All em revista volume 4, numero 2 abril junho 2017

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ALL EM REVISTA REVISTA (ELETRÔNICA) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

EDITOR: LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

2017 – ANO DE JOSUÉ MONTELLO

NÚMERO ATUAL - V. 4, N. 2, 2017 – ABRIL A JUNHO SÃO LUIS – MARANHÃO


2014– ano de MARIA FIRMINA DOS REIS

2015 – ano de MÁRIO MARTINS MEIRELES

2016 – ANO DE COELHO NETO

2017 – ANO DE JOSUÉ MONTELLO


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS COMISSÃO DE BIBLIOGRAFIA CLORES HOLANDA SILVA Presidente COMISSÃO DE PUBLICAÇÃO E EVENTOS Presidente CONSELHO EDITORIAL Sanatiel de Jesus Pereira Presidente Aldy Mello de Araújo Dilercy Aragão Adler EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 # (98) 8119 1322 ENDEREÇO ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Palácio Cristo Rei – UFMA / Sala do Memorial Gonçalves Dias Praça. Gonçalves Dias, 351 - Centro: São Luís - MA. CEP: 65042-240. TELEFONES: (98)3272-9651/9659

ALL EM REVISTA Revista (eletrônica) da Academia Ludovicense de Letras A Academia Ludovicense de Letras – ALL –, fundada em 10 de agosto de 2013, “tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior” (Art. 2º, do Estatuto Social). Em seu artigo 58, “Além de outras que venham a ser criadas, constituem o rol permanente das publicações oficiais da Academia a Revista, os Perfis Acadêmicos e a Antologia.”. Esta Revista, apresentada em formato eletrônico, destina-se à divulgação do fazer literário dos membros da Academia Ludovicense de Letras – ALL . Está dividida em sessões, que conterão os: DISCURSOS E PRONUNCIAMENTOS dos sócios da Instituição, e de literatos convidados, não pertencentes ao seu quadro social; ALL NA MÍDIA resgata as colaborações nas diversas mídias, quando identificados como membros da ALL; ARTIGOS, CRÔNICAS, OPINIÕES manifestas pelos membros da Academia; POESIAS de autoria de seus membros. Haverá uma sessão DE ICNOGRAFIA, registrandose as atividades da ALL, e aquelas em que seus membros tenham participado, assim como a divulgação de nosso CALENDÁRIO DE EVENTOS. Poderá, ainda, conter ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS, referentes a questões estatutárias, regulamento, e avisos. As colaborações não poderão ultrapassar 30 laudas – formato A4, Times New Roman, em Word, espaço único, com ilustrações. Normas de publicação ABNT. Os contatos são feitos através de seu Editor, pelo endereço eletrônico vazleopoldo@hotmail.com

NOSSA CAPA: Escudo da ALL

Retrato de Coelho Neto


ALL EM REVISTA Revista (eletRônica) da academia ludovicense de letRas ENDEREÇO PARA CORRESPONDENCIA: EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076 #

NUMEROS PUBLICADOS – ENDEREÇO ELETRONICO 2014 V.1, n. 1, 2014 (janeiro/março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_volume_1_numero_1_ma V.1, n. 2, 2014 (abril/junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_1_numero_2_ V.1, n. 3, 2014 (julho/setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol_1__n_3__julho-_34d409e2ef5b18 V. 1, n. 4, 2014 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._1__n._4__set./1?e=1453737/10958981

2015 V. 2, n. 1, 2015 (janeiro a março) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no V. 2, n. 2, 2015 (abril a junho). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._2__no_ad17bb277a03b8 V. 2, n. 3, 2015 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2_numero_3_ V. 2, n. 4, 2015 (outubro a dezembro). http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_2__numero_4

2016 V.3, n.1, 2016 (janeiro a março) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_vol._3__no._1__ja?utm_source=conversion_success&utm_campaign=Transactional&utm_medium=email V.3, n.2, 2016 (abril a junho) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__n__mero_?workerAddress=ec2-52-90-195118.compute-1.amazonaws.com


V.3, n.3, 2016 (julho a setembro) http://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_3?workerAddress=ec2-54-209-15202.compute-1.amazonaws.com V.3, n.4, 2016 (outubro a dezembro) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_3__numero_4

2017 V.4, n.1, 2017 (janeiro-marรงo) https://issuu.com/leovaz/docs/all_em_revista_-_volume_4__numero_1


ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS Fundada em 10 de agosto de 2013 Registrada sob no. 48.091, de 09 de janeiro de 2014 – Cartório Cantuária de Azevedo CNPJ 20.598.877/0001-33 DIRETORIA 2016-2017

Presidente -

DILERCY ARAGÃO ADLER

Vice Presidente – SANATIEL DE JESUS PEREIRA Secretário Geral – CLORES HOLANDA SILVA 1º Secretário –

MÁRIO LUNA FILHO

2º Secretário –

DANIEL BLUME DE ALMEIDA

1º Tesoureiro –

RAIMUNDO NONATO SERRA CAMPOS FILHO

2º Tesoureiro –

RAIMUNDO GOMES MEIRELES

CONSELHO FISCAL

ROQUE PIRES MACATRÃO (Presidente) ÁLVARO URUBATAM MELO MICHEL HERBERT FLORENCIO

CONSELHO DOS DECANOS DECANO CONSELHEIRA CONSELHEIRO CONSELHEIRO CONSELHEIRO

ARTHUR ALMADA LIMA FILHO - 17.10.1929 MARIA THEREZA DE AZEVEDO NEVES – 12.11.1932 ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - 08.11.1934 ROQUE PIRES MACATRÃO - 13.11.1935 JOSÉ DE RIBAMAR FERNANDES - 30.01.1938

CONSELHO EDITORIAL SANATIEL DE JESUS PEREIRA - Presidente ALDY MELLO DE ARAÚJO - Membro DILERCY ARAGÃO ADLER - Membro

EDITOR DA ALL EM REVISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

CADEIRA 21 Prefixo Editorial 917536


CADEIRA 01 02 03 04

PATRONO Claude d’Abbeville – século XVI Antônio Vieira – 1608 Manuel Odorico Mendes – 1799 Francisco Sotero dos Reis – 1800

FUNDADOR Antonio Noberto João Batista Ericeira Sanatiel de Jesus Pereira Antônio Augusto Ribeiro Brandão Raimundo Nonato Serra Campos Filho Roque Pires Macatrão Wilson Pires Ferro Dilercy Adler Sem fundador Sem fundador

PRIMEIRO OCUPANTE -

05

João Francisco Lisboa – 1812

06 07 08 09 10 11 12 13

Cândido Mendes de Almeida – 1818 Antônio Gonçalves Dias – 1823 Maria Firmina dos Reis – 1825 Antônio Henriques Leal – 1828 Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade) – 1832 Celso Tertuliano da Cunha Magalhães – 1849 José Ribeiro do Amaral – 1853 Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo – 1855

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Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo – 1857 Raimundo da Mota de Azevedo Correia – 1859

Osmar Gomes dos Santos Sem fundador

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Antônio Batista Barbosa de Godois – 1860 Catulo da Paixão Cearense – 1863 Henrique Maximiano Coelho Neto – 1864 João Dunshee de Abranches Moura – 1867 José Pereira da Graça Aranha – 1868 Manuel Fran Paxeco (Fran Paxeco) – 1874 José Américo Olímpio Cavalcante dos Albuquerques Maranhão Sobrinho – 1879 Domingos Quadros Barbosa Álvares – 1880 Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho – 1884 Laura Rosa – 1884

Aymoré de Castro Alvim Raimundo Gomes Meireles Arthur Almada Lima Filho João Francisco Batalha Arquimedes Viegas Vale Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sem fundador

VAGA Vaga Mario da Silva Luna dos Santos Filho Maria Thereza de Azevedo Neves Daniel Blume Pereira de Almeida vaga

Álvaro Urubatan Mello Sem fundador

Felipe Costa Camarão

Raimundo Corrêa de Araújo – 1885 Humberto de Campos Veras – 1886 Astolfo Henrique de Barros Serra – 1900 Maria de Lourdes Argollo Oliver (Dilú Mello) – 1911/13 Odylo Costa, filho – 1914 Mário Martins Meireles – 1915 Josué de Souza Montello – 1917 Carlos Orlando Rodrigues de Lima – 1920 Lucy de Jesus Teixeira – 1922 Domingos Vieira Filho – 1924 João Miguel Mohana – 1925 Maria da Conceição Neves Aboud – 1925 Dagmar Destêrro e Silva – 1925 José Tribuzi Pinheiro Gomes (Bandeira Tribuzi) – 1927 José Ribamar Sousa dos Reis – 1947

Sem fundador José de Ribamar Fernandes Sem fundador Sem fundador

Mirim Leocádia Pinheiro Angelim João Batista Ribeiro Filho vaga vaga

Clores Holanda Silva Ana Luiza Almeida Ferro Aldy Mello de Araujo Paulo Melo Sousa Sem fundador Sem fundador Raimundo da Costa Viana Sem fundador Sem fundador Jose Claudio Pavão Santana

Ceres Costa Fernandes vaga vaga vaga -

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André Gonzalez Cruz Michel Herbert Alves Florencio Sem fundador

Sem fundador

Sem fundador

-

Vaga


SUMÁRIO EXPEDIENTE SUMÁRIO COM A PALAVRA, A PRESIDENTE... SOLENIDADE NA ALL FELIPE CAMARÃO É O MAIS NOVO IMORTAL DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS E SÓCIO DO IHGM O ESTIGMA MANIFESTO DA POBREZA E O ESTIGMA OCULTO DA RIQUEZA POSSE EM MAIO NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS- ALL PROFISSÃO MÃE: o peso da responsabilidade “I ENCONTRO CULTURAL DE AGENTES DA LIMPEZA DE SÃO LUÍS: limpando preconceitos" AGENDA UM OLHAR DE UM POETA PARA ENTENDER A GUERRA URBANA LIVRARIA E ESPAÇO CULTURAL AMEI NO SÃO LUÍS SHOPPING - UM ESPAÇO DE TODAS AS ARTES I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL - SCLB” FUNDAÇÃO DA PRIMEIRA ACADEMIA DE LETRAS DA CIDADE DE JOÃO LISBOA...27 DE ABRIL 2017 O ENCONTRO CULTURAL DOS AGENTES DE LIMPEZA DE SÃO LUÍS ASSEMBLÉIA MAIO NA AMEI - LANÇAMENTOS POEME-SE - LANÇAMENTOS LANÇAMENTO DO LIVRO VERSURA: ENSAIOS SONIA ALMEIDA LANÇARÁ MAIS DOIS LIVROS BPBL LANÇAMENTO COLETIVO DE OBRAS CONFRADES DA ALL REUNIDOS NA CCJM Reunião de Comissão da Academia Ludovicense de Letras (ALL) na Casa Huguenote Daniel de La Touche AGO 24 DE JUNHO 2017 – CONVENTO DAS MERCÊS REUNIÃO AMEI - 24 DE JUNHO DE 2017 MOSTRA MARANHENSE DE LITERATURA – FALMA/AMEI SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA – ALL/AMEI ANIVERSÁRIO DA ALL POSSES DISCURSO DE POSSE DO PREFEITO DE SÃO LUÍS EDIVALDO HOLANDA JUNIOR COMO PRESIDENTE HONORÁRIO DA ALL FELIPE COSTA CAMARÃO DISCURSO DE RECEPÇÃO DO CONFRADE FELIPE CAMARÃO NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - ALL E NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM PAULO MELO SOUSA DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - ALL E NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM DISCURSO DO GOVERNADOR FLÁVIO DINO NA POSSE DE FELIPE CAMARÃO MIRIAM LEOCÁDIA PINHEIRO AMORIM SANATIEL DE JESUS PEREIRA - DISCURSO DE RECEBIMENTO DE MIRIAM ANGELIM PRONUNCIAMENTO DE POSSE DE MÍRIAM ANGELIM NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

NA BERLINDA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO ESMAM - PALESTRA SOBRE “AJUSTE FISCAL” O ESTADO MA, 1º ABRIL 2017 – PALESTRA AJUSTE FISCAL – PH REVISTA PALESTRA SOBRE AJUSTE FISCAL O ESTADO MA, 12 DE ABRIL DE 2017 – COLUNA DO PH FELIPE CAMARÃO POSSE DE FELIPE – COLUNA DO BUZAR FELIPE CAMARÃO TOMA POSSE, NESTA SEXTA-FEIRA, NO IHGM E NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS GOVERNADOR PRESTIGIA DIPLOMA E POSSE DE PREFEITO E SECRETÁRIO – O IMPARCIAL

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VICE-PREFEITO POR SÃO LUIS NA POSSE DE FELIPE CAMARÃO GOVERNADOR FLAVIO DINO NA POSSE DE FELIPE CAMARÃO PROFESSOR FELIPE CAMARÃO TOMA POSSE NO IHGM PH REVISTA – POSSE DE FELIPE JP – POSSE DE FELIPE CAMARÃO ANA LUIZA ALMEIDA FERRO POSSE DE ANA LUIZA – PH REVISTA SAUDAÇÃO DE CERES COSTA FERNANDES DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 12 DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS MELÔNIO & ANA LUIZA FERRO PROGRAMA ARTE & COR POEMA EM ITALIANO - O NÁUFRAGO VIII PUBLICADO NA REVISTA EUROPEIA IL CONVIVIO, N. 66. PEN CLUBE DO BRASIL – BOLETIM ABRIL 2017 – BIBLIOGRAFIA E ALGUNS TEXTOS NO SITE DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS. PALESTRA EM SEMINÁRIO NO FÓRUM O ESTADO MA, 23/24 DE JUNHO 2017 – COLUNA PH – TRADUZIDA PARA O ITALIANO DILERCY ARAGÃO ADLER GUESA ERRANTE – SUPLEMENTO JP – 1º ABRIL 2017 POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA – DILERCY ADLER E O CIRCUITO DA POESIA MARANHENSE MEDALHA DE OURO ESPÍRITO SANTO DAS ARTES, MEDALHA DE EXCELÊNCIA LITERÁRIA DO MUSEU PÓS-MODERNO DE EDUCAÇÃO E DA ACADEMIA ESTUDANTIL DE ARTE CONTEMPORÂNEA NO MUSEU PÓS-MODERNO DE EDUCAÇÃO -ALCÂNTARA -SÃO GONÇALO -RJ-BRASIL MEDALHA DO MÉRITO DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA MARIA FIRMINA DOS REIS NO “I ENCONTRO ESTUDANTIL DE ARTE CONTEMPORÂNEA” DA ACADEMIA ESTUDANTIL DE ARTE CONTEMPORÂNEA MODERNA -A.E.A.C. - RIO DE JANEIRO, DE 25 A 26 DE MAIO DE 2017 XVII SEMINÁRIO NACIONAL / VIII SEMINÁRIO INTERNACIONAL MULHER & LITERATURA (SALVADOR, 17 A 20/09/2017) ANTONIO NOBERTO NO LANÇAMENTO DO LIVRO "GUERRA URBANA, MORRENDO PELA VIDA LOKA" JOÃO FRANCISCO BATALHA JOÃO BATALHA AUTOGRAFA LIVRO SOBRE A HISTÓRIA DO ARARI JOÃO FRANCISCO BATALHA TOMA POSSE, EM SALVADOR/BA COMO NOBRE SHRINER INTERNACIONAL ARQUIMEDES VALE REUNIÃO DA ABRAMES NO CREMERJ. MIRIAM LEOCÁDIA AMORIM PINHEIRO ANGELIM POSSE NA ACADEMIA – PH REVISTA CLORES HOLANDA SILVA PRESIDUTRENSE CLORES HOLANDA RECEBE TÍTULO DE COMENDADORA E COMENDA JOSÉ DE ANCHIETA NO ESPÍRITO SANTO. LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ UMA HISTÓRIA DO FUTEBOL NO MARANHÃO – POR SEUS PROTAGONISTAS... BOLETIM FIEP 86/2016 EFEMÉRIDES FERNANDO BRAGA - SOUSÂNDRADE, O PRÓPRIO GUESA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE - (SOUSÂNDRADE) OSMAR GOMES DOS SANTOS - ALUÍSIO TANCREDO BELO GONÇALVES DE AZEVEDO 2017 – ANO DE JOSUÉ MONTELLO LITERATURA INFANTIL ALDY MELLO - JOSUÉ MONTELLO E SEUS PERSONAGENS ALDY MELLO - OS TAMBORES DE SÃO LUÍS OUVIDOS POR JOSUÉ MONTELLO ALDY MELLO - JOSUÉ MONTELLO E O CAIS DA SAGRAÇÃO ALDY MELLO - A CIDADE RUÍNA DE ALCÂNTARA E O LABIRINTO DA VIDA DINACY MENDONÇA CORRÊA - JOSUÉ MONTELLO: UM TESOURO AINDA UM TANTO QUANTO ESCONDIDO DA LITERATURA MARANHENSE – lembrando o centenário de nascimento (21/08/1917) e os onze anos de partida deste mundo (15/03/2016) de clássico da arte literária contemporânea ALDY MELLO - DIÁLOGO ENTRE LITERATURA E HISTÓRIA

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ARTIGOS, & CRONICAS, & CONTOS, & OPINIÕES LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ; LAÉRCIO ELIAS PEREIRA - CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL: UMA REDE SOCIAL EM CIÊNCIAS DO ESPORTE? ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - POLÍTICAS ECONÔMICAS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - CAROLINA E O GRANDE IRMÃO JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS - O LÚDICO LÚCIDO E O PEDAGÓGICO FERNANDO BRAGA - A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - MAIS UMA NOITE NA ACADEMIA AYMORÉ ALVIM - A PAIXÃO DE CADA QUAL ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - O CAPITALISMO NO SÉCULO XX LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – TODO DIA ERA... – O LÚDICO E O MOVIMENTO NO MARANHÃO: ATIVIDADES FÍSICAS ENTRE NOSSOS ÍNDIOS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - UMA ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA CAXIAS AYMORÉ ALVIM - VIVENDO E APRENDENDO DILERCY ADLER - UM ADEUS INESPERADO: homenagem a Manoel de Jesus Sousa (1942-2015) ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO -(HOMENAGEM A MEUS PAIS) - UM HOMEM DE VALOR: UMA MULHER DE VALOR EDMILSON SANCHES - A LÃ VERMELHA AYMORÉ ALVIM - DIA DO TRABALHO OU DO TRABALHADOR? JOÃO FRANCISCO BATALHA - HOJE É DIA DE VIANA JOÃO FRANCISCO BATALHA - IGREJA DO DESTERRO SANATIEL PEREIRA - SACO DE GATO SANATIEL PEREIRA - PRISIONEIROS DA MENTIRA SANATIEL PEREIRA - PERDAS & DANOS AYMORÉ ALVIM - O TOQUE FELIPE CAMARÃO; MURILO ANDRADE DE OLIVEIRA - CORRENTES QUE LIBERTAM FELIPE CAMARÃO; DIEGO GALDINO - PASSEANDO PELAS CASAS DE CULTURA DO MARANHÃO: UM ENCONTRO COM NOSSA HISTÓRIA E RAÍZES EDMILSON SANCHES - VERGONHA E RENÚNCIA (ONDE ESTÁ A VERDADEIRA PROSTITUIÇÃO?) JOÃO FRANCISCO BATALHA - A SAGA DOS SÃO-BENTUENSES JOÃO FRANCISCO BATALHA – RUA DA PALMA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - UMA ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA CAXIAS ANTONIO NOBERTO - TRAGÉDIA DE CINCO SÉCULOS MICHEL HERBERT - SOBRE O PRESENTE E O FUTURO DO BRASIL JULIO PAVANETTI - A POESIA ANNABEL VILLAR - “EDUCAÇÃO E TERNURA” - GABRIELA MISTRAL - Chile, 1889 – EEUU, 1957 MARIA MADALENA DIB MEREB GRECO; WELLINGTON CORLET DOS SANTOS - O MÊS DAS MISSÕES DE PAZ DO BRASIL NO EXTERIOR – 29 de maio é o Dia Internacional dos Peacekeepers e marca a missão RAIMUNDO VIANA - SEBASTIÃO BARROS JORGE NA IMORTALIDADE JORGE BENTO – DESPORTO E POESIA AYMORÉ ALVIM - MEUS MOMENTOS DE ANJO... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - A CAPOEIRA DO MARANHÃO ESTÁ A TOCAR A IUNA – EM LOUVOR A MESTRE PATINHO!!! ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO - SOMBRAS DO PASSADO AYMORÉ ALVIM - ETA! SONHO DA PESTE! RAIMUNDO VIANA - O LATIM E A MESÓCLISE... ADELA FIGUEROA PANISSE; MAITE CARAMÉS CASAL - ROSALIA DE CASTRO ESCRITORA AMBIENTALISTA E FEMINISTA AYMORÉ ALVIM - A LOBA ESQUÁLIDA POESIAS & POETAS

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RICARDO LEÃO O CAROÇO DE SAPUTI TRIBUTO A BELCHIOR SONETOS A NAURO

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AYMORÉ ALVIM A VERDADE A ADÚLTERA A FÉ

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MICHEL HERBERT FLORENCIO A PARÁBOLA DO SEMEADOR ATÉ TENTARAM DETER O MESTRE : CRISTO VIVE DOM DE SER MÃE PÓ E PÓ. versão de poema feita por alunos do Rio causa comoção nas redes sociais 'MINHA TERRA TEM HORRORES':

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CLORES HOLANDA SILVA AMO AMAR O AMOR A FILHA DA MÃE, A MÃE DA FILHA SERÁ QUE VOU DORMIR OU VOU SONHAR?

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DILERCY ADLER NOI / NÓS A MÃO, O BERÇO, O MUNDO MIGUEL VEIGA "UTOPIAS DO FUTURO" VICENTE ALENCAR OS MARES DO CEARÁ WELLINGTON CORLET DOS SNTOS ODE AOS AMIGOS DO EXÉRCITO E FAMILIARES POR OCASIÃO DA DESPEDIDA DO SERVIÇO ATIVO 26/03/2015 POR UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz (Organizador) JOSÉ NERES - VIRIATO GASPAR ANTONIO MIRANDA - ANTONIO GASPAR ANTONIO AÍLTON LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA – CURARE / CARRANCA RICARDO LEÃO - ACABEI DE LER O POEMA ÉGUAS!, DE DYL PIRES ALEX PALHANO - 1986, O ANO QUE NÃO TERMINOU SÉRGIO XIMENES - SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ - O BRADO DE REGINALDO TELLES DE SOUSA: “ACORDA MOCIDADE! ACORDA ATENIENSE!” E O ATENIENSE ACORDOU..

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COM A PALAVRA, A PRESIDENTE... Parecer nº 001/2017 O Conselho Editorial, abaixo representado pela sua maioria, declara estar de acordo com a proposta da ALL em Revista, do 2º Trimestre do ano de 2017, apresentada pelo seu editor, cujo teor expressa todas as atividades da Academia Ludovicense de Letras. A presente proposta contém, pela primeira vez, a Palavra da Presidente que define a natureza da Revista e o perfil das ações acadêmicas realizadas no período. São Luís, 04 de julho de 2017-07-05 Aldy Mello de Araújo Dilercy Adler


COM A PALAVRA A PRESIDENTE

Lavra na terra o sulco da vida lavra ideias lava a “culpa” e o “pecado do mundo” limpa com ideias revolve o sumo do inominável com tuas ideias! Dilercy Adler

A Academia Ludovicense de Letras existe há mais de mil luas e mil sóis. E, ao longo dessas noites e dias, nem sempre brilhantes ou sem maresias, buscamos registrar os feitos e fatos, a produção literária, enfim, a cultura em todas as vertentes da arte, que brota e emerge no nosso meio e muito além dele também. Partimos da premissa de que: o que não é registrado em palavras, imagens e sons se perde no tempo. Entendemos também, que o presente é efêmero, e, por isso, precisamos prendê-lo nas teias das palavras e imagens para que não se perca... E assim se faz história ... assim contamos as histórias... Nesse breve, mas intenso percurso de registros, muito temos que agradecer ao confrade Leopoldo Gil Dulcio Vaz, que vem se dedicando a essa tarefa, de forma amorosa, desde o primeiro número. Tarefa esta que requer olhos argutos, mãos ágeis e coração desperto. A ele, toda a nossa gratidão, por sua incansável labuta na busca e divulgação das notícias, em forma de produções artísticas e literárias e de fatos, da nossa amada São Luís, do nosso Maranhão, do nosso Brasil e do mundo por meio dos vários autores que chegam até nós! Neste número, que constitui a 14ª edição da nossa Revista online, referente ao segundo trimestre de 2017, são ofertadas, com muito carinho, ao nosso leitor 367 páginas distribuídas em nove seções nas quais constam desde agendas, com notícias de eventos, rituais, como as posses dos novos confrades e confreiras, efemérides, tão importantes para que tenhamos sempre reavivadas na memória dados e informações dos nossos patronos e confrades e confreiras, além de trabalhos dedicados ao nosso homenageado do ano, o ilustre escritor e intelectual maranhense Josué Montello, e muitos Poemas, Artigos, Crônicas, Contos e Opiniões. E nestes dias de turbulência política e sociocultural que vivemos no Brasil, recomendamos muita leitura, para, através delas, fazermos as nossas releituras do mundo com mais fundamentação teórica e consciência política e, nesse contexto, as artes também retratam as múltiplas faces do real. Esperamos que, a partir de novos entendimentos e olhares, possamos lutar, ainda, pela democratização efetiva da educação e da cultura e, nessa perspectiva, podermos, sim, lavrar na terra o sulco da vida... lavar a “culpa” e o “pecado do mundo” com as nossas ideias, pronunciando então a boa palavra e comungarmos / conjugarmos o verbo esperançar para, a exemplo de Maria Firmina, que lutou pela libertação dos escravos, lutemos o bom combate, em prol das boas causas do nosso tempo, boas causas da humanidade, como a própria humanização da vida em sociedade! São Luís, 30 de junho de 2017. Dilercy Aragão Adler


SOLENIDADE NA ALL No dia 28 de abril de 2017, às 19 horas, no Convento das Mercês, a Academia Ludovicense de Letras – ALL e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão- IHGM, numa solenidade conjunta, deram posse ao Advogado, Professor, Procurador Federal, Presidente da Fundação Memória Republicana e Secretário Estadual de Educação, Felipe Camarão, que, como primeiro ocupante, tomou posse da Cadeira Nº24, patroneada por Manuel Viriato Corrêa Baima do Lago Filho - Viriato Corrêa na ALL, e da Cadeira Nº 13, patroneada por Raimundo José de Sousa Gaioso, no IHGM. Após abrir a sessão e ouvir o Hino Nacional, a Presidente da ALL, Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler, pediu licença ao Presidente do IHGM, Prof. Euges Lima, e ao empossando da noite, Felipe Costa Camarão, e declarou: “Com a presença do Sr. Prefeito Municipal, Sr. Edivaldo Holanda Braga Junior, aproveitamos a oportunidade para cumprir o disposto no Art. 86 do nosso Estatuto Social, que dita ser o Prefeito Municipal de São Luís, o Presidente Honorário da Academia Ludovicense de Letras e, assim, tenho a honra de passar às mãos de Vossa Excelência, Prefeito Municipal de São Luís, o título de Presidente Honorário desta Academia, Casa de Maria Firmina dos Reis.” O Prefeito fez uso da palavra, agradeceu a honraria e destacou a importância da Academia, dizendo: “Parabenizo a jovem Academia Ludovicense de Letras pelo trabalho desenvolvido. Uma Academia de Letras é um pilar importantíssimo da cultura de qualquer cidade. Em São Luís, a Atenas Brasileira, cidade com uma tradição cultural e literária tão significativa, essa importância salta ainda mais aos olhos, uma vez que preserva a nossa cultura ao mesmo tempo que congrega antigos e novos talentos literários do Maranhão. ” Dando-se continuidade ao rito de Posse,o Acadêmico Paulo Melo Sousa, da ALL, procedeu à apresentação do empossando pelas duas Casas. A seguir,Felipe Camarão proferiu os Elogios aos Patronos das duas Casas deixando clara a sua maestria no uso das palavras, que fluíram permeadas por grande sensibilidade, brindando assim os presentes com o seu primoroso discurso. A cerimônia, realizada no Convento da Mercês, contou com a participação do Governador do Estado, Flávio Dino, do Vice-Governador, Carlos Brandão, do Vice-Prefeito, Júlio Pinheiro, de Secretários Municipais e Estaduais, entre outras autoridades. Contoutambém com a presença do Presidente da AcademiaMaranhense de Letras, e de Presidentes de Academias de Letras de várias cidades do interior do Estado do Maranhão, além de membros dessas Academias, e ainda de representantes de Institutos Acadêmicos do Estado. O Governador do Estado, Flávio Dino, também fez uso da palavra num discurso breve e muito inteligente. Foi uma noite gloriosa para a ALL, e todos os seus membros saíram ao final revigorados por entenderem também que, com Felipe Camarão, estão inaugurando um momento extremamente importante, por se tratar do primeiro processo eleitoral realizado nesta Academia. Estes intelectuais oriundos desse processo, com certeza, virão acrescer com os seus trabalhos a importância já existente na Academia para a sociedade ludovicense. Assim, mais três solenidades de posse teremos em breves dias. A primeira será dia 05 de maio, da empossandaMíriam Leocádia Pinheiro Angelim, que será a primeira ocupante da Cadeira de Nº 25, patroneada por Laura Rosa, e teremos, ainda este ano, as posses de Jucey Santos de Santana, primeira ocupante da Cadeira de Nº 35, patroneada por Domingos Vieira Filho e a de Antônio Ailton Santos Silva, primeiro ocupante da Cadeira de Nº 22, patroneada por Maranhão Sobrinho. Dilercy Aragão Adler Presidente


FELIPE CAMARÃO É O MAIS NOVO IMORTAL DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS E SÓCIO DO IHGM

Membros da ALL e da IHGM com o mais novo imortal “Sou filho do meu tempo. Um tempo em que o mundo digital cada vez mais ganha espaço, em que as informações são tão rápidas, em que o relógio aparenta correr mais depressa e em que os livros, a arte, a cultura, as letras, a história e as ciências às vezes ficam um pouco de lado em detrimento de outros interesses. Por outro lado, penso que sofro da síndrome que eu mesmo denomino de “Meia noite em Paris” (em homenagem ao belo filme do genial Woody Allen), pois sempre fico pensando, imaginando como os tempos passados foram ou eram melhores que o nosso”.

O novo membro da ALL e do IHGM faz seu discurso de posse Com estas palavras Felipe Costa Camarão iniciou o seu discurso de posse como o mais novo imortal da Academia Ludovicense de Letras (ALL), e como Sócio no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), na noite desta sexta-feira (28). Numa cerimônia cheia de ritos, Felipe Costa Camarão foi conduzido ao salão nobre do Histórico Convento das Mercês, onde funciona a ALL, pelos seus confrades e sócios do IHGM. O salão estava tomado


por familiares, amigos e da Academia Maranhense de Letras (AML), e por autoridades, como o prefeito Edvaldo Holanda e o Governador Flávio Dino, que fez questão de prestigiar a casa e o amigo. “Eu fiz questão de prestigiar esse evento importante para essas duas instituições culturais do nosso estado. O IHGM que tem quase 100 anos, a ALL que continua uma tradição mais que centenária de instituições culturais no nosso estado, agora engrandecidas por essa bela figura humana, por esse intelectual, por esse professor e brilhante Secretário de Estado de Educação, que é Felipe Camarão. Compareci aqui, em primeiro lugar como amigo de Felipe, como seu admirador de suas seriedade, dedicação e competência, mas, também na condição de governador do estado, para homenagear estas duas casas tão importantes para a cultura, para a arte literária, para a história, a pesquisa e ciência”, pontuou o governador.

Governador Flávio Dino e prefeito Edvaldo Holanda prestigiam posse de Felipe Camarão na ALL “Esse momento representa um ápice, atual, na minha vida acadêmica, profissional, literária. Eu que desde pequeno sempre sonhei em seguir a carreira do magistério, consegui chegar inspirado e apoiado por meus avós e meus pais. Depois sonhei em seguir a carreira literária, escrever artigos, livros. E daí sonhei em conquistar uma vaga nas academias para poder contribuir com a cultura, com a história, com o patrimônio cultural do meu país, do meu estado e da minha cidade. Então, tomar posse nessas duas cadeiras hoje, é muito honroso e me traz muita responsabilidade, também tenho ciência disso. Quero, com muita responsabilidade, muito zelo e respeito, ajudar minha cidade a preservar o seu patrimônio histórico e cultural para as futuras gerações”, destacou Felipe Camarão. Na Academia Ludovicense de Letras – denominada ‘Casa Maria Firmina dos Reis’, em memoria à escritora maranhense, negra, nascida em Guimaraes, Felipe Camarão é o primeiro imortal a ocupar a cadeira de número 24, cujo patrono é o grande intelectual maranhense Viriato Corrêa, que, além de escritor, foi jornalista, dramaturgo e político, nascido em Pirapemas no ano de 1884, e falecido no Rio de Janeiro, em 1967. No Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, denominado ‘Casa de Antônio Lopes’, em homenagem a um dos seus membros\fundadores, Antônio Lopes da Cunha, Felipe Camarão ocupa a cadeira de número 13, que é patroneada por Raimundo Sousa Gaioso, argentino de nascimento, maranhense de coração, que se dedicou a estudar as ‘coisas’ do Maranhão. “O IHGM está bastante satisfeito com o ingresso desse novo sócio. Felipe Camarão é um jovem professor, mas, já tem grandes serviços prestados pela educação, portanto, nós o recebemos nessa noite memorável com muita satisfação e certeza de que ele irá agregar para as finalidades e os objetivos dessa casa”, destacou Euges Silva de Lima.


Felipe Camarão recebe cordão da ALL das mãos da esposa e das filhas Como parte da cerimônia Felipe Camarão recebeu o colar símbolo da ALL das mãos da esposa Márcia Trajano Jorge Camarão, e das filhas Alice (06 anos) e Júlia (03 anos). E das mãos da avó, Teresa Pereira Costa, cheia de orgulho e satisfação, recebeu o ‘Boton da Academia’. “Felipe, o meu neto, é um menino muito bom! De um coração carregado de bondade, de respeito e de justiça. Sempre muito dedicado em tudo que faz. Para nós é um orgulho muito grande vê-lo conquistando cada vitória, realizando cada sonho. Estamos muito felizes com esse momento”, disse dona Teresa, em nome da família. Num discurso emocionante e emocionado, carregado de referenciais históricos e literários, Felipe falou da necessidade de preservar o passado para que sirva de referência e norte para o futuro, homenageou os patronos das cadeiras que passou a ocupar, lembrou de nomes importantes na vida dele – amigos, como o governador Flávio Dino; professores, poetas e escritores, como Nauro Machado, de quem lembrou com carinho diante da viúva, professora Arlete Nogueira. Quando se referiu à família, chorou emocionado, e destacou a longa tradição familiar nas letras, artes, cultura e história na cidade de São Luís, e no estado. Com gratidão e carinho, falou dos avós, dos pais – o médico Phil Camarão, e a professora e mestre Rita Camarão, que não puderam estar presentes. E de forma amorosa se referiu à esposa Márcia e às filhas Alice e Júlia. “A minha família, para mim, é tudo. Algumas vezes o tempo não permite que eu diga isso com a frequência que precisa ser dito. Por isso, aqui, registro publicamente: vocês são tudo para mim! Dedico essas posses de hoje a toda minha família, inclusive os que estão no plano espiritual”, enfatizou no seu discurso. “Nós estamos felizes com a chegada de Felipe Camarão a essa casa. Um intelectual com um discurso, realmente acadêmico e rico, e para principalmente, sensível, que tem uma capacidade grandiosa de se emocionar. O mundo das letras precisa de homens e mulheres sensíveis”, disse a presidente da Academia, Dilercy Aragão Adler. “Estou aqui com muita felicidade e emoção em ter ouvido o discurso de Felipe. Um discurso muito bem feito e coerente, um discurso de acadêmico, de uma pessoa que sabe o que está dizendo, enfim, Felipe é um intelectual, que para mim se revelou nessa noite. A ALL vai ganhar muito com a presença dele”, destacou Benedito Buzzar, Presidente da Academia Maranhense de Letras. Imortal por reconhecimento Aos 35 anos, o jovem professor do Departamento de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Felipe Camarão, possui vasta lista de publicações e produções acadêmicas, entre as obras estão:


Poderes e limites constitucionais das comissões parlamentares de inquérito; Sistemas Eleitorais Brasileiros; Aplicação do Código de Defesa do Consumidor no comércio eletrônico e os desafios para a sua regulamentação; Direito do Consumidor: uma análise das relações de consumo no Estado do Maranhão (organizador); Sistema eleitoral brasileiro: novas perspectivas, com a coautoria do juiz Roberto Carvalho Veloso, publicado na revista Maranhão Eleitoral; Direito e Instituições Temas Contemporâneos; Inconstitucionalidade Progressiva na Visão do Supremo Tribunal Federal: Uma técnica de efetivação dos direitos fundamentais, publicado em Cadernos da UNDB, Instituição de Ensino Superior da qual está licenciado. Na RDA, revista paulista de Direito Ambiental, também registrou sua passagem na coautoria de “O princípio constitucional da preservação ambiental: A Constituição Ambiental brasileira como sistema aberto de princípios e regras”. Foi este amplo currículo literário que garantiu a eleição de Felipe Camarão como novo Acadêmico ALL no dia 17 de dezembro do ano passado. Perfil Felipe Costa Camarão é formado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), é mestre em Direito pela mesma instituição. Aos 23 anos, iniciou sua carreira profissional dirigindo o Procon/MA, pela primeira vez, em 2005, cargo que voltou a ocupar em 2011. Foi aprovado, entre outros, nos concursos públicos para escrivão de polícia civil, analista judiciário do TJ/MA e para Procurador Federal. Entre os cargos ocupados estão: Procurador-chefe da Procuradoria Federal no Maranhão (2008), Procurador-chefe da Procuradoria Federal Especializada junto ao INSS (PFE/INSS) e o de subprocuradorchefe da UFMA. É professor de Direito em cursos de pós-graduação e de graduação da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco (UNDB) e da UFMA. A convite do governador Flávio Dino, no dia 1º de janeiro de 2015 assumiu a Secretaria de Estado da Gestão e Previdência, e, em agosto deste mesmo ano, foi empossado secretário de Estado da Cultura. Aos 35 anos, é secretário de Estado da Educação e presidente da Fundação da Memória Republicana. Dilercy Aragão Adler Presidente Confira mais fotos:





O ESTIGMA MANIFESTO DA POBREZA E O ESTIGMA OCULTO DA RIQUEZA Neste dia do trabalho, que de fato deveria ser DIA DO TRABALHADOR, quero oferecer uma mensagem, que é de fato um pequeno texto que fiz em 2006. Neste só atualizei o valor do salário mínimo, que à época era 350,00 (trezentos e cinquenta reais), no mais a mensagem está na íntegra, o que prova que infelizmente, pouco avançamos em termos de uma sociedade humanizada. Mas compreendo que os avanços humanos se dão em círculos e não linearmente. # É impressionante o peso do estigma da pobreza sobre a grande maioria dos habitantes do planeta terra. É tão aterrador que, de fato, qualquer pessoa, em sã consciência, foge dele e dela, ou seja, da pobreza e do seu estigma. É pertinente também que encaremos que ser pobre não é bom, isto porque a pessoa pobre não tem ou pouco tem acesso aos recursos e bens necessários à sobrevivência, os quais contribuem para uma melhor qualidade de vida. Estes são produzidos e disponibilizados, na moderna sociedade industrial, para quem pode pagar por eles. Estudiosos de várias áreas do saber já tentaram criar modelos universais de consumo médio para a vida e sobrevida do homem, em qualquer tempo e lugar, mas tais tentativas resultaram apenas em estereótipos. Resulta claro que, cada grupo, em função do meio natural, dos produtos disponíveis e do estilo de vida, organiza a produção e a reprodução de sua vida biológica, afetiva e social. É em relação a essa organização que a pobreza e a riqueza podem existir. Podemos argumentar que a pobreza só pode ser entendida em função da riqueza, bem como dos recursos de que dispõe uma sociedade e, principalmente, da forma de distribuição dessa riqueza. Assim, em última instância, o que determina a existência de pobres e ricos é a desigual distribuição da riqueza e dos bens e serviços produzidos. Convém lembrar que, sempre que na sociedade os meios de produção (todos os meios materiais utilizados para a produção de bens, tais como: terras, fábricas etc.) pertencerem a algumas pessoas (propriedade privada), os demais ficarão subordinados às condições de trabalho impostas pelo grupo proprietário. Estes, por sua vez, arbitram as leis pertinentes à legitimação desse tipo de mercado. Nesse contexto, a relação entre os homens no trabalho é marcada pela exploração e dominação. É só lembrarmos das relações entre as pessoas no escravismo, feudalismo e olharmos atentamente mais além do “à nossa volta” para o nosso “democrático” capitalismo. Diferentemente, quando a propriedade dos meios de produção for coletiva, todos participarão e usufruirão, de igual forma, da produção material e cultural, passando a ser a relação aí instaurada caracterizada pela cooperação e ajuda mútua. Bourdieu e Passeron, teóricos franceses, utilizam os termos violência material e violência simbólica para a dominação e exploração na instância material (trabalho) e na instância cultural (ideias), respectivamente. Inclusive cunham o termo capital cultural. Ainda segundo esses autores, sempre que, numa sociedade houver uma relação de força na instância material, por extensão, na instância das ideias, também existirá uma relação de força simbólica, ou seja, ante a expropriação do trabalho do trabalhador, torna-se necessária uma justificativa para legitimação dessa arbitrariedade. Na prática, o trabalhador que recebe hoje, no BrasilR$ 937,00, 00 (novecentos e trinta e sete reais) é levado a aceitar esse valor como legítimo (até porque é fruto de legislação) e, pior, a acreditar que é responsável por ter direito apenas a esse salário. O mais impressionante é que aquele que domina e explora o outro material e culturalmente (o estigma oculto da riqueza) é valorizado e respeitado na sociedade e, todos, indistintamente, aspiram ao modelo do dominador, como o ideal de vida a ser atingido, rejeitando o seu estilo oposto, pelos vários motivos já elencados de privações e desvalorização no contexto geral da sociedade.


Paulo Freire afirma que: a grande missão humanista do dominado é libertar a si e ao seu opressor. Para finalizar deixamos como reflexão as seguintes premissas: - Ninguém deve se conformar com a pobreza material; - Ninguém deve se envergonhar de ser pobre (deve-se envergonhar aquele que se apropria de um quantitativo de bens materiais superior às suas necessidades); - Todos devem lutar para sair da pobreza individualmente, sim. Mas, a máxima está em que: - Ninguém deve empreender lutas visando apenas a sua libertação individual (da pobreza), mas deve, principalmente, empreender projetos coletivos objetivando uma distribuição da riqueza, igualmente para todos, a fim de que todos da sociedade tenham acesso e usufruam dos bens materiais e culturais produzidos. Não pode ser esquecido que, se para mim a pobreza é um incômodo, e luto para sair dela sozinho, sem me importar com os demais, vou, com certeza, entrar no jogo da competitividade e do individualismo tão fortes e “naturais” nos dias atuais. É premente rompermos a aparente impenetrabilidade da ideologia capitalista, tão bem engendrada, que tem como fim último a dominação, a competitividade e o individualismo – geradoras de neuroses e doenças mentais, para concretizarmos a utopia, intimamente desejada por todos, de uma sociedade verdadeiramente justa, solidária, de pessoas mental e emocionalmente saudáveis. Dilercy Aragão Adler1 Presidente

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Psicóloga e Doutora em Ciências Pedagógicas, Mestre em Educação, com especialização em Sociologia. Presidente e Membro fundadora da Academia Ludovicense de Letras, Membro do IHGM, Presidente da SCLBPresidente do Capítulo do Brasil da Academia Norteamericana de Literatura Moderna e Delegada no Estado do Maranhão/Brasil do Liceo de Benidorm/Espanha.


POSSE EM MAIO NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRASALL Numa noite do mês de MAIO, do ano de 2017 foi efetivada a segunda solenidade de posse de (novo) membro na Academia Ludovicense de Letras-ALL. A cerimônia foi realizada na Academia Maranhense de Letras, às 19 horas, da noite de 05 de maio de 2017.Desta vez trata -se de uma figura feminina, ainda minoria na Academia, Ludovicense de Letras, a exemplo de todas as Academias de Letras, com exceção daquelas que são femininas, na própria denominação. Míriam Leocádia Pinheiro Angelim entrou no recinto da celebração acompanhada da confreira Ceres Costa Fernandes edos confradesArquimedes Viegas Vale e Álvaro Urubatan Melo. Mas além deles a empossanda foi conduzida pelas ilustres escritoras Maria Firmina dos Reis,Patrona da ALL e Laura Rosa, a Violeta do Campo. O Hino Nacional brasileiro foi cantado ao som das Caixas do Divino. A solenidade contou ainda com a apresentação de Flores e Lutas- Mulheres Guerreiras onde estão inseridas Maria Firmina Reis e Laura Rosa, aqui cada uma se apresentou com seu poema escrito por Hélio Leite e parceria no primeiro. E como a sua Patrona, primeira mulher a entrar na Academia Maranhense de Letras, Míriam entra na Casa de Maria Firmina dos Reis, para fortalecer a verve feminina. É muito profunda e ao mesmo tempo leve a forma com que Laura Rosa no seu discurso de posse descreve a relação Literatura e Voz Feminina: “Eis-me, portanto, aqui, Senhores, a primeira mulher que aqui entra, porque assimo quiseram os homens ilustrados desta agremiação, guardiãs fiéis de nossas tradições literárias. ” (grifo meu) Assim, nós da Academia Ludovicense de Letras, damos as boas-vindas para a nossa nova confreira, Míriam Leocádia Pinheiro Angelim, e desejamos que venha somar com todas as vozes que aqui estão, e, em especial, com as vozes femininas!

Dilercy Aragão Adler Presidente


PROFISSÃO MÃE: o peso da responsabilidade DILERCY ADLER Psicóloga e Doutora em Ciências Pedagógicas, com especialização em Sociologia. Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão- IHGMA, Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Presidente do Capítulo do Brasil da Academia Norteamericana de Literatura Moderna, Delegada no Maranhão do Liceo Poético de Benidorm/Espanha.

Ao longo do tempo a mãe tem sido homenageada de diferentes formas. É claro, que subjazem várias intenções nessas distinções, embora na maioria das vezes imperceptíveis para grande contingente de pessoas e das próprias mães. Por outro lado, uma pesada cobrança às mulheres-mães pela adequabilidade dos comportamentos dos seus filhos vigora na maioria das sociedades e, inclusive, na atual. Em geral observa-se que quando alguém quer machucar profundamente outra pessoa xinga a mãe dela. Assim, nada melhor que o dia dedicado às mães para, deliberadamente, se buscar desvelar alguns outros aspectos, nem sempre expostos com a clareza devida, acerca da responsabilidade desse papel tão reclamado pela vida social. Entende-se que todo conhecimento científico, por ser obra de um ser humano situado historicamente no tempo e no espaço, resulta em ser, igualmente, permeado pela ideologia no sentido marxista (inversão do real). Por isso não se pode contrapor a ciência à ideologia, dizendo que a primeira é neutra e a segunda comprometida, já que toda ciência nasce ligada a motivações históricas, embora a sua natureza científica não resida nessa motivação. Com base nessa premissa, não se pode desconsiderar as características da sociedade na qual os pressupostos científicos são construídos. Desse modo, na psicologia do mundo ocidental capitalista predominam pressupostos que favorecem as características dessa forma de organização social. A seguir exemplifica-se essa afirmativa através de dois psicanalistas, dentre tantos outros teóricos. Melanie Klein foi pioneira no desenvolvimento da psicanálise para crianças. Grande parte de seu foco de estudo concentrou-se na infância. A autora acredita que, desde o começo da vida, as primeiras experiências do bebê com a alimentação e com a presença da mãe iniciam uma relação de objeto com ela, um objeto parcial – o seio da mãe -, o qual pode ser representante do instinto de morte, vivenciado como hostil e devorador (seio mau) ou como representante do amor e da bondade, gratificador (seio bom). O seio "bom" que amamenta e inicia a relação amorosa com a mãe é o representante do instinto de vida, sendo também sentido como a primeira manifestação da criatividade. Os objetos (seio) bom e mau darão origem ao super-ego e às primeiras noções de bem e mal. Para Klein, a introjeção do seio é o início da formação do superego. O núcleo do superego é, portanto, o seio da mãe, tanto o bom quanto o mau. Donald Woods Winnicott refere-se aos conceitos de Mãe ambiente e Mãe objeto, Mãe suficientemente boa. No início o ser só é possível com outro ser humano. A continuidade de ser é o sentimento que resulta da fusão da mãe suficientemente boa. A mãe ambiente caracteriza-se pela não existência da noção de separação entre “mãe e bebê”. O apoio materno funciona como uma concha protetora, que com o desenvolvimento do ego infantil vai sendo gradualmente retirada. Inicia-se o processo de se tornar um ser de dentro para fora. Com a mãe objeto a noção de diferença entre o eu e o outro já está presente.


A mãe suficientemente boa é a “mãe devotada comum”, inclui a preocupação materna primária – estado inicial de devoção ao filho; capacidade de holding (apoio, sustentação) e de handling (manejo). Uma adequada maternagem, provinda de uma mãe suficientemente boa, dá-se quando a mãe não frustra nem gratifica, de forma excessiva, e possibilita um sadio crescimento do self do seu filho. A condição de maternagem requer uma série de atributos e funções da mãe, que tanto podem subsidiar uma normalidade como também uma patogenia. São, portanto, de suma importância os múltiplos aspectos da relação mãe-filho. Outros estudos científicos reforçam o peso da responsabilidade da mãe, o que de todo não é falso, mas não contemplam, também, a totalidade da responsabilidade na educação dos bebês, crianças, adolescentes e na configuração da maior ou menor saúde afetivo-emocional dos adultos de uma sociedade. A figura da mãe representa um dos determinantes dessa responsabilidade, talvez o de maior peso, mas não o único. Junto da mãe, existe um pai, irmãos (quando houver), amigos, igreja, escola (professores e colegas), meios de comunicação de massa e o próprio indivíduo. Por outro lado, sabe-se que todos os papéis de cada ator social apresentam-se em perfeita consonância com o sistema social mais amplo no qual tem sua origem e ao qual serve de instrumento de reprodução das condições de existência dessa mesma sociedade. Assim, não existe uma mãe abstrata, universal em todos os tempos e em todas as sociedades; cada sociedade cria a “sua mãe”. A mãe, assim criada, cria os filhos dessa sociedade e para a sociedade. Não se pode esquecer que, ainda, concomitante a todo esse conjunto de influências existe um sujeito que percebe, interpreta, introjeta e reelabora todas as informações e impressões que chegam até ele. Ele também tem uma importante parcela de responsabilidade na configuração do seu próprio comportamento, já que este resulta das condições sociais objetivas (externas ao sujeito) e das condições subjetivas (internas, próprias do sujeito). Desse modo, estas argumentações objetivam ratificar que todos os envolvidos em uma dada situação são responsáveis por ela. Assim, na educação dos seres humanos, todos os outros seres humanos são igualmente responsáveis. Liberte-se a mãe do peso da total responsabilidade da execução do projeto da educação/criação do homem social e que todos assumam essa divina responsabilidade para que esse peso, partilhado, se dilua e a leveza e delícia de ser mãe sejam incondicionalmente possíveis!


MENSAGEM DA PRESIDENTE

“I ENCONTRO CULTURAL DE AGENTES DA LIMPEZA DE SÃO LUÍS: limpando preconceitos" DILERCY ARAGÃO ADLER Sinto-me muito honrada, como Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil-SCLB, em promover este "I Encontro Cultural de Agentes da Limpeza de São Luís: limpando preconceitos", idealizado por um membro desta sociedade, Goreth Pereira. Além da SCLB, também muito me honra, como Presidente da Academia Ludovicense de Letras-ALL e Presidente do Capítulo do Brasil da Academia Norteamericana de Literatura Moderna-ANLM poder dar apoio a este evento, assim como poder contar com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado do Maranhão - STTREMA. O fato é que hoje estamos neste auditório fazendo uma pertinente homenagem a uma categoria de profissionais que, por desenvolverem uma atividade manual, não têm o reconhecimento devido da sociedade. Como tudo começou para chegarmos a este momento? Goreth Pereira me procurou e eu achei uma proposta muito interessante, principalmente por ser uma oportunidade de refletirmos sobre a forma de como se dá a valorização do trabalho/trabalhador na nossa sociedade, mas, principalmente, porbuscar valorizar devidamente os trabalhadores da nossa sociedade, que ainda são invisíveis como cidadãos e como trabalhadores.Essa situação é plenamente compreendida quando nos reportamos à organização da nossa sociedade.Nela temos uma divisão das pessoas em camadas sociais, denominadas de classes sociais. Essa distribuição das pessoas, por sua vez, é resultante da esfera do trabalho. Basicamente a divisão de trabalho se dá entre os proprietários dos meios de produção e os não proprietários. Os primeiros contratam o trabalho dos demais. Além disso, a sua importância na sociedade é notória em contraposição à invisibilidade daqueles que desempenham trabalhos considerados inferiores, porque o trabalho desempenhado pelo trabalhador, por sua vez, apresenta uma dicotomia fundamental, qual seja: trabalho manual e trabalho intelectual da qual resulta desvalorização da primeira categoria e valor apenas à segunda. Mesmo assim, existe concomitantementeuma hierarquia de valores dentro de cada categoria (médico, professor) ou (secretário e operacional). E, ainda, cada trabalhador de uma dessas modalidades faz o específico da sua categoria, ou seja,quem desempenha o trabalho intelectual não desenvolve o trabalho manual e vice-versa. Convém, neste momento,algumas considerações sobre Preconceito, que pode ser entendido como uma crença, um juízopreconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude discriminatória perante pessoas, culturas, lugares ou tradições considerados diferentes ou estranhos, ou,como neste caso, trabalho, considerado sem importância social. O Preconceito costuma ser usado no sentido pejorativo,de modo simplista, grosseiro e maniqueísta (filosofia religiosa sincrética e dualística fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo cristão do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou o Diabo). As formas mais comuns de preconceito são: étnico-racial, cultural,de gênero e econômico-social (trabalho).Geralmente a pessoa que tende a ter esse tipo de sentimento não o faz apenas por um só tipo, ele engloba todos os preconceitos e alimenta todos eles. Nesse contexto, existe, de um lado, a pessoa preconceituosa,e,do outro, aquele que é alvo do preconceito e sofre por este. Porque estamos, como entidades culturais promovendo/apoiando este evento? Dentre os objetivos e finalidades da SCLB, no seu art. 1º lê-se: [...]difundir, divulgar, e lutar pela democratização da cultura, primordialmente a Latina[...]


O que significa democratização? princípios de igualdade entre os membros de um grupo, comunidade, etc.

Diz

respeito

aos

A ALL no seu art. 2° estabelece: A Academia tem por finalidade o desenvolvimento e a difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís[...] o intercâmbio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior. A ANLM explicita também entre as suas finalidades: […] estableciendo una reforma o una renovación literaria dentro de los parámetros de la poesía trascendental y metafísica, impartiendo seminarios basados en esta estructura para rescatar conceptos enfocando por esta vía de aprendizaje, entendimiento y unidad dentro del Idealismo Trascendental. Para finalizar, expresso uma das premissas que devem permear o trabalho cultural: Uma, dentre as grandes virtudes de quem vive a cultura no seu meio, está em garimpar preciosidades. E este evento me deu a grande oportunidade de encontrar pedras preciosas:Os agentes de limpeza, que, apesar de submetidos a uma rotina cansativa de trabalho, ainda encontram tempo e disposição para desenvolverem o seu lado artístico e intelectual! Isso é fantástico! É glorioso! Meus mais sinceros parabéns e continuem nessa empreitada de demonstrar que aqueles que sentem a necessidade de mudanças devem ser protagonistas e não meros expectadores delas.... É difícil, mas possível, e vocês hoje estão comprovando o que eu digo!!! Reafirmo a minha alegria e muito orgulho por meio das instituições que represento de poder contribuir, de alguma forma, para mudanças culturais na nossa cidade, que terão, com certeza, repercussão para além dela!

*Psicóloga e Doutora em Ciências Pedagógicas, Mestre em Educação, com especialização em Sociologia.Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão- IHGMA, Presidente do Capítulo do Brasil da Academia Norteamericana de Literatura Moderna, Delegada no Maranhão do Liceo Poético de Benidorm/Espanha.


AGENDA


O ESTADO MA, 29 de marรงo de 2017

O ESTADO MA, 30 de marรงo de 2017

Antonio Noberto prefacia a obra


Livraria e Espaço Cultural AMEI no São Luís Shopping - um espaço de todas as artes.


É com imenso prazer que, em nome da Diretoria Executiva da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, faço o convite para a participação da “I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL - SCLB” a todos os amantes da poesia e que queiram compartilhar as suas produções com mais pessoas e, também, desejem utilizar o canal da Sociedade de Cultura Latina do Brasil. A SCLB abrange, além das Sociedades de Cultura Latina em cada Estado da Federação Brasileira e Núcleos nas cidades dos vários Estados, tem representantes em todas as nações latinas. Ficaremos gratos se divulgarem para os seus contatos para apresentarmos um trabalho primoroso no 30º aniversário da SCLB, que será realizado na cidade de São Luís, Estado do Maranhão/Brasil, em julho de 2018. Saudações Latinas, Dilercy adler Presidente da SCLB Observação: As Coletâneas poéticas da SCLM (do Maranhão) tinham o subtítulo Latinidade. Para diferenciar esta da SCLB daquela da SCLM aceitamos sugestões para o subtítulo. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL -SCLB I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL -SCLB 1ª CONVOCATÓRIA De 1º de abril a 01 de agosto de 2017 APRESENTAÇÃO A cultura é um valioso instrumento de transformação revolucionária. A cultura é a percepção que temos do mundo e do outro; é a possibilidade de dotarmos o nosso espírito de sensibilidade e generosidade e, assim, podermos ficar verdadeira e amistosamente juntos, numa convivência harmoniosa. A Sociedade de Cultura Latina reúne povos de muitas nações, o que lhe dá força e vigor artístico-literário, com projeções no todo das sociedades onde atua, daí a sua grande importância. A Sociedade de Cultura Latina do Brasil foi fundada em 24 de julho de 1988, e neste seu 29º aniversário a sua Diretoria lança o Projeto: “I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL”, por acreditar na premissa das artes como instrumento de melhoria do mundo e das pessoas. Esta proposta constitui também, além de fortalecer laços entre as Nações Latinas, uma forma importante de comemoração dos 30 anos da SCLB, em 2018. Os trabalhos serão recebidos no ano de 2017 e o lançamento da obra dar-se-á no dia 24 de julho de 2018. A participação está aberta a todos aqueles que queiram compartilhar as suas produções no mundo latino: poetas, acadêmicos, estudantes, universitários e do Ensino Fundamental e Médio.

NORMAS DOS TRABALHOS - Cada poeta poderá apresentar até cinco (cinco) poemas, tema livre; Formato A4, Times New Roman, tamanho 12, espaço 1, e enviar, adjunto, currículo literário resumido (no máximo seis linhas), em que conste data de nascimento, cidade e país de origem; e-mail, com foto atualizada. Envio de Poemas para: dilercy@hotmail.com CUSTOS: A antologia adotará o sistema consorciado, na qual os custos serão rateados entre autores que receberão em livros os valores pagos, caso não se consiga financiamento. Contamos com a sua participação e divulgação! Dilercy Adler Presidente



FUNDAÇÃO DA PRIMEIRA ACADEMIA DE LETRAS DA CIDADE DE JOÃO LISBOA...27 DE ABRIL 2017



O ENCONTRO CULTURAL DOS AGENTES DE LIMPEZA DE SÃO LUÍS: "Limpando Preconceitos". Parabéns a Escritora Goreth Pereira, idealizadora do evento e ex Gari.



ASSEMBLÉIA GERAL DE MAIO


AMEI – 15/05/2017


Produção do Flaviano Menezes Costa sobre o fantástico Graça Aranha, um dos caras que ajudou a renovar e pensar noutro viés a literatura brasileira. Lançamento no sábado, na Poeme-se, no Centro Histórico/Praia Grande.

Convite - Convido a todos para o lançamento do meu livro Versura: ensaios, dia 23 de junho, às 20:00 h, na AMEI (Associação Maranhense dos escritores independentes), shopping São Luís. Espero todos lá.

JUN23 Lançamento do livro: Versura: ensaios Sex 20:00 Henrique Borralho convidou você


Dia 22.06, na AML, a escritora Sonia Almeida lanรงarรก mais dois livros. Todos convidados. Sucesso, Mรฃe! (Daniel Blume...)








CONFRADES DA ALL REUNIDOS NA CCJM.


Reunião de Comissão da Academia Ludovicense de Letras (ALL) na Casa Huguenote Daniel de La Touche


AGO 24 DE JUNHO 2017 – CONVENTO DAS MERCÊS

Paulo, Osmar, Álvaro, Aldy, Viana, Macatrão, Pavão, Ana Luiza, Sanatiel, Leopoldo, Almada Lima, Noberto, Dilercy

Macatrão, Pavão, Sanatiel, Leopoldo, Almada Lima, Noberto, Dilercy


Álvaro, Aldy, Raimuindo Viana, Macatrão, Pavão


REUNIÃO AMEI 24 DE JUNHO DE 2017

Após Assembléia Geral do dia 24 de junho de 2017, onde foi autorizada a Comissão de Eventos a entrar em contato com a Associação Maranhense de Escritores Independetes – AMEI -, a Presidente Dilercy Aragão Adler, acompanhada do membro fundador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, reuniu-se com a Diretoria daquela Associação – Sr. José Viegas e Cleo – para tratar dos próximos eventos, propostos pelo membro fundador Leopoldo G. D. Vaz, de realização, este ano ainda, da III MOSTRA MARANHENSE DE LITERATURA e da I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA. Em sua proposta à Diretoria da ALL – Academia Ludovicense de Letras – justificou que a Confreira Ceres Costa Fernandes, enquanto diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho vinha promovendo, junto com a Federação das Academias de Letras do Maranhão - - FALMA – o referido encontro; que a ALL paricipou do segundo, e, quando da mudança do governo estadual, e ma mudança da direção do ‘Odylo’, não houve continuidade na programação, muito embora a ALL e a FALMA tenha se reunido com o novo diretor, que ficou de dar uma resposta sobre o calendário de eventos; o que não aconteceu até os dias de hoje. Ano passado, deveria ter sido realizada IV Mostra, também ignorada pela direção daquela casa de cultura. Como fora aprovada, em Assembléia, a realização da Semana Ludovicense de Literatura, e que deveria ocorrer junto com a programação da FALMA em parceria com o ‘Odylo’, e esta não vinha ocorrendo, propõem-se a realização, em parceria FALMA e ALL, com continuidade, a III Mostra Maranhense e I Semana Ludovicense de Literatura, nos mesmos moldes do que ocorria anteriormente; que se aproveitasse o espaço disponibilizado pela AMEI, e se propusesse parceria àquela Associação, nesse sentido. Aprovada a proposta, decidiu-se pela mudança da data do evento da ALL, para a semana de aniversário de sua fundação, não havendo, mais, o evento de julho, data anteriormente aprovada. O que seria mais coerente. O membro fundador Antonio Noberto apresentou a proposta de comemoração do aniversário da ALL, enfatizando que, se aprovada e viabilizada a proposta do prof. Leopoldo, poderiam ser realizadas em conjunto. É o que se decidiu... Como dito, Profa. Dra. Dilercy e o Prof. Leopoldo se dirigiram à AMEI, no Shopping São Luis, e retomaram as conversações, que a Presidente já havia iniciado e, desta vez, com uma proposta oficial, de realização conjunta, de formalização de uma parceria, entre os três entes: FALMA, ALL, e AMEI, de realização dos três eventos, então: III Mostra, a I Semana, e o aniversário da ALL. Verificada a existência de espaço nos dias propostos – período de 09 a 12 de agosto - firmou-se o compromisso de parceria...


