ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS
2016 – ANO DE COELHO NETO
NÚMERO ATUAL - V. 3, N. 2, 2016 – ABRIL - JUNHO SÃO LUIS – MARANHÃO
Todos nós, integrantes da nova Diretoria da Academia Ludovicense de Letras – ALL (biênio 2016-2017) temos a grata satisfação de convidá-lo (a) para a Sessão Solene da nossa Posse que será realizada no dia 07 de abril de 2016, ás 19h no auditório José Ribamar Filgueiras/Fórum Desembargador Sarney Costa em São Luís/Maranhão. DIRETORIA: I – Presidente: Dilercy Aragão Adler II – Vice-Presidente: Sanatiel de Jesus Pereira III – Secretária-Geral: Clores Holanda Silva IV – 1º Secretário: Mario da Silva Luna dos Santos Filho V – 2º Secretário: Daniel Blume Pereira de Almeida VI – 1º Tesoureiro: Raimundo Nonato Serra Campos Filho VII – 2º Tesoureiro: Raimundo Gomes Meirelles CONSELHO FISCAL: Roque Pires Macatrão Álvaro Urubatam Mello Michel Herbert Alves Florencio
2014 – ano de MARIA FIRMINA DOS REIS
2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES
2016 – ANO DE COELHO NETO
A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA Ana Luiza Almeida Ferro André Gonzalez Cruz Leopoldo Gil Dulcio Vaz – Presidente COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Aldy Mello de Araújo Antonio José Noberto da Silva Dilercy Aragão Adler - Presidente Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sanatiel de Jesus Pereira CONSELHO EDITORIAL Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sanatiel de Jesus Pereira – Presidente EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659 Ou Centro de Criatividade Odylo Costa, filho Sala de Multimeios Praça do Projeto Reviver
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com
NOSSA CAPA: Escudo da ALL
Retrato de Coelho Neto
ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322
NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._3__no._1__ja?utm_source=conversion_success&utm_campaign=Transactional&utm_medium=email V.3, n.2, 2016 (abril a junho)
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33 DIRETORIA 2016-2017
Presidente DILERCY ARAGÃO ADLER Vice Presidente – SANATIEL DE JESUS PEREIRA Secretário Geral – CLORES HOLANDA SILVA 1º Secretário – MÁRIO LUNA FILHO 2º Secretário – DANIEL BLUME DE ALMEIDA 1º Tesoureiro – RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO 2º Tesoureiro – RAIMUNDO GOMES MEIRELES CONSELHO FISCAL
ROQUE PIRES MACATRÃO (Presidente) ÁLVARO URUBATAM MELO MICHEL HERBERT FLORENCIO CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO
ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938
COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA Ana Luiza Almeida Ferro André Gonzalez Cruz Leopoldo Gil Dulcio Vaz – Presidente COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Aldy Mello de Araújo Antonio José Noberto da Silva Dilercy Aragão Adler - Presidente Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sanatiel de Jesus Pereira CONSELHO EDITORIAL Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sanatiel de Jesus Pereira – Presidente EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CADEIRA 21
MEMBROS FUNDADORES E EFETIVOS DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL: CADEIRA
MEMBRO
01
Antônio José Noberto da Silva
02
João Batista Ericeira
03
Sanatiel de Jesus Pereira
04
Antônio Augusto Ribeiro Brandão
05 06 07 08 09
Raimundo Nonato Serra Campos Filho Fundador Roque Pires Macatrão
Patrono: Cândido Mendes de Almeida
Vaga Dilercy Aragão Adler
10
Vaga Mário da Silva Luna dos Santos Filho
11
André Gonzalez Cruz
12
Michel Herbert Alves Florêncio
13
Maria Thereza de Azevedo Neves
14
Osmar Gomes dos Santos
15
Daniel Blume de Almeida
16
Aymoré de Castro Alvim
17
Raimundo Gomes Meireles
18
Arthur Almada Lima Filho
19
João Francisco Batalha
20
Arquimedes Viégas Vale
21
Leopoldo Gil Dúlcio Vaz
22
Vaga Álvaro Urubatan Melo
23 24 25 26
Vaga Vaga João Batista Ribeiro Filho
27
José de Ribamar Fernandes
28 29
Vaga Vaga Clores Holanda Silva
30
STATUS/PATRONO Fundador Patrono: Claude d’Abbeville Fundador Patrono: Antonio Vieira Fundador Patrono: Manoel Odorico Mendes embro Fundador Patrono: Francisco Sotero dos Reis Fundador Patrono: João Francisco Lisboa
Fundadora Patrona: Maria Firmina dos Reis Efetivo Patrono: Joaquim de Sousa Andrade - Sousândrade Fundador Patrono: Celso da Cunha Magalhães Fundador Patrono: José Ribeiro do Amaral Efetiva Patrono: Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo Fundador Patrono: Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo Efetivo Patrono: Raimundo da Mota de Azevedo Correia Fundador Patrono: Antônio Batista Barbosa de Godois Fundador Patrono: Catulo da Paixão Cearense Fundador Patrono: Henrique Maximiano Coelho Neto Fundador Patrono: João Dunshee de Abranches Moura Fundador Patrono: José Pereira da Graça Aranha M Fundador Patrono: Manuel Fran Paxeco Fundador Patrono: Domingos Quadros Barbosa Álvares
Efetivo Patrono: Raimundo Corrêa de Araújo Fundador Patrono: Humberto de Campos Veras
Fundadora Patrono: Odylo Costa, filho.
31 32
Ana Luiza Almeida Ferro Aldy Mello de Araújo
33
Paulo Roberto Melo Sousa
34
Ceres Costa Fernandes
35 36
Vaga Raimundo da Costa Viana
37 38 39 40
Vaga Vaga Vaga Vaga
Fundadora Patrono: Mário Martins Meireles Fundador Patrono: Josué de Souza Montello Fundador Patrono: Carlos Orlando Rodrigues de Lima Efetiva Patrona: Lucy de Jesus Teixeira Fundador Patrono: João Miguel Mohana
Patrono: José Tribuzi Pinheiro Gomes
MEMBROS CORRESPONDENTES DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS: Ana Maria Felix Deva Garjan Carlos Bruno Silva Barbosa Eva Maria Nunes Chatel Genuíno Francisco de Sales Luiza Leite Bruno Logo Osvaldo Gomes Werberson Fernandes Grizoste Vanda Lúcia da Costa Sales Vanton de Miranda Leitão
Caxias-MA Valença-RJ Fortaleza-CE Rio de Janeiro - RJ Guimarães-MA Parentins - AM Rio de Janeiro - RJ Fortaleza-CE
POSSE DA DIRETORIA - BIENIO 2016-2017
Clores, Noberto, Michel, Luna, Daniel, Ana Luiza, Dilercy, Campos, Meireles, Osmar, Macatrão Raimundo Viana, Aymoré, Sanatiel, Arquimedes, Batalha, Álvaro, Leopoldo, José Fernandes, Ceres, André
MESA Representante 24 BIL, Osmar, Osmar Filho, Dilercy, Macatrão, Buzar, Nair
NOVA DIRETORIA QUE TOMA POSSA Na mesa, Dilercy Adler, Presidente Clores (Secretária Geral); Sanatiel (Vicepresidente), Mário Luna (1º Secretário), Daniel Blume (2º Secretário), Raimundo Campos (1º Tesoureiro) Raimundo Meirelres (2º Tesoureiro) Macatrão (na mesa, Conselho Fiscal), Álvaro Melo (Conselho Fiscal), Michel Florencio (Conselho Fiscal e José Fernandes (Conselho de Decanos)
BUZAR, DANIEL BLUME, CERES FERNANDES, ALVARO MELO
Clores, Daniel Blume, Dilercy, Ana Luiza
ALVARO MELO, AYMORÉ ALVIUM, ARQUIMEDES VALE, RAIMUNDO RAMOS
CLORES, NOBERTO, ICHEL, MÁRIO LUNA, DANIEL BLUME, ANA LUIZA RAIMUNDO VIANA, AYMORÉ ALVIM, SANATIUEL PEREIRA, ARQUIMEDES VALE, FRANCISCO BATALHA, ALVARO MELO
MARIO, MICHEL, ANA LUIZA, DILERCY, RAMOS, MEIRELES, OSMAR, MACATRÃO ARQUIMEDES, BATALHA, ÁLVARO, LEOPOLDO, JOSÉ FERNANDES, CERES, MICHEL
RAMOS, AYMORÉ, NAIR, CLORES, CERES, VIANA, DILERCY
OSMAR FILHO, OSMAR PAI E ESPOSA
NOBERTO – MESTRE DE CERIMÔNIAS DO EVENTO
MICHEL, ARQUIMEDES, SANATIEL, AYMORÉ, RAIMUNDO VIANA, MEIRELRES, JOSÉ FERNANDES, CERES, MARIA TEREZA, RAMOS
DELEGAÇÃO DE GUIMARÃES
O ESTADO MA – COLUNA DO PERGENTINO HOLANDA – 08/03/2016
DISCURSO DA ACADÊMICA DILERCY ARAGÃO ADLER AO TOMAR POSSE NA PRESIDÊNCIA DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, EM 07 DE ABRIL DE 2016
Excelentíssimo Sr. Roque Pires Macatrão, Presidente da Academia Ludovicense de Letras; Meritíssimo Juiz, confrade da ALL Dr. Osmar Gomes, representando o Meritíssimo Juiz Desembargador Dr. Sebastião Joaquim Lima Bomfim, Diretor do Fórum Desembargador Sarney Costa, que sediou o evento; Excelentíssimo Sr. Benedito Bogéa Buzar, Presidente da Academia Maranhense de Letras; Magnífica Reitora da Universidade Federal do Maranhão, Professora. Dra. Nair Portela Coutinho; Excelentíssimo Dr. Orfélio Maranhão Sobrinho, representando o Prof. Dr. Moacir Feitosa, Secretário Municipal de Educação; Excelentíssima Professora Mestra Evangelina Matins Boronha, Diretora-Presidente da Fundação Sousândrade; Excelentíssimo Vereador Osmar Gomes Filho, representando a Câmara dos Vereadores de São Luis; Excelentíssimo Sr. 2º Tenente Alcides Moreira da Silva, representando o Coronel Carlos Frederico de Azevedo Pires, Comandante do 24º Batalhão de Infantaria Leve “BATALHÃO BARÃO DE CAXIAS", Demais Autoridades; Senhores Acadêmicos e Senhoras Acadêmicas; Meus familiares; Meus amigos e Minhas Senhoras e meus Senhores, Nesta noite, para nós da Academia Ludovicense de Letras e também para a sociedade ludovicense, vivemos neste Fórum Desembargador Sarney Costa, espaço onde a justiça e a igualdade devem prevalecer, um ritual público e democrático deveras memorável para a Casa de Maria Firmina dos Reis. Neste ritual da assunção do mandato de uma nova Diretoria, a segunda, nesta recente história da nossa Academia, as minhas primeiras palavras são, além do agradecimento à presença de todos, Palavras de Gratidão a todos os membros que compõem esta Diretoria, que se disponibilizaram a empreender esta nobre missão, durante o biênio 2016 e 2017: Sanatiel de Jesus Pereira, nosso Vice-Presidente, Clores Holanda Silva, nossa Secretária-Geral; Mario da Silva Luna dos Santos Filho, nosso 1º Secretário, Daniel Blume Pereira de Almeida, nosso 2º Secretário; Raimundo Nonato Serra Campos Filho, nosso 1º Tesoureiro e Raimundo Gomes Meirelles, nosso 2º Tesoureiro. Ao nosso Conselho Fiscal, que é constituído pelos confrades: Roque Pires Macatrão, Álvaro Urubatam Mello e Michel Herbert Alves Florencio. Ainda Palavras de Gratidão a todos os confrades e confreiras que deram, em voto de confiança, a sua aprovação, a qual nos comprometemos a honrar. Agora Palavras de Enaltecimento, de Louvor à Diretoria, que nos passou a condução dos destinos da nossa Academia, que, apesar de alguns senões, inerentes aos primeiros anos, soube administrar de forma hábil e competente este sodalício, o que nos conforta, por entendermos que nos cabe dar continuidade ao que já foi iniciado, implementando as ações previstas, assim como incrementando outras, de acordo com os novos momentos a serem vividos. Ainda Palavras de Apresentação para aqueles que não conhecem ou pouco conhecem a nossa Academia. Nesse sentido, não posso deixar de me referir, mesmo que de forma breve, à recente história da
Casa Maria Firmina dos Reis, que, apesar de estar entrando no seu terceiro ano de fundação, já conta com marcas indeléveis na nossa cidade e além- fronteiras. O nome de Maria Firmina e os trabalhos dos que integram esta confraria já aportaram e são aclamados em nossa cidade, em nosso Estado, no Brasil e no estrangeiro, a exemplo da Argentina, Espanha, Itália, do Peru, dos Estados Unidos, dentre outros. Afinal, essa difusão, de fato, configura-se como um imperioso dever em resposta à necessidade do cumprimento do contido no Art. 2° do Estatuto que rege esta Casa: A Academia tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior.
A Academia Ludovicense de Letras – ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis, foi fundada em 10 de agosto de 2013, aos 190 (cento e noventa) anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias, como parte da programação do Projeto "Mil poemas para Gonçalves Dias". O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, na sua Assembleia Geral Ordinária, de setembro de 2011, aprovou a inclusão do Projeto em homenagem a Gonçalves Dias apresentado por mim, dentro da Programação do Ciclo de Estudos/debates sobre a Formação do Maranhão e Fundação de São Luís, em comemoração dos 400 anos de “Fundação da Cidade do Maranhão. Foram envolvidos também parceiros institucionais para a promoção do evento: além do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, a Federação das Academias de Letras do Maranhão - FALMA e a Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão –SCLMA, e ainda foram convidadas duas outras cidades do Estado, pela importância que têm na história de vida de Gonçalves Dias: Caxias e Guimarães. Na ocasião, além da Academia de Letras de São Luís, foi criado em Guimarães o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães – IHGG. Um ato intencional que surgiu de um singular acaso foi a escolha do nome de Maria Firmina para a Casa. Este nome aflorou quando, na preparação dos "Mil poemas para Gonçalves Dias", no contato com a cidade de Guimarães, na V Semana Literária Maria Firmina dos Reis, promovida pelo Centro de Ensino Médio Nossa Senhora da Assunção, onde vi, ouvi e vivi Maria Firmina na voz e performance teatral dos alunos da escola e me encantei!... Isso me levou a sugerir seu nome para a nossa Casa, o qual foi gentilmente aprovado por todos os confrades e confreiras. Vinte e cinco pessoas assinaram o Livro Ata da Fundação, juntamente com outras pessoas, como testemunhas, pertencentes a diversas Instituições, nacionais e de outros países, presentes ao ato. Somos hoje 29 membros por contarmos com a vacância de uma cadeira ocupada anteriormente por um nobre confrade que não se encontra mais entre nós neste plano, o intelectual e Professor muito querido, Wilson Pires Ferro. Faz-se mister registrar neste momento que Wilson Pires Ferro teve uma participação inspiradora, efetiva para a criação da Academia por meio de dois artigos conclamando a necessidade de São Luís ter a sua Academia de Letras, a mim enviados por sua filha Ana Luiza Almeida Ferro: “Faltam Academias” (O Estado do Maranhão, 24.01.2013), e em 2012 já tinha escrito outro artigo com esse teor “Falta uma academia”, também no jornal o Estado do Maranhão. A leitura desses artigos fez com que reacendesse a chama do desejo de criação da Academia de Letras da cidade (desejo que se sabe compartilhado também em épocas distintas por alguns intelectuais), mas que nesse momento julgou-se oportuno inseri-lo no bojo do Projeto de Gonçalves Dias, e a sua criação dar-se-ia na culminância, no dia do aniversário de 190 anos do príncipe dos Poetas. Compreendeu-se ainda a grande oportunidade de também homenagear o poeta, criando-se a Academia Ludovicense de Letras dentro do Projeto a ele dedicado. Juntamente com a sua filha Ana Luiza Almeida Ferro, Wilson Pires Ferro foi um dos primeiros a aderir ao projeto participando com quatro poesias. Talvez eu tenha exagerado, ao longo do texto, no uso do vernáculo Palavra, mas o fiz propositadamente, exatamente por acreditar na sua força... a força da palavra! A exemplo do que é expresso em João 1:1: No princípio era o verbo, [...], cujo versículo tomo emprestado:
NO PRINCÍPIO ERA O VERBO O verbo é o princípio de tudo “no princípio era o verbo” o verbo no mundo o verbo nos muda o verbo deixa-nos mudos! é o verbo o princípio de tudo no princípio era o verbo!... In: GENESIS IV LIVRO (ADLER, 2000).
E uma palavra que retrata a imagem, o legado de Maria Firmina dos Reis é Libertação, e a Liberdade pressupõe igualdade de direitos entre os seres humanos. Não há como não se encantar pela vida dessa frágil, mas firme e obstinada mulher, que a despeito de todas as adversidades conseguiu ao longo dos seus 92 anos de vida inspirar encantamento. São encantatórias a sua tenacidade e pertinente teimosia, ao insistir em desempenhar funções e papéis que não cabiam à mulher da sua sociedade, a sua inteligência e o seu autodidatismo, colocando-os a serviço de causas nobres, indispensáveis à humanização da sociedade em que vivia. Hoje, nesta cerimônia, reafirmo e desejo expandir essa libertação por meio da palavra pronunciada por Maria Firmina e por todas as mulheres que fazem esta Academia, oportunidade em que abrimos a possibilidade de homens e mulheres, juntos, pronunciarem o mundo, até porque não podemos esquecer que é: [ ...] o leite materno que eterno sangra do peito a jorrar boca a dentro do homem." In: CRÔNICAS & POEMAS RÓSEOS-GRIS (ADLER, 1991).
Assim, o nosso propósito, com a participação efetiva de todos neste mandato de dois anos, é trabalhar no sentido de consolidar a visibilidade da Academia na sociedade ludovicense, maranhense e internacional e numa política de implementação da cultura da Paz, da Solidariedade e das Letras Maranhenses, a exemplo da Patrona da nossa Casa, Maria Firmina dos Reis, nos empenhando ainda para que ela seja nossa referência e nosso baluarte. OBRIGADA!
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AGO da ALL de 28 de maio de 2016
CAMPOS, LEOPOLDO, CLORES, MÁRIO LUNA, DILERCY, BRANDÃOZINHO OBS. Só quem foi sabe o porquê do “Brandãozinho”; não vai constar da ata...
APROVADO PLANO DE GESTÃO BIÊNIO 2016-2017 COMPOSIÇÃO DA DIRETORIA Presidente: Dilercy Aragão Adler Vice-Presidente: Sanatiel de Jesus Pereira Secretária-Geral: Clores Holanda Silva 1º Secretário: Mario da Silva Luna dos Santos Filho 2º Secretário: Daniel Blume Pereira de Almeida 1º Tesoureiro: Raimundo Nonato Serra Campos Filho 2º Tesoureiro: Raimundo Gomes Meirelles COMPOSIÇÃO DO CONSELHO FISCAL Roque Pires Macatrão Álvaro Urubatam Mello Dr. Michel Herbert Alves Florencio COMPOSIÇÃO CONSELHO DE DECANOS Antônio Augusto Ribeiro Brandão Arthur Almada Lima Filho José de Ribamar Fernandes Maria Thereza de Azevedo Neves Roque Pires Macatrão COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA Ana Luiza Almeida Ferro André Gonzalez Cruz COMPOSIÇÃO DA COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Aldy Mello de Araújo Antonio José Noberto da Silva Dilercy Aragão Adler - Presidente Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sanatiel de Jesus Pereira COMPOSIÇÃO DO CONSELHO EDITORIAL Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler Sanatiel de Jesus Pereira – Presidente
APRESENTAÇÃO O presente Plano de Gestão de 2016-2017 corresponde ao período de gestão da segunda Diretoria da Academia Ludovicense de Letras, eleita por aclamação, na Assembleia Geral Ordinária, de 28 de dezembro de 2015 e se dispõe precipuamente a apresentar todo o processo que se refere à formulação de objetivos para a seleção de programas de ação e para sua execução, levando em conta as condições internas e externas desta Academia. A premissa básica que este Plano elege é que as ações em pauta apresentem coerência e sustentação, a partir da consideração dos objetivos e metas traçados, considerando também os prazos de suas execuções. De uma forma geral, o que está contido neste documento se refere ao que deve e como deve ser executado, configurando um norte de realização das ações, embora se reconheça que todo planejamento é passível de modificações, o que por sua vez expressa flexibilidade, caráter imprescindível a todo e qualquer planejamento. Este planejamento foi elaborado por uma comissão e submetido à apreciação e aprovação da Diretoria e do Plenário da Academia. Espera-se, assim, com este trabalho otimizar e agilizar as ações a serem realizadas nestes dois anos, com os quais somarão quatro anos de existência da Academia. Dilercy Aragão Adler Presidente
INTRODUÇÃO
A Academia Ludovicense de Letras - ALL, Casa de Maria Firmina dos Reis, foi fundada no dia 10 de agosto de 2013, data do aniversário de 190 anos de Gonçalves Dias, no bojo do Projeto Mil Poemas para Gonçalves Dias. Está registrada sob o número 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo, Pessoa Jurídica de Direito Privado, Associação de prazo de duração indeterminado e fins não econômicos, com sede e foro na cidade de São Luís, capital do Estado do Maranhão, submetendo-se às normas do seu Estatuto e do seu Regimento Interno e da legislação vigente no País, no que for pertinente. Funciona em Sede Provisória, no Palácio Cristo Rei, Largo dos Amores, 351 (Praça Gonçalves Dias), Centro, em São Luís/ Maranhão – CEP: 65042-240. Esse dia não foi escolhido por acaso. Por isso convém relatar um pouco da história dessa criação. Sabe-se que a criação da Academia de Letras de São Luís, apesar de ter sido pensada por muitos intelectuais da cidade, só se concretizou no bojo de um Projeto proposto pela ocupante da Cadeira nº 01 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM, Dilercy Aragão Adler, intitulado “Mil Poemas para Gonçalves Dias”. A ideia da elaboração desse Projeto ocorreu quando a autora do Maranhão/Brasil participou de um Projeto similar, no Chile, “Mil Poemas para Pablo Neruda”, o primeiro dessa modalidade nos continentes envolvidos. Assim, a inspiração nasceu do trabalho do Chileno Alfred Asís, que sugeriu, inclusive, fosse elaborado um similar no Brasil, que homenageasse um poeta nacional. O nome de Gonçalves Dias tomou “corpo definitivo” depois de algumas análises conjuntas da autora do Projeto e da Profa. Maria Cícera Nogueira, e a concepção se firmou, tendo como segunda etapa a apresentação das “ideias primeiras” ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, que poderia, nesse contexto, dar suporte a um projeto dessa envergadura. Assim, na sua Assembleia Geral Ordinária, de Setembro de 2011 aprovou a inclusão do Projeto em homenagem a Gonçalves Dias dentro da Programação do Ciclo de Estudos/debates sobre a Formação do Maranhão e Fundação de São Luís, em comemoração dos 400 anos de “Fundação da Cidade do Maranhão. Tendo sido aprovado o Projeto, a proponente convidou o Confrade Leopoldo Gil Dulcio Vaz, ocupante da Cadeira nº 40 do IHGM, para assumir conjuntamente a implementação do referido Projeto. Outros nomes e várias comissões de três cidades foram acrescidos, de modo a viabilizar grande movimento cultural. No Maranhão/Brasil, a ideia proposta foi ampliada e, além das poesias, intergrou o Projeto uma segunda Antologia intitulada “ Sobre Gonçalves Dias”, constituída de artigos e pesquisas acerca da vida de Gonçalves Dias. Ambas envolvendo autores de todas as partes do mundo, de todas as idades e de todos os niveis de escolaridade, desde poetas imortais até crianças do ensino fundamental que se aventurassem a embarcar no mundo das letras, da criação. A concretização do Projeto previa diversas atividades culturais, além do lançamento das duas antologias. Foi pensado um grande movimento cultural, considerando que, além de São Luís, foram convidadas mais duas cidades para se engajarem, pela importância que têm na história de vida de Gonçalves Dias: Caxias (onde o poeta nasceu, em 10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, em terras de Jatobá, a 14 léguas da Vila de Caxias) e Guimarães (onde veio a falecer, ou se encantar, como dizem os vimarenses, em 03 de novembro de 1864, no naufrágio do navio Ville de Boulogne, próximo à região do Baixio de Atins, na Baía de Cumã). Foram envolvidos também parceiros institucionais para a promoção do evento. Além do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM, foram convidados e aderiram ao Projeto em São Luís: a Federação das Academias de Letras do Maranhão - FALMA e a Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão –SCLMA. Uma participação também inspiradora para a criação da Academia foi a do intelectual Wilson Pires Ferro, o qual tinha elaborado dois artigos: o primeiro, conclamando a necessidade de São Luís ter a sua Academia de Letras, e o segundo artigo, intitulado “Faltam Academias” (O Estado do Maranhão,
24.01.2013), saiu na época da realização da programação do Projeto, o que reforçou a intenção da criação da Academia de Letras da cidade no bojo, do Projeto de Gonçalves Dias a qual dar-se-ia na culminância, no dia do aniversário de 190 anos de Gonçalves Dias. Desse modo, a criação da Academia Ludovicense de Letras dentro do Projeto a ele dedicado contribuiria, sem sombra de dúvida, para um brilho e importância maiores à homenagem ao grande poeta maranhense. Ideia logo compartilhada com Ana Luiza Almeida Ferro (que enviou à coordenadora da comissão o artigo do pai para conhecimento) e o próprio Wilson Pires Ferro. Na ocasião, além da Academia de Letras de São Luís, foi criado, em Guimarães, o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães – IHGG. A Comissão para a criação da Academia ficou assim constituída: Dilercy Adler (Presidente), Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Secretário), Ana Luiza Almeida Ferro, Álvaro Urubatan Melo (também à época Presidente da FALMA), e Clores Holanda Silva (representando também o Palácio Cristo Rei/UFMA), todos membros do IHGM. Com a eleição de Roque Macatrão, como Presidente da nova diretoria da FALMA, este veio somar à Comissão constituída. Então, no dia 10 de agosto de 2013, durante a solenidade da culminância do “Projeto Gonçalves Dias”, às 10 horas da manhã, no Palácio Cristo Rei, a presidência da mesa foi passada a Roque Macatrão – Presidente da FALMA - que, junto com a Presidente da Comissão do IHGM, Dilercy Adler, declararam fundada a “Academia Ludovicense de Letras”, conclamando os presentes – convidados para o ato – a assinarem a Ata de Fundação no livro apropriado para essa finalidade. Fizeram parte da mesa, além dos citados, o Professor aposentado da UFMA Wilson Pires Ferro e os demais membros da Comissão: Ana Luiza Almeida Ferro, Clores Holanda Silva e Leopoldo Gil Dulcio Vaz. Vinte e cinco pessoas assinaram o Livro de Ata da Fundação, juntamente com outras pessoas, como testemunhas, pertencentes a diversas Instituições, nacionais e de outros países, presentes ao ato. No dia 14 de dezembro de 2013, foi aprovado o Estatuto da entidade e eleita a primeira Diretoria da Academia Ludovicense de Letras - ALL, tendo o Jurista Roque Pires Macatrão, como seu primeiro Presidente e Psicóloga e Escritora Dilercy Adler, como Vice-Presidente. Continuando essa trajetória, a segunda Diretoria, em seu mandato de dois anos, tem como propósito, com a participação efetiva de todos, trabalhar no sentido de consolidar a visibilidade da Academia na sociedade ludovicense, maranhense e internacional e, numa política de implementação da cultura da Paz, da Solidariedade e das Letras Maranhenses, a exemplo da Patrona, Maria Firmina dos Reis, empenhar-se ainda para que ela seja referência e baluarte dessa Casa. MISSÃO A Academia Ludovicense de Letras-ALL tem como missão/ finalidade precípua: [...] o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior (CAPÍTULO I, Art. 2º, do Estatuto da Academia Ludovicense de Letras). OBJETIVOS Geral Desenvolver e difundir a cultura e a literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, a de São Luís. Específicos
Traçar estratégias e contatos para a aquisição de uma sede, contando também com subsídio estatal para a manutenção do imóvel doado. Consolidar as ações culturais em desenvolvimento e implementar novas, atendendo as demandas contexto atual.
do
Promover o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior. Estabelecer estratégias de promoção de ações/projetos e divulgação com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior. Estabelecer parcerias e estratégias com outras Academias e Instituições de natureza cultural, promovendo eventos para o fortalecimento da cultura local. Estabelecer parcerias com Instituições de produção do saber, em todos os níveis: universidades e escolas. Estabelecer parcerias com Secretarias (das instâncias governamentais) e Fundações que promovem autores através de planos editoriais, entre outros. Participar de eventos capitaneados por outras Instituições. Estabelecer parcerias com a mídia, prioritariamente a local: jornais, televisão, rádios, cinema e Internet. AÇÕES PROPOSTAS Aquisição da Sede Escritor do Ano - definição do nome e programação em homenagem. PROJETO ALL NAS ESCOLAS: Projetos de parcerias com Secretarias de Educação Estado e Municípios para projetos com alunos de apresentar autores, nossos escritores etc. Com o SESC que já teve um projeto muito bom nessa área (autor Paulo). Com a UFMA e a UEMA para ações conjuntas, principalmente com os seus cursos de Letras e parque gráfico. Com IES particulares que tenham curso de Letras. Com outras Academias do interior do Estado (com a FALMA). Com outras instituições estrangeiras. Secretarias e Fundações (Convento das Mercês) para parcerias de planos editoriais. Parcerias com a AML, SOBRAMES, FALMA, e Academias de outras cidades do estado para programação cultural conjunta (saraus e outros). Participação em projetos de outras instituições locais; FELIS, Mostra de Poesias, Encontro de Poetas, etc. e do estrangeiro. AGOS FESTIVAS PEDRA DE TOQUE Atividades abertas ao público em geral - conferências, mesas-redondas, seminários, exposições, concertos, shows, exibição de filmes, visitas guiadas e outras 5 PROJETOS ESPECIAIS Marco Zero Elaboração do site com hospedeiro para a Revista on line Produção de Coletâneas.
AVALIAÇÃO DE PROCESSO E DE PRODUTO AVALIAÇÃO DE PROCESSO diz respeito à avaliação par e passo do desenvolvimento de cada ação de cada projeto para conhecimento do processo e/ou redirecionamento no caso de ser detectada tal necessidade. AVALIAÇÃO DE PRODUTO diz respeito ao produto final da ação ou projeto e do conjunto das ações e projetos.
SUMÁRIO
EXPEDIENTE ___________________________________________________________________________ 4 MEMBROS FUNDADORES E EFETIVOS DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL ________________ 7 MEMBROS CORRESPONDENTES DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS _________________________ 8 POSSE DA DIRETORIA - BIENIO 2016-2017 ___________________________________________________ 9 DISCURSO DA ACADÊMICA DILERCY ARAGÃO ADLER AO TOMAR POSSE NA PRESIDÊNCIA DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, EM 07 DE ABRIL DE 2016 __________________________________________ 20 PLANO DE GESTÃO BIÊNIO 2016-2017 _____________________________________________________ 24 SUMÁRIO ____________________________________________________________________________ 30 A VISTA DO MEU PONTO ________________________________________________________________ 36 EFEMÉRIDES __________________________________________________________________________ 41 ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO - PATRONO _____________________________________ 42 FRANCISCO SOTERO DOS REIS - PATRONO __________________________________________________ 47 ANDRÉ GONZALEZ CRUZ - FUNDADOR _____________________________________________________ 50 JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL - PATRONO _____________________________________________________ 52 RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA - FUNDADOR ____________________________________ 56 PAULO MELO SOUSA MELO SOUSA - FUNDADOR ____________________________________________ 61 JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA - PATRONO ______________________________________________ 66 JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO ____________________________________________________________ 73 ANA LUIZA ALMEIDA FERRO _____________________________________________________________ 75
2016 ANO DE COELHO NETO __________________________________________________________ 88 AGENDA ____________________________________________________________________________ 89 REUNIÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COM CELSO BRANDÃO, DIRETOR DO TEATRO ARTHUR AZEVEDO. ____________________________________________________________________________ 90 Sarau Cultural: Academia Ludovicence de Letras – Rádio Timbira _______________________________ 92 DILERCY ADLER ESTARÁ PRESENTE E SERÁ HOMENAGEADA NA FLAEMA _________________________ 94 A confreira Ana Luiza esta fazend um curso de combate ao crime organizado em Roma _____________ 96 O nosso confrade da ALL, André Gonzalez, recebendo a Associação dos Magistrados Brasileiros ______ 97 O nosso confrade da ALL, o Juiz Osmar Gomes, com a Vice-Presidente da FUG-MA _________________ 98 COMEMORAÇÕES DOS 199 ANOS DO TEATRO ARTTHUR AZEVEDO _____________________________ 100 POSSE DE DANIEL BLUME_______________________________________________________________ 101 PROJETO RODA DE LEITURA_____________________________________________________________ 103
FLAEMA _____________________________________________________________________________ 105 LER E PRODUZIR OBRAS LITERÁRIAS: prazeres vitais para o mundo humano _____________________ 112 CONGRESSO BRASILEIRO DOS GUIAS DE TURISMO __________________________________________ 122 REVISTA VARAL DO BRASIL _____________________________________________________________ 123 TROFÉU CORA CORALINA EM GOIÂNIA ____________________________________________________ 125 1ª CONVOCATÓRIA____________________________________________________________________ 126 199 DO TEATRO ARTHUR AZEVEDO – PROGRAMAÇÃO ALL ____________________________ 128 CLUBE DA POESIA _____________________________________________________________________ 129
PEN Clube do Brasil 80 Anos _________________________________________________ 130 ESPAÇO POESIA MARIA FIRMINA DOS REIS ________________________________________________ 131 PERSONALIDADE 2015 – ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ________________________________________ 136 INTEGRAÇÃO CULTURAL INTERESTADUAL - FORTALEZA-CE____________________________________ 137 POESIA POLARIZADA A PARTIR DO GÊNERO: condição real ou engendrada ______________________ 140 CARREGANDO A TOCHA OLÍMPICA EM SÃO LUÍS ____________________________________________ 147 POSSSES NO IHGM ____________________________________________________________________ 149 ENTREVISTA COM ANA LUIZA ALMEIDA FERRO NO PROGRAMA ARTE & COR DA REDE TV __________ 150 A PRIMEIRA EDIÇÃO DO ENCONTRO DE INTEGRAÇÃO CULTURAL INTERESTADUAL EM MOSSORÓ 17-18 DE JUNHO DE 2016 ____________________________________________________________________ 151 REUNIÃO NA UFMA ___________________________________________________________________ 153 REUNIÃO PLENÁRIA – 25 DE JUNMHO DE 2016 _____________________________________________ 154
ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES! _________________________________________ 155 O LIVRO DIGITAL E O DESIGNER EDITORIAL RUBENS LIMA ______________________________________________________________________ 156 O ÚLTIMO CORTEJO DA RAINHA RAMSSÉS DE SOUZA SILVA __________________________________________________________ 157 O PAPEL HISTÓRICO, POLÍTICO, SOCIAL E CULTURAL DE MULHERES EM SEUS LUGARES NO MUNDO ANA MARIA FELIX GARJAN _________________________________________________________ 158 A CASA DE BELFORT NO BRASIL RAMSSÉS DE SOUZA SILVA __________________________________________________________ 169 DISCURSO DE RECEPÇÃO AO PROFESSOR JOÃO BATISTA ERICEIRA, POR OCASIÃO DE SUA POSSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ________________________________________________________ 171 AS PONTES RECÉM-INAUGURADAS OSMAR GOMES DOS SANTOS ________________________________________________________ 176 IN MEMORIAN JOSÉ RAFAEL DE OLIVEIRA _________________________________________________________ 177
VIVA UBIRAJARA FIDALGO EDMILSON SANCHES _______________________________________________________________ 178 ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS, 25 ANOS EDMILSON SANCHES _______________________________________________________________ 181 RAZÕES POLITICAS DO IMPEDIMENTO OSMAR GOMES DOS SANTOS ________________________________________________________ 183 ACADEMIA FANTXMA ISAAC SOUSA _______________________________________________________________________ 185 TRATADO DE FANTAXMAGORIA ISAAC SOUSA _______________________________________________________________________ 186 SERMÃO DE VIEIRA CARLOS GASPAR ___________________________________________________________________ 187 DEZ ANOS DE FESTIVAIS DE MÚSICA NO CAMPUS FÉLIX ALBERTO LIMA ______________________________________________________________ 189 A MARINHA E A CAPOEIRAGEM LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ________________________________________________________ 210 QUEM NÃO PODE COM O POTE NÃO AGARRA NA RODILHA AYMORÉ ALVIM ____________________________________________________________________ 227 POESIA POLARIZADA A PARTIR DO GÊNERO: condição real ou engendrada pela supremacia masculina? DILERCY ADLER ____________________________________________________________________ 229 1ª FLAEMA __________________________________________________________________________ 237
ALL NA MÍDIA _______________________________________________________________________ 240 LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; LAÉRCIO ELIAS PEREIRA ______________________________ 241 A “DESCOBERTA” DO MARANHÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ________________________________________________________ 251 ANTOLOGIA RUMENO-ITALIANO – sobre Dilercy Adler _______________________________________ 281 MARANHENSE PREMIADA EM BLUMENAU – Ana Luiza Almeida Ferro _________________________ 282 O PODER NORMATIVO DA OAB DANIEL BLUME DE ALMEIDA; LUIS AUGUSTO GUTERRES _____________________________ 283 BALZAQUIANA, QUEM QUERIA SER? AYMORÉ ALVIM ____________________________________________________________________ 285 BOM EXEMPLO – COLUNA RODA VIVA – BENEDITO BUZAR – O ESTADO SOBRE DANIEL BLUME _____________________________________________________________ 287 COLUNA RIBA UM – JORNAL PEQUENO – POSSE DE JOÃO ERICEIRA NO IHGM ____________________ 288 MORRE ESCRITOR E POETA MARANHENSE EVANDRO SARNEY COSTA ___________________________ 289
UNIVERSIDADE CEUMA: DO PLANO À REALIDADE ALDY MELLO _______________________________________________________________________ 290
PEN Clube do Brasil 80 Anos _________________________________________________ 291 ANA LUIZA ALMEIDA FERRO, RECEBERÁ: O PRÉMIO DE HONRA AO MÉRITO LITERÁRIO CORA CORALINA ___________________________________________________________________ 292 NOITE DE GALA EM ITABIRA - MG ________________________________________________________ 293 SÃO BENETIDO DO RIO PRETO/MA VISITA A ALL ____________________________________________ 294 A EVIDÊNCIA DOS NÚMEROS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO _____________________________________________ 296 VAMOS DANÇAR? ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO _____________________________________________ 297 NO AUGE DOS SEUS OITENTA ANOS ITAPARY LIBERTA DE UM ARMÁRIO, PALAVRAS DE INEFÁVEL BELEZA ____________________________________________________________________________________ 298 ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS ALDY MELLO _______________________________________________________________________ 299 DE NOVO?!! SANATIEL PEREIRA_________________________________________________________________ 300 ANA LUIZA ALMEIDA FERRO DÁ ENTREVISTA: Programa Arte & Cor da Rede TV __________________ 301 O BRASIL ATRAVÉS DOS SÉCULOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO _____________________________________________ 302 A ECONOMIA É UMA CIÊNCIA SOCIAL ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO _____________________________________________ 303 O QUE EU VI ESTA TARDE EM SETÚBAL RUI CANAS GASPAR _________________________________________________________________ 304 O BRASIL NO SÉCULO XVII ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO _____________________________________________ 305 A VIDA E A POESIA DE DILERCY ADLER - YOUTUBE.COM ____________________________________ 307 BIBLIOTECA MÍSULA DO SABER: Há 3 anos disseminando informação CLORES HOLANDA SILVA ___________________________________________________________ 308 AGENDA 2016 - Antologia anual de "Poetas del Mundo” _____________________________________ 309 A VIDA E A POESIA DE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO __________________________________________ 310 O CASARÃO, O JORNAL E EU ANA LUIZA ALMEIDA FERRO ________________________________________________________ 311 PH REVISTA – O ESTADO DO MA 28/06/2016 – ACADEMIAS REUNIDAS _________________________ 313 O BRASIL NO SÉCULO XVIII ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO _____________________________________________ 314
SEM ANOS DE SOLIDÃO SANATIEL PEREIRA_________________________________________________________________ 315 CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL FERNANDO FILLIPE SANTOS MARQUES RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO _________________________________________ 316 MAIORIDADE PENAL FERNANDO FILLIPE SANTOS MARQUES RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO _________________________________________ 322 O {DELICIOSO} SÃO JOÃO INCORRETO CERES COSTA FERNANDES__________________________________________________________ 332 O BRASIL NO SÉCULO XIX ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO _____________________________________________ 333 MARCO ZERO: É NECESSÁRIO DETERMINAR? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ________________________________________________________ 334 O PRIMEIRO SÃO JOÃO ANTONIO NOBERTO ________________________________________________________________ 338 MARCO ZERO – UMA PROPOSTA... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ________________________________________________________ 340 VISTA CURTA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO _____________________________________________ 354 A CRISE BRASILEIRA E A OPINIÃO PÚBLICA ALDY MELLO _______________________________________________________________________ 355
POESIAS & POETAS _________________________________________________________________ 356 “Pedra de Toque" _____________________________________________________________________ 357 AOS TRANCOS E BARRANCOS. AH, HUMANIDADE! MHARIO LINCOLN __________________________________________________________________ 357 MULHERES E SEU UNIVERSO ANA FELIX GARJAN_________________________________________________________________ 359 AMIGOS VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES ____________________________________________________ 360 TEREZA BRAÚNA MOREIRA LIMA, EM ENTREVISTA __________________________________________ 361 PÁGINA ENDEREÇADA AO SINTOMA OU DÊ-ME UMA CANETA, VOU-ME ESCREVER EM SINTHOME ___ 364 A POÉTICA DO JORNALISMO E DA TECNOLOGIA: UM DIÁLOGO COM MHARIO LINCOLN, UM ADVOGADO DAS LETRAS IVONE GOMES DE ASSIS ____________________________________________________________ 368 WOLNEY MILHOMEM, UM ACENDEDOR DE ESTRELAS FERNANDO BRAGA _________________________________________________________________ 373
PARA VAVÁ NESTE SEU ANIVERSÁRIO CERES, LUNA E DILERCY ____________________________________________________________ 375 MORANGOS E ABISMO DILERCY ARAGÃO ADLER ___________________________________________________________ 376 A MÃO, O BERÇO, O MUNDO DILERCY ADLER ____________________________________________________________________ 377 MENINA DE RUA AYMORÉ ALVIM ____________________________________________________________________ 378 MINHA MÃE AYMORÉ ALVIM ____________________________________________________________________ 379 ESPERANÇA AYMORÉ ALVIM ____________________________________________________________________ 380 TROFÉU CECÍLIA MEIRELES (MULHERES NOTÁVEIS) __________________________________________ 382
PARA UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE _________________________________________________ 385 POETAS NASCIDOS NO SEGUNDO TRIMESTRE _________________________________________________ 385 MAGSON GOMES DA SILVA ___________________________________________________________________________ 386 RUBEN RIBEIRO DE ALMEIDA __________________________________________________________________________ 387 CÉSAR WILLIAM DAVID COSTA _________________________________________________________________________ 396 IRAMIR ALVES ARAUJO _______________________________________________________________________________ 399 JOÃO MARCELO ADLER NORMANDO COSTA ______________________________________________________________ 401 SAULO BARRETO LIMA FERNANDES _____________________________________________________________________ 402 LAURA AMÉLIA DAMOUS _____________________________________________________________________________ 403 APOLÔNIA PINTO ___________________________________________________________________________________ 405 MÁRCIA MARANHÃO DE CONTI ________________________________________________________________________ 407 FRANKLIN DE OLIVEIRA _______________________________________________________________________________ 409 JOSILDA BOGÉA _____________________________________________________________________________________ 411
A VISTA DO MEU PONTO Começo com as alterações. “EFEMÉRIDES” traz algumas biografias de nossos literatos – da Academia Ludovicense de Letras - por mim juntadas na Antologia Ludovicense que estou a construir. Pensava em um volume, mas já estão programados e alguns acabados vários. Lembro que o primeiro deles já publicado, com os fundadores da ALL. O segundo volume, já pronto, com as apresentações e discursos de posse dos 22 primeiros, até o final do ano passado; um segundo volume, com o mesmo conteúdo, só quando as cadeiras todas ocupadas... pelo andar da carruagem – não a da Ana Jansen – que ainda nos assombra -, mas parece, já que fantasma... – vai demorar! Vamos reunir, também, trabalhos para a homenagem à COELHO NETO, pois este é declarado o seu ano... Ao final dos quatro números da ALL EM REVISTA espera-se ter um volume que possa compor um “SOBRE COELHO NETO”, como se fez com Gonçalves Dias (Vaz e Adler, organizadores) e com Maria Firmina dos Reis (Vaz e Adler, organizadores). Já publicado o sobre Mário Martins Meireles (Ferro, 2014). Ainda, na sessão “POESIAS & POETAS”, uma extensão “PARA UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE” trago aqueles nascidos no período de abrangência da revista. Não é uma lista exuastiva, mas já dá para o começo... O problema é que tenho um sem-numero de poetas e prosadores que não encontro data de nascimento completa; muitos têm só o ano de nascimento, outro tanto, apenas o local; faltando mês e dia... O Volume III – Os Ludovicenses – uma antologia, que abrigará literatos nascidos em São Luís, e que pertencem aos quadros da ALL – patronos, fundadores, primeiros ocupantes, até o ano de 2014: o presente volume; para o Volume IV – Os Atenienses – literatos nascidos em São Luis, mas que não fazem parte da ALL, pertencendo a outras instituições culturais-científicas – AML e IHGM – e a alguns dos movimentos literários que se formaram na cidade, principalmente a partir da década de 30, século passado, até o momento atual. Dividido em dois volumes, sendo que o primeiro abrangerá os membros da AML, e até a Geração de 30; o segundo volume, a partir do Movimento da Movelaria Guanabara – anos 50, até a atualizade (2014). No Volume V – Mulheres de Atenas – destinado apenas às literatas – exigencia das senhoras Confreiras, que desejam estar em destaque; não é um movimento separatista, pelo menos de parte do sexo masculino da ALL, mas como com elas não se discute... como são poucas, em relação aos homens, em um unico volume estarão aquelas ligadas à ALL, e a outras instituições/movimentos, nascidas ou não em São Luis, mas com sua vida literária ligada à cidade... Por fim um Volume VI – Alhures – dedicado àqueles literatos ligados à cidade de São Luís, mas que não nasceram nela... mesmo assim, Atenienses... “Entende-se por ‘atenienses’ um grupo de intelectuais surgidos durante o século XIX, mais especificamente em São Luis do Maranhão, decorrente do epíteto de ‘Atenas Brasileira” que a cidade recebeu em função da movimentada vida cultural e do número expressivo de intelectuais e literatos ali nascidos ou residentes - depois em parte migrados para a Corte no Rio de Janeiro -, com um papel muito importante na configuração da vida politica e literária do país que tinha acabado de emancipar-se da antiga metrópole portuguesa. Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis, a qual teria sido um dos poucos centros de intensa atividade intelectual do primeiro e segundo periodo imperial brasileiro. [...]”. (Leão, 2011, p. 33)1.
Uma advertencia: “Escrevi para aprender”. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a construção2, constituíram-se em importantes fontes as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Buscaram-se mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhi informações de biografias, livros de memórias, 1
LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011 2 SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão.
prefácios, antologias, sitios particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem... Se aceita colaborações... Crônicas - e Poesias - retiradas das redes sociais eram replicadas na Revista dentro de “ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES”; agora, vão para “ALL NA MÍDIA” quando cometidas por nossos sócios-atletas; deixaremos os colaboradores onde sempre apareceram... Constantes, o Hamilton, o Mhário, o Edmilson, a Dinacy, o José Neres... e tantos outros (cito os que aparecem em quase todas as edições, até o momento...). Lá do facebook, de “São Luís de Nossas Lembranças”; o metarial do jornal continua “na mídia”... Aos poucos vamos dando um formato à nossa Revista eletrônica... A sessão POETAS & POESIAS recebe novo ‘tema’, vamos assim dizer, com a inclusão de “PEDRA DE TOQUE’, destinado à homenagem especial de algum poeta ludovicense – e maranhense; continuamos na divulgação e registro de poesias de nossos sócio-atletas e de outros poetas e poetisas, que vão aparecendo, em especial nossos colaboradores... a partir do numero anterior, artigos e crônicas, ressaltando o trabalho de poetar de nossos homens e mulheres de letras. No dia 07 de abril, uma quinta-feira, a diretoria eleita para a gestão 2016-2017 finalmente teve a sua posse solene. Logo após as eleições, por aclamação vista ter se apresentada chapa única, e como reza o Estatuto, eleita, foi logo empossada... Assim, fez-se nesta data a posse solene, de apresentação de seus membros para a sociedade – o ’debut’ – muito concorrido, como se vê do registro fotográfico... Em seu discurso de posse, a Sra. Presidente deu os (novos) rumos da ALL... Nossos membros continuam tendo o trabalho reconhecido, em inúmeros eventos nacionais e internacionais, com o recebimento de “honras ao mérito”, de prêmios, de publicações de seus artigos em diversas mídias, aqui e alhures. Os colaboradores de sempre. Não se sabe por que os demais não colaboram com a Revista... tenho acompanhado o que acontece na vida literária ludovicense, tenho visto por ai nossos membros acontecendo – e faço o registro dessas aparições, mesmo não os relacionando com a vida acadêmica... – mas... o que está faltando? O depositário de nossa revista é o ISSUU - https://issuu.com/home/publisher - sendo o editor – não só de nossa revista, mas de outras publicações, como a do IHGM, responsável por 15 edições daquela revista, e de alguns de meus livros, tenho/temos: Leopoldo Gil Dulcio Vaz - BASIC PLAN Lifetime Statistics for all your publications:
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Nosso ultimo numero teve, nos últimos 30 dias - hoje, 13 de maio de 2016 – de um total de pouco mais de 18 mil vizualizações/impressões: Title
All em revista vol 3, no 1 jan março 2016
Impressions
Orig. Publish Da
18.501
Mar 31, 2016
O que significa que temos tido uma grande visibilidade, em média 500 pessoas baixam a revista... é o que consigo recuperar dos demais números, temos a seguinte movimentação de nossas publicações: Title
All em revista volume 2, numero 4 outubro dezembro 2015
Impressions
7.338
Orig. Publish Da
Dec 29, 2015
All em revista volume 2 numero 3 julho setembro 2015
7.249
Sep 27, 2015
All em revista vol 2, no 2, abr/jun, 2015
7.253
Jul 5, 2015
All em Revista, vol 2, no. 1, março / 2015
17.463
Mar 29, 2015
ALL EM REVISTA, vol 1, n 4, set dez 2014
10.278
Jan 1, 2015
All em revista vol 1, n 3, julho setembro 2014
5.051
Sep 28, 2014
All em revista volume 1 numero 2 junho 2014
177
Jul 28, 2014
7.827
Jun 14, 2014
All em revista volume 1 numero 1 março 2014
Basta clicarem no numero da revista que irão para as estatísticas totais... A seguir, temos o calendário de reuniões propostas pela nova Diretoria: sem as datas! A ‘tradição’ da ALL é a de as reuniões de diretoria ocorrem, sempre, na ultima semana do mês, no sábado; e logo a seguir, a Plenária... Infelizmente, não vem acontecendo. Claro que a diretoria deva se reunir sempre que houver necessidade, pelo menos o núcleo mandante/responsável: Presidente e os Secretários com o tesoureiro... o que vem acontecendo, como percebemos dos informes das necessidades de alguma decisão urgente, ou mesmo de reuniões com autoridades... o que é certo! Para o perfeito funcionamento da Academia; mas, e sempre tem um mas... as plenárias? Porm que não se as realizam? Está certo que apenas mês passado se deu a posse festiva, para dar conhecimento da sociedade, pois a posse efetiva já havia ocorrido no mesmo dia e hora da proclamação dos vencedores do pleito – e foi por aclamação, visto chapa única... Assim, temos a participação na exposição de livros que está ocorrendo num dos shopping da ilha; com a participação de vários membros da ALL, porém sem que fique bem clara na área de exposição que ali, a Academia Ludovicense de Letras está presente, com um espaço dedicado à ela, como a outros entes se percebe... Divulgação do ‘pre-print’ (minuta) do Plano de Ações da gestão atual, submetida ao Plenário, na reunião do dia 28 de maio: O presente Plano de Gestão de 2016-2017 corresponde ao período de gestão da segunda Diretoria da Academia Ludovicense de Letras, eleita por aclamação, na Assembleia Geral Ordinária, de 28 de dezembro de 2015 e se dispõe precipuamente a apresentar todo o processo que se refere à formulação de objetivos para a seleção de programas de ação e para sua execução, levando em conta as condições internas e externas desta Academia. A premissa básica que este Plano elege é que as ações em pauta apresentem coerência e sustentação, a partir da consideração dos objetivos e metas traçados, considerando também os prazos de suas execuções. De uma forma geral, o que está contido neste documento se refere ao que deve e como deve ser executado, configurando um norte de realização das ações, embora se reconheça que todo planejamento é passível de modificações, o que por sua vez expressa flexibilidade, caráter imprescindível a todo e qualquer planejamento. Este planejamento foi elaborado por uma comissão e submetido à apreciação e aprovação da Diretoria e do Plenário da Academia.
Espera-se, assim, com este trabalho otimizar e agilizar as ações a serem realizadas nestes dois anos, com os quais somarão quatro anos de existência da Academia. Dilercy Aragão Adler - Presidente
Hoje, 25/05/2016, assinei o ‘livro de fundador’ da Academia Fantaxma... De ora em diante, haverá uma nova sessão... AGENDA, onde os compromissos e reuniões da Diretoria, e os eventos envolvendo nossos membros, terá destaque, em especial se se deram na imprensa... Alguns membros têm enviado material de cunho eminentemente técnico, de duas áreas de atuação profissional, para publicação; fica-se na dúvida se se deve publicá-los, ou não, haja vista não se referriem à matéria de ordem literária; mas são temas relevantes, de vida cotidiana, em consonância com as noticias e fatos da vida, assuntos amplamente discutidos em várias instancias, dada as ocorrências, dos dias atuais... é relevante? Sim!!! Publique-se... A ALL tem assumido alguns compromissos junto à Prefeitura Municipal de São Luis – como a determinação do ‘marco zero’ da cidade. Já me manifestei sobre isso, na Plenária em que foi-nos avisado do ‘trabalho’ a ser feito, mês passado. Então disse que não havia necessidade, pois o ‘marco zero’ já existe, inclusive monumento. Levantei e escrevi sobre o assundo e mandei à Presidencia e à Comissão. Depois fiz outro arrazoado, fazendo uma proposta. Muita polemica em torno do assunto, até que nos foi esclarecido que a PMSL pediu, e que a proposta fora de Ana Luiza Almeida ferro e Sanatiel de Jesus... tomando por base artigos escritos, anteriormente, a falta de um marco zero da cidade... Esclarecido, mesmo assim continuo com a mesma opinião: por quê? Se já existe... Seria o caso de se recolocar o dito monumento em seu lugar, e não cosntruir outro!!! A menos que se queira mudar, daí faço sugestão... a Comissão foi oficializada e agora deve dar seu parecer definitivo... esclareço que os dois artigos, publicados em meu Blog, são MINHA OPINIÃO, e não refletem a postura da ALL... censura, não!!! Só quero ver como a dita Comissão vai se sair desse embróglio que ela mesma criou para si... As diversas Comissões, permanentes e temporárias, se fizeram completas; os atos, alguns já saíram, outros saem a seguir... Vamos ver se consegue trabalhar e dar cumprimento às suas especificidades, assim como àquilo que se propõem... continuo convicto de que não deva participar de nenhuma comissão... afinal, porque todo o trabalho deve recair sobre uns poucos – vejam a formação das comjissões!!! – se somos quantos? 24 membros? E aqueles que nunca comparecem, nem dão as caras, justificativas... questão que começa a ser cobrada pelos poucos presentes nas reuniões... Cadê todo mundo??? Daqui, peço desculpas aos confrades e confreiras pela minha exaustação... em especial ao Marechal Sanatiel... Penso seriamente em deixar de publicar a Revista... afinal, toda semana fico a cobrar daqueles que têm publicado nas nossas Midas, implorando, quase, por matéria... e são sempre os mesmos!!! Busco nas mídias sociais aquilo que produzem, nos jornais, nas palestras,, nas participações, procurando dar vizibilidade às ações e deixar aqui registradas... essa é a vida da ALL... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Editor OS. Peço que notem o titulo do editorial...
CALENDÁRIO DE ATIVIDADES 2016 MÊS JANEIRO
FEVEREIRO
DIA 07 04 14 27
MARÇO
ABRIL 07 28 MAIO
JUNHO
28
25
JULHO 10 AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO
ATIVIDADE RECESSO Reunião da Diretoria Reunião da Diretoria Reunião Informal no AP de Dilercy Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Assembleia Festiva – Cerimônia de Posse da Diretoria Gestão 2016-2017 Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Festiva Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Mostra de Literatura Aniversário da ALL Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Festiva FELIS Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Festiva
CORES HOLANDA SILVA Secretária Geral
TEMÁTICA
OBS
EFEMÉRIDES CADEIRA
PATRONO (A)
FUNDADOR (A) 1º. OCUPANTE DA CADEIRA
DATA NASCIMENTO
FALECIMENTO
ABRIL 24 11 23 23 14 10 04 28 29 26 05 12 12
Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho
10/04/1967 André Gonzalez Cruz
11/04/1984
Álvaro Urubatan Melo
14/04/1940 14/04/1857
Domingos Quadros Barbosa Álvares
13/04/1904
Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo Joaquim de Sousa Andrade – Sousândrade Francisco Sotero dos Reis Astolfo Henrique de Barros Serra Maria de Lourdes Argollo Oliver – Dilú Melo
21/04/1902 22/04/1808 22/04/1900 24/04/2000 João Batista Ribeiro Filho –
João Francisco Lisboa José Ribeiro do Amaral José Ribeiro do Amaral
29/04/ 26/04/1863 30/04/1927 03/05/1853
MAIO 15 33 33 17 16 28 31 26
Raimundo da Mota de Azevedo Correia – Raimundo Correia
05/05/1859 Paulo Roberto Melo Sousa
06/05/1960
Carlos de Lima Catulo da Paixão Cearense
09/05/2011 10/05/1940 Aymoré de Castro Alvim
Astolfo Henrique de Barros Serra Ana Luiza Almeida Ferro Raimundo Corrêa de Araújo
13/05/1940 22/05/1900 23/05/1966 29/05/1885
JUNHO 11 36 20
Celso Tertuliano da Cunha Magalhães – Celso Magalhães João Miguel Mohana José Pereira da Graça Aranha
09/06/1879 15/06/1925 21/06/1868
ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO - PATRONO3 (CADEIRA 14)
14 de abril de 1857 / 21 de janeiro de 1913 Aluísio Azevedo4 (A. Tancredo Gonçalves de A.), caricaturista, jornalista, romancista e diplomata, nasceu em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857, e faleceu em Buenos Aires, Argentina, em 21 de janeiro de 1913. Era filho do vice-cônsul português David Gonçalves de Azevedo e de D. Emília Amália Pinto de Magalhães e irmão mais moço do comediógrafo Artur Azevedo. Sua mãe havia casado, aos 17 anos, com um comerciante português. O temperamento brutal do marido determinou o fim do casamento. Emília refugiouse em casa de amigos, até conhecer o vice-cônsul de Portugal, o jovem viúvo David. Os dois passaram a viver juntos, sem contraírem segundas núpcias, o que à época foi considerado um escândalo na sociedade maranhense. Da infância à adolescência, Aluísio estudou em São Luís e trabalhou como caixeiro e guarda-livros. Desde cedo revelou grande interesse pelo desenho e pela pintura, o que certamente o auxiliou na aquisição da técnica que empregará mais tarde ao caracterizar os personagens de seus romances. Em 1876, embarcou para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o irmão mais velho, Artur. Matriculou-se na Imperial Academia de Belas Artes, hoje Escola Nacional de Belas Artes. Para manter-se fazia caricaturas para os jornais da época, como O Figaro, O Mequetrefe, Zig-Zag e A Semana Ilustrada. A partir desses “bonecos” que conservava sobre a mesa de trabalho, escrevia cenas de romances. A morte do pai, em 1878, obrigou-o a voltar a São Luís, para tomar conta da família. Ali começou a carreira de escritor, com a publicação, em 1879, do romance Uma lágrima de mulher, típico dramalhão romântico. Ajuda a lançar e colabora com o jornal anticlerical O Pensador, que defendia a abolição da escravatura, enquanto os padres mostravam-se contrários a ela. Em 1881, Aluísio lança O mulato, romance que causou escândalo entre a sociedade maranhense pela crua linguagem naturalista e pelo assunto tratado: o preconceito racial. O romance teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte como exemplo de naturalismo, e Aluísio pôde retornar para o Rio de Janeiro, embarcando em 7 de setembro de 1881, decidido a ganhar a vida como escritor. Quase todos os jornais da época tinham folhetins, e foi num deles que Aluísio passou a publicar seus romances. A princípio, eram obras menores, escritas apenas para garantir a sobrevivência. Depois, surgiu nova preocupação no universo de Aluísio: a observação e análise dos agrupamentos humanos, a degradação das casas de pensão e sua exploração pelo imigrante, principalmente o português. Dessa preocupação resultariam duas de suas melhores obras: Casa de pensão (1884) e O cortiço (1890). De 1882 a 1895 escreveu sem interrupção romances, contos e crônicas, além de peças de teatro em colaboração com Artur de Azevedo e Emílio Rouède. Em 1895 ingressou na diplomacia. O primeiro posto foi em Vigo, na Espanha. Depois serviu no Japão, na Argentina, na Inglaterra e na Itália. Passara a viver em companhia de D. Pastora Luquez, de nacionalidade argentina, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados. Em 1910, foi nomeado cônsul de 1ª. classe, sendo removido para Assunção. Buenos Aires foi seu último posto. Ali faleceu, aos 56 anos. Foi 3
Onde não é indicado mo Autor, o texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ... http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=101&sid=106 http://pt.wikipedia.org/wiki/Alu%C3%ADsio_Azevedo http://educacao.uol.com.br/biografias/aluisio-azevedo.jhtm http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/aluisio-azevedo---de-corticos-a-bataclas-favelas--narcotraficos-4399.htm 4
enterrado naquela cidade. Seis anos depois, por uma iniciativa de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo chegou a São Luís, onde o escritor foi sepultado. Bibliografia5 Obras: Os doidos (1879); Uma lágrima de mulher, (1880); O mulato, romance (1881);Flor-de-lis (1882);Casa de Orates (1882); Mistérios da Tijuca, romance (1882; reeditado: Girândola de amores); Memórias de um condenado (1882; reeditado: A condessa Vésper); Casa de pensão, romance (1884); Filomena Borges, romance (publicado em folhetins na Gazeta de Notícias, 1884); O caboclo (1886); O homem, romance (1887); Fritzmack (1889); A República (1890); O coruja, romance (1890); O cortiço, romance (1890); Um caso de adultério (1891);Em flagrante (1891); Demônios, contos (1895); A mortalha de Alzira, romance (1894); Livro de uma sogra, romance (1895); Pegados (1897);Obras completas (193941). Ficção Completa (em 2 volumes) de Aluísio Azevedo. Organização de Orna Messer Levin. Nova Aguilar, 2005 Textos Escolhidos6 INCÊNDIO NO CORTIÇO Mal os carapicus sentiram a aproximação dos rivais, um grito de alarma ecoou por toda a estalagem e o rolo dissolveu-se de improviso, sem que a desordem cessasse. Cada qual correu à casa, rapidamente, em busca do ferro, do pau e de tudo que servisse para resistir e para matar. Um só impulso os impelia a todos; já não havia ali brasileiros e portugueses, havia um só partido que ia ser atacado pelo partido contrário; os que se batiam ainda há pouco emprestavam armas uns aos outros, limpando com as costas das mãos o sangue das feridas. Agostinho, encostado ao lampião do meio do cortiço, cantava em altos berros uma coisa que lhe parecia responder à música bárbara que entoavam lá fora os inimigos; a mãe dera-lhe licença, a pedido dele, para pôr um cinto de Nenen, em que o pequeno enfiou a faca da cozinha. Um mulatinho franzino, que até aí não fora notado por ninguém no São Romão, postou-se defronte da entrada, de mãos limpas, à espera dos invasores; e todos tiveram confiança nele porque o ladrão, além de tudo, estava rindo. Os cabeças-de-gato assomaram afinal ao portão. Uns cem homens, em que se não via a arma que traziam. Porfiro vinha na frente, a dançar, de braços abertos, bamboleando o corpo e dando rasteiras para que ninguém lhe estorvasse a entrada. Trazia o chapéu à ré, com um laço de fita amarela flutuando na copa. - Agüenta! Agüenta! Faz frente! clamavam de dentro os carapicus. E os outros, cantando o seu hino de guerra, entraram e aproximaram-se lentamente, a dançar como selvagens. As navalhas traziam-nas abertas e escondidas na palma da mão. Os carapicus enchiam a metade do cortiço. Um silêncio arquejado sucedia à estrepitosa vozeria do rolo que findara. Sentia-se o hausto impaciente da ferocidade que atirava aqueles dois bandos de capoeiras um contra o outro. E, no entanto, o sol, único causador de tudo aquilo, desaparecia de todo nos limbos do horizonte, indiferente, deixando atrás de si as melancolias do crepúsculo, que é a saudade da terra quando ele se ausenta, levando consigo a alegria da luz e do calor. Lá na janela do Barão, o Botelho, entusiasmado como sempre por tudo que lhe cheirava a guerra, soltava gritos de aplauso e dava brados de comando militar. E os cabeças-de-gato aproximavam-se cantando, a dançar, rastejando alguns de costas para o chão, firmados nos pulsos e nos calcanhares. Dez carapicus saíram em frente; dez cabeças-de-gato se alinharam defronte deles. E a batalha principiou, não mais desordenada e cega, porém com método, sob o comando de Porfiro que, sempre a cantar ou assoviar, saltava em todas as direções, sem nunca ser alcançado por ninguém. Desferiram-se navalhas contra navalhas, jogaram-se as cabeçadas e os voa-pés. Par a par, todos os capoeiras tinham pela frente um adversário de igual destreza que respondia a cada investida com um salto de gato ou uma queda repentina que anulava o golpe. De parte a parte esperavam que o cansaço desequilibrasse as forças, abrindo furo à vitória; mas um fato veio neutralizar inda uma vez a campanha: imenso rebentão de fogo esgargalhava-se de uma das casas do fundo, o número 88. E agora o incêndio era a valer.
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http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=102&sid=106 http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=104&sid=106
Houve nas duas maltas um súbito espasmo de terror. Abaixaram-se os ferros e calou-se o hino de morte. Um clarão tremendo ensangüentou o ar, que se fechou logo de fumaça fulva. A Bruxa conseguira afinal realizar o seu sonho de louca: o cortiço ia arder; não haveria meio de reprimir aquele cruento devorar de labaredas. Os cabeças-de-gato, leais nas suas justas de partido, abandonaram o campo, sem voltar o rosto, desdenhosos de aceitar o auxílio de um sinistro e dispostos até a socorrer o inimigo, se assim fosse preciso. E nenhum dos carapicus os feriu pelas costas. A luta ficava para outra ocasião. E a cena transformou-se num relance; os mesmos que barateavam tão facilmente a vida, apressavam-se agora a salvar os miseráveis bens que possuíam sobre a terra. Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas. Os sinos da vizinhança começaram a badalar. E tudo era um clamor. A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca. Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento de casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas. Os sinos continuavam a badalar aflitos. Surgiam aguadeiros com as suas pipas em carroça, alvoroçados, fazendo cada qual maior empenho em chegar antes dos outros e apanhar os dez-mil-réis da gratificação. A polícia defendia a passagem ao povo que queria entrar. A rua lá fora estava já atravancada com o despojo de quase toda a estalagem. E as labaredas iam galopando desembestadas para a direita e para a esquerda do número 88. Um papagaio, esquecido à parede de uma das casinhas e preso à gaiola, gritava furioso, como se pedisse socorro. Dentro de meia hora o cortiço tinha de ficar em cinzas. Mas um fragor de repiques de campainhas e estridente silvar de válvulas encheu de súbito todo o quarteirão, anunciando que chegava o corpo dos bombeiros. E logo em seguida apontaram carros à desfilada, e um bando de demônios de blusa clara, armados uns de archotes e outros de escadilhas de ferro, apoderaram-se do sinistro, dominando-o incontinente, como uma expedição mágica, sem uma palavra, sem hesitações e sem atropelos. A um só tempo viram-se fartas mangas d’água chicoteando o fogo por todos os lados; enquanto, sem se saber como, homens, mais ágeis que macacos, escalavam os telhados abrasados por escadas que mal se distinguiam; e outros invadiam o coração vermelho do incêndio, a dardejar duchas em torno de si, rodando, saltando, piruetando, até estrangularem as chamas que se atiravam ferozes para cima deles, como dentro de um inferno; ao passo que outros, cá de fora, imperturbáveis, com uma limpeza de máquina moderna, fuzilavam de água toda a estalagem, número por número, resolvidos a não deixar uma só telha enxuta. O povo aplaudia-os entusiasmado, já esquecido do desastre e só atenção para aquele duelo contra o incêndio. Quando um bombeiro, de cima do telhado, conseguiu sufocar uma ninhada de labaredas, que surgia defronte dele, rebentou cá debaixo uma roda de palmas, e o herói voltou-se para a multidão, sorrindo e agradecendo. Algumas mulheres atiravam-lhe beijos, entre brados de ovação. (O cortiço, capítulo XVII, 1890.)
O POLÍTIPO Suicidou-se anteontem o meu triste amigo Boaventura da Costa. Pobre Boaventura! Jamais o caiporismo encontrou asilo tão cômodo para as suas traiçoeiras manobras como naquele corpinho dele, arqueado e seco, cuja exigüidade física, em contraste com a rara grandeza de sua alma, muita vez me levou a pensar seriamente na injustiça dos céus e na desequilibrada desigualdade das cousas cá da terra. Não conheci ainda criatura de melhor coração, nem de pior estrela. Possuía o desgraçado os mais formosos dotes morais de que é susceptível um animal de nossa espécie, escondidos porém na mais ingrata e comprometedora figura que até hoje viram meus olhos por entre a intérmina cadeia dos tipos ridículos. O livro era excelente, mas a encadernação detestável.
Imagine-se um homenzinho de cinco pés de altura sobre um de largo, com uma grande cabeça feia, quase sem testa, olhos fundos, pequenos e descabelado; nariz de feitio duvidoso, boca sem expressão, gestos vulgares, nenhum sinal de barba, braços curtos, peito apertado e pernas arqueadas; e ter-se-á uma idéia do tipo do meu malogrado amigo. Tipo destinado a perder-se na multidão, mas que a cada instante se destacava justamente pela sua extraordinária vulgaridade; tipo sem nenhum traço individual, sem uma nota própria, mas que por isso mesmo se fazia singular e apontado; tipo, cuja fisionomia ninguém conseguia reter na memória mas que todos supunham conhecer ou já ter visto em alguma parte; tipo a que homem algum, nem mesmo aqueles a quem o infeliz, levado pelos impulsos generosos de sua alma, prestava com sacrifício os mais galantes obséquios, jamais encarou sem uma instintiva e secreta ponta de desconfiança. Se em qualquer conflito, na rua, num teatro, no café ou no bonde, era uma senhora desacatada, ou um velho vítima de alguma violência; ou uma criança batida por alguém mais forte do que ela, Boaventura tomava logo as dores pela parte fraca, revoltava-se indignado, castigava com palavras enérgicas o culpado; mas ninguém, ninguém lhe atribuía a paternidade de ação tão generosa. Ao passo que, quando em sua presença se cometia qualquer ato desairoso, cujo autor não fosse logo descoberto, todos olhavam para ele desconfiados, e em cada rosto o pobre Boaventura percebia uma acusação tácita. E o pior é que nestas ocasiões, em que tão injustamente era tomado por outro, ficava o desgraçado por tal modo confuso e perplexo, que, em vez de protestar, começava a empalidecer, a engolir em seco, agravando cada vez mais a sua dura situação. Outro doloroso caiporismo dos seus era o de parecer-se com todo o mundo. Boaventura não tinha fisionomia própria; tinha um pouco da de toda a gente. Daí os qüiproquós em que ele, apesar de tão bom e tão pacato, vivia sempre enredado. Tão depressa o tomavam por um ator, como por um padre, ou por um barbeiro, ou por um polícia secreto; tomavam-no por tudo e por todos, menos pelo Boaventura da Costa, rapaz solteiro, amanuense de uma repartição pública, pessoa honesta e de bons costumes. Tinha cara de tudo e não tinha cara de nada, ao certo. As circunstâncias da sua falta absoluta de barba davam-lhe ao rosto uma dúbia expressão, que tanto podia ser de homem, como de mulher, ou mesmo de criança. Era muito difícil, senão impossível, determinar-lhe a idade. Visto de certo modo, parecia um sujeito de trinta anos, mas bastava que ele mudasse de posição para que o observador mudasse também de julgamento; de perfil representava pessoa bastante idosa, mas, olhado de costas, dir-se-ia um estudante de preparatórios; contemplando de cima para baixo era quase um bonito moço, porém, de baixo para cima era simplesmente horrível. Encarando-o bem de frente, ninguém hesitaria em dar-lhe vinte e cinco anos, mas, com o rosto em três quartos, afigurava apenas dezoito. Quando saía à rua, em noites chuvosas, com a gola do sobretudo até às orelhas e o chapéu até a gola do sobretudo, passava por um velhinho octogenário; e, quando estava em casa, no verão, em fralda de camisa, a brincar com o seu gato ou com o seu cachorro, era tirar nem pôr um nhonhô de uns dez ou doze anos de idade. Um dia, entre muitos, em que a polícia, por engano, lhe invadiu os aposentos, surpreendeu-o dormindo, muito agachadinho sob os lençóis, com a cabeça embrulhada num lenço à laia de touca, e o sargento exclamou comovido: Uma criança! Pobrezinha! Como a deixaram aqui tão desamparada! De outra vez quando ainda a polícia quis dar caça a certas mulheres, que tiveram a fantasia de tomar trajos de homem e percorrer assim as ruas da cidade, Boaventura foi logo agarrado e só na estação conseguiu provar que não era quem supunham. Outra ocasião, indo procurar certo artista, de cujos serviços precisava, foi recebido no corredor com esta singularíssima frase: Quê? Pois a senhora tem a coragem de voltar?... E quer ver se me engana com essas calças? Tomara-o pela pobre, a quem na véspera havia despedido de casa. Não se dava conflito de rua, em que, passando perto o Boaventura, não o tomassem imediatamente por um dos desordeiros. Era ele sempre o mais sobressaltado, o mais lívido, o mais suspeito dos circunstantes. Não conseguia atravessar um quarteirão, sem que fosse a cada passo interrompido por várias pessoas desconhecidas, que lhe davam joviais palmadas no ombro e na barriga, acompanhando-as de alegres e risonhas frases de velha e íntima amizade. Em outros casos era um credor que o perseguia, convencido de que o devedor queria escapar-lhe, fingindo não ser o próprio; ou uma mulher que o descompunha em público; ou um agente policial que lhe rondava os passos; ou um soldado que lhe cortava o caminho supondo ver nele um colega desertor. E tudo isto ia o infeliz suportando, sem nunca aliás ter em sua vida cometido a menor culpa. Uma existência impossível!
Se se achava numa repartição pública, tomavam-no, infalivelmente, pelo contínuo; nas igrejas passava sempre pelo sacristão; nos cafés, se acontecia levantar-se da mesa sem chapéu, bradava-lhe logo um consumidor, segurando-lhe o braço: Garçom! Há meia hora que reclamo que me sirva. Se ia provar um paletó à loja do alfaiate, enquanto estivesse em mangas de camisa, era só a ele que se dirigiam as pessoas chegadas depois. Nas muitas vezes que foi preso como suposto autor de vários crimes, a autoridade afiançava sempre que ele tinha diversos retratos na polícia. Verdade era que as fotografias não se pareciam entre si, mas todas se pareciam com Boaventura. Num clube familiar, quando o infeliz, já no corredor, reclamava do porteiro o seu chapéu para retirar-se, uma senhora de nervos fortes chegou-se por detrás dele na ponta dos pés e ferrou-lhe um beliscão. Pensas que não vi o teu escândalo com a viúva Sarmento, grandíssimo velhaco?! O mísero voltara-se inalteravelmente, sem a menor surpresa. Ah! Ele já estava mais habituado àqueles enganos. Que vida! Afinal, e nem podia deixar de ser assim, atirou-se ao mar. No necrotério, onde fui por acaso, encontrei já muita gente; e todos aflitos, e todos agoniados defronte daquele cadáver que parecia com um parente ou com um amigo de cada um deles. Havia choro a valer e, entre o clamor geral, distinguiam-se estas e outras frases: Meu filho morto! Meu filho morto! Valha-me Deus! Estou viúva! Ai o meu rico homem! Oh, senhores! Ia jurar que este cadáver é o do Manduca! Mas não me engano! É o meu caixeiro! Dir-se-ia que este moço era um meu antigo companheiro de bilhar!... E eu aposto como é um velho, que tinha um botequim por debaixo da casa onde eu moro! Qual velho, o quê! Conheço este defunto. Era estudante de medicina! Uma vez até tomamos banho juntos, no boqueirão. Lembro-me dele perfeitamente! Estudante! Ora muito obrigado! Há mais de dois anos chamei-o fora de horas para ir ver minha mulher que tinia de cólicas! Era médico velho! Impossível! Afianço que este era um pequeno que vendia jornais. Ia levar-me todos os dias a Gazeta à casa. É que a morte alterou-lhe as feições. Meu pai! O Bernardino! Olha! Meu padrinho! Jesus! Este é meu tio José! Coitado do padre Rocha! Pobre Boaventura! Só eu compreendi, adivinhei, que aquele cadáver não podia ser senão o teu, ó triste Boaventura da Costa! E isso mesmo porque me pareceu reconhecer naquele defunto todo o mundo, menos tu, meu desgraçado amigo.
FRANCISCO SOTERO DOS REIS - PATRONO7 (CADEIRA 4)
23 de abril de 1800 / 10 de março de 1871 Nasceu em São Luís, em 23 de abril de 1800, quando o Brasil, sob o cetro de D. João VI, era colônia de Portugal. Aos oito anos, o menino Sotero, certamente, teve ciência da chegada da Corte Portuguesa ao Rio de Janeiro. D João e sua enorme comitiva fugiam do exército de Napoleão, então terror dos tronos europeus. A partir daí, o Brasil sofreria uma transformação e o pequeno Francisco cresceria, acompanhando, com especial discernimento, os movimentos históricos do porvir. Aos vinte e um anos de idade fora nomeado Regente da Cadeira de Gramática Latina do Colégio Carlos de la Roca para, um ano depois, acompanhar a independência do Brasil, já em 1822. O Maranhão, com seus líderes lusitanos - por coração e interesses, resistiria quase um ano ao movimento separatista. Apenas em meados de 1823, após combates e conflitos, o nosso Estado, depois de muita agitação, deixou de se opor a Independência do Brasil. Os anos chegaram ao Sotero dos Reis e ele se tornou um filólogo conhecido e respeitado. Publicou dezenas de títulos, quase sempre estudos gramaticais e literários, mas também enveredou, com notável competência, pela tradução de clássicos e trabalhos biográficos. Foi, ainda, um ativo jornalista, fundou jornais, colaborou com periódicos e revistas, deixando, indelével, a marca de seu talento intelectual e de sua capacidade de produção literária. Homenagens lhe foram prestadas com distinções recebidas, entre elas a Comenda da Ordem de Cristo e da Ordem da Rosa. Escolas receberam seu nome, na Capital e Maranhão a dentro. Em São Luís, a atual praça da Alegria, onde Sotero residiu, também foi outrora batizada com seu nome. Seu grande conhecimento da gramática e a qualidade de sua pena levaram-no ao mais alto reconhecimento literário: Patrono da Cadeira nº 19 da Academia Brasileira de Letras, Patrono da Cadeira 17 da Academia Maranhense de Letras e titular da cadeira 48 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Faleceu, em 10 de março de 1871 deixaria um legado intelectual inquestionável. Obras8 Postilas de gramática geral aplicada à língua portuguesa pela análise dos clássicos (1862) Gramática portuguesa (1866) Tradução de Comentários sobre a Guerra Gálica de Júlio César (1863) Curso de literatura portuguesa e brasileira (1866-1868). Para Neres (2013) 9, Francisco Sotero dos Reis (1800-1871) era um homem “de baixa estatura, seco de carnes, de tez clara, pálpebras superiores demasiado espessas” (LEAL, 1987, p. 69) 10 e, ao mesmo tempo,
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COUTINHO, Marcio Augusto Vasconcelos. In VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu DISCURSO DE POSSE DE MÁRCIO AUGUSTO VASCONCELOS COUTINHO NA CADEIRA 48, PATRONEADA POR FRANCISCO SOTERO DOS REIS – ELOGIO. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 109 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 8 REIS, Francisco Sotero dos. Curso de literatura portuguesa e brasileira. t. 1. São Luís. TypografiaBelarmino de Matos, 1866 . REIS, Francisco Sotero dos. Curso de literatura portuguesa e brasileira. t. 2. São Luís. TypografiaBelarmino de Matos, 1867a. REIS, Francisco Sotero dos. Curso de literatura portuguesa e brasileira. t. 3. São Luís. TypografiaBelarmino de Matos, 1967b. REIS, Francisco Sotero dos. Curso de literatura portuguesa e brasileira. t. 4. São Luís. Typografia Belarmino de Matos, 1868. REIS, Francisco Sotero dos. Curso de literatura portuguesa e brasileira. t. 5. São Luís. Typografia do Paiz, 1873b.
um “grande educador, quer na cátedra do magistério, quer na tribuna jornalística” (SERRA, 2001, p. 85) 11. Além de haver sido “o primeiro professor público do Maranhão após a independência” (MORAES, 1977, p. 95)12, foi também poeta, jornalista, político e gramático que teve seu lugar de destaque não apenas como integrante do chamado Grupo Romântico Maranhense, como também por influenciar diretamente com seus trabalhos de cunho didático-pedagógico na formação educacional do Maranhão, sendo, além disso, “um dos primeiros e um dos mais significativos representantes de nossa historiografia e crítica literária durante o Romantismo” (MOISÉS, 2008, p. 357)13. Já Corrêa (2012) 14 lamenta que o escritor nunca tivesse reunido e publicado em livro os seus poemas, a maioria improvisados (quando entre amigos, “nas alegrias de um banquete campestre”, nas eventos ou solenidades noturnas, em algum festejo nacional, nas idas ao Teatro…), mas que, ao contrário, até os subtraísse, timidamente envergonhado, das mãos dos seus amigos, as eventuais cópias que estes, por acaso, lhes mostravam, conservadas, dos seus inspirados repentes poéticos. É de se lamentar, também, o extravio das traduções que fez de Tibulo, dos Anais de Tácito, da Atala de Chateaubriand e mais outra tradução, em verso, da Fedra de Racine – da qual, apenas o episódio da morte de Hipólito salvou-se, publicado no Parnaso Maranhense (1861). E eis, a título de exemplo, dois desses referidos sonetos, por ele improvisados, quando se comemorava (no Teatro União, posteriormente São Luís, hoje Artur Azevedo) o sucesso da Revolução de 7 de abril de 1831: À campa de Milcíades outrora Da Grécia o gênio em pranto se acolhia, E a liberdade vendo que partia, E a pátria escrava – brama, desadora – Da liberdade em Roma nasce a aurora, Do Capitólio as cimas alumia; De lá, Catões e Marcos influía, E na Cidade Eterna um tempo mora. De Roma escrava, arranca o voo esquiva; Remonta os Alpes, corta o ar profundo E na grata Albion descansa altiva. Enfia os mares, corre ao Novo Mundo, Na América se apraz, e hoje mais viva No Brasil se levanta e assombra o mundo.
Triunfou, triunfou a liberdade! 9
In NERES, José. O ESTUDO DE LITERATURA NO MARANHÃO DO SÉCULO XIX PELOS LIVROS DIDÁTICOS DE SOTERO DOS REIS. III SIMPÓSIO DE HISTÓRIA DO MARANHÃO OITECENTISTA – impressos no Brasil do século XIX. 04 a 07 de junh0 de 2013. Universidsade Estadual do Maranhão. Disponível em http://www.outrostempos.uema.br/oitocentista/cd/ARQ/27.pdf , acessado em 15 de março de 2014. 10 LEAL, Antônio Henriques. PANTHEON MARANHENSE. 2 ed. Rio de Janeiro: Alhambra, 1987. 11 SERRA, José. SESSENTA ANOS DE JORNALISMO: A IMPRENSA NO MARANHÃO – 1820-1880. 3 ed. São Paulo: Siciliano, 2001 12 MORAES, Jomar. APONTAMENTOS DA LITERATURA MARANHENSE. 2 ed. São Luís: Sioge, 1977 13 MOISÉS, Massaud. Pequeno dicionário de literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1998 14 CORREA, Dinacy. SOTERO DOS REIS: 212 ANOS DE NASCIMENTO DO NOSSO PRIMEIRO GRAMÁTICO. In http://blog.jornalpequeno.com.br/; Publicado em 14 de setembro de 2012 por dinacycorrea. Acessado em 15 de março de 2014.
Pelos céus do Brasil, ei-la descorre Mais serena, e gentil, e o véu se corre Que do rosto lhe encobre a claridade. Da celeste mansão da Divindade Qual a seta veloz à plaga acorre Que Cabral viu primeiro, onde o sol morre, E ali se mostra em toda a majestade. Venceste, ó pátria! Salve chão fecundo Onde hoje a lei triunfa florescente E impera um filho teu – Pedro Segundo. Salve! O louro arredando verdecente, Heróis de Roma, heróis do Novo Mundo, Inclinam-se do Eliseu a honrada frente.
À ESPOSA15 Se lá na eterna glória a que voaste, A lembrança do mundo se consente, Aceita, alma piedosa, a dor pungente De tudo quanto aqui idolatraste : O esposo, a filha, os filhos que deixaste, Em mágoas e saudade permanente, Vivem na terra vida descontente Des' que as corpóreas vestes tu largaste. Ao seio de Deus, tornas radiante De virtude e bondade, qual saíste Imaculada de nascer no instante : A nos queixosos neste vale triste Volve-te como foste sempre amante, Porque entre nos só amargura existe !
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Extraído de SONETOS BRASILEIROS Século XVII – XX. Colletanea organisada por Laudelino Freire. Rio de Janeiro: F. Briguiet & Cie., 1913. Disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/francisco_sotero_dos_reis.html
ANDRÉ GONZALEZ CRUZ - FUNDADOR16
11 de abril de 1984 Nasceu na cidade de São Luís, em 11 de abril de 1984. Filho de Nilo Cruz Filho e de Silva Tereza Penha Gonzalez, concluiu o 3º ano do ensino médio no colégio Reino Infantil, situado na capital maranhense, em 2001. Neto do Desembargador Nilo Cruz e bisneto do Desembargador Fausto Silva, André cresceu numa família de operadores do Direito, tendo ingressado no referido curso, na Universidade Federal do Maranhão, em 2002, graduando-se em 2007. No ano de 2008, ingressou no curso de Especialização em Ciências Criminais da Universidade Gama Filho, concluindo o mesmo em 2009. Neste ano, foi aprovado para o Doutorado em Direito da Universidade Nacional de Lomas de Zamora, na Argentina. Já em 2011, foi selecionado para a Especialização em Ciências Criminais promovida pela Escola Superior do Ministério Público do Maranhão. E, em 2012, foi aprovado e ingressou ainda no Mestrado em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão. Todos os referidos cursos estão em vias de conclusão. No campo profissional, foi aprovado ainda com 17 anos de idade para o concurso de agente metrológico do antigo Instituto de Pesos e Medidas do Estado do Maranhão (IPEMAR), onde foi lotado desde os primeiros meses, após sua nomeação aos 18 anos, em 2002, na Assessoria Jurídica do órgão. Colocado à disposição da Procuradoria-Geral de Justiça do Maranhão em 2006, passou a exercer as suas atividades na Promotoria de Proteção à Criança e ao Adolescente de São Luís, sendo nomeado mais tarde, em 2009, para o cargo de Analista Ministerial, através de concurso público. Desde o ano de 2007, ocupa um cargo em comissão de Assessor de Procurador de Justiça. Ingressando na Universidade Federal do Maranhão em 2010, dessa vez na condição de Professor Substituto, instituiu o Prêmio “Jovem Criminalista”, com o intuito de estimular os estudantes de Direito daquela Instituição para o cultivo das Ciências Criminais, sua especialidade. Ainda na faculdade começou a escrever artigos jurídicos, tais como “Voz do Delator – Delação Premiada é mal necessário que deve ser restrito”, publicado no site “Consultor Jurídico”, “Política Agrícola e Fundiária e Reforma Agrária”, divulgado na revista “Prática Jurídica”, e, também, “O Ministério Público no processo penal brasileiro” e “A motivação da homologação de prisão em flagrante”, veiculados, respectivamente, nos jornais “Diário da Manhã” e “Tribuna do Nordeste”. Após sua formatura, continuou a publicar seus artigos, tais como “O mito da imprescindibilidade da certidão do trânsito em julgado para o conhecimento da revisão criminal”, “O mito da superioridade hierárquica do princípio da legalidade e a decadência administrativa”, “A repercussão geral da questão constitucional no recurso extraordinário criminal” e “A prisão preventiva no ordenamento jurídico brasileiro”, todos publicados na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão, Juris Itinera, entre 2007 e 2010. Também teve publicados artigos no periódico nos anos de 2011, 2012 e 2013. Ainda em 2010, conquistou o 1º lugar no 1º Concurso de Monografias Jurídicas realizado pela seccional maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil, Prêmio “Advogada Célia Linhares”. É também autor dos livros “A nulidade absoluta da audiência de instrução criminal realizada sem a presença do Ministério Público”, “A prisão penal brasileira e seus efeitos sobre a família do século XXI: diagnóstico e propostas”, “A atuação do Advogado na Lei Maria da Penha” (tendo recebido Moção de Congratulações e Aplausos da Câmara Municipal de São Luís, em 2011, com relação a esta última obra), “Sentimentos Criminais”, seu primeiro livro de poesias, e é organizador do livro “Direito Criminal Contemporâneo” e do 16
Onde não é indicado mo Autor, o texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ...
“Compêndio de Regimentos Internos dos Tribunais Brasileiros: Do Maranhão ao Supremo Tribunal Federal”.17 É inscrito como Advogado na Ordem dos Advogados do Brasil, estando atualmente licenciado, e é membro do Instituto dos Advogados do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras Jurídicas. A NATUREZA JURÍDICA DOS ATOS CONCESSIVOS DE APOSENTADORIA, REFORMA E PENSÃO18 RESUMO: Este estudo consiste numa abordagem a respeito da aplicação da regra decadencial aos atos concessivos de aposentadoria, pensão e reforma, no intuito de esclarecer dúvidas que surgem quando se trata da denegação do registro destes atos pelo Tribunal de Contas, e justamente quando a negativa ocorre fora do prazo de cinco anos, a incidir ou não o prazo decadencial capitulado no artigo 54 da Lei nº 9.784/99, isso porque, se tais atos forem considerados complexos, o prazo decadencial somente terá início após os seus aperfeiçoamentos, com a homologação dos registros pela Corte de Contas, o que tornará irrelevante a demora no aludido julgamento por essa Corte, enquanto que, se forem considerados compostos ou simples, o entelado prazo decadencial já começaria a correr quando da concessão pela Administração, ainda que em caráter provisório. Tentar-se-á, portanto, demonstrar, com coerência, fundamentado em doutrinas e jurisprudências, que as concessões de aposentadoria, pensão e reforma são atos administrativos compostos e que, independentemente da categoria do ato, há que se observar a aplicação dos princípios constitucionais. Finalmente, serão tecidos alguns comentários das últimas decisões proferidas pelos tribunais superiores, versando sobre esse assunto, e haverá o pronunciamento do autor, respeitosamente, discordando do posicionamento adotado anteriormente e do mais recente, este último, com certo temperamento, mas ainda incompleto pela Suprema Corte.
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http://www.leliobragacalhau.com.br/author/andre-gonzalez-cruz/ http://atualidadesdodireito.com.br/andregonzalez/ http://www.mp.ma.gov.br/index.php/lista-de-noticias-gerais/2729-noticia-prisro-penal-r-tema-de-livro-do-analista-ministerialandrr-gonzalez http://mp-ma.jusbrasil.com.br/noticias/2513202/analista-ministerial-andre-gonzalez-vence-1-concurso-de-monografiasjuridicas-da-oab-ma http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3324 http://sopensoemdireito.blogspot.com.br/2012_02_12_archive.html 18 http://blogdofelipecruz.com.br/
JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL - PATRONO19 (CADEIRA 12)
3 de maio de 1853 / 30 de abril de 1927 Nasceu em São Luís, a 3 de maio de 1853, e faleceu na mesma cidade, a 30 de abril de 1927. Iniciou sua formação educacional no prestigioso Colégio de Nossa Senhora da Glória, também chamado Colégio das Abranches. Verdadeira vocação de educador, o professor Ribeiro do Amaral foi catedrático de História e Geografia do Liceu Maranhense, instituição a que também serviu na condição de seu diretor. Encarregado provisoriamente da reorganização da Biblioteca Pública, foi nomeado diretor dessa instituição em 13 de abril de 1896, ali permanecendo até 16 de agosto de 1896. Durante essa primeira e breve gestão, promoveu a mudança da Biblioteca da Rua Formosa para a Rua da Paz. Novamente posto à frente desse órgão, dirigiu-o de 19 de agosto de 1910 a 21 de julho de 1913. Diretor da Imprensa Oficial, e colaborador do Diário Oficial do Estado, onde, no período de 1911 a 1912 publicou diversos trabalhos sob o título geral de Maranhão Histórico, os quais, coligidos pelo escritor Luiz de Mello, resultaram no livro O Maranhão histórico, publicado postumamente. Ribeiro do Amaral fundou e dirigiu o Colégio de São Paulo, que muitos e assinalados serviços prestou à educação da juventude maranhense. Relevante aspecto da biografia intelectual desse ilustre maranhense, fato que merece atenção especial, é o vivo interesse que ele tinha pelas fontes fundamentais de seus estudos de eleição. A par da portentosa coleção de jornais, possuía verdadeiras preciosidades bibliográficas, certamente a muito custo adquiridas em grandes centros, e trazidas para o Maranhão, sendo hoje desconhecido o paradeiro dessas raridades. Na Academia Maranhense instituiu a Cadeira Nº 11, patroneada por João Francisco Lisboa, e exerceu a Presidência da Entidade desde sua fundação até abril de 1927, quando faleceu. Foi o segundo que por mais tempo exerceu a Presidência da AML. Pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, figurou entre os que em 30 de novembro de 1925 fundaram o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, então denominado Instituto de História e Geografia do Maranhão e foi, por seguidos anos, o zeloso possuidor da maior coleção de jornais antigos do Maranhão, a contar do primeiro deles, O Conciliador (1821). Morto o mestre, sua família vendeu a coleção ao Estado do Maranhão, que a transferiu para o acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite. Autor de numerosa bibliografia historiográfica, da qual vão citados os títulos principais, excetuados trabalhos ligeiros e pequenos livros para uso escolar: O conde d´Escragnolle. Rio de Janeiro: Livraria J. Leite, s/d; O Estado do Maranhão em 1896. Obra composta à vista de um grande número de documentos, / acompanhada da Carta Geral do mesmo Estado, bem como das / plantas, dos rios Parnaíba e Gurupi, da Ilha do / Maranhão, e da Cidade de São Luís em 1640 por ocasião da / Invasão Holandesa, e em 1844, e publicada sob os auspícios / do / Exmº Sr. CapitãoTenente / Manoel Ignácio Belfort Vieira, / Govenador do Estado, / por /José Ribeiro do Amaral. São Luís: Tipografia do Frias, 1879; Apontamentos para a história da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão. Primeira Parte, 1837-1839. São Luís: Tipografia a vapor da Alfaiataria Teixeira, 1898; 19
http://www.academiamaranhense.org.br/academicos/fundadores/11.php VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu http://www.avlma.com.br/index.php/academicos-e-patronos/277-celso-magalhaes
Apontamentos para a história da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão. Segunda Parte, 1839-1840. São Luís: Tipografia Teixeira, 1900; Apontamentos para a história da Revolução da Balaiada na Província do Maranhão. Terceira e Última Parte, 1840-1841. São Luís: Tipogravura Teixeira, 1912; A fundação de Belém; ligeira resposta ao estudo histórico do Sr. Cândido Costa; reivindicação histórica. São Luís: J. Pires, 1916; Limites do Maranhão com o Piauí ou a questão da Tutóia. São Luís: Imprensa Oficial, 1919; As revoluções do Segundo Império e a obra pacificadora de Caxias. São Luís: Tipogravura Teixeira, 1922; Efemérides maranhenses, 1ª parte – Tempos Coloniais. São Luís: Tipogravura Teixeira, 1923. Foram publicados postumamente: O Maranhão histórico. São Luís: Instituto Geia, 2003 (coletânea de artigos históricos originalmente publicados no Diário Oficial do Estado entre 1911 e 1912, e recolhidos pelo pesquisador Luiz de Mello); Fundação de Belém do Pará; jornada de Francisco Caldeira de Castelo Branco. Brasília: Senado Federal, 2004. Existem na Seção de Obras Raras da Biblioteca Pública Benedito Leite os originais do livro O Maranhão no Centenário da Independência; 1822-1922. 384p. datilografadas. Fundação do Maranhão teve uma versão preliminar e muito simplificada no folheto do mesmo título: Fundação do Maranhão (São Luís: Imprensa Oficial, 1911. 15p.), espécie de balão de ensaio seguido, logo em 1912, do livro, escrito especialmente para comemorar o Tricentenário da chegada dos franceses ao Maranhão, fato de extraordinária importância para nossa história, que por sinal nasceu efetiva e consistentemente a partir dele, posto não haver nenhuma dúvida de que foi a invasão francesa do Maranhão que compeliu o governador Gaspar de Sousa e adotar providências que há tempos vinham sendo postergadas. Assim, em decorrência de decisões de investidura formalizadas por documentos datados de Olinda, em julho de 1614, Jerônimo de Albuquerque e seu adjunto imediato, o sargento-mor do Estado do Brasil, Diogo de Campos Moreno, receberam a difícil missão de promover a expugnação dos que, sem nenhuma resistência dos naturais da terra haviam fundado solenemente, na Ilha Grande do Maranhão, a capital da Nova França ou França Equinocial. Na época em que publicado, esse livro representou a disponibilização de copiosas informações relacionadas com a presença fugaz, mas inegável, dos franceses no Maranhão. Fugaz presença, repete-se, porém marcante e para sempre indelével por numerosos motivos, dentre os quais bastará referir estes dois: – o nome inegavelmente francês São Luís, conferido ao Forte, e que, por natural desdobramento estendeuse progressivamente à localidade, à medida em que ela ia crescendo. Topônimo que se firmou com tanta solidez, que contra ele não logrou prevalecer o de São Filipe, proposto pelos portugueses submetidos à dominação espanhola do período eufemisticamente denominado União Ibérica (1580-1640); – os testemunhos históricos da ocupação francesa do Maranhão, a exemplo das crônicas deixadas pelos franciscanos Claude d´Abbeville e Yves d´Évreux, dois monumentos de valor inestimável, e que, com a Jornada do Maranhão [...], de Diogo de Campos Moreno, formam o tripé fundamental de nossa história primeva no alvorecer dos tempos coloniais. Além dos já citados originais de livros inéditos existente na Seção de Obras Raras da Biblioteca Pública Benedito Leite, há, do professor Ribeiro do Amaral nos arquivos da Academia, peças de sua correspondência passiva, manuscritos inéditos, coleção de medalhas comemorativas e os originais (doados pelo acadêmico José Sarney) do livro Fundação de Belém; jornada de Francisco Caldeira de Castelo Branco em 1616. Contribuição na Revista do IHGM RIBEIRO DO AMARAL, NOBILIARCHIA MARANHENSE Ano I, n. 1, julho-setembro 1926 38-41 Relação do que há no grande Rio das Amazonas novamente descoberto.20
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RIBEIRO DO AMARAL, José. FUNDAÇÃO DE BELÉM DO PARÁ - JORNADA DE FRANCISCO CALDEIRA DE CASTELO BRANCO, EM 1616. Brasília: Senado Federal, 2004. Edições do Senado Federal – Vol. 3,
“Primeiramente, depois que o Capitão-Mayor Alexandre de Moura deu fim no Maranhão ao que tocava ao Serviço d’el-Rei em deitar fora ao inimigo como fez, e vendo a terra pacífica e povoadas as fortalezas como lhe pareceu necessário; pôs por obra mandar fazer este novo descobrimento do grande rio dos Amazonas e para também se saber o que havia no Cabo do Norte, conforme a Ordem que para isso levava do Governador-Geral do Brasil Gaspar de Sousa. E assim mandou 150 homens em três Companhias, e por Capitão-mor delas a Francisco Caldeira de Castelo Branco em três embarcações. “Partimos para esta jornada dia de Natal passado em que se deu princípio a esta Era de 1616 correndo sempre a costa e dando fundo todas as noites, tomando as conhecenças da terra, e sondando sempre, fazendo Roteiros pelo piloto Antônio Vicente Cochado21 de que ele dará boa relação por ser a quem o dito Capitão-mor Alexandre de Moura mandou por piloto-mor deste descobrimento e está nesta Corte. “Chegadas a este grande rio, e tendo andado 150 léguas pela costa, e o rio tem de largo 120 léguas, tudo água doce até entrar no mar 60 léguas, em aquele tempo trazia mui furiosa corrente por ser inverno, entrou a Armada por um braço estreito que está na ponta a que chamam de Saparará, na parte de leste, e não dando que da mais largura do rio fomos sempre por entre ilhas caminhando pelo rio acima e falando com o gentio que havia naquelas partes que facilmente com [boa] vontade aceitava nossa amizade dizendo que nós éramos os verdadeiros valentes pelo muito que tínhamos feito com os franceses, e mais nações que naquela costa eram nossos inimigos. “Por todas aquelas partes mostravam as terras serem fertilíssimas de madeiras, e na bondade delas, cheias todas as ilhas de muita cana [casa]; e chegando ao sítio aonde fizemos fortaleza por el-Rei nosso Senhor, que será 35 léguas pelo rio acima para o sul, por parecer ali ao Capitão-mor bom sítio, trabalhando nela se soube de um francês que ali andava fugido do Maranhão, como em umas aldeias do gentio que estão pelo rio mais acima andava um flamengo que ali tinha deixado outros para ter aprendido a língua, e hão querido22 assim o gentio para seus tratos, e que também esperava por um irmão seu para povoarem naquela parte onde agora está a nossa fortaleza e donde havia poucos dias se tinham ido três embarcações de flamengos como depois confessou o mesmo flamengo. “O Capitão-Mor Francisco Caldeira o mandou vir a este dito flamengo, do qual tivemos certa relação dos inimigos holandeses e flamengos que estão no Cabo do Norte de que tínhamos muita notia [noticia], e como estariam 290 até 300 homens repartidos em suas fortalezas de madeira e como tinham dois engenhos de açúcar de que carregavam alguns navios, com o mais que a terra dá de si. “Soubemos mais de alguns gentios que de muito longe pelo rio acima vinham a ver os portugueses e ser seus amigos como ao pé de umas terras que estavam […] à fortaleza 150 léguas, estavam 25 velas com muita gente fortificandose, tendo mulheres consigo, omo já vinham a esse efeito. Estas terras diz o gentio que são escalvadas, sem mato, e alguns homens experimentados dizem que estas são as terras que ali vêm dar do Peru como muitas cartas de marear também o mostram, e que há ouro nelas, e mais metais! “Tem o Capitão-Mor duas pérolas querendo mandar avisar disto a Sua Majestade as quais diz um Capitão digo, as quais lhe deu um índio que disse as achara comendo ostras assadas, e as deitava fora ignorando o que era, dizendo que as ostras que tinham muito daquilo havia-as 70 léguas pelo rio acima em fundo de duas braças; ao Senhor Marquês d’Alenquer vieram estas duas pérolas algum tanto curvas por serem assadas na forma que digo, e a casca das ostras em que elas nascem é madrepérola muito fina. “Neste rio se acharam também duas pedras antes de virmos a ele de muito esmero as quais diz um capitão francês que ali foi por língua foram roubadas por um inglês ao francês que as levava, e corre demanda em Inglaterra sobre elas, e que estão avaliadas em muitos cruzados. “O rio parece capaz para mui grandes causas por ser da largura que digo, e as terras muito férteis com muita diversidade de madeiras, como as do Brasil e mais avantajadas por serem árvores notavelmente grandes entre as quais há um pau a que o gentio chama Catiara mui lindamente debuxado e gracioso à vista. Há neste rio em todas as partes dele muito gentio por extremo de diversas nações, o mais dele muito bem encarado sem barba; trazem os 21
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Não Machado, como se lê no autor dos Anais Históricos do Maranhão – Livro VI – 500. Fez parte da expedição que, em 1617, sob o comando de Manuel de Sousa d’Eça, veio em socorro do Pará e da que, mais tarde, a mando do capitão Luís Aranha de Vasconcelos, saiu de Lisboa com instruções especiais do governo castelhano – de sondar o rio das Amazonas e reconhecer todos os sítios que, com intruso domínio, nele ocupassem os holandeses e quaisquer outras nações da Europa; expedição essa que chegou a Belém a 20 de maio de 1623, havendo tocado antes em Pernambuco onde o recebeu, bem como uma caravela e 17 soldados. Era considerado então o maior prático dos rios do Pará e Amazonas. Assistiu também aos combates contra os holandeses, ingleses e franceses, e acompanhou Bento Maciel Parente ao Cabo do Norte.
ter aprendido a língua e adquirido assim o gentio. [Cremos não ser adquirido e sim hão querido, pois no original está am querido. Nota desta edição.]
homens cabelo comprido como mulheres, e de muito perto o parecem de que pode ser nasceria o engano que dizem das Amazonas; pois não há outra cousa de que a este propósito se pudesse deitar mão. “As mercadorias que este gentio vende aos holandeses são algodão, tinta de urucu, que é como grão, alguma pita e é este pau cotiaro com outras sortes de madeiras, que não as achava comendo ostras que tinham muito daquelas umas 70 léguas pelo rio acima em fundo de uma braça. “Das entradas e saídas deste rio do fundo, e tudo o mais que é necessário para entrar Armada ou sair dele tem o “Havendo o Capitão-mor Francisco Caldeira de Castelo Branco de mandar disto aviso a Sua Majestade, depois de termos feito a fortaleza em que fica e da gente dita nos mandou a André Pereira e a Antônio da Fonseca, Capitão de Infantaria cada um de sua Companhia das daquele presídio –, parecendo-lhe acertava assim, e por no decurso da viagem não haver entre eles paixões, Antônio da Fonseca se ficou na Ilha Terceira não querendo dar fim à sua viagem na conformidade que vinham na nau em que São Domingo se embarcaram, sendo mui segura, e se deixou ficar com alguns papéis que tinha em sua mão, sendo requerido se embarcasse pelo que importava ser el-Rei avisado e não querendo dar os papéis ao dito André Pereira se veio na dita nau trazendo consigo o piloto que para a entrada deste rio era necessário, e esta amostra que trouxe ao Senhor Marquês de Alenquer, e Viso-Rei de Portugal, e por cuja via lhe foi enviada do Capitão- mor Francisco Caldeira. “Esta é a verdade, e o que há neste famoso rio sem haver nos papéis que ficaram na mão de outro Capitão cousa . – O Capitão Antônio Pereira.” [Conforme o exemplar da Biblioteca Pública de Madri e a cópia em meu poder – Varnhagen.]
RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA - FUNDADOR23 (CADEIRA 15)
13 de maio de 1859 / 13 de setembro de 1911 Raimundo Correia24 (R. da Mota de Azevedo C.), magistrado, professor, diplomata e poeta, nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris, França, em 13 de setembro de 1911. Foram seus pais o Desembargador José Mota de Azevedo Correia, descendente dos duques de Caminha, e Maria Clara Vieira da Silva. Vindo a família para a Corte, o pequeno Raimundo foi matriculado no Internato do Colégio Nacional, hoje Pedro II, onde concluiu os estudos preparatórios em 1876. No ano seguinte, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Ali encontrou um grupo de rapazes entre os quais estavam Raul Pompéia, Teófilo Dias, Eduardo Prado, Afonso Celso, Augusto de Lima, Valentim Magalhães, Fontoura Xavier e Silva Jardim, todos destinados a ser grandes figuras das letras, do jornalismo e da política. Em São Paulo, no tempo de estudante, colaborou em jornais e revistas. Estreou na literatura em 1879, com o volume de poesias Primeiros sonhos. Em 1883, publicou as Sinfonias, onde se encontra um dos mais conhecidos sonetos da língua portuguesa, “As pombas”. Este poema valeu a Raimundo Correia o epíteto de “o Poeta das pombas”, que ele, em vida, tanto detestou. Recém-formado, veio para o Rio de Janeiro, sendo logo nomeado promotor de justiça de São João da Barra e, em fins de 1884, era juiz municipal e de órfãos e ausentes em Vassouras. Em 21 de dezembro daquele ano casou-se com Mariana Sodré, de ilustre família fluminense. Em Vassouras, começou a publicar poesias e páginas de prosa no jornal O Vassourense, do poeta, humanista e músico Lucindo Filho, no qual colaboravam nomes ilustres: Olavo Bilac, Coelho Neto, Alberto de Oliveira, Lúcio de Mendonça, Valentim Magalhães, Luís Murat, e outros. Em começos de 89, foi nomeado secretário da presidência da província do Rio de Janeiro, no governo do conselheiro Carlos Afonso de Assis Figueiredo. Após a proclamação da República, foi preso. Sendo notórias as suas convicções republicanas, foi solto, logo a seguir, e nomeado juiz de direito em São Gonçalo de Sapucaí, no sul de Minas. Em 22 de fevereiro de 1892, foi nomeado diretor da Secretaria de Finanças de Ouro Preto. Na então capital mineira, foi também professor da Faculdade de Direito. No primeiro número da Revista que ali se publicava, apareceu seu trabalho “As antiguidades romanas”. Em 97, no governo de Prudente de Morais, foi nomeado segundo secretário da Legação do Brasil em Portugal. Ali edita suas Poesias, em quatro edições sucessivas e aumentadas, com prefácio do escritor português D. João da Câmara. Por decreto do governo, suprimiu-se o cargo de segundo-secretário, e o poeta voltou a ser juiz de direito. Em 1899, residindo em Niterói, era diretor e professor no Ginásio Fluminense de Petrópolis. Em 1900, voltou para o Rio de Janeiro, como juiz de vara cível, cargo em que permaneceu até 1911. Por motivos de saúde, partiu para Paris em busca de tratamento. Ali veio a falecer. Seus restos mortais ficaram 23
Onde não é indicado mo Autor, o texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ... http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=253&sid=111 http://pt.wikipedia.org/wiki/Raimundo_Correia http://www.brasilescola.com/biografia/raimundo-mota.htm http://www.brasilescola.com/literatura/raimundo-correia.htm http://www.blogodorium.com.br/biografia-e-obras-do-escritor-raimundo-correia/ http://valiteratura.blogspot.com.br/2011/09/raimundo-da-mota-azevedo-correia-vida.html http://penclubedob.dominiotemporario.com/penclube_revista2/artigos_doc/raimundo_correia.pdf http://books.google.com.br/books?id=LG944ZsniVcC&pg=PA223&lpg=PA223&dq=RAIMUNDO+DA+MOTA+DE+AZEVEDO+CORR EIA+%2B+TEXTOS&source=bl&ots=oVZ2aWb4h_&sig=WHzIn_o-BjCt-jQRfNGjka9tLXY&hl=ptBR&sa=X&ei=DaQpU_KRI8jbkQeC3ICgDA&ved=0CEEQ6AEwAzgU#v=onepage&q=RAIMUNDO%20DA%20MOTA%20DE%20AZEVE DO%20CORREIA%20%2B%20TEXTOS&f=false 24
em Paris até 1920. Naquele ano, juntamente com os do poeta Guimarães Passos também falecido na capital francesa, para onde fora à procura de saúde foram transladados para o Brasil, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, e depositados, em 28 de dezembro de 1920, no cemitério de São Francisco Xavier. Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia brasileira. Seu livro de estréia, Primeiros sonhos (1879) insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883) nota-se o feitio novo que seria definitivo em sua obra o Parnasianismo. Segundo os cânones dessa escola, que estabelecem uma estética de rigor formal, ele foi um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa, formando com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a famosa trindade parnasiana. Além de poesia, deixou obras de crítica, ensaio e crônicas.
Obras25 Primeiros Sonhos (1879) Tip. Tribuna liberal - São Paulo Sinfonias (1883) Tip. de Faro & Lino - Rio de Janeiro com introdução de Machado de Assis Versos e Versões (1887) Tip. e Lit. Moreira Maximino - Rio de Janeiro Aleluias (1891) Comp. Editora Fluminense - Rio de Janeiro Poesias (1898) Lisboa pela Tip. de Antonio Maria Pereira e com prefácio de D. João da Câmara. Foram quatro edições 1898, 1906, 1910 e 1922, esta última, no Rio de Janeiro, pela Tip. do Anuário do Brasil e sob a direção de Mário de Alencar Banzo Mal Secreto do livro "Sinfonias" publicado no início de 1883 O Vinho de Hebe do livro "Sinfonias" publicado no início de 1883 Poesias individuais Ondas... As Pombas... do livro "Sinfonias" publicado no início de 1883 Rima Ser Moça e Bela Ser do livro "Versos e Versões" publicado em 1887 Saudade do livro "Versos e Versões" publicado em 1887 Tristeza de Momo Vulnus do livro "Sinfonias" publicado no início de 1883 Textos Escolhidos26 AMOR E VIDA Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida, Este amor infeliz, como se fora Um crime aos olhos dessa, que ela adora, Dessa, que crendo-o, crera-se ofendida. A crua e rija lâmina homicida Do seu desdém vara-me o peito; embora, Que o amor que cresce nele, e nele mora, Só findará quando findar-me a vida! Ó meu amor! como num mar profundo, Achaste em mim teu álgido, teu fundo, Teu derradeiro, teu feral abrigo! E qual do rei de Tule a taça de ouro, Ó meu sacro, ó meu único tesouro! Ó meu amor! tu morrerás comigo! (Sinfonias, 1883.) 25
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raimundo_Correia http://pt.poesia.wikia.com/wiki/Categoria:Raimundo_Correia http://www.antoniomiranda.com.br/Brasilsempre/raymundo_correa.html 26 http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=251&sid=111
AS POMBAS27 Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam, Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais... (Sinfonias, 1883.) A CAVALGADA A lua banha a solitária estrada... Silêncio!... Mas além, confuso e brando, O som longínquo vem-se aproximando Do galopar de estranha cavalgada. São fidalgos que voltam da caçada; Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando. E as trompas a soar vão agitando O remanso da noite embalsamada... E o bosque estala, move-se, estremece... Da cavalgada o estrépito que aumenta Perde-se após no centro da montanha... E o silêncio outra vez soturno desce... E límpida, sem mácula, alvacenta A lua a estrada solitária banha... (Sinfonias, 1883.) MAL SECRETO28 Se a cólera que espuma, a dor que mora N’alma, e destrói cada ilusão que nasce, Tudo o que punge, tudo o que devora O coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse, o espírito que chora, Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigo Guarda um atroz, recôndito inimigo Como invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe, Cuja aventura única consiste Em parecer aos outros venturosa! (Sinfonias, 1883.)
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http://www.macricopia.com.br/dissecando-a-poesia-as-pombas-de-raimundo-correia/ http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080816133346AAaJef6V
DESDÉNS Realçam no marfim da ventarola As tuas unhas de coral felinas Garras com que, a sorrir, tu me assassinas, Bela e feroz... O sândalo se evolua; O ar cheiroso em redor se desenrola; Pulsam os seios, arfam as narinas... Sobre o espaldar de seda o torso inclinas Numa indolência mórbida, espanhola... Como eu sou infeliz! Como é sangrenta Essa mão impiedosa que me arranca A vida aos poucos, nesta morte lenta! Essa mão de fidalga, fina e branca; Essa mão, que me atrai e me afugenta, Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca! (Versos e versões, 1887.) O MISANTROPO A boca, às vezes, o louvor escapa E o pranto aos olhos; mas louvor e pranto Mentem: tapa o louvor a inveja, enquanto O pranto a vesga hipocrisia tapa. Do louvor, com que espanto, sob a capa Vejo tanta dobrez, ludíbrio tanto! E o pranto em olhos vejo, com que espanto, Que escarnecem dos mais, rindo à socapa! Porque, desde que esse ódio atroz me veio, Só traições vejo em cada olhar venusto? Perfídias só em cada humano seio? Acaso as almas poderei sem custo Ver, perspícuo e melhor, só quando odeio? E é preciso odiar para ser justo?! (Versos e versões, 1887.) ÚLTIMO PORTO Este o país ideal que em sonhos douro; Aqui o estro das aves me arrebata, E em flores, cachos e festões, desata A Natureza o virginal tesouro; Aqui, perpétuo dia ardente e louro Fulgura; e, na torrente e na cascata, A água alardeia toda a sua prata, E os laranjais e o sol todo o seu ouro... Aqui, de rosas e de luz tecida, Leve mortalha envolva estes destroços Do extinto amor, que inda me pesam tanto; E a terra, a mãe comum, no fim da vida, Para a nudeza me cobrir dos ossos, Rasgue alguns palmos do seu verde manto. (Aleluias, 1891.)
PLENILÚNIO Além nos ares, tremulamente, Que visão branca das nuvens sai! Luz entre as franças, fria e silente; Assim nos ares, tremulamente, Balão aceso subindo vai... Há tantos olhos nela arroubados, No magnetismo do seu fulgor! Lua dos tristes e enamorados, Golfão de cismas fascinador! Astro dos loucos, sol da demência, Vaga, notâmbula aparição! Quantos, bebendo-te a refulgência, Quantos por isso, sol da demência, Lua dos loucos, loucos estão! Quantos à noite, de alva sereia O falaz canto na febre a ouvir, No argênteo fluxo da lua cheia, Alucinados se deixam ir... Também outrora, num mar de lua, Voguei na esteira de um louco ideal; Exposta aos euros a fronte nua, Dei-me ao relento, num mar de lua, Banhos de lua que fazem mal. Ah! quantas vezes, absorto nela, Por horas mortas postar-me vim Cogitabundo, triste, à janela, Tardas vigílias passando assim! E assim, fitando-a noites inteiras, Seu disco argênteo n’alma imprimi; Olhos pisados, fundas olheiras, Passei fitando-a noites inteiras, Fitei-a tanto, que enlouqueci! Tantos serenos tão doentios, Friagens tantas padeci eu; Chuva de raios de prata frios A fronte em brasa me arrefeceu! Lunárias flores, ao feral lume, - Caçoilas de ópio, de embriaguez Evaporaram letal perfume... E os lençóis d’água, do feral lume Se amortalhavam na lividez... Fúlgida névoa vem-me ofuscante De um pesadelo de luz encher, E a tudo em roda, desde esse instante, Da cor da lua começo a ver. E erguem por vias enluaradas Minhas sandálias chispas a flux... Há pó de estrelas pelas estradas... E por estradas enluaradas Eu sigo às tontas, cego de luz... Um luar amplo me inunda, e eu ando Em visionária luz a nadar, Por toda a parte, louco arrastando O largo manto do meu luar... (Poesias completas, vol. 1, 1948.)
PAULO MELO SOUSA MELO SOUSA29 - FUNDADOR30
06 de maio de 1960 Maranhense de São Luís nasceu em 06 de maio de 1960. Poeta, jornalista, professor, ambientalista, pesquisador de cultura popular e fundador da Sociedade de Astronomia do Maranhão- SAMA. Foi um dos idealizadores do Jornal Folha de Gaia, o primeiro jornal ecológico do Maranhão (1990/1992), um dos fundadores do grupo Poeme-se (1985/ 1994), de Literatura, e criador do Grupo Graal, de poesia e performance (1997). Também incursiona na área de cinema e vídeo, trabalhando como ator e co-diretor. Formado em Desenho Industrial e em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Possui Especialização em Linguística Aplicada ao Uso das Línguas Materna e Estrangeira e em Jornalismo Cultural (UFMA). É Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Em 2012, foi agraciado pelo governo do Estado do Maranhão com a Medalha do Mérito Timbira, grau de Comendador do 4º Centenário, pelos relevantes serviços prestados á cultura maranhense. É membro fundador da Academia Ludovicense de Letras - ALL (setembro de 2013), cujo patrono é o escritor Carlos de Lima, sendo ainda Diretor Cultural da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão. Escreve no Jornal Pequeno (JP Turismo), de São Luís, abordando temas de jornalismo científico, turístico e cultural, e na Revista Cazumbá de Turismo. Mantém nesse suplemento, desde 2006, a coluna “Alça de Mira”, na qual publica poemas de autores maranhenses. Atua ainda na área cultural como conferencista. Atualmente, articula o “Projeto Cultural Papoético”, desde 2010, e é diretor da Galeria de Arte Trapiche Santo Ângelo, que organiza o Salão de Arte de São Luís. Autor dos livros: - “Rua Grande: Um Passeio no Tempo” - Texto (História do Maranhão, Pancrom/1992); - “Oráculo de Lúcifer”, poesia (Prêmio Sioge/Secma, 1994); - “Vi(s)agem” (poesia) - Prêmio Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís- 2001); - “Arte das Mãos: Mestres Artesãos Maranhenses” - Texto (SEBRAE/2007); - “Nagon Abioton: Um estudo fotográfico e histórico sobre a Casa de Nagô”- Texto, livro que recupera a memória oral afro-maranhense da Casa de Nagô, um dos mais importantes terreiros de Tambor de Mina do Maranhão, - “Banzeiro” (poesia) - Prêmio Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 2004; - “Vespeiro” (poesia) - Prêmio Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 2009. Seu nome está incluído em várias antologias, dentre as quais a “Antologia da Poesia Maranhense do Século XX”, organizada por Assis Brasil.
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/paulo_melo_souza.html Onde não é indicado mo Autor, o texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ...
ELOGIO DE ALMA PARA A ALMA DE UM MENINO31 Simplesmente impossível para mim, nesta hora, não ser passional, muito me faz pensar em armadilhas foucaultianas no que se refere à ordem do discurso. Na verdade, é justamente pensando na desordem de qualquer discurso que começo a tecer, sem maiores preocupações, estas linhas, sem a mínima preocupação se serão bem ou mal traçadas. Sim, pois o que move os dedos no teclado do computador não é a mente, mas, a emoção. Surgida a partir de uma perda que não é somente dos parentes de Carlos de Lima, mas, também minha, dos amigos do historiador, que era um poeta incorrigível na vida e nas palavras, uma perda para a cidade, para o Maranhão, para o país. Há alguns anos atrás, quando entrevistei Cristóvam Buarque sobre o seu livro "O Colapso da Modernidade Brasileira", ele me disse que quando se perde uma espécie no planeta ficamos mais pobres. Imaginemos então quando o planeta perde um homem, e procure-se imaginar a envergadura dessa perda quando esse homem possui a estatura moral, intelectual e humana de um ser ímpar como Carlos de Lima. Sim, estamos mais pobres. Bem mais pobres nesta terra já tão minguada de homens de valor. Conheci seu Carlos através de dois dos filhos dele, Pablito e Fábio, amigos de infância, cúmplices das peladas nas ruas do Apeadouro, do Chuta Lata, das lanceadas de papagaios, das guerras de baladeira municiadas por sementes de mamona, dentre outras brincadeiras mais saudáveis. Eu tinha, nessa época, uns dez anos de idade, mais ou menos. A nossa turma era grande, Ivar e Júnior Saldanha, Marcos Itapary, Nélson Rego, Lucídio Santos, Tadeu, Tonho e Luís Cunha Lima, João Carlos, o Joca, Canela, Rui Mendonça, o Fuinha, Sérgio Sombra, Gustavo Marques, muita gente boa e amiga. Com o passar dos anos, o nosso ponto de encontro passou a ser a casa de seu Carlos e de dona Zelinda Lima, que foram, literalmente, nossos segundos pais. Ali, na casa do Apeadouro, esquina com a rua Astolfo Marques, também moravam Álvaro, Danúzio e Débora, a filha caçula, irmãos de Pablito e Fábio. Naquela casa sempre fomos acolhidos com carinho, atenção e respeito. Mais tarde, depois da mudança de seu Carlos para o Olho D'água, a casa foi transformada na escola Colméia, gerenciada pela filha Débora. Naquela casa, amigos de seu Carlos, como Jorge Amado e Zélia Gatai, que sempre freqüentavam o ambiente quando vinham a São Luís, Reinaldo Faray, dentre tantos outros artistas, fizeram parte do nosso cotidiano ao longo dos anos. Em maio e junho, grupos de Bumba-Boi faziam apresentações em frente à casa, e éramos expectadores privilegiados. Nesse ambiente foi crescendo em mim o gosto pela arte e pela cultura dita popular. No entanto, o aprendizado maior, ali, foi uma grande lição de humildade, simplicidade, respeito, carinho, compreensão com que todos os amigos dos seus filhos, inclusive eu, sempre fomos tratados. Esse aprendizado não se encontra nos livros, amigos. Dias felizes. Sim, é impossível não ser passional. Em todos esses anos, sinceramente, nunca vi seu Carlos zangado, mesmo nos momentos em que ficava sério, austero, impondo a sua autoridade paterna, que era extensiva a todos nós, adolescentes e deliciosamente irresponsáveis, parecia que no fundo ele estava apenas nos testando, curtindo um pouco com a nossa cara. Sim pois seu Carlos era um gozador. Lembro-me de muitos momentos em que isso vinha á tona, quando, por exemplo, assistíamos em sua casa aos jogos do Flamengo, filando, de vez em quando, uma cervejinha. As piadas faziam parte do espetáculo. Numa ocasião, ele me perguntou, com a maior seriedade: "seu Paulo, o senhor viu com que cor pintaram a fachada da igreja de Santo Antônio?" (mostarda). Ainda não, seu Carlos, eu respondia. E ele vinha com a pilhéria: "cor de merda". Era sempre uma gargalhada. Noutra ocasião, fez uma argumentação que ainda hoje é atualíssima, argumentação que não será ouvida por nossos gestores públicos, surdos como portas encardidas: "Os camelôs e os hippies não deixam mais a gente andar pelas calçadas e, quando reclamamos, dizem que o espaço é público. Justamente por ser público é que eles não deveriam loteá-los". Precisão cirúrgica. Seu Carlos fez o prefácio de meu primeiro texto publicado: "Rua Grande - um Passeio no Tempo", livro organizado e publicado pelo arquiteto Gustavo Marques, amigo de infância do Apeadouro, gente da nossa turma. Ele se dispôs, já com mais de 70 anos, a caminhar durante uma tarde inteira comigo pela Rua Grande, contando-me a história da rua, da sua Rua Grande. Falou-me da casa onde funcionava o Casino Maranhense, da Turma do Sereno, da qual fazia parte, falou-me da sua juventude como carnavalesco, do Cine Éden e seus bailes, foi um belo passeio no tempo. Nas questões sobre História do Maranhão, sempre foi para mim um orientador de primeira linha, da mesma
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http://www.jpturismo.com.br/noticia.asp?id=13052011-elogio-de-alma-para-a-alma-de-um-menino
forma como abordou de forma magistral a Festa do Divino Espírito Santo, em Alcântara, fazendo-me apaixonar não somente pela cidade, mas também pelas belas e animadas festas que anima na velha Tapuitapera. Seu Carlos deixou obra expressiva, muitos falarão dela. No entanto, quero me reportar a apenas uma, que sempre me tocou de forma indelével: "Réquiem para um Menino", livro dedicado a seu filho morto precocemente, Leôncio Neto, o Netinho. Nele, seu Carlos chora a ausência do filho. Não somente por causa do livro, sempre senti essa morte do filho na fala de seu Carlos, nos seus olhos, na sua alma, na sua fala um pouco trêmula, em certos momentos. Também sofri uma perda parecida, um primo amigo de infância, quando ele tinha nove anos, de forma trágica, de tal maneira que, sem que ele soubesse, sempre estive solidário com a sua dor. O livro é tocante, poético: "por acaso um astro se enclausura,/e guarda-se no cofre um pensamento? /Engaiola-se a brisa/passageira,/sepulta-se o amor?... É a missa de réquiem para o meu filho. Boneco que fiz e Deus quebrou". Esse livro sempre me emocionou, em razão da pureza de alma que dele flui, naturalmente. E agora seu Carlos se vai, como um menino, nem parecia que estava morto quando fui vê-lo pela última vez, segunda-feira passada, parecia que estava apenas dormindo, um menino de 91 anos. Irretocável. Talvez esta seja a palavra mais adequada, se é que existe alguma, para que se possa tentar realizar a captura da síntese da trajetória de vida de um homem como Carlos de Lima, personalidade iluminada, abençoado pelo dom da simplicidade, um espírito impagável, inapagável, alegre e permanentemente espirituoso. Pare ele, eu tiro o meu chapéu. Parafraseando o outro Carlos, o Drummond de Andrade: Vai, seu Carlos, continuar sendo anjo, na outra vida. E que Deus ilumine e conforte toda a sua família, e a todos nós, órfãos dessa insubstituível clareira de luz. Poema Descalço32 se me devoro é porque tenho fome de mim todo silêncio possui a palavra que merece qualquer existência pode ser camaleônica um mar inexplicável habita minhas entranhas há muita sede no mundo bem poucos sabem beber Maré de Lua33 caminho todas as tribos mas não sou de nenhuma cada animal é dono de uma astúcia antes de conhecer o miolo das coisas viventes precisa pelejar pra ter entendimento das saídas labirinto é bicho esquivado entrar é fácil
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/paulo_melo_souza.html Melo Souza, Paulo. Visagem. São Luís: Lithograf/FUNC, 2002. p.31-35 SOUZA, Paulo Melo. Oráculo de Lúcifer. Poesia. São Luis, MA: SIOGE, 1994. 144 p. 14x23 cm. Capa: Iramir Araújo. ISBN 85-7207-08-1-8 SOUSA, Paulo Melo. Vespeiro. Poesia. São Luis: FUNC, 2010. 60 p “Premiado no concurso literário e artístico ´Cidade de São Luis´ 2009 – Prêmio Sousândrade“ Col. A.M. (EA) SOUSA, Paulo Melo. Banzeiro. Poesia. São Luis, Maranhão: 2010. 60 p. “Premiado no Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luis” 2004. Prêmio Sousândrade. Composto em tipologia Elante corpo 11-15, impresso em papel Offset 75 gr., capa em papel cartão supremo 250 gr. Col. A.M. (EA) 33
Bem antes do primevo Adão as vísceras da pedra são devoradas pela fome dos séculos Disputa negras palavras florescem nos olhos da ruína garras afiadas disputam mundos almas delicadas não suportam o fascínio da morte o coração do poeta pediu aviso prévio bebe o crepúsculo na esquina jogando pôquer com o destino Ariadne deglutia flores amassadas na maionese acionava os alarmes da aurora despertava no país do sono brincava de cabra-cega na beira dos precipícios palitava os dentes à espera do apocalipse Hermético o cadáver da pedra se apavora com o esqueleto da própria sombra no músculo das palavras cabe toda a carta celeste o maxilar da morte anoitece devorando omoplatas de cetim um poeta se diverte espancando os dentes na máquina de escrever Está tudo bem quando eu sangro e os outros dormem Faço de mim meu próprio espetáculo caminhando nu pela praça mijando estátuas com bigodes e paletós gritando ao mundo a palavra orgasmo quando a lua cínica me seduz e me trai pontualmente mês após mês e até sempre e sempre Então saio pela noite feito um lobisomem bebendo a cântaros oferecendo brindes à minha própria loucura
Parto a poesia dispensa guarda-costas ela é medula habita a flora da linguagem constrói sua febre das cinzas do céu e do inferno fênix da palavra basta a si mesma para explicar sua gênese.
