonstram que ela era possuidora de cultura e de consciência política e social fora dos padrões estabelecidos pela sociedade interiorana e escravocrata do século XIX. Simples como ela, chegamos ao final desta modesta homenagem da cidade de Guimarães, a essa mulher, negra, abolicionista. E sendo da terra que deu ao Maranhão o sotaque zabumba, a nossa homenageada também foi além, onde compôs uma toada de bumba – meu – boi, a qual deixamos aqui como nossa forma de dizer. Muito obrigado. Muito obrigado Maria Firmina dos Reis.
ALL NA Mテ好IA
Foi publicado, na revista italiana Il Convivio, de Poesia, Arte e Cultura, editada trimestralmente pela Accademia Internazionale 'Il Convivio' (anno XV, numero 2, 57, Aprile-Giugno 2014), sediada em Castiglione di Sicilia (CT), o poema "O porteiro", da escritora e poeta maranhense Ana Luiza Almeida Ferro, membro efetivo da ALL, antes publicado no livro Versos e anversos (2002). Além do texto em português, foi incluída a versão para o italiano, intitulada "Il custode", mediante tradução de Angelo Manitta (p. 48). A revista Il Convivio é dedicada à publicação de poemas e contos italianos e em francês, espanhol e português, além de comentários e ilustrações sobre arte, em especial a pintura.
Conferência do Prof. Aymoré Alvim na Residência de Psiquiatria com o tema “Medicina e Religião”.
Dia 6 de junho (sexta-feira), no auditório do Hospital Nina Rodrigues. As 15:30 horas, a conferência aberta "Medicina e Religião", tendo como conferencista o Prof. De. Aymoré Alvim. A atividade faz parte do módulo ciências básicas no campo da saúde mental.
SOBRE "FORTES LAÇOS" Primeiro livro do Prof. Antonio Augusto Ribeiro Brandão, lançado em 2007, registro na Página oficial da UFMA Professor Brandão visita a UFMA e cede livro à Biblioteca Central Foto Professor Brandão visita a UFMA e cede livro à Biblioteca Central Hoje pela manhã, 06, o reitor Natalino Salgado recebeu o professor Antonio Augusto Ribeiro Brandão, professor aposentado do Departamento de Economia da UFMA. O professor Brandão esteve recentemente em viagem pela Europa divulgando seu livro intitulado “Fortes Laços”, uma coletânea de crônicas e artigos publicados no Jornal “O Estado do Maranhão”. Ele relata que visitou a Universidade de Sorbonne em Paris, a Universidade de Coimbra em Portugal e a Universidade de Salamanca na Espanha. Nestas visitas, o professor Brandão cedeu cópias de seu livro para as bibliotecas destas universidades. Em visita à UFMA, o professor Brandão também trouxe uma cópia de seu livro para a Biblioteca Central. Perfil do Escritor Antonio Augusto Ribeiro Brandão é maranhense de Caxias, economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro e pós-graduado em Administração Contábil e Financeira pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. Foi professor titular fundador da Escola de Administração Pública do Estado do Maranhão e Federação das Escolas Superiores do Maranhão, atual Universidade Estadual do Maranhão, e professor assistente da Universidade Federal do Maranhão.
A POÉTICA DE DILERCY ARAGÃO ADLER, NO PANORAMA DA LITERATURA BRASILEIRA:
CONVITE Amigo (a), Convido-o (a) para a palestra "A França Equinocial e seu legado", que ministrarei no dia 18/07, sexta-feira, das 16h30 às 17h30, na II MOSTRA ESTADUAL DE LITERATURA. Local: Sala de multimídia do Odylo Costa Filho, Praia Grande, São Luís-MA. Contato: (98) 9974-7585 (Whatsapp)
LONDRINA - PARANÁ
INFLUENCIA MILITAR NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IHGM / ALL / MARANHÃO RESUMO – A historiografia no campo da educação física tem afirmado, em vários estudos, a prerrogativa dos militares na educação por meio da educação física. Desde o século XVIII, encontram-se propostas precursoras de um tipo de Educação Física que se tornaria em modelo pedagógico para os séculos seguintes: a gymnastica, constituída como um conjunto de exercícios organizados com o objetivo de cuidar do corpo. EDUCAÇÃO FÍSICA. INFLUENCIA MILITAR. HISTÓRIA
A historiografia no campo da educação física tem afirmado, em vários estudos, a prerrogativa dos militares na educação por meio da educação física (FINOCCIO, 2013). Desde o século XVIII, encontram-se propostas precursoras de um tipo de Educação Física que se tornaria em modelo pedagógico para os séculos seguintes (Basedow; Guts Muths; Vieth; Nachtegall; e outras): a gymnastica, constituída como um conjunto de exercícios organizados com o objetivo de cuidar do corpo (FINOCCHIO, 2013). O pedagogo e ativista político Friedrich Ludwig Jahn, por volta de 1809, adotou um princípio educacional realista, à guerra nacional, e desenvolveu um tipo de ginástica com valorização da luta. Criou aparelhos que se constituíam em representações de obstáculos naturais (ROUYER, 1977, citado por FINOCCHIO, 2013). Além de criar aparelhos e novas formas gímnicas, fundou, em 1811, o primeiro ginásio ao ar livre de Hasenheide, Berlim. Daí nasceu o termo "Turnkunst" pelo qual ele substitui a palavra "Gymnastik". A ginástica de Jahn, com um conteúdo mais social e patriótico, rapidamente superou as ideias pedagógicas de Guts-Muths, tendo por objetivo formar homens fortes para defender a pátria. Embora já houvesse várias formas de ginástica, acrescentou aos exercícios já conhecidos, as barras e a barra alta. Para Coertjens, Guazzdelli e Wasserman (2004) a utilização dos ‘turner’ entre o discurso nacionalista e a prática esportiva nos pequenos estados que, anos mais tarde, formaram o Estado alemão. A ginástica (turnen) se transforma em uma escola de patriotismo, educação para se preparar para a guerra de libertação; seu curso visava o "despertar da identidade nacional" (construção de uma nação). A ginástica é um conceito que engloba modalidades competitivas e não competitivas e envolve a prática de uma série de movimentos exigentes de força, flexibilidade e coordenação motora para fins únicos de aperfeiçoamento físico e mental. Tem sua origem no grego, gymnastiké - da palavra grega “gymnos” (nu) pelo fato de, na antiguidade clássica, os exercícios se praticarem com o corpo nu. É o conjunto dos exercícios corporais sistematizados, para esse fim, realizados no solo ou com auxílio de aparelhos e aplicados com objetivos educativos, competitivos, artísticos e terapêuticos, etc.
A prática só voltou a ser retomada - com ênfase desportiva e militar - no final do século XVIII, na Europa, com a influência de vários pensadores que se debruçaram sobre as vantagens da prática do exercício físico, destacando-se o contributo de JeanJacques Rousseau na obra pedagógica "Emílio", em que o autor se refere à necessidade da pratica física como meio para atingir a razão. A partir daqui surgiram várias correntes, que encontraram eco na Alemanha com Johann Bernard Basedow, pedagogo e educador, que conseguiu assimilar e transformar os princípios orientadores de Rousseau e impulsionou a ginástica, tendo para isso criado em 1775 o pentatlo de Dassau, no seu "Philanthropicum", constituído por provas de corrida, saltos, transporte, de equilíbrio e de trepar. Foi o primeiro pedagogo, desde a Antiguidade, a defender que o exercício físico deveria fazer parte dos programas das escolas primárias. Em 1784, Christian Gotthlif Saltzmann, pedagogo e educador, abre outro "Philanthropicum", em Schneppenthal12. Em 1785, Johann Christoph Friedrich GutsMuths, professor e educador, inicia sua obra com um novo conceito de ginástica. As ideias filantrópicas e os conteúdos pedagógicos de Guts-Muths tiveram eco nos países da Europa, especialmente na Suécia, Dinamarca e França. No período de 1861 a 1871 verifica-se a presença de alunos de nacionalidade brasileira no Philantropinum, sediado em Schnepfenthal. John Locke (1632-1704), um dos mais importantes teóricos do liberalismo, sintetiza suas concepções educacionais: formação do gentleman e dos “sem propriedades”. A educação dos que possuem a propriedade privada e posses deveria ser feita por preceptores capacitados e cultos, em local aprazível e com boas condições higiênicas, com ênfase nos saberes clássicos e na preparação do jovem como bom administrador dos negócios da família, para assumir posições de comando no estamento estatal e na guerra. Desde 1771 em Portugal, sob o balizamento da Universidade de Coimbra, se estabeleceu que as atividades físicas como conteúdo educacional, atendiam aos pressupostos da nova educação. As “Artes Liberais” nos Estatutos do Collegio Real de Nobres da Corte, e cidade de Lisboa eram a Cavalaria, Esgrima, e Dança. Apesar de contar ainda um sentido cavalheiresco (educação dos nobres), essa introdução se deu através das ideias burguesas. Immanuel Kant (1724-1804) propôs o fortalecimento das escolas públicas, em relação às domésticas, sob a consideração de que são mais propícias ao ensino de várias habilidades, e formadoras do caráter. Recomendava ainda escolas experimentais, que 12
No período de 1861 a 1871 verifica-se a presença de alunos de nacionalidade brasileira no Philantropinum, sediado em Schnepfenthal; dentre esses alunos vamos encontrar: NOME de La Roque, Jean de La Roque, Auguste de La Roque, Henri de La Roque, Guilherme De La Roque, Luiz de La Roque, Carlos
LOCAL E ANO NASCIMENTO Pará, 1850 Pará, 1851 Pará, 1849 Cametá, 1853 Pará, 1856 Pará, 1857
PERÍODO DE ESTUDOS 1861 – 1866 1861 – 1867 1861 – 1864 1863 – 1869 1865 – 1871 1865 – 1871
Naquela ocasião, informei a existência da Família LaRocque no Maranhão – do então senador Henrique de LaRocque Almeida. Os LaRocque - importante família estabelecida no Pará, procedem de dois irmãos: HENRIQUE de LaROCQUE e LUIZ de LaROCQUE . Efetivamente alguns LaRocque se estabeleceram no Maranhão, a partir de 1832. Fonte: Preisinger, M. (Arquivos de Schnepfenthal – 1998)
dariam direcionamento às várias escolas elementares. Em síntese, tinha como plano educativo uma educação pela moralidade, o fortalecimento das escolas públicas e o desenvolvimento de uma experimentação educativa. Para Finocchio (2013) em suas propostas de formação do ser humano, a burguesia pensava a educação como essencial à formação plena da personalidade do indivíduo, incluindo aí a educação do corpo como uma necessidade. A gymnastica consistia na metodização da educação do corpo, imprescindível à formação do homem, não só fortalecendo o corpo, mas enriquecendo o espírito e enobrecendo a alma. Francisco de Amorós y Ondeano (1770-1848) é conhecido por ser um dos fundadores da Educação Física moderna. Em razão de suas ideias liberais e do apoio a José Bonaparte I, em 1814 exilou-se na França e aí desenvolveu a Escola Francesa de Ginástica. Seu método, de inspiração pestalozziana e fundamentado em Locke e Rousseau, defendia a “educação integral”. Contudo, em sua ginástica prevalecia o lado militar sobre o educativo, tal como se pode notar em seu tratado Nouveau Manuel d’Education Physique, Gymnastique et Morale, no qual propõe um soldado da Pátria e um benfeitor da Humanidade. Diferente da europeia, desenvolvida ao final do século XVIII e início do seguinte, de caráter nacionalista, e visando à disciplina e ao treinamento físico, bem como à defesa nacional, a Educação Física na Inglaterra tomou aspecto diverso de outras nações: seu destaque não se deu na ginástica, mas no Esporte, em estreita relação com as transformações socioeconômicas resultantes das alterações produzidas pela Revolução Industrial, iniciada em 1760. Ainda que adotasse a gymnastica nas escolas básicas, como meio da educação do físico, era no ensino secundário, destinado à aristocracia e à burguesia, que se aprimoravam o cuidado do físico e o cuidado da formação moral, empregando os esportes. No começo do século XIX, o clérigo Thomas Arnold se utilizou de uma forma de ócio da classe dirigente, os jogos populares, para criar um novo modo de educação. O desporto, naquele momento, teve por função propor às classes dirigentes enriquecidas, mas em estado de degradação física e moral, uma formação mais adequada, em relação à tradicional. Apesar de grande reação religiosa e dos meios intelectuais, o desporto foi adotado para responder às conveniências práticas do imperialismo britânico (ROUYER, 1977, citado por FINOCCHIO, 2013). A partir da segunda metade do século XIX houve, ao seu final, uma biologização da educação física (PAIVA, 2003), ocorrendo a migração da preocupação com a abrangência da formação humana para o estabelecimento de sua especificidade, biológica. Finocchio (2013) ao analisar o processo de constituição do pensamento burguês nas relações econômicas, políticas e sociais brasileiras e o papel, dito civilizador, da educação em suas propostas de adequação da nação ao modo de produção capitalista, enfoca as expressões do pensamento burguês na Europa e sua influência sobre a gymnastica/educação física, considerando-a como elemento constitutivo de seu projeto educacional. Num segundo momento, observa a inclusão da Educação Física/Gymnastica na educação burguesa e, finalmente, identifica como essa prática assume funções objetivas em atendimento às sociedades em que se manifestaram e como são organizadas em “métodos” de Gymnastica. Às condições políticas da Alemanha no século XIX, por exemplo, deve-se o desenvolvimento de uma ginástica com função militarnacionalista; no desenvolvimento industrial e científico da Suécia, sobressai uma função nacionalista, de cuidados com o cidadão de forma que pudesse
preservar a paz, na formação do soldado e do operário. O método ginástico de Ling (1776-1839), fundamentado em estudos anatomo-fisiológicos, com um viés médico higiênico, é composto por uma série de movimentos segmentados, com uma série racional de movimentos. De acordo com Cancella (2012); Cancella e Mataruna (2013); e Finocchio (2013) a prática esportiva em meio militar foi intensificada na virada do século XIX para o XX sob o argumento de que para a estruturação das Forças Armadas era fundamental o desenvolvimento físico do pessoal militar. Estas atividades eram consideradas importantes para a formação não somente de militares mais preparados, mas também de potenciais “soldados-cidadãos” e “cidadãos-marinheiros” entre os praticantes civis. Por isso, as atividades físicas e esportivas foram gradativamente incorporadas aos currículos de instituições de ensino do país, iniciando este processo pelas escolas militares. Percebe-se a aproximação dos militares não somente das atividades ginásticas, mas também de práticas que possibilitassem o desenvolvimento de habilidades fundamentais para o exercício militar no período, práticas que posteriormente passariam a ser realizadas também em caráter esportivo como a natação, a esgrima e a equitação (CANCELLA, 2011). Os projetos de modernização para o Exército Brasileiro espelhavam-se nos modelos de organização das Forças estrangeiras. Assim, na edição de 1906 da Revista Militar, o Capitão do Estado-Maior de Artilharia Liberato Bittencourt destacava no artigo “Princípios geraes de organização dos exércitos” 12 temas que deveriam ser levados em conta neste processo de modernização. Entre os princípios elencados pelo autor, destaca-se o de número 10 “[...] Principio de educação physica, intellectual e moral: organisar os exércitos de modo a serem elles grandes escolas de educação physica, intellectual e moral da mocidade [...]”. A prática dos exercícios físico-militares nas escolas fazia parte de uma filosofia educacional geralmente desconhecida por regentes e pais. Alguns destes acreditavam que seus filhos corriam o risco de ter que entrar para a carreira militar por estarem participando dessas aulas nas escolas. Também havia aqueles que não viam nenhum sentido ou utilidade nos exercícios. Outros apontavam os riscos para a saúde de crianças e jovens, especialmente por inexistirem espaços físicos para a realização das atividades. (NASCIMENTO, 2012). Prossegue Nascimento (2012), essas atividades ensinadas por professores e militares tinham como objetivo preparar os alunos, a fim de que pudessem ser chamados para defender a nação em conflitos armados no futuro. O funcionamento dos nossos batalhões formados por estudantes e a prática desses exercícios nas escolas daqui foram bem menos intensos do que na Europa, mas ocorreram em instituições educacionais de vários estados e geraram muita polêmica. Melo e Peres (2013) e Peres (2013) trazem que a Junta Central de Hygiene Pública apresentava um relatório – a 15 de abril de 1885 -, cuja “espinhosa tarefa” era “levar ao conhecimento do Governo Imperial os factos mais culminantes occorridos no Império relativamente à saúde publica” (1885, p. A-F-1). A análise da estatística das mortes na cidade do Rio de Janeiro, um dos pontos centrais do relatório, dedicava especial atenção às causas da “notável” mortalidade infantil ocorrida no ano anterior. As relações entre higiene, medicina e saúde estruturaram projetos públicos e privados de educação (sobretudo, escolar) da população brasileira no decorrer do Império. Assim, a relação entre educação física, exercícios corporais e saúde pública
não era gratuita e nem óbvia. Tratava-se de uma construção que se deu de forma lenta, paulatina e muitas vezes pouca harmônica entre atores, práticas e ideias que configuravam o saber médico-científico do século XIX. (MELO, PERES, 2013; PERES, 2013). BIBLIOGRAFIA BITTENCOURT, Liberato. Princípios geraes de organização dos exércitos. Revista Militar, ano VIII, p. 341, citado por CANCELLA, Karina. A defesa da prática esportiva como elemento de preparação dos militares por meio das publicações institucionais “Revista Marítima Brasileira” e “Revista Militar”. Anais do XV ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA DA ANPUH-RIO, 2012. BRASIL. Decreto n° 2.116, de 01 de março de 1858. Aprova o Regulamento reformando os da Escola de aplicação do exercito e do curso de infantaria e cavalaria da Província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, e os estatutos da Escola Militar da Corte. Disponível em: http://www.camara.gov.br/Internet/InfDoc/conteudo/colecoes/ Legislacao/1858-pronto/leis1858/dec%20n%b02116-p1-01031858.pdf#page=1. BRASIL. Decreto n° 4.720, de 22 de abril de 1871. Altera o Regulamento da Escola de Marinha, em virtude da autorização contida no § 18 art. 8º da Lei nº 1836 de 27 de Setembro de 1870. BRASIL. Decreto n° 5.529, de 17 de janeiro de 1874. Aprova o Regulamento para as Escolas do Exercito. CANCELLA, Karina Barbosa O esporte e a Marinha do Brasil: primeiras aproximações e a institucionalização da prática esportiva através da criação da Liga de Sports da Marinha. In ANAIS DO XXVI SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – ANPUH • São Paulo, julho 2011 CANCELLA, Karina. A defesa da prática esportiva como elemento de preparação dos militares por meio das publicações institucionais “Revista Marítima Brasileira” e “Revista Militar”. Anais do XV ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA DA ANPUH-RIO, 2012. CANCELLA, Karina Barbosa; MATARUNA, Leonardo. Liga Militar de Football e a Liga de Sports da Marinha: uma análise comparativa do processo de fundação das primeiras entidades de organização esportiva militar do Brasil. In HOFMANN, Annette; VOTRE, Sebastião (organizadores). ESPORTE E EDUCAÇÃO FÍSICA AO REDOR DO MUNDO – PASSADO, PRESENTE E FUTURO. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 2013, p. 119-132. COERTJENS, Marcelo, GUAZZELLI, Cesar Barcellos; e WASSERMAN, Cláudia. Club de Regatas Guahyba-Porto Alegre: o nacionalismo em revistas esportivas de um clube teuto-brasileiro (1930 e 1938). In Rev. bras. Educ. Fís. Esp, São Paulo, v.18, n.3, p.249-62, jul./set. 2004, FINOCCHIO, José Luiz. A inserção da Educação Física/gymnastica na Escola Moderna – Imperial Collegio de Pedro II (1837-1889). 2013. 258f. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de PósGraduação em Educação, Linha de Pesquisa: História, Políticas e Educação. Centro de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2013 FREIRE, Domingos José. Relatório do Presidente da Junta Central de Hygiene Publica. In: BRASIL. Ministério do Império. Relatorio do anno de 1884 apresentado a assemblea geral legislativa na 1ª sessão da 19ª legislatura (publicado em 1885). Rio de Janeiro: Ministério do Império. p.A-F-1 – A-F-9. 1885, citado por PERES, 2013. FREIRE, Domingos José. Relatório apresentado ao governo imperial pelo Dr. Domingos José Freire, Presidente da Junta Central de Hygiene Publica. Epidemias na cidade e subúrbios. Endemias. Tuberculoses pulmonares. In: BRASIL. Ministério do Império. Relatorio do anno de 1883 apresentado a assemblea geral legislativa na 4ª sessão da 18ª legislatura (publicado em 1884). Rio de Janeiro: Ministério do Império. p.A-F2-1 – A-F2-39. 1884; citado por PERES, 2013, obra citada. KANT, Immanuel (1724-1804). Sobre a Pedagogia. Trad. Francisco Cock Fontanella. Piracicaba: Unimep, 1996. MAZO, Janice Zarpellon; PEREIRA, Ester Liberato. PRIMORDIOS DO ESPORTE NO RIO GRANDE DO SUL: os imigrantes e o associativismo esportivo. IN GOELLNER, Silvana Vilodre; MÜHELEN, Joanna Coelho von. MEMORIA DO ESPORTE E LAZER NO RIL GRANDE DO SUL. Porto Alegre, 2013. Vol. 1. MELO, V. A., PERES, F. F. O corpo da nação: posicionamentos governamentais sobre a educação física no Brasil monárquico. História, ciências, saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, 2013, no prelo. PAIVA, Fernanda Simone Lopes de. Sobre o pensamento médico-higienista oitocentista e a escolarização: condições de possibilidade para o engendramento do campo da Educação Física no Brasil. 2003. 475 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003.
PERES, Fábio. Educação Física, Higiene e Saúde Pública na Corte – Parte 1. Blog História(s) do Sport, disponibilizado em dezembro de 2013, in http://historiadoesporte.wordpress.com/2013/12/15/educacaofisica-higiene-e-saude-publica-na-corte-parte-1/#like-4117 , acessado em 14 de dezembro de 2013. TESCHE, Leomar. A Prática do Turnen entre Imigrantes Alemães e seus descendentes no Rio Grande do Sul: 1867-1942. Ijuí: Ed. Unijuí, 1996. TESCHE, L. O TURNEN, a Educação e a Educação Física. Ijui: Unijui, 2002 TESCHE, Leomar.. O Turnen, a Educação e a Educação Física nas Escolas Teuto-brasileiras, no Rio Grande do Sul: 1852-1940. Ijuí: Ed. Unijuí, 2002. TESCH Leomar. Turnen: transformações de uma cultura corporal europeia na América. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011 http://vamos_fazer_educacao_fisica.blogs.sapo.pt/10679.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Gin%C3%A1stica
MIGUEL HOERHANN - PIONEIRO DA EDUCAÇÃO PHYSICA NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IHGM / ALL / MARANHÃO RESUMO - Registra-se o nascimento das atividades esportivas no Maranhão e traz Miguel Hoerhann como o primeiro professor de Educação Física, atuando na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física. EDUCAÇÃO FÍSICA; HISTÓRIA; MARANHÃO
Djard MARTINS (1989) registra em seu já clássico “Esporte, um mergulho no tempo” o nascimento das atividades esportivas no Maranhão e traz Miguel Hoerhann como o primeiro professor de Educação Física, atuando na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989).
É o próprio Miguel quem confirma essa condição, em nota publicada no jornal “O Paiz” em 21 de novembro de 1909, no Rio de Janeiro:
‘EDUCAÇÃO PHYSICA/CARTÃO COMEMORATIVO DE 20 ANOS DE TRABALHO NO BRASIL/ Mens sana in corpore sano;/ vita non este vivere;/sede vivere Miguel Hoerhann, capitão-tenente honorário da armada nacional, professor de educação física da Escola Naval, Colégio Militar, Externato Aquino, e professor de ginástica e esgrima do Automóvel Club do Brasil – Ex-professor dos colégios Brasileiro-Alemão, Abílio Rouanet, João de Deus, Instituto Benjamin Constant, e Instituto Nacional de Surdos Mudos, no Rio de Janeiro. Ex-professor dos colégios São Vicente de Paulo, Notre Dame de Sion, Ginásio Fluminense e Escola Normal Livre; sócio-fundador e 1º. Turnwart do Turnerein Petrópolis, em Petrópolis. Ex-professor da Escola Normal e grupos escolares Menezes Vieira e Barão de Macaúbas e do colégio Abílio, em Niterói. Ex-diretor do serviço de Educação Física; ex-professor da Escola Normal, escola modelo Benedito Leite; Instituto Rosa Nina, Liceu Maranhense, e escolas estaduais e municipais; fundador e 1º presidente e 1º diretor dos exercícios do Club Ginástico Maranhense; em S. Luis do Maranhão. Ex-professor do Ginásio São Bento e ex-secretário do I. e R. Consulado da Áustria e Hungria, em São Paulo. 20 anos de devotado trabalho no Brasil (de 24 até 44 anos de idade, desde 1889 a 1909). Ex-Instrutor da imperial e real marinha de guerra da Áustria, condecorado com a medalha militar de bronze, conferida por sua imperial e real majestade apostólica Francisco Jose I, Imperador da Áustria-Hungria (desde 15 até 23 anos de idade, 1880-1888).
A primeira referencia que se tem desse professor de educação física é de um diploma dado a diversas autoridades e intelectuais, dentre os quais a Fran Paxeco, Cônsul Honorário de Portugal no Maranhão; consta ‘aos propugnadores da educação physica’ e está assinada por Miguel Hoerhann, Diretor da Educação Physica, e foi passado em 18 de maio de 1904:
Miguel Hoerhann foi instrutor de artilharia do império austro-húngaro, professor de esgrima e ginástica sueca nos estados do Maranhão e Rio de Janeiro. Nesta cidade, a ginástica era voltada para o treinamento militar dos novos cadetes e oficiais da Marinha Brasileira e do Colégio Militar. Miguel tem vasta produção de artigos em periódicos e é autor do livro Esgrima de Baioneta, publicado no Maranhão em 1904:
Na construção da biografia desse professor encontramos uma carta de apresentação datada de 28 de maio de 1912, e escrita pelo Dr. Generino dos Santos, destinada a Manuel Tavares Miranda, Chefe da 2a Secção do Serviço de Proteção aos Índios – SPI; o jovem Eduardo era, na ocasião, filho único do Capitão-Tenente Miguel Hoerhann: De acordo com Dagnoli (2008); e Gomes (2009): “[...] Miguel Hörhann (Miguel Hoerhann) nasceu na Áustria e faleceu no Rio de Janeiro; foi instrutor de Artilharia na Imperial e Real Marinha de Guerra da Áustria até 1884, e Capitão-Tenente da Armada Nacional. Sua mãe, Carolina de Lima e Silva Aveline, pertencia à aristocracia militar do Estado do Rio de Janeiro, neta do Duque de Caxias.”.
Rafael Hoerhann, em outra correspondência, esclarece essas dúvidas: Miguel veio da cidade de Sankt Pölten na Baixa Áustria. Francês era seu sogro, Guilherme Plaxton Aveline, também oficial da Marinha13. Nasceu a 03 de abril de 1865; conforme 13
Esclarecendo a origem de sua mãe, e o parentesco de Miguel com a família Lima e Silva, tem-se que Miguel Hoerhann (Miguel Hörhann) foi casado com Carolina de Lima e Silva Hoerhann, filha de Guilherme Plaxton Aveline e de Maria Eulália de Lima e Silva, com quem teve Eduardo de Lima e Silva Hoerhann (este, casado em primeiras núpcias com Francisca de Lima e Silva Hoerhann (1919 - 1939) e depois se casou com Francisca Marlen Irmgard Brodersen (1941? - 1976)). Eduardo Hoerhann nasceu na freguesia de São Francisco Xavier do Engenho Velho em Petrópolis, Rio de Janeiro, em 1896. Filho de Miguel e de Carolina, sobrinha-neta do Duque de Caxias.
Dentre os familiares, destaque para José Joaquim de Lima e Silva, que pertenceu a Ordem de Avis, fundada no século XII, dos cavaleiros templários lusitanos, combatentes dos mouros em Portugal. Seu filho, Francisco de Lima e Silva foi um dos regentes do Império do Brasil, durante a minoridade de Dom Pedro II, e seu neto, Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro.
mensagens de felicitações publicadas em 1900 (03/04) e 1901 (04/04) na Gazeta de Petrópolis.
Miguel foi casado em segundas núpcias, com Adelina Figueira Cordeiro, com quem teve outros três filhos: Arria Hoerhann, e Hermani Paulo Figueira Cordeiro Hoerhann, e Miguelzinho que morreu aos dois anos de idade. Foi Capitão-Tenente Honorário da Armada. Como consta de sua declaração, Miguel foi Instrutor da Imperial e Real Marinha de Guerra da Áustria de 1880 a 1888 - dos 15 até 23 anos de idade. Desde o ano de 1894 em Petrópolis, em 1898 estava exibindo-se como esgrimista, em “desafios”, conforme anúncios publicados no jornal “Gazeta de Petrópolis”. Observa-se que atuou como professor de esgrima, ginástica, e natação em Petrópolis, depois em Niterói, antes de vir para o Maranhão. Deu aulas particulares, e em escolas particulares, antes do ingresso em escolas públicas, naquelas duas cidades. Além de aulas de ginástica, ensinava também esgrima, como parte do currículo. Nas férias, aos alunos internos, se ofereciam essas atividades, inclusive o curso de esgrima era pago à parte, conforme se depreende de anuncio de inicio das aulas.
Na edição de 26 de março de 1896, e seguintes, aparece colaboração de Miguel Hoerhann, discutindo a importância da ginástica médica. Em 1898, volta a participar dos ‘desafios’ de esgrima, enfrentando diversos oponentes. Essas demonstrações – certamente para atrair alunos para sua escola – ocorriam no teatro da cidade. Ainda nesse ano de 1898, na mesma Gazeta de Petrópolis aparece nova colaboração de nosso Miguel Hoerhann, mas desta feita na área da literatura, escrevendo um conto que teve por titulo “A Ressurreição”, publicado em capítulos, como era costume na época, na forma de folhetim.
João Manuel de Lima e Silva, tio de Duque de Caxias, teve seu papel de destaque na Revolução Farroupilha acontecida no Rio Grande do Sul, no século XIX.
Juntamente com outros cidadãos austríacos, alemães, húngaros, comparece à missa de Francisco José I, Imperador da Áustria, conforme registrado na Gazeta de Petrópolis; ali, informa-se ser ele cônsul em disponibilidade do Império. No dia 03 de abril de 1900 aparece anuncio de felicitações ao Sr. Miguel Hoerhann, distinto professor de ginástica do Ginásio Fluminense, ao mesmo tempo em que aparecem anúncios do curso de ginástica pedagógica, e esgrima, que iniciava no Salão Floresta: No ano de 1900, em dezembro, por decreto é nomeado para a Guarda Nacional, lotado no Rio de Janeiro, no posto de capitão:
No mesmo jornal, de janeiro de 1901 em que é publicado o Decreto de seu ingresso na Guarda Nacional com o posto de capitão, aparece sua eleição para a diretoria do Clube Alemão; E anuncio, do dia 24 de abril, de licença dada ao professor da Escola Normal de Niterói, por 20 dias; Em 1902, março, ainda estava em Niterói, conforme anuncio de uma subscrição a favor de um conterrâneo, que morreu de febre amarela; estava subscrevendo uma lista para ajuda à família. Novo anuncio, desta vez informando sua nomeação em 1903, como professor de ginástica da Escola Normal de Niterói. Na Gazeta de Petrópolis, edição de 15 de setembro de 1903, informa-se que Miguel Hoerhann estava em São Luis, nomeado que fora Diretor da Educação Physica, conforme a edição 204 de “A Pacotilha”, da capital do Maranhão:
No dia 04 de junho de 1903 aparece anuncio n´A Pacotilha em que Miguel Hoerhann, como já fizera em Petrópolis e Niterói, oferece seus serviços como professor particular de ginástica; Logo no dia 05/06, anuncia o inicio das aulas; A 30 de junho, outro aviso, convocando os alunos inscritos.