EVENTOS: III MOSTRA MARANHENSE DE LITERATURA – FALMA/ALL/AMEI I SEMANA LUDOVICENSE DE LITERATURA – ALL/AMEI IV ANIVERSÁRIO DA ALL – ALL PERÍODO: 09 a 12 de agosto de 2017 PROPOSTA SENDO AVALIADA PELAS COMISSÕES DOS ENTES ENVOLVIDOS 09/08 - 19:30 horas – Abertura oficial – ALL / FALMA / AMEI 10/08 - 19:30 as 21:30 horas 11/08 – 19:30 ÀS 21:30 – Mesa-redonda: A LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA Ceres Costa Fernandes - moderadora Antonio Aílton - debatedor 12:08 – 19:30 ÀS 21:30 – Sessão Magna – ANIVERSÁRIO DA ALL O encerramento se dará dia 12 as 21:30 horas 10/08 a 12/08 - 10:00 as 21:30 horas - exposição e venda de livros, autógrafos, com a presença dos autores ATIVIDADES PROGRAMADAS: palestras, lançamentos e relançamentos de livros, mesaredonda: 1ª. -10:00 as 11:30 horas; 2ª – 16:00 às 17:30 horas; Antonio Noberto será o curador da Exposição de obras pictóricas, sobre a Fundação da França Equinocial, incluida no evento

LOCAL: ESPAÇO DA AMEI NO SÃO LUIS SHOPPING: Sala de Palestras, Espaço AMEI, Corredor do Shopping em frente à AMEI, onde se instalarão os estandes das Academias de Letras 1. Precisamos que a FALMA nos dê quantas Academias filiadas participarão do evento; 2. A venda de livros ficará por conta da AMEI, mediante uma comissão de 30%, para fazer frente aos procedimentos de comercialização de obras em consigninação, e sua legalização perante os fiscos do município e estado, e demais custos; 3. O encontro de contas, dos livros comercializados, devidamente encaminhados oficialmente, seja através da Academia, ou individualmente, por seu(s) autor(es), se dará entre 40 e 60 dias após o encerramento do(s) evento(s); justifica-se devido às vendas poderem ser efetuadas através de cartão de crédio e/ou de débito; preferível que a entrega das obras que serão expostas, e comercializadas, seja feita individualmente (pelo seu autor...), para facilitar a prestação de contas das vendas 4. Cada Academia participante, ,inclusive FALMA, deverão providenciar: a) Oficialização de participação no(s) evento(s), encaminhados à FALMA, ALL, e AMEI, com prazo até 15 de julho de 2017, entregando à sra. Cleo ou José Viegas; b) Providenciar pôster, nas medidas de 120 x 90 cm, idenficando a Academia; este deverá ser colocado nos estandes no dia 09 de agosto, no período de 10 as 16 horas; c) Mesa, de plástico, retangular, 120 x 90 cm (aproximadamente) para seu estande, que se localizará no corredor em frente ao espaço da AMEI; deverá ser entregue na AMEI no dia 09 de agosto, no período das 10 as 16 horas; a partir deste horário, os estandes deverão estar arrumados, para inicio do evento, as 19 horas; deverá ter, desde então, uma pessoa responsável pelo funcionamento/atendimento do mesmo; d) Um membro, da diretoria ou escritor associado, que deverá permanecer durante o periodo de exposição das obras, em seu estande


e) Cada estande, de responsabilidade da respectiva Academia, deverá conter as obras de seus filiados, devidamente anotadas em cada exemplar, o preço de comercialização, considerando neste, já, o valor de 30% da AMEI; a comercialização será através da livraria AMEI... f) Caso haja lançamento, relançamento de livros, seguida de sessão de autógrafo, deverá ser comunicado à Comissão organizadora, para que possa ver o dia, hora e local, dentro da programação; para sessão de autógrafo há espaço apropriado, a qualquer hora; a AMEI coloca aviso de que o(s) autor(es) está/estão presente(s), e poderão autografar suas obras... assim como cracha aos autores presentes... g) Caso algum dos escritores afiliados a qualquer das Academias desejar fazer uma palestra, deverá solicitar à Comissão Organizadora, ficando reservado à ALL e à FALMA e à AMEI os dias 09, abertura; 10, e 12, encerramento, sempre as 19:30 horas; as demais datas ainda estão em aberto, com prazo até 30 de julho para inscrição/solicitação de espaços; cabe informar que todos os horários, das 11:30 às 16:00 e das 17:30 as 19:00, no salao de palestras, estão à disposição, para lançamentos e sessões de autógrafos, caso cada Academia queira reunir seus associados, para algum evento em particular... h) O prazo para entrega das obras encerra-se em 30 de julho de 2017, até às 20:00 horas. Para todos os autores, que desejem participar. Àqueles que já tenha obra entregue à AMEI, para comercialização, deverão informar que, nesse período, estarão participando do evento de sua academia, e, ainda, se desejarem, poderão encaminhar novas obras, ou aumentar a quantidade das já entregues; i) Àqueles que, após o evento, desejarem que suas obras permaneçam no Espaço AMEI, deverão comunicar à Diretoria da mesma, a sua disponibilidade. A Comissão Organizadora está assim constituída: Presidente: Dilercy Adler (ALL) Membros: José Viegas (AMEI) Álvaro Melo (FALMA) Antonio Noberto (Curador da Exposição de Obras sobre a França Equinocial – ALL)


POSSES


POSSE DO PREFEITO DE SÃO LUÍS EDIVALDO HOLANDA JUNIOR COMO PRESIDENTE HONORÁRIO DA ALL

PREFEITO RECEBENDO TITULO DE PRESIDENTE HONORÁRIO


DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS BOA NOITE! EM PRIMEIRO LUGAR, É IMPORTANTE AGRADECER A DEUS. A ELE SEJA DADA TODA A HONRA E TODA A GLÓRIA, SE NÓS ESTAMOS AQUI HOJE É UNICAMENTE PELA VONTADE D’ELE. MEUS AMIGOS, AGRADEÇO IMENSAMENTE O CONVITE E A OPORTUNIDADE DE RECEBER ESTE TÍTULO DE PRESIDENTE HONORÁRIO, NA COMPANHIA DE REPRESENTANTES TÃO ILUSTRES DA NOSSA CULTURA E DA NOSSA LITERATURA. PARABENIZO A JOVEM ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS PELOS SEUS TRÊS ANOS DE EXISTÊNCIA – SERÃO QUATRO NO MÊS DE AGOSTO – E PELO TRABALHO DESENVOLVIDO. UMA ACADEMIA DE LETRAS É UM PILAR IMPORTANTÍSSIMO DA CULTURA DE QUALQUER CIDADE: EM SÃO LUÍS, ATENAS BRASILEIRA, CIDADE COM UMA TRADIÇÃO CULTURAL E LITERÁRIA TÃO SIGNIFICATIVA, ESSA IMPORTÂNCIA SALTA AINDA MAIS AOS OLHOS, UMA VEZ QUE PRESERVA A NOSSA CULTURA AO MESMO TEMPO EM QUE CONGREGA ANTIGOS E NOVOS TALENTOS LITERÁRIOS DO MARANHÃO. É MOTIVO DE GRANDE ALEGRIA TAMBÉM SABER QUE ESTA ACADEMIA SE CONSTRUIU A PARTIR DA HOMENAGEM A UM DOS PRINCIPAIS EXPOENTES CULTURAIS DO MARANHÃO E DO BRASIL, O ESCRITOR E POETA GONÇALVES DIAS – UMA TRADIÇÃO QUE TAMBÉM PROCURAMOS VALORIZAR NOS EVENTOS PROMOVIDOS PELA PREFEITURA DE SÃO LUÍS. EM TODAS AS EDIÇÕES DA FEIRA DO LIVRO DE SÃO LUÍS (FELIS PROMOVIDAS NA NOSSA GESTÃO, A OBRA DE GONÇALVES DIAS SEMPRE ENCONTROU ESPAÇO DE DESTAQUE, TENDO INCLUSIVE SIDO O PATRONO DA ÚLTIMA EDIÇÃO DA FEIRA, JUSTAMENTE QUANDO ESTA COMPLETOU DEZ ANOS. ASSIM, BUSCAMOS CONTRIBUIR PARA TORNAR VIVA E ACESSÍVEL À POPULAÇÃO A TRADIÇÃO LITERÁRIA DA NOSSA CIDADE. A PREFEITURA DE SÃO LUÍS REAFIRMA AINDA O SEU COMPROMISSO COM A LITERATURA MARANHENSE E BUSCA FOMENTAR NOVOS TALENTOS NESSE SETOR... NO DIA 20 DESTE MÊS, UMA PARCERIA COM A ASSOCIAÇÃO MARANHENSEDE ESCRITORES INDEPENDENTES POSSIBILITOU A INAUGURAÇÃO DO ESPAÇO CULTURAL E LIVRARIA MARANHENSE, NO SÃO LUÍS SHOPPING, COM MAIS DE MIL TÍTULOS DE ESCRITORES LOCAIS. ALÉM DE LIVROS, O LOCAL TAMBÉM É UM PONTO DE EXPOSIÇÃO DE ARTESANATO, DESENHOS, PINTURAS E OUTRAS OBRAS DE ARTE FEITAS POR MARANHENSES. NÃO PODERIA DEIXAR DE, NESSA OCASIÃO TÃO IMPORTANTE, CUMPRIMENTAR O SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO FELIPE CAMARÃO. SECRETÁRIO, PARABENIZO-O PELA ATUAÇÃO DESTACADA NO GOVERNO DO MEU AMIGO FLÁVIO DINO. AO LADO DO NOSSO GOVERNADOR, O SECRETÁRIO FELIPE CAMARÃO TEM TRABALHADO PARA LEVAR E O DIREITO À ESCOLARIDADE PARA QUE MAIS PRECISA: VALORIZANDO PROFESSORES, GARANTINDO ÀS PESSOAS CONDIÇÕES PARA ESTUDAR COM DIGNIDADE. EM SÃO LUÍS, ESSA PARCERIA TEM SIDO IGUALMENTE PRODUTIVA, NOS AJUDANDO A SANAR O DÉFICIT DE PROFESSORES NA REDE MUNICIPAL E TAMBÉM COLABORANDO


SIGNIFICATIVAMENTE COM A FORMAÇÃO DE NOSSOS PROFESSORES DE ALFABETIZAÇÃO, POR MEIO DO PROGRAMA NACIONAL DE ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA, ENTREOUTRAS AÇÕES QUE TEM COMO OBJETIVO COMUM GARANTIR UM FUTURO MELHOR PARA AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DA CAPITAL. EM SUMA, MEUS AMIGOS, AGRADEÇO ESTA HOMENAGEM TÃO IMPORTANTE, FAZENDO VOTOS DE QUE A ATUAÇÃO DESTA ACADEMIA DE LETRAS SEJA CADA VEZ MAIS SIGNIFICATIVA. EMBORA JOVEM, ESTA ACADEMIA JÁ CONSTRÓI UMA BELA HISTÓRIA, HOMENAGEANDO ESCRITORES IMPORTANTES DO NOSSO PASSADO NA MESMA MEDIDA EM QUE CONGREGA PERSONALIDADES ATUAIS QUE MOSTRAM QUE A CULTURA DA NOSSA CIDADE PERMANECE VIVA. QUE ESTA PARCERIA QUE HOJE REFORÇAMOS SEJA FRUTÍFERA E QUE CONTRIBUA, CADA VEZ MAIS, PARA A PRESERVAÇÃO E DIFUSÃO DO NOSSO LEGADO CULTURAL PARA O RESTO DO PAÍS. MUITO OBRIGADO!


POSSE DE FELIPE COSTA CAMARÃO – 28 DE ABRIL DE 2017 – CONVENTO DAS MERCÊS

FOTO OFICIAL DE POSSE DE FELIPE

RECEPCIONANDO O GOVERNADOR



Entrada no SalĂŁo, acompanhado por Ceres, Aldy e Noberto








DISCURSO DE RECEPÇÃO DO CONFRADE FELIPE CAMARÃO NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - ALL E NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM

PAULO MELO SOUSA Membro Fundador da ALL - Cadeira nº 33 São Luís do Maranhão - Patrimônio Cultural da Humanidade! 28 de abril de 2017

Exmo. senhor Flávio Dino, governador do Estado do Maranhão, Exmo. senhor vice-governador do Estado do Maranhão, senhor Carlos Brandão, Exmo. senhor Edivaldo Holanda Júnior, prefeito de São Luís, Exmo. senhor Júlio Pinheiro, vice-prefeito de São Luís, Ilmo. senhor Diego Galdino, Secretário de Estado de Cultura e Turismo - SECTUR, Ilma. Senhora presidente da Academia Ludovicense de Letras - ALL, Dilercy Aragão Adler, na pessoa de quem cumprimento todas as minhas caras confreiras e todos os meus caros confrades, Ilmo. senhor Presidente da Academia Maranhense de Letras - AML, Benedito Buzar, Ilmo. senhor presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, senhor Euges Lima, queridos amigos, senhoras e senhores que integram esta seleta plateia, boa noite! Para se conhecer o presente é necessário que se tenha um mínimo de entendimento do passado. E no berço da civilização ocidental, a Grécia antiga, existe um inesgotável manancial de conhecimento, legado que nos foi transmitido através da poesia, filosofia, teatro, arquitetura, mitologia, enfim, das artes como um todo. Desse ninho ancestral nos vem à mente a conhecida Antinomia de Epimênides, elaborada por esse grego, natural de Creta, que nos coloca uma formulação, a priori, perturbadora. A antinomia, na sua origem, significava conflito entre duas ideias, parente da aporia, ou seja, um caminho sem saída. Às vezes, considerada sinônima do paradoxo ou uma categoria especial deste, assinala contradições entre duas proposições, ambas racionalmente defensáveis, e a dificuldade está em se capturar num determinado discurso a verdade, quando se tem nesse mesmo discurso duas proposições que se mostram válidas, sendo que uma delas é falsa. “Não existe verdade absoluta”, como ensina Platão. No entanto, existem mentiras evidentes. Cabe, portanto, evitar a neurose do absoluto sem dobrar o espinhaço para aquilo que é falso e que pode conduzir ao erro. A respeito da célebre antinomia acima referida, diz a mesma o seguinte: “Epimênides era cretense e nunca mentia; ele afirmou certa vez que todos os cretenses são mentirosos”. Ora, se Epimênides nunca mentia, ele falou a verdade quando disse que todos os cretenses são mentirosos. Sendo cretense, contudo, e de acordo com sua afirmação, Epimênides também era mentiroso. Dessa forma, sendo mentiroso, Epimênides mentiu quando disse que os cretenses eram mentirosos. Ora, se ele mentiu, então os cretenses falavam a verdade. Porém, se os cretenses falavam a verdade, o nobre Epimênides, que era cretense, também não mentiu, e falou a verdade quando afirmou que todos os cretenses são mentirosos. E assim a antinomia vai se


desenrolando, uma afirmativa negando a anterior, e esta, por sua vez, sendo negada pela próxima, sem que se chegue a um denominador comum a respeito de uma verdade que escapa a cada assertiva. As antinomias servem para se tentar delinear o rascunho de uma compreensão do atual cenário global, que norteia os rumos da política e, por extensão, da economia, da arte, da cultura, da moral e da ética, dentre tantos outros valores, neste mundo caótico no qual vivemos atualmente, em que a aparência das coisas vem assumindo um papel mais importante do que a essência. O mundo contemporâneo está esquecido de alguns ensinamentos seminais, que servem para moldar o caráter. Numa época em que a característica está associada a valores invertidos, tais como a corrupção, a mentira, osimulacro, é necessário exercer o bom combate, extirpando as ervas daninhas, que minam o terreno no qual se alicerça a estrutura da nossa sociedade, lembrando o célebre filósofo chinês Confúcio, que numa de suas mais belas reflexões, ensina: “não são as ervas más que afogam a boa semente, e sim a negligência do lavrador”. Dessa forma, aqueles que lutamos por uma sociedade igualitária, na qual reine a justiça, e que acreditamos na arte e na cultura como instrumentos de construção, e de inclusão social, temos uma tarefa permanente a cumprir, e não podemos perder o foco com relação ao bom termo dessa missão. Num de seus livros mais agudos, batizado de “Simulacros e Simulação” (1981), o filósofo e sociólogo francês Jean Baudrilhard (1929 - 2007), afirma categoricamente que a sociedade ocidental contemporânea, desde os anos setenta do século passado, através dos meios de comunicação de massa, vem sendo sistematicamente influenciada pelo sutil e escorregadio fenômeno do hiper-realismo, norteado pelos elementos da simulação e dos simulacros, que seriam cópias que representam categorias que nunca existiram ou que não possuem mais seu equivalente na realidade. Tal construção retorcida das coisas leva a uma concepção ilusória do real, a uma percepção fragmentada do mundo, o que pode conduzir os incautos a proposições enganosas. As teorias de Baudrilhard também vão de encontro ao discurso da verdade absoluta, e questionam a situação de dominação autoritariamente imposta pela complexidade dos sistemas de signos. Enxergar o mundo de forma compartimentada, cartesiana, está associado à fragilização da sociedade atual e, por extensão, à dissociação do sujeito. Stuart Hall, no seu livro “A Identidade Cultural na PósModernidade”, informa que as antigas identidades, embasadas nos alicerces que estabilizaram a sociedade estão em franca decadência e que novas identidades estão se manifestando, levando o indivíduo moderno a uma situação de desequilíbrio, inaugurando um cenário de crise, cenário esse que ostenta ameaçadora musculatura, abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social. A identidade cultural, ou seja, aqueles aspectos que definem o nosso pertencimento a culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas e nacionais estão sendo descentradas, isto é, deslocadas ou fragmentadas, em termos globais. E esse abalo se manifesta, nas sociedades periféricas, de forma cada vez mais intensa. O indivíduo integra e modifica as sociedades nacionais e, por extensão, as identidades culturais, que de há muito estão sofrendo ataques desferidos pelo gelatinoso processo da globalização, que as afetam e deslocam. Stuart Hall diz ainda que as nações seriam comunidades imaginadas, construídas pela memória do passado, mantendo o desejo de viver coletivamente, e unidas pela preservação da herança cultural. A perigosa desconstrução da ideia de cultura nacional como identidade unificadora do estado-nação, confirma Hall, estaria sofrendo impactos importantes, começando pelo processo de desintegração e culminando com a mutação, sendo "atravessada por profundas divisões e diferenças internas”, gerando novas identidades. No processo de mutação surgem as construções híbridas, que hoje se fazem mais presentes nas manifestações culturais. Dessa forma, “o efeito geral desses processos globais tem sido o de enfraquecer ou solapar formas nacionais de identidade cultural”, conclui o autor. Essa prospecção sociológica é importante para que não se perca de vista o verdadeiro significado que a cultura possui para todas as sociedades. Para quem lida diuturnamente com a questão cultural, é desnecessário dizer que tal estado de coisas deve não somente ser devidamente compreendido, mas também eficazmente combatido, sobretudo por quem está governando a embarcação, como costuma dizer sabiamente Seu Vavá, meu amigo, pescador do povoado de Outeiro, maravilhosa praia do município de Cedral, litoral norte do Maranhão. Sim, precisamos de homens que saibam abrir caminhos, mas, sobretudo, que saibam conduzir o barco com sobriedade pelas trilhas abertas através das ondas raivosas da existência, que saibam driblar os banzeiros grandes que se nos apresentam ao longo das jornadas. Para tal, temos convicção plena disso, é necessário não apenas disposição, mas, também, firmeza de caráter.


Hora de lembrar o filósofo helenístico Diógenes de Sínope (413 - 323 a.C.), também conhecido como Diógenes, o Cínico, que foi aluno de Antístenes (e este, discípulo de Sócrates). Ele era adepto de uma linha de pensamento naturalista, e foi expoente e símbolo do Cinismo; tornou sua filosofia uma forma de viver radical, e teria morado num grande barril, em vez de uma casa, em sinal de desapego. Perambulava pelas ruas de Atenas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto na grande cidade cultural da Grécia antiga. Ele acreditava que a virtude era mais bem revelada na ação do que na teoria, e sua vida se tornou uma busca incansável para desbancar as instituições e valores sociais de uma sociedade por ele considerada corrupta. Diógenes se tornou uma personalidade lendária, pois já lá se vão mais de dois mil anos que esse filósofo importunava seus contemporâneos com suas atitudes desconcertantes. Hoje, resta a memória desse grande pensador, seu exemplo, mas sobrevive também o objeto do seu combate: a mentira, a corrupção, a miopia de muitos. É necessário refletir sobre tal estado de coisas, mas, sobretudo ter atitude e agir. Para tanto, o combate precisa de guerreiros que estejamos preparados e sempre dispostos à luta, sem fugir aos desafios. Não apostamos todas as nossas convicções em coincidências, e sabemos que não é por acaso que alguém alcança o patamar de se tornar Secretário de Estado, principalmente na pasta talvez mais nevrálgica de todas, a da educação. O grande poeta russo Vladimir Mayakovski, sabiamente escreveu: “chega de chuchotar / versos para os pobres. / A classe condutora, / também ela pode / compreender a arte. / Portanto: que se eleve / a cultura do povo”. E a cultura só pode ser elevada, em qualquer instância, acreditamos nisso, através da educação. Essa é a missão que foi confiada a Felipe Camarão pelo governador Flávio Dino, que está conduzindo com sabedoria uma preparada frota, à frente do governo do Maranhão. Existe uma equação a ser resolvida, neste momento. Sem crescimento econômico não há como manter emprego e renda, sendo preciso qualificar mão de obra. Sem crescimento, como investir em qualificação? E sem qualificação, como se pensar em crescimento econômico? Complexo círculo vicioso. Felipe Camarão possui visão aguçada. Livre das miopias de gestões equivocadas, é dono de acuidade intelectual e moral suficiente para conduzir a portos seguros a embarcação que lhe foi confiada, pois tem a mão firme no comando, mão necessária neste momento histórico que estamos vivendo em nosso país, numa época de crise, sabendo que no turbilhão das águas revoltas a melhor bússola é a criatividade. Lembrando sempre que mar calmo nunca fez bom marinheiro.É preciso que haja “celeridade e apego à necessidade de se construir imediatamente uma sociedade garantidora dos direitos humanos fundamentais - objetivos evidentes da mais democrática Constituição do nosso país, a de 1988”. Esse depoimento pessoal atesta o compromisso de Felipe Camarão com os mais legítimos rumos da gestão pública. Professor da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco (UNDB), e do Departamento de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), instituição na qual se formou e concluiu mestrado, Felipe Camarão possui, dentre outras obras: “Poderes e Limites Constitucionais das Comissões Parlamentares de Inquérito”; “Sistemas Eleitorais Brasileiros”; “Aplicação do Código de Defesa do Consumidor no comércio eletrônico e os desafios para a sua regulamentação”; “Direito do Consumidor: uma análise das relações de consumo no Estado do Maranhão (organizador)”; “Sistema eleitoral brasileiro: Novas perspectivas”, em coautoria com o juiz Roberto Carvalho Veloso, publicado na revista Maranhão Eleitoral; “Direito e Instituições: Temas Contemporâneos”; “Inconstitucionalidade Progressiva na Visão do Supremo Tribunal Federal: Uma técnica de efetivação dos direitos fundamentais”, publicado em Cadernos da UNDB. Trata-se de importante contribuição intelectual na área do Direito, o que demonstra uma formação sólida e antenada com a contemporaneidade acadêmica. Felipe Camarão foi Diretor do Procon / MA por duas vezes, sendo aprovado em concursos públicos para Escrivão da Polícia Civil, Analista Judiciário do TJ / MA e para Procurador Federal, cargo em que foi empossado, em 2007 (município de Imperatriz). Em 2008, nomeado Procurador-Chefe da Procuradoria Federal no Maranhão, exerceu ainda o cargo de Procurador-Chefe da Procuradoria Federal Especializada junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS e o de Subprocurador-Chefe da UFMA. Na atual gestão do governador Flávio Dino, já ocupou a Secretaria de Estado da Gestão e Previdência - SEGEP, e a Secretaria de Estado da Cultura - SECMA, tendo deixado marcos significativos na sua passagem pela pasta, como a realização do Projeto Mais Cultura e Turismo em vários municípios do Maranhão, semanas de teatro e dança, tendo empossado o Conselho Estadual de Cultura, dentre outras ações. Atualmente, é Secretário de Estado da Educação - SEDUC e presidente da Fundação da Memória Republicana Brasileira - FMRB.


No Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, respeitável instituição que já abrigou em seus quadros intelectuais notáveis, tais como os irmãos Raimundo e Antônio Lopes, Domingos Perdigão e José Ribeiro do Amaral, Felipe Camarão foi aclamado em Assembleia Geral Ordinária em outubro do ano passado e irá ocupar a cadeira de número 13, cujo patrono é Raimundo José de Souza Gayoso, autor do inestimável livro "Compêndio Histórico-Político dos Princípios da Lavoura do Maranhão", obra fundamental para a compreensão da história da economia maranhense. Nosso mais novo confrade concorreu à cadeira de número 24 da Academia Ludovicense de Letras ALL (sendo eleito em dezembro de 2016 como o primeiro ocupante da mesma), patroneada pelo grande intelectual maranhense Viriato Corrêa, escritor, jornalista, dramaturgo e político, nascido em Pirapemas, interior do Maranhão, em 1884, tendo falecido no Rio de Janeiro, em 1967. Viriato foi deputado estadual e deputado federal pelo nosso estado.Eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupou a cadeira de número 38. Conseguiu fazer política e Literatura, tendo se destacado no conto, crônica, romance, literatura infantil e teatro. No seu livro intitulado “Cazuza”, de literatura infantil, Viriato Correia faz o personagem principal relatar suas vivências escolares e os costumes da época. Considerado um dos maiores clássicos do gênero, o livro relata o contato de Cazuza com o professor João Câncio, apaixonado pela educação, pela cultura e pelo país. O personagem principal do livro irá compreender valores estruturantes como a igualdade entre os homens, reconhecendo a importância do papel do negro, do índio e do lavrador. Seria interessante reeditar essa obra de Viriato Correia, ambientada no Maranhão, e distribuir a mesma através das Bibliotecas Faróis do Saber, por exemplo (são 24 equipamentos destes sob a responsabilidade da SEDUC e 94 deles sob a tutela da SECTUR). Fica aqui a nossa sugestão. Numa de suas campanhas vitoriosas, o maior líder da antiguidade clássica, Alexandre Magno, conquistou Tebas e destruiu a cidade, deixando em pé apenas alguns templos e a casa de um poeta, Píndaro, em sinal de respeito pelo sagrado e pela cultura helênica, num tempo em que os poetas eram escutados pelos governantes, considerados vates, que vaticinavam sobre o futuro e tidos como conselheiros certeiros. Rogamos para que Felipe Camarão continue tendo ouvidos e olhos para a cultura, na compreensão de que escutar muitas das vezes é mais sábio do que propriamente falar. Viriato Corrêa é um exemplo de que é possível conciliar política e gestão com arte e cultura, como será o caso, temos certeza disso, do mais novo membro da Academia Ludovicense de Letras - ALL. Felipe Camarão manifestou interesse em integrar os quadros das duas instituições na quais agora ingressa, oficialmente, submetendo-se, em particular, aos ditames do estatuto da nossa academia, que tem por finalidade, dentre outras, “o desenvolvimento e a difusão da cultura e da Literatura, a defesa das tradições literárias do Maranhão”, assumindo como dever, de agora em diante, “cooperar para o desenvolvimento e maior prestígio da academia”. Em sua campanha, Felipe Camarão prometeu colaborar (dentre outras ações) no que for necessário para que a academia consiga uma sede própria, definitiva, e temos certeza de que irá envidar os maiores esforços, ao lado de todos os nossos confrades, para que esse objetivo seja alcançado. Diante de suas qualidades e de seu compromisso, manifestado de forma explícita e convincente, foi eleito com expressiva votação. E esse voto foi e continuará sendo de extrema confiança. Sabemos que ele sabe que é necessário estar atento às armadilhas das antinomias, ter em mente que as verdades não são absolutas, que a essência sempre deve estar ocupando o lugar das aparências (com o tempero necessário da poesia, afinal de contas, como escreveu o grande poeta norte-americano Ezra Pound, “a poesia é feita de essências e medulas”), que o trabalho do gestor, assim como o do lavrador, é diário, para que ervas daninhas não sufoquem o vicejar das boas sementes, que a firmeza de caráter é a mais poderosa de todas as armas, que a identidade cultural é a impressão digital de uma sociedade séria, comprometida com a preservação da sua memória, fiel às suas raízes, e que, assim como defendia Diógenes, uma ação comprometida com a justiça, a igualdade, a inclusão social, é a maior arma de todas as virtudes. Enfim, atitude com sabedoria, discernimento, humildade, paciência, com diplomacia, nobreza, são qualidades que identificam, de forma personalíssima Felipe Costa Camarão, que tenho o prazer e, sobretudo, a honra de receber como o mais novo confrade a enriquecer com sua presença os quadros da Academia Ludovicense de Letras e para maior grandeza do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Seja bemvindo! Muito obrigado a todos!


DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS - ALL - E NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM SÃO LUÍS, ILHA DE UPAON AÇU, CAPITAL DO MARANHÃO EM 28 DE ABRIL DE 2017

Sou filho do meu tempo. Um tempo em que o mundo digital cada vez mais ganha espaço, em que as informações são tão rápidas, em que o relógio aparenta correr mais depressa e em que os livros, a arte, a cultura, as letras, a história e as ciências às vezes ficam um pouco de lado em detrimento de outros interesses. Por outro lado, penso que sofro da síndrome que eu mesmo denomino de “Meia noite em Paris” (em homenagem ao belo filme do genial Woody Allen), pois sempre fico pensando e imaginando como os tempos passados foram ou eram melhores que o nosso. Imagino, por exemplo, como seria viver na nossa belíssima São Luís da década de 1950, tempo de nascimento de meu pai, quando meu avô, cujo nome orgulhosamente carrego, ainda atravessava a nado do antigo Casino Maranhense para a península onde depois funcionou por anos o Iate Clube de São Luís. Penso, ainda, como seria viver na capital fundada por europeus e povoada por africanos, índios e brasileiros na década de 1970, quando ainda sem os problemas naturais de qualquer grande capital que nossa bela São Luís se tornou, todos se conheciam e tínhamos bailes, festas, reuniões e discussões acadêmicas memoráveis em vários pontos da cidade. Diga-se de passagem, na ultima vez que conversei com o saudoso poeta Nauro Machado disse a ele da “inveja” que tinha da época e da geração dele.Nauro, antes disso, havia me presenteado com seu livro “Trindade Dantesca” com a seguinte dedicatória: “Para Felipe Camarão, esta “Trindade Dantesca” (Poema) da minha provinciana Divina Comédia, por mim considerada o meu melhor poema, com os agradecimentos e a compreensão de que lhe sabe amante da Poesia” (Nauro Machado, São Luís, 21-92015). E logo como primeiro poema da obra há uma homenagem ao genial Gonçalves Dias – um gênio homenageando outro – com o poema “Canção do (D) Exílio”. Nele Nauro encerra dizendo: “Onde cantou o sabiá, Cantou outrora a cotovia. E hoje canta, em outro ar, Nenhuma ave, que as não há Nesta terra, morto o dia.”


O bom de Nauro é que nos fazia viajar, rir, chorar, pensar, como tem que ser a boa literatura. A ele nesta noite minha homenagem também. Outro fato interessante de Nauro que não podemos esquecer é que ele morava em frente à casa de Bandeira Tribuzzi, aqui no centro da cidade. Imaginem como deve ter sido a composição do hino de louvação a São Luís por Bandeira Tribuzzi no seu piano na sua casa no centro da cidade! Quando visitei a casa de Tribuzzi, levado pelo amigo Américo Azevedo, e conheci o seu piano e seu rascunho da letra original do hino, não parei de sentir vontade de ter estado lá naquele momento histórico. Por vezes me pego ainda viajando mais atrás na história, imaginando como seria a São Luís e o Maranhão do final do século XIX e início do século XX. Lendo a “Balaiada” de Bento Moreira Lima Neto e sua descrição do Maranhão do início do século XIX é inevitável o comparar com as janelas que agora vislumbro das inúmeras viagens que tenho feito por todo nosso estado. Assim descreve Bento em sua obra: “A província caracterizava-se por mostrar, durante todo o ano, imensas regiões de florestas inexploradas, emprestando ao chão abençoado um verde brilhoso e intenso, conservando com a contribuição das aguas de dezenas de rios perenes, alguns somando quase mil quilômetros de extensão, e milhares de riachos caudalosos que costuravam em seu solo uma rede de vida e prosperidade extraordinária, sem poluição, mas suficiente para tornar o clima agradável, a terra pródiga e a vida saudável” (LIMA NETO, Bento Moreira. Balaiada: rastro de amor e ódio. São Luís. p. 11). Ah, me pego às vezes a imaginar que riqueza devem ter sido as conversas para a fundação do então Instituto de História e Geografia do Maranhão, hoje o nosso importante IHGM. Que riqueza devem ter sido os debates para a fundação da Academia Maranhense de Letras e tantos outros institutos acadêmicos do nosso estado. Como no filme de Woody Allen, fico de forma ousada me imaginando numa roda de debate discutindo literatura, política ou história com Viriato Corrêa, Raimundo José de Sousa Gaioso,Gonçalves Dias, Arthur Azevedo e Aluísio Azevedo, só para citar alguns. Imaginem viver na época em que ganhamos o título de Atenas brasileira! Com efeito, digam se não é uma bela viagem histórico-cultural voltar no tempo pelas páginas de Josué Montello nos seus “Tambores de São Luís” acompanhando Damião andar pelas ruas de nossa cidade naquela época. Ler Josué falar da igreja de São Pantaleão, descrevendo em cada casa, em cada esquina a sentinela de um lampião “com seu bico de gás chiante”. Seguir com Damião pela rua da Inveja. Passar pelo canto da rua do Passeio com a rua do Mocambo e ouvir moleques atrás chama-lo de “troíra”. Como é bom seguir acompanhando Damião pelo Largo do Carmo, no Paço Episcopal, passar pelo Palácio do Governo e andar por todas as ruas do nosso centro com tantas descrições minuciosas. Isso tudo ao som dos tamboresda Casa-Grande das Minas, cuja tradição hoje já esta quase se perdendo. Que ótimo será se esta geração conseguir preservar para as futuras, a magia da literatura, das artes, da história e da cultura. O bom é que esta é uma das missões das casas que irei ingressar no dia de hoje. Saber que poderei contribuir para que Alice, Júlia e tantas outras pessoas que venham depois de nós possam conhecer a riqueza cultural, literária e histórica de nossa época, deixa-me dignificado. Lembro da minha tenra juventude quando o gosto pela musica e literatura aflorou de maneira avassaladora. Na música conheci algo que já “velho”, uma tal “bossa nova” e uma MPB. Tinha por volta de doze ou treze anos e viajava muito para competições de natação. Um dos meus professores era também um craque do violão e tinha este excelente gosto musical. Para minha surpresa e sorte descobri que também tinha o mesmo gosto. João Gilberto, Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, apenas para me referir aos mais famosos, passaram a fazer parte do meu cotidiano. Isso transbordou para a literatura, já que eu queria saber quem eram aquelas pessoas que faziam músicas tão boas, alguns que tinham lutado contra umas pessoas que tinham sido ditadores e até tinham sido expulsos do país! Recorri aos


livros (ainda me recordo e tenho o primeiro deles, “Chega de Saudade: A história e as histórias da bossa nova” de Ruy Castro. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1995). Pouco antes da faculdade, já aguçando e treinando minha habilidade e voracidade de leitura, pedi a um novo amigo que tinha feito nas aulas de jiu-jitsu, um jovem juiz federal que viria a ser depois meu professor, orientador, tutor, mestre e conselheiro, Ney de Barros Bello Filho, e este me apresentou o realismo fantástico de Gabriel Garcia Marquez. Meu primeiro livro do nobel colombiano foi “Cem anos de solidão”, por meio do qual viajei no tempo e nos espaços na Macondo com os Buendía. Não consigo não passar isso para minhas filhas! Não podemos não passar isso para as futuras gerações! A imaginação histórico-cultural viaja até mesmo neste local em que estamos. Basta parar e pensar que bem aqui ao lado o lendário Padre Antônio Vieira chegou a pregar alguns dos seus sermões na Igreja das Mercês. Este prédio que aqui estamos é história viva, contada em detalhes por Mário Meireles nos seus “Dez Estudos Históricos” (Coleção Documentos Maranhenses, 1994, p.27/43). Hoje ainda chamado de “Convento das Mercês”, este prédio já foi seminário, convento, quartel, prisão e hoje é uma importante casa de cultura que abriga dois órgãos públicos e desenvolve atividades culturais importantes para a comunidade do desterro. Restaurado ano passado, não quer deixar a história ser esquecida. Mesmo porque, como disse o Padre Antônio Vieira no Sermão de São Pedro Nolasco, pregado em 31 de janeiro de 1654: “Aqui venhamos, aqui continuemos, aqui acudamos, nos trabalhos, para o remédio, nas tristezas, para o alívio, nos gostos, para a perseverança; e em todos nossos desejos, e pretensões, aqui tragamos nossos memoriais, aqui peçamos, aqui instemos, e daqui esperemos todas as mercês do Céu, e ainda as da Terra, que sendo mercês da Senhora das Mercês, sempre serão acompanhadas de graça, e encaminhadas à Glória”. Essa imaginação histórico-cultural é, evidentemente, fruto de quem eu sou. Biologicamente podem dizer que é DNA. Sociologicamente podem dizer que é fruto da minha criação ou do meio em que fui criado. Certo é que, filho deste tempo cibernético, célere, da década de 1980, tempo de luta democrática e de juventude vivida nos anos 1990 e 2000, sou filho, também, graças a Deus, de família de longa tradição nas letras, artes, cultura e história na cidade de São Luís, e neste estado do Maranhão. Tal qual São Luís que foi formada como hoje é por diversos povos, tenho ascendentes de diversas localidades: do estado do Maranhão, de fora do estado e até de fora do Brasil, com orgulho. Mas, da mesma forma, com muito orgulho, tenho raízes fortes nestas terras. Sou bisneto de maranhenses, daqui de São Luís e do interior do estado, da baixada, de Viana. Sou neto de maranhenses, daqui de São Luís e do interior do estado, da baixada, de Viana. Sou filho de um maranhense, ludovicense, e de uma carioca, esta filha de uma maranhense; e sou casado com uma ludovicense e pai de duas ludovicenses. Apesar de geograficamente ter nascido no Rio de Janeiro, pois lá minha mãe ainda estudava medicina, já recebi, honrosamente, os títulos de cidadão maranhense e cidadão ludovicense, da Assembleia Legislativa e da Câmara de Vereadores. Sou neto de professores, ambos licenciados em Letras. Meu avô materno Bráulio, também formado em direito, certamente aqui estaria na primeira fileira a me aplaudir e teria, com absoluta convicção, revisado este discurso como fez com minha monografia de conclusão do curso de Direito na Universidade Federal do Maranhão. Minha avó paterna, professora Jean Moses Camarão, foi uma das baluartes do curso de Letras da UFMA. Por causa dela hoje sou professor, eis que comecei a lecionar com dezesseis anos ao lado dela. Por inspiração dela também um dos meus tesouros mais preciosos se chama Alice, tendo em vista que guardei com muito carinho a história da sua dissertação de mestrado sobre a fábula de “Alice no País das Maravilhas”. Sou ainda filho de professores. Meu pai, meu ídolo, meu herói, como eu, foi professor de inglês no curso da minha avó e dos meus bisavós britânicos, o lendário “John Kennedy Center”, na Rua do Sol. Minha mãe, uma grande guerreira, é professora mestra até hoje, mesmo com inúmeros afazeres.


Sou formado em Direito, com mestrado na área e especialista em gestão publica. Sou procurador federal de carreira. Tive a honra de estar à frente da Secretaria de Estado da Cultura e de hoje estar à frente da Secretaria de Estado da Educação. Mas penso que acima de tudo sou professor. Desde jovem fui preparado para isso. Minha mente e meu coração foram preparados para isso. Penso que esse espírito “professoral” que me move desde cedo aliado ao meu desejo de conhecimento sobre a história, a arte, as letras e o passado me trouxeram até este momento. As posses na Academia Ludovicense de Letras - ALL e no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM representam mais que o recebimento de medalha, diploma ou ocupação de uma cadeira; simbolizam a concretização de uma conquista verdadeira de uma pessoa que pensa, sonha e quer realizar, preservar e sempre lembrar. Considero que fazer parte desses dois sodalícios irá representar justamente isso: a possibilidade de poder contribuir com meu estado e com minha cidade na preservação do nosso patrimônio histórico, geográfico, científico, cultural e literário, ajudando com que outros, com que as futuras gerações possam também conhecer ou sonhar, como eu sonho, com o passado. Que eu possa ajudar para que outros conheçam os tesouros de nossa terra. Aliás, falando em tesouros, mencionei há pouco um dos meus, a Alice, minha filha mais velha, linda, doce, agitada, inquieta e sonhadora como eu. Gosta de ler, saber e aprender. Presta atenção e grava tudo. Tenho outro tesouro precioso, a Júlia. Linda também, meiga, risonha e sempre alegre. Ela parece caminhar também para os trilhos dos livros, eis que mesmo sem ainda saber ler sempre pede um livro ou texto para “ler”. Esses dois tesouros são divididos com minha esposa Márcia com quem namoro há quase 19 anos e divido minha vida há quase sete. Com trinta e cinco anos já cumpri aquilo que o ditado popular diz que todos devem fazer na vida: plantar uma árvore, ter filhos e escrever um livro. Quero registrar, no entanto, que espero que meu ciclo ainda esteja longe de encerrar. Desejo ainda cuidar de netos em um futuro muito distante, plantar outras árvores e escrever muitos outros livros e textos. Ao longo desta que considero ainda breve passagem pela terra, julgo que fiz muitos amigos. Amigos de infância, amigos de escola, amigos de faculdade, amigos de esporte, amigos de trabalho, amigos da vida. Muitos deles estão aqui hoje presentes. Muitos deles me ajudaram a chegar aqui também. Isso significa muito para mim. Meu muito obrigado a cada um de vocês. Também ao longo da vida fui aprendendo com chefes que, mais que chefes, foram ícones importantes na minha formação intelectual e profissional. Já destaquei a minha avó Jean e meu amigo Ney Bello. Além destes não posso deixar de citar Sálvio Dino Junior, José Reinaldo Tavares, José Rinaldo Maya, Bayma Araújo, Edivaldo Holanda Júnior, Natalino Salgado Filho e Flávio Dino. Claro que há estudo, esforço e dedicação. Mas há também oportunidade oferecida por essas pessoas que em algum momento da minha vida permitiram ou permitem que eu tenha feito ou que esteja sendo parte da história do meu estado e da minha cidade. Isso é de um valor inestimável para mim. Saber que um dia minhas filhas poderão ouvir e ler sobre o pai delas é algo de se orgulhar. A vocês também meu obrigado. A minha família para mim é tudo. Algumas vezes o tempo não permite que eu diga isso com a frequência que precisa ser dito. Por isso aqui registro publicamente: vocês são tudo para mim. Dedico essas posses de hoje a toda minha família, inclusive os que estão no plano espiritual. Muitos familiares aqui presentes: meus avós, sobrinhos, tios, tias, madrinhas, primos, primas, sogro, sogra, cunhadas e cunhados. A elas, Márcia, Alice, Júlia, aos meus pais, Phil e Rita, às minhas irmãs Juliana e Bruna, e minha avó Teresa, minha segunda mãe, quero render as minhas homenagens e dizer que sem elas não estaria aqui. Hoje, portanto, tomo posse em duas importantes instituições. Tomo posse na Academia Ludovicense de Letras, denominada Casa de Maria Firmina dos Reis, em homenagem à escritora maranhense, ludovicense e negra, considerada a primeira romancista brasileira. A Academia Ludovicense de Letras é uma academia nova, fundada em 10 de agosto de 2013, por mulheres e homens brilhantes, agora meus confrades e confreiras, a quem quero de logo agradecer a escolha de meu nome para compor juntos com eles esta Augusta Casa. Tem por finalidade o desenvolvimento e a


difusão da cultura e da literatura ludovicense, a defesa das tradições literárias do Maranhão e, particularmente, de São Luís, a perpétua renovação e revitalização do legado da Atenas Brasileira, o culto às origens da cidade e à sua formação pelas letras, a valorização do vernáculo e o intercambio com os centros de atividades culturais do Maranhão, do Brasil e do exterior. Honrosamente serei o primeiro ocupante da cadeira de nº 24 que tem como Patrono Manuel Viriato Correia Baima do Lago Filho ou simplesmente VIRIATO CORRÊA. Grande intelectual maranhense Viriato Corrêa, que, além de escritor, foi jornalista, dramaturgo e político, nasceu em Pirapemas no ano de 1884, tendo falecido no Rio de Janeiro, em 1967. Filho de Manuel Viriato Correia Baima e de Raimunda Silva Baima, ainda criança deixou a cidade natal para fazer os cursos primário e secundário em São Luís do Maranhão. Começou a escrever aos 16 anos os seus primeiros contos e poesias. Concluídos os estudos básicos, mudou-se para Recife, cuja Faculdade de Direito frequentou por três anos. Seus planos incluíam, porém, morar no Rio de Janeiro, e sob o pretexto de terminar o curso jurídico na então capital federalfoi juntar-se à geração boêmia que marcou a intelectualidade brasileira no começo daquele século. Em 1903 saiu no Maranhão o seu primeiro livro de contos, “Minaretes”, marcando o aparecimento de Viriato Corrêa como escritor. O livro, no entanto, não agradou muito a crítica literária da época. Com ajuda de Medeiros e Albuquerque, de quem se tornou amigo, Viriato Corrêa trabalhou na “Gazeta de Notícias”, iniciando carreira jornalística que se estenderia por longos anos e no exercício da qual seria colunista do “Correio da Manhã”, do “Jornal do Brasil” e da “Folha do Dia”, além de fundador do “Fafazinho” e de “A Rua”. Colaborou também em “Careta”, “Ilustração Brasileira”, “Cosmos”, “A Noite Ilustrada”, “Para Todos”, “O Malho” e “Tico-Tico”, entre outros. Boa parte de seus escritos consagrados em livro foram divulgados pela primeira vez em páginas de periódicos. Assim ocorreu com os “Contos do sertão”, que foram publicadas primeiramente na “Gazeta de Notícias” e depois reunidos em volume e publicados em 1912, redimindo Viriato Corrêa do insucesso de Minaretes. Outros livros de ficção viriam depois confirmar o sucesso do contista maranhenseque se inspirava no cotidiano burguês ou campestre em cenários exclusivamente brasileiros. Obteve significativa notoriedade no campo da narrativa histórica, ao lado de Paulo Setúbal, que também se dedicou ao gênero. Enquanto o escritor paulista deu preferência ao romance, Viriato Corrêa optou pelas historietas e crônicas, com o claro objetivo de alcançar o leitor comum. Escreveu no gênero mais de uma dezena de títulos, entre os quais se destacam “Histórias da nossa História” (1921), “Brasil dos meus avós” (1927) e “Alcovas da História” (1934). Com o intuito de levar a História também ao público infantil, recorreu à figura do afável ancião que reunia a garotada em sua chácara para a fixação de ensinamentos escolares. As sugestivas “lições do vovô” encontram-se em livros como “História do Brasil para crianças” (1934) e “As belas histórias da História do Brasil” (1948). Viriato deixou ainda muitas obras de ficção infantil, entre elas o famoso e célebre romance “Cazuza” (1938), um dos clássicos da nossa literatura infantil, em que descreve cenas de sua meninice. Viriato Corrêa foi ainda um fecundo e festejado autor teatral. Escreveu perto de trinta peças, entre dramas e comédias, que tratavam sobre ambientes sertanejos e urbanos, vinculando-o à tradição do teatro de costumes que vêm de Martins Pena e França Júnior. Viriato Corrêa foi deputado estadual no Maranhão, eleito em 1911, e deputado federal pelo nosso estado em 1927 e 1930. Por sua significativa contribuição cultural para o país, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1938. Conseguiu conciliar, dessa forma, o lado político com o de literato, enveredando pelo conto, crônica, romance e literatura infantil, além do teatro, no qual se destacou de forma singular. Viriato Corrêa é um


exemplo de que é possível conciliar política e cultura, e é um imenso orgulho ser o ocupante numero 1 da cadeira patroneada por ele. Tomo posse hoje, também, no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, denominada Casa de Antônio Lopes, em homenagem a um dos seus membros fundadores, aquele que, entre os onze membros iniciais, teve a iniciativa da sua criação, Antônio Lopes da Cunha. Antônio Lopes foi vianense, professor de literatura do Liceu Maranhense e de filosofia do Direito na antiga Faculdade de Direito do Maranhão – antecessora do curso de Direito da UFMA. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão é uma Casa quase centenária, fundada em 20 de novembro de 1925, que teve como seu primeiro presidente o memorável Justo Jansen e que tem por finalidades estudar, debater e divulgar questões sobre História, Geografia, Ciências e afins referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão. Também, o Instituto deve defender e velar o patrimônio histórico do Maranhão, estimular o estudo da História, da Geografia e das Ciências afins em todo o país, em especial no nosso estado, além de manter e estabelecer correspondência e intercâmbio com instituições congêneres, e publicar revistas periódicas. No IHGM ocuparei a cadeira de numero 13 que tem como patrono Raimundo José de Sousa Gaioso. Nascido em Buenos Aires, capital da Argentina, em 1747, filho de João Henrique de Souza e Micaela Jerônimo Gayoso, Raimundo Gaiosoestudou na França e na Inglaterra onde se formou na área de finanças. Aqui no Maranhão residiu na região do Munim, onde hoje está situada a cidade de Cachoeira Grande– na época Ribeira do Itapecuru. Seu pai João Henrique de Souza foi tesoureiro-mor do erário Português onde foi acusado de desvios de verbas e por isso foi degredado para o Maranhão por 5 anos. Após conseguir comprovar sua inocência, o Príncipe Dom José o nomeou Tenente-Coronel do Regimento de Milícias de Caxias. No Maranhão, Raimundo Gaioso casou-se com Anna Rita de Souza Gayoso das famílias Gomes de Souza e Vieira da Silva. Seu nível cultural muito elevado lhe permitiu se destacar deixando várias obras. A mais célebre delas foi o “Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do Maranhão”, publicada por sua esposa Dona Ana Rita em 1818 e dedicada a Dom José. Este livro deu inicio a “Coleção São Luís” de publicação Obras Raras no Maranhão. Outras obras destacadas de sua bibliografia foram “Memória histórico-apologética da conduta do Bacharel Antônio Leitão Bandeira”, publicada em 1785-89; “Apontamentos do que tem lembrado para aumentar a riqueza do Estado”; “Reflexões políticas sobre o modo de atalhar algumas desordens da fazenda real, promover a indústria e comercio, as artes, as manufaturas por meio do restabelecimento do crédito público”, obra esta que ofereceu a Dom José, príncipe do Brasil no ano de 1790; “Manifesto histórico – analítico de documentos verídicos que comprovam a inocência de seu pai e a sua no extravio do erário, e a condenação arbitrária e injusta, com nulidade de sua natureza, visto ser da contra direito expresso e fundada em falsas definições” em 1810. Raimundo José de Sousa Gaioso recebeu o título de Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo. Faleceu na cidade de Rosário, no Maranhão, em 1813. A cadeira que honrosamente irei ocupar foi ocupada antes de mim por cinco ilustres membros: José Pedro Ribeiro, Oswaldo da Silva Soares, Aluízio Ribeiro da Silva, Tácito da Silveira Caldas e Sofiani Labidi. José Pedro Ribeiro foi sócio fundador do instituto. Natural do Maranhão, foi Vice-cônsul da Noruega no Brasil e Interino da Dinamarca. Publicou “Indústria da Borracha” em 1913, trabalho em que fazia descrição sumaria do estado do Maranhão destacando fauna e flora, em especial as árvores que produziam borracha, como a seringueira e a maniçoba. O estudo trazia também dados sobre custos, fretes, salários, preços das terras, entre outros. O trabalho foi feito a partir das experiências das empresas que experimentara a exploração da borracha de forma racional nos municípios de Brejo, Viana, São Bento, Cajapió entre outras cidades de nosso belo estado. José Pedro Ribeiro deixou vários estudos econômicos sobre produtos do Maranhão publicados em jornais de sua época.


Oswaldo da Silva Soares substituiu o sócio fundador José Pedro Ribeiro. Nasceu em Pinheiro em 16 de março de 1903, mas cresceu em outra cidade da baixada maranhense, São Bento. Tinha oito irmãos. Iniciou os estudos na escola Arimatéia Cisne, concluiu o ensino médio no Colégio Marista e o cursouo Superior na Faculdade de Odontologia, curso que não concluiu por ter sido convidado pelo tabelião Domingos Barbosa para escrevente juramentado. Após a eleição de Domingos Barbosa para Deputado Federal, assumiu a titularidade do cartório do 1º Ofício por concurso público e foi titular do cartório de Registro de Imóveis. Atendendo os objetivos do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, zelou pelo patrimônio histórico de São Luís, Alcântara e Rosário. Em Alcântara, ele restaurou o pelourinho com seus próprios recursos. Colecionador de moedas, em 1948 passou a colecionar objetos antigos: móveis, porcelanas, joias, entre outros, todos expostos na sua residência na Rua São João nº 452. Foi considerado um dos maiores pesquisadores de “numismáticas” do país, tendo publicado ainda um artigo na revista do IHGM de 1948 sob o titulo “Numismática maranhense”, considerado o único estudo sobre a rede subterrânea de São Luís, do Sítio do Físico e de São Lazaro, do Forte de Rosário, de igrejas e capelas. Osvaldo da Silva Soares faleceu em 26 de janeiro de 1997. Aluízio Ribeiro da Silva, nascido na cidade de Balsas no Maranhão, filho do comerciante João Ribeiro da Silva. Faleceu subitamente deixando o filho mais velho Antônio Ribeiro da Silva cuidando da família. Deixou várias obras escritas. Foi aluno de Antônio Lopes da Cunha e cursou direito no Piauí, concluindo o curso, entretanto, no Rio de Janeiro. Foi saudado no IHGM pelo célebre Carlos Cunha. Aluízio Ribeiro da Silva foi juiz de Direito e chegou ao cargo de desembargador. Recebeu a medalha do Mérito Timbira do Governo do Estado em 1986. Faleceu na capital maranhense. A cadeira foi ocupada, ainda, por Tácito da Silveira Caldas. Nascido em Teresina no Piauí em 1915, filho de Leônidas Soriano Caldas e Detith da Silveira Caldas. Cursou o primário em Teresina e depois se transferiu para o Liceu Maranhense em São Luís. Bacharel em Direito pela antiga Faculdade de Direito do Maranhão, recebeu o título de Doutor pela mesma instituição em 1950, onde ingressou como professor catedrático em 1951. Lecionou em diversos estabelecimentos de ensino, ministrando aulas de física, geografia, história, matemática e química. Membro do conselho do OAB por vários mandatos. Foi Procurador da Fazenda Municipal de São Luís, Procurador Geral do Estado do Maranhão. Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado, foi Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, corregedor, vice-presidente e presidente do Tribunal de Justiça. Reconhecido como grande orador público tem várias obras publicadas. Finalmente, ocupou a cadeira de numero 13 do IHGM o professor Sofiani Labidi, graduado em ciências da computação pela Universidade de Nice Sophia Antipolis, na França, e doutor em Inteligência Artificial pelo Instituto Francês de Pesquisa em Informática e Automação. O professor Sofiani tem relevantes serviços prestados para a ciência e pesquisa científica maranhense. Iniciei minhas palavras dizendo que sou filho do meu tempo. Mencionei em meu discurso que um dos livros mais famosos do meu patrono na Academia Ludovicense de Letras, Viriato Corrêa, foi um chamado “Cazuza”. Houve um artista na década em que nasci que teve esse apelido, não sei se foi inspirado nas histórias de Viriato. Mas o Cazuza da década de 1980 criou uma célebre frase em uma de suas mais famosas canções: “o tempo não para”. Na mesma canção, o artista disse que via “o futuro repetir o passado” e via “um museu de grandes novidades”. Várias interpretações podem ser feitas dessas sentenças. A que faço é a melhor possível; é aquela que coaduna com as finalidades e missões das instituições que com muita responsabilidade e zelo passo a integrar no dia de hoje: é preciso saber preservar o passado; saber de onde viemos; valorizar as tradições; a cultura; a arte; e a história.


Dessa maneira, poderemos garantir que no futuro os mesmos erros não sejam repetidos, não sejam esquecidos ou apagados. Poderemos garantir que as coisas boas sejam aprimoradas e que o progresso cultural, científico, histórico e até político da nossa gente seja feito com base naquilo que foi vivenciado por nós verdadeiramente. Por fim, gostaria de dizer, parafraseando Gabriel Garcia Márquez em seu “Cheiro de goiaba”, que está no meu temperamento, no meu sangue, na minha índole: nunca, em nenhuma circunstância, esqueci ou esquecerei que na verdade da minha alma não sou imortal, sou apenas um dos filhos de Phil e Rita, e pai de Alice e Júlia. Boa noite e muito obrigado!

Felipe Costa Camarão Membro da Academia Ludovicense de Letras Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão


DISCURSO DO GOVERNADOR FLÁVIO DINO NA POSSE DE FELIPE CAMARÃO Discurso Governador Flávio Dino “Quero saudar a senhora Dilercy Aragão Adler, professora, doutora e minha amiga de algumas décadas, quero também saudar ilustríssimo presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, o professor Euges, assim como também reverencio e saúdo muito especialmente o homenageado desta noite, meu querido amigo, professor, excelentíssimo secretário de Estado da educação, Felipe Camarão. Um abraço ao meu querido companheiro de lutas, o prefeito Edivaldo Holanda Jr.; saúdo o Paulo Melo Sousa, que dirige esse convento com brilho, o Paulão, que nós conhecemos nas lutas estudantis, juvenis e artísticas nos anos na Universidade Federal do Maranhão. Cumprimento todos os ilustres integrantes de ambos os sodalícios aqui, que hoje incorporam o professor Felipe Camarão, respectivamente a Academia Ludovicense de Letras, a casa de Maria Firmina, e o Instituto Histórico e Geográfico, de Antônio Lopes; cumprimento todas as senhoras e senhores que aqui estão, saudando especialmente o senhor presidente da Academia Maranhense de Letras que aqui está, Benedito Buzar, para minha alegria e honra, também meu padrinho de batismo e já se vão 49 anos devo te advertir e saúdo e cumprimento o vice-governador,Carlos Brandão, e o vice-prefeito, Júlio Pinheiro. O professor Felipe Camarão, com sua bela oração de ingresso em ambas instituições, aludiu a um amigo em comum, o professor Ney Bello, que, ao longo dessas décadas dialogamos sobre vários temas, vários assuntos, um dos quais, claro, obrigatoriamente, Gabriel García Marques, mas também Mário Vargas Llosa, escritor latino-americano tão singular, tão próximo das minhas crenças ideológicas no passado, tão distante nos dias de hoje, porém, possuidor de idêntico valor literário, não obstante os percursos e descaminhos que trilhou na política. É de Llosa, um dos principais retratos das oligarquias latinoamericanas, Conversa na Catedral; é dele também uma das reflexões mais agudas sobre este momento, no livro recentemente lançado, chamado “Civilização do Espetáculo”, que ele trata exatamente sobre o lugar de instituições como o Instituto Histórico e a Academia. Trata, claro, indiretamente, obliquamente, na ampla moldura contextual, na reflexão aguda que faz sobre os dias de hoje, da despertabilidade, da velocidade e da aparente supremacia absoluta do entretenimento por sobre a cultura, da diversão e, portanto, do efêmero sobre aquilo que é perene e permanente. Creio que esse é o lugar principal dessas instituições tradicionais, que são guardiãs do saber acumulado pelos homens e mulheres ao longo dos séculos. É claro que como Felipe Camarão, eu também sou um homem do meu tempo. Carrego um apple no bolso e com ele governo. Sem ele é impossível hoje gerir bem qualquer coisa. Quando algum colega magistrado tira o whatssap é um desespero, porque sem é muito difícil, hoje, acompanhar a velocidade dos fatos da contemporaneidade. A questão é que nós temos sempre que transcender aquilo que esta lá na tela e foi o que vimos nesta noite, tanto o discurso de Paulo, quanto no discurso de Felipe, não caberiam no escasso espaço de um tweet de 140 caracteres, tão pouco poderiam se transformar nos famosos textões do facebook, eles vão muito além disso e, por isso, eles são muito mais relevantes, são autenticamente imortais. Por isso, eu quero justificar minha presença aqui com essa breve oração, em primeiro lugar para homenagear o Instituto Histórico e a Academia Ludovicense de Letras, e em segundo lugar, e não menos importante, diria até que o mais importante neste instante é saudar o fato de ambas as instituições, terem agora entre os seus membros um quadro da qualidade do amigo Felipe Camarão. Governar exige cem números de virtudes, claro que entre elas está a de admitir os seus defeitos, mas tem duas virtudes que eu considero essenciais pra quem governa bem, uma é ter sempre muita coragem, de não ter medo de nada e nem de ninguém, eu acho que esse é fundamental para governar bem, não se assustar com pouca coisa e encarar as ondas de quaisquer tamanhos, navegar inclusive em mares nunca antes navegados, como se tivesse a segurança de dispor de todos os instrumentos de navegação pra não levar o barco ao naufrágio; em segundo, ter a sabedoria de escolher bem quem o acompanha nessa aventura, acho que são duas virtudes centrais e eu tenho muito orgulho da equipe que hoje eu lidero no Maranhão. Tenho


muito orgulho desses jovens, homens e mulheres, que nunca antes exerceram funções públicas de relevo, foram muitas vezes criticados, aqui e acolá, exatamente pelo ineditismo. Onde iriam esses meninos e meninas, acho que Felipe Camarão responde bem, esses meninos e meninas vão a um destino melhor para o nosso estado. E nós que estamos governando o nosso quinhão territorial, a nossa pátria e o nosso quinhão, mas afetuoso da nossa pátria com coragem e com dedicação e com seriedade, e é isso que Felipe sintetiza. Eu tenho muito orgulho de liderar uma equipe quase toda mais jovem do que eu. E o Felipe como disse, aos 35 anos, é jovem, muito jovem e isso é muito bom para o futuro do Maranhão, porque significa que nós estamos equipando homens e mulheres da vida públicapara governarem por muito tempo não só com conhecimento auferido dos livros, mas o conhecimento derivado do saber da experiência de vida. De modo, Felipe, que eu gostaria de em meu nome e do vice-governador, Carlos Brandão, e de toda nossa equipe aqui presente, secretários e secretárias, te saudar muito especialmente por demostrar tantas virtudes, a principal delas que com isso quase que finalizo, é o fato de Felipe ser um homem otimista. E só o otimismo transforma. O pessimismo, na teoria, a crendicidade filosófica, é imprescindível para conhecer bem a realidade. Os ingênuos não conseguem entender muito bem tudo aquilo que se passa, ainda mais em tempos sombrios e obscuros, como esses que vivenciamos no mundo, não só no Brasil. Aliás, fiquei a imaginar o prejuízo que seria se Donald Trump soubesse desse encontro, quem governaria o Maranhão e São Luís amanhã, porque estaria o governador, o prefeito, o vice, vários secretários, o presidente da Assembleia e da Câmara escapariam e seriam eles a estar no leme do nosso Estado e de várias instituições. Nesses tempos de tantos desafios, inclusive no retorno do belicismo, do fascismo, da intolerância, de todos esses “ismos” que são contrários ao mais importante, que é o humanismo, nós estamos aqui reunidos em torno do sentimento de fraternidade, sintetizado por uma pessoa que tem o pessimismo na teoria, na compreensão do mundo, o caráter caustico da leitura da realidade, que é imprescindível para reconhecê-la, mas tem o otimismo que transforma. Só o otimismo transforma, só a esperança dignifica e é isso que Felipe representa pra mim todos os dias, é claro que muitos dos que aqui estão, têm experiências muito maiores do que eu, não estou chamando ninguém de idoso ou idosa no sentido pejorativo, é um elogio à experiência. Todos sabem que naquela porta que fica naquela casa, chamada Palácio dos Leões, raramente entram soluções andando, normalmente desabam problemas para todos os lados, invadem pelas portas, janelas. Descobri lá a razão do nome Palácio dos Leões, é porque na verdade se mata um leão por dia, o problema é que os bichinhos ressuscitam e não esperam nem os três dias como o cânone bíblico recomenda, eles ressuscitam é no dia seguinte. Muito bem, Felipe Camarão é um desses bons domadores de leões que me ajudam a conduzir o Estado, é por isso que estou aqui, Felipe, para te agradecer essa colaboração, esse sorriso que tu sempre ostentas, às vezes nos momentos mais difíceis e mais surpreendentes, mas sempre animado, sempre disposto quando eu anuncio metas quase sempre impossíveis e aí as pessoas ficam me perguntando: mas porque colocar metas impossíveis, isso não é bom para o governo, mas é claro, se a gente não perseguir o impossível, nós não faríamos o possível. Por isso, eu coloco sempre metas mais elevadas, mais inatingíveis e o Felipe nunca as recusa. E, finalmente, eu quero mencionar uma coisa que me chamou a atenção, que eu consolidei a nomeação dele, se ele não sabe, saberá agora, Felipe tem capacidade de se emocionar. Eu tenho muito medo dos homens racionais e frios em demasia, é claro que nós precisamos ter racionalidade, lembro aqui que Max Weber dizia que o bom governante não é nem o cínico, que não é o cínico, claro, de Diógenes, é o cínico contemporâneo, mas também não pode ser o fanático, o bom governante é o homem prudente, o homem prudente tem desassombro, tem coragem, não é medroso, mas, sobretudo, ele tem o senso de proporcionalidade, mas o Max Weber, como filósofo, todos sabem da racionalidade administrativa, dizia que o bom político é aquele que tem paixão e essa paixão o Felipe demostrou aqui para nós hoje ao falar da sua família. Quero também dividir com eles meus cumprimentos a todos que o acompanham aqui, mas, sobretudo, quando nós fizemos o sobrevoo na primeira escola digna que nós inauguramos no Povoado Muriçoca, no município de Fortaleza dos Nogueiras, a escola chamada Pedro Álvares Cabral. Foi ali, Felipe, que eu tive certeza que estava diante do homem certo e no lugar certo, porque Felipe olhou a escola e se


emocionou, e ele ao se emocionar revelou o mais importante, que era aquilo que Max Weber falava: a paixão por uma causa. E essa paixão te trouxe aqui merecidamente. Revelo ao final, a minha angústia, tantos títulos, tantas honrarias, medalhas, diplomas, espero que não o levem a uma demanda por aumento de remuneração [risos], porque o Estado não irá suportar, nesse momento de dificuldades fiscais, te advirto desde logo, afinal, temos uma greve geral no país, e neste momento autorizo que tu faças tua greve entre hoje e amanhã, pela manhã [risos], mas jamais admito reivindicações remuneratórias. E assim como o prefeito Edivaldo fez referência ao Sábio dos Sábios, Deus, que te acompanhe sempre, desejo que as memórias de Maria Firmina dos Reis e Antônio Lopes, Gaioso e Viriato Corrêa, continuem a te inspirar. Muito obrigado e viva o Maranhão!