ATESTADO ando só comigo muito mal acompanhado sou para sempre meu inimigo público número um VIAGEM De Sirius a Belatrix sete segundos bastam formigas adoram navegar em mapas celestes
JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA - PATRONO34 (CADEIRA 20)
21 de junho de 1868 / 26 de janeiro de 1931 35
Graça Aranha nasceu em 21 de junho de 1868, em São Luis, capital do Estado do Maranhão, filho de Temistocles da Silva Maciel Aranha e de Maria da Glória da Graça. Faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1931. Formado em Direito exerceu a magistratura no interior do Estado do Espírito Santo, fato que lhe iria fornecer matéria para um de seus mais notáveis trabalhos - o romance Canaã, publicado com grande sucesso editorial em 1902. Ao traçar-lhe o perfil o romancista Afrânio Peixoto se manifestara da seguinte forma: "Magistrado, diplomata, romancista, ensaísta, escritor brilhante, às vezes confuso, que escrevia pouco, com muito ruído." Na França publicou, em 1911, o drama Malazarte. De 1920, já no Brasil, é A estética da vida e, três anos mais tarde, A correspondência de Joaquim Nabuco e Machado de Assis. Na famosa Semana da Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de São Paulo, Graça Aranha profere, em 13/02/1922, a conferência intitulada: "A emoção estética na arte moderna". Iniciou-se uma fase agitada nos círculos literários do país. Graça Aranha é considerado um dos chefes do movimento renovador de nossa literatura, fato que vai acentuar-se com a conferência "O Espírito Moderno", lida na Academia Brasileira de Letras, em 19 de junho de 1924, na qual o orador declarou: "A fundação da Academia foi um equívoco e foi um erro". O romancista Coelho Netto deu pronta resposta a Graça Aranha: "O brasileirismo de Graça Aranha, sem uma única manifestação em qualquer das grandes campanhas libertadoras da nossa nacionalidade, é um brasileirismo europeu, copiado do que o conferente viu em sua carreira diplomática, apregoado como uma contradição à sua própria obra." Em 18 de outubro de 1924, Graça Aranha comunicou o seu desligamento da Academia por ter sido recusado o projeto de renovação que elaborara: "A Academia Brasileira morreu para mim, como também não existe para o pensamento e para a vida atual do Brasil. Se fui incoerente aí entrando e permanecendo, separo-me da Academia pela coerência." Diplomata aposentado, Graça Aranha regressara ao Brasil pouco depois do término da 1ª. Guerra Mundial. O Acadêmico Afonso Celso tentou, em 19 de dezembro do referido ano, promover o retorno de Graça Aranha às lides acadêmicas. Este, contudo, três dias depois, agradeceu o convite, acrescentando: "A minha separação da Academia era definitiva", e, mais: "De todos os nossos colegas me afastei sem o menor ressentimento pessoal e a todos sou muito grato pelas generosas manifestações em que exprimiram o pesar da nossa separação". Em 1930 surgia Viagem Maravilhosa, derradeiro romance do autor de Canaã, obra em que a opinião dos críticos da época se dividiu em louvores e ataques.
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Onde não é indicado mo Autor, o texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ... http://pt.wikipedia.org/wiki/Gra%C3%A7a_Aranha http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=595&sid=340 http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/literatura/gra.aaranha.htm http://www.brasilescola.com/literatura/graca-aranha.htm http://www.e-biografias.net/graca_aranha/ http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=8696 35
Após concluir o romance A Viagem Maravilhosa (1929), inicia a autobiografia O Meu Próprio Romance (1931), interrompida por sua morte36. Em sua autobiografia, Graça Aranha expressa a intenção de mostrar que toda sua vida se pauta no impulso de libertação, o que aproxima, em essência, a imagem que constrói de si e a dos protagonistas de seus romances. Em Canaã (1902), o imigrante alemão Milkau, após um período de crise existencial e isolamento, procura, no Brasil, desenvolver a "simpatia humana" e integrar-se com o universo através de sensações despertadas pela natureza; daí a recorrência de passagens que exploram cores, formas, sons e cheiros. Em A Viagem Maravilhosa (1929), Tereza também se entrega aos sentidos como forma de evasão ao casamento infeliz e de busca da liberdade, processo que se acentua ao conhecer o amor com Filipe. Essa semelhança de aspirações deve-se nitidamente à defesa que o escritor faz do ideal da filosofia monista de fusão de matéria e espírito no Todo infinito, o que só se consegue pela religião, pela filosofia, pela arte ou pelo amor, segundo tese de A Estética da Vida (1921). Eis aí o cerne de seu pensamento. Outro ponto marcante de sua produção é a valorização da imaginação, que ele vê como o "traço característico coletivo" da cultura brasileira. Referências a lendas, como a do curupira e da mãe-d'água, aparecem em Canaã e na peça Malazarte (1911) e prenunciam um repertório de destaque no Modernismo, mesmo sem compartilhar do "espírito satírico-paródico" de alguns de alguns dos integrantes do grupo, como observa o escritor José Paulo Paes (1926 - 1998). A literatura de Graça Aranha, apesar de ser ele um entusiasta e articulador do movimento que culminou na Semana de 22, nunca adere plenamente à estética modernista e, mesmo em seus momentos mais próximos, deflagra um estilo peculiar ao autor. Para Braga (1984; 2014) 37: Graça Aranha foi um dos escritores brasileiros mais importantes da ficção pré-modernista. E é ele mesmo quem diz no livro “O meu próprio romance”, onde narra genialmente sua vida, tendo este trabalho, infelizmente, ficado inacabado, mas mesmo assim editado em 1931, extraído de manuscritos do autor: “O meu difícil nascimento parece marcar o signo da força, que me prendia ao inconsciente. Foi pela ciência de um médico inglês, que vivi na tarde do domingo de 21 de junho de 1868, na cidade de São Luís do Maranhão, quando eu estava condenado à morte para salvar minha mãe. A ciência arrancou-me do inconsciente. Realizou-me em mim a fórmula do meu pensamento psicológico”. Aos treze anos ele concluía o curso de humanidades e aos dezoito, o de Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife, onde se fez o aluno mais querido de Tobias Barreto que, ao longo da vida, viria a influenciá-lo. Foi advogado e professor de Direito, exercendo no Espírito Santo o cargo de juiz Viveu muitos anos na Europa no desempenho de funções diplomáticas. Voltando ao Brasil, tornou-se figura de vanguarda no movimento modernista, pronunciando na Academia Brasileira de Letras, de onde foi sócio fundador em que “concitava a renovar-se, pela aceitação das novas tendências estéticas “Se a Academia não se renova – gritou – “então morra a Academia”. O grito ali não fora ouvido naquele momento, e Graça Aranha rompeu com a instituição de Machado de Assis, onde ocupava a cadeira de Tobias Barreto. Da velha Europa, trouxe consigo o modelo que o fez um arauto do espírito moderno, consagrando-o assim, até o fim da vida, a teorização de uma estética que codificasse padrões novos na estrutura literária àquela época já em crise. Nas mesmas condições, a Graça Aranha se juntavam, também chegados da Europa, Oswald de Andrade que tivera convivido com o poeta Paul Fort, coroado príncipe dos poetas franceses; Manuel Bandeira que voltava da Suíça, onde estivera internado por causa da tuberculose, mantendo uma grande amizade com o poeta Paul Eluard, enquanto o Brasil era povoado de notícias que chegavam da revista portuguesa “Orfeu”, centro irradiador das poesias de Fernando Pessoa e Mário Sá-Carneiro, as quais se corporificavam aos métodos pretendidos por Graça Aranha. E a “Semana de Arte Moderna” explodiu com a exposição, em São Paulo, da pintora Anitta Malfatti que trazia novidades e novos elementos nas artes plásticas pós-impressionistas (cubistas e expressionistas), revelados em seus estudos, principalmente na Alemanha, sendo criticada por uns e defendida por outros, entre estes, Mário de Andrade, já imortalizado com “Paulicéia Desvairada” e “Macunaíma”. 36 37
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=8696 BRAGA, Fernando. GRAÇA ARANHA E A ESTÉTICA MODERNA. Jornal “O Alto Madeira”, Porto Velho, RO, 24.9.84 e enfeixado em “Toda Prosa, Tomo III, do livro “Travessia” [Memórias de um aprendiz de poeta], de Fernando Braga, em organização.
Continuemos ouvindo o espírito de negação de Graça Aranha, escritos para “O meu próprio romance”: “Nada poderia contribuir para o meu incessante progresso intelectual, como o espírito de negação. Aos doze anos neguei Deus, aos quatorze neguei o Direito Natural, aos quinze neguei o princípio monárquico e o direito à escravidão”. Sobre o livro “Canaã”, José Veríssimo, crítico dos mais afiados ao tempo, disse: “Estréia, como não me lembra outra em a nossa literatura, é a revelação nela de um grande escritor. Novo pelo tema, novo pela inspiração e pela concepção, novo pelo estilo”. E por falar em Veríssimo, este era contra a entrada de Graça na Academia, apesar de nunca ter sabido o porquê, o que só veio a se tornar possível com a quase imposição de Joaquim Nabuco. Talvez havendo, como informa Alfredo Bosi, professor de Literatura da USP, “duas faces a considerar no caso Graça Aranha: o romancista de “Canaã” e de “A Viagem Maravilhosa” e o doutrinador de “A Estética da Vida” e de “Espírito Moderno”, faz-se às vezes distante no tempo, mas ligadas por mais de um caráter comum, exteriorizar em “A Estética da Vida” este sentido de forma e liberdade espiritual ou ainda de terror cósmico: aquele que compreende o universo com uma dualidade de alma e corpo, de espírito e matéria, de criador e criatura, vive na perpétua dor. Aquele que pelas sensações vagas da forma, da cor e do som, se transporte ao sentimento universal e se funde no todo infinito, vive na perpétua alegria”. Falar-se de Arte Moderna, caberia num livro de ensaios como muitos já foram escritos. Os acontecimentos e os personagens foram muitos para poucos dias, e Graça Aranha, o qual faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1931, tornou-se, no Movimento, um acontecimento imorredouro, porque trouxe à luz da publicidade o seu “Canaã” e foi personagem, porque, acima de tudo, e pela vida inteira, foi sempre um reformador de métodos e um esteta intemporal.
OBRAS Canaã, 1902; Estética da Vida, 1920; Malazarte, 1922; Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco, 1923; O Espírito Moderno, 1925; A Viagem Maravilhosa, 1930. As obras completas de Graça Aranha (1939-1941) estão distribuídas em 8 volumes: Vol. I Canaã; vol. II: Malazarte; vol. III: Estética da vida; vol. IV: Correspondência de Machado de Assis e Joaquim Nabuco; vol. V: O espírito moderno; vol. VI: A viagem maravilhosa; vol. VII: O meu próprio romance; vol. VIII: Diversos. Textos Escolhidos38 SACRIFÍCIO DO CAVALO Ao amanhecer de um dia nevoeiro, a paisagem perdera o seu contorno exato e regular. As linhas definitivas dos objetos se confundiam, as montanhas enterravam as cabeças nas nuvens, a cabeleira das árvores fumegava, o rio sem horizonte, sem limite, como uma grande pasta cinzenta, se ligava ao céu baixo e denso. O desenho se apagara, a bruma mascarava os perfis das coisas e o colorido surgia com a sombra numa sublime desforra. Por toda a parte manchas esplêndidas se ostentavam. E sobre a campina esverdeada, vaporosa, uma dessas manchas, ligeiramente azulada, movia-se, arqueava-se, abaixava-se, erguia-se e se ia lentamente dissipando. O sol não tardou a vir, e a natureza se sacudiu, a névoa fugiu, o céu se espanou e se dilatou em maravilhosa limpidez. A mancha móvel sobre a planície se definiu no perfil de um pobre cavalo que passeava na verdura os seus olhos de velhice e fadiga, tristes e longos. De passada, com os túmidos e negros beiços, afagava a erva, triturando-a com fastio e desânimo, enquanto a sua atenção de cavalo experimentado estava voltada para a cabana, a cuja porta os seus donos, os novos colonos magiares, o miravam com interesse. A neblina leve, veloz, vinha distraí-lo daquela postura de curiosidade humilde, e acariciava num frio elétrico o seu pêlo ralo e falhado. Estremecia num gozo manso, e estendendo o focinho, arregaçando os beiços, sensual e grato, beijava o ar. Não mais encontrava a névoa, que fugira para os montes, levada pela brisa, como se fosse o imperceptível véu que envolvesse alguma deusa errante e retardada. Um rio de sol, porém, descera a brincar-lhe nos olhos e incendiava-lhe a pupila. Meiguices da natureza. Um dos jovens magiares, levando uma corda, caminhou para o cavalo. O animal entregou-lhe a cabeça numa mistura de abandono e tédio. O rapaz passou-lhe o cabresto e o levou ao poste fronteiro à casa, onde o amarrou. Os colonos tinham resolvido principiar naquele dia a plantação do seu prazo, e o velho deu ordem de partir para a queimada. Os filhos armaram-se das ferramentas de lavoura, o cigano, saindo de sua modorra e apenas armado de um chicote, acompanhou os outros, que, desamarrando o cavalo, seguiram com ele para o roçado. As raparigas que ficavam em casa cheias de instintivo pavor, viam o grupo afastar-se vagarosamente. 38
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=598&sid=340
Chegaram ao aceiro que, aberto como uma larga ferida sobre o dorso da terra, era um sulco de alguns metros de largura, circundando a queimada. Da mata carbonizada ainda resistiam de pé alguns troncos despojados, enegrecidos. Milkau e Lentz, passeando àquela hora, passaram perto do roçado e viram chegar aí o grupo dos vizinhos. - Ainda bem, disse Milkau, eles vão trabalhar; fazia-me dó ver esta gente apática, irresoluta, entorpecida na preguiça. - Mas para que trazem eles quase arrastado aquele cavalo? Perguntou Lentz. E os dois se afastaram um pouco e ficaram a distância, acompanhando os movimentos do grupo. O velho colono segurou o animal pelo cabresto e o colocou no meio da vala. Os filhos puseram-se de lado, num recolhimento religioso. O pai puxou o cavalo para a frente. De chicote em punho, o cigano seguia atrás, e a primeira vergastada, cortando o ar num sibilo, caiu em cheio sobre o animal. Este, como arrancando-se de si mesmo, pinoteou assustado. Novas lambadas foram arremessadas por mão vigorosa. Estirou o cavalo o pescoço para a frente, abaixou-se, alongou-se, encostando quase o ventre à terra, como para se libertar do flagelo que lhe vinha do alto. Os seus membros se estorciam, confrangidos sob a dor imensa. E desapiedadamente, puxavam-no para diante, levando-o ao furor do açoite. Naquele sacrifício cumpria-se uma missão sagrada: ligava-se à nova terra o nervo da tradição da terra antiga. Quando os antepassados tártaros desceram do planalto asiático, e no solo europeu renunciaram à vida errante dos pastores, para lavrar o campo e buscar na cultura a satisfação da vida, sacrificaram aos deuses o velho companheiro de peregrinação nos brancos estepes. E, assim, a imolação ficou sempre no espírito dos descendentes como um dever, cujas raízes se estendem até ao fundo da alma das raças. Continuava o grupo a caminhar. O velho, como um sacerdote, conduzia a vítima, seguida do cigano, em cujo rosto se recompunha a antiga expressão infernal e terrível dos antepassados, num retrocesso harmônico e rápido, produzido pelo singular efeito da paixão sanguinária. Os outros assistiam mudos à cerimônia. O chicote vibrava incessante; as suas pontas de ferro cortavam o lombo do animal. O ar leve e frio, penetrando nos fios de carne viva, causava uma dor fina, aguda, acerba, e a vista e o cheiro do sangue excitavam ainda mais a energia do flagelador. Veio-lhe uma histérica insensibilidade, uma rudimentar anestesia, uma assassina obsessão. Estonteou-o uma vertigem, mas o açoite não parou. Os sulcos na carne se abriam mais fundos; o sangue escorria frouxo. Mofino de dor, o cavalo prosseguia arrastado, regando a terra. Gotas vermelhas respingavam sobre a descoberta cabeça do velho magiar, de uma brancura de açucena. As suas narinas se dilatavam em lânguido gozo. Cavos gemidos ressoavam no peito da besta. E no seu olhar infinito de moribundo se traduziam os humildes protestos e os tímidos apelos de misericórdia. E o relho soava, enquanto o mártir ia lento, de pescoço estirado, pernas trôpegas, esvaindo-se pelas veias abertas, como torneiras de sangue. O cigano mais terrível, mais feroz, transfigurava-se, e da sua garganta afinada irrompeu brusco, sonoro, o canto de guerra dos velhos tártaros. O chicote cruel e rápido marcava o compasso desse ritmo estranho. O contágio do furor se apoderou dos outros, que, imobilizados, assistiam ao sacrifício. E embriagados pouco a pouco pelas frases da música, pela sugestão do rito, pelo odor de carne sangrenta, acompanhavam o canto, num coro infernal. O animal, exausto, caíra de lado, como um peso inerte. O açoite inexorável ainda o levantou uma vez, e no solo, como numa verônica, ficou estampada a imagem do seu corpo, impressa em sangue. Prosseguia sem interrupção, fogoso, lúgubre, o canto que feria asperamente o ar, e era o eco da melodia satânica da morte. O cavalo deu mais alguns passos, cambaleando como um alucinado, e afinal se prostrou sobre a terra. Arquejante resfolegando num espaçado estertor, morria vagarosamente. Nas suas pupilas de moribundo se fotografaram num derradeiro clarão as fisionomias dos algozes. E esta imagem medonha, que se lhe guardara no interior dos olhos, era a infinita tortura que o acompanharia além da própria morte, presidindo à dolorosa decomposição da sua carne de mártir. Cessaram as vozes. Os homens se agruparam em torno do cadáver, rezando como fantasmas loucos. Poças e fios vermelhos manchavam o sulco. A camada de argila, lisa, escorregadia como uma couraça, tornava o seio da terra impenetrável ao sangue, que sorvido pelo sol se evaporava e dissolvia no ar. Era a rejeição do sacrifício, o repúdio da imolação, rompendo a cruenta tradição do passado. A nova Terra juntava a sua contribuição aos límpidos ideais dos novos homens... (Canaã,1902) NABUCO E MACHADO A essência intelectual de Nabuco provém das suas origens e é por isso que nele se acentua, mais do que o artista, o pensador político. É uma tradição espiritual que ele conserva e eleva a um grau superior, ainda que a essa vocação política se alie a sensibilidade artística. Ele não foi artista absoluto e exclusivo; a sua atração pela história e o culto pelo passado são manifestações de um temperamento político. Nos estudos históricos Nabuco considerava sobretudo a evolução social, a diretriz política das sociedades. Herdou do pai o amor da perfeição, o gosto do conceito, a
fórmula expressiva e gráfica, a que ele ajuntou a modernidade do espírito, a curiosidade cosmopolita, o sabor da novidade e o ardor romântico. Machado de Assis não tem história de família. O que se sabe das suas origens é impreciso; é a vaga e vulgar filiação, com inteira ignorância da qualidade psicológica desses pais, dessa hierarquia, de onde dimana a sensibilidade do singular escritor. E por isso acentua-se mais o aspecto surpreendente do seu temperamento raro, e divergente do que se entende por alma brasileira. Há um encanto nesse mistério original, e a brusca e inexplicável revelação do talento concorre vigorosamente para fortificar-se o secreto atrativo, que sentimos por tão estranho espírito. De onde lhe vem o senso agudo da vida? Que legados de gênio ou de imaginação, recebeu ele? Ninguém sabe. De onde essa amargura e esse desencanto? de onde o riso fatigado? de onde a meiguice? a volúpia? o pudor? de onde esse enjôo dos humanos? Essas qualidades e esses defeitos estão no sangue, não são adquiridos pela cultura individual. A expressão psicológica de Machado de Assis é muito intensa para que possa ser atribuída ao estudo, à observação própria. Cada traço do seu espírito tem raízes seculares e por isso ele resistirá a tudo o que passa. Em 1865, quando se inicia esta correspondência, quem era Machado de Assis? Já era aquele geômetra sutil, que encerrara o Universo no verbo, que se libertara da exaltação racial e sabia dissimular nas linhas tranqüilas e desdenhosas o frêmito da natureza e revelar a loucura dos homens. Tinha apenas vinte e cinco anos; a sua ação literária era eficiente no teatro, no romance e na crítica. Havia publicado novelas, feito representar comédias, brilhava no Diário do Rio ao lado de Quintino Bocaiúva, que Nabuco chamaria o "jovem Hércules da imprensa daquela época". Fora até "futurista", se por este epíteto recordarmos ter sido o cronista singularmente clássico de um efêmero jornal de 1863, O Futuro. Era o poeta das Crisálidas. Para aí chegar, a viagem espiritual de Machado de Assis foi bem secreta. Veio do nada, venceu as suas origens modestas, tornou-se homem de cultura, de gosto e criou a sua própria personalidade. É um doloroso e belo poema o da elaboração do gênio neste obscuro heroísmo. Machado de Assis não revelou nunca esse árduo combate interior, não fez transbordar no ódio e no despeito a sua humildade inicial. Aristocratizou-se silenciosamente. O seu heroísmo está neste trabalho de libertar-se da sua classe, nessa tragédia surda do espírito que se eleva, na distinção pessoa, no desdém de ser agressivo aos poderosos e aos felizes. Da sua angústia intelectual transpira a perene melancolia da luta. Das tristes fontes da sua inteligência persiste para sempre o travo da amargura. Mas esta amargura da vida é nobre, é o desencanto do civilizado e não o rancor do escravo e o destempero do selvagem. O heroísmo de Joaquim Nabuco foi o de separar-se da aristocracia e fazer a abolição. O heroísmo de Machado de Assis foi uma marcha inversa, da plebe à aristocracia pela ascensão espiritual. Ambos tiveram de romper com as suas classes e heroicamente afirmar as próprias personalidades. (Machado de Assis e Joaquim Nabuco, 1923)
A EMOÇÃO ESTÉTICA NA ARTE MODERNA Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de "horrores". Aquele Gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem invertida se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros "horrores" vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagante, mas transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado. Para estes retardatários a arte ainda é o Belo. Nenhum preconceito é mais perturbador à concepção da arte que o da Beleza. Os que imaginam o belo abstrato são sugestionados por convenções forjadoras de entidades e conceitos estéticos sobre os quais não pode haver uma noção exata e definitiva. Cada um que se interrogue a si mesmo e responda que é a beleza? Onde repousa o critério infalível do belo? A arte é independente deste preconceito. É outra maravilha que não é a beleza. É a realização da nossa integração no Cosmos pelas emoções derivadas dos nossos sentidos, vagos e indefiníveis sentimentos que nos vêm das formas, dos sons, das cores, dos tatos, dos sabores e nos levam à unidade suprema com o Todo Universal. Por ela sentimos o Universo, que a ciência decompõe e nos faz somente conhecer pelos seus fenômenos. Por que uma forma, uma linha, um som, uma cor nos comovem, nos exaltam e transportam ao universal? Eis o mistério da arte, insolúvel em todos os tempos, porque a arte é eterna e o homem é por excelência o animal artista. O sentimento religioso pode ser transmudado, mas o senso estético permanece inextinguível, como o Amor, seu irmão imortal. O Universo e seus fragmentos são sempre designados por metáforas e analogias, que fazem imagens. Ora, esta função intrínseca do espírito humano mostra como a função estética, que é a de idear e imaginar, é essencial à nossa natureza. A emoção geradora da arte ou a que esta nos transmite é tanto mais funda, mais universal quanto mais artista for o homem, seu criador, seu intérprete ou espectador. Cada arte nos deve comover pelos seus meios diretos de expressão e por eles nos arrebatar ao Infinito.
A pintura nos exaltará, não pela anedota, que por acaso ela procure representar, mas principalmente pelos sentimentos vagos e inefáveis que nos vêm da forma e da cor. Que importa que o homem amarelo ou a paisagem louca, ou o Gênio angustiado não sejam o que se chama convencionalmente reais? O que nos interessa é a emoção que nos vem daquelas cores intensas e surpreendentes, daquelas formas estranhas, inspiradoras de imagens e que nos traduzem o sentimento patético ou satírico do artista. Que nos importa que a música transcendente que vamos ouvir não seja realizada segunda as fórmulas consagradas? O que nos interessa é a transfiguração de nós mesmos pela magia do som, que exprimirá a arte do músico divino. É na essência da arte que está a Arte. É no sentimento vago do Infinito que está a soberana emoção artística derivada do som, da forma e da cor. Para o artista a natureza é uma "fuga" perene no Tempo imaginário. Enquanto para os outros a natureza é fixa e eterna, para ele tudo passa e a Arte é a representação dessa transformação incessante. Transmitir por ela as vagas emoções absolutas vindas dos sentidos e realizar nesta emoção estética a unidade com o Todo é a suprema alegria do espírito. Se a arte é inseparável, se cada um de nós é um artista mesmo rudimentar, porque é um criador de imagens e formas subjetivas, a Arte nas suas manifestações recebe a influência da cultura do espírito humano. Toda a manifestação estética é sempre precedida de um movimento de idéias gerais, de um impulso filosófico, e a Filosofia se faz Arte para se tornar Vida. Na antigüidade clássica o surto da arquitetura e da escultura se deve não somente ao meio, ao tempo e à raça, mas principalmente à cultura matemática, que era exclusiva e determinou a ascendência dessas artes da linha e do volume. A própria pintura dessas épocas é um acentuado reflexo da escultura. No renascimento, em seguida à perquirição analítica da alma humana, que foi a atividade predominante da idade média, o humanismo inspirou a magnífica floração da pintura, que na figura humana procurou exprimir o mistério das almas. Foi depois da filosofia natural do século XVII que o movimento panteístico se estendeu à Arte e à Literatura e deu à Natureza a personificação que raia na poesia e na pintura da paisagem. Rodin não teria sido o inovador, que foi na escultura, se não tivesse havido a precedência da biologia de Lamarck e Darwin. O homem de Rodin é o antropóide aperfeiçoado. E eis chegado o grande enigma que é o precisar as origens da sensibilidade na arte moderna. Este supremo movimento artístico se caracteriza pelo mais livre e fecundo subjetivismo. É uma resultante do extremado individualismo que vem vindo na vaga do tempo há quase dois séculos até se espraiar em nossa época, de que é feição avassaladora. Desde Rousseau o indivíduo é a base da estrutura social. A sociedade é um ato da livre vontade humana. E por este conceito se marca a ascendência filosófica de Condillac e da sua escola. O individualismo freme na revolução francesa e mais tarde no romantismo e na revolução social de 1848, mas a sua libertação não é definitiva. Esta só veio quando o darwinismo triunfante desencadeou o espírito humano das suas pretendidas origens divinas e revelou o fundo da natureza e as suas tramas inexoráveis. O espírito do homem mergulhou neste insondável abismo e procurou a essência das coisas. O subjetivismo mais livre e desencantado germinou em tudo. Cada homem é um pensamento independente, cada artista exprimirá livremente, sem compromissos, a sua interpretação da vida, a emoção estética que lhe vem dos seus contatos com a natureza. É toda a magia interior do espírito se traduz na poesia, na música e nas artes plásticas. Cada um se julga livre de revelar a natureza segundo o próprio sentimento libertado. Cada um é livre de criar e manifestar o seu sonho, a sua fantasia íntima desencadeada de toda a regra, de toda a sanção. O cânon e a lei são substituídos pela liberdade absoluta que os revela, por entre mil extravagâncias, maravilhas que só a liberdade sabe gerar. Ninguém pode dizer com segurança onde o erro ou a loucura na arte, que é a expressão do estranho mundo subjetivo do homem. O nosso julgamento está subordinado aos nossos variáveis preconceitos. O gênio se manifestará livremente, e esta independência é uma magnífica fatalidade e contra ela não prevalecerão as academias, as escolas, as arbitrárias regras do nefando bom gosto, e do infecundo bom-senso. Temos que aceitar como uma força inexorável a arte libertada. A nossa atividade espiritual se limitará a sentir na arte moderna a essência da arte, aquelas emoções vagas transmitidas pelos sentidos e que levam o nosso espírito a se fundir no Todo infinito. Este subjetivismo é tão livre que pela vontade independente do artista se torna no mais desinteressado objetivismo, em que desaparece a determinação psicológica. Seria a pintura de Cézanne, a música de Strawinsky reagindo contra o lirismo psicológico de Debussy procurando, como já se observou, manifestar a própria vida do objeto no mais rico dinamismo, que se passa nas coisas e na emoção do artista. Esta talvez seja a acentuação da moda, porque nesta arte moderna também há a vaga da moda, que até certo ponto é uma privação da liberdade. A tirania da moda declara Debussy envelhecido e sorri do seu subjetivismo transcendente, a tirania da moda reclama a sensação forte e violenta da interpretação construtiva da natureza pondo-se em íntima correlação com a vida moderna na sua expressão mais real e desabusada. O intelectualismo é substituído pelo objetivismo direto, que, levado ao excesso, transbordará do cubismo no dadaísmo. Há uma espécie de jogo divertido e perigoso, e por isso sedutor, da arte que zomba da própria arte. Desta zombaria está impregnada a música moderna que na França se manifesta no sarcasmo de Eric Satie e que o grupo dos "seis" organiza em
atitude. Nem sempre a fatura desse grupo é homogênea, porque cada um dos artistas obedece fatalmente aos impulsos misteriosos do seu próprio temperamento, e assim mais uma vez se confirma a característica da arte moderna que é a do mais livre subjetivismo. É prodigioso como as qualidades fundamentais da raça persistem nos poetas e nos outros artistas. No Brasil, no fundo de toda a poesia, mesmo liberta, jaz aquela porção de tristeza, aquela nostalgia irremediável, que é o substrato do nosso lirismo. É verdade que há um esforço de libertação dessa melancolia racial, e a poesia se desforra na amargura do humorismo, que é uma expressão de desencantamento, um permanente sarcasmo contra o que é e não devia ser, quase uma arte de vencidos. Reclamemos contra essa arte imitativa e voluntária que dá ao nosso "modernismo" uma feição artificial. Louvemos aqueles poetas que se libertam pelos seus próprios meios e cuja força de ascensão lhes é intrínseca. Muitos deles se deixaram vencer pela morbidez nostálgica ou pela amargura da farsa, mas num certo instante o toque da revelação lhes chegou e ei-los livres, alegres, senhores da matéria universal que tornam em matéria poética. Destes, libertados da tristeza, do lirismo e do formalismo, temos aqui uma plêiade. Basta que um deles cante, será uma poesia estranha, nova, alada e que se faz música para ser mais poesia. De dois deles, nesta promissora noite, ouvireis as derradeiras "imaginações". Um é Guilherme de Almeida, o poeta de "Messidor", cujo lirismo se destila sutil e fresco de uma longínqua e vaga nostalgia de amor, de sonho e de esperança, e que, sorrindo, se evola da longa e doce tristeza para nos dar nas Canções Gregas a magia de uma poesia mais livre do que a Arte. O outro é o meu Ronald de Carvalho, o poeta da epopéia da "Luz Gloriosa" em que todo o dinamismo brasileiro se manifesta em uma fantasia de cores, de sons e de formas vivas e ardentes, maravilhoso jogo de sol que se torna poesia! A sua arte mais aérea agora, nos novos epigramas, não definha no frívolo virtuosismo que é o folguedo do artista. Ela vem da nossa alma, perdida no assombro do mundo, e é a vitória da cultura sobre o terror, e nos leva pela emoção de um verso, de uma imagem, de uma palavra, de um som à fusão do nosso ser no Todo infinito. A remodelação estética do Brasil iniciada na música de Villa-Lobos, na escultura de Brecheret, na pintura de Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, e na jovem e ousada poesia, será a libertação da arte dos perigos que a ameaçam do inoportuno arcadismo, do academismo e do provincialismo. O regionalismo pode ser um material literário, mas não o fim de uma literatura nacional aspirando ao universal. O estilo clássico obedece a uma disciplina que paira sobre as coisas e não as possui. Ora, tudo aquilo em que o Universo se fragmenta é nosso, são os mil aspectos do Todo, que a arte tem que recompor para lhes dar a unidade absoluta. Uma vibração íntima e intensa anima o artista neste mundo paradoxal que é o Universo brasileiro, e ela não se pode desenvolver nas formas rijas do arcadismo, que é o sarcófago do passado. Também o academismo é a morte pelo frio da arte e da literatura. (...) O que hoje fixamos não é a renascença de uma arte que não existe. É o próprio comovente nascimento da arte no Brasil, e, como não temos felizmente a pérfida sombra do passado para matar a germinação, tudo promete uma admirável "florada" artística. E, libertos de todas as restrições, realizaremos na arte o Universo. A vida será, enfim, vivida na sua profunda realidade estética. O próprio Amor é uma função da arte, porque realiza a unidade integral do Todo infinito pela magia das formas do ser amado. No universalismo da arte estão a sua força e a sua eternidade. Para sermos universais façamos de todas as nossas sensações expressões estéticas, que nos levem a à ansiada unidade cósmica. Que a arte seja fiel a si mesma, renuncie ao particular e faça cessar por instantes a dolorosa tragédia do espírito humano desvairado do grande exílio da separação do Todo, e nos transporte pelos sentimentos vagos das formas, das cores, dos sons, dos tatos e dos sabores à nossa gloriosa fusão no Universo. (Espírito Moderno, 1925)
JOÃO BATISTA RIBEIRO FILHO39 ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS JOÃOZINHO RIBEIRO40 - nasceu em 19 de abril de 1955, no bairro da Coréia, na inconfidente rua 21 de abril, em São Luís, predestinado a lutar pelo decoro da arte maranhense. Com os pais, o feirante João e a operária têxtil Amália, seguiu as trilhas arrasadas pela guerra da sobrevivência: Diamante, 18 de Novembro, Cavaco e Desterro. (www.guesaerrante.com.br) “Joãozinho é o poeta da vida, dos becos e das bandeiras. Amigo da arte, filho da cultura, irmão do tempo. Tem perfil de Desterro e me mostrou que a diferença entre história e causo está na importância da bandeira que se carrega”. CLÁUDIA LOBO
De RIBEIRO, Joãozinho.. Paisagem feita de tempo. São Luis do Maranhão: 2006. 102 p. ilus. Composto pela Dupla Criação em fonte Garamond, corpo 11. Diagramação: Beto Nicácio, Acompanhamento gráfico de Wilson Martins. Capa de Beto Nicácio. Ilustrações de Érico Junqueira. Foto da 4ª capa apresenta reprodução do diploma do Jardim de Infância de João Batista Ribeiro Filho. Formato 20x20 cm. Col. A.M. (EE) SANGRANDO Lá no fundo insatisfeita A voz Da poesia assim desfeita Rimando Infeliz da própria sorte (ah! Quantas pás de terra Ainda cobrirão este corpo Onde há cinquenta abris Eu me escondo e me descubro ?) Presença da morte ha sala Flores cheirando a saudade E um luto de quatro semanas Mantendo as janelas fechadas E os meninos proibidos de brincarem na rua. De geração em geração, Naquela casa A vida se reproduzia. Com seus rituais E a morte era um deles: O luto traduzido 39 40
Onde não é indicado mo Autor, o texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ... http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/joaozinho_ribeiro.html
Nas janelas fechadas ou semi-abertas; Denunciavam a hierarquia Doméstica do atual defunto Beijávamos os pés dos mortos Para evitar as visitas assombrosas, Nas noites, de escuridão, Sob a forma de visagem Os anos verdes apodreceram Dentro dos invernos que se sucederam Como bagaços decana nos alambiques da vida Povoando o existir Escrito hoje Com letras feitas de tempo
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO41
Fundadora da Cadeira 31 da ALL Academia Maranhense de Letras Jurídicas Academia Caxiense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu na cidade de São Luís-MA no dia 23 de maio de 1966. Promotora de Justiça, jurista, professora universitária, mestra e doutora em Ciências Penais, historiadora, conferencista e palestrante nacional, escritora e poeta, é filha única de Wilson Pires Ferro, já falecido, professor da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, bancário, contabilista, historiador, contista e poeta, e Eunice Graça Marcilia Almeida Ferro, também contabilista, que sempre lhe devotaram amor incondicional e a estimularam ao aprofundamento nos estudos. Seus avós paternos eram João Meireles Ferro, ferroviário da Estrada de Ferro São LuísTeresina, e Izabel Pires Chaves Ferro, ambos nascidos em Caxias, onde viveram boa parte de suas vidas. Seus avós maternos eram Marcos Vinicius Sérgio de Almeida, célebre radialista e locutor na capital maranhense, por duas vezes consecutivas eleito “Rei do Rádio” (1953-1954), e Ducilia Ferreira de Almeida. Seus dedicados padrinhos eram o avô paraense Marcos Vinicius e a avó caxiense Izabel, conhecida como “Bela”. O prenome composto foi uma sugestão da mãe, Dona Eunice, em homenagem às bisavós Ana de Abreu Ferreira e Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, esta nascida no Ceará, professora normalista, jornalista, pianista, violonista e declamadora de poesias, esposa de Raimundo Tomás de Almeida, proprietário da Casa Ribamar, fundada em 1926, em São Luís, na época considerada como o maior empório musical do norte do país. Introduzida pelos pais no fascinante mundo dos livros, cedo se entregou à leitura dos clássicos e dos romances de aventuras, especialmente os das literaturas inglesa e francesa, entre outros. No Colégio Santa Teresa, na capital maranhense, recebeu os mesmos estímulos da família. Aluna exemplar, destacou-se em todas as matérias, porém sempre preferiu os domínios de História, Português e Literatura, Geografia, Educação Artística, Psicologia e Biologia. Como lhe aprazia e seu sonho inicial era a carreira diplomática, que não chegou a ser perseguida posteriormente, dedicou-se, paralelamente, ao estudo de línguas estrangeiras, primeiro a inglesa, depois a francesa e, já na idade adulta, a alemã, a espanhola e a italiana. Na escola, praticou futebol, voleibol e tênis de mesa, esporte pelo qual se tornaria, mais tarde, campeã universitária maranhense e campeã maranhense. Sua vocação para o Ministério Público parece haver se revelado precocemente, ainda nas trincheiras da Literatura, quando foi escolhida para ser a voz da acusação em Tribunal do Júri escolar, no qual foi julgada – e condenada por adultério, registre-se – a personagem Capitu, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Ana Luiza estudou o primário e a maior parte do secundário no Colégio Santa Teresa, em São Luís, de 1972 a 1982, e concluiu o secundário no Colégio Itamarati, Instituto Guanabara, no Rio de Janeiro-RJ, em 1983, ano em que a família residiu na capital fluminense, onde seu pai Wilson Ferro cursou pós-graduação em Segurança e Desenvolvimento na Escola Superior de Guerra – ESG. De volta a São Luís, ela ingressou no Curso de Letras (Licenciatura) da UFMA em 1984, formando-se em 1988, com habilitação em Língua Inglesa. No mesmo ano, iniciou Direito, pela mesma instituição de ensino superior, e fez o Curso La Enseñanza de La Traducción, promovido pela San Diego State University, da Califórnia, Estados Unidos, realizado no âmbito da UFMA. Na condição de bolsista do Rotary, realizou estudos de pré-mestrado, na área de Inglês, com foco em Literatura, sobretudo a inglesa, na University of Oregon, em Eugene, Estado do Oregon, Estados Unidos, no ano de 1991, quando trancou a matrícula na UFMA, em relação ao Curso de Direito, pelo qual viria a se graduar em 1993. Na University of Oregon, cursou as seguintes disciplinas: English Drama (Jacobean Drama), Edmund Spenser, Advanced Shakespeare, The Renaissance Hero, Seminar: Post-Colonial Strategies in the Novel, Film and Folklore,
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http://www.ube.org.br/biografias-detalhe.asp?ID=54
Modern Drama, Seminar: Feminist Constructions of Voice — A Craft Course, English Drama (Medieval and Tudor Drama), Top: 18th Century Literature (Sex & Gender in the Restoration) e Introduction to Graduate Studies. Estudou inglês no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos – ICBEU (1978-1985), francês na Aliança Cultural Franco-Brasileira, conhecida como Aliança Francesa (1984-1995), alemão (1986-1988) e espanhol (1988-1989) no Núcleo de Cultura Linguística do Departamento de Letras da UFMA, sempre em São Luís, e italiano (2000-2002) e alemão (2002-2003) na Escola Luziana Lanna Idiomas, em Belo Horizonte-MG, onde morou, juntamente com os pais, de 2000 a 2003. Em consequência, é portadora do First Certificate in English e do Certificate of Proficiency in English, concedidos pela University of Cambridge, Inglaterra, e do Certificat pratique de langue française (1er degré), do Diplôme d’études françaises (2e degré) edo Diplôme supérieur d’études françaises (3e degré), pela Université de Nancy II, França. Foi aprovada na Seleção de Inglês para professores pró-labore, em setembro de 1988, pelo Departamento de Letras da UFMA, e em Concurso Público para ingresso na carreira do Magistério Superior, na Classe de Professor Auxiliar, na área de Língua Inglesa, Departamento de Letras da UFMA, realizado em 1994, obtendo o segundo lugar, assim como no Processo Seletivo Simplificado para Contratação de Professor Substituto, área de Direito Público, realizado pelo Departamento de Direito, do Centro de Ciências Sociais da UFMA, em 1999, obtendo o primeiro lugar. Ana Luiza foi bolsista do Programa Interinstitucional de Iniciação Científica CNPq/UFMA, desenvolvendo o Projeto de Pesquisa “Programa Permanente de Análise e Indexação de Jurisprudência: Questão Agrária 1981/1989”, sob a orientação do Professor João Batista Ericeira, do Departamento de Direito da UFMA, no período de abril a dezembro de 1990, em São Luís. No magistério, sua experiência se divide, em especial, entre o ensino da língua inglesa e o das Ciências Criminais. Foi Professora de Inglês no ICBEU (1982) e no Yes – Instituto de Idiomas (1989-1990). Já na universidade, foi professora dos cursos de extensão de Língua Inglesa I, II, III e IV, promovidos pelo Núcleo de Cultura Linguística do Departamento de Letras da UFMA, nos anos de 1992 e 1993. Foi Professora de Criminologia da Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, ministrando em cursos de pós-graduação em Ciências Penais, de 2001 a 2003, em Belo Horizonte. Ministrou a disciplina Criminologia no Curso de Especialização em Ciências Criminais do então Centro Universitário do Maranhão – UNICEUMA, hoje Universidade Ceuma, no ano de 2008. Pela Escola Superior do Ministério Público do Maranhão, ministrou os cursos sobre “Crime organizado” e “Criminologia: o criminoso de colarinho branco sob a perspectiva criminológica”, ambos em 2011, como etapas de vitaliciamento do Curso de Ingresso na Carreira do Ministério Público do Maranhão, além da disciplina Criminologia no VIII Módulo do Curso de Pós-Graduação em Ciências Criminais em 2012. Igualmente ministrou aula sobre o tema “Tutela repressiva às organizações criminosas” no Curso de Especialização em Ciências Criminais, da Faculdade de Direito de Vitória, no Espírito Santo, em 2013. Compôs várias bancas examinadoras. Desempenhou a função de Membro da Equipe de Correção de Redação na Comissão Permanente de Vestibular – COPEVE, quando da realização do Concurso Vestibular de 1993, da UFMA. Foi e é orientadora de trabalhos acadêmicos. Ainda em 1993, mesmo ano da conclusão do Curso de Direito, quando exercia o cargo de Técnico Judiciário, Área Meio, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Seção Judiciária do Maranhão, foi aprovada no Concurso Público para Ingresso na Carreira Inicial do Ministério Público do Maranhão, tendo tomado posse em 3 de janeiro de 1994, na administração da Procuradora-Geral de Justiça da época, Dra. Elimar Figueiredo de Almeida Silva. Exerceu o cargo de Promotora de Justiça nas Comarcas de Icatu, Olho D’Água das Cunhas e São Mateus, como substituta; e nas Comarcas de Carutapera, São Mateus, Viana e Caxias, como titular, mediante, nos dois últimos casos, promoção por merecimento. Respondeu, em caráter cumulativo, pelas atribuições da Promotoria de Justiça da Comarca de Vitória do Mearim. Foi Promotora Eleitoral de diversas zonas. Respondeu, cumulativamente, pela 2ª, 3ª e 5ª (Juizado) Promotorias de Justiça da Comarca de Caxias. Foi Diretora das Promotorias de Justiça de Caxias em várias oportunidades. De 2000 a 2003, Ana Luiza esteve afastada das funções ministeriais para cursar mestrado e doutorado em Ciências Penais na tradicional Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG em Belo Horizonte. Concluiu o mestrado com a defesa da dissertação intitulada “O crime de falso testemunho ou falsa perícia no Direito Penal brasileiro e comparado: o sujeito ativo e outras questões”, em 25 de abril de 2002, sob orientação do Prof. Dr. Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva, obtendo conceito A. Também conquistou o título de Doutora com a defesa da tese intitulada: “O crime organizado e as organizações criminosas: conceito, características, aspectos criminológicos e sugestões político-criminais”, em 8 de março de 2006, coincidentemente o Dia Internacional da Mulher, sob orientação do mesmo professor, obtendo novamente média equivalente ao conceito A.
Regressando a São Luís, exerceu a função de Coordenadora de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Direito da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão – ESMP, de 2006 a 2009, e o cargo em comissão de Assessor de Procurador-Geral de Justiça de 30 de novembro de 2009 a 16 de junho de 2010. Hodiernamente, é Promotora de Justiça titular da 14ª (antiga 24ª) Promotoria de Justiça Criminal da Comarca de São Luís, de entrância final, para onde foi promovida em 2009, além de Professora de Direito da Universidade Ceuma e Professora da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão, na capital maranhense. Integra a Comissão Gestora do Programa Memória Institucional do Ministério Público do Estado do Maranhão. É membro efetivo da Academia Maranhense de Letras Jurídicas – AMLJ, da qual foi Presidente no biênio 2011-2013, a primeira mulher a exercer tal posto. Ocupa a Cadeira nº 5, patroneada pelo Ministro Augusto Olympio Viveiros de Castro, desde 3 de dezembro de 2004, data de sua posse no auditório da Academia Maranhense de Letras, em São Luís-MA, ocasião em que foi saudada pela Acadêmica Elimar Figueiredo de Almeida Silva. É membro efetivo da Academia Caxiense de Letras – ACL, ocupando a Cadeira nº 9, patroneada pela Professora Filomena Machado Teixeira, na qual tomou posse em 26 de abril de 2008, em solenidade em Caxias-MA, tendo sido saudada pelo Desembargador Jamil de Miranda Gedeon Neto. É sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, ocupando a Cadeira nº 36, cujo patrono é Astolfo Henrique de Barros Serra, desde 26 de agosto de 2011, data de sua posse em São Luís, oportunidade na qual foi saudada pelo colega Promotor de Justiça Washington Luiz Maciel Cantanhêde. Finalmente, é um dos 25 fundadores da Academia Ludovicense de Letras – ALL, entidade nascida em 10 de agosto de 2013, onde ocupa, como membro efetivo, a Cadeira nº 31, patroneada pelo renomado historiador Mário Martins Meireles, aliás, seu parente, por parte de pai. É autora do projeto do brasão da ALL, assim como o seu patrono Mário Meireles já idealizara o brasão da Academia Maranhense de Letras no passado. É Membro da Comissão Editorial da Revista Eletrônica de Ciências Jurídicas, da AMPEM, desde o segundo semestre de 2004, em São Luís. No âmbito nacional, é Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica – SBPJ, com agraciamento em 21 de agosto de 2008, em cerimônia realizada em Porto Alegre-RS. Proferiu numerosas palestras e conferências em eventos realizados em diversas cidades brasileiras, tais como as intituladas “Instrumentos legais de defesa da mulher contra a violência”, no II Encontro da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica, em São Luís, no ano de 1998, e no I Seminário sobre os Direitos da Mulher, na cidade de Caxias-MA, em 1999; “O Ministério Público e os Municípios: a questão da improbidade administrativa”, no Encontro de Prefeitos do Maranhão, na capital maranhense, em 1998; “O Tribunal de Nuremberg”, na Fundação Escola Superior do Ministério Público/MG, em Belo Horizonte, no ano de 2003; “O idoso na sociedade”, no I Fórum Municipal do Idoso, na cidade de Caxias, em 2006; “Para entender o Ministério Público”, no I Seminário para Jornalistas, em São Luís, no ano de 2007; “Crime de colarinho branco: perspectiva criminológica”, em cerimônia da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica, na capital gaúcha, em 2008, e no 1º Seminário de Criminologia e Segurança Pública, no Rio de Janeiro, em 2009; “O Ministério Público no combate às organizações criminosas”, em painel no I Congresso Estadual do Ministério Público do Maranhão, em São Luís, no ano de 2008; “Crime organizado e organizações criminosas”, no 7º Congresso Brasileiro de Direito Internacional, na Universidade de São Paulo – USP, e na XVI Jornada Jurídica do Curso de Direito – UNICEUMA, em 2009; “Organizações criminosas”, no Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, na cidade de Florianópolis, em 2010; “Crime organizado e organizações criminosas mundiais: apontamentos”, no I Seminário Nacional de Direito Penal e Processual Penal na Região Serrana, na Universidade Estácio de Sá – Unidade Nova Friburgo, em 2010; “Crime organizado e organizações criminosas”, no Rotary Club de São Luís, em 2010, na I Jornada de Direito Penal, da Escola de Magistratura Federal da 1ª Região – ESMAF, em Manaus-AM, em 2012, na I Semana Acadêmica do Curso de Direito, na UFMA, em São Luís, no ano de 2013, e na I Conferência Estadual de Políticas Penitenciárias, promovida pela Escola de Gestão Penitenciária do Maranhão, da Secretaria da Justiça e da Administração Penitenciária, em São Luís, em 2014; “Delinquência organizada e organizações criminosas mundiais”, no seminário O Ministério Público e a repressão ao crime organizado, em Goiânia-GO, em 2011; “Crime organizado e organizações criminosas mundiais”, no Seminário: Combate ao crime organizado, em Boa Vista-RR, em 2011; “A fundação da cidade de São Luís: fatos e mitos”, no Seminário 6: São Luís foi fundada por quem? Conclusões possíveis, do Ciclo de Estudos/Debates A cidade do Maranhão – uma história de 400 anos 2011/2012, promovido pelo IHGM, em São Luís, em 2012; “O crime do colarinho branco sob a ótica criminológica”, na Jornada Jurídica: Hermenêutica constitucional e jurisdição penal, em Imperatriz-MA, no ano de 2012, entre outras. Foi oradora das turmas de licenciandos em Educação Artística, Estudos Sociais, Filosofia, História e Letras em 1988 e da turma de bacharelandos do Curso de Direito em 1993, por ocasião das respectivas colações de grau da UFMA, assim como dos Promotores de Justiça do Maranhão, na cerimônia de entrega das vestes talares, em 1994. Obteve o primeiro lugar no Concurso Epistolar Internacional para jovens, promovido pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Delegacia Regional do Maranhão, realizado em 1982. Foi premiada no Concurso Jovem Embaixador 1983, promovido por O Globo, pelo Instituto Guanabara e pelo Colégio Princesa Isabel, no Rio de
Janeiro-RJ. Também recebeu Prêmio de Publicação no V Concurso Raimundo Correa de Poesia, tendo sido selecionada para participar do livro Poetas brasileiros de hoje 1986.Seus poemas foram igualmente incluídos na obra Poetas brasileiros de hoje 1987 e na prestigiada Revista Poesia Sempre: Polônia, da Fundação Biblioteca Nacional (2008). Alcançou a primeira colocação com a poesia “Quando” no I Concurso Literário de Contos e Poesias em 2012 e o segundo lugar com a poesia “A dama quatrocentona” no II Concurso Literário nos Gêneros de Poesias e/ou Crônicas “São Luís, minha cidade”, no ano seguinte, ambos promovidos pela Associação dos Amigos da Universidade Federal do Maranhão – AAUFMA. Recebeu a Medalha “Souzândrade” do Mérito Universitário, concedida pela Universidade Federal do Maranhão, por haver obtido o maior coeficiente de rendimento escolar da universidade, durante o curso de graduação, até o primeiro semestre letivo de 1987. Foi agraciada com o “Prêmio AMPEM”, em três edições (1997-1999), e, em sequência, com o “Prêmio Márcia Sandes”, em suas edições 2001, 2003, 2004, 2006, 2007 e 2008, concedidos pela Associação do Ministério Público do Estado do Maranhão – AMPEM aos autores dos trabalhos jurídicos mais destacados. Recebeu, ainda, a Comenda Arcelina Mochel, outorgada pela AMPEM, pela passagem de quinze anos de serviços prestados ao Ministério Público, em 2009, e a Comenda Gonçalves Dias, conferida pelo IHGM, pela participação e empenho na materialização do Projeto Gonçalves Dias, em 2013. É autora de vários livros e possui numerosos artigos jurídicos e históricos e peças processuais publicadas em livros e revistas especializadas, entre as quais a Revista dos Tribunais, a De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, a Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera e a Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (edição eletrônica), além de artigos e crônicas veiculadas nos jornais O Estado do Maranhão e O Imparcial e poesias, incluídas em publicações variadas. Sua obra Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009), baseada na tese de Doutorado na UFMG, levou-a a ser entrevistada pelo apresentador Jô Soares em seu Programa do Jô, da Rede Globo, exibido em 26 de março de 2010, e pela revista História em curso (São Paulo, Minuano, v. 2, n. 8, p. 10-17, 2012), entre outras entrevistas concedidas em publicações nacionais desde 2009. É um dos seis autores que colaboraram na obra França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários, organizada por Antonio Noberto (São Luís, 2012). No campo jurídico, teve dois artigos – “Reflexões sobre o crime organizado e as organizações criminosas” e “Os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas” – incluídos no livro Direito penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa, no ano de 2011, uma republicação, em edição especial, dos melhores artigos doutrinários já publicados pela prestigiada Editora Revista dos Tribunais ao longo de 100 anos. Seus autores prediletos são o poeta e dramaturgo William Shakespeare e a romancista Jane Austen, cujas principais obras já leu no original, entre as quais Pride and prejudice, tema de sua monografia de conclusão do Curso de Letras na UFMA, além do poeta Gonçalves Dias, sua referência maior na poesia brasileira, e do romancista cearense José de Alencar, com quem teria laços distantes de parentesco, segundo informações de seu avô materno Marcos Vinicius, já falecido, filho da professora, jornalista e pianista Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, nascida no Ceará. Advanced Shakespeare foi, não por acaso, uma das disciplinas cursadas na University of Oregon, nos Estados Unidos. Participa das atividades promovidas pelo Liceo Poético de Benidorm, Espanha, em São Luís. Esta é a sua bibliografia:
a) livros jurídicos e afins: O Tribunal de Nuremberg: dos precedentes à confirmação de seus princípios. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002 (baseado na monografia de conclusão do Curso de Direito); Escusas absolutórias no Direito Penal. Belo Horizonte: Del Rey, 2003; Robert Merton e o funcionalismo. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004; O crime de falso testemunho ou falsa perícia: atualizado conforme a Lei n. 10.268, de 28 de agosto de 2001. Belo Horizonte: Del Rey, 2004 (baseado na dissertação de Mestrado); Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely. Belo Horizonte: Decálogo, 2008; Crime organizado e organizações criminosas mundiais. Curitiba: Juruá, 2009 (baseado na tese de Doutorado); e Criminalidade organizada: comentários à Lei 12.850, de 02 de agosto de 2013. Curitiba: Juruá, 2014 (em coautoria com Flávio Cardoso Pereira e Gustavo dos Reis Gazzola); b) livros de poesias: Versos e anversos. Belo Horizonte: Mandamentos, 2002 (em coautoria com o pai Wilson Pires Ferro e o tio José Ribamar Pires Ferro); Quando: poesias. São Paulo: Scortecci, 2008; A odisséia ministerial timbira: poema. São Luís: AMPEM, 2008; e O náufrago e a linha do horizonte: poesias. São Paulo: Scortecci, 2012;
c) artigos (em livros e revistas especializadas): “A mão da sociedade”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (1998); “Algumas considerações sobre o testemunho infantil”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2000) e na APMP Revista (2001); “Quem deu a ti, Carrasco, esse poder sobre mim?”, na Revista AMPEM (2001) e em O Sino do Samuel, Jornal da Faculdade de Direito da UFMG (2002); “O problema da Justiça em Kelsen”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2001 e na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2002); “O sujeito ativo do crime de falso testemunho: a questão do nãocompromissado e do não-advertido”, na Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2002); “O contador como sujeito ativo do crime de falsa perícia”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2002/2003; “Algumas considerações sobre o imputado, o réu e a autodefesa no Direito penal brasileiro e comparado”, em Justiça e Direito – Revista da Pós-Graduação em Ciências Jurídicas do UNICEUMA (2004); “Os novos conquistadores: as organizações criminosas”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2006 e em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2007); “O crime organizado e as organizações criminosas: uma proposta legislativa”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2006), no site Direito Penal Virtual (2006) e na Revista Âmbito Jurídico, Revista Jurídica Eletrônica (2007); “Reflexões sobre o crime organizado e as organizações criminosas”, na Revista dos Tribunais (2007) e no livro Direito penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa (2011); “Algumas considerações sobre os fenômenos do terrorismo e do crime organizado”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2007, em formato CD-ROM, na Seção “Doutrina”, como parte integrante da Revista Juris Plenum (2008), e na Revista do Ministério Público de Alagoas (2007); “O crime organizado e o crime de colarinho branco”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2007) e em formato CD-ROM, na Seção “Doutrina”, como parte integrante da Revista Juris Plenum (2008); “O crime à luz da teoria da anomia”, no livro Prêmio Márcia Sandes 2008; “Os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas”, na Revista dos Tribunais (2008) e no livro Direito penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa (2011); “Sutherland, a teoria da associação diferencial e o crime de colarinho branco”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2008); “Sutherland – a teoria da associação diferencial e o crime de colarinho branco”, em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2008); “Da (in)constitucionalidade do art. 23, §§ 2º e 3º, da Lei Complementar nº 013/1991 e da Resolução nº 02/2009-CPMP-MA”, no CD Prêmio Márcia Sandes 2010; “A teoria procedimentalista de interpretação constitucional de J. H. Ely”, em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2010) e na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera (2010); “John Hart Ely e sua teoria procedimentalista de interpretação constitucional”, no livro Direitos fundamentais, democracia e cidadania: estudos em homenagem a Elimar Figueiredo de Almeida Silva (2010); “Uma proposta legislativa no campo da criminalidade organizada”, no CD Prêmio Márcia Sandes 2011; “Uma proposta legislativa para o enfrentamento da criminalidade organizada”, em De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (2012); “A fundação da cidade de São Luís: fatos e mitos”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “A Era dos Descobrimentos e a partição do Mar-Oceano”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “Crime organizado: caracterização, exemplos de organizações criminosas e proposta de tipificação legal”, na Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão - Juris Itinera (2012); “As primeiras tentativas portuguesas de povoamento e colonização do Brasil e do Maranhão e a origem do nome ‘Maranhão’”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “A presença dos franceses no Novo Mundo, no Brasil e no Maranhão do século XVI ao início do século XVIII”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2012); “O caso O. J. Simpson na concepção de John Hart Ely”, na Revista da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (2013); “A situação político-religiosa e a política exterior da França no fim do século XVI e começo do século XVII”, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edição eletrônica (2013); “Crime organizado e organizações criminosas: caracterização e proposta de tipificação legal”, na obra I Jornada de Direito Penal, da ESMAF (2013); e “Edwin Sutherland: o crime de colarinho branco e o crime organizado”, na Revista Juris (2014); d) artigos e crônicas (em jornais): “Mário Meireles, o eterno”, no jornal O Estado do Maranhão, 22 jun. 2003; “Errar é humano, punir também”, no jornal O Estado do Maranhão, 22 fev. 2006; “Um certo Josué”, em homenagem ao escritor Josué Montello, no jornal O Estado do Maranhão, 15 abr. 2006; “Saint Louis”, no jornal O Estado do Maranhão, 7 set. 2008; “Sede bem-vindos!”, no jornal O Estado do Maranhão, 13 jun. 2010, Alternativo; “O Rei do Rádio”, em homenagem ao radialista Marcos Vinicius Sérgio de Almeida, no jornal O Estado do Maranhão, 9 set. 2010; “Réquiem para a Biblioteca Pública”, no jornal O Estado do Maranhão, 12 set. 2010; “Essas mulheres extraordinárias...”, no jornal O Estado do Maranhão, 19 mar. 2011; “Convite ao passado de São Luís”, no jornal O Estado do Maranhão, 18 ago. 2012; “São Luís, herdeira da França Equinocial”, no jornal O Imparcial, 8 set. 2012 (em parceria com Wilson Pires Ferro); “O fundador esquecido”, no jornal O Estado do Maranhão, 9 set. 2012; e ); e “O fundador esquecido II”, no jornal O Estado do Maranhão, 8 set. 2012;
e) poesias avulsas: “O Porteiro”, no livro Poetas brasileiros de hoje 1986 (Rio de Janeiro: Shogun Arte, 1986), no Informativo AAUFMA (1997), no Informativo, da Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Maranhão (1997), e na APMP Revista (1997); “O Rei-Menino”, no livro Poetas brasileiros de hoje 1987 (Rio de Janeiro: Shogun Arte, 1987); “A Odisséia Ministerial Timbira”, na APMP Revista (1997); “O Tiro”, na Revista da AMPEM (2005); “Quando”, na Revista da AMPEM (2006); “Em ti, São Luís”, no Jornal O Estado do Maranhão, 8 set. 2007, Caderno Especial São Luís 395 anos: 10 anos de Patrimônio Cultural da Humanidade; “Quero”, na Revista da AMPEM (2007); “O náufrago”, “O náufrago II” e “O náufrago III”, na Revista Poesia Sempre: Polônia, Fundação Biblioteca Nacional, ano 15, n. 30, 2008; f) prefácios: do livro Direito penal e processual penal garantista: das ideias à concretização, de autoria de Justino da Silva Guimarães, São Luís: AMPEM, 2009; do livro No reinado das nuvens, de autoria de Paulo Oliveira, São Luís: AMPEM, 2009; do livro Pedras em Izkor, de autoria de Maruschka de Mello e Silva, São Paulo: Scortecci, 2010; do livro Direito criminal contemporâneo, organizado por André Gonzalez Cruz, Brasília: Kiron, 2012; e do livro França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários, organizado por Antonio Noberto, São Luís, 2012 (em coautoria com Wilson Pires Ferro); g) apresentação: do livro Sombras da noite: contos para a juventude, de autoria de Wilson Pires Ferro, São Luís: Lithograf, 2010; e da Revista da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, na qualidade de sua Presidente, São Luís: Edições AMLJ, 2013. RESUMO DOS LIVROS: 1) Versos e anversos (2002): São três livros em um só, porque escrito por três autores, e nele podem ser encontradas poesias de estilos variados. Há as de estilo antigo e as de feição mais contemporânea. Dedicado ao homem do campo, há o “Poema Caboclo” e, com inspiração em “Os Lusíadas”, há uma tentativa de narrar os principais eventos da História do Brasil, em homenagem aos 500 anos do Descobrimento. Temas distintos, como a natureza, a violência, o amor, a fugacidade da vida, o sonho, o culto à tradição, a criança abandonada, entre muitos outros, testemunham as andanças e vivências dos autores e compõem uma sinfonia inacabada, cujas notas afloram d’alma. 2) O Tribunal de Nuremberg (2002): Versa sobre o chamado Tribunal de Nuremberg (1945-1946), que julgou grandes criminosos de guerra nazistas, percorrendo a fascinante e polêmica via pavimentada com os seus precedentes, as características de seu Estatuto e julgamento, a jurisdição e o caráter internacional do Tribunal, os principais aspectos de seu procedimento e os princípios de Direito Internacional reconhecidos pelo Estatuto e pelo julgamento do Tribunal, com destaque para a afirmação do Direito Internacional, a questão dos fatos justificativos, a garantia de um processo equitativo, os três crimes internacionais e o tema da participação criminosa, em busca do amanhã de Nuremberg. Questões como a do princípio da legalidade em matéria penal internacional e a da obediência hierárquica, dentre outras, presentes em Nuremberg, afiguram-se hoje fundamentais em qualquer discussão sobre Justiça Penal Internacional. 3) Escusas absolutórias no Direito Penal (2003): Tem como tema as escusas absolutórias, no Direito penal brasileiro e comparado, tendo como parâmetros, além da legislação, doutrina e jurisprudência pátria, os direitos francês, italiano, alemão, português, norueguês, espanhol, chileno, argentino e cubano. Os principais pontos abordados são os antecedentes históricos, a terminologia, o conceito, a natureza jurídica e as características, o confronto entre as escusas absolutórias e as condições objetivas de punibilidade, a comparação entre o instituto referido e o erro, o perdão judicial e outras causas extintivas da punibilidade, a questão da ratio e as isenções penais previstas nos artigos 181 e 348, § 2º, do Código Penal brasileiro. 4) Robert Merton e o funcionalismo (2004): Cuida da teoria estrutural-funcionalista da anomia e da criminalidade, desenvolvida, à luz das ideias de Émile Durkheim, pelo sociólogo Robert Merton, enfocando os seus aspectos gerais, a tipologia dos modos de adaptação individual (conformidade, inovação, ritualismo, evasão e rebelião), o papel da família, a anomia e seus diferentes graus, as suas contribuições e a avaliação crítica do pensamento mertoniano e do Funcionalismo, sem dúvida uma das mais importantes correntes criminológicas.
5) O crime de falso testemunho ou falsa perícia (2004): Trata do crime de falso testemunho ou falsa perícia, incluindo visão histórica, com ênfase na questão do sujeito ativo e temas correlatos, no Direito penal brasileiro e comparado, tendo como parâmetros, além da legislação, doutrina e jurisprudência pátria, os direitos inglês, americano, alemão, norueguês, francês, italiano, português, espanhol, argentino, chileno e cubano. Inicialmente, são enfocadas as provas testemunhal e pericial. Na parte nuclear, sob o prisma dos artigos 342 e 343 do Código Penal brasileiro, com a redação da Lei nº 10.268/2001, é enfrentado o tema do sujeito ativo, examinando-se as situações do imputado, do réu e da autodefesa, do ofendido, do não-compromissado e do não-advertido, do depoimento pessoal em processo civil, do perito e do assistente técnico, do contador, bem como a possibilidade de coautoria e participação. 6) Quando: poesias (2008): Neste livro de poesias, a autora não se associa a um modelo único de escola ou forma, oferecendo, sempre com o domínio adequado da linguagem, poemas rimados, sonetos, poemas de versos brancos e até experimentos com a linguagem, em alguns casos, evocando o concretismo, noutros cortejando as aliterações de inspiração simbolista. Sua navegação pelos mares da poesia é sóbria e fascinante, orientada por temas como a fugacidade da vida, a solidão, o amor, a saudade, a violência, a busca do novo, a inexorabilidade do tempo, a consciência da morte, dentre outros, compondo um mosaico de sentimentos humanos confrontados com a realidade, em permanente estado de tensão e inquietação existencial, de que são testemunhos pungentes, por exemplo, os poemas “Quando”, “Quero”, “A criação”, “Escrevi teu nome”, “Procurei-te”, “Pesadelo” e “O tempo como o vento”. 7) Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely (2008): Tem como tema a teoria de interpretação constitucional de John Hart Ely, cujos principais trabalhos são: Democracy and Distrust: A Theory of Judicial Review (pelo qual foi agraciado com o prêmio Order of the Coif Triennial Book Award, como melhor livro sobre direito publicado em 1980-82), War and Responsibility (1993) e On Constitutional Ground (1996). Apesar de relativamente pouco conhecido no Brasil, é o quarto jurista americano mais freqüentemente citado de todos os tempos, segundo estudos publicados em janeiro de 2000, divulgados pelo Journal of Legal Studies, da Universidade de Chicago. Democracy and Distrust constitui o livro jurídico mais citado desde 1978, tendo sido referido 1460 vezes. O autor, de tendência formalista, defende uma forma de controle de constitucionalidade, justificada na própria natureza da Constituição dos Estados Unidos e no sistema americano de democracia representativa, orientada para questões de participação e não para os méritos substantivos da escolha política sob ataque. Para ele, as cortes devem proteger os direitos identificados com alguma especificidade na Carta Constitucional como habilitados à proteção, particularmente direitos de acesso político e direitos de igualdade. Sua teoria, de tom procedimentalista, invoca sempre a autoridade do texto e do contexto da Constituição, buscando a afirmação, pelas cortes em geral e especialmente pela Suprema Corte americana, dos direitos encontrados no próprio texto constitucional, dos que são pré-requisitos para a participação política e dos que estão incluídos entre aqueles que a maioria controladora assegurou para si. Embora concebida visando à realidade americana, a teoria, pela sua abordagem formal e procedimentalista, pode oferecer importantes contribuições em outros universos jurídicos, como o brasileiro. Além da apresentação da teoria geral de Ely, este livro enfoca a sua aplicação, mediante considerações sobre a separação de poderes, a discriminação racial, o caso O. J. Simpson e o “devido processo substantivo”, entre outras questões. 8) A odisséia ministerial timbira: poema (2008): Trata-se de poema épico com vinte cantos e sessenta estrofes, em homenagem ao Ministério Público do Maranhão, contendo referências implícitas ou explícitas a todas as Promotorias de Justiça do Maranhão e à grande maioria das comarcas maranhenses. 9) Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009): Estudo sistemático sobre o crime organizado e as organizações criminosas, enfocando os antecedentes históricos, as principais organizações criminosas estrangeiras e brasileiras, as teorias e concepções criminológicas mais pertinentes à compreensão do fenômeno, como a teoria da associação diferencial e a noção do crime de colarinho branco, o mito da Máfia, os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas, a questão do conceito e caracterização do fenômeno e de seu confronto com outras modalidades delituosas, a exemplo do terrorismo, o
tratamento do tema no Direito penal comparado e no Direito pátrio, via análise do art. 288 do Código Penal, da Lei nº 9.034/95, de outros estatutos legais e de alguns projetos e anteprojetos legislativos, em construção de um conceito o mais abrangente possível de crime organizado, em que as conexões de suas organizações com o Poder Público, sobretudo pela corrupção, e com o mundo empresarial, pela natureza de seus negócios, são elementos essenciais, incluindo sugestões político-criminais e propostas legislativas. 10) O náufrago e a linha do horizonte: poesias (2012): Trata-se de livro de poesias, cujos versos revelam o toque de sonho da mulher, o timbre firme da jurista e o tálamo polinizado de uma alma cheia de paixões. A poesia da autora, caracterizada pela intelectualidade da linguagem e pela seleção minuciosa de temas – egoicos, sociais, ambientais, filosóficos –, parece buscar, nas sutilezas da forma, a sua genealogia: música e feminilidade. A autora explora as possibilidades poéticas da figura emblemática do náufrago diante da linha do horizonte, em meio às vagas do oceano. 11) Criminalidade organizada (2014): Análise, artigo a artigo, da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, nova lei de controle do crime organizado, com ênfase nos antecedentes históricos do crime organizado, nas características doutrinárias da organização criminosa, na evolução de seu conceito no Direito brasileiro, no crime de organização criminosa, com suas causas de aumento de pena e circunstância agravante, no crime de obstrução à persecução penal, na medida cautelar aplicável ao funcionário público, no efeito da sentença condenatória, na investigação criminal e nos meios de obtenção da prova, em especial no tocante à colaboração premiada, à ação controlada, à infiltração de agentes e ao acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações, nos crimes ocorridos na investigação e na obtenção da prova, no procedimento relativo aos delitos tipificados na Lei nº 12.850/2013, nas questões da duração da instrução criminal no caso de réu preso e da possibilidade de decretação do sigilo da investigação diante do princípio constitucional da ampla defesa, nas alterações infligidas aos artigos 288 e 342 do Código Penal, na revogação da Lei nº 9.034/1995 e no confronto da novel lei com a Lei nº 12.694/2012, quanto ao conceito de organização criminosa.
O porteiro42 Sob tênue e dúbia luz, entre prédios, paus e pedras, papéis apressados e triste ladrar, caminha solitário o porteiro – porteiro da noite. Passo inquieto, eterno esperar, olhar fugidio e instinto treinado, aperta a cruz e segue calado sob cortante e ébrio açoite, prossegue acuado o porteiro – porteiro do frio. O silêncio errante perde o fascínio: vozes e vultos emergem distantes, tenso supor de perigo latente a espalhar trêmulo torpor; horror da espera, conflito iminente, cedo aguarda, quieto o porteiro – porteiro do medo. O cerco se faz na rua desnuda, desce a violência insana e vã: irmã da droga, prima do álcool; golpes e socos, animais em luta, 42
(Publicada no livro Versos e anversos, 2002)
gritando e gemendo em surda agonia; morte espreitando no canto da vida: cede o vento, a violência, o porteiro – porteiro da morte. Amanhece. Na polícia, a ocorrência; no jornal, a notícia; e para a rua marcada um novo porteiro: herdeiro da noite do frio do medo da morte.
Quando43 Quando a última luz se apagar a noite eterna será meu sol as estrelas piscarão no atol e eu lá, pequena, a cismar. Quando a última voz se calar ouvirei o silêncio dos ressentidos soltarei o grito engasgado dos contidos em meio à solidão do mar. Quando o último perfume se esvair buscarei a fragrância das flores com o cheiro de mil amores e me porei, surpresa, a sorrir. Quando o último sabor se perder encontrarei o gosto da vida no doce aceno da partida e degustarei as delícias do ser. Quando o último toque se findar sentirei a chama que me consome apalparei a frágua da minha fome e descobrirei o verdadeiro lar. Quando a última porta se fechar daquele parapeito da janela do tempo verei a vida passar em contratempo e me olvidarei nas asas do sonhar.
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(Publicada no livro Quando, 2008)
Medo44 Sou o beco escuro em noite sem luar Sou o revólver empunhado pronto a disparar Sou a voz sufocada que não consegue falar Sou o barco condenado que afunda em alto-mar Sou a água invasiva que não para de inundar Sou o mar portentoso prestes a encrespar Sou a pena que não escreve para não errar Sou o dedo que aponta para não se culpar Sou a mão que conquista para não se curvar Sou o passado atormentado que não quer acabar Sou o presente ocupado que teima em faltar Sou o futuro incerto que ameaça chegar Sou a morte que não se esquece de matar Sou a vida que não se lembra de viver. Eu sou e jamais deixarei de ser pois temer ou me ter é próprio do ser humano que se diz sano em um mundo de vez em quando cada vez mais por vezes demais insano.
Poesia netuniana45 É a gota liberta da taça cheia que transborda incerta para o lago da mente. É o vinho inebriante das vinhas da boa ira que flui pulsante pela corrente do espírito. É a cachoeira do alto da montanha inerte que toma de salto as torrentes do coração. É o rio turbulento sem margem de erro que desemboca sedento no oceano d’alma. É o mar incontinente empurrado pela onda 44 45
(Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012) (Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012)
que invade inclemente a praia do eu. A poesia é a gota liberta é o vinho inebriante é a cachoeira do alto é o rio turbulento é o mar incontinente. A poesia é água benta que irriga que inunda que encharca perpetuamente os campos da palavra.
O NÁUFRAGO VIII46 Navego pelas ondas do teu corpo sem saber que rochedos evitar sou a vaga do teu anticorpo a explorar as profundezas do mar à espera do iceberg que me afundará se eu perder o controle do timão ou da mão que me oferecerá pequenas tábuas de salvação quando a tormenta se avizinha busco o porto seguro do teu peito e a bujarrona não é mais minha até o próximo coração desfeito tuas veias bebem meu sangue e eu naufrago na tua ilharga venho à tona e repouso langue e ponho em teus braços a carga me refugio sob teus ombros e deixo os sonhos submersos me junto aos muitos escombros que a maré desfez em versos.
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(Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012)
SEDE BEM-VINDOS!47 Senhores visitantes e turistas, neste mês de tantas celebrações, gostaria de vos dizer que São Luís vos recebe de maré cheia, sob a toada do bumba-meu-boi, na Praça da Alegria ou no Largo dos Amores. Sobre a cidade, não espereis de mim o esforço da imparcialidade dos julgadores, mas a prosa apaixonada dos que não se cansam de lhe fazer a corte. Principio vos lembrando de que “minha terra tem palmeiras”, tomando de empréstimo as palavras de certo poeta que ganhou o Brasil e o mundo. Porém, isso já sabíeis, não é surpresa, sobretudo se já percorrestes as suas vias mais próximas do aconchego do mar, na companhia, talvez, dos holandeses, ou se já pisastes na ponta d’areia, no calhau ou no olho d’água de nossas belas praias. Não vos garantirei, no entanto, que nessas famosas palmeiras ainda cante algum sabiá. Mais fácil encontrardes um bem-te-vi. Mas vos asseguro, e não me tomo de pejo em fazê-lo, seguindo a constatação inspirada do mesmo vate, que “minha terra tem primores” e, ainda mais induvidoso, que: Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores (Canção do Exílio). De fato, esta é a “Ilha dos Amores”. Primeiro vieram os franceses, que são conhecidos nessa arte, e a fizeram sua. Talvez já tenhais vos deparado com o seu fundador, Daniel de La Touche, descansando no Palácio La Ravardière, sede do Poder Executivo Municipal, ou transitando em larga avenida. E São Luís se tornou a única capital brasileira que nasceu gaulesa no longínquo ano de 1612. Em seguida, vieram os portugueses, que a cobriram de mimos, enfeitando os seus imponentes sobradões com azulejos. E São Luís, do alto de seus mirantes – que só posteriormente seriam sinônimo de prestigiada rede de TV –, ao som do vira, virou a “Cidade dos Azulejos”, um pedaço de Lisboa no Brasil, bem representado pela Rua Portugal. Depois, vieram os intelectuais, os escritores e os poetas, que não eram gregos, mas a transformaram, com justiça, na “Atenas Brasileira”. E São Luís nunca mais deixou de ser, na observação de Astolfo Serra, “terra onde se amam os versos, os recitativos, a oratória, as tertúlias literárias e onde existe verdadeiro culto pela arte de dizer e de escrever” (Guia histórico e sentimental de São Luís do Maranhão, p. 17). Basta atentardes para o apreço que temos pelo “tu”, preferência, aliás, que compartilhamos, por exemplo, com os irmãos gaúchos. E quando visitardes a Praia Grande e a Rua da Estrela, coração do Centro Histórico e do casario colonial da urbe, apurai a vista, pois podeis vos encontrar com o Mulato de Aluísio Azevedo. Se desejais um encontro com o Poeta, procurai o Largo dos Amores, donde Gonçalves Dias, altaneiro, descortina o Rio Anil e aproveita para cortejar a Maria Aragão. E, como não sabemos o porvir, recomendo-vos uma visita à Igreja dos Remédios, com sua majestade gótica. Todavia, se sentirdes falta de um sermão, segui para a Igreja de Santo Antônio, onde podereis, quiçá, ouvir, extasiados, as preleções do Padre Antônio Vieira. Ou entrai no Convento das Mercês, construído em 1863, ou na Catedral Metropolitana, de cujo acrotério vigia Nossa Senhora da Vitória, a qual, conforme a lenda, em forma de radiosa Virgem, possibilitou o triunfo dos lusitanos sobre os franceses na Batalha de Guaxenduba, ao transformar a areia em pólvora para os soldados. Ou adentrai o prédio ao lado, o Palácio Arquiepiscopal, antigo Colégio dos Jesuítas. Em ambos os casos, estareis em frente ao sítio de fundação da cidade, guardados pelos leões do poder, postados na entrada do Palácio que se estende sobre os alicerces do outrora Forte de São Luís, que deu nome à capital maranhense, em honra ao rei francês. Ainda nessa área, podereis ver caminhar Graça Aranha, a pensar na sua Canaã. Se o que quereis é mistério, dai uma espiadela para o interior da Fonte do Ribeirão, edificada em 1796, e imaginai para que serviam as suas famosas galerias subterrâneas no Maranhão Colonial, se para o contrabando de escravos ou se para o trânsito dos jesuítas da Igreja do Carmo até a Igreja de São Pantaleão. Ou, se tendes coragem, esperai a passagem da carruagem de Dona Ana Jansen, senhora de grande fortuna e marcante personalidade, duas vezes viúva, de grande influência na vida socioeconômica e política da cidade no séc. XIX, nas noites escuras de sexta-feira, deixando o cemitério em direção às ruas de São Luís. Atentai para os cavalos e o cocheiro escravo decapitados, mas não esperai para receber da alma penada de Donana uma vela acesa, que certamente se transmutará em osso de defunto no dia seguinte. Preferi a lagoa da mesma senhora, onde, nesta época, no arraial, como em 47
por Antonio Noberto, 2012
Publicada no jornal O Estado do Maranhão, 13 jun. 2010, e no livro França Equinocial, organizado
muitos outros espalhados pela cidade, é possível dançar, em homenagem aos santos juninos, com Pai Francisco e Mãe Catirina ao redor do boi, que não é meu, porém da Companhia Barrica, de Morros, Nina Rodrigues, Axixá, Icatu, Cururupu, Maioba, Maracanã, Pindoba, Guimarães, Alcântara, Ribamar, Fé em Deus, São Simão... Mas quando fordes ao mirante da lagoa, procurai a serpente que, segundo contam, envolve a cidade e continua a crescer até que sua cauda alcance a cabeça, momento em que não desejareis estar aqui, porque será o tempo em que São Luís desaparecerá em meio às águas do Oceano Atlântico... Ou talvez isto ocorra antes, quando o Rei Touro, El-Rei D. Sebastião, se desencantar e voltar à forma humana... Não vos preocupeis, todavia; lembrai-vos de que a Virgem está vigilante, do alto da fachada da Catedral. Por fim, quando vos fatigardes com a perambulação pelas ruas e becos estreitos do centro da cidade, como, por exemplo, a Rua Direita, que é tortuosa; a Rua do Norte, que fica ao sul; a Rua dos Remédios, onde não há farmácias; a Rua do Sol, onde há somente sombra por causa dos casarões; a Rua do Passeio, que termina no Cemitério do Gavião; e o Beco do Quebra-costas, que, ao contrário, realiza o que promete; ou ainda for cedo para a brincadeira dos arraiais, fazei uma pausa para provar do sapoti, do bacuri e do cajá. Não vos olvideis que graviola é jacama, açaí é juçara e fruta-doconde é ata. E preparai-vos para um delicioso almoço ou jantar à base de camarão, pescada ou carne-desol, com arroz de cuxá, cuxá e macaxeira, à beira do mar de águas prateadas. São Luís vos saúda com a hospitalidade que caracteriza a alma ludovicense, carregada de sonho e poesia. Pois, afinal, como disse o Poeta, nossa vida, sem dúvida, tem mais amores. Sede bem-vindos!
2016 ANO DE COELHO NETO
AGENDA
REUNIÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COM CELSO BRANDÃO, DIRETOR DO TEATRO ARTHUR AZEVEDO.
Pelo presente, conforme resultado da reunião realizada por membros desta Academia e Vossa Senhoria, estamos enviando as primeiras informações acerca do projeto de participação da Academia Ludovicense de Letras na comemoração do aniversário de 199 anos do Teatro Arthur Azevedo, com a seguinte programação: 1. O nome do espaço ocupado por nós será: ESPAÇO POESIA (uma placa com esse nome) O nome da atividade: COLHENDO POEMAS Dias: 3 a 5 de junho de 2016. Horário: das 16h às 19h30.
RECURSOS MATERIAIS E HUMANOS: Decoração: Uma árvore plantada num jarro e livros e folhas de poemas são colocadas nos galhos e ao pé do jarro: Responsáveis: ALL e Escola de Teatro (disponibilizada pelo Teatro, seu Diretor, Josimael Caldas). Dinâmica: Leitura de Poesia, performance poética e apresentação musical: A leitura será feita pelo público e os acadêmicos da ALL que tirarão (colherão) os poemas da árvore ou do chão e essas leituras serão entrecortadas com performances poéticas da Escola de Teatro (Josimael Caldas) e apresentação musical conjunta com a leitura e solo. Coleta e seleção de poesia: responsáveis: acadêmicos da ALL (suas poemas, dos seus patronos e de outros poetas, a exemplo de Nauro Machado e outros nomes). Música acompanhando as leituras de poesia: disponibilizada pelo Teatro. Serão oferecidos coquetéis nos três dias. Responsável: Osmar Gomes Atenciosamente, DILERCY ARAGÃO ADLER Presidente
POSSE DA DIRETORIA DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL (BIÊNIO 2016-2017) Sarau Cultural: Academia Ludovicence de Letras – Rádio Timbira
MAIS AGRADECIMENTOS
Um agradecimento especial para Marcus Saldanha que também esteve prestigiando a sessão solene da posse da Diretoria da ALL (BIÊNIO 2016-2017), no dia 07 de abril de 2016, e também o tem feito no seu programa - Sarau Cultural, na Rádio Timbira. Na sexta feira que antecedeu a nossa cerimônia, o seu programa foi dedicado à ALL e a Presidente eleita, Dilercy Adler, prestou esclarecimentos de vários aspectos e questões da ALL e das academias, de um modo geral. O link do programa é http://goo.gl/qrGsKL
Academia Ludovicense De Letras O link do programa éhttp://goo.gl/qrGsKL Sarau Cultural: Academia Ludovicence de Letras – Rádio Timbira Sarau Cultural: Academia Ludovicence de Letras A convidada do programa foi a escritora e poeta Dilercy Adler, Presidente Academia Ludovicense de Letras Timbira Debate abril 5, 2016 15:04 por Leno Edroaldo Carvalho PROFª DILECY ADLE - BLOCO 1PROFª - DILECY ADLE - BLOCO 2PROFª - DILECY ADLE - BLOCO… radiotimbira.ma.gov.br
DILERCY ADLER ESTARÁ PRESENTE E SERÁ HOMENAGEADA NA FLAEMA. DILERCY ARAGÃO ADLER. É Psicóloga. Doutora em Ciências Pedagógicas Pedagógicas - Cuba (revalidação na UnB-Brasilia); Mestre em Educação pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA; Especialização em Metodologia da Pesquisa em Psicologia e Especialização em Sociologia pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA. É aposentada pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA. É membro do Banco de Avaliadores do Sinaes - BASIS/INEP/MEC.
Membro Fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras - ALL, ocupando a Cadeira de nº 8. Titular da Cadeira Nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM. Presidente Fundadora da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão_SCL-MA, Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil e Senadora da Cultura do Congresso da SCL do Brasil. Titular da cadeira nº 13, patronímica de Henrique Coelho Neto do Quadro II, de Membros Correspondentes da Academia Irajaense de Letras e Artes-AILA, Rio de Janeiro; Membro Correspondente da Academia de Letras Flor do Vale Ipaussu/São Paulo, Membro Correspondente da Academia Letras de Teófilo Otoni e Diretora Estadual da Federação Brasileira de Alternativos Culturais. Delegada Cultural em Maranhão-Brasil do Liceo Poético de Benidorm (Espanha). Comissione di lettura Internazionale da Edizioni Universum, Trento/Itália; International Writers And Artists Association-OHIO/EUA; Casa do Poeta do Rio de Janeiro; Associação Profissional de Poetas e Escritores do Rio de Janeiro-APPERJ; Associação dos Escritores do Amazonas-ASSEAM; Coordenadora Estadual no Maranhão do Proyecto Sur – Cuba; Representante da aBrace no Estado do Maranhão e Membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional Maranhão-SOBRAMES-MA, Corresponsal Internacional de la Sociedad Argentina de Letras, Artes y Ciencias - S.A.L.A.C., Representante no Brasil do Periódico Porta Dell Uomo- Itália. Socia y Miembro Correspondiente de la Unión de Escritores y Artistas de Tarija-Bolívia. Grado Honorífico de Embajadora Universal de la Cultura del Estado Plurinacional de Bolivia: Gobernacion del Departamento de Tarija; Honorable Concejo Municipal de Tarija, Univerdidad Autonoma “Juan M. Saracho”, Unión de Escritores y Artistas de Tarija (UEAT), Union Latinoamericana de Escritores (ULATE) en Reconocimiento a la Produción Literaria, Educativa y Artística. Membro e Laureada pela Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture, Delegada Cultural em Maranhão-Brasil do Liceo Poético de Benidorm (Espanha) e Embaixadora do Cercle Universel des Ambassadeurs de la Paix Suisse / France Tem participação em mais de cem antologias nacionais e internacionais entre elas: Mil Poemas a Pablo Neruda: Un canto de amor. Organizada por Alfred Asís, Chile, 2011 Reflexos da Poesia Contemporânea do Brasil, França, Itália e Portugal, Organizado por Jean Paul Mestas escritor Francês e lançada em Portugal, 2000;A Poesia Maranhense no Século XX (Sioge e Imago) Organizada por Assis Brasil – São Luís/MA; Rio/RJ, 1994. Publicou o Informativo “Praia Grande” da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão_SCL-MA (Bimestral), de Setembro de 1998 a Janeiro de 2005 (39 números)
Já recebeu vários prêmios, troféus e menções honrosas por trabalhos poéticos e culturais. http://www.flaema.org/#!dilercy-adler/hnejz MaranhensesUnidosnaArteenosLivros vempraflaema euvoupraflaema
CURSO DE COMBATE AO CRIME ORGANIZADO A confreira Ana Luiza esta fazend um curso de combate ao crime organizado em Roma. Dele participam promotores, juízes federais e estaduais, procuradores da Lava-Jato. Nas fotos com professores da Università di Roma “Tor Vergata”, com o Historiador Enzo Ciconte, especialista em máfia, com seu livro e colegas em momentos de descontração
ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS O nosso confrade da ALL, André Gonzalez, recebendo a Associação dos Magistrados Brasileiros para discutir sobre as propostas do novo código de Processo Penal.
CURSOS PELO INTERIOR DO ESTADO O nosso confrade da ALL, o Juiz Osmar Gomes, com a Vice-Presidente da FUGMA, Tágide France, acertando parceria para promoção de cursos pelo interior do Estado fomentando as atividades desenvolvidas pela Fundação..
FLAEMA HOMENAGEIA NOVE ESCRITORES MARANHENSES E TEM COMO PATRONO JOSUÉ MONTELLO
COMEMORAÇÕES DOS 199 ANOS DO TEATRO ARTTHUR AZEVEDO Hoje – 18/05/2016 -, atendendo a um convite do Diretor do Teatro Artthur Azevedo, Celso Brandão, estávamos:eu (Dilercy Adler, Presidente), o confrade Osmar, membro fundador e a Secretária Geral, Clores Holanda, para uma sessão de fotos para a Programação da comemoração dos 199 anos do Teatro. Foi uma noite agradável na qual, além de tirarmos fotos, conversamos sobre o projeto da atividade da ALL na comemoração e outros contatos, para novas parcerias, foram iniciados.
POSSE DE DANIEL BLUME Nosso Confrade DANIEL BLUME DE ALMEIDA tTomu posse diq 20/05 como Juiz do TRE-MA, função para a qual fui reconduzido, por mais um biênio, pela Presidência da República, após indicação unânime do TJMA. Deus na frente!
PROJETO RODA DE LEITURA A Academia Ludovicense de Letras - ALL e a Sousandrade estiveram acertando parceria no Projeto Roda de Leitura, do Programa de Atenção Social Sousândrade - PASS. Participaram da reunião a Profa. Evangelina Martins Noronha, Diretora- Presidente da Fundação Sousândrade, o Dr. Fernando Ramos, do PASS , Ceres Costa Fernandes, membro da ALL e Dilercy Aragão Adler, Presidente da ALL .
FLAEMA A nossa confreira Ana Luiza Almeida Ferro foi homenageada ontem, dia 24 de maio. na FLAEMA. Na ocasião também prestou uma bela homenagem ao seu Patrono, na Academia Ludovicense de Letras, Mário Meireles. Entre os presentes estavam os confrades e confreiras da ALL, além de parentes e amigos de Mário Meirele e amigos de ambos. Foi uma bela homenagem aos dois.
DISCURSO NA FLAEMA SOBRE “MÁRIO MEIRELES: HISTORIADOR E POETA” 48 Em 10 de maio de 2003 deixou a estrada da vida para tomar o rumo da eternidade o historiador, acadêmico, conferencista, servidor público, homem de família e, antes e depois de tudo, Professor Mário Martins Meireles. Não a eternidade dos homens, porque esta lhe pertencia de há muito. Sua figura elegante vive indelével na lembrança de todos que o conheceram e sua pena sagaz persiste a escrever na imaginação de seus incontáveis leitores, que com ele reviveram, revivem e ainda reviverão, a cada página lida e relida de seus livros, um pouco da História do Maranhão, da História de São Luís, um pouco da história de todos nós. Foi avô de todos nós – que me perdoem a licença que tomo, a sua saudosa esposa, Dona Zezé, as suas filhas, igualmente professoras universitárias, hodiernamente aposentadas, Ana Maria e Mimi, e os seus netos Mário e Jorge Antônio, respectivamente pais de Mariana e de Joana e Jorge Wagner – porquanto não é função de um avô contar – e tão bem no seu caso – histórias da nossa História, manter incólume a memória dos fatos pretéritos e vivas as tradições? No seio da Academia Maranhense de Letras, sua figura algo paternal se agigantava na posição de decano, aquele a quem cabia a honra de apor o colar acadêmico no novo membro. E o historiador que se fez avô e o avô que já era historiador tinha muitas histórias para contar. Por sua pena, vários protagonistas e coadjuvantes da pequena e grande História do Maranhão deixaram as brumas do passado para ganhar vida, uma vez mais, em suas páginas. Por elas, desfilaram conquistadores e nativos, senhores e escravos, brancos, amarelos, negros e mestiços; os franceses da França Equinocial; os portugueses e os holandeses; João de Barros, Primeiro Donatário do Maranhão; Melo e Póvoas, Governador e Capitão-General do Maranhão; Dom Diogo de Sousa, Governador e Capitão-General do Maranhão e Piauí; entre muitos outros. Por causa delas, contemplamos um acurado panorama da literatura maranhense, celebramos o imortal Marabá, brindamos ao amor de Gonçalves Dias e Ana Amélia, devotamo-nos à 48
Proferido no Shopping da Ilha, em São Luís-MA, como parte da programação da 1ª Feira do Livro do Autor e Editor Maranhense – FLAEMA, na data de 24.05.2016.
glorificação de Gonçalves Dias, nosso poeta maior, rendemos nossas homenagens a outro imortal, Catulo, seresteiro e poeta, e garimpamos antológicas preciosidades da Academia Maranhense de Letras. Por meio delas, festejamos o 5º Centenário do Infante D. Henrique no Maranhão, fizemos valiosos apontamentos para a História da Medicina e da Farmácia no estado, testemunhamos a independência do Maranhão e o Maranhão e a República, abastecemo-nos no comércio do Maranhão e aprendemos sobre os símbolos estaduais, sem olvidarmos os nacionais. Aliás, elas nos permitiram alçar voo para além do horizonte timbira, a fim de que vislumbrássemos Santos Dumont e a conquista dos céus, conversássemos com José do Patrocínio na terra e vivenciássemos a partição do mar-oceano. Foram elas ainda que nos reconduziram ao Maranhão, oferecendo-nos um guia turístico de São Luís, Cidade dos Azulejos, com seus segredos, mistérios e encantos, seu brasão d’armas e sua Arquidiocese, e uma visão de Rosário do Itapecuru-Grande. E assim, em meio aos discursos da Academia, o Professor Mário Meireles realizou seus muito mais de dez estudos históricos, seus doze trabalhos hercúleos, que não foram doze e não foram poucos, foram muitos e bastantes. Veritas liberabit nos! Mário Meireles de há muito deixou de ser apenas um homem. Ele hoje é também uma marca. Escrever como Mário Meireles é cultivar com desvelo a última flor do Lácio nos férteis campos da História, é aliar a elegância de estilo à profundidade e rigor da pesquisa histórica. Tão intimamente associado está seu nome à historiografia maranhense que é impossível separar aquele desta, sem que se lhe abra um enorme rombo no casco. Sem exagero algum, poderíamos apontar dois períodos na historiografia e no ensino de História do Maranhão, a.M. e d.M., antes e depois de Mário Meireles. Por estas plagas, ele se transformou, com justiça, em sinônimo de historiador e sua obra, em sinônimo de História do Maranhão, não apenas pela qualidade desta, mas igualmente pelo seu caráter enciclopédico. Se, como diz Schopenhauer, apenas “através da História adquire um povo plena consciência de seu próprio ser”, ninguém mais do que Mário Meireles contribuiu para que tal desiderato fosse alcançado ou possa vir a ser alcançado pelos maranhenses. Nas orelhas da terceira edição da História do Maranhão, o saudoso poeta Nauro Machado tece inspiradas considerações sobre o seu autor: Desses espíritos privilegiados, desses reconstrutores de épocas sepultadas, é o professor Mário Meireles o de mais clara visão analítica e inteligência abrangedora, pelo método conceptual de estudo e pela isenção parcimoniosa dos fatos [...], na opulência de um passado rico e poético. É ele, como historiador, o que melhor se arma para a aventura daquilo que vive, como para Teilhard de Chardin, em função duma ciência reveladora do futuro. Autor de inúmeros títulos indispensáveis para o percurso retrospectivo do nosso destino como povo, Mário Meireles é bem o símbolo hierático do pesquisador apaixonado pela sua busca, na simbiose de um acasalamento raro e feliz, em que o amador, como no soneto camoniano, transforma-se na coisa amada. Nos parâmetros da confluência normativa a que se propôs, o professor Mário Meireles se isenta, mente apolínea e clara que é, das interpretações atinentes à sociologia e à política, atendo-se apenas à topicidade dos tipos reconstituídos pela clareza solar de uma insubstituível e improcrastinável historicidade.49
E qual a trajetória de vida desse espírito privilegiado? Era filho de São Luís, Maranhão, onde nasceu a 8 de março de 1915, sob os cuidados amorosos de seus pais Vertiniano Parga Leite Meireles e Maria Martins Meireles (antes Maria Ermelinda de Sousa Martins). Principiou seus estudos primários em SantosSP, no ano de 1920, dando-lhes continuidade, sequencialmente, em Manaus-AM, no Rio de Janeiro-RJ e em São Luís, onde os terminou na Escola Modelo Benedito Leite em 1926. Cursou o secundário na capital maranhense, concluído no Instituto Viveiros em 1931. Em seguida, encetou o curso jurídico na Faculdade de Direito do Maranhão, abandonando-o, contudo, na da Bahia em 1934. O título universitário que lhe escapou em vida foi-lhe, com justiça, conferido pela Universidade Federal do Maranhão 12 anos após seu desaparecimento, por ocasião da celebração do centenário de seu nascimento. Em 24 de setembro de 2015, tornou-se Doutor Honoris Causa em solenidade realizada na Academia Maranhense de Letras, in memoriam. Trabalhou no Ministério da Fazenda no período de 1933 a 1965, onde era funcionário lotado na Divisão do Imposto de Renda, com passagens pelos estados da Bahia, Maranhão e Minas Gerais e pelo 49
Ver as orelhas, de autoria de Nauro Machado, do livro de MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. 3. ed. São Paulo: Siciliano, 2001.
antigo Distrito Federal. Após aposentar-se no cargo de Agente Fiscal de Tributos Federais em 1965, foi Diretor-Secretário da Indústria e Comércio Primor e do hodiernamente extinto Banco do Maranhão (19651967), Secretário-Chefe do Gabinete e da Casa Civil do Governo do Estado do Maranhão, durante a administração de Pedro Neiva de Santana (1972-1975), e Representante do Governo do Estado no Conselho Federativo das Escolas Superiores do Maranhão (1974-1975). Lançou-se no magistério particular já em 1931 e, oito anos depois, foi contratado como Professor de História Universal e do Brasil no curso ginasial do Colégio Cysne, de São Luís. No ano de 1953, ingressou no magistério superior, na qualidade de catedrático-fundador da cadeira de História da América, no Curso de Geografia e História da Faculdade de Filosofia (FAFI) da Universidade (católica) do Maranhão, a qual seria mais tarde incorporada como Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras à Fundação Universidade do Maranhão, nascida em 1966, na atualidade Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Foi Professor Titular, posteriormente aposentado, do Departamento de História dessa tradicional instituição de ensino superior, em que exerceu vários misteres e deixou marcas indeléveis como Chefe do Departamento de História, criador e Coordenador do Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica e Geográfica, Presidente do Conselho Editorial, Assessor da Secretaria dos Colegiados Superiores, Chefe de Gabinete da Reitoria, Vice-Reitor Administrativo e membro do Conselho Universitário. O SENAC o elegeu “Professor do Ano” em 1963. Foi membro efetivo da Academia Maranhense de Letras; sócio efetivo e, depois, honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; sócio honorário da Associação Comercial do Maranhão; membro e presidente da Sociedade dos Amigos da Marinha, no Maranhão; sócio honorário e, em sequência, correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; sócio correspondente dos Institutos Históricos e Geográficos de Santos, da Paraíba e do Distrito Federal e das Academias de Letras Paulista, Carioca, Santista, Paraense e do Triângulo Mineiro (Uberaba); sócio fundador e membro do Conselho Diretor da Sociedade Brasileira de História da Medicina (São Paulo); e sócio colaborador da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, no Maranhão. Na Academia Maranhense de Letras, tomou posse na Cadeira nº 9, patroneada por Antônio Gonçalves Dias e fundada por Inácio Xavier de Carvalho, em 3 de março de 1948, tendo como antecessor Catulo da Paixão Cearense. Nessa Casa de Cultura, foi secretário, tesoureiro, vice-presidente e presidente em sucessivos mandatos. No dia de sua posse, foi saudado por Achilles Lisboa, para quem ele não era “um simples cultor propriamente das letras”, mas um verdadeiro “filósofo idealista”. Suas palavras sobre o recipiendário, então um poeta promissor, mas sem produção historiográfica publicada, ainda soam proféticas, ao vaticinar os louros que viriam a “aumentar ainda mais a bela coroa” já ostentada.50 Já no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ocupou a Cadeira nº 11, patroneada pelo Brigadeiro Sebastião Gomes da Silva Belfort, sucedendo a Cândido Pereira de Sousa Bispo, falecido em 1950. Recebeu numerosas condecorações, entre as quais a Ordem Nacional do Mérito (Portugal), a Ordem das Palmes Académiques (França), a Ordem de Rio Branco (Brasil), as medalhas comemorativas Gonçalves Dias (do Ministério das Relações Exteriores), do Sesquicentenário da Independência do Brasil (do Senado Federal e da Câmara dos Deputados), Santos Dumont (do Ministério da Aeronáutica), do Mérito Timbira (Maranhão), do Tricentenário da Fundação de São Luís, João Lisboa, de La Ravardière, Sousândrade do Mérito Universitário, Simão Estácio da Silveira e do Mérito Judiciário (do Tribunal de Justiça do Maranhão). Autor prolífico, de quase 40 livros, é indubitavelmente “a maior figura da historiografia maranhense dos séculos XX e XXI”, na justa avaliação de Milson Coutinho.51 Esta é a sua extensa bibliografia: 1) O imortal Marabá (São Luiz: Tip. M. Silva, 1948, 41 p.), discurso de posse na AML, com o poema homônimo e a saudação do acadêmico Achilles Lisboa como prefácio; 50
Ver o discurso de saudação de Achilles de Faria Lisboa, da Academia Maranhense de Letras, ao recipiendário Mário Martins Meireles, reproduzido no prefácio da obra de MEIRELES, Mário Martins. O imortal Marabá. São Luiz: Tip. M. Silva, 1948. p. 8. 51 Ver o prefácio de Milson Coutinho, intitulado “Mário Meireles e São Luís dos 400”, ao livro de MEIRELLES, Mário. História de São Luís. Organização de Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar. São Luís: Faculdade Santa Fé, 2012. p. 9.
2) Gonçalves Dias e Ana Amélia (São Luís: separata da Revista da AML, 1949; 2. ed., São Luís: Tip. São José do Departamento Universitário Radio, Imprensa e Livro – DURIL, 1964, 87 p.); 3) José do Patrocínio (São Luís: Tipogravura São José, separata da Revista da AML, 1954, 18 p.), conferência; 4) Panorama da literatura maranhense (São Luís: Imprensa Oficial, 1955, 255 p.); 5) Veritas liberabit nos (São Luís: Tip. M. Silva, 1957, 27 p.), em coautoria com José Maria Ramos Martins; 6) Antologia da Academia Maranhense de Letras (Rio de Janeiro: AML, 1958, 263 p.), obra organizada em parceria com Arnaldo de Jesus Ferreira e Domingos Vieira Filho; 7) Pequena história do Maranhão (Rio de Janeiro: SENAC, 1959, 75 p.; 6. ed., São Luís: SIOGE, 1969); 8) O 5º Centenário do Infante D. Henrique no Maranhão (São Luís: Vice-Consulado de Portugal, 1960, 8 p.), conferência; 9) História do Maranhão (Rio: DASP, 1960, 395 p.; 2. ed., São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980; 3. ed., São Paulo: Siciliano, 2001, 392 p.); 10) França Equinocial (São Luís: Tipografia São José, 1962, 144 p.; 2. ed., São Luís: SECMA; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982, 126 p.); 11) Guia turístico – São Luís do Maranhão (Rio: Bloch, 1962, 31 p.); 12) A glorificação de Gonçalves Dias (São Luís: Departamento de Cultura do Estado, 1962, 10 p.), em coautoria com Ruben Almeida; 13) Catulo, seresteiro e poeta (São Luís: Tip. São José, 1963, 104 p.); 14) São Luís, Cidade dos Azulejos (Rio: Gráfica Tupy, 1964, 96 p.); 15) História da Independência no Maranhão (Rio de Janeiro: Artenova, 1972, 172 p.); 16) Símbolos nacionais do Brasil e estaduais do Maranhão (Rio: CEA, 1972, 191 p.); 17) Santos Dumont e a conquista dos céus (São Luís: SIOGE, 1973, 67 p.); 18) Melo e Póvoas – Governador e Capitão-General do Maranhão (São Luís: SIOGE, 1974, 109 p.); 19) Discursos na Academia (São Luís: SIOGE, 1976), em coautoria com Dagmar Destêrro; 20) História da Arquidiocese de São Luís do Maranhão (São Luís: Universidade do Maranhão/SIOGE, 1977, 387 p.); 21) Dom Diogo de Sousa, Governador e Capitão-General do Maranhão e Piauí (1778-1804) (São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1979, 75 p.); 22) O ensino superior no Maranhão: esboço histórico (São Luís: UFMA, 1981, 43 p.); 23) Apontamentos para a história da Farmácia no Maranhão (São Luís: UFMA/CAPES, 1982, 48 p.); 24) Os negros no Maranhão (São Luís: UFMA, 1983, 46 p.); 25) O brasão d’armas de São Luís do Maranhão (São Luís: Ed. Alcântara/Prefeitura de São Luís, 1983, 18 p.); 26) São Luís com S (São Luís: AML/UFMA, 1984, 36 p.), em coautoria com Manuel Lopes e José Chagas, parecer de cunho histórico-filológico sobre a correta grafia da cidade; 27) O Maranhão e a República (São Luís: SIOGE, 1990, 36 p. il.); 28) Holandeses no Maranhão (1641-1644) (São Luís: PPPG/EDUFMA, 1991, 165 p.); 29) História do comércio do Maranhão, v. 4 (São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992), continuação da obra homônima de Jerônimo de Viveiros; 30) Apontamentos para a história da Medicina no Maranhão (São Luís: SIOGE, 1993, 92 p.); 31) Rosário do Itapecuru-Grande (São Luís: SIOGE, 1994, 108 p. il.); 32) Dez estudos históricos (São Luís: ALUMAR, 1994, 349 p. il.), livro organizado por Jomar Moraes; 33) Junta Comercial do Estado do Maranhão (São Luís: JUCEMA, 1995, 108 p. il.);
34) João de Barros, primeiro donatário do Maranhão (São Luís: ALUMAR, 1996, 100 p. il.); 35) O Brasil e a partição do mar-oceano (São Luís: Edições AML, 1999, 145 p. il.); 36) História de São Luís (São Luís: Faculdade Santa Fé, 2012, 266 p.), obra organizada por Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar, publicada postumamente; 37) Mário Meireles com a palavra (São Luís: Edições AML, 2016, 390 p.), obra organizada por Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar, publicada postumamente; 38) Efemérides maranhenses (São Luís: Edições AML, 2016, 408 p.), obra organizada por Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar, publicada postumamente; 39) Correspondência (São Luís: Edições AML, 2016, 254 p.), obra organizada por Carlos Gaspar e Caroline Castro Licar, publicada postumamente. Quando faleceu em São Luís em 2003, vítima de uma dengue, seu nome já ultrapassara as fronteiras nacionais e se estabelecera nos domínios d’além-mar. Prova disso é a comum menção à sua obra por autores não apenas de outros estados brasileiros, mas também de outros países, como Portugal e França. Deixou trabalhos e poemas inéditos ou, pelo menos, jamais reunidos em formato de livro, como um brilhante ensaio sobre o soneto e os sonetos petrarquianos “In memoriam” (1946), “A esmola” e “Meu espelho”, os quais constam do livro Mário Meireles: historiador e poeta, de minha autoria, lançado por ocasião do centenário do grande historiador. Deliciemo-nos, pois, com o soneto “Meu espelho”: De meu espelho a lâmina barata, numa manhã de inverno, escura e fria, mostrou-me, na mudez de uma ironia, meu primeiro fio cor de prata. Olhei-me bem, na face lisa e chata que meu rosto surpreso refletia e quanto mais olhava mais o via... Era um cabelo branco, cor de nata... E eu murmurei, atônito, pensando: – não pode ser..., não pode..., não, não deve... Ou vejo mal, ou luz está faltando... Anuviou-se o espelho então de leve e eu vi meu rosto aos poucos se enrugando e meus cabelos todos cor de neve!...52 Em Mário Meireles, História e poesia ocasionalmente se fundem, convivendo harmonicamente, a primeira a fornecer a matéria-prima habilidosamente trabalhada pela segunda, o que resulta em textos de inequívoca beleza literária, a ressaltar um conteúdo historiográfico fundado em pesquisa sólida e exaustiva. É o caso, por exemplo, da parte final do derradeiro capítulo da icônica obra França Equinocial (1982), em sua segunda edição: Crescida e maior, porém, e muito embora orgulhosa sempre de sua naturalidade lusitana, daquela estirpe de barões assinalados, pois que neta também de um Albuquerque terrível, zelosa de sua educação coimbrã que lhe concedeu a graça de falar melhor e mais bonito a língua de Camões além-mar, veio a saber, por fim, a verdade sobre sua história. E de então, mais envaidecida mostrou-se entre suas irmãs porque ela não era só diferente; era filha de um [...] [fidalgo] francês que sabe hoje, ao contrário do que lhe ensinaram, que não repudiara aquele amor de que ela nascera, não olvidara a terra virgem em que 52
Esta poesia representaria o historiador Mário Meireles em um livro de sua autoria ou organização, que reuniria sonetos de patronos e membros efetivos da Academia Maranhense de Letras (AML), antecedidos por um ensaio sobre tal forma de composição poética, especialmente elaborado para essa obra, jamais publicada.
fora concebida, antes, saudoso e enamorado, tentara voltar a ela, mesmo a serviço dos que o tinham aprisionado por tê-la conquistado. [...] Ali o tem, o seu La Ravardière, no lugar mesmo do berço que ele lhe dera e cultua-lhe a memória, dele, dos que com ele vieram e de seu Rei, com carinhoso desvelo..., embora a pátria de seu progenitor nem se lembre de que neste pedaço do Novo-Mundo, que é o Brasil, exista uma São Luís que é em verdade uma Saint-Louis, em homenagem a um seu rei – Luís XIII, de França e Navarra, neto distante de São Luís, Luís IX [...].53
Historiador de vasta e inigualável obra, conferencista cujas conferências não raro se transformavam em livros e poeta ainda a ser (re)descoberto, Mário Meireles era um professor nato, admirado dentro e fora da sala de aula, que encantava os seus interlocutores pela afabilidade, pelo bom humor e pela paixão pela História e que hipnotizava plateias de alunos ou estudiosos. Testemunha a Professora Marize Helena de Campos, Mestre em História pela USP, em opúsculo publicado pelo IHGM em homenagem a Mário Meireles (2003), sobre uma conversa que teve com o professor e uma aula dada por este por ocasião da semana de recepção aos calouros do Curso de História da UFMA: [...] lá estava eu, frente a frente com aquele doce senhor sentado em sua poltrona, em uma sala que nos detalhes revelava sua paixão pela História. Suas palavras, suas explicações, seu bom humor, suas histórias me fizeram ‘viajar’ por um Maranhão que eu não tinha visto em livro algum. [...] Naquela tarde de Abril o Curso de História novamente parou para ouvi-lo. Olhar as expressões dos ouvintes era até engraçado, literalmente boquiabertos, como se não acreditassem na viagem histórica que o Professor lhes proporcionava [...]54
Não menos encantador, estimado e dedicado era o Mário Meireles no âmbito familiar. Desposou Dona Maria José Ramos Martins, depois Martins Meireles, conhecida carinhosamente como Zezé, em 13 de outubro de 1937, com ela vivendo um casamento de muitos anos, reconhecidamente feliz, apenas bruscamente interrompido quando da morte desta. A grande estatura intelectual jamais lhe fez perder a simplicidade no trato com as pessoas. Não por acaso, insurgiu-se contra o duplo “l” que seu último sobrenome originalmente carregava, reduzindo-o a um simples e despojado “l”: Meireles. O teatrólogo e jornalista Américo Azevedo Neto, da AML, ressalta, entre a admiração e o respeito, em artigo publicado em 5 de março de 1988 no jornal O Estado do Maranhão, essa virtude que lhe era tão característica: “Francamente – pensei – um homem desses, com um volume de conhecimentos desse, não poderia, nunca, estar em mangas de camisa. Essa é uma das culturas que, pela imponência, pela importância, pela majestade, solicita sempre paletó.” Mário Meireles era um apaixonado pela História, pelo magistério, pela família, pelos amigos, pela vida, enfim. Como bem disse Hegel, nada de grande foi realizado no mundo sem paixão, paixão esta indelevelmente incrustada na oração proferida pelo historiador enquanto paraninfo dos licenciados em História e Geografia e representante dos paraninfos dos cursos de Pedagogia, Filosofia e Línguas Neolatinas, contida na obra Veritas liberabit nos (1957), da qual reproduzo o trecho final: “Ide, cavaleiros; marchai que não há tempo a perder. Não esqueçais, porém, um só instante, no mais aceso fragor das batalhas que lutardes ou na glória maior das vitórias que alcançardes, que uma tradição de cultura inscreve-se nas linhas heráldicas do brazão de armas que se desenha no escudo de cada um de vós: – O Maranhão espera que cada um cumpra o seu dever. Ide, cavaleiros da Atenas do Brasil.”55 Tornou-se patrono da Cadeira nº 31 da Academia Ludovicense de Letras (ALL) em 2013, 10 anos depois de sua morte. Agradeço à organização da 1ª FLAEMA pela homenagem que me foi prestada e pela oportunidade de falar sobre Mário Martins Meireles, historiador e conferencista renomado, escritor prolífico, acadêmico admirado, poeta a ser (re)descoberto, servidor público ilibado, cultor dos idiomas francês, inglês e espanhol, 53
MEIRELES, Mário Martins. França Equinocial. 2. ed. São Luís: SECMA; Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. p. 123-124. CAMPOS, Marize Helena de. Lições de História. In: SARAIVA, Cloves; COUTINHO, Joseth (Org.). Mário Martins Meireles. São Luís: Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, 2003. p. 32-33. 55 MARTINS, José Maria Ramos; MEIRELES, Mário Martins. Veritas liberabit nos. São Luís: Tip. M. Silva, 1957. p. 27. 54
recipiendário de diversas láureas, tema de dissertação de Mestrado na Universidade de São Paulo (2008), nome de avenida aos pés da Lagoa da Jansen e de escola nesta ilha e, antes e depois de tudo, professor nato. O gigante adormeceu, “nem pode acordar”, mas sempre será, para a Atenas Brasileira, mais “alto que as nuvens, os céus a encarar”, pois sua obra, do mais belo granito, está imortalizada no papel, nos seus exemplos de vida, e “se estende por montes fragosos”, com “os pés sobre o mar”. E, como a vida é combate e só pode os bravos exaltar, resta sentarmos ao redor das obras, literárias e de vida, do maior historiador maranhense, patrono da Cadeira nº 31 da ALL, a qual tenho a honra de ocupar, e, sob o calor acolhedor da fogueira da imortalidade, imaginá-lo como o gigante desperto ou o sábio timbira a contar: “Meninos, eu vi!”
LER E PRODUZIR OBRAS LITERÁRIAS: prazeres vitais para o mundo humano Profa. Dra.Dilercy Aragão Adler Presidente e Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras-Cadeira 8 Sócia efetiva do IHGM– Cadeira 1 RESUMO Reflexão acerca da leitura e produção de obras literárias a partir da compreensão de que essas atividades materializam prazeres vitais para o mundo humano. Parte da exposição da obra literária enquanto arte e forma de conhecimento. Analisa a criatividade na produção da arte e finaliza abordando o específico da criação. Palavras-chave: Obras literárias. Arte. Conhecimento. Criatividade.
LER E PRODUZIR OBRAS LITERÁRIAS: prazeres vitais para o mundo humano Lavra na terra o sulco da vida lavra idéias lava a “culpa” e o “pecado do mundo” limpa com idéias revolve o sumo do inominável com tuas idéias! Dilercy Adler INTRODUÇÃO Este artigo busca refletir acerca da leitura e da produção de obras literárias como possibilidades humanas e, ainda, como prazeres vitais para o mundo humano. Engendra a análise a partir da obra literária como forma cultural de conhecimento, passando pela possibilidade criativa na produção da arte finalizando com o específico da criação. Busca, ainda, utilizar uma linguagem direta, exemplificada, não rebuscada, de modo a viabilizar ao leitor o vislumbre das suas próprias possibilidades tanto na leitura quanto na criação de textos poéticos, literários, jornalísticos ou acadêmicos. O fato é que a produção de textos acadêmicos e artísticos poderia ser maior se as condições socioculturais que interferem na dimensão individual de cada cidadão apresentassem condições facilitadoras para a expressão da sua criatividade no e para o seu coletivo. Por outro lado, a escola é considerada nos argumentos explicitados como espaço precípuo para o desenvolvimento da possibilidade criativa do seu alunado, mas para tal é indispensável que os seus objetivos propostos, as suas metodologias de ensino, os seus procedimentos em geral estejam dirigidos para a formação de leitores e autores. Assim, é importante compreender que a interação entre múltiplos fatores é que vai possibilitar a emergência e o reconhecimento da criação e de um número maior ou menor de produtos criativos. Sem esquecer a importância da sensibilidade aguçada, que permite captar o belo no mais inusitado objeto, é que se levantam estas argumentações como provocação para mais buscas e mais explicações acerca da indispensável atitude de refletir o mundo e interpretá-lo.
OBRA LITERÁRIA COMO FORMA CULTURAL DE CONHECIMENTO A Ciência, a Filosofia e a Arte constituem três formas culturais de conhecimento (LYRA, 1993, p.24). Diferentemente do filósofo e do cientista, o artista não se prende à verdade factual. Isso significa dizer que o trabalho do artista não objetiva preencher as lacunas do saber, investigando o ainda ignorado (como na ciência), ou demonstrar teses acerca do homem no mundo e do mundo do homem (como na filosofia), mas o de explorar criativamente todas as possibilidades expressivas do seu objeto. Para tal, é permitido ao artista lidar e manusear, tanto com a ignorância, como com a própria inverdade, a exemplo das poesias que seguem: DIFÍCIL VERDADE Haverá talvez verdades que fiquem além da linguagem o que nos faz seres solitários! faço esforço sobre-humano para dizer o que sinto... ...e nem sempre consigo! faço esforço incrível para viver o que penso... ...nem sempre é possível! faço esforço tamanho para tornar-me clara e facilmente interpretada ...mas muitas vezes me flagro diferente na percepção do outro! são essas verdades além da palavra do gesto da expressão essas verdades não ditas que nos condenam a essa insólita solidão! ADLER, 1991, p.103) (coloca a dúvida e os limites humanos) INSONDAVELMENTE SENDO Conhecer-me como é possível? se eu mesma me debato e desabo toda se sou arrebatada e me arrebento inteira entre dúvidas desatinos e "certezas" questionáveis que me amordaçam me violentam me dividem! conhecer-te mais difícil ainda ...
eis a insondabilidade do ser humano! (ADLER, 1991, p. 15) (Coloca os limites acerca do próprio conhecimento, do conhecimento do outro e questiona as certezas). Assim, o campo da arte é o imaginário. Daí porque nesse sentido pode ser afirmado que é mais vasto do que o da Filosofia e mais ainda que o da Ciência. Com base nessa premissa talvez não seja pretensioso colocar que a arte termine se firmando como uma forma privilegiada do conhecimento. “Dentre as artes pode-se dizer que a Literatura apresenta maior capacidade de abrangência. Isso porque nenhuma outra linguagem artística apresenta o alcance da palavra” (LYRA, 1993, pp. 35-50). No que diz respeito à palavra do poeta, inicia-se a argumentação através da seguinte afirmação psicanalítica: Mélanie Klein diz que "o que me impede de ver é a inveja, o mau olhar [...] o invejoso não vê com bons olhos, pois a inveja ataca-lhe a visão [...] o contrário da inveja é a gratidão [...] o invejoso, ao contrário do poeta, sob a ação da pulsão de morte, amaldiçoa, vê com maus olhos e diz más palavras" (REZENDE, 1993, pp. 110-124). O papel do poeta, segundo a mitologia grega, comentada por Marcel Détienne, em seu livro. "Os mestres da verdade na Grécia antiga", era exatamente o de fazer o elogion - o elogio. Tomado ao pé da letra o elogio significa a boa palavra, a qual consiste em dizer bem ou bem - dizer e no latim benedicere significa abençoar (REZENDE, 1993, p. 111). O poema FALA DE POETA expressa um pouco essa questão: A palavra do homem habitat-corpotransita na boca a boca que beija o beijo que trai Poesia Eu te capto entre os espigões de concreto que se afogam no mar morto do asfalto eu te vejo mesmo na solidão do eco do salto alto nervoso apressado... eu te acho no poço escuro sombrio do elevador lento e inabalável ... eu só me calo quando me falas eu sempre grito as tuas dores mas também digo os teus prazeres e ainda bendigo por me fazeres teu instrumento!... (ADLER, 1997, p.19) Ou nesta outra:
POEMA No frio e pálido papel eu me debruço debulho irrefutavelmente tantos prantos quanto me custa! degusto prazerosamente todos os sabores que me devassam e afloram corpo e mente quantos licores! e o papel se enche transborda vida! (ADLER, 1997, p.13)
a palavra do homem habitat -corpoferinamente fere a mão que se estende e não se fecha jamais!... ...fala poeta por ti e por nós a palavra de amor por sob os lençóis a palavra benigna que não fere jamais a palavra de vida que lava a ferida tantas chagas e dor fala poeta palavras palavras em rimas de amor! (ADLER,1997, p. 19). Fica claro que o poeta olha o mundo muito mais com o espírito e comunica um pouco do seu espírito para os demais. Desse modo, a linguagem poética transmutada é advinda do olhar do poeta que transcende à materialidade observável a exemplo de: RITUAL colho orvalho - lágrimas do cosmo na noite enlutada engulo luares - dos nostálgicos amantes – bucolicamente solitários rumino compulsivamente todas as saudades que me fazem a tua ausência digiro tácita solidão num ritual sem trégua à tua espera! (ADLER, 1997, p.20) (no sentido factual não se pode engolir luares, ruminar saudades ou digerir solidão)
DESEJO Quero extrair mais um poema das entranhas... estranha arte de parir palavras! (ADLER, 2000, p.20) Assim, o olhar do poeta torna-se instrumento de tradução do mundo, e nessa tradução reside tanto a minimização das dores e da crueza da realidade, como uma infinidade de prazeres vitais para o mundo humano.