No mês de agosto novo anuncio em A Pacotilha, do dia 31, já assinado como Diretor da Divisão de Educação Física do Maranhão, sobre a realização de um concurso poético, tendo por tema a Ginástica. Verifica-se que se referia ao Turnen, haja vista a citação dos “4 Fs”, como a divisa da ginástica: “Abre-se aos cultores das musas uma produção poética, em que entrem as palavras que constituem a divisa da gymnastica: FIRMA, FORTE, FRANCO, FIEL, e que tenha por tema a glorificação da abnegação, do trabalho perseverante e nobre, do vigor do espírito como consequência dos exercícios physicos [...]”
O anuncio se repete nos meses seguintes, sendo que a 26 de setembro aparece um poema exaltando a ginástica, de autor anônimo. Conforme a redação, não querendo participar do concurso, mesmo assim faz seu poema. Em outubro de 1903, reabria as aulas de ginástica. Em 1904, Fran Paxeco escreve artigo louvando a iniciativa de Miguel Hoerhann em promover o concurso poético, e divulgando a ginástica entre a juventude. No mês de agosto de 1904, Miguel faz publicar anuncio em A Pacotilha (22 de agosto) em que pretende comprar armas de índios.
Em setembro, convocam-se os sócios do Clube Ginástico Maranhense. Nota-se o símbolo dos “4 Fs” . Em anuncio sobre os exames que se realizariam com os alunos da Escola Normal, Miguel Hoerhann fez parte da banca examinadora da Disciplina de Desenho; será que além de Ginástica, ensinava naquele estabelecimento também desenho.
Ao que parece, em 1911 Miguel Hoerhann já estava no Rio de Janeiro. Fran Paxeco escreve novo artigo sobre “jinastica’ (sic), ressaltando o trabalho de nosso professor de educação física: Em 1911, Miguel Hoerhan ministrava “exercícios de gymnastica sueca, de esgrima, de espada e florete” no Colégio Militar – Rio de Janeiro. É listado junto com outros professores – “dirigidos pelos instructores professor Miguel Hoerhan, tenente Migrel Ayres e capitão Valério Falcão” – durante visita dos membros do Conselho Superior de Ensino. (Diário Oficial da União (DOU) de 12/08/1911), Pg. 14. Seção 1). BIBLIOGRAFIA MARTINS, Dejard. ESPORTE, um mergulho no tempo. São Luís: SIOGE, 1989. http://www.cultura.ma.gov.br/portal/bpbl/acervodigital/Main.php?MagID=37&MagNo=68 MAZO, Janice Zarpellon; PEREIRA, Ester Liberato. PRIMORDIOS DO ESPORTE NO RIO GRANDE DO SUL: os imigrantes e o associativismo esportivo. IN GOELLNER, Silvana Vilodre; MÜHELEN, Joanna Coelho von. MEMORIA DO ESPORTE E LAZER NO RIL GRANDE DO SUL. Porto Alegre, 2013. Vol. 1. Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/83615/000906885.pdf?sequence=1 TESCH Leomar. Turnen: América. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011
transformações
de
uma
cultura
corporal
europeia
na
FRAN PAXECO – UM DOS PROPUGNADORES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IHGM / ALL / MARANHÃO RESUMO – Ao estudar a introdução da Educação Física/Ginástica no Maranhão, encontra-se o portugues Fran Paxeco como um dos incentivadores. Miguel Hoherann, o primeiro Diretor da Divisão de Educação Física do Estado expediu um diploma ‘aos propugnadores da educação física’, estando o consul portugues entre os agraciados. Anos depois, quando da realização do I Congresso Pedagógico do Maranhão, 1922, Fran Paxeco inclui a Educação Física como uma área a ser estudada, buscando sua regulamentação nas escolas públicas. EDUCAÇÃO FÍSICA. MARANHÃO. FRAN PAXECO
Manuel Fran Paxeco (nascido Manuel Francisco Pacheco), mais conhecido como Fran Paxeco (Setúbal, 9 de Março de 1874 — Lisboa, 17 de Setembro de 1952) foi um jornalista, escritor, diplomata e professor português; cônsul de Portugal no Maranhão, no Pará, em Cardiff e em Liverpool. Chegou a São Luís do Maranhão em 2 de Maio de 1900, sendo autor de diversas obras sobre temas de interesse para a região. Primeiro ocupante da Cadeira 14 do IHGM, patroneada por Antonio Bernardino Pereira do Lago, o seu amor pelo Maranhão levou-o a recusar transferências para postos da carreira diplomática muito mais prestigiosos que o consulado de São Luís do Maranhão. Fica mais de 20 anos no Brasil, período durante o qual empenhou muitos esforços para desenvolver as relações literárias entre os dois países. Em Setembro de 1902 é convidado para sub-secretário da Associação Comercial do Maranhão. Organizou, por exemplo, um congresso literário luso-brasileiro em 1903. A 21 de Agosto de 1911 é nomeado cônsul de Portugal no Maranhão por Teófilo Braga (Chefe do Governo Provisório da República Portuguesa). De Novembro de 1913 a Fevereiro de 1914 está no Rio chamado pelo primeiro Embaixador de Portugal no Brasil, Bernardino Machado para o secretariar; em 1916 publica "Angola e os Alemães" e segue para Lisboa onde chega a 27 de Maio para ocupar entre outros cargos o de secretário particular do Presidente da República, Bernardino Machado, mas continuando
como cônsul de Portugal no Maranhão (tinha sido promovido a cônsul de 2ª classe em 4 de Julho de 1914). Exerce as funções de secretário da Comissão Portuguesa de Acção Económica contra o inimigo e da Comissão de Fomento da Exportação Portuguesa. Em 1919 vai ao Pará resolver a “Questão dos Poveiros” o que conseguiu com êxito. A 18 de Agosto de 1919, em reunião de professores da Faculdade de Direito do Maranhão, propõe a realização do Primeiro Congresso Pedagógico do Maranhão, o que veio a realizar-se no ano seguinte. Em 8, 28 e 31 de Janeiro de 1920, houve sessões preparatórias. A sessão inaugural teve lugar a 22 de Fevereiro. Em São Luis, no mês de agosto de 1922 recebe Sacadura Cabral, festejando a travessia aérea do Atlântico Sul; em 1923 o encontramos em Belém do Pará como cônsul, lugar que deixa em Junho de 1925, quando volta para Lisboa; em 1927 vai para Cardiff, desempenhar idênticas funções diplomáticas. Escreve "Portugal não é Ibérico". Faz parte da "South Wales Branch" da Ibero American Society, contribuindo para que o nome fosse mudado para "Hispanic and Portuguese Society". Com o cônsul do Brasil consegue abrir e manter no Technical College uma cadeira de língua portuguesa; No ano de 1933 está de volta a Lisboa ocupando a Direcção Geral dos Serviços Centrais do Ministério dos Estrangeiros. A 24 de Novembro já está em Liverpool a cumprir mais uma missão diplomática onde se mantém até 1935, quando regressa a Portugal, de onde nunca mais saíu. É perseguido pelo Estado Novo, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros nunca mais lhe atribuíu nenhuma missão diplomática (graças ao Secretário-Geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Teixeira de Sampayo, monárquico convicto), o que muito o fez sofrer. 1939, um AVC com graves sequelas: fica sem fala, sem poder escrever e paralítico, as suas grandes formas de comunicação como grande orador e escritor que era. A Biblioteca do Grémio Literário Português em Belém do Pará e a Praça do Comércio em São Luís do Maranhão têm o seu nome. O seu nome encontra-se presente nas toponímias de Setúbal, de São Luís do Maranhão e de São Paulo. Foi fundador da Academia Maranhense de Letras, da Faculdade de Direito, da Universidade Popular, do Centro Republicano Português, do Instituto de Assistência à Infância, do Casino Maranhense, da Associação Cívica Maranhense, da Câmara Portuguesa do Comércio, da Oficina dos Novos, da Legião dos Atenienses, participou do revigoramento e reorganização da Associação Comercial do Maranhão, entre outros organismos, todas as iniciativas relevantes. Profere palestras literárias, cortejos e homenagens cívico-culturais, luta por modernos meios de transporte, pelo incentivo à agropecuária, pela criação de um parque industrial, pela melhoria dos serviços de saúde, pela urbanização da cidade. E tudo isso de par com atividades no magistério público e particular, com diuturna atuação na imprensa, com viagens e trabalhos na Amazônia, com a publicação de livros, com idas ao Rio de Janeiro e a Portugal. Na imprensa maranhense deixou uma colaboração tão diversificada e ao mesmo tempo copiosa, que ainda hoje aguarda e reclama a seleção temática da qual resultarão seguidos volumes de interesse para o estudo da vida maranhense. Tais volumes viriam somar-se às obras maranhenses desse autor de vasta bibliografia que compreende assuntos tão variados quanto foram os campos de interesse de seus estudos.
Casou com Isabel Eugénia de Almeida Fernandes, natural de São Luís do Maranhão, de quem teve uma filha, Elza Paxeco, primeira senhora doutorada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. PROPUGNADOR DA EDUCAÇÃO FÍSICA Djard MARTINS (1989) registra que com o nascimento das atividades esportivas no Maranhão, o hábito de repousar nos fins de semana é substituído pelas festas, corridas de cavalo, partidas de tênis, regatas, corso nas avenidas, matinês dançantes, e pelo futebol. A “gymnástica” era praticada pelas elites, que tomavam aulas particulares, conforme se depreende de anúncios publicados nos jornais. O Euterpe, fundado em 1904, também passou a difundir atividades esportivas, como o “tiro ao alvo“, tênis, o tênis de mesa (ping-pong), etc. Nessa primeira década do século XX, a juventude maranhense estava principiando a entender o quanto era importante praticar esportes e desenvolver a formação física. Miguel Hoerhan foi nosso primeiro professor de Educação Física, tendo prestado relevantes serviços à mocidade ludovicense, como professor na Escola Normal, Escola Modelo, Liceu Maranhense, Instituto Rosa Nina, nas escolas estaduais e até nas municipais, estimulando a prática da cultura física: "E para coroar de êxito esse idealismo, esteve à frente da fundação do Club Ginástico Maranhense..." (MARTINS, 1989).
Em 1911, Miguel Hoerhan ministrava “exercícios de gymnastica sueca, de esgrima, de espada e florete” no Colégio Militar – Rio de Janeiro. É listado junto com outros professores – “dirigidos pelos instructores professor Miguel Hoerhan, tenente Migrel Ayres e capitão Valério Falcão” – durante visita dos membros do Conselho Superior de Ensino. (Diário Oficial da União (DOU) de 12/08/1911), Pg. 14. Seção 1). Para Karina Cancella (2012) a prática esportiva em meio militar foi intensificada na virada do século XIX para o XX sob o argumento de que para a estruturação de Forças Armadas era fundamental o desenvolvimento físico do pessoal militar. Estas atividades eram consideradas importantes para a formação não somente de militares mais preparados, mas também de potenciais “soldados-cidadãos” e “cidadãosmarinheiros” entre os praticantes civis. Identificado Fran Paxeco com o Maranhão, vemos que no referido diploma de mérito consta ‘aos propugnadores da educação physica’ e está assinada por Miguel Hoerhann, passado em 18 de maio de 1904.
O que nos chama atenção, são elementos icnográficos que aparecem no Diploma: na bandeira com as cores nacionais (verde e amarela) onde está impresso os “4Fs”, traduzidos na parte de baixo, esquerda, do referido diploma como ‘Firme, Forte, Franco, Fiel”.
Mazo e Gaya (2006), ao estudar as associações esportivas de Porto Alegre-RS trazem que nas bandeiras adotadas por essas associações sempre havia a inscrição dos quatro “efes” posicionados no formato quadrangular: frish, fromm, frölink e frei, que significavam, respectivamente: saudável, devoto, alegre e livre. Os “efes” também eram encontrados em todas as bandeiras desportivas da Alemanha. Em Porto Alegre a bandeira da Turnerbund reproduziu o símbolo dos “efes”, além da simbologia da insígnia com as datas históricas do turnen. Afirmam que a adoção de símbolos e exaltação dos heróis alemães aparecia nos uniformes da Turnerbund, símbolos que identificavam a pátria de origem. (MAZO e GAYA, 2006). Traz ainda imagens de ginástica sendo executadas em diversos aparelhos, em claras referencias ao turnen – movimento criado por Friedrich Ludwig Jahn, pedagogo alemão, além de ativista político.
A utilização de discursos esportivos para a difusão de ideias e sentimentos nacionalistas tem um significado histórico: Está relacionada com a identificação de um esporte com os interesses e desejos de um determinado grupo social que pode ser uma etnia, uma classe, etc., ou um conjunto mais heterogêneo representado numa nação. Compreendo a nação como sendo uma entidade que se insere no final de um processo de construção de símbolos e convenções de identificação nacional, ocorrido em diversos países da Europa e da América, iniciado a partir do final do século XVIII até fins do século XIX e início do século XX (HOBSBAWM, 1990). Nesse contexto o esporte tornouse um dos mecanismos do nacionalismo que contribuíram para a construção da identidade nacional.
Fran Paxeco idealiza e organiza o Primeiro Congresso Pedagógico do Estado do Maranhão entre o final de 1919 e início de 1920: Por estes dias, reunidos em sessão pedagógica da Faculdade de Direito, o diplomata português Fran Paxeco, presidente administrativo do Instituto da Assistência à Infância, diretor-geral do jornal local “A Pacotilha”, professor da Faculdade de Direito no Estado do Maranhão e lenthe da Congregação do Lyceu Maranhense, propôs aos colegas bacharéis e docentes do Instituto Superior acima mencionado a realização de um Congresso Pedagógico para apresentar teses e reflexões sobre a instrução pública maranhense, suas limitações e possibilidades. (OLIVEIRA, 2012)59.
O QUE DIZ O DIPLOMA DE FRAN PAXECO
“Não é sem grande risco da futura humilhação e grave comprometimento da nossa raça que poderá continuar a indiferença, o abandono e desprezo da educação física da infância do Brasil”. Dr. Eduardo de Magalhães”. “Concedido ao Exmo. Sr. Fran Paxeco pela propaganda literária que tem feito a favor da Educação Física”. “Para que uma raça se assinale na história como um fator poderoso de civilização e de progresso, para que possa distinguir-se pelo seu amor enérgico e viril à
liberdade e à gloria, é preciso que a educação física do homem seja objeto de serias preocupações e desvelado cuidado. “O Diretor de Educação Física “(MIGUEL HOERHANN) “Maranhão, 18 de maio de 1904”.
Dos documentos que consultamos, não encontramos referencias de sua participação em atividades esportivas realizadas no período de 1902-19, quer como atleta, quer como organizador ou homenageado. Ainda... Mas encontramos propostas referentes à Educação Física no I Congresso Pedagógico, por ele proposto (1919) e organizado (1920). Temos um diploma de mérito concedido a Fran Paxeco, ainda em 1904, “pela propaganda literária que tem feito a favor da Educação Física”.
O “CHAUSSON/SAVATE” INFLUENCIOU A CAPOEIRA? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IHGM / ALL / MARANHÃO RESUMO - Em uma série de artigos em que se busca a ancestralidade da Capoeira, comprovada africana não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África de práticas similares, como o Moringue, no Oceano Índico - nas Ilhas de São Lourenço (Madagascar), Reuniões e em Moçambique. Assim como encontramos uma influencia européia, configurada através da Chausson/Savate, praticado por marinheiros no porto do sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos 'leões marinhos' em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Houve intenso tráfico entre os portos brasileiros - Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Luis e Belém - e Marselha. CAPOEIRA. HISTÓRIA. CHAUSSON. SAVATE.
A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira, e em Recife, com as gangues de Rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês) em Paris e das maltas de fadistas de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos.
O ‘savate’ surgiu na França, praticado por alguns marinheiros no porto do sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos “leões marinhos”, em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Posteriormente, em cada rixa da barra em portos franceses era comum ver chutes infligidos em qualquer parte do corpo. Os marinheiros chamavam "Chausson" este tipo de combate, em referência à chinelos normalmente usados a bordo. Marinheiros gauleses e espanhóis eram instruídos com estas formas de ataques e defesas. Na época de Napoleão Bonaparte, os soldados do imperador exibiam publicamente suas "aptidões" chutando a bunda de seus prisioneiros. A punição era conhecida como “Savate”, que pode ser traduzido como "sapato velho".
IMPÉRIOS COLONIAIS
O "Chausson" era do sul da França e usava somente os pés; já no Norte, usavase a combinação de pés e mãos abertas - "savate”. Enquanto os homens se reúnem em um duelo de tiro com espadas ou bastões, as classes mais populares lutavam com os pés e batendo com os punhos, de modo que o Savate, esgrima, pés e punhos, tornaram-se a prática de "Thugs" no momento, para citar apenas Vidocq, Chefe simbólico do fim do século XVIII.
O contato com essas formas de luta se dá, também, com a interação entre marinheiros, nas constantes viagens entre os dois lados do Atlântico, pois navios da marinha francesa entre 1820 e 1833 foram de Brest (cidade natal de Savate) para Portos do Brasil (Capoeira), Martinica (Ladja) e Bourbon (Moringa).
De luta de rua passa a esporte regulamentado quando o médico Michel Casseux, em 1825 abriu o primeiro centro de treinamento para o ensino e a prática regulamentada dessas habilidades. Ele tentou criar um sistema de combate menos desajeitado, enfatizando o “roundhouse kick”, laterais e frente ao joelho, canela e peito do pé. Em 1832, Charles Lecour combinou as técnicas do boxe clássico Inglês com os princípios formulados por Casseux. Esta mistura foi chamada de "savate” - boxe francês - e atraiu tanto a elite da sociedade como os jovens, o que beneficiou o esporte como a aptidão muscular e autodefesa. Em 1850, a primeira luta de boxe francês com as regras estabelecidas por Casseux, para diferenciá-lo de uma rixa da rua. Louis Vignezon foi o primeiro campeão de Savate ao derrotar seu adversário com a batida de apenas quatro chutes.
Em 1852, a Academia Militar Ecole De Joinville incluiu o Savate no treinamento de recrutas. Em seguida, essas mesmas regras foram estendidas para outras partes do Velho Continente, África, Canadá e Estados Unidos.
O Box Savat também foi introduzido em nossa Escola pela missão militar francesa tanto no Colégio Pedro II no Rio e no exército e da polícia francesa através de diversas missões ao Brasil e em 1885 uma missão brasileira viajou para Paris para obter informações sobre o Sistema policial francês (Savate Vidocq).
Em 1928, a Missão Militar Francesa passou a contar entre seus integrantes com um oficial encarregado exclusivamente de dirigir a instrução de educação física.
Escolhido entre os instrutores da escola de Joinville, o major Pierre Ségur ficou encarregado de ministrar educação física na Escola Militar do Realengo. O relatório do chefe da Missão Militar Francesa referente ao ano de 1928, ao comentar a situação da educação física nas escolas do Exército (Militar, de Sargentos, de Cavalaria e de Aviação), informava que, apesar de nelas ser desenvolvido um trabalho intenso e de muito boa vontade, faltavam os meios práticos e a aplicação de um método firme referência óbvia ao Método Francês. Também na Escola de Educação Física da Polícia Militar de São Paulo, criada em 1910, o Savat é introduzido: Para COSTA (2007), no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia, a capoeira seguia sua história, e seus praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, européia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca da Praia, empresário do comércio do ramo da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, p. 48); José Basson de Miranda Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968) ; mais recentemente, Pedro Porreta, peixeiro, Pedro Mineiro, marítimo, Daniel Coutinho, engraxate e trabalhador na estiva; Três Pedaços, que trabalhava como carregador (PIRES, 2004, p. 57, 61, 47 e 73); Samuel Querido de Deus, pescador, Maré, estivador e Aberrê, militar com o posto de capitão (CARNEIRO, 1977, p. 7 e 14). Todos eram capoeiristas. Muitos dos mais influentes personagens da história do Brasil e da capoeira estudaram no Colégio Pedro II, existindo informações sobre a prática da Capoeira entre eles. O ano de 1841 é considerado como o marco inicial da história da gymnastica no Colégio Pedro Segundo. Exatamente no dia nove de setembro, Guilherme Luiz de Taube, ex-Capitão do Exército Imperial, entrou em exercício no cargo de mestre de gymnastica do Colégio.
No início do século XX, no Brasil começou a se tornar mais comum a prática da luta romana, notadamente desafios entre atletas cariocas e de São Paulo. José Floriano Peixoto foi um dos mais renomados dessa modalidade naquele momento.
O escrito maranhense Coelho Neto, tido como grande capoeirista é citado como um dos precursores da Capoeiragem, haja vista que no Artigo 17- do regulamento da FICA, quando trata da Nomenclatura de Movimentos de Capoeira estabelecida em sua parte “A- Nomenclatura Histórica”, colhida a partir da pesquisa nas obras dos primeiros autores a escreverem sobre a Capoeira, aparecem Plácido de Abreu, Coelho Neto e Annibal Burlamaqui (Zuma): Parágrafo 1°- Legado de Plácido de Abreu - 1886: Trastejar, Caçador, Rabo de Arraia, Moquete, Banho de Fumaça, Passo de Sirycopé, Baiana, Chifrada, Bracear, Caveira no Espelho, Topete a Cheirar, Lamparina, Pantana, Negaça, Ponta-pé e Pancada de Cotovelo. Parágrafo 2°- Legado Apócrifo - 1904: Pronto, Chato, Negaça de Inclinar, Negaça de Achatar-se, Negaça de Bambear para direita ou esquerda, Negaça de Crescer, Pancada de Tapa, Pancada com o Pé, Pancada de Punho, Pancada de Tocar, Rasteira Antiga, Rasteira Moderna e Defesas. Parágrafo 3°- Legado de Coelho Neto - 1928: Cocada, Grampeamento, Joelhada, Rabo de Arraia, Rasteira, Rasteira de Arranque, Tesoura, Tesoura Baixa, Baiana, Canelada, Ponta-pé, Bolacha Tapa Olho, Bolacha Beiço Arriba, Refugo de Corpo, Negaça, Salto de Banda e Banho de Fumaça. Parágrafo 4°- Legado de Annibal Burlamaqui (Zuma), autor da primeira Codificação Desportiva - 1928: Guarda, Rasteira, Rabo de Arraia, Corta Capim, Cabeçada, Facão, Banda de Frente, Banda Amarrada, Banda Jogada, Banda Forçada, Rapa, Baú, Tesoura, Baiana, Dourado, Queixada, Passo de Cegonha, Encruzilhada, Escorão, Pentear ou Peneirar, Tombo da Ladeira ou Calço, Arrastão, Tranco, Chincha, Xulipa, Me Esquece, Vôo do Morcego, Espada
Para Pol Briand, dois termos da capoeira baiana têm origem certamente francesa, são o “aú” que em português é “pantana” como escrito nos artigos de 1909 descritivos da luta de Ciríaco contra Sada Miako no Pavilhão Pascoal no Rio de Janeiro e “role”; é provável que os nomes usados na capoeira venham de instrutores militares de ginástica das Missões francesas. A expressão francesa "faire la roue" designa um movimento similar ao “aú” da capoeira, e o "roulé-boulé" é uma técnica para amortecer um choque (pulando de uma altura) rolando sobre si mesmo, com alguma semelhança ao “role” da capoeira:
Suponho que a influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908. Foi promovido pelos mesmos militares e intelectuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional. Antes da vinda dos franceses em 1908, a influencia alemã predominava do exército brasileiro. Os franceses tiveram não somente atuação direta em S. Paulo, como também indireta, com difusão de um manual de educação física no Brasil inteiro.Ainda estou a recolher elementos sobre a sua presença na Bahia. Há de ressaltar, pista ainda não seguida, que a Marinha também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20. Como indica Loudcher (op.cit), o exército e a marinha de guerra francesa fizeram ao inventar o esporte como preparação física para a guerra no final do século 19, interpretação muito particular do jogo de desordeiros que era a savate, transformando-la em largas proporções. É certo que a escola de polícia de Joinville, situada perto da École normale militaire de gymnastique de Joinville, tinha um uso mais prático para o combate sem armas ou com armas improvisadas. Entretanto, os instrutores militares sempre dominaram o ensino. Os instrutores de educação física da missão militar francesa foram pouquíssimos. Se influência tiveram, foi geralmente indireta, através de pessoas por eles [in]formados. Portanto, os ensinos franceses foram interpretados e adaptados pelos brasileiros, e, notadamente, pelos adeptos da capoeiragem e do jogo de capoeira, sempre interessados em novos “truques” (outra palavra francesa que substitui o português 'ardil' nos Ms. de mestre Pastinha).Os franceses, como os ingleses e alemãs, participaram também da promoção da idéia esportista no Brasil. Passar, no conceito dos praticantes, de brinquedo e da vadiação a esporte de competição, transtornou a capoeira, como quem sabe ler pode constatar nos debates consecutivos à organização de campeonato no palanque do Parque Odeon em Salvador em 1936. Hoje se procura recuperar o sentido e a sabedoria associadas à atividade antes desta fase. Aparentemente, o esporte de competição não atende às necessidades de todo mundo. Como sempre com essa fonte, o artigo citado traz erros na grafia dos nomes (dos franceses) e uma inconguidade: "O Bailado Joinville Le Pont: dança folclórica, hoje extinta na França e só praticada pela Polícia Militar do Estado de São Paulo." Não faz sentido. "La danse de Joinville Le Pont" não pode ser dança folclórica. É obviamente piada de militares para designar o seu treino, sendo que Joinville, situada perto no rio Marne próximo de Paris, era o subúrbio onde no espaço onde não se construía por causa das enchentes, vinha dançar o povo (e malandros) parisiense em barracões chamado “guinguettes" (o termo, de mesmo origem que 'ginga', evoca o ato de mexer as pernas “jambes” ou popularmente 'gambettes'-- como também 'gigolette' e 'degingandé'. O que foi extinta é a École normale militaire de Gymnastique, chamada 'de Joinville' embora o terreno em que se situava, no Bois de Vincennes, tivesse sido anexado pelo município de Paris em 1929.
O pesquisador francês está a buscar evidencias de que a Marinha “também praticava educação física e que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha foram Aprendizes Marinheiros no início do sec. 20” haja vista que a “influência francesa se deu através do serviço militar obrigatório no Brasil a partir de 1908”, tendo sido “promovido pelos mesmos militares e intelectuais nacionalistas favoráveis à educação física (e ao ensino da capoeira como esporte nacional”. Aproximadamente na mesma época em que Bimba criava na Bahia a Luta Regional, no Rio de Janeiro, se tem notícias de Agenor Moreira Sampaio, conhecido como Sinhozinho de Ipanema. Sinhozinho nasceu em 1891, em Santos, filho de um tenente-coronel e chefe político local, e descendente de Francisco Manoel da Silva,
autor do Hino Nacional Brasileiro. Esses dados nos permitem perceber que Sinhozinho, como seu próprio apelido sugere, não provinha das classes baixas, fazendo parte das camadas mais favorecidas. Sua clientela também era composta por rapazes de classe média, em geral jovens de Ipanema e Copacabana (FONSECA, 2009). Segundo André Lacé Lopes (2005), ele aprendeu capoeira nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, para onde se mudara com sua família. Aprendeu boxe e luta greco-romana, e achando que a capoeira se mostrava pobre para a luta, principalmente a ‘agarrada’, resolveu aplicar alguns dos golpes aprendidos nas outras lutas à capoeira.
Agenor Sampaio – Sinhozinho - começa sua vida esportiva praticando a luta greco-romana: Comecei a minha vida sportiva – disse o Sinhôzinho, preliminarmente – em 1904, no Club Esperia de S. Paulo; como socio-alumno. Ahi me mantive até 1905, quando fui para o Club Athletico Paulistano, que foi o primeiro club do Brasil que teve piscina. [...] Houve um movimento dissidente no football de então, de modo que me transferi para a Associação Athletica das Palmeiras, que havia feito fusão com o Club de Regatas São Paulo. Ahi, em companhia de Itaborahy Lima, José Rubião, Hugo de Moraes e mais alguns amigos, comecei a praticar com enthusiasmo a gymnastica, tendo, por exemplo, Cícero Marques e Albino Barbosa, que eram, naquelle tempo, os maiores athletas do Brasil.[...] Mais tarde ” prosseguiu o nosso entrevistado ” com a vinda de Edú Chaves da Europa, novos ensinamentos nos foram ministrados, dos quaes a luta greco-romana, box francez (savata) e a gymnastica em apparelhos foram os mais importantes. [... ] Em 1907, ingressei no Club Força e Coragem, que obedecia à direcção do professor Pedro Pucceti. Continuei os exercícios que sabia e outros mais, que aprendera com o referido mestre. [...] em 1907, obtive os meus primeiros sucessos nesta luta e tive occasião de vencer o torneio da minha categoria. [...] Em 1908, mudei-me para esta capital, de onde jamais me afastei. O Rio é uma cidade encantadora pelos seus recursos naturaes e captivante pela lhaneza dos cariocas, que são extremamente hospitaleiros.[...] Fui um dos fundadores do Centro de Cultura Physica Enéas Campello, que teve o seu período de fastigio no sport carioca. Ali, ao lado de João Baldi, Heraclito Max, Jayme Ferreira e o saudoso Zenha, distingui-me em diversas provas em que tomei parte. (in “Clube Nacional de Gymnastica: Uma grande Promessa” - Diário de Notícias, RIO, 1º de setembro de 1931) Grifos nossos
Segundo Jorge Amado (VASSALO, 2003) Mestre Bimba foi ao Rio de Janeiro mostrar aos cariocas da Lapa como é que se joga capoeira. E lá aprendeu golpes de catch-ascatch-can, de jiu-jitsu, de boxe. Misturou tudo isso à Capoeira de Angola, e voltou falando numa nova capoeira, a ‘Capoeira Regional’.
Em 1962 é criada a Federação Brasiliense de Pugilismo CARNEIRO, Edson. Capoeira. 2 ed. 1977 (Cadernos de Folclore). CARVALHO, José Murilo De. BESTIALIZADOS OU BILONTRAS? (do Livro Os Bestializados – O Rio de Janeiro e a República que não foi”, Cia das Letras, págs. 140-164, ano 2001). On line, http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/bestializados.html COSTA, Neuber Leite Capoeira, trabalho e educação. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007. CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da Organização e cotidiano escolar da “Gymnastica” uma história no Imperial Collegio de Pedro Segundo. In PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. Especial, p. 163-195, jul./dez. 2004, on line, disponível em http://www.ced.ufsc.br/nucleos/nup/perspectiva.html CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira da História da Educação Física no Brasil: reflexões a partir do Colégio Pedro Segundo. IN http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 13 - Nº 123 - Agosto de 2008 FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009. KUHLMANN, Paulo Roberto Loyolla (Major), Serviço Militar Obrigatório no Brasil: Continuidade ou mudança? Campinas: Núcleo de Estudos Estratégicos – Unicamp / Security and Defense Studies, vol. 1, winter 2001, p.1. LOPES, André Luiz Lacé. Capoeiragem no Rio de Janeiro, no Brasil e no Mundo. Literatura de Cordel, 2ª edição. Rio de Janeiro, 2005. NESTOR Capoeira: Pequeno Manual do Jogador. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998.
