All em revista volume 3, numero 4 outubro dezembro 2016 (2)

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

2016 – ANO DE COELHO NETO

NÚMERO ATUAL - V. 3, N. 4, 2016 – OUTUBRO A DEZEMBRO SÃO LUIS – MARANHÃO


2014 – ano de MARIA FIRMINA DOS REIS

2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES

2016 – ANO DE COELHO NETO


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA CLORES HOLANDA SILVA Presidente COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Presidente CONSELHO EDITORIAL Sanatiel de Jesus Pereira Presidente Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659

ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com

NOSSA CAPA: Escudo da ALL

Retrato de Coelho Neto


ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 #

NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._3__no._1__ja?utm_source=conversion_success&utm_campaign=Transactional&utm_medium=email V.3, n.2, 2016 (abril a junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__n__mero_?workerAddress=ec2-52-90-195118.compute-1.amazonaws.com V.3, n.3, 2016 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_3?workerAddress=ec2-54-209-15202.compute-1.amazonaws.com V.3, n.4, 2016 (outubro a dezembro)


ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33 DIRETORIA 2016-2017

Presidente -

DILERCY ARAGÃO ADLER

Vice Presidente – SANATIEL DE JESUS PEREIRA Secretário Geral – CLORES HOLANDA SILVA 1º Secretário –

MÁRIO LUNA FILHO

2º Secretário –

DANIEL BLUME DE ALMEIDA

1º Tesoureiro –

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO

2º Tesoureiro –

RAIMUNDO GOMES MEIRELES

CONSELHO FISCAL

ROQUE PIRES MACATRÃO (Presidente) ÁLVARO URUBATAM MELO MICHEL HERBERT FLORENCIO

CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938

CONSELHO EDITORIAL

PRESIDENTE

EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CADEIRA 21



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A primeira mulher negra a escrever um romance no Brasil Publicado em 18 de novembro de 2016 No âmbito das comemorações do Mês da Consciência Negra, a Série Documentos Literários, contribuição da Divisão de Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional, homenageia Maria Firmina dos Reis, a primeira mulher negra a escrever um romance no Brasil Nascida em São Luís (MA), em 1825, Maria Firmina não pertencia a uma família abastada, mas foi viver na casa de uma tia cuja situação lhe permitiu ter acesso aos estudos. Em 1847, foi aprovada num concurso para professora de primeiras letras, profissão que exerceu até 1881. Em 1859, publicou o romance “Úrsula”, de temática abolicionista, que narra uma história de amor entre dois jovens, Úrsula e Tancredo. Seu nome foi omitido na primeira edição; a autora apareceu apenas como “Uma Maranhense”, seguindo uma tradição de anonimato bastante comum entre as poucas mulheres que publicaram livros na época. A própria escritora afirma que “pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados”. Com características folhetinescas no que se refere ao enredo e à narrativa, a obra, contudo, retrata com sensibilidade o drama dos escravos e afrodescendentes. É, por isso, considerada o primeiro romance abolicionista do Brasil, antecedendo, em mais de dez anos, “Vítimas-algozes”, de Joaquim Manuel de Macedo (1869) e “A Escrava Isaura”, de Bernardo Guimarães (1875). Além desse livro, Maria Firmina dos Reis escreveu o romance “Gupeva”, de temática indigenista, e o livro de poemas “Cantos à Beira-Mar” (ambos de 1861). Publicou também o conto “A Escrava” e poemas em diversos jornais, tais como “A Imprensa”, “A Pacotilha” e “Diário do Maranhão”. Foi, ainda, compositora e folclorista. Em 1822, perto de se aposentar, fundou uma escola gratuita, que desagradou à sociedade por misturar alunos de ambos os sexos e acabou por ser fechada em três anos. A escritora faleceu no Maranhão em 1917, aos 92 anos. O trabalho de Maria Firmina dos Reis permaneceu desconhecido do grande público até a década de 1970, quando foi reeditado. A Biblioteca Nacional tem exemplares de seu romance “Úrsula” e de “Cantos à Beira-Mar” na Seção de Obras Gerais, bem como vários periódicos em que ela publicou seus poemas, alguns dos quais podem ser consultados na Hemeroteca Digital. Consulte o acervo em: http://acervo.bn.br Acesse, também, a Hemeroteca Digital no link: http://acervo.bn.br

Fonte: Fundação Biblioteca Nacional


SUMÁRIO 5 8 10

EXPEDIENTE ÚRSULA SUMÁRIO A VISTA DO MEU PONTO Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Editor)

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AGENDA

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ANIVERSÁRIO DE MARIA FIRMINA DOS REIS – CONVITE CALENDÁRIO LISTA DE CANDIDATOS A MEMBRO DA ALL FELIS - PALESTRANTES LIVREIROS PUBLICAM CARTA ABERTO AOS CANDIDATOS A PREFEITO III FESTIVAL DE POESIA DO PAPOPÉTICO - POEMAS SELECIONADOS FELIS 2016 REUNIÃO Festa na SOBRAMES - MA. EDMILSON SANCHES O SALÃO DO LIVRO DE IMPERATRIZ, NO INÍCIO DISCURSO DO PRESIDENTE DA ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS, EDMILSON SANCHES, NA ABERTURA DA 1ª SEMANA IMPERATRIZENSE DO LIVRO (SEDE DA ACADEMIA, IMPERATRIZ, MARANHÃO, 23/11/2003). II FESTIVAL MARANHENSE DE CONTO E POESIA-UEMA/2016. CARLOS NEJAR REINAUGURAÇÃO DA CASA DE CULTURA JOSUÉ MONTELLO E INAUGURAÇÃO DO MUSEU JOSUÉ MONTELLO ASSEMBLÉIA GERAL ASSEMBLEIA GERAL

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FERREIRA GULAR DILERCY ADLER SINGELA HOMENAGEM (PÓSTUMA) AO GRANDE IMORTAL FERREIRA GULLAR FERNANDO BRAGA MORREU JOSÉ RIBAMAR FERREIRA, FERREIRA GULLAR JOSÉ NERES – HOMENAGEM 3 RICARDO LEÃO - Declaro luto por Gullar e pelo Brasil. JOAQUIM ITAPARY – A inteligência brasileira está coberta de luto BETTO PEREIRA – Singela homenagem JOAQUIM HAICKEL- Morreu Ferreira Gullar! DANIEL BLUME

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FERREIRA GULLAR CLORES HOLANDA – Eu e Jorge Amado e Ferreira Gular ANA LUIZA ALMEIDA FERRO – “A arte existe porque a vida não basta”. DILERCY ARAGÃO ADLER – Minha homenagem a Ferreira Gullar ANA MARIA FELIX GARJAN “ X Q Ã B ” – HOMENAGEM A FERREIRA GULLAR, O POETA ETERNO! CRISTIANE LAGO EXPLICAR-SE FERREIRA GULLAR ALGUNS POEMAS

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EFEMÉRIDES

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS VAZ, Leopoldo; REINALDO, Telma

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CATULO DA PAIXÃO CEARENSE PAULO OLIVEIRA HOMENAGEM A CATULO - POEMAS ODYLO COSTA, FILHO

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MARIA FIRMINA DOS REIS EDUARDO DE ASSIS DUARTE LAURA ROSA WYBSON CARVALHO MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES SANATIEL DE JESUS PEREIRA JOÃO BATISTA ERICEIRA SANATIEL DE JESUS PEREIRA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO ROQUE PIRES MACATRÃO RAIMUNDO GOMES MEIRELES ARTHUR ALMADA LIMA FILHO RAIMUNDO DA COSTA VIANA

NA BERLINDA ANA LUIZA ALMEIDA FERRO CONFERÊNCIA SOBRE CRIME ORGANIZADO – SALAMANCA/ESPANHA CASA DE CULTURA HUGUENOTE DANIEL DE LA TOUCHE – BATALHA DE GUAXENDUBA – PALESTRA ANA LUIZA E POSSE – PH REVISTA (21/11/2016) LATIN AMERICAN QUALITY INSTITUTE PH REVISTA 03/11/2016 INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA (IHGSC)

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Com o poeta Carlos Nejar, da ABL DILERCY ARAGÃO ADLER NA COLÔMBIA UBE-RJ - PRÊMIO ZORA SELJAN PELO LIVRO “SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS" COLETÂNEA LITERÁRIA FEMININO- A ARTE DE SER MULHER, DA REDE MÍDIA SEM FRONTEIRAS CONVITE: LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE A FEB 100 MULHERES CONTEMPORÂNEAS, DONAS DE SEUS DESTINOS, PARTICIPAM DESTE PROJETO JORNAL SEM FRONTEIRAS – ENCONTRO DAS AMÉRICAS A POETA MARANHENSE DILERCY ADLER TAMBÉM É COAUTORA DA MAGNÍFICA COLETÂNEA LEOPOLDO PREMIO UBE 2016 HONRA AO MÉRITO – IF-MA 2016 ARQUIMEDES VALE XXVI Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES - premia os melhores classificados do concurso de prosa e verso CLORES HOLANDA SILVA II CAMPANHA ESTADUAL DE LEITURA ANTONIO NOBERTO Exposição França Equinocial. na Casa de Cultura Huguenote Daniel de la Touche Visitação a Cemitérios "O turismólogo da França Equinocial". MANOEL SANTOS NETO ANTONIO NOBERTO CONDUZ ESCRITOR FRANCÊS ÀS “PEPITAS” DO MARANHÃO MICHEL HERBERT FLORENCIO Recebimento de Troféu "Honra ao Mérito" Pelo trabalho frente à Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional Maranhão MÁRIO LUNA DANIEL BLUME JOÃO BATISTA ERICEIRA PREFÁCIO SÁLVIO DINO, O SEMEADOR DE ACADEMIAS ENCONTRO DE VETERANOS DANIEL BLUME Lançamento de "Metamorfose", primeiro livro de poemas de António Augusto

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ROSA MACHADO SOBRE FRAN PAXECO SOBRAMES MA: ELEIÇÃO DA NOVA DIRETORIA BIÊNIO 2017-2018 LENITA ESTRELA DE SÁ COLÓQUIO SOBRE CLÁUDIA DE CAMPOS: MULHERES DO MARANHÃO

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2016 – ANO DE COELHO NETO SER MÃE ESSERE MADRE EDMILSON SANCHES 16º PROLER e 8º SALÃO DO LIVRO - CAXIAS EDMILSON SANCHES UM GRANE CAXIENSE EDMILSON SANCHES "FAZER UMA VAQUINHA": UMA HISTÓRIA MUUUUUUUUUITO CURIOSA

ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES

UM DISCURSO, UMA CERTEZA... DOS 422 ANOS DA VILA (VELHA) DE VINHAIS JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS “B

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

TONICO SANTOS –

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ CONEXÃO CUBA – MARANHÃO JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS PAPAGAIOS E DOCES HERBERT DE JESUS SANTOS NA ACADEMIA, HAROLDO TAVARES (3) (OS HERÓIS DO BOI DE OURO, NO INCÊNDIO DO GOIABAL. O SUMIÇO DA PRAIA DA MADRE DE DEUS, SEM NENHUM RETRATO NA PAREDE, MAS COMO DOEU!) ARQUIMEDES VALE KABURÁ NONATO REIS A PONTE DO SÃO FRANCISCO (OU PONTE DA ESPERANÇA) LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ AINDA SOBRE A PASSAGEM DA COLUNA PRESTES PELO MARANHÃO – algumas considerações… AYMORÉ AVIM À MEMÓRIA DO MEU PAI JOÃO BATISTA ERICEIRA A GRANDE MARCHA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO O LIVRO VISTO PELO AUTOR – III JORGE BENTO NOVILÍNGUA: CONDICIONAMENTO E EMPOBRECIMENTO LENITA ESTRELA DE SÁ "UMA MULHER" -- Fantasia sobre um dia na vida da escritora Maria Firmina dos Reis. ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO LAÇOS DE FAMÍLIA DILERCY ARAGÃO ADLER O FUTURO DAS ASSOCIAÇÕES DOS VETERANOS DA FEB HERBERT DE JESUS SANTOS ESCRITORES APELAM AO GOVERNADOR E AO PREFEITO: “ B Q , 1.º G , Ã Í -2015!” PINTANDO BORBOLETAS José de Oliveira Ramos RAIMUNDO VIANA PROFESSOR JOSÉ MARIA RAMOS MARTIS - “ equiescat in ace”ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS JOÃO FRANCISCO BATALHA COLHENDO FRUTAS EM MEU QUINTAL EM ARARI CERES COSTA FERNANDES A CASINHA DA BOSTA

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ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO RESGATANDO A HISTÓRIA SANATIEL PEREIRA O VALOR DOS RITUAIS JOÃO FRANCISCO BATALHA NOSSO TRIÂNGULO FERNANDO BRAGA JOSUÉ MONTELLO E A INDESEJADA APOSENTADORIA PAULO MELO SOUSA UM BRINDE À RECUPERAÇÃO DO FORTE DE SANTO ANTÔNIO

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PAULO MELO SOUSA CONVENTO DAS MERCÊS - FORTE DE SANTO DE ANTÔNIO NO FÓRUM DO PATRIMÔNIO CULTURAL JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS A MENINA E OS CAQUIS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO O LAGO DOS CISNES ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO A FEDERAÇÃO SUFOCADA FERNANDO BRAGA O PROVIDENCIAL RESGATE DE CLARINDO SANTIAGO OU O POETA MARANHENSE DESAPARECIDO NO TOCANTINS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO EM HOMENAGEM AO GRUPO "CAXIENSES MUNDO AFORA": COISAS QUE A GENTE NÃO ESQUECE ALDY MELLO A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO CERES COSTA FERNANDES EXPECTATIVAS MINGUANTES FERNANDO BRAGA DA MORTE ANUNCIADA AO LIVRAMENTO EDMILSON SANCHES GONÇALVES DIAS E EU ADALBERTO FRANCKLIN HÁ 50 ANOS: CAPARAÓ E O FOCO GUERRILHEIRO DE IMPERATRIZ CERES COSTA FERNANDES O ESPIRITO DE NATAL ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO MENSAGEM DE NATAL WEBERSON FERNANDES GRIZOSTE COIMBRA DAS CANÇÕES. MALDITA E APORRINHADA: GONÇALVES DIAS EM COIMBRA AYMORÉ ALVIM PRESENTE DE NATAL

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ALL NA MÍDIA

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PATRICIA CUNHA – O IMPARCIAL – CADERNO IMPAR – 10/11/2016 HOMENAGEM A MARIA FIRMINA DOS REIS KÁTIA PERSOVIAN – JORNAL PEQUENO – COLUNA CÁ ENTRE NÓS – 11/10/2016 PREMIADOS I e II PERGENTINO HOLANDA – O ESTADO – COLUNA DO PH – 11/10/2016 MARIA FIRMINA RETRATO DA HISTÓRIA – O IMPARCIL – CADERNO OPINIÃO – 12/1-/2016 – Sobre MFR NEDILSON MACHADO - EM CENA – DE OLHO – O ESTADO 12/10/2016 Premio UBE-RJ 2016 PEREGENTINO HOLANDA – O ESTADO – COLUNA DO PH - 21/10/2016 Sobre Antonio Brandão LEO LASAN - PARAIBANO NEWS – DESTAQUE: 27/10/2016 ESCRITOR CASADO COM PARAIBANENSE GANHA PRÊMIO NO RIO DE JANEIRO PH - BRANDÃO ADENILDO BEZERRA RESENHA - JOSÉ SILVESTRE FERNANDES E A BAIXADA MARANHENSE

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DOUTOR EM FILOSOFIA UNIVÉRSICA

Uma crônica para Ferreira Gullar publicada em "O Estado do Maranhão".

POESIAS & POETAS

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ASSOCIAÇÃO MARANHENSE DE ESCRITORES INDEPENDENTES - DIRETORIA ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA PEDRA DE TOQUE – PAULO MELO SOUSA DANIEL BLUME DE ALMEIDA PASSAGEIRA RABAGAS A SELVA O VIOLINO DO ARTISTA FRANCISCO TRIBUZI VELHO CHICO MHARIO LINCOLN OS POSTAIS DA ALMA DE LENITA ESTRELA DE SÁ MHARIO LINCOLN A POESIA COMO ELA É FERNANDO BRAGA LAURO LEITE VERSUS MOACYR E AMBRÓSIO ZENILTON DE JESUS GAYOSO MIRANDA LAURO LEITE MÁRIO LUNA FILHO PÁSSARO VADIO ANTONIO AÍLTON OS CABOS DE GUERRA DA POESIA DA SÃO LUÍS CONTEMPORÂNEA MICHEL HERBERT FLORENCIO (SEM TÍTULO) RICARDO LEÃO OS DENTES ALVOS DE RADAMÉS MALU OTERO O CORAÇÃO DO POETA FERNANDO SAH (SEM TÍTULO) PAULO MELO SOUSA OSWALDINO MARQUES: CENTENÁRIO DE UM GRANDE MESTRE DA LITERATURA JUÇARA VALVERDE DELÍRIOS FRANCISCO TRIBUZI MEU PAI EM MIM RICARDO LEÃO DESRECEITA DE MULHER JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS RAMOS O SEGREDO NO ESPELHO D´ÁGUA

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FERNANDO BRAGA EXCERTOS DE “TRAVESSIA – MEMÓRIAS DE UM APRENDIZ DE ESCRITOR E OUTRAS MENTIRAS” PAULO MELO SOUSA NAURO MACHADO - UM ANO SEM O POETA MAIOR EDMILSON SANCHES COITUS ININTERRUPTUS EDMILSON SANCHES ILUSTRES DESCONHECIDOS, ILUSTRES ESQUECIDOS - POR QUE O MARANHÃO ABANDONA SEU MAIOR PATRIMÔNIO JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS RAMOS O MENINO QUE AMAVA PIPAS TERESINKA PEREIRA NATAL 2016

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PARA UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE

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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

NASCIDOS ENTRE OUTUBRO E DEZEMBRO CLODOMIR SERRA SERRÃO CARDOSO ARNALDO DE JESUS FERREIRA OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida; FREITAS, Joseth; PEREIRA, Maria Esterlina; e CORDEIRO, João LUIS DE MORAIS REGO OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida; FREITAS, Joseth; PEREIRA, Maria Esterlina; e CORDEIRO, João LUIS CARLOS BELLO PARGA UBIRATAN PEREIRA TEIXEIRA BENEDITO JOSÉ MARTINS COSTA FERREIRA LAURO BOCAYUVA LEITE FILHO OSWALDINO RIBEIRO MARQUES REGINALDO TELLES DE SOUSA PAULO AUGUSTO DO NASCIMENTO MORAES JOÃO ALEXANDRE VIEGAS COSTA JUNIOR LUÍS INÁCIO ARAÚJO ROBERTO KENARD FERNANDES RIOS JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL JOÃO ALMIRO LOPES NETO NATANILSON PEREIRA CAMPOS ADEMAR DANILO RAIMUNDO NONATO RODRIGUES ALEXANDRO HENRIQUE CORRÊA FEITOSA DANIEL VICTOR ADLER NORMANDO ROMANHOLO FRANCISCO CARLOS SOARES MAGALHÃES FRANCISCO GAUDÊNCIO SABBAS DA COSTA IRANDI MARQUES LEITE JACKSON DOUGLAS SILVA KÁLISON COSTA NASCIMENTO LUIS LIMA / LUZENICE MACEDO MICHAEL JACKSON COELHO DA SILVA PAULO MARTINS SAMUEL CANTOARIA FERREIRA MARIANA LUZ Jucey Santana LENITA ESTRELA DE SÁ Dinacy Corrêa ROSEMARY RÊGO CORREA, PINTO; Dinacy Corrêa HENRIQUETA EVANGELINE CORREA, PINTO; Dinacy Corrêa LU MENEZES Antonio Miranda ALANNA VERDE RODIGUÊS ALINE FERNANDA MORAES DA SILVA CANTANHEDE AMANDA SUELY BRITO DE SOUSA FRANCIANE CRISTYNE MICHELLE ADLER NORMANDO DE CARVALHO

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DIREITO & LITERATURA

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ANDRÉ DE SOUZA ALMEIDA CAMUS SOARES PINHEIRO DANILO BEZERRA LAUANDE FONSECA GUILHERME ALVES DE ARAÚJO

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RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO O PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA ANDRÉ DE SOUZA ALMEIDA CAMUS SOARES PINHEIRO DANILO BEZERRA LAUANDE FONSECA GUILHERME ALVES DE ARAÚJO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO O PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA NO REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO ANDRÉ DE SOUZA ALMEIDA CAMUS SOARES PINHEIRO DANILO BEZERRA LAUANDE FONSECA GUILHERME ALVES DE ARAÚJO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DO ESTADO E SEUS SERVIDORES DANIEL BLUME P. DE ALMEIDA INTERPOSIÇÃO DE RECURSOS ELEITORAIS POR E-MAIL JOÃO BATISTA ERICEIRA O SUPREMO DAS INCERTEZAS

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A VISTA DO MEU PONTO Uma visita me intrigou esta semana (05 de outubro mañana); recebi uma mensagem eletrônica tem uns dias de uma pessoa perguntando se não poderia ter uma entrevista comigo, pois estava pensando em apresentar um projeto para um mestrado; fora indicado pelo Antonio Aílton, conforme disse. Passei meu numero de telefone e: me ligue! Dias depois, ligou e disse o propósito da conversa... Em chegando à minha casa, no dia marcado, porém uma hora depois da acertada, um jovem professor, disse ser de Literatura Brasileira e Maranhense, de uma de nossas Universidades. Graduado pela UFMA, professor substituto... estava pensando em se candidatar a uma vaga na pósgraduação e queria uns conselhos, sobre a temática que iria abordar. Falou-me de que pretendia discorrer sobre a Geração Maranhense, século XIX, os Oitocentos... Fiz ver que já havia se esgotado, praticamente, todo o assunto, com a tese do Ricardo Leão, Os Atenienses... ouvira falar, mas não conhecia... além do que era tema já bastante batido, e que se ele teria algo mais ou novo a acrescentar ao que já havia... não! Então, porque esse período? Tem tantos outros aguardando estudos... comecemos por um tema ainda não explorado, a literatura negra maranhenses... achou interessante, falou sobre Maria Firmina dos Reis, mas não conhecia Maya Maya... apresentei, então, a literatura/poesia contemporânea... comecemos pelo Movimento Antroponáutica... nunca ouvira falar! A Akademia dos Párias... são sabia que existia uma academia de párias... Geração Cassas? Grupo Carranca? Grupo da Candido Ribeiro? Grupo Curare? Poiesis? Poeme-se? Papoetico? O pessoal do Guarnicê? Guesa Errante? Nada!!!!! Perguntei então, se nas aulas ele não abordava os movimentos mais recentes da literatura maranhense, a partir da Geração de 45, Movelaria Guanabara? Galeria de Livros? Os Concursos Literários do SIOGE, da UFMA? Nada!!! Alguns, ouvira falar mas não lera nada... não há material disponível... ninguém trata desses movimentos... falei dos grupos, das gerações, de uma periodização da nossa literatura, a partir do inicio... etc, etc, e das principais obras... Tem algo escrito? Ou publicado? Sim, no meu Blog, na Revista da Academia Ludoviense de Letras... não conhecia!!! Perguntei, então: você costuma ler? Titubeou para responder... e sim, quando acho alguma coisa... onde procura? Nas livrarias, mas não tem nada publicado sobre esse assunto... dai a dificuldade... o senhor tem alguma coisa escrita que possa me passar? Passei... ah sim, vai escrever sobre Maria Firmina dos Reis... o senhor não quer me orientar? Não posso, agradeço a confiança, mas não sou da área de literatura... e o Aílton? Ele não pode? Não sei, vou falar com ele... o Borralho? Ainda não conversei... posso voltar? Me ajuda ao menos fazer o projeto para o mestrado? Às ordens, posso... mas é preciso ler... e dei a ele os dois últimos exemplares dos livros sobre Maria Firmina, e 190 poemas... não conhecia... Direito & Literatura surgiu para abrigar os artigos de natureza técnica dos nossos Confrades e Confreiras. Literatos com vasta produção ligada ao ramo do Direito, publicadas em jornais e revistas dedicadas, estavam a reclamar que não eram aquinhoados com a divulgação de suas produções; mesmo o argumento de que a Revista trata de Literatura, fomos convencidos de que sim, se tratava de literatura, técnica, porém literatura... vencido pelos argumentos, aqui está, desde a edição passada... Cabe? não sei... consulta ao Conselho Editorial, ficamos sem respostas... então, está aí... Também reclamações sobre o tamanho das revistas – ultrapassando as 400 páginas -; mas é temporário, apenas neste ano da graça de Nosso Senhor de 2016 incluimos os literatos que nasceram em São Luis, os membros da ALL, e o de outras instituições – AML, IHGM – nos números correspondentes ao seu nascimento – por trimestre. Ano que vem, próximos números, nos ateremos a divulgar trabalhos inéditos, dos membros desta casa, que queiram homenagear seus patronos, no trimestre correspondente ao nascimento ou morte. E também se surgirem novos literatos, com algum destaque na mídia. No mais, daremos conhecimento a artigos e resenhas e críticas sobre autores nascidos ludovienses... Pois bem, encerro nesta edição a publicação do que tenho já levantado e que fará parte da ANTOLOGIA LUDOVICENSE – no-lo sei quando encerrarei... ou mesmo publicarei... – e que ao longo destes quatro números foi dado a conhecimento...


Contunuamos a buscar as imagens de São Luis de outrora, a sua formação urbana, com causos e coisas, contadas por nossos Confrades e também por aqueles que vêm publicando – principalmente nas redes sociais e imprensa local – memórias de uma São Luis que já se foi... O bom José de Oliveira Ramos, Herbert de Jesus Santos, Nonato Reis... Memórias, histórias, lembranças, causos... é vasta a participação de nossos Confrades e Confreiras; também relatam um tempo que não volta mais, principalmente das infâncias, adolesencias, juventude e uma São Luis nostálgica... mas que ajudam a contar como era a vida numa cidade provinciana, sem os atropelos dos dias de hoje, em que vivemos isolados, com medo, prisioneiros dos dias, dos bandidos, dos crimes... medo de viver nestes dias, mas lembrando o quanto se era feliz, e não se sabia... encontros? Só pelas redes sociais; bate-papo da beira das calçadas? Só se se for louco... redes sociais... caminhadas pelas principais ruas? Só com escolta policial, ou trancados dentro dos carros... pois no transporte público acontecem assaltos a cada trecho, por bandos armados e, muitas das vezes, ultimamente, incendiários... ah! A São Luis de outrora, da aurora de minha vida... devem pensar os escrivinhadores, no entardecer da vida... bom que continuem registrando os velhos e bons tempos... servem-se das modernas tecnologias para fugir do isolamento, que os ‘tempos modernos’ obrigam-nos a viver, enclausurados. Espaço aberto e fico atento às redes sociais para capturar esses momentos... E temos novos membros!!! Depois de mais de três anos de insistência, finalmente se decidiu por abrir algumas vagas remanescentes... atualmente, somos 29 – dos quais pelo menos três com pendências desde a ‘inauguração’ – com as baixas, ocorridas, temos 18 vagas a preencher... e abrem-se quatro vagas, apenas, das quais três foram ocupadas... Miriam, Aílton, Felipe... a outra será realizada uma ultima tentativa, entre dois concorrentes... e quando se abrirá as demais? O problema, é que a participação tanto nas reuniões, eventos, colaborações, se restringe à uns poucos, teimosos, e a maioria, como sempre, sequer dá uma satisfação de que não está disposta a articipar. Sente-se que o ser membro da ALL é para dar uma massagem ao ego, apenas, e se ‘amostrar’ perante um público determinado... a Academia vive!!! E precisa dessa participação, senão vira – como diziam os Párias, um ‘só dá lixo”, em alusão ao nosso vetusto sodalício... Muito embora com ‘sócios-atletas’ participantes com vários trabalhos, ativos, colaborativos, preocupados com os rumos da literatura ludovicense – e por extensão, maranhense – sentimos a falta de alguns, que aos poucos, se afastaram... não se sabe o motivo – melhor, sabe-se mas não se comenta – para não incidir sobre as cabeças algumas fúrias... e tome-se participar de tudo o que aparece, por pura vaidade intelectual, sem que o essencial se de por feito... abraçar o mundo mcom as pernas, dar passos maior do que as pernas... enquanto para oque é essencial, se faz de vagar; em minha opinião – e portanto pessoal – é o medo de concorrência, pura e simples... vaidade do/a poeta? Aquele que é o umbigo do mundo? Ou ser o centro das atenções é o que se lhe move? Onde fica a ‘poesia’? o conjunto da obra? Quantos os esquecidos, melhor, os que não podem nem devem ser lembrados? Repetem-se os erros... de forma e conteúdo... quem é quem? Quem merece estar no panteon? Quem decide? Eis a questão!!! Se meu candidato não entrar, outro não pode... forma-se uma igrejinha, que não reflete a grandeza da literatura ludovicense e, por conseguinte, a maranhense... tal quela e tal... fazem-se mudanças para não mexer em nada... depois fica-se amaldiçoando os tempos, que já não são os mesmos, vivendo-se de uma nostalgia... do futuro!!! Pois o passado, já passou!!! Foi-se grande, é-se pequeno e o futuro? Adeus... como seremos lembrados? De que nos acusarão? De matar o futuro, negando o presente? Tão jovem, e já tão velha... Leopoldo Gil Dulcio Vaz Cadeira 21, Editor


AGENDA


Performance literária dando continuidade aos comemorações de aniversário de nascimento da poetisa Maria Firmina dos Reis pelo seus 191 anos na Academia Ludovicense de Letras. Uimar Junior e Cassia Cabral com produção Joana Bitencourt. Parabéns a Presidente que fez uma bela homenagem.






CALENDÁRIO DE ATIVIDADES 2016

MÊS OUTUBRO

NOVEMBRO

DEZEMBRO

DIA

ATIVIDADE FELIS Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE Reunião da Diretoria Assembleia Geral Ordinária/PEDRA DE TOQUE FELIS Reunião da Diretoria Assembleia Festiva

TEMÁTICA TRANSF. NOVEMBRO

OBS


NOVOS MEMBROS RELAÇÃO DE INSCRITOS NO EDITAL DA ALL NOME CANDIDATO

NOME DO PATRONO

01 ANTONIO AILTON SANTOS SILVA 02 AZENATE DE OLIVEIRA SOUSA 03 DINACY MENDONÇA CORRÊA 04 ELIANE DE ARAÚJO DUARTE 05 FELIPE COSTA CAMARÃO 06 IRANDI MARQUES LEITE 07 JOAQUIM VILANOVA ASSUNÇÃO NETO 08 JUCEY SANTOS DE SANTANA 09 MIRIAN LEOCÁDIO PEREIRA ANGELIM 10 MOISÉS ABILIO COSTA 11 SAULO BARRETO LIMA FERNANDES 12 JADIR MACHADO LESSA

CADEIRA

MARANHÃO SOBRINHO VIRIATO CORRÊA VIRIATO CORRÊA MARANHÃO SOBRINHO VIRIATO CORRÊA DOMINGOS V. FILHO LAURA ROSA DOMINGOS V. FILHO LAURA ROSA VIRIATO CORRÊA VIRIATO CORRÊA VIRIATO CORRÊA

RELAÇÃO DE INSCRITOS NO EDITAL DA ALL DISPUTA DA CADEIRAS PATRONO MARANHÃO SOBRINHO VIRIATO CORRÊA LAURA ROSA DOMINGOS V. FILHO

CADEIRA 22 24 25 35

INSCRIÇÕES 02 06 02 02

22 24 24 22 24 35 25 35 25 24 24 24


Informo as Vossas Senhorias que participei, na presente data, da reunião da II CAMPANHA ESTADUAL DE INCENTIVO A LEITURA, provida pela Secretaria de Estado da Cultura e Turismo, através da Biblioteca Pública Benedito Leite, representando a Academia Ludovicense de Letras, por indicação da Presidente, Dilercy Aragão Adler. Foram tratados os seguintes assuntos 1) Ajustes de horários das falas e definição de espaços das instituições parceiras; 2) A programação ficou difícil de ser fechada; 3) Faltou o SESC enviar a programação; 4) Entrou como parceiro o Museu Histórico e Artístico do Maranhão; 5) A Universidade Federal do Maranhão foi retirada da programação porque não deu retorno sobre sua participação; 6) O Espaço que a Academia Ludovicense de Letras usará para montagem do seu stand será no Acervo Geral (2º. Andar), juntamente com a Academia Maranhense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e Universidade Estadual do Maranhão. Cada instituição contará com 01 (uma) mesa e 02 (duas) cabines para leitura e 04 (quatro) cadeiras; 7) Dia 3 de outubro de 2016 (segunda-feira), das 17h00 às 19h – Organização dos espaços; 8) Acontecerão 03 (três) falas, a serem proferidas no Auditório da Biblioteca Pública Benedito Leite, no dia 4 (quatro) de outubro de 2016 (terça-feira), a saber: 10h00 às 11h00 – Academia Maranhense de Letras 14h30 às 16h00 – Associação Maranhense de Escritores Independentes (AMEI); e, 16h00 – Academia Ludovicense de Letras – Elogio ao Patrono, Odylo Costa, filho, por Clores Holanda Silva.

Gostaria de lembrar aos confrades e confreiras que quem tiver interesse em expor suas publicações, deverão levar à Biblioteca Pública Benedito Leite, no dia 03 de outubro de 2016 (segunda-feira), às 17h, e que a organização do espaço encerra às 19h, sendo que no dia 04 (quatro) de outubro de 2016, dia do evento, todos deverão recolher o seu material, da Biblioteca Pública Benedito Leite, às 17h.

Saudações Acadêmicas, CLORES HOLANDA SILVA, Secretária-Geral da Academia Ludovicense de Letras.


PALESTRANTES PRESENTES NA 10ª FELIS Por wilsonmarques • sexta-feira, 14 de outubro de 2016 às 20:15 Na lista fornecida pela Secretaria Municipal de Cultura (SECULT), você confere os palestrantes que estarão presentes na próxima feira do livro de São Luís. CONFERÊNCIA 19h30 – TEATRO JOÃO DO VALE DIA 07/11 (domingo) às 19h30 Palestrante: Weberson Fernandes Grizoste (AM) DIA 08/11 (terça) às 19h30 Palestrante: Eduardo Bueno (RS) DIA 09/11 (quarta) às 19h30 Palestrante: Marcia Tiburi (RS) DIA 10/11 (quinta) às 19h30 Palestrante: Stella Maris Rezende (MG) DIA 11/11 (sexta) às 20h Palestrante: Jotabê Medeiros DIA 12/11 (sábado) às 19h30 Palestrante: Luiz Américo (BA) DIA 13/11 (domingo) às 19h30 Palestrante: Caco Barcellos (SP) BATE-PAPO LITERÁRIO ESPAÇO JOVEM – ESPAÇO ARENA DA JUVENTUDEDIA 07/11 (domingo) às 16h30 Bate-papo com juventude: Thalita Rebouças (RJ) DIA 08/11 (terça) às 16h30 Bate-papo com juventude: Ferrez (SP) DIA 10/11 (quinta) às 16h30 Bate-papo com juventude: Gustavo Lacombe (RJ) DIA 13/11 (domingo) às 16h30 Bate-papo com juventude: Caco Barcellos (SP) PALESTRA ESPAÇO CASA DO PROFESSOR “JOSÉ MARIA PAIXÃO” DIA 08/11 (terça) às 16h Palestrante: Celso Antunes (SP) DIA: 9/11 (quarta) 15h Palestrante: Luciano Pontes (PE) DIA 11/11 (sexta) às 14h Palestrante: Carla Mauch


LIVREIROS PUBLICAM CARTA ABERTO AOS CANDIDATOS A PREFEITO

A Associação dos Livreiros do Estado do Maranhão (ALEM) publicou uma carta aberta aos candidatos a prefeito de São Luís, onde aponta os principais problemas enfrentados pelo mercado do livro local, e, em especial, aqueles que envolvem a realização da Feira do Livro de São Luís, a Felis. Segundo os livreiros, algumas feiras foram bem sucedidas, porém, nos últimos seis anos, o evento enfraqueceu por conta dos investimentos insuficientes e falta de tratamento adequado por parte do poder público, embora trate-se do maior evento literário do Maranhão. Entre as críticas constantes do documenta, a Alem aponta as diversas mudanças de local e data de realização, desconsiderando que iniciativas desse porte necessitam de planejamento minucioso, espaço adequado, infraestrutura, recursos humanos especializados, segurança e outros itens, necessários para manter o padrão de qualidade que o evento e a sociedade merecem. No documento os livreiros lamentam o retrocesso da Felis, no passado tida como destaque nacional e figurando entre as 10 melhores do Brasil, e diz esperar que no futuro o evento volte a ser referência para nossos leitores e livreiros. E finalizam pontuando algumas questões que, de acordo com a carta, merecem um olhar cuidadoso por parte daquele que vier a assumir a prefeitura pelos próximos quatro anos. Entre eles: a) Que as próximas feiras sejam realizadas em locais adequados, como a Praça Maria Aragão ou Centro de Convenções, por exemplo. b) Que seja aprovada uma emenda estabelecendo um orçamento digno para realização da Feira e que esse orçamento seja aplicado em atividades da Feira, para promoções do livro e da leitura. c) Que a prefeitura conceda Vale Livro para os estudantes de escolas públicas, a exemplo das primeiras edições do evento. d) Que a Feria seja bem estruturada, divulgada na comunidade, de forma a facilitar a participação da população de baixa renda, inclusive com transporte. e) Que a coordenação da Feira tenha o apoio necessário, principalmente de consultoria, e uma estrutura adequada para garantir o desempenho de suas atribuições, considerando que trabalha atualmente sem a mínimas condições, não dispondo de internet, telefone, espaço adequado, etc. f)

Que os convidados (escritores, ilustradores, artistas e especialistas) sejam remunerados conforme estabelecido com a coordenação da Feira.

g) Que as próximas feiras sejam realizadas pela Alem, a exemplo do que acontece em outros estados, que contratam a Câmara Brasileira do Livro e/ou empresa especializada para garantir a execução do evento com êxito.


O III Festival de Poesia do Papoético contou com 87 poemas inscritos. Dentre eles, foram selecionados 20 (vinte) poemas, que serão apresentados ao público nos próximos dias 10 e 11 de novembro, no Beco da Poesia (Beco Catarina Mina – Praia Grande, Centro Histórico de São Luís). Abaixo, a lista com os poemas selecionados e seus respectivos autores. Convocamos todos os concorrentes selecionados para uma reunião no próximo dia 8 de novembro de 2016, às 15 horas, no Convento das Mercês, para esclarecimentos sobre o evento (apresentação, etc). Informamos que cada autor participante deverá enviar de imediato o nome do (a) intérprete de seu poema (lembrando que haverá premiação para o melhor intérprete). Quem não conseguir intérprete poderá ler o seu poema na hora da apresentação. Saudações! Paulo Melo Sousa (Organizador do Festival)

Poemas Selecionados III Festival de Poesia do Papopético

Intrínseca - Sílvio Rayol Último Suspiro - Vinícius Veloso Melo Veja o olho que tudo vê - Cristiane Meireles Pobre Cultura - Danilo Matos da Silva Lopes Palavras- Rafael de Oliveira Ouroboros - Gladson Fabiano de Andrade Sousa Correspondência entre mãe e filho - Paulo Thiago Alves Sousa Desfamiliarizado - Mailson Matos Minha arte - Rinaldo da Costa Nunes Vento de lua - Danyllo Araujo ZBM - Uimar Rocha Junior O pulso - Renata Abreu Lima de Figueiredo Heterocromia - João Marcos Medeiros de Ataíde Costa Dialética da Rede - Irandi Marques Leite Perfume enigmático - Antonio Guimarães de Oliveira Espelhos meus - Eloy Melonio do Nascimento O poeta - Laryssa Silva Sabor de chuva - Alaíde Maria Leray e Silva Vamos matar a palavra que mata! - Diego Pires Araújo Arqueologia - Ed Wilson Ferreira Araújo


FELIS 2016

ESTANDE DA ALL


CONFERÊNCIA DE ABERTURA


CONFERENCIA DE ABERTURA, COM GRIZOSTE, palestrante convidado da ALL

Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Participando da 1Oa. Feira do Livro de São Luís, no stand da Academia Ludovicense de Letras.


CAFÉ LITERÁRIO, COM GRIZOSTE, SOBRE GONÇALVES DIAS


ESTANDE DE ALL E VISITAÇÕES


MESA REDONDA – A MULHER NA LITERATURA


PAPOÉTICO, com a participação da ALL




REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA 12/11/2016 – ELEIÇÕES DE NOVOS MEMBROS

LEOPOLDO, DANIEL BLUME, BRANDÃO – TRES GERAÇÕES

PREPARANDO OS ENVELOPES PARA A ELEIÇÃO


PRIMEIRO ENVELOPE PARA VOTAÇÃO ENTREGUE AO DECANO PRESENTE



Festa na SOBRAMES - MA. Posse da nova Diretoria e de novos sรณcios, na noite de 7 de dezembro, no CRM.


O SALÃO DO LIVRO DE IMPERATRIZ, NO INÍCIO Começa hoje, em Imperatriz, e vai até o dia 4 de dezembro, o 14º Salão do Livro de Imperatriz (SALIMP), da Academia Imperatrizense de Letras, considerado o maior evento literário do Maranhão. Será no Centro de Convenções de Imperatriz, com entrada franca, como sempre. Lembro-me vivamente da reunião em que, eu pela segunda vez presidente da Academia, esse evento foi criado, lançado e, nos anos seguintes realizado e ampliado -- tanto que mudou de nome, de Semana Imperatrizense do Livro (SIL) para Salão do Livro de Imperatriz. Além de grande evento multicultural, o SALIMP também é um fator econômico. Economia criativa. Livros e autores, música e músicos, contadores de história, jogos estudantis, lançamentos, sessões de autógrafos, cursos, palestras, gastronomia e muito mais formam um composto orgânico que vai além do livro -- mas que existe ali porque teve início a partir dele. Quando criei a Academia Imperatrizense de Letras, em abril de 1991, senti não apenas as dificuldades iniciais, as recusas, os ataques -- senti a falta de visão de futuro de muitos que me arrodeavam e de parte da cidade. Fui criticado. Escreveram em jornal que Imperatriz não precisava de academia de letras -- precisava era de "dinheiro" e "comida"... como se pessoas fossem apenas bucho e bolso. Respondi à altura os ataques, mas sem a baixeza deles. Quando sob minha direção foi criado o Salão do Livro, tive de ir atrás de patrocinadores, esmolando, pedindo, implorando... Muita gente gosta de ir para mesa de jantar; poucos vão à cozinha lavar pratos e panelas... Veja abaixo o meu discurso de abertura do primeiro evento que se tornou o SALIMP, no dia 23 de novembro de 2003. Vida longa ao Salão do Livro de Imperatriz.



DISCURSO DO PRESIDENTE DA ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS, EDMILSON SANCHES, NA ABERTURA DA 1ª SEMANA IMPERATRIZENSE DO LIVRO (SEDE DA ACADEMIA, IMPERATRIZ, MARANHÃO, 23/11/2003). EDMILSON SANCHES. Boa noite, Senhoras e Senhores. Senhora secretária de Educação de Imperatriz, Regina Célia. Senhor escritor e jornalista José Ribamar Fonseca Lima, membro e, nesta solenidade, representante da Academia Paraense de Letras. Senhor escritor José Francisco, membro e, neste ato, representante da Academia Tocantinense de Letras. Meus confrades da Academia Imperatrizense de Letras, aos quais saúdo com menção a Zeca Tocantins, José Geraldo da Costa, Adalberto Franklin, Leonildo Sousa, Vito Milesi e Edna Ventura, que suaram suores mais para que esta Semana Imperatrizense do Livro se realizasse, com apoio da nossa secretária executiva Sema. Eu gostaria de lhes falar de futuro e dizer que já antevejo a 2ª Semana Imperatrizense do Livro e ela me parece e me aparece superiormente melhor do que a que se inicia hoje. Porque nós faremos acontecer a 2ª Semana a partir dos primeiros meses de 2004, contatando patrocinadores, patrocinando contratos, ampliando o número de convidados, estabelecendo novas e frutíferas parcerias, envolvendo antecipadamente as escolas e os estudantes, promovendo um recorde de lançamentos de livros... e mais, muito mais. Será uma Semana mais planejada. Mas há algo que, em relação a esta, não tornará especialmente mais desafiadora a 2ª Semana: é o fato de ela não ser a primeira. Esta 1ª Semana Imperatrizense do Livro, entre tantos e próprios atributos, tem o condão de ser o esteio, a base, o alicerce sobre o qual se construirão as demais Semanas, nos dias que hão de vir. As coisas primeiras têm essa qualidade: a do desafio, da experimentação, da novidade, da expectativa, cautelas e desequilíbrios de primeiros passos em caminhos novos. A partir dagora, já não seremos mais marinheiros de mares nunca dantes navegados, bandeirantes de regiões nunca dantes desbravadas, inocentes de descobertas nunca antes reveladas. Apreendemos nuances, aprendemos aprendizagens e abrimos aberturas para que outros, sobretudo estudantes, aprendam a aprender, através das palestras intermultitransdisciplinares. Neste ambiente, neste prédio de tanta história, estarão se ajuntando as histórias e estórias de tantos livros feitos nesta cidade e alhures. De Imperatriz, podemos dizer com segurança que pelo menos 400 títulos foram lançados em uma vida bibliográfica de pouco mais de 30 anos, a partir de 1972. Desses mais de 400 livros, pelo menos 50% dos títulos aqui comparecem e poderão ser visto em exposição e, alguns, até, poderão ser adquiridos, além daqueles que aqui se lançarão. Livros aqui inteiramente feitos e, alguns poucos, aqui inteiramente concebidos, para impressão lá fora, formam o formidável "portfolio" editorial de três décadas de uma cidade sesquicentenária. Temos muitos autores -- muitos e bons. Romancistas, contistas, cronistas, poetas, ensaístas, historiadores, tradutores, em número e gêneros somos orgulhosamente bons. Não devemos em qualidade, embora devamos em leitura e, até, inspiração, a tantos outros autores, Maranhão afora, Brasil adiante. Esta Academia Imperatrizense de Letras tem o orgulho de respeitar mais o indivíduo do que a tradição, tanto que, talvez nisso pioneira, não obriga a permanência nela de seu acadêmico. Aqui respeita-se o primado da vontade do indivíduo sobre o das instituições. Igualmente inovadora e cidadã, esta Academia não se limita ao culto do beletrismo nem vive de literatices. Ela, sim, se inclui como entidade viva, orgânica, sensível ao mundo que a rodeia e sem arrodeios manifestase clara e, até, contundentemente acerca de assuntos que tocam a alma do povo e ferem os foros da civilização. Local ou regional, nacional ou mundial, um assunto pode cair nas teias sem tédio dos meus


colegas acadêmicos e, consensada a cousa ou a causa, transforma-se ela em manifesto dado a público e enviado a quem tiver autoridade sobre. Pois esta Academia tem pulso, e nele pulsa, lateja, e por ele passam as veias desta cidade, de seu estado, de meu País e do nosso mundo. Minhas Senhoras, meus Senhores: Peço licença para dois recortes históricos. O nome dela era Hipácia. Hipácia era uma inteligente e linda professora de Alexandria, a segunda maior cidade do Egito, fundada por Alexandre o Grande em 332 a. C., portanto, há 2.335 anos. Hipácia viveu no século 4, cerca de 1600 anos atrás. Filha do filósofo Theon, desde criança cuidava do corpo e da mente. Tornou-se matemática, astrônoma, física e filósofa, além de formação nas áreas de Artes, Oratória e Retórica. Hipácia foi responsável pela biblioteca de Alexandria, o maior templo do saber da humanidade na metade do primeiro milênio da nossa atual história. Por ser mulher, por ser cientista e sábia, e, sobretudo, por cativar uma multidão de alunos, fãs e seguidores, Hipácia despertou a ira de Cirilo, bispo e patriarca de Alexandria. Cirilo acreditava que Hipácia poderia ser uma má influência para outros, em razão da vastidão do seu conhecimento, que poderia enfraquecer, como ciência, as bases da religião. Essa insegurança do bispo Cirilo foi maior que seu zelo pelas coisas e causas da Igreja e chegou ao que hoje se classificaria de insanidade: a seu mando, seguidores do bispo aguardaram Hipácia sair da biblioteca de Alexandria, puxaram-na violentamente da carruagem que a transportava e a arrastaram até uma igreja. Naquela tarde do ano 415, há 1588 anos, o mundo começava a escurecer. Dentro da igreja, os paroquianos de Cirilo tiraram as roupas da bela Hipácia. A seguir, imobilizada pelas mãos fortes e embrutecidas dos fanáticos, Hipácia teve seu corpo rasgado e esfolado até os ossos por meio de afiadas conchas e pedaços de cerâmica. Os órgãos internos de seu corpo, ainda pulsantes e palpitantes, foram jogados no fogo. Os pertences de Hipácia também foram queimados. Os textos que ela escreveu foram proibidos. Seu nome foi levado ao esquecimento. A jovem, bela, sábia, solteira e trabalhadora Hipácia foi morta selvagemente e seu nome foi degradado. O bispo Cirilo, por seu obscurantismo e violência, foi canonizado pela Igreja. Virou doutor da Igreja e santo, São Cirilo de Alexandria (ou São Cirilo Alexandrino), comemorado a 27 de junho. No ano seguinte à morte de Hipácia, o obscurantismo religioso fez mais: queimou a biblioteca de Alexandria, o maior templo do saber do mundo. E o mundo, que já se escurecera com a morte brutal de Hipácia, entrou de vez na noite da ignorância. E durante 1.000 anos a humanidade ficou no vazio, no período chamado “Idade das Trevas”. Essa foi uma das vezes que a biblioteca de Alexandria foi posta em chamas e ao pó e cinzas tornou. O segundo, e último, recorte histórico: No ano 641 desta era os árabes conquistaram a cidade egípcia de Alexandria. E lá, ressurgida das cinzas de outrora, como uma Fênix de papel e tinta, se erguia novamente altaneira e inspiradora a biblioteca de 400.000 manuscritos, algo gigantesco ainda hoje. O general conquistador Amr, que se tornou governante da cidade, não era bárbaro de todo e tinha até alguma sensibilidade às coisas da poesia, da música e da erudição. Mas, ao ser consultado por João o Gramático sobre o que fazer com os livros de Alexandria, o general Amr transferiu a responsabilidade da resposta ao seu superior, o califa Omar. E João o Gramático, que, esperançoso, aguardava poder tomar conta da biblioteca, ouviu, segundo conta-se, uma resposta da qual aparentemente não havia saída -- e novamente a biblioteca de Alexandria tornou-se fumo e fumaça. Dissera o califa Omar: “Com relação aos mencionados livros, se o que vem dito neles concorda com o Livro de Deus, eles são desnecessários; e, se discorda, são indesejáveis. Portanto, destrua-os.” *** Infelizmente, com o exemplo do horror nazista da Segunda Guerra Mundial, até o século passado ainda se queimavam livros em praça pública. Neste novo século e milênio, por questões religiosas, econômicas ou políticas, não se tem notícias de queima de bibliotecas e, ao que se sabe, já não se matam e se esfolam os outros com conchas marinhas ou pedaços de cerâmica. O saber se assentou em inúmeras formas e se multiplicou por vários lugares, praticamente impedindo sua extinção pela ação do fogo.


Mas as formas de combater o saber (ou melhor, combater a disseminação do saber) também “evoluíram”. Ainda existem inúmeros “Cirilos”, travestidos com caras de santo, que perseguem e tentam aprisionar a liberdade de expressão do pensamento e da informação por meio de vários métodos, o principal deles com o uso solerte e criminoso do poder do dinheiro e do dinheiro do poder. Pior que isso, esses “Cirilos” de hoje se autoproclamam “santos”, canonizando-se por força de novos, bem pagos – e igualmente enfurecidos -- súditos: o marketing, a propaganda, a publicidade, a mídia e a vassalagem. Enquanto isso, as Hipácias modernas (o povo carente, a Imprensa persistente, a crítica consistente) continuam sendo esfolados ou espoliados no seu justo direito de ter, de ser, de poder e de fazer. É por isso que o livro, como o mais clássico e charmoso suporte de conteúdos de saber, deveria ser item espontaneamente obrigatório em uma cesta básica de alimentação da cidadania. É por isso que os livros deveriam/devem estar cada vez mais e mais nas casas, em todas as casas, nas escolas, em todas as escolas, nos lares, nos bares, nos ares, nos mares, formando verdadeiras minibibliotecas por todos os cantos da terra, para que nunca mais a memória dos feitos e saberes da humanidade sucumba, por estar centralizada em apenas um ou em poucos lugares. Que a memória dos livros alimente a memória dos homens e mulheres, crianças, moços e adultos, para que não percamos a nossa essência. Eis o livro e sua história, meus Senhores: de pedra ou de bronze, de tábuas de madeira ou de placas de argila, da entrecasca de árvores ou de folhas de seda, de pele de animais ou de papiro, de tecido ou, finalmente, de papel, eis o instrumento que é a memória do nosso mais antigo mundo e da nossa mais contemporânea civilização. Nele a história foi escrita à base de cunha e haste de junco, em bico de pena ou caneta de tinta, em máquina de escrever ou em teclado de digitar. Eis o livro. Dos cem títulos anuais da era de Gutenberg, em 1450, ao 1 milhão de novas obras dos tempos atuais. A cada ano, uma biblioteca que se pretendesse atualizada, teria de incorporar dois novos quilômetros de estantes e investir cerca de 15 milhões de dólares na aquisição de um exemplar de cada novo título livros. Essas evocações, Senhoras e Senhores, meus colegas da Academia, parecem grandiosas, dramáticas, majestáticas demais para as pretensões da série de Semanas que, como esta, pretendemos desfiar ao correr dos tempos? Não sei. Acho que não. Se, fazendo a nossa parte, e lembrando o confrade Zeca Tocantins, cuidarmos do terreiro à frente ou plantarmos no terreno atrás de nossa casa, se ampliamos isso para a nossa cidade, e, no campo das criaturas e das culturas, outros fizerem ou continuarem fazendo no estado, no país, o mundo estará melhor. Parabéns, portanto, a todos nós Acadêmicos, por nos permitirmos estes sete dias algo melhor, de dar e receber, de aprendizagens e de partilhas. E se, para salvar o mundo, não é muito o que esta Academia está fazendo, dizemos: Estamos fazendo. E se o que aqui estou dizendo já é mais do que bastante para compreender o que quero dizer, então lhes digo: Senhoras e senhores, muito obrigado. Viva, e vivamos, a Semana Imperatrizense do Livro!" EDMILSON SANCHES. edmilsonsanches@uol.com.br ___ Fotos: O cartaz do SALIMP 2016. Aspecto do SALIMP 2012, no Centro de Convenções de Imperatriz. E Edmilson Sanches em palestra no SALIMP de 2014. ___



II FESTIVAL MARANHENSE DE CONTO E POESIAUEMA/2016.

Alguns momentos dedicados à poesia e à literatura, em meio à correria de praxe e à regularidade do mundo. O projeto #NaPeleDaPalavra, em Caxias-MA; a missa de 01 ano da morte da Nauro, onde encontramos este ao mesmo tempo gigante (da literatura brasileira) e gentil poeta, Carlos Nejar; uma conversa com ele, sobre poesia e vida, e sua palestra na Academia Maranhense de Letras. Um novo fôlego tomando corpo.



Reinauguração da Casa de Cultura Josué Montello e inauguração do Museu Josué Montello.


ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIA PARA ELEIÇÃO DE NOVOS MEMBROS 16 e 17 DE DEZEMBRO DE 2016 SALA MAIOR – CONVENTO DAS MERCES Cadeira 25 – patroneada por Laura Rosa foi a seguinte votação: CANDIDATOS VOTOS MIRIAN LEOCÁDIO PINHEIRO ANGELIM 15 1º JOAQUIM VILANOVA ASSUNÇÃO NETO 05 2º BRANCO/NULO 01 A CANDIDATA MIRIAN LEOCÁDIO PINHEIRO ANGELIM atingiu 15 votos, sendo eleita para a cadeira 25, patroneada por Laura Rosa. Cadeira 35, patroneada por Domingos Vieira Filho: CANDIDATOS VOTOS MOISÉS ABÍLIO COSTA 03 3º IRANDI MARQUES LEITE 09 1º JUCEY SANTOS DE SANTANA 09 1º BRANCO/NULO Como nenhum candidato atingiu quinze votos necessários, partiu-se para o segundo escrutínio, sendo necessário 11 (onze) votos, indo para a segunda votação os candidatos Irandi Marques Leite (09 votos) e Jucey Santos de Santana (09 votos); com a seguinte votação: CANDIDATOS VOTOS IRANDI MARQUES LEITE 09 1º JUCEY SANTOS DE SANTANA 07 2º NULO/BRANCOS 05 Como nenhum candidato alcançou os 11 votos, conforme decisão da Assembléia Geral, devendo-se marcar nova eleição, concorrendo os dois candidatos.

Queima das cédulas


Comissão Escritinadora da segunda sessão de apuração



cadeira 22, patroneada por MaranhĂŁo Sobrinho


CANDIDATOS VOTOS ANTONIO AILTON SANTOS SILVA 15 ELIANE DE ARAUJO DUARTE 6 BRANCO/NULO 1 ELEITO ANTONIO AILTON SANTOS SILVA, com 15 votos, Cadeira 24, patroneada por Viriato Corrêa, CANDIDATOS VOTOS AZENATE DE OLIVEIRA SOUSA 0 DINACY MENDONÇA CORREA 6 FELIPE COSTA CAMARÃO 15 SAULO BARRETO LIMA FERNANDES 0 BRANCO/NULO 1 ELEITO FELIPE COSTA CAMARÃO, com 15 votos, para a Cadeira 24, patroneada por Viriato Corrêa.

VISITANTES E VOTANTES


ASSEMBLEIA GERAL DE 20 DE DEZEMBRO DE 2016 MENSAGEM DE NATAL AOS CONFRADES E CONFREIRAS DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS-ALL

Últimos dias do ano cristão de 2016! Ano profícuo de muitas realizações nesta Casa, mas, mesmo assim, reconheço que tem muito ainda a ser feito. Reconheço também que não basta realizarmos projetos, mas tão importante quanto os nossos feitos é a alegria, a comunhão com quem se está próximo, pensando, projetando, sonhando... para então realizar e vibrar juntos com o resultado. E, em relação ao que não foi possível concretizar neste ano que finda, não perder o entusiasmo e continuar tentando... tentando!... Final de ano é também convidativo, às vezes imperativo, à realização de balanços, entre eles o balanço do que se fez e se viveu durante os 366dias (ou 365) que recebemos como presente. Façamos o nosso para comemorarmos aqueles objetivos concretizados e redirecionarmos aqueles que precisarem melhorar, para assim termos mais sucesso no ano novo. Sempre temos aspectos e situações a aprimorar. Agradeço, nesta oportunidade, a todos aqueles que não mediram esforços para que os objetivos traçados pela gestão do biênio 2016/2017 da Academia, ou parte deles, fossem concretizados. Assim, reconhecendo que esta é, principalmente, a hora de agradecer... de dizer obrigada.... Muito obrigada a todos os confrades e confreiras deste sodalício! Em 2017 estaremos, como sempre, empenhados em imprimir a marca da Academia Ludovicense de Letras na cultura da nossa cidade, do nosso Estado, do nosso País e do Mundo, e, para isso, conto com cada um dos confrades e confreiras! Que 2017 seja um ano de muita Luz, Vitórias, Paz e União! Feliz Natal!!! São Luís, 20 de dezembro de 2016. Dilercy Aragão Adler Presidente


NOVOS MEMBROS: AILTON, MIRIAM E FELIPE NO MOMENTO DA PROCLAMAÇÃO DA ELEIÇÃO


MIRIAM & FAMILIARES

ANTONIO AILTON





FERREIRA GULLAR



SINGELA HOMENAGEM (PÓSTUMA) AO GRANDE IMORTAL FERREIRA GULLAR DILERCY ADLER Membro Fundadora e Presidente da Academia Ludovicense de Letras -ALL; do Iinstituto Histórico e Geográfico do MaranhãoIHGM; Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil. E-mail: dilercy@hotmail. com

Singela homenagem, porque sem grandes pretensões no tocante à grandeza do homenageado. Assim me cabe, de forma simples, como foi a sua vida,prestar a ele esta homenagemque pretende realçar por meio de pequena mostra a magnitude da sua obra, que o torna digno expoente das Letras Maranhenses com grandes repercussões em nível nacional e internacional. Ribamar Ferreira, que adotou o pseudônimo de Ferreira Gullar,nasceuem São Luís do Maranhão,terra de grandes poetas, em10 de setembro de 1930, e faleceu no Rio de Janeiro, aos 86 anos de idade. Escritor, poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e um dos fundadores do neoconcretismo, ao lado dos irmãos Campos (Augusto e Haroldo).Eleito em 9 de outubro de 2014, ocupou por apenas dois anos a Cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras, patroneada por Tomás Antônio Gonzaga, autor do célebre livro Marília de Dirceu. Como se constata na sua biobibliografia,a sua arte é múltipla, o que permite a diferentes pessoas privilegiarem mais umaou outravertente das artes. Por outro lado, o artista é um homem (em termos genéricos), por isso um ser social, e a arte é uma forma de consciência social. Nesse sentido, a produção é amalgamada a partir de como o mundo humano é percebido, introjetado e reelaborado pelo observador. A mesma realidade objetiva inspira e projeta percepções distintas para diferentes pessoas. E quais são os traços das obras de Gullar, o que se vê, ou o que é visto por diferentes pessoas? Difícil de responder a essa questão de uma forma única e absoluta. Por isso arrolo nesta homenagem despretensiosa o que me toca, o que me atinge em sua poesia, que é a vertente da arte que escolhi pela própria paixão que sinto porela (a poesia), declarada em minha própria vida. São notórias, em todas as produções, nuances ao longo da vida do autor, embora alguns traços se apresentem permanentes. Todavia o que me passa em toda a obrapoética de Gullar é uma sensibilidade aguçada, que dá sustentação a tudo que ele produziu. A mim me encantam a performance linda e humanizada dos seus traços de homem politicamente correto, de coração grande, ao vislumbrar e defender a ideia de uma sociedade igualitária e verdadeiramente humana.Assim,o seu engajamento político em defesa da gente simples do seu Brasil, do seu Maranhão, da sua São Luís, é visível nos seus poemas que se firmam como importante instrumento de denúncia social. E, a partir dos anos 50, 60 e 90, a sua poesia apresenta um claro compromisso com as classes populares. Na obra DENTRO DA NOITE VELOZ, publicada em 1975, muitas dessas poesias estão escritas, dentre elas, destaco MAIO 1964 e Agosto 1964 : MAIO 1964 Na leiteria a tarde se reparte em iogurtes, coalhadas, copos de leite e no espelho meu rosto. São quatro horas da tarde, em maio. Tenho 33 anos e uma gastrite. Amo a vida que é cheia de crianças, de flores


e mulheres, a vida, esse direito de estar no mundo, ter dois pés e mãos, uma cara e a fome de tudo, a esperança. Esse direito de todos que nenhum ato institucional ou constitucional pode cassar ou legar. Mas quantos amigos presos! quantos em cárceres escuros onde a tarde fede a urina e terror. Há muitas famílias sem rumo esta tarde nos subúrbios de ferro e gás onde brinca irremida a infância da classe operária. Estou aqui. O espelho não guardará a marca desse rosto, se simplesmente saio do lugar ou se morro se me matam. Estou aqui e não estarei, um dia, em parte alguma. Que importa, pois? A luta comum me acende o sangue e me bate no peito como o coice de uma lembrança. (GULLAR, 2001, p. 169)

Agosto 1964 Entre lojas de flores e de sapatos, bares, mercados, butiques, viajo num ônibus Estrada de Ferro-Leblon. Volto do trabalho, a noite em meio, fatigado de mentiras. O ônibus sacoleja. Adeus, Rimbaud, relógio de lilases, concretismo, neoconcretismo, ficções da juventude, adeus, que a vida eu compro à vista aos donos do mundo. Ao peso dos impostos, o verso sufoca, a poesia agora responde a inquérito policial-militar. Digo adeus à ilusão mas não ao mundo. Mas não à vida, meu reduto e meu reino. Do salário injusto, da punição injusta, da humilhação, da tortura, do horror, retiramos algo e com ele construímos um artefato um poema uma bandeira


Ferreira Gullar Do livro: "Toda poesia - 1950-1980", Civilização Brasileira, 1980, RJ Me deslumbram o amor à vida, o realce à poesia do cotidiano e a tamanha força... a tamanha fé! Forte esperança de superação, mesmo em relação às situações mais desonrosas e perversas!Assim, quando expressa: [...] Amo a vida que é cheia de crianças, de flores e mulheres, a vida, esse direito de estar no mundo,[...] [...] Digo adeus à ilusão. Mas não ao mundo. Mas não à vida, meu reduto e meu reino. [...] da punição injusta, da humilhação, da tortura, do horror, retiramos algo e com ele construímos um artefato um poema uma bandeira E ainda me fascina a leveza do seu lirismo poético tornando indispensável a vontade de viver bem... de ser feliz, forte e claramente demonstrada quando diz: Não quero saber do sofrimento, quero é felicidade. Não gosto de fazer lamúrias. Uma vez, discuti feio sobre determinada situação. Fiquei sozinho em casa, cheio de razão e triste pra cacete. Então, pra que querer ter sempre razão? Não quero ter razão. Quero é ser Feliz! Ainda algumas das suas premissas causam em mim também encantamento, dentre elas: “Não dá para escrever um poema sobre qualquer coisa”. “Escrever um poema para mim é uma grande felicidade”. “Se não acontecer, não aconteceu”. “Viver em um mundo sem explicação alguma ia deixar todo mundo louco. Mas nenhuma explicação explica tudo, nem poderia. Então de vez em quando o não explicado se revela, e é isso que faz nascer a poesia. Só aquilo que não se sabe pode ser poesia”. “Não se faz poesia a frio. [...] sem o espanto, eu não faço”. “A Poesia nasce do espanto”, a esse respeito diz em seu belo discurso de posse na Academia Brasileira de Letras: [..] como minha vida tem se caracterizado, não pelo previsível, mas pelo inesperado,[...]aos 84 anos de idade, começo uma nova aventura, tomo um rumo inesperado que a algum lugar desconhecido há de levar-me. Pode alguém se espantar ao me ouvir dizer que posso encontrar o novo nesta Casa, que é o reduto


mesmo da tradição. E pode ser que esteja certo. Não obstante, como a vida é inventada, em qualquer lugar e em qualquer momento, algo inesperado pode acontecer. Espero que aconteça, mas que seja uma surpresa boa (http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm%3Fsid%3D1042/discur so-de-posse) (Grifo nosso). Encanta-me, como já me referi, o realce que ele dá ao espanto como matéria-- prima da poesia, o qual se estende para o próprio viver e isso somado à consideração de o inventar da própria vida. Todos esses elementos, em íntima e pródiga relação, são indicativos de muita lucidez. Vinicios Torres, colunista da Folha, fala de Gullar dizendo: “Gullar deixa grandes poemas, coisas pequenas, sujas e lindas” e finaliza seu texto rico de informações, afirmando: “[...] isso era Gullar. Lidar com coisas pequenas mesmo quando fazia grande história: a da sua vida misturada à de São Luís, do Brasil, da Grande Guerra, do mundo, como no ‘Poema Sujo’. Isso era muito Gullar”. Continuando essa lógica,trago como exemplo: Não há vagas O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em arquivos. Como não cabe no poema o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras – porque o poema, senhores, está fechado: “não há vagas” Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço O poema, senhores, não fede nem cheira. (GULLAR, 2001, p. 162) Concordo com Vinicios Torresna sua fala “Isso é Gullar”e acrescento:


As suas crenças, a sua postura política devem ser respeitadas e a sua poesia.... Ah! a sua poesia jamais deve ser esquecida! Devemos, sim, disseminar por gerações os seus feitos, a performance linda e humanizada dos seus traços de homem politicamente correto, de coração grande, de grande sensibilidade, mas concomitantemente forte e ousado! Que para sempre viva a sua poesia e o seu testemunho escrito e comportamental nesta curta passagem na terra!

REFERÊNCIAS GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. 11.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001. http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/12/1838423-gullar-deixa-grandes-poemas-coisas-pequenassujas-e-lindas.shtml http/fiandoefalando.blogspot.com.br/2011/11/poesia -de-ferreira-gullarem-tempos-de.html http://escolaeducacao.com.br/melhores-poemas-de-ferreira-gullar/ (http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm%3Fsid%3D1042/discurso-de-posse)


MORREU JOSÉ RIBAMAR FERREIRA, FERREIRA GULLAR FERNANDO BRAGA

Morreu no Rio de Janeiro, aos 86 anos de idade um dos maiores nomes da literatura brasileira do século XX, José Ribamar Ferreira, que usou o pseudônimo de Ferreira Gullar, nascido em São Luís, do Maranhão a 10 de setembro de 1930, e hoje, 4 de dezembro, no Rio de Janeiro, partiu para a companhia de Deus. Gullar era escritor, poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta e um dos fundadores do neoconcretismo, ao lado dos irmãos Campos [Augusto e Haroldo]. Foi o postulante da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada por Ivan Junqueira, também de sua geração, da qual tomou posse em 5 de dezembro de 2014. O poeta deixou uma biobibliografia de apurado requinte vanguardista, literário e estético. Este depoimento guardei dele como lição: “Poesia não nasce pela vontade da gente, ela nasce do espanto, alguma coisa da vida que eu vejo e que não sabia. Só escrevo assim. Estou na praia, lembro do meu filho que morreu. Ele via aquele mar, aquela paisagem. Hoje estou vendo por ele. Aí começo um poema… Os mortos vêem o mundo pelos olhos dos vivos. Não dá para escrever um poema sobre qualquer coisa. O mundo aparentemente está explicado, mas não está. Viver em um mundo sem explicação alguma ia deixar todo mundo louco. Mas nenhuma explicação explica tudo, nem poderia. Então de vez em quando o não explicado se revela, e é isso que faz nascer a poesia. Só aquilo que não se sabe pode ser poesia. Com o avanço da idade, diminuem a vontade e a inspiração. A gente passa a se espantar menos. Tem poeta que não se espanta mais, mas insiste em continuar escrevendo, não quer se dar por vencido. Então ele começa a escrever bobagens ou coisas sem a mesma qualidade das que produzia antes. Saber fazer ele sabe, mas é só técnica, falta alguma coisa. Não se faz poesia a frio. Isso não vai acontecer comigo. Sem o espanto, eu não faço. Escrever só para fazer de conta, não faço. Eu vou morrer. O poeta que tem dentro de mim também. Tudo acaba um dia. Quando o poeta dentro de mim morrer, não escrevo mais. Não vou forçar a barra. Isso não vai acontecer. Toda vez que publico um livro, a sensação que tenho é de que aquele é o definitivo. Escrever um poema para mim é uma grande felicidade. Se não acontecer, não aconteceu”. Só ele mesmo, Ferreira Gullar, com seu ser - poético, seu sofrimento e seu espanto ao escrever, poderia, em síntese, tornar claro esse íntimo e doloroso espanto, com esses seus versos: “A vida falta uma parte / - seria o lado de fora - / para que se visse passar / ao mesmo tempo que passa / e no final fosse apenas / um tempo de que se acorda / não um sono sem resposta / à vida falta uma porta”. Deixo aqui o meu adeus a Ferreira Gullar, meu querido amigo e conterrâneo.


Ricardo Leão Declaro luto por Gullar e pelo Brasil. Eu, Dyl Pires, Bioque Mesito, Antonio Aílton Santos Silva, Mauro Falcão Gomes e Samarone Marinho, todos poetas e escritores (além de outros nomes que estavam presentes, como Hagamenon de Jesus), homenageando o Gullar há muitos anos atrás, provavelmente 2002, na Academia Maranhense de Letras. Fizemos uma antologia de nossos poemas para o Gullar, com poemas do próprio Gullar nela inseridos, chamada Carnigie Hall. O Gullar apreciou muito a homenagem e a antologia. Foi um encontro muito importante para todos nós, ao lado de um dos nosses mestres e alta inspiração para tudo que fazíamos. O Brasil precisa reverenciar mais os seus grandes homens, todos os dias.

Joaquim Itapary - A inteligência brasileira está coberta de luto

Betto Pereira - Singela homenagem ao nosso grande escritor, jornalista, artista plástico e poeta Ferreira Gullar. Nosso e do mundo! Que Deus o tenha.


JOAQUIM HAICKEL Morreu Ferreira Gullar! Último sobrevivente da plêiade de grandiosos poetas maranhenses e brasileiros! Nossa poesia está órfã! Nossa crítica cultural empobrecida! A última vez que falei com Ferreira Gullar foi para, em nome da Academia Maranhense de Letras, convidálo para preencher a vaga aberta naquela Casa com a morte de Jomar Moraes. Liguei para sua casa numa manhã do início de setembro e uma voz rouca atendeu do outro lado. Impossível não reconhecer aquela voz. Com certa cerimonia expus meu caso e ele logo se mostrou muitíssimo emocionado e agradecido. Disse-me que Zelito Viana já lhe havia falado sobre esse assunto! (eu sondei Zelito, pois estava ajudando-o com imagens antigas de São Luís para o documentário que ele fazia sobre Gullar e achei que ele poderia ajudarnos). O Poeta disse-me que sua primeira reação foi aceitar de pronto. Disse-me que estava muito feliz pelo convite, que se sentia muito honrado, que sabia da importância de Jomar para a AML, mas que havia falado com sua companheira sobre o fato, e que ponderando melhor, uma vez que ele não viajava de avião, e tendo em vista que ele ficaria fora do Rio pelo menos por 10 dias, “três para ir, três pra voltar”... Que a viagem de carro entre o Rio e São Luís seria bastante incômoda e desgastante para um homem de 86 anos... Disse que era com tristeza que ele deixava de lado a excitação juvenil que o fez prontamente aceitar o convite, mas que, por todos aqueles motivos, não seria possível!...

Daniel Blume Não conhecia Ferreira Gullar fisicamente, mas bem o conhecia pessoalmente, por meio de sua arte. A morte leva seu corpo. Sua poesia permanece pessoalmente em nós. Escritor maranhense, membro da ABL, jornalista, crônica, crítico literário, agora se encontra com Camões, Gonçalves Dias e poucos outros no panteão dos imensos poetas da Língua Portuguesa.


Viva Ferreira Gullar!

FERREIRA GULLAR Publicado em O ESTADO 09 de novembro de 2016

Era manhã de domingo. Em 04 de dezembro, fui tocado por uma notícia: a morte de Ferreira Gullar, o meu melhor poeta. Com 86 seis anos, adquiriu uma pneumonia fatal. Gullar faleceu no início da semana. Justo no dia em que, há anos, publicava suas crônicas na Folha de São Paulo. Na noite anterior, havia terminado de ler a última edição do seu livro "Toda Poesia". Por meses, lia e parava. Refletia e relia. Engasgava e prosseguia. Por vezes, os poemas me traziam uma pressão no tórax sem ser enfarte. Era a poesia de Gullar. Não por acaso, a obra começa por "A Luta Corporal", poemas escritos de 1950 a 1953. Em seguida, "O Vil Metal” (1954-1960). "Romances de Cordel" (1962-1967). "Dentro da Noite Veloz" (1975). "Poema Sujo" (1976). "Na Vertigem do Dia" (1980). "Barulhos" (1987). "Muitas Vozes" (1999). Por último, "Em Alguma Parte Alguma" (2010). O autor optou por não inserir na coletânea o seu livro inicial “Um Pouco Acima do Chão” (1949), pois o achava ingênuo. Modéstia. Escritor maranhense, membro da Academia Brasileira de Letras, jornalista, cronista, crítico de arte, está com Camões, Gonçalves Dias, Drummond,Bandeira e poucos outros no panteão dos poetas da Língua Portuguesa. Acerca de seu pseudônimo, declarava: “Gullar é um dos sobrenomes de minha mãe, o nome dela é Alzira Ribeiro Goulart, e Ferreira é o sobrenome da família, eu então me chamo José Ribamar Ferreira; mas como todo mundo no Maranhão é Ribamar, eu decidi mudar meu nome e fiz isso, usei o Ferreira que é do meu pai e o Gullar que é de minha mãe, só que eu mudei a grafia porque o Gullar de minha mãe é o Goulart francês; é um nome inventado; como a vida é inventada eu inventei o meu nome”. Homens como Ferreira Gullar morrem, mas não deixam de existir. Teve o privilégio do reconhecimento em vida. Recebeu vários prêmios, como Camões, Machado de Assis e Jabuti. Chegou a ser indicado ao Nobel de Literatura, por indicação de professores americanos, brasileiros e portugueses. É nome de teatro aavenida. Doutor honoris causa, objeto de teses e livros. Gullar era crítico contundente dos governos que não reputava corretos. Independente e coerente, usava verbo, história e coragem para apontar para adireita ou para a esquerda. Pagou o preço com exílioe incompreensão. Os poemas de Gullar quebraram o paradigma da forma, ao revelarem que poesia é o que se escreve. Não como se escreve. Estava certo, mesmo sem querer ter razão. Preferia ser feliz com a poesia e por seus princípios. Gullar era o poeta que alcançava a poesia mesmo nas frutas que apodrecem na cozinha (tema recorrente em sua obra). Encontrava a poesia do cotidiano das ruas de São Luís e do Rio de Janeiro. Usava


opoema como espada social, até quando descrevia um garfo que enferruja. Dizia que quanto mais distante estava o homem, mais perto se encontrava de sua origem. Em seu “Poema Sujo”, escrito no exílio na Argentina, fala sobre seu “corpo/ nordestino/ mais que isso/ maranhense/ mais que isso/ sanluisense/ mais que isso/ ferreirense/newtoniense/ alzirense”. Diz ainda que “O homem está na cidade/ como uma coisa está em outra/e a cidade está no homem/ que está em outra cidade/ mas variados são os modos como uma coisa/ está em outra coisa:/ o homem, por exemplo, não está na cidade/ bem como uma árvore está em qualquer uma de suas folhas. Não conhecia Ferreira Gullar fisicamente, mas bem o conhecia pessoalmente, através de sua obra. Sua morte leva seucorpo. Sua poesia permanece pessoalmente em nós. Não apenas entre nós.

Clores Holanda

Eu e Jorge Amado e Ferreira Gular e minha irmã, quando morávamos Rua de Santaninha, em 1976.

Ana Luiza Almeida Ferro

"A arte existe porque a vida não basta". A sua arte é imortal, mas ele não está mais entre nós. E assim partiu o maior poeta brasileiro da atualidade, além de biógrafo, tradutor, contista, cronista, memorialista, crítico de arte e ensaísta, nascido na Velha Atenas Brasileira, São Luís do Maranhão. Morreu Ferreira Gullar, membro da ABL e detentor do Prêmio Camões (2010), uma estrela da literatura mundial. Não percamos a virtude do espanto. O Paraíso dos Poetas se enriqueceu deveras hoje.


Dilercy Aragão Adler Minha homenagem a Ferreira Gullar através da grandeza desse poema... um profundo poema dentre as muitas obras que integram o acervo da sua produção. Esse poema diz muito de forma lírica e verdadeira de todo ser humano!!!


“A ARTE EXISTE PORQUE A VIDA NÃO BASTA” – HOMENAGEM A FERREIRA GULLAR, O POETA ETERNO! ANA MARIA FELIX GARJAN Projeto Azulejos culturais &Anima Ludovicense Membro Correspondente da ALL em Forteleza – CE

Tive a oportunidade de ter dialogado com o poeta Ferreira Gullar e ter autógrafos seus em alguns de sua obras literárias. A missão terrena de Ferreira Gullar encerrou-se ontem, dia 04 de dezembro, e no mesmo ano de sua amada sobrinha, a cantora ludovicense, Ângela Gullar. Sua alma de poeta, seu legado literária e cultural estarão na memória de São Luís, do Maranhão, do Brasil e em cada coração que o admirava. Tirei diversas fotos dele em São Luís, no final do Séc. XX. Compartilharei em breve ocasião através da ALL EM REVISTA.

"Eu sou feliz. Quero morrer assim, bem, com paz. Se você me ama, me deixa morrer em paz". Foi isso que ele me pediu revelou, disse sua mulher, a poeta Claudia Ahinsa.

Ave Gullar! Ele disse em suas diversas entrevistas quando lhe era perguntado qual seria, em sua opinião, o conceito da palavra arte: “a arte é uma coisa muito difícil, não me considero a altura de definir o que é arte porque é uma coisa da experiência. Seguramente arte supõe uma linguagem, o conhecimento dessa linguagem e, sobretudo talento, de modo que para se fazer arte tem que nascer artista, não que nasça sabendo, mas com as qualidades que poderão torná-lo um artista. Definir arte de uma maneira genérica é muito difícil”. A ainda disse: “A crítica de arte foi uma coisa que nasceu do próprio processo cultural. As pessoas naturalmente que se interessam por arte, que não são criadoras de arte, mas que tem grande interesse por arte, buscam o entendimento da arte porque no fundo a crítica é antes de mais nada a tentativa de entender a arte. Evidentemente não há crítica infalível. A crítica tem uma parte de conhecimento e de objetividade. Outra parte é subjetividade e opinião”.


Ave Gullar!

Recordemos uma das suas mais belas poéticas:

Poema Traduzir-se Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir uma parte


na outra parte — que é uma questão de vida ou morte — será arte? (Ferreira Gullar. Os Melhores Poemas de Ferreira Gullar.)

A melhor maneira de homenagear um escritor é espalhar sua obra ! Além de grande poeta, Ferreira Gullar foi um profundo conhecedor da alma humana Sua prosa vigorosa pode ser saboreada nestas suas reflexões doces e amargas sobre o AMOR, A arte existe porque a vida não basta... "Sobre o amor" Ferreira Gullar "Houve uma época em que eu pensava que as pessoas deviam ter um gatilho na garganta: quando pronunciasse — eu te amo —, mentindo, o gatilho disparava e elas explodiam. Era uma defesa intolerante contra os levianos e que refletia sem dúvida uma enorme insegurança de seu inventor. Insegurança e inexperiência. Com o passar dos anos a idéia foi abandonada, a vida revelou-me sua complexidade, suas nuanças. Aprendi que não é tão fácil dizer eu te amo sem pelo menos achar que ama e, quando a pessoa mente, a outra percebe, e se não percebe é porque não quer perceber, isto é: quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo sabendo que é mentira. O mentiroso, nesses casos, não merece punição alguma. Por aí já se vê como esse negócio de amor é complicado e de contornos imprecisos. Pode-se dizer, no entanto, que o amor é um sentimento radical — falo do amor-paixão — e é isso que aumenta a complicação. Como pode uma coisa ambígua e duvidosa ganhar a fúria das tempestades? Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e arrasador. É como o vento, também às vezes doce, brando, claro, bailando alegre em torno de seu oculto núcleo de fogo. O amor é, portanto, na sua origem, liberação e aventura. Por definição, anti-burguês. O próprio da vida burguesa não é o amor, é o casamento, que é o amor institucionalizado, disciplinado, integrado na sociedade. O casamento é um contrato: duas pessoas se conhecem, se gostam, se sentem atraídas uma pela outra e decidem viver juntas. Isso poderia ser uma coisa simples, mas não é, pois há que se inserir na ordem social, definir direitos e deveres perante os homens e até perante Deus. Carimbado e abençoado, o novo casal inicia sua vida entre beijos e sorrisos. E risos e risinhos dos maledicentes. Por maior que tenha sido a paixão inicial, o impulso que os levou à pretoria ou ao altar (ou a ambos), a simples assinatura do contrato já muda tudo. Com o casamento o amor sai do marginalismo, da atmosfera romântica que o envolvia, para entrar nos trilhos da institucionalidade. Torna-se grave. Agora é construir um lar, gerar filhos, criá-los, educá-los até que, adultos, abandonem a casa para fazer sua própria vida. Ou seja: se corre tudo bem, corre tudo mal. Mas, não radicalizemos: há exceções — e dessas exceções vive a nossa irrenunciável esperança. Conheci uma mulher que costumava dizer: não há amor que resista ao tanque de lavar (ou à máquina, mesmo), ao espanador e ao bife com fritas. Ela possivelmente exagerava, mas com razão, porque tinha uns olhos ávidos e brilhantes e um coração ansioso. Ouvia o vento rumorejar nas árvores do parque, à tarde incendiando as nuvens e imaginava quanta vida, quanta aventura estaria se desenrolando naquele momento nos bares, nos cafés, nos bairros distantes. À sua volta certamente não acontecia nada: as pessoas em suas respectivas casas estavam apenas morando, sofrendo uma vida igual à sua. Essa inquietação bovariana prepara o caminho da aventura, que nem sempre acontece. Mas dificilmente deixa de acontecer. Pode não


acontecer a aventura sonhada, o amor louco, o sonho que arrebata e funda o paraíso na terra. Acontece o vulgar adultério - o assim chamado -, que é quase sempre decepcionante, condenado, amargo e que se transforma numa espécie de vingança contra a mediocridade da vida. É como uma droga que se toma para curar a ansiedade e reajustar-se ao status quo. Estou curada, ela então se diz — e volta ao bife com fritas. Mas às vezes não é assim. Às vezes o sonho vem, baixa das nuvens em fogo e pousa aos teus pés um candelabro cintilante. Dura uma tarde? Uma semana? Um mês? Pode durar um ano, dois até, desde que as dificuldades sejam de proporção suficiente para manter vivo o desafio e não tão duras que acovardem os amantes. Para isso, o fundamental é saber que tudo vai acabar. O verdadeiro amor é suicida. O amor, para atingir a ignição máxima, a entrega total, deve estar condenado: a consciência da precariedade da relação possibilita mergulhar nela de corpo e alma, vivê-la enquanto morre e morrê-la enquanto vive, como numa desvairada montanha-russa, até que, de repente, acaba. E é necessário que acabe como começou, de golpe, cortado rente na carne, entre soluços, querendo e não querendo que acabe, pois o espírito humano não comporta tanta realidade, como falou um poeta maior. E enxugados os olhos, aberta a janela, lá estão as mesmas nuvens rolando lentas e sem barulho pelo céu deserto de anjos. O alívio se confunde com o vazio, e você agora prefere morrer. A barra é pesada. Quem conheceu o delírio dificilmente se habitua à antiga banalidade. Foi Gogol, no Inspetor Geral quem captou a decepção desse despertar. O falso inspetor mergulhara na fascinante impostura que lhe possibilitou uma vida de sonho: homenagens, bajulações, dinheiro e até o amor da mulher e da filha do prefeito. Eis senão quando chega o criado, trazendo-lhe o chapéu e o capote ordinário, signos da sua vida real, e lhe diz que está na hora de ir-se pois o verdadeiro inspetor está para chegar. Ele se assusta: mas então está tudo acabado? Não era verdade o sonho? E assim é: a mais delirante paixão, terminada, deixa esse sabor de impostura na boca, como se a felicidade não pudesse ser verdade. E no entanto o foi, e tanto que é impossível continuar vivendo agora, sem ela, normalmente. Ou, como diz Chico Buarque: sofrendo normalmente. Evaporado o fantasma, reaparece em sua banal realidade o guardaroupa, a cômoda, a camisa usada na cadeira, os chinelos. E tudo impregnado da ausência do sonho, que é agora uma agulha escondida em cada objeto, e te fere, inesperadamente, quando abres a gaveta, o livro. E te fere não porque ali esteja o sonho ainda, mas exatamente porque já não está: esteve. Sais para o trabalho, que é preciso esquecer, afundar no dia-a-dia, na rotina do dia, tolerar o passar das horas, a conversa burra, o cafezinho, as notícias do jornal. Edifícios, ruas, avenidas, lojas, cinema, aeroportos, ônibus, carrocinhas de sorvete: o mundo é um incomensurável amontoado de inutilidades. E de repente o táxi que te leva por uma rua onde a memória do sonho paira como um perfume. Que fazer? Desviar-se dessas ruas, ocultar os objetos ou, pelo contrário, expor-se a tudo, sofrer tudo de uma vez e habituarse? Mais dia menos dia toda a lembrança se apaga e te surpreendes gargalhando, a vida vibrando outra vez, nova, na garganta, sem culpa nem desculpa. E chegas a pensar: quantas manhãs como esta perdi burramente! O amor é uma doença como outra qualquer. E é verdade. Uma doença ou pelo menos uma anormalidade. Como pode acontecer que, subitamente, num mundo cheio de pessoas, alguém meta na cabeça que só existe fulano ou fulana, que é impossível viver sem essa pessoa? E reparando bem, tirando o rosto que era lindo, o corpo não era lá essas coisas... Na cama era regular, mas no papo um saco, e mentia, dizia tolices, e pensar que quase morro!... Isso dizes agora, comendo um bife com fritas diante do espetáculo vesperal dos cúmulos e nimbos. Em paz com a vida. Ou não."(*)

A arte é alquimia, transforma o sofrimento em alegria, compaixão , sabedoria, esperança e por aí afora! Registramos os primeiros versos do POEMA SUJO, de Ferreira Gullar: turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro


escuro menos menos menos que escuro menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo escuro mais que escuro: claro como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma e tudo (ou quase) um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas azul era o gato azul era o galo azul o cavalo azul teu cu tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma entrada para eu não sabia tu não sabias fazer girar a vida com seu montão de estrelas e oceano entrando-nos em ti bela bela mais que bela mas como era o nome dela? Não era Helena nem Vera nem Nara nem Gabriela nem Tereza nem Maria Seu nome seu nome era… Perdeu-se na carne fria perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia perdeu-se na profusão das coisas acontecidas constelações de alfabeto noites escritas a giz pastilhas de aniversário domingos de futebol enterros corsos comícios roleta bilhar baralho mudou de cara e cabelos mudou de olhos e risos mudou de casa e de tempo: mas está comigo está perdido comigo teu nome em alguma gaveta.


Ave Gullar para sempre! Em Dezembro de 2014, Ferreira Gullar foi empossado na Academia Brasileira de Letras.


CRISTIANE LAGO EXPLICAR-SE Ferreira se traduziu, Sem conseguir se explicar. Delirante ou sonhador? Um poeta. Explicar-se por inteiro, Tão difícil, tão poético. Somos às vezes tempestade. Outras vezes, calmaria. Ganhar o mundo Ou perder a vida. Ganhar a vida E viver no mundo. Buscar a essência, Enlouquecendo a cada dia. Buscar o que é sonho, Esquecendo o que é ganho. Explicar-se, Traduzir-se, Tão difícil, tão poético. Quase um sonho.


Cantiga para não morrer Quando você for se embora, moça branca como a neve, me leve. Se acaso você não possa me carregar pela mão, menina branca de neve, me leve no coração. Se no coração não possa por acaso me levar, moça de sonho e de neve, me leve no seu lembrar. E se aí também não possa por tanta coisa que leve já viva em seu pensamento, menina branca de neve, me leve no esquecimento. Ferreira Gullar

OS MORTOS os mortos vêem o mundo pelos olhos dos vivos eventualmente ouvem, com nossos ouvidos, certas sinfonias algum bater de portas, ventanias Ausentes de corpo e alma misturam o seu ao nosso riso se de fato quando vivos acharam a mesma graça ... Ferreria Gullar, 10/09/1930 - 04/12/2016


Do Poema Sujo de Ferreira Gullar:

bela bela mais que bela mas como era o nome dela? Não era Helena nem Vera nem Nara nem Gabriela nem Tereza nem Maria Seu nome seu nome era... Perdeu-se na carne fria perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia perdeu-se na profusão das coisas acontecidas constelações de alfabeto noites escritas a giz pastilhas de aniversário domingos de futebol enterros corsos comícios roleta bilhar baralho mudou de cara e cabelos mudou de olhos e risos mudou de casa e de tempo: mas está comigo está perdido comigo teu nome em alguma gaveta Ferreira Gullart


EFEMÉRIDES 01 08 11 13 14 17 22 25 27 29 31 02 03 09 08 11 13 14 19 28 29 05 09 14 20 25 26 25

OUTUBRO 1884 – NASCIMENTO DE LAURA ROSA – PATRONA DA CADEIRA 25 1863 – NASCIMENTO DE CATULO DA PAIXÃO CEASRENSE – PATRONO DA CADEIRA 17 1825 – NASCIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS – PATRONA DA CADEIRA 8 2005 - FALECIMENTO DE MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD – PATRONA DA CADEIRA 37 1818 – NASCIMENTO DEE CANDIDO MENDES DE ALMEIDA – PATRONO DA CADEIRA 6 1929 – NASCIMENTO DE ARTHUR ALMADA LIMA FILHO – FUNDADOR DA CADEIRA 18 1908 – FALECIMENTO DE ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONHO DA CADEIRA 13 1886 – NASCIMENTO DE HUMBERTO DE CAMPOS VERAS – PATRONO DA CADEIRA 27 1913 – NASCIMENTO DE MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER – DILÚ MELO – PATRONA DA CADEIRA 29 1977 – NASCIMENTO DE DANIEL BLUME DE ALMEIDA – 1º OCUPANTE DA CADEIRA 15 1951 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO – FUNDADOR DA CADEIRA 5 1962 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO GOMES MEIRELRES – FUNDADOR DA CADEIRA 17 NOVEMBRO 1946 – NASCIMENTO DE JOÃO BATISTA ERICEIRA – FUNDADOR DA CADEIRA 2 1864 – FALECIMENTO DE ANTONIO GONÇALVES DIAS – PATRONO DA CADEIRA 7 1939 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO DA COSTA VIANA – FUNDADOR DA CADEIRA 36 1934 – NASCIMENTO DE ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO – FUNDADOR DA CADEIRA 4 1917 – FALECIMENTO DE MARIA FIRMINA DOS REIS – PATRONA DA CADEIRA 8 1849 – NASCIMENTO DE CELSO T. DA CUNHA MAGALHAES – CELSO MAGALHAES – PATRONO DA CADEIRA 11 1935 – NASCIMENTO DE ROQUE PIRES MACATRÃO – FUNDADOR DA CADEIRA 6 1976 – FALECIMENTO DE LAURA ROSA – PATRONA DA CADEIRA 25 186 - NASCIMENTO DE ANTONIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS – PATRONO DA CADEIRA 16 1880 – NASCIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES – PATRONO DA CADEIRA 23 1934 – FALECIMENTO DE HENRIQUE MAXIMINIANO COELHO NETO – PATRONO DA CADEIRA 18 1880 – NASCIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BERBOSA ALVARES – PATRONO DA CADEIRA 23 DEZEMBRO 1934 – FALECIMENTO DE HUMBERTO DE CAMPOS VERAS – PATRONO DA CADEIRA 27 2010 – FALECIMENTO DE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 40 1914 – NASCIMENTO DE ODYLO COSTA, FILHO – PATRONO DA CADEIRA 30 1879 – NASCIMENTO DE JOSÉ AMERICO C. ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO – PATRONO DA CADEIRA 22 1915 – FALECIMENTO DE JOSÉ AMERICO C. ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO – PATRONO DA CADEIRA 22 1946 – FALECIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BERBOSA ALVARES – PATRONO DA CADEIRA 23

OBS. FALTAM DATAS DE NASCIMENTO: CLAUDE D´ABBEVILLE FALECIMENTO: DAGMAR DESTERRO (38);


CADEIRAS 16 - ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS – PATRONO

10 de novembro de 1860 / 4 de setembro de 1923 Barbosa de Godois1 nasceu em São Luís a 10 de novembro de 1860 e faleceu no Rio de Janeiro em 4 de setembro de 1923; foi um escritor, poeta e professor. Foi um educador, escritor, poeta, historiador e político. Formou-se em Direito pela Faculdade do Recife (atual Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco), exercendo, no Maranhão, o cargo de procurador da Justiça Federal. Como político, foi Deputado Estadual do Maranhão e Vice-Presidente do Estado do Maranhão. Exerceu o magistério, tendo lecionado, como professor da cadeira de História e Instrução Cívica , entre outros, e dirigido (entre 1900e 1905) a Escola Normal do Estado do Maranhão, e na Escola Modelo “Benedito Leite”, publicando inúmeras obras na área de educação. Participou ativamente na imprensa de sua época e, aliado a intelectuais de expressão que então se empenhavam em resgatar a cultura e a literatura maranhense, fundou a Academia Maranhense de Letras, tendo ocupado a cadeira n.º 1, cujo patrono é o Professor Almeida Oliveira, atualmente ocupada por Sebastião Moreira Duarte. Entre suas obras de maior destaque e importância, pode-se citar a “História do Maranhão”, em 2 volumes, publicada em 1904. Como poeta, destaca-se sua composição da letra do Hino do Estado do Maranhão. Gaspar (2008) 2 transcreve, por inteiro ou em parte, alguns documentos que chegaram às suas mãos, objeto de pesquisas realizadas, tentando reconstituir a biografia dos que concretizaram a existência da Academia Maranhense de Letras: Escritura de reconhecimento e perfilhação que faz João Batista de Barbosa a seu filho menor Antônio Batista Barbosa de Godois, tudo como abaixo se declara = Saibam quantos este público instrumento de reconhecimento e filiação como em direito melhor nome tenha virem que no ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de 1875, aos 30 de junho do dito ano, nesta Freguesia de S. Joaquim do Bacanga, Juízo de Paz do Município da Capital do Maranhão, em meu cartório compareceu João Batista Barbosa de Godois, brasileiro, solteiro, oficial de armeiro, que reconheço ser o próprio de que trato, faço menção e dou fé. E por ele foi dito em presença das testemunhas abaixo nomeadas e assinadas que, pela presente escritura reconhecia como seu legítimo filho o menor Antonio Batista Barbosa de Godois, nascido a 10 de novembro de 1860, havido com Joana Camila de Menezes, mulher livre com que se quisesse //fl.4v// quisesse casar não haveria impedimento algum para que assim possa gozar o referido seu filho de todos os privilégio que a lei tem, garante e lhe possam pertencer, e por sua morte seja seu herdeiro conjuntamente com outras que possa ter de qualquer matrimônio que tenha de contrair. Assim o disse, outorgou, aceitou e assina com as testemunhas presentes Joaquim Maria Torres e Antonio Felipe Cayres, depois de ouvirem ler por mim que reconheço a todos, do que dou fé. E eu Paulo Francisco da Cunha, escrivão que subscrevi e assino em público e raso ___ João Batista Barbosa de Godois; Joaquim Maria Torres; Antonio Felipe de Cayres; Freguesia de S. Joaquim do Bacanga, 6 de dezembro de 1878. E eu Severo Ângelo de Sousa, escrivão do Juiz de Paz que a escrevi e assinei. Severo Ângelo de Sousa.

1

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; REINALDO, Telma Bonifácio dos Santos. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: PERFIL DOS SÓCIOS – Patronos e Ocupantes de Cadeira. São Luís: IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/perfil_dos_socios_-_patronos_-_volu http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Baptista_Barbosa_de_Godois http://estantedosaber1.blogspot.com.br/2012/08/antonio-baptista-barbosa-de-godois.html 2 GASPAR, Carlos. APONTAMENTOS SOBRE BARBOSA DE GODOIS. Disponível em http://www.carlosgaspar.com.br/2008/16112008.htm


Outro documento que lhe chega às mãos, na busca de outros detalhes que poderão ser considerados interessantes quanto ao estudo do autor de História do Maranhão, adotado na Escola Normal, para atender à disciplina curricular, não menos interessante do que aquele acima transcrito, dirigido ao Bispo Diocesano desta capital: Antonio Batista Barbosa de Godois, filho natural de Joana Camila de Menezes, requer a V. Ex. Rev.ma que lhe haja mandar passar por certidão o conteúdo do assentamento de seu batismo, que teve lugar na Igreja de N. S. da Vitória da Capital, tendo sido seus padrinhos Antonio Nogueira de Sousa e sua Senhora Dona Maria Joaquina Ribeiro Nogueira de Sousa. Maranhão, 28 de maio de 1875. Antonio Batista Barbosa de Godois

E logo, sem maiores tardanças, veio a reposta assinada pelo Arcediago Manoel Tavares da Silva: Certifico que revendo um dos Livros findos de assentos de batismo da Freguesia de N. S. da Vitória que serviu nos anos de 1856-1863, nele não // fl.3.v // achei o assento requerido. O referido é verdade e dou fé. São Luís, 12 de junho de 1875. E eu o Arcediago Manoel Tavares da Silva, Secretário do Bispado, a subscrevi e assinei.

Obras Instrução cívica (Resumo Didático) - Maranhão, 1900. História do Maranhão - Maranhão, 1904, 2 volumes. Escrita rudimentar - São Luís, 1904. À memória do Doutor Benedito Pereira Leite - Maranhão, 1905. O mestre e a escola - Maranhão, 1911. Higiene pedagógica - São Luís, 1914. Os ramos da educação na Escola Primária - São Luís, 1914. Doutor Almeida Oliveira. Discurso na Academia, in RAML. Vol. I - São Luís, 1919 3

Hino do estado do Maranhão Letra por Antônio Baptista Barbosa de Godois Melodia por Antônio dos Reis Raiol Entre o rumor das selvas seculares, Ouviste um dia no espaço azul, vibrando, O troar das bombadas nos combates, E, após, um hino festival, soando. Salve Pátria, Pátria amada! Maranhão, Maranhão, berço de heróis, Por divisa tens a glória Por nume, nossos avós. Era a guerra, a vitória, a morte e a vida E, com a vitória, a glória entrelaçada, Caía do invasor a audácia estranha, Surgia do direito a luz dourada. Reprimiste o flamengo aventureiro, E o forçaste a no mar buscar guarida E dois séculos depois, disseste ao luso: - A liberdade é o sol que nos dá vida. Quando às irmãs os braços estendeste, Foi com a glória a fulgir no teu semblante Sempre envolta na tua luz celeste, Pátria de heróis, tens caminhado avante. E na estrada esplendente do futuro, Fitas o olhar, altiva e sobranceira, Dê-te o porvir as glórias do passado Seja de glória tua existência inteira. 3

http://pt.wikisource.org/wiki/Hino_do_estado_do_Maranh%C3%A3o


CADEIRA 17 - CATULO DA PAIXÃO CEARENSE4 PATRONO

8 de outubro de 1863 / 10 de maio de 1946 Nasceu em São Luís do Maranhão a 8 de outubro de 1863, faleceu no Rio de Janeiro em 10 de maio de 1946. Ppoeta, músico e compositor brasileiro. A data de nascimento foi por muito tempo considerada dia 31 de janeiro de 1866, pois a data original foi modificada para que Catulo pudesse ser nomeado ao serviço público. Filho de Amâncio José Paixão Cearense (natural do Ceará) e Maria Celestina Braga (natural do Maranhão). Mudou-se para o Rio em 1880, aos 17 anos, com a família. Trabalhou como relojoeiro. Conheceu vários chorões da época, como Anacleto de Medeiros e Viriato Figueira da Silva, quando se iniciou na música. Integrado nos meios boêmios da cidade, associou-se ao livreiro Pedro da Silva Quaresma, proprietário da Livraria do Povo, que passou a editar em folhetos de cordel o repertório de modismos da época. Catulo da Paixão Cearense passou a organizar coletâneas, entre elas O cantor fluminense e O cancioneiro popular, além de obras próprias. Vivia despreocupado, pois era boêmio, e morreu na pobreza. Em algumas composições teve a colaboração de alguns parceiros: Anacleto de Medeiros, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Francisco Braga e outros. Suas mais famosas composições são Luar do Sertão (em parceria com João Pernambuco), de 1914, que na opinião de Pedro Lessa é o hino nacional do sertanejo brasileiro, e a letra para Flor amorosa, que havia sido composta por Joaquim Calado em 1867. Também é o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da "modinha". Aos 19 anos, Catulo interrompeu os estudos e abraçou o violão, instrumento naquela época, repelido dos lares mais modestos.Iniciante tocador de flauta, a trocou pelo violão, pois assim, podia cantar suas modinhas. Nesse tempo passou a escrever e cantar as modinhas como, "Talento e Formosura", "Canção do Africano" e "Invocação a uma estrela". Moralizou o violão levando-o aos salões mais nobres da capital. Em 1908, deu uma audição no Conservatório de Música. Catulo foi autodidata autentico. Suas primeiras letras foram ensinadas por sua genitora e toda sua grande cultura foi adquirida em livros que comprava e por sua franquia à Biblioteca do Senador do Império, por ser professor dos filhos do Conselheiro Gaspar da Silveira. "Aprendi musica, como aprendi a fazer versos, naturalmente", dizia o Velho Marruêro. 4

http://pt.wikipedia.org/wiki/Catulo_da_Paix%C3%A3o_Cearense http://www.letras.com.br/#!biografia/catulo-da-paixao-cearense http://blogdomimica.blogspot.com.br/p/catulo-da-paixao-cearense.html http://letras.mus.br/catullo-da-paixao-cearense/ http://www.biografia.inf.br/catulo-da-paixao-cearense-poeta-musico-teatrologo.html


Seu pai faleceu em 1 de agosto de 1885, desgostoso por seu filho ter abandonado os estudos para ser poeta, sem tempo de assistir a moralização do violão, o que veio a marcar tremendamente Catulo. À medida que envelhecia mais se aprimorava. Catulo homem, não se modificava, sempre fiel ao seu estilo. "...Com gramática ou sem gramática, sou um grande Poeta..". A sua casinhola em Engenho de Dentro, afundada no meio do mato era histórica. Alí recebia seus admiradores, escritores estrangeiros, acadêmicos nacionais, sempre com banquetes de feijoada e o champagne nunca substituía o paratí, por mais ilustre que fosse o visitante. As paredes divisórias eram lençóis e sempre que previa a presença de pessoas importantes, dizia para a mulata transformada em dona de casa. "Cabocla, lave as paredes amanhã, que Domingo vem gente!" Sua primeira modinha famosa "Ao Luar" foi composta em 1880. Catulo morreu aos 83 anos de idade, em 10 de maio de 1946, a rua Francisca Meyer nº 78, casa 2. Seu corpo foi embalsamado e exposto à visitação pública até 13 de maio, quando desceu à sepultura no cemitério São Francisco de Paula, no Largo do Catumbí, ao som de "Luar do Sertão".

Obras5: Canções musicadas - Luar do Sertão - Choros ao Violão - Trovas e Canções - Cancioneiro Popular - A Canção do Africano - O Vagabundo - Etc... Livros de Poemas: - Meu Sertão - Sertão em Flor - Poemas Bravios - Mata Iluminada - Poemas Escolhidos - O Milagre de São João - Etc.... Obras teatrais; - O Marroeiro - Flor da Santidade - E o clássico "Um Boêmio no Céu".

Comentaram pró Catulo personalidades como: Julio Dantas, Ruy Barbosa, Machado de Assis, Clóvis Beviláqua, Francisco Braga, Humberto de Campos, Monteiro Lobato, Ignácio Raposo, Heitor Vila Lobos, Assis Chateaubriand, Bastos Tigre, Amoroso Lima, João Barros, Roquete Pinto, Pedro Lessa, Mário José de Andrade e outros

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http://www.letras.com.br/#!biografia/catulo-da-paixao-cearense


LUAR DO SERTÃO6 (Letra de música) Não há, oh gente oh não, Luar Como esse do sertão Oh que saudade Do luar da minha terra Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão Este luar cá da cidade Tão escuro Não tem aquela saudade Do luar lá do sertão Não há, oh gente... Se a lua nasce Por detrás da verde mata Mais parece um sol de prata Prateando a solidão E a gente pega Na viola que ponteia E a canção É a lua cheia A nos nascer do coração Não há, oh gente... Coisa mais bela Neste mundo não existe Do que ouvir-se um galo triste No sertão, se faz luar Parece até que a alma da lua É que descanta Escondida na garganta Desse galo a soluçar Não há, oh gente... Ah, quem me dera Que eu morresse lá na serra Abraçado à minha terra E dormindo de uma vez Ser enterrado Numa grota pequenina Onde à tarde a sururina Chora a sua viuvez Não há, oh gente...

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/catulo_da_paixao.html http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/solealua.html http://blogdomimica.blogspot.com.br/p/catulo-da-paixao-cearense.html http://letras.mus.br/catullo-da-paixao-cearense/ http://www.biografia.inf.br/catulo-da-paixao-cearense-poeta-musico-teatrologo.html os textos completos de Catulo da Paixão Cearense estão http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/catulo3.html#12 acompanhados de valiosos glossários.

disponíveis

no

sítio


TERRA CAIDA Ao insígne Mário-José de Almeida (1ª. Parte) FAZ hoje sete janêro, que eu dêxei o Ciará, e rumei lá pró Amazona, a terra dos siringá. N’aquelas mata bravia, lá, nos centro arritirado, as arve tem munto leite, mas nós já tâmo cansado! O inverno, n’aquele inferno, é uma grande infernação! No inverno não se trabaia, que é o tempo da alagação. Isperei. Veio o verão. É mais mió não falá!... Tu qué sabe, meu amigo, o que é os siringá?! É trabaiá... Trabaiá! É um hôme se individá! É vive n’uma barraca, n’um miserave casebre e sé ferrado da febre, que anda danada prú lá! É trabaiá, trabaiá, dendê que rompe a minhã, prá de dia sé chupado pulo piúm, que é marvado, e de noite sé sangrado pulo tá carapanã!! É um hôme dá todo o sangue pró mardito do piúm, e vortá mais disgraçado, cumo eu — o Chico Mindélo, duente, feio e amarelo, cumo a frô do girimúm. Ansim, lá dos siringá, no fim de três, de três ano, sem um vintém ajuntá, ia vortá prá Manáu, tândo fixe na tenção de Manáu vim pró sertão do meu quirido Ciará.