A CRIATIVIDADE NA PRODUÇÃO DA ARTE A criatividade, como qualquer outro traço ou característica humana, necessita de condições adequadas para que possa se desenvolver. Algumas destas condições se relacionam com o espírito da época, com o clima psicológico ou social que predomina em uma determinada sociedade ou em determinado povo. Estas condições, mais ou menos favoráveis, estão também relacionadas aos valores dominantes na família, aos traços de personalidade e características reforçadas e cultivadas. Desse modo, tantos os fatores intrapessoais, interpessoais, individuais e sociais, têm um impacto significativo na produção criativa do indivíduo e da sociedade. No tocante à escola é muito importante que os objetivos propostos, as metodologias de ensino adotadas, os procedimentos em geral que aglutinam normas, valores, estejam dirigidos para a formação de leitores e autores. É a interação entre múltiplos fatores que vai possibilitar a emergência e o reconhecimento da criação e de um número maior ou menor de produtos criativos. Em termos de características de um contexto social propício à criatividade salienta-se a extensão em que as contribuições criativas de seu povo são bem aceitas e valorizadas, bem como a existência de condições que estimulem a inovação, a exploração de ideias e a criação de novos produtos. A importância do reconhecimento social também é de fundamental importância. Por isso é necessário que aqueles que convivem com o indivíduo valorizem a sua criatividade; o ambiente deve oferecer o apoio necessário e aceitar o trabalho criativo quando apresentado. Sabe-se também que o desenvolvimento e a expressão da criatividade não dependem somente dos esforços do próprio indivíduo, mas ainda do contexto social em que se acha inserido. No tocante a este último, esse desenvolvimento se dá quando os seus cidadãos têm liberdade e oportunidade para estudar e preparar-se profissionalmente, explorar e questionar, expressar-se, serem eles mesmos. Outras condições de um ambiente que facilitam o comportamento criativo são: redução de fatores que produzem frustração, redução de experiências e situações competitivas que implicam ganhos ou perdas, encorajamento do pensamento divergente, eliminação de ameaças ambientais, aceitação de fantasias, minimizações de coerções, ajuda à pessoa em sua compreensão de si e de sua divergência em relação às normas. SOBRE O ESPECÍFICO DA CRIAÇÃO Para que haja a criação, o criador necessita da sua capacidade de perceber o objeto... as pessoas... as coisas humanas... o mundo. Nessa perspectiva, o olhar é entendido no sentido de ir ao encontro do mundo, de trazê-lo para dentro de si, devolvendo-o para o coletivo reinterpretado e esse agir implica a disposição de abrir-se ao mundo. Essa é talvez a primeira condição para a criação.
É ainda fundamental dispor do olhar sempre atento aos pequenos detalhes, percepção que implica sensibilidade e capacidade de expressar o sentido, o sentimento, a emoção inspirada pelo objeto percebido. Assim, é imprescindível, sensibilidade que permita captar o belo no mais inusitado, a exemplo da poesia para a Poesia a seguir: Por outro lado, convém enfatizar que todos têm sensibilidade. O que acontece é que alguns reprimem a sua, por variados motivos, ou ainda, a sociedade não cria as condições facilitadoras para o seu desenvolvimento e expressão. É urgente que se busquem estratégias de desenvolvimento (para quem já deixa emergir em si) da sensibilidade e de resgate, para posterior desenvolvimento, para aqueles que perderam essa condição em si, já que essa é inerente ao ser humano. Ler e produzir obras literárias devem se firmar como prazeres vitais para o mundo humano. O mundo humano necessita, para a sua continuidade e felicidade dos seus habitantes, da criação da ciência e das artes, em todas as suas vertentes, mas, necessariamente, devem ser obras permeadas por uma ética humanizada que resulte da convivência amorosa entre as pessoas.
MINHA FORMA DE AMAR Quero te amar de forma diferente daquela forma de amar que me ensinaram... quero te amar sabendo que não és a possibilidade única de amor na minha vida... quero te amar sem fazer ou receber cobranças mas sentindo-te perto dentro inteiro verdadeiro amigo e companheiro sem mentiras "respeitosas"... quero te amar sem a obrigação de ser a “mulher ideal” ou de te completar... quero te amar sem possessividade sem passividade sem exigências estéreis
mas com intimidade reciprocidade sem medo! ...
(ADLER, 1991, p.113)
MISTURA DE PELE a pele escura a pele branca a pele a brancura a loucura se mistura na pele por séculos e séculos pela fresta da janela vejo a pele que reflete a luz do teu sol luz amarela na pele escura dourada sem igual sobre a minha brancura ... nua! (ADLER, 1999, p.23)
REFERÊNCIAS
ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos - Gris. São Luis/MA: Graphos,1991. ________. Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário. Rio de Janeiro: Blocos, 1997. _________. Arte Despida. São Luís/MA: Estação Produções, 1999 ________. GENESES: IV livro. São Luís/MA: Estação Produções, 2000 _________. Seme ... ando dez anos. São Luís/MA: Estação Produções, 2001 LYRA, Pedro. Literatura e Ideologia Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. REZENDE, Antonio Muniz de. Bion e o futuro da Psicanálise. Campinas/SP: Papirus, 1993. DUARTE, João Francisco Júnior. A política da loucura. Campinas/SP: Papirus, 1987.
Na "Feira do Livro do Autor e Editor Maranhense (FLAEMA), no Shopping da Ilha, com os queridos escritores e confrades Sanatiel Pereira, Ceres Costa Fernandes e Dilercy Adler. A FLAEMA deste ano tem como patrono JosuĂŠ Montello. Delercy e Sanatiel figuram merecidamente como autores homenageados. Aos livros!
CONGRESSO BRASILEIRO DOS GUIAS DE TURISMO ANTONIO NOBERTO No Congresso Brasileiro dos Guias de Turismo, Antonio Noberto fala de um novo Brasil
O turismólogo, Antonio Noberto, proferiu na quinta-feira, 26, uma excelente palestra, “Falando de um novo Brasil”. A palestra aconteceu no Congresso Brasileiro dos Guias de Turismo realizado no Rio Poty Hotel em São Luis – Maranhão.
Veja trecho da palestra clicando aqui.
REVISTA VARAL DO BRASIL Ana Luiza Almeida Ferro Caros amigos e amigas:
O poema "Medo", de minha autoria, estรก na Revista Varal do Brasil, jun. 2016, p. 123.
MEDO56 Sou o beco escuro em noite sem luar Sou o revólver empunhado pronto a disparar Sou a voz sufocada que não consegue falar Sou o barco condenado que afunda em alto-mar Sou a água invasiva que não para de inundar Sou o mar portentoso prestes a encrespar Sou a pena que não escreve para não errar Sou o dedo que aponta para não se culpar Sou a mão que conquista para não se curvar Sou o passado atormentado que não quer acabar Sou o presente ocupado que teima em faltar Sou o futuro incerto que ameaça chegar Sou a morte que não se esquece de matar Sou a vida que não se lembra de viver. Eu sou e jamais deixarei de ser pois temer ou me ter é próprio do ser humano que se diz sano em um mundo de vez em quando cada vez mais por vezes demais insano.
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(Publicada no livro O náufrago e a linha do horizonte, 2012)
TROFÉU CORA CORALINA EM GOIÂNIA Ana Luiza Almeida Ferro Hoje, 28/05/2016, recebeá o Troféu Cora Coralina em Goiânia à noite. Também tomará posse como membro correspondente da Academia de Letras de Goiás - ALG.
1ª CONVOCATÓRIA
ANTOLOGIA PELOS CAMINHOS DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: condições e contradições de uma época De 20 DE MAIO a 30 DE JUNHO DE 2016 APRESENTAÇÃO Neste ano de 2016 São Luís vai sediar o XXVIII Encontro dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira - FEB, de 19 a 22 de outubro. A proposta do evento é de iniciativa do 24 Batalhão de Infantaria Leve - “Batalhão Barão de Caxias” e da Associação dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira-Regional São Luís/Maranhão e contará com vasta e rica programação. Convidados de todo o Brasil e do exterior, notadamente, da Itália, prestarão, na ocasião, suas homenagens a esses nossos heróis brasileiros, ao mesmo tempo que buscarão estratégias alternativas de resgatar a importância dos feitos desses nossos conterrâneos, ainda pouco valorizados no Brasil nos dias atuais. Considerando ser de fundamental importância que as instituições e órgãos da cultura e do saber ( de um modo geral) assumam empreitadas na busca da construção do conhecimento, pesquisando e regatando documentos e apontamentos desse período, que resultarão, com certeza, na apresentação de dados de grande valor, ainda desconhecidos por um grande contingente de brasileiros. Nessa perspectiva, a Academia Ludovicense de Letras- ALL e a Sociedade de Cultura do BrasilSCL tomam a iniciativa de organizar uma Antologia de textos e poesias, para apresentar de forma leve e verdadeira as condições e contradições da participação dos pracinhas brasileiros na Itália, na Segunda Guerra Mundial. O lançamento desta Antologia dar-se-á no XXVIII Encontro dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira – FEB, como parte da programação do evento.
Convém ainda registrar que, na Itália, além do Monumento Votivo Militar Brasileiro, (homenagem prestada pelas autoridades italianas aos militares brasileiros mortos durante a II Guerra Mundial), localizado em Pistóia - Região da Toscana, existem outros, oferecidos pelo povo, em memória dos soldados brasileiros. A participação desta Antologia está aberta a escritores, poetas, pesquisadores, professores, acadêmicos, estudantes universitários e do Ensino Fundamental e Médio, do Brasil e do exterior. Ou seja, todos auqeles que desejam a PAZ entre as pessoas e em todos os continentes do nosso planeta.
OBJETIVOS - Conhecer a história da participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, na Itália; - Cultivar a Memória da Força Expedicionária Brasileira, realçando as relações e a integração dos soldados brasileiros com a população italiana, que era profunda e especial, diferente das demais relações dos integrantes das forças Aliadas; - Analisar as condições e contradições desse momento da história do Brasil; - Resgatar a grandeza desses heróis brasileiros e a sua humanidade em tempos de guerra; - Apreender a importância do conhecimento das condições de combate dos expedicionários brasileiros, tanto na dimensão objetiva quanto subjetiva; - Evidenciar o reconhecimento dos feitos dos pracinhas brasileiros, pelos italianos, contrapondo-o ao esquecimento dos brasileiros; - Apreender e aprender por intermédio da história da guerra, os caminhos da Paz; - Divulgar os conhecimentos produzidos e as fontes existentes relativos ao tema; - Compreender a urgência de otimização do potencial criador da criança e do adolescente, bem como o papel de mediação da escola, da família e das Instituições culturais nessa perspectiva. NORMAS: a) ESTUDOS E PESQUISAS (crônicas, ensaios): - Cada autor ou coautor poderá enviar até dois (02) textos, com o máximo de 04 (quatro) páginas, formato A4, Times New Roman, tamanho 12, espaço 1,0 incluindo bibliografia e fotos. - Enviar, adjunto, currículo literário resumido (no máximo seis linhas), em que conste data de nascimento, cidade e país de origem; e-mail, com foto atualizada. b) POEMAS: - Cada poeta poderá apresentar até 02 (dois) poemas (duas páginas), formato A4, times New Roman, tamanho 12, espaço 1,0. - Enviar, adjunto, currículo literário resumido (no máximo seis linhas), em que conste data de nascimento, cidade e país de origem; e-mail, com foto atualizada. A aceitação dos trabalhos dar-se-á na ordem de recebimento, até completarem as 300 páginas da Antologia. Envio de material para: dilercy@hotmail.com CUSTOS: A antologia adotará o sistema consorciado, na qual os custos serão rateados entre autores que receberão em livros os valores pagos. Divulguem em sua Instituição, Cidade, Estado e País. CONTAMOS COM A SUA PARTICIPAÇÃO!
“Conspira contra sua própria grandeza, o povo que não cultiva seus feitos heroicos.”
CONVITE 199 DO TEATRO ARTHUR AZEVEDO – PROGRAMAÇÃO ALL
TEATRO ARTHUR AZEVEDO: 199 anos com muita arte PROGRAMAÇÃO DO ESPAÇO POESIA – Maria Firmina dos Reis – PROMOÇÃO Academia Ludovicense de Letras -ALL A ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL, em parceria com o Teatro Arthur Azevedo tem a grande satisfação de convidar Vossa Excelência e família, a participar da atividade cultural ESPAÇO POESIA: Maria Firmina dos Reis, a se realizar no Teatro Arthur Azevedo, nos dias 03, 04 e 05 do mês de junho de 2016 com a programação a seguir: Dia 03 de junho de 2016 (Sexta-feira): 16h30 às 16h40 – Homenagem a Maria Firmina dos Reis – Dilercy Aragão Adler, Presidente da ALL 16h40 às 17h00 – Performance Poética – Josimael Caldas, Diretor do Centro de Artes Cênicas do Maranhão - CACEM 17h00 às 19h00 – Colhendo Poemas –Leitura de poesias por membros da Academia Ludovicense de Letras e/ou do público presente no evento. Apresentação Musical do Núcleo de Choro – Flor Duarte, Diretora Artística da Escola de Música do Estado do Maranhão-EMEM (A apresentação conjunta com a leitura de poesia e solo) 19h00 às 19h30 – Encerramento seguido de Coquetel Dia 04 de junho de 2016 (Sábado): 16h30 às 16h40 – Homenagem a Gonçalves Dias – Dilercy Aragão Adler, Presidente da ALL 16h40 às 17h00 – Performance Poética –Josimael Caldas, Diretor do Centro de Artes Cênicas do Maranhão - CACEM 17h00 às 19h00 – Colhendo Poemas – Leitura de poesias por membros da Academia Ludovicense de Letras e/ou do público presente no evento. Apresentação Musical do Núcleo de Choro – Flor Duarte, Diretora Artística da Escola de Música do Estado do Maranhão-EMEM (A apresentaçãoconjunta com a leitura de poesia e solo) Dia 05 de junho de 2016 (Domingo): 16h30 às 16h40 – Homenagem a Coêlho Neto – Dilercy Aragão Adler, Presidente da ALL 16h40 às 17h00 – Performance Poética – Natinho Costa Fênix, SOBRAMES e IHGM. 16h50 às 19h00 – Colhendo Poemas – Leitura de poesia por membros da Academia Ludovicense de Letras e/ou do público presente no evento. Apresentação Musical do Núcleo de Choro – Flor Duarte, Diretora Artística da Escola de Música do Estado do Maranhão-EMEM (A apresentaçãoconjunta com a leitura de poesia e solo) 19h00 às 19h30 – Encerramento seguido de Coquetel
CLUBE DA POESIA Publicamos hoje (03/06) na página do CLUBE DA POESIA o inspiradíssimo poema O NÁUFRAGO VIII, da premiadíssima escritora maranhense Ana Luiza Almeida Ferro. Uma leitura de elevada beleza estética que nos leva às profundezas do mar e às incertezas de nossa alma. (*) Clube da Poesia Slz.
PEN Clube do Brasil 80 Anos Literatura e Liberdade de Expressão
Boletim Informativo Rio de Janeiro – Ano VI – Maio de 2016 – Edição Online
NOTÍCIAS DE ASSOCIADOS Dia 9 Luiza Lobo e Alcmeno Bastos coordenaram o primeiro Café Literário do PEN, quando foi discuti-da a obra A Jangada de Pedra, de José Saramago. Sede Social do PEN Clube. Dia 12 Ana Luiza Almeida Ferro concluiu o Curso intensivo Lotta al crimine organizzato (Combate ao Crime organizado) promovido pela Università degli Studi di Roma – Tor Vergata e pela Internatio-nal Experience. Roma, Itália. Dia 21 Ana Luiza Almeida Ferro recebeu o Troféu Cecília Meireles, Categoria Especial, na décima oita-va edição consecutiva da Festa "Mulheres Notáveis", na cidade de Itabira, Minas Gerais, terra de Carlos Drummond de Andrade. Dia 24 Ana Luiza Almeida Ferro foi homenageada em São Luís-MA, na 1ª Feira do Livro do Autor e Editor Maranhense – FLAEMA, oportunidade em que também proferiu palestra sobre a vida e obra do historiador Mário Meireles e participou de sessão de autógrafos dos livros Crime organizado e organizações criminosas mundiais; 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a funda-ção de São Luís e Mário Meireles: historiador e poeta, todos de sua autoria. Participou, ainda, do lançamento da obra Sem fronteiras pelo mundo... Without Borders Around the World, coletânea lite-rária internacional bilíngue, bilingual international literary anthology: verso, poetry (2016), na qual consta seu poem “O náufr go VIII”, recentemente premiado em Blumenau Dia 28 Ana Luiza Almeida Ferro recebeu o Troféu de Honra ao Mérito Cultural Cora Coralina, em "re-conhecimento ao seu trabalho de enriquecimento à cultura lusófona", em evento promovido pela Academia de Letras de Goiás Velho – ALG. Goiânia / GO. Na ocasião tomou posse como acadêmi-ca correspondente daquela instituição cultural AGENDA DE JUNHO AGENDA DE JUNHO AGENDA DE JUNHO
ESPAÇO POESIA MARIA FIRMINA DOS REIS COLHENDO POEMAS 2º DIA - 04 de junho 2006 “O ESPAÇO POESIA Maria Firmina dos Reis” é o nome de um dos projetos que integram o Plano Gestão (biênio 2016-2017) da Academia Ludovicense de Letras - ALL. “COLHENDO POEMAS”, foi o marco inicial de suas atividades, que por sua vez integrou o Programa de Comemoração do aniversário de 199 anos do Teatro Arthur Azevedo. Foram três dias, e, em cada um deles, um Patrono da ALL foi homenageado: No 1º dia (03/06): Maria Firmina dos Reis (Patrona da Casa); No 2º dia (04/06): Antônio Gonçalves Dias (A ALL foi fundada no aniversário de 190 anos do Príncipe dos Poetas); No 3º dia (05/06): Henrique Maximiano Coelho Netto, por ter sido eleito pelos membros da ALL para ser homenageado neste ano (2016 “Ano de Coelho Neto”). No tocante à atividade: De uma árvore plantada num jarro colhiam-se folhas de poemas ou ainda eram tirados de livros, ao pé do jarro. Como parceiros a ALL contou com o Centro de Artes Cênicas do Maranhão – CACEM, através do seu Diretor Josimael Caldas e a Escola de Música do Estado do Maranhão -EMEM, através do Núcleo de Choro. Não podemos deixar de agradecer ao Diretor do Teatro Arthur Azevedo, Celso Brandão, pela disponibilização do Espaço, à Flor Duarte como contato direto do TAA com a nossa Academia; ao Centro de Artes Cênicas do Maranhão – CACEM, ao Núcleo de Choro da Escola de Música do Estado do Maranhão -EMEM, e ainda à comissão organizadora da ALL, na figura de Osmar Gomes, membro fundador e responsável pela mediação do convite, Dilercy Adler e Clores Holanda, Presidente e Secretária Geral, respectivamente. Contamos com a dedicação de mais pessoas que ficam nos ”bastidores” do evento, dentre as quais: Riba Trindade, Marilia Trindade, Júlio Matos, Anderson, Cláudio. E um agradecimento também especial aos membros da ALL que prestigiaram o evento com as suas presenças e ao público que deu o brilho maior a toda a festa. Foram três dias de intensos trabalhos, mas quanto aos resultados as fotos falam por si só!
PERSONALIDADE 2015 – ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Caros amigos e amigas: Recebi o título de "Personalidade 2015", outorgado pelo Colegiado Acadêmico da Academia de Artes de Cabo Frio - RJ (ARTPOP). Muito honrada com a distinção vinda das bandas do belo Estado do Rio de Janeiro, muito importante em diversos momentos da minha vida...
INTEGRAÇÃO CULTURAL INTERESTADUAL - FORTALEZACE Nos dias 15 e 16 do corrente mês, aconteceu, em Fortaleza-CE, na Academia Cearense de Letras (ACL), do evento Integração Cultural Interestadual, como palestrante em painel sobre a poesia na voz feminina, ocasião em que Ana Luiza falou sobre Dilú Mello e Dagmar Desterro, ambas as patronas de cadeiras da Academia Ludovicense de Letras. Também houve participação de roda poética e posse como membro correspondente MA da UBE-RJ, na companhia de outros escritores. O evento foi promovido pela UBE-RJ, competentemente presidida pela poeta Juçara Valverde, e pela escritora Socorro Cavalcanti, com o apoio da ACL e do Jornal Sem Fronteiras, dirigido por Dyandreia Portugal, sempre divulgando a literatura e o escritor nacional.
RODA POÉTICA, EVENTO INTEGRAÇÃO CULTURAL INTERESTADUAL/ CE.
A primeira edição do Encontro de Integração Cultural Interestadual, foi realizada de 15 a 16 de junho de 2016, em Fortaleza-Ceará e de 17 a 18, do mesmo mês e ano, em Mossoró- Rio Grande do Norte. Foi inicialmente idealizado pela escritora Socorro Cavalcante e, contou com o apoio da Academia Cearense de Letras e muitas outras entidades alencarinas, ainda a Academia de Letras de Mossoró e a Academia Feminina de Letras da mesma Cidade. Contou também com a parceria da União Brasileira de Escritores-UBE do Rio de Janeiro, representada por sua Presidente Juçara Valverde e o Grupo Mídia e Jornal Sem Fronteiras, também do Rio de Janeiro. Representada por sua editora chefe Dyandreia Portugal. Os trabalhos foram desenvolvidos na sede da Academia Cearense de Letras, em Fortaleza e na sede da Fundação Heróis da Resistência, em Mossoró, contando com a participação de nomes dos mais destacados das entidades citadas e de outros Estados como Paraíba, Maranhão, Paraná, Sergipe e São Paulo.
Alguns membros da Academia Ludovicense de Letras-ALL foram convidados pela Presidente da UBE do Rio de Janeiro para participarem da programação apresentando trabalhos e participando das Rodas Poéticas: Dilercy Aragão Adler, Ana Luiza Almeida Ferro, Arquimedes Vale.
POESIA POLARIZADA A PARTIR DO GÊNERO: condição real ou engendrada DILERCY ADLER57 Espaço feminino Espaço mulher mulher no espaço espaçonave espaço cósmico cômico espaço!... Inusitado das normas do corpo do sexo... do leite materno que eterno sangra do peito a jorrar boca a dentro do homem (ADLER, 1991). Ao receber o convite para compor a mesa Poesia Feminina, no Evento “Integração Cultural Interestadual”em Fortaleza e Mossoró (jul./2026), senti-me agraciada por ter a oportunidade de debruçar-me sobre um tema apaixonante,envolvente, como é a questão de gênero, o qual, por sua vez, aborda a vida na terra, os viventes e sobreviventes do planeta terra, que foram divididos e criados ou criados e divididos em dois gêneros. Nesse contexto de criação e divisão dos seres humanos em gêneros, não posso deixar de me referir às “Almas gêmeas, o Mito do Andrógino” de Platão, que em seu livro O Banquete objetiva definir o amor. Um dos momentos mais incisivos do texto envolve o comediógrafo Aristófanes que fez um belo discurso que se imortalizou como a teoria da alma gêmea. Aristófanes assim se expressa: ...no início dos tempos os homens eram seres completos, de duascabeças, quatro pernas, quatro braços [...] considerando-se seres tãobem desenvolvidos, os homens resolveramsubir aos céus e lutarcontra os deuses, destronando-os e ocupando seus lugares. Todavia,os deuses venceram a batalha e Zeus resolveu castigar os homenspor sua rebeldia. Tomou na mão uma espada e cindiu todos oshomens, dividindo-os ao meio. Zeus ainda pediu ao deus Apolo quecicatrizasse o ferimento (o umbigo) e virasse a face dos homens parao lado da fenda para que observassem o poder de Zeus.Dessa forma, os homens caíram na terra novamente e,desesperados, cada umsaiu à procura da sua outra metade, sem a qual não viveriam. Tendoassumido a forma que nós temos hoje, os homens procuram suaoutra metade, pois asaudade nada mais é do que o sentimento de que algo nos falta, algoque era nosso antes. Por isso, os homens vivem em sociedade, poisdesenvolvem o trabalho para buscar, nessa relação amorosa, mantera sua sobrevivência. Dessa forma, o ser que antes era completohomem-homem gerou o casal homossexual masculino; o ser mulher-mulher, o 57
Dilercy (Aragão) Adler. Psicóloga. Doutora em Ciências Pedagógicas - Cuba. Escritora com 12 livros publicados e organizadora de 12 Antologias (nacionais e internacionais). Tem participação em de mais de 100 antologias nacionais e internacionais. Agraciada com vários prêmios e comendas. Membro Fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL; do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM. Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil.Email:dilercy@hotmail.com
casal homossexual feminino. E o andrógino (parte homem,parte mulher) gerou o casal heterossexual. E a força que une a todosé o que nos protege, já que Zeus prometeu cindir novamente oshomens (ficaríamos com uma perna e um braço só!) se nãocumpríssemos o que foi designado pela divindade. (CABRAL, 2016). Essa é uma das explicações, neste caso, mitológica, da existênciados gêneros humanos: masculino e feminino, que de uma forma romântica emítica interpreta a necessidade do outro, do amor, da saudade existente em cada ser. SOBRE A QUESTÃO DE GÊNERO: a História da Humanidade e na Literatura Essa questão não é nova, mas continua instigante e atual, a partir daexistência de dois seres, distintos em suas sexualidades. Parece ser dessa condição que todo o mundo humano também se divide em dois, desde as características e condições mais palpáveis, objetivas, como: vestuário, cores, brinquedos, profissões, até as mais subjetivas, quais sejam: prazeres, motivações, emoções, inteligências, potencialidades, de obras masculinas do que de femininas. Ou seja, em todas as áreas do conhecimento, o pensamento adotado e divulgado socialmente é aquele que tem na sua base o modelo eurocêntrico, masculino, caucasiano e aristocrático. O fato é que, historicamente, com raríssimas exceções, o homem tem marcado a sua existência por meio de uma supremacia sobre a mulher. O seu universo é caracterizado por mais plasticidade e acesso a mais (em termos quantitativos) e mais intensos estímulos para o desenvolvimento das suas potencialidades do que o da mulher. Assim é que, também a arte, a exemplo da ciência, vai demonstrar um quantitativo maior de expressões, de obras masculinas do que de femininas. Ou seja, em todas as áreas do conhecimento, o pensamento adotado e divulgado socialmente é aquele que tem na sua base o modelo eurocêntrico, masculino, caucasiano e aristocrático. Ao se ter acesso a qualquer manual de História da Literatura, nota-se uma débil presença ou completa ausência de mulheres escritoras. Grande parte daqueles que contêm nomes femininos figuram a partir da Idade Contemporânea, situados na estética literária conhecida como Romântica. Ao manusear qualquer manual de História da Literatura, nota-se desde uma débil presença a uma completa ausência de mulheres escritoras. Grande parte daqueles que contêm nomes femininos figuram a partir da Idade Contemporânea, situados na estética literária conhecida como Romântica. A lacuna no que diz respeito às mulheres como sujeitos na História é vasta e, em sua obra, Lola Luna discute essa omissão na historiografia literária. No seu estudo, refere-se a essa condição na literatura espanhola, elencando vários nomes “esquecidos” desde o Século de Ouro Espanhol. Diz Luna apud Nascimento, 2015: [...] Algo que chama a atenção é que o Século de Ouro espanhol coincidecom a Era Aristocrática da obra de Bloom e, por conseguinte, com a IdadeModerna. Ou seja, esse silenciamento das vozes femininas parece seconsolidar como regra nesse período. [...] Resta saber se as mulheresescreviam e o que elas escreviam. Mas, antes de tudo, a História dasMulheres e a História da Leitura responderão às questões de como equando as mulheres passaram a ter acesso à leitura e às práticas de escrita. Em seu renomado livro O cânone Ocidental, Harold Bloom divide seu estudo em cinco capítulos: Sobre o Cânone, A Era Aristocrática, A Era Democrática, A Era do Caos eCatalogando o Cânone. Apresenta um total de vinte e seis escritores como obrigatórios para conhecer a literatura ocidental; dentre eles, apenas três nomes femininos: Jane Austen, Emily Dickinson e Virgínia Woolf, as duas primeiras da Era Democrática, e a segunda, da Era do Caos.
Não há dúvidas de que à mulher coube, por um período histórico considerável, menos espaço e condições favoráveis para o desenvolvimento das suas potencialidades, principalmente no tocante aos aspectos referentes à capacidade de análise crítica e mais abstratos e da sua inteligência. No tocante à Literatura, os estudos mostram a polêmica acerca das questões de gênero nessas produções, de onde surgem indagações como: Existe uma literatura feminina? Literatura tem gênero? Críticos e escritores se dividem em relação à temática, de modo que as produções sobre essa matéria, que apesentam premissas distintas, são consideráveis. Outro dado de real valor é que, principalmente na literatura erótica, a voz feminina pouco tem sido ouvida e quase sempre de soslaio, porque, por muito tempo e com frequência, somente o grito masculino se fez ouvir. No entanto, Nascimento lembra que existe ... um nome consagrado desde a antiguidade e que ainda emerge em muitos discursos poéticos, apontado um conjunto de deliciosas e eróticas lendas, que expressam diferentes costumes e sentimentos. Estamos falando de Safo que nasceu na ilha de Lesbos e aí chefiou uma escola poética, na Grécia antiga (NASCIMENTO, 2011, p 10). Em reposta às interrogações anteriores, podem ser arroladas de forma bem genérica duas posições antagônicas: de um lado, aquela que afirma existir um aprodução literária feminina, cujos temas específicos ao próprio gênero são desenvolvidos pelas mulheres. A partir dessas produções se conhece a mulher que engendrou as tramas e situações apresentadas, que, por sua vez, expressa a concepção que ela tem de si mesma, advinda da própria essência. Nessa perspectiva há, sim, um mundo particularmente feminino, construído através da/e pela visão de mundo feminino, pelas relações com as outras mulheres, assim como das relações das mulheres com os homens. Nesse contexto, cabe à crítica literária feminina dar visibilidade principalmente às mulheres, tornando também audíveis suas vozes e discutindo o real lugar da autoria feminina no cânone literário, desconstruindo a visão eurocêntrica. De outro lado, existe o não reconhecimento de uma linguagem lírica. Ficam, então, as duas posições teóricas para a reflexão do leitor e/ou leitora. Sobre o específico da Poesia Feminina Nesta parte da minha análise, para dar vigor às argumentações posteriores, apresento algumas poesias sem identificar autor ou autora. Assim, através das interpretações do mundo e da afetividade poematizadas, tentaremos identificar a visão de um gênero específico.
1 - SONHE Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu. Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar, sabe-se lá aonde. As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces. O sorriso! Esse, você deve segurar, não o deixe ir embora, agarre-o! Persiga um sonho,
mas, não o deixe viver sozinho. Alimente a sua alma com amor, cure as suas feridas com carinho. Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas, não enlouqueça por elas. Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca. Alague seu coração de esperanças, mas, não deixe que ele se afogue nelas. Se achar que precisa voltar, volte! Se perceber que precisa seguir, siga! Se estiver tudo errado, comece novamente. Se estiver tudo certo, continue. Se sentir saudades, mate-as. Se perder um amor, não se perca! Se o achar, segure-o! Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada.
2 - ESBOÇO Teus lábios inquietos pelo meu corpo acendiam astros... E no corpo da mata os pirilampos de quando em quando, insinuavam fosforescentes carícias... E o corpo do silêncio estremecia, chocalhava, com os guizos do cri-cri osculante dos grilos que imitavam a música de tua boca... E no corpo da noite as estrelas cantavam com a voz trêmula e rútila de teus beijos... (in Sublimação, 1928).
3 - DO AMOR Quando o amor vos chamar, segui-o, Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; E quando ele vos falar, acreditai nele, Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos Como o vento devasta o jardim. Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, Assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, Trabalha para vossa queda. E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol, Assim também desce até vossas raízes E as sacode no seu apego à terra. Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração. Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis. Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma No pão místico do banquete divino. Todas essas coisas, o amor operará em vós Para que conheçais os segredos de vossos corações E, com esse conhecimento, Vos convertais no pão místico do banquete divino. Todavia, se no vosso temor, Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez E abandonásseis a eira do amor, Para entrar num mundo sem estações, Onde rireis, mas não todos os vossos risos, E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas. O amor nada dá senão de si próprio E nada recebe senão de si próprio. O amor não possui, nem se deixa possuir. Porque o amor basta-se a si mesmo. Quando um de vós ama, que não diga: “Deus está no meu coração”, Mas que diga antes: Eu estou no coração de Deus”. E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, Pois o amor, se vos achar dignos, Determinará ele próprio o vosso curso. O amor não tem outro desejo Senão o de atingir a sua plenitude. Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, Sejam estes os vossos desejos: De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho Que canta sua melodia para a noite; De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada; De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor E de sangrardes de boa vontade e com alegria; De acordardes na aurora com o coração alado E agradecerdes por um novo dia de amor; De descansardes ao meio-dia E meditardes sobre o êxtase do amor; De voltardes para casa à noite com gratidão; E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, E nos lábios uma canção de bem-aventurança. 4- SEM TÍTULO Não quero dormir sem teus olhos
Não quero ser, sem que me olhes Abro mão da Primavera, pra que continues me olhando...
5 - SEM TÍTULO A mais bela coisa deste mundo para alguns são soldados a marchar, para outros uma frota; para mim é aminha bem-querida.
6 - DESEJO Eu desejei aquele corpo sem rosto sem alma sem nome sem significado só corpo! eu desejei aquele corpo com ímpeto com o total furor e langor da minha libido desprovida de qualquer amor sem qualquer pudor só sexo! eu desejei aquele corpo só corpo só sexo sem rosto sem calma desejo sem nexo?! só sexo sexo e corpo sem alma e sem rosto ah! como o desejei!!!
Poemas &Autores 1 - SONHE, de Fernando Pessoa; 2 - ESBOÇO, de Gilka; Machado; 3- DO AMOR, de Khalil Gibran; 4SEM NOME, de Pablo Neruda; 5- SEM NOME, de Safo; 6 - DESEJO, de Dilercy Adler. Por outro lado, na sociedade ocidental contemporânea, a divisão social do trabalho se firma como característica fundamental e essa divisão, por sua vez, está atrelada ao gênero. O mais contundente é que a divisão entre os gêneros não se restringe apenas ao trabalho, mas apresenta raios de influência em outras esferas da vida e do ser, como comportamentos, oportunidades, obrigações das instâncias institucionais... Nos scripts predeterminados socialmente, não se pode negar que há um modo feminino de ser, mas, com
base no Mito do Andrógino de Platão, posso asseverar que homens e mulheres podem parir poemas femininos, extraí-los das entranhas e as mulheres podem fazer poemas – masculinos e/ou do modo de ser masculino, também ousados, ou de uma crueza amarga que se identifica mais com os atributos destinados ao modo masculino de ser. Ao ler esses poemas me flagrei trocando o gênero dos autores em quase sua totalidade, o que me leva a acreditar que não existe uma poesia específica de lavra feminina. Não verifiquei uma poética engendrada pela mulher, a partir da visão da mulher do mundo vivido e do universo das suas próprias emoções, da forma como lida com seus sentimentos ou com a dor em geral. O mesmo aconteceu com os homens, não reconheci o gênero masculino nas suas verves poéticas. Este trabalho se firma como característica fundamental e essa divisão, por sua vez, está atrelada ao gênero. O mais contundente é que a divisão entre os gêneros não se restringe apenas ao trabalho, mas apresenta raios de influência em outras esferas da vida e do ser, como comportamentos, oportunidades, obrigações das instâncias institucionais... Nos scripts predeterminados socialmente, não se pode negar que há um modo feminino de ser, mas, com base no Mito do Andrógino de Platão, posso asseverar que homens e mulheres podem parir poemas femininos, extraí-los das entranhas e as mulheres podem fazer poemas – masculinos ou do modo de ser masculino, também ousados, ou de uma crueza amarga que se identifica mais com os atributos determinado/destinados ao modo de ser do homem. Isso posto, percebo uma poesia pautada no gênero feminino feita por homens e mulheres, de onde concluo que não existe uma Poesia feminina, mas existe poesia sobre o modo feminino de ser louvado ou pranteado por homens e mulheres. DESEJO Quero extrair mais um poema das entranhas... estranha arte de parir palavras! Dilercy Adler, 1991.
Referências ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos - Gris. São Luís/MA:??? ______. Poesia Feminina: estranha arte de parir palavras. São Luís/MA: Estação Gráfica, ano??? NASCIMENTO, Camila Maria Silva. Dilercy Adler: a tecelã de Eros nos trópicos maranhenses. S. Luís/MA: Estação Gráfica, 2011. CABRAL, João Francisco Pereira. "Mito da alma gêmea" Brasil Escola. Disponível em < Acesso em 07.6.2016 http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/mito-alma-gemea.htm&gt. LUNA, Lola. Leyendo como uma mujer la imagen de la Mujer. Barcelona: Anthropos, 1996. https://www.seer.furg.br/hist/article/viewFile/5418/3357. NASCIMENTO, Michelle Vasconcelos Oliveira do. Sobre a História da Literatura e o silenciamento feminino. https://www.seer.furg.br/hist/article/viewFile/5418/3357. Northanger Abbey ou A abadia de Northanger, publicado em 1817. https://www.seer.furg.br/hist/article/viewFile/5418/3357.
CARREGANDO A TOCHA OLÍMPICA EM SÃO LUÍS
Prof. Leopoldo Gil Dulcio Vaz – condutor da Tocha Olímpica em São Luís 12 de junho de 2016
POSSSES NO IHGM
Nossos acadêmicos em possses no IHGM: Leopoldo, Clores e Almada Lima, na de Edminson Sanches Leopoldo e João Ericeira na de Antonio Guimarães
ENTREVISTA COM ANA LUIZA ALMEIDA FERRO NO PROGRAMA ARTE & COR DA REDE TV Vídeo sobre entrevista realizada pela apresentadora Iêda Falcão, no programa Arte & Cor, da TV São Luís, Rede TV!, Canal 8, exibida em 30 de abril, sobre minha trajetória literária.
PODE ENTRAR - ANA LUIZA ALMEIDA FERRO youtube.com
A PRIMEIRA EDIÇÃO DO ENCONTRO DE INTEGRAÇÃO CULTURAL INTERESTADUAL EM MOSSORÓ 17-18 DE JUNHO DE 2016 Depois de viajarmos aproximadamente 4 horas por terra, de Fortaleza chegamos a Mossoró. À tarde fizemos um City Tour: Roteiro Turístico do Cangaço e às 19horas a abertura do evento e na sede da Fundação Heróis da Resistência. Em Mossoró teve mais palestras, mais Roda Poética, também o Lançamento de Antologia Integração Cultural Interestadual, assim como a Abertura de exposição de telas com o Lançamento do Catálogo de Artes Plásticas, Lançamento do Livro da Presidente da UBE, Juçara Valverde: Batendo papo com o Jacaré de papo amarelo, visita a Salina São Camilo, visitas a Museus e entre eles o Museu do Sertão. Essa primeira edição do Encontro de Integração Cultural Interestadual só reafirmou que esse é um projeto que deve ter continuidade e o grupo de organizadores seguiram para Natal para gestar o próximo encontro. Essa última foto já é com o grupo de Natal e veio com a mensagem abaixo:
Amigos, essa foi a reunião que acabamos de fazer em Natal (RN), na Pinacoteca, com diversos presidentes acadêmicos e de entidades culturais. Vem aí, evento em novembro!!!
REUNIÃO NA UFMA No dia 23 de junho, à tarde, foi realizada uma Reunião da Academia Ludovicense de Letras - ALL com a Magnífica Reitora da Universidade Federal do Maranhão- UFMA, Profa. Dra. Nair Portela. A ALL marcou essa audiência para tratar de parcerias com a Universidade. A reunião foi bastante produtiva e os resultados animadores. A Diretoria da ALL acredita na otimização dos trabalhos por meio de parcerias. Algumas já estão estabelecidas, como com a Sousândrade, e há o firme propósito de buscas de outras parcerias, algumas já em processo de agendamento. Representando a ALL estavam a Presidente, Dilercy Adler, o 1º Tesoureiro, Raimundo Nonato Campos e Ceres da Costa Fernandes, membro muito atuante da Academia.
REUNIÃO PLENÁRIA – 25 DE JUNMHO DE 2016
ANIVERSARIANTES
PLENÁRIA
ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES!
O LIVRO DIGITAL E O DESIGNER EDITORIAL RUBENS LIMA58 Em artigo de opinião, Rubens Lima fala sobre as possibilidades e formatos que o livro digital pode ter. “O livro digital chegou para ficar”. Para muitos profissionais envolvidos na produção de um livro, esta sentença já equivale, em obviedade, a frases como "o céu é azul" ou "a água do mar é salgada". Mas isso não se aplica a todos os profissionais. É quase um tabu falar nisso mas, existe um tipo de profissional que ainda torce o nariz para esta nova forma de publicação: os designers editoriais. Sim, muitos dos designers mais tradicionais e com mais nome no mercado veem esta inovação como uma sentença de morte ao livro impresso. Outros veem a ascensão do e-book como a chegada de um produto inferior ao mercado editorial — que não merece muito sua consideração profissional ou sua atenção. Para apoiar estas afirmações, estes designers citam sempre os aspectos negativos do livro digital: • A impossibilidade de se trabalhar com materiais diversos, de explorar formatos inusitados e acabamentos gráficos criativos. • a falta da relação pessoal, afetuosa e, principalmente, sensorial entre o leitor e o "objeto livro", relação esta que o trabalho do designer sempre buscou intensificar. Para eles, o livro digital seria, consequentemente, um arremedo de livro: sem toque, sem cheiro, sem volume, sem peso — e, consequentemente, sem gosto. Mas é preciso ressaltar que, independente da opinião destes profissionais, o fato continua o mesmo: o livro digital chegou para ficar. Não existe volta. Não adianta espernear. E, ao contrário de muitos colegas, vejo o livro digital como um formato cheio de possibilidades e opções a serem exploradas pelos editores, gerentes comerciais e também —por que não? — pelos designers editoriais. Claro que hoje estamos ainda tateando na busca de um melhor formato de saída para este livro eletrônico. Temos o formato PDF, um formato mais engessado que permite um trabalho visual mais elaborado mas estático, não explorando muitas das possibilidades do ambiente digital. Temos os formatos ePub, Mobi que são hoje mais simples, mais crus quanto às possibilidades de projeto visual — mas que tem muita flexibilidade, ou seja, são responsivos (se adequam a qualquer interface: tablet, computador, celulares) e obedecem personalizações do usuário quanto a cores, tamanhos, tipos de letras etc. E mais recentemente temos o formato e-Pub3 que explora a experiência completa do que um livro digital deve ser, ou seja, apresenta interatividade, áudio e animações mas que , por enquanto, só funciona nos iBooks da Apple. Estas possibilidades e formatos vão acompanhando e melhorando de acordo com a evolução da tecnologia — e nós designers editoriais podemos assumir uma nova postura: de colaborar e auxiliar este desenvolvimento, nos envolvendo mais e lutando menos contra este novo formato.
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Rubens Lima é formado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo (FAU-USP), onde descobriu a sua verdadeira vocação: nas disciplinas ligadas ao Design e à Comunicação Visual ministradas pelo professor e designer Francisco Homem de Mello. A partir dali, o arquiteto foi se distanciando das plantas, cortes e fachadas e iniciou sua carreira nas artes gráficas, focando em sua paixão: os livros e o mercado editorial. Rubens é designer editorial há 20 anos, capista especializado em livros técnicos, acadêmicos e profissionais e autor do blog O Capista, sobre criação de capas de livros e a relação entre designers, editores e autores. Dirige também, desde 2006, a Ilustranet, estúdio on-line de ilustração e desenho.
O ÚLTIMO CORTEJO DA RAINHA RAMSSÉS DE SOUZA SILVA O ano era 1869. O cortejo fúnebre desce vagarosamente o Caminho Grande até chegar ao campo santo da Irmandade do Senhor dos Passos. Lugar hoje frequentado pelos amantes do futebol, o estádio Nhozinho Santos era, do séc. XVIII até o séc. XIX, um grande cemitério. Ali estavam os restos mortais de membros das famílias pioneiras e mais importantes do Maranhão. E, para lá, estava indo agora o corpo sem vida da mulher mais importante da Província até então e uma das mais influentes do Império Brasileiro; a lendária Ana Joaquina Jansen Pereira ou, simplesmente, Donana. A Rainha do Maranhão havia cumprido sua missão e sua sentença. Seus entes, enlutados. Seus casarões jaziam agora silenciosos pela falta da matriarca. Os azulejos da residência de veraneio no Tamancão não mais refletiriam a imagem da velha senhora chegando embarcada para o descanso merecido dos finais de semana. O Maranhão se despedia da polêmica mulher que, desde tempos muito remotos, aprendera a se virar sozinha. Descendente de ilustres famílias lusitanas, italianas e holandesas, contraditoriamente, Donana nascera em 1798 em São Luís, num ambiente de poucos recursos, marcado pela falência de seus ancestrais comerciantes. Percebeu que seu único trunfo, a partir dali, seria o seu sobrenome. A sorte havia de lhe sorrir, Casou-se mais de uma vez, foi viúva, mãe solteira. Jovem ainda, teve que administrar as fortunas que herdara. Provocou furor na conservadora e preconceituosa sociedade ludovicense da época. Amadureceu. E, em meio a um ambiente predominantemente masculino, tornou-se rija e respeitada. Era uma das figuras mais representativas do Partido Liberal (Bem-te-vis). Financiou as tropas brasileiras na Guerra do Paraguai com inúmeras provisões. Em meio a pressões e boicotes de seus adversários, nunca esmoreceu ou se deu por vencida. Era um gigante empresarial. Capaz de tudo para manter a sua hegemonia no ramo de abastecimento de água na capital. Mas, com certeza, Ana Jansen também chorava. Se via, muitas vezes, solitária. Conduzir os negócios, criar os filhos, defender-se de levianas acusações...não era fácil. Mas era de carne e osso. Vez ou outra, na discrição de seus aposentos, devia transbordar fragilidade, vacilação. Era humana, afinal. A imagem de solidez era processo vital para a existência do mito. O que ela mais queria era o título de Baronesa atribuído pelo Imperador. Título esse que jamais foi-lhe concedido. Era o tão aguardado reconhecimento pelos seus serviços prestados. Voltando ao cemitério dos Passos, após os últimos dizeres fúnebres serem proferidos, enfim, sepultam o corpo de Ana Jansen. O tão desejado título nobiliárquico cunhado na lápide de mármore já não mais importava. Partia para a morada eterna aquela que nunca foi Baronesa mas que, certamente, já havia sido Rainha.
O PAPEL HISTÓRICO, POLÍTICO, SOCIAL E CULTURAL DE MULHERES EM SEUS LUGARES NO MUNDO59 ANA MARIA FELIX GARJAN60 “Mesmo que eu fale de sol mesmo que cante os ínfimos espaços com as grandes verdades, todo poema é sobre aquele que sobre ele escreve”. (Trecho do poema Psicanálise da Escrita), Ana Luisa Amaral, Lisboa.
Introdução A trajetória da mulher no mundo das contradições Olympe de Gouges declarou, em 1802: “A mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela também tem o direito de subir à tribuna”, in Mulheres Públicas, Michelle Perrot, Paris, 1998. “No século XIX, as mulheres se mexem, viajam. Migram tanto como os homens, atraídas pelo mercado de trabalho das cidades, principalmente, como empregadas domésticas. Essas cidades, que as chamam sem realmente acolhe-las, empenham-se em canalizar a desordem potencial atribuída à coabitação entre homens e mulheres”. “Existem lugares proibidos às mulheres, como políticos, judiciários, intelectuais, e até desportistas -, e outros que lhes são quase exclusivamente reservados – lavanderias, grandes magazines, salões de chá”. “Ser um homem público é a honra, enquanto que ser uma mulher pública é uma vergonha! Para as mulheres, o privado é seu coração, a casa. Para os homens, o público e a política, seu santuário”. “A história, de inicio, se dedicou a descrever os papeis privados das mulheres. Entre o público e o privado os homens e mulheres, o político e o pessoal, as divisões se quebram e recompõem a paisagem”. “Por que, apesar das mulheres terem adquirido a igualdade civil, a instrução, o assalariado e os esportes de alto nível, elas ainda encontram resistência nos três bastões masculinos: o militar, o político, e sobre tudo o religioso? Nada mais que as três ordens da Idade Média”. Mulheres Públicas, Michelle Perrot, Paris, 1998.
Signos da Mulher em sua trajetória no mundo Qual será a paisagem do mundo e a sociedade do Século XXI em 2022, 2040, 2100? Quais os papéis e circunstâncias das mulheres do presente – futuro – amanhã? Quais seus direitos mais justos e seus deveres mais responsáveis? 59
Obs: Este artigo faz parte dos estudos do Projeto Universidade Planetária do Futuro e do Projeto do livro “Cartas ao futuro – De Mulheres Contemporâneas”, idealizados por Ana Maria Felix Garjan, em 2008, em desenvolvimento. Link do projeto do livro: http://www.lamaisondart-anagarjan.com.br/cf01.htm - Artigo relacionado: “O papel histórico, político, social e cultural das mulheres” por Ana Maria Felix Garjan, Revista Varal do Brasil, fevereiro de 2016. - https://issuu.com/jacquelinebulosaisenman/docs/varal_40_marco/1 60 Ana Maria Felix Garjan, maranhense, embaixadora da Paz, CercleUniverseldesAmbassadeurs de laPaix – Suisse/France; socióloga, pesquisadora em arte e literatura, escritora, poeta, acadêmica, artista plástica e fotógrafa internacional, premiada em artes plásticas, fotografia, conto e poesia. Idealizadora do projeto “Cartas ao Futuro – De Mulheres Contemporâneas” (2008), em desenvolvimento; diretora do Grupo ARTFORUM Brasil XXI – 16 Anos (setembro de 2016), com sede em Fortaleza - CE; diretora de cultura do Espaço Cultural Gonçalves Dias/ MA; Idealizadora e autora do Manifesto Verde pela Paz da Humanidade e do Planeta/2001, julho de 2008. Editora da Revista Planetária – Artforum internacional, autora de conteúdos de paginas no Facebook, Twiter, em sites e blogs de arte e cultura.
Iniciando um diálogo e homenagem Este artigo representa uma homenagemàs mulheres dos milênios, épocas, séculos, das mulheres em seus signos humanos; Às mulheres de todos os continentes do mundo em suas circunstâncias,seja no lar, no trabalho, em suas profissões e funções sociais que contribuem para os tempos do mundo. E àquelas mulheres vítimas dos sistemas injustos e discriminatórios da sociedade em que vivem e em que morrem, todos os dias. Ao longo da história da humanidade, a mulher já foi vista como feiticeira, bruxa, demônio, deusa, anjo, santa, heroína. O século XX permitiu a ela, por si só, redefinir o seu papel. A ciência do século XX foi a porta libertadora da mulher. De um lado, as máquinas passaram a fazer parte de sua liberdade para sair de casa para o trabalho, ao mesmo tempo em que as mulheres se tornaram vítimas das máquinas e dos patrões que as consideravam apenas um instrumento de trabalho, sem seus direitos. De todo modo, tentando administrar o tempo e os espaços, nesse decorrer de décadas, a mulher vem, a cada dia e, rapidamente, em todo o mundo, ampliando sua participação nos campos de atuação, em áreas e circunstâncias da sociedade contemporânea. A mulher e a sua política de ser e representar seus papéis em cada canto do planeta faz da própria mulher de todos os milênios, de todos os séculos e de todas as décadas, a protagonista mais importante da grande revolução do mundo. Mas, em sua grande maioria, as mulheres são perseguidas, sofrem discriminação e as consequências da existência que ainda há entre o mundo masculino-machista e o mundo da mulher-feminista em seu processo de emancipação social. Muitas mulheres, no mundo em que se reproduzem contradições políticas e sociais, ainda passam fome, e são vitimas de violências físicas e simbólicas inaceitáveis, como assassinatos e encarceramento em cativeiros domésticos. Através dos séculos podemos ver que os homens jamais caminharam sozinhos. Em todas as civilizações tiveram suas cúmplices de sonhos e realizações, tanto para a construção do bem como para a realização de ações perversas. Antigamente... Na pré-história as mulheres eram sagradas. Todos os deuses eram femininos. Nessa época, os homens eram nômades, saiam para buscar alimento e as mulheres em bandos ficavam cuidando dos filhos, em seu "lar pré-histórico". Após milhares de anos, as mulheres foram descobrindo os instrumentos modernos da agricultura. Mas, com os afazeres domésticos, a mulher não pôde assumir, com o seu companheiro, o trabalho no campo e o controle dos negócios. Assim, ela tinha somente a função de ter filhos, cuidar deles, do marido e da casa, sem nunca ter a chance de ter atividades fora de seu lar. No século XX, a mulher conquista, com luta, morte e perseverança, as condições de igualdade para disputar o mercado de trabalho. A grande disputa foi e continua sendo nessa segunda década do século XXI, a excelência, não importa o gênero. Homenageamos todas as mulheres que se destacaram no século XX, quando de simples mulheres de casa, do campo e das fábricas, tornaram-se militantes revolucionárias. Homenageamos desde as coroadas rainhas que exerceram seu poder de forma a contribuir para a emancipação humana, como todas as outras que foram condenadas a morte, nas fogueiras da Idade Média; De Sócrates e Xantipa; De Madame Curie às mulheres revolucionárias que conquistaram cargos os mais diversos, e que contribuíram com a humanidade, especialmente as grandes educadoras. Destacamos presidentes e ministras de estado, e outras que ocuparam e ocupam cargos importantes. Da primeira mulher vítima de violência por lutar em defesa do voto feminino, no início do século XX, à nossa modernidade e contemporaneidade, são inúmeras aquelas que participam do processo político no Brasil, na América Latina, nos Estados Unidos, na Europa e em diversos países do ocidente. Muitas mulheres se preparam para as próximas eleições, visando cargos eletivos em instâncias da carreira política, nos âmbitos: federal, estadual e municipal. Nos países onde a Democracia é um direito constitucional que deve ser exercido por todos os cidadãos e por todas as cidadãs, destacam-se as mulheres que exercendo sua vontade política com competência e determinação, alcançaram posições políticas importantes para o avanço
da luta pelos direitos humanos, contribuindo assim para a transformação da sociedade atual, ainda tão distante do verdadeiro sentido da democracia, no sentido real e não apenas formal. Muitos exemplos acontecem pelo mundo, onde o poder feminino possui voz, atitude e ação transformadora em prol da humanização, da justiça social, da paz, da educação e do desenvolvimento humano. Milhares delas vivem tentando ir além, a partir dos papéis que representam nos palcos da vida. Não importam sua idade, etnia, cultura e filosofia de vida. Ela, a mulher atual da segunda década do século XXI, tem contribuído com a sociedade, assim como as grandes mulheres fizeram a grande diferença no Século XX, junto com seus companheiros de lutas, conquistas e vitórias. Homenageamos as mulheres que se destacam por sua efetiva contribuição à sociedade brasileira e seu desenvolvimento, ao longo dos séculos, nesses 516 anos do Brasil da América do Sul. A maioria, de forma muitas vezes anônima, tem realizado grandes transformações em vilas, cidades, estados, em nível nacional no Brasil, e em tantos outros países onde atuam. Destacaremos alguns nomes de mulheres públicas que representam tantas outras que contribuíram e que contribuem com o panorama da história, nas áreas da educação, cultura, arte, política e da ciência brasileira, pois do período do império à atualidade, muitas lutaram pela igualdade de gêneros, por justiça social e avanço dos direitos civis. Na realidade, a mulher, ao longo do tempo, cristalizou uma grande força feminina que redimensionou e ampliou sua determinação pessoal, diante de seus desejos e projetos. Fim do século 19 Surge o primeiro foco do movimento feminista brasileiro que foi motivado pelas reivindicações por direitos democráticos como o direito ao voto, ao divórcio, educação, ao trabalho e à sua forma de ser, diante dos seus signos que representam seus projetos. Mulheres em luta no Século XX: O século XX representa o nascimento social da mulher. Com a Constituição Federal de 1988, “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Destacamos algumas datas, nomes e acontecimentos importantes sobre a luta das mulheres no Brasil, que tinham como objetivo conquistar seus direitos democráticos. 1907 – Greve das costureiras em São Paulo, ponto inicial para o movimento por uma jornada de trabalho de 8 horas; 1914 - A jovem Eugênia Moreira se torna, aos dezesseis anos, a primeira repórter do Brasil; 1917 Anita Malfati expõe em uma mostra que antecedeu a "Semana de Arte Moderna", em 1922; - A professora feminista Leolinda Daltro lidera uma passeata a favor do direito ao voto pelas pelo ao voto, pelas mulheres brasileiras; 1917 - O serviço público passa a admitir mulheres no quadro de funcionários. Dois anos depois, a Conferência do Conselho Feminino da Organização Internacional do Trabalho aprova a resolução de salário igual para trabalho igual. 1918 - Maria José de Castro Rabelo Mendes é a primeira Diplomata do Brasil; - A bióloga Bertha Lutz publica em Revista, uma carta em que divulga a organização de uma associação de mulheres pela independência e pelo voto feminino; 1919 - É construído um busto em homenagem a Clarice Índio do Brasil, que morreu vítima de violência urbana, no Rio de Janeiro; - A ativista Elvira Boni Lacerda lidera a greve das costureiras no Rio; 1922 - A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino do país é fundada e realiza o I Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro; 1927 - Celina Guimarães Viana se torna a primeira eleitora, no Rio Grande do Norte;
Década de 1930 - avanços das mulheres no campo político. Em 1932, as mulheres conquistam legalmente o direito ao voto, com o Código Eleitoral. Apesar da importância simbólica dessa conquista, à época, foram determinadas restrições para o exercício desse direito. Foi só com a Constituição de 1946 que o direito pleno ao voto foi concedido. 1933 - Almerinda Farias Gama é a primeira mulher a votar na eleição dos representantes classistas para a Assembleia Nacional Constituinte. Em 1944 - Um grupo de enfermeiras segue para Nápoles na Segunda Guerra Mundial; 1947 - Elisa Branco, ativista da Federação de Mulheres, é presa por causa de sua atuação nas campanhas contra a carestia da época. 1950 - A operária e militante Angelina Gonçalves é morta a tiros pela polícia durante manifestação da Campanha O Petróleo É Nosso, no dia 1º de maio. - É fundada a Associação Brasileira de Mulheres Médicas; 1934 - Carlota Pereira Queiróz torna-se a primeira deputada brasileira. Naquele mesmo ano, a Assembleia Constituinte assegurava o princípio de igualdade entre os sexos, o direito ao voto, a regulamentação do trabalho feminino e a equiparação salarial entre os gêneros. 1937 – Foi iniciada a ditadura do Estado Novo, e então o movimento feminista perde força. Só no fim da década seguinte volta a ganhar intensidade com a criação da Federação das Mulheres do Brasil e a consolidação da presença feminina nos movimentos políticos. 1964 – Novo período ditatorial, que diminuem as ações do movimento, só retornando na década de 70. 1969–Publicação do estudo pioneiro de HeleiethSaffioti – “A mulher na sociedade de classes”. Anos 70 - Luta de caráter sindical e a aprovação da lei do divórcio, uma antiga reivindicação do movimento feminista brasileiro e a luta feminista de caráter sindical. 1975 – Criação do Ano Internacional da Mulher e do Movimento Feminino pela Anistia. No mesmo ano a ONU, com apoio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), realiza uma semana de debates sobre a condição feminina. Ainda nos anos 70 é aprovada a lei do divórcio, uma antiga reivindicação do movimento. 1981- Publicação do estudo da brasilianista June E. Hahner – “A mulher brasileira e suas lutas sociais e políticas”. 1985 – Criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), subordinada ao Ministério da Justiça, com objetivo de eliminar a discriminação e aumentar a participação feminina nas atividades políticas, econômicas e culturais. Lutas e conquistas de mulheres no Século XXI 2000 - Tem início, no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), o funcionamento do Centro de Estudos do Genoma Humano, coordenado pela geneticista MayanaZatz. A partir do início de 2001 deste século 21, o movimento feminista brasileiro foi decisivo para a continuidade das lutas iniciadas no século 20, ampliando sua articulação com diversos grupos e com a sociedade civil, para conquistar a ampliação dos direitos da mulher, na perspectiva da igualdade entre os gêneros, que apesar de todos os avanços, ainda não é totalmente garantida. 2002 - O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) foi absorvido pela Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher, criada em 2002 e ligada à Pasta da Justiça. 2003 – A Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher passa a ser vinculada à Presidência da República, com status ministerial, sendo denominada de Secretaria de Políticas para as Mulheres. Nessa segunda década do século 21, é ampliado o movimento de mulheres que lutam pela conquista de diversas e justas reivindicações: -Reconhecimento dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais das mulheres; -Necessidade do reconhecimento do direito universal à educação, saúde e previdenciária;
- Defesa dos direitos sexuais e reprodutivos; - Reconhecimento do direito das mulheres sobre a gestação, com acesso de qualidade à concepção e/ou contracepção; - Descriminalização do aborto como um direito de cidadania e questão de saúde pública. A violência contra a mulher tem sido constatada como uma realidade concreta, através de estatísticas, do início deste século. Segundo pesquisa da respeitada Fundação Perseu Abramo (Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado), realizada em 25 estados, em 2010, foi constatado que a cada dois minutos cinco mulheres são espancados no Brasil; 11,5 milhões de mulheres já sofreram tapas e empurrões e 9,3 milhões sofreram ameaças de surra. A Lei Maria da Penha surgiu como uma das importantes leis brasileiras em defesa da mulher, pois garante proteção legal e policial às vitimas de agressão doméstica. A Secretaria de Políticas das Mulheres presta todo apoio ao movimento feminista brasileiro, que atua em prol da redução da desigualdade dos gêneros, assim como para garantir a autonomia econômica das brasileiras. Destacam-se, na década de 20 do século XX e XXI mulheres que desempenharam papéis históricos muito importantes. Seus nomes não estão registrados nem por ordem alfabética e nem por áreas. Esse trabalho está sendo desenvolvido através de muitas pesquisas que abrangem mulheres de áreas: científicas, culturais, artísticas, políticas, humanitárias, jornalistas, historiadoras, escritoras, poetas, artistas, e de outras áreas. Mulheres em destaque que receberam o Prêmio Nobel de Literatura Desde 1901, o prêmio Nobel da Literatura foi concedido aos 110 escritores cujo conjunto da obra foi considerado notável. Ao receber a cobiçada medalha em outubro de 2013, a canadense Alice Munro se tornou a décima terceira autora a ser agraciada pela Academia Sueca – número ainda tímido, mas que torna este o prêmio instituído por Alfred Nobel com mais representantes do sexo feminino, atrás apenas do Nobel da Paz, que já honrou o trabalho literário de 15 mulheres laureadas; Entre elas: Selma Lagerlöf, sueca, (1858-1940), a primeira mulher a receber o Prêmio Nobel da Literatura, em 1909; em 1914; a sueca Selma OttiliaLovisaLagerlöf se tornou também a primeira mulher a integrar a Academia Sueca, instituição responsável pela premiação instituída por Alfred Nobel; a italiana GraziaDeledda foi premiada em 1926; SigridUndse, da Dinamarca, criada na Noruega, recebeu o prêmio em 1928; Pearl Buck, americana, foi premiada com o Prêmio Nobel, em 1938; Gabriela Mistral, pseudônimo de Lucila Godoy Alcayaga, poeta, educadora e feminista chilena, recebeu o prêmio em 1945; Nelly Sachs, alemã, escrita lírica e dramática, premiada em 1966; Nadine Gordimer, País: África do Sul, premiação em 1991; Toni Morrison, dos Estados Unidos, recebeu a premiação em 1993; Wislawa Szymborska, da Polônia,considerada a “Mozart da poesia”, foi premiada em 1996 e faleceu em 2012; Elfriede Jelinek, da Áustria, recebeu a premiação em 2004; DorisLessing, da Pérsia/Irã, a mulher mais velha a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 2007, com 88 anos, pouco antes de morrer; Herta Müller, da Romênia, foi premiada em 2009; Alice Munro, que escreve apenas contos, é canadense e recebeu o prêmio em 2013. Link: http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/lists/women.html Destacamos alguns nomes de mulheres públicas que representam tantas outras que contribuíram e que contribuem com o panorama da história, nas áreas da educação, cultura, arte, política e da ciência brasileira, pois do período do império à atualidade, muitas lutaram pela igualdade de gêneros, por justiça social e avanço dos direitos civis. Na década de 20 do século XX e da primeira década do século XXI as mulheresdesempenharam papéis históricos muito importantes. Nesse parágrafo os nomes não estão registrados nem por ordem alfabética e nem por áreas. Esse trabalho está sendo desenvolvido através de pesquisas que abrangem mulheres de áreas: científicas, culturais, artísticas, políticas, humanitárias, informação, comunicação. Homenagem às importantes educadoras, médicas,jornalistas, historiadoras, escritoras, poetas, artistas plásticas, escultoras, atletas, atrizes, cineastas, coreógrafas, bailarinas clássicas, da dança contemporânea, cantoras, e de outras profissões.
Mulheres conhecidas no mundo: Virginia Woolf, Frida Kahlo, Camille Claudel, Simone de Beauvoir, Sra. Klein, Florbela Espanca, e ainda mulheres que foram premiadas com o Prêmio Nobel, em diversas categorias, como Nobel da Paz, Nobel da Ciência, Nobel da Literatura, e outros nomes em diversas áreas. Homenagem a mulheres deáreas do panorama brasileiro e internacional: Anita Garibaldi, Hipólita Jacinta Teixeira de Mello, MayanaZatz, Bertha Lutz, Cora Coralina, Tarsila do Amaral, Bárbara Alencar, Maria Quitéria de Jesus, Maria da Glória Sacramento, Nísia Floresta Augusta, Maria Firmina dos Reis, Maria Amélia de Queiroz, Chiquinha Gonzaga, Maria Lacerda de Moura, Leolinda de Figueiredo Daltro, Nise da Silveira, Eva Nill, Irmã Dulce, Zilda Arns Neumann, Carolina Maria de Jesus, Benedita da Silva, Anita Mafaldi, Leolinda de Figueiredo Daltro, Marilena Chauí, Nélida Pinõn, Lygia Fagundes Telles, Tomie Ohtake, Adélia Prado, Cecília Meireles, Lya Luft, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Ana Botafogo, Clarice Lispector, Maria Clara Machado, Maria Della Costa, Lygia Clark, Lina Bo Bardi, Maria Tereza Goulart, Maria Esther Bueno, Rachel de Queiroz, Elis Regina, Ana Cristina Cesar, Lygia Bojunga, Hilda Hilst, Carla de Andrade Camurati, atriz e cineasta brasileira. Ela foi presidente da Fundação Teatro Municipal do Rio de Janeiro entre 2007 e 2014; Mercedes Baptista, a Primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio, morreu aos 93 anos, em 18 de agosto de 2014, Ana Miranda, Beatriz Milhazes, Laura Riding, Laura Nehr, Elisa Lucinda,e tantas outras das áreas do teatro, cinema, musica, balé clássico, da dança contemporânea, e todas as artistas e os artistas que representam a diversidade cultural e o desenvolvimento da sociedade brasileira. Destacamos as atletas da década de 80:Janeth, Hortência, Paula, e a jovem atleta pernambucana Etiene Medeiros, que em 2015 conquistou no Mundial de Kazan, na Rússia, duas medalhas de prata para o Brasil, na categoria natação, tornando-se a primeira nadadora a receber uma medalha em campeonatos mundiais de piscina. Em destaque, as cientistas brasileiras: Suzana Herculano-Houzel, neurocientista carioca que estuda o cérebro humano; Duília de Mello, astrônoma que cuida de projetos na NASA. Uma das mais renomadas astrofísicas do mundo é a alemã ThaisaStorchiBergmann, na área das ciências espaciais. A ciência brasileira, feita por mulheres, teve destaque em março de 2015. O Prêmio L’oréal-Unesco Para Mulheres Ciência premiou suas vencedoras e entre elas duas brasileiras: A astrofísica Thaisa StorchiBergmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma das mais renomadas no mundo, que estuda buracos negros supermassivos. São estruturas imensas formadas por estrelas moribundas, planetas, nuvens de gás e outros elementos que foram atraídos pela gravidade, do Big Bang até hoje. Essas estruturas também ajudam a entender a evolução do nosso sistema solar, a gravidade e o futuro do universo. A segunda cientistada atualidade é Carolina Andrade queparticipou do programa “Talentos Internacionais em Ascensão” (em inglês, “InternationalRisingTalents”), criado pela parceria L’OréalUNESCO, cujo objetivo é acelerar o avanço de 15 jovens mulheres cientistas no mundo. Carolina Andrade, farmacêutica e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), foi reconhecida pelo programa por sua pesquisa para o tratamento da Leishmaniose, doença que afeta 12 milhões de pessoas em todo o mundo. Em 2014, Carolina foi uma das sete vencedores do único programa brasileiro de incentivo às mulheres na ciência, também realizado pela parceria da L’Oréal com a UNESCO e a Academia Brasileira de Ciências. Thaisa e Carolina foram homenageadas em 18 de março de 2015, em cerimônia realizada na Sorbonne, em Paris. Algumas Mulheres inesquecíveis -Homenagem à Madre Teresa de Calcutá Destacamos uma das personalidades femininas mais importantes para a memória da mulher, no mundo: Madre Teresa de Calcutá (Agnes GonxhaBojaxhiu), nascida em 26 de agosto de 1910 na Albânia e falecida no dia 05 de setembro de 1997. Ela foi uma missionária católica que dedicou sua vida pessoal e religiosa aos pobres, e criou uma Congregação chamada de “Missionárias da Caridade”. Por conta de suas obras de caridade foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz em outubro de 1979. Nesse mesmo ano ela foi recebida no Vaticano pelo Papa João Paulo II, que a nomeou "embaixadora" do Papa em todas as nações.
Ela recebeu o título "Honoris Causa", em diversas universidades do mundo. Em 1980, recebeu a ordem "DistinguishedPublic Service Award" nos EUA. Em 18 de dezembro de 2015, o Papa Francisco assinou o documento que autoriza a canonização de Madre Teresa de Calcutá. O pontífice aprovou um milagre atribuído à intercessão da futura santa, beatificada por João Paulo II, em outubro de 2003. Ela continua sendo um importante exemplo para a humanidade, assim como foi e continua sendo Mahatma Gandhi (Mohandas Karamchand Gandhi). No cotidiano do nosso mundo existem centenas Madres Teresa que a mídia ainda não descobriu. Apesar das guerras insanas e do terrorismo imposto pelo Estado Islâmico, o mundo está repleto de sentimentos amorosos e de solidariedade que se materializam no cuidado dispensado pelas mulheres às crianças e às pessoas idosas. Mas existem ainda mulheres que vivem como na época da Santa Inquisição, quando Branca Dias foi condenada à fogueira. E quantas Madalenas arrependidas vagam pelo mundo? Quantas mil mulheres trabalham e estudam para superar seus limites? Não são todas heroínas aquelas que conseguem sobreviver aos seus casamentos infelizes? Não são todas indispensáveis, aquelas que pautam suas vidas nos princípios da ética e da dignidade? Homenagem à Dra. Zilda Arns Neumann; médicapediatra, sanitarista*1934 +2010 Fundadora internacional da Pastoral da Criança, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa - organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Dra. Zilda Arns também foi representante titular da CNBB, do Conselho Nacional de Saúde e membro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). Nascida em Forquilhinha (SC), residia em Curitiba (PR), mãe de seis filhos e avó de dez netos. Escolheu a medicina como missão e enveredou pelos caminhos da saúde pública. Sua prática diária como médica pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba (PR), e posteriormente como diretora de Saúde Materno-Infantil, da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, teve como suporte teórico diversas especializações como Saúde Pública, pela Universidade de São Paulo (USP) e Administração de Programas de Saúde Materno-Infantil, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS). Porsua experiência foi convidada, em 1980, a coordenar a campanha de vacinação Sabin para combater a primeira epidemia de poliomielite, que começou em União da Vitória (PR), criando um método próprio, depois adotado pelo Ministério da Saúde. Em 1983, a pedido da CNBB, a Dra. Zilda Arns criou a Pastoral da Criança juntamente com Dom Geraldo MajelaAgnello, Cardeal Arcebispo Primaz de São Salvador da Bahia, que na época era Arcebispo de Londrina. Foi então que desenvolveu a metodologia comunitária de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres, Após 30 anos, a Pastoral acompanha mais de 1,2 milhão de crianças menores de seis anos, 72 mil gestantes e 1 milhão de famílias pobres, em 3.881 municípios brasileiros. Seus mais de 205 mil voluntários levam fé e vida, solidariedade e conhecimentos sobre saúde, nutrição, educação e cidadania para as comunidades. Dra. Zilda Arns Neumann recebeu o título de Cidadã Honorária de 11 estados e 37 municípios brasileiros, 19 prêmios (nacionais e internacionais) e dezenas de homenagens de governos, empresas, universidades e outras instituições, pelo trabalho realizado na Pastoral da Criança. Pelo seu trabalho na área social, Dra. Zilda Arns recebeu condecorações tais como: Woodrow Wilson, da Woodrow Wilson Fundation (EUA), em 2007; o Opus Prize, da Opus Prize Foundation (EUA), pelo inovador programa de saúde pública que ajuda a milhares de famílias carentes, em 2006; Heroína da Saúde Pública das Américas (OPAS/2002); 1º Prêmio Direitos Humanos (USP/2000); Personalidade Brasileira de Destaque no Trabalho em Prol da Saúde da Criança (Unicef/1988); Prêmio Humanitário (Lions Club Internacional/1997); Prêmio Internacional em Administração Sanitária (OPAS/ 1994); títulos de Doutor Honoris Causa das Universidades: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Universidade Federal do Paraná, Universidade do Extremo-Sul Catarinense de Criciúma, Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade do Sul de Santa Catarina. Zilda Arns encontrava-se em Porto Príncipe, em missão humanitária, para introduzir a Pastoral da Criança no país. No dia 12 de janeiro de 2010, pouco depois de proferir uma palestra para 15 religiosos de
Cuba, o país foi atingido por um violento terremoto. A Dra. Zilda foi uma das vítimas da catástrofe.(Dados/Internet) Primeira Bailarina negra do Municipal Homenageamos Mercedes Baptista, a Primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio, que morreu aos 93 anos, em 18 de agosto de 2014. Ela ingressou no Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 1946 ela ingressou na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, quando foi aluna do estoniano YucoLindberg, sendo em seguida aprovada em concurso interno para participar do Corpo de Baile do Municipal. Ela foi empregada doméstica e vendedora de loja, mas com sua determinação em ser bailarina, ela não desistiu do seu sonho e objetivo. Ela mudou o carnaval carioca, com a sua presença, quando trouxe o minueto para a avenida, pela Escola “Acadêmicos do Salgueiro”, o que era uma coisa espetacular para a época. Em 1948, ela conheceu o jornalista e sociólogo Abdias Nascimento, fundador do Teatro Experimental do Negro, e passou a se engajar no movimento de cultura afro-brasileira. Mercedes foi para os Estados Unidos em 1953, trabalhando com a antropóloga Katherine Dunham, que pesquisava danças de origem africana. Na volta ao Brasil, ainda como bailarina do Theatro Municipal, montou sua própria companhia, o Ballet Folclórico Mercedes Baptista. Ela atuou também no carnaval, tendo coreografado alas do Salgueiro, quando a escola ganhou seu primeiro título, em 1963, com o enredo Xica da Silva. Ela foi enredo do carnaval de 2008 na “Escola Acadêmicos do Cubango”, e destaque da Vila Isabel em 2009, quando o enredo foi o Theatro Municipal. A bailarina negra foi lembrada pela amiga e aluna Ruth Souza Santos, que destacou a importância de seu trabalho: “Ela foi a pioneira a codificar a dança afra no Brasil, a partir de sua base clássica e moderna. Ela foi realmente uma desbravadora”. Bailarinas clássicas brasileiras de destaque, entre outras As bailarinas clássicas Ana Botafogo e Márcia Jaqueline são Primeiras bailarinas do Theatro Municipal do Rio. As trajetórias de ambas já estão consagradas no cenário da cultura brasileira.A bailarina Márcia Haydée Salaverry Pereira da Silva nascida em Niterói/RJ, em 18 de abril de 1937 é uma bailarina e coreógrafa brasileira que foi muito famosa na Europa. Aos dezesseis anos, foi se aperfeiçoar na Royal Ballet School de Londres, na Inglaterra. Em 1957, Haydée iniciou sua carreira profissional no Ballet do Marquês de Cuevas. Quatro anos depois, conheceu o coreógrafo John Cranko, diretor do Ballet de Stuttgart, de onde se tornou a primeira solista. Ela se tornou uma estrela internacional, dançando em obras como Romeu e Julieta, EugèneOneguin e A megera domada. Em 1976, três anos após a morte do marido, Márcia assumiu a direção do Ballet de Stuttgart, passando a ser disputada por grandes coreógrafos. Ela era então aclamada como a "Maria Callas da dança". Em 1996, Márcia Haydée resolveu dedicar-se à vida pessoal e hoje vive em uma casa de campo, a quarenta quilômetros de Stuttgart. Contudo, em outubro de 1999, aos sessenta e dois anos, ela voltou a apresentar-se, dançando a peça Tristão e Isolda, com o bailarino brasileiro Ismael Ivo, na Alemanha. Homenagem à inglesa Margaret Mee, apaixonada pelas orquídeas da Amazônia. Margaret Mee (1909-1988) nasceu em 1909 em Chesham, no condado de Buckingham, na Inglaterra. Quando jovem, frequentou as principais escolas de artes de sua cidade. Em 1952, com seu segundo marido, o artista gráfico GrevilleMee, veio a São Paulo visitar sua irmã. Acabaram ficando no Brasil, em 1956, Margaret decidiu embarcar em sua primeira expedição amazônica rumo ao rio Gurupi. A delicada pintora de orquídeas, Margaret Mee, retratou a flora usando técnicas científicas em um contexto artístico. Ela - que completaria, agora, 100 anos de vida - nasceu e morreu na Inglaterra, mas a paixão pela floresta definiu seu último desejo: suas cinzas foram jogadas no Rio Negro. Ela pesquisou, por muitos anos, a flora da Amazônia, e deixou uma importante e preciosa contribuição ao Brasil, através de
suas pinturas e aquarelas. Ela fez expedições ao Pico da Neblina, em 1967, às margens do Rio Negro, e pintou a bela natureza amazônica. Sua residência no Rio de Janeiro ficava na encosta de Mata Atlântica, no bairro de Santa Teresa. Muita obstinação e coragem são atributos que definem parte da personalidade de Margaret Mee, que possuía grande talento artístico, e vivia com tintas e pincéis, à busca da beleza de flores e paisagens. Em 15 viagens à Amazônia, produziu cerca de 450 pinturas da flora tropical, como orquídeas, bromélias e helicônias, entre outras plantas. Parte desse material pode ser visto no novo livro Flores da Floresta Amazônica, que inclui ainda trechos de seus diários, onde em um dos trechos revela a admiração com que observava a natureza. "Entramos na floresta sozinhas, seduzidas por um campo de plantas maravilhosas: pontas brilhantes e vermelhas”... "Margaret sempre buscava modelos que fossem espécimes botânicos representativos ou espécies raras", revela MalenaBarretto, coordenadora do curso de ilustração da Escola Nacional de Botânica Tropical do Rio de Janeiro, que conviveu com a artista por dez anos. "Sua arte, além de encantar pela harmonia de formas e cores, também trouxe significativo avanço à ciência." Apaixonada pela floresta, em maio de 1988, aos 79 anos, Margaret retornou ao rio Negro. Seu objetivo era pintar a flor-do-luar, espécie de cacto que só floresce à noite e é endêmica na região do arquipélago das Anavilhanas. Margaret Mee morreu em 1988, em um acidente de carro em Leicestershire, na Inglaterra. Um ano depois, seu marido foi ao Amazonas cumprir seu o último desejo: lançar suas cinzas sobre as águas escuras do rio Negro. Mulheres atletas nos Jogos Olímpicos da Era Moderna, Rio 2016 - Brasil. Atletas mulheres e homens disputarão os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, na maior festa do esporte mundial, entre os dias 5 e 21 de agosto de 2016. Os Jogos Olímpicos da Antiguidade não permitiam a participação de mulheres, mas apenas de atletas do sexo masculino, de origem grega, poderiam participar das competições. No final do século XIX, o mundo assistiuaos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, idealizados pelo Barão de Coubertin, permitia a participação de atletas de diversos países. As mulheres puderam participar, há 118 anos, dos jogos olímpicos, em todas as modalidades, a partir do I Congresso Olímpico que foi realizado em 1894, quando foi feira a escolha oficial da cidade. Quatorze séculos depois, Atenas, palco dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, receberia os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna, no período de 6 a 15 de abril de 1896. O Rio 2016 terá representantes em todas as modalidades esportivas. E nos Jogos Olímpicos de 2016 estarão presentes mulheres e homens em 28 esportes e 38 modalidades olímpicas, com a inclusão de mais dois esportes: RugbySevens e Golf. Espaço da mulher além da Terra – Valentina VladimirovnaTereshkova Há 53 anos, a russa Valentina VladimirovnaTereshkova tornou-se a primeira mulher do mundo a ir para o espaço, em 6 de junho de 1963, aos 26 anos. Ela foi e é considerada uma mulher de coragem que foi transformada em heroína nacional, após o sucesso de sua missão. Foi considerada “A maior mulher do Século XX”, pois continua sendo a única mulher a fazer voo solo. Valentina voou na Vostok VI, lançada de Baikonur há 52 anos, (junho de 2015). Ela completou 48 órbitas ao redor do planeta, em um total de 71 horas. Depois de Valentina VladimirovnaTereshkova, outras 58 mulheres astronautas foram ao espaço e orbitarem a Terra. Algumas mulheres cientistasconsagradas no mundo, ao longo dos tempos: - Marie Curie (1867 - 1934) - Física e química polonesa que ficou conhecida por suas contribuições sobre radioatividade. Ganhou o Prêmio Nobel de Física de 1903 e o Prêmio Nobel de Química de 1911, tornandose a primeira pessoa a conquistar o Nobel duas vezes e em duas áreas diferentes;
- Rita Levi-Montalcini (1909 - presente) - Neurologista italiana que recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia/ Medicina de 1986 pelos seus estudos sobre o sistema nervoso; - Rosalind Franklin (1920 - 1958) - Biofísica britânica que foi pioneira em pesquisas de biologia molecular. Ficou conhecida por seu trabalho sobre a difração dos Raios-X; descobriu o formato helicoidal do DNA; - Maria Mayer (1906 - 1972) - Física teórica alemã que ganhou o Prêmio Nobel de Física por suas pesquisas sobre a estrutura do átomo, Jane Goodall (1934) - Primatologista e etóloga britânica, conhecida por suas pesquisas sobre chimpanzés; - Rachel Carson (1907 - 1967) - Bióloga americana que revolucionou o movimento conservacionista em todo o mundo, publicou estudos sobre o uso de pesticidas; -MáriaTelkes (1900 - 1995) - Biofísica húngara que realizou pesquisas sobre energia solar. Ela inventou o gerador e o refrigerador termoelétricos; - Barbara McClintock (1902 - 1992) - Cientista e citogeneticista americana que recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia/Medicina, 1983 pela descoberta da transposição genética; - Cecilia Payne-Gaposchkin (1900 - 1979) - Astrônoma inglesa que descobriu que as estrelas são compostas principalmente de Hidrogênio e Hélio. Ela estabeleceu uma classificação para os astros de acordo com suas temperaturas; - Gertrude Elion (1918 - 1999) - Bioquímica e farmacêutica britânica que recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia/Mediciana de 1988, pela criação de novos medicamentos; - Elizabeth Blackwell (1821-1910) - Física americana que se tornou conhecida por ser a primeira mulher a praticar medicina nos Estados Unidos. Fundou a Universidade Médica da Mulher, MathildeKrim (1926 presente) - Citogeneticista italiana que realizou diversos estudos sobre vírus causadores de câncer. Foi a responsável pela fundação da Aids Medical Foundation em 1982, que se tornou a amFar (The Foundation for Aids Research), a principal instituição de pesquisa sobre a síndrome, no mundo; - Ida Noddack (1896 - 1978) - Química alemã que teve importante papel na descoberta do elemento Rênio. Foi a primeira cientista a propor a ideia de fissão nuclear; - Emmy Noether (1882 - 1935) - Física e matemática alemã que realizou importantes pesquisas sobre a Teoria dos Anéis e Álgebra Abstrata. Elaborou o Teorema de Noether, que explica as relações entre simetria e as leis de conservação da física teórica; - Christiane Nusslein-Volhard (1942) - Bióloga alemã que recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia/ Medicina de 1995 por suas pesquisas sobre genética embrionária. Mulher, memória da nossa humanidade. A mulher é memória sempre viva do mundo. Todas são responsáveis pelo presente e futuro da história da humanidade. E a sua essência sempre foi e continuará sendo algo imutável em todas as eras, milênios, épocas, séculos e décadas, pois carrega consigo, o dom único de ser a geradora de seres humanos. Portanto, que a humanidade por ela gerada possa se tornar cada vez mais justa, pacífica e feliz! “O correr das águas, a passagem das nuvens, o brincar das crianças, o sangue nas veias. Esta é a música de Deus.” [Hermann Hesse].
Referências bibliográficas: -Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo brasileiro. - CHAUÍ, Marilena e PINÕN, Nelida. Mulheres do Século XXI, Álbum histórico,São Paulo,2001. - PERROT,Michelle. Mulheres Públicas, Editora UNESP – FEU, São Paulo, 1998. - AS MULHERES NA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA, estudos de Margareth Rago. - STIFF, Ruth. Return to the AMAZON, Margaret Mee, Royal Botanic Gardens KEW, London, 1996. __________________________________________________ Sites: La Maison D’Art, Ana Felix Garjan: www.lamaisondart-anagarjan.com.br Cidade Artes do Mundo: www.cidadeartesdomundo.com.br Universidade Planetária do Futuro – http://projetoartforumuniversidade.blogspot.com Revista Planetária – ArtForumInternacional:http://revistaartforumcultural.blogspot.com *Manifesto Verde pela Paz da Humanidade e do Planeta: http://www.cidadeartesdomundo.com.br/MV.html Outros links: http://anafelixgarjanartes2.wix.com/ana-felix-garjan-gallery http://anafelixgarjanartes2.wix.com/cia-e-galeria http://www.artcomexpo.com/298429579 - https://www.facebook.com/anafelixgarjan https://www.facebook.com/ana.f.garjan - http://anafelixgarjanartes2.wix.com/cia-e-galeria https://twitter.com/anafelixgarjan2 - http://paper.li/anafelixgarjan2/1406028929
A CASA DE BELFORT NO BRASIL RAMSSÉS DE SOUZA SILVA
Segundo o genealogista Wilson da Costa, Lancelot Belfort nasceu em Dublin, reino da Irlanda, em 1708, filho de Richard Belfort, e sua mulher, Isabel Lowther Belfort. Ainda jovem, migrou para Portugal, onde se naturalizou. Seu nome também foi aportuguesado, tornando-se, assim, Lourenço Belfort. Tomado por instinto aventureiro e, segundo alguns autores, fugindo de disputas religiosas e de terras com os ingleses, logo atravessaria o Atlântico rumo ao antigo Estado do Grão-Pará e Maranhão. Em 1739 tem-se o primeiro registro de Lourenço Belfort no Maranhão, ocupando o posto de capitãocabo de uma tropa de resgate de índios. Portanto, segundo a pesquisadora Antônia da Silva Mota, Belfort logo ocupou-se da atividade mais lucrativa em curso: a escravização indígena. Lourenço, estrangeiro astuto, logo nota que tinha um trunfo para jogar em terras tão inóspitas e esquecidas; alegava uma ascendência nobre e, segundo ele, originária do antigo castelo medieval irlandês de Kylrue, pertencente à sua família, uma das mais antigas da Irlanda, fato este questionado ou não confirmado por alguns autores. Ainda na década de 30 dos setecentos, arranja um casamento com Isabel de Andrade Ewerton, filha do capitão Guilherme Ewerton, americano e rico proprietário de terras radicado em Cajapió, baixada maranhense, que estava aqui desde o final dos 1600. Com esse casamento, Lourenço garantia já um futuro promissor para sua linhagem. Nasceram dessa união 3 filhos: Maria Madalena, Ricardo e Guilherme Belfort. Infelizmente Isabel não viveria muito; morre ainda jovem em São Luís, em 1742. A essa altura, Lourenço já tinha uma fábrica de artigos de couro em São Luís e, mesmo sendo um estrangeiro e possivelmente por ser bem relacionado, consegue autorização régia para o monopólio dessa atividade exportadora na Praça do Mercado. Um ano após a morte de sua esposa, Lourenço contrai núpcias com D. Ana Tereza de Jesus, maranhense, filha do capitão português Felipe Marques da Silva, almoxarife da Fazenda Real, também rico proprietário rural na região do Itapecuru. Concomitante às suas atividades empresariais, Lourenço Belfort também se ocupava com a vida pública, em cargos políticos. Foi almotacel, vereador e juiz de fora interino. Certamente o seu bem relacionado ciclo de amizades, associado à influência da família de seu sogro, lhe abriu precedentes para o passo maior que estava por vir para aumentar seus investimentos; logo ele consegue autorização para adentrar a ribeira do Itapecuru e lá estabelecer um engenho. A propriedade ficava entre as vilas de Rosário e Itapecuru e logo Lourenço a batizou de Kelru, um aportuguesamento de Kylrue, nome do castelo irlandês de propriedade de sua família. É erigida também uma capela em nome de St. Patrick (São Patrício), padroeiro irlandês cujo festejo, único no Brasil, é realizado até hoje. Estimulado pela política Pombalina, Lourenço Belfort consegue transformar Kelru num enorme núcleo exportador de algodão, fazendo testes, inclusive, com o bicho da seda, que sucumbiu ao clima do local. Belfort, através dos seus entrelaces familiares e bom tino comercial, torna-se um dos homens mais ricos do Maranhão e garante as condições necessárias para o início da solidificação daquele que seria o mais poderoso clã maranhense dos séculos XVIII e XIX, o clã dos Belfort. No auge da aristocracia rural maranhense, além da atividade algodoeira, Belfort cuida também de criação de gado e da construção de inúmeros imóveis opulentos em São Luís para moradia de seus familiares ou investimentos diversos, como soque de arroz e prensagem de algodão. Do alto de seu imenso solar no canto do Beco da Pacotilha, Largo do Carmo, onde funcionou o Hotel Ribamar e onde um de seus descendentes (o Barão de Coroatá) morou, Belfort observa todo o seu império construído através de astutos entrelaces familiares, cuja metodologia foi passada às gerações posteriores mesmo após sua morte em Lisboa, em 1777.
Através de requerimentos de seus descendentes junto à Coroa justificados por documentos conseguidos ainda por Lourenço atestando sua linhagem nobre, muitos conseguiram títulos de nobreza e cargos públicos importantes durante muitas gerações, através de consórcios nos casamentos com famílias também abastadas, gerando uma perpetuação de riqueza e multiplicação do patrimônio. Com uma cartada de mestre e através de consórcios que interessavam a ambas as partes familiares envolvidas nos casamentos setecentistas, Lourenço Belfort consegue, assim, garantir o futuro promissor de sua linhagem por quase 200 anos. Muitos são os seus descendentes hoje em dia no Maranhão e fora deste. Alguns escravos aglutinaram o nome do seu senhor, fora aqueles que eram filhos bastardos dessa família, de modo que hoje há muitos afromaranhenses de sobrenome Belfort. Há também muitos brancos descendentes diretos no Maranhão, como minha amiga Vanessa Belfort. Outros tantos migraram e, por exemplo, Belfort Roxo no Rio de Janeiro só existe por conta de uma bisneta de Lourenço Belfort, o clube de futebol América-RJ só existe em função do seu fundador ludovicense Belfort Duarte e o lutador Vítor Belfort tem suas raízes nesta família também. A ilustre Casa dos Belfort é um assunto à parte e merece ser sempre alvo de pesquisas e divulgação da saga desta família que muito contribuiu para o Brasil.
foto: ruínas do Engenho Kelru e capela de São Patrício na antiga propriedade de Lancelot Belfort.
DISCURSO DE RECEPÇÃO AO PROFESSOR JOÃO BATISTA ERICEIRA, POR OCASIÃO DE SUA POSSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO61 ANA LUIZA ALMEIDA FERRO62 Após derrotar o seu pai, Urano (o Céu), e ante o vaticínio de que seria destronado por um de seus filhos, Cronos (Saturno), novo senhor do universo – figura sem ligação etimológica com a palavra grega que designa o tempo, mas largamente identificada com o Tempo personificado, por uma irresistível ligação semântica –, começou a devorar todos os seus filhos à medida que vinham ao mundo. Um, apenas, escapou, escondido pela mãe Reia (Cibele): Zeus (ou Júpiter), futuro senhor do Olimpo. Este, posteriormente, lograria fazer com que seu monstruoso pai tomasse uma droga, fornecida por Métis, a Prudência, que o faria regurgitar os filhos que engolira. Se Cronos pode ser associado ao tempo, que impiedosamente engole os fatos e seus protagonistas e coadjuvantes, é a História que melhor se veste com o figurino de Cronos, porque tanto abriga em seu seio personagens e fatos há muito olvidados quanto, vez por outra, devolve-os à luz do Sol. Ensina Miguel de Cervantes, na obra-prima Dom Quixote, que a História é émula del tiempo, depósito de acciones, testigo de lo pasado, ejemplo y aviso de lo presente, advertencia de lo porvenir, isto é, “êmula do tempo, repositório de ações, testemunha do passado, exemplo e aviso do presente, advertência do futuro”. No papel de Zeus moderno, estão, entre outras instituições, os institutos históricos e geográficos, a exemplo do IHGM, que lembram ou reexaminam eventos, questionam ou confirmam reputações, propõem novos caminhos interpretativos ou reforçam conhecimentos já assentados. Ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, oficialmente fundado em 1925, cabe, por consequência, o papel de promoção e divulgação de estudos históricos e geográficos e inerentes ao campo das Ciências afins, em relação ao Brasil e, sobretudo, ao Maranhão, assim como de defesa do patrimônio histórico maranhense, mediante a coleta e preservação de documentos, o estímulo à pesquisa e a edição de livros e revistas, a exemplo da já tradicional Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, mantendo cooperação com os poderes públicos e outras instituições, em prol do engrandecimento científico e cultural do estado, de que é símbolo recente a luta pela preservação da casa onde residiu Aluísio Azevedo. Ora, poucas figuras da historiografia maranhense merecem tanto ser “regurgitadas” do esquecimento a que foram injustamente relegadas quanto Diogo de Campos Moreno, patrono da Cadeira nº 3 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, o militar vencedor da Batalha de Guaxenduba ao lado de Jerônimo de Albuquerque e o apontado autor das obras Jornada do Maranhão: por ordem de S. Majestade feita o ano de 1614 e Livro que dá razão do Estado do Brasil – 1612. Bem o disse o historiador e filósofo espanhol Gregorio Marañon: La historia se hace tanto por los que ejecutan las luchas como por quienes las escriben (“A História se faz tanto pelos que executam as lutas como por aqueles que as descrevem”). Moreno fez ambas as coisas. Coube-me a difícil, mas indeclinável e honrosa, missão de saudar o mais novo ocupante da Cadeira nº 3. Trata-se de um legítimo representante da mais nobre das profissões: a de professor, de quem, a propósito, tive a honra de ser aluna, na disciplina Sociologia Jurídica, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mas o ser João Batista não caberia no horizonte, conquanto amplo e pleno de possibilidades, do magistério. À sombra da imortal obra de Auguste Rodin, prefiro ressaltar-lhe outra qualidade, tão em falta no Brasil hodierno, de ânimos acirrados ao quadrado, de propinas hiperbólicas, de conspirações contra o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal nos bastidores do poder, de fartos mensalões e minguados empregos, de contínuas violações à ética e à moralidade administrativa: a de pensador.
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Proferido na solenidade de posse do Professor João Batista Ericeira, na qualidade de sócio efetivo, na Cadeira nº 3 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), patroneada por Diogo de Campos Moreno, realizada no Auditório Adv. Hermann Assis Baeta, na sede da OAB/MA, São Luís-MA, em 30 de março de 2016. 62 Ocupante da Cadeira nº 36 do IHGM, patroneada por Astolfo Henrique de Barros Serra.
Nascido na cidade maranhense de Pedreiras a 2 de novembro de 1946, professor universitário, advogado, jurista, jornalista e escritor, Mestre em Direito e Estado pela Universidade de Brasília, profissional nacionalmente respeitado e cultivador de notáveis conhecimentos nos domínios do Direito, História, Sociologia, Filosofia e Política, João Batista Ericeira é Presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ), empossado em 14 de janeiro deste ano, Vice-Diretor-Geral da Escola de Formação de Governantes do Maranhão (EFG-MA), Vice-Diretor da Associação Brasileira de Advogados Eleitorais (ABRAE), Presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA/Seccional Maranhão), Presidente da seccional maranhense do Colégio Brasileiro de Faculdades de Direito e Diretor Geral da Escola Superior de Advocacia (ESA). É também membro do Instituto dos Advogados do Brasil e sócio majoritário do escritório “João Batista Ericeira Advogados Associados”. Foi membro do Conselho Consultivo e Secretário-Geral da Escola Nacional de Advocacia, do Conselho Federal da OAB, Vice-Presidente do Conselho Editorial e da Comissão de Defesa da República e da Democracia, da OAB-MA, Diretor da Revista da ENA, membro do Conselho Estadual de Trânsito, da Junta Administrativa de Recursos de Infrações do Maranhão e do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social do Maranhão. É graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1971). Pela Fundação Getúlio Vargas, concluiu os cursos de Administração Financeira e Regime Jurídico do Mar Territorial. Em 1973 fez o curso de Aperfeiçoamento em Língua Inglesa, mediante bolsa do John Kennedy Center, no E.L.S. Miami, Flórida, nos Estados Unidos. Especializou-se em Direito Empresarial pela Universidade de Brasília e Universidade Federal do Maranhão; e em Didática de Nível Superior, na segunda. Em 1980 tornou-se Mestre em Direito e Estado, pela Universidade de Brasília, onde igualmente cursou Teoria Geral do Direito Privado, Informática Jurídica (em parceria com o Senado Federal), Introdução à Ciência Política, Pensamento Político Brasileiro e Introdução às Relações Internacionais. Em 1974 coordenou a Campanha Nacional de Alimentação Escolar no Maranhão e, no âmbito da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Maranhão, no período entre 1974 e 1976, atuou como Delegado Regional de Polícia em Caxias, Assessor, Perito Criminal, Diretor da Divisão de Criminalística, Corregedor de Polícia e Chefe de Gabinete. Entre 1979 e 2003 desempenhou o cargo de assessor jurídico do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, exercendo, em caráter eventual, o mister de Procurador Eleitoral. Em 1976 principiou a sua bem-sucedida carreira no magistério superior, como professor do Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), lecionando as disciplinas Filosofia do Direito, Sociologia Jurídica, Metodologia Geral da Pesquisa Social e Jurídica, Metodologia do Ensino do Direito, Lógica Jurídica, Direito da Família, Teoria Geral do Direito Agrário, Introdução ao Estudo do Direito e a Vida Jurídica, Direito Civil e Direito Agrário. Desempenhou numerosos cargos e atribuições até sua aposentadoria em 2003, entre os quais os seguintes: Assessor do Gabinete do Reitor, Chefe do Departamento de Direito, Procurador-Chefe, Coordenador do Núcleo de Pesquisas Jurídicas, e do Programa de Estudos, Pesquisas e Pós-Graduação em Direito. Foi candidato nas eleições para Reitor da UFMA, compondo a lista sêxtupla submetida à apreciação do Colégio Eleitoral. Como reconhecimento pela sua dedicação ao magistério, recebeu, em 1998, a Medalha Viana Vaz, concedida pelo Curso de Direito da UFMA. Afora as atividades de docência, foi pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Casa de Rui Barbosa. Também integrou a Associação LatinoAmericana de Metodologia do Ensino de Direito e o Grupo de Ricerca Sulla Diffusione Del Diritto Romano (Universidade de Sassari, Itália). Participou da Comissão Constituinte do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) que acompanhou os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, elaboradora da Carta Magna de 1988. No seio da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Maranhão, integrou a Comissão de Exame de Ordem, presidiu a Comissão de Ensino Jurídico, atuou como Conselheiro Estadual e Federal e, a reafirmar o seu indissolúvel caso de amor com o magistério, desta feita na esfera administrativa, foi Vice-Diretor da Escola Superior de Advocacia. Pelos serviços prestados a Têmis, foi agraciado com a mais alta distinção da advocacia maranhense, a Medalha Antenor Bogéa, conferida pela Seccional estadual da OAB em 2009. É igualmente detentor da Medalha Alferes Moraes Santos, que lhe foi outorgada por relevantes serviços prestados à instituição do Corpo de Bombeiros Militar em 2015.
Na esfera da advocacia municipalista foi Consultor Jurídico da FAMEM, tendo exercido o seu mister, como escritório de advocacia e assessoramento jurídico, em prol dos municípios maranhenses de Pedreiras, São José de Ribamar, Caxias, Morros, Presidente Vargas, Vargem Grande e Grajaú. A Câmara de Vereadores deste último município, inclusive, concedeu-lhe o título de Cidadão Grajauense em 2012. A advocacia eleitoral é mais um de seus campos de atuação, pela qual assumiu cargos de consultor jurídico para os partidos PFL-MA (DEM), PSOL e PL. O interesse pelo aristotélico animal político e pela obra deste o levou a assessorar juridicamente vários candidatos ao governo do Estado e de municípios e à Câmara de Vereadores, além de deputados federais e estaduais. De meados dos anos 1980 ao amanhecer dos anos 2000 foi articulista no jornal O Estado do Maranhão, exercitando a sua pena aos domingos, a semear palavras e pensamentos que se transmutariam em valiosa matéria de futuros livros. Hodiernamente escreve no jornal O Imparcial regularmente, às quartasfeiras. Da mesma forma, publica seus artigos no site www.ericeiraadvogados.com.br e no blog jbericeira.blogspot.com. Em seus artigos, já fez de tudo: reuniu todos os homens do Presidente e todas as mulheres do mundo, examinou a tragédia brasileira, calçou as sandálias do pescador, perguntou-se se o Brasil é um país sério, exibiu a República dos nossos sonhos, descortinou a utopia possível e o Direito Alternativo de corpo e alma, acusou a mentira eleitoral, olhou os lírios do campo, rechaçou o novo colonialismo, entreteve conversa à beira-mar, seguiu conselhos de mestre, enfrentou trânsito selvagem e o desafio do futuro, denunciou novas ilusões e explicou a ilusão da Justiça e a igualdade dos desiguais, deu lições da História e de vida, apresentou a suprema lei e o julgamento de Jesus, percorreu os caminhos de Joel, falou do idiota latinoamericano e do Homem de Direito, reviveu Lacerda e Castelo Branco e apontou os órfãos de Jânio, discorreu sobre a revisão da História no País do Carnaval e de Jorge Amado, preocupou-se com a restauração da moralidade pública, fundeou no Porto dos Milagres, dançou o último tango, recolheu as lágrimas de Heráclito, celebrou a magia do Natal, dissecou as ligações perigosas, viu além do horizonte e foi além do jardim, combateu a idolatria do mercado, expressou os compromissos da advocacia, fez reflexões maquiavélicas e de fim de ano, evocou o sonho republicano, ofereceu o olhar da Justiça para aplacar a fome de Justiça, passeou pelas noites de Bagdá, revelou os amigos do Rei, reprovou a universidade do crime, exaltou a dignidade dos velhos, partiu em busca da felicidade. Suas pesquisas e trabalhos foram objeto de publicação em várias revistas pelo país, tais como: Forense (Rio de Janeiro), Síntese (Universidade Federal de Santa Catarina), da Associação dos Antigos Alunos da PUC-Rio, da recente Revista Juris, primeiro fruto amadurecido do promissor Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública, entre outras. Na sua expressiva bibliografia, em que a História é o sólido alicerce sobre o qual se erguem os pilares do seu pensamento, figuram: A crise do Direito e o emergimento do novo Direito Civil em um contexto de liberdade, nos Anais da Conferência da OAB (Manaus, 1980); Pequenos ensaios de Direito de Família, pela Associação Latino-Americana de Metodologia do Ensino de Direito (1981); Extratos de jurisprudência eleitoral do Maranhão, pelo Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (1982); Questão agrária, pelo CNPq (1983); Como decidem os juízes no Estado do Maranhão, pela Editora da UFMA (1994); O olhar da justiça, iniciador de uma trilogia, coletânea dos artigos publicados no jornal O Estado do Maranhão de 2000 a 2003, pela Escola de Formação de Governantes (2004); A reinvenção do Judiciário: coletâneas de artigos publicados de 1996 a 1999, pela Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Maranhão, por meio de sua Escola Superior de Advocacia (2006); e Crise da crise da advocacia: coletânea de artigos publicados de 1992 a 1995, pela Editora Fiuza, de São Paulo (2008). E que tipo de intelectual é João Batista Ericeira? Raimundo Palhano, no prefácio do livro O olhar da justiça, assim se referiu, com aguda percepção, a Ericeira: “Nesta obra, seja como intelectual, seja como profeta, Ericeira é sobretudo um Ensinador da Justiça. Aqui, o Direito com ‘D’ maiúsculo é percebido como a centralidade principal da vida em sociedade. Não conheço em nosso Estado alguém que por anos a fio tenha batido nesta tecla com tamanha freqüência e igual nível de perseverança. Seja no magistério, seja como jornalista colaborador, o autor deste livro é acima de tudo um tribuno da Justiça e do Direito, algo que ele faz como ninguém. [...] Por tudo isso e por sua alta qualidade literária, O OLHAR DA JUSTIÇA é um colírio para os olhos vesgos de hoje.” Fábio Konder Comparato, no prefácio da obra Crise da crise da advocacia, após enumerar importantes iniciativas cívicas de Ericeira em defesa da República e da democracia, menciona a sua “esclarecida liderança”. Na apresentação do mesmo livro, Jhonatan Uelson
Pereira Sousa assegura, com propriedade, que esta obra “resgata o desafio socrático, de pensar com a própria cabeça”, apresentando-se como um “útil manual introdutório da arte de pensar”. Sentencia Pascal: L’homme est visiblement fait pour penser; c’est tout sa dignité et tout son mérite; et tout son devoir est de penser comme il faut (“O homem é visivelmente feito para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever é de pensar bem.”). João Batista Ericeira é, pois, um pensador, e um que pensa bem. Um pensador capaz de caminhar, com igual desenvoltura, habilidade e segurança, pelos campos semeados por personagens notáveis como Sócrates, Maquiavel, John Rawls, Rui Barbosa, Miguel Reale, entre muitos outros... Capaz de reavivar, no Maranhão e alhures, a chama do pensamento cristão, a partir de sua fonte, ao mesmo tempo divina e humana: Jesus... “Deus é gracioso”, “Deus deu, presenteou”, é isto que significa “João”, do hebraico. E Deus presenteou o casal José Ribamar e Terezinha de Jesus Bonfim Ericeira e o Maranhão com um novo pensador. Mas não bastava ser João, tinha também de ser Batista. O da Bíblia, que é um dos santos juninos, cujo nascimento é celebrado no dia 24, pregou para multidões com fome e sede de Deus, foi o profeta judeu que preparou o caminho do Salvador, que veio “para dar testemunho da luz” (João 1: 8). O nosso João Batista igualmente veio ao mundo para dar testemunho da luz, mas a sua luz particular é a Justiça, uma Justiça que não se olvida dos seus valores cristãos. Nas trincheiras políticas brasileiras, na mais legítima tradição humanista, ele não clama por um Salvador da Pátria. Deveras atual é a sua advertência no artigo “Reflexões maquiavélicas”, publicado em 2002: “Sociólogos e antropólogos [se] lembram de duas pedras que poderão atrapalhar o caminho do futuro governante: o sebastianismo e o populismo. O primeiro, legado da cultura lusitana, nos faz acreditar no homem providencial, algo messiânico, que por suas qualidades pessoais está destinado a libertar o povo de todos os sofrimentos, conduzindo-o ao reino de paz e prosperidade geral. O segundo, produto típico da cultura política ibero-americana, elege a figura do líder populista ou caudilho, que prescindindo de Parlamento, de partidos políticos, do institucional organizado, estabelece ligação direta com o povo, a quem distribui os bens sociais do Estado.” Mas todo Rodin precisa de uma Camille Claudel e todo pensador precisa de uma musa. Seguindo a lei do amor, João Batista, o Ericeira, perdeu a cabeça (ou a ganhou, conforme o ponto de vista) pela senhora Maria das Graças Correa de Araújo, hoje Ericeira. E desse feliz e abençoado encontro nasceram outro José Ribamar, outro João Batista e um David, porque, sem dúvida, já há bastante Golias no mundo. Para quem faz da palavra escrita, da ilustração e do raciocínio envolvente um recurso de eloquência e ensino, nada mais natural do que ocupar, na Academia Ludovicense de Letras (ALL), como membro fundador, a Cadeira nº 2, cujo patrono é um exímio esgrimista da palavra, mestre da oratória, o Padre Antônio Vieira. Também é sócio correspondente da Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências. Da mesma maneira, nada mais natural do que um destacado pensador e profissional da palavra como o Professor João Batista Ericeira vir a ocupar, no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, uma cadeira patroneada por um militar que se rendeu aos encantos e vantagens da pena, seja a que escreve livros, seja a que celebra tratados, como o de Trégua, entre franceses e luso-espanhóis. Não poderia haver associação mais propícia, ainda mais no conturbado Brasil de hoje. Em nome do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sede bem-vindo, Professor Ericeira. Fazei do IHGM a vossa segunda casa, da defesa do patrimônio histórico maranhense a vossa permanente causa e da História do Maranhão a vossa eterna musa. Por derradeiro, peço-vos que atenteis para os belos versos do vate José Chagas: O maior patrimônio é o da memória, o que fica na mente coletiva, o que não mais é coisa transitória, porque o inconsciente faz que viva e se eternize e seja mais que história, na voz de uma verdade primitiva, ou no que dentro da alma se incorpore à paz que de si mesma se deriva,
e que nos vem como um sinal de glória em nossa humana solidão nativa, de onde o sonho acompanha a trajetória do tempo e o tempo vive a expectativa de que a razão da vida se elabore à luz do que de eterno nos cativa.63 E então encerro, Confreiras e Confrades, Senhoras e Senhores, esta despretensiosa saudação, dedicada ao Pensador, com carinho, meu eterno Professor, João Batista Ericeira. Muito obrigada.
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CHAGAS, José. Os azulejos do tempo – Patrimônio da humana idade. São Luís: Sotaque Norte, 1999. p. 280. O poema é intitulado “A trajetória do tempo”.
AS PONTES RECÉM-INAUGURADAS OSMAR GOMES DOS SANTOS Cajariense de Enseada Grande, Juiz de Direito da Capital, Professor e Palestrante, escritor, Membro da Academia Ludovicense de Letras e da Academia Maranhense de Letras Jurídicas. Na última semana estava de viagem marcada para visitar amigos e parentes no lugar onde nasci que considero minha terra santa, Enseada Grande, no Município de Cajari, uma área descontínua que fica entre as sedes dos Municípios de Penalva e Monção. Liguei para um grande amigo, aquele de todas as horas e perguntei a ele se carros ainda estavam trafegando normalmente de Monção para Enseada Grande, pois se trata de uma estrada raspada, quase sem piçarra. Ele logo me respondeu que não, a, mas na semana anterior o gestor teria mandado fazer duas pontes de madeiras sobre dois igarapés, entre Cupuzal (Monção) e Mangal (Cajari)cuja correnteza das águas não permitia a passagem de veículos. Preparei-me para sair às três horas da madrugada com a intenção de chegar à minha terra santa por volta das sete horas da manhã e ainda tomar um leite mugido, mas surgiram alguns problemas para resolver aqui em São Luís, então quem viajou foi o meu genro Lucas, especificamente para resolver algumas situações relativamente a trabalhos. Lucas fez uma viagem tranquila até chegar às duas pontes de madeiras feitas recentemente, pouco mais de oito dias. As pontes construídas na semana anterior já apresentavam dificuldades estruturais, mas conseguiu passar bem devagarzinho. Meu caro Lucas cumpriu a sua agenda durante dois dias no meu torrão, à beira do campo, com uma beleza natural exuberante. No terceiro dia se arrumou, entrou no carro, se despediu dos trabalhadores e outros amigos e seguiu viagem; ao chegar na primeira ponte construída na semana anterior pelo gestor, percebeu que estava totalmente destruída tanto quanto a outra que ficava mais à frente. Lucas verificou que a destruição não teria sido por ação humana nem de animais irracionais, mas pela fragilidade na estrutura da construção feita há apenas uma semana. A solução encontrada foi construir duas pontes com madeiras, o que durou cerca de seis horas, pois a largura dos igarapés não chega a cinco metros. No dia seguinte bem cedo, Lucas retornou, passou pelas pontes com tranquilidade e chegou na capital do nosso Estado são e salvo. Lembrei-me do meu tempo de criança, e olha que já estou com 54(cinquenta e quatro) anos; naquela época prefeitos colocavam duas palmeiras sobre um igarapé e seus representantes na localidade logo diziam, “estão vendo, isso é que é prefeito, acabou de construir uma bela ponte”, só não diziam quanto tinha custado para os cofres públicos. Quase 50(cinquenta) anos depois tudo continua como antes. Ao que tudo parece querem colocar a culpa na própria ponte, ou na estrada de chão sem piçarra, ou até do próprio povo. Coitados dos meus conterrâneos, uma população numerosa distribuída em vários povoados, que no período de inverno ficam completamente isolados, posso citar os vilarejos de Mangal, Enseada Grande I, Enseada Grande II, Itaquipé, Canto Feio, Francesa, Bode, Salvador, Cafezal e Chapadinha, uns próximos dos outros cerca de um, dois ou três quilômetros. Pena que sem as pontes bem feitas sobre os igarapés de águas mansas e límpidas não se consegue sair nem chegar por lá. Essa é a pura realidade de lá e de outras bandas também.
IN MEMORIAN JOSÉ RAFAEL DE OLIVEIRA
A medicina maranhense e a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) lamentam a morte do professor dr José Carlos Ribeiro Araújo (30/03/2016) e da professora dra Elizabeth de Sousa Barcelos Barroqueiro (31/03/2016). Felizmente, para nós, eles escreveram e autografaram belas histórias para a medicina. Histórias escritas com palavras que sempre dignificam e engrandecem a profissão médica: competência, prudência e sensibilidade. Por essa razão, as suas biografias emparelham-se em definitivo às que reúnem em si mesmas sapiência, justiça e compaixão. Por ser um exímio cirurgião e também um excelente professor, o dr José Carlos Araújo (CRM-MA 1164) deixa um grande legado para ser refletido/ensinado nas salas de cirurgias e nas salas de aulas. Mesmo assim, um vazio persiste no coração daqueles que tiveram o privilégio de tê-lo conhecido. Ou de tê-lo visto a manusear os instrumentos cirúrgicos com invejável expertise: bisturis, pinças, portas-agulhas, afastadores, compressas, gazes, fios, câmeras... Especialmente, quando o sucesso de uma cirurgia depende, sobretudo, de uma performance condicionada por conhecimentos teóricos e técnicos apurados. Já os alunos investidos de imensa gratidão incorporam em si mesmos as lições recebidas do mestre, tanto as que enaltecem a arte de ser médico, quanto as que servem para enobrecer a trajetória de uma vida dedicada com altruísmo à medicina. Por outro lado, os pacientes continuam a rogar aos céus para que esse médico admirável continue a exercer a sua missão no plano da eternidade. Com sabedoria, entusiasmo e ética, a professora dra Elizabeth Barroqueiro (CRM-MA 1169) soube conciliar a especialidade de Endocrinologia com a arte de ensinar os conteúdos que integram a base curricular do curso de medicina: farmacologia, fisiologia, bioquímica, histologia, embriologia... Obviamente, sempre pautada nesta máxima de Guimarães Rosa (Grande Sertão-veredas): “Mestre não é sempre quem ensina, mas quem de repente aprende.”. Na verdade, apenas os grandes mestres sabem revelar entre teorias e práxis o conhecimento acumulado ao longo do tempo e da vida. Por essa razão, pacientes, amigos, familiares, colegas e/ou alunos que tiveram a primazia de beber nessa fonte chamada Elizabeth Barroqueiro precisam agora se contentar em beber apenas saudades... Dalai Lama afirma que “quando morremos, nada pode ser levado conosco, com exceção das sementes lançadas por nosso trabalho e do nosso conhecimento”. Em razão disso, o dr José Carlos Araújo e a dra Elizabeth Barroqueiro foram imprescindíveis semeadores de boas sementes na seara do tempo, da vida e da mente. Por isso, a sociedade ludovicense e a historiografia da medicina devem sempre replantá-las para mostrar que, com a morte, duas estrelas-vivas nasceram no céu da medicina para continuar direcionando/iluminando o caminho das futuras gerações de médicos maranhenses.
VIVA UBIRAJARA FIDALGO EDMILSON SANCHES edmilsonsanches@uol.com.br
PRIMEIRO DRAMATURGO NEGRO DO BRASIL É MARANHENSE, CAXIENSE, E MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DECLARA OFICIALMENTE 2016 COMO "ANO UBIRAJARA FIDALGO DA CULTURA". O QUE O MARANHÃO E CAXIAS SABEM DISSO? O QUE VÃO FAZER?
Além de ter feito a "descoberta" e apresentação -- por meio de textos e palestras -- de Ubirajara Fidalgo à sua própria cidade, nossa cidade, Caxias, esforcei-me para que a Secretaria da Cultura de Caxias realizasse uma exposição sobre o grande ator e dramaturgo conterrâneo e, mais, fizesse apresentação de uma de suas peças (inclusive, um jovem e preparado ator caxiense, André Ribeiro, conversou comigo e demonstrou interesse em levar ao palco uma obra de Ubirajara Fidalgo). De 2013 a 2015 troquei intensa e esperançosa correspondência com Sabrina Fidalgo, a única filha de Ubirajara, cineasta, com estudos na Alemanha. Até recebi cópia de três peças teatrais de Ubirajara Fidalgo. Contatei pessoalmente, por telefone e por mensagens o secretário de Cultura de Caxias e assessores seus. Ele se mostrou interessado, pareceu entusiasmado e até disse que o evento poderia estar dentro da programação dos 125 anos da usina Manufatura, o portentoso prédio onde fica a Secretaria da Cultura de Caxias. Sabrina Fidalgo (Fidalgo Produções / Ubirajara Fidalgo) elaborou um projeto de exposição sobre seu pai e em janeiro de 2014 o enviou para a secretaria caxiense de Cultura, pelos Correios, com registro postal. Ante a demora na resposta, Sabrina novamente contatou-me e, estando em Caxias, fiz contato pessoal e rápido com o secretário, o suficiente para ele me confirmar que recebera o projeto e que a secretária dele já havia entrado em contato com a talentosa herdeira de Ubirajara Fidalgo.
Mas isso não era verdade... Sabrina confirmou que nunca tivera qualquer resposta ou contato. Em 10 de fevereiro de 2014, Sabrina Fidalgo me escreve e lamenta: "Uma pena, Edmilson, seria uma grande e
unica oportunidade de levar a Caxias um pouco de conhecimento da obra do meu pai, mas, pelo que parece, não há interesse".
Desinteresse... Desamor... Gente desapaixonada... As coisas e causas de nossa terra não merecem isso. Mas isso, se não é próprio de Caxias, é, infelizmente, próprio de alguns maus caxienses. Neste 2016 em que o Ministério da Cultura, por sua representação regional no Rio de Janeiro, declara oficialmente o “Ano Ubirajara Fidalgo na Cultura”, esperava-se -- é o mínimo -- que autoridades públicas, sobretudo elas, e outras forças empresariais e sociais tivessem mais sensibilidade e algum desprendimento para associarem-se a essa homenagem, trazendo e reavivando para Caxias o orgulho de, entre tantos nomes, ser também terra de um pioneiro, de um ser de talento, de um inovador -- Ubirajara Fidalgo. Longa vida à história e ao talento desse grande caxiense. Ilustrações: Ubirajara Fidalgo em notícia e com a mulher, Alzira, também falecida.
ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS, 25 ANOS EDMILSON SANCHES Cadeira 5 - Fundador e ex-presidente da Academia Imperatrizense de Letras A LÃ VERMELHA (Homenagem aos 25 anos da Academia Imperatrizense de Letras -- pensando em seu centenário...)
Na parte ocidental da África, os pastores utilizavam um interessante sistema para contar suas ovelhas. Cada pastor agrupava seu rebanho e, em fila, os animais iam passando, um a um. A cada ovelha que passava, uma concha era enfiada em uma lã branca. Quando chegava a dez, suspendia-se a contagem, tiravam-se todas as conchas da lã branca e colocava-se uma delas em outra lã, de cor azul. Reiniciava-se a contagem e, a cada grupo de dez conchas na lã branca, correspondia uma nova concha enfiada na lã azul. Quando esta, por sua vez, contasse dez conchas, à maneira do que acontecia na lã branca, também tinha todas as suas conchas retiradas e uma nova lã, agora de cor vermelha, recebia uma concha. Parece claro que a primeira lã, a branca, reunia as conchas das unidades; a azul, a das dezenas; e a vermelha, a das centenas. Se a quantidade total de um rebanho fosse, por exemplo, 532 ovelhas, o pastor deveria ter cinco conchas enfiadas na lã vermelha, três na azul e duas na branca. A lã azul, portanto, era múltiplo de dez da lã branca e a vermelha, múltiplo de dez da azul. Não há registro do que vinha após a lã vermelha -- talvez outra lã vermelha, ou talvez não houvesse, por justiça social, nem um pastor com mais de mil ovelhas... No rebanho das eras, a Academia Imperatrizense de Letras (AIL) completa seu primeiro quarto de século neste dia 27 de abril de 2016. A AIL cobre-se de céu e nuvem, ao pôr suas duas primeiras concha na lã azul e cinco conchas na lã branca. Vinte e cinco anos até pode não ser muito, mas já é representativo -dir-se-ia, já foi suficiente para comprovar que Academias, quando com propósitos (bons propósitos), e trabalho (muito trabalho), são sim úteis e necessárias a uma sociedade. Desde o final da década de 1970 ou início dos anos 1980, no século passado (soa estranho isso), que eu tencionava reunir um grupo de humanistas para desenvolver ações relacionadas à cultura de Imperatriz. Neste aspecto, a cidade permanecia sem um referencial mais consistente, institucionalizado, embora sua história de quase 130 anos, à época. Procedente de Caxias, onde a cultura, sobretudo a cultura literária, assenta-se em bancos de praça, mina de rios e riachos, brota de brotos de flores e gorjeia em cantos de sabiás, com a alma impregnada disso tudo, estranhava que, sendo uma terra de também tantas riquezas, Imperatriz ainda não tivesse um símbolo de tradição que representasse uma delas -- sua produção literária. A Academia é esse, embora não único, símbolo cultural. Foi assim que, inicialmente, contatei pessoas e juntei alguns de seus escritos e lancei, em 1979, o "Safra – Jornal de Literatura", de muitas intenções e poucas edições. Depois, na universidade, curso de Letras, o lançamento da "1ª Antologia Literária dos Universitários de Imperatriz". Em ambos os casos, nenhuma dessas ações persistiu o suficiente para encher de conchas a primeira lã. Mas, à medida que a Vida enfiava sua concha de anos na lã do Tempo, diversas outras ações culturais e comunitárias, individuais e coletivas, foram se somando. Hoje, para contar essas tantas ações, a lã da História teria de ter outra cor, que não é nem branca nem azul nem vermelha. No conjunto desses (a)fazeres, a Academia Imperatrizense de Letras é símbolo, é marca, é ação -- e, com 25 anos, firma-se, senão como tradição, ao menos como a mais luzidia referência, o mais orgânico e organizado dos elementos do “sistema” cultural do município e mesmo da região, senão de todo o interior do Estado. Como agregado de literatos e humanistas “em geral”, mas, antes disso, como uma reunião de pessoas cientes e conscientes, a Academia não para na letra, não limita seu verso e aumenta pontos contando mais que contos -- realidade. Assim, a Academia envolve-se em assuntos e desenvolve ações além do espectro
tradicional a que muitas entidades do gênero se circunscreve. Porque, à maneira freiriana, antes de ler os livros é preciso ler o mundo. Antes de falar às pessoas impõe-se falar com elas. Neste 27 de abril de 2016, a Academia veste-se de azul e branco. Sai dos anos de experimentos e vai para duas décadas e meia de experiência. Afirmando-se como tradição na História, mas pensando a contradição do quotidiano. É assim que a Academia Imperatrizense de Letras deve chegar à lã vermelha, em 2091, centenariamente jovem. Porque velho não é ter nascido há anos, mas, sim, não renascer agora. Velho não é ser do século passado. Velho... é não ser presente. Chegaremos à terceira lã.
RAZÕES POLITICAS DO IMPEDIMENTO OSMAR GOMES DOS SANTOS Juiz de Direito da Capital, Professor e Palestrante, Escritor, Membro da Academia Ludovicense de Letras e da Academia Maranhense de Letras Jurídicas.
Após as eleições gerais de 2014, ocorridas em todo o Brasil, restaram eleitos e reeleitos 513 (quinhentos e treze) deputados federais pelo sistema proporcional, para a 55.ª legislatura, cujo número de deputados, por unidade da federação, é proporcional ao número de habitantes, exatamente por eles representarem o povo brasileiro e não os Estados, como ocorre com os senhores senadores. Depois da diplomação e da posse, começaram as movimentações para a escolha do deputado que comandaria os destinos da casa legislativa, como presidente. Dentre eles, o Deputado Federal Eduardo Cunha, à época com 56 (cinquenta e seis) anos de idade e reeleito para o quarto mandato consecutivo pelo Estado do Rio de Janeiro. O senhor deputado Eduardo Cunha teve como concorrentes os deputados Arlindo Chinaglia, do PT de São Paulo; Júlio Delgado, do PSB de Minas Gerais; e Chico Alencar, do PSOL do Rio de Janeiro. A presidente Dilma Rousseff assumiu uma posição clara em favor do petista Arlindo Chinaglia e declaradamente contra o deputado Eduardo Cunha, que recebeu integral apoio de seu partido, do VicePresidente Michel Temer, e de mais 13(treze) agremiações partidárias, inclusive dois de oposição, DEM e SD. Ainda em 2014, enquanto líder do PMDB na Câmara dos Deputados, o parlamentar Eduardo Cunha liderou movimento de rebeldia contra a senhora presidente Dilma, se tornando inconfiável para ela e para a ala petista, justificando, assim, a sua postura contrária a essa candidatura. Em fevereiro do ano de 2015, ao ser questionado sobre o petrolão, em especial sobre eventual envolvimento da presidente Dilma, o chefe da câmara baixa da nação, respondeu: ”Não acho que seja cabível qualquer tipo de solicitação de impeachment”. Depois disso, pelas razões já delineadas, teve início uma gestão conturbada entre executivo e legislativo (Câmara Federal), com divergências acentuadas e trocas de insultos entre ministros e deputados, em especial da bancada liderada por Eduardo Cunha. Surge, então, o envolvimento direto do Presidente da Câmara em escândalos com subornos, propinas e contas robustas em paraísos fiscais, por ele negados, gerando inquéritos na Polícia Federal e depois processos junto ao Supremo, e também perante o Conselho de Ética, neste último caso, por quebra de decoro parlamentar. Enquanto o processo segue perante o Supremo Tribunal Federal, no Conselho de Ética as manobras às vezes sutis, às vezes escancaradas, fazem surgir a cada instante o interesse no seu procrastinamento excessivo. Essa situação tornou-se ainda mais grave quando os deputados do partido dos Trabalhadores PT, com direito a votos junto ao Conselho de Ética, negaram-se a seguir a orientação do Ex-Presidente Luíz Inácio Lula da Silva e de setores do Governo, segundo a imprensa nacional, para dar apoio a Eduardo Cunha, com o objetivo de barrar o prosseguimento do processo perante o dito Conselho. Isso representaria a salvação de seu mandato e do exercício da presidência daquele poder, uma vez que ele acreditava na demora de uma solução nos processos criminais a que responde perante a Corte Constitucional do País, dada a possibilidade de inúmeros recursos antes do trânsito em julgado de eventual sentença penal condenatória. Antes da votação no Conselho de Ética, que decidiu pela abertura de processo contra o presidente da casa, este já havia rejeitado várias denúncias contra a presidente Dilma Rousseff, por supostos crimes de responsabilidades. Contudo, uma delas ficou como carta sob a “manga”, exatamente a que foi subscrita pelos juristas Miguel Reale Júnior, Hélio Bicudo e Janaína Pascoal. Acredita-se, pela referência e credibilidade que gozam perante o mundo jurídico nacional.