PIRES, Antonio Liberac A. Capoeira na Bahia de Todos os Santos: estudo sobre cultura e classes trabalhadoras (1890 - 1937). Tocantins: NEAB/ Grafset. 2004 RAMOS, Jayr Jordão. OS EXERCICIOS FISICOS NA HISTORIA E NA ARTE. Rio de Janeiro: IBRASA, 1983 REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: um ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapuã, 1968. SANTOS, Eduardo Alves (Mestre Fálcon) CAPOEIRA NACIONAL: A Luta por Liberdade IV IN Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edição 61 - de 19 a 25/Fev de 2006 Sorocaba-SP, SANTOS, Esdras Magalhães dos (Mestre Damião). A VERDADEIRA HISTÓRIA DA CRIAÇÃO DA LUTA REGIONAL BAHIANA DO MESTRE BIMBA in http://www.capoeiradobrasil.com.br/liga_2.htm SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf SODRÉ, Muniz. Mestre Bimba: corpo de mandinga. 2002. Citado por FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009. SOUSA, Celso. , La mission militaire française au Brésil de 1906 à 1914 et son rôle dans la diffusion de techniques et méthodes d'éducation physique militaire et sportive. Thèse Histoire contemporaine, Université de Bourgogne, VASSALO, Simone Ponde. “Capoeiras e intelectuais: a construção coletiva da capoeira autêntica”. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, 2003, v.2, n.32, p 106-124 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jiu-Jitsu no Maranhão. In Jornal do Capoeira Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005, 0on linme. Diospon[ível em http://www.capoeira.jex.com.br/ VIEIRA, Luis Renato. Educação e autoritarismo no Estado Nobo. In EDUC E FILOS. Uberlândia, 6 (12): 83-94, jan./dez. 1992
TARRACÁ, ATARRACAR, ATARRACADO... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ IHGM / ALL / MARANHÃO […] ladies and gentlemen, let me introduce you to…Tarracá. It was used by a Vale Tudo fighter who called himself “Rei Zulu” in the early 80´s here in Brazil; he kicked (better yet, throwed around) quite a few asses before getting tapped out by Rickson in 1984 www.bullshido.net
RESUMO Busca-se a origem do estilo de luta “Tarracá”, supostamente criado pelo lutador de Vale-Tudo (MMA) maranhense Rei Zulu - Casimiro de Nascimento Martins. Rei Zulú, por não ‘pertencer’ a uma escola do então Vale Tudo, ‘inventa’ a tradição de luta aprendida dos índios, TARRACÁ – atarracar, ou atarracado – que vai se constituir em um estilo - maranhense – disseminado tanto por ele, Zulu, em suas investidas no mundo da luta livre pelo mundo afora, como por seu filho Zuluzinho, quando coloca que seu estilo fora criado por seu pai – quem o treinava - e se chamaria ‘Tarracá’, de tradição indígena e negra, maranhense. MMA. TARRACÁ. REI ZULU MMA (Mixed martial arts - artes marciais mistas), O REI ZULÚ E SEU ESTILO DE LUTA – O ‘TARRACÁ’. Buscar o que seja – ou qual a origem - do “Tarracá”, e partindo da referência ao Rei Zulú, leva-nos ao moderno movimento das lutas corporais, hoje corporoficadas na sigla MMA – as artes marciais misturadas modernas com suas raizes em dois acontecimentos: o vale-tudo no Brasil, e o “shoot wrestling” japonês.
Segundo essa mesma fonte, no Japão, década de 80, Antonio Inoki organizou uma série de lutas de artes marciais misturadas – o “shootwrestling”, com a formação de uma das primeiras organizações japonesas de artes marciais misturadas conhecida como “shooto”. A partir de 1993, Rorion Gracie e outros sócios criaram o primeiro torneio de UFC, quando as artes marciais misturadas obtiveram grande popularidade nos Estados
Unidos. Os japoneses, em 1994, criam o “Free Style Japan Championship” ou “Open Free Style Japan” em 1994. Rickson Gracie - um grande lutador de Vale Tudo do Brasil na década de 1970 e 1980, e que fazia lutas em MMA no Open Japan, vencendo as duas primeiras edições (1995 e 1995); luta também nas Primeiras edições do “PRIDE Fighting Championships”. O UFC passou a ficar em baixa, perdendo valor e sendo proibido em vários estados dos Estados Unidos. Em 2001, os empresários Dana White, Lorenzo e Frank Fertitta compraam o UFC, fundando uma empresa chamada Zuffa. Após várias mudanças nas regras conseguiram legalizar o esporte em praticamente todos os estados americanos. Em 2007 o UFC compra o Pride, levando vários atletas do Japão para os EUA e tranformando o UFC na maior organização de MMA do planeta. WingChun Lawyer se posiciona, em sítio dedicado ao MMA: I am afraid I have no more hard data on Zulu. He fought basically relying on his impressive strength, and I was told he managed to throw Rickson out of the ring a couple of times before being submitted.[…] Mainly what I find online are posts on messageboards with no more useful or reliable information, either in english or in portuguese. I thought this was an interesting subject because, well, it DOES seem like Tarracá was created from scratch – Rei Zulu´s boxing skills are really weird, his moves are strange, and it does look rough - although some of his throws would make many a judoka envious. […] I only know he claims to have created Tarracá from scratch because I found a very short interview on a blogspot, apparently he still fights and runs a gym where he teaches Tarracá.
Rei Zulú é a maior referencia do “Vale Tudo” no/do Maranhão. Nascido Casimiro de Nascimento Martins, em 09 de junho de 1947 é um lutador de ValeTudo. Ficou famoso por desafiar lutadores do Brasil e de outras partes do mundo. Após 17 anos de competição estava invicto após 150 lutas (década de 1980). Lançou um desafio à família Gracie para ver quem era o melhor lutador de Vale Tudo de toda a nação. Em entrevista - antes da primeira luta contra Rickson Gracie (1980) -, disse que “seria mais um freguês de pancada e que não se preocupava com a alimentação antes da luta, pois “comia até ferro derretido”“.
O Rei Zulu tornou-se famoso também pelas caretas que faz enquanto luta. Ele diz que as caretas são para mostrar que está feliz por estar ali. Nunca frequentou academias de musculação, mas desenvolveu um estilo de luta próprio, e realiza seu treinamento físico diariamente com pedras pesadas, pneus, marreta e diz não gostar de frequentar academia, por isso treina no quintal de casa: empurrar paredes, lançar pedras com mais
de 5 Kg a grandes distâncias, correr entre arbustos, levantar carroças com pedras e andar com uma corda no pescoço puxando dois pneus eram instrumentos utilizados em seu arcaico treinamento. Possuía uma força naturalmente descomunal. É pai do também lutador Zuluzinho. Em entrevista (Budo International, Blackbelt) Zuluzinho enumera seu jiu-jítsu (faixa-roxa) e Vale Tudo, afirma ter aprendido Tarracá com seu pai, responsável pelo método de treinamento utilizado pelo lutador em todos esses anos.
Rei Zulu nunca praticou artes marciais, desenvolveu seu estilo próprio que se aproxima de brigas de ruas: Eu só sei que ele afirma ter criado Tarracá a partir do zero, porque eu encontrei uma entrevista muito curto em um blogspot, aparentemente, ele ainda luta e corre uma academia onde ensina Tarracá. (WingChun Lawyer) Mauricio Kubrusly, em “Me leva Brasil” entrevistou Rei Zulu em São Luis do Maranhão, onde reside: Quem primeiro me treinou foi meu pai. E tem a prática com zorras, os pneus… é que no interior chama zorras. E ele conhecia também o tarracá, a luta dos índios.
Marc Magapi, em outra reportagem, descreve o ritual do Rei Zulú em suas lutas, como também informa ser seu pai o criador do estilo que “desenvolveu”: Rei Zulú (Eu como até ferro derretido) – Nascido em São Luiz, Maranhão, este folclórico lutador, é protagonista de inúmeras histórias por conta das décadas em que praticou o vale tudo (um cartel com mais de 250 lutas). Zulú entrava no ginásio, seguindo um ritual, que tinha início com uma volta olímpica, na qual saudava o público presente, sempre com o braço esquerdo estendido. Ao subir no ringue, o maranhense jogava-se no chão, rolava para o lado, dava cambalhotas, movimentava os ombros para frente e para trás e fazia inúmeras caretas. Zulú tinha a característica de zombar de seus adversários, acreditando sempre em sua
força descomunal para vencê-los no momento que bem quisesse. Um autodidata do mundo das lutas, que sempre se disse representante do “Tarracá”; estilo criado por seu pai, que consistia basicamente em se “atracar” com o adversário, nunca teve aulas de jiu-jitsu, capoeira ou luta livre em uma academia.
Esse mesmo autor informa ter havido em São Luís do Maranhão uma “arena de lutas”, denominada de “Terreiro Tarracá”, no Bairro do João Paulo, onde era disputado um campeonato semanal de Vale Tudo, conforme se vê em “O encontro de Magapi com Rei Zulú”: 1997 São Luis - MA - tem uma faixa lá no João Paulo (bairro) chamando as pessoas para assistir o (pásmem!!!) semanal campeonato de vale tudo do Tarracá e dizendo que o Rei Zulú vai lutar movimentadas com uma média de 3 minutos para cada uma [...] nesse local tinha luta todo final de semana mesmo [...] Era um sábado, o local era escuro, a entrada era R$5,00 e no programa estavam confirmadas 6 lutas. O nome do local é Arena do Tarracá ou Baixada do Tarracá.
UMA TEORIA POSSÍVEL, UMA CLASSIFICAÇÃO, UMA IDENTIDADE... Dentre as correntes esportivas contemporâneas (TUBINO, 2010, p. 54), encontramos, dentre outros, os Esportes Tradicionais, esportes consolidados pela prática durante muito tempo -; os Esportes das Artes Marciais – provenientes da Ásia, inicialmente praticadas militarmente pelos guerreiros feudais, e hoje práticas esportivas: jiu-jitsu, judô. Karatê, taekwondo; os Esportes de Identidade Cultural, que são aqueles com vinculação cultural: no Brasil, a Capoeira principalmente; são identificadas outras modalidades esportivas de criação nacional, de prática localizada nos seus ”lócus”, inclusive as indígenas: Uka-uka, Corrida de Toras, etc., sem preocupações de práticas por manifestação. (p. 56-57): Recorramos à Wikipédia: “Wrestling” (lit. luta) é uma arte marcial que utiliza técnicas de agarramento como a luta em “clinch”, arremessos e derrubadas, chaves, pinos e outros golpes do “grappling”. Uma luta de “wrestling” é uma competição física entre dois (às vezes mais) competidores ou parceiros de “sparring”, que tentam ganhar e manter uma posição superior. Há uma grande variedade de estilos, com diferentes regras tanto nos estilos tradicionais históricos, quanto nos estilos modernos: SENHORAS E SENHORES PERMITAM-ME APRESENTAR-LHE… TARRACÁ. […] ladies and gentlemen, let me introduce you to…Tarracá. It was used by a Vale Tudo fighter who called himself “Rei Zulu” in the early 80´s here in Brazil; he kicked (better yet, throwed around) quite a few asses before getting tapped out by Rickson in 1984
Mestre Baé – da Federação de Capoeira – responde e informa sobre o “ATARRACAR” em correspondência eletrônica, Com relação ao tema ATARRACAR; posso lhe adiantar o seguinte: desde criança tenho ouvido falar,assim como quase todos que também como eu sou da Baixada maranhense, grande parte da minha família é de Viana, Penalva, e Municípios vizinhos. Minha família sempre foi voltada para criação de gado e pescaria no interior, quando éramos crianças sempre a gente se atarracava um com o outro na
beira do curral ou do rio e até no campo para ver quem era melhor de queda e isso porque a gente via os mais velhos fazerem também ,meus avós e tios/avós falavam que isso sempre existiu o nome ATARRACAR e conhecido em vários interiores do Maranhão mas nunca ouvir dizer que era uma LUTA ou eu tenho lido algo afirmando ser luta, sempre foi o nome dado a forma de nos pegarmos para dar uma queda no outro em um corpo a corpo mais nunca foi denominado como luta até porque era baseada mais na força física e jeito de cada um pegar e arremessar o outro no chão através de uma queda.Luta pelo que eu tenho conhecimento possui técnica, bases, nomenclatura de movimentos, regras e etc..
Mestre Baé Mestre Marco Aurélio Haickel
Então, é uma tradição na Baixada, uma forma de movimento agonístico, em forma de luta, conforme Baé guarda em suas memórias. Este Mestre Capoeira não considera aquela brincadeira como luta dado seu conhecimento da Capoeira, e sua sistematização. Em outra correspondência, recebida de Mestre Marco Aurélio, em que indaguei sobre a busca da origem do “TARRACÁ”, estilo de luta livre (hoje seria MMA) adotado pelo lutador maranhense Zuluzinho, que aprendera com seu pai, o Rei Zulú; Zulu, criado em Pontal, no interior do Maranhão, onde aprendera uma luta cabocla praticada e ensinada por índios e negros da região: o Tarracá: Quanto ao Atarracado, desconheço sua presença no centro-sul do Maranhão, apesar de poder haver, mas é uma prática muito comum no centro-norte, pelo menos na região do Pindaré e na Baixada, nesta última, pelo que já ouvi de alguns capoeiras originários daquela região das águas falarem-me a respeito. No que diz respeito à sua presença na região do Pindaré é fato, pois eu mesmo a praticava bastante, tendo sido ao longo do tempo, na qualidade de menino, e aí vai até meus doze (12) anos, a base de tudo o que sabia nas minhas ”brigas de rua”. Apesar de ter nascido em São Luís, me criei, desde bebê, até os sete (07) anos de idade, na cidade de Pindaré-Mirim, outrora, Engenho Central, e em sua origem, Vila São Pedro. Como toda criança ribeirinha, as brincadeiras eram em torno do rio, dos lagos e igarapés, ou então nas várzeas, e aí, não faltavam os embates. Lembro-me que a minha afinidade com a prática era bastante estreita, talvez, por desde pequenino ter sido corpulento, de maneira que não era muito afeito à briga “corpo fora”, como se dizia, mas, mais no “atarracado“, ou “corpo dentro”, o que se dava a partir de uma cabeçada. A ponto de quando ousava me aventurar pelo “corpo fora”, na maioria das vezes saía perdendo… Foi na Capoeira, que fui aprender o embate, digamos, “corpo fora”, a partir da ginga, de peneirar… – por favor, deixo claro que “corpo fora” e “corpo dentro”, não é nem um tipo de modaliade de luta, mas somente para fins, talvez, de didática, consoante dizíamos no interior.
Quanto à origem do Atarracado – Tarracá -, Mestre Marco Aurélio diz: [...] não sei afirmar, se indígena ou africano, quiçá, até mesmo européia, nesta senda, somente pesquisando-se para buscar referências. Posso afirmar, no entanto, o que não quer dizer que a priori seja africana, é que tive oportunidade de ver, em um evento internacional de lutas de origem africana, em Salvador/BA, em 2005, quando levamos daqui, a “Punga dos Homens” uma prática que existe rasteiras e desequilibrantes, no tambor de crioula, um pessoal de Angola/África, apresentar a Bassúla, uma luta, a despeito de alguns golpes diferentes, muito semelhante ao Atarracado, pois imediatamente, quando vi os angolanos praticando-a, eu achei bastante parecida com o Atarracado, impressão esta, também denunciada pelo Mestre Alberto Eusamor, que lá estava comigo, assim como tantos outros, representando o Maranhão. No que diz respeito a uma influência indígena direta, e que é uma brincadeira da região do Pindaré e, acho, da região Norte como um todo, é o “Cangapé”, uma espécie de rabo de arraia e outros molejos que se pratica lançando-se para cima do contrário, na água.
Em outra mensagem eletrônica, Mestre Marco Aurélio acrescenta: Falei de como o atarracado tem semelhança com a Bassúla, luta de um país africano (Angola) e, no entanto, não me lembrei, na oportunidade, de falar de uma luta de origem indígena, o que se faz necessário, para ponderarmos, trata-se do Uka-Uka, um embate indígena, que consiste em fazer com que o contrário ponha um dos ombros no chão, hoje, ocorrente durante o “Quarup” um grande evento-cerimonial existente entre os povos do Alto-Xingú. Mas poderiam perguntar o que uma prática existente entre povos indígenas do Alto-Xingú tem a ver com uma prática ocorrente no Maranhão? Segundo Roberto da Mata, desculpem-me não dispor da referência bibliográfica, os povos Krahô e Xavante saíram em uma corrente migratória, a partir do Maranhão, para onde se encontram hoje, respectivamente, Tocantins e Alto-Xingú. Daí há de notar-se que o Maranhão em razão de ser banhado por inúmeras e grandes bacias hidrográficas era e é um celeiro de alimentos, o que deve ter sido berço de inúmeros povos indígenas, entre atuais, extintos e migrantes. Talvez, esse berçário, para os que possuem uma visão míope, e consideram que o maranhense tenha uma cultura ”preguiçosa” é por desconhecerem exatamente esse manancial de alimentos que é e, que outrora, tenha sido ainda mais.
Encontrei, ainda, descrição de luta-jogo semelhante, trazida por vaqueiros portugueses, durante o período colonial, a Galhofa - o “wrestling tradicional transmontano” - que se define como um desporto de combate. É tida como a única luta corpo a corpo com origens portuguesas. Tradicionalmente, este tipo de luta era parte de um ritual que marcava a passagem dos rapazes a adultos, tinha lugar durante as festas dos rapazes e as lutas tinham lugar à noite num curral coberto com palha. Em depoimento de Álvaro (Vavá) Melo, de Osvaldo Pereira Rocha, e de Edomir Martins, jovens nos seus mais de 80 anos, que quando crianças e adolescentes, costumavam praticar o ‘atarracado’ e o ‘atarracar’, na região da Baixada, onde moravam; Osvaldo Rocha, ilustre pesquisador e historiador, disse-me que, embora franzino, costumava ganhar algumas das ‘brincadeiras’, pois o segredo era a agilidade em agarrar a perna do adversário e levá-lo ao chão; tão logo autorizado o combate, a rapidez com que se lançava ao adversário era fundamental. Já Álvaro Mello, Vavá, presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão, cronista do Arari e de São Bento, deu seu depoimento, ressaltando que os embates se davam na beira do rio, e
os combatentes saiam cobertos de lama; O mesmo disse Aymoré Alvim – ilustre pesquisador hoje aposentado, da nossa UFMA/Medicina.
Vavá Melo, Osvaldo Rocha, Edomir Martins, AymoréAlvim
De Barreirinhas, em conversa com alguns professores de educação física de algumas comunidades do interior daquele município, falaram-me haver por ali, ainda, um jogo/luta semelhante ao descrito, mas que ali, denominavam de ‘queda’.
UMA CONCLUSÃO POSSÍVEL Rei Zulú, que praticava o que denominou de “tarracá” em sua infância, como atividade corriqueira, jogo/luta de sua infância, e dada suas características físicas, em um dado momento, ainda no quartel, vale-se de ambas – a forma de ‘luta’ e a força – para conquistar um espaço, que vem a se tornar uma profissão.
Para justificar seu estilo peculiar – força bruta – e por não ‘pertencer’ a uma escola do então Vale Tudo, ‘inventa’ a tradição de luta aprendida dos índios, TARRACÁ – atarracar, segundo Baé, ou atarracado, segundo Marco Aurélio – que vai se constituir em um estilo - maranhense – disseminado tanto por Zulu, em suas investidas no mundo da luta livre pelo mundo afora, como por seu filho Zuluzinho, quando coloca que seu estilo fora criado por seu pai – quem o treinava - e se chamaria ‘Tarracá’, de tradição indígena e negra, maranhense… Foi encontrado que em diversas regiões do Maranhão, ainda hoje, se pratica uma luta, que recebe diversas denominações – tarracá, atarracado, atarracar, queda – de origem possível portuguesa, tradicional hoje nas brincadeiras de crianças.
Palestra apresentada no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 27 de abril de 2011; publicado na Revista do IHGM 37, março 2011. http://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_tudo http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Gracie) http://pt.wikipedia.org/wiki/Rickson_Gracie) http://pt.wikipedia.org/wiki/Artes_marciais_misturadas http://pt.wikipedia.org/wiki/Artes_marciais_misturadas http://pt.wikipedia.org/wiki/Rorion_Gracie http://www.bullshido.net/forums/showthread.php?t=51830&page=3 http://www.divirtase.uai.com.br/html/sessao_13/2010/11/15/ficha_ragga_noticia/id_sessao=13&id_noticia=30972/ficha_rag ga_noticia.shtml e http://forum.portaldovt.com.br/forum/index.php?showtopic=126140 http://pt.wikipedia.org/wiki/Rei_Zulu http://www.youtube.com/watch?v=2RZtRfylWqA; http://www.youtube.com/watch?v=twbmb_i5YNk http://www.bullshido.net/forums/showthread.php?t=51830&page=3 http://fantastico.globo.com/platb/melevabrasil/2008/04/08/zuluzinho-x-zuluzao/ http://www.fisiculturismo.com.br/forum2/viewtopic.php?t=27186 http://magatown.br.tripod.com/antigas.htm; http://www.sherdog.net/forums/f2/closed-door-underground-fights-389143/ TUBINO, Manoel José Gomes. ESTUDOS BRASILEIROS SOBRE O ESPORTE – ênfase no esporteeducação. Maringá: Eduem, 2010 DIEM, Carl. História de los deportes. Barcelona: Corali, 1966 EPPENSTEINER, F. El origen Del deporte. In CITIUS, ALTIUS e FORTIUS. Madri, XV, p. 259-272, 1973 http://www.facebook.com/topic.php?uid=136381899755284&topic=70 http://pt.wikipedia.org/wiki/Wrestling http://pt.wikipedia.org/wiki/Grappling http://pt.wikipedia.org/wiki/Wrestling#Catch_wrestling VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. In Blog do Leopoldo Vaz, disponível em: http://colunas.imirante.com/platb/leopoldovaz/2011/03/22/em-busca-do-elo-perdido-historiamemoria-daeducacao-fisica-nodo-maranhao/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Notícias do Maranhão in JORNAL DO CAPOEIRA – 05/06/2005 – disponível em - http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/capoeira+maranhao+agarre+marajoara
PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS FOI CELEBRADO NA UFMA A solenidade homenageou a multitalentosa personalidade da cultura maranhense Maria Firmina dos Reis
SÃO LUÍS – A manhã do último sábado (9), véspera do dia dos pais, reservou uma comemoração especial à produção literária de São Luís, com a celebração do Primeiro Aniversário da Academia Ludovicense de Letras (ALL). A cerimônia, aberta com uma apresentação especial da Banda do 24º Batalhão de Infantaria Leve (BIL), homenageou Maria Firmina dos Reis, maranhense nascida em 1825 e considerada a primeira romancista do Brasil. O evento também contou com grande participação de professores e alunos da cidade de Guimarães, onde Maria Firmina se mudou aos cinco anos de idade e local de falecimento, aos 92 anos, em 1917. A solenidade, que reuniu patronos da ALL e convidados e celebrou Maria Firmina dos Reis, patrona da Academia e nomeia a cadeira de número 8, reuniu na mesa de solenidade o presidente da ALL, Roque Pires Macatrão, a vice-presidente da Academia, a professora Dilercy Aragão Adler, o confrade André Cruz, o professor Osvaldo Gomes e o deputado estadual Ivan Sarney, que na ocasião representava o presidente da Assembleia Legislativa, Arnaldo Melo. Dilercy Aragão, que é fundadora da Cadeira 8 da ALL e é patroneada por Maria Firmina, iniciou seu elogio à romancista explicando que este elogio tem origem na programação da V Semana Literária Maria Firmina dos Reis, realizada em 2012, em que, viajando à cidade de Guimarães, se encantou com uma apresentação teatral do Centro de Ensino Médio “Nossa Senhora da Assunção” – que esteve presente com uma caravana de 30 pessoas entre alunos e professores – e desta forma deu início à vida e obra da escritora. Ela disse que ficou muito cativada pela vida de Maria Firmina, que desempenhava funções que não eram convencionais à moral da época em relação à mulher. “Encanteime com sua inteligência, que extrapolava seus conhecimentos e com sua capacidade de expressão oral e gráfica, burlando as barreiras machistas através de pseudônimos - entre outros - para não deixar morrer suas ideias: o eco das mensagens de igualdade, liberdade e do verdadeiro sentido de humanidade”, ressaltou. Ela lamentou que o fato de ser bastante ativa na vida intelectual maranhense não foi suficiente para que pudesse ser reconhecida e lembrada como uma das grandes escritoras do Estado por mais de um século. Dilercy também destacou o trabalho do
maranhense Nascimento Morais Filho e do paraibano Horácio Almeida, que resgataram, revelaram e redescobriram as obras de Maria Firmina para o cenário literário maranhense e brasileiro. “Vejo no seu trabalho forte traço de teimosia, com força e leveza própria da linguagem literária”, completou, sobre as produções da romancista. Em seguida, Dilercy apresentou e analisou trechos de várias obras de Maria Firmina e autores e obras que citaram a escritora. Dilercy também comparou Maria Firmina foi contemporânea da Abolição da Escravatura, compondo letra e música do ‘Hino à Libertação dos Escravos’, em 1888. Por ser contemporânea de Gonçalves Dias e do período romântico da literatura brasileira, escreveu, em 1861, o ‘Canto do Tupi’, tratando da questão indígena com respeito, igualdade e ressaltando a bravura do índio, em que se lê um trecho: “Sou filho das selvas – não temo o combate, Não temo o guerreiro – guerreiro nasci; Sou bravo – eu invoco do bravo o valor, Sou filho dum bravo, valente tupi [...] Eu vivo nas selvas – nas selvas imensas, Que vastas se estendem nas terras do norte; Se corro à peleja, bem sei que a vitória Pertence a meu braço, que é grande, que é forte. [...] Eu vivo nas selvas – nas selvas do norte Sou índio valente, valente tupi. Temido na guerra – do bravo temido, Possante guerreiro, nas salvas nasci. [...]”
O elogio foi seguido do vereador de Guimarães, Osvaldo Gomes, que destacou a presença marcante de Maria Firmina na cidade maranhense, sendo homenageada há sete anos com V Semana Literária Maria Firmina dos Reis pelo Centro de Ensino Médio “Nossa Senhora da Assunção”, além de ser lembrada pelo feriado municipal Dia da Mulher Vimarense, em 11 de outubro, em que é celebrado por muitos dos moradores locais como “Dia de Maria Firmina dos Reis”. O vereador também ressaltou a romancista pela personalidade e simbologia que possui, uma vez que aprendeu a ler e escrever sozinha e falava francês fluentemente. A parte final do Primeiro Aniversário da Academia Ludovicense de Letras reservou aos presentes a apresentação do centro de ensino de Guimarães, em que os alunos da escola realizaram a performance do primeiro encontro de Maria Firmina e Gonçalves Dias, o desfile das personagens do romance Úrsula, de autoria da escritora, um sarau de poesias de Maria Firmina e a Toada do Auto de Bumba meu Boi, também de letra e música da multitalentosa personalidade cultural do Maranhão. Saiba mais A apresentação que abriu o Primeiro Aniversário da ALL foi realizada pela Banda do 24º Batalhão de Infantaria Leve (BIL), que mostrou um repertório bastante versátil, com repertório popular, tocando músicas de Marisa Monte, Paula Fernandes e Pablo do Arrocha; repertório maranhense, executando músicas de João do Vale (‘Todos cantam sua terra’) e Carlinhos Veloz (Ilha Bela); a “Coletânea Michael Jackson”; e a música ‘Perfume de Gardênia, de Waldick Soriano. Na ocasião, o regente da Banda, tenente Domingos Sálvio Costa, informou que no dia 9 de setembro, no Teatro Arthur Azevedo,
haverá uma apresentação especial em comemoração aos 402 anos de São Luís e gravação do DVD do grupo. Acesse a página da UFMA no Facebook Revisão: Patricia Santos Lugar: Cidade Universitária do Bacanga Fonte: Luciano dos Santos Última alteração em: 13/08/2014 19:29
MENINOS, EU VI!
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO14 Há um ano a Cidade de La Ravardière e Razilly reviveu os seus melhores dias, gonçalves dias, de Atenas Brasileira. Foi sacudida pelo sopro das musas para celebrar – uma vez mais, e para virar história, a ser contada ou declamada na noite das tabas – os 190 anos de nascimento do Gigante do Largo dos Amores. No dia anterior, 9 de agosto de 2013, na Praça encantada, em leito de pedra e folhas verdes, sob a proteção dos manitôs, os súditos do Poeta, vindos de diversas plagas, d’aquém ou d’além-mar, foram recebidos pelo próprio Bardo, que, gentil, desceu do alto da palmeira, acompanhado de sua fiel Olímpia e de sua eterna musa Ana Amélia. Anhangá se recolheu atrás do coreto. Meninos, muitos viram, não foi um sonho! E os súditos do Poeta quiseram ver mais da Atenas renascida das águas argênteas do Atlântico. Viram os seus azulejos, onde refulge o tempo aprisionado. Viram as suas sacadas, onde assovia o tempo afinado. Viram os seus becos, onde ressurge o passado insone. Viram os seus palácios, onde não cala o telefone. Viram os seus mirantes, onde o horizonte corteja o infinito. Viram as suas igrejas, onde as imagens contam sobre o mito. Viram os seus céus, onde brilha soberano o Sol generoso. Viram as suas marés, onde se desenrola um bailado primoroso. Viram os seus leões, onde resplandecem os olhos do poder. Viram as suas pedras, onde repousam ruínas do ser. Viram o seu casario, onde os anos escondem a memória. Viram as suas ruas, onde desfilam os carros da História. Viram as suas fontes, onde brota a verve da pilhéria. E viram outras praças, onde a riqueza ostenta a miséria. Anhangá ficou à espreita. Meninos, isso eu não vi, mas me contaram! No grande dia, 10 de agosto, natalício do Gigante do Largo dos Amores, pela manhã, que parecia estampar o seu melhor sorriso solar, os súditos do Poeta retornaram à Praça encantada e ultrapassaram, festivos e resolutos, o umbral do Palácio Cristo Rei, palco primeiro e maior das homenagens ao Bardo timbira. Anhangá não pôde entrar. À espera do Canto do Piaga, os convidados foram surpreendidos pelas canções da banda de um batalhão de caçadores, em meio à selva de sons, fúria e enlevo. Meninos, com deleite eu ouvi! E na taba sagrada, sob os auspícios de Tupã, os súditos do Poeta assistiram ao lançamento da Pedra Fundamental do Memorial Gonçalves Dias. Em seguida, 25 cultores de Calíope, entre inúmeras testemunhas de terras adjacentes ou longínquas, 14
Promotora de Justiça-MA, Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG) e membro da Academia Ludovicense de Letras e da Academia Caxiense de Letras. alaferro@uol.com.br
assentaram as primeiras pedras da Academia Ludovicense de Letras (ALL). E assim se abriu para São Luís um novo portal para o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, sob um céu de oito estrelas, a primeira sendo o Bardo caxiense e a oitava Maria Firmina dos Reis, sobre um campo azul de três flores-de-lis douradas, a evocarem as naus da França Equinocial. Savoir pour transformer! Como ninguém é de ferro, nem foi petrificado pelo olhar da Medusa, os súditos do Poeta se renderam a alguns prazeres da culinária local no almoço oferecido nas históricas dependências do Palácio Cristo Rei. Meninos, com ímpeto dionisíaco eu comi! A tarde não foi menos mágica. O ar impregnou-se de poesia, a poesia se fez música, e a música virou samba-enredo. Repetiria o poeta inglês Alexandre Pope, se cá estivesse presente: The feast of reason and the flow of soul! Primeiramente, os súditos do Poeta maranhense o homenagearam, em português, espanhol, francês ou outro idioma da alma, com a leitura ou declamação de alguns dos mil poemas a ele dedicados em dois livros, dentre três do Projeto, saídos da forja da Universidade Federal do Maranhão. Foram distintos os estilos, distintos os sotaques, distintas as entonações... Só o amor à poesia e ao Bardo timbira foi o mesmo... Até uns curumins da Escola Paroquial Frei Alberto coloriram o cenário com graça, música e dança e espantaram Anhangá. E então nosso céu ganhou mais estrelas e nossa vida, mais amores, nossas várzeas ganharam mais flores e nossos bosques, mais vida... E, já sob o reinado de Jaci, cada pessoa envolvida no Projeto que se fez realidade, incentivador ou participante, poeta ou acadêmico, autoridade ou menor de idade, foi agraciada com uma comenda em honra ao Poeta. Foram duzentos agraciados. Meu pai estava lá, ao lado de minha mãe, e estava feliz. Foi a última grande cerimônia de que participou o meu herói particular, Wilson Pires Ferro, um dos idealizadores da ALL, antes de ir habitar no paraíso dos poetas. Ainda uma vez, adeus, meu pai! Meninos, eu tudo vi! Nos dias seguintes, a nau dos súditos do Poeta zarpou para Caxias, onde ele nasceu, e para Guimarães, onde pereceu. E se alguém duvidar do que eu acabei de contar, guardado na mais recôndita memória, só tenho a dizer, e o faço prudente: “Meninos, eu vi!”