Apois!... siguindo os consêio que me dava o coração, arrêzôrvi não vortá!


HOMENAGEM A CATULO PAULO OLIVEIRA

CATULO HOMENAGEM 1 Um abraço, Seu Catulo, Renomado trovador; Propalou a nossa terra Por onde quer que trilhou; Além campos, serras, matas, Caatingas, sertões, cascatas E até onde a voz chegou. Se cantava de improviso, Afinava o violão, Com notas bem campesinas, Voltadas para o sertão; Por dentro de um paletó, Temperava seu gogó Nas rodadas de salão. Ao viver sintonizado Com coisas do Ceará, Muita gente até pensava, Que ele fosse de lá; Também não era do Rio, Onde cultivou seu brio, Era de todo lugar. Cenas típicas daqui Eram temas preferidos Por esse insigne conterrâneo; Que jamais foi esquecido; Tem até nome de Rua, E mais, a obra o “O Sol e a Lua” Por milhares já foi lido. Catulo foi, na verdade, O maior cancionista Do cenário nordestino; A fama de violonista Percorreu Brasil afora; Com cantos que o povo adora, Por ser de fato um artista. Pela mão do poder público Foi erguido um monumento, Na praça que tem seu nome; Justo reconhecimento


A esse filho genial, Mensageiro cultural, Cantado até pelo vento.

CATULO HOMENAGEM 2 Nascido em oito de outubro Daquele ano de mil Oitocentos e sessenta Mais três; um dom pueril, Menino ludovicense, Na capital maranhense, Vertente deste Brasil. O ano em que morreu Nem é bom se ter memória; Foi no Rio de Janeiro, Já no píncaro da glória; Expressivo e sobranceiro, Catulo, bom seresteiro, Ao longo de bela história. Na condição de poeta, Sertanejo popular, Até hoje não se tem Quem lhe possa equiparar; Com canções emocionantes E versos apaixonantes Sob a luz de algum luar. Na Academia de Letras, Maranhense, com deferência, Ocupa a cadeira nove, Do maior, por excelência; Antônio Gonçalves Dias; Ambos reis da poesia, Na Casa, por coincidência. É patrono da cadeira, Lá na Belorizontina, Academia de Letras; De igual nove, que origina Ufania a este Estado, Por estar brilhando ao lado Da fama que não termina. Apesar dos contratempos De toda biografia, O violão a reboque Sempre foi sua mania;


Seresteiro e trovador; Seu livro “Sertão em flor” Enriquece a ecologia.

CATULO HOMENAGEM 3 Ocupa posição ímpar No mar de nossa cultura, O seresteiro Catulo; Cantador de trova pura, Enfatizou seu lirismo, Com amplo nacionalismo, Amando sempre a natura. Sua bibliografia Reproduz quem ele era, Um pintor da natureza, Cantante, como uma fera; A obra “Choro ao Violão” Mais o “Luar do Sertão” Nasceram na primavera. Seguem outras maravilhas, De civismo imensurável; Em a “Lira Brasileira” Ou “Meu Brasil”, de notável Sentimento nacional; Poeta fenomenal Até hoje incomparável. Dialogava com a lua, Com o jardim mais as flores; Em “Caboclo Brasileiro”, Ressaltava seus valores; Em “Canções das Madrugadas” E em “Noite Iluminada”, Pintava todas as cores. Usava mitologia Em “O Evangelho das Aves”, Como em “Alma do Sertão”, Em “Testamento das Árvores” E em “Um Boêmio no Céu”; Tudo isso era um pinéu Trinando com voz suave. Invejável trovador, Compositor de modinhas, Inspirava-se por certo,


No recreio da azulzinha; Cancioneiro de respeito, Exaltado por direito No rol de primeira linha.

LUAR MARANHENSE A lua sempre inspirou O maranhense Catulo, Sem ela talvez seus versos Teriam desfecho nulo; Além dele, outros poetas Fazem dela alvo e meta Para alcançá-la num pulo. Ela reina em seu espaço, Ao redor deste planeta, De quem é o seu satélite, Sem aspecto de cometa; Ela e a terra são do rol Da estrela chamada sol Sem outra mais que se meta. Como é bela a lua grávida, Redondinha e toda branca, Prestes a beijar a terra, Numa gravidade franca; A causar muita influência A todos, com dependência E botando aquela banca.

Ela anda de quarto em quarto E quando aparece é cheia; Quer no minguante ou crescente Ela fica sempre alheia; Depois finge que renova A cara de lua nova Quem no escuro já foi feia. No auge do seu clarão, A dominar todo céu, Parece noiva de branco, Imponente desde o véu; Sugerindo muito amor Por quem ela desposou Antes da lua de mel. Cuidado com dona Lua,


Rainha da astrologia, Pois quem dela se apaixona, Viciado em poesia, Fica tĂŁo alucinado, Com sintoma de aluado, Trocando noite por dia.


CADEIRA 30 - ODYLO COSTA, FILHO – PATRONO

14 de dezembro de 1914 / 19 de agosto de 1979 Odylo Costa, filho, jornalista, cronista, novelista e poeta, nasceu em São Luís, MA, em 14 de dezembro de 1914, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 19 de agosto de 1979. Filho do casal Odylo Costa Moura Costa e Maria Aurora Alves Costa, transferiu-se ainda criança do Maranhão para o Piauí, onde fez estudos primários e secundários em Teresina, os primeiros no Colégio Sagrado Coração de Jesus e os segundos no Liceu Piauiense. Desenvolveu, assim, dupla afetividade de província, fraternalmente desdobrada entre as duas cidades, e estendida a Campo Maior, no Piauí, onde nasceu sua mulher, D. Maria de Nazareth Pereira da Silva Costa, com quem se casou em 1942, sob a bênção de três poetas: Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Carlos Drummond de Andrade, padrinhos do casamento. Mas já aos 16 anos, em março de 1930, Maranhão e Piauí ficaram para trás e Odylo Costa, filho, em companhia dos pais, fixou-se no Rio de Janeiro, bacharelando-se em Direito, pela Universidade do Brasil, em dezembro de 1933. Desde os 15 anos, porém, já se revelava no jovem maranhense a vocação de jornalista, que encontrou, aliás, seu primeiro abrigo no semanário Cidade Verde, de Teresina, fundado em 1929. Por isso mesmo, em janeiro de 1931, conduzido por Félix Pacheco, entrou Odylo para a redação do Jornal do Commercio, onde permaneceu até 1943. O jornalismo, entretanto, embora ocupando boa parte de sua atividade intelectual, não o fazia esquecer a literatura e, em 1933, com o livro inédito Graça Aranha e outros ensaios, publicado no ano seguinte, obtinha o Prêmio Ramos Paz da Academia Brasileira de Letras. Em 1936, em colaboração com Henrique Carstens, publica o Livro de poemas de 1935, seguido, nove anos mais tarde, do volume intitulado Distrito da confusão, coletânea de artigos de jornal em que, nas possíveis entrelinhas, fazia a crítica do regime ditatorial instaurado no país em 1937. Mas o jornalismo, apesar desses encontros sempre felizes com a literatura, foi na verdade sua dedicação mais intensa, exercido com notável espírito de renovação e modernidade. Deixando o Jornal do Commercio, Odylo Costa, filho, foi sucessivamente fundador e diretor do semanário Política e Letras (de Virgílio de Melo Franco, de quem foi dedicado colaborador na criação e nas lutas da União Democrática Nacional); redator do Diário de Notícias, diretor de A Noite e da Rádio Nacional, chefe de redação do Jornal do Brasil, de cuja renascença participou decisivamente; diretor da Tribuna da Imprensa; diretor da revista Senhor; secretário do Cruzeiro Internacional; diretor de redação de O Cruzeiro e, novamente, redator do Jornal do Brasil, função que deixou em 1965, ao viajar para Portugal como adido cultural à Embaixada do Brasil. Mas nem sempre, ao longo dessa extraordinária atividade, foi apenas o jornalista de bastidores, o técnico invisível. Em 1952 e 1953, exerceu a crítica literária no Diário de Notícias, onde também criou e manteve a seção “Encontro Matinal”, juntamente com Eneida e Heráclio Salles. Durante prolongado período, publicou uma crônica diária na Tribuna da Imprensa. Na vida pública, Odylo Costa, filho, foi Secretário de Imprensa do Presidente Café Filho, diretor da Rádio Nacional e Superintendente das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União. A partir de 1963, circunstâncias dolorosas levaram-no de volta a uma prática mais constante da poesia, que não abandonara de todo embora fugisse à publicação em letra de fôrma e até mesmo à leitura pelos amigos mais íntimos. E foi o maior deles, Manuel Bandeira, ao preparar a 2a edição da sua Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos, o primeiro a ler alguns desses poemas, sobretudo os inspirados pela morte de um filho ainda adolescente, que tinha seu nome, poemas esses que Bandeira colocava entre “os mais belos da poesia de língua portuguesa”. Animado ainda por Bandeira, Rachel de Queiroz e outros amigos, Odylo Costa, filho, reuniu afinal seus versos em volume publicado em Lisboa em 1967. Ampliado com os poemas da “Arca da Aliança” e abrangendo toda a poesia do autor, saiu o volume Cantiga incompleta em 1971. Mas se a poesia foi constante presença em sua vida, a ficção também participou de sua


bibliografia literária desde 1965, quando, aos 50 anos, publicou a novela A faca e o rio, traduzida para o inglês pelo Prof. Lawrence Keates, da Universidade de Leeds, e para o alemão por Curt Meyer-Clason. Com o mesmo título, A faca e o rio foi adaptada para o cinema pelo holandês George Sluizer. À edição portuguesa de A faca e o rio (1966), acrescentou Odylo Costa, filho, o conto “A invenção da ilha da Madeira”, nova e feliz experiência do ficcionista até então oculto pelo poeta, e ainda prolongada no conto História de Seu Tomé meu Pai e minha Mãe Maria, em edição fora do comércio. Profundamente ligado ao Maranhão (foi eleito para suplente, no Senado Federal, de José Sarney), escreveu a introdução aos desenhos da pintora Renée Levèfre no belo livro: Maranhão: S. Luís e Alcântara (1971). De abril de 1965 a maio de 1967, foi adido cultural à Embaixada do Brasil em Portugal, onde mereceu a honra de ser incluído entre os membros da Academia Internacional de Cultura Portuguesa. De regresso ao Brasil, embora tivesse recusado o convite do Presidente Costa e Silva para exercer o cargo de Diretor da Agência Nacional, Odylo Costa, filho, voltou no entanto ao exercício do jornalismo, primeiro como diretor da revista Realidade, de São Paulo, mais tarde como diretor de redação da Editora Abril, no Rio, e posteriormente como membro do Conselho Editorial. Quarto ocupante da Cadeira 15 da ABL, eleito em 20 de novembro de 1969, na sucessão de Guilherme de Almeida e recebido pelo Acadêmico Peregrino Júnior em 24 de julho de 19707. O jornalista Sebastião Jorge escreveu: Odylo, não dá para esquecer8 Odylo Costa, filho (é assim mesmo que se chamava e fazia questão de ser conhecido com a vírgula e depois a palavra filho) tinha tédio para ouvir e fazer palestras. Fugia dessas participações com aquele jeito bonachão que Deus lhe deu e os amigos gostavam de tê-lo ao lado, para conversar e ouvir sua opinião no campo literário ou político. Por falar em anjo, Ribeiro Couto, a propósito, soltou esta verdade: “Sorri com ar do Menino Jesus do Maranhão.” Preferia escrever, escrever, ler o quanto bastasse, daí o refinamento como intelectual. Pela idiossincrasia a certos conferencistas que enchiam e enchem a paciência do participante, obrigando-o a ouvir tolices, viu-se envolvido em atos que estão para o riso e menos ao sério. Quem nos conta tais passagens é Peregrino Junior, amigo desde a mocidade e colega da ABL. Faziam parte de um movimento literário conhecido por “Nova Geração”. Os participantes, ligados às artes e livros, reuniam-se mensalmente para comerem, beberem e cair na esbórnia. Todos dividiam as despesas, até os convidados. O grande jornalista do quadro da AML era uma pessoa desligada. Esquecia-se das coisas e ficava procurando em certos lugares aquilo que se encontrava no bolso. Aconteceu com um editorial quando trabalhavam no Jornal do Brasil. Outra: ao querer promover uma “Escola Doméstica de Natal”, anunciou que faria palestra em nome de um Centro do Norte. Encarregou-se dos convites. No dia, lá estava ele e três convidados, que incluíam a dona da casa (auditório), que nada sabia, e dois amigos. Um terceiro caso: morto o grande amigo Félix Pacheco, que o ajudou num emprego no Jornal do Comércio ao chegar ao Rio de Janeiro, aos 16 anos de idade, comprometeu-se a fazer uma palestra a respeito desse maranhense. Presentes, autoridades da educação e outras pessoas importantes. Horário: 15 h. Ele chegou 30 minutos depois. A conferência constou de um livro que levou consigo e leu versos de Baudelaire, Mallarmé, Verlaine, Rimbaud e até do homenageado. Recebeu aplausos. Alta qualidade jornalística Quando chefe do Departamento de Comunicação Social da UFMA, com aprovação do colegiado, convidei-o, insistentemente, para vir a São Luís e falar na “Primeira semana de estudos sobre a 7

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=453&sid=187 http://pt.wikipedia.org/wiki/Odilo_Costa_Filho http://www.antoniomiranda.com.br/iberoamerica/brasil/odylo_costa.html http://www.releituras.com/ocostaf_menu.asp http://www.jornaldepoesia.jor.br/ocosta.html http://www.escritas.org/pt/poemas/odylo-costa-filho http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed786_odylo_nao_da_para_esquecer 8 JORGE, Sebastião. 18/02/2014 na edição http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed786_odylo_nao_da_para_esquecer

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imprensa maranhense”. Depois foi a vez de Lago Burnett. Para surpresa, aceitou. No dia da chegada fui esperá-lo no aeroporto. Ele veio acompanhado da esposa, dona Nazaré. Momentos de tensão. Todos os passageiros desceram. Nada de mestre Odylo. Esperado como uma celebridade. Não perdi a esperança. Fiquei de olho grudado na porta do avião da Vasp. Já sem esperança, ei-lo que surge com a esposa! Exultei. Ao cumprimentá-los, disse-lhe: “O senhor quase me mata do coração. Pensei que não viesse”. Ele respondeu sorridente: “Quem quase me mata foste tu (pelo convite). Eu me senti mal do coração.” Dona Nazareth interferiu com humor – passará, depois de ele comer o arroz de cuxá e provar os sorvetes com frutas da terra. Dito e certo. Levei-os a restaurantes e sorveterias. Bom de prato e amante das frutas, ficou feliz. Passou o mal-estar. Quanto à palestra, uma aula impecável. Auditório cheio e o assunto, ninguém melhor que ele poderia discorrer. Isto, pela fama reconhecida como um dos maiores jornalistas do século 20 e pelo espírito empreendedor e inovador realizado à frente das maiores empresas de informação de São Paulo e Rio de Janeiro. O jornalista Evandro Carlos de Andrade (1931-2001), que trabalhou no JB e O Globo, deu um depoimento sobre a competência de Odylo, que transcrevemos neste trecho: “Com a reforma feita por Odylo Costa, filho, na década de 50, o JB viveu quase meio século de reconhecimento público de sua alta qualidade jornalística” (Observatório da Imprensa). Ao completar cem anos de nascimento, em dezembro próximo, não dá para esquecer essa extraordinária figura humana, grande jornalista e autor da novela A faca e o Rio, traduzida para o alemão e inglês e que virou filme. É considerado um dos maiores poetas do Brasil. O Maranhão poderia decretar 2014 o Ano de Odylo Costa, filho (1914-2014).

Bibliografia9 Poesia e prosa em livro Graça Aranha e outros ensaios, Selma Editora, Rio de Janeiro, 1934. 47 p. Livro de Poemas de 1935, com Henrique Carstens, edição dos autores, Rio de Janeiro, 1936. 55 p. Distrito da Confusão, crônicas políticas, Editora Casa do Estudante do Brasil, Rio de Janeiro, 1947. 90 p. A Faca e o Rio, novela, Livraria José Oympio Editora, Rio de Janeiro, 1965; A Faca e o Rio e A Invenção da Ilha da Madeira, Edição Livros do Brasil Lisboa, Lisboa, 1966; A Faca e o Rio, Coleção Sagarana, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1973; A Faca e o Rio, Livraria José Olympio Editora/Mobral, Rio de Janeiro, 1973. 148 p. Tempo de Lisboa e outros Poemas, Livraria Moraes Editores, Lisboa, 1966. (incluído em Cantiga Incompleta) 106 p. Retrato Desordenado e Declaração de Amor a Portugal, Editora Verbo, Lisboa, 1967; in Seleções do Readers Digest, Lisboa, julho 1983. 5 p. História de Seu Tomé meu pai e minha mãe Maria, conto, Estúdios Cor, Lisboa, 1970. (incluído em Histórias da Beira do Rio) 27 p. Oratório de Djanira, poemas para gravuras, Júlio Pacello e Editora Cesar, São Paulo, 1970, 2 p. Cantiga Incompleta, poemas, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1971. 153 p. Maranhão: São Luís e Alcântara, com desenhos de Renée Lefèvre, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1971. 32 p. O Balão que caiu no mar, peça infantil, in O Teatro Infantil, de Lúcia Benedetti, 2º vol., SNT. 23 p. Os Bichos no Céu, poemas infantis, desenhos de Nazareth Costa, Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1972; Los Bichos en el Cielo, tradução para o espanhol de Abelardo Sánchez León, Centro de Estudos Brasileños, Lima, 1979; Os Bichos no Céu, Memórias Futuras Edições, Rio de Janeiro, 1985. 32 / 16 p. A Menina que tinha o Nome de Minha Mãe, Edições Fenasp, Rio de Janeiro, 1975.(incluído em Meus meninos, os outros meninos) 6 p. Notícias de Amor, poemas, edição fora do comércio, Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1974; Notícias de Amor, Editora Artenova, Rio de Janeiro, 1976. 136 p. A Vida de Nossa Senhora, poemas feitos para os desenhos de Nazareth Costa, Editora Agir, Rio de Janeiro, 1977. 76 / 38 p. Un Solo Amor, poemas seletos, traduzidos para o espanhol por Homero Icaza Sánchez e Estela dos Santos, Centro de Estudos Brasilenõs, Buenos Aires, 1979; Um só Amor/Jedina Ljubav, edição bilingue traduzida para o servo-croata por Radoje Tatic, Edições Grongula (XIII), Embaixada do Brasil em Belgrado, 1987. 9

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Boca da noite, poemas, Editora Salamandra, Rio de Janeiro, 1979; Boca da noite, poemas, Massao Ohno Editor, São Paulo, 1995. 150 p. Anjos em Terra, poemas com desenhos de Nazareth Costa, Monteiro Soares Editores, Rio de Janeiro, 1980. 61 / 30 p. Meus meninos, os outros meninos, crônicas sobre o problema do menor abandonado e do deficiente, Editora Record, Rio de Janeiro, 1981. 96 p. Histórias da Beira do Rio, contos, Editora Record, Rio de Janeiro, 1983. 189 p. Poesia Completa, reunião da obra poética, Aeroplano Editora, Rio de Janeiro, 2011. 568 p. Textos Escolhidos10 A MEU FILHO Recorro a ti para não separar-me deste chão de sargaços mas de flores, onde há bichos que amaste e mais os frutos que com tuas mãos plantavas e colhias. Por essas mãos te peço que me ajudes e que afastes de mim com os dentes alvos do teu riso contido mas presente a tentação da morte voluntária. Não deixes, filho meu, que a dor de amar-te me tire o gosto do terreno barro e a coragem dos lúcidos deveres. Que estas árvores guardam, no céu puro, entre rastros de estrelas, a lembrança dos teus humanos olhos deslumbrados. (Cantiga incompleta, 1971.) SONETO DE JÓ Este grito, que é rio amargo, choro que não é meu apenas, mas de todos que o filtro das insônias decantou, ouve-o, Senhor, que é grito de infelizes. Perdi-me e Te procuro pela névoa, no céu em fogo, no calado mar. A Teus pés volto. Faça-se o que queres. Tanto me deste que por mais que tires sempre me resta do que Tu me deste. Deus necessita do perdão dos homens e é esse perdão que venho Te trazer. Com o coração rasgado, mas ao alto, Senhor, te entrego os filhos que levaste pelo amor dos meus filhos que ficaram. (Cantiga incompleta, 1971.) SONETO DE N. Sa DO BOM PARTO A adolescente era a palmeira esguia de tranças. Mas no mel do seu cabelo tal mistério morava que de vê-lo a alma desesperada renascia. Era a Beleza? A simples alegria? Era a presença do sutil desvelo? Era a graça, era o corpo, era a poesia? Era a saudade do materno zelo?

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Era a esperança, a fé, a caridade? Impossível dizê-lo com certeza. Mas nela havia tanta eternidade que pôs Nossa Senhora do Bom Parto nove bocas em torno à nossa mesa e uma sombra perene em nosso quarto. (Cantiga incompleta, 1971.)

SONETO DE FIDELIDADE Não receies, amor, que nos divida um dia a treva de outro mundo, pois somos um só que não se faz em dois nem pode a morte o que não pôde a vida. A dor não foi em nós terra caída que de repente afoga mas depois cede à força das águas. Deus dispôs que ela nos encharcasse indissolvida. Molhamos nosso pão quotidiano na vontade de Deus, aceita e clara, que nos fazia para sempre num. E de tal forma o próprio ser humano mudou-se em nós que nada mais separa o que era dois e hoje é apenas um. (Cantiga incompleta, 1971.) SONETO DA REVISITAÇÃO Partamos juntos a rever o rio onde primeiro o nosso amor nasceu e acalentando o meu humor sombrio entre os teus seios amadureceu. Nasceu tão pleno quanto um sol de estio mas sobre a dor e a morte ainda cresceu, embora a prata tenha posto um fio no teu cabelo, e muitos neste meu. Vamos em busca de um repouso fundo que nos envolva de uma leve areia no banho antigo, em meio aos juçarais. Que a viagem nos cure deste mundo, cheia de vozes de teus filhos, cheia desta alegria de te amar demais. (Cantiga incompleta, 1971.) ILHÉU Nasci numa ilha. Era meu destino. Numa ilha vivo desde pequenino, a estender os braços pelo mundo todo em busca de traços que à terra me liguem. Quero o continente! Não me deixem só, não me quero ausente.


Ninguém me compreende esta busca ansiosa: tenho o mar comigo, quero ainda a rosa. Joguem fora a âncora! Pois o amor que achei, meu anel de amigos e a casa do rei trazem sede e fome de mais terra e céu. Por Deus compreendam quanto sou ilhéu! Careço de afetos em roda de mim. Foi sorte ou desgraça, numa ilha vim. Tempo de enxurrada nessa ilha nasci, como a água que corre sou daqui, dali. Por Deus me acarinhem que nasci na ilha, num mês de enxurrada, mês de água andarilha, sobrados e terra porém terra pouca, lavado azulejo sob uma água rouca. Meu amor me abraça porque sou ilhéu ando só - na areia entre águas e céu. (Boca da noite, 1979.) PAZ DE AMOR Calemos esta paz como um segredo de amor feliz. Não seja este silêncio ponto final em nosso terno enredo: não nos encerre o amor, antes condense-o. Olhemo-nos nos olhos face a face. sem recuar surpresos como o amigo que de repente no outro deparasse apenas o lembrar do tempo antigo. Não. Sempre em nós renascerão searas. novas chuvas trarão nova colheita. folhas novas, translúcidas e raras. E brotará da tua mão direita água súbita e casta do rochedo um novo amor, que vença a morte e o medo. (Boca da noite, 1979.) SONETO DA TARDE Não digo que o sol pare, nem suplico que teu cabelo não se faça branco. Nos segredos serenos que fabrico vive um pouco de mago e saltimbanco.


mas te desejo simples, natural, e que o dia na tarde amadureça. Venceste muita noite e temporal. Confia em que outra vez ainda amanheça. O teu reino da infância sempre aberto guarda o campo e os brinquedos infinitos nas cores puras, sob o céu coberto. Nos cajueiros, os pássaros... Os gritos infantis... Mas a ronda neles nasce e embranquece o cabelo em tua face. (Boca da noite, 1979.) O AMOR CALADO Ainda que o canto desça, de atropelo como abelhas no enxame alucinante em torno a um tronco, e me penetre pelo ouvido, em sua música incessante, juro a mim mesmo: nunca hei de escrevê-lo. Hei de fechá-lo em mim como diamante dentro da pedra feia. Hei de escondê-lo na minha alma cansada e navegante. E nunca mais proclamarei que te amo. Antes o negarei como os namoros secretos de menino encabulado. Que se cale este verso em que te chamo. Cessem para jamais risos e choros. Meu amor mineral é tão calado! (Boca da noite, 1979.)


MARIA FIRMINA DOS REIS11 PATRONA DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS PATRONA DA CADEIRA 8 DA ALL Nasceu em São Luiz do Maranhão, em 11 de Outubro de 1825, sendo registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Menina bastarda e mulata vivendo num contexto de extrema segregação racial e social, aos cinco anos teve que se mudar para a vila de São José de Guimarães, no município de Viana, situado no continente e separado da capital pela baía de São Marcos. O acolhimento em casa de uma tia materna teria sido crucial para a sua formação. Consta ainda ter obtido ajuda do escritor e gramático Sotero dos Reis, primo por parte de mãe, “a quem deve sua cultura, como afirma em diversos poemas”.       

Úrsula. Romance, 1859. Gupeva. Romance, 1861/1862 (O jardim dos Maranhenses) e 1863 (Porto Livre e Eco da Juventude). Poemas em: Parnaso maranhense, 1861. A escrava. Conto, 1887 (A Revista Maranhense no. 3) Cantos à beira-mar. Poesias, 1871. Hino da libertação dos escravos. 1888. Poemas em: A Imprensa, Publicador Maranhense; A Verdadeira Marmota; Almanaque de Lembranças Brasileiras; Eco da Juventude; Semanário Maranhense; O Jardim dos Maranhenses; Porto Livre; O Domingo; O País; A Revista Maranhense; Diário do Maranhão; Pacotilha (jornal); e Federalista.  Composições musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música); Valsa (letra de Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis); Hino à Mocidade (letra e música); Hino à liberdade dos escravos (letra e música); Rosinha, valsa (letra e música); Pastor estrela do oriente (letra e música); Canto de recordação (“à Praia de Cumã”; letra e música). NAS PRAIAS DO CUMAN / SOLIDÃO12 Aqui na solidão minh'alma dorme; Que letargo profundo!... Se no leito, A horas mortas me revolvo em dores, Nem ela acorda, nem me alenta o peito. No matutino albor a nívea garça Lá vai tão branca doudejando errante; E o vento geme merencório - além Como chorosa, abandonada amante. E lá se arqueia em ondulação fagueira O brando leque do gentil palmar; E lá nas ribas pedregosas, ermas, De noite - a onda vem de dor chorar. Mas, eu não choro, lhe escutando o choro; Nem sinto a brisa, que na praia corre: Neste marasmo, neste lento sono, Não tenho pena; - mas, meu peito morre. Que displicência! não desperta um'hora! Já não tem sonhos, nem já sofre dor... Quem poderia despertá-lo agora? Somente um ai que revelasse - amor.

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DUARTE, Eduardo de Assis. MARIA FIRMINA DOS REIS E OS PRIMÓRDIOS DA FICÇÃO AFRO-BRASILEIRA. In ALL EM REVISTA, vol 0, n. 0, dezembro de 2013. http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Firmina_dos_Reis 12 CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, p. 177-178, disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina.html; acessado em 07 de março de 2014


UMA TARDE NO CUMAN13 Aqui minh'alma expande-se, e de amor Eu sinto transportado o peito meu; Aqui murmura o vento apaixonado, Ali sobre uma rocha o mar gemeu. E sobre a branca areia - mansamente A onda enfraquecida exausta morre; Além, na linha azul dos horizontes, Ligeirinho baixel nas águas corre. Quanta doce poesia, que me inspira O mago encanto destas praias nuas! Esta brisa, que afaga os meus cabelos, Semelha o acento dessas frases tuas. Aqui se ameigam de meu peito as dores, Menos ardente me goteja o pranto; Aqui, na lira maviosa e doce Minha alma trina melodioso canto. A mente vaga em solidões longínquas, Pulsa meu peito, e de paixão se exalta; Delírio vago, sedutor quebranto, Qual belo íris, meu desejo esmalta. Vem comigo gozar destas delícias, Deste amor, que me inspira poesia; Vem provar-me a ternura de tu'alma, Ao som desta poética harmonia. Sentirás ao ruído destas águas, Ao doce suspirar da viração, Quanto é grato o amor aqui jurado, Nas ribas deste mar, - na solidão. Vem comigo gozar um só momento, Tanta beleza a me inspirar poesia! Ah! vem provar-me teu singelo amor Ao som das vagas, no cair do dia.

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Cuman - praias de Guimarães; CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, p. 25-26; disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina.html; acessado em 07 de março de 2014


O MEU DESEJO14 A um jovem poeta guimaraense Na hora em que vibrou a mais sensível Corda de tu'alma - a da saudade, Deus mandou-te, poeta, um alaúde, E disse:Canta amor na soledade. Escuta a voz do céu, - eia, cantor, Desfere um canto de infinito amor. Canta os extremos duma mãe querida, Que te idolatra, que te adora tanto! Canta das meigas, das gentis irmãs, O ledo riso de celeste encanto; E ao velho pai, que tanto amor te deu, Grato oferece-lhe o alaúde teu. E a liberdade, - oh! poeta, - canta, Que fora o mundo a continuar nas trevas? Sem ela as letras não teriam vida, menos seriam que no chão as relvas: Toma por timbre liberdade, e glória, Teu nome um dia viverá na história. Canta, poeta, no alaúde teu, Ternos suspiros da chorosa amante; Canta teu berço de saudade infinda, Funda lembrança de quem está distante: Afina as cordas de gentis primores, Dá-nos teus cantos trescalando odores. Canta do exílio com melífluo acento, Como Davi a recordar saudade; Embora ao riso se misture o pranto; Embora gemas em cruel soidade... Canta, poeta, - teu cantar assim, Há de ser belo enlevador enfim. Nos teus harpejos juvenil poeta, Canta as grandezas que se encerram em Deus, Do sol o disco, - a merencória lua, Mimosos astros a fulgir nos céus; Canta o Cordeiro, que gemeu na Cruz, Raio infinito de esplendente luz. Canta, poeta, teu cantar singelo, meigo, sereno com um riso d'anjos; Canta a natura, a primavera, as flores, Canta a mulher a semelhar arcanjos. Que Deus envia à desolada terra, Bálsamo santo, que em seu seio encerra. Canta, poeta, a liberdade, - canta. Que fora o mundo sem fanal tão grato... Anjo baixado da celeste altura, Que espanca as trevas deste mundo ingrato.

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CANTOS À BEIRA MAR, São Luís do Maranhão, 1871, p. 33-35; disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/mfirmina.html; acessado em 07 de março de 2014


Oh! sim, poeta, liberdade, e glória Toma por timbre, e viverás na história. ---------------Eu não te ordeno, te peço, Não é querer, é desejo; São estes meus votos - sim. Nem outra cousa eu almejo. E que mais posso eu querer? Ver-te Camões, Dante ou Milton, Ver-te poeta - e morrer.


LAURA ROSA Patrona da Cadeira 25 da ALL Por Wybson Carvalho15

Laura Rosa, nascida em São Luis do Maranhão, no dia 1º de outubro de 1884. Por amor à língua portuguesa e às letras, formou-se em Normalista do Magistério, e, como professora, veio para o sertão, ainda, na segunda década do século passado com a finalidade de lecionar na antiga Escola Normal de Caxias. Em sua terra natal, durante sua escolaridade escreveu inúmeros poemas e participava, ativamente, da vida literária estudantil ludovicense, vindo a ser cognominada de "violeta do Campo"; pseudônimo com o qual assinava seus poemas. Na princesa do Sertão Maranhense, a poetisa, Laura Rosa, foi hóspede durante muitas décadas da valorosa professora caxiense, Filomena Machado Teixeira, e com a qual foi das primeiras incentivadoras da criação da Academia Caxiense de Letras, e, na qual, é patrona da Cadeira de Adailton Mediros. Laura Rosa se encantou, em Caxias, na data de 14 de novembro de 1976, aos 82 anos de vida dedicados ao magistério e às letras. Laura Rosa, foi a primeira mulher maranhense a ter acento a uma Cadeira na Academia Maranhense de Letras. Eis, alguns trechos do discurso de posse da poetisa Laura Rosa, realizado no dia 17.04.1943, no Salão Nobre da Casa de Antônio Lobo. No discurso16, destaco um ponto que parece comum na posse de membros homens e/ou mulheres, a referência a algum amigo mais próximo, o qual parece ser responsável pela indicação do membro para concorrer à vaga da Academia. "Manda a justiça que vos diga, em primeiro lugar, que me trouxeram para esta casa de sábios ilustres as mãos amigas de Corrêa de Araújo e Nascimento de Moraes com a benevolência de seus pares. Trouxeram-me, porque, de mim mesma, nunca imaginei suficientes os meus versos, para merecimento de tão honrosas credenciais".

A humildade com que a escritora se apresenta frente aos seus atuais confrades prolonga-se por algumas frases reforçando a valorização dos membros mais antigos e ao mesmo tempo, sutilmente reconhecendo o valor de suas poesias. "Eis-me, portanto, aqui, Senhores, a primeira mulher que aqui entra, porque assim o quiseram os homens ilustrados desta agremiação, guardas fiéis de nossas tradições literárias".

ESQUELETO DE FOLHA17 Vêde, senhor, apodreceu na lama. Eu a vi muito tempo entre a folhagem, Antes do vento lhe agitar a rama E, do regato, sacudi-la à margem. De virente e de verde, tinha fama, 15

CARVALHO, Wybson. http://www.noca.com.br/coluna.asp?cntcod=17&colcod=1727 http://books.google.com.br/books?id=hn8f_VsmZAC&pg=PA325&lpg=PA325&dq=LAURA+ROSA++%2B+textos+%2B+academia+maranhense+de+letras&source=bl&ots=tQxpUsiSTa&sig=3j3PgrjXPsmGZFwk4w OukJlNuRI&hl=pt-BR&sa=X&ei=738wUvMJJLQkQeu84D4BA&ved=0CDQQ6AEwAQ#v=onepage&q=LAURA%20ROSA%20%20%2B%20textos%20%2B%20academia%20maranhense%20de%20letras&f=f alse http://www.guesaerrante.com.br/2009/2/17/Pagina1108.htm 16 Trechos do discurso de posse da poetisa Laura Rosa (realizado no dia 17.04.1943), no Salão Nobre da Casa de Antônio Lobo. 17 MEIRELES, FERREIRA, E VIEIRA FILHO, 1958, obra ciatda, p. 185-185. (in Ver. Da Acad. Mar. De Letras, vol.IX, 1954).


De folha mais formosa da ramagem, Desceu nas åguas e resta, da viagem, O labirinto capilar do trama. NinguÊm pode fazer igual rendado, Nem filigrana mais perfeita e lnida, Nem presente melhorpode ser dado. Guardai, senhor, guardai este esqueleto. Todo o cuidado! É uma folha, ainda, Onde escrevi, de leve, este soneto.


MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES PRIMEIRA OCUPANTE DA CADEIRA ALL Por SANATIEL DE JESUS PEREIRA O destino, o senhor do tempo, de forma irrecusável, escolheu-me, novamente, para saudar e acompanhar a transpor os portões imaginários do grande edifício onde funciona a Academia Ludovicense de Letras uma das mulheres mais notáveis do Maranhão. A minha satisfação é imensa por compartilhar com ela este momento mágico. Confesso, entretanto, que ambos estamos fazendo parte de um caminhar novo, que ninguém sabe aonde vai chegar, porque assim é o mundo das letras e da imaginação. Este talvez seja o buraco na árvore onde o coelho nos mostra o caminho a trilhar. Ela traz a essência daqueles vinhos raros produzidos com uvas de colheitas tardias no melhor terroir encontrado na Terra: o Maranhão. Ela ficou todos esses anos em seu parreiral intelectual e meditativo, enchendo-se de inspiração e prenhe de motivação para escrever na hora oportuna o que quisesse, pois a sua casta é uma das mais nobres do Novo Mundo: Azevedo. Portanto, temos que festejar com muita alegria a chegada da nova confreira, que veio com a sua presença somar e agregar valor a esta infante confraria. D. Maria Thereza de Azevedo nasceu às quatorze horas do dia 12 de novembro de 1932, em um daqueles casarões da antiga Rua da Paz, em São Luís, quando a Lua se fazia Nova, e os ventos, trazidos do mar, sopravam sobre os telhados de cerâmicas francesas, vindos de Marselha, em pleno século XIX, para refrescar os espíritos iluminados dos ludovicenses criadores daquela época. Provavelmente, os ruídos dos velhos bondes sacolejando sobre os trilhos de aço, que passavam por aquela importante via, foram os primeiros sons externos a lhe assegurar que havia chegado à ilha de Upaon-Açu e iniciado uma nova viagem neste planeta maravilhoso que os gregos chamavam de Gaia e os povos ameríndios, de Pacha Mama. Como primeira filha, não teve olhos de irmãos para espiar-lhe o choro, o sono e os primeiros sorrisos, mas os olhos e os braços de uma mãe dedicada e amorosa que haveria de lhe dar outros irmãos em pouco tempo: Maria Ruth e Américo Azevedo Neto, membro da Academia Maranhense de Letras. Filha de Emílio Lobato de Azevedo e Maria José Costa Leite Azevedo, já trouxe de berço o estigma das letras e a herança atávica dos grandes escritores que construíram a memória artística e cultural da Idade Contemporânea. Ela sustenta, como uma representante das letras, a honra e o peso da responsabilidade de ser uma descendente direta do dramaturgo e jornalista Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo, seu tio-avô, irmão de Américo Azevedo, seu avô, e pai de Emílio Azevedo, seu progenitor. Ela nunca será medida pelos belos traços fisionômicos da sua juventude ou pelas suas medidas antropométricas, mas pelo seu legado cultural e artístico. Nem mesmo por esposa companheira e amiga ou mãe devotada pela família, mas pelos versos e anversos que ficarão para sempre guardados na memória daqueles que leram as suas obras, ou que com ela conviveram em seus grandes saraus. Confrades e Confreiras, eu tenho certeza de que a descendência ancestral daqueles que desapareceram se manifesta neste momento e neste local para participar desta faustosa cerimônia de recebimento de uma representante autêntica e à altura dos Azevedo na Academia Ludovicense de Letras. Enfileirar-se-á toda a geração para ver um ramo da mais viçosa vinha que se deixou açucarar para produzir, no outono da sua existência, os mais saborosos sonetos em cantos, rimas e expressões que já não se fazem nesta ilha encantada. O destino, entretanto, reservou-lhe grandes surpresas na vida, as quais se configuraram como atos de uma grande ópera de Verdi em que ora desempenhava o papel principal de cantora, ora um papel de coadjuvante da peça como componente do coro. Mas ela estava lá, no palco, cantando, sorrindo, dançando e, muitas vezes, orando. D. Maria Thereza adentrou os caminhos das letras como interna do colégio Santa Teresa, onde viveu dos oito aos dezoito anos e de onde saiu somente para prestar exames ao vestibular de Medicina na Faculdade de Medicina do Ceará, em Fortaleza. Foram anos difíceis, mas necessários para desenvolver a sua capacidade de caminhar resoluta na busca da sua própria felicidade. Ela já sabia o que queria, por isso deixou o curso de Medicina pelo de Ciências Biológicas, agora na Faculdade de Filosofia do Recife, onde se formou em 1960. Confrades e Confreiras, D. Maria Thereza nem sabia onde o destino iria a colocar, pois, quando menos pensava, estava casada com o Deputado José Bento Nogueira Neves, um dos mais notáveis políticos do Maranhão. Ainda chegam aos meus ouvidos os seus discursos inflamados apontando novos caminhos para este Estado ainda em construção. Eu pensava comigo mesmo: atrás de um homem poderoso e cheio de sonhos, deve existir uma grande mulher. Desta relação que durou 50 anos, ficaram como prova viva desse tempo e desse amor as filhas, Rafaela,


Eugênia e Virgínia; e o filho, Rodrigo Azevedo Neves; e, muito mais tarde, as netas, Maria Paula e Tarsila, e o neto, David. Ainda não havia chegado o tempo de escrever e publicar, somente o de sonhar através das letras dos que já se fizeram famosos e encantavam o mundo através da Biblioteca das Moças, como os romances de M. Delly. Foram-se os dias de Toutinegra do moinho, de Émile de Richebourg; Por quem os sinos dobram, de Hemingway; O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brönte. Só mais tarde vieram A casa dos Espíritos, de Izabel Alende; A guerra do fim do mundo, de Vargas Llosa; e a extensa lista das obras de Saramago. Sem que ela percebesse, o senhor do tempo a estava preparando para a escrita pretérita, condensada, como o orvalho na noite, sob a forma de crônicas, contos e romances. Sem duvidar do destino, bons mestres ele lhe deu: os melhores autores; as fases pregressas da sua vida, como filha amada e feliz; jovem alegre a festejar sempre a vida; irmã presente e fraterna; esposa amiga, companheira, parceira – a dama de ouros –, apaixonada; mãe gratificada e realizada. Amiga sincera e leal. Mulher feliz! Todos os ingredientes estavam e estão às suas mãos – por que não dizer, precisamente, aos seus dedos? –, para viver este momento maravilhoso que presenciamos agora. D. Maria Thereza tem o seu début literário em 2005, quando publica o livro de contos Atalhos e o de literatura infantil Historinhas, ambos na Lithograf. Após esse ano, em 2006, publicou o livro de memória Minha Árvore. Em 2008, 107 – Memórias. Em 2012, Pena Vadia: Cantando & Contando, outro livro de contos; e, em 2013, Café ou Chocolate?, também de contos. Apresentar Maria Thereza de Azevedo Neves à sociedade maranhense como membro da Academia Ludovicense de Letras não é somente uma satisfação incomensurável, mas um privilégio diante da sua descendência direta de dois grandes vultos da literatura brasileira, Artur e Aluísio Azevedo, como também do seu próprio e incontestável talento como intelectual das letras. Hoje, a Academia Ludovicense de Letras se torna mais rica e digna, tanto por abrigar a memória daqueles que construíram o substrato intelectual das letras maranhenses, quanto pelas representações atuais dos seus membros. D. Maria Thereza, de forma oportuna e, quiçá, necessária, representa o elo de ouro entre os vultos notáveis da literatura maranhense do início do século XX e o que de melhor se pode encontrar no início deste século XXI. Quem sabe ela seja o vaso de cristal que traz o vinho tardio para as festas literárias deste século, que, somente agora, começa a mostrar a sua cara. Confreiras e Confrades, Senhor Presidente, abramos os braços cheios de alegria para recebê-la em nosso seio e desejar-lhe boa sorte na missão mágica e divina do ato de escrever. Confreira, que sejas bem-vinda e que tragas a Paz, o Amor e a União em teu coração. Muito obrigado!


JOÃO BATISTA ERICEIRA Pedreiras – MA – 02 de novembro de 1946 POSSE: 14 de dezembro de 2013

É sócio majoritário do escritório “João Batista Ericeira Advogados Associados” (sociedade registrada na OAB/MA sob o n. º 296, inscrita no CNPJ n. º 14.470.732/0001-50); Diretor Geral da Escola de Formação de Governantes do Maranhão; Diretor da Associação Brasileira de Advogados Eleitorais (ABRAE) e Presidente da Associação Brasileira de Advogados (ABA/Seccional Maranhão). É membro do Instituto dos Advogados do Brasil. Integra a Junta Administrativa de Recursos de Infrações do Maranhão. Foi diretor da Escola Superior de Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil/Seccional Maranhão e membro do Conselho Consultivo e Secretário-Geral da Escola Nacional de Advocacia, do Conselho Federal da OAB. Foi vice-presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas; do Conselho Editorial e da Comissão de Defesa da República e da Democracia, da OAB - MA; presidente da seccional maranhense do Colégio Brasileiro de Faculdades de Direito; diretor da Revisa da ENA; membro do Conselho Estadual de Trânsito e do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social do Maranhão. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; na Fundação Getúlio Vargas, concluiu os cursos de Administração Financeira, e Regime Jurídico do Mar Territorial. Em 1973, fez o curso de Aperfeiçoamento em Língua Inglesa, com bolsa do John Kennedy Center, no E.L.S. Miami, Flórida, Estados Unidos. Especializou-se em Direito Empresarial pela Universidade de Brasília e Universidade Federal do Maranhão; e Didática de Nível Superior, nesta última. Em 1980, conclui o Mestrado em Direito e Estado, na Universidade de Brasília, onde também cursou Teoria Geral do Direito Privado, Informática Jurídica (em parceria com o Senado Federal), Introdução à Ciência Política, Pensamento Político Brasileiro e Introdução às Relações Internacionais. Em 1974, coordena a Campanha Nacional de Alimentação Escolar no Maranhão e assume na Secretaria de Segurança Pública do Estado Maranhão, entre 1974 e 1976, atuando como Delegado Regional de Polícia em Caxias, Assessor, Perito Criminal, Diretor da Divisão de Criminalística, Corregedor de Polícia e Chefe de Gabinete. Entre 1979 e 2003, foi assessor jurídico do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, eventualmente exercendo o cargo de Procurador Eleitoral. Em 1976, inicia sua profícua carreira na docência universitária, como professor do curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, ministrando as disciplinas Filosofia do Direito; Sociologia Jurídica; Metodologia Geral da Pesquisa Social e Jurídica; Metodologia do Ensino do Direito; Lógica Jurídica; Direito da Família; Teoria Geral do Direito Agrário; Introdução ao Estudo do Direito e a Vida Jurídica; Direito Civil; e Direito Agrário. Assumiu inúmeros cargos e atribuições, até sua aposentadoria, em 2003, entre os quais: Assessor do Gabinete do Reitor, Chefe do Departamento de Direito, Procurador-Chefe, Coordenador do Núcleo de Pesquisas Jurídicas, e do Programa de Estudos, Pesquisas e Pós-Graduação em Direito. Concorreu às eleições para Reitor da UFMA, integrando a lista sêxtupla à apreciação do Egrégio Colégio Eleitoral. Além de se dedicar ao ensino, foi pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Casa de Rui Barbosa; integrou a Associação Latino-Americana de Metodologia do Ensino de Direito e o Grupo de Ricerca Sulla Diffusione Del Dirritto Romano (Universidade de Sassari, Itália); presidiu a seccional maranhense do Colégio Brasileiro de Faculdades de Direito e integrou a Comissão Constituinte do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) que acompanhou os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, elaboradora da Constituição Federal de 1988. Na Advocacia Municipalista foi Consultor Jurídico da FAMEM, tendo atuado, como escritório de advocacia e assessoramento jurídico, para os Municípios Maranhenses de: Pedreiras; São José de Ribamar, Caxias, Morros, Presidente Vargas, Vargem Grande e Grajaú. Atua também na Advocacia Eleitoral, tendo exercido cargos de Consultor Jurídico para os partidos: PFL/MA (DEM), PSOL, PL. Assessorou, juridicamente, a vários candidatos ao Governo do Estado, Deputados (estaduais e federais), a Prefeituras e a Câmaras de Vereadores.


Na Ordem dos Advogados do Brasil/Seccional Maranhão, fez parte da Comissão de Exame de Ordem, presidiu a Comissão de Ensino Jurídico, foi Conselheiro Estadual e Federal, além de Vice-Diretor da Escola Superior de Advocacia. Suas pesquisas e trabalhos foram publicados nas revistas: Forense (Rio de Janeiro), Síntese (Universidade Federal de Santa Catarina), da Associação dos Antigos Alunos da PUC-Rio; do Curso de Direito e Cadernos de Pesquisa da UFMA e Revista da ENA. Publicou “A Crise do Direito e o emergimento do novo Direito Civil em um contexto de liberdade”, nos Anais da Conferência da OAB (Manaus, 1980); “Pequenos Ensaios de Direito de Família”, pela Associação Latino-Americana de Metodologia do Ensino de Direito (1981); “Extratos de Jurisprudência Eleitoral do Maranhão”, pelo Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (1982); “Questão Agrária”, pelo CNPq (1983); e “Como Decidem os Juízes no Estado do Maranhão”, pela Editora da UFMA (1994). De meados dos anos 1980 a início dos anos 2000, foi articulista no jornal “O Estado do Maranhão”, escrevendo aos domingos. Em 2004, a Escola de Formação de Governantes lançou “O Olhar da Justiça”, a primeira coletânea dos artigos publicados entre os anos 2000 e 2003. A Ordem dos Advogados do Brasil/Seccional Maranhão publicou, em 2006, “A Reinvenção do Judiciário”, reunindo os artigos de 1996 a 1999. A Editora Fiúza publicou “A Crise da Crise da Advocacia”, reunindo os artigos de 1992 a 1995. Esse livro foi lançado em 2008, sendo prefaciado pelo jurista Fábio Konder Comparato. Atualmente é articulista do jornal “O Imparcial”, escrevendo às quartas-feiras. Também publica seus artigos no site www.ericeiraadvogados.com.br BIBLIOGRAFIA 1980 1981 1982 1983 1994 2004 2006 2008

A Crise do Direito e o emergimento do novo Direito Civil em um contexto de liberdade Pequenos Ensaios de Direito de Família Extratos de Jurisprudência Eleitoral do Maranhão Questão Agrária Como Decidem os Juízes no Estado do Maranhão O Olhar da Justiça A Reinvenção do Judiciário A Crise da Crise da Advocacia


SANATIEL DE JESUS PEREIRA São Bento – MA - 1950 POSSE: 14 de dezembro de 2013

Natural de São Bento (1950), Maranhão, Brasil. Fez o primário no Grupo Escolar Gentil Braga e seus estudos secundários no Liceu Maranhense, em São Luís. Graduou-se em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia do Maranhão (1974). Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1984). Doutor em Ciências Florestais pela Universidade Federal do Paraná (2001). Como ENGENHEIRO CIVIL, trabalhou nos primeiros vinte anos da sua vida profissional, em grandes empresas de engenharia do Brasil. Participou da construção de obras importantes no nosso Estado, como a construção da barragem do Rio Pericumã, na baixada maranhense, no município de Pinheiro. Participou da construção da Unidade Materno Infantil, assim como da reforma e ampliação do Hospital Universitário Presidente Dutra, em São Luís, Maranhão. Construiu a unidade fabril do GRUPO VICUNHA, no distrito industrial, em São Luís, Maranhão. PROFESSOR ASSOCIADO do Departamento de Desenho e Tecnologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e do Programa de Pós-Graduação em Design. Foi fundador e primeiro Coordenador do COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA da UFMA. Coordena o NÚCLEO DE TECNOLOGIA DAS MADEIRAS E DAS FIBRAS da UFMA. Membro do COMITÊ CIENTÍFICO da UFMA na área de Ciências Exatas e Tecnológicas. PESQUISADOR com diversos trabalhos publicados em Congressos, Revistas e Periódicos Científicos. Com diversas orientações em trabalhos de conclusão de CURSO EM DESIGN da UFMA. Formou diversos pesquisadores na sua área de concentração. Atualmente, ocupa o cargo de Diretor da Editora da Universidade Federal do Maranhão – EDUFMA e Presidente do Conselho Editorial. Membro fundador da ACADEMIA SAMBENTUENSE, ocupante da Poltrona 4, patroneada por Dom Felipe Condurú Pacheco, onde já ocupou o cargo de vice-presidente e presidente. Membro colaborador da SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES – SOBRAMES/Regional Maranhão. Membro fundador da ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, onde ocupará a poltrona 3, patroneada por Manuel Odorico Mendes. BIBLIOGRAFIA 2014 JANELAS DO TEMPO (no prelo) 2011 SEVERIANO MARINHEIRO 2010 OS QUATRO ELEMENTOS 2010 PEQUENO DICONÁRIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA MADEIRA EDUFMA 2007 MULHERES DE ATENAS 2001 MADEIRAS TROPICAIS DE USO INDUSTRIAL DO MARANHÃO, coautor, chancela do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA)

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ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Caxias – MA – 08 de novembro de 1934 POSSE: 14 de dezembro de 2013

Maranhense de Caxias, onde nasceu em 08 de novembro de 1934; é economista formado pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, em 1959 e Pós-Graduado em Administração Contábil e Financeira pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, em 1976. Foi professor fundador titular da Escola de Administração Pública do Estado do Maranhão - EAPEM, em 1968, e da Federação das Escolas Superiores do Maranhão -FESMA, atual Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, em 1982, e Professor Assistente da Universidade Federal do Maranhão - UFMA, em 1978, por onde se aposentou, em 1997. Na EAPEM, lecionou Teoria Econômica e, na UFMA, Economia Monetária, Mercado de Capitais e Introdução à Economia, nos cursos de Administração, Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Direito e Pedagogia, respectivamente; exerceu atividades de pesquisa e extensão valendo mencionar a coordenação da “Pesquisa sobre o desenvolvimento de São Luís”, em fins da década de 60, em convênio entre o governo do Estado do Maranhão, Prefeitura de São Luís e Universidade, mobilizando os então cursos isolados de Economia, Filosofia e Serviço Social. Ocupou cargos em áreas da administração federal, estadual e municipal, e no ensino universitário, em Brasília, Rio de Janeiro, São Luís e Caxias, respectivamente: Coordenador de Sistemas Regionais do Ministério de Ciência e Tecnologia, em 1987; Assessor da Secretaria de Previdência do INSS, em 1988; Chefe de Gabinete da Secretaria de Viação e Obras Públicas, em 1968; Secretário de Administração da Prefeitura de São Luís, 1971/74; Diretor da Companhia Progresso do Maranhão, 1979/87; Superintendente Administrativo da FESMA, 1974; Chefe de Gabinete e Diretor do Departamento Administrativo-Financeiro da TELMA, 1979/85; Auditor Geral, Gerente de Desenvolvimento Econômico, e de Desenvolvimento Humano, da Prefeitura de Caxias, 2001/04; Vice-Diretor Geral da Faculdade do Vale do Itapecuru, 2002/03. Atual Superintendente de Área de Órgãos de Governo da Secretaria de Planejamento e OrçamentoSEPLAN, da Prefeitura de São Luís, a partir de 2005. Participou em programas de Reforma Administrativa e de Planejamento Governamental, nas três esferas de governo; frequentou diversos Cursos e Seminários, no Brasil e no exterior, destacando-se o de Mercado de Capitais, na New York University, em Nova York, em 1980. Trabalhou em empresas voltadas para resultados, no Rio de Janeiro, onde residiu entre 1954 e 1965, principalmente na Fosforita Olinda S/A, 1957/65, empresa mineradora sediada em Recife. Foi Secretário da primeira diretoria da Federação das Academias de Letras do Maranhão - FALMA, entre 2008/12; É membro da Academia Caxiense de Letras e da Academia Ludovicense de Letras e autor dos livros “Fortes Laços”, lançado em 2007, e “Crônicas de 400 anos/Chroniques de 400 ans”, lançado em 2012. Escreve para jornais de São Luís; podem ser consultados no Site do Conselho Regional de Economia (https://www.corecon-ma.org.br).


RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO Olinda Nova do Maranhão – 29 de outubro de 1951 POSSE: 14 DE DEZEMBRO DE 2013

Nasceu em 29 de outubro de 1951, em Olinda dos Castros (hoje Olinda Nova do Maranhão), distrito (na época) do Município de São João Batista, Estado do Maranhão. Cursou o primário na sede do Município de São João Batista, no Grupo Escolar Estado de Santa Catarina, concluindo o Primário em 30 de novembro de 1967. Na Escola Normal Ginasial “José Maria de Araújo”, no ano 1968 iniciou o Curso Ginasial. Cursando em São João Batista apenas a primeira série. Na Escola Técnica Federal do Maranhão, em São Luís, concluiu o Curso Ginasial em 17 de dezembro de 1971; Ainda da Escola Técnica Federal do Maranhão, cursou o Técnico em Química, concluído em 30 de dezembro de 1974. Ainda fez Técnico em Contabilidade no Colégio Cardoso Amorim, concluído em 30 de dezembro de 1977 e o Curso de Transações Imobiliárias, na Secretaria de Educação do Estado do Maranhão, concluído em 06 de junho de 1988. Na graduação, cursou Química Industrial, Licenciatura em Química, Ciências Contábeis e Licenciatura em Matemática na Universidade Federal do Maranhão; Licenciatura em Disciplinas Profissionalizantes na Universidade Estadual do Maranhão; Psicanálise Clínica na Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil (Rio) e o Curso de Direito Bacharelado no Centro Universitário do Maranhão - UniCEUMA. Na Pós-Graduação, cursou Especialização em Metodologia do Ensino Superior e Especialização em Auditoria Contábil, na Universidade Federal do Maranhão; Especialização em Direito Tributário e Legislação de Impostos, na Universidade Estácio de Sá, Niterói, Estado do Rio de Janeiro; Especialização em Educação-Administração Escolar, na Faculdade Mário Schenberg, Cotia, Estado de São Paulo; Doutorando em Ciências Empresariais, na Universidad Del Museo Social Argentino, em Buenos Aires e atualmente é Doutorando em Direito Privado, na Universidad de Ciencias Empresariales y Sociales, também na Argentina e Doutorando em Ciências da Educação, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, Portugal. Atualmente é Avaliador Ad-doc do SINAES/INEP/MEC para os cursos de graduação de Ciências Contábeis desde 1996 e Direito desde 2007; membro efetivo do Conselho Curador da Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da UFMA, a partir de 24 de novembro de 2010; Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; e Professor Adjunto da Carreira de Magistério Superior da Universidade Federal do Maranhão, concursado e nomeado em 21 de dezembro de 1989, lotado no Departamento de Direito; Membro Titular do Colegiado do Curso de Direito; e Membro do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do Curso de Direito. Exerceu diversas funções, tais como: Coordenador do Curso de Ciências Contábeis por diversas vezes; Coordenador do Curso de Direito; e Coordenador do Curso de Ciências Imobiliárias; Presidente dos Colegiados de Cursos de Ciências Contábeis; de Direito; e de Ciências Imobiliárias; Membro Titular do Conselho do Centro de Ciências Sociais; Membro Titular do Conselho Universitário; Membro Titular do Conselho de Administração; Membro Titular do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão; Membro do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do Curso de Administração. No âmbito profissional iniciou como comerciário, depois foi funcionário da Companhia de Habitação Popular do Estado do Maranhão-COHAB-MA e da Companhia Vale do Rio Doce-CVRD, a seguir Auditor do Estado do Maranhão, concursado e aposentado em 27 de março de 1998. Professor de Ensino Médio da secretaria de Estado da Educação do Estado do Maranhão, do Colégio Cardoso Amorim; Professor de Aperfeiçoamento do SENAC-Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial; Professor Temporário de Magistério Superior da Universidade Estadual do Maranhão. Artigos publicados: AUDITORIA DA QUALIDADE (Caderno de Pesquisa da UFMA – Jan/jun/2000); ÉTICA EMPRESARIAL (Revista Científica UCES ISSN 1514-9358, Primavera 2009); TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS: (Revista Científica UCES ISSN 1514-9358, Otoño 2009); PROPRIEDADE HORIZONTAL: (Revista Científica UCES ISSN 1514-9358, Invierno 2010);


CELEBRAÇÃO DE CONTRATO DE SEGUROS: uma abordagem no mercosul (Revista Científica UCES ISSN 1514-9358, Invierno 2010); RESPONSABILIDADE LIMITADA DO EMPRESÁRIO (Revista Científica UCES ISSN 1514-9358); DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: instrumento de combate à fraude e abuso de direito (Revista Científica UCES ISSN 1514-9358); e DANO MORAL E O QUANTUM INDENIZATÓRIO (Em editoração na Revista Científica UCES ISSN 1514-9358). DISCURSO DE POSSE DO PROFESSOR RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO. REV. IHGM 36, MARÇO 2011, p 32


ROQUE PIRES MACATRÃO Brejo, 13 de novembro de 1935 POSSE: 14 de dezembro de 2013

Nasceu aos 13 dias de novembro de 1935. Filho de Raimundo Nonato de Lima Macatrão e Dona Gracinda Pires Macatrão. Casado com dona Maria Célia Pacheco Macatrão, pais de Paulo Henrique Pacheco Macatrão. Avô de Paulo Victor e Gabriel. Estudou o primário no Grupo Escolar “Cândido Mendes”. Continuou no Seminário de Santo “Antônio”, fez o ginásio no Ateneu Teixeira Mendes, o clássico no Liceu Maranhense e doutorou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito, iniciado de São Luís e concluído em Belém do Pará. No Brejo, quando jovem, funda o Grêmio Lítero Recreativo Humberto de Campos; juntamente com o Dr. Artur Almada Lima Filho, apoiados pela professora Aricéia Moreira Lima, parceiro da instalação do ginásio da CNEC, por sinal o 3º do Maranhão. Cria a Academia Brejense de Artes e Letras, a qual apaixonadamente preside. Funda a Sociedade Civil de Defesa do Povo e da terra. A Banda de Música, Memorial da Família Macatrão, entronização do busto de Cândido Mendes na Av. Luís Domingues. Cidadão são-luisense. Advogado no campo do Direito Imobiliário. Exerceu as funções de Secretário de Justiça do Governo “João Castelo, Membro do Lions e do Rotary, da OAB - MA, da Academia de Letras Jurídicas, presidente da Academia Brejense de Letras, Presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão”. BIBLIOGRAFIA Casarões do Brejo, História do Brejo Minha Saga Brejense


RAIMUNDO GOMES MEIRELES Itapecuru-Mirim, MA, 31 de outubro de 1962 POSSE: 14 DE DEZEMBRO DE 2013

Maranhense de Itapecuru-Mirim, MA, nascido em 31 de outubro de 1962, filho de João José Meireles e Maria Gomes Meireles. Iniciou seus estudos em Caxias, no Colégio Nossa Senhora dos Remédios, veio para São Luís e estudou no Colégio Sotero dos Reis, no Centro Educacional do Maranhão e no Colégio São Lázaro, concluindo o ensino fundamental; cursou o Ensino Médio no Centro de Ensino de 2° grau Gonçalves Dias. GRADUAÇÃO: Licenciatura em Filosofia e Licenciatura em Teologia no Instituto de Ensino Superior do Maranhão, onde apresentou a monografia “O catolicismo popular tradicional brasileiro e algumas expressões significativas da religião do povo maranhense: pistas de interpretação teológica” - nota 10; Licenciatura plena em Filosofia pela Universidade Federal do Maranhão, onde apresentou a monografia “Noção de Direito em Norberto Bobbio” – nota 10. Diploma de Honra ao Mérito, melhor aluno do curso de Filosofia. Bacharel em Direito, no Centro de Ensino Universitário do Maranhão UniCEUMA, onde apresentou a monografia “A noção de Direito em Santi Romano”, também, nota 10. PÓS–GRADUAÇÃO: Mestrado em Direito Canônico na Pontifícia Studiorum Universitas – Roma/Itália. Mestrado em Direito Civil, com especialização em Direito Internacional Comparado – Pontifícia Universitas Lateranensis – Città del Vaticano. Doutorado em Direito Canônico – Pontifícia Studiorum Santo Tomas de Aquino – Roma/Itália. ATIVIDADES PROFISSIONAIS: Professor de: Filosofia de Direito, Filosofia Política, Introdução à Filosofia, Direto Canônico, Gestão Paroquial – Centro de Ensino Superior do Maranhão - IESMA (desde 1997); Relações Humanas – Polícia Militar do Estado do Maranhão, no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças; Chanceler da Cúria Metropolitana; Pároco da Paróquia N. Srª Aparecida da Foz do Rio Anil – Cohafuma (1997-2009); Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico Regional Nordeste V; Membro do Conselho Diretor da UFMA na qualidade de representante da Sociedade Maranhense de Cultura Superior – SOMACS (8 anos); Vigário paroquial da Paróquia São João Batista, na Igreja Santo Antônio (desde 2009); Capelão Militar, Polícia Militar do Estado do Maranhão. Chanceler da Cúria Metropolitana de São Luís BIBLIOGRAFIA: 2005 2003 1997

Podemos definir o Direito? Revista ECOS nº 2 A Filosofia da Prescrição Penal – Revista ECOS nº 01 Direito degli índios in Antonio Vieira – Anais de Congresso – Roma

Vários artigos nos jornais: O Estado do Maranhão, Jornal Pequeno e Imparcial. Na Revista do IHGM: DISCURSO DE POSSE -, REVISTA DO IHGM – nº 29 – 2008 – Edição Eletrônica, p. 101 OS ESCRITOS DE DOM PAULO PONTE: UMA RELEITURA A PARTIR DA ÚLTIMA DÉCADA nº 30, agosto 2009 ed. Eletrônica 108-116 A ARTE E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NO MARANHÃO. nº 31, novembro 2009, ed. Eletrônica 116-118 A FARSA DO DIREITO. Rev. do IHGM, nº 34, Setembro de 2010 – Edição Eletrônica, p. 96-98 A ESPIRITUALIDADE DO POLICIAL MILITAR. Rev. IHGM, nº 35, dezembro 2010, p. 65 DOIS PADRES E UMA MEMÓRIA NOS 400 ANOS DE SÃO LUÍS. Revista IHGM, nº 43, DEZEMBRO de 2012, p. 146. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_43_-_dezembro_2012


ARTHUR ALMADA LIMA FILHO Caxias – MA, 17 de outubro de 1929 POSSE: 14 DE DEZEMBRO DE 2013

Nasceu em 17 de outubro de 1929, em Caxias – MA, filho de ARTHUR ALMADA LIMA e Etelvina Brandão da Silva Lima. Casou em fevereiro de 1959 com Maria do Amparo Macatrão Costa Almada Lima, com quem teve os seguintes filhos: ARTHUR ALMADA LIMA NETO; Francisco Cesário Costa Almada Lima; Clemência Maria Costa Almada Lima de Ângelo; Claudia Costa Almada Lima; Fernando Costa Almada Lima. Casou-se, em segundo matrimônio com Antônia Miramar Alves Silva. Tem nove netos sendo dois homens e sete mulheres. Em janeiro de 1951, foi aprovado no vestibular da Faculdade de Direito de São Luís e bacharelou-se em 10 de dezembro de 1955. Em 1967, passou no concurso promovido pela Fundação Getúlio Vargas-RJ para o Curso de Pós-Graduação em Administração Pública, tendo concluído o referido curso. Foi Presidente do Diretório Acadêmico Clodomir Cardoso e intensificou a circulação do Jornal “O Marco”. Ainda em 1955, foi eleito Presidente da União Maranhense dos Estudantes – UME e Conselheiro da União Nacional dos Estudantes – UNE. Iniciou suas atividades profissionais em 1953, embora, ainda, aluno do 3º ano do Curso de Direito, sendo nomeado Promotor Interino da Comarca de Brejo. Lá permaneceu até 1961. Fundou o Ginásio Brejense e foi seu Diretor e Professor de Português. Em 1962, foi transferido para a Promotoria de Chapadinha, assumindo a Direção do Ginásio Professor Mata Roma; criou a “Escola dos Pés Descalços” com o objetivo de matricular todas as crianças na faixa etária de 7 a 14 anos que não tiveram oportunidade de estudar em Escolas Públicas ou Privadas, atualmente Unidade Integrada Municipal Dr. Arthur Almada Lima. Fundou a Escola Normal Ana Adelaide Belo, também em Chapadinha. Aprovado em concurso público, em 1962, foi nomeado Juiz de Direito da Comarca de Chapadinha. Foi Diretor da Escola Superior da Magistratura do Maranhão e fez publicar a revista da ESMAM, foi Coordenador do Curso de Direito da Faculdade do Vale do Itapecuru - FAI, em Caxias - MA. O Tribunal de Justiça do Estado deu seu nome ao Fórum da Comarca do Brejo; Nomeado Professor da Escola de Administração Pública do Estado do Maranhão e, em seguida, seu Diretor. Implantou o Centro de Treinamento e o Serviço de Assistência Técnica. Integrou o Conselho Federativo das Escolas Superiores do Maranhão - FESM. Legionário do 24º Batalhão Barão de Caxias Em 1975, por ato do Governador Pedro Neiva de Santana foi nomeado Presidente das Escolas Superiores do Maranhão - FESM. É cidadão honorário das cidades de Chapadinha, Brejo, São José de Ribamar e São Luís; possui várias condecorações. É membro efetivo da Academia Caxiense de Letras, da Academia Brejense de Artes e Letras, da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias - IHGC, do qual foi fundador. Atualmente, um dos seus principais Projetos é ampliar as atividades do Centro Cultural Professora Maria do Amparo, na cidade de Milagres. Vem se dedicando, também, à pesquisa da historiografia caxiense, devendo publicar ainda este ano “Efemérides Caxienses”. Também está desenvolvendo pesquisas objetivando resgatar a memória dos ilustres caxienses. Foi assistente administrativo dos Diários Associados do Maranhão (O Imparcial e a Rádio Gurupi), até 1975. Vem publicando uma série de artigos na “Folha do IHGC” - órgão de divulgação do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias.


RAIMUNDO DA COSTA VIANA Brejo-Ma, 09 de novembro de 1939 POSSE: 14 DE DEZEMBRO DE 2013

Dados biográficos: a- Data de Nascimento: 09.11.1939 b- Filiação: HAMILTON DA COSTA VIANA E IDALINA MONTELES VIANA c- Nacionalidade: Brasileiro d- Naturalidade: Brejo - MA. FORMAÇÃO ACADÊMICA: 1. CURSO DE FILOSOFIA (Seminário de Santo Antônio - S. Luís - MA – de 1960 a 1963) 2. Bacharel em Filosofia – 1970 (UFMA) 3. Licenciado em Letras Clássicas – 1970 (UFMA) 4. Bacharel Em Direito - 1979 (UFMA) 5. Pós –graduado em Teoria da comunicação (USP) 6. Estudos especiais em Língua Latina DADOS PROFISSIONAIS 1. Professor (2ºgrau) de Língua Portuguesa (Liceu cearense – Fortaleza - CE.) 2. Professor Universitário: - Professor Concursado em Língua Latina (UFMA) - Professor Concursado em Teoria da Comunicação (UFMA) - Professor de Língua Latina (UNICEUMA) 3. Advogado – OAB - MA 2458 FUNÇÕES ACADÊMICAS EXERCIDAS: 1. Chefe do Departamento de Comunicação Social –UFMA 2. Vice Diretor do Centro de Ciências Sociais – UFMA ENTIDADE ACADÊMICA A QUE PERTENCE: - Academia Brejense de Letras (Vice-Presidente) TRABALHOS PUBLICADOS: - Diversas Crônicas publicadas, ao longo dos anos, no Jornal ESTADO DO MARANHÃO, a serem reunidas, oportunamente, em livro.


NA BERLINDA:


ANA LUIZA ALMEIDA FERRO Em breve, seguindo para a Universidade de Salamanca para proferir uma conferĂŞncia sobre crime organizado...


Passei dias encantadores na Espanha, onde participei de um congresso sobre Direitos Humanos em homenagem Ă professora Esther MartĂ­nez e proferi palestra sobre crime organizado na tradicional Universidad de Salamanca.



CASA DE CULTURA HUGUENOTE DANIEL DE LA TOUCHE A Batalha de Guaxenduba. Palestra com a Dra. Ana Luiza Ferro Dia 16 de Nov - 19 h Entrada Franca

PH REVISTA, 15 DE NOVEMBRO DE 2016




O ESTADO, PH REVISTA – 21/11/2016


LATIN AMERICAN QUALITY INSTITUTE Caros amigos e amigas: Na última quinta (dia 24), tive o prazer do reconhecimento de minha atuação profissional e, especialmente, como escritora, pelo Latin American Quality Institute, em cerimônia realizada no Hotel Sheraton Maria Isabel, na cidade do México. Na oportunidade, recebi troféu e certificados. A entidade promove e premia iniciativas, práticas e experiências de qualidade total, qualidade educacional, desenvolvimento sustentável, entre outras. A LAQI geralmente homenageia empresários e empresas da América Latina e, excepcionalmente, representantes do setor público, profissionais liberais etc. Foram premiadas pessoas do Brasil, México, Argentina, Peru, Chile, Panamá, Rep. Dominicana, entre outros países. Meus agradecimentos a Deus, à LAQI, aos meus pais, família e amigos e aos mexicanos, que tão bem nos acolheram.



O ESTADO – PH REVISTA 03/11/2016


Caros amigos e amigas: É com satisfação que anuncio que tive meu nome indicado e aprovado para membro correspondente do excelso Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC), fundado em 1896. Será uma honra vir a integrá-lo nessa qualidade.

Na semana passada completou-se um ano da partida de outro grande poeta: Nauro Machado. Na foto, estou com o poeta Carlos Nejar, da ABL, que ministrou uma ótima palestra sobre a poesia de Nauro Machado no final da missa em São Luís.


DILERCY ADLER A POETA MARANHENSE DILERCY ADLER E JUSSARA VALVERDE, DO RJ, REPRESENTANDO O BRASIL NA COLÔMBIA EM ENCONTRO DE ESCRITORES



DILERCY ADLER EN PONENCIA SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS EN COLOMBIA



PRÊMIO DE DIRETORIA DA UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES - RJ, DE 2016. Cara escritora Dilercy Aragão Adler Com grande satisfação e acentuada alegria comunicamos que seu nome foi agraciado como um dos ganhadores do Prêmio de Diretoria da União Brasileira de Escritores - RJ, de 2016. Prêmio Zora Seljan pelo livro " Sobre Maria Firmina dos Reis". Aguardamos seu comparecimento para receber seu Certificado, no dia 19 de outubro de 2016, às 15:00 h, no Auditório da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA). Endereço : Rua General Justo, 171 - segundo andar - Castelo - Rio de Janeiro Atenciosamente, Marcia Barroca Primeira secretária Prezada Marcia, Estou muito honrada com o Prêmio Glória Seljan, ainda mais por se referir a um trabalho sobre Maria Firmina dos Reis. Mas não poderei comparecer em virtude de já ter um lançamento para o período (de uma antologia da qual sou a organizadora). No entanto, o confrade Leopoldo vai receber o prêmio, e também me representar. Mais uma vez muito grata. Saudações Firminianas, Dilercy Adler



A GUERRA Stáfolli, 1945 Artilheiro- Mor Si a guerra é o cáus da nova geração; Si tráz a orfândade em seu final; Si tem no seu cortejo sem moral Dôres, misérias lutos podridão Si ela transforma a civilização; Si faz baixar o nível social; Si mata, de uma vez, tanto fanal; Si faz dos nossos lares solidão; Fará também nas paginas da HISTÓRIA, Entre vaidade-orgulho, fama e glória Dos filhos do Brasil, de todos nós, O panteondáqueles que tombaram Dáqueles que na luta permutaram A vida por um só nome- HERÓESIn: A TOCHA, 13 de setembro de 1945 USS Gen. M. C Meigs


DANIEL VICTOR ADLER NORMANDO ROMANHOLO18 HERÓIS Ao meu bisavô Francisco Dias Adler (in memoriam) A Segunda Guerra Mundial causou horrores Sequelas eternas Infinitas dores causas perdidas, iludidas com propósitos indefinidos Muitos combates, destruindo vidas Extinguindo sonhos, extinguindo amores... Não só isso, causando dissabores Heróis nem sempre usam capas Salvando vidas, esperanças, lembranças Sacrificando suas vidas por nós morrendo, salvando São eles, verdadeiros heróis! Graças a eles vivemos hoje em paz em harmonia, mesmo que por vezes fugaz! Obrigado, muito obrigado a todos os soldados que um dia lutaram ''Liberté, Egalité, Fraternité''.

aa DILERCY ARAGÃO ADLER PAZ NECESSÁRIA Tantas guerras cruas duras sem sentido... só no abraço do poder tem aconchego tem abrigo...

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Nasceu em São Luís, em 23 de outubro de 1998. É bisneto do Veterano da FEB Francisco Dias Adler. Tem participação no livro ASAS DE UM SONHO por um mundo melhor (obra coletiva de alunos da EMEB Angelina D. de Melo e da EMEB Ermantina C. Tarpani, São Carlos-S.P., 2008); É coautor de Uma história de Céu e Estrela, São Luís-MA, 2011, e tem participação na Antologia Mil poemas para Gonçalves Dias, São Luís- M A, 20013.


quando chega a fome a dor não adormeço apodreço junto com aquele insensível que se nutre do sofrer do desespero do inocente que somente só precisa ser ser feliz ser na vida sempre ser!!! é premente outros sonhos é premente outro fazer que extinga os pesadelos que nos chegam em novelos de ódio morte ilusão!!! é premente outro outra crença outra forma de entender que substitua de que o poder é necessário de que o poder é condição... ledo engano insana conclusão!. conclamemos todos juntos a união a paz necessária que faz todo o corpo vibrar movimentos sincronizados uníssono grito, de amor gozo prazer na terra em mim em você! PARA A GUERRA O NOSSO NÃO!!! Dilercy Adler Mentira e verdade guerra e a paz ódio e amor egoísmo e altruísmo individualismo e solidariedade domínio e servidão pecado e perdão no entanto temos tanto


muito caos e solidão! medo e desesperança invadem o ser os povos eas nações tirando o prazer e a indelével delícia de todo e qualquer viver... a sede de poder - maldita ilusão! leva o homem a vender a própria alma e perder a possibilidade da felicidade escrita a muitas mãos! guerra sem paz paz sem guerra!... para a paz urge a verdade a solidariedade... para a paz urge oamor aunião!... guerra jamais! guerra nunca mais! para a guerra o nosso NÃO!!!

PRACINHA Mário Montanha Teixeira Meus pés sangraram, gelados, nas sombrias, ignoradas caminhadas que tinham por destino a morte. Meu corpo cansado, foi fustigada pelas chuvas, se arrastou na lama, e, sangrando,


tombou várias vezes sobre a neve enquanto mortíferos estilhaços voavam pelo espaço e a orquestração louca dos combates afogava o doloroso gemido dos feridos.

Eu tive medo, senti fome e frio, e com a alma quase agonizante passei trágicos momentos na vigilância impressionante dos noturnos fox -holes Lutei, sofri. E nas horas calmas de repouso, a sós comigo, no abandono interior do meu silêncio (profundo como.um generoso abrigo), os meus cansados olhos, úmidos de lágrimas, se enchiam da tua presença ó Pátria! Eu te recordava, entre as névoas da distância e da saudade, contemplando a imagem cheia de vida daquelas pessoas tão minhas que me queriam para sempre vivo. Lutei. Sofri. Chorei por ti, ó Pátria!


UM DIA EM SACHSENHAUSEN19 MICHELLE ADLER NORMANDO DE CARVALHO20**

1936 Eis que é erguida uma construção para abrigar gente - presos políticos! – A finalidade - reabilitação! A bandeira desfraldada - o trabalho liberta! – era a explicação de algo atroz e maléfico contrastando com aquele pleno verão! E nada das bandeiras alardeadas para o mundo aconteceu... apenas fome, frio, medo, dor, lamentação... doenças, trabalhos forçados, cobaias científicas, execução!... Sofrimento humano - vil - mais de 200 mil e mais da metade abandonada à própria sorte só encontrou a liberdade nos braços frios da morte! Campo anunciado como modelo - desprezível exemplo – naMarcha da Morte última sádica tortura à anunciada e mentirosa liberdade as ávidas almas por soltura saem do campo de concentração muitos ao encontro da morte pelo intenso frio ou mesmo por execução... tanto sofrimento 19

Esse dia se refere a uma visita que fiz em outubro de 2015 à Sachsenhausen, um campo de concentração ativo desde meados de 1936 a abril 1945. Fazia parte da cidade de Oranienburg em Brandemburgo/Alemanha. 20 Nasceu em São Luís, em 14/11/1979. É neta do Veterano da FEB, Francisco Dias Adler. É Psicóloga. Tem participação na Antologia Mil Poemas para Gonçalves Dias (2013) e da Antologia Cento e Noventa Poemas para Maria Firmina dos Reis (2014).


tantos gritos de dor - amargurados lamentos! – Inaudíveis lamentos de antes soam hoje fortemente na memória e maculada energia que emerge desse lugar denunciam vivamente as lembranças de horror do que ali aconteceu... E o desejo hoje que persiste é que nunca mais na nossa história exista algo - nem de leve parecidocom aquilo que parte da humanidade viveu... E que a Pazdescanse junto daqueles que lá sofreram - seus últimos dias viveram naquela insana prisão!Prisão de corpos e almas prisão de sonhos e quimeras Prisão de Sachsenhausen!

Essa realidade imoral em 1945 acabou mas viverá para sempre no coração dos descendentes dos inocentes imolados e de todos aqueles que amam a Paz e o Bem! E que a Paz prevaleça sempre e o Amor à Vida também no coração de toda gente!... Amém! *


100 ESCRITORAS (ENTRE ELAS, DILERCY ADLER E VANDA SALLES) SERÃO HOMENAGEADAS NO RJ-BRASIL, DIA 19/11, POR PARTICIPAÇÃO NA COLETÂNEA LITERÁRIA FEMININO- A ARTE DE SER MULHER, DA REDE MÍDIA SEM FRONTEIRAS




100 MULHERES CONTEMPORÂNEAS, DONAS DE SEUS DESTINOS, PARTICIPAM DESTE PROJETO:


Jornal Sem Fronteiras.

A POETA MARANHENSE DILERCY ADLER TAMBÉM É COAUTORA DA MAGNÍFICA COLETÂNEA



LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UBE RJ 2016 PRÊMIOS DA DIRETORIA Premiação no dia 19 de outubro, na Sociedade Nacional de Agricultura, 14:00h, na Avenida General Justo, 171, 2º andar, Praça XV/ Castelo, Rio de Janeiro/RJ.

ARAKEN VAZ GALVÃO - Prêmio Jorge Amado - Conjunto da Obra. SATURNINO BRAGA - Prêmio Moacyr Werneck de Castro - Conjunto da Obra. CARMEN BULZAN - Prêmio Umberto Peregrino - Pela tradução para o romeno do livro “Palavra que lavra”, de Edir Meirelles - aldravia. CLAYDES REGINA RICARDO ARAÚJO E VIVIANE MÁRCIA DOS SANTOS FELISBERTO - Prêmio Rodrigo Octávio Filho - “Aldravilhando” - aldravia.

DILERCY ARAGÃO ADLER E LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - Prêmio Zora Seljan - “Sobre Maria Firmina dos Reis“ - Biografia. CARMEM TERESA ELIAS - Prêmio Afrânio Coutinho - “Perdido atávico” - conto. LAURA ESTEVES, MARCIO CATUNDA, MARCUS VINICIUS QUIROGA E SILVIO RIBEIRO DE CASTRO - Prêmio Maura de Sena Pereira - “Quatro cantos do Rio“ - conto. CILENE DA CUNHA PEREIRA; EDILA VIANNA DA SILVA; MARIA APARECIDA LINO PAULIUKONIS E REGINA CÉLIA CABRAL ANGELIN - Prêmio Celso Cunha - “Nova Gramática para concursos: praticando a língua portuguesa” - língua portuguesa. CELI LUZ - Prêmio Murilo Araújo - “Bruno Berdistroki em Senhorita Eme” - livro infantil. ADRIANO ESPÍNOLA - Prêmio Stella Leonardos - “Escritos ao sol” - poesia. EDWEINE LOUREIRO - Prêmio Orígenes Lessa - “No mínimo, o infinito” - poesia. FABRÍCIO CARPINEJAR - Prêmio Eneida de Morais - “Amor à moda antiga” - poesia. HELENA FERREIRA - Prêmio Moacyr Félix - “Poemas antes do sono” - poesia. MÁRCIO CATUNDA - Prêmio Antonio Olinto - “Viagens introspectivas” - poesia. PEDRO ANTÔNIO GABRIEL ANHORN - Prêmio Solano Trindade - “Segundo Eu me chamo Antônio”poesia. RAQUEL NAVEIRA - Prêmio Dinah S. de Queiroz - “Jardim fechado - Uma Antologia poética” - poesia. SÉRGIO GERÔNIMO DELGADO - Prêmio Antônio Bulhões - “Mary Columbus” - poesia. CLÁUDIO AGUIAR - Prêmio Paschoal Carlos Magno - “A última noite de Kafka e outros dramas” romance. ELZIO LUZ LEAL - Prêmio Homero Homem - “Tentação” - romance. GODOFREDO DE OLIVEIRA NETO - Prêmio Geir Campos - “O grito” - romance. J. RIBEIRO NETO - Prêmio Malba Tahan - “O enigma do casarão” - romance. PAULO DE TARSO LIRA GOUVÊA - Prêmio Astrogildo Pereira - “O caçador de lobos” - romance. RICARDO ALFAYA - Prêmio João Conde - “Fronteiras em liquidação” - romance. TINA CORRÊIA - Prêmio Permínio Ásfora - “Essa Menina: de París a Paripiranga” - romance. MATUSALÉM DIAS DE MOURA - Prêmio Evaristo de Morais Fº - “Cantigas de fim de tarde” - trova. Juçara R. V. Valverde, presidente UBE RJ Rio de Janeiro, 7 de outubro de 2016. União Brasileira de Escritores RJ UBE-RJ - Secretaria: Marcia Barroca< mbarroca10@gmail.com> . Endereço postal: MARCIA BARROCA/ União Brasileira de Escritores RJ, 1ª secretária Rua Marquês de Olinda, 64/ 701- Bloco A, Botafogo, Rio de Janeiro - CEP 22251-040 SEDE: Rua Teixeira de Freitas, nº 5, S/303 - Lapa - CEP 20021-350 Rio de Janeiro, RJ.



TODOS OS PREMIADOS

ENTREGA DO DIPLOMA PELA PRESIDENTE DA UBE-RJ, JUÇARA VALVERDE


VISTA DO COQUETEL OFERECIDO PELA UBE-RJ AOS PREMIADOS

Eu, Del, e os sobrinhos que moram no Rio, Flávia e Rodolpho; Cinthya na câmara...


DIRETORIA DA UBE-RJ CORTANDO O BOLO

PREMIADOS NA FOTO OFICIAL


Aguardando o inicio da cerimonia

COQUETEL

ABERTURA




ARQUIMEDES VALE Jantar de encerramento e volta para casa do XXVI Congresso Nacional da SOBRAMES 2016 - São Paulo. Momento único entre premiações e muito calor humano. Impossível colocar fotos de todos os momentos. Só posso dizer que foram momentos riquíssimos de felicidades, alegrias e muita irmandade nesta Sociedade tão rica de sabedoria e amor fraterno uma verdadeira família chamada SOBRAMES (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores). Parabéns aos organizadores!!! Noite maravilhosos...Inesquecível!!!


XXVI Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES - premia os melhores classificados do concurso de prosa e verso Eventos por Sandra Hasmann em 2016-10-03 15:15:09

O XXVI Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - SOBRAMES -, realizado de 22 a 24 de setembro de 2016, outorgou troféus para os melhores classificados no concurso literário de Prosa e Verso, de acordo com a avaliação da Comissão composta por membros de expoentes Academias Literárias, todos eles sem nenhum vínculo com a SOBRAMES de qualquer das regionais. Os avaliadores receberam os textos sem nenhuma indicação de autoria, preservando assim a total imparcialidade na escolha dos vencedores, de acordo com as regras dos concursos. O Jornal SEM FRONTEIRAS esteve presente cobrindo o evento, representado pela colunista e também convidada Sandra Hasmann, que fez parte do juri no quesito "prosa", e o fotógrafo Alexandre Ferreira Segundo Marcia Etelli Coelho - vice-presidente da SOBRAMES SP - "esse ano foram recepcionados 3 escritores de Moçambique, e todos os textos inscritos no concurso foram apresentados pelos próprios autores em sessões literárias dinâmicas, sendo 45 poesias e 58 prosas" A abertura contou com uma belíssima apresentação dos Trovadores Urbanos e o jantar de premiação ocorreu na Vila Tavolla, uma típica cantina do Bexiga ( dois exemplos de atrações bem paulistanas ). JURADOS DO CONCURSO DE PROSAS


Sandra Hasmann, terapeuta naturóloga, life/executive coach, artista plástica, palestrante, membro da Academia Jacarehyense de Letras, colunista do Jornal Sem Fronteiras. Recebeu em 2012 a medalha do cinquentenário da Associação Brasileira das Forças Internacionais de Paz da ONU, pelos relevantes serviços prestados à Pátria no exercício de seu trabalho. Autora, entre outros, do livro “Carina, A Princesa Que Não Podia Andar”; Maria Zulema Cebrian, formada em Pedagogia, Arte Educação e Museologia, autora dos livros “Vontade de Ir Além” (romance) e “Escreva Seu Livro, é mais fácil do que você imagina”. Atual Presidente da Academia de Letras da Grande São Paulo – ALGRASP onde desde 2006 ocupa a Cadeira 03; Maria Angela Pimentel Mangeon Elias, professora e Presidente da Academia Ituana de Letras ACADIL. Sob sua coordenação foram indicados acadêmicos da ACADIL para, juntos, avaliarem os textos e apresentarem um dos votos do concurso de prosas; João Augusto Cardoso, professor, cursou doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais pela UMSA e é Mestre em Direito pela UNIMEP. Cursou pós-graduação lato sensu (especialização) em Administração de Empresas na EEP, Direito da Economia e da Empresa na FGV/RJ e Educação a Distância na UNIP. É Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e Licenciado em Língua Portuguesa.. É membro da União Brasileira de Escritores, da Ordem Acadêmica dos Intelectuais do Cone Sul e da Academia de Bellas Letras del Cono Sur; PREMIADOS NO CONCURSO DE PROSA 1º LUGAR - Arquimedes Viegas Vale - Conto: "Kaburá" 2º LUGAR - Marcos Gimenes Salun - Conto: "Em três palavras" 3º LUGAR - Marcos Gimenes Salun - Crônica: "Algumas coisas sobre ajoelhar e rezar" MENÇÃO HONROSA - Márcia Etelli Coelho - Crônica "Desalento" MENÇÃO HONROSA - Maria do Céu Coutinho Louzã - Conto: "Uma tarde para recordar"


ABERTURA DA II CAMPANHA ESTADUAL DE LEITURA COM ALINE VASCONCELOS, DIRETORA DA BIBLIOTECA PÚBLICA BENEDITO LEITE

A SECRETARIA- GERAL DA ALL-ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS-MA, CLORES HOLANDA, APRESENTANDO O ESPAÇO POESIA MARIA FIRMINA DOS REIS...




ANTONIO NOBERTO Alguns souvenirs da Exposição França Equinocial. Em cartaz na Casa de Cultura Huguenote Daniel de la Touche. Beco Catarina Mina, no Centro Histórico de São Luís. A Exposição mostra um pouco do nascimento do Brasil setentrional.


In O IMPARCIAL, 02 DE NOVEMBRO DE 2016 – RELIGIÕES E O SEU DIÁLOGO COM OS MORTOS, de Esaú Araujo

Matéria do JP de domingo, 20/11/2016, sobre a obra Pepitas brasileiras, do escritor francês Jean-Yves Loude. Texto e formatação de Manoel dos Santos Neto e Wellington Rabelo. A reportagem fala da passagem do escritor francês no Maranhão, tendo como principal anfitrião o pesquisador Antonio Noberto. O trabalho mostra que o Brasil vai muito além dos estereótipos conhecidos. .. É luta e coragem... na parte do Maranhão entra em cena personagens (pepitas) como Negro Cosme, Maria Firmina dos Reis, Nhozinho,


Aluísio de Azevedo, Nascimento Morais, Zayda Costa, Mundinha Araújo e tantos outros. Também entra em cena o amigo de vocês pesquisador e escritor Antonio Noberto, cognominado de "O turismólogo da França Equinocial". A obra deverá ser publicada em São Luís no próximo ano e pode ser adquirida pelo site da editora Autêntica (www.autenticaeditora.com.br).


ANTONIO NOBERTO CONDUZ ESCRITOR FRANCÊS ÀS “PEPITAS” DO MARANHÃO


MANOEL SANTOS NETO

Um pesquisador francês apaixonado pela África esteve há cinco anos em São Luís buscando informações sobre raízes negras da cultura do Maranhão. Em suas andanças pela tão sonhada França Equinocial, o ilustre visitante, o etnólogo Jean-Yves Loude, teve como cicerone o escritor Antonio Noberto, membro e um os fundadores da Academia Ludovicense de Letras. A viagem de Jean-Yves Loude ao Brasil resultou no livro ‘Pépites brésiliennes’, lançado em Paris no ano de 2013. A obra, traduzida pelo professor Fernando Scheibe, agora está circulando em português sob o título ‘Pepitas brasileiras - Do Rio de Janeiro ao Maranhão, uma viagem de 5.000 quilômetros em busca dos heróis negros do país’. Nesse livro, de 351 páginas e dividido em 11 capítulos, dois viajantes franceses, ambos escritores, etnólogos e investigadores, envolvem-se em um giro de cinco mil quilômetros de ônibus, pelo Brasil, seguindo os passos de figuras proeminentes que permaneceram nas sombras da história, que têm em comum serem negros, descendentes de escravos, e terem contribuído, por sua coragem, sua criatividade e sua força, com a construção da identidade e da alma brasileira. Com o auxílio do pesquisador Antonio Noberto, que aparece no livro como o ‘turismólogo da França Equinocial’, o escritor Jean-Yves Loude e sua companheira Viviane Lièvre são levados a conhecer o Maranhão através de seis “pepitas” de valor inestimável: Mundinha Araújo, Maria Firmina dos Reis, Catarina Mina, o Quilombo de Frechal, Nhozinho e o Negro Cosme. Jean-Yves Loude abre o livro “Pepitas brasileiras” com homenagem à mais velha ancestral da América. Na obra, ele conta a história de dois etnólogos que recebem a notícia da descoberta de um crânio de mais de 10 mil anos, atribuído a uma mulher negra. A partir daí, eles se lançam em uma jornada pelo País, percorrendo do Rio de Janeiro a São Luís do Maranhão em busca de respostas para esse mistério arqueológico. Ágil e rigorosa, a narrativa de sua jornada desvela fascinantes complementos à história oficial, que esquece tantos e tanto: os homens e as mulheres que encontram têm em comum o fato de serem negros, descendentes de pessoas escravizadas; de terem participado, com sua coragem, criatividade e resistência, da construção da dentidade e da alma brasileira; e de terem ficado na sombra, ou à margem. “Pepitas brasileiras” começa e termina com o toque maranhense de Zayda Costa, Nhozinho e outros personagens presentes desde o primeiro capítulo. Em uma carta reveladora Zayda e o tambor de crioula animam os etnólogos a saírem das montanhas geladas das vinícolas do Beaujolais, a cem quilômetros ao norte de Lyon, na França, e percorrer o Brasil desvendando as riquezas deste mundo afro revelador. O pesquisador Antonio Noberto aparece no momento da pesquisa de campo mostrando aos dois garimpeiros das pepitas brasileiras os caminhos a serem percorridos no Maranhão. Em novembro de 2010 o “turismólogo da França Equinocial” se despiu da pele tupi e incorporou a tez africana, mãe dos brasileiros. Ele começa colocando em cena algumas pepitas sepultadas no Cemitério do Gavião, como o escritor Nascimento Morais, autor da importante obra “Vencidos e degenerados” (vencidos os negros e degenerada a sociedade), prefaciada pelo bretão Jean-Yves Mérian, que também prefaciou a obra “O mulato”, da também pepita Aluísio de Azevedo. Desde então se inicia uma verdadeira saga no litoral e interior do Maranhão. Em uma primeira viagem Noberto os leva a Itapecuru Mirim, onde foi enforcado Negro Cosme, “o Zumbi do Maranhão”, cujo maior pecado foi ter criado escolas para negros, algo vedado à imensa maioria dos brasileiros, inclusive aos brancos. Depois Vargem Grande, onde se reuniu na sede da prefeitura com o então chefe municipal Dr Miguel Fernandes e várias lideranças negras de comunidades remanescentes de quilombos daquela região. Em seguida, partiram para Nina Rodrigues, então Vila da Manga do Iguará, onde a Balaiada teve início em 1838.


Lá os pesquisadores foram recebidos por Zé Braga, profundo conhecedor da história da Balaiada. Uma hora e meia foi mais que suficiente para que ele destrinchasse a história e os detalhes daquele que foi o maior movimento daquele século no Maranhão, que terminou sendo sufocado pelas tropas de Duque de Caxias. No dia seguinte pegaram o ferry boat e viajaram para Guimarães e Mirinzal, sendo recebidos por vereadores, prefeito, professores e alunos de uma escola, tudo organizado pelo historiador e edil Osvaldo Gomes e pelo também vereador Athaide Junior. Em seguida visitaram o cemitério municipal, que abriga o túmulo e os restos mortais da primeira romancista brasileira, a mulata Maria Firmina dos Reis, escritora de Úrsula e do hino da abolição do Brasil. Depois a equipe se deslocou ao quilombo de Damásio e, no dia seguinte, para o município de Mirinzal, onde se encontra o conhecido quilombo de Frechal. De volta à Ilha de São Luís os investigadores se prepararam para uma importante viagem à Ilha misteriosa do Cajual, no município de Alcântara, que abriga a comunidade de Santana dos Pretos, que, não obstante a proximidade com a capital do estado, fica completamente isolada da civilização. À tarde o turismólogo retornou a São Luís e o casal permaneceu na cidade de Alcântara. O dia seguinte foi de encontros com personalidades da cultura negra, como o professor Ferreti, a professora Mundinha Araújo, Zayda Costa e finalizou com uma visita à FELIS - Feira do Livro de São Luís. Dois anos depois, Antonio Noberto e a esposa Aline Vasconcelos visitam Loude e a esposa na cidade do Beaujolais, no sudeste da França. A estada foi mais que oportuna, vez que o etnólogo estava escrevendo a parte final do livro das pepitas, justamente na parte que fala do Ceará e do Maranhão. Noberto aproveitou para sugerir ao anfitrião que colocasse no livro a história da primeira outorga da liberdade dos escravos no Brasil, acontecida no Ceará, graças ao pescador Francisco José do Nascimento, conhecido como Chico da Matilde, que proibiu o embarque e desembarque de escravos no porto de Fortaleza e, com isso, recebeu do imperador Dom Pedro II o título de Dragão do Mar. Esse marcante evento aconteceu em 1884, quatro anos, portanto, antes da abolição dos escravos. Por conta disto a capital cearense passou a ser conhecida como a cidade da luz.

Artigo de jornal publicado neste mês de nivembro de 2016 em Minas Gerais sobre a obra Pepitas brasileiras. Um belo artigo.


MICHEL HERBERT FLORENCIO Recebimento de Troféu "Honra ao Mérito" pelo trabalho frente a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional Maranhão . Promoção : Revista Saúde News Norte Nordeste / Trofeu Tarquinio Lopes Filho /Natalino Salgado




MARIO LUNA FILHO Presença da SOBRAMES, dia 14 de Outubro, no Hospital Dr. Carlos Macieira. Manhã agradável com residentes e funcionários do Hospital Carlos Macieira, com palestra do presidente da Sobrames Dr. Michel Herbert Florencio, Dr. Aquimedes Arquimedes Vale, Dra. Socorro Veras, Dr. Mário Mario Luna Filho, Natinhocostafenix Costa Fenix. Momentos descontraídos com declamações de poesias, autógrafos, tudo em clima de muita confraternização e alegrias. No encerramento fomos brindados com um delicioso coquetel oferecido pelo HCM. Sucesso total...



DANIEL BLUME




JOÃO BATISTA ERICEIRA O advogado João Batista Ericeira prefaciou a obra de Sálvio Dino, intitulada "A Coluna Revolucionária Prestes a exilar-se" - recentemente apresentada na Academia Maranhense de Letras. Ericeira abriu a solenidade, na condição de presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, ao lado do governador Flávio Dino, com quem trocou palpitantes impressões sobre o momento político atual...

PREFÁCIO

SÁLVIO DINO, O SEMEADOR DE ACADEMIAS O movimento tenentista, de caráter militar e civil, principiou com a Revolta do Forte de Copacabana, no Rio, em 5 de julho de 1922. Seus 800 ocupantes renderam-se as tropas legalistas do governo Epitácio. Dois anos depois, na mesma data, os quarteis de São Paulo, liderados pelos irmãos Joaquim e Juarez Távora, insurgiram-se contra o governo federal, na vanguarda, comandavamo general Isidoro Lopes e o major Miguel Costa. Durante um mês a cidade de São Paulo resistiu aos bombardeios das forças legalistas. Para evitar maiores sacrifícios da população, os mortos já somavam mais de setecentos, os insurgentes resolveram bater em retirada, dirigiram-se ao Estado do Paraná. Lá, encontraram-se com as tropas comandadas pelo capitão Luís Carlos Prestes, que rebelara o Quartel de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul.Juntaram-se, formando a Coluna Miguel Costa/Luís Carlos Prestes, deflagrandoa epopeia, chamada de a Grande Marcha.Percorreram em dois anos 25 mil quilômetros do território nacional. Depois do exílio na Bolívia, em fevereiro de 1927, passou a chamar-se de Coluna Prestes. No retorno, pelo interior do país, pregaram a regeneração dos costumes políticos, a verdade eleitoral, o voto secreto, a justiça social.Condenavam veementemente a corrupção, os desvios de verbas praticados pelas oligarquias regionais, que se refletiam com fidelidade no plano federal. Os jovens tenentes, Juarez Távora, Djalma Dutra, Joaquim Távora, Siqueira Campos, Cordeiro de Farias, João Alberto, dentre outros, encetaram a aventura romântica de sair pelo país adentro, pelos sertões, educando, esclarecendo o povo dos seus direitos, negados pelo coronelismo,dono da enxada e do voto, parafraseando o título de Victor Nunes Leal. Preparavam o terreno para a derrubada da República Velha, pelo Golpe ou Revolução, namelhor tradição luso-brasileira das quarteladas, de 1930. Na liderança estava o presidente do Estado do Rio Grande do Sul, assim chamavam-se na época os governadores dos estados, Getúlio Vargas. Um político da velha oligarquia, formado na escola positivista de Borges de Medeiros. A oficialidade média, liderada por Gois Monteiro, associou-se aos tenentes, a verdadeira base militar da República Nova de 1930. Os tenentes Castelo Branco, Costa e Silva, Golbery Couto e Silva, Ernesto Geisel, Costa e Silva, continuaram nos quarteis, seriam nas décadas posteriores, protagonistas decisivos da política nacional.


Exiliado na Bolívia, depois na Argentina e no Uruguai, o tenente Luís Carlos Prestes divulgou em maio de 1930, manifesto declarando adesão ao marxismo-leninismo. No mesmo ano, sondado por Oswaldo Aranha, encontrou-se secretamente com o governador Getúlio Vargas por duas vezes. Este lhe ofereceu a chefia militar do movimento, afinal, o mais popular dos tenentes, tornara-se símbolo da reação contrária a República oligárquica da política do café com leite. Prestes, de forma ética e digna, no sentidooposto ao maquiavelismo, recusou, pretextando não poder chefiar uma revolução burguesa. Em entrevista concedida ao Programa “Roda Viva” da TV Cultura, em 1985, Prestesesclareceu que a Coluna era um movimento político integrado por civis e militares, por jovens movidos pelo idealismo, de ideologia liberal e burguesa. A marcha pelo interior do Brasil lhe permitiu conhecer a miséria em que viviam os camponeses de um país tão rico em recursos naturais. Investigando as causas convenceu-se que a solução estava na aplicação do método marxista-leninista. No mesmo programa, esclareceu, a sua posterior adesão ao comunismo explicava a cerrada cortina de silêncio que se impusera sobre a Coluna durante 50 anos. O fato de enorme repercussão para a vida do país, serviu de modelo para episódios semelhantes, que se repetiram no plano externo, como a Grande Marcha de Mao-Tse-Tung, na década de quarenta, e a guerrilha de Fidel Castro e Che Guevara nos anos cinquenta, em Cuba. Se é escassa a bibliografia nacional sobre o assunto, o que dizer da regional. Sálvio Dino supre as duas carências. Dotado do espirito de pesquisador, buscou as fontes primárias, documentos e entrevistas para refazer a passagem da Coluna Prestes pelo Sul do Maranhão. Esta região do Estado teve formação histórica diversa do litoral norte. Ocupada através da pecuária, atividade econômica que ocupava no mínimo a mão de obra escrava, deu aos seus habitantes o perfil libertário e empreendedor. Sálvio Dino é o protótipo do sertanejo do Sul do Maranhão. Nascido em Grajaú, a 5 de junho de 1932, veio para São Luís cursar o secundário e a Faculdade de Direito. Saiu do sertão, mas este dele nunca saiu. Elegeu-se vereador em 1954. Em 1962, deputado estadual pelo Partido Democrata Cristão, de Franco Montoro e Antenor Bogea. No exercício do mandato parlamentar assumiu a causa dos camponeses do Sul do Maranhão. Intrépido, orador de recursos, com a eclosão do golpe militar de 64 pagou o preço com a cassação do mandato parlamentar e a prisão no 24º Batalhão de Caçadores. Persistente, retornou depois a atividade parlamentar, candidatando-se a prefeito de João Lisboa, onde fixou residência e fundou as academias de letras de Imperatriz e Grajaú. Presidiu as associações de municípios do Sul do Maranhão e da Região Tocantina. Sua Pesquisa “A Coluna Prestes/ A Exilar-se na Bolívia “ desfaz mitos, como a participação do médico Tarquínio Lopes Filho e do desembargador Dioclides Mourão. As prisões de Juarez Távora e de Paulo Kruger, constantes na tradição oral e no romance histórico “A Coroa de Areia”, do escritor Josué Montello. Lança luz sobre a repercussão da Coluna na História do país. Seu ciclo não se encerra em 1935 com o fracasso da Intentona Comunista. Finaliza-se em 1985 com a eleição de Tancredo Neves. Afinal, os tenentes foram os presidentes entre 1964 e a devolução do poder aos civis. A Coluna, como refere seu secretário, Lourenço Moreira Lima, foi entusiasticamente recebida no Sul do Maranhão, em Carolina, Balsas, Mirador, Colinas, Grajaú, Riachão, Pastos Bons. Os revoltosos, assim chamados, eram andarilhos cívicos, cavalgavam a esperança simbolizada por Luís Carlos Prestes, bem de acordo a tradição da região. A mesma que se repete agora, levando seus cidadãos a estabelecerem paralelo históricos com a transformações porque passa atualmente o Maranhão. Das barrancas do Tocantins, parafraseando o seu livro de contos de 1981, o sertanejo Sálvio Dino, semeador de academias, membro do Clube do Urucuzeiro, lança este título. Merece leitura regional e nacional. Por fim, comprova, a História é mãe e mestra de toda a atividade humana.


XXVIII ENCONTRO NACIONAL DOS VETERANOS DA FEB,

REALIZADO EM SÃO LUÍS DE 19 A 22 DE OUTUBRO DILERCY ARAGÃO ADLER ANVFEB - Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira noticia a homenagem aos veteranos da FEB pela Câmara Municipal de São Luis, por ocasião do XXVIII Encontro Nacional dos Veteranos da FEB, realizado em São Luís de 19 a 22 de outubro. Câmara de São Luís presta homenagem a veteranos da FEB em sessão solene. A Câmara Municipal de São Luís (CMSL) homenageou nessa quarta-feira (19) os veteranos da Força Expedicionária Brasileira (FEB), em cerimônia realizada no Plenário Simão Estácio da Silveira. A sugestão foi do vereador Ivaldo Rodrigues (PDT) que destacou a atuação dos “valentes soldados da FEB, na Segunda Guerra Mundial, na Itália contra o Nazismo e Fascismo há 72 anos precisamente, colocando suas vidas a disposição da nação. Conforme o vereador, os veteranos brasileiros romperam barreiras teoricamente imperscrutáveis e contribuíram “com o fim daquele perigo que ameaçava a humanidade. — Esses brasileiros romperam barreiras teoricamente imperscrutáveis e nos enchem de orgulho, servindo de exemplo para várias gerações, por suas bravuras e patriotismo, contribuindo “com o fim daquele perigo que ameaçava a humanidade. Temos que batalhar o tempo todo para que exista paz entre os homens e os países — declarou reforçando que, naquela época, a Força Expedicionária Brasileira conquistou 20 vitórias. HISTÓRIA VIVA Para o presidente da Associação Regional da Federação Expedicionária Brasileira, o veterano Anselmo Alves, de 94 anos, declarou se sentir honrado por participar desse momento histórico, que para ele significa reviver uma nova etapa de sua vida. — Estou me sentindo honrado por participar desse momento histórico, que para mim significa reviver uma nova etapa de sua vida. A homenagem é um resgate da história e da memória da participação da Força na Segunda Guerra Mundial. “Foi um conflito sangrento, com mais de 50 milhões de vítimas, onde o Brasil teve a honra de participar, no sentido de libertar os povos — assinalou o ex-combatente afirmando, inclusive, que o Brasil foi o único país Sul Americano a enviar tropas para a Itália e os homens que receberam essa homenagem são exemplos de história viva. Durante sessão solene, dezoito ex-combatentes receberam as homenagens, e um deles foi o seu Luís Alves que já participou de todos os encontros nacionais. — Isso é muito importante para nós e pro Brasil. O Brasil sabe que tem uma raça muito boa, homens de verdade, de coragem tá, que sabe lutar, sabe vencer e eu tenho orgulho de ser um deles — disse. OS HOMENAGEADOS A solenidade contou com a participação de autoridades e familiares dos homenageados. Na ocasião, Ivaldo Rodrigues entregou a maior honraria Medalha Simão Estácio da Silveira e Título de Cidadão de São Luís, em homenagem aos veteranos que participaram da cerimonia, entre eles: veterano Anselmo Alves, veterano Gilberto Teixeira de Araújo, veterano Benedito Bernardo do Nascimento, veterano Simão Pereira, veterano Israel Rosenthal, veterano Oudinot Wiladino, veterano Lot Eugenio Coser, veterano Nestor Alves dos Santos, veterano Luís Alves de Sousa, veterano Rigoberto Souza e veterano José Bernardino Coelho. SÁBADO, 22 DE OUTUBRO DE 2016 Fonte: http://maranauta.blogspot.com.br/…/camara-de-sao-luis-prest…



DANIEL BLUME Lançamento de "Metamorfose", primeiro livro de poemas do meu colega António Augusto: procurador do Estado e poeta. Parabéns!