Demonstrando completa insatisfação por não ter recebido o apoio de quem lhe havia prometido, e vendo o chão lhe faltar aos pés, sobretudo porque os votos dos petistas na comissão do Conselho de Ética foram decisivos para a abertura do processo contra si instalado, o “nobre deputado” Eduardo Cunha decidiu pelo recebimento da denúncia formulada pelos juristas já citados. Começa uma guerra intestina entre ele, a presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores. O senhor presidente Eduardo Cunha parecia e agia como um verdadeiro “caudilho”, imponente por seu autoritarismo, comandando um bloco, o maior bloco da casa legislativa. Cheguei a pensar que estávamos diante de uma corrente do caudilhismo, que teve grande expressividade na América Latina, sobretudo nos países que foram colonizados pela Espanha, e se formando ao longo da independência dos países latino americanos de suas colônias. Eram senhores que queriam fazer prevalecer seus direitos sobre os de outras pessoas, a qualquer custo. Eram líderes políticos que exerciam o poder de forma carismática com caráter populista, porém por vias autoritárias ou autocráticas, alinhando-se a ditadores e tiranos. Foi assim que tudo começou! Que Deus proteja o Brasil e os brasileiros.
ACADEMIA FANTXMA ISAAC SOUSA HTTPS://ACADEMIAFANTAXMA.WORDPRESS.COM/2016/05/14/UMA-ACADEMIA-PARA-UMA-CIDADEFANTASMA/
Caxias é saturada de passado – você anda pelas ruas e o passado te observa silencioso, mesmo quando você não nota sua presença. É uma cidade em que as fantasmagorias do tempo ocupam espaço e caminham na paisagem: talvez elas sejam os verdadeiros cidadãos e você não seja mais que uma assombração, uma sombra passageira. A Caxias viva do cotidiano, com seus carros, barulhos e outdoors é atravessada por uma outra Caxias sem densidade física mas de muito peso cultural: é uma Caxias-fantasma, de poetas mortos, de combates perdidos, de casas degradadas, de um glória decaída, de uma saudade que não tem solução. Destas ruas tortas e fantasmagóricas brota nossa arte fantaxma – desde já assumimos nossa posição de mortos (que não tarda) mas apostamos na vida líquida das palavras que reverberam nas alcovas. Acreditamos que a ficção está nas coisas mais evidentes e é nas visagens que a realidade se manifesta mais intensa. Somos uma contra-academia para uma cidade-fantaxma. Manifesto da Academia Fantaxma §1 Somos nascidos das tempestades de sol. Falamos a mesma língua das pedras e dos lagartos. Contamos mentiras encantadas para revelar verdades indizíveis. Somos democratas até o limite do gozo: nossas cores, nossas letras, nossas fantasias ocultas e reveladas; nossa mímica, nossa luta, nossas utopias moleculares; nossa nudez, nossa embriaguez, nossa mania de chegar fora do horário. §2 Escrevemos porque é preciso; publicamos porque somos incompletos: só a tua presença, a presença dele, dela e daqueles outros fazem de mim uma existência possível – o meu eu é a nossa conexão. §3 Nossos corpos são máquinas – de desejo, de pulsão, de eletricidade e de produção. Somos complexos orgânico-tecnológicos (nem só de biologia vive o ser humano) úteis para a comunicação e altamente propensos ao erro e desentendimento. Uma máquina flui para a outra máquina e nossas redes são tecidas: a arte é nosso fluxo mais intenso. §4 A literatura é nossa máquina de guerra: nosso cavalo ciborgue – nós o montamos e cavalgamos contra as barreiras espessas do conservadorismo, da tristeza, da opressão e da impotência. Inventamos linguagens, deturpamos formas, dançamos funk sobre o fogo dos castiçais. §5 Nossas almas são concretas e nossos espíritos, filhos do pó. Tudo que existe para além dos sentidos são os vestígios que o tempo degenera: toda nossa alma está em nossas invenções. §6 A noite é perigosa, mas é nossa amiga mais querida. §7 Não há distinção entre o que escrevemos e o que vivemos. Assinam os Fantaxmas: Isaac Sousa: historiador, escritor e músico. Sidny Brito: Licenciado em Letras, escritor e fotógrafo.
TRATADO DE FANTAXMAGORIA ISAAC SOUSA A Academia Fantaxma é uma rede de compartilhamento de ideias e afetos. Nossa base de operações é a língua portuguesa – entendida como um campo de atuação estética/política – e nossa ferramenta de trabalho é a promiscuidade entre os signos, os corpos e as culturas. Somos artistas incompletos, sem muita honra, mas com vergonha na cara, no esforço de manter ebuliente um constante processo de aprendizado e revolução. Atuamos num espaço líquido – somos piratas; pervertemos a linguagem para fazê-la gemer aquilo que ainda não disse ou para, quem sabe, alcançar ecos do dito que se dissipou. Somos investigadores: perscrutamos as invenções alheias e nos embevecemos da beleza fabricada. Somos apócrifos, sempre seremos apócrifos, ainda que a ironia venha nos canonizar: nosso esforço é produzir uma arte que se insurja contra todo enquadramento – não, isto não é um cachimbo. A fantaxmagoria está, portanto, entre aquelas coisas que deslizam, que evaporam, desmancham, que devém: ela é o eterno retorno de Nietzsche, é o rio e o fogo de Heráclito, é o beijo que Rimbaud deu no Diabo, é o inverno que chega sempre no gerúndio, é a máscara de Guy Fawkes sobre a barba de Allan Moore, é o projeto que se realiza como experiência, não como produto, é o tempo pensado em tentáculos, não em linha, é um livro que começa com vírgula e termina com dois-pontos, é uma festa de Dada no jardim de Epicuro. A fantaxmagoria é coletivo porque não busca o eu de um autor genial, ela acontece do contato entre subjetividades errantes que fluem de uma para a outra e se afetam mutuamente. Ela é literária, porque assim quisemos, mas pode-se ser fantaxma em música, cinema, artes marciais, eletrônica de televisões ou relações sexuais – ser fantaxmagórico é um jeito de reconhecer a própria fragilidade & transitoriedade, pensar a vida como constante reorganização, rearranjo, re-invenção e tecelagem. Somos sistemas caóticos que se alteram com o tempo – o fantaxma é o humano em estado máximo de desejo de estética, é quando a arte e a ética se confundem numa mesma postura libertadora e vitalista. Nisso reside sua inventividade. A fantaxmagoria é clandestina porque ela está sempre a caminho de um outro lugar – sem convite, sem visto, sem autorização.
SERMÃO DE VIEIRA CARLOS GASPAR
Domingo passado, já eu terminava a refeição matinal, em um minimercado, nas proximidades do meu apartamento, quando surge, diante da mesa em que me achava acomodado, a figura do meu velho amigo Ananias. Estava a procurar-me, disse ele, e desejava conversar comigo, ouvir-me, tirar dúvidas, desabafar. Não tive como fugir ao chamamento, e imaginei que talvez ele quisesse escutar-me a respeito de algo que o atormentasse. Após o nosso abraço fraterno, deu-me notícias de casa, da minha comadre, dos meninos que hoje são homens e, finalmente, de todos. Revelou-me, ninguém havia sido atacado pela Aedes Aegypti, e expressou no rosto um certo grau de felicidade. E ele, depois de tanto tempo ausente da minha casa, pareceu-me bem disposto, livre de chateações e de aborrecimentos. Mas, dizem os antigos que as aparências enganam. E é verdade, pois havia me equivocado com a do Ananias. Deixei as pessoas com quem estava prazerosamente reunido e sentei-me ao pé de uma mesa, mais distante, para que eu e o Ananias pudéssemos conversar à vontade, pois não seria conveniente que outras pessoas ouvissem seus segredos. Foi aí, então, já sorvendo uma pequena xícara de café, que ele tirou a máscara da face, isto é, soltou-se, para compartilhar comigo seus aborrecimentos, suas decepções. E eu imaginava algo pior, pois já me habituara a escutá-lo, atentamente, para ceder-lhe minha opinião, sempre solicitada. Havia ele ido ao médico. Consulta marcada com duas semanas de antecedência, pagamento em dinheiro. Nada desses planos que transitam por aí. Pagamento em moeda corrente. Desejava ser atendido com presteza, dado que tinha outros compromissos. Logo ficou marcado para uma quinta-feira, às 14 horas. Por causa dessa obrigação, almoçara mais cedo, para chegar ao consultório com trinta minutos de antecedência, pelo menos. Ocorre que já decorria mais de uma hora, daquela que fora agendada, resolveu, então, perguntar sobre sua consulta à pouco solícita atendente, que responde, como se estivesse fazendo um favor: "está marcada para as 14:00, pela ordem de chegada, além do mais o médico está atrasado e ainda tem duas pessoas na sua frente". Ananias, seguindo os conselhos que lhe dei, em ocorrências mais ou menos semelhantes, pediu de volta o dinheiro com que, à chegada no consultório, havia feito o pagamento da consulta e, sob a indiferença da recepcionista, tomou o rumo de casa. Pela rua, sem dar conta do que se passava a seu redor, ia falando sozinho, desabafando consigo mesmo e esperava não encontrar alguém conhecido, visto que seria capaz de estourar, de desabafar impulsivamente. Não se conformou com o que havia acontecido e, por isso, achou que fora vítima de um engodo, de um desrespeito, enfim, de uma mentira. Contou-me isso, sentado à mesa de café, o rosto bastante rubro, e eu a acalmá-lo, a dizer-lhe que iria depois a outro médico, desses de hora certa, pontuais. Pois bem, mudei de assunto, tive a pouca sorte de enveredar pelas coisas da política do Maranhão. O Ananias então puxou um caso escabroso, que minou o percurso de um deputado federal, tão bem ia ele na carreira abraçada, a despeito dos métodos talvez nada republicanos, que imprimia aos seus objetivos. Fizlhe, então, uma interrupção para pedir que omitisse nomes, de quem quer que fosse, dado que nenhum interesse tenho nessa coisa de sujeira de política e dos políticos. Todavia, o rosário de comportamentos do deputado, pouco recomendável, serviu de prato cheio para que ele, o meu estimado amigo Ananias, virasse de cabeça para baixo o tal representante do povo, que, por processos oblíquos, veio a ocupar posição privilegiada na Câmara Baixa deste Brasil. Deixo de entrar em mais detalhes porque prefiro ficar imune a decepções e a aborrecimentos, bem como me sentiria obrigado a estabelecer comparações entre os políticos atuais e os de antigamente, estes talvez menos descarados. O meu querido amigo, talvez sem imprimir essa conotação, a da mentira, trouxe à tona dois exemplos desse ato de enganar, de ludibriar. Assim, para encerrar a conversa, pois já avançava o final da manhã, resolvi mostrar-lhe que o nosso Maranhão, há séculos, é diferente de todo e qualquer Estado da federação brasileira. Por isso, nada deveria lhe causar surpresa sobre os fatos mencionados, em especial se formos
buscar essa confirmação no Padre Antônio Vieira, que aqui esteve em missão religiosa, e assim se expressou em sermão pronunciado na Quinta Dominga da Quaresma:“De maneira que o sol, que em toda a parte é a regra certa e infalível por onde se medem os tempos, os lugares, as alturas, em chegando à terra do Maranhão, até ele mente. E a terra onde o sol mente, vede que verdade falarão aqueles sobre cujas cabeças e corações ele influi”. E, adiante, conclui: “Vede se é certa a minha verdade: que não há verdade no Maranhão”.
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DEZ ANOS DE FESTIVAIS DE MÚSICA NO CAMPUS 64 FÉLIX ALBERTO LIMA
http://oredemoinho.blogspot.com.br/2016/05/maio-oito-meia-11-dez-anos-de-festivais.html
Eram tempos de turbulência na política e muita inquietação na comunidade acadêmica. A voz ativa da juventude ressoava pelos becos e palcos improvisados das universidades. Na UFMA, as coisas passavam naturalmente pelo curso de Comunicação Social, vanguarda involuntária dos movimentos estudantis nos anos 1980. As decisões políticas e conspirações culturais estavam concentradas entre a Área de Vivência do campus, onde também ficava a sede do DCE, o Auditório “Jarbas Passarinho” (no Centro de Ciências Humanas, o Castelão) e o prédio do Centro de Ciências Sociais, o afamado Pimentão, núcleo-base de Comunicação e de outros cursos como Direito, Serviço Social, Ciências Sociais, Pedagogia, Economia, Ciências Contábeis e Biblioteconomia.
A Área de Vivência do campus era quase uma segunda casa dos estudantes, com um grande salão para eventos e o R.U. ao lado; na foto, lançamento de livro de poesias de Moisés Matias
Nesse território, o ambiente universitário reverberava os grandes festivais de música transmitidos via TV até meados daquela década. Som, fúria, ternura, protesto, irreverência e, quem sabe, trampolim para uma carreira profissional na música. Havia interessados dentro e fora do ambiente acadêmico, e os festivais, com seus altos e baixos, ocuparam por alguns anos essa arena fértil da Universidade Federal do Maranhão. 1979, o I Fump – Um homem no meio da sala O primeiro Festival Universitário de Música Popular, o Fump, ocorreu no segundo semestre de 1979, em meio às manifestações em defesa da meia passagem no transporte coletivo de São Luís. Protagonistas do movimento, estudantes da UFMA, entre desconfiados e em permanente estado de alerta, apesar das aulas 64
Fotos e contribuições de datas e dados: arquivos dos jornais “O Estado do Maranhão” e “O Imparcial”, Jarbas Lima, José Luís Diniz, Wal Oliveira, Bel Aquino, Moisés Matias, Celso Reis, Magno Moraes, Norma Passos e Celijon Ramos.
suspensas pela reitoria, enxergavam aqui e ali a sombra da Polícia Federal. A ditadura militar ainda viva ora provocava medo na juventude, ora a empurrava para embates e passeatas. A música era o caminho menos traumático para o protesto. Mesmo com a censura à espreita, as letras das canções que embalaram o I Fump carregavam no teor da mensagem política. Racismo, raízes africanas, desigualdades sociais, opressão e o isolamento do Nordeste eram temas presentes na maioria das músicas inscritas no I Fump. No palco do campus estavam nomes como José Pereira Godão, Rogério do Maranhão, Norberto Noleto (que levou ao palco a canção “Papagaio”), Raimundo Makarra (com a toada “Novilho mágico”) e Zezé Alves. Como em qualquer festival de música, a polêmica ficou reservada para a etapa final, com a classificação pelo júri oficial da canção “Sentinela”, de José Pereira Godão, interpretada por Gabriel Melônio (com Eliane no vocal), em primeiro lugar. Em verdade, a música era de autoria de Godão e César Teixeira, que não assinara a composição por uma exigência do regulamento do festival: apenas alunos da universidade poderiam concorrer; e César, àquela altura, ainda não havia chegado aos bancos da UFMA. Antes do resultado, porém, os concorrentes tentaram uma espécie de “acordo”: não haveria vencidos ou vencedores para o quesito aclamação popular, e o prêmio seria compartilhado entre os finalistas. A ideia era dizer não ao caráter competitivo do evento, à velha fórmula dos festivais tradicionais. Na prática, a premiação seguiu o rito da tradição. No final das contas, o público elegeu como melhor música “Negritude”, de Cunha Santos, interpretada por ele e a irmã Val Moreno. “Sentinela” (José Pereira Godão e César Teixeira) Havia um homem no meio da sala Os braços cruzados caídos no peito E havia uma vela, um santo e uma flor Na sombra da vela, um grito de dor Por certo o castigo dos deuses do céu Quem sabe uma força maior que a razão E a pobre viúva curvada na rede Espera um milagre com o terço nas mãos Umbora meu filho, que os demônios te esperam Pelos muros no escuro da manhã... Leva os teus delírios, ferramentas pra lutar Que o teu brilho, que brilho, vencerá! (depois da apresentação original no I Fump, a letra de “Sentinela” ganhou duas outras versões: uma de César Teixeira, outra de Godão adaptada para o espetáculo “Natalina”)
Após o I Fump, o festival de música do campus entrou no limbo por sete anos. Por falta de incentivo da universidade. E pelas limitações estruturais do Diretório Central dos Estudantes, a quem de fato cabia a organização do evento. A música era um ingrediente que fazia bem ao cardápio do movimento estudantil, afinal atraía a simpatia dos universitários avessos à política. Era uma tática de aglutinação da militância. Esse hiato musical fora interrompido no dia 17 de dezembro de 1985, quando surgiu a primeira edição do projeto Sexta Seis e Meia, idealizado pelo DCE, da recém empossada gestão “Alerta: jacaré parado vira bolsa”, que tinha entre os diretores Arlete Borges (presidente), Aníbal Lins (secretário geral), Celso Reis (secretário de cultura), Márcio Jerry Saraiva Barroso (secretário da área de Ciências Sociais) e Cláudia Durans (secretária de estágio). 1986, o II Fump – A vida é trampolim O projeto Sexta Seis e Meia foi o embrião do II Festival Universitário de Música Popular. Pelo palco do auditório “Jarbas Passarinho”, no primeiro ano do projeto, passaram artistas como Betto Pereira, Nosly, Zeca Baleiro, Roberto Ricci, Ângela Gullar, Omar Cutrim, o grupo Asa do Maranhão e o mímico Gílson César, entre outros. “[o projeto Sexta Seis e Meia] Surgiu como uma alternativa para o movimento estudantil que precisava de um canal novo, de uma linguagem diferente que substituísse o já desgastado discurso na
base do chavão, e aproximasse mais os estudantes de suas entidades”, afirmava Deane Fonseca, da comissão de cultura do DCE, em entrevista ao jornal “O Estado do Maranhão” em novembro de 1986. “A gente precisava se virar, agitar alguma coisa criativa que espantasse um pouco esse clima terrível de apatia e tristeza aqui no campus”, dizia ela. Com o sucesso das seguidas edições do Sexta Seis e Meia e uma comissão especialmente criada para os temas de cultura, formada por Rai Vasconcelos (curso de Serviço Social), Deane Fonseca (Letras), Márcio Jerry (Comunicação), Claudete Brandão (Biblioteconomia) e Adelaide Coutinho (Educação Artística), o DCE dispunha de base para a realização de um novo festival de música. E assim veio a lume o II Festival Universitário de Música Popular, com eliminatórias nos dias 26 e 27 de novembro e finalíssima em 28 de novembro de 1986. Sob a direção do produtor cultural Jorge Capadócia e com apoio da Universidade FM, do Departamento de Assuntos Culturais e Associação dos Professores da UFMA, o II Fump deixava um alerta aos candidatos, antes mesmo da inscrição: só poderiam participar do festival compositores que ainda não tivessem músicas gravadas em disco. O texto do projeto realçava o ufanismo impregnado na estrutura do festival. “Poucas manifestações artístico-culturais brasileiras são tão expressivas quanto a nossa música popular, que assume em seu substrato elementos oriundos das três grandes raízes da nossa civilização: o branco, o negro e o índio. Com efeito, os componentes dessas três raízes, tão diferentes entre si, encontram-se reunidos, com rara felicidade, nessa expressiva, riquíssima e vibrante forma de manifestação da alma do nosso povo”, asseverava a organização do festival. O texto coincidia com a pouca inventividade das canções concorrentes, mais próximas dos modelos já exaustivamente brandidos nos festivais da TV. Aparições folclóricas, melodias repetitivas e letras com pitadas de regionalismo. Das 78 composições inscritas, o júri formado por César Teixeira, Chico Pinheiro, Wellington Reis, Francisco Padilha e Celso Borges selecionou 25 músicas para as duas eliminatórias, assim distribuídas: Primeira eliminatória “Igarité”, de Jorge do Rosário, Augusto Anceles e Antônio Marco; “Terra e paz”, de Jockson Launé Macedo; “Quase livre”, de Darlan Andrade e Benedito Júnior; “O que é, o que é”, de Naldinho Pinheiro; “Águas claras”, de Ricardo Goulart e Henrique Duailibe; “Toada alegre”, de Frederico Américo de Oliveira; “Préla”, de Norberto Noleto; “Berimbau chamou”, de Edilson Ferreira Mendes; “Pontes, parceiros e partes”, de Mano Borges, Marco Duailibe e Edinho Habibe; “Tripa seca”, de Sebastião Carnégie, “Bamba, beleza da Ilha”, de Kilner, Nonato e José Antônio; “Jardim de cores”, de Hélson Rodrigues; “Resposta para quem fala mal de mim”, de Gerô. Segunda eliminatória “Despertar”, de Flávio Barbosa Pinheiro; “Filho da lua”, de Ângela Gullar e Omar Cutrim; “Ponta d’Areia”, de William Pereira dos Anjos e Maninho; “Flor de liberdade”, de Karina Vaz Guimarães; “América Latina”, de Erivelton Lago; “Esperança”, de Ubiraci Silva Nascimento; “Conquistar”, de Dênis Marques; “Fim”, de Márcia Santos; “Estopim”, de Antônio Alfredo Fonseca e Sérgio Pinto; “Querubim”, de Zeca Baleiro; “Samba diferente”, de Lula Bossa; “Pulsação”, de Domingos Santos e Yara Campos.
Plateia atenta aos concorrentes do II Fump
Da primeira eliminatória, realizada no auditório “Jarbas Passarinho”, com ingressos ao preço de cinco cruzados (moeda criada no governo do então presidente José Sarney), foram classificadas as músicas “Igarité”, “Préla”, “Pontes, parceiros e partes”, “Bamba, beleza da ilha” e “Resposta para quem fala mal de mim”. Da segunda eliminatória, também no palco do “Jarbas Passarinho”, saíram as canções “Filho da lua”, “Ponta d’Areia”, “Flor de liberdade”, “América Latina” e “Querubim”. Na finalíssima, aberta ao público na área livre do Pimentão, Zeca Baleiro levou o primeiro lugar (oito mil cruzados) com “Querubim”, música que também deu a Fátima Passarinho o prêmio de melhor intérprete (dois mil cruzados). Em segundo lugar (cinco mil cruzados) ficou “Igarité”, de Jorge do Rosário, Augusto Anceles e Antônio Marco, interpretada por Rosa Reis e o pessoal da Laborarte, canção que também levou o prêmio de melhor arranjo (dois mil cruzados). E em terceiro lugar (três mil cruzados) o júri classificou a música “Filho da lua”, de Ângela Gullar e Omar Cutrim, interpretada por Ângela.
Fátima Passarinho e Zeca Baleiro na interpretação de "Querubim"
“Querubim” (Zeca Baleiro) feito passarim subir as tores de marfim estrela de brilho carmim assim assim doce com cravim água de “xêro” de alecrim abre tuas asas sobre mim guarda tua luz de alfenim traz de san martim um travo de amendoim mais um enfeite de morim no teu cabelo pixaim um beijo de festim com lua nova até que enfim comer beiju beber cauim pra lá de quixeramobim adiar o fim pintar a casa e o camarim de celofane e de cetim sim não não sim hálito de gim saúde de tupiniquim deita teu corpo no capim faz sol se o tempo for ruim vem meu querubim me faz amor me faz do-in costura meu terno de brim vida é trampolim planta no xaxim incenso mirra e benjoim foi pra te ver sorrir que eu vim abrir as portas do jardim e verdejar
Erivelton Lago defendeu "América Latina"
Definidos os vencedores, o show de encerramento do II Fump ficou por conta de Nosly, Josias Sobrinho, Roberto Ricci, Gabriel Melônio e Cláudio Pinheiro. “O sucesso do festival é também uma prova inconteste da vitalidade do movimento estudantil”, comemorou Márcio Jerry, logo após a divulgação do resultado. E com um certo alívio. O II Fump chegara ao fim, apesar do pouco dinheiro e muita conta pra pagar: prêmios aos vencedores, cachê para júri, músicos da banda e artistas convidados para a final, além de despesas com som, palco e iluminação. “O que os políticos gastam em suas campanhas e não estão nem aí... Mas eles não apoiam esse tipo de iniciativa. Sempre é o orçamento que já estourou ou outra desculpa. Tratam-nos como se estivéssemos pedindo esmolas. Não são sinceros nunca”, desabafou Deane Fonseca em reportagem de Ademar Danilo no jornal “O Estado do Maranhão”. Em texto publicado no jornal “O Imparcial” em dezembro de 1986, o produtor Jorge Capadócia chamava a atenção dos “novos talentos” para que fossem “mais criteriosos na elaboração de suas músicas” inscritas em festivais. Sinal de fumaça na banca de jurados? Talvez. Do festival ficou a revelação, para além dos muros do campus, de novos nomes na música maranhense - alguns deles já bem experimentados no circuito acadêmico, mas ainda desconhecidos lá fora. Com “Querubim”, Zeca Baleiro embolava trigo, joio e carmim e emprestava ao festival um fermento de modernidade. Embalado pelos louros do festival, Márcio Jerry foi às urnas poucos dias depois de encerrado o II Fump. Com a eleição no DCE marcada para o dia 10 de dezembro, Jerry concorria à presidência da entidade pela chapa “Axé”, apoiada por Arlete Borges e umbilicalmente ligada à corrente Construindo, do Partido dos Trabalhadores (PT). Na outra ponta estava a estudante Lúcia Helena, liderando a chapa “Menos blá-blá-blá e mais ação”, ligada à corrente Viração do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Em 1986 havia pouco mais de 7 mil alunos matriculados na UFMA, dos quais cerca de 4 mil frequentavam aulas regularmente. E, destes, apenas 2.675 estudantes decidiram ir às urnas para eleger a nova diretoria do DCE.
Integrantes da chapa "Axé" em plena campanha: Márcio Jerry, Aristeu, Flávio Dino, Paulo de Tarso, João de Deus, Rai Vasconcelos, Dimas Salustiano e Magno Moraes
Cenário do campus nas eleições para o DCE
Como sinal do forte efeito do festival de música, as principais bandeiras da chapa “Axé” foram “a liberdade de criação, o compromisso com a arte maranhense e o fim do autoritarismo na universidade”. Fazia parte do plano a luta pela manutenção do restaurante universitário, o R.U., ameaçado de fechamento pela reitoria da UFMA sob a alegação de falta de recursos. Sem restaurante, de barriga vazia, não haveria revolução, liberdade de criação ou compromisso com festivais. Os estudantes queriam diversão e arte, mas também comida. A chapa “Axé”, que tinha em seus quadros o estudante de Direito Flávio Dino, saiu-se vencedora da eleição com uma boa diferença de votos. A nova diretoria do DCE tomou posse no dia 19 de dezembro na Área de Vivência do campus. 1987, o III Fump – “Quero ser governador!” Com a fórmula pronta, e novamente com o apoio discreto do Departamento de Assuntos Culturais da
UFMA, em novembro de 1987 o DCE deu início ao III Festival Universitário de Música Popular. Duas eliminatórias, nos dias 19 e 20 de novembro, e uma finalíssima no dia 4 de dezembro. O júri préclassificatório, formado por Joãozinho Ribeiro, César Teixeira, Wellington Reis e Chico Pinheiro, teve bastante trabalho para escolher 24 músicas entre as 150 composições inscritas. As duas eliminatórias ficaram assim definidas por sorteio do júri: Primeira eliminatória “Sírius”, de Celso Reis; “Cavaleiro do Rei”, de Norberto Noleto e Valdivino Brás; “Salve-se quem puder”, de Naldinho Pinheiro; “Calendário”, de Gilberto Benvindo; “Trilha, trilha... Solidão”, de William Pereira dos Anjos e Maninho; “Solidão”, de Saci Teleleu e Jorge do Rosário; “Gota de lágrima”, de Augusto Bastos; “Gritos”, de Zezé Alves e Paulinho Lopes; “Quero ser governador”, de Gerô; “Raça”, de Roberto Ricci; “Lua”, de Maurício Ewerton Filho; “Fátima”, de Raimundo Alberto Teixeira Moraes. Segunda eliminatória “Esperando a manhã”, de José Antônio Forty; “Razão da terra”, de Zezinho Chagas; “Dança”, de Augusto Anceles e Jorge do Rosário; “Rei Momo”, de Flávia Costa; “Uma palavra”, de Mano Borges e Marco Duailibe; “Viajeiros do som”, de Benedito Júnior e Darlan Andrade; “Parnarama”, de Gilberto Benvindo; “Punk papista”, de Erivaldo Gomes; “Fotografia”, de Flávio Pinheiro; “Rapsódia”, de Rodney Mariano e Salgado Maranhão; “Educando”, de Eliazar de Carvalho; “Catamarã’, de Alzira Amélia.
O festival não era, àquela altura, o melhor caminho para a produção musical maranhense, na avaliação do presidente do DCE. Márcio Jerry condenava o aspecto competitivo dos festivais que, segundo ele, reproduziam “a ideologia de disputa comum em todos os segmentos da sociedade”. Na teoria, a saída era a promoção de grandes mostras de arte na universidade, com oportunidade de exibição livre de trabalhos artísticos, sem o olhar falível de um júri. Mas a teoria não pagava a conta dessas alternativas edênicas. E não fechava o caixa do DCE! Na prática, a UFMA vivia aquele período em estado de greve. Funcionários de braços cruzados, em luta por reajuste salarial, e professores e alunos em campanha por eleições diretas para reitor da universidade. “Não podemos passar mais quatro anos com um reitor biônico”, diziam os dirigentes estudantis inconformados com a longevidade de José Maria Cabral Marques no Palácio Cristo Rei, a sede da reitoria da UFMA. Com as ameaças de greve, corredores quase esvaziados e um cenário político tenso na UFMA, o DCE decidiu não correr riscos. Trocou o ambiente fechado do auditório “Jarbas Passarinho” pela praça principal do campus, com acesso livre para estudantes e comunidade. O III Fump, com direção musical e coordenação de Henrique Duailibe e Jorge Capadócia, contou com uma banda-base de acompanhamento formada por Maninho (guitarra e viola de dez cordas), Cláudio Ribeiro (baixo), Jeca (percussão) e Fleming (bateria). Henrique Duailibe (teclados), responsável pelos arranjos da maioria das músicas, também assinou o tema de abertura do festival.
Sem “reserva de mercado” imposta no regulamento, das 24 músicas selecionadas preliminarmente pelos jurados, apenas oito composições tinham o dedo de estudantes da UFMA. Para o show da primeira eliminatória foram escalados os artistas Fauzi Beydoun e Roberto Brandão. Na segunda eliminatória cantaram Joãozinho Ribeiro e César Teixeira. E na finalíssima, o convidado do DCE a subir ao palco, no intervalo que antecedeu a divulgação do resultado, foi o vencedor do II Fump, Zeca Baleiro. Os jurados Edir Lobato, Joãozinho Ribeiro, Sônia Almeida, Chico Pinheiro e Ângela Gullar escolheram as seguintes músicas como vencedoras do III Fump: 1o lugar – “Sírius”, de Celso Reis, uma toada de bumba-meu-boi no sotaque de orquestra; 2o lugar – “Uma palavra”, de Mano Borges e Marco Duailibe; 3o lugar – “Raça”, de Roberto Ricci. E mais: melhor intérprete – Rita Ribeiro (hoje Rita Benneditto) e Raimundo Alberto Moraes, por “Cavaleiro do Rei”; e 1o lugar por aclamação popular – “Dança”, de Augusto Anceles e Jorge do Rosário.
“Sírius, a estrela cintilante” (Celso Reis) O teu amor morena Me mata de saudade Deixa o meu coração Como noite de luar Tem brilho de estrela cintilante No azul celeste Onde a terra se veste Da mais rica criação Vem meu amor Ser a menina Do teu cantor És bailarina Os teus olhos Têm o verde da campina
Celso Reis e o seu indefectível chapéu
Em 6 de dezembro de 1987, dois dias depois da finalíssima, o jornalista Sérgio Castellani, frequentador reincidente de maratonas etílico-culturais do campus, publicou artigo no jornal “O Estado do Maranhão” tecendo provocações acerca do III Fump. Sob o título “Um festival polêmico”, de saída o texto atirava na exagerada calmaria que cobria de assombro o circuito das artes em São Luís: “Esta cidade estava tão
monótona, tão acostumada a ficar quieta com as dezenas de absurdos que já viraram rotina...”. Segundo o jornalista, um festival de MPB “em que tudo é mascarado e direitinho não interessa a ninguém”. Pequenas fraturas expostas refletidas no olho nu da plateia. O III Fump não conseguiu escapar da boa polêmica, uma espécie de marca registrada dos festivais de música. Eis alguns trechos do artigo de Castellani: “O problema não é o Festival em si, mas sua estrutura, sua tendência ao eleger o ‘melhor’. Mas, melhor de quem? De um júri que nem sabemos quem é? De pessoas ‘capacitadas’ para dizer: esta é a melhor música, esse o melhor intérprete?” “A verdadeira arte é muito superior a critérios do que é melhor ou pior – ela é em sua essência a verdadeira arte” “O III Fump mostrou também a mediocridade da aparelhagem de som disponível em São Luís. A ‘melhor’ e mais ‘potente’ se viu bloqueda/fundida com a incompetência em manuseá-la. Foi assim que Zeca (que puta show, hein meu!), Fátima Almeida, Augusto e tantos outros, ao invés de cantarem, botaram a boca no mundo para falar... E sempre é bom saber que os músicos daqui pensam e também sabem protestar, chiar, exigir melhor qualidade...” “E isto só foi possível com a realização do III Fump, e com o trabalho das pessoas que o fizeram acontecer. Foi Jorge [Jorge Borges], Raimunda [Rai Vasconcelos], Márcio [Márcio Jerry], Flávio [Flávio Dino], e tantos outros...” “É necessário salientar, mais uma vez, a inoperância da administração da UFMA. Cumprindo fielmente seu papel a serviço da burguesia, cria cada vez mais obstáculos para o surgimento de espaços. E isto o DCE – com falhas – conseguiu criar” “Pra terminar, um parabéns para Roldney Mariano e Salgado Maranhão, pela música ‘Rapsódia’. Uma coisa boa pintou...”
Castellani atirou no que viu e acertou em alvos previsíveis, como a onipotência do júri, a deficiência técnica dos equipamentos de som, falhas na organização do festival e a falta de boa vontade do reitor. Mas a mira alcançou também aquilo que poucos ali conseguiam enxergar: de um lado, criações medianas, prontas para uma competição de banca; de outro, o ativismo político na UFMA a serviço da cultura, e voos solares como a poesia de Salgado Maranhão e a música de um quase anônimo Zeca Baleiro (que na época assinava apenas como Zeca). “A indignação, a revolta e o protesto só podem existir agora porque algo aconteceu, algo existiu”, apontava Castellani, com seu improvável calibre cheio de razão.
1988, o ano sem Fump - Um festival fora do eixo Em 1988 estava à frente do DCE o triunvirato Flávio Dino, Jefferson Portela e Douglas Melo. A gestão “Desacato” era o resultado de uma costura política entre grupos dissidentes dentro do movimento estudantil da UFMA. No acordo pré-eleitoral, juntaram-se numa mesma chapa as correntes Articulação (Flávio), Juventude Venceremos (Jefferson e Douglas), Semeando (Dimas Salustiano) e Caminhando (Wal Oliveira e Eri Castro), satélites do PT dentro da universidade. A colcha de retalhos no campo político não avançou no plano cultural. Depois de duas edições seguidas, o Festival Universitário de Música Popular fora interrompido naquele ano. Com o vácuo do DCE e uma enxurrada de música represada entre a classe artística e os palcos minguantes de São Luís, a Secretaria de Cultura do Governo do Maranhão promoveu, de 14 a 17 de dezembro de 1988, o Festival de Música Popular Maranhense. Fora do eixo universitário, o festival chamou a atenção de compositores, músicos e intérpretes, alguns deles do interior do Maranhão (como Imperatriz, Caxias, Bacabal, Codó e Rosário), com quase 300 canções inscritas na fase pré-classificatória. A comissão organizadora formada por Sérgio Habibe, Wellington Reis, Tácito Borralho e Betto Pereira optou pelo Parque Folclórico da Vila Palmeira para a apresentação das 30 músicas selecionadas por um júri técnico criado especialmente para esse fim. As concorrentes ficaram assim divididas em três blocos de eliminatória: Primeira eliminatória “Cada um por si”, de Cleto Júnior e Ronald Pinheiro, com Válber (ex-vocalista do Nonato e Seu Conjunto);
“Musa da favela”, de Paulo Henrique Nascimento; “Brincante”, de Inaldo Aragão; “Noves fora”, de Nosly e Zeca Baleiro; “Beija-flor”, de Orlando dos Santos; “Axé”, de Roberto Rafa; “Mistura brasileira”, de José Maria de Carvalho; “Avessa manhã”, de Tutuca e Reinaldo Barros, com J. Nogueira; “Dança dos pavios”, de Carlos Monteiro; “Viagem a Moscou”, de Célia Leite, Antônio Carlos Alvim e Francisco Florêncio, com Célia Leite. Segunda eliminatória “Já não somos mais um par”, de César Nascimento, com Renata Nascimento; “Ponha merengue”, de Omar Cutrim; “Calça frouxa”, de Cláudio Valente; “Fuzarca”, de Luís Henrique Bulcão, com Roberto Brandão, Rosa Reis, Fátima Passarinho, Rita Ribeiro, Inácio e Cláudio Pinheiro; “Lua branca”, de Augusto Bastos e José Raimundo Gonçalves; “Radiante”, de Jorge do Rosário; “Canção para inglês ver No 2”, de Zeca Baleiro e Norberto Noleto; “Ser vida”, de Roberto Ricci e Lígia Saavedra, com Lígia Saavedra; “Olho d’Água”, de Raimundo Nonato de Souza; “Ai lovi iú ou cantiga da roça”, de Marco Duailibe. Terceira eliminatória “Ave de arribação”, de Xavier Santos, com Neném Bragança; “Mãe dos aflitos”, de Mário Lúcio e Eduardo dos Santos; “Natividade”, de Lourival Tavares; “Ribanceiras”, de Zeca Tocantins; “Última oração”, de Benedito Júnior e Darlan Andrade; “Abolição”, de Luís Carlos Dias; “Sol e luar”, de Edine de Jesus Carvalho; “Mulenge”, de Celso Reis e Nosly, com Celso Reis; “Dia de São João”, de Ricardo Goulart; “Rosa negra”, de Norberto Noleto e Hênio Moreira, com Fátima Passarinho.
No acompanhamento de todas as músicas concorrentes estava a banda Voo Livre, composta por William (bateria), Eliézer (teclados), Cleômenes (metal), Nonato (percussão), Oberdan (guitarra base), Edinho (guitarra solo) e Gordura (contrabaixo). A finalíssima, no dia 18 de dezembro, contou com jurados de peso, como o compositor, poeta e produtor musical Hermínio Belo de Carvalho; o compositor Nonato Buzar; os produtores musicais Carlos Sion (RCA) e Jamil Filho (Som Livre); o cantor e compositor Vitor Ramil; e o poeta e compositor Carlos Capinan, então secretário de Cultura da Bahia. Ao final do julgamento, assim ficou a classificação das músicas vencedoras do Festival Maranhense de Música Popular: 1o lugar – “Rosa negra”, de Norberto Noleto e Hênio Moreira; 2o lugar – “Mulenge”, de Celso Reis e Nosly; 3o lugar – “Noves fora”, de Nosly e Zeca Baleiro. “Fuzarca”, de Bulcão, recebeu o prêmio de melhor pesquisa. Celso Reis e Fátima Passarinho levaram o prêmio de melhores intérpretes, na avaliação do júri. Zeca Baleiro e Norberto Noleto receberam o prêmio de aclamação popular com “Canção para inglês ver No 2”.
“Rosa negra” (Norberto Noleto e Hênio Moreira) Na mão direita uma roseira Na outra um alçapão Rato no queijo
Faca na mão Nessa roseira cada espinho Não é mais que uma canção Olhos nos olhos Boca na boca Corpos no chão Na ratoeira caiu aflito Nas grades da solidão Bala com bala Nada com nada A lei do alçapão Nessa roseira tem cada bicho Roendo meu coração Olho por olho Dente por dente Põe tua máscara na mão
Seis meses depois, intérpretes das 12 músicas com melhor classificação no festival tomaram um ônibus com destino ao Rio de Janeiro para a gravação de um LP patrocinado pela Secretaria de Cultura do governo maranhense. O disco foi gravado durante cinco dias, em junho de 1989, no estúdio Master, com direção musical e arranjo de José Américo Bastos e produção de Sérgio Habibe e Wellington Reis. Se o festival propriamente dito não causou grandes polêmicas – embora se tenha criticado o excesso de músicas concorrentes, o amadorismo em algumas letras e melodias e, mais uma vez, a qualidade da aparelhagem de som -, a demora na conclusão do projeto do LP deu o que falar. No dia 23 de novembro de 1989, quase um ano depois do festival, os artistas que gravaram suas músicas no LP foram pedir explicações à Secretaria de Cultura sobre o paradeiro do disco. “Cadê o disco?”, “por que ainda não saiu?”, foram algumas das questões levantadas por Roberto Brandão, Célia Leite, Fátima Passarinho, Celso Reis, Neném Bragança, Zeca Baleiro, Nosly e outros. Depois de seis dias de estrada, no trecho São Luís/Rio/São Luís, eles exigiam uma resposta do governo. E a resposta veio por meio do secretário Américo Azevedo Neto (que não estava no governo à época do festival): o disco foi gravado, mas não há recursos para mixagem, prensagem e impressão de capa. No dia seguinte à reunião, o jornalista Raimundo Garrone publicou reportagem no jornal “O Estado do Maranhão”, sob o título “Um disco perdido no espaço”, expondo o calvário dos artistas e o calote do festival. “O certo é que, passado tanto tempo, os artistas não estão mais a fim de ficar olhando para o céu esperando cair algum disco”, concluía Garrone. Outras reuniões, mais pressão no governo e, no final das contas, ninguém sabia dizer aonde estavam os recursos reservados para a produção do disco, previstos no projeto do festival. O LP, com projeto gráfico da capa assinado por Cláudio Vasconcelos, só chegou às mãos dos artistas em outubro de 1990, dois anos depois da realização do festival.
Três flagrantes do dia do encontro dos artistas com representantes da Secretaria de Cultura do Maranhão; na primeira foto, Roberto Brandão, Célia Leite, Zeca Baleiro, Nosly e Fátima Passarinho
Cantores e compositores em reunião com Américo Azevedo Neto: cadê o disco?
Wellington Reis dá explicações sobre o paradeiro do LP
Capa do LP do festival de 1988: dois anos depois
1989, o IV Fump – Girassóis nos jardins do IML Ao final do mandato de um ano do grupo “Desacato”, no DCE, em 1989 entrou em cena a gestão “Lutar é bom e não tem contraindicação”, a última da década, seguindo o mesmo formato de um acordão entre correntes políticas forjado na eleição anterior. Laurinda e Isael Gomes foram eleitos coordenadores do Diretório Central dos Estudantes numa chapa que tinha, entre outros, Pedro Duailibe, Jokcson Launé, Jarbas Lima, José Luís Diniz e Aracéa Carvalho como secretários de área.
Um dos principais desafios dos novos gestores foi a retomada dos projetos culturais dentro do campus, como importante ponto de contato entre a militância e a base do movimento estudantil. Assim, o DCE escalou uma comissão para cuidar especialmente da organização do festival de música. Sob a responsabilidade do secretário de cultura da entidade, Jarbas Lima, a comissão contava também com José Luís Diniz (secretário de imprensa), Aracéa Carvalho e Laurinda Pinto. Das primeiras reuniões na sala do DCE, e após entendimentos preliminares com o Departamento de Assuntos Culturais da UFMA, nasceu o IV Fump, com duas eliminatórias programadas para os dias 19 e 20 de outubro de 1989. A novidade criada naquele ano foi o local escolhido como palco do festival. Nem o auditório “Jarbas Passarinho”, a área livre do Pimentão ou a praça central do campus. O DCE armou a tenda do IV Fump ao lado do prédio do Instituto Médico Legal (IML), logo na entrada do campus. A alternativa, afora algumas críticas quanto ao entra e sai de rabecões da vizinhança, deu à universidade a pintura de um parque apropriado para grandes manifestações culturais.
A banda e os mestres de cerimônia Lio Ribeiro e Silvana Cartágenes, no IV Fump
A área, porém, pareceu ampla demais para uma plateia mais enxuta em razão de greve no sistema de transporte público. Os estudantes também andavam dispersos. Era outubro, mas a universidade estava ainda em clima de final do primeiro semestre letivo devido à paralisação de professores e funcionários no início do ano. Em entrevista publicada no jornal “O Estado do Maranhão” do dia 22 de outubro, o secretário de imprensa do DCE, José Luís Diniz, queixava-se da intransigência da empresa de sonorização contratada para o festival, a Bacanga, e da falta de envolvimento do diretório nas atividades do evento. “Ficou nas costas de duas ou três pessoas”, reclamava Diniz, que carregaria o piano com Jarbas Lima, e contaria com apoio providencial de Bel Aquino. Certas diferenças políticas dentro do DCE apostavam no fiasco do festival. No livreto com a apresentação das letras das canções selecionadas, o texto de Jarbas Lima chamava a atenção para os objetivos do IV Fump. O festival, segundo ele e toda a diretoria do DCE, deveria ser um instrumento cultural de crítica, expressão e conhecimento da comunidade universitária. Aquela arena musical serviria também, na definição de Jarbas, para a confraternização entre estudantes e a vivência de um momento lúdico em que estariam presentes “o amor e a criatividade imanentes da própria natureza humana”. Ao pé da letra, a plateia poderia, além de apreciar as músicas, deitar e rolar na grama pelos arredores do IML. As 24 canções classificadas, entre as 53 composições inscritas, foram divididas em duas eliminatórias, cada uma delas com 12 músicas, conforme abaixo: Primeira eliminatória
“Nirvana”, de Marco Cruz; “A cachoeira”, de Alan Jorge e Jorge Lóton; “Ciranda de girassóis”, de Carlos Wagner Lima Bastos; “Filhos da Lagoa”, de Manoel Matos e Márlon Reis; “Estática”, de Benedito Júnior e Darlan Andrade; “Sorriso de criança”, de Marcos Lima; “Mãe d’água”, de Chico Poeta; “Desanuviar”, de Princesa Blues; “Vai embora, gigolô”, de Valbelina Fonseca; “Prole da promissão”, de Lourival Tavares, com José Carlos Daffé; “Canção para não viver só”, de Clécio, Gordo e Zé Hametério; “Como a lua e o sol”, de Jorge do Rosário. Segunda eliminatória “Boi coragem”, de Alan Jorge e Jorge Lóton; “Uma canção”, de Ivandro Coelho e Henrique; “Beijo de luz”, de Tutuca, Reinaldo Barros e César Nascimento; “Guará”, de Sérgio Brenha; “Filho de papai”, de Raelson e Luís Fernando Góis; “Pomba Gira Puerê”, de William Moraes Corrêa, com o Grupo Madrearte; “Mata virgem”, de Marco Cruz; “Meu país”, de Jorge do Rosário e João Otávio; “Sina de um poeta”, de José Carlos Silva; “Amazônia”, de Adalberto Parente; “Alma capoeira”, de Dias Filho; “Naufrágio”, de William dos Anjos e Maninho, com Carlinhos Badauê.
Capa do livreto com a programação do IV Fump, distribuído pelo DCE
No dia do anúncio das músicas classificadas para as duas eliminatórias, uma adolescente, ainda com o uniforme da escola e acompanhada da mãe, dirigiu-se à sede do DCE para conferir se a música que interpretaria estava na seleção do júri. E não estava. Anna Torres foi às lágrimas ali mesmo, inconsolável com a eliminação precoce do festival. Entre os jurados estavam Célia Leite, responsável pelo quesito melodia, e César Teixeira, com a incumbência de avaliar a letra das músicas. A novidade do IV Fump foi a inclusão do item “apresentação cênica” como critério de julgamento – em verdade, uma inovação em festivais de música até então. E, claro, houve reação de alguns artistas. Argumentavam eles que o Fump não era um festival de teatro. Não obstante
o ruído entre cantores, músicos e compositores, o quesito foi mantido e, para julgá-lo, a comissão organizadora escalou o radialista Roberto Fernandes. Na noite da primeira eliminatória, Zeca Baleiro, o vencedor do II Fump, levou ao palco um show descolado, sem regionalismos e provocador. Antes do show, os mestres de cerimônia Lio Ribeiro e Silvana Cartágenes avisaram que Zeca apresentaria a performance “A mulher que vira peixe”. O público, entre curioso e excitado, aguardou o número. Lá pelas tantas, Zeca apareceu no palco dando uma de “cego”, e Solange à frente “revirando” sardinhas numa frigideira que carregava em uma das mãos. De fato, era uma provocação do artista ao aguardado número “A mulher que vira peixe” do Gran Circo Mágico Alakazan, que naquele período estava em curta temporada no bairro da Cohab, em São Luís. Celso Reis, vencedor do III Fump, fez o show especial na segunda noite de eliminatória. E na finalíssima, em 26 de outubro, quem se apresentou no palco do festival foi Joãozinho Ribeiro, acompanhado da bandabase do festival, formada por Maninho (guitarra), Pepê Júnior (guitarra e violão), Cláudio Ribeiro (baixo), Fleming (bateria) e Arlindo Carvalho (percussão). Após o show de Joãozinho, a comissão julgadora anunciou os vencedores do IV Fump: 1o lugar – “Prole da promissão”, de Lourival Tavares, com Zé Carlos Daffé; 2o lugar – “Guará”, de Sérgio Brenha; 3o lugar – “Meu país”, de Jorge do Rosário e João Otávio. Sérgio Brenha também ganhou o prêmio de melhor intérprete. No polêmico quesito apresentação cênica, quem venceu foi o Grupo Madrearte, com a música “Pomba Gira Puerê”. Valbelina Fonseca conquistou o troféu aclamação popular com a música “Vai embora, gigolô”. E, por fim, o troféu revelação foi entregue a um andrógino Carlinhos Badauê, personagem do meio acadêmico que seduziu a plateia com a interpretação de “Naufrágio”, de William dos Anjos e Maninho.
Prole da promissão (Lourival Tavares e José Carlos Daffé) Quero que liberte o canto Pra que toda a América Possa navegar Quero ver o tapete verde Com o poder dos verdes Pra não mais zarpar Quando outro verde Deixar de brilhar É quando essa América Então despertar Vejo os castelos e as cercanias De desnutrição Vejo crescente os anseios Da prole da promissão Quando a certeza um dia chegar Muitas ovelhas hão de pastar
Das lições do festival universitário e de sua passagem pelo DCE, Jarbas Lima aponta a acentuada incompreensão da esquerda em relação à cultura. No festival, ele diz que essa incompreensão ficou ainda mais acentuada. Mas reconhece o legado do IV Fump em vários aspectos da música produzida no Maranhão. Alguns artistas, segundo ele, abriram portas para a carreira profissional na música após passagem pelas arenas da universidade, como Zeca Baleiro e Rita Benneditto. “Pela primeira vez, o Fump teve a participação de uma representante do Sá Viana entre as músicas concorrentes”, conta. A representante era Valbelina Fonseca, que soltou a voz e ganhou o público com o bolero “Vai embora, gigolô”. “Em 1989, às vésperas das primeiras eleições diretas pós-ditadura, os estudantes respiravam ares de expectativas democráticas. O IV FUMP significou uma retomada da criatividade e da
irreverência própria dos antigos festivais. Estávamos deslumbrados com as liberdades recémconquistadas. Vivemos esse clima no festival!” Jarbas Lima
Outros festivais vieram depois, mas o IV Fump foi o último do circuito universitário nos anos 1980. Essas três edições da década fizeram história. Geraram polêmicas como todo festival que se preze e deram visibilidade a iniciantes na música produzida no Maranhão. Se mais o Fump não contribuiu para a formação de quadros do movimento estudantil ou para uma “transformação social” por meio da música, como assim desejava a esquerda do DCE, pelo menos deixou nuvens de fumaça no ar e rastros de corpos suados que se perderam alegremente no chão do Bacanga.
Eu comunico e não peço O Pimentão tinha vida própria, meio Woodstock, meio praça de alimentação de shopping center. Na área livre do prédio, o diretório acadêmico de Comunicação armava o palco, uma vez por ano, para as atrações musicais e cênicas do Comunicarte. Reza a lenda que tudo começou em 1984 e se estendeu, no formato original, ao longo dos anos 1980. No período da tarde, as salas de aula eram ocupadas por oficinas de vídeo, fotografia, cinema, rádio, texto e poesia. Depois vinham os recitais poéticos de Francisco Júnior e de alguns Párias, espetáculos de dança contemporânea, números teatrais e mímica de Gílson César. Pelos arredores, remanescentes hippies trocavam miçangas por ervas milagrosas. Sobre a grama do Pimentão os estudantes viviam em festa - ou encontravam pretextos pra quebrar a rotina das salas de aula, com jogos de cartas, teatro, protestos e até um anticoral. O pequeno Marivando Pereira, a quem os motoristas de boa fé deviam justa reverência, era o chefe mirim da segurança dos automóveis ali estacionados, e apreciava os shows que se estendiam pela noite. Dava pra juntar uns trocados. Quem não gostava mesmo do barulho era a professora Alaíde Pavão, temida por gerações de alunos que passavam pelo curso de Direito. O som de guitarras e baterias desviava a atenção da aula noturna. Para ela, o Comunicarte não passava de um “mafuá” de desocupados, como certa vez chegou a classificar o festival em documento encaminhado à reitoria da universidade. Enquanto Alaíde Pavão se queixava pro bispo e aplicava provas de Direito Penal, o personagem Badauê dançava da primeira à última música, requebrava no palco e ainda cantava trechos de “Esse cara”, incorporando o desbunde tropicalista de Caetano Veloso: “Ah, que esse cara tem me consumido...”. Nos dias 23 e 24 de outubro de 1986, o 3o Comunicarte veio a lume sob a batuta do diretório acadêmico de Comunicação Social, gestão “Ribalta”, comandado por Pandora Dourado (presidente), Caíque Cardoso, Ferreira Júnior, Maristela Sena, Vânia Rego e Jaqueline Heluy, entre outros. Na programação, oficinas de criação coletiva, feira de livros, concurso de poesia, discussões sobre fotografia com Paulo Socha e batepapo acerca da produção audiovisual do Maranhão com Ubaldo Moraes e Euclides Moreira Neto. E mais: recital da Akademia dos Párias e show com os artistas Cláudio Pinheiro, Tutuca, Célia Leite, Mano Borges, Gerude e Jorge Thadeu. Também como parte da agenda do 3o Comunicarte, o professor Nilson Amorim lançou o livro de poesias “Contradança”. A irreverência do “correio elegante”, número protagonizado pela estudante Lisiane Costa que estimulava a troca de bilhetinhos amorosos entre os frequentadores da relva do Pimentão, marcou alguns momentos do Comunicarte. Entre 1986 e 1989 foram quatro edições do evento. Um pé na arte tradicional, nas raízes da cultura, no componente da chamada música popular maranhense, ainda incipiente, com poucos discos na praça. Outro pé em expressões menos convencionais, nas experimentações daquele momento, como o espetáculo de teatro e música “Miragem”, com Geraldo Iensen e Charles Melo. Um misto de laboratório acadêmico, feira livre e farra para estudantes interessados em quebrar as armaduras do campus. O Comunicarte era um Fump reinventado, mais intimista, com música entre amigos, sem concorrentes, sem o tradicional corpo de jurados. Foi mais celebração, menos cachê, menos prêmio. Muitos artistas passaram pelo palco por mera camaradagem, pelo trabalho novo que precisava de plateia, pela sinergia com o público
universitário. A maioria deles, jovens iniciantes na música como Zeca Baleiro, Mano Borges e Celso Reis – ou as bandas de rock pesado Ácido, Iceberg e Nirvana -, ainda vivia o sonho distante de uma música gravada em LP.
Panorâmica do Comunicarte: preparativos para uma tarde/noite de shows no palco-Kombi improvisado na área livre do Pimentão
Oficina de vídeo do Comunicarte: Beto Matuk dirige documentário com reportagem de Valquíria Santana
Fump e Comunicarte são frutos de um mesmo movimento estudantil esfacelado, mas vivo, que com certo barulho perdurou pelo campus do Bacanga durante os anos 1980. Na contramão das prioridades da esquerda universitária, os dois eventos serviram de usina e brisa para artistas sem amarrações, ali empoderados, e de válvula de escape para estudantes indiferentes à política dos diretórios acadêmicos. Se havia fumaça, havia fogo. Era a política da militância, com todas as incongruências internas e vicissitudes, quem encontrava o caminho da pólvora e acendia o pavio. Notas de rodapé O primeiro festival de música no Maranhão ocorreu em 1971, promovido pela Prefeitura de São Luís na gestão de Haroldo Tavares. Com o nome de I Festival da Música Popular Brasileira no Maranhão, e dirigido
por Américo Azevedo Neto, então secretário municipal de Turismo, o concurso contou com três eliminatórias no Ginásio Costa Rodrigues e os finalistas tiveram suas músicas incluídas em um LP. No disco, gravado no Rio de Janeiro com direção musical do maestro Paulo Moura, constam músicas como “Boqueirão”, de Giordano Mochel, “Louvação de São Luís”, de Bandeira Tribuzi, “Bonzo”, de Ubiratan Souza e Souza Neto, “Ladeira”, de Oberdan Oliveira, “Sem compromisso”, de Ronaldo Mota, e “Fuga e anti-fuga”, de Sérgio Habibe.
Capa do LP do festival de 1971
****** Algumas escolas particulares de São Luís, como Dom Bosco, Marista e Santa Teresa, realizaram festivais de música nos anos 1980. Em 1983, a rádio Mirante FM e a TV Ribamar promoveram o I Festival de Verão da Música Maranhense, com eliminatórias no Ginásio Costa Rodrigues e a grande final no Estádio Nhozinho Santos. Dele participaram José Pereira Godão, Cláudio Pinheiro, Gabriel Melônio, Raimundo Makarra e Ubiratan Teixeira, entre outros. ****** Em 1985 foi a vez do Festival Viva, organizado pela Secretaria de Desportos e Lazer do Governo do Maranhão. “Oração latina”, música de César Teixeira interpretada por Cláudio Pinheiro e Gabriel Melônio, foi a vencedora do festival, que também contou com a participação de Fauzi Beydoun e Rosa Reis (“Neguinha”), César Nascimento (“Forrockiando”), Jorge Thadeu e Gerude (“O Paraíba”), Luís Bulcão (“Estrela do mar”) e Rogério do Maranhão (intérprete de “Alcântara”, de Nato Araújo). Zeca Baleiro participou das eliminatórias do Viva com o samba de breque “Hipocondríaco”, mas foi desclassificado.
Capa do LP do Festival Viva, de 1985
****** Em outubro de 1986, Zeca Tocantins venceu o I Festival Aberto do Balneário Estância do Recreio (Faber), em Imperatriz (MA), com a música “Depois do tiroteio”. Entre os finalistas estavam ainda Carlinhos Veloz (com “Nordeste inocente” e “Juízo final”), Erasmo Dibell (com “Bicho papão” e “Aletia”) e Eduardo Moloni (com “Um novo dia”). Músicas como “Imperador Tocantins”, de Veloz, e “Filhos da precisão”, de Dibell, foram reveladas em edições posteriores do Faber. Em novembro de 1987, Neném Bragança ficou em segundo lugar e conquistou o troféu Arara de Ouro no II Festival da Canção de Carajás (Fescar).
Um dos momentos do Faber, em Imperatriz
****** O goiano/tocantinense José Norberto Noleto, um dos nomes mais assíduos dos festivais de música do campus do Bacanga nos anos 1980, entrou na Universidade Federal do Maranhão em 1979 para o curso de Engenharia Elétrica. Em 2007, ano em que foi jubilado pela UFMA, lançou o CD independente “O mágico”, com 12 faixas e as participações especiais de Zeca Baleiro e Rita Benneditto. Entre as músicas do disco, destaque para "Perguntas e respostas", "Cavaleiro do Rei" (canção que deu a Rita o prêmio de melhor intérprete no III Fump) e "A Lenda do colibri".
Capa do CD lançado por Norberto Noleto
****** Enquanto estudantes pediam a cabeça de José Maria Cabral Marques em campanha aberta por eleições diretas para reitor na UFMA, em 1987 ele fora eleito, em San Juan (Porto Rico) vice-presidente do Conselho Executivo da Universidade Iberoamericana de Pós-Graduação; em Tegucigalpa (Honduras), assumiu a vicepresidência, para o Brasil, do Conselho Universitário para o Desenvolvimento Econômico e Social; e em Mérida (México), fora reeleito para o Conselho Consultivo da Organização Universitária Interamericana, com sede em Quebec, no Canadá. Todos esses mandatos com duração de quatro anos.
A MARINHA E A CAPOEIRAGEM65 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
RESUMO Analisa-se o termo ‘capoeira’, para se estabelecer sua historicidade, e os principais acontecimentos em que se envolveram a Marinha – de Guerra e a Mercante – com a Capoeira(gem) e os Capoeiras. Palavras-chave: MARINHA; CAPOEIRA; HISTÓRIA ABSTRACT Analyzes the term 'capoeira', to establish its historicity, and the major events that have engaged the Navy War and Merchant - with Capoeira(gem ) and the Capoeiras . Keywords: NAVY ; CAPOEIRA; HISTORY O que é ‘capoeira’?66 Verniculização do tupi-guarani caá-puêra: caá = mato, puêra = que já foi
67
;
no Dialeto Caipira de Amadeu de Amaral: Capuêra, s.f. – mato que nasceu em lugar de outro derrubado ou queimado. Data de 1577 primeiro registro do vocábulo “capoeira” na língua portuguesa: Padre Fernão Cardim (SJ), na obra “Do clima e da terra do Brasil”. Conotação: vegetação secundária, roça abandonada (Vieira, 2005) 68.
DEBRET – 1816/1831
65
PUBLICADO EM REVISTA ‘NAVIGATOR’ EDIÇÃO ESPECIAL: ‘DOSSIÊ A MARINHA E OS ESPORTES’, JUNHO 2016, P.
66 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CRONICA DA CAPOEIRAGEM. São Luis: Edição do Autor, 2014. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/cronica_da_capoeiragem_-_issuu/1 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. JORNAL DA CAPOEIRA http://www.capoeira.jex.com.br/, Edição 47: 30 de Outubro à 05 de Novembro de 2005 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados). LACÉ LOPES, André Luiz. In RIBEIRO, Milton César – MILTINHO ASTRONAUTA. (Editor). JORNAL DO CAPOEIRA, Sorocaba-SP, disponível em www.capoeira.jex.com.br (Artigos publicados) LACÉ LOPES, André. Capoeiragem.in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro: Shape, 2005, p. 386-388. LOPES, André Luiz Lacé. Capoeiragem. In DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. Disponível em http://cev.org.br/biblioteca/capoeiragem/ REIS, Letícia Vidor de Sousa. Capoeira, Corpo e História. In JORNAL DA CAPOEIRA, disponível em www.capoeira.jex.com.br, capturado em 14 de abril de 2005, artigo com base na dissertação de mestrado "Negros e brancos no jogo de capoeira: a reinvenção da tradição" (Reis, 1993). VIEIRA, Sérgio Luiz de Souza. Capoeira. in PEREIRA DA COSTA, Lamartine (org.). ATLAS DE ESPORTES NO BRASIL. Rio de Janeiro : Shape, 2005, p. 39-40. LIMA, Mano. DICIONÁRIO DE CAPOEIRA. 3ª. Ed. Ver. E amp. Brasília: Conhecimento, 2007ARAUJO, Paulo Coelho de; JAQUEIRA, Ana Rosa Fachardo. DO JOGO DAS IMAGENS AS IMAGENS DO JOGO – nuances de interpretação iconográfica sobre a Capoeira. Coimbra - Portugal: Centro de Estudos Biocinéticos, 2008. 67 MARINHO, Inezil Penna. A GINÁSTICA BRASILEIRA. 2 ed. Brasília, Ed. Do Autor, 1982 68 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40.
Capoeira – espécie de cesto feito de varas, onde se guardam capões, galinhas e outras aves (Rego, 1968): [...] os escravos que traziam capoeiras de galinhas para vender no mercado, enquanto ele não se abria, divertiam-se jogando capoeira69. Por Capoeira deve-se entender “individuo(s) ou grupo de indivíduos que promovião acções criminosas que atentavam contra a integridade física e patrimonial dos cidadãos, nos espaços circunscritos dos centros urbanos ou área de entorno“? Ou conforme a conceitua Araújo (1997)
70
ao se perguntar “mas quem são os
capoeiras? e por capoeiragem como: “a acção isolada de indivíduos, ou grupos de indivíduos turbulentos e desordeiros, que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal, com fins maléficos ou mesmo por divertimento oportunamente realizado”? (p. 69); e capoeirista, como sendo: “os indivíduos que praticam ou exercem, publicamente ou não, exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidas como Capoeira, nas vertentes lúdica, de defesa pessoal e desportiva”? (p. 70). Para esse autor, capoeiras era a denominação dada aos negros que viviam no mato e atacavam passageiros (p. 79): “manda que a Junta Policial proponha medidas para a captura e punição dos capoeiras e malfeitores) 71. Ou devemos entendê-la como: [...] Desporto de Criação Nacional, surgido no Brasil e como tal integrante do patrimônio cultural do povo brasileiro, legado histórico de sua formação e colonização, fruto do encontro das culturas indígena, portuguesa e africana, devendo ser protegida e incentivada” (Regulamento Internacional da Capoeira); assim como Capoeira, em termos esportivos, refere-se a ‘... um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, agogô e reco-reco). Enfocado em sua origem como dança-luta acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginásticas, dança esporte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizandose, de modo geral, como uma atividade lúdica. (Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 39-40).
Considera-se como prática do desporto formal da Capoeira sua manifestação cultural sistematizada na relação ensino-aprendizagem, havendo um ou mais docentes e um corpo discente, onde se estabelece um sistema de graduação de alunos e daqueles que ministram o ensino, havendo uma identificação indumentária por uniformes e símbolos visuais, independentemente do recinto onde se encontrarem. Considera-se como pratica desportiva não formal da Capoeira sua manifestação cultural, sem qualquer uma das configurações estabelecidas pelo Artigo anterior, e que seja praticada em recinto aberto, eminentemente por lazer, o que caracterizará a liberdade lúdica de seus praticantes: Capoeira – jogo atlético de origem negra, ou introduzida no Brasil por escravos bantos de Angola, defensivo e ofensivo, espalhado pelo território e tradicional no Recife, cidade de Salvador e Rio de Janeiro, onde são reconhecidos os mestres, famosos pela agilidade e sucessos. Informa o grande folclorista que, na Bahia, a capoeira luta com adversários, mas possui um aspecto particular e curioso, executando-se amigavelmente, ao som de cantigas e instrumentos de percussão, berimbaus, ganzá, pandeiro, marcando o aceleramento do jogo o ritmo dessa colaboração musical. No Rio de Janeiro e Recife não há, como não há notícia noutros Estados, a capoeira sincronizada, capoeira de Angola e também o batuque-
69 Antenor Nascimento, citado por REGO, 1968, citados por MANO LIMA – Dicionário de Capoeira. Brasília: Conhecimento, 2007, p. 79 70 ARAÚJO, Paulo Coelho de. ABORDAGENS SÓCIO-ANTROPOLÓGICAS DA LUTA/JOGO DA CAPOEIRA. (Porto): Instituto Superior Maia, 1997. 71 BRASIL. Decisão 205, de 27 de julho de 1831, documentada na Coleção de Leis do Brasil no ano de 1876, p. 152-153
boi. Refere-se, ainda, à rivalidade dos guaiamus e nagôs, seu uso por partidos políticos e o combate a eles pelo chefe de Polícia, Sampaio Ferraz, no Rio de Janeiro, pelos idos de 1890. O vocábulo já era conhecido, e popular, em 1824, no Rio de Janeiro, e aplicado aos desordeiros que empregavam esse jogo de agilidade. (Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore) 72.
“Capoeiragem”, de acordo com o Mestre André Lace: ”uma luta dramática” (in Atlas do Esporte no Brasil, 2005, p. 386-388). Para a capoeira, apresentam-se quatro momentos importantes: finais do século XIX, quando a prática da capoeira é criminalizada; décadas de 30/40, quando ocorre sua liberação; década de 70, quando se torna oficialmente um esporte; e o reconhecimento como patrimônio imaterial do povo brasileiro. Do Atlas do Esporte no Brasil73: Origens e Definições A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar que a Capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na África bem como em nenhum outro país onde houve a escravidão africana. Em seu processo histórico surgiram três eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Desportiva, Capoeira Regional e Capoeira Angola, os quais se associaram ou se dissociaram ao longo dos tempos, estando hoje amalgamados na prática. Desde o século XVIII sujeita à proibição pública, ao longo do século XIX e até meados do século XX, ela encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados do sudeste e nordeste. Houve distintas manifestações da dança-luta na Bahia, Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro, esta última mais utilitária no século XX. Na década de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na de 1980, internacional. Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada qual se referindo a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-se de um jogo de destreza corporal, com uso de pernas, braços e cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de cânticos e instrumentos musicais (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco). Enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança, esporte, arte, arte marcial, folclore, recreação e teatro, caracterizando-se, de modo geral, como uma atividade lúdica. 74, 75.
Na pesquisa realizada pelo IPHAN, ela é definida como: [...] um fenômeno urbano surgido provavelmente nas grandes cidades escravistas litorâneas, que foi desenvolvido entre africanos escravizados ligados às atividades “de ganho” da zona portuária ou comercial. A maioria dos capoeiras dessa época trabalhava como carregador e estivador, atividades muito ligadas à região dos portos, e muitos realizavam trabalho braçal.76
Seguindo a justificativa do IPHAN77, a partir de 1890, quando a capoeira foi criminalizada, através do artigo 402 do Código Penal, como atividade proibida (com pena que poderia levar de dois a seis meses de 72 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972. 73 DACOSTA, LAMARTINE (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 1.44-1.45. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br 74 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40. 75 DACOSTA, 2005, 2006, obra citada. 76 IPHAN, Assessoria de Imprensa do Iphan. A capoeira na história. in REVISTA DE HISTÓRIA DA BIBLIOTECA NACIONAL, Ed. de Julho de 2008, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=1871 77 IPHAN, 2008, obra citada.
reclusão), a repressão policial abateu-se duramente sobre seus praticantes. Os capoeiristas eram considerados por muitos como “mendigos ou vagabundos”. Outras práticas afro-brasileiras, como o samba e os candomblés, foram igualmente perseguidas. Mais adiante, durante a República Velha, a capoeiragem era uma manifestação de rua, afrodescendente, e muitos dos seus praticantes tinham ligações com o candomblé, o samba e os batuques. A iniciação dos capoeiras nessas atividades acontecia provavelmente na própria família, no ambiente de trabalho e também nas festas populares. Ainda sobre o universo das ruas, estudiosos revelam que o cancioneiro da capoeira se enriqueceu dos cantos de trabalho, e que o trabalhador de rua, em momentos lúdicos ou de conflitos, também se utilizava dos golpes e movimentos da capoeira. Já na década de 1920, com o apoio fundamental de intelectuais modernistas que procuraram reconstituir as bases ideológicas da nacionalidade, as práticas afro-brasileiras começaram a ser discutidas, e passaram a constituir um referencial cultural do país. Ao final dos anos 30 a capoeira foi descriminalizada e passou de um extremo a outro, a ponto de ser defendida por historiadores e estudiosos como esporte nacional, considerada a verdadeira ginástica brasileira. A manifestação já foi apontada como esporte, luta e folguedo, e era praticada por diferentes grupos sociais, principalmente a partir do século XX. Assim, em 1937: [...] a capoeira começou ser treinada como uma prática esportiva, e não apenas como uma “vadiação” de rua. Neste mesmo ano Mestre Bimba criou o Centro de Cultura Física e Capoeira Regional da Bahia. A capoeira regional nasceu como forma de transformar a imagem do capoeira vadio e desordeiro em um desportista saudável e disciplinado. Ele criou estatutos e manuais de técnicas de aprendizagem, descreveu os golpes, toques, cantos, indumentárias especiais, batizados e formaturas. Em seguida, Mestre Pastinha fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola , em 1941, e assim este estilo passou a ser ensinado através de métodos próprios. A ideia da capoeira como arte marcial brasileira criou polêmica, pois era defendida por uns e criticada por outros, principalmente pelos angolanos, que afirmavam a ancestralidade africana do jogo.78.
JOÃO MOREIRA (TENENTE AMOTINADO) O primeiro capoeira foi um tenente chamado João Moreira, homem rixento, motivo porque o povo lhe apelidou de ‘amotinado’. Viam os negros escravos como o ‘amotinado’ se defendia quando era atacado por quatro ou cinco homens, e aprenderam seus movimentos, aperfeiçoando-os e desdobrando-os em outros dando a cada um o seu nome próprio. “Como não dispunham de armas para sua defesa uma vez atacados por numeroso grupo defendiam-se por meio da ‘capoeiragem’, não raro deixando estendidos por uma cabeçada ou uma rasteira, dois ou três de seus perseguidores” (Hermeto Lima, 1925) 79. Macedo (1878) 80 afirma que “o Tenente ‘Amotinado’ era de prodigiosa força, de ânimo inflamável, e talvez o mais antigo capoeira do Rio de Janeiro, jogando perfeitamente, a espada, a faca, o pau e ainda de preferência, a cabeçada e os golpes com os pés” 81.
78 VAZ, 2014, obra citada. 79 LIMA, Hermeto in “Os Capoeiras”, Revista da Semana 26 nº 42, 10 de outubro de 1925 80 MACEDO, Joaquim Manoel. Memórias da Rua do Ouvidor. Rio de Janeiro: Perseverança, 1878, pg. 99. 81 O texto em tela se relaciona também com o Tenente João Moréia.
A MARINHA E A CAPOEIRAGEM O primeiro episódio que se tem notícia do envolvimento da Marinha com os capoeiras deu-se durante a revolta das tropas estrangeiras no Rio de Janeiro em 1828
82
. Pol Briand83 cita o Relatório de Le Marant,
em que o almirante, no pedido de D. Pedro I, botou tropas de marinha em terra para guardar o Palácio e o Arsenal da Marinha, enquanto as tropas brasileiras saiam destes lugares para abafar a revolta. Diz-se que foram os capoeiras que dominaram a revolta, derrotando as tropas estrangeiras sublevadas. Para Briand, a aparição do termo capoeira na relação da revolta das tropas estrangeiras no Rio de Janeiro mostra a invenção interessada de uma tradição da capoeira. Segundo esse autor, foi Capistrano de Abreu quem denunciou ser o sr. Pereira da Silva o inventor da intervenção dos capoeiras.84 Para Briand, todos os escritores anteriores concordam em dizer que as autoridades brasileiras mobilizaram o povo, escravos incluídos, para impedir a comunicação dos três focos da revolta. O populacho (populace) para Debret,
85
os moleques para Walsh86 massacraram os revoltosos
isolados, enquanto as tropas brasileiras, apoiadas por infantaria de marinha francesa e inglesa desembarcada dos navios estacionados na Baia, atacavam com canhões os seus quartéis. Segundo Álvaro Pereira do Nascimento87 a Marinha de Guerra, em seus recrutamentos, tinha dentre os vadios e malfeitores, capoeiras. Conforme consta em Relatório do Ministro da Marinha (1888 "Annexos") nota-se que, de 1840 a 1888, foram recrutados à força 6.271 homens para o Corpo de Imperiais Marinheiros, e recebidos somente 460 voluntários. Essa diferença com certeza asseverava o dito por vários ministros da Marinha ao longo do século XIX e início do XX, isto é, a falta de voluntários levava ao imediatismo do recrutamento forçado88: Entre as autoridades civis, os chefes de polícia eram o braço direito do ministro da Justiça e dos presidentes de província para assuntos de alistamento, e precisavam pôr seus delegados e subdelegados na rua para alcançar a quantidade de alistados destinada à cada província. 82
No 9 de junho de 1828, um castigo desmedido, inflito por um motivo de vez fútil e duvidoso a um soldado alemão -- 250 açoites, podendo significar a morte na tortura, sem contar que no Brasil, os livres não levavam açoites -- provoca, no 201º açoite inflito à frente da tropa, à sublevação. Os soldados apelam ao Imperador, que nega-se a recebê-los. Eles entrincham-se nos seus quarteis, e dois outros regimentos se rebelam, matando o pondo em fuga oficiais brasileiros. Chega a noite. É uma crise como ainda se conhece em nossos dias: as autoridades querem retomar o controle, mais ficam enfraquecidas; os poderes estrangeiros, as marinhas francesa e britânica, que dispõem de uma força considerável na Baia de Guanabara, querem, sem demostrar-se partidários, preservar a vida e os bens dos seus conterrâneos; e a oposição política procura aproveitar da situação. Un dia passa sem decisão. Os Brasileiros de todas as tendâncias concordam em reduzir a revolta pela força. Para impedir a comunicação entre os três quarteis insurgentes, põem os soldados estrangeiros fora da lei, pode-se ferir e mata-los sem risco de sanção penal. Homens e crianças das classes mais baixas de livres e escravos perseguem os isolados. Estas presas, que não são realmente guerreiros, escondem-se, ou, com mais freqüença, caiem feridos o mortos. Nos dias seguintes, as tropas de artilheria e a cavalaria do Minas Gerais retomam o controle dos quarteis. Os revoltosos sobrevivantes são presos, e na sua maior parte, ora mandados de volta para Europa, ora expediados nas províncias. In Nota de BRIAND, Pol. HISTÓRIA DE UM MITO DA CAPOEIRA. Blog da A s s o c i a t i o n d e C a p o e i r a P A L M A R E S d e P a r i s , www.capoeira-palmares.fr, disponível em http://www.capoeira-palmares.fr/histor/legenda.htm 83 Rapport du Contre-Amiral Le Marant, commandant de la station navale française à Rio de Janeiro, au Ministre de la Marine. A bord de la régate la Surveillante en rade de Rio Janeiro, le 14 juin 1828. Archives de la Marine, BB/4/ 506, Campagnes 1828.10, f.o 78. In BRIAND, Pol. HISTÓRIA DE UM MITO DA CAPOEIRA.. Blog da A s s o c i a t i o n d e C a p o e i r a P A L M A R E S d e P a r i s , www.capoeira-palmares.fr, disponível em http://www.capoeirapalmares.fr/histor/legenda.htm Ver também: Esboço fiel dos acontecimentos dos dias 9, 10, 11 e 12 de junho de 1828. Rio de Janeiro: Imperial Tipografia de Pedro Planch. Cópia literal do impresso, Rio de Janeiro, 20/6/1865, Seção de Manuscritos-Biblioteca Nacional (SM-BN), II-34, 16, 19. 84 PEREIRA DA SILVA. João Manoel, Secondo periodo do reinado de Dom Pedro I no Brazil, narrativa historica, Rio de Janeiro:Garnier, 1871. .p. 269-274, 286-291. Disponíverl em http://www.capoeira-palmares.fr/histor/legenda.htm 85 Debret, Jean-Baptiste, Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, ou Séjour d'un artiste français au Brésil, depuis 1816 jusqu'en 1831 inclusivement,époques de l'avènement et de l'abdication de S.M. don Pedro, premier fondateur de l'Empire brésilien. Paris:Didot Frères, 3 volumes in-Folio publiés en livraisons de 1834 a 1839 86 Walsh, Robert, Notices of Brazil in 1828 and 1829,London:Frederick Westley & A.H. Davis, 1830; reprinted in Boston, 1831. 87 Do cativeiro ao mar: escravos na Marinha de Guerra. In http://cap-ang.blogspot.com.br/2009/09/do-cativeiro-ao-mar-escravos-na-marinha.html 88 O autor faz referencia a Nascimento 1997: cap. 2, sem explicitar a fonte. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101546X2000000200005
Nesse sentido, todo homem pego pela malha como recruta, suspeito de deserção, vadio, arruaceiro, gatuno, capoeira ou órfão poderia ser enviado para a Marinha ou para o Exército. Se até um homem negro com sinais de castigo podia ser capturado e enviado para as Forças Armadas, o que dizer daqueles sem marcas? ...Mando apresentar [...] o moleque livre Martinho de Tal, solteiro, de 16 anos, capoeira, exsineiro da igreja de Santa Anna, e que pretende passar por peruano quando até mal sabe uma ou outra palavra de espanhol e aqui na Corte é muito conhecido, infelizmente, sempre vadio.
Em 1865, o Brasil, junto com a Argentina e o Uruguai, declarou guerra ao Paraguai. O exército brasileiro formou seus batalhões e, dentro destes, um imenso número de capoeiras. Muitos foram "recrutados” nas prisões; outros foram agarrados à força nas ruas do Rio e das outras províncias; aos escravos, foi prometida a liberdade no final do conflito. Na própria Marinha, o ramo mais aristocrático das Forças Armadas, destacou-se a presença dos capoeiras. Não entre a elite do oficialato, mas entre a "ralé" da marujada89: Marcílio Dias (o herói da Batalha do Riachuelo, embarcado no "Parnahyba") era riograndense e foi recrutado quando capoeirava à frente de uma banda de música. Sua mãe, uma velhinha alquebrada, rogou que não levassem seu filho; foi embalde, Marcílio partiu para a guerra e morreu legando um exemplo e seu nome. (Correio Paulistano, 17/6/1890) 90
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Os capoeiras do Batalhão de Zuavos, especialistas em tomar as trincheiras inimigas na base da arma branca, fizeram misérias na Guerra do Paraguai. Manuel Querino descreve-nos "o brilhante feito d'armas" levado a efeito pelas companhias de "Zuavos Baianos" no assalto ao forte Curuzu, quando os paraguaios foram debandados. Destacam-se dois capoeiras nos combates corpo-a-corpo: o alferes Cezario Alves da Costa - posteriormente condecorado com o hábito da Ordem do Cruzeiro pelo marechal Conde d'Eu -, e o alferes Antonio Francisco de Melo, também tripulante da já citada corveta "Parnahyba" que, entretanto, teve sua promoção retardada devido ao seu comportamento, observado pelo comandante de corpos: "O cadete Melo usava calça fofa, boné ou chapéu à banda pimpão e não dispensava o jeito arrevesado dos entendidos em mandinga". (REIS, 1997, p.55) 91.
O 31º de Voluntários da Pátria - policiais da Corte do Rio de Janeiro com grande percentagem de capoeiras - também se destacou na batalha de Itororó: esgotadas as munições,"investiu contra os paraguaios com golpes de sabre e capoeiragem" (COSTA, Nelson in SOARES, op.cit., 1944, p.258) 92. Devido a estas ações de bravura e temeridade, começou a surgir dentro do Exército e da Marinha, de maneira velada e não explícita, o mito que o capoeira seria o "guerreiro brasileiro". Cinco anos depois, 1870, os sobreviventes da Guerra do Paraguai voltaram, agora transformados em "heróis", e flanavam soltos pelas ruas do Rio. Muitos engrossaram as fileiras das maltas cariocas e, não raro, pertenciam também à força policial. Na Revolta da Armada (1893-1894) capoeiristas pró-Exército e pró-Marinha lutaram entre si93. 89
PASSOS NETO, Nestor S. dos. "Jogo Corporal e Comunicultura", ECO-UFRJ, 2001. In http://www.nestorcapoeira.net/hfp.htm Citado por PASSOS NETO, Nestor S. dos. "Jogo Corporal e Comunicultura", ECO-UFRJ, 2001. In http://www.nestorcapoeira.net/hfp.htm 91 REIS, Letícia Vidor de Sousa. O mundo de pernas para o ar: a capoeira no Brasil. São Paulo: Publisher Brasil. 1997. 92 Citado por NESTOR CAPOEIRA. (PASSOS NETO, Nestor S. dos.). IN história, filosofia e pesquisa, 2007. Disponível em http://www.nestorcapoeira.net/hfp.htm 90
O pesquisador francês Pol Briand94, informa que os famosos mestres de capoeira Aberrê e Pastinha95 foram Aprendizes Marinheiros no início do Séc. XX. Pastinha ingressou na escola em 1902, e ensinava capoeira a seus colegas aprendizes da Marinha. Em “Areia do Mar” 96, ladainha do Abadá Capoeira (Pato): Areia do mar, areia do mar o que você tem, para me contar Me conta de Pastinha e de Bimba por favor seu Pastinha na marinha Mestre Bimba estivador
Vicente Ferreira – Pastinha - nasceu em Salvador, na Bahia, em 05 de Abril de 1889. Filho de uma mulata baiana e de um comerciante espanhol, aprendeu capoeira ainda na infância, através dos ensinamentos de um africano chamado Benedito, buscando aprender a se defender depois de muito apanhar de um menino de seu bairro. Aos 12 anos entrou, em Salvador – onde morou a vida toda – na Escola de Aprendizes de Marinheiro97 e, posteriormente, na Marinha, lá permanecendo até os 20 anos. Em 1910 dá baixa e começa a dar aulas de capoeira em um espaço onde funcionava uma oficina de ciclistas. Ainda na Marinha, teve contato com esgrima, florete e ginástica sueca, o que nos mostra que conheceu outros estilos de luta que não a capoeira98. De acordo com Matthias Röhrig Assunção (2014)
99
, no Brasil, os oficiais da Marinha foram os
primeiros a se interessar pelo jiu-jítsu. Navios da Marinha brasileira já aportavam no Japão desde o século XIX. Em 1905, dois oficiais da Marinha, Santos Porto e Adler de Aquino, publicaram o manual Educação física japonesa , traduzido de um livro em inglês de H.I. Hancock (PIRES, 2001, p. 95100; VIEIRA, 1995, p. 154101; CAIRUS, 2012, p. 38-39) 102.
93
DONATO, Hernâni. HISTÓRIA DOS USOS E COSTUME NO BRASIL: 500 anos de vida cotidiana. São Paulo: Melhoramentos, 2005, p. 286 94 On line in http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/search/label/Ginga-SAVATE . Ver também: KUHLMANN, Paulo Roberto Loyolla (Major), Serviço Militar Obrigatório no Brasil: Continuidade ou mudança? Campinas: Núcleo de Estudos Estratégicos – Unicamp / Security and Defense Studies, vol. 1, winter 2001, p.1. SOUSA, Celso. La mission militaire française au Brésil de 1906 à 1914 et son rôle dans la diffusion de techniques et méthodes d'éducation physique militaire et sportive. Thèse Histoire contemporaine, Université de Bourgogne, 2006 in [http://www.esefex.ensino.eb.br/atual_trab/%40cap I.PDF 95 http://pt.wikipedia.org/wiki/Mestre_Pastinha 96 http://www.letrasdemusicas.fm/abada-capoeira/areia-do-mar-pato#seu-pastinha-na-marinha 97 [...] ingressou na escola da marinha, por desejo de seu pai que não apoiava sua prática de capoeira. Na escola ele costumava ensinar capoeira aos amigos. Com 21 anos, ele deixou a escola da marinha e se tornou um pintor profissional. MESTRE PASTINHA In Abadá Capoeira, disponível em http://www.abadadc.org/paginas/pastinha.htm 98 FONSECA, Vivian Luiz. Capoeira sou eu: memória, identidade, tradição e conflito. Rio de Janeiro: GFV/CPDOC, 2009. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em História, Política e Bens Culturais. 99ASSUNÇÃO, Matthias Röhrig. Ringue ou academia? A emergência dos estilos modernos da capoeira e seu contexto global. Hist. cienc. saudeManguinhos vol.21 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2014 Epub Jan 01, 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702014005000002 . Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702014000100135 100 PIRES, Antonio Liberac Cardoso Simões. Movimentos da cultura afro-brasileira : a formação histórica da capoeira contemporânea, 1890-1950. Tese (Doutorado) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de Campinas, Campinas. 2001. 101 VIEIRA, Luiz Renato. O jogo de capoeira : corpo e cultura popular no Brasil. Rio de Janeiro: Sprint. 1995. 102 CAIRUS, José. The Gracie clan and the making of Brazilian jiu-jitsu : national identity, performance and culture, 1801-1993. Tese (Doutorado) – Graduate Programme in History, York University, Toronto. 2012
José Cairus assinalou que a introdução ao livro pelos militares explica por que consideram o jiu-jítsu superior à capoeira: a arte marcial brasileira teria sido durante o Império desviado por criminosos, o que a teria levado à decadência. Em 1907 começa a circular um livro: “O.D.C. Guia do Capoeira ou Ginástica Brasileira” (2a. edição)103. Rio de Janeiro, Livraria Nacional. Corre uma versão em que a autoria do livro é atribuída ao primeiro tenente da Marinha José Egydio Garcez Palha104. Tendo esse oficial falecido em 1898, seu livro sobre capoeira foi publicado posteriormente sobre a sigla ODC. (Lace Lopes, 2005)
105
. Segundo alguns
estudiosos, "ODC" não representa as iniciais do possível nome do misterioso autor; "ODC" significa simplesmente, "Ofereço, Agradeço, Consagro". Livro duplamente misterioso. Pelo seu autor que não quis aparecer e, sobretudo, pelo seu desaparecimento da Biblioteca Nacional. Por sorte, antes desta ocorrência, Annibal Burlamaqui teve a chance copiá-lo (sem ter como reproduzir as ilustrações). Enquanto o original não reaparece é esta cópia que está correndo o mundo. Em 1908, a Marinha do Brasil importa mestres japoneses para o ensino do jiu-jitsu a seus homens. O judoca japonês, Sada Miako, foi contratado para ensinar aos oficias da Marinha, e considerou-se adotar o jiu-jítsu no treinamento dos recrutas. Isso provocou debates e comentários irônicos da imprensa nacionalista, que em geral dava preferência ao uso da capoeira sobre tradições importadas de luta 106. Época de profissionalização, além das mudanças nas estruturas internas, reforma de regulamento, inserção de novas práticas, bem como a intensificação das preocupações com as atividades físicas. Em uma visita do navioescola Benjamim Constant ao Japão, em sua volta vieram alguns japoneses, ocasião em que houve demonstrações de jiu-jitsu (CANCELLA, 2014) 107. Assim a introdução das técnicas japonesas de luta no Brasil provocou reações e respostas de vários segmentos da sociedade: os capoeiras, os aficionados em esportes de combate, os intelectuais e os militares (Assunção, 2014; Cancella, 2014). Acompanhava o professor Sada Miyako, seus ajudantes M. Kakihara, e Sensuke He. Os marinheiros brasileiros receberam lições dessa arte marcial de origem japonesa108 Em artigo publicado no Jornal do Capoeira109 em 2005, escrevi que em "A Pacotilha", São Luís, segunda feira, 14 de junho de 1909, aparecera noticia que tem por titulo "JIU-JITZÚ" - certamente transcrita de "A Folha do Dia" - do Rio de Janeiro (ou Niterói):
103
Edição do livro apócrifo ‘Guia do Capoeira ou Gymnástica Brasileira’ é 1904. Nele a autoria é feita pelas iniciais ‘O.D.C.’, que significada à época: ofereço, dedico e consagro’. (Vieira, 2005) 104 Em 1890 era Capitão de Fragata, e pertencia ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ocupando a função de Secretário Suplente. E ainda, que em janeiro de 1980 fora exonerado da função que ocupava no Ministério da Marinha. Em julho de 1890 aparece o livro Aprendiz do Marinheiro, organizado por Garcez Palha, então 1º Tent. e José Vitor de Lamare, Capitão-Tenente. Em 1894, nomeado Secretário do Ministro da Marinha, Almirante Elisiário Barbosa. Em 1898, a 10 de março, noticia de que seu enterro fora muito concorrido, incluindo o representante do Presidente da República, Tent. Ávila, ajudante de ordens. Garcez Palha foi autor da obra Efemérides Navais. Era lente da Escola Naval. Redator da Revista Marítima Brasileira por vários anos, chegando a seu Diretor. Foi membro da Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro. 105 LACÉ LOPES, 2005, obra citada 106 ASSUNÇÃO, 2014, obr citada 107 CANCELLA, Karina. O ESPORTE E AS FORÇAS ARMADAS NA PRIMEIRA REPÚBLICA: das atividades gymnasticas às participações em eventos esportivos internacionais. (1890-1922). Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 2014, p. 108-1110. 108 CANCELLA, 2014, p. 108-1110, obra citada.
Desde muito tempo vem preocupando as rodas esportivas o jogo do Jiu-Jitzú, jogo este japonês e que chegou mesmo a espicaçar tanto o espírito imitativo do povo brasileiro que o próprio ministro da marinha mandou vir do Japão dois peritos profissionais no jogo, para instruir os nossos marinheiros. [...]"Na ocasião em que o ilustre almirante Alexandrino cogitava em tal medida, houve um oficial-general da armada que disse ser de muito melhor resultado o jogo da capoeira, muito nosso e que, como sabemos, é de difícil aprendizagem e de grandes vantagens. [...] "Essa observação do oficial-general foi ouvida com indiferença. [...] Sobraram razões ao nosso oficial general quando dizia que o brasileiro 'sabido, quando se espalha, nem o diabo ajunta'. (Grifos nossos).
Para o Mestre André Lacé (s.d.)
110
, Francisco da Silva Ciríaco, mais conhecido como Macaco
Velho, nascido em Campos, foi um dos mais afamados capoeiristas no Rio de Janeiro, na virada do século 19 para os 20. Era o mestre preferido pelos acadêmicos de medicina, fenômeno que se repetiu na Bahia, décadas mais tarde, com Mestre Bimba. Foram esses estudantes que insistiram no confronto da Capoeira (Macaco Velho) com o jiu-jitsu (Sada Miyako, campeão japonês). Evento que acabou ocorrendo, no dia 1º de maio de 1909, com um fulminante desfecho: aplicando um literalmente surpreendente rabo-de-arraia, Ciríaco encerrou a luta em alguns segundos. Mesmo existindo uma versão – jamais comprovada – de que Ciríaco teria utilizado um recurso, digamos, de rua, mesmo assim, luta é luta, vale-tudo é vale-tudo, e ninguém jamais poderá negar o mérito da vitória. Tanto assim, que Mestre Ciríaco saiu vitorioso do Pavilhão Internacional Paschoal Segreto, com o povo cantando pelas ruas “a Ásia curvou-se ante o Brasil”. No dia seguinte, a Capoeira foi notícia em quase todos os jornais, valendo registrar, por oportuno, a ocorrência de algumas redações cautelosas, quase envergonhadas da própria cultura brasileira, como a nota do jornal do Commercio (02.05.1909, pág. 7): O sportman japonez do tão apreciado jogo jiu-jitsu foi hontem vencido pelo preto campista Cyriaco da Silva, que subjugou o seu contendor com um passo de capoeiragem”.111
A nota, curiosamente, não menciona o nome do “sportman” perdedor. Mais adiante, entretanto, no mesmo jornal garimpei o seguinte anúncio: “JIU-JITSU: Mr. Sada Miyako, professor contratado para leccionar na marinha brasileira encarrega-se de dar lições particulares a domicílio. Cartas para a Rua Gonçalves Dias n. 78 ou para a Fortaleza de Willegaignon”.
Em recente novela de época, da Rede Globo de Televisão, em um dos episódios – segundo a sinopse – ocorre a seguinte cena112: Zé fica danado ao saber que a Marinha contratou japonês para ensinar jiu-jítsu Zé Maria (Lázaro Ramos) está se dando bem como administrador do jornal Correio da República, mas ele ainda não está livre de testemunhar o preconceito contra a capoeira. Depois de ter sido expulso da Marinha após a Revolta da Chibata, ele descobre no jornal que o governo contratou um japonês para ensinar jiu-jítsu aos marinheiros brasileiros. 109
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Jiu-Jitsu no Maranhão. In Jornal do Capoeira Edição 45: 29 de Agosto à 04 de Setembro de 2005, Dispon[ível em http://www.capoeira.jex.com.br/ 110 LACÊ, André. Disponível em CD-Room, enviado ao autor. CIRÍACO, HERMANNY, ARTUR E HULK 111 Ver também CANCELLA, 2014, p. 108-1110. 112 http://gshow.globo.com/novelas/lado-a-lado/Vem-por-ai/noticia/2013/01/ze-fica-danado-ao-saber-que-a-marinha-contratou-japones-para-ensinar-jiujitsu.html
“A capoeira é proibida, sinônimo de vadiagem. Agora, se a luta vem do Japão, é chamada de arte marcial. Eu queria só ver esse japonês lutar!”, reclama Zé, indignado. Jonas (George Sauma) avisa que o japonês vai fazer uma exibição no Pavilhão Nacional, na Praça Tiradentes, o local onde se realizam os campeonatos de luta greco-romana. “É jiu-jítsu, luta greco-romana... Esse é o Brasil. Só não ganha respeito o que vem do meu povo”, reclama Zé. Será que ele vai deixar isso barato?
O escritor Coelho Neto (maranhense) apresenta um projeto de lei para a Câmara dos Deputados tornando obrigatório o ensino da capoeira nas escolas civis e militares; usa de dois argumentos para sua proposta pedagógica: o primeiro, era de que a capoeira, como excelente ginástica, promovia um desenvolvimento harmonioso do corpo e dos sentidos; o segundo atribui à capoeira um sentido estratégico de defesa individual (Reis, 1997, p. 88-89) 113. Gomes Carstruc, no jornal O Paiz, de 22 de outubro de 1923 conclama que o jogo da Capoeira seja adotado pela Marinha de Guerra: [...] todos os brasileiros a cultivarem o Jogo da Capoeira – ‘um jogo elegante, próprio para a defeza individual, jogo de destreza nobre e não brutal e aviltante’ e que poderia ser, certamente, adotado oficialmente pela ‘nossa marinha de guerra’ – e a exevrarem o boxe – um jogo no qual ‘duas feras, ridículas nas suas formas inestheticas, nem bem quadrúpede, nem bem bimano, quase reptil, quase mono; as duas feras se esmurram, quebram-se mandíbulas, esmigalhamse dentes, cegam-se a murros, assassinam-se com pesados socos, diante dos seus semelhantes, embriagados com tanta estupudez.’ 99 99 Cf. A. Gomes Carstruc. Cultivemos o jogo de capoeira e tenhamos asco pelo do boxe. O PAIZ, Edição Extraordinária, anno XI, no. 14.246, 1ª. Página. Rio de Janeiro, segunda feira, 22 de outubro de 1923.114
Lamartine Pereira Da Costa115,
116
, Mestre Capoeira, foi o introdutor, oficialmente, da capoeiragem
na Marinha. Escreveu vários artigos e dois livros específicos sobre o assunto; em 1961, apresenta-nos “Capoeiragem: a arte da defesa pessoal brasileira” (Rio de Janeiro: [s.n.], 1961) e logo a seguir “Capoeira sem mestre” (Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1962), onde propunha uma espécie de ensino de capoeira por correspondência, pois a luta poderia ser a sós, como no Box, dispensando a figura do mestre (Reis, 1997, p. 156)
117
. Como professor de Educação Física escreveu dezenas de artigos, coordenou dezenas de projetos a
nível nacional e internacional. Com doutorado em Filosofia, além de professor universitário, tornou-se um consultor internacional em sua área profissional. 113 REIS, Letícia Vidor de Sousa. O MUNDO DE PERNAS PARA O AR – A CAPOEIRA NO BRASIL. São Paulo: Publisher Brasil; FAPESP, 1997 114 Fonte: O que a escola faz com o que o povo cria: até a capoeira entrou na dança! Cesar Augustus Santos Barbieri, São Carlos – SP – Agosto 2003 – Tese. In Blog Asociasion de capoera deportiva, disponível em http://cap-dep.blogspot.com.br/2011/01/1923-jogo-da-capoeira-adotado-pela.html 115 DA COSTA, Lamartine Pereira. Capoeiragem: a arte da defesa pessoal brasileira. Rio de Janeiro: [s.n.], 1961 DA COSTA, Lamartine Pereira. Capoeira sem mestre. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1962. 116 LAMARTINE PEREIRA DA COSTA. Graduação em Ciências Navais pela Escola Naval (1958), licenciatura em Educação Física pela Escola de Educacao Fisica do Exercito (1963) e doutorado em Filosofia pela Universidade Gama Filho (1989). Atualmente é professor titular da Universidade Gama Filho, membro Conselho Pesquisas do Comité Olimpico Internacional em Lausanne (Suiça) e professor visitante da Universidade Técnica de Lisboa. Atuou como professor visitante da Universidade do Porto (Portugal), da Academia Olimpica Internacional (Grecia) e da Universidade Autonoma de Barcelona (Espanha). No Brasil foi professor da Universidade Católica de Petrópolis (Engenharia), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Mestrado em Geografia), UNIRIO (Mestrado em Memoria Social), USP (Mestrado Educação Física) e UERJ (Graduação Educação Física). Tem experiência nas áreas de Educação Física, Administração, Historia e Filosofia com ênfase em meio ambiente, esportes, lazer e Gestão do Conhecimento. Tem produção contínua em pesquisas desde 1967 no Brasil e no exterior, com inicio na area de meio ambiente. http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresentar&id=K4721721A5 117 REIS, 1997, obra citada.
"Dança de negros e arma de malandros: capoeira oficializada na Marinha". Com esse título, o Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 30 março de 1966 noticia que Lamartine Pereira da Costa, com a cooperação dos Mestres Artur Emídio e Djalma Bandeira promove um curso de capoeira especialmente para oficiais e praças da Marinha. (Lace Lopes, 2005) 118. Lamartine Pereira da Costa119, à época oficial da Marinha, deu-me o seguinte depoimento sobre os livros que publicou120: A versão "Arte de Defesa Pessoal Brasileira” é 1961 e a "Sem Mestre” é de 1962, mas o conteúdo é o mesmo. A obra de 1961 foi publicada por mim já que nenhuma editora quis se envolver com o tema. A de 1962 foi da Edições de Ouro (editora hoje inexistente) que me propôs fazer um livro popular de baixo custo e titulo chamativo. O publico da versão 1962 foi o geral sem um foco preciso como todo livro popular, vendido em qualquer lugar. O meu livro de 1961 foi o quarto livro publicado sobre a capoeira. Os dois primeiros foram de pouca penetração desde que eram contra a lei vigente entre 1900 e década de 1928, período de publicação dos livro ODC e Aníbal Burlamaqui. O terceiro foi um estudo histórico publicado pelo Inezil Pena Marinho (professor da então Universidade do Brasil, hoje UFRJ) com pouca circulação. O meu seguiu-se ao do Inezil porque havia uma deficiência na apresentação da luta pelos seus golpes e movimentos. Este ultimo livro em meados dos anos de 1960 já tinha vendido 60 mil exemplares e a capoeira se popularizou. Claro está que houve vários livros e artigos sobre a capoeira ao longo da historia brasileira, mas por menções, citações ou textos menores. Livros pioneiros são os citados acima embora se possa discutir se essas obras foram efetivas em termos de impactos culturais. Desconheço a obra do Mestre Bimba dos anos de 1960 mas posso garantir que ela não existia quando do lançamento dos dois livros citados desde que a razão que me motivou a produzi-los foi da ausência de fontes sobre a capoeira. Estive na Bahia entre 1960 e 1961 e constatei que os mestres famosos cultivavam o segredo (típico da cultura africana). Meu mestre - o baiano Artur Emidio, radicado no Rio de Janeiro - também cultivava o segredo e me alertou sobre as dificuldades para ser ter registros de utilização pedagógica como eu antevia a época. Artur Emidio e Djalma Bandeira foram meus mestres, mas Novis e Vieira foram meus apoiadores no financiamento para a publicação do livro 1961. A produção do livro de 1961 foi muito simples com desenhos calcados em fotografias. A semelhança com figurações ODC é meramente casual em face de que eu somente conhecia a obra do Inezil.
Há que se destaca que, em 1967, A Força Aérea Brasileira organizou o I Congresso Nacional de Capoeira; como também organizou o II Congresso Nacional de Capoeira. Nestes dois eventos, aviões da FAB trouxeram Mestres de todo o Brasil com o objetivo de dar uma organização nacional efetiva à prática da luta (Vieira, 2005) 121. Em 1995, outro Oficial da Marinha lança livro sobre o assunto: SANTOS, Esdras M. dos. “Conversando sobre capoeira”. São Paulo: JAC. Livro emocionado, desassombrado e extremamente
118 LACÉ LOPES, 2005, obra citada, p. 386-388; 2006. 119 Da COSTA, Lamartine Pereira. Depoimento de Lamartine P. Da Costa sobre livros de Capoeira no Brasil – 15fev15. Em Correspondência pessoal. De: "Lamartine DaCosta" Enviada:segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015 05:56:19 Para:"Leopoldo Gil Dulcio Vaz" (vazleopoldo@hotmail.com)- Re: MARINHA CAPOEIRA MARANHÃO. 120 Em 1960, Lamartine Pereira da Costa, então oficial da Marinha, diplomado em Educação Física pela E.E.F.E e instrutor chefe dos cursos de Escola de Educação Física da Marinha, CEM-RJ, lança um livro que se tornou o clássico da capoeira: Capoeiragem – A arte da Defesa Pessoal Brasileira. http://www.capoeiramestrebimba.com.br/busca_reconhecimento.html 121 VIEIRA, 2005, obra citada, p. 39-40.
informativo. Preciosa fonte de informações e esclarecimento sobre a trajetória da Capoeira Regional. (Lace Lopes, 2005) 122. Aliás, para o Mestre André Lacé, estudioso da Capoeira, um grande mote, ainda virgem, é o papel das Marinhas - de Guerra e Mercante - na propagação e no intercâmbio capoeirístico nos portos brasileiros e do mundo. (Lace Lopes, 2005) 123. A esse propósito, já expusemos em vários eventos o que consideramos uma influencia europeia na Capoeira, configurada através da Chausson/Savate (VAZ, 2013; 2014)
124
, praticado por marinheiros no
porto do sul de Marselha, do século XVII. Segundo os historiadores, foram aprendidos pelos 'leões marinhos' em suas viagens aos países do Oceano Índico e o Mar da China. Houve intenso tráfico entre os portos brasileiros - Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Luis e Belém - e Marselha. Encontramos em nossas pesquisas artes marciais que se localizavam justamente nas rotas dos navios dos impérios coloniais assim como nas rotas ancestrais dos malaios e indús que povoaram Madagascar. Posteriormente, em cada rixa da barra em portos franceses era comum ver chutes infligidos em qualquer parte do corpo. Os marinheiros chamavam "Chausson" este tipo de combate, em referência à chinelos normalmente usados a bordo. Marinheiros gauleses e espanhóis eram instruídos com estas formas de ataques e defesas. Na época de Napoleão Bonaparte, os soldados do imperador exibiam publicamente suas "aptidões" chutando a bunda de seus prisioneiros. A punição era conhecida como “Savate”, que pode ser traduzido como "sapato velho” 125. A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira
126
, e em Recife, com as gangues de
Rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês)
127
em Paris e das maltas de fadistas128 de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais
dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos.
122 LACÉ LOPES, 2005, obra citada, p. 386-388; 2006 123 LACÉ LOPES, 2005, obra citada, p. 386-388; 2006 124 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Uma origem da Capoeira é a Ringa-Moringue Maugache? ANAIS do CONGRESSO ISHPES – PHYSICAL EDUCATION AND SPORT AROUND THE GLOBE: PAST, PREENTE AND FUTURE. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2013, p. 173-202 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O “CHAUSSON SAVATE” INFLUENCIOU A CAPOEIRA? ANAIS XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA. Londrina-PR, 19 a 22 de agosto de 2014b. VAZ, 2014, obra citada. 125 On line http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/01/pelea-de-marinos-savate.html 126 As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira) 127 As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira). 128 SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf
http://cap-dep.blogspot.com/search/label/1890-BRASIL-Capoeiragem%20prohibido
O "Chausson" era do sul da França e usava somente os pés; já no Norte, usava-se a combinação de pés e mãos abertas - "savate”. Enquanto os homens se reúnem em um duelo de tiro com espadas ou bastões, as classes mais populares lutavam com os pés e batendo com os punhos, de modo que o Savate, esgrima, pés e punhos, tornaram-se a prática de "Thugs" no momento, para citar apenas Vidocq, Chefe simbólico do fim do século XVIII. O contato com essas formas de luta se dá, também, com a interação entre marinheiros, nas constantes viagens entre os dois lados do Atlântico, pois navios da marinha francesa entre 1820 e 1833 foram de Brest (cidade natal de Savate) para Portos do Brasil (Capoeira), Martinica (Ladja) e Bourbon (Moringa):
Fonte: Tratado de hygiene naval, ou, Da influencia das condições physicas e moraes ... Por J. B. Fonssagrives, on line http://eu-bras.blogspot.com/search/label/1820-1833-BREST%28Cuna%20del%20SAVATE%29Navios%20de%20la%20Armada%20frecuentando%20BRASIL%28Capoeira%29%20-MARTINICA%28Ladja%29%20Y%20BOURBON%28Moringue%29
Fonte: LIBRO:Souvenirs d'un aveugle Escrito por François Arago, Jules Janin Edición: 4 - 1868 - http://books.google.com/books?id=5hGQKQrB8QC&hl=es&source=gbs_navlinks_s, on line:Ç http://eu-bras.blogspot.com/search/label/1840-RIOSavate%20y%20Bast%C3%B3n%20en%20Rio%20de%20Janeiro
Câmara Cascudo
129
informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no
ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o "rei da pernada carioca"; é o bate-coxa das Alagoas. Para Costa (2007)
130
, no Rio de Janeiro, no Recife e na Bahia, a capoeira seguia sua história, e seus
praticantes faziam a sua própria. Originavam-se de várias partes das cidades, das áreas urbanas e rurais, das classes mais abastadas às mais humildes, de pessoas de origem africana, afro-brasileira, europeia e brasileira, inserindo-se em vários setores e exercendo várias atividades de trabalho, profissões e ofícios. Alguns exemplos que fundamentam essa constatação: Manduca da Praia, empresário do comércio do ramo da peixaria, Ciríaco, um lutador e marinheiro (CAPOEIRA, 1998, p. 48)
131
; José Basson de Miranda
Osório, chefe de polícia e conselheiro (REGO, 1968)132 ; mais recentemente, Pedro Porreta, peixeiro, Pedro Mineiro, marítimo, Daniel Coutinho, engraxate e trabalhador na estiva; Três Pedaços, que trabalhava como carregador (PIRES, 2004, p. 57, 61, 47 e 73)133; Samuel Querido de Deus, pescador, Maré, estivador e Aberrê, militar com o posto de capitão (CARNEIRO, 1977, p. 7 e 14)134. Todos eram capoeiristas. Em postagem no Blog “École de capoeira angola de Paris”
135
, ao se discutir “o que é um
contramestre?”, se esclarece a origem dessa graduação. Segundo Mestre Jogo de Dentro, a origem do termo contramestre estaria na intima relação que capoeiras possuíam com os trabalhos portuários. Muitos capoeiras trabalhavam nos portos como estivadores, como marujos, como pescadores, ou ainda, por morarem em cidades litorâneas compartilhavam uma cultura portuária que foi incorporada pela cultura da capoeira que os mestres do inicio do século XX estavam construindo. O autor da matéria encontrou material produzido no século XIX que pode ser elucidador sobre a questão dos contramestres na Capoeira Angola. Trata-se da obra: Princípios de Direito Mercantil e Leis da Marinha para o uso da mocidade Portuguesa, destinado ao comércio, de1819 e impresso em Lisboa. Em nota publicada no jornal sorocabano “Cruzeiro do Sul”
136
ao reproduzir notícia da pretensão de
se fundar uma academia de capoeira no Rio de Janeiro em 1920, tem-se notícias sobre outros homens do mar que utilizavam a capoeira como defesa, em suas brigas pelos portos afora: UM DESPORTO NACIONAL O dr. Raul Pederneiras e o professor Mario Aleixo pretendem fundar no Rio uma escola [...] por ser a capoeiragem um desporto excellente. [...] Um japonez, jogador afamado do "jiú jutsú" foi vencido há tempos pelo capoeira carioca Cyriaco.Raul Pederneiras pensa em reviver esse desporto, auxiliado pelo professor Mario Aleixo, que já ensinou "jiú-jutsú" e capoeiragem à polícia civil do Rio.Os francezes chamam aquelle desporto de "savate": os pés, as mãos, a cabeça, tudo o capoeira emprega quando se defende. A "Folha" cita um
129 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: TECNOPRINT, 1972. 130 COSTA, Neuber Leite Capoeira, trabalho e educação. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, 2007. 131 NESTOR Capoeira: Pequeno Manual do Jogador. 4. ed. Rio de Janeiro: Record. 1998. 132 REGO, Waldeloir. Capoeira Angola: um ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapuã, 1968. 133 PIRES, Antonio Liberac A. Capoeira na Bahia de Todos os Santos: estudo sobre cultura e classes trabalhadoras (1890 - 1937). Tocantins: NEAB/ Grafset. 2004 134 CARNEIRO, Edson. Capoeira. 2 ed. 1977 (Cadernos de Folclore). 135 http://www.angola-ecap.org/matieres-a-penser/em-portugues/87-o-que-e-um-contramestre 136 CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. O ensino da capoeiragem no início do século XX. In JORNAL DO CAPOEIRA, 02.08.2005 - Sorocaba " SP, www.capoeira.jex.com.br, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/o+ensino+da+capoeiragem+no+inicio+do+seculo+xx
marujo brasileiro, um tal "Boi", que num porto francez resistiu a uma escolta numerosa, só se utilizando da cabeça e dos pés.137 (Grifos meus).
Luciano Milani138, em entrevista com Mestre Bola Sete, divulgada pelo Jornal do Capoeira, traz a informação que o grande capoeirista Pessoa Bababá era marinheiro da Marinha Mercante. Discípulo de Mestre Pastinha ingressa em sua academia em 1969: José Luiz Oliveira Cruz, o mestre Bola Sete, nasceu em 31 de maio de 1950, iniciou na capoeira em 1962 como autodidata, em 1968 começa a treinar com o grande capoeirista Pessoa Bababá, marinheiro da Marinha Mercante e discípulo de Mestre Pastinha, em 1969 ingressa na academia de Vicente Ferreira Pastinha, [...].
A Capoeira maranhense teve, dentre seus precursores Roberval Serejo
139
, que fundou o grupo
“Bantus”. Roberval Serejo aparece no Maranhão por volta dos anos 60 do século passado; era escafandrista da Marinha, tendo aprendido capoeira no Rio de Janeiro - quando lá servia -, com o Mestre Arthur Emídio140, um baiano de Itabuna, considerado referência na história da capoeira. Mestre Patinho relata o aparecimento desse grupo: [...] bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão, onde nasci [...]outro amigo que era marinheiro da Marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão [...]141.
Em meados dos anos 2000, a Marinha do Brasil realizou uma parceria com ONGs num projeto social chamado “Cidadão do Amanhã”, coordenado pela ONG Ativa, com o grupamento dos Fuzileiros Navais, em que se realizavam atividades de recreação e ensino de capoeira 142.
137 Cruzeiro do Sul, 31 jan 1920 138 MILANI, Luciano. Mestre Bola Sete & Capoeira Angola. In JORNAL DO CAPEIRA, 31 de Julho de 2005, disponível em http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/mestre+bola+sete+capoeira+angola ; www.lmilani.com 139 Mestre Mirinho (Casimiro José Salgado Corrêa) In LIVRO ÁLBUM DOS MESTRES DA CAPOEIRA NO MARANHÃO – em entrevista concedida a Hermílio Armando Viana Nina aluno do Curso de Educação Física da UEMA, em fevereiro de 2005. 140 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ARTHUR EMÍDIO E A CAPOEIRAGEM EM SÃO LUIS DO MARANHÃO. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2013/11/15/cronica-da-capoeiragem-artur-emidio-e-a-capoeiragem-em-sao-luis-do-maranhao/ 141 Antonio José da Conceição Ramos – Mestre Patinho – em entrevista concedida a Manoel Maria Pereira in “Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira do Maranhão”, trabalho de pesquisa apresentado a disciplina História da Educação Física e Esportes, do Curso de Educação Física da UEMA, turma C-2005. 142 http://raivosocdonatal.blogspot.com/2008/01/capoeira-na-marinha-projeto-social-2006.html#ixzz3RYppoBen
QUEM NÃO PODE COM O POTE NÃO AGARRA NA RODILHA AYMORÉ ALVIM AMM, ALL, IHGM, APLAC.
Na semana passada, quando preparava o elogio do patrono da Cadeira que ocupo, na Academia Ludovicense de Letras, com o tema: “Barbosa de Godói no cenário cultural do Maranhão”, deparei-me, ao pesquisar sobre os componentes do Grupo Maranhense, com o poeta e tradutor Odorico Mendes, quem primeiro traduziu para o português os épicos Eneida de Virgílio e Ilíada e Odisséia de Homero. Isto me fez lembrar um episódio ocorrido quando eu estava no Seminário por volta de 1956. O Seminário Santo Antônio, à época, era dirigido pelos padres lazaristas que mantinham a Academia D. Francisco de Paula e Silva. Todos os domingos, a partir das 14h00, havia reunião acadêmica, sempre presidida pelo padre reitor. Essas reuniões eram mais um exercício didático-pedagógico do que propriamente um movimento literário. Ali nós aprendíamos a ler, discursar de improviso, declamar poesias, interpretar e ate fazer crítica sobre um discurso ou uma poesia apresentada. Os seminaristas que cursavam até o terceiro ano declamavam poesias, liam crônicas ou discursavam. Às vezes, o padre que nos ensinava português dava a um de nós um tema para estudar e preparar um discurso para ser apresentado, na sessão seguinte. Outras vezes, o padre reitor, no início da reunião, chamava dois ou três seminaristas, dava-lhes um tema para ser discursado de improviso, no final da sessão.Os alunos do 4°, 5° e 6° anos podiam, ainda, discursar ou declamar poesias em grego ou em latim. Para isso, o interessado deveria solicitar com uma semana de antecedência. Foi o que fez Francisco Lima. Além de ser um aluno aplicado era convencido demais, parecendo, às vezes, que vivia nas nuvens. Ele dizia que isso era porque era poeta. Estava conversando com as neréiades inspiradoras. Em tudo o que se falava ele dizia que era bonzão nisso. Dizia saber mais latim, português, matemática e outras disciplinas do que qualquer um de nós. Simplesmente, era o tal. Por isso era chamado de Chico Bonzão. Em um desses domingos, Chico Bonzão se inscreveu para declamar uma poesia em latim. Disse-nos depois que iria preparar o primeiro canto da Eneida de Virgílio. Que a gente podia aguardar para que pudéssemos ver como se declamava em latim clássico. A Eneida é um épico latino composto por Virgílio, poeta romano que viveu no século I a.C. Ele o escreveu por solicitação do imperador Augusto para cantar as glórias do império. O tema principal gira em torno da saga do troiano Eneas que após a guerra de Tróia viajou pelo Mediterrâneo e chegou à península Itálica se tornando, então, o ancestral de todos os romanos. Chegado o dia, nos reunimos no salão de estudos e o padre reitor deu por aberta a sessão. Após uns dois ou três, Bonzão foi chamado. - Seu Francisco Lima, que poesia vai declamar? - O primeiro canto da Eneida. - E o senhor preparou bem, seu Lima? O senhor não está no quarto ano e Virgílio não é traduzido só no quinto? - Mas está tudo aqui. Apontou o dedo indicador para a cabeça. - Então vamos lá, disse-lhe o reitor. Bonzão subiu no púlpito, deu uma sobranceira olhada na platéia e começou. -
“Arma
virumque
cano,
Troia
qui
primus
ab
oris
Italiam,
Fato
profugus,
Laviniaque
venit litora”... ( “eu canto as armas e o varão que lá de Troia prófugo, à Itália e de Lavino às praias trouxe o primeiro fado” O. Mendes)... Aí, Bonzão engatou. - Como é, seu Francisco, vai terminar ou não? - Seu padre, eu estou querendo, mas fugiu da cabeça. Eu sabia todo esse primeiro canto. Não sei o que aconteceu. - Muito bem, o que o senhor entendeu do que decorou? - Padre, eu entendi quase tudo. O que me complicou mesmo foi esse “virumque”. - Então o senhor não entendeu nada. Diga que poeta português para escrever o seu poema se inspirou na Eneida? - Bonzão pensou um pouco e... Ah! seu padre, essa eu sei. Foi o nosso grande poeta Gonçalves Dias que cantou os nossos índios. Aí o pessoal não aguentou e a gargalhada foi geral. Bonzão estava lívido. - Seu Francisco, o senhor é um grande idiota. O que Gonçalves Dias tem a ver com Eneida do Virgílio. - Padre, o que ele tinha com essa Eneida do Virgílio eu realmente não sei. O que eu ouvi dizer foi que ele gostava de uma moça daqui de São Luís, mas a família não queria por ele ser mulato. Não é isso? Outra gargalhada do pessoal... - Seu Francisco, o senhor é um caso perdido. A partir de amanhã, nas horas de folga o senhor venha para o salão de estudos e copie 100 vezes o primeiro canto com a tradução. Ao terminar me entregue para conversarmos. Quem quisesse ver homem brabo era só perguntar pra Bonzão por Eneida. Bonzão passou um mês para concluir a incumbência. Nunca mais quis saber de declamar em latim. Como se costuma dizer na minha terra: “Quem não pode com o pote não agarra na rodilha”. Bonzão agarrou... dançou...
POESIA POLARIZADA A PARTIR DO GÊNERO: condição real ou engendrada pela supremacia masculina? DILERCY ADLER143
ESPAÇO FEMININO Espaço mulher mulher no espaço espaçonave espaço cósmico cômico espaço!... inusitado das normas do corpo do sexo... do leite materno que eterno sangra do peito a jorrar boca a dentro do homem! (ADLER, 1991)
143
Dilercy (Aragão) Adler. É Psicóloga. Doutora em Ciências Pedagógicas-Cuba.Escritora, com 12 livros publicados e Organizadora de 12 Antologias (nacionais e internacionais). Membro fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras - ALL, Cadeira de nº 8. Titular da Cadeira Nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM. Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil.
Ao receber o convite para compor a mesa POESIA FEMININA,senti-me agraciada por ter a oportunidade de debruçar-me sobre um tema apaixonante, envolvente, que é a questão de gênero,o qual, por sua vez, aborda a vida na terra, os viventes e sobreviventes do planeta terra, que foram divididos e criados ou criados e divididos em dois gêneros. Nesse contexto de criação e divisão dos seres humanos em gêneros,não posso deixar de me referir às Almas gêmeas, o Mito do Andrógino de Platão, que em seu livro O Banqueteobjetiva definir o amor. Um dos momentos mais incisivos do texto envolve o comediógrafo Aristófanes quando faz um belo discurso que se imortalizou como a teoria da alma gêmea. Aristófanes assim se expressa: [...] no início dos tempos os homens eram seres completos, de duas cabeças, quatro pernas, quatro braços [...] considerando-se seres tão bem desenvolvidos, os homens resolveram subir aos céus e lutar contra os deuses, destronando-os e ocupando seus lugares. Todavia, os deuses venceram a batalha e Zeus resolveu castigar os homens por sua rebeldia. Tomou na mão uma espada e cindiu todos os homens, dividindo-os ao meio. Zeus ainda pediu ao deus Apolo que cicatrizasse o ferimento (o umbigo) e virasse a face dos homens para o lado da fenda para que observassem o poder de Zeus. Dessa forma, os homens caíram na terra novamente e, desesperados, cada um saiu à procura da sua outra metade, sem a qual não viveriam. Tendo assumido a forma que nós temos hoje, os homens procuram sua outra metade, pois a saudade nada mais é do que o sentimento de que algo nos falta, algo que era nosso antes. Por isso, os homens vivem em sociedade, pois desenvolvem o trabalho para buscar, nessa relação amorosa, manter a sua sobrevivência. Dessa forma, o ser que antes era completo homemhomem gerou o casal homossexual masculino; o ser mulher-mulher, o casal homossexual feminino. E o andrógino (parte homem, parte mulher) gerou o casal heterossexual. E a força que une a todos é o que nos protege, já que Zeus prometeu cindir novamente os homens (ficaríamos com uma perna e um braço só!) se não cumpríssemos o que foi designado pela divindade. (CABRAL, 2016).
Essa é uma das explicações, neste caso, mitológica, da existência dos gêneros humanos: masculino e feminino, que de uma forma romântica e mítica interpreta a necessidade do outro, do amor, da saudade existente em cada ser.
SOBRE A QUESTÃO DE GÊNERO NA HITÓRIA DA HUMANIDADE E NA LITERATURA Essa questão não é nova, mas continua instigante e atual, a partir da existência de dois seres, distintos em suas sexualidades. Parece serdessa condiçãoque todo o mundo humano também se divide em dois, desde as características e condições mais palpáveis, objetivas, como: vestuário, cores, brinquedos, profissões, até as mais subjetivas,quais sejam: prazeres, motivações, emoções, inteligências, potencialidades, capacidades, entre outras. O fato é que, historicamente, com raríssimas exceções, o homem tem marcado a sua existência por meio de uma supremacia sobre a mulher. O seu universo é caracterizado por mais plasticidade e acesso a mais (em termos quantitativos) e mais intensos estímulos para o desenvolvimento das suas potencialidades do que o da mulher. Assim é que, também a arte, a exemplo da ciência, vai demonstrar um quantitativo maior de expressões, de obras masculinas do que de femininas. Ou seja, em todas as áreas do conhecimento, o pensamento adotado e divulgado socialmente é aquele que tem na sua base o modelo eurocêntrico, masculino, caucasiano e aristocrático. Ao se ter acesso a qualquer manual de História da Literatura, nota-se uma débilpresença ou completa ausênciade mulheres escritoras. Grande parte daqueles que contêm nomes femininos figuram a partir da Idade Contemporânea, situados na estética literária conhecida como Romântica. A lacuna no que diz respeito às mulheres como sujeitos na História é vasta e, em sua obra, Lola Luna discuteessa omissão na historiografia literária. No seu estudo, refere-sea essa condição na literatura espanhola, elencando vários nomes “esquecidos” desde o Século de OuroEspanhol. Diz Luna apud Nascimento, 2015:
[...] Algo que chama a atenção é que o século de Ouro espanhol coincide com a Era Aristocrática da obra de Bloom e, por conseguinte, com a Idade Moderna. Ou seja, esse silenciamento das vozes femininas parece se consolidar como regra neste período. [...] O que resta é saber que mulheres escreviam e o que elas escreviam. Mas, antes de tudo, a História das Mulheres e a História da Leitura responderão às questões de como e quando as mulheres passaram a ter acesso à leiturae às práticas de escrita (grifo nosso).
Em seu renomado livro O cânone Ocidental, Harold Bloom divide o seu estudo em cinco capítulos: Sobre o Cânone, A Era Aristocrática, A Era Democrática, A Era do Caos e Catalogando o Cânone. Apresenta vinte e seis escritores no total como obrigatórios para conhecer a literatura ocidental e, dentre eles, apenas três nomes femininos: Jane Austen, Emily Dickinson e Virgínia Woolf, estando as duas primeiras na Era Democrática, e a segunda, na Era do Caos. Não há sombra de dúvidas de que à mulher coube, por um período histórico considerável, menos espaço e condições favoráveis para o desenvolvimento das suas potencialidades,principalmente no tocante aos aspectosreferentes à capacidade de análise crítica e maisabstratos e da sua inteligência. No tocante à Literatura, os estudos mostram a polêmica acerca das questões de gênero nessas produções, de onde surgem as indagações: Existe umaliteratura feminina? Literatura tem gênero? Críticos e escritores se dividem em relação à temática, de modo que as produções sobre essa matéria,que apesentam premissas distintas, são consideráveis. Um outro dado de real valor é que, também, principalmente na literatura erótica a voz feminina pouco tem sido ouvida e quase sempre de soslaio, porque, por muito tempo e com frequência, somente o grito masculino se fez ouvir (NASCIMENTO, 2011, p 10). No entanto, Nascimento lembra ainda que existe [...] um nome consagrado desde a antiguidade e que ainda emerge em muitos discursos poéticos, apontado um conjunto de deliciosas e eróticas lendas, que expressam diferentes costumes e sentimentos. Estamos falando de Safo que nasceu na ilha de Lesbos e aí chefiou uma escola poética, na Grécia antiga (NASCIMENTO, 2011, p 10).