NA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS JURÍDICAS
Nossa Confreira, a Promotora de Justiça e escritora Ana Luiza Almeida Ferro, Membro fundadora da ALL, onde ocupa a cadeira 31, patroneada por Mário Martins Meireles; e Sócia efetiva do IHGM, onde ocupa a de numero 36, tendo como Patrono Astolfo Serra, participou, no dia 11 de agosto último, de uma grande cerimônia da Academia Paraibana de Letras Jurídicas, realizada em João Pessoa-PB, no auditório Advogado João Santa Cruz, na sede da OAB local. Na oportunidade, foi agraciada com o título de Membro Honorário da Academia Paraibana de Letras Jurídicas (APLJ) e falou ao numeroso público presente, em nome da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ). No dia seguinte, na mesma cidade, participou de reunião com presidentes de Academias Jurídicas brasileiras, como parte da programação do I Encontro de Academias de Letras Jurídicas do Brasil, ocasião em que foi fundada a Federação das Academias de vocação jurídica.
O FUNDADOR ESQUECIDO
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Promotora de Justiça, Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG), sócia efetiva do IHGM e membro da Academia Ludovicense de Letras (ALL) alaferro@uol.com.br
Publicado em O Estado do Maranhão, em 07 de setembro de 2014 Nenhuma avenida, praça ou monumento em São Luís guarda a sua memória. Nenhum colégio da capital maranhense ostenta o seu nome. Nenhuma corrida pelas ruas da cidade o tem como homenageado. Nenhum busto reproduz as suas possíveis feições, que, ao contrário das de seu companheiro mais celebrado, são por demais conhecidas, mercê de um retrato comumente reproduzido nos livros, constante do acervo de um museu parisiense. Nenhum palácio rende tributo ao proeminente papel que desempenhou no empreendimento imortalizado nas páginas da história do Brasil Colônia sob a denominação de França Equinocial. E, no entanto, não é possível contar a história de São Luís sem mencioná-lo. Mais do que isso, não é possível fazê-lo sem reconhecer-lhe o protagonismo no nascimento da cidade, fundada a 8 de setembro de 1612. Foi ele quem comandou, ao lado de La Ravardière, a nau capitânia, grande e fortemente armada, denominada Régent, em homenagem à Rainha Regente Maria de Médicis, integrante da frota de três navios que partiu de Cancale rumo ao Maranhão com aproximadamente 500 homens em 19 de março de 1612. Foi ele quem batizou a Upaon-mirim dos tupinambás, ou Ilha Pequena, com o nome de Sant’Ana. Foi ele o “grande morubixaba” gaulês nos contatos com Japi-açu, cacique principal de toda a Ilha de São Luís na época. Foram ele e Daniel de la Touche os lugares-tenentes-generais do Rei Luís XIII que selecionaram o local da edificação do Forte São Luís. Quando Nicolas de Harlay volveu à França, o que se deu pouquíssimo tempo depois da chegada ao Maranhão, este delegou ao nosso fidalgo, militar católico de prestígio do gabinete real, os seus poderes. Ele logo assumiu a posição de “senhor da colônia”, na precisa expressão de Lucien Provençal. Nos breves meses que esteve no norte do Brasil, encarregou-se das relações humanas, do reconhecimento da terra e da evangelização dos índios, com a preciosa assistência dos frades capuchinhos, entre os quais os cronistas Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux. Foi ele a figura mais destacada a participar da cerimônia de 8 de setembro de 1612, cujo ápice deu-se no erguimento e fixação da cruz, na benzedura da ilha e no batismo do Forte São Luís e do Porto de Santa Maria, com a ativa participação dos
tupinambás, a qual representou a fundação oficial da colônia da França Equinocial e o momento ritual da fundação da futura cidade de São Luís. A propósito, foi exatamente ele quem batizou de São Luís, em homenagem ao Rei Luís XIII, então menor, o forte que emprestaria o seu nome à cidade, da qual constituiu o núcleo originário, igualmente formado pelas construções de apoio e pelo Porto de Santa Maria. Claude d’Abbeville é deveras explícito neste ponto: “Erguida a cruz, [...] foi também benzida a Ilha, enquanto dos fortes e dos navios muitos canhonaços se disparavam em sinal de regozijo. O sr. de Rasilly deu ao forte o nome de Forte São Luís, em memória eterna de Luís XIII, rei de França e de Navarra [...]” (História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1975, p. 73). Sim, La Ravardière não fundou sozinho São Luís. O cofundador da cidade, a quem esta, na verdade, deve o nome, foi o Senhor de Razilly, de Oiseaumelle e de Vaux-en-Cuon, nascido em 1578, originário da região de Touraine. Já na cerimônia de 1º de novembro de 1612 – de afirmação da autoridade da Coroa francesa e cunho especificamente político e complementar àquela de 8 de setembro –, em que os indígenas chantaram o estandarte real, contendo as armas da França, junto da cruz anteriormente cravada no solo da Ilha do Maranhão, o mesmo personagem e seu sócio La Touche decretaram as importantíssimas Leis Fundamentais da França Equinocial, marco legal pioneiro de manifestação de natureza constituinte elaborada nas Américas. Foi ainda o almirante Razilly quem, de volta à França, salvou da destruição um ou mais exemplares, não obstante o desaparecimento de algumas partes, da obra Seguimento da História das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614, de Yves d’Évreux, cuja publicação fora autorizada em 1615 para, logo em seguida, ser abortada. E, todavia, François de Razilly é o fundador esquecido de São Luís. Há aí, talvez, um quê de ressentimento filial, de possível contorno freudiano, pelo fato de ele não haver cumprido o seu compromisso de regressar ao Maranhão. Como “uma das velhas glórias da França”, na avaliação de Ferdinand Denis, Razilly poderia, com sua sólida experiência militar, sem dúvida, ter feito pender a balança para o lado gaulês na Batalha de Guaxenduba, às portas de completar 400 anos. Mas, na realidade, ele não abandonou a França Equinocial ou dela se desinteressou após retornar à pátria, antes se viu abandonado pela Rainha Maria de Médicis e por aqueles que, no princípio, o haviam apoiado na empreitada no norte do Brasil. Gastou sua fortuna para rearmar a nau Régent e permaneceu na França até lhe parecer perdida qualquer esperança de consecução de algum auxílio oficial à colônia no Maranhão. Ele não merece, portanto, o esquecimento que lhe dedica a cidade que lhe deve muito mais do que o nome.
AS VELAS DE SÃO LUÍS
CERES COSTA FERNANDES PUBLICADO EM O ESTADO DO MARANHÃO, 08 DE SETEMBRO DE 2014
Momento de puro prazer estético é, nas manhãs ensolaradas, seguintes a uma noite de chuva forte, apreciar os barcos vindos do interior ancorados no Portinho, à beira do Anel Viário, dezenas deles, enfileirados de velas abertas, postas a secar ao sol e ao vento, enfunadas como se navegando estivessem. Moradora da Beira-Mar saio rumo ao Campus do Bacanga, para dar minhas aulas matutinas. Dirigindo meu carro sem ar condicionado, trânsito livre, janela aberta, cabelos ao vento, despreocupada se mendigos ou vendedores se aproximam nos sinais. Sei o que vou encontrar ao longo do caminho e antegozo a chegada do Momento. É agora. A visão do espetáculo de cores vivas e linhas altaneiras me põem em estado de graça, amaciando a minha manhã de trabalho. Meninos! A emoção de ver as velas multicoloridas enfileiradas no Portinho, a secar depois da chuva! Trago meus filhos para apreciar essa e outras belezas simples da nossa cidade. Afinar, talvez, a sua sensibilidade. E eles veem e guardam nas suas retinas. As velas pequenas das canoas chegam à Praia do Caju, na Avenida Beira-Mar, nos alegres domingos. Vamos todos à Ponta d’Areia, na canoa de vela azul de Pedro Olhudo, nosso mestre barqueiro preferido. Vento forte, vela tocando a água espumosa, coração cheio de adrenalina. Creio que felicidade é isso. No cais da Praia do Caju, também aportam grandes veleiros, a despejar melancias, verduras, frutas, cofos de farinha e até tijolos e telhas vindos de Rosário. A movimentação se repete no porto do Jenipapeiro, no cais dos armazéns de tecidos e nos atracadores das fábricas de sabão e sacas de sisal, ao longo da Praia Grande, até o antigo porto da Madre Deus, agora Praça de São Pedro. O combustível, a madeira de mangue, desembarca para alimentar as caldeiras da ULEN & Co. Depois, as embarcações partem cheias de mercadorias para suprir os comércios do interior. Passageiros embarcam e desembarcam. É um vai-e-vem constante de velas. Corte para o presente. O ferry-boat transporta milhares de passageiros ao terminal do Cujupe, de onde partem ônibus para as cidades da Baixada, tornando obsoletas as tradicionais viagens de barco de São Luís aos municípios. O outrora tenebroso Boqueirão não mais assombra. As estradas cortam todo o Estado. Hoje, a movimentação das embarcações na Ilha, se resume aos “iates”, grandes veleiros motorizados, que partem do Cais da Praia Grande rumo a Alcântara, ou às bianas, lanchas e iates motorizados, que se agrupam por trás do Mercado do Peixe, trazendo toneladas de pescado, vendidas diretamente ao consumidor. Quem quiser passar por lá de madrugada, certamente fará boa compra.
O cartão postal que ocorre à memória de todos, quando se fala em São Luís, são as velas enfunadas e coloridas, em primeiro plano, cortando a Baía de São Marcos, tendo ao fundo sobrados, ladeiras e palmeiras. Isso é memória e também um pouco do presente. Mesmo com os novos tempos, as embarcações tradicionais como bianas, igarités, ”iates”, botes e canoas costeiras, ainda sobrevivem no Maranhão. O recortado litoral maranhense, o segundo maior do Brasil, constituído de reentrâncias, ilhas e igarapés, onde estradas não conseguem chegar, fatores que desde sempre impulsionaram a construção artesanal dessas embarcações, continua a necessitar de barcos pequenos e de fácil manejo. Temos os constantes e fortes ventos alísios. E o vento é de graça. O projeto do Estaleiro Escola, um complexo de oficinas e escola, situado no sítio do Tamancão, no Rio Bacanga, visa a ensinar aos jovens a arte de construir barcos, perpetuando as nossas tradições de construção artesanal de embarcações costeiras. Temos, também no Bacanga, o Estaleiro da Vovó, de caráter particular, em funcionamento. A tendência é misturar o tradicional com o novo, embarcações mistas, motor e vela. Aproveitando as vantagens de cada modelo, conforme o momento e a necessidade: um motorzinho encurta as distâncias; a vela economiza o combustível. Se por um lado, a construção das embarcações tradicionais diminui, a indústria de construção dos catamarãs de fibra aumenta a cada dia. Temos, na Ilha, três estaleiros: o Batevento, o Maramar e o Pérola. A produção é mais demandada por outros estados, mas alguns catamarãs ficam aqui na nossa baía. É uma fonte de renda para o Maranhão, que ainda não teve o seu reconhecimento como tal. Só temos uma marina, fruto de iniciativa particular, a da AVEM, já sem espaço. A falta de local apropriado para aportar faz os barcos à vela de outros estados e de países estrangeiros passarem ao largo de São Luís. São Luís, localizada na bela e acolhedora Baía de São Marcos, é uma cidade vocacionada ao turismo náutico, fonte de trabalho e renda. Se nosso turismo náutico é incipiente, vamos explorá-lo. O Espigão, responsável por evitar o assoreamento da baía, aí está. É o lugar ideal para receber barcos do interior e do exterior, vamos aproveitar esse presente. Todo são-luisense tem nas veias o sal do nosso mar e nos olhos as cores de nossas velas. Depende de nós a volta do cartão postal que vive na memória de todos os habitantes de Upaon-açu. Lutemos pela volta das nossas velas, sejam elas tradicionais ou modernas. Quem não viu o espetáculo das velas coloridas enfileiradas secando ao sol no Portinho, não verá jamais, sinto dizê-lo, mas poderemos ver a Baía de São Marcos coalhada de veleiros a singrar as águas, devolvendo-nos os instantes de beleza impressos nas nossas retinas. ceresfernandes@superig.com.br
A REFUNDAÇÃO DE SÃO LUÍS
JOÃO BATISTA ERICEIRA Publicado na edição especial do jornal O Imparcial em comemoração ao aniversário de São Luís, em
A cidade aproxima-se da data do quarto centenário, e muitos dos seus habitantes perguntam-se: quem foi Daniel de La Touche, segundo os manuais de História, o seu fundador em 8 de setembro de 1612, em nome da coroa gaulesa. Daí dizer-se que São Luis é a única capital brasileira fundada pelos franceses, e a mais portuguesa, por costumes, arquitetura, sendo por isso chamada a “Lisboa dos Trópicos”. Mas o que fazia o nobre senhor de La Ravardière, antes de aportar na Upaon-Açu dos índios tupinambás, Ilha Grande para os portugueses. Desejou mesmo fundar uma cidade ou simplesmente o forte Saint Louis, feitoria fortalecida para a garantia do comércio principalmente de madeira, principalmente do pau Brasil, que os franceses estabeleceram com os indígenas, a quem agradavam com miçangas para garantir a exploração das riquezas naturais das costas do Brasil, de propriedade da coroa portuguesa pelo Tratado das Tordesilhas. Decorridos 400 anos, a Upaon-Açu, agora por determinação da Constituição estadual, continua sendo demandada por quem deseja explorar os seus recursos naturais vegetais, minerais, construindo megaedificios, pouco deixando em benefícios aos seus habitantes, descendentes de portugueses, africanos e indígenas. A devastação das matas, o aterramento de rios, riachos e mangues castiga o meio ambiente, fez subir a temperatura, revogando as dádivas de outrora. Antes era conhecida por ter o clima mais equilibrado do Brasil. O desastre ambiental da exploração predatória trouxe consequências danosas para a saúde pública, sobretudo para os grupos de risco, crianças e idosos. Não há certeza absoluta, mas dizem os historiadores que o “siuer” de La Ravardière nasceu entre 1570 e 1575 em Poitou, atualmente integrante da região PoitouCharentes, no castelo de Mirabolais. Pertencia à pequena nobreza, alistando-se nas forças de terra do rei da França, depois, integrou-se na marinha. Casou-se com Charlotte de Montgomery aristocrata de alta estirpe, filha de um dos chefes do protestantismo normando, que cobrava direitos de todos os navios que transitavam em La Hogue. Estabeleceu-se no porto de Cancale de onde partia para as suas aventuras na América do Sul, sob o beneplácito do ex-protestante Henrique IV, convertido formalmente ao catolicismo, autor daquela famosa frase: “Paris vale uma missa”. Depois a sua viúva assumiu o trono, a verdadeiramente católica Maria de Médicis, regente enquanto durou a minoridade de Luís XIII. A referência ao credo religioso dos monarcas importa porque à época os franceses estavam mergulhados em guerras religiosas que teriam consequências no projeto da França Equinocial. Ao assumir o trono, a católica Maria de Médicis não deu o mesmo apoio que o seu falecido marido teria dado aos intentos de Daniel de La Touche, seu companheiro de confissão de fé.
Não fora o assassinato de Henrique iV, o Maranhão e Grão-Pará poderiam ter passado ao domínio da França. As dinastias da Europa, absolutistas e fundamentadas no Direito Divino, praticavam o patrimonialismo, e as empreitadas de exploração e povoamento das novas terras da América eram projetos empresariais custeados com capitais privados e do trono. O povoamento ao redor do forte Saint Louis foi determinado por Jerônimo de Albuquerque, que depois incorporou Maranhão ao seu nome, após a designação de capitão-mor da Capitania, por Decreto de EL Rei de Portugal, que encomendou ao engenheiro Francisco Frias de Mesquita, o plano da cidade, a partir de duas praças, atualmente Largo do Carmo e Pedro II. No século 19, o francesismo que acometeu as elites brasileiras ensejou que em 1912 se comemorasse os trezentos anos da fundação francesa de São Luis com exposição no Palácio dos Leões, bandeiras e fanfarras. Em 1962, os 350 anos tiveram a mesmo enfoque com a presença do Embaixador da França. A História é em parte inventada e povoada de lendas. Assim entendia Heródoto, que em vão pretendeu cinco séculos antes de Cristo, na Grécia clássica, a revogação das lendas na narrativa histórica. Tanto o fidalgo Daniel de La Touche, construtor do forte Saint-Louis, quanto o capitão Jerônimo de Albuquerque, que derrotou os franceses em Guaxenduba, e determinou a elaboração do plano urbano e o seu povoamento, são fundadores de São Luis. Ambos a serviço de seus reis e de seus interesses empresariais. Não importa desfazer o mito da fundação, interessa mesmo é refunda-la, pô-la a serviço dos seus habitantes, que merecem na passagem dos 400 anos serviços públicos de melhor qualidade, na saúde, na educação, na segurança, nos transportes. Importa mesmo é transformar cada ludovicense em refundador da sua cidade.
LIVRO, ACADEMIA E INCLUSÃO SOCIAL
SANATIEL PEREIRA Engenheiro Civil, Escritor, Pesquisador Professor Doutor do Departamento de Desenho e Tecnologia da UFMA Publicado no jornal O Estado do Maranhão de 07/09/2014
No ano passado, a Editora da Universidade Federal do Maranhão (EDUFMA) completou 25 anos de fundação, com mais de quinhentos títulos publicados, nas diferentes áreas do conhecimento, fruto de um trabalho árduo, mas consciencioso, e de um dinâmico e natural processo de renovação. Tem hoje, em seu catálogo, vultos que fizeram e fazem a história acadêmica e literária do Estado do Maranhão, como o poeta Nauro Machado, o cronista José Chagas, a historiadora Maria de Lourdes Lauande Lacroix, o cronista Sebastião Jorge e os antropólogos Mundicarmo e Sérgio Ferret, sendo todos autores de renome nacional e internacional. Ainda podemos citar a farmacêutica Terezinha Rego, que tem reconhecimento internacional com seus trabalhos na área de fitoterápicos. Estes, que representam somente a ponta do iceberg, são exemplos do grande grupo de notáveis que albergam a nossa universidade. A Universidade Federal do Maranhão, como instituição de ensino superior, tem, entre outras missões, a de funcionar como órgão gerador de conhecimento, que se completa somente com o processo de difusão do saber gerado, por meio da editora universitária. Dessa forma, este novo bem cultural, sob a forma de livro impresso ou eletrônico, disponibilizado ao público acadêmico, opera como condutor de uma revolução social com o surgimento de um novo homem dentro da sociedade contemporânea. Razão essencial da existência da EDUFMA, o livro como objeto universal em sua forma, como suporte para o registro do que é feito na universidade, deverá obrigatoriamente exercer um papel transformador em uma sociedade carente, tal qual na que hoje convivemos. Como editores universitários, temos a missão da socialização do conhecimento gerado e da proteção da memória dos valores culturais em que vivemos. O livro, nosso principal produto, é o instrumento e a materialização dessa dinâmica de transformação, que hoje passa por mudanças radicais de apresentação, devido às novas tecnologias de informação e comunicação, mas que nos impulsionam para possibilidades e oportunidades nunca sonhadas. A transformação do livro de papel para o digital, longe de ser uma ameaça, é uma ponte extraordinária para vencermos e ultrapassarmos limites de desenvolvimento social em um tempo bastante rápido. Em uma sociedade carente como a nossa, em que os índices de desenvolvimento social são baixos, levando a uma alta taxa de abandono nos cursos universitários, como também de reprovações, o desenvolvimento de programas de livros paradidáticos, do
tipo eletrônico, poderá causar impactos positivos sensíveis nesses índices dentro da universidade em curto prazo. Por outro lado, professores universitários, inseridos nesse contexto de tecnologias da informação e sociedade em rede, precisam estar atentos para as reais possibilidades que este meio de comunicação do conhecimento nos impõe, mas que cria, também, um veículo mais rápido e mais barato, quando não gratuito, para ser empregado como ferramenta eficaz do ensino nas mais diferentes áreas de conhecimento. Em um planejamento mais avançado, podemos pensar, de forma sustentada, em programas, na UFMA, de elaboração de livros digitais com acesso totalmente gratuito. As novas tecnologias podem causar impactos à cadeia produtiva do livro convencional, mas o impacto maior e positivo será a difusão do conhecimento, via meio eletrônico, entre classes sociais que antes não conseguiriam adquirir livros. Isso é por demais interessante para nossa universidade e para a sociedade como um todo porque, dessa forma, se torna possível dar grandes saltos em poucos anos. Se promovermos a substituição de parte dos livros publicados com a chancela da EDUFMA por e-books, estaríamos contribuindo com a formação de uma sociedade consumidora do livro eletrônico, de baixo custo, tirando da exclusão milhares de estudantes maranhenses que não têm acesso nem condições financeiras para aquisição dos livros em suporte de papel, propiciando, dessa maneira, a difusão da leitura, do conhecimento e do saber para todos. A priori, não existe universidade forte e capaz de realizar grandes transformações, sem que exista em seu bojo uma editora capaz de transferir para a sociedade tudo aquilo que de melhor for gerado dentro dela, sob todas as formas de ciência. Dessa maneira, a editora se constituiu a maior e melhor ferramenta para as transformações sociais e, principalmente, a promoção da inclusão social, considerando que faz chegar aos menos favorecidos o conhecimento essencial e indispensável que pode lhes transformar a vida. Levando-se em consideração a idade do nosso país, das instituições que lhe pertencem e dos recursos que são destinados ao ensino público, muita coisa ainda precisa ser feita para assegurarmos um desenvolvimento sustentável que diminua substancialmente as desigualdades sociais. A EDUFMA, como uma ferramenta dinâmica, pode e deve ser utilizada neste processo de ressocialização de uma grande parte da população, que adentra os portões da universidade, sem ainda saber bem o que é ser cidadão.
PALESTRA EM LYON
Antônio Augusto Ribeiro Brandão “Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans”, o livro que venho lançar, aqui e agora, é uma homenagem a São Luís do Maranhão e aos franceses seus fundadores, em 1612. Reafirma um estilo narrativo existente desde os tempos de Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, capuchinhos que acompanharam a expedição de Daniel de La Touche e tornaram-se os cronistas pioneiros do cotidiano da cidade. Os franceses ocuparam as terras brasileiras e fundaram São Luís, em 1612 (onde Jacques Riffaut já havia estado, em 1594), com Daniel de La Touche à frente de uma caravela e duas naus, mais 500 homens e os Frades capuchinhos, após 116 dias desde Cancale. A propósito “precisamos refletir sobre algumas das circunstâncias mais representativas então vigentes na França”, e sobre o que aconteceu depois de mais de três anos de colonização, para que o ideal da França Equinocial não pudesse ser concretizado. Ilustres historiadores pertencentes à já centenária Academia Maranhense de Letras manifestaram-se a respeito da fundação de São Luís, como Barbosa de Godois e José Ribeiro do Amaral; Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, cronistas pioneiros da cidade, também. Venho a esta vetusta Universidade em grata missão oficial da Universidade Federal do Maranhão-UFMA, em São Luís, a fim de encaminhar um “Memorando Geral de Entendimentos para Cooperação Mútua” com a Universidade Lumière Lyon 2, que dará início a um novo tempo nas nossas relações internacionais “desenvolvendo experiências educacionais e científicas de fortalecimento e enriquecimento”. Este Ato situa-se além de uma realização pessoal deste professor e cronista. Contou, desde os primeiros momentos, com a compreensão da ilustre professora Maria da Conceição Coelho Ferreira, responsável pelo Instituto de Estudos Brasileiros, desta Universidade, acatando nossas manifestações de interesse e dando bom termo aos entendimentos. Agradeço de coração à ilustre professora, bem como e de igual forma ao professor Aldir Araújo Carvalho Filho, chefe da Assessoria de Relações Internacionais da UFMA, que formalizou, em nome do Senhor Reitor Natalino Salgado Filho, esses entendimentos. A UFMA é uma universidade relativamente nova, pois foi oficialmente criada em 1966. Antes existiram Escolas isoladas e que foram transformadas em uma Fundação. Atualmente, tendo à frente o Magnífico Reitor Natalino Salgado, a quem agradeço o apoio à minha viagem, nossa Universidade tem experimentado franco progresso na melhoria e expansão dos seus diversos cursos pelos inúmeros campi, no Estado do Maranhão, além de significativa ampliação das suas instalações, no campus do Bacanga, em São Luís.
Sou economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, em 1959, instituição atualmente integrante da Universidade Cândido Mendes, professor universitário aposentado pela Universidade Federal do Maranhão, onde ensinei de 1979 a 1997; antes fui professor fundador da Universidade Estadual do Maranhão e ajudei a criar, a partir de 1968, as primeiras escolas de ensino superior ligadas ao Estado. Na Universidade ensinei principalmente Teoria Econômica, Economia monetária e Mercado de capitais; desenvolvo ainda atividades literárias, como membro da Academia Caxiense de Letras, em Caxias, e da Academia Ludovicense de Letras, em São Luís. No momento, estou escrevendo o Elogio ao meu Patrono, na Academia Ludovicense de Letras, Francisco Sotero dos Reis, a ser proferido no mês de janeiro próximo. Ele nasceu e morreu no Maranhão do século XIX, “foi jornalista, poeta e escritor, e deu lume a uma obra estritamente vinculada a assuntos filológicos [...]”; foi precursor do “fenômeno raro do aparecimento de verdadeiros mestres da Língua Portuguesa Clássica”, no século XX. Sotero dos Reis (1800-1871), meu Patrono na Academia Ludovicense, estudou 29 dos principais autores portugueses e brasileiros, destacando-se Gil Vicente, Luiz Vaz de Camões, Alexandre Herculano, Padre Antônio Vieira, Manoel Odorico Mendes, Antonio Gonçalves Dias e Antonio Henriques Leal. Este Livro, que venho lançar no Instituto de Estudos Brasileiros, desta Universidade, é o meu segundo trabalho de crônicas. São 27 selecionadas, antes publicadas na imprensa de São Luís e reunidas em Livro, a fim de superar a perenidade dos textos jornalísticos. A principal dessas crônicas presta meu tributo à única cidade brasileira fundada pelos franceses, São Luís do Maranhão; elas falam, ainda, das minhas viagens, sobre outras cidades, livros, música, família, estudos, valores e crenças e “tratam de coisas passadas com intenção de preservar memórias, não de desvalorizar o presente”. Segundo palavras do apresentador e tradutor do Livro, professor Cadmo Soares Gomes, “[...] o lirismo criativo está sempre presente e se desvela às vezes em melancolia [...]. Quando trata da família, revela o espírito romântico, rendendo-se aos sentimentos suaves [...]”. Chamo atenção para as epígrafes que coloquei encimando cada crônica. Foi de propósito. Além de prestigiar a memória dos seus autores, adéquam-se, na maioria das vezes, ao que escrevi. São para reflexão. Desejaria, doravante, fazer alguns comentários sobre as motivações que me levaram a escrever algumas das crônicas selecionadas. RAZÃO E SENSIBILIDADE é um grito de alerta em favor do patrimônio histórico das cidades, particularmente de Caxias, no Maranhão, no Brasil, minha terra natal; é um posicionamento democrático contra o lento, gradual e inexorável processo de “modernização” dos espaços às vezes onde se nasce, cresce e morre. VEREDA TROPICAL lembra da minha juventude, em São Luís, e das músicas caribenhas que tocavam nos clubes da cidade, nos bailes da vida, das namoradas e das dificuldades em conservá-las. O QUE É A FELICIDADE? Quem sabe? Eu arrisquei escrever sobre algo apenas experimentado por quem sente. Cada qual é feliz à sua maneira; não há uma receita pronta e acabada.
“Todos têm direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade”, disse Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, quando esboçou as primeiras linhas do texto da Declaração de Independência dos EUA, em 1776. Busquemos, pois, esses direitos. Muito obrigado.