MIRIM LEOCÁDIA PINHEIRO AMORIM 5 DE MAIO DE 2017





DISCURSO DE RECEBIMENTO DE MIRIAM ANGELIM

SANATIEL DE JESUS PEREIRA Presidente em Exercício da ALL – proferido dia 05 de maio de 2017, em solenidde no Salão Nobre da Academia Maranhense de Letras Ilma. Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Senhora DILERCY ARAGÃO ADLER; Ilma. Secretária-Geral da Academia Ludovicense de Letras, Senhora CLORES HOLANDA; Senhores Confrades, Senhoras Confreiras, Autoridades que aqui se fazem presentes, Senhoras e Senhores, Em meu exemplar da vulgata de 1976,no Livro de Gênesis, encontrei a narrativa mitológica da criação, por Deus, do céu e da terra. Depois de criar todas as cousas e todos os seus ornatos, e os animais, talvez tenha percebido que não havia ninguém com consciência e olhos dentro do paraíso para usufruir com todos os seus sentidos daquilo que de melhor havia criado: árvores formosas à vista com seus frutos doces para comer, rios caudalosos que regavam o paraíso, e riquezas minerais que tornavam essa parte da Terra única. Então, o Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou no seu rosto um sopro de vida, e o homem tornou-se alma vivente; colocou-o no paraíso de delícias para que o cultivasse e guardasse. Em outra passagem mais adiante, pensou o Senhor Deus: “Não é bom que o homem esteja só!”. Mandou, pois, um profundo sono ao homem e, enquanto dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com carne. Com a costela que havia tirado, o Senhor Deus fez uma mulher. Disse então o homem: “Eis aqui agora o osso de meus ossos e a carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque do homem foi tirada". A partir desse momento deu-se início à mais longa sociedade existente sobre a face da Terra, sem nenhuma perspectiva de se findar em tempo algum. São milhares de anos de trabalho devocional na busca da perfeição. Nos livros sagrados, podemos perceber que Deus se preocupa com as mulheres e tem muitos bons conselhos para a mulher que quer viver sob a sua orientação. A Bíblia nos dá vários exemplos de mulheres virtuosas que tiveram um grande impacto em suas comunidades. No Antigo Testamento se fala de mulheres que foram usadas por Deus, como Débora, profetisa e juíza,uma das sete profetisas, cujas profecias estão registradas na Bíblia; 0utras faziam parte de lideranças,


como Míriam, irmã de Moisés e Arão, que agia como líder do culto das mulheres, depois da experiência de atravessar o Mar Vermelho. Mas a melhor parte do papel e da influência das mulheres no mundo atual seria iniciada somente no Novo Testamento. Jesus, passando pelas cidades e povoados daqueles tempos, proclamando a boa-nova, carregava consigo não somente os seus discípulos, mas mulheres, nas quais havia operado algum milagre: Maria Madalena, a mais notável de todas, de quem havia tirado sete demônios; Joana, mulher de Cuza, administrador da casa de HerodesAntipas; Susana e muitas outras. A vida de Jesus está circundada desde o seu nascimento até a sua morte por mulheres. Maria é saudada por Izabel anunciando o nascimento de Jesus. Perto da cruz do crucificado estavam Maria, sua Mãe; a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas; e Maria Madalena. Desde Jesus até os dias de hoje, as mulheres escalam espaços na hierarquia humana nunca sonhados, levando-as novamente às posições de liderança para exercerem funções ligadas à construção do homem e de uma nova civilização. A mulher diligente é uma coroa para o seu esposo, sua comunidade, sua cidade, sua pátria e sua gente. “Apresentarmos aos pósteros os pró-homens do passado é amar e servir à Pátria”, assim escreveu e ofereceu, em tinta nanquim, com suas próprias mãos, em 20 de fevereiro de 1952, Dom Felipe Condurú Pachêco, Bispo de Parnaíba, são-bentuense dos mais notáveis, no livro Pai e Mestre, em sua primeira edição de 1951, aos homens e mulheres do nosso tempo. Em sua obra o reverendíssimo Bispo deixou o maior legado sobre a estrutura familiar são-bentuense, dos séculos XIX e XX, no exemplo da família Condurú;descreve o berço material do povo de São Bento; sua fauna, sua flora e até o clima daqueles tempos de antão. Na sua dissertação extravasa a visão da Natureza em todos os momentos da sua escrita. Como um capuchinho das naus de Cabral, expressa em lápis e papel o que viu, ouviu e sentiu em toda a sua plenitude. A impressão que se tem é que ele descreve um pedaço do Paraíso, por não saber, de fato, onde começa e termina aquele espaço bento da Terra. Para coroar definitivamente o valor de sua obra, dedica à“futura Atenas Brasileira” – em suas próprias palavras – páginas e páginas para nos deixar embriagados com a visão telúrica que tem da Capital São Luís, no decorrer de 1828. Os Campos dos Peris – berço material do povo são-bentuense –, não preciso de ninguém para descrevê-los, pois dediqueiestes anos da minha vida para descobrir o que ali habita, além da flora, da fauna, das palavras do vento e das chuvas, do cheiro do campo, das mensagens das estrelas e da Lua no céu, do silêncio das carnaubeiras e dos seres invisíveis que ainda não tive a oportunidade de encontrar e conversar. Se tivesse sido habitada por indígenas tupinambás, a grande ilha circundada por campos inundáveis e vegetações sazonais, banhada no oriente pelo rio Aurá, seria também chamada de Upaon Açu. Entretanto, a riqueza depositada pela Mãe Natureza naquele pedaço de terra da Baixada Maranhense é incomparável. Nenhum lugar daquela região conhece o ciclo completo da morte e ressurreição da natureza no solo e na água, como aquela ilha campesina. Ali se encontra um solo sagrado onde tudo que se planta nasce. Ali se encontram variedades de árvores frutíferas, como as mangueiras, que sofreram mutações a favor dos ventos, com doçura incomparável com outras espécies exóticas. As espécies de peixes se multiplicam a cada estação alimentando uma população que cresce mas não exaure o potencial dos seus lagos. São dezenas: do pequeno bagrinho ao saboroso muçum, fruto tardio das águas em abaixamento. A bênção cai do céu quando aquele pedaço de chão bento recebe as aves migratórias que vêm se alimentar e aninhar nos frutos e nas folhas do guarimã dos campos inundados. Por ali passam jaçanãs, marreca pituaçu, paturi bola, pato preto, japiaçoca, carão, socó taquiri, guará, o jaburu e pequenas aves, como pirulito e pimentinha. Ali, nos Campos dos Peris, está o céu diurno e noturnomais belo do Maranhão. O voo das garças reais, aos bandos, no final da tarde, ao sol poente, procurando abrigo no galhos dos mangues ciliares da Vala Condurú, é um ritual magnífico de encerramento do dia. Tenhamos olhos e coragem para ver as estrelas e a Lua em uma madrugada de outubro, deitado no campo, como se fosse o mais confortável dos leitos naturais. Viajante do mundo, nunca vi espetáculo igual. Se existem locais especiais sobre a face do planeta Terra, não tenho dúvida de que ali é um deles. Ali, nos Campos dos Peris, vieram ao mundo seres humanos especiais destinados a grandes missões sobre a face da Terra. Campesinos que foram forjados com o barro do campo e soprado em suas narinas o ar


bendito– amalgamado com todos os componentes da terra, da água e da vegetação que compõem aquele pedaço do Paraíso–, que os transformaram em alma vivente. E eles são muitos, graças a Deus! Nós somos muitos, graças a Deus! Eles nasceram, educaram-se e foram para o mundo contar a boa-nova. Em todas as áreas do conhecimento, da pedagogia à teologia, temos representantes universais. Nas artes, temos de pintores a músicos, conhecidos não só no Brasil,mas no mundo todo. As mulheres são-bentuenses são um capítulo à parte. De Dom Luís de Brito a Joaquim Itapary, todos vieram ao mundo através de uma mulher, mãe, educadora, sonhadora e de uma coragem inabalável. As mulheres são-bentuenses não sabem o que é olhar para trás; não resmungam. Elas se movem com coragem, ousadia e fé inflexível na direção dos dias benditos que as esperam no futuro. Na verdade, elas que criaram o mundo que hoje existe e toda a história da nossa terra gentílica. De Rosa Castro a Conceição Raposo, todas vieram para educar o mundo. Algumas, ousadas, foram mais do que educadoras, como a mestra Négile José Ata, diretora do colégio Mota Júnior, que recebeu em seu seio familiar crianças vindas da área rural do município de São Bento para que pudessem revelar os seus talentos e entrar na grande corrente de construção do mundo. Revendo as escrituras sagradas, pergunto-me se essas mulheres são-bentuenses não fazem parte dessa liderança de mulheres profetisas e juízas, que vieram ao mundo atual para contribuir substancialmente e dar rumo aos caminhos da humanidade. Elas não se configuram mais somente como esposas dedicadas aos filhos e aos maridos, mas como agentes ativos na transformação do homem e da sociedade como um todo. Ao contrário daqueles tempos, não se encontram subjugadas aos ditames de uma lei seca, mas aos limites da sua própria competência e da vontade de ousar. Confreiras e confrades. É com muita satisfação e alegria que apresento esta extraordinária mulher, Míriam Angelim, com todo este quilate e estirpe, que a caracterizam como uma são-bentuense notável, para compor este seleto grupo de acadêmicos de nossa infante Academia Ludovicense de Letras. Míriam Pinheiro Angelim é maranhense, natural de São Bento, onde iniciou seus estudos primários na famosa Escola Mota Júnior, naquela cidade natal. Ainda muito jovem, com a idade de oito anos, transferiu-se com a sua família para São Luís, capital do Estado do Maranhão. Fez os seus estudos secundários no Colégio Santa Teresa, vindo, depois, a se graduar em Serviço Social pela Universidade Federal do Maranhão. Antes mesmo de estar formada no Curso de Serviço Social, seguindo os ditames do seu sangue sãobentuense, vivenciou na teoria e na prática, como estagiária, em um projeto piloto, dentro do sistema Penitenciário de Pedrinhas, como o Serviço Social pode contribuir na integração de apenados e família, e no desenvolvimento e organização de comunidades.Esta experiência veio, mais tarde, ser expressa em suas crônicas nas quais conta os seus temores e medos diante de situações extremas onde o homem se encontra envolvido com a Lei. Depois de formada, a sua missão, como profissional da área de Serviço Social, se consolidou como corresponsável pela condução de crianças e adolescentes na busca do viver melhor dentro de uma sociedade extremamente separatista.Sua primeira experiência foi na Secretaria de Educação da Prefeitura de São Luís, seguida da Fundação do Bem-Estar do Menor (FEBEM), que mais tarde foi transformada em Fundação do Adolescente e da Criança (FUNAC). Foi coordenadora de projetos integrados no Centro Integrado do Rio Anil(CINTRA), participando ativamente na elaboração de propostas pedagógicas.No Viva Cidadão, foi gestora de integração e relacionamento interno, implantando projetos literários como Rabiscando Momentos, que deu origem a onze antologias. No Centro de Fomento ao Desenvolvimento Social, Econômico e Cultural do Estado do Maranhão, coordenou o Núcleo de Desenvolvimento Cultural, onde desenvolveu os projetos Chá Literário e A Hora das Letras, que resultaram em três antologias. Confreiras e confrades. Míriam Angelim já foi iniciada na leitura da natureza. Ela sabe interpretar o que as nuvens querem dizer nos seus desenhos metafóricos; pelo marulho do vento nas árvores, ela sabe se o mar está vazando ou


enchendo; em que estações estamos submergidos de acordo com o canto dos pássaros que passam em revoada; pela velocidade com que caem as folhas de uma mangueira, ela sabe se vai chover ou não;pelo barulho das rodas da carroça, ela deduz se está cheia de tijolos ou de algodão. Os seus medos imaginários constroem a sua escrita cheia de ternura e emoção. Alguns trechos são cheios de paixão; outros, de solidão. Herdeira das antigas tradições, ela sempre está rodeada de mulheres. Adentrou à literatura pelas mãos de Açucena, a Estranha Dama. Nesse livro de estreia, mostra a natureza humana em todo o seu esplendor na busca incessante da felicidade perdida. Parece-nos a primeira floração de uma palmeira de carnaúba; rebento incontrolado, em que as emoções saem do reino do visível para outros que o homem quer experimentar, mas não tem coragem, e prefere se contentar somente com as flores. Dançando com o Tempo foi o primeiro salto de Míriam para o mundo transcendental. Cercada de mulheres por todos os lados, analisa a natureza feminina sob um olhar crítico sem, no entanto, perder de vista a ternura. Em sua Távola Redonda reuniu 33 mulheres para falar sobre o tempo, o vento e a vida. Vejam, não faltou Débora, Esther, Marta, Raimunda, a portadora das tradições, Rosa Helena, a senhora do tempo. Em seu caleidoscópio humano, trançou, como alguém que tece uma rede tapuiranaem fios multicoloridos, os melhores cenários, para sobrepor a sua narrativa, cheia de frases de sabedoria, fruto da experiência e da vontade de superar as dificuldades humanas. São mulheres de todas idades, com as suas ilusões, desilusões, sonhos e pesadelos. O seu livro é para aqueles que ainda têm lágrimas e se permitem chorar de emoção. Admirável confreira Míriam Angelim, que a Academia Ludovicense de Letras seja como uma fonte de águas cristalinas que possam lhe alimentar a imaginação, mas sem nunca lhe saciar a sede e a vontade de escrever mais e melhor. Que sejas bem-vinda e tragas a Paz, o Amor e a União em teu coração. Muito obrigado.


PRONUNCIAMENTO DE POSSE DE MÍRIAM ANGELIM NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

Ilustríssimo Senhor Vice Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Acadêmico Sanatiel Pereira, representando neste ato, a ilustre Senhora Presidente Dilercy Aragão Adler, na pessoa de quem saúdo e cumprimento as Senhoras e os Senhores Acadêmicos; Ilustríssimo Senhor Acadêmico Álvaro Urubatan Melo, representando neste ato o ilustre Senhor Presidente da Academia Sambentuense Joaquim Melo, na pessoa de quem saúdo e cumprimento as Senhoras e Senhores Acadêmicos são-bentuenses; Amada Família; Digníssimo público. Boa noite! Estou vivendo um momento mágico! Essa magia que me trouxe a este templo sagrado me acompanha há anos. Ela vem comigo das terras do “chão bento” do ilustre Arquimedes Vale, onde os campos verdes, emoldurados pela beleza e frescor das águas, espelham o lindo céu azul pleno de nuvens brancas. Essa magia crescente toma força nesta bela São Luís, nas salas do Colégio Santa Teresa criando cores e forma com o tempo e dando-me o encantamento pela arte, literatura e cultura. Em Pedrinhas, já na Faculdade de Serviço Social, com bom resultado, encontro arte e beleza acompanhando e estimulando a junção de vozes masculinas em melodioso Coral dos Apenados. Também é preciso integrar a família do apenado àquela comunidade rural, e o grande lance motivador para os jovens comunitários foram as oficinas de danças típicas do Japão. Pedrinhas era uma comunidade cheia de japoneses. Na Vila Embratel, uma experiência na periferia: estimular a leitura! A iniciativa foi formar uma biblioteca diferente que prendesse a atenção pelo prazer! Uma biblioteca que estimulasse o leitor infantil principiante. Uma pequena biblioteca só de Revistas em quadrinhos. Sentindo a necessidade de aprimorar esse plantio, algo mais era preciso, então brotou um grupo de teatro e outro de danças composto por dinâmicos jovens daquela Comunidade. Dessa forma, foi fortalecida a maneira criativa de plantar a semente do prazer pela leitura, tendo como fonte aquilo de que eles gostavam (as revistas em quadrinhos) e, por acréscimo, as artes de interpretar e dançar. E, nessa caminhada de encanto simples e raro, cheguei ao CINTRA - Centro Integrado do Rio Anil da Fundação Nice Lobão. Inseri-me a uma talentosa e capaz Equipe e participei da coordenação e elaboração da Proposta Pedagógica daquele Centro e em seguida da sua implantação e funcionamento. Nessa pitoresca vivência em que magia, sonho e realizações criam corpo e tem alma com teatro, canto e


dança recebendo a orientação de grandes profissionais que introduziram um universo fantástico, a um imenso número de jovens. A caminhada terrena, quando longa, tem incontáveis caminhos retos e floridos, apesar das inúmeras encruzilhadas, pedras e bifurcações, fato que, pelos obstáculos que se apresentam, oferece aos destemidos, maior determinação no enfrentamento dos desafios. Muitas vezes somos surpreendidos com novas e inusitadas situações. E é a Gestão de Integração e Relacionamento Interno do Viva Cidadão o grande palco para ascender e fazer fluir a literatura no trabalho. Ali nasceu e se desenvolveu o denominado projeto glamour, ou seja, o Rabiscando Momentos, motivo de alegria e entusiasmo do Servidor Público autopromovido a escritor, fazendo brotar no apogeu dos intervalos no seu trabalho 11 (onze) ricas Antologias, com inesquecível vivência. Seus pensamentos e sentimentos em poderosos rabiscos são eternizados e transformados em alegria e sucesso na alma desses poetas servidores públicos maranhenses. A magia é um estado da alma. Ela dá distinção ao instante, tornando-o ímpar, essencial. E nesse afã de fazer acontecer, a criatividade é parceira fiel, lembrando-me de que jovens precisam e têm sede da saborosa e indispensável água do saber. Essa magia transmutada em vigor fez nascer nova fonte inspiradora, o A Horas das Letras, trazendo consigo oficinas de leitura, escrita e três Antologias, publicadas. Aqui foi também a hora dos jovens, desses novos jovens escritores são-bentuenses. Descobrir, saber, tomar conhecimento, inspirar-se, buscar e realizar são meandros para aproximarnos e embebedarmo-nos nesse aroma chamado magia, na busca da realização que tem como meta a efetivação de sonhos, subentendida como felicidade! Entendo que essas buscas e realizações aconteceram como preparo para me trazer a este atual momento. A minha construção, o meu trabalho nessa salutar caminhada, neste instante, dá-me a sensação de quem aporta com as mãos cheias de rosas. Revejo cada momento com inusitado aroma, beleza, sabor, guardando como boa música a sonoridade de cada resultado alcançado. Reafirmo que foi nessa perene busca que me descubro mais uma vez, considerando que nada deve servir de álibi para estancar, estagnar-se! Então parti para o desafio de inscrever-me, almejando a cadeira 25 patroneada pela contista, poeta e brilhante Laura Rosa. Antes de inscrever-me, procurei conhecer as biografias e obras dos ilustres patronos das cadeiras disponíveis à seleção, eleição e ocupação. A inteligência, a sabedoria, o arrojo, a simplicidade e a lucidez da alma da poetisa Laura Rosa chamaram-me atenção. Em seu discurso de posse na Academia Maranhense de Letras, ela não ignora a cultura da época e o tempo em que vive, então ressalta: “Manda-me a justiça que vos diga, em primeiro lugar, que me trouxeram para esta casa de sábios ilustres as mãos amigas de Corrêa de Araujo e Nascimento Moraes com a benevolência de seus pares. Trouxeram-me porque, de mim mesma, nunca imaginei suficientes os meus versos, para merecimentos de tão honrosas credenciais”. Quanta simplicidade e humildade em uma mulher de expressivas virtudes, dinamismo e rara beleza espiritual. Professora, poetisa e contista, a ilustre escritora, em parceria com a professora Filomena Machado Teixeira, foi incentivadora da criação da Academia Caxiense de Letras, tornando-se patrona da Cadeira de Adaílton Medeiros. A pureza e a sabedoria aliada ao senso de humildade, espontaneidade e sinceridade da escritora fizeram aflorar na minha alma assertiva opção, traçando imediata identificação e plena decisão nessa escolha. Lendo-a, nasceu em mim profunda admiração e afinidade, sentimento que o escritor e jornalista Artur da Távola soube explicar: “ter afinidade é muito raro, mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar”. Ao juntar pedaços das nossas histórias daqui e dali, imaginei tratar-se do reconhecimento de afinidades, ou de uma conquista mútua e tive a impressão de que ela me olhava e acenava positivamente. Abraçando e sentindo-me, simbolicamente, abraçada por esta nova família, a qual passei a integrar desde o dia 16 de dezembro de 2016, data da minha eleição para esta Academia, hoje estou aqui como eleita, para ocupar a Cadeira 25 patroneada pelo brilho de Laura Rosa. Ludovicense, filha de Cecília da Conceição Rosa, a ilustre Patrona nasceu em 01 de outubro de 1884, na Rua das Crioulas. Atenta e dinâmica participou da vida literária estudantil.


Iniciou sua vida literária escrevendo crônicas. Destacam-se dentre suas obras literárias: São Luís de outrora (poesia); Por longos caminhos (poesia); Vida e obra de Lucano Reis; Promessas (conto). Outras publicações nos jornais Diário do Povo; Folha do Povo; O Globo e Revista Elegante. Professora Normalista foi para o sertão na segunda década do século passado para lecionar na antiga Escola Normal de Caxias. Seu espírito poético lhe instigou o hábito da realização de verdadeiros saraus poéticos com escritores e poetas caxienses. Intrépida, Laura Rosa posicionava-se sem temores e receios, emitindo sua opinião sobre temas controversos naquela época. Desafiou a cultura do seu tempo. Arrojada, consciente, competente, articulada, ela mudou a história e tornou-se pioneira: foi a primeira mulher a tomar posse na Academia Maranhense de Letras, recepcionada por Nascimento Morais em solenidade ocorrida a 17 de abril de 1943. Ocupou a Cadeira 26 patroneada por Antônio Lobo. Declarava-se a favor do voto feminino, desde que as mulheres fossem conscientes, obedecendo à própria vontade (e não a de seus companheiros). Ao publicar no Diário do Povo a poesia Regina Martyrum, ela adotou Violeta do Campo como pseudônimo. Na sua forma corajosa de encarar a vida, a destemida Laura Rosa desencarnou aos 92 anos de idade, em 14 de novembro de 1976. Inspirada pela grandiosidade e elegância de Laura Rosa, aventuro-me no universo dos agradecimentos, certa de que, por mais que tente expressar gratidão a todos que ilustraram e engrandeceram minha caminhada até aqui, não serei capaz de externar meu profundo reconhecimento de forma absoluta. O meu livro “Açucena, a estranha dama” teve a incrível e involuntária façanha de me dar visibilidade à Academia Sambentuense, que por sua vez foi uma das chaves para me estimular e realizar mais esta conquista. Obrigada, amada Academia Sambentuense! Louvor e agradecimento ao meu Deus: pai, criador, amigo, mestre e sustentáculo que hoje aqui me traz e recebe com muitas bênçãos; Ao amigo, Álvaro Urubatan Melo, Vavá Melo, um ser justo, gentil no trato e na convivência, que mesmo no silêncio da voz, está sempre acenando em gestos e ação, sua atenção e boas vindas; Aos ilustres Acadêmicos e Acadêmicas da Ludovicense de Letras, pela votação que me permite, hoje estar aqui; À simpatia, consideração e apreço das pessoas aqui presentes, que com brilhantismo prestigiam-me neste momento; Contínuos agradecimentos às Mulheres Guerreiras, em suas flores e lutas, trazendo-me alegria, arte e ímpar satisfação; À minha família, meu porto seguro, fonte inesgotável de alegria, estima e interminável prazer; Ao Acadêmico Sanatiel Pereira, pela atenção, elegância e consideração em aceitar meu convite e solenemente estar aqui em inesquecível e memorável apresentação, recepcionando-me. Obrigada! Senhoras e Senhores, Para concluir, convidei o jornalista e escritor Eduardo Galeano para me auxiliar, contribuindo com suas palavras, no entendimento da história da minha caminhada e naquilo que desejo expressar neste momento. Momento que desde o início denominei de trabalho, sucesso e determinação. Sucesso e encantamento com o sinônimo de magia. Utopia e magia! Diz-nos Galeano: “A utopia é como o horizonte, quando te acercas, ele se afasta. Para que serve a utopia, então? Para isto serve... Para caminhar”. A utopia me fez caminhar até aqui, enchendo-me de buscas crescentes, de certezas e incertezas; de sonhos e algumas desilusões, tudo para agora ser presenteada com toda esta vibrante energia, que tem um cognome: Magia!


Magia com doce resultado e intenso sabor de felicidade. Felicidade em sentir-me parte deste espaço de sabedoria que sugere continuidade na caminhada, não permitindo a estagnação! Como em retalhos coloridos que vão se juntando artisticamente, formando o todo em belo e harmonioso resultado, eu vejo a vida em toda a sua plenitude, realidade que justifica a minha presença aqui. Que a graça divina me acompanhe em mais esta abençoada e gratificante jornada. Obrigada! Muito obrigada!


NA BERLINDA


BRANDÃO

O ESTADO MA, 17/18 de junho de 2017


FELIPE CAMARÃO O ESTADO MA, 1º abril 2017 – RODA VIVA – BENEDITO BUZAR


FELIPE CAMARÃO TOMA POSSE, NESTA SEXTA-FEIRA, NO IHGM E NA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS MANOEL DOS SANTOS NETO EDITOR DO JORNAL PEQUENO Fonte: Seduc - Fotos/Divulgação

O professor, Procurador Federal, presidente da Fundação da Memória Republicana e Secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão, toma posse, nesta sexta-feira (28), na Cadeira 24 da Academia Ludovicense de Letras (ALL), e na Cadeira 13 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). A posse ocorrerá a partir das 19h, em solenidade no antigo Convento das Mercês. O novo acadêmico foi eleito para a ALL no dia 17 de dezembro do ano passado e será o primeiro ocupante da Cadeira patroneada por Viriato Corrêa. Felipe Camarão será empossado por uma das fundadoras e atual presidente da Academia, Dilercy Aragão Adler. No IHGM, a aclamação do nome de Felipe Camarão para ingresso na entidade aconteceu em Assembleia Geral Ordinária, realizada em outubro de 2016, para ocupar a Cadeira patroneada por Raimundo José de Sousa Gayoso. O novo membro será empossado pelo presidente, Euges Silva de Lima. Aos 35 anos, o jovem professor do Departamento de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Felipe Camarão, possui vasta lista de publicações e produções acadêmicas, entre as obras estão: Poderes e limites constitucionais das comissões parlamentares de inquérito; Sistemas Eleitorais Brasileiros; Aplicação do Código de Defesa do Consumidor no comércio eletrônico e os desafios para a sua regulamentação; Direito do Consumidor: uma análise das relações de consumo no Estado do Maranhão (organizador); Sistema eleitoral brasileiro: novas perspectivas, com a coautoria do juiz Roberto Carvalho Veloso, publicado na revista Maranhão Eleitoral; Direito e Instituições Temas Contemporâneos; Inconstitucionalidade Progressiva na Visão do Supremo Tribunal Federal: Uma técnica de efetivação dos direitos fundamentais, publicado em Cadernos da UNDB, Instituição de Ensino Superior da qual está licenciado. Na RDA, revista paulista de Direito Ambiental, também registrou sua passagem na coautoria de “O princípio constitucional da preservação ambiental: A Constituição Ambiental brasileira como sistema aberto de princípios e regras”. PERFIL Natural do Rio de Janeiro, filho de um maranhense e uma carioca, Felipe Costa Camarão chegou criança ao Maranhão, onde cresceu e se estabilizou. Formado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), é mestre em Direito pela mesma instituição. Aos 23 anos, iniciou sua carreira profissional dirigindo o Procon/MA, pela primeira vez, em 2005. Foi aprovado, entre outros, nos concursos públicos para escrivão de policia civil, analista judiciário do TJ/MA e para procurador federal, cargo em que foi empossado, em 2007, no município de Imperatriz, onde chefiou o escritório de representação da AdvocaciaGeral da União e foi procurador-chefe da Procuradoria Seccional Federal do município. No final de 2008, foi nomeado procurador-chefe da Procuradoria Federal no Maranhão e, em 2011, reassumiu a direção do Procon/MA, cargo que ocupou por mais nove meses, até retornar para a Procuradoria Federal. Exerceu ainda o cargo de procurador-chefe da Procuradoria Federal Especializada junto ao INSS (PFE/INSS) e o de subprocurador-chefe da UFMA. É professor de Direito em cursos de pós- graduação e de graduação da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco (UNDB) e da UFMA. A convite do governador Flávio Dino, no dia 1º de Janeiro de 2015 assumiu a Secretaria de Estado da Gestão e Previdência, e, em agosto deste mesmo ano, foi empossado secretário de Estado da Cultura. Contribuiu com a implantação da Secretaria de Governo. Atualmente, aos 35 anos, é secretário de Estado da Educação e presidente da Fundação da Memória Republicana.


O IMPARCIAL, 30 DE ABRIL DE 2017, Coluna ACONTECEU


O IMPARCIAL, 30 DE ABRIL DE 2017, Coluna ACONTECEU

JORNAL PEQUENO, 30 de abril de 2017 – PRIMEIRA PÁGINA


JORNAL PEQUENO – 30 de abril de 2017 – Coluna POLITICA


INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO-IHGM Professor Felipe Camarão toma posse no IHGM Posted: 29 Apr 2017 05:21 AM PDT

São Luís – Ontem (28), às 19h, no Convento das Mercês, tomou posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), na cadeira de n.º 13, patroneada por Raimundo José de Souza Gayoso, o professor mestre do Curso de Direito da UFMA, advogado, procurador federal e secretário de Estado da Educação do Estado do Maranhão, Felipe Costa Camarão. A indicação do advogado e professor universitário foi feita pelo membro efetivo e promotor de justiça, Dr. Ronald Pereira que após a aprovação pela Comissão específica designada pelo presidente para analisar e emitir parecer obteve aprovação pela plenária da Assembleia Geral em outubro de 2016. O novo membro do IHGM fez um discurso emocionado e demonstrou sentir-se bastante honrado em tomar posse na tradicional Casa de Antônio Lopes que este ano está completando 92 anos de fundação. O auditório do Convento das Mercês estava repleto de convidados, entre familiares, amigos, membros do IHGM, acadêmicos e autoridades. Estiveram presentes também, prestigiando o evento o governador do Estado, Flávio Dino e o prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Jr. Nessa mesma noite, Felipe Camarão também tomou posse na Academia Ludovicense de Letras.


O ESTADO DO MA, 06 de maio de 2017 – PH REVISTA


Jornal pequeno, 09 de maio de 2017 – Variedades


ANA LUIZA ALMEIDA FERRO O ESTADO MA, 1º ABRIL 2017 – PH REVISTA


Entrada triunfal da confreira Ana Luíza Almeida Ferro que proferiu seu discurso fazendo uma viagem literária.

Posse da escritora Ana Luiza Almeida Ferro na Academia Maranhense de Letras, São Luís do Maranhão.


SAUDAÇÃO DE CERES COSTA FERNANDES HORIZONTE (Fernando Pessoa – Mar Português) Ó MAR anterior a nós, teus medos Tinham coral e praias e arvoredos Desvendadas noites ea cerração, As tormentas passadas e o mistério, Abria em flor o Longe, e o Sul sidéreo Splendia sobre as naus da iniciação. Linha severa da longínqua costa – Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta Em árvores onde o Longe nada tinha; Mais perto, abre-se a terra em sons e cores: E, ao desembarcar, há aves, flores, Onde era só, de longe a abstrata linha. O sonho é ver as formas invisíveis Da distância imprecisa, e, com sensíveis Movimentos de esprança e de vontade, Buscar na linha fria do horizonte A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte – Os beijos merecidos da Verdade. Senhor Presidente, Caros Confrades, Minhas Senhoras e meus Senhores, Menina Ana Luiza, dona da minha admiração e do meu bem-querer, porque sois apaixonada por mares e conquistas e pelos instantes matinais da fundação da nossa São Luís, achei estes versos parecidos convosco. Não escondo que estou, sobremodo, agradada em ser distinguida, por vossa escolha, para receber-vos nesta noite constelada de tantos amigos e talentos. A Academia Maranhense de Letras vos recebe, hoje, em seu quadro, com grande orgulho e renovado júbilo, porque chegaisa um lugar que vos pertence e vos aguardava, haja vista vossa consagradora votação, mercê do mérito de quem labora em incansável faina construtiva, objetivando a excelência, apurando-se no uso de suas ferramentas de trabalho, na criação de ideias, execução de pesquisas e na produção de escritos, em contínua busca da realização de um trabalho literário valoroso.


Emerge, no nosso universo acadêmico, mais uma vez, a presença do elemento feminino. Apraz-me ter sido escolhida para receber uma mulher na Casa de Antônio Lobo, que se somará às outras três valorosas representantes do gênero feminino,a nona em ordem de entrada, em um quórum de quarenta membros, ao longo de 109 anos. E não vai nisso nenhuma recriminação a uma possível misoginia dos confrades, tãosomente a alegria de ver a representação feminina na literatura maranhense, tão alta em excelência e número, ganhar mais e maisespaço neste convívio acadêmico. Minhas Senhoras, Meus Senhores, A confreira que recebemos, hoje, é Promotora de Justiça, professora da Universidade CEUMA (Centro de Ensino Universitário do Maranhão) e professora do Ministério Público do Maranhão, Graduada em Letras e Direito (Universidade Federal do Maranhão), Mestre e Doutora em Ciências Penais pela Universidade Federal de Minas Gerais, membro da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, da qual já foi presidente, membro fundador da Academia Ludovicense de Letras, membro da Academia Caxiense de Letras e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Escritora, ensaísta, conferencista, historiadora e poeta, Ana Luiza ainda acrescenta à sua cultura poliédrica o gosto pelo estudo das línguas: lê, fala e escreve em inglês e francês; lê e fala em italiano e espanhol e cursou alemão. Tem 14 livros publicados, entre livros de matéria jurídica, história e poesia. Como se ainda tempo lhe sobrasse, não descuida da prática de esportes. Participa de corridas amadoras, mas já foi campeã universitária e maranhense de tênis de mesa, cultivandoo mens sana in corporesano. Questionada pelo escritor e confrade, José Neres Costa, em entrevista de fevereiro de 2016, concedida aoilhavirtual.com, informativo sobre Literatura Maranhense, editado por ele, de como enveredar por três caminhos, poesia, direito e historiografia, que nem sempre são confluentes e que exigem vocações e esforços diferenciados, tendo logrado sucesso nos três, e qual seria dessas áreas a que se sentiria mais realizada, ela respondeu: É difícil dizer, porque essestrês caminhos me realizam de diferentes maneiras. Com o Direito e a Historiografia, privilegio o meu olhar científico; com a Poesia, o meu olhar estético. Para mim, são vasos comunicantes, não campos estanques. A Justiça é um denominador comum. Uso poesia (ainda que de forma contida, “domada”) nos meus livros de Direito e História. E a História, o Direito em geral e o Direito Penal em particular são fontes ricas e inesgotáveis de material para os meus poemas. Os meus livros jurídicos, que são os mais numerosos (sete ao todo), representam as profissões que abracei: Promotora de Justiça e professora universitária. Os meus livros de poesia (quatro) refletem a minha paixão atávica pela literatura e pela poesia. São a janela principal de minha subjetividade para o mundo. [...] Finalmente, a Historiografia significa para mim o novo, o desafio mais patente, o território nunca dantes desbravado, porque não tenho formação em História, sou graduada em Letras e Direito, embora apaixonada, desde criança, pela História em si e pela sua relação com a literatura [...] assim sinto-me mais realizada como profissional no Direito, mais realizada como pesquisadora na Historiografia e mais realizada como cidadã do mundo na poesia. Estimada Ana Luiza, vós o dissestes: a vossa obra é trina. Monta-se no tripé Direito, Historiografia e Poesia. Com a prevalência das produções jurídicas, e nem poderia ser diferente: dentre as quatorze obras editadas, a metade é de conteúdo jurídico, a outra metade distribui-se entre a Historiografia e a Poesia. A prevalência do Direito em vossa bibliografia e a vossa entrada como membro desta casa de literatura são igualmente bem-vindase não nos causam alguma estranheza; a Academia Maranhense de Letras, criada nos moldes da Academia Francesa e da Academia Brasileira de Letras, segue uma tradição que delas nos vem: nossos quadros, nunca foram totalmente preenchidos por escritores dedicados exclusivamente a produzirliteratura, no sentido restrito de literatura/arte. Esta agremiação, como as demais citadas, é composta, sim, de genuínos escritores, com formação essencial literária ou não: teóricos da literatura, poetas, linguistas, críticos, ficcionistas, juristas, músicos, gramáticos, médicos, engenheiros, historiadores, jornalistas, economistas, publicitários e muito mais. A formação original de cada umfavorece a diversidade estilística das obras esó enriquece a nossa produção acadêmica. Permanecendo nas ondas de inspiração náutica, que embalam esta oração, direi que naus oriundas de mares diversos, com os mais variados calados,encontram seu acolhimento no porto deste sodalício. Sobre a


essência destes mares-berços, informam-nosas palavras de Claude D’Abbeville, na História da missão dos padres capuchinhos à Ilha do Maranhão: Mas porque se denominam mares, no plural, e não mar, no singular? [...] por ser sabido haver muitos mares que chamamos de diferentes nomes, tendo diversos nomes, muitos tendo diversas propriedades e virtudes, diversos sabores e cores, ao menos em aparência. Mas essa diversidade provém tão somente dos tempos ou dos lugares e das profundezas de onde ela é milagrosamente retirada, não deixa de ser una, em si, todas as águas do mar quanto às dos rios e das fontes, sendo da mesma natureza, todas receberam a fecundidade de engendrar e nutrir, por esse espírito divino que lhes foi sobreposto, como está dito no Gênesis – SpiritusDominiferebatursuperaquas. E o Espírito de Deus pairava sobre as águas. . Parafraseando D’Abbeville, narrador de viagens, poeta neste texto, nós, escritores, também, recebemos o dom da fecundidade de engendrar e nutrir. Nossas águas são plurais e nelas cabem gêneros tais como a epistolografia, a oratória, a prosa jornalística, a historiografia, os ensaios literários ou não, ao lado dos gêneros literários considerados puros. O tratamento dado à palavra, não importa o assunto, pode transmudar o texto de denotativo em conotativo, de simples informativo, em arte da palavra. Eis a fascinante questão: identificar o texto literário. Os seus limites.Direi que o texto que exprime o belo/arte, aquele que provoca a emoção estética, seria o diferencial. Heródoto e Sócrates, historiador e filósofo, só para exemplificar com estes dois grandes nomes, constam de todos os manuais de História da Literatura, alguém jamais pôs dúvidas nesta inserção, porque ambos escreveram peças de extrema beleza literária inscritas, também, na Historiografia e na Filosofia. Senhoras e Senhores, Ana Luiza Almeida Ferro nasceu em São Luís, cresceu em meio ao afeto de uma família educógena, que se desdobrou em oferecer à menina um ambiente familiar propício ao desenvolvimento dos talentos revelados desde a mais tenra infância. Leitora voraz, ela encontrou na biblioteca do pai Wilson Ferro, professor de História da Universidade Federal do Maranhão, os livros chamados de capa e espada, que foram a sua primeira paixão e, a seguir, os clássicos da literatura francesa e inglesa, que lhe inspiraram também o aprendizado destas línguas, levando-a a obter os certificados mais altos concedidos no Brasil a esses estudos. Dedicou-se também, já na idade adulta, ao estudo de alemão, italiano e espanhol. Estudou o antigo primário e parte do secundário no Colégio Santa Teresa. Prenunciando a intelectual futura, destacou-se em todas as matérias e abiscoitou inúmeros prêmios; foi no colégio das Irmãs Doroteias, que se iniciou no tênis de mesa; depois vice-campeã do colégio, o que a levaria mais tarde à conquista do título estadual e de campeã universitária, na Universidade Federal do Maranhão e na Universidade do Oregon, em Eugene, estado do Oregon, Estados Unidos. Terminou seus estudos secundários no Colégio Itamarati, Instituto Guanabara, no Rio de Janeiro, em 1983, durante a breve estada da família naquela cidade. Volta a São Luís e o amor aos livros e à literatura a encaminha para o vestibular do Curso de Letras da Universidade Federal do Maranhão. Licenciada em 1988, ainda nesse ano, seguindo o chamado de outra vocação, ingressa no Curso de Direito da mesma instituição de ensino superior. Diz a própria Ana Luiza que, ainda no Colégio Santa Teresa, se lhe revelou a vocação para o Ministério Público, quando foi escolhida para ser a voz da acusação, em tribunal de júri escolar, no qual foi julgada – e condenada por adultério, registre-se – a personagem Capitu, do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Seguindo ainda o chamado da literatura, fez o curso La Enseñanza de laTraducción, promovido pela San Diego StateUniversity, da Califórnia, EUA. Já os estudos de pré-mestrado, na área de Inglês, com foco em Literatura, sobretudo a inglesa, na condição de bolsista do Rotary, fê-los na Universidade do Oregon. Lá a paixão por Shakespeare levou-a também a especializar-se emEnglish Drama (1991), ocasião em que trancou a matrícula na UFMA, no Curso de Direito, no qual viria a graduar-seem 1993.


Constata-se que, mesmo cursando Direito, não abandonou os estudos literários, os mesmos que direcionaram sua vocação para o Ministério Público. Chamo a atenção para a imbricação dos fios que tecem o texto/contexto das duas áreas de conhecimento, Letras e Direito na vida de Ana Luiza. Não é sem razão que a Faculdade de Direito do Recife, uma das mais antigas do Brasil, criada em 1827, foi o viveiro de grandes nomes da história da literatura brasileira, e produziu ex-alunos da estatura de Graça Aranha, Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna, José Lins do Rego, Sílvio Romero e muitos mais. Ana Luiza cursou Mestrado e Doutorado em Ciências Penais, em Belo Horizonte, na tradicional Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Em 1994, foi aprovada no concurso público para ingresso na Carreira Inicial do Ministério Público do Maranhão. Foi aprovada, também, no concurso para Professora Auxiliar, na área de Língua e Literatura Inglesa, do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão, mas não chegou a exercer o magistério. Atualmente, é Promotora de Justiça, titular da14ª Promotoria de Justiça Criminal da Comarca de São Luís, de entrância final, para onde foi promovida em 2009, além de Professora de Direito da Universidade CEUMA e Professora da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão. No plano internacional, é membro do Latin American QualityInstitute, organização sediada no Panamá, a qual lhe concedeu o troféu Latin American QualityInstitute 2016, o título de Master in Total QualityAdministration e a certificação de Global Quality, no México, por sua atuação como escritora, bem como da Accademia Internazionale Il Convivio, da Itália. Professora Ana Luiza, Declarastes que os vossos livros jurídicos são os mais numerosos (sete ao todo) e representam as profissões que abraçastes: Professora Universitária e Promotora de Justiça. Foram eles que projetaram vosso nome dentro e fora do Brasil. Em especial, a obra Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009, 704p.), estudo sistemático das organizações criminosas, estrangeiras e brasileiras, das teorias e concepções criminológicas mais pertinentes à compreensão do fenômeno, como a teoria da associação diferencial e a noção de crime do colarinho branco, do mito da Máfia, do terrorismo em confronto com o crime organizado, etc... Este livro vos levou a palestras e entrevistas, até mesmo na TV, em circuito nacional, no renomado programa de Jô Soares. Desta publicação derivaram, ainda, dois artigos: “Reflexões sobre o crime organizado e as organizações criminosas” e “Os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas”, incluídos no livro Direito Penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo, vol. 6, da coleção Doutrinas Essenciais, 2011, uma republicação, em edição especial, dos melhores artigos doutrinários já publicados pela prestigiada Editora Revista dos Tribunais, ao longo de 100 anos. Publicações na área jurídica: - O tribunal de Nuremberg: dos precedentes à confirmação de seus princípios. (2002). - Escusas absolutórias no Direito Penal (2003), no Direito penal brasileiro e comparado. - Robert Merton e o funcionalismo (2004). -O crime de falso testemunho ou falsa perícia: atualizado conforme a Lei nº 10, de 28 de agosto de 2001 (2004), no Direito penal brasileiro e comparado. - Interpretação constitucional: a teoria procedimentalista de John Hart Ely (2008). - Criminalidade organizada: comentários à Lei 12.850, de 02 de agosto de 2013. Em coautoria com Flávio Cardoso Pereira e Gustavo Reis Gazzola. Senhoras e Senhores,


A autora possui, ainda, inúmeras conferências pronunciadas dentro e fora do Brasil, artigos e peças processuais publicados em revistas especializadas, tais como a Revista dos Tribunais, a De Jure, a Revista do IHGM e a da AMPEM. Omitimos aqui, a identificação das peças, para não cansar tão augusta plateia, devido à extensão de seucurrículo. O valor de sua produção jurídica é reconhecido e não foi avaliado por mim, por se tratar de assunto que foge ao meu conhecimento. Para avaliá-lo, louvei-me nas competentes críticas exaradas e nos constantes convites para que a autora ministre conferências e palestras, no Brasil e no estrangeiro, e no fato de seus artigos serem selecionados para publicação em periódicos de reconhecida importância nacional e internacional. Senhoras e Senhores, O lançamento, em 2008, do primeiro livro solo de poemas de Ana Luiza, denominado Quando: poesias,surpreendeu alguns que a criam afeita unicamente ao mundo lógico e árido dos escritos jurídicos, dos quais, à época, já consolidada como autora da área, havia publicado cinco festejadas obras. Desconheciam que a veia poético-literária de Ana Luiza veio a público bem antes, em 1982, com um prêmio – predecessor dos muitos que viria a receber por sua produção literária –, o 1º lugar no Concurso Epistolar Internacional para jovens, promovido pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Regional do Maranhão. A sensibilidade, alimentada na infância, na companhia constante dos livros de aventura e poesia que a menina devorava, identifica os autores da sua admiração e seus primeiros mentores literários: Shakespeare, Jane Austen, Alexandre Dumas, Júlio Verne, Machado de Assis, José de Alencar e Goncalves Dias. A obra Orgulho e preconceito, de Jane Austen, analisada no original, inclusive, foi tema de sua monografia de conclusão do Curso de Letras. Em Ana Luiza, o sentimento de pertencimento ao mundo literário precede o seuingresso no mundo das leis. O primeirocurso de eleição da autora foi o Curso de Letras Deste curso, dou o testemunho de professora, lugar de onde pude acompanhar a trajetória da aluna brilhante. Motivada pelas letras, chegou a cursar disciplinas no nível de pós-graduação, com foco em literatura, principalmente a inglesa: o curso La Ensenhañza de laTraducción, da Universidade de San Diego State, Califórnia, realizado no âmbito da UFMA, e as disciplinas English Drama e Advanced Shakespeare na Universidade do Oregon, em Eugene, Estado do Oregon, Estados Unidos, em 1991, são alguns deles. O lançamento de seus livros de poesia coroa a numerosa publicação de artigos em revistas e a participação emconcursos na área, obtendo prêmios e publicação das obras. No livro Quando: poesias (2008), Ana Luiza não se prende a umúnicomodelo de formaouescola: elanosapresentasonetos, poemas rimados, versosbrancos, experimentoscom a linguagem - emalgunspoemas beirando o concretismo, noutros flertando com as aliterações de inspiração simbolista -,buscando, ainda, a sua identidade poética, mas semprecom o domínioapropriado da linguagem. Se o ladojurista se faz presente na sede de sabermanifesta, no manejo das hipóteses e no cuidadocom o sentidológico das coisas, não podemos dizerque o pensamento se sobrepõe ao sentimento. Aqui busco a palavra de Fernando Pessoa, quando diz, “o que em mim sente, está pensando.” A capacidade criadora, somando-se à interiorização da angústia existencial, criasentimentosprofundosexpressosempalavrasfortes, como acontece no poema “Quero”. O sentimento do mundo e a interaçãocom o Outro estão presentesemváriospoemas: citamos “Pixote”, de vivainquietaçãosocial. Este livro lhe proporcionou a primeira premiação internacional na área da poesia, o segundo lugar do prêmio “Poesia Prosa edArtiFigurative, categoria “Libro edito in portoghese”, promovido pela Accademia Internazionale Il Convivio, da Itália, em 2014. Escolhido por uma banca mista de escritores italianos e portugueses. Em O náufrago e a linha do horizonte: poesias (2012), a autora mantém a linguagem culta e intensifica a angústia existencial do seu primeiro livro solo. O tema marítimo, que subjaz, emerge do seu inconsciente nos versos que marcam a poeta,pari passu, com a jurista e a intelectual.


O mar, que engolfa todos os poemas, poderia constituir-se no fio de Ariadne ou na rosa dos ventos que aponta o caminho da libertação a ser achado. Tentativa inútil, esse mar não é o lugar da aprendizagem, de engendrar e nutrir, mas o repositório da angústia, onde os sonhos submergem, ou se congelam. Do seu labirinto não há saídas. O soneto ONáufrago é expressivo dessa negação: À espera do chamado, encharco o meu pensamento do que emerge de dentro, do que submerge de fora dos ventos que colho, das entranhas que alimento borbulham ideias no caos oceano do eu em mora. No último terceto, do mesmo soneto [...]“a chuva cai e os sonhos enrijecem no sangue”, mas, ainda assim, a poeta tenta subir aos píncaros olímpicos do transcender:“a carruagem de Apolo procura os domínios de Pã”, para, em seguida, renunciar ao sonho, frente à crua realidade: “e eu me debato embalde, e mergulho no mangue”. Em fragmento de outro poema, a identificação negativa chega ao ápicee a poeta não divisa mais a linha do horizonte, abre-se o abismo para sepultar o sonho: Sou o beco escuro em noite sem luar Sou o revólver empunhado pronto a disparar Sou a voz sufocada que não consegue falar Sou o barco condenado que afunda em alto-mar Neste espaço, entre o naufrágio e a linha do horizonte, que se faz mais longínquo e inviável, a poeta braceja, luta e soçobra em alto mar, ou por vezes, em falso horizonte de lama. O mar, metaforicamente, se configura como o espaço de sua luta. A luta com as palavras, que no dizer de Carlos Drummond de Andrade: “É a luta mais vã”. Como agudamente observam, na apresentação deste livro, as confreiras e poetas Laura Amélia e Sônia Almeida: “[...] o náufrago está para o horizonte, assim como o poeta, para a poesia. O que acontece no percurso justifica a ilusão”. Escritora Ana Luiza, Chegais como estudiosa e pesquisadora de História, em momento muito oportuno. O recebimento em nossa Academia de mais um representante da pesquisa historiográfica nos é muito bem-vindo. Perdemos, ao longo dos últimos anos, alguns dos nossos mais valorosos trabalhadores da messe da historiografia maranhense. Eméritos e saudosos pesquisadores, que interpretaram, reconstituíram e editaram numerosas obras da História do nosso estado: Mário Meireles, Antônio Carlos de Lima e por último o polígrafo Jomar Moraes, humanista, historiador e editor, por excelência, que partiu há menos de um ano. Todos deixaram lacunas difíceis de serem preenchidas. Dissestes que a Historiografia seria para vós o desafio mais patente, representando o novo, o inexplorado, “o território nunca desbravado”, porque não tendes a formação específica e formal de um curso universitário para referendá-la. Senhoras e senhores, Discordo de tal açodada afirmação. Entendo que, dos caminhos da escritora Ana Luiza, a Historiografia foi o último a ser trilhado. Mas, como dizem os ingleses,lastbutnottheleast, o último, mas não o menos


importante. O gene da Historiografia está contido no seu DNA. Do lado materno, a ancestralidade vem de, nada menos que, o escritor romântico e épico, de Minas de Prata, O guarani, Iracema, o grande José de Alencar, por meio da bisavó da nossa confreira, Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, nascida no Ceará, professora normalista, jornalista, pianista, violonista, poeta e poliglota, de quem ela herdou o segundo prenome, descendente do grande escritor e mulher avant lalettre, dentre as suas contemporâneas;do lado paterno, seu avô, João Meireles Ferro, era familiar do grande historiador maranhense, membro desta Casa, Mário Meireles, autor de dezenas de livros históricos, dentre eles os clássicosHistória do Maranhão, França Equinocial e O Brasil e a partição do mar-oceano, e mais dezenas de publicações. No lar da menina Ana Luiza, outra referência fundamental na sua formação, o pai, Wilson Ferro, professor de História da Universidade Federal do Maranhão. Lá, respirava-se História. A biblioteca, repleta não só de compêndios da matéria, como de livros de aventura, os chamados capa e espada, era o mundo onde a menina mergulhava nas águas da imaginação. Montava grandes batalhas com a sua coleção de soldadinhos de chumbo e vivia com eles guerras e conquistas de novos mundos. Em 2011, licenciada em Letras e bacharel em Direito, cursos de sua livre e soberana escolha, já Promotora de Justiça concursada, envolve-se com pesquisas e trabalhos sobre a França Equinocial, direcionada por seu espírito investigativo e motivada pela polêmica da fundação de sua bela São Luís e pelos escritos de Claude d’Abbeville e Yves d’Evreux. Tendo ingressado no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão em 2011, participa com outros autores da obra França Equinocial: uma história de 400 anos (2012). Os estudos historiográficos, brasa dormida no seu íntimo e na sua inquietude intelectual,reacendem-se, atingem seu ápice, e ela produz o premiadíssimo livro 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís (2014). Este alentado compêndio, 776 p., prefaciado pelos eméritos historiadores Lucien Provençal e Vasco Mariz, e pelo pesquisador AntonioNoberto, além de carinhosamente apresentado por seu pai, Wilson Ferro, tem como tema central a fundação da França Equinocial no Maranhão, em 1612, focalizando desde os seus antecedentes até os primeiros anos que se seguiram à expulsão dos franceses do norte do Brasil. Nesta obra, o mar reverte seu sinal para positivo, a linha do horizonte alarga-se e alegra-se, povoada de humana gente, animais, flores e frutos. É uma viagem exploratória e crítica que acompanha a Era dos Descobrimentos e a partição do Mar-Oceano, as primeiras tentativas portuguesas de povoamento e colonização do Brasil e do Maranhão, as investidas gaulesas pelo Novo Mundo, as guerras de religião que ensanguentaram a França na segunda metade do século XVI e cujos efeitos ainda assombrariam esse país e seus empreendimentos no século seguinte, a chegada de cerca de 500 franceses (os “papagaios amarelos”, como eram chamados pelos índios) à Ilha do Maranhão, o reconhecimento da terra, a fundação da cidade de São Luís, a decretação das leis institucionais da colônia, a convivência dos padres capuchinhos Claude d’Abbeville e Yves d’Evreux com os tupinambás da Ilha e das circunvizinhanças, a Batalha de Guaxenduba, a subsequente trégua firmada entre os gauleses e os lusos, a rendição do Forte São Luís, o destino das principais figuras da disputa francoibérica pelo Maranhão. Nesse estudo, é reafirmada pela autora, em primeiro plano, a atribuição da honra da fundação de São Luís aos gauleses. Sobre esta obra diz Lucien Provençal, historiador, Membro da Academia Estadual de Var e da sociedade Francesa de História Marítima, autor de várias obras, entre as quais La Ravardière e a França Equinocial: L’auteur a consultéavec une trèslouablepersévérance tout ce que leshistoriens de toutesnacionalitésontécritsurlesujet; ele expose et analyseavectalenttouslesargumentsdéveloppés; rien ne luiéchappe;lescitationsnombreusesrenforcent une étudesans faille. Jepartagetotalementlesconclusions de l’ouvrage. Tradução do próprio autor: A autora consultou com uma perseverança muito louvável tudo o que os historiadores de diferentes nacionalidades escreveram sobre esse tema; ela expõe e analisa todos os argumentos desenvolvidos com


grande talento, maestria e exaustividade; as numerosas citações reforçam um estudo sem falhas. Compartilho plenamente das conclusões da obra. Tal juízo é complementado por Vasco Mariz, ex-embaixador, sócio emérito do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e autor de Os franceses no Maranhão: O presente livro da senhora Ana Luiza Ferro é um estudo sério, bem documentado e pormenorizado desse episódio histórico, escrito com elegância e fluência de estilo. Naturalmente, nem sempre estive de acordo com todos os seus pontos de vista, mas, na interpretação de fatos tão remotos de nossa história, é mais do que normal que existam pequenas divergências entre os autores que se ocuparam de assunto tão fascinante. Recomendo aos interessados e sobretudo aos pesquisadores a leitura e o estudo desta obra, que veio enriquecer a bibliografia da França Equinocial. Este novo domínio intelectual proporcionou-lhe duas importantes premiações nacionais, com o livro 1612: os papagaios amarelos na Ilha do Maranhão e a fundação de São Luís: a menção honrosa do Prêmio Pedro Calmon, 2014, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e o Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil, 2015, categoria Ensaio. A obra tem duas edições simultâneas: a brasileira e a europeia, em Portugal, ambas de 2014. Podemos encaixar aqui, na categoria ensaio biobibliográfico, o livroMário Meireles, historiador e poeta. (2015). Acadêmica Ana Luiza, Esta noite é uma noite única para vós. Não se repetirá. Única, porque só tereis uma entrada aqui, nesta Casa, e esta é para sempre, guardai-a, pois, com muito carinho. A cerimônia da sucessão, rediviva a cada nova posse, encerra o significado do espírito de imortalidade, inspirador desta academia, cultuado e renovado, a cada novo confrade que chega, guardando e reavivando a memória dos que se foram. Realizando esta liturgia, recriamos o desiderato da imortalidade acadêmica, que não é a do indivíduo, e, sim,a da sua criação literária e a daprópria Academia Maranhense de Letras, a caminho de seus 109 anos. Confreira Ana Luiza, A Academia Maranhense de Letras é composta por membros que aqui se encontram para cumprir um compromisso de constante e aplicado serviço à cultura do nosso estado. Não pretendemos a láurea de agremiação de eruditos instalados em uma redoma de incomunicabilidade; não aceitamos o ferrete de elitistas, nem de vestais de uma cultura passadista. Queremos, sim, ser, ao mesmo tempo, guardiões e promotores da cultura, aqui entendida como união de inteligência, razão e sensibilidade, fantasia e memória, valores eruditos e populares, vanguardismo e preservação. Cumprir este compromisso:eis a vossa missão. Sede bem-vinda, entrai, a Casa é vossa.


ANA LUIZA ALMEIDA FERRO DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 12 DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS2 Exmo. Sr. Presidente Benedito Bogéa Buzar, da Academia Maranhense de Letras, na pessoa de quem saúdo os membros desta Casa de Antônio Lobo, Caros Colegas Procuradores e Promotores de Justiça do parquet timbira, membros da Magistratura, das esferas estadual e federal, e do Ministério Público Federal, advogados e outros representantes dos diversos segmentos jurídicos, Caros Confrades do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, da Academia Ludovicense de Letras e da Academia Caxiense de Letras, Estimada Professora Ceres Costa Fernandes, na pessoa de quem cumprimento, em especial, todas as mulheres aqui presentes, Digníssimas autoridades civis e militares, Caríssimos Professores, Caros parentes dos escritores Joaquim Serra, Clodomir Cardoso, Odylo Costa, filho e Evandro Sarney, Minha querida Mãe, que hoje aniversaria, Estimados familiares e amigos, Senhoras e senhores, O pai nunca acha feio o que os filhos escrevem. [...] Papai era o meu “fan” número um. Apreciava como ninguem os meus versos, os meus artigos, a minha oratória. Guardava tudo o que eu escrevia. Aplaudia os meus discursos sem se preocupar que o achassem porventura desmedido. Perdoai-lhe ainda essa manifestação de amizade por mim. [...] Quando anunciavam uma conferência ou um discurso meu, não perdia. Já fatigado de sofrimento e alcançado de anos, sempre compareceu a toda solenidade em que eu tivesse de atuar como orador. [...] Hoje, já não o tenho vivo para me estimular na luta; desapareceu nele o meu melhor amigo e ouvinte. Que pena não poder ele continuar a me escutar nos meus versos, nas minhas locubrações, nos meus discursos! Esta narrativa o reviverá, e de tal maneira, o creio, que me fortaleço em escrevê-la, certo de que morto meu pai ainda me ouvirá. (Astolfo Serra, A vida simples de um professor de aldeia, 1944)3 Este discurso é dedicado à memória do Professor Wilson Pires Ferro, meu pai, que tinha um sonho. 2

Proferido na Academia Maranhense de Letras (AML), na cidade de São Luís-MA, em 06.04.2017, diante de uma plateia de mais de 200 pessoas. 3

SERRA, Astolfo. A vida simples de um professor de aldeia. Rio de Janeiro, 1944. p. 111-112.


Também sonhei. Os sonhos são de muitas espécies. Os do tipo Martin Luther King Jr. costumam conquistar o mundo. São da mesma categoria os do tipo Orígenes Lessa, que se contrapõem à mera luta pelo feijão nosso de cada dia, e os do tipo José Chagas, que caminham devagar, não têm chegada ou partida, mas nos dão a nossa medida e ainda viram poesia.4 Há os sonhos do tipo Jorge Luis Borges, que viram livro, os do tipo Edgar Allan Poe, que viram pesadelo, e os do tipo Freud, sonhos de divã, que podem virar matéria de estudo. E há os do tipo tradicional, cabeça no travesseiro à noite, do tipo Lygia Fagundes Telles em uma de suas “miniaturas”: aparentemente não têm lógica, mas, admiravelmente, fazem todo o sentido do mundo.5 Tive sono, então sonhei. Não foi o sonho de uma noite de verão. No meu sonho, longo sonho, havia um trem, várias pequenas estações, outro trem, quatro grandes estações, um rio, outros rios, uma faca, um mar abraçando uma ilha e uma ilha “cercada de verdes campos,/por todos os lados”, no dizer de seu filho Evandro Sarney, que nela nasceu.6 Eu estava em um trem, mas ainda não nascera. E soube disso porque não chorei. Nem quando vi João Meireles Ferro e sua “Bela”, Izabel Pires Chaves Ferro, deixando a Princesa do Sertão, onde nasceram, rumo a outras paragens. E as estações se sucederam: Codó, Coroatá, Rosário... Só o rio, o Itapecuru, não ficou para trás. Os filhos igualmente brotaram do caminho de ferro, quatro morreram, seis vingaram.7 Mas ele sonhava com o trem (era ferroviário), enquanto ela sonhava com a Ilha, para os filhos poderem virar doutor (era mãe, afinal). “João, precisamos ir para São Luís, os meninos precisam se formar!”, escutei-a argumentar. Homem que é homem apaixonado não aguenta muito tempo pedido persistente de mulher, ainda mais sábia. Ou se rende ou não sei o que faça. Ele se rendeu. Mas por partes, como cabia a um homem. Primeiro partiu o rapazote Wilson para a Capital, onde foi recebido pelo parente respeitado, certo professor de História de nome Mário Meireles, em cuja homenagem o ferroviário João batizara um filho menor, Mário Pires Ferro. E Wilson conviveu com as primas Ana e Mimi, estudou na antiga Escola Técnica e também virou professor de História, seguindo os trilhos do segundo pai, grande historiador destas plagas e ex-presidente desta Casa. Desembarquei para o mundo na mesma estação de São Luís. Era maio. Em outubro nasceria a Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Temos praticamente a mesma idade. Embora estando numa ilha, as primeiras ondas que peguei não foram as do mar, mas as do rádio. Ouvi uma voz familiar: era o paraense Marcos Vinicius Sérgio de Almeida, eleito, por duas vezes consecutivas, “Rei do Rádio” (19531954). O célebre radialista e locutor fazia sucesso entre as mulheres, tanto pela estampa quanto pela voz. Infelizmente para as fãs, era casado com uma baixinha de olhos azuis fulgurantes, D. Ducilia Ferreira de Almeida ou “Lulu”, que enfrentara até mesmo a oposição da futura sogra, a cearense Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, para se casar com o mancebo. Jorge Nascimento confidenciou-me que a sogra, supostamente da mesma árvore genealógica que já dera ao Brasil o escritor José de Alencar, era “professora normalista e jornalista”, colaborara em A Tribuna, de Nascimento Moraes, e era “exímia pianista e violonista, cultivando também a poesia”, além de declamadora “festejada”.8 Uma mulher pioneira, sem dúvida. Porém, a paz só foi selada com o nascimento da primogênita do casal: Eunice.9

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Ver CHAGAS, José. Os azulejos do tempo – patrimônio da humana idade. São Luís: Sotaque Norte, 1999. p. 181. A poesia referida é o soneto “O sonho como medida”. 5 Ver TELLES, Lygia Fagundes. A disciplina do amor: memória e ficção. Posfácio de Noemi Jaffe. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 37-38. O texto em questão intitula-se “O sonho”. Foi Carlos Drummond de Andrade quem chamou os textos curtos de A disciplina do amor de “miniaturas”. 6 SARNEY, Evandro. Aquele verde tão verde: poemas e crônicas. São Luís, 1981. Estes versos são do poema “Cantiga do começo e do fim” ou “1º poema no pórtico do meu cinquentenário”. 7 Ainda na primeira infância, morreram Antonieta, Raimundo Nonato, Lauro e Aquiles. Sobreviveram Wilson, José Ribamar, Waldemar, Mário, Salvador e Maria da Graça. 8 NASCIMENTO, Jorge. Popularidades maranhenses. In: REIS, José Ribamar Souza dos; CORDEIRO FILHO (Coords.). Perfil do Maranhão 79. São Luís, 1980. p. 162. 9 Além de Eunice, Marcos Vinicius e Ducilia tiveram mais quatro filhos: Maria de Nazareth, Therezinha de Jesus, Raimundo e Marcos Vinicius Filho.


Meu sonho deu um pulo, sem intervalos comerciais. Wilson e Eunice se encontraram na Casa Bancária Francisco Aguiar ou na pista de dança do Casino Maranhense ou do Lítero, foram flechados pelo Cupido, ao som de um bolero ou de Elvis, e se casaram, e eu nasci ilhoa, como antes já o imortal Odylo Costa, filho, fora ilhéu: Nasci numa ilha. Era meu destino. Numa ilha vivo desde pequenino, a estender os braços pelo mundo todo em busca de traços que à terra me liguem. Quero o continente! Não me deixem só, não me quero ausente. Ninguém me compreende esta busca ansiosa: tenho o mar comigo, quero ainda a rosa. Joguem fora a âncora! [...]10 Também comigo foi assim: primeiro, veio a ilha; depois, o continente. A família foi minha primeira ilha. Minha mãe, meu anjo da guarda de todas as horas, respondeu a alguém que não me ensinava a cozinhar porque me queria estudando. Até hoje não me arrisco a fritar um mísero ovo. Mas me vi cercada de revistas e livros por todos os lados. Essa parte foi providenciada por meu pai. Eu esperava ansiosamente pelas visitas semanais ao Caiçara. Os gibis, as reinações de Narizinho e os contos de fadas russos, de Hans Christian Andersen e dos irmãos Grimm eram “censura livre”. Cresci e me apaixonei por Robin Hood e Ivanhoé, lutei ao lado de Arthur, Carlos Magno e Bradamante, detestei D. Quixote (ele era a negação do mundo dos cavaleiros medievais que eu aprendera a amar, só posteriormente lhe dei o crédito merecido), viajei ao redor da Lua e ao centro da Terra, percorri 20.000 léguas submarinas com o Capitão Nemo e cheguei à ilha misteriosa, aprendi com o homem que calculava, contei quatro e não três mosqueteiros, quis saber quem estava por trás da máscara de ferro e o que estava por trás do retrato de Dorian Gray, subi o morro dos Ventos Uivantes e voltei para casa com Ulisses, acompanhei a tirania de Ivan, o Terrível, e a caçada a Moby Dick, sofri com Salambô, Julieta, Jane Eyre, Iracema, Helena, a Escrava Isaura, Oliver Twist e os miseráveis, sorri com Elizabeth Bennet e a moreninha, admirei o Capitão, isto é, a Capitã Tormenta, testemunhei os últimos dias de Pompeia e a revolução dos bichos, não lamentei a sorte (ou azar) de Fausto e investiguei, motivada por Sherlock Holmes, os crimes da rua Morgue, do Padre Amaro e de Lady Macbeth, diante de quem Odete Roitman era uma dama adorável. E isso foi só o começo. Dei várias voltas ao mundo em infindáveis e recicláveis 80 dias! Pois não disse certo poeta português que, para viajar, basta existir?11 Na minha ilha, cada vez maior, igualmente cabiam meus avós, tios, primos, entre outros. Filha única, os irmãos de infância que tive foram, principalmente, os primos Mauro, Flávio, Cláudio e Eduardo. 10

COSTA FILHO, Odylo. Boca da noite: poesia. Rio de Janeiro: Salamandra, 1979. p. 36; e COSTA FILHO, Odylo. Poesia completa. Organização de Virgílio Costa. Rio de Janeiro: Aeroplano: Fundação Biblioteca Nacional, 2010. p. 75-76. Estes versos abrem o poema “Ihéu”. 11 O poeta aludido é Fernando Pessoa.


No Colégio Santa Teresa, jardim da minha infância e primeira adolescência, estudei, fiz as primeiras amizades, Valéria, Maria de Jesus, Flávia, Eugênia, Mônica, Izabel Elísia, Danielle, Márcia Beatriz, Acácia, Jamila, Eulália, Wesley, ainda outros, lista sempre incompleta, rostos preservados no tempo ou levados pelo vento, estudei de novo, brinquei de Polícia e ladrão (naquele tempo, todo mundo queria ser Polícia, ninguém queria ser ladrão, o que trazia certo inconveniente, mas isso parece ter mudado hoje), estudei mais (era dia de prova da professora Eulina Maranhão!), joguei algum tênis de mesa e muito pingue-pongue, estudei muito mais, fiz a acusação a Capitu no julgamento em que ela foi condenada por adultério (a primeira vez que fui Promotora de Justiça!), aí não estudei mais lá, meu pai queria o continente, minha mãe também. Voltei ao trem, deixei São Luís. Café com pão, bolacha não.12 Desembarquei no Rio, não sei se era janeiro. O mar não era o mesmo, era pintado de outra cor. Santa Teresa não era colégio, era bonde ou bairro. O jeito foi estudar no Colégio Itamarati, Instituto Guanabara, da Tijuca. Foi somente um ano nessa estação. Foi bom. Mas voltei ao trem. Café com pão, bolacha não. Retornei à ilha. De repente, do colégio fez-se a universidade, a Federal do Maranhão, e eu me formei em Letras, para ser diplomata ou professora. A professora Marisa Moreira me conduziu à Roma Antiga, com a professora Ceres Fernandes fui Jocasta por uma manhã e o saudoso professor Fernando Moreira, meu primeiro Virgílio – aquele da Comédia que virou Divina –, me levou num bonde chamado Desejo e me contou os segredos de Jane Austen, sem orgulho ou preconceito, até hoje minha autora de cabeceira. Na Aliança Francesa, conheci Albert Camus, Prosper Merimée, Corneille, Baudelaire... Era preciso honrar o idioma dos nossos fundadores. “De repente, não mais que de repente”, como no soneto de Vinicius de Moraes,13 eu joguei fora a âncora e zarpei para a terra de Tennessee Williams. Aportei em Eugene, que não é uma ilha, mas eu me senti numa. Até me abrir para o continente. E para outra ilha. Ainda não a Ilha Desconhecida, Saramago ainda não era presente. Foram muitas aventuras na University of Oregon: Shakespeare, Edmund Spenser (o Camões da língua inglesa), Thomas Kyd, Thomas Middleton, John Dryden, Aphra Behn, da Ilha da Rainha, além das viagens com Goethe, Maquiavel e outros. Mergulhei nas aulas e no livro Mighty Opposites: Shakespeare and Renaissance Contrariety (1979), do meu Professor Robert Grudin, especialista na obra do bardo inglês, até hoje meu escritor favorito, desaparecido, mas não morto, há mais de 400 anos. Para mim, não há autor mais universal ou mais completo. Foi muito bom. Todavia, voltei à minha ilha, atendendo ao chamado de Têmis. Corri para não me atrasar nas aulas do professor Pedro Leonel Pinto de Carvalho, torci para que o tempo parasse nas aulas do professor Agostinho Ramalho Marques Neto, não dormi na véspera das provas do saudoso professor Nywaldo Macieira e estive no Tribunal de Nuremberg com a também desaparecida professora Maria Eugênia Serra Costa Aguiar, no papel de Beatriz. Formei-me em Direito, para ser algo que eu ainda não sabia o que seria. Embarquei na nau ministerial, sob o timão da Procuradora de Justiça Elimar Figueiredo de Almeida Silva, quase por acaso. Mas foi amor à segunda vista. E dei adeus ao Barão do Rio Branco, que sumiu no horizonte. Tive saudade do trem. Deixei de novo a ilha, rumo à estação do Belo Horizonte. Café com pão de queijo, bolacha não. Falar de trem em Minas é quase um pleonasmo. De repente, do mestrado fez-se o doutorado na Vetusta Casa de Afonso Pena. Meu segundo Virgílio foi o professor e Procurador de Justiça Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva. E meus primeiros livros vieram a lume. Era hora de deixar as montanhas e voltar à ilha, escorridos quase quatro anos. Outras viagens vieram. Também outros livros. De repente, era março, não janeiro, e eu estava novamente no Rio, recebendo a Menção Honrosa do Prêmio Pedro Calmon no imponente auditório do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. De repente, era dezembro, e lá estava eu de novo para segurar o belo troféu do PEN Clube do Brasil.