Em reposta às interrogações anteriores,podem ser arroladas de forma bem genérica duas posições antagonistas: de um lado, aquela que afirma existir uma produção literária feminina, cujos temas específicos ao próprio gênero são desenvolvidos pelas mulheres. A partir dessas produções se conhece a mulher que engendrou as tramas e situações apresentadas, que, por sua vez, expressa a concepção que ela tem de si mesma, advinda da própria essência. Nessa perspectiva há, sim,um mundo particularmente feminino, construído através da/e pela visão de mundo feminino, pelas relações com as outras mulheres, assim como das relações das mulheres com os homens. Nesse contexto, cabe à crítica literária feminina, dar visibilidadeprincipalmente às mulheres, tornando também audíveis assuas vozes e discutindo o real lugar da autoria feminina no cânone literário, desconstruindo a visão eurocêntrica, androcêntrica e caucasiana. De outro lado,existe o não reconhecimento de uma linguagem lírica, específica do gênero feminino. Ficam, então, as duas posições teóricas para a reflexão do leitor e/ou estudioso dessa questão. SOBRE O ESPECÍFICO DA POESIA FEMININA Nesta parte da minha análise, para dar vigor às minhas argumentações posteriores, apresentarei algumas poesias sem nomear o gênero do(a) autor(a). Assim, através das interpretações do mundo e da afetividade poematizadas, vamos ver se identificamos a visão deum gêneroespecífico.
SONHE144 "Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu. Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar, sabe-se lá aonde. As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces. O sorriso! Esse, você deve segurar, não o deixe ir embora, agarre-o! Persiga um sonho, mas, não o deixe viver sozinho. Alimente a sua alma com amor, cure as suas feridas com carinho. Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas, não enlouqueça por elas. Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca. Alague seu coração de esperanças, mas, não deixe que ele se afogue nelas. Se achar que precisa voltar, volte! Se perceber que precisa seguir, siga! Se estiver tudo errado, comece novamente. Se estiver tudo certo, continue. Se sentir saudades, mate-as. Se perder um amor, não se perca! Se o achar, segure-o! Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada".
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FERNANDO PESSOA
ESBOÇO145 Teus lábios inquietos pelo meu corpo acendiam astros... E no corpo da mata os pirilampos de quando em quando, insinuavam fosforescentes carícias... E o corpo do silêncio estremecia, chocalhava, com os guizos do cri-criosculante dos grilos que imitavam a música de tua boca... E no corpo da noite as estrelas cantavam com a voz trêmula e rútila de teus beijos...
DO AMOR146 Quando o amor vos chamar, segui-o, Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; E quando ele vos falar, acreditai nele, Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos Como o vento devasta o jardim. Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, Assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para vosso crescimento, Trabalha para vossa queda. E da mesma forma que alcança vossa altura E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol, Assim também desce até vossas raízes E as sacode no seu apego à terra. Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração. Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis. Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma No pão místico do banquete divino. Todas essas coisas, o amor operará em vós Para que conheçais os segredos de vossos corações E, com esse conhecimento, Vos convertais no pão místico do banquete divino. Todavia, se no vosso temor, Procurardes somente a paz do amor e o gozo do amor, 145 146
GILKA MACHADO, (in Sublimação, 1928). KHALIL GIBRAN
Então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez E abandonásseis a eira do amor, Para entrar num mundo sem estações, Onde rireis, mas não todos os vossos risos, E chorareis, mas não todas as vossas lágrimas. O amor nada dá senão de si próprio E nada recebe senão de si próprio. O amor não possui, nem se deixa possuir. Porque o amor basta-se a si mesmo. Quando um de vós ama, que não diga: “Deus está no meu coração”, Mas que diga antes: "Eu estou no coração de Deus”. E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, Pois o amor, se vos achar dignos, Determinará ele próprio o vosso curso. O amor não tem outro desejo Senão o de atingir a sua plenitude. Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, Sejam estes os vossos desejos: De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho Que canta sua melodia para a noite; De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada; De ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor E de sangrardes de boa vontade e com alegria; De acordardes na aurora com o coração alado E agradecerdes por um novo dia de amor; De descansardes ao meio-dia E meditardes sobre o êxtase do amor; De voltardes para casa à noite com gratidão; E de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, E nos lábios uma canção de bem-aventurança. Sem Título147 Não quero dormir sem teus olhos Não quero ser, sem que me olhes Abro mão da Primavera, pra que continues me olhando..."
Sem Título148 "A mais bela coisa deste mundo para alguns são soldados a marchar, para outros uma frota; para mim é a minha bem-querida".
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PABLO NERUDA SAFO
DESEJO149 Eu desejei aquele corpo sem rosto sem alma sem nome sem significado sócorpo! eu desejei aquele corpo com ímpeto com o total furor e langor da minha libido desprovida de qualquer amor sem qualquer pudor só sexo! eu desejei aquele corpo só corpo só sexo sem rosto sem calma desejo sem nexo?! só sexo sexo e corpo sem alma e sem rosto ah! como o desejei!!! Ao ler esses poemas me flagrei trocando o gênero dos autores em quase sua totalidade. Essa constatação me leva a acreditar que não existe uma poesia especificamente da lavrafeminina.Não verifiquei uma poética engendrada pela mulher, a partir da visão da mulher do mundo vivido e do universo das suas próprias emoções, da forma como lida com os próprios sentimentos ou com a dor em geral. O mesmo aconteceu com os homens, não reconheci o gênero masculino nas suas verves poéticas. Por outro lado, na sociedade ocidental contemporânea,a divisão social do trabalhose firma como característica fundamental eessa divisão, por sua vez, está atrelada ao gênero. O mais contundente é que a divisão entre os gêneros não se restringe apenas ao trabalho, mas apresenta raios de influência em outras esferas da vida e do ser,como: comportamentos, oportunidades, obrigações das instâncias institucionais. Nos scriptspredeterminados socialmente, não se pode negar que há um modo feminino de ser, mas, com base no Mito do Andrógino de Platão, posso asseverar que homens e mulheres podem parir poemas femininos, extraí-los das entranhas e as mulheres podem fazer poemas – masculinos e/ou do modo de ser masculino, também ousados, ou de uma crueza amarga que se identifica mais com os atributos determinado/destinados aomodo masculino de ser. Isso posto, percebo uma poesia pautada no gênero feminino feita por homens e mulheres, de onde concluo que não existe uma Poesia feminina, mas existe poesia sobre o modo feminino de ser louvado e/ou pranteado por homens e mulheres indistintamente.
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DILERCY ADLER
DESEJO Quero extrair mais um poema das entranhas... estranha arte de parir palavras! (ADLER, 1991) OBRIGADA!! REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos - Gris. São Luís/MA: Graphos,1991. ______. Poesia Feminina: estranha arte de parir palavras. São Luís/MA: Estação Gráfica, 2011. NASCIMENTO, Camila Maria Silva. Dilercy Adler: a tecelã de Eros nos trópicos maranhenses. São Luís/MA: Estação Gráfica, 2011. CABRAL, João Francisco Pereira. "Mito da alma gêmea"; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/filosofia/mito-alma-gemea.htm>. Acesso em 07 de junho de 2016. LUNA, Lola. Leyendo como uma mujerlaimagen de laMujer. Barcelona: Anthropos, 1996.https://www.seer.furg.br/hist/article/viewFile/5418/3357. NASCIMENTO, Michelle Vasconcelos Oliveira do. SOBRE A HISTÓRIA DA LITERATURA E O SILENCIAMENTO FEMININO: QUESTÕES DE CRÍTICA LITERÁRIA E DE GÊNERO. https://www.seer.furg.br/hist/article/viewFile/5418/3357. NorthangerAbbey ou A abadia de Northanger foi publicado postumamente em 1817 e escrito entre 1798 e 1799. https://www.seer.furg.br/hist/article/viewFile/5418/3357.
1ª FLAEMA...
ALL NA MÍDIA
LISTELLO E A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA150 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ151 LAÉRCIO ELIAS PEREIRA152
AUGUSTE LISTELLO153 - França: 1918-2010. Um dos criadores do Método Desportiva Generalizada, quando era um dos diretores do Instituto Nacional de Esportes da França no pós-guerra, o Prof Listello, depois de aposentado, trabalhou por 12 anos como professor de uma escola de primeiro grau, onde experimentou seu novo método, que está publicado em Educação pelas Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer, com edição dedicada aos professores do Brasil, onde esteve 12 vezes ministrando cursos. No primeiro curso, em Santos, em 1952, ele apresentou o Handebol de Salão, sendo considerado o introdutor da modalidade no Brasil. Argelino de nascimento Listello tem cidadania francesa por ter integrado a Legião Estrangeira. Autor de: Educacion Physique pour Tous e Recreación y Educación Física Deportiva. O Método Desportivo Generalizado aparece no contexto educacional brasileiro a partir da década de 1950. Elaborado por professores do Institut National des Sports (França) na década de 1940, o Método Desportivo Generalizado tem por preceito a educação integral de jovens e adultos através de jogos e atividades desportivas. Para tanto, quatro princípios estabelecidos pelos autores tornam-se fundamentais na aplicação desta metodologia: Educação Física para todos; Educação Física orientada; Prevenção do mal e Aproveitamento das horas livres (CUNHA, 2015) 154. Os jogos e as atividades desportivas, baseadas em tais princípios, proporcionariam aos educandos a possibilidade de apreenderem noções de trabalho em equipe, 150
Publicado em 03 de março de 2016 no BLOG DO LEOPOLDO VAZ, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/03/03/12670/ e no CEV/COMUNIDADES/EDUCAÇÃO FISICA MARANHÃO, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/listello-e-a-educacao-fisica-brasileira/ 151 Professor de Educação Física do IF-MA, aposentado; Mestre em Ciência da Informação. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (Cadeira 40); Membro fundador da Academia Ludovicense de Letras (Cadeira 21). http://cev.org.br/qq/vazleopoldo/ 152 Professor de Educação Física da UFMG, aposentado. Mestrado na USP (dissertação: Mulher e Esporte) e doutorado na UNICAMP (a tese foi o CEV); membro do comitê executivo da Associação Internacional para a Informação Desportiva - IASI. Coordenador Geral do Centro Esportivo Virtual- ONG CEV. http://cev.org.br/qq/laercio/ 153 http://cev.org.br/qq/auguste-listello/ 154
CUNHA, Luciana Bicalho da. A Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil: primeiros apontamentos. IN apontamentos de estudo de doutoramento, iniciado neste ano de 2014 no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em https://anpedsudeste2014.files.wordpress.com/2015/04/luciana-bicalho-da-cunha.pdf
altruísmo, solidariedade, hábitos higiênicos para além do desenvolvimento físico (FARIA JR, 1969) 155. Esse método pressupõe que os exercícios físicos executados até então por obrigação no ambiente escolar passariam a ser realizados por prazer, pois seriam levados em consideração as experiências, as necessidades e os interesses dos alunos. (MARTINEZ, 2002) 156: [...] ‘Educação pelas atividades físicas, esportivas e de lazer’, de 1979, foi escrita originalmente em francês por Listello e traduzida pelo então professor da USP Antonio Boaventura da Silva e colaboradores. Esta obra parece ter sido uma adaptação do MDG para a realidade brasileira, pois foi publicada após quase duas décadas de contato com o Brasil e em parceria com uma universidade brasileira.(CUNHA, 2012?)157.
De acordo com Martinez (2002) 158, Listello esteve no Brasil por doze vezes, sendo a primeira em 1952 e a última em 1980 159. Ao longo dessas passagens, assumiu a responsabilidade de ministrar aulas teóricas e práticas abordando o Método Desportivo Generalizado 160 em diferentes espaços de formação como as Jornadas Internacionais de Educação Física em Belo Horizonte 161 e no Curso Internacional de Formação e Aperfeiçoamento de professores de Educação Física em Santos. Atuou também em várias cidades brasileiras e em outros países da América Latina como Argentina, Uruguai e Paraguai: O grande número de cursos ministrados por Listello em variadas cidades brasileiras bem como a repercussão de suas jornadas relatadas na imprensa, nas revistas e livros da área e nas correspondências oficiais entre Brasil e França podem sugerir o interesse de sujeitos e instituições ligados a Educação Física a partir da década de 1950, na renovação da concepção e métodos de ensino da área e, em especial, nesta metodologia divulgada pelo professor francês. Algumas importantes publicações da área da Educação Física indiciam um acolhimento por parte dos professores brasileiros ao Método Desportivo Generalizado. .(CUNHA, 2015) 162.
Lourdes (2008)163 ao fazer uma análise de alguns dispositivos utilizados em São Paulo para a difusão de projetos educacionais de Educação Física destaca a participação importante nessas ações de divulgação do professor Antonio Boaventura da Silva:
155
FARIA JR. Alfredo Gomes de. Introdução à didática de Educação Física. Rio de Janeiro: Honor Editorial Ldta. 1969. MARTINEZ, Carlos Henrique Miguel. Auguste Listello: uma contribuição para a Educação Física brasileira. Dissertação (Mestrado em Educação Física) Universidade Católica de Brasilia. Brasília, 2002. 157 CUNHA, 2015, obra citada 158 MARTINEZ, 2002, obra citada. 159 Cidades brasileiras onde Listello atuou: São Paulo-SP, Santos-SP, Bauru-SP, Assis-SP, Tatuí-SP, Bertioga-SP, São Carlos-SP, Ribeirão Preto-Sp, Mogi das CruzesSP, Belo Horizonte-MG, Curitiba-PR, Porto Alegre-RS, Rio de Janeiro-RJ, Brasília-DF, Juiz de Fora-MG, Recife-PE, Belém-PA, Londrina-PR, Campo Grande-MT, São Luiz-MA, Fortaleza-CE, Macapá-AP, Maceio-AL, Aracaju-SE, Salvador-BA (MARTINEZ, 2002) 160 A concretização das idéias do MDG já estava em discussão no Institut Nacional des Sports desde fins da década de 1940, concretizadas no livro “Récréation et Éducation Physique Sportive”, de autoria de Listello, Crenn, Clerc e Schoebel, publicada no ano de 1956. (CUNHA, 2015) 161 Professores referenciados nos jornais e respectivos cursos ministrados País de Professor(a) Curso ministrado origem Gerard Schimitd Áustria Método natural austríaco e ginástica geral Hanns Prochowinck Brasil (RJ) Ginástica de solo August Listello França Atividades físicas generalizadas Antônio Boaventura da Silva Brasil (SP) Ginástica sueca Moacyr Daiuto Brasil (SP) Basquetebol Pierre Well Brasil Psicologia aplicada à Educação Física Gino Poiani Itália Atletismo – arremesso de peso Dorle Drewke Kuck Alemanha Ginástica feminina Fisiologia aplicada; fisiologia da emoção; controles nervosos do aparelho locomotor; biotipologia da Joaquim Lacaz de Morais Brasil (SP) Educação Física Lia Bastian Meyer Brasil (RS) Ginástica rítmica João Carlos Paixão Côrtes Brasil (RS) Danças regionais Érica Saur Brasil (RJ) Ginástica feminina Yesis Ilda y Amoedo Brasil (RJ) Sociometria Passarinho Hélcio Buck Silva Brasil (PR) Circuit training Alfonz Z. Renez Hungria Educação Física para crianças; jogos e atividades com e sem aparelhos 156
Fonte: Acervo do Centro de pesquisa e estudos. Fundo Institucional E.E.F.M.G. 162
CUNHA, 2015, obra citada 163 LOURDES, Luiz Fernando Costa de. A PRÁTICA ESCOLAR E O ESPORTE NO ENSINO SECUNDÁRIO EM SÃO PAULO NOS ANOS DE 1950. Disponível em http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe6/anais_vi_cbhe/conteudo/file/1305.pdf
[...] promoção de práticas de ensino do esporte nas aulas de educação física e a relação entre os campeonatos colegiais e os cursos de aperfeiçoamento técnico e pedagógico em Educação Física ministrados e realizados no Brasil, Argentina, Chile e Uruguai.
Caderno de planejamento da I Jornada. Atividades Físicas Generalizadas (professor Auguste Listello, ago. 1957) Fonte: Acervo do Centro de pesquisa e estudos. Fundo Institucional E.E.F.M.G.
Para essa pesquisadora, Boaventura foi o primeiro e o principal organizador dos cursos técnicos e pedagógicos de Educação Física (1950-1960) realizados em sua maioria na Escolástica Rosa (uma escola pública), na cidade de Santos. Também eram chamados de Curso Internacional de Santos ou Estágio Internacional de Santos. Os cursos ocorriam anualmente, eram gratuitos e de forma semelhante foram realizados em diferentes partes do estado de São Paulo, em estados brasileiros e países sul-americanos variando em sua regularidade: Em 1949, Boaventura foi à “II Lingíada” 164como representante do Estado de São Paulo, fato de fundamental importância para que se entenda uma de suas relações. Na Suécia, o professor toma contato com agentes de diferentes instituições de Educação Física de outros países, como o Professor Curt Johansson, do Instituto Real Central de Ginástica de Estocolmo, e o Professor Auguste Listello, dirigente do “Institut des Sports” da França. Destaco estes dois professores, pois no ano seguinte vieram ao Brasil apresentar suas propostas para a área. O primeiro curso de aperfeiçoamento de professores do estado de São Paulo teve a presença de Auguste Listello, que trouxe a proposta do sistema de Educação Física Esportiva Generalizada165. [...] Em junho de 1952, no curso de aperfeiçoamento técnico e pedagógico de Santos, Auguste Listello escreve uma apostila que é distribuída aos participantes, intitulada “Princípios da Educação Física
164
Em anos anteriores, convencionou-se chamar de LINGÍADA o evento que reunia várias equipes de ginástica da Suécia e de países convidados para promover exibições públicas de coreografias gímnicas, tal evento foi organizado em homenagem a Per Henrik Ling, considerado o criador do método ginástico sueco, que havia criado um método de ginástica Escolar, ginástica preventiva e corretiva (medicinal) e por fim um método ginástico de preparo físico (militar), que foi difundido mundo afora. LOURDES, Luiz Fernando Costa de. A PRÁTICA ESCOLAR E O ESPORTE NO ENSINO SECUNDÁRIO EM SÃO PAULO NOS ANOS DE 1950 165 O método preconizava que as aulas deveriam buscar uma formação integrada do indivíduo, respeitando os limites de faixa etária, atendendo aos diferentes níveis de habilidades dos alunos, bem como o principal tema era o esporte e suas benesses. Este modelo foi apropriado de modo duradouro, de maneira que encontramos vestígios de suas bases na Educação Física atual, em que o conteúdo esportivo é privilegiado, sendo que outros conteúdos, como a ginástica, a dança, o jogo e as lutas, são ignorados ou mesmo esquecidos, nas aulas de Educação Física. LOURDES, Luiz Fernando Costa de. A PRÁTICA ESCOLAR E O ESPORTE NO ENSINO SECUNDÁRIO EM SÃO PAULO NOS ANOS DE 1950
Esportiva Generalizada”, em que relata um pouco da origem da Educação Física esportiva generalizada. No período do pós-guerra, a direção geral da juventude e dos esportes da França reuniu as diferentes federações esportivas a fim de criar um “Sistema de Educação Física no qual os esportes fossem dignamente representados, proporcionando aos jovens franceses uma justa compensação das suas necessidades”.
Inezil Penna Marinho (1982)166 e Alfredo Gomes de Faria Jr (1969)167, autores importantes da área citados por CUNHA (2015) -, descrevem a Educação Física Desportiva Generalizada, como eles mesmos denominam, como um importante método em voga que visa o desenvolvimento integral dos alunos através de formas de trabalho coletivas. Notamos entre o moderno professorado especializado brasileiro uma opção entre o Método Natural Austríaco e a Educação Física Desportiva Generalizada. Eis porque, neste trabalho, só nos preocuparemos com estes dois métodos [...] (FARIA FILHO, 1969, p.131). O Prof. Auguste Listello tem voltado ao Brasil numerosas vezes, sempre realizando cursos para a maior divulgação da Educação Física Desportiva Generalizada, que figura nos programas de quase todas as escolas especializadas do país, além de sua prática bastante difundida em nossos estabelecimentos de ensino secundário. (MARINHO, 1982, p.91)
Para Cunha (2015), vários autores brasileiros - Inezil P. Marinho, Alfredo G. de Faria Jr, Mauro Betti (1991) - apontam a importância do MDG no sistema escolar brasileiro: [...] principalmente no que diz respeito à inserção do esporte na escola. Em suas obras, eles definem, sinteticamente, a Educação Física Desportiva Generalizada como um método que renovou a Educação Física brasileira, inserindo, através de jogos esportivos e atividades coletivas, o gosto pelo prazer de se exercitar o físico.
Para Soares (1996) 168, a obra de Auguste Listello é singular para afirmar a hegemonia esportiva no ensino de Educação Física na escola, bem como o modelo de aula baseado nos parâmetros do treinamento esportivo. Essa proposta da Educação Física Desportiva Generalizada, deflagrada durante o curso internacional de Santos, foi apropriada de diversas maneiras, não se configurou como um projeto de Educação Física “Nacional” como alguns intelectuais almejavam, mas foi um padrão amplamente difundido e aplicado nas aulas de Educação Física do Brasil e América do Sul (LOURDES, 2007) 169: Os planos elaborados de educação física e esportiva têm suas bases nos jogos, a “sã” emulação e a competição coletiva “[...] se aplica melhor à massa de uma forma generalizada, do que apenas, a grupos privilegiados. Isso, entretanto, não quer dizer que abandonamos esses grupos selecionados”. Tais características deveriam ser observadas, dirigidas e adaptadas à idade, às necessidades e aptidões do individuo. São duas etapas da educação esportiva em que se divide a “Educação Física Desportiva”: a primeira etapa seria a de iniciação esportiva generalizada ou especializada, e a segunda, de treinamento esportivo generalizado ou especializado. As finalidades da Educação Física Esportiva eram livrar as crianças de sua inatividade, de sua indiferença pelo esforço físico, integrar o sujeito a alguma coletividade, valorizando a pessoa, pensando 166
MARINHO, Inezil Penna. História da educação física e dos desportos no Brasil. Rio [de Janeiro, 1982 FARIA JR. , 1969, obra citada. 168 SOARES, Carmen Lúcia. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR : CONHECIMENTO E ESPECIFICIDADE. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, supl.2, p.6-12, 1996, disponível em http://citrus.uspnet.usp.br/eef/uploads/arquivo/v10%20supl2%20artigo1.pdf 169 LOURDES, Luiz Fernando Costa. “Antonio Boaventura da Silva: o professor e suas concepções sobre a educação física nas décadas de 1940 a 1970”. Dissertação de Mestrado do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade da PUCSP, 2007. LOURDES, Luiz Fernando Costa de. A PRÁTICA ESCOLAR E O ESPORTE NO ENSINO SECUNDÁRIO EM SÃO PAULO NOS ANOS DE 1950. Disponível em http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe6/anais_vi_cbhe/conteudo/file/1305.pdf 167
que o esporte e a educação física “não é um fim, mas um meio de formação e preparação para a vida em geral”. Sendo assim, a iniciação esportiva, forma elementar de educação esportiva, deveria visualizar a realização simultânea e sucessiva através do movimento corporal da 1º. Iniciação à vida social e coletiva, por meio do jogo e da competição esportiva elementar entre equipes; 2º. Iniciação ao esforço progressivo e dosado em relação a idade e as possibilidades fisiológicas da criança e do adolescente; 3º. Iniciação à técnica, isto é, a forma do gesto correspondente a um determinado esporte. Segundo este padrão de Educação Física, a iniciação começaria aos 6 ou 7 anos sob forma de jogo, sendo que ao adolescente e ao adulto a necessidade de atividade seria do esporte. O padrão não deveria se prestar à procura sistemática e exclusiva de sujeitos fisicamente bem dotados, mas deveria oferecer a oportunidade de educar e melhorar a todos indistintamente. [...] Cada sessão ou lição tinha seu caráter definido: 1º. A lição de Educação Física Esportiva Generalizada divide-se em quatro partes correspondente a evolução psico-fisiológica do individuo e possuindo eventualmente uma predominância correspondente às necessidades das pessoas as quais se destina; 2º. A lição de Iniciação Esportiva Especializada compreende um aquecimento, um estudo técnico individual e um estudo de adaptação dos atletas ao jogo de equipe; 3º. A lição de Treinamento Esportivo Generalizado na qual a intensidade e a dificuldade variam de acordo com o grau de evolução dos atletas e que compreende, como a sessão de educação esportiva em quatro partes; 4º. A sessão ou lição de Treinamento Especializado própria aos esportistas que se destinam as competições oficiais.
Já Mauro Soares Teixeira e Júlio Mazzei, tiveram os primeiros contatos com a metodologia proposta por Listello em 1953. Então estudantes, ao realizaram viagem de estudos à França170·, foram recebidos em Paris pelo professor Auguste Listello, reconhecido pelo “quanto fez pela Educação Física no Brasil” (p. 245). Em 1959, já agora professor, Julio Mazzei elabora e publica seu livro “Novas Concepções do Programa por Temporada” (1960) 171. Este conteúdo foi integralmente republicado no “Capítulo X – A Educação Física no Ensino de Graus Médio”, do livro “Cultura, Educação Física, Esportes e Recreação”, de autoria de Julio Mazzei e Mauro Soares Teixeira172. Nas Considerações Gerais escreveu Julio Mazzei: [...] hoje ministramos uma aula segundo o método sueco moderno; amanhã, iniciamos os alunos no vôlei; na segunda semana, começamos com basquetebol e terminamos com futebol de salão; não tem sido esta, em tese, nossa ação? [...] Não é isto o que estamos fazendo há quase 30 anos? (MAZZEI, 1960, p. 14). Isto já parece denotar uma presença forte dos desportos na Educação Física escolar brasileira, ainda que convivendo com os Sistemas e Métodos de Educação Física. O Programa por Temporada propunha dividir o ano letivo em “temporadas” dedicadas à prática de um determinado esporte (Basket, Volei, Atletismo, Futebol, Handball, Natação, Solo e Aparelhos, Lutas, etc.) de maneira que, durante quatro meses (semestre letivo) os alunos de todas as séries ou grupos sejam iniciados e aperfeiçoados na modalidade esportiva prevista para aquela temporada (MAZZEI, 1960, p. 19, citado por FARIA JUNIOR, 2014) 173.
170
FARIA JUNIOR, Alfredo Gomes de. “OS CURRÍCULOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E O ENSINO POR UNIDADES DIDÁTICAS”. C O R P U S s c i . , R i o d e J a n e i r o, v. 1 0, n . 2 , p . 1 6 - 3 2, j u l . / d e z . 2 0 1 4 171 MAZZEI, Julio. Novas concepções do programa por temporada. Araraquara: Belentani, 1960. 172 MAZZEI, Julio; TEIXEIRA, Mauro Soares. Novas concepções do programa por temporada. In: MAZZEI, Julio; TEIXEIRA, Mauro Soares (Org.). Cultura, Educação, Educação Física, Esportes e Recreação. 2. ed. São Paulo: Fulgor, 1967, p. 178-204. v. 2. 173 FARIA JUNIOR, 2 0 1 4, obra citada
Faria Junior (2014) 174 considera que “Programa por Temporada” induz o leitor a considerar que o desporto é a tônica do processo, apesar de aparecerem os demais “meios da Educação Física: Jogos, Esportes, Danças, Ginástica e Excursões como parte integrante de um programa de ação real e objetiva” (MAZZEI, 1960, p. 18) 175. Quando escreve sobre os objetivos específicos referem-se aos “que devem ser alcançados na prática do esporte escolhido durante o transcorrer das aulas [...]” (MAZZEI, 1960, p. 21) 176 . Ainda analisando a obra de Mazzei, Faria Junior177 apresenta-nos as questões que nortearam o autor: “no programa por temporada o jogo, a ginástica, as danças e a excursões, são postos de lado?” (MAZZEI, 1960, p. 30): [...] responde: um programa de Educação Física não seria completo se se utilizar unilateralmente apenas de um de seus meios. Se atentarmos ao plano que acabamos de expor verificaremos que o jogo está representado aqui pelos processos pedagógicos, pelo pequeno jogo, pela “formas de jogo”, etc.; a ginástica pelas atividades específicas da parte formativa da aula que nada mais é do que Ginástica pura como a entendem os suecos, os franceses, os dinamarqueses, os alemães, os americanos, os italianos, os húngaros, os austríacos, e nós mesmos; as excursões (acampamentos, cicloturismo, pedagógicas, etc.) facilmente poderão ser encaixadas no “Programa por Temporada”, sendo que devemos considerar as excelentes oportunidades de excursionar nas fases do Coroamento da Temporada; as “danças, por si só, já constituem ótima atividade complementar do programa, mormente nas turmas femininas e nos programas coeducacionais (sic) (MAZZEI, 1960, p. 30) No que se refere à avaliação: Entre nós, em matéria de testes em Educação Física, até bem pouco tempo, conhecíamos apenas as chamadas, “Provas Práticas” do Método Francês, com finalidade até certo ponto desconhecida: sem a legítima preocupação de prognose e diagnose da aprendizagem e servido de inócuo pretexto de passagem de um grupo para outro, e só [...]. O citado Método Francês falava em verificação periódica de resultados. Para tal verificação, recomendava o exame médico (no início e no final do ano letivo) e as chamadas “provas práticas” que funcionavam principalmente como base da classificação homogênea dos alunos. (MAZZEI, 1960, p. 31). Com a adoção de um Programa por Temporada, exemplificou Mazzei (1960): se a temporada escolhida for a de Natação, iremos ministrar aos nossos alunos como prognose, da aprendizagem que virá, os testes referentes à Natação, testes estes que poderão ser uniformes para todo o Estado ou País, para melhor avaliação de rendimento escolar no estabelecimento de todo o território nacional (ou Estados, ou Região, ou Municípios ... ). Estas provas funcionariam como prognose e ao mesmo tempo como auxiliar nos grupamentos que se seguirão [...]. Realizados todos os testes no início da temporada, os mesmos serão repetidos no final da mesma (diagnose da aprendizagem) e, dentro de um índice que será estabelecido, tendo-se em vista os “scores” obtidos (que serão computados estatisticamente pelos órgãos competentes), serão distribuídos “Diplomas Esportivos de Iniciação” nesta ou naquela modalidade esportiva. (MAZZEI, 1960, p. 32-40) 178.
Faria Junior em seu “Introdução à Didática de Educação Física” 179 conceituava “conteúdo” como o teor do Ensino da Educação Física, através do qual serão atingidos os objetivos educacionais propostos: [...] aqueles nada mais são do que reativos que, uma vez selecionados, programados e dosados vêm facilitar a aprendizagem naquela “prática educativa”. [...] os “conteúdos” da Educação Física correspondem a “matéria” das demais disciplinas constantes dos currículos das escolas brasileiras. (FARIA JUNIOR, 1969, p. 70).
O autor prefere adotar “Unidade Didática”, apesar de reconhecer que na literatura educacional essa expressão tenha registrado outras denominações como unidades de ensino, unidades de aprendizagem, unidades de experiência etc. 174
FARIA JUNIOR, 2 0 1 4, obra citada; MAZZEI, 1960, obra citada. MAZZEI, 1960, citado por FARIA JUNIOR, 2 0 1 4, obra citada. 176 MAZZEI, 1960, citado por FARIA JUNIOR, 2 0 1 4, obra citada. 177 FARIA JUNIOR, 2 0 1 4, obra citada; MAZZEI, 1960, obra citada. 178 FARIA JUNIOR, 2 0 1 4, obra citada; MAZZEI, 1960, obra citada. 179 FARIA JUNIOR, Alfredo Gomes de. Introdução a Didática de Educação Física. Brasília, DF: MEC, 1969. 175
O termo “unidade” foi usado pela primeira vez em educação por Henry Morrinson (1962, p. 45)180, como “um aspecto completo e significativo do meio, de uma ciência organizada, de uma arte ou de uma conduta, o qual uma vez aprendido resulta em uma adaptação da personalidade”. O Método das Unidades Didáticas, proposto ‘por Morrinson, objetivava a obtenção de um ensino mais compreensivo e significativo, em face dos interesses e necessidades dos educandos’ (FARIA JUNIOR, 1977, p. 46). [...] nenhum bom planejamento pode tornar-se realmente eficaz se tiver uma multidão de ideias antagônicas contra as quais lutar. A Unidade tem por fim fazer convergir todas as atividades para a conquista dos objetivos propostos. (FARIA JUNIOR, 1969, p. 145).
Faria Junior conceitua Unidade Didática como sendo: [...] um conjunto organizado de conteúdos, experiências e atividades, relacionado com um tema ou propósito central desenvolvido cooperativamente por um grupo de alunos, sob a orientação do professor, objetivando modificações de determinados comportamento. (FARIA JUNIOR, 1977, p. 47181). (ao escrever sobre) planejamento do ensino – plano de curso, plano de unidade e plano de aula – admite que estes nada mais são do que três fases de um planejamento, buscando uma progressiva particularização à medida que se aproxima o momento de sua execução em aula, [...]. Um plano de Unidade Didática bem pormenorizada reduz muito a necessidade da elaboração de planos para cada aula de uma mesma Unidade. (FARIA JUNIOR, 1969, p. 151)182 (ainda considera que) Cada unidade didática pode ser considerada como um verdadeiro curso em miniatura, condensado ou abreviado sobre determinado conteúdo. A denominação de “Plano de Unidade Didática” é preferível em vez de “Unidade de Conteúdo”, porque uma unidade envolve um ciclo docente completo que irá desde a motivação inicial à apresentação do novo conteúdo até a fixação do aprendido e a verificação dos resultados obtidos por esta aprendizagem. (FARIA JUNIOR, 2014) 183.
Faria Junior (2014) 184 coloca que no final daqueles anos 60, vêem-se como Unidades Didáticas dadas como exemplos, tanto de desportos – Atletismo, Basquetebol, Futebol de Salão, Ginástica Olímpica, Pesos e Halteres (Musculação), Pólo Aquático, Voleibol – quanto de Danças Folclóricas, de Ginástica, de Ginástica Feminina Moderna, de Jogos Pré-Desportivos etc. [...] Terminada a fase do planejamento entrar-se-ia na “fase de execução” propriamente dita. é bastante comum vermos professores ministrando hoje uma aula de basquetebol, amanhã uma de volibol, a seguir uma de futebol e assim sucessivamente e, entretanto, desejando com isso obter o aprendizado de um desporto em uma ou duas aulas [...]. A aprendizagem é um processo complexo e lento de assimilação, não sendo possível assim, do “nada saber” aos domínios das habilidades desejadas com uma aula, por mais “magistral” que esta tenha sido (FARIA JUNIOR, 1969, p. 206).
Para Carmen Lúcia Soares (1996)185 a Educação Física na escola é um espaço de aprendizagem e, portanto, de ensino. E o que ela ensina? Historicamente a Educação Física ocidental moderna tem ensinado O JOGO, A GINÁSTICA, AS LUTAS, A DANÇA, OS ESPORTES. Poderíamos afirmar então que estes são conteúdos clássicos: Permaneceu através do tempo transformando inúmeros de seus aspectos para se afirmar como elementos da cultura, como linguagem singular do homem no tempo. As atividades físicas tematizadas pela Educação Física se afirmaram como linguagens e comunicaram sempre sentidos e significados da passagem do homem pelo mundo. Constituem assim um acervo, um patrimônio que deve ser tratado pela escola. E como afirma Vago186, a contribuição da Educação Física, neste caso, será a de colocar os alunos diante desse patrimônio da humanidade, que tem sido chamado por alguns autores de “cultura
180
MORRISON, H. C. The practice of teaching in secondary school. Chicago: The University Chicago Press, 1962. FARIA JUNIOR, Alfredo Gomes de . Ensino por unidades didáticas. Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, Brasília, DF, v. 9, n. 33, p. 46-54, jan./mar. 1977. 182 FARIA JUNIOR, 1969, obra citada. 183 FARIA JUNIOR, 2 0 1 4, obra citada 184 FARIA JUNIOR, 2 0 1 4, obra citada 185 SOARES, Carmen Lúcia. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR : CONHECIMENTO E ESPECIFICIDADE. Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, supl.2, p.6-12, 1996 186 VAGO, T.M. Educação física: um olhar sobre o corpo. Revista Presença Pedagógica, p.65-70, mar./abr. 1995. 181
física” (Betti, 1991)187, “cultura de movimento (Bracht, 1989)188 ou “cultura corporal” (Soares, Taffarel, Varjal, Castellani Filho, Escobar & Bracht, 1992)189.
Existem outros recursos190, que não cabe aqui a análise, apenas para comparação com o que Listello propunha: AUTORES/ PEDAGOGIA MÉTODO / TEORIA Auguste Listello191 (Tecnicista) 1979
LINGUAGEM Técnica, demonstrativa, militarista ás vezes. Discussão ordenada. Para reflexão /ambigüidade técnica x reflexão
ARRANJO MATERIAL
TRABALHO
Os materiais da estrutura escolar. Criação de outros materiais. Uso de implementos e instalações esportivas oficiais, extraclasse. Textos regras, local próprio. Os da estrutura escolar. Criação de materiais. Lista de anotações das idéias. Experimentação de novos materiais.
Demonstração Repetição. Execução. Equipes / Seleção dos mais hábeis. Visa rendimento. Clubes e atividades extraclasses.
Celi Taffarel 192 Construtivismo (criatividade em EF) 1985
Técnica. Instigadora. Propositiva – para reflexão.
Sara Quenzer Matthiesen (Livro Atletismo se aprende na escola) Tecnicista. 1985 João Batista Freire193 (Construtivista na EF) 1989 Elenor Kunz194 (crítico-emancipatória) 1991
Focada na técnica. Diretividade para a execução e contato com conteúdo. Explicativa, foco na ação. Corporal de realização de movimento
Textos, regras oficiais, filmes. Locais e implementos oficiais. Faz adaptações do oficial. Os da estrutura escolar.
Não cita. Todos participam no processo de construção do conhecimento. Fundamenta-se dentro de uma ação comunicativa problematizadora, falada, escrita. Corporal do movimento, gestos, imitações etc. Para reflexão.
Coletivo de Autores 195 (crítico- superadora) 1993
Não cita especificamente. Professor mediador. Diretividade pedagógica a partir da realidade do aluno. Para reflexão Na ação co-participativa, Ações geram ampliação das ações pedagógicas. Para reflexão
Não cita. Trabalha mais a motricidade humana, sentidos, educação, símbolos. Os materiais e instalações pertinentes ao ensino dos esportes e da estrutura escolar. Textos, filmes. Incentiva a criatividade dos alunos ao utilizar materiais e equipamentos alternativos construídos por todos. Os da estrutura escolar. Textos. Ambiente intencionalmente preparado.
Reiner H. & Ralf. L. 196 Amauri Bássoli Oliv. Ensino Aberto 1993
Os da estrutura escolar. Textos pedagógicos.
Sugere tema, e pedem variações, idéias. Faz anotações, e experimentação das selecionadas. Visa rendimento. Propõe reflexão e verifica criatividade do aluno. Extraclasse. Conseqüência do fazer. Organização. Explicação. Repetição busca rendimento de formas variadas. Metodologia do conflito. Sugere mudanças no conteúdo. Conseqüência do fazer Encenação, problematização, ampliação e reconstrução. Faz arranjo material, transcendência limites pela experimentação, aprendizagem e criação. Espaço organizado. Fazer corporal, a partir da realidade do aluno. Reflexão, sentido, significado. Por ciclos de escolarização. Ações problematizadoras. Subjetividade / execução prática. Seriação escolar.
Atualmente no Brasil, as diretrizes pedem uma abordagem crítica, o que parece situar-se nas tendências Crítico-emancipadora e Crítico-superadora. O Prof. Dr. Laércio Elias Pereira (1986) 197 escreveu artigo tentando explicar a proposta do Prof. Listello sobre a organização pedagógica da classe. A Editora da USP lançara o "Educação Física pelas Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer", e nesses anos em que a proposta esteve para ser testada deu para juntar uma lista enorme de rejeições do tipo: "não li e não gostei"; "esse negócio de fazer coluna é pra exército"; "dividir assim provoca o individualismo dos alunos", quer dizer, é possível que os tradutores não tenham conseguido expressar a proposta do Mestre Listello na versão em português. O que poderia justificar estas considerações é aquela determinante de país subdesenvolvido, em que a tecnologia demora dez anos para ser transferida dos países avançados para nós (1986). O que exaspera pelo
187
BETTI, I.C.R. Educação física escolar: a percepção discente. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.16, n.3, p.158-67, 1995. BETTI, M. Ensino de primeiro e segundo graus: educação física para quê? Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.3, n.2, p.282-7, 1992. 188 BRACHT,V. Educação física e aprendizagem social. Porto Alegre, Magister, 1992. 189 SOARES, C.L.; TAFFAREL, C.N.Z.; VARJAL, E.; CASTELLANI FILHO, L.; ESCOBAR, M.O.; BRACHT, V. Metodologia do ensino da educação física. São Paulo, Cortez, 1992. 190 Seifert Netto, Reynaldo. O ENSINO DO ATLETISMO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná. 191 LISTELLO, Auguste - Educação pelas Atividades Físicas, Esportivas e de Lazer São Paulo: EPU, Ed. da Universidade de São Paulo, 1979. 192 TAFFAREL, Celi Nelza Zülke, - Criatividade nas Aulas de Educação Física, Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1985 193 FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física, São Paulo, Scipione. 1989. 194 KUNZ, Elenor – Educação Física: ensino & mudanças / Ijuí: Unijuí, Editora, 1991 KUNZ, Elenor - Transformação didático - pedagógica do Esporte. Ijuí – RS, Unijuí Editora, 2004. 195 COLETIVO DE AUTORES - Metodologia do Ensino de Educação Física (Coleção magistério 2º grau. Série formação do professor). São Paulo: Cortez, 1993. 196 HILDEBRANDT, Reiner & LAGINF, Ralf. - Concepções abertas no ensino da Educação Física. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1986. 197 PEREIRA, Laércio Elias. Listello: Muitos Compraram, Poucos Leram e Ninguém (?) Aplicou. In Corpo & Movimento - v.2 - n.5 - 1986, disponível em http://cev.org.br/biblioteca/listello-muitos-compraram-poucos-leram-ninguem-aplicou/
fato do livro ter sido lançado originalmente em português e dedicado aos professores de Educação Física do Brasil. O fato de o Prof. Listello ter tido uma forte participação na criação do "método" Desportiva Generalizada198, e ter sido um dos diretores do Instituto Nacional de Esportes da França durante 14 anos, faz com que os professores não prestem atenção a uma proposta feita 30 anos depois. O livro relata o trabalho de 12 anos numa escola de crianças de famílias da chamada classe média baixa. Pereira (1986) passa a listar provocações a favor das "inovações" do Prof. Listello, confrontando com o que temos atualmente: 1 - A DISCRIMINAÇÃO DA MAIORIA COMEÇA NA CLASSE. Atualmente: com o sistema de seleções esportivas retira-se o mais apto do seu meio (a classe) isolando-o numa chamada seleção (da classe ou da escola). Listello: o mais apto tem a responsabilidade na socialização do seu conhecimento, ao mesmo tempo em que não é retirado do seu meio, interagindo, também, com os conhecimentos do seu meio. 2 - HÁBITO DE LAZER SE APRENDE POR OPÇÃO. Atualmente: Existe a pretensão de se criar o hábito da prática de atividade física através da presença obrigatória; Listello: A atividade voluntária - mas de compromisso moral com o grupo - do Clube de Lazer e a participação nos campeonatos interclasse por diversão dão essa oportunidade. 3 - OPORTUNIDADE PARA OS GORDINHOS E OS PEQUENOS. Atualmente: Prevalece o poderio dos maiores (7ª e 8ª séries) e dos mais aptos (os da seleção).. Listello: O campeonato interclasse por divisão oferece oportunidade igual de participação e sucesso para todos. A IV Divisão da 5ª. série C é tão importante quanto a I Divisão da 8ª. série A, por exemplo. 4 - A COMUNIDADE ESCOLAR Atualmente: Apesar de toda nossa propaganda a EF não tem promovido a comunidade escolar. Listello: As várias atividades do clube de lazer (de que a Associação Esportiva é apenas uma parte) possibilitam a interação de alunos, pais, funcionários, outros professores, funcionários... 5 - A RESPONSABILIDADE DE COMPROMISSO COM O GRUPO E A CHAMADA. Atualmente: A chamada é "uma besteira" que não é feita, "uma chance de pronunciar o nome dos 40 alunos" ou "mais uma etapa de dominação da classe" (e que rende 10 minutos de aula) . Listello: A "equipe de classe" - que possibilita a execução da chamada em menos de um minuto - é uma forma de organização pedagógica para trabalhos em grupo e uma chance para que todos exerçam a responsabilidade sobre o grupo por certo tempo ("chefe de equipe de classe") 6 - PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NA PROGRAMAÇÃO DAS ATIVIDADES. Atualmente: Com o planejamento feito no começo do ano (antes até do professor conhecer os alunos) o professor passa o ano administrando atividades e exercícios. 198
CUNHA, Luciana Bicalho da. A Educação Física Desportiva Generalizada no Brasil: primeiros apontamentos. IN apontamentos de estudo de doutoramento, iniciado neste ano de 2014 no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Disponível em https://anpedsudeste2014.files.wordpress.com/2015/04/luciana-bicalho-da-cunha.pdf
Listello: Com a proposta de temporadas e o sistema de "um dia jogo/um dia treino" utilizando o jogo (ou apresentação) para a avaliação da aula anterior e programação da seguinte, as atividades de EF passam a ter sentido, em vez dos alunos serem vítimas de "cangurus", "apoios de frente", exercício de dança". 7 - O TRABALHO EM GRUPO Atualmente: Os 40 alunos da classe são considerados como estando no mesmo grau de habilidade, na maioria das atividades. Listello: As "equipes de...", que aglutinam os alunos em quatro estágios diferenciados de habilidade, proporcionam um trabalho consciente e adequado para cada grupo, que é avaliado nesse nível. 8 - O CAMPEÃO REAL E O CAMPEÃO MORAL Atualmente: As opiniões dos professores estão divididas em "contra a competição" e "promoção exclusiva do campeão". Listello: Os vencedores "moral" e "real" na engenhosa proposta de avaliar o desempenho, no confronto entre grupos de habilidades diferentes, é uma oportunidade efetiva de conscientização e participação ativa dos alunos. 9 - TODOS TÊM SEUS TIMES? Atualmente: Os alunos são divididos entre os "da seleção" e "a torcida". Listello: Com a realimentação do campeonato interclasses por divisão todos os alunos participam nas aulas de Educação Física, num programa de ajuda mútua e igual direito a participar das equipes dos seus níveis. Assim, esperamos que as provocações acima levem a uma análise crítica da "proposta Listello", incorporando um pouco de tecnologia à nossa Educação Física, encerra Laércio E. Pereira...
A “DESCOBERTA” DO MARANHÃO199 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras FRANCESES NO MARANHÃO A "ilha de Maranhão" e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. É de 1612 a informação da chegada dos Tupinambá à ilha grande do Maranhão, dada pelos primeiros contatos dos capuchinhos aqui estabelecidos e os índios; estes ainda se lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: "Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada na região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […]" (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 200.
Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 201 cita outras narrativas concordantes com a de Claude d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) 202 que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi (DAHER, 2004) 203. O que é confirmado por Franz Obermeir (2016)204: “[...]os Tupinambás vindos da região de Pernambuco tomam posse da terra pela primeira vez entre 1560 e 1580” (p. 350. Jacques Riffault, Charles des Vaux, David Migan - natural de Vienne, no Delfinado, e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas. Em 1583, dois capitães franceses disseram a sir Walter Ralegh conhecer o Maranhão, mas nunca se saberá se se tratava do Maranhão ilha ou do Maranhão rio. Era tão forte a presença francesa que muitos recantos de nossa costa foram batizados com nomes como porto Velho dos Franceses e porto Novo dos Franceses (ambos no Rio Grande do Norte), rio dos Franceses (na Paraíba), baía dos Franceses (em Pernambuco), boqueirão dos Franceses (em Porto Seguro), ou praia do Francês (próximo à atual Maceió, em Alagoas). Outro ponto no qual os navios normandos ancoravam com muita freqüência era a praia de Búzios, no Rio Grande do Norte, cerca de 25 km ao sul de Natal. Ao porto localizado na praia de Búzios podiam “surgir navios de 200 toneladas”. Os franceses usavam o porto da desembocadura do rio Pirangi (aproximadamente 25 km de Natal) para o “resgate do pau” como os portugueses se referiam aos locais de corte e estocagem de pau- brasil. Já em 1594, Jacques Riffault, depois de Natal, veio para São Luis, no Maranhão. Junto com Charles des Vaux aporta na Ilha Grande, atual Ilha de São Luis, no Maranhão205. O navio de Jacques Riffault naufraga nos baixios da ilha, mais tarde denominada Sant´Ana.
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Baseado em VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. SOBRE TUPIS E TAPUIAS, publicado no BLOG DO LEOPOLDO VAZ, em 12 de setembro de 2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/12/sobre-tupis-e-tapuias/ e em VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. FRANCESA, PORTUGUESA... ou FENÍCIA???, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015; FENÍCIOS NO MARANHÃO? http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/fenicios-no-maranhao/ Publicado no BLOG DO LEOPOLDO VAZ, Por Leopoldo Vaz, domingo, 28 de fevereiro de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/02/28/12649/ 200 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 201 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 202 http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003015.pdf 203 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 204 OBERMEIER, Franz. YVES d’ Évreux e a fundação de São Luís – documentos inéditosd sobre o Maranhão em 1615. Imperatriz: Ètica, 2016 205 http://pinheiroempauta.blogspot.com.br/2012/09/distribuicao-das-sesmarias-em-cuma.html
Riffault e Des Vaux aqui desembarcados fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas". Mas para os seus planos, um simples estabelecimento não significava grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial. Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste (atual Camocim) 206 -, – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe207, de La Rochelle208 e de Saint Malo209. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira210, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba211, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba 212, reduto de Migan. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34) 213 traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil. Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza214 recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: "[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". Riffault fora buscar recursos e permissão na Europa, partindo para a França, divulgando as grandes riquezas da terra e facilidades de conquista. Charles Des Vaux ficara em terra conquistando a confiança dos tupinambás, para aprender a sua língua.
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Não seria POTE Dieppe ou, na sua forma portuguesa, Diepa[2] é uma comuna francesa na região administrativa da Alta Normandia, no departamento do Sena Marítimo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Dieppe 208 La Rochelle[2] [3] [4] [5] (raramente aportuguesada como Rochela ou Arrochela[6] ) é uma comuna francesa, situada no departamento de Charente-Maritime, na região de Poitou-Charentes.[7] Foi um importante porto no período colonial, junto com Havre, Honfleur e Bordéus. https://pt.wikipedia.org/wiki/La_Rochelle 209 Saint-Malo (Bretão: Sant-Maloù) é uma comuna francesa situada no departamento de Ille-et-Vilaine, na região Bretanha. https://pt.wikipedia.org/wiki/SaintMalo 210 Luís Figueira (1574 ou 1576, Almodôvar, Portugal - outubro de 1643, Ilha de Joanes, Brasil colônia), foi um padre jesuíta de destacada atuação no Brasil colonial. Foi autor de uma das primeiras gramáticas da língua tupi, denominada Arte da Lingua Brasilica. Entre 1607 e 1608, acompanhou Francisco Pinto e 60 índios numa trágica expedição ao Maranhão. Inicialmente chegaram a uma aldeia na Chapada de Ibiapaba (atual Ceará), e dali seguiram à aldeia de Jurupariaçu, onde receberam notícias sobre a presença de franceses e índios hostis.[2] Dali partiram para o Maranhão, mas foram atacados por índios, instigados pelos franceses. O padre Francisco Pinto foi morto pelos indígenas em 10 de janeiro de 1608; Luís Figueira conseguiu escapar e foi depois resgatado por outro jesuíta, Gaspar de Samperes, regressando a Pernambuco. Estes fatos são bem conhecidos pela Relação do Maranhão, escrita por Luís de Figueira em 1609, na qual são descritos em detalhe as peripécias da viagem. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Figueira 211 O topônimo "Ibiapaba" é oriundo do termo tupi yby'ababa, que significa "terra fendida" (yby, terra + 'ab, cortar + aba . A Serra da Ibiapaba, também conhecida como Serra Grande, Chapada da Ibiabapa e Cuesta da Ibiapaba, é uma região montanhosa que localiza-se nas divisas dos estados do Ceará e Piauí. Uma região atraente em riquezas naturais que já era habitadas por diversas etnias indígenas. Os povos que viviam já negociavam diversos produtos naturais com povos europeus, tais como os franceses, antes mesmos da chegadas dos portugueses. Habitada inicialmente por índios tabajaras e tapuias, como a índia Iracema que se banhava na bica do ipu foi bastante retratada no livro Iracema de José de Alencar. A cidade mais antiga da serra é Viçosa do Ceará, que foi colonizada pelos jesuítas da Companhia de Jesus a partir do século XVI. Também encontram-se as cidades do Tianguá, Ubajara - onde existe a Gruta de Ubajara. https://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_de_Ibiapaba 212 Segundo Capistrano de ABREU , “EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes”. - Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uçá, nome genérico do caranguejo, e guaba, particípio de u comer: o que, ou “onde se come caranguejos”. ABBEVILLE, Claude d´. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975 213 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 214 Pero Coelho de Sousa foi um explorador português, oriundo dos Açores, primeiro representante da Coroa a desbravar os territórios da capitania do Ceará no início do século XVII. Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de Capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que a anos atuavam na capitania do "Siará Grande". Após uma série de lutas, conquistou a região da Ibiapaba vencendo os franceses e indígenas. Depois dessa vitória ele tentou entrar mais na região na direção do Maranhão, mas devido à rebelião de seus homens, retornou à barra do rio Ceará onde ergueu o Fortim de São Tiago da Nova Lisboa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_Coelho_de_Souza 207
O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú, Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a Europa. Nos outros recantos, a história faz menção a eles no constante comércio com os potiguaras, no porto do Rifoles – na margem direita do Rio Potengi; nos dois ataques à Fortaleza do Cabedelo, na Paraíba, realizadas em 1591 e 1597. Nesta última, Migan foi gravemente ferido, mas sobreviveu. Foram eles que fundaram o núcleo urbano de Viçosa do Ceará215, sendo que a cidade ainda hoje conserva os topônimos do legado francês. O Pará e o Rio Amazonas eram lugares bem conhecidos destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do Maranhão para fundar Belém (1615) levou consigo Des Vaux e Rabeau para auxiliarem na navegação e nos primeiros contatos com os índios de lá. Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de agosto de 1612 vêem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue216, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur217 e Dieppe; o Duque de Buckigham218 e o conde de Pembroke219 e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos220.
FORTE DO SARDINHA
Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia). É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim,
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Viçosa do Ceará é o primeiro município criado na Serra da Ibiapaba, inicialmente habitada por índios Tabajaras pertencentes ao ramo Tupi, anacé, arariú ecroatá do ramo Tapuia. Viçosa foi antiga aldeia de índios dirigida por padres da Companhia de Jesus(Veja Missão da Ibiapaba). Foi desbravada ao findar o século XVI, quando do contato dos índios com os franceses, vindos do Maranhão entre 1590 e 1604, data em que foram expulsos por Pero Coelho de Sousa, quando este fazia tentativas de colonização portuguesa no Ceará.. https://pt.wikipedia.org/wiki/Vi%C3%A7osa_do_Cear%C3%A1 216 Jan de Moor, burgomestre de Flessingue, dirigia uma companhia de conquista na Amazônia. Jayme I, da Inglaterra, concedia cartas-patentes a John Rovenso, Thomas Challomer e Roberto Marcourt, para o senhoreamento da região entre o Essequibo e o Amazonas. http://www.brasiliana.com.br/obras/pontos-de-partida-para-a-historia-economica-do-brasil/pagina/73 217
Honfleur é uma comuna francesa na região administrativa da Baixa-Normandia, no departamento Calvados. https://pt.wikipedia.org/wiki/Honfleur Os títulos de Marquês e Duque de Buckingham, referindo-se à Buckingham, foram criados várias vezes nos pariatos Inglaterra, Grã-Bretanha, e no Reino Unido. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ducado_de_Buckingham 219 El Condado de Pembroke, asociado con el Castillo de Pembroke, en Gales, fue creado por el rey Esteban de Blois. En varias ocasiones la línea se extinguió y el Condado hubo de ser recreado, empezando la cuenta de nuevo con el primer nuevo conde. El 1 de septiembre de 1533, Enrique VIII, ascendió a su esposa Ana Bolena creando para ella el rango de marqués de Pembroke,1 en señal de honor, ya que su tío abuelo Jasper Tudor había sido Conde de Pembroke y el padre de Enrique VIII, Enrique VII, había nacido allí. Ana Bolena, reina consorte de Inglaterra por su matrimonio con Enrique VIII y primera marqués de Pembroke. El actual conde también ostenta el título de Conde de Montgomery, creado en 1605, para el hijo más joven del Henry Herbert, II conde de la octava creación antes de que él ascendiera como IV conde en 1630. Los actuales condes ostentan también los títulos subsidiarios de Barón Herbert de Cardiff, de Cardiff, en el Condado de Glamorgan (1551), Barón Herbert de Shurland, de Shurland, en la Isla de Sheppey, en el Condado de Kent (1605), y Barón Herbert de Lea, de Lea, en el Condado de Wilts (1861). Todos están en el rango de nobleza de Inglaterra excepto la Baronía de Herbert de Lea, que está en el rango de nobleza del Reino Unido. La sede familiar está en la Casa Wilton, en Wiltshire. https://es.wikipedia.org/wiki/Condado_de_Pembroke 220 Palos de la Frontera é um município da Espanha na província de Huelva, comunidade autónoma da Andaluzia. https://www.google.com.br/?gws_rd=cr&ei=NLTMVuXUKMTFwASa5I2ICQ#q=Palos 218
a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1992) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz222, cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno223 durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola: 221
“[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornouse morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011).
Fonte: PIANZOLA, 1992
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PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS - os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SIOGE, 1992. João Teixeira Albernaz, também referido como João Teixeira Albernaz I ou João Teixeira Albernaz, o Velho (Lisboa, último quartel do século XVI — c. 1662), para distingui-lo do seu neto homónimo, foi o mais prolífico cartógrafo português do século XVII. A sua produção inclui dezanove atlas, num total de duzentas e quinze cartas. Destaca-se pela variedade de temas, que registam o progresso das explorações marítimas e terrestres, em particular no que respeita ao Brasil. João Teixeira Albernaz I pertenceu a uma destacada família de cartógrafos cuja actividade se estende desde meados do século XVI até ao fim do século XVIII, incluindo o seu pai Luís Teixeira, o tio Domingos Teixeira, o irmão Pedro Teixeira Albernaz e o neto João Teixeira Albernaz, o Moço além de Estevão Teixeira. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Teixeira_Albernaz,_o_Velho 223 Diogo de Campos Moreno (Tânger, 1566 – 1617) foi um militar português. Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil redigiu o "Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil" (1612) e a "Jornada do Maranhão" (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. https://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno 222
Continuemos com Noberto Silva (2011) 224: [...] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan.
Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. ANTES DOS FRANCESES ... Bandeira (2013) 225 traz que a ocupação do Vinhais Velho – na Ilha de Upaon-Açú, ou de São Luis, data de pelo menos 3.000 anos:
224
SILVA, Antônio Noberto. O Maranhão francês sempre foi forte e líder. In http://www.netoferreira.com.br/poder/2011/11/o-maranhao-frances-sempre-foi-forte-e-lider/, 05/11/2011 14h25 05/11/2011 14h25. Ver também: EVANDRO JUNIOR. : Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale Riqueza histórica esquecida. IN Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11, disponível emhttp://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-la-france.html 225 BANDEIRA, Arkley Marque. VINHAIS VELHO: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. São Luis: Edgar Rocha, 2013. VER TAMBÉM: BANDEIRA, Arkley Marques. Os registros rupestres no Estado do Maranhão, Brasil, uma abordagem bibliográfica. In http://www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/arkley_marques_bandeira.htm BANDEIRA, Arkley Marques. POVOAMENTO PRÉ-HISTÓRICO DA ILHA DE SÃO LUÍS-MARANHÃO: SÍNTESE DOS DADOS ARQUEOLÓGICOS E HIPÓTESES PARA COMPREENSÃO DESSA PROBLEMÁTICA. Anais do V encontro do Núcleo Regional Sul da Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB/Sul. De 20 a 23 de novembro de 2006, na cidade de Rio Grande, RS. http://www.anchietano.unisinos.br/sabsul/V%20-%20SABSul/comunicacoes/59.pdf BANDEIRA, Arkley Marques. A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM ARQUEOLOGIA: hipóteses sobre o povoamento pré-colonial na Ilha de São Luís a partir das campanhas arqueológicas de Mário Ferreira Simões. Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, ISSN 1808-8031, volume 03, p. 18-36 25
As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75). [...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76). [...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76). [...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76). A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Trata-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...] [...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).
Nos anos 1970, outro pesquisador deu visibilidade à ocupação humana pré-histórica da Ilha de São Luís - Mário Ferreira Simões, ligado ao Museu Paraense Emílio Goeldi que realizou o Projeto São Luís. A pesquisa inspecionou oito sambaquis com o objetivo de comparar os sítios residuais de São Luís com os do litoral leste e litoral paraense. Essas pesquisas resultaram nas primeiras datações para os assentamentos humanos pré-históricos do Estado do Maranhão, em torno de 2.686 anos antes do presente 226. Outro associado do IHGM que se destaca e que atuou nas áreas da Antropologia, Arqueologia, Etnologia, entre outros interesses foi Olavo Correia Lima227. O padre António Vieira afirmou que os Tupinambá e Tabajara contaram-lhe que os povos Tupi migraram para o Norte do Brasil: [...] pelo mar, vindos de um país que não mais existia, e que o país Caraíba, teria desaparecido progressivamente, afundando no mar, e os tupis salvaram-se, rumando para o continente. Os tabajaras diziam-se o povo mais antigo do Brasil, e se chamavam de "tupinambás", (homens da legítima raça tupi), desprezando parte dos outros tupis, com o insulto "tupiniquim" e "tupinambarana", (tupis de segunda classe), e sempre conservaram a tradição de que os tupis
BANDEIRA, Arkley M. Um panorama sobre os registros rupestres no Estado do Maranhão. Monografia apresentada ao Curso de História como requisito para conclusão do mesmo. Universidade Estadual do Maranhão. Campus Paulo VI, São Luís, 2003. BANDEIRA, Arkley M..O Sambaqui do Bacanga na Ilha de São Luís-Maranhão: um estudo sobre a ocorrência cerâmica no registro arqueológico. Pré-projeto de dissertação de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em arqueologia do MAE-USP como requisito obrigatório para seleção dos ingressantes no segundo semestre de 2005, São Paulo, 2005; BANDEIRA, Arkley Marques. Ocupações humanas pré-históricas no litoral maranhense: um estudo arqueológico sobre o sambaqui do Bacanga na ilha de São Luís – Maranhão. Dissertação de Mestrado, 2008. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-26092008-145347/pt-br.php 226 Canalverde.tv/arqueologia, Pedro Gaspar –ArqPi, Pesquisa de Sambaquis revela Pré-história do Maranhão in http://www.arqueologiapiaui.com.br/noticias/brasil/133-pesquisa-de-sambaquis-revela-pre-historia-do-maranhao http://arqueologiadigital.com/profiles/blogs/pesquisa-arqueologica-de A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM ARQUEOLOGIA: hipóteses sobre o povoamento pré-colonial na Ilha de São Luís a partir das campanhas arqueológicas de Mário Ferreira Simões. Arkley Marques Bandeira in http://www.outrostempos.uema.br/volume03/vol03art02.pdf 227 CORREIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Ameríndios maranhenses . REVISTA DO IHGM, Ano LIX, n. 08, março de 1985 38-54 CORREIA LIMA, O. Homo Sapiens stearensis – Antropologia Maranhense REVISTA DO IHGM Ano LIX, n. 9, junho de 1985 33-43 CORREIA LIMA, O. Província espeleológica do Maranhão REVISTA DO IHGM Ano LIX, n. 10, outubro de 1985 62-70 CORRIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Cultura rupestre maranhense – arqueologia, antropologia REVISTA DO IHGM Ano LX, n. 11, março de 1986 07-12 CORREIA LIMA, O. Parque Nacional de Guaxenduba REVISTA DO IHGM ano LX, n. 12, 1986 ? 21-36 CORRÊA LIMA, O. No país dos Timbiras REVISTA DO IHGM Ano LXI, n. 13, dezembro de 1987 82-91 CORREIA LIMA, O. Mário Simões e a arqueologia maranhense REVISTA DO IHGM Ano LXII, n. 14, março de 1991 23-31 LIMA, Olavo Correia (1985). Província Espeleológica do Maranhão. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.Ano LIX, n 10, São Luís-MA, p. 6270. LIMA, Olavo Correia (1986). Cultura Rupestre Maranhense. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Ano LX, n. 11-São Luís –MA, p. 7-12. LIMA, Olavo Correia; AROSO, Olair Correia Lima (1989). Pré-História Maranhense. SIOGE São Luís-MA
eram originados de sete tribos; e que o povo tapuia, do povo tupi, eram os verdadeiros indígenas brasileiros (RAHME, 2013) 228. ... OS FENICIOS... 229, 230
Em A Pacotilha (30 de maio de 1925), de autoria de Ludovico Schwennhagen 231 é publicado artigo com o seguinte título: MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. Realizando pesquisas em vários estados do Brasil, deteve-se no Piauí e no Maranhão. Sobre o Maranhão, em seu relato, sustenta a tese de que a cidade de São Luís – como Tutóia - foi fundada por navegadores fenícios: As duas cidades, porém, não eram cidades fenícias; somente os fundadores e organizadores eram gente que chegara ao Mediterrâneo. A grande massa dos habitantes eram tupis: em Tutóia, tabajaras, em Tupaón, tupiniquins. (SCHWENNHAGEN, 1925) 232.
Chegados por estas terras por volta do ano 1.000 a.C - relacionaram-se com os habitantes da terra – tupis – fundando Tu-Troia – Tutóia – e Tupaón –Upau-açú: OS FENICIOS E OS TUPIS Os fenícios já estavam desde muito tempo em relações com os povos tupis; mas estes não tinham portos de mar, querendo viver só em terras altas e solidas. Entretanto, ficou terminada, no Mediterrâneo, a guerra de Tróia, em 1080 A.C. Caiu em poder dos aliados pelasgo-gregos a grande fortaleza que dominava o estreito dos Dardanelos e a entrada para a Ásia. Os fenícios, os carios e muito outros povo da Ásia Menor eram amigos ou aliados de Tróia, mesmo as briosas guerreiras e cavaleiras amazônicas, das quais morreram centenas no vasto campo troiano. Os sobreviventes dos povos vencidos andavam em navios dos fenícios, procurando nova pátria, e por isso aparecem, cerca do ano 1000 a.C., em diversos países, cidades com o nome de Tróia Nova ou Tróia Rediviva. Para o norte do Brasil chegaram também sobreviventes da grande guerra e fundaram TuTroia, ajudaram a fundar Tupaón, e os sobreviventes da Amazonas fundaram no Brasil uma sociedade de mulheres montadas amazônicas, que deu finalmente seu nome ao grande rio. Essas são as 228
RAHME, Claudinha. Fenícios descobriram o Brasil antes de Cabral? IN Gazeta de Beirute, Edição 57, disponível em http://www.gazetadebeirute.com/2013/05/fenicios-descobriram-o-brasil-antes-de.html 229 Os fenícios - Considerado o maior povo navegante da Antigüidade, os fenícios viviam numa área de apenas 400 quilômetros, entre as montanhas e o mar, onde hoje está o Líbano, parte de Israel e da Síria. Segundo Heródoto, era um povo formado por tribos de semitas vindas do Índico. No início, eram pastores, que acabaram empurrados até o mar por tribos mais poderosas. Por vocação ou necessidade, especializaram-se no comércio e na navegação. Foram influenciados por três grandes culturas, das quais eram vizinhos: a egípcia, a mesopotâmica e a cretense. Situada no cruzamento das rotas comerciais, a Fenícia desempenhou importante papel na história do Mediterrâneo, possivelmente desde 4000 a.C. Seu principal produto de exportação foi, por muito tempo, o cedro do Líbano. Mais tarde adquiriram renome na manufatura de tecidos vermelho-escuros, fato que acabou lhes rendendo o nome. É que, em grego, panos vermelhos significavam phoinios, que eram vendidos pelos phoinikes, ou fenícios, do rosto vermelho queimado pelo sol ou dos panos rubros que fabricavam. Além de hábeis artesãos e comerciantes de peso, por volta do século VIII a.C. os fenícios viriam a repassar aos gregos o alfabeto, herdado provavelmente de outro povo semita do Oriente Próximo. /FENICIOS/__%20MUSEU%20NACIONAL%20DO%20MAR%20__.html 230 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Fenícios no Maranhão? In BLOG DO Leopoldo Vaz • sábado, 05 de setembro de 2015 às 11:33 , disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/fenicios-no-maranhao/ 231 Ludwig Schwennhagen (n. Áustria, fl. 1900-1928) foi um professor de História e Filologia no Nordeste do Brasil, escritor e proponente da Teoria da presença de fenícios no Brasil. Era membro da Sociedade de Geografia Comercial de Viena. Em Teresina se diz que era um alemão calmo e de grande porte, que ensinava História, que bebia cachaça nas horas de folga, que esteve estudando ruínas no Estado do Piauí e outros do Nordeste, e chegou a Teresina no primeiro quartel do século XX. Ludwig Schwennhagen foi sócio do jornal anti-semita de Berlim na Alemanha Staatsbürgerzeitung, pelo qual entrou em conflito com Hirsch Hildesheimer, da comunidade judaica.[2] [3] Schwennhagen publicou artigos na imprensa norte-rio-grandense. Cf. Moacir C. Lopes na apresentação à quarta edição de "Antiga História do Brasil. De 1100 a.C. a 1500 d.C.", 'A primeira edição de "Antiga História do Brasil. De 1100 a.C. a 1500 d.C." é de 1928, da Imprensa Oficial de Teresina, e menciona sob o título: Tratado Histórico de Ludovico Schwennhagen, professor de Filosofia e História. 'No livro Roteiro das Sete Cidades, de autoria de Vitor Gonçalves Neto, publicado pela Imprensa Oficial de Teresina, para as Edições Aldeias Altas, de Caxias, Maranhão, em 1963 (...) o autor faz o seguinte oferecimento: "À memória de Ludovico Schwennhagen, professor de História e Filologia, que em maio de 1928 levantou a tese meio absurda de que os fenícios foram os primeiros habitantes do Piauí. Em sua opinião as Sete Cidades serviram de sede da Ordem e do Congresso dos povos tupis. Nasceu em qualquer lugar da velha Áustria de ante-guerras, morreu, talvez de fome, aqui n'algum canto do Nordeste do Brasil. Orai por êle!"' Schwennhagen, Ludwig; Hildesheimer, Hirsch. Erklärung des Dr. H. Hildesheimer auf die Privatklagesache des Schriftstellers Ludwig Schwennhagen wider Dr. H. Hildesheimer. s.n., 189?. (ficha em Livros Google) Schwennhagen, Ludwig; Silva, Luciano Pereira da; Associação Comercial do Amazonas. Meios de melhorar a situação e moral da população do interior do Amazonas: Conferencias dos Drs. Ludwig Schwennhagen, da Sociedade de geographia commercial de Vienna d'Austria e Luciano Pereira da Silva, publicista. Typ. de L. Aguiar & ca., 1910. (ficha em Livros Google) Schwennhagen, Ludwig. Antiga História do Brasil. De 1100 a.C. a 1500 d.C. Imprensa official, 1928. (ficha em Livros Google) Schwennhagen, Ludwig. Antiga História do Brasil. De 1100 a.C. a 1500 d.C.. Quarta edição. Apresentação e notas de Moacir C. Lopes. Livraria Editora Cátedra, Rio de Janeiro 1986. Schwennhagen, Ludwig. As inscrições Petroglíficas de Jardim do Seridó. Em: Medeiros Filho, Olavo de. Os Fenícios do Professor Chovenagua. Edição Especial Para o Projeto Acervo Virtual Oswaldo Lamartine de Faria. www.colecaomossoroense.org.br https://pt.wikipedia.org/wiki/Ludwig_Schwennhagen 232 SCHWENNHAGEN, Ludovico. São Luis na Antiguidade. A Pacotilha, 4 de setembro de 1924 SCHWENNHAGEN, Ludovico. MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. A Pacotilha, 30 de maio de 1925.
deliberações que indicam o tempo de 1000 anos a.C. para a fundação de Tutoia e de Tupaón (S. Luis).
(SCHWENNHAGEN, 1925). Segundo Rahme (2013) 233, Schwennhagen, em sua obra “História antiga do Brasil”234, expôs a teoria da presença de fenícios no Brasil, com base no trabalho de Onfroy de Thoron 235 (Gênova, 1869), sobre as viagens das frotas do fenício rei Hirão de Tiro236, e do rei Salomão 237, da Judéia238, no rio Amazonas, entre os anos 993/960 A.C.. E também apresentou outras diversas evidências, em sua maior parte, escritos do alfabeto fenício, e da escrita demótica do Egito, que também foram encontrados; além de inscrições da escrita suméria, antiga escrita babilônica, e também letras gregas e latinas. Schwennhagen ao citar o historiador grego do século I A.C., Diodoro Sículo239, disse que este relatou a primeira viagem de uma frota de fenícios atravessando o Atlântico, e chegando às costas do Nordeste do Brasil, através das correntes marítimas, propícias para a travessia. Nos anos 350 a.C., os cartagineses cunhavam moedas em ouro, com uma imagem no reverso, que muitos julgam representar o mar mediterrâneo, com o continente americano a oeste. Se era o continente americano, de fato, ou não, não se sabe, mas, diversos autores (Ludwig Schwennhagen240, Bernardo de Azevedo da Silva Ramos241, Robertus Comtaeus Nortmannus242, Georg Horn243, Frederic Ward Putnam244,
233
RAHME, Claudinha. Fenícios descobriram o Brasil antes de Cabral? IN http://www.gazetadebeirute.com/2013/05/fenicios-descobriram-o-brasil-antes-de.html
234
Gazeta
de
Beirute,
Edição
57,
disponível
em
SCHWENNHAGEN, Ludwig. Antiga História do Brasil. De 1100 a.C. a 1500 d.C. Piauí, Imprensa official, 1928. SCHWENNHAGEN, Ludwig. Antiga História do Brasil. De 1100 a.C. a 1500 d.C.. Quarta edição. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra, 1986. Apresentação e notas de Moacir C. Lopes.. 235 Onfroy de Toron (Umfredus de Torum en latin) est un chevalier croisé qui apparaît pour la première fois en 1115 comme vassal de Josselin de Courtenay, prince de Tibériade ; le château de Toron étant construit depuis l’an 1105, il en était probablement le seigneur depuis cette date après avoir participé à la Première croisade. D’une épouse inconnue, il eut Onfroy II de Toron. Onfroy de Toron est probablement un Italo-Normand, peut-être lié à la famille Hauteville, l’un de ses descendants se déclarant, au XVe siècle, issu de Tancrède de Hauteville, tandis que la mythologie familiale se donnait une origine danoise, c’est-à-dire viking. https://fr.wikipedia.org/wiki/Onfroy_Ier_de_Toron 236 Hirão foi rei de Tiro no período de David e Salomão, segundo relatos bíblicos de II Samuel 5:11. Quando David foi constituído rei de Israel, na idade de trinta e um anos, Hirão enviou mensageiros com madeira de cedro, carpinteiros e pedreiros que edificaram a Davi uma casa. Já no período do reinado de Salomão, Hirão manteve boas relações comerciais com Israel, e, em acordo comercial com Salomão, recebeu várias cidades em troca da provisão de ouro e pela madeira de cedro e cipreste que serviu para a construção do Templo de Salomão. https://pt.wikipedia.org/wiki/Hir%C3%A3o; ver também http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1200002035 237 Salomão foi um rei de Israel (mencionado, sobretudo, no Livro dos Reis), filho de David com Bate-Seba, que teria se tornado o terceiro rei de Israel, governando durante cerca de quarenta anos (segundo algumascronologias bíblicas, de 1009 a 922 a.C.). https://pt.wikipedia.org/wiki/Salom%C3%A3o 238 Hirão participou também com Salomão em outro empreendimento conjunto, no qual este último construiu uma frota de navios no golfo de ʽAqaba, em Eziom-Géber. Hirão forneceu então marinheiros experientes para tripulá-los junto com os servos de Salomão. Além destes navios, que navegavam nas águas ao largo da costa L da África, Hirão e Salomão tinham outros navios que velejavam até Társis, evidentemente no extremo ocidental do Mediterrâneo. Ao todo, estas extensas operações em alto-mar produziram muitas riquezas — ouro, prata, marfim, pedras preciosas, madeiras valiosas, e raridades tais como macacos e pavões. — 1Rs 9:26-28; 10:11, 12, 22; 2Cr 8:18; 9:10, 21; vejaEZIOM-GÉBER. http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1200002035 239 Diodoro Sículo ou Diodoro da Sicília (em grego Διόδωρος ὁ Σικελός; ca. 90 a.C. — 30 a.C.), foi um historiador grego, que viveu no século I a.C. Diodoro produziu uma única obra, a "Biblioteca Histórica" (também chamado de "História Universal"), que reunia 40 livros escritos em grego comum (κοινὴ διάλεκτος), sendo que somente os livros 1-5 e 11-20 sobreviveram, praticamente na íntegra; dos outros, restam apenas alguns fragmentos. Mesmo assim, é o mais extenso relato sobre a história da Grécia e de Roma que chegou até nós, desde as origens míticas até as últimas décadas da República Romana. Nos capítulos 19 e 20 do 5º livro, ele menciona a viagem de uma frota de fenícios que teria saído da costa da África, perto de Dakar, e navegado pelo oceano Atlântico, no rumo do Sudoeste. Em função desse registro, especula-se a possibilidade desses fenícios terem chegado ao continente americano. https://pt.wikipedia.org/wiki/Diodoro_S%C3%ADculo 240 Ludwig Schwennhagen (n. Áustria, fl. 1900-1928) foi um professor de História e Filologia no Nordeste do Brasil, escritor e proponente da Teoria da presença de fenícios no Brasil. Era membro da Sociedade de Geografia Comercial de Viena. Em Teresina se diz que era um alemão calmo e de grande porte, que ensinava História, que bebia cachaça nas horas de folga, que esteve estudando ruínas no Estado do Piauí e outros do Nordeste, e chegou a Teresina no primeiro quartel do século XX. Ludwig Schwennhagen foi sócio do jornal anti-semita de Berlim na Alemanha Staatsbürgerzeitung, pelo qual entrou em conflito com Hirsch Hildesheimer, da comunidade judaica.[2] [3] Schwennhagen publicou artigos na imprensa norte-rio-grandense. Cf. Moacir C. Lopes na apresentação à quarta edição de "Antiga História do Brasil. De 1100 a.C. a 1500 d.C.", 'A primeira edição de "Antiga História do Brasil. De 1100 a.C. a 1500 d.C." é de 1928, da Imprensa Oficial de Teresina, e menciona sob o título: Tratado Histórico de Ludovico Schwennhagen, professor de Filosofia e História 241 Bernardo de Azevedo da Silva Ramos (Manaus, 13 de novembro de 1858 — Rio de Janeiro, 5 de fevereiro de 1931) foi um arqueologista, linguista e numismata brasileiro. Foi ainda fundador do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (25 de março de 1917), e um dos fundadores do Clube Republicano do Amazonas. A sua obra mais importante é Inscrições e Tradições da América Pré-Histórica, baseando-se na Hístória Antiga, na lingüística e nas decifrações litográficas. SILVA RAMOS, Bernardo de Azevedo da. Inscripcões e tradiçoes da America prehistorica, especialmente do Brasil. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1932. https://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardo_de_Azevedo_da_Silva_Ramos 242 http://atlantipedia.ie/samples/tag/robertus-comtaeus-nortmannus/ ; http://atlantipedia.ie/samples/jochmans-joseph-robert/ 243 Georg Horn (Hammelburg, 22 de Dezembro de 1542 — Hammelburg, 24 de Setembro de 1603)[1] foi teólogo, reformador e historiador alemão. https://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Horn_(te%C3%B3logo) Georg Horn (Kemnath, Oberpfalz, 1620 — Leiden, 10 de Novembro de 1670) foi um geógrafo, teólogo, historiador alemão e professor de história da Universidade de Leiden. Sua obra "Historia ecclesiastica et politica" (Leipzig, 1677), com 442 páginas foi dedicada a Carlos I Luís, Eleitor Palatino (16181680). https://pt.wikipedia.org/wiki/Georgius_Hornius 244 Frederic Ward Putnam (April 16, 1839 in Salem, Massachusetts – August 14, 1915 in Cambridge, Massachusetts) was an American anthropologist. https://en.wikipedia.org/wiki/Frederic_Ward_Putnam
Zelia M. M. Nuttall245, Howard Barraclough Fell246) defendem que o Brasil foi visitado pelos fenícios, na antiguidade. As provas disso encontram-se nos diversos registros na forma de inscrições e artefato.247 Diz Guimarães (2009) 248, que em 1100 A. C. o rei Hiram de Tyros, capital da Fenícia, ofereceu aos reis David e Salomão da Judéia, uma aliança para explorar as riquezas do Brasil. Nos anos 995 e 992 navegaram as frotas aliadas dos fenícios e judeus no rio Amazonas, onde elas fundaram uma colônia hebraica, no rio Solimões, chamado assim por honra do rei Salomão. Esse fato prova que os fenícios já tinham circunavegado, entretanto, toda a costa do Brasil e subido todos os rios. Eles procuraram a aliança dos hebraicos, pois eles mesmos, como nação muito pequena, não tinham elementos suficientes para colonizar tão vasto país. Para Ludovico Schwennhagen249, os Fenícios tiveram um forte interesse para levarem ao Brasil muitos imigrantes. Já se referira - no Segundo Capitulo de sua História -, sobre a expedição dos Tirrênios à ilha de Marajó, sobre a aliança do rei Hirã de Tiro com os reis Davi e Salomão, da Judéia, para colonizar e explorar as terras no Alto Amazonas, e sobre a emigração duma parte da nação das Amazonas com navios dos Fenícios. O grande número de emigrantes, porém, saiu dos países cários, inclusive Iônia: Os emigrantes denominaram Ion o litoral maranhense, que mostra com suas centenas de ilhas e penínsulas, uma surpreendente semelhança com o litoral da Iônia asiática: Maran·lon, que quer dizer "a grande Iônia". Os Gurges do Piauí têm irmãos do mesmo nome na Ilíria da Península Balcânica; sobre o nome de Taba-Jaras do Norte do Piauí e da Serra da Ibiapaba já falamos; os Poti-Jaras, que mudou para Poti-Garas e Poti-Guaras, tiraram seu nome de Poti, que significa na língua pelasga um rio pequeno, respectivamente afluente dum rio grande. Nas regiões dos Cários existem muitos rios de nome Poti. No grego mudou a palavra em Pot-amos. Meso-Potânia é a zona entre os dois Pati: Eufrates e Tigre. Colônias e vilas dos Cários foram espalhadas sobre todo o território do Brasil; mas a maior parte dos Cários domiciliou-se no interior do Nordeste, entre os rios Tocantins e São Francisco. Nas serras e sertões do Piauí, Ceará, Paraíba e Pernambuco formaram os Cari e Cariri uma numerosa população branca, cujos descendentes representam hoje ainda a maioria da população. A raça indígena, legítimobrasileira, os Tapuias de cor parda e cabelos lisos e pretos, vivia nas regiões dos Cários, até a chegada dos Portugueses, em malocas, separadas dos brancos Tupis-Caris.
Ludovico Schwennhagen (1928; 1986) 250 informa que “[...] conquistadores europeus encontraram no Brasil numerosas populações que se chamaram: Cara, Carara, Caru, Cari, Cariri, Cairari, Carahi, Carahiba, Caryo e Cariboca.”. E que na língua tupi têm os nomes dos povos a mesma forma no singular como no plural. Diz-se: eu sou Cara; nós somos Cara: [...] A mesma regra, existia nas antigas línguas fenício-pelasgas. A língua grega que é mais recente começou a formar o plural pelo sufixo s, cuja regra transferiu-se às línguas romanas. Por isso aplicamos nós como plural as formas: Tupis, Caras, Caris, Cários etc., que não corresponde com a língua tupi. [Continua a explicação sobre os vocábulos] Aos padres portugueses declararam os pajés: Cara, Cari, Cário significa "homem branco". A cor branca é no tupi: tinga, também uma palavra pelasga, de cuja raiz vem nossa palavra tingir. A palavra tupi tabatinga significa "preparada de cal e argila branca". Mais tarde transferiu-se o nome tabatinga à argila dessa cor. A. palavra oca significa "casa" qualquer e
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Zelia Maria Magdalena Nuttall (6 septembre 1857, San Francisco – 12 avril 1933, Coyoacan, Mexico) fut une spécialiste américaine des cultures mexicaines préaztèques et des manuscrits précolombiens, dont elle identifia deux exemplaires oubliés dans des collections. L’un d’entre eux, le Codex Zouche-Nuttall, porte son nom. Exemple typique des pionniers de l’américanisme aux activités éclectiques, elle s’intéressa également à l’histoire coloniale, aux plantes traditionnelles mexicaines, ainsi qu’à la revitalisation de la culture précolombienne. https://fr.wikipedia.org/wiki/Zelia_Nuttall 246 Barry Fell (born Howard Barraclough Fell) (June 6, 1917 – April 21, 1994) was a professor of invertebrate zoology at the Harvard Museum of Comparative Zoology. While his primary professional research included starfish and sea urchins, Fell is most well known for his controversial work in New World epigraphy, arguing that various inscriptions in the Americas are best explained by extensive pre-Columbian contact with Old World civilizations. His writings on epigraphy and archaeology are generally rejected by those mainstream scholars who have considered them. https://en.wikipedia.org/wiki/Barry_Fell 247 http://www.hebreunegro.com.br/2015/10/a-presenca-dos-fenicio-no-brasil.html 248 GUIMARÃES, Luiz Hugo. O primeiro descobrimento do Brasil. IN www.luizhugoguimaraes.com.br. Disponível em http://universodahistoria.blogspot.com.br/2009/10/o-primeiro-descobrimento-do-brasil.html 249 In COSTA, Leopoldo. A IMIGRAÇAO DOS CÁRlOS AO BRASIL -1100 A 700 A. C.. Texto adaptado de Ludwig Schwennhagen no livro "Antiga História do Brasil de 1100 a.C a 1500 d.C", Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra, 1986. 250 SCHWENNHAGEN, Ludwig . ANTIGA HISTÓRIA DO BRASIL DE 1100 A.C A 1500 D.C. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial do Piaui; Golden Star Publicadora, Rio de Janeiro, 1928, excertos p.77 a 85, republicado em 1986 pela Livraria Editora Cátedra, Rio de Janeiro. Digitado, adaptado e ilustrado para ser postado por Leopoldo Costa. COSTA, Leopoldo. A IMIGRAÇAO DOS CÁRlOS AO BRASIL -1100 A 700 A. C.. Texto adaptado de Ludwig Schwennhagen no livro "Antiga História do Brasil de 1100 a.C a 1500 d.C", Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra, 1986.
pertence também às línguas fenício-pelasgas. No grego mudou oka em oeka, oika oikia- "administração da casa" é, no grego, oiko-nomia.
Para Ludovico Schwennhagen, a palavra tupi tabatinga significa "casa branca"; mas cari-oca é "casa dos brancos", respectivamente dos Cários: Essa curta explicação lingüística contém a prova de que os "Cários brasileiros" são os descendentes dos homens brancos que imigraram para o Brasil, nos navios dos Fenícios, na época de 1100 anos a.C. em diante.
Para esse autor, a pátria desses imigrantes eram os países reunidos na confederação dos povos cários251, a qual abrangia quatro divisões: 1. Caru, que se estendeu desde o promontório Carmel até o monte Tauros; a grande metrópole desse país era a cidade Tur (respectivamente Tiro) o Os Gregos denominaram esse país Fenícia; hoje é chamado Síria. Caindo sob o dom1nio do Império Romano a Fenícia foi incorporada à província romana. da Síria que, curiosamente, recebeu esse nome pela corruptela da pronúncia grega do nome Tiro. Seus habitantes eram tírios, por conseguinte sírios na região, Síria, usado até hoje. 2. Cari, que abrangia a costa meridional da Ásia Menor, à qual chamaram os Gregos Kilikia, respectivamente Cilicia. Uma das maiores cidades dessa província era Taba, que nos lembra o Tabajaras, que pode significar: senhores de tabas ou cidadãos de Taba. O último significado parece mais razoável. Perto da cidade Taba passa o rio Pinaré, que nos lembra o rio Pinaré (não Pindaré) do Maranhão, onde o lago Maracu mostra ainda hoje as linhas de esteios petrificados, que são os restos dos estaleiros dos Fenícios. 3. Cara ou Caria, com a esplêndida capital Hali-Car-Nassos, cuja situação geográfica rivaliza em beleza com a do Rio de Janeiro, onde os Cários fundaram uma colônia com o nome entusiástico "Dos Cários Casa" (carl-oca). Na placa colossal da rocha, em cima da qual dorme hoje ainda o gigante brasileiro, cravaram aqueles navegantes de Halicarnassos, com letras lapidares seus nomes e a data da sua chegada. 4. Caramania foi o vasto "hinterland" que se estendia atrás de Caru e Cari, até o Eufrates. A capital dessa província era Carmana, e de lá vieram os pequenos comerciantes (Caramanos), que se estabeleceram no interior do Brasil. Esses viajaram nos navios dos Fenícios; mas esses últimos eram mercadores-capitalistas, que não trataram de comércio retalhista. Eis a origem do nome "Carcamano". Amigos e aliados dos Cários eram os reinados Ion e Il-Ion. Os Gregos mudaram o nome Ion para Ionia e Iion para Tróia, como Homero intitulou sua grande epopéia Ilíada. lônia abrangia a maior parte da costa ocidental da Ásia Menor e dominava no Mar Egeu,' sua antiga capital era Éfeso, um grande empório comercial e artístico.
Interessante, que Schwennhagen nos informa que, na nomenclatura Tupi acham-se os nomes Canaã e Aramés; mas em geral encontramos os nomes Cari, Cara e Caru: [...] Caru-tapera, no Maranhão, era um estabelecimento marítimo e comercial dos Caru, entre a foz dos rios Gurupi e Iriti. Nas margens desses rios exploraram os Fenícios as minas auríferas, e a colônia, situada na margem dum canal largo e fundo, que florescia durante muito tempo. Depois, quando os Caru abandonam a colônia, ficou o nome "Taba dos Caru", que era Carutapera. Na chegada dos portugueses estava ainda ali uma aldeia de Tupis, que conheciam bem a existência das minas auríferas.
Para Rahme (2013) 252: [...] a língua tupi pertence à grande família das línguas pelasgas, um ramo da língua suméria253, cujas sete tribos da nação tupi residiam inicialmente, em um país chamado Caraíba, um grande pedaço de 251
Cária (do luvita "Karuwa" - "terra íngreme"; em grego antigo: Καρία - Karia) era o nome de uma região no oeste da antiga Ásia Menor (Anatólia) que se estendia ao longo da costa da Jônia, de Mícale(Mykale) para o sul até a Lícia e para o leste até a Frígia. Os gregos jônios e dórios colonizaram a porção ocidental da Cária e se juntaram à população nativa para formar estados de matiz grega na região. Os epônimos habitantes nativos da região eram conhecidos como "cários" e Heródoto os descreve como sendo de ascendência minoica . Eles falavam uma língua do grupo anatólico conhecida como cário, que não necessariamente reflete uma origem geográfica, pois os anatólios podem um dia terem estado dispersos. Muito próximos dos cários eram os léleges, um termo que pode ser um nome antigo para os cários ou um para um um povo que os precedeu na região e continuou a existir como parte da sociedade cária, supostamente com um status menor. https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1ria 252 RAHME, Claudinha. Fenícios descobriram o Brasil antes de Cabral? IN Gazeta de Beirute, Edição 57, disponível em http://www.gazetadebeirute.com/2013/05/fenicios-descobriram-o-brasil-antes-de.html 253 Pelasgos (em grego: Πελασγοί, Pelasgoí, singular Πελασγός, Pelasgós) era um termo usado por alguns autores da Grécia Antiga para se referir a populações que teriam sido ancestrais dos gregos ou que os teriam antecedido na colonização do território onde hoje em dia está a Grécia, "um termo abrangente que
terra firme localizado onde hoje fica o mar das Caraíbas, onde eles haviam se refugiado após o desmoronamento de Atlântida. E os chamados "Caris", eram ligados aos povos cários, da Cária, no Mediterrâneo. Segundo a obra “História do Brasil” de Francisco Adolfo de Varnhagen, existe a confirmação de uma migração dos Caris - Tupis da Caraíba, para o norte do continente sul-americano, uma tradição que sobrevive, ou sobrevivia, ainda entre o povo indígena da Venezuela.
Em vários lugares do Brasil, além da Pedra da Gávea, foram encontradas supostas inscrições fenícias gravadas em rochas. Em Pouso Alto, na Paraíba, um conjunto dessas misteriosas inscrições teve a curiosa tradução: 'Somos filhos de Caná, de saída, a cidade do rei. O comércio nos trouxe a esta distante praia, uma terra de montanhas. Sacrificamos um jovem aos deuses e deusas exaltados no ano de 19 de Hiram, nosso poderoso rei. Embarcamos em Ezion Geber, no mar Vermelho, e viajamos com 10 navios. Permanecemos no mar juntos por 2 anos, em volta da terra pertencente a Ham (África), mas fomos separados por uma tempestade, nos afastamos de nossos companheiros e, assim, aportamos aqui: 12 homens e 3 mulheres. Numa nova praia que eu, o almirante, controlo. Mas auspiciosamente passam os exaltados deuses e deusas intercederem em nosso favor'. Fonte: BLOG%20PAIÇANDU_%20Fenício%20no%20Brasil...Chegaram%20antes%20dos%20Portugueses.html
Pressupõem Schwennhagen que a ‘diáspora’ dos Cários/Fenícios começa com a queda de Tróia em 1184 a. C.: [...] Schliemann provou, pelos documentos indeléveis de pedras lavradas, que a guerra de Tróia não foi uma lenda, mas um acontecimento histórico de alta relevância, e hoje sabemos, pelas inscrições nas pedras lavradas do Brasil, que as conseqüências da guerra troiana deram o impulso para o primeiro descobrimento do Brasil e a primeira emigração de povos brancos a este continente. Os Gregos, senhores da passagem dos estreitos e da entrada para o interior da Asia Menor, ocuparam todo o litoral da Iônia e Cária e todas as ilhas do Mar Egeu, inclusive a grande ilha de Creta. A ilha Kopros (no grego Kipros, no latim Cyprus, no português Chipre) ficou ainda alguns séculos contestada entre os Fenícios e os Gregos. Assim, o florescente reinado de Ion com Éfeso, Kolofon e muitas outras cidades, e Caria com Halicarnassos, Meandro e Rhodo caíram em poder dos Gregos e foram helenizados. As populações indígenas foram escravizadas ou expulsas. Isso se deu na época de 1150 a 1000 anos a. C. e assim começou a época das emigrações dos povos do Mediterrâneo. Encontramos nas narrações dos antigos escritores muitas informações de que tribos pelasgas e povos Cários emigraram da Ásia e da Grécia para a Itália e Ibéria, e mesmo para as costas do Oceano Atlântico. Depois, os Gregos iniciaram sua expansão colonial para Oeste e ocuparam Sicília e o Sul da Itália, desalojando passo a passo os Fenícios de suas colônias. Por todos esses motivos transferiram estes seu grande movimento marítimo às costas e ilhas atlânticas. Informados pelos Tartéssios e Atlantes sobre a existência duma "ilha enorme", no outro lado do mar, experimentaram os Fenícios a travessia oceânica,
englobava qualquer povo antigo, primitivo e, presumivelmente, autóctone no mundo grego."[1] No geral, "pelasgo" passou a significar, de maneira mais ampla, todos os habitantes autóctones das terras ao redor do mar Egeu, bem como suas culturas, antes do advento da língua grega.[2] Este não é um significado exclusivo, porém os outros sentidos do termo quase sempre necessitam ser especificados quando utilizados. Durante o período clássico da história grega antiga,enclaves caracterizados como pelasgos subsistiram em diversos locais da Grécia continental, Creta e outras regiões do Egeu. As populações que se identificavam como tal falavam um idioma ou idiomas que os gregos identificaram como não sendo grego(s), ainda que alguns autores antigos tenham descrito os pelasgos como gregos. Uma tradição que afirmava que grandes territórios da Grécia teriam sido pelasgos antes de sua helenização também persistiu no mundo antigo; estas partes geralmente se encontravam dentro do domínio étnico que, pela altura do século V a.C., atribuía-se aos falantes de determinada variante do grego antigo, identificados como jônicos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pelasgos
desde as ilhas de Cabo Verde para o Nordeste do Brasil, sobre que possuímos o documento histórico de Diodoro da Sicília.
Explica, ainda que: Os Fenícios nunca chamaram sua terra de Fenícia; o nome era - como já explicamos - Cara para o país, bem como para o povo. Existiam também os nomes Canaã para o litoral e Araméia para a parte montanhosa. O nome Fenícios deram-lhes os Gregos aos navegadores de Tiro como apelido, significando "mercadores de tintas da ave fabulosa Fênix". O mestre Antenor Nascentes explica o nome Fenício vindo do grego Phoinikeioi, do latim Phoenicios. O termo grego vem de Phoinix, que significa cor vermelha, púrpura; É fato que na cidade de Tiro fabricavam a famosa tinta de púrpura, obtida das glândulas de um marisco chamado murex e usada como corante de tecidos.[...] A cidade de Tiro teve 300 tinturarias e fábricas de tintas finas, cujos segredos químicos os Gregos nunca descobriram.
Jaime Barossi (2011) 254 considera como achado curioso que nas margens do lago Pensiva, no Maranhão, foram encontrados estaleiros de madeira petrificada, com espessos pregos de bronze. O pesquisador maranhense Raimundo Lopes255 encontrou utensílios tipicamente fenícios no lugar, na década de 1920. Na ilha de Marajó, foram encontrados tipos de portos tipicamente fenícios, parecidos com muralhas de pedras, iguais aos encontrados na costa do território da antiga Fenícia. No portal São Francisco 256 há um interessante estudo sobre os Fenícios no Brasil: [...] Subindo o rio Mearim, no Estado do Maranhão, na confluência dos rios Pindaré e Grajaú, encontramos o lago Pensiva, que outrora foi chamado Maracu. Neste lago, em ambas as margens, existem estaleiros de madeira petrificada, com grossos pregos e cavilhas de bronze. O pesquisador
254
BAROSSI, Jaime. Fenício no Brasil...Chegaram antes dos Portugueses. Blog Paiçandu, do Prof. Jaime Barossi, 9 de agosto de 2011. BLOG%20PAIÇANDU_%20Fenício%20no%20Brasil...Chegaram%20antes%20dos%20Portugueses.html . 255 Raimundo Lopes da Cunha nasceu em Viana em 1894 e foi um dos pioneiros na construção do conhecimento sobre o Maranhão, sua territorialidade, geografia, arqueologia, etnografia e outras áreas afins no âmbito natural e cultural. Bacharel em Letras produziu seu primeiro trabalho científico, O Torrão Maranhense, aos 17 anos, logo depois, Uma Região Tropical255, através do qual delineou um panorama abrangente sobre aspectos geográficos, econômicos, etnológicos, recursos arqueológicos e particularidades culturais regionais. Lopes localizou os primeiros sítios arqueológicos maranhenses, sambaquis e estearias, servindo sua obra de orientação a todas as pesquisas posteriormente realizadas no Estado255. Sua produção científica como pesquisador efetivo do Museu Nacional do Rio de Janeiro foi significativa e seus estudos voltados ao desenvolvimento de ações na defesa e salvaguarda de bens patrimoniais inovadores em sua época. Morreu no Rio de Janeiro, em 1941, pouco após o término do seu último trabalho acadêmico, Antropogeografia CORREA, Mariza. TRAFICANTES DO EXCÊNTRICO - os antropólogos no Brasil dos anos 30 aos anos 60. Disponível em http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_06/rbcs06_05.htm LOPES, Raimundo. O TORRÃO MARANHENSE. Rio de Janeiro: Typ. Do Jornal do Commercio, 1916 LOPES, Raimundo. UMA REGIÃO TROPICAL. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1970 LOPES, Raimundo. ANTROPOGEOGRAFIA. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1956. (Edição fac-similar comemorativa ao centenário de fundação da Academia Maranhense de Letras, São Luis: AML, 2007). http://www.cultura.ma.gov.br/portal/sede/index.php?page=cphna_noticia_extend&loc=arqueologia&id=10 Raimundo Lopes na Internet: http://www.iphan.gov.br/bancodados/arqueologico/mostrasitiosarqueologicos.asp?CodSitio=5431 http://www.iphan.gov.br/bancodados/arqueologico/mostrasitiosarqueologicos.asp?CodSitio=5434 http://acd.ufrj.br/museu/bibliote/revimn96.txt Alexandre Fernandes Corrêa (2003, 2009) reproduz texto de Paulo Avelino: ”Resenha de livro raro: Uma Região Tropical, de Raimundo Lopes” 255, em Teatro de Memória255, sobre a obra etno-geológica de Raimundo Lopes: “Escreveu seu primeiro livro, “O Torrão Maranhense”, considerado pelos especialistas o primeiro bom livro de geografia sobre a região. Só que o escreveu quando a maioria das pessoas está pensando em outras coisas que em teorias geográficas – ele o escreveu aos dezesseis anos. E o publicou no ano seguinte, 1916 (nascera em 1899). [...] “Nos anos vinte Raimundo Lopes fez escavações pelo interior do estado, e disso resultaram descobertas responsáveis por duas das três menções ao seu nome que existem na Internet 255. Uma é a estearia do lago Cajari, no município de Penalva, no vale do grande rio Pindaré. Estearias ou cacarias eram os nomes que o povo da região dava ao que o quase menino (tinha pouco mais de vinte) professor de geografia descobriu que eram na verdade vestígios de uma aldeia de palafitas de pessoas que habitavam aquele mesmo lugar, sobre a superfície daquele mesmo lago, cerca de dois mil antes de Cristo. Foi uma descoberta importante. Eram as primeiras habitações lacustres encontradas em todo o mundo fora da Suíça. As primeiras no continente americano. Pesquisadores do Museu Nacional e do exterior louvaram esse feito. Depois ele realizou outra descoberta, o sítio cadastrado como MA-SL-4, também chamado de Sambaqui da Maiobinha. Sambaquis são pilhas de conchas, peixes e outros vestígios de povos que viviam á beira-mar. Esse é bem próximo da capital, na estrada entre São Luís e a cidade-dormitório de São José de Ribamar, sítio que o próprio IPHAN classificou como relevância Alta. CORREA, Alexandre Fernandes. A ANTROPOGEOGRAFIA DE RAIMUNDO LOPES SOB INFLUÊNCIA DE EUCLIDES DA CUNHA in http://teatrodasmemorias.blogspot.com/2009/12/antropogeografia-de-raimundo-lopes-sob.html CORREA, Alexandre Fernandes. AS RELAÇÕES ENTRE A ETNOLOGIA E A GEOGRAFIA HUMANA EM RAIMUNDO LOPES. Cad. Pesq .. São Luís. v. 14. n. 1. p.88-1 03. jan.!jun. 2003disponivel em http://www.pppg.ufma.br/cadernosdepesquisa/uploads/files/Artigo%206(16).pdf AVELINO, Paulo. ”Resenha de livro raro: Uma Região Tropical, de Raimundo Lopes”, disponível em http://www.fla.matrix.com.br/pavelino/lopes.htmlfala LOPES, Raimundo. Uma região tropical. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-fon e Seleta, 1970. 197p. Coleção São Luís, volume 2. ver também: 256
http://www.portalsaofrancisco.com.br/)
maranhense Raimundo Lopes escavou ali, no fim da década de 1920, e encontrou utensílios tipicamente fenícios.[...].257
Pablo Villarrubia Mauso (2006), em As Cidades Perdidas do Maranhão258, refere-se às pesquisas de Raimundo Lopes sobre as estearias maranhenses259: Em 1919, o explorador e arqueólogo Raimundo Lopes iniciou escavações num terreno cheio de lama, no centro do Lago Cajari, durante uma seca jamais vista na região. Isso facilitou suas escavações, já que em alguns trechos a profundidade não ultrapassava 50 centímetros. Contudo, em condições normais, o nível de água é de dois ou três metros, e oculta uma cidade extinta. Algumas centenas de anos antes, o nível do lago e de suas margens devia ser mais baixo que o de hoje. Do barro mole, Raimundo Lopes via surgir grande número de troncos negros de árvores, como um imenso bosque morto. Pouco a pouco, ele foi encontrando restos de cerâmica e objetos de pedra, atribuídos a um povo relativamente numeroso e bem organizado. Mas quem teriam sido seus habitantes? Os poucos vestígios encontrados – as condições de preservação do lago não são as mais propícias –, não dão muitas pistas. No entanto, foram encontrados muitos troncos grandes e fortes, que apóiam a teoria de que ali foram construídas casas que se elevavam acima do nível da água na época das chuvas. No mesmo ano, Raimundo Lopes encontrou outra cidade construída em palafitas no Lago Encantado e, em 1922, no Lago Maiobinha. Em 1923, expôs os resultados de suas escavações durante uma conferência no Museu Nacional do Rio de Janeiro, quando disse que as construções eram palafitas assentadas sobre uma região pantanosa. Embora fragmentada, a cerâmica encontrada na região de Cajari parece ter sido bastante elaborada, pintada em vermelho e preto, com relevos zoomorfos, e seria mais antiga do que a cerâmica da Ilha de Marajó, na foz do Rio Amazonas, uma das mais bonitas do mundo. Contudo, Lopes acreditava que a cerâmica de Cajari não tinha qualquer relação com outras culturas da região amazônica. O arqueólogo não pôde encontrar qualquer figura humana representada nos restos de cerâmica, e tampouco restos de ossos humanos, impossibilitando assim a identificação da raça de seus antigos ocupantes. A descoberta mais importante no lago foi o dos muiraquitãs, amuletos com forma estilizada de rã, como os que foram encontrados na região amazônica de Santarém, e que são atribuídos às míticas mulheres amazonas. Lopes dizia que "... os amuletos do Cajari são semelhantes aos do baixo Amazonas, México e Costa Rica, feitos com uma técnica bastante avançada". Mas, ao contrário da América Central, os muiraquitãs do Maranhão foram feitos de ágata e não de jadeíta.
Informa Rahme (2013) 260 que, em 1872, o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil foi notificado por Joaquim Alves da Costa, falando sobre a sua descoberta em Pouso Alto, às margens do Paraíba, de umas inscrições gravadas em uma pedra. Uma transcrição da inscrição foi enviada ao IHGB, e onde a principio, o botânico carioca, Ladislau de Souza Mello Netto, fez uma primeira tradução: [...] historiador francês Ernest Renan, afirmou que as inscrições eram fenícias, e de cerca de 3000 anos. Quase um século depois, nos 60, o professor americano, Cyrus H. Gordon, da Universidade Brandeis, 257
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/civilizacao-fenicia/civilizacao-fenicia2.php MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão. IN Revista Sexto Sentido, postado em 2010-06-11 13:25, no sitio http://www.revistasextosentido.net/, disponível em http://www.revistasextosentido.net/news/%20as%20cidades%20perdidas%20do%20maranh%C3%A3o/ 259 Estearia: termo que corresponde ao vocábulo italiano palafitti, designativo das habitações lacustres pré-históricas da Europa. No Maranhão, os ribeirinhos do lago Cajari, perto da vila Penalva1, chamam estearia a uns vestígios de moradias lacustres dos caboclos aborígenes. Estudou-os Raymundo Lopes, em 1919, publicando a respeito um trabalho A Civilização lacustre no Brasil no Boletim do Museu Nacional (Vol. 1 N.º 2. Janeiro de 1924), no qual afirma ter visto os referidos vestígios, graças a uma seca que fez baixar consideravelmente as águas do lago. Apresentou-se-lhe a antiga habitação “com seus milhares de esteios, numa perspectiva belíssima, impressionante, esponteando com os seus troncos negros, como se fosse imensa floresta morta, à face argentada das águas”. Volta o ilustrado cientista a tratar do assunto em O Jornal de 27 de novembro de 1927, no qual diz que o termo estearia está consagrado nos círculos científicos brasileiros, falando de novas ‘estearias’, ou ‘esteames’ como também designa, em outros sítios do Maranhão e escreve: “A aldeia — jazida palafítica ou lacustre como a estearia do Cajari, a primeira que observei em 1919, fica em pleno rio e, com o canal deste de permeio, defronta a ponta da ‘Estrela’ oposta à bocaina do Parauá; está coberta de água, mesmo no dezembro adusto em que a visitamos. Mas num fundo de cerca de metro, embora a escassez do tempo, às apalpadelas, na lama cheia de estrepes, sempre em tais pontos se colhe uma massa de fragmentos de cerâmica e pedra que, se nem sempre enfeitam coleções, identificam suficientemente as jazidas”. Informa-nos Jorge Hurley que, no Pará, especialmente no litoral atlântico, há as ‘meruadas’ dos currais de pesca e das feitorias dos pescadores, abandonados, idênticos à estearia do lago Cajari, no Maranhão. (Bernardino José de Souza, in dicionário da terra e da gente do brasil, 1939.) Correspondência eletrônica de Luis Melo a Leopoldo Gil Dulcio Vaz From: luis-mello-neves@hotmail.com To: vazleopoldo@hotmail.comSubject: RE:Date: Mon, 22 Aug 2011 03:37:20 +0000. disponível em http://www.brasiliana.com.br/brasiliana/colecao/obras/116/dicionario-da-terra-e-da-gente-do-brasil 260 RAHME, Claudinha. Fenícios descobriram o Brasil antes de Cabral? IN Gazeta de Beirute, Edição 57, disponível em http://www.gazetadebeirute.com/2013/05/fenicios-descobriram-o-brasil-antes-de.html 258
em Boston, um reconhecido e notório especialista em línguas mediterrâneas, confirmou que as inscrições encontradas em Pouso Alto, eram realmente autênticas inscrições fenícias, até então desconhecidas no século XIX, e as traduziu para o português: “Somos filhos de Canaã, de Sídon, a cidade do rei. O comércio nos trouxe a esta distante praia, uma terra de montanhas. Sacrificamos um jovem aos deuses e deusas exaltados no ano de 19 de Hirão, nosso poderoso rei. Embarcamos em Ezion-Geber, no mar Vermelho, e viajamos com 10 navios. Permanecemos no mar juntos por dois anos, em volta da terra pertencente à Cam (África), mas fomos separados por uma tempestade, nos afastamos de nossos companheiros e, assim, aportamos aqui, 12 homens e 3 mulheres. Numa nova praia que eu, o almirante, controlo. Mas auspiciosamente possam os exaltados deuses e deusas intercederem em nosso favor”.
Em 1839, uma expedição liderada pelo historiador Manoel Araújo Porto Alegre confirmou a localização dos estranhos sinais. A surpresa geral veio a público quase um século depois, em 1928, quando o arqueólogo amazonense Bernardo da Silva Ramos (1858–1931) publicou o livro 'Inscrições e Tradições da América Pré-Histórica, Especialmente do Brasil', onde afirma que os sinais são inscrições fenícias, cuja tradução para o português revela: "Tyro, Fenícia, Badezir, primogênito de Jethbaal". Em 856 Antes de Cristo, Badezir sucedeu o pai no trono da cidade de Tiro, capital da Fenícia, e reinou até 850 AC, quando desapareceu misteriosamente. Fonte: BLOG%20PAIÇANDU_%20Fenício%20no%20Brasil...Chegaram%20antes%20dos%20Portugueses.html
Tanto Souza (s.d.) quanto Sodré (2008) informa261 que o Rei Badezir262 foi exilado no Brasil; para a expulsão do território em direção ao exílio, foi constituída uma frota de seis navios, sendo que, nos dois primeiros foi distribuída a corte exilada, da seguinte forma.263: 1º) Badezir, os dois filhos, YET-BAAL e YET-BAAL-BEL, oito Sacerdotes, cujo chefe tinha o nome de BAAL-ZIN (literalmente, “O Deus da Luz e do Fogo”), dois escravos núbios, tripulação e soldados (que deveriam retornar); 2º) Gente do povo e 49 militares expulsos por terem ficado fiéis a Badezir e 222 seres que representavam a elite do povo fenício. O destino da frota de exílio era o Brasil, local de há muito conhecido pelos fenícios. O próprio nome “Brasil”, como ensina o eminente Prof. Henrique, deriva do de “Badezir”... Quando aqui chegaram, formaram duas cortes:
261
SOUZA, Henrique José de. PEDRA DA GÁVEA (6. Rei Badezir). In http://www.adventos.org.br/adventos/pt/peb/GaveaVI.htm SODRÉ, Marcos. Os fenícios no Brasil. In RECANTO DAS LETRAS, 06/02/2008; 09/12/2008, disponível em http://www.recantodasletras.com.br/artigos/848406 262 BADEZIR foi um Rei fenício, que era viúvo e tinha 8 filhos, tendo vivido por volta do ano 800 A.C. Os filhos gêmeos eram os mais velhos, e eram odiados pelos outros irmãos. Por força desse sentimento, durante algum tempo forjaram a deposição de Badezir, o que veio a acontecer, quando um conluio entre as castas militar e religiosa, destronou o Rei e o expulsou, juntamente com os dois gêmeos, do reino, passando a Fenícia, de Império à República. SOUZA, Henrique José de. PEDRA DA GÁVEA (6. Rei Badezir). In http://www.adventos.org.br/adventos/pt/peb/GaveaVI.htm 263 SOUZA, Henrique José de. PEDRA DA GÁVEA (6. Rei Badezir). In http://www.adventos.org.br/adventos/pt/peb/GaveaVI.htm
a) De natureza Temporal, composta por Badezir, Sacerdotes, militares, e que se estendia do Amazonas a Salvador, Bahia; (Amazonas, do tupi AMAXON, “puras, virgens, sem união sexual”; AMAXÁ, AMAXANA, AMANJÁ, IEMANJÁ – 8 ª das Sereias ou Nereidas (do mar), enquanto o termo XANAS se refere às sereias dos lagos). b) De cunho espiritual, formada pelos Gêmeos YET-BAAL, os 222 seres da elite fenícia e os dois escravos núbios.
Bacari (2013) 264 informa – e pergunta - que em torno de 856 a.C., Badezir ocupou o lugar do seu pai no trono de Tyro, na Fenícia, hoje o Líbano: É a Pedra da Gávea o túmulo deste rei ? A imagem mostra com o que a esfinge teria se parecido quando ela foi feita.
Sobreposição de uma esfinge dos templos assírios/babilônicos, o touro alado com cabeça humana, sobreposta à Pedra da Gávea
Prossegue Bacari (2013)
265
:
Outros sítios arqueológicos foram encontrados em Niterói, Campos e Tijuca que sugerem que os fenícios de fato, a cerca de três mil anos atrás, eles por lá perambularam também. Em uma ilha na costa da Paraíba, outro estado do Brasil muito longe do Rio, pedras ciclópicas e ruínas de uma antiga construção com quartos enormes, corredores e passagens extensas foi encontrado. Segundo alguns especialistas, as ruínas seriam de construções de uma relíquia deixada pelos fenícios, apesar de existirem pessoas que contestam as conclusões desse tipo. Robert Frank Marx, um arqueólogo americano interessado em descobrir indícios de navegação précolombiana no Brasil, iniciou em 1982 uma série de mergulhos na baía da Guanabara à procura de restos de barcos antigos.
Guimarães (2009) 266 informa que durante a década de 20 havia uma acentuada tendência de se debater sobre a descoberta da América. No Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, em 1924, compareceu o cientista Ludovic Schwenhagen, incansável pesquisador da origem ariana dos povos tupis, fazendo uma palestra sobre suas pesquisas pelo nordeste brasileiro. Em sua memorável conferência ele 264 BACARI, Luiza. A Pedra da Gávea – Uma Esfinge semita no Brasil… Fonte: http://www.viewzone.com - Viewzone Brazil. Posted by Thoth3126 on November 21, 2013, disponível em http://lirapleiadesterra.xpg.uol.com.br/anunnakis.htm 265 BACARI, Luiza. A Pedra da Gávea – Uma Esfinge semita no Brasil… Fonte: http://www.viewzone.com - Viewzone Brazil. Posted by Thoth3126 on November 21, 2013, disponível em http://lirapleiadesterra.xpg.uol.com.br/anunnakis.htm 266 GUIMARÃES, Luiz Hugo. O primeiro descobrimento do Brasil. IN www.luizhugoguimaraes.com.br. Disponível em http://universodahistoria.blogspot.com.br/2009/10/o-primeiro-descobrimento-do-brasil.html
relatou suas idéias sobre o que vira pelo Pará, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e pela Paraíba. Seguiu depois para Sergipe e Bahia, passou também pelo Mato Grosso. O Instituto Histórico da Paraíba nomeou uma comissão para se manifestar sobre esses estudos. Na Revista n° 10, ano 1953, do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, consta que Ludovic Schwenhagen, acompanhado do engenheiro francês Sr. Frot, descobriu na Bahia grandes obras de viação, as quais ele atribuía aos fenícios e egípcios, em uma época de mais de mil anos antes de Cristo. O professor Schwenhagen dirigiu carta relatando suas pesquisas e andanças, que lhe convenceram que a América fora descoberta pelos fenícios há 1100 anos A. C.: “Aracaju, 9 de janeiro de 1926 Mui prezado sr. Paulo de Magalhães Demorei-me muito tempo na Bahia, em cujos sertões viajei com o engenheiro Apollinaris Frot, e copiei muitas inscrições importantes, que tratam todas de explicações de minas. Minhas teorias expostas na Paraíba ficam então um tanto alteradas, mas, parece-me, ganharam em base. Ainda não havia eu encontrado a chave do grande segredo. Hoje, porém, opino de ter chegado ao ponto final, baseado nas indagações importantes que tive a de felicidade fazer no interior dos Estados da Bahia e de Sergipe. Encontrei ali as provas, que a maior parte das antigas inscrições e letreiros que se acham nos rochedos de todos os Estados do Norte e Nordeste são escritas pelos fenícios e engenheiros egípcios que construíram longas estradas terrestres, através do Brasil, e organizaram ali a exploração de minas. Quase todas as grutas, furnas, corredores subterrâneos e escavações verticais são os restos do antigo trabalho de mineração. A cronologia dos fatos históricos é a seguinte: Em 1250 A. C. fundaram os fenícios, com o consentimento dos tartésios, a estação marítima de Gades, hoje, Cadix, para dominar a estrada do Mar Mediterrâneo. O acordo estipulou que os fenícios podiam fundar colônias e benfeitorias nas costas atlânticas da África e Europa, enquanto os tartésios reservaram para si a navegação às ilhas do Oceano, inclusive os Açores e as Antilhas. Na época de 1250 a 1100 A. C. colonizaram os fenícios a costa africana até Dakar, que significa “Casa do Kar”, sendo Kar o progenitor e organizador dos povos cários.
Em seu livro “História Universal” 267, Haddock Lobo diz o seguinte: “Com suas embarcações leves e resistentes, iam buscar (os fenícios), em praias distantes e desconhecidas dos demais povos asiáticos, artigos que depois vendiam sem o mínimo temor de concorrência”. Foi nessas buscas que eles se instalaram no norte do Brasil, especialmente no delta do rio Parnaíba, onde a penetração do interior era fácil.(citado por BARROS, s.d.)268
Schwennhagen cita também, Varnhagen - Visconde de Porto Seguro - em História Brasileira, para confirmar a tradição de uma migração dos Caris-Tupis, de Caraiba para o norte do continente sul-americano, tradição que sobrevive ou sobrevivia ainda, entre o povo indígena da Venezuela. Ele relembra o padre Antonio Vieira, que afirmava: os tupinambás e os tabajaras contaram-lhe que, os povos tupis migraram para o Norte do Brasil, pelo mar, vindos de um país não mais existente. O país Caraíba teria desaparecido progressivamente, afundando no mar, e os tupis teriam se salvado, rumando para o continente.269 Naquele ano de 1100 A. C. saiu uma grande frota dos fenícios de Dakar para as ilhas do Cabo Verde e atravessou de lá o Oceano, para o Brasil. O historiador grego Diodoro Sicuto, que vivia durante muitos anos em Cartago e escreveu a história das navegações fenícias e cartaginesas, narra o fato do descobrimento do Brasil assim: Quando os fenícios já tinham fundado muitas cidades e colônias na costa da África, saiu uma frota deles de lá para as ilhas (do Cabo Verde) onde os navios foram levados por fortes ventos e correntezas do Oceano (uma mentira diplomática, por causa do contrato com os cartésios!). Os navegantes andaram durante muitos dias ao alto mar e, depois eles encontraram uma grande ilha com praias lindas, com muitos rios navegáveis, com um clima ameno e uma população pacífica, que vivia nas aldeias em casas 267
LOBO, Haddock. História Universal. Rio de Janeiro: Egéria, 1979. 3 volumes.
268
BARROS, Eneas. A tese de Ludwig Schwennhagen. (s.d.), acessado http://www.piaui.com.br/turismo_txt.asp?ID=339, BlogPiauí. 269 http://www.hebreunegro.com.br/2015/10/a-presenca-dos-fenicio-no-brasil.html
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25
de
fevereiro
de
2016.
Disponível
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bonitas, como nossa gente rica no estio. A ilha era tão grande que os fenícios gastaram muitos dias para circunvagá-la.
Continua Guimarães (2009) 270, relatando os informes de Schwenhagen, que em 950, entraram os fenícios numa aliança com os povosTupi, que moravam nas Antilhas e no país Caraibia, hoje afundado no Mar Caraibico. Durante 50 anos imigraram os Tupi, que eram um ramo dos povos cários e pertenciam à raça branca atlântico-européia, em navios fenícios para o Norte e Nordeste do Brasil. Em 850, o Senado de Cartago proibiu a imigração para a grande ilha do Oceano, porque ele receava a despovoação do território cartaginês. Esse fato prova que naquele tempo o estado econômico do Brasil era tão florescente, que atraiu muitos imigrantes dos países mediterrâneos. Com o auxílio dos Tupi e aproveitando os indígenas Tapuio como trabalhadores, os fenícios e os por eles contratados engenheiros egípcios fizeram trabalhos extraordinários, no interior do Brasil. Como indicam as inscrições escritas em letras fenícias e egípcias, ficou estabelecida a estação marítima principal perto do Cabo S. Roque, na costa do Rio Grande do Norte: Ali existe um lago, hoje chamado de Extremoz ou dos Touros, que é ligado com o mar por um canal, antigamente bem navegável. Dali saiu duas estradas para o interior, uma rumo ao Sudoeste, que foi prolongada até o Paraguai, onde estava o ponto final da navegação dos fenícios, no rio da Prata, e onde o coronel Fawcett procurava as ruínas de uma grande cidade. Esta estrada central, desde Rio Grande do Norte até o limite de Mato Grosso, está indicada por mais de cem inscrições, dando as distâncias com a medida egípcia, como provou o engenheiro francês Apollinaris Frot, que trabalha a 20 anos no interior da Bahia. Esta estrada central tem muitos ramais para as diversas zonas da mineração e era ligada com os portos dos rios Paraíba e S. Francisco. A grande inscrição da pedra lavrada, na Paraíba, representa um mapa da grande estrada com indicações minuciosas, a respeito do rumo, das distâncias e da posição das minas.
Pergunto: seria o Piabiru?271: Os peabiru (na língua tupi, "pe" – caminho; "abiru" - gramado amassado) são antigos caminhos utilizados pelos indígenas sul-americanos desde muito antes do descobrimento pelos europeus, ligando o litoral ao interior do continente. A designação Caminho do Peabiru foi empregada pela primeira vez pelo jesuíta Pedro Lozano em sua obra "História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán", no início do século XVIII. Outras fontes, no entanto, dizem que o termo já era utilizado em São Vicentelogo após o descobrimento do Brasil pelos portugueses, em 1500. O principal destes caminhos, denominado Caminho do Peabiru, constituía-se em uma via que ligava os Andes ao Oceano Atlântico. Mais precisamente, Cusco, no Peru (embora talvez se estendesse até o oceano Pacífico), ao litoral brasileiro na altura da Capitania de São Vicente (atual estado de São Paulo), estendendo-se por cerca de 3 000 quilômetros, atravessando os territórios dos atuais Peru, Bolívia, Paraguai e Brasil. Segundo os relatos históricos, o caminho passava pelas regiões das atuais cidades de Assunção, Foz do Iguaçu, Alto Piquiri, Ivaí, Tibagi, Botucatu, Sorocaba e São Paulo até chegar à região da atual cidade de São Vicente. Ainda havia outros ramos do caminho que terminavam nas regiões das atuais cidades de Cananeia e Florianópolis. Em território brasileiro, um de seus traços ou ramais era a chamada Trilha dos Tupiniquins, no litoral de São Vicente, que passava por Cubatão e por São Paulo, em lugares posteriormente conhecidos como o Pátio do Colégio e rua Direita; cruzava o Vale do Anhangabaú; seguia pelo traçado que hoje é o das avenidas Consolação e Rebouças; e cruzava o rio Pinheiros.[3] Outro ramal partia de Cananeia. Ramificações adicionais partiam do litoral dos atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Schwenhagen (in GUIMARÃES, 2009) 272, informa que a outra grande estrada 273 saia do Cabo S. Roque no rumo do poente, passava Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão e Pará e ia até o Acre: 270 GUIMARÃES, Luiz Hugo. O primeiro descobrimento do Brasil. IN www.luizhugoguimaraes.com.br. Disponível em http://universodahistoria.blogspot.com.br/2009/10/o-primeiro-descobrimento-do-brasil.html 271 https://pt.wikipedia.org/wiki/Caminho_do_Peabiru 272 GUIMARÃES, Luiz Hugo. O primeiro descobrimento do Brasil. IN www.luizhugoguimaraes.com.br. Disponível em http://universodahistoria.blogspot.com.br/2009/10/o-primeiro-descobrimento-do-brasil.html 273 O caminho [Peabiru] tinha diversas ramificações utilizadas pelos guaranis, que, através delas, se deslocavam pelas diversas partes do seu território, mantendo, em contato, as tribos confederadas através de uma espécie de correio rudimentar chamado parejhara que ligava o norte e o sul do Brasil, da Lagoa dos Patos até a Amazônia. Segundo a tradição desse povo, o caminho não foi aberto por eles, que atribuem a sua construção ao ancestral civilizador Sumé, que teria criado a rota no sentido leste-oeste. Através do caminho, era realizada uma intensa troca comercial (na base do escambo) entre os índios do litoral e
Grandes trechos dessa estrada existem hoje ainda e ficam aproveitadas pelos sertanejos dos respectivos Estados. As grandes inscrições do Ceará, do rio Jaguaribe, de Quixadá e de Urubu-Retama são itinerários dessa estrada, da qual um ramal ia às minas de cobre de Viçosa. A estrada principal atravessou a serra da Ibiapaba, na altura de Ipu, onde os engenheiros construíram uma estrada em serpentinas, para subir o alto barranco da serra. Os restos dessa obra foram encontrados, quando a nova estrada ali ficou construída por ordem do dr. Epitácio Pessoa. De lá passa a estrada o Piauí e o rio Parnaíba na altura de União; de lá ia a estrada através o Maranhão até o alto Mearim e de lá, pelas cabeceiras do Pindaré, Gurupy e Capim até a confluência do Tocantins e Araguaia, continuando até o Acre. Os delegados das 14 cidades dos Tupynambás do Pará, que chegaram em São Luís, para convidar o padre Antônio Vieira, explicaram bem o rumo dessa antiga estrada. Um ramal, dentro do território maranhense, saiu do Mearim para os rios Tury-Assu, Maracassumé e Gurupy, para encontrar a zona aurífera entre Maranhão e Pará. Os denominados Montes Áureos e as minas de ouro, hoje usurpadas pelo Sr. Guilherme Linden, já foram descobertos pelos fenícios. Essa estrada existe hoje ainda e foi usada, no tempo do Império, como estrada militar. Eu vi mesmo os restos das colônias militares, organizadas por ordem de D. Pedro II, para policiar aquela antiga estrada de minas, indicada pelas inscrições fenícias. Os Tupys escolheram para sua residência as terras férteis da Ilha do Marajó, o litoral do Maranhão com o centro na Ilha de S. Luís, antigamente Tupaón, a Serra da Ibiapaba (o paraíso brasileiro), as serras do Rio Grande e da Paraíba e as serras do baixo rio S. Francisco. Além disso, eles fizeram colônias, tabas fortificadas ao longo das grandes estradas, para segurar as comunicações e os comboios de mercadorias. Os fenícios tinham sempre até 1000 tupy-guaranys (guerreiros da raça tupy) à sua disposição. A ortografia guarany é uma forma moderna. Assim, se explica a larga espalhação dos tupys e a implantação da língua tupy até Paraguai e Bolívia. Os tupys, guiados pelos fenícios e ensinados pelos engenheiros egípcios, fizeram grandes obras de utilidade pública; na ilha de Marajó, na costa do Ceará e nas praias de Sergipe encontrei os longos aterros, para deter as águas do mar. Chama-se sambaqui; mas as acumulações de conchas era só um meio auxiliar. Em muitos lugares encontrei as conchas queimadas, cuja cal dava a ligação do concreto. Na serra da Ibiapaba encontrei dúzias de cascatas artificiais, que levavam a água da serra para abaixo, para irrigar o sertão. No Piauí e Ceará existem muitas antigas represas de água, algumas de grandes dimensões, mas hoje inutilizadas. O Dr. Epitácio, que mandou fazer tantas obras contra as secas do Nordeste, já tinha antecessores há 2500 anos. Na margem do baixo S. Francisco existem restos duma larga irrigação no sistema dos egípcios.