CRテ年ICAS, CONTOS, ARTIGOS
ÉTICA COMO PRÁTICA DA VIDA HUMANA
ALDY MELLO A literatura sobre o estudo da ética é mais antiga do que vasta. Pouco se tem escrito sobre o tema e muito pouco se tem praticado a ética na nossa convivência diária. O interesse pela ética tem sua origem ainda na civilização pré-socrática, o que deu a Sócrates o cognome de fundador da ética no ocidente. Muitos outros vieram depois, como Aristóteles que sistematizou os estudos nessa área; Kant, filósofo alemão, fundador do Criticismo, tratando da razão pura e da razão prática, cuja doutrina repousou na ideia de que se pratica o ato moral perante a definição de algum bem ou o temor de algum castigo. Mais recente temos Spinoza, filósofo holandês, um dos representantes do Racionalismo panteísta, inspirado no modelo da geometria que unifica Deus, substâncias e natureza. Sua contribuição foi tentar fundamentar a ética a partir do método geométrico, dando a ela fundamentos tão sólidos como aqueles da geometria. Didaticamente, podemos dizer que ética é a parte da filosofia que investiga o que é moralmente bom ou ruim, certo ou errado. O fato moral tem suas bases na ética, onde são determinadas as diretrizes e os princípios da nossa vida cotidiana, às vezes até sob certa confusão. A nossa sociedade pós-moderna ou a globalizada civilização do final do século XX não conseguem aproximar a ética de certas coisas de realce nos dias atuais, como é o caso do poder. É, por acaso, essa criação feita sob distanciamento da ética ou sob o signo do antiético? Michel Foucault quando analisa sua genealogia do poder, no seu livro Microfísica do Poder, deixa claro que dificilmente poderá existir estreita relação entre coisas como poder e ética. Para Foucault só haverá relação quando se leva em conta o que ele chama de "produção da verdade." Do poder se diz, em síntese, ser ele uma prática de natureza social, secularmente instituída e sempre buscada e desejada por muitos. Por não ser um objeto, ou materialmente algo que se possa guardar para sempre, ele estará sujeito às mudanças das relações sociais e até certo ponto subordinado aos ciclos instituídos pela historia dos atos dos homens e do próprio poder. O dinheiro, quando não vem a ser uma derivante do poder, faz-lhe saudável companhia, tornando-se dele um forte aliado. E a ética? Dificilmente conviverá amistosamente com ambos, quando se trata de trazer ao meio deles a produção da verdade. Ética tem tudo a ver com o lícito ou o ilícito, o certo e o errado, com o bom e o ruim. Fora desses parâmetros só existem as criações que são impostas pelas regras da convivência humana. Possivelmente, haverá ética quando não mais predominar a inveja,
quando o sentimento não se restringir somente ao desejo de honrarias, quando não se tem como regra básica o próprio proveito em detrimento alheio. Sabemos que nossa sociedade apresenta características bem distintas de outras épocas da história. Vivemos em sociedades abertas onde a mídia é ao mesmo tempo causa e efeito, nessa aldeia globalizada prenunciada por Macluhan, onde cada vez mais se presencia o processo de degradação da pessoa, tornando-a o alvo da massificação e do consumo, por prevalecer as regras do coletivismo, da padronização sobre a essência da pessoa humana. de quem falta, cada vez mais, o compromisso com a existência ou a exigência essencial da vida pessoal, da vida de cada um. A ética, portanto, muito tem a ver com o comportamento pessoal, com a relação que o homem tem com o mundo e vice-versa. No processo de formação de personalidade, inclui-se a importância da escola. Não aquela escola nefasta que cultiva a falta de ética, aquela escola que permite a cola, como manifestação clara e desagregadora da moral e da cidadania. Hoje temos incentivo da cola até na Internet com o seu tão conhecido site “Cola da Web” que leva à prática o incentivo: “Quem não cola, não sai da escola.” Como é possível se esperar futuros políticos, futuros profissionais ou meros cidadãos honestos, se eles foram forjados na escola da cola on-line? Este artigo aborda questões fundamentais para o estudo da ética como o desenvolvimento do homem no mundo e sua formação nas diversas épocas. Na PréHistória, suas preocupações recaiam sobre sua sobrevivência. Era um homem essencialmente preso às divindades e sabia se comunicar com os animais com quem dividia a convivência. Já o homem antigo voltava suas atenções para as novas descobertas. Para ele, era importante o mundo natural das coisas e dos seres. Era mais crente, mais guerreiro, valorizando a força física e as relações com o poder, valores que, ao lado da liberdade, só fizeram crescer na Idade Média. O homem moderno passou a ter outro tipo de relação com a natureza e o centro de sua atenção deixou de ser Deus e as coisas que dele vinham. O homem contemporâneo se preocupa com os desafios da evolução do mundo, a energia nuclear, o poder das nações sobre as outras, enfim, com a evolução do mundo e as consequências da globalização. Abordamos as concepções de Ética e Moral, cuja distinção tem sido, através da história e das teorias, muito difícil. Os gregos consideravam a filosofia com a sabedoria e assim lhe davam o nome. A filosofia nasceu preocupando-se com o homem e sua origem, daí vindo os questionamentos sobre a vida e sobre o mundo. Se passarmos uma régua na história da ética, vemos que os vários filósofos, desde os mais importantes dentre os gregos, dela fizeram uso dentro dos padrões filosóficos até nossos dias o que para muito deles é o “vazio ontológico” imposto por uma civilização técnico-científica que é a nossa civilização. Do ponto de vista do Direito, contrariamente, a ética teve seus avanços, tornando-se cada vez mais prática. Hoje podemos falar do agir ético que é o mesmo agir moral, aquele que a história chama ora de correto, ora de virtuoso. Podemos
chegar a uma conclusão, mesmo que seja precipitada, aquela que nos demonstra que a ética é fundamental para que haja a justiça. A moral política e a moral religiosa são enfocadas aqui, considerando que as estruturas básicas da sociedade são alteradas com o tempo. As mudanças políticas e religiosas ocorrem quando há igualmente mudanças econômicas, quando são alteradas as relações dos homens na sociedade. Na moral política, revemos Machiavel quando afirma que a política exclui a moral. Para ele o Príncipe dever ser indiferente ao bem e ao mal. Na moral religiosa, destacamos a prática de moralidade que define a conduta religiosa. Falamos de moral religiosa pregada pelo cristianismo, de outras experiências onde o valor da salvação está no cumprimento das leis divinas e na consciência de cada um. Finalmente, trazemos ao leitor subsídios sobre a aplicação da ética na prática da vida. Para os filósofos que abordam a questão da moral e do moralismo, como Sócrates, Platão, Aristóteles, os Epicuristas e os Estoicistas, Santo Tomás de Aquino, Kant, Descartes, Spinoza, Nietzsche, Durkheim, Sartre, dentre outros, a prática da ética estará sempre sujeita às vicissitudes da vida do homem, seja pelas suas influências pessoais, seja pelo poder da coletividade. Qualquer que seja o tipo de influência, tudo é o resultado de uma cultura organizacional que o cerca. Essa realidade do homem e seu meio já abordada pelos gregos e sacramentada por Kant, em pleno século XIX, quando permite que esse homem decida pela aplicação da ética na prática da vida. Ética e Moral Ética ou filosofia moral é a área da filosofia que trata das distinções entre o certo e o errado, entre o bem e o mal. A ética é a parte da Filosofia que estuda a moral. A ética é uma filosofia moral, enquanto interposta o significado dos valores e procura identificar os meios mais adequados para aprimorar a vida moral e para alcançar uma vida moralmente boa. Costumamos estudar a ética como uma reflexão sobre a moral. Ética é antes de tudo um conjunto de conhecimentos sobre o comportamento humano, baseado nos princípios e regaras morais. Ética está sempre associada aos estudos dos valores que orientam a ação e o comportamento humanos. Palavra que vem do grego Ethos que quer dizer modo de ser. Para alguns, a ética não passa de uma moral colocada em prática. Para os gregos antigos, Ethos significava a intensidade dos atos humanos. Era aquilo que se configurava nos valores sociais. No sistema aristotélico, a ética é a ciência das condutas. Ela não é uma ciência exata porque se ocupa com assuntos passíveis de modificação, não se ocupando com aquilo que no homem é essencial e imutável, mas daquilo que pode ser obtido por ações repetidas, disposições adquiridas e hábitos que constituem as virtudes e os vícios. Seu fim derradeiro é garantir ou possibilitar a conquista da felicidade. As discussões a respeito dos princípios e das regras morais que norteiam a vida em sociedade dão-se no campo da ética e sobre quais seriam as justificativas racionais para adotar essas regras e princípios.
Enquanto a ética é um conjunto de conhecimentos sobre o comportamento humano, baseado nos princípios e regras morais, a moral é o conjunto de regras aplicadas pelos indivíduos na sociedade, mostrando as ações humanas sobre o que é certo e o que é errado. A moral se preocupa com as regras que devemos seguir. Moral vem do latim Mores e se relaciona sempre aos costumes. É, portanto, um conjunto de regras que se definem dentro de um sistema cultural, que são adquiridos pela educação e representam uma tradição. A moral está inteiramente ligada ao comportamento humano. É pela moral que podemos deduzir o modo de agir das pessoas e os valores e convenções que existem dentro da uma sociedade. Costuma-se dizer que os valores e os princípios morais como respeito e honestidade são determinantes para definir a conduta humana dos indivíduos dentro de uma determinada sociedade. É como se definir a moral como um conjunto de valores, normas e noções do que é certo, do que é errado. Toda moral está contida num código - o código moral - necessário para que possamos viver em sociedade e regula a ação humana. É pela moral que individualmente cada homem forma a sua consciência e se cria uma consciência e uma convivência coletivas. Sócrates inaugurou a ciência moral quando disse: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus,” essa ciência moral que é, até hoje rejeitada pelos poderosos. Para Sócrates, a moral sempre foi e será o centro de convergência da Filosofia porque, para ele, todo homem é uma interpretação reflexiva do comportamento humano e das regras que o comandam em busca do bem humano maior que é a sabedoria. Platão em suas obras Política e Leis trata de política e do perfil dos políticos, ressaltando a importância do conhecimento na busca da verdade. Para Aristóteles, o homem é um animal político. Se em tudo isso vemos a ética, vale lembrar, aqui, que os fins éticos requerem também meios éticos, para que os atos praticados não sejam imorais nem antiéticos. Moral e Ética, embora diferenciadas, dizem respeito à uma realidade humana construída a partir das relações e do comportamento humano, através da história. Enquanto a moral é normativa, pois institui regras, costumes e comportamentos, a ética representa o conhecimento desse conjunto de normas e condutas que regulam as ações humanas e os padrões de convivência. Ética do ponto de vista da Filosofia e do Direito Filosofia para os gregos era sabedoria. A Filosofia, historicamente, teve seu início no século VI a.C. quando surgiram as preocupações com o homem, a vida e o universo. Coube aos pré-socráticos, os filósofos que viveram antes de Sócrates, os primeiros estudos de Filosofia, questionando-se sobre o homem e o universo, baseados na razão. Logo em seguida vieram novos períodos importantes para a história da Filosofia, o período pós-socrático, o período medieval, o período moderno até chegar a época atual.
O período clássico envolveu basicamente a Grécia antiga a partir do século VI a.C. quando foi criado o pensamento clássico com Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates teve a Ética como uma das suas principais ideias. A ética socratiana levava o homem a praticar o bem, tendo consciência de seus próprios atos e as conseqüências dele sobre os outros homens e o universo. Ele defendia o que era justo, corajoso e bom. Platão concebia o homem como um componente de corpo e alma. Para Platão a Filosofia tinha 3 níveis: o dialético; o físico e o ético. O ético envolvia um conjunto de comportamento moral. Para Platão tudo começa pelas paixões humanas. Ele as via como negativas e a necessidade delas serem controladas pela razão. Ele considerava as paixões humanas nem boas nem ruins. Elas são ruins quando são viciadas em excesso ou falta. Em todos os aspectos da Filosofia de Platão existe a ideia de dois mundos: o mundo intelectual ou ideal que ele chamava de mundo das ideias e o mundo material. O homem era dotado de duas realidades: a inelegível e a sensorial. Aristóteles, como Platão, também fala das paixões. Para ele, aquele que em harmonia com suas paixões age é um virtuoso, desde que encontre nisso um equilíbrio. Para o filósofo grego a ética é uma forma de o ser humano viver bem. Seu livro mais importante sobre a ética foi A Ética à Nicômaco, endereçado a seu filho, onde se encontram as bases da sua filosofia moral. Aristóteles fala das potências da alma. Para ele a alma é perene e imutável, mas tem suas potências. O intelecto se compõe de 3 partes: parte produtiva - quando se destina a criar; o intelecto de identificações, que se dirige para identificar; e a terceira parte o intelecto teórico que se destina a uma forma adequada de se obter isso. No final, o objetivo é descobrir a verdade das coisas que são invariáveis e que são verdades. O intelecto prático dirige-se ao conhecimento daquilo que é invariável universalmente. O intelecto tem suas virtudes próprias que são as excelências da intelectualidade e as virtudes do caráter. As virtudes do caráter são aquelas que correspondem aos bons hábitos - exemplo a coragem. Coragem é uma virtude e seus contrários são a temeridade (excesso de coragem) e a covardia (ausência de coragem). Ser corajoso é ser justo. Outra virtude: a temperança, a justiça – as virtudes do caráter são as virtudes éticas. Ética, portanto, é a ação da alma racional conforme as virtudes próprias do caráter. Aristóteles discordava de Platão quanto à ética, pois segundo ele, as virtudes do caráter podem dosar corretamente as paixões de que fala Platão. Para Aristóteles, toda racionalidade prática visa um fim ou um bem. E ética, portanto, coloca a razão acima das paixões. Assim, Aristóteles vê a ética como parte da política e está relacionada com o individuo, enquanto a política retrata o homem, o homem na sua virtude social. A ética medieval obedeceu a filosofia que dominou o período que vai do século V ao século XV. Na Idade Média a predominância foi da filosofia católica baseada nas ideias de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino. No mundo medieval, deu-se a queda do Império Romano do Ocidente, cresceu o movimento em favor do Império Bizantino, ocorreu o Cisma do Ocidente, fazendo
surgir as Cruzadas. Foi mais intensa a presença dos bárbaros, registrou-se a presença da Escolástica com as teorias de Tomás de Aquino. Dentre outros fatos importantes na época, que marcaram as mudanças entre o mundo medieval e o novo mundo moderno, surgiu a universidade, ampliando as áreas de conhecimento, as pinturas de Giotto, a Divina Comédia de Dante Alighieri e a construção das grandes catedrais góticas. Prevaleceu a ética cristã marcada pela influência da Igreja Católica. A grande Filosofia da época buscava suas origens nas obras de Santo Agostinho, sobretudo, Confissões e Cidade de Deus, e na Escolástica de São Tomás de Aquino. Foi uma ética marcada pelas próprias características da Filosofia medieval, onde se destacavam a relação entre a razão e a fé, a existência de Deus, o conhecimento e a liberdade humana, enfim, a revelação religiosa. Tomás de Aquino era considerado o mais importante filósofo cristão da Idade Média. Dizem os historiadores que a ética moderna teve uma importância fundamental nas diversas mudanças que marcaram a transição entre a sociedade feudal e a sociedade moderna em todos os sentidos. A ética moderna rompeu com as inúmeras relações cultuadas na Idade Média como razão e fé, estado e igreja, homem e Deus, ciência e religião. A ética moderna tem dois filósofos muito importantes na sua construção: René Descartes (1595-1873 ) e Immanuel Kant (1724-1804). O mundo moderno foi um período da História que se caracterizou por importante transição e mudanças históricas. Grandes eventos aconteceram na Idade Moderna, modificando por completo a moral política e religiosa, o crescimento do absolutismo, a abolição da escravatura, o surgimento do Novo Mundo, o Renascimento italiano, as monarquias nacionais, tudo isso fazendo nascer uma nova ética para a humanidade. Na contemporaneidade, tivemos muitos filósofos que se preocupavam com o agir ético. Podemos destacar Jacques Maritaim (1882-1973), Herbert Marcuse (1889-1979), Jean Paul Sartre (1904-1980), Norberto Bobbio (1909-2004), Michael Foucault (19261964). Todos falaram da civilização tecnológica que atualmente vivemos e dos destinos que o homem haveria de ter diante do tão desenvolvido planeta. Se buscarmos a ética kantiana, encontraremos o conceito de dever moral, o que veio a ser chamado mais tarde de deontologia. Hoje vivemos uma sociedade onde o medo predomina, medo de tudo e de todos, tornando o homem mais apático e insensível, com pouca disposição de cooperar. Muitos autores falam do “vazio ontológico” trazido pela civilização técnico-científica, onde a sabedoria ético-prática da humanidade, adquirida através da história parece nada valer. Nosso mundo contemporâneo parece ser marcado com questões civilizatórias que vieram alterar o panorama sobre a ética construído pela história. Deixando de lado as diversas ações filosóficas da ética, diz-se que do ponto de vista do Direito a ética assume seu lado verdadeiramente prático. Em direito, o agir ético se refere aquilo que alguém precisa fazer para se relacionar socialmente com os outros. A ética é importante para o Direito e sem ela não haverá justiça e,
consequentemente, paz. E aqui os autores dizem que o tempo humano denomina-se história. A ética vai além dos direitos individuais, pois ela acompanhou a própria evolução dos direitos com a chegada do Iluminismo. Foi a partir de Karl Marx, em 1848, que os direitos deixaram de ser unicamente individuais, e sua conquista passou a ser coletiva. A liberdade passou a ser social. Não mais os homens lutavam somente pela segurança própria, mas pela segurança social e coletiva, começando, assim, a defesa dos direitos humanos. A ética, então, passou a ficar ao lado do direito de todos, incidindo sobre questões valorativas que dizem respeito à vida. A relação da ética com o Direito não pode se restringir apenas ao campo dos mandamentos dos códigos e das leis avulso de um determinado estado, tendo em vista que direito não é apenas um mero conjunto de procedimentos e ritos. Entre ética e direito existem territórios que são comuns, pois ambos trazem sua objetividade. No direito encontramos a possibilidade de se destacarem a escala de valores que é aceita pela sociedade, enquanto na ética encontramos a consciência das pessoas e, consequentemente, a consciência jurídica de cada um. A ética traz em seu bojo o comportamento moral do homem e sua relação com a convivência humana e leva à reflexão sobre os fundamentos da moral existentes na sociedade. A ética tem, portanto, seu caráter normativo, o que faz a ter uma profunda intimidade com o direito, pois o agir ético, ou a forma de ser, significa o mundo e o território do outro, lá onde estão os seus direitos. É claro que esse caráter normativo da ética nem sempre repercute o verdadeiro sentido do direito, mas quase sempre sim. Sendo o direito um fenômeno cultural e a ética também, ambos têm uma expressão marcante na civilização ocidental. Moral Política e Moral Religiosa Em principio, toda mudança dá-se quando as estruturas básicas da sociedade são alteradas. Quando há mudanças sociais, ocorrem também as mudanças políticas e religiosas. Essas alterações trazem consigo outras mudanças como a econômica, as relações dos homens na sociedade, o modo de agir das pessoas e, consequentemente, a forma de produzir seus símbolos e equipamentos de sobrevivência. A História nos mostra as diversas transformações pelas quais passou a sociedade, através do tempo, ocorrendo inúmeras transfigurações que afetaram o relacionamento dos homens entre si, deles com a sociedade e as coisas. Por esse processo, passaram a moral política e a moral religiosa. Nenhum momento da história é igual a outro e assim também foram os costumes e as regras na política e na religião. Por serem diferentes essas regras e esses costumes, foi diferente também a conduta humana. As mudanças sociais, impostas por cada época, foram fundamentais para a forma de agir e de vida dos homens e das sociedades. Um dos reflexos dessa mudança social é a questão relacionada com as desigualdades sociais. Alguns exemplos são visíveis em nossos dias: as grades e os
muros que separam o convívio, o crescimento econômico, a tecnologia, o crime organizado, dentre outros. As mudanças que a História nos narra são baseadas nos fatos ocorridos, onde foram fundamentais o comportamento e as atitudes de homens que naquela época viveram e exerceram o poder a sua maneira. É importante assinalar que no decorrer das mudanças trazidas pelos diversos mundos históricos, a política modificou-se, introduzindo novos conceitos, os partidos e os perfis dos governantes e do homem público. Do mesmo modo, a religião não ficou vinculada apenas a questões de natureza espiritual. A moral religiosa levou as pessoas a se associarem aos bons e maus caminhos para a salvação e as formas de convívio com seus semelhantes. O grande presidente americano John Kennedy disse que “a mudança é a lei da vida. E aqueles que confiam somente no passado ou no presente estão destinados a perder o futuro.” É a religião mudando a cultura humana e social. É a política, por sua vez, tornando-se arte ou uma ciência de organizar a coisa pública, de onde deverão ser banidos os corruptos e incompetentes. Tudo parece mais próximo da polis dos antigos gregos. Aplicação da Ética na prática da vida Dizem os autores filósofos que sendo a ética uma prática da vida humana, ela sofre as influências pessoais e coletivas impostas pelas exigências morais e a cultura organizacional. O homem não existe sem seu convívio social e a ética realimenta essa convivência, sustentando ainda as bases do conjunto de valores e normas que os homens e a sociedade necessitam. O fato moral, quando existente, sustenta e garante a moralidade de que precisam os homens para viver e os sistemas sociais e culturais para subsistir. Claro que essa realidade só é percebida e conduzida pelo homem através do conhecimento, como já admitiam os gregos e nos foi sacramentada por Kant. As soluções trazidas pela sociedade moderna não serviram apenas para exterminar o pensamento medieval, buscando apagar acontecimentos do passado, mas e, sobretudo, para renovar ideias, reformular teorias, introduzir novos métodos, o que muito alterou as condutas morais das pessoas, da sociedade, do mundo e dos seres humanos. O mundo moderno e, logo após, o mundo contemporâneo, projetaram desafios que a nova vida trouxe, permitindo ao homem individualmente e à sociedade os enfrentar. A humanidade precisa de ética, não bastando apenas que ela seja utilitarista como deseja Peter Singer. O homem precisa ter nova visão do mundo e de si mesmo, para ser feliz e fazer os outros felizes. A contemporaneidade, que para muitos parecia um futuro tão longínquo, enfim chegou com um novo de homem, uma nova sociedade e um mundo diferente. Contemporâneo tem sido o homem capaz de embriagar-se pela sua competência, estarrecer-se com o avanço das ciências e admirar a eficácia da tecnologia. Esse, para
nós, é o homem que tem fechado os olhos para a natureza, esquecido a convivência familiar e social, mudo e cego diante de si mesmo. O mundo, a sociedade e o homem, todos aguardam a chegada de um novo humanismo que represente a preservação da vida, que saiba garantir não apenas o nosso lugar, mas o lugar do outro, que traga finalmente o renascimento do espírito. Será possível a ética passar de um devaneio meramente filosófico para algo que se possa aplicar na prática da vida? A Filosofia dedica uma atenção especial a essa questão, quando nos mostra a ética aplicada.
REFERÊNCIAS ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. São Paulo: Abril Cultural, 1973 BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1981. BOFF, Leonardo. Ética e Moral: a busca dos fundamentos. Petrópolis: Vozes, 2003. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. In: Kant. Trad. Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1974. PEREIRA, Otaviano. O que é Moral. São Paulo: Editoras Brasilienses Primeiros Passos, 1991. PERELMAN, Chaim. Ética e Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2002. SALVI, Gustavo. As Grandes Religiões – Das origens ao mundo de hoje. Itália: Editor Caminho, 2001. SINGER, Peter. Ética Prática. Tradução de Jefferson Luiz Camargo, São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda. 2002. (Coleção Biblioteca Universal).
UM BISPO PARA SER LEMBRADO
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Em homenagem aos 75 anos da Diocese de Caxias, de onde ele foi seu primeiro Bispo. No dia 17 do corrente, se vivo fosse, Dom Luís Gonzaga da Cunha Marelim, que foi o grande Pastor dos católicos caxienses durante longos anos, teria completado mais um aniversário. Gravei a data no dia em que assisti a um “drama” encenado no Colégio das Irmãs, onde as crianças presentes cantaram uma música que mencionava o 17 de Abril. Quando Dom Luís morreu, não me lembro de ter lido nada a respeito: nenhum registro, nenhuma referência elogiosa à sua passagem pela Diocese da nossa cidade, onde desenvolveu ações privativas do seu Bispado e exerceu forte liderança sobre todos os segmentos sociais. Merece, portanto, tudo que vou dizer a seu respeito. Dom Luís era um Bispo dos tempos da Igreja Católica dogmática e conservadora. Sua chegada para a celebração da Missa, aos domingos e demais dias festivos, era sempre precedida de um ritual que começava na sua própria residência e acabava com a entrada triunfal na Igreja dos Remédios, a Catedral, devidamente paramentado, a distribuir bênçãos e água benta para todos os fiéis devidamente postados, de cada lado, em honrarias Depois, ficava um bom tempo ajoelhado em frente ao Altar Mor, meditando, em meio a um silêncio sepulcral. Naquele tempo, as Missas eram celebradas na forma mais tradicional: em latim e com o Sacerdote de costas para o público. Dom Luís, quando do Sermão, era um verdadeiro exegeta do Evangelho: cuidava de interpretar o texto bíblico com maestria e profundidade, retirando da leitura os exemplos e produzindo as recomendações para uma vida cristã do seu rebanho. Era um tempo em que os valores e crenças da sociedade estavam em alta e, portanto, as sementes que plantava produziam flores e frutos. Não consigo esquecer, por exemplo, nomes das cidades por onde Jesus passou – Cafarnaum, Nazaré, Belém -, das quais ele falava tanto, principalmente agora que as terras da antiga Mesopotâmia e seus vales úmidos, seus rios Tigre e Eufrates, estão sendo maculados. Dom Luís, como disse, exerceu forte liderança sobre a comunidade católica de Caxias, desde o respeito pelos dias santos de guarda (o Carnaval, na terça-feira, acabava à meia-noite, antes que se iniciassem as Cinzas) até o simples ato de votar nas eleições, nunca em simpatizantes de regimes totalitários Fundou, ainda, um Seminário, de onde viu sair ordenados alguns padres, mas outros desistentes. No campo espiritual, então, dogmático como era, acabou por encampar uma onda mística que se estabeleceu em torno de uma Vidente, que afirmava conversar com um Anjo, de nome Mártir do Sacrifício da Vida. Ele acreditava tanto que se tornou seu intérprete, um interlocutor dessa vidente, transmitindo aos fiéis tudo que ouvia dela, nos
dias de sábado, à tardinha, do alto das janelas da sua Igreja. A multidão ficava atenta e rezava muito. Nesse tempo, Caxias tornou-se o centro das atenções de outras cidades do Maranhão e de outros Estados, todos ávidos por conhecer e participar daquele momento divino. Muitos acreditaram, outros não. Dizem até que o Vaticano recomendou a Dom Luís, que se abstivesse de continuar disseminando as aparições, o que certamente não fez. A verdade é que ele continuou sendo o Bispo de Caxias, mesmo alguns anos depois, até que ficasse doente e se retirasse para um Mosteiro, onde morreu. Antes, fez questão de manifestar a vontade de ser enterrado na cidade da qual foi Pastor, no que foi felizmente atendido. Assim, na Igreja dos Remédios, à direita de quem entra, no rés-dochão, existe uma lápide que registra o seu sepultamento, ali, para satisfação do seu espírito e dos seus seguidores que remanescem em vida. Esta é uma singela homenagem ao Bispo, Dom Luís Marelim, que merece, pelo que fez por Caxias e seu povo, essas lembranças, de um tempo que ficará, para sempre, guardado na memória de todos.
SÃO JOÃO EM PINHEIRO
AYMORÉ ALVIM. Encontrei entre os meus alfarrábios algumas anotações com as quais preparei este conto sobre a história das festas de São João, em Pinheiro, que dona Inês me contava, sempre aos domingos, quando vinha passar comigo. Nos primeiros anos do século passado (década de 1900), vivia, em um povoado da Vila de Pinheiro, um famoso cantador de bumba meu boi que, todos os anos, preparava com os amigos a brincadeira. Era comum, nessa época, os batalhões de bumba-boi que visitavam Pinheiro fazer a primeira apresentação, na casa do delegado de Polícia, depois na do Intendente e, por fim, percorrer as várias ruas da Vila. Em um desses anos, João Distinto chegou com a sua brincadeira e, nas primeiras horas da noite, foi, como fazia todos os anos, à casa do Delegado. Cadeiras na porta da rua, fogueira para iluminar o ambiente e aquecer o couro dos tambores e uma mesa com mingau de milho, manuê, pamonhas e muitas outras iguarias da época junina. Formando um círculo para a brincadeira do boi, as pessoas que iam chegando aguardavam o batalhão de Distinto que já desfrutava de muito prestígio na Vila não só como cantador, como ainda, por ser um bom repentista. Bastava alguém lhe dar um nome ou um tema e ele fazia o improviso. Daí a pouco, chegaram os brincantes, tendo à frente João Distinto, que foram recebidos com palmas e foguetes. Nesse tempo, o uso do busca-pé já havia sido proibido pelo Intendente pelos graves acidentes que causava. No final das danças, alguém gritou: - Distinto, faz aí um repente para o nosso Delegado. “Seu Chico Pinto, Homem honesto e educado Por isso foi escolhido Pra ser nosso Delegado Nós queremos agradecer Nos receber de bom grado.”
Palmas, muitas palmas. Outro gritou: Faz uma agora pra dona Ritinha, filha do Intendente. “Viva, então, dona Ritinha, Filha do nosso Intendente. Moça prendada nascida Numa família decente É uma santa mulher Pra nosso povo carente”. Mais palmas. E os temas prosseguiram e João Distinto atendendo a todos. Já bem no final, uma pessoa gritou do meio do povo: - João, tu não vais fazer um repente pra dona Santinha, mulher do nosso Delegado? “Dona Santinha, mulher de grande valor, Comparo dona Santinha com um anjo protetor. Dona Santinha quando nasceu Trouxe um bichinho com ela Quando novinho é pelado Mas quando velho encabela Pra amolecer nervo duro É melhor do que panela.” O silêncio foi geral. Ninguém ousava rir nem fazer qualquer movimento. O gênio do Delegado quando zangado já era conhecido. Soldados, prendam esse infeliz. Dêem uma boa pisa nesse sujeito e amanhã vou lá na cadeia falar com ele: disse o Delegado que puxou um revolver e deu dois tiros para cima. Não ficou ninguém. E a festa acabou. No outro dia, o Delegado foi à cadeia. - Me tragam o cabra aqui. Os soldados foram buscá-lo. Distinto estava ainda meio entrevado da sova que levara na noite anterior. - E aí, cabra. Que bichinho é esse que tu falaste. - Seu Delegado, o senhor me conhece. Eu sou um homem de bem. Não ia tomar gosto com dona Santinha. O bichinho que falei era o sovaco. - Sovaco nada, miserável. Onde é que sovaco amolece nervo? - Amolece, seu Delegado. Lá onde eu moro, quando o nervo do boi ta duro, as mulheres mais velhas de sovaco cabeludo colocam e amolece mais depressa. - Rapaz, tu és um miserável mesmo. Tu vais apanhar mais uma sova e vais desaparecer daqui. Nunca mais pisa aqui na Vila. E, assim, João Distinto nunca mais apareceu em Pinheiro. Foi cantar em outra freguesia.
A SAGA DE JUCA DE HONORATA.
AYMORÉ ALVIM ALL, IHGM, APLAC, AMM Contaram-me que este episódio ocorreu em uma cidade do interior do Maranhão, na década de 1940. Juca de Honorata era um pequeno comerciante que vivia de uma casa de comércio onde negociava, também, coco babaçu. O sonho dele era ser o homem mais rico da Região, talvez devido às grandes dificuldades passadas na infância. O sujeito era “mão de figa”, miserável, não gostava de pagar o que devia, além de ser muito grosseiro, até mesmo com seus fregueses, mas a única venda mais sortida do lugar era a dele, então o jeito era aguentar. Fazer o que? Depois de algum tempo, o negócio cresceu, a casa de comércio aumentou e seu Juca se não era, pelo menos foi considerado o homem mais rico daquela região. Comentavam, no entanto, que tudo começou numa noite em que ele sonhou com o avô que lhe disse haver um tesouro dentro de um pote que estava enterrado, no fundo do quintal da casa dele, debaixo de um cajueiro. Mas, para retirá-lo, deveria ir sozinho, à meia noite de uma sexta-feira que não tivesse lua, levando apenas uma vela para iluminar e um cavador. Juca não esperou. No outro dia, assim que anoiteceu, pegou uma enxada e começou a cavar. Cavou o quintal todo e não achou nada. À noite o velho voltou e lhe disse que somente acharia se seguisse a orientação que lhe dera. Numa noite, como lhe fora orientado, com enxada e uma vela, chegou debaixo do cajueiro e, na primeira enxadada, bateu em algo que lhe chamou atenção. Cavou mais um pouco e o pote apareceu. Abriu. Realmente estava cheio, mas de dobrões antigos de cobre sem nenhum valor monetário. Dizem que foi dormir chateado com o avô. Sonhou, novamente, mas ele achou que foi com o demônio, devido a aparência do bicho, que lhe prometeu o que tanto queria para reparar a frustração com o tesouro do avô. A partir de então, os negócios prosperaram, seu Juca ficou muito bem de vida e era considerado o homem mais rico da região. O povo, então, dizia que ele havia feito um pacto com o “renegado”. Mas seu Juca dizia que isso era besteira e que ele enriqueceu foi com trabalho duro e sem gastar dinheiro com besteira. Dizia, ainda, que não acreditava em nada, a
não ser nele e no seu dinheiro e que se existisse mesmo céu e inferno, quando ele morresse escolheria para aonde ir. Algum tempo depois, Juca adoeceu. Cada dia ia ficando pior. Dona Honorata, sua esposa, resolveu chamar o padre do local para lhe dar a extrema-unção. - Juca, tu crês em Deus? - Nem no diabo, padre. Nunca vi nenhum deles. - Então me respondes com sinceridade: Tu abjuras Satanás? - O que, padre? - Presta bem atenção, Juca. Tu renegas Satanás? Juca ficou calado. O padre perguntou mais duas vezes. Nada de Juca responder. - Juca, por que tu não respondes? - Ah! Seu Padre, eu não sei pra onde eu vou. Por isso, é melhor não me comprometer. O padre foi embora. No outro dia Juca morreu. Que rumo tomou ninguém ouviu falar.
TEMPOS BONS!
AYMORÉ ALVIM IHGM, ALL, APLAC. Nas décadas de 1950 e 1960, a vida corria bem tranquila aqui, em São Luís, a não ser, nos períodos eleitorais, quando sempre havia algumas escaramuças, mas não demoravam muito tempo. Aos domingos, as pessoas frequentavam pela manhã suas Igrejas, à tarde, passeavam de bonde, os da linha Gonçalves Dias eram mais frequentados, ou iam às vesperais de cinema, no Eden, no Teatro Arthur Azevedo ou, então, no Roxy. Havia outros salões de projeção como o Rialto, Rivoli, porém pouco procurados pelas famílias. À noite, tomar sorvete, no Bar do Hotel Central ou no Moto Bar na Praça João Lisboa, era sempre uma boa pedida, além de percorrer a Rua Grande olhando as vitrines. Tranquila mesmo é um modo de dizer. Você podia sair de casa a qualquer hora, deixar a porta da rua só encostada, à noite toda, mas, em compensação, as pessoas viviam um tanto apavoradas com as assombrações que costumavam aparecer, às altas horas da noite. Falavam em carroças puxadas por mulas sem cabeça, procissões de velas e carroças com ossos que desciam a Rua do Passeio e outras tantas que povoavam o imaginário popular. Mas, o interessante é que havia quem jurasse de pés juntos que tinha visto tais assombrações. Por isso, sair à noite, principalmente, às sextas-feiras, era melhor não arriscar. Havia, nessa época, um motorista de praça chamado seu Romeu que contava para quem quisesse ouvir um episódio ocorrido com ele em uma noite de sexta-feira. Ele estava trabalhando, quando já próximo da meia noite foi deixar um passageiro, na Rua dos Remédios. Quando retornava, estava à porta de uma das casas uma senhora, muito bonita, que lhe acenou pedindo que parasse. Entrou no carro, sentou-se no banco trazeiro e pediu-lhe que a deixasse, na Praça da Saudade. Ele dizia que foi tranquilo, conversando com ela durante todo o percurso. Nesse tempo, o motorista podia conversar com o passageiro, principalmente, à noite, pois havia poucos carros. Ao passar pelo portão do cemitério, ela lhe pediu que parasse. Romeu achou aquilo um tanto esquisito, mas parou.