SOBRE FRAN PAXECO ROSA MACHADO A minha Avó materna, Isabel Eugénia de Almeida Fernandes Paxeco, nascida em São Luís do Maranhão a 14 de Novembro de 1879 e falecida em Lisboa, a 20 de Fevereiro de 1956:


Fernando Braga – O livro de Joaquim Luz so registra a Dra. Elza, a Rosa Machado e os irmãos. Essa da vó, se me parece que não está nesse volume. Irei conferir! António Bento - não resisto à tentação de mostrar esta dedicatória de seu Avô ao seu "amorzinho", que viria a ser a sua Avó. Na verdade esta pérola, datada de 1909, é de um ano antes do casamento e o livro que a contém foi comprado, há cerca de um ano, tendo pertencido a um sobrinho neto de Fran Paxeco.

Esse exemplar de que me refiro acima, organizado pelo professor Joaquim Luz é oferecido a Exma Sra. Isabel Eugénia de Almeida Fernandes Paxeco

SOBRAMES MA:ELEIÇÃO DA NOVA DIRETORIA BIÊNIO 2017-2018.Plenária SOBRAMES MA. /Novos Membros /Posse dia 07/12CRM Eleita Diretoria do biênio 2017/2018:


Presidente: Márcia Sousa Vice: Michel Herbert Florencio 1o secretário: Raimundo Barbosa 2o secretário: Socorro Veras 1o tesoureiro: Érico Cantanhede 2o tesoureiro: Paulo Martins Conselho Fiscal: Antonio De Pádua Silva Sousa PaduaPádua, Arquimedes Vale, Mario Luna Filho. Suplentes: Rafael, Hilmar Ribeiro Hortegal, Hamilton. Depto. Editorial: Sanatiel.

LENITA ESTRELA DE SÁ Convite da minha participação no colóquio sobre Cláudia de Campos, em conjunto com a escritora Maria do Carmo Campos. - CELAS, CLEPUL, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. www.claudiadecampos.wixsite.com/neww



2016 ANO DE COELHO NETO


COELHO NETO

Henrique Maximiano Coelho Neto (Caxias, 21 de fevereiro de 1864 — Rio de Janeiro, 28 de novembro de 1934) foi um escritor (cronista, folclorista, romancista, crítico e teatrólogo), político e professor brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras onde foi o fundador da Cadeira número 2.1 Foi considerado o "Príncipe dos Prosadores Brasileiros", numa votação realizada em 1928 pela revista O Malho. Apesar disto, foi consideravelmente combatido pelos modernistas, sendo pouco lido desde então, em verdadeiro ostracismo intelectual e literário. Nas palavras de Arnaldo Niskier: "A vitória do modernismo se fez como se houvesse necessidade de abater um grande inimigo, no caso, Coelho Neto". Fonte: wikipedia

A MULHER NA POESIA DO BRASIL. Coletânea organizada por Da Costa Santos. Belo Horizonte, MG: Edições “Mantiqueira”, 1948. 291 p. 14x18 cm. Capa de Delfino Filho. “ Da Costa Santos “ Ex. bibl. Antonio Miranda


SER MÃE Ser mãe é desdobrar fibra por fibra O coração! Ser mãe é ter no alheio Lábio, que suga, o pedestal do seio, Onde a vida, onde o amor cantando vibra. Ser mãe é ser um anjo que se libra, Sobre um berço dormido; é ser anseio, É ser temeridade, é ser receio, É ser força que os males equilibra! Todo o bem que a mãe goza é bem do filho, Espelho em que se mira afortunada, Luz que lhe põe nos olhos novo brilho! Ser mãe é andar chorando num sorriso! Ser mãe é ter um mundo e não ter nada! Ser mãe é padecer num paraíso! Extraído de

MIRAGLIA, Tolentino. Piccola Antologia poetica brasiliana. Versioni. São Paulo: Livraria Nobel, 1955. 164 p. Ex. bibl. Antonio Miranda


ESSERE MADRE Esser madre è sdoppiar, fibra per fibra, Il proprio cuore. È avere, nell’alieno Labbro che succhia, il piedestal dei seno Della vita, e l'amor, cantando, vibra. E la madre quell’angiol che si libra Sulla cuna che dorme, d'ansia pieno; È 1'esser temerário e nondimeno Aver la forza che i mali equilibra. Bene che madre gode è ben dei figlio, Specchio nel qual si mira e si trastulla, Luce che dà alia vita nuovo appiglio. Essere madre è pianger col sorriso; Avere un mondo e non avere nulla; Esser madre è patir nel paradiso.


Edmilson Sanches

UM GRANDE CAXIENSE, UM GRANDE MARANHENSE, UM GRANDE BRASILEIRO "Não houve maior brasileiro do que Coelho Netto". A frase é de João Neves da Fontoura, advogado, escritor, diplomata e ex-ministro do Exterior, nascido no Rio Grande do Sul. *** A convite da UEMA de Caxias, faço palestra sobre o escritor Coelho Netto: "COELHO NETTO - VISÕES PARTICULARES DE UMA VIDA PÚBLICA". Aspectos pessoais, familiares e intelectuais do grande caxiense serão abordados. É dia 17/11/2016, às 18h, no auditório da UEMA. Hoje, 16, a partir das 10h, tem início a exposição "COELHO NETTO: RARIDADES E CURIOSIDADES", com dezenas de obras raras e objetos/documentos de meu acervo pessoal, relacionados a Coelho Netto, inclusive, pela primeira vez, o original de uma CRÔNICA MANUSCRITA E ASSINADA pelo escritor de Caxias. No dia 18, das 8h às 12h, ministro um minicurso com o mesmo tema da palestra, onde serão aprofundados e experienciados pelos participantes diversos aspectos da realidade pessoal e literária coelho-nettiana. Ainda no dia 18/11/2016, coordeno a mesa-redonda "COELHO NETTO: O LITERÁRIO, O HUMANISTA, O AMBIENTALISTA", com participação dos professores Arthur Almada Lima Filho, Emanoel C. Pires de Assis e Eulálio Leandro de Oliveira. Estão convidados. EDMILSON SANCHES. Fotos: A casa onde nasceu Coelho Netto, na rua que leva seu nome (Antiga Rua da Palma, nº 5), no centro de Caxias. É de propriedade do famoso Centro Artístico Operário Caxiense, que rivalizava com a União Artística (na Praça do Panteon) na promoção de grandes festas. O abandono, a omissão, o desinteresse de autoridades estão levando o imóvel -- mais um... -- à lenta e agônica destruição.



18/11, NA UEMA - CAXIAS, NAS ATIVIDADES DO 16º PROLER e 8º SALÃO DO LIVRO - (Um dos oito subtemas do minicurso "COELHO NETTO: VISÕES PARTICULARES DE UMA VIDA PÚBLICA", a partir da conferência principal, com mesmo título, a ser ministrada por Edmilson Sanches dia 17/11/2016, às 18h, no auditório da Universidade Estadual do Maranhão - Caxias No auditório da UEMA - CAXIAS.




EM EXPOSIÇÃO, CRÔNICA ORIGINAL MANUSCRITA E ASSINADA PELO ESCRITOR COELHO NETTO.



"FAZER UMA VAQUINHA": UMA HISTÓRIA MUUUUUUUUUITO CURIOSA EDMILSON SANCHES Há muito, muito tempo que a ideia de dinheiro, patrimônio e riqueza é ligada aos animais que os humanos criavam (bois, carneiros, cavalos, porcos etc.). Ao conjunto de animais da mesma espécie os latinos davam o nome de “gado”, na língua deles “pecu”, palavra que aqueles antigos romanos receberam da língua ancestral indo-europeu (“peku”). Quando o rico senhor romano dava ao escravo algumas cabeças de gado (não necessariamente bois ou vacas, mas também suínos, caprinos etc.), o escravo estava formando seu “peculium” (pequena parte do rebanho). Daí veio o português “pecúlio” (economias, reserva em dinheiro). À riqueza em gado chamava-se “pecunia”, palavra que teve assento e acento em nosso Português -“pecúnia” -- e virou sinônimo de “dinheiro”. Sem querer, a expressão “fazer uma vaquinha” lembra esse rico (sem trocadilho) passado dos animais -- a vaca inclusive -- como expressão de dinheiro, patrimônio, riqueza. Embora a expressão “fazer uma vaquinha (ou vaca)” esteja presente em outros idiomas, no Brasil dá-se como origem ao costume que torcedores de um time de futebol do Rio de Janeiro tinham, em meados dos anos 1920: como diversos clubes, aquele também não remunerava seus jogadores; aí, os torcedores se cotizavam e pagavam aos atletas determinados valores, correspondentes ao resultado da partida -- se o time empatava, os jogadores recebiam 5 mil-réis (dinheiro que circulou até 1942, quando foi substituído pelo cruzeiro). Se o time ganhava, o valor dobrava: 10 mil-réis. Mas, em caso de conquista de título ou em caso de vitória sobre adversários considerados mais fortes, o prêmio quintuplicava: 25 mil-réis. E o que tem a ver a vaca com isso? Os valores eram associados a números do jogo do bicho, muito forte até hoje no Rio de Janeiro: 5 é o cachorro; 10, o coelho; e 25, tchan-tchan-tchan-tchaaaaan!, é a vaca. Assim, quase um século depois, se a coleta entre torcedores não é mais necessária para pagar jogadores, a força daquele costume permaneceu, e “fazer uma vaquinha” não é só o que touro e vaca pensam quando estão no cio: ainda hoje essa expressão designa a (boa) ação de juntar dinheiro entre várias pessoas para comprar alguma coisa ou custear alguma causa. Quanto a “mão de vaca”, tem a ver com a forma da mão quando fechada, que se pareceria com a pata bovina. Ser “mão de vaca” é, figurativamente, manter esse membro superior fechado, para não tirar dinheiro do bolso. É o típico avarento, pão-duro, sovina. Ah! Por último mas não menos importantes: a palavra “torcida” ou “torcedor”, como sinônimo de grupo de pessoas que manifestam sua predileção, carinho, amor por um time de futebol ou outro esporte é uma “invenção” do escritor caxiense e grande desportista (fanático por futebol) Henrique Maximiano Coelho Netto.


ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES!


UM DISCURSO, UMA CERTEZA... DOS 422 ANOS DA VILA (VELHA) DE VINHAIS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras O IHGM, em evento recente, (re)lançou “Dois estudos”, de José de Ribamar Caldeira21, por ocasião da doação de sua biblioteca àquela instituição de pesquisa e guardiã da memória/história do Maranhão. No primeiro, o Discurso de Japi-açu e Momboré-uaçu é o que nos interessa. Ao transcrever – e analisar – os dois discursos, dá-nos informações de que A "ilha de Maranhão" e suas cercanias haviam sido povoadas tardiamente pelos Tupinambá, em grande parte originários das zonas do litoral situadas mais a leste. É de 1612 a informação da chegada dos Tupinambá à ilha grande do Maranhão, dada pelos primeiros contatos dos capuchinhos e os índios; estes ainda se lembravam da chegada à região. Claude d'Abbeville afirma haver encontrado testemunhas oculares daquela primeira vaga migratória, ocorrida provavelmente entre 1560 e 1580: Muitos desses índios ainda vivem e se recordam de que, tempos após a sua chegada na região, fizeram uma festa, ou vinho, a que dão o nome de cauim […] (ABBEVILLE, 1614, p. 261) 22.

Os discursos dos dois índios Tupinambás aparecem nos capítulos XI e XXIV da crônica “História da missão dos padres capuchinos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas”, de Claude d’ Abbeville (1975). Em seu discurso, Japi-açu 23[...] alude ao domínio dos portugueses, que os forçou a abandonar sua terra (Pernambuco e Potiu) e a refugiar-se aqui (Upaon-açú). A aversão dos Tupinamba maranhense aos portugueses era profunda e antiga. Remontava ao começo do século XVI, quando eles se transferiram de outras partes do Nordeste para o Maranhão. Logo após terem aqueles europeus se estabelecido nelas. Conforme Caldeira (2004, p. 16), relato desses acontecimentos se encontra em Abbeville, capítulo XVIII: [...] Abbeville conta que, em visita à aldeia de Eussauap, onde fora erguida uma cruz, e não obstante o bom acolhimento por parte de seus habitantes, a certa altura, quando estavam reunidos na casa grande, tomou a palavra um velho indígena, de mais de 180 anos, e disse de sua desconfiança para com a manifestada boa intenção dos pai (mair), os franceses, pois que assim também se haviam os perós em Caeté e Potiú (Rio Grande do Norte), como ele próprio, Momboré-uaçu, testemunhara. (CALDEIRA, 2004, p. 28)

Alfred Métraux (1927, p. 6-7) 24 cita outras narrativas concordantes com a de Claude d'Abbeville, a fim de assegurar-se do período provável dessa primeira migração (entre 1560 e 1580), especialmente a do português Soares de Souza (Tratado Descriptivo do Brasil) 25 que afirma, em 1587, que a costa atlântica, do 21

CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. DOIS ESTUDOS: os discursos de Japi-açu e Momboré-uaçu e Vdiagem no Maranhão, 1800-1850. São Luis: EDUFMA, 2004 22 ABBEVILLE, Claude d’. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia, 1975. DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22. Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 23 Japi-açú era ‘o primeiro e o maior morubixaba não somente da aldeia, mas ainda de toda a Ilha Grande’, conforme Abbeville, 1975, p. 141. 24 MÉTRAUX, Alfred. Migrations historiques des tupi-guaranis. Paris: Maisonneuve Frères, 1927 citado por DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004 NOBERTO DA SILVA, Antonio. SÃO LUÍS ANTES DA FUNDAÇÃO. IN ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 3, julho a setembro de 2016, p. 237-240, pré-print. Palestra apresenta por ocasião das comemorações dos 404 anos de fundação de são Luis, promovida pela Academia Ludovicense de Letras, em 8 de setembro, na casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche. NOBERTO DA SILVA, Antonio. SÃO LUÍS ANTES DA FUNDAÇÃO. IN JORNAL PEQUENO, SÃO LUIS, 8 DE SETEMBRO DE 2016 NOBERTO DA SILVA, Antonio. SÃO LUÍS ANTES DA FUNDAÇÃO. IN O IMPARCIAL, SÃO LUIS, 8 DE SETEMBRO DE 2016 25 http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me003015.pdf


Amazonas à Paraíba, era povoada pelos Tapuia. Essa primeira migração é a única que teve como resultado, segundo Métraux, uma nova extensão dos Tupi (DAHER, 2004) 26: [...] (para escaparem do convívio com esses colonizadores (portugueses) (...) optaram por migrar para Oeste – em busca da Terra sem males – fixando-se no Maranhão após terem combatido e expulsado para distante de si outros grupos indigenas por eles aí encontrados [...] (CALDEIRA, 2004, p. 16).

Caldeira (2004, p. 18) afirma que os franceses incluíram visitas constantes de alguns de seus líderes às aldeias, nas quais pronunciavam discursos louvando as virtudes dos franceses e estimulando o ódio dos índios pelos portugueses, além de promessas de proteção aos indígenas contra estes, e orientação e assistência religiosa. Eram encarregados de tais pronunciamentos, sobretudo Françoise de Rasilly [...] e Charles dês Vaux aventureiro huguenote que estivera no Maranhão por longo período de tempo no final do século XVI e que fora um dos principais incentivadores, junto à corte francesa, para a organização de expedição destinada à instalação da França Equinocial [...]27

Jacques Riffault, Charles des Vaux, David Migan - natural de Vienne, no Delfinado, e Adolphe de Montville, na companhia de centenas de outros navegadores e selvagens de diferentes tribos, se faziam presentes nos mais diversos recantos do Norte e Nordeste brasileiro, entre o Potengi e o Amazonas. Em 1583, dois capitães franceses disseram a sir Walter Ralegh conhecer o Maranhão, mas nunca se saberá se se tratava do Maranhão ilha ou do Maranhão rio. Era tão forte a presença francesa que muitos recantos de nossa costa foram batizados com nomes como porto Velho dos Franceses e porto Novo dos Franceses (ambos no Rio Grande do Norte), rio dos Franceses (na Paraíba), baía dos Franceses (em Pernambuco), boqueirão dos Franceses (em Porto Seguro), ou praia do Francês (próximo à atual Maceió, em Alagoas). Outro ponto no qual os navios normandos ancoravam com muita freqüência era a praia de Búzios, no Rio Grande do Norte, a cerca de 25 km ao sul de Natal. Ao porto localizado na praia de Búzios podiam “surgir navios de 200 toneladas”. Os franceses usavam o porto da desembocadura do rio Pirangi (aproximadamente 25 km de Natal) para o “resgate do pau” como os portugueses se referiam aos locais de corte e estocagem de pau- brasil. Já em 1594, Jacques Riffault, depois de Natal, veio para São Luis, no Maranhão. Junto com Charles des Vaux aporta na Ilha Grande, atual Ilha de São Luis, no Maranhão28. O navio de Jacques Riffault naufraga nos baixios da ilha, mais tarde denominada Sant´Ana. Riffault e Des Vaux aqui desembarcados fundam um estabelecimento que se tornou o "refúgio dos piratas". Mas para os seus planos, um simples estabelecimento não significava grande obra; pensaram em aí fundar uma colônia: a França Equinocial. Data de 1596 a visita de um Capitão Guérard, que armou dois navios, sendo um deles para o Maranhão – Poste (atual Camocim) 29 -, – estabelecendo com regularidade as visitas à terra de corsários de Dieppe30, de La Rochelle31 e de Saint Malo32. É nesse ano que o Ministro Signeley toma como ponto de partida dos direitos da França nesta região, funcionando como uma linha regular de navegação entre Dieppe e a costa leste do Amazonas.

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DAHER, Andrea. A conversão dos Tupinambá entre oralidade e escrita nos relatos franceses dos séculos XVI e XVII, HORIZ. ANTROPOL. vol. 10 no. 22 Porto Alegre. July/Dec. 2004 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-71832004000200004

VER Abbeville, 1975, p. 23 e 27 http://pinheiroempauta.blogspot.com.br/2012/09/distribuicao-das-sesmarias-em-cuma.html Não seria POTE 30 Dieppe ou, na sua forma portuguesa, Diepa[2] é uma comuna francesa na região administrativa da Alta Normandia, no departamento do Sena Marítimo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Dieppe 31 La Rochelle[2] [3] [4] [5] (raramente aportuguesada como Rochela ou Arrochela[6] ) é uma comuna francesa, situada no departamento de Charente-Maritime, na região de Poitou-Charentes.[7] Foi um importante porto no período colonial, junto com Havre, Honfleur e Bordéus. https://pt.wikipedia.org/wiki/La_Rochelle 32 Saint-Malo (Bretão: Sant-Maloù) é uma comuna francesa situada no departamento de Ille-et-Vilaine, na região Bretanha. https://pt.wikipedia.org/wiki/SaintMalo 28 29


Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira33, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba34, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba 35, reduto de Migan. Datado de 26 de julho de 1603 há um arresto do tenente do Almirantado em Dieppe relativo a mercadorias trazidas do Maranhão, ilha do Brasil, pelo Capitão Gérard. Meireles (1982, p. 34) 36 traz também Du Manoir em Jeviré; Millard e Moisset, também encontrados na Ilha Grande. Os comandados de Du Manoir e Gérard chegam a quatrocentos; há esse tempo já dois religiosos da Companhia de Jesus haviam estado no Norte do Brasil. Entre 1603-1604 Jacques Riffault percorre o litoral do Ceará, quando o Capitão-mor Pero Coelho de Souza37 recebeu Regimento, passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: "[...] descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem". Riffault fora buscar recursos e permissão na Europa, partindo para a França, divulgando as grandes riquezas da terra e facilidades de conquista. Charles Des Vaux ficara em terra conquistando a confiança dos tupinambás, para aprender a sua língua. O interior do Maranhão era bem conhecido por eles. O Mearim, Itapecuru, Munim, Grajaú, Tocantins e tantos outros eram vias utilizadas que ligavam o interior maranhense com o litoral e a Europa. Nos outros recantos, a história faz menção a eles no constante comércio com os potiguaras, no porto do Rifoles – na margem direita do Rio Potengi; nos dois ataques à Fortaleza do Cabedelo, na Paraíba, realizadas em 1591 e 1597. Nesta última, Migan foi gravemente ferido, mas sobreviveu. Foram eles que fundaram o núcleo urbano de Viçosa do Ceará38, sendo que a cidade ainda hoje conserva os topônimos do legado francês. O Pará e o Rio Amazonas eram lugares bem conhecidos destes navegadores. Quando Francisco Caldeira Castelo Branco partiu do Maranhão para fundar Belém (1615) levou consigo Des Vaux e Rabeau para auxiliarem na navegação e nos primeiros contatos com os índios de lá. 33

Luís Figueira (1574 ou 1576, Almodôvar, Portugal - outubro de 1643, Ilha de Joanes, Brasil colônia), foi um padre jesuíta de destacada atuação no Brasil colonial. Foi autor de uma das primeiras gramáticas da língua tupi, denominada Arte da Lingua Brasilica. Entre 1607 e 1608, acompanhou Francisco Pinto e 60 índios numa trágica expedição ao Maranhão. Inicialmente chegaram a uma aldeia na Chapada de Ibiapaba (atual Ceará), e dali seguiram à aldeia de Jurupariaçu, onde receberam notícias sobre a presença de franceses e índios hostis.[2] Dali partiram para o Maranhão, mas foram atacados por índios, instigados pelos franceses. O padre Francisco Pinto foi morto pelos indígenas em 10 de janeiro de 1608; Luís Figueira conseguiu escapar e foi depois resgatado por outro jesuíta, Gaspar de Samperes, regressando a Pernambuco. Estes fatos são bem conhecidos pela Relação do Maranhão, escrita por Luís de Figueira em 1609, na qual são descritos em detalhe as peripécias da viagem. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_Figueira 34 O topônimo "Ibiapaba" é oriundo do termo tupi yby'ababa, que significa "terra fendida" (yby, terra + 'ab, cortar + aba . A Serra da Ibiapaba, também conhecida como Serra Grande, Chapada da Ibiabapa e Cuesta da Ibiapaba, é uma região montanhosa que localiza-se nas divisas dos estados do Ceará e Piauí. Uma região atraente em riquezas naturais que já era habitadas por diversas etnias indígenas. Os povos que viviam já negociavam diversos produtos naturais com povos europeus, tais como os franceses, antes mesmos da chegadas dos portugueses. Habitada inicialmente por índios tabajaras e tapuias, como a índia Iracema que se banhava na bica do ipu foi bastante retratada no livro Iracema de José de Alencar. A cidade mais antiga da serra é Viçosa do Ceará, que foi colonizada pelos jesuítas da Companhia de Jesus a partir do século XVI. Também encontram-se as cidades do Tianguá, Ubajara - onde existe a Gruta de Ubajara. https://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_de_Ibiapaba 35 Segundo Capistrano de ABREU , “EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes”. - Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na edição francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSS-OUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uçá, nome genérico do caranguejo, e guaba, particípio de u comer: o que, ou “onde se come caranguejos”. ABBEVILLE, Claude d´. HISTÓRIA DA MISSÃO DOS PADRES CAPUCHINHOS NA ILHA DO MARANHÃO E TERRAS CIRCUNVIZINHAS. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1975 36 MEIRELES, Mário Martins. FRANÇA EQUINOCIAL. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; São Luis: Secretaria de Cultura do Maranhão, 1982 37 Pero Coelho de Sousa foi um explorador português, oriundo dos Açores, primeiro representante da Coroa a desbravar os territórios da capitania do Ceará no início do século XVII. Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de Capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que a anos atuavam na capitania do "Siará Grande". Após uma série de lutas, conquistou a região da Ibiapaba vencendo os franceses e indígenas. Depois dessa vitória ele tentou entrar mais na região na direção do Maranhão, mas devido à rebelião de seus homens, retornou à barra do rio Ceará onde ergueu o Fortim de São Tiago da Nova Lisboa. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_Coelho_de_Souza 38 Viçosa do Ceará é o primeiro município criado na Serra da Ibiapaba, inicialmente habitada por índios Tabajaras pertencentes ao ramo Tupi, anacé, arariú ecroatá do ramo Tapuia. Viçosa foi antiga aldeia de índios dirigida por padres da Companhia de Jesus(Veja Missão da Ibiapaba). Foi desbravada ao findar o século XVI, quando do contato dos índios com os franceses, vindos do Maranhão entre 1590 e 1604, data em que foram expulsos por Pero Coelho de Sousa, quando este fazia tentativas de colonização portuguesa no Ceará.. https://pt.wikipedia.org/wiki/Vi%C3%A7osa_do_Cear%C3%A1


Quando a esquadra de Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy a 6 de agosto de 1612 vêem fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), ali encontraram as feitorias de Du Manoir e do Capitão Guérard. Du Manoir, Riffault, Des-Vaux e os piratas de Dieppe, encontravam-se fundeados no porto, confirmam a presença continuada dos exploradores de todas as procedências nas costas do Maranhão, e do Norte em geral: uma companhia holandesa presidida pelo burgomestre de Flessingue 39, ingleses, holandeses e espanhóis negociando com os índios o pau-brasil; armadores de Honfleur40 e Dieppe; o Duque de Buckigham41 e o conde de Pembroke42 e mais 52 associados fundaram uma empresa para explorar o Brasil; espanhóis de Palos43.

FORTE DO SARDINHA

Para Noberto (2016): [...] O Forte Sardinha, edificado em local estratégico, elevado e fronteiro ao porto de Jeviré, dava proteção a este ancoradouro (onde atualmente acontece desembarque de quem chega de Alcântara), à feitoria implantada pelo capitão Jacques Riffault e pelo imediato Charles d’Esternou des Vaux, e à povoação onde residia o tradutor e parente do governador de Dieppe, David Migan, no atual Vinhais Velho. E vigiava também a entrada do rio Anil, principal via aquática para o interior

[...] O nome Ilhinha, aliás, sugere o óbvio, que toda aquela região formava uma pequena ilha, pois margeada por um lado pelo Igarapé da Jansen, que no início dos mil e seiscentos ficou conhecido como rio da Olaria, que se juntava a Lagoa, ao Renascença e ao Jaracati, até se encontrar com o rio Maioba ou Cutim, que mais tarde receberia o nome de rio Anil, ao pé da ponte Bandeira Tribuzzi. A pequena ilha era o abrigo ideal contra invasões, pois enquanto dificultava qualquer ataque inimigo, permitia escape para o interior da Ilha Grande em direção à aldeia de Uçaguaba, que se tornou a Miganville do tradutor francês David Migan, primeira povoação europeia do Maranhão e de toda a região.

Tanto comércio fez com bretões e normandos se estabelecessem com feitorias na Ilha Grande, e um desses lugares era a aldeia de Uçaguaba/Miganville (atual Vinhais Velho), misto de aldeia e povoação européia. O porto usado nessas atividades era o de Jeviré (Ponta d'Areia). É quase inimaginável que todo esse aparato comercial existisse sem uma forte proteção das armas. Some-se que o chefe maior de tudo isso era David Mingan, o Minguão, o "chefe dos negros" (daí o nome de 39

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Jan de Moor, burgomestre de Flessingue, dirigia uma companhia de conquista na Amazônia. Jayme I, da Inglaterra, concedia cartas-patentes a John Rovenso, Thomas Challomer e Roberto Marcourt, para o senhoreamento da região entre o Essequibo e o Amazonas. http://www.brasiliana.com.br/obras/pontos-de-partida-para-a-historia-economica-do-brasil/pagina/73

Honfleur é uma comuna francesa na região administrativa da Baixa-Normandia, no departamento Calvados. https://pt.wikipedia.org/wiki/Honfleur Os títulos de Marquês e Duque de Buckingham, referindo-se à Buckingham, foram criados várias vezes nos pariatos Inglaterra, Grã-Bretanha, e no Reino Unido. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ducado_de_Buckingham 42 El Condado de Pembroke, asociado con el Castillo de Pembroke, en Gales, fue creado por el rey Esteban de Blois. En varias ocasiones la línea se extinguió y el Condado hubo de ser recreado, empezando la cuenta de nuevo con el primer nuevo conde. El 1 de septiembre de 1533, Enrique VIII, ascendió a su esposa Ana Bolena creando para ella el rango de marqués de Pembroke,1 en señal de honor, ya que su tío abuelo Jasper Tudor había sido Conde de Pembroke y el padre de Enrique VIII, Enrique VII, había nacido allí. Ana Bolena, reina consorte de Inglaterra por su matrimonio con Enrique VIII y primera marqués de Pembroke. El actual conde también ostenta el título de Conde de Montgomery, creado en 1605, para el hijo más joven del Henry Herbert, II conde de la octava creación antes de que él ascendiera como IV conde en 1630. Los actuales condes ostentan también los títulos subsidiarios de Barón Herbert de Cardiff, de Cardiff, en el Condado de Glamorgan (1551), Barón Herbert de Shurland, de Shurland, en la Isla de Sheppey, en el Condado de Kent (1605), y Barón Herbert de Lea, de Lea, en el Condado de Wilts (1861). Todos están en el rango de nobleza de Inglaterra excepto la Baronía de Herbert de Lea, que está en el rango de nobleza del Reino Unido. La sede familiar está en la Casa Wilton, en Wiltshire. https://es.wikipedia.org/wiki/Condado_de_Pembroke 43 Palos de la Frontera é um município da Espanha na província de Huelva, comunidade autónoma da Andaluzia. https://www.google.com.br/?gws_rd=cr&ei=NLTMVuXUKMTFwASa5I2ICQ#q=Palos 41


Miganville), que tinha a seu dispor cerca de 20 mil índios e era "parente do governador de Dieppe". Por fim, a localização da fortaleza está exatamente no lugar certo de proteção do Porto de Jeviré e da entrada do rio Maiove (Anil), que protegeria Miganville.

DETALHE DO MAPA HOLANDÊS ATRIBUIDO A FRANZ POST. A SETA AZUL APONTA PARA A LOCALIZAÇÃO DO FORTE DE SÃO FRANCISCO, ANTIGO FORTE SARDINHA DOS FRANCESES – NOBERTO, 2016

Noberto (2016)44 lembra que àquela época o Brasil setentrional era completamente abandonado pelos portugueses, no território que se estendia da povoação de Natal, no Rio Grande do Norte, até a região amazônica, que no dizer do ilustre historiador maranhense João Lisboa, no Jornal do Tímon: “era um completo abandono (...) e os donatários régios de Portugal e Espanha estavam incorrendo nas penas de comisso”: Abandonada a região pelos lusos, desde a primeira metade dos anos mil e quinhentos os gauleses da Bretanha e da Normandia se apresentavam como os maiores frequentadores da Ilha do Maranhão, sendo ilustrativa a carona que os sobreviventes da grande expedição de Aires da Cunha, naufragada em 1536 no litoral maranhense, pegaram com os franceses para retornar à Portugal, pois estes é que faziam do Maranhão o principal locus de apoio à intensa movimentação existente entre o Amazonas e os portos franceses de Rouen, Dieppe, La Rochele, Saint Malo, Cancale e Havre de Grace. No final daquele século eles começaram a se fixar na Ilha Grande. O naufrágio da esquadra do capitão Jacques Riffault por volta de 1594 no Golfão Maranhense foi determinante para a ocupação, que ali edificou uma feitoria (le comptoir) nas imediações da Ponta da Areia. Muitos náufragos e novos moradores da Ilha se amasiavam com as índias e iam residir nas aldeias, que totalizavam vinte e sete, conforme a descrição do escritor capuchinho Claude Abbeville.

Pianzola, em sua obra “OS PAPAGAIOS AMERELOS – os franceses na conquista do Brasil (1992) apresenta decalque de mapa datado de 1627, cujo original desapareceu, feito em torno de 1615 pelo português João Teixeira Albernaz46, cosmógrafo de sua Majestade, certamente feito a partir daquele que LaRavardiére deu ao Sargento- Mor Diogo de Campos Moreno47 durante a trégua de 1614. O autor chama 45

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NOBERTO DA SILVA, Antonio. SÃO LUÍS ANTES DA FUNDAÇÃO. IN ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 3, julho a setembro de 2016, p. 237-240, pré-print. Palestra apresenta por ocasião das comemorações dos 404 anos de fundação de são Luis, promovida pela Academia Ludovicense de Letras, em 8 de stembro, na casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche. 45 PIANZOLA, Maurice. OS PAPAGAIOS AMARELOS - os franceses na conquista do Brasil. São Luis: SIOGE, 1992. 46 João Teixeira Albernaz, também referido como João Teixeira Albernaz I ou João Teixeira Albernaz, o Velho (Lisboa, último quartel do século XVI — c. 1662), para distingui-lo do seu neto homónimo, foi o mais prolífico cartógrafo português do século XVII. A sua produção inclui dezanove atlas, num total de duzentas e quinze cartas. Destaca-se pela variedade de temas, que registam o progresso das explorações marítimas e terrestres, em particular no que respeita ao Brasil. João Teixeira Albernaz I pertenceu a uma destacada família de cartógrafos cuja actividade se estende desde meados do século XVI até ao fim do século XVIII, incluindo o seu pai Luís Teixeira, o tio Domingos Teixeira, o irmão Pedro Teixeira Albernaz e o neto João Teixeira Albernaz, o Moço além de Estevão Teixeira. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Teixeira_Albernaz,_o_Velho 47 Diogo de Campos Moreno (Tânger, 1566 – 1617) foi um militar português. Após ter combatido na Flandres, seguiu para o Brasil em 1602, com o posto de sargento-mor, junto com Diogo Botelho. No Maranhão juntou-se a Jerônimo de Albuquerque Maranhão e a Alexandre de Moura na luta contra os franceses e seus aliados indígenas, estabelecidos na chamada França Equinocial, conseguindo a vitória em 1615. Com base nas suas experiências no Brasil


atenção para os nomes constantes dos mapas, entre os quais muitos de origem francesa, ‘traduzidos’ para o português. Vê-se, na Grande Ilha dentre outros, Migao-Ville, propriedade do intérprete de Dieppe, David Migan, seguramente um psudônimo, no entender de Pianzola: “[...] No último quartel daquele século, o que era apenas um posto de comércio, sem maior raiz, tornouse morada definitiva dos corsários gauleses, vindos de Dieppe, Saint-Malo, Havre de Grace e Rouen, que aqui deixavam seus trouchements (tradutores) que viviam simbioticamente com os tupinambá (escreve-se sem “s” mesmo). Entre estes estava David Migan, o principal líder francês desta época. Ele era o “chefe dos negros” (índios) e “parente do governador de Dieppe”. Tinha a seu dispor cerca de vinte mil guerreiros silvícolas e residia na poderosa aldeia de Uçaguaba (atual Vinhais Velho), apelidada de Miganville[...].(NOBERTO SILVA, 2011).

Continuemos com Noberto Silva (2011) 48: [...] Na virada do século, segundo o padre e cronista Luis Figueira, que escreveu sua penosa saga na Serra de Ibiapaba, os franceses no Maranhão contavam, inclusive, com “duas fortalezas na boca de duas grandes ilhas”. Uma destas fortificações, por certo, era o Forte do Sardinha, localizado no atual bairro Ilhinha, nos fundos do bairro Basa em São Luís. Esta, em mãos portuguesas, foi nomeada de Quartel de São Francisco, que deu nome ao bairro. Servia de proteção ao lugar, em especial, a Uçaguaba, reduto de Migan.

Fonte: PIANZOLA, 1992

redigiu o "Livro que Dá Razão ao Estado do Brasil" (1612) e a "Jornada do Maranhão" (1614), obras que não assinou. Nesta última, Moreno relata a conquista do território, embora tenha enaltecido os seus próprios feitos. Foi tio de Martim Soares Moreno. https://pt.wikipedia.org/wiki/Diogo_de_Campos_Moreno 48 SILVA, Antônio Noberto. O Maranhão francês sempre foi forte e líder. In http://www.netoferreira.com.br/poder/2011/11/o-maranhao-frances-sempre-foi-forte-e-lider/, 05/11/2011 14h25 05/11/2011 14h25. Ver também: EVANDRO JUNIOR. : Saint Louis Capitale de La France Equinoxiale Riqueza histórica esquecida. IN Jornal O Estado do Maranhão em 18.12.11, disponível emhttp://maranhaomaravilha.blogspot.com/2011/12/saint-louis-capitale-de-la-france.html .


NOBERTO, 2016 Quando da implantação da França Equinocial esse complexo passou para mãos oficiais. Uçaguaba/Miganville passou a ser chamada pelos cronistas Claude Abbeville e Yves d'Evreux de "o sítio Pineau" em razão de Louis de Pèzieux, primo do Rei, ter adotado o local como moradia. Era desse lugar que partia o protagonismo francês para outras regiões como a Amazônia e a serra da Ibiapaba. Foi deste pequeno núcleo maranhense que uma equipe liderada por Charles des Vaux e Adholphe de Montville partiu para criar um povoamento na Serra Grande, onde hoje está a cidade de Viçosa do Ceará, pois os mesmos tinham laços de amizades com os indígenas daquela região. Sobre esse momento o escritor cearense Gilton Barreto na sua obra História, fatos e fotos de Viçosa do Ceará (Fortaleza, 2006) escreveu que “Por volta do ano de 1590, estabeleceram-se na Serra Grande franceses provenientes do Maranhão (...). Deu-se ao lugar um certo perfil urbano com alinhamento de casebres e ruas, dentre estas a Rua de Paris (...) e a Rua Pedra Lipse...”. Deste longínquo período restaram naquele lugar as duas ruas mencionadas. A última delas dá acesso à Igreja do Céu, no topo da montanha e um dos lugares mais visitados de Viçosa e da serra da Ibiapaba.(NOBERTO, 2016)

Segundo Noberto (2016), a França Equinocial compreendia metade do Brasil atual, estendendo-se do Ceará ao Amazonas, esse evento de passagem das chaves da fortaleza de São Luís, de mãos francesas para mãos portuguesas, representa um dos acontecimentos mais importantes da América de todos os tempos, pois ali estava sendo decidida a sorte de metade do território brasileiro: Em 1607 o jesuíta Luiz Figueira recebeu informações dos selvagens que retornaram do Maranhão para a Ibiapaba. Ele as anotou assim na sua conhecida Relação do Maranhão: [...] acerca dos franceses que tínhamos por novas que estavam assentados com duas fortalezas feitas em duas ilhas na boca do rio Maranhão. Uma destas era o Forte Sardinha (le fort Sardine) [...]. O quartel francês era comandado por um português, que emprestou seu nome ao forte, e trabalhava para bretões e normandos. Foi ali defronte, no porto de Jeviré, que a esquadra fundadora aportou em 1612. (NOBERTO, 2016).

Japi-açu, através de Migan, convida Françoise de Rasily para ter com ele em sua aldeia para tratar de assuntos importantes; lá Japi-açu diz que já estavam começando, os indígenas, a se aborrecer por não chegarem os guerreiros franceses sob o comando de um grande morubixaba; que já tinham resolvido abandonar a região com receio dos perós. Afinal, já estavam cansados de negociar com os naturais de Dieppe, “pobres marinheiros e negociantes” 49, que lhes prometiam a vinda de um grande chefe para os proteger dos portugueses: [...] o orador (Japi-açu) percebe que os integrantes da frota destinada a instalar a França Equinocial não eram ‘pobres marinheiros e negociantes’ – como os que viviam no Maranhão entre os indígenas 49

CALDEIRA, 2004, p. 34


desde o final do século XVI -, ‘nossos bons amigos’, referindo-se àqueles que viviam desde certo tempo entre os Tupinambá [...] mas um exercito de ‘bravos soldados’ para a defesa contra os inimigos [...]

Do discurso de Momboré-uaçu – capitulo XXIV, intitulado Do que ocorreu em Eussauap durante a nossa visita, acontecida num domingo (20 de outubro de 1612...), após a realização de missa à qual compareceram os “habitantes de Eussauap juntamente com os franceses– este afirma que vira a chegada dos perós em Pernambuco e Potiú; e da mesma forma que com os portugueses, aconteceu com os franceses: [...] Da primeira vez que vieste aqui, vós o fizeste somente para traficar [...] nessa época, não faláveis em aqui vos fixar; apenas vos contentáveis em visitar-nos uma vez por ano, permanecendo entre nós somente durante quatro ou cinco luas. Regressáveis então a vosso país, levando os nossos gêneros para trocá-los com aquilo de que carecíamos. [...] Agora já nos falais de vos estabelecerdes aqui, de construirdes fortalezas para defender-nos contra os nossos inimigos [...] trouxeste um morubixaba e vários Paí [...] depois da chegada dos Paí, plantastes cruzes [...](CALDEIRA, 2004, p. 38, in ABBEVILLE, 1975, p. 115-115).

Poucos meses depois – prossegue Noberto (2016) -, o então ativo complexo bélico-portuáriocomercial sob a proteção do Forte Sardinha foi esvaziado e substituído pelo momento oficial estabelecido no Maranhão da França Equinocial pelos generais La Ravardière e Razilly: O primeiro conjunto de leis das Américas, promulgado na Praça do Forte no dia primeiro de novembro de 1612, que previa pena de morte, dentre outras coisas, não permitia desobediências dos antigos ocupantes franceses do pequeno reduto, pois tudo e todos estavam sob as ordens do reino da França. Alguns permaneceram na Ilha a serviço do Rei, sob as ordens do governador Daniel de la Touche. As ações, a partir de então, migraram para o novo locus no promontório mais alto onde a cidade de São Luís foi implantada, na atual Praça Pedro II, local escolhido pelos novos senhores da terra para levantar a cidadela de São Luís.

Tem-se, pois, que a ocupação do Maranhão com o estabelecimento de uma povoação ininterruptamente ocupada por europeus, em especial, franceses, se deu em 1594, com o estabelecimento de Miganville, mais junto á aldeia de Uassap - Eussauap – hoje, Viva Velha de Vinhais; e a missa, celebrada aquela primeira, se deu na capelinha ali construída, e rezada missa no dia 20 de outubro de 1612... Na falta de uma data fixada naquele ano de 1594 – seria março? – comemora-se os 422 anos da ‘fundação’ de Miganville/Onçaguaba - Uassap - Eussauap/Aldeia da Doutrina (1617 ou 1622, dos Jesuítas)/Vila (Nova) de Vinhais (1755-1835)... Temos o dia 20 de outubro como data de comemoração, quando dos 404 anos da primeira missa rezada e chantada a cruz...


TONICO SANTOS – O “BOM QUE DÓI” JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS

O mundo, todos sabem, dá muitas voltas em pouco tempo, e não percebemos. Coisas e situações mudam constante e imperceptivelmente de um segundo para outro. Algumas coisas você sente, outras não. Vejam o movimento das águas do mar. Aparentemente, são as mesmas águas. Sempre. Os surfistas que se aperfeiçoam, sabem que não são. Ainda no mar, quando a onda vem e você está com os pés no chão, sentindo o contato firme, observa que a situação muda, quando a onda volta. Para onde vai aquela areia que estava debaixo dos seus pés? Assim, é o dia contínuo e ao mesmo tempo mutante de todos nós. Pessoas chegam de algum lugar para a execução das determinações de uma entidade chamada Deus – a quem cabem todas as honras e glórias – pelo corpo da mãe e, de acordo com a ciência, pela cópula reprodutiva de dois seres (mãe e pai), através do sêmen. Alia se forma o DNA. Provavelmente por isso, não dá (ainda) para explicar o caráter das pessoas da procedência da sua formação. A vivência na Terra com as facilidades e/ou dificuldades, servem para amoldar a qualidade boa ou má de alguém. E, pensando e olhando todas as coisas por esses ângulos, fomos buscar o vigésimo-terceiro personagem da nossa série “Nossa gente – todos no mesmo pódio”. Trata-se de ANTÔNIO DE JESUS SANTOS, mais conhecido entre nós por TONICO SANTOS, ou TONICO DE LIÃO lá pelas bandas do Arari, onde nasceu. Tonico Santos nasceu em Arari/MA, no dia 22 de janeiro de 1923. Filho de Leão Santos e Maria Aboud Santos, que chegaram ao Maranhão procedentes da Síria, mas propriamente da cidade de Homs. Tonico Santos iniciou os estudos no extinto Colégio Cisne, passando depois para o Colégio São Luís, onde conheceu o Professor Luís Rêgo. Ingressou no curso superior de Farmácia, mas a perda de um irmão o obrigou a retornar para Arari, onde cuidaria dos irmãos mais jovens e auxiliaria uma cunhada no comando de outra família. Fixou residência, casou com a Professora Maria do Socorro Coelho (Socorro Santos) em 1950, com quem teve os filhos Virgínia, Antônio – este já falecido -, Abdomacir Santos, funcionário do Banco do Brasil que exerceu a presidência da AABB; Zé Reinaldo, Hilda, Lúcia Maria e o desconhecido José de Ribamar – pois só é conhecido no Brasil inteiro pelo apelido de “Zeca Baleiro”. Por insistência dos muitos amigos, Tonico Santos candidatou-se e foi eleito Prefeito de Arari no período iniciado em 1955 até 1960. Antes, fora Vereador e Vice-Prefeito, também em Arari. No ano de 1974, o alagamento sofrido por Arari acabou por forçar a mudança para São Luís, onde instalou a família no Monte Castelo. No ano seguinte mudou para Miranda do Norte, onde voltou a trabalhar como Enfermeiro, enfrentando e dissimulando dificuldades para atender os necessitados, independentemente da distância em que se encontrassem. Eis que chega o ano de 1979 e Tonico Santos volta para São Luís, onde se estabelece em definitivo. No Centro Histórico, mais precisamente na Rua Humberto de Campos, instalou o seu “Ambulatório Santos”, onde continua atendendo diuturnamente quem o procura. O crescimento da capital maranhense e a chegada da modernização no sistema de saúde forçaram Tonico Santos a procurar diversificar suas atividades, fórmula encontrada para continuar vivendo com


dignidade e continuar ativo na responsabilidade de terminar de criar os filhos. Ao lado de pessoas amigas e familiares, iniciou a preparação de licores e afins. Foi quando investiu forte na produção do licor “Bom-qDói”, hoje conhecido no Brasil inteiro. São pessoas como Tonico Santos que fazem São Luís, trabalhando até de forma anônima para a melhoria da qualidade de vida de muitos. Pessoas assim, merecerão sempre a nossa atenção e deveriam merecer reconhecimento dos gestores municipal e estadual. Tonico, é “bom-q-dói”!


CONEXÃO CUBA – MARANHÃO50 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Recente divulgação de uma descoberta do ano de 2000 ocorrida na costa cubana leva-nos à certeza de uma antiga conexão entre Cuba/Caribe e o Maranhão/Nordeste do Brasil: No fundo do oceano, na área do Triângulo das Bermudas, um grupo de cientistas canadenses descobriu uma cidade perdida. A noroeste da costa de Cuba, a 700 metros de profundidade, um robô submarino tirou as fotografias das ruínas de edifícios, quatro pirâmides gigantes e um objeto parecido com uma esfinge. Especialistas sugerem que os edifícios pertencem ao período pré-clássico do Caribe e da história da América Central. A antiga cidade podia ser habitada por uma civilização semelhante aos habitantes de Teotihuacán (cidade fantasma de cerca de 2000 anos, localizada a 50 km da cidade do México) [...] Apesar de ainda ser cedo, os cientistas afirmam que as ruínas pertencem a uma antiga civilização da América Central do período pré-clássico; já os pesquisadores independentes afirmam que as ruínas provavelmente são de Atlântida, o lendário continente desaparecido mencionado pela primeira vez pelo filósofo Platão.51

http://thoth3126.com.br/atlantida-restos-de-uma-imensa-cidade-encontrada-na-costa-de-cuba/

https://www.youtube.com/watch?v=-gKEU3kkeMQ

O padre António Vieira afirmou que os Tupinambá e Tabajara contaram-lhe que os povos Tupi migraram para o Norte do Brasil:

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Publicado no BLOG DO LEOPOLDO VAZ, quarta-feira, 21 de setembro de 2016 às 13:00 , disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/09/21/conexao-cuba-jamaica-caribe-maranhao-nordeste-do-brasil/ Publicado por Leopoldo Gil Dulcio Vaz em 21-09-2016, às 15h41 na COMUNIDADE EDUCAÇÃO FÍSICA NO MARANHÃO, DO CEV, disponível em http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/conexao-cuba-jamaica-caribe-maranhao-nordeste-do-brasil/ 51

https://piramidal.net/2013/03/13/antiga-cidade-submersa-e-encontrada-no-triangulo-das-bermudas-seria-atlantida/ http://thoth3126.com.br/atlantida-restos-de-uma-imensa-cidade-encontrada-na-costa-de-cuba/ http://descobertasarqueologicas.blogspot.com.br/2016/03/antiga-cidade-submersa-encontrada-no.html https://www.youtube.com/watch?v=-gKEU3kkeMQ http://paralelosexperimentais-rubensurue.blogspot.com.br/2013/05/gigantesca-cidade-submersa-descoberta.html


[...] pelo mar, vindos de um país que não mais existia, e que o país Caraíba, teria desaparecido progressivamente, afundando no mar, e os tupis salvaram-se, rumando para o continente. Os tabajaras diziam-se o povo mais antigo do Brasil, e se chamavam de "tupinambás", (homens da legítima raça tupi), desprezando parte dos outros tupis, com o insulto "tupiniquim" e "tupinambarana", (tupis de segunda classe), e sempre conservaram a tradição de que os tupis eram originados de sete tribos; e que o povo tapuia, do povo tupi, eram os verdadeiros indígenas brasileiros (RAHME, 2013) 52.

Ao estudarmos a ocupação – ou ‘descoberta’ do Maranhão53 -, utilizamo-nos de Bandeira (2013) 54, que traz a ocupação do Vinhais Velho – na Ilha de Upaon-Açú, ou de São Luis, datada de, pelo menos, 3.000 anos: As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75). [...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76). [...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76). [...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76). A ultima ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII. Trata-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...] [...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).

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RAHME, Claudinha. FENÍCIOS DESCOBRIRAM O BRASIL ANTES DE CABRAL? IN Gazeta de Beirute, Edição 57, disponível em http://www.gazetadebeirute.com/2013/05/fenicios-descobriram-o-brasil-antes-de.html 53 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ‘ B Ã ’. Publicado no BLOG DO LEOPOLDO VAZ, domingo, 28 de fevereiro de 2016, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/02/28/12649/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ‘ B Ã ’. ALL EM REVISTA, vol. 3, n. 2, abril a junho de 2016, p. disponível em VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. SOBRE TUPIS E TAPUIAS, publicado no BLOG DO LEOPOLDO VAZ, 12 de setembro de 2015, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/12/sobre-tupis-e-tapuias/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. FRANCESA, PORTUGUESA... ou FENÍCIA???, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. FENÍCIOS NO MARANHÃO? http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2015/09/05/fenicios-no-maranhao/ 54 BANDEIRA, Arkley Marque. VINHAIS VELHO: ARQUEOLOGIA, HISTÓRIA E MEMÓRIA. São Luis: Edgar Rocha, 2013. VER TAMBÉM: BANDEIRA, Arkley Marques. OS REGISTROS RUPESTRES NO ESTADO DO MARANHÃO, BRASIL, UMA ABORDAGEM BIBLIOGRÁFICA. In http://www.naya.org.ar/congreso2002/ponencias/arkley_marques_bandeira.htm BANDEIRA, Arkley Marques. POVOAMENTO PRÉ-HISTÓRICO DA ILHA DE SÃO LUÍS-MARANHÃO: SÍNTESE DOS DADOS ARQUEOLÓGICOS E HIPÓTESES PARA COMPREENSÃO DESSA PROBLEMÁTICA. Anais do V encontro do Núcleo Regional Sul da Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB/Sul. De 20 a 23 de novembro de 2006, na cidade de Rio Grande, RS. http://www.anchietano.unisinos.br/sabsul/V%20%20SABSul/comunicacoes/59.pdf BANDEIRA, Arkley Marques. A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM ARQUEOLOGIA: hipóteses sobre o povoamento pré-colonial na Ilha de São Luís a partir das campanhas arqueológicas de Mário Ferreira Simões. Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, ISSN 1808-8031, volume 03, p. 18-36 25 BANDEIRA, Arkley M. UM PANORAMA SOBRE OS REGISTROS RUPESTRES NO ESTADO DO MARANHÃO. Monografia apresentada ao Curso de História como requisito para conclusão do mesmo. Universidade Estadual do Maranhão. Campus Paulo VI, São Luís, 2003. BANDEIRA, Arkley M..O SAMBAQUI DO BACANGA NA ILHA DE SÃO LUÍS-MARANHÃO: um estudo sobre a ocorrência cerâmica no registro arqueológico. Pré-projeto de dissertação de mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em arqueologia do MAE-USP como requisito obrigatório para seleção dos ingressantes no segundo semestre de 2005, São Paulo, 2005; BANDEIRA, Arkley Marques. OCUPAÇÕES HUMANAS PRÉ-HISTÓRICAS NO LITORAL MARANHENSE: um estudo arqueológico sobre o sambaqui do Bacanga na ilha de São Luís – Maranhão. Dissertação de Mestrado, 2008. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-26092008-145347/pt-br.php


Nos anos 1970, outro pesquisador deu visibilidade à ocupação humana pré-histórica da Ilha de São Luís - Mário Ferreira Simões, ligado ao Museu Paraense Emílio Goeldi que realizou o Projeto São Luís. A pesquisa inspecionou oito sambaquis com o objetivo de comparar os sítios residuais de São Luís com os do litoral leste e litoral paraense. Essas pesquisas resultaram nas primeiras datações para os assentamentos humanos pré-históricos do Estado do Maranhão, em torno de 2.686 anos antes do presente 55. Outro associado do IHGM que se destaca e que atuou nas áreas da Antropologia, Arqueologia, Etnologia, entre outros interesses foi Olavo Correia Lima56. Para Schwennhagen (1924) 57 A migração dos povos Tupi ao Norte do Brasil pode ser calculada para a data de 3000 a 2000 a.C. As ultimas levas entraram quando se quebraram as terras do golfo do México e do mar Caraibico. Assim se pode colocar a ocupação e cultivação da ilha do Maranhão na época de 2000 anos a.C., ou 3500 anos antes da chegada dos europeus.

Para esse pesquisador, todos os momentos geográficos e etnográficos indicam que a ilha do Maranhão: [...] constituía, na primeira época das grandes navegações, isto é, entre 3500 a 1000 anos antes da era christã, um empório marítimo e comercial. Essa época começou naquele momento em que se completou o desmoronamento do antigo continente Atlantis e que os povos que lá se refugiaram no ocidente, quer dizer na America Central, ou no oriente, nos países ao redor do mar Mediterrâneo.

Já Barros (s.d.) 58: considera que “Tupi” significa “Filho de Tupã”, e foi dado aos povos indígena que habitavam a antiga Atlântida: Eram sete tribos, que fugiram para outra grande ilha, a Caraíba (situada no Mar das Antilhas), em função do desmoronamento da Atlântida. Essa outra ilha teve o mesmo fim, fazendo com que os indígenas fugissem para a região da Venezuela. [...] Justifica-se a origem do nome Tupi pela língua dos Cários, Fenícios e Pelasgos, onde o substantivo Thus, Thur, Tus, Tur e Tu significa sacrifícios de devoção. O infinitivo do verbo sacrificar é, no fenício, tu-na, originando tupã. “A origem de Tupã, como nome de Deus onipotente, recua à religião monoteísta de Car”, afirma Ludwig. Ao tomarem conhecimento da existência desses povos na Venezuela, os fenícios conseguiram levá-los em seus navios para o norte do Brasil. Os Tupinambás e os Tabajaras contaram ao Padre Antonio Vieira que os povos tupis se dirigiram ao norte do Brasil pelo mar, vindos de um lugar que não existe mais. Os Tabajaras, que se consideravam o povo mais antigo do Brasil, habitavam a região que fica entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba. O local para a ordem e Congresso dos povos Tupis foi batizado pelos piagas (pagés) de Piagui, de onde originou-se Piauhy. Geograficamente, o lugar era Sete Cidades. Para Ludwig, a palavra Piauí significa terra dos piagas, condenando a interpretação de que o nome provém do peixe piau, abundante nas águas do Rio Parnaíba.

55 Canalverde.tv/arqueologia, Pedro Gaspar –ArqPi, PESQUISA DE SAMBAQUIS REVELA PRÉ-HISTÓRIA DO MARANHÃO in http://www.arqueologiapiaui.com.br/noticias/brasil/133-pesquisa-de-sambaquis-revela-pre-historia-do-maranhao http://arqueologiadigital.com/profiles/blogs/pesquisa-arqueologica-de A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM ARQUEOLOGIA: hipóteses sobre o povoamento pré-colonial na Ilha de São Luís a partir das campanhas arqueológicas de Mário Ferreira Simões. Arkley Marques Bandeira in http://www.outrostempos.uema.br/volume03/vol03art02.pdf 56 CORREIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. AMERÍNDIOS MARANHENSES . REVISTA DO IHGM, Ano LIX, n. 08, março de 1985 38-54 CORREIA LIMA, O. HOMO SAPIENS STEARENSIS – ANTROPOLOGIA MARANHENSE REVISTA DO IHGM Ano LIX, n. 9, junho de 1985 33-43 CORREIA LIMA, O. PROVÍNCIA ESPELEOLÓGICA DO MARANHÃO REVISTA DO IHGM Ano LIX, n. 10, outubro de 1985 62-70 CORRIA LIMA, O.; AROSO, O. C. L. CULTURA RUPESTRE MARANHENSE – ARQUEOLOGIA, ANTROPOLOGIA REVISTA DO IHGM Ano LX, n. 11, março de 1986 07-12 CORREIA LIMA, O. PARQUE NACIONAL DE GUAXENDUBA REVISTA DO IHGM ano LX, n. 12, 1986 ? 21-36 CORRÊA LIMA, O. NO PAÍS DOS TIMBIRAS REVISTA DO IHGM Ano LXI, n. 13, dezembro de 1987 82-91 CORREIA LIMA, O. MÁRIO SIMÕES E A ARQUEOLOGIA MARANHENSE REVISTA DO IHGM Ano LXII, n. 14, março de 1991 23-31 LIMA, Olavo Correia; AROSO, Olair Correia Lima (1989). PRÉ-HISTÓRIA MARANHENSE. SIOGE São Luís-MA 57 SCHWENNHAGEN, Ludovico. “SÃO LUIS NA ANTIGUIDADE”. A Pacotilha, 4 de setembro de 1924. 58 BARROS, Eneas. A TESE DE LUDWIG SCHWENNHAGEN. (s.d.), acessado em 25 de fevereiro de 2016. Disponível em http://www.piaui.com.br/turismo_txt.asp?ID=339, BlogPiauí.


Por volta do ano 1.000, os territórios amazônicos haviam sido conquistados pelos movimentos de expansão dos povos tupi-guaranis, aruaques e caribes, principalmente. É por essa época que a Amazônia provavelmente atingiu uma das maiores densidades demográfica. (MIRANDA, 2007, p. 15) 59. Luciara Silveira de Aragão e Frota (2014) 60 afirma que a dispersão da grande família Tupi-guarani parece ter sido das mais remotas. Bem mais remota que a verificada com os Aruaques. Sua origem seria dos protomalaios que, em várias correntes, acostaram no istmo do Panamá. Para Thomaz Pompeu Sobrinho (1955) 61: Os tabajaras diziam-se os povos mais antigos do Brasil, isso quer dizer que eles foram aquela tribo dos tupis que primeiro chegou ao Brasil , e que conservou sempre as suas primeiras sedes entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba62. Desse relato é pois de se encaminhar para a conclusão de que os tabajaras foram precedidos pelos cariris no povoamento do Ceará, e antecederam aos potiguares dentro da divisão denominada de grupo Brasília . [...] Para Ludwig Schwennhagen os fenícios transportaram os tupis, palavra que significa filho de Tupan, de lugar onde está hoje o Mar das Caribas onde havia”um grande pedaço de terra firme, chamado Caraíba (isto é, terra dos caras ou caris). Nessa Caraíba e nas ilhas em redor viviam naquela época as sete tribos da nação tupi que foram refugiados da desmoronada Atlântida, chamaram-se Caris, e eram ligados aos povos cários, do Mar Mediterrâneo... [...] O país Caraíba...teve a mesma sorte que a Atlântida. Todos os anos desligava-se em pedaços até que desapareceu inteiramente afundado no mar. Contam que os tupis salvaram-se em pequenos botes, rumando para o continente onde já está a República da Venezuela... Quando chegaram os primeiros padres espanhóis na Venezuela, contaram-lhes os piegas aqueles acontecimentos do passado. Disseram que a metade da população das ilhas, ameaçadas pelo mar, retirou-se em pequenos navios para a Venezuela, mas que morreram milhares na travessia. A outra metade foi levada em grandes navios para o Sul onde encontraram terras novas e firmes. Varnhagem, Visconde de Porto Seguro, confirma na sua História Brasileira, que essa tradição a respeito da emigração dos Caris-tupis, da Caraíba para o Norte do continente sul-americano, vive ainda entre o povo indígena da Venezuela. O padre Antonio Vieira, o grande apóstolo dos indígenas brasileiros, assevera em diversos pontos de seus livros, que os Tupinambás, como os Tabajaras, contaram-lhe que os povos tupis imigraram para o Norte do Brasil pelo mar, vindos dum país que não existia mais”. Segundo esta tese os fenícios, amigos dos tupis, exigiam como pagamento pelo transporte o fornecimento de soldados para garantirem e policiarem suas empresas no interior. Tupigarani que teria sido modificado pelos padres portugueses para tupi-guarani significaria “guerreiro da raça tupi”. Os primeiros emigrantes teriam aportado em Tutóia e daí se dividiram em três povos: Tabajaras, entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba; os Potiguares além do rio Poti, e Cariris que tomaram as terra da Ibiapaba para o nascente. A segunda leva de emigrantes veio dar a um segundo ponto escolhido pelos fenícios: a ilha do Maranhão que denominaram Tupaon (burgo de Tupan) e ali fundaram várias vilas, das quais existiam vinte e sete ao tempo da vinda dos europeus. Os Tabajaras duvidaram da legitimidade de tupi de tais emigrantes pois eles trouxeram antigos indígenas Caraíbas que para eles trabalhavam. Adotaram eles então o nome referencial de Tupinambás [...]63

PAPAGAIOS E DOCES JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS 59 60

61

MIRANDA, Evaristo Eduardo de. QUANDO O AMAZONAS CORRIA PARA O PACÍFICO. 2 Ed. Petrópolis: Vozes, 2007. FROTA, Luciara Silveira de Aragão e. OS TABAJARAS E A LOCALIZAÇÃO DE TRIBOS Os%20Tabajaras%20e%20a%20Localização%20de%20Tribos%20Circunvizinhas.html

CIRCUNVIZINHAS.

SOBRINHO, Thomas Pompeu. HISTÓRIA DO CEARÁ PRÉ-HISTÓRIA CEARENSE.Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1955. Cf.Ludwig Schwennhagen, ANTIGA HISTÓRIA DO BRASIL DE 1.100 A 1.500 A.C. pág. 45. 63 SCHEWENNHAGEN, Ludwig . ANTIGA HISTÓRIA DO BRASIL DE 1.100 A.C a 1.500 D.C., apresentação de Moacir L. Lopes, 2ª edição: Rio de Janeiro. Livraria e Editora Cátedra. 1970. STUDART FILHO, Carlos. O ANTIGO ESTADO DO MARANHÃO E SUAS CAPITANIAS FEUDAIS, Biblioteca da Cultura, série b – Estudos Pesquisas – vol. I. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1960. VIEIRA, Antonio. RELAÇÃO DA MISSÃO DA SERRA DE IBIAPABA PELO PADRE ANTONIO VIEIRA DA COMPANHIA DE JESUS, REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ. Tomo XVIII (1904) VIEIRA, Antonio; CÓPIA DE UMA CARTA A EL-REY SOBRE AS MISSÕES DO CEARÁ, DO MARANHÃO, DO PARÁ E DAS AMAZONAS, REVISTA DO INSTITUTO DO CEARÁ, Tomo X (1896), 106 – 62


Tendo consciência da redundância, “volto a repetir”: qualquer tipo de desassossego social começa dentro de casa. E quem produz (e poderia evitar) é a família. Os pais perderam as rédeas e suas únicas conquistas nas últimas cinco décadas, foram as “obrigações”. Pais têm obrigações mil para com os filhos, mas quem “manda” neles é o Estado. Se o seu filho comete um pequeno deslize – qualquer que seja ele – dentro de casa, você não pode mais puni-lo de acordo com a sua compreensão, ainda que, na sua infância, você tenha passado por esse tipo de tentativa de correção. Repito: você não pode castigar seu filho tentando a correção. Mas a Polícia pode baixar o cacete. Coisas de um Brasil, onde as leis vigentes são compiladas de países desenvolvidos para serem aplicadas nas entranhas do Brasil, País de vigésimo mundo – e dá um salto tríplice se incluirmos e pudermos provar o somatório do triângulo – executivo-legislativo-judiciário. Pois, quando o pai ainda tinha o direito de tentar corrigir o filho, e fazia isso, éramos felizes, sim senhor. Quem, nos dias atuais, não sente saudades das tacas que tomou da “mamãe”? Principalmente se a “mamãe” já está no andar de cima preparando a “boia” para a nova reunião familiar? Nosso Brasil “cresceu” tanto, como rabo de cavalo que, antes, o homem solteiro tinha apenas três opções para “afogar o ganso”. Casava, procurava uma prostituta e arcava com o pecuniário, ou recorria à masturbação. Nos dias atuais, quase que como regra geral, se o “bad boy” não pegar a namorada no primeiro encontro, ela mostra o cartão vermelho para ele. O somatório disso tudo acabou criando um vácuo enorme entre a infância e a juventude – que está sendo preenchido por valores hipócritas que, com certeza, causarão vergonha no futuro. Até por que não existe entre nós, o tal “ex” de coisa nenhuma. Quem foi sempre será. Pois, as mudanças trouxeram novos ventos para as nossas pipas e papagaios. Adicionaram o “cerol”, que hoje se tornou elemento difícil de combater – principalmente porque está nas mãos da faixa etária “protegida”. Em vez do pião, do ioiô, da peteca, da bola de borracha jogada na chuva, do carrinho de rolimãs – a meninada vive mesmo é caçando Pokémon. É mais uma afirmação da idiotice que grassa aqui e alhures. É o bloqueio total para antever qualquer tipo de futuro – a não ser o de viver na merda. Mas, o que eu queria realmente dizer era: ontem foi dia 27 de setembro, no mundo pagão, dia em que se reverencia a dupla Cosme-e-Damião. “Cosme e Damião - Os Santos Cosme e Damião, irmãos gêmeos, morreram por volta de 300 d.C. Crêse que foram médicos, e sua santidade é atribuída pelo motivo de haverem exercido a medicina sem cobrar por isso, devotados à fé. Na Igreja Católica sua festa é celebrada no dia 26 de setembro, de acordo com o atual Calendário Litúrgico Romano do Rito Ordinário, e no dia 27 de setembro, pelo Calendário Litúrgico Romano do Rito Extraordinário. Na Igreja Ortodoxa são celebrados no dia 1 de novembro e também em 1 de julho pelos ortodoxos gregos. Nas religiões afro-brasileiras, onde são sincretizados como entidades infantis, também são festejados em 27 de setembro.” (Transcrito do Wikipédia) Pois, ainda é possível ver na esquina que acabamos de dobrar, a imensa quantidade de brinquedos que tínhamos e brincadeiras que inventávamos. Da mesma forma, nossos momentos de felicidades que os adultos (e, entre esses, muitos desconhecidos e/ou amigos da vizinhança) nos ofereciam. Era de uma felicidade irradiante a meninada – qualquer que fosse ela, independentemente de classe social – correndo pelas ruas na véspera do dia de São Cosme e São Damião. Contagiava. Pessoas faziam (e pagavam) promessas. Os mais organizados entregavam “senhas” no dia anterior e, para evitar tumultos e brigas, faziam a entregas dos bombons e doces quase sempre no final da tarde do dia 27 de setembro. Éramos felizes, e tínhamos certeza disso. Pudera! Não existiam o zap-zap, o instagram e ninguém vivia abestalhado e idiotizado procurando Pokémon.


NA ACADEMIA, HAROLDO TAVARES (3) (OS HERÓIS DO BOI DE OURO, NO INCÊNDIO DO GOIABAL. O SUMIÇO DA PRAIA DA MADRE DE DEUS, SEM NENHUM RETRATO NA PAREDE, MAS COMO DOEU!) HERBERT DE JESUS SANTOS (Sotaque da Ilha, JP Turismo, 30.9.2016) O secretariado de Haroldo Tavares, numa filmagem das suas obras, em síntese, na Academia Maranhense de Letras (AML), em 14.9. passado, com a presença dos candidatos a prefeito de São Luís, com a exceção presunçosa do atual, Edvaldo Holanda Júnior, não poderia saber de episódios dos expulsos das suas residências, quando aconteceu o incêndio do Goiabal, na noite calamitosa de 14.10.1968. Eu havia terminado a nossa pelada de futebol, o que ocorria por dois fatores, numa c´roazinha ao lado da fábrica Lázaro Ducanges, de beneficiamento de coco babaçu: ou maré enchente, a qualquer hora, ou noite profunda, nunca pela falta de disposição dos jogadores para ganhar, nos chamados “desafiados”, quando os times derrotados “ficavam na barreira”, isto é, esperando outra vez, e os vencedores permaneciam “desafiando” outros adversários, até que perdessem a partida, ou seguissem. Achava-metomando banho num poço, na frente da casa de D. Maria Roxinha e do pescador Seu Duca, colega de profissão e amigo dileto do Meu Pai (Filipão), na hora da ave-maria, tocada, então, nas rádios, quando A Voz Santo Antônio, amplificadora de propriedade do prezado Dico Barata (compadre de alma de Filipão), anunciou o começo da tragédia, por intermédio do locutor Marcelo Rodrigues, que faria uma carreira bem-sucedida na radiodifusão da cidade de Imperatriz(MA). A noite havia estendido o seu manto, não dava para ver, com exatidão, a extensão da destruição dos barracos e das vidas humanas. As informações fornecidas por populares eram desencontradas, o nervosismo e o pânico impuseram-se estampados no rosto dos martirizados e conhecidos, não seria possível alguém prestar esclarecimentos conclusivos e com riqueza de detalhes, daí os desacertos nos veículos de comunicação que mais se afobaram em dar o furo de reportagem. A boca-da-noite pegou fogo! O Porto do Boi de Ouro, no término da Rua do Norte, onde passa a Av. Vitorino Freire, na adjacência da Justiça Federal, era um igarapé, a que o popular chamado Boi de Ouro, e filhos, e outros trabalhadores cavaram com as mãos, retirando lama, para alargar e poder entrar barco transportando pau, palha e até tijolo, para o seu depósito. Quando o Goiabal estava se incendiando, desesperados, na rua e no Beco do Bessa, destelharam as casas, temendo a sua propagação.Foi como, aos 18 anos, eu disse, ensimesmado, assim que cheguei, sem poder passar, para mais perto do infortúnio consumado, nem falar, emudecido pela fragilidade de não poder salvar alguma coisa e achar algum culpado: A boca-da-noite pegou fogo! Os Heróis do Boi de Ouro só perderam uma joia preciosa Se não houvesse a ligeireza e o destemor dos mais próximos da catástrofe, que enfrentaram as labaredas sem controle, para salvar dezenas de crianças e idosos, com dificuldades de locomoção, aí, seria uma grande desgraça, quantoos jornais presumiram em número de mortes. Todavia, até a divulgação de que “O ProntoSocorro Municipal, até às 22 horas, havia atendido 30 pessoas, entre elas, algumas em estado grave”, careceu de reparo, pois se registrou um óbito, que foi o de uma senhora obesa, Doninha, quando, já fora de perigo, resolveu voltar para resgatar umas joias, em seu barraco, e uma ponte improvisada cedeu com o seu peso, e ela ficou com as pernas imobilizadas no lamaçal, facilitando a consumação de todo o seu corpo pelas chamas. Foram genuínos titãs, de sangue, carne e osso, todos os envolvidos na rumorosa epopeia, que se iniciou no Porto do Boi de Ouro, pelo motivo de serem mais designados um igarapé (que foi soterrado por


parte da Av. Vitorino Freire, no Anel Viário, perto do edifício da Justiça Federal) e o dono do depósito de paus, palhas e tijolos. Confidência do Itabirano O poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, sentiu, no exílio, o que deixou na sua terra natal: “Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa...Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói!” Cantjga de ir para o Anjo da Guarda, sem deixar a casa paterna, na Madre de Deus O poeta menor, aqui, chorou, como gente grande, o desaparecimentofísico do seu berço:Antes, bem antes, de haver o Anjo da Guarda,em minha vida do bom combate e pregressa, a minha casa, na Madre de Deus, era real, em pé, e começava por que eu era o rei, e a rainha ser a minha irmã mais nova, Maria José! Sem a Barragem do Bacanga, no meio do caminho, do Anjo da Guarda e da Madre de Deus completa, eu não sabendo, de cor e salteado, a Pedra de Drummond até, a minha casa era real, eu era o rei, e a rainha, a minha irmã mais nova, Maria José! Era tempo bom, aberto e sem-fronteira, em que a barragem não era real, e o Anjo da Guarda, nem em sonho de igualha, tinha asas de concreto. Até que a barragem pintou, e eu fui acordar onde um anjo passou —e eu fiz jus— a me guardar e a minha gente, em barraco de palha, só maior que o presépio de Mamãe guardar Jesus! Avisei aos navegantes do mar de abrolhos, no entanto, ficando eu com a chave da poesia correta, e não mudo que a barragem não me usurpou sequer o tempo todo, pois chegou muito tarde, para eu abrir mão de tudo! Quando inauguraram a Barragem do Bacanga, sem vazão, desavisados deixaram a minha casa aberta, sem saber que bateram com a cara na porta, por não poderem fechar meu coração! A minha casa sobrevive a ela mesma, pois se comporta na barragem dela. Pena que apenas eu a vejo, já resumida a uma porta-e-janela, em que o passado é mais presente, porque os dois vêm sem futuro nenhum: se, quando eu nasci, a minha casa de verdade era até maior que o tempo e um reinado, agora, eu com mais tempo na luta, que é muito grande, para me deixar entrar mais só na saudade, ela não me cabe mais em tempo algum! Foto:Arquivode Herbert de Jesus Santos

A PRAIA DA MADRE DE DEUS, NA VÉSPERA DA SUA ÚLTIMA FESTA DE SÃO PEDRO (1969), COM MINHA CASA PATERNA AO LADO DA CAPELA, IMAGEM EMOCIONANTE DESTRUÍDA PELA BARRAGEM DO BACANGA (1970) E ANEL VIÁRIO (1972).


KABURÁ ARQUIMEDES VALE 1º lugar no concurso de prosa no XXVI CONGRESSO SOBRAMES, em São Paulo . Olhando para suas mamas, já ressequidas e imprestáveis, Kaburá decidiu que já era hora de morrer. Havia completado 160 anos e perdido o seu último jogo. Além do mais, a rocha em que os marcava já estava cheia. Naquela perdida restinga do universo, ao nascer, cada um ganhava uma pedra para marcar a sua idade, o que faziam no aniversário com dois traços curtos paralelos horizontais cruzando-se com dois verticais, formando o “jogo da velha”. Antes dos 12 anos, quando assumiam a obrigação, estes litoglifos eram feitos pela aldeã mais velha. O jogo era solitário e o resultado íntimo. Cada mão escolhia um sinal e se tornavam competidoras. Ao final a ganhadora se punha na consciência e uma longa reflexão julgava a sua importância pessoal de viver ou a importância coletiva de morrer. Do tempo e espaço que se dissipavam nas sombras da existência, restavam fragmentos irregulares de um povo brotado dos paredões onde a natureza guardava a sua memória. Permaneciam ali porque a balsa que os atravessaria para a outra margem do lago, na qual estavam plantando pedras achatadas circulares para a germinação de ideias, raciocínio, habilidades e conhecimento, naufragou e o seu comandante preferiu morrer no fundo das águas e ele era o único que sabia fazer balsas de junco e o único que conhecia o rumo da navegação pois recebera mapas e projetos feitos nas nuvens, de homens com grandes asas douradas que vieram do espaço ignoto numa tempestade com trovões e relâmpagos. Viver era livre e morrer era escolha. Assim, Kaburá sentia da decadência do seu povo um cheiro sinistro de extinção, como tinham se extinguido quase todos os animais e muitas plantas frutíferas, única reserva de subsistência. Os poucos animais que ainda sobreviviam estavam degenerados, deformados e com partes do corpo apodrecida. Nasceram de aglomerados genéticos impróprios, por espécies diferentes, fora das leis naturais e desequilíbrio ambiental, originando monstruosas criaturas inominadas. O lago, que margeava as proximidades, escasso em produção, tinha apenas peixes disformes, com ossos expostos e carne enrijecida inutilizável e estes, por final, penetravam em blocos de lama que ao se tornarem pedra carregavam a sua silhueta para a eternidade. Pela pobreza do solo petrificado, as sementes necessitavam de nutrientes humanos para germinar. As brumas da madrugada se dissipavam na palidez dos primeiros raios do sol, que vinha diminuindo a cada manhã, quando Kaburá respirou as suas últimas doses de oxigênio puríssimo, filtrado pelos fungos do teto da caverna e penetrou no mato para iniciar o seu ritual. Começou a juntar sementes de frutas, e fez um monte que lhe chegou à altura do sexo. Aí sim, passou a engoli-las começando pelas maiores, uma a uma, pacientemente, até que as últimas, mesmo sendo as menores, chegassem a entupir a sua garganta. Foi-se toda a coleta a encher-lhe o canal digestório que deveria ser fechado na entrada e na saída. Pesada e pesarosa arrastou-se como um réptil agonizante até ao lago para pegar a lama e executar esse hermetismo. Sentou-se na pedra mais alta e pôs-se à paciência para que se cumprisse o processo de transferência da existência. Prendia-se a tradição à digestão das sementes em ambiente orgânico pela esterilidade da superfície do solo e como não existiam mais animais que as espalhassem tinha que ser feita por humanos em processo de decomposição viva que, para maior eficiência da semeadura, explodiam jogando as sementes germinadas em área muito mais extensa. Pela intuição temporal, mesmo sem marcação astrológica, Kaburá achou que já estava além do necessário. Precisava fragmentar-se para quitar a sua dívida de jogo, contribuindo com novas plantas frutíferas nascendo e cedendo seus ossos para ruminação das férreas mandíbulas dos monstrengos vertebrados aquáticos que dominavam o lago. Sua pele começou a engrossar, cozinhar no vapor das madrugadas e cair aos pedaços, que ficavam aos seus pés, sem ao menos uma formiga para degradá-los. Os seus braços estavam delindo,


puxados para o chão, numa consistência gelatinosa, dobrando-se como uma fita ao vento. A boca crescia e a lama que a ocluía, já petrificada, trincou com estalos agudos e se esfarelou, caindo junto com as últimas sementes engolidas e não germinadas. Suas orelhas cresciam como grandes folhas de taioba e antes que caíssem pode ouvir sons desconhecidos e assustadoramente fortes para aquele mundo onde o silencio só se quebrava com pedras. A dor não fazia parte deste passamento optativo e necessário, mas Kaburá começou a senti-la. A princípio não sabia de onde vinha mas apalpou-se.com os seus rudes sentidos e percebeu que vinha dos olhos que cresciam, cresciam e já estavam do tamanho das bolas de pedra deixadas pelos homens de asas douradas. Descerrou as pesadas pálpebras e seus grandes olhos puderam ver muito longe. A outra margem do lago, onde foi plantada a civilização. Num último esforço, Kaburá, libertou a idade que estava presa na sua pedra e deitou-se ao solo já na forma de um monólito.


A PONTE DO SÃO FRANCISCO (OU PONTE DA ESPERANÇA) NONATO REIS Jornal Pequeno, 09/10/2016 A Ponte do São Francisco ou ponte Governador José Sarney foi um sonho de gerações. Desde o final do século XIX freqüentava o imaginário de governantes e cidadãos, como marco para ampliar os horizontes de São Luís, então circunscritos ao núcleo histórico e ao corredor Monte Castelo/Olho d’Água. Integrou o Plano de Expansão do engenheiro Ruy Mesquita, lançado em 1958, que por meio dela projetara a cidade moderna. Este artigo tem por base a bela monografia de Natércia Cristina Freitas Moraes, apresentada em 2006, como pré-requisito para graduação no curso de História, da Universidade Estadual do Maranhão, e contribuições do historiador Joaquim Aguiar. A primeira tentativa de construir a ponte do São Francisco ocorreu no mesmo ano em que foi lançado o plano de Ruy Mesquita, abastecida com recursos da União. Por erro de engenharia, porém, o projeto acabou frustrado e as estacas de concreto fincadas na lama do Rio Anil tombaram sob a força das correntezas. Só dez anos mais tarde a idéia seria retomada, dessa vez de forma planejada. O lapso temporal entre o início das obras da ponte e a sua inauguração em 1970 gerou interpretações diversas, ganhou as páginas dos jornais da época, virou chacota, ensejou vasta literatura. O poeta e escritor Carlos Chagas, talvez o maior cronista maranhense de todos os tempos, escreveria dois livros sobre o tema: “O Discurso da Ponte”, lançado em 1959, e “O caso da Ponte do São Francisco”, cinco anos depois. “Com pincel comprido ou curto,/pinte-a seja como for:/se a ponte é feita de furto,/torne a ponte furta-cor”, imortalizaria em versos o poeta, numa sátira aos diversos governantes que construíram a ponte apenas em falas e fotos para revistas. No livro “São Luís, cidade radiante”, do arquiteto e urbanista José Antônio Viana Lopes, que será lançado este mês, há uma passagem em que o historiador Carlos Lima refere-se ao episódio como “o escândalo da verba aplicada em hipotética ponte, que não passou de três ou quatro sapatas, tão mal assentadas que a maré deslocou”. A ponte sobre o Rio Anil constituía o eixo da política modernista de José Sarney, que planejava expandir São Luís para o São Francisco, a Ponta d’Areia e toda a faixa litorânea ao longo da baía de São Marcos. Assim, em 13 de junho de 1968, o jornal O Imparcial noticiava o início das obras interligando a Beira-Mar ao São Francisco, com traçado em concreto de 890 metros de extensão e recursos da ordem de 5 bilhões de cruzeiros antigos. José Sarney queria algo que simbolizasse a sua filosofia modernizante e a ponte constituía um emblema desse esforço estrutural, tanto que, no início era chamada de “Ponte da Esperança”. Ao ser concluída, o apelo da vaidade pessoal falou mais alto e ela foi batizada com o nome do governador, numa ação cuidadosamente planejada, para consolidar os novos tempos no Maranhão e ligá-los ao seu arquiteto político. Mais do que expandir os limites físicos da cidade, a ponte tinha o papel de incrementar a fé da população na capacidade realizadora do governo e a prova disso é que jornais da época como O Dia e O Imparcial saudavam-na como um marco do desenvolvimento urbano, da estética e do imaginário progressista. O jornal O Dia, em sua edição de 4 de julho de 1968, assinala em tom ufanista que “será uma das obras mais importantes no setor de urbanização de São Luís”. A construção era acompanhada no passo a passo pela imprensa e o governador fazia inspeções quase diárias. Quando a construtora Itapoã, responsável pela obra, implantou o último pilar, O Imparcial noticiou o feito, informando que o governador assistira ao acontecimento. Dezenove meses depois, um a menos que o previsto no cronograma, a ponte seria inaugurada em grande estilo, numa festa que ficaria gravada no imaginário da cidade por muitos anos. Ao dá-la por concluída, Sarney caminhou a pé, com a mulher e as demais autoridades, toda a extensão de concreto, a partir da Beira-Mar até o palanque armado na outra margem, onde se realizou a


cerimônia de inauguração. Em seu discurso, usou um tom metafísico. “(a ponte) é a afirmação de todos nós (...), porque quando a maré enchia e quando a maré vazava a ponte do passado (também) vazava”. No auge da empolgação, como bom orador, recorreu a um viés messiânico. “Conheci o poder e ‘o prover’, como dizia Summer Wells. Sei hoje olhá-lo dos dois lados do rio. Senti e agradeci a Deus, como verdade, aquele poder que Ele deu de dizer: “Faça-se a ponte do São Francisco! E ela se fez!”. A ponte, como sabemos, não trouxe apenas o progresso para São Luís, mas também as suas contradições. Permitiu a urbanização de um vasto território, até então esparsamente ocupado, mas não promoveu a inclusão dos segmentos pobres que habitavam o mangue ao redor do São Francisco e da Ponta d’Areia. Canoeiros que faziam a travessia entre o São Francisco e a Beira-Mar ficaram sem a sua fonte de sobrevivência. Pescadores e operários perderam suas casas, demolidas para darem lugar à avenida Marechal Castelo Branco. Até hoje habitam áreas insalubres e marginalizados das políticas públicas. Para esse contingente de excluídos, a “ponte da esperança” permanece como uma promessa vazia, que jamais se cumpriu.


AINDA SOBRE A PASSAGEM DA COLUNA PRESTES PELO MARANHÃO – algumas considerações… Por Leopoldo Vaz • sábado, 15 de outubro de 2016 Ontem, falei sobre o livro, que seria lançado à noite, do Sálvio Dino… “a coluna revolucionária prestes a exilar-se – passagem pelo sul maranhense’. edição da AML, 2016. Como informei que, quando tomei conhecimento da pesquisa, coloquei à disposição material coletado sobre a passagem de um dos batalhões – possivelmente o comandado por Juarez Távora, por Paraibano. Não recebi resposta. Fiquei curioso se dedicara algumas linhas por essa passagem, e folheando o livro, não vi qualquer menção… Utilizando-se de fontes primárias, construiu sua obra sobre esse fato, suscitado por desafio de seu pai, Nicolau… Pois bem, vou reproduzir, mais uma vez, o que consta de meu livro, ainda inédito:

A PASSAGEM DA COLUNA PRESTES POR PARAIBANO Leopoldo Gil Dulcio Vaz; Delzuite Dantas brito Vaz; Eliza Brito Neves dos Santos – História(s) do/de Paraibano… […] Sabe-se que a “Coluna Prestes” [1] passou pelo Maranhão. Mas que parte dessa coluna passou pelo Brejo, não se tinha conhecimento até a defesa da Monografia de Graduação de Delzuite Dantas Brito Vaz[2], conforme se vê no depoimento prestado, a época, por Elisa Brito Neves dos Santos. Conta as pagina 149 e seguintes, que sua mãe fala dos “Revoltosos”, a quem estavam sujeito a receber. Seus tios estavam preparados a receber esses andarilhos dessa maneira: escondiam os cavalos, pois quando passavam trocavam os animais, pegando outros descansados. Os moradores escondiam suas montarias… Um dia, vindos do lado do Riacho do Meio, uma turma de homens a cavalo – fortes, altos, bonitos, na descrição de sua mãe… – chega e são recebidos pelos “Paraibanos”. A avó da depoente, Joaquina Maria das Dores, teria feito comida para eles, pilando o arroz que seria servido. Chamaram a sua presença a José de Brito Sobrinho (José Paraibano) e mandam apanhar os animais, que seriam trocados pelos deles. José Paraibano cheio de astúcia, de artimanha, saiu com uma parte desses homens pelas matas, a procura dos animais, que ele havia escondido. Dizia Zé Paraibano que ouviam o barulho dos animais, perto de onde passavam, fazia de conta que não estava ouvindo: “mas eu não sei onde estes animais estão…” e levava aqueles homens pelas brenhas, pelos espinhos. Aquele matagal, sem estrada, sem nada; levava pelos piores caminhos. E os Revoltosos, já cansados e todos cheios de espinhos, disseram: “Não, vamos para casa, a gente não encontra esses animais, vamos para casa…”. E voltaram e assim conseguiram se livrar dos Revoltosos sem dar seus animais. Para Elisa, era a parte chefiada pelo Juarez Távora[3], que passou por Brejo do Paraibano, em direção a Colinas[4], pela época dos festejos de Nossa Senhora da Consolação, a oito de dezembro. O que é confirmado por Pinheiro (2005), quando relata a passagem da Coluna entre Pastos Bons e Colinas, porém não faz referencia ao Brejo[5]. Aí, a Coluna se instalou, passou vários dias; depois Juarez foi preso, já em Teresina-PI. Na passagem pelo Maranhão a Coluna se dividiu em três. Segundo Prestes: Foi uma verdadeira divisão estratégica. Uma parte da Coluna ficou comigo e tomamos a direção do rio Balsas, […]. Uma segunda coluna, comandada por Siqueira Campos para marchar mais ao norte […]. E uma terceira coluna, que era comandada por João Alberto, para marchar mais pelo centro. Mais todas orientadas no sentido do rio Parnaíba.


Na Matta (Dom Pedro), Manoel Bernardino – o Lênin do Sertão – se preparava para integrar o destacamento de João Alberto e, no dia 06 de novembro de 1925 invadiu, Curador com 65 homens armados de rifle e usando todos como distintivo uma fita vermelha. Bernardino tratou todos com cortesia e solicitou de alguns comerciantes contribuição para as suas tropas. Não obtendo o resultado esperado, saiu da cidade no dia 08 (nov.) e retornou no mesmo dia à meia-noite, desta vez mais agressivo, invadiu as casas de alguns comerciantes e saqueou as mercadorias, distribuindo à população pobre o que não poderia ser levado. Pois bem, outro trecho que coletamos – o livro sobre Paraibano deve sair no próximo ano… ainda trás outro trecho da passagem da Coluna pela região:

A COLUNA PRESTES E O CAVALO MARCHADOR DE SÊO SALES por Djalma Britto in http://www.limacoelho.jor.br/vitrine/ler.php?id=855 Em 1926, lá estão Sêo Sales e Dona Lili, na fazenda Serra Negra, preocupados com a possibilidade de virem a ser surpreendidos pela tal Coluna, pois, segundo ouviram dizer, para manter a tropa, os líderes ou responsáveis requisitavam mercadorias, bens, animais e tudo o mais necessário, com a promessa de serem ressarcidos tão logo fossem vitoriosos em sua intentada. […] Para não serem pegos de surpresa, Sales e Lili trataram de esconder as mercadorias que possuíam em estoque e reduzir a quantidade dos gêneros nas prateleiras da loja. […] É nesse cenário que entra em cena, para espanto de todos, o Cornélio, intitulando-se emissário e negociador da Coluna. […] Deve-se esclarecer que o tal emissário era filho do “Velho Bodô”, vaqueiro da fazenda Serra Negra e homem de confiança de Sêo Sales. Dona Lili, que conhecia o Cornélio, desde que ele nasceu, pois nascera em Serra Negra, costumava passar-lhe “pitos”, ficou desconfiada e tentou demover o marido de sua credulidade. […] Coincidência é que os “revoltosos” – termo que Dona Lili se referia aos integrantes da Coluna Prestes – estavam, realmente, próximos à fazenda, distante cerca de quarenta quilômetros de Colinas, antigo Picos do Maranhão. […] Não tardou e os “revoltosos” chegam a Serra Negra e, como primeira providência de um dos oficiais, foi solicitar a Sêo Sales que lhe mostrasse a casa, alegando, naturalmente, que queria determinar a acomodação do pessoal que o acompanhava. […] como nada foi encontrado no local onde se afirmava ter mercadoria escondida, o clima ficou menos tenso. O oficial a que nos referimos era o Juarez Távora. Foi então servida alimentação à tropa que se arranchou como pode nas acomodações da enorme casa centenária. Maneiroso, o oficial Juarez Távora disse a Sêo Sales que tinha conhecimento de que era possuidor de um cavalo de boa qualidade, marchador e famoso e que estava requisitando o animal, que seria devolvido posteriormente. Realmente, o tal cavalo era mesmo muito bom. Servia de montaria preferida para o meu avô. Sem titubear, Sêo Sales aquiesceu e disse ao oficial que poderia utilizar o animal, se o localizasse. Começou, então, a caça ao cobiçado cavalo. Alguns soldados foram escolhidos para empreender a procura.Retornaram, horas depois, com algumas montarias, mas não exatamente o cavalo de sela do Sêo Sales. […] Assim foi a passagem da Coluna Prestes pela fazenda Serra Negra. Anos mais tarde, Juarez Távora veio a São Luís. Meu avô era deputado estadual e recebeu a sua visita. Entre amenidades, o oficial Távora dissera a meu avô que o culpado por ele ter sido preso teria sido ele. Explicou: se o senhor tivesse me cedido o tal cavalo marchador, jamais teriam me surpreendido. Chamavase Cornélio. Jamais o conhecemos. Era um irmão do pai velho que se juntou à Coluna Prestes e jamais deu notícia à família.


Dona Lili conta que Cornélio não permitiu que a Fazenda Serra Negra fosse ‘invadida’ pela Coluna e nem que o comércio da fazenda fosse saqueado. Era assim, com esse palavreado: ‘invasão’ e ‘saque’ que ela se referia à Coluna Prestes. Mas que Cornélio foi à sede da Serra Negra para dizer a ela e ao seu Sales que a Coluna não mexeria na Serra Negra. O meu avô falava pouco sobre ao assunto, só que o seu irmão Cornélio tornou-se um seguidor do capitão Prestes e ‘caiu nesse mundão de meu Deus’ e nunca mais deu notícias à família. NOTAS [1] Movimento ocorrido entre os anos de 1925 e 1927, encabeçado por líderes tenentistas que empreenderam grandes jornadas para o interior do país, procurando fazer insurgir o povo contra o regime oligárquico vigente durante a presidência de Artur Bernardes, ainda no período da República Velha. A Coluna Prestes ainda pregava ao povo a necessidade da destituição do presidente e a imediata reformulação econômica e social do país, pregando a nacionalização das empresas estrangeiras fixadas no Brasil e o aumento de salários de trabalhadores em todos os setores rurais e industriais. Em suas jornadas, que se estenderam em uma distância de por volta de 25.000 quilômetros, a Coluna Prestes foi perseguida pelas forças orientadas pelo governo, formada tanto por militares e policiais estaduais quanto por jagunços contratados, estes últimos incentivados pelas promessas de anistia aos seus crimes cometidos. Não tendo sofrido sequer uma derrota significativa nas guerrilhas contra o governo ao longo de suas incursões pelo interior do país, que se estenderam por cerca de 29 meses, a Coluna é contada pelos estrategistas militares do próprio Pentágono como uma das mais prodigiosas façanhas militares da história das batalhas de guerrilha. A Coluna Prestes foi formada por militares envolvidos em dois movimentos rebeldes anteriormente ocorridos no país: no Rio Grande do Sul, os rebeldes provenientes de uma insurreição foram derrotados inicialmente pelo governo, mas conseguiram escapar; em São Paulo, os rebeldes que haviam ocupado a cidade por 22 dias não tiveram outra escolha senão organizar uma retirada, tendo em vista os bombardeios aéreos desferidos sobre a capital paulista. Ambos os grupos rebeldes encontraram-se em suas rotas de retirada, no Estado do Paraná: os paulistas eram então liderados pelo General Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, além dos tenentes Eduardo Gomes, Juarez Távora e Joaquim Távora: os gaúchos eram então liderados Siqueira Campos, João Alberto e Luís Carlos Prestes. Todos passaram a fazer parte das lideranças da Coluna, com exceção do General Isidoro Dias Lopes que, já idoso, acabou por pedir asilo político à Argentina. O comando dos 1.500 homens reunidos deveria ser unificado: o comando militar é exercido por Miguel Costa, sendo Luís Carlos Prestes o chefe do Estado-maior. A Coluna, além de seu caráter militarista, passa a configurar um programa de reformas, que é divulgado aos povoados com os quais o movimento entrou em contato em suas jornadas. Apesar de sua invencibilidade frente às tropas do governo, a Coluna não chegou a atingir seus objetivos de provocar a rebelião popular generalizada no interior do país: o povo temia grandemente possíveis represálias do governo. Desta forma, a coluna não conseguiu derrubar o governo vigente. Porém, os tenentistas que da Coluna participaram decisivamente no quadro político do período da Revolução de 30 e, no caso de Prestes, na Intentona Comunista de 1935. Ao fim das jornadas da Coluna pelos interiores do país, muitos membros remanescentes ainda prosseguiram sua luta contra os regimes oligárquicos na Bolívia e no Paraguai. DISPONÍVEL EM http://www.algosobre.com.br/historia/coluna-prestes.html acessado em 28/01/2009. [2] VAZ, 1990, obra citada. [3] JUAREZ DO NASCIMENTO FERNANDES TÁVORA (Jaguaribemirim, 14 de janeiro de 1898 — Rio de Janeiro, 18 de julho de 1975) foi um militar e político brasileiro. Participou do levante militar ocorrido na cidade do Rio de Janeiro em cinco de julho de 1922. Preso e condenado desertou do Exército e participou da rebelião paulista de julho de 1924. Seguiu com a Coluna Prestes, e participou da Revolução de 1930. Após esta levar Getúlio Vargas ao poder, Távora, ainda como capitão, se tornou ministro da Agricultura. Como coronel, na década de 1940, foi adido militar no Chile. Candidatou-se à presidência da república em 1955 pela UDN, mas foi derrotado por Juscelino Kubitschek. Defendia a posição que ficou conhecida como entreguista em relação à exploração de petróleo no Brasil, tendo sido o principal líder dos que se opunham à criação da Petrobras. Foi ministro dos Transportes nos governos de Getúlio Vargas, de quatro a cinco de novembro de 1930, e de Castelo Branco, de 15 de abril de 1964 a 15 de março de 1967. [4] BARROSO, Haroldo Gomes; SOUSA, Antônio de Pádua. Áreas Potenciais Para A Aqüicultura Sustentável Na Bacia Do Rio Itapecuru: Bases Para O Planejamento Com Uso Do Sistema De Informação Geográfica. Rev. Bras. Enga. Pesca 2(1), jan. 2007 [5] PINHEIRO, Raimundo Nonato. A COLUNA PRESTES NO MARANHÃO. São Luis: UEMA/CECEM, 2005. Monografia de Especialização em Historia do Maranhão.r A “REVOLUÇÃO DA MATTA”: SOCIALISMO E FUZILAMENTOS NO INTERIOR DO MARANHÃO – 1921 AUTOR: Giniomar Ferreira Almeida “Monografia apresentada ao curso de História da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA para obtenção do grau de Licenciatura Plena em História. 2003



À MEMÓRIA DO MEU PAI AYMORÉ AVIM Ainda hoje eu guardo com grande desvelo a memória do meu pai, seu Zé Alvim. Era ainda uma criança. Tinha doze anos quando ele faleceu, em nossa casa em Pinheiro, numa noite de dezembro de 1952. Naquela esquisita noite, tudo para mim era novidade. Nunca ninguém havia morrido lá em casa. A luz elétrica logo se acendeu na cidade. Nunca tinha visto luz elétrica ficar a noite toda acesa. Geralmente, o motor da usina era desligado às 22 horas. Lá em casa parecia um formigueiro humano. Era gente por todos os cômodos. Uns chorando, outros conversando tomando café. Na rua, em frente a nossa casa, o movimento era intenso. As pessoas me abraçavam chorando, me dizendo coisas que eu não entendia. O que queria ver mesmo era o movimento. À tarde, aquela massa humana levou meu pai. Minha mãe sem condições de acompanhar ficou comigo, Moema e Ze Paulo que tinha apenas 3 anos. Na porta da rua, de pé, eu via aquela gente com meu pai ficar cada vez mais distante. Uma angústia foi tomando conta de mim, dissipando toda aquela euforia que me manteve ativo até a derradeira hora. Pela primeira vez na vida me senti só, desamparado. Corri para dona Inês que estava chorando lá no quarto. - Mamãe, pra onde levaram papai? - Meu filho, ele foi para o céu. Deus o chamou. - Por que, mamãe. O que Deus quer com meu pai? Ela ficou em silêncio por um momento. Depois me disse: - Aymoré, tu já estás crescidinho. O seu pai não vai mais voltar. Agora estamos só nós. Você é o homenzinho da casa. Vai ficar no lugar do seu pai. - Quer dizer que quem vai mandar agora aqui sou eu? Ela me puxou, sentou-me na cama ao lado dela e encostou a minha cabeça em seu colo. Ouvi minha mãe soluçar. Creio que só naquele instante me apercebi da seriedade do momento e chorei. Qual um caleidoscópio, algumas imagens afloravam à minha mente. Vi-me em São Luís com ele e dona Inez. Foi a primeira vez que viajei para a capital. Era maio de 1949. Fiquei com minha mãe na casa de uma amiga, à Rua Jacinto Maia. Em frente, numa pensão, ficou meu pai. À noite fui lhe tomar a benção. - Papai, por que eu não venho pra cá com o senhor? Lá só tem mulher e eu já sou homem. - Meu filho, tu deves ficar lá com tua mãe que está doente. Na noite seguinte, ele foi buscar-me para passearmos de bonde. No trajeto... - Papai, eu vou lhe perguntar uma coisa: Por que o senhor me surra de vez em quando? - Porque eu te amo. - E a gente ama assim? - Aymoré, é melhor sentir as dores de uma surra dos pais do que, mais tarde, da polícia. - E eu vou também dar umas surras nos meus filhos? - Se precisar e se você os amar, sim. Não é bater por bater. É para corrigir. Tu és muito atentado. - Ih! Resolvi mudar o rumo da conversa. Poderia sobrar pra mim. Descemos na Praça João Lisboa e fomos tomar sorvete no Moto Bar. - Traga dois sorvetes de coco, disse meu pai ao garçom. Daí a pouco... - O que foi, não estás gostando do sorvete? - Eu pensei que sorvete fosse uma água bem gelada. - Rapaz, tu és uma besta quadrada. - Traga um copo d’água bem gelada. Disse novamente ao garçom. - É isso mesmo que tu queres ou queres pedir outra coisa? Não era, mas disse que sim e fomos para casa.


Esse era seu Zé, meu pai. Um cara legal, boa praça. Um pai amigo, protetor, carinhoso. Nunca havia imaginado que o amava tanto. Acheguei-me mais ainda a dona Inês e chorei bastante. Sentia-me só, perdido. Fui tomado por um estranho vazio que por muitos anos custei a enchê-lo. O fiz quando chegaram meus filhos. Enfim, como meu pai, eu era pai também. É uma emoção diferente e prazerosa. Por isto tudo, reverencio sempre a memória desse homem, meu amigo, companheiro, orientador que foi o meu pai e faço com que ela se perpetue ao longo das minhas gerações


A GRANDE MARCHA JOÃO BATISTA ERICEIRA Professor universitário Publicado em O IMPARCIAL Após percorrer 25 mil quilômetros do território nacional, os membros da Coluna Prestes exilaram-se na Bolívia. Conheceram o interior do Brasil, de meados dos anos vinte do século passado. Sem comunicações, cercados de pobreza por todos os lados, cavalgando seus cavalos, jovens tenentes do Exército liderados pelo capitão Luís Carlos Prestes, iniciaram a primeira guerrilha moderna, depois repetida na China e em Cuba, denominada a Grande Marcha. O marcante episódio da História pátria desenrolou-se também em solo maranhense com a passagem da Coluna pelo sul do Estado, transitando nos municípios de Carolina, Balsas, Mirador, Colinas, Grajaú, Riachão, Pastos Bons, e outras paragens, à época povoados, depois elevados a condição de municípios. O secretário da Coluna, Lourenço Moreira Lima, relata: por onde passaram os revoltosos, por medo ou esperança, foram muito bem recebidos. Depois de dois anos, entre 1925 e 1927, partiram para o exílio. Em seguida eclodiu a quartelada de 1930, batizada de Revolução, os tenentes foram chamados ao protagonismo da República Nova, liderada por Getúlio Vargas. Às vésperas de 1930, Oswaldo Aranha promoveencontro entre o capitão Luís Carlos Prestes e Getúlio Vargas.Este lhe oferece o comando militar do Movimento. Prestes recusa, sob o argumento de que se convertera ao comunismo, não seria correto liderar a empreitada burguesa. Tratava-se de um homem correto, não aderira às lições de Maquiavel, como 25 anos depois faria Fidel Castro, em Cuba, chefiando a guerrilha para depor o ditador Fulgêncio Batista.Desceu de Sierra Maestra, chegou a Havana, empalmou o poder, e depois declarou-se socialista. Os cientistas políticos dirão: o certo e o errado em política são relativizáveis, dependem da ótica que se vê. O episódio da Revolução Cubana gerou consequências para a América Latina e para humanidade.Levou os Estados Unidos a apoiarem as ditaduras militares do continente, quase conduziu a guerra nuclear em 1962, teve implicações com o assassinato de John Kennedy no ano seguinte. A brasileira, de 1964, após a deposição de João Goulart em 31 de março, provocou mudanças na política do Maranhão, encerrou o ciclo do vitorinismo, iniciando o sarnesismo.Vigorando durante os vinte anos da ditadura, prosseguiu após a redemocratização com a eleição de José Sarney para vice-presidente na chapa de Tancredo Neves, e sua posse na Presidência. A trajetória da Coluna, seu périplo maranhense, é abordado pelo escritor e pesquisador Sálvio Dino, no livro “A Coluna Revolucionária Prestes A Exilar-se- Passagem pelo Sul Maranhense”. Neste trabalho, o autor revela que naquela lonjura do nosso sertão, havia uma sociedade de homens esclarecidos, dotados de forte consciência política, receptivos ao ideário dos revoltosos O ideário da Coluna, por mais incrível que pareça, até o presente não se cumpriu, dele constava: regeneração dos costumes políticos, o combate a corrupção, a verdade eleitoral e a justiça social. Eram postulados da ideologia liberal e burguesa ainda não de todo executados pelo sistema político-eleitoral em vigor. Agora mesmo, estamos a discutir reformas para dar-lhe legitimidade, ensejando a efetiva participação da sociedade na condução política do Estado. Nesse sentido, a trajetória da Coluna prossegue, apropriada das mais diversas formas, na China, em Cuba, nos Estados Unidos. Aqui no Maranhão, em 1965, o nome foi usado na campanha do Comandante Renato Archer ao governo do Estado, liderada pelo deputado Cid Carvalho. A sessão conjunta das duas academias, Maranhense de Letras, e de Letras Jurídicas, dia 14 último,para o lançamento do livro de Sálvio Dino, revestiu-se do encantamento do relato de casos da São Luís de meados dos anos sessenta do século passado, a exemplo do Clube do Urucuzeiro, reunindo na Praça João Lisboa, à sombra da árvore frondosa, sociais-democratas, socialistas, nacionalistas, todos convictamente democratas, aspirando viver em uma sociedade mais fraterna e justa.


Convém lembrar, a adesão de Luís Carlos Prestes ao comunismo data de Manifesto divulgado em maio de 1930. A partir daí escritores como Jorge Amado encarregaram-se da sua mitificação em livros como “ O Cavalheiro da Esperança”. Sálvio relatou sua reação ao ler a biografia. Adveio a Guerra Fria e ideológica, rotulando de comunistas a todos que se opunham ao poder estabelecido, adjetivando pejorativamente o termo. Excluindo os equívocos, a Grande Macha prossegue, por um Maranhão e um Brasil melhores. Significativamente, naquela noite, reuniram-se gerações diferentes, o presidente Benedito Buzar, o Governador Flavio Dino, o escritor Rossini Corrêa. A Grande Marcha continua.