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Ver GULLAR, Ferreira. Toda poesia (1950-1999). 18. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. p. 248-249. Referência a versos do famoso “Poema sujo”. 13 MORAES, Vinicius de. Livro de sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. p. 23.


No dia 15 de setembro de 2016, entretanto, recebi um bilhete para embarcar em um novo trem, fabricado em 1908, mas sempre remodelado, com vagões elegantes e exclusivos. No primeiro, há 12 poltronas fixas, originalmente ocupadas pelos passageiros fundadores, depois substituídos por seus sucessores, todos efetivos; no segundo, há mais 28 poltronas fixas, reservadas aos demais passageiros da mesma classe; no terceiro, mais afastado, há 20 poltronas, destinadas aos passageiros correspondentes; por derradeiro, nos seguintes, encontram-se as bagagens. O número de cadeiras fixas nos três primeiros vagões não se altera; as bagagens, por outro lado, estão sempre aumentando. Essas cadeiras possuem patronos. De vez em quando, um passageiro desce do trem, com todas as honras; sua bagagem, no entanto, nele permanece. Disseram-me que eu agora seria imortal; a ideia me deixou animada, confesso, mas algo na palavra “passageiro” me incomoda. Fico com a impressão de que a única imortalidade possível está na bagagem de cada um. O meu assento é o de nº 12. A cadeira em questão tem como patrono Joaquim Maria Serra Sobrinho, como fundador Clodomir Serra Serrão Cardoso e como últimos ocupantes Odylo de Moura Costa, filho e Evandro Ferreira de Araújo Costa, mais conhecido por seu nome literário, Evandro Sarney. Senhoras e senhores, na data de hoje, subo neste trem batizado de Academia Maranhense de Letras ou apenas AML, conduzido pelo competente e experiente maquinista Benedito Bogéa Buzar. O trem parte. Café com pão, bolacha não. De logo, ouço parte de um poema, cantado com a música da Tocata de Villa-Lobos: [...] lá vai o trem sem destino pro dia novo encontrar correndo vai pela terra vai pela serra vai pelo mar cantando pela serra do luar correndo entre as estrelas a voar no ar [...]14 Desculpai-me a ousadia, sem dúvida não tenho a voz de Edu Lobo para interpretar Ferreira Gullar na versão Villa-Lobos ou vice-versa, porém eu sigo as instruções do Poeta, desaparecido em 2016, mas bastante vivo no meu sonho. Ademais, soube que cantar pode dar Prêmio Nobel de Literatura... Dou adeus ao meu grupo escolar. Dou adeus à minha espada de brincar. Dou adeus ao menino que eu quis amar, “que o trem me leva e nunca mais vai parar”.15 Estou eu ainda enlevada pela poesia gullariana, quando o trem se aproxima da primeira estação. Pela janela, vislumbro uma aldeia em festa, acarinhada pelo luar, à beira de um rio. Lá o tempo parou, e ainda é dezembro, nos versos de um vate quase anônimo: Repica o sino da aldeia, Troa o foguete no ar! O rio geme na areia, Na areia brilha o luar. 14

GULLAR. Toda poesia (1950-1999), p. 245-246. O poeta Ferreira Gullar, no seu “Poema sujo” (1975), deu letra à Tocata, mais conhecida como “O Trenzinho do Caipira”, composição de Heitor Villa-Lobos integrante da peça Bachianas Brasileiras nº 2, cuja caraterística principal é a imitação do movimento de uma locomotiva com os instrumentos da orquestra. 15

Ibidem, p. 246.


Quantas vozes, que alegria! O povo da freguesia Corre em chusma, folgazão. No caminho arcos de flores, Por toda parte cantores, Folguedos e agitação! [...]16 E antes que eu pergunte o motivo da agitação, vem-me a resposta: “Porque produz tanto abalo/Esta festa sem rival?/É hoje a missa do galo,/Santa missa do Natal!17 Quero ouvir o final do poema ou conversar com o Poeta, mas o trem segue seu rumo e chega à estação. De repente, estou no Rio, não sei se é janeiro, mas a República ainda não nasceu. Procuro pelo Poeta da aldeia, logo identificado como Joaquim Maria Serra Sobrinho ou, simplesmente, Joaquim Serra, patrono da Cadeira nº 12 desta Casa de Antônio Lobo, jornalista por excelência, além de professor, político, administrador público, teatrólogo e crítico de arte, todavia modesto e recluso por opção. Tal é sua modéstia que costuma se refugiar em pseudônimos. Sigo a trilha do Amigo Ausente, de Ignotus, Max Sedlitz, Pietro de Castellamare e Tragaldabas (Harry Potter ainda não era nascido!), que me levam a seus escritos, de páginas carregadas pelo vento ou reunidas em algumas obras: Julieta e Cecília (1863), Mosaico, poesia traduzida (1865), O salto de Leucade (1866), A casca da caneleira, romance marcado pela autoria coletiva (1866), Versos de Pietro de Castellamare, tradução (1868), Um coração de mulher (1867), Quadros (1873) e Sessenta anos de jornalismo, a imprensa no Maranhão, 1820-80, por Ignotus (1883). Nesse Rio imperial, continuo à procura de Joaquim Serra, a propósito primo da Sra. Maria Tereza da Serra Costa, avó das minhas estimadas professoras Maria Tereza Cabral Costa Oliveira e Maria Eugênia Serra Costa Aguiar, referências inelutáveis de competência e amor ao magistério no Curso de Direito da UFMA. Sou atraída pela manifestação de mais de 10.000 pessoas aclamando a Princesa Isabel da praça defronte ao Paço Imperial no dia 13 de maio de 1888. Conta-me Mary del Priore que ela, “vestida de branco-pérola e rendas valencianas, assinou com uma caneta de ouro a lei que pôs fim à escravidão no império”.18 Leio nos jornais: “Delírio e estrondosas manifestações de regozijo popular”.19 Nesse momento ouço André Rebouças comentar que o patrono da Cadeira nº 12 da AML foi “o publicista brasileiro que mais escreveu contra os escravocratas”. Tão relevante foi o seu papel que José do Patrocínio posteriormente o elegeu patrono da Cadeira nº 21 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Leio a sua biografia. Nasceu em São Luís a 20 de julho de 1838, filho do político e jornalista Leonel Joaquim Serra. Ele estudou humanidades na então Província do Maranhão. Foi para o Rio, onde permaneceu entre 1854 e 1858 com o intuito de ingressar na antiga Escola Militar, porém não seguiu tal carreira e retornou à capital maranhense livre para explorar caminhos que não envolvessem a obtenção de um diploma de faculdade. Muito jovem lançou-se no mundo do jornalismo e da poesia, encontrando no Publicador maranhense, capitaneado por Sotero dos Reis, de 1858 a 1860, o veículo inaugural de seus escritos. Nos anos que se sucederam, ele fundou o jornal Coalizão, arauto das ideias do Partido Liberal, na companhia de amigos (1862), e o Semanário maranhense (1867). Também se dedicou ao magistério e à política, exercendo o ofício de professor de Gramática e Literatura no Liceu Maranhense, conquistado por concurso, o mandato de deputado provincial de 1864 a 1867 e o cargo de secretário do governo paraibano 16

SERRA, Joaquim. Textos escolhidos. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro. Disponível em: <www.academia.org.br/academicos/joaquim-serra/textos-escolhidos>. Acesso em: 01 out. 2016. Versos extraídos do poema “A missa do galo”. 17 Ibidem. 18 DEL PRIORE, Mary. Beije-me onde o sol não alcança: uma história de amor no século XIX. São Paulo: Planeta do Brasil, 2015. p. 260. 19 Ver ibidem, p. 260.


nesse mesmo período. Sua trajetória conheceu uma guinada quando ninguém menos do que o grande Machado de Assis, um dos fundadores da futura Academia Brasileira de Letras, o apresentou à intelectualidade da corte em crônica publicada no Diário do Rio de Janeiro em 24 de outubro de 1864, tornando-se o seu padrinho literário. Quatro anos depois, Joaquim Serra estabeleceu-se no Rio, onde trabalhou nas redações dos periódicos Reforma, Gazeta de notícias, Folha nova e O país. Dirigiu o Diário Oficial de 1878 a 1882, do qual decorosamente se afastou por motivo de discordância com o Gabinete de 15 de janeiro de 1882. Por essa época, mais exatamente de 1878 a 1881, foi deputado geral pelo Maranhão, firmando-se, sobretudo, mas não exclusivamente, com a pena incansável de jornalista, como um dos expoentes da campanha abolicionista, o que justifica plenamente o comentário de André Rebouças. Afora os artigos, seus escritos incluem poesia, ensaio, teatro, como autor e tradutor, dentre outras modalidades textuais. Desafortunadamente, suas peças, pelo que é sabido, jamais foram impressas. “Versos sobre versos, prosa e mais prosa, artigos de toda casta, políticos, literários, o epigrama fino, o epíteto certo ou jovial, e, durante os últimos anos, a luta pela abolição, tudo caiu daqueles dedos infatigáveis, prestadios, tão cheios de força como de desinteresse”, sintetiza o amigo Machado20. Mas foi com o jornalismo, sem dúvida, que Joaquim Serra alcançou o reconhecimento maior da intelectualidade brasileira. Chega-me aos ouvidos, pelos corredores do tempo, a observação de Nelson Werneck Sodré de que ele era “respeitado por seus contemporâneos como mestre do jornalismo”, também lembrada por Benedito Buzar, o nosso Presidente da AML, para quem “Joaquim Serra terá devido ao próprio jornalismo, à marca efêmera da folha de jornal, a rápida passagem de seu nome pelas letras pátrias”. O mesmo Buzar me estende a terceira edição do livro Sessenta anos de jornalismo: a imprensa no Maranhão (2001), classificando-o como um dos primeiros “e ainda um dos melhores” estudos sobre a imprensa local, “tanto por seu objeto específico como pela importância de quem o escreve”. E arremata afirmando que Joaquim Serra é “um dos maranhenses de maior lustre intelectual, um dos brasileiros de atuação mais intensa e polimorfa em seu tempo, hoje injusta e injustificadamente esquecido”.21 Volto à capital do Império do Brasil. Ainda vagueio em busca de Joaquim Serra. Recorro ao seu amigo, o Bruxo do Cosme Velho, para conhecer de perto tão ilustre personagem. Mas já é tarde. Ele falece no Rio, terra que o imortalizaria no panteão dos homens notáveis, apenas alguns meses após a assinatura da Lei Áurea, a 29 de outubro de 1888, no crepúsculo do Império. Diz-me Machado de Assis, alguns dias após a morte de seu mui estimado amigo, que, além de modesto – cujas ideias eram como “moedas de ouro, sem efígie, com o próprio e único valor do metal”, já que “saíam todas endossadas por pseudônimos” –, ele tinha “a virtude do sacrifício pessoal”. O Bruxo do Cosme Velho lamenta o “contraste singular entre os méritos de Joaquim Serra e os seus destinos políticos” e o fato de que não recebeu em vida o reconhecimento popular que lhe seria devido pela sua atuação como paladino da justiça: “Quando chegou o dia da vitória abolicionista, todos os seus valentes companheiros de batalha citaram gloriosamente o nome de Joaquim Serra entre os discípulos da primeira hora, entre os mais estrênuos, fortes e devotados; mas a multidão não o repetiu não o conhecia”. Pergunto-lhe sobre o estilo do publicista e político ludovicense, e ele me responde que era “feito de simplicidade, e sagacidade, correntio, franco, fácil, jovial, sem afetação nem reticências”, que não se assemelhava ao “humour de Swift, que não sorri, sequer”, porém, diversamente, que “o nosso querido morto ria largamente, ria como Voltaire, com a mesma graça transparente e fina, e sem o fel de umas frases nem a vingança cruel de outras, que compõem a ironia do velho filósofo”. Embora emocionado e triste, Machado de Assis conclui em tom triunfal: “Creio que Joaquim Serra era principalmente um artista. Amava a justiça e a liberdade, pela razão de amar também o (sic) arquitrave e a coluna, por uma necessidade de estética social”.22 Nada mais tenho a fazer nesse Rio imperial. O trem apita na estação e eu parto com ele. Café com pão, bolacha não. Vou para o Distrito Federal, à procura do Senador Clodomir Serra Serrão Cardoso, 20

Frase extraída de artigo de Machado de Assis, originalmente publicado na Gazeta de notícias, Rio de Janeiro, 05 nov. 1888. Ver as orelhas, de autoria de Benedito Buzar, do livro de IGNOTUS [Joaquim Serra]. Sessenta anos de jornalismo: a imprensa no Maranhão. 3. ed. São Paulo: Siciliano, 2001. 22 Trechos extraídos do referido artigo machadiano em homenagem a Joaquim Serra. 21


mais conhecido pelo nome parlamentar de Clodomir Cardoso, fundador da Cadeira nº 12 da AML e, a propósito, professor fundador da Faculdade de Direito do Maranhão. A viagem é curta, nem vejo surgir o cerrado pela janela. E então me lembro de que Brasília simplesmente não existe, ainda é um sonho a esperar a chegada de Juscelino Kubitschek ao poder. Desembarco novamente no Rio e me deixo levar pela corrente de suas ruas, até que reconheço Aglaia, saída das páginas do romance A coroa de areia, do imortal Josué Montello, a caminho do Senado para tentar uma entrevista com o parlamentar. Deseja pedirlhe a intervenção em favor de seu marido João Maurício, preso por ativismo político na turbulenta década de 30. Lá ouço alguém anunciar: “Aqui tem a senhora o Senador Clodomir Cardoso, uma das figuras mais eminentes do Brasil, em qualquer tempo. Mestre de todos nós, aqui no Senado.”23 A apresentação me parece insuficiente, pois se trata de alguém que, além de destacado político, foi professor, jornalista, jurista, poeta e autor de diversos trabalhos jurídicos e literários. Recorro a seu colega José Sarney para descrevê-lo: “Com seu porte ereto, a cabeleira branca, o olhar de autoridade e professoral, era tido como um dos homens que representavam, na linha da tradição, as virtudes morais dos maranhenses”, além de “um dos maiores jurisconsultos do país”, dotado da “visão do estadista lastreada numa grande formação cultural”.24 Da entrevista do Senador Clodomir Cardoso com Aglaia, guardo apenas uma de suas frases, que atravessou a porta que nos separava: “Não traio minha consciência. Isso nunca.” Ela parte, e sou levada ao gabinete do Senador, mas ele não está mais lá. Espero. Interesso-me pelas obras de sua autoria, caprichosamente arrumadas na estante, a grande maioria versando sobre temas jurídicos: A municipalidade de São Luís (1916), A debênture num concurso de credores (1917), A condição política da mulher casada em face da Constituição de 1891 (1925), A mulher e o direito de voto ante a Reforma Constitucional de 1926, A intervenção federal nos Estados, Sociedades anônimas (1930), dentre outras. Mas o que mais me encanta é o seu ensaio “Ruy Barbosa: a sua integridade moral e a unidade de sua obra”, que alia a profundidade da abordagem à escolha de um ícone como objeto de estudo, publicado na Revista de Língua Portuguesa em 1926. Ele retorna, intimido-me, a princípio, com a sua austeridade, porém logo a conversa flui como as águas de um rio caudaloso. Ele me fala dos seus tempos de magistrado no Pará e de Promotor de Justiça da Comarca de Bragança e Maracanã, de Prefeito em São Luís, de Deputado, de seus vários livros... Pergunto-lhe sobre a sua poesia, e ele se revela modesto. O tempo passa e deixo-o relutante para retomar o trem, pensando em como um homem como ele, referência moral de toda uma geração, faz falta no Brasil hodierno, mergulhado em aguda crise ética. O trem se põe em marcha e volto à janela. O meu carro é forrado de palhinha, porém cai faísca nele. Café com pão, bolacha não. Logo vejo um rio, o Parnaíba, e uma barca, levando o velho João da Grécia e sua jovem Maria, esta arrastada pela correnteza da vida para um fim trágico nas mãos de seu marido ciumento, uma história que, desafortunadamente, continua a se repetir, com frequência intolerável, para desgraça de outras tantas Marias, não obstante as sementes espalhadas pela Lei Maria da Penha, à espera que o tempo e os homens as transformem em frutos vistosos. Não vejo a faca de cabo de prata, mas ela está lá, todo o tempo, no fundo ou no topo da mala de couro de João e, por fim, no corpo indefeso de Maria. A corrente, diz o novelista Odylo Costa, filho, em A faca e o rio (1965), “puxa com força” e não é fácil “ir contra o velho rio poderoso”.25 Não há remanso no futuro de Maria... Pelo menos, a sua história ganhou o mundo, foi traduzida para o inglês pelo Prof. Lawrence Keates, da University of Leeds, e chegou às telas de cinema pelo olhar do holandês George Sluizer. De repente, surpreendo-me ao ver João da Grécia e Maria no trem, ele a lhe oferecer laranjas maduras, que ela aceita com gosto.26 E então não mais os vejo. O trem chega à terceira estação. E estou de novo no Rio, ignoro se é janeiro, mas o ano é 1963. Saio da estação em busca do jornalista, cronista, poeta, ficcionista, crítico literário e político maranhense Odylo de Moura Costa, filho, penúltimo ocupante da 23

MONTELLO, Josué. A coroa de areia: romance. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 368. SARNEY, José. Clodomir Cardoso: uma referência moral. In: CARDOSO, Clodomir. Senador – Clodomir Cardoso. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 1996. p. 7-8. 25 COSTA FILHO, Odylo. A faca e o rio. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1965. p. 123. 26 Ibidem, p. 80. 24


Cadeira nº 12 da Academia Maranhense de Letras e quarto ocupante da Cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras, cujos padrinhos de casamento com a amada piauiense Nazareth, como testemunho de seu prestígio no meio intelectual nacional, foram ninguém menos do que Manuel Bandeira, seu melhor amigo, que o tinha como filho, Ribeiro Couto e Carlos Drummond de Andrade. Na madrugada de Santa Teresa, encontro o seu primogênito, Odylinho, todavia é uma ocasião trágica: ele é assassinado por menores abandonados ao defender a namorada, o que causa uma verdadeira comoção no país. “Mãos frias,/porque mãos vazias”, diria Dagmar Destêrro, imortal desta Casa.27 O pai, magnanimamente, perdoa publicamente o algoz de Odylinho e ainda vem a empreender incansável luta em prol dos menores infratores, de que resulta o nascimento da antiga Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – FUNABEM. E faz de sua dor matéria-prima para o belo soneto petrarquiano “A meu filho”: Recorro a ti para não separar-me deste chão de sargaços mas de flores, onde há bichos que amaste e mais os frutos que com tuas mãos plantavas e colhias. Por essas mãos te peço que me ajudes e que afastes de mim com os dentes alvos do teu riso contido mas presente a tentação da morte voluntária. Não deixes, filho meu, que a dor de amar-te Me tire o gosto do terreno barro E a coragem dos lúcidos deveres. Que estas árvores guardam, no céu puro, entre rastros de estrelas, a lembrança dos teus humanos olhos deslumbrados.28 Outros eventos dolorosos se sucedem. Pouco mais de um ano depois, falece aos 11 anos a filha Maria Aurora, portadora de deficiência mental profunda. Um violento enfarte o acomete. E a dor do Poeta uma vez mais se transforma em verso, consoante testificam os tercetos de seu soneto intitulado “Dedicatória”: [...] Veio depois a vida e mergulhou a minha alma na grande dor severa, barco afogado em rio adormecido. Do sofrimento o verso rebentou. Antes, meu Pai e minha Mãe, quisera que esse verso jamais fora nascido.29

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SILVA, Dagmar Destêrro. Parábola do sonho quase vida: poesia. São Luís: SIOGE, 1973. p. 43. Versos extraídos do poema “Mãos vazias”. 28 COSTA FILHO, Odylo. Cantiga incompleta. Prefácio de Heráclio Salles. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1971. p. 93; e COSTA FILHO. Poesia completa, p. 517. O poema foi originalmente publicado na obra Tempo de Lisboa e outros poemas (1966). 29 COSTA FILHO. Boca da noite, p. 15; e COSTA FILHO. Poesia completa, p. 57.


Para Mallarmé, com efeito, en poésie, il s’agit, avant tout, de faire de la musique avec sa douleur, laquelle directemente n’importe pas, o que leva o amigo Bandeira a dizer que Odylo fait de la musique avec sa douleur, isto é, “toca música com sua dor”, pontificando: “Música de timbre próprio, de inefável doçura, sem melaço.”30 Nesse período de luto, Manuel Bandeira faz um soneto para Odylo e Nazareth e Carlos Drummond carinhosamente dedica ao jornalista o “Soneto de Odylo”. Quando da preparação da segunda edição de sua Antologia dos poetas brasileiros bissextos contemporâneos, Bandeira, aliás, tem o privilégio de ser o primeiro a ler alguns dos poemas inéditos do maranhense, especialmente aqueles marcados pela tragédia com o filho adolescente, classificando-os entre “os mais belos da poesia de língua portuguesa”.31 E Odylo, que jamais abandonara a poesia completamente, se abre definitivamente para os encantos das musas Érato e Terpsícore, vindo a publicar vários livros de poesia, principiando por Tempo de Lisboa e outros poemas (1966) e Cantiga incompleta (1971), no breve espaço de 1966 a 1979, em que sobressai a predileção pelos sonetos, “tão perfeitos de inspiração e forma que ninguém os acredita obra de principiante tardio, mas de grande poeta laureado”, conforme constata Rachel de Queiroz.32 Jorge Amado confessa que há muito “não lia versos em voz alta para Zélia ouvir”, enquanto Carlos Drummond o chama de “poeta contumaz e geral”, que “sabe tirar do soneto uma sutil modulação em que se casam o gosto moderno e clássico”.33 Foi como se houvesse arrebentado um dique no peito do Poeta ludovicense. Também o seu lado ficcionista vem à tona com a novela A faca e o rio (1965) e os contos “A invenção da ilha da Madeira” (1966) e História de Seu Tomé meu pai e minha mãe Maria (1970). Para a mesma Rachel de Queiroz, a primeira obra é uma “bela tragédia sertaneja”, escrita pelo “dono de uma prosa que tanto tem de poética e colorida quanto tem de segura e enxuta”.34 Tomo coragem e procuro o imortal escritor ludovicense. Ele me recebe calorosamente, com um largo sorriso. Em um canto, vejo algumas de suas numerosas obras. Pergunto-lhe, de chofre, qual o segredo de sua poesia, e ele me responde com estes versos do soneto “Oferta”: [...] Não me proponho – nunca! – à faina ingrata da tortura da forma, essa que outrora jogava o poeta insone noite afora, artesão de ouro trabalhando a prata. Quero o abandono incólume do fruto, na disciplina rija e natural, onde a árvore não põe sinal de esforço. Trago-te o verso, após, como um tributo ofertado na mão, luz matinal de abelha e mel a escorrer do dorso.35 Mas há algo no ar. O Poeta parece se despedir. Vejo os originais de seu livro Boca da noite (1979), e me deparo com este soneto shakespeariano, menos usual na sua obra poética:

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Palavras de Manuel Bandeira reproduzidas no livro Cantiga incompleta (1971), de Odylo Costa, filho (p. 149), extraídas da apresentação da obra Tempo de Lisboa e outros poemas (1966). 31 Ver ODYLO Costa, filho. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.academia.org.br/academicos/odylo-costa-filho/biografia>. Acesso em: 1 out. 2016. 32 Ver a apresentação de Rachel de Queiroz nas orelhas do livro A faca e o rio (1965), de Odylo Costa, filho. 33 Ver a segunda orelha do livro Boca da noite (1979), de Odylo Costa, filho. 34 Ver a apresentação de Rachel de Queiroz nas orelhas do livro A faca e o rio (1965), de Odylo Costa, filho. 35 COSTA FILHO. Boca da noite, p. 45; e COSTA FILHO. Poesia completa, p. 83.


De repente, eis-me em tudo tão tranqüilo como se a morte já tivesse vindo. Não me ocupa o amanhã para construí-lo. Nem me lembra se o ontem não foi lindo. Da cinza não me queixo pois foi brasa. Entre os livros não sofro solitário. Árvore e filhos deram luz à casa. Tive flores de irmãos no meu calvário. Sinto entre as sombras o invisível rio descer tão lento agora que a canoa pára no susto antigo que a povoa. Nem alegria ou dor, calor ou frio. No mundo ponho uns olhos bons de avô: foi a boca da noite que chegou.36 E a boca da noite acaba por tragá-lo aos 64 anos, uma semana depois de entregar esses originais à sua editora. Os seus muitos e ilustres amigos das letras se reúnem para homenageá-lo. Fica-me a eloquente sentença de Guimarães Rosa: “Você é um dos seis melhores, maiores poetas nossos. A mim, em muito, talvez o que me traz mais necessariamente a poesia, como conversa prévia que Deus concede, como marulho do riacho. Como consolação. Obrigado Odylo.”37 Quase posso ouvir a voz inconfundível de outro Poeta destas bandas: “ser poeta é duro e dura/e consome toda/uma existência”.38 Desejo quedarme no Rio para poder apreciar mais da excepcional obra de Odylo, para poder me abandonar nessa odylíada,39 mas não devo atrasar o trem. Sou Cinderela, não devo passar de meia-noite. O trem deixa o Rio, Joaquim Serra, Clodomir Cardoso e Odylo Costa, filho para trás. Café com pão, bolacha não. O mar vira sertão, e o sertão vira Baixada. O trem alcança uma ilha, terra de Joaquim Itapary, outro imortal desta Casa, mas é uma ilha diferente, “cercada de verdes campos,/por todos os lados”,40 como a descreve outro de seus insignes filhos, um poeta que, acompanhado de um amigo e um irmão mais velho, sobe no trem na pequena estação onde paramos por alguns minutos. O Poeta se despede de seu torrão natal, São Bento, que vai desaparecendo no horizonte, com um soneto do qual consigno o último terceto: “Longe de ti, jamais estou sozinho/teu perfume ao meu lado vem, caminha/qual uma imensa rosa, sem espinhos.”41 Eu dele me aproximo para prosear e ele me acolhe com jeito de menino do interior, revela que nasceu Evandro Ferreira de Araújo Costa, depois Evandro Sarney, a 16 de maio de 1931, tendo como pais Sarney de Araújo Costa e Kiola Leopoldina Ferreira de Araújo Costa, ela de “voz mais doce do que o mel” na hora da bênção vespertina.42 Explica que terminou o primário no Grupo Escolar Mota Júnior e que foi “criado à beira dos igarapés sambentoenses, bem ali, acolá, onde o mar termina e o rio Aurá começa e desce, lento, enfeitado de verde do mangue, depois pelas folhas de mururú e que vai terminar no verde só verde e mais verde dos campos dos Perizes”.43 Fala-me da primeira casa de sua família, com suas “muitas e grandes janelas”,44 situada atrás da Igreja do Senhor São Bento, e eu penso que ele está destinado a abrir 36

COSTA FILHO. Boca da noite, p. 33; e COSTA FILHO. Poesia completa, p. 73. Ver a primeira orelha do livro Boca da noite (1979), de Odylo Costa, filho. 38 MACHADO, Nauro. Nauro Machado. Seleção [de] Hildeberto Barbosa Filho. São Paulo: Global, 2005. p. 27. (Coleção Melhores poemas). Versos extraídos do poema “O parto”. 39 Ver CORRÊA, Dinacy. Odylíada: uma lição de amor. São Luís: Eduema, 2015. 40 SARNEY. Aquele verde tão verde. Estes versos são do poema “Cantiga do começo e do fim” ou “1º poema no pórtico do meu cinquentenário”. 41 Versos do soneto “Ode a São Bento”, reproduzido em: MELO, Álvaro Urubatan. Apontamentos para a literatura de São Bento. São Luís: Academia Sambentuense, 2012. p. 87. 42 SARNEY. Aquele verde tão verde. Ver o referido poema “Cantiga do começo e do fim” ou “1º poema no pórtico do meu cinquentenário”. 43 Ibidem. Palavras extraídas da dedicatória da obra. 44 Ibidem. Versos extraídos do poema “Cantiga do começo e do fim” ou “1º poema no pórtico do meu cinquentenário”. 37


muitas janelas para o mundo. Seu amigo e o irmão se apresentam, o primeiro se chama Álvaro, mas é conhecido como “Vavá”, e o segundo nasceu José Ribamar, contudo o Maranhão, o Brasil e o mundo o conhecem como José Sarney, dono do mar e dos marimbondos de fogo. A prosa é tão boa que não percebemos quando o Rio Aurá vira baía. “Nossos caminhos eram de campos/mas, também eram de mar”,45 comenta o Poeta. Café com pão, bolacha não. Chegamos a São Luís, nossa derradeira estação. Evandro recorda outra chegada perdida no tempo e menciona que ali aportara ainda em idade escolar. Vejo e ouço a Ilha pelos olhos e ouvidos do Poeta: o apito da fábrica Santa Amélia e o barulho dos seus teares, aquela situada defronte da pousada de D. Sérgia, D. Lídia Candido e Pedro Costa, onde residira com o irmão José, os pães quentinhos da padaria da Rua São Pantaleão, as aulas no Liceu Maranhense da época de Mata Roma, Ruben Almeida e muitos outros mitos do magistério maranhense... Não vejo lampiões de gás, porque, nos alvores do séc. XX, o Prefeito Clodomir Cardoso já os substituiu por iluminação elétrica. Continuo com o Poeta, de memória extraordinária, agora com o corvo de Edgar Allan Poe a seu lado. Evandro me conta a sua história. É casado com D. Aglaé,46 esposa exemplar, amor dos tempos do colégio, e tem seis filhos, sendo três mulheres e três homens.47 Seu pendor para as letras se manifestou ainda na adolescência, tendo como veículo inicial de expressão grêmios e movimentos literários estudantis, em que se moldou o intelectual aos poucos amadurecido em talentoso poeta, apreciador dos sonetos, sem exclusão do manejo de outros formatos poéticos, a exemplo do amigo Odylo; em combativo jornalista, dedicado, sobretudo, às questões políticas; em sensível cronista, cujos temas iam de Erasmo Dias a Jorge Amado, da vida circense à viagem para a Baixada Maranhense; e em celebrado orador, da mesma nobre estirpe de Astolfo Serra. Confidencia-me o irmão José que Evandro Sarney, aos 18 anos, já “era a estrela mais aplaudida” dos comícios políticos da então Oposição, que era corajoso nas refregas políticas, grande cronista e boêmio, vivendo “como os poetas do século XIX, em que ser literato importava numa vida de inspiração aventureira”.48 Foi secretário na administração de Eugênio Barros e eleito deputado estadual, exercendo o mandato, com sucessivas reconduções, de 1954 a 1970. Mas, como no poema de Drummond, no “meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho”.49 E esta veio na forma de um grave acidente, que, conquanto sem sequelas físicas, pouco a pouco o afastou da política, porém o aproximou mais da família e da literatura.50 Evandro se aposentou no cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. No âmbito literário, integrou o grupo da Guanabara, foi eleito para a Academia Maranhense de Letras em 24 de janeiro de 1980 e tomou posse na Cadeira nº 12 em 25 de abril do mesmo ano, em sucessão ao grande poeta Odylo Costa, filho, ocasião em que foi saudado pelo Ministro Carlos Madeira. Lá o irmão José já o esperava desde 1953. Em 1983, a tríade inédita de irmãos nesta Casa se completaria, com o ingresso de Ivan Sarney, outro poeta, quase 15 anos mais jovem. Evandro é ainda fundador da Cadeira nº 16 da Academia Sambentuense, tendo como patrono o constitucionalista Raymundo de Araújo Castro. Sob a pena do jornalista atuante, possui volumosa colaboração em órgãos da imprensa local. Sua produção, abrangendo poesias, crônicas, contos, artigos e ensaios, está presente nas páginas de livros, jornais e revistas. E elogiados discursos de sua lavra encontram-se registrados nos anais da Assembleia Legislativa do Estado. 45

Ibidem. Versos extraídos do poema “Cantiga do começo e do fim” ou “1º poema no pórtico do meu cinquentenário”. O nome completo da esposa de Evandro Sarney era Maria Aglaé Barbosa de Araujo Costa. 47 Evandro Sarney teve os seguintes filhos, do primogênito à caçula: Roberto Sarney de Araujo Costa, Conceição de Maria de Araujo Costa (Conci), Tânia Maria de Araujo Costa, Evandro Sarney de Araujo Costa, Sarney de Araujo Costa Neto e Ana Luzia de Araujo Costa. 48 SARNEY, José. Meu irmão Evandro. Disponível em: <www.josesarney.org/blog/meu-irmao-evandro/>. Acesso em: 23 out. 2016. 49 Ver ANDRADE, Carlos Drummond. No meio do caminho. Drummond: 100 anos. Carlos Machado, 2002. Disponível em: <http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond04.htm>. Acesso em: 2 abr. 2017. 50 Ver POETA Evandro Sarney Costa morre aos 84 anos de idade. O Estado do Maranhão, São Luís, 11 abr. 2016. Geral, p. 12. 46


No apartamento do Poeta, pergunto por seus livros, e ele me mostra a sua bibliografia: Não convertamos uma questão de futuro em questão comercial (São Luís, 1956), Cantigas de quebra-mar: poesia e prosa (São Luís, 1979), Noite maranhense (contendo o discurso de posse na AML; em coautoria com Carlos Madeira) e Aquele verde tão verde: poemas e crônicas (São Luís, 1981). São Luís é o grande tema, ainda que não exclusivo, de sua obra poética, tomada pelo lirismo, como demonstram estes versos de abertura do poema “São Luís em tempo de louvação”: Meiga, morena e bela Ilha. Ilha pequena, ilha grande Que nos meus braços faz vazante E preamar nos meus olhos. Ai, que amor de pecados Na cama de tuas dunas E na espuma do teu mar. [...]51 Não menos eloquentes são os versos finais do poema “Apenas um relatório poético”: [...] A ilha de São Luís é um armistício Perante todas as guerras. Por isso eu canto esta ilha, Que nem uma Cigarra velha, Canto até perder a voz.52 Não por acaso, Carlos Cunha saúda Evandro Sarney como o “cantor da Ilha” no final do prefácio do livro Cantigas de quebra-mar (1979), ressaltando que ele “vive em permanente diálogo com São Luís, deslumbrado com as belezas da ilha, em exaltação à natureza que o comove”, bem como que ele “sabe como poucos captar as nuances idílicas do cotidiano de nossa terra”. 53 Não é uma cidade qualquer, entretanto, que se vê exaltada pela pena do Poeta. É uma cidade inconstante, porque em constante movimento, ao sabor das marés, ora cercada “de águas e ondas, gaivotas e peixes”, 54 ora “sem verde e sem flores”, envolvida por um mar “sem água e sem flores”, um “mar seco, vazante”.55 É uma cidade que ora lhe sorri, ora o “lança ao mar como amante usado”.56 Daí a presença do mar em muitos de seus poemas devotados à natureza, sua permanente fonte de inspiração. São tantos os seus poemas molhados de mar! Enfim, a São Luís de Evandro é uma cidade com corpo “amigo de mulher”,57 “salgado de mar”,58 com o perfume das rosas que transformam o jardim do Poeta em “estranho anfiteatro”.59 Nenhum outro poeta celebrou tanto a natureza desta ilha. 51

SARNEY, Evandro. Cantigas de quebra-mar: poesia e prosa. São Luís: SIOGE, 1979. p. 21. SARNEY. Aquele verde tão verde. 53 Ver o prefácio de Carlos Cunha, intitulado “Evandro Sarney, o cantor da Ilha”, em SARNEY. Cantigas de quebra-mar, p. 13. 54 SARNEY. Cantigas de quebra-mar, p. 21. Palavras extraídas do poema “São Luís em tempo de louvação”. 55 Ibidem, p. 29. Palavras extraídas de “Um poema molhado de mar”. 56 Ibidem, p. 21. Palavras extraídas do poema “São Luís em tempo de louvação”. 57 Ibidem, p. 22. Palavras extraídas do poema “São Luís em tempo de louvação”. 58 Ibidem, p. 21. Palavras extraídas do poema “São Luís em tempo de louvação”. 59 Ibidem, p. 44. Palavras extraídas do poema “O diálogo das rosas”. 52


Na sua obra impregnada do mais puro lirismo, ainda se destacam os poemas inspirados em experiências marcantes de sua vida pessoal, como a chegada aos 50 anos,60 e nos seus amores, mãe, esposa, filhos e netos, a exemplo do poema “Louvação em três cantos para a neta Evandra”, além daqueles consagrados à Baixada Maranhense e à sua querida São Bento. Ainda uma palavra sobre a sua poética. Carlos Madeira, em seu discurso de recepção de Evandro Sarney nesta Casa, apresenta outra perspectiva sobre o verdadeiro sentido da exaltação do Poeta à cidade: A sua louvação à cidade, porém, não é a de um poeta visual, preso à beleza das coisas ou à sua historicidade. [...] A cidade é apenas o espaço que se alarga à medida em que ele sofre e ama, sente e sonha, estabelecendo uma correspondência entre o espaço externo e a intimidade que se aprofunda, no dia-adia de sua vida. É ela uma gaiola de ouro, onde o poeta pode recriar os caminhos de sua juventude e contemplar as acácias do seu jardim.61 Na visão de Carlos Madeira, “São Luís é para ele o recanto essencial de um universo alargado por sua visão poética”, sendo que o esconderijo de Evandro “não é só a velha cidade”, mas também a sua vila natal, pois o “poeta só se acha seguro no seu chão de infância”.62 Aos 84 anos, a 10 de abril do ano passado, nesta São Luís que tanto o inspirou, ele desce do trem da Academia e da vida, deixando valiosa bagagem para o nosso deleite. Creio que seu túmulo é o mar da Ilha. Lembro suas palavras: “Desconheço o mar que me espera em naufrágio.” Ouço o corvo que o acompanhava repetidamente sentenciar: Nevermore. “Nunca mais.” Nevermore.63 Mas o corvo logo voa, e um urubu pousa numa árvore próxima. E então vejo o Poeta renascido em seu poema mais célebre: No topo dessa árvore sem fruto Vejo-te, urubu, pássaro horrendo Na aberração da tua dor trazendo A vestimenta do teu próprio luto. Vendo-te triste, retraído, escuto Tua voz rancorosa maldizendo O dia, a hora, o trágico minuto Da natureza, a raça concebendo. Ambos somos iguais, ave agoirenta O veneno que encheu a tua taça É o mesmo que interiormente me sustenta. Como tu, revoltado, e até profano Maldigo dez mil vezes minha raça E esse destino que me fez humano.64 60

Ver SARNEY. Aquele verde tão verde. Os poemas são: “Cantiga do começo e do fim” ou “1º poema no pórtico do meu cinquentenário”, “Cantiga em auto-retrato” ou “2º poema no pórtico do meu cinquentenário”, “3º poema no pórtico do meu cinquentenário”, “4º poema no pórtico do meu cinquentenário” e “Último poema no pórtico do meu cinquentenário”. 61 SARNEY, Evandro; MADEIRA, Carlos. Noite maranhense. Posse de Evandro Sarney na Academia Maranhense de Letras. p. 31. 62 Ibidem, p. 32-33. 63 Ver o poema The Raven, de Edgar Allan Poe. Poetry Foundation. Disponível em: <https://www.poetryfoundation.org/poemsand-poets/poems/detail/48860>. Acesso em: 2 Apr. 2017. 64

SARNEY. Cantigas de quebra-mar, p. 56. Trata-se do soneto “O urubu”.


Olhando para trás, vejo que São Luís sempre esteve presente na vida dos escritores ligados à Cadeira nº 12 da AML, ou como berço, ou como túmulo. Foi o alfa de Joaquim Serra, Clodomir Cardoso e Odylo Costa, filho, assim como o ômega de Evandro Sarney. E a Cidade Maravilhosa, em epíteto dado, segundo alguns, por um caxiense, Coelho Neto, foi o ômega dos três primeiros. Há mais pontos em comum entre essas quatro ilustres figuras: todos foram jornalistas, políticos e, em menor ou maior grau, com maior ou menor sucesso, poetas. Todos foram paladinos da Justiça, como Joaquim Serra em sua luta pela abolição da escravatura e Odylo Costa, filho em sua cruzada em defesa dos direitos dos menores infratores. Alphonsus de Guimaraens, ao tomar posse na Cadeira nº 15 da ABL, chamou-a de “Cadeira da Poesia”, por ter como patrono Gonçalves Dias e como fundador Olavo Bilac, dentre outros nomes de sua linha sucessória. Paulo Coelho, ao assumir a Cadeira nº 21, denominou-a “Cadeira da Utopia”, por considerar ser este o elemento presente em todos os intelectuais de sua história. Fiquei então a pensar qual epíteto daria à Cadeira nº 12 da Casa de Antônio Lobo. Ocorreram-me várias opções, tal a riqueza da biografia de seus nomes: “Cadeira dos Grandes Tribunos”, “Cadeira dos Poetas Esquecidos”, “Cadeira do Bem Falar e do Bem Escrever”, mas todas me pareceram insatisfatórias, incapazes de abraçar todas as facetas dos intelectuais que honraram a Cadeira nº 12. Então me decidi por “Cadeira do Sonho”, porque os quatro escritores de que falei nesta oração foram todos idealistas, sonharam com um mundo melhor, pelo qual lutaram com a força da palavra, ora armada em prosa, ora vestida de poesia, ora com a pena do jornalista ou o discurso do político, ora com a arte do poeta, contista ou cronista ou a proficiência do ensaísta. Tenho eu algo em comum, por mínimo que seja, com estes homens extraordinários? Deixo a questão para mentes mais esclarecidas. Contentar-me-ei em apontar uma diferença, que, de tão singela, é por si só evidente. Sou mulher. E a diferença é tão mais evidente porque sou apenas a nona mulher a ingressar nesta Augusta Casa, em quase 109 anos decorridos desde a sua fundação. Não há patronas na AML. São duas fundadoras de cadeiras: Laura Rosa (1943) e Mariana Luz (1949). Sucederam outros acadêmicos Conceição Neves Aboud (1955), Dagmar Destêrro (1974) e Lucy Teixeira (1979), estas já desaparecidas; Ceres Costa Fernandes (2002), Laura Amélia Damous (2003) e Sonia Almeida (2006), estas as ilustres e ilustradas representantes atuais do sexo feminino na AML. Seja no magistério ou em cargo administrativo, seja no cultivo do ensaio ou da poesia, elas já provaram e continuam provando, cada uma em sua especialidade, o valor das intelectuais, escritoras e poetas maranhenses. Mais do que isso, são faróis da intelectualidade não apenas para as mulheres, mas também para os homens. Minhas homenagens às confreiras da AML e a todas as escritoras maranhenses, que ainda pedem passagem para mostrar o seu valor, como na marcha carnavalesca de Francisca Edwiges Neves Gonzaga, a Chiquinha Gonzaga: “Ó abre alas/Que eu quero passar/Ó abre alas/Que eu quero passar/Eu sou da Lira/Não posso negar/Eu sou da Lira/Não posso negar [...]”. Senhoras e Senhores Acadêmicos, esta é uma noite de celebração. The feast of reason and the flow of soul, isto é, “a festa da razão e o fluir da alma”, nas palavras do poeta britânico Alexander Pope. “Bebo, a goles, a glória deste dia,/goles medidos de bebida rara”,65 tomando de empréstimo versos do poeta Odylo Costa, filho. E fostes vós quem me oferecestes esta bebida inebriante, quem me proporcionastes a suprema honra de hoje transpor os umbrais desta Augusta Casa e realizar um sonho que não era só meu e que, na verdade, não acabou, só está começando. É que integrar uma Casa cuja missão é a valorização e promoção da cultura e das letras maranhenses é uma grande responsabilidade. Prometovos sempre me esforçar para estar à altura dessa honra. Por derradeiro, sinto-me na obrigação, para que não se configure propaganda enganosa, de vos dizer quem sou. Busco auxílio em Fernando Pessoa e vos declaro: “Não sou nada./Nunca serei nada./Não posso querer ser nada./À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”66 Mas se julgardes haver 65

COSTA FILHO. Boca da noite, p. 22; e COSTA FILHO. Poesia completa, p. 63. Estes versos abrem o poema “A glorious day”. Ver o poema “Tabacaria”, de Fernando Pessoa, sob o heterônimo Álvaro de Campos. A magia da poesia. Disponível em: < http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/fernando-pessoa-poemas/>. Acesso em: 2 abr. 2017. 66


alguma substância nesse nada, digo-vos que eu “sou eu/mais pedaços dos outros”,67 uns maiores, outros menores, uns do tamanho de uma vida, outros do tamanho de um momento, uns legados de indivíduos, outros pertencentes a instituições. Trago comigo pedaços de meus pais, e quão imensos são, de toda a minha família, de meus amigos, das escolas e universidades onde estudei ou lecionei, das academias e instituições a que pertenço, particularmente o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), a Academia Maranhense de Letras Jurídicas (AMLJ), a Academia Ludovicense de Letras (ALL), a Academia Caxiense de Letras (ACL), a Associação dos Amigos da Universidade Federal do Maranhão (AAUFMA), a Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica (SBPJ), o PEN Clube do Brasil... Sabei ainda que visto a armadura da Justiça e empunho a espada da lei, como membro do Ministério Público, instituição altaneira patroneada por Celso Magalhães, imortal desta Casa, a qual tanto tem contribuído para a construção de um Maranhão mais cidadão, a despeito das ações dos Barões de Grajaú hodiernos. Avizinha-se a hora da nova partida do trem. É hora, pois, dos agradecimentos. A Deus, Senhor de todos os trilhos e comboios da vida. Aos meus pais, Wilson Pires Ferro, desaparecido em 2014, e Eunice Graça Marcilia Almeida Ferro, hoje completando 82 anos, meus anjos protetores, condutores de todas as horas, que jamais me deixaram perder a direção ou descarrilar e que me deram asas para voar e tentar repetir o voo de Dédalo: nem tão perto do mar, que me faça negligenciar a grandeza e as alturas do sonho; nem tão perto do Sol, que me faça olvidar as águas frias da realidade e a pequenez da condição humana. A vós, todo o meu amor, todo o meu carinho, todo o meu respeito. À Academia Maranhense de Letras, na pessoa de seu Presidente Benedito Buzar, e aos amigos acadêmicos que, com afeto e tenacidade, promoveram a minha candidatura ou a ela aderiram ativamente em seus momentos embrionários. A todos os mais de 30 acadêmicos desta Augusta Casa que sufragaram o meu nome em setembro do ano pretérito. À Acadêmica Ceres Costa Fernandes, estimada professora, por haver carinhosamente aceito o convite para me receber na AML nesta data. Ao Acadêmico José Maria Cabral Marques, por haver acalentado o meu sonho. À D. Maria Thereza de Azevêdo Neves, grande incentivadora, muito mais que uma amiga. Aos meus saudosos avós, senhores dos caminhos dos Ferros e dos Almeidas. À família, dos ramos Ferro, Almeida e Meireles, que são o meu porto seguro, e aos amigos, que trazem alegria à minha viagem pelos trilhos da vida. Aos meus professores do Colégio Santa Teresa, do Colégio Itamarati, dos cursos de Letras e Direito da Universidade Federal do Maranhão – a exemplo das acadêmicas Ceres Costa Fernandes e Sonia Almeida e dos acadêmicos Agostinho Marques, José Carlos Sousa Silva e José Maria Ramos Martins, este já ausente do trem, respectivamente –, do Mestrado e Doutorado da Universidade Federal de Minas Gerais e da University of Oregon, porque, se há uma profissão que leva o trem a avançar pela terra, pela serra e pelo mar, é esta a do professor. Ao Ministério Público do Maranhão, minha locomotiva no exercício do Direito e na busca pela Justiça. A todos que se fizeram presentes nesta solenidade. O trem apita na estação. Não devo deixar os passageiros esperando. Tomo a mão de meu pai, embarco com ele no trem e deixo falar em mim o Ferreira Gullar de todos nós:

67

FERRO, Ana Luiza Almeida. O náufrago e a linha do horizonte: poesias. São Paulo: Scortecci, 2012. p. 30. Versos extraídos do poema “Eu”.


[...] o que pra ele era rotina para mim era aventura quando chegamos à gare o trem realmente estava ali parado esperando muito comprido e chiava entramos no carro os dois eu entre alegre e assustado meu pai (que já não existe) me fez sentar ao seu lado talvez mais feliz que eu por me levar na viagem meu pai (que já não existe) sorria, os olhos brilhando VAARÃ VAARÃ VAARÃ VAARÃ tchuc tchuc tchuc tchuc tchuc tchuc [...]68 Café com pão, bolacha não, café com pão, bolacha não, café com pão, bolacha não, café com pão, bolacha não, café com pão, bolacha não, café com pão, bolacha não, café com pão, bolacha não...69 Café com pão, bolacha não. Muito obrigada. Ana Luiza Almeida Ferro

68

GULLAR. Toda poesia (1950-1999), p. 247. Versos extraídos do “Poema sujo”. O parágrafo deve ser lido de modo a imitar a partida de um trem, em ritmo cada vez mais rápido e com entonação cada vez mais alta, até atingir um ápice. 69


Melônio & Ana Luiza Ferro Imortais da Academia Poética Brasileira

Sobre a Posse de Ana Luiza Ferro na Academia Maranhense de Letras. (Eloy Melônio). "(...) Esse “breakfast” foi um momento tão raro quanto seu belo e inigualável discurso. Momento em que ela me revelou que havia sido professora do YES, nos velhos tempos da Rua Rio Branco. Assustei-me, inicialmente, mas ela me parecia tão familiar, tão próxima. Aquele sorriso fácil não me era totalmente estranho. Talvez por causa de nossa amizade no Facebook, onde acompanho seus passos literários, suas conquistas... Fui dormi incomodado com aquela constrangedora situação. Como não me lembrar de Ana Luiza? Perdoeime, porque não sou realmente um bom “lembrador” de fatos e pessoas. Mas, hoje cedo, ao raiar do dia, ouço meu coração batendo: “Café com pão, bolacha não”. Leia a íntegra em: https://www.facebook.com/academiapoetica/posts/737965936364200:0


O ESTADO MA – 29 de abril de 2017 – COLUNA PH

Caros amigos e amigas: Meu poema O náufrago VIII foi traduzido para o italiano e publicado na Revista europeia Il Convivio, n. 66.


PENCLUBEDOBRASIL

Há 81 anos promovendo a literatura e defendendo a liberdade de expressão

Boletim Informativo Rio de Janeiro – Ano VII – Abril de 2017 – Edição Online

DESTAQUES DO MÊS Dia 6 Ana Luiza Almeida Ferro tomou posse na Cadeira nº 12 da Academia Maranhense de Letras (AML). Desde a fundação, em 1908, a ssociada Ana Luiza é a nona mulher a ingressar na AML. Foi saudada pela Acadêmica Ceres Costa Fernandes. Dia 27 Ana Luiza Almeida Ferro ministrou a disciplina Cultura e Criminologia Comparada na sede da Fundação Sousândrade, em São Luís - MA. Dia 29 Ana Luiza Almeida Ferro teve o seu poema "O náufrago VIII", traduzido para o italiano, sob o título "Il naufrago VIII", na Revista Il Convivio, da Accademia Internazionale Il Convivio, da Itália, edição 66.

Aos amigos e amigas, comunico que já estão à disposição a minha bibliografia e alguns textos de minha autoria no site da Academia Maranhense de Letras.


OCUPANTE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO

Cadeira 12

Data da Eleição 15.09.2016

Data da Posse 06.04.2017

Recepcionado por Ceres Costa Fernandes ARTIGOS PUBLICADOS

BIOGRAFIA

BIBLIOGRAFIA

DISCURSO DE POSSE E RECEPÇÃO

TEXTOS ESCOLHIDOS

ICONOGRAFIA Nasceu em São Luís, Maranhão, em 23 de maio de 1966. Promotora de Justiça, jurista, professora universitária, historiadora, conferencista, escritora e poeta, é filha única do também professor universitário Wilson Pires Ferro, já falecido, e da contabilista Eunice Graça Marcilia Almeida Ferro, tendo relações de parentesco com o saudoso historiador Mário Martins Meireles, pela linha do avô paterno João Meireles Ferro. Igualmente teria laços de parentesco com o romancista cearense José de Alencar, pela linha da bisavó materna Luisa Rodrigues de Alencar Almeida, mãe do radialista e locutor Marcos Vinicius Sérgio de Almeida, por duas vezes consecutivas eleito “Rei do Rádio” (1953-1954). Estudou no Colégio Santa Teresa, em São Luís-MA (1972-1982), e no Colégio Itamarati, Instituto Guanabara, no Rio de Janeiro-RJ (1983). Formada em Letras (Licenciatura), com habilitação em Língua Inglesa (19841988), e Direito (1988-1993), pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA, é Promotora de Justiça titular da 14ª Promotoria de Justiça Criminal da Comarca da Ilha de São Luís, Estado do Maranhão, Mestra (2002) e Doutora (2006) em Ciências Penais, pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Professora de Direito da Universidade Ceuma e professora da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão – ESMP, em São Luís. Integra a Comissão Gestora do Programa Memória Institucional do Ministério Público do Estado do Maranhão. A jurista foi Presidente da Academia Maranhense de Letras Jurídicas – AMLJ no biênio 2011-2013, a primeira mulher a exercer tal posto, ocupando nesse sodalício, desde 2004, como membro efetivo, a Cadeira nº 5, patroneada pelo Ministro Augusto Olympio Viveiros de Castro. É também membro efetivo da Academia Caxiense de Letras – ACL, ocupando a Cadeira nº 9, patroneada pela Professora Filomena Machado Teixeira, desde 2008; sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, ocupando, desde 2011, a Cadeira nº 36, cujo patrono é Astolfo Henrique Serra; um dos 25 fundadores da Academia Ludovicense de Letras – ALL, onde ocupa a Cadeira nº 31, patroneada pelo historiador Mário Martins Meireles; e membro efetivo da Academia Maranhense de Letras – AML, ocupando a Cadeira nº 12, que já pertenceu ao grande poeta Odylo Costa, filho, patroneada pelo


jornalista Joaquim Maria Serra Sobrinho, desde abril de 2017. É autora dos projetos do brasão e da bandeira da ALL. Recebeu o título de membro honorário da Academia Paraibana de Letras Jurídicas – APLJ em 2014. É membro do Conselho Editorial da Revista Juris, do Centro de Estudos Constitucionais e de Gestão Pública – CECGP, desde janeiro de 2015, em São Luís. No âmbito nacional, é Membro de Honra da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica – SBPJ, membro titular do PEN Clube do Brasil, membro da União Brasileira de Escritores – UBE (São Paulo) e membro correspondente MA da União Brasileira de Escritores RJ (UBE RJ). No plano internacional, é membro da Accademia Internazionale Il Convivio, da Itália, e do Latin American Quality Institute – LAQI, sediado no Panamá. Foi aprovada na Seleção de Inglês para professores pró-labore, em setembro de 1988, pelo Departamento de Letras da UFMA, e em Concurso Público para ingresso na carreira do Magistério Superior, na Classe de Professor Auxiliar, na área de Língua Inglesa, Departamento de Letras da UFMA, realizado em 1994, obtendo o segundo lugar, assim como no Processo Seletivo Simplificado para Contratação de Professor Substituto, área de Direito Público, realizado pelo Departamento de Direito, do Centro de Ciências Sociais da UFMA, em 1999, obtendo o primeiro lugar. Foi bolsista do Programa Interinstitucional de Iniciação Científica CNPq/UFMA, desenvolvendo o Projeto de Pesquisa “Programa Permanente de Análise e Indexação de Jurisprudência: Questão Agrária 1981/1989”, no período de abril a dezembro de 1990, em São Luís. No magistério, sua experiência se divide, em especial, entre o ensino da língua inglesa e o das Ciências Criminais. Foi Professora de Inglês no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos – ICBEU (1982) e no Yes – Instituto de Idiomas (1989-1990). Já na universidade, foi professora dos cursos de extensão de Língua Inglesa I, II, III e IV, promovidos pelo Núcleo de Cultura Linguística (NCL) do Departamento de Letras da UFMA, nos anos de 1992 e 1993. Foi Professora de Criminologia da Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, ministrando em cursos de pós-graduação em Ciências Penais, de 2001 a 2003, em Belo Horizonte. Ministrou a disciplina Criminologia no Curso de Especialização em Ciências Criminais do então Centro Universitário do Maranhão – UNICEUMA, hoje Universidade Ceuma, no ano de 2008. Pela Escola Superior do Ministério Público do Maranhão, ministrou os cursos sobre “Crime organizado” e “Criminologia: o criminoso de colarinho branco sob a perspectiva criminológica”, ambos em 2011, como etapas de vitaliciamento do Curso de Ingresso na Carreira do Ministério Público do Maranhão, além da disciplina Criminologia no VIII Módulo do Curso de Pós-Graduação em Ciências Criminais em 2012. Igualmente ministrou aulas sobre os temas “Tutela repressiva às organizações criminosas” e “Crime organizado e organizações criminosas” nos cursos de Especialização em Ciências Criminais, da Faculdade de Direito de Vitória, no Espírito Santo, nos anos de 2013 e 2014, bem como a disciplina Cultura e Criminologia Comparada no Curso de Especialização Conducente ao Mestrado em Criminologia, oferecido pelo Instituto Universitário Atlântico – IUA, em parceria com a Universidade Fernando Pessoa, de Portugal, na Fundação Sousândrade, na capital maranhense em julho de 2015 e no final de abril e início de maio de 2017. Compôs várias bancas examinadoras. Desempenhou a função de Membro da Equipe de Correção de Redação na Comissão Permanente de Vestibular – COPEVE, quando da realização do Concurso Vestibular de 1993, da UFMA. Foi orientadora de diversos trabalhos acadêmicos. Exerceu a função de Coordenadora de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Direito da Escola Superior do Ministério Público do Maranhão de 2006 a 2009 e o cargo em comissão de Assessor de Procurador-Geral de Justiça nos anos de 2009 e 2010. Fez o Curso La Enseñanza de la Traducción, promovido pela San Diego State University, da Califórnia, Estados Unidos, realizado no âmbito da UFMA em 1988. Na condição de bolsista do Rotary, realizou estudos de pré-mestrado, na área de Inglês, com foco em Literatura, sobretudo a inglesa, na University of Oregon, em Eugene, Estado do Oregon, Estados Unidos, no ano de 1991. Na instituição americana, cursou as seguintes disciplinas: English Drama (Jacobean Drama), Edmund Spenser, Advanced Shakespeare, The Renaissance Hero, Seminar: Post-Colonial Strategies in the Novel, Film and Folklore, Modern Drama, Seminar: Feminist Constructions of Voice – A Craft Course, English Drama (Medieval and Tudor Drama), Top: 18th Century Literature (Sex & Gender in the Restoration) e Introduction to Graduate Studies. Participou do Curso intensivo Lotta al crimine organizzato (Combate ao Crime Organizado), 3ª edição, oferecido pela Università degli Studi di Roma – “Tor Vergata”, no período de 2 a 12 de maio de 2016.


É portadora do First Certificate in English e do Certificate of Proficiency in English, concedidos pela University of Cambridge, Inglaterra, e do Certificat pratique de langue française (1er degré), do Diplôme d’études françaises (2e degré) e do Diplôme supérieur d’études françaises(3e degré), pela Université de Nancy II, França. Além dos idiomas inglês e francês, cursados, respectivamente, no ICBEU e na Aliança Cultural Franco-Brasileira (Aliança Francesa) em São Luís, estudou o espanhol e o alemão no NCL do Departamento de Letras da UFMA na mesma cidade e o italiano e, novamente, o alemão, na Escola Luziana Lanna Idiomas em Belo Horizonte. Foi Promotora de Justiça nas Comarcas de Icatu, Olho D’Água das Cunhãs e São Mateus, como substituta; e nas Comarcas de Carutapera, São Mateus, Viana e Caxias, como titular. Foi Promotora Eleitoral de diversas zonas e Diretora das Promotorias de Justiça de Caxias em várias oportunidades. Proferiu numerosas palestras e conferências em eventos realizados em diversas cidades brasileiras, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Goiânia, Boa Vista, Manaus, Vitória, entre outras, além de São Luís, versando sobre Direito, Criminologia, História ou Literatura, com destaque para o tema do crime organizado, tais como as intituladas “Instrumentos legais de defesa da mulher contra a violência”, no II Encontro da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica, em São Luís, no ano de 1998, e no I Seminário sobre os Direitos da Mulher, na cidade de Caxias-MA, em 1999; “O Ministério Público e os Municípios: a questão da improbidade administrativa”, no Encontro de Prefeitos do Maranhão, na capital maranhense, em 1998; “O Tribunal de Nuremberg”, na Fundação Escola Superior do Ministério Público/MG, em Belo Horizonte, no ano de 2003; “O idoso na sociedade”, no I Fórum Municipal do Idoso, na cidade de Caxias, em 2006; “Para entender o Ministério Público”, no I Seminário para Jornalistas, em São Luís, no ano de 2007; “Crime de colarinho branco: perspectiva criminológica”, em cerimônia da Sociedade Brasileira de Psicologia Jurídica, na capital gaúcha, em 2008, e no 1º Seminário de Criminologia e Segurança Pública, no Rio de Janeiro, em 2009; “O Ministério Público no combate às organizações criminosas”, em painel no I Congresso Estadual do Ministério Público do Maranhão, em São Luís, no ano de 2008; “Crime organizado e organizações criminosas”, no 7º Congresso Brasileiro de Direito Internacional, na Universidade de São Paulo – USP, na XVI Jornada Jurídica do Curso de Direito – UNICEUMA, em 2009, no Rotary Club de São Luís, em 2010, na I Jornada de Direito Penal, da Escola de Magistratura Federal da 1ª Região – ESMAF, em Manaus-AM, em 2012, na I Semana Acadêmica do Curso de Direito, na UFMA, em São Luís, no ano de 2013, na I Conferência de Políticas Prisionais do Estado do Maranhão, promovida pela Escola de Gestão Penitenciária do Maranhão, da Secretaria da Justiça e da Administração Penitenciária, em São Luís, em 2014, no Seminário sobre Crime organizado, em Vitória-ES, no ano de 2014, e na IV Jornada de Direito da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, em São Luís, no ano de 2015; “Organizações criminosas”, no Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, na cidade de Florianópolis, em 2010; “Crime organizado e organizações criminosas mundiais: apontamentos”, no I Seminário Nacional de Direito Penal e Processual Penal na Região Serrana, na Universidade Estácio de Sá – Unidade Nova Friburgo, em 2010; “Delinquência organizada e organizações criminosas mundiais”, no seminário O Ministério Público e a repressão ao crime organizado, em Goiânia-GO, em 2011; “Crime organizado e organizações criminosas mundiais”, no Seminário: Combate ao crime organizado, em Boa Vista-RR, em 2011; “A fundação da cidade de São Luís: fatos e mitos”, no Seminário 6: São Luís foi fundada por quem? Conclusões possíveis, do Ciclo de Estudos/Debates A cidade do Maranhão – uma história de 400 anos 2011/2012, promovido pelo IHGM, em São Luís, em 2012; “O crime do colarinho branco sob a ótica criminológica”, na Jornada Jurídica: Hermenêutica constitucional e jurisdição penal, em Imperatriz-MA, no ano de 2012; “A Batalha de Guaxenduba: razões da vitória lusa e comparação com os embates da ocupação holandesa no Maranhão”, no Simpósio 400 anos da Batalha de Guaxenduba: a primeira guerra brasílica (1614-2014), promovido pelo IHGM, em São Luís, em 2014; “Organizações criminosas e crime organizado”, no I Ciclo de Debates Acadêmicos de Segurança Pública, evento integrante do Curso de Especialização em Cidadania, Direitos Humanos e Gestão da Segurança Pública, em São Luís, na UFMA, no ano de 2014, e no II Fórum Acadêmico de Segurança Pública, promovido pela UFMA, em parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP-MJ, em 2016; “Mário Meireles”, no painel sobre o “Centenário do Nascimento de Mário Martins Meireles”, em evento da Academia Ludovicense de Letras, por ocasião das comemorações do segundo aniversário desta, em São Luís-MA, em 2015, e no “Café Literário” da 9ª FeliS – Feira do Livro de São Luís, em 2015; “Dagmar Destêrro e Dilú Mello”, no painel de apresentação de poesia feminina, no evento Integração Cultural Interestadual, promovido pela União Brasileira de Escritores RJ, na Academia Cearense de Letras – ACL, em Fortaleza-CE, em 2016; “A fundação de São Luís e o mito das origens lusitanas da cidade”, na mesa-redonda “Fundação de São Luís: 404 ou 400 anos?”, promovida pelo IHGM, em São Luís, em 2016; “Crimen organizado internacional: Análisis jurídico-penal”, no Congreso Internacional de Historia de los Derechos Humanos. El Cincuentenario de los Pactos Internacionales de Derechos Humanos de la ONU. Homenaje a la Profesora Mª. Esther Martínez Quinteiro, na Universidad de Salamanca, Espanha, em 2016; “A Batalha de Guaxenduba”, em evento da Casa de Cultura Huguenote Daniel de La Touche – CCHDLT, em São Luís, em 2016, entre outras.