A senhora pagou, desceu e se dirigiu para o interior do cemitério. Romeu ficou encafifado. Tem gente que tem cada uma. Isto é hora de visitar cemitério? Pensou e desceu. Preocupado, se dirigiu até o portão que ficou entreaberto e falou. - Madame, a senhora não quer que eu fique aguardando? - Não. O senhor pode ir agora. - Mas a senhora não tem medo de entrar numa hora dessas no cemitério? - Quando eu era viva, tinha. Respondeu a senhora ou alma, sei lá.... Romeu esfriou dos pés à cabeça. A vista escureceu, mas logo se recompôs e saiu gritando, pedindo socorro, em direção ao bairro do Lira. Ocorre que quando chegou ao final do muro do cemitério, vinha saindo de uma travessa um sujeito que por sinal era fanhoso e o vendo, naquelas circunstâncias, gritou: - Eh! Rapaz, vem cá. O que foi? - Romeu pensou que era outra alma e virou na mesma pisada, gritando. Tomou o rumo da Rua do Passeio e disparou em direção à Praça da Biblioteca. Próximo ao cruzamento com a Rua Grande, havia um barzinho que já estava fechando quando Romeu o invadiu. Olhos esbugalhados, botando os bofes pela boca, gritou: - “Ai, meu Deus! Me socorram, gente”... - O que foi, seu Romeu? Perguntaram-lhe. Após descansar, ele lhes relatou o ocorrido. Então, dois colegas que estavam no bar se prontificaram a ir com ele apanhar o carro que ficara aberto, na porta do cemitério. Depois disso, seu Romeu nunca mais trabalhou à noite. Como podem observar, naqueles tempos, motoristas apenas se assustavam. Atualmente, se assustam e são mortos. Agora, me diga? Antigamente era ou não melhor do que hoje? A palavra é sua...
E PINHEIRO VIROU VILA
AYMORÉ ALVIM APLAC, IHGM, ALL Hoje, 3 de setembro, nós pinheirenses comemoramos os 158 anos de elevação do Lugar do Pinheiro, fundado em 1806 pelo Capitão-Mor de Alcântara, Inácio José Pinheiro, à categoria de Vila. Mas as coisas não foram tão fáceis como se possa imaginar. Houve muita luta, nos bastidores políticos. A falta de plebiscito, naquela época, privava o povo do uso dessa ferramenta democrática para que pudesse manifestar suas opções sobre o destino da sua terra. O povoado quando, em 1833, começou a participar das eleições paroquiais, já mostrava uma tendência oposicionista que passou a ser tomada como provocação pelos políticos de Guimarães, comandados pelo deputado provincial da ala governista, Torquato Coelho de Sousa. Os ânimos, porém, ficaram mais exaltados quando a Assembleia Provincial, em 1835, desanexou de Guimarães os territórios de Santa Helena e Pinheiro que passaram a fazer parte de Alcântara. Tal decisão veio de encontro aos anseios dos pinheirenses devido aos fortes laços de parentesco, amizade e políticos que mantinham com os alcantarenses, além das comunicações serem mais fáceis do que com Guimarães. Mas essa mudança não ficou barata aos pinheirenses. O deputado Torquato Coelho com o seu cunhado Francisco Sotero dos Reis e Manoel Gomes da Silva Belfort aliados a outros deputados governistas de forte influência, na Assembleia, conduziram à aprovação, em 1838, a nulidade das eleições paroquiais primárias e secundárias de Pinheiro e Santa Helena sob a alegação de fraude, no número de eleitores escolhidos. Debalde foram os argumentos contrapostos pelo deputado oposicionista Cerqueira Pinto. O objetivo que perseguiam era a desqualificação dos eleitores contrários à sua orientação política. E não ficaram só nisso. Insatisfeitos com as posições assumidas pelos pinheirenses, conseguiram, ainda, na Assembleia Provincial, nesse mesmo ano, a criação da Comarca de Guimarães com a anexação dos distritos de Pinheiro e Santa Helena, buscando arranca-los, assim talvez pensassem, da nefasta influência política de
Alcântara. Era o castigo pela impertinência de suas posições em lhes negarem os votos, nos colégios eleitorais, na visão do jornalista e político João Lisboa. Uma nota de repúdio a esse ato foi enviada à Assembleia Provincial por 216 habitantes de Pinheiro, em 1839, não encontrando a receptividade esperada, conforme também nos relata João Lisboa. Os pinheirenses, contudo, não arrefeceram a luta que passou a ser travada, nos bastidores da política regional, envolvendo alcantarenses e vimarenses. A meta, a partir de então, passou a ser a emancipação política do povoado. Ao longo da década de 1840 e início da de 50, tal sentimento tomou conta de toda a comunidade, enchendo-a de esperança e entusiasmo. Tudo isso funcionava como um estímulo permanente às lideranças locais como Agostinho Raimundo dos Reis, José Estanisláo Lobato, José Assenço Costa Ferreira, João dos Santos Durães, José Bento Caldas, José Caetano de Sá, Miguel Arcanjo dos Reis, Theófilo Diniz Ferreira de Castro, Mariano Antônio Martins Costa e muitos outros que contando com o apoio de próceres alcantarenses e de outros deputados da Assembleia Provincial conduziram com êxito tal empreitada. Mas era preciso um pouco mais de paciência. Os opositores a Pinheiro estavam atentos a todos os passos dados para postergar qualquer iniciativa que lhes revertesse o atual quadro. Embora o povoado estivesse em condições, desde os fins de 1840, de ascender à condição de vila, os acordos conduzidos deveriam passar primeiro pela criação da Freguesia que se efetivou, em 26 de maio de 1855. Este fato, certamente, abriu o caminho para que chegassem com maiores possibilidades ao objetivo desejado. Mais uma vez, foram interpostos, na Assembleia, alguns obstáculos às pretensões dos pinheirenses. Questionaram as disponibilidades de recursos para a manutenção dos serviços públicos da nova vila; alegaram que o povoado estava assentado, em terras de índios, que lhes foram doadas pelo Rei a título de sesmaria. Para tanto, apresentaram, durante a tramitação do projeto, uma certidão passada, em maio de 1856, pelo curador desses índios, Tenente Frederico Leopoldo Martins da Costa confirmando a doação. (Arq. Pub.Estado). Prosseguiram as conversas, acordos foram feitos e o resultado foi a Lei nº 439 decretada pela Assembleia Provincial Legislativa e sancionada, em 3 de setembro de 1856, pelo Presidente da Província, Antônio Cândido da Cruz Machado, elevando à categoria de vila a povoação de Pinheiro. E agora? Faltava instalar a Câmara de vereadores para garantir a autonomia política da recém-criada vila. Novas dificuldades com os políticos de Guimarães. Foi preciso a interferência do Presidente da Província para que os livros, atas eleitorais, relação de eleitores e outros documentos fossem enviados para que as eleições fossem procedidas. Realizadas, então, a Câmara da Vila de Santo Inácio do Pinheiro foi instalada, em 26 de fevereiro de 1861, sendo o seu primeiro presidente o major José Bento Caldas. E, assim, Pinheiro virou vila. Por isso, procedentes são as comemorações, no dia 3 de setembro, da grande efeméride, sem que se esqueça, contudo, de tributar as merecidas homenagens aos denodados líderes pinheirenses que travaram toda essa luta pela autonomia política do nosso município.
PRIMAVERA EM PARIS
ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista e escritor Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras.
Quando se vai ao exterior, pela primeira vez, dizem que não se chega a conhecer as coisas, apenas se está em qualquer espaço, seja onde for. É verdade, pois tudo passa muito rápido principalmente quando se faz parte de um grupo de turistas, com um guia sugerindo o que considera digno de ser visto. Da segunda vez em diante, entretanto, a gente de antemão sabe o que quer e vai fazer. Foi o que aconteceu nesta nossa segunda viagem Paris, uma segunda retomada na volta de Lyon. “O Palácio de Versalhes é um castelo real localizado na cidade de Versalhes, uma aldeia rural à época de sua construção, mas atualmente um subúrbio de Paris”. O Guia Turístico da Cidade fala sobre o seu patrimônio histórico, que abriga arquitetura dos séculos XVII e XVIII; a Igreja de Notre-Dame construída por Jules HardoinMansart, em 1684; o hotel de Madame Du Barry; a galeria da Biblioteca Municipal; o Museu. Sua grande atração, porém, continua sendo o Palácio de Versalhes, com seu estilo barroco francês, e contemporâneo, inaugurado em 6 de maio de 1682, quando Luís XIV mudou-se de Paris. Desde então e até 1789, quando a “família real foi forçada a voltar à capital, a Corte de Versalhes foi o centro do poder do Antigo Regime da França”. Nossa visita a Versalhes, desta vez, concentrou-se em caminhar vagarosamente por seus Parques e Jardins, redesenhados pelo grande paisagista André Le Nôtre, e que seguem “o estilo formal, com distribuição padronizada de trilhas e bosques, cercas vivas e flores, lagos e fontes”; e adentrar os palacetes Grand Trianon, “um pequeno palácio de pedra e mármore rosa”, mandado erguer por Luís XIV, em 1687, para escapar dos rigores da vida na corte e desfrutar da companhia da amante, madame de Maintenon, e o Petit Trianon, um pequeno château mandado construir por Luís XV, em 1762, para sua amante Madame de Pompadour, falecida antes da sua conclusão. Afinal esse palacete acabou por tornar-se o preferido de Maria Antonieta, já sob Luís XVI. É uma experiência tranquilizante percorrer aquelas alamedas cheias de verde e de flores, contemplar as suas fontes dedicadas à mitologia, pensar que naquele lago, em pequenos barcos, a corte se divertia nos dias de festa. Aliás, falando das fontes, se repararem bem, o meu livro “Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans” traz na sua capa, em sombra, ao fundo a silhueta do Palácio de Versalhes, a Fonte de Netuno; ela tem “99 jatos [...] que formam um espetáculo das águas, uma das fontes em que se fazem concertos quando chega o varão.
À noite desse dia fomos jantar no famoso restaurante Le Jules Verne, “pilotado” por Alain Ducasse, localizado na segunda plataforma da Torre Eiffel. A Torre, que todo mundo conhece ao menos de ouvir falar, “é uma treliça de ferro do século XIX localizada no Champ de Mars, inaugurada em 1889, que se tornou um ícone mundial da França e uma das estruturas mais reconhecidas do mundo”. Entre seus engenheiros, o projetista Gustave Eiffel (1832-1923), que lhe deu o nome. Vista do Trocadero, a Torre parece ter a dimensão a que estamos acostumados a perceber; à medida que nos aproximamos, entretanto, ela cresce a cada passo e torna-se mais alta aos nossos olhos, justificando a fama que adquiriu. Acresça-se o fato de que, quando foi inaugurada, deve ter tido um grande impacto ao contrastar a arquitetura clássica de Paris, mas foi absorvida e tornou-se definitiva, uma marca da cidade. E o Restaurante, um dos melhores de Paris, uma das reservas mais difíceis de conseguir? Um clichê: “Um jantar no Jules Verne é um momento raro, um passo fora do tempo e do espaço”. E o próprio Ducasse diz ser: “Uma experiência no centro da Torre Eiffel, um local único repleto de sonhos e magia...”. Experimentamos um menu “degustação”, criado pelo chef Pascal Féraud, “uma jornada de descobertas e surpresas, em uma viagem de 5 ou 6 pratos de acordo com sua vontade”. O Jules Verne “lista 430 vinhos procedentes de todas as regiões vinícolas da França”. Valeu a pena: comida e bebida maravilhosas, ambiente requintado e vista deslumbrante! Sábado, 5 de abril, dia do nosso retorno ao Brasil. Manhã ensolarada dedicada à visita ao Castelo de Chantilly, “um palácio localizado no norte da França, no vale do rio Nonette, afluente do rio Oise”. O local onde teria sido criada a receita culinária mundialmente conhecida do creme de chantilly é “um monumento histórico ligado à personagem de François Vatel (1631-1671)”, o célebre maître d´hôtel, e compreende dois edifícios principais: o Grand e o Petit Château; o palácio ocupa o lugar de um castelo medieval e os jardins são “uma das mais notáveis criações de André Le Nôtre”. “A história de Chantilly passa pelos domínios de famílias importantes da época, os Montmorency, do século XV ao século XVIII, que realizaram importantes trabalhos de modernização”; os Condé, nos séculos XVII e XVIII, que “canalizaram o Nonette para criar o Grande Canal (1671-1673)”, e outras benfeitorias fundamentais; e o Duque de Almale (1822-1897), que o herdou. Durante a Revolução Francesa, Chantilly foi confiscado, invadido e pilhado, e “utilizado como prisão durante o Terror”. “O acervo do Museu Condé, que faz parte de Chantilly, possui obras anteriores a 1850, o que o caracteriza como o primeiro museu de pinturas antigas [...], seguido do Louvre. O Museu é formado por uma dezena de salas, onde o visitante pode apreciar, ao longo do percurso, mais de 800 obras-primas da pintura francesa, italiana, flamenca, inglesa [...]”. Meio de tarde e já éramos esperados pela nossa condutora de Paris a Chantilly, agora ao aeroporto Charles de Gaulle, a brasileira Telma Pereira, da Telma France Tour, que prestou-nos serviços eficientes de transporte e informação, sempre alegre e sob intensa conversação. Au Revoir!
AS JABUTICABAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Adoro! Pena que não as encontre no Maranhão... É uma fruta que só existe no Brasil e tem uma característica: nasce agarrada no tronco!!! Ou como dizem nas ‘Gerais: garrada no pau”.
Meu neto, hoje apareceu com a incumbencia de falar sobre esse fruto. Lição de casa... Sim, sua escola ainda tem lição de casa para fazer... Não sabe o que é jabitucaba... Entrei no ‘google’ e fui à ‘wikipédia’15 e lá estava: é o fruto da jabuticabeira, uma árvore frutífera brasileira da família das mirtáceas, nativa da Mata Atlântica. Com a recente mudança na nomenclatura botânica, há divergências sobre a classificação da espécie: Myrciaria cauliflora (Mart.) O. Berg. 1854 ou Plinia trunciflora (O. Berg) Kausel 1956. Segundo Lorenzi et al. , a segunda seria outra espécie, a jabuticaba-café. Foi descrita inicialmente em 1828 a partir de material cultivado, sua origem é desconhecida. Possui outros nomes, populares: jabuticabeirapreta, jabuticabeira-rajada, jabuticabeira-rósea, jabuticabeira-vermelho-branca, jabuticaba-paulista, jabuticaba-ponhema, jabuticaba-açu. A árvore, de até dez metros de altura, tem tronco claro, manchado, liso, com até quarenta centímetros de diâmetro. As folhas, simples, têm até sete centímetros de comprimento. Floresce na primavera e no verão, produzindo grande quantidade de frutos. As flores (e os frutos) crescem em aglomerados no tronco e ramos. Seus frutos pequenos, de casca negra e polpa branca aderida à única semente, são consumidos principalmente in natura, ou na forma de geleia, suco, licor, aguardente, vinho e vinagre. É planta perenifólia, higrófila e que exige sol de moderado a pleno. A dispersão dos frutos é feita pela fauna, incluindo aves. As sementes podem ser plantadas com a polpa, mas, para armazená-las, é necessário despolpá-las em água corrente e deixar secar à sombra.
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Jabuticaba
É uma das frutíferas mais cultivadas, desde o Brasil Colônia, em pomares domésticos. O suco extraído da jabuticaba é culturalmente chamado em Minas Gerais de "jabuticabada", nome que já se espalhou por todo o Brasil. A famosa jabuticabada era usada por muitas tribos indígenas para alimentar, principalmente, gestantes, por ser rica em ferro.
O que nos leva à outra espécie de jabuticabeira: a Myrciaria jaboticaba (Vell.) Berg, conhecida como jabuticaba-sabará16 e encontrada com mais frequência nos estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, no Brasil. Na cidade de Sabará, em Minas Gerais, no Brasil, é realizado, anualmente, o Festival da Jabuticaba, visando a perpetuar a tradição da cidade como produtora da fruta. É tradição o aluguel de pés de jabuticaba, o que permite a colheita e o consumo de todas as frutas de um dado pé durante um certo período de tempo. Já morei em Belo Horizonte, por dois anos, quando do Mestrado; lógico que a familia foi junto. Loreta e Louise, minhas filhas – cheias de mania – chegaram no começo de julho, férias escolares, no ano de 1992. Perto de casa, um quebra-galho, que tinha um sacolão: e lá estavam elas, as jabuticabas!!! Pretas, reluzentes, enormes!!! A água corria pelos cantos da boca, tal a quantidade de saliva, desejoso de saboreá-las... as meninas, “o que é isso?” Sabendo de suas manias, e a característica de préaborrecentes – tinham 10, 12 anos – disse: “uva, daqui da região”... “mas vem assim, debulhadas, soltas?”, perguntaram, desconfiadas - “ Não vem em cacho, como as nossas?” Respondi- “É... assim é mais barato; vamos comprar”... enchi dois litros... pouco, mais um... e fomos para casa. Lá, coloquei as jabiticabas na água, lavei-as e começamos a comer... Gostoso... “mas tem gosto estranho, essa uva”, diziam... “como se come?”; “Eu prefiro inteira”; chupa-se o fruto, e se engole a poupa – “com a semente?”; - Sim, melhor, prefiro...”. Passamos a noite no hospital, com a Loreta – mãe do Davi – ‘entupida’... foi preciso fazer lavagem estomacal... mas no dia seguinte, mais jabuticaba!!! Desta fez, comeu sem as sementes... Duas semans depois, a Del – avó do Davi - chega a “Belzonte”... sacolão... jabuticaba... hospital... as meninas disseram para a mãe como se comia... só não disseram que não se engolida a semente... hospital, de novo...
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jabuticaba-sabarazinha: folhas e frutos muito pequenos, pode ser usada em bonsais; jabuticaba-cascuda: casca mais grossa, mas sabor também doce; pouco cultivada; abuticaba-pingo-de-mel: sabor que lembra o jambo; jabuticaba-rajada: frutos negros com pintas e veios verde-dourados; jabuticaba-sabará: folhagem jovem avermelhada, muito doce, de casca fina, a forma mais cultivada. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jabuticaba
E lá fomos nós, no sábado, para Sabará... alugamos um pé de jabuticaba e passamos o dia saboreando os frutos... Não importa, se jabuticaba-açu-paulista, de frutos grandes de sabor levemente adstringente, consumidos "in natura"; se jabuticaba-ponhema: muito produtiva, frutos grandes ligeiramente amargos, usada na produção de geléia; se jabuticaba-precoco: frutificação freqüente, frutos pouco resistentes, com casca muito fina; ou se jabuticabavermelha: porte baixo, frutos vermelho-vinho;... desde que jabuticaba!!! Dizem os especialista que nelas, as jabuticabas, estão presentes em sua polpa: ferro, fósforo, vitamina C e boas doses de niacina, uma vitamina do complexo B que facilita a digestão e ajuda a eliminar toxinas. Na casca escura existem teores de pectina e a peonidina, além de um pigmento, antocianina, responsável pela coloração azularroxeada da jabuticaba. No reino vegetal, a cor da jabuticaba é devido à presença de antocianina, serve para atrair os passarinhos. Isso é importante para espalhar as sementes e garantir a perpetuação da espécie. Para a medicina, o interesse nas antocianinas é outro: elas têm uma potente ação antioxidante, ou seja, ajudam a eliminar do organismo moléculas instáveis de radicais livres. Esse efeito, observado em tubos de ensaio, dá uma pista para se compreender porque a incidência de tumores e problemas cardíacos é menor entre consumidores de alimentos ricos no pigmento. Ultimamente, surgiram estudos apontando uma nova ligação: as substâncias antioxidantes também auxiliariam a estabilizar o nível de açúcar no sangue dos diabéticos. Como a maior concentração de antocianinas está na casca da jabuticaba, é recomendável batê-la no preparo de sucos ou usá-la em geleias (as altas temperaturas não afetam suas substâncias benéficas). A jabuticaba é utilizada para vários fins, tanto culinários como medicinais. Entre estes, é mencionada a decocção da casca, como remédio para a asma. O cultivo de enxertos é mais simples que desde a semente. Plantas enxertadas requerem manutenção cuidadosa e vivem menos tempo, embora produzam mais jovens. A taxa de germinação das sementes de jabuticaba é baixa. A planta jovem precisa ser mantida em ambiente semissombreado nos primeiros meses de vida. É preciso manter a terra sempre úmida, regar constantemente e podar os ramos baixos. Entre-safras é necessário escovar o tronco e os galhos para retirar cascas e resíduos das frutas e/ou flores antigas. Para manter úmido, uma boa dica é colocar uma garrafa grande com um furo na base cheia de água ao lado do tronco. Porém regas constantes são indispensáveis para uma boa colheita. Ao chegar na Mesorregião do Noroeste Fluminense, no Brasil, em fins do século XIX, os imigrantes italianos quiseram perpetuar o seu costume de fabricação e consumo de vinho. Não encontrando as uvas às quais estavam acostumados, os italianos passaram a fabricar vinho a partir das jabuticabas. Essa bebida tornou-se uma bebida típica da região. Para colher, espere os frutos estarem bem maduros, bem pretos e brilhantes. Quanto mais maduros, mais doces serão os frutos. Ah, as jabuticabas... fim da pesquisa para o trabalho do (para) o neto... além das respostas às perguntas no caderno, entrego a ele este texticulo, para ler em sala... não sei se o fará... Quase estou a comer o papel em que escrevi... ah, as jabuticabas, as pitangas, os morangos, as ameixas, as peras... lá de minha infancia... do quintal da Vó Alice, da Nona, do quintal de casa... jabuticabas!!! Gosto de infancia... saudades de casa!
PIMENTA NOS OLHOS
ARQUIMEDES VALE
Aquela doutora me odiava. E era ela quem se encaminhava em minha direção, no estacionamento do Hospital Presidente Dutra, onde acabávamos de chegar. Eu tinha saído do carro e não podia mudar a direção e o jeito foi seguir até que nos cruzássemos. Poucas vezes nos encontramos, e sempre em lugares fechados, como banco, lojas ou nos corredores do próprio Hospital e nesses momentos seus olhos me apontavam um lança-chamas de alta magnitude, funcionando em intensidade máxima. Sentia o calor do ódio chamuscando meus pelos que se arrepiavam diante da fera. Não nego que algumas vezes mudei um percurso para evitar o furacão de desprezo rodopiando pelas minhas cercanias. Mas não passava disso, e agora, em campo aberto achei que seria o armagedão. Chegara a oportunidade de potentes golpes verbais com o adversário, no caso eu, encurralado. Indefeso. Sem testemunhas para soar o gongo ou prestar-me os primeiros socorros. De 1985 a 1987 fui Chefe do Serviço de Pacientes Externos, do Hospital Presidente Dutra, que incluía o Ambulatório e a Emergência. Havia grande rigor administrativo, pois, naquela época, o Hospital era da Previdência e havia uma norma que todos as denúncias, quer de pacientes ou da imprensa, deveriam ser rigorosamente apuradas por uma comissão de sindicância que funcionava permanentemente, pelo volume de motivos de desagrado e incompreensões que são gerados em um Pronto Socorro. Muitas vezes havia queixas sem a menor razão ou totalmente infundadas, mas tinham que ser consideradas e exarada uma resposta. A clientela era muito exigente e cobrava com veemência a presteza e segurança no atendimento, pois era formada por trabalhadores formais, contribuintes da Previdência e portadores da Carteira de Segurado do INAMPS. Frequentemente se ouvia, diante de um descontentamento, algum deles reagir veementemente: -“Eu estou pagaaaaando!!!” O que parece ter sido um sistema inadequado, pois foi substituído pelo Governo Federal, por um sistema de atendimento universal, era incomparavelmente melhor. Sem as aberrações que se veem hoje nos Hospitais Públicos, que vão numa longa esteira como a falta de pessoal, aparelhos, material, medicamentos, higiene, etc. O receituário médico era livre para prescrever ao paciente internado, a medicação que fosse necessária e se esta não estivesse disponível na farmácia do hospital era comprada nas farmácias do comércio. Ao contrário do que se vê hoje, o atendimento ao paciente era o único e principal objetivo da instituição de saúde.
Em um domingo qualquer, com a manhã em plena expansão, chega a minha casa, em uma ambulância do hospital com o funcionário administrativo que era o plantonista da secretaria. Teve que ir porque na minha casa não tinha telefone, pois eu morava na Ponta do Farol, um bairro novo, que as linhas da companhia telefônica ainda não haviam passado por lá. - Doutor o plantão está uma bagunça. - O que aconteceu? - Muito paciente e pouco médico. A Doutora Médica faltou e não tem quem faça visita na enfermaria da observação e já teve vários chamados para atender paciente internado no andar. O pessoal tá reclamando. - A plantonista é a Doutora Maria, não é? - Ela mesma. Não ligou, não avisou nada. A Doutora Dentista também faltou e o corredor tá cheio de pacientes com dor de dente. Despachei-lhe para retorno e fui em seguida no meu próprio carro. Havia certo tumulto porque o outro clínico plantonista estava fazendo o pronto atendimento e naquele dia estava acima da média para complicar mais a situação. A enfermeira era barulhenta e quando me viu aproveitou para enegrecer mais o caos com um discurso de revolta e me mostrou que no seu relatório já tinha lavrado a ocorrência. O secretário também. O médico Coordenador de Turno estava operando desde cedo as facadas da madrugada, mas antes de ir para o centro cirúrgico fez também o seu relatório citando as faltosas. Diante da explicitude factual era minha obrigação cumprir os rigores da lei e cortei o ponto das duas. Tive, então, que assumir o plantão para entre outras dificuldades, dar minha “cara a tapa” ao despachar os que estavam de cara inchadas à espera da Doutora Dentista. Até então eu não tivera nenhuma falta em meu trabalho, mas entendia que podem existir obstáculos contrários às nossas possibilidades levando-nos à transgressão. Sabendo que ambas eram casadas e com obrigações familiares, esperei que me procurassem para uma justificativa. De fato, no dia seguinte a Doutora Dentista se apresentou e me convenceu dos seus motivos o que me fez abonar-lhe a ausência. A Doutora Maria, nunca se deu ao trabalho de uma satisfação e eu não tomei conhecimento da sequencia administrativa do ocorrido, assim como também ela mudou de setor. - Como vai? Disse-me de mão estendida oferecendo-se ao aperto. Tudo bem? Sem entender nada, minha mão encaminhou-se como se tivesse uma catraca no cotovelo. - Tudo bem. - Eu precisava falar contigo há muito tempo. Lembras quando cortastes meu ponto? - Lembro. Mas foi uma obrigação do cargo. Nada pessoal já que a gente mal se conhecia. - Faz 22 anos. É a idade do meu filho. Naquela época eu estava no oitavo mês de gravidez. Eu faltei justamente devido o meu estado. - Eu esperei que tu fosses falar comigo para explicar o motivo, mas...
- Eu peguei 30 dias de suspensão, não recebi o dinheiro de um mês, meu marido estava desempregado e o meu filho nasceu nesse momento de grande dificuldade. Não havia como não te odiar por te julgar o responsável. Por isso carreguei durante muito tempo essa revolta contra ti e a vontade que tinha era de acabar contigo. Desconfiei da inexplicável atitude dela, falando calma, com os olhos serenos, a mão firme, emoção controlada. Será que chegou a hora da vingança? A vingança a frio é a pior para vítima e mais desfrutável para o vingador. Porque agora? Ela continuou. - Fui nomeada para ser diretora de um Posto de Saúde na periferia aqui de São Luís. Minha grande dificuldade foi, justamente, lidar com colegas. Só aí eu pude conhecer a responsabilidade de assumir um cargo com atribuição de manter um serviço público de saúde funcionando satisfatoriamente. - Esse foi teu primeiro cargo de administração? - Primeiro e último. Tive problema com três colegas. Foram em tempos diferentes, mas pelo mesmo motivo: falta. Cortava o ponto e vinham as reclamações e as discussões. Tive que devolvê-los para a Secretaria de Saúde e um deles chegou a me agredir verbalmente, o que me levou a pedir demissão. O “puxa saco” que eu dizia de ti recebi triplicado. Além de muitas outras situações desagradáveis, de toda ordem, que me exigiam posição de chefia gerando descontentamento e inimizade. - Isso é lamentável. Administrar é uma atitude pessoal e nunca agrada a todos. Eu também me afastei porque não é a minha praia. - Pra mim valeu porque eu pude entender a tua atitude e pude tirar um grande peso das minhas costas, que era a raiva que eu sentia por ti. Me dá um abraço. Foi-se. Enquanto eu ouvia ritmo do seu salto marcando a melodia do chão eu pinguei o meu colírio para poder entender melhor as coisas.
A PARTIDA DE FUTEBOL
AYMORÉ ALVIM APLAC, ALL, IHGM Pinheiro estava em festa. Desde meio dia de 08 de março de 1929, os foguetes pipocavam por toda parte. Às 21 horas, com grande presença de público, chegava ao Porto de Albino Paiva a delegação do Club Tupy de São Bento que vinha jogar um amistoso, no domingo, dia 10, com o campeão pinheirense, o Aymoré Sport Club. Após os cumprimentos de praxe entre o presidente anfitrião, Antônio Felix, e o presidente do Tupy, Benedito Muniz, os visitantes foram acompanhados até a casa onde iam ser hospedados, à Rua Dr. Araújo Castro canto com a José Anastácio. Às 22 horas, foi oferecido um jantar, na residência do presidente Antônio Felix, para a delegação visitante. No dia seguinte, sábado, foram recebidos, na sede do Jornal Cidade de Pinheiro pelos seus diretores e, à noite, os sambentoenses foram agraciados com a encenação de uma comédia, no Teatro Santo Inácio, localizado, à Rua Siqueira Campos, em frente ao atual Patronato São Tarcísio. A vibração dos torcedores era total, de vez que havia uma certa rivalidade entre as duas cidades. No domingo, o povo acorreu em massa, a partir das 14 horas, ao campo do Aymoré que antes era do Guarany e ficava à Rua Luís Domingues, onde, atualmente, se encontra o atual estádio municipal. Em grandes grupos, os torcedores iam cantando o hino do seu clube cuja letra é de Biluca Feres e a música de Mário Cajueiro: O Aymoré, no campo, espera o inimigo, Para jogar, heroicamente, à luz do sol, E demonstrar mesmo na paz e no perigo, Que o ideal do auviverde é o foot-ball. O Aymoré, no campo, luta em prol Do auviverde pavilhão, Para mostrar, também, que o foot-ball É a mais sublime diversão. Combina Ozias com Onésio e com Victal Mas o Santico chuta a bola para o Dô. E o Filuca que não é muito apoucado Chuta bem forte e manda a bola para o gol.