O LIVRO VISTO PELO AUTOR – III ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista, membro das Academias de Letras, Caxiense e Ludovicense, e do IWA Esses e outros assuntos estão no meu livro “Desafios/Challenges”. PUBLICADO EM O ESTADO, 21/10/2016

Por tudo que tenho escrito muitos podem classificar-me como um economista ortodoxo, conservador. Não sou. Quanto a ter uma “receita” para a crise que assola a economia mundial, como sou um tanto acadêmico, prefiro pensar que a teoria econômica possa adequar-se aos novos tempos. Reconheço que as formulações teóricas pouco têm evoluído desde 1946, quando da publicação da “Teoria Geral”, e principalmente em tempos modernos de globalização; como consequência, o sistema capitalista em si mesmo tem levado a culpa por todos os males que afligem a economia mundial. O economista Thomas Piketty, em “O Capitalismo do século XXI”, constata que o desenvolvimento das economias tem levado a uma concentração cada vez maior da renda; já Yanis Varoufakis, que foi recente ministro das finanças do governo grego, em “O Minotauro Global”, diz que a razão de todos os males está no próprio sistema capitalista. Mais grave ainda do que o “crash” de 1929, a crise da “bolha” prossegue nos seus efeitos multiplicadores junto aos países que, salvados da “quebra” pelo sistema financeiro internacional, comandado pelos seus bancos centrais, sofrem com o um endividamento impagável. “Por quanto tempo mais os grandes bancos centrais vão manter os estímulos monetários em vigor”, perguntam articulistas da seção “Finanças”, do jornal Valor Econômico. Segundo o FMI, “os débito globais atingiram o recorde de US$152 trilhões, ou 225% do PIB mundial, sendo que 2/3 disso são dívida do setor privado”. E a situação brasileira? “A dívida bruta, de 63,7% do PIB em 2007, crescerá nos próximos anos até chegar a 93,6% do PIB, em 2021, 30 pontos percentuais acima da média da América Latina”. Supondo que a PEC do teto de gastos seja aprovada, “o FMI prevê um mirrado superávit primário de 0,3% em 2020. O déficit nominal (inclui juros) será em 2021 de 6,4% do PIB, quase o triplo dos 2,17% do PIB de 14 anos antes”. Desde a Conferência de Bretton Woods, sob a liderança de John Maynard Keynes, quando foi tentada uma nova ordem econômica global subvertida pela Segunda Grande Guerra, nada de novo aconteceu ou pelo menos foi capaz de regulamentar as ações dos agentes de produção. Falo de novas teorias ou da sua atualização, por exemplo, da Teoria Quantitativa da Moeda e sua velocidade de circulação; da Base Monetária e seu multiplicador; seria para regulamentar a “financeirização” agravante da relação Dívida/PIB; expansão dos meios de pagamento através de instrumentos de risco pouco convencionais; alavancagem do sistema financeiro além da capacidade do seu patrimônio. Segundo o economista Luciano Coutinho, que foi presidente do BNDES, “de 2010 em diante, a riqueza financeira global inflou paulatinamente, atingindo estonteantes US$232 trilhões no final de 2014!” O presidente do Banco Central europeu, Mario Draghi, diz que “a melhora das regras regulatórias e testes de estresse, parece que a situação ainda não mudou para valer”. E prossegue: “o reforço na regulamentação mitiga riscos sistêmicos e ampara a gestão de crises”.


NOVILÍNGUA: CONDICIONAMENTO E EMPOBRECIMENTO JORGE BENTO

A ‘novilíngua’, que circula por aí de crista levantada, ostensiva e pomposa, não surgiu por acaso, espontaneamente e sem finalidades devidamente ponderadas. A pobreza do jargão corrente é intencionalmente preguiçosa, para servir propósitos ideológicos. O recurso a estrangeirismos lustrosos, por dá-cá-aquela-palha, confere ao usuário um ar de alinhamento com a moda; e dispensa-o do trabalho de procurar, no diverso e rico património do nosso idioma, a palavra adequada para expressar, com precisão, aquilo que pretende e seria curial dizer. Mas… atenção! O encurtamento e a padronização da terminologia não anulam somente as diferenças e a variedade dos modos de dizer; condicionam e empobrecem igualmente a capacidade de conceptualizar e ver. A ‘novilíngua’ é o linguajar ideal do Estado controlador, vigilante, punitivo, liberticida e ‘libertador’ da permissividade, descrito pela perspicácia de George Orwell (1903-1950). A sua missão é liquidar a ‘velha língua’, com o objetivo único de estreitar o espaço do pensamento. Este intento tem sido consumado nas últimas décadas, diminuindo todos os anos o número de palavras e, concomitantemente, a amplitude da consciência. Com a aniquilação das palavras, eliminam-se os conceitos que permitem apreciar os delitos da imaginação e ação; enfim, elimina-se o conceito de liberdade. O afunilamento da língua acarreta, pois, o tolhimento da idealização, da compreensão, da visão, da expressão e, consequentemente, da competência de valorar e optar. O léxico é a porta de acesso ao nosso mundo interior, a tudo quanto o agita e povoa; e a chave de decifração dos códigos do mundo exterior, do Outro, dos factos, fenómenos e coisas. Em suma, o nosso vocabulário é um ‘artefacto’. Porém não se restringe ao papel de castiçal numa mesa de jantar. É, sobretudo, um ‘artífice’: comporta a ‘arte’ de saber ler o cardápio, de fazer a escolha e encomenda do que preferimos comer.


"UMA MULHER" -- Fantasia sobre um dia na vida da escritora Maria Firmina dos Reis

LENITA ESTRELA DE SÁ Não adianta tentar rabiscar coisa alguma para passar o tempo – não me concentro em nada, com esta agonia do sol escaldante nas pedras do calçamento, o cozido de peixe ainda entalado no esôfago, exalando a fermentação de cheiro verde e cebola; um chá de boldo, quem sabe, algo amargo talvez combine melhor com a tarde abafada desta cidade pequena e pardacenta, que me faz suar sob as mangas do vestido, enquanto o resto da casa ressona, indiferente a meu desespero. Melhor teria sido que não vivesse aqui, onde a lassidão do tempo recebe como único tempero o cheiro de mar que se espalha da rua de baixo, lembrando-me o quanto é intensa a vida, repleta de odores, de sentimentos e sons, por que de algum lugar me vem essa espécie de medo que me faz preferir a solidão – na capital seria mais ameno o calor? * De "Uma Mulher", in "Vista para o Central Park e outros contos", ISBN 978-85-919130-3-9. * Acesse site literário:www.estreladesa.com.br


LAÇOS DE FAMÍLIA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Membro das Academias Caxiense de Letras, Ludovicense de Letras, e do IWA. PUBLICADO EM O ESTADO, 02/11/2016

Maria José Ribeiro Serra, Santa, Santinha para os íntimos, tia caçula e única remanescente de uma prole de quatro mulheres: Nadir Celeste (Lilita), minha querida e sempre lembrada mãe; Conceição de Maria (Neném) e Maria Rosa (Doninha), filhas de Augusto do Espírito Santo Ribeiro, maranhense, e de Maria Laura da Silva Ribeiro, portuguesa da região de Trás-os-Montes, vinda ainda bem criança para o Brasil. Tia Santa aproximava-se mais da realidade que encontrei ao nascer quinze anos depois dela. Assim não esquecemos nossas idades e permanecemos vivendo como jovens há mais tempo; quando a encontro, como fiz recentemente, em conversas quase intermináveis, aconchegos, fotos, é como se voltássemos àqueles velhos tempos. Lembro-me muito bem do dia do seu casamento. Na casinha porta e janela da rua do Pespontão, num fim de tarde ao esconder do sol, os decoradores da época davam os retoques finais de azul no altar armado na sala, para o enlace com o Ézer Serra. Tia Santa e o Ézer foram felizes enquanto ele viveu; tiveram, também, uma prole de quatro mulheres, minhas queridíssimas primas carinhosamente chamadas Remedinho, Teresa, Gracinha e Bibi. Em São Luís, tia Santa foi funcionária dos Correios e morou, de novo, numa porta e janela, na rua de Santana, com as filhas; tempos depois, ela preferiu deixar São Luís e foram todas para o Rio de Janeiro. Daí em diante convivemos de perto por longos anos, quando eu era ainda solteiro e mesmo depois de casado, no apartamento do Jardim Botânico. Tia Santa sabe muitas histórias da numerosa família Ribeiro, certamente quem mais sabe. Através dela fiquei conhecendo a personalidade da minha avó Maria Laura, que era alegre, gostava de jóias e de dançar; da minha bisavó Maria Rosa, que se casou com o português Bernardino Ferreira da Silva, pai da minha avó; do primo Francisco de Assis Garrido, poeta e escritor, da Academia Maranhense de Letras. Esta crônica é em sua homenagem, estimada tia Santa. A senhora é a tia mais nova e eu o sobrinho mais velho; é por isso que é menor a diferença de idade que nos separa, para permitir essa identidade de propósitos, identificação de sentimentos e amizade duradoura. No ano que vem vamos contar essa diferença de idade num patamar já bastante elevado dessa vida que temos tido e aproveitado, de muitas alegrias e de algumas tristezas. Fico pensando na sua trajetória, dos bons e maus momentos no seio da família Ribeiro; das suas lutas desde jovem e depois que ficou viúva, e preferiu guardar as gratas lembranças do Ézer; dos esforços para criar e educar suas quatro filhas, minhas primas. Sabe Deus o que isso lhe custou; merece, portanto, todo meu respeito e admiração. Dizem que a velhice nos dá sabedoria. É mesmo: uma coisa é teorizar, outra falar da experiência vivida. Passei quase trinta anos da minha vida tentando ensinar e educar universitários, assim como procurei fazer com meus filhos e, agora, com meus netos. Não tenho nenhuma dúvida de que minhas tias, como você, concorreram à formação da minha personalidade. Tia Santa completou 97 anos. Desejo-lhe saúde e paz, e vida longa.


O FUTURO DAS ASSOCIAÇÕES DOS VETERANOS DA FEB 64 DILERCY ARAGÃO ADLER65** A principal semelhança do coletivo humano é a diferença. E a sua diversidade constitui o potencial de maiores possibilidades para cada homem individualmente. Dilercy Adler

Parece um tema fácil à primeira vista, mas quando se mergulha na sua análise, ficam claras a complexidade e a multiplicidade de variáveis que interferem na configuração desse objeto de estudo. Só é possível vislumbrar um futuro entendo o presente com as determinações da origem e de todo o antecedente de um fato, neste caso, histórico. Segundo texto de Adler (2016, p. 69), na Antologia sobre a participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, na Itália, Com o fim da guerra afloraram injustiças tanto com referência ao Brasil, no que concerne as suas relações com os países que integravam o bloco dos Aliados, quanto do governo brasileiro em relação aos seus próprios pracinhas. Estes, apesar de terem sido recebidos como heróis, não obtiveram o reconhecimento devido pelo Estado, que entre outros atos extinguiu a FEB, ainda quando os soldados estavam na Itália. Nesse contexto é levantada a premissa de que Vargas temia que a FEB fosse usada como símbolo para derrubar o Estado Novo, principalmente pautada no fato de os pracinhas terem lutado contra ditaduras na Europa, o que poderia inspirar ideias democráticas, colocando em risco o seu governo. Foram também criadas inúmeras filiais espalhadas por todo o Brasil, com o mesmo espírito Militar Febiano, passando a ser definitivamente denominada de Associação Nacional dos Veteranos da FEB – ANVFEB, que teve como Presidente de HonraoPresidente da República, Marechal Humberto de Alencar Castello Branco (grifo nosso).

Isso me remete à epígrafe citada no início do texto: A principal semelhança do coletivo humano é a diferença. E a sua diversidade constitui o potencial de maiores possibilidades para cada homem individualmente.Assim, para alguns era pertinente a distinção dos ex-combatentes entre aqueles que estiveram e aqueles que não estiveram no Teatro de Operação na Itália. Essa postura retrata, por um lado, o desejo de realçar a natureza e qualidade dos serviços prestados à Pátria por aqueles combatentes que enfrentaram a crueza de um combate no campo de guerra, sob um frio intenso, uma região geograficamente, que dava vantagens ao inimigo, considerando os Montes Apeninos ocupados pelos alemães, além de todo o padecimento, pavor, todavia a abominação e outros sentimentos correlatos vividos por esses nossos heróis! De acordo com a ProfessoraCarmen Lúcia Rigoni, Historiadora, Representante da Associação Nacional dos Veteranos da FEB em Curitiba, A grande cisão destas associações, provocada por questões ideológicas e de mando, proporcionaria a fragmentação das mesmas, incidindo depois nos destinos da FEB. Os rígidos estatutos não permitiram um entrosamento maior com a sociedade civil, permanecendo nos seus quadros apenas os que estavam envolvidos diretamente com a guerra. Neste aspecto não houve renovação. (http://www.portalfeb.com.br/o-futuro-das-associacoes-de-ex-combatentes-no-brasil/)

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Mesa redonda no XXVIII Encontro Nacional dos Veteranos da ANVFEB em São Luís Maranhão, de 19 a 22 de outubro de 2016. Filha do veterano da FEB, Francisco Dias Adler. Psicóloga. Doutora em Ciências Pedagógicas. Presidente da Academia LudovicensedeLletras-ALL


Hoje, o que se vê e, também, segundo as impressões colhidas no XXVII Encontro de Veteranos da Força Expedicionária Brasileira, na cidade de Santa Rosa/ RGS, de 18 a 21 de novembro de 2015, é que as Associações da ANVEFEB resistem ao descaso, ao desinteresse, à falta de recursos, à falta de patriotismo, à descontinuidade e ao abandono. Assim, Os acervos foram coletados entre os combatentes, as regionais da ANVFEB sentiram-se estimulados a prosseguir. Muitas dessas regionais jamais tiveram sede própria, funcionaram de maneira precária e após 70 anos e pela impossibilidade dos veteranos em manterem estes acervos, muito destes foram transferidos para o Exército Brasileiro na tentativa de salvaguardar este material, mas a partir daí um fato novo cria barreiras para a visitação, ou seja a dificuldade de acesso da população às unidades militares. Poucas associações resistiram ao tempo, o caráter militar de início afastou a sociedade civil, não houve renovação nos seus quadros, muitos presidentes se perpetuaram nas diretorias. Também a situação hierárquica nos seus quadros acabou afastando os próprios combatentes de patente mais baixa e os simpatizantes.Não houve interação com a sociedade que foi deixada de lado. Em nossos dias, desaparecida a geração civil do pós- guerra, aos jovens pouco resta do conhecimento da FEB, em nossos pobres compêndios escolares da disciplina de História, a guerra e FEB são superficialmente abordados. (http://www.portalfeb.com.br/associacoes-de-veteranos-da-feb-resistem-ao-tempo-e/) (grifo nosso).

É interessante enfatizar o conhecimento tanto da situação mais ampla, no seu aspecto subjetivo, quanto o das leis que regem hoje as associações, o seu aspecto jurídico que no tocante aos princípios e finalidades expressa: DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS A Associação Nacional dos Veteranos da FEB- ANVEFEB, constituída de combatentes das Forças Armadas Brasileiras, participantes da Segunda Guerra Mundial, no Teatro de Operações da Itália, é uma sociedade cívica, cultural e recreativa, que tem por finalidade estreitar e prolongar os laços de camaradagem e de solidariedade humana entre os mesmos veteranos e seus familiares, assim como a promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico, para rememorar a história e as g1órias do Brasil na Segunda Guerra Mundial. A ANVEFEB incorpora a seus Princípios a defesa da paz, com liberdade, conforme recomenda a Federação Mundial dos Antigos Combatentes, cujos princípios são também incorporados, bem como a defesa dos postulados democráticos e das liberdades fundamentais, estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada pela Organização das Nações Unidas, que sintetizam a causa pela qual lutamos na Segunda Guerra Mundial. A ANVEFEB propõe-se colaborar na execução direta de projetos, programas com as entidades sem fins lucrativos e órgãos do setor público que atuam em áreas afins, no desempenho das tarefas relacionadas com as causas dos expedicionários. Fiel aos elevados intentos de seus fundadores, a Associação Nacional dos Veteranos da FEB se compromete a reger a sua existência e atividade no cumprimento dos seus Princípios e respeito à sua Finalidade. FINALIDADE Art. 3° - A ANVFEB, nos termos da Declaração de Princípios que deu origem ao CVCl, tem por finalidade: a) promover e incentivar manifestações cívicas e patrióticas comemorativas dos grandes feitos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e do Primeiro Grupo de Caça da Força Aérea Brasileira (FAB), na campanha da Itália, durante a Segunda Guerra Mundial;


b) cultuar a memória de nossos mortos na Segunda Guerra Mundial e desenvolver, entre seus Veteranos e os de outros países que nela tomaram parte, os laços de sadia e consciente camaradagem e fraternidade, nascidos durante a Campanha da Itália; c) sugerir, estimular e participar em medidas de amparo aos Veteranos e seus herdeiros; d) organizar e patrocinar reuniões cívicas, sociais, culturais e artísticas, bem como outras atividades que proporcionem recreação, convívio e conforto aos Associados e seus a familiares; e) manter relações com instituições congêneres; f) colaborar com os poderes públicos e instituições congêneres, quanto a assuntos referentes às suas finalidades precípuas; g) proporcionar, dentro de suas possibilidades, assistência aos Veteranos, suas viúvas, ascendentes e filhos, principalmente aos inválidos e às crianças; h) organizar e manter museu especializado sobre a Campanha na Itália; i) promover a cultura e a conservação do patrimônio histórico, preservando a memória e a história do Brasil na Segunda Guerra Mundial. No caso da A ANVFEB em São Luís do Maranhão,esta foi fundada em 19 de novembro de 1976, com a participação de membros da ANVFEB Central e teve o número de associados gradativamente diminuído. As circunstânciasapontadas não diferem das do quadro geral das Associações do Brasil, quais sejam: falta de apoio dos organismos governamentais, doenças, óbitos, etc. A última reunião ocorreu em 30 de janeiro de 1999. Dessa época em diante, a Associação se manteve graças aos esforços de alguns poucos veteranos e, principalmente, do veterano Anselmo Alves, que custeava as despesas da Associação. A ele o nosso reconhecimento e louvor. Outro dado digno de registro é que,desde a sua criação, não foi instituída oficialmente, o que só veio a ocorrer no final de 2015, quando alguns filhos e outros descendentes de febianos juntaram-se ao pequeno grupo existente e assumiram o compromisso de manter esta memória viva. Desse modo, em 08 de maio de 2016, a ANVEFEB/Regional São Luís foi finalmente instituída como Personalidade Jurídica e, conforme já em registro, com a garantia de abranger: Paço do Lumiar, Raposa e São José de Ribamar, cidades integradas à ilha de São Luís, as quais compõem a grande São Luís. Assim, acredita-se que todas essas argumentações devem servir para a continuidade do aprofundamento das análises relativas a essa questão. No entanto, não se pode prescindir de discussões mais incisivas até indicações mais concretas e equânimes. Voltando ao tema específico desta mesa: O FUTURO DAS ASSOCIAÇÕES, devem ser consideradas as ideias já delineadas no XXVII Encontro de Veteranos da FEB, das quais resultou a Carta de Jaraguá. Documento síntese, firmado por todos os veteranos presentes e pelos representantes de outras seções do Brasil,enunciando a proposta de unir todos os veteranos brasileiros, o que por sua vezresultaria,segundo os seus autores, em maior possibilidade de conseguir apoio de outros segmentos voltados para os propósitos de darem continuidadeà preservação da História dos Veteranos Brasileiros da Segunda Guerra Mundial. Isso posto, depreende-se que, dentre as possibilidades de continuidade da existência da ANVFEB, uma seria transforma-la em Associação Nacional de Veteranos, quando da junção de outros veteranos, como as Missões de Paz de Suez, do Haiti, São Domingos, Angola, Timor Leste, entre outras. Segundo essa lógica, se teria:um grupamento de jovens entre 20 e 30 anos a darem continuidade as suas representatividades em nome da paz. Mas creio que, ao se defender a união que neste caso representa uma fusão das Associações, não se pode prescindir de delineamentos claros dos parâmetros e das premissas dessa fusão, para não se incorrer em invisibilidade dos heróis mais antigos e muito merecedores de reconhecimento, tendo em vista as condições e contradições daquela época. Hoje o Brasil se encontra em um outro momento da sua história, que, apesar das fragilidades visíveis ainda existentes, concomitantemente apresenta-se mais forte no cenário mundial.


Que a nossa Pátria Mãe Gentil estenda esse amor para os nossos heróis da FEB, incluindo-se nesse contexto o resgate do valor e heroísmo desses bravos brasileiros. Que continuemos um “povo heroico com brados retumbantes” e o” sol da liberdade em raios fúlgidos” brilhem sempiternos no céu da nossa pátria!


ESCRITORES APELAM AO GOVERNADOR E AO PREFEITO: “PUBLIQUEM OS LIVROS, EM 1.º LUGAR, DO CONCURSO CIDADE DE SÃO LUÍS-2015!” HERBERT DE JESUS SANTOS Sem acesso às autoridades competentes maiores, há pouco, sem a recepção do secretário da Cultura do Município (Secult), Marlon Botão, há muito, os escritores Herbert de Jesus Santos e José Ewerton Neto valeram-se das linhas do JP Turismo, ontem, para solicitarem ao governador do Estado, Flávio Dino, e ao prefeito reeleito de São Luís, Edvaldo Holanda Júnior, a publicação dos seus livros e de outros ganhadores, em primeiro lugar, do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís/2015, promovido pela Secult. Se não houvesse mudança de rumo, os títulos teriam noite de autógrafos por ocasião da 10.ª Feira do Livro de São Luís (Felis), em 2016, também organizada pela Secult, que não realizou, neste ano, o 37.ºConcurso Literário Cidade de São Luís, cujos vencedores deveriam ser premiados na 10.ª Felis. Considerando muitas perdas e danos para a Literatura e a vida cultural maranhense, eles apelaram, com veemência, ao governador e ao prefeito: “Somente eles poderão resolver este grande problema, que quebrou uma tradição, em prejuízo da nossa intelectualidade, até por que, entre as obras desta safra, a maior parte é de autores moços, sem uma publicada, com um deles em dois gêneros, tamanha é a importância do Cidade de São Luís, o único certame literário que temos, atualmente”! Herbert de Jesus Santos, também revisor literário, rememorou: “Já tivemos o do extinto Sioge, da Fundação Sousândrade, da UFMA, e da Secretaria estadual da Cultura (Secma), da Academia Maranhense Letras (o José Ribeiro do Amaral, primeiro presidente dela, em 10.8.1908, e que tinha um de Contos de Natal)e o da então Func (hoje, Secult), fazendo, anualmente, uma festa, na cidade, especialmente, o Sioge, pagando bem os premiados e os colocando nas livrarias do Rio-São Paulo, e por isso o nossoponto de Inteligência e Cultura melhor conceituado pela Academia Brasileira de Letras e Associação Brasileira de Escritores, e com o seu jornal literário Vagalume, reconhecido pelasentidades, por ganhar campeonatos nacionais sucessivos, dentre seus similares, apêndices dos Diários Oficiais do Estado.” Júri de alto nível do Brasil— A comissão da 36.ª edição do Cidade de São Luís, em sua parte literária, foi presidida pelo doutor em Literatura, crítico literário e professor do Departamento de Letras da UFMA, Rafael Campos Quevedo,que falou sobre a qualidade dos trabalhos e disse que o alto nível das obras foi motivo de destaque entres os jurados. Avaliadas pelo gênero literário inscrito, contaram com dois jurados cada uma, um nacional e um local, que foi, para crônicas, José Dino Costa Cavalcante (graduado em Letras pela UFMA, mestre e doutor em Literatura Brasileira, e professor do Departamento de Letras da UFMA); e um nacional: Mônica Manir Miguel, graduada em Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); editora de caderno dominical do jornal O Estado de S. Paulo e doutoranda em Bioética, no Centro Universitário São Camilo, onde também fez seu mestrado. José Dino, aliás, entregou o prêmio para Herbert, em cerimônia prestigiada pelo governador Flávio Dino, na noite de 9.10.2015, no Teatro Alcione Nazaré, do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, dentro da programação da 9.ª Felis. Ganharam, mas não levaram — Primeiro lugar na categoria crônica, com A Ilha em Estado Interessante (seu 18.º livro), Herbert de Jesus Santos, cronista do JP Turismo (titular da Coluna Sotaque da Ilha, há 21 anos), destacou os escritores conterrâneos, inscritos sob pseudônimo, que aguardam justiça do governador e do prefeito:romance — Quando Choveram Pétalas na Casa do Diabo, de Caio Menezes Graça de Carvalho; novela: Pó, de André Felipe Cruz Correia; jornalismo literário: A Resistência do Império Imaginário—Histórias de Resistência da Festa do Divino Espírito Santo, em Alcântara, de Marisvaldo Silva Lima; contos: O que Dizem os Olhos, de José Ribamar Ewerton Neto; literatura infanto-juvenil: A Velha Calu, de Lussandra Barbosa de Carvalho; ensaio: O Livro Escolar no Maranhão Império (1821-1889): produção, circulação e prescrições, de Samuel Luís Velazquez Castellanos; peça teatral: Soleil Levant, de André Felipe Cruz Correia (este, o jovem herói que abiscoitou dois primeiros lugares e um segundo lugar);


poesia: Vasilhame, de José Antônio Viana Lopes; literatura de cordel: João do Vale em Cordel, de Raimunda Pinheiro Souza Frazão; e crônicas: A Ilha emEstado Interessante, de Herbert de Jesus Santos. Premiação baixada em salários-mínimos e em tempo — O prêmio para o primeiro colocado foi no valor de sete salários mínimos, e o segundo lugar, no de três, e que, por lei, seriam 10 salários, para os primeiros, e cinco, para os segundos. Está defasado, qual o tempo de sua promoção, pois, de 1955, o Cidade de São Luís deveria estar na 60.ª edição, se não falhasse muito, através dos tempos. O vereador que premiou a inteligência dos conterrâneos — Devemos ao vereador Casemiro Carvalho, o Concurso Literário e Artístico (contemplando as artes plásticas) Cidade de São Luís, criado pela Lei Municipal n°. 560, de 3.9.1955, e que tem sido desde aí uma importante ferramenta de cultura, fomentando, estimulando, descobrindo, divulgando novos talentos e consagrando os mais maduros, principalmente, por ser o único, então. Regendo que os colocados, em primeiro lugar, seriam, além da premiação em dinheiro, publicados, com noite de autógrafo, inicialmente, abrangeu três modalidades: ficção (novela e romance), erudição (crítica literária, pesquisa histórica ou folclórica) e poesia, com os Prêmios, respectivamente, Graça Aranha, Antônio Lopes e Sousândrade. Pedindo pelo Sioge e agora pelos premiados da Secult — Antes de posar para a foto com os demais ganhadores, jurados, comissão executiva do Concurso Cidade de São Luís, na noite brilhante de 9.10.2015, numa sexta-feira, com o ali secretário de Governo da Prefeitura, Lula Filho, o presidente da Func, Marlon Botão, Herbert de Jesus Santos, numa deferência especial deste, discursou, solicitando ao governador a restauração do Sioge com suas antigas atribuições de editora de livros, bem-avaliada pela intelectualidade brasileira. Flávio Dino, esboçando um sorriso largo, mandou de lá: “Vamos salvar o Sioge”! “Agora, estou pedindo, igualmente, por todos os autores exitosos no 36.º Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, e pela Inteligência e Cultura do Maranhão, novamente!” — frisou. Um bem-te-vi combatente: “Não vou embora pra Pasárgada!” — Entendendo que já estão demais as perseguições das aves de rapina que vem enfrentando, há muito tempo, como intelectual e servidor público estadual, Herbert de Jesus Santos valeu-se ainda do JP Turismo, para desabafar: “Já perdi um alto cargo e vencimento, para um apadrinhado do governo, que era habilidoso em entregar, nas redações de jornal, as matérias produzidas por profissionais, cabendo a mim, a pedido do secretário estadual da Comunicação, revisar os cochilos dos colegas, e redigir, diariamente, seis textos, com o mesmo assunto, e construção diferente, para passarem como se produzidos pelos matutinos”. Sobre o mesmo concurso literário: “Em 2007, ganhei no gênero jornalismo literário, com Ofício de São Luís: Bernardo Coelho de Almeida(Coração em Verso e Prosa), e fui receber a premiação na justiça, porque o ali presidente da Func, já falecido (omito o nome, porém foi o pior de todos), vetou meu pagamento, só porque, no Sotaque da Ilha, deste semanário, lembrei que ele não devia, como queria, envidraçar (era decorador) a Casa das Minas (terreiro de matriz africana), porque ia contra os preceitos dos voduns, com que ele recuou, e sobrou pra mim; e os exemplares da obra estavam servindo delembrança a participantes da Feira do Livro de São Luís, na presidência da Func do meu amigo e colega jornalista e carnavalescoEuclides Moreira, que, quando soube do episódio, viabilizou meu pagamento, em juízo, em 2010, e me devolveu o restante da tiragem”. Herbert de Jesus Santos finalizou, convicto: “Todavia, aqui é minha terra, onde lutarei para também ser feliz! Já estou calejado no bom combate, e neste diapasão, a grande meta é continuar! Não vou embora pra Pasárgada,pois não sei se lá serei amigo do rei, privilégio só para um poeta da dimensão de Manuel Bandeira, que cantouà alturasua certeza.” 10.ª Felis em banho-maria, e já se beijam, os bicudos do Palácio dos Leões e de La Ravardière! -- Cantamos esta pedra, há muito tempo, com a experiência de brigar muito pela Feira do Livro de São Luís (Felis), para ela não esmorecer, qual pelo Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, sempre lembrando que ele já foi adiado por diversas vezes, na minha que nunca foi quinta-coluna, se não, ele não estaria sequer no 36.º. Agora, é Hora de Guarnecer aos autores, livreiros, palestrantes, crianças e seus responsáveis, estudantes e professores do ensino médio e do universitário, se preciso for, até a autoridade da amante do cabo do destacamento de Ipixuna, para a 10.ª Felis realizar-se, quando menos, no início de dezembro, antes da chuva: temos espaços extensos, na Praia Grande, um perto do outro, sem necessidade de montagem de box, para os conferencistas e vendagem dos títulos, e autógrafos: Casa do Maranhão, Curso de História, Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (com o auditório do Teatro Alcione


Nazaré), Teatro João do Vale, Teatro Arthur Azevedo, Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, Museu de Artes Visuais, etc. Euclides Moreira, sem a parceria do Estado, quando os dois bicudos do Palácio dos Leões e do de La Ravardière não se beijavam, num dezembro de vacas magras, improvisou a Felis, com todo mundo, no Ceprama, e não deixou a peteca cair, apesar de que o local foi mais adequado para a comercializaçãode artesanato.

FLÁVIO DINO PRESTIGIOU OS VENCEDORES, EM 1.º e 2.º LUGARES, DO CONCORRIDO CONCURSO


PINTANDO BORBOLETAS JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS Manhã de um dia comum de mais uma semana de trabalho, mas com ares de domingo. Mas, domingo foi ontem ou será amanhã – mas pode ser hoje, em obediência à nossa intenção. Ou será que uma coisa ou outra não tem grande importância? Que diferença faz ou que importância tem um domingo? O forte vento causava a impressão de querer nos puxar ou tanger para o outono, num redemoinho que nos faria passar, também, pelo verão. Mas, não havia explicação plausível para tantas folhas ressequidas formando um tapete no local onde pretendíamos trabalhar, pintando borboletas. A beleza do lugar, que nos permitia contar os iguanas verdes passeando nos galhos retorcidos, parecia querer nos transformar num novo Van Gogh escrevendo a Natureza com tintas e pincéis. Pincéis à mão! Tela preparada – e o vento, que ora aumentava em rodopios espalhando as folhas ressequidas, provavelmente tecendo um tapete para deuses invisíveis e abrindo espaços com mãos de fada. Um poema, com versos metricamente perfeitos e rimas que não deixavam margens para críticas. A Natureza punha e retirava o vento da forma que bem lhe convinha. Na direção que queria, tangendo e trazendo de volta o que ajudava a compor aquela paisagem. A Natureza faz da vida um poema. E nos ensina a viver as estações do ano com suas cores vivas, e mutantes. Cada mudança é mais um passo a caminho da perfeição. Às mãos, tela e pincéis. Os olhos escrevem o poema selecionando as cores do arco-íris e a tela ainda branca começa sugar a tinta como se uma força incontida pintasse por nós. Cada traço um novo tom que vai formando uma imagem que nem o cérebro consegue “definir”. Seria a “Natureza”? A borboleta está no pano da tela ainda inconclusa. Falta terminar uma das asas e o vento avisa que está voltando. Agora mais forte. Últimos retoques. Pronto. A borboleta está pintada. Quase perfeita. O vento chega rodopiando as folhas secas, quase quebrando os galhos ainda nas árvores. Empurra para longe o cavalete com tela e tudo. Nos apressamos em desvirar a tela para garantir a secagem da tinta, e a ação nos surpreende e nos faz sentir a presença d´Ele. A borboleta não está na tela. Voou!


PROFESSOR JOSÉ MARIA RAMOS MARTINS - “Requiescat in Pace”RAIMUNDO VIANA Professor Universitário; Vice- Presidente da Academia Brejense de Letras Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL rcv@elo.com.br De viagem, fui surpreendido com o inesperado falecimento do Professor José Maria Martins. De logo, sucumbi em estado de reflexão. E, mentalmente, revivi os momentos e circunstâncias – sempre agradáveis e enriquecedores – em que se cruzaram nossos caminhos. Do que vi e vivi nessa aproximação devo um testemunho – daí a razão desta crônica, mesmo com bastante atraso. Conheci-o, em 1968, na UFMA, na condição de professor de Filosofia. De logo, nele identifiquei o autêntico Professor em toda a extensão dessa palavra. Não se restringia apenas a desenvolver um Programa de Ensinoa ser cumprido, o que seria muito pouco, em se tratando do Professor José Maria. Ele ia mais além!... Dirimia dúvidas!... Apontava rumos!... Iluminava caminhos!... Defendia princípios!... Protagonizava um mundo novo, o do conhecimento. Sempre disponível, o Professor José Maria era um vocacionado para o Magistério. No exercício de suas atividades docentes, utilizava duas linguagens: a Verbal e a Comportamental. Tudo em consonância com o princípio orientador do exercício da docência em nível de Sacerdócio (“Verba movent, et exempla trahunt” – As palavras comovem, e os exemplos arrastam). O Professor José Maria transmitia segurança no que dizia; e Felicidade no que fazia. Não limitava suas atividades ao espaço físico da Sala de Aula formal; com o mesmo entusiasmo e convicção continuava transmitindo seus conhecimentos; manifestando suas opiniões, nos Encontros informais com seus alunos, via comunicação difusa de Corredor... de Rua! ... Do Magistério fez, não há negar, um Ministério de vida! Oque era obrigação virou missão. Aos alunos dispensava atenção de tom paternal. Muito me orientou, quando, divorciado da batina, optei pelo meu OUTRO CAMINHO, o do Magistério. A Sala de Aula sempre foi o seu espaço preferido para viver o seu dia-a –dia. E lá permaneceu até quando não mais lhe foi permitido ficar. O tempo passou!...E a aposentadoria chegou, o que o empurrou, sem sucesso, para a inatividade, e o consequente esquecimento, como sói acontecer. Cá fora da sala de aula formal, o Professor José Maria, já no “otium” da aposentadoria, marcou com seu trabalho, inteligência, e dedicação a história de Instituições de reconhecida relevância cultural em nosso Estado, como oConselho Estadual de Educação, e a ACADEMIA Maranhense de Letras – AML. E não parou por aí! Segue dinâmico, fazendo o de que mais gostava: Escrever e Discutir temas filosóficos – a Teoria do Conhecimento era o de sua preferência – numa visão aristotélica-tomista. O Professor José Maria por onde passou deixou amigos , e nenhum desafeto. Conduziu-se, na vida, com serenidade. Era uma pessoa limpa!... Isenta!... Muito especial!... A todos que o conhecemos, e que tivemos a sorte de com ele conviver deixou um substancioso exemplo de conduta, movida,, antes de tudo, pela virtude da Humildade. Sua morte, induvidosamente, deixou um vazio na Galeria dos homens cultos de nosso Estado. Entretanto, dizem as Sagradas Escrituras: “tudo tem seu tempo; há tempo para nascer; e tempo para morrer”, o do Professor José Maria havia chegado!... Ele o reconheceu!... E com a tranquilidade e serenidade de quem “Combateu o Bom combate”, permitiu que a morte chegasse, quando a vida desejava ir!... Que Deus o acolha entre seus eleitos! “Requiescat in pace!...


OS MELHORES ANOS DE NOSSAS VIDAS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Membro das Academias Caxiense de Letras, Ludovicense de Letras, e do IWA

“Este artigo é dedicado aos caxienses, como eu, viventes naqueles verdadeiros anos dourados”. Na Caxias daquele tempo ia-se muito aos cinemas, ouvia-se muito rádio (minha mãe “viajava” com as novelas da Rádio Nacional) e lia-se, com atraso considerável, a revista O Cruzeiro. Os serviços de auto-falantes encarregavam-se do noticiário local e de “embalar os corações enamorados” de moças e rapazes a “rodar”, sempre em sentido contrário, na Praça Gonçalves Dias. Tenho certeza: os quinze anos posteriores à Segunda guerra mundial foram os melhores do século XX. Do final da guerra lembro-me bem: morávamos no Largo da Matriz. Naquele dia, os empregados do Armazém do Eugênio Barros (onde, hoje, é o BNB e o SEBRAE), e os da Rianil, “espocaram” foguetes, e os auto-falantes tocaram o Hino Nacional! Em 46, comecei a torcer pelo Fluminense, consagrado super-campeão vencendo o Botafogo, com um goal de Ademir; no mesmo ano, ingressei no então famoso Ginásio Caxiense, com a direção sempre lembrada do professor Lafayette de Mendonça; em 54, fui para o Rio de Janeiro, ainda sem a violência dos dias atuais, pois se andava de bonde, da Cinelândia à Copacabana, tarde da noite, sem nenhuma perturbação; em 59, conclui meu curso de Economia; em 60, fiquei noivo. Um suceder de bons acontecimentos! Depois viriam fatos também importantes como o meu casamento com a Conceição, em 28/01/61, e o nascimento dos meus quatro filhos, em 12/61, 05/64, 07/67 e 11/76. Em Caxias, na década de 40, principalmente, era a época dos grandes musicais do cinema! O Cine Rex, do Carvalho Neto, exibia-os as terças, na Sessão das Moças, intensamente frequentada pelos jovens de então. O Pax, do Waldemar Lobo, preferia exibir as operetas e os seriados. Até hoje não compreendo como nossa cidade permitiu o total desaparecimento dessa inigualável forma de entretenimento e de cultura. A televisão - ou qualquer outra forma de projeção de imagem e som - jamais substituirá a chamada “sétima arte”. Os auto-falantes complementavam o rádio e o cinema: existiam as Empresas de Propaganda Ondas Sonoras - EPOS, do Alderico Silva, e a Eletro Acústica de Propaganda - EEAP, do Oswaldo Marques. Funcionavam em horários diferentes numa concorrência sadia em proveito dos ouvintes, “com discos recentemente recebidos do Rio de Janeiro”. Depois surgiu o “Gigante do Ar”, do nosso querido e sempre lembrado Comendador Delamar Silva, inovando com sugestões de mensagens musicadas endereçadas às namoradas. Importantes mesmo eram os locutores. O Souza Lima era o “speaker” da EEAP. Era vidrado nas canções do Dick Farney – precursor da “bossa nova” - e nos boleros do Gregório Barrios; fazia-os “rodar”, incessantemente, para o próprio prazer e dos ouvintes também fanáticos. O Raimundinho Santos comandava a locução da EPOS e fazia o estilo mais romântico, apreciador das valsas cantadas pelo Orlando Silva ou Sílvio Caldas, e dos “Fox” interpretados pelo Carlos Galhardo ou Nelson Gonçalves. Era praxe o locutor anunciar os nomes dos autores e do (a) cantor (a) de determinada música, privilegiando o trabalho dos artistas e facilitando a arrecadação de direitos autorais, prática totalmente desvirtuada no presente. O Raimundinho Santos, sempre, fazia “tocar” o “Cinema do Ar Lever”, propaganda do famoso “sabonete das estrelas do cinema”; narrava a história de algumas delas, suas participações em filmes, suas interpretações de musicas gravadas na memória. Quando estive em Nova York, ainda com suas famosas


torres gêmeas do World Trade Center (visitei-as e jantei no restaurante do 104º andar, da Torre Norte), tive facilidade em reconhecer locais da ilha de Manhattan e de escolher peças em teatros da Broadway. Eram as lembranças bem presentes do “Cinema do Ar”. Hoje, o cinema foi substituído pelos “enlatados” da TV; o rádio é moda de colecionadores; os auto-falantes não têm a mesma importância, estão esquecidos, quase fora de uso, mal utilizados na propaganda de algumas lojas e na mobilização, pelas igrejas, dos seus ainda fiéis.


COLHENDO FRUTAS EM MEU QUINTAL EM ARARI JOÃO FRANCISCO BATALHA

Retornei ontem de Arari, colhi frutas e legumesno quintal: Manga, Banana, Acerola,Caju, Jabuticaba, Tamarino, Condessa, Mamão, Noni, Abobara, Quiabo, Vinagreira... Desta vez não pesquei, nem os passarinhos não estavam nidificando. Não estava faltando água. As ruas da cidade estão limpas, porém em alguns aspectos falta colaboração da população. O trânsito da cidade, nas ruas mais movimentadas, deixa muito a desejar. Falta de sinalização, falta de espaço para estacionar, falta de fiscalização. Motoristas, motoqueiros, motociclistas não habilitados. Ciclistas e pedestres desatenciosos e desconhecedores de regras de trânsito. Deste e de outros assuntos falarei depois.


A CASINHA DA BOSTA CERES COSTA FERNANDES PUBLICADO EM O ESTADO, 11 DE SETEMBRO DE 2016

No fim da descida da Rua Montanha Russa, esquina coma Av. Beira-Mar está a Casinha da Bosta. Passo sempre por lá, no caminho de casa. Gosto de vê-la pequenina, branca e azul, solitária no meio do terreno mal cuidado, só capim. Dias desses, tive roubada a visão prazerosa: tapumes ao redor do terreno fechavam a visão da casinha. Que iriam fazer ali? Seria o aproveitamento do terreno para a construção de edificação mais útil, desde que a casinha não mais cumpre sua função há várias décadas? Essa casinha, quando tomei conhecimento mais próximo dela, no final dos anos 50 do século passado, já não cumpria a função de receber o esgoto in natura da parte central da cidade e bombeá-lo direto ao mar em frente, despejando seu conteúdo sem tratamento por meio de um grosso cano de ferro, com uma tampa móvel, aberta e fechada manualmente, no nível abaixo da maré. A operação era feita por ocasião da maré baixa. Uma forma tosca de resolver um problema, causando outro: a poluição das águas da Beira-Mar. Em uma época não politicamente correta, quem se importava com isso? Meninos desde sempre mergulharam por perto e até pescavam, pegando belos papistas, gordos e bem alimentados.Muitos anos depois de a casa não ter a menor relação com esgotos, ainda havia o preconceito de comer papistas, que são uma espécie comum de bagres. Havia também a crença, à época do funcionamento, que os dejetos assim despejados com a forte pressão das máquinas, seguiam levados pela corrente até a Ponta d’Areia,de onde se afastavam rumo à saída da baía. Os banhistas daquela praia só tomavam banho “na costa”, contornando Forte, ao longo do que é hoje a avenida. A parte da praia defronte de São Luís era “contaminada”. Reconheçamos que essa forma de eliminar dejetos era um progresso da cidade que, antes, livrava-se deles de forma ignóbil, por meio dos“tigres”, negros escravos, assim chamados por ficarem rajados pelas fezes dos seus senhores que escorria dos toneis de madeira que levavamà cabeça, na calada da noite, na descida pelo Beco da Bosta, para despejá-los ao mar. Morei muitos anos na Rua Montanha Russa, que tem outro nome que ninguém chama, bem defronte da Casinha da Bosta desativada. Abria a janela do meu quarto no segundo andar e a minha primeira visão era a casinha branca e azul, depois volvia o olhar para a o Rio Anil e para o marzão que se estendia além. Era uma visão divina e calmante. Isso no tempo dos bondes. Identifico a casinha com seus dois ocupantes, o primeiro, seu Espirito Santo, que passava o dia sem fazer nada e parecia estar ali desde sempre. Não sei de quando, acho que desde a Segunda Guerra. Era funcionário da SAELTPA (Serviços de Água, Esgotos, Luz, Tração e Prensa de Algodão). O outro, seu Manoel, chegou depois da aposentadoria do primeiro, era uma estranha figura,mistura de mendigo e profeta. Usava os cabelos longos, amarrados em um rabo que lhe batia à cintura, duros, por falta absoluta de lavagem, assemelhavam-se a uma tábua. Esse dormia ali, num cantinho da casa, que dentro era um buraco só, ocupado pelas antigas máquinas. Saía às ruas com papelões cheios de frases sobre o apocalipse e o castigo divino de todos. Eram textos confusos, mas muito apreciados por alguns poetas alternativos que lhe forneciam material para confeccioná-los. Duascaracterísticas identificavam os dois, ambos eram preguiçosos e de maus bofes. A casinha resistiu intocada, esses anos todos. Agora, amigos me informam: vai ser uma estação elevatória, ligada ao Centro, para encaminhar os dejetos recebidos rumo à estação de tratamento do Bacanga, localizada ali na rotatória da Avenida dos Portugueses. Quer dizer que, com mais de setenta anos parada, ela vai voltar a ser a Casinha da Bosta? Boas notícias, melhor é a que nos diz que o seu visual em nada vai ser alterado.Continuarei, então, a saudá-la quando da minha passagem.


RESGATANDO A HISTÓRIA

ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro das Academias de Letras Caxiense e Ludovicense, e do IWA. Publicado em O ESTADO, 26/11/2016 Quais os motivos que levam a longos caminhos numa viagem de mais de cinco mil quilômetros, do Rio de Janeiro ao Maranhão, à procura de heróis negros do nosso país? Estive em Fortaleza, no Teatro José de Alencar, presente ao lançamento do livro Pepitas brasileiras de Jean-Yves Loude, etnólogo, escritor e pesquisador francês; assim prestigiei o evento e retribuí a gentileza recebida em Lyon-França, quando o autor compareceu à minha Palestra e sessão de autógrafos de “Crônicas /Chroniques”, na Université Lumière. Jean-Yves Loude e sua esposa Viviane Lièvre ajudaram-se mutuamente no grande processo de trabalho ao sentirem-se desafiados pelo recebimento de uma mensagem, via computador, anunciando uma figura afro-brasileira! Ele clicou na mensagem e viu surgir o rosto de uma mulher estranha, de pela escura: seu crânio absolutamente liso luzia, decerto iluminado por um projetor de estúdio. Seus lábios espessos estavam selados e nada conheciam dela além do seu prenome, Luzia; a data de sua morte aproximava-se de dois ou três séculos e falecera cerca de onze mil anos antes da nossa era. Por essa razão eles estão viajando há algum tempo, desde o Rio de Janeiro, passando por Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Ceará, Pernambuco e Maranhão, em busca de resgatar a história desses heróis do país. Os encontrados, homens e as mulheres, têm em comum o fato de serem negros e descendentes de escravos. A Palestra que o Jean-Yves fez ao ensejo do lançamento do seu Livro foi rica de ilustrações e figuras de linguagem, de citações de nomes e situações vividas: no Rio de Janeiro, no Palácio São Cristovão, ele e Viviane queriam ver Luzia, sem demora; conhecerem a história de Dom Obá II d’África ou Cândido da Fonseca Galvão; verem a santa da máscara de Flandres, Anastácia, na igreja de N.S. do Rosário dos Pretos. Lembraram do abolicionista José do Patrocínio e do poeta Cruz e Souza; de Delminda e de Chico Rei; de Artur Bispo do Rosário e de João Cândido Felisberto, e visitaram a Gamboa conhecida como “A pequena África”. E prosseguiram na sua extensa viagem! Em Fortaleza, enquanto o Jean-Yves falava fui ficando cada vez mais interessado e confortável ao ir lembrando as relações da nossa família com pessoas da raça negra. Quando morávamos em São Luís, no início de 1940, um sobrinho da então jovem Maria, que já fazia parte da família do nosso parente José Carlos Ribeiro, vinha de Rosário para brincar conosco: jogava para o alto uma pedra que, ao cair, estalava como uma bombinha de São João. Depois, já morando em Caxias, revezavam-se em nossa casa as amigas Condessa, Cota, Zéfinha, Ana e o Nini, sem nenhum demérito, na cozinha, na arrumação, na lavagem e goma da roupa e nas tarefas da indústria de guaraná. A Condessa era praticante do Terecô e cantava seus hinos enquanto trabalhava! Agora, o filho de Fátima, que está conosco há muito tempo, Lucas, vai completar 13 anos e integra nosso convívio desde o nascimento crescendo junto ao meu neto caçula, Davi, de nove anos; ambos, Fátima e Lucas, são como membros da nossa família. O livro de Jean-Yves ilustra e conforta, merece ser lido e divulgado.


O VALOR DOS RITUAIS SANATIEL PEREIRA Membro da ALL, ACLAC e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA. Publicado no O ESTADO, 19/11/2016 Alguns anos atrás, em uma dessas cerimônias de recepção a um novo acadêmico na Academia Maranhense de Letras, tive a grata satisfação em perceber o rigor no cumprimento do regimento da casa por seu Presidente. Naquela oportunidade, o Secretário Geral veio ao ouvido do Presidente em exercício informar da presença do Vice-Governador. Logo em seguida, para minha surpresa, o Presidente, tomando a palavra, anunciou-o na plateia, sem, contudo, convidá-lo a participar da mesa diretora. A igreja, incontestavelmente, foi uma das instituições seculares que mais protegeram e honraram os rituais. A introdução de laicos no ritual da igreja demorou muito tempo para se efetivar. A passagem do latim para as línguas românicas, como a portuguesa, aconteceu ontem, considerando os séculos de atuação da igreja no mundo. Tive algumas oportunidades de assistir a missas em latim em igrejas de São Luís. Entretanto, para mim o mais intrigante – talvez mágico – era a proteção do espaço sagrado da igreja, inacessível ao laico curioso. Algumas das igrejas que visitei no continente europeu deixavam ver em seu desenho interior que as pessoas comuns não tinham acesso ao local onde se realizava a cerimônia da missa. Maravilhado, assisti, na cidade de Braga em Portugal, aos cortejos organizados pela igreja, na Semana Santa, que traziam a riqueza de uma cultura protegida, por aquele povo, através dos séculos. Cavaleiros vestidos em trajes medievais, montados em seus cavalos, abriam a procissão com galhardia e honra. A caminhada era marcada por uma cadência que reverberava pela multidão. Para os ocidentais, como eu, parecia que tínhamos voltado no tempo, ou participávamos do set de um filme que acontecia na Idade Média. As ruas apertadas, com casas coloniais, por onde passava o cortejo, auxiliavam aquela visão. Tudo era magnífico aos olhos dos visitantes. No Maranhão, particularmente em São Luís, percebe-se que a cultura e as tradições, por falta de uma proteção efetiva, estão sofrendo influências externas – via meios de comunicação –, que podem descaracterizar ou mesmo extinguir traços nativos do povo ludovicense. O ritual do bumba meu boi, um destes exemplos, foi abandonado por um corpo de baile que não enxerga o boi como centro da brincadeira. Catirina é hoje uma figura irônica da personagem que promoveu o auto. A concepção que terão nossos netos sobre o bumba meu boi será totalmente diferente daquela que tivemos no passado. Lamentavelmente, o folclore original servirá somente para motivar estudos acadêmicos daquilo que outrora existiu. Na minha infância, fui naturalmente educado para tomar a bênção para familiares e amigos mais velhos. Nada conhecíamos de hierarquia ou obrigações. O fato fazia parte de um ritual que se propagava para além da alma humana, completando-a, dessa forma, no mundo concreto, a sua parte emocional. Não tínhamos reservas de nos expressarmos dessa forma, porque tudo fazia parte da construção do nosso ser. A expressão de abraços e afagos trazia junto a certeza de que podíamos contar um com o outro, e que estávamos ligados de forma atemporal. Hoje, lamentavelmente, perdemo-nos nas relações sociais, que imunizam, matam e desconstroem tudo que se fez no passado. Deixamos de lado o coração amoroso para reger as nossas vidas somente pelo lado mental, que só contabiliza coisas e nunca emoções. Valha-nos senhor São Bento!


NOSSO TRIÂNGULO JOÃO FRANCISCO BATALHA, PRESIDENTE DO TRIÂNGULO MAÇÔNICO DE ARARI PUBLICADO EM CLARÃO - Órgão de divulgação do Triângulo Maçônico Batalha Arariense

Não é o Triângulo Mineiro, de modernas, estruturadas e desenvolvidas cidades e de grandes produções agrícolas do sudeste brasileiro; nem o Triângulo das Bermudas, cenário de fenômenos inexplicáveis. É o Triângulo da Paz e da Solidariedade onde professamos a ética e a moral, Liberdade, Igualdade e a Fraternidade. Este é o Triângulo Maçônico de Arari. Terá vida efêmera, porque logo se transformará em Augusta e Respeitável Loja Simbólica que terá o nome Loja Maçônica Fraternidade Arariense. Local de elevação espiritual para o gênero humano, para o sucesso daqueles que aproximam os homens, para triunfo do bem sobre o mal, da ordem sobre a anarquia, da razão sobre a presunção, da sabedoria sobre as paixões, e da liberdade de consciência e de expressão sobre as forças da opressão. Lugar de se prestar socorro moral no perigo ou na aflição. Este é o nosso Triângulo, onde ampliamos nossos conhecimentos, reforçamos a fé e a coragem, na convicção dos nossos ideais e na promoção do desenvolvimento social, ético e humano, como Escola de Aperfeiçoamento Moral. COMEÇANDO NOSSA HISTÓRIA Fato auspicioso na história do município de Arari. Fundação de um Triângulo Maçônico no dia 23 de abril de 2016. Triangulo que tem prazo para se transformar em uma Loja Maçônica que terá o nome de ARLS Fraternidade Arariense. Será uma coluna de lutas em favor da ética e dos bons costumes. Um pilar de conhecimento e sabedoria em prol de nossa orbe e dos homens livres e de bons costumes que se interessam pelo bem comum da comunidade, do país e do universo. Triângulo fundado no Rito Escocês Antigo e Aceito e que se transformará para o Rito Brasileiro, tão logo seja transformado em Loja, isto face aos valores da modernidade em que vivemos. O Rito Brasileiro, inspirado no Rito de York, teve sua aprovação definitiva em 1916 e contêm trinta e três Graus, fato que o coloca bem mais próximo das tradições do Rito Escocês Antigo e Aceito. Para que seja aceito maçom, o candidato terá que ser ético, fraterno, solidário e livre e de bons costumes. No final da sessão houve condecoração de Honra ao Mérito; sorteios de suvenires e objetos emblemáticos da Maçonaria; e distribuição do livro “Arari, Maçons e Maçonaria”, do autor João Francisco Batalha e “Trolhamento Aprendiz”, e “Interstício do Primeiro Grau R.`.E.`.A.`.A.`.”, do autor Júlio Rodrigues dos Santos; além de distribuição de adesivos do Triângulo Maçônico Batalha Arariense. Trinta e um Maçons, oito esposas de maçons e dez convidados especiais, entre os quais Fernando Vinicius Sampaio Simas, Delegado de Polícia; José Antônio Nunes Aguiar, Advogado; João da Conceição Vale Rego, Vereador; Késsya Ericeira Batalha, Professora e André José Batalha Neto, produtor rural; compareceram à solenidade de Instalação do Triângulo Maçônico de Arari, realizado no dia 23 de abril de 2016, no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Arari. Encaminharam mensagens, justificando a ausência e parabenizando a iniciativa, os maçons Abdelaziz Aboud Santos e José Renato dos Santos. Justificaram, também, a ausência, a Sob.`. Georgete Batalha e o Presidente da Poderosa Assembléia Legislativa do GOAM, Eminente Ir. `. Marcos Antônio Lins, que, já a caminho de Arari com uma comitiva de IIr.. da ARLS “Rodrigues Neves III”, tiveram que retornar à cidade de Bacabal devido súbito falecimento familiar de um dos integrantes da comitiva. Presente ao ato o Soberano Grão-Mestre do Grande Oriente Autônomo do Maranhão, Ir.`. Noê Paulino de Carvalho; o Grande Comendador do Rito Escocês Antigo e Aceito, Ir.`. José Raimundo Nogueira dos Anjos; o Soberano Grão Mestre Ad Vitam do GOAM, Ir.`. Raimundo Benedito Aires; o Grande Secretário de Interior do GOAM, Ir.`. Nilmo Antônio Batista Silva; o Soberano Grande Inspetor Geral, Ir.`. Manoel de Jesus Oliveira; O Ven.`. Mest.`. da ARLS 1º de Maio, Ir.`. Raimundo França; o Ven.`. Mest.`. da ARLS Obreiros da Artes Real, Ir.`. Ari Lima dos Santos; o Ven.`. Mest.`. da ARLS Acácia Fraternidade e Amor nº 45, Ir.`. José Reinaldo Vieira, e o Ven.`. Mest.`. da ARLS Filhos da Luz, Ir.`. Manoel Lourenço Ribeiro.


Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! IIr.`. Dos Anjos, Noê, Batalha, Aires e Lúcio cantando o Hino à Bandeira, e Ir.`. Júlio, abrindo o Livro da Lei e fazendo leitura do Salmo 133: Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a sua barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.

Antes do início da solenidade o Ir.`. João Francisco Batalha e a Cunh.`. Maria Celeste Ericeira Batalha ofereceram, em sua residência de Arari, um Café da Manhã aos IIr.`. e CCun.`. visitantes. Discursaram durante o evento os IIr.`. Noé Paulino de Carvalho, Ari Lima dos Santos e Manoel de Jesus Oliveira. A Cunh.`. Maria da Graça Oliveira, o convidado José Antônio Nunes Aguiar e o Ir.`. João Francisco Batalha. O Ir.`. Noê expôs que o Triângulo tem o nome Batalha Arariense como sinônimo de Labor e Combate, e, também, como homenagem a uma das maiores, mais antigas e tradicionais famílias arariense, a família Batalha, fixada em solo arariense e no Baixo Mearim, desde os primórdios do século XIX. Família da qual descendem valorosos maçons, alguns neste Oriente, outros no Oriente Eterno. Exaltou a Maçonaria como instituição protagonista da Fraternidade e da Moral. Da Liberdade e da Igualdade, da Cultura e do Civismo. Tolerante pelo Amor e pelo Respeito ao poder constituído e à religião. O Ir.`. Ari Lima dos Santos, para dizer que a ARLS Acácia Fraternidade e Amor, do Or.`.de Cantanhede se orgulha em ser a Loja Mãe do Triângulo Maçônico Batalha Arariense e que a mesma estará sempre à disposição do Triângulo, oferecendo todo o apoio à iniciativa dos IIr.`. ararienses e as futuras ações sociais que favorecem as classes menos favorecidas, através das ações dos homens Livres e de Bons Costumes que combatem a tirania, a prepotência e a injustiça. O Ir.`. Manoel de Jesus Oliveira para exaltar o feito de criação do Triângulo e lamentar que o estado de saúde do Ir.`. José Gilney da Silva que não o permitiu estar presente. Leu, porém, trechos da ‘Prece ao Mestre dos Mestres’ de autoria do Ir.`. Gilney, que entre umas e outras estrofes diz: Oh Deus, ajuda-me a dizer sempre a verdade na presença dos fortes, e jamais dizer mentiras para ganhar os aplausos dos fracos; Se me deres fortuna, não me tires a felicidade; Se me deres a força, não permita que eu perca a modéstia, conservando apenas o orgulho da felicidade; Não me deixe ser atingindo pela ilusão da glória; Se me faltar a beleza da saúde, conforta-me com a graça da fé... Argumentou, finalmente, que se sente orgulhoso pela concretização deste grande sonho, de uma oficina maçônica em sua terra natal, o Arari. Encerrando sua fala, exaltou o contributo da Maçonaria como protagonista da história e dos fatos sociais e das lutas em defesa dos valores da Pátria e da Nação, quando sempre esteve à frente dos combates em prol dos ideias libertários. É na Maçonaria, disse, onde se cultua a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade em defesa da ética e da moral, contra os desvios de conduta de qualquer espécie. A Cunh.`. Graça Oliveira falou do importante papel social da mulher no seio da Maçonaria, como braço fraternal ao lado dos seus maridos e suporte de que os maçons necessitam para o bom trabalho nas atividades sociais, obras caritativas e nas ações de solidariedade, e, também, com a ornamentação das lojas em dias festivos e atividades artísticas, e no fortalecimento e cultivo do amor fraterno. Finalizou dizendo que o Maçom deve sempre levar a esposa à Loja para que confraternize com o grupo feminino das Samaritanas, oferecendo um ambiente social e honrado às Cunhadas. Enalteceu a Maçonaria como protagonista das discussões sobre os grandes temas sociais e centro de união onde se estimula o relacionamento fraterno e amistoso entre as pessoas, contra a corrupção


na administração pública e a sujeira moral em todos os níveis, e em todos os poderes. O advogado José Antônio Nunes Aguiar, disse que, mesmo não sendo maçom é conhecedor dos grandes feitos da Maçonaria no mundo inteiro e de que esta instituição se reúne secretamente para fazer o bem, fazendo o culto a igualdade e ao civismo. O Ir.`. José Reinaldo Vieira, da ARLS Acácia Fraternidade e Amor nº 45, de Vitória do Mearim, integrante da GLEMA, recebeu a Medalha de Honra ao Mérito por a ser uma Loja de outra Potência que prestigiou e honrou o Triângulo, com sua presença, e comitiva. E em seu agradecimento prometeu colaborar com a nova unidade maçônica e de estar sempre apostos, para combater os preconceitos e os erros, lutando pela moralização dos costumes em defesa do direito e da moral. O Ir.`. João Francisco Batalha encerrou os trabalhos agradecendo o comparecimento do Dr. Fernando Vinícius, Delegado de Polícia, Vereador João de Padeiro, ex-prefeito Mindubim, Ir.`. Leonardo Gonçalves Rios, das alterosas mineira; parentes e filhos de maçons ararienses já falecidos, e lamentou a ausência de alguns dos convidados. Agradeceu o apoio fraternal recebido dos IIr.`. e a presença de todos. E, principalmente, dos que se deslocaram de São Luís, Cantanhede, Vitória do Mearim e Santa Inês para dar brilhantismo ao acontecimento, e concluiu dizendo que é através da Maçonaria que buscamos a realização espiritual, mediante a prática dos bons costumes, da sabedoria, da retidão, da integridade, da justiça e da moral, através da incessante busca da verdade.


JOSUÉ MONTELLO E A INDESEJADA APOSENTADORIA FERNANDO BRAGA in “Jornal do Dia”, 22 de agosto de 1972.

Finalmente depois de ler ‘Paris é uma Festa’, de Ernest Hemingway, sobre as recordações móveis vividas na capital francesa na década de vinte, dei uma esticadinha, como de costume, até a casa do meu grande e velho amigo José Erasmo e o encontrei debruçado sobre o ‘Pantheon Maranhense’, do Dr. António Henriques Leal, a fazer anotações sobre Odorico Mendes a quem teria de homenagear em seu discurso de posse na Academia Maranhense de Letras, vez que o tradutor de Virgilio é o patrono da Cadeira para a qual, ele, José, fora eleito, naqueles idos memoráveis. Com minha chegada, generosamente, Erasmo suspendeu aquele seu trabalho para assumirmos nossa costumeira conversa sobre amenidades naquela tarde de domingo pachorrenta, onde Odorico Mendes, como não poderia ser diferente, tornou-se o foco de nossa atenção, onde sua figura de homem culto, humilde e generoso é tão bem delineada pela genialidade memorialística do maior, até agora, compêndio biobibliográfico sobre os nossos maiores. Lá pelas páginas tantas, deparei, na mesa de jantar e trabalho de Erasmo, com ‘A Indesejada Aposentadoria’, de Josué Montello, o qual pedi de logo emprestado para lê-lo naquele resto de domingo que já se esgotava, tendo de escutar as recomendações com os cuidados devidos com aquele exemplar que o tivera recebido no dia anterior, com fraternal dedicatória do autor, também de ‘Uma janela aberta para a noite’. Agradeci o gesto de confiança a retribuir-lhe, também com galhofas, aqueles exageros a mim dirigidos, logo a mim, um adestrado domador de livros... Ele riu! Despedi-me e voltei para casa ali perto, para ler o livro, o qual Almeida Fischer, o qual depois vim a tornar-me seu amigo em Brasília, juntamente com Anderson Braga Horta, Fernando Mendes Viana, e outros muitos, quando fui embora de São Luis, imprime na orelha ou aba do livro, a emblemática concepção de o mesmo ser uma ‘Novela Típica’, por isso, não se tratar de conto longo, nem romance pequeno, porque é novela mesmo e das melhores da literatura brasileira. Nesse livro, Josué conta-nos de modo leve e ameno a história de um senhor Guilhermino Pereira, funcionário exemplar, que fizera do Departamento de Águas e Patrimônio, o seu próprio mundo; funcionário com trinta e cinco anos de serviço, nenhuma falta, nenhum atraso, e permanente ali, até mesmo em tempos de férias obrigatórias, um funcionário padrão que se revoltava contra os aumentos reivindicados legalmente pelos colegas, na alegação de que o Tesouro Nacional se abalaria com tal acréscimo na folha de pagamento, e que a Nação sentiria falta para cumprir suas dividas externas. Guilhermino era o primeiro a chegar e o último a sair; possuía em sua carteira de trabalho um exemplar da Constituição da República, o formulário Ortográfico, o Manual do Servidor público, o Regimento Interno de sua repartição, hemerotecas cuidadosamente recortadas do Diário Oficial, bem como o Ato de sua nomeação. Mas quando Deus dá a farinha, vem o diabo e fura o saco, como diz um dito popular de grande sapiência, e foi o que aconteceu com Guilhermino no dia em que completava os seus trinta e cinco anos de Serviço Público. Sua decepção foi total, foi horrível, foi nesse exato e trágico dia em que recebeu a sua única repreensão. O diretor do Departamento de Águas e Patrimônio exigiu-lhe explicações sobre escabrosos erros por ele cometidos naqueles derradeiros dias. Acontece que o Guilhermino sentindo-se ali, como há trinta e cinco anos passados, e por isso, terrivelmente emocionado, colocou numa minuta de decreto, a data correspondente àquela, e no lugar da assinatura do Presidente, o do seu teu tempo, o que o diretor achou uma pilhéria, um deboche, que o fez, depois de desculpas gaguejantes, por parte do “inocente infrator”, aposentálo imediatamente. E assim, Guilhermino fora mandado para casa! E depois, como é natural, vieram as síndromes do ócio: como um homem de trinta e cinco anos de serviço pode acostumar-se à tarde alta de um dia útil. O nosso herói depois de aposentado ia à feira, adormentava os netos, conversava com seu compadre, o babeiro, e o tédio não o deixava. Pensou no suicido o que seria o mais certo, mas para isso teria de despedir-se de sua velha e querida repartição; pegou o bonde, desceu no lugar exato, o de costume, subiu pensativo os dos dois únicos lanços de escada, sem perceber que já estava sendo visto pelo continuo que lhe servia café. Foi uma festa! Todos se reverenciaram à sua


presença, saudosos e “de pernas quebradas” como se diz, à sua insubstituível ausência e organização invejáveis. O diretor, para a alegria de Guilhermino, dissera-lhe que não havia protocolado ainda o pedido de sua aposentadoria, e que ele podia considerar-se a partir daquele momento, readmitido sem suas velhas funções, na espera apenas da maldita compulsória. Sabem como morreu Guilhermino, servidor de índole essencialmente burocrática? de um colapso, em dia em que o ponto era facultativo. Grato Josué pela beleza da novela que me fez atravessar uma flecha no coração daquele domingo, como sempre, pachorrento e chato. E como escreve o nosso Machado de Assis, “nada há pior que a gente vadia – ou aposentada, que é a mesma coisa: o tempo cresce, e sobra, e se a pessoa pega a escrever não há papel quer baste”. Você é o vencedor, Josué, e arrematando, ainda, como o nosso, genialíssimo autor de ‘Dom Casmurro’, “Ao vencedor, as batatas!”


UM BRINDE À RECUPERAÇÃO DO FORTE DE SANTO ANTÔNIO PAULO MELO SOUSA PUBLICADO NO JP DE 25/11/2016

Merece destaque a iniciativa do governo Flávio Dino de dar início, finalmente, à recuperação física do antigo Forte de Santo Antônio da Barra de São Luís, mais conhecido como Forte de Santo Antônio, localizado na antiga Ponta de João Dias, hoje Ponta d’Areia. O trabalho de requalificação desse imponente monumento caberá à Secretaria de Estado de Infra-Estrutura – SINFRA. Durante muitas décadas em situação de abandono, e em seguida utilizado de forma totalmente inadequada, finalmente o local terá uma destinação digna, servindo como espaço museológico e de lazer, atendendo aos aspectos culturais e turísticos. A ideia do projeto é utilizar o monumento não apenas como museu sobre as embarcações tradicionais maranhenses, mas também como local para realização de exposições, e ainda uma livraria, cafeteria e auditório. A tudo isso o antigo forte poderia também abrigar um piano bar, um pequeno bistrô associado à cafeteria, loja de artesanato. Cabe observar que, no caso de a requalificação do forte, proposta pelo governo, não contemplar a prospecção arqueológica do local, seja feito um aditivo para tal. A escavação arqueológica é recomendada sempre que se realiza alguma obra em algum monumento tombado. Nesse caso, em particular, cabe lembrar que o Forte de Santo Antônio foi, no dia 06 de agosto de 1975, inscrito no Livro do Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, devido à sua inestimável importância histórica. A título de informação, a Academia Ludovicense de Letras - ALL, criou uma Comissão para acompanhar o desenvolvimento da obra, com debates sobre o monumento, que será tema, inclusive, do Fórum Permanente do Patrimônio Cultural, projeto que vem sendo desenvolvido desde maio deste ano no Convento das Mercês. Em tudo e por tudo, a obra de requalificação do forte é uma iniciativa que merece, a priori, os nossos mais efusivos aplausos. Em respeito à memória histórica do Maranhão!


CONVENTO DAS MERCÊS - FORTE DE SANTO DE ANTÔNIO NO FÓRUM DO PATRIMÔNIO CULTURAL PAULO MELO SOUSA PUBLICADO NO JP DE 25/11/2016

O projeto de restauração do Forte de Santo de Antônio, localizado na Praia da Ponta D’Areia, em São Luís, vai ser apresentado na próxima quarta-feira (30), às 15h, no auditório Padre Antônio Vieira, no Centro Cultural Convento das Mercês, pelo engenheiro civil da Secretaria de Estado da Infaestrutura (Sinfra), especialista em Conservação do Patrimônio Urbano, Alcindo Costa Filho. A palestra faz parte do Fórum Permanente do Patrimônio Cultural, ação cultural realizada quinzenalmente no Convento das Mercês, com a finalidade de suscitar debates e apontar soluções para os problemas relacionados ao patrimônio cultural no Estado do Maranhão. “Vamos fazer um relato sobre a história do forte, os estudos realizados e discorrer sobre o seu projeto de restauração e inserção naquela comunidade”, adiantou Alcindo Costa ao revelar que o Governo do Maranhão vai investir algo em torno de R$ 2,7 milhões na restauração de um dos pontos históricos mais importante de São Luís, que irá abrigar, dentre outros equipamentos, o Museu das Embarcações. O prédio, construído no século XVII, é um belo exemplar da arquitetura militar em São Luís, e foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1975. O projeto de restauração do Forte, aprovado pelo Iphan, inclui também melhorias em seu entorno como parte do projeto de urbanização da Península da Ponta d’Areia. Dentre essas melhorias está a construção de um estacionamento, na área em frente ao Forte, além de calçadão e ciclovia. O fórum é um espaço democrático de discussão do patrimônio cultural do Maranhão. “A ideia é debater o tema, sem a pretensão de esgotá-lo, mas para contribuir para a iluminação permanente do mesmo”, informa Paulo Melo Sousa, diretor do Convento das Mercês, mentor da ideia. No fórum, vários temas já foram abordados, dentre os quais a “Valorização do Sistema Construtivo do Patrimônio Edificado no Século XIX em São Luís do Maranhão”, pela arquiteta Margareth Figueiredo, “Arqueologia Urbana”, pelo arqueólogo Deusdédit Carneiro Leite Filho, “Territorialidade: a mudança dos espaços urbanos em São Luís no século XIX”, com o historiador Ananias Martins, e “O papel da moradia como estratégia de reabilitação do Centro Histórico de São Luís: Relato de uma experiência”, com o acadêmico e Diretor do Centro Vocacional Tecnológico Estaleiro Escola, professor do Curso de Arquitetura da Universidade Dom Bosco, Luiz Phelipe Andrès. Todas as palestras são abertas a todos os interessados. A entrada é franca.



A MENINA E OS CAQUIS JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS

Sentada no meio-fio à sombra da samambaia, Marta tinha ares de tristeza, tamanha era a contrição da sua posição: joelhos dobrados apoiando a cabeça levemente dobrada para um dos lados. Olhava para o chão, como se nele, lesse alguma coisa. Por motivos que guardava somente para si, ou para revelar apenas a quem confiasse e amasse platonicamente, Marta tinha segredos mil, todos de momentos domésticos. Adolescente, sentindo-se incompreendida até mesmo por si – precisava enfrentar os percalços da vida sem usufruir da sombra ou dos açúcares e mel que a adoçam. “A experiência da vida garante que, nem todos os frutos de uma carga definida de uma jabuticabeira, são totalmente doces, ou têm o mesmo sabor. Há diferenças. Ainda que seja apenas uma. Mas é um fato que a diferença existe. Assim, mesmo descendendo dos mesmos pais, nem todos os filhos são semelhantes.” Isso que pretendo vos contar, tem muito mais de história que de estória. Eu a ouvi, faz tempo, contada pela voz trêmula e ao mesmo tempo firme, e corajosa, do meu avô: “Isso que vou contar não é uma simples estória de “trancoso” (aquelas em que nada, absolutamente nada é verdadeiro) e aconteceu faz muito tempo. Raimundo, muito conhecido onde morava pelo apelido de “Biu”. Era casado com Lindalva, e com ela teve cinco filhos – três moças e dois rapazes. Biu, se vivesse hoje, seria tido como animal, muito em função de uma carga inaceitável de mimimis que a sociedade resolveu que chegou a hora de aceitar. Resolveu criar os filhos da forma como fora criado – e nem podia ser diferente. E, esse fato acabou por colocá-lo em adversidade com os filhos, principalmente com as moças. É bom que se saiba que, “antigamente”, se algum filho(a) tivesse o atrevimento de dizer “não” para o pai ou para a mãe, lhe era dada a oportunidade de voltar a obedecer e dizer “sim”, ou pegar as cuecas e os bóbis, e sair de casa. Essa era a culminância. Marta, uma das filhas, não engolia muito bem aquele tratamento e algumas imposições perpetradas por “Biu”. Resolveu sair de casa para nunca mais voltar. Não tinha muita coisa de si – mas tinha de sobra o sentimento altaneiro da liberdade. Sabia que enfrentaria dificuldades a partir dali, mas, muito mais por se desproteger da mãe. O pai não lhe faria muita falta a partir dali. Muito pelo contrário. Como conviver com quem (de acordo com o que imaginava) não lhe amava ou, se amava, o fazia de forma incompreensível e diferente dos afagos e protecionismos da mãe? Marta pegou a trouxa e foi embora. Saiu de casa por sua conta e risco. Por anos enfrentou dificuldades, mas nenhuma que a fizesse refletir a respeito das diferenças paternas. O trabalho que precisava encontrar para custear sua vida tornou-se difícil. Teve dificuldades até para se alimentar de forma mais simples. Os anos se passaram. Para não enfrentar muito o pai, Marta evitou manter contato também com a mãe – e isso a magoava muito. Assim, enfrentando as dificuldades, preferiu se alimentar mais com frutas. De preferência aquelas que gostasse, e que não lhes dessem muito trabalho. Provou caqui e se apaixonou. Se informou mais a respeito dessa fruta maravilhosa e entendeu que, a partir de então, seria a sua preferida. Comprava sempre uma caixa com 6 unidades, e a embalagem de papelão era descartada na primeira lixeira que encontrasse. Apaixonou-se por caqui. Certo dia, depois de sentar numa gostosa sombra para comer seus seis caquis, teve um momento de distração. Quando voltou a si, percebeu que ainda estava com a caixa de papelão entre as duas mãos. Absorta, leu as informações impressas na caixa da embalagem.


Ali, na caixa, estava impressa: a procedência daquela fruta maravilhosa que, fazia tempo, a alimentava de forma satisfatória. Leu o município de onde viera a fruta, e algo lhe pareceu familiar. Mais familiar ainda, quando leu o nome do proprietário. “Raimundo...” – era seu Pai, que progredira ao lado dos outros filhos, crescera como produtor de frutas, e agora estava ali, ao lado dela, transformado doces caquis. Coisas da vida.


O LAGO DOS CISNES ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

“O Lago dos Cisnes original foi criado em Moscou, em 1875, quando Tchaikovsky recebeu a encomenda de criar uma partitura para ballet sobre uma princesa transformada em cisne. A história, saída de uma fábula, começa com a rainha lembrando seu filho, príncipe Siegfried, que está na hora de encontrar sua noiva. Siegfried encontra um grupo de cisnes brancos num lago e a mais bela, transformada e jovem, lhe desperta o amor e conta que foi amaldiçoada pelo mago. Siegfried conhece o mago e sua filha, uma cópia exata do cisne Branco, mas vestida de preto. Ele se apaixona e se declara, e só então se lembra dos votos feitos ao cisne branco na beira do lago. Ao saber da traição, o cisne branco (a princesa transformada) se joga no lago para morrer e é seguida pelo arrependido príncipe, cujo amor liberta do feitiço as demais donzelas transformadas em cisne. Quando foi incorporado ao repertório soviético do Bolshoi, um novo final, mais feliz e heróico foi exigido. A versão de Mats Ek apenas lembra as originais. Nela, o príncipe tem uma edipiana relação de adoração com a mãe e sofre de ciúmes do amante dela. Quando uma pretendente lhe é apresentada - uma pálida versão da própria mãe - ele não demonstra interesse. Em seus sonhos, encontra seu cisne ideal. Mas ela nada tem da vulnerável e amaldiçoada jovem indefesa. É uma personagem forte, sexual e vigorosa. Quando acorda, o príncipe parte numa jornada em busca de si mesmo e de sua amada. No caminho encontra vários personagens, inclusive uma má e atraente versão em Negro do cisne de seus sonhos. Quando finalmente encontra o cisne branco, descobre que ele e o cisne negro são duas partes do mesmo pássaro. A versão para O Lago dos Cisnes centra-se menos no conflito entre o bem e o mal para aprofundarse na dualidade entre sonho e realidade. Outrora cultuados pela beleza, nas mãos de Ek os cisnes foram transformados em figuras grotescas, bailando descalços e com as cabeças raspadas. Mas a subversiva perfeição de Ek em nenhum momento abandona as bases do balé, conjugando técnica, vitalidade e criatividade.”


A FEDERAÇÃO SUFOCADA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO ·

Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras, da Academia Ludovicense de Letras e do IWA.

Publicado em O ESTADO, 06 de novembro de 2016 Países do Terceiro Mundo e emergentes sofrem de um problema crônico: falta de planejamento em longo prazo e, por consequência, descontinuidade administrativa. Assim, governo que entra está sempre querendo mudar alguma coisa do governo que sai. Além disso, há os que procedem de outra forma e recomendam: “façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço.” Traduzindo: é o que está acontecendo, no Brasil, em meio a contradições e conservadorismo. Vejamos algumas contradições: mais de 90% dos municípios dependem dos recursos oriundos das transferências do FPM mais a cota-parte do ICMS; muito poucos geram receita própria capaz de ao menos custear a máquina administrativa. A esses recursos, além dos carimbados à saúde e educação, somam-se os provindos do Orçamento Geral da União, de Convênios e de Emendas parlamentares, sempre exigindo uma contrapartida financeira do ente municipal; mesmo diante dessa realidade ainda há quem insista em querer criar novas comunas. Para tornar esse quadro ainda mais dramático, o Executivo custeia os demais Poderes, legislativo e judiciário, que deveriam ser independentes e harmônicos entre si. O orçamento público estima receitas e fixa despesas em procedimentos sujeitos às regras expressas nas Leis 4320/1964, do orçamento-programa, e Complementar 101/2000, cada vez mais desobedecidas. Com o advento da responsabilidade fiscal, essas regras e procedimentos ficaram bem mais explícitos, como é o caso das metas compondo um anexo da LDO à elaboração da LOA; tampouco nenhuma dessas leis permite a realização de despesas para as quais não existam recursos financeiros disponíveis. Investimentos tendem a transformar-se em despesas de custeio. Quando uma escola é construída e aparelhada com equipamentos adequados, estamos na etapa das chamadas despesas de capital; para a escola funcionar, entretanto, vai precisar de professores, de material didático e de atender as despesas fixas com água, luz, telefone, etc., para podermos obter os resultados esperados; quando as instalações da escola se deterioram, novos investimentos são requeridos, e assim por diante. Os municípios brasileiros foram induzidos à expansão dos seus sistemas de educação e saúde principalmente após o advento do SUS e do FUNDEF, atualmente FUNDEB; por exemplo, bastou que o crescimento desses recursos não acompanhasse a demanda pela escola, o custo por aluno, para que o desequilíbrio ficasse evidente. Hoje, isso obriga as prefeituras a lançar mão de outras fontes de recursos, sacrificando investimentos. E os recursos para a merenda escolar? Todos sabem que, para efeito de cálculo, valem os números do censo do ano anterior, mas a demanda dos alunos, que devem merendar diariamente, são os dados do ano corrente. O descompasso deve ser atendido com recursos próprios. Tudo vem a propósito das dificuldades enfrentadas pela maioria dos Estados e Municípios brasileiros: inchaço da máquina administrativa e alto nível de endividamento, necessitando, com a máxima urgência, de adequação dessa estrutura e ajustes visando equilibrar o orçamento.


O PROVIDENCIAL RESGATE DE CLARINDO SANTIAGO OU O POETA MARANHENSE DESAPARECIDO NO TOCANTINS

FERNANDO BRAGA Artigo escrito para o livro aqui mencionado, para ser inserido na referida edição, em 1997, mas que, pela falta das condições técnica de hoje, só chegou às mãos do autor, quando o livro já estava na impressão. Publicado em 10.12.16, no facebook.

A primeira vez que ouvi falar em Clarindo Santiago foi em casa de José Erasmo Dias, nos Apicuns, numa das muitas e longas divagações literárias que motivavam a minha admiração e o meu querer bem por esse mestre do senso estético. E dizia-me ele, com aquelas metáforas tão bem colocadas e com encaixes precisos, ser Clarindo Santiago um poeta de estilo e forma elegantes e de sensibilidade bem apurada, arrematando, naturalmente, sem descer a detalhes, sobre os golpes incicatrizáveis que o poeta recebera ao longo de uma atribulada vida. Nessa mesma linha de idéias, o meu mui querido e saudoso amigo José Matos Carvalho [exgovernador do Maranhão], médico ilustre como Clarindo também o fora, chegou-me a dar de presente, nas minhas constantes visitas a seu apartamento em Brasília, cópias de sonetos e poemas que Clarindo escrevera, dedicando os originais, a ele, Matos Carvalho, quando ambos em plantões no Pronto Socorro de São Luís, eram tocados pelas prestidigitações da Rua do Passeio, onde se localizava aquele centro de atendimento a politraumatizados, evidentemente em calmas madrugadas, mais propícias ao extravasar de lúcidos espíritos do que ao remendo de mutilados corpos. E as cópias desses sonetos e poemas que já me tinham proporcionado certa intimidade, também foram dadas por Matos Carvalho, pelos mesmos abrandamentos de afeto, a Sálvio Dino, o qual, num laivo bem-aventurado, os fez resgatar neste “Clarindo Santiago, o Poeta Maranhense Desaparecido no Tocantins”, a memória do nosso poeta, o que me levou, por tais motivos, a escrever estas anotações engendradas numa das minhas noites de vigília. Nas frias sombras da arte os fantasmas do verbo “Clarindense” se assim posso chamar, manifestamse em correlações multifacetadas de subjetiva harmonia entre os significados das palavras e os seus símbolos. Essas relações dificilmente transcendem a percepção dos menos atentos, mesmo que tais paralelas sejam ou estejam estabelecidas numa comunicação contagiosamente estética. De certo - e não há sobre isso nenhuma dúvida -, a existência de um encantamento pelo subjetivismo exercido pelo poeta é extremamente visível, que o faz, indefeso pela magia, viajar nas simples repetições de sons e embrenhar-se em espaços às vezes tão ou não tão regulares, por períodos rítmicos que os seus poemas imprimem. Vislumbram-se, ainda, nos versos oníricos de Clarindo Santiago os balanços de acentuações cadenciais com marcação nos tempos tônicos que os fazem interagir com a diversidade dos valores fonêmicos caracterizados pelo nosso idioma, na significação de um linguajar usual, fazendo-os, naturalmente, que alguns sejam pausados e com instintivas freqüências rítmicas. São esses, a princípio, os traços com que Clarindo Santiago erigiu o seu sacrário poemático, onde conteudisticamente o poema se mostra inteiriço, mirificamente energizado pela rima e pelo ritmo que se não distanciam, formando, quase sempre uma santíssima trindade nas bênçãos de talento que são esbanjadas por esse poeta, o qual, no entendimento crítico de Rossini Corrêa, foi, além de ter influenciado a juventude maranhense, “quem aconselhou a Franklin de Oliveira a ler tudo, até mesmo anúncio de jornal e redescobriu e interpretou a obra poética de Sousa Andrade”. Creio que assim, Sálvio Dino entrega à história literária do Maranhão, esse resgate valioso sobre alguma coisa da vida, da poesia e da morte de Clarindo Santiago, a usar neste seu depoimento lampejos de


quem também faz versos, geminados a nuances de ensaísta, como na composição metodológica deste estudo, a emblemar, ainda, o jornalista do dia-a-dia, quanto à narrativa noticiosa dos atos e os registros fotográficos de grande importância, levando, por fim, Sálvio concluir o trabalho com o bom senso do jurista, onde o discernimento da lógica e do entendimento cientifico, atestam suas contra-razões ao afirmar que Clarindo fora realmente estrangulado pela descomunal força do Tocantins, o qual, apesar de impiedosamente tê-lo morto, ainda lhe deu, como jazigo perpétuo, talvez apiedado pela tragédia que cometera, a serenidade de suas traiçoeiras águas e as profundezas abismais do seu silêncio.


EM HOMENAGEM AO GRUPO "CAXIENSES MUNDO AFORA": COISAS QUE A GENTE NÃO ESQUECE ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO ·

Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras, da Academia Ludovicense de Letras e do IWA.

“As palavras servem para estabelecer laços entre as pessoas – e para criar beleza” Moacyr Scliar (1938-2011), escritor gaúcho.

Muitos têm a sua máquina do tempo, que faz lembrar e sonhar. Eu também tenho a minha. Compartilho, assim, com os queridos amigos e parceiros de tempos idos, em Caxias e São Luís, alguns momentos felizes gravados na minha memória. O campinho no quintal da casa perto dos Tadeu, onde o futebol era jogado seis contra seis. Além de driblarmos os adversários, tínhamos que também driblar as frondosas mangueiras. As ida e vindas a pé, sol a pino, ao Ponte e à Veneza, para os banhos refrescantes nos riachos e na piscina. O caminho mais curto era pelo Café-Grosso, cheio de muita areia e de cajueiros; as pedrinhas-defogo queimavam os nossos pés, desde o Cangalheiro. As confraternizações dos times de futebol da cidade, na saída da ponte Zé Fernandes, e após, irmanados, em marcha até o campo da Liga. Uma verdadeira parada cívico-esportiva, com Banda de Música e tudo. O time do Comercial enfrentando o Palmeiras e o São Benedito, com os goals do Cabelo-Duro, as “bicicletas” do Quadrado, as defesas do Zé Pretinho e do Come-Gente. O Genival e o Erasmo vinham de Teresina, para reforçar nossa defesa e o ataque, lembram? O Tiro de Guerra 194, o sargento Zerlino Prado de Souza, e as Instruções às primeiras horas do amanhecer, com frio e garoa, na transposição de obstáculos e passagem na pista farpada; as marchas e os acampamentos, os exercícios de tiro-ao-alvo, no Ponte. As risadas do Chico Manteiga, o messianismo do João Golinha e as frescuras do Zé Arigó. Três dos tipos inesquecíveis da cidade. O bar do “seu” Carvalho e as piruadas nos jogos de sinuca e de bilhar. A gente perguntava: o senhor pode botar as bolas? E ele respondia: meus amigos, vocês são os donos deste Bar; podem levar as mesas e jogar nas suas próprias casas. O Aristides adentrando o Salão Brasil, assoviando bem alto, e o professor Nereu tapando os ouvidos com os dois dedos mínimos. O ourives sabia que o mestre não gostava, e fazia de propósito. A Sessão das Moças, às terças-feiras, no Cine Rex, e sua tela de projeção em posição invertida, na frente em vez de no fundo. Era uma entrada triunfal e um verdadeiro desfile de modas. O sereno do Cassino liderado por figuras ilustres da cidade. O espetáculo começava na entrada do clube, quando os espectadores ficavam sabendo quem comparecia, os trajes que usavam; depois, vistos da Praça, os casais dançantes ficavam expostos aos comentários. A “geral” do Cine Pax, que ficava na frente de todos, mas seus frequentadores só entravam depois que o soçaite estava devidamente instalado nas confortáveis poltronas de madeira, atrás. Democrático até certo ponto. Os jogos de botão e o meu time do Coríntians, com o cocó Baltazar convertendo-se em goleador emérito. Nunca vi tanta mesa fina riscada, marcada a ponta de compasso, como se fosse um campo de futebol. O largo de São Benedito, a Festa, as Novenas, os leilões. Lembra a nossa roupa-nova obrigatória, que o Joaquim Gabriel confeccionava e, sempre, entregava em cima da hora, na hora da Missa.


A puxada do mastro de São Sebastião, pelos atiradores do Tiro de Guerra, nas matas do Inhamun, pra lá do Ponte. Depois era só ensebar dia e noite, deixar no sol e no sereno, para que ninguém, no dia da Festa, conseguisse subir até o topo, e apanhar o prêmio. O bloco de carnaval dos rapazes e moças, que saía da rua Dr. Berredo rumo ao Cassino. A gente já deixava a concentração sambando pela rua, puxada pelos tambores e cavacos, até a subida das escadarias de madeira do Cassino, espairando-se, animadamente, pelos seus dois salões assoalhados. A formatura do Ginásio e o presente da madrinha professora Doralice Carvalho, uma camisa social. Era branca e de mangas compridas, para ser usada com gravata. A “baratinha” Studbacker do Delmar Silva, desfilando pela cidade, abrindo e fechando a sua capota conversível. Um luxo cor-de-vinho pelas ruas. Os espetáculos dos circos Nerino e Teatro Show, no Largo da Cadeia. O futebol de bicicleta, os palhaços, os dramas, os trapezistas, os domadores. É como diz Ingrid Betancourt, em seu dramático livro intitulado “Não há silêncio que não termine”: [...] As boas lembranças são aquelas vividas com os que amamos, porque podemos rememorá-las juntos [...]. E ACRESCENTO: os jogos de futebol no campinho de Santa Luzia, quando o João Castelo estudava em São Luís e, nas férias, sempre trazia uma bola “novinha em folha”, para alegria de todos que compartilhavam aqueles alegres momentos da nossa juventude.


A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO ALDY MELLO PUBLICDO EM O ESTADO, 09 DE DEZEMBRO DE 2016

Qualquer que seja a definição de educação, sempre se lhe atribui o requisito fundamental de promover o desenvolvimento e a capacitação intelectual e moral de uma determinada pessoa. Existe um estreito relacionamento entre educação e conhecimento sempre representado por uma vontade plena das pessoas em aprenderem mais até a exaustão de seus limites. Educação e conhecimento andam juntos e seguem trilhas predeterminadas pela eficácia ou não do sistema educacional. Quando existem eficácia e eficiência do sistema educacional, satisfazendo todos aqueles que estão envolvidos nesse sistema, alunos, professores, escola, famílias, funcionários e governo, dizemos que existe qualidade na educação. Se, ao contrário, existe insatisfação desses componentes do sistema, estamos diante de uma educação sem qualidade. A perda de qualidade das instituições é uma questão que vem alcançando muita evidência, tanto no âmbito interno das escolas, quanto em nível da própria sociedade, chegando a constituir objeto de campanha encetada pela própria imprensa. Para a opinião pública nacional, o governo acabara de constatar apenas o óbvio, já que parecia ser do domínio público que as escolas estavam incluídas entre as instituições brasileiras responsáveis pela falta de qualidade na educação. Como se sabe, a estagnação e decadência das escolas, difundidas pela mídia e, até certo ponto, avalizadas pelo governo, podiam ter causas mais profundas, vinculadas até à própria concepção de escola, que o país assumia, vista como um aparelho de Estado que se colocava à disposição das ideologias dominantes. Este estado de coisas encontrou também raízes na baixa produtividade científica, como igualmente no aviltamento dos padrões de ensino, até no centralismo governamental. Podemos dizer que a nossa contemporaneidade exige, cada vez mais, uma educação em que o educador seja profissional e portador de atitudes pedagógicas, não seja uma educação submissa e sim formadora de cidadãos, pessoas que elevem o sentimento e a emancipação de cidadania. Em tempo de globalização, acontecem muitas coisas e coisas rápidas. Vivemos uma espécie de “tempo” que a história da humanidade jamais presenciou. São tantos os sinais visíveis: o mundo tornou-se menor; o fenômeno das comunicações imediatas dissemina a informação; as condutas são padronizadas; as conquistas científicas e tecnológicas avançam paralelas ao aumento dos índices de miséria e de exclusão em todo o planeta. Á medida que avançamos nesse novo milênio, presenciamos um conjunto de mudanças extremamente velozes que ocorrem na sociedade. São transformações nem sempre silenciosas, impondo novas verdades, rompendo com o passado e comprometendo o futuro da humanidade. Os novos tempos já chegaram para a educação. Eles trazem mais criatividade, mais participação, menos dogmas do que qualquer outro ciclo da história humana. Nesse início de milênio, defrontamo-nos com o rompimento de paradigmas seculares onde modelos de escola tradicional estão sendo despedaçados, enquanto são infiltrados distintos estilos da arte de educar e do perfil do educador. A educação desejada, sob o gerenciamento das escolas, difere em espécie, em conteúdo e em qualidade daquela que, durante tanto tempo, foi ministrada nas salas de aula e acomodou-se na cabeça de tantos pedagogos que perderam a perspectiva entre o passado e o futuro, entre o velho e o novo. A educação dos novos tempos será bem-vinda quando permeia todas as facetas da vida humana.


EXPECTATIVAS MINGUANTES CERES COSTA FERNANDES Alguns chamam de sonhos, outros de planos ou desejos, eu acho mais adequado dizer expectativas.Expectativas, até os mais céticos e os chamados pés-no-chão não deixam de ter. Tempos atrás, desejávamos que nossos filhos crescessem educados, saudáveis, bons cidadãos, ingressassem nas careiras de profissionais liberais, industriais ou comerciantes, as mais cotadas, namorassem, noivassem e casassem com moças ou rapazes igualmente educados e de futuro assegurado, saudáveis e bonitos para que os netos acompanhassem o padrão. E mais, cada filho deveria a sua própria casa e ser feliz para semprecom o companheiro, sem nunca se esquecer dos velhos pais, trazendo os netos para o nosso orgulho e gáudio. E elas, as expectativas, foram minguando, minguando... Apenas estudar, em si, passou a ser suficiente. O curso? Ora o curso quem faz é o estudante. Aceitamosaté os mais esdrúxulos, aqueles que nem os cursantes sabem bem o que vão fazer com eles. Os companheiros são do mesmo sexo? Bem vindos, também. Os netos? Ora, podem ser encomendados de uma barriga de aluguel, pra tudo se dá um jeito. E, tem mais, se não cursarem coisa alguma e nem tiverem emprego, que continuem morando com os pais, que as estatísticas já revelam como ocomportamento usual da maioria. As expectativas atuais resumem-se em desejar que os filhos não se tornem drogados nem marginais. Se quiserem estudar alguma coisa será lucro, mas não vamos aperrear os coitados, podem se estressar e piorar as coisas. E, convenhamos, arranjaremprego está tão difícil, com essa crise... E ficamos nos herdeiros? Bom seria. O que esperamos hoje do Brasil, dos nossos governantes, dos nossos políticos? O mínimo: que não sejam ladrões, estelionatários ou, se o forem, que roubem pouco e façam muito. Aceitamos que sejam condenados a 19 anos de prisão e que, aos dois anos cumpridos,já saiam de tornozeleira, o que, de resto, não envergonha mais ninguém Dos nossos prefeitos, não esperamosgrandes obras, nem obras mínimas de infraestrutura, mas que asfaltem as ruas, fechem os buracos, recolham o lixo de vez emquando, pintem as faixas de segurança, consertem os sinais e conservem os ônibus trafegando. Ah, também um tanto de esparadrapo e mercurocromo nos hospitais. Já nos acostumamos aos engarrafamentos e atropelamentosdiários de motociclistas. Transporte de massas moderno? Bonitos os das outras capitais, né? A população se acostumou a dormir nas filas de marcação de consultas, acha até normal. Já tem até emprego de guardador de lugar nas filas e o dos que vendem lugares bem na frente, emprego de aluguel de cadeira e venda de água e lanche. Nos tempos de hoje, não vale a pena desempregar mais pessoas. Do governo, também esperamos que seus dirigentes e comandados paguem os ordenados em dia e não deixem faltar água e luz, embora a gente não se importe de comprar água, afinal nem chove mais, não é?Segurança, a gente nem pensa que seja possível. Com tudo a gente acostuma. Não tem gente que mora em encosta de vulcão; na praia, onde, de vez em quando, sobe um tsunamizinho; em lugar, onde a terra treme quase todo dia; em outros, que sofrem bombardeios diários até em colégios e hospitais? Está se queixando de quê? De uns bandidinhos que entram em sua casa, lhes dão umascoronhadas e roubam tudo o que cabe no seu carro e em mais outro? Sorte sua se nãomatarem ninguém. Aprendemos táticas de guerrilha, andar vigilante, não resistir, não deixar carro em lugar deserto, não sair com relógios, brincos, pulseiras, celulares, bem vestidos, tênis de grife, não tirar dinheiro em bancos, se tirar, fique algumas horas dentro do estabelecimento, para o motociclista da saidinha, que está lhe esperando,encher o saco e ir embora. Não voltar tarde para casa; não sair de casa naqueles horários em que os bandidos sabem que as pessoas vão ao trabalho ou deixar filhos e netos na escola. De preferência não sair de casa. Andar com cópias dos documentos e não ser aceito nos lugares em que é necessário apresentar os documentos originais. A lista é longa, mas Ademir não deixa aumentar. Enfim, quem não tem expectativa, não se decepciona. Tá tudo bom. Amém.


DA MORTE ANUNCIADA AO LIVRAMENTO FERNANDO BRAGA in “Travessia”, livro de memórias em fase de conclusão... [Excertos de memórias] Lembrei-me de quando eu era, na minha São Luis, bem rapazito. Na antevéspera do Natal, em nossa casa, indo à cozinha deparei com uma garrafa de cachaça, sendo de logo informado, depois de perguntar, naturalmente, o que fazia aquela água ardente ali... Era do peru, que deveria ingerir uma boa “talagada” antes de morrer para que sua carne ficasse mais tenra e mais apetitosa, respondeu-me a ajudante de minha mãe. Fiquei estarrecido com aquela desculpa esfarrapada. Resolvi, depois de saber daquele rito não só macabro, mas um tanto carnavalesco, experimentar o aperitivo do peru, a chamar para o peito, como se diz, um lavrado de quatro dedos. Lá pelas páginas tantas, entre emoções, razões, propósitos e aperitivos que já eram servidos alternadamente para mim e para o peru, resolvi deitar-me na rede de um quartinho do corredor, abraçado ao meu amigo, o qual, naquele instante o tinha livrado daquela estúpida e infeliz maldição, a de morrer na véspera do Natal contagiado por uma doce alegria que lhe invadia a alma, se é que peru tem alma, mas que, forçosamente, lhe fazia pender a crista para um dos lados, a cobrir-lhe o olho já baixo, que desapareceria pela pálpebra. Assim continuamos: eu tomava uma, e dava outra para o peru, a cantarolar músicas de Natal para fazer o ambiente mais propício, principalmente por ter salvado uma vida, enquanto o peru, com um semblante já um tanto quanto depressivo, coitado, por mais que eu o dissesse que ele não morreria, parecia não acreditar e me respondia com sufocados soluços, como se quisesse cantar ou dizer-me alguma coisa... Ai de mim e do peru... Chegou minha mãe, a qual, com todo direito, querendo por termos àquela baderna e estabelecer, naturalmente, seu mando de dona de casa, tentou arrancar-me dos braços o meu velho e estimado amigo, assim eleito por mim, há pouco, por circunstâncias tão dolorosas. Minha mãe queria porque queria que se procedesse ao “perucidio”, alegando que o mesmo já devera estar em vinho d’alho em um alguidar de barro previamente preparado para tanto, o que foi por mim contestado veementemente, impedindo-a que o fizesse e responsabilizando-me em trocar aquela vítima simpática e indefesa, por um belo pernil já pronto, assadinho e tostado, com farofa e tudo... O que minha mãe enérgica, terna e querida, aquiesceu depois de alguma relutância à minha proposta, determinando, em seguida, a um regatão de mandados, que atendia pelo apelido de “bagueada” (não me perguntem tal etimologia porque também não sei) que ficasse atento porque ela iria mandá-lo ao Moto Bar, a levar por escrito uma recomendação para o Sr. Cantanhede, na cozinha, que ele já estava inteirado da encomenda acabada de ser feita. É verdade que aquele Natal, e também aniversário de minha mãe, como sói acontecer, graças a Deus, teve tudo na ceia, menos o tradicional peru. Não nego que minha mãe ressentia-se da ausência da ilustre ave; quanto ao meu pai, não fazia questão, como um bom lusitano, tendo um queijo do reino, castanhas portuguesas e tremoços ele “beliscava” com sua caneca de vinho; e eu, era acostumado a comer o que minha mãe servia. De qualquer maneira eu me sentia muito feliz... Foi o Natal mais leve e tranqüilo que passei na vida, principalmente quando olhava o peru, já curado da ressaca, curtindo sua liberdade naquela noite colorida de festa, a sacudir-se alegre no quintal... Mal sabia eu, que muitos anos depois, já longe de nossa casa, a cuidar da vida em outras terras, bem distantes, meu pai morria na Noite de Natal, aniversário, como disse, de minha mãe. Chegou-me ao cérebro aquele bando de guizos a lembrar-me... Com brincadeiras, animações e alegrias, naquela véspera de Natal, tão distante, pude salvar o peru daquele sacrifício anunciado; mas a vida de meu pai, não, porque os desígnios de Deus são intransferíveis e rigorosamente determinados para serem cumpridos! E ainda aqui estou inteiro, com forças para escrever isso... Mas Deus sabe como!


GONÇALVES DIAS E EU EDMILSON SANCHES (Registros públicos de lembranças particulares) “Conto as coisas como foram, Não como deviam ser”. (GONÇALVES DIAS, Sextilhas) DIA DE GONÇALVES DIAS – Neste 10 de agosto, em 1823, nascia o escritor maranhense Gonçalves Dias, que escreveu aqueles versos que praticamente todo brasileiro, de agora e de outrora, conhece: “Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá”. Sou da mesma cidade (Caxias, Maranhão) e morei na mesma rua daquele ilustre brasileiro. Mais: o primeiro livro que li -- “História do Imperador Carlos Magno e os Doze Pares de França” -- também foi o primeiro livro lido por Gonçalves Dias na sua infância. A seguir, texto que escrevi e atualizei. *** Hotel Serra Azul, em Gramado, Rio Grande do Sul, década de 80. Náutico Clube, Fortaleza, Ceará, início dos anos 90. Colégio Rio Branco, bairro Higienópolis, São Paulo. Auditório Petrônio Portela, Senado Federal, Brasília. Montes Claros e Belo Horizonte, Minas Gerais. Mossoró e Baraúnas, Rio Grande do Norte. Campina Grande, Paraíba. Rio de Janeiro, Maceió, Recife, Curitiba... Onde quer que eu esteja Caxias é presença e referência permanente. Caxias e, claro, seu maior poeta e sua melhor rima –– Gonçalves Dias. Caxias, terra e rima de Gonçalves Dias. Qualquer que seja o espaço, qualquer que seja o tempo, a mesma constatação: Gonçalves Dias vive. Em todos os lugares acima, e muitos outros mais, em momentos internacionais, em conferências nacionais, em encontros regionais, em palestras locais, em discursos ocasionais, em eventos formais, em “provocações” casuais ou em bate-papos triviais, dou um jeito de fazer um “teste”: crio um pretexto dentro do contexto e digo, falsamente desafiador, o primeiro verso da “Canção do Exílio” (“Minha terra tem palmeiras”)... somente para, logo em seguida, perceber/receber os sorrisos cúmplices da platéia de ouvintes não-maranhenses, o que denuncia que todos estavam continuando mentalmente –– quando não recitando audivelmente –– o verso seguinte: “Onde canta o sabiá”. Daí em diante fica fácil puxar ou esticar conversa acerca de literatura, de Cultura, dos “verdadeiros valores” da pessoa e das comunidades humanas. Dizer da permanência do que tem valor e da finitude do que tem preço. Preço, dá-se a coisas. Valor, dá-se a pessoas. Os versos gonçalvinos entram como exemplo de um “valor” que se sobrepõe a muitas “coisas”. Embora a fragilidade do papel, os versos foram mais resistentes que as grandes construções de pedra e cimento, como as fábricas de tecido. Estas, aparência; aqueles, essência –– e por aí podem ir as obviedades, quase platitudes. Escritos em julho de 1843, quando Gonçalves Dias ainda não completara 20 anos, os versos da “Canção do Exílio” atravessam gerações e se depositam e se (re)transmitem quase como que por hereditariedade. Parece não mais ser essa fixação resultado da leitura, mas produto de um código genético, uma informação cromossômica que se repassa no intercurso sexual e se vai instalando na mente de cada novo ser. Seja em gente da antiga, seja no jovem de hoje, a poesia cometida em Coimbra está inscrita na memória das várias gerações de brasileiros dos últimos 165 anos. Embora, ressalve-se, em grande número de vezes, nunca esteja o poema inteiro, de 24 versos, 5 estrofes, 113 palavras, 487 letras.