Foi oradora das turmas de licenciandos em Educação Artística, Estudos Sociais, Filosofia, História e Letras em 1988 e da turma de bacharelandos do Curso de Direito em 1993, por ocasião das respectivas colações de grau da UFMA, assim como dos Promotores de Justiça do Maranhão, na cerimônia de entrega das vestes talares, em 1994. Obteve o primeiro lugar no Concurso Epistolar Internacional para jovens, promovido pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Delegacia Regional do Maranhão, realizado em 1982. Foi premiada no Concurso Jovem Embaixador 1983, promovido por O Globo, pelo Instituto Guanabara e pelo Colégio Princesa Isabel, no Rio de Janeiro-RJ. Também recebeu Prêmio de Publicação no V Concurso Raimundo Correia de Poesia, tendo sido selecionada para participar do livro Poetas brasileiros de hoje 1986. Seus poemas foram igualmente incluídos na obra Poetas brasileiros de hoje 1987, na prestigiada Revista Poesia Sempre: Polônia, da Fundação Biblioteca Nacional (2008), e na revista italiana Il Convivio (2014, 2015 e 2016). Alcançou a primeira colocação com a poesia “Quando” no I Concurso Literário de Contos e Poesias em 2012 e o segundo lugar com a poesia “A dama quatrocentona” no II Concurso Literário nos Gêneros de Poesias e/ou Crônicas “São Luís, minha cidade”, no ano seguinte, ambos promovidos pela Associação dos Amigos da Universidade Federal do Maranhão – AAUFMA. Logrou o segundo lugar no Prêmio “Poesia, Prosa ed Arti figurative”, Sezione Stranieri, Libro edito in portoghese, promovido pela Accademia Internazionale Il Convivio, da Itália, com a obra Quando: poesias, em 2014. Conquistou a Menção Honrosa no Prêmio Pedro Calmon 2014, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, e o Prêmio Literário Nacional PEN Clube do Brasil 2015, categoria Ensaio, pelo livro 1612; o Troféu “Melhor Obra (Poesia)”, no 1º Salão Nacional de Arte e Poesia, concedido pelo Núcleo Rio de Janeiro dos Grupos Artforum Brasil XXI (2015); o Troféu “Imprensa sem Fronteiras”, na categoria Literatura, em virtude de, “por mérito e reconhecimento”, haver promovido “o engrandecimento da Cultura do País”, outorgado pela Rede Mídia de Comunicação Sem Fronteiras, em celebração ao 3º aniversário do Jornal Sem Fronteiras, em Blumenau-SC (2016); o troféu referente ao 2º lugar no Concurso “Coletânea Internacional Bilíngue – Sem Fronteiras pelo Mundo… Volume Verso”, com o poema “O náufrago VIII”, o qual lhe foi conferido pela Editora Rede Sem Fronteiras também em Blumenau-SC (2016); o Prêmio Excelência e Qualidade Brasil 2016 e o título de Comendadora, concedidos pela Braslíder – Associação Brasileira de Liderança, nas categorias “Profissional do Ano/Destaque Nacional” e “Mérito Acadêmico-Cultural”, em evento realizado no Círculo Militar, em São Paulo-SP (2016); a Menção Honrosa, pela participação como escritor, na Exposição Letra & Imagem, promovida pela Cia. Arte Cultura e pela Academia de Letras e Artes Buziana – ALAB, em São Paulo-SP (2016); a distinção “Moção Cultural de Aplausos”, concedida pela Rede Mídia de Comunicação e pela Editora Sem Fronteiras, por ocasião do projeto Letra & Imagem, da Cia. Arte Cultura, em São Paulo-SP (2016); o troféu Latin American Quality Institute 2016, o título de Master in Total Quality Administration e a certificação de Global Quality, por sua atuação como escritora, no México (2016); e o Prêmio Talentos Helvéticos-Brasileiros 2017, na categoria “Melhores livros de poesia”, pela obra O náufrago e a linha do horizonte: poesias, concedido pela Helvetia Edições, como resultado de concurso literário. Recebeu a Medalha “Sousândrade” do Mérito Universitário, concedida pela Universidade Federal do Maranhão, por haver obtido o maior coeficiente de rendimento escolar da universidade, durante o curso de graduação, até o primeiro semestre letivo de 1987. Foi agraciada com o “Prêmio AMPEM”, em três edições (19971999), e, em sequência, com o “Prêmio Márcia Sandes”, em suas edições 2001, 2003, 2004, 2006, 2007 e 2008, concedidos pela AMPEM aos autores dos trabalhos jurídicos mais destacados. Recebeu, ainda, a Comenda Arcelina Mochel, outorgada pela AMPEM, pela passagem de quinze anos de serviços prestados ao Ministério Público, em 2009; a Comenda Gonçalves Dias, conferida pelo IHGM, pela participação e empenho na materialização do Projeto Gonçalves Dias, em 2013; e a Comenda Comemorativa Leonardo da Vinci, concedida pela Literarte – Associação Internacional de Escritores e Artistas, sediada no Estado do Rio de Janeiro, em reconhecimento aos “seus atos meritórios de ideais cívicos, culturais e sociais”, em 2015. É autora de vários livros, principalmente de Direito Penal, História e poesias, e possui numerosos artigos nas searas jurídica e historiográfica e peças processuais publicadas em livros e revistas especializadas, entre as quais a Revista dos Tribunais, a De Jure – Revista Jurídica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, a Revista do Ministério Público do Estado do Maranhão – Juris Itinera e a Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (edições impressa e eletrônica), além de artigos e crônicas veiculadas nos jornais O Estado do Maranhão e O Imparcial e poesias, incluídas em publicações variadas. Sua obra Crime organizado e organizações criminosas mundiais (2009), baseada na tese de Doutorado na UFMG, levou-a a ser entrevistada pelo apresentador Jô Soares em seu Programa do Jô, da Rede Globo, exibido em 26 de março de 2010, e pela revista História em curso (São Paulo, Minuano, v. 2, n. 8, p. 10-17, 2012), entre outras entrevistas concedidas em publicações nacionais desde 2009.


É um dos seis autores que colaboraram na obra França Equinocial: uma história de 400 anos, em textos, imagens, transcrições e comentários, organizada por Antonio Noberto (São Luís, 2012). É um dos verbetes da Enciclopedia di Grandi Artisti: Portoghese/Italiano (p. 16), publicada, em edição bilíngue de luxo, pela Literarte – Associação Internacional de Escritores e Artistas (2015). No campo jurídico, teve dois artigos – “Reflexões sobre o crime organizado e as organizações criminosas” e “Os modelos estruturais do crime organizado e das organizações criminosas” – incluídos no livro Direito penal empresarial, crime organizado, extradição e terrorismo: volume VI, da Coleção Doutrinas essenciais: Direito penal econômico e da empresa, no ano de 2011, uma republicação, em edição especial, dos melhores artigos doutrinários já publicados pela prestigiada Editora Revista dos Tribunais ao longo de 100 anos. Participa das atividades promovidas pelo Liceo Poético de Benidorm, da Espanha, em São Luís. Afora as intensas atividades profissionais, acadêmicas e de pesquisa, Ana Luiza sempre praticou esportes, tomando parte de diversas competições em São Luís. Em 1984, participou da VII Corrida Universitária, organizada pelo Núcleo de Esporte da UFMA. Sagrou-se campeã de tênis de mesa na categoria individual simples feminino nos XI Jogos Universitários Maranhenses – JUM’S, no ano de 1987, representando, como aluna do Curso de Letras da UFMA, o Centro de Estudos Básicos, e nas categorias individual simples feminino e dupla mista nos XII Jogos Universitários Maranhenses, no ano seguinte, representando, como estudante de Direito, o Centro de Ciências Sociais da UFMA, eventos promovidos pela Federação Acadêmica Maranhense de Esportes – FAME. Participou dos XL Jogos Universitários Brasileiros, realizados no período de 26 de julho a 5 de agosto de 1989. No mesmo ano, recebeu a medalha de ouro de tênis de mesa individual feminino na X Jornada Esportiva de Associações Atléticas Banco do Brasil – JESAB, representando a AABB de São Luís. Em 1990, conquistou a Taça Pedro Araújo, na categoria de tênis de mesa feminino, oferecida pela Federação Maranhense de Tênis de Mesa – FMTM. E, com seus companheiros da equipe de tênis de mesa da University of Oregon, de Eugene, no ano de 1991, venceu torneio disputado contra a Portland State University, de Portland, nos Estados Unidos. Por derradeiro, toma parte, a cada ano, desde 2010, das edições da Corrida Mirante AM, em São Luís. Em seu tempo livre, dedica-se aos filmes, à leitura de livros, à pintura – a exemplo dos quadros “Impressões do Lago Genebra” e “Poder feminino” – e ao exercício físico propiciado pelas caminhadas e corridas. Já visitou os seguintes países: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bielorrússia, Bósnia e Herzegovina, Canadá, China, Cingapura, Croácia, Dinamarca, Egito, Escócia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos (onde, inclusive, morou por um ano, quando estudou na University of Oregon), Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Índia, Indonésia, Inglaterra, Irlanda (Eire), Israel (incluindo a Autoridade Palestina), Itália, Japão, Jordânia, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, México, Mônaco, Montenegro, Nepal, Noruega, País de Gales, Polônia, Portugal, República Tcheca, Rússia, Suécia, Suíça, Tailândia, Turquia e Vaticano.


Palestra em seminário no Fórum.

O ESTADO MA, 23/24 DE JUNHO 2017 – COLUNA PH


DILERCY ARAGÃO ADLER JP – SUPLEMENTO GUESA RRANTE, 1º ABRIL 2017


POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA – DILERCY ADLER E O CIRCUITO DA POESIA MARANHENSE Por Leopoldo Vaz • sábado, 01 de abril de 2017 às 16:16 http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2017/04/01/poesia-maranhense-contemporanea-dilercy-adler-e-ocircuito-da-poesia-maranhense/

POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA – DILERCY ADLER E O CIRCUITO DA POESIA MARANHENSE Leopoldo Gil Dulcio Vaz Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40 Dilercy Adler (1995) [1] organiza a antologia (a primeira) Circuito de Poesia Maranhense – 100 poemas, 61 autores, contando com a colaboração de José Chagas, Arlete Machado, Alberico Carneiro, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Paulo M. Sousa, Leda Nascimento, e do grande homenageado, Nauro Machado; as fotos foram de Edgar Rocha. O objetivo era mostrar a produção maranhense de poesias durante a 47ª Reunião Anual da SBPC, realizada em São Luis. Logo a seguir, 1998, começa a organizar as antologias da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, Latinidade[2]. A SCL-MA tem em sua diretoria, além da Dilercy (presidente), Ana Maria Costa Felix (vice), Roberto Mauro Gurgel Rocha (1º Secretario); Cesar Maranhão (2º Secretário); José Rafael Oliveira (Tesoureiro), e Paulo Melo Sousa (Diretor Cultural). A SCL foi fundada em 1909 na Itália; em 1942, a segunda, em Portugal; o Brasil foi o terceiro país a recebê-la, pelo final dos anos 70, fundada por Joaquim Duarte Batista; no Maranhão foi criada em 25 de junho de 1997, no Palácio Cristo Rei. No ano seguinte, sai a sua primeira coletânea; com periodicidade de dois anos. Foi até a quarta edição, em 2004[3]. Atualmente, Dilercy dirige a SCL-Brasil, desde 2013, quando do Projeto Gonçalves Dias; a seccional do Maranhão está se reestruturando, já que ela não pode acumular as funções… Sobre Dilercy, assim se expressa Antonio Aílton (2016)[4]: Da poesia de expressão feminina, isto é, que apresenta um discurso que poderia ser lido mais marcadamente nesse rumo, se o quisermos, cabe evidenciar pelo menos quatro poetas no auge de sua produção, não neófitas, mas pouco comentadas, na senda viva da poesia: Lila Maia, Luciana Martins, Silvana Menezes e Dilercy Adler. […] Dilercy Adler, de extenso e viajado currículo em prol da literatura, é vocacionada não apenas para a poesia, mas a promoção e a fomentação (diríamos, ebulição, efervescência) das atividades literárias, em entrega total e incansável. É uma das fundadoras e atual presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, isto é, da recente academia que congrega literatos/as e personalidades da cidade de São Luís, fundada em 2013. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Foi presidente/fundadora da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, desde 2007, passando, no final deste ano, a presidência a Paulo Melo Sousa. Está fundando, este ano, a representação no Maranhão da Academia Norteamericana de Literatura Moderna – Capítulo Brasil, e, entre outras mais, além de ter uma produção acadêmico-universitária (ela é Doutora em Ciências Pedagógicas), é também organizadora de inúmeras antologias, internacionais inclusive (Latinidades, vários números; 1000 poemas para Gonçalves Dias, desta vez com a colaboração de Leopoldo Gil Vaz Dúlcio Vaz, mebro fundador da ALL). Difícil, pois, competir com ela nestes quesitos, e, no fim, sabemos que a literatura tem uma tarefa para cada um de nós, seus súditos mal pagos, nem que seja a de simplesmente vivê-la. Dilercy opta por uma poesia doce − aquele doce às vezes tingido de certa dor resignada − e, em geral, erótico-amorosa; a impossibilidade, talvez, do amor verdadeiro (essa palavra que ela ainda se atreve a pronunciar em poesia), ora ou outra descobrindo sua provável impossibilidade e aceitando, poeticamente, a simples experiência do acontecer humano (sem certo vaticínio hiper-realista de Nélson Rodrigues): “Verdade…/ ilusão…/ importa?!…/este momento é ímpar/mais-que-perfeito/deixo que tudo deságue/em meu leito!” (Duvid(ando) I, Desabafos… flores de plástico… libidos e licores liquidificados, 2008).


[1] ADLER, Dilercy Aragão. CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE. São Luis: UNICEUMA, 1995 [2] ADLER, Dilercy (Organizadora). I COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 1998. [3] ADLER, Dilercy (Organizadora). II COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2000. ADLER, Dilercy (Organizadora). III COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2002. ADLER, Dilercy (Organizadora) IV COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2004. [4] ANTONIO AÍLTON. CARAS DA POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA. JP Turismo, caderno do Jornal Pequeno, p. 4 e 5, no dia 30/12/2016 Categoria Literatura & Esporte

A POETA MARANHENSE DILERCY ADLER É MEDALHA DE OURO ESPÍRITO SANTO DAS ARTES, MEDALHA DE EXCELÊNCIA LITERÁRIA DO MUSEU PÓS-MODERNO DE EDUCAÇÃO E DA ACADEMIA ESTUDANTIL DE ARTE CONTEMPORÂNEA NA CADEIRA DA IMORTAL MARIA FIRMINA DOS REIS, PALESTRANTE NO I ENCONTRO ESTUDANTIL DE ARTE CONTEMPORÂNEA - BRASIL -2017


TERCEIRO ENCONTRO NACIONAL DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL FOI NA GRANDE VITÓRIA, NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. No dia 25 de março de 2017, nas instalações do Teatro Municipal de Vila Velha, na Cidade de Vila Velha, ES foi realizado o III Encontro Nacional da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, presidido pela Escritora Dilercy Aragão Adler. Participaram do evento diversas Personalidades Culturais do Espírito Santo, Maranhão, Rio de Janeiro, Brasília e Bahia, dentre os quais, o Senador da Cultura, representando o Estado do Rio de Janeiro, junto ao Congresso da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, Agostinho da Conceição Rodrigues Filho que na solenidade representava a Presidente do Congresso Nacional da SCLB, a Escritora Maria Aparecida de Melo Calandra. HOMENAGEADOS NO III ENCONTRO NACIONAL DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL, DIA 25/03/2017 – CLores Holanda Silva. Natural de Presidente Dutra- Maranhão, Brasil. Aposentada da Universidade Federal do Maranhão. Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). MembroFundadora da Academia Ludovicense de Letras (ALL). Publicou: o livro Mil Poemas Para Gonçalves Dias: Diário de Viagem. Participou da Antologia Pelos caminhos da Força Expedicionária Brasileira na segunda guerra mundial: condições e contradições de uma época.Fundou a Biblioteca “Mísula do Saber”, do Memorial Cristo Rei, museu da UFMA. Dilercy Aragão Adler. Nasceu em São Vicente Férrer/MA/Brasil; Acadêmica de São Luiz do Maranhão, Presidente da Sociedade de Cultura Latina;, Doutora em Ciências Pedagógicas-ICCP/CUBA, Mestre em Educação, Membro, fundadora e Presidente da Academia Ludovicense de Letras - ALL, ocupando a Cadeira de nº 8. Titular da Cadeira Nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM. Presidente fundadora da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão -SCLMA, Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil. Jucey Santos de Santana. Maranhense, escritora e ativista cultural. É graduada em direito com especialização em Direito de Trabalho e Metodologia da Língua Portuguesa. Tem dois livros publicados: Mariana Luz, Vida e Obra(2014) e Itapecuruenses Notáveis (2016), Faz parte da diretoria da FALMA (Federação das Academias de Letras do Maranhão); é uma das fundadoras e faço parte da diretoria da APAC unidade de ItapecuruMirim (MA), sendo responsável pela biblioteca e pelo projeto “Leitura para Remição da Pena”; Maria de Fátima Rodrigues Travassos Cordeiro. Presidente e membro fundador da Academia Vianense de Letras – AVL, ocupante da Cadeira n° 12, patroneada por Celso Magalhães; é membro da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão e da Academia Norte Americana de Literatura Moderna; é Procuradora de Justiça e exerceu o cargo de Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado do Maranhão; publicou a obra jurídica Audiência Preliminar no Procedimento Comum Ordinário (Editora Síntese, Porto Alegre, 1999), e poesias e artigos em revistas e jornais; prefaciou publicações e é Paulo Melo Sousa. Maranhense de São Luís do Maranhão,Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão. Ele é jornalista, escritor, poeta, pesquisador, Formado em Desenho Industrial e em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA, possui Especialização em Linguística Aplicada ao Uso das Línguas Materna e Estrangeira e em Jornalismo Cultural (UFMA). É ainda Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Paulo Roberto Ribeiro Walter de Negreiros. Acadêmico Titular Das Academias De Letras : Serra ; Fortaleza; Coninter;Imperial S. Constantino ; Confraria Cultural Da Cultura (Rj) ; Orador Oficial Da Aleas, Mestre De Cerimonias Ctc; Presidente Da Associação Dos Artistas Plásticos Da Serra E Do Sindicato Estadual Do Fisco Municipal-Es. Formação:Administração de empresas - FAESA; Gerência empresarial UNESIT; Teologia-neo; Ciências Políticas Detentor Da Comenda Da Paz - Nelson Mandela ( Falarj-Rj) ; de


Eglif Negreiros e Tarcy Ribeiro Walter Ribeiros.; Concursado para o cargo de Fiscal de Rendas da Prefeitura Municipal da Serra; Assessor Técnico da Secretária Estadual de Saúde..

ASSEMBLÉIA GERAL EXTRAORDINÁRIA DA SCLB - No dia seguinte, 26 de março, já na Praia de Carapebus, no Município da Serra, ES, foi realizada uma Assembléia Geral Extraordinária da Sociedade de Cultura Latina do Brasil onde foram discutidos e debatidos diversos assuntos, entre os quais a revitalização da SCLB. Sobre o assunto, a Presidente Nacional Dilercy Aragão Adler encaminhou aos associados a seguinte comunicação: "Prezados Membros da SCL, Realizamos o "III Encontro Nacional da Sociedade de Cultura Latina do Brasil"- SCLB., em Vitória/ES com o imensurável apoio de Clério Borges, Senador da Cultura da SCL, o que nos permitiu iniciar a revitalização da SCL, a partir da composição da Diretoria Executiva da SCLB. Além disso, vamos iniciar um chamamento para os Estados também fazerem o mesmo na suas sedes. Aqueles que ainda não têm a Sociedade de Cultura Latina - SCL ou que tiveram e não estão mais atuando que possamos relacionar e indicar nomes, com o cuidado de previamente verificarmos a real situação de cada unidade da Federação. Para tal quero contar com todos. Precisamos ainda contar com os Ex- Presidentes e Presidentes atuais que produzam um histórico da SCL da sua localidade. Também esperamos contar com todos nesse trabalho de resgate de memória da SCL. Abaixo os nomes que foram aceitos para compor a Diretoria Executiva da Sociedade de Cultura Latina do Brasil, na Assembleia Geral Extraordinária, realizada na cidade de Serra/ES, no dia 26 de março de 2017. Solicitamos a Almir Zarfeg de Teixeira de Freitas (BA), Gaitano Antonaccio (AM), Arlindo Nóbrega (SP) que confirmem a aceitação da indicação dos seus nomes e a Clério Borges que envie o e-mail da Kátia Maria Bobbio Lima - (ES), para contatos. Saudações Latinas, Dilercy Aragão Adler DIRETORIA EXECUTIVA (Eleita no dia 26/03/2017, na Rua Hade, Praia de Carapebus, Serra, Grande Vitória, Estado do Espírito Santo, Brasil) Presidente – Dilercy Aragão Adler (MA) 1º Vice-Presidente – Vicente Alencar (CE) 2ª Vice-Presidente – Magnólia Pedrina Sylvestre (ES) 1º Secretário - Almir Zarfeg de Teixeira de Freitas (BA) 2ª Secretário – Gaitano Antonaccio (AM) 1º Tesoureiro – Ângela Lino de Jesus Veríssimo (ES) 2º Tesoureiro - Ruy Pinto (RJ) Diretor Executivo – Jucey Santos de Santana (MA) Diretor Cultural – João Roberto Vasco Gonçalves (ES) Diretor Social – Arlindo Nóbrega (SP) DIRETORIA FISCAL (Conselho Fiscal): Kátia Maria Bobbio Lima - (ES) Soemia Pimentel Cypreste (ES) Breno Bonnin (PR)."



NO MUSEU PÓS-MODERNO DE EDUCAÇÃO -ALCÂNTARA -SÃO GONÇALO -RJ-BRASIL


Estimada Sra. Profª. DILERCY ARAGÃO ADLER, Tenho o prazer de lhe informar que a Senhora será agraciada com a Medalha do Mérito da Força Expedicionária Brasileira, concedida pela Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul – ALMS, durante a Sessão Solene em alusão ao Dia da Vitória, que será realizada no dia 4 de maio (quinta-feira) às 19:00 hs, conforme o convite expedido pela ALMS, em anexo. Por favor, confirme presença no evento, ou designe representante e, chegando ao local, no dia da solenidade, apresente-se à equipe do cerimonial para a confirmação de presença e consequente posicionamento nos locais destinados aos agraciados. Parabéns e muito obrigado pelo seu precioso apoio. Saudações febianas. Wellington Corlet dos Santos – Cel R-1 Vice-Presidente da ANVFEB / SR MS Cerimonial da ALMS RSPV: 67-3389 6233 67-3389 6359


O “I Encontro Estudantil de Arte Contemporânea” do A.E.A.C., no Rio de Janeiro, de 25 a 26 de maio de 2017 foi um evento memorável, com participantes de outros Estados do Brasil e de outros países. A “I Antologia Infanto-juvenil da Academia Estudantil de Arte contemporânea do Museu Pós-Moderno de Educação” organizada por Vanda Salles, também idealizadora do evento, foi apresentada aos participantes e público presente e está primorosa, muito bem planejada e sinto-me honrada em participar dessa obra. Convém enfatizar que o ponto alto do Evento ficou por conta da felicidade estampada no rosto dos estudantes e também por eu ter mais uma oportunidade de apresentar Maria Firmina dos Reis a um público novo, o que julgo uma nobre missão de todos da ALL. Fiquei muito feliz também, pela oportunidade de mais uma vez compartilhar da companhia encantadora de um casal que prezo muito: Julio Pavanetti, e Annabel Villar, Presidente e Tesoureira, respectivamente do Liceo Poético de Benidorm/Espanha, do qual sou Delegada no Maranhão e Vanda Salles, no Rio de Janeiro. Ambos grandes escritores e divulgadores da Cultura em todos os continentes. Muito grata a Vanda Salles por esta oportunidade!!!



Sobre o encontro no Rio. Eu apresentando Maria Firmina ao publico presente.

O “I Encontro Estudantil de Arte Contemporânea” do A.E.A.C., no Rio de Janeiro, de 25 a 26 de maio de 2017 foi um evento memorável, com participantes de outros Estados do Brasil e de outros países. A “I Antologia Infanto-juvenil da Academia Estudantil de Arte contemporânea do Museu PósModerno de Educação” organizada por Vanda Salles, também idealizadora do evento, foi apresentada aos participantes e público presente e está primorosa, muito bem planejada e sintome honrada em participar dessa obra. Convém enfatizar que o ponto alto do Evento ficou por conta da felicidade estampada no rosto dos estudantes e também por eu ter mais uma oportunidade de apresentar Maria Firmina dos Reis a um público novo, o que julgo uma nobre missão de todos da ALL. Fiquei muito feliz também, pela oportunidade de mais uma vez compartilhar da companhia encantadora de um casal que prezo muito: Julio Pavanetti, e Annabel Villar, Presidente e Tesoureira, respectivamente do Liceo Poético de Benidorm/Espanha, do qual sou Delegada no Maranhão e Vanda Salles, no Rio de Janeiro. Ambos grandes escritores e divulgadores da Cultura em todos os continentes. Muito grata a Vanda Salles por esta oportunidade!!!


MARIA FIRMINA DOS REIS no “I ENCONTRO ESTUDANTIL DE ARTE CONTEMPORÂNEA” da Academia Estudantil de Arte Contemporânea Moderna -A.E.A.C. Rio de Janeiro, de 25 a 26 de maio de 2017

DILERCY ADLER Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Maria Firmina Dos Reis

Bom dia! Quero saudar a todos de modo inverso, segundo o protocolo habitual, ou seja, saúdo os componentes da mesa e a todos os presentes, em nome deste público estudantil maravilhoso que é a razão principal da nossa participação neste Encontro Estudantil de Arte Contemporânea. Desejo expressar também o meu prazer em estar nesta mesa, ao lado de pessoas tão especiais e queridas, como Júlio Pavanetti e Ananabel Vilar, Presidente e Tesoureira, respectivamente, do Liceo Poético de Benidorm/Espanha Uruguai/ Espanha; Adela Figueroa e MaiteCaramés da Galiza; Salvador VersidaArgentina; Marta Viveiros e Vanda Lúcia da Costa Salles desta escola no Rio de Janeiro/Brasil, que nos recebem. Agradeço a todos os organizadores, em especial a Vanda Salles, que me convidou para falar de Maria Firmina neste Encontro Estudantil. E assim, passo a falar, com muita honra, acerca de um pouco da grandiosa obra e vida desta doce e forte mulher:Maria Firmina dos Reis (1825-1917), Escritora e Professora, que nasceu na Ilha de São Luís, no Maranhão/Brasil em 11 de outubro de 1825. Foi registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Prima do escritor maranhense Francisco Sotero dos Reis por parte da mãe, “Negra e bastarda”, como é registrado em vários escritos sobre ela. Em 1830,mudou-se com a família para a Vila de São José de Guimarães, no continente, município de Viamão.Viveu parte de sua vida na casa de uma tia materna mais bem situada economicamente.


Em 1847, concorreu à Cadeira de Instrução Primária em Guimarães. Exerceu a profissão, como professora das primeiras letras, de 1847 a 1881.Desde muito jovem, aos 22 anos, Maria Firmina dedicou-se ao magistério, uma das poucas atividades trabalhistas designadas às mulheres de sua época. Após ser aprovada em um concurso público (1847), passou a lecionar como professora das primeiras letras na cidade de Guimarães – MAtornando-se, assim, a primeira Mestra Régia desse município. Em 1880, fundou uma escola gratuita e mista, para meninos e meninas, o que causou escândalo no povoado de Maçaricó, em Guimarães. A escola teve que ser fechada em menos de três anos Um episódio que demonstra a sua aguçada sensibilidade e consciência política diz respeito ao dia em que foi receber o título de nomeação para exercer o cargo de professora: os seus familiares queriam que fosse de palanquim (espécie de liteira em que as pessoas mais ricas se faziam transportar, conduzidas por escravos) e ela recusou-se irrevogavelmente explicando: Negro não é animal para se andar montado nele. De forma inteligente e verdadeiramente cristã afirmava que a escravidão contradizia os princípios do cristianismo, que ensinava o homem a amar o próximo como a si mesmo (ADLER, 2014, p.8). Enfrentou a barreira dos preconceitos por ser “negra e bastarda”. Publicou, aos 34 anos, o romance Úrsula, em 1859,considerado o primeiro romance abolicionista doBrasil e um dos primeiros escritos produzidos por uma mulher brasileira. Úrsula é considerada obra singular, por ser criada por uma mulher de descendência africana.Nela a autora evidenciaa condição de desigualdade a que as mulheres, africanos e seus descendentes viviam no Brasil oitocentista, em decorrência do regime patriarcal. A arte e a vida se entrelaçam, se interpenetram e podem contribuir para o resgate de sujeitos históricos. Na obra firminiana, a luta adentra espaços até então não reclamados.Sua obra apresenta perspectiva étnica e de gênero que expressa denúncias contundentes à situação da mulher e do negro na sociedade de seu tempo, [...] essa obra atribuiu ao negro a configuração até então negada: a de ser humano, portador de sentimentos, memória e alma (MENDES, 2006, 2008). Seus personagens negros são protagonistas, desconstrói,assim, o estereótipo racial que sempre deu ao negro uma conotação negativa:Túlio é uma verdadeira exaltação à raça negra. Em 1887, escreveu um conto sobre o mesmo tema, A Escrava.Em 1871,publicou a coletânea de poesias Cantos à beira-mar. Também colaborava com jornais literários. .Não há dúvida de que Maria Firmina foi e continua sendo considerada uma mulher, a exemplo de algumas outras, à frente do seu tempo, uma irrefutável visionária que ousou contribuir para a desconstrução da ideologia etnocêntrica e masculina vigente na sociedade da época por ela vivida. Sua luta, no seu tempo, considero-a mais contundente, pelas condições agudizadas dos preconceitos vigentes, do que a atual, por ser uma luta que persiste em função dos ranços das ideologias existentes ainda na nossa sociedade. Concomitante à sua audácia, ouso inferir que existe, na referência/verbalização acerca da sua obra, uma introjeção do sentimento de inferioridade advinda da sua própria origem étnica, do gênero e do substrato social ao qual pertencia. Contudo, a mim não fica claro se é real (se ela se via realmente assim), ou se assim se expressava para diminuir o impacto da sua obra que ia de encontro aos valores e à moral da época, pois inicia o Prólogo do seu romance Úrsula, dizendo: [...] mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a lume. Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor.Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução misérrima, apenas conhecendo a língua de seus pais, e pouco lida, o seu cabedal intelectual é quase nulo” (REIS, 2004 p 13 apud MOLINA).


Além dos livros, contos, das poesias e charadas, Maria Firmina dos Reis incursionou pelo mundo da música compondo letras e melodias, entre as quais, hinos (à Libertação dos Escravos, à Mocidade),Auto de Bumba Meu Boi e outras composições, comoValsa, entre outras. Segundo Morais Filho, a entrada oficial de Maria Firmina dos Reis na Literatura maranhense foi bem recepcionada pela imprensa maranhense com palavras de entusiasmo e estímulo à estreante. Posteriormente, também, segundo Nascimento de Moraes apud Adler (2014, p.8), Maria Firmina dos Reis foi vítima de uma amnésia coletiva, ficando totalmente esquecidos o seu nome e a sua obra. Mas, como a Fênix, ressurge das cinzas. Ressurge das cinzas, sim, pelas mãos do maranhense Nascimento Morais Filho e do paraibano Horácio Almeida e, também, pela cidade de Guimarães/MA onde viveu a maior parte de sua vida e veio a falecer, que cultua a sua memória e pela Academia Ludovicensede Letras-ALL, Academia de Letras da cidade onde nasceu, São Luís, fazendo-a Patrona da sua Casa: Casa Maria Firmina dos Reis. Em 1975, foi instituído o Ano Internacional da Mulher e nesse mesmo ano foi também comemorado, em Guimarães, no dia 11 de outubro, o Sesquicentenário de nascimento de Maria Firmina dos Reis, que contou com uma vasta programação, e, entre as homenagens prestadas a ela, a Prefeitura e a Câmara Municipal de Guimarães decretaram esse dia feriado municipal a partir daquele ano. Em 2013, foi criada a Academia Ludovicense de Letras, em São Luis, capital do Maranhão e o nome de Maria Firmina dos Reis foi o escolhido, pelos membros fundadores, para Patronear a Casa. Apesar de toda a sua luta por uma sociedade mais justa e igualitária, Maria Firmina faleceu pobre e cega, no dia 11 de novembro de 1917, aos 92 anos de idade. Nascimento de Morais Filho, de forma carinhosa, diz que, aos 80 anos retratava o quadro da velhinha negra de cabelos grisalhos, amarrados atrás da nuca, vestida de roupas escuras e sandálias. Imagino a cena... E vejo-a com o peso dos anos somado à dor de um tempo cruel, a exemplo de outros tantos, que rouba partículas essenciais de vida, sugando de forma perversa e incessante o que de mais belo um ser humano pode ter. Devemos reavivar a nossa memória, principalmente no que concerne àqueles que não tiveram o devido reconhecimento no seu tempo ou depois dele. NO ÁLBUM DE UMA AMIGA Maria Firmina dos Reis D'amiga a existência tão triste, e cansada, De dor tão eivada, não queiras provar; Se a custo um sorriso desliza aparente, Que máguas não sente, que busca ocultar!?... Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar. D'amiga a existência Não queiras provar, Há nelas tais dores, Que podem matar. O pranto é ventura, Que almejo gozar; A dor é tão funda, Que estanca o chorar. Se intento um sorriso, Que duro penar!


Que chagas não sinto No peito sangrar!... Não queiras a vida Que eu sofro - levar, Resume tais dores Que podem matar. E eu as sofro todas, e nem sei Como posso existir! Vaga sombra entre os vivos, - mal podendo Meus pesares sentir. Talvez assim Deus queira o meu viver Tão cheio de amargura. P'ra que não ame a vida, e não me aterre A fria sepultura.

ACRÓSTICO MARIA FIRMINA M aria Firmina A mou a humanidade R esgatou o sentido da vida e da liberdade I ncansável e A morosamente em cantos versos e gestos de solidariedade! F oi fiel aos verdadeiros princípios cristãos I ndignou-se contra a vil e ignóbil escravidão R evolucionou os costumes da sua época M ansa e tenazmente I mpôs-se heroicamente numa luta desigual No limbo - sob o tapete hibernou mais de um século- injustiçada A gora – hoje- te damos esta casa para seres por nós e muitos outros sempre sempre lembrada! (ADLER, junho de 2014). REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO À PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS: ontem uma maranhense; hoje, uma missão de amor! São Luís: Academia Ludovicense Letras, 2014. MOLINA, Lívia Menezes da Costa www.letras.ufmg.br/literafro/data1/autores/102/mariafirminacritica 02.pdf MORAIS José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975.

MARIA FIRMINA DOS REIS OBRAS: ÚRSULA (romance, 1859), GUPEVA (romance de temática indianista, 1861), CANTOS À BEIRA-MAR, poesia, 1871, A ESCRAVA (conto antiescravista,1887), ANTOLOGIA POÉTICA PARNASO MARANHENSE: coleção de poesias, editada por FlávioReimar y Antonio Marques Rodrigues. 1861.


PUBLICAÇÕES nos seguintesjornaisliterários: Federalista; Pacotilha; Diário do Maranhão; A Revista Maranhense; O País; O Domingo; Porto Livre; O Jardim dos Maranhenses; SemanárioMaranhense; Eco da Juventude; Almanaque de Lembranças Brasileiras; A Verdadeira Marmota; Publicador Maranhense; e A Imprensa. COMPOSIÇÕES MUSICAIS Auto de bumba-meu-boi; Valsa;Hino à Mocidade;Hino à liberdade dos escravos;Rosinha, valsa;Pastor estrela do oriente;Canto de recordação, “à Praia de Cumã”. POEMAS AVULSOS O Meu Desejo;Uma Tarde no Cuman;Ah! Não Posso;No Álbum de Uma Amiga;Ela!; Seu Nome;Confissão;Donzela, tu suspiras - esse pranto;Meditação;Nas Praias do Cuman - Solidão e A Uma Amiga.


XVII Seminário Nacional / VIII Seminário Internacional Mulher & Literatura (Salvador, 17 a 20/09/2017)

Prezada Dilercy Aragão Adler, Espero que esteja muito bem. Seu contato me foi repassado pela colega Luiza Lobo, que indicou seu nome para uma mesa de debates sobre Maria Firmina dos Reis a ser realizada na Universidade Federal da Bahia. E escrevo justamente para formalizar esse convite. Estou encarregado pela coordenação do XVII Seminário Nacional / VIII Seminário Internacional Mulher & Literatura (Salvador, 17 a 20/09/2017) de organizar uma mesa redonda alusiva ao centenário de morte de Maria Firmina dos Reis. E seria de suma importância termos a sua presença como pesquisadora que trabalha in loco com a herança e a memória deixada pela escritora. A Luiza Lobo não vai poder participar, infelizmente, pois já tem compromisso fora do país nesta data. Convidamos também a professora Norma Telles, de São Paulo, que aceitou mas condiciona a participação dela ao estado de saúde, atualmente delicado. Mas demonstrou grande interesse em estar conosco na Bahia em setembro. Caso possa aceitar, vai ser muito bom, Firmina merece. Quaisquer outros detalhes que deseje esclarecer, estou à disposição (cel.: 31 98794-6272). Atenciosamente, Eduardo de Assis Duarte Faculdade de Letras – UFMG www.letras.ufmg.br/literafro


ANTONIO NOBERTO Lanรงamento do livro "Guerra urbana, morrendo pela vida loka", do jornalista Nelson Chagas Melo. Tarde / noite de sexta feira, 31, no auditรณrio do CCH do Cotur Ufma


JOÃO FRANCISCO BATALHA

João Batalha autografa livro sobre a História do Arari, ao jovem Elder, estudioso e pesquisador da nova geração arariense.

Maranhense de Arari, João Francisco Batalha toma posse, em Salvador/BA como Nobre Shriner Internacional


O Shriners é uma instituição internacional composta exclusivamente de Maçons, o que não significa que todos maçons sejam Shriners. Baseada nos princípios de amor fraterno, auxílio e verdade,conta para seu funcionamento com a participação maciça das esposas dos seus sócios. Conhecido pelo atendimento oficial e gratuito na área de saúde as crianças com até 18 anos de idade, é uma entidade reconhecida pela ONU e pelos principais países como a organização de maior Filantropia do Mundo.

Existe clubes Shriners espalhados por todo o mundo. O Shriners Club Bahia fundado 16 de junho de 2107 é o quarto fundado no Brasil, depois dos clubes do Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso e está constituído por trinta e nove nobres fundadores entre os quais o maranhense João Francisco Batalha. Sócios fundadores do Shriners Club Bahia em solenidade realizada no dia 16.06.2017, no Gran Hotel Stella Maris Resort & Conventions.


ARQUIMEDES VALE REUNIÃO DA ABRAMES NO CREMERJ.


PALESTRA MAGNA – MARIA FIRMINA DOS REIS – PRIMEIRA ESCRITORA BRASILEIRA


MIRIAM LEOCÁDIA AMORIM PINHEIRO ANGELIM O ESTADO MA, 03 maio 2017 – PH REVISTA


CLORES HOLANDA SILVA Presidutrense Clores Holanda recebe título de Comendadora e Comenda José de Anchieta no Espírito Santo. CLORES HOLANDA SILVA, Natural de Presidente Dutra, Maranhão. Aposentada da Universidade Federal do Maranhão. Sócia Efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). MembroFundadora da Academia Ludovicense de Letras (ALL).

Publicou o livro Mil Poemas Para Gonçalves Dias: Diário de Viagem. Participou da Antologia Pelos caminhos da Força Expedicionária Brasileira na segunda guerra mundial: condições e contradições de uma época. Fundou a Biblioteca “Mísula do Saber”, do Memorial Cristo Rei, museu da UFMA – Universidade Federal do Maranhão. HONRARIS RECEBIDAS EM VITÓRIA E VILHA VELHA, NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO EM 2017 Em 24 de março de 2017, recebeu o título de COMENDADORA, Distinção em Educação, outorgado pela ONG – Professora Maria Mercêdes Müller – AMIGOS DA EDUCAÇÃO e o CTC – Clube dos Trovadores Capixabas, pelos serviços prestados à Educação, socialização de saberes, valorização do magistério e pela semeadura de conhecimentos, partilhando experiências e difundindo a Cultura e a Educação de nossa gente, em plagas capixabas, evento realizado no Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, na Cidade de Vitória – Espírito Santo, Participou do III ENCONTRO NACIONAL DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL, no dia 25 de março de 2017, no Teatro Municipal “Elio de Almeida Vianna”, de Vila Velha – Cidade de Vila Velha – Espírito Santo, e recebeu as seguintes honrarias: PERSONALIDADE CULTURAL DE 2017, AMIGO DA CULTURA LATINA, pelo seu reconhecido trabalho cultural e relevante serviço prestado a cultura latina COMENDADORA E A COMENDA JOSÉ DE ANCHIETA 2017 – GRANDE BENEMÉRITO, outorgada pelo Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, em reconhecimento ao relevante trabalho desenvolvido em favor da Cultura, das Artes e das Letras no Espírito Santo e no Brasil.


LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

ARTIGO PUBLICADO NO BOLETIM DA FIEP no. 86/2016


UMA HISTÓRIA DO FUTEBOL NO MARANHÃO – POR SEUS PROTAGONISTAS... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Academia Ludovicense de Letras Professor de Educação Física; Mestre em Ciência da Informação RESUMO Resgata-se a memória recente do futebol maranhense, através de história de vida dos participantes de curso de formação de técnicos de futebol, promovido pela AGAP-MA/FAAP. Utilizou-se da história oral. FUTEBOL, MARANHÃO, MEMÓRIA

Recentemente, estive envolvido num projeto da AGAP-MA - ASSOCIAÇÃO DE GARANTIA AO ATLETA PROFISSIONAL DO MARANHÃO, em parceria com a FAAP - FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE ATLETAS PROFISSIONAIS. Trata-se do "Curso de Formação de Treinadores de Futebol", promovido por ambas as entidades. A disciplina, HISTÓRIA DO FUTEBOL NO MARANHÃO, sob minha responsabilidade. Pediram-me para abordar o tema, com uma introdução sobre o surgimento do futebol e sua introdução no Brasil, até sua 'inauguração' no Maranhão, vindo até os dias atuais. Ao tratar da memória do futebol maranhense 70, deparamo-nos com personagens emblemáticos que influenciaram toda uma geração, temos um bom argumento para contar uma História de Vida. Contar a vida de alguém requer pesquisa, entrevistas e despojamento de ideias preconcebidas. Pela quantidade de questões que levanta, o tema é um sem fim de perguntas... (Fukelman, 2015) 71 . Coriolano Rocha Junior (2015)72 ressalta que: [...] a investigação a partir da compreensão de um projeto de modernização local, também guarda enormes diferenças em relação a outros estados, mesmo que estes tenham servido de inspiração. As realidades locais fizeram com que houvesse diferenciações, no porte, no tipo, no período de realização e no perfil dos agentes executores. (grifos meus)

Esse autor adverte que estudos sobre a história do esporte, normalmente, associam seu surgimento, sua constituição aos elementos da modernidade, e tendo por referências as pesquisas feitas a partir de cidades como São Paulo (SP) e mais ainda, o Rio de Janeiro (RJ). Para Coriolano: [...] o cuidado deve estar em não querer analisar outras localidades a partir da realidade destas duas. É preciso entender as peculiaridades de cada uma, suas especificidades, que dão a elas maiores ou menores possibilidades de assumirem o esporte como uma prática cotidiana. E aqui, os estudos históricos são centrais, justo por nos darem a possibilidade de compreendermos a forma como se estabeleceu, ao longo dos tempos, o fenômeno esportivo em cada espaço. (Rocha Junior, 2015). 73

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “Futebol”. In ATLAS DO ESPORTE NO MARANHÃO. São Luis: SEDEL, 2014 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. ‘Futebol no Maranhão: 1905-1917”. In DA COSTA, Lamartine Pereira da. ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro, 2006), disponível em www.atlasesportebrasil.org.br VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A INAUGURAÇÃO DO FUTEBOL NO MARANHÃO. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, Por Leopoldo Vaz • terça-feira, 30 de junho de 2009, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/06/30/a-inauguracao-do-foot-ball-no-maranhao/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O FUTEBOL MARANHENSE É TRIBUTÁRIO DO FUTEBOL INGLÊS…. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, domingo, 28 de junho de 2009, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/06/28/o-futebol-maranhense-e-tributario-do-futebol-ingles/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CONTRIBUIÇÃO DO URUGUAI AO FUTEBOL MARANHENSE. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, sexta-feira, 19 de junho de 2009, disponível http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/06/19/a-contribuicao-do-uruguai-ao-futebol-maranhense/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TÉCNICO ESTRANGEIRO NO MARANHÃO??? JÁ TIVEMOS, ZECA. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, sexta-feira, 17 de julho de 2009, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/07/17/tecnico-estrangeiro-no-maranhao-ja-tivemos-zeca/ CASTELLANI FILHO, Lino. DJALMA SANTOS 8.0… NÓS JOGAMOS COM ELE!. In BLOG DO LEOPOLDO VAZ, quarta-feira, 15 de julho de 2009, disponível em http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2009/07/15/djalma-santos-80-nos-jogamos-com-ele/ 71 FUKELMAN, Clarisse (Organizadora). EU ASSINO EMBAIXO: BIOGRAFIA, MEMÓRIA E CULTURA. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2015. 72 ROCHA JUNIOR, Coriolano P. “O esporte em Salvador: a realidade da pesquisa”. IN HISTÓRIA(S) DO SPORT. https://historiadoesporte.wordpress.com/2015/03/02/o-esporte-em-salvador-a-realidade-da-pesquisa/ , publicado em 02 de março de 2015, acessado em 02 de março de 2015. 73 ROCHA JUNIOR, Coriolano P., 2015, obra citada.


Em “Apontamentos metodológicos: biografias de atletas como fontes”, Rafael Fortes (2015) 74 afirma que livros biográficos são uma fonte pouco explorada na história do esporte no Brasil. Para esse autor, as fontes principais continuam sendo jornais e revistas, além de crônicas, obras de literatos etc. As biografias sob a forma de livro são um importante elemento da construção de representações sobre o esporte, embora não tão poderosas quanto o jornalismo periódico e as transmissões ao vivo por televisão e rádio. Faz, então, uma análise de como tais obras poderiam ser enriquecidas pela discussão existente na História a respeito da viabilidade/possibilidade da biografia como trabalho científico. Vale a pena acompanhar este debate, por proporcionar reflexões teórico-metodológicas interessantes: 1. Considerando que as biografias são obras sobre um indivíduo, que elementos são mobilizados para construir, descrever, explicar, narrar etc. sua trajetória (noção por si só rica, em termos de análise), bem como seus resultados, realizações etc.? É possível identificar traços comuns às biografias de atletas de modalidades individuais? E às de atletas de modalidades coletivas? Indo além: é possível perceber semelhanças e diferenças entre as características comuns, considerando tal dicotomia? 2. Quanto à autoria: quem é o autor da obra? O próprio atleta? O jornalista? Ambos? Parece-me haver três principais tipos, do ponto de vista formal: 3. a) Autobiografias em sentido estrito: o atleta escreve o texto (ou, ao menos, é assim que o livro é publicado: atribuindo o texto ao esportista). 4. b) Autobiografias com um (co) autor (geralmente um jornalista) [...] o "com" ou um "e" seguido do nome do jornalista está estampado na capa. Fico com a sensação de que, nestes casos, o autor é o jornalista e coube ao atleta dar os depoimentos e ajudá-lo com outras informações [...] é impossível saber ao certo que papeis foram desempenhados por cada um. 5. c) Biografias escritas por um jornalista. Neste caso, há a divisão entre "autorizadas" e "não autorizadas". As categorias são discutíveis (como, em parte, ficou evidente o debate travado em certos veículos de comunicação brasileiros há cerca de um ano e meio, a partir do grupo Procure Saber), mas há outros aspectos que podem ser analisados: os objetivos de quem escreve, os interesses da obra para a coletividade, a forma e o conteúdo.

Góis Junior; Lovisolo; Nista-Piccolo (2013)75, ao analisarem a utilização do modelo elisiano 76 em problemas de pesquisa no campo da História da Educação Física 77, e as características teóricas do processo civilizador de Elias, colocam que: “coletivamente, os indivíduos buscam no esporte, vivenciar emoções fortes, liberdade, poder”: O processo civilizador é construído a partir da teoria das configurações sociais, ou seja, como uma configuração inicial de poder político, econômico, social se transforma em outra, e concomitantemente, são transformadas as estruturas de personalidade dos indivíduos. Se não estudamos a relação entre estrutura política, poder e a personalidade dos indivíduos em sua conduta, não estudamos o processo civilizador.(Góis Junior; Lovisolo; Nista-Piccolo, 2013, p. 777).

Kátia Rubio 78 ao nos trazer a história dos atletas olímpicos brasileiros cita Jung, para quem: A história de uma vida começa num dado lugar, num ponto qualquer de que se guardou a lembrança e já, então, tudo era extremamente complicado. O que se tornará essa vida, ninguém sabe. Por isso a história é sem começo e o fim é apenas aproximadamente indicado. 74

FONTES, Rafael. “Apontamentos metodológicos: biografias de atletas como fontes”. In BLOG História(s) do Sport - Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer, UFRJ, POSTADO EM Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 2015. Disponível em https://historiadoesporte.wordpress.com/2015/02/23/apontamentosmetodologicos-biografias-de-atletas-como-fontes /, acessado em 23 de fevereiro de 2015. 75 GÓIS JUNIOR, Edivaldo; LOVISOLO, Hugo Rodolfo; NISTA-PICCOLO, Vilma Lení. “PROCESSO CIVILIZADOR: APONTAMENTOS METODOLÓGICOS NA HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA”. In REV. BRAS. CIÊNC. ESPORTE, Florianópolis, v. 35, n. 3, p. 773-783, jul./set. 2013. 76 Segundo GÓIS JUNIOR, Edivaldo; LOVISOLO, Hugo Rodolfo; NISTA-PICCOLO, Vilma Lení (2013), “Os estudos de Elias ganharam maior repercussão na área de Educação Física por influência de artigos que tematizaram o Esporte à luz do modelo eliasiano, sobretudo na Inglaterra. Por exemplo: Eric Dunning (DUNNING; MENNEL, 1998; DUNNING; SHEARD, 1979; DUNNING; MURPHY; WILLIAMS, 1988; DUNNING, 1999; MURPHY; WILLIAMS; DUNNING, 1990), em diversos estudos, Sport Matters: Sociological Studies of Sport, Violence and Civilisation; The roots of football hooliganism; Barbarians, gentlemen and players: a sociological study of the development of rugby football, Football on Trial: Spectator Violence and Development in the Football World, sustentam a tese de que o Esporte, tanto na efetiva prática, como em sua espetacularização através dos veículos de comunicação de massa, formação de torcidas, e consequentes explosões de violência, é explicado a partir da formação do estado e monopólio da violência, e concomitantemente, com a formação de personalidades humanas e mecanismos de autocontrole”. 77 DUNNING, E. SPORT MATTERS: SOCIOLOGICAL STUDIES OF SPORT, VIOLENCE AND CIVILIZATION. London: Taylor & Francis, 1999. ELIAS, N.; DUNNING, E. A BUSCA DA EXCITAÇÃO. Lisboa: Difel, 1992. GEBARA, A. “Norbert Elias e a teoria do processo civilizador: contribuição para a análise e a pesquisa no campo do lazer”. In: BRUHNS, H. T. (Org.). TEMAS SOBRE O LAZER. Campinas: Autores Associados, 2000. p. 33-46 LANDINI, T. S. “A Sociologia de Norbert Elias”. REVISTA BRASILEIRA DE INFORMAÇÃO BIBLIOGRÁFICA EM CIÊNCIAS SOCIAIS, São Paulo, n. 61, p. 91-108, 2006. 78 RUBIO, K. . ATLETAS OLÍMPICOS BRASILEIROS. 1. ed. São Paulo: SESI-SP Editora, 2015. v. 1. 648 p.


E serve-se de Hanna Arendt para explicar que: É isso a imortalidade: mover-se ao longo de uma linha reta num universo em que tudo o que se move o faz em sentido cíclico. Utilizo-me da História Oral 79, designação que se dá "ao conjunto de técnicas utilizadas na coleção, preparo e utilização de memórias gravadas para servirem de fonte primária" (BROWNW e PIAZZA, citados por CORRÊA, 1978, p. 13)80 .

Já na definição de Camargo (citado por ALBERTI, 1990)81, é o "conjunto sistemático, diversificado e articulado de depoimentos gravados em torno de um tema", ou como ensino a própria Alberti (1990), é o "método de pesquisa... que privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participam de, ou testemunham, acontecimentos...". A História Oral é legítima como fonte porque não induz a mais erros do que outras fontes documentais e históricas: "... o Programa de História Oral, indissociável da pesquisa documental e arquivística, apostou na estruturalidade da História e na dimensão social dos eventos, da vida e do desempenho de seus protagonistas, tanto quanto no caráter voluntarista e transformador da ação política em sua busca de mudar e atualizar as estruturas ..." (CAMARGO, citado por ALBERTI, 1990, p VIII).

Alberti (1990) chama-nos atenção da responsabilidade do entrevistador enquanto coagente na criação do documento da História Oral, já que sua biografia e sua memória são outras, e não estão em questão - é a dupla pertinência cultural (Max CAISSON, citado por ASSUNÇÃO, 1988) 82. Em qualquer pesquisa parte-se da questão de que há algo a investigar. Ao decidir-se pelo emprego da técnica da história oral, como sendo a mais apropriada, estabeleceram-se também os tipos de fonte de dados, tendo em vista que a história oral vale-se de outras fontes, além das entrevistas (SILVA, GARCIA e FERRARI, 1989) 83. Foi utilizado, neste caso, um tipo de fonte de dados: depoimentos na forma de memorial das pessoas elencadas como pertencentes à "elite" de jogadores profissionais que atuaram no estado do Maranhão, filiados à AGAP-MA, inscritos no Curso de Formação de Treinadores/2016. A listagem foi fornecida pela AGAP-MA, dos inscritos no referido curso - esse, o universo de estudo. São os depoentes em potencial, se é possível que prestem seus depoimentos e se estão em condições físicas e mentais de empreender a tarefa que lhes é solicitada. Estabelecidos os métodos restou-nos definir o depoimento – memorial de vida, estabelecidas algumas categorias simples, pretexto para o depoente se lançar no esforço de rememoração. São perguntas de ordem genealógica, história pessoal, sobre educação, educação física, esportes, pessoas conhecidas, relacionamentos, enfim, lembranças "daqueles bons tempos". O trabalho que se pretendeu foi o de integrar a uma estrutura social elementos e fatos isolados, procurando uma explicação causal, sem esquecer a descrição história (CARDOSO, 1988) 84. Para Berkoffer Jr. (citado por CARDOSO, 1988, p. 77), [...] a História (entendida como explicativa, respondendo aos porquês?) não pode explicar totalmente à 'crônica' (que responde a perguntas do tipo 'o que', 'quem', 'quando', 'onde', 'como'?). O objetivo é apresentar a História de Vida dos componentes da turma do Curso de Formação de Treinadores de Futebol, promovido pela AGAP-MA, em 2016.

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A História Oral tem sido utilizada desde o século XIX como uma técnica para se escrever História. A motivação maior na recuperação das técnicas orais parte de historiadores que percebem a necessidade de uma nova interpretação da História perante a sociedade (MELLO e FARIA JÚNIOR, 1994). 80 CORRÊA, Carlos Humberto P. HISTÓRIA ORAL - Teoria e prática. Florianópolis : UFSC, 1978 81 ALBERTI, Verena. HISTÓRIA ORAL - a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: FGV/CPDOC, 1990. 82 ASSUNÇÃO, Mathias Rohrig. A GUERRA DOS BEM-TE-VIS: a Balaiada na memória oral. São Luís : SIOGE, 1988. 83 SILVA, M. Alice Setúbal: GARCIA, M. Alice Lima: FERRARI, Sônia C. Miguel. MEMÓRIAS E BRINCADEIRAS NA CIDADE DE SÃO PAULO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX. São Paulo: Cortez, 1980. 84 CARDOSO, Ciro Flamarion. UMA INTRODUÇÃO À HISTÓRIA. 7 ed. São Paulo : Brasiliense, 1988.


FUTUROS TREINADORES DE NOSSO FUTEBOL – HISTÓRIAS DE VIDA O objetivo é resgatar a História de Vida dos ex-jogadores e alguns profissionais de educação física inscritos no Curso de Formação de treinadores de Futebol, promovido pela AGAP-MA, no ano de 2016. Durante a exposição dos atos e fatos que levaram à ‘inauguração’ do futebol no Maranhão, optamos por contar essa História através da biografia dos primeiros futebolistas e daquela geração que tornou conhecido o futebol maranhense, que atuava na década de 40, sobretudo. A época de ouro do futebol maranhense... A avaliação final da disciplina, ouvido o organizador do Curso, o Presidente de AGAP-MA Janio, ex-jogador e aluno do curso, optamos por um depoimento de cada inscrito, sobre sua História de Vida, dando continuidade a essa História que estamos resgatando. Várias gerações de ex-jogadores, presentes, possibilitará o resgate dessa História, pelo menos nos últimos 30 anos... É o que segue. Optamos como nos capítulos anteriores, pela data de nascimento como referencia, utilizando-se da mesma metodologia do Atlas do Esporte no Brasil e do Atlas do Esporte no Maranhão... JOSÉ EUZÉBIO FRÓES – EUZÉBIO - 1947 nasceu em 14 de agosto, em São Luis-MA. Fez o primário no Grupo Escolar Padre Antonio Vieira, no Anil; Ginásio no Colégio São Luiz; Científico no Colégio Getulio Vargas; Graduado em Administração, pela Faculdade Atenas Maranhense. Desde garoto,no bairro Anil, com os colegas, quase todos da mesma idade, onde a maioria chegou à primeira divisão, disputando em agremiações da Capital. Em seu caso, começou no nascente Clube, clube amador do Anil, em 1964 sagrando-se campeões da Liga Anilense, quando surgiu o convite para ir para o Aspirante do MAC. Depois, passou para o time principal, jogando, também, por empréstimo, no Moto Clube durante o Brasileirinho de 1972. Por que Treinador de Futebol? JOSÉ DE RIBAMAR DO NASCIMENTO – NASCIMENTO - 1954 nasceu em 1º de junho, em São José de Ribamar, no Bairro da Maiobinha, onde ainda reside. Filho de Elzita leitão Dinis nascimento e de João de Deus Cardoso Nascimento. Estudou do 1º ao 4º ano do primário no Colégio Estado do Mato Grosso, no Bairro Forquilha; o ginásio, do 5º ao 8º ano, estudou no CEMA; o 2º Grau concluiu no Colégio Henrique de LaRocque, formando-se em Técnico em Química. 1978 sua carreira de atleta profissional aconteceu por acaso, pois nunca teve a intenção de se profissionalizar. Aos 24 anos de idade, foi convidado a disputar o Torneio Intermunicipal, por Barra do Corda-MA, destacando-se como vice artilheiro da competição, sendo, então, convidado a jogar profissionalmente pela S.E. Tupan; em seguida, foi contratado pelo Moto Club de São Luís; no ano seguinte, foi contratado pelo Expressinho, depois Imperatriz, de volta ao Tupan, e a seguir pelo América, de Morrinhos-GO; atuou pelo CRAC, de Catalão; pelo Mineiros, de Goiás; pelo Nacional de Uberaba-MG. E pelo Luziânia-GO. JUVENAL MARINHO DOS PASSOS – JUCA BALEIA85 - 1959 nasceu em 03 de maio, em São LuisMA, filho de José Pedro Roland dos Passos e de Euzébia Marinho dos Passos. Estudou no Colégio Josué Montello, no Sacavém; depois mudou para a Cohab e estudou no Colégio Julio de Mesquita, onde fez o primário, e começou seu percurso no futebol, montando um time na escola, e jogava como centroavante. Quando foi para o Colégio de São Luis, passou a ju9gar futebol de salão e, depois quando entrou no 2o grau no ‘Coelho Neto’, passou a jogar Handebol e Voleibol; o futebol, jogava em time do bairro da Cohab, o Olaria Atlético Clube, cujo técnico era Arias Barros. Começou como centroavante e, um dia, na falta de um goleiro, ocupou a posição, tornando-se campeão e daí, nuca mais saiu do gol. Hoje, é formado em Educação Física. 1979 foi chamado para jogar no Sampaio Correia, juvenil na época, sagrando-se tricampeão maranhense, iniciando sua carreira no futebol. Do Sampaio, foi para o Expressinho (1979/82), onde jogou por três anos, sendo considerado o melhor do ano, na época, e revelação do primeiro ano; nesse periodo jogou também pelo Bacabal E.C.. 1983 foi para a equipe do MAC, onde ficou por 8 anos, sendo melhor do ano, e seleção maranhense. 1989 passa pelo Tupan. 1990/92 volta para o Sampaio, conseguindo um tricampeonato, e enfrenta os times da Seleção Carioca, Vasco da Gama, Palmeiras, jogando pela Copa do Brasil. 2001 aposenta as luvas, chegando a trabalhar como caminhoneiro. Atualmente, ganha a vida como professor de escolinha de futebol. Presidiu a AGAP-MA. Oliveira Ramos publicou: Nossa Gente 4- Todos no Mesmo Pódio: Juca Baleia;

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PASSOS, Juvenal Marinho dos. JUVENAL MARINHO DOS PASSOS “JUCA BALEIA”, E SUA TRAJETÓRIS NO FUTEBOL MARANHENSE. São Luis: UniCEUMA/Curso de Educação Física : 2011. Trabalho de conclusão de curso de licenciatura em educação física, do UniCEUMA, como requisito para obtenção do título de licenciado em educação física. Orientador: Carlos Izone de Carvalho.