Após a recepção e os discursos, o jogo começou, às 16 horas. O Aymoré formou com: Bacaba, Santico e Dicote. Onésio, Onofre e Catimbáu. Filuca, Ozias, Edelson, Antoninho e Victal. No banco: Catilino e Anselmo. O árbitro foi Miguel Corrêa Beckman auxiliado por dois juízes de linha. O farmacêutico assistente era o Dr. Waldemir Guterres Soares. Aos quinze minutos do primeiro tempo, por um descuido da defesa, o Aymoré toma o primeiro gol marcado por Pimpa que avançou pela extrema direita. O desânimo foi geral, mas logo, recomeçaram as palmas e os gritos dos torcedores incentivando o seu time. E, assim, terminou o primeiro tempo. O relógio corria. O nervosismo aumentava, na torcida do Aymoré. Passados já 30 minutos do segundo tempo, o placar continuava o mesmo. A torcida inquieta exigia, pelo menos, o gol de empate. Não era possível perder, em casa, para o Tupy. Aos quinze minutos finais, uma confusão, na área do Tupy, levou o juiz a marcar um pênalti devido a uma mão na bola. Os ânimos se exaltaram. Quando acalmados, o pênalti foi cobrado por Filuca e convertido. A alegria foi geral, mas não para o time visitante cuja diretoria entrou, em campo, exigindo a anulação do gol. Por fim, o juiz Miguel Beckman, o juiz do Tupy Eurico Araújo, os dois presidentes dos respectivos clubes e o “Center forward (centerfor)” de cada time se reuniram e decidiram que a validade do gol seria disputada no “par ou impar”. O presidente do Aymoré escolheu par. Se desse par, levava. Deu par. O presidente do Tupy retirou o time de campo. O árbitro, após aguardar o término do tempo regulamentar sem que o Tupy retornasse, deu a partida por encerrada pelo placar de 1x1. No dia seguinte, serenados os ânimos, a Diretoria do Aymoré levou a delegação do Tupy até o porto onde se despediram e o presidente Antônio Felix agradeceu a visita.
GONÇALVES DIAS, SÃO LUÍS E REFERÊNCIAS CULTURAIS
ANA MARIA COSTA FELIX17 Gonçalves Dias, 191 anos de nascimento: escute nossos poemas! São Luís 402 anos: escute os tambores, veja nossa arte, sinta nossos amores!
Pedra da Memória, foto por Ana Felix Garjan 17
Ana Maria Felix Garjan é Embaixadora da Paz, pelo Cercle Univ. Ambassadeurs de la Paix/FRANCE / SUISSE; Socióloga, escritora, poeta, ensaísta, pesquisadora em arte, artista plástica; Membro fundador da Academia Caxiense de Letras - ACL, ocupante da cadeira nº 15, patrono Antônio Gonçalves Dias; É Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, ocupante da cadeira nº 34, patrono Aderson Ferro; Membro correspondente da Academia Ludovicense de Letras - ALL; Diretora de Cultura e Comunicação do Espaço Cultural Gonçalves Dias – ECGD – MA. Seus poemas a Gonçalves Dias e texto foram publicados em blogs, sites e na Antologia Mil Poemas para Gonçalves Dias – IHGMA. É de sua autoria o poema ‘Tributo à Canção do Exílio’. Possui três livros publicados, participou de mais de 30 antologias brasileiras e latinas.
PREÂMBULO Ao escrever meu este ensaio para a Revista da ALL, dou início às minhas primeiras incursões literárias, no âmbito da Academia Ludovicense de Letras, na condição de Membro Correspondente. Mesmo residindo em Fortaleza-CE, há nove anos, e viajando por outras rotas, sempre mantive conexões culturais com a Ilha de São Luís, cidade onde morei, pelo período de trinta anos, onde me graduei em Serviço Social pela Universidade Federal do Maranhão onde trabalhei por 25 anos, em projetos sociais, nas áreas da cultura, arte, literatura, pesquisa interdisciplinar, fotografia, produções literárias e artísticas. Tive a oportunidade de retratar, em cidades do Brasil e da Europa, os casarios, azulejos, ruas, lampiões, palácios, monumentos, cenas urbanas, bem como o cenário social de extrema pobreza, que na última década do século XX, motivou-me a destacar, em fotografia, as contradições sociais que estavam e ainda estão vivas, sob o concreto das pontes de São Luís. Por muitos anos exerci funções administrativas e de assessoria, coordenando projetos culturais e de pesquisa interdisciplinar na UFMA - Universidade Federal do Maranhão, onde estive alocada na Reitoria dessa importante universidade maranhense, no prédio colonial do Palácio Cristo Rei, situado à famosa Praça Gonçalves Dias, do qual avistava, diariamente, o obelisco que inspira reverências e suscita homenagens ao poeta maior do Maranhão e do Brasil. Quanto aos membros fundadores que organizaram a Casa de Maria Firmina dos Reis, dirijo-me aos que representam a idealização primeira dessa nova academia, aos que acolheram os sonhos do Professor, Poeta e Acadêmico Wilson Pires Ferro, (in memoriam). Foi o incansável poeta Wilson Ferro que iniciou, colaborou e participou das primeiras atividades acadêmicas da Academia Ludovicense de Letras até o dia 20 de janeiro de 2014, quando encerrou sua missão neste planeta Terra, deixando exemplos, obras literárias e poéticas, as quais estão em estante especial da futura Biblioteca Wilson Ferro da ALL, e na Estante Literária do Espaço Cultural Gonçalves Dias, em Caxias – MA: A Educação e os Desportos como indicadores do desenvolvimento de uma nação, Versos e anversos (em coautoria), Espelhos de São Luís, Depois que o sol se põe e Sombras da noite, ambos de contos para a juventude, e Quando eu era pequenino, dedicado a histórias infantis. No seu primeiro de ano de existência, A Academia Ludovicense de Letras, mediante o trabalho dedicado de seus membros, vem deixando entrever a sua vocação: fazer repercutir na ilha e para além mar, a produção de obras que eternizarão a literatura maranhense para as gerações futuras.
GONÇALVES DIAS, SÃO LUÍS E REFERÊNCIAS CULTURAIS APRESENTAÇÃO: Uma viagem ao passado Trechos da carta de Pero Vaz de Caminha A carta de Pero Vaz de Caminha foi escrita com o objetivo de relatar ao rei de Portugal, dom Manuel I, os principais acontecimentos da expedição comandada por Pedro Álvares Cabral às Índias. A seguir, serão apresentados alguns trechos que se referem aos primeiros contatos dos portugueses com as populações indígenas e com as terras que deram origem ao nosso país. TRECHO I A pele deles é parda e um pouco avermelhada. Têm rostos e narizes bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem se preocupam em cobrir ou deixar de cobrir suas vergonhas mais do que se preocupariam em mostrar o rosto. E a esse respeito são bastante inocentes. Ambos traziam o lábio inferior furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, fino na ponta como um furador. (…) Os cabelos deles são lisos. E os usavam cortados e raspados até acima das orelhas. E um deles trazia como uma cabeleira feita de penas amarelas que lhe cobria toda a cabeça até a nuca (…). Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, eles se tornariam, logo cristãos, visto que não aparentam ter nem conhecer crença alguma. Portanto, se os degredados que vão ficar aqui aprenderem bem a sua fala e só entenderem, não duvido que eles, de acordo com a santa intenção de Vossa Alteza, se tornem cristãos e passem a crer na nossa santa fé. Isso há de agradar a Nosso Senhor, porque certamente essa gente é boa e de bela simplicidade. E poderá ser facilmente impressa neles qualquer marca que lhes quiserem dar, já que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens. E creio que não foi sem razão o fato de Ele nos ter trazido até aqui.
TRECHO 2 Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta mais ao Sul até a outra ponta ao Norte, do que nós pudemos observar deste porto, é tão grande que deve ter bem vinte e cinco léguas de costa. Ao longo do mar, têm, em algumas partes, grandes barreiras, uma vermelhas e outras brancas; e a terra é toda chã e muito formosa. O sertão nos pareceu, visto do mar, muito grande; porque a estender os olhos não podíamos ver senão terra e arvoredos – terra que nos parecia muito extensa. Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem os vimos. Contudo, a terra em si é de bom clima, fresco e temperado, como os de Entre-D’Ouro-E-Minho, nesta época do ano. As águas são muitas; infinitas. De tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por causa das águas que tem!
Grandes pensadores e mestres “Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. (Sonho de uma Noite de Verão). William Shakespeare, 26/04/1564 – 23/04/1616 “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo mundo é comporto de mudança, Tomando sempre novas qualidades”. Luís Vaz de Camões, 1524 (Um dos maiores poetas do Ocidente)
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10/06/1580,
Proémio Em nome daquele que a Si mesmo se criou! De toda eternidade em ofício criador; Em nome daquele que toda a fé formou, Confiança, actividade, amor, vigor; Em nome daquele que, tantas vezes nomeado, Ficou sempre em essência imperscrutado: Até onde o ouvido e o olhar alcançam, A Ele se assemelha tudo o que conheces, E ao mais alto e ardente voo do teu 'spírito Já basta esta parábola, esta imagem; Sentes-te atraído, arrastado alegremente, E, onde quer que vás, tudo se enfeita em flor; Já nada contas, nem calculas já o tempo, E cada passo teu é já imensidade. Que Deus seria esse então que só de fora impelisse, E o mundo preso ao dedo em volta conduzisse! Que Ele, dentro do mundo, faça o mundo mover-se, Manter Natureza em Si, e em Natureza manter-Se, De modo que ao que nele viva e teça e exista A Sua força e o Seu génio assista. Dentro de nós há também um Universo; Daqui nasceu nos povos o louvável costume De cada qual chamar Deus, mesmo o seu Deus, A tudo aquilo que ele de melhor em si conhece, Deixar à Sua guarda céu e terra. Ter-Lhe temor, e talvez mesmo — amor. Johann Wolfgang von Goethe, in "Últimos Poemas do Amor, de Deus e do Mundo", 1749-1832. Escritor, Cientista, Mestre em Poesia, Drama e Novela. Tradução de Paulo Quintela.
O poeta maior do Ocidente: Luís Vaz de Camões O mundo literário português, tanto em Portugal como nos países de língua portuguesa, falada em diversos países, assim como poetas, escritores, poetas, professores, jornalistas, pesquisadores e artistas brasileiros, celebraram o "Dia de Camões" e o "Dia de Portugal", na data de 10 de junho, que marcou os 434 anos do falecimento do maior poeta erudito do ocidente, neste ano: Luís Vaz de Camões! Os Grupos ARTFORUM Brasil XXI, a Universidade Planetária do Futuro, o Espaço Cultural Gonçalves Dias e a Revista Ludovicense - São Luís 4 Séculos, prestaram homenagem à memória histórica do poeta Luís de Camões, que escreveu em poemas épicos e líricos as conquistas marítimas de Portugal na famosa obra "Os Lusíadas", e cantou muitos Poemas de Amor, para a humanidade. O maior dos poetas portugueses nasceu em Coimbra por volta de 1524. Em sua vida, sucederam-se aventuras e adversidades. Estudou em Coimbra, frequentou a corte de d. João III. Em 1547, partiu para Ceuta, e numa disputa com os mouros perdeu o olho direito. De volta a Portugal, envolveu-se em duelos e outras rixas, o que lhe custou um ano de prisão. Em 1553, participou de expedições militares na Índia, depois em Macau e quando se dirigia a Goa, naufragou nas costas do Camboja. Conta-se que se salvou, nadando apenas com um braço e erguendo o outro acima das ondas para salvar o manuscrito de Os Lusíadas, publicado em 1572. O poema épico tem como tema central o descobrimento do caminho marítimo para a Índia. São ao todo dez cantos, em 1102 estrofes de oito versos, de esquema rimático ABABABCC. Sua estrutura subdivide-se em proposição, invocação, dedicatória e narração, segundo as normas do Classicismo imperante. O grande poema é constituído de elementos épicos e líricos, e sintetiza marcas do 'humanismo' e das grandes 'expedições ultramarinas' Sua obra, Os Lusíadas, foi inspirada na obra "Eneida de Virgílio", que trata de uma epopéia nacional para celebrar a origem e o crescimento do Império Romano. Assim, Camões narrou fatos históricos de Portugal. Em seu poema mescla fatos históricos e intrigas dos deuses gregos, que procuram ajudar os navegadores, assim como se inspirou em canções populares, para escrever poesias que lembravam cantigas medievais, contando dramas humanos e amorosos. Sua sensibilidade revela uma obra lírica, composta de sonetos que são considerados de 'perfeição geométrica'. E seus poemas sobre o amor revelam música para os ouvidos...
Poema de Luís de Camões: Vencido está de amor Meu pensamento O mais que pode ser Vencida a vida, Sujeita a vos servir e Instituída, Oferecendo tudo A vosso intento. Contente deste bem, Louva o momento Outra vez renovar Tão bem perdida; A causa que me guia A tal ferida, Ou hora em que se viu Seu perdimento. Mil vezes desejando Está segura Com essa pretensão Nesta empresa, Tão estranha, tão doce, Honrosa e alta
Voltando só por vós Outra ventura, Jurando não seguir Rara firmeza, Sem ser no vosso amor Achado em falta.
Relendo dados importantes da obra maior de Camões: A obra "Os Lusíadas" foi publicada, em 1572, e é considerada a epopéia do povo português. O poema épico tem como tema central o descobrimento do caminho marítimo para a Índia. São ao todo dez cantos, em 1102 estrofes em oitava-rima (oito versos por estrofe, em esquema rimático ABABABCC0 e decassílabos heróicos. A epopéia camoniana é dividida em três partes: Introdução (proposição, invocação e dedicatória); Narração e Epílogo, segundo as normas do Classicismo imperante. O grande poema é constituído de elementos épicos e líricos, e sintetiza marcas do 'humanismo' e das grandes 'expedições ultramarinas' A narração tem início quando as caravelas de Vasco da Gama já estão navegando pelo Oceano Índico, portanto, em plena viagem. Os navegantes são supervisionados pelos deuses do Olimpo, que decidem o destino dos navegantes após a realização de um concílio. Os portugueses encontram em Vênus uma preciosa aliada e em Baco o mais ferrenho inimigo. Na costa oriental da África, os portugueses aportam em Moçambique e depois em Melinde, cujo rei pede a Vasco da Gama que conte a história do país, motivo dos cantos três e quatro. Dois episódios serão destacados dentro da história de Portugal. O primeiro é protagonizado por Inês de Castro, jovem que acompanha D. Constança de Castela, princesa prometida a D. Pedro, filho de Afonso 4º de Portugal. Jovem de rara beleza, Inês atrai a atenção do príncipe herdeiro, que, após a morte da esposa, casa-se secretamente com ela. Afonso 4º, ouvindo conselhos daqueles que viam nela mais uma aventureira a serviço da Espanha, manda matá-la. O inconformado D. Pedro, ao assumir o trono português, fez de sua amada a rainha de seu povo, desenterrando-a e coroando-a. Camões obtém um efeito extraordinário ao inserir na epopeia este episódio essencialmente lírico. No canto seguinte (IV), Gama prossegue, narrando a história de Portugal desde a dinastia de Avis (D. João I) até a partida da armada para a Índia. Nas últimas estâncias do canto está inserido o episódio de "O Velho do Restelo". Portugal vive uma fase de euforia quando do início das grandes navegações. Em meio à preparação da partida das naus rumo às grandes conquistas surge O Velho do Restelo, representando a oposição entre passado e presente, antigo e novo. O Velho chama de vaidosos aqueles que, por cobiça ou ânsia de glória, por audácia ou coragem, se lançam às aventuras ultramarinas. O “Velho do Restelo simboliza a preocupação daqueles que anteveem um futuro sombrio para a Pátria". Mas, em relação ao amor, Camões insiste em afirmar: “Amar, é querer estar preso por vontade”'.
Dialogando com o príncipe dos poetas, na ilha de São Luís. Gonçalves Dias, poeta caxiense, maranhense, brasileiro, escute nossos poemas em tua homenagem. Tua poesia atravessa cidades, países e continentes do mundo, que se unem em torno de tua obra eterna! São Luís 402 anos de fundação, escute cidade rebelde, os tambores, o canto afroreligioso das caixeiras do Divino! Veja nossa arte, sinta nossos amores, poesia, literatura e coreografias! Escute os fortes sons vibrantes dos bumba-bois nos terreiros, ruas e calçadas! Admire, do alto daquele mirante, os belos barcos antigos a vela, no nosso Rio Anil! E os belíssimos fins de tarde com pôr-de-sol vibrante, sob o olhar sensível de teus amantes que atravessam as pontes para admirarem tua luz dourada, amarela, laranja e vermelha na Praia de São Marcos, na bela Avenida Litorânea e no Espigão da Ponta D’Areia, no final da Península de São Luís, local de onde podemos ver muitos prédios construídos e outros em construção... Mas até quando esse pedaço da ilha vai suportar tantos prédios em concreto, ferro, gesso, equipamentos e milhares de carros a circular? Talvez a grande serpente que envolve São Luís acorde com o peso sobre sua cabeça e sua cauda e assombre a Lagoa de Ana Jansen. ... E daquela janela de uma bela torre, do lado poente da ilha, muitos entardeceres foram vistos, sentidos e fotografados sob olhares sensíveis, que retrataram os mergulhos do sol no Atlântico..., em suas ondas que levaram o poeta caxiense para uma viagem além-mar, da qual jamais iria retornar... A obra do poeta Antonio Gonçalves Dias é grandiosa e, portanto, universal! Todas as homenagens, odes, sinfonias, cantos e espetáculos são representações e aproximações à sua obra que conquistou imortalidade, a partir de sua história de vida e da vida de sua obra literária, cuja gênese ocorreu em um pequeno povoado de Caxias, em 10 de agosto de 1823. Dos séculos passados à atualidade, são muitos os autores que se dedicam a analisar o valor literário dos escritos de Gonçalves Dias, sob a forma de poesias e peças teatrais, buscando identificar as relações entre o mundo exterior e interior, que suscitaram a sua inspiração e sua forma surpreendente de produzir objetos poéticos mesclados de elementos objetivos, simbólicos e imaginários, como a Canção do Exílio, cuja matriz se tornou clássica e reproduzida por muitos autores da segunda geração de românticos, como Casimiro de Abreu, seguido de poetas e escritores modernistas, como Carlos Drummond de Andrade e críticos, como Chico Buarque de Holanda. A Canção do Exílio foi recriada e parodiada por inúmeros poetas modernistas, segundo alguns autores. Seus versos estão citados no Hino Nacional Brasileiro, nas estrofes: “Nossos bosques têm mais vida,/ Nossa vida, mais amores”. Destacamos algumas releituras e citações que o imortal Antônio Gonçalves Dias recebeu, através de poetas brasileiros, tais como: Canção do Exílio - Casimiro de Abreu Canto de Regresso à Pátria - Oswald de Andrade Europa, França e Bahia - Carlos Drummond de Andrade Nova Canção do Exílio - Carlos Drummond de Andrade Canção do Exílio - Murilo Mendes Canção do Expedicionário - Guilherme de Almeida Uma Canção - Mário Quintana
Jogos Florais I e II - Antônio Carlos de Brito (Cacaso) Canção de Exílio Facilitada - José Paulo Pais Lisboa: Aventuras - José Paulo Pais Sabiá - Letra de Chico Buarque de Holanda e música de Antônio Carlos Jobim Terra das Palmeiras – Taiguara Pátria Minha - Vinícius de Moraes Segundo Sylvia Helena Cyntrão, autora da dissertação A ideologia nas canções de exílio: ufanismo e crítica (1988), Gonçalves Dias não apenas traduziu o furor ativista da pós-independência ou o sentimento saudosista de um jovem exilado em Coimbra. O poeta falou de emoções universais profundas, transcendendo espaço e tempo: seu lirismo interno abriu caminhos na sensibilidade do século XIX, perpetuando-se até os nossos dias. (Cyntrão, 1988, p.26). Não há, é claro, a continuidade de uma mesma vertente de romantismo e de nacionalismo, nos trabalhos dos poetas contemporâneos, sobretudo aqueles que realizaram seu trabalho literário de cunho político, na época do combate ao obscurantismo implantado pela ditadura militar. Entretanto, a revisitação ao tema do exílio deixa entrever que, pelas lentes originais de Gonçalves Dias, foi apreendido e explicitado um tema recorrente, que expressa sob ângulos diversos, a própria condição humana em busca de um porto seguro, simbolizado pela terra de nascimento, pela pátria, pela própria morada talvez, compreendida em seu sentido mais subjetivo. Esse poeta de origem mestiça, marcado pelo estigma do preconceito racial e social, projetou-se no cenário da literatura nacional, sendo considerado o fundador do romantismo e um integrante da corrente do indianismo e, mais do que isso, o precursor do movimento de nacionalização da literatura brasileira, ainda que também possa se identificar um viés, resultado de sua ampla formação cultural, em que se externava um certo nacionalismo, que não abdicava do diálogo com a produção literária dos seus contemporâneos ibéricos, a quem buscara conhecer em sua estada em Coimbra, ainda quando cursava a Faculdade de Direito e, também, quando percorreu diversos países europeus em missões científicas. Ainda que estivesse dialogando com seus pares, quando em 1846, lança sua primeira obra literária, realça seu desejo de não se deixar aprisionar pelos padrões da estética literária da época. Faz mesmo uma declaração de “independência”, ao afirmar “menosprezo pelas regras de mera convenção” ao escrever o prólogo de seu livro, lançado com seus próprios recursos. PRÓLOGO DA PRIMEIRA EDIÇÃO Dei o nome de PRIMEIROS CANTOS às poesias que agora publico, porque espero que não serão as últimas. Muitas delas não têm uniformidade nas estrofes, porque menosprezo regras de mera convenção; adotei todos os ritmos da metrificarão portuguesa, e usei deles como me pareceram quadrar melhor com o que eu pretendia exprimir. Não têm unidade de pensamento entre si, porque foram compostas em épocas diversas – debaixo de céu diverso – e sob a influência de impressões momentâneas. Foram compostas nas margens viçosas do Mondego e nos píncaros enegrecidos do Gerez – no Doiro e no Tejo – sobre as vagas do Atlântico, e nas florestas virgens
da América. Escrevia-as para mim, e não para os outros; contentar-me-ei, se agradarem; e se não... é sempre certo que tive o prazer de as ter composto. Com a vida isolada que vivo, gosto de afastar os olhos de sobre a nossa arena política para ler em minha alma, reduzindo à linguagem harmoniosa e cadente o pensamento que me vem de improviso, e as idéias que em mim desperta a vista de uma paisagem ou do oceano – o aspecto enfim da natureza. Casar assim o pensamento com o sentimento – o coração com o entendimento – a idéia com a paixão – colorir tudo isto com a imaginação, fundir tudo isto com a vida e com a natureza, purificar tudo com o sentimento da religião e da divindade, eis a Poesia – a Poesia grande e santa – a Poesia como eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto sem a poder traduzir. O esforço – ainda vão – para chegar a tal resultado é sempre digno de louvor; talvez seja este o só merecimento deste volume. O Público o julgará; tanto melhor se ele o despreza, porque o Autor interessa em acabar com essa vida desgraçada, que se diz de Poeta. Rio de Janeiro - julho de 1846.
Poesias americanas Canção do exílio....................................................................................11 O canto do guerreiro..............................................................................13 O canto do piaga....................................................................................16 Deprecação............................................................................................20 Poesias diversas A minha musa.......................................................................................,25 A leviana...............................................................................................29 Delírio....................................................................................................31 Sofrimento.............................................................................................34 A escrava...............................................................................................36 Quadras da minha vida..........................................................................40 Hinos O mar......................................................................................................51 Rosa no mar...........................................................................................54 Idéia de Deus..........................................................................................57 II- Novos Cantos Coleção Melhores Contos Não me deixes!.......................................................................................63 Rola........................................................................................................64 Ainda uma vez – adeus! –......................................................................65 Se se morre de amor!.............................................................................71 III – Sextilhas di Frei Antão Loa da princesa santa.............................................................................77
IV- Últimos Cantos Poesias americanas O gigante de pedra................................................................................99 Leito de folhas verdes.........................................................................106 I-Juca-Pirama......................................................................................108 Marabá.................................................................................................125 Canção do tamoio...............................................................................127 Poesias diversas Olhos verdes.......................................................................................133 Sobre o túmulo de um menino............................................................135 Saudades.............................................................................................136 V – Os Timbiras Poema Americano Introdução...........................................................................................147 VI – Outras Poesias Caxias..................................................................................................151 A harmonia.........................................................................................153 A tempestade.......................................................................................156 VII – Meditação Capítulo Primeiro................................................................................165 BIBIBLIOGRAFIA..........................................................................173 Entretanto, essa sua afirmação de independência, precisa ser mais bem compreendida, pois segundo Franchetti, professor titular de Teoria Literária da Unicamp, o autor da maior parte dos versos que se costuma reconhecer como brasileiro é, dentre os românticos, o que manteve ao longo da vida a mais íntima ligação com o lirismo peninsular ibérico. O gosto pelo vocábulo arcaico, temática medieval, pela construção castiça, revelam, a cada passo, os frutos de sua convivência coimbrã com os românticos portugueses. Dessa convivência resultaram ainda as Sextilhas de Frei Antão, que Gonçalves Dias publica nos Segundos Cantos (1848). Trata-se de uma obra única no romantismo brasileiro, tanto pela linguagem, quanto pelo assunto. Escrevendo num pastiche de português antigo, o poeta assume a "persona" de um certo Frei Antão de Santa Maria de Neiva para cantar em longos poemas as excelências da vida portuguesa na época de ouro da nação. Essa fidelidade à literatura da antiga metrópole – e também à língua de sotaque lusitano – acabou por desconcertar os contemporâneos mais nacionalistas, os que mantinham, em linhas gerais, as bandeiras levantadas por Gonçalves de Magalhães. Naturalmente essa observação de Franchetti não invalida o reconhecimento do caráter nacionalista da Canção de Exílio, que haveria de ser eternizada, como afirmava Manuel Bandeira, “ainda que não houvesse escrito mais nada, ficaria, por ela, o seu nome gravado para sempre na memória de sua gente”. Procedendo a uma análise semiótica da Canção do Exílio, Sylvia Helena Cyntrão (1966, p.31) destaca o quanto o conteúdo dos seus versos faz emergir nos leitores sentimentos telúricos, relacionados aos valores culturais, psicológicos, sociológicos e literários, que expressam um nacionalismo ufanista, o culto à natureza, a solidão e o saudosismo e o predomínio do sentimento sobre a razão.
Sobre o estado subjetivo de Gonçalves Dias, ao compor a sua Canção de Exílio, Cyntrão lança mão de esclarecimentos feitos pelo Prof. João Ferreira, em publicação feita na Revista Cultura, na qual se constata o desânimo e a tristeza que se abateram sobre o poeta, ainda em terras lusitanas (1843) e depois ao chegar à cidade de Caxias, em 1845. Seus sentimentos foram compartilhados em cartas dirigidas ao amigo Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, demonstrando claramente sua decepção e solidão. Dizia o poeta, “triste foi a minha vida em Coimbra – que é triste viver fora da pátria, subir degraus alheios – e por esmola sentar-se à mesa estranha”. Estando em Caxias, sente-se ainda mais triste e abatido, pois estando em sua terra natal, é considerado como um desconhecido, quando esperava ser valorizado e reconhecido. Entremeando às suas conquistas literárias as derrotas amorosas, Gonçalves Dias deu continuidade ao seu ofício de poeta e acabou sendo ainda mais reconhecido pela sua obra indianista. Produziu, segundo Franchetti, obras-primas da poesia de língua portuguesa: “I-Juca-Pirama”, “Leito de folhas verdes”, “Marabá” e “Canção do Tamoio”. Todas publicadas nos Últimos Cantos, que a exemplo dos Primeiros, vinha dividido entre "Poesias Americanas" e "diversas". Mas, também nessa vertente, o seu pendor indianista é considerado singular, por não ter associado aos seus versos uma forma de luta contra a herança portuguesa. Franchetti destaca dois comentários importantes para mostrar a peculiaridade da obra de Gonçalves Dias. O primeiro deles foi feito por Sérgio Buarque de Holanda, que escreve um prefácio aos Suspiros poéticos e saudades, em 1939, destacando a sua arte, como sendo desinteressada e, portanto, distinta daquela produzida por Magalhães (Confederação dos Tamoios – 1856). Para Holanda, Gonçalves Dias “faz uma arte desinteressada, onde as paixões valem pelo que são e pela beleza dos contrastes”. Por sua vez, Antonio Cândido, também citado por Franchetti, afirmou 20 anos depois de Holanda, que havia uma aproximação entre o “medievismo coimbrão das Sextilhas e o indianismo gonçalvino”. Cândido não via nas poesias indianistas de Gonçalves Dias a intenção de tornar universalizada a condição de vida das tribos indígenas, mas “enriquecer processos literários europeus com um temário e imagens exóticas, incorporados deste modo à nossa sensibilidade. (…) "para o leitor habituado à tradição européia, é no efeito poético da surpresa que consiste o principal significado da poesia indianista." Essas análises mostram que embora tenha sido cultuado no Brasil, Gonçalves Dias, como qualquer outro poeta e escritor, suscita análises que extraem o conteúdo polissêmico do conjunto de sua obra. Sem que se recorra a esses estudos contextualizados da obra do grande romancista, pode se reproduzir o mesmo viés, ou seja, pode se fazer apenas a reprodução do mito, imaginando-o como o Sabiá, que de algum modo ele mesmo criou, estabelecendo uma identidade entre criatura e criador, na sua Canção do Exílio. Por outro lado, não se há de negar a sua genialidade ao transitar por tantos gêneros literários e pelo caráter precursor de sua obra literária também na cena teatral do Brasil no século XIX, na qual não se repete, mas também inova, trazendo quatro dramas: Patkull e Beatriz Cenci, em 1843, em Lisboa; Leonor de Mendonça, em 1846; e Boabdil, em 1850, no Rio de Janeiro. “Os títulos dessas obras remetem-nos a personagens da história universal, o que de certa forma propiciava autenticidade e veracidade ao espetáculo, mas a história, em si, serve apenas para abordar o sentimento amoroso, como a maior justificativa da existência humana, responsável por toda ação nas referidas peças”. (Rôla, 2005, p.13-14).