Mas aqueles dois primeiros versos, quando não toda a primeira estrofe, não há negar: está na cabeça, melhor, está na alma do brasileiro. Tudo isso me chega à lembrança no instante em que, também neste 10 de agosto de 2016, Caxias continua a nos relembrar, a nós conterrâneos e contemporâneos, a importância de ser a cidade onde, mais que um poeta, nasceu uma expressão de maranhensidade e de brasilidade. Muito da obra de Gonçalves Dias mostra de peito aberto o amor, o orgulho, o sentimento de pertencença ("ownership") que o poeta tinha e desenvolvia pela sua própria terra. Quantos, hoje, manifestamente, denunciam assim orgulhosa e escancaradamente essa emoção telúrica, essa querença pátria? Fora a conterraneidade, tenho outras “aproximações”, bem particulares, com Gonçalves Dias. A primeira delas, o primeiro livro que um e outro lemos: “História do Imperador Carlos Magno e dos Doze Pares de França”. Gonçalves Dias o leu aos dez anos, em 1833, aos 10 anos de idade, enquanto ajudava na casa comercial paterna, ali na rua do Cisco (depois Benedito Leite), para onde seus pais, João Manuel e Vicência Ferreira, haviam se mudado, oito anos antes (1825). De minha parte, aos cinco, seis anos de idade já havia “ouvido” e lido aquela obra, ali na rua da Palmeirinha -- onde as casas tinham, como fundo de quintal, o rio Itapecuru. Explico o porquê do “ouvido” o livro. No mesmo lado da rua da Palmeirinha, algumas casas adiante da minha, morava o casal “seu” Miguel e dona Corina. Esta, naqueles idos, vivia de lavar e passar roupa. Sustentava a casa. “Seu” Miguel era paraplégico, ficava como que sentado em uma rede, um pano cobrindo as pernas macérrimas pendentes, e lia, lia muito. Usava um cachimbo, cujas baforadas recendiam em toda a casa. Más línguas diziam que era diamba, tirada de algumas mudas que, diziam, eram bem cuidadas no seu quintal, para a produção das endiabradas folhas e sua transformação em trescalante fumo. Acostumei-me a visitar o “seu” Miguel. Ele gostava da minha atenção; eu gostava das suas histórias. Ouvia a leitura de capítulos e capítulos e, às vezes, o resumo de “romances” –– que era o nome que também se dava aos folhetos de literatura de cordel. Um dia, "seu" Miguel me emprestou um livro que eu já “ouvira”. Era a história do imperador Carlos Magno. Ali, além do magno imperador, estavam Roldão, Oliveiros, Ferrabraz e tantos personagens mais... Lembro que eu li todo o livro e que pedi explicações sobre o motivo da morte e posterior “reaparecimento” de alguns personagens após a “parte” da morte. Claro que eu estranhava aquela minha primeira leitura “séria”: naquela idade, os textos a que estava acostumado eram os de cartilhas escolares, bastante fáceis para mim, demasiado, por assim dizer, lineares, sem recursos nem estilos mais elaborados. Em Caxias, da rua da Palmeirinha mudei-me para a rua da Galiana (aliás, nome da mulher do imperador Carlos Magno). Tempos depois, nasceu um irmão meu... e chama-se Carlos Magno (depois veio Júlio César, outro irmão “imperador” na família). Décadas mais tarde, consegui, em um sebo do Rio de Janeiro, um exemplar igual ao que me fora emprestado pelo “seu” Miguel: capa em tecido e sem o nome do autor (Vasco de Lobeira). Reli os dez capítulos da obra e revi(vi)-me criança. (Uma curiosidade: Meu irmão Carlos Magno, depois que aprendeu a ler e escrever, não se fez de rogado: pegou o raro e caro livro, empunhou uma esferográfica e, nas folhas de rosto, onde houvesse o nome do imperador, um sobrenome –– “Sanches” –– foi acrescentado...). Outra “aproximação” com o autor d’"Os Timbiras": Mudei-me para a rua do Cisco, número 1000, próximo à “casa onde morou o poeta Gonçalves Dias” (era assim que registrava uma placa acobreada e quase despercebida). Eu estava aí por volta dos 15 anos e diariamente subia e descia quase toda a extensão da rua, para trabalhar no Banco do Brasil, menor estagiário. Invariavelmente, passava pela casa. Ali mora(va) a família de dona Labibe e do seu Fauze Elouf Simão. Um dos filhos, Jamil Gedeon, hoje desembargador em São Luís, e eu fomos colega de turma em todo o 2º Grau (Ensino Médio), no “colégio das Irmãs” (missionárias capuchinhas), o colégio São José. Ali fui presidente do Grêmio Santa Joana d’Arc durante três anos (Roldão -- Roldão Ribeiro Barbosa --, coincidentemente nome de personagem do livro sobre Carlos Magno, ganhara a presidência no primeiro ano e renunciara meses depois; assumi). O exsecretário de Cultura Renato Meneses (ex-presidente da Academia Caxiense de Letras) e o ex-presidente da Fundação Vítor Gonçalves Neto, Jorge Bastiani, também estudavam ali, nós todos sob o tacão da querida Irmã Clemens (Maria Gemma de Jesus Carvalho). Pois foi o colega secundarista Jamil quem me disse, ainda no colégio, que encontrara “moedas e papéis” antigos em alguns pontos da casa de Gonçalves Dias.


Mas as referências à casa da rua do Cisco não terminam aí. Dona Labibe foi secretária de Educação de Caxias, na administração de José Ferreira de Castro. Ali pelos bares do Artur Cunha e do Herval, no Largo de São Benedito, contava-se a história de que a secretária Labibe, pretendendo morar numa casa melhor e não querendo derrubar a “casa onde morou o poeta”, se esforçou junto ao seu superior, instando para que ele, como prefeito, adquirisse a casa e a tombasse como patrimônio histórico. Conta-se que a resposta do prefeito foi pouco cavalheiresca e fazia comparação entre comprar a casa onde Gonçalves Dias “morou” e tombar o riacho do Ponte, onde ele, digamos... lavava as partes, digamos, pudendas. Pode não ser verdade o fato, mas era verdadeiro o boato –– e, pelo menos este, se cuida de preservar aqui. Resumo da ópera: a casa de Gonçalves Dias foi destruída e, no seu lugar, ergueu-se uma residência de feições modernas, “combinando” com o prédio da outra esquina, que abriga as instalações de uma companhia de telecomunicações. No mesmo ano da derrubada da casa, como réquiem à memória de Gonçalves Dias, escarafunchei o arquivo do fotógrafo Sinésio Santos (falecido), que ficava ali próximo ao Banco do Brasil, e consegui localizar negativos da residência. Pedi que fossem feitas cópias daquelas e de outras “vistas” de Caxias. Separei uma foto da ex-morada de Gonçalves Dias e a enviei, junto com um breve texto, para a Rede Globo de Televisão (Rio de Janeiro). Foi menos por denúncia e mais por sentimento de perda. Disseram-me que saiu um rápido registro no jornal (nacional) do meio-dia ("Jornal Hoje"). Não confirmei. Estas anotações, com algo de confessional, são uma episódica e epidérmica contribuição ao trabalho de um punhado de jovens caxienses de todas as idades, que teimam cuidar do que Gonçalves Dias merece -- memória -- na cidade que há 193 anos o viu nascer -- História. E quem está fazendo não faz isso só por “vocação”: faz por legitimidade –– e com competência. Parabéns, Caxias! Viva Gonçalves Dias!


HÁ 50 ANOS: CAPARAÓ E O FOCO GUERRILHEIRO DE IMPERATRIZ ADALBERTO FRANCKLIN http://adalbertofranklin.por.com.br/2016/10/ha-50-nos-caparao-e-o-foco-guerrilheiro-de-imperatriz/ Completam-se 50 anos do início das pretendidas ações guerrilheiras do Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), comandado por Leonel Brizola, Neiva Moreira, Darcy Ribeiro e outros, com o intuito de retomar o governo após o golpe civil-militar de 1964. Caparaó e Impertriz eram os dois principais focos da resistência guerrilheira. A seguir um trecho do livro inédito “Repressão e resistência em Imperatriz”, de autoria de Adalberto Franklin e Valdizar Lima, que será lançado no próximo Salimp, no final de novembro. Texto ainda sem a correção final.

Os quinze jovens estudantes recrutados no Planalto Central por Flávio Tavares, o Dr. Falcão, foram instalados na cidade de Imperatriz e na zona rural às margens do rio Tocantins, até Marabá, estabelecendo uma rota de comunicação e o território em que se daria o início da ação guerrilheira. Não dispunham ainda de armamento suficiente para as ações planejadas, mas tinham promessa de recebimento de 200 submetralhadoras a serem enviadas pelo governo cubano. Não era muito pacífico, porém, o relacionamento entre os dois líderes do foco da região tocantina. Em Brasília, durante o período de recrutamento e preparação do pessoal que seria enviado para Imperatriz, Jesnem Moraes e Vera Kassow, uma gaúcha judia, esposa de Flávio, se apaixonaram. Esse acontecimento criou uma inimizade irreconciliável entre os dois, que, no entanto, apesar disso, mantiveram-se na missão que lhes fora dada pelo alto comando do MNR. Vera, que tinha uma filhinha, Isabela, com o jornalista gaúcho, seguira com Jesnen para Imperatriz. O jornalista Flávio Tavares, que permanecia maior parte do seu tempo em Brasília, foi informado de que o carregamento de armas não poderia sair de Cuba, porque a ilha estava sob intensa vigilância aérea dos Estados Unidos. Assim, as armas sairiam da Guiana Inglesa, enviadas pelo então ex-primeiro-ministro Chedi Jagan, líder socialista de origem indiana que lutava pela independência de seu país. Flávio Tavares ficara responsável pela construção de uma pista de pouso no meio da floresta, com 600 metros de comprimento, porque o carregamento deveria chegar num avião DC-3 sigilosamente, voando baixo para não ser detectado por radares. Além disso, a aeronave não poderia retornar. Deveria ser desmontada e dado sumiço às suas peças e fuselagem. Tavares contratou Zezé, um sertanejo muito “entendido”, acostumado em lutas contra grileiros na região, que assumiu a responsabilidade da construção da pista, em área do extremo-norte de Goiás, perto de Imperatriz, e ele a construiu, com apenas 500 metros de comprimento, em seis meses.


Carlos Lima, que assumira o comando dos negócios e fazia as tarefas deterninadas por João Menezes, retido em Brasília pelos militares, cumpria a missão de guardar as armas dos guerrilheiros, enterrando-as em caixas de flandres num bosque nas proximidades da embocadura do rio Cacau, em Imperatriz. Foi contatado para receber as 200 submetralhadoras que chegariam da Guiana. Temendo a guarda desse volume tão grande de armamento, disse que não tinha condições de armazená-las, pois um carregamento desse porte chamaria muita atenção. Conflitos políticos internos na Guiana, porém, que envolveram Chedi Jagan, impossibilitaram o envio do carregamento das armas. Segundo alguns líderes do MNR, em outubro de 1966, quando os focos estavam sendo implantados, o guerrilheiro cubano Che Guevara, que retornara derrotado da guerrilha do Congo e preparava seu projeto de promover o levante das Américas a partir da Bolívia, teria sido levado ao Uruguai para encontrar-se com Brizola. Antes, teria se encontrado em São Paulo com Carlos Mariguella e Joaquim Câmara Ferreira, principais líderes da Aliança Libertadora Nacional (ALN), que estava em negociações de apoio com o governo cubano. O coronel Dagoberto Rodrigues, do MNR, teria acompanhado Che do Uruguai à Bolívia. O foco de Caparaó seria o primeiro a entrar em ação. Em outubro de 1966, 14 homens do MNR ali chegaram para darem início às ações de preparação para a guerrilha. Outros já se encontravam ali ou chegaram depois, formando um grupo de 22. Pelo menos quatro deles haviam feito treinamento em Cuba. A maioria era composta de ex-integrantes das Forças Armadas, militares expulsos após o golpe. Treze haviam sido militares — um ex-capitão, sete ex-suboficiais e sargentos, além de cinco ex-marinheiros. Durante cinco meses, isolados, instalados precariamente em barracas e com dificuldades de alimentação, alguns caíram doentes. No início de abril de 1967, o grupo foi derrotado por sua própria ineficiência, sem sequer ter entrado em combate. Doentes, fragilizados física e psicologicamente, foram presos facilmente pela Polícia Militar de Minas Gerais sem terem tido condições de fazer qualquer resistência. Preso esse pequeno grupo, o Exército foi informado da existência de guerrilheiros na Serra, foram mobilizados cerca de dez mil soldados do Exército e dezenas de aviões com homens e armas, da Aeronáutica, além de agentes do Centro de Informações da Marinha (Cenimar). A disparidade de forças era tão grande que causava comoção, tanta a ingênua pretensão do confronto. Todos eles foram presos e condenados. Em Imperatriz, as condições não eram diferentes. Havia também dificuldades financeiras, carências de material e estrutura e dificuldades de adaptação à floresta, com incidência de malária entre os militantes. Temos depois, o próprio Jesnen relatou essa situação: Diante da vergonhosa derrota em Caparaó e das dificuldades do foco de Imperatriz, Leonel Brizola percebeu que o seu projeto guerrilheiro era demasiadamente frágil. Meses depois, em outubro, com a morte de Che Guevara, na Bolívia, desiste do projeto e dá ordem para desmobilizar o que havia do foco de Imperatriz, onde, desde o ano anterior, começara a chegar militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) para organizar a Guerrilha do Arguaia.


O ESPIRITO DE NATAL CERES COSTA FERNANDES O calendário, forma tão exata de marcar o desenrolar de nossas vidas, faz sucederem-se, repetitivos e inexoráveis: Ano Novo, Carnaval, Semana Santa, Dia da Mães, Dia dos Pais, Semana da Pátria, Finados e Natal, dentre os mais votados, a lembrar que mais um ano passou. E, tão rapidinho que, se não fosse o dito cujo, nem perceberíamos a passagem dos fatídicos 365 ou 366 dias E haja máscaras para afivelar aos nossos rostos na obrigação de estar de acordo com cada ocasião: hoje é dia de estar alegre e confraternizar, amanhã é dia de chorar os mortos ou de acender o sentimento patriótico, que anda meio apagado. Liga. Desliga. Ah, meu Deus, será que, inadvertida, coloquei a máscara trocada? A propaganda das lojas nos vem preparando para o Natal, buzinando nos nossos ouvidos a contagem regressiva: faltam “apenas” 90, 60, 30, 15... zero dias para o Natal Além de o ano passar correndo, ainda querem adiantar os eventos. E eu que ainda nem me recuperei das despesas das festas de fim de ano de 2015... Sejamos francos, para a maioria, em que consiste a festa de Natal? É para festejar o nascimento de Cristo ou a chegada de Papai Noel? Façamos uma enquete entre as crianças sobre o assunto e veremos que esta última opção ganha de goleada. No Ano Novo, repetem-se as falácias de confraternização e resoluções de vida nova. Recebemos abraços apertados de pessoas sorridentes que se mordem por dentro e nos morderiam se pudessem; enganamos a nós mesmos com promessas de mudanças mais vãs que aquelas feitas pelos homens quando pretendem as primícias dos favores de uma mulher. O tal espírito natalino, alguém o viu por aí? Se ele for encontrado, deve estar participando de algum "amigo invisível", trocando presentes de 1,99, a se empanturrar de peru com farofa, presunto tender, frutas secas, acompanhadas de vinho barato - pra acordar com uma tremenda azia no dia 25. E a festa familiar do Natal? Nas casas nas quais ainda se cultua o nascimento, fazem breves orações, em outras nem isso. Mas, em ambas, o foco são os presentes e a ceia que se inicia. Lá estamos nós, cheios de uma alegria ensaiada, um ano mais gordos, a comer pavê, em meio àquela decoração anglosaxônica, equilibrando debaixo do braço mais um presente que nunca vamos usar. E, de repente, na sobremesa sorridente, o bocado engasga. Circulamos o olhar e sentimos a ausência de uma ou mais pessoas queridas, companheiras de tantos natais ensaiados e tantos anos novos sem graça. Um magote de infantes familiares, correndo como que perseguidos por demônios, tromba conosco, pondo em perigo a estabilidade de nosso pavê. A irritação herodiana, que quer assomar, desfaz-se ao vermonos reproduzidos naquele menino de bochechas coradas e cabelo repartido, assentado à força com gel ou naquela menina encapetada, que já tirou os sapatos e as meias e cuja ponta do laço do cabelo pende desmanchada em cima do nariz. Uma onda de ternura vinda de recordações gratas desce-nos pela garganta desmanchando o nó. E pensamos: vai ver que os natais-e-anos-novos-sem-graça-passados não eram tão sem graça assim. Discretamente pigarreamos, pra disfarçar que estamos emocionados, e, de esguelha, vemos o safado do espírito de Natal passar sorrindo, já curado do pifão. Alguma coisa boa nos invade, acho que é o tal sentimento de beatitude. Com a alma bailarina, nas pontas dos pés, de sapatilhase tudo, descobrimos que a robotização do nosso ser não está completa. Há uma brecha que resiste e se alarga, um pouquinho mais, em cada um desses eventos repetitivos, para voltar a encolher nos outros dias do ano. E, assim, bendizemos Cristo por ter nascido, reinar entre nós,e 2017 por chegar. É, deve ser por essa razão que ainda fazemos calendários.


MENSAGEM DE NATAL ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO

Mais uma vez festejamos o nascimento de Cristo. É uma dádiva e um privilégio que Ele vem nos concedendo ao longo de todos esses anos, devemos entender assim; nossas famílias permaneceram unidas demonstrando capacidade de enfrentar e vencer os desafios que a vida exige. Nos tempos recentes tenho feito muitas reflexões; lembro-me das vitórias e também das derrotas. Comemorei 67 anos da minha formatura no Ginásio Caxiense, em 1949, e 57 na Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro, em 1959. Vocês bem podem imaginar o que esse tempo representou em termos de realização e esperanças. Depois são dignos de lembrar: 1961, ano do meu casamento com a Conceição e nascimento do primogênito, Marcos; Márcio, em 1964; Mônica, em 1967; Brandão Neto, em 1976. Esses anos felizes desdobraram-se em outros tantos quando do casamento dos filhos incorporando à família as noras Tatiana, Karla e Fernanda; da filha, com Fábio Lúcio; e nascimento dos netos Ciro, Camila, Hugo, Ingrid e Davi. Minha vida profissional tem sido longa, como economista e professor. Ensinei de 1968 a 1997: na UEMA, desde a fundação das primeiras escolas de nível superior do Estado do Maranhão, e na UFMA, por onde me aposentei. Foram praticamente longos 30 anos. Durante todo esse tempo procurei, além de transmitir conhecimentos, educar sem esperar nada além do reconhecimento e respeito dos meus alunos. Penso ter ajudado a formar bons profissionais e feito muitos amigos. Como economista, ainda estou no serviço público servindo a vários governos desde 1965. Tenho gratas recordações de pessoas que me ajudaram a servir, que foram e são meus amigos. Perdoem-me se estou falando sobre mim mesmo. É que espero estar transmitindo um pouco das minhas memórias, que podem servir como exemplo e evitar erros. Tenho orgulho da minha família, dos seus membros originais e daqueles que vieram aumentá-la: esposa, filhos, filha, genro, noras, netos e netas. É louvável a capacidade que temos tido de mantê-la unida, solidária, perseverante. Nestes tempos de aflições e dificuldades a família apresenta-se como a última trincheira; devemos mantê-la inexpugnável a qualquer custo. Desejo que todos tenham um Feliz Natal e estejam preparados para o Ano Novo, com saúde e paz; fé, esperança e caridade.


COIMBRA DAS CANÇÕES. MALDITA E APORRINHADA: GONÇALVES DIAS EM COIMBRA WEBERSON FERNANDES GRIZOSTE66

Também vaguei, Cantor, por clima estranho, Vi novos vales, novas serranias, Vi novos astros sobre mim luzindo; E eu só! e eu triste! Ao sereno Mondego, ao Doiro, ao Tejo Pedi inspirações, – e o Doiro e o Tejo Do mísero proscrito repetiram Sentidos carmes. Repetiu-mos o plácido Mondego; Talvez em mais de um peito se gravaram, Em mais de uns meigos lábios murmurados, Talvez soaram. Gonçalves Dias, in A um poeta exilado

É bom saber alguma coisa dos costumes dos diversos povos, a fim de julgar mais corretamente os nossos, e para que não pensemos que tudo o que é contra as nossas modas é ridículo e contra a razão, como costumam fazer os que nada viram(Descartes, 1997, 16). Certamente Gonçalves Dias ainda não tinha chegado à razão assertórica de Descartes quando escrevera: Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá As aves que aqui gorjeiam Não gorjeiam como lá. A canção do exílioé de Julho de 1843. Coimbra foi a centelha que fez Caxias fervilhar no coração do poeta. No final de Setembro queixara-se a Teófilo, Coimbra era umaterra maldita e aporrinhada – maldita de quanta poesia há no mundo – e aporrinhada quanto aporrinhações podem aporrinhar um cristão67.Essa mesma carta dá-nos a dimensão do arrojo nas finanças que estava a enfrentar para matricular-se, cinco dias depois, no quarto ano Jurídico. A folha de matrícula, cujo privilégio tive em manusear, ainda encontra-se nos Arquivos da Universidade de Coimbra(depósito IV, Secção 1ª D, Estante 2, Tabela 5, nº 6 (folha 130)) contendo a assinatura do poeta, dono de uma caligrafia irrepreensível – e veio a lume na edição Sobre Gonçalves Dias cujas compilações denominei Algumas Notícias sobre GD. Ali dispomos a compilação das matrículas e da sua certidão de idade (vide Grizoste, 2013 a). Conforme a certidão tinha por pai, natural de Celorico de Bastos, João Manoel Gonçalves Dias, e por mãe, natural de Caxias, Vicencia Mendes Ferreira. 66

Professor Adjunto de Latim e Estudos Clássicos do Centro de Estudos Superiores de Parintins da Universidade do Estado do Amazonas. Possui Licenciatura Plena em Letras pela Universidade do Estado de Mato Grosso (2006); é Mestre (2009) e Doutor (2014) em Poética e Hermenêutica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É Membro do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, desde 2008; e do Nucleo de Investigação da Cultura e Educação do Baixo-Amazonas, e do Centro de Estudos João Calvino. Possuiu uma Bolsa de Doutorado financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia entre 2010 e 2013. Escreveu e organizou obras e artigos publicados na Argentina, Brasil, Dinamarca e Portugal. Dentre as suas obras destacam-se: A dimensão antiépica de Virgílio e o Indianismo de Gonçalves Dias, Coimbra, CECH, 2011; Estudos de Hermenêutica e Antiguidade Clássica, Coimbra, Ed. de Autores (2013), em parceria com KatsuzoKoike; e a tradução de Besant, Walter, A Arte de Ficção, São Paulo, Scortecci, 2015. Dedicou-se ao estudo da obra de Gonçalves Dias na dissertação de mestrado e na tese de doutorado. 67 Correspondência de Coimbra em 28 de Setembro de 1843 para Alexandre Teófilo de Carvalho Leal in Dias, 1998, 1038.


Por avós paternos Antonio Gonçalves Dias e dona Josefina Pereira Dias; pelo lado materno Sebastião Mendes Ferreira e dona Urraca Francisca Mendes. Gonçalves Dias nascera na freguesia de Nossa Senhora da Conceição, cidade de Caxias, em 10 de Agosto de 1823. Gonçalves Dias chegara em Coimbra, cinco anos antes, em Outubro de 1838, entrara para o Colégio das Artes, do professor Luís Inácio Ferreira, onde estudara latim, filosofia, retórica e matemática elementar para enfrentar os exames preparatórios68.Era Coimbra, a lusa Atenas, a mãe literária do Brasil – terra onde queimara a sua mocidade os mais celebrados engenhos lusitanos, onde despertaram Camões, Ferreira, Sá de Miranda, Almeida Garret, Antonio Feliciano de Castilho e João de Deus. Onde começou a profetizar o poeta Guerra Junqueira, onde entenebrou Antero de Quental e o estilista Eça de Queiroz 69. Coimbra, que Gonçalves descrevera nas Memórias de Agapitocomo uma cidade bela, e majestosa, e risonha, onde os mancebos são lhanos, corteses e extremosos, onde se respira sentimentos nobres e elevados, onde a vida é tranquila e serena, a alma ingênua e cândida, e a amizade indissolúvel e sincera (Gonçalves, 1998, 770). Coimbra que Henriques Leal vira como um anfiteatro descendo da cumeada da cidade derramando-se pelas fraldas do monte até o rio Mondego, de um lado do Arco da Almedina a população comercial e industriosa e do outro a turbulenta e folgazã mocidade académica (Leal, 1874, 18). Ainda é possível dizer que, passado mais de século e meio, o Arco da Almedina ainda continua a exercer semelhante função. O gênio poético de Gonçalves Dias é todo herdado em Portugal. Gomes Filho recorda-nos que dos 41 anos vividos o poeta vivera 10 na antiga metrópole70. Conforme Sousa Pinto foram seis anos e alguns meses, dos quinze aos vinte e um a primeira estadia de Gonçalves Dias em Portugal71, dos quais a maioria em Coimbra e uma parte na Figueira da Foz. Coimbra, refrescada pelo rio Mondego, patinada pelos amores de D. Pedro e Inês de Castro, com os seus salgueirais murmurosos, e com as guitarras dos estudantes sussurrando nas noites de luar, tornou-se, de fato, um lugar perigoso para uma sensibilidade inflamável como a alma de Gonçalves Dias72. Aí deixou o poeta amar-se e ser amado, aí entregou-se a lira, ao alaúde e ao baluarte. Coimbra, ao lado do Porto e Lisboa eram, e ainda são, os maiores centros do país. No entanto, em Coimbra o romantismo tem o seu núcleo germinal. A agitação intelectual da velha cidade do Mondego firmava-se como uma das tradições mais nobres. A academia coimbrã, ao lado da boemia de espírito e da estupidez juvenil, sustentou no seu íntimo um potencial de rebelião, uma onda generosa de progressismo e de reivindicações intelectuais, morais e políticas73. Há um poema cujo, poeta descreve como sentiu-se recém-chegado em Coimbra. O poema Saudades, dedicado a sua irmã Joana A. de M., citado por Lucia Miguel Pereira (2016, 48) e em verdade, primeiramente sugerido depois de, citado no Pantheon Maranhense de Henriques Leal (Leal, 1874, 20). Nele o poeta fala da triste oliveira, do fúnebre cipreste, do céu nublado de inverno, dos montes cujos cumes ficam brancos pela neve, de paisagem tão diversa e distante das várzeas e palmeirais de sua terra. Foram tristes estas as primeiras impressões do poeta e não podia ser diferente. Qualquer um que tenha ido viver no estrangeiro sabe que o que se experimenta logo a seguir a euforia da mudança. Recordemos o pressuposto evidenciado por Carlos André (1992, 40), a mudança de ambiente gera frequentes desequilíbrios emocionais. Por outro lado, Descartes (1997, 16-17) chama-nos a atenção, quando se gasta demasiado tempo a viajar, acaba-se estrangeiro no próprio país. Isto, num homem poeta, que chega a Coimbra ainda com 14 anos, quando a formação espiritual está germinando e em amplo desenvolvimento deixaria uma marca indelével. A vida conimbricense, da boemia de espírito e da estupidez juvenil reunida a esta condição de estrangeiro mostra-nos o quanto não será difícil perceber porque Gonçalves Dias, ao chegar no Maranhão, pôs-se a escrever o Meditação. Mas rapidamente, o poeta encontraria o limite da independência que os barões e aristocratas políticos impunham aos poetas no Brasil. 68

Costa, 2001, 24; Lima, 1942, 2; Silva, 2010, 69 (a); Bandeira, 1998, 18, a; Pereira, 2016, 49. Agenor de Roure, «Instituto Historico e Geographico Brasileiro. Sessão especial comemorativa do centenário natalício de Antonio Gonçalves Dias», Diário Official, Rio de Janeiro, 15 de Agosto de 1923. In SILVA, Manoel Nogueira da, O Pensamento brasileiro no centenário do nascimento do poeta dos Timbiras, álbum contendo vários artigos, conferências, palestras, tópicos, etc sobre a vida e a obra literária de Gonçalves Dias. I-06,12,002. Fl. 65 a vs. Fl. 73. Citando fl. 66. Obviamente que a declaração de Roure é tirada de afirmação semelhante do entusiasta gonçalvino, Henriques Leal, 1874, 19. 70 Gomes Filho, 1997, 57. 71 Pinto, 1931, 3. 72 Corrêa, 1948, 13. 73 Marinho e Ferreira, 1989, 21. 69


Mas voltemos ao desafio de falar sobre Gonçalves Dias em Coimbra. Noutra ocasião, no artigo TelemaquiaMiarinense, publicado no Guesa Errante e republicado no Diário de Viagem da caravana dos poetas de Mil poemas para Gonçalves Dias, fizemos uma magnífica, poética e metafórica comparação com Telêmaco. Telêmaco, o jovem príncipe, não encontrou o pai pelo caminho, mas seguiu-lhe os passos. Nós, infortunadamente fizemos semelhante percurso, seguimos os passos de Gonçalves Dias e a descrição dessa desilusão ainda cabe aqui: Vivi (…) seis anos em Coimbra. Em vão procurei os passos do poeta naquela cidade. Não encontrei lá uma única placa que sinalizasse os locais em que ele teria vivido, como existe de alguns poucos poetas por lá. Fui aos Palácios Confusos e a antiga Rua do Correio; desiludido fui ao Rio de Janeiro e nem o nome Rua Gonçalves Dias ou o bar Onde Canta o Sabia na antiga Rua dos Latoeiros serviu para amenizar a minha angústia com o desaparecimento dos rastros do poeta. Já quase sem esperanças cheguei em São Luís ainda acreditava que em Caxias encontraria o poeta. Foi como um encontro marcado meio às pressas mas esperado há muitos anos. Em Caxias perdi o último fio delgado de esperança. A casa onde vivera tornou-se objeto da cobiça individual provando que ele estava certo ao dizer que a nossa política é feita de coisas e não de causas. Cheguei em Guimarães apenas com o desejo de ver o mar que o engoliu, já sabia que nem Gonçalves Dias nem os seus rastros seriam encontrados lá (Grizoste, 2014, 43, a). Seja como for, lanço-me ao desafio de falar de Gonçalves Dias em Coimbra, um desafio que Manoel de Sousa Pinto fizera e completara parcamente em 1931. Ao que se sabe, Gonçalves Dias deixara Caxias em 19 de Maio de 1838, na companhia de Bernardo de Castro e Silva, um ferreiro de profissão natural de Figueira da Foz. De Outubro de 1838 até meados de 1839 viveu na casa do padre Bernardo Joaquim Simões de Carvalho 74. Viria a matricular-se no Primeiro ano Jurídico apenas em 31 de Outubro de 1840, e segundo Lima (Lima, 1942, 3) tendo apresentado a certidão de idade e certidões dos exames de Catecismo, Latinidade, Filosofia Racional e Moral, Retórica e Geometria. Deveria ter-se matriculado em Outubro de 1839, mas a Balaiada trouxe enormes prejuízos, e impossibilitado de receber a mesada de dona Adelaide recebeu as ordens de retirar-se para Figueira da Foz até que pudesse embarcar para o Maranhão75. Consternados com a desgraça do poeta os primeiros amigos de Gonçalves Dias socorreram-no, cotizaram-se e disseram que convinha morar com eles no Colégio dos Loios, e foram eles: João Duarte Lisboa Serra, Alexandre Teófilo de Carvalho Leal, Joaquim Pereira Lapa e José Hermenegildo Xavier de Morais76. Instada por correspondência a enviar 108 mil réis pelas despesas desde Julho de 1838 até Março de 1840 e mais 200 réis anuais durante o curso, dona Adelaide negou. Os tempos da Balaiada trouxeram enormes prejuízos à madrasta e ao poeta. Em Maio de 1840 apresentou-se aos exames preparatórios, em 31 de Outubro matriculou-se, afinal, na Universidade. Um Outubro vivia no casarão do Colégio dos Loios na companhia de Pedro Nunes Leal e José Joaquim Ferreira Valle. Depois passou a viver com José Francisco Carneiro Junqueira em Palácios Confusos nº 108, mas como este retirara-se, 1 mês depois, para o Maranhão, voltou à companhia anterior, mas dessa vez tinham ido viver na Rua do Correio, nº 53, onde possuíam por companheiros outros dois maranhenses, AntonioRego e Francisco Leandro Mendes 77. Dessa convivência extrairia o que ele chamou de “meus amigos de Coimbra”, cuja dívida contraída jurou, para nossa sorte, pagar com uma vida literária. Esse ciclo de amigos contraídos em Coimbra veio a tornar-se, depois, uma malta bem colocada no Brasil. Entre todos destacaremos, sem demérito dos outros mas por pura subjetividade, o melhor amigo, Teófilo. Teófilo, o melhor amigo, foi aluno brilhante, depois agricultor, político, jornalista, inspetor da Instrução Pública e do Tesouro Provincial do Maranhão, dono de um nobre coração – assim mesmo testemunhara o poeta no prólogo dos Últimos Cantos.Lucia Pereira (2016, 57) depois recordadera à sua usina o nome de Lincoln, numa evidente manifestação antiescravagista. Teófilo, assume, na investigação 74

Bandeira, 1998, 18, a; Lima, 1942, 2; Pereira, 2016, 49; Leal, 1874, 21. Leal, 1874, 22; Pereira, 2016, 50; Bandeira, 1998, 18-19, a; Costa, 2001, 25. 76 Costa, 2001, 24-25; Pereira, 2016, 50-51; Leal, 1874, 22-24; Bandeira, 1998, 19, a; Lima, 1942, 2-3. 77 Bandeira, 1998, 19, a; Costa, 2001, 25; Lima, 1942, 2-3; Leal, 1874, 24; Pereira, 2016, 55. 75


sobre a vida coimbrã de Gonçalves Dias, espaço de extrema relevância. Foi amigo e confidente por toda a vida, ainda que tenha sido parcialmente substituído por Capanema nos últimos anos do poeta. Nas férias do primeiro ano de faculdade, na companhia de Teófilo, tendo recebido alguma quantia de dinheiro, Gonçalves Dias fora para Lisboa. Na Figueira encontraram um amigo instado a voltar a Coimbra por falta de dinheiro, apesar de bem pouca sorte, Gonçalves Dias e o supostamente afortunado Teófilo não o permitiram e dividiram entre si a despesa do amigo e juntos foram à Lisboa. Retomaremos estas férias mais adiante. Em Outubro voltaram todos para Coimbra. Tendo recebido, logo na chegada, uma remessa de dinheiro quis pagar a dívida aos amigos. Não aceitaram recebê-la e o poeta usou o dinheiro para comprar sua primeira Biblioteca. Nesse 2º ano do curso foi morar na rua do Cosme, nº 5 com todos os seus companheiros, menos João Duarte Lisboa Serra e José Joaquim Ferreira Vale que tinham voltado ao Brasil, e mais os seus patrícios Antônio Rego e Francisco Leandro Mendes78. Tendo recebido, novamente, nas férias algum dinheiro e querendo entregar-se ao sossego dos estudos passou, no 3º ano, com outro colega a viver desde 7 de Outubro na rua do Salvador, 170, defronte a casa dos mesmos amigos79. Atesta Henriques Leal que nessa temporada de 1842-1843 foi quando mais produziu – é dessa época a Canção do Exílio. Em 1843, segundo Pereira (2016, 72) Teófilo, então em Lisboa e já formado em matemática, resolveu embarcar para o Brasil. Faltava recursos para ir despedir-se do amigo em Lisboa e por isso empenhorou a sua biblioteca. Foram suas últimas férias de estudante. Em 1844 chegou ao termo do seu curso de bacharel e ficou marcado por um incidente da campanha em que se envolveu com alguns colegas, contra o catedrático de direito civil, o padre Lins Teixeira 80. Foi um episódio a parte. Para Sousa Pinto (1931, 15), Gonçalves Dias foi muito considerado no meio coimbrão. Sabe-se, por ele, que pela época de São João «28 de Junho, formatura do poeta», na Quinta das Varandas, houve uma Festa de poetas, da qual João Lemos deixou notícia (apud idem), em que dizia o poeta da Lua de Londres que naquela agradável festança não se via o Snr. António Gonçalves Dias, que uma repentina enfermidade o havia prendido no leito, cujo nome ali saudosamente repetido era a violenta mágoa que entristecia as rosas festivais. Nas férias de 1844 achava-se em Lisboa quando descobriu que sua irmã, filha de João Manoel, fora seduzida por um primo. Sentiu-se na obrigação de protege-la. Foi à província dos parentes, exigiu e conseguiu a reparação devida do primo. Mas o negócio custou demasiado caro, no regresso para Coimbra descobriu que o prazo de matrícula já havia passado. Não podia dar-se ao luxo de ficar um ano inteiro à custa alheia e sem fazer nada81. Todos os colegas tinham partido, exceto Morais que o acompanhara na viagem a Gerez e Pitões. Empregou estes últimos dias no tratamento do reumatismo nas recomendadas águas do Gerez e Pitões, na visita dessa parte de Portugal e de Espanha. Em Pitões ainda compôs algumas poesias, donde muitos atribuem ter iniciado o seu indianismo82. Em Pitões escrevera as primeiras poesias indianistas: O Índio e outras duas desconhecidas na modernidade que foram inutilizadas pelo poeta, a saber Coral e Jacaré83. Assim conheceu o Minho, Trás-os-Montes e a Galícia, visitando provavelmente a terra do pai, Celorico de Basto. Em Janeiro de 1845 foi para o Porto, sem dinheiro, à espera do brigue Castro II, onde embarcou em Fevereiro com passagem a ser paga no destino, em São Luís84. Mas que outras vidas, além de estudante, o poeta teve em Coimbra? Quais mulheres o namoradiço poeta encontrou? Como de fato aflorou a sua poesia? Apesar de Henriques Leal elencar diversas obras produzidas no regaço de Coimbra na temporada de 1842-1844, Lucia Pereira (2016, 73) cria que só se salvaram dois poemas dessa temporada, A Escrava e a Canção do Exílio. Não temos dúvida quanto a Canção do Exílio, é a maior entre todas as poesias escritas em todos os tempos por qualquer bardo brasileiro e quiçá em igual par com o soneto de Camões. Claro que é difícil precisar a grandeza de uma poesia ou de 78

Lima, 1942, 7; Pereira, 2016, 61; Leal, 1874, 33. Lima, 1942, 7; Leal, 1874, 34; Pereira, 2016, 61. 80 Bandeira, 1998, 21, a. 81 Leal, 1874, 42-43; Bandeira, 1998, 21, a. 82 Leal, 1874, 42; Pinto, 1931, 16; Bandeira, 1964, 26-27; 83 Leal, 1874, 39; Bandeira, 1998, 21, a. 84 Pereira, 2016, 72-73; Costa, 2001, 28; Lima, 1942, 9-10; Leal, 1870, 45. 79


um poeta, e a poesia de língua portuguesa está cheia de grandes vultos literários – mas o fato é que a Canção do Exílio surgiu como grito certo em momento certo, momento em que o Brasil carecia dessa grandeza. Ainda que Lucia Pereira esteja certo quanto ao que se salva das produções em Portugal, é mister que foi Coimbra, essa terra maldita e aporrinhada, quem transformou o poeta naquilo que ele se tornou. A Canção do Exílio feita em Julho de 1843, segundo Frota (1978, 25)dera perenidade ao poeta; para Ackermann (1964, 45) é a expressão artística da ideia da saudade perfeitamente conseguida. Nos anos de 42 e 43 escrevera dois romances: Memórias de Agapito Goiaba e outro, de título desconhecido, à imitação de Joseph Delorme – e um longo poema (Poema Americano «?»), todos destruídos pelo poeta; e dois dramas: Patkul e Beatriz Cenci85. Esse manuscrito de Agapito Goiaba chegou a ser 3 grossos volumes que o poeta queimou, na Europa, em 1854. Henriques Leal lera em 1846 e soubera da sua destruição em 1861 (Leal, 1874, 34). Também na rua do Correio pôs-se a estudar alemão e a ler poetas na sua língua mãe. A poesia surgiu precocemente em Gonçalves Dias. Enquanto esteve na Figueira da Foz, antes de matricular-se na universidade, dedicou-se a recordar materiais de humanidades e a ensaiar o estro, tendo por modelos os poetas latinos. Imitava as formas, as vezes, copiava-os, mas somente a um grupo seleto de amigos mostrava seus versos de infância e as suas traduções de Horácio (Leal, 1874, 28-29). Na primavera de 1841 chega a Portugal a notícia da aclamação de D. Pedro II, novo imperador do Brasil, pelo mês de maio, por iniciativa dos estudantes brasileiros erradicados em Coimbra, aparecem enastrados alguns saveiros nas águas do Mondego, com a bandeira do Brasil no mastro. Depois, na Lapa dos Esteios, realiza-se um banquete. Ao som do Hino brasileiro, Gonçalves Dias recita a poesia que havia escrito para celebrar a aclamação do Imperador. Conta-nos Henriques Leal que todo envergonhado e de olhos baixos Gonçalves Dias recitou a arrebatada poesia, surpreso e maravilhado o auditório rompeu em fervorosos aplausos86. Uma moça chamada Engrácia inspirou-lhe os únicos versos publicados em Portugal ainda durante a sua vida de estudante. Fê-lo a publicação de Inocência no Trovador, jornal de João de Lemos. O poema revela uma paixão ardente, violenta, imensa a requeimar-lhe o sangue com o fogo sagrado. Amei! e o meu amor foi vida insana! Diz-nos nas Quadras de minha vida. Apesar da dedicação, ternura, extremos, não passou de amores fugazes, como ele revelará em Saudades, no poema de sua irmã, Sim amei, fosse embora um só momento! Próprio da vida de estudante coimbrã. Tanto que se tornará um fado na letra e voz de Zeca Afonso, dizem que amor de estudante | ai, não dura mais que uma hora. Em toda sua vida, o namoradiço Gonçalves Dias podia gabar-se ter sido um audaz conquistador das raparigas, como celebrará o Fado do Vasquinho. Gonçalves Dias viveu Coimbra com toda a sua intensidade, marcou-a e saiu marcado dela para sempre. Numa carta a Teófilo de 24 de Janeiro de 184487 veremos palavras bem próximas daquelas as quais veremos sair 8 anos depois já no Brasil. Engrácia parece ter sido uma triste prefiguração, uma preparação para o caminho de Ana Amélia. Teófilo, tu não sabes o que é amar sem ter esperanças: dizermos em nós – um dia farei murchar a fé daquele coração virgem – farei secar as rosas daquele rosto e a fonte daquela ventura tão fiada no amor e no futuro. Irei eu por este mundo, e ela cá fica sem o seu amor, que levo – desgraçados, porque nos conhecemos! Como ela me ama, pobre moça! Eu não choro por mim; sou homem, dispenso grandezas e quando sofro sou desmedido por minhas palavras que nunca

85

Bandeira, 1998, 21, a; Costa, 2001, 27-28; Lima, 1942, 7. Bandeira, 1998, 20, a.;Montello, 1973, 13. Essa poesia aparece logo depois, num folheto de 22 páginas, do dia 3 de Maio de 1841 em Coimbra (Coimbra, Imprensa de Trovão & Cia., 1841). Foi a primeira publicação de Gonçalves Dias, ao contrário do que afirmou Sacramento Blake, Inocência não foi a primeira publicação de Gonçalves, nem sequer a primeira por ele escrito, que só saiu no nº 1 do jornal Trovador em 1843, portanto 2 anos depois do poema ao Imperador. Conforme afirma Manuel Nogueira. Silva, 1942, 15. O poema figura em poucas edições, é representado na Bibliografia de Gonçalves Dias, onde o mesmo justifica em virtude da raridade do folheto pertencente a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro nunca ter sido representado em nenhuma das edições de poesia do poeta. Ibidem 16-17. Com estes fatos corresponde as mesmas afirmações de Sousa Pinto, autor que também representa o poema. Pinto, 1931, 8-9. Entretanto a ausência de um título comum fez com que cada um dos autores optasse por uma espécie de título da forma que melhor julgaram. Entusiasmo Ardente por Houaiss (1959), Alexei Bueno (1998); O dia 3 de Maio de 1841 por Silva (1942); Pelo Sr. Antonio Gonçalves Dias, Estudante de Direito: natural do Maranhão por Pinto (1931). Excerto citado também por: Costa, 2001, 26. Citado por Lima, 1942, 4-5. Comentado primeiramente por Leal, 1874, 29. 87 Citada por Leal, 1874, 37-38; Pereira, 2016, 64-65; comentado por Marinho e Ferreira, 1989, 22; Bandeira, 1998, 20, a; Bandeira, 1964, 17; Costa, 2001, 25, 27; Silva, 2010, 69 (a) 86


denotam sofrimento; mas ela!? Eu quisera vê-la sempre feliz, sem pesares, nem dores, sem lágrimas, cheia de contentamento. Belas palavras não passassem de um de seus amores fugazes e nisso o pota foi um perito. Acostumava Gonçalves Dias passar férias de Natal e Páscoa e às vezes aos domingos, com companheiros, em Formoselha – nos arredores de Coimbra. Pelas indicações de Henriques Leal, pela interpretação de Lucia Pereira, a paixão por Engrácia aconteceu no mesmo período em rendia culto a uma formosa deidade de Formoselha88.Também alude Leal, um dos capítulos conservados das Memórias de Agapito Goiaba refere-se a estes fugazes amores. No fragmento dasMemórias de Agapito deixa escapar: Mas casar-me! Não o posso. Considerava-se perdido no mar da vida, longe do seu destino. Contudo, pouco tempo antes, nas primeiras férias em Lisboa, apaixonara-se e quisera casar-se com a filha da dona da pensão, a Hospedaria Nacional. Não fizera por sorte e oposição de Teófilo89. Mas ainda há mais que supor. Nem tudo foi-nos revelado senão o que quisera dizer Henriques Leal e o próprio Gonçalves Dias nas suas cartas. Já no Brasil, o poeta recorda-se de uma tal Velha Inácia, “nossa serventa de Coimbra” escrevendo a Teófilo. Na mesma carta o poeta dizia da importância de amar grosseiramente e platonicamente e não doudejar por nenhuma; fala depois de sua nova paixão, uma Judia, bela rapariga de olhos rasgados, de pálpebras longas acetinadas – transparentes que se alevantam vagarosamente como o pano de boca do Teatro do Maranhão, um colo de neve (cousa trivial em poesia), um pescoço torneado, com veios azul, um pescoço flexível – comprido - um pouco arqueado, que sustenta as obras que amor mata de amores – um rosto!... Um garbo!... uma esbelteza de palmeira (comparação que só se pode aplicar bem à Velha Inácia, a nossa servente de Coimbra)90. Quem terá sido essa Velha Inácia? A carta diz muito pouco e não o saberemos nunca. Foi alguma tricana de Coimbra, uma dessasfiguras emblemáticas desde os finais do século XIX? Que coisa poderemos supor? Inácia comparada a palmeira esbelta é qualquer coisa sumptuosa nas palavras de poeta cuja estátua jaz, em São Luís, no cume de uma palmeira há século e meio. Ninguém teve, nem cedo terá, mais propriedade poética sobre a palmeira do que teve o criador da Canção do Exílio. Seja como for, Inácia, como a Judia, também foi um garbo, uma esbelteza de palmeira. Não é a primeira vez que alguém traça alguma suposição de alguma tricana na vida de Gonçalves Dias. Citando o prefácio de Patkull, onde o poeta desejara fazer uma Ilíada de amor puríssimo, Sousa Pinto (1931, 15) duvida que esse amor todo fosse reservado a uma tricana, incapaz de ler romances como esse, já que o poeta dissera possas tu, em lendo esta minha obra para o futuro, quando a minha voz não responder a tua voz, por me ter eu partido para longes terras – encontrar nela alguma coisa que te diga que eu te amava como Patkull à Romhor, e que o meu amor, como o dele, só acabará com a minha vida. Por meu lado, não tenho muitas dúvidas de que essa Deusa fosse Engrácia, a julgar pela carta à Teófilo e anteriormente citada – cujo poeta revela irei eu por este mundo. A hora da partida finalmente chegou. A hora de saber se realmente Coimbra tem mais encanto | na hora da despedida, como dirá o famoso fado de Fernando Machado Soares. Enfim a hora de levar guardado recordações do passado | o bater da velha cabra como diz a belíssima e sublime Balada da Despedida do 5º ano Jurídico de Coimbra e que tive o triste privilégio de ouvir na serenata da Queima das Fitas de 2013ermo e num longo carpido como jurei fazer no poemaA última serenata (Grizoste, 2013, 67 b). Mas não demorará muito e aquele encanto de 1843, aquela saudade de uma terra cujo céu tinha mais estrelas, cujas várzeas tinham mais flores esmoreceria diante da realidade caxiense, diante do regresso.Para João D’Albaim declararia Gonçalves Dias que os mais alegres anos da sua juventude foram em Portugal, lá onde deixara 88

Leal, 1874, 38; Pereira, 2016, 65-66. Pinto, 1931, 14; Pereira, 2016, 60; Corrêa, 1948, 14; Bandeira, 1964, 20-21; Costa, 2001, 26-27; Lima, 1942, 9. 90 Correspondência do [Rio de Janeiro] de 1846 para Alexandre Teófilo de Carvalho Leal in Dias, 1998, 1061-62. 89


muitos amigos, e que pesava no coração de os ter deixado para sempre; e não sem saudades dos sítios que viu, das pessoas que amou e da terra que lhe foi como uma segunda pátria91. Se Portugal era a sua segunda pátria certamente, até então, Coimbra a sua segunda cidade. Mas e quando a sua primeira cidade, quanto a Caxias? Voltando de Coimbra o poeta encontrou uma Caxias sufocante, onde seus hábitos coimbrões eram tidos como inusitados, que Frota (1978, 26) enumera: estatura abaixo da média, fronte alta, olhos pequenos e brilhantes, o poeta andava pelas calçadas desnudado pela inusitada curiosidade pública que já o repulsava pelos seus modos desenvoltos, atentatórios aos graves e rígidos princípios do burgo. A fumaça do charuto, os goles de cerveja e a vinhaça sorvidos no balneário do Riacho da Ponte denunciavam os costumes que o poeta iria introduzir, mas que lhe eram tão naturais. Queixa-se ao amigo Teófilo solicitando para intensificar as correspondências. Em Caxias tudo era motivo de tédio: o grau de instrução, deplora a didática do catecismo, detesta os costumes formais e o nível cultural dos poetas. Talvez até tenha-se lembrado dos passeios solitários nas ruas desertas e silenciosas de Lisboa, da viração de uma noite de luar depois de um dia abafado, de contemplar parte da cidade do Cais do Sodré. Eram vozes estrangeiras; mas que importa? Meu coração as entendia, eu também era proscrito como eles e como eles também suspirava por um túmulo na terra de meus pais (Leal, 1874, 32-33). Era 1 de Maio de 1845. Queixou-se profundamente a Teófilo o silêncio do amigo. É esta uma das mais belas cartas do poeta – que nunca fartei-me de a ler. Sentia-se, como dissera:sozinho em terra que, apesar de ser minha, eu posso chamar estranha. Queria falar de outra vida, de uma vida estrangeira (?). Não tinha mais imaginação. Sentia saudades de Coimbra? Não! Sentia-se como se a cidade tivesse ficado a lhe dever, como se tivesse sido, por ela e não por outro, obrigado a padecer e a sofrer humilhações. É mesmo isto que diz: Triste foi a minha vida em Coimbra – que é triste viver fora da pátria, subir degraus alheios – e por esmola sentar-se à mesa estranha. Essa mesa era de amigos… Embora! O pão era alheio – era o pão da piedade – era a sorte do mendigo. Compaixão é um termo de compreensão incompreensível – não a quero92. A carta demonstra uma mágoa que encontraremos belissimamente descrita no poema Orgulho e Avareza. Dessa imensa e incurável mágoa. Da mágoa de ter-se humilhado e perdido sua biblioteca, ele nunca se recuperaria. Talvez Gonçalves Dias exagerasse e eu tenho chamado a atenção para esse feitio do poeta93. Esquecia-se que apesar de tantos infortúnios, grande era o privilégio que representava para um brasileiro estudar em Coimbra no século XIX. Mesmo assim não o acharíamos contente nunca, de Coimbra sempre haveria de queixar-se94. Henriques Leal foi, na minha concepção, o maior entusiasta de Gonçalves Dias. Leal fez uma biografia exatamente como o poeta gostaria que alguém o fizesse, carregou nas suas palavras os exatos queixumes do poeta. Eis o que nos diz sobre o momento que partia do Porto rumo ao Brasil: Pobre e desconhecido, sem um nome de familia bastante poderoso ou respeitavel para o patrocinar, antes marcado desde o berço com o que é considerado um duplo stygma, odioso para uma sociedade, como a nossa, atrasada, e onde tanto imperam os preconceitos de nascimento, tinha Gonçalves Dias a alma lanceada pelas previsões de um futuro sombrio, e assim engolphava-se em pensamentos que lhe attribulavam a mente e prostavam o espirito. Quantas e quantas vezes, no longo decurso d’essa viagem, estendendo a vista pelo vasto paramo das planuras oceanicas, achava no soluçar plangente das ondas e n’aquellevagalhar incessante similhanças com a sua vida incerta e cortada pela desdita95!

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Correspondência do [Rio de Janeiro] 28 de Fevereiro de 1849 para João D’Albaim in Dias, 1998, 1068. Correspondência de Caxias em 1 de Maio de 1845 para Alexandre Teófilo de Carvalho Leal in Dias, 1998, 1041. Citado por: Costa, 2001, 25; Lima, 1942, 3. 93 “feitio exagerador”, diria Sousa Pinto, 1931, 16. 94 Reis, 1964, 2. 95 Leal, 1874, 45-46. 92


Finalmente deixara para trás Coimbra, a terra maldita e aporrinhada. Deve ter sentido um alívio. Naquele último ano de Coimbra ainda tinha-se queixado a Teófilo noutra carta cuja data ignoramos96: Coimbra – está cada vez mais triste - e eu cada vez mais triste por estar em Coimbra – que vida.No Porto, a 5 de Janeiro de 184597 celebra, quando penso naqueles nossos tão doidos, mas amorosos projetos de Coimbra (que também eu já não sou de Coimbra). O que se segue na mesma carta é semelhante ao que vimos falar Henriques Leal, quando penso no que podíamos ser de grandes para o futuro; e digo – no que somos hoje de pouco, – he no que seremos de menos para o futuro – dá-me vontade de chorar, e de chorar sempre – até que entre soluços se quebrasse a minha alma do meu corpo. Depois enterrou Coimbra para sempre. A última vez que veremos falar da cidade será na carta de 11 de Setembro de 1847 a Teófilo98. E Por quê? Nunca o saberemos. Sabemos que em 10 de Julho de 1854 aportara em Lisboa, que entre os anos de 1854 e 1855 passou a vida entre Lisboa e Paris. Nos finais de 55 foi a Bélgica e na Alemanha. Em Março de 1856 partiu para Espanha, em Maio estava de volta em Lisboa, fez uma viagem rápida a Londres, em Julho foi para Évora onde passou dois meses. Andou depois em Paris, Bruxelas, Colônia, Leipzig, Berlim, Dresde, Munique. Foi ainda a Viena, Roma e no final de 1857 estava em Paris. Não sabemos se terá voltado a Coimbra, mas a julgar por seus escritos, não, nunca mais o fez! Coimbra era terra maldita e aporrinhada e em 1855 a poesia já tinha morrido em Gonçalves Dias, não tinha mais motivos para voltar a Coimbra.Lucia Pereira (2016, 214) chama-nos a atenção a estranha publicação de 1857 cujos Cantos tinha só 16 poemas novos. Deixara de ser poeta aos 30 anos, tornara-se etnógrafo e historiador. Teria sido ingratidão para com a cidade? Talvez não, se pensarmos que o poeta teve uma vida bastante movimentada e mais ainda se vermos que, aparentemente, Caxias também nunca mais foi visitada desde que de lá saiu, em 14 de Junho de 1846. Quero pensar, nunca mais voltou a Coimbra pela dificuldade de época e por falta de ocasião propícia. Seja como for, a Coimbra das Canções, celebrada na letra de Raul Ferrão, ficou como uma marca indelével na vida e na poética gonçalvina, por sermaldita e aporrinhada – maldita de quanta poesia que há no mundo – e aporrinhada quanto aporrinhações podem aporrinhar um cristão. Referências Bibliográficas ACKERMANN, Fritz, A obra poética de António Gonçalves Dias, Trad. Egon Schaden, São Paulo, Conselho Estadual de Cultura, 1964. ANDRÉ, Carlos Ascenso, Mal de ausência: o canto do exílio na lírica do humanismo português, Coimbra, Minerva, 1992 (a). BANDEIRA, Manuel, «A vida e a obra do poeta» in DIAS, A. G., supra cit.,1998. 13-56, a. __ «A poética de Gonçalves Dias» in DIAS, A. G., supra cit.,1998. 57-70, b. __, Poesia e vida de Gonçalves Dias, São Paulo, Editôra das Américas, 1962. CORRÊA, Viriato, «A vida amorosa de Gonçalves Dias», in Gonçalves Dias: conferências realizadas na Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, A Academia, 1948. 7-51. COSTA, Pedro Pereira da Silva, Gonçalves Dias, Col. A vida dos grandes brasileiros 16, São Paulo, Editora Três, 2001. DESCARTES, R., O discurso do método, Lisboa, Editora Replicação, 1997. FROTA, Francisco MarinalvaMont'Alverne, Entre o Timbira e o pastor serrano, São Luís, Sioge, 1978. GOMES FILHO, Elísio, Morte no mar, Cabo Frio, Museu Histórico e Marítimo, 1997. GONÇALVES DIAS, «Correspondência ativa de A. G. Dias» Anais da Biblioteca Nacional, Vol. 84, Rio de Janeiro, Div. De Publicação e divulgação, 1971. __, Gonçalves Dias: Poesia e prosa completas,org. Alexei Bueno, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1998. __, Obras posthumas de A. Gonçalves Dias, 6 Vls., org. Antônio Henriques Leal, São Luís, B. de Matos, 1868.

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Correspondência ativa de Gonçalves Dias, nº 15, pg 27 e 28. Correspondência ativa de Gonçalves Dias, nº 21, pg 35. 98 Correspondência ativa de Gonçalves Dias, nº 43, pg 91. 97


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PRESENTE DE NATAL. AYMORÉ ALVIM AMM, ALL, IHGM, APLAC. Dona Inês, sempre aos domingos, vinha almoçar comigo e aproveitava a oportunidade para contarme histórias de Pinheiro para que as transformasse em crônicas. Em um desses domingos, ela me relatou a que segue, dizendo-me para fazer uma crônica para o Natal. Ordens dadas por mãe são ordens cumpridas. No bairro do Sete, morava Jovino com a mulher Isaltina e a filha Lurdinha. Ele era pedreiro e ela lavadeira. Eram pessoas benquistas pelo modo de tratar e pela retidão nos seus serviços. Lucinda, comadre e vizinha, era largada do marido. Vivia com um caboclo do Bom Viver que era seu amante. Era uma mulher ardilosa, futriqueira, invejosa, falava mal de todo mundo. Era um perigo, o cão em forma de gente, como diziam. Certa vez, espalhou pelo bairro que lhe haviam roubado uma medalhinha de ouro e que desconfiava de seu compadre Jovino, pois o vira, há duas noites, saindo escondido da sua casa. Claro que a estupefação foi geral. Não era possível acreditar que Jovino pudesse ter feito aquilo. Denunciado e preso e sem o manto protetor dos Direitos Humanos, àquela época, Jovino, sob ameaças, confessou a autoria do furto. A mulher e a filha, sempre aos domingos, iam visitá-lo, na cadeia. Com lágrima nos olhos, Jovino ouvia a garota: - Papai, não fique triste. Nós acreditamos que o senhor não fez essa coisa feia que dona Lucinda disse. Tenho conversado todas as noites com Jesus e Ele me diz que o senhor vai sair daqui porque o senhor é inocente. Tenha fé, papai. Cumprida a pena, Jovino foi solto. Envergonhado e sem emprego, resolveu ir trabalhar em outra cidade e prometeu que um dia viria buscá-las. Lurdinha, numa manhã, ao ser acordada para ir à escola, disse à mãe: - Mamãe, eu tenho lembrado tanto de papai. Ontem à noite, sonhei com Jesus que me dizia que ia mandar papai de presente de Natal para nós por Papai Noel. - Ah! Minha filha, seria uma grande graça. Mas é só um sonho. Nunca mais tivemos notícias dele. - Tenha fé, mamãe, Jesus me disse e Ele não vai me enganar. Este ano, pelo Natal, Papai Noel vai trazer papai. - Minha filha, estás ainda muito criança. Não fiques alimentando esperanças para não sofreres mais. Ele pode nem vir mais. - Mamãe, quem não tem esperança é porque não tem fé. Ele vem sim, Jesus me disse e papai nos ama. Alguns dias depois, após acalorada discussão, Lucinda recebeu do amante duas facadas. Entre a vida e a morte devido a grande quantidade de sangue perdida foi levada para o Posto Médico local. Pra São Luís, nem pensar. O único meio de transporte era o barco à vela que passava de três a sete dias para fazer a viagem. Dependia dos ventos e das marés. No dia seguinte, pediu para chamar o delegado, a comadre Isaltina e Dr. Hélio Costa que havia funcionado como advogado de defesa de Jovino na causa. Todos reunidos e já bastante ofegante disse-lhes que havia mentido. Declarou que foi ela quem pôs a medalhinha, na gaveta da mesa que estava na sala da casa deles, porque estava com muita raiva de Jovino por haver se recusado a se deitar com ela, alegando ser casado e pai de família. Pediu perdão à comadre que entre lágrimas a perdoou enquanto dava os últimos suspiros. A notícia se espalhou pela cidade. As pessoas não sabiam se ficavam contentes ou com raiva da defunta. O delegado e Dr. Hélio começaram a providenciar tudo o que fosse necessário para limpar o nome de Jovino.


A grande surpresa ocorreu ao cair da noite de 24 de dezembro desse mesmo ano. Jovino, muito sorridente, apareceu na porta da casa dele. Ouviu falar do acontecido e resolveu ir buscar as duas. Estava bem de vida. Isaltina não se continha de alegria e Lurdinha saiu espalhando pela vizinhança que Jesus havia mandado o pai dela de presente por Papai Noel. No outro dia, a cidade lhe prestou uma grande homenagem em desagravo. A pedido da filha e da mulher, Jovino decidiu permanecer na cidade. Dona Inês me disse que ainda vive em Pinheiro uma neta deles. Este é um grande exemplo do poder da fé em Deus manifestado por aquela criança. As decisões de Deus podem ate tardar, mas sempre chegam. Isto fortalece a Esperança. E, assim, o Natal continua sendo a festa amor, do perdão, da reconciliação e da paz. É sempre um momento de alegria, reflexão e confraternização. UM FELIZ NATAL E UM ANO NOVO DE PAZ, AMOR, SEGURANÇA E DE GRANDES REALIZAÇÕES A TODOS VOCÊS, MEUS AMIGOS. VAMOS COSTRUIR CADA UM DE NÓS UM 2017 DE PAZ E AMOR.


ALL NA MÍDIA





O ESTADO 11/10/2016





DESTAQUES

ESCRITOR CASADO COM PARAIBANENSE GANHA PRÊMIO NO RIO DE JANEIRO 26/10/2016 Leonardo Lasan

Casado com Delzuite Dantas Brito Vaz filha mais nova de Antonio de Brito Lira, o Antonio Paraibano (fundador da cidade), o professor Leopoldo Gil Dulcio Vaz (64 anos) recebeu na semana passada no Rio de Janeiro , o premio “Zora Seljan”, um dos mais importantes prêmios do Brasil.


A União Brasileira dos Escritores-UBE-RJ, concedeu o prêmio pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis”, biografia da primeira escritora brasileira que é maranhense. O livro foi publicado pela Editora da ALL, em 2015. (MFR foi à primeira escritora brasileira , autora de Úrsula. Negra, pobre, professora primária em Guimarães, sobrinha de Sotero dos Reis.) Leopoldo Vaz (mora em São Luiz) está escrevendo em parceria com as paraibanenses Professora Delzuite Dantas Brito Vaz e a Dra. Eliza Brito um livro sobre a história de Paraibano. O livro é uma extensão da monografia sobre a história de sua família, da chegada dos Paraibanos à região do Brejo até a criação do Município; a monografia foi defendida por Delzuite quando estudante do curso de História no ano de 1992 e orientada pelo Dr. João Renôr, então professor da UFMA, e que tem fortes ligações com o sertão maranhense. O livro que terá por titulo História(s) do/de Paraibano está em fase final de acabamento, mas sem previsão de lançamento. Após o premio, o site Paraibanonews entrou em contato com o escritor e o entrevistou. Leopoldo falou da importância do prêmio para literatura brasileira, da personagem do livro premiado, e também da sua ligação com os paraibanenses e claro! Do livro sobre Paraibano. Veja a entrevista a seguir.

Paraibanonews– Primeiro felicitá-lo pelo prêmio. Como foi para o senhor receber tão honroso prêmio? Leopoldo Vaz– Obrigado! Pois é, foi a maior surpresa quando a Juçara Valverde, presidente da União Brasileira dos Escritores – RJ – UBE-RJ – ligou comunicando que havíamos ganhado o Premio “Zora Seljan” – Biografia, pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis”, publicado ano passado. Como a melhor obra biográfica publicada… Paraibanonews – O livro tem dupla autoria , certo? Leopoldo Vaz– Sim, é uma obra organizada por mim e pela Dilercy Adler, psicóloga, poetisa, professora doutora ex-professora da UFMA, UniCEUMA, FACAM, e atual presidente da Academia Ludovicense de Letras; idealizadora do “Projeto Maria Firmina dos Reis”, em comemoração aos 190 anos dessa escritora – a primeira escritora maranhense/brasileira… tem outro volume “190 Poemas para Maria Firmina dos Reis”, também de nossa autoria; foram lançados ano passado, por ocasião do aniversário de fundação da Academia Ludovicense de Letras. Maria Firmino Reis é a Patrona da Academia Ludovicense de Letras e a Dilercy ocupa a cadeira que a tem como patrona – e aproveitou para homenagear e fazer o lançamento desses dois volumes.


Paraibanonews – Qual a importância desse livro para literatura brasileira Maranhão?

e especificamente para o

Leopoldo Vaz– O livro resgata em especial para os maranhenses, a obra de Maria Firmina. Como disse, foram dois volumes, sendo o primeiro “190 Poemas para MFR”, em que poetas e literatos de várias partes do Brasil, e do exterior, apresentam poesias em honra à Maria Firmina; o segundo volume – o premiado – trata da vida e obra dessa escritora, também com a participação de pesquisadores e estudiosos de nossa literatura de vários lugares. Tal qual o Projeto Gonçalves Dias, nosso objetivo é divulgar a literatura ludovicense/maranhense. Como participam escritores de várias partes do mundo, é necessário, ao escrever sobre a personagem homenageada, conhecer a sua vida e obra. Daí nos empenhamos nesses projetos. Este ano, a ALL está homenageando Coelho Neto. O fato de ter ganhado um premio nacional, dá bem a importância da biografia “Sobre Maria Firmina” que escrevemos.

Leopoldo Vaz com a esposa Del

(de preto) e a sobrinha neta Flávia (vermelho) e Rodolpho (azul).

Paraibanonews – O livro premiado faz parte de um projeto maior, qual projeto? Leopoldo Vaz– Sim… É decorrente do “Projeto Mil Poemas para Gonçalves Dias”, idealizado pela Dilercy. Também ganhou um prêmio, este internacional, da “International Writers and Artists Association”, dos Estados Unidos, como a melhor antologia publicada em 2014 do Projeto Gonçalves Dias, também coordenado e organizado por mim e Dilercy tem um segundo volume “Sobre Gonçalves Dias” – saíram os filhos – a fundação da Academia Ludovicense de Letras e, agora, os livros lançados através da ALL, dentre estes, o agora premiado. Paraibanonews – O senhor tem outro(s) livro(s) publicados e outros sendo preparados…


Leopoldo Vaz– Sim, no campo da biografia, publiquei “Querido Professor Dimas” (2015), sobre a vida e obra de um professor de educação física da UFMA; em preparo, “Cláudio Vaz, o Alemão e o legado da geração de 53”, biografia do esportista criador dos Jogos Estudantis Maranhense-JEMs; uma Antologia, Antologia Ludovicense, também em preparo, e que deverá ter 6 ou 7 volumes, sendo que os 4 primeiros já estão prontos, e estou trabalhando o quinto, que abrange o período de 1950 até 1990; e em fase final, ‘História(s) de Paraibano’, sobre a saga da família de Antonio Paraibano… creio que é este que te interessa, já que fala do fundador de Paraibano e de sua família e a criação do município e o estado atual, da arte e da técnica… Paraibanonews – Sim… Qual a tua relação com Paraibano ? Leopoldo Vaz– Sou casado com a professora Delzuite, a filha mais nova do Antonio Paraibano. Fui coorientador da monografia de graduação dela, em História – o orientador foi o João Renôr, com fortes ligações com Pastos Bons . Resolvemos transformar em livro, junto com a Dra. Eliza Brito – somos os três os autores – haja vista a monografia ainda não foi publicada e abrangia o período de chegada dos migrantes nordestinos – a família de Antonio Paraibano junto com seus filhos – até a fundação da cidade; nesta obra ampliamos, até os dias atuais, com novas entrevistas, novos documentos, e falando um pouco mais, agora, da cidade e a sua formação. Fomos buscar depoimentos de ex-moradores do Brejo dos Paraibano, que agora vivem na Paraíba, para onde voltaram ainda nas décadas de 30 e 40, mas que são da mesma família. Paraibanonews – Tem previsão de lançamento ? Leopoldo Vaz– Ainda não… O ideal que fosse lançado em 31 de dezembro, data da criação do Município… Paraibanonews – Como assim? Não é 6 de janeiro? Leopoldo Vaz– Não, esse é um erro que se comete muito no Maranhão; comemora-se a data da instalação, da posse do prefeito, e não a da criação do município. A lei que criou o município de Paraibano é datada de 31 de dezembro de 1952… e instalado em 6 de janeiro de 1953… Paraibanonews – O que está faltando para concluir?

Leo Lasan entrevistando Dra. Eliza Brito (foto arquivo)

Leopoldo Vaz– Bom, a parte textual já está pronta, faltando alguns pequenos detalhes… o que estamos tentando reunir, agora, são as fotos dos descendentes de Antonio Paraibano, afinal, já são seis a sete gerações… Desde o Antonio, suas esposas – foi casado duas vezes, sendo que Del é do segundo casamento, assim como a Rosely… Faltam fotos dos irmãos, dos filhos, sobrinhos, que aqui vieram, se estabeleceram seja por pouco tempo ou estão aí até hoje seus descendentes; buscamos dados sobre os Faustinos – antes era


o Brejo dos Faustinos… e de outras personalidades que fizeram a história da cidade. É um legado, para as futuras gerações, o conhecimento de como o povoado se desenvolveu até chegar ao momento atual. Paraibanonews – Recentemente foi lançado outro livro no qual tem sua participação… Que livro foi esse?

Leopoldo Vaz– É, tenho um artigo num livro publicado sobre a Segunda Guerra Mundial, por ocasião do Congresso das Associações de Ex-Combatentes e veteranos da FEB, que ocorreu semana passada em São Luis. Na sexta, foram lançados alguns livros e um documentário, inclusive este, do qual participo… Paraibanonews: Suas considerações finais. Leopoldo Vaz– Obrigado pela divulgação de nosso trabalho, lembrando que temos nos servido do Blog e site que você publica, e sempre que necessitamos de detalhes, recorremos a você. Como o capítulo sobre o futebol, sobre a história da vaquejada de Paraibano, etc. com depoimentos que você colheu e fotos. O teu trabalho tem sido importante para o resgate dos fatos dos últimos anos, mais recentes. E aproveitamos para agradecer a autorização de uso de teu material, e você acaba fazendo parte do livro que estamos escrevendo sobre Paraibano… Obrigado… Leopoldo Gil Dulcio Vaz nasceu em Curitiba-PR. professor de Educação Física do IF-MA (aposentado), especialista em metodologia do ensino; especialista em lazer e recreação, mestre em ciência da informação. É sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e membro fundador da Academia Ludovicense de Letras. Premio Antonio Lopes, de Pesquisa Histórica, da Prefeitura de São Luis, junto com a Profa. Delzuite D. Brito Vaz (1995); Premio da Associação Internacional dos Escritores e Artistas (USA. 2015); Premio Zora Seljan, da UBR-RJ, Biografia, 2016; Comenda Gonçalves Dias (2013), outorgada pelo IHGM. Foi professor titular da Faculdade de Educação de Imperatriz (1976-1979, quando foi incorporada pela FESM/UEMA); Professor Titular da UEMA (São Luis, 1979-1989), Professor colaborar da UFMA (Curso de Turismo, São Luis). Professor de educação física da Escola Santa Teresinha (Imperatriz, 1976-1979) CEM Graça Aranha (Imperatriz, 1977-79, quando se transferiu para São Luis e foi incorporado ao Liceu Maranhense (São Luis, 1979-1992), Escola Técnica Federal do Maranhão, hoje IF-MA, de 1979 até sua aposentadoria. Trabalhou, também, na SEDEL.


ANTONIO AUGUSTO BRANDÃO Deu na coluna do PH, hoje, O ESTADO, 05/11/2016


RESENHA JOSÉ SILVESTRE FERNANDES E A BAIXADA MARANHENSE PROF. ADENILDO BEZERRA E-mail: professoradenildo@hotmail.com Arari – Maranhão. São Luís(MA), Domingo e Segunda-Feira, 27 e 28 de Novembro de 2016 - Atarde-ma.com.br | jornalatardeslz@gmail.com

FERNANDES, José Silvestre. Baixada Maranhense. Boletim Geográfico. Ano V. Nº 53. Agosto de 1947. Eis que em 1° de agosto de 1889, no povoado Rabela, em Arari-MA, nasceu José Silvestre Fernandes. Geógrafo de notável saber. Foi professor catedrático de Geografia no afamado Colégio Pedro II, do Rio de janeiro. Na área da Geografia, Silvestre Fernandes publicou quatro obras, a saber: “Os Sambaquis do Noroeste Maranhense”, “O Assoreamento da Costa Leste Maranhense”, “Os Semi-Deltas do Noroeste Maranhense” e o estudo sobre a “Baixada Maranhense”. Seus trabalhos foram publicados em dois dos mais importantes periódicos do Brasil, o Boletim Geográfico e a Revista Brasileira de Geografia, ambos pertencentes ao Conselho Nacional de Geografia (CNG), ligados ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nestes veículos de divulgação científica, grandes geógrafos brasileiros e estrangeiros também escreviam. Dentre eles, destacamos: Milton Santos, Pierre Deffontaines, Josué de Castro, Raimundo Lopes, Raja Gabaglia, Aroldo de Azevedo, Aziz Ab’sáber, dentre outros renomados geógrafos. Decerto, ao lado de Raimundo Lopes, outro grande nome da Geografia maranhense e brasileira, Silvestre Fernandes se destacou no cenário geográfico brasileiro. Seu primoroso trabalho “Baixada Maranhense”, que iremos examinar neste breve ensaio, serviu como referência a outros autores que dedicaram-se a estudar a Amazônia, a Pré-Amazônia e o Estado do Maranhão, geograficamente. Por exemplo, na obra “Amazônia: do discurso à práxis”, Aziz Ab’sáber faz várias citações dos trabalhos de Silvestre Fernandes, “Baixada Maranhense” e “Os Semiodeltas do Noroeste do Maranhão”. Do mesmo modo, Roberto Galvão, em trabalho publicado em 1955, na Revista Brasileira de Geografia, intitulado “Introdução ao Conhecimento da Área Maranhense Abrangida pelo Plano de Valorização da Amazônia”, também utiliza “Baixada Maranhense” várias citações do seu prestimoso texto. Reconhecendo o mérito e o notável saber geográfico de Silvestre Fernandes, o também geógrafo, Raja Gabaglia, grande autoridade da Geografia brasileira, após ler o trabalho “Os Semi-deltas do Noroeste do Maranhão” teceu grandes elogios a Silvestre Fernandes, classificando a obra de: “incomparável, impressionante e dedicada”. Silvestre Fernandes integrou o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), onde tomou posse no dia 29 de novembro de 1948. Neste Sodalício, assumiu a cadeira patroneada por Antonio Enes de Sousa. Foi membro do Diretório Regional de Geografia no Estado do Maranhão, onde estreou o periódico desta instituição publicando o seu trabalho “Baixada Maranhense”, em 1947. José Silvestre Fernandes faleceu em 1971, no Rio de Janeiro, aos oitenta e dois anos de idade. Pesquisando na biblioteca eletrônica do IBGE, encontramos o Boletim Geográfico nº 53, ano V, de agosto de 1947, onde fora publicado o artigo científico “Baixada Maranhense”, do nosso eminente geógrafo José Silvestre Fernandes. Em treze páginas, ele discorre sobre os aspectos geológicos, fisiográficos, topográficos, botânicos e humanos desta singular região do Estado do Maranhão: Baixada Maranhense. Logo, o autor é nativo da região. Conhecia muito bem do assunto. Desta forma, teve capacidades para relatar minuciosamente a região. Passamos, doravante, a examinar este magnífico trabalho. Hoje, na verdade, um documento de suma importância para nós, habitantes nativos da Baixada Maranhense. Diga-se de passagem que, por tratar-se de um trabalho ligado à Geografia Física, ele continua atual nos aspectos físicos. Apesar do seu caráter histórico, como mencionei acima.


Na primeira parte do estudo, Silvestre Fernandes enfoca a estrutura geológica do Estado como um todo, dando ênfase, obviamente, à Baixada. “Plataformas continentais de mares permianos, triássicos ou cretáceos, emergindo e tornando a entrar no banho tépido das águas, chocaram milhões de seres caprichosos, representantes da fauna e flora exaltadas de tão remotas eras”. Segundo ele, “os campos da Baixada maranhense estende-se ao sul e sudoeste do Golfão, abrangendo os cursos inferiores do Itapecuru, Mearim, Grajaú, Pindaré, médio Turi-Açu e Pericumã. Essa região “constituem ampla concha que, progressivamente, se reduz. No texto, Fernandes relata sobre a variedade de fósseis encontrados em Alcântara, na Ilha de Livramento, Porto Franco, Carolina, Balsas, Brejo, Codó e na Ilha de São Luís. Para embasar seus argumentos geológicos, ele cita inúmeras vezes o Prof. Llewllyn Ivor Price, grande paleontólogo gaúcho. Ivor Price é considerado como o “Pai da Paleontologia no Brasil”. De acordo com o nosso autor, um vasto lago se formara nas terras baixadeiras como a proteger as terras altas da chapada. Isso teria ocorrido devido a influências da Cordilheira do Andes. “A cordilheira andina, famoso geossinclinal entulnado de sedimentação abissal, vinha lutando para ganhar equilíbrio. Agita-se, estremece, para, afinal, produzir alterações profundas nas terras da antiga Gonduana”. Durante todo este ínterim, de acordo com Fernandes, “neste tempo, o Mearim, Grajaú e Pindaré eram miseráveis ribeiros que ensaiavam os primeiros passos, abrindo tipicamente seus leitos em terras já abandonadas por aquelas agitadas águas”. O autor refere-se à águas que se agitavam com os “mergulhos” que a Cordilheira dos Andes dava no Pacífico. Para explicar a formação do boqueirão que originou a Baía de São Marcos assim como a Baía de São José e o estuário do Mearim, nosso geógrafo escreveu: “A água do lago e as fortes correntes oceânicas do Atlântico, como dois potentes aríetes, por outro lado continuaram a bater sem esmorecimento as terras que as separavam”. E continua: “E tanto o fizeram que, certa vez, entre as barreiras do Icatu e o costão de Alcântara, a muralha cedeu e a massa líquida de água doce se confraternizou com o oceano. Assim deve ter começado o boqueirão, que hoje, mui alargado, põe em comunicação a baía de São Marcos com o estuário propriamente dito do Mearim. E do mesmo modo aconteceu com a Baía de São José. Após a ruptura colossal, as águas desceram de nível. “O Mearim e seus companheiros de jornada experimentaram melhores oportunidades. A terra fresca convidava-os a passeios mais largos. Aceitando o convite, rasgam-lhe o ventre ainda virgem e abrem suas calhas que divagam a forma meandros”. Os companheiros de jornada do Mearim seria, o Grajaú, o Pindaré, o Turiaçu e o Pericumã, sobretudo. Citando Raimundo Lopes, notável geógrafo maranhense, Fernandes destaca que “é, sem dúvida, em torno do Golfo que mais se estende a Baixada maranhense, formando os vastos campos aluviais, salpintados de lagos em rosários”. Na época em que o trabalho foi escrito, segunda metade da década de 1940, a Baixada maranhense era composta pelo seguintes municípios, conforme nos diz Silvestre Fernandes: Pinheiro, São Bento, PeriMirim, Cajapió, São Vicente de Férrer, Viana, Penalva, Monção, Pindaré-Mirim, Baixo Mearim, Arari, Anajatuba, Rosário, Itapecuru, Vargem Grande, Icatu e Santa Helena. Nosso autor faz algumas indagações pertinentes sobre os critérios de regionalização da Baixada. Segundo ele, se levassem em conta os critérios fisiográficos a região teria uma outra divisão. Assim, ele diz: “Se Santa Helena faz parte da Baixada, com os seus campos chamados de chapadas e largos trechos de terras inundadas do alto Turi, como separar os municípios de Arari, Baixo Mearim, Monção e PindaréMirim, que se integram nas extensas zonas dos campos baixos, tesos e matas de ourela, formada de babaçuais”? Para Fernandes, Santa Helena “estaria melhor classificada na zona do Noroeste, a verdadeira hiléia maranhense”. Bem, sabe-se que atualmente há uma outra subdivisão da Baixada Maranhense. Todavia, ainda existem distorções, obviamente. Até porque não há como se ter homogeneidade. Cada lugar acaba por possuir as suas peculiaridades. Silvestre Fernandes fala da diversidade lagunas da Baixada. Cita os mais expoentes. Assim, claro, não deixa de citar os nossos lagos ararienses. Diz: “em Arari e Anajatuba, ficam os lagos Morte, cujo sangradouro é o Igarapé Nema; Laguinho, Muquila; Jaburu, Açutinga e outros”. Fernandes não deixa de relatar a prática de tapagem em lagos e igarapés, que, ainda hoje, é recorrente. Fala da variedade da vegetação lacustre: mururu (Pontederia cordata), arroz bravo, andrequicé, canaranas, pariobas, aningas, algodão bravo, mata-pasto; “a vegetação limnófila é abundantíssima”.


Sobre os aterrados, um tipo de sedimentação pantanosa, comum na Baixada, escreveu: “Em certas enseadas, tais formações se desenvolvem e, muitas vezes, preparam temerosas armadilhas aos animais pesados. Quando se consolidam passam à categoria de aterrados que promovem o progressivo levantamento daquelas conchas”. E complementa: “Debaixo dessa trama formada pela vegetação lacustre, fica sempre um lôdo de consistência vária, onde se alojam jejus, traíras, tamboatás (Callichthys callichthys), que é o nosso conhecido tamatá; o muçum (Lepidosirem paradoxos), o puraquê, que é o peixe elétrico (Electrophorus electricus) e caricídios diversos. A cangapara de le longo pescoço (Hydraspis hilarii), a campinima de cabeça tarjada de riscas vermelhas e muçuãs estão ali no seu elemento predileto”. A fauna lacustre idêntica em toda a região é numerosa. Dominam em geral os peixes de opérculos, os “ctnobrânquios abdominais”. Além dos peixes, há quelônios, sucuris e jacarés. “Do fundo das enseadas, surgem capivaras e lontras”. “Grande quantidade de aves ribeirinhas e lacustres: patos, marrecas, arapapás, maguaris, meuás, taquiris, mergulhões, socós, garças brancas e morenas, jaburus, jaçanãs (Parra jaçanã), japeçocas, carões”. Nas últimas páginas de Baixada Maranhense, José Silvestre Fernandes faz um estudo do quadro humano da região em muitos dos seus aspectos. Assim, ele verifica “que o homem vive do mesmo modo às margens do lago Açu ou nos campos baixos de Pericumã; nos tesos do Arari, nas chapadas de Pinheiro ou nos campos enxutos de Cajapió”. O homem baixadeiro extrai carnaúba no estuário do Mearim; na mancha dos cocais, quebra babaçu; lavra a terra e faz a farinha seca ou d’água, colhe arroz, milho, algodão, fava, feijão, aproveitando para isso os intervalos da pesca ou pastoreio. Como a pesca é uma atividade imanente ao homem da Baixada, Silvestre Fernandes enfoca esta atividade com muita argúcia. Cita os diversos processos que o homem utiliza na captura dos peixes na região: tapagem, choque ou socó, munzuá, anzol, tarrafa, rede, mitra, pescaria de mão. Como a pescaria de tapagem é comum praticamente em toda a região da Baixada maranhense, Fernandes se atém sobre este tipo de pesca. A seguir transcreveremos na íntegra o que ele escreveu: “A pesca de tapagem é interessante e muito farta. Nos igarapés que funcionam como sangradouros, em certa altura de seu curso, levanta-se uma cerca com talos de pindoba ou varas comuns, estendidas de uma a outra margem. Junto a essa tapagem, à montante, fincam-se dois jiraus, que são os pesqueiros do “canto”, como, vulgarmente, lhes chamam os pescadores. Os peixes, que sentem as águas do campo diminuírem, procuram os igarapés com o objetivo de ganharem os rios principais. Reúnem-se em cardumes numerosos. Retidos afinal pela armadilha que previamente foi preparada, são pescados com facilidade. Em geral, essas tapagens são públicas e muitos pescadores se servem delas. O primeiro a chegar toma lugar no “canto” e tem primazia na pesca. No leito do igarapé, costumam deixar cair uma pindoba aberta, para em contraste com o lôdo escuro, melhor serem destacados os cardumes. O “canteiro”, pescador que se coloca no jirau já referido, assim que percebe a afluência do peixe junto ao cercado assobia, dando o sinal convencionado. Lança, presto, sua tarrafa e os outros o acompanham. Por esse modo, apanha-se todo o peixe por acaso ali existente. Depois de duas ou três tarrafadas, voltam à calma. Ninguém conversa para não espantar o peixe. Em posição atenta, aguardam-se novas oportunidades. É notável a quantidade de pescado nesse período do ano (maio a junho) em quase todos os igarapés da zona. Tal gênero de pescaria é mais abundante à noite. Há ocasiões em que somente chegam à tapagem curimatás. Em outras já se pegam bagrinhos, também chamados capadinhos ou anojados (Pygidium brasileiense); acarás, piaus, mandis dourados e saborosos, etc. Não raro, porém, o peixe falha um ou dois dias atemorizado pela intensa perseguição dos pescadores” Após elucidar formidavelmente sobre a pescaria na Baixada, nosso eminente geógrafo passa a enfocar a caça na zona. Fala sobre as formas que o homem da região utiliza para capturar aves e quelônios, sobretudo. Daí, enfoca com maestria a vida na região. Os tipos de habitação. “A habitação do homem na Baixada é típica e não sofre alteração de um lugar para outro”. Silvestre relata a vida dos vaqueiros. Sua lida no campo, nos retiros. Morando em casa-jiraus. Fala das constantes mudanças do gados para lugres diferentes nas épocas de cheias e de seca. Em um dos trechos diz: “A criação dos campos de Arari, que inverna nos tesos locais, transfere-se no verão para os campos de Arari-Açu, Longá e margens do Grajaú na zona dos lagos Verde, Itãs, Novo, Açu, etc”. Fala do flagelo da febre aftosa e dos prejuízos causados aos pecuaristas. Agora imagine, caro leitor, hoje, com a vacinação ainda há a assombração da aftosa, imagine nos tempos da década de 1940.


Como professor que era, Silvestre Fernandes não esqueceu de frisar a importância da educação, principalmente a educação rural. Pois, o homem da Baixada desperdiçava, àquela época, o leite que produzia. Ele relata sobre a pouca higiene empregada no processo de ordenha, na fabricação de queijo, manteiga de garrafa e coalhada. Desse modo, diz: “Em verdade, é um problema que tem sido relegado a um plano inferior, o da educação rural de nossa gente. Não há escolas que eduquem. Temos escolas de simples alfabetização, sem finalidade outra que possa orientar, no sentido utilitário, as nossas populações rurais. Precisamos, para consertar essas cousas e melhor norteá-las, de assistência técnico-pedagógica e sistema educacional adequado. José Silvestre Fernandes encerra o seu trabalho apresentando um quadro com dados sobre a população e a extensão territorial do municípios que, segundo ele, poderiam ser incluídos na Baixada Maranhense. Neste quadro, Arari apresentava à época uma população de 12.265 habitantes e uma superfície de 316 quilômetros quadrados. Igarapé do Nema e Lago Morte, integrantes da Baixada Maranhense, vistos pelas lentes fotográficas de João Francisco Batalha

DOUTOR EM FILOSOFIA UNIVÉRSICA O historiador e pesquisador de Arari, João Francisco Batalha, foi indicado pelo presidente da Academia de Letras do Brasil, filósofo Mário Carabajal, para receber o título máximo da ALB ´Doutor em Filosofia Univérsica` - Ph. I. Meu Nobre Confrade, escritor Imortal João Francisco Batalha - Presidente Pró-tempore ALB/Maranhão. Ao cumprimentá-lo, solicito sua autorização para disponibilizar seu profícuo texto em link na página principal do Site Oficial da Academia de Letras do Brasil. Sua matéria é um verdadeiro tratado, com detalhamentos capazes de auxiliar àqueles que vivem semelhantes situações. Sua competência literária se justifica em sua competência decisória e enfrentamento de problematizações, sobretudo de saúde, como a vivida, experimentada e superada pelo Nobre Imortal. Em recente entrevista concedida a uma revista, privilegie-me citar o amigo como nosso Futuro Presidente da ALB/Maranhão, atual Presidente Pró-tempore desta Seccional Estadual. Não obstante, desde já, pessoalmente indico o Confrade a receber o título máximo da ALB ‘Doutor em Filosofia Univérsica’ - Ph.I. Filósofo Imortal, por força de sua produção literária, em especial, pelo Humanismo e Compromisso ‘Sociopolítico’ demonstrado em seus ideais pessoais e institucionais. A outorga se fará na Solenidade Oficial de Instalação da ALB/Maranhão, com data e local de livre deliberação pelo Irm.: e Confrade. Um forte, eterno e Imortal abraço! Admiração crescente! Amigo Incondicional Mário Carabajal


Uma crĂ´nica para Ferreira Gullar publicada em "O Estado do MaranhĂŁo".


POESIAS & POETAS


A AMEI surgiu da vontade de vários escritores independentes, de entre os 102 escritores maranhenses que se fizeram presentes na 1ª FLAEMA (Feira do Livro do Autor e Editor Maranhense), de não deixar se diluir o espírito de renovo da Athenas Brasileira para o qual a FLAEMA tinha surgido como um marco de resgate e renovo, sendo necessário se criar um instrumento permanente através do qual os escritores maranhenses independentes pudessem ter vez e voz no meio cultural maranhense. Diretoria Executiva 2016 - 2020:

Presidente: JOSÉ A. A. VIEGAS Vice-Presidente: JUCEY SANTOS DE SANTANA Primeira Secretária: CLEO B. ROLIM Segundo Secretário: IRAMIR ALVES ARAÚJO Primeira Tesoureira: RAYOLINE AMORIM DOS SANTOS CIRINO Segundo Tesoureiro: ANTÔNIO GUIMARÃES DE OLIVEIRA Diretorias Operacionais: Diretoria de Acervo: Cleo Rolim Raysa Facuri Rayoline Amorim Edson Pereira Gomes Diretoria de Eventos Literários e Culturais: César William Costa Heloísa Helena Santos de Sousa Jucey Santana Edson Pereira Gomes Costa Rosemary Rego Artemise Galeno Diretoria de Feiras do Livro: Joyce Alexandra Melo Veloso Antônio Augusto A. Martins Liliane Morais Leite Diretoria de Comunicação e Divulgação: Lorena Silva dos Santos Rayoline Amorim dos Santos Cirino Rafaela Rocha Eloy Melonio do Nascimento

Rejane Lima Felipe Gabriel da Costa Sousa Diretoria de Projetos e Captação de Recursos: José A. A. Viegas Iramir Alves Araújo Diretoria Editorial: Antônio Aílton Santo Silva José A. A. Viegas Neurivam da Silva Sousa Felipe Gabriel da Costa Sousa Diretoria Jurídica: Felipe Sampaio Castro da Silva Raysa Valéria Silva Facuri Rejane Lima Diretorias regionais: Revelando e cuidando dos talentos literários no seu município


ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA Mhario Lincoln

Acaba de ir ao ar a página oficial da ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA, instituição oficial ligada a é , para receber on line, trabalhos poéticos e artísticos de seus colaboradores. Para publicação, o e-mail específico é @ .

Seja um primeiro a enviar seu trabalho. Através dessa Academia Poética Brasileira que será publicado no começo do próximo ano a primeira ANTOLOGIA POÉTICA BRASILEIRA, da RPB e ACERVUM. Portanto, venha somar conosco.

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“PEDRA DE TOQUE"


DANIEL BLUME DE ALMEIDA Passageira Desta forma ela vem: rápida, mas sorrateira. Insana, porque cega, violenta e incontrolável. Temerária. Enfim, sem ser amor, há paixão: aflita e duvidosa, mas urgente e imprescindível. Perigosa e mordaz, e imprecisa, e intensa, e desequilibrada e terrível, ela invade a estacão, derrete a neve. No máximo dos frios, ela altera invernos. Mas, de passagem, ela vai.


DUNSHEE DE ABRANCHES99 (1867 - 1941) Dunshee de Abranches (pseudônimo: Rabagas), romancista, poeta, jornalista, orador anasceu em 1867 em São Luís do Maranhão e faleceu em Petrópolis, em 1941. Romancista, poeta, jornalista, orador Obra poética: Cartas de Um Sebastianista (1895), Minha Santa Teresinha (1932), Pela Itália (1906), Pela Paz (1895), Selva (1923), Versos de Ontem e de Hoje (1916).

A SELVA De pé, no tombadilho, olhos fitos no espaço, Colombo, palpitante, estende o forte braço, aos capitães mostrando, ao longe, sobre a esteira dos negros vagalhões a luz de uma fogueira... Há três noites velava, há três noites sentia a esperança deixar-lhe o peito, e a fàntasia fugir-lhe já também. Rugiam os porões de fome e de cansaço... e ocas conspirações iam lentas mudando a bruta marinhagem o amor do comandante em amor à carnagem. Há três luas partira a frota de Castela; e em cada uma lufada a enfunar a vela em toda a aurora nova, em todo o novo ocaso, mais a pátria fugia, e mais e mais o acaso, impávido matava as velhas tradições, mostrando a cada instante aos crentes corações que o Caos inda era a luz, que o Abismo inda era o mar! Jamais se vira um monstro, um só, se levantar por sobre os vagalhões, grandíloquo, medonho, como a Grécia sentiu nesse homérico sonho que os templos levantou e fez as Odisséias.

O VIOLINO DO ARTISTA Só lhe restava o mágico violino nessa vida de eterno sofrimento; único amigo, um outro peregrino na rota desgraçada do talento. Como sentia o mísero instrumento, nessa alma rude, um lenho pequenino, que tinha em mãos do dono um sentimento que era "mais do que humano, era divino!" E juntos iam no fulgor das cenas confundir num adágio as suas penas, irmãos na glória, gêmeos no tormento!... Mas morto um dia o artista, gente absurda quis tocá-lo... mas ah! tinha a alma surda... já não sentia o mísero instrumento!...

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Página preparada por ZENILTON DE JESÚS GAYOSO MIRANDA


FRANCISCO TRIBUZI

Velho Chico

O velho Chico, um caudaloso rio Feito de águas e traumas De encantos e o calafrio Na correnteza de peixes e almas Misterioso e lendário No real e na ficção Feito de um calendário De sonho e assombração Ator principal do destino Da trama e do drama Salvador e assassino Da sorte e da fama Um rio comprido ao Léo Mas não um rio qualquer Espelhado no infinito céu Fotografando sua fonte de fé. http://www.acervum.com.br/poetas-poesias


OS POSTAIS DA ALMA DE LENITA ESTRELA DE SÁ MHARIO LINCOLN http://www.acervum.com.br/postais-poeticos

Quando vi pela primeira vez as fotos/poemas de LENITA ESTRELA DE SÁ, publicadas no Facebook, veiome à cabeça uma máxima do fotógrafo profissional Adilson Santos. Diz ele: "O fotógrafo quando faz uma foto - usa os olhos, a alma, o coração e a emoção..." Estava certo! Foi exatamente isso - e mais alma- muita alma - que vi ao lançar meus olhos aflitos por novidades poéticas e encontrei os posteres dessa poeta, escritora e fotógrafa da alma. Minha mãe Flor de Lys, colunista, me falou uma vez que não era fácil condensar numa notícia de 6 linhas, "toda a beleza de um evento social". Digo o mesmo: Lenita Estrela de Sá consegue essa proeza. Sobre a foto estática, revela profunda ligação dinâmica do momento, com as interpretações que lhe consomem o sangue da prosa e da poesia, borbulhando nas pontas dos dedos, quando flasheia seu retângulo do todo, escolhido por tino. Como mágica, consegue escrever na linha tênue que separa o fruto, da árvore. Aliás, Ernst Haas é sábio quando ensina que a "câmera não faz diferença nenhuma. Todas elas gravam o que você está vendo. Mas você precisa Ver.” (E só ela consegue ver São Luís-Ma, de outra forma). Por isso ela vê. Mas necessário se faz sentir, aprimorar, guardar, rasgar... no fundo são luminosos parágrafos, que se misturam a luminosas imagens, que se misturam a luminosos corações, que se misturam a luminosos anseios, que se misturam a luminosas sereias d'alma. Pontos de luz, com letras incrustadas nelas; ou pixels na forma moderna de se limitar um ponto de luz, cuja estrutura dinâmica pode até mesmo, guardar toda uma história de vida. Parabéns Lenita Estrela de Sá. E como disse Vinícius Aguiar, “Minha poesia é composta de luminosas imagens.” A sua também, Lenita Estrela de Sá. (Mhario Lincoln- Editor).




LENITA ESTRELA DE SÁ É romancista, contista, poeta, dramaturga e roteirista. Nasceu em São Luís do Maranhão, graduada em Letras e Direito, com pós-graduação em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas Materna e Estrangeira, e publicou as seguintes obras literárias: Ana do Maranhão (Prêmio Arthur Azevedo, concedido pela Universidade Federal do Maranhão,1980, e Prêmio Brasília de Teatro,concedido pela Fundação Cultural do DF, Governo do DF, Secretaria de educação e Cultura do DF e INL - Instituto Nacional do Livro - por unanimidade, 1981); A Filha de Pai Francisco, teatro infantil, publicado em 1995,com prefácio de Ferreira Gullar (Prêmio Apolônia Pinto,concedido pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão, em 1988; e Prêmio Alice Silva Lima,concedido pela União Brasileira de Escritores – UBE -- em 1997, em virtude da publicação do texto,o que, por sua vez, ensejou Moção de Aplausos da Câmara Municipal de São Luís, em 13.05.97); Reflexo, poesia – prefácio de Josué Montello,1979; No Palco a Paixão -- Cecílio Sá, 50 Anos de Teatro (pesquisa, 1988); A Lagartinha Crisencrise (história infantil, 2005); Cinderela de Berlim e outras histórias (contos, 2010, Prêmio Gonçalves Dias de Literatura, concedido pela Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão); A Filha de Pai Francisco – bumba-meu-boi para crianças (conto infantil, 2015); Pincelada de Dalí e outros poemas (poesia, 2015), com prefácio de Ferreira Gullar (Prêmio Sousândrade, 2010, concedido pela Fundação Cultural do Município de São Luís - FUNC) e A Estrelinha Aparecida (história infantil, 2015). Participa das seguintes antologias: Antologia Guarnicê, Edições Guarnicê, 1984; Novos Poetas Do Maranhão. São Luís, UFMA,1988; As Aves que Aqui Gorjeiam – Vozes Femininas na Poesia Maranhense, organizada por Clóvis Ramos, São Luís, SIOGE, 1993; Circuito de Poesia Maranhense, CEUMA, 1995; Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, organizado por Nelly Novaes Coelho, São Paulo: Escritura Editora, 2002. As peças teatrais A Filha de Pai Francisco e Ana do Maranhão têm sido objeto de monografias de graduação, respectivamente, nos cursos de Letras da UEMA (Universidade Estadual do Maranhão) e da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), tendo sido o primeiro texto também objeto da dissertação de Mestrado da Profª. Lucimar Ribeiro Soares, Professora Assistente de Prática de Ensino de Letras, da Universidade Estadual do Maranhão, com o título A Filha de Pai Francisco – uma leitura sob enfoque propiano.



A POESIA COMO ELA É MHARIO LINCOLN Editor-sênior da Revista Poética Brasileira e do Suplemento de Literatura e Arte, ACERVUM. www.revistapoéticabrasileira.com.br www.acervum.com.br A poesia é universal. É ampla. O poeta é livre. Suas interpretações são incomensuráveis. Mas o 'eu poético' é único; como se impressão digital fosse. Independente como escreve ou rima, se é prosa lírica ou se coadune com escolas clássicas; aquelas que mais influenciaram poetas brasileiros e portugueses, no específico, como o Trovadorismo, Humanismo. Renascimento, Classicismo, Quinhentismo, Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Pré-Modernismo, Modernismo ou as conhecidas Tendências Contemporâneas. Se a poesia é russa, vietnamita ou chinesa, como os inimitáveis Du Fu ou Li Bai: "Cabelos brancos,compridos.../Longos assim, só tristeza e sofrimento/No brilho do espelho/de onde vem essa geada branca, no outono." Independente de rimas e escolas, o 'eu poético' é único desde a poesia pré-histórica, ou descritiva, como na arte primitiva das cavernas. O 'eu poético' consegue reinventar um sentimento milhares de vezes. Consegue por e sobrepor palavras de forma a garantir que sua digital alí se faça cravar, mesmo que alguém, um dia, tenha dito: "... a poesia é uma só e o poeta, um só; aquele que pela primeira vez escreveu - ...o meu amor por você é uma flor -. Depois disso, só imitadores..." Eu particularmente não acredito nesse pensamento acima. Vejo pela digital de quem escreve, mesmo rimando "Amor e Flor", "Dor e Amor", "Pureza e Certeza", mesmo que leia isso em repetidas antologias e em repetidos compêndios individuais. O grande William Shakespeare não foge à essa regra. Em um de seus poemas, foi simples e forte: "Duvida da luz dos astros,/De que o sol tenha calor,/Duvida até da verdade,/Mas confia em meu amor." O americano de Boston, Edgar Allan Poe, se referia assim ao momento poético, livre de amarras e de conceitos: "Defino a poesia das palavras como Criação rítmica da Beleza. O seu único juiz é o Gosto." Ora, amplia-se aí, quaisquer que sejam os horizontes poéticos, a começar pelo 'eu poético criativo' relacionado ao leitor-apreciador da criação poética. Sei que há muitas loucuras escritas nesse mundo. Mas que loucuras se o leitor conseguir olhar por um prisma exatamente igual ao que o 'eu poético' quis assim grafar. Leia: " SIMULTANEIDADE - Eu amo o mundo!/Eu detesto o mundo!/Eu creio em Deus!/Deus é um absurdo!/Eu vou me matar!/Eu quero viver!/- Você é louco?/- Não, sou poeta.", do sensacional Mário Quintana. Enfim, a poesia é algo inexplicável, mesmo que inúmeros estudos tentem fazê-lo, através de estudos com base nas escolas e nas formas poéticas. Nada disso, todavia, consegue explicar a simplicidade da poeta Vanessa Neves, nesse seu... "Abraço: o que realmente preciso é de espaço…/quente e apertado/neste teu abraço." Ou de Paulo Leminski, "Depois...você nunca vai saber/o que vem depois de sábado/quem sabe um século/muito mais lindo e mais sábio/quem sabe apenas/mais um domingo." Ou de Luis Augusto Cassas, "A primeira vez que a lâmina da morte passou pela minha vida,/caíram – me por terra a coroa do império, o cetro do orgulho,/o castelo da vaidade./E fui ficando mais leve do enorme peso da vida."


Ou de Maria das Graças Salete que ontem, por e-mail, enviou o seguinte: "Seu Mário, queria muito sair em sua revista poética. Leia meu verso com carinho. E completou: "A Lua é linda. Linda quando eu e tu estamos debaixo dela. A Lua chora, quando eu ou tu, vamos embora...". Posso renegar isso? Nunca! Esses versos saíram de um 'eu poético criativo', mesmo que as palavras Lua e Tua venham sendo usadas desde quando o homem começou a falar...


LAURO LEITE VERSUS MOACYR E AMBRÓSIO FERNANDO BRAGA Jornal O Estado do Maranhão, 23 de agosto, de 1973. Os dois últimos parágrafos, naturalmente, foram escritos no fecho desta publicaão.

Foi o Professor Bacelar Portela foi quem me deu notícias, na Praça Bendito Leite, sobre o concurso literário “Antônio Lôbo”, em que o poeta Lauro Leite Filho, foi, por justos méritos, o vencedor, e “ao vencedor as batatas”, dizia-me o mestre sorrindo, depois de afirmar que a poesia de Lauro Filho, merecia estudos mais profundos. Domingos Vieira Filho, foi mais longe na apresentação do livro premiado, em dizendo que Laurinho “desta vez está mais maturado, tem uma vivência poética mais intensa, se apossou de melhor intensilhagem estética para expressar às notas contrastantes do seu mundo interior, trabalhando pela descrença, mas sem se envolver no amargor insólito das formas shopnhaurianas.” Afinado, mas sorrateiro aos contrapontos do pensador da realidade exterior e da consciência humana, Lauro [filho de Lauro Leite, um dos maiores violinistas do Maranhão], quando toda a Faculdade de Direito o esperava de braços abertos para recebê-lo como o representante intelectual dos fracos e oprimidos, foi a de Odontologia que teve essa honra e alegria; apesar de ele exercitar-se no dia a dia como jornalista e locutor, a expor seu grito social através das rádios Difusora e Educadora, onde todos dispunham de sua inteligência, através de sua voz a serviço da noticia e do entretenimento. Ele foi um dos maiores participantes intelectuais entre as gerações de 45 e 60, porque ele permeava as duas, a se afirmar pela forma marcante do seu talento, dando força exuberantes à sua poesia de “Pés no chão”: “São pobres – eu vejo – que tão pobres são que vejo a pobreza na dor e no ar - que enche seus peitos sofridos – sentidos – irmão e irmão” E luta desesperadamente por expressar aflições: “Pequenos ainda – passados – levados - irmão e irmão”. Como se verifica sua temática é arraigada na problemática atual. E Lauro não se preocupa com vocábulos de difícil penetração nem com embaralhamentos de formas zigzagueantes: “O dois – de mãos dadas – correndo no lixo - que o mundo lhes deu – é lama – malvada - que seja seus pés – doridos – feridos – irmão e irmão;” A arte deve ser intrinsecamente social e Lauro Filho luta por essa posição em suas conquista; ”Tudo que é poético é verdadeiro”. E continua em sua estesia gritando: “Comida – pedida – negadas também – pelos poderosos – os donos – de tudo – de escravos - de Terras – paradas e virgens – que nunca correram ou estagnaram – na solidão – deixando só dome – irmão e irmão! Essa é a luta ferrenha contra “a fome que não é a causa de revoluções e de profundos sofrimentos humanos de todos injustos. A fome torna impossível a bondade”, afirma Macbeth, na Ópera: “Primeiro a pança, depois, a moral”.


Para Lauro Leite Filho, toda doutrina de bem-estar é contrária e estranha à essência do seu próprio intimo, num extravasamento alheio, “douleur de vivre”: E dinheiro – que podem? – eu bem que recordo que irmão e irmão – recebem - felizes – saem correndo – e compram – o pão – irmão e irmão.” Não pertence, Laurinho Leite, por temperamento e até por questões de limpeza mental, a nenhuma escola literária, porque “um bom verso não tem escola’, sentenciou Moras Filho [José], ao lembrar-se de Flaubert, ao escrever merecidamente certas considerações sobre o premiado. Lauro Leite Filho é o herdeiro legítimo da poesia social de Nascimento Moraes Filho, foi ele também gerado no grito de revolta do poeta do “Clamor da hora presente”. Há entre os dois uma empatia estética e emocional mais que harmônicas a estreitar-se no plano social... Lauro Leite Filho sente no seu indiferentismo, a revolta contra tudo que lhe parece pérfida, mal e descabido. “Triste o dia em que vim à terra para endireitá-la”, diria o poeta se por ventura fosse o Príncipe Hamlet. Ontem, há tempos, o mestre Bacelar Portela me dava noticias da premiação de Lauro Leite; hoje, ainda pouco, o também médico e escritor Mário Luna Filho me dizia do falecimento do autor de “Moacyr e Ambrósio”, depois de alguns anos de sofrimentos motivados por seqüelas deixadas por um AVC... E São Luis, assim, fica mais vazia daqueles que um dia, com abnegação e talento, povoaram-na com a luminosidade de uma bélle époque”!

LEITE FILHO, Lauro. Moacyr e Ambrósio. São Luis: Gráfica e Editora Jornal do Dia, 1970. s.p. 14x18,5 cm. Ex. col. Antonio Miranda


LAURO LEITE100 Lauro Bocayuva Leite Filho, poeta, jornalista e radialista, nasceu em São Luis do Maranhão em 19 de dezembro de 1937. Letra Fria/ Sentir foi seu livro de estréia em 1967.

OS TEMPOS Tinha uma porção de anjos segurando o algodão daquela nuvem branca; e o que pintou de azul o fundo, manchou de cinza o fim dos nossos olhos e nos beijamos. Tinha um lago calmo e o vento sussurrava malícias, o peixe prata luar de agosto saltou e nos amamos. Tinha o fogo dos infernos, um Lucifer danado e homens se matando; eu tinha lágrimas nos olhos e tu também choravas quando nos deixamos.

lronia lúcida Agora é tempo de sorrir e ser de novo o garoto das compras e dos recados Agora é tempo de fingir que nada valem os eternos fundilhos remendados. Agora é tempo de esquecer as lágrima - engoli-Ias de uma vez! e voltar à surdez da ignorância, pois já me afogo em tanta ironia, pois não suporto ter-me em consciência e já não quero amar-me em lucidez.