JOSÉ DE RIBAMAR PINHEIRO – PEU, PINHEIRO - 1961 - Nasceu em São Bento-MA, em 02 de novembro, filho de Faustino Anastácio Pinheiro e Maria José Pinheiro. Tem Licenciatura Plena em Educação Física – UniCEUMA -, e Pósgraduado em Treinamento Esportivo – Faculdade Pitágoras/FAMA. 1976 Quando começou a jogar futebol era chamado de “Peu” pelos colegas, assim como já o chamavam de “Pinheiro”. Quando garoto, jogava bola no asfalto, faziam as travinhas e os peladeiros jogavam 3 x 3; Aos 15 anos (por volta de 1976) jogava nas salinas do bairro onde morava, Bom Milagre. Quando a família mudou-se para o Sá Viana, passa a jogar nas salinas daquele bairro, perto de sua casa. Pela manhã, ia para a escola; pela tarde, para as salinas jogar bola. As ‘peladas’ em muito boas, por isso foi se desenvolvendo no futebol, começando a jogar nos times do bairro. Jogou em uma escolinha do bairro, Deja´s, junto com outros garotos bons de bola, como Fuzué, Chita, Hélio, Raimundinho do Coroado. 1979 sua família retorna para o Bom Milagre. Toma conhecimento de iria haver uma ‘peneira’ no Estádio Santa Izabel, então sede do Vitória do Mar; fez os testes para jogar nos juniores, nas categorias de base do Vitória do Mar. Haviam 200 garotos inscritos e somente 26 foram selecionados, e como se saiu bem, estava entre os 26. Treinando e jogando nas categorias de base, foi chamado para a Seleção Maranhense. Aos 18 anos de idade, fora convidado para o time principal, profissionalizando-se. Jogava como médio volante, mas tinha facilidade de jogar pela lateral direita e de zagueiro, um verdadeiro coringa, com uma marcação muito boa, com saída de passe também boa. Em 1981, é transferido para um time médio a Sociedade Esportiva Tupan. O Tupan fez um grande time naquele ano, dirigido por Pedro Duarte, treinador que gostava muito do futebol maranhense, revelando grandes jogadores: Janio (atual presidente da AGAP-MA), Osvaldo, Dirceu, Gaspar, Malicia, Dicó, Airton Aires, dentre outros. Tornou-se campeão da Taça Cidade de São Luis, Vicecampeão maranhense. Pinheiro ficou dois anos no Tupan, quando em 1983 se transferiu para o Boa Vontade. Conseguira um emprego de dia e à noite ia treinar no Parque do Bom Menino, pois era lá que o Boa Vontade treinava. Jogou por cinco anos nessa equipe, conseguindo a reversão do profissional para o amador, indo disputar o campeonato anilense, da Cohab. Por ter se dedicado ao futebol, e sido atleta profissional, conseguiu um emprego nas Escolinhas de Futebol da então FUMDEL (hoje SEMDEL). Tendo passado a atuar como treinador de futebol das escolinhas de futebol mantidas pelo Município, pensou em voltar aos estudos, para melhor desempenhar a função, graduando-se em Educação Física, e depois fazendo uma Especialização em Treinamento esportivo. Com a graduação, passou a exercer outras funções, como treinador de Futsal, depois de Voleibol – Projeto Viva Voley - e, por ultimo, passa a trabalhar com o grupo de terceira idade – Projeto São Luís Saudável. Ao mesmo tempo, trabalhava com as divisões de base, sagrando-se campeão por Chapadinha, em 2004 e em 2007 pelo Internacional da Vila palmeira, no Sub-17; campeão nos anos de 2010 e 2011 pela categoria Sub-20, tanto como treinador, como preparador físico. Para se manter atualizado, continua estudando e fazendo cursos de capacitação. OSVALDO MONTEIRO - 1963 nasceu em São Luis, no dia 12 de dezembro de 1963. Estudou na C. E. Força Aérea brasileira (São Cristovão), Escola São Jose, e CEM Colho Neto, onde concluiu o 2º grau. Inicia sua trajetória nas peladas dos bairros da capital, em seguida participando de Campeonatos Estudantis e sendo convocado para a Seleção Maranhense, tanto estudantil, quanto os Juniores. Foi levado para a equipe de Juniorers do Internacional de Porto Alegre – RS, sendo campeão gaucho da categoria. Após a passagem pelo Inter, retorna à São Luis, contratado pelo Tupan, sendo vice artilheiro do Campeonato profissional. No ano seguinte, é comprado pelo Moto Club, um ano e meio depois, vai para Portugal, assinado contrato com o Nacional, da Ilha da madeira, ficando lá por uma temporada. Retorna à São Luis, contratado por quatro meses pelo Vitória do Mar. Retorna à Europa, precisamente na França, onde disputou o Campeonato da 2ª Divisão, iniciando suas andanças por vários países. Jogou na Turquia, Bélgica, Yugoslávia, Marrocos, Israel, estados Unidos... Depois de nove anos, retorna ao Brasil, indo jogar no Sampaio. Depois que parou, seguiu a carreira de treinador, trabalhando como auxiliar no Expressinho, dirigiu o Boa Vontade, São José de Ribamar, e categorias de base, como Uberlândia (MG), Sampaio Correia, ocasião em que dirigiu a categoria principal por três vezes, e também Escolinhas de Futebol. Hoje trabalha como treinador das equipes da OAB. JOSÉ RIBAMAR SANTOS JACINTHO ABREU - 1963 Nascido em São Vicente de Ferrer – MA. Pai: Afonso Gomes Abreu; Mãe: Conceição de Maria S. J. Abreu. 1992 Funcionário Estadual concursado e nomeado pela Sec. De Educação do Maranhão, como professor III. Professor Ed. Física formado graduado em Ed. Física na Faculdade Uni-Ceuma – MA. Fez ainda: 2003 Curso Teoria do Treinamento Desportivo promovido Gerencia de Estado de Esporte e Lazer (GESP), Professor Neiton Salvador Alfano Moura. 2005 Curso de Treinador na SITREPFES (Sindicato dos Treinadores Profissionais de Futebol do Estado de São


Paulo. 2007 III Clínica de Arbitragem Eletrobrás Nível I, promovido Confederação Brasileira de Basketball, professor Geraldo Fontana -Arbitro (Fiba). 2008 II Simpósio Multidisciplinar Saúde do Idoso, Coordenador Sebastião Coqueiro; Futsal – iniciação ao treinamento, professor Marcio Cunha. 1º Curso de Férias de Ed. Física na interiorização (Futebol), promovido Departamento de Ed. Física da UFMA (PREXAE). 2009 Curso Natação – Uniceuma – Aprendizado e aprimoramento, professor Maurício Cunha. 2011 - Educação Física e o ENEM (o conhecimento das praticas corporais), promovido pelo grupo Estudos e Pesquisas Pedagógicas em Educação Física Universidade Federaldo Maranhão Centro de Ciências Biológicas da Saúde em 2011. Ex-jogador de Futebol, começou nas categorias de base: Mesquita FC Rio de Janeiro; Bangu Rio de Janeiro 1981 a 1984. Clubes que jogou: Sampaio Correia – 1984 a 1987; Moto Club: 1988 a 1989; S.E. Tupam - 1989 a 1999; Bacabal E. C. 1999 a 1996; Coroatá E.C – 1997.Treinador de Futebol treinou times de Intermunicipais do Estado, pelas cidades de: S. VicenteVice-campeão do Intermunicipal– 2001; Campeão do Corão da Baixada, por São João Batista – 2002. 2006 trabalhou como preparador físico nas categorias do Maranhão Atlético Club –2009 a 2011 Nas categorias de base do Sampaio Correia. Assumiu alguns jogos do Juniores do Sampaio Correia no interior do Estado. CARLOS SOUSA FERNANDES AZEVEDO - 1964 nasceu em 21 de março em São Luís-MA, filho de Américo Azevedo e Maria dos Remédios Azevedo. 1983 Iniciou sua vida como jogador profissional na Sociedade Esportiva Tupan, onde jogou até 1988; naquele ano de 83, disputou o Campeonato Brasileiros de Juniores, pela seleção maranhense; 1988/89 disputou o Campeonato Maranhense pelo Vitória do Mar. Tendo abandonado o futebol profissional, passou a disputar o Torneio Intermunicipal durante os cinco anos seguintes. MOACIR SANTOS COSTA – MOACIR - 1964 nasceu em 27 de novembro, na Maternidade Benedito Leite, na cidade de São Luís-MA, filho de Ursulina Santos Costa e Marcelino Assunção Costa. Estudou na Escola Felipe Conduru do 1º ao 4º ano, e do 5º ao 8º ano no Evangelsta Rodrigueiro, terminando o 2º grau no Telecurso. 1979 Se interessou pela bola quando a sede do Moto Clube se mudou para o São Cristovão; foi ai que decidiu ser jogador de futebol, participando do Juvenil, e depois para o Juniores, como eram chamados as categorias de base. Depois de dois anos (1981) passou para o profissional, atuando até 1992, participando do elenco do Moto e de outras equipes daqui de São Luis e de fora, como Fortaleza e Goiás. Aposentou-se em 1999, sendo seu ultimo clube o Açailandia, o treinador era Caio, ex-campeão do mundo pelo Grêmio. LUIS CARLOS LIMA - 1964 nasceu em 17 de dezembro, na cidade de Rosário-MA, filho de José Maria Lima e de Escolástica. Iniciou seus estudos no Paulo Ramos, onde fez o primário; em seguida no Raimundo João Saldanha, onde concluiu o Ginásio, ambos na cidade de Rosário-MA. 1982/1984 Mudou-se para São Luis-MA, indo estudar na Escola Agrotécnica federal de São Luis, concluindo o Curso Técnico em Agropecuária. Começou sua carreira no futebol em sua cidade natal, numa equipe chamada Sociedade Esportiva Filipinho, jogando na equipe de base. Mais tarde, aos 15 anos (1979) foi efetivado na equipe principal. Mais tarde, atuou pela Seleção de Rosário, disputando alguns campeonatos Intermunicipais. Na Escola Agrotécnica, já em São Luis, participou de jogos Escolares, quando foi convocado para a Seleção Maranhense de Juniores, para disputar o Campeonato brasileiro de Seleções, despertando, então, o interesse de equipes da Capital, sendo contratado pelo Sampaio Correia, no ano de 1985, sendo campeão maranhense naquele ano, fazendo o gol do título, e escolhido como atleta revelação. Conquistou, em seguida, os campeonatos de 1986/87/88 e os de 1990/91/92. 1994 encerra a carreira, em função de um acidente em um jogo Sampaio x MAC (1991), pelo Campeonato Brasileiro de Futebol, onde teve um traumatismo craniano, em uma disputa de bola com Zé João, do MAC, sofrendo duas paradas respiratórias. ELSO LUIS COSTA FONSECA - 1965 nasceu a 05 de setembro, numa ilha de Cururupu, de nome Caçacueira. Filho de pescadores e domestica, sendo pai Miguel Arcangelo Gomes da Fonseca Filho, e mãe Clenes Lemos Costa Fonseca. Viveu até os 11 anos de idade em Caçacieira, onde começou os estudos no Colégio Grupo Escolar Dr. Henrique de LaRoque. Caçaciera foi onde começou a dar os primeiros chutes na bola. Na porta de sua casa faziam o campinho, sendo uma ilha a areia era fofa e servia muito bem para improvisar uma pelada. 1976 seus pais sentiram a necessidade de se retirar de Caçacueira, pois não queriam e Elso e seus outros irmãos tivessem a mesma profissão. Vieram morar com um tio, irmão de seu pai, em São Luis, na Rua da Cerâmica – João Paulo, onde até hoje mora, mas não na mesma casa. Chegando em São Luis foi matriculado no Grupo escolar Duique de Caxias, onde terminou o primário. O Ginásio fez na Escola José Sarney Costa. Morando no João Paulo, aos 12 anos, na época as ruas não eram asfaltadas, eram todas


de piçarradas, e mesmo assim, quando chegava do colégio, lá pelas 5:30, Elso e outros vizinhos armavam uma pelada, ali mesmo na rua, e batiam uma peladinha até por volta das 7 horas, quando as mães – no seu caso, a tia - chamavam para banhar e jantar. Quando chegou, em 76, na rua existia um time com o nome de Ipiranga, que na época só os adultos jogavam; foi quando um morador antigo da rua, chamado Eloi, resolveu fazer um time de garotos para jogar contra os garotos das outras ruas. Esses jogos eram realizados no campo do Quartel do 24º BC 0- hoje BIL -, aos domingos pela manhã. Até então não tinha nome o time, era só o nome da rua, no caso, Cerâmica. Foi aí que começaram a dar um nome para esse time; como tinha flamenguistas, vascaínos, e tricolor (no caso, Elso), para ninguém ficar zangado resolveram colocar o nome de Palmeiras, pois na época o futebol de São Paulo não era bem aceito. Com a fundação do Palmeiras logo surgiram outros times no bairro, e isso fez com que pudessem ser realizados campeonatos. Elso jogou Futebol de Salão por dois anos, pela Escola José Sarney Costa, onde fazia o curso ginasial, disputando os Jogos Escolares maranhenses – JEM´s. 1978 ouvindo um programa esportivo, na hora do almoço, tinha uma chamada do MAC, para garotos de 12 a 18 anos, para fazer uma peneira, atuar em suas categorias de base, na época chamadas de Dente-de-Leite, Infanto-Juvenil, e Juvenil. A peneira foi realizada em um sábado, com muitos garotos comparecendo, lá no Parque Valério Monteiro, no bairro da Cohama. E lá estava Elso. Quemk cuidava das categorias de base, na época, era o Dr. Jayron Guimarães, médico pediatra. Foi elequem fez a peneira, e Elso foi escolhido para defender a categoria dente-de-leite do MAC. Foi ai que começou sua carreira. Foi passando de categoria amadora até 1986, quando foi convocado para a Seleção Maranhense de Juniores, para disputar o campeonato brasileiro de Seleções, sendo a sede em São Luis, com a participação do Piauí, Pará e Amazonas, ficando o Maranhão em 2º lugar, fora da competição, pois apenas o campeão tinha vaga para a seqüência do campeonato. 1987 assinou seu primeiro contrato profissional, com o MAC; 1988 fez sua primeira viagem de avião, com o MAC, que fora convidado para uma excursão de 15 dias em Angola; lá fizeram quatro jogos, conseguindo um empate, duas vitórias e uma derrota. 1989 participa de seu primeiro campeonato brasileiro, pelo MAC; em 1990, o segundo, e em 1991 o terceiro. 1992, depois de 15 anos, deixa o MAC para defender o Tupan; 1993 estava no Bacabal Esporte Clube; 1994 foi o ultimo ano contato com o profissional, na Caxiense, da cidade de Caxias-MA. Hoje, trabalha com escolinhas de futebol, no João Paulo. Essa a razão de fazer o Curso de treinadores, para melhorar os seus conhecimentos e aprendizado, para melhor passar esse aprendizado para seus alunos. HILTON SOARES LIMA FILHO – HILTINHO - 1965 nasceu em 05 de junho, em Graça Aranha-MA, filho de Hilton Soares Liuma e de Alaide Araujo Lima. Iniciou os estudos em um pequeno povoado do município de Graça Aranha, denominado Gavião. 1975 sua avó o levou para morar em Imperatriz-MA, onde estudou da 1ª à 4ª séries no Grupo Escolar Tocantins e da 5ª à 8ª séries no Colégio Evangélico Ebenezer. Recorda-se de duas professoras muito educadas, do Grupo Escolar Tocantins: Das neves e Maria das Graças. 1982 inicia sua carreira na equipe Juvenil do Tocantins Esporte Clube, da cidade de Imperatiz, então contava com 16 anos. 1983 sobe para o profissional para a disputa do Campeonato Maranhense, já que o Juvenil disputava o Campeonato amador e foi campeão e artilheiro da competição; retorna a Graça Aranha, sua terra natal, onde inicia o 2º grau, não o terminando por motivos políticos, pois o mesmo foi extinto. Começa a carreira de jogador. 1984 já em Graça Aranha entrou na Segunda Divisão do campeonato maranhense, sendo contratado, naquele ano, pelo MAC, lembra da data: 11 de junho de 1984, quando se apresenta, para disputar o Campeonato Maranhense da 1ª Divisão; como ainda tinha idade de Juniores, sagrou-se bicampeão, dos anos 1984/85. 1986 passou em definitivo a integrar a equipe de profissionais do MAC. 1987 foi emprestado ao Vitória do Mar, equipe pequena de São Luis, onde foi artilheiro da equipe, com oito gols. 1988 retorna ao MAC, ficando até 1990, disputando competições estaduais e nacionais. Em uma dessas competições nacionais, Campeonato Brasileiro de 1990, se destaca, sendo contratado pelo CSA de Alagoas, tornando-se campeão alagoano do mesmo ano; e nesse mesmo ano retorna ao MAC para a disputa do Brasileiro, no segundo semestre, mais uma vez se destacando e o MAC acertou com Rubilota, um empresário, sua ida para o River Plate, da Argentina, para fazer um teste. Estava tudo correndo bem, Daniel passarela já havia dito que seria contratado, quando teve uma lesão durante um treino, antes de assinar o contrato. Retornou ao Brasil – março de 1991, e em maio vai para a Bélgica, assinando com o Turnhout, equipe da 2ª Divisão belga, sendo, mais uma vez, acometido da mesma lesão, no púbis, retornando em outubro daquele ano à São Luis, vindo a se operar com o Dr. Cassas de Lima. 1992 assina com o Moto Clube; 1993 retorna ao MAC, com a equipe quebrando um jejum de 14 anos se títulos. 1994 retorna ao Moto ficando até 1995, quando é contratado pelo Bacabal Esporte Clube. 1996 está no Araguaina, do


Tocantins, e no Codó – MA. 1997 retorna para o Araguaina; 1999 está no Ferroviário de São Luis, quando encerra a carreira. ROSENILSON SILVA AMARAL – NENEM - 1966 nasceu em 05 de novembro, na cidade de Olinda Nova-MA. Filho de Roosevelt Penha Amaral e Maria Irineia Silva Amaral. Estudou no Colégio CIPE, dos professores Azevedo, Ferreira e Novaes; seu primeiro professor de educação física e de futebol de salão (futsal) foi Carlos Augusto Alves. 1974 Começou a praticar o futebol aos 8 anos de idade, ainda no povoado Coqueiro, em Olinda Nova. Seu pai, conhecido como Coxo, quando vinha à São Luís, levava para ele e seus irmãos uma bola, para jogar. 1975 aos 9 anos mudaram para São Luís, quando começou a jogar nas famosas peladas de rua e, por ainda ser criança, os adultos não ocolocavam para jogar na linha, somente no gol e a partir daí ‘pegou gosto’ de ser goleiro. 1978 aos 12 anos fez teste no Maranhão Atlético Club – MAC, sendo aprovado. Passou a jogar nas categorias de base de 1980 a 1990, quando se submeteu a duas cirurgias de menisco (1990). Nesse mesmo ano passou a jogar no PAC – Pinheiro Atlético Clube, da cidade de PinheiroMa. 1991 transferiu-se para o BEC – Bacabal Esporte Clube -, da cidade de Bacabal, permanecendo por apenas 45 dias, transferindo-se a seguir para o Expressinho, conhecido como “Furacão da Cohab”, quando fez um excelente campeonato. 1992 foi contratado pelo Moto Clube de São Luís, onde jogou até 1993. 1994 não jogou, voltando em 1995, pela Seleção de Guimarães, por onde disputou o Torneio Intermunicipal de Seleções. 1996 estava novamente no BEC, onde sagrou-se campeão maranhense daquele ano. Pensa ser, na carreira de treinador de futebol, um treinador organizado, disciplinador. E que o esporte é a melhor maneira de educar as crianças... REGINALDO MENDES DOS SANTOS – REGINALDO - 1966 nascido em 07 de setembro, na cidade de Anajatuba-MA, filho de Francisco de Assis dos Santos e Bernardina Vieira Santos. 1969 a família mudou para Miranda do Norte. Lá, estudou no Colégio Raimundo Abraão Bezerra, até o primeiro ano ginasial, concluindo este ciclo e o 2º grau no Liceu Maranhense, em São Luis. Começou no futebol disputando partidas de futebol nos campeonatos interclasses. Campeonatos amadores, na cidade de Arari, Itapecuru e Bairro Vila Embratel, em São Luis. 1989 tornou-se profissional, jogando pelo Tupan. 1990/95 está defendendo o MAC, sendo campeão nos anos de 93/94/95. Jogou pelo Marcílio Luz-SC e pelo Fortaleza-CE. 1996/97 está no Ceará Sporting Clube, sagrando-se bicampeão cearense. 1997 Academia de Coimbra – Portugal.1998 Sampaio Correia-Ma, bicampeão maranhense e campeão da Copa Norte. 1999 volta para o ceará; 2000 Botafogo de Futebol e Regatas – RJ. 2001/2003 de volta ao Fortaleza Esporte Clube – CE, sendo bicampeão. 2004 submete-se a uma cirurgia de joelho; joga no ‘4 de Julho’ Esporte Clube – PI, Quixada, Limoeiro, Itapajé e 2006 Tiradentes-CE, já com 18 anos como profissional, encerrando sua carreira, aos 41 anos de idade. ROGÉRIO COSTA JANSEN PEREIRA – ROGÉRIO JANSEN - 1966 nasceu a 16 de dezembro, em Bacabal (?), filho de José de Ribamar Jansen Pereira e de Vicência Costa Jansen Pereira. Estudou até o 2º ano do primário, na escola União Artística e no colégio Municipal de Bacabal (1º ano) e no Colégio Leda Tagra (2º ano), ambos em Bacabal-MA. Iniciou sua carreira de futebol a convite de um colega, para participar de um jogo amistoso na equipe amadora da cidade de Bacabal, chamada Internacional, do Sr. José Maria, equipe de garotos nas idades de 12 a 13 anos. Foi formada uma grande equipe, bem competitiva na época, em que se jogava o futebol por amor, prazer e alegria. Em uma partida realizada pelo Campeonato Amador em Bacabal, o Sr. Araújo, dono da equipe do Americano, convidou um ‘olheiro’ para fazer uma avaliação em alguns garotos de sua equipe – era o Sr. Edgar, do Ferroviário do Ceará. Foi relacionado para fazer o teste em Fortaleza-CE na categoria de base do ferroviário, tendo a felicidade de ser escolhido pela Comissão Técnica. 1984 inica minha carreira, disputando o primeiro campeonato amador do Ceará, categoria Sub-20; no mesmo ano fui convocado para Seleção Cearense Sub-20, para disputar a Copa Nordeste. Feliz porque teve uma oportunidade já na equipe profissional do Ferroviário, profissionalizandose; sua posição era centroavante, sendo reserva de Luizinho da Arábia. 1987 retorna à bacabal, por conta de uma contusão; fez o tratamento e voltou ao futebol na equipe do Bacabal E.C, e Americano E.C. disputando o campeonato maranhense profissional e o Intermunicipal, no período de 1988 a 1992. 1992 através do Diretor de Futebol do MAC, recebeu convite para jogar em São Luis, assinando contrato em 03 de março como atleta de futebol profissional. 1994 teve outra contusão, séria, que o afastou dos campos, recebendo da Diretoria do MAC convite para assumir a equipe Sub-20, iniciando sua carreira como treinador de futebol, tendo, no primeiro da nova função, conquistado o titulo de campeão. Foi, então, efetivado como treinador das categorias de base, onde conquistou vários títulos. 2000 assumiu a equipe profissional, para a disputa da Copa Norte e da Copa do Brasil, sendo, até hoje, o único treinador que passou para a 3ª fase da Copa do


Brasil, com uma equipe maranhense. Ainda dirigiu a equipe do Miracema-TO, ficando em 3º lugar no geral; 2001 dirigiu a equipe do MAC, sagrando-se vicecampeão, perdendo o tutulo, daquele ano, para o Sampaio Correia. 2004 recebeu convite da AABB para montar a Escolinha e Futebol para os sócios, e trabalhando, também, como treinador de futebol socyte para várias associações no Maranhão, como OAB, AABB e CEF. Hoje, empresário, tem uma empresa de prestação de serviços na área de futebol, na organização de campeonatos e torneios, e uma Escolinha de Futebol, na AABB, que se chama “Ecolinha de Futebol Menino de Ouro”. HELIEZER SEREJO MATOS – HÉLIO MARANHENSE - 1967 nasceu em São Luis-MA no dia 16 de setembro; filho de Balbino Matos e de Faustina Serejo Matos. Na infância, tinha objetivo de estudar e ajudar os pais, pois presenciava o sacrifício que faziam. O primário, fez no Colégio Camelia Costa Viveiros, onde teve uma boa base. O Ginásio, concluiu no Luis Viana, onde começou a praticar Atletismo, por conta de uma paixão por uma colega; anos mais tarde descobriu a importância que o atletismo teria em sua carreira. O 2º Grau fez no Arruda Martins, com muito sacrifício, em virtude dos horários de treiunamento coincidir com o horário do colégio. Considera que sua vida no futebol é igual e diferente, ao mesmo tempo, de tantas outras. Desde quando se entende, tem paixão pelo futebol, a ponto de chorar copiosamente quando seus pais não o deixavam que fosse assistir aos jogos do time do bairro, onde seu irmão jogava como goleiro. Sua iniciação se deu através dos jogos de travinha, na rua; depois passou para os campinhos de terra, até chegar a oportunidade de participar das categorias de base do Vitória do Mar, uma equipe pequena do futebol profissional de São Luis. Não teve um trabalho de base adequado, onde pudesse aprimorar todos os fundamentos, pois a falta de estrutura era tão grande que só tinham uma bola, mas, em contrapartida, tinham um treinador que os motivava bastante que, na realidade, o futebol maranhense naquela época era aquele, como dizia. Com dedicação e trabalho, conseguiu superar as dificuldades e começou a se destacar em todas as partidas. Em virtude de sua boa estatura e da qualidade técnica, foi protagonista de uma proeza: conseguiu jogar, em uma semana, no Infanto, no Juvenil, no juniores, e no Profissional! 1986 é negociado com um fazendeiro do interior do Maranhão, que doou seu passe para o Moto Clube, onde jogou por vários anos, conquistando títulos e vitórias significativas, sendo considerado, por váwrias vezes, o melhor jogador de sua posição – cabeça de área. 1994 é emprestado para o Clube do Remo – PA, conquistando o titulo de campeão paraense e o do Torneio Pará-Ceará. 1995 é vendido para o Paysandu do Pará, por onde disputou o brasileiro da 1ª Divisão, e provar para si mesmo que tinha condições de jogar em qualquer time do Brasil. Queixa-se de não ter uma pessoa para o assessorar fora do campo. WELLINGTON CARLOS MELONIO DOS SANTOS – WELLINGTON - 1970 nasceu em São Luis, a 08 de agosto, filho de Camilo Batista dos Santos e Maria Faustina Melônio. Tem três irmãos. Estudou até o 2º grau, na Escola Técnica Bacelar Portela. Desde criança gostou de jogar bola; a professora perguntava o que queria ser e sempre respondia que seria jogador de futebol, seu sonho que conseguiu realizar. 1987 aos 17 anos foi fazer teste no MAC, era 17 de fevereiro; passou e ficou no clube até 1991, quando foi para a Bélgica, lá permanecendo por quatro anos; 1995 retorna ao Brasil, indo jogar no Guarani de DavinópolisMG; 1996 está no Taubaté-SP, e nesse mesmo ano vem para o Sampaio; em 1998 passa a jogar pelo Esporte Clube Viana, Ca cidadde de Viana-MA; 1999 vai para o Matsubara, do Paraná; em 2000 está no Asa, de Arapiraca-AL, retoprnando nesse mesmo ano pra o Sampaio Correia; 2001 está no Caxias, no Maranhão; e 2002 no 4 de Julho, no Piauí; 2003, no Imperatriz –MA; 2005 Castanhal, do Pará e a seguir vai para o Araguaina-TO; 2006 volta para o Asa, de Alagoas, onde encerra a carreira de futebolista profissional. ADEVALDO JOSÉ DE OLIVEIRA – VADO - 1970 nasceu em 27 de abril, (Recife-PE ?)filho de Arlindo José de Oliveira e de Eloine Rodrigues de Oliveira. Iniciou sua visa no futebol através de seu pai, que todos os dias, ao chegar do trabalho, o levava para jogar na porta de casa. Adorava aquela prática, até porque, como diz, desde que se entende por gente sempre gostou de futebol. Estudou no mesmo colégio, do Jardim ao Ensino Médio, no Colégio Walt Disney, no Recife-PE. Seu envolvimento com o futebol iniciou aos 12 anos (1982), quando um vizinho de rua o convidou para disputar uma competição da igreja em que freqüentava, pedindo permissão para minha mãe, que me liberou. Lá foi e se tornou campeão, e melhor jogador da comretição, despertando a admiração e o interesse de algumas pessoas, aparecendo um convite para fazer parte da Escolinha do Sport Club do Recife. Dando, assim, o pontapé em sua carreira, passou por vários clubes, teve vários treinadores, conheceu várias culturas e muitas pessoas, conquistando muitos títulos e fez muitos amigos. Hoje, morando em São Luis há alguns anos, fazendo o Curso para ser treinador de futebol.


ISMAEL PEREIRA REIS – MAEL - 1970 nasceu em 30 de setembro na cidade de Rosário-MA, filho dee Manoel de Jesus Reis e de Izabel Pereira reis. Com infância complicada, devido à uma paralisiaa infantil, que o deixou alguns anos sem andar. Com ajuda de familiares e de amigos da família, seus pais conseguiram o internar e, com promessas a São José de Ribamar, e devido a vários tratamentos, e à devoção ao santo, curou-se e passou a andar com as próprias pernas. Sua vida, a partir daí, mudou. Devido aos problemas de saúde, não passou pelo Jardim de Infância; seus pais o matricularam na Ecola Joaquim Santos. Quem conhecia sua história, se admirava, porque já começava a jogar suas peladas. Para um menino que mal conseguia andar, já era uma vitória. Saindo do primário, começou a estudar na Escola Raimundo João Saldanha (Colégio Monsenhor Madureira), lá concluindo os estudos. Foi nesse período que começou a se destacar nos Jogos Escolares e, conseqüentemente, no futebol de sua cidade. Sempre acompanhou seu pai nos jogos de times locais; seus colegas não o deixavam jogar, pois era pequeno. 1987 é convocado para a Seleção de sua escola, começando a se destacar, levando a escola a resultado nunca alcançado nos JEMs. Logo em seguida, ainda na cidade de Rosário, foi convidado a jogar em um time local, o Esporte Clube Comercial; ficaram em segundo lugar naquela competição. 1988 é convocado para atuar na Seleção de Rosário, para disputa do Intermunicipal de Seleções. 1989 é convocdo novamente, iniciando sua carreira de jogador profissional. Chamado para integrar a equipe do Moto Clube, por alguns problemas não solucionados, acabou se transferindo para o MAC, onde ficou por um período, de 1990 a 1993. Antes do término de seu contrato (1993) foi negociado para o Clube Náutico Capibaride (PE), por onde jogou por duas temporadas, retornando para o Moto Clube em 1996. No Moto, ficou até o final daquele ano, sendo transferido, a seguir, para um clube tunisiano – Etoile – Tunísia. Lá, passou num ano, depois passando a jogar por vários clubes no Brasil: 1999: Paulista de Jundiaí; 2000: Clube do Remo e Tuna Luso – PA; transferido para o Ceará Sporting Clube-CE, e em seguida chamado para o Sampaio Correia; 2001: é comprado por um empresário que no transfere para o AL RAYAN, do Qatar. Voltando para o Brasil, em 2002 passa a jogar na Portuguesa Santista-SP, até 2005, quando passa pelo TEC – Tocantins Esporte Clube, encerrando a carreira como jogador profissional e iniciando a de treinador de futebol no J V Lideral-Ma, da cidade de Imperatriz. Como treinador, já atuou pelo JV Lideral, BEC, e Sabiá. SILAS CÂMARA SILVA – SILINHAS - 1973 nasceu em 28 de maio, na cidade de Bacabal-MA, filho de Francisco Cavalcante Silva e Delaildes Câmara Silva. Estudou nos Colégios Nossa Senhora dos Anjos; e Domingos Soeiro. Tem o ensino médio completo. Iniciou no futebol de campo na escola, onde praticou também o Futsal. Com o tempo, passou a receber vários convites para jogar futebol em sua cidade, tendo participado de diversas competições, destacando-se na ponta esquerda. 1995 Depois de atuar no futebol amador, profissionalizou-se com a idade de 22 anos, atuando pelo Bacabal Esporte Clube, por dois anos, sagrando-se campeão maranhense de 1996. WILLIAM MORAIS DOS PASSOS – WILLIAM - 1976 nasceu em 25 de novembro, na cidade de São Luís-MA, filho de Valdeci Sousa dos Passos e de Maria do Socorro Costa Morais. É divorciado, tendo uma filha com Renata Mendes Pinto. 1979 iniciação sua educação infantil na Escola Alto Paraíso, no bairro da Alemanha; 1982 inicia o ensino fundamental na Escola Municipal Luis Viana, concluindo-o em 1990; 1991 inicia o ensino de segundo grau na C.E.M. Coelho Neto, concluindo-o em 1994. 2007 retoma os estudos, cursando o Técnico em Eletrotécnica no CEMP; 2010 começa o curso técnico em Segurança do trabalho, na FAMA. 2014 ingressa no curso de Licenciatura em Educação Física no UniCEUMA, onde cursa, atualmente, o 5º período. 1984 seu envolvimento com o futebol começa aos 8 anos de idade, nos campos de várzea do bairro da Alemanha; o campo era chamado de “Vacaria”, devido ao gado que era criando ao seu redor. Começa a jogar no “Guaranirzinho”, de Guazanir. As partidas entre o Guaranirzinho e seu rival, o Flamengo, tinha a duração de 10 gols Ganhava, quem chegasse à esse placar primeiro. Esses dois times eram conhecidos no bairro, onde também morava o treinador das categorias de base do Sampaio Correia, Gil Babaçú, como era conhecido Gilmar Francisco. 1999 Gil Babaçu fez convite para que fosse para a escolinha do Sampaio Correia – estava com 15 anos de idade.; 2002, aos 18 anos, tornou-se profissional, jogando até aos 25 anos (2009). Em sua carreira passou pelo: 2001 Ituano-SP; 2002 - Maranhão Atlético Clube –MAC, e pelo Ceará-CE; 2003/2005 pelo Moto Clube de São Luís; 2006 estava no Santa Quitéria-MA, finalizando a carreira aos 30 anos. GERCIEL DA CRUZ ALENCAR – GERCIEL – FELEY – FELEIR - 1976 nasceu em 11 de julho, (São Luis ?), filho de Narilda da Cruz Palácio e de Francisco Paulino de Alencar. Caçula de seis irmãos, sempre estudante de escola pública. 1987 aos 11 anos, morador da Vila Itamar, começou a despertar para o futebol. Foi da Escolinha de Futebol da Ponte preta, mas sem recursos para comprar um par de chuteiras ou


mesmo pagar a passagem, muitas vezes foi andando para outros bairros disputar campeonatos. Apesar de todas as limitações e dificuldades financeiras, sempre foi um jogador diferenciado, e com alegria para jogar; com isso, despertou o interesse de um ‘olheiro’, que o levou para o MAC, para fazer uma ‘peneira’. De centenas de garotos que lá estavam, foi um dos quatro aprovados. No MAC teve destaque nas categorias de base como Feleir, chegando rápido ao profissional, com 15 anos (1991). Sua estrela, mais uma vez, começava a brilhar; e num jogo amistopso – Marabelga x Fluminense – foi destaque e despertou o interesse do ‘tricolor carioca’, permanecendo por três anos. Com problemas internos no MAC – que o prejudicaram – teve que retornar, pois tinha o passe preso. Foi tricampeão maranhense pelo “Bode”, depois defendendo outros clubes menores e encerrando sua carreira de profissional jogando pelo Boa Vontade. VALBSON CRUZ MORAIS – VALBSON - 1977 nasceu em 12 de outubro (São Luis ?). Seu pai, Valbino Morais, conheceu sua mãe, Luzimar de Sousa Cruz, no bairro Santo Antonio; desse relacionamento nasceram cinco filhos. Fez o maternal I e II na Escola Cirandinha, no bairro do Anil, o maternal III até a 5ª serie na Escola Lar de José “Domingos Perdigão”, e 6ª série no antigo CEMA, e as 7ª e 8ª na Unidade Escolar Luis Viana; o segundo grau, supletivo, na Escola Modelo Benedito Leite. Desde criança já dormia com uma bola, em criança bincou com quase todos os esportes, mas a paixão mesmo foi o futebol. 1994 aos 16 anos foi levado para o Sampaio pelo hoje diretor Batista Oliveira para fazer um teste, permanecendo nessa equipe de 1994 a 2000, quando foi emprestado ao Ituano-SP; 2001 foi emprestado para o FluminenseRJ; em 2003 foi para o Gloria, de vacaria-RS e, no mesmo ano, para o Joinville-SC. 2004 estava de volta ao Maranhão, jogando pelo mMoto Clube; em 2005, foi para o ASA, de Arapiuraca-AL; 2006 volta, para o santa Quitéria-MA, eindo para o River, do Piaui; 2007 já estava no abc, de natal-RN, 2008/2009 de volta ao Sampaio Correia, e nos anos 2010/2011 no IAPE- Ma. Atualmente, trabalha como vigilante, mas espera começar uma carreira de treinador, essa sua expectativa em relção ao curso. MARCELO CLÁUDIO MENDES PEREIRA – MARCELO MENDES - 1979 nasceu em 02 de março na cidade de São Vicente Ferrer-MA, filho de Manuel Faustino Pereira e Maria do Carmo Mendes Pereira, sexto de oito irmãos de seu pai com sua mãe; seu pai teve mais três filhos fora do casamento. Os pais já moravam em São Luis quando nasceu, por isso aos 20 dias de idade já estava na capital, morando no Bairro do Lira; depois mudaram-se para a Vila Passos, onde passou a infância e juventude. Estudou no Jardim de Infância Sofia Silva, o primário no Sousandrade, colégio da Vila do Lira, complementando o 1º grau e o 2º grau no Colégio Castro Alves, no Canto da Fabril. O interesse pelo futebol começou cedo, influenciado pelos irmãos Luizinho e Maninho, que jogavam nos Juniores do Sampaio Correia Futebol Clube e Maranhão Atlético Clube – MAC. Os acompanhava nos treinos e jogos desses clubes e também em times amadores de bairros de São Luis, nos finais de semana, acompanhados por outro irmão, Roberto. Foi Roberto que o colocou para jogar em times de bairros. Quando foi passar uns tempos em São Vicente Ferrer, começou a jogar nos times de lá, e com isso foi parar na Seleção do município na disputa do Intermunicipal. Depois de jogar em vários times da região e seleções, retorna à São Luís, indo jogar pelo SIGLAM; 1977 disputava o Intermunicipal por Matinha, se destacando e convidado para o Guarany de Garibaldi-RS, para jogar nos Juniores. 1998 passa a jogar pelo Juventus, de São Paulo, se profissionalizando em 1999; permanece nessa equipe até 2001. 2002/2004 está no Ceará Sporting Club; 2004 no Joinville; 2005 no Campinense; 2006 no Rio Verde; 2006/2007 no Ferroviário e no Horizonte-CE; 2008 no Madureira; mesmo ano em que vem para o Sampaio, permanecendo até 2009; 2010 está de volta no Horizonte; passando em 2011 pelo Ferroviário e pelo São José; 2012 disputa novamente pelo Ferroviário e pelo Imperatriz; 2013 pelo Americano e pelo Boa Esporte-MG, onde encerrou sua carreira de jogador profissional. DIMAS TINOCO ROCHA – DIMAS - 1979 nasceu a 22 de julho, em Rosário-MA. Filho de João Mendes Rocha e Maria Marta Tinoco. Jardim de Infância no Profa. Maluides; logo após o ensino fundamental na Escola Dr. Paulo Ramos, e o 2º Grau na Escola Raimundo João Saldanha. Formado em Educação Física. Iniciou-se no futebol em sua cidade natal, Rosário-MA, no clube amador Comercial Atlético Clube, com o Prof. Romildo. Logo após, vai para a Sociuedade Esportiva Fiulipinho, com o Prof. Luis Carlos, ex-atleta do Sampaio Correia. 1998 vem para São Luís, parafazer uma ‘peneira’ no time profissional do Sampaio Correia, para as categorias de base, peneira que durou três semanas de avaliuação, a maior peneira que tinha sido feita no Estado, com quase 1.000 garotos e, o avaliador, era Cabreira. Aprovado, iniciou sua carreira em um time profissional, com contrato de amador. Logo após, vai para o Moto Clube, ainda como amador. Disputou algumas competições pelo Moto Club, sob a direção de Baezinho. 1999 subiu para o time profissional, com o Prof. Vinicius Saldanha. Saldanha o incluiu na equipe profissional, dando-lhe a oportunidade de disputar seu primeiro campeonato profissional, no ano de 2000,


onde teve a felicidade de ser campeão, com o Prof. Brasília, do Rio de janeiro. 2001 vai para o MAC, onde passou algum tempo, indo, logo após, para o time profissional de Chapadinha. Encerra a carreira profissional no estado de São Paulo, quando estava negociando sua ida para o Clube de São Caetano, onde teve que se submeter a três cirurgias no joelho, sem mais condições de voltar aos campos, conforme diagnosticou o dr. José Carlos do Amaral. Encerrou sua carreira de atleta profissional aos 28 anos, em 2006. Ao terminar a Faculdade de Educação Física, não abandionando o futebol, dedica-se às atividsades fora do campo de jogo, como Preparador Físico da Seleção de Rosário, sendo professor de educação física e coordenador de futebol do Municipio. VALDEILSON COSTA LEAL – LEAL - 1979 é o ano de seu nascimento. 2014 inicia sua vida no futebol. Quando aluno do ensino fundamental, realizado no Instituto Divina Pastora, ganha uma bolsa integral para o Colégio Dom Bosco do Maranhão, ainda na rua do Passeio, para jogar Basquetebol. Começa sua carreira esportiva como jogador de Basquete, jogando em alguns clubes de vários estados. Com o tempo, retorna à São Luis e vira treinador de basquetebol na Escola Aprovação, situada no centro de São Luis. Ao9 pesquisar o mercado, e vendo a deficiência das escolinhas de futebol, e ter irmão ex-profissional de futebol, sempre relatando que em nosso bairro (São Cristovão) não existia mais novos e bons jogadores, resolveu criar uma escola de formação de atletas, na modalidade de futebol de campo. 2014, no dia 15 de agosto, é criada a Escola de Futebol Leal Esporte Clube, iniciando os primeiros treinamentos no campo do Tocão, lá mesmo no são Cristovão. 2015, no mês de outubro, faz seu primeiro curso de formação para treinador de futebol, realizado pela Confederação Brasileira de Futebol – CBF –obtendo a Licença “C”, sua primeira habilitação como treinador, para as categorias de base. No mês de março, aparece outra oportunidade, desta vez em São Luis-MA, para um Curso de Formação de Treinadores de Futebol, sob responsabilidade da AGAP-MA. Diz ser sua perspectiva, dentro do futebol, profissionalizar-se como treinador habilitado em todas as licenças que a CBF oferece, assim como as licenças que a FIFA oferece, fazendo outros cursos, para se atualizar com as inovações no Futebol. Tem como meta filiar seu clube, o leal Esporte Clube junto à FMF e, num prazo de quatro anos, fazer parte do quadro profissional do futebol maranhense. Não tem experiência como jogador profissional de futebol, mas busca o conhecimento para melhor trabalhar em seu clube, buscando contatos com clubes por todo o Brasil. Conhecido dentro do futebol como Leal, teve experiência como treinador de equipe feminina profissional, treinado o esporte Clube Viana-MA, em três jogos pelo Campeonato Brasileiro de Futebol – Brasileirão, jogando contra as equipes do Bahia, Rio de janeiro, e Pernambuco. Continua na mesma função, preparando a equipe do Sub-20 para o Brasileiro da Categoria. CARLOS ADRIANO PEREIRA DA SILVA – ADRIANO - 1986 nasceu em São Luis-MA, em 17 de janeiro, filho de Pedro da Silva Neto e Joana Pereira da Silva; irmão: Carlos Eduardo pereira da Silva (1981). 1994 iniciou a praticar o futebol nas ruas do Anil, quando tinha oito anos de idade, com o famoso jogo das travinhas. Nessa idde, freqüentava uma escolinha de futebol no campo do Nascente, onde permaneceu até os 13 anos de idade (1999). Nesse ano, passou na seleção para estudar na Fundação Nice Lobão (CINTRA), onde começou a treinar na equipe de futebol, visando a disputa dos Jogos Escolares Maranhenses – JEMs. Também começou a treinar na equipe do Praiano, do Bairro da Vila Palmeira, sendo campeão da Taça ‘Baixinho Bom de Bola’, no Futsal. O adversário foi a equipe do Colégio batista, do João Paulo. No Praiano ficou até os 14 anos. 2000 disputou o Campeonato Maranhense Sub-15 pela equipe do Internacional, da Vila Palmeira. 2001/2002/2003 jogou apenas pelas equipes do CINTRA, nas Seletivas para os JEMs, e nos JEMs. Depois, se dedicou apenas aos estudos, cursando Contabilidade na Faculdade Atenas Maranhense. 2010 foi aprovado no curso para soldado da PM, função que ocupa hoje. 2013 foi aprovado no vestibular para o Curso de Educação Física, da UFMA, curso que sempre pretendeu fazer. Seu retorno ao Futebol aconteceu na filial da Escolinha do Grêmio, localizada no bairro do Vinhais, cujo responsável é o Sr. Marcos. Hoje, faz estágio no MAC, sendo auxiliar do Prof. Raimundo. Faz parte do projeto Universidade Olimpica da UFMA, na modalidade Futsal, treinador das equipes Sub-17 e Sub-20. CLÁUDIO HENRIQUE F. LIMA - Nasceu em São Luis-MA, filho de Célio Matos Furtado Rodrigues e de Maria de Lurdes Ferreira Lima. Estudou nas escolas João de Deus; CEMA Alberto de Campos, na Kennedy, Sadock Costa e Colégio Fernando Perdigão. Começou nas peladas de terrenos baldios e no asfalto de piche de rua. Seu primeiro time foi o Corinthians, do bairro de Fátima, aos 13 anos. Logo depois foi para o Moto Clube, categoria de base, no Juvenil, com Baezinho como técnico, passando para o Junior do Expressinho, sendo Carioca o técnico. Jogou no MAC, sendo técnico na época Rogerio Jansen. Iniciou-se no futebol por causa de seu pai, Célio Rodrigues, de quem acompanhou pouco a trajetória como jogador, pois


encerrou sua carreira ainda na década de 1980, quando defendia o Vitória do Mar. Cláudio disputou o Campeonato de Juniores, e como profissional teve carreira curta, com boas oportunidades para sair do Maranhão, porém parou aos 24 anos, para trabalhar em outra profissão. Reiniciou o futebol já como treinador, em Paço do Lumiar, com crianças de 9 a 18 anos, com pouco material para , e sem o apoio da Prefeitura e outros órgãos.trabalhar. ENCONTRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE, I, Campinas-SP, 1993. COLETÂNEA ... Campinas : Grupo de História do Esporte, Lazer e Educação Física / FEF / UNICAMP, 1994 . ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, II, Ponta Grossa-Pr, 1994. COLETÂNEA ... Ponta Grossa : DEF/UEPG; Campinas : Grupo de História do Esporte, Lazer e Educação Física/FEF/UNICAMP, 1994 ENCONTRO NACIONAL DA HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, III, 1995, Curitiba-Pr. COLETÂNEA ... Curitiba : DEF/UFPR; Campinas : Grupo de História do Esporte, Lazer e Educação Física/FEF/UNICAMP, 1995 ENCONTRO NACIONAL DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, IV, 1996, Belo Horizonte-MG. COLETÂNEA ... Belo Horizonte : Escola de Educação Física da UFMG, 1996. ENCONTRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, V, Maceió-Al, 1997. COLETÂNEA ... Ijuí : Ed. Da UNIJUÍ, 1997. GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre : D.C. Luzzatto, 1989. GUTTMASNN, Allen. FRON RITUAL TO RECORD: the nature of modern sports. New York : Columbia, 1978 MARTINS, Dejard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís : (s.n.), 1989. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Records dos JEMS’s. DESPORTOS & LAZER, São Luís, 2 (7), maio/junho/julho 1982, p. 22-13. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONCEPÇÃO UTILITÁRIA E SOCIAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA. São Luís : UFMA, 1987. (Monografia de especialização em Lazer e Recreação). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A CULTURA DO LÚDICO E DO MOVIMENTO DOS

RAMKOKAMEKRA DE ESCALVADO. São Luís, 1989 (Inédito).

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A HISTÓRIA DO ATLETISMO MARANHENSE. O IMPARCIAL São Luís, 27 de maio de 1991, p. 9. Caderno de Esportes. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial in SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, XVIII, São Caetano do Sul-SP, outubro de 1992. ANAIS ... São Caetano do Sul : CELAFISCS : UNIFEC, 1992, p 27. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial. in CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, VIII, Belém-Pa, setembro de 1993. ANAIS ... . Belém : UFPA, 1993, p 137. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atividades de lazer no Maranhão - século XVII. ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER, VII, 1995a, Olinda-Pe, ANAIS ... VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Atividades de lazer no Maranhão - século XVII. Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMa, III, São Luís, 1995. ANAIS ..., São Luís : UFMA : NEPAS, 1995b, p. 54 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A corrida entre os índios canelas - contribuição à história da educação física maranhense. in Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, III, 1995. São Luís, UFMA, ANAIS... São Luís : UFMA : NEPAS, 1995c, p. 55 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Carta ao Rubem Goulart, Filho - novas contribuições à história da educação física maranhense. in Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, III, 1995. São Luís, UFMA, ANAIS..., São Luís : UFMA : NEPAS, 1995d, p. 56 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Contribuições à história do atletismo maranhense. in Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, III, 1995. São Luís, UFMA, ANAIS..., São Luís : UFMA : NEPAS, 1995e, p. 57 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial. COLETÂNEA INDESP - DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília, 1996a, p. 95-105. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio Vaz. A corrida entre os índios canelas. COLETÂNEA INDESP - DESPORTO COM IDENTIDADE CULTURAL, Brasília, 1996b, p. 106-115 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Lo ludico y el movimiento como actividad educativa.in LECTURAS: EDUCACION FÍSICA y DEPORTES , Buenos Aires, ano 3, n. 12, dezembro de 1998, disponível em www.efdeportes.com VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O esporte, o lazer e a educação física como objeto de estudo da história. In LECTURAS: EDUCACIÓN FÍSICA Y DEPORTES, Buenos Aires, n. 14, junho de 1999, disponível em www.efdeportes.com VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. A inauguração do "foot-ball" em Maranhão. In LECTURAS: EDUCACIÓN FÍSICA Y DEPORTES, Buenos Aires, ano 5, n. 24, agosto de 2000, disponível em www.efdeportes.com VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. TÊNIS NO MARANHÃO. In O IMPARCIAL, São Luís, Segunda-feira, 17 de janeiro de 2000, p. 16. Caderno de Esportes VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O ESPORTE NO MARANHÃO. In O ESTADO DO MARANHÃO, São Luís, 16 de maio de 2000, Terça-feira, p. 4, Caderno Opinião VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. O NASCIMENTO DE UMA PAIXÃO. In O IMPARCIAL, São Luís, Domingo, 29 de outubro de 2000, Caderno Cidade - Esportes, p. 7. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. O "SPORTMAN" ALUÍSIO AZEVEDO. In O IMPARCIAL, São Luís, Domingo, 16 de junho de 2000, p. 5, Caderno Impar VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & VAZ, Delzuite Dantas Brito. Pernas para o ar que ninguém é de ferro: as recreações na São Luís do século XIX. Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís”, XX, São Luís, Prefeitura Municipal de São Luís, 1995a. (Ensaio classificado em 2o. lugar no”- Prêmio “Antônio Lopes” de pesquisa histórica). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & VAZ, Delzuite Dantas Brito. Pernas para o ar que ninguém é de ferro: as recreações na São Luís do século XIX. In ENCONTRO NACIONAL DA HISTÓRIA DO ESPORTE, LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA, III, 1995, Curitiba-Pr. COLETÂNEA ... Curitiba : DEF/UFPR; Campinas : Grupo de História do Esporte, Lazer e Educação Física/FEF/UNICAMP, 1995b, p. 458-474. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & VAZ, Delzuite Dantas Brito. Pernas para o ar que ninguém é de ferro: as recreações na São Luís do século XIX Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMa, III, São Luís, 1995h. ANAIS ... São Luís : UFMA : NEPAS, 1995c, p. 58. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & VAZ, Delzuite Dantas Brito. Pernas para o ar que ninguém é de ferro: as recreações na São Luís do século XIX. Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, X, Goiânia – Go, outubro de 1997. ANAIS...,.Goiânia : CBCE : UFGO, 1997, p. 1005-1017. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; VAZ, Delzuite Dantas Brito. O "sportman" Aluísio Azevedo. In LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES, Buenos Aires, ano 5, n. 25, setembro de 2000, disponível em www.efdeportes.com VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins de; VAZ, Delzuite Dantas Brito. QUERIDO PROFESSOR DIMAS – (Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araújo) – e a educação física maranhense – uma biografia autorizada. In LECTURAS: EDUCACION FISICA Y DEPORTES – revista digital, Buenos Aires, ano 8, n. 48, maio de 2002. Disponível em www.efdeportes.com VAZ, Leopoldo Gil Dulcio, VAZ, Delzuite Dantas Brito. A introdução do esporte (moderno) em Maranhão. In VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTES, LAZER E DANÇA, Ponta Grossa, 17 a 21 de novembro de 2002. COLETÂNEAS ... : UEPG, 2002. Editado em CD-RooM.


EFEMÉRIDES 10 11 13 14 21 22 24 26 30

03 05 06 09 10 13 22 23 29 09 15 21

ABRIL 1967 – FALECIMENTO DE MANUEL VIRIATO CORRÊA BAIMA DO LAGO FILHO – VIRIATO CORRÊA – PATRONO DA CASDEIRA 24 1984 - NASCIMENTO DE ANDRÉ GONZALEZ CRUZ – FUNDADOR DA CADEIRA 11 1904 – FALECIMENTO DE DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES – PTRONO DA CADEIRA 23 1940 - NASCIMENTO DE ÁLVRO URUBATAN MELO – FUNDADOR DA CADEIRA 23 1857 – NASCIMENTO DE ALUISIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO – PATRONO DA ADEIRA 14 1902 – FALECIMENTO DE JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE – SOUSANDRADE – PATRONO DA CADEIRA 10 1808 – NASCIMENTO DE FRANCISCO SOTERO DOS REIS – PATRONO DA CADEIRA 4 1900 – NASCIMENTO DE ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA – PATRONO DA CADEIRA 28 2000 – FALECIMENTO DE MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER – DILÚ MELO – PATRONA DA CADEIRA 29 1863 – FALECIMENTO DE JOÃO FRANCISCO LISBOA – PATRONO DA CADEIRA 5 1927 – FALECIMENTO DE JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL – PATRONO DA CADEIRA 12 MAIO 1853 – NASCIMENTO DE JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL – PATRONO DA CADEIRA 12 1859 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA – RAIMUNDO CORREIA – PATRONO DA CADEIRA 15 1960 - NASCIMENTO DE PAULO ROBERTO MELO SOUSA – FUNDADOR DA CADEIRA 33 2011 – FALECIMENTO DE CARLOS DE LIMA – PATRONO DA CADEIRA 33 1940 – FALECIMENTO DE CATULO DA PAIXÃO CEASRENSE – PATRONO DA CADEIRA 17 1940 - NASCIMENTO DE AYMORÉ DE CASTRO ALVIM – FUNDADOR DA CADEIRA 16 1900 – NASCIMENTO DE ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA PATRONO DA CADEIRA 28 1966 - NASCIMENTO DE ANA LUIZA ALMEIDA FERRO – FUNDADORA DA CADEIRA 31 1885 – NASCIMENTO DE RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO – PATRONO DA CADEIRA 26 JUNHO 1879 – FALECIMENTO DE CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHAES – CELSO MAGALHAES – PATRONO DA CADEIRA 11 1925 – NASCIMENTO DE JOÃO MIGUEL MOHANA – PATRONO DA CADEIRA 36 1868 – NASCIMENTO DE JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA – PATRONO DA CADEIRA 20


SOUSÂNDRADE, O PRÓPRIO GUESA FERNANDO BRAGA “CB Revista – Caderno 3”, do Correio Braziliense, 5 de setembro de 1982

Joaquim de Sousa Andrade [Sousândrade] nasceu em Guimarães [MA], a 9 de julho de 1812, faleceu m São Luís, a 21 de abril de 1902. Ao contrário de seus contemporâneos não foi a Coimbra ou a Olinda buscar o seu título universitária: conquistou-o em Paris, formando-se em engenharia de minas e m Letras, pela Sorbonne. É, talvez, por isso, se não mesmo pela originalidade extravagante de sua personalidade, que escapou à formação coimbrã, costume do grupo que integrou no tempo; foi um poeta diferente, estranho e revolucionário em sua arte, que desponta como o mais remoto precursor do modernismo e ainda hoje um desafio marcante à teoria literária. Sousândrade foi o primeiro Intendente de São Luís, após a Proclamação da República, cuja administração dedicou à educação e à reforma urbanística da cidade. Foi professor de grego no antigo Liceu Maranhense, idealizou com sua tendência progressista, a instalação, em São Luís, da primeira universidade brasileira – a da Atlântida – posteriormente denominada de Nova Atenas, não vingando por causa de baixos níveis políticos. Sousândrade foi ainda o autor do desenho da bandeira maranhense, em cujas cores branca, vermelha e preta, quis significar a fusão da raça brasileira. É patrono da cadeira nº 18 da Academia Maranhense de Letras e colaborou com o pseudônimo de Conrado Rotenski em “A Casca da Caneleira” [São Luís, 1866 – romance por uma dúzia de esperança], escrito juntamente com Trajano Galvão, Gentil Homem de Almeida Braga, Dias Carneiro e Joaquim Serra, todos integrantes do grupo maranhense. Esse romance fora escrito no mirante do “Palais Porcelaine”, solar erguido na Rua Grande, esquina com Rua do Passeio, precisamente no Canto da Viração, que era a morada de Gentil Homem de Almeida Braga. Este poeta, até pela aglutinação de seu nome [Sousândrade], é um esteta intemporal, mergulhado universalmente no sintático e no lexical, completamente novo e original, arredio dos cânones [românticos] de seus contemporâneos, codificados nos fins do século passado. Uma presença conflitante de sua própria superação perante a historicidade da literatura em crise, a qual presenciou e sofreu suas diversas mutilações. Depois de chegar da Europa, para onde foi por favores de amigos, depois de negada ajuda pelo Imperador Pedro II [onde na Inglaterra criticou a monarquia sendo aconselhado a sair] se aventurou em viagem pelo Amazonas, contornando os Andes e rumando para os Estados Unidos, m 1871, levando em sua companhia a filha Maria Bárbara, cuja educação acompanhou até 1885, no “Sacre-Coeur”, quando então regressou ao Maranhão. Nessa peregrinação nasceu o seu famoso “Guerra errante”, fruto do testemunho de um mundo capitalista – que despertava em plena ascensão industrial em Nova Iorque – com seus escândalos financeiros e políticos, a fermentar toda a Walt Street [integrantes do Canto X do Guesa – Inferno de que nos fala Augusto e Haroldo de Campos. D. Invenção, São Paulo, 1964], bem como o arcabouço de uma democracia fundada no dinheiro e às expensas das misérias da competição desenfreada. O autor também de “Harpas Selvagens”, Rio, 1857, Impressos, São Luis [2 vols.], 1978-9; “Eólias”, incluído em “Obras Poéticas” [1º tomo], Nova Iorque, 1874s e “Novo Edem”, São Luis, 1888-9, sem pertencer à escola satânica, ou ao modismo de Byron, tem muito do Lord Peregrino em seus contos magoados, apondo-se, ainda, à frente na exemplificação de normas de conduta e de dignidade, e crendo que todo o poeta, sob pena de escravidão e morte, deve ser o que ele é não o que aconselham para ser, porque o templo da liberdade, quando profanado, converte-se em túmulo de loucura, como justiceiramente asseverava. Sousândrade foi o primeiro no Brasil, a inaugurar uma estética modernista. Sua contribuição à poesia, como em período revolucionário, reside fundamentalmente, segundo o e enfoque crítico de Alfredo Bosi, nos processos de composição: arquitetura dos sons ao plurilingüístico; no manejo verbal à montagem sintática, surpreendendo a forma – com a resolução – no entendimento de Hegel, ou a forma tão necessária à poesia como idéia ou, ainda, como diz Roland Barthes [in Le degré zéro de l’écriture, Paris, 1972] uma forma com os indicadores do escândalo, porque esplêndida ela é fora de moda; anárquica, ela é anti-social;


uma forma que em si mesma seja a própria solidão. “O Guesa errante” [poema pan-americanista e autobiográfico de 13 cantos] foi editado em Nova Iorque, em 1876 e em Londres, possivelmente em 1888, publicados em etapas como o fez Byron com “Dom Juan” e Goethe com ”O Fausto”. Esta narrativa épica é original e onomatopáica, e seu universo surgiu de um poema delineado pelo molde de Chiuld Harold, na gênese de uma lenda da Colúmbia, narrada por Ferdinand Denis, ficando o poeta a imagem da romaria de um índio destinado a morrer no templo do sol. O Guesa desce os Andes, se esquece de seu “alterego”, convive com os selvagens engole o grande rio; e o poeta se incorpora em seu próprio protagonista e com sua natureza a emprestar, com sangue, o seu sofrimento mais íntimo ao índio viageiro, parafraseando o comentário de Frederick G. Williams e Jomar Moraes, estudiosos da obra sousadradina. Cabe aqui lembrar – como Stendhal – o que premonizou Sousândrade: “Ouvi dizer já por duas vezes, que “O Guesa errante” Serpa lido cinqüenta anos depois; entristeci – decepção de quem escreve cinqüenta anos antes”. E isso se fez verdade porque só agora a crítica de vanguarda está tentando, ao descobri-lo, fazer-lhe a merecida e árdua interpretação, já que o poeta tem sido, no estrangeiro, objeto de estudos e pequisas para tese de doutoramento em diversas universidades, por ter sido na Europa e nos Estados Unidos que mais intensificou a sua criação, mas carecendo, entre nós, e depressa, de uma atenção mais densa e acuidade, porque crendo como Píndaro “os gênios nascem e não se fazem”. É-nos devido dizer, ao finalizar, que Sousândrade é o núcleo de seu próprio itinerário, de seu próprio roteiro. É em seu viajar o próprio universo dos fatos e a própria represa mítica da palavra. É ele o poeta que cunhou a sua própria metáfora de vida [estou na pedra!] quando de pedra necessitava para viver, arrancando-a e vendendo-a em sua Quinta Vitória, em São Luís, para comprar o pão de cada dia. É ele, Sousândrade – esse poeta extraordinário – o próprio Guesa.


JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE - (SOUSÂNDRADE)

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Joaquim de Sousa Andrade (Sousândrade), nasceu na então vila, hoje cidade de Guimarães, aos 9 de julho de 1833 e faleceu na capital na capital, a 21 de abril de 1902. Cursou a princípio, a Academia de Medicina do Rio de Janeiro. Interrompendo seus estudos, seguiu para a Europa, onde faz a sua educação, bacharelando-se em letras, na Sorbonne e tirando o curso de engenheiro de minas. Proclamada a República, colaborou no 'O Globo' (1889), (seção republicana), fez parte do primeiro diretório republicano aqui organizado, bem como da primeira câmara municipal e, foi, mais tarde, nomeado professor de grego do Liceu Maranhense. Em 1895, tentou fundar aqui uma universidade com o título de Nova Atenas. Era Sousândrade, sem contestação, um homem de grandes valores. Amava a solidão. Nos últimos tempos, quase que esquecido, na sua quinta 'Vitória', à margem do Anil, vivia entregue ao convívio dos livros e estudos da sua predileção 86. “Primeiro intendente de São Luís após a proclamação da República, [Joaquim de Sousa Andrade (que por iniciativa própria aglutinou seu nome literário para Sousândrade)] realizou uma administração voltada para a educação e a melhoria das condições urbanísticas de São Luís. Professor de Grego no Liceu Maranhense, sonhou com a instalação, em São Luís, da primeira universidade brasileira, que a princípio se chamaria Atlântida, sendo rebatizada, posteriormente, para Nova Atenas.” 87

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RIBEIRO DO AMARAL - O Maranhão no Centenário da Independência, S. Luís, 1923, p. 8. MORAES, Jomar. Apontamentos de Literatura Maranhense. São Luís: Sioge, 1976, p. 75.


Quem não conheceu, entre nós. Joaquim de Sousândrade?. Esteve o velho republicado pela América do Norte. Paupérrimo já, começou a demolir os muros de sua quinta, a quinta da Vitória, vendendo as pedras... - Estou a comer pedras, disse-me-se sorrindo uma vez... Fê-lo, então, o governo, lente de grego do Liceu88Ao chegar ao estabelecimento, que funcionava ainda à Rua Formosa, e ao ver em que estado se achava o velho edifício, foi, antes mesmo de dar aula, ao gabinete do diretor, oferecer os seus ordenados para concertos de que carecia o prédio. E isso em época que estava a vender os muros de sua quinta para comer! O seu último sonho foi a fundação de uma Universidade no Maranhão, a Nova Atlântida." .89

Publicou seu primeiro livro de poesia, Harpas Selvagens, em 1857. Viajou por vários países até fixar-se nos Estados Unidos em 1871, onde publicou a obra poética O Guesa, em que utiliza recursos expressivos como a criação de neologismos e de metáforas vertiginosas, que só foram valorizados muito depois de sua morte, sucessivamente ampliada e corrigida nos anos seguintes. No período de 1871 a 1879 foi secretário e colaborador do periódico O Novo Mundo, dirigido por José Carlos Rodrigues, em Nova York (EUA). De volta ao Maranhão, aderiu em 1889. Em 1890 foi presidente da Intendência Municipal de São Luís. Realizou a reforma do ensino, fundou escolas mistas e idealizou a bandeira do Estado, garantindo que suas cores representassem todas as raças ou etnias que construíram sua história. Foi candidato a senador, em 1890, mas desistiu antes da eleição. No mesmo ano foi presidente da Comissão de preparação do projeto da Constituição Maranhense. Morreu em São Luís, abandonado, na miséria e considerado louco. Sua obra foi esquecida durante décadas. Resgatada no início da década de 1960, pelos poetas Augusto e Haroldo de Campos, revelou-se uma das obras mais originais e instigantes de todo o nosso Romantismo, precursora das vanguardas históricas90. Em 1877, escreveu: Ouvi dizer já por duas vezes que o Guesa Errante será lido 50 anos depois; entristeci - decepção de quem escreve 50 anos antes91.

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O Livro de Registro da 2a. Seção da Secretaria do Governo, relativo à instrução Pública, ano de 1894, traz cópia do seguinte documento: '2a. Seção - Secretaria , 21 de junho de 1894. - Ao Inspetor da Instrução Pública - De ordem do Sr. Vice-governador do Estado, remeto-vos para os devidos fins, junto por cópia o termo de contrato celebrado com o cidadão Joaquim de Sousândrade para exercer a cadeira de língua Grega do Liceu Maranhense nos termos do art. 35 da Lei no. 56 de maio de 1893.'" (nota 52, p. 24). 89 BARBOSA, Domingos. Souzandrade. Silhuetas. S. Luís, 199, pp. 27-31, citado em MARANHÃO, Departamento de Cultura do Estado. Sousândrade - memorandum. São Luís : DEPARTAMENTO DE CULTURA DO ESTADO, 1966, p. 27-30. 90 Ver edição atualizada de O Guesa, seu mais importante poema, introd., org., notas, glossário, fixação e atualização do texto da ed. londrina (1884?), por Luiza Lobo, rev. técnica Jomar Moraes, São Luís do Maranhão, Academia Maranhense de Letras; Rio de Janeiro, Ponteio, 2012. 91 Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sous%C3%A2ndrade


ALUÍSIO TANCREDO BELO GONÇALVES DE AZEVEDO OSMAR GOMES DOS SANTOS Cadeira n.º 14 Patrono: Aluísio de Azevedo Em São Luís do Maranhão, no ano de 1857, precisamente no dia 14 de abril, nasceu aquele que criaria a essência da literatura naturalista do Brasil. Desde a sua infância, o menino Aluísio sempre demonstrou um interesse incomum pela leitura, motivo pelo qual vivia cercado de compêndios e sempre escutava atentamente todas as conversas que aconteciam ao seu redor, mas sem sequer vislumbrar que futuramente essas lembranças lhe seriam extremamente úteis. Aluno do Liceu Maranhense, ele logo se destaca dos outros companheiros. Era o ano de 1871, e o seu talento para a pintura chamou a atenção dos mestres, porque não era normal um aluno iniciante mostrar tanta habilidade e perfeição de traços nas telas. Contudo, aos 19 anos, aconteceu um fato que mudaria para sempre o seu destino. O seu irmão Artur Azevedo, reconhecido nacionalmente como jornalista e teatrólogo, o levou para estudar no Rio de Janeiro, capital do País e centro de todas as novidades, principalmente em relação à classe artística. Ao chegar ao Rio, logo ingressou na Escola de Belas Artes, onde encontrou uma nova vertente, o desenho, e passou a colaborar com jornais e revistas, fazendo caricaturas e publicando poesias, que foram bem aceitas pela crítica especializada da época. Mas o destino se encarregou de provocar mais uma brusca mudança em sua vida: no ano de 1879, morre o seu pai, fazendo com que ele retornasse a São Luís do Maranhão. De volta ao seu cotidiano provinciano, depois de haver sentido a força evolutiva que povoa a intelectualidade da capital, escreve aquele que se tornaria o seu maior sucesso editorial: O mulato. Mas nem tudo foi bonança com o lançamento do livro que o consagraria. O lançamento do livro O mulato, no ano de 1781, chocou a sociedade ludovicense, por dois fatores especiais. O primeiro, pela ousadia de tecer um romance totalmente enredado nos preconceitos sociais fortíssimos que permeavam as classes dominantes. O outro foi a surpresa, depois do lançamento de "Uma lágrima de mulher", um livro totalmente açucarado, que se fazia adequado ao romantismo tão em voga naquela época. Com a reação absolutamente negativa com que foi recebida a publicação de "O mulato", a sociedade maranhense não poderia aceitar um livro que fosse introduzido no dia a dia do seu povo, mostrando a dura realidade de como se vivia o preconceito racial. De volta ao Rio de Janeiro, fez-se mais um emérito boêmio, acompanhando as noitadas. Aluísio Azevedo abandonou as tendências românticas em que se formara, para, influenciado por Eça de Queirós e Émile Zola, tornar-se o precursor do Movimento Realista-Naturalista. No Rio de Janeiro, passou a viver com a publicação de folhetins românticos a alguns relatos naturalistas. Viveu durante 15 anos do que ganhava como escritor. Preocupado com a realidade cotidiana, seus temas prediletos foram: a luta contra o preconceito de cor, o adultério, os vícios e o povo humilde. Na obra "O Cortiço", Aluísio retrata o aumento da população no Rio de Janeiro e o aparecimento de núcleos habitacionais, denominados cortiços, onde se aglomeravam trabalhadores e gente de atividades incertas. O grande personagem do romance é o próprio cortiço. Em 1895, com quase quarenta anos, Aluísio ingressa na carreira diplomática, atuando como cônsul do Brasil no Japão, na Espanha, Inglaterra, Itália, Uruguai, Paraguai e Argentina. Durante todo esse período, não mais se dedicou à produção literária. Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo morreu em Buenos Aires, Argentina, no dia 21 de Janeiro de 1913.


Obras de Aluísio Azevedo: Uma Lágrima de Mulher, romance, 1879; Os Doidos, teatro, 1879; O Mulato, romance, 1881; Memórias de um Condenado, romance, 1882; Mistérios da Tijuca, romance, 1882; A Flor de Lis, teatro, 1882; A Casa de Orates, teatro, 1882; Casa de Pensão, romance, 1884; Filomena Borges, romance, 1884; O Coruja, romance, 1885; Venenos que Curam, teatro, 1886; O Caboclo, teatro, 1886; O Homem, romance, 1887;O Cortiço, romance, 1890;A República, teatro, 1890; Um Caso de Adultério, teatro, 1891; Em Flagrante, teatro, 1891; Demônios, contos, 1893; A Mortalha de Alzira, romance.


2017 Ano de JosuĂŠ montEllo


Alem dos diversos romances que escreveu, o escritor maranhense Josué Montello publicou também para os pequenos. “A Cabeça de Ouro” e “O tesouro de D. José” estão entre os títulos infantis do romancista, que este ano completa 100 anos de nascimento. Data, vale lembrar, que será celebrada com uma programação especial cuidadosamente preparada pela direção da Casa de Cultura Josué Montello, instituição que abriga entre outros valiosos itens, a biblioteca do autor de “Os tambores de São Luís”.