Assim, realizando diversas travessias entre mares e formas literárias, Gonçalves Dias, foi e será sempre uma personalidade grandiosa na vasta literatura nacional e universal, pois foi, ao mesmo tempo capaz de, ainda que ensimesmado em seu estado subjetivo, que em muitos momentos da vida lhe desfavoreceu, criar versos e vozes que ainda ecoam no presente, fazendo-nos reiterar a imortalidade por ele alcançada. Ainda há tempo de cantarmos a bela, importante e conhecida Canção do exílio, que une o espírito do imortal de Antônio Gonçalves Dias aos escritores, poetas, músicos e atores do mundo, que foi traduzida para diversos idiomas, e entre eles, um dos mais belos, depois da nossa Língua Pátria: O francês, língua romântica pertencente à subfamília itálica, que por sua vez pertence à família indo-européia, que tornou-se a língua oficial da Bélgica, Suíça, e de países que foram colônias francesas. Para enriquecer nosso estudo sobre a literatura de Gonçalves Dias citamos uma publicação da Agência FAPESP, sobre uma obra inacabada do autor, através do artigo de Fábio de Castro: Meditação, uma obra inacabada de Gonçalves Dias (1823-1864). No primeiro semestre de 1850, a revista Guanabara publicou três capítulos de Meditação, uma obra inacabada de Gonçalves Dias (1823-1864). O texto, escrito em prosa poética, é hoje praticamente desconhecido, apesar da notável importância histórica: pela primeira vez um escritor do romantismo criticava de forma implacável a sociedade, o Estado e, em especial, o sistema escravista. Um estudo feito por Wilton José Marques, professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), abriu a discussão sobre esse texto pioneiro do poeta maranhense. Os resultados da pesquisa – um pós-doutorado realizado com bolsa da FAPESP, entre 2002 e 2003, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – formaram a base para o livro Gonçalves Dias: o poeta na contramão, que acaba de ser publicado com apoio da Fundação na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações. De acordo com Marques, o que mais chama a atenção em Meditação, é o fato de escancarar as mazelas sociais do país de forma inédita entre os escritores canônicos românticos naquela época. O eixo central do livro nasceu a partir do texto As idéias fora do lugar, de Roberto Schwartz. Uma das teses do crítico, segundo Marques, sustenta que em meados do século 19 os escritores viviam quase exclusivamente dos favores do governo. “Os intelectuais brasileiros viviam uma relação de dependência com o Estado. Essa política do favor explica por que a literatura nacional só passou a abordar criticamente o tema da escravidão quando o abolicionismo já dominava o debate nacional”, disse Marques à Agência FAPESP. Segundo ele, quando Gonçalves Dias publicou Meditação, a literatura romântica praticamente não tinha referências explícitas à escravidão e a violência do sistema não transparecia em nenhuma obra. Os primeiros textos abolicionistas de Castro Alves (1847-1871), por exemplo, só entraram em cena a partir de 1863, quando a discussão já tomava as ruas. “O texto de Gonçalves Dias é uma crítica ferrenha à escravidão e é incrível que seja tão pouco conhecido. Praticamente não há referências à sua existência. O meu livro procura preencher essa lacuna, discutindo a posição do intelectual em relação ao Estado e a forma como ele se insere na máquina estatal por meio de uma relação de favores”,
disse Marques. Apesar da virulência do texto, Gonçalves Dias não estava isento da “política do favor”. Em 1846, quando começou sua carreira literária e mudou-se para o Rio de Janeiro, o poeta tornou-se funcionário público, trabalhando como professor no Colégio Pedro 2º. Com a economia baseada na escravidão, o trabalho livre praticamente não existia. O intelectual assim não tinha alternativa, além de trabalhar e ser remunerado pelo Estado. Os escritores eram obrigados a se resignar a uma espécie de “cumplicidade cabisbaixa”. “Em um país que tinha 70% da população analfabeta e os livros eram exclusividade de uma pequena elite, era natural que os escritores atuassem como funcionários públicos. Mas, apesar de se sujeitar a isso, Gonçalves Dias fez uma literatura que questionava o estado das coisas. A primeira expressão dessa contestação está em Meditação”, disse Marques. Gonçalves Dias estava consciente da própria situação de cooptado e acreditava que a dependência em relação ao Estado era danosa para a produção artística. Em uma carta da década de 1860, o poeta ressaltou que, “enquanto o literato precisar de empregos públicos, não poderá haver literatura digna de tal nome”.Em sua análise, Marques discute como Gonçalves Dias estava na contramão das expectativas românticas, de valorização da natureza e do índio como “brasileiro autêntico”. “Além de criticar a escravidão e fugir da corrente comum dos escritores canônicos do romantismo, ele, naquele texto, também criticou de forma virulenta a elite brasileira. Atacou a classe política – que acusou de se aproveitar do bem público para interesses particulares – e criticou a exclusão social”, apontou. O poeta desferiu golpes não só contra as esferas do poder, mas principalmente contra as esferas do saber. “Em determinado momento ele defendeu que é preciso dar educação ao povo. A estrutura política do Império era excludente em vários aspectos, mas especialmente em relação à educação. Gonçalves Dias colocou o dedo nessa ferida sem rodeios”, afirmou. Em seu livro, Marques levanta a hipótese de que uma parte particularmente contundente do terceiro capítulo de Meditação pode ter sido censurada. O trecho não foi publicado na versão de 1850 da revista Guanabara, mas reapareceu em uma publicação de 1868. “Esse trecho retrata uma conversa noturna dentro de um palácio – que remete ao Palácio São Cristóvão – no qual, políticos discutem o que fazer com o Brasil. Um deles questiona o que o Imperador pensará de tal debate. Um dos políticos levanta o véu da cama e diz: ‘o Imperador dorme’. O trecho remete ao período da regência, quando o Imperador era jovem demais para exercer o poder”, disse. Em sua crítica à escravidão, Gonçalves Dias lançou mão principalmente de argumentos econômicos, segundo o professor da UFSCar. A entrada do Brasil na modernidade, para o poeta, só se daria por meio da implantação do trabalho assalariado. “Gonçalves Dias não fez uma leitura humanista, como a de Castro Alves. Ele acreditava na superioridade racial dos brancos. Mas, em sua visão, a escravidão era um atraso por impedir a adoção de um modelo capitalista”, disse. (Este conteúdo foi acessado na Agência FAPESP em 25/04/2010. Todas as modificações posteriores são de responsabilidade do autor original da matéria).
Ainda dialogando com o poeta caxiense. Escute meu poeta: Caxias segue seu destino, há novas instituições, e uma delas, a mais nova, homenageia o nome do caxiense Gonçalves: Espaço Cultural Gonçalves Dias, para que o nome do poeta e sua obra estejam em diálogo silencioso, no mesmo espaço onde estão obras de autores caxienses, ludovicenses, maranhenses, brasileiros, latino-americanos e de países da Europa, para que se produza uma amálgama composta pela poesia com todas as artes, em prol da cultura, além do horizonte do Morro do Alecrim, onde resistem ao tempo as ruínas da Balaiada, que elevou a história de Caxias no cenário nacional. Antônio Gonçalves Dias, nós te homenageamos a cada visita realizada por professores, alunos universitários, pesquisadores, jornalistas, meios de comunicação, professores e alunos de escolas municipais de Caxias e de outros pequenos municípios, bem como representantes institucionais caxienses, maranhenses e de outros estados, que visitam esse espaço que compõe o panorama cultural de Caxias e do Maranhão, através de sua programação cultural e científica. És nosso Patrono maior! Gonçalves, escute: há teus seguidores que cantam seus amores, que são apaixonados, como eu, pela ilha de São Luís, onde viveste embalado de amor por tua musa! Neste mês de setembro, houve um grande movimento de instituições, associações, poetas, artistas plásticos, fotógrafos, escritores, jornalistas, meios de comunicação e muita gente que te ama e homenageia, nessa importante cidade histórica e cultural, repleta de contradições sociais, urbanas e de diversas ordens. Aos poucos, discorreremos sobre os diversos aspectos da “ILHA DO MARANHÃO”, mas encerramos essa narrativa com as palavras de Claude d’Abbevville, registradas no livro “Sur La France Équinoxiale”: “Com relação especialmente à ilha do Maranhão, deve-se confessar que é extremamente agradável, cercada pelo mar e com quatro ou cinco grandes rios que vêm se colocar e expandir-se em torno dela, oferecendo mil comodidades para a pesca de uma infinidade de peixes de mil espécies diversas. Por outro lado o verão é aí permanente e as águas nessa estação são agradáveis e deliciosas. [...] Em certos lugares há grandes e espessas árvores, entre nós desconhecidas, e que parecem muito medicinais pela goma e óleos odoríferos que produzem. Encontramos também árvores retas e muito altas, donde se tira a madeira amarela, o pau-vermelho ou malhado usado na Europa para a fabricação de tinta ou obras de valor. [...] Não há nesse país outro jardineiro senão Deus e tão-somente a natureza cuida das árvores, dos enxertos das podas. Haverá melhor jardineiro? Pois não está escrito no Gênesis que Ele fez a terra produzir todas as árvores agradáveis à vista e ao paladar? Há no Brasil inúmeras árvores frutíferas que crescem naturalmente graças apenas à providência do soberano jardineiro; e, embora não tenham jamais sido enxertadas nem tratadas de modo algum,
não deixam de dar frutos em abundância tão saborosas quão admiráveis. [...] Em verdade a Maranhão, na terra do Brasil é bonito, bom e tão bem ordenado que com acerto se pode dizer: hortus odoratis cutissimus herbis.” São Luís – Patrimônio cultural da humanidade, tombada pela UNESCO em dezembro de 1997 foi festejada em seus 402 anos de fundação, e segundo diversos autores, a data é 8 de setembro de 1612, guando foi iniciado um grande caminho rumo ao futuro, a partir do encontro dos seus conquistadores franceses e dos missionários capuchinhos Claude d’ Abbeville e Yves d’Évreux, com os índios Tupinambás de Upaon – Açu. Em dezembro de 1612, Claude d’Abbeville e François de Razilly levaram à França, a convite da Corte, seis índios que foram recepcionados de forma especial. Essa viagem realizada teve autorização dos “Principais da Ilha do Maranhão”, de mandarem “seis membros de sua nação para prestarem homenagem e oferecerem seus serviços ao Cristianíssimo Rei de França, e solicitarem proteção para os súditos da nova França Equinocial”. Os indígenas foram chamados de “embaixadores” tupinambás. Os primeiros indígenas a atravessarem o Atlântico para essa missão, foram: Itapucu, 38 anos, da serra de Ibiapaba, filho de destacada família; Caripira, 18 anos, tabajara da aldeia Rairi ou Airi, grande guerreiro aprisionado pelos índios maranhenses; Patuá, 15 a 16 anos, natural da Ilha do Maranhão, filho de distinta família; Maném, de 20 a 22 anos, nascido à margem do rio chamado Pará; Uaruajá ou Guarujó, 20 anos, natural da aldeia Mocuru; e Papuaí, natural da Ilha do Maranhão. Segundo Abbville, Papuaí se destacava por sua docilidade e devoção. Bem antes dessa viagem dos índios brasileiros, em outubro de 1611, MARIA DE MÉDICE escreveu uma carta ao Senhor de La Ravardière, documento que foi encontrado na Biblioteca Nacional da França em Paris. Há uma cópia do século XVII. A tradução dessa carta, em português, revela conteúdo histórico. A seguir, um trecho que resume a vontade da mulher que administrou a colonização da Ilha do Maranhão: “Senhor de La Ravardière, Tendo dado a entender ao Senhor de Ragilli [sic, por Razilly] (Françoise, Senhor de Razilly, de Oiseaumelle e de Vaux-em-Cuhon, 1578-1622), quando veio de mim se despedir para empreender sua viagem às Índias, que minha vontade era que em todos os sítios e lugares dos países que ireis conquistar para implantar uma colônia francesa e também a fé do nosso Senhor, não permitais exercício de nenhuma religião que não seja a Católica Apostólica Romana, o que ambos me prometeram, decidi aproveitar a ida do Senhor de Beauvais Nangis, que se encontrará convosco quando de vossa partida, para mandar esta carta, tanto para relembrar vossa promessa, quanto para dizer-vos que gostaria muito que trabalhais juntos para que só a religião seja estabelecida naqueles pises das Índias sem nunca permitires outra profissão de fé, nem outra instituição, pedindo-vos também para proteger e respeitar os padres capuchinhos e os outros franceses católicos que vos acompanham, e mesmo
para ali evitar a desunião e todo e qualquer conflito, trazer de volta todos os que pertençam a outra religião, caso regresseis primeiro à França. Quero que me prometais que em consideração a mim, procedereis da melhor maneira, para que não haja nenhuma queixa. Estimando que minha vontade seja neste ponto seguida ao pé da letra, como já encarreguei o Senhor de Maugi[sic ?, por Nagis] de transmitir-vos minhas instruções a respeito deste assunto, aqui me despeço, não me restando que rogar a Deus etc. Em Fontainebleau, na data de 12 de outubro de 1611. Passado, Presente – Hoje Gonçalves Dias completou no tempo, 191 anos de nascimento. São Luís completou em seu tempo de história e cultura, 402 anos. Seus nomes estarão sempre unidos na sinergia do tempo, entre o passado, o presente e o amanhã – futuro. E nós do Grupo ARTFORUM Brasil – Núcleo do Maranhão, registramos no período de setembro a novembro, os 14 anos da 1ª Bienal Multicultural do Maranhão, que foi realizada no período de setembro de 1999 a janeiro de 2000, intitulada “Sinergia do Tempo: Passado, Presente, Futuro”, em homenagem a São Luís – Patrimônio Cultural da Humanidade e aos 5 séculos de fundação do Brasil, pela Coroa Portuguesa. Enfim Gonçalves, Deus escutou tua prece, e nós também oramos por São Luis, pelo Brasil e pela Paz da humanidade, nesse tempo de guerras violentas que matam crianças, jovens e sonhos de liberdade. “Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá’. E ainda avistastes as terras e palmeiras do teu Maranhão. Que Deus não permita que haja mais violência nas florestas, vilas, ruas e cidades do Brasil e do mundo! Tributo à ‘Canção do Exílio’, de Gonçalves Dias Por Ana Maria Félix Garjan Onde havia teus pássaros, belas aves e palmeiras cantadas por ti, Gonçalves Dias, Há queimadas, tuas palmeiras já morreram, os teus sabiás estão quase mudos; Nosso céu está cinzento, a poluição é grande no Maranhão e no nosso planeta Mas ainda vemos estrelas que miram os seres da terra; imaginamos o teu céu; Nossos bosques estão desmatados, nada pode ser feito, não há lei, não há paz; As leis não impedem queimadas das florestas, e os homens maltratam os animais; Eu também fico a cismar, até onde o homem destruirá nossa natureza, teus Sabiás... Ainda há várzeas, rios, palmeiras onde cantavam as aves que gorjeavam aqui, e lá; Nossas vidas, nossos amores estão na corrida contra o tempo das contradições, Dias! Os prazeres dos homens são perigosos para os inocentes, há muita violência no mundo; Os governos, as religiões, pessoas, grupos e instituições sofrem perturbações O mundo está confiante na renovação, não queremos guerras, pedimos paz às nações;
Em nossa terra ainda buscamos ‘primores’, desejamos ouvir o canto dos teus Sabiás, Queremos que mil poemas corram o mundo, que haja tempo de renovar tua memória! O teu ‘Canto do Exílio’ é uma declaração de amor e respeito à natureza daqui e de lá. Tua vida, nossas vidas estão escritas neste livro, onde poetas cantam versos para ti! Que Deus permita que possamos viver nossos amores e artes, ao som de ventos e brisas E que possamos renascer e contribuir com a natureza, para salvarmos nosso planeta!
São Luís, cidade amada por Gonçalves e por nós. Enfim São Luís, que Deus escute nossas preces, as preces dos teus filhos, filhos adotados e amigos apaixonados por tua cultura. Que haja mais organização em teu solo, que tuas águas sejam mais limpas, que teu patrimônio seja cuidado, zelado, respeitado. Que teu povo conquiste todos os seus direitos sociais como cidadãos ludovicenses, maranhenses e brasileiros. Que o governo do município e o governo do estado sejam portais maiores do desenvolvimento de São Luís e de todas as cidades! E que um grande caminho seja iniciado rumo ao teu futuro, que começou em julho de 1612, através das ações de La Ravardière e François de Razilly, quando organizaram a construção do Fort Saint-Louis e fizeram diversas viagens de exploração ao Maragnon. Que teu futuro seja justo e feliz, São Luís! Referências: Candido, Antonio. "Gonçalves Dias consolida o Romantismo". Em Formação da literatura brasileira. São Paulo: Martins, 1971, 4ª ed., vol. II. Cyntrão, Sylvia Helena. A ideologia nas canções do exílio: ufanismo e crítica. Brasília, Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, 1988. Ferreira, João. A canção do exílio de Gonçalves Dias. IN: Revista Cultura, Brasília, ano 8, n. 29, p.42- 48. Franchetti, Paulo. “As Aves que Aqui Gorjeiam: A Poesia Brasileira do Romantismo ao Simbolismo” e “I-Juca-Pirama”, em Estudos de literatura brasileira e portuguesa. Cotia: Ateliê Editorial, 2007. Hollanda, Sérgio Buarque de. “Prefácio”. Em Magalhães, D.J.G. de. Obras Completas, vol. II. Rio de Janeiro, Ministério da Educação, 1939. Rôla, Ana Cláudia. A obra dramática de Gonçalves Dias. Em Tese. Belo Horizonte, v. 9, p. 11-19, dez. 2005. Fornerod, Nicolas, Pesquisa, Introdução e Notas. Sobre a França Equinocial. Co edição: Alliance française de São Luís, Academia Maranhense de Letras, 2001, 389 anos do desembarque Frances nesta Ilha. Edição promovida por Guilhem Beugnon e Jomar Moraes.
POESIAS POESIAS
Poemas de MARIA FIRMINA DOS REIS
UMA TARDE NO CUMAN Aqui minh'alma expande-se, e de amor Eu sinto transportado o peito meu; Aqui murmura o vento apaixonado, Ali sobre uma rocha o mar gemeu. E sobre a branca areia - mansamente A onda enfraquecida exausta morre; Além, na linha azul dos horizontes, Ligeirinho baixel nas águas corre. Quanta doce poesia, que me inspira O mago encanto destas praias nuas! Esta brisa, que afaga os meus cabelos, Semelha o acento dessas frases tuas. Aqui se ameigam de meu peito as dores, Menos ardente me goteja o pranto; Aqui, na lira maviosa e doce Minha alma trina melodioso canto. A mente vaga em solidões longínquas, Pulsa meu peito, e de paixão se exalta; Delírio vago, sedutor quebranto, Qual belo íris, meu desejo esmalta. Vem comigo gozar destas delícias, Deste amor, que me inspira poesia; Vem provar-me a ternura de tu'alma, Ao som desta poética harmonia. Sentirás ao ruído destas águas, Ao doce suspirar da viração, Quanto é grato o amor aqui jurado, Nas ribas deste mar, - na solidão. Vem comigo gozar um só momento, Tanta beleza a me inspirar poesia! Ah! vem provar-me teu singelo amor Ao som das vagas, no cair do dia.
NO ÁLBUM DE UMA AMIGA D'amiga a existência tão triste, e cansada, De dor tão eivada, não queiras provar; Se a custo um sorriso desliza aparente, Que máguas não sente, que busca ocultar!?... Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar. D'amiga a existência Não queiras provar, Há nelas tais dores, Que podem matar. O pranto é ventura, Que almejo gozar; A dor é tão funda, Que estanca o chorar. Se intento um sorriso, Que duro penar! Que chagas não sinto No peito sangrar!... Não queiras a vida Que eu sofro - levar, Resume tais dores Que podem matar. E eu as sofro todas, e nem sei Como posso existir! Vaga sombra entre os vivos, - mal podendo Meus pesares sentir. Talvez assim deus queira o meu viver Tão cheio de amargura. P'ra que não ame a vida, e não me aterre A fria sepultura.
O MEU DESEJO A um jovem poeta guimaraense Na hora em que vibrou a mais sensível Corda de tu'alma - a da saudade, Deus mandou-te, poeta, um alaúde, E disse:Canta amor na soledade. Escuta a voz do céu, - eia, cantor, Desfere um canto de infinito amor. Canta os extremos duma mãe querida, Que te idolatra, que te adora tanto! Canta das meigas, das gentis irmãs, O ledo riso de celeste encanto; E ao velho pai, que tanto amor te deu, Grato oferece-lhe o alaúde teu. E a liberdade, - oh! poeta, - canta, Que fora o mundo a continuar nas trevas? Sem ela as letras não teriam vida, menos seriam que no chão as relvas: Toma por timbre liberdade, e glória, Teu nome um dia viverá na história. Canta, poeta, no alaúde teu, Ternos suspiros da chorosa amante; Canta teu berço de saudade infinda, Funda lembrança de quem está distante: Afina as cordas de gentis primores, Dá-nos teus cantos trescalando odores. Canta do exílio com melífluo acento, Como Davi a recordar saudade; Embora ao riso se misture o pranto; Embora gemas em cruel soidade... Canta, poeta, - teu cantar assim, Há de ser belo enlevador enfim. Nos teus harpejos juvenil poeta, Canta as grandezas que se encerram em Deus, Do sol o disco, - a merencória lua, Mimosos astros a fulgir nos céus; Canta o Cordeiro, que gemeu na Cruz, Raio infinito de esplendente luz. Canta, poeta, teu cantar singelo, meigo, sereno com um riso d'anjos;
Canta a natura, a primavera, as flores, Canta a mulher a semelhar arcanjos. Que Deus envia à desolada terra, Bálsamo santo, que em seu seio encerra. Canta, poeta, a liberdade, - canta. Que fora o mundo sem fanal tão grato... Anjo baixado da celeste altura, Que espanca as trevas deste mundo ingrato. Oh! sim, poeta, liberdade, e glória Toma por timbre, e viverás na história. ---------------Eu não te ordeno, te peço, Não é querer, é desejo; São estes meus votos - sim. Nem outra cousa eu almejo. E que mais posso eu querer? Ver-te Camões, Dante ou Milton, Ver-te poeta - e morrer. AH! NÃO POSSO Se uma frase se pudesse Do meu peito destacar; Uma frase misteriosa Como o gemido do mar, Em noite erma, e saudosa, De meigo, e doce luar. Ah! se pudesse!… mas muda Sou, por lei, que me impõe Deus! Essa frase maga encerra, Resume os afetos meus; Exprime o gozo dos anjos, Extremos puros dos céus. Entretanto, ela é meu sonho, Meu ideal inda é ela; Menos a vida eu amara Embora fosse ela bela. Como rubro diamante, Sob finíssima tela. Se dizê-la é meu empenho, Reprimi-la é meu dever: Se se escapar dos meus lábios, Oh! Deus, – fazei-me morrer! Que eu pronunciando-a não posso Mais sobre a terra viver.
SEU NOME Seu nome! em repeti-lo a planta, a erva, A fonte, a solidão, o mar, a brisa Meu peito se extasia! Seu nome é meu alento, é-me deleite; Seu nome, se o repito, é dúlia nota De infinda melodia. Seu nome! vejo-o escrito em letras d'ouro No azul sideral à noite quando Medito à beira-mar: E sobre as mansas águas debruçada, Melancólica, e bela eu vejo a lua, Na praia a se mirar. Seu nome! é minha glória, é meu porvir, Minha esperança, e ambição é ele, Meu sonho, meu amor! Seu nome afina as cordas de minh'harpa, Exalta a minha mente, e a embriaga De poético odor. Seu nome! embora vague esta minha alma Em páramos desertos, - ou medite Em bronca solidão: Seu nome é minha idéia - em vão tentara Roubar-mo alguém do peito - em vão - repito, Seu nome é meu condão. Quando baixar benéfico a meu leito, Esse anjo de deus, pálido, e triste Amigo derradeiro. No seu último arcar, no extremo alento, Há de seu nome pronunciar meus lábios, Seu nome todo inteiro!...
AYMORÉ ALVIM.
QUE DÚVIDA! Como são lindos os teus olhos castanhos! Úmidos ficam se te acaricio. Teu corpo arqueja, quente, delirante, No teu semblante lágrimas e sorrisos. São duas pétalas gotejando orvalho Que no prazer da noite foi contido. Como é gostoso te abraçar, querida! Estimulando fundo o meu prazer Roçando a ondulação dos teus cabelos Sentindo as pulsações do teu viver Querendo me dizer alguma coisa Sem nada mesmo tendo pra dizer. Essa loucura intensa, inebriante, Alucinante que ao te ter eu sinto, Quando em curvas bem talhado o corpo esguio, Exalando teu perfume, acaricio. Não sei se eu te amo ou te desejo Não sei se é paixão ou puro cio.
OS SENTIDOS DA VIDA 18 A vida nos molda Sensíveis sensores Os quais nos permitem Nos comunicar. Primeiro conosco. 18
Foi numa aula de Fisiologia com o Prof. Paulo Brandão, em 1962. Ele me pediu para citar os nossos sentidos. Esqueci um. Ele para me lembrar, disse: Você não come? Eu não entendi e respondi: Depende. O que, por exemplo? O pessoal começou a rir. Ele me pôs para fora da aula. Chateado fiz esta poesia.
Depois com os outros. E, assim, aprendemos Viver, caminhar. Visão é o sentido Que abre as portas De um mundo invisível Onde tu viverás. Verás este mundo Em tons multicores Porém para muitos Nem sempre o será. Portanto é preciso Ficar bem atento Mas outros sentidos Te vão ajudar. Com o TATO tu sentes As formas precisas De quem tu aspiras Poder abraçar. Sentir o calor Da pele sedosa E dos rubros lábios Que queres beijar. A brisa suave Que sopra dos mares São doces ruídos Para nossa AUDIÇÃO. Com ela nos chega O pólen das rosas Que excita os sensores Da nossa OLFAÇÃO. Portanto são cinco Os nossos sentidos. Então, falta um Qual é ele, então? Ih! Logo o principal Que nos fortalece É o quinto que falta O da GUSTAÇÃO. Agora confira Não vou me enganar Os cinco sentidos Dos quais quis falar.
Primeiro é o TATO, Depois a VISÃO, Seguido do OLFATO E da AUDIÇÃO. Por fim, vem aquele Do qual me esqueci O da GUSTAÇÃO Para me redimir.
NO VERDOR DOS ANOS. A noite de verão tropical estava clara e estrelada. Uma leve brisa soprada do mar permeava os velhos casarões e inundava a cidade. Saí para conhecê-la melhor. Linda, no verdor ainda da idade. Uns acham-na já muito antiga mas eu a acho, simplesmente, caprichosa. No caleidoscópio dos cinco mil anos de civilização, é uma criança, no verdor dos seus quatrocentos anos. Tem uma vida longa pela frente. Caminhei no silêncio das suas ruas estreitas e desertas. Passei pelos seus sobradões rendados de azulejos. Lembrei-me de um passado que se perdeu nas brumas do tempo... Deixei-me divagar por momentos... Andei pelos becos e vielas do Desterro E vi batavos ensandecidos deflora-las. Subi escadarias e desci ladeiras. Vi lindas senhoritas, nas sacadas dos mirantes, com seus longos vestidos e bustos fartos. Do alto das torres do Santo Antônio, encantei-me com o casario, refletindo a pálida luz da lua que nos olhava la do céu. Deixei-me envolver pelo cantar de suas fontes e pelo mavioso som do farfalhar das palmeiras da praça dos amores. Caminhei... Debrucei-me nas amuradas do Jenipapeiro e vi os primeiros raios do sol beija-la com ternura. São Luís acordava...
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
O PORTEIRO Sob tênue e dúbia luz, entre prédios, paus e pedras, papéis apressados e triste ladrar, caminha solitário o porteiro — porteiro da noite. Passo inquieto, eterno esperar, olhar fugidio e instinto treinado, aperta a cruz e segue calado sob cortante e ébrio açoite, prossegue acuado o porteiro — porteiro do frio. O silêncio errante perde o fascínio: vozes e vultos emergem distantes, tenso supor de perigo latente a espalhar trêmulo torpor; horror da espera, conflito iminente, cedo aguarda, quieto o porteiro — porteiro do medo. O cerco se faz na rua desnuda, desce a violência insana e vã: irmã da droga, prima do álcool; golpes e socos, animais em luta, gritando e gemendo em surda agonia; morte espreitando no canto da vida: cede o vento, a violência, o porteiro — porteiro da morte. Amanhece. Na polícia, a ocorrência; no jornal, a notícia; e para a rua marcada um novo porteiro: herdeiro da noite do frio do medo da morte.
Poema publicado no livro Versos e anversos (Belo Horizonte: Mandamentos, 2002) e na revista italiana Il Convivio (2014). ARQUIMEDES VALE
MEU TEMPO N達o posso dizer Que meu tempo passou Porque nunca tive tempo Nem pra matar Nem pra gastar Muito menos para perder. Eu sempre Usei um tempo sem dono, Pra fazer as coisas Do meu tempo. Mas, eu sempre procurei Ganhar tempo Pra poder Ter tempo pra viver.
DILERCY ADLER
PSICANALITICAMENTE FALANDO... Sob a máscara mal posta reconheço o que de fato preferia não rever! no fecho do ensaio domesticado esticado amenizo o dogmatismo estreito das razões da psique e do destino de todos os meus amores licores e libidos derramados sobre o frio asfalto da cidade freneticamente deserta de desejos de qualquer espécie! sob a máscara mal posta reconheço ...me reconheço... quando o que de fato preferia o que queria o que quero é mesmo não me ver! tudo isso hoje parece demasiadamente simples!...
ORAÇÃO Senhor ilumina-me nas horas de incerteza... dá-me forças nas horas de fraqueza... afasta-me do mal quando este me quiser dominar... aproxima-me do bem para dele me utilizar... faça com que me dispa do egoísmo vestindo-me com a armadura do altruísmo enche-me a alma de pureza... afasta de mim a cobiça ... a avareza dá-me grandes ideais e forças para elevá-los sempre mais dá-me um coração puro... cheio de amor que irradie segurança e calor e através deste meu amor propague esse Teu imenso e infindo amor!
DEUS A dor me aproxima de Deus mesmo que Ele não exista na minha pequenez e fragilidade preciso de uma força externa na minha inconteste efemeridade necessito de algo eterno para minha inspiração contraditória quero algo consistente a minha consciência o meu cientificismo O nega mas o meu íntimo O deseja necessito que Ele exista preciso d’Ele!
ANA MARIA FELIX GARJAN
POEMAS DE AMOR A SÃO LUÍS 402, EM 8 DE SETEMBRO DE 2014 SÃO LUÍS DA HUMANIDADE Habitantes das cidades: Vejam os ritos desta terra, ouçam a voz dos pandeirões, os sons e ritmos das matracas, sintam o vibrar das calçadas, dancem os ritos enfeitados de fitas, e toquem nas cores de São Luís! Habitantes de outras terras: Escutem os sons mágicos desta cidade, façam reverência pras caixeiras do Divino, rezem para o espírito das águas, dancem com os brincantes de bumba – bois e das festas encantadas de sons africanos! Habitantes de todas as terras do mundo: venham mirar os mirantes azuis existentes, corajosos e testemunhas do tempo de São Luís, que teimosos observam os caminhantes das ruas E pedem socorro aos filhos da cidade! Habitantes de São Luís: esta cidade patrimônio da humanidade é mistério, ilha encantada, pedaço de terra solto no mar do leste, é farol que ilumina e une sonhos do lado latino e da Europa ocidental. São Luís, berço sagrado: Tua cidade será palco iluminado de justiça e paz na primavera dos teus 402 tempos, dias e noites, segue teu tempo, sonho, transporta espaços, tu és poesia, rito e paixão para quem te ama, Escuta São Luís, meu amor: acordei no dia da noite encantada, fui à casa dos sonhos, acendi faróis nas tuas águas, escrevi pauta de sinfonia, fotografei tua alma, energia, toquei uma canção, cantei uma poesia, pintei teu coração.
SINERGIA DO TEMPO EM TI São Luís de 402 anos: Um longo tempo passou muita história e lenda contaram. São Luís: sentimento encantado, ilha misteriosa, vestida de azulejos, sonhos e castelos de areia no m(ar)... Quero ler nas tuas ruas e avenidas meus versos azuis azulejantes, sutis. e a poesia, filha das encantadoras fontes embalou sonhos de teus filhos e amantes. Quero ler a linguagem de tuas águas agora, as vozes dos sete mares que te rodeiam anseiam por ti e abrem tuas janelas cobertas de azulejos, vindos de longe. Quero compreender os mistérios de tua alma profunda, de teu mar oceânico, dos versos e prosas dos teus anjos-guias. E em todos nós reluz pura e doce magia. São Luís: que meu olhar audaz nas esquinas compreenda tuas lutas, batalhas e glórias, mistérios do teu passado de 402 anos, reverenciados no tempo do nosso mundo. Que sonhem mais, os poetas, artistas e escritores, sonhem mais teus cantores que dançam na noite, sonhem mais eles e todos, com justiça e tua paz, temos fé nos versos dos teus anjos protetores. Que as almas eternas de teus poetas enviem luz, façam mágicas de energias, digam versos doces aos artistas aprendizes das brisas da tua primavera Que te abraçam todos os dias e te beijam nessa primavera
ALMA DA CIDADE EM MANTRA POÉTICO São Luís e sua história Quatro séculos; São Luís, sua poesia Poetas e cantores; São Luís, sua arte, Pensadores e artistas; São Luís, sua gente, Emoções tantas... Tantos amores! São Luís, musa lírica eterna dos poetas, escritores, cantores E tuas águas inspiram arte. São Luís das esquinas antigas Becos, ruas e mirantes, Dos palácios, palacetes, Solares e pátios coloniais, Janelas e portais, gradis, mirantes, casarios e pontes, Lampiões, praças, gente, paixões. São Luís do outro lado da ponte... Prédios, condomínios, avenidas... Carros, pistas e corridas... Península, espigão, por de sol, Luz lunar de sonhos, ou não... És inédita por tuas águas Dos mares do Atlântico. Seja justa e feliz, São Luís!
SÃO LUÍS – ILHA ATEMPORAL Tempo da cor de primavera Cor de azulejo, cores de anil. Azul de azulejo Cidade – ilha – mulher Dança do futuro Tempo – além Concreta paixão Da vida, do amor, opção. Escolhi amar teu horizonte Entre a Terra, céu e razão, Cor solar, sem fim, nem ponto final