Schwenhagen (in GUIMARÃES, 2009) 274, também relaciona as cidades que teriam origem fenícia: Os fenícios fundaram numerosas cidades marítimas: Macapá, na foz do Amazonas, Tupaón (S. Luís), Tutoya (corruptela de Troja), Camocim e Jericoara, no norte do Ceará, Aracaty na foz do Jaguaribe, Macau, Touros, no Rio Grande (o nome de Touros deve ser corruptela de Tyros), Paraúba e Mamanguape, onde existem tantos subterrâneos, Marim (Olinda), Piaçaba, na foz do S. Francisco, e Aracaju. Os portos do sul não pude eu ainda verificar. Todas essas cidades receberam um certo número de habitantes de origem tupy e trabalhadores da raça tapuya. Em 332 A. C., a cidade de Tyros, a grande metrópole dos fenícios,foi destruída por Alexandre Magno, que mandou, em 326, uma grande frota para apoderar-se do império colonial fenício sul americano. Essa frota naufragou na entrada do Rio da Prata. O almirante grego foi enterrado na costa do Uruguai e seu túmulo foi descoberto no século passado. A espada e o escudo desse general de Alexandre Magno acham-se no museu de Montevidéu; as letras gregas, indicando o nome e grau do general são bem legíveis.
Alguns autores275 nomeiam algumas marcas por vários lugares do solo brasileiro, tais como:
do sertão e os incas: os índios do litoral forneciam sal e conchas ornamentais, os índios do sertão forneciam feijão, milho e penas de aves grandes como ema e tucano para enfeite, e os incas forneciam objetos de cobre, bronze, prata e ouro. https://pt.wikipedia.org/wiki/Caminho_do_Peabiru 274 GUIMARÃES, Luiz Hugo. O primeiro descobrimento do Brasil. IN www.luizhugoguimaraes.com.br. Disponível em http://universodahistoria.blogspot.com.br/2009/10/o-primeiro-descobrimento-do-brasil.html 275 . in PEDRA DA GÁVEA (7. Rei Badezir e o exílio no Brasi) Disponível em http://www.adventos.org.br/adventos/pt/peb/GaveaVII.htm . ver ainda Roberto Khatlab, in Brasil – Líbano: Amizade que desafia a distância; Luiz C. Lisboa e Roberto P. Andrade; in Grandes Enigmas da Humanidade; http://www.vidhya-virtual.com;
1. Nordeste - podem-se encontrar ruínas de canais de irrigação e ruínas de outros monumentos, entre elas a título de exemplo a “A Galinha Choca”, em Fortaleza; 2. Vale do Rio São Francisco - o uso das carrancas nas proas das embarcações. 3. Piauí - perto da confluência dos rios Longá e Parnaíba, em um lago - Extremoz, foram descobertos um porto e navios fenícios. 4. Niterói, Campos e Tijuca - Segundo consta, outros túmulos fenícios foram encontrados, os quais sugerem que esse povo realmente esteve aqui. 5. Paraíba - Em uma ilha na costa do Estado da Paraíba, pedras ciclope e ruínas de um castelo antigo com quartos enormes e diversos corredores e passagens foi encontrado. De acordo com alguns especialistas, o castelo seria uma relíquia deixada pelos fenícios, apesar de haver pessoas que contestam essa teoria. 6. Amazônia - inscrições fenícias na Amazônia referentes a reis de Tiro e Sidon. 7. Maranhão também há indícios que corroboram com a tese da presença fenícia no Brasil. Nas margens do lago Pensiva, antigamente chamado de Maracu, existem estaleiros de madeira petrificada com grossos pregos e cavilhas de bronze. Ali, o pesquisador maranhense Raimundo Lopes encontrou, na década de 20, utensílios tipicamente fenícios.
Mas o que chama atenção é que Robert Frank Marx276, um arqueólogo americano interessado em descobrir provas de navegantes pré-colombianos no Brasil, começou em outubro de 1982, uma série de mergulhos na Baía de Guanabara. Ele queria achar um navio fenício afundado e provar que a costa do Brasil foi, em épocas remotas, visitada por civilizações orientais. Apesar de não achar tal embarcação, o que ele encontrou pode ser considerado um tesouro valioso. Sobre esta procura, O GLOBO277 publicou: Buscando provas da navegação pré colombiana no Brasil, e sugerindo que um navio fenício poderia ter naufragado na baía de Guanabara, o arqueólogo americano Robert Frank Marx iniciou uma série de mergulhos na referida baía, para tentar descobrir embarcações fenícias naufragadas e provar, assim, que o Brasil e sua costa foram visitados em um passado remoto, pelos barcos dessa civilização semita do Oriente Médio, os fenícios de Tiro e Sidon. O navio, supostamente naufragado não estava lá, mas o arqueólogo descobriu algo muito interessante: Ânforas (vasos) e outras peças fenícias! O caso da descoberta dessas ânforas fenícias no leito da baía de Guanabara sempre foi tratado com o maior sigilo pelas autoridades e sua descoberta foi revelada somente em 1978, com vagas informações. O nome do mergulhador que encontrou as três ânforas, junto com outras 12 peças arqueológicas, foi revelado, após a conferência do Museu da Marinha, pelo presidente da Associação Profissional de Atividades Subaquáticas, Raul Cerqueira. Trata-se do mergulhador José Roberto Teixeira, membro da associação que ficou com uma ânfora e entregou as outras à Marinha. O cabo José Tadeu Cabral, com mestrado em Arqueologia Pré-Histórica, que trabalha no Museu da Marinha, disse que as peças, com capacidade para 36 litros, estão guardadas pelo Governo brasileiro, em um local sigiloso, afirmou “O GLOBO”, em notícia publicada em 23 de setembro de 1982. (LUZ, 2014) 278.
http://www.viewzone.com/gavea.html; www.almacarioca.com.br; http://br.geocities.com/nasaclubebrasil/index.html. BACARI, Luiza. A Pedra da Gávea – Uma Esfinge semita no Brasil… Fonte: http: www.viewzone.com - Viewzone Brazil. Posted by Thoth3126 on November 21, 2013, disponível em http://lirapleiadesterra.xpg.uol.com.br/anunnakis.htm Bastani, Tanus Jorge "0 Líbano y los libaneses en Brasil" Parte octava: "Evidencia de los fenicios llegando a Brasil", páginas 155-159. Edición independiente. Río de Janeiro, 1945. Bastani, Tanus Jorge "El Líbano y los libaneses en Brasil" - Octava parte: "Huellas de la llegada fenicia en Brasil", páginas 155-159 edición independiente. Río de Janeiro, 1945. http://www.bibliotecapleyades.net/esp_historia_humanidad.htm#menu http://www.bibliotecapleyades.net/esp_civilandinas.htm#Additional_Information 276 In http://www.adventos.org.br/adventos/pt/peb/GaveaVII.htm http://lirapleiadesterra.xpg.uol.com.br/anunnakis.htm BACARI, Luiza. A Pedra da Gávea – Uma Esfinge semita no Brasil… Fonte: http://www.viewzone.com - Viewzone Brazil. Posted by Thoth3126 on November 21, 2013, disponível em http://lirapleiadesterra.xpg.uol.com.br/anunnakis.htm 277 “O GLOBO”, em notícia publicada em 23 de setembro de 1982 278 LUZ, Anny. O MISTÉRIO DA PEDRA DA GÁVEA, IN http://numeroastrosflorais.blogspot.com.br/2014/11/o-misterio-da-pedra-da-gavea.html, sábado, 8 de novembro de 2014
Para Rahme (2013) 279, atualmente não há mais dúvidas de que o Brasil está repleto de indícios comprobatórios da passagem dos fenícios, e que eles se concentraram no nordeste: [...] confluência do Rio Longá e do Rio Parnaíba, no Estado do Piauí, existe um lago onde foram encontrados estaleiros fenícios e um porto, com local para atracação dos "carpássios" (navios antigos de longo curso). Subindo o Rio Mearim, no Estado do Maranhão, na confluência dos Rios Pindaré e Grajaú, está o lago Pensiva, que outrora foi chamado Maracu. Neste lago, em ambas as margens, existem estaleiros de madeira petrificada, com grossos pregos e cavilhas de bronze. O pesquisador maranhense, Raimundo Lopes, escavou ali, no fim da década de 1920, e encontrou utensílios tipicamente fenícios. No Rio Grande do Norte, por sua vez, depois de percorrer um canal de 11 km, os barcos fenícios ancoravam no Lago Extremoz. O professor austríaco Ludwig Schwennhagen estudou cuidadosamente os aterros e subterrâneos do local, e outros que existem perto da Vila de Touros, onde os navegadores fenícios ancoravam após percorrer uns 10 km de canal. Na Amazônia, Schwennhagen encontrou inscrições fenícias gravadas em pedra, nas quais havia referências a diversos reis de Tiro e Sídon (datados de 865/887 A.C.).
Schwennhagen acreditava que os fenícios usaram o Brasil como base, durante pelo menos 800 anos, deixando aqui, além das provas materiais, uma importante influência lingüística entre os nativos. Nas entradas dos Rios Camocim (Ceará), Parnaíba (Piauí) e Mearim (Maranhão), existem inclusive muralhas de pedra e cal, semelhantes às muralhas encontradas em Batroun, na costa norte do Líbano, erguidas pelos antigos fenícios. ... E OS TUPIS
Em matéria publicada em 1924, a 4 de setembro, também em A Pacotilha e sob o titulo “São Luis na Antiguidade”, Schwennhagen280 afirma que a Ilha do Maranhão tem um grande passado histórico. Que “Pinson, o companheiros de Colombo, tinha noticias duma grande ilha, que era o centro da nação dos Tupinambás, um trato de terra muito rico e populado”. Chegando às Antilhas, desligou-se de seu companheiro para procurar o continente, situado ao Sul, “onde a Ilha do Maranhão devia ser, conforme as antigas histórias que viviam ainda na memória dos índios, a cabeça de ponte para entrar no continente”. Não sabemos se Pinson realmente esteve nesta ilha, “mas fora de duvidas que a procurou”. Outros tentaram chegar a Ilha do Maranhão, informa, dentre eles Luis de Melo, Aires da Cunha e João de Barros; “a idéia sempre ficou”. Surgiu ainda em projetos a partir de Pernambuco, para descobrir a falada ilha do Maranhão: Pedro Coelho de Sousa e Martins Soares Moreno; as expedições terrestres de Francisco Pinto e Luis Figueira: [...] Entretanto, o instituto marítimo de Dieppe, o centro intelectual da Normandia, tinha por sua vez estudado a questão da ilha afamada do Maranhão, e os veleiros dos normandos franceses procuraram, já desde decênios, esse ponto milagroso da antiga civilização dos povos Tupis, dos filhos de Tupan, do grande Deus. Quando os normando entraram, em 1612, na ilha, estava ela já, desde muitos séculos, em decadência, mas sempre superava de muito todos os outros pontos marítimos dos Tupis, entre Pernambuco e a foz do Amazonas. Os primeiros viajantes europeus que andaram por terra, perto do litoral, de Recife à Ilha do Maranhão, encontraram nessa grande distancia somente oito aldeias de índios, em quanto esta ilha tinha 27 aldeias bem organizadas, com seus chefes, com casas comuns para suas reuniões, com comerciantes e operários, e com cemitérios. [...] 281
O Padre Abbeville 282 contou em algumas aldeias até mil habitantes, o que nos leva a pelo menos 27 a 30.000 habitantes; mantinha um grande comercio com o interior, de couros, mantimentos e pedras 279
RAHME, Claudinha. Fenícios descobriram o Brasil antes de Cabral? IN Gazeta de Beirute, Edição 57, disponível em http://www.gazetadebeirute.com/2013/05/fenicios-descobriram-o-brasil-antes-de.html 280 SCHWENNHAGEN, Ludovico. “São Luis na Antiguidade”. A Pacotilha, 4 de setembro de 1924. 281 SCHWENNHAGEN, Ludovico. “São Luis na Antiguidade”. A Pacotilha, 4 de setembro de 1924. 282 D´ABBEVILLE, Claude. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1975.
preciosas, etc. Não só Abbeville, mas ao padres português que sucederam aos capuchinhos franceses283, contaram: [...] que os índios da ilha mostravam um alto grau de inteligência e usavam na sua língua as formas duma educação relativamente altiva. Não só com os estrangeiros, também entre eles mesmos usavam sempre palavras cerimoniosas e de respeito. Eles davam a impressão de fidalgos pobres, que tivessem conservado os costumes de sua antiga nobreza.
Para Schwennhagen (1924) Maranhão:
284
todos os momentos geográficos e etnográficos indicam que a ilha do
[...] constituía, na primeira época das grandes navegações, isto é, entre 3500 a 1000 anos antes da era christã, um empório marítimo e comercial. Essa época começou naquele momento em que se completou o desmoronamento do antigo continente Atlantis e que os povos que lá se refugiaram no ocidente, quer dizer na America Central, ou no oriente, nos países ao redor do mar Mediterrâneo. Sabemos que as frotas dos Fenícios navegavam desde 3500 a.C. entre a Europa, a África e a América, e sabemos que também os povos do México e do Norte do Brasil tinham uma extensa navegação. Os mapas marítimos, encravados em grandes placas de pedra calcareas, os quais existem hoje ainda em Paraíba e Amazonas, são documentos inegáveis.
Prossegue: A migração dos povos Tupi ao Norte do Brasil pode ser calculada para a data de 3000 a 2000 a.C. As ultimas levas entraram quando se quebraram as terras do golfo do México e do mar Caraibico. Assim se pode colocar a ocupação e cultivação da ilha do Maranhão na época de 2000 anos a.C., ou 3500 anos antes da chegada dos europeus.
De acordo com Schwennhagen (citado por RAHME, 2013) 285, o continente americano é a lendária ilha das Sete Cidades. Diz o autor que tupi significa "filho, ou crente de Tupã". A religião tupi teria aparecido no Norte do Brasil cerca de 1000/1050 A.C., juntamente com os fenícios, e propagada por sacerdotes cários, da ordem dos piagas. Os piagas (de onde deriva a expressão pajés) fundaram no Norte do Brasil, um centro nacional dos povos tupis, chamando este local de Piaguia, de onde surgiu o nome Piauí. Esse lugar era as Sete Cidades (hoje Parque Nacional de Sete Cidades). A Gruta de Ubajara teria sido fruto de escavações, para retirada de salitre, produto comercializado pelos fenícios. A cidade de Tutóia, no Maranhão, teria sido fundada por navegadores fenícios e por emigrantes da Ásia Menor, que chegavam por navios fenícios, e escolheram o local para construir uma praça forte, de onde dominariam a foz do Rio Parnaíba: Explicando a posição geográfica em que se encontravam inúmeras tribos indígenas, o professor Ludwig acreditava que as sete cidades era o centro da grande região cercada pelos rios Poti e Parnaíba, pelo litoral piauiense e pela serra da Ibiapaba. Por essa localização estratégica, ali se instalou a sede da Ordem e do Congresso dos povos Tupis. A afirmação parte da premissa de que as próprias formações rochosas de Sete Cidades foram dádivas da natureza, evitando a construção de uma “cidade” e distribuindo a sociedade indígena em seus salões, praças e ruas. Até hoje, inscrições rupestres garantem a passagem de índios e estrangeiros por Sete Cidades, numa demonstração de que em tempos remotos ali foi palco de grande movimentação humana. (BARROS, s.d.) 286.
Prossegue Barros (s.d.) 287: o nome Tupi, que significa Filho de Tupã, foi dado pelos sacerdotes aos povos indígena que habitavam a antiga Atlântida: Eram sete tribos, que fugiram para outra grande ilha, a Caraíba (situada no Mar das Antilhas), em função do desmoronamento da Atlântida. Essa outra ilha teve o mesmo fim, fazendo com que os indígenas fugissem para a região da Venezuela. Segundo Ludwig, a capital Caracas vem da região de Car, trazida pelos sacerdotes que acompanhavam os fenícios. 283
MORAES, Pe. José de. HISTÓRIA DA COMPANHIA DE JESUS NA EXTINTA PROVÍNCIA DO MARANHÃO E PARÁ. São Luís 1759. SCHWENNHAGEN, Ludovico. “São Luis na Antiguidade”. A Pacotilha, 4 de setembro de 1924. 285 RAHME, Claudinha. Fenícios descobriram o Brasil antes de Cabral? IN Gazeta de Beirute, Edição 57, http://www.gazetadebeirute.com/2013/05/fenicios-descobriram-o-brasil-antes-de.html 286 BARROS, Eneas. A tese de Ludwig Schwennhagen. (s.d.), acessado em 25 de fevereiro de 2016. http://www.piaui.com.br/turismo_txt.asp?ID=339, BlogPiauí. 287 BARROS, Eneas. A tese de Ludwig Schwennhagen. (s.d.), acessado em 25 de fevereiro de 2016. http://www.piaui.com.br/turismo_txt.asp?ID=339, BlogPiauí. 284
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Justifica-se a origem do nome Tupi pela língua dos Cários, Fenícios e Pelasgos, onde o substantivo Thus, Thur, Tus, Tur e Tu significa sacrifícios de devoção. O infinitivo do verbo sacrificar é, no fenício, tu-na, originando tupã. “A origem de Tupã, como nome de Deus onipotente, recua à religião monoteísta de Car”, afirma Ludwig. Ao tomarem conhecimento da existência desses povos na Venezuela, os fenícios conseguiram levá-los para em seus navios para o norte do Brasil. Os Tupinambás e os Tabajaras contaram ao Padre Antonio Vieira que os povos tupis se dirigiram ao norte do Brasil pelo mar, vindos de um lugar que não existe mais. Os Tabajaras, que se consideravam o povo mais antigo do Brasil, habitavam a região que fica entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba. O local para a ordem e Congresso dos povos Tupis foi batizado pelos piagas (pagés) de Piagui, de onde originou-se Piauhy. Geograficamente, o lugar era Sete Cidades. Para Ludwig, a palavra Piauí significa terra dos piagas, condenando a interpretação de que o nome provém do peixe piau, abundante nas águas do Rio Parnaíba.
Para esse professor do Liceo de Parnaíba, onde está hoje São Luis, ‘devia estar 3000 anos antes a Acrópole da ilha do Maranhão’. Pode ser que navegadores estrangeiros, ‘talvez Fenícios, lhe dessem o impulso inicial para fazer daqui um empório comercial’. Por volta do ano 1.000, os territórios amazônicos haviam sido conquistados pelos movimentos de expansão dos povos tupi-guaranis, aruaques e caribes, principalmente. É por essa época que a Amazônia provavelmente atingiu uma das maiores densidades demográfica. (MIRANDA, 2007, p. 15) 288. Luciara Silveira de Aragão e Frota (2014) 289 afirma que a dispersão da grande família Tupi-guarani parece ter sido das mais remotas. Bem mais remota que a verificada com os Aruaques. Sua origem seria dos protomalaios que, em várias correntes, acostaram no istmo do Panamá 290. Para Thomaz Pompeu Sobrinho (1955) 291: Os tabajaras, diziam-se os povos mais antigos do Brasil, isso quer dizer que eles foram aquela tribo dos tupis que primeiro chegou ao Brasil , e que conservou sempre as suas primeiras sedes entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba292. Desse relato é pois de se encaminhar para a conclusão de que os tabajaras foram precedidos pelos cariris no povoamento do Ceará, e antecederam aos potiguares dentro da divisão denominada de grupo Brasília . Para Ludwig Schwennhagen os fenícios transportaram os tupis, palavra que significa filho de Tupan, de lugar onde está hoje o Mar das Caribas onde havia”um grande pedaço de terra firme, chamado Caraíba (isto é, terra dos caras ou caris). Nessa Caraíba e nas ilhas em redor viviam naquela época as sete tribos da nação tupi que foram refugiados da desmoronada Atlântida, chamaram-se Caris, e eram ligados aos povos cários, do Mar Mediterrâneo...O país Caraíba...teve a mesma sorte que a Atlântida. Todos os anos desligava-se em pedaços até que desapareceu inteiramente afundado no mar. Contam que os tupis salvaram-se em pequenos botes, rumando para o continente onde já está a República da Venezuela... Quando chegaram os primeiros padres espanhóis na Venezuela, contaram-lhes os piegas aqueles acontecimentos do passado. Disseram que a metade da população das ilhas, ameaçadas pelo mar, retirou-se em pequenos navios para a Venezuela, mas que morreram milhares na travessia. A outra metade foi levada em grandes navios para o Sul onde encontraram terras novas e firmes. Varnhagem, Visconde de Porto Seguro, confirma na sua História Brasileira, que essa tradição a respeito da emigração dos Caris-tupis, da Caraíba para o Norte do continente sul-americano, vive ainda entre o povo indígena da Venezuela. O padre Antonio Vieira, o grande apóstolo dos indígenas brasileiros, assevera em diversos pontos de seus livros, que os Tupinambás, como os Tabajaras, contaram-lhe que os povos tupis imigraram para o Norte do Brasil pelo mar, vindos dum país que não existia mais”. Segundo esta tese os fenícios, amigos dos tupis, exigiam como pagamento pelo transporte o fornecimento de soldados para garantirem e policiarem suas empresas no interior. Tupigarani que teria sido modificado pelos padres portugueses para tupi-guarani significaria “guerreiro da raça tupi”. Os primeiros emigrantes teriam aportado em Tutóia e daí se 288
MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO. 2 Ed. Petrópolis: Vozes, 2007. FROTA, Luciara Silveira de Aragão e. Os Tabajaras e a Localização Os%20Tabajaras%20e%20a%20Localização%20de%20Tribos%20Circunvizinhas.html 289
290
de
Tribos
Circunvizinhas.
Exposição feita por Thomas Pompeu Sobrinho in “Pré-história Cearense”, página 99. Refuta ele a hipótese de Paul Radin, levantada in “Índias of South América” (1946), de que os tupi irradiaram-se do Guairá, na região média do Paraná, fundamentando essa hipótese em semelhanças de caráter cultural entre os tupis e os indígenas da América do Norte, com quem teriam estreitas ligações através da corrente antiliana. Possivelmente teriam estes passado ao continente subindo o rio Amazonas, estabelecendo-se na sua parte sul, na região entre o Xingu e o tapajós. SOBRINHO, Thomas Pompeu. HISTÓRIA DO CEARÁ PRÉ-HISTÓRIA CEARENSE.Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1955. página 19 291 SOBRINHO, Thomas Pompeu. HISTÓRIA DO CEARÁ PRÉ-HISTÓRIA CEARENSE.Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1955. 292 Cf.Ludwig Schwennhagen, Antiga História do Brasil de 1.100 a 1.500 A.C. pág. 45.
dividiram em três povos: Tabajaras, entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba; os Potiguares além do rio Poti, e Cariris que tomaram as terra da Ibiapaba para o nascente. A segunda leva de emigrantes veio dar a um segundo ponto escolhido pelos fenícios: a ilha do Maranhão que denominaram Tupaon (burgo de Tupan) e ali fundaram várias vilas, das quais existiam vinte e sete ao tempo da vinda dos europeus. Os Tabajaras duvidaram da legitimidade de tupi de tais emigrantes pois eles trouxeram antigos indígenas Caraíbas que para eles trabalhavam. Adotaram eles então o nome referencial de Tupinambás. Quanto aos guaranis foram os legítimos tupis e se armaram com armas de bronze que lhes forneceram os fenícios.293
SOBRE TUPIS E TAPUIAS294 O termo "tupi" possui dois sentidos: um genérico e outro específico. O sentido genérico do termo remete aos índios que habitavam a costa brasileira no século 16 e que falavam a língua tupi antiga295. Considera-se como Civilização Tupi-guarani todo elemento cultural que esteja de alguma forma relacionado com os idiomas do tronco linguístico tupi296. Tronco tupi é um tronco lingüístico que abrange diversas línguas das populações indígenas sul-americanas297. O tupi ou tupi antigo era a língua falada pelos povos tupis que habitavam o litoral do Brasil no século XVI (tupinambás, tupiniquins, caetés, tamoios). Tapuia é um termo que foi utilizado, ao longo dos séculos, no Brasil, para designar os índios que não falavam a língua tupi. Há diversos entendimentos das origens do termo, mas, em geral, observa-se que seria de procedência tupi e que teria significado semelhante a "forasteiro", "bárbaro", "aquele que não fala nossa língua", "inimigo” 298:
293
SCHEWENNHAGEN, Ludwig . ANTIGA HISTÓRIA DO BRASIL DE 1.100 A.C a 1.500 D.C., apresentação de Moacir L. Lopes, 2ª edição: Rio de Janeiro. Livraria e Editora Cátedra. 1970. STUDART FILHO, Carlos. O ANTIGO ESTADO DO MARANHÃO E SUAS CAPITANIAS FEUDAIS, Biblioteca da Cultura, série b – Estudos Pesquisas – vol. I. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1960. VIEIRA, Antonio. Relação da missão da serra de Ibiapaba pelo padre Antonio Vieira da Companhia de Jesus, REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ. Tomo XVIII (1904) VIEIRA, Antonio; Cópia de uma carta a El-rey sobre as Missões do Ceará, do Maranhão, do Pará e das Amazonas, REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ, Tomo X (1896), 106 – 294 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. SOBRE TUPIS E TAPUIAS. Blog do Leopoldo Vaz, sábado, 12 de setembro de 2015 às 19:33, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/?s=sobre+tupis+e+tapuias VAZ, Leopoldo Gil Dulcio FENÍCIOS NO MARANHÃO? Blog do Leopoldo Vaz, sábado, 05 de setembro de 2015 às 11:33, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/fenicios-no-maranhao/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Miganville precede a fundação de São Luis… Blog do Leopoldo Vaz • sábado, 05 de setembro de 2015 às 16:56, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/miganville-precede-a-fundacao-de-sao-luis/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios Canelas. In Painel apresentado na III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, 1995; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In SOUSA E SILVA, José Eduardo Fernandes de (org.). Esporte Com Identidade Cultural: Coletâneas. Brasília: INDESP, 1996, p. 106-111. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In Revista “Nova Atenas” de Educação Tecnológica, São Luís, v.4, n. 2, jul/dez 2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 128. Revisto e ampliado para apresentação no IHGM em 2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A Fundação Do Maranhão São Luis/Vinhais. In II ENCONTRO DE ESTUDOS CULTURAIS: CULTURA E SUBJETIVIDADES Mesa-redonda: Comemorações Históricas: São Luís 400 anos: Ciência, Arte e Humanidades 30/05/2011 VAZ, Leopoldo Gil Dilcio. “UM ACHADO ARCHEOLOGICO” – O IHGM E A PESQUISA ARQUEOLÓGICA NO MARANHÃO; Rev. IHGM No. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 94 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 VAZ, Leopoldo Gil Dilcio. QUEM HABITAVA UÇAGUABA/MIGANVILLE? Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 221. http ://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. In XIII Congress of the International Society for the History of Physical Education and Sport and; XII Congress of the Brazilian Society for the History of Physical Education and Sport, Rio de Janeiro, 2012 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DE CAMOCIM – CEARÁ. BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ – História, fatos e fotos. Fortaleza: Pouchain Ramos, 2006 BARRETO, Gilton. VIÇOSA DO CEARÁ sob um olhar histórico. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012. BANDEIRA, Arkley Marques. VINHAIS VELHO – Arqueologia, História e Memória. São Luis: Ed. Foto Edgar Rocha, 2013. SARNEY, José; COSTA, Pedro. AMAPÁ: A TERRA ONDE O BRASIL COMEÇA. Brasilia: Senado Federal, 1999 Bandecchi, Brasil OCUPAÇÃO DO LITORAL. A CONQUISTA DO NORTE E A PENETRAÇÃO DA AMAZÔNIA. http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.aconquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO – uma história desconhcida da Amazônia. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2007 MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão. IN Revista Sexto Sentido, postado em 2010-06-11 13:25, no sitio http://www.revistasextosentido.net/, disponível em http://www.revistasextosentido.net/news/%20as%20cidades%20perdidas%20do%20maranh%C3%A3o/ 295 https://pt.wikipedia.org/wiki/Tupis 296 https://pt.wikibooks.org/wiki/Civiliza%C3%A7%C3%A3o_Tupi-Guarani/Introdu%C3%A7%C3%A3o 297 https://pt.wikipedia.org/wiki/Macro-tupi 298 https://pt.wikipedia.org/wiki/Tapuias
O termo "Tapuio" não é expressão designativa de uma etnia. É tão somente "Um vocábulo de origem tupi, corruptela de tapuy-ú – o gênio bárbaro come, onde vive o gentio. [...] É um dos termos de significação mais vária [diversificada] no Brasil. No Brasil pré-cabraliano, assim chamavam os tupis aos gentios inimigos, que, em geral, viviam no interior, na Tapuirama ou Tapuiretama – a região dos bárbaros ou dos tapuias". Tomislav R. Femenick, 2007299 [...] Tapuia significa "bárbaro, inimigo". De taba – aldeia e puir – fugir: os fugidos da aldeia. de Alencar, Iracema, 1865300
José
No período colonial, dividiam-se os índios brasileiros em dois grandes grupos: os tupis (tupinambás), que habitavam principalmente o litoral e os tapuias, que habitavam as regiões mais interiores e que falavam, principalmente, línguas do tronco macro-jê301. O tronco macro-jê é um tronco lingüístico cuja constituição ainda permanece consideravelmente hipotética. Teoricamente, estendem-se por regiões não litorâneas e mais centrais do Brasil 302. Também conhecidos por "Bárbaros", habitavam, dentre outras regiões, os sertões da Capitania do Rio Grande do Norte, divididos em vários grupos nomeados de acordo com a região onde moravam – Cariris (Serra da Borborema), Tarairiou (Rio Grande e Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó), e eram chefiados por vários reis e falavam línguas diversas, e entre os mais destacados eram os reis Janduí e Caracar, cujo poder real não era hereditário. Os Tapuias eram fortes, possuíam semblante ameaçador, corriam igual as feras, por isso eram muito temidos. Eles eram inconstantes, fáceis de ser levados a fazer o mal, eram endocanibalistas, isto é, devoravam até mesmo os de sua tribo quando da sua morte. Os Tapuias eram nômades. Eles paravam onde havia abundância de alimentos e gostavam de viver ao ar livre. Não construíam casa (por isso as suas habitações eram toscas e feias).303 Para Fernandes (2012)304, a origem dos índios brasileiros é controversa e o que é mais aceito, hoje em dia, é o modelo de origem baseado nas quatro migrações: # a primeira foi uma migração africana/aborígine, como atesta o crânio da Luzia com seus traços negróides, de 11.000 anos atrás, # as três últimas migrações foram mongólicas vindas pelo estreito de Behring, também a partir de 11.000 anos, que dá o DNA dos nossos índios atuais, # porém a maior das dúvidas/controvérsias retroage há 48.000 anos atrás com as fogueiras da Toca do Boqueirão no Piauí, até hoje não explicadas convincentemente. Pesquisa da revista científica Nature": cientistas analisaram quase 400 mil variantes de uma única "letra" química do DNA, a partir de amostras do genoma de 52 povos nativos, entre eles caingangues e suruís do Brasil, por exemplo. A comparação dessas variantes nos indígenas com as versões de outros povos do mundo permitiu mostrar que, conforme o esperado, a maior parte do genoma dos nativos das Américas foi legado por imigrantes vindos da Sibéria, há pelo menos 15 mil anos. No entanto, os esquimós e outros povos do Ártico parecem ter herdado cerca de 50% de seu DNA de outra onda, mais recente, vinda da Ásia. E um povo canadense, os chipewyan, derivam 10% de seu genoma de uma terceira onda, estimam os cientistas. (FSP: 12/7/12).
Existiam também povos Tapuias em alguns pontos da Região Nordeste do Brasil. Viviam na Amazônia, antes dos Tupis e dos Nuaruaques, provavelmente desalojados por esses grupos, passaram a ocupar o Xingu (região a partir da qual emigraram, atingindo vários Estados brasileiros, como Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Piauí, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e outros) 305. Os estudos indicam que as diversas migrações tenham ocorrido há pelo menos 40.000 anos. Ou mais... Nativos americanos pré-históricos tardios, como os índios, apresentam uma morfologia craniana 299
http://www.tomislav.com.br/artigos_imp.php?detalhe=&id=280 https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Alencar 301 https://pt.wikipedia.org/wiki/Tapuias 302 https://pt.wikipedia.org/wiki/Macro-j%C3%AA 300
Os Tapuias - Dialetico.com www.dialetico.com/historia_1/tapuias.pdf FERNANDES, Anibal de Almeida. ESCRAVIDÃO de ÍNDIOS e NEGROS no SÉCULO XVI no BRASIL. www.genealogiahistoria.com.br, Disponível em http://www.genealogiahistoria.com.br/index_historia.asp?categoria=4&categoria2=4&subcategoria=50
303 304
305
https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080910142552AAXkxKq
semelhante à dos homens norte asiáticos modernos; já os crânios sul-americanos mais antigos tendem a ser mais semelhantes aos australianos, melanésios e africanos subsaarianos atuais (morfologia paleoamericana) (MIRANDA, 207, p. 39-40). Povos mongolóides vindos da America do Norte chegaram à America do Sul através do Istmo do Panamá, começando a colonização da Amazônia por norte-americanos de origem, encontrando-se sítios com cerca de 15 mil anos (Venezuela), 11.800 anos (Peru), 11.300 o sitio de Pedra Pintada no Pará. (MIRANDA, 207, p. 39-40). Teoria mais recente levante a hipótese de ter ocorrido também uma migração anterior de povos aparentados com os africanos e aborígenes australianos. De lá, eles provavelmente desceram ao longo do continente americano até atingir o extremo sul da América do Sul. Um desses povos diferenciou-se dos demais e desenvolveu uma língua proto-tupi, no sul da Amazônia, por volta do século V a.C. (provavelmente na região do atual estado brasileiro de Rondônia. Embora uma hipótese alternativa aponte a região dos rios Paraguai e Paraná como o centro original da dispersão tupi-guarani306. Outros estudos demonstram que os tupis teriam habitado originalmente os vales dos rios Madeira e Xingu, que são afluentes da margem meridional do rio Amazonas. Estas tribos, que sempre foram nômades, teriam iniciado uma migração em direção à foz do rio Amazonas e, de lá, pelo litoral para o sul. Supõe-se que esta migração, que teria também ocorrido pelo continente adentro no sentido norte-sul, tenha principiado no início da era cristã. Numa hipótese alternativa, o folclorista Luís da Câmara Cascudo aponta a região dos rios Paraguai e Paraná como o centro original da dispersão dos tupis-guaranis (incluindo os povos guaranis junto com os tupis307. Alguns autores suspeitam que, nesta trajetória, os tupis tenham enfrentado os tupinambás, que já habitariam o litoral; outros sustentam que apenas se tratava de levas sucessivas do mesmo povo, os posteriores encontrando os anteriores já estabelecidos. Certo é que, nesse processo, as tribos tupis derrotaram as tribos tapuias que já habitavam o litoral brasileiro, expulsando-as, então, para o interior do continente, por volta do ano 1000308. De lá, ele se expandiu no início da era cristã pelo leste da América do Sul, dividindo-se em várias tribos falantes de línguas derivadas desse idioma proto-tupi e que constituiriam o tronco lingüístico tupi: tupinambás, potiguares, tabajaras, temiminós, tupiniquins, caetés, carijós, guaranis, chiriguanos etc.309. Outra proposta 310 considera que a migração no sentido sul dos povos que formariam os guaranis e os tupinambás teria ocorrido em duas levas em separado: [...] a de povos protoguaranis e a de povos prototupinambás. A primeira, dos protoguaranis, teria se dividido algumas vezes. Um ramo entrou na Bolívia. Outro seguiu para o sul até a bacia dos rios Paraná e Uruguai. Deste segundo ramo, alguns grupos acompanharam os rios Paranapanema e Uruguai para o leste, chegando enfim ao litoral. Já os prototupinambás teriam descido o rio Paraguai, mas rumaram para o leste, um pouco mais ao norte do que os guaranis. Eles teriam seguido os rios Grande e Tietê, alcançando o litoral onde hoje é São Paulo, e depois ocupado a costa do sul para o norte. Por essa versão, os povos tupis-guaranis que não saíram da Amazônia migraram para o leste, mas não pelos grandes rios, e sim por seus afluentes (que muitas vezes quase se emendam), chegando ao Maranhão e ao Centro-Oeste (KNEIP, MELLO, 2013).
Ainda seguindo esses autores 311, estudos arqueológicos, por sua vez, apontam para outra direção: A partir da análise de cerâmicas, indicam como centro de origem da família tupi-guarani a região de confluência do rio Madeira com o Amazonas, ainda dentro dos limites daquele que hoje reconhecemos como o estado do Amazonas. A partir desse local, uma cisão teria resultado, grosso modo, em duas rotas de expansão. Um grupo origina os tupinambás. Eles migram em direção ao leste, pela boca do Amazonas, até encontrar o oceano. De lá, descem pela costa até o litoral de São Paulo, ou seja, do norte 306
CIVILIZAÇÃO TUPI-GUARANI/HISTÓRIA. HTTPS://PT.WIKIBOOKS.ORG/WIKI/CIVILIZA%C3%A7%C3%A3O_TUPI-GUARANI/HIST%C3%B3RIA TUPIS. HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TUPIS TUPIS. HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/TUPIS 309 CIVILIZAÇÃO TUPI-GUARANI/HISTÓRIA. HTTPS://PT.WIKIBOOKS.ORG/WIKI/CIVILIZA%C3%A7%C3%A3O_TUPI-GUARANI/HIST%C3%B3RIA 310 KNEIP, Andreas e MELLO, Antônio Augusto S. BABEL INDÍGENA. REVISTA DE HISTÓRI.COM. IN http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/babelindigena, 1º DE ABRIL DE 2013 307 308
311
KNEIP, Andreas e MELLO, Antônio Augusto S. BABEL INDÍGENA. REVISTA DE HISTÓRI.COM. IN http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/babelindigena, 1º DE ABRIL DE 2013
para o sul. Outro grupo, que daria origem aos guaranis, teria de início subido o rio Madeira para o interior da Amazônia e, então, descido pelo rio da Prata, até chegar ao litoral sul do Brasil. (KNEIP, MELLO, 2013).
Apresentam, então, uma terceira visão, lingüística: Apesar de Rondônia ter a maior diversidade lingüística do tronco tupi, há apenas um subconjunto tupiguarani, e com línguas bastante semelhantes. A maior diversidade lingüística da família tupi-guarani está mais para o leste amazônico, portanto, seguindo esse raciocínio, teria partido de lá a dispersão. A migração de tupinambás deve ter se dado no sentido norte-sul, novamente, por povoações não muito afastadas umas das outras, formando uma área contínua, em conjunto com outros grupos tupis-guaranis localizados no leste amazônico e no meio-norte. De fato, quando os europeus começaram a povoar a América do Sul, os tupinambás ocupavam cerca de três quartos do litoral que hoje corresponde ao Brasil: do Maranhão até São Paulo. As diferenças lingüísticas entre o norte e o sul eram mínimas, o que sugere uma rápida dispersão. (KNEIP, MELLO, 2013).
Estudo de 2008 aponta que a saída de índios tupis-guaranis da Amazônia remonta há 2.920 anos312: A saída de índios tupis-guaranis da Amazônia não é um evento tão recente como se imaginava. Um novo estudo encontrou evidências do povo na região onde hoje está o município de Araruama, no Rio de Janeiro, há 2.920 anos – mais de mil anos antes do que as evidências indicavam até então. Os resultados do trabalho foram publicados nos Anais da Academia Brasileira de Ciências. De acordo com a primeira autora, Rita Scheel-Ybert, [...] o aparecimento de datas cada vez mais antigas no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, nos últimos anos, tem mudado o paradigma a respeito da ocupação. Segundo ela, a hipótese mais aceita até o momento, baseada em dados lingüísticos, considerava que a saída dos tupis-guaranis da Amazônia não poderia ter ocorrido antes de cerca de 2.500 anos atrás. “A datação anterior existente para o sítio Aldeia Morro Grande, em Araruama, de 1.740 anos, já era considerada bastante recuada, sendo inclusive a mais antiga para o Estado do Rio de Janeiro. As novas datas, de cerca de 2.900 e 2.600 anos, seriam, por essa razão, completamente inesperadas”, disse à Agência FAPESP. [...] As novas datas, acredita ela, não questionam a origem amazônica dos tupis-guaranis, pois, para isso, seria necessário um número maior de evidências. Nossa hipótese é que a multiplicação dos estudos e um maior investimento em datações, tanto na Amazônia como no resto do Brasil, tenderão a revelar outras datações tão ou mais antigas como essas e permitirão uma melhor compreensão dos processos de ocupação do nosso território”, disse, salientando que outros autores já haviam sugerido que a expansão tupi-guarani a partir da Amazônia possa ter começado há bem mais de 2.000 anos.
Para Neves e Outros (2011) 313 pode-se dizer que a idéia de que esses povos, que ocuparam grande parte do território brasileiro e parte da Bolívia, do Paraguai, do Uruguai e da Argentina, tiveram sua etnogênese na Amazônia e dali partiram para o leste e para o sul, por volta de 2.500 anos antes do presente, é bastante aceita entre os especialistas, embora uma dispersão no sentido oposto, isto é, do sul para o norte, com origem na bacia do Tietê-Paraná, não seja completamente descartada. Entre os arqueólogos que consideram a Amazônia como berço desses povos, alguns acreditam que esse surgimento se deu na Amazônia central. Outros acreditam que a etnogênese Tupiguarani ocorreu no sudoeste da Amazônia, onde hoje se concentra a maior diversidade linguística do tronco Tupi. (NEVES, e Outros, 2011). De acordo com Feitosa (1983)314, não é possível determinar a origem dos primeiros habitantes, havendo várias teorias que supõem o aparecimento do homem com duas hipóteses explicativas: a monogenica (o homem descendente de um único casal original) e a poligenica. Dentre as diversas teorias, 312
ALCANTARA, Alex Sander. MIGRAÇÃO (BEM) ANTERIOR. IN GENTE DE OPINIÃO, 30/12/2008, DISPONÍVEL EM HTTP://WWW.GENTEDEOPINIAO.COM.BR/LERCONTEUDO.PHP?NEWS=39964 313 NEVES, Walter Alves; Bernardo, Danilo Vicensotto; OKUMURAI, Mercedes; ALMEIDA, Tatiana Ferreira de; STRAUSS, André Menezes. Origem e dispersão dos Tupiguarani: o que diz a morfologia craniana? BOL. MUS. PARA. EMÍLIO GOELDI. Cienc. Hum., Belém, v. 6, n. 1, p. 95-122, jan.- abr. 2011 314 FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: UMA TENTATIVA DE RECONSTITUIÇÃO. São Luis: Augusta, 1983.
temos: Africana, Monogenismo Americano, Australiana, Atlante, Cartaginesa, Chinesa, Egipcia, Grega, Ibera, Irlandesa, Malaio-Polinesia, e por fim a Mista. Ainda a Paleo-Asiática, Viking...315 Correia Lima e Aroso (1989) 316 apresenta as correntes migratórias das Américas, segundo CanalsPompeu Sobrinho, em número de cinco: Australóides, Protossiberianos, Paleo-siberianos, Protomalaios, e Protopolinésios. Os australoides deram descendentes em ambas as Américas, sendo que na do Sul, aparecem os Lácidas, Huarpidas, Patagônicos. Os Lácidas, paleossiberianso, atingem o Brasil e o Maranhão; assim como os nordéstidas e os fueguinos, sendo que os primeiros atingem o Brasil e o Maranhão. Durante a expansão dos Tupis-Guaranis – descendentes dos protomalaios, e desembarcados nas costas ocidentais do istmo do Panamá, deslocaram-se para o suleste, atravessando os Andes, e atingindo o Amazonas, onde fizeram seu centro de dispersão. Migravam com muita freqüência, surpreendentemente rápidos. Desceram o Rio Amazonas e se embrenharam em seus afluentes: Madeira, Tapajós, Xingu, Tocantins, Araguaia e ainda Gurupi, Mearim, etc. Passaram ao rio Paraguai e seus afluentes do Paraná, chegando ao Atlântico. Marginaram-se em direção ao Norte, parando no Maranhão, para reencontrar seus irmãos amazonenses. Sua migração pela costa nacional é recente e se fazia sempre ás custas dos velhos ocupantes, notadamente os Lácidas. Os quais eram empurrados para o interior. Deixaram sempre ocupantes por onde passam, a exemplo dos Tupinambás, na Ilha de São Luis. Dos Tupis, hoje, restam os Guajajara – Tenetehára – com uma história longa e suingular de contato, a partir de 1615, nas margens do Rio Pindaré, com uma expedição exploradora francesa. Os Awá-guajá – se autodenominam Awá, também chamados Wazaizara (Tenetehara), Aiayé (Amanayé), Gwazá. O termo Awá significa ‘homem’, pessoa’, ou ‘gente’; sua origem é obscura, acreditando-se originários do baixo Tocantins. 315
DOMINGUES, Virgilio. O TURIAÇU. São Luis: SIOGE, 1953 LOPES, Raimundo. A civilização lacustre do Brasil. In COSTA, Cássio Reis. A BAIXADA MARANHENSE, no plano do Governo João Castelo. São Luis: SIOGE, 1982. LOPES, Raimundo. UMA REGIÃO TROPICAL. Rio de janeiro: Cia Ed. Brasileira; Fon-Fon, 1970. LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973. BANDEIRA, Arkley Marques. Os registros rupestres no Estado do Maranhão, Brasil, uma abordagem bibliográfica. In http://www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/arkley_marques_bandeira.htm ver também: http://www.naya.org.ar/ - NAYA.ORG.AR - Noticias de Antropología y Arqueología LIMA, Olavo Correia (1985). Província Espeleológica do Maranhão. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO. Ano LIX n 10, São LuísMA, p. 62-70. LIMA, Olavo Correia (1986). Cultura Rupestre Maranhense. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO. Ano LX, n. 11-São Luís –MA, p. 712. LIMA, Olavo Correia; AROSO, Olair Correia Lima (1989). PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. SIOGE São Luís-MA. CARVALHO, J. B. de. Nota sobre a arqueologia da Ilha de São Luís. REVISTA DO IHGM, Ano VII, n. 6, dezembro de 1956 LOPES, Raimundo. O TORRÃO MARANHENSE. Rio de Janeiro: Typ. Do Jornal do Commercio, 1916 LOPES, Raimundo. ANTROPOGEOGRAFIA. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1956. (Edição fac-similar comemorativa ao centenário de fundação da Academia Maranhense de Letras, São Luis: AML, 2007). SAMPAIO, Alberto José de. Biogeografia Dinâmica - a natureza e o homem no Brasil. Coleção Brasiliana, vol. 53, 1935 SAMPAIO, Alberto José de. Fitogeografia do Brasil Coleção Brasiliana, vol. 35, 1935 AVELINO, Paulo. ”Resenha de livro raro: Uma Região Tropical, de Raimundo Lopes”, disponível em http://www.fla.matrix.com.br/pavelino/lopes.htmlfala LOPES, Raimundo. UMA REGIÃO TROPICAL. Rio de Janeiro: Cia. Editora Fon-fon e Seleta, 1970. 197p. Coleção São Luís, volume 2. CORREA, Alexandre Fernandes. A ANTROPOGEOGRAFIA DE RAIMUNDO LOPES SOB INFLUÊNCIA DE EUCLIDES DA CUNHA in http://teatrodasmemorias.blogspot.com/2009/12/antropogeografia-de-raimundo-lopes-sob.html CORREA, Alexandre Fernandes. AS RELAÇÕES ENTRE A ETNOLOGIA E A GEOGRAFIA HUMANA EM RAIMUNDO LOPES. CAD. PESQ .. São Luís. v. 14. n. 1. p.88-1 03. jan.!jun. 2003disponivel em http://www.pppg.ufma.br/cadernosdepesquisa/uploads/files/Artigo%206(16).pdf MAUSO, Pablo Villarrubia. As Cidades Perdidas do Maranhão. IN REVISTA SEXTO SENTIDO, postado em 2010-06-11 13:25, no sitio http://www.revistasextosentido.net/, disponível em http://www.revistasextosentido.net/news/%20as%20cidades%20perdidas%20do%20maranh%C3%A3o/ EVREUX, Ives d´. VIAGEM AO NORTE DO BRASIL FEITAS NOS ANOS DE 1613 A 1614. São Paulo: Siciliano, 2002. ABBEVILLE, Claude d´. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975 MELLO, Evaldo Cabral de (org.). O BRASIL HOLANDÊS (1630-1654). São Paulo: Penguin Classics, 2010. PAULA RIBEIRO, Francisco de. MEMÓRIAS DOS SERTÕES MARANHENSES. São Paulo: Siciliano, 2002 PROJETO JOGOS INDÍGENAS DO BRASIL. in http://www.jogosindigenasdobrasil.art.br/port/campo.asp#canela PUXADA DO MASTRO AGITA OLIVENÇA. In CIA DA NOTÍCIA, disponível em http://www.ciadanoticia.com.br/v1/tag/derrubada-de-toras/, 08/01/2011, acessado em 23/01/2011 316 CORREIA LIMA, Olavo; AROSO, Olir Corria Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luis: Gráfica Escolar, 1989. CORREIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Ameríndios maranhenses. REVISTA IHGM, Ano LIX, n. 08, março de 1985 38-54 CORREIA LIMA, O. Homo Sapiens stearensis – Antropologia Maranhense REVISTA IHGM Ano LIX, n. 9, junho de 1985 33-43 CORREIA LIMA, O. Província espeleológica do Maranhão REVISTA IHGM Ano LIX, n. 10, outubro de 1985 62-70 CORRIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. Cultura rupestre maranhense – arqueologia, antropologia REVISTA IHGM Ano LX, n. 11, março de 1986 07-12 CORREIA LIMA, O. Parque Nacional de Guaxenduba REVISTA IHGM ano LX, n. 12, 1986 ? 21-36 CORRÊA LIMA, O. No país dos Timbiras REVISTA IHGM Ano LXI, n. 13, dezembro de 1987 82-91 CORREIA LIMA, O. Mário Simões e a arqueologia maranhense REVISTA IHGM Ano LXII, n. 14, março de 1991 23-31
Acredita-se que a partir da Cabanagem (1835-1840) tenha inicado a migração rumo ao Maranhão. Já os Ka´apor (Urubu-Kaapor, Kaáporté) surge como povo distinto à cerca de 300 anos, provasvelmente na região entre os rios Tocantins e Xingu. Talvez os conflitos com colonizadpores luso-brasileiros e outros povos nativos, iniciaram longa e lenta migração, por volta de 1870, do Pará ao Maranhão, atraves do Gurupi. Foram pacificados em 1911. 317 Correia Lima e Aroso (1989) 318 traz que a ocupação do território maranhense se deu através de três correntes migratórias - Lácidas, Nordéstidas e Brasílidas, nessa ordem. Embora os traços mais antigos da presença do homem no continente americano datem de 19 mil anos, as teorias mais recentes o dão como procedentes da Ásia a 20 ou 30 mil anos. Esses autores, ao adotarem a sistemática de Canals (1950) Pompeu Sobrinho (1955), afirmam que caçadores australóides do nordeste asiático - Sibéria, de acordo com Aquino, Lemos & Lopes (1990, p.19) 319 - ingressaram no Alasca há pelo menos 36 mil anos e durante os 20.000 anos seguintes consolidaram sua cultura e se expandiram pelo território, tendo seus descendentes atingido Lagoa Santa há 7.000 +/- 120 anos (VAZ, 1995, 1996, 2001, 2011, 2012) 320. Sander-Marino (1970, citados por Correia Lima & Aroso, 1989, p. 19) registram entre 40 e 21 mil anos a presença dos superfilos MACRO-CARIB-JÊ, uma das correntes pré-históricas povoadoras das Américas. Para Feitosa (1983, p. 70) 321 há um consenso quando da "determinação temporal" da chegada dos australóides no Novo Mundo, com as estimativas variando de 20.000 a.C. (RIVET); 28.000 a.C. (CANALS); 40.000 a.C. (VAZ, 1995, 1996, 2001, 2011, 2012) 322. De acordo com pesquisas mais recentes, realizadas em São Raimundo Nonato - Piauí, foram encontrados fosseis com datação de 41.500 anos (FRANÇA & GARCIA, 1989)323. Os Lácidas, descendentes dos australóides, atingem o Maranhão. Das famílias lingoculturais suas descendentes, destaca-se a JÊ, grupo mais populoso; de maior expansão territorial; e de melhor caracterização étnica. Os Jês caracterizam-se pela ausência da cerâmica e tecelagem, aldeias circulares, organização clânica e grande resistência à mudança cultural, mesmo depois de contato, como se observa entre os Canelas, ou RANKAKOMEKRAS como se denominam os índios da aldeia do Escalvado (DICKERT & MEHRINGER, 1989, 1989b, 1994) 324. Para Miranda (2007)325: A partir da chegada dos humanos, cuja data os arqueólogos tendem a multiplicar em diversos eventos, origens e a recuar no tempo, progressivamente o espaço natural da Amazônia passa a ser objeto de uso, controle, acesso, exploração, mudanças, disputa, transferência e até transmissão entre grupos humanos cada vez mais numerosos e organizados, com diferentes histórias e patrimônios culturais.
Uma coisa é certa: a mais antiga e permanente presença humana no Brasil está na Amazônia: Há cerca de 400 gerações, e segundo autores controversos, há mais de 2.000 anos, diversos grupos humanos ocupam, disputam, exploram e transformam os territórios e seus recursos alimentares.(
MIRANDA, 2007, p. 41) 317
Associação Carlos Ubbiali; Instututo Ekos. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís: Associação Carlos Ubbiali, 2004 CORREIA LIMA, Olavo & AROSO, Olir Correia Lima. PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. São Luís: Gráfica Escolar, 1989. 319 AQUINO, Rubim S.L; LEMOS, Nivaldo J. F. de & LOPES, Oscar G.P. C. HISTÓRIA DAS SOCIEDADES AMERICANAS. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1990. 320 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios Canelas. In Painel apresentado na III JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EDUCAÇÃO FÍSICA DA UFMA, 1995; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In SOUSA E SILVA, José Eduardo Fernandes de (org.). ESPORTE COM IDENTIDADE CULTURAL: COLETÂNEAS. Brasília: INDESP, 1996, p. 106-111. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas – contribuições à história da educação física maranhense. In REVISTA “NOVA ATENAS” DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, São Luís, v.4, n. 2, jul/dez 2001, disponível em www.cefet-ma.br/revista. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 128. Revisto e ampliado para apresentação no IHGM em 2011. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas. In XIII Congress of the International Society for the History of Physical Education and Sport and; XII Congress of the Brazilian Society for the History of Physical Education and Sport, Rio de Janeiro, 321 FEITOSA, Antonio Cordeiro. O MARANHÃO PRIMITIVO: UMA TENTATIVA DE RECONSTITUIÇÃO. São Luís: Augusta, 1983. 322 VAZ, obras citadas. 323 FRANÇA, Martha San Juan & GARCIA, Roberto. Os primeiros brasileiros. SUPERINTERESSANTE v. 3, n. 4, p. 30-36, abril de 1989. 324 DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas (relatório de pesquisa provisório). ZEITGSCHIFT MUNCHER BELTRDZUR VULKERKUNDE, julho, 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. Cultura do lúdico e do movimento dos índios Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 1, p. 55-57, set. 1989. DIECKERT, Jurgen & MEHRINGER, Jakob. . A corrida de toras no sistema cultural dos índios brasileiros Canelas. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE v.15 - n.2 - 1994 325 MIRANDA, 2007, obra citada, p. 40-41. 318
Na época da chegada dos portugueses ao Brasil, os povos que viviam ao longo da costa eram os Tupi. Estes tinham escorraçado os povos de língua e cultura Jê para o interior, vivendo, em geral, na região dos cerrados. Teixeira e Papavero (2009) 326, ao narrarem a “Viagem do Capitão de Gonneville” – viagem de Binot de Paumier ao Brasil (1504) traz um passo curioso, de porque foram os brancos bem recebidos em certas tribos do litoral: [...] Durante os reparos da nau souberam os visitantes que se formara uma espécie de confederação das tribos daquele setor do litoral contra as tribos do sertão que as hostilizavam. Os amigos dos normandos pertenciam, assim como os vizinhos imediatos, ao ramo Tupi, que do Paraguai, segundo dizem especialistas, subiram a costa até além de Pernambuco, e, com interrupções, atingiram a região da marcha do silvícolas do sul para o norte, em que deslocavam outros indígenas e provocavam lutas contínuas [...]. (p. 152).
Correia Lima e Aroso (1989) trazem que os Lácidas foram os primeiros povoadores do Maranhão, como o foram do Brasil. Vieram através de correntes migratórias interioranas e se localizaram de preferencia na parte setentrional e maranhense do Planalto Central do Brasil. Eram representados por um povo, os Tremembé (Tatamembé, Trememmbé) que ocuapava inicialmente a costa maranhense, antes da chegada dos brasílidas. Na época do contato, viviam da fronteira do Pará (Rio Caeté) à do Piauí (Tutóia), sendo sua área preferida o Delta do Parnaíba e a Baia de Turiaçú. Os Nordéstidas chegaram ao Maranhão pela corrente litoranea local, ocupando todo o litoral, sendo os primeiros a usar essa corrente, vindo do Nordeste. Apenas os Muras seguiram para o Amazonas, tornando-se fluviais. Correia Lima e Aroso (1989) ao analisarem as estearias maranhenses, área ocupada pelos brasilidas, que atingiram também o Maranhão através de duas correntes migratórias, interiorana – Nu-Uraques (Uraques), depois os caraíbas, e finalmente os Tupi-Guaranis - e pela litoranea, e às vesperas e durante o contato, chegaram os ultimos Tupis, representados pelos Tupinambás. Com a invasão dos Tupis-Guaranis perderam a Ilha de São Luis e seus arredores. Ainda dos Macro-jê temos os Canelas (Rankokamekrá; Apanyekrá); são remanescentes das cinco nações Timbira Oriental, sendo os Rankakomekrás descendentes dos Kapiekran, como eram conhecidos até 1820. Os primeiros contatos, indiretos, se dão por forças militares no fim do século XVII, ocorrendo incursões contra essas populações na ultima decada do seculo XVIII, dizimados por volta de 1814. Os Krikati se localizam ao sul do Maranhão, com os primeiros contatos por volta de 1814. O Gavião (Pukobyê) teve contato a partir do século XVIII, por volta de 1728. 327 Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação de "TIMBIRAS", e dividem-se em dois ramos principais, segundo seu habitat - Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes apelidados de canelas finas "pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que desenvolvem na carreira pelos descampados", conforme afirma Teodoro Sampaio (1912, apud CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p. 41), confirmando Spix e Martius (1817, citados por CORREIA LIMA & AROSO, 1989, p.59) quando afirmam, sobre os Canelas, "... gaba-se a sua rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo.". Os Timbira são um povo física, lingüística e culturalmente caracterizado como da família Jê, que disperso, habitava o interior do Maranhão e partes limítrofes dos Estados do Pará, Goiás e Piauí. Esse povo existe ainda parcialmente, compondo-se hoje das seguintes tribos (NIMUENDAJÚ, 2001) 328: Timbira orientais: Timbira de Araparytiua Kukóekamekra e Kr˜eyé de Bacabal Kr˜eyé de Cajuapára Kre/púmkateye 326
TEIXEIRA, Dante M.; PAPAVERO, Nelson. A viagem do Capitão de Gonneville.In OS PRIMEIROS DOCUMENTOS SOBRE A HISTÓRIA NATURAL DO BRASIL (15001511) – viagens de Pinzón, Cabral, Vespucci, Albuquerque, do Capitão de Gonneville e da Nau Bretoa. 2 ed. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2009, p. 151-153. 327 Associação Carlos Ubbiali; Instututo Ekos. OS ÍNDIOS DO MARANHÃO. O MARANHÃO DOS ÍNDIOS. São Luís: Associação Carlos Ubbiali, 2004 PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. ESTA TERRA TINHA DONO. 6 ed. Revs. E atual. São Paulo: FTD, 2000 328 NIMUENDAJÚ, Curt. A corrida de toras dos timbira. MANA v.7 n.2 Rio de Janeiro oct. 2001
Pukópye e Kr˜ikateye Gaviões Apányekra (Canellas de Porquinhos) Ramkókamekra (Canellas do Ponto) Krahó Timbira ocidentais: Apinayé Seus parentes mais próximos são os Kayapó do norte, os Suyá e os hoje extintos Kayapó do sul. Hoje, os Tremembé são um grupo étnico indígena que habita os limites do município brasileiro de Itarema, no litoral do estado do Ceará, mais precisamente na Área Indígena Tremembé de Almofala (Itarema), Terras Indígenas São José e Buriti (Itapipoca), Córrego do João Pereira (Itarema e Acaraú) e Tremembé de Queimadas (Acaraú). Originalmente nômades que viviam num território que estendia-se nas praias entre Fortaleza e São Luís do Maranhão. Foram aldeados pelos Jesuítas no século XVII nas missões de Tutoya (Tutóia-Maranhão) 329, Aldeia do Cajueiro (Almofala) e Soure (Caucaia). Foram declarados como não existentes pelo então governador da Província do Ceará (José Bento da Cunha Figueiredo Júnior), após decreto de 1863. Antes disto, em 1854, os índios perderam o direito da terra pela regulamentação da Lei da Terra. Estes ressurgem no cenário cearense nas décadas de 1980 e 1990, quando são reconhecidos pela FUNAI. 330 Retornamos com Schwennhagen331 O MARANHÃO. REPUBLICA DOS TUPINAMBAS Mas o Maranhão existia como a republica dos tupinambás, já antes da fundação de Tupaón. O sete povos tupis, que tomaram posse do norte do Brasil, cerca de 1500 anos A.C., entram pela foz do rio Parnaíba, procurando as serras em ambos os lados desse rio. Do lado oriental ficam os tabajaras, do lado ocidental os tupinambás; os outros cinco povos estenderam-se para o sul e sudeste. Todos os sete povos formaram uma confederação e as Sete Cidades (no Piauí) era a capital federal, isto é, o lugar, onde se reuniam todos os anos o Congresso dos Sete Povos. (SCHWENNHAGEN, 1925). O CONGRESSO DO MULUNDÚS Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivo desligaram-se os tupinambás da confederação e constituíram seu próprio congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em Mulundús. Os tupinambás já eram grandes senhores, tinham ocupado a maior parte do interior do Maranhão, tinham fundado mais de cem colônias no Grão Para, Amazonas e Mato Grosso e precisavam dum centro nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás. Esse centro era Mulundús, onde se reuniam todo ano os delegados de todas as regiões, ocupadas pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se muitos indícios desses factos. Ele relata que alguns dos seus amigos tupinambás lhe contaram que no interior do Maranhão se reúnem os delegados de todas as aldeias que falam a mesma língua geral, e pediram ao padre mandasse para lá um sacerdote católico para celebrar missa, dentro da grande reunião do povo. Assim o antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã, dedicada à memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa conservou o caráter dum congresso popular, para onde vêem de longe, de Goiás, Mato Grosso e Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que pertenciam antigamente ao grande domínio dos tupinambás. Ludovico Schwennhagen
329
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “BREVE DESCRIÇÃO DAS GRANDES RECREAÇÕES DO RIO MUNI DO MARANHÃO, Pelo Padre João Tavares, da Companhia de Jesus, Missionário no dito Estado, ano 1724”. REVISTA DO IHGM, No. 37, junho de 2011 – Edição Eletrônica, p 176-186 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_37_-_junho_2011 330 http://pt.wikipedia.org/wiki/Trememb%C3%A9s 331 SCHWENNHAGEN, Ludovico, MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. IN A PACOTILHA, São Luis, 30 de maio de 1925
ANTOLOGIA RUMENO-ITALIANO – sobre Dilercy Adler http://cugetdeciexis.blogspot.ro/2016/03/nou-la-editura-anamarol-editor-rodica.html Questa è l'antologia che sta andando per la stampa. Aceasta este antologia care se află la tipar. DILERCY ADLER - Brazilia JUN CARRIZO - argentina JAVIER CLAURE COVARRUBIAS - bolivia REMEDIOS ALVÁREZ DÍAZ - spania GERMAIN DROOGENBROODT - belgia LAURA GARAVAGLIA - italia JOSÉ MARTÍNEZ GIMÉNEZ - spania WIL HEEFFER - olanda LIGIA GABRIELA JANIK - germania RODICA-ELENA LUPU - românia JOSÉ LUIS LABAD MARTÍNEZ - spania GIANPAOLO G. MASTROPASQUA - italia ISABELA BIANCA NEAGU - românia DOLAN MOR - cuba JULIO PAVANETTI - spania JOAQUÍN JUAN PENALVA - spania ANTONIO PORPETTA - spania NIEVES VIESCA - spania ANNABEL VILLAR - spania MARÍA JULIANA VILLAFAÑE - puerto rico CEZAR CĂTĂLIN VIZINIUCK - spania/românia PETER VOELKER - germania Trabajo antología rumano- italiana ahora. Lucrez acum antologia româno-italiană. Sto lavorando alla Antologia Rumeno-Italiano. Rodica Elena Lupu
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O ESTADO MA, 30 de março de 2016
O PODER NORMATIVO DA OAB DANIEL BLUME DE ALMEIDA LUIS AUGUSTO GUTERRES
O Conselho Federal da Ordem tem como uma de suas funções primordiais a edição e modificação do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e do Código de Ética e Disciplina da Instituição. Porém, qualquer alteração legislativa referente à Advocacia está constitucionalmente a cargo do Congresso Nacional, por meio de iniciativa do presidente da república ou de qualquer parlamentar. Neste caso, a OAB sequer participa do processo legislativo. Ao chegar no Conselho, deparei-me com projeto do advogado Daniel Blume (apresentado quando exercia o cargo de conselheiro federal) que logo encampei, habilitando-me nos autos. Pretende que a OAB detenha iniciativa legislativa constitucional. Tal ideia tem recebido sonoras adesões dentro e fora do CFOAB. A Ordem dos Advogados do Brasil é instituição essencial à função jurisdicional do país, pois congrega, representa e fiscaliza todos os advogados (públicos e privados) brasileiros, profissionais que desempenham umas das funções essenciais à justiça. A Constituição da República enfatiza que “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei” (art. 133). Essa norma deve receber interpretação sistêmica à luz do art. 5º, XIII, que dispõe ser “livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. No que tange à Advocacia, referidos dispositivos constitucionais fazem notória alusão ao Estatuto da Advocacia e da OAB, editado através da Lei n. 8906/1994. Acontece que a legislação infraconstitucional que cuida da Advocacia deveria ser de iniciativa da própria Ordem, conforme se dá com o Ministério Público, cujos integrantes também desempenham função essencial à justiça, na linha do art. 127 da Constituição Federal. Portanto, a questão tratada aqui é de lege ferenda, com esteio nos Princípios Constitucionais da Isonomia e da Proporcionalidade. Pretende-se também garantir simetria entre as instituições que congregam as funções essenciais à justiça previstas pela própria Constituição. A respectiva exposição de motivos mostra que o tema não é problemático em termos técnicos. O Tribunal de Contas – órgão auxiliar do Poder Legislativo, que sequer integra qualquer das funções essenciais à justiça (CF, art. 71, caput) – possui a iniciativa legislativa privativa, no que se refere à sua lei orgânica (CR, art. 73). O mesmo ocorre com a Defensoria Pública, pois possui iniciativa de lei relativa à advocacia assistencial que exerce (CF, art. 134, § 2º). Assim, a Ordem dos Advogados do Brasil, instituição que apresenta natureza de autarquia pública federal especial, deve adquirir, através de emenda constitucional, a iniciativa legislativa privativa para instituir ou reformar o Estatuto da Advocacia e da OAB, bem assim a normatização relacionada ao tema. Basta que seja acrescido ao art. 133 da Constituição Federal um parágrafo único com a seguinte redação: “A lei de que trata o caput é de iniciativa privativa da Ordem dos Advogados do Brasil”. Bem defende o projeto que tal medida legislativa é compatível com o múnus público da OAB, já destacado pelo Poder Constituinte Originário ao, por exemplo, determinar que a Ordem necessariamente participe do processo de escolha dos membros de tribunais egressos da classe de advogados (quinto constitucional), bem como da banca examinadora dos concursos públicos para cargos das demais funções essenciais à justiça. A alteração é relevante não só para a OAB como para o país, pois pretende preservar a histórica Instituição que é a voz constitucional do cidadão brasileiro, mesmo em períodos antidemocráticos da história. Nesta conturbada quadra da história política brasileira, é indispensável a preservação da instituição OAB, pois
representa a sociedade civil organizada, razĂŁo pela qual deve ser empunhada a bandeira do fortalecimento institucional da Ordem, no sentido de que a Lei Maior garanta e amplifique a voz constitucional do cidadĂŁo.
BALZAQUIANA, QUEM QUERIA SER? AYMORÉ ALVIM ALL, APLAC, IHGM, AMM. Aos domingos, quando dona Inez vai almoçar comigo e meus irmãos, ela sempre conta uns “causos” que ilustram bem o comportamento da sociedade pinheirense, nas décadas de 1920 e 1930. Os casamentos, na sua grande maioria, eram ainda arranjados entre os pais dos futuros noivos. Isso, como todos podem concluir, sempre trazia a infelicidades aos dois. Houve um caso, no início da década de 1920, que uma moça teve que acabar com o namorado, de quem muito gostava, para se casar com um senhor bem mais velho do que ela. A moça tentou fugir, mas a fuga foi abortada. Moral da história: ela foi enviada para um convento, no Ceará, e ele se entregou à bebida até morrer. As mulheres casadas cujos maridos tinham “caseiras” ou amantes até com filhos tinham que aceitar a situação, pois não podiam tomar a iniciativa de abandoná-los. Não havia divórcio e as largadas pelos maridos ou desquitadas eram mal faladas. Não frequentavam a sociedade e quando eram aceitas de volta à casa dos pais se tornavam “viúvas juramentadas”, isto é, homem nunca mais. Casar novamente? Nem pensar. A mulher devia casar cedo antes dos trinta anos para não ser chamada de “balzaquiana”, pois após essa idade era muito difícil casar e, pelos padrões morais da terra, ia morrer moça velha ou virgem encruada. Interessante; até nos enterros, pela cor do caixão, se sabia se a defunta era moça virgem, balzaquiana ou casada. O das raparigas ou prostitutas não tinha revestimento. Nessa época, morava em Pinheiro, um fazendeiro que tinha muitas terras, engenhos de cana-deaçúcar e muito gado. Tinha uma filha que pelas condições financeiras do pai era um bom partido, mas ninguém podia se aproximar da moça. O velho era muito ranheta. A moça já estava chegando aos trinta anos que era o limite para dar o “terceiro tiro na macaca”. Casava antes ou não casava mais. A moça era ate bonita, alta, olhos esverdeados, mas muito magrinha. Para os padrões atuais era uma “Gisele Bündchen”, mas para os da época era “um varapau”. Chamavam-na de caveira ambulante e cruzeta. Isso a deixava muito triste, não querendo nem mesmo sair de casa. Era o tal “bullying” só que, nesse tempo, ninguém conhecia por esse nome. O velho, então, resolveu casar a filha e escolheu um dos filhos de um amigo e compadre que tinha também terras e fazendas de gado lá pras bandas do Limoeiro, próximas das deles. Após acertarem o negócio, o pai convidou o compadre e o filho para um almoço. Queria lhes apresentar a filha. No dia aprazado, só o pai do rapaz foi. Após o almoço, o sujeito mandou a mulher chamar Mundinha que já aguardava aquele momento, no quarto, talvez mais angustiada do que Persefones, para apresentar-lhe ao futuro sogro. - Minha filha, este é o compadre Fortes, meu amigo e pai do seu noivo. Não é, compadre? O velho Fortes olhou a moça, examinou-a bem e disparou: - Compadre, sua menina tem ate muita formosura, mas, com perdão da má palavra, ela é tão pouquinha. Um abraço de um homem desesperado vai quebrar a bichinha toda. - Mas compadre, é mulher. E mulher que é mulher, aguenta o tranco.
- Eu sei compadre, mas os homens lá de casa ate que não se importam de estragar, eles querem ver é o prato cheio. Pronto, foi o suficiente para ficarem inimigos e dizem que assim o foram ate morrer. Mundinha, coitada, sem conhecer homem, morreu moça donzela e balzaquiana. Que vida madrasta, hem?
BOM EXEMPLO – COLUNA RODA VIVA – BENEDITO BUZAR – O ESTADO – SOBRE DANIEL BLUME
COLUNA RIBA UM – JORNAL PEQUENO – POSSE DE JOÃO ERICEIRA NO IHGM
MORRE ESCRITOR E POETA MARANHENSE EVANDRO SARNEY COSTA Ele morreu na madrugada deste domingo (10) em São Luís aos 84 anos. Evandro Sarney Costa era membro da Academia Maranhense de Letras.
Evandro Sarney Costa era viúvo e deixa seis filhos (Foto: Arquivo pessoal) O escritor e poeta maranhense Evandro Sarney Costa morreu na madrugada deste domingo (10), em São Luís, de falência múltipla dos órgãos. Ele tinha 84 anos e foi conhecido, principalmente, por sua forte vocação para as letras, onde obteve grande destaque na literatura. Membro da Academia Maranhense de Letras (AML), Evandro Sarney nasceu no município de São Bento, a 299 km de São Luís. Ele também teve participação na política e elegeu-se deputado estadual no período de 1954 a 1970, mandato a que foi reconduzido em diversas e sucessivas legislaturas. Evandro Sarney Costa também fez parte da Academia de São Bento e atuou como jornalista militante ao longo dos anos. Com vasta colaboração no campo, ele deixa o seu legado jornalístico na crônica, conto, artigo e o ensaio. As produções poéticas do escritor e poeta foram publicadas em grande parte em jornais e revistas. Evandro Sarney foi ainda conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, cargo em que se aposentou. Ele era viúvo e deixa seis filhos. Nome literário de Evandro Ferreira de Araújo Costa. Nasceu em São Bento-MA, a 16 de maio de 1931. Filho de Sarney de Araújo Costa e de Kiola Leopoldina Ferreira de Araújo Costa. Revelou, adolescente ainda, sua forte vocação para as letras, cujo primeiro caminho de expressão foram grêmios e movimentos literários estudantis, aí já se revelando o poeta, o jornalista e o orador de grande eloquência que mais tarde brilharia nos comícios políticos de praça pública e na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado. Auxiliar direto do governador Eugênio Barros, elegeu-se, a seguir, deputado estadual, mandato a que foi reconduzido em diversas e sucessivas legislaturas, no período de 1954 a 1970. Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, cargo em que se aposentou. Jornalista militante ao longo de muitos anos tem em vários órgãos da imprensa de São Luís, vasta colaboração que, extrapolando o campo das atividades estritamente profissionais, compreende, também, a crônica, o conto, o artigo e o ensaio. Igualmente publicou, em jornais e revistas, grande parte de sua produção poética: Não convertamos uma questão de futuro em questão comercial. São Luís: s.ed; Cantigas de quebramar(poesia e prosa). São Luís: 1979; Noite maranhense (discurso de posse na AML; coautoria com Carlos Madeira). Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, s.d.; Aquele verde tão verde (poemas e crônicas). São Luís: 1981.
UNIVERSIDADE CEUMA: DO PLANO À REALIDADE ALDY MELLO Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro efetivo do IHGM e da ALL.
No próximo dia 9 de abril a Universidade CEUMA comemora 26 anos de existência. Nasceu como Faculdade CEUMA, em 1990, depois FCEUMA, Faculdades do CEUMA e, a partir de 2002, Centro Universitário (UNICEUMA). A Universidade Ceuma não nasceu à toa. Foi planejada para se destacar entre as universidades da Região Nordeste do país e, especialmente, no Estado. Os anos que passaram foram importantes para a instituição ter a consciência dos problemas nacionais e suas consequências, bem como de seu papel e missão. Era preciso ser um lugar privilegiado para produzir uma interpretação do novo ensino e não apenas ensinar aos alunos os conhecimentos específicos de suas profissões. A nova escola superior deveria ser um local de construção de um novo humanismo, onde da Ciência e Tecnologia se tivesse uma real leitura do progresso e dos dissabores da humanidade. Esta, sim, seria uma escola de qualidade. As mudanças propostas não se limitavam a questões de natureza organizacional, gestão acadêmica eficiente e problemas institucionais propriamente ditos, mas na maneira moderna de prestar seus serviços à sociedade. Assim, o Projeto de Desenvolvimento Institucional (PDI) da futura Universidade Ceuma estava articulado com os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC) e o Projeto Pedagógico Institucional (PDI). A instituição dispunha de um PDI para o período de 2005 a 2015 que definia suas finalidades e seus objetivos, obedecendo à uma concepção de posicionamentos e ações estratégicas que orientassem e subsidiassem metas e ações específicas e realizassem objetivos estratégicos. Atualmente, com seus 12 campi implantados e o crescimento do fluxo de informações, tornou-se necessário estabelecer critérios para se ter uma política de expansão dos acervos das bibliotecas. Para isso, implantaram-se políticas que servem de suporte para a seleção do próprio acervo, o controle dos processos de aquisição, as doações, as permutas de materiais especiais e bibliográficos das bibliotecas. Desta maneira, todas as áreas de preocupação do Plano de Desenvolvimento Institucional, como Planos e melhorias para a graduação, corpo docente, biblioteca, infraestrutura física, planos de melhorias da investigação, extensão e cultura e, embutidamente, garantia da autoregulação institucional, estão contidos nesta proposta, inclusive a atuação fora da sede. Nos PPC dos cursos constam os seus objetivos e são eles contextualizados em relação as suas inserções institucionais, políticas, geográficas e sociais; o perfil profissional desejado e as competências e habilidades; as condições objetivas de oferta e a organização curricular; as cargas horárias das atividades pedagógicas do curso; as formas de integração entre teoria e prática. Dentro da estrutura da instituição os órgãos colegiados superiores têm uma participação efetivada pela comunidade acadêmica, através dos docentes e das representações estudantis. Na sua maturidade e no seu crescimento, a Universidade Ceuma busca não reificar a burocracia acadêmica sobre a criatividade, nem tampouco o autoritarismo curricular sobre a liberdade de expressão. Como instituição de nível superior prima pela flexibilidade de suas normas de convivência a partir da eliminação de modelos arcaicos, fazendo nascer padrões de modernidade no lugar de sinecuras acadêmicas tão conhecidas no meio universitário.
PEN Clube do Brasil 80 Anos Literatura e Liberdade de Expressão
Boletim Informativo Rio de Janeiro – Ano VI – Março de 2016 – Edição Online
NOTÍCIAS DE ASSOCIADOS O livro Mário Meireles: historiador e poeta (Curitiba: Juruá, 2015), de autoria de Ana Luiza Al-meida Ferro, foi recomendado no quadro "Vitrine do Faustão", do programa Domingão do Faus-tão, da Rede Globo, pelo seu apresentador. Dia 6. Ana Luiza Almeida Ferro foi homenageada por sua trajetória literária em festa de gala no Castelo Suíço, em Blumenau-SC, ocasião em que recebeu o Trof I F ” categoria Literatura, haver promovido o engrandecimento da Cultu P í ”. E pela Rede Mídia de Comunicação Sem Fronteiras em celebração ao 3º aniversário do Jornal Sem Fronteiras. Dia 18. Ana Luiza Almeida Ferro lançou os livros Quando: poesias, O náufrago e a linha do horizonte: poesias e Mário Meireles: historiador e poeta, de sua autoria. Na ocasião, recebeu o troféu referente ao 2º lugar no Concurso N C â I í – Sem Fronteiras pelo Mun- ... V V ” O VIII”. Hotel Plaza Blumenau, em Blumenau - SC. A seguir , a escritora autografou exemplares da coletânea bilíngue (inglês-português) mencionada e lançada na mesma oportunidade. Teatro Carlos Gomes. Blumenau - SC. Dia 19.
Outros eventos JANEIRO Ana Luiza Almeida Ferro foi entrevistada em reportagem especial da TV Liberal (Globo), do Pa-rá, por ocasião de homenagem dos 400 anos de fundação da cidade de Belém (PA). Disponível no Portal G1 Pará. Dia 9. FEVEREIRO Ana Luiza Almeida Ferro recebeu o Prêmio Artístico e Literário "Melhores do Ano 2015 2016” concedido a escritores nacionais, oferecido pela Literarte/Associação Internacional de Escritores e Artistas, em parceria com a Prefeitura Municipal de Ouro Preto, no Auditório do Museu da Inconfi-dência Mineira. A escritora foi distinguida na categoria "Melhores Poetas". Dia 7. 6 Ana Luiza Almeida Ferro teve o seu artigo "Entre a batina, a toga e as musas", versando sobre a figura do padre secular, magistrado, historiador, memorialista e poeta Astolfo Henrique de Barros Serra (1900-1978), publicado no jornal O Estado do Maranhão, São Luís-MA. Dia 14. Ana Luiza Almeida Ferro concedeu entrevista à revista Ilhavirtualpontocom, nº 27, informativo sobre literatura maranhense publicado em formato on-line, editado pelo Acadêmico José Neres (AML). A entrevista foi matéria central da revista e traz breve estudo sobre a obra da escritora. Disponível em: http://www.joseneres.com/Ilha . Dia 22. pen@penclubedobrasil.org.br / http://www.penclubedobrasil.org.br
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO, RECEBERÁ: O PRÉMIO DE HONRA AO MÉRITO LITERÁRIO CORA CORALINA EM SESSÃO SOLENE DE POSSE ACADÊMICA E ENTREGA DO TROFÉU - 2016 – DA ALG – ACADEMIA DE LETRAS DE GOIÁS
Academia de Letras de Goiás-ALG 7 de abril às 18:18 · Goiânia, GO ·
NOITE DE GALA EM ITABIRA - MG SOLENIDADE DE HOMENAGENS-TROFÉUS CECÍLIA MEIRELES-PEDRO ALEIXO-CARLOS CHAGAS-21 DE MAIO/2016
SÃO BENETIDO DO RIO PRETO/MA VISITA A ALL
Academia Ludovicense De Letras - Publicado por Dilercy Aragão Adler ·
A Professora Francisca Barros, Assessora da Secretaria Municipal de Educação de São Benedito do Rio Preto/MA, sua terra natal, estimulou um grupo de Coordenadores Pedagógicos a fazerem uma visita às Academias com sede em São Luís: a Academia Maranhense de Letras- AML e a nossa academia, a Academia Ludovicense de Letras - ALL. Agendou a visita para dia 15 de abril (sexta-feira). Registramos o profícuo encontro.
A EVIDÊNCIA DOS NÚMEROS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras.
Após cada crise vivida pelo sistema capitalista acentua-se a concentração das atividades econômicas em mãos dos agentes de produção e, por decorrência, a oferta de bens e serviços fica mais escassa e cara, atingindo o emprego e a renda. No setor bancário, por exemplo, essa concentração diminui a oferta de crédito e agrava a situação das empresas em dificuldades à rolagem de suas dívidas. A questão é que o capital como fator de produção procura ajustar-se às crises e reduz custos em busca de maior produtividade; essa estratégia acaba determinando o fechamento de unidades de deficitárias, venda de ativos e, infelizmente, demissão de pessoal. Vejam o que está acontecendo com o nosso país enfrentando sérios problemas de inflação com recessão, agravados por um desequilíbrio fiscal com sérias repercussões nos estados e municípios e, portanto, passíveis de inadiável ajuste: em fevereiro, foram fechados mais de 104 mil postos formais de trabalho, cerca de 205 mil nos primeiros dois meses de 2016 e quase dois milhões nos últimos doze meses (CAGED, do Ministério do Trabalho), isto na indústria, na construção civil, nos serviços e no comércio, pela ordem; caiu também o rendimento real do trabalhador e o PIB per capita, e teria sido ainda pior não fossem as transferências oficiais de renda. A gente aprende que o orçamento deve ser uma peça equilibrada; quando há déficit o melhor é fazer contas na “base zero”, que é fixar as despesas essenciais às reais estimativas das receitas capazes de ser arrecadadas. O governo federal age de outra forma embora possa ter certas justificativas ao pedir permissão ao Congresso Nacional, para projetar um déficit de mais de 96 bilhões de reais para este ano; é que a retomada do crescimento exige a manutenção dos investimentos e incentivos sob sua tutela, que não devem ser retirados enquanto a economia estiver em recessão. Aliás, Keynes aconselhava esse procedimento conservador, mas com a indispensável contrapartida de fortes ajustes fiscais em busca de maior eficiência. A rigor, daqui por diante, as despesas deveriam baixar e as receitas, subir, numa proporção compatível com a retomada do crescimento. Mas não é o que vem acontecendo, pois as receitas continuam caindo diante das dificuldades para cortar gastos: em fevereiro, o déficit primário foi de 25 bilhões de reais, acima das previsões mais pessimistas, e de 128 bilhões se acumulado nos últimos doze meses. E o que é mais contraditório, segundo entendimento dos especialistas em finanças, o governo “continua aprovando medidas que se afiguram contra o ajuste”, como abrir espaços ao maior endividamento do setor público. Esse endividamento vem crescendo numa trajetória preocupante e foi responsável pela perda do grau de investimento e redução da nota de crédito do país; acontece que ainda pode subir, entre 2016 e 2018, e ultrapassar 80% do PIB! Foi esse o problema de alguns países da zona do euro, que ainda buscam o equilíbrio fiscal. Há muitas ações a serem adotadas pelo governo em meio às contradições a resolver e ainda dificultadas pela crise que se instalou no país; a economia tornou-se refém da política face às decisões que estão por vir.
VAMOS DANÇAR? ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras Publicado em 19 de abril de 2016, O Estado MA. “E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música” Friedrich Nietzsche (1844-1900), filólogo, filósofo, crítico cultural, poeta e compositor alemão. Tem coisa mais aconchegante do que o ato de dançar tal como na bela pintura de Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), datada de 1883 e denominada “Dança à cidade/campanha ou em Bougival”, exposta no Museu D´Orsay, em Paris? Renoir foi um importante artista plástico francês” influenciado por Monet no tratamento da luz e por Delacroix, das cores. É emocionante pensar no que se afigura um efêmero contato corporal permitido pelas convenções, mesmo entre pessoas que não se conhecem bem; abraçar e deixar-se abraçar, ser envolvido por sensações embaladas pela música. Não pensem, porém, que não gosto de tipos de dança mais modernos (as), cada um por si, em movimentos nem sempre coordenados; dançar às vezes pode ter o sentido de “dançar”, estar por fora e ficar de fora, como está acontecendo, agora, com muitos desavisados e oportunistas. Nos meus tempos de juventude, nos amplos e assoalhados espaços do Cassino Caxiense, na praça Gonçalves Dias, moças sentadas de um lado junto aos pais e rapazes ávidos por uma aventura, do outro; quem se arriscasse a desfrutar o prazer de dançar com quem não fosse sua namorada, além de atravessar os salões, devia cuidar-se para não escorregar nos efeitos da cera de carnaúba usada para deixar o piso brilhoso e liso. Um desses rapazes, num desses “bailes da vida”, encheu-se de coragem e, resoluto, atravessou o salão convidando uma garota para dançar, mas levou um “contra”; quando ato contínuo deu meia volta, além da vergonha estampada no rosto, escorregou caindo totalmente desamparado e foi embora da festa sob intensa gozação. Houve um tempo em acalentei um sonho: articular um grande baile a ser realizado no “velho” Cassino, com a presença do cantor Dick Farney (1921-1987), de estilo romântico e voz aveludada, que fazia sucesso nos auto-falantes da cidade; casais da sociedade, moças e rapazes noivos, namorados ou não, para dançarem ao som do seu som. Seria um evento para consagrar, de corpo presente, o famoso cantor. Quando em São Paulo, no início dos anos 70, uma noite fomos vê-lo cantar numa cada de show; já não era tão famoso, porém continuava interpretando uma bela voz. Conversei com ele, que era consciente do sucesso que fizera em nosso Estado; falei-lhe do prazer que seria tê-lo conosco novamente, para abrilhantar nosso baile há muito acalentado. Muitos anos depois dessa conversa, um grande evento realizado no Clube Alecrim, em Caxias, teria sido perfeito à realização desse acalentado sonho, quando diversas autoridades foram agraciadas com a comenda Gonçalves Dias, outorgada pela Prefeitura Municipal: uma orquestra de cordas, casais da sociedade, moças e rapazes noivos, namorados ou não, prontos para o abraço aconchegante no ato de dançar. Faltou o Dick Farney, que se foi bem antes sabendo do nosso sonho. Infelizmente, não se dança mais como antigamente; contudo tem muita gente “dançando” de outra forma, pagando seus pecados.
NO AUGE DOS SEUS OITENTA ANOS ITAPARY LIBERTA DE UM ARMÁRIO, PALAVRAS DE INEFÁVEL BELEZA
O intelectual Joaquim Itapary, da Academia Maranhense de Letras e também da Academia Sambentuense de Letras, nasceu em São Bento em 1936. Assim, neste ano de 2016 está completando os seus 80 anos de vida, com um rico currículo de atividades profissionais e culturais. Para comemorar esta data, com muito vigor e entusiasmo lançou o seu livro “Armário de Palavras” neste dia 22 de abril, no Hotel Brisamar. No tocante ao precioso Armário de Palavras, nas esmeradas palavras de Arlete Nogueira da Cruz “ [... ] sua linguagem arma-se de inefável beleza, valor indispensável para fazer fruir a emoção sem a qual toda arte nasce morta.” Desse modo ganhamos hoje de presente, de Joaquim Itapary, uma obra de arte muita viva e de impecável beleza! Acadêmicos de várias academias, entre elas a Ludovicense, compareceram ao evento prestigiando o aniversariante escritor. Marcaram presenças a Presidente, Dilercy Adler, Clores Holanda, Maria Theresa Neves, Daniel Blume, Ana Luiza Almeida Ferro, Ceres Fernandes, Álvaro Urubatan, e Roque Macatrão. Publicado por Dilercy Aragão Adler · 23 de abril às 00:31
ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS ALDY MELLO
A Academia Ludovicense de Letras (ALL), também chamada de Casa de Maria Firmina dos Reis, foi fundada em 10 de agosto de 2013, aos 190 anos de nascimento do poeta Gonçalves Dias e aniversário dos 400 anos de fundação da cidade de São Luís. É uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com sede e foro na cidade de São Luís. O termo “Academia” remonta da Academia de Platão, fundada em Atenas, no século 360 a.C. tendo sido considerada, pela história, a primeira instituição de nível superior do mundo ocidental. A Academia Ludovicense de Letras (ALL) tem por finalidade “o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luis, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividade culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior.” A ALL é composta por 40 membros efetivos e sócios honorários, correspondentes e beneméritos. Conta com seus órgãos próprios como o Plenário, a Diretoria, o Conselho Fiscal e Conselho de Decanos, as Comissões permanentes e temporárias, com suas atribuições definidas e subscritas no Regimento Interno. As cadeiras da Academia são ocupadas pelos membros efetivos, ostentam o título em caráter de perpetuidade e são numeradas e identificadas por figuras notórias da vida cultural e literária ludovicense e maranhense, já falecidas, destacando-se: Claude D’Abbevelle, Padre Antônio Viera, Odorico Mendes, João Lisboa, Cândido Mendes, Gonçalves Dias, Maria Firmina dos Reis, Sousândrade, Aluisio Azevedo, Raimundo Correia, Coelho Neto, Graça Aranha, Viriato Corrêa, Humberto de Campos, Dilú Mello, Odilo Costa, Filho, Mário Meireles, Josué Montello, Domingos Vieira Filho, João Mohana, Dagmar Desterro e Bandeira Tribuzi. Uma Academia de Letras não pode ser uma instituição de compêndios teorizantes, nem tampouco um simples grupo de amigos que apenas trocam ideias entre si. Deve ser sim, uma instituição capaz de perceber a natureza integral do homem, em todas as suas dimensões, de vez que a cultura, sendo um fato espiritual, completará a consciência de cada acadêmico e a sua co-responsabilidade universal. Como pessoa, o homem é membro de um universo de pessoas. Como ser histórico, buscará sempre a aventura hunana, por isso ele é criador e conduz suas relações de transformação. O homem é, por natureza, criativo, profético e crítico. Criativo enquanto produtor de ações criativas que envolvem o presente e o passado, estabelecendo relações dele com o mundo e as outras pessoas. Profético, quando evidencia seus projetos e seus desejos dentro de uma lógica profética: o futuro. É crítico enquanto demonstra sua capacidade de reconhecer ou rejeitar fatos históricos e habilita-se a emitir juízos. Afinal de contas, o homem é e será sempre um mistério na vida. Estar em uma Academia de Letras não é, portanto, ser apenas imortal. Cada membro da Academia tem o direito de participar e usufruir de todo universo acadêmico, sentir exploradas suas potencialidades literárias, navegar de conformidade com seus interesses e aptidões, apoiado pela instituição. Todo homem, como ser cósmico, requer a possibilidade de sua expansão, busca seu espaço de definições e gosta de fazer crescer seus conhecimentos literários e linguísticos. È louvável o compromisso da Academia Ludovicense de Letras com a nossa cultura e, juntamente com as co-irmãs, o cultivo das letras da Terra.
DE NOVO?!! SANATIEL PEREIRA Membro da ALL, ACLAC e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA. Há exatamente quatro anos, no mês de março, escrevi “Memória pra quê?”, crônica em que tratava da reforma infame que fizeram no espaço onde se encontra instalado o monumento da Pedra da Memória, na Avenida Beira Mar. Falei da falta de zelo e responsabilidade daqueles que deviam fazer a gestão municipal, que não possuíam a sensibilidade para enxergar o valor histórico de um monumento tão importante para nossa cidade. No texto, esbravejei, xinguei, mas ficou como ficou. Agora, para minha surpresa, estão novamente a gastar os recursos públicos na reforma – ou conservação – daquele local. E o que mais me surpreende é que se reedita, nos tapumes da obra, o mesmo material metálico utilizado nos anos passados. Será que guardaram essas horrorosas e desumanizadas chapas para se aplicar novamente agora? Será que não poderia existir um projeto gráfico para tornar os tapumes das obras mais interessantes? Talvez educativos, falando à população sobre o espaço no qual estamos a intervir. A prefeitura se encontra em uma larga operação de obras em vias e praças. O objetivo, me parece, é melhorar os logradouros públicos de São Luís. Este fato é louvável, pois promove um retorno imediato à população menos privilegiada e que carece de um local para conviver socialmente, além de aprimorar a visão urbana da cidade, que se encontra necessitada de intervenções há muito tempo. A reforma dos canteiros – transformados em praça – de ligação entre os bairros Camboa e Liberdade é um dos bons exemplos. Entretanto, acredito que alguns monumentos existentes em certas vias da nossa cidade devem ser tombados. Não tombados pelo Patrimônio Histórico, mas pelas picaretas ou por uma máquina que consiga fazer a sua demolição em uma noite somente. Estes monumentos nada dizem da nossa história, empobrecem a visão de quem passa e deixam principalmente ao turista desavisado a impressão de que aqui não existem artistas, nem recursos, para construir um belo e significativo monumento. O primeiro desses monstrengos que deveríamos botar abaixo seria aquele que guarda as portas do bairro Vinhais: mero montículo de pedras e metais reunidos em um caos artístico e nada cultural. Abaixo com o “monumento”. Se decidirem demolir, por favor, convidem-me para dar a primeira picaretada. Voltando ao singelo, importante e significante monumento da Pedra da Memória, imploro ao poder público que devolva a dignidade ao espaço, agregando o valor físico e cultural que lhe fora roubado. Não permitam que o piso que o rodeia seja trocado de cor, mas substituído, pelo menos, por pedras portuguesas, lembrando aquele que promoveu a razão da sua existência: Dom Pedro II. Procedam com o retorno imediato dos canhões centenários que simbolicamente guardavam o monumento. Transformem, de fato e de direito, o local em um dos mais procurados pontos turísticos da capital maranhense. Coloquem uma iluminação adequada para mostrar a beleza do monumento à noite, para que seja visto na sua plenitude. Promovam divulgação de inauguração do monumento e convidem as Academias e o Instituto Histórico, pois constituem ponto de ligação entre o presente e o passado do nosso povo. Protejam diuturnamente o monumento para que dure mais que estes quatro anos. Se tudo isso for feito, mas de nada valer a pena, pelo menos dirão – quiçá, por outros cronistas – em um futuro distante: “Eles fizeram! Meninos, eu vi!”.
ANA LUIZA ALMEIDA FERRO DÁ ENTREVISTA: Programa Arte & Cor da Rede TV Entrevistada pela apresentadora do Programa Arte & Cor da Rede TV (Canal 8), d. Iêda Falcão, apoiada por sua simpática equipe de produção. A entrevista será exibida neste sábado (30/04), às 13h, reprise no domingo (1º MAIO) às 12:30h e na terça e quinta às 13:35h. Também passará na Sky 308.1, TVN 13 e Net 8. Estão todos convidados para esse animado bate-papo.
O BRASIL ATRAVÉS DOS SÉCULOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras. “O Brasil é nossa melhor colónia, depois que deixou de ser colónia nossa.” Alexandre Herculano (1810-1877), escritor, historiador, jornalista e poeta português. Feitas as exceções de praxe em certos períodos da história, a verdade é que o Brasil não vem progredindo de forma sustentável desde as famosas Capitanias Hereditárias (“transmitidas de pai para filho”), quando apenas duas prosperaram: São Vicente e Pernambuco, doadas a Martim Afonso de Souza e Duarte Coelho Pereira, respectivamente, respectivamente. Àquela altura Portugal já tinha maiores interesses nos seus negócios em África e Ásia, razão pela qual apenas “tomou posse e demarcou as terras, fundou feitorias e entrepostos de troca do pau-brasil.” Antes, diga-se de passagem, nossas terras já estavam sendo objeto de interesse dos europeus. Criadas pelo então rei de Portugal, D. João III, em 1534, as Capitanias constituíram uma iniciativa colonizadora de maior amplitude e de formação política do país colônia lusitana; essas faixas de terra foram atribuídas a particulares (donatários) principalmente nobres com influência junto à Coroa Portuguesa. Os historiadores dizem que o sistema não funcionou muito bem e citam como motivos do fracasso: “a grande extensão territorial para administrar, a falta de recursos econômicos e os constantes ataques indígenas.” Resultados positivos, entretanto, foram modestamente alcançados pelas Capitanias, tais como “a ocupação do território, sobretudo da faixa litorânea, e a formação política do país;” fixaram o nome de muitos dos atuais estados brasileiros e deram origem à estruturação do poder regional. No mesmo período em que o Brasil foi descoberto, século XVI, “diversas nações europeias começaram a desenvolver regiões dos Estados Unidos, habitado por índios até o final do século XV, quando Cristovão Colombo chegou ao continente.” Italianos, espanhóis e franceses passaram a explorar serviços na Nova Inglaterra (atual Nova York), na Flórida e na bacia do rio Mississipi, respectivamente. Emergindo da Idade média e vivendo o Renascimento (um movimento cultural, que durou aproximadamente 250 anos influenciando a literatura, política e outros diversos aspectos da intelectualidade), a Europa havia acumulado o desenvolvimento da cultura, ciência e economia, de novas tecnologias, o que incentivou a exploração e desenvolvimento de novas terras. Esse breve histórico ressalta a importância das circunstâncias vigentes, no século XVI, e favoráveis ao desenvolvimento das economias americana e europeia; infelizmente, isso não aconteceu com o Brasil, vendo fracassar sua primeira experiência de colonização. Dirão que nosso país é jovem, que tem pouco mais de quinhentos anos quando comparado com outros mais desenvolvidos e que, portanto, teríamos ainda um futuro promissor pela frente. A verdade, porém, é que não temos tido projetos consistentes nesse sentido; temos olhado mais para o passado, repetindo experiências sem agregar valor; outros países, entretanto, que tiveram ou fizeram isso no seu devido tempo, miraram o futuro e conseguiram ser potências econômicas.
A ECONOMIA É UMA CIÊNCIA SOCIAL ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista e membro das Academias Caxiense de Letras e Academia Ludovicense de Letras Publicado em O ESTADO MA, em 05 de abril de 2016 Se os fundamentos da Economia estão corretos, por que os resultados não correspondem? Qual é o problema: estamos usando e/ou combinando mal a teoria existente ou precisamos de novas formulações? Quando se estuda a Teoria do Consumidor parte-se do pressuposto do comportamento racional, da psicologia em relação à oferta e demanda, para que se possam compreender certas conjunturas. Agora, economistas premiados com o Nobel defendem a tese da influência da psicologia nas relações de mercado. O Brasil tem experimentado as agruras de uma política cambial contraditória: quando do advento do Real, houve a “farra” das importações àquela altura mais baratas para o nosso país. Fazia sentido, pois precisávamos atualizar tecnologicamente o nosso parque industrial e fortalecer o mercado interno; as exportações e o consumo doméstico passariam a crescer movidos pela modernização das indústrias e pela geração de emprego e renda. Não foi o que aconteceu. Atualmente a situação inverteu-se e beneficia as exportações; porém, sem preço e termos de competição, nada feito. E ainda perdemos a oportunidade de modernizar o nosso parque industrial. A primeira desvalorização do Real visou restabelecer o equilíbrio comercial. Foi a abertura feita “antes tarde do que nunca”. Então invertemos a mão, mas as empresas não responderam suficientemente ao poder dos concorrentes de outros países. Se a balança comercial não gera dólares, recorre-se aos investimentos diretos e/ou aos empréstimos via aumento da dívida pública. Os investimentos, agora, feitos por organizações transnacionais que se instalaram após o processo de privatização principalmente, exigem a contrapartida das importações, que pressionam o dólar. O processo de endividamento torna-se, assim, inexorável. E a conjuntura internacional recessiva, com alguns países desenvolvidos desacelerando sua economia, concorrem para agravar o drama vivido pelo Brasil. Certo estava John Maynard Keynes, criador da Macroeconomia, que sempre advogou a presença do Estado na economia, como mecanismo capaz de injetar recursos quando a iniciativa privada não conseguisse faze-lo. Hoje, no Brasil, essa presença do Estado resume-se ao exercício de um poder regulador nem sempre eficiente. Privatizaram tudo, desnacionalizaram nosso patrimônio e continuamos devendo muito. Fizeram ainda contratos garantindo reajustes automáticos para os chamados “preços administrados”, por exemplo, que encarecem o custo de vida, mas não são computados nos índices oficiais de inflação. E, agora, com a crise cambial, os preços livres estão sendo contaminados numa generalização que torna evidente o recrudescimento de um processo inflacionário. Estão praticamente esgotados os tradicionais instrumentos de política monetária, para conter a alta do dólar; além disso, já “queimamos” boa parte das nossas reservas. Como vamos sair desta? A saída? Onde está a saída? Vamos torcer que prevaleça a teoria microeconômica e que os agentes que fazem a economia, vencidas as etapas da crise atual, imediatamente revertam as expectativas de quem tem comportamento racional e age psicologicamente diante dos mercados.
O QUE EU VI ESTA TARDE EM SETÚBAL RUI CANAS GASPAR
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Vento e chuva copiosa conjugada com maré alta são os ingredientes mais que necessários para que em Setúbal pudéssemos ter uma boa caldeirada, o que não dei conta que tivesse acontecido. Por força das circunstâncias da vida e não por uma questão de divulgação jornalística tive de andar pela cidade onde observei inúmeros chapéus de chuva espalhados pela via pública, completamente inoperacionais. Alguns cartazes foram arrancados com a força do vento e lá estão até que o tempo dê tréguas para serem devidamente recolocados, tal como alguns contentores de lixo tombados. Um carro empanado e outro que se despistou era situação mais que previsível na fatídica zona da Várzea. O “caixotão” que se encontra no PUA pronto a receber as areias para ali funcionar o recinto de futebol de praia, já era, porque as ondas galgaram a muralha e arrancaram as tábuas do lado sul, tábuas essas que certamente andarão à deriva no Sado, pelo que recomendo cuidado aos nossos pescadores. Ai mesmo, no PUA as ondas traziam a água do rio azul, que hoje mudou de cor, até ao jardim, inundando também o parque de jogos polidesportivo. Um pouco mais abaixo, junto à Docapesca, a água saltava a muralha e o Barco EVORA ali atracado parecia um verdadeiro toiro mecânico devido à força do vento e às vagas alterosas. Nos pontos altos da cidade a situação era mais calma, com as águas pluviais a correr livremente para os sumidores. Os Sapadores Bombeiros anteciparam-se a eventuais problemas e avançaram com uma viatura para a Rua de Mormugão, de forma a prevenir inundação na Rua Amílcar Cabral. Enquanto isso vi os responsáveis da Proteção Civil no terreno a observar o desenrolar da situação na zona ribeirinha. Pouco depois de ter passado por lá, parte da Avenida Luísa Todi era encerrada ao tráfego automóvel devido à acumulação de águas. Quem me pareceu não ter medo das águas, foi o conhecido “viking de Setúbal” que trajando tal como o faziam aqueles guerreiros nórdicos, com o seu chapéu ostentando um par de cornos e de bandeira do Vitória ao ombro lá vinha, debaixo de chuva, pela Avenida Independência das Colónias, a caminho do café, onde certamente se iria encontrar com outros adeptos do ENORME que rumariam a Lisboa onde hoje o Vitória Futebol Clube, defronta o Sporting Clube de Portugal.
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Texto compartilhado por Rosa Machado, neta de Fran Paxeco
O BRASIL NO SÉCULO XVII ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras. PUBLICADO EM O ESTADO MA 10 DE MAIO DE 2016
Este é o segundo de uma série de cinco artigos que estou escrevendo sobre o Brasil através dos séculos, tentando comparar suas experiências de colonização e desenvolvimento com as ocorridas nos Estados Unidos e na Europa, no mesmo período, guardadas as devidas circunstâncias presentes e enfrentadas por cada um desses países. A experiência das Capitanias Hereditárias não deu certo; esse insucesso pode ser explicado basicamente pela forma como foram doadas e pelo maior interesse dos portugueses àquela altura voltado para os seus negócios, na África e Ásia, além naturalmente daquelas outras limitações tradicionais citadas pelos historiadores. A União Ibérica, mais tarde demonstrada desfavorável a Portugal, tornou obsoletas as normas sobre limites estabelecidos pelo Tratado das Tordesilhas; durou de 1580 a 1640, manteve o Brasil sob o domínio espanhol durante 60 anos e “promoveu alterações administrativas nas colônias portuguesas”, dividindo nosso país em dois lados, um deles com sede em São Luís, que havia sido fundada pelos franceses, em 1612, com o objetivo de implantar a França Equinocial e participar da “crescente economia açucareira”. Esse período de domínio espanhol teve fortes motivos de ordem econômica tais como o comércio de açúcar e a extração de metais, além de razões religiosas entre os católicos e protestantes invasores. Em 1621, a fundação da Companhia das Índias Ocidentais foi uma iniciativa digna de registro e organização considerada ainda nos dias de hoje; era uma empresa de capital misto e talvez a primeira experiência de uma parceria público privada, “que visava principalmente à exploração comercial da América”. O processo de colonização dos Estados Unidos, começado pelos ingleses e que culminou na sua independência, aconteceu de forma bem diferente e melhor estruturado ao desenvolvimento. Houve uma divisão em Colônias: Norte e Sul. As do Norte tinham a finalidade de um espaço próspero e destinado à habitação, de permanência nas terras conquistadas e com os seguintes e principais objetivos: “mão de obra livre, pequenas propriedades e produção para o consumo do mercado interno”; as colônias do Sul foram exploradas e eram submetidas a um “Pacto colonial”, mais ou menos como aconteceu com o Brasil, com mão de obra escrava e produção para exportação à Metrópole. Na Europa do século XVII ruiu a hegemonia dos ibéricos para duas novas potências: Holanda e Inglaterra, fazendo esses países fortalecerem suas economias. Portugal e Espanha entraram em acentuado declínio e nem a descoberta de metais preciosos, no Brasil, beneficiou o reino lusitano. Conforme referido anteriormente, a União Ibérica acabou por trazer prejuízos ao reino lusitano, gerando uma grave crise: Portugal teve suas colônias, na América e em África, invadidas, pois havia alicerçado sua economia na sua pura e simples exploração. É desse tempo a fundação de São Luís e a Revolta de Beckman; também a presença de Maurício de Nassau, no Brasil, de 1637 até 1654, comandando uma segunda expedição, “para administrar as terras conquistadas e estabelecer uma colônia holandesa.”
A VIDA E A POESIA DE DILERCY ADLER -
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O vídeo a seguir é sobre a poetisa Dilercy Dilercy Aragão Adler, atual presidente da Academia Ludovicense de Letras
Comentários
Dilercy Aragão Adler Ceus! Estou emocionada! Obrigada Neres pelo grandioso projeto de valorizar e difundir os escritores da nossa terra e a esse amável, carinhoso e criativo grupo de alunos o meu mais sincero agradecimento. Foi um final de tarde maravilhoso. Não sei a nota que o professor vai dar, mas se me permite a sugestão, como professora criteriosa que eu sou, dou a esse trabalho, no qual vejo dedicação e espero, nota:1000 (mil), com mil beijos junto e um coração pleno de Júbilo.
BIBLIOTECA MÍSULA DO SABER: Há 3 anos disseminando informação CLORES HOLANDA SILVA Funcionária Aposentada da Universidade Federal do Maranhão – UFMA; Sócia-Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM; Sócia-Fundadora da Academia Ludovicense de Letras – ALL; E-mail: cloresholanda@yahoo.com.br Publicado em O ESTADO MA, 13 de maio de 2016
As bibliotecas têm a função de ser fonte de conhecimento. Em seus espaços permite-se estudar e criar relacionamentos de amizade, despertando no ser humano a consciência da participação social de cada indivíduo. Sua missão é levar informação e conhecimento a todos os cidadãos. Sonhei fundar uma Biblioteca no Memorial Cristo Rei, museuespecífico sobre a história da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, quando assumi sua gestão em 2000 até julho de 2014.Para concretizar esse sonho, parti para a ação. Acho oportuno o que diz o escritor norte-americano Jonh Schaar:“o futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. Os caminhos não são para ser encontrados e, sim, feitos. E a ação de fazê-los muda ambos, o fazedor e o destino”. Como trabalhava em uma universidade, que se fortalece pelo tripé: Ensino, Pesquisa e Extensão questionei o porquê de um museu funcionar sem biblioteca? Qualquer artefato sob sua guarda só passa a dialogar com o público quando ele tem uma história. Esta, só pode buscar nas fontes de pesquisas. Assim, em 13 de maio de 2013inauguramos a Biblioteca “Mísula do Saber”, órgão integrante do Memorial Cristo Rei, no Palácio Cristo Rei, como parte da programação de abertura da 11ª. Semana Nacional de Museus, cujo tema foi “Memória + Criatividade = Mudança Social”. O nome Mísula do Saber foi sugerido pela bolsista Marília Trindade e aprovado em reunião Ordinária do Memorial Cristo Rei. A ideia foi relacionar a mísula, peça arquitetônica presente e relevante no Palácio Cristo Rei com os objetivos da Universidade, de educar através do tripé: ensino, pesquisa e extensão. Isto porque segundo conceitos da Engenharia Civil, a mísula é uma peça com forma de base triangular, com a função de servir de sustentação. O acervo da Biblioteca Mísula do Saber é composto por obras que remetem à história e evolução da UFMA, abrangendo as áreas de Museologia, Arte, e História de São Luís. É integrada ao Sistema de Bibliotecas da UFMA. Tem como missão atender a demanda informacional, principalmente, de pesquisadores e estudantes universitários da UFMA, que se interessam pela história da Instituição. Seu objetivo é trabalhar em prol da disseminação da informação contida em seu acervo, buscando atender de forma aprimorada as necessidades informacionais da comunidade usuária. O Projeto da Biblioteca “Mísula do Saber” teve a participação da Equipe do museu da UFMA, formada por Clores Holanda Silva, Coordenadora do Projeto; Erlane Alcântara, Bibliotecária; das Bolsistas de Graduação do Curso de Biblioteconomia: Marília Trindade Valente e Gabrielle Carvalho Frazão. O Ex-Reitor da Universidade Federal do Maranhão, Natalino Salgado Filho, que cortou as fitas de inauguração da Biblioteca “Mísula do Saber” ressaltou a importância do papel que o local vai exercer não apenas para a comunidade acadêmica, como também para a sociedade. “É mais um local de extensão da UFMA para o desenvolvimento da cultura e do saber, como também um espaço que vai facilitar a pesquisa das pessoas que frequentam o Cristo Rei”.
AGENDA 2016 -
Antologia anual de "Poetas del Mundo”
As poesias são publicadas no aniversário do autor. É uma Antologia anual de "Poetas del Mundo". Organizada no Chile por Moggi G. Sepúlveda e Luis Arias Manzo Sub Secretária General e Secretário Geral. respectivamente. Esta é a poesia de Dilercy Adler que está na "Agenda 2016"
A VIDA E A POESIA DE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO
José Neres compartilha um link.
Ana Luíza Almeida Ferro Vídeo sobre a vida e a obra da escritora Ana Luíza Almeida Ferro youtube.com
O último vídeo de hoje é sobre a escritora, professora e procuradora Ana Luiza Almeida Ferro Comentários
Ana Luiza Almeida Ferro Foi um grande prazer receber alunos tão dedicados e interessados na valorização da literatura maranhense. Caro amigo José Neres, seu projeto é uma declaração de amor à cultura do Maranhão, às tradições ludovicenses de Atenas Brasileira. Sinto-me imensamente honrada de participar, de alguma forma, dessa semeadura. Parabéns!
O CASARÃO, O JORNAL E EU ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Promotora de Justiça e escritora, Doutora e Mestre em Ciências Penais (UFMG), membro da ALL e AMLJ, alaferro@uol.com.br São Luís é uma cidade encantada, senhora do maior conjunto arquitetônico de azulejos lusitanos de toda a América latina, o que a torna a capital brasileira com maior quantidade de casarões em estilo tradicional luso. Como toda dama vaidosa, ainda por cima quatrocentona, tem seus segredos e histórias. O Palacete da Rua Formosa não foge à regra. Esse belo casarão só poderia estar situado em certa Rua Formosa, hoje Afonso Pena. De edificação provavelmente iniciada na década de 1813, já foi quase tudo: residência do fazendeiro e comendador Leite e de sua família, mais de um colégio, hotel, sede de companhia de gás, clube familiar, cassino, escritório de advocacia, tribunal, tabelionato, loja de joias, locação para filmes... Mas a maior joia que abrigou, de 1967 a 1992, foi certo jornal fundado por José Pires Ferreira em 1926, depois vendido ao magnata das comunicações Assis Chateaubriand ou Chatô, então rei do Brasil sem coroa, um dos homens públicos de maior influência dos anos 40 a 60. E o jornal foi incorporado ao império dos Diários Associados. Diz Rui Barbosa que o jornalista “é, para o comum do povo, ao mesmo tempo um mestre de primeiras letras e um catedrático de democracia em ação, um advogado e um censor, um familiar e um magistrado”. Nada mais natural, portanto, que o Palacete da Rua Formosa, com seu passado de ninho de professores e homens das leis, tenha se tornado o baluarte de jornalistas pioneiros. Emprestaram a sua pena à redação do jornal no casarão personalidades como Odylo Costa Filho, Josué Montello, José Louzeiro e José Sarney, sem esquecer o papel de colaboradores desempenhado pelos articulistas Erasmo Dias e Ferreira Gullar. A História fez morada no Palacete e o jornal lá fez história, relatando e comentando, dia a dia, os grandes e pequenos eventos dos maranhenses, dos brasileiros e da humanidade. Mas esse jornal também fez história alhures, antes de se tornar a alma do Palacete. Funcionou na Avenida Magalhães de Almeida e na mesma Rua Afonso Pena em outro endereço. Foi em razão de notícias publicadas nesses tempos adolescentes que minha pequena história pessoal se cruzou, pela primeira vez, com a história desse jornal, patrimônio de todos nós. A 21 de novembro de 1945, este registrava: “O julgamento de Nuremberg, o maior de tôda a história da humanidade, dá inicio a um novo principio internacional, que é o de responsabilizar e julgar os dirigentes de qualquer nação que se lançar á luta, á agressão e á conquista.” Incluí esta notícia, ainda com sabor de atualidade, dentre outras, no capítulo “O Maranhão e o Tribunal”, integrante de minha monografia de conclusão do Curso de Direito da UFMA, sob o título “O Tribunal de Nuremberg”, apresentada em 1992. Ainda mais significativo para mim foi o artigo “São Luís, herdeira da França Equinocial”, publicado na histórica edição de 8 de setembro de 2012 do jornal, em celebração aos 400 anos de São Luís, do qual destaco o seguinte trecho: “O Maranhão hodierno, no ano em que sua capital São Luís completa quatro séculos de fundação pelos franceses, no longínquo 8 de setembro de 1612, procura reviver este passado distante, jamais olvidado. A fundação de São Luís por La Ravardière e Razilly – este, injustamente, pouco lembrado – não é e nunca poderia ser um mito: é, sim, um fato histórico preciso e documentado.” Foi a primeira e única vez que eu e o meu mui amado e saudoso pai, o professor universitário e escritor Wilson Ferro, assinamos um artigo juntos. Por derradeiro, cito a publicação, em 14 de março deste ano, do artigo “Um padre que fez história”, de minha autoria, em homenagem ao jornalista e escritor Astolfo Serra, patrono da Cadeira que ocupo no IHGM.
Esse jornal nonagenário, que fez e faz história, um Cronos moderno a devorar e devolver fatos cotidianamente, na tradição do bom jornalismo, com tantos relevantes serviços prestados à sociedade maranhense, é O Imparcial, a alma do Palacete da Rua Formosa.
PH REVISTA – O ESTADO DO MA 28/06/2016 – ACADEMIAS REUNIDAS
O BRASIL NO SÉCULO XVIII ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras. Publicado em O ESTADO MA, 28 de maio de 2016 A Companhia das Índias Ocidentais, fruto da cobiça holandesa por colônias conquistadas pelos países da Península Ibérica, foi dissolvida em 1794 tendo alcançado relativo sucesso na época; anteriormente foi mencionada como uma experiência pioneira público-privada novamente em moda, doravante, também no Brasil. O século XVIII foi caracterizado pela busca de metais preciosos, suas lutas de posse e exploração decorrentes. São dessa época as Guerras dos Emboabas, em 1707, e dos Mascates, em 1711, entre paulistas, índios, portugueses e baianos. Entre 1750 e 1777, grandes transformações foram promovidas pelo Marquês de Pombal (1699-1782), nobre, diplomata e estadista português nomeado primeiro-ministro por Dom José I, que “incentivou a produção agrícola e a construção naval”; no Brasil, “reestruturou a produção de riquezas e promoveu uma reforma educacional.” São desse período vários tratados assinados com a França e Espanha, pelos quais grandes extensões de terra foram cedidas à sua exploração; algum tempo depois essas terras foram devolvidas ao domínio português. Foram criadas outras Capitanias e o Tratado de Tordesilhas foi definitivamente abandonado. Com a ascensão de Dona Maria I ao reino de Portugal, o Marquês de Pombal, que, entre outras importantes realizações, havia reconstruído grande parte de Lisboa, arrasada por um terremoto, em 1755, foi processado e condenado; ela havia proibido o “estabelecimento de fábricas e manufaturas, no Brasil, preferindo incentivar a exploração de minérios e a agricultura.” Essas decisões da nova rainha de Portugal podem ter tido influência no nosso processo de desenvolvimento econômico, atrasando-o, e especialmente na demora do fim da escravatura; havia grandes movimentos intermediados, na Metrópole, por terceiros interessados na manutenção do tráfico. No século XVIII, a Coroa Britânica detinha Treze Colônias, com severas limitações de atuação e um modelo de exploração pouco diversificado. Os colonos norte-americanos, inspirados pelas idéias iluministas de John Locke e Thomas Paine, deram início ao “florescimento de um espírito autônomo e a consolidação de diferentes formas de exploração do território”, decorrendo conquistas significativas: essas Treze Colônias tiveram sua independência reconhecida, em 1783, e, sob novo sistema político, promulgaram sua Constituição, em 1787. A Europa, nesse século, marcada por essa importante mudança cultural, o Iluminismo, ampliou a liderança exercida pelos franceses Montesquieu, Diderot e Voltaire. Esses enciclopedistas (1751), pontificados por Rousseau – “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe, devendo, portanto, retornar à natureza” -, contribuíram para o desenvolvimento das ciências valorizando a racionalidade em favor do progresso social e cultural. Em Portugal, conforme já referido, o Marquês de Pombal foi influenciado pelas idéias iluministas e quis tornar o país atualizado com o progresso europeu; suas iniciativas, que acabaram por refletir-se, no Brasil, deram lugar ao neoclassicismo “de relevância política, social e cultural”, mas essas iniciativas foram “barradas” pela ascensão de Dona Maria I.
SEM ANOS DE SOLIDÃO SANATIEL PEREIRA Membro da ALL, ACLAC e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA. Meu Mestre viveu até a idade de 102 anos sem nunca ter sido acometido de doenças. Apesar do avanço da idade, não demonstrava qualquer sinal agudo de senilidade mental ou física, pois tomou diariamente até os noventa anos a sua cerveja – o elixir da longa vida–, e realizavaas necessidades fisiológicas sozinho. Na condição de músico, no início do século passado, fez viagens a pé, a cavalo, de barco, lancha e nos primeiros vapores que apareceram por aqui. Ele presenciou toda mudança do século na área de transportes. Foi um dos passageiros dos primeiros aviões comerciais movidos a jato que aportaram no aeroporto de São Luís, que ligava esta capital ao sul do país. Ele só não foi à Lua, acredito, porque não lhe apresentaram as condições necessárias para fazer esta viagem fora da atmosfera terrestre. Ele tinha uma memória fantástica para contar detalhes das coisas que viu pelos mais diferentes lugares por que passou. Contava, como se tivesse acontecido ontem, da sua chegada apoteótica ao cais do mercado do Ver o Peso, em Belém do Pará, em um pequeno barco a velaque partiu originalmente de São Bento, na Baixada Maranhense. Anos depois voltou de ônibusàquela cidade, quando as estradas já tinham sido abertas, para assistir novamente aos festejos do Sírio de Nazaré. Foi com meu mestre que aprendi a andar no mundo e herdar o espírito de viajante aventureiro para qualquer lugar sem medo de perder o rumo do caminho de volta. Antes de inventarem o GPS, eu já tinha um instalado em minha cabeça, pois precisava ir somente uma vez a um lugar para retornar ao mesmo local, ainda que se passassem alguns anos. Com ele aprendi algumas leis das quais somente mais tarde tomei conhecimento nos livros de filosofia ou religiões. O provérbio árabe“a palavra é prata, o silêncio é ouro” foi um dos maiores pilares da sua existência. Por isso, falava pouco, observava muito; o silêncio era a sua amante companhia. Alguns diziam que era meio surdo; outros, que ele ouvia só o que lhe interessava. Na verdade, verifiquei que ele não só filtrava o que ouvia, como o que olhava. Ele não tinha ouvido de mercador; era o próprio mercador. Outra máxima que ouvi dele foi: para você fazer arte, tem que ser um artista. Ainda jovem ouvi dele esse recado, sem perceber que se tratava de uma inteligente metáfora. Somente depois de viver sem rumo, percebi que não existe forma mais gratificante e produtiva de viver a vida, a não ser como um artista. Ele foi um artista também no seu sentido mais lato, apesar de deixar ao mundo lá foraa impressão de que era apenas um simples protótipo de músico. Mas a maior impressão que me deixou foi a certeza de que vivia em paz consigo mesmo, sem anos de solidão. Ele denotava viver em companhia de outros seres invisíveis aos olhos mundanos, mas nada comentava. Tinha uma concepção de beleza que ainda não vi em outro ser humano. Os seus olhos varriam todas as coisas como se procurasse agulha no palheiro. Talvez por isso tenha gasto a sua visão nesta busca incansável da beleza, a ponto de perdê-la parcialmente no outono da sua vida. Obrigado, Mestre, pelos ensinamentos!
CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL FERNANDO FILLIPE SANTOS MARQUES333 RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO334 RESUMO O presente trabalho visa elucidar os aspectos de maior relevo no que concerne à temática dos crimes sexuais cometidos contra vulneráveis, constantes no Capítulo II do Título VI do Código Penal, quais sejam, estupro de vulnerável, corrupção de menores, satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente e favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de vulnerável. Para tanto, é utilizada uma visão crítica do assunto em análise, precipuamente no que diz respeito à vulnerabilidade. São utilizados, para uma maior clareza e nitidez de idéias, tópicos como: conceito, objeto jurídico, elementos do tipo, consumação e tentativa, ação penal e causas de aumento. Palavras-chave: Crimes sexuais. Vulneráveis. Código Penal. ABSTRACT The present work aims to elucidate the aspects of greatest importance in relation to the issue of sexual crimes committed against vulnerable contained in Chapter II of Title VI of the Criminal Code, namely, rape vulnerable, corruption of minors, satisfaction of lust by the presence of child or adolescent and encouragement of prostitution or other form of sexual exploitation of vulnerable. Therefore, it is used a critical analysis of the subject ones, mostly with regard to vulnerability. Are used for greater clarity and sharpness of ideas, topics such as: concept, legal object, type elements, and consummation attempt, criminal and causes increase. Keywords: Sexual crimes. Vulnerable. Criminal Code.
01. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O Capítulo II do Título VI do Estatuto repressor possui como epígrafe “Dos crimes sexuais contra vulnerável”. Tutela-se, destarte, a integridade sexual das pessoas que se incluem no rol de vulnerabilidade. 02. VULNERABILIDADE É essencial delimitar o que a doutrina considera acerca da noção de vulnerabilidade. Segundo Capez (2013), vulnerável é qualquer pessoa em situação de fragilidade ou perigo. O renomado autor assevera ainda que a lei não faz menção à capacidade para consentir ou à maturidade sexual da vítima, importando o fato desta se encontrar em uma situação de maior fraqueza moral, social, cultural, fisiológica, biológica etc. Para a caracterização dos crimes abarcados pelo capítulo em análise é irrelevante o dissenso da vítima, na medida em que a lei não considera o consentimento dos vulneráveis, umavez que estabeleceu critérios para concluir pela falta de vontade penalmente relevante prolatada por tais pessoas. Cleber Masson (2013) traz interessante delineamento quanto às hipóteses de vulnerabilidade. A primeira situação de vulnerabilidade considerada pelo Codexé no tocante aos menores de catorze anos. O critério adotado aqui é etário, tratando-se de uma escolha objetiva, haja vista que eventuais condições subjetivas que possibilitassem uma vida sexual ativa às pessoas com idade inferior a idade supracitada são relegadas. É interessante notar a crítica realizada pelo autor: O legislador poderia ter uniformizado os conceitos previstos no Código Penal e na Lei n. 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente. Em busca da coerência, deveriam ter sido considerados vulneráveis os menores de 12 anos. Se tais pessoas são crianças para fins de proteção estatal e do reconhecimento dos seus direitos, seria correto utilizar esta faixa etária para fixação da maior fragilidade na seara dos crimes sexuais. (MASSON, 2013, p. 54).