(Os Filhos de Dom Quixote/1987) 100

ZENILTON DE JESUS GAYOSO MIRANDA, publicada em novembro de 2008. Ampliada e republicada em maio 2014. Alguns textos do poeta foram extraídos de matéria publicada no Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lauro_leite.html


Vinde a mim as velas coloridas que aportam às prostitutas do Desterro. Abram os caminhos: quero falar com a Mãe de Deus e receber a unção da ansiedade e da poesia. Calem, por favor, as radiolas regueiras; quero ouvir o boi-bumbá e o criola, quero rodopiar o corpo no balé negreiro. Agora, tragam a rede que o poeta vai dormir com o sonhar afoito das gentes maranhenses e o corpo cansado do viver intenso. (Discurso Essencial / 1992)

moacyr e Ambrósio pés no chão São pobres eu vejo que tão pobres são que vejo a pobreza na dor e no ar que enche seus peitos sofridos sentidos irmão e irmão 2 pequenos ainda já sentem sentir de quem padeceu uma vida de anos tão longos e feios passados levados irmão e irmão


3 os dois de mãos dadas correndo no lixo que o mundo lhes deu é lama malvada que suja seus pés doridos feridos irmão e irmão 4 comida pedida negada também pelos poderosos os donos de tudo de escravos de terras paradas e virgens que nunca correram ou estagnaram na solidão deixando, só fome pra irmão e irmão 5 as roupas que vestem o resto de alguém que delas cansou de velhas de podres e deu de esmola pra livrar-se enfim de irmão e irmão 6 e dinheiro que pedem ? eu bem que recordo que irmão e irmão recebem felizes


e saem correndo e compram o pão irmão e irmão 7 são pobres amigos — e pedem ajuda os dois coitadinhos andando mãos dadas no lixo de nós que falamos mentiras de irmão e irmão 8 são pobres — nós vemos — mas não conhecemos a vida que têm de pobres de tristes e são resultados de nossa vaidade que fere que mata não tem piedade de quem infeliz nasceu e morreu (pois vivo não é o ser que do lixo de nossa matéria...)


MARIO LUNA FILHO Cirurgião infantil e poeta, para quem não sabe, é detentor de muitos prêmios literários, de poesias e contos, tendo neste último, destruído mitos e valores tidos como sagrados na literatura do Maranhão... E Mário era apenas um jovem liceísta. Eu vi! Fernando Braga


OS CABOS DE GUERRA DA POESIA DA SÃO LUÍS CONTEMPORÂNEA101 ANTONIO AÍLTON

SLZ 400 onde um pequenino ri olhando para o céu ali está Deus (Antonio Aílton)

Muitos anos depois de dezenas de poetas-gênios e inventores, grandes mestres da poesia, diluidores, grandes escritores, bons escritores sem qualidade e cometedores de versos (não necessariamente nessa ordem), esta São Luís, que, de autodenominada “Atenas Brasileira”, não sem empáfia, e hoje está em fase de despedida de também ser Jamaica Brasileira para ser “Cidade de Deus”, insiste, todavia, em conservar nalgum beco de seu ventre a experiência do poético que se pode revelar numa esquina, na boca de um menino que toma para si um velho espírito, a qualquer momento. A experiência do poético é, sem dúvida, um dos traços característicos que permanece em nós, sem exclusividade de grupos ou segmentos. Essa experiência, coletiva, não está apenas na chamada cultura erudita, a qual é agora rechaçada pelos dissimulados, pretensamente corretos, como cultura burguesa, de elite, de poucos. Que o é, realmente, embora isso não devesse ser assim, enviesado, e apesar de que muitos dos que fazem essa cultura venham das brenhas mais humildes. Mas os culpados pela mutilação cultural e pela sonegação da plena educação do povo são bem conhecidos. E onde está essa experiência coletiva do poético? Dizem as cantigas de Bumba-meu-boi, de um lado: “se não existisse o luar, o homem viveria na escuridão” (Chagas da Maioba); e de outro lado, invocando a mesma lua da inspiração nativa, cantam: “Ô lua, (…) teu brilho, quando vem surgindo, vai transluzindo o couro do nosso Boi.” ((Humberto de Maracanã). E sob essa mesma lua, as coreiras incendeiam em roda, o corpo iluminando os tambores. Todos esses segmentos são vasos comunicantes que resultam no espírito do lugar, numa atmosfera que exulta e impregna, que é explorada politicamente, economicamente, turisticamente, midiaticamente, propaladamente, sem que haja políticas sérias de investimento que, ao invés de tratá-los como “retorno” ou “não retorno” de votos, como coisas contraditórias, “fundo perdido” (segmento literário), percebam o potencial para a cidade, em si, dos braços que se dão, do enredo, do entrecruzamento de todos os fios, como experiência coletiva nossa, singular, que faz crescer a todos. É dentro dessa experiência que também se ordenam gerações e gerações que fazem a poesia e o ethos da cidade, São Luís, e do estado, o Maranhão. E, malgrado as opiniões em contrário, e apesar deste mergulho rápido e vertiginoso da sociedade no universo da imagem e da tecnologia, pressupostamente

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Texto publicado no SUPLEMENTO CULTURAL & LITERÁRIO JP GUESA ERRANTE ANO X, Edição 281, 8 de setembro de 2012 , p. 8 e 9 – Sábado, e no site http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400—os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-saoluis-contemporanea-4400.htm, de minha autoria, apesar de não constar a autoria na página do site.] disponível em https://antonioailton.wordpress.com/


contrário à poesia conforme a conhecemos, ela permanece forte, e mais uma geração se estabelece sem alarde. Há não muito tempo, alguns viam no embate com o passado a chave não só para estabelecer radicalmente uma nova arte, mas sobretudo para chamar a atenção para si, para demarcar seu espaço e sua existência no mundo: a castração ou degola do grande pai, para falar simbolicamente, mesmo quando o que mais importava era mostrar a novidade da festa. Nas atuais condições a que chegamos com a literatura, da apropriação e do dialogismo contemporâneos, de hipertextos e redefinições, de instantaneidades, acessos espaciais e recuperação do remoto e do desconhecido, e em que se faz a todo instante, aqui e alhures, “movimentos de retorno e de transtorno” (Flora Sussekind), acentua-se o fato de que o movimento de escritura é também movimento de leitura e vice-versa (não significando aí, que fique claro, aceitação de discurso ou leitura passiva). À exceção de poucos que ainda pensam nalgum rapapé inaugural e elaboram manifestos pastichosos, muitos concordam que esse tipo de espetáculo faz parte hoje de um pensamento anacrônico, desde que a história já deglutiu as famosas vanguardas, do futurismo e do dadaísmo à pop art, exaustivamente. Assim, a turma que recebe o legado nesta culminância dos quatrocentos anos desta cidade de poetas se impõe não com trombetas e festins, ou com tapetes que lhe estendam. Essa geração vem abrindo caminho com sua competência, com a qualidade do seu trabalho, com sua leitura, e com seu respeito pela experiência poética que outros vieram erguendo, com luta e suor, às vezes com desespero e desamparo. Aí está a incompreensão que, com raios de maniqueísmo, gira em torno daqueles que estão deste lado do cabo de guerra, de muitos acharem que não se produz mais nada, que a luz se apagou, que não se escreve mais como antigamente, isto é, como “no tempo dos gênios”, e que a última grande poesia possível já se esvai com a luz gasosa dos lampiões, com os prédios deixados à mercê de seu esboroar. Ora, esta geração, chamada muitas vezes de austera, esta geração que, no geral, sem lastro econômico, é feita por aqueles que se enroscam na esquizofrenia do trabalho e arrancam das demandas cotidianas e familiares momentos para poder criar, avança ficando as estacas do seu talento, e há de ficar. A experiência poética e a experiência do poético não é, nesse caso, uma questão de exclusividade nem de disputa de forças: não é o que nos separa, no cruel exílio desta Ilha, é o que nos une. O contrário disso não passa de ciúme besta. E, neste sentido, todos têm algo a dizer, porque um excelente poema, havendo condições para isso, pode ser feito em qualquer idade, a qualquer idade (disto não precisa levantar provas); neste sentido, todos temos o musgo das velhas galeras e a juventude de quatrocentos anos, agora, que navegar e viver ganham um novo e surpreendente sentido. **** A responsabilidade declaradamente escamoteada deste texto é a de correr um tremendo risco, elencando nomes que engendram o cenário da poesia maranhense atual, ou, mais precisamente, da poesia maranhense contemporânea, e dele compartilham. Neste caso, toda lista padece do mesmo problema sempre por nós execrado: o de deixar de fora quem deveria, poderia, ou sente que teria que estar, uma vez que é feita por alguém que não conhece nem tem condições de conhecer todos. Por outro lado, quem é convidado não tem obrigação de permanecer… É preciso pensar, portanto, numa espécie de rol exemplar (ver páginas 4 a 6, seguintes), no qual, quem não é mencionado possa ao menos ser representado, e quem é listado sinta-se num elo que liga as possibilidades às fragilidades do ser humano. Indubitavelmente, quatro grandes nomes têm sido mencionados como representantes da poesia maranhense mais recente, que têm fortes elos temáticos e formais com esta São Luís do Maranhão e que nos repassam sua experiência poética: Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Este último, dormindo já a paz do poeta justo. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Somese a esses nomes, o de Lago Burnet, Déo Silva, José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.


A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração acima, aponta, em seu Nomes e nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierática; epigramática; hierofânica… E esta outra geração (1990/2000…) que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas e urbanoides. Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura. Estas listas são, evidentemente, apenas listas, e têm um caráter relativamente didático, baseado mais ou menos nos círculos de produção, faixa de idade, etc. Na realidade, essa separação é muito tênue ou difusa. Exemplos claros disso são os casos de Couto Corrêa Filho, César Willian, Paulo Melo, para falar de alguns, que sempre estiveram também juntos com o último elenco. “A cidade não está no homem/ do mesmo modo que em suas/ quitandas praças e ruas”, diz Gullar. A experiência coletiva do poético como experiência da liri-cidade e a experiência poética passada de geração a geração constituem-se num dos nossos maiores patrimônios imateriais que têm raízes no patrimônio material ludovicense, em sua atmosfera cultural e na fundação de uma tradição forte, que une, por um lado, a cultura popular que permaneceu pela força de muitos sacrifícios e, por outro, um lastro canônico ímpar, construído por intelectuais visionários, conforme aponta-nos Ricardo Leão em sua obra/tese Os atenienes: a invenção do cânone nacional (Paco Editorial,2012). Neste espaço extraordinário, de velhos becos e ladeiras, azulejos e crepúsculos abissais, marinhos, nasce uma poesia única proporcionada por um lugar único, cujos habitantes se sentem tocados, invadidos pelo signo do poético. É nela que o poeta lamenta cada injúria, é nela que, como casa memorial de nossa linguagem, os poetas pedem em uníssono, com Tribuzi: “Ó minha cidade, deixa-me viver, que eu quero aprender tua poesia”.


ALGUNS POEMAS REPRESENTATIVOS LUÍS AUGUSTO CASSAS EPIGRAMA PARA UMA MANHÃ DE VERÃO Se por amor ou justiça, um dia eu brilhar, Na constelação a que me endereçaste, que eu não reluza como o sol do meio-dia, que embora forte, ofusca e a muitos faz cegar, mas resplandeça qual a luz de um sol de aurora, fogo fátuo que a tudo e a todos propicia, e em cuja luz, tênue e clara, dela ninguém foge, a não ser a inútil sombra da poeira das estrelas. Liturgia da Paixão (Opus da Compaixão), 1997 ROBERTO KENARD A FAMÍLIA Tem alguém no telhado Talvez a avó louca Embriagada de tiquira Tem alguém no telhado Possível o neto Esperando a lua Tem alguém no telhado Provável o gato Com medo dessa família No meio da vida, 1980 RAIMUNDO FONTENELE O OTÁRIO DO GÓLGOTA Sexta-feira 12h30 Começo a fraquejar diante de tanta fome À espera de ser traído Um Judas sairá das sombras Pra me fuzilar por causa de 30 dinheiros Lembro a infância à beira d’água Num Jordão-Mearim feito de lágrimas de mulheres piedosas Abundantes, generosas Madalena, pobre moça do cântaro Verônica, com seu lenço perfumado E Marta, a que me ensinou o pecado Eu, o cristo enferrujado Numa cruz de carne e sangue É a hora Terça, quando devo gritar por socorro Chamar por meu pai. Mas, só digo “help”, “money”, “goodbye” Marginais, 2001


LAURA AMÉLIA DAMOUS OFERENDA Venho te oferecer meu coração Como o cansaço se oferece aos amantes o suor aos corpos exaustos depois de definitivo abraço Venho te oferecer meu coração como a lua se oferece à noite e o vento à tempestade Venho te oferecer meu coração como o peixe se oferece à captura no engano do anzol Cimitarra, 2001 J. M. CUNHA SANTOS FÁBIO Teus dias sem idade tuas viagens nos pássaros dos mamonas assassinas A vontade de fugir de ti para ti por dentro as vozes partidas na tua cabeça e um discurso de louco que não acabava mais Assim lembro teu aço, teu osso assim recordo teu pânico comandando gangues sem pele e sacando revólveres da imaginação Um dia, Fábio, Também terei idades e pânicos também viajarei nos pássaros ouvirei músicas e fugirei para esse lugar em nós longe de qualquer um Vozes do Hospício, 2008 CELSO BORGES SUNSET 3 em frente ao sobrado a tarde grita aflita seu pôr-do-sol e reflete raios na grade de ferro forjado que sustenta a parte de cima da porta – restos mortais de um trapiche da Rua da Estrela SUNSET 4 O Incêndio da Casa dos Lordes e dos Comuns do outro lado do mundo beira de um rio londrino o pintor Joseph Mallod Willian Turner toca fogo no fim do céu no dia seguinte a tate gallery anuncia o leilão do pôr-do-sol Belle époque, 2007


SALGADO MARANHÃO O OURO DAS COISAS Daqui destes becos absolutos luta-se no fórum do lítero, onde o reles relativo transcende seus delitos. Daqui destes estames (tramem o Samadhi-ser: o nada náufrago sob o Nadalume) amanhece. E quilhas vazam marés aqui deste Ashramaxé: o imaginário templo de maravilhas. Que a palavra solavanque o ouro das dez mil coisas (A Luís Augusto Cassas) Sol sanguíneo, 2002 FERNANDO ABREU HOMEM COMUM Para o inglês W H Auden escrever poesia era lembrar a si próprio sua condição, porque antes e depois do poema não tinha tanta certeza de ser poeta. O brasileiro Ferreira Guliar diz que só às vezes é o poeta Ferreira Guliar. Ou seja, nos momentos em que o clarão do poema ilumina sua face. O galês Dylan Thomas vociferava seus metros direto no ouvido de Deus, segundo ele próprio, para a glória de Seu nome e em louvor do Homem. Quanto a este que afirmam ser eu, é só mais um homem comum, vergado ao peso da coragem que inventa. Comum, quando as engrenagens do poema rangem dentro de seus ossos, ao ponto em que é preferível escrevê-lo, embora nada no mundo dependa disso. Comum, quando por dentro tudo é deserto, e ele se perde na multidão, que também disfarça e espera.


PAULO MELO SOUSA SABENÇA na sozinhez das metáforas inexatas um bicho doido assopra perplexidades mordendo os calcanhares da imemória no casulo pânico das palavras incriadas lambendo a espumosa baba do sol a cada coice dos impropérios da morte viver no sonho incrédulo da criatura é abusar da paciência de Deus Banzeiro, 2010 RONALDO COSTA FERNANDES CHURRASCO Da minha janela, vejo fornos crematórios. As pequenas chaminés se sucedem como um i sem pingo. Da fumaça que lhe escapa há rumor de tédio, carne e sal grosso. Durante a semana os campos de concentração, que são quintais, se mantêm vazios e sem prisioneiros além das árvores inúteis que parem sem que ninguém as olhe. Nos fins de semana, começa o sacrifício de bois e rins e a fumaça se evola, em suas cólicas cinzas, a passagem das horas, o riso grotesco dos feriados, o ritual de queima e álcool, a embriaguez da vida cuja ressaca é a morte. A máquina das mãos, 2009 ALEX BRASIL NAVALHA O menino nasce no fio da navalha. A navalha fome fere o menino. A navalha rua rói o menino. Na navalha dor dorme o menino. A navalha nega o menino. A navalha poder pune o menino. O menino cresce entre mortalhas, e no fogo dessa fornalha, o menino faz-se navalha, lâmina sem piedade na minha, na tua carne, na carne da sociedade. Todas as Estações – Antologia Poética, 2003


SONIA ALMEIDA VIAGEM Coloco a palavra na asa do poema e faço o que mais quero: vou na asa da palavra vôo na alma do verso e, sempre que preciso, flutuo nas (a)venturas do signo. Penumbra, 2003. DYLERCI ADLER COBRANÇA Cobro-te cobras-me cobra venenosa com veneno fatal cobro-te quando me cobres com teu corpo enroscado tipo cobra no meu corpo intumescido rígido sensual Crônicas & Poemas Róseos-Gris, 1991 CHAGAS VAL RELVAS O luar alvíssimo se tece entre as verdes cortinas de árvores e trêmulo, ouve-se-lhe um terno sussurrar de folhas fremindo como estrelinhas cadentes em uma contínua iluminação de límpidos espelhos entre as fissuras de folhas ou nos finos folíolos da relva. Escritura do silêncio, 2009 RITA DE CÁSSIA OLIVEIRA O EQUILÍBRIO O equilíbrio foi gerado por Hércules e Minerva. Falou-me o sábio. A força e a sabedoria se enlaçaram na mais sublime relação, dando origem à geração do equilíbrio. Pouso da alma que não pende frente ao vendaval. Ponto no espaço que ancora o tempo na vastidão das existências e mortes registradas no livro de São Jerônimo. Do alto do Senado, o ancião julga as vidas e as mortes que se prolongam nas existências… Quem somos? Somos a soma e a divisão na eternidade. Somos a multiplicação e a subtração no mundo temporal. A sombra que escurece parte da terra não detém a nossa figura, que se traça na passagem das portas da geração, da degeneração e da morte… Poíesis, 2007


LÚCIA SANTOS FAÇANHA eu não nasci com estrela na testa eu não subi o monte everest nem cruzei a seco o sertão do agreste no meu talento a playboy não investe nem a seleção do reader’s digest nunca rezei terço como irmã dulce eu não atravesso o rio nilo a nado nunca cantei fado como a bem fadada amália eu não sou amélia eu não sou adélia (se bem que pasto no mesmo prado) eu não sei direito a idade da loba eu não peito para alimentar RômuloeRemo eu não vou entrar pro livro dos recordes nem robert redford dormirá em meu leito a poesia é meu grande defeito Baton Vermelho, 1988 COUTO CORRÊA FILHO AS BANDARILHAS As bandarilhas arpoam a vida e de par em par a esperança. Tenebrosos punhais de Espanha. As bandarilhas invadem a carne e hasteiam-se como marcos de conquistas. Terríveis pavilhões da morte. As bandarilhas abrem sulcos no couro e dançam a tragédia do touro. Dolorosos pingentes fúnebres. As bandarilhas tremulam na tarde e se esfriam adereçando o fim. Duras hastes de metal e papel de cor. XIII Antologia poética Hélio Pinto Ferreira, 2001. EDUARDO JÚLIO ALGUMA TRILHA ALÉM encontro com um passo que perdi há sete anos ele reconhece em mim o seu passado e passa volto para casa com a solidão dos sapatos Alguma trilha além, 2005


JORGEANA BRAGA THE END Tem uma serpente Correndo aqui atrás Como a minha mãe Cuspo o meu pai Cerca viva, 2011 ROSEMARY RÊGO PEDRAS A dor que lambe os ossos já não é mais como a agonia dos loucos Como a solidão das pedras a dor que lambe os ossos se encaixa na célebre canção dos dias. A dor que lambe os ossos é como o suor do espírito carne que surge do amanhecer é como um gozo atormentado de ser poeta, a dor que lambe os ossos agora é feita de pedra e cal! O ergástulo gozo da palavra, 2004 GEANE LIMA FIDDAN ARES DE PEREGRINA Saturada de pencas e brocas de Upaon-açu parto para as andanças cachos das manifestações no toco desse pendulo de bacaba a calma cheia do trágico que fecunda a alma desabrocha no agente de argila sai de fininho sem tino


embarca na busca do inédito desembarcando nas panturrilhas de Rodin aparentemente só aparente mente são fúrias de um vulcão vagalume nordestino circunvagando na cidade luz não se surpreende quando uma certeza pinta um pára-brisa arrasando anda passageiros desandam Argos da matéria, 2011 DYL PIRES SOTERO Um homem solitário. Nunca o percebi para além dos hábitos. Pela manhã dos gatos cuidava. Ao entardecer o pôr do sol lhe ocupava. Um dia, os gatos morreram. E para se recompor começou a tecer bolsas e tapetes felpudos como os gatos, belos como o olhar deles; agora reinventados no sol que espiava. Outro dia o vi mancando. Numa solidão que excedia a ausência de uma bengala. Pela primeira vez me comovi com sua solidão. Acordei para o que nele era falta. Acordei para os seus imperceptíveis rituais de ausência. Ele me sorriu. O perdedor de tempo, 2012 BIOQUE MESITO VANGUARDA DE HÉCATE entre vírus e computadores guerras e bebés de proveta aproveito para compreender a vida ouço piano leio livros assisto à televisão nos jornais a novidade quase extinta entre importados e sem importâncias softwares ou luas de sábado questiono a vida do meu jeito atrás do atraso a ciência no café da manhã o capitalismo entre dogmáticos e crianças prodígio parafernálias e clones do século novo aproveito para descrever meus mitos A anticópia dos placebos existenciais, 2008 RICARDO LEÃO NO MEIO DA TARDE LENTA É tarde. É muito tarde. É sempre muito tarde.


Mas agora Eu te contemplo, cidade amarga, Do alto de um edifício de vinte andares, E vejo, com olhos cansados e tristes, O teu úmido horizonte, calmo e lúcido, Castigado de muitos antigos sóis, Carregando nas mãos tremas o maxilar roído De teus ilustres e insignes ancestrais, E também de muitas outras tardes e eras, Enquanto me desloco sob o calor ardente e fáustico De mais uma tarde em São Luís do Maranhão. (…)” No meio da tarde lenta, 2012 HAGAMENON DE JESUS UM DOS CÂNTICOS DOS CÂNTICOS Os que lutam com o Anjo Estão no alto do Empire State Building. São os que abrem o coração para Deus Os que lutam com o Anjo Estão mais alto que o Edifício Empire State Building. São os para quem foi escrito “Que o amor é uma guerra perdida” Os que talvez se matem. Mas ardentes e comuns, senhores só do Sol Da incerteza de Canaã, Ainda caminham ombro a ombro. A queda é uma chance. Mas que não se enganem e/ ou perturbem Se, eternamente,os olhos de Prometeu estejam bicados (a impermanência é sempre a questão Do sangue no azul, é o alimento da Eternidade). Que não se enganem e / ou perturbem Com os olhos de Édipo nas TV’s, O silencio da arca cheio de objetos, e os arcos As alianças, com aquilo que não vêem , O amor Ainda arde, em arco íris, no coração do CD’s. Os que lutam com o Anjo Estão no alto, no vértice do Empire State Building: E cantam. A queda é uma chance. Mas também o beijo,amor,o vôo The Problem, 2002


ANTONIO AÍLTON O JARDIM DE PO CHÜ-YI Dizem aí que Fulano é um grande poeta que tem estilo, e até consegue imitar a si mesmo, para conservar sua marca Que é como Picasso depois de Les Demoiselles Quanto a mim, sei que meu pequeno jardim não é como o das grandes casas de portões vermelhos dos poetas que olham desdenhosos o outro lado do bulevar Não é como os planejados para a entrada dos grandes colégios nem como os que embelezam ainda mais os fluxos do sol que rebatem nas vitrines das grandes empresas Em meu pequeno jardim, eu sei, há flores grandes e minúsculas, coloridas e tristes, às vezes perfumadas e há também flores falsas como é natural das plantas flores enjambradas e ervas daninhas que tenho preguiça de tirar, ou não sei como então deixo aos poucos amigos quando vêm beber vinho olharem e dizer: “ô, isso cresceu aí…”, e respondo: “foi mesmo…” Então vamos beber um pouco mais de vinho, e aponto uma velha espreguiçadeira herdada de Po Chü-yi poeta mais sábio que todos nós juntos, e que após ouvir o alaúde perguntava: “Por que suspirar por grandes terraços, açudes quando um pequeno jardim é tudo quanto basta?” (Compulsão agridoce, inédito ) MORANO PORTELA DENTRO DO DIA Sol e marulho No meio da rua No meio do dia No meio da vida Onde se cavam cavam Entre humanos abismos Abismos abismos De linguagem vazios Na asa turva da vertigem, 2010


DANIEL BLUME IMPUREZA Esgotam-se as palavras, o descobrir, não. Agora o dizer finda, entregue ao cansaço e à impaciência. Dizem: é a maturidade. Silêncio. A criança dorme. Inicial, 2009 JOSUALDO RÊGO SOUSÂNDRADE Aqui erguemos nossa lírica, sem o coloquial, sem o resenhista de plantão. Aqui arquitetamos nossa ruína, em casebres e palafitas à beira-mar, nesta carinhosa decadência. Aqui o pássaro mora longe, invisível e sorrateiro. Variações do mar, 2012

SAMARONE MARINHO O PALACIO DOS LEÕES dá-se um punhado de dores aos miseráveis incautos no quintal do palácio a legião de templários vê a ave picotar os vestígios das sombras Incêndios, 2012 REUBEN DA CUNHA ROCHA São Luís está em chamas / Não é hora para joguinhos literários Não é hora para o artista se esconder / Palavras secretas e cânticos Não dão mais em nada / Chegou a hora de arder / Arder e gozar Revista Pitomba v. 1, 2012


MICHEL HERBERT FLORENCIO Que o tempo que matura o corpo nรฃo seja capaz de transformar nossa alma infante... mas nos deixe ver este mundo tenebroso com as cores e a simplicidade de uma crianรงa Hoje e sempre.


OS DENTES ALVOS DE RADAMÉS DE RICARDO LEÃO Já está disponível, no site da Editora Benfazeja, a segunda edição da prosa poética ou romance experimental Os Dentes Alvos de Radamés, edição de 2016, com prefácio do escritor e professor José Neres, da Academia Maranhense de Letras, posfácio do poeta, escritor, músico, pesquisador Caio Russo, e fotos do pesquisador, professor e psicólogo, Roberto D. S. Nascimento. Uma edição primorosa, revista e revisada, que resgata um dos textos mais significativos de sua produção.

[Trecho do livro] Faz algum tempo que concluí o meu delito. Não se trata, contudo, de mais um crime, realizado às pressas, como tantos outros. A minha obra é, com efeito, um consumado objeto de arte. Eu a executei com toda a perícia, argúcia e artimanhas necessárias, todos os cuidados e aparatos possíveis, as luzernas acesas, enquanto combatia o alvo silêncio dos urinóis. É claro, procuro não jactar-me sempre de minha realização. Muitos de meus inimigos ainda estão à espreita, à espera de um deslize, qualquer coisa, por mais insignificante que pareça, a fim de capturar-me e conduzir-me aos verdugos do castelo. Eles aguardam-me, com certeza, há séculos, debaixo dos patíbulos, dos corredores úmidos e friorentos das prisões ignoradas, com seus dentes de metal e garras aduncas, ferindo-me a pele, lâmina causticante, com a luz dos candelabros incendiados nos porões de meu inferno.

Ricardo Leão é o nome literário de Ricardo André Ferreira Martins. É poeta, ficcionista, ensaísta. É doutor em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é Professor Adjunto do Colegiado de Letras da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Campus de Jacarezinho. Publicou os seguintes livros: Simetria do parto (2000, Prêmio Xerox de Poesia), Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado (2002), Primeira lição de física (2009, Prêmio Gonçalves Dias de Poesia), Os dentes alvos de Radamés (2009, prêmio Gonçalves Dias de Ficção, 1a. ed.), No meio da tarde lenta (2012, poesia), Os atenienses: a invenção do cânone nacional (2013, Prêmio de Ensaio e Crítica Literária da Academia Brasileira de Letras) e A plumagem do silêncio (2015, poesia).


MALU OTERO O CORAÇÃO DO POETA – O poeta enxerga no puro amor Um motivo para a vida e procura Fixar cada alegria ou dissabor, No mais profundo de sua escritura. Coração usando de tom solene, Alucinado por tudo o que existe, Decreta indômito a morte em público, Ao ser covarde que de amar desiste. Na Europa busca a cura para o corpo, Porém a alma cada vez mais insiste, Acaba por transformar em um pórtico A dor aguda que tal qual persiste. Nas profundezas do oceano encontra Morada eterna como um acalanto, Triste fim para um poeta de tal monta: Ondas do mar envolvem-no em seu manto. Publicado em Mil Poemas para Gonçalves Dias - Antologia organizada por Dilercy Aragão Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz.



OSWALDINO MARQUES: CENTENÁRIO DE UM GRANDE MESTRE DA LITERATURA PAULO MELO SOUSA No último dia 17 de outubro o escritor maranhense Oswaldino Marques, caso estivesse vivo, completaria 100 anos de idade. Dele guardamos nobres lembranças. No início dos dourados anos oitenta, retornei a São Luís do Maranhão, após estadia em São Paulo, por motivo de estudos. Logo no terceiro mês de 1980 li num jornal da cidade texto sobre um evento literário, que foi realizado no antigo Centro Caixeiral, escola situada na praça Benedito Leite, então organizado pela Fundação Bandeira Tribuzi. Fui até o local e participei da atividade cultural. Ali, conheci Bernardo Fontenele, presidente da instituição, e a poeta Lúcia Brandão, com que mantive duradoura amizade. Através deles fui apresentado à dona Maria Tribuzi, viúva do grande poeta maranhense Bandeira Tribuzi. Desde então, fiz parte da fundação, frequentei assiduamente a casa de dona Maria, e nos tornamos grandes amigos até sua partida, no dia 7 de novembro de 2012. Ao longo de muitos anos eu e dona Maria passamos bons e inesquecíveis momentos em conversas intermináveis, nas quais ela descrevia sua vida ao lado do grande Bandeira Tribuzi, falava de forma incisiva sobre política e me falava de sua vida e de seus planos literários, bem como de suas amizades na área cultural. Numa dessas conversas, ela me falou do poeta Oswaldino Marques, um de seus grandes amigos, então morando na capital federal, com quem ela mantinha correspondência há anos. Manifestei meu interesse em conhecê-lo. Nessa ocasião, no início de 1987, eu já estava com meu primeiro livro de poesia na gaveta, e curioso para saber a opinião de escritores mais experientes. Em agosto daquele ano, aconteceu em Brasília o “I Festival Latino Americano de Arte e Cultura” FLAAC. Levando na bagagem uma entusiasmada carta de apresentação de dona Maria Tribuzi, entrei em contato com o poeta Oswaldino Marques assim que cheguei na capital da República. Após receber meu telefonema, ele se deslocou ao meu encontro na Universidade de Brasília - UNB, local da realização do FLAAC, e foi ali, numa das salas nas quais acontecia uma palestra literária que travei contato pela primeira vez com a figura impoluta, vivaz e polêmica do poeta Oswaldino Marques. Na ocasião, ele abriu a porta da sala, escrutou meticulosamente o ambiente e, quando me viu, apontou o dedo para mim. Eu perguntei a ele como havia me reconhecido e ele simplesmente me explicou que sabia reconhecer um maranhense a léguas. Foi um encontro bastante animado. Tornamo-nos amigos de imediato e até a sua morte, ocorrida em Brasília a 13 de maio de 2003, mantivemos profícuo contato intelectual, e respeito mútuo, de tal forma que confiei a ele a crítica ao meu primeiro livro de poemas. Eu estava decidido: caso ele não gostasse dos meus textos eu abandonaria a poesia. Ele não somente gostou, mas também se ofereceu para fazer o prefácio do livro, o que para mim sempre foi uma honra. Oswaldino Ribeiro Marques nasceu em São Luís do Maranhão no dia 17 de outubro de 1916, na esquina da rua de São Pantaleão com a Avenida do Gavião. Seu pai, Eleutério, era pescador, nativo de Alcântara, e sua mãe, Ana Teresa (que faleceu antes dos trinta anos), era dona de casa. Oswaldino os reverencia logo nos primeiros poemas do seu livro de estréia, “Poemas Quase Dissolutos”, de 1946: “Ó Eleutério, meu pai! Eu te vejo consertando tarrafas / na noite trescalante de Alcântara / As escamas refulgentes das estrelas / a pescada branca da lua...”. E no poema “Ana, minha mãe”, ele evoca a lembrança daquela que o trouxe ao mundo: “Eu te vejo reclinada na cadeira tosca / o trabalho humilde de tuas mãos esquecido no regaço”... A avó de Oswaldino Marques, dona Salustiana, foi quem introduziu o nosso poeta na literatura, ao realizar na varanda da casa sessões de leitura, advertindo sempre: “é preciso estudar, aqui é a Atenas Brasileira!” Conselho que ele seguiu, pois, ainda jovem, antes de completar 20 anos de idade, ele fundou na capital maranhense um grêmio literário, o “Cenáculo Graça Aranha”, no qual se discutia as ideias modernistas. Nessa época, em 1936, ele se mudou para o Rio de Janeiro, então capital da República. Ali, trabalhou como bibliotecário e tradutor, e divulgou a poesia norte-americana entre nós. Engajado


politicamente, foi um dos fundadores da União Nacional dos Estudantes - UNE. Nesse período desenvolveu intensa atividade política nas fileiras da esquerda. Ingressou na arte da palavra pelas mãos de Cecília Meireles, em 1943, que publicou de uma só vez dez poemas de Oswaldino Marques no Suplemento Literário do jornal “A Manhã”. Simultaneamente à publicação de seu primeiro livro, enveredou também pela tradução, lançando a obra “Cantos de Walt Whitman”, a primeira versão brasileira dos poemas do grande bardo norte-americano. São de sualavraaindatraduções de textos de William Shakespeare, John Donne, William Wordsworth, Samuel Taylor Coleridge, Shelley, John Keats, William Butler Yeats, John Synge, Ralph Aldo Emerson, Edgar Allan Pöe, Carl Sandburg, Adam Lindsay, Hart Crane, Langston Hughes. Fez ainda a primeira tradução para o português de “As Núpcias do Céu e do Inferno”, de Willian Blake, e de “Quatro Quartetos”, de T.S.Eliot. Em 1965 Oswaldino se mudou para Brasília, assumindo na UNB a cátedra de Teoria da Literatura, tendo pedido demissão do cargo em protesto por conta dos abusos da ditadura militar que assolava o país, à época.Em razão disso, de 1969 a 1976 foi professor catedrático das Literaturas Portuguesa e Brasileira na Universidade de Wisconsin, Madison, nos EUA.Por lá organizou seminários de pós-graduação sobre Machado do Assis, Cassiano Ricardo, João Alphonsus, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, sobre o simbolismo português, a poesia lírica de Camões, Gil Vicente, Eça de Queirós, dentre outros. Suas contribuições literárias estão presentes em publicações portuguesas, francesas, norte-americanas e brasileiras. Ao longo de sua trajetória literária, recebeu inúmeras láureas, dentre as quais se destacam Menção honrosa no Prêmio Fábio Prado de 1950, por sua peça de teatro Ciméria; Prêmio Euclides da Cunha, para ensaio, conferido em 1956 pelo Instituto Nacional do Livro, por seu estudo Canto e Plumagem das Palavras, sobre a linguagem e o estilo de Guimarães Rosa; Prêmio Carlos de Laet, de crítica literária, concedido em 1960 pela Secretaria de Cultura do antigo Estado da Guanabara, pelo texto O Laboratório Poético de Cassiano Ricardo; Prêmio Nacional de Crítica Literária, em 1969, pela Fundação Cultural de Brasília, por ocasião do IV Encontro Nacional do Escritores, por motivo da publicação de seus Ensaios Escolhidos. Sempre avesso a qualquer vinculação a escolas literárias, foi o primeiro escritor brasileiro a estudar e divulgar entre nós a Semiótica, a divulgar conceitos do Positivismo Lógico e a se utilizar dos procedimentos do New Criticism anglo-americano para análise literária em nosso país. A evidência da sua ousadia analítica pode ser verificada a partir do fato de que foi o primeiroa abordar a linguagem e o estilo de Guimarães Rosa em português. (“Canto e Plumagem das Palavras”, que integra seu livro “A Seta e o Alvo”, edição de 1957). Sobre a sua obra se pronunciaram nomes de grosso calibre intelectual, dentre os quais se destacam Elizabeth Bishop, Menotti del Picchia, Afrânio Coutinho, Antônio Houaiss, Mauro Mota e Stella Leonardos. Mais tarde, em 1991, Oswaldino Marques foi muito justamente reintegrado à UNB e voltou a trabalhar nessa universidade até sua aposentadoria, vivendo seus últimos anos recluso em seu apartamento, lendo avidamente e escutando seus discos de música clássica. Ele tinha uma sala na qual guardava seus preciosos discos, com grandes caixas de som, e sempre escutava as músicas em pé, ao longo de toda a audição das mesmas, em sinal de respeito aos grandes mestres que amava, como Beethoven, Häendel, Shubert, Stravinski, e sobretudo Johann Sebastian Bach, segundo ele, “o eleito dos eleitos”, dentre tantos outros.Oswaldino Marques, por sua trajetória de vida dedicada ao ofício da palavra escrita, também ele foi um dos grandes eleitos para ser fiel escudeiro da nobre arte da Literatura. ALGUMAS OBRAS DE OSWALDINO MARQUES “Poemas Quase Dissolutos”, 1946 (poesia); “Sinto que sou uma cidade”, 1947 (poesia); “Ciméria”, 1951 (teatro); “Um homem na cerração”, 1951 (teatro); “Cravo bem temperado”, 1952 (poesia); “O poliedro e a rosa”, 1952 (ensaio); “Usina do Sonho”, 1954 (poesia); “Teoria da metáfora & Renascença da poesia americana”, 1956 (ensaio); “A seta e o alvo”, 1957 (crítica); “O laboratório poético de Cassiano Ricardo”, 1962, 2ª ed.,1976 (crítica); “Ensaios escolhidos”, 1968 (ensaio); “A dançarina e o horizonte”, 1977 (poesia); “O prisma e o arco-íris”, 1986 (poesia); “Acoplagem no espaço”, 1989 (crítica).


TRADUÇÕES “Contos de Walt Whitman”, 1946; “Aventuras de Mark Twain”, 1946; “Videntes e sonâmbulos” Antologia bilíngüe da poesia norte-americana - (Compilação, tradução parcial e notas de O.M.), 1955; “A sombra do desfiladeiro” - Drama em 1 ato de J. M. Synge, 1955; “Poemas famosos da língua inglesa” Antologia bilíngüe da poesia inglesa e norte-americana - (Compilação, tradução integral e notas de O. M.), 1956; 2ª ed. 1968; “As núpcias do céu e do inferno”, de Willian Blake, 1956; 2ª ed. 1988; “Poesia dos Estados Unidos”, 1966; “Quatro quartetos, de T.S. Eliot”, 1966.


JUÇARA VALVERDE DELÍRIOS

Lançamento de Juçara Valverde Livro de poesia "DELÍRIOS. Dia 16/12/2916, na Sociedade Nacional de Agricultura, 18:00h. Av. General Justo. 171. 2° andar./ Castelo/ Praça XV.


FRANCISCO TRIBUZI

MEU PAI EM MIM

O que é esta paz que não adivinho? Que é calma mas chega a doer. Que não é bem paz, pois cheira a espinho, Uma espécie de Rosa que não posso ver. Que é serena e é também redemoinho, acalma um pouquinho e volta a doer. E mesmo só, não estou sozinho. Quanta amargura em meu viver! O que é essa paz que não adivinho? Que é a maior que tudo, mas meu ser alcança? É a tua paz, meu pai, em meu caminho a perpetuar saudade em minha lembrança! Ai! Portugal, não beberei teu vinho! Ai! Sã Luis, hoje és festa sem dança onde anda a paz que não adivinho... Ai! meu pai, meu carinho, minha ROSA DA ESPERANÇA... *Francisco Tribuzi, no lançamento de seu livro “Hora de Guarnicê”, São Luis, 1978, sob o olhar terno de seu pai, o nosso saudoso e querido Poeta Bandeira Tribuizi.


RICARDO LEÃO

DESRECEITA DE MULHER Que me perdoem Vinícius e os poetas, Mas beleza não é fundamental. Não é fundamental A beleza que alguns julgam única e concebível, Que apenas alguns consideram crível ou aceitável. Longe de mim, no entanto, dizer ou falar, Sobretudo proclamar e, menos ainda, instituir O que é fundamental e não fundamental às mulheres. Que em meu verso fique bem evidente e cristalino Que não pretendo vos afirmar o que é a mulher, ou que a beleza É fundamental, tampouco o que a mulher deve ser e não ser. Abaixo as prescrições e fórmulas de mulher! Abaixo a tirania e a opressão do belo universal! O belo particular e privado dos colecionadores! O belo cósmico dos alienígenas e reis taumaturgos! O belo da metafísica e dos filósofos! O belo da poesia! O belo recatado e nomeadamente o belo do lar! O belo do amor cortês! O belo dos trovadores! O belo que é uma questão de gosto e desejo apenas! O belo em todas as formas e definições impossíveis! Sobretudo o que os homens definem como belo! Se o belo é fundamental, é tão somente o que liberta. Por isso, longe de mim dizer às mulheres o que é preciso Que haja e não haja, ainda que isso evoque o perfume de uma flor Ou a leveza de uma garça ou um pássaro. Não, nada disso. Que as mulheres estejam à vontade e completamente livres Em toda a plenitude de seus corpos, altos ou baixos, Rotundos ou longilíneos, magros ou roliços, delicados ou atléticos, Contudo perfeitos àqueles que privarem do alto privilégio De suas completas companhias. Porque, acima de tudo, É um privilégio gozar da companhia, e jamais um direito. Se é necessário que algo seja fundamental em tudo isso, Que a mulher seja o que ela é, simplesmente. Nada mais. Por isso é fundamental, absolutamente imprescindível, Completamente necessário, forçoso, imperativo e contingente Que a mulher tenha o poder completo, sem meios-termos, De decidir o que vestir, o que não vestir, até de despir-se de tudo, Seja haute couture ou não. É preciso que tudo isso seja livre, Que tudo seja uma escolha, o resultado do exclusivo arbítrio, E não uma imposição da moda, da mídia ou dos poetas. Que a mulher tenha a possibilidade de ser e de não ser, Que ela tenha a liberdade de nomear, propor e de escolher, E que se banhe nas águas de suas decisões e desejos.


Se os poetas, aliás, quiserem cantar a mulher e seus encantos, Que cantem a mulher livre de todos os grilhões e funções, A mulher alforriada da escravidão de todas as representações, A mulher emancipada do jugo das idealizações masculinas, A mulher liberada dos fatigantes e vazios jogos de sedução, A mulher livre enfim dos padrões e patrões, modelos e regras! Se ela for bela, que o seja por um imperativo da natureza, E se não for bela, que não seja o atributo mais relevante e saliente. Quer ela tenha a elegância de um cisne ou de uma bailarina, Quer o seu rosto tenha a palidez élfica das nórdicas ou das gueixas, Ou o negrume reluzente do ébano, ou o vermelho intenso do urucum. A verdade é que nada disso é necessário, e tampouco fundamental. Pouco importa que seus olhos abram-se subitamente em leque Ou se fechem em atitude de silêncio. Ou que seus braços nus Tenham a consistência dos tecidos mais lisos, suaves e macios, Ou que suas coxas e pernas tenham a textura de almofadas. Pouco importa que a mulher seja uma esfinge de enigmas indecifráveis Ou de mistérios insondáveis, e que seu olhar melífluo jamais revele Nada além do que um simples olhar que tudo ou nada diz. Que me perdoem os poetas, mas o olhar da mulher nada promete, E tampouco permite tudo imaginar. Nem há algo que seja próprio Ou impróprio no ato de cerrar as pálpebras, em atitude de sono Ou de tergiversação. Nada disso efetivamente importa. A mulher é tampouco apenas olhos, seios, rosto e nádegas. Ainda que tudo isso seja de fato muito importante e belo, Não é fundamental, muito menos absolutamente necessário. Se há algo de essencial na boca das mulheres, são suas palavras. Se há algo de necessário e imperativo em tudo isso, as atitudes. Que a cintura e os contornos pélvicos das mulheres sejam belos, Quando assim o for, mas que antes conversemos e ouçamos, Não em atitude de simples benevolência ou singela concessão, Mas porque é preciso que os seres se ouçam e até se entendam. Porque os corpos se entendem de modo muito fácil e raso. Mas os seres precisam do tempo da escuta e o tempo do diálogo, Sobretudo o tempo da compreensão e o tempo da aceitação. Por isso é absolutamente indispensável que as mulheres Se alteiem em atitude de igualdade e desafio, e não discutamos Senão o mérito de suas ideias, a coerência de seus argumentos, E não os seus seios em forma de cálice, góticos, barrocos ou gregos, O perfume de seus lábios imóveis, o som noturno de seus passos. Da mesmíssima forma, é forçosamente inadiável e impreterível Que não haja receitas de mulher, porque mulher não é coisa, E tampouco manjar ou iguaria que se oferece à degustação. Por isso, que me perdoem os poetas, os estetas e obstetras. Que a mulher seja afinal ela mesma, ainda que inefável e bela. Que os poemas cantem a mulher que existe além do mito! Que ela tenha a compleição dos seres mais reais e concretos, E não os encantos e fascínios de uma abstração impossível!


Que ela não seja apenas um sonho exótico, um devaneio de ópio, A musa ou a esposa, a noiva ou a consorte, a irmã ou a mãe, Mas apenas mulher, liberta enfim de todos os papeis e misteres, De todos os imperativos e imperadores, rigores e senhores! Que a mulher seja apenas ela mesma, livre de todas as receitas, Em todo o esplendor e majestade de sua humana condição. Ricardo Leão, 2016


JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS

O SEGREDO NO ESPELHO D´ÁGUA

A noite chega mansa e até me surpreende – e eu, no leito, me deixo absorver na procura do que muitos não encontram. O prazer, e a semente da vida. A lua grande se transforma em duas, no espelho d´água que a Natureza dispôs em brilho. Não me incomodam os que procuram o que jamais encontrarão próximo ao pré-sal da vida – por não saberem que, bem ali, tudo está tão raso e próximo, no espelho d´água. Por que a profundidade, se a vida está ali, rasinha, no espelho d´água? Procure. Cate. Apalpe e encontre ali, a vida e o prazer, no espelho d´água! Procure. Cate. Apalpe e encontre ali, do lado esquerdo, o prazer da vida – no espelho d´água. Esqueça a profundidade... não há necessidade! A vida, a lua refletida e o prazer – está tudo ali, no espelho d´água!


EXCERTOS DE “TRAVESSIA – MEMÓRIAS DE UM APRENDIZ DE ESCRITOR E OUTRAS MENTIRAS” FERNANDO BRAGA

[...] E mais, este belo poema, de recorte extremamente moderno, que extrai do “Almanaque Bertrand”, que meu papai recebia todos os anos de Portugal... Era por volta de 1957, e eu, menino ainda, o qual de tanto ler cheguei a decorá-lo. Di-lo-ei abaixo, depois de contar uma história que aconteceu comigo, recente, no dia 20 de setembro de 2014 depois de recitá-lo... Mal sabia que um dia tão distante por vir, eu, em Aveiro, Portugal, numa de suas gafanhas, creio que a de Nazaré, a ter no porto vários navios bacalhoeiros chegados da pesca, teria de ali, acompanhado do primo Artur Cadete Gamelas, participar de um almoço que, segundo ele, é realizado todos os meses para que os participantes, combatentes nas guerras das colônias, [neste caso, lê-se Moçambique], mantenham vivas suas lembanças ultramarinas... Inclusive, ele, esse primo, pertencente àquela malta... Pois bem, Meu filho Nando, meu acompanhante, ficara na cidade de Aveiro a entreter-se com outras coisas... No almoço cidadãos reformados do exército, comerciantes, profissionais liberais, e a maioria, composta por oficiais da Marinha Mercante, e quase todos, da cidade de Ilhavo, ali perto, também distrito de Aveiro... Depois de apresentar a todos meu livro de poemas “Magma”, e autografá-lo aos presentes, vez que já o tinha lançado em Setúbal, juntamente com o ensaio sobre Bocage, “Elmano, o injustiçado cantor de Inês”, achei, de ali, recitar o ´poema “Algibebe”... Mal sabia que um dia tão distante por vir... De repente fui aplaudido alvoroçadamente pelo generoso auditório, sem dar-me conta de que estava ao mesmo tempo a fazer uma homenagem ao poeta Celestino Gomes, filho de Ilhavo, cidade berço também daqueles velhos lobos do mar. João Carlos Celestino Gomes, nascido em Ílhavo, distrito de Aveiro, Portugal, em 1899 e falecido em Lisboa, em 1960; era médico, pintor, gravador, romancista e poeta. Eis o poema: “Vivi a não ter vivido, de tolas idéias falsas, / num mundo preconcebido. / Mudei, tanto de terno e das calças, / que num sei no que fiquei. / Vil passado, de sarja e cheviote, / mas a barafunda fútil, / cá bem por dentro de mim, / o meu pobre corpo forte, / mas inútil, / sofria do disparate / de só ser um manequim / com alinhavos à toa, / numa porta de alfaiate! / Pobre terno sem pessoa, / o que ele queria / era braços / a encher-lhe as mangas vazias/ armadas só a enchumaços / que mo vestissem de gente, / de espasmos e de agonias / ser eu apenas diferente / de mim de todos os dias; / mas veio o minuto exato, / e o facto feito de luto, / gasto a lustro e desbarato, / cansou-se de devoluto, / cabido de guarda-fato... / Afagos que afogam sangas, / quantos abraços perdidos, / por braços que eram só mangas, / meus braços, cinco sentido


NAURO MACHADO - UM ANO SEM O POETA MAIOR PAULO MELO SOUSA Poeta e jornalista. Mestre em Ciências Sociais, membro fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL Publicdo no JP, em 25 de novembro de 2016

No dia 28 de novembro de 2015 recebi a notícia do falecimento do poeta Nauro Machado no meio da baía de São Marcos, a bordo do barco Barraqueiro, que faz linha para a cidade histórica de Alcântara. Rosto e alma entristecidos, ao sabor do vento e do banzeiro doido, bem no miolo da travessia do Aurá, comecei a falar ao mar impiedoso, de forma raivosa, alguns dos poemas antológicos de Nauro, muitos dos quais integrou várias performances poéticas que o Grupo Poeme-se (1985/1994) realizou nos anos noventa com textos desse poeta maior do Maranhão. Depois de passar o dia em Alcântara, a trabalho, retornei a São Luís no mesmo barco, ao final da tarde daquele novembro que retirou de cena um dos nomes mais representativos da Literatura brasileira contemporânea. Ao descer da embarcação, na antiga rampa Campos Melo, na Praia Grande, meus pés me conduziram pelos mesmos caminhos tantas vezes palmilhados por Nauro até a sede da Academia Maranhense de Letras, na rua da Paz, local onde o corpo do poeta foi velado. Ali, após contemplar o velho bardo já acomodado na sua urânica nau que o conduziria à eternidade, fiquei sentado numa das poltronas e em silêncio me pus a observar as pessoas que adentraram o recinto. Era visível a sensação de estranheza em relação à dureza do momento, e percebi claramente que o sentimento de orfandade se mostrou presente na alma de todos os poetas que foram dar um último adeus ao poeta maior, dentre os quais me incluo. Foi então que encontrei o poeta caxiense Wybson Carvalho, também ele amigo de Nauro e pesaroso com a grande perda, e que também estava literalmente sem palavras, que não apareciam nos lábios ou nas folhas de papel pois estavam, com certeza, também elas entristecidas com tão inesperada partida.Nauro Machado era, sim, uma grande personalidade humana, que soube cativar sem bajular toda uma geração de escritores que hoje produzem literatura que mereça esse nome neste alquebrado e enigmático Maranhão. Nascido em São Luís do Maranhão a 02 de agosto de 1935, Nauro Diniz Machado construiu uma obra literária das mais respeitáveis dentro do atual contexto da literatura brasileira contemporânea. Morando na capital maranhense, com pequena passagem pelo Rio de Janeiro na década de 50, ele se ombreia aos seus companheiros de geração mais imediatos, como Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Filho de Torquato Rodrigues Machado e de Maria de Lourdes Diniz Machado, foi casado com a escritora Arlete Nogueira da Cruz, com quem teve um filho, Frederico Machado, cineasta e entusiasta da obra do pai. Sua biografia se confunde com sua criação poética, tendo exercido, com frequência, influência marcante sobre os novos poetas maranhenses. O discurso do poeta Nauro machado navega numa linguagem própria e original. O escritor pertenceu à geração que surgiu em meados dos anos 50 do século XX, sucedendo à de 45, e herdando desta última não só a preocupação com o estilo (característica mais clara), como também a visão altruísta do poeta e a atração pela beleza do aspecto formal do poema. Desde o momento em que foi publicado seu primeiro livro (“Campo sem Base”, de 1958), a poesia maranhense viu apenas pouquíssimos nomes brilharem com tanta intensidade quanto o dele. Com dezenas de livros elaborados ao longo da sua vida, sua obra sofreu, naturalmente, viva transformação, apesar da fidelidade do poeta ao seu estilo e às temáticas abordadas. Mesmo se mantendo fiel a certos cânones, em Machado a questão estilística se adensa com o tempo, o preciosismo beirando o barroco se alicerçou e a predileção pelo discurso hermético se acentua em grande parte de seus poemas. Num trecho de uma entrevista inédita, a mim concedida, Nauro Machado discorre sobre a sua poesia: “Quando falo do eu na minha poesia, extroverto uma inalienável condição co-participante do existenciário como vida planetária. Eu social, como muitostalvez prefiram, numa tentativa de classificar (estancar, melhor dizê-lo) a atuação do homem, ser de palavra e tempo, no mundo em que ele transitoriamente vive. Escrever poesia, para mim, é formalizar uma tentativa-aúnica tentativa- para sentir e viver. Meu poema, se válido e essencial, serátambém vida na sensibilidade receptiva dos outros”. Esse o Nauro que conheci, visceral,


agônico, amante dos poemas que o perseguiam implacavelmente pelas ruelas amargas ou doces do Centro Histórico de São Luís, e que permanece na memória de forma incisiva e inapelável. A complexidade da poesia de Nauro Machado, antes de ser um entrave a qualquer incursão analítica, deveria ser considerada instigante, estimulante. O possível hermetismo, tantas vezes propalado por alguns críticos ou apreciadores da sua obra, na verdade nos remete a textos de difícil compreensão, que exige perspicácia, o que o descola do indecifrável, mas o eleva esteticamente. Essa, contudo, não é a regra. Com efeito, alguns poemas são bem simples e naturalmente digeríveis.A poesia nauromachadiana, ao fim de tudo, é, numa palavra, essencial. Ele exerce, e com mestria, o papel de guardião do fogo dos deuses, à custa talvez de uma espécie de expiação num contexto social pouco afeito aos mergulhos do mais arriscados do espírito. Essa alta poesia exercida por Nauroé ponte necessária entre uma literatura culta e um discurso ousado no sentido de acordar os curumins e as cunhãs da nossa adormecida tribo. Na próxima segunda-feira, 28 de novembro, haverá missa pela passagem de um ano do falecimento do poeta Nauro Machado. A cerimônia será na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (rua do Egito), às 19 h 30. Em seguida, na mesma igreja, haverá uma louvação a Nauro Machado, feita pela ensaísta e membro da Academia Brasileira de Letras - ABL, Carlos Nejar. Fim de Linha Desdobrando o cadáver que me abjeta do nascimento à podre morte minha, linha sem reta, pois que dupla reta me faz e refaz de uma mesma linha, tomando após a forma de uma ausência feita e acrescida dos meus próprios braços, fazer-me posso em lúcida demência, cérebro enfim do tempo e dos espaços. Fazer-me posso na amêndoa em trevo da hora pública em que sou levado e em que a dizer-me tanto ainda devo para alcançar-me, longe do meu nado:

“eu quisera morrer eternamente, Sentindo o sopro de invisível vento. Viver o mundo na palavra ausente. Morrer na eternidade o seu momento”.


EDMILSON SANCHES.

COITUS ININTERRUPTUS Dois corpos em choques entrechocam-se lambuzam-se: saliva suor seiva sêmen. Nesse meio líquido viscoso salgado salobro dois corpos dois porcos em charco encharcam-se. De amor.


ILUSTRES DESCONHECIDOS, ILUSTRES ESQUECIDOS POR QUE O MARANHÃO ABANDONA SEU MAIOR PATRIMÔNIO EDMILSON SANCHES Filhos talentosos, nas Artes e Ciências, na Administração, Música, Literatura, Pintura, Saúde, Direito Religião etc., filhos que encheriam de orgulho qualquer país, qualquer estado, qualquer cidade, são filhos esquecidos em sua história e sua contribuição de enorme dimensão, quaisquer que sejam os critérios de avaliação.

MARANHENSES, CAXIENSES, ...ESQUECIDOS Era o dia 1º de março de 2015. Eu sabia que, naquele dia, a cidade do Rio de Janeiro, capital do estado brasileiro de mesmo nome, estaria completando exatos 450 anos. Nesse dia, na página principal de apenas um site de notícias (o UOL), a expressão “CIDADE MARAVILHOSA” aparece pelo menos sete vezes em manchete e títulos de textos. “Cidade Maravilhosa”, como se sabe, é uma figura de linguagem (chamada perífrase ou antonomásia ou epíteto) para denominar a cidade Rio de Janeiro, Essa expressão -- “Cidade Maravilhosa” --, de tanto que “pegou”, é nome de música (de 1934, depois considerada hino oficial do município carioca: “Cidade Maravilhosa / cheia de encantos mil...”), nome de programa de rádio, título de livros. Enfim, no Brasil e no mundo, é automático: “Cidade Maravilhosa” é sinônimo de “Rio de Janeiro”. Um septassílabo por um tetrassílabo, 17 letras por 12. Pois bem: antes da data de 1º de março de 2015, havia dias que a grande Imprensa (rádio, jornal, televisão, “sites”), sobretudo a do Sudeste, vinha fazendo e divulgando matérias sobre o Rio de Janeiro e seus 450 anos. Invariavelmente, a expressão “Cidade Maravilhosa” estava ali, naquelas matérias. “Cidade Maravilhosa” é a expressão-alma que dá “vida” ao nome-corpo “Rio de Janeiro”. O que não vi, não li, não escutei foi a referência, mínima que fosse, a quem é o autor, se não da expressão “Cidade Maravilhosa”, no mínimo seu maior divulgador como perfeita substituta, dublê de corpo e alma do nome “Rio de Janeiro”. Pois o escritor que, em sua época, mais deu expressão à “Cidade Maravilhosa” é um maranhense multitalentoso, de Caxias: Henrique Maximiano Coelho Netto, que surpreendeu e encantou o Brasil em seu tempo com suas dezenas e dezenas de livros e milhares e milhares de textos. Um caxiense talentosíssimo -como o eram os diversos maranhenses, sobretudo escritores, que, individualmente ou com a família, se mudaram para a antiga Capital Federal, o Rio, em especial no século 19. O Maranhão de hoje não sabe fazer jus aos maranhenses talentosos de ontem. O Maranhão não se autorreconhece. Não adotou um pingo de sadia ousadia, de criativa audácia, para (im)por-se em seu lugar no concerto da Federação. Falando no geral, pergunte-se a um estudante maranhense ou a um outro cidadão a escalação do seu time de futebol (geralmente paulista ou carioca) e ele lhe poderá detalhar até como se deram os passos e passes que culminaram no terceiro gol do segundo tempo do primeiro turno do campeonato tal. Genial. Louvável. É o amor ao futebol.


Agora, pergunte-se que (enorme) diferença fez no Brasil ou no mundo escritores, cientistas, artistas e políticos nascidos em muitos casos nas brenhas da hinterlândia maranhense, muitas das vezes com todas e aparentes pré-condições para darem errado na vida, pela soma de fatores socioeconômicos, educacionais, familiares, territoriais... Maranhenses que causariam orgulho aparente, explícito, e não apenas latente, potencial, a cidades como Paris, a países como a França... Mas esses nossos irmãos não mereceram até hoje dos setores Público e Privado um conjunto de ações sistêmicas e sistemáticas, orgânicas e organizadas para, até mesmo, (re)validar nossa “fama” de “Atenas Maranhense” e (re)ativar ou inspirar espíritos conterrâneos para os valores e validade da Cultura, da Arte, da Educação, da Administração, da Economia, do Conhecimento, da Ciência, da Literatura, da (boa) Política. Dá vergonha ou, mais ainda, tristeza, saber o tanto de esforço, tempo, talento e outros recursos que homens e mulheres maranhenses despenderam em nome de uma coisa, em defesa de uma causa. Gente maranhense que tem recebido muito mais reconhecimento e homenagens em solo não maranhense do que na própria terra que o viu nascer. Naquele dia dos 450 anos do Rio de Janeiro o Maranhão poderia estar saudando a antiga capital brasileira em peças publicitárias copatrocinadas, em textos assinados, em matérias jornalísticas, onde se destacasse o talento maranhense ou do maranhense Coelho Netto como autor da expressão “Cidade Maravilhosa” e se resgatasse ou se reafirmasse a identidade ou coirmandade maranhense e carioca, a partir mesmo da enxurrada de ações e realizações de foram agentes os muitos e talentosos maranhenses que tiveram o Rio como segunda terra em sua vida. Poucos estados ombreia-se com o Maranhão na quantidade e qualidade de seus filhos de destaque. MANOEL ODORICO MENDES, escritor, político, tradutor, é o precursor no Brasil da moderna tradução criativa. Sua tradução das obras de Virgílio e Homero são até hoje objeto de estudos e elogios. A UNICAMP e seu Instituto de Estudos da Linguagem têm, permanente, o “Projeto Odorico Mendes”. Odorico Mendes é nome de rua no Rio de Janeiro e é bisavô de Maurice Druon, famoso escritor francês, decano da Academia Francesa, falecido em 2009. TEÓFILO ODORICO DIAS DE MESQUITA, advogado, jornalista, escritor, é patrono da Academia Brasileira de Letras e autor da obra responsável pelo Parnasianismo no Brasil. É caxiense. JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE DE CAUKAZIA PEREIRA, o Sousândrade, escritor vanguardista, formado em Paris, é autor de obra tida como das mais originais e instigantes do Romantismo no Brasil. JOÃO MENDES DE ALMEIDA, advogado, jornalista, líder abolicionista, escritor, foi o maranhense redator da Lei do Ventre Livre e é considerado o jornalista mais completo do Brasil de todos os tempos. A Ordem dos Advogados do Brasil paulista lançou sua obra jurídica. João Mendes mereceu busto e praça com seu nome na maior cidade brasileira, São Paulo, além do nome de seu filho, João Mendes de Almeida Júnior, dado ao fórum paulistano... No Maranhão, quem sabe disso?, quem o estuda?, que escola ou rua ou praça recebe seu nome?, que homenagens lhe são creditadas?, que honrarias lhe são, mesmo pós-morte, atribuídas? É caxiense. ADERSON FERRO, odontólogo, formado em Paris, considerado “Glória da Odontologia Nacional”, autor de obra pioneira nessa Ciência. Quanto ao Maranhão, deixa-nos de boca aberta o desconhecimento e o não esforço para reassumir a maternidade desse ilustre filho, reconhecido e homenageado em outros lugares -mas não aqui. É caxiense.


JOAQUIM GOMES DE SOUSA, o Sousinha, matemático, escritor, tradutor, estudou Matemática e Medicina (em que se doutorou) na Europa. É considerado o primeiro físico e matemático brasileiro e, segundo alguns, o maior matemático do Brasil até hoje. Também surpreendeu a Europa com seus vastos conhecimentos nas ciências dos números e cálculos. HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETTO, eleito “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, além de, desportista e capoeirista que era, entre tanta coisa foi e que legou ao Brasil, estão curiosidades como a de ter sido o responsável pela elevação da capoeira no Brasil e pela criação da palavra “torcida” com o sentido de grupo de adeptos de um time de futebol. Seu filho João, apelidado “Preguinho”, foi o autor do primeiro gol da Seleção Brasileira de futebol em Copa do Mundo. MARIA FIRMINA DOS REIS é considerada a primeira romancista brasileira. Seu primo, FRANCISCO SOTERO DOS REIS, é autor de monumental obra de estudos filológicos (Língua Portuguesa). ANTÔNIO GONÇALVES DIAS é introdutor do Indianismo na Literatura brasileira, autor de decantados livros e dos mais declamados e citados versos da Poesia brasileira: “Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá //...”. Quem canta o Hino Nacional Brasileiro também canta Gonçalves Dias e o Maranhão, pois a mais importante composição musical do país tem versos desse maranhense de Caxias. RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA, magistrado, professor, diplomata, escritor, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, é autor maranhense citado e recitado pela beleza de seus versos e importância dentro do Parnasianismo e Simbolismo brasileiros. CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES é o maranhense pioneiro do estudo do folclore no Brasil, responsável pelo lançamento das bases metodológicas do folclorismo nacional. Embora voltado mais para a poesia popular, seu trabalho se estendeu também pelo teatro, a poesia, a ficção e a crítica. HUMBERTO DE CAMPOS VERAS, escritor, jornalista, político, da Academia Brasileira de Letras, é autor de volumosa obra, conhecida e reconhecida por muito tempo. CATULO DA PAIXÃO CEARENSE (seu pai era do Ceará; sua mãe, maranhense) é o poeta e músico autor do que é considerado o “hino nacional sertanejo”, a poesia e música “Luar do Sertão” (quem não lembra de “Não há, ó gente, ó não, / luar como este do sertão (...)”, música gravada por, entre outros, Luiz Gonzaga, Vicente Celestino e Maria Bethânia. Trata-se da primeira música sertaneja gravada no Brasil -- e o que o Maranhão faz com esta informação, nestes tempos de proliferação da música dita “sertaneja”? Além disso, Catulo, que foi relojoeiro no Rio e parceiro de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, é considerado o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da "modinha", uma espécie de canção espirituosa ou amorosa. E os talentosos irmãos Azevedo? ALUÍSIO TANCREDO BELO GONÇALVES DE AZEVEDO, escritor, diplomata, jornalista, caricaturista, desenhista e pintor, que lançou no Brasil o Naturalismo, com seu romance “O Mulato”, de 1881. ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO, mais velho que Aluísio, dramaturgo, poeta, contista, crítico, jornalista brasileiro, é no Brasil o principal autor do gênero teatral chamado “teatro de revista”, que traz números musicais com sensualidade e comédias com críticas políticas e sociais. Foi o maranhense Artur Azevedo o responsável pela criação da lei que obrigava a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro -- inaugurado, aliás, com uma peça do igualmente maranhense Coelho Netto. Ambos os irmãos moraram no Rio e foram sócios fundadores da Academia Brasileira de Letras.


ADELINO FONTOURA CHAVES, jornalista, ator e poeta, maranhense que é o patrono da cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras. Sua obra precisa ser divulgada, conhecida... ODYLO COSTA FILHO, jornalista, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, chefiou redações de publicações importantes no Rio de Janeiro e São Paulo, sendo responsável pela renovação do jornalismo brasileiro a partir da modernização do “Jornal do Brasil”, hoje extinto. Poucos sabem que Odylo foi primeiro diretor da revista de reportagens “Realidade”, da Editora Abril, empresa da qual também foi membro do Conselho Editorial. CELSO ANTÔNIO SILVEIRA DE MENEZES, caxiense, pintor, escritor e professor brasileiro, considerado um dos maiores escultores do modernismo brasileiro. Amigo de Di Cavalcanti, Cândido Portinari, mereceu os melhores reconhecimentos de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e, entre outros, Otto Lara Resende, que escreveu um manifesto onde escreve, textualmente: “(...) considero um absurdo que até hoje, no final de 1989, um artista do valor e da importância de Celso Antônio não tenha tido ainda o reconhecimento que merece”. E o Maranhão, que faz, que diz? SINVAL ODORICO DE MOURA, magistrado e político, um raro caso de alguém que foi governante de quatro estados no Brasil. É caxiense. Mas tiraram seu nome de uma das mais tradicionais ruas da cidade, a Conselheiro Sinval. RAIMUNDO TEIXEIRA MENDES, cuja luta em prol das causas sociais, a partir do Rio de Janeiro, inundou o país de benefícios, como direitos da mulher, do jovem trabalhador, a hoje FUNAI (Fundação nacional do Índio), a separação Igreja—Estado... Entre tantas “coisas” que fez e foi, é um dos principais nomes do Positivismo (aqui e no mundo) e é autor da Bandeira Brasileira. Não fosse Teixeira Mendes e correríamos o risco de ter, como nossa, a bandeira dos Estados Unidos... pintada de verde e amarelo. Este gigante é caxiense. CÉSAR AUGUSTO MARQUES, múltiplo talento de médico atuante, pesquisador incansável, escritor e historiador, autor de obras inaugurais da historiografia maranhense e brasileira. Caxiense. ANDRESA MARIA DE SOUSA RAMOS, estudada por escritores, sociólogos e antropólogos brasileiros e estrangeiros, é a Mãe Andresa, sacerdotisa de culto afro-brasileiro de renome internacional, última princesa da linhagem direta fon, que comandou durante 40 anos a Casa de Mina em São Luís, até morrer em 1954, aos cem anos de idade. É caxiense. O grande UBIRAJARA FIDALGO DA SILVA, o primeiro dramaturgo negro brasileiro, ator, diretor, produtor, bailarino, apresentador de TV e criador do Teatro Profissional do Negro, reconhecido e homenageado nos grandes centros brasileiros como Rio de Janeiro e São Paulo. É caxiense. Enquanto isso, no Maranhão, quem sabe da existência de tamanho talento, falecido em 1986, no Rio de Janeiro? Quem do Maranhão já patrocinou montagem de suas peças, a edição de seus textos, encenados e inéditos? Qual autoridade bancou uma exposição sobre seus trabalhos, a exibição de documentários sobre Ubirajara Fidalgo, desconhecido em vida pelos caxienses e não reconhecido após a morte, e cuja filha, a cineasta Sabrina Fidalgo, luta pela preservação e divulgação da obra de seu pai e nosso conterrâneo? No Maranhão nasceram CÉSAR FERREIRA OLIVEIRA, “revolucionário constitucionalista” em São Paulo e “Herói da Guerra de Canudos”, e JOÃO CHRISTINO CRUZ, criador do Ministério da Agricultura, agrônomo que fez estudos em outros países e é o presidente de honra da Sociedade Nacional de Agricultura. Os dois, caxienses.


ANTÔNIO CARLOS DOS REIS RAYOL, compositor, tenor, violinista e regente brasileiro, que já aos 13 anos ensinava música, tirou primeiros lugares, foi para a Itália e tem obra ainda a ser, digamos, “popularizada”. Assim também ELPÍDIO PEREIRA, maestro e músico de renome internacional, autor do hino de sua cidade natal, Caxias, estudou e apresentou-se na França e em diversos estados brasileiros. A obra elpidiana é publicada em livro por outros estados. No Maranhão, musicalmente, ninguém (se) toca. JOÃO LOPES DE CARVALHO, pintor e desenhista, que estudou sua arte em Portugal, onde, por seu grande talento, já aos 16 anos, em 1862, foi elogiado por muitos jornais de Lisboa. Sua arte era de tal qualidade que um de seus quadros ele recusou-se a vender, para doar para o Imperador patrono das Artes. É caxiense. JOAQUIM ANTÔNIO CRUZ foi médico, militar e político e participou da demarcação de fronteira do Brasil com a Argentina e votou pela lei que terminou por abolir os castigos corporais nas Forças Armadas. É caxiense. JOSÉ ARMANDO DE ALMEIDA MARANHÃO, teatrólogo, escultor, caricaturista, considerado “A Pedra Angular do Teatro Paranaense”. Estudou na Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, Bélgica e Holanda e teve aulas com nomes notáveis do Cinema e das Artes Cênicas, como Luchino Visconti, Federico Fellini, Roberto Rosselini, Michelangelo Antonionni, Lawrence Olivier, entre outros. É caxiense. Até onde iríamos nesse desfile de grandes nomes maranhenses que em geral nós maranhenses deles pouco sabemos, ou não sabemos? A quantidade de nomes é tal que dobraríamos as esquinas da paciência e testaríamos o limite de páginas de papel e espaços digitais. Ainda assim, ao que parece, maior que o rol de nomes, maior que esse escondido e escuro “hall” da fama, parece ser a desvontade, o desamor, o “nem te ligo” a que o Maranhão submete esses e outros maranhenses. Há, sim, plenas condições (potenciais e a serem construídas) para se reavivar a estrela do Maranhão na constelação de grandes, ilustres, úteis, talentosos nomes que fizeram positiva diferença para este país e lhe ajudou a construir ou fixar a identidade, a brasilidade, a maranhensidade. Naqueles 450 anos do Rio de Janeiro, podemos dizer que o Rio é brasileiro, mas a Cidade Maravilhosa... é maranhense. Essa coleção de nomes forma um patrimônio simbólico, um potencial da Economia Criativa, um capital intelectual fantástico que não pode ser deixado assim, no desperdício, na não recorrência, no esquecimento. Programas, projetos, ações factíveis podem ser desenvolvidos, adotados, para estar permanentemente presentes nas escolas e universidades públicas e, quiçá, particulares do Estado; podem, com o devido “estímulo”, ser pautas permanentes da Imprensa maranhense, brasileira e, até, internacional; podem ser temas de concursos, objeto de estudos, de pesquisas, de obras de estudiosos, pesquisadores, autores, alunos, professores... Enfim, podem saudavelmente ocupar a mente de maranhenses e brasileiros, levando multidões a ampliarem ainda mais o salubre e incontido orgulho de ser maranhense e brasileiro.

(Este réquiem é lançado para pessoas que, como o bíblico Moisés, saibam falar do que outros não falam, saibam enxergar onde outros não enxergam, saibam fazer onde tantos esqueceram...). (EDMILSON SANCHES)


JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS RAMOS O menino que amava pipas Vento forte me leva, Me leva pregado nos palitos E no papel da minha pipa, Me leva e me traz, vento. Não sou papel colorido Não sou cerol nem linha Sou apenas um menino Pela inocência ungido. Vento forte me leva, Me leva pregado nos palitos Não quero “cortes” nem açoites Quero ser levado sem atritos. Não sou papel colorido, Não sou cerol nem linha, Sou apenas um menino, Que ama demais a pipa. Vento forte, me leva. Me leva no corte da linha Não esqueça de me levar Colado no papel da pipa.


TERESINKA PEREIRA

NATAL 2016 Vamos beber o vinho natalino junto aos que amamos desejando que na distância nos celebrem os ausentes. Rompamos o espaço do ar e na pompa do amor exprimamos docemente uma centelha de felicidade porque este sonho que é a vida vale mais que os rubis e diamantes, e até mesmo que o ouro e rosas que recebemos. O Natal é uma poderosa bênção que nos une a todo o mundo em triunfante harmonia. Que este Natal de 2016, seu coração esteja cheio de felicidade!


PARA UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE POETAS NASCIDOS NO TERCEIRO TRIMESTRE [...] Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis[...] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011 Ao decidir-me pela construção de uma antologia que comportasse literatos ludovicenses – nascidos na cidade do Maranhão e/ou que tiveram sua vida ligados à São Luís – os Confrades da Academia Ludovicense de Letras fizeram algumas restrições. Primeira, que uma Antologia da Academia Ludovicense deveria conter apenas literatos à ela ligados... segunda, de que apenas os nascidos na capital do Maranhão... terceira, que deveria se começar pelos Perfis Acadêmicos... Já havia iniciado o levantamento, haja vista que até aquele momento não tínhamos ainda formada a Comissão encarregada, um dos primeiros ‘protestos’ pela obra que se iniciava, e que seria muito cedo... idéias que não compartilho. Então, é uma obra de dupla mão – a que atenda ao Estatuto e Regimento Interno, e submetida à apreciação da Comissão, no que já foi feito, e um trabalho que farei enquanto pesquisador, e, já decidido, terá a chancela da ALL, mas não será dela: o organizador sou eu! Assim, teremos pelo menos sete volumes, assim distribuidos: - Volume I - Antologia da ALL, Perfis Acadêmicos – Fundadores; já publicado; - Volume II – Antologia da ALL, Perfis Acadêmicos – Primeiros Ocupantes. Este volume só será possível concluir quando as 16 cadeiras restantes foram ocupadas; na ALL – como em todas as Academias de Letras, seguindo a tradição da Academia de França – são 40 (quarenta) Cadeiras; 25 (vinte e cinco) preenchidas no momento da fundação, restando 15 a serem complementadas, destas, sete já têm os primeiros ocupantes; e já tivemos o falecimento de um dos fundadores, além de algumas baixas: a não tomada de posse dentro do prazo regulamentar... Os volumes seguintes serão trabalho independente, como já dito, sendo: - Volume III – Os Ludovicenses – uma antologia, que abrigará literatos nascidos em São Luís, e que pertencem aos quadros da ALL – patronos, fundadores, primeiros ocupantes, até o ano de 2014; - Volume IV – Os Atenienses – literatos nascidos em São Luis, mas que não fazem parte da ALL, pertencendo a outras instituições culturais-científicas – AML e IHGM – e a alguns dos movimentos literários que se formaram na cidade, principalmente a partir da década de 30, século passado, até o momento atual. Este, dividido em dois volumes... - Volume V – Mulheres de Atenas – volume destinado apenas às literatas – exigencia das senhoras Confreiras, que desejam estar em destaque; não é um movimento separatista, pelo menos de parte do sexo masculino da ALL, mas como com elas não se discute... como são poucas, em relação aos homens, em um unico volume estarão aquelas ligadas à ALL, e a outras instituições/movimentos, nascidas ou não em São Luis, mas com sua vida literária ligada à cidade... - Volume VI – Alhures – volume dedicado àqueles literatos ligados à cidade de São Luís, mas que não nasceram nela... mesmo assim, Atenienses... Uma advertencia: “Escrevi para aprender”102. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18

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construção103, constituíram-se em importantes fontes as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Buscou-se mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhi informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sitios particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Cadeira 21 – ALL Cadeira 40 - IHGM

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SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão.


CLODOMIR SERRA SERRÃO CARDOSO 29 de dezembro de 1879 /31 de julho de 1953104 Nasceu em São Luis em 29 de dezembro de 1879; faleceu no Rio de Janeiro em 31 de julho de 1953; foi um jurista, político e escritor. Filho de José Pereira Serrão Cardoso e de Maria Benjamim Serra Cardoso. Estudou no Liceu Maranhense e na Faculdade de Direito do Recife, onde se bacharelou com distinção em 1904. Depois de formado retornou à terra natal, onde se estabeleceu como advogado e passou a atuar como jornalista, havendo, nesse período, atuado como promotor público na comarca de Maracanã, no Pará, Ingressa na política no grupo liderado pelo senador Manuel da Costa Rodrigues, que fazia oposição ao governador do Maranhão, Benedito Leite. Em 1908 foi eleito deputado estadual e, depois, foi secretário estadual de fazenda. Em 1917 foi eleito prefeito de São Luís, tendo sido sua maior realização a substituição dos lampiões de gás por iluminação elétrica. Este fato está registrado no romance Degraus do Paraíso, de Josué Montello. Em Coroa de Areia, romance de Josué Montello, Clodomir Cardoso aparece como personagem da história, quando recebe, no Senado, Aglaia, personagem de ficcção, que vai pedir a intercesseção do Senador pela soltura de seu marido, que estava preso como participante dos movimentos políticos da década de 30. Nesta parte do livro, o romancista transfere para sua personagem a descrição física do Senador, baseada na imagem que o autor guardava de Clodomir Cardoso caminhando pelas ruas de São Luis, capital do Maranhão. Foi membro fundador da Academia Maranhense de Letras, tendo ocupado a cadeira que tem Joaquim Serra como patrono. Seu sucessor foi o poeta Odilo Costa Filho. Foi professor fundador da Faculdade de Direito do Maranhão. Participou como redator e diretor do jornal A Pacotilha, sob a liderança de Fran Paxeco. Em 1925 foi eleito deputado federal pelo Maranhão, e como deputado participa dos debates sobre o mandado de segurança e apresentou projeto de lei sobre o assunto, após a reforma constitucional de 1926, que pôs fim à doutrina do habeas corpus, que consistia na ampliação do habeas corpus para amparar direitos que não o de ir e vir. O mandado de segurança foi incorporado à Constituição de 1934. Apresentou projeto de lei sobre sociedades anônimas, que foi aproveitado pelo jurista que mais tarde redigiu o texto, que foi outorgado como decreto-lei. Em 1936, foi eleito senador, havendo sido, nessa ocasião, vicepresidente do Senado Federal. Governou o Maranhão em 1945, como interventor federal, e em 1946 foi eleito senador, quando participou ativamente dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou e promulgou a Constituição de 1946. No Senado pronunciou muitos discursos, entre os quais o discurso de orador oficial no centenário de Rui Barbosa e o discurso que fez contra a cassação dos mandatos dos deputados e do senador comunista em 1947. Escreveu numerosos trabalhos jurídicos e literários, dos quais destaca-se o ensaio que publicou em 1926 sobre Rui Barbosa. Casou-se em 1908 com Cecília Ribeiro, filha do industrial Cândido Ribeiro, e com quem teve cinco filhos. Faleceu no Rio de Janeiro e foi sepultado no Cemitério São João Batista, naquela cidade. Bibliografia Repertório Biográfico dos Senadores (1828-1988), Senado Federal (4 volumes); Dicionário HistóricoBiográfico da Fundação Getúlio Vargas; Jornal do Comércio, Rio de Janeiro 1º de agosto 1953; O Globo, Rio de Janeiro, 1º de agosto de 1953 Trabalhos Publicados Antônio Lobo. In pacotilha. 04/07/1916. São luiz. A municipalidade de São Luiz. Tip. Teixeira, MA, 1916. A debênture num concurso de credores. J. Pires, 1917. 104

http://pt.wikipedia.org/wiki/Clodomir_Cardoso


Jubileu de r. Barbosa. Tip. Teixeira, MA, 1918. A defesa de um casamento arguido de inexistente. J. Pires, MA, 1919. Liberdade e profissão. J. Pires, MA, 1920. Dois discursos. Tip. Do \'jornal do commércio\', RJ, 1922. O dr. Pedro lessa. Tip. Do \'jornal do commércio\', RJ, 1922. A condição política da mulher em face constituição. Tip. Do \'jornal do commércio\', RJ, 1925. Habeas corpus. Tip. Do \'Jornal do Commércio\', RJ, 1925. Os amores de Gonçalves Dias. Correio da manhã, RJ, 27/05/1927. Joaquim serra. Correio da manhã, RJ, 27/05/1938. Ao Maranhão (O São Luiz). São Luiz, 4/12/1945. RUI BARBOSA Rui Barbosa falava em nome de leis inelutáveis, pelas quais se rege o destino das instituições. Mas, ao passo que o país acolhia e conservava, na atmosfera dos ideais coletivos, a palavra quente de animação do propagandista imcomparável, o governo, estranho a esses ideais, insulado no seu egoísmo, irritava-se com o ardor das advertências que lhe chegavam e, mal as acabava de ouvir, já delas se deslembrava. No seio de certos governos, a verdade tem a sorte dos raios do sol na aridez da superfície lunar, onde a atmosfera que a envolve, se é que existe ali alguma atmosfera, não tem a virtude de os temperar, no rigor da sua atuação, e de obstar, na sua ausência, pela retenção do calor absorvido, à dureza de um contrate entre duas temperaturas extremas. A fatalidade da sua situação afundava o governo imperial nesse erro selenocentrico, de que todos os governos acabam por ser vitimas, imaginando-se capazes de levar os povos a gravitarem em torno do seu poder. E a federação veio contra a coroa e sem ela...


ARNALDO DE JESUS FERREIRA 105 6 de outubro de 1904 # 13 de outubro de 1958 Nasceu em São Luis a 6 de outubro de 1904. Fez seus estudos nessa cidade e ao mesmo tempo começou a trabalhar no comércio, na firma de seu pai. Ao lado das atividades comerciais não descuidava da literatura, sua princxipal fonte de leitura, o que o fez até os 54 anos, quando faleceu. Possuiu a maior biblioteca particular de São Luis. Exerceu a presidência da ACM em varuios mandatos, e ocupou divrsas diretorias. Concluiu ocurso de Contador e passou a sócio-proprietário de uma nova empresa de seu pai. Escreveu obras sobre economia política, publicadas em São Luis e em Paris, e sob o psudonimo de João Maranhense, militou na imprensa nos jornais O Imparcial, O Combare, Diário do Norte, Diário de São Luis, A Pátria, O Globo, Tribuna, Jornal do Povo e em revidstas, como a da AML e do IHGM, com temas literários, históricos, econômicos, geográficos e artistiscos; participou de entidades acadêmicas, artísticas, jornalísticas, e educacionais. Ocupou a cadeira 27 da AML; membro da Sociedade de Cultura Artistica do Maranhão – SCAM; e consultor tecnico do Diretorio Regional de Geografia. Na historiografuia maranhense deixou trabalhos de valor como: Jesuitas no Maranhão e Grão-Pará; Noticiais sobre frei Custodio de Lisboa; Os problemas maranhenses; Alcantarenses do século XVII na Companhia de Jesus; Dias Carneiro e Sousa Bispo; Atualidade de Vieira; Ravardiere e outros. Foi o primeiro presidente da Federasção do Comercio do Maranhão, criou o Conselho de Contribuintes do Estado; foi Secretário de Fazenda e Produção; Presidente do Banco do Estado em vários governos; participou da administração da Junta Comercial do Maranhão; da Legião Brasileira de Assistencia; da Justiça do Trabalho, do Centro Caixeiral, do Sindicato do Comercio Atacadista de Generos Alimenticios de São Luis, da Associação dos Empregados do Comercio de São Luis, do Asilo de Mendicidade, dos Conselhos Deliberativos do SESC e do SENAC, onde foi preasidente regional. Faleceu em 13 de outubro de 1958. DIAS CARNEIRO106 Fazendo parte de um parlamento em que a oratória era dom dos mais apreciados, Dias carneiro não tinha, no entanto, aquela retumbancia de frases tão ao sabor da época. Era, porém, sincero e seguro no falar e possuía bastante clareza na exposição do seu raciocínio. Seus dircursos visavam sempe assuntos práticos ou econômicos e servem, ainda hoje de subsidio aos estudos de historia pátria pelos ensinamntos que deles se podem tirar. Utilizando a tribuna, abordou”a tendência do governo para se tornar grande industrial e pleiteou a conservação do histórico quartel do Alecrim”, em Caxias. Ventilou outras questões de importância e, em 1887, tratou dos melhoramentos dos portos d São Luis, Caxias, e Codó e da desobstrução e navegabilidade dos rios do Maranhão. [...] Em Caxias, organizou e fundou a “Companhia Prosperidade Caxiense”, com o captal de 80 contos, para construção da ponte de madeira sobre o Itapecuru, no mPorto Grande, ligando os três distritos da cidadse, obra que ainda chegou aos nossos dias. Incorporou a “Compoanhia Industrial Caxiense”, primeira fabrica de tecidos construída na província, com capital de 400 contos, trabalhando, inicialment, com 50 e, mais tarde, aumentada para 125 tearres, a fim de atender às encomendas de outras províncias. E inaugurou a “Companhia União caxiense, outta fábrica de tecelagem, com capital de 850 contos. Foi, desse modo, o pioneiro da industria têxtil no Maranhão. (Dias Carneiro e Sousa Bispo)

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OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 106 MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 229-231


LUIS DE MORAIS REGO 107 28 de outubro de 1906 # 09 de janeiro de 1987 Nasceu em 28 de outubro de 1906 em São Luis, filho de João Maria Moraes Negro e Custodia Veloso de Moares Negro. Fez o primário na Escola Modelo Benedito Leite; ingressou depois no Colégio Rosa Castro onde formou-se professor normalista. Diplomou-se Farmaceutico Quimico na Escola de Farmácia do Maranhão (1926), logo se iniciando no Magistério. Em 1933 foi aprovado em concurso federal para Inspetor Fiscal (Belém), e logo depois no concurso de catedrático de Ciências Físicas e Naturais do Liceu Maranhense. Em 1934, junto com o Dr. Luis Viana fundou o Colegio São Luis, por onde passaram várias gerações de maranhenses. Além de professor do Liceu e do São Luis, lecionou nos Colégios Rosa Castro, Santa Teresa, Centro Caixeiral, Cysne, Gilberto Costa, Academia do Comercio do Maranhão, deste foi um dos fundadores; Escola Tecnica Federal do Maranhão (hoje, Instituto Federal de Educação, Ciencia e Tecnologia do Maranhão – IF-MA), de onde foi professor e técnico em Assuntos Educacionais, da Escola de Farmácia do Maranhão, da Faculdade de Agronomia do Maranhão, e da faculdade de Filosofia de São Luis, onde contribui para sua fundação em 1952. Ocupou muitos cargos públicos e desempenhou funções de relevo na área da educação; foi Inspetotr Regional do Ensino Comercial nos estados do Maranhão e Piauí; Diretor geral de Instrução Pública; Secretário de Educação e Culturam do Estado; Presidente da Fundação Paulo Ramos; Diretor da Escola Normal do Estado, onde empreendeu verdadeira revolução pedgógica. Foi membro fundador do Conselho Estadual de Educação, de sindicatos e associações de profissionais do ensino, do Conselho Regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, e outros. Sócio da Academia Maranhense de Letras, ocupando a cadeira no. 4; do IHGM, tendo presidido por muito tempo ambas instituições. Publicou: Meu desejo de ser útil; Questões de Educação; e Nossa sociedade e a nossa Educação; Nova Escola; Nova Educação; educação e Ensino; Cultura e Educação; Um estudo sobre classificação. Escreveu muitos artigos publicados na imprensa local e em revistas educacionais. Faleceu em São Luis em 09 de janeiro de 1987. Vaz (2009) divulgda:

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publicou em seu Blog a passagem do prof. Luis Rego pelo futebol, fase pouco

Futebol para Luiz Rego começou muito cedo; ele fazia parte das peladas da Praça Antônio Lobo, em companhia de Antônio Frazão, José Ramos, Júlio Pinto, Marcelino Conceição, Totó Passos, Fernando Viana, e outros. Jogava na ponta canhota e muitos candieiros de gás andou quebrando com seus violentos petardos. Luiz Rego nunca se esqueceu daqueles tempos de peladas, lembrando que os treinos aconteciam no corredor de um sobradão da Rua da Cruz, entre a rua do Alecrim e Santo Antônio, sob a luz de uma lamparina, às 4 horas da madrugada. Nessa época, tinha 14 anos de idade. Na Escola Normal, jogava no Espartaco, um clube formado exclusivamente por alunos daquele estabelecimento de ensino; seus colegas eram Oldir, Valdir Vinhaes, Carlos Costa, José Costa, José Ribamar Castro, Jaime Guterres, Peri Costa, e outros. E como adversário do Espartaco apareceu logo depois o “João Rego”, clube formado por Antônio Lopes, que contava com Frazão, Penaforte, Aragão, Clodomir Oliveira e Luiz Aranha. Quando passou para a Escola de Farmácia, mudou para o time dessa escola, formando com Milton Paraíso, Chareta e Frazão.

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OSTRIA DE CAÑEDO, Eneida Vieira da Silva; FREITAS, Joseth Coutinho Martins de; PEREIRA, Maria Esterlina Mello; e CORDEIRO, João Mendonça. PATRONOS & OCUPANTES DE CADEIRA. São Luís: FORTGRAF, 2005 108 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. RECORDAR É VIVER – LUIS DE MORAES REGO. In Blog do Leopoldo Vaz, quinta-feira, 05 de novembro de 2009, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/11/05/recordar-e-viver-luis-demoraes-rego/


Em 1927, quando terminou a Escola de Farmácia, o endiabrado crack passou a ser o respeitado Professor Luiz Rego. Foi diretor da Escola Normal entre 1932 e 1936, tendo sido dono da parte da educação no Governo Paulo Ramos (Diretor de Instrução Pública). A fundação de seu colégio data de 1935. No Colégio de São Luiz sempre cuidou do esporte. Incentivava a prática de jogos, organizava clubes e embaixadas esportivas, que muitas das vezes saiam de São Luís a fim de fazer grandes apresentações em outras plagas vizinhas. Graças à disposição do Professor Luiz Rego, o Colégio de São Luiz formou destacados valores do nosso esporte, dentre os quais podem ser citados Rubem Goulart, José Rosa, José Gonçalves da Silva, Luiz Gonzaga Braga, Valber Pinho, Celso Cantanhede, Americano, Sales, David, Ataliba, Tent. Paiva, Rui Moreira Lima, e muitos outros. Inclusive Dimas, que foi aluno, e depois, professor do Colégio de São Luiz … O PROFESSOR QUE A ESCOLA EXIGE PARA FORMAR INDIVIDUOS UTEIS109 Mas a escola falhará nos seus elevados desígnios e bons propósitos se não apresentar o professor com a capacidade precisa à função de ‘agente da sociedade’. A responsabilidade do feliz resultado da educação da criança cabe ao educador. [...]Precisamos na verdade de professores. Não de professores empregados públicos, mas de indivíduos identificados com a profissão, que a exerçam com dedicação e honestidade. E não sejamos insinceros fingindo ser o que não representamos. Não necessita o Maranhão, o Brasil, de professores sábios, mas que saibam ensinar. “O bom cidadão não é o que mais sabe; é o que sabendo melhor, melhor age”. [...] O profesor não deve ser talhado sob um padrão, estandardizado, quando a escola, respeitando a personalidade da criança, respeita também a do mestre. [...]

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MEIRELES, FERREIRA, VIEIRA FILHO, 1958; 2008, obra citada, p. 236-238


LUIS CARLOS BELLO PARGA110 BELLO PARGA 20 de dezembro de 1928 # 13 de maio de 2008 Filho de Lauro Nina Parga e de Gilda Belo Parga, formou-se contabilista pela Escola Técnica Federal de São Luís em 1946 e ingressou no Banco do Brasil em 1951. Membro do Conselho de Cultura do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras, foi jornalista e diretor de O Estado do Maranhão, jornal pertencente à família Sarney. Em 1948 filiou-se à UDN e lá permaneceu até a outorga do bipartidarismo em 1965 pelos militares quando optou pela ARENA. Em Brasília foi assistente do secretário particular da presidência no governo Humberto de Alencar Castelo Branco (1964-1967) até retornar ao Maranhão para assumir a presidência do banco do estado por nomeação do governador José Sarney. Ainda em seu estado presidiu a Companhia de Desenvolvimento Mineral e depois foi diretor do Banco do Nordeste do Brasil e superintendente regional do Banco do Brasil. Eleito segundo suplente na chapa de José Sarney em 1978, optou pelo PDS no retorno ao pluripartidarismo e integrou o diretório estadual da legenda. Presidente do Conselho de Ética e Disciplina Partidária, apoiou a chapa Tancredo-Sarney na sucessão de Figueiredo. Com a renúncia de José Sarney para assumir o Palácio do Planalto e a de Américo de Souza para ocupar uma cadeira no Tribunal Superior do Trabalho, foi efetivado. [1] Filiado ao PFL foi eleito suplente de Alexandre Costa em 1986 e 1994, exercendo o mandato quando o titular foi Ministro da Integração Regional no governo Itamar Franco e quando o mesmo se afastou para tratamento de saúde. Após a morte de Costa foi efetivado em 1998 abandonando a política ao final do mandato. Neto de Herculano Parga, governador do Maranhão (1914-1917). Poeta de cunho modernista111, fez parte do Grupo Ilha, de São Luis, liderado por José Sarney e Bandeiras Tribuzzi. Integrou o conselho editorial da revista Ilha, porta-voz do grupo, que pregava as ideias pósmodernistas da geração de 1945. Suas poesias esparsas foram publicadas em jornais e revistas literárias de São Luis e Fortaleza. Dedica-se atualmente (1993) a verter para o português líricas da língua inglesa. Tem inédito o livro de poesia Lira destemperada e Auto dos pastores de Belém (teatro); e em preparo, Lira alheia, traduções. Sobre a fundação de São Luís112: "Pode-se chegar a ela por qualquer uma das pontas da estrela cardeal. Basta atravessar a água. Não é preciso bússola...".

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Bello_Parga MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 112 Os nativos tupinambás chamavam-na Ipaun-acu. Sobre a Ilha de São Luís, capital maranhense, o poeta Bello Parga declarou: "Pode-se chegar a ela por qualquer uma das pontas da estrela cardeal. Basta atravessar a água. Não é preciso bússola...". Fonte consultada: Almanaque Abril 2001 Brasil. São Paulo, Abril, 2001. http://www.aticaeducacional.com.br/htdocs/secoes/datas_hist.aspx?cod=537 111


UBIRATAN PEREIRA TEIXEIRA

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14 de outubro de 1931. Professor, crítico de arte, jornalista, ficcionista, diretor e autor de textos teatrais. Integrante de importantes movimentos culturais de São Luís, nas décadas de 1950/60 participou da SCAM – Sociedade de Cultura Artística do Maranhão, do Centro Cultural Graça Aranha, fundou grupos de teatro e ministrou cursos de corpo, voz e história do teatro. Trabalhou em diversos jornais de São Luís, entre os quais, Pacotilha/O Globo, Diário do Norte, Jornal do Dia, Jornal de Bolso. Atualmente trabalha em O Estado do Maranhão, onde publica uma crônica semanal. Foi por muitos anos funcionário da Televisão Educativa onde exerceu várias funções entre as quais produtor de programas culturais, professor de TV e diretor de programas. Na infância assiste a espetáculos de circo e operatas levado pelo pai de criação. Na adolescência descobre que seu pai biologico Ubiratan Filho dirigia um grupo de teatro na cidade, e incentivado pelo tio Floriano Teixeira passa a paricipar do grupo de teatro do pintor J. Figueiredo, chamado Teatrinho dos Novos onde ficou durante três anos, quando o grupo se desfez. No Teatrinho dos Novos, estréiou no espetáculo No Reino das Sombras de Kleber Fernandes, interpretando um velho ancião. Com o fim do Teatrinho dos Novos, o velho Bira, passa por vários grupos teatrais da cidade como ator, contrarregra, ponto, entre outras atividades até ser convidado pelo médico e escritor João Mohana para participar do Teatro de Ação Católica da Arquidiocese de São Luís, onde assume a função de diretor da peça A Comédia do Coração do pernambucano E. de Paula Gonçalves, cuja qualidade técnica leva o ministro Paschoal Carlos Magno doar para Ubiratan uma bolsa de estudo em direção teatral na Itália, em 1954, onde estuda com Frederico Fellini no Instituto de Arte Dramática Pro Dei, em Roma, e, com Sílvio D’ Amico no Piccolo Teatro di Millano, em Milão. Na sua estad em Milão participa da montagem da peça Nostro Milano, dirigida por Giorgio Streller. De volta à São Luís retoma seus trabalhos Teatro de Ação Católica onde encena: - O Processo de Jesus de Diego Fabri; - A Via Sacra de Henri Ghéon; - Sibita e o Dragão de Lúcia Benedetti; - Os Inimigos não Mandam Flores de Pedro Bloch; - A Revolta dos Brinquedos de Pernambuco de Oliveira. Ao sair do Teatro de Ação Católica para continuar seus estudos de educação formal funda grupos pelos cursos onde passa e dar aulas de História do Teatro e de Interpretação no Teatro Experimental do Maranhão. Em 1995, após aposentadoria da TVE, junto com amigos funda a Associação Cultural e Beneficiente do Teatro Popular do Brasil que viabilizaria o grupo Ensaio Geral, produzindo as seguintes peças teatrais: 1995 – Natal na Praça de Henri Ghéon; 1997 – O Mistério da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo de Michel Ghelderode; 1998 – Lisístrata de Aristófanes; 113

MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 https://www.skoob.com.br/autor/1135-ubiratan-teixeira UBIRATAN TEIXEIRA - A poesia do cotidiano e a verve irônica de um cronista genial. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina635.htm, acessado9 em 08/05/2014 O ABANDONO DA VIDA BOÊMIA E UM CASAMENTO QUE JÁ DURA 100 ANOS. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina636.htm, acessado9 em 08/05/2014 Ubiratan Teixeira (II) - Um Mestre do Conto Moderno. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina634.htm, acessado9 em 08/05/2014 HTTP://JOSENERES.BLOGSPOT.COM.BR/2011/10/UBIRATAN-TEIXEIRA.HTML HTTP://HISTORIADOTEATROMARANHENSE.BLOGSPOT.COM.BR/2011/10/UBIRATAN-TEIXEIRA.HTML HTTP://MARANHARTE.BLOGSPOT.COM.BR/2011/10/PEDRA-PRECIOSA-UBIRATAN-TEIXEIRA.HTML


1999 – A Capital Federal de Arthur Azevedo; 2003 – Natal na Praça Henri Ghéon (com atores da cidade de Colinas). O grupo realizou ainda cursos e oficinas de corpo, voz e história do teatro e a leitura pública do texto de Oswald de Andrade “O Rei da Vela”. A novela Vela ao Crucificado em escrita em 1979, de sua autoria foi adaptada e encenada pelo escritor e diretor de teatro Wilson Martins com os grupos: Teatro Popular do Maranhão (1980) e Teatro Operário do Maranhão (1985). A novela também, foi adaptada para o cinema pelo cineasta Frederico Machado em 2009. Atualmente, além, de escrever diariamente no jornal O Estado do Maranhão é sempre convidado para participar de comissões de júri de festivais de teatro e cinema, seleção de obras e artistas em salões, mostras e encontros de arte e seleção de obras literárias em São Luís e no estado do Maranhão. O velho Bira não para, entre os seus projetos está uma coletânea sobre a obra do dramaturgo, novelista e romancista Fernando Moreira e duas coletâneas sobre suas crônicas em jornais uma sobre teatro e a outra sobre a vida cultural e política do estado. Obras sobre teatro publicadas: 1970 – Pequeno Dicionário de Teatro. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão. 1980 – Caminho sem Tempo (farsa/tragédia/musical). São Luís: SECMA/SIOGE. 1987 – Bento e o Boi (teatro). São Luís: SIOGE. 1989 – O Teatro que eu Vi e o Espetáculo que eu Fiz (ensaio). São Luís: Academia Maranhense de Letras. 1992 – Búli-búli (teatro infantil). São Luís: Academia Maranhense de letras. 2005 – Dicionário de Teatro (reedição). São Luís: GEA. Tem a seguinte obra inédita em teatro: O Bequimão Prêmios: 1979 – Prêmio Arthur Azevedo do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís pela obra Caminho sem Tempo. Um dos principais ficcionistas maranhenses da atualidade, Ubiratan Teixeira é autor de obra contística que inclui algumas das melhores realizações desse gênero entre nós. Bibliografia: a) contos: Sol dos navegantes. São Luís: Func, 1975; Histórias de amar e morrer. São Luís: Sioge, 1978 (Prêmio Domingos Barbosa, da AML); Vela ao crucificado. São Luís: Sioge, 1979,Pessoas.Prêmio Cidade de São Luís, FUNC, 1998. b) novelas: O banquete. São Luís: Sioge [1986]; A ilha. São Luís: Func, 1998 (Prêmio Graça Aranha, do XXIII Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 1997). c) outros: Pequeno dicionário de teatro. São Luís: Dep. de Cultura do Estado, 1970 – ampliado e reeditado pelo Instituto GEIA em 2005 ; Educação artística para o 1º grau. São Luís: Secretaria de Educação, 1975; Caminho sem tempo (farsa tragédia musical). São Luís: Secma/Sioge, 1980 (Prêmio Artur Azevedo, do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís-1979); Bento e o boi (teatro). São Luís: Sioge, 1987; O teatro que fiz; o espetáculo que vi (depoimento). São Luís: Edições AML, 1989; Búli-búli (história infantil). São Luís: Edições AML, 1992. Obras Publicadas114: 1970 – Pequeno Dicionário de Teatro. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão. 1975 – Sol dos Navegantes (contos). São Luís: FUNC. 1978 – Histórias de Amar e Morrer (contos). São Luís: SIOGE. 1979 – Vela ao Crucificado (novela). São Luís: SIOGE. 1980–Caminho sem Tempo (farsa/tragédia/musical). São Luís: SECMA/SIOGE. 1987 – Bento e o Boi (teatro). São Luís: SIOGE. 1989 – O Banquete (novela). São Luís: SIOGE. 1989 – O Teatro que eu Vi e o Espetáculo que eu Fiz (ensaio). São Luís: Academia Maranhense de Letras. 114

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1992 – Búli-búli (teatro infantil). São Luís: Academia Maranhense de letras. 1998 – Pessoas (conto). São Luís: FUNC. 1998 – A Ilha (novela). São Luís: FUNC. 2005 – Dicionário de Teatro (reedição). São Luís: GEA. 2009 – Labirinto (romance). São Luís: Editorial SECMA. 2010 – Vela ao Crucificado (reedição acrescida de roteiro para teatro de Wilson Martins e para cinema de Frederico Machado. São Luís: SECMA. 2010 – Diário de Campo (crônicas). São Luís: Ética Editora. Tem as seguintes obras inéditas: O Bequimão (teatro), O Alçapão da Ilha (romance) e O Sônio (novela). Ao longo da sua carreira recebeu os prêmios: 1976 – Prêmio Academia Maranhense de Letras pela novela O Sônho. 1978 – Prêmio Domingos Barbosa da Academia Maranhense de Letras pelos contos Histórias de Amar e de Morrer. 1979 – Prêmio Arthur Azevedo do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís pela obra Caminho sem Tempo. 1997 – Prêmio Graça Aranha do XXIII Concurso Literário e

VIDA LONGA AO "CURTA" - TEXTO DE UBIRATAN TEIXEIRA 115 "Passei o fin da ùltima semana respirando o ar menos contaminado dos Lençóis Maranhenses, no portal da região que é Barreirinhas - indo daqui pra là, bando de quizilhentos. Não fui mergulhar nas lagoas naturais nem me lambrecar de areia ou cavalgar de "toyota" pelas dunas (prática de outros lençóis de areia neste não permitida), mas participar do primeiro "Curta Lençóis", criação desse lírico desvairado que é Euclides Moreira Neto, Diretor do Departarnento de Assuntos Culturais - DAC - da Universidade Federal do Maranhão. Um rendez vous despido das tradicionais lantejoulas de brilho efêmero, aquele que faz o prato cheio dos paparazis da vida; neste presente, a fonte de luz brotava mesmo era da cabeça de cada participante que ancorou no encontro esbanjando idéias malinas de hlcidas linguagens, trazendo para 0 grupo ali reunido um Brasil que nao lula. Nomes inteiramente desconhecidos para a imprensa do descartavel, personalidades que fazem a diferença e conferem sentido e dignidade à linguagem cinematogrâfica, criadores de fomo e fogao coma Marcio Cavalcante, May Waddington, Aurora Miranda, Euzébio Zloccowck, Mârcia Paraiso, Carlos Normando, Ana Paula, os mais diferentes e autênticos sotaques deste pais continental, dos pampas aos carrascais nordestino, responsáveis por esse magnífico encontro de pequenas obras-primas que nem o mais isento e frio analista pode deixar de vibrar e aplaudir, como o caso do delicado trisquinho de bom gosto que foi o A última gota, um minimal de um minuto e cinco segundos de duração sintetizando o que será a angùstia de todo um planeta quando o último pingo d'água se evaporar da face da terra. Por que instalar um evento dessa dimensão num sítio tão distante da última sala de projeção do planeta, onde a comunidade nunca viu um cinema, onde os jomais diários impressos nunca chegarn, afastada milhares de léguas da última banca de revistas, com apenas dois canais de televisão com imagem xué, devem questionar os ansiosos. É que Barreirinhas existe - e como! É como deve ter pensado corn lucidez o fofo diretor do DAC da Universidade Federal. E em termos universais tem o mesmo peso ecológico dos Alpes Suiços e das cataratas do Niágara ou dos Parques Temáticos do Kenya. Levando este lúcido grupo de realizadores até essa banda do litoral maranhense (hoje acuada por investidores sedentos de euros e dóIares), Euclides Moreira Neto tenta reunir preciosas parcerias que possarn discutir (de forma politicamente isenta e lúcida a região que já começou a ser violentada de diferentes maneiras; quer saber como e sentir uma beiradinha insignificante? Pela manhã não se toma mais café corn beiju, mas corn tapioca, a galinha caipira desapareceu das mesas de refeição, a "cozinha" vai se sulificando (se tem maranhensidade por que não haver sulificação?) 0 sorvete que se consome é da "Quibon", pouca gente sabe o que sarrabulho, rebuçado não existe mais, a linguagem perdendo o vocabulário nativo e até mesmo nosso bom sotaque - na terra onde o buriti abunda, você não encontra um doce de buriti decente e se quiser se deliciar corn um autêntico, legítimo e saboroso picolé de juçara, tem que vir na minha casa. 115

Ubiratan Teixeira - O Estado do Maranhéao , página 6 do caderno Alternativo do dia 20 de junho de 2008. Disponível em http://delirioplaneta.blogspot.com.br/2008/06/vida-loga-ao-curta-ubiratan-teixeira.html


Com tanta e poderosa manifestação nativa que certamente ainda persiste na comunidade e vizinha ao boi de Morros e ao de Axixá, o que foi trazido por um estabelecimento de ensino local para encerrarnento festivo do evento? Uma roda de capoeira. Instalando-se em Barreirinhas e enfocando questôes ambientais como as discutidas por Mârcio Sérgio no seu bem produzido Entre os lençois, Marilia de Laroche com um lùcido 0 Mundo em maus Lençóis, Weber Santana mostrando até onde vai nossa irracionalidade corn Rio ltapecuru, Aurora Miranda confirmando-se em Coraçâo Raiz, é possivel que o sistema ainda possa pora a mão na consciência (se é que exista algum político comprometido corn causas justas e tenham consciência racional) e repensar alguns dos prograrnas de palanque traçados à revelia do bom senso. Não estou entrando no mérito da discussão dos ecologistas que questionarn, com ira justa, a construçao da MA 402, talvez a rodovia mais confortável e mais bem conservada de toda a malha viária maranhense - mas o leitor já tentou enfiar um piercing infeccionado no lugar errado do seu corpo? Nem quero questionar o Ibama, impotente e acovardado diante da multidão de carteiradas de que deve ser vítima (ou mesmo pegando por baixo dos panos a sua "parte"), que se faz de cego e mouco diante das mansões que vão sendo construidas de forma inadequada às margens do rio Preguiças, as "avoadeiras" vomitando óleo desvairadamente na via fluvial (já não se consome o bom e saudável peixe da região, morto ou enxotado pela intervenção estranha), nem a inevitável instalação da plataforma de exploração de petróleo que a Petrobrâs fará dentro de mais algumas semanas para aproveitar a fartura do produto entranhado nas falésias por baixo da bacia sedimentar da região (eu trabalhava na Petrobrás nos anos 60 do século passado, e num certo fim de tarde, batendo corn os nós dos dedos sobre um mapa do litoral maranhense, mister Bus, chefe da Schluinberger no Maranhão me falava de modo profético: "Jomalista; dentro de poucos anos, quando o petróleo de em cima estiver se esgotando, os conterrâneos vão mudar a paisagem de vocês igualzinho como fizeram com a Venezuela." – Não é agora que estão sacando que a bacia de Barreirinhas está afogada no ouro negro: Tio Sam já sabia, a empresa francesa de prospecção sísnica já sabia, os grandes cartéis sempre souberam. Donde devemos curtir Lençóis enquanto estiver curtível: inclusive corn o "Curta Lençóis", esta boa e saudável iniciativa desse brilhante produtor cultural que é Euclides Moreira Neto".