JOSUÉ MONTELLO E SEUS PERSONAGENS ALDY MELLO Publicado em O ESTADO MA, 1º abril 2017 Um personagem, em literatura, é um ser atuante de uma obra. Josué Montello criou inúmeras pessoas fruto de sua imaginação. Seus romances são obras de ficção que, embora apresentem fatos reais, não expressam uma realidade. “Janelas Fechadas” foi o romance de estreia de Josué Montello, publicado em 1941. Benzinho, moça bonita, que morava no Anil, esperava sempre a vinda do bonde que podia trazer uma carta do pai de seu filho, enquanto D. Binoca deixava o tempo passar, tal qual o velho relógio de pêndulo, que acompanhou várias gerações e teve expressivo significado na vida de Eduardo, como nos narra “A Luz da Estrela Morta”. Em “Labirinto de Espelhos”, Marta era uma viúva rica, cercada de herdeiros interesseiros, esperando um testamento, após sua morte. Em o “Camarote Vazio” existe um roubo de jóias, mas o camarote permanece intacto. Falando de cobiça obsessiva, Montello conta-nos a história de Abelardo que, regressando a São Luis, pretende adquirir a casa onde outrora residiam seus pais. Apaixonou-se pela filha do novo dono da casa. Casaram-se sem que a esposa apoiasse seu desejo obsessivo. Como narrado em “Os degraus do Paraíso”, Josué crítica o fanatismo e o puritanismo religiosos e, referindo-se a uma epidemia da gripe espanhola, fala da morte física e espiritual. Seus personagens Ernesto, Cristina, Cipriana e Dr. Luna morrem. O “Cais da Sagração” retrata a vida do porto de São Luis e mostra como viviam os barqueiros. Seu personagem principal é Severino, um barqueiro desenganado pelo médico de coração. “Os Tambores de São Luis” personifica as crenças, tradições, lutas, castigos e humilhações da escravidão, onde Damião é diferente da rebeldia maranhense de João Maurício, que enfrentou a Polícia Militar nas passeatas políticas, e quando foi indicado para dirigir uma luta armada no Maranhão, em 1935, recusou. João Maurício vinha de uma geração que lutava contra o poder, mas não estava preparada para assumi-lo. Sobre o amor, Montello foi pródigo. Em “O Silêncio da Confissão” narra o fim do relacionamento entre Madalena e Benício. Fala do amor que existe entre os dois, em pleno regime militar, na década de 60. Benício era da direita, fiel aos princípios da doutrina que levou à caça aos comunistas. Volta a se referir ao amor com a história de um triângulo amoroso, Patrícia, Rodrigo e Simone. Obsessão e amor, tema de sua obra “Última Convidada”. Trata, ainda, do amor materno com uma estória triste, onde Luciana procura o filho desaparecido, esbarrando nos mistérios do terrorismo no Brasil. Sua obra foi “Uma Varanda sobre o Silêncio”. Finalmente, relata suas aventuras de colégio quando volta a São Luís para viver seu encontro e falar da convivência com Glorinha, em “Perto da Meia Noite”. “O Baile da Despedida” acontecia enquanto se preparava a proclamação da república brasileira. A monarquia nem imaginava que aquela era a última oportunidade para se despedir do poder. Na “Condição Literária”, ele fala de figuras, fatos e figurões que foram importantes na literatura brasileira e das vicissitudes e grandezas do Prêmio Nobel de Literatura e do esplendor e decadências dos prêmios literários. Foram esses os principais personagens de Josué Montello, um dos maiores romancistas do século XX, ungidos pelo seu brilhante imaginário e integrantes da sua criação romanesca. Josué Montello pouco falou de si, mas foi transparente ao dizer quando se referia à utopia: “O que caracteriza a utopia é constituir uma aspiração de muitos e para muitos num tempo futuro”. Era assim que sonhava, sempre caminhando vivo seu sonho estrelado, como queria Victor Hugo.


OS TAMBORES DE SÃO LUÍS OUVIDOS POR JOSUÉ MONTELLO

ALDY MELLO Ex Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro efetivo do IHGM e da ALL.

Publicado em O ESTADO MA, 14 de abril de 2017 Os “Tambores de São Luis” é considerado um dos melhores romances do autor, festejado pela crítica especializada e incluído entre as obras representativas da humanidade, ponto culminante de sua produção literária. Josué Montello fez da história da escravidão maranhense uma substância ficcional, como ele próprio declarou. Sua excepcional qualidade de escritor fez chegar até os franceses Les tambours noirs, publicado pela editora Flammarion, em Paris. A penetração desse romance, no social, com uma abordagem literária incomum, fez dos Tambores a mais cientifica de suas obras. É o romance da servidão, como afirmam vários críticos. Falar dos ecos dos tambores era uma das maneiras originais de Josué Montello sentir saudade da cidade onde nasceu. Não cansava de citar o som compassado dos zabumbas, das matracas e dos maracás, vindos de vários pontos da Ilha, sobretudo da Maioba, do Turu, de Vinhais, do Anil e do Matadouro. Madrugada adentro, ouvia-se o baticum ritual dos tambores da Casa das Minas.Era contagiante a toada dos cantadores, nos ensaios do bumba-meu-boi, não se limitando apenas à percussão dos instrumentos. No livro, Josué trata do drama individual de Damião, figura representativa do afro-descendente, vivendo os horrores do regime escravocrata. Toda a saga do escravo é apresentada pelo escritor maranhense, tendo sua origem nas viagens da África ao Brasil, especificamente em São Luís. Com tema épico, Montello apresenta uma narrativa realista, com muito misticismo, invocando a religiosidade. Sua narração transcorre durante uma noite e algumas horas da manhã seguinte, demonstrando as lutas dos negros, no Maranhão, em vários ciclos da história, fazendo nascer a resistência negra. Na sua saga literária, o autor mistura presente (1975) e passado, com seus vários personagens entre bispos, governantes, raparigas, boêmios, tipos da rua, refazendo a vida da cidade de São Luís, num romance, ao mesmo tempo, humano e histórico. Narra a cidade São Luís com seus sobradões de azulejos, mirantes, portões de pedra, calçadas de cantaria, becos e ruelas. É bom sempre lembrar que Josué é um romancista clássico, de estilo sofisticado, dono de uma linguagem rebuscada, com pitadas de humor, fortes figuras de linguagem e identidades regionais. Em toda a sua obra ele dedica referências especiais a São Luis. Como romancista, Josué Montello soube muito bem incorporar um elemento ativo da confluência social, o negro, quase sempre posto à margem da história política brasileira. Foi em “Os Tambores de São Luís” que Josué abordou a problemática do negro brasileiro como ele próprio disse: “ Do negro e de suas lutas. Do negro e de suas tragédias. Do negro e de sua ascensão merecida”. (Janela de Mirante, p 166) Os Tambores de São Luís é um extraordinário romance humano sobre a saga do negro, tratando da escravidão no Brasil, como diz Flávio Leandro, cineasta do Rio de Janeiro, nas primeiras providências para transformá-lo em filme. Embora os Tambores seja uma história de ficção, Josué Montello coloca nas mãos do leitor um rico material sobre a temática da escravidão. Expõe, com clareza e sabedoria, uma problemática social que é a discriminação racial, em plena escravidão e no período pós - abolição. Os Tambores foi a obra montelliana mais laureada pela crítica e pelo público.


JOSUÉ MONTELLO E O CAIS DA SAGRAÇÃO ALDY MELLO* PUBLICADO EM O ESTADO MA, 06 DE MAIO DE 2017

“O Cais da Sagração” foi editada pela primeira vez em 1971, considerada uma das quatro melhores de Josué Montello, a partir da qual sua imortalidade foi reconhecida no Brasil inteiro. Os episódios se passaram em São Luís, onde o autor revive seus encantos e predicados. Desde o início do século XIX, o mundo passava por um intenso movimento de modernização vindo da Europa, mas atingindo o novo continente, além do Atlântico. Com a chegada da Família Real, as cidades brasileiras sofreram expressivas modificações, principalmente em seus espaços urbanos, inclusive São Luís, a Capital da Província do Maranhão que contava com a força da Companhia de Comércio criada na administração pombalina. Desse surto de desenvolvimento, nasceu o Cais da Sagração, iniciado em 1841, ano da coroação de D. Pedro II como Imperador do Brasil, e assim foi chamado em sua homenagem. No “Cais da Sagração”, São Luís é o cenário onde se desenrola a história do pescador Mestre Severino e sua amada Vanju. Romance triangular entre o amor de Lourença pelo pescador Mestre Severino e dele por Vanju. O livro tem como cenário o porto ludovicense, onde se desenrola a estória do pescador Mestre Severino e seus amores. Retrata a vida portuária e mostra como viviam os barqueiros. Seu personagem principal é o Mestre Severino, um barqueiro desenganado pelo médico do coração. A obra retrata seus sonhos, amores, ódios e vingança, como analisa o acadêmico Eduardo Portela. Contrariando a recomendação médica, Mestre Severino decide empreender sua última viagem até São Luís, em seu barco Bonança. Queria transmitir ao neto Pedro a tradição familiar de conduzir barcos à vela. Barqueiros com a herança de sangue, desde os bisavós, foram sempre fiéis ao mar e seus mistérios. Como disse o próprio Montello, eles formavam uma interminável genealogia de nautas invencíveis. Mestre Severino era filho de Mestre Rufino e avô de Pedro, pertencentes a uma dinastia de varões que conduziam o Bonança, barco que comandava os destinos de toda uma geração. Josué Montello, andando pela cidade, chegou à Praia Grande e vendo o seu declínio assim se expressou: “A Praia Grande não vai morrer sozinha. Com ela irá o Cais da Sagração. Os barcos vão se passar para o Itaqui. Sem barcos, de que serve o caís ? ”. No “Cais da Sagração” encontra-se um Josué Montello mais memorialista e menos sofisticado. Sua linguagem é mais serena e mais amadurecida que nas outras obras. Dizem os críticos que “O Cais da Sagração” foi imaginado dentro da obsessão do autor, como narrador do passado e do presente, relatando fatos do tempo antigo e episódios da época em que fora escrito o livro. Afirmam que o romance remete à presença do mito cristão, com a invocação dos santos e do próprio medo do pecado. O imaginário do autor vai do medo do inferno ao risco de perder o céu, pelas crenças e religiosidade de seus personagens. Consideram, ainda, o romance, uma lição de vida em que fica claro o valor pela força de vontade. Não é à toa que recebeu o Prêmio Intelectual do Ano, em 1971, da Folha de São Paulo e da União Brasileira de Escritores e o Prêmio Ficção, da Fundação Cultural de Brasília, em 1972. “O Cais da Sagração” foi uma das mais importantes obras do autor, antecipando a edição de “Os Tambores de São Luís”, em 1975.

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Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro efetivo do IHGM e da ALL.


A CIDADE RUÍNA DE ALCÂNTARA E O LABIRINTO DA VIDA ALDY MELLO* PUBLICADO EM O ESTADO MA, 20 DE MAIO DE 2017

Em suas lembranças, Josué Montello sempre recordava os velhos casarões que abrigavam condes, barões, viscondes e sinhás moças. Passava-lhe a sensação de estar num cemitério entre túmulos e apenas ele estava vivo. Assim descrevia seu retorno ao passado quando revivia Alcântara. No livro “Noite sobre Alcântara”, Montello conta a estória do Major Natalino e Maria Olívia, filhos da aristocracia alcantarense, num desencontro de amor. Natalino foi informado de sua esterilidade e teve que terminar seu noivado com Maria Olívia, com quem não poderia ter filhos. “Noite sobre Alcântara” é um livro cheio de melancolia e saudade. O romance dá-se em Alcântara, na época do declínio do quadro econômico conjuntural da província, cujo contraste com a sua noção de prosperidade expressava o pensamento social do autor. Foi um encontro da tradição com a inovação, passado e presente, dia e noite, vida e morte, movimento e deserto, fertilidade e esterilidade. Alcântara viveu atraso social e econômico após a abolição da escravatura e a proclamação da república. Montello percorreu os caminhos da ideologia da opulência e encontrou-se com os da decadência. O Major Natalino seguira seu destino e Maria Olívia, recolhendo-se a sua solidão, dividia os dias com seu diário, único confidente de sua desolação. O romance não tratou apenas da decadência de Alcântara, é uma crônica sobre destinos humanos, o do Major Natalino e sua inesquecível Maria Olívia. Em “Labirinto de Espelhos”, publicado em 1952, seus personagens eram uma viúva rica chamada Marta, cercada de herdeiros interesseiros que aguardavam sua morte. Em pleno século XX, Montello conta o cotidiano de uma família maranhense pobre que passou a viver a expectativa da morte de um de seus membros, uma viúva rica da família. A viúva Marta morava em São Luís e tinha plena consciência do caráter de todos pois sabia plenamente que todos os parentes estavam interessados em sua fortuna. Guardava rancor por não ter tido apoio de seu casamento com Artur, que falecera ainda novo. O livro demonstra que a vida do ser humano é um verdadeiro labirinto. Josué Montello segue sua trajetória como autor dedicado à reflexão sobre temas humanitários, não deixando de fazer referências às diversas épocas da história. Contempla o ser humano envolvido numa aspiral de sentimentos, seja qual for a sua origem e a natureza, não importando que ele seja mesquinho, monstruoso ou cruel, sonhador ou realista, tem sentimentos e sensações. Montello apresenta sua noção de inveja, sentimento destruidor que tem origem em gente de quem menos se espera. Torna claro, também, o sentimento de cobiça que a pessoa expressa na vontade exagerada de possuir o que pertence aos outros. O invejoso reconhece que não tem capacidade de conquistar as coisas por si mesmo. Por isso ele tem inveja de quem conquistou, de quem conseguiu sucesso e obteve êxito. Não existe inveja nem cobiça senão do êxito e sucesso alheios. Como escritor, o autor definiu o romance como espelho da vida. Sempre, em suas obras, penetrou nos mistérios da vida do ser humano. Sua obra não é apenas lazer ou passa tempo. Sua intenção, desde o início no mundo das letras, era de realizar uma obra e não apenas produzir livros. Sua grande meta era unir a tradição romanesca realística com apelos da memória, buscando a identidade perdida do Maranhão, voltando ao passado, indo a São Luís ou Alcântara, cujos passos se transformaram na literatura montelliana.

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Ex-Reitor da UFMA e do CEUMA. Membro efetivo do IHGM e da ALL.


JOSUÉ MONTELLO: UM TESOURO AINDA UM TANTO QUANTO ESCONDIDO DA LITERATURA MARANHENSE – lembrando o centenário de nascimento (21/08/1917) e os onze anos de partida deste mundo (15/03/2016) de clássico da arte literária contemporânea DINACY MENDONÇA CORRÊA92

Nos dias de hoje, o texto de Josué Montello intensifica, em cada criatura humana, o sentimento de perplexidade diante do grande abismo entre o ser e o parecer. Pode-se falar em ressurreição num mundo em que a política manipula, a cultura se artificializa, os meios de comunicação robotizam, o produtivismo oprime o operário e o consumismo escraviza? Existe ressurreição sem inteireza de amor?(Telenia Hill) Josué de Sousa Montello (São Luís-MA. 21.08.1917/RJ.15.03.2006) – jornalista, professor, teatrólogo, cronista, romancista, autor de contos infantis... Um dos introdutores do Modernismo na Literatura Maranhense (com Janelas Fechadas-romance), ao lado de Bandeira Tribuzzi(com Alguma Existência-poesia). Membro da Academia Brasileira de Letras (cadeira 29). Autodidata. Filho de Antônio Bernardo Montello (ascendência italiana) e Mância de Sousa Montello. Estudos primários na Escola Benedito Leite e secundários no Liceu Maranhense – quando então dirige o periódico A Mocidade, ali dando a público seus primeiros trabalhos. Jornalista e escritor precoce (aos 15 anos integra a sociedade literária Cenáculo Graça Aranha, da qual participaram muitos outros intelectuais maranhenses). Em 1936, segue para Belém-PA. e dali para o Rio de Janeiro-RJ. Escreveu em muitos jornais e revistas importantes do País, bem como assumiu cargos e funções de relevo, em órgãos do governo. No Maranhão (São Luís), criou e organizou o Museu Histórico e Geográfico, o Conselho Federal de Cultura e fundou a Casa de Cultura Josué Montello. Janelas Fechadas – romance de estreia, escrito no Rio de Janeiro, em 1938, e lançado em 1941. Personagens singelas, cenário tranquilo, tudo expressando-se com nitidez e harmonia. Apreciado pelos leitores e exaltado pela crítica (sobretudo por Antônio Cândido e Álvaro Lins), tem logo sua primeira edição esgotada, vindo a ser relançado somente em 1982, totalmente reformado pelo autor (conservando, porém, a tônica geral da narrativa, em sua originalidade). Considerado(por escritores como Alceu Amoroso Lima e Manuel Bandeira) um clássico da Língua Portuguesa, premiado muitas vezes como mestre do romance moderno brasileiro, Montello é, sem dúvida, o nosso magno representante do gênero, em sua vastíssima e variada bibliografia(cerca de 160 títulos diferenciados de produção: do infanto-juvenil ao romance, passando pelo conto, crônica, novela, ensaio, obras de pedagogia e biblioteconomia) em que o fator quantidade se faz igualmente significativo de qualidade – conjunto em que se sobressaem os romances, cunhados, estes, numa linguagem clara, direta, fluente e primando por um enredo centrado na abordagem de temas especificamente maranhenses: exaltação de usos e costumes, tradições sanluisenses; caracterização psicológica das personagens, sempre ambientadas na capital do Estado ou na fronteira cidade de Alcântara, sendo, “por excelência um romancista do Maranhão, mais precisamente da cidade de São Luís. A luz da estrela morta pode situar-se em qualquer parte do mundo. Mas São Luís está presente na maior parte de suas criações ficcionais” – diz Mello (1978, p. 05). Assim, pode-se dizer, na sua prosaica romanesca, Montello criou um verdadeiro ciclo maranhense, combinando, “de maneira sóbria e numa linguagem estritamente literária, a fixação da velha São Luís e o cuidado do retrato psicológico nas fronteiras do Psicanalítico” (BOSI, 1995 p.428). 92

Professora Estadual (Seeduc/Uema-Adjunta.).


São vinte e seis romances a integrarem e a formarem esse circuito, seguindo-se a Janelas Fechadas (1941 – que enfoca o dia-a-dia suburbano da São Luís de então): A luz da estrela morta (1948) – prescrutativo do temor da morte; O labirinto de espelhos (1952)– onde a ambição e a inveja humana se fazem retratar no cômico e no protagonismo de uma viúva rica, consciente de que todos os que a lisonjeiam estão interessados na sua fortuna (tendo, pois, a sua morte aguardada pelos parentes pobres), conseguindo, no entanto, sobreviver à ira dos seus pretensos herdeiros; A décima noite (1959) – romance de regresso, inspirado no artigo 178, do código civil, caracterizando-se pelo suspense, na reflexão do complexo de Édipo, através da personagem Abelardo que, de volta a São Luís, propõe-se a resgatar a casa outrora pertencente a seus pais, assim casando-se com a filha dos novos proprietários, por quem se apaixona, vendo nesta, refletida, a própria mãe falecida; Degraus do Paraíso (1965) – aquele em que o autor, avesso ao fanatismo, extravasa verdadeiros sentimentos pessoais, em sua angústia religiosa, na impossibilidade de realizar o grande sonho do seu pai, que o queria pastor protestante; Cais daSagração (1971) – a São Luís beiramarinha, em sua paisagem, voz, tipos caraterísticos da época; Os Tambores de São Luís (1975) – percepção/captação/revelação histórico-sociológica da mais ampla, profunda e contundente experiência existencial, no âmbito da escravatura e no protagonismo de um professor negro; Noite sobre Alcântara (1978) – a decadência da aristocracia maranhense romanceada; A coroa de areia (1979) – cosmovisão política dos anos 60, num trabalho de reconstrução do ambiente, de estilização da memória coletiva de São Luís, numa fase de “fermentação turbulenta com o aparente imobilismo do meio provinciano, revolvido até às entranhas mais guardadas pela paixão política, pelo idealismo de alguns, pela ambição de muitos, pela coragem, pelos temores, pelo jogo de convivênciase imperativos em que vivia aquela sociedade”, segundo Raquel de Queirós (In: MONTELO, 1979 – aba esquerda da obra). O silêncio da confissão (1980) – o antigo e o novo; a tradição e a modernidade, conjugados num enredo em que o policialesco se faz inaugurar, no tecido literário montelliano; Largo do Desterro (1981) – a dilemática experiência existencial de um sesquicentenário (150 anos de vida); Aleluia (1982) – tributo a um pai que muito desejou (mas não conseguiu) ter um filho que o continuasse como pastor evangélico; Pedra Viva (1983) – leitura, em “mensagem cifrada” (MARTINS, 2006, p. 113) do próprio destino humano, em sua significação interior,; Uma varanda sobre o silêncio (1984) – a realidade do Brasil dos “anos de chumbo”, do terrorismo, das repressões; Perto da meia-noite (1985) – num toque realista, na mira do social, o cotidiano, o meio sanluisense, em sua mais pura autenticidade, ecoa nessas páginas, num lirismo profundamente íntimo, recôndito, numa autêntica psicologia das personagens; Antes que os pássarosacordem (1987) – a ocupação de Paris (Segunda Guerra Mundial), pelos nazistas, resgatada e ambientada em São Luís, sob o ponto de vista de um cidadão francês (envolvendo outras personagens francesas), na abordagem de um tema universal; A última convidada (1989) – a transcendência humana a revelar-se como mais uma novidade na ficção romanesca de Montello; Um beiral para os bem-te-vis (1989) – a noite, a cidade, a garota nua na garupa da moto do namorado, briga e reconciliação, parentes dispersos retornados ao lugar de origem – como bem-tevis retornando ao beiral, preservando-se das intempéries da vida; O Camarote vazio (1990) – o suspense, as personagens marcantes, perfeitamente adaptadas a um enredo habilidosamente construído, definem o gênero policial da narrativa; O baile da despedida (1992) – ficção e verdade histórica interseccionadas na recriação do último baile da monarquia (Ilha Fiscal, seis dias antes da Proclamação da República); A Viagem sem regresso (1993) – testemunho da luta pelo poder, aqui no Brasil; flagrante de um contexto político hesitante entre dois pontos extremos: um governo forte e outro liberal; A mulher proibida (1996) trama conflituosa, na actância de um pai viúvo (ainda jovem) e uma filha única, convivendo/dividindo o mesmo espaço, confrontando seus instintos (reprimido e livre, respectivamente); Uma sombra na parede (1995) – um caso de lesbianismo velado; Enquanto o tempo não passa (1996) – uma nova experiência patética de um protagonista, ao mesmo tempo herói e vítima, em sua luta de superação ante as contingências da vida contemporânea, na conquista de uma realização pessoal: culpado ou inocente?; Sempre serás lembrada (1999) – a saga pessoal do jovem Aluísio, que parte, ainda menino, para estudar na Europae, formado, regressa à terra natal (São Luís-MA.), um tanto quanto perplexo, no contemplar da cidade em processo de modernização e angustiado pela saudade da colega de classe com quem mantivera um apaixonado romance; A mais linda noiva de Vila Rica (2001) – sem declinar da veracidade histórica (de que se revestem as lutas pela conquista da nossa autonomia e identidade nacional), aqui é o amor entre Maria Doroteia e Tomás Antônio Gonzaga (Marília e Dirceu) que se reconstitui, num tecido de memória, e se eterniza, na ficção, elevando-se aos píncaros da glória literária. Dentre todo esse elenco de obras, figuram entre as mais lidas e estudadas, no meio acadêmico, bem como eleitas, na preferência do leitor maranhense: Cais da Sagração, Noite Sobre Alcântara e Os


Tambores de São Luís – este último considerado um dos grandes representantes da moderna literatura brasileira, “o mais completo, o mais vívido, tecnicamente o melhor acabado [...] com extraordinária qualidade”, no dizer de Octávio Faria (In: MONTELLO, 1971 – aba esquerda da obra). O grande romance “não unicamente do negro maranhense, mas do negro brasileiro em sua luta pela libertação”, no dizer de Mello (1978, p.06). Vejamo-las, num breve resumo/comentário, detendo um pouco mais o olhar sobre a última obra citada. Cais daSagração (1971) – Obra-prima da literatura contemporânea, a runir, harmonicamente, em sua estruturação narrativa: ação, personagens, espaço. Romance do mar, do litoral maranhense e seus velejadores, na cotidiana travessia São Luís/Alcântara, na dinâmica marítima do Porto, na Praia Grande. Enfim, a gente do mar, os marítimos, em seu jeito de ser e estar, de amar e mal amar, suas lutas e audácias, destemores, esperanças, vinganças e perdões. Tudo muito bem representado em Mestre Severino – barqueiro, personagem extraído da vida real – que se imortaliza, nessas páginas, em sua determinação e força de vontade, seus dilemas sentimentais, no conflito amoroso entre a submissa Lourença e a bela e atraente Vanju – prostituta por quem se apaixona, após libertá-la dessa “profissão” exercida na antiga ZBM (Centro Histórico de São Luís, área atualmente conhecida como Reviver) e com quem se casa, tem uma filha (ao mesmo tempo convivendo com Lourença que, na sua generosidade ou submissão, de primeira esposa, passa a ser a empregada da casa), vindo a assassiná-la, por ciúmes, asfixiando-a, num banho, no mar de Alcântara. Como num dialogismo intertextual, Vanju nos transporta à Capitu machadiana (Dom Casmurro) – em sua inerente dubiedade, sensualidade, inconstância, aptidão atrativa... – sobretudo no que respeita à dúvida da traição, que se repete, incondicionalmente, em Cais da Sagração. Já Lourença(a primeira mulher de Mestre Severino, que pode representaruma lição de vida, de Amor verdadeiro, desinteressado, um modelo de perfeição humana), ainda que muito sofrida, com o casamento do seu amado, aceita tranquilamente, aquela circunstância absurda, vindo a amar, mesmo aquela que poderia considerar sua rival. Ali, portanto, não se completa o tradicional triângulo amoroso. Sobre a obra, o contributo crítico/interpretativo de Telênia Hill para quem: Apesar da diversificação no modelamento dos tipos, Montello integra-os magistralmente no espaço que constrói, costurando-os com intrigas bem urdidas. Não deixando de respeitar o aspecto geral do espaço físico maranhense, o autor criou um outro espaço, o estético, do domínio apenas de quem o frui. É mais um espaço literário que se cria para o Maranhão, como consequência do fascínio do autor por sua terra natal. Ao ler-se Cais da Sagração, passa-se a viver a atmosfera lírico-dramática de sua narrativa. O romancista consegue tensionar, no espaço que constrói, o real com o ideal, que compõem dialeticamente a unidade estética da obra. O reconhecimento e a novidade se harmonizam, tornando agradáveis de contemplar até os acontecimentos penosos. Com respeito à participação da natureza no romance, pode-se afirmar que ela não funciona como mero décor ou como veículo de intensificação do clima emocional. Latu sensu, ela vale por si como personagem pleno que se integra na história do romance: as costas marítimas do Maranhão se apresentam com toda beleza e mistério. Ao fim do romance, porém, quando ocorre a borrasca, a natureza funciona como o obstáculo que deverá pôr à prova a masculinidade de Pedro, neto de Mestre Severino. Apesar da descontinuidade com que os fatos se apresentam, o tempo cronológico dimensiona e dá sentido ao que ocorre na trama de Cais da Sagração. Colhido pela Poesia, o texto se deixa percorrer por ela (HILL, 2006, p.674)

Noite sobre Alcântara (1978)– Resgate lírico, romanceado da história/trajetória de Alcântara, no seu passado econômico, social e político, contextualizada na segunda metade do século XIX, tempos áureos de D. Pedro II. “... a Alcântara senhorial, que viu passar, nas suas ruas retilíneas, os orgulhosos palanquins doirados [...]” e que foi morrendo “devagar, dia por dia, hora por hora, silenciosa e esquecida. [...]” (MONTELO, 1978, p. 05). Ali, onde estão “os escombros da Igreja de São Matias, sobre a qual desabou um


raio, em noite de temporal” (id. ibid.) e de cuja “nave ampla nada mais resta. Só a frontaria e o campanário retangular. Em frente à fachada nua, o pelourinho com as armas de Portugal. [...]. Adiante [...], o prédio da Casa da Câmara [...]. No Largo do Carmo [...], as ruínas do Palácio do Imperador, com seus portais de cantaria lavrada. [...]” (id. ibid. p. 6, 7). Narrada na voz do Major Natalino (ex-combatente da Guerra do Paraguai, neto do Barão de Pindaré, filho do Visconde de São Marcos), em estilo descontínuo, através de flashs-backs (sobretudo), num fluxo de recordações, em que predomina o tempo psicológico. Avanços, recuos da ação, que vem à cena literária, em digressões e progressões, a que se juntam intercalações, em cortes ou rupturas – que permitem, na sequência narrativa, a inclusão/intersecção de/com outros gêneros: carta, recorte de jornal, ensaio (e até mesmo o diário íntimo de Maria Oliva93)...perpassam as páginas dessa Noite que, no título da obra, é metáfora a remeter, por si só, à decadência da antiga cidade (tema central do romance) fronteira a São Luís, na Bahia de São Marcos. Decadência que remonta à Abolição da Escravatura e às consequentes transformações econômicas que se seguiram à Proclamação da República, num processo contínuo e (de)gradativo, que a deixou em ruínas, como num perpétuo crepúsculo evocativo do passado, a contornar, magicizar, a realidade dolorosa. Grupos dominantes que abandonaram suas fazendas, queda de estilo de vida... Enfim, ruínas arquitetônicas em analogia à ruína econômica. Destacáveis, dentre estas, as ruínas de dois palácios (respectivamente no Largo do Carmo e na Rua Direita, canto com a Rua Grande: um, contando 18 cômodos; outro, 48 – conforme ditara a rivalidade entre os Partidos Liberal e Conservador), construídos para recepcionar o Imperador D. Pedro II, que prometera visitar a cidade em 1860. Estrutura circular (para lembrar HILL, 2006) o romance se vai urdindomemorialisticamente, a partir do momento em que Natalino se vai, da cidade, sendo por motivo imprevisível, obrigado a demorar-se. Eis, então, que se vai desenrolando a narrativa, em sua historicidade, pondo em relevo uma Alcântara que “declina do apogeu” (HILL, 2006, p. 674). Uma Alcântara em que os escravos “tornam-se livres e os cidadãos livres se escravizam, pelo despreparo que lhes é peculiar para vencer a dificuldade da situação. Sem braço escravo a sociedade aristocrata tende a ruir. [...]” (id. Ibid). Nas últimas páginas do romance o destino não permite que Natalino alcance o barco em que pretendia viajar. Esse fato contribui para que, em dia posterior, ele depare com o filho que não assumiu. Teve, por isso mesmo, de conservar incógnita sua paternidade, apesar do desejo de dar-se a conhecer. Ao sentimento triste do personagem, a contradição da alegria causada pelo surgir de um Novo Ano; e a essa alegria, o contraste do incêndio de urn dos mais ricos sobrados de Alcântara. Por momentos, a devastação silenciosa do tempo cede lugar à fome sôfrega do fogo. Registra-se um saldo negativo deixado pelo despreparo de uma sociedade, que responde pela sorte dramática dos habitantes. Entretanto, Alcântara ressurge pelo que dela se re-corda. Mais do que uma lição de lirismo, Noite sobre Alcântara fica em nós como o registro de um protesto contra o conformismo, o orgulho e a hipocrisia de sociedades egoístas, parasitárias, mantidas apenas pelo fausto que um dia lhes coube como meio de sobre-vivência (HILL, 2006, p. 674)

Os Tambores de São Luís (1975)– obra-prima de Josué Montello, em 58 capítulos, 483 páginas, numaambientação épica, num enredo que desenrola o drama individual da personagem Damião, em seus ideais um tanto quanto fora do comum para um afrodescendente, que participara do processo de emancipação e libertação de um grupo étnico (ainda que tendo incorporado a cultura dos brancos), num momento histórico, em que a escravidão negra transita, da fase dos engenhos para a da vida urbana, num confronto/interrelação raça/meio, na construção de uma identidade cultural. Com olhos de sociólogo, o ficcionista reconta “realidades que não podem ser esquecidas através dos tempos, como se atrás da blandícia do senhor de escravos que levaria às vezes a amar o descendente bastardo, não serpenteasse à solta a chibata do feitor” (MELLO, op. cit., p. 08). Narrado em terceira pessoa, é romance histórico/psicológico, a concentrar, no tempo cronológico de uma noite (1915), em sua passagem para o dia seguinte (precisamente das 22:00 às 9:00h), o relato evocativo 93

- apresentado como real, na obra, em verdade, acha-se conservado (em parte), no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGMA).


(em tempo psicológico) de um largo período da vida brasileira (tempo histórico-1838/1915), marcado por lutas e insurreições, retrocedendo aos vários ciclos da história maranhense, numa confluência passado/presente. Mais de 400 personagens (precisamente 486, entre clérigos, governadores, estudantes e professores, tipos humanos, os mais variados, sem contar as massas populares, que dinamizam um enredo entrecruzado por histórias, em episódios que se vão sucedendo, ajustando um ao outro, não obstante a diversidade de épocas evocadas), a recompor o dinamismo de uma cidade, em sua paisagem urbana, seu perfil arquitetônico. Para o jornalista, professor e escritor Manoel Santos Neto (2007, p. 168), este “extraordinário romance humano, ao estilo de uma impressionante novela de mistério, que começa com um episódio imprevisto – o encontro de um negro assassinado dentro de um bar, numa velha noite de 1915”, tendo como pano de fundo a caminhada noturna de Damião (negro octogenário, na sua travessia da cidade, ao som dos tambores da Casa das Minas), indo ao encontro do trineto, recém-nascido, constrói-se num percurso narrativo em “duas marchas”: uma, acelerada – em que Montello “tenta retratar os vários ciclos da História do Maranhão”; outra, mais lenta – no transcurso do texto em si mesmo, contando “a saga do negro e o seu martírio sob a escravidão, no Brasil”. As personagens, perfeitamente verossímeis, colhidas da vida real, são tipos e vultos que perpassam a história do Maranhão, a exemplo de: Dona Ana Jansen, Ana Rosa Ribeiro (senhora da aristocracia, denunciada pelo promotor de justiça Celso Magalhães por crimes contra os escravos), o desembargador Pontes Visgueiro (famoso pelo “crime da mala”), Gonçalves Dias (em seu drama pessoal, seus amores malfadados). Enfim, ler a romanesca montelliana é encontrar um tesouro, uma joia preciosa da Arte da Palavra; é conhecer um grande clássico, um mago da Literatura universal – contemporânea e de todos os tempos. REFERÊNCIAS BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 32 ed. São Paulo: Cultrix, 1995. FARIA, Octávio. In: MONTELLO, Josué. Os Tambores de São Luís. São Paulo: Martins, 1971 (aba esquerda da obra). HILL, Telênia. Josué Montello: pedra preciosa. In: Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Ano IV, Edição 120 (20/01/2007). www.guesaerrante.com.br/2006/1/20/Pagina674.htm dbgdf MARTINS, Wilson. A arte do romance. In: Anais da ABL –jan./jun.2006. MELLO, Manuel Caetano Bandeira de. O romance contra o mito: os Tambors de São Luís. São Luís-MA. Edições Sioge, 1978. MONTELLO, Josué. A Noite sobre Alcântara. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978. QUEIRÓS, Raquel. In: MONTELLO, Josué. A Coroa de Areia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979 – aba esquerda da obra. SANTOS NETO, Manuel. Universo poético das ruas e praças de São Luís (ou ostrinta anos deOs Tambores de São Luís). In: Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. – Anuário (n 04, 2006). São Luís-MA. : Jornal Pequeno, 2007.


DIÁLOGO ENTRE LITERATURA E HISTÓRIA ALDY MELLO O romance “O Baile da Despedida”, de Josué Montello, foi publicado em 1992 e narra um fato real, enriquecido pela imaginação romanesca do autor. Para muitos, é a sua melhor obra. Tudo começa com uma reportagem sobre Dona Catarina, uma senhora de 80 anos, única sobrevivente do baile da Ilha Fiscal, ocorrido seis dias antes da proclamação da República Brasileira. Catarina de Aragão Arantes, uma bela moça nascida em São Luis, foi convidada para ir ao baile. Naquela ocasião, apaixonou-se por um tripulante de um navio. Em sua linha narrativa, Montello escreve sobre o nababesco baile, ocorrido no dia 9 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, promovido pelo Imperador, com cinco mil convidados. O baile da Ilha Fiscal foi considerado o maior no país realizado pela Coroa Portuguesa, incluído entre os episódios mais folclóricos da história do Brasil. Apesar das dificuldades por que passava o governo imperial, predominava o sentimento monárquico que passava a todos a certeza de que tudo vinha correndo bem, segundo as determinações naturais. À Corte Portuguesa caberia manter a ordem e garantir a felicidade de todos os cidadãos e só a ela obediência e afeição eram devidas. A boa reputação e a popularidade teriam que ser mantidas pelo Imperador, não obstante as opiniões divergentes no seio de um grupo de notáveis políticos da época e dos militares. Enquanto a nobreza se divertia faustosamente, um grupo de insatisfeitos com a monarquia, sob a liderança de Benjamim Constant, reunido no Clube Militar, costurava os últimos entendimentos sobre a troca do poder, caracterizando o acontecimento imperial como o último a ocorrer e transformando-o numa sessão de despedida do poder. Embora, por invalidez, D. Pedro II tenha levado um tombo ao chegar ao recinto, disse que o imperador tombou, mas a monarquia não cairia. Josué Montello conta suas estórias costurando-as com fatos da história. Sabe, com fidalguia e esmero, fazer as divisas de águas entre a morte da monarquia e o nascimento da nova República Brasileira. A república que nascia, sob o signo de um grandioso baile, já vinha sendo forjada por um grupo de notáveis, como Ruy Barbosa e Quintino Bocaiúva. Embora já se encontrasse o império enfraquecido, toda a elite política e social da Corte Real comparecera ao baile. A imprensa da época anunciava o evento e afirmava que muitos não seriam convidados. Enquanto os excluídos sentiam profunda indignação, os convidados respiravam esnobismo. A narrativa romanesca de Montello recebe o auxílio de diversos símbolos da época, como desenhos, fotografias, costumes e roupas. O romance e a história são espaços onde o autor procura registrar o fictício com o real. Ao trazer Dona Catarina como única sobrevivente do baile da despedida, o autor reproduz, no presente, as marcas do passado, dando ao leitor um ar de realidade, sobretudo àqueles que já tinham ouvido falar sobre o que teria acontecido no baile real. Josué Montello, que sempre alimentou seu ideal de arte, soube transpor nessa obra suas convicções aos leitores, deixando claro o que representam as mudanças do tempo, abordando, mais tarde, o tema na “Coroa de Areia”. A antologia de lembranças, como quis explicar em “Janelas de Mirante”, vai além de sua história pessoal, enraizando-se na história brasileira. Nesse livro, o autor maranhense deixa marcada sua contingência histórico-social. Além de descrever muito bem a época e os sentimentos de seus personagens, nos traz suas narrativas factuais e ficcionais quando mostra a vinculação entre o imaginário e o real, provocando um verdadeiro diálogo entre a literatura e a história.


ARTIGOS, & CRÔNICAS, &CONTOS & OPINIÕES!


CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL: UMA REDE SOCIAL EM CIÊNCIAS DO ESPORTE? LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ LAÉRCIO ELIAS PEREIRA O pedagogo, o historiador, o físico também “transferem” informação e “geram” conhecimento. No entanto, o organizador dos saberes está preocupado em desdobrar as possibilidades de preservação, representação e de transmissão desta “informação” do pedagogo, do historiador, do físico. (SALDANHA, 2012, p. 234) 94 .

CEV – FERRAMENTA DE BUSCA OU REDE SOCIAL? Com o advento da Internet95 e desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação TIC’s, as relações sociais foram completamente alteradas e o fluxo da comunicação científica teve que ser reestruturado e readaptado aos novos ambientes (TAVARES, VALÉRIO e SILVA, 2012) 96: A Web 2.0 permitiu a criação de sistemas de compartilhamento de informações e a interação entre pessoas. Mecanismos esses, que dentro da comunidade científica, possibilitaram a rápida comunicação de resultados de pesquisas e a disseminação de informação entre os grupos de pesquisadores. [...] as RSVs [97] são consideradas fontes de informação que proporcionam ao pesquisador, de maneira rápida, a informação necessária para obtenção de conhecimento. Durante a análise, percebeu-se que os pesquisadores dão mais ênfase à utilização de fontes primárias de informação, ou seja, livros e periódicos. Mas alguns ainda são mais resistentes, usam apenas a versão impressa, descartando a utilização de qualquer meio digital. (...) Enfim, parece adequado refletir sobre a importância e o alcance que essas redes têm atingido no processo de comunicação, pois os sujeitos sociais podem partilhar de vários materiais de interesse comum, de forma que as informações que circulam em rede tende a ser especializada, atendendo as necessidades desses grupos.

Já a Web 3.0 é a terceira geração da Internet. Esta nova geração prevê que os conteúdos online estarão organizados de forma semântica, muito mais personalizados para cada internauta, sites e aplicações inteligentes e publicidade baseada nas pesquisas e nos comportamentos. Esta nova Web também pode ser chamada de "A Web Inteligente". O termos Web 3.0, atribuído ao jornalista John Markoff do New York Times, é uma evolução do termo Web 2.0 que foi criado por Tim O'Reilly durante a conferência O'Reilly Media Web em 2004.98 A Internet definitivamente mudou a forma pela qual a literatura acadêmica é publicada e disponibilizada. Se houve um aumento substancial das fontes de informação, este foi acompanhado pelo 94

SALDANHA, Gustavo Silva. Uma filosofia da Ciência da Informação: organização dos saberes, linguagem e transgramáticas. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012, citado por SCHNEIDER, Marcos. ÉTICA, POLÍTICA E EPISTEMOLOGIA: INTERFACES DA INFORMAÇÃO. In ALBAGLI, Sarita (Org.). FRONTEIRAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Brasília-DF: IBICT, 2013, p. 57-77. 95 A Evolução da Web - Web 1.0: Sites com conteúdos estáticos, produzidos maioritariamente por empresas e instituições, com pouca interatividade entre os internautas. Altavista, Geocities, Yahoo, Cadê, Hotmail, DMOZ eram as grandes estrelas da internet. Web 2.0: Conteúdos produziro pelo próprios internautas, maior interatividade online através de Blogs e sites como o Youtube, Flick, etc. https://www.significados.com.br/web-3-0/ 96 TAVARES, Aureliana Lopes de Lacerda Tavares; VALÉRIO, Erinaldo Dias; SILVA, Tiago José da in SBPC 65, F. Ciências Sociais Aplicadas - 11. Documentação e Informação Científica - 1. Documentação e Informação Científica: A Comunicação Cientifica em Redes Sociais Virtuais, disponível em http://www.sbpcnet.org.br/livro/65ra/resumos/resumos/9008.htm. 97 Redes Sociais Virtuais 98 https://www.significados.com.br/web-3-0/


surgimento de inúmeras possibilidades de busca e localização da literatura. Motores de busca, bases de dados, indexadores, agregadores, sites Web do periódico e/ou do publisher, redes sociais, ferramentas para comentar e compartilhar publicações e muitos outros foram criados e aperfeiçoados ao longo do tempo, oferecendo aos leitores várias formas de chegar aos mesmos conteúdos99. [...] bases bibliográficas seguem sendo a fonte mais relevante, sua importância vem diminuindo desde 2008, perdendo lugar para motores de busca acadêmicos, redes sociais e serviços de agregadores como EBSCO, ProQuest e JStor. Serviços de bibliotecas ganharam relevância em 2012 e vem mantendo sua posição. Apesar de desaconselhados por bibliotecários, fontes veiculadas pelos próprios periódicos e/ou seus publishers vem crescendo em importância através das áreas, setores e perfis de países (INGER e GARDENER, 2013) 100 .

Fonte: Silva, Mugnaini, Mucheroni

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Para Garvey (1979, p. 10) 102, a comunicação científica103 […] inclui o espectro total de atividades associadas à produção, disseminação e uso de informação, desde o momento em que o cientista concebe a ideia para a sua pesquisa até quando a informação sobre os resultados de sua pesquisa é aceita como parte do conhecimento científico […]. A entrada em cena das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no final do século XX e início do século XXI, especialmente da Internet e da Web, vêm produzindo sensíveis alterações nos processos tradicionais de comunicação científica, alterando padrões e comportamentos, introduzindo uma série de mudanças e abordagens, possibilitando novas formas de produção, circulação, disseminação, recuperação e uso da informação - listas de discussão, bibliotecas digitais, laboratórios virtuais, arquivos abertos e, mais recentemente, blogs e redes sociais. (PRINCE, 2013) 104. Essa autora apresenta algumas reflexões sobre o processo de absorção e uso de redes sociais na comunicação científica, apresentando algumas iniciativas e implementações que estão ocorrendo no exterior e no Brasil, de modo a promover pesquisas no âmbito da ciência da informação, especialmente no escopo da comunicação científica: [...] as redes sociais estão presentes em todos os níveis e segmentos da sociedade e, na ciência, não é diferente. Elas possibilitam maior interação entre os atores envolvidos no processo – autores, leitores e 99

Nassi-Calò, Lilian. A busca por literatura científica: como os leitores descobrem conteúdos. In Blog Scielo em Perspectiva, publicado em 19 de maio de 2016, disponível em http://blog.scielo.org/blog/2016/05/19/a-busca-por-literatura-cientifica-como-os-leitores-descobremconteudos/#.WKWI_m_yuHs.

100

INGER, S. and GARDNER, T. Scholarly Journals Publishing Practice. Academic journal publishers’ policies and practices in online publishing. Fourth survey 2013. 2013. ISBN: online 978-0-907341-46-8; ISBN 978-0-907341-45-1. Available from: http://www.alpsp.org/Ebusiness/ProductCatalog/Product.aspx?ID=359, citado por Nassi-Calò, 2016, obra citada 101 SILVA, José Fernando Modesto da, MUGNAINI, Rogério; MUCHERONI, Marcos Luiz. Redes Sociais e Comunicação Científica. In MUCHERONI, M. L. Blog Filosofia, Cibercultura e Noosfera, Disponível em: http://www.marcosmucheroni.pro.br/blog. 102 GARVEY, William D. Communication: the essence of science. Oxford: Pergamon Press, 1979, citado por PRINCE, Eloisa. COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E REDES SOCIAIS. In ALBAGLI, Sarita (Org.). FRONTEIRAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Brasília-DF: IBICT, 2013, p. 196-216 103 O termo “comunicação científica”, cunhado na década de 1940 pelo físico e historiador da ciência John Bernal, denota o amplo processo de geração, transferência e uso de informação científica (CHRISTÓVÃO; BRAGA, 1997). In PRINCE, Eloisa. 2013, p. 196-216, obra citada. 104 PRINCE, Eloisa. 2013, p. 196-216, obra citada


editores - de maneira rápida, imediata e interativa, apontando para novas práticas de comunicação e informação, ampliando a visibilidade e alcance das pesquisas realizadas e sua disseminação para a comunidade específica e sociedade em geral. Dentre essas tecnologias emergentes, destaca-se uma vasta relação de redes sociais e blogs - Facebook105, Orkut106, MySpace107, Twitter108 , Mendeley109, ResearchGate110 , UniPHY111, LinkedIn112, Friendster113, fotologs114 e outras. [...] É importante destacar, também, as novas plataformas desenvolvidas para compartilhamento de dados científicos primários, como a e-Science (e-Ciência)115.

O quadro abaixo relaciona as fontes preferenciais utilizadas por pesquisadores da América do Sul para buscar artigos em 2015 (em ordem decrescente de importância): Base de dados bibliográfica Motor de busca acadêmico Site do publisher Agregador Motor de busca geral Site do periódico Serviços de biblioteca Alertas de periódicos Redes sociais gerais e acadêmicas Site de sociedade científica Fonte: INGER, S. and GARDNER, 2015, in Nassi-Calò, 2016

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Hoje, o pesquisador precisa lidar diariamente com o volume crescente de informação científica publicada. Um recurso crescente para encontrar informação relevante é o uso de redes sociais como filtros de conteúdo. Redes como blogs, Twitter, Facebook, e serviços mais especializados e acadêmicos como Mendeley e similares são usados para recomendar e discutir artigos e conteúdo científico em geral, expondo ao mundo a discussão que antes estava restrita ao laboratório ou aos corredores dos centros de pesquisa. Daí, que as facilidades oferecidas pelas redes sociais acrescentam também novas camadas de métricas de impacto da pesquisa muito mais dinâmicas, que vão além das citações, como compartilhamentos, número de acessos e outras, medidos no intervalo de dias a meses, que ajudam a preencher o vazio entre a publicação de um artigo e a contagem de citações tradicionalmente medida. Também geram novas possibilidades para a comunicação da ciência, criando formas de disponibilização de conteúdo que agilizam o processo de 105

Disponível em: <https://www.facebook.com/>. Disponível em: <http://www.orkut.com.br/About>. 107 Disponível em: <https://myspace.com/> 108 Disponível em: <https://twitter.com/>. Microblog limitado a 140 caracteres. Os posts no Twitter são chamados de tweets. Criado em 2006 por Jack Dorsey. 109 Disponível em: <www.mendeley.com>. Gerenciador de referências e rede social acadêmica. 110 Disponível em: <www.researchgate.net>. Dirigida a cientistas e pesquisadores. 111 Disponível em: <www.aipuniphy.org>. Voltada para físicos e engenheiros 112 Disponível em: <http://br.linkedin.com/>. 113 Disponível em: <http://www.friendster.com/>. 114 O Flickr <http://www.flickr.com/>, Fotolog <http://www.fotolog.com.br/> e Instagram <http://instagram.com>, por exemplo, são sites para gerenciamento e compartilhamento de imagens. 115 Termo criado em 1999 pelo diretor do Gabinete de Ciência e Tecnologia do Reino Unido, John Taylor. Para uma visão sobre o tema eScience, ainda que inicial no âmbito da ciência da informação, consulte o trabalho de Medeiros e Caregnato publicado em 2012. Recentemente, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a Microsoft Research promoveram, de 13 a 15 de maio de 2013, o Latin American e-Science Workshop 2013. A cidade de São Paulo sediou em 2014, a 10th IEEE International Conference on eScience 2014. 116 INGER, S. and GARDNER, T. How Readers Discover Content in Scholarly Publications. Trends in reader behavior from 2005 to 2015. 2015. ISBN 978-0-9573920-4-5 Available from: http://www.simoningerconsulting.com/nar/how_readers_discover.html, citado por Nassi-Calò, 2016, obra citada 106


publicação, tornando-o mais próximo do público interessado, mais familiar e com grande alcance e facilidade de acesso. Este é um avanço sem volta, e compreender e acompanhar o seu uso pode trazer benefícios para todos: publishers, editores, pesquisadores, estudantes, instituições acadêmicas e o público interessado 117. Mas o que é uma ‘rede’? A palavra indica que os recursos estão concentrados em poucos locais – nas laçadas118 e nos nós119 – interligados - fios e malhas. Essas conexões transformam os recursos esparsos numa teia que parece se estender por toda parte (LOPES e ROMANCINI, 2009, p 504) 120. Trata-se de um conjunto de nós e laços com relações ilimitadas e híbridas articuladas entre sujeitos, objetos e discursos, que interagem no mundo real e no virtual. Por analogia, estrutura sem fronteiras; comunidade não geográfica (POBLACIÓN, MUGNANI, RAMOS, 2009, p. 626-7) 121. Assim temos que: Redes Sociais são estabelecidas por organismos que estabelecem uma rede de comunicação para alcançar alvos específicos tais como se mantiver informado sobre um tema, manter um sistema social, alcançar uma meta. (WITTER, 2009, p. 170) 122 Para essa autora, a rede social merece a adjetivação de Colaborativa ou Cooperativa quando todos que a integram, não apenas os que são nós ou membros integradores contribuem significativamente para o grupo, se empenham em disseminar via rede o que for de interesse comum, partilham as informações com todos. (p. 171). A rede é alimentada pelo repasse constante da informação entre seus integrantes tanto de trabalhos que estão desenvolvendo individualmente ou em grupo, como por informações científicas localizadas e consideradas pertinentes por alguns de seus membros (p. 180-181). As redes sociais123, conforme definido por Marteleto (2001, p. 72) 124, compreendem: [...] um sistema de nodos e elos; uma estrutura sem fronteiras; uma comunidade não geográfica; um sistema de apoio ou um sistema físico que se pareça com uma árvore ou uma rede. A rede social, derivando deste conceito, passa a representar um conjunto de participantes autônomos, unindo idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados.

Já as redes sociais de C&T são: [...] tipos de redes sociais que visam integrar competências e otimizar o uso de recursos de diversas naturezas, incluindo a utilização das TIC´s, para a solução de problemas ou para o avanço no estado da arte de determinadas áreas de Ciência e Tecnologia. O desenvolvimento dessas redes depende da promoção de políticas públicas que visem à racionalidade do processo

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Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGADM/UFES), SciELO promove seminário sobre o uso de Redes Sociais na Comunicação Científica. http://www.ibict.br/sala-de-imprensa/noticias/scielo-promove-seminario-sobre-o-uso-de-redessociais-na-comunicacao-cientifica/image/image_view_fullscreen) disponível em http://www.periodicos.ufes.br/ppgadm/announcement/view/37 http://jorgewerthein.blogspot.com.br/2012/08/uso-de-redes-sociais-na-comunicacao.html 118 LAÇOS ligações entre atores que constituem canais para a transferência ou fluxo de recursos materiais e não materiais. ((POBLACIÓN, MUGNANI, RAMOS, obra citada, p 624) 119 NÓS – ator de uma rede social. Um nó pode ser constituído por um membro de um grupo, seja um pesquisador, um indivíduo que tem relações de amizade ou colaboração, um relacionamento de negócio entre companhias, etc. (POBLACIÓN, MUGNANI, RAMOS, obra citada, p 625) 120 LOPES, Maria Immaculada Vassalo de; ROMANCINI, Richard. A rede social na comunicação em seus grupos de pesquisa. In POBLACIÓN, Dinah Aguiar; MUGNANI, Rogério; RAMOS, Lúcia Maria S. Costa (Org). Redes sociais e colaborativas em Informação Científica. São Paulo: Angellara, 2009, p 503-530. 121 . In POBLACIÓN, Dinah Aguiar; MUGNANI, Rogério; RAMOS, Lúcia Maria S. Costa (Org). Redes sociais e colaborativas em Informação Científica. São Paulo: Angellara, 2009 122 WITTER, Geraldina Porto. Redes sociais e sistemas de informação na formação do pesquisador. In POBLACIÓN, Dinah Aguiar; MUGNANI, Rogério; RAMOS, Lúcia Maria S. Costa (Org). Redes sociais e colaborativas em Informação Científica. São Paulo: Angellara, 2009, p. 169-204 123 Para uma visão sobre redes sociais e/ou suas ferramentas metodológicas veja FERREIRA, Gonçalo Costa. Redes sociais de informação: uma história e um estudo de caso. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 16, n. 3, set. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141399362011000300013&lng=pt&nrm=iso>, que apresenta um panorama histórico dos conceitos de redes e redes sociais, descrevendo sinteticamente o método de Análise de Redes Sociais (ARS). 124 MARTELETO, Regina Maria. Análise de redes sociais: aplicação nos estudos de transferência da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 30, n. 1, p. 71-81, jan./abr. 2001. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/226/201>.


de seu financiamento, bem como sua legitimação social. (POBLACIÓN, MUGNANI, RAMOS, 2009, p. 633) 125 Trata-se de organizar o conhecimento. E algumas perguntas são fundamentais: para quem organizar? Por que organizar? O que organizar? Como organizar? Quando organizar? Onde organizar? Quem vai organizar?126 A intenção é introduzir o novo através da informação o que, contudo, por vezes é uma condição imponderável. Para o Cientista da Informação Aldo Barreto (2010) 127, disponibilizar o acesso à informação para um conhecimento em rede e para acesso de todos tem sido o sonho de grande número de pessoas durante muito tempo. Desde a prisão dos conteúdos nos muros medievais dos mosteiros copistas até realidade da web, pessoas e seus mecanismos se agregaram para este fim. Continua: o espetáculo da novidade é uma condição humana que só pode ser exercida em conjunto. Corresponde a uma atuação na pluralidade; uma ação da vida política do homem na terra. Nela o indivíduo exerce por livre arbítrio sua inteligência para introduzir conhecimento no seu espaço de convivência. Nada está mais longe do discurso que a ação de inovação: Ao falar de inovação seria conveniente lembrar que esta palavra traz um sentido de ação em um processo completo que vai do surgimento de um fato ou idéia até a aceitação deste por uma comunidade em convivência. Este grupo de pessoas é que vai decidir se aceita ou rejeita uma coisa nova, que pode estar substituindo um similar já existente. Ao aceitar o novo existe uma crença compartilhada de que isto trará um acréscimo ao bem estar de todos. (BARRETO, 2010) 3 Para esse autor, uma inovação não é sinônima de P&D, patente registrada, invenção, criatividade, ou nova tecnologia embora estas coisas sejam necessárias para que uma ação de inovação se manifeste. Quando comparadas a inovação as atividades anteriores tem uma configuração estática. Já a inovação é uma aceitação acoplada a uma decisão pela coisa nova que resulta em ações dinâmicas de implantação da nova técnica em um determinado espaço social: Neste quadro é a informação livre que, ao final, melhora o homem e sua realidade. Se a introdução da inovação não é aceita por todos em um espaço, por qualquer razão, ela não acontece. Só em convivência política entre os habitantes de uma sociedade se delibera sobre a introdução da novidade. (BARRETO, 2010) 3 Daí que o processo de inovação tecnológica relaciona, para sua efetivação, variadas competências. O fator de maior importância é a vontade de mudar, de modificar estruturas, correndo riscos e motivando pessoas para trazer uma idéia nova, mais produtiva e mais coerente para a vivência comum. É um processo político que só acontece na pluralidade dos habitantes de um ambiente social. Não é só uma ação de estratégia estratégica ou de criatividade e gestão. Para Sotero (2011) 128, as redes sociais:

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POBLACIÓN, Dinah Aguiar; MUGNANI, Rogério; RAMOS, Lúcia Maria S. Costa (Org). Redes sociais e colaborativas em Informação Científica. São Paulo: Angellara, 2009, p. 126 Para quem? Para os usuários; Por que? Para facilitar a busca e recuperação e o acesso, para facilitar a navegação; O que? A informação/conhecimento; Como? Através de regras, métodos e softwares, com base em teorias; Quando? Sempre que se quiser socializar o conhecimento/informação; Onde? Em ambientes virtuais; Quem? Profissional da Informação. (MIRANDA, Marcos Luiz Cavalcante. A organização do conhecimento e as redes sociais. In POBLACIÓN, Dinah Aguiar; MUGNANI, Rogério; RAMOS, Lúcia Maria S. Costa (Org). Redes sociais e colaborativas em Informação Científica. São Paulo: Angellara, 2009, p. 57-92 127 BARRETO, Aldo. Ciência, Tecnologia e Inovação; in Aldobarreto's Blog, postado em 11 de julho de 2010, disponível em http://aldobarreto.wordpress.com/2010/07/11/ciencia-tecnologia-e-inovacao/, acessado em 18/09/2010 128

SOTERO, Frederico. As redes sociais são o futuro da Internet? E qual seria o futuro das redes sociais? 2011. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/16465551/Futuro-Da-Internet-e-Redes-Social>


[...] existem desde sempre na história humana, tendo em vista que os homens estabelecem relações entre si formando comunidades ou redes de relacionamentos presenciais. Hoje, por meio da internet, estamos transcrevendo nossas relações presenciais no mundo virtual de forma que aquilo que antes estava restrito a nossa memória agora está registrado e publicado. As tecnologias da web 2.0 ampliaram as possibilidades de interação na medida em que nos permitem visualizar as conexões existentes para além dos nossos relacionamentos presenciais [...].

A rede social ResearchGate 129 agrega mais de 3 milhões de pesquisadores de vários países e áreas de conhecimento, e cerca de 92 mil pesquisadores brasileiros,16 e sua proposta é facilitar a comunicação e a troca de experiências entre pessoas que atuam numa mesma área ou especialidade. Foi fundada em 2008, pelos físicos Ijad Madisch e Sören Hofmayer e pelo pesquisador da Computação Horst Fickenscher 130. O termo “blog” é a abreviatura do termo original da língua inglesa “weblog” (diário da Web) e parece ter sido usado pela primeira em 1997 por Jorn Barger (BLOOD, 2000 apud GOMES, 2005, p. 311) 131 : [...] é uma página na Web que se pressupõe ser actualizada com grande freqüência através da colocação de mensagens – que se designam ‘posts’ – constituídas por imagens e/ou textos normalmente de pequenas dimensões (muitas vezes incluindo links para sites de interesse e/ou comentários e pensamentos pessoais do autor) e apresentadas de forma cronológica, sendo as mensagens mais recentes normalmente apresentadas em primeiro lugar. A estrutura natural de um blog segue portanto uma linha cronológica ascendente. (GOMES, 2005, p. 311) 132.

Enfatizando o uso de blogs científicos pela comunidade científica, Alves (2011) 133 comenta: [...] Outros espaços de comunicação científica são os blogs científicos, ainda pouco utilizados no Brasil, mas na Europa e EUA são bastante difundidos, principalmente entre as áreas de exatas e biomédicas. Os chamados pre-prints são expostos nesses espaços e através das colaborações dos pares, o texto é debatido, revisado e em seguida publicado novamente, um processo mais rápido do que o processo de submissão aos periódicos. E por fim, os colégios invisíveis eletrônicos, local de debate de idéias e surgimento de novos caminhos para pesquisas, e que após esse convívio geram novos artigos e pesquisas. (ALVES, 2011).

Fabrício Marques (2012)134, editor de política da revista de divulgação científica Pesquisa FAPESP, apresenta um bom resumo sobre o uso das redes sociais pela comunidade científica, destacando o impacto no modo de trabalhar dos pesquisadores através do uso das novas ferramentas digitais: O cotidiano dos pesquisadores está sofrendo o impacto de uma nova onda de ferramentas digitais, tais como redes sociais, softwares on-line e blogs, capazes de estimular novas parcerias, acelerar o intercâmbio de informações ou garantir acesso instantâneo a dados científicos de seu interesse.

Muitos cientistas utilizam blogs de ciência para postar informação sobre seu trabalho e assim obter comentários de outros cientistas e também de pessoas fora do círculo usual de leitores. Temos a Technorati, uma empresa que desenvolveu um motor de busca especializado em blogs. Seu diretório registra 1.329.732 blogs,18 das mais diversas categorias (entretenimento, esporte, política, tecnologia etc.), e os blogs

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BENGSCH, Danielle. Pesquisadores brasileiros no ResearchGate, in PRINCE, Eloisa. COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA E REDES SOCIAIS. In ALBAGLI, Sarita (Org.). FRONTEIRAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO. Brasília-DF: IBICT, 2013, p. 196-216 130 Disponível em: <http://www.researchgate.net/> 131 GOMES, Maria João. Blogs: um recurso e uma estratégia pedagógica. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE INFORMÁTICA EDUCATIVA, 7., Leiria, 2005. Anais…. Leiria: Escola Superior de Educação de Leiria, 2005. p. 311-315. Disponível em: <http://stoa.usp.br/cid/files/1/3104/Blogs-final-nome.pdf>. 132 GOMES, 2005., obra citada 133 ALVES, Letícia. Informação e os sistemas de comunicação científica na Ciência da informação. DataGramaZero: revista de informação, v. 12, n. 3, jun. 2011. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/jun11/Art_04.htm>. 134 MARQUES, Fabrício. Curtir e compartilhar. Pesquisa FAPESP, n. 195, maio 2012. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/wpcontent/uploads/2012/05/Pesquisa_195-15.pdf>


classificados como científicos somam 13. 547135. Uma relação de blogs de ciência no Brasil e exterior pode ser vista no blog da revista Ciência Hoje, no post de Carla Almeida “A ascensão dos blogues de ciência”136. O blog “Bússola” traz textos sobre a atualidade científica no Brasil e no mundo e é atualizado por jornalistas, pesquisadores e colaboradores do Instituto Ciência Hoje 137. O modelo de escala livre, proposto por Barabási e Albert propõem um modelo que 1. incorpora o crescimento das redes e do numero de vértices e 2. a propriedade de ligação preferencial dos novos vértices a vértices mais proeminentes. É modelo “Scale-free network”.138

Fonte: BARABÁSI, 2002

Pensando em informação Floridi (2002) 139, propõe o seguinte fluxo:

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Fonte: Adaptado de Floridi, 2002 . 135

Disponível em: <http://technorati.com/>. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2013/07/a-ascensao-dosblogues-de-ciencia> 137 Visando o debate e o fortalecimento dos blogs sobre ciência, foram realizados os Encontros de Blogs Científicos em Língua Portuguesa (EWCLiPo). A primeira edição ocorreu em dezembro de 2008, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). A cidade de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, foi sede do II EWCLiPO, em 2009, que teve como organizadores a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). 138 BARABÁSI, A. L. et al. Evolution of the social network of scientific collaborations. Physica A 311, 590–614, 2002, citado por SILVA, José Fernando Modesto da, MUGNAINI, Rogério; MUCHERONI, Marcos Luiz. Redes Sociais e Comunicação Científica. In MUCHERONI, M. L. Blog Filosofia, Cibercultura e Noosfera, Disponível em: http://www.marcosmucheroni.pro.br/blog. 139 Floridi, L. Information ethics: an environmental approach to the digital divide. Philosophy in the Contemporary World, v. 9, n. 1, p. 39–45, 2002.citado por SILVA, José Fernando Modesto da, MUGNAINI, Rogério; MUCHERONI, Marcos Luiz. Redes Sociais e Comunicação Científica. In MUCHERONI, M. L. Blog Filosofia, Cibercultura e Noosfera, Disponível em: http://www.marcosmucheroni.pro.br/blog. 136


O CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL Lá, no distante (e isolado...) Maranhão, dos anos 1970 (século passado), em que a correspondência pedestre (via ECT) levava pelo menos 15 dias para ir – e outro tanto para voltar -, a São Paulo, por exemplo, e que uma ligação telefônica era feita através de ‘dona’ TELMA – ligava-se e a telefonista, a quem chamávamos de D. Telma, mas na realidade era a sigla de Telecomunicações do Maranhão (depois Telemar, hoje OI), e isso lá no posto para interurbanos localizados nos baixos do Hotel Central, na Praça Benedito Leite - que o hoje Professor Doutor Laércio Elias Pereira idealizou o Centro Esportivo Virtual, ainda numa era pré internet; tinha-se - ligado à Escola de Engenharia da UFMG -, uma ferramenta de comunicação interpares Bitnet – onde atuavam os gatekeepers141, os ‘sentinelas da tecnologia’, para diferenciar dos membros do ‘colégio invisível’142, que ocorre principalmente na área das ciências sociais. Só tempos depois se falaria de Internet, e da rede mundial de computadores. Como futuro ex-jornalista – abandonou o curso de comunicação pela educação física – começou com a publicação de um jornal mural – o BOLETEFE – Boletim de Educação Física, Esportes e Lazer, pregado nas paredes do Curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão – UFMA -, lá pelo ano de 1980. Crescia, na medida que surgiam noticias, datilografadas, e depois colada ao final da página... Depois, com a mudança do seu editor/redator chefe para a UFMG, lá foi ele, o Boletefe, com o nome de O PEREBA143... Antes, Pereira se dedicara à redação de uma revista dedicada aos Desportos e Lazer – esse o título – órgão oficial da então recém criada Secretaria de Desportos e Lazer do Maranhão – SEDEL (1979) -; Pereira, no Maranhão desde 1974, quando da criação da tal secretaria de estado, participa desde a sua implantação ainda no Plano de Governo de João Castelo, instalado em novembro de 1978, culminando com a criação da secretaria em maio de 1979; passa a assessorar o Secretário, até sua saída em 1989... Com as dificuldades de comunicação, naquela época, com os centros mais adiantados, e sentindo a necessidade de informações, e sua disseminação, uma de suas bandeiras de vida, afinal seu projeto de vida, participa, em 1980, de um encontro sobre informação desportiva na Colômbia144. O segundo encontro deveria ocorrer no Maranhão, no ano de 1982... a grande questão da época: qual a produção científica originada no Maranhão? Que pesquisa? Que experiências poderíamos apontar? Então, ainda no final de 1979, Pereira criou um “decálogo”: dez pontos que deveria abordar, para produção, circulação de informações da/sobre as Ciências do Esporte. Pouco antes desse encontro na Colômbia, Laércio Elias Pereira e Leopoldo Gil Dulcio Vaz criaram o CEDEFEL-MA - Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer:

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Floridi, L. Information ethics: an environmental approach to the digital divide. Philosophy in the Contemporary World, v. 9, n. 1, p. 39–45, 2002.citado por SILVA, José Fernando Modesto da, MUGNAINI, Rogério; MUCHERONI, Marcos Luiz. Redes Sociais e Comunicação Científica. In MUCHERONI, M. L. Blog Filosofia, Cibercultura e Noosfera, Disponível em: http://www.marcosmucheroni.pro.br/blog. 141 “a person whose job is to open and close a gate and to prevent people intering without permission; someone who has the power to decide who gets particular resources and opportunities, and who does not” http://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/gatekeeper#translations O termo surgiu em 1947, no campo da psicologia, criado pelo psicólogo Kurt Lewin. Foi aplicada ao jornalismo em 1950 por David Manning White. Essa teoria surgiu nos anos 50, nos Estados Unidos, como forma de deferência ao jornalismo e ao seu poder. Acredita que o processo de produção da informação é um processo de escolhas, no qual o fluxo de notícias tem que passar por diversos "gates" (portões) até a sua publicação. Entende que há intencionalidade no jornalismo e que o processo é arbitrário e subjetivo. A teoria esbarra em alguns limites: (1) A análise da notícia apenas a partir de quem a produz; (2) Esquece que as normas profissionais interferem no processo; (3) Desconsidera a estrutura burocrática e a organização. http://teoriadojornalismouniube.blogspot.com.br/2010/11/teoria-do-gatekeeper.html. A diferença básica entre este e aquele tempo é, entretanto, a dimensão que essas escolhas tomaram. Com a popularização do uso da internet, em âmbito mundial, muito tem se discutido sobre o trâmite de informações nas novas redes de relacionamento, sites de pesquisa e empresas que veiculam conteúdo online. https://pt.wikipedia.org/wiki/Gatekeeping . 142 A expressão Colégio Invisível, ou muitas vezes encontrada no plural como, Colégios Invisíveis, foi criada por Robert Boyle (1627-1691) define um grupo de pesquisadores que trabalham juntos, mas não estão fisicamente próximos, não trabalham na mesma instituição, podem ter nacionalidade diferentes e falar língua diversas. O que os une é o objeto da pesquisa. Hoje pode-se também usar a expressão Colégios Virtuais. https://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%A9gio_invis%C3%ADvel 143 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Tema-livre apresentado Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 45, Recife-Pe, julho de 1993; Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, 8, Belém-Pa, setembro de 1993; 144 1ª CONFERÊNCIA SOBRE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO ESPORTIVA NA AMÉRICA LATINA, realizada em Medellin, no ano de 1980. COMITÊ DE INFORMACION Y DOCUMENTACION DEPORTIVA DE LATINO AMÉRICA. Declaracion de Medellin sobre informacion y documentacion deportiva en latinoamerica. Educacion Fisica y Deporte, Medellin, v. 2, n. 2 : 39-43, maio 1980.