Sem dúvida o posicionamento do autor é no mínimo instigador para uma possível alteração legislativa. Nucci também alerta para tal possibilidade. Considera-se que de fato a taxatividade presente no enquadramento como vulnerável das pessoas com idade inferior a catorze anos é apto a gerar possíveis 333
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injustiças. Diante da evolução do meio social, das tecnologias, é inegável que as informações de conotação sexual chegam ao alcance de todos como nunca antes visto. Como o próprio ECA já indica, as pessoas com faixa etária entre doze e catorze anos, qualificadas como adolescentes, possuem um amadurecimento psicológico que possibilita um maior entendimento sobre a vida sexual. Logo, seria interessante resguardar a análise de uma possível adequação típica com os crimes previstos neste capítulo, de acordo com o caso concreto, afastando-se por definitivo, nesta seara, a responsabilidade penal objetiva. Afinal de contas, uma pessoa com 17 anos que sustenta uma relação amorosa com outra de 13 anos, com práticas sexuais constantes, com relacionamento conhecido pelos pais da menor, seria, de fato, transgressor do ordenamento jurídico-penal vigente? É, no mínimo, prudente repensar a situação em tela, no sentido de adequá-la a um Estado Democrático de Direito, e fazer jus aos princípios da fragmentariedade, subsidiariedade e insignificância, informadores do Direito Penal. A segunda situação prevista pelo Código Penal diz respeito àqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não têm o necessário discernimento para a prática do ato. Cumpre ressaltar que a enfermidade ou deficiência mental pode ser permanente ou temporária, congênita ou adquirida. A essência é acarretar a eliminação do discernimento para a prática do ato. É fundamental a comprovação através de perícia médica, tanto no que tange à existência como no que concerne aos seus efeitos. Adotou-se, desta feita, o sistema biopsicológico. Novamente Cleber Masson faz crítica sensata ao que estatui o CP: O legislador perdeu ótima oportunidade para reparar um velho equívoco. Não é suficiente, para caracterização da vulnerabilidade, a existência da enfermidade ou deficiência mental, ainda que o agente conheça essa circunstância. É imprescindível o aproveitamento dessa situação pelo sujeito. A interpretação literal da lei, da forma em que se encontra redigida, retira dos portadores de enfermidades ou deficiências mentais o direito de amar, em flagrante oposição à dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, inc. III). Pelo dispositivo legal em análise, tais indivíduos não têm direito à vida sexual, pois quem com eles se relaciona comete um delito, normalmente o estupro de vulnerável. (MASSON, 2013,
p. 55-56). Reputa-se como válida a discussão levantada por Masson, haja vista a diversidade de ideais que vigoram no mundo contemporâneo. Não raro, encontra-se na órbita jurídica defensores veementes de uma análise restrita ao que dispõe o direito positivado, legalistas na mais estrita acepção do vocábulo. Assim sendo, diante de uma situação dessa, por óbvio, tais operadores do direito (expressão defasada diante do entendimento do mundo jurídico hodiernamente, mas que se amolda ao modo de exercer o direito desses indivíduos), relegariam o fato das pessoas portadoras de deficiência ou enfermidade mentais ter direito a uma vida sexual ativa, como qualquer indivíduo titular de direitos e portadores de obrigações. Por fim, temos a situação daqueles que, por qualquer outra causa, não podem oferecer resistência. É de grande valia alertar que deve-se aqui realizar uma interpretação em sentido amplo, com vistas a respaldar as mais variadas hipóteses de fragilidade em que alguém possa se encontrar. Masson (2013, p. 56) traz como exemplos de vulneráveis: “as pessoas em coma, em sono profundo, anestesiadas ou sedadas, bem como as pessoas portadoras de deficiências físicas que, embora conscientes, não têm como se defender da agressão sexual”. Cabe alertar que não é necessário que o agente tenha dado origem à situação de vulnerabilidade. 03. ESTUPRO DE VULNERÁVEL (ART. 217-A) 3.1 Considerações iniciais Com o advento da Lei n. 12.015/2009 o estupro cometido contra pessoa que não possui capacidade ou condições de consentir, com violência ficta, deixou de configurar o artigo 213 do CP, para caracterizar crime em separado, previsto no artigo 217-A. O artigo em análise possui a seguinte redação: “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos”. O agente é punido com reclusão, de 8 a 15 anos, tratando-se, destarte, de crime de elevado potencial ofensivo. O parágrafo primeiro do artigo 217-A apresenta a cláusula de equiparação: “incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”. 3.2Considerações referentes ao sujeito passivo Em consonância com o que vem demonstrando ser a tônica na tutela dos crimes sexuais, o legislador incorreu mais uma vez em erro, uma vez que se o crime for praticado contra vítima no dia de seu 14° aniversário, não estará consumado o delito do artigo 217-A, nem a qualificadora do crime de estupro. Podese configurar no caso, o crime de estupro simples. No que concerne à vítima que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, é imprescindível a prova diante das peculiaridades do caso concreto que em decorrência das condições mencionadas o discernimento necessário para a prática do ato não eram apresentadas pela vítima. Logo, é essencial a existência de um laudo pericial que corrobore a ausência dessas condições, a fim de atestar a materialidade do delito. Quanto à vítima que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, pode-se enumerar como exemplos, além dos mencionados no tópico referente à vulnerabilidade,a embriaguez completa, narcotização etc. A presunção, nesse caso, é relativa (júris tantum), portanto deve ser provada a completa impossibilidade de a vítima oferecer resistência. 04. ARTIGO 218 O artigo 218 do CP, apresenta o que alguns autores intitulam de corrupção de menores. Possui a seguinte redação: “induzir alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem”, o dispositivo, mais uma vez,não abarcou a vítima com idade igual a 14 anos; nesse caso, configurar-se-á o delito do artigo 227, caput, do CP. 4.1 Objeto Jurídico O referido dispositivo tutela, precipuamente, a dignidade sexual do menor de 14 anos que é levado a satisfazer a lascívia de outrem. Fernando Capez alerta que, indiretamente, procura-se impedir o desenvolvimento desenfreado da prostituição. Ademais, afirma que a moral média da sociedade, em segundo plano, também é foco da proteção jurídica. 4.2 Elementos do tipo Ação nuclear O tipo apresenta como verbo nuclear induzir, que significa persuadir, aliciar. O termo lascívia relaciona-se com sensualidade, libidinagem. Caso a vítima, menor de14 anos, seja induzida a praticar conjunção carnal ou ato libidinoso com outrem, o agente poderá responder na qualidade de partícipe do artigo 217-A, que trata sobre o estupro de vulnerável. Neste sentido, Rogério Sanches assinala que o artigo 218 “limita-se, portanto, às práticas sexuais meramente contemplativas, como, por exemplo, induzir alguém menor de 14 anos a vestir-se com determinada fantasia para satisfazer a luxúria de alguém”. (*) Adverte-se que, para configurar o delito em tela, o agente deve induzir a vítima a satisfazer a lascívia de pessoa determinada. Caso contrário, a conduta da vítima venha a satisfazer a lascívia de um número indeterminado de pessoas, configurar-se-á o delito do artigo 218-B, que ainda será analisado. Sujeito Ativo Trata-se de crime comum, o agente é denominado de proxeneta. A seguinte indagação é interessante: O destinatário do lenocínio, ou seja, aquele que se satisfaz com a ação da vítima, por qual crime responde? A doutrina aponta no sentido de que não se pode enquadrar a conduta da referida pessoa no tipo em análise. Todavia, se este vier a praticar a conjunção ou ato libidinoso diverso com a menor de 14 anos, ele deverá responder pelo crime de estupro de vulnerável. Consumação e tentativa
É de grande valia destacar que o delito analisado não necessita de uma habitualidade, na medida em que se consuma com a prática de qualquer ato pela vítima que seja destinado a satisfazer a lascívia de outrem. Ressalta-se que a efetiva satisfação sexual do terceiro não é exigida para configuração do delito. Ademais, a tentativa é perfeitamente admissível. 05. SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTEPRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE (Art. 218-A) 5.1 Conceito. Objeto jurídico “Praticar, na presença de alguém menor de 14 anos, ou induzi-la a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem”. O tipo tutela a dignidade sexual, a moral sexual, do menor de14 anos. No tocante às condutas do antigo artigo 218 do CP, que visem vítima maior de 14 e menor de 18 anos, ocorreu verdadeira abolitio criminis. 5.2 Elementos do tipo Ação Nuclear As seguintes situações materializam o delito em tela: realização de conjunção carnal ou de ato libidinoso diverso, pelo agente com outrem, na presença de menor de 14 anos; e persuadir menor a assistir a prática da conjunção carnal ou outros atos libidinosos levados a efeito por terceiros. Algumas considerações devem ser realizadas a respeito. Adverte-se que não há qualquer contato corporal do menor com o agente ou com outrem. O menor não vem a praticar qualquer ato de conotação sexual. É essencial que a vontade do menor seja determinada pelo agente. E não se trata de crime que necessita de uma habitualidade de conduta, ou seja, o cometimento de um único ato libidinoso já configura o delito. Consumação e tentativa O delito consuma-se com a prática, na presença de alguém menor de 14 anos, da conjunção carnal ou de outro ato libidinoso. No ato de induzir, o crime se consuma no instante em que o menor é efetivamente convencido, levado pelo agente a presenciar o ato sexual. É essencial que o agente tenha ciência da idade da vítima, caso contrário poderá ocorrer erro de tipo. A tentativa é perfeitamente admissível. 06. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE VULNERÁVEL 6.1 Conceito “Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone”. Para Hungria, prostituição “é o comércio habitual do próprio corpo, exercido pelo homem ou mulher, em que estes se prestam à satisfação sexual de indeterminado número de pessoas”. (*) De acordo com o entendimento de Rogério Sanches quanto a temática: A exploração sexual, de acordo com o primoroso estudo de Eva Faleiros, pode ser definida como uma dominação e abuso do corpo de crianças, adolescentes e adultos (oferta), por exploradores sexuais (mercadores), organizados, muitas vezes, em rede de comercialização local e global (mercado), ou por pais ou responsáveis, e por consumidores de serviços sexuais pagos (demanda). (*)
Para o referido autor, a exploração sexual admite quatro modalidades: prostituição, caracterizada pelo pagamento como contraprestação dos atos sexuais; turismo sexual, comércio sexual bem estruturado realizado em cidades turísticas, geralmente envolvendo mulheres de países de terceiro mundo; pornografia, consistente na produção, exibição, distribuição, venda, compra, posse e utilização de material pornográfico;
e tráfico para fins sexuais, que traduz o movimento clandestino e ilícito de pessoas através de fronteiras nacionais, como o escopo de obrigar mulheres e adolescentes a entrar em situações sexualmente opressoras e exploradoras, com o fim de proporcionar lucro para os aliciadores e traficantes. 6.2 Elementos do tipo
Ação nuclear
O crime em questãopode ser instantâneo ou permanente a depender de quais verbos nucleares são executados pelo agente. Trata-se de crime instantâneo quanto aos verbos: submeter, que significa sujeitar, entregar; induzir; atrair, que traduz a ação de seduzir, fascinar, chamar a atenção da vítima; e facilitar, ou seja, favorecer o meretrício, prestar qualquer forma de auxílio, por exemplo, arranjando clientes. Traduz crime permanente nas hipóteses dos verbos impedir e dificultar. Quanto ao primeiro, significa obstar, obstruir, não consentir, proibir, tornar impraticável a saída da vítima do prostíbulo. Quanto ao último, significa tornar difícil ou custoso de fazer, pôr impedimentos, por exemplo, condicionar a saída da vítima do meretrício ao pagamento de dívidas que ela possua com o seu aliciador.
Consumação e tentativa
No que tange à consumação, Capez aduz: O crime se consuma no momento em que a vítima passaa se dedicar habitualmente à prostituição, após ter sido submetida, induzida, atraída ou facilitada tal atuação pelo agente, ou ainda, quando já se dedica usualmente a tal prática, tenta dela se retirar, mas se vê impedida pelo autor.(CAPEZ, 2013, p. 109)
Destaca-se que não se exige habitualidade das condutas previstas no tipo do art. 218-B, sendo suficiente a prática de uma única ação de induzir, atrair etc. É mister delinear que a habitualidade exigida é da prática sexual pela vítima, mediante contraprestação financeira. A tentativa é plenamente admissível, a exemplo do caso em que não há habitualidade do comportamento da induzida.
Equiparação
O parágrafo segundo do artigo em análise apresenta situações equiparadas à do caput. Portanto, incorre nas mesmas penas: quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 e maior de 14 anos na situação descrita no caput do artigo; e o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput do artigo. Nesta última hipótese, tem-se como efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. Observa-se que o legislador quis abarcar todas as hipóteses que cercam as mais variadas formas de exploração sexual do vulnerável, na medida em que, com tal equiparação, visa punir todos aqueles que se envolveram no fato. 07. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA. AÇÃO PENAL Dois artigos estabelecem as majorantes quanto aos delitos analisados, o artigo 226, que se limita aos Capítulos I e II do Título VI,e o artigo 234-A, que disciplina todos os crimes contra a dignidade sexual. O artigo 226 assevera que a pena é aumentada: de quarta parte, secrime é cometido com o concurso de 2 ou mais pessoas; e de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela. É importante ressaltar queas referidas causas de aumento não serão aplicadas nos casos em que os fatos previstos como majorantes já constituírem elementares do tipo, sob pena de resultar em bis in idem. O artigo 234-A, por sua vez,dispõe que nos crimes previstos no título VI a pena é aumentada: de metade, se do crime resultar gravidez; e de um sexto até a metade, se o agente transmite à vítima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador.
Nada impede que em um caso incidam causas de aumento previstas em ambos os artigos, hipótese em que ocorrerá o chamado concurso de causas de aumento. O artigo 68 do CP dispõe que o juiz pode se limitar a aplicar apenas uma causa de aumento, desde que a que mais aumente. 08. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de todas as informações explanadas no tocante aos crimes sexuais contra vulneráveis, é tácito concluir que o objeto jurídico resguardado é deveras valioso e efetivamente merece tratamento diferenciado. Entretanto, algumas críticas pontuais foram feitas no transcurso do trabalho. É de bom tom, que o legislador olhe com bons olhos para uma possível alteração da disciplina conferida aos crimes analisados, com vistas a incluir, no rol dos vulneráveis, a vítima no seu 14° aniversário, uma vez que não tem razão de ser a sua exclusão. Agindo dessa forma será superada uma verdadeira aberração jurídica. Ademais, é interessante modificar o entendimento no que concerne àqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato sexual. Haja vista que da forma como se encontra redigida a legislação, torna possível o entendimento de que pessoas que se encontram nessa situação não têm o direito à uma vida sexual ativa. O que o Código Penal quer punir, na realidade, é a conduta daquele que se aproveita dessa condição da vítima para auferir vantagens de conotação sexual. REFERÊNCIAS CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal 3, parte especial: dos crimes contra a dignidade sexual a dos crimes contraa administração pública. Med. São Paulo: Saraiva, 2013. BRASIL, Código Penal. MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado, vol. 03: parte especial, arts. 213 a 359-H. 3ª ed. São Paulo: Método, 2013.
MAIORIDADE PENAL FERNANDO FILLIPE SANTOS MARQUES335 RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO336
RESUMO Diante dos crescentes índices de criminalidade vigentes no Brasil, muito se tem discutido acerca da maioridade penal, debate este impulsionado notadamente pelo enfoque midiático conferido ao tema. Neste mister, o presente artigo possui como escopo precípuo analisar o tema da maioridade penal, e sua possível redução, com vistas a elucidar os aspectos de maior relevo, notadamente no que tange ao histórico, à legislação e ao direito comparado, bem como o cotejo do paradigma constitucional da maioridade frente ao Estatuto da Criança e do Adolescente, considerando a natureza jurídica do artigo 228 da Constituição Federal de 1988. Palavras-chave: Maioridade penal. Redução. Criminalidade. Estatuto da Criança e do Adolescente. Constituição Federal. ABSTRACT In the face of increasing crime rates in force in Brazil , much has been discussed about the legal age , this debate driven notably by the media focus given to the subject. This occupation , this article has as preciput scope analyze the issue of criminal responsibility , and its possible reduction , in order to elucidate aspects of greater importance , particularly with regard to history , legislation and comparative law as well as the comparison the constitutional paradigm front age to the Status of Children and Adolescents , considering the legal nature of Article 228 of the Federal Constitution of 1988. Keywords:Criminal majority. Reduction. Crime. Child and Adolescent Statute. Federal Constitution.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A maioridade penal no Brasil dá-se aos dezoito anos, conforme o artigo 228, da Constituição da República, reforçado pelo artigo 27 do Código Penal e pelo artigo 104 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Atualmente, todavia, existe um longo debate acerca da redução da maioridade penal. Dessa forma, a sociedade brasileira encontra-se sob a sensação de insegurança provocada pela inércia do Poder Público em garantir a devida punição aos jovens de idade inferior a dezoito anos, que cometem crimes (ou atos infracionais, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente). Neste contexto, a população brasileira tornou-se espectadora e refém de práticas violentas bárbaras cometidas por esses jovens, que enxergam na impunidade e privilégios previstos na legislação brasileira, um subterfúgio para a prática de infrações penais. Nesta conjuntura, a sociedade brasileira vê-se refém diante de determinadas ações praticadas por “jovens infratores”. Diariamente, os meios de comunicação têm se encarregado de divulgar condutas criminosas praticadas por esses jovens, contribuindo para formar no inconsciente coletivo as sensações de medo e insegurança. Como exemplo, pode ser citado o caso “Liana Friedenbach e Felipe Caffé”, torturados e assassinados por Roberto Aparecido Alves Cardoso, o “Champinha”, no ano de 2003. À época do crime, “Champinha” era menor de idade. Tal crime chocou a opinião pública brasileira e reacendeu a discussão a respeito da redução da maioridade penal. Emerge, dessa maneira, a ideia de que a impunidade é a “porta de entrada” para o cometimento de tais condutas. Segundo inúmeros setores da sociedade civil, a punição dada a esses jovens é ineficaz e acarreta em impunidade. Destarte, esta certeza da impunidade constitui-se uma “alavanca” para que possam infringir o ordenamento jurídico e atingir seus objetivos ilegais e escusos, cometendo crimes bárbaros. Dessa forma, o presente trabalho acadêmico visa a abordar os aspectos concernentes à maioridade penal no Brasil, bem como, analisar os dilemas enfrentados pelo legislador a fim de atender aos anseios da sociedade, que clama por punição justa, eficaz e suficiente para coibir a prática de condutas delituosas por esses “infratores”. Sem esquecer, contudo, de respeitar as disposições constitucionais e os direitos estabelecidos na legislação infraconstitucional, referentes à proteção desses jovens. Neste cenário, convém ressaltar que esta produção acadêmica analisará as questões mais controversas referentes à maioridade penal no Brasil. Neste sentido, terá como um de seus objetivos abordar o clamor da opinião pública em ver atendidos os seus anseios pela redução da maioridade penal para dezesseis anos. Nesta conjuntura, é importante ressaltar que, segundo pesquisa do Instituto Datafolha, realizada na cidade de 335
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São Paulo, em 2013, 93% dos paulistanos são favoráveis à redução da maioridade penal. No mesmo sentido, pesquisa realizada pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes), veio corroborar tal sentimento. Segundo esse levantamento, feito com 2.010 pessoas em 134 municípios de 20 Estados, 92,7% dos brasileiros são favoráveis à redução da idade penal para dezesseis anos. Entretanto, o desejo da esmagadora maioria da sociedade brasileira esbarra em determinados entraves e barreiras, sobretudo, na própria legislação pátria e no sistema legal de proteção do menor. Destarte, este trabalho acadêmico tem o dever de esmiuçar estas questões, analisando a maneira como a lei brasileira cuida do menor infrator, o tratamento a ele direcionado, os direitos estabelecidos por lei e os aspectos referentes ao interesse social no que tange ao combate às infrações penais (atos infracionais, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente) cometidas por esses menores. Neste contexto, esta produção não fugirá da sua obrigação de analisar o arcabouço jurídico brasileiro, referente à todas as questões que envolvem o tratamento do menor infrator, enfrentando o dilema da possibilidade de mudança do sistema legal de proteção do menor infrator, a fim de garantir à eficiente punição reclamada pela sociedade. Dessa forma, analisará o paradigma constitucional da maioridade penal; a maneira como o Estatuto da Criança e do Adolescente lida com o menor infrator, bem como, as disposições presentes no Código Penal relacionadas à inimputabilidade desses indivíduos. Destarte, este trabalho acadêmico abordará as mais variadas questões acerca da maioridade penal e os aspectos ligados à política criminal relativos ao menor infrator. A produção deste trabalho justifica-se, tendo em vista que o debate acerca da redução da maioridade penal encontra-se presente na sociedade brasileira e tem ocasionado discussões e análises advindas dos mais renomados juristas. Neste aspecto, esta produção acadêmica terá o prazeroso desafio de estudar e entender as questões atinentes à redução da maioridade penal, pois este é um assunto de interesse da sociedade brasileira e de muita relevância no âmbito do Direito Penal. 2. HISTÓRICO, LEGISLAÇÃO E DIREITO COMPARADO Inicialmente, é essencial que sejam analisados os aspectos históricos da maioridade penal no Brasil. Logo, é imprescindível que seja traçada a evolução histórica da previsão da maioridade penal no ordenamento jurídico brasileiro, a fim de que se possa compreender de maneira mais ampla e didática a atual previsão contida no texto constitucional, bem como, no Código Penal Brasileiro. Neste contexto, é necessário que seja feita uma análise histórica da forma como a maioridade penal fora expressa ou prevista nos códigos que já vigoraram no Brasil. Em seguida, faz-se mister ressaltar os aspectos legais referentes à previsão da maioridade penal no Brasil. Neste sentido, devem ser lembradas as disposições presentes na Constituição Republicana, sobretudo, o artigo 228. Assim como, será estudada a previsão da maioridade penal no Código Criminal Brasileiro e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Após esse estudo inicial, não se esquecerá de analisar as diversas previsões da maioridade penal no Direito Comparado, para que se possa entender a maneira como os diferentes países lidam com essa questão. 2.1. Evolução Histórica da Maioridade Penal no Brasil Antes da criação da primeira legislação penal brasileira, qual seja, o Código Criminal do Império, datado de 1830, vigoravam no Brasil as chamadas “Ordenações Filipinas”, que também regiam os portugueses. De acordo com este sistema de leis, a imputabilidade penal iniciava-se aos sete anos de idade, eximindo o menor da pena de morte e sendo concedida a redução de pena. Entre a faixa etária compreendida dos dezessete aos vinte e um anos, o indivíduo poderia, inclusive, ser condenado à pena de morte ou ter a sua pena diminuída, a depender das circunstâncias. Todavia, a imputabilidade penal plena ou absoluta estava direcionada aos maiores de vinte e um anos, a quem poderia ser aplicada a pena de morte. Em 1830, após a Proclamação da Independência, o Brasil, antiga colônia portuguesa, procurou desvencilhar-se das influências jurídicas lusitanas e, dessa forma, editou o Código Criminal do Império, em 1830. Este código, inspirado no Código Penal Francês, de 1810, adotou o chamado “sistema do discernimento”, determinando a maioridade penal absoluta a partir dos 14 (catorze) anos de idade, salvo se o indivíduo tivesse atuado com discernimento acerca do crime que cometia. Nessas condições, deveria ser recolhido às “casas de correção”, pelo tempo determinado pelo juiz, desde que tal recolhimento não
ultrapassasse a idade de dezessete anos do indivíduo. Neste contexto, percebe-se que o Código Criminal do Império adotou o critério biopsicológico para a punição de crianças e jovens entre sete e catorze anos de idade, pois se agissem com discernimento, poderiam ser considerados imputáveis, sendo recolhidos às “casas de correção”. O Código Penal Republicano, por sua vez, previa a inimputabilidade penal absoluta até os nove anos de idade completos, sendo que os maiores de nove e menores de catorze seriam submetidos à análise do discernimento para a prática de dada infração penal. Todavia, conforme ressalta Basileu Garcia337, o reconhecimento de possuir ou não o necessário discernimento para a prática do ilícito era uma tarefa árdua e difícil para o magistrado, que geralmente, decidia em favor do menor, determinando a ausência de discernimento. Vale ressaltar que com o advento da Proclamação da República, as elites políticas, intelectuais e filantrópicas começaram a discutir o contexto social em que se encontravam submetidas as crianças e jovens brasileiros da época. Destarte, a questão social da criança e do jovem adquire uma dimensão política, alicerçada no pensamento republicano do período. Neste cenário, o mestre Aníbal Bruno 338 aponta que em fins do século XIX, surge o impulso de conduzir a criminalidade infanto-juvenil a um ponto de vista educativo e reformador, não apenas punitivo. Dessa forma, o dispositivo que regulava a inimputabilidade penal presente no Código Republicano de 1830, fora revogado em 1921, pela Lei n°4.242, artigo 3°. Tal diploma legal permitiu ao Governo Federal organizar o serviço de assistência e proteção à infância abandonada e delinquente, visando a construção de abrigos e casas de preservação. Neste contexto, estabelecia o artigo 3°, § 2°: “O menor de 14 anos, indigitado autor ou cúmplice de crime ou contravenção, não será submetido a processo de espécie alguma e que o menor de 14 a 18 anos, indigitado autor ou cúmplice de crime ou contravenção será submetido a processo especial”.
Além dessas considerações, a referida Lei abandonava o sistema biopsicológico e estabeleceu um critério objetivo de imputabilidade penal. Neste sentido, a imputabilidade penal fora fixada em catorze anos de idade. Em 1927, fora promulgado o Código de Menores, conhecido como Código de Menores Mello Mattos. Por este diploma legal, fora prevista a impossibilidade de recolhimento à prisão do menor de dezoito anos que houvesse praticado qualquer ato infracional. O menor de catorze anos, conforme sua condição de exclusão e abandono, seria abrigado em casa de educação ou preservação ou confiado à guarda de pessoa idônea até a idade de vinte e um anos. O artigo 68, por sua vez, previa que o menor e,m situação de exclusão e delinqüência agia sempre sem discernimento. O sistema de proteção e assistência do Código de Menores submetia qualquer criança ou jovem, desde que estivesse em situação de exclusão e pobreza, à ação da Justiça e Assistência. Em 1940, fora promulgado o Código Penal, que vigora no ordenamentos jurídico brasileiro até os dias de hoje. Em seu artigo 27, o mencionado código prevê que “os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. Em 1969, emergiu a vontade do legislador de ver promulgado um novo Código Penal, sem obter o êxito desejado. O Código penal de 1969 buscou trazer de volta o critério do discernimento, que já estivera presente no ordenamento jurídico brasileiro em épocas passadas. De acordo com esse código, que não entrou em vigência, seria possibilitada a aplicação de pena ao maior de 16 e menor de 18 anos, com a pena reduzida de 1/3 a metade, desde que o mesmo entendesse o caráter ilícito do ato ou tivesse possibilidade de se portar de acordo com esse entendimento. Neste contexto, houve a frustrada tentativa de se reduzir a maioridade penal para dezesseis anos, devendo haver nesse caso, exame criminológico para a verificação da capacidade de entendimento e autodeterminação do menor infrator. Dessa forma, a maioridade penal permaneceu nos moldes previstos pelo Código Penal de 1940, ou seja, dezoito anos de idade. O menor, por sua vez, ficaria sujeito à legislação especial, neste caso à Lei n° 337 338
GARCIA, Basileu. Instituições de direito penal. Vol 1. Tomo I. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 274. BRUNO, Aníbal. Direito penal- parte geral. Tomo II. 5. ed. São Paulo: Editora Forense, 2003. p. 183.
8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Todavia, é importante ressaltar que o Código Penal Militar filia-se ao critério biopsicológico ao fixar o limite penal em 18 anos, salvo se, já tendo o menor 16 anos, revelar discernimento para a prática da conduta delituosa. 2.2. Maioridade penal na legislação brasileira Como já fora dito, a esmagadora maioria da sociedade brasileira anseia pela redução da maioridade penal para dezesseis anos, pois acredita que este é o mecanismo mais célere e eficaz para garantir a punição de jovens que praticam crimes. Contudo, a clamor da opinião pública esbarra no próprio arcabouço jurídico brasileiro, que prevê a maioridade penal em dezoito anos e estabelece uma série de dispositivos que asseguram a proteção do menor infrator, o que causa revolta na sociedade. Dessa maneira, a Constituição Brasileira, em seu artigo 228, prevê: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”. Neste cenário, percebe-se que para ser atendido o anseio da maior parte da sociedade civil em ver reduzida a maioridade penal, é necessária uma complexa mudança legislativa. Dessa forma, conforme leciona Rogério Greco 339, a “única implicação prática da previsão da inimputabilidade penal no texto da Constituição é que, agora, somente por meio de emenda constitucional, a menoridade penal poderá ser reduzida”. Portanto, a redução da maioridade penal por meio de lei ordinária fica impossibilitada. O Código Penal Brasileiro, por sua vez, deixa expresso em seu artigo 27: “Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial”. É o que se chama de inimputabilidade natural, segundo GRECO (2012, p. 388), Por questões de política criminal, o legislador brasileiro entendeu que os menores de dezoito anos não possuem o necessário discernimento ou capacidade de entendimento que lhes permita imputar a prática de fato típico e ilícito. De acordo com Aníbal Bruno340, a lei não reconhece ao menor de dezoito anos uma maturidade mental concluída. Dessa forma, o ordenamento jurídico estruturou-se a fim de poupar o menor da ação perversora do cárcere. Rogério Greco341 comunga do mesmo pensamento do eminente jurista citado. Tal entendimento tem revoltado boa parte da sociedade brasileira, que presencia com impressionante freqüência a prática de reiteradas condutas criminosas por parte de jovens menores de dezoito anos. É preciso, neste aspecto, levantar alguns questionamentos suscitados por esses setores da sociedade. Não seria uma contradição do própria legislador brasileiro não reduzir a maioridade penal para dezesseis anos, tendo em vista que o jovem maior de dezesseis e menor de dezoito anos pode, inclusive, votar? Logo, o jovem dessa faixa etária, que pode escolher os rumos de seu país, não teria maturidade para compreender o caráter ilícito de sua conduta criminosa? Isto não seria uma contradição? Estes são questionamentos feitos pelos setores da população brasileira revoltados com os crimes ou atos infracionais praticados pelos “menores infratores”. Nesta conjuntura, segundo a previsão do Código penal, uma vez completados dezoito anos, o agente torna-se imputável, podendo ser a ele atribuída uma sanção de natureza penal. Conforme a previsão do artigo 27 do Código Penal Brasileiro, os menores de dezoito anos ficarão sujeitos à legislação especial, caso cometam um fato típico e ilícito. Neste contexto, tais jovens encontramse sujeitos à Lei n° 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Neste sentido, o artigo 104 do mencionado diploma legal preconiza: “são penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medias previstas nesta Lei”, do mesmo modo que prevê ato infracional como a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Dessa maneira o Estatuto da Criança e do Adolescente visa em seu Título III (Da Prática de Ato Infracional) regulamentar os direitos individuais, garantias processuais e medidas socioeducativas referentes aos jovens menores de dezoito anos, que pratiquem um fato típico e ilícito. Neste contexto, são garantias processuais: I- pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente; II_ igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa; III- defesa técnica por advogado; IV- assistência judiciária 339
GRECO, Rogério. Curso de direito penal- parte geral. Vol. 1. 14. Ed. Niterói: Editora Impetus, 2012. p. 389. BRUNO, Aníbal. Comentários ao código penal. Vol. 2. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1969. p. 135 341 O autor aponta que em várias de suas passagens, o Código Penal se preocupa em tratar de maneira diferenciada os agentes em razão de sua idade, sobretudo, os mais jovens, devido ao seu pouco amadurecimento. 340
gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei; V- direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente; VI- direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do procedimento. O artigo 112 do mencionado Estatuto prevê as medidas socioeducativas a que estão sujeitos os “menores infratores, que são as seguintes: I- advertência; II- obrigação de reparar o dano; III- prestação de serviços à comunidade; IV- liberdade assistida; V- inserção em regime de semiliberdade; VI- internação em estabelecimento educacional; VII- qualquer uma das previstas no artigo 101, I a VI. Contudo, um dispositivo do mencionado Estatuto que tem causado inúmeras discussões é o artigo 121, §3°, que prevê: “Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos”. Muitos juristas e os setores da sociedade brasileira favoráveis à redução da idade penal afirmam que este dispositivo constitui-se em um incentivo para a prática de delitos penais (atos infracionais, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente), pois três anos de internação é um período deveras ínfimo e não poderia ser considerada uma punição justa e eficaz. Neste contexto, é necessário ressaltar que a redução da maioridade penal não é um consenso entre os juristas da comissão que elaborou o anteprojeto de lei que atualiza o Código Penal. Dessa forma, os eminentes juristas empenhados na construção do texto que pretende atualizar o Código Penal, não chegaram a uma opinião comum se a medida fere ou não uma cláusula pétrea da Constituição Brasileira, logo, insuscetível de alteração. Na opinião do eminente ministro Gilson Dipp342, a idade fixada em 18 anos não se enquadra nas características de uma cláusula pétrea e, portanto, poderá ser modificada mediante emenda constitucional. Na avaliação do douto ministro, cláusulas pétreas dizem respeito ao Estado Brasileiro e não a questões de política criminal. Contudo, na visão do renomado jurista Luiz Flávio Gomes343, a maioridade penal é tema de cláusula pétrea. Ele explicou que diversos assuntos dessa categoria estão espalhados pela própria Constituição Republicana. 2.3. Maioridade penal no direito comparado Uma das mais frutíferas maneiras de analisar o Direito é procurar entender a forma como a ciência jurídica é construída nos diferentes países. Nesta conjuntura, é importante que se compare a maneira como a maioridade penal é estabelecida nos demais países. O Código Penal Italiano fixa a inimputabilidade penal absoluta em catorze anos (artigo 97). O menor de dezoito anos só seria inimputável se fosse provado que o mesmo agiu com o necessário discernimento para a prática do fato típico e ilícito. A Ordenação Francesa de 1945, modificada pela Lei de 24 de maio de 1951, estabeleceu uma legislação especial para os menores de dezoito anos, mas permitiu que se proferisse condenação contra maiores de 13 anos, quando a personalidade do delinqüente assim exigir. Portanto, a lei francesa fixa o tempo máximo da inimputabilidade em 13 anos. De 18 a 21 anos no Sistema Alemão, admite-se o que se convencionou a chamar de sistema de jovens adultos, no qual mesmo após os 18 anos, a depender do discernimento podem ser aplicadas as regras do Sistema Juvenil. Após os 21 anos, a competência é exclusiva da jurisdição penal tradicional. A Noruega fixa a maioridade penal em 14 anos. Neste país, contudo, não há punição na prática de menores de 16 anos e, antes dos 18 anos, se recorram a medidas socioeducativas. É importante também ressaltar como alguns países sul-americanos dispõem sobre a maioridade penal. Neste cenário, a Argentina prevê que aos 16 anos, o indivíduo torna-se imputável. Todavia, assim como no Brasil, a Argentina enfrenta o dilema acerca da redução da maioridade penal. A diferença é que muitos argentinos desejam que a idade penal seja reduzida para 14 anos. De acordo com pesquisas, a insegurança é uma das maiores preocupações do povo argentino, o que leva a inúmeras pessoas a apoiarem a diminuição da idade penal nesse país. Assim como na Argentina, o Chile prevê a maioridade penal aos 16 anos. Por sua vez, Brasil, Colômbia e Peru estabelecem a maioridade penal aos 18 anos. 342
É ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), desde 1998, bem como, ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), desde 2011. É o presidente da Comissão de Juristas com a finalidade de elaborar o anteprojeto do Código Penal. 343 Renomado jurista brasileiro, foi Promotor de Justiça em São Paulo de 1980 a 1983; Juiz de Direito de 1983 a 1998 e advogado de 1999 a 2001. É Secretário Geral do Instituto Panamericano de Política Criminal.
Por fim, cabe salientar a maneira como a legislação dos Estados Unidos prevê a maioridade penal. Nesse país, a idade penal varia conforme a legislação de cada Estado. Apenas 13 Estados fixaram idade mínima, a qual varia entre 6 e 12 anos. Na maioria dos Estados desse país, a legislação se baseia nos usos e costumes locais, dentro do chamado “direito consuetudinário” ou Common Law. Na China, por sua vez, país que vem crescendo em influência mundial nos últimos anos, admite-se a responsabilidade de 14 anos nos casos em que cometem crimes considerados violentos, como homicídio, estupro, roubo, tráfico de drogas, incêndio, envenenamento e outros. Nos demais casos, a responsabilidade penal se dará aos 16 anos. No Japão, país asiático, assim como a China, a maioridade penal é fixada aos 21 anos de idade. Portanto, como é perceptível, a maioridade penal é prevista de diversas maneiras nos demais países. Contudo, é importante destacar que a legislação penal de cada país se encontra relacionada diretamente com a conjuntura socioeconômica local. Neste sentido, é imprescindível avaliar as circunstâncias violentas em que se acha inserida a sociedade brasileira, a fim de que se possa definir qual o melhor caminho a trilhar. 3. O PARADIGMA CONSTITUCIONAL DA MAIORIDADE PENAL FRENTE AO ECA 3.1. Considerações preliminares concernentes à imputabilidade penal Antes de analisar os aspectos constitucionais que tangenciam a questão da redução da maioridade penal, é precípuo analisar o cerne da questão, qual seja, uma das excludentes da imputabilidade penal. A culpabilidade, que consiste no terceiro substrato do crime (além da tipicidade e da ilicitude ou antijuridicidade), possui como elementos a exigibilidade de conduta diversa, a potencial consciência da ilicitude e a imputabilidade. Caso um desses elementos não esteja presente na conduta que desaguou na ocorrência do delito, a culpabilidade não restará provada. A imputabilidade penal, de acordo com o entendimento de Rogério Sanches Cunha, consiste na capacidade de imputação; na possibilidade de se atribuir a alguém a responsabilidade pela prática de determinada infração penal. Dessarte, pode-se concluir que esta é o conjunto de condições pessoais que confere ao sujeito ativo a capacidade de discernimento e compreensão para entender seus atos e posicionarse conforme tal entendimento. O Código Penal brasileiro define imputabilidade à ‘‘contrario sensu’’, ou seja, especificando as hipóteses de inimputabilidade (trata-se de um conceito negativo). Para que se possa depreender a essência da imputabilidade é imprescindível delimitar quais os critérios adotados pelo Estatuto Repressor. Três são os critérios básicos que estabelecem a imputabilidade, a saber, biológico, psicológico e biopsicológico. O critério biológico considera apenas o desenvolvimento mental do agente, independentemente se tinha, no momento da conduta, capacidade de entendimento e autodeterminação. O critério psicológico, por sua vez, analisa apenas se o agente, ao tempo da conduta, tinha capacidade de entendimento e autodeterminação, independentemente de sua condição mental. Por fim, o critério biopsicológico é uma junção dos critérios supracitados, tendo em vista que leva em conta tanto o desenvolvimento mental do agente como sua capacidade de entendimento e autodeterminação no momento da conduta. O Código Penal adotou tanto o critério biológico como o biopsicológico, para regular situações distintas. No que tange à imputabilidade penal em razão da idade do agente, o CP, em seu artigo 27344, adotou o critério biológico. Logo, se um adolescente com 17 anos e 11 meses de idade cometer um estupro, pouco importará sua capacidade de entendimento e de autodeterminação, ou seja, é inimputável. 3.2. Natureza jurídica do artigo 228 da Constituição Federal Feitas tais considerações, é de bom tom delinear os elementos constitucionais que abarcam a polêmica da redução da maioridade penal. Um aspecto fundamental, nesta seara, consiste na divergência sobre a natureza jurídica do artigo 228 da Constituição Federal de 1988. Insta indagar se o mencionado artigo possui a mesma natureza das normas contidas no artigo 5º, CF, direito fundamental, constituindo verdadeira cláusula pétrea ou trata-se apenas de uma regra de política criminal, modulável com o desabrochar da sociedade. 344
Art. 27, CP. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial.
Os direitos fundamentais possuem características que os diferenciam dos demais direitos, quais sejam: relatividade (não existe direito fundamental absoluto); irrenunciabilidade; imprescritibilidade (o fato de o titular de um direito fundamental não exercê-lo não implica na ocorrência de prescrição); indivisibilidade; aplicabilidade imediata (via de regra); universalidade e historicidade. Caso a norma contida no artigo 228, CF/88 seja considerada como direito fundamental, aspecto que será enfrentado adiante, a redução da maioridade penal restaria por inconstitucional, a não ser que uma nova Constituição seja promulgada, tendo em vista que o poder constituinte originário é ilimitado juridicamente. Tal afirmação é tácita, em decorrência da disposição contida no artigo 60, parágrafo 4º, IV, da CF/88345, haja vista que a partir de sua análise, as normas relativas aos direitos fundamentais só poderiam ser alteradas para otimizá-los, conforme o entendimento do Supremo Tribunal Federal. O posicionamento majoritário quanto ao tema é o de que o aludido artigo constitui apenas uma regra de política criminal, o que viabiliza uma possível alteração em sede de maioridade penal. Para que se possa depreender com exatidão tal discussão, faz-se mister conceituar o que vem a ser política criminal. No ensinamento de Zaffaroni (ZAFFARONI, p. 132), esta é “a ciência ou a arte de selecionar os bens (ou direitos) que devem ser tutelados jurídica e penalmente e escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que iludivelmente implica a crítica dos valores e caminhos já eleitos”. Desta forma, pode-se inferir que toda conduta pública que seja tomada para evitar ou reprimir de forma mais satisfatória um delito integra a política criminal de determinado Estado. Logo, entende-se que o dispositivo constitucional em comento é mera regra de política criminal, o que possibilita uma alteração fática quanto ao tema em tela. Até aqui analisa-se apenas a possibilidade jurídica e não o mérito ou possíveis implicações de uma futura redução. Consoante o posicionamento do ilustre constitucionalista Pedro Lenza: “Muito se cogita a respeito da redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos. Para tanto, o instrumento necessário seria uma emenda à CF e, portanto, manifestação do poder constituinte derivado reformador, limitado juridicamente. Neste ponto resta saber: eventual EC que reduzisse, por exemplo, de 18 para 16 anos, a maioridade penal violaria a cláusula pétrea do direito e garantia individual? Embora parte da doutrina assim entenda, a nossa posição é no sentido de ser perfeitamente possível a redução de 18 para 16 anos, uma vez que apenas não se admite a proposta de emenda (PEC) tendente a abolir direito e garantia individual. Isso não significa, como já interpretou o STF, que a matéria não possa ser modificada.” (LENZA, p. 1321, 2013).
Portanto, na seara da possibilidade jurídica não existe óbice. Todavia o que se questiona com grande veemência na doutrina e nos meios midiáticos é o aspecto meritório da medida. Antes de adentrar no mérito da questão é fulcral explicitar as disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente a respeito das infrações cometidas por menores de dezoito anos e as consequentes sanções. 3.3 Compreensão acerca do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal (lei 8.069/1990) que versa sobre os direitos das crianças e dos adolescentes em todo o território nacional, como o próprio nome da lei deixa transparecer. A mencionada lei trata das crianças e adolescentes como titulares de direitos e deveres, sem qualquer distinção no tocante à raça, cor ou classe social, tendo em vista que estes constituem o futuro do país. O ECA possui como nítido escopo a proteção dos menores de dezoito anos, visando proporcionar-lhes um ambiente propício ao desenvolvimento físico, mental, moral e social, tomando como base o princípio da liberdade e, principalmente, o da dignidade da pessoa humana (ambos inseridos no bojo do texto constitucional). Diversos direitos encontram-se consignados no ECA, quais sejam: à vida, à saúde, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária.
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Art. 60, parágrafo 4º. Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: IV- os direitos e garantias individuais.
Para os efeitos da lei, considera-se criança a pessoa de até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela compreendida entre doze e dezoito anos. Excepcionalmente, o estatuto se aplica às pessoas com idade entre dezoito e vinte e um anos. O ECA assevera que é dever de todos prevenir a existência de ameaça ou violência dos direitos das crianças e dos adolescentes. Tal dever não incumbe apenas ao pode público, mas também à família e a sociedade como um todo. Uma das entidades públicas competentes para inspecionar os direitos e deveres das crianças e dos adolescentes é o Conselho Tutelar. Feitas tais considerações genéricas quanto ao ECA e suas atribuições, insta analisar especificamente o que o mencionado Estatuto dispõe acerca das infrações cometidas por menores de dezoito anos. Os crimes que são praticados por adolescentes são chamados de atos infracionais, estes não estão sujeitos à aplicação das penas previstas no Código Penal, mas sim de medidas socioeducativas. Tanto os menores como os responsáveis podem sofrer restrições e, para os casos mais graves, sanções com a prática pelo menor de atos infracionais. É de grande valia aduzir que a conduta prevista como ato infracional sempre estará descrita como crime ou contravenção penal para os imputáveis. Além das medidas socioeducativas, que serão analisadas adiante, o ECA prevê a adoção de medidas aplicáveis nos casos de ameaça ou violação dos direitos previstos no estatuto.346 As medidas protetivas são as seguintes: encaminhamento aos pais ou responsável; orientação, apoio e acompanhamento; matrícula e frequência em estabelecimento de ensino; inclusão em programa de auxílio à família; encaminhamento a tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, abrigo, tratamento toxicológico, e até colocação em família substituta. Tais medidas podem ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa, bem como podem ser substituídas a qualquer tempo. As medidas socioeducativas (previstas no art. 112, ECA)347, por sua vez, são decorrentes da prática de ato infracional e sua intensidade varia de acordo com a capacidade do ofensor, as circunstâncias do fato e gravidade da infração, quais sejam: Advertências: podem ser realizadas de forma verbal, devendo ser reduzida a termo e ser assinada pelos adolescentes e responsáveis, devendo esclarecer acerca do risco de envolvimento em atos infracionais; Obrigação de reparar o dano: em determinadas infrações, o prejuízo da vítima pode ser minorado ou reparado, nestes casos o menor/responsável é obrigado a repará-lo; Prestação de serviços à comunidade: visa conscientizar o menor sobre as irregularidades cometidas, proporcionando a este o desenvolvimento de valores e solidariedade social; Liberdade assistida: profissionais do Juizado da Infância e Juventude (psicólogos e assistentes sociais) atuam em conjunto com a família na busca pela reeducação do infrator; Semiliberdade: constitui medida de média extremidade, haja vista exigir dos infratores o trabalho e estudo durante o dia e restringir sua liberdade durante o período noturno (este deve se recolher em entidade especializada); Internação por tempo indeterminado: medida mais drástica do ECA, tomando-se por base que ocorre uma privação total da liberdade do infrator. É uma medida excepcional, só devendo ser tomada nos casos mais graves. A partir do estudo das disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente observa-se que as medidas destinadas a prevenir, reeducar e ressocializar os menores infratores, em tese seriam aptas a alterar o contexto social vigente, todavia em um país como o Brasil, onde o próprio sistema carcerário encontra-se imerso em gritantes desvios e falhas, tais medidas carecem de efetividade e resultado prático, haja vista o crescente número de infrações cometidas por menores de idade. 04. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Art. 98, ECA. As medidas de proteção à criança e ao adolescentesão aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados: I- por falta ou omissão da sociedade ou do Estado; II – por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; III- em razão de sua conduta. 347 Art. 112, ECA. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I- advertência; IIobrigação de reparar o dano; III- prestação de serviços à comunidade; IV- liberdade assistida; V- inserção em regime de semiliberdade; VI- internação em estabelecimento educacional; VII- qualqueruma das previstas no art. 101, I a VI.
As garantias constitucionais aos menores infratores são consideradas por alguns doutrinadores como direitos fundamentais protegidos por cláusulas pétreas e, portanto, são direitos que não podem ser suprimidos. Entretanto, a maioria dos doutrinadores concorda que a idade mínima de 18 anos como condição de imputabilidade penal não constitui direito fundamental. Desta forma, existe a possibilidade de revisão da disposição constitucional que prevê a maioridade penal se iniciando aos 18 anos de idade. Entretanto, a redução da maioridade penal por meio de lei ordinária fica impossibilitada uma vez que este tipo de lei não pode contrariar a Constituição. A revisão constitucional deve passar pelo processo legislativo especial de Emenda Constitucional oriundo do Poder Constituinte derivado ou, simplesmente, do Poder de Revisão. Isto pode ocorrer porque a Constituição deve se acomodar às novas conjunturas políticas e sociais. Neste sentido, o clamor popular em favor da diminuição da maioridade penal divulgado pela mídia e detectado nas pesquisas citadas é indicativo da necessidade de mudanças em nossa política criminal. Compreendemos que tal mudança na política criminal, está fundamentada, dentre outros motivos, na mudança de crianças e adolescentes da nossa sociedade atual. Devido aos grandes progressos tecnológicos ocorridos no mundo, especialmente nas áreas relacionadas com a divulgação de dados, permitindo acesso rápido e ilimitado à informação, nossas crianças e adolescentes apresentam desenvolvimento intelectual cada vez mais precoce. A justificativa do desenvolvimento precoce de menores foi muito utilizada para a mudança de nossa política eleitoral ao permitir o voto opcional de para adolescentes de 16 a 18 anos. Por outro lado, sabemos que os interesses eleitoreiros em poder desfrutar de mais um reduto de votos tem uma influência mais determinante nesta modificação legal. Analisar o outro lado, na questão polêmica da diminuição da maioridade penal, nos leva a constatar que os adolescentes protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente perderão esta proteção, no caso desta mudança na Constituição se consolidar. Mas, todos estes adolescentes poderiam ser considerados precocemente desenvolvidos? Acreditamos que não, especialmente aqueles em condição de vulnerabilidade social e que mais precisam de proteção legal. Desta forma, entendemos a redução da maioridade penal como um erro, pois joga todos os menores infratores maiores de 16 anos no sistema penal brasileiro. Esta política constitui um crime social gigantesco, uma vez que aumenta o número de adultos marginalizados quando submete ao cárcere, menores com infrações menos graves. Uma das situações mais utilizadas para atacar a maioridade penal aos dezoito anos é o homicídio cometido por adolescente de 16 ou 17 anos. Em tais situações, com a previsão de um período máximo de internação de três anos estabelecida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o que sobra para os amigos e familiares da vítima é um forte o sentimento de impunidade. Desta forma, os adolescentes desta faixa etária, principalmente aqueles que vivem em condição de vulnerabilidade social, acabam por se tornar uma boa opção para serem utilizados como soldados do crime organizado e se tornarem futuros infratores. Entretanto, devemos lembrar que esta disposição do período máximo de internação para menores infratores de três anos está estabelecida no Estatuto da Criança e do Adolescente, que consiste de lei ordinária podendo ser revogada por outra lei similar produzida em um processo legislativo comum. Nesta perspectiva, a revisão da política criminal não encontra obstáculos jurídicos, uma vez que, o aumento do período de internação de menores infratores é perfeitamente modificável por lei infraconstitucional. Nestes casos, com um simples aumento no período de internação através de alteração do estatuto, os anseios por justiça de nossa sociedade poderiam ser satisfeitos. Obstáculos políticos podem emergir quando se considera a falta de efetividade do Estatuto da Criança e do Adolescente em garantir os direitos dos menores de idade. A estrutura administrativa posta à disposição da garantia destes direitos é insuficiente tornando a redução da maioridade a opção mais fácil, rápida e barata. Provavelmente, isto ocorre por que os setores da sociedade mais influentes na definição das políticas públicas não tem interesse em aumentar os esforços para viabilizar a efetivação das disposições do estatuto. Quando se considera uma lei que aumente o período de internação de menores infratores, o interesse passa a ser menor, uma vez que aumenta a responsabilidade desta estrutura administrativa, já considerada insuficiente, posta à disposição de recuperação de crianças e adolescentes.
Por fim, entendemos que as mudanças necessárias em nossa política criminal, não devem passar pela questão da revisão constitucional da maioridade penal. Como medida principal, devemos nos concentrar na efetivação do Estatuto da Criança o do Adolescente, que fornece meios para conduzir a criminalidade infanto-juvenil a um ponto de vista educativo e reformador, não apenas punitivo. Esta efetivação deve passar pelo aumento e organização da estrutura administrativa que trabalha com menores infratores e, até pode passar por uma ou outra modificação do estatuto, mas não pode retroceder jogando menores protegidos na marginalidade. REFERÊNCIAS BRASIL, Constituição Federativa da República do Brasil de 05 de outubro de 1988. BRASIL. Lei n° 8.069/90. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Senado Federal, Brasília, 2011. BRUNO, Anibal. Direito Penal – parte geral. Tomo II. 5. ed. São Paulo: Editora Forense, 2003. CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. 2. ed. São Paulo: Editora Juspodivm, 2014. GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. vol. 1. Tomo I. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. GRECO, Rogério. Curso de Direito penal – parte geral. Vol. 1. 14. ed. Niterói: Editora Impetus, 2012. LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELO, José Henrique. Manual de Direito Pneal brasileiro. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.
O {DELICIOSO} SÃO JOÃO INCORRETO CERES COSTA FERNANDES Ah, poder ser tu, sendo eu! Ter a tua alegre inconsciência, /E a consciência disso!... (Fernando Pessoa) Éramos felizes e não sabíamos. Esta frase, já gasta de tanto uso, certamente já lhe serviu de bordão em algum momento da vida. Eu endosso: só éramos felizes porque não sabíamos. Na contemporaneidade, tudo de bom é proibido, é pecado ou engorda. Com o patrulhamento ideológico, essa trilogia da repressão do miserável ser humano ganha mais uma alternativa atormentadora: é politicamente incorreto É cada vez mais difícil ser feliz. Coisas, consideradas inocentes, tais como empinar papagaio, tocar fogos de artifício, soltar balões, acender fogueiras nas ruas, transmudam-se em crimes hediondos. Linhas de papagaios provocam apagões, morte por eletrocussão e até por seccionamento de carótidas de motoqueiros! Belos e “inocentes” fogos, brincadeiradas crianças de antanho, são os responsáveis pela mutilação de milhares de pessoas! E os balões, vilões maiores, artefatos do demo, incendeiam refinarias e plantações. Os baloeiros, outrora festejados, ocultam-secomo bandidos, para confeccionar seus balões. Se descobertos, serão presos, equiparados a assaltantes à mão armada. A tristeza de ser consciente volta meu olhar para horizontes interiores buscando um lugar e uma época: os festejos de São João do Largo de Santiago, na minha infância. Criança, pude curtir, com os adultos que faziam parte desse mundinho, a alegre inconsciência de ser feliz nas festas juninas. A expectativa emocionada do por vir era parte dos festejos na semana que os antecedia: os fogos que meu pai comprava estrelinhas, chuveiros, vulcões coloridos - guardados para o grande dia, eram conferidos no armário, momento a momento, a ver se realmente lá estavam; o vestido caipira - lindo! -, criação de Maria Costa, era mais que um vestido, semelhava um ser vivo, acariciado dentro do guarda-roupa ou abraçado diante do espelho. E o incomparável frio na barriga ao acompanhar a colocação de bandeirinhas coloridas na rua, liderada pelos dois quitandeiros que demarcavam nosso território, um em cada extremidade do Largo: Zezé Caveira e Seu Guilherme. Na casa de Seu Barbosa, emérito fazedor de papagaios, a mágica oficina dos balões, podia-se acompanhar as etapas da construção de todos eles, cada ano mais sofisticados e a carregar um número maior de lanternas. Chegada do grande dia: o auê dos preparativos finais. Em todas as casas do Largo, as famílias providenciavam mingau-de-milho, manuê, cocadas, canjica. A contribuição infantil era a busca de paus para as fogueiras. Percorríamos todas as áreas vizinhas, até o proibido manguezal, atrás da Fábrica de Gelo, da antiga Fábrica Martins. Tudo pronto. É hora de vestir aroupa de xadrez, pintar a boca de batom (ô, felicidade) e, no jardim, subir na mureta para soltar os ansiados fogos. É dando-se as mãos que se pula a fogueira e a escolha dos pares desperta ciúmes. Comadres e compadres, jurados ali ao pé da fogueira, são para toda a vida. As simpatias de amor aceleram o baticum do coração: uma faca virgem enterrada na bananeira do quintal escreverá o nome do futuro marido, à meia-noite. Diabo é quem tem coragem de ir ao fundo do quintal à meia-noite. Além do que nem bananeiras hána vizinhança. Simpatia mais fácil é escrever o nome do amado em pedacinho de papel e pendurar numa daslanternas do balão - Seu Barbosa deixa - e o recado vai direto para São João. Ai, meu Deus, não deixai cair o balão. È a Hora!. Atravessar a rua até a concentração do lançamento exige destreza: é preciso ir driblando os busca-pés. Há uma trégua para a subida do balão. Supremo êxtase! É em forma de dirigível. Um Zeppelin! Pendurada, vai uma cruz de lanternas levando os recados. O balão sobe até virar uma estrela. Depois desaparece. São João na certa o recolheu. Olho os anúncios coloridos dos jornais. Dança de bois, cacuriá, tambor-de-crioula, barracas de comidas celestiais, e decido: vou aproveitar a festa antes que declarem que a morte do boi é politicamente incorreta. ceresfernandes@superig.com.brAntônio Augusto Ribeiro Brandão 14 min ·
O BRASIL NO SÉCULO XIX ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras.
Nesse período da história aconteceram as transformações que acabaram definindo novos rumos para o Brasil. O primeiro fato significativo registrado no século XIX foi a chegada da família real, em 1808, tangida pelas revoluções napoleônicas prestes a chegar a Portugal. Nos séculos XVI a XVIII torna-se indispensável mencionar o fracasso das Capitanias Hereditárias, quando apenas duas prosperaram; a União Ibérica, tornando obsoletas as normas sobre o Tratado de Tordesilhas; e a Companhia das Índias Ocidentais, a primeira experiência de uma parceria público-privada, que visava a exploração comercial da América. Elevado à categoria de Reino, em 1815, depois transformado em uma Monarquia Parlamentar, em 1821, essas mudanças acabaram resultando nas lutas pela nossa liberdade do jugo português apesar das realizações da Corte, destacando-se a “abertura dos portos para todas as nações”. Um comentário merece ser feito sobre a “influência” indireta que Napoleão Bonaparte teria tido nesses acontecimentos: ao forçar a fuga da família real para o Brasil acabou por proporcionar a atitude de D. Pedro I, Príncipe Regente, em 1822, proclamando a nossa Independência e, entre outras realizações importantes, criando “escolas de Direito nos moldes da Universidade de Coimbra”. “O século XIX foi o período de consolidação da democracia e da economia capitalista, na sua fase chamada de imperialismo”. A democracia, dizia Winston Churchill, é o “melhor de todos os regimes à exceção dos demais”; o capitalismo, que continua altamente concentrador e insuficiente distribuir de renda; e o “imperialismo”, na época beneficiário do fluxo da matéria-prima às indústrias europeias. Os Estados Unidos proclamaram sua independência cem anos antes do Brasil, quando George Washington (1789-1797) lançou um amplo programa estimulando as bases econômicas do país, acelerando o crescimento e ampliando os mercados. Com a região Leste mais ocupada, o incentivo à imigração europeia concorreu para a conquista do Oeste, apesar dos conflitos com os indígenas; os EUA anexaram territórios comprados da França, Espanha e Rússia (1803-1867) e guerrearam com o México, resultando em atuais estados americanos. A guerra da Secessão foi empreendida pela “rica burguesia industrial contra uma elite rural”, que explorava a escravidão. Nesse período pontificou a figura de Abraham Lincoln, presidente dos americanos (1861-1865). Na Europa, confrontavam-se correntes ideológicas: o absolutismo, que tentava restabelecer os privilégios da nobreza; o liberalismo, em sentido contrário e no interesse da classe burguesa, estimulava a implantação de políticas capitalistas; e o socialismo, por decorrência, a defesa dos interesses da classe operária. Nesse contexto destacava-se a Inglaterra. O apoio decisivo da Rainha Vitória (1809-1901) tornou esse país insuperável no mundo de então. A Revolução Industrial, em 1820, trouxe o impacto à economia mundial desde essa época. A Inglaterra já possuía uma infraestrutura propícia à manufatura e gozava de um “enorme mercado de consumo” em virtude principalmente de seu império colonial.
MARCO ZERO: É NECESSÁRIO DETERMINAR? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ348 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física; Mestre em Ciência da Informação
Em reunião da Academia Ludovicense de Letras e a Prefeitura Municipal de São Luis, chegou-se ao acordo que a ALL faria estudos e apresentaria indicação à PML de onde é o marco zero da cidade. Como primeira providencia, a Presidente da ALL, Dra. Dilercy Aragão Adler, constituiu uma Comissão Especial para estudo do assunto: “onde é o marco zero de São Luis?” Além de membros da ALL, foi incluído o IHGM... até o momento, não sei se já se manifestou, indicando um membro da Comissão. Como membro da ALL, fiz algumas consultas na nuvem e repassei o resultado à Presidente, que as encaminhou à Comissão Especial: a Praça Cívica se constitui o marco zero da cidade! [...] a antiga cidadela, que é onde a cidade se inicia que é aquela região da Praça Cívica, onde você tem os poderes constituídos, é o Forte de São Luis, onde está a antiga Casa do Governador, o Palácio dos Leões, a antiga Cadeia que ainda hoje é a intendência Municipal da prefeitura. O Fórum e a Catedral, que é o antigo Colégio dos Jesuítas. Então você tem o poder religioso, o poder judiciário e o político constituído numa praça cívica. Acho que é uma das poucas cidades no Brasil que ainda mantém integra a sua praça cívica, conforme a implantação desde a época da colonização. (SR-IPHAN, 2007, citado por NORONHA, 2015, p 101) 349. No sítio Maranhão Maravilha350 consta ser o Palácio dos Leões o marco zero da cidade. Também no sitio Roteiro Cidade Alta351 consta: O Roteiro Cidade Alta começa pela Praça Dom Pedro II, onde está o forte de São Luís, marco zero da cidade. A Praça foi construída seguindo o modelo de Plaza Mayor, onde se concentram os palácios do governo, da municipalidade, da justiça e episcopal, além de outros edifícios de senhores nobres da época. Em roteiro turístico352, de revista especializada, consta ser a Catedral da Sé o marco zero da cidade: [...] de frente para a Praça D. Pedro II, que concentra a Catedral da Sé e o Palácio dos Leões. A primeira é o marco zero da cidade, cuja fundação se deu em 1629, e que exibe um interior todo barroco. O segundo é a sede administrativa do Governo do Estado, que mantém uma ala daquele enorme casarão aberta para visitação, com mobiliário e objetos da coroa portuguesa, além de um lindo jardim assinado pelo grande paisagista Roberto Burle Marx.
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Publicado em 23/06/2016 no Blog do Leopoldo Vaz, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/06/23/13547/ 349 NORONHA, Raquel Gomes. NO CORAÇÃO DA PRAIA GRANDE: representações sobre a noção de patrimônio na feira da Praia grande x- São Luis – Maranhão. São Luis: EDUFMA, 2015. 350 BLOG MARANHÃO MARAVILHA: Palácio dos Leões - O marco zero da cidade de São Luís. Terça-feira, 25 de agosto de 2009. Disponível em http://maranhaomaravilha.blogspot.com.br/2009/08/palacio-dos-leoes-o-marco-zero-da.html 351 Disponível em https://passeiourbano.com/roteiros-por-sao-luis/roteiro-cidade-alta/ 352 REVISTA VIAJAR PELO MUNDO: O Melhor do Maranhão. Disponível em http://www.revistaviajar.com.br/artigos/675/omelhor-do-maranhao
Também no sítio Portal Vermelho, sobre “O mito da “fundação francesa" de São Luís”, 353encontrase várias posições sobre a fundação da cidade e, destaco a que se refere à primeira missa rezada, pode ser considerado o marco zero, pois segundo Abel Ferreira, (jornal O Estado do MA, 12/09/02) afirma, referindo-se à missa: “Contudo, tal cerimônia ocorreu e, mesmo que não tivesse essa finalidade, pode ser considerada como marco zero, o termo inicial da História de São Luís, especialmente porque não há registro de que os portugueses tenham realizado atos cerimoniosos de fundação da cidade”. (grifos nossos). Eu mesmo, ao me referir a “RIFFAULT, DES VAUX, E DAVI MIGAN - PRÉ-FUNDADORES DE SÃO LUÍS?”354, trago que a colocação do marco zero se dá quando das comemorações do centenário da Independencia355: A proposta - feita pelos Professores Raimundo Lopes, Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva - de um marco comemorativo – projeto de Paula Barros - em que deveriam constar o nome dos fundadores; incluo Migan: O CENTENÁRIO O municipio escolheu o dia 8 de setembro para a sua parte nas festas comemorativas do centenário, por se este o dia da fundação da cidade de S. Luiz, em 1612, pelos francezes comanddos por La Ravardiére. Entre outras homenagens á data, o sr. Coronel prefeito municipal, depois de se entender com os srs. Dr. Antonio Lopes, professor Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva, resolveu inaugurar na Avenida maranhense, em frente à casa do municipio, um marco comemorativo da fundação da cidade, que perpetue o acontecimento e lembre o nome dos fundadores. O projecto, elaborado pelo sr. Paula barros de acordo com as indicações dos professores aciuma, comporta um obelisco de mármore em assente num plinto do mesmo material. Nuima das faces do plinto será gravada a flôr de lis simbolica da França ao tempo da fundação. Na parte oposta, o escudo do Estado. Nas duas outras faces inscripções, sendo uma alusiva a inauguração com a dtata – 8 de setembro de 1922 - e a outra comj os nomes de La ravardiére, Jacques Riffault, Charles des Vaux, Ivres d´Evreux e Claude d´Abbeville, os fundadores de São Luis, e a da -8 de setembro 1612. O marco terá ao todo 5m, 24 de altura. “Diário de São Luís”, de 26 de agosto de 1922
Nesse mesmo documento, trago ainda, publicado em “A Pacotilha’, edição de 26 de agosto de 1922, sobre AS FESTAS DO CENTENÁRIO: Tendo o município escolhido o dia 8 de setembro para as suas homenagens ao centenário da independência nacional esta elaborando um programa para esse dia, do qual sabemos constar a inauguração de um marco comemorativo da fundação da cidade de S. Luis, ocorrida no dia 8 de setembro de 1612. É uma idéia feliz, não há na cidade uma lembrança do feito inicial da vida do Maranhão, essa aventura da frança Equinocial que tanto se individua como episodio á parte na história do Brasil. 353
SOUZA FILHO, Joaquim Costa. O mito da “fundação francesa" de São Luís. In PORTAL VERMELHO, 3 de março de 2012, disponível em http://www.vermelho.org.br/noticia/177043-11 354 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Miganville precede a fundação de São Luis… in BLOG DO LEOPOLDO VAZ sábado, 05 de setembro
de 2015 às 16:56, DISPONÍVEL EM http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/miganville-precede-a-fundacaode-sao-luis/ 355
O CENTENÁRIO, Diário do Maranhão, 26 de agosto de 1922
Sabe-se o dia em que se fundou São Luis, sabe-se que o ato solene da fundação teve lugar na esplanada hoje correspondente á Avenida Maranhense, e não há nada nada na cidade que rememore o seu começo. O marco que isso lembre será um monumento indispensável. O marco comemorativo da fundação da cidade foi encomendado hoje. Executá-lo-á, sob projeto do Sr. Paula Barros, e dentro da brevidade do prazo daqui até 7 de setembro, o marmorarista A. F. Brandão. O projeto consta de um obelisco de mármore que assentará sobre um plinto em cujas faces se lerão uma inscrição alusiva á inauguração, com a data de 8 de setembro de 1922, e outra com os nomes de La Ravardiére, Charles dês Vaux, Claude d´Abbeville e Ives d´Evreux. Nas duas outras faces, a flor de lis simbólica da frança e o escudo do Maranhão. O monumento terá ao todo 5m24. Para comemorar a tomada de são Luis pelos portugueses, ergue-se, remodelada, com a estátua de N. S. da Vitória, a nossa Catedral. Consta, ainda, no Diário de São Luis, de 20 de junho de 1946: HISTÓRIA DOS NOSSOS MONUMENTOS MARCO COMEMORATIVO DA FUNDAÇÃO DA CIDADE Na Avenida Pedro II, praça do tempo da Missão Francesa, foi levantado o “Marco Comemorativo da Fundação da Cidade de S. Luiz”, erigido pelo município, no centenário da independência nacional, a 8 de setembro de 1612. Sobre uma base tosca de pedras do Estado foi assentado uma prisma retangular revestido de mármore, ao cimo do qual descança uma pirâmide de granito maranhense, levantada por garras da mesma pedra. Numa face do pedestal foram gravados os nomes das proeminentes figuras da missão: Charles de Vaux, Rasilly, La Ravardiére, Ives d´Evreux, Claude d´Abbeville – 8 de setembro de 1612. A PACOTILHA, 26 de agosto de 1922
É Des Vaux quem negocia o local onde seria instalado o forte e o convento dos religiosos, nas colinas desocupadas, onde não se encontravam instalados os primitivos habitantes356: […] O padre Abbeville enumera no seu livro 27 aldeias dos Tupinambás, explica a situação geográfica de todas elas, dá todos os nomes, conta o número de habitantes de cda uma; mas o livro não contem qualquer noticia a respeito da situação da cidade de S. Luis. Em vão procuramos alguma indicação a respeito das colinas onde foi construído o forte e onde estavam as habitações dos antigos moradores. Ele narra que, na sua chegada, o francês Dês Vaux tratou longamente com o “príncipe” da ilha e com os outros principais, para lhe cederem eles um pequeno terreno, onde pudessem fazer o forte, e entregassem a metade da colina de Santo Antonio, para nela fundar um estabelecimento religioso. Os chefes dos índios cederam esses dois pontos, que não estavam ocupados. Mas isso quer dizer, que as outras partes do território, onde está hoje S. Luis, eram ocupadas pelos antigos habitantes. (PINTO, 1927) 357.
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Miganville precede a fundação de São Luis… in BLOG DO LEOPOLDO VAZ sábado, 05 de setembro de 2015 às 16:56, DISPONÍVEL EM http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/miganville-precede-a-fundacaode-sao-luis/ 357
PINTO, Fulgêncio. Um conto de natal. In A Pacotilha”, de 25 de novembro de 1927
O PRIMEIRO SÃO JOÃO ANTONIO NOBERTO Turismólogo e membro-fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL Publicado em O Imparcial, 24 de junho de 2016
Quem vê a alegria e a riqueza do São João do Maranhão dos dias atuais, não imagina o quanto foi diferente da primeira vez que os maranhenses se manifestaram e se apresentaram para o mundo no dia de São João, fato ocorrido no dia 24 de junho de 1613, em Paris. O período junino é uma herança que nos orgulha e enche os nossos olhos, além de um convite ao visitante para ver de perto as manifestações, o colorido das indumentárias, a alegria contagiante e a degustação de uma das mais ricas culinárias. A diversidade de ritmos, sotaques e sons do bumba-meu-boi; as danças e a percussão do tambor de crioula, recentemente contemplado como patrimônio cultural imaterial brasileiro; o cacuriá; as quadrilhas; a dança do Coco; a dança do Lelê e várias outras revelam a diversidade e a riqueza cultural deste estado que já foi pioneiro, muito empreendedor e, consequentemente, um dos cinco mais ricos e importantes do Brasil nos anos mil e oitocentos. O primeiro São João maranhense não teve a marca da irreverência das manifestações populares atuais, mas a pompa do luxo e da homenagem à realeza. Isso aconteceu quando os tupinambás do Maranhão foram enviados à corte francesa por Daniel de La Touche e conduzidos pelo Lugar Tenente-General Francisco de Razilly, primo do futuro cardeal de Richelieu e pelos frades capuchinhos. A cerimônia aconteceu no dia de São João de 1613 no então Palácio do Louvre, hoje o maior museu do mundo. Os anais dos antecedentes daquele memorável cenário nos mostram uma colônia recém iniciada no Maranhão, que precisava do apoio da coroa francesa para se manter viva e cumprir os objetivos propostos pelas lideranças. Para conseguir os resultados era preciso demonstração do que por aqui se passava, e isto demandava mais do que palavras e documentos, era preciso mostrar à corte a evolução da colônia no norte do Brasil e celebrar definitivamente o pacto da aliança franco-maranhense. Os chefes da colônia conheciam muito bem a máxima do marketing: uma imagem vale mais que mil palavras. E eles o fizeram com maestria. Levaram um nativo de cada região da França Equinocial, que começava no Ceará e se estendia até o Pará. Dos sete índios que foram levados à França três morreram, provavelmente, vítimas do frio boreal e de infecção pulmonar. São eles Caripira (entre 60 e 70 anos de idade) era da nação dos Tabajaras vindos da Serra Grande. Respeitado guerreiro, venceu mais de 20 batalhas. Viajou à França recomendado pelos seus pares de Uçaguaba (atual Vinhais Velho). Recebeu o nome cristão de François (Francisco). Foi o primeiro dos três índios a morrer em solo gaulês e foi enterrado no convento dos Capuchinhos, em Paris. Patuá (15 a 16 anos), originário da Ilha Grande, onde seu pai era um dos principais. Adoeceu no mesmo dia da morte de Caripira. Faleceu após 8 dias de febre. Batizado Jacques (Tiago) por pedido do Senhor Du Perron. Faleceu no dia 06 de maio de 1613. Manén (20 a 22 anos). Natural da “terra dos Cabelos Compridos – vizinha do Amazonas – que habitavam a oeste, ao longo de um bonito rio chamado Pará”. Recebeu nome de batismo de Anthoine (Antonio), por sugestão do senhor Beauvais Nangis. Outros três tiveram melhor sorte, pois além de sobreviverem e participarem da solenidade do dia de São João prestando honras ao rei menino Luís XIII e à rainha regente, receberam vestes e presentes reais, casaram-se com mulheres francesas e retornaram com toda pompa ao Maranhão. Eles foram batizados com nomes franceses e receberam o nome do rei, Luís. Itapucu “Barra de ferro” (38 anos, aproximadamente). Natural da Ibiapaba. O pai dele era o principal de Caietê. A partir da viagem exploratória de Daniel de La Touche às Guianas, em 1604, passou a viver como um verdadeiro aventureiro francês, cruzando o Atlântico várias vezes em direção à Europa. Itapucu fez brilhante discurso diante do rei Luís XIII, quando do imortalizado evento do dia 24 de junho. Segundo Abbeville, este nativo era um dos “melhores instrumentos na conversão dos seus semelhantes”. Recebeu o nome cristão de Louis Marie. Uaroio (22 anos). Natural do Mucuripe (hoje Fortaleza), onde o pai Uirao Pinobonich “Pássaro azul sem penas na cabeça” era o principal de sua aldeia. Tinha a pele mais clara que os demais índios, de rosto “mais parecido ao de um francês do que ao de um selvagem”. Recebeu o nome cristão de Louis Henri. Japuaí (perto de 22 anos). Natural da Ilha Grande. Filho de Tangará “Casca de Ostra”. Foi batizado com o nome cristão de Luís de São João, por ter sido batizado no dia 24, dia de São João. Um quarto índio, um tapuia chamado Pirauauá (Luís Francisco), de 12 anos, escravo dos tupinambás da Ilha Grande, ficou na França “empregado nos serviços do rei”.
A partida da Ilha Grande aconteceu no dia 1º de dezembro de 1612. La Touche e o frei Arsênio de Paris acompanharam a embarcação que levava os tupinambás até o dia 8, quando retornaram para São Luís após despedidas, lágrimas e um tiro de canhão disparado pela embarcação da missão, que chegou em Paris no dia 12 de abril de 1613 e logo eternizada pelo famoso poeta Francisco de Malherbe. Era tão grande a multidão querendo ver os nativos que os padres tiveram que fechar as portas do convento. Segundo o padre Claudio de Abbeville “moveu-se toda a cidade de Paris, mostrando-se todos contentes”, afluindo para o convento franciscano da Rua de Santo Honorato. Vinha gente distante vinte léguas para ver e participar daquele momento onde os nativos da nova colônia francesa no Brasil se tornaram a grande novidade. Depois disto o senhor de Razilly os conduziu ao Louvre para a grande cerimônia. A seleção de convidados foi rigorosa a ponto de muitas pessoas importantes da corte francesa terem sido impedidas de participar. O cenário majestoso e bem iluminado do salão real, o teto alto, as paredes com toda sorte de quadros e gravuras francesas, flamencas, italianas, os móveis, as louças, os enfeites, e uma turba de cortesãos e curiosos, tudo isso não chegou a intimidar o trio nativo. O mais fluente deles, Itapocu, em nome dos maranhenses, proferiu ao rei um belo discurso que a todos encantou. A cena do batismo passou para a história imortalizada pelas mãos de Frans Pourbus - o Jovem, de Antuérpia, um dos maiores pintores da Europa daquele início de século. A primeira comemoração de São João por maranhenses pode não ter sido uma festa popular nos moldes atuais, mas sem dúvida não poderia ter sido mais deslumbrante e majestosa. Muito provavelmente nenhum outro fato na história francesa tenha tido tanto protagonismo e badalação de maranhenses quanto o que ocorreu naquele 24 de junho de 1613. Ao menos, foi o evento mais documentado e imortalizado de todos os tempos. Apenas no século dezenove é que soprariam os bons ventos da terra das palmeiras, com Gonçalves Dias e outros escritores e poetas. Seguir o exemplo de outras gerações de maranhenses, que desprendidas de xenofobias e preconceitos, com um norte definido e sempre olhando para o progresso, souberam produzir e fazer do Maranhão e, principalmente da sua capital, um lugar destacado e empreendedor, onde a riqueza, o conhecimento e a civilidade coexistiam e se congraçavam, esse parece ser um dos nossos grandes desafios.
MARCO ZERO – UMA PROPOSTA... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Publiquei (23/06/2016) em meu Blog358 artigo em que questionava a ‘missão’ da Academia Ludovicense de Letras – ALL - dada pela Prefeitura Municipal de São Luis – PMSL – na última reunião entre a Presidente da ALL e comissão e o Prefeito de São Luis. Naquela ocasião, o Sr. Prefeito Municipal encarregou a ALL em emitir parecer acerca do ‘marco zero’ da cidade. “Marco zero é o nome que se dá ao local de fundação de uma cidade” 359. Já definido desde 1992, quando das comemorações do 1º Centenário da Independência por proposta feita pelos Professores Raimundo Lopes, Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva, e projeto de Paula Barros: [...] Entre outras homenagens á data, o sr. Coronel prefeito municipal, depois de se entender com os srs. Dr. Antonio Lopes, professor Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva, resolveu inaugurar na Avenida maranhense, em frente à casa do municipio, um marco comemorativo da fundação da cidade, que perpetue o acontecimento e lembre o nome dos fundadores. (O CENTENÁRIO, “Diário de São Luís”, de 26 de agosto de 1922). Ao se decidir pela colocação de um monumento que lembrasse a fundação da cidade – o marco zero , em “A Pacotilha’, edição de 26 de agosto de 1922, sobre AS FESTAS DO CENTENÁRIO, consta: Sabe-se o dia em que se fundou São Luis, sabe-se que o ato solene da fundação teve lugar na esplanada hoje correspondente á Avenida Maranhense, e não há nada, nada, na cidade que rememore o seu começo. O marco que isso lembre será um monumento indispensável. O marco comemorativo da fundação da cidade foi encomendado hoje. Executá-lo-á, sob projeto do Sr. Paula Barros, e dentro da brevidade do prazo daqui até 7 de setembro, o marmorarista A. F. Brandão. O projeto consta de um obelisco de mármore que assentará sobre um plinto em cujas faces se lerão uma inscrição alusiva á inauguração, com a data de 8 de setembro de 1922, e outra com os nomes de La Ravardiére, Charles dês Vaux, Claude d´Abbeville e Ives d´Evreux. Nas duas outras faces, a flor de lis simbólica da França e o escudo do Maranhão. O monumento terá ao todo 5m24. No “Diário de São Luis”, edição de 20 de junho de 1946, é artigo – de uma série em que se procurava resgatar os nossos munumentos -, descrevendo o marco comemorativo da fundação da cidade, e a sua localização: Na Avenida Pedro II, praça do tempo da Missão Francesa, foi levantado o “Marco Comemorativo da Fundação da Cidade de S. Luiz”, erigido pelo município, no centenário da independência nacional, a 8 de setembro de 1612. Sobre uma base tosca de pedras do Estado foi assentado uma prisma retangular revestido de mármore, ao cimo do qual descança uma pirâmide de granito maranhense, levantada por garras da mesma pedra. Numa face do pedestal foram gravados os nomes das proeminentes figuras da missão: Charles de Vaux, Rasilly, La Ravardiére, Ives d´Evreux, Claude d´Abbeville – 8 de setembro de 1612.
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Marco zero – é necessário determinar? In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, quinta-feira, 23 de junho de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/06/23/13547/ 359 https://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_zero
Há quem vá estranhar a presença de Jacques Riffault e Charles dês Vaux dentre os fundadores esquecidos de São Luis. Mas quem conhece a verdadeira história da fundação da colônia francesa em terras maranhenses, os nomes são familiares. Daí, já que é para apresentar uma proposta de localização do marco zero de fundação da cidade, proponho ser o largo da Igreja de São João Batista de Vinhais!!! Como se vê das publicações quando do 1º centenário de nossa Independência, Riffault e dês Vaux são considerados fundadores – ou co-fundadores -, ou mesmo pré-fundadores360 de São Luis. Em seu último livro o Embaixador Vasco Mariz361 fala-nos da tríplice fundação do Rio de Janeiro: Villegagnon362, Mem de Sá, e Estácio de Sá, este considerado o fundador. Mas antes do marco fixado em 1º de março de 1565, quando considerada oficialmente fundada a cidade, duas outras ocupações urbanas existiram, sendo a primeira delas a chamada Henriville, que se situava em terra firme – na atual Praia do Flamengo -, em frente à ilha de Serigipe, onde estabeleceu o Forte Coligny363. Mariz (2015) afirma ainda que aquela vila tivesse vida efêmera, resistindo pouco mais de quatro anos, não chegando a ser uma verdadeira cidade, constituída administrativamente. Jean de Léry negou até sua existência. Era apenas um conjunto de casas de frágil construção com um plano inicial de urbanismo. Estava localizada entre o rio Carioca e o morro da Glória, e lá havia sessenta franceses, renegados normandos e indígenas; em março de 1560 a esquadra de Mem de Sá cercou a ilha de Serigipe e a bombardeou, e, em seguida comete o erro de destruir completamente a pequena povoação364. Max Justo Guedes considera Villegagnon como o pré-fundador do Rio de Janeiro, embora alguns historiadores discordem da classificação de gênero pré. (MARIZ, 2015, p. 71). Arno Wehling lembra que a cidade de Buenos Aires tambem teve dois fundadores: Pedro de Mendoza, em 1536, com uma efemera instalação (tal como Henriville...), e Juan de Garay, em 1580 (MARIZ, 2015, p. 71). Tanto o Rio de Janeiro quanto Buenos Aires tiveram dois fundadores, conforme interpretação de Evaldo Cabral de Melo. Elysio Belchior considera Henriville apenas o embrião de uma cidade que não veio a ser. Alguns historiadores julgam que Vilegagnon não pode ser considerdo o fundador porque não houve continuidade na implantação (MARIZ, 2015, p. 71). No livro de Thevet365 há dois mapas onde está assinalada claramente a localização da aldeia de Henriville. Quando os franceses foram lançados do Rio de Janeiro (1567) passaram para Cabo Frio e daí para o Rio Real, entre Bahia e Sergipe. Escorraçados dessas paragens, procuraram se estabelecer nas costas da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Dentre os corsários que estiveram por esses lados, estava Jacques Riffault que, com o passar do tempo, o local onde ancorava a sua nau, no Potengi, passou a ser chamado de Refoles ou mesmo Rifoles366. Jacques Riffault negociou madeiras, como o pau brasil, que existia em abundância na margem esquerda do rio Potengi e, principalmente pelo lado direito onde havia a chamada Mata Atlântica. Levaram madeiras do Rio Grande do Norte e até do Rio de Janeiro. Na hoje Natal, a boa amizade com que Riffault tratava os índios, dava-se à falta de colonização efetiva do território. Só no final do século XVI os portugueses se armaram e expulsaram os franceses de Natal - que nem tinha ainda esse nome. A conquista do Norte foi uma operação de limpeza contra franceses que queriam
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Miganville precede a fundação de São Luis… in BLOG DO LEOPOLDO VAZ sábado, 05 de setembro de 2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/miganville-precede-a-fundacao-de-saoluis/
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MARIZ, Vasco. PELOS CAMINHOS DA HISTÓRIA – nos bastidores do Brasil Colônia, Império e República. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. 362 https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolas_Durand_de_Villegagnon 363 MARIZ, Vasco. A fundação do Rio de Janeiro - Henriville existiu? Conferência sobre a existência da primitiva povoação francesa na baía de Guanabara que antecedeu a fundação da cidade do Rio de Janeiro pelos portugueses. In IHGB: 13 de Março 2014, às 15 horas. http://www.ihgrj.org.br/agenda.html 364 MARIZ, Vasco. A fundação do Rio de Janeiro. Nem Villegagnon nem Estácio de Sá: Mem de Sá. In MARIZ, Vasco. PELOS CAMINHOS DA HISTÓRIA – nos bastidores do Brasil Colônia, Império e República. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015, p. 69-84 365 https://pt.wikipedia.org/wiki/Les_singularitez_de_la_France_Antarctique 366 http://pt.wikipedia.org/wiki/Invas%C3%B5es_francesas_do_Brasil
fixar-se nestas partes da América. Com a retomada do Rio Grande, que já se fazia até no interior do Estado, Portugal passou a também perseguir os franceses do território do Maranhão367. Jacques Riffault, Charles des Vaux, David Migan368, e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas369. Este abandono fez o historiador maranhense João Lisboa declarar no livro Jornal do Tímon que os franceses não invadiram o Maranhão. Eles ocuparam uma terra vaga, desabitada, e que os donatários régios de Portugal e Espanha estavam sujeitos às penas de comisso, pois já se passara mais de um século sem as terras terem sido ocupadas. O comércio corsário atingia, porém, o seu ponto máximo. Não podiam voltar atrás. Expulsos da Paraíba e do Rio Grande foram mais para o Norte370: Em princípio do século XVII estabeleceram-se no Maranhão Jacques Riffault e Charles des Vaux, que haviam desembarcado em 1594, na aldêa de! São Luis, onde, obtendo a amisade do gentio, fundaram uma colonia. De regresso á França, expoz Charles des Vaux ao rei Henrique IV seu plano de ali fundar uma grande colonia francesa, já que se haviam frustrado as tentativas anteriores, desde as de Villegagnon. Mandou então Henrique IV ao Maranhão Daniel de Ia Touche, senhor de La Ravardíere, que voltando á França, opinou pela execução do plano, cujas possibilidades estudou no proprio local.371(Grifo nosso).
Antes mesmo da fundação da França Equinocial os colonos luso-brasileiros se haviam lançado à conquista do Ceará, etapa da conquista do Maranhão, quartel-general dos franceses. Os portugueses (e espanhóis) resolveram atacá-los. De passagem, porém, deveriam conquistar o Ceará. Caso contrário, ficariam dominados, de Sul a Norte, até Rio Grande. Um vazio depois, em que os selvagens poderiam armar-se e lutar. O Maranhão ficaria isolado. A unidade estaria quebrada. Em 1590, Jacques Riffault, depois de Natal, veio para São Luis, no Maranhão. É dele a primeira idéia de ocupação do Maranhão. Em 1594, animado pelas boas relações que mantinha com o chefe selvagem Uirapive, se associou a outros aventureiros, e, com meios suficientes, recrutou e veio para o Brasil em três navios, aportando no Maranhão, longe do local do objetivo inicial, mas decidiu fixar-se ali como base de partida para outras incursões ao longo do litoral brasileiro372. Sua estada na região do Maranhão tinha começado por um acidente: já fazia viagens regulares à região havia alguns anos, e perdera ali um de seus navios e fora obrigado a deixar parte de sua tripulação. De acordo com o sitio “NAUFRÁGIOS NO BRASIL/MARANHÃO” consta que o naufrágio da nau de Jacques Riffault se deu em 1590373. Para Bueno (2012) 374, Riffault - em 1593 -, retornando à França depois de ter inspecionado a então denominada ilha do Maranhão, conseguiu convencer um rico cavalheiro francês, Charles de Vaux, a investir seu dinheiro numa expedição colonizadora. Em 15 de março de 1594, Riffault e Des Vaux partiram para o 367
Alderico Leandro, in http://nataldeontem.blogspot.com.br/2009/02/jacques-riffault-refoles.html, acessado em 25]/07/2015 natural de Vienne, no Delfinado, 369 BONICHON, Philippe; e GUEDES, Max Justo. “A França Equinocial”. In. História Naval Brasileira, primeiro volume, tomo I. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 1975 BITTENCOURT, Armando de Senna; LOUREIRO, Marcello José Gomes; RESTIER JUNIOR, Renato Jorge Paranhos. Jerônimo de Albuquerque e o comando da força naval contra os franceses no Maranhão. NAVIGATOR 13, P. 76-84 370 http://www.ebah.com.br/content/ABAAAgDqMAG/historia-rio-grande-norte?part=6 371 FLEIUSS, Max. OS FRANCESES NO MARANHÃO, SUA RECONQUISTA PELOS PORTUGUESES. SARNEY, José; COSTA, Pedro. AMAPÁ: A TERRA ONDE O BRASIL COMEÇA. Brasilia: Senado Federal, 1999 372 INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E MARANHÃO http://www.ahimtb.org.br/confliext2.htm DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII. Horiz. antropol. [online]. 2004, vol.10, n.22, p. 67-92. ISSN 0104-7183. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832004000200004&script=sci_arttext SILVA, Paulo Napoleão Nogueira da. A FRANÇA NO BRASIL. 373 “NAUFRÁGIOS do BRASIL MARANHÃO” http://www.naufragiosdobrasil.com.br/maranhao.htm https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o 374 BUENO, Eduardo. BRASIL, uma História. 2ª reimpressão. Rio de Janeiro: Leya, 2012 368
Maranhão, com cerca de 150 colonos e soldados a bordo de três navios. Um naufrágio e uma série de outras dificuldades fizeram fracassar a empresa (p. 84). Desse naufrágio, os tripulantes de dois navios franceses, dos três que formavam a frota de Jacques Riffault, ficaram perdidos na ilha de Santana, e conviveram pacificamente com os índios Tupinambás. Des Vaux foi um dos que ficaram com a gente de Uirapive – chefe tupi com quem Riffault tinha selado aliança375. Aqui desembarcados, fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas” 376. Charles Des Vaux aprendeu a língua dos índios e prometeu trazer-lhes outros franceses para governálos e defendê-los. De volta à França, Des Vaux conseguiu do rei Henrique IV que Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, o acompanhasse ao Maranhão, para verificar as maravilhas que lhe narrara, e prometeu-lhe a conquista da nova terra para a França.377 A segunda invasão acontece no Maranhão, a partir de 1594. Depois de naufragar na costa maranhense, os aventureiros Jacques Riffault e Charles des Vaux estabelecem-se na região. Diante do lucro obtido com o escambo, conseguem o apoio do governo francês para a criação de uma colônia, a França Equinocial. Em 1612, uma expedição chefiada por Daniel de la Touche desembarca no Brasil centenas de colonos, constrói casas e igrejas e levanta o forte de São Luís, origem da cidade de São Luís do Maranhão.378
Para Rubem Almeida (Diário de São Luis, 28 de julho de 1923 - No decorrer de 424 anos – ligeira synthese histórica do Maranhão), esta se constitui a terceira etapa da conquista do Maranhão: É esta a 2ª etapa – a das tentativas mallogradas para sua colonização, (1539 – 1594). Mais afortunado, porém, foi o francês Riffault, a quem as próprias tempestades – diz-se – aos portugueses tão inimigas, vieram atirar ao littoral onde dominava a forte nação Tupinambás, iniciando assim, a terceira etapa – a do Maranhão preza que franceses, hollandezes e verdadeiros donos vão disputar... É daí, parece-nos razoável affirmar, que verdadeiramente começamos a ter história. A colionização é obra, ora de leigos, fidalgos alguns como Ravardiére, piratas outros,como dês Vaux, ora de missionários que se entregam à catechese. A "ilha de Maranhão", como chamavam os franceses, e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. Quando, em 1612, os primeiros contatos com os capuchinhos foram estabelecidos, os índios ainda se lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: "Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada na região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […]" (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 379. Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 380 cita outras narrativas concordantes com a de Claude d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi. 375
http://pinheiroempauta.blogspot.com.br/2012/09/distribuicao-das-sesmarias-em-cuma.html http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.a-conquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia 377 http://planeta-brasil-turismo.blogspot.com.br/2010/05/maranhao-historia.html 376
378
A invasão francesa no Maranhão. http://deywison3d.blogspot.com.br/2009/04/invasao-francesa-no-maranhao.html
379 DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 380 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927m citado por DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004
Mas para os seus planos de Riffault e Des Vaux, um simples estabelecimento não significava grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial.381 Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia). É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville. Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de agosto de 1612 vêem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard, e também estavam Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada – desde 1594! - dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur e Dieppe; o Duque de Buckigham e o conde de Pembroke e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos. Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1968, p. 34) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz, cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno durante a trégua de 1614. O autor chama atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola: “[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornouse morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville [...].(NOBERTO SILVA, 2011).
Continuemos com Noberto Silva (2011)382: [...] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan.
Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste (atual Camocim) 383 -, – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe, de 381
HISTÓRIA DO MARANHÃO http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_do_Maranh%C3%A3o FRANÇA EQUINOCIAL http://www.coladaweb.com/historia-do-brasil/franca-equinocial BANDECCHI, Brasil OCUPAÇÃO DO LITORAL. A CONQUISTA DO NORTE E A PENETRAÇÃO DA AMAZÔNIA. http://www.consciencia.org/ocupacao-do-litoral.a-conquista-do-norte-e-a-penetracao-da-amazonia-historia 382 http://www.netoferreira.com.br/poder/2011/11/o-maranhao-frances-sempre-foi-forte-e-lider/ 383 Não seria POTE -
La Rochelle e de Saint Malo. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34) traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil384. Riffault fora buscar recursos e permissão na Europa, partindo para a França, divulgando as grandes riquezas da terra e facilidades de conquista. Charles Des Vaux ficara em terra conquistando a confiança dos tupinambás, para aprender a sua língua. A falta de notícias de Riffault fez com que Charles fosse ter com Henrique IV, que então reinava na França, e lhe expusesse o desejo que tinham, não de manter um estabelecimento, mas de fundar uma verdadeira colônia francesa no Brasil. A exposição interessou ao Rei que determinou a Daniel de La Touche, senhor de Ravardière, oficial da Marinha, viesse para constatar as possibilidades da realização dos planos que acabavam de lhe ser expostos. La Touche, aqui chegando, entusiasmou-se com a empresa e com ele Des Vaux, retornou à França para obter o apoio oficial e decisivo. Henrique IV havia falecido e, como seu sucessor Luís XIII era menor, governava, como Regente, Maria de Médici, que logo apoiou a idéia e sob sua proteção determinou que se tomassem as iniciativas para concretizar os planos de uma posse definitiva e sólida no Maranhão. Daniel de La Touche, senhor de Ravardière, associa-se a outros comerciantes abastados, como Nicolas de Harlay e François de Razily. A concessão dada pela Rainha-mãe o fora pela promessa de catequizarem o gentio, trazendo em, 1612, quatro frades capuchinhos (Yves DÈvreux, Claude dÀbbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio de Amiens) e de anexarem à França o território conquistado, com a ajuda dos tupinambás, sob a denominação de França Equinocial. Ana Luiza Almeida Ferro (2012, 2014) 385; e Ferro e Ferro (2012) 386 diz que La Ravardière não fundou sozinho São Luís: O cofundador da cidade, a quem esta, na verdade, deve o nome, foi o Senhor de Razilly, de Oiseaumelle e de Vaux-en-Cuon, nascido em 1578, originário da região de Touraine. Já na cerimônia de 1º de novembro de 1612 – de afirmação da autoridade da Coroa francesa e cunho especificamente político e complementar àquela de 8 de setembro –, em que os indígenas chantaram o estandarte real, contendo as armas da França, junto da cruz anteriormente cravada no solo da Ilha do Maranhão, o mesmo personagem e seu sócio La Touche decretaram as importantíssimas Leis Fundamentais da França Equinocial, marco legal pioneiro de manifestação de natureza constituinte elaborada nas Américas. Foi ainda o almirante Razilly quem, de volta à França, salvou da destruição um ou mais exemplares, não obstante o desaparecimento de algumas partes, da obra Seguimento da História das coisas mais memoráveis, ocorridas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614, de Yves d’Évreux, cuja publicação fora autorizada em 1615 para, logo em seguida, ser abortada. E, todavia, François de Razilly é o fundador esquecido de São Luís. 384
MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982
385
FERRO Ana Luiza Almeida. “O fundador esquecido”, Jornal O Estado do Maranhão, 9 set. 2012; FERRO Ana Luiza Almeida. “O fundador esquecido II”, jornal O ESTADO DO MARANHÃO, 8 set. 2012; FERRO Ana Luiza Almeida. 1612 – os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luis. Curitiba: Juruá, 2014 FERRO Ana Luiza Almeida . O fundador esquecido. In ALL EM REVISTA, vol.1, n. 3, julho a setembro de 2014, disponível em ISSUU - All em revista vol 1, n 3, julho setembro 2014 by . FERRO Ana Luiza Almeida . O fundador esquecido. BLOG DO IHGM, São Luis, quarta-feira, 10 de setembro de 2014, disponívl em In http://ihgm1.blogspot.com.br/2014/09/o-fundador-esquecido-iii.html 386
FERRO Ana Luiza Almeida; FERRO, Wilson Pires. “São Luís, herdeira da França Equinocial”, jornal O IMPARCIAL, 8 set. 2012.
Em 1614, na célebre batalha de Guaxenduba, os franceses comandados por De Pizieuz foram fragorosamente derrotados, apesar da superioridade numérica (quase 500 homens) e bélica, sendo mortos 115 franceses e aprisionados nove. A partir da França Equinocial o Maranhão passou compreender parte do Ceará (desde o Buraco das Tartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Ceará e o Grão-Pará. Tal divisão era praticamente igual aos limites extra-oficiais do empreendimento capitaneado por La Ravardière, conquistado por Riffault, Des Vaux, e Davi Migan... A hoje Vila Velha de Vinhais é ocupada desde tempos imemoriais por Tremembés, depois pelos Tupinambás, e antes, povos dos sambaquis (BANDEIRA, 2013) 387·. Depois, em 1594, vieram os franceses Riffault, Des Vaux, e Davi Migan... E fundaram Miganville, primeira povoação ocupada continuamente desde então, na grande ilha do Maranhão.
Fonte: PIANZOLA, 1968, p. 34
387
BANDEIRA, Arkley Marques. VINHAIS VELHO – Arqueologia, História e Memória. São Luis: Ed. Foto Edgar Rocha, 2013.
Corroboram a afirmativa da existencia de outros fundadores – além de LaTouche – as discussões em torno de comemorações do aniversário de São Luís, ocorrida no inicio do século passado, conforme publicação dos jornais “Diário de São Luís”, e “A Pacotilha”, de 26 de agosto de 1922. A proposta - feita pelos Professores Raimundo Lopes, Ribeiro do Amaral e Raimundo Silva - de um marco comemorativo – projeto de Paula Barros - em que deveriam constar o nome dos fundadores. Incluo Migan: O projecto, elaborado pelo sr. Paula barros de acordo com as indicações dos professores aciuma, comporta um obelisco de mármore em assente num plinto do mesmo material. Nuima das faces do plinto será gravada a flôr de lis simbolica da França ao tempo da fundação. Na parte oposta, o escudo do Estado. Nas duas outras faces inscripções, sendo uma alusiva a inauguração com a dtata – 8 de setembro de 1922 - e a outra com os nomes de La Ravardiére, Jacques Riffault, Charles des Vaux, Ivres d´Evreux e Claude d´Abbeville, os fundadores de São Luis, e a da - 8 de setembro 1612. (“O CENTENÁRIO”, in “Diário de São Luís”, de 26 de agosto de 1922, grifos meus) É Des Vaux quem negocia o local onde seria instalado o forte e o convento dos religiosos, nas colinas desocupadas, onde não se encontravam instalados os primitivos habitantes388: […] O padre Abbeville enumera no seu livro 27 aldeias dos Tupinambás, explica a situação geográfica de todas elas, dá todos os nomes, conta o número de habitantes de cda uma; mas o livro não contem qualquer noticia a respeito da situação da cidade de S. Luis. Em vão procuramos alguma indicação a respeito das colinas onde foi construído o forte e onde estavam as habitações dos antigos moradores. Ele narra que, na sua chegada, o francês Dês Vaux tratou longamente com o “príncipe” da ilha e com os outros principais, para lhe cederem eles um pequeno terreno, onde pudessem fazer o forte, e entregassem a metade da colina de Santo Antonio, para nela fundar um estabelecimento religioso. Os chefes dos índios cederam esses dois pontos, que não estavam ocupados. Mas isso quer dizer, que as outras partes do território, onde está hoje S. Luis, eram ocupadas pelos antigos habitantes. (PINTO, 1927) 389.
PINTO, Fulgêncio. In A Pacotilha, São Luis, 27 de novembro de 1927
"Des Vaux e Migan desempenham papéis tão ou mais vitais para a França Equinocial quanto alguém como La Ravardière, personagem que a historiografia optou por reter". (PERRONE-MOISÉS, 2013) 390.
388
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Miganville precede a fundação de São Luis… in BLOG DO LEOPOLDO VAZ, sábado, 05 de setembro de 2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/miganville-precede-a-fundacao-de-sao-luis/
389
390
PINTO, Fulgêncio. Um conto de natal. In A Pacotilha”, de 25 de novembro de 1927
PERRONE-MOYSÉS, L. CINCO SÉCULOS DE PRESENÇA FRANCESA NO BRASIL: INVASÕES, MISSÕES, IRRUPÇÕES. São Paulo: Edusp, 2013. FALEIROS, Álvaro. Presença francesa no Brasil. ESTUD. AV. [online]. 2013, vol.27, n.79 [cited 2015-08-24], pp. 277-280 . Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142013000300020&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0103-4014. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142013000300020.
encontramos em Evaristo Eduardo de Miranda (2007, p. 162) 391 que essa concessão fora dada pela Regente Maria de Medicis, com o apoio do Conde de Danville, almirante de França e Bretanha, a 1º de outubro de 1610 a Charles dês Vaux, para o estabelecimento de uma colônia ao sul do Equador, com a extensão de 50 léguas para cada lado do forte que ai erigisse. É Charles dês Vaux, segundo esse autor, quem se associa a Nicolas de Harlay e ao almirante Razilly... Encontramos em “A Pacotilha”, de 25 de novembro de 1927, de Fulgêncio Pinto o que segue392 - Um conto de Natal: “Era o ano de 1609, em Saint Malo, ilha de França, cidade dos corsários. Numa taberna reuniam-se muitos homens a gritar, a falar alto.” [...] De repente surge um cavalheiro de olhos azues, porte esbelto e fidalgo, vestindo um gibão escarlate, trazendo sob a cinta de couro de serpente, um punhal de cabo de prata. Ele chegava de longe, de outras terras, de lugares desconhecidos. - De onde vem? - Quem será ele? - Para onde irá? - Parece-me que o conheço!... - Creio que fazia parte da tripulação de Jacques Riffault. - Não estás enganado? - Por Deus, que não. Não me são estranhos, este roto e esta voz. Eram estes os commentarios em torno d figura simpatica daquele homem que ali entrara, pedira um copo de cidra, e o esquecera em cima da mesa, entretendo-se a examinar um velho mapa. Ele havia chegado em companhia de alguns indios, dois dias antes numa das naus que ali estavam ancoradas no porto. Ali viam-e homens de todos os aspectos, de todas as raças, de todas as nacionalidades, de todas as cores, desde os mais ferozes até os mais pacíficos. Misturavam-se as línguas; ora ouviam dialetos sonoros, ora idiomas duros e quasi imperceptíveis. A fumaça dos cigarros diluindo-se no éter deitava uma iaca enjoativa, acre, misturando-se com o cheiro de alcatrão e da maresia. Aquela velha casa onde se reunia tanta gente, era a taberna cuja porta encimava garbosamente este letreiro’Au rendez vous dês corsaires’ sobre uma grossa chapa de ferro. Em frente desdobrava-se uma paizagem marítima, banhada pela margem do oceano aformoseando o horizonte, quer nas manhãs magníficas quer nas tardes silenciosas, quando o sol com seus aparatos de riquezas sumiam-se no mundo do sonho e do nada. Quatro mesas enormes estavam cercadas de bancos de carvalho. Apesar da grita o homem que entrara ha pouco, esquecia-se da cidra e continuava a estudar o mapa com muita atenção. - Diabo! Quem será aquele cavalheiro? Gritou um corsário. - Não o incomodeis berrou Tricon, pronto para fazer calar com um murro, o curioso. A’ porta da taberna assomaram mais dois cavalheiros. Um era François Dupré, filho único de um rico armador de Saint Malo, que havia conquistado nome e fortuna no Corso; o outro Raul Renaud, antigo professor em Paris, na Universidade de Sorbona, conhecido como sábio em sciencias naturaes. Entram e sem dirigir palavras aos demais que ali se embebedavam, tomam assento justamente, diante do desconhecido que lia o mapa. - Carlos Des Vaux!... Vós aqui! Já vos tínhamos como morto!... gritou admirado Dupré.
391
MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO – uma história desconhcida da Amazônia. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 2007 392 PINTO, Fulgêncio. Um conto de Natal. In A PACOTILHA, São Luis, 27 de novembro de 1927
O homem, espantadoouvia-lo o seu nome levantou a vista, e reconhecendo no jovem, o pequeno Dupré, o garoto que deixara ainda imberbe quanto partira para as suas correrias pelo oceano, poz-se de pé e estendeu-lhe as mãos entusiastamente. - Bravo Dupré! Estaes um perfeito homem. - Onde andaveis vós? - Cruzando os mares – responde o pirata. - O que tanto vos prende a esse papel - Um sonho, pequeno. - De amor? - Não, de conquista. - Que papel é esse Des Vaux?, Um mapa? - Sim, um mapa. - E que sonho de conquista será esse? Dupré apresentou-lhe o seu velho amigo e mestre Raul Renaud. -Ouçam-me o grande sonho – pediu Des Vaux. Contentes achegaram os bancos de carvalho, e debruçados da mesa, quedaram-se sobre o mapa que Carlos Des Vaux tinha entre as mãos, apontando-lhes ali, num belo discurso, os encantos de uma terra prodigiosa e moça, para la do oceano, em que ele havia havia habitado por muito tempo entre os índios. Quinze anos eram decorridos, desde o naufrágio de Jacques Riffault num dos baixios ao norte do Brasil, nas proximidades da costa do Maranhão. Quinze anos aquele homem de olhos azues, cor bronzeada, pele queimada pelo sol caustigante dos trópicos, que ali estava a conversar animadamente, errara pelas matas da formosa terra moça pelos litoraes, pelos ínvios sertões, e depois de haver alcançado Victoria brilhantes ao lado dos índios nos conflitos de Hibiapaba, resolvera fixar residência no ponto mais pitoresco numa ilha arborizada, seguro da amizade dos Tupinambás, tornando-se o homem de confiança de toda a tribo, que lhe adirava a bravura e a bondade do coração. Era ali a formosa ilhados Tupinambás, ilha d sol, vivendo na exuberância da sua luz, tecendo magníficos cortinados nas franças dos arvoredos selvagens, cheia de mistérios e explendores, flora maravilhosa, vales rumorosos, que ao revelhar-lhes os encantos, o pirata, sentia uma certa transfiguração de espirito, e o cérebro embriagava-se de sonhos magníficos. Era ali que Japiassú grande amigo e aliado de Des Vaux, era chefe, principal, irradiando o seu alto poder, de Juniparan, a aldeia mais notal de quantas existiam na ilha. Terminada a narração ele o pirata explicou aos amigos que voltava à pátria afim de oferecer à sua magestade cristianíssima Henrique IV, rei de França e senhor de Navarra, não só a posse do território fertilíssimo como também a amizade e obediência dos Tupinambas. Os três homens esquecidos do tudo quanto os cercava, confabularam em armar uma expedição, em demanda da terra previlegiada, expedição UE mais tarde foi levada a efeito auxiliada pelo conde de Sulley, então governador da Bastilha, conselheiro de sua magestade Henrique IV, sob o comando do senhor de La Ravardiere, que foi ali fundar uma cidade em honra a Luis XIII, na regência de Maria d Medicis. [...] onde fica essa formosa terra tão linda, tão moça de Carlos dês Vaux. [...] essa formosa terra moça e previlegiada é S. Luis é o Maranhão [...] - É Maranhão!... - E quem era Carlos Des Vaux? Era um Frances, amigo do Maranhão que sacrificara tudo, para fundar aqui a França Equinocial!
A hoje Vila Velha de Vinhais – a Uçaguaba dos Tupinambás - é ocupada desde tempos imemoriais, pelos Tremembés, antes, pelos povos dos sambaquis e de novo pelos Tupinambás (BANDEIRA, 2013) 393·. Depois, chegando em 1590, e se estabelecendo em 1594, Riffault, Des Vaux, e Davi Migan... 393
BANDEIRA, Arkley Marques. VINHAIS VELHO – Arqueologia, História e Memória. São Luis: Ed. Foto Edgar Rocha, 2013.
E fundam Miganville, mais junto à aldeia de Uçuaguaba, a primeira povoação ocupada continuamente desde então por europeus, na grande ilha do Maranhão. Essa, a nossa proposta, então: Vila de Vinhais velho, o largo em frente à Igreja de São João Batista de Vinhais.
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VISTA CURTA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras Publicado em O ESTADO MA em 25 de junho de 2016
“É na escola que o povo transforma-se em nação”. Coelho Neto, escritor caxiense considerado o príncipe dos prosadores brasileiros. Nos meus tempos de professor gostava de testar a capacidade de ver dos meus alunos. No quadro verde da sala de aula, marcava a giz um ponto exatamente no centro do quadro e perguntava: o que vocês estão vendo? Invariavelmente, a maioria respondia sem medo de errar: um ponto a giz bem no meio do quadro. Aí, eu argumentava: e o que está em torno desse ponto de giz, esse enorme espaço, vocês não conseguem ver? É assim mesmo: algumas pessoas focalizam apenas o imediato, o que pensam lhes interessar, e somente conseguem ver as pequenas coisas, aspectos às vezes insignificantes ante a grandeza do que é desprezado. Uma pena. Se isso é feito por desconhecimento, devemos compreender e ajudar; entretanto, o pior é que essa visão curta das coisas, quando acontece - e acontece mais vezes do que se pensa -, reflete um comportamento tendencioso, cheio de preconceitos, para afinal em nada contribuir em proveito da sociedade. Costumo dizer que a cultura não é propriedade de ninguém, mas um processo de acumulação a ser apropriado pelas gerações que se sucedem, que devem acrescentar sua contribuição - agregar valor, como dizem os economistas -; mas isso nem sempre acontece. O que se vê são ações de verdadeiros predadores interessados em desconhecer o passado, desmerecer o presente e nada acrescentar para o futuro. Triste missão. O resultado desse entendimento – de que a cultura não é propriedade de ninguém, mas um processo de acumulação de conhecimentos através dos tempos - na prática é decepcionante. O tempo passa, as gerações se sucedem, o nível de escolaridade melhora, todavia as crenças e os valores são postergados, os usos e costumes modificados, de tal forma que é como se estivéssemos vivendo um processo inverso, de involução. Será que vamos todos precisar renascer das cinzas? Fico cada vez mais surpreso com a humanidade! Como na visão apenas do ponto marcado a giz, bem no centro do quadro verde, as pessoas só conseguem ver o lado negativo das coisas. A imensidão do espaço onde estão as grandes realizações, as conquistas, as vitórias – também as derrotas, por que não -, ninguém vê nem muito menos faz questão de ver, de reconhecer, de ter a grandeza desse ato. Uma sociedade organizada que se preze, participante de qualquer processo democrático, deve exercer a liberdade sem liberalidade, conscientizar-se e ser o indispensável árbitro dessas questões que atormentam a todos nós, principalmente aqueles que têm uma parcela de responsabilidade no trato e na condução da coisa publica. É preciso criticar de forma honesta e responsável, contudo é preciso aplaudir, reconhecer os esforços e a boa vontade, o desejo de acertar. Os japoneses costumam dizer: devemos comemorar mesmo as pequenas vitórias. Acreditar na pessoa humana e na nobreza dos seus sentimentos, sua boa-fé; se não fosse assim, eu não teria conseguido ensinar e educar várias gerações, na Universidade, por quase trinta anos, e ainda ter coragem, como agora, de continuar começando tudo de novo.
A CRISE BRASILEIRA E A OPINIÃO PÚBLICA ALDY MELLO Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro efetivo do IHGM e da ALL. Publicado em O ESTADO MA, 25 de junho de 2016
A análise de conteúdo da crise nacional leva-nos à possibilidade de inúmeros desdobramentos. A crise não é um fato novo nem tampouco um problema atual. Tem assumido diferentes dimensões a partir de fatores determinantes e distintos. Procurando se ter uma compreensão dessa crise, é possível concluir-se que os itens que têm ocupado privilegiado espaço na mídia dizem respeito mais aos entendimentos de coligações que às questões básicas do país e de suas políticas públicas. A opinião pública é um fenômeno ligado à perspectiva da sociedade, dela participando e tornando-se instrumento de sua dinâmica. A expressão opinião pública suscita à ideia de democracia e liberdade, identificando-se com os regimes democráticos e opondo-se aos autoritários. Se considerarmos a opinião um juízo manifesto por um indivíduo, facilmente se poderá deduzir que a opinião pública é o mesmo manifestado por todos. Toda pessoa traz em si própria a necessidade de se comunicar, pelo fato de ser capaz de pensar, querer e agir. Como ser inacabado e incompleto, o homem participa do processo de construção humana que está sob o encargo de todos. Opinião pública é um juízo coletivo adotado e exteriorizado por um grupo. Em sociedades diferenciadas e estratificadas, diversos grupos ou camadas sociais inteiras podem emitir opiniões coletivas e, em caso de consenso geral, a sociedade toda pode tornar-se portadora da opinião pública, cuja forma de controle social exercida por ela será notável. Embora predominantemente racional, a opinião pública pode ter um caráter emocional, cuja intensidade varia de acordo com o interesse em jogo e a oposição feita por opiniões antagônicas. Costuma-se chamar a atenção para o fato de que a opinião pública pode modelar decisões que acarretam grandes consequências na realização do ato político ou social. Basicamente, esse tipo de interveniência busca seu reforço numa das principais características da opinião pública que é a livre discussão, considerando que toda e qualquer opinião traz um potencial que acaba resultando no debate público. A identificação do interesse público com a formação da opinião se faz através de um processo dialógico, onde a opinião pública age sempre dentro de certa ordem temporal e no momento respectivo, traduzindo certo pensamento e gerando certas ideias. Na verdade, a história da nação brasileira tem demonstrado o quanto tem sido difícil e complexo o exercício do poder político, pelas razões as mais diversas, inclusive pela fragilidade e falta de transparência do Poder Público nas suas relações com o povo brasileiro. Como outras instituições do país, o Governo Brasileiro não está isento dos conflitos e interesse dos grupos sociais e nem tampouco da influência de outros fatores externos. Falta-nos uma nação que seja capaz de estimular e garantir direitos básicos ao homem brasileiro. O país não vem desempenhando o papel de instrumento de uma nova ordem, seja atuando como fator de transformação dessa ordem, seja como gerador de perspectivas à sociedade. Cabe à opinião publica auxiliar eficazmente, na busca de soluções para os problemas vitais do país, contribuindo para a restauração do Poder Público no cumprimento das finalidades constitucionais atribuídas pelos diplomas legais vigentes, com ética e responsabilidade social.
POESIAS & POETAS
“Pedra de Toque"
AOS TRANCOS E BARRANCOS. AH, HUMANIDADE! MHARIO LINCOLN Como andam as bruxas de Blair As bocas amargas sem fecho-éclair os curtos-circuitos movidos a Éclair as delícias das fragrâncias Belle-Aire? Os amores de Dom Descartes, René ou o 'ver pra crer', de São Tomé As garras afiadas de François Voltaire O vendedor de virtudes, Yang Zhu, até? Como andam os moinhos de Quixote, as muitas amantes de Sir Lancelot o drama escarrado na morte de Pixote, o Rei do Baião de Pé-de-Serra, do Xote? Por onde anda, de Einstein, a relatividade, Contra Kant, Auguste Comte, a sua positividade, A saga de Simone de Beauvoir gritando igualdade Acabou, Tomás de Torquemada, toda maldade? E as definições de Céu e Inferno de Dante Da cruz, aos pés, o pobre Judas morre adiante De John Campbell, o horizonte, o sextante Narciso, impreciso, anarquista, egoísta, amante. E os patos e os lobos, a altos custos se encerra Hoje, a meninada não lê Gibi, mas joga guerra Sabres de luz, uivos dos games, monstro que berra Leituras virtuais, guerreiros que 'salvam' a Terra. E as uvas verdes da Raposa, que Esopo contava O pastor, do Lobo, que a mentira cultuava E o trabalho da formiga enquanto a cigarra invernava A Lebre e a Tartaruga, onde tudo se imaginava? Foram-se os tempos de hibernar nos livros de amor Iracema, O guarani, seja de José de Alencar, o que for A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, com louvor Meu Pé de Laranja Lima, de J.M. de Vasconcelos. Tutor! ... E debaixo da cama, escondidos na léxica puberdade Elogio da madrasta, de Vargas Llosa, que ansiedade!
A filosofia na alcova, de Marquês de Sade, maldade, O amante de Lady Chatterley, D. H. Lawrence, arde. Mãos trêmulas, ardentes pensamentos na coleguinha Da turma, esbelta, linda, estonteante, mas sozinha De repente, com truques mágicos de Houdini; só minha! No roteiro fantástico de A Normalista, de Adolfo Caminha. Onde andam os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski, ou os livros futuristas do poeta Vladimir Maiakovski, ou a impúbere obra do russo Kornei Ivanovitch Tchukóvski E A Marca de Água, Nobel de Literatura, de Joseph Brodsky? Lamento profundamente quem não leu e nem se interessa Mas infindáveis são as obras completas para ler sem pressa O Livro Vermelho de Mao Tsé-Tung, a Bíblia Sagrada, impressa Thriller com arrepios, de Frederick Forsyth: O Dossiê Odessa. Longe de 64, dos pós e contras da luta, A Conquista do Estado, de René Armand Dreifuss, arte como fogo, povo encabulado. A análise real de Carlos Fico, Além do Golpe. Mas de que lado? Memórias de um Militante, de Cid Benjamin, narrador alado. Como andam nossos leitores famintos, empinadores de nariz Nem leram o Febeapá-Festival de Besteiras Que Assola o País de um Stanislaw Ponte Preta, no Pasquim; sapatos de verniz. Ei, onde estão leitores de micro-almanaques em pele de perdiz? Infelizmente, tudo hoje é muito mais fácil, há quem diga Basta uma pesquisa na internete e lá está o resumo, sem fadiga de um livro todo. Pra que guardar toda vida? Há quem diga: Mais fácil do que ler um livro, é ir ao cinema com uma amiga...
MULHERES E SEU UNIVERSO ANA FELIX GARJAN Mulheres em cena Nas ruas, esquinas. Casas, trabalho, festa. Mulheres nas lutas Vestidas ou nuas Estética do tempo Artista, amante, poeta Signo,código, Mistério. Mulheres famintas, guerreiras. Censuradas, discriminadas,amadas, Esquecidas, admiradas, desejadas. Mulheres Beleza solta nas ruas Estética perfumada Em lutas, conquistas e glórias, Conquistadoras, senhoras, Crianças e anjos do seu tempo.
Excelentíssima Presidenta da Academia Ludovicense de letras-ALL Srª DILERCY ARAGÃO ADLER,
Em relação ao Ofício Circular ALL nº 001/2016, e convite para a Solenidade de Posse da Segunda Diretoria-Biênio 2016-2017, a qual Vª Sª torna-se Presidente da Casa Maria Firmina dos Reis, vimos pelo presente informar que devido a uma cirurgia no dia 4/4, encontro-me impedida de comparecer, todavia expresso aqui os meus melhores votos de alegria e felicidade por justa conquista e merecimento. Outrossim, como amiga e Membro Correspondente no Rio de Janeiro deste sodalício fico imensamente honrada com o convite recebido, mas também desejando aos confrades e confreiras as mesmas alegrias e felicidades,além de saúde para que a esperança seja presença constante nessa magnânima casa. Êxitos aos confrades e confreiras. Evoé, Senhora Presidente! Assim, poeticamente digo:
AMIGOS VANDA LÚCIA DA COSTA SALLES
Dei cordas ao meu coração E ele retribuiu-me com ardor Enlaçou-vos nessas fibras delicadas, Que a amizade floriu ( como só ela sabe), Dessa maneira singular, Entre prosas & poesia, Para despertar através de nossas bocas Um dos enigmas da vida E é sempre a utopia a aliviar as cicatrizes! ( in Cantigas para a mulher do século XXI,CBJE-RJ:2013 p.152)
Cante poeta, cante, nada tema! A vida vale por si! Conforme Santo Agostinho, “A medida do amor é amar sem medida", e na melodia de minha pena, " tal onda encrespando-se nos rochedos", vivo e sigo...
Atenciosamente, Vanda Lúcia da Costa Salles Membro Correspondente da ALL no Rio de Janeiro
TEREZA BRAÚNA MOREIRA LIMA, EM ENTREVISTA...
Entrevistas
MHARIO LINCOLN http://www.acervum.com.br/#!entrevistas/iz1ox Foi só no seu quinto livro que passei a conhecer Tereza Braúna Moreira Lima, embaixadora da poesia do Maranhão, cujas digitais forjaram dezenas de artistas a partir de sua revolucionária maneira de olhar o mundo. Meu amigo e também poeta maior Luis Augusto Cassas, ao apresentar esse seu quinto livro, naquela época, foi feliz em afirmar: "Tereza é profundamente complexa, fruto de rara sensibilidade, aliada à perfeita maestria no manejo das palavras". E como tem razão Cassas, se não, veja essa performance ortográfica emocionante: "Deixo-vos pétalas carnais/vestidas de versos/num buquê de despedida". Para mim é inevitável não amar, por exemplo, esta estrofe de seu 'Idílio de Ti', como lemos: "Eu quero/alfabetizar meu olhar/para ler em ti/todas as sílabas que me compõem". http://www.acervum.com.br/#!blank/lrcw1
1 - Mhario Lincoln - JUNG, quando fala em consciente coletivo, deixa escapar algo sobre o processo cultural reprimido do Homem. Seria isso, então, o start para que grandes poetas consigam escrever clássicos incopiáveis, como os de Edgar Alan Poe? TEREZA BRAÚNA MOREIRA LIMA- Obviamente o inconsciente é um fator determinante na escrita, uma vez que ele é estruturado como uma linguagem. Lacan e Saussure nos demonstram isso com mestria. Existe porém um outro viés que não é da ordem estrutural, cultural . É referente á singularidade do sujeito , como se repentinamente algo transformasse o sofrimento em alegria estética... E nessa instância não há ensinamento nem aprendiz, só a experiência de vida pessoal e intransferível faz a alquimia do verso. Sem isso o poema é oco ! Sem isso não se abocanha o caroço em nós e a poesia sem caroço não frutifica. 2 - ML - Como você define o SEU processo de criação poética hoje em dia, já que vivemos um novo século e as expressões cotidianas estão em patamares quase longínquos dos tempos em que a Lua era o coração do poeta? TEREZA - Muito pertinente sua questão quanto ao Poeta na Contemporâneidade... Em tempos de visibilidade midiática extrema e do imperativo do discurso capitalista , ser poeta é um ofício muito solitário. É como se fizéssemos um contrato de risco com nossa produção . Mas que " produção " é essa senão a nossa " salvação "? O que é essa solidão senão o roçar do impossível onde " nascem vozes do meu vazio" segundo
Manoel de Barros? E desse silêncio surgir o primeiro esgar de uma palavra para fazer o nada aparecer.... Isso basta! 3 -ML - A influência de sua arte literária, no conjunto da obra, tem qual viés? TEREZA - É necessário antes de tudo ver que a qualidade literária de um poema brota da fidelidade que o poeta mantém com sua marca no mundo, com sua dor de existir...No íntimo de um poema o estilo revela-se como algo quase genético, que já vem com as nuances do indivíduo para depois entrar no mundo dos significantes , interagir com eles e dessa parceria advir o seu desejo. Entra em cena o sentimento trágico da vida e chega com a pergunta amolada do Psicanalista Jorge Forbes " Você quer mesmo o que deseja"? 4 - ML - 4 - Existe uma relação anacrônica entre o modernismo poético e o clássico poético? Quais das escolas poéticas você mais se identifica? TEREZA - Existe sim , apesar do homem contar com sua singularidade em cada época, há que admitir o contexto histórico em que ele está submerso. Sinto-me mais em casa no que diríamos Modernismo para uns, Pós Modernismo para outros e Contemporâneos para outros tantos. Identifico-me mais com uma certa liberdade de retórica numa tentativa de fugir um pouco da lógica aparente. Um verso livre que apesar de um certo hermetismo, interpreta a psique humana com seu " saber que não sabe que sabe". Falando de outra maneira é como se nós confortássemos com o " espanto " de que nós fala o poeta Ferreira Gullar. 5 -ML - O Maranhão - Athenas Brasileira - ainda existe? TEREZA - Claro que existe... Novos escritores, poetas , atores , pintores , enfim artistas , colorem nossa terra apesar dos pouquíssimos incentivos culturais e apoio Municipal e Estadual que teriam direito. 6 -ML - A sua poesia tem lirismo avantajado. Sua poesia tem estalos pueris, às vezes. Mas mostra-se madura com grande crescimento emocional desde o primeiro livro ao último lançamento. Foi amadurecimento literário puro e simplesmente ou cresceram suas paixões pelo nirvana pessoal? TEREZA - Refiro-me a essa questão como o percurso e a busca do insolúvel na contradição existencial. Sigo meu roteiro de fome de Absoluto e é nesse intento que minha escrita pode ter revelado um certo amadurecimento... Arranjo erros, desestabilizo conexões do tipo lógico, desnomeio coisas para reencontrálas em neologismos. Enfim... Tento a arte da reinvenção . 7 -ML - Ao ler uma poesia, o que lhe chama realmente a atenção. O que lhe bate e a impacta no primeiro momento? TEREZA - O bom poema nos diz Mário Quintana, é aquele que parece que está lendo a gente... Fico impactada com essa convocação de co-autoria e como reverbera em mim a contingência desse encontro. Sinto a impressão de uma certa completude... Onde a soma das errâncias parece fazer par! 8 - ML - Ser poeta é.... TEREZA - Sofrer de ser poeta! È sofrer no sentido de adoecimento mesmo . Sofro de ser poeta e meus versos sofrem de mim! É uma relação indissolúvel do ser com a letra que estrofa a " dor de existir". Poesia é aquilo que me causa.