Invocando o poeta116 Poeta e parceiro da Academia de Letras, José Sarney: quem vos fala não é o eleitor eternamente de plantão nem o operário de longas datas deste ofício sem relógio de ponto de sua empresa jornalística. Mas aquele parceiro de fins de tarde da Movelaria Guanabara onde nos encontrávamos para discutir arte em todos os gêneros e bulinar as operárias de Pedro Paiva; de onde saíamos nas badaladas das seis dos sinos da Sé e do Carmo, uns para os bares e outros para o aconchego da família, onde você era um destes. É o velho índio turrão, que de joelhos vem te implorar uma graça. Durante a celebração dos meus oitenta anos de vida, no aconchego daquela capela a cavaleiro no morro da Alemanha, abraçado pela família, mulher, filhos, netos, bisnetos e alguns dos vizinhos mais íntimos, no balanço do que fui e fiz concluí que não sou esse vencedor que muitos insistem propalar; escrevi alguns livros que não vendi, montei alguns espetáculos que raros viram, fui corpo, alma e engrenagem de um dos projetos de educação mais lúcido já montados neste país, que prometia colocar o Maranhão na vanguarda dos povos civilizados do planeta, mas isso incomodou os poderosos e mandaram a Televisão Educativa e de cambulhada o Centro Educacional do Maranhão, CEMA, para a lixeira mais infecta do planeta, considerando-se que hoje ninguém nem se lembra mais desse momento histórico de nossa cultura humanística. Sou um despido racional que ousa. Mesmo porque as pessoas estão me perguntando com muita insistência o que acho sobre o desmoronamento do nosso patrimônio arquitetônico. Não tem a lenda daquela criança que evitou a destruição da Holanda enfiando seu dedinho no buraco do dique? Pois é. É verdade que o outro, o bíblico, codinome David, tinha a benção de Deus quando enfrentou a arrogância belicosa de Golias, empunhando apenas uma frágil funda. Minha visão humanitária não chega nem na sola do chulé daquela criança holandesa e minha relação com o Criador está distante anos/luz da de Davi & o Senhor do Universo. Por isso, ouso pedir ao poeta; não ao Senador da República ou ao ex-presidente ou ex-governador ou ao arquiteto político todo poderoso deste país, mas ao homem de letras, ao poeta de rara sensibilidade, apreciador esmerado da boa arte: não permita, bom homem, que nossa cidade 116

Fonte: Jornal: O Estado do Maranhão (21 de Outubro de 201) Hoje é dia de…Ubiratan Teixeira.


se dissolva, que sua rica arquitetura se transforme num monte de escombros, que sua memória cultural venha abaixo. Não importa a nós, pessoas comuns, mas de sensibilidade, que amamos apaixonadamente esta São Luís de históricos momentos, que os casarões do Centro Histórico e a riqueza cultural que eles encerram vire um documento cibernético, se transforme numa “semente digital” como está anunciando o Centro de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão. Que essa preciosa ideia de nossa universidade Federal seja o instrumento que vá nos tornar ainda mais vivos em todos os recantos do planeta, e fora dele. Mas precisamos mesmo é que nosso Centro Histórico permaneça de pé em pedra e cal, com seus cheiros característicos, com o reflexo do por do sol e das noites de lua sobre os azulejos e nos beirais dos sobrados, as fachadas quatrocentonas deslumbrando os visitantes, nossas lendas descendo becos e subindo mirantes. Todos nós sabemos, do mais humilde gari ao empresário mais bem sucedido, que socorrer um desses tesouros arquitetônicos não é para qualquer conta bancária de mediano porte; mas, por outro lado, sabe-se por portas e travessas que existe uma ONG européia interessada em recuperar essas ruínas em troca de apenas três sobradões a escolha deles: o que querem fazer desse patrimônio? Só o tinhoso sabe. Mas penso que os três sobradões, no caso, terão o mesmo peso que os bois de piranha; três vacas magras em troca da manada inteira. Por outro lado, meu poeta, foi você mesmo que nos revelou, no seu artigo de domingo passado, 16, em “Crise, Brasil e Maranhão” que “no Maranhão, no balanço da economia dos estados, estamos numa fase extraordinária de crescimento e progresso”. E depois, sabemos que o agronegócio avança no Maranhão e que é público e notório que estamos caminhando muito bem para superar nossas dificuldades econômicas. Ou é treta a instalação dos grandes projetos industriais em nosso Estado e o novo berço que a Petrobras abre no Itaqui é para ninar recursos? E depois, poeta, já pensou no tipo de julgamento que a história fará sobre nós? Que se essa derrocada acontecer justamente num período de tempo em que fomos reconhecidos pela UNESCO e que nosso bumba meu boi virou código de barra internacional? E no momento em que a obra de arte de Cosme Martins, Cordeiro e um punhados de outros excelentes artistas plásticos está sendo disputada pelo consumidor europeu e norte americano e outros dos nossos talentosos conterrâneos estão começando a integrar hora o coro de filarmônicas famosas na Polônia hora o elenco da maior companhia de dança do Ocidente, que é o Bolshoi de Moscou, ninguém nos perdoará. Ajude a nós em desespero poeta! Precisava estar presente à última reunião de nossa Academia de Letras para ter visto a cara desanimada e triste de seus confrades diante desse mural cruel que se desenha diante de todos nós. Sabemos que o que está acontecendo tem muito que ver com a maldição lançada por Vieira quando deixava o Maranhão em 1661 sob a pressão dos senhores de engenho: “Nessa terra que amaldiçoou não ficará pedra sobre pedra” – bradou o clérigo cuspindo fagulhas e segurando seu rosário de cima do batel que o conduziria de retorno a Portugal. Mas a estas alturas lembro ao poeta que esta cidade nunca se esquece de uma outra situação bem semelhante, quando um jovem governador, reuniu no Itaquí a nata dos Pais e Mães de Santo do Estado, nos anos 60 do século passado para negociar com Mãe Ina permissão para continuar a construção do porto; cujas estacas estariam prejudicando o teto do palácio da Entidade em razão do que ela estava sequestrando a alma dos mergulhadores. E que depois daquela desobriga magnífica os trabalhos seguiram com normalidade. Até hoje. Que a maldição de Vieira, meu poeta, não se concretize. As palavras do padre/profeta não devem ser mais poderosas que a ira da Entidade do mar; que você venceu. Reúna novamente seus orixás e solte sua palavra: que é poderosa. Mas não permita que o anunciado aconteça. O Poeta tem o poder.


BENEDITO JOSÉ MARTINS COSTA FERREIRA117 27 de novembro de 1950 (em registro) / data correta é 27 de novembro de 1949. Sou Ludovicence (nascido na ilha de São Luis Capital do Estado do Maranhão) e aqui continuo a residir. Em realidade não resolvi (ser escritor), apenas aconteceu. Sempre gostei de leituras diversas, escrever, tendo começado a leitura com romances e lia muito Machado de Assis, José de Alencar, Augusto dos Anjos e quando comecei a achar que o que lia não estava mais a interessar, (vejam só), parei e passei já em tenra idade a escrever o que achava que deveria ser escrito pelo que vivia isto já com mais ou menos 08(oito) anos. Chamava de “rabiscos” e depois que lia achava sempre que eram bobagens. Parecia-me muito “meloso”, ou seja, palavras muito carinhosas e entendia que as pessoas não gostariam e sempre guardava os escritos pensando que um dia ainda faria meu livro. Estou com o meu primeiro livro pronto, escrito em duas mãos, pois foi surpresa descobrir que minha filha mais nova também tem o dom da escrita e do romantismo.O título do meu primeiro livro chama-se PEDAÇOS DE VIDA.... MEUS,TEUS. Estou a fazer leitura com calma, as correções e antes do final deste ano com toda a certeza farei o lançamento. É uma satisfação pessoal. Enquanto não chega o viver pela arte, que é do que escrevo, continuo como cooperativista, a fazer parte do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Maranhão, representando o cooperativismo maranhense junto à JUCEMA(Junta Comercial do Estado do Maranhão),como Conselheiro Vogal, palestrante e consultor cooperativista, Empresário do ramo de prestação de serviços, Contador. Recanto(www.recantodasletras.com.br/autores/bjferrado. Não, ainda não (tem livro publicado, o meu primeiro será ainda este ano e o título PEDAÇOS DE VIDA.....MEUS, TEUS.

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AUER, Eliane Queiroz. ENTREVISTA -Poeta ludovicense -Benedito C.Ferreira. quarta-feira, 16 de janeiro de 2013. Entrevista cedida à Diretora de Divulgação da Academia Mateense de Letras -AMALETRAS- São Mateus –ES, Eliane Queiroz Auer, disponível em http://amaletrasm.blogspot.com.br/2013/01/entrevista-poeta-ludovicense-benedito.html, acessado em 16/05/2014.


LAURO BOCAYUVA LEITE FILHO118 19 de dezembro de 1937 Estudou no Colegio São Luis Dedicou-se desde cedo ao jornalismo, tendo trabalhado ainda em Teresina, atuando como radialista. Em 1967, publicou Letra Fria / Sentir, livro de poesia, integrando a geração 60, posterior à de Nauro Machado e contemporânea de Déo Silva e de José Maria Nascimento. Em 1987, ao completar 50 anos de idade, publicou Os Filhos de Dom Quixote, e um texto dramatúrgico, Maslenitsa, instituído nesse ano pela Secretaria de Cultura do Maranhão. Trabalhou como Assessor de Comunicação da Assembléia Legislativa do Estado do Maranhão e recebeu premiação, em 1970, em concurso realizado pela Academia Maranhense de Letras. Mora em São Luís.

Os tempos119 Tinha uma porção de anjos segurando o algodão daquela nuvem branca; e o que pintou de azul o fundo, manchou de cinza o fim dos nossos olhos e nos beijamos. Tinha um lago calmo e o vento sussurrava malícias, o peixe prata luar de agosto saltou e nos amamos. Tinha o fogo dos infernos, um Lucifer danado e homens se matando; eu tinha lágrimas nos olhos e tu também choravas quando nos deixamos. Ironia Lúcida Agora é tempo de sorrir e ser de novo o garoto das compras e dos recados Agora é tempo de fingir que nada valem os eternos fundilhos remendados. Agora é tempo de esquecer as lágrimas - engoli-las de uma vez! – e voltar à surdez da ignorância, pois já me afogo em tanta ironia, pois não suporto ter-me em consciência e já não quero amar-me em lucidez.

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SOUSA, Paulo Melo. In ALÇA DE MIRA, ,11 de julho de 2008, Suplemento http://jornalpequeno.com.br/edicao/2008/07/11/alca-de-mira-150/ , acessado em 13/05/2014. BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 119 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lauro_leite.html

JP

Turismo,

disponível

em


OSWALDINO RIBEIRO MARQUES120 17 de outubro de 1916 # Brasilia, 13 de maio de 2003 Em sua terra natal, Oswaldino Marques escreveu seu primeiro artigo para a imprensa (sobre futebol) e fundou o Cenáculo Graça Aranha, onde eram discutidas as idéias modernistas. Em 1936, mudou-se para o Distrito Federal. Um dos fundadores da UNE, trabalhou como bibliotecário e tradutor, tendo sido um dos responsáveis pela divulgação da poesia moderna estadunidense no Brasil. Em 1965, mudou-se para Brasília onde assumiu a cátedra de Teoria da Literatura na Universidade de Brasília (UnB). Todavia, com o agravamento da ditadura militar no Brasil, pediu demissão do cargo. Durante um período de cinco anos, chegou a dar aulas em Madson, Wisconsin, EUA. Reintegrado à UnB em 1991 pelo reitor Cristovam Buarque, Marques viveu os últimos anos praticamente isolado em seu apartamento em Brasília, onde dedicava seus dias à leitura e a audição de discos de música clássica. Em 1999, numa entrevista ao Correio Braziliense, afirmou que desconhecia "a Internet e essas coisas todas". Ateu, deixou registrado em cartório que não desejava qualquer tipo de cerimônia religiosa quando de seu sepultamento, o que foi seguido à risca por seus filhos..[1] PARA ASSIS BRASIL (1994)121, NA DECADA DE 1930, ATRAVÉS DO CENÁCULO GRAÇA ARANHA: [...] TENTAVA INFUNDIR NA PROVINCIA AS NOVAS IDEIAS ESTETICAS DO MODERNISMO DE 1922. ESTREANDO COM POEMAS QUASE DISSOLUTOS, OS CRÍTICOS LITERÁRIOS VÃO SITUÁLO NA GERAÇÃO DE 45, QUE CORRESPONDERIA, NO MARANHÃO, EM COMPARAÇÃO LIGEIRA., À GERAÇÃO DE 50, A QUE DE FATO ESTABELECEU UMA DIMENSÃO NOVA PARA A POESIA.

OBRAS: POEMAS QUASE DISSOLUTOS, 1946; CANTOS DE WALT WHITMAN, 1946; A DANÇARINA E O HORIZONTE (1977). LIED PERDIDO EM DEVANEIOS NO EXTENSO LITORAL, SÓ E TIMIDO SOB A AMPLA E CONCAVA TARDE, PLENA DO GRAVE CORAL DAS VAGAS ESTUANTES E DO RITMO VIOLENTO DAS AVIDAS GAIVOTAS, VOLTEI MEUS OLHOS ESPANTADOS PARA TI, Ó SOL, E ME DEIXEI BANHAR NAS TUAS CASCATAS CINTILANTES. LÁ PODERIA TER-ME ENVOLVIDO NA SOBRA VIOLÁCEA DAS MONTANHAS E À HORA DO POENTE CINGIR-ME COM UMA COROA DE ESTRELAS. LÁ PODERIA TER-ME DISSIPADO NA BRUMA DA RESSACA, OU INSENSIVELMENTE ACEITAR DOS ROCHEDOS O DOCE CONVITE À INCONCIENCIA. OU FRAGMENTAR-ME EM LIMPIDAS CONCHAS E REFLETIR TEUS RAIOS CRIADORES. TIVE FORÇAS, PORÉM, PARA TE ABANDONAR. PARTI – SOBRE A AREIA DEIXEI APENAS O NOME DE ALGUÉM ESCRITO. (POEMAS QUASE DISSOLUTOS/1946)

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Oswaldino_Ribeiro_Marques CARNEIRO, Alberico. O POETA OSWALDINO MARQUES FUNDADOR DO MODERNISMO MARANHENSE. In GUESSA ERRANTE, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/o-poeta-oswaldino-marques-fundador-do-modernismo-maranhense-5453.htm http://severino-neto.blogspot.com.br/2012/03/poesia-segundo-oswaldino-marques.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/1omarques01c.html http://www.limacoelho.jor.br/index.php/O-sonho-ressonhado-na-poesia-de-Oswaldino-Marques/ 121 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; são Luis: SIOGE, 1994, p. 111-113 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/oswadino_marques.html


POEMA OSCILANTE COM DELÍRIO No volátil abril Labaredas e espelho Oscilo no gume de lúcida viagem. Aderno, de chofre, Ao refugir-me o passo Ao fluido cardume De vôos altos pássaros Frechados para o azul Aos gritos sobre a espuma De uma mar paralisado Que se recrispa e espluma. É o doido tonteio Do sonho ressonhado Em pleno meio-fio Sob o céu rasgado De onde jorra o êxtase Labareda e espelho Sobre o homem que sangra No abril delirante. Soneto Branco

SONETO BRANCO Esse rugir do mar não te transporta Para antes dos anjos, dos mitos ofuscados? Não te remete a paragens anteriores Nos rios de cinza, às chuvas de granizo? Esse longo rolar de vozes graves Não te despoja d’ódio convulsivo? Não te faz esquecer o desenlace Das fontes, da brancura das origens? Pois a mim me faz recuar a auroras De êxtases, cantigas e presságios Com violinos comovendo feras, E cruzeiros de aves, as redes se abrindo No alto, ameaçando peixes e estrelas, — Oh, penedos! Oh, ventos! Oh, nostalgia!


REGINALDO TELLES DE SOUSA 15 de novembro de 1925 Galeria de Livros Estudou o Primário em Fortaleza e o Secundário no Liceu Maranhense, em São Luís, diplomou-se em Direito na capital do Maranhão em 1952. Foi vereador da Câmara Municipal de São Luís e chefe de assessoria jurídica da prefeitura da referida cidade (FARIA, 2005)122 Em 2013, Reginaldo Telles lançou um livro de poesias – Encontro necessário (Legenda), organizado por mim, e depois entregue a Jomar Moraes para editar. De sua apresentação escrevi123: UMA APRESENTAÇÃO NECESSÁRIA A Professora Denise Martins de Araújo chamou-me à sua sala, na Academia Viva Água: Leopoldo preciso que edite um livro de poesias. De meu sogro Reginaldo Telles. Você o conhece? - Sim, o pai do Osvaldo e da Regina; - Sim, o político, ligado ao Dr. Jackson e ao Neiva Moreira; já fomos apresentados, quando da ida do Dr. Jackson ao bairro onde moro, levados pelo Julião Amim, há muitos anos... - Sim, o jornalista brilhante, de uma geração em que se fazia um jornalismo sério, sem paixão – sem a paixão político-partidária, a soldo de quem paga mais para ‘criar’ verdades e macular biografias... - Não. Não conheço o poeta! Mas sei que todo maranhense nasce poeta. Que todo poeta busca no jornalismo um meio de sobrevivência, para poder poetar... Existem meios, hoje, fugindo às ‘panelinhas’ e ‘q-i´s” tão imperiosos de nossas letras e órgãos culturais, de que só os amigos (dos poderosos de plantão) têm acesso ao ‘jabá’ de publicar... Podemos buscar uma dessas editoras alternativas, e mediante alguns reais, publicar uma edição comemorativa, de apresentação, do novo poeta do Maranhão. Conhecendo a história de vida do novel menestrel, preferiria essa alternativa, a que se submeter aos perigos do ‘compadrio político’. Seus filhos bancariam, fraternalmente, a edição... Uma justa homenagem a quem lhes deu a vida, um nome honrado, um orgulho... Fui apresentado, novamente, ao Reginaldo Telles. Conversamos um pouco. Ele me confiou uma pasta, amarela, com seus poemas... Alguns, em papel já amarelados pelo tempo de vida, manuscritos; outros, datilografados; e outros ainda, já digitados... Numerados, em dada ordem... Perguntando sobre quando os fez, disse-me que desde os tempos de adolescência que canta suas musas. Dos tempos do velho Liceu Maranhense, e o surgimento dos primeiros jornais estudantis, em que ousou dar a público suas primeiras poesias. Os poemas aqui listados foram cantos às musas, ao longo de toda uma vida. Os havia dos tempos de estudante, como dos tempos de jornalista militante, dos tempos de advogado atuante, dos tempos atuais... Alguns, do tempo de solteiro, em que a pena buscava descrever os amores juvenis. Muitos não correspondidos. Outros, corridos... Mas a maioria, feitos depois do namoro, noivado, casamento com a mãe de seus filhos – a derradeira e verdadeira musa, que ao poeta encanta e a quem o poeta canta... Leu-me alguns. Emocionado. Aos do tempo da juventude, com lágrimas a rolar as faces marcadas pelo tempo. Mas as lembranças permanecem vivas, como se tivessem acontecendo naquele momento, o encantamento... Pergunto: - “quem foi Elis?” sorri, disfarça, olha para a nora e o neto... os olhos marejam... E em resposta diz: “como sabes de Elis?” Respondo: “já li seus poemas...” e fiquei intrigado: “quem foi Elis?” retomo... sorri, pega o calhamaço de poesias, e seleciona uma: fala de Elis; outra, que também fala de Elis... Mas não responde: “quem foi Elis?” ou “o que foi Elis...” Não precisa responder. Basta sentir a emoção em declamar “Agora, é a frustração [...] agora, é o fracasso [...] agora, é a sensação de viuvez [...] agora, é o sino sem som [...] agora, é a solidão...” ou ‘está dando cupim dentro de mim [...] é assim na “ausência de Elis...” Mar, sol, sal, solidão... Uma constante. Enquanto lê mais alguns, seu neto Vitor pega do celular, coloca no modo ‘gravar’ e o dispõe sobre a mesa... Quer guardar esse momento, do encontro do Neto com o (passado do) Avô, sabendo, agora, que além de tudo que construiu na vida, ainda é Poeta... Gostou do que ouviu - e disse ao Avô. Ambos se olharam, emocionados, com os olhos cheios d´água... Quebro esse clima de confraternização, e de cumplicidade: Vitor também queria saber quem era Elis... Faço algumas perguntas. Se não poderia colocá-los em ordem cronológica... Fala dos tempos do Liceu... Pergunto sobre Sarney e sua militância estudantil, os jornais; disfarça, muda de assunto. Fala de poesia. Percebo que o político e o jornalista ficam para outro momento. 122

FARIA, Regina Helena Martins de; BUZAR, Benedito Bogéa. Apêndice C: Índice de verbetes de pessoas citadas nas entrevistas. In.: FARIA, Regina Helena M. de; MONTENEGRO, Antonio Torres (Orgs.). Memória de professores: histórias da UFMA e outras histórias. São Luís: UFMA; Dep. de História; Brasília: CNPq, 2005.p. 559-611. 123 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UMA APRESENTAÇÃO NECESSÁRIA. In TELLES, Reginaldo. ENCONTRO NECESSÁRIO. São Luis: Legenda, 2013, p. 1114.


Este é o do Poeta.

“Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa que, tomado pelo espírito da tentativa de revificação dos ditos verdadeiros valores da cultura e da sociedade maranhense, convoca a “mocidade”, declamando: “Acorda Mocidade! Acorda Ateniense! / Alça teu vôo pelo espaço e nas alturas, / Recorda o teu passado e, em teu presente, vence, / Batendo o ostracismo e as sombras mais escuras [...] Acorda Mocidade! Acorda Maranhão! / E mostra que depois de sonhos, despertado / Sorrís, como um Gigante, um Gigante ateniense / Que vem haurir num templo imenso edificado”. (SOUSA, 1945)124

VOCAÇÃO125 O poder de amar na mulher É muito maior do que em geral Se imagina Através dos seios ela se dá À espécie e ao mundo, E acolhe a mensagem da vida Na vagina.

A RETA A reta é linha monótona Fria, deserta, isenta de dons Nada impede que se acabe, E desabe no infinito sem fim Não te oásis, nem miragem, nem tempestade de areia a reta é negra seta, direta coisa incompleta, desumana Areta sem coração, não pulsa, não sente É invenção do homem triste, Inexistente, é coisa estática Abstração matemática.

CARTA AO TEMPO Saudade Dos tempos de Tupinambá: Minhas raízes São Luis 1612 Que nostalgia incontida BARROS, Antonio Evaldo Almeida. “A TERRA DOS GRANDES BUMBAS”: a maranhensidade ressignificada na cultura popular (1940-1960). Caderno Pós Ciências Sociais. v.2 n.3 jan/jul, São Luis/MA, 2005, disponível em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_content&view=article&id=172&catid=54&Itemid=114, acessado em 08/05/2014. 125 TELLES, Reginaldo. ENCONTRO NECESSÁRIO. São Luis: Legenda, 2013 124


Que vontade de viver 200 anos até E de te ter também aos noventa Amamentando um filho meu: Rebento de amor Nas horas de relógio Sem ponteiros Que não marcam o tempo Nem limitam o desejo de te amar. Comer juntos muitos quilos de peixe moqueado Raízes cruas Montes de ostras, sarnambis e sururus Mel de abelhas Frutas e frutos silvestres Almoço nos ninhos das emas E sobremesa de ovos De pássaros E te ver Minha cunha Tomando 12 banhos por dia Nos riachos de água fria Ou comigo fazendo amor Nas espumas das praias Doces ou salgadas Do Muni Do Olho d´Água ou Araçagi Ai1 que saudades Dos tempos de Tupinambá São Luís, paraíso 1612

SOLIDÃO Agora, é a frustração do rio insatisfeito Que se infiltra e se acaba Nas areias do seu próprio leito E se esgota em si mesmo, vazio. Agora, é o fracasso da torrente, É o ímpeto que se ressente, Sem caudal, sem afluente Não tem força De chegar ao mar. Agora, é a sensação de viuvez, No estar sozinho É a dor da morte De quem enterra a própria sorte Afinal, sem vez.


Agora, é o sino sem som, Torre sem campanário, Contida a vocação, Praia deserta, Rio sem estuário, Águas insossas E o verão sem fim. Agora, é a solidão Deixa-me ultrapassar Estes limites Dá-me tua mão, Elis, Vamos para o mar.

AUSÊNCIA DE ELIS Está dando cupim Dentro de mim. Que dor aguda Esses minúsculos monstrinhos Causam aqui No coração, Roendo roendo Com suas trombas de aço Agudas, afiadas Incandescentes. É assim, Na ausência de Elis. Em vão busquei matar Esses bichinhos Em impulsos dispersivos Nos braços de mulheres indistintas Nas camas sem lençóis De sucessivos motéis Nos ais de gozo industrial Da insaciável carne Em momentos estéreis e incapazes de ajudar É assim Na ausência de Elis Estou cheio de cupim


PAULO AUGUSTO DO NASCIMENTO MORAES126 PAULO MORAES 23 de novembro de 1912 # 11 de setembro de 1991 Filho de José Nascimento Moraes e Ana Augusta Mendes Moraes, Paulo Moraes foi um dos mais importantes e contundentes intelectuais de São Luís. Mas não somente a Ilha presenciou o trabalho deste integrante da família Nascimento Moraes. A cidade do Rio de Janeiro também o acolheu e presenciou o crescimento e desenvolvimento de Paulo Augusto. Na Cidade Maravilhosa, o maranhense conviveu com os mais ilustres jornalistas da época, como Assis Chateaubriand, Samuel Walner e Jurandir Pires Ferreira. Em 1971, Paulo Augusto foi homenageado pela Embaixada de Israel por ter realizado a cobertura da guerra no Oriente Médio. Tanto que o jornalista maranhense teve seus artigos traduzidos para uma publicação internacional. No ano seguinte, ele lançou seu único livro: "Aquarelas de Luz". Após anos se dedicando ao jornalismo, Paulo Augusto Nascimento Moraes conquista o direito de se tornar um imortal. Em 1982, ele assume a cadeira de nº 16 - fundador é Raimundo Corrêa de Araújo - da Academia Maranhense de Letras (AML); após a morte de Domingos Vieira Filho. Salgado (2012) 127, em sua posse na AML, faz o elogio a Paulo Moraes, com estas palavras: Indízivel reencontro na esfera da imortalidade, eles que tantas vezes trabalharam juntos na redação do jornal Pacotilha; conviveram no sobrado da rua de Santana, onde a família de Paulo generosamente acolheu Neiva Moreira por um período; e ainda nas ruas do Rio de Janeiro, quando Neiva acedeu ao conselho do amigo para marcar para sempre seu nome no jornalismo nacional. Paulo Augusto do Nascimento Moraes, filho de Nascimento Moraes – este, alcunhado por Neiva Moreira como pontífice supremo do jornalismo –, marcou toda uma geração de jornalistas neste estado, abraçando o ofício de informar como sagrado sacerdócio. Carregava no sangue a paixão pelas palavras e fazia delas o seu instrumento de trabalho. Esgotadas as possibilidades de continuar no Maranhão, devido aos parcos recursos que atormentavam o funcionamento do jornal Pacotilha, seguiu o jornalista para o Rio de Janeiro onde, nas palavras de José Chagas, “viu o que o Rio tinha de manso e violento. A Lapa era o laboratório onde o jornalista, o boêmio e o poeta pesquisaram a vida em todos os sentidos”. Lá, nos informa o poeta, trabalhou com Assis Chateaubriand em O Jornal; com Jurandir Pires Ferreira, em A Força da Razão e com Samuel Wainer, em Diretrizes. Companheiro de Neiva Moreira na profissão e no amor pelo jornalismo, recebeu deste a seguinte apreciação: “A marca poética de Paulo Moraes, sem que ele mesmo tivesse dado conta, é o grande humanismo que conseguia produzir em torno de tudo o que fazia: humanismo e forte lirismo, transcendendo os limites do romantismo e formando quase que um realismo mágico e lírico”. Poeta diletante, um curioso pelas aventuras da vida, não teve a preocupação de deixar registros, distraído na boemia e dedicado ao culto às amizades. Ao retornar do Rio de Janeiro para São Luís, retomou o ofício de reportar os acontecimentos. Graças ao esforço de seu irmão, o também acadêmico Nascimento Morais Filho, parte das poesias de Paulo foi reunida no livro Aquarelas de Luz, um misto de alumbramento filosófico e elogio às figuras femininas. Peço a devida permissão para citar um trecho do soneto que intitula aquela obra: “Caminhemos então!...Tudo é sombra, querida!... As cigarras cantando!...As cigarras cantando Afugentam de nós as tristezas da vida! Esta tarde morreu!...Tu mo afirmas, num beijo! Eu te digo que não, entre prantos, chorando, Tu me dizes que sim, sepultando um desejo”.

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Fonte: O Estado do Maranhão 23/11/2012 , disponível em http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Paulo+Augusto+Nascimento+Moraes&ltr=p&id_perso=5034 127 SALGADO, Natalino. DISCURSO DE POSSE – AML. IN Palabvra do Reitor, publicado em 14 de dezembro de 2012, disponível em http://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/palavra_reitor.jsf?id=47, acessado em 10/05/2014.


Paulo não se formou em Direito, sonho de seu velho pai. Mas nem por isso o amor que os unia arrefeceu, assim demonstrado na carta que o filho, reverente, escreve ao genitor:“Sou seu amigo. Admiro-o muito. Devo-lhe o que sou”. Cada um a seu tempo e modo, os jornalistas Neiva Moreira e Paulo Nascimento Moraes desempenharam a missão de honrar a herança deixada nesta Casa pelo folclorista e estudioso das coisas maranhenses que foi Domingos Vieira Filho. Tal como Jasão, que liderou os argonautas em busca do velocino de ouro, Domingos Vieira Filho empreendeu a busca por palavras e ditados maranhenses, ávido por revelá-los e cristalizá-los na memória de sua gente. Escreveu as importantes obras Folclore brasileiro: Maranhão (1977), A linguagem popular do Maranhão (1979),Breve história das ruas e praças de São Luís (1971) e outros interessantes estudos maranhenses, a maioria dos quais usava não assinar.

DEVOÇÃO128 Penso em ti, minha mãe, com a ternura dos beijos Os teus beijos de amor, de bondade e carinhos. Penso em ti, minha mãe, sem pensar nos desejos Das mulheres que amei às margens do caminho. Penso em ti, minha ma~e, com os mesmos ensejos. Com que sempre te amei, com a pureza dos ninhos. Penso em ti, minha ma~e, sem aflição e sem pejos, Mas trazendo na fronte a Coria de espinhos. Penso em ti, minha ma~e, tua benção pedindo... És a sobra do bem afastando os escolhos Que, por vezes, mamãe, vão meu corpo ferindo. Mal tu sabes, porém, que na luta prossigo, Relembrando esse amor que reluz nos teus olhos, Que me avisa do mal, alertando o perigo!

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BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994, p. 98


JOÃO ALEXANDRE VIEGAS COSTA JUNIOR JOÃO ALEXANDRE JUNIOR

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12 de dezembro de 1948 Geração Cassas Fez seus primeiros estudos em Sergipe. De volta ao Maranhão, veio a colaborar na imprensa, publicando crônicas e peomas. Forma-se em Direito e Administração, pela UFMA. Tendo participado de vários movimentos literários, seus poemas ainda aprecem nas antologias Esperando a missa do galo, de Nascimento Moraes Filho e Poesia maranhense hoje ou 50 anos de poesia de Carlos Cunha. Incluído na antologia Hora de Guarnicê, em 1975, em breve viria a lume a edição de seu primeiro livro de poemas, Em Te Brigar Te Amando, título que já bem expressa a vocação do poeta para a ambigüidade e o paradoxo, elementos essenciais da poética da modernidade. Editado em 1979, Em Te Brigar Te Amando mereceu o prêmio do Concurso Literário “Bandeira Tribuzi”, em 1978 e foi publicado em co-edição SURCAP/SIOGE.

Pulmões do Azul Tuberculou-se o firmamento Golfada a cambraia pálida Da camisa do dia - hemorrágica! Lento! No seu próprio debruo Até que arfante a cálida Gota engolfada na pia Do mundo, em si se parte O sol quebrando a louça do jantar Vaza a cada dia o pulso do diário: A tarde em seu indeclinável suicídio Golfa sangue no Bonfim Umedecendo o chagar notívago Da boêmia incontrolada no boteco É a noite que se estatela na baía... Se abre a palma no olor Do seu lancáster E a Estrela resplandece Em ruge e pó-de-arroz Nostálgicas herdeiras Legatárias do pecado-à-mostra Da cidade (do livro Em Te brigar Te Amando)

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O

Brasil, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. ADEUS DO POETA JOÃO ALEXANDRE JÚNIOR. In GUESSA ERRANTE, 1 de http://www.guesaerrante.com.br/2005/12/1/Pagina421.htm, acessado em 13/05/2014

dezembro

de

2005,

disponível

em


LUÍS INÁCIO ARAÚJO130 LUIS INÁCIO OLIVEIRA COSTA Dezembro de 1968 Geração Cassas Nasceu em São Luis, onde sempre morou. Formando em Direito pela UFMA, dedicando-se mais tarde ao professorado, leciona Filosofia do Direito na mesma UFMA. Preocupado com a literatura, escreveu alguns ensaios ao lado da pr´tica da poesia. Escreve desde a adolescência. Seu primeiro livro, Vôo ávido é de 1991 As Indefinidas Palavras

Qualquer palavra que eu te diga ou te silencie é tão sem sentido — para o meu poema que é só bruma voz muda esferográfica: e o que sobre é esse silêncio pesando sobre os corpos, esse chumbo, o exaurir do carbono, o vão dos corpos. Agora quero inventar um poema com isso que em mim é aresta, arpão, fratura exposta, berro içado sobre setembro, estilhaço, beijo esgarçado, grifar minha mudez sem fundo afundada de tantas palavras. Solto o poema como uma vertigem, desse perigo não há fuga: a nona sinfonia arrebenta num revés de crepúsculo. Inverter o caos da tarde em melodia ou aceitar o que um poema fabrica de naufrágio? pela página? Num lapso: me escapam o salto e o grito irisado, e daqui fotografo o abismo em cores kodak. Palavras desabam numa catástrofe: quero agora o vazio das margens, a intransferível brecha, o vão da palavra impronunciável. Em que poema jogar fora as palavras onde sempre esbarro? — Vida & Morte Deus & Sexo — Escrever é o que se arquiteta do deserto de uma falta, infância e cio, o turvo de alguém, antro de uma boca. 130

BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SÉCULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, ,1994 http://www.escritas.org/pt/biografia/luis-inacio-araujo


Mas o que escrevo é noite cava, emparedamento, poço e não cabe no estreito de nenhum poema. É só por afronta e voracidade que escrevo escavo: indefinidamente até preencher com o poema a branca ausência: impreenchível. Luís Moraes Agreste131 Não mais recuo: o que escrevo é escassez e fendas, é contra esse modo reto e seguro de escrever que escrevo - em desaprumo. Bebo o gosto travado desse poema numa cobiça de ser dito: um laivo de sangue escorre de minha boca. o processo vital subsiste ainda na artéria, a manhã poluída prossegue sua lenta engrenagem, seu incêndio diário, sua as simetria - apesar do azinhavre no garfo do pêndulo, do cotidiano cigarro igual ao trabalho noturno da morte num corpo. Mas pra nomear o que respira secretamente por trás dessa vida de veias nervos assombros penhoras e sofre desfiladeiros poços terrenos baldios, a mais inexplicável vertigem — nenhuma palavra é possível: nenhum selo.

A paIo seco Meu poema armado com lacônicas palavras (contundente arpejo) canta-se assim torto como não convém e maneja facas lâminas secas pra te dizer certas coisas que te fariam sangrar: profundamente.

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_inacio_araujo.html


Arquitetura Procura a ordem desse silêncio que imóvel fala: silêncio puro. João Cabral de Meio Neto

Um dia escreverei um poema que não precise dizer nada um poema: apesar das palavras arpejo relógio ou pedra silêncio que ninguém suporte lâmina dentro da goela de João Cabral de MeIo Neto voz e fino topázio a linguagem apenas tece a trama de nenhuma sintaxe um dia escreverei um poema no azul vazio da lousa em ecos um silêncio adormece (Vôo Ávido/ 1991)


ROBERTO KENARD132 ROBERTO KENARD FERNANDES RIOS São Luís / 18 de outubro de 1958. Grupo da Revista/Hora do Guarnicê Jornalista, é autor de penetrantes textos ensaísticos publicados na imprensa. Distinguido com diversos prêmios conferidos por concurso literários promovidos em São Luís e em outras capitais brasileiras. Além de figurar em antologias poéticas, publicou os livros de poemas No meio da vida, Do lado esquerdo do corpo e

O camaleão no espelho. Câmera indiscreta O poeta lírico - barbado babuja no bar seus poemas boa tarde elegante bardo cuidado com o vento suas folhas íntimas não resistem ao menor sopro o coração sobre a mesa breve o garçom virá removê-lo um barco atraca no cais lugar de coração é no peito teimoso bardo curió exposto aos turistas a mulher burguesa batom e ruge ergue o braço garça o garçom passa o poeta velho brada: liturgia do inútil tudo desaba asa do vento navalhada na tarde provinciana e cinza. ( O camaleão no espelho/1990)

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http://www.saoluisdomara.xpg.com.br/paga.htm


A FAMÍLIA Tem alguém no telhado Talvez a avó louca Embriagada de tiquira Tem alguém no telhado Possível o neto Esperando a lua Tem alguém no telhado Provável o gato Com medo dessa família No meio da vida, 1980


JOAQUIM HAICKEL 133 JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL 13 de dezembro de 1959 Academia Maranhense de Letras Academia Imperatrizense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Primogênito de Nagib Haickel e Clarice Pinto Haickel; pai de Laila Farias Haickel, marido de Jacira. Membro das academias imperatrizense e maranhense de letras, contista, poeta, cronistas e cineasta. Estudou no Pituchinha, e depois do Batista e Dom Bosco; destacando-se como jogador de basquete. Ingressou na Universidade Federal do Maranhão, onde se bacharelou em Direito. Por mais de 30 anos, militou na política, como deputado estadual, deputado federal e constituinte, hoje Secretario de Estado de Esporte. Inicia a trabalhar 1978, como assessor na Assembléia Legislativa. Em 1979, está em Brasília, trabalhando ao lado de Nagib, seu pai, então deputado federal; de volta a São Luis, passa a atuar como oficial de gabinete do então Governador João Castelo, indo trabalhar com o chefe da Casa Civil, José Burnet. Elegeu-se deputado estadual em 1982; federal em 86, sendo um dos Constituintes. Secretário de Assuntos Políticos (Governo Lobão); Secretário de Educação (Governo Fiquene). De 94 a 98, dedicou-se as empresas da família, retornando em 1998 à Assembléia, lá permanecendo até a última legislatura. Como escritor, publicou em 1980 Confissões de uma Caneta, contos premiados no concurso cidade de São Luis. Em 81 lançou O Quinto Cavaleiro, poemas. Em 82, após ser premiado no concurso SECMA/SIOGE /Civilização Brasileira, lançou o livro de contos Garrafa de ilusões. Manuscritos. Em 83, começou a editar a Revista Guarnicê, semanário artístico e cultural que publicou até 86. Ainda em 84 lançou a Antologia Poética Guarnicê. Em 85 foi a vez da Antologia Erótica Guarnicê e em 86 o livro de contos Clara Cor de Rosa. Depois de uma pausa editorial, em 89, lançou o livro de poemas Saltério de Três Cordas. Em 1990, segundo o próprio Haickel, foi quando amadureceu o seu “primeiro livro, os outros foram apenas ensaios do que viria”. Livro de contos lançado pela Editora Global, A Ponte, que foi aplaudidíssimo por José Louzeiro, Artur da Távola e Nelson Werneck Sodré entre outros. Também no setor artístico, Joaquim ainda produziu o filme “The Best Friend”, O Amigão, que conquistou os prêmios de melhor filme do júri popular e melhor filme de cineasta maranhense do júri oficial, no festival Guarnicê de cinema e vídeo realizado pela UFMA em 1984. Em 2003, na comemoração aos vinte anos da revista Guarnicê, a Clara Editora e as Edições Guarnicê, produziram e publicaram o Almanaque Guarnicê, uma espécie de ensaio-entrevista-reportagem dirigida Felix Alberto Lima, onde narra a trajetória do semanário e de seus idealizadores. Também em parceria com a Clara Editora, Joaquim lançou uma coletânea de seus melhores artigos publicados no site Clara on line. Joaquim é também desportista e grande incentivador dos esportes como forma de inserção social e de combate ao uso de drogas. Foi Presidente da Federação Maranhense e Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Tênis e da Associação Desportiva Mirante, além de ter, ele mesmo, conquistado diversos títulos em várias modalidades como Tênis, Vôlei e Basquete. Em 2006 Joaquim candidatou-se a uma vaga na Academia Imperatrizense de Letras para onde foi eleito para a cadeira nº 9. Em 2007 preparou-se para mudar definitivamente a sua vida e assumir sua vocação de escritor e cineasta. Em 2008, Joaquim Haickel realiza um antigo sonho. Roteirizar, produzir e dirigir um filme baseado em um conto que escrevera nos anos 80. Trata-se de Pelo Ouvido. Inquieto e indisciplinado, Joaquim não se conteve e antes de realizar esse filme, com ajuda de vários amigos faz em Paço do Lumiar o curta-metragem de 59 segundos, Padre Nosso. 133

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO DE JOAQUIM HAICKEL AO IHGM. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39__setembro_2011/65 http://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/ http://www.revistacarasenomes.com.br/haickel-toma-posse-no-ihgm-e-resgata-a-historia-dos-%E2%80%9Catenienses%E2%80%9D/ http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%2010/eliana%20tavares%20dos%20reis.pdf LIMA, Félix Alberto. Almanque Guarnicê 20 anos. São Luís : Clara Editors e Edições Guarnicê, 2003.


Pelo Ouvido foi selecionado para quase duas centenas de festivais de cinema no Brasil e no exterior onde ganhou dezenove prêmios. Em 2009 candidatou-se a uma vaga na Academia Maranhense de Letras, para onde foi eleito com uma das maiores votações já conseguidas por um candidato. Ocupa a cadeira de numero 37 daquela instituição. Em 2011 foi eleito para o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, onde ocupa a cadeira 47. Em 2012 lançou dois filmes de animação tendo como tema a cidade de São Luis que completava 400 anos: A Ponte e Upaon-Açu, Saint Louis, São Luís... Ele também lançou naquele ano o livro Contos, Crônicas, Poemas... & Outras Palavras com o qual comemora 32 anos de literatura. Em 2013 lançou 24 documentários sobre alguns dos mais importantes membros da Academia Maranhense de Letras. Em 2014 lançará dois documentários em longa metragem A Pedra e a Palavra onde retrata a vida e a obra do Padre António Vieira e Velho Moleque onde apresenta a vida do músico e compositor maranhense, Mestre Vieira. Para 2015 estão previstos os lançamentos duas mini series documentais de 8 e 4 capítulos respectivamente sobre o empresário e deputado Nagib Haickel, seu pai, e sobre o ex-prefeito de São Luís, Haroldo Tavares, além de seis médias metragens sobre importantes personagens de nossa história recente. Joaquim Haickel é também Secretario de Estado do Esporte e Lazer do Maranhão e continua produzindo arte. Há muito tempo trabalha em um livro cujo sugestivo título diz muito sobre uma de suas grandes paixões: 365 Filmes Para Não Precisar de Psicanálise. CONTRIBUIÇÕES NA REVISTA DO IHGM DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 47, PATRONEADA POR JOAQUIM SERRA; No. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 50 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 EM BUSCA DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 232 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 DÉCIO SÁ. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p.176 Edição Eletrônica. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41__junho__2012 ÀS VEZES O BOM NASCE DO RUIM. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 187 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 MESMO DESTINATÁRIO, OUTRO REMETENTE. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 207 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 CAFÉ COM MEMÓRIA. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p.213 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 CONTOS, CRÔNICAS, POEMAS & OUTRAS PALAVRAS; Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 104; http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 A INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA DO MARANHÃO. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 93. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 MEIA NOITE EM SÃO LUÍS. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 133. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 MEU AMIGO ROBERTO DUAILIBE CASSAS GOMES. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 135. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 SAUDADE DE ANTONIO LOBO. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 157. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 QUARENTA ANOS DE JEMS. Revista IHGM, No. 43, DEZEMBRO de 2012, p. 223. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_43_-_dezembro_2012

O CADARÇO 1 O amor aparece na sua vida quando você menos espera, e nem sempre ele se apresenta de uma forma que você o reconheça ou compreenda. *

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A primeira vez que seus olhos se cruzaram foi por puro acaso. Ela não conseguiu impedir que caísse no chão uma bolsa imensa, Louis Vuitton, que tentava equilibrar sobre uma mala, e ele, que ia passando, gentilmente, juntou-a e entregou a ela olhando-a firmemente nos olhos. Ela sorriu suave, timidamente agradecida.


Puxava numa das mãos a elegante mala de viagem e com a outra segurava carinhosamente uma pequena réplica de si mesma. Atencioso, passou a mão carinhosamente na cabeça da garotinha e cumprimentou a mãe com um aceno de cabeça. Ela fez um movimento idêntico e disse-lhe thankyou, com uma voz grave que combinava com seu tipo nórdico. Grande como Greta Garbo, elegante como Ingrid Bergman e linda como Cláudia Schiffer. Mais atrás vinha um homem trazendo uma mala igual à dela e uma outra criança, cópia fiel da primeira, só que um menino. 2 O saguão de um aeroporto é um microcosmo admirável. Lá podemos ter, de graça, magníficas aulas de antropologia, de sociologia, de psicanálise, e até mesmo um rápido curso de sedução no mais perfeito estilo pirandelliano. *

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Ele foi pro seu lado e ela para o dela. Iam para lados diferentes, em voos diferentes. Distintos, diferentes. Ao chegar ao balcão de atendimento, ele notou que havia uma senhora muito nervosa. É que ela iria viajar de avião pela primeira vez. Ele se pôs a conversar com ela em seu rudimentar italiano, aprendido primeiro com Giuliano Gemma e depois, já mais refinado, com Marcelo Mastroianni. Depois de uns vinte minutos, ele conseguiu tranquilizar a nonna. Com isso, ganhou a gratidão da moça da companhia aérea que lhe deu um upgrade para a classe executiva, o que lhe renderia mais do que o simples conforto. Na verdade, lhe deu a possibilidade de vê-la mais uma vez, mas isso ele ainda não sabia. 3 Ao contrário dos saguões, toda sala vip é igual. Num ambiente mais restrito, as pessoas não se põem tão à vontade, não são tão naturais. Com a maioria das pessoas é assim. *

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Quando ele chegou lá, ela já estava. Ela o olhou primeiro e não parou de olhá-lo. Olhou-o dos pés à cabeça. Observou seus sapatos, o jeito dele falar ao celular, como colocava o braço apoiado no balcão da lanchonete. Observou o seu sorriso, ora discreto, ora incontido. Só então ele a viu. Viu e olhou. Olhou e viu que ela o via e não lhe tirava os olhos. O acompanhava para onde fosse. Ele notou que ela observava particularmente os seus pés, seus sapatos. Lembrou-se de seu primo Luís, que tinha uma estranha fascinação por pés femininos. “Será que as mulheres também têm esses fetiches?” – interrogou-se. 4 Os olhos são sempre o começo e o final de tudo. Sem eles a vida não é completa. Falta algo, falta alma, falta uma janela pra se debruçar. A palavra também é muito importante. A língua, a linguagem... Uma porta para se sair ou entrar. *

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Constantemente seus olhos se cruzavam. Ele começou a jogar. Ia para um lado e via se ela o acompanhava com os olhos. E ela acompanhava. Resolveu então ir ao banheiro. “Será que ela vai me acompanhar?” Para sua tristeza, só os olhos dela o acompanharam. Ao voltar, viu que ela falava ao telefone. O idioma, a princípio quase inaudível, lhe parecia familiar. Aos poucos foi notando que as palavras eram mastigadas, mordidas, mesmo que no caso dela isso fosse feito com certa doçura. Depois teve certeza que aquela era a língua de Goethe, de Schopenhauer e de Nietzsche. 5 As atitudes fazem a diferença entre os homens. O difícil é saber quando e como devemos tomá-las. Há quem deixe que as coisas aconteçam naturalmente, e elas até acontecem satisfatoriamente.Esses são uns poucos afortunados. Tem os que se deixam direcionar pelos acontecimentos e quebram a cara. Estes são a grande maioria. Uma quarta parte é formada pelos que controlam os acontecimentos e invariavelmente também quebram a cara. Há, no entanto, os que tentam controlar as coisas e conseguem. Estes são poucos, pouquíssimos. *

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Ele criou coragem para tomar uma atitude. Foi novamente à lanchonete e pediu uma coca. De repente sentiu um aroma conhecido e, ao virar-se, viu que ela estava bem ao seu lado. Seu perfume a denunciou. Ele o sentira desde seu primeiro encontro, no saguão. – J’adore!– disse ele, como quem nada quisesse. – Pardon...– ela respondeu em um perfumado francês. –Your smell...Your perfume... Is...J’adore! – Are you a perfumist?


– No.I’m a writer. Ela fez um ar de genuína admiração e disse que era um prazer conhecê-lo. Ele agradeceu e retribuiu a gentileza. Ela pagou os dois sucos de laranja que pedira para seus filhos e foi-se, não sem antes cumprimentá-lo com um sorriso um tanto insinuante, ao que ele retribuiu da mesma forma. Mesmo que sempre odiasse atrasos aéreos, ele daria qualquer coisa para que o tempo mudasse e todos os voos daquela noite fossem atrasados em pelo menos duas horas. 6 O final é sempre reservado ao que há de melhor, mesmo que o melhor não seja aquilo que nós quiséssemos. *

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Os olhares deles continuaram a se cruzar por mais uns trinta rápidos, mas intermináveis minutos, até que ela pegou suas coisas e o filhinho pela mão e dirigiu-se para a saída. Mais na frente ia o cavalheiro com a menininha. Ao passar por ele, que estava sentado, de pernas cruzadas, observando tudo, disse-lhe em um inglês germânico: – Tome cuidado... Seus olhos são muito perigosos... Acabam não deixando nenhuma saída para uma mulher curiosa como eu... – Ah! Seus sapatos são muito bonitos... Mas cuidado, não vá cair... Seu cadarço está desamarrado... E ela se foi, com um olhar meigo e um sorriso maroto.

MEU RETRATO DE QUIRON Quiron era o maior centauro do Olimpo. Arqueiro, médico e filósofo, foi também preceptor de Apolo, de Aquiles e de Jasão, a quem ensinou, além da arte da guerra, a música e até mesmo a medicina. Esse meu amigo é o tipo de sujeito que chega em casa com duas sacolas na mão. Uma, trazida do supermercado, e a outra, do videoclube. Chega disposto a tomar um demorado banho, depois prepara uma massinha com atum e tomates frescos e come com pão e vinho, revendo um daqueles maravilhosos filmes épicos: Ben-Hur, Agonia e êxtase ou Lawrence da Arábia... Isso, se ele não trouxe, no meio desses, algum filme sobre a aplicação da justiça: Doze homens e uma sentença, O vento será tua herança ou O sol é para todos. Para Quiron, que é a personificação do sagitariano, os princípios são inegociáveis. Ele ainda acredita que a justiça, além de cega, é certeira. Dê para um sagitariano uma causa, seja política, cultural, científica ou social. Se ele a aceitar como própria, vai disparar feito uma seta em defesa dela, com uma empolgação só equiparável à sua proverbial falta de tato ou seu senso extremado de honra. Gozador, certa vez, numa reunião de condomínio, alguém protestou porque sua empregada subia pelo elevador social, e ele, que adorava escandalizar a todos, emudeceu os condôminos declarando que eles haviam se enganado:“Ela, na verdade, é minha namorada”. Franco e avesso a todo tipo de subterfúgio, ele sempre faz e diz o que pensa, e na maioria das vezes o faz e diz sem pensar. É aí que ele normalmente leva grandes tombos, despencando direto, do Olimpo de seus nobres ideais, para uma realidade menos acolhedora. É quando descobre, por exemplo, que alguém a quem ele defendera fervorosamente, na verdade é culpado. Com o mesmo empenho que defendera aquele amigo, agora se obriga a assumir suas responsabilidades. Por andar sempre hipnotizado por metas longínquas, às vezes os centauros tropeçam em seus próprios pés. Nada grave: ele continuará otimista, porque nasceu sob o signo de Júpiter, o mais mão-aberta dos deuses. E sua sorte, mesmo que tarde, jamais lhe faltará. Os mais frequentes distúrbios de um sagitariano são o otimismo incurável, a ansiedade crônica e o tédio mortal. O primeiro pode ser suavizado, embora, graças a Zeus, nunca completamente sanado. A ansiedade crônica pode ser tratada à base de meditação e Maracujina. Quanto ao tedium vitae, a mais grave das afecções que um sagitariano pode contrair, o remédio é fácil: basta ele inventar uma nova meta, qualquer uma, aprender a pilotar um Boeing ou a falar chinês clássico. Ele pode vir a desistir do brevê de piloto no dia do exame, e não passar das primeiras três aulas de mandarim, mas nesse percurso, estará curado. Quem tentar enquadrá-lo, sugerindo que ele consulte um profissional, perderá tempo. Ele não para quieto em casa, menos ainda no divã. A concepção sagitariana de romance é muito esportiva, mas eles são honestamente devotados a todos os seus amores. Por isso, para ele, contar a sua nova namorada que ela é a trigésima quarta em sua vida é o fato mais natural do mundo, e ele ainda acrescenta, sinceramente, que ela é a mais incrível de todas as mulheres que já passaram pela vida dele. E se esta quiser ser a definitiva, é necessário adotar uma estratégia de displicente autocontrole: nunca perguntar ao seu centauro com quem ele almoçou, nunca lhe dar ultimatos e jamais partir para cenas melosas.


Ele na verdade não passa de um menino, um moleque que tem a boca maior que o estômago. Ah! Não leve tão a sério os exageros do centauro, e você conviverá com um campeão em cumplicidade, solidariedade e amizade. E olha, um amigo, para ele, vale mais que cem amantes. Quiron tem pavio curto e memória mais curta ainda. Se inflama por qualquer motivo. Diz e faz os outros dizerem barbaridades, e depois esquece, mas é incapaz de guardar qualquer ressentimento. Eu poderia falar mais sobre esse amigo, mas preciso pensar no que fazer pra comer. Vêm uns amigos pra cá, hoje eu trouxe uns filmes de Capra:Do mundo nada se leva, A mulher faz o homem, A felicidade não se compra...

Águas de Junho134 Por Joaquim Haickel • domingo, 08 de junho de 2014 às 04:41 Faz uns dois pares de anos que não falo com o jornalista Roberto Kenard, meu amigo de muito tempo, companheiro das lides poéticas e de ações culturais importantes, como um programa de rádio, um semanário, uma revista mensal e a editoração e publicação de vários livros. Todas essas ações levaram o sobrenome Guarnicê, e aconteceram nos saudosos e eternos anos 80. Eu e Kenard somos bem diferentes. Diferentes em nossos posicionamentos ideológicos, em nossos estilos e gêneros literários, em nossa forma de encarar a vida e dentro dela a política, os negócios… Mesmo assim, de longe, nunca deixei de acompanhar sua trajetória de poeta e jornalista. Estive sempre por perto, pois em mim, a discordância pontual ou o desentendimento momentâneo, não geram ódio, rancor ou nenhum outro sentimento negativo. Policio-me constantemente para que nada gere em mim sentimentos negativos, mesmo que em relação a um ou outro “imbecil” isso seja um pouco difícil, mas acabo conseguindo. Desfrutamos, eu e RK, juntamente com Celso Borges, Paulinho Coelho, Érico Junqueira Aires, Cordeiro Filho, Ronaldo Braga, Ivan Sarney, meu irmão Nagib, entre outros, a experiência juvenil e utópica de tentar mudar o mundo através da música, da poesia, da literatura, do cinema e das artes de um modo geral. Convivemos de adolescentes a adultos, e até mesmo algumas vezes, adúlteros, em nossas jovens e temerárias experiências de poesia, álcool, Guaraná Jesus e outras “cositas mas”, quando nos permitíamos esquecer as nossas namoradas em casa e saíamos pelos bares e praias da Ilha, no velho Bugre vermelho que nos servia de Rocinante, apaixonando e nos apaixonando por Dulcineas, Carmens, Julietas, Amélias, Teresas, Capitus, Ursulas, Mollys, Marias “… De todas as raças, de todas as cores…” Naquele tempo nos permitíamos subverter as regras vigentes para transformá-las em algo mais parecido conosco, com aquilo que queríamos da vida. Buscávamos naquele tempo, assim como hoje, mais ou menos a mesma coisa. A tal da felicidade e da extensão dela para o maior número de pessoas possíveis. Isso não mudou em nada. Só que agora são mais visíveis as diferenças. Uns querem alcançar isso de uma forma e outros de outra, uns com um estilo e outros com outro, mas no fundo continuamos querendo a mesma coisa. A forma de fazer isso que já era diferente antes, na juventude, em alguns casos tende a se aproximar e em outros a se distanciar, na maturidade. Não acredito que nenhum de nós estejamos tão distantes a ponto de que não saibamos disso. Falo hoje de Kenard por dois motivos, primeiro porque comentei com um nosso conhecido comum que desde a morte do jornalista Walter Rodrigues, que acreditávamos que ele, Kenard, passaria a ser o melhor articulista político do Maranhão. Kenard não tem e acredito não terá jamais a teia de contatos que tinha Walter, até porque este fazia de sua teia, seu habitat, sua forma de viver. Em suma, ele não vivia a sua vida, ele vivia o jornalismo, a política. Já Kenard vive o jornalismo, a política, sua família, sua mulher, seus filhos, sua Barreirinhas, seus estudos, sua literatura, sua poesia. Tem coisas que Walter jamais teve e nunca teria. Sem medo de ferir nenhum ego, nem magoar ou melindrar nenhum amigo jornalista, acredito ser Roberto Kenard, o sucessor de Walter Rodrigues e parece que quanto a isso não estou sozinho. Ele não carrega a mão no sarcasmo nem na ironia debochada como fazia Walter, mas, como ele, apresenta os fatos de forma clara, permitindo com que se possa ter uma visão perfeita dos fatos, isso sem contar com seu estilo literário, enxuto, simples, direto e elegante. A outra coisa que me fez lembrar Kenard, foi o fato de que o falecimento do grande poeta José Chagas, abre vaga na Academia Maranhense de Letras, instituição que na juventude abominávamos como símbolo do imobilismo e da inação. Lembro que Kenard fez uma matéria mordaz sobre a AML e nós publicamos na Guarnicê. Teve grande repercussão. Para efeito de preenchimento de vagas na AML tenho um critério muito pessoal que acredito hoje ser o da maioria dos acadêmicos praticantes e assíduos às reuniões. Devemos eleger alguém que participe da vida da instituição, alguém que exerça uma função criativa e produtiva, alguém que possa conviver bem com seus confrades e confreiras (expressão horrível), alguém que ajude a AML a não ser uma casa de simples mortais, mas que sejamos imortais em nossa luta pela arte e pela cultura maranhense. Nesse desiderato (expressão também horrível), minhas preferências recairiam em primeiro lugar em Gullar, Nauro, Arlete, Zelinda e Turíbio, como expoentes máximos de nossa cultura ainda fora da Academia; em Jesus, Cassas, Ariel, Salgado e Kenard, por suas obras; E em Felix, Neres, Zé Jorge, Aldo e Alan, pelo muito que podem contribuir para o aumento e melhoria 134

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das ações artísticas, literárias, culturais e midiáticas da AML. Ainda poderíamos relacionar os nomes de Celso, Sinhô, Mundinha, Lourdes e Paulão, entre os de outros, que também poderiam ser cogitados para fazer parte do sodalício (outra palavrinha difícil). - É uma lista grande! Diriam uns. – Haja passamento! Diriam outros. Mas a vida segue, diria eu. Mas voltando ao Kenard, devo de dizer que assino embaixo de alguns de seus últimos textos publicados em seu Blog, mas isso já seria assunto para uma outra conversa.

REFAZENDO AQUELE SONHO135 De mim só me lembro estar elegante. Terno escuro, camisa clara, gravata de seda… Dela, não esquecerei de nada, jamais… Era um sonho… Seu vestido longo de cetim, seus olhos cor de mel, sua boca carnuda. Um aroma de sedução no ar… Vinho, conversa ao pé do ouvido, música, coisas pra beliscar, inclusive seu braço pela fresta da cadeira. Dança… Seu corpo juntinho ao meu encaixados como perola e ostra ondulavam. Seu olhar era denunciador, seu rosto e seu corpo falavam por ela… Tudo que aconteceu naquela noite depois da hora em que a vi… preferi esquecer… Agora, distante em tempo e espaço me imagino, me quero em seu colo. Mergulho em seu decote, nele descortino o mundo e desço… Encontro montes, uma vasta pradaria, vales, um rio feito de suor… Precipício… Mergulho nele. Quando emergir quero estar de novo nas costas dela, imprensando-a contra a parede, mordendo sua nuca, lambendo seu pescoço, e aos seus ouvidos 135

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quero fechar a cortina de outra noite e ver outro dia nascer. Mais tarde, depois do café, ler pra ela esse poema e fazê-la sentir ciúme imaginando que refiz meu sonho com outra mulher.

VÊNUS Para abrir teu coração e tua mente não uso chave. Sirvo-me de algo melhor: a boca ardente. Com a boca lábios, língua, palavras e dentes abro muita coisa: teu coração, tua mente, teu cofre tua caixinha de joias. Coloco tua gaiola no parapeito da janela e te assalto. Roubo-te. Abro-te .


JOÃO ALMIRO LOPES NETO CONCURSOS É de São Luis. 17 de dezembro de 1960. Poeta. ref.: Laureado no concurso de Poemas Cirandinha, 1983136. DISCURSO PARA UMA CIDADE AMEAÇADA Poucos souberam ver em declive a tua solidão, Cardápio da tua fome em mim vravada, São Luís, namorada, amante, arte! E eu não te abraço mais que por querer-te, Pela necessidade de louvar-te. Sobre templos e sobrados, Nos teus contornos de ilha Ardem sóis e, por encanto, Tua estrela é em mim que briha. Meus olhos cheios de sonhos Mal sabem quantos segredos, Nesta penúltima queda, No duro deste poema, moram nas tuas paredes, me queimam a boca e os dedos. Por sobre águas diviso Barcos de sopradas velas Pondo sol no meu sorriso, Compondo tons de aquarelas. Nas cinzas de tuas pedras Um poeta morre de amor, E apodrece em teu solencio Pra que em verbo reverdeças, na flor do chão em que estou. De tanto te acompanhar, Já me tenho mais que ausente, Anulei-me no meu corpo Pra que te faças presente E exibas teu rosto gasto No tempo que nos consome. Oh! Apodrecemos teu corpo Com as garras de nossa fome De progresso iconoclasta, Até que a ira se anule E o bom senso diga basta! 136

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Mas enquanto posso ter-te, Te sentir como é devido, Te caminho, gozo, te ano Puro, inteiro ou dividido. Lavo-me nas tuas fontes, Sou peixe em tua baia, Me perco em tuas esteiras, Passeio minha revolta Nos teus becos, Me debruço No corrimão de tuas pontes, No canso em tuas ladeiras. Me escondo nos teus mirantes, Nas tuas praças me exponho, Deploro teu abandono, Me afundo na tua calma, Antes que a mão do progresso Fira fundo a tua alma. Comparo teu corpo antigo, Tua fontes, tua paz amiga, Teus farópis, tua magia Com o novo que te rodeia, E temo por teu destino De azulejo e cantaria. Sei que é preciso salvar-te, Noiva, esposa, amiga, irmã! Aqui, um pouco do que somos reverdece, mas tu ameaças ruir amanhã.


NILSON CAMPOS NATANILSON PEREIRA CAMPOS Nasceu em São Luis no dia 21 de dezembro de 1971. Cursou letras na UFMA. Membro da Associação Maranhense de Escritores (AME). UM AVISO POSTUMO Quando a noite do meu corpo cair definiva como o sol de ontem (como a dos meus E a dos seus Que se foram e já não vêm) Nesse leito que preparo Para o meu sono ultimo (que há muito vem se condensando E pensando em meus olhos), Deixem que eu durma em paz. Não me reclamem agora Por esas noites insones que passo Nem por meus dias de guerra (nessas ruas há trincheiras) (ou são sepulturas?) Tenho toda uma eternidade Para descansar. Por isso, Quando, Definitiva, A noite cair em mim, E talvez eu chore (por vocês) Ou sorria Não me chamem. Já não vai adiantar abrir as janelas, Ligar o radio, por café na mesa, Fazer cócegas, Dizer que o amor bate à porta, disparar o despertador (o sono do meu corpo será eterno). Não me chamem (como não quis que me chamassem Nas manhãs de sábado saturadas Do cansaço semanal), Me deixem dormir Em paz z z Z Z


ADEMAR DANILO São Luis (MA) 27/11/1962. Jornalista, radialista, empresário, colecionador e pesquisador de musica negra, com foco no reggae. Apresentou o primeiro programa inteiramente especializado em reggae no Brasil. Um dos fundadores da Akademia dos Párias, diz hoje que, por estar embrutecido, não produz mais poesia. O poema A mulher Ou a vida Te entrega bandidão! Doente de ti que não ama Distante de ti quem te ama Boleros afrancesados Aznavour louco de rouco Verlaine se espanta na estante O poema a mulher ou a vida Levarei flores ao meu tumulo


RAIMUNDO NONATO RODRIGUES Nasceu em 19 de dezembro de 1960 no bairro histórico do Desterro na cidade de São Luis do Maranhão. Começou a escrever aos 17 anos. Autor de inúmeros trabalhos inéditos entre poemas, roteiros e dicionários russo-português. Em 2000 publicou seu primeiro livro de poemas "Itinerário Poético & Espiritual do Desterro" e 2001 outro de poema "Um Olhar sobre o Desterro", ambos por conta própria. Em 2012 publicou um romance em francês "Le Cahier Rouge du Pére Joseph" pela Edilivre (www.edilivre.com) de Paris. Em 2014 editou seu primeiro romance "Além das Névoas Azuis" baseado em estorias que ouvia de um amigo que sofria de esquizofrenia e dizia ver os mortos em outro mundo, na cidade mítica de Jeruz. Depois veio "Enquanto Escrevo" e "Cronica de Uma Tuberculose Anunciada" ambos baseados em seus diários. Sendo que ultimo conta o drama que viveu quando descobriu que estava com começo da doença "Tudo começou com um pigarro na garganta e uma tosse renitente que o autor não levou muito a serio devido aos seus problemas cotidianos. Como uma bola de neve foi avolumando-se com febres, cansaços e calafrios inexplicáveis e o nosso intrépido herói não querendo acreditar no óbvio. Aconselhado pela cunhada, procurou um medico e a verdade foi-lhe revelada. E assim começa um novo drama na vida desmantelada desses guerreiro de lutas vencidas" - Os dois foram publicados pela editora Clube de Autores de Joinville e também estão disponível e:book pela Google-books (www.google.books.com), onde poderão ler alguns trechos gratuitamente. Atualmente trabalha no livro "Tuberculose" onde narra o tratamento. Rodrigues é admirador de Cervantes, Dickens, do mestre Dostoiévski e de seu guru literário, o americano Henry Miller. Adora Chopin, Bach e Mozart. Seu hobby é a leitura. Se define como um pessoa simples. Cronica De Uma Tuberculose Anunciada https://books.google.com.br/books?id=HjZLBQAAQBAJ Raimundo Nonato Rodrigues - 2010 - Literary Collections Raimundo Nonato Rodrigues. RAIMUNDO NONATO RODRIGUES Crônica de uma Tuberculose Anunciada São Luis, Ma 2014 ... Enquanto Escrevo - Resultado da Pesquisa de livros do Google https://books.google.com.br/books?id=NrBMBQAAQBAJ Raimundo Nonato Rodrigues - 2010 - Drama Raimundo Nonato Rodrigues. Raimundo Nonato Rodrigues Enquanto Escrevo São Luis – Maranhão 2014 .


ALEXANDRO HENRIQUE CORRÊA FEITOSA ALEX FEITOSA - São Luís – MA – 14. 11. 1970. Graduado em Psicologia (UFMA-1997), pós-graduado (em nível de Especialização) em Gestão de Pessoas (Uniasselvi-2010). Estudante de Direito (CEST). Classificado/premiado em concursos de poesia (Rotary Club, Aliança Francesa), redação (Fundação Bradesco, Fundação Joaquim Nabuco), e pesquisa estudantil (FAE-Fundação de Assistência ao Estudante). Atualmente, labora na área de RH.

MINHA CANÇÃO DO EXÍLIO – lembrando e dedicando a Gonçalves Dias Na penumbra desta noite-ausência contemplo-te uma vez mais distante Oh! minha amada São Luís...

Minha terra de Gonçalves Dias! Faço de mim pensamento e viajo na brisa/carícia que me chega do teu mar tuas ladeiras telhados e azulejos escadarias e becos teus (en)cantos... tudo ares benfazejos. São Luís... Tu estás em mim como eu estou em ti. Aqui deste mirante interior do cimo desta ladeira/sobrado/eu mesmo as estrelas me refletem em São Marcos... A lua me cintila em saudades... E abro os braços para te acolher abraçada ao meu peito, Ilha querida... MINHA TERRA DE GONÇALVES DIAS! Calhau, Ponta d’Areia, Olho d’água... Teus bairros, ruas e praças... Rostos amigos – o Sousa, no Reviver... lembranças que não esqueço e em mim sempre hão de viver. Parece ontem – ainda lembro pequeno, criança de calção empoeirado. O Parque XV de Novembro – a extinta vila... Olhei em teus olhos, Beira-Mar dos meus Amores... me vi em ti espelhado e te dei... Mais uma vez Adeus!


Lembras... de quando nos conhecemos? Estavas LINDA, bronzeada ao sol da tarde. Corrias conosco até à Pracinha e marulhavas no Cais... frente ao Palácio. Eu? Eu era todo alegria...

MINHA TERRA DE GONÇALVES DIAS! Naquele tempo... Até teus abandonos me eram tudo Poesia! Na calmaria de um banzeiro que quebrava lá pista de asfalto por baixo daquela ponte... Eu entregue às brincadeiras de menino... Meu peito ainda acelera: é a tua voz que me chama que me encanta que me inflama... Tu me amas E eu te amo Quero ser teu. Eternamente teu. Que os meus olhos te sintam sempre LINDA! Minha pele saboreie o orvalho de tuas noites e o meu ser se extasie na sinfonia de tuas manhãs... Sou teu filho, sou teu fã. Protegido em teus mistérios me abandono em teu regaço. E ao tocar tuas mãos/nuas/ruas... seguro firme em teu (a)braço. E assim sentindo O calor de tua presença/ausência/saudade... Aspiro que sejamos a um só tempo o mesmo peito, a mesma paz e alegria... Oh! minha terra de Gonçalves Dias.


DANIEL VICTOR ADLER NORMANDO ROMANHOLO. São Luís-MA – 23/10/1998. Mora em São Carlos-São Paulo e cursa o 9º ano no Colégio Interativo. Tem participação em “ASAS DE UM SONHO por um mundo melhor”, obra coletiva dos alunos da EMEB Angelina D. de Melo e EMEB Ermantina C. Tarpani, São Carlos-SP, 2008. É co-autor (juntamente com João Marcelo Adler Normando Costa e Dilercy Aragão Adler), do livro Infantil, “Uma história de Céu e Estrelas, São Luís-MA, 2011.

A ANTÔNIO GONÇALVES DIAS

Chorou de tristeza Ao perder a filha querida Ao ausentar-se da terra natal Ao perder o amor da sua vida!!! Com tanta criatividade, deixou muitas saudades... nunca iríamos esperar sua ida. Pois é: Choramos hoje a sua partida Mas nos alegramos por tê-lo tido entre nós!!! Obrigado Gonçalves Por ter deixado milhares de emoções Com seus poemas e Canções...


FRANCISCO CARLOS SOARES MAGALHÃES São Luís - MA – 11/10/1968. Obra: Livro Renovemo-nos

Tenho saudades da minha cidade, repleta de palmeiras; O canto das aves de outrora, não soa mais tão belo na aurora, pois, as palmeiras foram alimentar as caldeiras, para o homem saciar a sua ambição cheia de ferocidade. As estrelas não estão mais felizes no nosso céu, as flores murcharam nas nossas várzeas, a vida não encontra mais os nossos bosques, os amores de nossa vida precisam de retoques, a nossa sociedade se escondeu em um escuro véu. Sozinho, de dia ou de noite, em andança, sinto os olhares transpassar-me como uma lança, não tenho mais prazer da minha cidade desenhar, pois, não tem mais palmeiras para o sabiá livre cantar. A minha cidade não tem mais rios límpidos, as suas ruas são de uma só cor pintada, pouca árvore plantada, os sonhos de nossas crianças não são mais coloridos. Os olhos da minha cidade não seguem uma regra, a de conservar a natureza, isso vai levá-la com certeza, a se transformar numa Selva de Pedra.


FRANCISCO GAUDÊNCIO SABBAS DA COSTA SABBAS DA COSTASão Luís – MA - 25 de novembro de 1829, e aqui falecido, em outubro de 1874. O escritor não teve vida longa, tendo perecido ainda jovem, aos 45 anos. Obras, tidas como as principais de sua lavra: (1)Francisco II ou a Liberdade na Itália, drama em 5 atos, 1861(1881); (2)Pedro V ou o Moço Velho, drama em 5 atos, 1862; (3)A Buena-Dicha, comédia em 2 atos, prólogo e epílogo, 1862; (4)O Escritor Público, comédia em 1 ato, 1862; (5)Garibaldi ou o seu Primeiro Amor(6)O Barão de Oyapock, drama em 3 atos e prólogo, 1863; (7)Beckman, drama histórico em 7 atos, 1866; (8)Anjo do Mal, drama, 1867; (9)Os Bacharéis, comédia em 3 atos, 1870; (10)O Amor Fatal, (11)Rosina, romance; (12)Revolta, romance histórico; (13)Os Amigos, romance, em 25 capítulos; (14)Jovita, novela, em 3 capítulos; (15)Jacy A Lenda Maranhense, esboço de romance, em 14 capítulos. Outras obras publicadas em jornais da época também podem ser destacadas: (a)O Encontro; (b)Teatro de São Luís; (c)Como Nasce o Amor; (d)Simão Oceano; (e)A Madrugada; (f)Maria do Coração de Jesus; (g)O Baile; (h)O Dote; (i)O Adeus; (j)Não Brinques; (k)Sinfrônio; (l)O Homem do Mal; e (m)Encontro de Ronda com a Justiça; entre as que foram possível mapear.

SONETO A ANTONIO GONÇALVES DIAS Em memória do Poeta laureado O Brasil quis erguer um monumento! E tão grande e sublime pensamento Foi em fino granito consumado. Um tributo que ao gênio só e dado, Vem render a nação n’este momento! Ao futuro legando um documento, Que o presente lhe oferece do passado. As musas n’esta festa nacional Rendem cultos, em hinos de harmonias Àquele que deixou nome imortal! Ó cantor de inspiradas melodias, Que na lira seu estro divinal Pelo orbe espalhou: Gonçalves Dias.


IRANDI MARQUES LEITE São Luis - MA –30/11/1955. AUTOR DE: Retas da Vida (1977); O que é Interact? (1974); Dialéitica Cultural (2012); Sapo Folia (2013); Musa Caemeira e o Sapo Folião (2013); Odisséia do Cotidiano (1977).

DIALÉTICA INDIANISTA I Tua vida principia Gonçalves Dias De noite e de dia Dias e noites Rumo à poesia II Flutuou no espaço sideral Na busca da poesia universal Cantou nosso Índio Na terra, no mar, no ar No espaço tridimensional III Vagou por longas terras Navegou além mares Voou nos espaços infinitos Encontrou o ponto de interseção Do material com o espiritual Da razão com a emoção IV Teus versos têm primores Que não encontro em outros, nem cá, nem lá Tua mensagem teus amores Que não vejo em outros, Nem aqui, nem ali, nem acolá V Tua paixão por Ana Amélia Atravessou os tempos E espaços infinitos Pureza de amor Que melancolicamente brota Da alegria e da dor VI Rimas ricas Rimas melodiosas Palavras puras Mensagens saudosas


VII Emoção e percepção Comunicação Elementos intangíveis Relação ser humano e natureza VIII Dialética Forma objetiva Retoques subjetivos Concretiza conexões Rocha suporte Índio, história Poeta indianista IX Busco a tua poesia integral A tua mensagem derivada - Simbolismo, modernismo, sinfonia O último sopro da agonia Pensando na mulher amada!


DE CAXIAS PARA O MARANHÃO No espaço finito e infinito Surge um sopro de vida A terra floresceu Em caxias, no maranhão O poeta nasceu II Terra, água, ar Mistura heterogênea Com tendência a homogênea Índio, português, africano Miscigenação, riqueza cultural III Empatia aos olhos Do menino caxiense Relação cultural prodígia Com marcas profundas Na sua trajetória poética IV O poeta fugidio Do maranhão para portugal Navegou na literatura mundial Buscou livros e histórias Voltou para os braços Da sua terra natal V Navegou no sentido da vida Até o infinito do mar Bscou a musa querida Com canto indígena Cantou a terra guerrida Para teu canto universal A nossa homenagem fraternal Nossos nomes são indígenas Sou irandi Minha filha maiara E meu filho raoni


JACKSON DOUGLAS SILVA São Luis – M – BRASIL - 13 de Outubro de 1985. Universidade Federal do Maranhão/Curso: Letras

NATUREZA EXALTADA Poeta, Dias ilustres foram Todos os que tu estiveste nesta terra. A natureza nunca sentiu-se Tão lisonjeada nos teus cantos. Cantos de amor, cantos de saudade. Gonçalves, Dias tristes Foram muitos para nós, Pois a tua partida trouxe-nos saudade. Saudade que nos leva a ler e ouvir O teu cantar e exaltar. Dias, o teu canto não silenciou-se. Mesmo com o mar imenso querendo sufocar, É certeza que o teu canto ainda continua a ecoar Nas regiões de terra, céu e mar. Quem nos dera ter-te outra vez Para olharmos com os teus olhos Através da poesia o esplendor da criação. Como seria majestoso vê-lo Ainda uma vez, cantando e exaltando a Nação!


KÁLISON COSTA NASCIMENTO São Luis – MA – 02/10/2001Motivo da Participação: Poder expressar-me de forma poética e poder viajar no mundo irreal e homenagear o tão saudoso Gonçalves Dias da histórica cidade de Caxias! Cursando: 5º Ano Turma:C Profª Shirle Maklene

O GRANDE POETA

Gonçalves Dias nasceu com a poesia no sangue. Era desde pequeno um batalhador. Nasceu com força e caráter. Ele nasceu com a poesia na alma e muito amor. Com raça, firmeza, com o dom de expressar. Através de poesias sua herança deixou. Para o futuro ele trabalhou. Nos versos lemos sua forma de amar! Seu gosto fino pela vida foi real! Muitos buscam sabedoria de um caxiense. Que conquistas conseguiram. Com a admiração de mais de um maranhense


LUIS LIMA / LUZENICE MACEDO São Luis, MA – 05/10/1964. Apenas um maranhense compositor com extensão do mundo, sem distinção. Um fazedor de arte, graduado na universidade de enrolamentos dos legítimos charutos socialistas cubanos. Um nato comunista credor da palavra, desconfiado das maiorias. Segue imperfeito sem acabamento, com mestrado em ciência de coisa nenhuma... Autor dos cd’s Palavrando e Expresso de letras e do livro de poesia Arrumador de palavras, por enquanto... LUZENICE MACEDO – Codó, MA – 20/10/1973. Remanescente do bando das Marias Bonitas. Menina do mato, de Codó e da terra de Gonçalves... Ora fina flor dos madrigais de Raposa, MA. Formada em Biologia pela Universidade Federal do Maranhão, eterna aprendiz de feiticeira... do pó de pirlimpimpim. Sem encontro marcado com os “dadores” de idéia do mundo real, por isso, fazedora de cordéis

DIAS DE JOÃO

seu gonçalves venho lhe pedir um favor me diz como faz pra brotar outro pé no vale se pé não dá pé pedir vale à pena seu gonçalves venho lhe pedir um favor nesses dias difíceis não há um joão que resista então passe a revista por todo o batalhão que a lágrima reza a novena e a seca castiga o sertão é que eu já sabia que sabiá ia cantar o fio da navalha já se perdeu do barbeiro e a velha mortalha deu seu adeus fevereiro é que eu já sabia que sabiá ia cantar sinhazinha deixou os seus cordéis no varal o vento levou as rimas pras bandas de lá cuidado com o rastro na roça que carcará vem pegar


MICHAEL JACKSON COELHO DA SILVA São Luís-MA – 08\11/2000. Motivo da participação: Eu gostaria de participa da Antologia poética por que eu queria que todos se lembrassem de mim na Escola, para ajudar a escola e deixar meu pai e minha mãe orgulhosos e homenagear o nosso grande poeta.

SEM TÍTULO São Luis cidade mimosa, Tão linda como uma rosa. São Luis como pode brilhar, Diz o canto do sabiá. São Luis linda cidade, Tão linda com tanta idade São Luis cidade dos azulejos, São lindas como te vejo. São Luis cidade das praias, Cidade amiga da água. Cidade dos casarões, Com várias mansões.”


PAULO MARTINS São Luis – MA – 04/11/1950, Médico pediatra e neuropediatra, Membro da SOBRAMES-MA, Participante de Coetâneas realizadas: Novos poetas brasileiros- 1988 (Shogun arte), Poetas brasileiros de hoje-1986 (Shogun arte), Novas poesias-1986(Cristalis Editora), Arte de ser-2003(SOBRAMES-MA), Receita Poética-2008 (SOBRAMES-MA), Sobre o amor-2011(SOBRAMESMA)

TERRA NATAL Oh! Minha terra querida Por DEUS foste abençoada E aqui o poeta um dia nasceu Com seus poemas e rimas, Que são gritos de guerra Que teu povo jamais esqueceu Pois teus versos e cantos Em todos os cantos Há de sempre se cantar Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá Nas palmeiras viçosas Que tremulam palmas ao ar Há de sempre se ouvir As belas notas de teu gorjear Nesta terra querida De tal beleza outra não há Não permita meu bom DEUS Que em terras distante morra Pois quero morrer por cá Minha terra tem palmeiras Onde canta o sabiá

03 DE NOVEMBRO DE 1864 Cantaste a nossa terra querida Exaltando-a em bela canção Em versos a tua dor sofrida A saudade pungente do Maranhão. Quiseras avistar apenas a palmeira Onde triste gorjeia o sabiá Neste chão de terra brasileira Onde todos sempre hão de te amar Em cismar sozinho à noite As lembranças chegavam a te açoitar Dizias: - Mais prazer encontro eu lá Fadado destino, a triste sorte Que águas maranhenses fossem teu leito de morte Sem que na terra querida viesses a pisar


ÍNDIA POTY Minha terra tem uma bela índia Da grande tribo Tupy Não permita Deus que eu morra Sem que volte para ti. Sem que contigo faça amor Que não encontro aqui Minha terra tem uma bela índia Que se chama índia Poty Não permita Deus que eu morra Sem que volte para ti. Posso amar por toda uma noite Mais prazer encontro eu lá Minha terra uma bela índia Que não encontro por cá Na ilha de mil mistérios São Luis do Mara.

O GLADIADOR Sou bravo, Sou forte, Sou filho do norte, Trago comigo a faca de corte, Travo a luta de qualquer porte, Não temo do destino a sorte, Se tiver como premio a morte.


SAMUEL CANTOARIA FERREIRA São Luis – MA – 02/11/2001 – Eu gostaria de participar da antologia porque queria ser reconhecido pelo país e porque sempre quis fazer um livro

O MARANHÃO Que belo é o Maranhão cachoeiras pessoas É uma pena que esteja assim culpa da população, tanto Mas ainda há belezas Maranhão Com rios e cachoeiras E muitos casarões. Não permita Deus que eu morra, que ajude a natureza quando meu filho nascer Brincar e ver as belezas.

Tem rios e É uma pena que as Fazem muitas sujeiras. Tudo é Senão sujassem Não ia haver poluição. No

Sem Para


MARIANA LUZ Por Jucey Santana137 Academia Maranhense de Letras Patrona da Academia Itapecuruense de Ciencias, Letras e Artes. Não vou aqui traçar nenhum perfil filosófico, crítico literário ou científico da professora Mariana Luz, sim, anotar informações, muitas vezes até folclóricas, de pessoas que a conheceram, avaliar o que encontrei nos seus escritos, e principalmente resgatar o quanto de humana e generosa existia na figura da poetisa, que, mesmo não a tendo conhecido, sempre tive o maior respeito pela sua pessoa, que ajudou o meu pai, a escrever as primeiras palavras. Foi uma das figuras mais expressivas na literatura itapecuruense, com uma produção literária de primeira grandeza. O diferencial de Mariana Luz para outros grandes expoentes da nossa terra, é o fato da poetisa sempre ter vivido em Itapecuru, auxiliando na educação de várias gerações de conterrâneos, tendo produzido toda sua obra literária na sua cidade natal, muitas vezes falando do cotidiano das pessoas amigas, vizinhos, alunos, autoridades, figuras ilustres, da exponenciais da cultura... Professora Mariana Luz, filha de João Francisco da Luz, comerciante português e Fortunata da Luz, afrodescendente. Era chamada carinhosamente de “Dona Sianica” (Sinhá Nica) nasceu no dia 10 de dezembro de 1870, em ItapecuruMirim, faleceu em 14 de setembro de 1960. Foi Educadora, Poeta, Teatróloga, Oradora e Escritora Teve uma infância muito simples, sem recursos financeiros para subsidiar os estudos, porém trazia o gosto pelo saber intrínseco no seu cerne. Ao longo da sua vida buscava com avidez o conhecimento, com curiosidade, em tudo que estivesse ao seu alcance. Autodidata, abraçou o magistério muito cedo, “desde onze anos já ensinava” gostava de lembrar a professora. Do seu compulsivo hábito de leitura, foi um passo para a poesia. Mariana Luz escreveu sobre vários temas, poesia, peças teatrais, monólogos, porém suas obras tiveram grandes influencia na espiritualidade, por ser católica praticante, sendo da Irmandade “Filhas de Maria” muito atuante na igreja. A obra de Mariana Luz, ficou muito tempo na obscuridade, por falta de condições financeiras da autora, para sua publicação. Recorreu aos conterrâneos, e até a Adhemar de Barros, então governador de São Paulo, em 1951, ajuda para publicação de seus livros, sem êxito. Na década de 40, com o apoio do Centro Acadêmico Clodomir Cardoso da Faculdade de Direito do Maranhão em conjunto com Orbis Clube de São Luis, foi publicado o seu livro “Murmúrios” com pequena tiragem. Livro que a celebrizou, com o qual teve seu mérito reconhecido pela Academia Maranhense de Letras como a segunda mulher a ter um assento na Instituição, eleita como Fundadora da cadeira 32 patrocinada pelo poeta Vespasiano Ramos, em 24 de julho de 1948. “Murmúrios é bem uma coletânea de versos de vários períodos da minha existência. Nele está bem clara a história da minha vida literária, se é que eu a tive realmente. E este prêmio, que os altos valores da intelectualidade maranhense me concederam eu agradeço de todo coração” “Muito me sensibilizou a minha eleição para o mais ilustre sodalício ateniense” em entrevista ao Imparcial em 10 de maio de 1949. Tomou posse em 10 de maio de 1949 recebida pelo professor e historiador Mário Meireles, quando proferido pelo acadêmico Ribamar Pereira, o seu famoso discurso “Assim, é que vindo para o convívio desta casa, não vos possa prometer o fulgor de produções literárias dignas deste Areópago e dos meus Pares”. Na época, recebeu subsídio da Administração Municipal para a viagem, com uma comitiva de itapecuruenses, entre autoridades, intelectuais e amigos, que a acompanharam, para testemunhar tão grande honraria. Também foi convidada pelo então governador, Sebastião Archer para ser hóspede oficial do governo, o que foi declinado, com sensibilizado agradecimento. “Prefiro por motivos especiais, hospedagem em casa de parentes diletos, nem por isso deixo de ser grata a bondade cativante do Senhor Governador, que eu sei, um Mecenas moderno acolhendo e amparando os que dedicam as letras e artes” Infelizmente veio a falecer com a frustração de não ter realizado o seu sonho o de ter seus escritos divulgados. Em 1990 o seu ex aluno, o ilustre escritor e historiador Benedito Buzar reeditou “Murmúrios” através das oficinas do SIOGE “Ao tomar a decisão de reeditar Murmúrios, fi-lo com o propósito duplo. Primeiro, resgatar Mariana Luz do esquecimento a que estava submetida, e para que novas gerações possam saber que ela, além de ser uma poetisa da

137 Itapecuruenses notáveis ( PROFESSORA MARIANA LUZ). http://alvoradanoticias.blogspot.com.br/2011/12/itapecuruenses-notaveis-professora.html http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2015/03/08/interna_impar,168144/livro-marianna-luz-vida-e-obra-e-coisas-de-itapecuru-mirim-retrata-apoeta.shtml http://www.aicla.com.br/mariana-luz/ http://joseneres.blogspot.com.br/2015/01/novas-luzes-sobre-vida-e-obra-de.html


melhor qualidade intelectual, contribuiu de modo acentuado Benedito Buzar.

para o aprimoramento da cultura maranhense” confirma

Apesar de a crítica ter sido sempre voltada para o foco da tristeza, sofrimento e morte, sendo taxada como a “Poetisa dos Versos Tristes”, ao me aprofundar mais na leitura, do que consegui ainda encontrar, verifiquei outros aspectos temáticos de sua obra, bastante ecléticos, ora versando sobre: Amor, Mocidade, Crianças, Risos, Jovens, Amanhecer, Cenas da Vida, Esperança, ou sobre, Religiosidade, Morte, Sofrimento, Dor, etc - Sofrimento, solidão e tristeza - são os temas muito explorados pela autora. “Uma tristeza vaga, indefinida”, “Esta vida falaz e amargurada”.”A angústia, o mal a que ninguém se exime”. Em entrevista a poetisa confirma: “Prefiro Escola Antiga, porque me parece agradar mais ao coração. Está mais condizente com a minha alma sofredora” - Amor impossível – Um amor tão puro, que talvez por falta de condições, preferiu sucumbir. “As doces ilusões, que tanto amei”... “Morrer!... E vou morrer sem ter vivido”! “Tu não podes viver sem meu amparo. Eu não posso viver sem teu carinho” “É que em meu peito, precioso e caro. Doce tesouro oculto, como o avaro. Um nome, um nome que jamais direi”. - Religiosidade – A espiritualidade, o catolicismo, e a fé, estavam presentes em toda sua obra, “Minhas culpas, meu Pai, meus pecados, Senhor. Levaram-te sem dó ao Calvário da dor”! “Eu creio em ti, meu Deus, no teu poder infinito” - Beleza, natureza; - retratada através das paisagens, jardins, crepúsculo, flores, por do sol, tarde, pássaros, folhas, sorrisos... - Dor e Morte – temas bastante explorados em seus escritos, com mensagens cheias de reflexões sobre vida, morte, cadáveres e dor, como exemplo temos: Suprema Dor, Morte de Almira, Morta, Entre o Berço e o Túmulo, Gracinha Junto ao Féretro da Mãe, “Este caixão teu derradeiro leito” “Eu sinto qual cadáver regelado” - Escravidão – representada em lindo texto escrito em comemoração ao Jubileu de Prata da libertação dos escravos em 1927, com o título “Salve 13 de Maio” “...agora irradiam novos horizontes na sacrossanta asa da liberdade”, - Homenagens – Escreveu belíssimas homenagens a conterrâneos ilustres, visitantes e amigos: À Gomes de Sousa, Gonçalves Dias, Luis Bandeira, Coelho Neto, Padre Possidonio, João Rodrigues, Américo César, Francisco Félix de Sousa e muitos outros. A sua poesia era geralmente cheia de mágoa, mas também escreveu contos, dramas e comédias. Em sua casa montou um Grupo Teatral. Ela atuava como autora e também encenava, participando do elenco. As peças eram bastante procuradas, em uma época que não tinha cinema, constituíam o maior entretenimento na cidade. Em entrevista ao jornal Imparcial, ela confirma “escrevi muitas peças teatrais e 8 comédias que são representadas por senhoritas e rapazes de Itapecuru, no teatrinho de lá” Na época o jornalista folheou as seguintes: “Em casa de Procópio” “Por causa do Ouro” “Noivado de Rosa” e “Um Samba no Cocal” .Chegando até nós, uma, ambientada em Itapecuru talvez da década de 20/30 onde ela se identifica com a “Justina” personagem de rígido padrão moral. “Doninha ainda criança de peito, com a morte de sua mãe passou a ser criada e amamentada por sua tia Anacleta. Certo tempo depois Anacleta também faleceu e Doninha, novamente órfã passa a ser criada por seu padrinho, Félix Rodrigues, em Itapecuru-Mirim, onde estudou com Mariana Luz. E fez parte do seu grupo teatral, responsável pela encenação de muitas comédias à época”. Livro Cantanhede Memória, de João Carlos Cantanhede Escreveu também um Livro de Orações e Cantos Litúrgicos A educadora Mariana Luz não teve filhos biológicos, o seu filho adotivo Francisco Félix de Sousa, Chiquinho, Enfermeiro do Exército, do Rio de Janeiro, foi o guardião dos seus escritos até a sua morte quando passou a seu irmão Absai Siqueira Sousa, que sempre dizia; “Os documentos da poetisa Mariana Luz, não me pertencem, pertencem à comunidade itapecuruense” Infelizmente grande parte do acervo literário da poetisa, foi perdido, todo trabalho de uma vida dedicada a poesia. A poetisa mantinha correspondência geralmente feita em sonetos com vários amigos, era muito solicitada para escrever homenagens para aniversariantes que eram lidas na “Voz Paroquial”. “ela escrevia com muita espontaneidade, escreveu duas mensagens para minha mãe, baixava a cabeça e fazia rápido um soneto” disse Lósa Felix


Com poetisa Laura Rosa, primeira mulher a ter assento na Academia Maranhense de Letras, (fundadora da cadeira 26) cognominada “Violeta do Campo” manteve estreita correspondência em verso e prosa: A Uma Amiga, Resposta, Três Flores e outras... “...Depois de saborear, Com calma, esses teus cantares, Eu vi que tinha razão O teu amigo Tavares”,

Também o poeta Leslie Tavares da “Renascença Literária” grupo dissidente da “Oficina dos Novos” no começo do Século XX, amigo em comum com Laura Rosa, manteve troca de correspondência, tentando negar o escopo da sua poesia, voltada à tristeza. Em Resposta: “Julgaste descobrir na minha pobre rima / Um sofrimento atroz que me alanceia a alma” e em Replicando: “Persistes em supor que minha vida” “ Para mim tudo é belo e sorridente” Tomando por base apenas os sonetos de Murmúrios, Clóvis Ramos, afirma, “é uma poetisa de feição simbolista” Já José de Jesus Moraes Rego, afirma:” Existe um quê, em busca da arte pura, nos seus poemas – aquela poética alicerçada pelo individualismo responsáveis pelos valores eternos da literatura” Na administração de Bernardo Tiago de Matos, (1942 a 1945), foi construída pela Prefeitura Municipal, e doada à professora, uma casa à Rua Caiana (atual Av. Brasil) Fez jus a casa, pela importancia que exercia a professora, na sociedade itapecuruense, como Patrimônio da nossa cultura. A casa supra citada foi deixada, por determinação da poetisa, à Nossa Senhora das Dores depois da sua morte. O imóvel foi vendido, pela paróquia, em 1999 ao Senhor José Ribamar Mubarack onde é hoje a Farmácia Leticia. Somente em 1941, na administração de Felício Cassas, já com mais de 70 anos de idade, que a educadora Mariana Luz conseguiu uma nomeação pelo município de Itapecuru mirim, com lotação da Escola Getúlio Vargas. Depois de antigas reivindicaçoes de Felício Cassas, ao governo, finalmente, através do Decreto Lei nº 1517 de 23 de junho de 1947 tendo como governador Sebastião Archer, passa a ter direito a um subsídio estatal mensal, por merecimento, pelo muito que contribuiu para cultura do nosso povo. A poetisa Mariana Luz, terá finalmente o seu mérito resgatado, sendo Patronesse Geral da Academia Itapecuruense de Ciencias, Letras e Artes.


LENITA ESTRELA DE SÁ Por Dinacy Corrêa138 Maranhense/ludovicense (15.12.1961). Poetisa, ensaísta e teatróloga, além de roteirista. Membro da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), do SERJ (Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro e da Ube (União Brasileira de Escritores). Formada em Letras e em Direito. No universo das Letras, aos 15 anos, como cronista dos Diários Associados (Jornal O Imparcial). Aos 17, publica Reflexos, seu primeiro livro de Poesia. Sua segunda produção vem a ser Ana do Maranhão, peça teatral que mereceu o Prêmio Arthur Azevedo (1980), num concurso literário promovido pela UFMA (Universidade Federal do Maranhão) e o Prêmio Brasília de Teatro (1981), concedido pelo INL (Instituto Nacional do Livro), Fundação Cultural e Governo do Distrito Federal. Segue-se No Palco a Paixão-Cecílio Sá (pesquisa-1988). É partícipe de Antologias Poéticas, como Guarnicê (1994), Novos Poetas do Maranhão (1988), As aves que aqui gorjeiam (1993). Sua bibliografia ainda é enriquecida pelas obras: Catharina Mina (teatro) – Prêmio Viriato Corrêa 1972; Tchbum na Bolsa de Mamãe (teatro infantil); Cabo das Maresias (teatro infanto-juvenil); Sabor de Cravo-da-Índia (poesia); O Acordo (teatro); Baraço (teatro); A filha de Pai Francisco (teatro infantil); Teimosia e Sangue (poesia); A lagartinha crisencrise (teatro infantil); Pinceladas de Dali e outros poetas (poesia) – Prêmio Cidade de São Luís 2010. Recentemente (05.03.2015), lançou, (no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho), A Filha de Pai Francisco – bum meu boi para crianças (Prefácio de Américo Azevedo, ilustrações de Salomão Jr.), já numa terceira versão, adaptada ao gênero conto infantil. Incursionando, em seus escritos, também, por temáticas como escravidão, folclore, entre outros, Lenita de Sá é uma grande figura literária, que vem enriquecendo o universo das Letras Maranhenses, “com uma obra que testemunha a grandiosidade e beleza do seu talento, sua criatividade na arte da palavra, expressando-se numa linguagem simples, mas capaz de traduzir as emoções que elevam, enlevam e levam o leitor ao transporte poético”. (COSTA LEITE, 1999, p. 47). Apreciemo-la, no seu poetar:

METABÓLICO Me recuso a deglutir aquela mágoa se me apaixono pela ideia do texto. Prefiro sair por aí mirar brincos africanos nas vitrines marcar o chope, planger bandolins: "descobrir que as coisas mudam e que tudo é pequeno nas asa da Pan-Air" ou ler escritos da poeta urbana feroz, finesse e fissura a cabeça no punho da rede e além da calçada Só não quero desaprender a espera de uma alegria capaz de me prostar.

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CORRÊA, Dinacy. A LÍRICA MARANHENSE DE EXPRESSÂO FEMININA – visão panorâmica. In ALL EM REVISTA, São Luis, vol. 2, n. 2, abril/junho 2015, Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras (no prelo).


(SEM TÍTULO) E se ouço umas notas e se a saudade apertar e se o vazio aumenta pego o fósforo risco um palito acendo um cigarro escuto qualquer voz. Para com isso faz mal mas não, não e não paro. Tiro outro trago deixo a fumaça escapar ai que delícia E você Não chamem de estranho Afinal Sou ou não sou da raça do homem...


ROSEMARY RÊGO139,

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Maranhense de São Luís, graduada em Letras, pela Fama (Faculdade Athenas Maranhense), militante no campo do magistério, Rosemary Rego pertencente à já convencionada geração de 90 (séc. 20), da Poesia Maranhense. Precocemente dedicada à criação literária, produzindo, a princípio, peças teatrais, é na Poesia que vem a ser reconhecida e apreciada, ainda na referida década, no cenário das Letras ludovicenses onde, no seu grande poder de percepção, sua admirável sensibilidade para captar e traduzir, poeticamente, o mundo, atua como produtora e grande incentivadora da arte da palavra. Em 1998, por exemplo, apresenta, na Rádio Cidade, o programa Som da Ilha, voltado para a literatura, constando, este, de entrevistas e recitais de poesia. Participou, também, na TVE do Maranhão, de clips do Tempo de Poesias, declamando poemas de sua autoria. Entre essas e outras atividades do gênero, vale lembrar sua participação no grupo Poiesis (Universidade Federal do Maranhão), nos famosos recitais Canto & Verso, ao lado de outros poetas, como Geane Fiddan, Bioque Mesito, Antônio Ailton. Sem falar nos Festivais – como o Festival de Poesia Falada (Ufma), em cuja 11ª. edição, arrebatou o primeiríssimo lugar. Em 1997, vem a integrar a Antologia Poética Safra 90, período em que também integra o grupo Curare que, como o Poeisis, põe em discussão a produção literária maranhense da época.

ABRIL Ontem flores germinavam sobre mim O onírico prazer de esculpir a vida me transformou no fruto do carbono. O duro ofício de lapidar o pão carrega nas pálpebras o abominável cansaço da alma. Amanhã que seja cedo ou tarde sorrisos repousarão sobre o meu cadáver. (REGO, 2004, p. 43)

SIGLO Um final de século flui no peito XX séculos, repousa à eterna idade O cair de folhas secas é charge de um horizonte azul.(REGO, 2004, p.36)

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CORREA, PINTO in POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS, 2011 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/


APOLOGIA Ouvi baladas Dentro da noite veloz Estrelas da vida inteira. A poesia é canto geral Masmorra Didática Na her me ti ci da de da vida. Anjos malditos Beijam as flores do mal O ócio desperta os canhões do silêncio! (REGO, 2004, p. 10) Amargo silêncio o poema é a meta linguagem do acaso Faca decepando o sol de final de tarde a rua é ócio dor tudo é passional menos o poema essência de tudo de nada do tempo das cinzas. (REGO, 2004, p. 12)


HENRIQUETA EVANGELINE

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Ludovicense, nascida “[...] na alvorada de um domingo de sol e muita festa (09.08.1998, dia de São Benedito, dia do Papai)”, desde cedo, começou a falar os seus poemas, no deslumbramento dos seus primeiros contatos com a palavra, com um mundo em incessantes descobertas... a família, a vizinhança, a rua, os passeios, a escola, as professoras... começando pelo Colméia (quando ainda no Monte Castelo), passando pelo Dom Bosco (Renascença)... quando morava no Residencial Girassol. Hoje, domiciliada no Centro Histórico de São Luís, ela estuda no Santa Tereza (Rua do Egito). Dela, diz o professor/escritor Alberico Carneiro Filho (Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, Ano IV, ed. 117), “[....], ser poeta aos 6 anos de idade é um fato raro ou, no mínimo, uma exceção à regra; porém, às vezes aflora, na mente de uma criança, o precoce dom da poesia. Henriqueta Evangeline é um desses casos singulares, ao estrear, em 2004, com a publicação de Castelo da Poesia, uma coletânea de micropoemas surrealistas e em linguagem nonsense que ela tão belamente emoldura com suas próprias ilustrações, demonstrando um outro lado da sua veia artística, em termos de criação, também como poeta, de uma das formas das artes plásticas, a pintura”. Todavia, haveremos de admitir, com velho dito popular, “é de criança que se aprende o ofício”... Aos 13 anos de idade, a quase menina-moça tem publicado Castelo da Poesia, já em três edições, seguidamente ampliadas: a primeira (capa amarela, 17 poemas), comemorativa da sua formatura no Alfabetização (pré-escolar), aos seis anos de idade (2004), por iniciativa da família, em querer celebrar esse momento de encantamento “acústico/imagético” da poetisa-mirim com a Palavra, um mundo em contínuo desvelar-se e revelar-se, ante o seu “olhar-menino”... valorizando esse processo criativo, acolhendo essas suas primeiras intencionalidades poéticas; a segunda (capa verde, 20 poemas), ambas ilustradas com os desenhos infantis da própria autora; a terceira, pela Editora Paulinas (2008), em outro formato, 22 poemas e ilustrações de Ellen Pestile. É importante ressaltar que o livro contém muito de poesia falada, considerando-se que, à época, a pequena não detinha o poder da escrita. Os textos, pois, iam sendo registrados pelos seus familiares, da maneira como eram proferidos, pela poetisa (a partir dos seus quatro anos de idade, por aí assim),“em suas estranhezas morfossintáticas e semânticas”, o mesmo ocorrendo com a pontuação. Para o professor e escritor Alberico Carneiro Filho (id., ibid.) o que há de especial nos pequenos poemas de Henriqueta Evangeline é a técnica com que ela costura sua emotividade, utilizando-se daquele pretexto que dá às palavras sentido poético, a sutileza, com o que ela surpreende e enternece o leitor, valendose do deslance inesperado e inusitado. Já senhora de um considerável currículo de participação ativa em eventos culturais (Festivais de cultura e literatura, como o de Poesia Falada-UFMA, Encontro de Letras, Feiras de Livro, Palestras, Lançamento de livros), Henriqueta vive a arte com muita intensidade, incursionando pela Música (aluna da Escola de Música do Ma.), pela dança (Ballet Clássico, Capoeira d’Angola), pelas Artes Plásticas... E continua, nas entrelinhas da vida, a produzir suas pequenas jóias poéticas (estas já exalando aromas preadolescênticos), que permanecem inéditas, como à espera de um momento propício ou de uma motivação para virem a público. “Talvez quando eu concluir o Ensino Fundamental”... ela diz, evasiva. Bom, aguardemos, visto que a menina ainda vai cursar (2011) o 8º. Ano. Enquanto isso, apreciemos algumas dessas (ine)dicções... como esta: As palavras têm acento As palavras têm sentido As palavras Pegam fogo Incenndeiam-se nos parágrafos... Fim de linha.

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CORREA, PINTO in POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS, 2011 Blog da Dinacy Corrêa. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/page/3/


POESIA FALADA Você quer rimar comigo? Rimar com palavras, Todos os dias Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo...(RABELO, 2005, p. 4)

PRAIA GRANDE O mar que não se seca O mar que não se enche A vela que não pára de navegar... E o amor? Não sei por que eu não fui com o mar (RABELO, 2005, p. 5) Coração O amor se abre O castelo não se abre O desenho é uma história E a flor não se abre A rosa que se espinha E o nunca do amor (RABELO, 2005, p. 7) A imagem do satélite mostra Nuvens carregadas no Sul e no Nordeste Sol em Campinas Mas, à tarde, nuvens isoladas E à noite mais nuvens isoladas (RABELO, 2005, p. 18) A sereia encanta O velho marujo E depois canta Bela rainha do mar (RABELO, 2005, p. 21)


INSATISFAÇÃO Rogamos, rezamos, choramos por chuva... E ela veio, enfim, causando inundações E aí... rogamos, rezamos, choramos por sol... E ele veio de novo e ficamos ainda a reclamar... a quase morrer de calor. Aff! Ninguém se satisfaz... nem com chuva nem com sol...

COTIDIANO SEM SENTIDO Escuto a Filosofia do meu professor numa sintonia esquisita, quase insana escrevendo as palavras no papel... Os olhos que me fazem ver são os mesmos que lágrimas fazem escorrer... que podem até me cegar para nunca mais ver você Sonho que um dia, com a minha voz num tom floral, Eu possa gritar verdades pelos lugares... Ninguém entenderá a razão; só eu e o meu coração Um poema esquisito, sem sentido Uma tarde de domingo, indo para a casa da avó Uns guarás sobrevoando o rio Anil Umas palavras para aliviar a minha dor... E andarei, enfim, sobre um chão firme.


DESENCANTO Hoje em dia quem diria que os pássaros perderiam o encanto de seus cantos matinais?... Qual profeta previria que as flores morreriam e com elas levariam o espírito dos amores que iriam nascer?... Quem acabou com aquela macieira e destruiu o habitat?... Confessemos: todos nós somos culpados; avisados tantas vezes não soubemos escutar... Soframos as conseqüências!


LU MENEZES143 (São Luis do Maranhão, 1948) Estudió Sociología. Publicó, entre otros: O amor é tão esguio (1980) e Abre-te, Rosebud (1996).

Estirpe Índios americanos sempre souberam: da assimétrica junção de uma mulher e um cão —certainly de caça ao deleite, que a cada ereção dos seus descendentes dentes em riste persiste e promete apócrifo céu suculento— o primeiro homem nasceu Respingos dele — respingos me irrigam — Não sei por que com tão vasta sede deserto tamanho cultivo «Não sei por que gosto tanto de areia», ele disse com voz onde água escondida Não sei por que gosto tanto de qualquer coisa que ele diga Corpos simultâneos de cisne Branco ideal e branco real o mesmo cisne no espaço de um saco de sal ocupam mas eis transmigrante lei que em mantimentos transfez obsoleta ampulheta: um cisne de sal segue o curso do tempo e míngua até ser somente de plástico transparente 143

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/lu_menezes.html


ALANNA VERDE RODIGUÊS São Luis – MA - 26/09/2001. Pelo prazer de viajar no mundo mágico das poesias e o mundo conhecer! Cursando: 5º Ano Profª Shirle Maklene

FUTURO DE MAGIA O amanhã ia além de dormir e acordar! Era um futuro de magias. Que ele expressava em cada poesia. Retratava seus ideais seus Encantos, seu amor por sua Terra os olhos verdes da amada Em versos e melodia. Em terra de grande batalha Caxias saía vitoriosa, mas A maior de suas conquistas nascera Ainda ia! Um simples homem se tornaria Mas o acaso da vida! Em águas reluzentes sua vida sumiria.

Turma: C

-EPFA


ALINE FERNANDA MORAES DA SILVA CANTANHEDE São Luís – MA - 13/11/2000. Motivo da participação: Eu gostaria de participar da antologia para prestar uma homenagem a Gonçalves Dias que é poeta do Maranhão que tem riquezas e belezas impressionantes.

GONÇALVES DIAS Gonçalves Dias ele era poeta É assim que se liberta. Gonçalves Dias é o nosso interesse É a nossa saudade é uma paisagem. Gonçalves somos nós E você lutando para o Maranhão crescer. Gonçalves era um escritor Trabalhava com paz e amor. Gonçalves é orgulho É a nossa paixão, Ta no coração E no Maranhão


AMANDA SUELY BRITO DE SOUSA São Luís – 6/09/2001 É o amor por criar poesias e expressar o que sinto. Cursando: 5º Ano Turma: C

Profª Shirle Maklene

O POETA E SUA HUMILDADE Um simples poeta nasceu com o coração cheio de sentimento, era humilde, mas tinha força e muita garra, estudou para um dia varias poesias criar e em nosso coração pudesse ficar. Poeta de verdade para sempre ser lembrado, como homem, cidadão caxiense e amante da vida e da sua terra!Sua vontade de criar, poesias para demonstrar belezas, amores, futuro e o modo certo de amar! Morreu! Mas muitas saudades ficaram um grande poeta foi e poesia deixou. Poesia verdadeira para serem lidas com carinho em nossa mente ficou!


FRANCIANE CRISTYNE São Luís – MA - 09/ 11/2001. Motivo da Participação: Divulgar a importância das obras de Gonçalves Dias como meio de divulgação e valorização da cultura brasileira

GONÇALVES DIAS Vamos lá minha gente Vamos todos escutar As poesias deste homem que Eu vou apresentar Gonçalves Dias é um poeta Era também muito legal Quando ele pegava a caneta Escrevia a poesia genial. Estudou em Portugal Passou por necessidade Mas nunca desistiu Por seu grande ideal. Voltou para o Brasil Trabalhou em um jornal Escreveu cantos e teatros De forma nunca igual. Denunciava as injustiças Na poesia falava Do navio negreiro Quando a gente chorava. Falava do amor Da sua terra natal Onde canta o sabiá E as pessoas sabem amar. Grande Gonçalves Dias Poeta do meu lugar Maranhense berço de ouro Onde canta o sabiá.


MICHELLE ADLER NORMANDO DE CARVALHO São Luis – MA - 14 de novembro de 1979. É Psicóloga. Especialização em Psicologia Hospitalar pela FAMA (2005), Especialização em Psicopedagogia pela UNDB (2008) e mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão (2010). É Professora universitária da Faculdade Pitágoras - São Luís e da Faculdade do Maranhão- - FACAM. Faz parte do Banco de dados de avaliadores de cursos de graduação do INEP/MEC.

O HOMEM GONÇALVES DIAS Indianista humanista tuas palavras traduzem lutas traduzem amor traduzem vida Gonçalves Dias!!! No romantismo estás também... encontraste o amor que tanto querias e te encurralaram num beco sem saída entre o amor de Ana Amélia e a amizade da sua família abdicaste a ela ficando com a tua alma marcada em fogo eternamente ferida... No mar encontraste paz entraste para a eternidade por fim a gloria... por fim guarida!!!


DIREITO & LITERATURA


O PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA ANDRÉ DE SOUZA ALMEIDA CAMUS SOARES PINHEIRO DANILO BEZERRA LAUANDE FONSECA GUILHERME ALVES DE ARAÚJO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO RESUMO O presente artigo tem por escopo fazer uma análise sobre o princípio da moralidade administrativa. Para tanto, faz-se inicialmente uma breve exposição acerca do conceito de princípio adotado neste estudo, dando destaque para a concepção defendida por Robert Alexy. Em seguida, discorre-se sobre a existência e a definição dada ao investigado princípio para, posteriormente, abordar seu panorama histórico. Nesse segmento, discorre-se sobre os diversos diplomas legais que tratam do princípio da moralidade e, por fim, faz-se uma exposição acerca dos diversos instrumentos que podem ser utilizados para assegurar efetividade do princípio da moralidade. Palavras-chaves: Princípio; Moralidade; Administração Pública. ABSTRACT This article is scope to make an analysis on the principle of administrative morality. For that, initially make a brief statement about the concept of principle adopted in this study, highlighting the design advocated by Robert Alexy. Then it talks about the existence and the definition given to the investigating principle to then approach their historical background. In this segment, we talk about the various statutes dealing with the principle of morality and, finally, a display is made on the various instruments that can be used to ensure the effectiveness of the principle of morality. Key-words: Principle; Morality; Public Administration.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS No presente trabalho, busca-se explorar cientificamente o princípio da moralidade administrativa, previsto no artigo 37 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88). Para tanto, inicialmente, far-se-á breves considerações acerca do conceito de princípio, dando destaque, nesse ponto, para a concepção defendida por Robert Alexy. Posteriormente, adentrar-se-á especificamente ao estudo do princípio da moralidade, começando pela temática de sua existência e definição, haja vista que alguns autores chegam até mesmo a contestar a própria existência do princípio da moralidade administrativa, em razão de uma suposta vagueza do conceito de moral administrativa. Situada esta discussão, prossegue as sistematizações doutrinárias realizadas por diversos autores, sendo presente sempre a dificuldade de definição de tal princípio. Logo a seguir, aborda-se o panorama histórico do princípio da moralidade administrativa, no qual comenta-se a clássica distinção entre Direito e Moral, representada por círculos concêntricos e pela diferença entre honestidade e ilicitude. Cita-se, também, o processo histórico pelo qual as ideias de moralidade foram adentrando ao campo do Direito, primeiramente através do Direito Civil, por meio da doutrina do exercício abusivo dos direitos, e, posteriormente, no Direito Administrativo. No tópico de tratamento normativo, discorre-se sobre os diversos diplomas legais que tratam do princípio da moralidade, dentre os quais, por exemplo, a Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999. Destacam-se nesse tópico também os posicionamentos do Supremo Tribunal Federal (STF), Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Tribunal de Contas da União (TCU), não se esquecendo do Superior Tribunal de Justiça, o qual, mesmo que não tendo decisão citada, não possui entendimento que destoa daqueles. Nomeou-se o tópico como “tratamento normativo do princípio da moralidade administrativa” porque entendemos que os precedentes possuem eficácia normativa. Por fim, faz-se uma exposição acerca dos diversos instrumentos que podem ser utilizados para assegurar a efetividade do princípio da moralidade, dentre as quais a ação de improbidade, a ação popular e a ação civil pública. Trabalha-se ainda a eficácia deste princípio sobre os particulares e o papel dos administradores públicos no que concerne à matéria.

POR UM (NECESSÁRIO) CONCEITO DE PRINCÍPIO No campo da Ciência Jurídica é vasto o conteúdo quanto à definição de princípio, de modo que neste trabalho torna-se inviável esgotar todos os esforços teóricos neste sentido, contudo, não prescindimos de nos guiarmos pela definição que consideramos pertinente. Alexy, citado por Humberto Ávila, nos informa que “os princípios jurídicos


consistem apenas em uma espécie de normas jurídicas por meio do qual são estabelecidos deveres de otimização aplicáveis em vários graus segundo as possibilidades normativas e fáticas” (ALEXY, 1979, apud ÁVILA, 2013, p. 40). Analisando os termos dessa definição, assevera Humberto Ávila “[...] normativos porque a aplicação dos princípios depende de outros princípios e regras, [...] fáticas, porque o conteúdo dos princípios como normas de conduta só pode ser determinado quando diante dos fatos” (ÁVILA, 2013, p. 41). Essa definição se coaduna com o ideal de justiça não absoluto, pois, a aplicação de um princípio não é absoluta e depende das possibilidades normativas e fáticas, dentro do processo decisório, pode a aplicação de um princípio ganhar conteúdos de norma de conduta (in)justa. Dentro dessa perspectiva contextualiza-se a aplicação do princípio da moralidade administrativa.

EXISTÊNCIA E DEFINIÇÃO DO PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA Quanto ao princípio da moralidade administrativa observa-se que como afirma Di Pietro “nem todos os autores aceitam a existência desse princípio” (2014, p. 77), haja vista que estes entendem que o conceito de moral administrativa é vago e impreciso, alguns defendendo, inclusive, que tal princípio acaba por ser absorvido pelo conceito de legalidade. Nada obstante, trata-se de princípio expresso na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) – em oposição aos princípios implícitos – a qual em seu artigo 37 dispõe que “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...]”. Na lição do professor José dos Santos Carvalho Filho observa-se que: O art. 37 da Constituição Federal também a ele se referiu expressamente, e pode-se dizer, sem receio de errar, que foi bem aceito no seio da coletividade, já sufocada pela obrigação de ter assistido aos desmandos de maus administradores, frequentemente na busca de seus próprios interesses ou de interesses inconfessáveis, relegando para último plano os preceitos morais de que não deveriam afastar-se. O que pretendeu o Constituinte foi exatamente coibir essa imoralidade no âmbito da Administração. Pensamos, todavia, que somente quando os administradores estiverem realmente imbuídos de espírito público é que o princípio será efetivamente observado. Aliás, o princípio da moralidade está indissociavelmente ligado à noção de bom administrador, que não somente deve ser conhecedor da lei como dos princípios éticos regentes da função administrativa. (2014, p. 22)

Conforme assinala Lucas Rocha Furtado, poucos institutos jurídicos são de definição tão difícil quanto o princípio da moralidade. Há autores como Hely Lopes Meirelles e Fernanda Marinella que defendem que não se confunde moralidade administrativa com moralidade comum144 e outros como Celso Antônio Bandeira de Mello que afirmam que os administradores têm o dever de observar padrões éticos de comportamento. Apesar de corretas essas afirmações as mesmas nada dizem sobre a definição de moralidade administrativa. Conforme expressa ainda Lucas Furtado buscar na ética a solução para o conteúdo da moralidade administrativa também não parece resolver o problema, pois se sai de um conceito abstrato – moralidade – para outro tão ou mais abstrato, este autor chega a dizer, inclusive, que talvez seja impossível definir moralidade. Nada obstante, procede-se a exposição de dois importantes doutrinadores sobre o tema: O princípio da moralidade impõe que o administrador público não dispense os preceitos éticos que devem estar presentes em sua conduta. Deve não só averiguar os critérios de conveniência, oportunidade e justiça em suas ações, mas também distinguir o que é honesto do que é desonesto. Acrescentamos que tal forma de conduta deve existir não somente nas relações entre a Administração e os administrados em geral, como também internamente, ou seja, na relação entre a Administração e os agentes públicos que a integram. (CARVALHO FILHO, 2013, p. 22). A moralidade administrativa constitui, hoje em dia, pressuposto de validade de todo ato da Administração Pública (CF, art. 37, caput). Não se trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito – da moral comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como "o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina interior da Administração". Desenvolvendo sua doutrina, explica o mesmo autor que o agente administrativo, como ser humano dotado da capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas também entre o honesto e o desonesto. Por considerações de Direito e de Moral, o ato administrativo não terá que obedecer somente à lei jurídica, mas também à lei ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal é honesto, 144

Exemplificativamente: “o princípio da moralidade administrativa não se confunde com a moralidade comum. Enquanto a última preocupa-se com a distinção entre o bem e o mal, a primeira é composta não só por correção de atitudes, mas também por regras de boa administração, pela ideia de função administrativa , interesse do povo, de bem comum. Moralidade administrativa está ligada ao conceito de bom administrador” (MARINELA, 2013, p. 39, grifo da autora).


conforme já proclamavam os romanos: "non omne quod licet honestum est". A moral comum, remata Hauriou, é imposta ao homem para sua conduta externa; a moral administrativa é imposta ao agente público para sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum. (MEIRELLES, 1998, p. 86, grifo do autor).

HISTÓRICO DO PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA Historicamente observa-se que é antiga a distinção entre Moral e Direito, ambos representados por círculos concêntricos, sendo o maior correspondente à moral e, o menor, ao Direito. Sendo licitude e honestidade os traços distintivos entre o Direito e a Moral, o que é consagrado até mesmo no brocardo segundo o qual non omne quod licet honestum est (nem tudo o que é legal é honesto). Di Pietro cita Antonio José Brandão como tendo feito um estudo da evolução da moralidade administrativa e mostrado que foi no Direito Civil que a regra moral primeiro se imiscuiu na esfera jurídica, por meio da doutrina do exercício abusivo dos direitos e, depois, pelas doutrinas do não locupletamento à custa alheia e da obrigação natural. Essa mesma intromissão verificou-se no Direito Administrativo quando da discussão do problema do exame jurisdicional do desvio de poder, tendo a ideia de imoralidade administrativa surgida e se desenvolvida ligada a esta, pois se entendia que em ambas as hipóteses a Administração Pública se utiliza de meios ilícitos para atingir finalidades metajurídicas irregulares, estando a imoralidade na intenção do agente. Por essa razão diversos autores entendem que a imoralidade se reduz a uma das hipóteses de ilegalidade que pode atingir os atos administrativos, qual seja, a ilegalidade quanto aos fins (desvio de poder). Outros consideravam antigamente ainda a moral administrativa como algo relacionado à disciplina interna da Administração, entendendo que seu controle também só podia ser feito internamente, não pelo Poder Judiciário, o qual apenas examinaria a legalidade dos atos da Administração e não o mérito ou a moralidade. De todo modo observa-se que o Direito ampliou-se para abranger matéria que antes dizia respeito apenas à moral. TRATAMENTO NORMATIVO DO PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA Por ser um conceito vago145, deve-se fazer como Lucas Furtado doutrina e compreender e apreender o princípio da moralidade através da descrição de condutas que afetem seu âmbito de atuação ou que sejam a ele contrários. Para tanto a Lei nº 9.784, em seu artigo 2º, parágrafo único, inciso IV, exige “atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé”, o que, na lição de Di Pietro constitui evidente referência aos principais aspectos da moralidade administrativa146. A própria CRFB/88 ante a dificuldade de se definir moralidade administrativa no seu artigo 37 exigiu a aprovação de lei para definir os atos de improbidade administrativa, os quais “importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade de bens e o ressarcimento ao erário”. Observa-se, todavia, que: É certo que o princípio da moralidade não pode ser restringido por meio de lei, quer se busque por meio dela apresentar uma definição do que seja moralidade, quer se pretenda, por meio dela, apresentar-se uma lista de condutas contrárias à probidade administrativa – como fez a lei de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92). Quando a Constituição Federal expressamente menciona a moralidade administrativa e a eleva à qualidade de princípio distinto da legalidade, pretende que o primeiro princípio não se confunda com o segundo. A moralidade administrativa é o instrumento conferido pela Constituição Federal aos responsáveis pelo controle da Administração Pública a fim de que se possa exigir da Administração, sob pena de ilegitimidade dos atos decorrentes de condutas imorais, comportamento que, além de cumprir as exigências legais, seja ético (conforme observa o ilustre Celso Antônio Bandeira de Mello), observe padrões de boa-fé, de honestidade, que não incorra em desvio de finalidade etc. (FURTADO, 2007, p. 103).

Tendo em vista a necessidade de preservar os padrões de moralidade no serviço público e como exemplo de aplicação prática do princípio da moralidade, observa-se a Resolução nº 7/05 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a qual expressamente vedou o nepotismo, de modo que ficou proibida a nomeação para cargos em comissão ou funções gratificadas de cônjuge (ou companheiro) ou parente em linha direta ou por afinidade, até o terceiro grau 145

Esse é o posicionamento de, por exemplo, Fernanda Marinela, Di Pietro e Carvalho Filho. A própria Fernanda Marinela expõe que: “o princípio da moralidade exige que a Administração e seus agentes atuem em conformidade com princípios éticos aceitáveis socialmente. Esse princípio se relaciona com a ideia de honestidade, exigindo a estrita observância de padrões éticos, de boa-fé, de lealdade, de regras que assegurem a boa administração e a disciplina interna na Administração Pública” (2013, p. 39, grifo nosso). 146


inclusive, de membros de tribunais, juízes e servidores investidos em cargos de direção ou assessoramento, estendendo-se a proibição ao favorecimento recíproco ou cruzado (o parente de uma autoridade subordina-se formalmente a outra, ao passo que o parente desta ocupa cargo vinculado àquela). A vedação atinge, ainda, a contratação temporária por prazo determinado das mesmas pessoas (salvo quando comprovada necessidade temporária de excepcional interesse público, como prevê o artigo 37, inciso IX, da CRFB/88, e por meio de processo seletivo), bem como a contratação de pessoa jurídica de que sejam sócios, gerentes ou diretores os referidos parentes. Ficou vedada, também, a contratação de prestação de serviço com empresa que tenha entre seus empregados cônjuges ou parentes de juízes e de titulares de cargos de direção e assessoramento. Além de disciplinar as proibições, a resolução fixou o prazo de 90 dias para proceder-se à exoneração dos servidores que se encontram nas situações agora não permitidas. O CNJ, posteriormente, excluiu das vedações os servidores admitidos antes da CRFB/88 (quando não era exigido concurso público), os parentes de juízes aposentados ou falecidos e quem se casou com magistrado após a nomeação para cargos em comissão. Esta resolução foi alvo de resistência por variados setores do Poder Judiciário, nada obstante, o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a constitucionalidade desta e ainda estendeu a vedação à administração direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Leia-se: Brasil Supremo Tribunal Federal. Plenário ADC 12 MC / DF - DISTRITO FEDERAL 16/02/2006 EMENTA: AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE, AJUIZADA EM PROL DA RESOLUÇÃO Nº 07, de 18/10/2005, DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. MEDIDA CAUTELAR. Patente a legitimidade da Associação dos Magistrados do Brasil - AMB para propor ação declaratória de constitucionalidade. Primeiro, por se tratar de entidade de classe de âmbito nacional. Segundo, porque evidenciado o estreito vínculo objetivo entre as finalidades institucionais da proponente e o conteúdo do ato normativo por ela defendido (inciso IX do art. 103 da CF, com redação dada pela EC 45/04). Ação declaratória que não merece conhecimento quanto ao art. 3º da resolução, porquanto, em 06/12/05, o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução nº 09/05, alterando substancialmente a de nº 07/2005. A Resolução nº 07/05 do CNJ reveste-se dos atributos da generalidade (os dispositivos dela constantes veiculam normas proibitivas de ações administrativas de logo padronizadas), impessoalidade (ausência de indicação nominal ou patronímica de quem quer que seja) e abstratividade (trata-se de um modelo normativo com âmbito temporal de vigência em aberto, pois claramente vocacionado para renovar de forma contínua o liame que prende suas hipóteses de incidência aos respectivos mandamentos). A Resolução nº 07/05 se dota, ainda, de caráter normativo primário, dado que arranca diretamente do § 4º do art. 103-B da Cartacidadã e tem como finalidade debulhar os próprios conteúdos lógicos dos princípios constitucionais de centrada regência de toda a atividade administrativa do Estado, especialmente o da impessoalidade, o da eficiência, o da igualdade e o da moralidade. O ato normativo que se faz de objeto desta ação declaratória densifica apropriadamente os quatro citados princípios do art. 37 da Constituição Federal, razão por que não há antinomia de conteúdos na comparação dos comandos que se veiculam pelos dois modelos normativos: o constitucional e o infraconstitucional. Logo, o Conselho Nacional de Justiça fez adequado uso da competência que lhe conferiu a Carta de Outubro, após a Emenda 45/04. Noutro giro, os condicionamentos impostos pela Resolução em foco não atentam contra a liberdade de nomeação e exoneração dos cargos em comissão e funções de confiança (incisos II e V do art. 37). Isto porque a interpretação dos mencionados incisos não pode se desapegar dos princípios que se veiculam pelo caput do mesmo art. 37. Donde o juízo de que as restrições constantes do ato normativo do CNJ são, no rigor dos termos, as mesmas restrições já impostas pela Constituição de 1988, dedutíveis dos republicanos princípios da impessoalidade, da eficiência, da igualdade e da moralidade. É dizer: o que já era constitucionalmente proibido permanece com essa tipificação, porém, agora, mais expletivamente positivado. Não se trata, então, de discriminar o Poder Judiciário perante os outros dois Poderes Orgânicos do Estado, sob a equivocada proposição de que o Poder Executivo e o Poder Legislativo estariam inteiramente libertos de peias jurídicas para prover seus cargos em comissão e funções de confiança, naquelas situações em que os respectivos ocupantes não hajam ingressado na atividade estatal por meio de concurso público. O modelo normativo em exame não é suscetível de ofender a pureza do princípio da separação dos Poderes e até mesmo do princípio federativo. Primeiro, pela consideração de que o CNJ não é órgão estranho ao Poder Judiciário (art. 92, CF) e não está a submeter esse Poder à autoridade de nenhum dos outros dois; segundo, porque ele, Poder Judiciário, tem uma singular compostura de âmbito nacional, perfeitamente compatibilizada com o caráter estadualizado de uma parte dele. Ademais, o art. 125 da Lei Magna defere aos Estados a competência de organizar a sua própria Justiça, mas não é menos certo que esse mesmo art. 125, caput, junge essa organização aos princípios "estabelecidos" por ela, Carta Maior, neles incluídos os constantes do art. 37, cabeça. Medida liminar deferida para, com efeito vinculante:


a) emprestar interpretação conforme para incluir o termo "chefia" nos inciso II, III, IV, V do artigo 2° do ato normativo em foco b) suspender, até o exame de mérito desta ADC, o julgamento dos processos que tenham por objeto questionar a constitucionalidade da Resolução nº 07/2005, do Conselho Nacional de Justiça; c) obstar que juízes e Tribunais venham a proferir decisões que impeçam ou afastem a aplicabilidade da mesma Resolução nº 07/2005, do CNJ e d) suspender, com eficácia ex tunc, os efeitos daquelas decisões que, já proferidas, determinaram o afastamento da sobredita aplicação.

De imediato poder-se-ia indagar – como faz, por exemplo, Lucas Rocha Furtado – se seria necessária a Resolução nº 7/05 do CNJ para impedir essa tão reprovável prática e se a criação de discriminação dessa ordem (haja vista que todos podem ocupar o cargo em comissão exceto o filho, os parentes próximos ou o cônjuge do titular do cargo) não importaria em violação ao princípio da isonomia. Para a primeira pergunta por mais que em tese tais práticas pudessem ser vedadas por aplicação direta do princípio da moralidade, na prática ante a inexistência de lei não era vedada a nomeação de parentes para tais cargos de livre nomeação, o professor Furtado, sobre o assunto, chega a dizer, inclusive, que “esta visão demonstrava que a moralidade, como conceito vago, isoladamente, sem que houvesse lei, salvo em situações extremas, não impedia a prática de atos reprovados socialmente”. No Brasil, somente em situações de “extrema violação da moralidade” – expressão de Lucas Furtado na página 105 de seu curso – ocorria a reprovação social e jurídica independentemente da existência de lei, como observa-se neste acórdão: TCU, Acórdão nº 586/05, Plenário: deliberação que negou provimento a agravo interposto contra medida cautelar que suspendeu pagamento de pensão instituída por avó em favor do neto. Trecho do Voto condutor: “A busca da guarda de netos, menores de 21 anos, por avós, sequiosos de prolongar a percepção do benefício econômicofinanceiro, configurado nas pensões pelas respectivas famílias, ostenta evidente conteúdo anti-social, nitidamente ofensivo ao princípio da moralidade administrativa. Entendo, pois, absolutamente dissonante com os princípios que orientam o ordenamento jurídico, bem como com suas regras básicas, o comportamento consistente na obtenção judicial da guarda de menores por avós, com o objetivo final de deixar-lhes a pensão. Nestes termos, saliento que pensão não é herança, dela discrepando tanto na definição legal, como nos objetivos que alberga.”.

Quanto ao segundo questionamento por mais que se crie uma efetiva discriminação – afinal todos podem ser nomeados para os cargos de livre nomeação, exceto os parentes do dirigente do órgão –, a proibição existe justamente para promover a moralidade. De modo que se a proibição de nepotismo pode violar o princípio da isonomia, ela realiza o princípio da moralidade, existindo uma colisão de princípios em que a realização de um (moralidade) requer a restrição na aplicação do outro (isonomia). Sobre o assunto expõe Carvalho Filho que: A determinação guarda algum radicalismo e certamente provocará algumas injustiças, visto que existem parentes ocupando cargos e funções de confiança dotados de eficiência, interesse administrativo e espírito público. Não obstante, tantos foram os abusos cometidos e os apadrinhamentos ocorridos, e tão densa se revelou a insatisfação social com esse estado de coisas, que a reação acabou por exceder os limites em função dos quais foi oposta. Essa é a constatação que, numa visão sociológica, frequentemente se encontra. Por outro lado, a norma, tal como veiculada, provocará algumas complexidades em sua aplicação. Ficaram, porém, fora da proibição as nomeações de parente para cargos políticos, como os de Ministro ou Secretário Estadual ou Municipal, e isso em virtude de terem esses cargos natureza eminentemente política, diversa, portanto, da que caracteriza os cargos e funções de confiança em geral, os quais têm feição nitidamente administrativa. Sendo assim, será lícito que Governador nomeie irmão para o cargo de Secretário de Estado, ou que Prefeito nomeie sua filha para o cargo de Secretária Municipal de Educação. De qualquer modo, devem ser evitadas tais nomeações, se possível: independentemente da natureza política dos cargos, sempre vai pairar uma suspeita de favorecimento ilegítimo. (2014, p. 25).

PROTEÇÃO DO PRINCÍPIO DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA Diversos são os instrumentos de combate a condutas e atos ofensivos ao princípio da moralidade administrativa, cabendo aos órgãos competentes e aos cidadãos em geral diligenciar para que se invalidem esses atos e punam-se os culpados. Sobre os instrumentos novamente Carvalho Filho faz-se presente em passagem que merece ser transcrita integralmente: A falta de moralidade administrativa pode afetar vários aspectos da atividade da Administração. Quanto à imoralidade consiste em atos de improbidade, que, como regra, causam prejuízos ao erário, o diploma regulador é a Lei nº 8.429, de 2.6.1992, que prevê as hipóteses configuradoras da falta de probidade na Administração, bem como estabelece as sanções aplicáveis a agentes públicos e terceiros, quando responsáveis por esse tipo ilegítimo de conduta. Ao mesmo tempo, contempla os instrumentos processuais adequados à proteção dos cofres públicos, admitindo, entre outras, ações de natureza cautelar de sequestro e arresto de bens e o bloqueio de contas bancárias


e aplicações financeiras, sem contar, logicamente, a ação principal de perdimento de bens, ajuizada pelo Ministério Público ou pela pessoa de direito público interessada na reconstituição de seu patrimônio público. Outro instrumento relevante de tutela jurisdicional é a ação popular, contemplada no art. 5º, LXXIII, da vigente Constituição. Anteriormente só direcionada à tutela do patrimônio público econômico, passou a tutelar, mais especificamente, outros bens jurídicos de inegável destaque social, como o meio ambiente, o patrimônio histórico e cultural e a moralidade administrativa. Pela ação popular, regulamentada pela Lei nº 4.717, de 29.6.1965, qualquer cidadão pode deduzir a pretensão de anular atos do Poder Público contaminados de imoralidade administrativa. Por isso, advogamos o entendimento de que o tradicional pressuposto da lesividade, tido como aquele causador de dano efetivo ou presumido ao patrimônio público, restou bastante mitigado diante do novo texto constitucional na medida em que guarda maior adequação à tutela do patrimônio em seu sentido econômico. Quando a Constituição se refere a atos lesivos à moralidade administrativa, deve entender-se que a ação cabível pelo simples fato de ofender esse princípio, independentemente de haver ou não efetiva lesão patrimonial. Por fim, não se pode esquecer de também citar a ação civil pública, prevista no art. 129, III, da CF, como uma das funções institucionais do Ministério Público, e regulamentada pela Lei nº 7.347, de 24.7.1985, como outro dos instrumentos de proteção à moralidade administrativa. Esta se encontra inserida não somente no conceito de patrimônio social como também dentre os interesses difusos, ambos referidos naquele dispositivo constitucional. A Lei Orgânica do Ministério Público (Lei nº 8.625, de 12.2.1993) consagra, com base naqueles bens jurídicos, a defesa da moralidade administrativa pela ação civil pública promovida pelo Ministério Pùblico. (2014, p. 22).

Grande discussão existe sobre se atos que ofendem a moral comum implicariam ofensa ao princípio da moralidade, Bandeira de Mello posiciona-se no sentido de que somente terá havido ofensa quando a violação de uma norma de moral social traga consigo menosprezo a um bem juridicamente valorado, já Manoel de Oliveira Franco Sobrinho defenderia que “mesmo os comportamentos ofensivos da moral comum implicam ofensa ao princípio da moralidade” (apud DI PIETRO, 2014, p. 79). Certeza que existe é que o princípio da moralidade não deve ser observado somente pelo administrador, mas também pelo particular que se relaciona com a Administração Pública, premente o exposto por Lucas Rocha Furtado: Não se exige dos administradores públicos o mero cumprimento da lei. De todos os administradores, sobretudo daqueles que ocupam os cargos mais altos na estrutura do Estado, exige-se muito mais. Exige-se – e se deve exigir – dos ocupantes dos altos cargos do Estado conduta impecável, ilibada, exemplar. Se dos particulares podem ser admitidos pequenos deslizes, pequenas falhas, que merecem a reprovação do Direito – como o chamado dever cívico de não pagar imposto –, tal postura não se pode admitir dos administradores públicos. A moralidade cobra da Administração – e, repito, sobretudo dos ocupantes dos altos cargos de nosso País – conduta exemplar e inatacável. No momento em que aceitamos como inevitáveis, ou mais grave ainda, como normais, determinadas condutas impróprias de nossos governantes, constatamos quão frágil são nossa democracia e os valores morais que conduzem nossas consciências. (2007, p. 106).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Assinala-se a importância do princípio da moralidade, sobretudo, em um país que possui as contradições do Brasil e a marca do “jeito”. Sobre este princípio observa-se a falta de estudos aprofundados e a não apreensão pelos pensadores do Direito da sua operacionalidade para a solução de incorreções na Administração Pública, chegando-se até mesmo ao absurdo de se conjecturar que seria simplesmente um subprincípio da legalidade, quase um apêndice jurídico, posição refratária de previsão constitucional expressa. Nesse sentido assinala-se que se deve ter sempre em mente que a dimensão do princípio da moralidade é justamente a de prescindir de dispositivos legais que o regulamente exaustivamente e prevejam as sanções cabíveis para determinadas condutas, já que tal princípio possui exatamente a característica e a finalidade de impedir que práticas inadequadas sejam aceitas tão somente pela inexistência de anterior disposição proibitiva, eivando-as com a invalidade. Nada obstante, conforme o trabalho vislumbrou esta conjuntura de apatia está mudando e o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, o Conselho Nacional de Justiça e o Tribunal de Contas da União cada vez mais aplicam o princípio da moralidade administrativa para invalidarem condutas de alta reprovabilidade social – em certos casos mesmo inexistindo lei proibitiva sobre o assunto –, prática esta digna de elogios em uma sociedade já saturada pela corrupção. Não se pode admitir a existência de uma administração paralela à Administração Pública, esse parassistema jurídico que ao lado dos procedimentos formais previstos na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 impõe competências e procedimentos informais, além de uma outra moral diferente da moralidade administrativa deve ser combatido com vigor, haja vista que ao impor uma outra moral à administração paralela, faz crer que o sistema não deve ser cumprido fielmente, o que é um absurdo em um Estado Constitucional Democrático.


Observa-se, por fim, que o princípio da moralidade se apresenta no Direito Administrativo Brasileiro como um superprincípio, que manifesta a essência do próprio regime jurídico administrativo, reforçando-o e o protegendo dos desmandos daqueles que devem gerir e não se autopromover.

REFERÊNCIAS ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. São Paulo: Malheiros, 2013. BARBOZA, Márcia Noll. O princípio da moralidade administrativa. Livraria do advogado, 2002. BRASIL. ADC 12 MC / DF - DISTRITO FEDERAL. Disponível em: < http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:supremo.tribunal.federal;plenario:acordao;adc:2006-02-16;12-3708966>. Acesso em: 26/9/2014. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 27ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2014. DIDIER, Fredie Jr. Curso de Direito Processual Civil. 14. ed. Salvador: Juspodivm, 2012 v.1. FURTADO, Lucas Rocha. Curso de direito administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2007. MARINELLA, Fernanda. Direito administrativo. Rio de Janeiro: Impetus, 2013. MAZZA, Alexandre. Curso de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2013. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 1998. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2013. NERY JR., Nelson. Teoria geral dos recursos. 7 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. PIETRO, Maria S. Z. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2014. VADE MECUM. 17. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2014.


O PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA NO REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO ANDRÉ DE SOUZA ALMEIDA CAMUS SOARES PINHEIRO DANILO BEZERRA LAUANDE FONSECA GUILHERME ALVES DE ARAÚJO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO RESUMO: A segurança jurídica é questão sempre em órbita nas discussões acerca do Direito Positivo, conscientes da relevância deste princípio e das consequências de sua inobservância nas relações jurídicas, neste trabalho utilizando-se dos meios de pesquisa bibliográfica, analisamos o referido princípio na perspectiva do Regime Jurídico Administrativo tomando como parâmetros de análise a relatividade na construção de um ideal de justiça, o princípio da legalidade, e a dinâmica de aplicação dos princípios dentro da Ordem Jurídica conforme a teoria de Robert Alexy. Incialmente realizou-se um apanhando histórico da construção teórica do princípio em suas dimensões objetiva e subjetiva, em seguida a análise voltou-se para o Regime Jurídico Administrativo brasileiro com enfoque no princípio da autotutela administrativa. Feito o estudo dos dois institutos em rota de contraposição segue-se para o exame de situações fáticas enfrentadas pelo Poder Judiciário em que se exige a ponderação entre o princípio da legalidade, na dimensão da autotutela administrativa, e a segurança jurídica, e encerra-se o ensaio com uma breve exposição do plano concreto, legislação e entendimentos jurisprudenciais, de realização do princípio da segurança jurídica no Regime Jurídico Administrativo brasileiro. Palavras-chaves: Segurança Jurídica; Autotutela Administrativa; Regime Jurídico; Ponderação. ABSTRACT: Legal certainty is a question always in orbit in discussions about the positive law, aware of the importance of this principle and the consequences of failure to comply with the legal relationships in this work using the means of literature, we analyze that principle in the perspective of the Legal System Administrative taking as analysis parameters relativity in the construction of an ideal of justice, the principle of legality, and the dynamics of implementation of the principles within the legal order as the theory of Robert Alexy. Initially carried out a historical gathering of theoretical construction of the principle in their objective and subjective dimensions, then the analysis turned to the Administrative Legal System Brazil focusing on the principle of administrative autotutela. Made the study of the two institutes as opposed to route it follows to examine factual situations faced by the judiciary which requires a balance between the principle of legality, the size of the administrative autotutela and legal certainty, and ends the essay with a brief statement of concrete plans, legislation and case law understandings, realization of the principle of legal certainty in the Administrative Legal System Brazil. Key-words: Legal Security; Administrative autotutela; Legal Regime; Weighting.

INTRODUÇÃO No ideário deste projeto político-jurídico que é o Estado de Direito está imbricado um conjunto de ideias construído ao longo da história do pensamento político: justiça; igualdade; separação das funções do Estado; um sistema de freios e contrapesos; um sistema de direitos fundamentais; legalidade da Administração Pública; a segurança jurídica, amplamente trabalhado no contexto revolucionário do final do século XVIII. No processo dinâmico de criação do Direito e de positivação da Ordem Jurídica esses ideais infiltram-se no sistema jurídico sob a forma de valores e princípios, explícitos e implícitos, na Constituição e nas leis as quais a Carta Magna empresta validade. Por mais que se busque a conciliação entre esses valores e princípios que informam o Sistema Jurídico, e por continência, também, o Regime Jurídico Administrativo vigente, nem sempre existirá a tão almejada harmonia quando estabelecidas, em concreto, as relações entre administrador e administrados. Logo, é possível a configuração de relações aparentemente injustas, sob o ponto de vista do administrado, quando no processo decisório de aplicação do direito prestigia-se um princípio em detrimento de outro. Não obstante, dentro da Ordem Jurídica o ideal de justiça não é um valor absoluto, quer dizer, a concepção de justiça não é algo imutável, puro, desvencilhado, do tempo e da história, pois, por exemplo, se adentrarmos na esfera penal encontraremos a prescrição, instituto que acolhe a segurança jurídica em detrimento do legítimo dever de realização da justiça. Tendo em vista o caráter não absoluto do ideal de justiça, depreende-se que para se atender aos anseios de justiça, no processo de criação e aplicação do Direito, fica aberta ao legislador e ao juiz a possibilidade de escolher entre mais de um princípio, (ou regra), aquele que tenha maior aptidão para realização de tais anseios, seja na elaboração de uma lei ou na emanação de uma decisão no caso concreto. Partindo dessa perspectiva, e tendo como referencial a moderna teoria dos princípios em Robert Alexy, buscamos neste trabalho analisar o princípio da segurança jurídica dentro do Regime Jurídico Administrativo, isto é, as consequências quando as relações jurídicas concretas entre administrador e administrado, se aproximam ou se afastam do conteúdo idealizado por esse princípio. Mais precisamente, a afirmação dos efeitos do princípio da segurança jurídica frente ao princípio da autotutela administrativa, corolário do princípio da legalidade.


Partimos de uma definição de princípio em Alexy, em seguida adentramos em uma análise do princípio da segurança jurídica contextualizando-o historicamente no ordenamento pátrio, na seara constitucional-administrativa e no plano doutrinário, e por fim analisaremos os conflitos entre os princípios da legalidade e da segurança jurídica no plano concreto.

2. UMA DEFINIÇÃO DE PRINCÍPIO No campo da Ciência Jurídica é vasto o conteúdo quanto à definição de princípio, de modo que neste trabalho torna-se inviável esgotar todos os esforços teóricos neste sentido, contudo, não prescindimos de nos guiarmos pela definição que consideramos pertinente. Alexy, citado por Humberto Ávila, nos informa que “os princípios jurídicos consistem apenas em uma espécie de normas jurídicas por meio do qual são estabelecidos deveres de otimização aplicáveis em vários graus segundo as possibilidades normativas e fáticas. ” (ALEXY, 1979 apud ÁVILA, 2013, p.40). E analisando os termos dessa definição, assevera Humberto Ávila “[...] normativas porque a aplicação dos princípios depende de outros princípios e regras, [...] fáticas, porque o conteúdo dos princípios como normas de conduta só pode ser determinado quando diante dos fatos.” (ÁVILA, 2013, p.41). Esta definição se coaduna com o ideal de justiça não absoluto, pois, a aplicação de um princípio não é absoluta e a depender das possibilidades normativas e fáticas, dentro do processo decisório, pode a aplicação de um princípio ganhar conteúdos de norma de conduta (in)justa. Dentro dessa perspectiva contextualiza-se a aplicação do princípio da segurança jurídica diante da autotutela administrativa, prerrogativa “pela qual a Administração extingue um ato válido, por razões de oportunidade e conveniência” (DI PIETRO, 2014, p.62).

O PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA O princípio da segurança jurídica vincula a Ordem Jurídica como um todo, tendo em vista que “o direito propõe-se a ensejar uma certa estabilidade, um mínimo de certeza na regência da vida social” (MELLO, 2009, p.124), uma análise sucinta do ordenamento jurídico já nos informa a concretização desse princípio dentro do sistema, por exemplo, a irretroatividade da lei, as normas da usucapião, da decadência, da prescrição, do direito adquirido, a segurança contratual, dentre outros. E conforme assevera Ingo Sarlet: [...] pelo menos desde a Declaração dos Direitos Humanos de 1948 o direito (humano e fundamental) à segurança passou a constar nos principais documentos internacionais e em expressivo número de Constituições modernas, inclusive na nossa Constituição Federal de 1988, onde um direito geral à segurança e algumas manifestações específicas de um direito à segurança jurídica foram expressamente previstas no artigo 5º, assim como em outros dispositivos da nossa Lei Fundamental. (SARLET, 2010, p.1)

É importante ressaltar que com o advento do Estado Social (ou de Providência) aumentasse a demanda por segurança jurídica, pois diferentemente do modelo Liberal, no Estado Social existe uma maior relação de dependência entre o Poder Público e as pessoas, principalmente, no tocante aos serviços e prestações realizados pelo Estado. Existe o entendimento na doutrina de que o princípio da segurança jurídica possui duas dimensões, uma objetiva e outra de natureza subjetiva. A dimensão objetiva abrange as barreiras da irretroatividade dos atos do Estado, compreendendo até mesmo os atos legislativos, corresponde à proteção ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada prevista expressamente no artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88). A dimensão de natureza subjetiva corresponde à proteção à confiança das pessoas nos efeitos produzidos pelos atos, procedimentos e condutas do Estado no seu extenso âmbito de atuação147. Conforme assevera José dos Santos Carvalho Filho, no direito comparado distinguem-se estas duas dimensões em dois princípios, segurança jurídica e proteção à confiança, respectivamente: No Direito comparado, especialmente no direito alemão, os estudiosos se têm dedicado à necessidade de estabilização de certas situações jurídicas, principalmente em virtude do transcurso do tempo e da boa-fé, e distinguem os princípios da segurança jurídica e da proteção à confiança. Pelo primeiro confere-se relevo ao aspecto objetivo do conceito, indicando-se a inafastabilidade da estabilização jurídica; pelo segundo, o realce incide sobre o aspecto subjetivo, e neste se sublinha o sentimento do indivíduo em relação a atos, inclusive e principalmente do Estado, dotados de presunção de legitimidade e com a aparência de legalidade. (CARVALHO, 2014, p. 40, grifo nosso).

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SILVA, Almiro Couto e. Princípio da legalidade da Administração Pública e de segurança jurídica no Estado de Direito Contemporâneo. Revista da Procuradoria-Geral do Estado [do Rio Grande do Sul] – RPGE, p.36.


Em síntese, a dimensão subjetiva do princípio da segurança jurídica traduz-se no princípio da proteção à confiança, de modo que “se o Estado atribui a seus atos uma presunção de legitimidade e se constrange seus jurisdicionados a respeitar esses atos, a contrapartida infestável é que os efeitos concretos desses atos sejam respeitados”. (JUSTEN, 2010, p. 410). Na legislação infraconstitucional o princípio da segurança jurídica em sua vertente subjetiva, isto é, o princípio da proteção à confiança, está firmado na Lei n° 9.784/99 (art. 2 e 54), na Lei 9.868/99 (art. 27) e Lei n. 9.882/99 (art. 11), que dispõem respectivamente sobre o processo administrativo da União, a ação declaratória de constitucionalidade, ação direta de inconstitucionalidade e a arguição de descumprimento de preceito fundamental, e conforme assevera Almiro Couto e Silva as referidas leis: [...] referiram-se à segurança jurídica, quer como princípio geral da Administração Pública, de matriz constitucional, a justificar a permanência no mundo jurídico de atos administrativos inválidos, quer como valor constitucional a ser ponderado, em determinadas circunstâncias, em cotejo com os princípios da supremacia da Constituição e da nulidade ex tunc da lei inconstitucional. (SILVA, 2004, p.40).

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A observância do princípio da legalidade pressupõe que a Administração atue sempre dentro dos parâmetros de regularidade, mais do que a faculdade de sanar seus próprios erros, o princípio da legalidade impõe o dever de correção por parte da Administração, sem a necessidade de ser provocada. O princípio da autotutela atende ao dever de legalidade a ser observado pela Administração, de modo que a Administração tem o poder de extinguir seus próprios atos seja pela revogação quando estes não atender a conveniência, ou pela anulação (invalidação) quando eivados de vícios.

A AFIRMAÇÃO DO PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA (PROTEÇÃO À CONFIANÇA) NO DIREITO ADMINISTRATIVO BRASILEIRO A afirmação do princípio da segurança jurídica nas orientações jurisprudenciais das cortes superiores não encontrou grandes dificuldades quanto ao reconhecimento do princípio em sua vertente objetiva, quer dizer, nas cortes máximas do ordenamento jurídico pátrio não houve grandes dificuldades em reconhecer o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, no processo decisório de aplicação do direito. Contudo, as decisões sobre a manutenção de atos inválidos quando configurada a boa-fé dos administrados são raras, e embora haja decisões nesse sentido, as argumentações dessas decisões não são pautadas no princípio da proteção à confiança 148. O enfrentamento da questão pelos tribunais e pela doutrina ganha corpo com a entrada da Lei n° 9.784/99 no ordenamento jurídico pátrio que em seu artigo 2º prescreve que a administração obedecerá ao princípio da segurança jurídica, dentre outros, e em seu artigo 54 que: Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em 5 (cinco) anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má fé. §1° No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. §2° Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.

Partindo-se da análise do dispositivo supracitado e da definição de princípio a que nos referimos no início do trabalho149 chega-se a conclusão que o legislador ponderando entre os princípios da legalidade e segurança jurídica, criou a seguinte regra: “após o decurso do prazo de cinco anos e inexistindo má-fé na prática do ato a Administração perde o direito de extinguir o ato”. A regra criada e prescrita no artigo 54 da Lei n. 9784/99 fez prevalecer o princípio da segurança jurídica frente ao princípio da legalidade. Nesse sentido são os ensinamentos de Almiro Couto e Silva: O legislador ordinário é que efetuou essa ponderação, decidindo-se pela prevalência da segurança jurídica, quando verificadas as circunstâncias perfeitamente descritas no preceito. Atendidos os requisitos estabelecidos na norma, 148

SILVA, Almiro Couto e. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro e o direito da administração pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo Administrativo da União (Lei nº 9.784/99), p. 41-48. 149 “os princípios jurídicos consistem apenas em uma espécie de normas jurídicas por meio do qual são estabelecidos deveres de otimização aplicáveis em vários graus segundo as possibilidades normativas e fáticas.” (ALEXY, 1979 apud ÁVILA, 2013, p.40).


isto é, transcorrido o prazo de cinco anos e inexistindo a comprovada má fé dos destinatários, opera-se, de imediato, a decadência do direito da Administração Pública federal de extirpar do mundo jurídico o ato administrativo por ela exarado, quer pelos seus próprios meios, no exercício da autotutela, quer pela propositura de ação judicial visando a decretação de invalidade daquele ato jurídico. (SILVA, 2004, p.51, grifo nosso).

Dentro deste lapso temporal de cinco anos é perfeitamente possível que se configure o ato praticado sem máfé que gerou efeitos favoráveis aos destinatários. Nessas situações, embora já exista a ponderação anterior feita pelo legislador, da qual veio surgir a regra do artigo 54, o Administrador ou Juiz não poderá funcionar como mera boca da lei e furtar-se de uma segunda ponderação entre os princípios da legalidade e da segurança jurídica. A exigência desse juízo de ponderação entre legalidade e segurança jurídica vai além do âmbito de aplicação da Lei 9874/94, conforme as situações que serão expostas a seguir. O prejuízo da extinção (anulação ou revogação) do ato ilegal é maior do que o decorrente da manutenção do ato Nessa hipótese doutrinariamente existe o entendimento de que embora exista o dever por parte da Administração de anular seus próprios atos eivados de ilegalidade, sob pena de incorrer em desvios, os atos ilegais cuja anulação implique maiores prejuízos do que a manutenção devem ser preservados, orientando-se a decisão pelo interesse público e pelo princípio da segurança jurídica e da proteção à confiança. Nesse sentido assevera Maria Zanella Di Pietro: Para nós, a Administração tem, em regra, o dever de anular os atos ilegais sob pena de cair por terra o princípio da legalidade. No entanto, poderá deixa de fazê-lo, em circunstancias determinadas, quando o prejuízo resultante da anulação puder ser maior do que o decorrente da manutenção do ato ilegal; nesse caso, é o interesse público que norteará a decisão. (DI PIETRO, 2014, p.89)

No Supremo Tribunal Federal (STF) em Ação Civil Originária (ACO 79 /MT) ajuizada pela União contra a Empresa Colonizadora Rio Ferro Ltda., a Construções e Comércio Camargo Corrêa S.A. e outras colonizadoras, bem como contra o Estado de Mato Grosso. Pleiteava a nulidade de contratos de concessão de terras públicas, feitos com diversas empresas de colonização, com área superior ao limite então previsto no artigo 156, parágrafo 2º, da Constituição Federal de 1946, enfrentou-se a hipótese supracitada. A resolução do litígio ocorreu mesmo sentido do entendimento doutrinário, conforme narrativa extraída do próprio site do referido tribunal. Na decisão de hoje, prevaleceu o voto do relator, ministro Cezar Peluso. Embora ele concluísse pela inconstitucionalidade da alienação das terras, pela via de concessão de domínio, sem prévia autorização legislativa, ele ponderou que a situação de fato da área se tornou irreversível. Observou que, hoje, ela é ocupada por cidades, casas, estradas, propriedades rurais, indústrias, estabelecimentos comerciais e de serviços, abrigando dezenas de milhares de pessoas. Por isso, propôs a convalidação da operação, invocando o princípio da segurança jurídica, até mesmo porque as terras foram repassadas pelo estado a colonos, na presunção da boa-fé. (BRASIL, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2012).

A manutenção de atos praticados por funcionário de fato Nesta hipótese existe algum tipo de irregularidade na investidura do servidor, logo, o ato por ele praticado seria considerado ilegal, pois foi praticado por quem estava em exercício irregular de cargo, emprego, ou função, não havendo competência para praticar atos administrativos. Defende a doutrina que se deve manter o ato por ele praticado, pois, devido aparência de legalidade dos atos gerou-se nos destinatários a crença na validade do ato. No STF também já se firmou entendimento no mesmo sentido apontado pela doutrina: FUNCIONÁRIO PÚBLICO. EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DE OFICIAL. VALIDADE DO ATO PRATICADO POR FUNCIONÁRIO DE FATO. APESAR DE PROCLAMADA A ILEGALIDADE DA INVESTIDURA DO FUNCIONÁRIO PÚBLICO NA FUNÇÃO DE OFICIAL DE JUSTIÇA, EM RAZÃO DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI ESTADUAL QUE AUTORIZOU TAL DESIGNAÇÃO, O ATO POR ELE PRATICADO É VÁLIDO. - RECURSO NÃO CONHECIDO. (STF - RE: 78594 SP, Relator: BILAC PINTO, Data de Julgamento: 07/06/1974, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJ 04-11-1974 PP-*****)

A segurança jurídica e a administração dos estados e municípios No âmbito dos Estados e Municípios não se aplica a Lei do Processo Administrativo da União, logo a regra contida no artigo 54 da Lei 9874/99 não se aplica às Administrações dos Estados e Municípios, bem como as pessoas jurídicas que compões as respectivas Administrações Indiretas. O que não significa que deva não deva ser observado o princípio da segurança jurídica, que possui status constitucional, ou que os magistrados ou administradores não


possam usar o prazo do artigo 54 como parâmetro de ponderação entre legalidade e segurança jurídica, conforme assevera Almiro couto e Silva: No tocante, porém, à consideração do lapso de tempo transcorrido, que se deverá estimar como razoável para efeito da estabilização das relações jurídicas, não há dúvida que o art. 54 da lei federal serve como indicativo ou como parâmetro para os Estados e Municípios, assim como para o juiz, ao realizarem a operação de ponderação entre os princípios da segurança jurídica e da legalidade. (SILVA, 2004. p.71)

A segurança jurídica e os atos administrativos exarados com base na lei inconstitucional Em regra a declaração de inconstitucionalidade da lei tem efeito ex tunc, caso a declaração seja prolatada em ação direita de constitucionalidade, a decisão expurga o ato legislativo do mundo jurídico como se esse nunca tivesse existido, questão interessante insurge-se no plano das relações concretas, os atos administrativos criados com fundamento na lei considerada inconstitucional perdem sua validade e também passam a inexistir? Ou podem ser mantidos com base no princípio da segurança jurídica? Ou podem ter sua continuidade assegurada com base em lei que encabeça limites decadenciais ou prescricionais? Doutrinariamente a questão é respondida por Gilmar Ferreira Mendes citado por Almiro Couto e Silva: Embora o nosso ordenamento não contenha regra expressa sobre o assunto e se aceite genericamente a ideia de que o ato fundado em lei inconstitucional está eivado, igualmente, de ilicitude, concede-se proteção ao ato singular em homenagem ao princípio da segurança jurídica, procedendo-se a diferenciação entre o efeito da decisão no plano normativo (Normebene) e no plano do ato individual (Einzelaktebene) através das chamadas fórmulas de preclusão. Os atos praticados com base na lei inconstitucional que não mais se afigurem suscetíveis de revisão não são afetados pela lei inconstitucional (MENDES, 1996 apud SILVA, 2004, p.73).

Em síntese, os atos que de alguma forma poderiam ser objeto da decadência ou da prescrição, mas que superam os lapsos temporais dos institutos passam a ser insuscetíveis de revisões, ainda que o ato se fundamente em lei declarada inconstitucional, já os atos sobre os quais esses institutos não incidam estariam resguardados pelo princípio da segurança jurídica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS O princípio da segurança jurídica está devidamente consolidado tanto no âmbito doutrinário quanto no jurisprudencial, pois é reconhecido pelos Tribunais Superiores, está assegurado no artigo 5ª da Constituição (artigo 5º, inciso XXXVI, CRFB/88) em sua dimensão objetiva e possui na legislação infraconstitucional mecanismos que viabilizem a afirmação de sua dimensão subjetiva (proteção à confiança) (artigo 54, Lei n. 9784/99; artigo 27, Lei n.9868/99; e artigo 11, Lei n.9882/99). De modo que dentro da Ordem Jurídica é possível que a dimensão subjetiva do princípio opere no Direito Administrativo não apenas no âmbito dos atos administrativos da União, mas também nos atos da Administração dos Estados e municípios, haja vista que embora não exista disposição semelhante ao artigo 54, Lei n. 9784/99 para esses entes da Federação, nada impede que se alcance a norma de conduta característica do princípio da proteção à confiança por meio de ponderação. E, conforme foi posto no início deste trabalho, não havendo uma ideia pura de justiça dentro do Ordenamento Jurídico será inevitável o conflito entre legalidade e segurança jurídica, pois a atividade da Administração, assim como o Direito, é dinâmica, exige mudanças de interpretação e correção de desvios, por outro lado a segurança jurídica está assegurada no Diploma Constitucional com status de direito fundamental. Ao fim e ao cabo, o que a jurisprudência e a doutrina buscam é o estabelecimento de uma diretriz para o administrador e ao Judiciário, que possibilite o menor ônus possível aos direitos fundamentais quando a estrita observância da legalidade implique uma efetiva ameaça ao direito subjetivo de segurança do administrado. REFERÊNCIAS ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. 14. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012. DIDIER, Fredie Jr. Curso de Direito Processual Civil. 14. ed. Salvador: Juspodivm, 2012 v.1. DI PIETRO, Maria Zanella. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2014. CARVALHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 27.ed. São Paulo: Atlas, 2014. JUSTEN, Marçal. Curso de Direito Administrativo. 6. ed. Belo horizonte: Fórum, 2010. FURTADO, Lucas Rocha. Curso de direito administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2007. MARINELLA, Fernanda. Direito administrativo. Rio de Janeiro: Impetus, 2013. MAZZA, Alexandre. Curso de direito administrativo. São Paulo: Saraiva, 2013.


MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 1998. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo: Malheiros. 2009. Notícias STF. Disponível na Internet: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=202762>. Aceso em: 25 de outubro de 2014. SARLET, Ingo. A Eficácia do Direito Fundamental à Segurança Jurídica, Dignidade da Pessoa Humana, Direitos Fundamentais e Proibição de Retrocesso no Direito Constitucional Brasileiro. Revista Eletrônica sobre a Reforma do Estado, Salvador, Instituto Brasileiro de Direito Público, n.21, março, abril, maio.2010.Disponível na Internet: <http://www.direitodoestado.com/revista/RERE-21-MARCO-2010-INGO-SARLET.pdf>. Aceso em: 25 de outubro de 2014. SILVA, Almiro Couto e. Princípio da legalidade da Administração Pública e de segurança jurídica no Estado de Direito Contemporâneo. Revista da Procuradoria-Geral do Estado [do Rio Grande do Sul] – RPGE, v. 27, n. 57, . 11-31, 2004. ________________O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito público brasileiro e o direito da administração pública de anular seus próprios atos administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei do Processo Administrativo da União (Lei nº 9.784/99). Revista da Procuradoria-Geral do Estado [do Rio Grande do Sul] – RPGE, v. 27, n. 57, 33 -75, 2004.


RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DO ESTADO E SEUS SERVIDORES ANDRÉ DE SOUZA ALMEIDA CAMUS SOARES PINHEIRO DANILO BEZERRA LAUANDE FONSECA GUILHERME ALVES DE ARAÚJO RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO Resumo O presente estudo irá tratar dos aspectos gerais acerca de como se dá, no Direito brasileiro, a responsabilidade civil do Estado e dos seus servidores, dando-se enfoque, sobretudo, à evolução histórica do tema e suas diversas teorias, aos principais elementos caracterizadores de tal responsabilidade, bem como à questão de como ocorre a reparação dos danos resultantes da conduta lesiva estatal e o direito de regresso da Administração Pública contra o agente público nas hipóteses em que for este o sujeito causador do dano indenizável a terceiros. Palavras-chaves: Responsabilidade Civil; Estado; Servidores Públicos. Abstract This study will address the general issues about how occurs in the Brazilian law, civil responsibility of the state and its servers, giving focus, above all, the historical evolution of the theme and its various theories, the main characteristic elements of such responsibility, and the question of how does the repair of damages resulting from the state harmful conduct and the right of return of Public Administration against the public official in cases where that is the subject of indemnification causing damage to third parties. Key-words: Civil Responsability; State; Public Servants.

INTRODUÇÃO O Direito Administrativo, como ensina Celso Antônio Bandeira de Mello (2009, p. 69) é orientado por dois superprincípios dos quais derivam todos os demais princípios e normas desse ramo do Direito Público Interno e constituem a base de seu regime jurídico. Um deles é o chamado princípio da “supremacia do interesse público sobre o privado”, o qual enuncia que o interesse público, em regra, deve prevalecer sobre o particular. Administrados e administradores, portanto, não estão no mesmo patamar jurídico. Diferentemente do que ocorre na esfera do Direito Privado (marcado pela igualdade das partes nas relações jurídicas), o Direito Público, como bem coloca Hely Lopes Meirelles (2010, p. 50) ao tratar dos pressupostos que devem ser considerados na interpretação do Direito Administrativo, assenta-se na ideia de supremacia do Poder Público sobre os cidadãos, dada a prevalência dos interesses coletivos sobre os individuais. Dessa desigualdade jurídica entre a Administração e os particulares “resultam inegáveis privilégios e prerrogativas para o Poder Público, privilégios e prerrogativas que não podem ser desconhecidos nem desconsiderados pelo intérprete e aplicador das regras e princípios desse ramo do Direito”. Contudo, não existe supremacia absoluta do interesse público, constituindo-se, pois, em uma noção relativa. A atuação do Estado está sujeita a cetros limites. Segundo ensina o Professor Diógenes Gasparini, (apud MARINELA, 2013, p. 29), “a Administração Pública deve obediência ao direito adquirido, à coisa julgada e ao ato jurídico perfeito, que são limites expressos no texto constitucional”. A legalidade (art. 37, caput, CRFB/88), os direitos e garantias fundamentais, bem como os demais princípios que integram o regime jurídico do Direito Administrativo, sejam eles expressos (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência) ou implícitos (razoabilidade, proporcionalidade, autotutela, motivação, especialidade e etc.), também devem ser considerados como importantes limites à atuação da Administração Pública frente aos particulares. O Estado, portanto, sob a alegação de que age na defesa do bem comum, da finalidade pública e do interesse da comunidade, não pode agir de maneira irrestrita, cometer excessos e arbítrios, passando por cima de tudo e de todos, sem que arque com as consequências dos seus atos. Tais fins não devem ser buscados a qualquer custo. Ele não está imune, portanto, à responsabilização por danos causados a terceiros, sendo obrigado, como afirma Celso Antônio Bandeira de Mello (2008, p. 977), a “reparar economicamente os danos lesivos à esfera juridicamente garantida de outrem e que lhes sejam imputáveis em decorrência de comportamentos unilaterais, lícitos ou ilícitos, comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos”. Essa responsabilidade estatal é fundamental e necessária, levando em consideração não só esse desiquilíbrio existente entre Poder Público e cidadãos, mas também a forma imperativa de agir do Estado (sua atuação se faz presente independentemente da vontade dos indivíduos) e sua presença cada vez maior em diversas esferas da sociedade, o que aumenta ainda mais as chances de ocorrem choques entre os interesses públicos e particulares.


É importante ressaltar que o regime jurídico de responsabilidade civil do Estado, em virtude da singularidade da sua posição jurídica, é regido por elementos próprios, possuindo, pois, determinadas peculiaridades que serão analisadas ao longo do presente trabalho. Contudo, antes de adentrarmos mais detalhadamente nos elementos e aspectos do tratamento legal conferido ao tema atualmente pelo Direito brasileiro, é importante que façamos uma abordagem histórica de como se deu a evolução da responsabilidade civil estatal ao longo dos anos.

EVOLUÇÃO DAS TEORIAS DE RESPONSABILIZAÇÃO DO ESTADO Pode-se dizer que, historicamente, a responsabilidade civil do Estado passou fundamentalmente por três fases ou estágios distintos: (a) irresponsabilidade do Estado; (b) responsabilidade subjetiva do Estado e (c) responsabilidade objetiva do Estado. Em um primeiro momento, prevalecia a Teoria da Irresponsabilidade do Estado. Segundo essa Teoria, o Estado não respondia pelos eventuais danos e prejuízos praticados contra terceiros, prevalecendo máximas do tipo: “The King can do no wrong” (o rei nunca erra) e “quod principi placuit legis vigorem” (aquilo que agrada ao rei tem força de lei). Também chamada de Teoria Feudal, ela encontrou seu apogeu no período dos Regimes Absolutistas. Nesse tempo, o Estado era orientado por princípios religiosos e carismáticos, o rei era considerado o representante de Deus na terra e prevalecia o direito ilimitado para administrar por parte do soberano, cujos atos não eram submetidos ao crivo da legalidade. A partir das Revoluções Liberais do Século XVIII, principalmente a partir da Revolução Francesa (1789), e da difusão de preceitos como a generalização do princípio da legalidade e a Teoria da Separação dos Poderes de Montesquieu, a ideia de responsabilidade civil estatal começou a ganhar cada vez mais força. A Teoria da Irresponsabilidade do Estado já não era condizente com o Estado Liberal e seus preceitos básicos. O marco dessa transição foi a histórica decisão tomada pelo Tribunal de Conflitos na França em 1873 no chamado “caso Blanco”: (...) Em fevereiro de 1873, sob a relatoria do conselheiro David, o Tribunal de Conflitos analisou o caso da menina Agnes Blanco que, brincando nas ruas da cidade de Bourdeaux, foi atingida por um pequeno vagão da Companhia Nacional de Manufatura de Fumo. O pai da criança entrou com uma ação de indenização fundada na ideia de que o Estado é civilmente responsável pelos prejuízos causados a terceiros na prestação de serviços públicos. O Aresto Blanco foi o primeiro posicionamento definitivo favorável à condenação do Estado por danos decorrentes do exercício das atividades administrativas. Por isso, o ano de 1873 pode ser considerado o divisor de águas entre o período da irresponsabilidade estatal e a fase da responsabilidade subjetiva (MAZZA, 2013, p. 319).

Em seguida sobreveio a fase da chamada responsabilidade subjetiva do Estado, segundo a qual tal responsabilização apareceria quando da constatação de algum ato ilícito culposo (ou doloso) praticado por algum agente público (ou privado prestador de serviço público) ou de falha na prestação dos serviços estatais (a chamada “culpa anônima”). Como afirma Fernanda Marinela (2013, p. 985), tal espécie de responsabilidade se assenta em quatro elementos fundamentais, quais sejam: “a conduta estatal; o dano, condição indispensável para que a indenização não gere enriquecimento ilícito; o nexo de causalidade entre a conduta e o dano; e o elemento subjetivo, a culpa ou o dolo”. Por fim, temos a chamada Teoria Objetiva da Responsabilização do Estado. Celso Antônio Bandeira de Mello (2009, p. 989-990) conceitua a responsabilidade objetiva como “a obrigação de indenizar que incumbe a alguém em razão de um procedimento lícito ou ilícito que produziu uma lesão na esfera juridicamente protegida de outrem. Para configurá-la basta, pois, a mera relação causal entre o comportamento e do dano”. Deixou-se de lado, portanto, a necessidade de comprovação de culpa, sendo necessária, para ensejar a responsabilização, somente a presença de três elementos essenciais: o ato (lícito ou ilícito, omissivo ou comissivo), o dano e o nexo de causalidade. Sem dúvida, comparando-se com a Teoria Subjetiva, a Teoria Objetiva, por não se basear na necessidade de comprovação do chamado elemento subjetivo, é muito mais adequada e apta às peculiaridades desse evidente desequilíbrio jurídico existente na relação entre Administração e administrados. Pelo fato de, segundo a Teoria da Responsabilização Objetiva, tanto o ato ilícito, quanto o lícito poderem ensejar o dever de indenizar por parte do Estado, podemos considerar que tal dever se sustenta em dois fundamentos, dependendo do caso: (a) a legalidade, quando ato lesivo for ilícito; e (b) a igualdade, quando for lícito o ato que causar o prejuízo ao particular. Essa Teoria Objetiva possui duas vertentes distintas. A primeira delas, mais radical, é a chamada teoria do risco integral, a qual sustenta que a responsabilidade do Estado existiria mesmo nos casos de danos que ele não deu causa diretamente, não podendo ele invocar as chamadas excludentes de responsabilidade. Já a segunda, a teoria do risco


administrativo, menos radical, assenta na noção de que o Estado, conforme a situação concreta, poderia invocar tais excludentes nas hipóteses de caso fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima ou de terceiro, por exemplo. No Brasil, a responsabilidade civil do Estado está prevista constitucionalmente no art. 37, § 6º, CRFB/88. Segundo tal dispositivo: “as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. A Constituição Federal de 1988 adotou como regra a responsabilidade objetiva do Estado na modalidade do risco administrativo. Em algumas hipóteses excepcionais a doutrina majoritária entende ser possível a aplicação da Teoria Subjetiva. É o que acontece nos casos de danos causados por omissão do Poder Público, quando ficaria caracterizada a chamada “culpa anônima” e nas hipóteses de ação regressiva. RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL ESTATAL: SUJEITOS, ATO LESIVO, DANO INDENIZÁVEL E NEXO DE CAUSALIDADE Sujeitos. O art. 37, § 6º do texto constitucional, ao tratar da responsabilidade civil do Estado, estabelece que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. Nessa primeira categoria (pessoas jurídicas de direito público) encaixam-se os integrantes da chamada Administração Pública Direta, independentemente da atividade que desempenham (União; Estados; Distrito Federal; Territórios; Municípios), além das autarquias, fundações e associações públicas, bem como todos os seus agentes (desde que estejam agindo na qualidade de agente público). Por outro lado, no que diz respeito às pessoas jurídicas de direito privado, como é o caso das empresas públicas e das sociedades de economia mista e de determinados particulares como os concessionários e permissionários, por exemplo, só devem responder objetivamente quando se encontrarem na qualidade de prestadora de um serviço púbico. Caso contrário, estarão elas sujeitas à responsabilidade subjetiva, a qual, para ser configurada, como foi visto anteriormente, dependerá da presença do dolo ou culpa na conduta lesiva (elemento subjetivo). Conduta lesiva. No que diz respeito à conduta lesiva e ensejadora de responsabilização estatal, “é importante diferenciar três situações diferentes: a responsabilidade decorrente de condutas comissivas, os resultados dos comportamentos omissivos e as situações especiais de risco assumidas pelo Estado” (MARINELA, 2013, p. 993). No primeiro caso (conduta comissiva), aplicar-se-á a responsabilidade objetiva, aquela que independe de culpa, sendo irrelevante a ilicitude (violação ao princípio da legalidade) ou licitude (violação ao princípio da isonomia) do ato lesivo. O próprio STF, por exemplo, nesse sentido, em julgamento do RE nº 456302150, já decidiu que “para a configuração da responsabilidade objetiva do Estado não é necessário que o ato praticado seja ilício”. São exemplos do primeiro caso (atitude comissiva ilícita): “dano decorrente de determinação estatal de apreensão de edição de revista sem procedimento legal” (MARINELA, 2013, p. 993); espancamento de um detento por policiais ou agentes penitenciários dentro as prisão e etc. Já em relação ao segundo caso (atitude comissiva lícita) poderíamos citar como exemplo: dano a um bem de particular em virtude de situação decorrente de requisição administrativa; construção de uma “usina hidrelétrica cuja represa inunda propriedades privadas” (FURTADO, 2007, p. 1001). Nos casos de danos por omissão, deverá ser aplicada a responsabilidade subjetiva. Esse é o posicionamento pela doutrina majoritária e pelos tribunais superiores. O STJ, por exemplo, em julgamento do REsp nº 1069996/RS151, proferiu decisão deixando claro que “a jurisprudência dominante tanto do STF como deste Tribunal, nos casos de ato omissivo estatal, é no sentido de que se aplica a Teoria de Responsabilidade Subjetiva”. Portanto, a vítima é que tem o ônus de provar não só a ocorrência do dano, do nexo causal e da omissão, mas também a ocorrência de culpa ou dolo (omissão dolosa ou culposa) por parte do Estado. Contudo, é preciso fazer uma ressalva. É fundamental lembrar que a omissão do Estado (dolosa ou culposa) que gera responsabilidade é aquela violadora de um dever de agir (ou ele deixou de agir ou agiu deficientemente), ou seja, como ensina Celso Antônio Bandeira de Mello (2009, p. 997), “só faz sentido responsabilizá-lo se descumprir dever legal que lhe impunha obstar ao evento lesivo”. Nesses casos, pois, a responsabilização estatal tem como fundamento o princípio da legalidade. Um exemplo de situação de omissão por parte do Estado e que poderia ensejar um direito de indenização é o caso de acidente de trânsito decorrente de falta de sinalização em via pública, pois neste caso é dever do agente público, em se tratando de via pública, zelar pela segurança no trânsito através da manutenção das vias em boas condições e sinalização das mesmas, advertindo os motoristas acerca de possíveis perigos que possam colocar sua integridade física em perigo. Por último temos os casos em que o dano ou a ação lesiva não é gerado diretamente pelo Estado, mas que ele, assumindo o risco de sua atitude, cria situação decisiva para a ocorrência do dano, ou seja, é o próprio poder público, que contribui para a ocorrência da situação geradora de lesão aos interesses de terceiros. Nesse caso, a 150 151

ANEXO A; ANEXO B.


responsabilização do Estado será objetiva. Um exemplo de uma situação nesse sentido seria o caso de um réu primário que tenha sido condenado por um crime de roubo ou homicídio culposo, por exemplo, e acaba sendo morto na prisão por ter sido colocado em presídio superlotado e em mesma cela que indivíduos de alta periculosidade, assassinos em série ou integrantes de facções criminosas. O STJ, inclusive, partindo-se da noção de dever do Estado em dar proteção aos detentos, inclusive uns dos outros, já decidiu no sentido de reconhecer “o direito da família à indenização pela morte de detentos custodiados em delegacias e penitenciárias, mesmo em caso de rebelião (Ag. 986208)”. Dano indenizável. O dever de indenizar, obviamente, pressupõe a ocorrência do dano, seja ele moral ou material, mas não é qualquer dano que dá ensejo a uma possível responsabilização civil por parte do Estado. Sendo decorrido de conduta ilícita do Estado, exige-se apenas que o dano seja: (a) certo (real e concreto), devendo a indenização abranger aquilo que o lesado perdeu e comprovadamente deixou de ganhar; e (b) jurídico, ou seja, que fere um direito alheio protegido juridicamente quando da época da ocorrência do ato lesivo, pois “quem não fere direito alheio não tem por que indenizar” (BANDEIRA DE MELLO, 2009, p. 1004). A mera ocorrência de prejuízo material/moral não é suficiente para a caracterização do dano indenizável. Por outro lado, se o prejuízo é decorrente de uma conduta lícita do Estado, exige-se ainda, para a caracterização do dano indenizável que este seja especial e anormal. Especial é aquele dano particularizado, ou seja, com sujeito (s) identificado (s) ou determinado (s). “Por isso não estão acobertadas, por exemplo, as perdas de poder aquisitivo da moeda decorrentes de medidas econômicas estatais inflacionárias” (BANDEIRA DE MELLO, 2009, p. 1007), pois, neste caso, o prejuízo recai sobre toda uma coletividade. O dano anormal, por sua vez, é aquele cuja gravidade é maior do que um simples aborrecimento. Não seria, em regra, anormal, por exemplo, eventuais prejuízos causados a um determinado estabelecimento comercial decorrentes de uma obra de asfaltamento para a melhoria das condições de locomoção em determinado bairro. Nexo de causalidade. É essencial, por fim, que exista uma ligação entre a ação estatal e o dano experimentado pelo terceiro lesado. Nesse sentido, como já foi dito anteriormente, o Brasil adota, como regra, a chamada teoria do risco administrativo, a qual admite as chamadas excludentes de responsabilidade. Nesses casos ocorrerá a quebra do nexo de causalidade, afastando a responsabilização do Estado. São causas excludentes de responsabilidade comumente elencadas pela doutrina: o caso fortuito (dano decorrente de um ato humano), a força maior (acontecimento da natureza involuntário, imprevisível e incontrolável), a culpa exclusiva da vítima ou de terceiro, por exemplo. Cada um desses casos precisa ser analisado com muito cuidado e cautela, sempre levando em consideração cada situação e as particularidades de cada caso concreto. É importante que fique bem evidente a ausência de participação ou contribuição do Estado, em qualquer nível, para a ocorrência do dano. Alguns doutrinadores como Alexandre Mazza (2013, p. 328), não consideram o caso fortuito como excludente de responsabilidade. Nessa mesma linha, Celso Bandeira de Mello (2009, p. 1009) entende que o caso fortuito não é “utilmente invocável, pois, sendo um acidente cuja raiz é tecnicamente desconhecida, não elide o nexo entre o comportamento defeituoso do Estado e o dano assim produzido”. O certo é que, em se tratando de excludentes de responsabilidade, um simples detalhe pode mudar completamente a situação. Em um determinado acidente de trânsito, por exemplo, no qual, em um primeiro momento, acreditava-se que este ocorreu por culpa exclusiva de terceiro (sendo excluída qualquer responsabilidade por parte do Estado) pode ficar comprovado na verdade que esta foi concorrente e não exclusiva. Neste caso, a culpa do Estado, conforme o caso e estando presentes todos os elementos necessários para sua caracterização, já poderia ser cogitada, sendo que sua responsabilidade seria proporcional ao grau de contribuição para a ocorrência do dano (acidente, no caso).

REPARAÇÃO DO DANO E AÇÃO DE REGRESSO A via mais utilizada para busca da reparação do dano e o reconhecimento do dever de indenizar é a via judicial por meio de ação indenizatória proposta pela vítima contra a pessoa jurídica à qual o agente público pertence, uma vez que são raros os casos em que o Estado concorda voluntariamente em pagar o prejuízo. Segundo posicionamento do STF, manifestado quando do julgamento do RE 327.904/SP152, evocando o princípio da impessoalidade, rejeita a ideia de que o agente público possa ser acionado diretamente pela vítima para o ressarcimento dos danos causados por sua ação ou omissão no exercício de sua função pública. No referido julgamento, ao interpretar o art. 37, § 6º, CRFB/88, o Ministro Ayres Britto elaborou voto no sentido de que tal dispositivo, na verdade, é consagrador de uma dupla garantia: (...) uma, em favor do particular, possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de direito público, ou de direito privado que preste serviço público, dado que bem maior, praticamente certa, a possibilidade de 152

ANEXO C


pagamento do dano objetivamente sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se vincular.

Nesse entendimento, somente os sujeitos referidos no art. 37, § 6º, CRFB/88 (pessoas jurídicas de direito público e de direito privado prestadoras de serviço público) é que podem configurar no polo passivo (legitimidade ad causam) da ação de indenização, podendo responder objetivamente pela reparação do dano ao terceiro lesado. Tal posicionamento, contudo, não é pacífico dentre os doutrinadores, sendo seguido por uns como Hely Lopes Meirelles (apud BANDEIRA DE MELLO, 2009, p. 1018), por exemplo, e contestado por outros como Celso Antônio Bandeira de Mello (2009, p. 1019). No que diz respeito ao prazo prescricional para o ajuizamento da referida ação, a doutrina majoritária, seguindo entendimento do STJ, entende ser este de 5 (cinco) anos contados da data do fato ou ato lesivo (Decreto lei nº 20.910/32 e art. 1º-C da Lei 9.494/97). Já o direito de regresso da Administração Pública contra o servidor causador do dano é previsto genericamente na parte final do art. 37, § 6º da CRFB/88. Tal direito será exercido por meio de ação autônoma (ação regressiva) com a finalidade de apurar a responsabilidade individual do agente público, sendo requisito essencial para o ressarcimento do prejuízo, contudo, que o Estado tenha sido condenado a indenizar o terceiro lesado e a configuração de dolo ou culpa na conduta do agente. No que diz respeito à ação regressiva, esta é imprescritível nos termos do art. 37, § 5º, CRFB/88. Todavia, nas situações em que o causador do dano não for agente público, mas sim pessoa jurídica de direito privado, sem qualquer vínculo estatal, o prazo será de 3 (três) anos (art. 206, § 3º, V, CC).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Como foi explicitado anteriormente, o Direito Administrativo tem como base de seu regime jurídico os princípios da supremacia e indisponibilidade do interesse público. O interesse público deve prevalecer sobre o particular e, uma vez caracterizado tal interesse, a Administração não poderá, sem qualquer fundamentação ou base legal, dele dispor, devendo, pois, tomar todas as providências cabíveis e necessárias para seu alcance. Como bem afirma Hely Lopes Meirelles (2010, p. 50-51), “a finalidade pública, o bem comum, o interesse da comunidade é que demarcam o poder discricionário da Administração”. Daí decorre a concessão de uma série de privilégios e prerrogativas ao Poder Público que normalmente não são estendidos aos particulares nas relações privadas. Diante deste cenário, levando-se em consideração ainda a amplitude da atuação do Estado perante à sociedade e seus cidadãos e tendo-se em vista a constatação de que a prestação de serviços públicos tende a criar riscos e prejuízos eventuais e até mesmo inevitáveis, a noção de responsabilização objetiva do Estado é essencial, principalmente no sentido de conferir segurança aos particulares de que o Poder Público, ainda que atue licitamente na defesa do interesse público, não pode fazer tudo o que bem entende, passando por cima dos direitos de terceiros para alcançar seus objetivos. Dada sua evidente importância, a matéria é objeto de estudo de diversos doutrinadores, sendo abordada e tratada de forma autônoma e expressa pela Constituição Federal (art. 37, §6º), o que mostra uma preocupação do legislador constitucional em deixar de maneira clara e indiscutível a existência dessa responsabilidade que deve existir por parte do Estado em relação aos seus cidadãos e seus interesses juridicamente protegidos, por mais desequilibrada que seja essa relação entre Poder Público e particular. Há muito tempo, pelo menos em território pátrio, foi sepultado o conceito do Estado Absolutista, caracterizado pela figura do Soberano que administrava ilimitadamente, que estava acima de tudo e de todos e que tratava os destinatários das leis como meros súditos. Hoje, estamos sob a égide do chamado Estado de Direitos, estruturado sobre os princípios da legalidade e da separação dos poderes, que são essenciais para impor limites à atuação do Estado e seus agentes. Os destinatários das leis, tendo em vista essa concepção moderna de Estado, deixaram de ser meros súditos e passaram a ser tratados como verdadeiros sujeitos de direitos capazes de exigir do Estado que atue positivamente em seu favor na defesa e prevenção dos direitos e garantais fundamentais constitucionalmente previstos, devendo agir de uma forma responsável e impessoal, dentro dos limites da legalidade, da razoabilidade, da proporcionalidade e da moralidade.

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ementa. RE 327.904/SP. 2ª Turma. Relator: CARLOS BRITTO, j. em 15/08/2006, DJ. 08/09/2006. Disponível em: http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/759916/recurso-extraordinario-re-327904-sp.Acesso em: 29/10/2014. FURTADO, Lucas Rocha. Curso de direito administrativo. Belo Horizonte: Fórum, 2007. MAZZA, Alexandre. Curso de direito administrativo. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013. MARINELA, Fernanda. Direito administrativo. 7ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2013. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 36ª ed. São Paulo: Malheiros, 2010.

ANEXO ANEXO A - RE nº 456302/RR Processo:

RE 456302 RR

Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE Julgamento: 18/09/2006 Publicação: DJ 03/10/2006 PP-00076

Parte(s):

ESTADO DE RORAIMA PGE-RR - LUCIANO ALVES DE QUEIROZ MARIA DA GUIA SANTOS LIMA VALENTINA WANDERLEY DE MELLO E OUTRO(A/S)

DECISÃO: RE, a, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima que condenou o recorrente à reparação de danos morais e materiais, uma vez que a recorrida se encontra em estado vegetativo decorrente de parada cardio-respiratória durante cirurgia cesariana realizada em hospital público. O acórdão recorrido considerou claramente comprovados o ato comissivo, o resultado danoso e o nexo causal. Por outro lado, acolhendo alegação do Ministério Público, determinou a desvinculação do ressarcimento por danos morais e materiais, uma vez que o dano moral tem caráter compensatório, satisfatório, devendo ser pago de uma vez só. Lê-se do voto condutor do acórdão recorrido: "Atribui-se responsabilidade ao Estado, pelo fato de haver-se configurado na presente demanda a consumação do dano, a omissão ou ação administrativa, o nexo causal entre o dano e o comportamento do agente causador, além da ausência de qualquer fato excludente ou atenuante da questionada responsabilidade civil. "Alega o RE violação dos artigos 5º, I, LIV; 37, § 6º; 93, IX; 100 e parágrafos; 167, II, da Constituição, nos termos que seguem: a) nulidade absoluta por defeito de representação processual, já que a recorrida, por se encontrar em estado vegetativo era relativa ou absolutamente incapaz, pela impossibilidade de fazer uso de suas faculdades mentais, devendo ter-lhe sido nomeado curador especial; b) ofensa dos princípios da legalidade e devido processo legal, por violação dos princípios b) ofensa dos princípios da legalidade e devido processo legal, por violação dos princípios non refomatio in pejus e tantum devolutum quantum appellatum (arts. 459, 460, 467, 468, 473, 503, 505 e 515 do C.Pr.Civil), pois não poderia haver reforma da sentença em desfavor do Estado, já que somente este apelou. Aduz que o prejuízo está no fato de que o acórdão determinou a "...desvinculação dos danos moral e material, uma vez que o dano moral tem caráter compensatório, satisfatório, devendo ser pago de uma só vez e de imediato." (f. 122);c) violação dos arts. 100, parágrafos, e 167, II, já que condenações contra a Fazenda não podem ser pagas "de uma vez só e de imediato", devendo ser observada a ordem dos precatórios; d) violação do artigo 37, § 6º, uma vez que, para a configuração da responsabilidade objetiva do Estado, o ato deve ser ilícito. Afirma, ainda, que os atos comissivos do médico decorrem do exercício regular de um direito e do estrito cumprimento do dever legal, além de serem de meio, e não de resultado. e) a parada cardiorespiratória, enquanto fenômeno biológico, não constitui ato ou fato do serviço ou de ato comissivo de um agente do Estado, mas de "fato do paciente" ou "caso fortuito". f) por fim, violação do art. 93, IX, pois o acórdão não indicou qual foi a ação ou omissão do agente, de forma que a Administração não poderá exercer o direito de regresso contra o agente causador do dano, além da falta de fundamentação relativa:: à condenação do Estado por danos morais, uma vez que a autora vive em estado vegetativo não tendo, portanto, sofrimento moral; à presunção de que a autora viverá 552 meses (o que serviu de base para a fixação da pensão alimentícia); à fixação da verba honorária, que deveria ser arbitrada sobre 12 meses, com base no art. 259, VI, do C.Pr.Civil, e não sobre a condenação total. Parecer do il. Subprocurador-Geral da República, Wagner de Castro Mathias Netto, pelo não conhecimento do recurso. Decido. Os itens a e b tratam de questões relativas à interpretação da legislação infraconstitucional: a alegada violação dos dispositivos constitucionais invocados seria, se ocorresse, indireta ou reflexa, que não enseja reexame na via do recurso extraordinário: incide, mutatis mutandis, o princípio da Súmula 636.O tema dos arts. 100, parágrafos, e 167, II, da Constituição, em nenhum momento foi analisado pelo acórdão recorrido nem objeto de embargos de declaração: incidem as Súmulas 282 e 356.Quanto ao item e, este Tribunal entende que para a configuração da responsabilidade objetiva do Estado não é necessário que o ato praticado seja ilícito, v.g. RREE 113.587, Velloso, RTJ 140/636, e 109.615, Celso, 163/1.107, do qual extrato:"- Os elementos que compõem a estrutura e delineiam o perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (a) a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o eventus damni e o comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a oficialidade da atividade causal e lesiva, imputável a agente do Poder Público, que tenha, nessa condição funcional, incidido em conduta comissiva ou omissiva, independentemente da licitude, ou não, do comportamento funcional (RTJ 140/636) e (d) a ausência


de causa excludente da responsabilidade estatal (RTJ 55/503 - RTJ 71/99 - RTJ 91/377 - RTJ 99/1155 - RTJ 131/417)."Quanto ao item d, o acórdão recorrido concluiu que a parada cardio-respiratória somente ocorreu em razão do ato praticado pelo agente público, não se tratando, desse modo, de um fato natural; concluir de forma diversa demandaria o reexame dos fatos à luz das provas que permeiam a lide: incide a Súmula 279.Por fim, não há falar em negativa de prestação jurisdicional ou inexistência de motivação do acórdão recorrido. A jurisdição foi prestada, no caso, mediante decisão suficientemente motivada, não obstante contrária à pretensão do recorrente, tendo o Tribunal a quo, como se observa do acórdão proferido, justificado suas razões de decidir.Nego seguimento ao recurso extraordinário (art. 557, caput, C.Pr.Civil) Brasília, 18 de setembro de 2006.Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE - Relator 1

ANEXO B - REsp nº 1069996/RS RECURSO ESPECIAL Nº 1.069.996 - RS (2008/0142203-9) RELATORA

: MINISTRA ELIANA CALMON

RECORRENTE

: ESTADO DO PARANÁ

PROCURADOR

: CESAR AUGUSTO BINDER E OUTRO (S)

RECORRIDO

: CARLOS ALBERTO ANDRADE PEIXOTO

ADVOGADO

: DACIANO ACCORSI PERUFFO E OUTRO (S)

EMENTA PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO – OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO-CONFIGURADA – RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO – ELEMENTO SUBJETIVO RECONHECIDO PELA INSTÂNCIA ORDINÁRIA – SÚMULA 7/STJ – JUROS DE MORA – ÍNDICE – ART ; 1.062 DO CC/1916 E ART. 406 DO CC/2002 – PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL – INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS – REVISÃO – IMPOSSIBILIDADE – SÚMULA 7/STJ – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. Não há ofensa ao art. 535 do CPC, pois o Tribunal de origem se manifestou expressamente sobre a incidência da verba honorária em 15% sobre a condenação, e sobre os juros legais, fixados indevidamente em 12% ao ano. 2. A jurisprudência dominante tanto do STF como deste Tribunal, nos casos de ato omissivo estatal, é no sentido de que se aplica a teoria da responsabilidade subjetiva. 3. Hipótese em que o Tribunal local, apesar de adotar a teoria da responsabilidade objetiva do Estado, reconheceu a ocorrência de culpa dos agentes públicos estaduais na prática do dano causado ao particular. 4. Os juros relativos ao período da mora anterior à data de vigência do novo Código Civil (10.1.2003) têm taxa de 0,5% ao mês (art. 1062 do CC/1916) e, no que se refere ao período posterior, aplica-se o disposto no art. 406 da Lei 10.406, de 10.1.2002. 5. A Corte Especial do STJ, por ocasião do julgamento dos Embargos de Divergência 727.842/SP, firmou posicionamento de que o art. 406 do CC/2002 trata, atualmente, da incidência da SELIC como índice de juros de mora, quando não estiver estipulado outro valor. 6. A jurisprudência é pacífica no sentido de que a revisão do valor da indenização somente é possível, em casos excepcionais, quando exorbitante ou insignificante a importância arbitrada, em flagrante violação dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, o que, todavia, in casu, não se configurou. 7. É firme o entendimento da Primeira Seção quanto à impossibilidade de, em Recurso Especial, modificar-se o percentual de honorários sucumbenciais fixados pelas instâncias de origem, salvo quando há fixação em valores irrisórios ou excessivos, hipótese não configurada nos autos. 8. Recurso especial parcialmente provido. (STJ, Relator: Ministra ELIANA CALMON, Data de Julgamento: 18/06/2009, T2 - SEGUNDA TURMA) ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça "A Turma, por unanimidade, deu parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do (a) Sr (a). Ministro (a)-Relator (a)." Os Srs. Ministros Castro Meira, Humberto Martins, Herman Benjamin e Mauro Campbell Marques votaram com a Sra. Ministra Relatora. Brasília-DF, 18 de junho de 2009 (Data do Julgamento) MINISTRA ELIANA CALMON Relatora

ANEXO C- RE 327.904/SP Processo:

RE 327904 SP

Relator(a):

CARLOS BRITTO

Julgamento:

15/08/2006

Órgão Julgador: Primeira Turma Publicação:

DJ 08-09-2006 PP-00043 EMENT VOL-02246-03 PP-00454 RNDJ v. 8, n. 86, 2007, p. 75-78


Parte(s):

ASSOCIAÇÃO DE CARIDADE DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE ASSIS JOSÉ LEITE SARAIVA FILHO JOSÉ SARAIVA E OUTROS JOSÉ SANTILLI SOBRINHO JUVENAL TEDESQUE DA CUNHA

EMENTA RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO: § 6º DO ART. 37 DA MAGNA CARTA. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. AGENTE PÚBLICO (EX-PREFEITO). PRÁTICA DE ATO PRÓPRIO DA FUNÇÃO. DECRETO DE INTERVENÇÃO. O § 6º do artigo 37 da Magna Carta autoriza a proposição de que somente as pessoas jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que prestem serviços públicos, é que poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos a terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes, agindo estes na qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns. Esse mesmo dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor do particular, possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de direito público, ou de direito privado que preste serviço público, dado que bem maior, praticamente certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se vincular. Recurso extraordinário a que se nega provimento. DECISÃO A Turma conheceu do recurso extraordinário, mas lhe negou provimento. Unânime. Não participou, justificadamente, deste julgamento o Ministro Março Aurélio. Falou pela recorrente o Dr. José Saraiva. 1ª. Turma, 15.08.2006.


INTERPOSIÇÃO DE RECURSOS ELEITORAIS POR E-MAIL DANIEL BLUME P. DE ALMEIDA Especialista em Processo e Direito Eleitoral, Advogado, Procurador do Estado do Maranhão e Membro Substituto do TRE/MA e do CFOAB A possibilidade de interposição de recursos eleitorais através de correio eletrônico é tema que tem dividido a jurisprudência. O próprio Tribunal Superior Eleitoral não é uníssono sobre a matéria. Há várias decisões contra a interposição de recurso por e-mail (verbi gratia, EDcl-REspEL n. 4383-16.2010.6.18.0081, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 05.06.2013, p. 43; RO n. 1946-25.2010.6.01.0000, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 04.12.2013, p. 88; e AgR-RCed n. 664, Rel. Min. José Augusto Delgado, DJ de 29.6.2007), bem assim algumas a favor, como, por exemplo, a proferida nos autos do Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral n. 54190-02. 2008.6.18.0040 – PI, relatada pela Ministra Nancy Andrighi, apontando defeito no aparelho de fax da zona eleitoral. Vê-se que a maioria das decisões do TSE é refratária à tese, no sentido de que inexistiria previsão legal que viabilizasse tal procedimento; que o correio eletrônico não poderia ser considerado sucedâneo de fac-símile; e que a imagem digitalizada de assinatura não seria suficiente para se concluir que o recurso estaria devidamente firmado, por não se enquadrar nos casos de assinatura eletrônica admitidos na legislação. Nesta linha, a jurisprudência também majoritária do Superior Tribunal de Justiça. A título de exemplo, os seguintes julgados: AgRg-AG-REsp. n. 329.785 – 2ª T., Rel. Min. Castro Meira, DJe 02.10.2013, p. 236; EDcl-Ag-RE n. 293.372 – 2ª T., Relª Minª Eliana Calmon, DJe 20.11.2013, p. 616; e AgRg-AI n. 500044/RS – 3ª T., Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJU 15.09.2003, p. 318. Porém, em sentido diverso, encontra-se o precedente do mesmo STJ proferido no AGA n. 574451 – SC – 5ª T., Rel. Min. Gilson Dipp, DJU 06.09.2004, p. 00298. Filio-me à corrente que admite a interposição de recurso através de e-mail, instrumento de transmissão de dados já incorporado ao cotidiano dos operadores do Direito, vez que inseridos na sociedade global. É o sucessor do fac-símile. Haja vista ser possível o protocolo de recurso via fax, nada impede que seja autorizado o manejo de peça recursal via e-mail, seu sucedâneo moderno, principalmente se a Justiça a qual for encaminhado o recurso não dispuser de peticionamento eletrônico, como ocorre hoje no Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão e no Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão. Segundo o art. 1º da Lei n. 9.800/1999, é permitida às partes a utilização de sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de atos processuais que dependam de petição escrita. Mesmo que não se entenda ser o fax sucedâneo do e-mail, indiscutivelmente é seu similar, o que atrai a aplicação de tal dispositivo. Neste pensar, Humberto Theodoro Júnior, para quem “Considerarse-á, outrossim, cumprido o ato, tempestivamente, sempre que a mensagem chegar ao órgão judicial dentro do prazo legal. Mas, incumbirá à parte apresentar os originais em juízo, necessariamente, até cinco dias da data de seu término (art. 2º). O ato processual, assim, torna-se complexo, visto que sua eficácia dependerá da chegada ao destinatário antes do termo final e ainda da posterior juntada da petição em original, nos cinco dias subseqüentes. Com isso, ganha-se celeridade na postulação, ao mesmo tempo em que se preserva sua autenticidade” (Curso de Direito Processual Civil, 36ª. Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 206). Cabe, todavia, ao recorrente tomar as cautelas para confirmar que a peça foi efetivamente recebida pela Justiça. Portanto, tal ônus é dele. É preciso também que os dados transmitidos gerem segurança ao julgador. O recurso não pode ser simplesmente encaminhado ao Judiciário em arquivo de texto proveniente do endereço eletrônico do advogado da causa (ex. Microsoft/Windows/Word). A peça recursal deve ser digitalizada, ou seja, reproduzida em scanner, devidamente assinada manualmente por causídico habilitado e remetida através de seu e-mail particular ou profissional a um e-mail institucional do Poder Judiciário (ou de um de seus integrantes). É praxe zonas, tribunais e magistrados possuírem e-mail oficial. Convém inclusive a criação de


um endereço eletrônico específico para o recebimento de recursos, até que a Justiça Eleitoral adote o peticionamento eletrônico e/ou o Processo Judicial Eletrônico (PJE), oportunidade em que o protocolo de peças via internet será regra e não exceção. É bom também que os tribunais regulamentem a interposição de recursos por correio eletrônico, como autoriza a Resolução n. 21.7111/2004 do TSE, no âmbito eleitoral. Ora, se a tendência nacional é a implantação do peticionamento eletrônico e do Processo Judicial Eletrônico em todo o país, a fim de agilizar e facilitar o manejo dos autos do processo, adaptando o Judiciário à nova ordem digital universal, é importante que, neste espeque, admita-se a interposição de recursos eleitorais por e-mail. Por exemplo, no Supremo Tribunal Federal, o protocolo de peças na forma eletrônica já é realidade. Muito embora o PJE ainda não esteja implantado na Justiça Eleitoral, não é razoável que um recurso eleitoral latu sensu deixe de ser conhecido por ter sido aviado em formato digital. O Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão adequadamente tem admitido a interposição de recursos via e-mail. “Em homenagem ao princípio da instrumentalidade das formas, é plenamente válida a interposição de recurso por e-mail, cabendo ao Recorrente tomar as cautelas necessárias para confirmar o seu recebimento pela Justiça Eleitoral” (TRE/MA, Processo nº 65-62.2013, Acórdão n. 16.735/2014, Rel. Des. Eleitoral Eduardo Moreira, j. 17.02.2014). “Preliminar de intempestividade rejeitada. Recurso interposto via correio eletrônico (e-mail). Admissibilidade. Princípio da instrumentalidade das formas” (TRE/MA, Processo n. 488-02.2012, Rel. Des. Eleitoral Daniel Blume Pereira de Almeida, j. 22.04.2014). “Não há, portanto, como se vislumbrar qualquer prejuízo às partes e à Justiça em reconhecer a prestabilidade dos documentos enviados por fac-simile ou por e-mail, nos termos do art. 1.º da Lei n.º 11.419/2006, pois, antes de prestigiar-se o formalismo exagerado, devemos privilegiar outros princípios tão marcantes na seara eleitoral, a exemplo da instrumentalidade das formas, da celeridade e da economia processual – utile per inutile non vitiatur” (TRE/MA, Processo n.º 85-03.2012.6.10.0026, Rel. Des. Eleitoral José Eulálio Figueiredo Almeida, j. 10.12.2013). Em similar diapasão, o Tribunal Regional Eleitoral do Amapá (RE n. 10555/AP, Rel. Des. Eleitoral Antonio Ernesto Amoras Collares, j. 23.08.2012; e RE n. 10127 AP, Rel. Des Eleitoral Agostino Silvério Júnior, j. 17.08.2012). No que concerne à interposição de recurso via correio eletrônico, o Supremo Tribunal Federal tem precedentes que evidenciam a possibilidade da utilização de e-mail (ARE n. 744494/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe-186 23.09.2013 e RE n. 499.020-AgR/PE, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe de 29.2.08), os quais admitem a interposição do recurso via correio eletrônico, ao passo que ressalvam apenas a necessidade de a parte interessada apresentar o respectivo original no prazo legal, o que não restou procedido, ensejando o não conhecimento dos recursos. Uma pergunta deve ser feita. Protocolado o recurso por e-mail, é preciso que os originais sejam juntados aos autos no prazo de cinco dias em atenção ao art. 2º, caput, da Lei n. 9.800/1999? Entendo que, tratando-se de processo eleitoral, tal facere é desnecessário, vez que o art. 12 da Resolução n. 21.711/2004 do TSE estabelece que o envio da petição por fac-símile dispensa a apresentação dos originais. Sendo o correio eletrônico sucedâneo ou similar do fax, aplica-se aludido dispositivo ao recurso manejado via internet. A dispensabilidade de juntada dos originais da peça protocolada por fac-símile é uma especificidade, peculiaridade do processo eleitoral já auferida pelo TSE. “Em nome do princípio da segurança jurídica e consideradas as particularidades da Justiça Eleitoral, dispensa-se a apresentação do original da petição protocolada via fac-símile” (AgR-Respe n. 267892/BA , Rel. Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, DJE 13/04/2011, Página 18). Idem, AgR-AI n. 66417/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, j. 21.05.2013; e AgR-AgR-Respe n. 596311/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, DJE 12.04.2011, p. 33. Com efeito, a admissão de recurso eleitoral por e-mail coaduna-se com os Princípios Constitucionais da Razoabilidade e da Efetiva Prestação Jurisdicional (CF, art. 5º, XXXV e LIV), mesmo porque o encaminhamento da petição recursal por correio eletrônico merece ser aproveitado para todos os fins legais em respeito ao postulado da instrumentalidade das formas (CPC, art. 244), porquanto inequívoco que a finalidade do ato processual foi atingida (CE, art. 219), tanto que a própria Justiça Eleitoral procede a notificações por e-mail. “Chama-se a atenção, em especial, para o avanço do processo eleitoral, que já regulamentou a utilização do correio eletrônico como forma de fazer chegar à Justiça Eleitoral as petições, inclusive iniciais e recursos. E também as notificações às partes por e-mail. Por isso é que os Partidos Políticos devem informar, com o pedido de registro de candidatura, o seu endereço eletrônico” (CASTRO, Edson de Resende. Curso de Direito Eleitoral, 6ª ed. – Belo Horizonte: Del Rey, p. 269).


Ao fim, importa dizer que o processo não é um fim em si próprio. Está a serviço do direito material e da justiça, o que ganha projeção no Direito Eleitoral, onde se lida com a suprema democracia. Portanto, impõe-se a derrocada de formalismos desnecessários que comprometem o mister processual. José Jairo Gomes, ao lecionar acerca da instrumentalidade do processo eleitoral, diz que “nos dias que correm, tornouse truísmo dizer que o processo é meio, e não fim em si mesmo. Essa ideia encontra reflexo no artigo 219 do Código Eleitoral, pelo qual: ‘Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem demonstração de prejuízo’” (Direito Eleitoral, 9ª ed., São Paulo: Atlas, p. 61). Infere-se, por tudo, ser viável a interposição de recursos eleitorais através de correio eletrônico, vez ser sucedâneo moderno do fac-símile, dispensada a juntada dos originais no âmbito peculiar da Justiça Eleitoral.


O SUPREMO DAS INCERTEZAS JOÃO BATISTA ERICEIRA Professor universitário, sócio majoritário de João Batista Ericeira Advogados Associados e Coordenador do Núcleo de Ciência Política do CECGP http://www.cecgp.com.br/noticias/1462-em-artigo-ericeira-fala-do-supremo-das-incertezas Nos julgamentos do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal-STF, mais recentemente, quando da votação do Impeachment pelo Congresso Nacional, sentiu-se a presença de professores de Direito da PUC-RJ; da USP; da FGV-RJ, dentre outros, emitindo opiniões, participando, como defensores, pareceristas, todos com desempenho proeminente. Destaco a performance do diretor do Curso de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Joaquim Arruda Falcão. Ano passado lançou o livro “O Supremo”, analisando as decisões do STF. Entrevistado em um programa de televisão, na semana passada, emitiu juízos sobre o papel da Corte Suprema brasileira nesses julgamentos, e em outros momentos. No seu entender, o Congresso cria o vazio pela omissão, levando-a a supri-lo com decisões geradoras de insegurança jurídica. Ora, uma das funções do STF é exatamente consolidar e estabilizar o sistema jurídico, por sua condição de tribunal constitucional por excelência. Ao contrário, falharia em uma das suas missões principais: zelar pela segurança jurídica a partir da lente da Constituição Federal. Aqui, entra em cotejo um elemento essencial, a principal questão do Direito, é a sua interpretação. Ela não é unívoca. Como se diz no popular, em cada cabeça uma sentença. Como pode o Supremo ser a causa das incertezas jurídicas? Joaquim Falcão explica que os julgamentos monocráticos, ao invés dos colegiados, são responsáveis pela incerteza criada pelas decisões do STF, fato na perspectiva do Direito Comparado, que não ocorre com as decisões da Corte Suprema norte-americana, sempre discutindo internamente os casos, até obter o consenso do colegiado, expresso nos julgados. Por outro lado, se todos os cidadãos norte-americanos podem ter acesso a Corte Suprema, esta escolhe os casos que deseja julgar, por exemplo, uma média de 60 a 80 por ano, a partir de determinados critérios de relevância social e política. No caso do STF brasileiro, de sessenta a setenta mil processos lhe são anualmente encaminhados, examinando litígios ligados a vaquejada, briga de vizinhos. Na prática, os casos são resolvidos monocraticamente, isto é, por um único juiz, não tendo o cidadão o seu caso julgado pelo colegiado. Um dos pontos de estrangulamento do sistema judicial é a falta de gestão, de boa administração do fluxo processual, além da excessiva espiral recursal em todas as instâncias. Agora mesmo se discute na esfera penal se pode haver execução provisória da sentença após o julgamento de segundo grau. Claro que sim. Sem a revogação do preceito constitucional, verificando-se caso a caso, a necessidade de aplicação da pena. Convém lembrar, há nova legislação recebendo a influência das tendências internacionais de combate ao crime organizado, mas não se pode fazer tabula rasa das garantias constitucionais. O Supremo vem se manifestando sobre as decisões tomadas pelo juiz Sergio Moro da Vara Federal de Curitiba. Seria bom que o fizesse como pronunciamento da Corte e não como manifestação individual dos seus juízes. Esclareça-se, a unidade não significa inexistência de divergências. Elas devem ser conciliadas internamente para que o colegiado se expresse como Corte. O jurista alemão Henner Ehringhaus sugeriu aos juízes do STF: não sejam tão frequentes na concessão de entrevistas e participação em debates públicos. Sugeriu-lhes a discrição e comportamentos semelhantes aos seus colegas alemães e norte-americanos, parcimoniosos na exposição pública. Criticou a TV Justiça pela transmissão dos julgamentos, conduzindo os juízes ao protagonismo, preocupados com o desempenho, em agradar ao público, em prejuízo do caráter técnico dos julgados. Colaborando para despertar-lhes a tentação pela possível disputas de cargos da política partidária.


Manifestações parecidas concorreram para os erros cometidos na Operação Mãos Limpas, da Itália, semelhante a Lava Jato, frustrando -lhe os objetivos. A parcimônia e a discrição são qualidades intrínsecas e necessárias aos juízes. Joaquim Falcão exemplificou os constantes pedidos de vista de parte de juízes do STF. Pelo Regimento da Corte é de 30 dias o prazo de devolução. Em razão do seu não cumprimento, o juiz requerente do pedido torna-se protagonista, multiplicando-se as entrevistas contra e favor. Situações iguais se repetem. Em vários momentos juízes do Corte Suprema, aqui chamados de ministros, comparecem nos noticiosos, nas entrevistas no rádio e televisão, nas revistas semanais, sugerindo julgamentos antecipados condicionados pela mídia. Juristas se posicionaram contra as excessivas interferências do STF no processo de impeachment, agredindo o princípio da separação e independência dos poderes, em razão da omissão do Legislativo, concorrendo uma vez mais para a incerteza e a insegurança jurídicas.


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