PARTE E TODO Sou aclive Sou declive por isso sou montanha Sou o todo deste lodo desta rosa... Sou o palco Sou o fato Sou plateia desta peça em dois atos nascer-morrer no intervalo de viver Sou a morte que não morre pelo fato de a conter
PÁGINA ENDEREÇADA AO SINTOMA OU DÊ-ME UMA CANETA, VOU-ME ESCREVER EM SINTHOME394 Autora: Tereza Braúna Moreira Lima Instituição: Intersecção Psicanalítica do Brasil Os textos, como os livros, não são escolhidos por nós, eles nos escolhem. O leitor não lê o escritor, o leitor é leitor de si mesmo, colhendo nas entrelinhas dos intervalares espaços pautados, pedaços do seu próprio texto, desvelando algo que vai na direção do seu desejo. Freud nos fala do "efeito de leitura" como o evento que se inscreve no leitor por um certo efeito1 . Em algo que é produzido, a sua leitura, obedecendo a alguns critérios, é reatualizada em nós, não apenas pela passagem do estado de dado(escritural) ao de vivido(decifrado), mas sobretudo pela elaboração fantasística contida neste movimento do texto. E entre este aparecer aqui e agora e desaparecer aconteceu em mim, o tempo da leitura do trabalho da psicanalista Arlete Mourão "Amor à Letra", apresentado no II Congresso de Convergência – RJ; onde pude fazer um recorte que entrecruzou meu percurso analítico com a escrita dos meus cinco livros(Busca Existencial, Mapa dos Sentimentos, Desafio de Ser, Resgate da Travessia e Digitais da Essência). Livros estes, que no "só-depois" revelaram-me que tanto a poesia e a prosa como a psicanálise apontam para a enunciação de um sujeito, bem como revelam que num fato psico-sócio-econômico qualquer, o absurdo nada mais é, do que a psique humana que se esconde atrás dos seus produtos. E o absurdo, o estranho, o surpreendente é o mais humano que há no homem, quando tem oportunidade de mostrar-se. É o que é inscrito com traços, restos, vestígios, que denota uma escrita, onde é possível fazer uma leitura que também é escuta, na direção do significante e do tratamento(ainda que a cura se dê por acréscimo como menciona Freud). Freud também nos fala da operação de leitura, como uma operação que tem algo de inesperado: ela deixa a fantasia exposta. "Ler é realmente, nesse sentido, substratar a fantasia do ‘narrador’ pela própria fantasia" 2 . E desta forma adentrei no texto(Amor á Letra), como se o texto interrogasse em mim os efeitos de cada produção minha diante do Sintoma – "formação de compromisso"3 , que me impeliu à demanda de análise e lá neste mesmo texto, conseguisse apontar minha direção ao Sinthome, que a letra dos meus textos instituíra. "O Sinthome de cada um que faz com que fiquem juntos seu Real,seu Imaginário e seu Simbólico"4. Nessa perspectiva, meu olhar reencontrou-se com alguns parágrafos e estrofes da minha produção literária, crivados de significantes, impregnados da força e presença das minhas etapas de análise, revelando o que foi descrito como sendo a dor de existir, contingência própria do humano, enquanto ser de linguagem. Diante do sempre inesperado da morte, com a perda do meu filho caçula Saulo, as circunstâncias da vida remeteram-me à demanda de análise, quando em grande angústia eu queria uma decifração do enigma deste momento atravessado por mim, num território demarcado pela sua profunda divisão, fronteira com o inominável, que precisava aceder ao nomeável da perda e a elaboração deste luto. Na crônica Rastro de Ti (p.111-Desafio de Ser) digo: Em que instância te escondes amado meu, que meu pensamento envolto em brumas, te busca na querência louca do desencontro... ...te vejo na ilusão fantasiosa, quando no início éramos um só, coesos no abraço perpétuo da completude... ...e o acordar da impossibilidade me insere no vácuo da solidão da vida e exaure as formas que te definem...e anseio te encontrar...vasculho prateleiras, folheio páginas, onde sinto um perfume de história e um rastro de vida.
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Trabalho para a Jornada Freud-Lacaniana do Recife (2004)
Traduzo através da escrita, neste momento de luto e demanda de análise, a proposição de Lacan que se encontra no seminário sobre A angústia, quando trata do luto: " Estamos enlutados por aqueles para quem fomos, sem saber o objeto faltoso". O seu falo imaginário como traduz Nasio complementando: "Estamos de luto por aqueles - os raros eleitos - para quem fomos o suporte da sua castração. Estamos de luto por aqueles para quem fomos o seu objeto a... O que partiu com a pessoa amada não foi apenas o meu eu ideal, mas o suporte vivo que era a sua pessoa, isto é o seu cheiro, o timbre da sua voz, o encanto da sua presença...Isto nos leva a reler assim a fórmula de Lacan: "fazemos o luto daqueles de quem fomos o objeto, isto é a falta", "...fazemos o luto daqueles que por sua vez, foram para nós o objeto, a falta, o suporte pulsional do nosso eu ideal"5
Enfocando alguns conceitos lacanianos, veríamos a escrita relacionada ao tema da solidão, da qual ele se refere: “... não somente ela pode se escrever, mas é até mesmo o que se escreve por excelência, pois é o que de uma ruptura do ser deixa rastro..."6 . Este seria meu achado precioso numa "outra cena", num "só-depois" .Foi indubitavelmente a constatação do evocar de um "dito"(análise pessoal) paralelo a "um outro dito"(produção literária). Foi a releitura de um entrelaçamento irredutível entre história de vida, psicanálise e literatura, representados pela apreensão de um dizer/dito do discurso analítico, retratado pelo ato de dizer dos meus escritos como produção. Em ambos há uma colocação do inconsciente em ato, no movimento dos seus dizeres, já que "o dito é o retorno dos dizeres recalcados"7 . A poesia tem uma relação simbólica com o mundo, dando voz a conteúdos inconscientes que estão fora do campo da rotina e vai desenhando o esboço dos seus efeitos; de um ser definido pela falta denunciando algo latente, vulcânico, um mais-além...por isso mesmo de imenso valor na área dos afetos. Sobre este aspecto Freud escrevia a Fliess, numa de suas cartas, de 07/07/1998-época em que redigia "A Interpretação dos Sonhos", obra cujo estilo é muito particular e fugia sempre do controle do autor, preocupado com o científico da sua obra: ..” .eis alguns resíduos de minha última investida. Eu só consigo compor os detalhes no processo de escrever. Esse processo segue completamente os ditames do inconsciente, segundo o bem conhecido princípio de Itizig, o cavaleiro de domingo. "Itizig, aonde você vai?" "E eu sei?Pergunte ao cavalo."Eu nunca comecei um único parágrafo sabendo de ante-mão onde terminaria8 .
É justo por isso, por ser parido num momento descontinuado, numa ruptura de campo com o consciente, que tanto a experiência analítica como a produção literária, deixam à amostra o absurdo ou o maravilhoso do que parecia costumeiro. E também por isso elevam-se à categoria de ato criativo, inspiração, poesia, Sinthome. E dando continuidade ao meu trabalho de luto paralelo ao meu percurso analítico pude pinçar alguns registros que o endossam como algo que se desloca e se transpõe. Em Desafio de Ser - p.4 digo: ...apalpa os sentimentos/ elabora os pensamentos/ e sobretudo vive a síntese da tua mutação/ de mais ninguém são estes momentos/ de mais ninguém será a realidade ou a ilusão... Ou em Resgate da Travessia – p.100: Este ponto que encandeia/ de soslaio nos permeia/é indecifrável/ mas roteireiro/ sem saber o seu início/ vem apontar no corpo/ tramita em nós/ e abalroa/ faz-nos ver o invisível/ desencadeia a febre da vida/ com os passos da convalescença Ou ainda em Resgate da Travessia – p.83: Hoje basta porque é começo/ o único que agora se tem/ o dia seguinte é o resto da vida/ o ter querido da querência do ser/ a percepção de si no abraço do amanhã/ doce compensação/ de um vazio não enfrentado/ preenchido com a vaga do futuro
A literatura é um diálogo com o Sintoma sendo Sinthome, é a apreensão dos arranjos defensivos para amarrá-los na identificação ao que é da ordem do estrutural, como um quarto aro. "A escrita do Sintoma como nó, como Sinthome é o resultado deste trabalho de estreitamento, de extração, de uso lógico da função da palavra"9 "... até atingir seu real, ao ponto em que ele não tem mais sede"10 . O interrogatório desses efeitos de leitura do texto "Amor à Letra" de Arlete Mourão, repercute em mim com forte pregnância neste momento e nesta produção, tornando possível uma leitura do inconsciente estruturado como linguagem (minha experiência analítica) versus a linguagem (que a escrita dos meus livros) remete ao inconsciente. E na ressonância do fio condutor desse processo, ambos obedecem a ética do desejo, chegando ao seu caroço, frutificado em algo, onde o sujeito usufrui desta substância gozante que não é da ordem do desarranjo, de uma confusão; porque não dizer "o desmoronar de um sintoma penoso, pesado, demasiadamente incapacitante, em proveito de outro, fonte de dores menores e, por que não, causa de mais prazer"11 . Nasio refere-se sobre a dor do luto como: "Dar um sentido a uma dor insondável é finalmente construir para ela um lugar no seio da transferência, onde ela poderá ser clamada, pranteada e gasta com lágrimas e palavras..." "...que a dor, no coração do nosso ser é o sinal incontestável da passagem de uma prova decisiva. A prova de uma separação, da singular separação de um objeto que, deixando-nos súbita e definitivamente, nos transtorna e nos obriga a reconstruir-nos"12. A produção literária surgiu imbricada aos passos impressos no litoral que contornava as realidades do que ia sendo construído na análise; evocando uma estética de vida atravessada pela incompletude. Desse "nãotodo" ao "saber fazer com" a ausência de uma presença (luto), que se desdobrou em tantas outras, em tudo quanto outro, no outro de mim mesma, ressignificada diante da falta a ser. E na p.23 do livro Digitais da Essência digo: Expande... / sem o fantasma de velórios insones / das noites semi – dia... Expande... / sem temer o risco / de adultecer teu sono / quando o estupro dos fatos / invadir teus lençóis Expande... / apesar de... / expande sem fenecer
É nesse espaço – tempo que respostas vão sendo elaboradas às interrogações deste efeito de trajetória (de vida, analítica e literária) numa evanescente e profícua passagem no território da outra cena. Lá, onde as manifestações afetam e representam o ser de uma maneira muito singular, desvelado no desdobramento metonímico de objetos ornados com um brilho muito intenso, entretanto fugaz, diante dos quais, somos obrigados a fazer algo da ordem da invenção. E em Digitais da Essência p.52 no poema intitulado Egovazão escrevo: No ser do meu vazio / no vazio do meu ser / o vácuo é completo / e o silêncio absoluto testemunha / a presença de faltas / porque nada existe lá Só a brecha da vida / a cata de se fazer No vácuo encontrado / o vazio pleno tudo promete / posto que é a possibilidade do acontecer "Com essa descolagem, com essa des-con-fusão, com essa pére-version, o Outro é reduzido à sua condição de um pequeno outro, de outro sujeito...
...não se presta mais a servir de tampão para a falta... nessa posição, o saber significante, o saber inconsciente, transforma-se em saber fazer com – fazer outra coisa com seu Sintoma13 E em Redenção, p.147 do livro Digitais da Essência escrevo: Tenho uma clarabóia na alma / onde espreito a chave do mistério... / ... minha clarabóia é o roteiro do vislumbre / ao mesmo tempo impotência e constatação. ... pego a caneta / arma sempre à mão / como o traçado de um caminho. ...já não há mais fronteiras / ultrapassei a clarabóia / a poesia é minha salvação.
Concluindo, devo dizer que o tema do Sintoma ao Sinthome não é nada fácil de abordar. Entretanto, senti necessidade de falar sobre isto. Aceito o preço desta dívida, implicando-me com a psicanálise, pois creio na possibilidade de uma travessia da posição fantasmática à retificação subjetiva da dor de existir. Referências Bibliográficas 1. Assoun,Paul-Laurent - Metapsicologia Freudiana: uma introdução- Jorge Zahar Ed.,1966-p-127 2. Assoun,Paul-Laurent - Metapsicologia Freudiana: uma introdução - Jorge Zahar Ed.,1966-p-132 3. Freud, S – Inibições, Sintomas e Ansiedade – ESB vol XX, Imago,RJ,1976 4. Lacan,J - Ecore,opus cit.,p.109 5. Nasio,J.-D - O livro da dor e do amor - Jorge Zahar Ed.,RJ. 1997 p.p.-162-163. 6. Lacan,J - Conclusions du Congrés sur la transmission, ( juillet 1978 ), lettres de l’Ecole, nº25, juin 1979, p.p.219-220. 7. Lacan,J - "L’Etourdit" ( O aturdido ), Scilicet 4, Paris Seuil, 1973 p.p. 5-52. 8. Masson , Jeffrey Moussaieff (ed) A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess, 1887-1904, Rio,Imago, 1986, p. 320. 9. Portugal Maia Saliba, Ana Maria - Do Sintoma...ao Sinthoma. Letra Freudiana, ano XV nº 17/18 – 1996 p. 49 Revinter Ed. 10. Lacan,J - Seminário Le Sinthome , op . cit . lição de 18/11/75 11. Freud & Lacan – Dicionário de psicanálise 1, Agalma Ed, p. 256 . Salvador, 1997. 12. Nasio,J.-D - O livro da dor e do amor - Jorge Zahar Ed.,RJ. 1997 p.p.-17-18. 13. Mourão, Arlete - Trabalho Preliminar para o II Congresso de Convergência – RJ – "Amor à Letra" 2004 Bibliografia Complementar
Moreira Lima, Tereza Braúna – Desafio de Ser – Borges ed.,São Luís.1989 p.p 4 - 111.
Moreira Lima, Tereza Braúna – Resgate da Travessia – Borges ed.,São Luís.1993 p.p 83 -100.
Moreira Lima, Tereza Braúna – Digitais da Essência – Unigraf ed.,São Luís.2000 p.p 23 - 147
A POÉTICA DO JORNALISMO E DA TECNOLOGIA: UM DIÁLOGO COM MHARIO LINCOLN, UM ADVOGADO DAS LETRAS IVONE GOMES DE ASSIS395
Ivone Assis – Você sempre transitou no mundo da escrita e, agora, vivemos a Era do digital, o que é bom pela capacidade de produção e ruim pelo constante descarte. Nesse mercado literário gestado pela internet, você coordena duas revistas eletrônicas. Qual é a sua percepção sobre esse, como diria Shakespeare, “admirável mundo novo” da publicação? Mhario Lincoln – O fato de as revistas eletrônicas existirem, com certeza, vem atrelado a essa mudança dos tempos. As revistas virtuais que edito são mais efetivas do que na época das revistas impressas, editadas por mim nos anos 90, porque no caso da Revista Poética Brasileira (www.revistapoeticabrasileira.com.br) e do Acervum/Suplemento Nacional de Arte e Literatura, (www.acervum.com.br), essas, ultrapassaram recordes de acesso (média de 12 mil), a cada edição. Talvez não conseguisse tal feito se continuassem impressas. Careceria muito de uma logística de distribuição e patrocínio para impressão. Esta era digital tem suas vantagens. Há um detalhe, entretanto, que me chamou a atenção nesse “admirável mundo novo”. Pelas nossas revistas digitais, nosso público alvo responde positivamente a cada edição, aliás, elas permitem, ainda, que o internauta tenha um feedback imediato, comentando ou compartilhando itens, sem contar a possibilidade de acessos em qualquer que seja o aparelho eletrônico que o internauta possa ter. Quanto à revista impressa, mesmo sendo quase eternas, porém, deixa o leitor preso ao conteúdo físico. Longe do imaginário poderoso das ligações do mundo ‘www’. Ah! E nosso incomensurável William Shakespeare? Você me fez relembrar os versos de “A Tempestade”, Ato V: “Ó, maravilha! / Que adoráveis criaturas aqui estão! / Como é belo o gênero humano! / Ó Admirável Mundo Novo / Que possui gente assim!” Vale ressaltar que “A Tempestade” gerou um grande livro – Admirável Mundo Novo – uma crônica do futuro – de Aldous Huxley, publicado em 1932. Juro que não gostaria de viver nesse mundo de Huxley, onde a sociedade era condicionada a viver ‘dentro da lei’, mas dividida em castas. Ou seja... IVONE - Em sua opinião, a larga oferta digital amplia o número de leitores? Essa relação do digital x impressão é sem fundamento? ML – Mesmo considerando essa variável de ‘larga oferta digital’, no caso específico dos livros, me deparei com uma grande surpresa. E começa sob a análise de gerações. Dividamos, então, o velho e o novo, se assim
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Entrevista realizada desde Uberlândia (MG), HTTP://WWW.ACERVUM.COM.BR/#!BLANK-6/EZ872
2/4/2016.
(Ivone
Gomes
de
Assis).
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em
formos analisar o fato. Quem nasceu antes de 1980 (no geral), acostumou-se a ler livros e revistas (especializadas ou não) sem nenhum compromisso de ‘lugar, plugar ou tempo’, como diz o programador Douglas André sobre os livros eletrônicos ou e-books. E complementa: “Os livros de papel não usam energia, podendo ser lidos por horas sem que a bateria acabe, além de poderem ser emprestados sem nenhum problema”. A partir daí, se considerarmos ‘nova’, a geração pós-80, atrelo-me a uma pesquisa de 2012, revelando números impressionantes no que concerne a e-Books (x) Livros Impressos. Leia: (a). Dos 5 aos 24 anos de idade, o índice de leitores de livros impressos é sempre superior ao de não leitores, no geral. (b). Na faixa etária de 14 aos 17 anos, por exemplo, estão 14% do total de leitores de livros impressos e apenas 5% dos considerados não leitores (não leem nenhum tipo de livro). Por outro lado, a terceira edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil/12”, do Ibope Inteligência, verificou que, apesar de 80% dos brasileiros nunca ter lido um e-book, há quase 10 milhões de leitores de livros digitais. Mesmo assim, se ampliarmos esses números, chega-se à seguinte conclusão: Se o Brasil tiver algo em torno de 100 milhões de leitores e só 10% (10 milhões) deles, leitores de e-books, há, sim, visível carência de apreciadores virtuais de livros no país. Então, afirmar que livros virtuais estão tomando conta do mercado interno atual, óbvio que não tem fundamento pelos números apresentados. Assim, continuo acreditando que nossos livros, com aquele maravilhoso cheiro de tinta e sensibilidade papírica, ainda vão continuar por muito tempo. IVONE – Seguindo o estilo em voga, você publicou uma obra para colorir, para adultos. Fale um pouco sobre ela e sobre qual é a mensagem dessa criação literária, para o seu público? ML – Confesso que me decepcionei. Eu me deixei levar pelo modismo. Não é meu estilo. Tanto que em junho deste ano lanço a segunda edição de “SEGREDOS POÉTICOS” – projeto original – onde faço uma interpretação poética de fotos artísticas de Selma Maia (de Manaus-AM) e publico meus poemas e sonetos mais recentes. A obra já está em fase de revisão. E como viver é não esperar a tempestade passar... e sim, aprender como dançar na chuva, lá vamos nós seguindo o caminho apontado pela estrela-guia. IVONE – Você é um jornalista que atua, por 45 anos, na área da Análise Política. Se fosse hoje, qual seria sua análise para esse quadro em relação ao que o Estado oferece à sociedade dos escritores? Essa gente que escreve, produz, e que faz a caminhada em busca de recursos de leis de incentivo. ML – Mesmo com aplausos, poucos entenderam a Lei Rouanet: às vezes, nem o Estado, outras, nem todos os empresários procurados para essa parceria bastante válida. Para que a Lei Rouanet dê certo, necessário se faz o entendimento de que um (Estado) depende do outro (Empresa) e vice-versa. Os Conselhos de Cultura (com raríssima exceção) também pouco entenderam ou aplicam essa lei de forma decisiva, porque acabam definindo a lista de projetos, como base em pressupostos políticos. Em outros casos, parte da Sociedade Produtiva nem mesmo acredita nas artes (poesia, especialmente), como algo útil. O cantor e compositor Cazuza (poeta da Música Popular Brasileira), em seus versos, já denunciava isso: “A burguesia fede / A burguesia quer ficar rica / Enquanto houver burguesia / Não vai haver poesia...” É uma realidade no Brasil. Não fora algumas pessoas, como você, por exemplo, e outras abnegadas por movimentos poéticos, nossa poesia estaria resumida ao século XIX. Eu acredito que ainda falta uma conscientização mais aguerrida das instituições ligadas à cultura neste país, a fim de oportunizar um universo maior de oportunidades (não oportunismo) nessa área. As associações, sindicatos de músicos, atores, escritores; quantos não se espalham de norte a sul? Que essas representações artísticas incitem as áreas mentoras, mostrando a verdadeira importância da cultura. A começar pelas manifestações folclóricas ou manifestações populares de cada região, onde nascem proposições artísticas originais, por isso, essenciais. Que levem proposições às Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, Câmara Federal, Senado, no sentido de sugerir itens que pudessem, por exemplo, melhorar a própria Lei Rouanet, até agora, com prós e contras, a única válvula de escape, literalmente válida, para o mundo artístico nacional. IVONE – Ser jornalista abre mais as portas para um literato, ou, no seu caso, não fez diferença? ML – No meu caso, meu jornalismo me levou a muitas discussões e conflitos. Fechou muitas portas. Minha especialização em Análise Política, não serviria para o que penso hoje, sobre política brasileira. Por isso, a fim de minimizar meus conflitos internos – mas sem perder o foco das discussões – optei por abraçar uma
nova área: a literária. Essa, sim, me deu uma visão de mundo diferente. Pude deixar Marx de mão, Robert Owen, Saint-Simon e Charles Fourier, Rousseau, Maquiavel, Spinoza e Montesquieu entre outros e fui ler Shakespeare, Dante, T. S. Eliot, Paul Valéry, Edgar Alan Poe, Fernando Pessoa, Drummond, as Cartas do Apóstolo Paulo etc. No meu caso específico, foi quase divina essa mudança. Nunca me senti tão bem na vida. Agora posso escrever e citar o que aprendi durante meus estudos sociopolíticos. Parece um paradoxo. Mas é aqui, neste fértil campo da imaginação, o da poesia – mesmo com devaneios óbvios – que me senti deveras socializado e apto a compartilhar o mundo. E como afirma o poeta Ferreira Gullar, autor do clássico “Poema Sujo”: “(...) algumas coisas mudaram, porque a questão da prevalência do político na poesia mudou, a poesia não tem mais que ser política. Hoje não faço poesia política. (...)”. Esse pensamento está devidamente ajustado às minhas pretensões, mesmo que vez por outra ainda caia nessa esparrela de politizar meu grito poético. IVONE – Como crítico e cidadão que produz cultura no país, qual é o seu recado para o empresariado brasileiro? ML – Raros são os empresários nacionais que compartilham do pensamento de Mário Araripe, cearense de 1954, milionário e dono da Casa dos Ventos, empresa do ramo de energia. Uma frase dele me tocou profundamente. Ao falar sobre o possível retrocesso das matrizes energéticas do país, ao ressuscitarem usinas termoelétricas, disse: “Você poderia continuar queimando carvão ou usar o vento e sua poesia...”. Que sacada! Mas aproveito essa sua pergunta para mostrar o outro lado da coisa: A voz de quem precisa de apoio financeiro para tocar sua produção cultural. Fui buscar Marcelo Benigno, único conquistense selecionado para participar de uma das performances que abriram a Exposição Terra Comunal, da artista Marina Abramovic, em São Paulo. Disse ele: “Não queremos fazer arte só para entreter as pessoas. A Arte é Formação, Criação e Consciência. Por isso, brigo por políticas públicas, espaço, formação. Se o artista não possui nenhuma espécie de apoio, de fomento, ele acaba não movimentando a própria comunidade que se beneficia pelo trabalho”. Pois bem! O impasse começa a partir do momento que a classe empresarial não absorve completamente as manifestações culturais como geradores de produtos rentáveis, não só, financeiramente, mas como ferramenta de capacitação, formação, consciência e fomento da atividade humana, como bem explicitou Marcelo Benigno. E como poderia ser essa reeducação empresarial à pro maior apoio e fomento à cultura? Que tal se essa luta começasse dentro s próprias Academias de Letras, Institutos, Ligas Poéticas e outras entidades, a priori, entidades fortes político e empresarialmente? Seria essa uma das saídas? E se essas entidades e movimentos culturais fizessem uma mobilização de conscientização dos benefícios dessas leis de fomento à cultura nacional e regional? Por que não levar a discussão até os plenários das Associações Comerciais e das Federações das Indústrias brasileiras, entidades que reúnem os maiores empresários nacionais? E se uma corrente pedagógica fosse montada para mostrar o valor desse apoio cultural a projetos (sem classificação política) pelos secretários de Cultura dos Municípios e Estados, junto aos seus contribuintes, já que as leis de incentivo têm como base a parceria públicoprivado? É isso! As leis de cultura estão aí. O legislativo elaborou, o executivo sancionou e abriu essa possibilidade. Mas não há, de qualquer das partes envolvidas diretamente – Estado/Empresa – nenhuma ação dinâmica no sentido de ajustar tais leis, melhorá-las e fazê-las acreditadas. Necessário, destarte, que um setor mais forte, ajude a diluir a ignorância legal (leis de cultura) de muitos empresários brasileiros. Quem sabe, assim, os poetas e artistas não tenham uma melhor chance? Acho que chegou a hora de alguns colocarem em prática o que Lao-Tsé ensinou: “Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão...” IVONE – Sob o seu ponto de vista, como a mídia em geral poderia contribuir, em parceria com o empresariado, para a Responsabilidade Social, com foco na Literatura? ML – Infelizmente raríssimas foram as vezes que vi, li ou ouvi na grande mídia, algo pertinente a ações incentivadoras da Literatura Nacional. Nem as grandes redes de TV se dispõem a fazer concursos literários dessa estirpe, nem mesmo entidades como a Academia Brasileira de Letras, de forma ampla e irrestrita. Por outro lado, a mídia sempre esteve atrelada a “grandes favores”. Seja do governo ou grande empresa, estas, campeãs de anúncios, no geral, como as indústrias de bebidas alcoólicas, automóveis de passeio e lojas de varejo. Tudo que sai na grande mídia nacional tem esse vínculo. Ou seja, pouco contribui para o todo intelectual do país. Ainda não vi – desculpem o meu bestunto - nenhuma delas discutir publicamente ou incluir a questão da Responsabilidade Social ou Responsabilidade Empresarial Cultural. Então, como
construir uma consciência cultural que dispute lugar com as premissas da Responsabilidade Social? Aqui vão algumas ideias pessoais: 1 - Deveria se mudar, primeiro, o errôneo conceito de que aplicar recursos em Cultura é simplesmente uma rubrica de Despesa. Não! Não é. Mas sim, de Investimento; e 2 - Acredito eu que dentro dessa perspectiva haja o tão requisitado ‘retorno’, dentro de uma visão que os especialistas chamam de “lucro social”. E que esses voltem como dízimos para a sociedade, no que tange à melhoria dos baixos indicadores sociais. Desta forma, sei que só Cultura não mata a fome de ninguém, mas acredito, que tenha inúmeras funções sociais tão vitais quanto as que alimentam o corpo, pois alimentam, o espírito, a alma e a consciência. IVONE – Qual é a sua sugestão em relação à medida a ser tomada pelo Estado, para melhorar o programa de incentivo cultural, ou melhor, os resultados alcançados? Uma vez que uma minoria é agraciada com a maior parte, e uma maioria se desdobra para fazer o mesmo produto com 2% dos grandes. Ou estou equivocada? ML – Não. Você não está equivocada, minha querida amiga. Aliás, reservo-me o direito de agraciá-la por sua tão importante gestão na área da literatura brasileira, num esforço hercúleo para divulgar as manifestações culturais que lhe alcançam. Mas, com relação aos resultados alcançados até agora com as chamadas leis de incentivo culturais, germinam muitas dúvidas. O próprio Ministério da Cultura já admitiu várias vezes, que muitos dos financiamentos estilingados pela Lei Rouanet estão distorcidos. Mesmo porque esse mecanismo tem mais de 20 anos e até agora, poucos foram os que tentaram, legislativamente, adaptá-lo à realidade atual. Na época, quando o legislador admitiu deixar nas mãos dos empresários a definição de onde colocar seus recursos, até que acontecia a estimulação direta da parceria público-privada, ou seja, os projetos recebiam verbas de parte dos recursos advindo do caixa das empresas e outra, em forma de incentivos fiscais. Mas hoje, não é mais assim. O empresário quase não mete mais a mão no bolso. Isto é, quase 100% vem do imposto trocado. Permita-me citar um parágrafo interessante numa entrevista à Rádio da Câmara dos Deputados, o especialista em projetos culturais Antônio Albino, onde mostra falhas na Lei Rouanet: “(a). Não traz a iniciativa privada para investir na cultura e pega o dinheiro público e esse dinheiro público é decidido pelas empresas. (b). Tem concentração regional, o que é outro complicador. (c). Tem concentração em alguns projetos, o que é outro complicador. Quer dizer, você tem um conjunto muito grande de problemas que a lei de financiamento traz. (d). Ela não é adequada a financiar a diversidade da cultura, isso é um problema sério. Como quem define o uso dos recursos são as empresas, a lógica é a de marketing". Ou seja, para o empresário que não tenha a mínima responsabilidade social e nem saiba o que significa ‘lucro social’ - investir em pequenos artistas, escritores ou gente do povo - não traz lucro efetivo. Essa percepção pífia, precisa mudar. Como? A partir de uma ferramenta melhor elaborada, melhor estudada e atualizada. Por isso, sugiro aqui, a criação de uma comissão parlamentar (com a participação de vários setores da cultura), na Câmara Federal, para avaliar e redesenhar a Lei Rouanet e transformá-la em algo, cujos resultados sejam mais positivos e atraia mais o setor empresarial. A partir daí todas as outras leis estaduais e municipais seguirão seus ditames. IVONE – O que é o trabalho para você? ML – Segunda, terça, quarta, quinta, sexta-feira. Sábado e domingo... IVONE – Por que será que os maiores canais de televisão, os que têm maior alcance nacional, não abrem espaço para literatura, como forma de contribuir para a educação de nossas crianças e jovens? ML – A nossa mídia, seja na TV, Rádio, Jornal ou grandes grupo na Internet, funcionam com uma chave de alcance chamada tecnicamente de – nível macro. Exatamente nesse nível é que se encontram as subferramentas capazes de catalisar, de forma cruel, as expressões políticas e institucionais. A meu ver, esse é o ponto nevrálgico – o nível macro - que legitima a desigualdade social. Chamo esse fato de Racismo de Oportunidades, aquele que impede pessoas de quaisquer etnias, credo ou classe social de obterem chances iguais no mercado cultural. Um exemplo ensurdecedor disso são as chamadas listas (livros, discos,
programas) dos mais vendidos. Não só eu, mas há pessoas especializadas em cultura que chamam isso de “manipulação das massas”, como acertadamente diz Márcia Tiburi, na revista CUT: “A verdade é que escritores são valorizados por motivos estéticos e políticos que também podem representar algum tipo de capital...” Faço minhas as palavras de Márcia Angelita Tiburi, artista plástica, professora de Filosofia e escritora brasileira. Graduada em filosofia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que ainda afirma, com propriedade: “Mais importante é entender que há uma manipulação das massas no ato de lançar e ‘publicizar’ os números das vendas diante delas. Daí a função da lista estimulante. Massa é uma medida de quantidade populacional, sempre muita gente que pode ser manipulada porque, no contexto do todo, perde sua capacidade de decisão no abandono de cada um à coletividade sem reflexão. Mas como isso acontece. Assim como em uma eleição pesquisas de intenção podem mudar a orientação do voto, do mesmo modo, a lista de mais vendidos ajuda a vender qualquer coisa. A lógica é simples como aquela que verificamos ao ouvir do vendedor em uma loja: ‘essa camisa está vendendo muito’. Frase como esta atinge um estranho desejo das massas, localizado em cada indivíduo. O único desejo que sobrevive na massa deriva do medo de não fazer parte dela (...)”. E a nossa mídia, exímia ‘curadora’ das massas, vai nessa direção. IVONE – Gostaria que você fechasse nossa conversa de hoje com um poema seu. SONETO E ADEUS (A!)... Mhario Lincoln E quando teus olhos não mais olharem os meus... Dando de costas e levando os caminhos teus... Deixando saudade em quem nunca tocastes... Matando o amor de quem nunca amastes... Teus passos – porém – caminharão em vão... Pois no meio do caminho, o coração... Arrependido e preso na dor do fracasso... Faz-te recuar – e rápido – envolver-me em abraço. Assim reagem os que são solitários na dor; Os que são solitários também no amor, Mas conseguem no outro, carinho aguerrido... E ao outro se entregam a mil Buscando tanto essa paixão febril Lembrando que de amor, tinha sofrido...
WOLNEY MILHOMEM, UM ACENDEDOR DE ESTRELAS 396 FERNANDO BRAGA
[Ao médico, escritor e querido amigo Mário Luna Filho] Ele deu um toque de poente e decidiu que sua dor estava solta, e vagueou como idéia boêmia entre os dramas acontecidos, não sabendo que os anjos iam adormecê-lo por derradeiro nas “Arcadas do sol”, naquele seu sertão de sonhos e seu lugar onde se cortam rios na confluência cabocla e mestiça de magias e paus-d’arco. Já perceberam que estou a falar da terna e bela Barra do Corda. E meu amigo, onde estiver, porque já se encontra pertinho de Deus, há de se lembrar dos mapas esticados e dos caminhos tortuosos onde soube acender tantas estrelas como um - estróinas das horas – e anunciar-se não para cantar – a morte da tempestade -, mas a sua própria, como num exercício de fé e fuga. Não poderia ser diferente o meu canto de saudade e de adeus a Wolney Milhomem e a sua figura ilustre e byroniana – o lorde peregrino – perdido um pouco abaixo dos trópicos, à sua inteligência criativa, iluminada e fidalga que os todos encantava; aos seus princípios intelectuais, éticos e humanos requintados de senso profissional e de altruísmo. O nosso convício em Brasília fora intenso e não poucas e também intensas foram as nossas reflexões. Guardeia-as todas. Todas ponderadas com justeza e com dignidade. E todas as remeti para os meus alfarrábios de lembranças e de recordações como se levado pelo ímpeto de Fernando Pessoa quando estes versos chorou à tumba de seu amigo e irmão espiritual Mário de Sá-Carneiro: “Ah, meu maior amigo, nunca mais/ na paisagem sepulta desta vida/ encontrarei uma alma tão querida/ às coisas que em meu ser são as reais”. Wolney Milhomem fora antes de tudo um esteta intemporal nas abismais predições da palavra e da verdade, sobre tudo, Omo bem atestam os ângulos do tempo onde se postou em observação constante para vivificar-se através das “Lupas de um louco” como o alterego humano e pictórico da dramaticidade Meireliana; onisciente ainda, às sagas de sedução da “Sinhá Susana” e às rapsódias poéticas do inesquecível cantor de “San Remo”. Como jornalista tinha cuidado especial e exemplar com a matéria que tratava, como poeta, sabia, como poucos, transcender o belo e buscar a pureza da forma estética e do conteúdo imaginado, como prosador – um dos melhores que já vi – sabia, com destreza inconfundível, compassar as figuras de estilo e de linguagem e fazê-las bailarinas num grande texto. 396
Fernando para o Caderno Imparcial - Ponto de Prosa, São Luís, 23.9; 92; Enfeixado em “Travessia” [memórias de um aprendiz de poetas s outras mentiras] Tomo III “Toda Prosa”, em construção.
Poeta, escritor, jornalista. Nasceu na cidade de Barra do Corda, no centro geodésico do Maranhão, como dizia, em 10 de outubro de 1927. Revelou-se desde cedo um intelectual de mérito. No exercício do jornalismo e propriamente da literatura a sua obra revela a natureza do verdadeiro artista dotado do poder de talhar magicamente as idéias. Humanista, o fundo e a forma das palavras que compõem indicam o estilista espontâneo. Analista de imprensa, sempre se apaixonou pelas temáticas sérias, interpretando com lúcido equilíbrio a fenomenologia nacional e internacional dos muitos acontecimentos que conturbaram o mundo nas centúrias derradeiras. Seu livro “O estróina das horas” (já em 2ª edição) em português e traduzido para o italiano na coleção de literatura brasileira contemporânea da editora ítalo-latino-americana Palma, de Palermo, é um documento de enfoque da perturbada sociedade humana. Seu ensaio “O humanista Victor Meireles” (Ed. Flama, Porto Alegre) recoloca numa prosa clara e elegante esse clássico pintor pátrio em seu devido plano. por fim, “A morte da tempestade” desdobra a linha da alta poesia com uma inspiração profundamente humana, exprimindo angústias, diríamos quase apocalípticas, timbradas por uma fé desesperada. A humanidade é o alvo de suas decepções abismais, não acreditando na paz estabelecida senão como uma trégua entre as guerras. Foi membro da União Brasileira de Escritores, da Associação Brasileira de Imprensa, da Associação Paulista de Imprensa, do sindicato de escritores do Distrito Federal, e, em 1974, foi eleito “Accademico Del Medirerraneo” (Academia Italiana de Letras, Artes e Ciências, em Roma) Wolney Milhomem, um acendedor de estrelas é um poeta do crepúsculo universal, que traz ao quadro contemporâneo uma beleza de ressonâncias chocantes e transcendentes. Agora, o Wolney velho-de-guerra transmudou-se simplesmente para o silêncio de sua imobilidade, bem-aventurado e conflitual. Despediu-se de mim dizendo que iria passar algum tempo em sua casa na Barra do Corda, convidando-me para passar uma férias consigo para recitarmos versos nossos e dos outros nos amplos espaços alpendrados do rancho das “Arcadas do Sol” como chamava, mas que, infelizmente, acabou lá ficando entre os murmúrios do descanso eterno.
PARA VAVÁ NESTE SEU ANIVERSÁRIO CERES, LUNA E DILERCY
Vavá vê a uva que dá vinho suave inebria a alma embriaga sonhos palavras e canções!!! Vavá vê a ave que voa voa voa alto muito alto... águia voando se escondendo se recolhendo - bem acima na montanha e renova as suas asas o seu bico as suas garras para novos voos pela planície montanhas e lagos! viva a uva! viva a ave ! viva a águia viva Vavá!
MORANGOS E ABISMO DILERCY ARAGÃO ADLER
A Rubem Alves ( in memoriam) Ventos sopram sem direção... - abismo à vista -.... profundo escuro impossibilitando clara visão... buraco negro no chão! coração dividido entre esperança e tensão ... ansiedade frente ao imprevisível... esperança pela visão "de morango à beira do abismo"... morango-abismo provocando antagonismo de sensações ... esperança que persiste - “a despeito de”...hoje não haver razão de otimismo otimismo como - “alegria por causa de”-.. Apesar dos pesares o coração borbulha esperança sempre sempre e declara antever em um dia comum um dia comum qualquer a queda no abismo não acontecer!. e a verdade o bom senso a equidade a justiça entre as pessoas hão de prevalecer!
A MÃO, O BERÇO, O MUNDO DILERCY ADLER A Joana Adler, minha mãe
“a mão que embala o berço é a mão que rege os caminhos do mundo” quisera que mais mãos como as tuas houvesse ... mãos que nos conduziram com amor mãos que buscaram sempre relações verdadeiras mãos tão amigas tão companheiras que nos valeram sempre nos momentos de dor quisera que mais mãos como as tuas houvesse ... mais companheirismo mais benignidade mais justiça e igualdade existiriam neste mundo de tão pouca magnanimidade “a mão que embala o berço é a mão que rege os caminhos do mundo” obrigada mãe por tuas mãos tão sábias obrigada mãe por teu querer teu apreço obrigada mãe - a tipor embalares nossos berços obrigada mãe por teu existir! In: ADLER, Dilercy. Cinquenta vezes dois mil humanas idades, 2000, pp. 29-30
MENINA DE RUA AYMORÉ ALVIM
Menina, me diga, Por onde andavas? Estava na rua. Que rua, menina? Na rua do tempo. Que tempo tu falas? Do tempo, na rua, Que levo a passar. Então o que fazes? Por que me perguntas? Pergunto porque Me interesso por ti. Por mim, não. Mentira. Mentira, por quê? Ninguém se interessa Assim tanto por mim. Eu vivo na rua Desde pequenina Onde passo meu tempo Tentando sonhar. Eu sonho com o tempo, Embora na rua, Perdendo o meu tempo Podendo estudar. É essa a lida De quem vai pra rua Lutar pela vida Pra algo ganhar. Agora tu vens Perder o teu tempo Me deixa na rua Quero trabalhar. Não tenho instrução Pra ganhar meu tempo Ninguém se interessa Pro tempo eu ganhar. E o tempo se passa E a gente na rua Vivendo de sonhos Sem poder sonhar.
E tu o que fazes, Não vais trabalhar? Me deixa na rua Pro tempo passar. Eu passo meu tempo Esperando na rua Que passe depressa Pra tudo acabar.
MINHA MÃE AYMORÉ ALVIM
Se é missão ou sina Não importa. Somente sei Que és a áurea porta Por onde a vida entra neste mundo. De Deus és a imagem Aqui, na terra. Pois todo amor Que o coração revela É o reflexo desse amor imensurável. Reverencio, hoje, Os teus cabelos brancos. Descoloridos, quem sabe, Pelos prantos, De noite insone, Noites mal dormidas. Quanto trabalho te dei, Querida mãe. Perdoa-me se nasci para esta vida Usando a feliz porta que se abriu. Quantas vezes choraste! Eu nem sentia Porque de ti somente eu exigia Muitos cuidados, carinho e atenção. Se fosse meu o mundo Eu te daria Embora sei que não compensaria Todo trabalho e dedicação. No entanto, feliz, hoje, eu mais seria. Se todo filho tivesse, neste dia, Um colo quente para repousar.
Mas a vida, bem o sei, É diferente. Quantas sofridas mães estão agora Chorando a falta do seu filho ausente. Triste, também, A própria vida chora Por outras tantas que, infelizmente, Lhes foi negado o direito de nascer. Chora pela infância, triste, abandonada Entregue ao vício, nas esquinas e calçadas, Sem um sorriso sequer. De tolerância! Mas mãe que é mãe Não é assim, sabemos, Tem coração puro e dedicado, Sem vaidade e pleno de bondade. Pra dar aos filhos amor em abundância
ESPERANÇA AYMORÉ ALVIM
Quantas ilusões plantei, Nada colhi. Quantos sonhos eu sonhei Sem desfrutar. Quantas ideias criei Sem as realizar. Quantas doces lembranças Esqueci. Lamentar ? Por que? Passou o tempo. A vida é muito curta Não desperdice. Tudo o que ficou Hoje é passado. E lá repousará, Eternamente. Vive o teu momento, É tua chance. Realiza o que puderes Sem queixumes. O que seria das rosas Sem o perfume.
O que será de mim. Se tu partires. E quando o sol da tarde Mergulhar, Na noite do teu dia Comumente. Crê que estarei A te esperar Até que tu regresses Novamente.
TROFÉU CECÍLIA MEIRELES (MULHERES NOTÁVEIS) ITABIRA, 25 DE MAIO DE 2016 Prezado (a)amigo (a) Gratidão e reconhecimento são duas palavras mágicas no dicionário dos sentimentos humanos. Ao olharmos para trás e vislumbrarmos a obra de uma vida, emerge a visão de um longo caminho percorrido, e que levou ao sucesso. O reconhecimento à sua obra, que se materializou na cerimônia de entrega dos Troféus CECÍLIA MEIRELES (MULHERES NOTÁVEIS), PEDRO ALEIXO (PERSONALIDADES NOTÁVEIS) E CARLOS CHAGAS (PROFISSIONAIS DA SAÚDE) extrapola o aspecto físico, do prêmio em si. O prêmio é essencial, uma vez que o mundo precisa ver e medir a grandeza de seu trabalho. Mas há algo superior: esse sentimento que todos nós temos, de gratidão por tudo o que a obra de sua vida proporcionou, para uma comunidade e um país. Agora, através desta carta, gostaríamos de expressar, novamente, o reconhecimento ao seu talento, ao seu trabalho e à sua importância para as pessoas e para o mundo. E, igualmente, externar nossa dupla gratidão. Inicialmente, por tudo o que fez ao longo de sua vida e de sua carreira; e também, por sua presença entre nós, em nossa festa, ao abrilhantar uma noite inesquecível, em que, para a nossa alegria, a competência, o trabalho, o brilhantismo e o talento foram reconhecidos e premiados. Atenciosamente Eustáquio Lúcio Félix Colunista do Jornal Folha Popular – Itabira-MG
PARA UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE POETAS NASCIDOS NO SEGUNDO TRIMESTRE
MAGSON GOMES DA SILVA397 26 de maio de 1933 Ingressou no Banco do Brasil em 1953, e ali fez toda sua carreira, vindo a aposentar-se em 1983. Temperamento retraído, e até mesmo esquisito, nunca pertenceu a grupos ou movimentos literários, contando-se, entre suas raras amizades de motivação intelectual, o poeta Assis Garrido, que muito o estimou e assistiu. Poeta de filiação romântica, também dá a muitos de seus versos a roupagem parnasiana, sendo autor de elegantes e perfeitos sonetos. Parte de sua produção em prosa – contos, principalmente – permanece inédita. Bibliografia: Inspirações / Magson Gomes da Silva. [S.l. : s.n.], 1957 (S. Luís-Maranhão : -- Tip. Teixeira), http://catalogo.bnportugal.pt/ipac20/ipac.jsp#focus; Magnólia (1984); Albores e luares (1991); Poemas galantes (1992); Serões da fantasia (1988). Tem os seguintes btrabalhos inéditos – Seiva (poesias); Fantasias românticas (poesias escolhidas);Dias Carneiro Arnaldo Ferreira (discurso de posse na AML); O poeta Antonio da Costa Gomes e O prosador João da Costa Gomes (conferencias na AML).
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MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993
RUBEN RIBEIRO DE ALMEIDA398 09 de maio de 1896 # 09 de abril de 1979 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luis a 09 de maio de 1896; fez todos os estudos nesta Capital, do Colegio são Francisco (primário) ao Liceu Maranhense e à faculdade de Direito. Verdadeira enhciclopedia ambulante, poliglota, falava fluentemente Frances, espanhol, italiano, inglês e, evidentemente, português, além de saber o latim e noções de grego e de alemão. Escritor, jornalista, historiador, poeta, e professor,sendo o Magisterio sua verdadeira profissão. Catedratico do liceu Maranhense, através de concurso puiblico para a cadeira de Lingua Portuguesa, onde defendeu a tese “Verbos fundamentais da Lingua Portuguesa e raízes e radicais gregos existentes no Portugues” (1930). Lecionou ainda em todos os colégios de seu tempo: São Francisco (onde estudou), Nossa Senhora auxiliadora, Oscar barros, sinhá Nina, Rosa castro, São Luis, Liceu Maranhense, Centro Caixeiral, Cisne, Minerva, Instituto Vieiros, e Escola Técnica Federal. Foi um dos fundadores (1952) e professor da antiga Faculdade de Filoosofia de São Luis do Maranhão, que dentre seus cursos de Licenciatura ministrava o de letras neo-Latinas. Foitambém professor da faculdade de Direito, por concurso publico, onde apresentou duas teses: “O Indio brasileiro em fase do Codigo Civil”, e “Investigação na Paternidade – argumentos que a justificam e repelem, para a Cátedra de Direito Civil” (1934); e mais “Presidencialismo e Parlamentarismo”. Não se preocupou com a publicação de livros. Nos anos de 1912 a 1951 há artigos seus nos jornais “Diário do Maranhão”; “A Pacotilha”; “O Jornal”; “O Combate”; “Folha do Povo”; “Tribuna”; “Diário de São Luis”; e “O Imparcial”. Há, ainda, publicações em revistas especialoizadas, como os textos “A Constituição dos Antonimos para a História do Maranhão” (1947 – Revista de Geografia e História). Interessante seu trabalho intitulado “Panteon das Selvas”, onde traça biogtrafia dos mais extraordinários índios do Brasil, do Amazonas ao Rio Grande do Sul; muito bonito “Glorificação de Gonçalves Dias”, discurso laudatório, publicado em 1962; seu único livro publicado, postumamente, ‘Prosa, poesia, e Icnografia”. Não constituiu família e nem deixou descendente. Foi membhro do Conselho Estadual de Cultura; AML, fundador da cadeira 29; sócio efetivo do IHGM, cadeira 9 e posteriormente patrono da cadeira 51; membro da Subcomissão nacional de Folclore; Consultor técnico do Diretorio Regional de geografia. Integrou por 17 anos a Sociedade Literaria Barão do Rio Branco; e a Legião dos Atenienses. Palestrante de valor, memória privilegiada. Detentos das medalhas do Merito Timbira, do Sesquicentenario da Independencia, e Cidade de São Luis; pela Academia maranhense de letras; as de Graça Aranha, e de Gonçalves Dias. A UFMA conferiu-lhe o titulo de professor Emerito; foi duas vezes Diretor do Liceu Maranhense e da Biblioteca Publica Benedito leite; Presidente do IHGM no período de 1967 a 1972. Faleceu em São Luis em 09 de abril de 1979. A ÁGUIA E O ROUXINOL (ELEGIA AO PROF. RUBEM ALMEIDA) 399 RUBEN ALMEIDA, O JORNALISTA O Mestre Ruben Almeida, não foi somente Professor. No período de 1912 a 1951, exerceu com raro brilhantismo as nobres funções de jornalista, tendo militado em quase todos os jornais de São Luis, vez que a sua verve o fazia disputado por aqueles que administravam os jornais locais à época. Além de artigos em jornais, teve ainda, publicações em revistas especializadas e algumas obras, dentre as quais destacamos: “Panteon das Selvas”, “Glorificação de Gonçalves Dias” e “Prosa, Poesia e Iconografia”. Aos 17 anos de idade Ruben Almeida integrou a Sociedade Literária “Barão do Rio Branco” e a Legião dos Atenienses. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura, da Subcomissão Nacional de Folclore, Consultor Técnico do Diretório Regional de Geografia e Diretor do Liceu Maranhense por dois mandatos. Junto à Academia Maranhense de Letras, foi fundador da cadeira 398
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OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005
OLIVEIRA, Edomir Martins de. A ÁGUIA E O ROUXINOL (ELEGIA AO PROF. RUBEM ALMEIDA). SÃO LUIS: ORLIMAR GRAFICA E EDITORA, 2011.
nº 29, e no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, foi patrono da cadeira nº 51, por nós atualmente ocupada, chegando a ser Presidente, entre os anos de 1967 a 1972, secundado pelo brilhante Promotor de Justiça, Dr. José Ribamar Seguins, seu vice. A extraordinária vida intelectual do Professor Ruben Almeida foi sempre meteórica. O brilho da sua invulgar inteligência galgou-o à Academia Maranhense de Letras400. Como Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão sempre se houve com desembaraço, levando a bom termo as metas que se propôs realizar. Não pode concluir seu mandato por motivo de saúde. Infelizmente, a saúde precária não lhe permitiu chegar até o fim do ano acadêmico de 1972. O vice-presidente, Dr. José Ribamar Seguins completou seu mandato, tendo sido eleito inicialmente para o biênio 1972/1974. A dinâmica do seu trabalho levou os confrades a reconhecerem seus méritos e elegerem-no para sucessivos mandatos, que só foram concluídos em 1994, sendo o único acadêmico a permanecer 22 anos no exercício da Presidência. E saiu porque entendeu que era hora de ceder lugar a outro. Pelos confrades ainda continuaria mais tempo na presidência. Hoje, aliás, não são poucos os que pensam no seu retorno à presidência da Casa de Antonio Lopes. RUBEN ALMEIDA VISITANDO LIVRARIAS Peço permissão aos leitores para contemplá-los com um episódio que vivenciei em uma livraria desta Capital, ao lado do Prof. Ruben Almeida. Quem conhece São Luis, bem haverá de lembrar-se da Livraria “A Colegial”, que outrora foi parada obrigatória de estudantes e professores. A Livraria era localizada no Centro de São Luís, bem à praça João Lisboa. O Prof. Ruben Almeida era um visitante assíduo daquela fonte de saber que mantinha um considerável acervo de livros a oferecer aos estudiosos. Estava eu a folhear um livro sobre discursos do grande Tribuno Romano Marco Túlio Cícero, quando ao meu lado escutei uma voz muito minha conhecida de sala de aula. Cumprimentei-o. Tratava-se do Prof. Ruben Almeida que pedia ao livreiro que por gentileza, lhe trouxesse um exemplar da mais recente obra que versasse sobre a língua pátria. Sendo Ruben Almeida um estudioso da língua portuguesa, nenhuma novidade havia na procura do último lançamento sobre o assunto. O que surpreendeu a todos que presenciaram o pedido foi a repentina tomada de posição do Professor Ruben. Depois de rápido manuseio do volume pedido, arrancou algumas páginas, pagou o valor do livro e pediu ao livreiro que jogasse o resto fora, vez que o livro de aproveitável só tinha as folhas que arrancara. Virando-se para mim, acrescentou: jovem leia de tudo, mas saiba escolher o que convém e só guarde o que interessa e possa lhe enriquecer. Era assim o Prof. Ruben Almeida. De certa feita, mandara que minha turma do Liceu Maranhense que ele tinha ao seu encargo, fizesse uma dissertação sobre o tema “Viagem Marítima”. Surpreendentemente, foi às raias da indignação quando um aluno menos avisado escreveu na abordagem do tema, que seria bom que a embarcação parasse no meio do mar para que os passageiros pudessem fazer outro passeio, saltando e empurrando a embarcação. O Prof. Ruben Almeida entendeu a dissertação em tela como um acinte à língua pátria e oriunda de uma imaginação doentia, acrescentando ironicamente que só faltou o autor dizer que seria bom e que os passageiros saltassem para empurrar a embarcação no próprio mar, cuja houvera parado o motor. Aí sim, completou o Mestre. A comicidade estaria completa. DEPOIMENTOS SOBRE O PROFESSOR RUBEN ALMEIDA Contou-me o Professor Tácito da Silveira Caldas, que de certa feita indo o Prof. Rubem Almeida assistir a uma reunião do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, quando era então Presidente o Dr. Seguins, foi convidado por este para compor a mesa diretora dos trabalhos, ao que o Prof. Ruben teria pedido permissão para assistir a reunião do plenário, pois gostava de ouvir olhando o orador. Em vão, o convite foi reiterado. De nada adiantaram as palavras do Dr. Seguins que tentava convencêlo, dizendo-lhe que sua presença à mesa era uma honra das maiores. “Obrigado Presidente”, mas insisto em ficar aqui no Plenário. Despido de toda vaidade foi assim o Prof. Ruben Almeida. A sua única honra, consistia no reconhecimento da sociedade pelo que ele era, pelo que ele foi, e neste particular em tudo superior ao que ele teve. Morador da Rua dos Afogados, em um histórico Mirante, bem próximo à Rua da Cruz, quem nos conta é o Dr. Seguins, expresidente do IHGM, vivia, nesta segunda moradia, entre livros, estantes e escrivaninha. Ambiente de estudo nunca bem arrumado, dizia ele que arrumação necessária era somente a que residia no seu intelecto. Na sua desarrumação de livros, sabia contudo, onde estava o livro de que precisava. Havia mesmo quem dissesse que com autores já falecidos conversava ele durante o sono. De vida familiar muito restrita, teve em a Sra. Justina, conhecida na intimidade por Da. Juju, sua inestimável colaboradora e companheira. Dessa convivência nasceu ao casal um filho que os amigos próximos chamavam de Rubinho, não sendo ele na verdade batizado sequer com o nome de Ruben, antes se chamava Silvio. Acredita-se que o diminutivo Rubinho era uma forma carinhosa de contrastar com o Rubão, tão temido Prof. de Português. A criança teve vida curta. O Pai Celestial chamou-o para o seu seio, ainda no albor da juventude, ele que parecia uma promessa intelectual.
O imortal poeta Carlos Cunha, em seu livro “Poesia Maranhense de Hoje”, traçou um perfil biográfico do Prof. Ruben Almeida, digno da melhor das atenções, onde se refere a ele como um mestre que engrandece qualquer Instituição à qual esteja vinculado.
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É preciso ainda ressaltar que o Prof. Ruben Almeida foi Diretor da Biblioteca Pública Estadual Benedito Leite, nomeado para substituir a confreira Aryceia Moreira Lima, que mourejava também no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ela que fora designada para exercer outra função importante no Estado. Como Diretor da Biblioteca Pública iniciou uma campanha memorável de estímulo aos jovens, incentivando-os à leitura. Emprestou inúmeros livros da Biblioteca a todos que estavam interessados em ler. O leitor podia ou não ser cadastrado na Biblioteca para estar habilitado ao empréstimo. O leitor tendo cadastro já feito, o empréstimo do livro saía mais rápido. Se não tinha cadastro precisava preencher uma ficha, dizia dos seus dados básicos, tais como nome completo, pais, endereço, sexo, escola onde estudava. Era o bastante. O leitor saía com o livro desejado debaixo do braço com um prazo estipulado para devolução. Perguntei-lhe certa vez: “Professor, esses jovens que levam livros por empréstimo o devolvem depois?” Ao que ele me responde que os poucos que não devolviam eram tão insignificantes que sequer deveriam ser lembrados. Desprovido de toda e qualquer vaidade, trajava-se, com roupas sempre limpas e sem rasgões. Sua vasta cabeleira era o seu ponto marcante. A sua identificação era, principalmente vasta cabeleira sempre cheia, onde os cabelos eram penteados no passar entre os dedos, servindo estes como se um pente fosse. Estava assim, a cabeleira era muito bem arrumada. Os últimos anos de sua vida foram vividos em uma residência à Rua das Hortas, nesta Capital. Várias vezes ali fui visitá-lo, ansioso por tirar dúvidas e aprender um pouco mais. Sempre fui por ele atendido com alegria e prazer, respondendo aos meus questionamentos e orientando-me. Para um estudante sempre foi momento de glória aquele em que conseguia conversar com o Mestre Ruben. Um fato pitoresco da vida do Prof. Ruben Almeida merece ser registrado: morreu sem nunca acreditar que o homem pisara na lua. Dizia sempre que aquela foi a mais fantástica história de que tomara conhecimento. Nunca pode ele se convencer do feito dos astronautas que revolucionaram o mundo morreu dizendo: “foi uma farsa”. Curioso é que hoje existem pesquisadores que põem sob suspeita a certeza que se tem. Missão cumprida na terra, ajudando a formar gerações, que logo ocuparam lugar de destaque quer no cenário estadual, nacional ou internacional, o Senhor Deus o chamou em 09/04/79, aqui mesmo nesta cidade, que foi do seu nascimento, contando ele com 82 anos e onze meses de idade. O Professor Ruben não morreu. Nós que fazemos o IHGM preferimos dizer que Deus, o Pai por Excelência, fez com ele o que fazemos com nossos filhos quando adormecem: Tomamos as crianças em nossos braços quando o sono as alcança, em qualquer parte e levamos para um lugar seguro, com todo conforto. Quando o Prof. Ruben Almeida adormeceu, entendemos não ter sido diferente. O Pai Celestial tomou-o nos seus braços e levou-o para o lugar seguro que lhe estava reservado na Mansão Celestial. Graças à proposta do Historiador e Confrade Luiz Alfredo Netto Guterres Soares, que na gestão do Presidente do IHGM, José Ribamar Seguins, propusera a criação de mais dez cadeiras, com as quais pretendia homenagear nomes ilustres que haviam partido, maranhenses de escol, que precisavam ser lembrados constantemente, foi que foram abertas mais 10 vagas no Sodalício, passando o Instituto de 50 para 60 sócios, cabendo à cadeira de nº 51 ser patroneada por Ruben Ribeiro de Almeida, “o último grande gênio da língua pátria”, no dizer daquele confrade. É esta cadeira que ocupo com indizível alegria, sendo enorme a responsabilidade de substituir o seu titular, de tão saudosa memória, a quem nos habituamos a render homenagens e a cultuá-lo pela enorme contribuição à cultura da nossa terra e da nossa gente. A grandiosidade dos serviços do Prof. Ruben Almeida prestados ao Maranhão foi indescritível, quem nos acrescenta é a “Biografia Resumida de Maranhenses Ilustres”, contida na Revista nº 11 do IHGM, às fls. 41, dissertada pelo confrade Joaquim Elias Filho, em parceria com a confreira Maria dos Remédios Buna Costa Magalhães. Dessa biografia, obtivemos as informações de que ele recebeu “Medalha Cidade de São Luís”, “Medalha do Mérito Timbira” e “Medalha Maranhense do Sesquicentenário da Independência”, todas concedidas pelo Governo do Estado do Maranhão; que a Academia Maranhense de Letras, pelos seus elevados dotes intelectuais sobejamente reconhecidos, concedeu-lhe a “Medalha Graça Aranha” e a “Medalha Gonçalves Dias”; que a Universidade Federal do Maranhão, considerando os seus elevados méritos, conferiu-lhe a comenda de “Professor Emérito”; que O Imparcial, matutino desta cidade, vinculado aos Diários Associados, rendeu-lhe também homenagens, concedendo-lhe o título “Quem é Quem”; que do Ministério da Aeronáutica, recebeu o “Medalhão do Centenário de Nascimento de Santos Dumont”; que mourejou o Prof. Rubem Almeida como jornalista nos seguintes jornais desta capital: “Diário do Maranhão”, “A Pacotilha”, “O Jornal”, “O Combate”, “A Folha do Povo”, “O Diário de São Luís”, sobressaindo-se pela sua pena brilhante, a serviço do Maranhão, em todos eles, com destaque para “O Imparcial”, matutino que ainda circula até hoje em nossa cidade. Haurimos, ainda, da Revista nº 11, já referida, que o nome do Prof. Ruben Almeida saiu da esfera local, chegou à nacional e estendeu-se à internacional, haja vista o título de membro da “Member of That Society: The National Geographic Society – Washington District of Columbia in the United States”.
Do livro “Cultura em Quadros” do poeta e historiador Luiz Alfredo Neto Guterres Soares colhi sobre o Prof. Ruben Ribeiro de Almeida as seguintes pérolas acerca do mestre que aqui estamos a prestar homenagens: “Ruben Almeida – estudioso, fez História com História, profundo e meticuloso – um prodígio de memória”. Luiz Alfredo nosso confrade no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, com estas palavras sintetizou uma vida. O exemplo do Prof. Ruben Ribeiro de Almeida ficou. Que Deus nos ajude a entende-lo e a reverenciar sua memória. Ele, pelo muito que fez, eternizou-se. Nunca morrerá. POPULÁRIO MARANHENSE A Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, sob o título “Série Inéditos”, cuja série foi iniciada com a publicação do livro “Populário Maranhense, legado que nos doou o saudoso Prof. Domingos Vieira Filho, trouxe a lume o lançamento da obra “Prosa, Poesia e Iconografia”, de autoria do Prof. Ruben Almeida. Nossa pesquisa tornou-se fácil com o manuseio da obra em referência, onde fomos buscar farto material para homenagear o Prof. Ruben Almeida. Neste oportuno trabalho vamos encontrar produções dispersas do Prof. Ruben Almeida, que estavam direcionadas para plaquetas, revistas e jornais e que sem dúvida, se perderiam no tempo e no espaço, não houvesse sido feito este trabalho. Ter-seia perdido também a sua inestimável colaboração a temas relacionados com a etnolinguística, etnologia, problemas indígenas, folclore, antropogeografia. Com a publicação de prosa, poesia e iconografia tem-se reunido os fragmentos dos seus valiosos trabalhos, registrando-se assim, para a posteridade, um pouco da inestimável contribuição de Ruben Almeida aos estudiosos maranhenses. Se nada tivesse nos legado o autor, os seus “Verbos Fundamentais da Língua Portuguesa” já o teriam imortalizado. Chagas Val comentando sobre o trabalho de Ruben Almeida, diz-nos que “é um sábio na última acepção da palavra, e os sábios preferem o silêncio à publicidade gratuita dos que escrevem. Aqui viveu os melhores dias de sua juventude e sofreu a infame perseguição dos tiranetes obtusos. Só porque convicto da verdade, e na mesma linha germânica de Tobias Barreto, sempre defendeu a Alemanha como país grandioso e eterno”. Registram os anais da História, que inimigos do mestre Ruben entendiam ser ele nazista e o prenderam. Seus inimigos estão mortos, deles não se fala senão como verdugos que o tempo fez esquecer. O nome do Prof. Ruben Almeida sobreviveu às intempéries do tempo, sendo até hoje admirado e lembrado com muito respeito. O saudoso Prof. Mário Martins Meireles, imortal da Academia Maranhense de Letras, encarregado de traçar perfil necrológio do Prof. Ruben, em sessão do dia 09.05.1979 naquele Sodalício, refere-se ao Prof. Ruben dizendo que conquistou cargos, títulos e que executou serviços de valor inestimável para o Maranhão, ressaltando que “por três gerações consecutivas, todos vós o sabeis porque não há em São Luís, e no Maranhão por certo, quem não saiba o que foi e o que era, o que fez e o que fazia, o que sabia e o que ensinava”. Enfatiza ainda o Prof. Mário Meireles que merecem ser lembrados, pelo seu grande valor, “Uma palestra sobre Henrique Leal”, datada de 1928, “Raízes e radicais gregos existentes no português”, “O índio brasileiro em face da legislação”, e um trabalho versando sobre doutrina política, intitulado “Presidencialismo e Parlamentarismo”, estes dois últimos datados de 1934. Pelos idos de 1962, juntamente com o autor desse seu necrológio, pronunciou um “discurso laudatório” à memória do autor dos Timbiras, publicado pelo Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, sob o título “Glorificação de Gonçalves Dias”. Também o Prof. Sá Vale, que formava ao lado do Prof. Ruben Almeida o exercício do magistério no Liceu Maranhense, dizia sobre ele que se tratava “de um dos maiores maranhenses vivos pelo seu belo talento e enciclopédica cultura e denuncia que tinha então pronto para o prelo uma obra magnífica – “Panteon das Selvas”. O Prof. Ruben Almeida, inegavelmente, dominava a língua pátria com segurança, era um pesquisador e estudioso por excelência, acrescentando o Prof. Mário Meireles, “além do muito ou do pouco que sabia de tudo, ele era, sobretudo, como que a história viva desta terra”. PROFESSOR RUBEN ALMEIDA – DIGNO REPRESENTANTE DO ESTADO DO MARANHÃO Consta do Diário Oficial do Estado do Maranhão de 26.12.1932, Decreto que foi assinado pelo Senhor Francisco Lisboa Viana, Diretor, respondendo pela Secretaria de Estado do Maranhão, a designação do Prof. Ruben Ribeiro de Almeida para, sem prejuízo dos vencimentos do seu cargo e com o direito apenas à indenização pelos cofres públicos do Estado, das despesas que fizer com a viagem, proceder na zona compreendida entre os rios Turiaçú e Gurupi, aos estudos e investigações indicados nas instruções que lhe serão fornecidas pelo Secretário de Estado”. Recebidas essas instruções, o Prof. Ruben partiu para o cumprimento do Decreto, externando no seu relatório ter “o maior interesse de parte do Governo em reaver uma documentação cartográfica”, sendo de se ressaltar que tal documentação era portada pelo Prof. Ludovico Schwennagen, “insigne homem de ciência que veio a falecer, lamentavelmente aos 71 anos de idade” e que “se entregara com todo o ardor da sua atividade a passar a limpo os esboços dos rios, furos, ilhas, cidades, povoados e minas” que visitou com o Prof. Ruben. Desse magnífico trabalho do Prof. Ruben teve-se uma visão geográfica dos limites dos Municípios de Turiaçú e Carutapera, passando-se por Maracassumé, Rio Tromaí, Rio Iriri-Assu, Iriri-Mirim e Gurupi. Significativo também foi o registro de que não havia lagos de importância e a descrição de cidades e povoados que pertenciam à época aos Municípios de Turiaçú e Carutapera. Importante participação teve o Prof. Ruben no estudo que procedeu sobre a geologia, quando deixou patente que o “litoral maranhense fez parte na época do cretáceo superior e do oceano chamado Tetis, um dos dois (o outro era Nereis), em que dividia
o Atlântico fechado na sua parte equatorial pelo istmo da Arqueamazônia e na meridional, pelo da Arqueplata (prosa, poesia e iconografia), fls.33”. Semelhante participação teve no estudo da mineralogia, donde se foi buscar a afirmativa de que “a crença geralmente aceita é que todo ouro do noroeste maranhense é ouro de aluvião, ou seja, descoberto pelo trabalho de erosão das águas pluviais ou fluviais, e por elas carreado”. Sem perder de vista a sua designação pelo Governo do Estado para proceder estudos no interior do Maranhão, teve também as suas atenções concentradas na Botânica, na Zoologia, tendo feito um profundo estudo da navegabilidade dos rios maranhenses, valendo-se no ensejo de um respeitável estudo sobre o povoamento dos municípios do Maranhão, e destacando as vias de comunicação existentes, entre elas as vias terrestres, marítimas e fluviais. Entre as vias de comunicação pessoal havia as estações telegráficas em Turiaçú e Carutapera, destacando um uso de telefone de Maracassumé para Engenho Central e Imperatriz, que embora precariamente era o que se dispunha àquela época. Ao apresentar o seu relatório, destaca o Prof. Ruben que nas diversas palestras que teve com o Exmo. Sr. Capitão Lourival Seroa da Mota este mostrava o seu desejo de visitar a afamada região maranhense, acrescentando o Prof. Ruben na parte final do seu relatório: ”passo a lembrar a V.Exa., as exeqüíveis medidas que acho necessárias e urgentes para que o Estado do Maranhão usufruindo inteligentemente os inomináveis tesouros que jazem no seu noroeste, logre enriquecer a sua economia, libertando-se de uma vez e quiçá para sempre, da dolorosa crise em que agoniza”. Do seu relatório destaca-se: Quanto à Geografia – “sob esse ponto de vista, o primeiro trabalho do meu relatório,, a medida de maior alcance a tomar é o levantamento cartográfico maranhense”. Quanto à Geologia – “incidentemente figura o Maranhão nas apoucadas e imperfeitíssimas cartas geológicas da América do Sul e ainda nas menos apoucadas do Brasil”, o que levou pela imperfeição dos estudos existentes, a concluir que é preciso “reintegrarmos o Maranhão no seu verdadeiro e orgulhoso título de Atenas Brasileira, que soa como o vibrar de clarins nas alvoradas festivas”. Quanto à Mineralogia: - “...nada mais vem a ser do que um simples capítulo da Geologia... lembro a V. Exa., que do mesmo passo se realizasse os trabalhos geológicos também o fossem os mineralógicos, para economia de tempo e norte do Governo”. Quanto à Botânica – “... chega a ser um verdadeiro crime deixar-se ao abandono tão inestimável tesouro..., sobretudo na margem maranhense do Gurupi, para o que poderiam ser aproveitadas as grandiosas cachoeiras no fornecimento de energia”. Quanto à Zoologia - “...sugiro a V. Exa., na dificuldade de organizar-se um Jardim Zoológico, o empalhamento por um especialista dos mais importantes tipos de nossa fauna, acompanhado o trabalho de um catálogo e fotografias”. Quanto à navegabilidade dos rios, vias de comunicação e povoamento – “... a destruição de cachoeiras por explosivo... poderia permitir a navegação do Gurupi, no que poderia ser auxiliado pelo vizinho Estado do Pará”. No tocante às vias de comunicação, “necessidade de novas estradas e melhoramento das antigas”, e no tocante ao povoamento, chamemos “os nossos irmãos cearenses... para colonização das nossas terras, dando todo o necessário em roupas, remédios, mantimentos para sua fixação, auxiliado pela Saúde Publica”. Conclui o relatório do Prof. Ruben Almeida lembrando que não podem ser esquecidas as melhores atenções aos índios, entre eles os Guajás, Guajajaras, Gaviões, Iaaes, Manajós, Tembés, Timbiras, Urubus, e traduzindo textualmente suas próprias palavras, acrescentou o Prof Ruben Almeida: “julgando assim desobrigar-me da incumbência que me confiou o Governo, sou Exmo. Sr. Interventor, de V. Exa., patrício e admirador”. A propósito do índio brasileiro, os cuidados do Prof. Ruben eram tão grandes que quando se submeteu a concurso de livre escolha para provimento da Cadeira de Direito Civil na Faculdade de Direito de São Luís, a sua tese versou sobre “O índio brasileiro em face da legislação”. Na exploração do tema, direcionou seu trabalho preliminarmente para o que a propósito encerrava o Direito Canônico, lembrando que a Santa Sé desde os idos de 1537, 1639 e 1741 procedeu a intervenções sobre o tema, destacando que o Papa Paulo III revelou o seu interesse pelo assunto. À época no Governo de Portugal encontrava-se o Rei Dom João III e na Espanha o Rei Carlos V. Em 1639 a bula do Papa Urbano VIII confirmou o “Breve”, de Paulo III e duramente excomungava aqueles que vendessem ou escravizassem os índios. Por outro lado, a bula papal de Benedito XIV, de 1741, intitulada “Immensa Pastorum Principis”, proibia terminantemente sob pena de excomunhão, “que qualquer pessoa, secular ou eclesiástica, possuísse índios como escravos e os reduzisse a cativeiro por qualquer forma e sob qualquer pretexto”. Na abordagem do tema, o Prof Ruben foi se abeberar também da legislação portuguesa, que no tocante aos índios tinha uma vasta preocupação com os silvícolas, daí porque inúmeros eram as leis, cartas-régias, provisões, alvarás, éditos, decretos, regimentos e diretório tudo emitido para proteger os índios. Lembra o Prof. Ruben que após a Proclamação da Independência, Lei de 20.10.1823 promulgada pela Assembléia Geral Constituinte, determinando que enquanto não fosse organizado um novo Código continuariam em vigor as Ordenações, Leis, Regimentos, Alvarás, Decretos e Resoluções promulgados pelo Rei de Portugal, no sentido de proteger os índios.
Posteriormente, o Código Civil (Lei 3.071, de 01.01.1916), emendada pelo Decreto-legislativo nº 3.725, de 15.01.1919), incluiu os silvícolas, esclarecendo que ficariam sob o regime tutelar, cujo regime cessará na medida em que forem se adaptando à civilização do país. O espírito irrequieto e estudioso do Prof. Ruben levou-o a tratar de outro assunto que até hoje se constitui matéria de particular interesse no Direito da Família. Foi assim que apresentou uma segunda tese para provimento de uma Cadeira de Direito Civil na Faculdade de Direito de São Luís, e que tomou o nome de “Investigação da Paternidade, argumentos que a justificam e repelem”, lançando ainda no momento a indagação: adotou o Código Civil as cautelas necessárias? Trabalho de grande vulto sobre a investigação da paternidade, onde o Prof. Ruben concentrou suas atenções no direito à vida, no direito à paternidade, no direito à sociabilidade, no direito à reparação e no direito à sucessão. No tocante aos argumentos que repelem a investigação, alinhou o Prof. Ruben o receio de escândalos, o perigo das explorações e as expectativas de abuso. Preocupado com as cautelas necessárias ao adotar o Código Civil, o Instituto chegou a afirmar que tendo em vista a elaboração do Código à época, houveram cautelas necessárias ante as idéias “altamente retrógradas, ainda dominantes”. Na exploração do tema Investigação de Paternidade, vale a pena registrar que se trata de um belíssimo trabalho em que foram concentrados os estudos no direito anterior, nos doutrinadores, nos projetos de código, na discussão dos projetos, no Código Civil Brasileiro em vigor à época e na legislação comparada. RUBEN ALMEIDA O CONFERENCISTA Os registros históricos estão a consignar brilhante conferência proferida pelo Prof. Ruben Almeida no “Grupo Escolar Henriques Leal”, por motivo da comemoração do 1º centenário de nascimento do grande intelectual maranhense que o Grupo Escolar leva o nome. No preâmbulo de sua conferência diz o Prof Ruben que “homenagear os grandes homens é dever tão sagrado, é tão belo dever, que por isso mesmo, pela sacrossantidade que encerra e pela beleza que contem, escapa habitualmente a atenção dos contemporâneos, de contínuo solicitada por tantos e tão variados atrativos”. No decorrer desta sua conferência, o Prof. Ruben referiu-se a Antonio Henriques Leal, destacando seu comportamento como cidadão, médico, político, jornalista, amigo, tradutor, romancista, historiador, crítico, patriota, concluindo nos seguintes termos: ”E a ti, Antonio Henriques Leal, de joelhos, as nossas escusas se o preito esteve aquém do teu merecimento. Não foi nossa a culpa. Tua somente, que te alçaste a culminâncias tais, onde não podem chegar os espíritos das crianças para depor-te aos pés as palmas, os sons e as flores, a que tens inconteste direito pelo vulto do teu caráter, pelo brilho do teu gênio e pelo esplendor da tua obra”. No Instituto dos Advogados do Maranhão foi igualmente brilhante o Prof. Ruben Almeida, quando discursou abordando “Presidencialismo e Parlamentarismo”, onde concluiu direcionando seu voto pelo presidencialismo. Pungente foi o discurso no enterro de Antonio Lobo, maranhense ilustre, onde o Prof. Ruben levou às lágrimas tantos quantos o escutaram naquele momento. Nesse discurso traçou o Prof. Ruben o perfil da vida de Antonio Francisco Leal Lobo (Antonio Lobo), fazendo referências ao magistério que ele tão bem exerceu e o destacando como Segundo Oficial da Secretaria de Governo e ainda por ter sido comissionado Oficial de Gabinete dos Governos Cazimiro Dias Vieira Junior, Manuel Belfort Vieira e Cunha Martins. Designado para prestar socorro à cidade de Codó, no interior do Maranhão, acometida que fora a cidade de uma grande enchente no Rio Itapecuru, para ali se deslocou, prestando relevantes serviços. Foi Diretor da Biblioteca Pública do Estado, do Liceu Maranhense, do qual foi “abalizado lente” e para o qual foi nomeado vitaliciamente, em seguida a um brilhante concurso. Ao concluir seu discurso fúnebre, deixou-nos a seguinte palavra ”e o mestre acaba de morrer. Mas, como acaba de morrer o mestre? Triste, como nos foi dado assistir, majestoso como não o imaginamos. Hoje a pátria maranhense se reveste de luto pela perda do filho muito amado que sempre trabalhou pela sua grandeza, honra e prosperidade”. RUBEN ALMEIDA – UM CULTOR DA LÍNGUA PORTUGUESA Visando ocupar a 2ª Cadeira de Português junto ao Liceu Maranhense, apresentou o Prof. Ruben Almeida à congregação da Escola, tese de sua livre escolha que intitulou “Verbos Fundamentais da Língua Portuguesa”. Tratava-se de um trabalho inédito que viria simplificar o estudo das conjugações. Na abordagem do tema, preocupou-se com a etimologia da palavra verbo, continuando a exploração desse mesmo verbo sob o ponto de vista téo-filosófico, passando pela teoria do verbo na téo-filosofia hindu, estendendo-se pela Pérsia, indo até à Caldaica, analisando à luz da Filosofia Ophita (uma das mais interessantes “pelas profundezas de suas cogitações”), detendo-se na Filosofia grega, na cristã, na druítica e na tupi. Com essas abordagens situou-se na conjugação do verbo, onde nos ensinou que os modos do verbo serão as múltiplas maneiras de manifestar-se mais acertadamente, porque “o verbo é a palavra de afirmação antes – a sua própria afirmação”. PROF. RUBEN ALMEIDA – UM GRANDE ARTICULISTA Dentre os inúmeros artigos do Prof. Ruben Almeida destacaremos alguns para deleite dos leitores. O intitulado “Nossa Casinha”, que se tratava da própria residência do ilustre Professor, que assim a definia: “Que simpática se apresentava, vista com olhos do passado nossa casinha da Rua do Alecrim nº 10, hoje 54, entre as do Ribeirão e Cruz, lado direito de quem sobe!”
Em outro artigo que intitulou “Palacete do Comendador Leite”, nos diz que não era do seu desejo, nem de leve, “arrogar-se à nobreza de solar o palacete, como o dos Belfort ou do Comendador Leite”, lembrando-se aqui que a sua casinha, citada anteriormente em outro artigo, era uma paupérrima porta e janela, porém por ele muito amada. Não se poderia olvidar o seu artigo sobre “Nossa São Luís Histórica”, onde diz textualmente:”talvez se mostre ainda São Luís, das Capitais e cidades brasileiras, a detentora dos melhores e mais profundos vestígios do passado e conclui:”ao visitante, sincero apreciador de velharias, acima do presente movimento da ruas, bancos, comércio, indústria, edifícios, automóveis, estradas – interessa sentir e viver o passado, porque dele e somente de suas glórias vivem os sanluisenses. Em outro artigo que intitulou “Festa do Divino Espírito Santo” (“na casa de Rosaguardamor”), deixa-nos informações sobre o desenvolvimento da festa e da dona da casa, assim chamada por ser de estatura mediana, gorda, de cara larga, em casa de quem valia a pena assistir aos festejos em honra do Divino). “Rosaguardamor” tomou esse sobrenome por haver vivido com um guardamor do Estado. No artigo, o Prof. Ruben descreve a festa com a participação de caixeiras, muitas bebidas e comidas próprias da época, salientando que a festança era em homenagem ao Espírito Santo. Merece menção especial o artigo em comemoração ao 32º aniversário da Fundação de São Luís, onde faz uma descrição do descobrimento do Maranhão e do Brasil pelo ciclo espanhol, destacando a participação de Vicente Yañez Pinzon e sua segunda viagem. RUBEN ALMEIDA E A MARINHA Os registros históricos relacionados com a SOAMAR – Sociedade dos Amigos da Marinha nos dão conta de que o Capitão de Fragata Fernando Moreira Godinho convidou o Prof. Ruben de Almeida para discorrer sobre o assunto “Marinha e Independência do Maranhão”. Destaca-se aqui a luta empenhada para reconhecer o Maranhão à Independência, entre as províncias da Bahia, Cisplatina, Piauí e Pará. Destaca o Prof. Ruben neste colóquio, entre as figuras notáveis na causa da independência de nossa província, o nome de Miguel Inácio dos Santos Freire e Bruce e no cenário nacional, Joaquim Gonçalves Ledo, educados no exterior, um na Inglaterra e outro em Coimbra, patriotas, que foram perseguidos, vítimas de queixas infundadas, despojadas do poder, embora mais tarde reintegrados, mas que são vultos que passaram para a história, merecendo toda a admiração e respeito. RUBEN ALMEIDA – O HOMEM QUE RECONHECIA VALORES SUPERIORES E LHES PRESTAVA HOMENAGENS Aqui destacamos uma homenagem que foi prestada a Domingos Quadros Barbosa Álvares, ilustre Tabelião, além de jornalista e cronista, com prestação de serviços ao “Diário do Maranhão”, “Pacotilha”, “Revista do Norte”; festejado contista e novelista, com destaque para “Mosaicos” e “Contos de Minha Terra”. De igual modo deteve-se em atenções, também, na figura de Teixeira Mendes, que traz no “Ateneu” o seu nome, destacada Escola de 2º grau, desta Capital. Diz-nos o Prof. Ruben Almeida que a despeito de sua ranzinzice e vaidade, era de uma grandeza de alma e uma finura de espírito raríssima em nossos dias. Ainda a propósito de Teixeira Mendes, diz-nos o Prof. Ruben que em 22.01.1916, no Rio de Janeiro, ao visitá-lo, na sua grandeza de espírito, recebendo a visita de um obscuro estudante que trazia como título apenas o ser maranhense, Teixeira Mendes não lhe permitiu que o chamasse de doutor, professor ou mestre, dizendo tratar-se de entendimentos entre membros da mesma fraternidade. E conclui o Prof. Ruben, tratava-se de homem de “caráter impoluto, coração generosíssimo, o maior e melhor intérprete das teorias de Augusto Comte no Brasil”. Iguais atenções dedicou também no fino trato a Coelho Neto, destacando ser ele possuidor do mais rico vocabulário já empregado pelos escritores brasileiros e portugueses, acrescentando que na oratória residia a sua maior vocação. RUBEN ALMEIDA REVELANDO PREOCUPAÇÕES QUANTO À MEMÓRIA HISTÓRICA DA CIDADE DE SÃO LUÍS Cultor da língua pátria, estudioso da história do Maranhão e particularmente da cidade de São Luís, algumas curiosidades a título ilustrativo revelamos ao público leitor, destacando a Igreja do Carmo, a Rua do Sol, aspectos da vida de Gonçalves Dias, e de alguns vultos que nas áreas das suas atividades profissionais deixaram a marca de suas presenças na história do Maranhão. No tocante à Igreja do Carmo, registra o Prof. Ruben que lamentavelmente a igreja que mantinha torres de ornamentação foram arruinadas por falta de conservação. E no que diz respeito às escadarias hoje laterais, nem sempre foram assim. Anteriormente era apenas uma escada central e que as exigências sociais ante o crescente número de fiéis, indicava a necessidade de duas escadas para facilitar o acesso dos fiéis à nave do templo e a saída ao término das celebrações religiosas. Essas mudanças ocorreram quando da famosa festa de Santa Filomena, que rivalizava com a festa dos Remédios. O acesso à praça da Igreja, entre outros meios de transporte, dava-se também através dos bondes, que lamentavelmente alguns anos depois seriam retirados de circulação. A retirada dos bondes ocasionou também, a retirada dos trilhos, aguçando a curiosidade dos estudiosos que apelaram a ilustres homens públicos engenheiros de obras, para que cavassem subterrâneos, tentando descobrir, por essa via, uma comunicação que se dizia existir, ligando a Praça do Carmo com a Fonte do Ribeirão. Para decepção do Prof. Ruben, o subterrâneo foi descoberto, mas fechado por ordens superiores, perdendo-se assim uma inestimável parte da história que os engenheiros o faziam “com inocência angelical e candidez voltaireana”.
No que respeita à Rua do Sol, o historiador maranhense consigna assim ter sido batizada em virtude dos trabalhos desta rua terem sido executados em época equinocial, “em que o sol central a ilumina por inteiro como a todas as paralelas”.
UM EPISÓDIO A QUE SE REFERIA SEMPRE COM MUITA ALEGRIA Constituiu-se verdadeiro orgulho para o Prof. Ruben ter ficado de posse, por uma semana “do livro de almaço azul inglês, no qual Gonçalves Dias copiara na Torre do Tomo, os originais da história da Companhia de Jesus na Vice-Província do Maranhão e Pará”. Registra ainda o Prof. Ruben, da sua luta para fazer a doação de tal trabalho junto à Biblioteca Pública do Rio de Janeiro, não tendo conseguido seu intento por falta de autoridades que estivessem interessadas na recepção do valoroso original, o qual acabou sendo entregue, por ordem superior, a pessoas pouco letradas, tomando então destino ignorado. Entre os vultos que mereceram destaques expressivos, está o farmacêutico Antonio Ferreira Garrido, já à época considerado o decano dos farmacêuticos maranhenses. Este farmacêutico de renomada, produzia ele mesmo, em seu laboratório, milagrosos produtos infalíveis quanto à malária, febre, queimaduras, vermífugos, pílulas intestinais de D. Lavínia, que ficou conhecida porque uma senhora de nome Lavínia apresentou-se a ele como portadora de verme e que os médicos não lograram resultado. O Dr. Garrido preparou uma fórmula com pílulas que 24 horas depois, chamado às pressas à casa de D. Lavínia se assombrou com o que viu: a expulsão, em enorme quantidade, de “ascáridas lombricóides e helmintos”. Os farmacêuticos à época de 1977 eram chamados também de boticários e apresentavam seus produtos a preços acessíveis. Com a mudança dos costumes, os farmacêuticos outrora tão prestigiados não se dão ao luxo ou trabalho de anunciar coisa alguma, vez que as receitas médicas agora prescritas são apenas atendidas pelos farmacêuticos que compram dos laboratórios para repassar os produtos aos clientes. INFORMES JORNALÍSTICOS SOBRE O PROF.RUBEN ALMEIDA (reproduzida pelo ´Correio Atividade” ) Registram os anais históricos que o Prof. Ruben Almeida, nascido a 09.05.1890, ainda aos 81 anos de idade era homem de robustez física e que mesmo nessa faixa etária mantinha um peso de 90 kg e que conservava por trás de um ar fleumático, muito de bom caboclo maranhense, apresentando-se com seus cabelos grisalhos e fartas sobrancelhas, guardando ainda nessa idade uma memória privilegiada, que lhe permitia conceder entrevistas e delas se sair muito bem. Foi assim que ao “Correio Atividade “ do Rio de Janeiro, prestou memorável recordação que serviu de base para que se soubesse que foi ele bacharel em direito e advogado, professor da língua portuguesa no Liceu Maranhense e no Instituto de Letras e Artes, além de ter exercido seu magistério, também como Catedrático de Direito Civil junto à Faculdade de Direito de São Luís, por onde se formou, isto sem falar que foi colaborador em todos os jornais da Capital maranhense, dele ressaltando o Dr.Pires de Sabóia no seu discurso de posse na Academia Maranhense de Letras, ter sido colaborador permanente de “O Imparcial”, vinculado aos Diários Associados. Graças ainda a essa entrevista ficou esclarecido ter o Prof. Ruben Almeida publicado “O índio brasileiro perante o Código Civil”, “Investigação de Paternidade”, “Esforço biográfico de Antonio Henriques Leal”, “A vida do barão de Coroatá”, “O Palacete”, “Porque é grande e gloriosa a história do Maranhão”. Era o Prof. Ruben avesso à poesia moderna, dizendo ser intolerável, pois “é uma nebulosidade a toda prova”. Respondendo a uma indagação do porque de ser um solteirão inveterado, relatou na entrevista que tinha uma família numerosa para sustentar, daí porque a constituição de uma família legítima iria trazer sérios problemas domésticos, tendo por essa situação optado pelo celibatarismo. Dentre as suas entrevistas concedidas para inúmeros jornais no Rio de Janeiro, os entrevistadores, descobrindo nele o poeta que era, além de o cognominarem de “um sábio vivo”, um “sábio de Atenas”, fizeram publicar alguns sonetos, entre os quais, para deleite dos leitores, nos deteremos em um que versa poeticamente sobre os corvos e que por ser inédito, transcrevemos:
VENDO PASSAR CORVOS
Vendo o corvo passar, asas espalmas, Asas espalmas pelo espaço afora, Espaço níveo em que se agitam palmas, Saudando Apolo que anuncia a aurora; E vendo-o, mais subindo está agora Voando em meio às glaucas zonas calmas, Além das nuvens, onde o raio mora, Quase bem perto de onde moram as almas, -Dá vontade cismar (vai pontinho, lento, lento,assumir devagarinho,
-mercê do vento, sem destino, ao léo), se melhor não seria, como corvo, ter feio o aspecto, negro, imundo e torvo, mas ser feliz como ele – andar no céu. Espero que estas anotações sirvam para relembrar alguns momentos da vida do intelectual maranhense, que sem a menor sombra de dúvidas, enriqueceu a língua pátria, a literatura maranhense, e continua ainda hoje sendo lembrado como uma águia e um rouxinol da nossa querida Atenas Brasileira. CONTRIBUIÇÃO NA REVISTA DO IHGM ALMEIDA, R. GASPAR DE SOUSA NO MARANHÃO Ano 2, n. 1, novembro de 1948, p. 05-11
CÉSAR WILLIAM DAVID COSTA401 22 de maio de 1967 Geração Cassas Poeta, escritor, autor dos livros: "O Errante" (1988), "Nós Outros", "Teorema do Inominável Sentido", "Sol Maior" (poemas inéditos); "Carona Azul" (contos juvenis inéditos), "Professor de mim" (memória autobiográfica - inédito)e "Situação Quase Crônica" (crônicas publicadas em diversos jornais), em preparo. Sou professor de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Portuguesa e Produção Textual, graduado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão UEMA e pós-graduando em Literatura pela Universidade Estadual do Piauí -UESPI.Iniciei a carreira como autodidata. Ainda na 3ª séirie do 2º Grau, já ministrava aula para alunos desta série. Escrevo para vários jornais, geralmente no âmbito cultural. Sou editor cultural do Jornal Tribuna do Maranhão, em que assino uma coluna, Caleidoscópio Cultural. Também atuo na radiofonia, participando de diversos programas de rádio, na cidade de Timon -MA. Sou amante das letras, casado com a literatura. Atualmente sou coordenador, revisor e elaborador de projetos de leitura da Secretaria Municipal de Educação de Timon-MA. Participou de inúmeras performances poéticas e de grupos literários. Desde cedo iniciou suas atividades literárias. Na vida estudantil foi vencedor de inúmeros festivais, dentre eles, o I Festival Intercolegial de Poesia Falada (11/1984). Depois obteve outras premiações e menções honrosas, por meio do Festival de Poesia Falada, promovido pelo DAC/UFMA, evento que ele e outros poetas ludovicenses mudaram o nome para Festival Maranhense de Poesia, do qual se tornou membro da comissão de organização e parte do júri literário. Em 1988 publicou seu primeiro livro de poemas, “O Errante”. Obra que fora relançada no ano seguinte, na Fundação Assis Brasil, em Parnaíba, sob os auspícios da Academia Parnaibana de Letras –APAL, com apresentação do seu então presidente,o escritor Lauro Andrade Correia. Mais tarde, o escritor Assis Brasil o insere entre 66 poetas maranhenses do século XX, ocasião em que alguns poemas do livro “O Errante” foram inclusos na antologia “A Poesia Maranhense no Século XX”. Participou da coletânea “Poemático MMVIII”, organizada pela Halley, Teresina, PI. O poeta tem participação em mais de 20 antologias poéticas, algumas da sua terra e outras de caráter nacional. Na década de 1990 passou a ser colaborador com crônicas e matérias (sempre de teor cultural) em vários jornais de São Luís: “O Imparcial” (neste fora revisor), “O Estado do Maranhão”, “Jornal Pequeno”, “O Debate” etc. Tem participação em inúmeros suplementos literários e revistas, “Vaga-lume”, “Sacada Cultural”, “Guesa Errante” etc. Cedo também começou a ministrar aulas de Língua Portuguesa, Literatura e Redação, como autodidata. Passou por várias escolas particulares de ensino médio e por inúmeros cursinhos pré-vestibulares em São Luís, chegando inclusive a ser proprietário de dois deles, o Curso Explanação e o Oficina de Redação (este último em Santa Inês-MA). Mas, depois de ter sido aprovado em vários vestibulares e sem às vezes sequer chegar a se matricular, resolveu em 2005 cursar Letras.Fizera novamente vestibular da Uema e conseguira a 4ª colocação. Hoje está no 7º período de Letras do Centro de Estudos Superiores de Timon e paralelamente ao curso, continua ministrando aulas, realizando festivais, debates, encontros de poetas, exposição de poemas. No CESTI/UEMA idealizou e fundou um jornalzinho para divulgar os eventos da instituição e idéias dos universitários e da comunidade, o “Folha Desgarrada” (já na 4ª edição). É dele também a idealização da EXPOMAPI – Exposição de Poemas de Autores Maranhenses e Piauienses, cujo objetivo é difundir obras dos autores desses dois estados, unindo-os por meio das letras. Além do mais, é editor cultural do jornal Tribuna do Maranhão. Há quase dois anos vem divulgado a cultura timonense, maranhense e piauiense em sua página que ele batizou com o nome de uma coluna que mantém na mesma, “Caleidoscópio Cultural”. Além de publicar crônicas e matérias no Tribuna do Maranhão, vem esporadicamente publicando textos também no jornal O Dia e em alguns portais literários. Possui três livros de poemas inéditos, um de contos e outro de crônicas. César William, apesar do vasto espaço de tempo sem publicar nenhuma obra, não se considera um poeta bissexto, já que vem militando diuturnamente em prol dos seus ideais e está sempre defendendo que jamais abandonará as letras, sobretudo a poesia.
PARTICIPAÇÃO DO POETA CÉSAR WILLIAM NO GRUPO CURARE 402 O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro. Notou-se, afinal, que os encontros eram apenas um pretexto para impulsionar o ato de escrever [...] O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Pólo Haickel. [...] A primeira grande oportunidade, todavia, surgiu quando a Secretaria do Estado de Cultura decidiu publicar, CESAR WILLIAM – POEMAS – Blog do Cesar William, disponivel em https://www.blogger.com/profile/15567991677970763915 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 402 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 401
em 1996, uma antologia de jovens poetas, posteriormente chamada Safra 90. [...] Mas lá estavam os integrantes das primeiras reuniões do grupo Curare: Antônio Aílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito), Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos), este cronista (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros. [...] Surge então a idéia de uma exposição e recital, a qual foi colocada em prática em inícios de 98, intitulada Sygnos.doc, no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. [...] O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego. [...]Para que o grupo pudesse se firmar, passou-se a participar mais regularmente de concursos. O resultado veio em forma de premiações e publicações, com as quais a maioria saía do completo anonimato. Livro de estréia: O Errante (1988)403:
o errante Por um erro me fiz errante, Mais errante que o erro do errado Mil tropeços no meu passado, Os infernantes constando Dos meus retalhos. Sem dúvida, com mágoas Meu sorriso pichado. Ó triste dor tão infinita: Não me inflame agora Não me deixe ser um errante, O mesmo que ontem amava Nas curvas de um delitante. Um errado errante, Um facínora Um desamante. Tantos sonhos refeitos, Tantos tombos levados... Viver numa clausura com incúria Tamanha fera, qual a rua desabitada. Nos degraus de uma ponte pitoresca?.. Na esquina de um velho sobrado?.. Não importa É um errado, Um errante de sonhos mutilados Pelo poder da censura .......................................
403
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/cesar_william.html
Labirinto Libertei-me da muralha, Agora sou escravo das profecias. Estou nutrindo-me de migalha Em cada canto das periferias. Agora sou hálito infame No cume da cumplicidade. Entre mil doenças... "Derrame"... A centelha da humanidade. Continuo perdido À procura de outra "muralha" Agora sou parto ferido Nutrindo-me de nova migalha... De nada adiantaram as leituras Se agora sou somente vestígio em um ermo de mil amarguras Não sei mais o que fazer (perdi o prestígio) Sou agora o único sobrevivente Deste labirinto medonho. Preciso de um verso urgente Para findar este sonho... Sufocação Uns me afogam Inundam-me de fantasias. Outros me cortam o sorriso, Rompendo-me os dias. E assim vou balbuciando Com meus versos pródigos. Sinto o que os outros sentem O que não me deixaram sentir (?) E assim vou levando a vida Sem deixar me permitir... Outros me sepultam Sem antes deixar que eu nasça... E assim vou levando (a vida) —No cemitério ou na praça (O Errante/1988)
IRAMIR ALVES ARAUJO 404 Nasceu em 05 de maio de 1962 na cidade de São Luís, no Maranhão. É roterirista de quadrinhos, publicitário, artista gráfico e historiador, tendo publicado HQs na Grafipar. Foi editor das revistas Fusão e Fúria, do grupo SingularPlural, de São Luís-MA, do qual é um dos fundadores. Publicou a revista em quadrinhos com seus personagens Gatos Pingados, para a Organização Não-Governamental CDMP (Centro de Defesa da Criança e Adolescente Pe. Marcos Passerini) sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes. Mantém coluna sobre quadrinhos, aos domingos, no jornal O Estado do Maranhão. Publicou em 2006 a revista Corpo de Delito, com histórias policiais, ilustrada por vários artistas maranhenses e a colaboração de Luiz Saidenberg. IRAMIR ALVES ARAÚJO: FLECHADAS DE IRONIAO JORNALISMO SATÍRICO NO MARANHÃO DO SÉCULO XIX. REVISTA CAMBIASSU Publicação Científica do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão - UFMA - ISSN 0102-3853 São Luís - MA, Vol. XVII – N º 3 - Janeiro a Dezembro de 2007
METAMORFOSE Era, no inicio, luz. Intensa Cegante Divina. Era luz, a matéria que ocupava todos os espaços e todos os recantos Era luz, A forçaquetudo produzia e tudo consumia. Era luz, A única senhora e serva de tudo o que era ou o que viria a ser. Surgiu, num instante após o início, um ponto, Era sem cor, o ponto Era sem forma, o ponto Era sem alma, o ponto MAS DESAFIOU A LUZ Cresceu para os lados para cima e para baixo, Mutuou para o azul para o vermelho e para o amarelo. Conheceu a dor e ódio e o amor, E FEZ CONTRASTE COM TODA A IMENSIDAÕ DA LUZ Percebeu-se, Possuía olhgos, e os abriu Percorreu-se, Possuía braços, pernas e os sentiu Descobriu-se, Possuía mente, idéias, pensamentos, emoções e os viviu A luz observava Apenas O ponto já possuía cor Possui forma E alma Possuía também, A esta descoberta o fascinou, Dois lados tão simetricamente iguais que as deferenças era obvias,
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Onde não é indicado mo Autor, o texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ...
Chamou o homem, a um lado. E ao outro, mulher. Homem e mulher fixaram-se nas retinas. Como a desvendar segtredos ocultos dentro dos sapatos. Como a sentir o fio da espadas expostas sobre as emoções Como a escutar trincos de portas abrindo-se sob as palpebras A luz observava Ainda Mulher e homem permutaram-se em palavras. Que sejam os dedos, prolongamento dos desejos -DERRAMEM-SE AS SENSAÇÕES Que seja a luta a solificação dos sonhos -AFIEM-SE AS METRALHAS Que seja a morte, continuação irreversível Da vida -FAÇA-SE A IMORTALIDADE A luz, agora Manifestou-se Parem! Desfaça-se a consciência Exilem-se os corpos Destrua-se a liberdade Não: Bradaram homem e mulher Pois o que é esta luz, senão uma estrela que se fez patente? Pois o que é esta luz, senão uma patente que se diz potencia? Pois o que é esta luz, senão uma potencia que teme a consciência? Pois o que a consciência, senão o caminho para a libertação? Derrotada, a luz recolheu-se À sua mera grandiosidade Mulher e homem Perceberam-se como única força capaz decombate-la Pois eram eles A luz
JOÃO MARCELO ADLER NORMANDO COSTA405 São Luís-MA – 11/04/2002. Cursa o 6º ano no Colégio Crescimento. Tem participação na obra Coletiva “COLÉGIO DOM BOSCO APRESENTA SANSÃO E DALILA”, Projeto Ópera para todos, 2008. É co-autor (juntamente com Daniel Victor Adler Normando Romanholo e Dilercy Aragão Adler), do livro Infantil, “Uma história de Céu e Estrelas, São Luís-MA, 2011. HOMENAGEM A GONÇALVES DIAS Gonçalves Dias Não pode amar a sua garota querida chamada Ana Amélia. Gonçalves voltou para seu lar brasileiro Maranhão, Estado dos apaixonados e valentes guerreiros. O Sabiá nunca saia de Lá aguardava solitário na palmeira o seu líder, Gonçalves Dias, chegar. Gonçalves Dias não morre nunca Com seus poemas bonitos Encanta a todos os brasileiros encanta o mundo inteiro!
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ADLER, Dilercy; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luís: EDUFMA, 2012
SAULO BARRETO LIMA FERNANDES406 São Luís/MA – 17/05/1983. O autor já colaborou com vários jornais locais e trabalhou em diversas edições da Feira do Livro de São Luís. Na vida literária alcançou o 1º, 2º e 3º lugares mais Menção Honrosa em diversos Concursos Literários pelo país, sendo publicado em diversas coletâneas. GONÇALVES DIAS +100 Que imensa saudade tu fazes... Oh, gênio-poeta dos cocais e da metrificação. Naquela fatídica viagem regressiva de navio, Deixaste tragicamente órfão o teu torrão. Tua vontade era voltar a viver aqui, junto aos teus pares, No aconchego da tua estimada e vigorosa ilha grande do Maranhão. Juca-Pirama e as palmeiras onde cantam os sabiás jamais fenecerão... Te dou a minha humilde palavra. Não te preocupes! Não turbes vosso majestoso coração, Pois afinal de contas, és bravo, és forte e nada que proveio de ti, foi em vão. Hoje, na tua praça, amparaste dezenas de jovens intransigentes, Tua estátua, no Largo dos Amores, permanece lá, imponente. És testemunha cotidiana dos belos solstícios e de chuvas intermitentes, És patrono-mor daqueles apaixonados enamorados e dos mendigos inocentes. Espero que permaneças vivendo por mais e mais 100 anos, A Athenas Brasileira não é a mesma sem tua presença. Poetas e escritores continuam sedentos pelos teus ensinamentos, Ninguém se acostumou a viver sem tua singular sapiência. Viva a longeva existência do poeta anfitrião, Viva o centenário do mito chamado Gonçalves Dias. Viva os 400 anos da ilha de São Luís, Viva o glorioso Estado do Maranhão.
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Onde não é indicado mo Autor, o texto é de LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ...
LAURA AMÉLIA DAMOUS407, 408 Academia Maranhense de Letras Movimento Antroponáutica Por Dinacy Corrêa409 Turiaçu/10.04.1945). Autora de uma obra poética que se insere no atual panorama da literatura maranhense. Poetisa de fina sensibilidade, conteúdos exóticos e levemente voluptuosos, faz sua estreia literária com Brevíssima Canção do Amor Constante em 1985 – ano em que assume a direção do Teatro Arthur Azevedo. Seguem-se: Arco do Tempo (1987); Traje de Luzes (1993); Cimitarra (2001); Arabescos (2010). Presença literária sempre marcante nos eventos socioculturais maranhenses, Laura Amélia tem assumido cargos nos órgãos culturais do Estado, como Assessora Cultural da SECMA (Secretária de Cultura do Estado, 1987-89) – gestão em que, a propósito, funda o anexo da Biblioteca Pública Benedito Leite, para jovens, e o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho e mantém a Colunarte (jornalismo literário). Considerada por muitos dos nossos intelectuais, leitores e avaliadores de sua obra, a nossa Emily Dickinson e comparada a Cecília Meireles, a poetisa cunha os seus poemas numa singularidade muito própria de quem, no uso de poucas palavras, mas em “expressão plenamente poética” e num “ritmo espontâneo do verso”, consegue revelar um mundo... “pelo espraiamento do verso afetivo da linguagem” que, “em muitos momentos se inclina para o sugestivo, sobretudo por esse jeito de começar o poema como quem conclui, reduzindo-o à ideia final” (LYRA, apud ALEX BRASIL,1994, p.267). A autora busca referências em grandes representantes da arte literária. Sua poesia dialoga com obras de outros autores, como Federico Garcia Lorca, Cecília Meireles, Rainer Maria Rilker, Emily Dickinson... Para o poeta Nauro Machado (2001, p. XIX), “seus versos pressupõem um conhecimento a priori da temporalidade a que se reduz a coisificação presentificável do que hoje somos, pois o passado nos convoca o ser para as prerrogativas antecipadoras do que foi”. E ei-lo que acrescenta (id. ibid.), na sua autoridade de poeta maior: “O caminho por onde o texto conduz Laura Amélia Damous é este e, daí pra frente, é ele que cria o poeta em suas várias vertentes de conversa e diálogos com outros textos, leitores, estudiosos, ensaístas e críticos [...]”. Daí, poeta algum ter significado isoladamente, em si mesmo e em seu tempo – eis que todo poeta, na verdadeira acepção da palavra, resume-se no somatório daqueles que leu e absorveu, numa dinâmica trans/intertextual, através de leituras, releituras... recriações. Adepta dos poemas curtos, dos versos livres, expressos, estes, num perfeito raciocínio, rigor e controle na concisão, Laura Amélia não faz restrição de palavras, como bem o diz o escritor e acadêmico (Dr. Honoris Causa-Uema), Jomar Moraes, uma vez que “ao poeta não se prescreve a avareza verbal”. A propósito, ainda Nauro Machado (id. ibid), a categorizar os poemas lauramelianos como “conhecimento intuído”, “desvelamento da realidade”, e “autocontemplada expectação verbal” – na expressão de um lirismo que não se restringe a “um simples sistema sígnico característico de uma pseudo-modernidade, prenhe de velharias descartáveis”, como o demonstram os exemplares que se seguem, colhidos de Cimitarra: OFÍCIO – A palavra/ floresce e/ sangra/ o fruto/ das/ mãos (2001, p.43). INSPIRAÇÃO – A branca luz do papel/ destila suor feito ímã/ o poema se impõe/ e gruda/ na pele do poeta (2001, p.48). POEMA DE ÚLTIMA VIAGEM – Outra vez mais te trago/ à superfície/ da imprecisa/ linha/ onde se alinha/ a sina/ a sorte/ Outra vez/ não mais/ a alma viaja/ e náufraga (2001, p.50). Nos três poemas em leitura, vemos que a metalinguagem (expressa nos jogos de palavra, metáforas e outras figuras, que anteparam as reflexões sobre o fazer poético) é ponto e contraponto no processo de criação literária, na montagem 407
CORREA, Dinacy; PINTO, Anderson Roberto Corrêa. POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS. Revista Garrafa 23, janeiro-abril 2011. Condensação adaptação de “Teares da Literatura Maranhense: poetisas contemporâneas”. Relatório Final do Projeto de Iniciação Científica BICUema/Fapema-2008/09 de Anderson Roberto Corrêa Pinto, bolsista/orientando da Professora Dinacy Mendonça Corrêa (Projeto TEARES DA LITERATURA MARANHENSE..Núcleo de Estudos Lingüísticos e Literários. Curso de Letras/Cecen/Uema PAINEL DA POESIA CONTEMPORÂNEA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. IN GUESA ERRANTE – Editor: Alberico Carneiro 408 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/ 409 CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo).
dessas pequeninas joias lírico/verbais. E algo de muito especial, na obra desta poetisa, é a intertextualidade, manifesta em plano semântico, sobretudo nos títulos dos poemas – títulos estes, fundamentais na compreensão e interpretação do texto, pela transtextualidade, as conexões com obras da literatura universal ou referências a personalidades de importância para a sociedade humana, as personagens de clássicos literários, entre outros. Como exemplo, As 2555 noites de Turiaçu; Xerazade; Hamlet; À Humana Comédia; Galileu; Fim de Tarde com Van Gogh; Julieta; A cigarra e a formiga... Títulos que condensam a ideia do poema, em si, prenunciando o que será trabalhado no texto, como observa Nauro Machado. Apreciemo-la em sua verve poética: .JOÃO E MARIA – Ainda que eu pudesse fazer/ de cada estrela/ uma pedra guia/ ainda assim/ não encontraria o caminho/ que me levaria de volta (DAMOUS, 2001, p.117). JULIETA – Agora, que só te posso ver quando/ adormeço/ penso, às vezes, te despedes de mim/ até nos sonhos/ Ansiosa desse encontro busco o sono/ leve carícia na minha alma insone./ Adormeço, de vez, eu te prometo/ se me asseguras um eterno encontro (Ibid., p.134). Como se vê, a autora faz, com maestria, essas releituras em seus poemas e numa linguagem simples e leve, recriando, na modernidade, histórias que remetem a outros tempos. Em João e Maria, por exemplo, remonta ao tradicional conto infantil. Evidentemente, em uma outra, nova abordagem, mas sem perder a linha de quem está em busca do caminho de volta. Em Julieta, a remetência às personagens do clássico shakesperiano, na atmosfera noturna do poema, o “adormecer de vez”, mais que uma promessa (condicionada a uma outra promessa) é proposta de compromisso mútuo de amor eterno, para além da transitoriedade desta vida. Continuemos com a poetisa: HERANÇA – Minha avó Amélia que/ tinha as orelhas rasgadas/ pelo peso do ouro/ me deixou um tesouro:/ não carregue mais/ do que a frágil carne suporta (2001, p.62). OFERENDA – Venho te oferecer meu coração/ como o cansaço se oferece aos/ amantes/ o suor aos corpos exaustos/ depois de definitivo abraço/ Venho te oferecer meu coração/ como a lua se oferece à noite/ e o vento à tempestade/ Venho te oferecer meu coração/ como o peixe se oferece à captura/ no engano do anzol (Ibid., p.107) O lirismo delicado que caracteriza a poesia desta maranhense entra em sintonia com a natureza (noite, lua, dia, sol, estrela, mar, vento, etc.), o infinito, em imagens que vão compondo uma atmosfera de sonho e fuga. Recorrendo a formas poéticas simples, sem métrica regular estabelecida, desenvolvem-se temas como: o amor, a transitoriedade das coisas, da vida... a fugacidade do tempo... Em Herança, como se pode inferir, o eu lírico deixa claro os ensinamentos do velho “Crhonus”, na recordação da avó experiente, provida de ensinamentos e aprendizagens, sabedorias, a advertir para a irrelevância do material, do supérfluo... Em Oferenda, é pela comparação que aflora um lirismo que se derrama na oferenda de um coração inteiramente disponível e entregue ao Amor. A obra poética de Laura Amélia Damous (Turiaçu/10.04.1945) insere-se no atual panorama da literatura maranhense. Poetisa de fina sensibilidade, conteúdos exóticos e levemente voluptuosos, faz sua estréia literária com Brevíssima Canção do Amor Constante em 1985 – ano em que assume a direção do Teatro Arthur Azevedo. Seguem-se: Arco do Tempo (1987); Traje de Luzes (1993); Cimitarra (2001); Arabescos (2010). OFERENDA Venho te oferecer meu coração Como o cansaço se oferece aos amantes o suor aos corpos exaustos depois de definitivo abraço Venho te oferecer meu coração como a lua se oferece à noite e o vento à tempestade Venho te oferecer meu coração como o peixe se oferecer à captura no engano do anzol
APOLÔNIA PINTO410 A ARTISTA ATENIENSE
Um acontecimento denominado pela imprensa escrita de “a consagração pública de Apolonia Pinto” (HOJE ..., 1947)411 é ilustrativo para apreendermos uma série de significados do mito da Atenas Brasileira no período em análise. Tratar-se-ia “da mais justa homenagem” que “O Maranhão através de suas classes intelectuais e do seu próprio povo” teria prestado “àquela que em vida soube ser fiel ás nossas tradições de cultura, enriquecendo com o seu extraordinário talento e a sua cultura dramática, o nosso patrimônio mental” (ESTÃO ..., 1947, grifo nosso)412. Apolônia Pinto nasceu a 21 de junho de 1854 num dos camarins do teatro Artur Azevedo. Em 1896, quando foi a Portugal a bordo navio francês “Chili” em busca de um especialista em doenças auriculares, que impedisse a sua surdez – o que não aconteceu, já possuía uma respeitável empresa teatral no Brasil. Era filha de atores portugueses, Rosa Adelaide Marchety e Feliciano da Silva Pinto e casou-se com o ator Germano Alves da Silva. Foi uma das maiores atrizes de sua época, tendo participado do movimento Trianon413. Passou os últimos dias de sua vida no Retiro dos Artistas, Rio de Janeiro, onde faleceu a 24 de novembro de 1937. Apolonia Pinto é lida, vista e dita como um sinal vivo da Atenas. Ela também poetizou e propagou o Maranhão, como um espaço singular, uma “terra de genios poéticos”, “o coração do Brasil”:
O CORAÇÃO DO BRASIL Maranhão, terra serena, / Terra de luz e de amôr, na qual se esmerará um dia / a sciencia do Creador. Terra dos genios poeticos, / onde num palco fulgi, Naquelle mesmo theatro / onde a luz primeira eu vi. [...] Maranhão, terra dos sonhos, “onde canta o sabiá”, Minhalma sempre saudosa / de ti se recorderá. [...] Maranhão, meu solo amado, / que regam aguas do Anil, Serás, em todos os seculos, / –– o Coração do Brasil ! (DUAS ..., 1940)414
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BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). IN Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br , ISSN 1808-8031, volume 03, p.156-181. O tema enfocado neste artigo foi discutido na monografia “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidade popular ressignificadas na maranhensidade ateniense”, defendida no curso de História da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005) e também em eventos (BARROS, 2004a, 2004b, 2004c). As fontes históricas citadas podem ser localizadas na Biblioteca Pública Benedito Leite (Setor Arquivo), em São Luís/MA. 411 HOJE, a consagração pública da grande artista Apolônia Pinto. O Globo, São Luís, 19 de dez. de 1947. Citado por BARROS... 412 ESTÃO em São Luiz os despojos da grande artista que tanto engrandeceu a Atenas Brasileira. O Globo, São Luís, 17 dez. 1947. Citado por BARROS... 413 O Trianon, do qual participou Apolônia Pinto, refere-se ao movimento de eclosão do teatro nacional “moderno”, em contraposição a um outro “velho e decadente” nas primeiras décadas do século XX, no contexto do modernismo teatral. Ver FERREIRA, Adriano de Assis. Teatro Trianon: forças da ordem X forças da desordem. São Paulo: USP, 2004. Disponível em www.usp.br/teses/disponiveis/ 8/8151/tde_03012005-221042/publico/trianon.pdf2004. Citado por BARROS... Para Barros (s.d.), “De antemão, é importante notarmos que Apolônia Pinto, em comparação a Gonçalves Dias ou a outros ícones do Pantheon maranhense, é uma figura extremamente artificial. E é exatamente por isso que ela se torna uma imagem paradigmática que serve para ilustrar bem processos de reinvenção da maranhensidade sob os signos da mitologia ateniense. Pelo mito da Atenas Brasileira é possível dar significados, a partir de interesses variados, a determinadas situações e/ou pessoas independentemente da relação destes com os sentidos que pretendem expressar. Os sentidos e símbolos da Atenas Brasileira são manipulados, inventados e reinventados por atores e interesses sociais os mais diversos, em diferentes momentos da construção do Maranhão e do maranhense.Ver BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). IN Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br , ISSN 1808-8031, volume 03, p.156-181. 414 DUAS poesias de Appolonia Pinto. Revista Athenas, São Luís, 01 dez. 1940.
A ACTRIZ E A SAUDADE Andei por mares remotos, / andei por longinquas terras, /fitando de longe as serras / do meu sagrado Brasil. [...] E sempre a Saudade, e sempre / no meu peio a magua infinda / de haver guardado a mais linda, / das crenças de uma illusão, [...] Saudade, Saudade eterna, / apenas brilha e se enflora / quando em lagrimas devora / a Dôr que Dôr contradiz. / Saudade, Saudade funda, / profundissima Saudade, / só buscas eternidade / no Coração de uma Actriz. [...] Mas quiz o Destino immenso / que um dia rompendo os mares, / deixando os verdes palmares / da minha terra natal, / contemplasse as lindas ondas / que um dia, aos beijos, sorrindo, / mostraram-me o aspecto lindo, / das terras de Portugal ! [...] Se porventura quizerem / os genios da nossa idade / saber se dóe a Saudade, / se ella fala e o que ella diz, / se porventura quizerem / traduzir-lhe os vãos gemidos / venham juntar seus ouvidos / ao Coração de uma Actriz ! (DUAS ..., 1940) 415
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DUAS poesias de Appolonia Pinto. Revista Athenas, São Luís, 01 dez. 1940
MÁRCIA MARANHÃO DE CONTI416 Marcia Maranhão De Conti, filha de Antonio do Rêgo Maranhão Neto e Zelair Mendes Maranhão (in memoriam), nasceu em São Luis (MA) em 27/04/1957 e mudou-se para Goiânia, onde reside, aos 7 anos. Morou por um período em São Paulo, época em que nasceram os filhos mais velhos. Estudou no Emmanuel, Liceu, Carlos Chagas, Instituto de Artes da UFG (piano) e Centro Cultural Brasil Estados Unidos. É formada em Nutrição pela UFG e em Direito pela UNIVERSO. Especializou-se em Nutrição Clínica na UFRJ e em Direito Processual na LFG. Trabalha no Ministério da Saúde e é membro da OAB-GO. Sua paixão é a poesia. Participou de antologias, de concursos regionais e nacionais, sendo várias vezes premiada, inclusive no 5° Prêmio Nacional de Poesia - Cidade Ipatinga com o 2° lugar (2007). Teve três poemas selecionados no concurso Poemas no Ônibus e no Trem, promovido pela prefeitura de Porto Alegre: "Flor" (2007), "Um Poema no Ônibus" (2009) e "Embalagem" (2011). "Flor" esta em camisetas de catadores de papel de Porto Alegre a pedido do professor universitário, canadense, Denis Beauchamp, que preside uma associação voltada para esses trabalhadores. Luar nos Porões (piano mudo) é seu livro de estreia. “Cada poeta inventa ou sonha o seu próprio caminho. E, através deste, atira ao papel o grito verbal de suas emoções. Márcia De Conti se enquadra, poetante, à pomífera dimensão desse princípio; porque sabe o canto que arranca da alma e atiça-o à garganta das palavras, como quem pega com a mão uma faísca de sol e a transforma em chamas de poesia: "Agora entrego ao sol o mofo da minha cama/e, devagar, estendo os lençóis/que acompanharam a minha insónia". O seu recado de poeta é a voz de outros recados: os de ânsia metafísica fervilhantes nos subterrâneos da mente.”
GABRIEL NASCENTE417
PROGNÓSTICO Agora desenho em meu quarto uma varanda E, da janela semi-cerrada, Um raio de luz me alcança. Agora entrego ao sol o mofo da minha cama E devagar estendo os lençóis Que acompanharam minha insónia. Agora pressinto uma brisa No interior do meu cómodo E a inspiro lentamente Até arejar minhas entranhas. Agora decifro as letras Que se agarraram ao meu sangue, E solfejo pra elas uma melodia Com um resto de nó na garganta. Agora revejo a minha agonia Como num quadro de Picasse. Pareço-me surrealista Ao expressar meu ocaso. Agora tenho a fome dos dias Em que não quis comer nada. E contemplo o meu ser faminto A saciar-se do nada.
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/goias/marcia_maranhao_de_conti.html DE CONTI, Márcia Maranhão. Luar nos porões (piano mudo). Goiânia: Editora Kelps; Editora PUC Goiás, 2011. 94 p. (Coleção Goiânia Em
Prosa e Verso) Pintura estampada na capa, de Maria de Jesus Furtado
UM POEMA NO ÔNIBUS Parece que a cidade passeia, E o pensamento espia a palavra. Há um poema que vagueia, Versos virando paisagem. Parece que a janela me leva, E o poema levanta os olhos. Não sei se fico ou viajo. Vou nas palavras e volto. Parece que tudo é passagem. O poema beija meus olhos.
VESTÍGIOS Meus acasos não povoam Páginas de dicionários. São trilhas que transcendem A leveza dos passeios. As palavras são rastros Deixados no cimento fresco. Nem que eu falseie os passos, Minto comigo, nos versos. As palavras são pérolas De um colar que nunca tiro, Criadas nas conchas antigas Dos mares que habitam em mim. PROCURA I Dentro da noite Um pensamento calado Vai sendo digerido. Tem na cor o tom de' um céu Que decide o poema. II A poetiza testa palavras Como se experimentasse vestidos.
FRANKLIN DE OLIVEIRA, "JORNALISTA E ESCRITOR, HOMEM CAPAZ, TRABALHADOR, INDICADO PELA CIDADE DE CAXIAS, FAZ JUS À GLÓRIA DE GONÇALVES DIAS" Por EDMILSON SANCHES
Quando um gênio não nasce em Caxias, aqui procura referência -- e normalmente a cidade o acolhe. Há cem anos, em 12 de março de 1916, nascia em São Luís (MA) José Ribamar Franklin de Oliveira. Jornalista, escritor, crítico literário, foi uma das mais sólidas inteligências maranhenses de renome nacional. Faleceu no Rio de Janeiro, em 6 de junho de 2000, aos 84 anos. Em São Luís trabalhou nos jornais "A Pacotilha" e "Diário da Tarde". Tinha 22 anos quando, em 31 de março de 1938, foi para o Rio de Janeiro, então capital do Brasil. No Rio, FRanklin de Oliveira atuou em jornais e revistas ("A Notícia", "Correio da Manhã", "O Globo", "Pif-Paf", "O Cruzeiro", "Senhor"). Colaborou com o jornal "Folha de S. Paulo". A convite de Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul (1959-1963), foi secretário-geral do Conselho estadual de Desenvolvimento Econômico e delegado no Banco de Desenvolvimento Regional do Extremo Sul. Exerceu cargos importantes na Petrobras, de onde saiu após a ditadura de 1964 cassar-lhe os direitos políticos. Escreveu diversos livros -- sua obra de referência maior é "A Dança das Letras". Recebeu prêmios nacionais, como os da Academia Brasileira de Letras e o Museu da Imagem e do Som (RJ). Franklin de Oliveira também foi colunista na revista "Senhor", que circulou na década de 1980 (não confundir com outra revista de mesmo nome, do período 1959-1964). Junto com o maranhense, outros nomes de peso também escreviam na "Senhor", entre os quais Raymundo Faoro e Said Farhat. Eu lia a revista "Senhor". Eu lia os artigos do meu conterrâneo. Na época, recordo-me, ele era um crítico contumaz do governo do também maranhense José Sarney na presidência da República. Era madeira de lei na moleira do Sarney. Aí um dia... Um dia -- e conto de memória, lido em texto do próprio Franklin de Oliveira --, um dia Franklin tem um ataque do coração. Está no Rio de Janeiro e está à beira da morte. Sarney, o presidente, toma conhecimento e toma uma medida: ordena que Franklin de Oliveira seja levado do Rio a São Paulo e seja internado no hospital que melhor pudesse atender ao grave problema cardíaco. Dias ou tempos depois, retorna a coluna do Franklin de Oliveira na revista "Senhor". E em lugar dos ataques corriqueiros à política e administração sarneyistas, o reconhecimento, algo que, se não me falha a memória, Franklin de Oliveira considerou superior: a consciência do crítico coração (em vez de apelar para
o coração de sua consciência crítica). Ali estava um maranhense agradecido a outro, em um momento decisivo entre a continuidade da vida ou a declaração de morte. Foi esse inteligentíssimo maranhense que Caxias acolheu politicamente, quando Franklin de Oliveira, em 1950, concorreu a uma cadeira de deputado federal. A importância de Caxias na indicação de Franklin de Oliveira (que, infelizmente, não venceu) foi tanta que a própria letra da música de campanha canta, e conta: “Eis aí um nome nacional Sempre a serviço do Maranhão Franklin de Oliveira cristaliza um ideal De manter viva essa terra-tradição Jornalista e escritor, homem capaz, trabalhador Indicado pela cidade de Caxias Faz jus à glória de Gonçalves Dias Nós e também você Votaremos no PST Para eleger Franklin de Oliveira Que tudo fará pela Atenas brasileira Como deputado federal ”. Sobre um dos trechos de "A Dança das Letras", um leitor registrou em dezembro de 2013: "um dos tantos brilhantes momentos de demonstração de cultura geral e enciclopédica de um dos excelentes jornalistas, e possivelmente o maior crítico, que o Maranhão já deu ao mundo". Tal era o nível de nosso conterrâneo. Neste ano do centenário de nascimento de Franklin de Oliveira, nem Caxias nem o Maranhão lembraram-se de fazer a justa homenagem que um talento da envergadura dele merecia. No Rio ou em outras partes do Brasil, não sei se houve alguma lembrança do centenário frankliniano. Aliás, sensível e crítico, Franklin de Oliveira, no título de um de seus livros, já alertava para a "morte da memória nacional". Para muita gente, sobretudo para as mais recentes gerações, Franklin de Oliveira é só mais um ilustre desconhecido. Talentos maranhenses: Por que o Maranhão abandona seu maior patrimônio?
JOSILDA BOGÉA
JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS
Não somos espíritas e o nosso único envolvimento com a Religião é a prática sem tanta assiduidade, do catolicismo. Não estudamos Religião com profundidade e tivemos apenas uma iniciação, quando a Religião fazia parte da grade curricular nas escolas. Coisas de antigamente, mudadas pelo modernismo hipócrita de hoje. Mas, claro, acreditamos que há um ser maior que nos colocou aqui na Terra, que nos mantém aqui e que nos determinou uma missão. Quando a cumprimos, nos tira daqui e nos envia, provavelmente, para outro plano. E, sempre houve e haverá aquelas criaturas que recebem missões diferenciadas de Deus. Essas criaturas, às vezes, convivem conosco por dias, por anos e, provavelmente por séculos, sem que tenhamos o direito de sentir isso. Esse, com certeza, foi o caso de Josilda. Uma criatura que Deus colocou entre nós, com a missão de sempre nos fazer o bem. E foi o que sempre fez. Por nós e por São Luís. Josilda Bogéa, depois Josilda Bogéa Anchieta veio ao mundo no dia 13 de julho de 1959, em São Luís, via Hilda Marques Bogéa e José Ribamar Bogéa. Aqui viveu e cumpriu sua missão divina, retornando para o lado do “Pai” no dia 10 de janeiro de 2011, na capital de São Paulo, mais precisamente no Hospital A. C. Camargo onde viveu alguns dias internada procurando tratamento para um grave problema de saúde. Infelizmente não conseguiu, mas deixou entre nós um legado impagável. Casada com o médico Veterinário Sebastião Cardoso Anchieta Filho, Josilda trouxe ao mundo o hoje médico André Bogéa Anchieta e Raiana Bogéa Anchieta, seus filhos. Mulher inteligente, culta, leitora dos grandes clássicos da literatura universal, Josilda fundou o suplemento cultural & literário JP Guesa Errante, do qual era Coordenadora, e que editava na companhia do professor Alberico Carneiro. O Guesa Errante foi concebido por Josilda para promover a cultura maranhense e incentivar os jovens talentos, especialmente na área da poesia, literatura e artes em geral. Josilda era diretora administrativa e financeira do Jornal Pequeno. Mãe de muitos filhos – Independentemente da vida social que desfrutava ao lado do marido e dos dois filhos, e da sua reconhecida dedicação à cultura maranhense, Josilda “cuidava com denodo e carinho” de mais de 50 filhos – que era assim que ela considerava os funcionários do Jornal Pequeno. Capaz de qualquer sacrifício por qualquer funcionário do veículo que ajudou a construir, a atenção e a proteção que dava ao ser humano fez dela uma verdadeira mãe de mais de 50 pessoas. Está descansando ao lado dos dois Pais.