Para atacar o problema da dispersão da Informação em Ciências do Esporte foi desencadeado um trabalho de indexação de artigos de revistas no início da década de 80 que serviu de base para a implantação de um Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer CEDEFEL. As ações do CEDEFEL estão voltadas para um processo de criação de um modelo de "Centro Referencial" - informação sobre a informação - com o objetivo de recuperar e organizar as informações básicas em Educação Física, Esportes e Lazer e efetivar a comunicação entre especialistas.(VAZ, PEREIRA, 1992)145

Assim, como consta no resumo de sua tese de doutoramento, na Escola de Educação Física da UNICAMP, Partindo da necessidade de facilitar a disseminação e busca da informação para profissionais, estudantes e pesquisadores da preparação profissional em Educação Física e Esportes, num ambiente em que a quantidade de informação duplica a cada dois anos, buscou-se a alternativa dos recursos da Internet, elegendo para este trabalho um experimento de potencialização de três canais de informação: 1) Sítio W3; 2) Lista de discussão e 3) Gatekeepers (pessoas, vetores de tecnologia). Optou-se pela construção de um centro referencial (informação sobre a informação), a partir de tecnologias Internet utilizadas pelos projetos do Núcleo de Informática Biomédica da Unicamp e, como modelo inicial, a proposta do Hospital Virtual, uma metáfora de um hospital real, para a montagem do Centro Esportivo Virtual - CEV. (PEREIRA, 1998) 146.

Hoje, 21 anos após o aparecimento do CEV, para as novas gerações, essa história até pode aparecer engraçada, mas exigiu anos de trabalho e aperfeiçoamento, na medida em que as tecnologias da informação evoluíam. Primeiro o que é (era) informação147, em especial, em Educação Física e Esportes – Ciências do Esporte; ênfase na sua evolução no Brasil. Quais recursos disponíveis, e com o advento da Internet, quais as possibilidades e como utilizá-los. Como funcionavam, até então, os sistemas de ‘gatekeepers’ e ‘colégios invisíveis’, e qual e como sua utilização na área em questão. Construiu-se, então, uma versão experimental do CEV; e em sua versão atualizada constantemente, na medida da evolução tecnológica, partindo-se da interação dos três canais de informação escolhidos para o trabalho: 1) Sítio W3; 2) Lista de discussão e 3) Gatekeepers. Desta forma ao criar o CEV optou por trabalhar a informação enquanto saber, ao mesmo tempo representacional e performático, cujo ciclo de vida sofre as seguintes metamorfoses: percepção, pensamento, registro, circulação, acesso, decodificação, pensamento, uso (SCHNEIDER, 2013) 148. Para esse autor, caberia à Ciência da Informação149 estudar e gerenciar esse ciclo, minimizando seu potencial entrópico, tecendo a crítica e propondo soluções para os problemas relacionados à qualidade, ao

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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; PEREIRA, Laércio Elias. ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM CIÊNCIAS DO ESPORTE: A EXPERIÊNCIA DO CEDEFELMA. Tema livre apresentado no XVIII SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, São Caetano do Sul, outubro de 1992. 146 PEREIRA, Laércio Elias. Centro esportivo virtual: um recurso de informação em educação física e esportes na internet. Tese de Doutorado em Educação Física: Campinas: UNICAMP, Orientador: João Batista Andreotti Gomes Tojal, disponível em http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000215735 , acessado em 13/02/2017 147 Informação é a resultante do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (humano, animal ou máquina) que a recebe. Le Coadic, pesquisador da área da Ciência da Informação, destaca que o valor da informação varia conforme o indivíduo, as necessidades e o contexto em que é produzida e compartilhada. (LE COADIC, Yves-François. A ciência da informação. Brasília: Briquet de Lemos 1996). Uma informação pode ser altamente relevante para um indivíduo e a mesma informação pode não ter significado nenhum para outro indivíduo. Informação enquanto conceito carrega uma diversidade de significados, do uso quotidiano ao técnico. Genericamente, o conceito de informação está intimamente ligado às noções de restrições, comunicação, controle, dados, forma, instrução, conhecimento, estimulo, padrão, percepção e representação de conhecimento. https://pt.wikipedia.org/wiki/Informa%C3%A7%C3%A3o 148 SCHNEIDER, Marcos. ÉTICA, POLÍTICA E EPISTEMOLOGIA: INTERFACES DA INFORMAÇÃO. In ALBAGLI, Sarita (Org.). FRONTEIRAS DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO.Brasília-DF: IBICT, 2013, p. 57-77. 149 A Ciência da informação é um campo interdisciplinar principalmente preocupado com a análise, coleta, classificação, manipulação, armazenamento, recuperação e disseminação da informação. Ou seja, esta ciência estuda a informação desde a sua gênese até o processo de transformação de dados em conhecimento. Alguns profissionais afirmam que a Ciência da Informação pode ser dividida em seis [2] correntes teóricas . Elas são: (1) Estudos de natureza matemática (incluindo a recuperação da informação e a bibliometria); (2) Teoria sistêmica (origem em princípios da biologia); (3) Teoria crítica (fundamentam-se principalmente nas humanidades – particularmente na filosofia e na história); (4) Teorias de classificação e representação; (5) Estudos em produção e comunicação científica; (6)Estudos de usuários (seu objetivo era o de mapear características de determinada população para planejar as informações mais adequadas a serem oferecidas com fins de educação e socialização). https://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia_da_informa%C3%A7%C3%A3o


uso, à restrição, à circulação e ao acesso, o que envolve questões de ordem política, econômica, técnica e cognitiva: Por essa via, chegamos a uma conclusão um tanto surpreendente: a “informação”, em si mesma, não seria o principal objeto da CI, e sim a OS [organização dos saberes] 150, enquanto conjunto de práticas e teorias voltadas à produção, gestão e crítica da “metainformação” [151], da informação sobre a informação. (SCHNEIDER, 2013, p.60)152.

Schneider (2013) serve-se de Saldanha (2012) 153 para delimitar os campos, entre a CI e os demais, pois: A diferença deste campo, a CI, para os demais, no trato com a informação, está na preocupação com a elaboração de uma “metainformação”. O pedagogo, o historiador, o físico também “transferem” informação e “geram” conhecimento. No entanto, o organizador dos saberes está preocupado em desdobrar as possibilidades de preservação, representação e de transmissão desta “informação” do pedagogo, do historiador, do físico. (SALDANHA, 2012, p. 23-4).

Continuamos com Schenider (2013) para caracterizar o ‘organizador de saberes”: O “organizador dos saberes”, portanto, deve executar suas tarefas não apenas munido de competências técnicas, mas principalmente de erudição crítica – Saldanha (2012) remonta essa erudição à ecdótica [154] dos primeiros bibliotecários – e de uma perspectiva humanista. Aqui, a interdisciplinaridade do campo mostra-se absolutamente necessária. E é aqui também que a CI aproxima-se mais intimamente de nosso objeto, dado que a ética, a filosofia política e a epistemologia podem ser concebidas como metainformação, metadiscursos, enquanto discursos – que são um momento do ciclo de vida dos saberes – sobre os discursos (e sobre seus referentes) de natureza moral, política e científica. A CI, então, pode produzir um metadiscurso crítico sobre a história da relação entre esses metadiscursos. Nessa história, a propósito, a informação, a metainformação e a OS – localização, classificação, arquivamento, disponibilização, reprodução, legitimação, hierarquização, eliminação, restauração, combinação, confrontação etc. –, ainda que com outros nomes, têm desempenhado papéis nada desprezíveis.

O CEV é um “centro referencial de informação em Educação Física, Esportes, Lazer”. Centro referencial – informação sobre a informação!! Baseado na vivencia de Pereira (1998) 155 na área de informação em educação física e esportes, tomando como base os três canais de comunicação, a partir das tecnologias da Internet utilizadas nos projetos do Núcleo de Informática Biomédica da Unicamp (SABBATINI, 1997) 156: O envolvimento com a Informação e Documentação Esportiva vinha da criação do Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer CEDEFEL, em 1980 no Maranhão, como Prof. Leopo1do Gil Dulcio Vaz, que mais tarde viria a cursar o mestrado em Ciência da Informação na Escola de Biblioteconomia da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais -, que valeu urna apresentação na I Conferencia Latinoamericana de Informação e Documentação Esportiva- Medellín, Colômbia- e uma função na primeira diretoria da Associação Latinoamericana e do Caribe para Documentação e Informação Esportiva (1980). Na segunda metade da década de oitenta, o convite, feito pelo Diretor da recém criada Faculdade de Educação Física da Unicamp, João Batista A. G. Tojal, para submissão ao processo de seleção e depois trabalhar como professor de Handebol na Unicamp - 1986/1990 - trouxe 150

OS - organização dos saberes Metadados ou Metainformação, são dados sobre outros dados. Um item de um metadado pode dizer do que se trata aquele dado, geralmente uma informação inteligível por um computador. Os metadados facilitam o entendimento dos relacionamentos e a utilidade das informações dos dados. https://pt.wikipedia.org/wiki/Metadados 152 SCHNEIDER, Marcos, 2013, p. 57-77, obra citada. 153 SALDANHA, Gustavo Silva. 2012, citado por SCHNEIDER, Marcos. 2013, p. 57-77, obra citada. 154 Ciência que busca, por meio de minuciosas regras de hermenêutica e exegese, restituir a forma mais próxima do que seria a redação inicial de um texto, a fim de que se estabeleça a sua edição definitiva; crítica textual. 155 PEREIRA, Laércio Elias, 1998, obra citada 156 SABBATINI, Renato. A horae a vez da Internet. Intermedic. Campinas: Nucleo de Informatica Biomedica da Unicamp. V.1 n.l. jul/ago 1997. SABBATINI, Renato. WebWacker. Intermedic. v.1, n. 1. P.l9, 1997. SABBATINI, Renato. Brasil: aplicaciones de Internet en Salud. In OLIVERI, N. (Org) Internet, Te1ematica y Salud. Mexico: Editorial Medica Panamericana, 1997, p.441-442 151


um novo alento para o trabalho, com informação em Educação Física, servindo como ponto catalisador das experiências anteriores. Com promoção da Faculdade de Educação Física e do Núcleo de Informática Biomédica - NIB - da Unicamp, coordenamos o I Simpósio Brasileiro de Informática em Educação Física e Esportes- chancela do CBCE - em 1987, e o segundo como satélite do Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte – CONBRACE - de 1989, em Brasília.

A organização da informação em Ciências do Esporte teve seu início em 1947, na Europa. Em 1959 foi criada a "INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR SPORTS DOCUMENTATION" - IASI -, sendo Cuba o primeiro país latino-americano a se filiar (1964), seguindo-se o México, Colômbia, Venezuela e Brasil, em 1981 157. O "WORD INDEX OF SPORTPERIODICALS" (IASI, 1984) - surgido da necessidade levantada durante o encontro da "COMISSIOM INFORMATION SOURCES" da IASI, realizada na Holanda em 1979, concluído em 1984 - apresenta 2.196 títulos de periódicos da área das Ciências do Esporte de 54 diferentes países. É organizado combinando-se título do periódico e país de origem, sob uma entrada principal. Neste índice aparecem apenas os títulos das revistas, endereço, periodicidade, país de origem. Há uma relação de unitermos (keywords) utilizados e um índice de assuntos, onde o número de entrada, da IASI, remete às referências158. O sistema utilizado pelo Instituto de Ciências del Deporte, da Universidad de Antioquia Colômbia159, baseia-se na classificação apresentada pelo "SPORTWISSENCHAFT" (1978)160. No Brasil, a organização da informação na área tem seu início com o Centro de Documentação e Informação do ISEFL. De acordo com MEDINA (1980) 161, em 1940 foi criado o Instituto Nacional de Educação Física e em 1964 foi instalado o seu setor de Documentação, Informação e Divulgação, com recursos do Fundo de Fomento do Desporto Nacional. Em 1972 este setor é transformado em Centro de Investigação, Documentação e Informação e, em 1974, recebe nova denominação: Centro de Documentação e Informação, com o objetivo de: a) fornecer apoio documental aos cursos, trabalhos de pesquisa e às ações de formação permanente de docentes; b) editar documentação de caráter científico, técnico e pedagógico no âmbito da Educação Física e Esportes; e c) manter relações de intercâmbio com centros congêneres nacionais e internacionais Ainda em 1974 é criado, pela Federação Brasileira de Medicina do Esporte, o Centro de Documentação e Informação de Medicina do Esporte - CEDIME -, com sede em Porto Alegre-RS, hoje Centro de Documentação e Informação das Ciências do Esporte. De acordo com SIDERMANN (1980)162 os objetivos do CEDIME são: a) organizar e fomentar a informação e documentação das Ciências do Esporte e influir na pesquisa, ensino e prática profissional; b) coletar, organizar e divulgar bibliografias; c) publicar com regularidade um bibliografia seletiva; e d) editar a Revista de Medicina do Esporte. O SISTEMA BRASILEIRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO DESPORTIVA SIBRADID -, funcionando junto à Biblioteca da Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais - EEF/UFMG - desde 1985 utiliza um sistema de informação bibliográfica denominado de "MINISIS", adotado pela IASI e pelo "SPORT INFORMATION RESOURCE CENTER" - SIRC -, base de dados localizada no Canadá 163. Há uma tentativa de implantação do programa "MICRO-ISIS" pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT - com a finalidade de padronizar o uso do

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MARQUES, Maria Lícia Bastos. Situação atual da informação desportiva na América Latina. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 2 : 123, jan. 1990. 158 INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR SPORTS INFORMATION. WORLD INDEX OF SPORTSPERIODICALS. Holanda: IASI, 1984. 159 GARCIA ZAPATA & OUTROS. Bibliografia deportiva . Medellin : Universidad de Antioquia, 1979. 160 BUNDSINSTITUT FUR SPORTWISSENCHAFT KLN. Literatur der Sportwissenchaft. SPORTDOKUMENTATION 1/78. 161 MEDINA, Paulo. O Centro de Documentação e Informação do ISEFL. CONFERÊNCIA SOBRE DOCUMENTACION I INFORMACION DEPORTIVA EN LATINOAMERICA, I, Medellin, 1980. ANAIS... Medellin : Convenio Colombo-Aleman de Educacion Fisica, Deporte y Recreacion, 1980, p. 135-153. 162 SINDERMAN, Renate. Documentacion y informacion del deport en el Brasil. CONFERÊNCIA SOBRE DOCUMENTACION E INFORMACION DEPORTIVA EN LATINOAMERICA, I, Medellin, 1980. ANAIS... Medellin: Convenio Colombo-Aleman de Educacion Fisica, Deporte y Recreacion, 1988, p. 135-153. 163 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Introdução ao sistema MINISIS. Belo Horizonte : EEF/UFMG, 1989 (mimeog).


computador por parte das universidades universitárias 164. O sistema adotado pelo SIBRADID utiliza terminologia extraída do SportThesaurus do SIRC e permite interagir com seus usuários, fornecendo e recebendo dados, através de uma rede de vinte núcleos regionais e setoriais 165, sendo a base central a EEF/UFMG, interligada ao SIRC/Canadá. Para atacar o problema da dispersão da informação técnico-científica em Educação Física, Esportes e Lazer foi criado, em 1980, o Centro de Estudos e Documentação em Educação Física, Esportes e Lazer do Maranhão - CEDEFEL-MA-, que reuniu profissionais da Universidade Federal do Maranhão - UFMA; da Escola Técnica Federal do Maranhão - hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, IF-MA; da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA; e da Secretaria de Desportos e Lazer do Maranhão - SEDEL-MA, sob a coordenação dos professores Laércio Elias Pereira e Leopoldo Gil Dulcio Vaz166. A formação desse grupo de trabalho deu-se pelo fato de a II CONFERÊNCIA SOBRE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO DESPORTIVA NA AMÉRICA LATINA ter sido programada para São Luís-Ma, em 1982. A conferência não foi realizada, mas estudos sobre documentação esportiva foram levados adiante, aparecendo, em 1983, o "ÍNDICE DA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS", seguindo-se o "ÍNDICE DA REVISTA STADIUM" (1986) 167. A criação de um modelo de Centro Referencial - informação sobre a informação - para facilitar a comunicação entre especialistas e a procura de formas alternativas de editoração, que permitam a apropriação de grandes quantidades de informações pelos centros de menor poder aquisitivo é a proposta do CEDEFEL-MA, criando em 1980 168. O desenvolvimento de um sistema gerenciador de banco de dados próprio solucionou uma das principais dificuldades encontradas na indexação de periódicos. A utilização de uma listagem de palavraschave, acumulada pela Escola de Educação Física da USP e que vem recebendo modificações nos últimos anos, resolveu em parte outra dificuldade, a inexistência de um "thesaurus" em Ciências do Esporte169; e iniciar um cotejamento com o "SPORTS THESAURUS" do SIRC para construir/adaptar um "thesaurus” 170 brasileiro em Ciências do Esporte. Mas Pereira (1996) recua ainda mais, considerando como marco inicial o seu trabalho de editor do jornal Opinião "Informativo Oficial do Centro Acadêmico – CA - Ruy Barbosa", da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo - USP - na época ainda pertencente a Federação das Escolas Superiores do Estado de São Paulo e que dividia as instalações do Ginásio do Ibirapuera com apresentações de circos e músicos populares, o que fornecia grandes temas de protesto para o vibrante informativo, que chegou a manter o editor alguns dias longe da Escola e da sede do CA, vasculhada pela policia política. O primeiro número ostentava uma época combativa: maio de 1968:

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GASPAR, Anaiza Caminha. Biblioteca. CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, São Luís: UFMA/Associação dos Arquivistas Brasileiros, 1989. (anotações de aula).(mimeog). 165 MARQUES, Maria Lícia Bastos. Situação atual da informação desportiva na América Latina. REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 11, n. 2 : 123, jan. 1990. 166 PEREIRA, Laércio Elias. INDICE DA REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS. Brasília: SEED/MEC, 1983. PEREIRA, Laércio Elias; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e Outros. Organização da Informação em Ciências do Esporte veiculada em periódicos de língua portuguesa. ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, I, São Luís, 1990. ANAIS... São Luís: UFMA, 1990. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. ÍNDICE DA REVISTA STADIUM. São Luís: SEDEL, 1984 (edição em microficha). VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. Índice da Revista Brasileira de Ciências do Esporte. REVISTA BRASLEIRA DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, Campinas, v. 10, n. 1: 33-45, set. 1988. 167 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. Coleta de bibliografia para processamento por computador. ENCONTRO DE PESQUISADORES DA UEMA, I, São Luís, 1986. ANAIS... São Luís, 1986. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias. ÍNDICE DA REVISTA STADIUM. São Luís: SEDEL, 1984 (edição em microficha). 168 PEREIRA, Laércio Elias; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; Organização da Informação em Ciências do Esporte veiculada em periódicos de língua portuguesa. ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, I, São Luís, 1990. ANAIS... São Luís: UFMA, 1990. 169 DORIA, Irene Meneses. Sugestões para uma classificação decimal de Educação Física e Esportes. (IN) CONGRESSO PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, I, São Paulo, 1940. ANAIS... São Paulo, 1942, p. 243-246 (citada por SILVA, Maria Stela Vercesi, op. cit.). SILVA, Maria Stela Vercesi. Adaptação da classificação decimal de Dewey para Educação Física. REVISTA PAULISTA DE EDUCAÇÃO FÍSICA, São Paulo, v. 3, n. 4: 43-46, jun. 1989. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio & PEREIRA, Laércio Elias & Outros. Indexação: em busca da construção de um thesaurus em Ciências do Esporte. ENCONTRO DE PESQUISADORES DO MARANHÃO, I, São Luís, 1990. ANAIS... São Luís, 1990. GOMES, Hagar Espanha (Coord.). MANUAL DE ELABORAÇÃO DE TESAUROS MONOLINGUES. Brasília: Programa Nacional de Bibliotecas de Instituições de Nível Superior, 1990. 170 GOMES, Hagar Espanha (Coord, 1990, obra citada.


O trabalho continuou sempre entre as publicações e as instituições de preparação e de organização profissional. A coluna "Opinião" do Jornal do CA foi aceita como "Rumorismo" na Revista Esporte e Educarão, "Revista na(sic) Associação dos Professores de Educação Física do Estado de São Paulo" - APEF-SP. 0 Rumorismo duraria ate o ultimo numero dessa Revista (1977), que teve como editor o autor da coluna, apostando na esperança de que o mestrado então recém implantado na Universidade de São Paulo - tema da capa- nunca mais iria deixar desaparecer revistas de Educação Física por falta de artigos (PEREIRA, 1985)171. A seção Rumorismo voltaria em outra revista da APEF-SP "Corpo e Movimento", em 1984. No intervalo, houve a tentativa de manter periódicos técnicos de Educação Física no Maranhão Jornal Desportos e Lazer (10 números) e Revista Desportos & Lazer (9 números), sempre como co-editor anônimo por conta da ação do sindicato dos jornalistas, que exigia registro profissional aos integrantes da redação. Em São Luis do Maranhão, o Rumorismo também chegou a ser uma coluna das paginas de esporte do "Jornal Pequeno". (PEREIRA, 1992, p. 4) 172 . Para Laércio Elias Pereira (1992, obra citada) o que mais o motivou a ir para o Maranhão, naquele inicio da década de 1970 foi uma das mais fecundas experiências de televisão educativa do Brasil. Tele-salas de recepção dos programas longe da sede São Luis, e animadas por professores com baixa formação escolar, levados, então, a modernas concepções pedagógicas de terem que discutir o conteúdo das emissões com os alunos, premidos pelas circunstancias. A emissão das aulas era intermitente, prevendo o trabalho com os conteúdos nos intervalos. O contato com a Televisão Educativa do Maranhão - TVE-MA marcaria um fecundo encontro com os professores que estavam no processo de criação do Curso de Educação Física da Universidade Federal do Maranhão. O Pro£ Dimas (Antonio Maria Zacharias Bezerra de Araujo) 173, responsável pela Educação Física no sistema TVE, e um pioneiro na EF do Estado, fazia parte do grupo de implantação do curso. A televisão era um recurso a ser explorado pela Educação Física. A produção e as aulas eram grandes recursos de informação para os professores: A participação na criação do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - CBCE, em 1978, e a integração das diretorias até 1985 também serviram como campo de atuação na informação cientifica na área. A organização de congressos, o acompanhamento da Revista Brasileira de Ciências do Esporte, o Boletim Brasileiro de Ciências do Esporte e o informativo da Diretoria "Pensando Alto" (PAIVA, 1994) 174 exigiram urna imersão importante no universo dessa informação cientifica. Contribuiu, também, a participação nas discussões sobre as publicações da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, e a reativação de secretarias estaduais, como responsável pela secretaria regional da SBPC na Região Norte entre 1984-85. (PEREIRA, 1992) 175.

No âmbito acadêmico, a participação na busca de um adequado suporte de informação para a primeira turma de mestrado da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo - EEFUSP - na medida em que integrava a Comissão de Pós-Graduação como representante discente - levou a busca de disciplinas (Mídias Alternativas e Cibernética Pedagógica) na Escola de Comunicação e Artes - ECAUSP, onde se deu o inicio do contato com as "mídias alternativas" (que mais tarde, com o aumento da capacidade de processamento dos computadores, permitindo a maior interatividade entre as pessoas e as maquinas, passariam a ser chamadas de "mídias interativas"): Nas disciplinas da ECA, foram iniciados, também, os contatos com o que passou a ser chamado de "mídias interativas". Durante o doutorado em comunicação - 1985, não concluído apresentamos, com o professor Gabriel Munhoz Palafox - que tinha vindo do México para estagiar no Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS) e, na época, cursando o mestrado em Educação, trazendo na bagagem um moderno computador de 8 bits - a 171

PEREIRA, L.E., MUNOZ PALAFOX, G. Curso Paralelo: Informática e Educação Física e Esportes. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIENCIAS DO ESPORTE, 4, 1985, Poços de Caldas: Escola Superior de Educação Física de Muzambinho, p.8. 172 PEREIRA, Laércio Elias, 1992, obra citada, p. 4 173 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ARAÚJO, Denise Martins. QUERIDO PROFESSOR DIMAS (Antonio Maria Bezerra de Araujo) e a educação física maranhense: uma biografia (autorizada). São Luis: EPP, 2014. 174 PAIVA, Fernanda. Ciência e poder simbólico no CBCE. Vitória: CEFD-UFES, 1994 175 PEREIRA, Laércio Elias, 1992, obra citada


proposta de um calendário esportivo em videotexto, que não encontrou patrocinador, mas serviu para um bom treinamento na iniciação com a informática e as perspectivas do uso do computador na comunicação, já que o videotexto foi um precursor da WWW. Com Gabriel Palafox, foi iniciada urna serie de cursos de "Informática em Educação Física e Esportes” (PEREIRA, L. E., PALAFOX,G.M.,1985)176 Gabriel abordava a parte referente a Informática e nos tratávamos da informação - a "telemática", como passou a ser chamado o avanço marcado pela união da informática com os meios de comunicação. Estávamos envolvidos pelo entusiasmo do recém contato com o Prof. Fredric Litto, então chefe do Departamento de Radio e Televisão da ECAIUSP, e que viria a criar e dirigir a Escola do Futuro e a Associação Brasileira de Educação a Distância. Também teve influencia nesse trabalho a nossa passagem funcional pelo Ministério da Educa;;ao – MEC (1985-86), na Comissão Ministerial criada para elaborar propostas para a utilização do satélite Brasilsat I pela Educação, alem da responsabilidade de coordenar, pelo lado do Ministério da Educação e Cultura, o projeto de implantação do Sistema Brasileiro de Informação e Documentação Esportiva. (PEREIRA, 1992) 177 . Na UFMG, um dos pólos pioneiros da implantação de redes eletrônicas no Brasil, inicia-se a utilização da Bitnet, em 1991, intensificando os contatos com o Núcleo de Informática BiomédicaNIB/Unicamp e a Escola do Futuro- USP: Com a aposentadoria em 1994, volto para Campinas e integro-me ao recém criado Laborat6rio de Estudos Avançados em Jornalismo- LABJOR em urna serie de projetos de Jornalismo Esportivo, juntamente com o Prof. João Tojal. Estava formado o tripé - Escola do Futuro, Núcleo de Informática Biomédica e Laborat6rio de Jornalismo - que daria sustentação a uma proposta de trabalho no doutoramento em Educação Física na Unicamp: "A Criação de um repertório de Informação para a Formação e Atualização Profissional em Educação Físicauma base de dados em CDROM', sob a orientação do Prof. João Tojal, culminando urna proposta que vinha sendo trabalhada desde o "I Simpósio Brasileiro de Informática em EF&Esportes ", em 1987. Como suporte técnico fundamental no tripé citado, e preciso registrar que o Núcleo de Informática Biomédica já oferecia, desde 1986, um curso de verão para professores universitários da área de saúde - quase que exclusivamente para medicina – que estivessem interessados em implantar a disciplina Informática em Saúde nos cursos das instituições de ensino superior. Como o curso era caro, nunca tinha havido a oportunidade de financiamento de urna atividade do gênero para a Educação Física. Tampouco tínhamos profissionais, em número suficiente, para montar a infra estrutura de um curso especifico. Em 1996, recebemos convite para participarmos desse curso, como parte das atividades do doutorado. Durante o curso, nas discussões que se seguiram a exposição do Prof. Renato Sabbatini sobre o Hospital Virtual, que ele havia criado no NIB, surgiu a idéia: "por que não um Centro Esportivo Virtual na Internet, em vez do trabalho documental e restritivo da criação do CD ROM?". (PEREIRA, 1992) 178. Estava lançada urna proposta e iniciados os trabalhos que culminaram, com o apoio do Instituto Nacional do Desenvolvimento dos Desportos- INDESP, na implantação da fase experimental do Centro Esportivo Virtual, trabalho de preparação iniciado em março e foi para o ar com domínio próprio em agosto de 1996. Como na sua concepção original o Centro Esportivo Virtual - CEV1 – tinha uma característica mais de uma base de informação documental (teses, revistas, endereços de instituições e ligações para outras páginas; então voltou-se a atenção para o lançamento de páginas experimentais, que tinham a função de testar tecnologia e atacar setores específicos de usuários, em busca de mobilização. 176

PEREIRA, L. E., MUNOZ PALAFOX, G, 1985, obra citada PEREIRA, Laércio Elias, 1992, obra citada 178 PEREIRA, Laércio Elias, 1992, obra citada 177


CENTRO ESPORTIVO VIRTUAL, HOJE A maior comunidade acadêmica e de pesquisa em Educação Física, Esportes e Lazer da Internet: Comunidades é o ponto de encontro para troca de informações sobre conceitos, livros, congressos e artigos entre pesquisadores, professores e estudantes da área de Educação Física, Esportes e Lazer179; Comunidade

Participantes

ABENEFS - Associação Brasileira de Ensino da Educação Física para a Saúde

220

Agita (Programa)

115

Anatomia em Educação Física

935

ANPPEF - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação Física

331

APEF - Associações de Profissionais em Educação Física

175

Aprendizagem Motora

561

Artes

124

Atividade Física no Programa Saúde na Família

559

Atividade Motora Adaptada

319

Atletismo

436

Avaliação em Educação Física e Esporte

538

Badminton

105

Basquete

329

Biblioteconomia

91

Biomecânica

385

Bioquímica do Exercício

377

Capoeira

290

CBCE - Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte

414

CEVCafé

229

Ciclismo

186

Copa 2014

512

Corfebol: Esporte Coletivo Misto

71

Corpo e Educação Indígena

51

179

Posição em 13 de fevereiro de 2017, 18:30 horas


Comunidade

Participantes

Corporeidade - Estudos Transdisciplinares

313

Criança

322

Dança

450

Dança e Educação Física: Diálogos

216

Desportos Aquáticos

291

Dirigentes de IES em Educação Física e Esporte

134

Dopagem na Atividade Física e Esportes

186

EAD - Educação a Distância

74

Economia

40

Editores de Publicações Científicas

209

Educação

283

Educação Física e Circo

159

Educação Física e Esporte

1152

Educação Física e Esporte do Trabalhador

72

Educação Física em Alagoas

129

Educação Física em Goiás

69

Educação Física em Minas Gerais

225

Educação Física em Pernambuco

75

Educação Física em Rondônia

65

Educação Física em Roraima

98

Educação Física em Santa Catarina

75

Educação Física em São Paulo

208

Educação Física em Sergipe

54

Educação Física Escolar

818

Educação Física Militar

142

Educação Física na Bahia

187

Educação Física na Paraíba

35


Comunidade

Participantes

Educação Física no Acre

22

Educação Física no Amapá

62

Educação Física no Amazonas

185

Educação Física no Ceará

127

Educação Física no Distrito Federal

1244

Educação Física no Espírito Santo

47

Educação Física no Maranhão

166

Educação Física no Mato Grosso

65

Educação Física no Mato Grosso do Sul

70

Educação Física no Pará

75

Educação Física no Paraná

94

Educação Física no Piauí

35

Educação Física no Rio de Janeiro

148

Educação Física no Rio Grande do Norte

105

Educação Física no Rio Grande do Sul

116

Educación Física en Latinoamerica

2

EF - UEM - Universidade Estadual de Maringá

10

Esporte Escolar

459

Esporte para Todos

155

Esporte Universitário

175

Esportes de Aventura

273

Esportes Diferenciados

112

Esportes Náuticos

32

Esportes Paralímpicos

54

Estudos Olímpicos

222

Ética e Moral no Esporte

218

FEF - Unicamp

31


Comunidade

Participantes

FIEP - Federação Internacional de Educação Física

46

Filosofia do Esporte

99

Fisiologia do Exercício

704

Fisioterapia Esportiva

177

Fitness e Qualidade de Vida

420

Futebol

797

Futsal

400

Gênero e Esporte

148

Genética e Atividade Física

153

Gestão Desportiva

536

Ginástica

191

Ginástica Laboral

224

Handebol

310

História da Educação Física e dos Esportes

459

Idoso

308

Instalações Esportivas

84

Jiu-Jitsu

184

Judô

179

Karate

98

Legislação Desportiva - CEVLeis

863

Lusofonia

53

Marketing Esportivo

517

Mídia e Esportes

254

Musculação

824

Nutrição em Educação Física e Esportes

481

Oftalmologia Esportiva

29

ONGs e Esporte

128


Comunidade

Participantes

Panathlon

58

Pedagogia do Esporte

326

Políticas Públicas

190

Professores Universitários em EF

191

Psicologia do Esporte

305

Rádio CEV

38

Recreação e Lazer

483

Rio 2016

287

Rugby

56

SBAFS - Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde

36

Sociologia do Esporte

263

Surfe

61

Tecnologia no Esporte

320

Tênis

72

Tênis de Mesa

71

Treinamento Desportivo

548

Triathlon

80

Volei

344

Wushu

60

Xadrez

106

Quem é Quem Procurando alguém? Aqui você encontra uma extensa lista de nomes dos atores da Educação Física, Esportes e Lazer. http://cev.org.br/qq


POLÍTICAS ECONÔMICAS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista, membro da ACL e do IWA, fundador da ALL Publicado em O ESTADO MA em 28 de março de 2017 Os economistas clássicos do século XIX acreditavam nas forças automáticas de mercado e no pleno emprego dos fatores de produção. Quer dizer: oferta e procura alcançavam o equilíbrio. Os recursos naturais, o trabalho e o capital eram plenamente absorvidos na tarefa de produzir. Mais tarde, John Maynard Keynes (1883-1946), ao estruturar a macroeconomia, discordou desses clássicos afirmando “que a economia poderia estar em equilíbrio mesmo a níveis de produção inferiores ao pleno emprego, sendo a função consumo agregado - e não forças automáticas de mercado - a determinante dos níveis de produção e emprego”. O importante era o nível de equilíbrio da renda e, como consequência, os níveis de produção. Keynes - que além de economista foi um banqueiro bem-sucedido - privilegiou a utilização de políticas econômicas capazes de corrigir os rumos da economia. O funcionamento da economia não se dá de forma automática. Problemas de inflação, desemprego, equilíbrio fiscal, dívida pública, são complexos e interdependentes exigindo competência e perseverança na sua solução. O instrumental teórico disponível é praticamente o mesmo desde que Keynes, em 1936, escreveu a Teoria Geral. A elaboração de políticas econômicas é um processo que consiste em combinar, de forma adequada, esse instrumental, mesmo em tempos de menor intervenção do Estado na economia, pois remanesce o seu poder regulador. Praticadas em países industrializados ou não, as políticas econômicas de combate à inflação, ao desemprego, à promoção do desenvolvimento foram, sempre, de natureza monetária e fiscal. Essas políticas, ora restritivas à demanda e preços, ora de ajustamento à conjuntura vigente, tiveram por base o desempenho do Balanço de Pagamentos, do mercado de câmbio e do fluxo de capitais. A política monetária, combinada com tentativas de ajuste fiscal, tem sido largamente utilizada no contexto das políticas econômicas, principalmente em países do Terceiro Mundo às voltas com processos inflacionários crônicos - de demanda e/ou de custos. Nas ações de natureza monetária o difícil tem sido compatibilizar os objetivos de pleno emprego, de equilíbrio da renda, com estabilidade de preços, pois restrições à expansão da moeda levam à recessão e, como decorrência, ao desemprego. Os instrumentos tradicionais de política monetária - auxílio à liquidez (redesconto), fixação da taxa de reservas bancárias (depósitos compulsórios) e mercado aberto (o segundo mercado dos títulos emitidos pelo governo) sempre foram invocados quanto à sua maior ou menor eficácia, se deveriam ser abolidos ou reformulados, se usados de forma isolada ou em conjunto. Entretanto, a restrição do crédito via sistema bancário - elevando a taxa de juros - combinada com a necessidade do governo financiar o déficit aumentando a dívida pública -, tornam esses instrumentos imprescindíveis. Importante mesmo para uma eficiente política monetária seria que não gerasse incertezas quanto ao seu direcionamento e aplicação. Se assim fosse, as empresas poderiam almejar eficiência operacional e elaborar seu planejamento; decidir quanto aos seus investimentos e forma de financiá-los, sem receios de mudanças repentinas.


CAROLINA E O GRANDE IRMÃO LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2017/03/28/15537/ O tempo passou na janela… A formação do pesquisador, a organização do conhecimento e a elaboração de políticas científicas produzem-se em redes, pois a ciência constitui um programa coletivo de busca do conhecimento, uma atividade social na qual indivíduos, grupos e instituições estabelecem conexões, através da troca de informações, colaboração, debates e polêmicas. (Poblacion, Mugnaini, 2009: Redes sociais e colaborativas: em informação científica). Data de 1990 a World Wide Web, ou Web; constituía-se em um espaço virtual para armazenar informações (Ferreira, 2013, REDES SOCIAIS E PRODUÇÃO COLABORATIVA (WIKI) DE GÊNEROS ACADÊMICOS: UM PANORAMA DO QUE A WEB OFERECE). Mais de dez anos após sua divulgação, seguida consequentemente por um desenvolvimento de aparelhos (hardwares) e de sistemas (softwares) mais velozes, a Web passou a incorporar mais aplicações e usuários, permitindo, além disso, a possibilidade de (re)criação rápida e gratuita de todo e qualquer tipo de informação a ser disponibilizada na rede: […] torna-se mais frequente a construção colaborativa de conhecimento através da Internet e das ferramentas disponibilizadas pela WWW. Ao proporcionar maior velocidade para a publicação e o consumo de informações, a evolução da Web potencializou propostas de redes sociais direcionadas à produção colaborativa e ao compartilhamento de dados on-line. Por conseguinte, o avanço dessas práticas, associado à constante interação entre usuários da/na Web em sua fase atual (2.0), foi decisivo para a criação de redes sociais virtuais com finalidades específicas, dentre elas, o uso acadêmico-científico. (Ferreira, 2013) A Web proporciona o surgimento e a propagação de ambientes virtuais que promovem a criação de Comunidades Científicas, principalmente para ampliação, divulgação e colaboração de gêneros acadêmicos. Esse novo espaço prescinde de colaboração inter pares, pois a Web (2.0, e agora a 3.0) proporciona um espaço cômodo para a Inteligência Coletiva (LÉVY, 2011); é preciso observar se estas plataformas virtuais acadêmicas estão decididas a incorporar o máximo de recursos disponíveis para a chamada Geração Digital (TAPSCOTT, 2010, A hora da geração digital: como os jovens que cresceram usando a internet estão mudando tudo, das empresas aos governos): A Web é uma plataforma promotora da inteligência coletiva e de experiências enriquecedoras nos mais diversos campos. O aspecto interativo e colaborativo da Web 2.0 permitiu uma nova forma de inteligência, a inteligência coletiva, que surge da colaboração de um grupo de indivíduos para gerar novos conteúdos, melhorando os conteúdos existentes. Segundo Lévy (1997), a inteligência coletiva é uma inteligência variada, distribuída por toda a parte, constantemente valorizada, gerando sinergia em tempo real, que tem como resultado uma ótima mobilização das competências. (PATRÍCIO, 2009,Tecnologias Web 2.0 na formação inicial de professores). Todas as tecnologias comunicacionais geram ambientes ou entornos comunicativos nos quais os gêneros se desenvolvem e permitem “culturas” variadas (Marcuschi, 2010, Hipertexto e gêneros digitais). Um ambiente virtual é um espaço produzido para práticas sociais específicas mediadas por tecnologia computacional e disponibilizadas em rede (internet ou intranet). Em vários desses espaços virtuais são criadas comunidades virtuais nas quais os sujeitos interagem e põem constantemente a língua em funcionamento; uma comunidade virtual


“é construída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em processo de cooperação ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais. […] Nesse sentido, recentemente, uma prática que vem invadindo a Web é o surgimento e a propagação de ambientes virtuais que promovem a criação de Comunidades Científicas principalmente para ampliação, divulgação e colaboração de gêneros acadêmicos. (Lévy, 2000, A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço). Ferreira (2013) comenta que esse conceito de Comunidade Virtual apresentado é geral, e que Lévy utiliza “Comunidade Virtual” para designar não uma potencialidade, mas uma realidade que é mediada pela virtualidade das tecnologias computacionais. Servindo-se de Janet Holmes e Miriam Meyerhoff (1999), Ferreira traz o termo “The community of practices” (Comunidade de práticas; já Marcuschi (2010, Hipertexto e gêneros digitais) sugere trocar a noção de comunidade pela de gênero Segundo Ferreira (2013), já existem vários modelos de redes sociais por onde circulam os mais diversos gêneros textuais acadêmicos: artigos, ensaios, resenhas etc. Tais espaços ainda não utilizam boa parte do potencial da Internet/Web para agregar outros recursos a essa produção textual, como a utilização de mídias diversas. Considera que a colaboração e a divulgação estão intimamente relacionadas ao processo de produção de conhecimento científico: Desse modo, é imprescindível que haja fácil circulação de livros, periódicos e artigos científicos em qualquer formato, pois a virtualização por si só não vai agilizar e baratear a divulgação de informação, como exemplifica Biojone (2003, Os periódicos científicos na comunicação da ciência.) […] identificando que a diferença de tempo entre a divulgação de informações científicas em um periódico e até mesmo em um livro na web é pequena quando relacionada a sua “cópia” impressa. Observa-se que, com o advento da Internet e desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC’s, as relações sociais foram completamente alteradas e o fluxo da comunicação científica teve que ser reestruturado e readaptado aos novos ambientes (TAVARES, VALÉRIO e SILVA, 2012, A Comunicação Cientifica em Redes Sociais Virtuais): A Web 2.0 permitiu a criação de sistemas de compartilhamento de informações e a interação entre pessoas. Mecanismos esses, que dentro da comunidade científica, possibilitaram a rápida comunicação de resultados de pesquisas e a disseminação de informação entre os grupos de pesquisadores. […] as RSVs [Redes Sociais Virtuais] são consideradas fontes de informação que proporcionam ao pesquisador, de maneira rápida, a informação necessária para obtenção de conhecimento. Durante a análise, percebeu-se que os pesquisadores dão mais ênfase à utilização de fontes primárias de informação, ou seja, livros e periódicos. Mas alguns ainda são mais resistentes, usam apenas a versão impressa, descartando a utilização de qualquer meio digital. (…) Enfim, parece adequado refletir sobre a importância e o alcance que essas redes têm atingido no processo de comunicação, pois os sujeitos sociais podem partilhar de vários materiais de interesse comum, de forma que as informações que circulam em rede tende a ser especializada, atendendo as necessidades desses grupos. Já a Web 3.0 é a terceira geração da Internet. Esta nova geração prevê que os conteúdos online estarão organizados de forma semântica, muito mais personalizados para cada internauta, sites e aplicações inteligentes e publicidade baseada nas pesquisas e nos comportamentos. Esta nova Web também pode ser chamada de “A Web Inteligente”. O termos Web 3.0, atribuído ao jornalista John Markoff do New York Times, é uma evolução do termo Web 2.0 que foi criado por Tim O’Reilly durante a conferência O’Reilly Media Web em 2004 (https://www.significados.com.br/web-3-0/).


O LÚDICO LÚCIDO E PEDAGÓGICO JOSÉ DE OLIVEIRA RAMOS

A liberdade sadia da infância perdura pela vida à fora. O ambiente sadio para as práticas recreativas salutares funciona no cérebro, como um Parque de Diversões, onde jamais faltarão o carrossel, a roda gigante, o tiro ao alvo, emoldurados pelo algodão doce, a maçã do amor, a pipoca, o churros e outras tantas coisas colocadas à disposição – sempre da infância. Provavelmente, foi nesse mundo da prática do lúdico lúcido e pedagógico, que Phil e Rita criaram Felipe, Juliana e Bruna – sem lhes deixar, jamais, além dos ensinamentos da escola, a positividade da convivência e educação familiar prazerosa e respeitosa. E, os três filhos desse casal de médicos, são, sem tirar nem acrescentar mais nada, isso que estão nos mostrando. E aí, por necessário, entro na área da gestão pública. Não vamos remexer no passado, porque ele nada vai acrescentar. Preferimos apenas o presente. O senhor governador Flávio Dino, numa decisão que muitos não compreenderam naquele momento, resolveu largar uma promissora carreira do judiciário, e optou por ingressar na Política. “Marinheiro de primeira viagem” teve problemas iniciais, mas logrou êxito quando se candidatou a um mandato na Câmara Federal. Em seguida, enfrentou atribulações na vida pessoal (a perda de um filho), que certamente ainda não superou de todo, mas, continuou tocando a vida. Elegeu-se Governador do Maranhão, com filiação a um partido político (PCdoB) que ainda não ganhou a compreensão nem a simpatia popular – o povo não sabe o que significa o “comunismo”, e as informações que tem são ainda muito distantes da realidade – e prometeu mudar o que entende como errado, para o bem-estar do povo maranhense. Cometeu alguns equívocos (e ainda os mantém) na formação do seu secretariado e, aos poucos, foi tentando corrigi-los no percurso. Precisa mudar mais, para receber o apoio do povo, inclusive de quem não votou nele. Dois anos depois, num somatório para separar erros e acertos, os segundos são em maior número que os primeiros. Mas, o que mais se aproxima dos 100% de acertos, está a mudança do Advogado FELIPE COSTA CAMARÃO para a Secretaria de Educação do Estado. Felipe tem feito o lúdico se tornar lúcido, com alto índice pedagógico, mesmo sem ter formação técnica na área da Educação, ao contrário de outros que, especialistas, sempre ficaram muito distantes. É, de longe, o Secretário de Estado com mais acertos no Governo Flávio Dino. Inclusive, com mais acertos que o próprio Governador. É Felipe Camarão quem está mudando a Educação do Maranhão. Com atitudes coerentes, humanas, éticas e sempre voltadas para o bem-estar dos alunos, dos professores e das famílias. DETALHE: Não se arrisquem a pensar bobagens, ou puxa-saquismo – não tenho motivos para isso.


Conheço Felipe Camarão há quase 30 anos. Frequentei a casa de Phil e de Rita, a quem considero como amigos fraternos e respeitosos, que nunca me permitiram espaços para qualquer tipo de intimidades que pudessem gerar, algum dia, esta pequena crônica. (JOR).


A PRIMEIRA ROMANCISTA BRASILEIRA * FERNANDO BRAGA Especial para o Jornal de Brasília, em 16 de novembro de 1975. Replicado em sua Faceboog em 02 de abril de 2017

Ilustração: Maria Firmina dos Reis, in “Mulheres Notáveis”

Prisioneiro voluntário em uma oficina de criações e emoções diversas, Nascimento Moraes Filho, mergulhou algum tempo atrás em uma gloriosa pesquisa nas salas grandes da Biblioteca Pública do Estado, em São Luis, como se fosse conduzido pela determinação daquele verso de Whitman: “o que não está numa parte está noutra”, usando apenas a vontade como poder. Deste trabalho, sentiu há poucos dias [lê-se o ano de 1975], o resultado dos seus propósitos, quando fez a entrega ao Maranhão, em praça pública, do romance “Úrsula”, reeditado em fac-símile, justamente nos 150 anos da escritora Maria Firmina dos Reis, nascida em São Luis a 11 de outubro de 1825 e falecida na cidade de Guimarães [interior do Estado] a 11 de novembro de 1917. O romance “Úrsula”, de Maria Firmina dos Reis, foi publicado pela primeira vez em 1859, pela “Tipografia do Progresso” [São Luís], razão pela qual, se prendeu Nascimento Moraes Filho, provando com a justeza de sua coerência intelectual, ser ela a primeira romancista brasileira. Esquecida entre jornais empoeirados e entre históricos documentos amarelados pelo tempo, Maria Firmina dos Reis, até então, tinha o nome apenas gravado na “água”, como no epitáfio famoso escrito na pedra que silencia o sono eterno de Keats. A ninguém coube o fôlego da intencionalidade em fazer conhecida esta grande mulher, neste nosso século e, [lê-se sec. XX] se porventura soubessem da sua


existência, diriam displicentemente “que Wattan sem as Valkirias a tenha”, talvez levado pelo descaso consciente de não estar prestando um grande serviço às letras do país, ou pelo medo na incursão de tão cansativo e torturante trabalho. E Nascimento Mores Filho dela lembrou-se, com a perspectiva vocacional, colhendo do desconhecido subsídios valiosos para a dignidade do conhecer, sabendo que a arte é a sensibilidade humana e neta de Deus através dos homens. E daí o inesperado, a surpresa, legitimando a romancista Maria Firmina dos Reis na escala dos valores merecidos, até então desprezada no bastardismo do esquecimento. A Nascimento Moras Filho coube a petulante coragem, mostrando que nada mundifica tanto a alma dum homem como a criação da beleza e da verdade. E ele não se acobardou diante das seríssimas dificuldades existentes, sem nada que lhe norteasse uma pesquisa de grande valia e sem nenhum instrumento de metodologia cientifica. Como poeta, transcendeu sensivelmente ao apuro da sua criação de artista, norteando-se apenas a sonhos azuis e longínquos e, como folclorista, homem de cultura feita, maturado por vivências às vezes cruéis e também fantasísticas, teve ao seu lado a suprema ousadia da intenção acidental ou não, mas feliz de certo, que é o destino em estado de rigidez, crendo mais na extensão que propôs realizar do que mesmo no pão em substituição terrível ao suor, admitindo, como Spengler, a possibilidade de transpor o presente como limite de investigação. E agora aí está Maria Firmina dos Reis, já conhecida no Maranhão, devendo, de agora em diante, por processos lentos, ser conhecida em todo país, pela supremacia de ser a primeira romancista brasileira, carente da necessidade crítica que há de vir por certo. E agora aí está Maria Firmina dos Reis, em busto na Praça do Pantheon **, em São Luís, e com placa comemorativa num velho casarão da Rua de Santana, onde funcionava, na época, a “Tipografia Progresso” que teve a felicidade de editá-la pela primeira vez. E agora aí está Maria Firmina dos Reis, com nome de Rua em um dos bairros da Ilha, onde o poeta cantou em versos, rogando a Deus não deixá-lo morrer sem avistar pela derradeira vez as palmeiras que ornamentam a triste e melancólica Praça de seu nome... Parabenizo Nascimento Moraes Filho por ter sabido que a compreensão é mais que a conquista e que o conhecer é mais que o possuir... O “ego habeo fatum” extender-se-á sempre às suas motivações... Por fim, parabenizo o Maranhão, que também agora acolhe feliz Maria Firmina dos Reis entre seus filhos ilustres, no “logos” dos seus imortais, louvando aos filhos de nossos filhos, “por nume nossos avos”. --------------------------** Todos os bustos dos ilustres maranhenses dispostos na Praça do Pantheon, foram recolhidos a um depósito [sabe-se onde], para resguardo das ações dos vândalos, como se não fosse mais fácil aplicar a estes a necessária disciplina e a obrigatória correção. Aonde já se viu isso em um país dito civilizado?


MAIS UMA NOITE NA ACADEMIA ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista, Membro da Academia Caxiense de Letras e do IWA. Fundador da Academia Ludovicense de Letras. Publicado em O ESTADO MA, 03 de abril 2017

No próximo mês de abril, na Academia Maranhense de Letras, será empossada a confrade Ana Luíza Almeida Ferro. Quero prestigiar esse Ato solene. Dizem que não, mas aposto que todo aquele que lida com as letras, seja um fazedor de versos ou um simples cronista do cotidiano, almeja um dia entrar para a Academia. É como se fosse o coroamento de tudo que fez ou procurou expressar no ato solitário e quase sempre intimista de escrever. Academia “lugar aprazível e solitário em que Platão ensinava filosofia” é, hoje, um espaço mais democrático e eclético como ocorria no tempo dos Centros Culturais, que abrigaram os intelectuais da época em saudosos tempos; o homem nasce, vive e morre, mas a sua obra deve ser reconhecida à apropriação das gerações futuras. Esse deve ser é o papel da Academia: imortalizar os feitos intelectuais daqueles que se tornaram dignos deles. Fiquei profundamente comovido com a honraria que recebi, em 2003, assim como ficará a Ana Luíza, agora. Exultantes ficaram todos os meus familiares e amigos. E pensei: o que teria feito por merecer essa distinção? Devo a muita gente. Aprendi a cultuar as letras com o exemplo dos meus saudosos mãe e pai, Nadir e Antonio Brandão, com os meus queridos (as) professores (as): Doralice Carvalho, Nereu Bittencourt, Lafayette de Mendonça, Filomena Machado Teixeira, José Dulce Melo Frota, Djalma Silva, entre outros ilustres. O professor Djalma Silva, por exemplo, ensinou-nos a cantar o Hino francês - La Marselleise - e a mim decorar a primeira poesia que declamei numa “hora de arte”, no antigo Ginásio Caxiense. Fiquei devendo a honraria de ser membro da Academia Caxiense de Letras -ACL, depois da Academia Ludovicense de Letras - ALL. a muitas outras pessoas, principalmente à minha mulher, Conceição, e aos meus filhos que sempre me incentivaram. Fiquei devendo também a Haroldo Tavares e José Maria Cabral Marques, que me acolheram no início do governo Sarney e a partir do qual dediquei toda a minha vida profissional ao setor público maranhense, estadual e municipal. Fiquei devendo sobretudo aos que idealizaram a fundação e fizeram funcionar a primeira escola pública de ensino superior no Maranhão - a Escola de Administração -, hoje, Universidade Estadual, da qual me tornei Professor Fundador e Titular; depois, na Universidade Federal, somei mais tempo – ao todo quase trinta anos - procurando transmitir conhecimentos e educar os jovens do meu Estado, muitos de Caxias. Acho que foi por tudo isso que confrades votaram em mim elegendo-me para a ACL e ALL: um pouco pelas minhas origens, um pouco por tudo que fiz, um pouco pelo que ainda estou tentando fazer. Fiquei, repito, honrado e feliz. No dia 11 de agosto daquele ano - como será no dia 6 de abril deste - aconteceu “mais uma noite na Academia”, como se fosse a noite do Oscar dos intelectuais, em que os novos acadêmicos foram devidamente empossados. Ser admitido (a) na Academia merece toda a liturgia do Ato, como o que vai viver, merecidamente, a confrade Ana Luíza Almeida Ferro, em uma noite que foi e sempre será inesquecível.


A PAIXÃO DE CADA QUAL AYMORÉ ALVIM AMM, APLAC, ALL.

Cada um faz a sua. Eu fiz a minha. Foi no final da década de 1940. Pedi a dona Inês que me liberasse os três cômodos que ficavam atrás da cozinha da nossa casa, em Pinheiro. Os dois maiores abriam para uma área do quintal que parecia uma praçinha que eu e dona Mó chamávamos de Praça do Coqueiro, devido à palmeira que se erguia bem no centro. O outro era menor cuja porta dava para uma outra área chamada Praça da Cajazeiro que ficava, no segundo quintal. Bem ao centro, havia um pé de cajá. Com Apolônia e Maria Lobato que moravam lá em casa, preparamos os dois primeiros quartos. Em cada um erguemos um trono. O primeiro era de Herodes e o segundo de Pilatos. O terceiro, que era menor que os dois outros, Apolônia transformou numa gruta e colocou lá dentro duas caixas de madeira cobertas por um lençol. Seria alí o Santo Sepulcro. Com a ajuda do meu primo Tinche, peguei um fio embebido de pólvora e goma e rodeamos a porta da gruta. Na ponta do fio, coloquei uma bomba de morrão. Pedi a dona Inês um vidro de Biotônico Fontoura e Camélia preparou umas broas de fubá de milho. Eram para a Santa Ceia. Estava tudo pronto. Era só chamar a turma. Mó se encarregou das mulheres, as primas e as amigas; eu dos homens: Gutemberg ou Seu Guta que seria o Cristo, Inácio e Pijá eram Herodes e Pilatos. Zé Lobato, Zé de Militina, Nacá, Careca, Lauro e Coruja eram os soldados de Caifás e Pilatos. Todos caracterizados de judeus e romanos por Apolônia e Maria Lobato. Na Quinta-feira Santa, pela manhã desse ano, fomos todos para o quintal do Grupo Escolar Elizabeto Carvalho que ficava ao lado da nossa casa. Lá, encontrei pastando um jumentinho de seu Armindo Campos. Mandei Zé Lobato segurá-lo e montamos seu Guta fantasiado de Cristo. O restante da turma com galhos de mato saudava-o entrando em Jerusalém. A certa altura do cortejo, Zé Lobato dá uma xuxada no jumento que pula e dispara jogando Seu Guta no chão. Zé de Militina, lá do fundo do quintal, grita: - Eh! Aymoré. O teu Cristo caiu do burro. - Junta o Cristo e monta de novo, gritou Coruja. - Quá, Aymoré, nesse bicho eu não monto mais, disse-nos Seu Guta. Apaziguados os ânimos, partimos para a Santa Ceia. Seu Guta foi chegando e comendo logo uma broa de milho. - Guta, o Cristo não comeu no dia, disse-lhe Moema. - Mas este come, retrucou Guta. - Assim não dá, Aymoré. Seu Guta quer avacalhar a Paixão, disse-me Moema. Para evitar mais confusão mandei os soldados de Caifás entrarem e prender o Cristo. - Ai, assim não dá, Aymoré. É só pra amarrar, bater não. Isso é só de brincadeira. Reclamou Seu Guta depois de Zé Lobato lhe dar uma relhada pelo lombo. Levaram, então, o Cristo para Pilatos, depois para Herodes que o retornou a Pilatos. Este chega à porta do palácio e pergunta: - Que devo fazer com este homem? A turma reunida na Praça do Coqueiro gritou:


- Crucifica, crucifica. Trouxeram, então, a cruz que Tinche havia preparado, colocaram uma coroa de mato em Seu Guta e o cortejo começou. Moema era Nossa Senhora e Maria Helena a Verônica. Cai, seu Guta, dizia Lauro. Nessa hora, Nacá jogava água de urucum em seu Guta e Maria Helena enxugava. De vez em quando, Zé Lobato e sua turma queriam esquentar o couro de Guta. - Assim não dá, assim não dá, já falei. Eu deixo de ser Cristo. Dizia já chateado Seu Guta. E, assim, chegamos à Praça da Mangueira, no terceiro quintal, onde ficava o Calvário. Amarramos Guta na cruz e o colocamos de pé. As mulheres choravam e os homens resmungavam num linguajar esquisito para dizer que estavam falando a língua da época. Por fim, Cristo morreu e foi levado para a gruta onde ficava o sepulcro. Colocaram Guta sobre as caixas e dona Mó com as outras chorando passavam banha de porco no Cristo para dizer que estavam untando-o com óleo. Chegou a hora da ressurreição. Eu lhe disse: Guta levanta e fica de pé na porta. Quando abri, levanta os braços e a turma bate palmas. Tudo preparado, Tinche abriu a porta e eu acendi a bomba de morrão pra dizer que houve um grande trovão. Na hora da explosão, Guta sai correndo: - Ai, mamãe, o que foi isso? - Pega o Cristo, turma. Gritou Careca. - Vem cá, Jesus, foi o trovão da ressurreição, disse-lhe Zé de Militina. E, assim, partimos para a hora da Ascensão. Trouxe uma corda bem comprida que papai comprou para quando fossem limpar o poço. Amarramos um pau numa das pontas e escanchamos Seu Guta. Depois passamos uma corda pelo tórax de seu Guta para prendê-lo à corda maior a fim de possibilitar-lhe abrir os braços quando estivesse subindo. A outra ponta passamos por um dos galhos da mangueira e Careca, Coruja e Zé Lobato, os mais velhos, começaram a puxar. - Vão devagar, dizia Seu Guta. - Rapaz, tu vais subir pro céu. Abre os braços. Antes de Guta chegar ao céu, a corda enganchou numa forquilha e Guta não subia nem descia. - Eh! Aymoré, o que aconteceu? Me tira daqui. Ai minha mãe, mamaezinha. Eu vou cair daqui. - Espera um pouco, Guta. Tu vais pro céu, disse-lhe Zé Lobato. - Não quero. Me tira daqui, Aymoré. Com muita dificuldade tiramos o Guta. - Acabou a brincadeira. Não subo mais. Disse-nos Guta. Então, sem o Cristo, nada de ressurreição. A brincadeira acabou. Voltamos todos para a Praça do Coqueiro para comer canjica e pamonha que Camélia havia preparado. Ufa. Não repetimos a brincadeira. Não encontrei mais ninguém que quisesse ser o Cristo.


O CAPITALISMO NO SÉCULO XX ANTONIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Corria o ano de 1980. Uma comitiva de executivos do mercado de capitais brasileiro foi aos Estados Unidos, para um curso de especialização, na Universidade de Nova York. Durante uma semana de aulas ministradas por professores e especialistas e, em contato direto com operadores, visitamos os grandes bancos, corretoras, as bolsas de mercadorias e de valores, tudo concentrado em Wall Street. Ao final, depois de um coquetel, fomos curtir um fim de tarde no 104 andar do World Trade Center, Torre Norte. Além da bela visão que tivemos do alto, que haveria de desaparecer, em 2001, pessoalmente aproveitei para refletir sobre tudo que ouvira e experimentara: jovens obtendo sucesso profissional e financeiro e empresários prosperando no mercado de ações. Ficou-me, entretanto, a pergunta que fiz a um desses vencedores ao curso de sua palestra aos executivos brasileiros: o "crash" de 1929 poderia repetir-se? Ele respondeu que sim, mas que haveria salvaguardas. Tive a resposta com o advento da crise da "bolha", a partir de 2008, quando um novo "crash" fora evitado em virtude das intervenções principalmente do banco central americano, o Federal Reserve; injetando trilhões de dólares no mercado - depois imitado pelos bancos centrais de outros países desenvolvidos -, ao contrário do que acontecera em 29 e exercitando uma política heterodoxa, protagonizou as salvaguardas mencionadas por aquele expositor! Foi por tudo isso que resolvi reunir em meu livro "Desafios à teoria econômica/Challenges to the economic theory", editado em 2015, 40 artigos selecionados e escritos ao longo da crise da "bolha", enriquecido com a história do pensamento econômico e cenários traçados. "Desafios/Challenges" já foi lançado em São Luís, na AML, e em São Paulo, na EAESP-FGV; doravante, tratativas estão sendo feitas ao seu lançamento, nos EUA.


TODO DIA ERA… – O LÚDICO E O MOVIMENTO NO MARANHÃO – ATIVIDADES FÍSICAS ENTRE NOSSOS INDIOS LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2016/04/19/todo-dia-era-o-ludico-e-o-movimento-no-maranhao-atividades-fisicasentre-nossos-indios/

As primeiras referências sobre a prática de atividades lúdicas e de movimento que encontramos no Maranhão datam do período de ocupação do território maranhense. Catharino (1995) [1], ao fazer uma análise do “Trabalho índio em terras de Vera ou Santa Cruz e do Brasil”, refere-se, dentre esses trabalhos, a dois que nos interessam particularmente: “O trabalho desportivo” (p. 601-606) e “O Trabalho locomotor” (p. 607-620). Ao analisar o trabalho desportivo, considera que nesse mundo, antes da chegada dos brancos, a sobrevivência exigia qualidades atléticas, exercícios constantes, com descanso e repouso intercalados, de duração sumamente variáveis (p. 601). Por isso, os índios se tornavam atletas naturais, para sobreviver, pois tinham que, em terra, andar, correr, pular, trepar, arremessar, carregar, e, na água, nadar, mergulhar e remar, também realizar trabalho-meio, autolocomotor, com suas próprias forças, apenas e/ou, também, com auxílio de instrumentos primitivos, para obtenção de produtos necessários: “Entre prática guerreira e desportiva há um nexo de causalidade circulativo, proporcionalmente inverso. Mais prática desportiva, menos guerra. Mais guerra, menos aquela. Causas produzindo efeito repercutindo sobre a causa. Nexo fixado, de recíproca causalidade e efeito.[… ] “O trabalho-meio, autolocomotor, servia de aprendizado e adestramento – atlético que era – ao competitivo” (p. 602).

O Autor considera que, entre a infância e a puberdade, e a adolescência e a virilidade ou maioridade, entre os 8 e 15 anos, a que chamamos mocidade, os kunnumay, nem miry nem uaçu, tomavam parte no trabalho dos seus pais imitando o que vêem fazer. Não se lhes manda fazer isto, porém eles o fazem por instinto próprio, como dever de sua idade, e já feito também por seus antepassados: “Trabalho e exercício, esses mais agradáveis do que penosos, proporcionais à sua idade, os quais os isentava de muitos vícios, aos quais a natureza corrompida costuma a prestar atenção, e a ter predileção por eles. “Eis a razão porque se facilita à mocidade diversos exercícios liberais e mecânicos, para distraí-la da má inclinação de cada um, reforçada pelo ócio mormente naquela idade”. (p. 602).


Após essas explicações, o Autor informa que essa seção – o trabalho desportivo – é dedicada ao trabalho competitivo entre índios, embora caçando e pescando, competissem amiúde com outros animais, considerados irracionais, o que faziam desde a infância. Sem falar nos jogos educativos: “… jogos e brinquedos (Métraux) dedicou um só parágrafo, quase todos graças a d’Evreux [2], acerca dos feitos pelos Tupinambás. “Tratava-se de ‘arcos e flexas proporcionais às suas forças’. O jogo, educativo para a caça, pesca e guerra, era possível porque reunidos plantavam, e juntavam cabaças, que serviam de alvo, ‘adextrando assim bem cedo seus braços’. Assim, brincavam os meninos de 7 a 8 anos. Kunumys-mirys. As meninas, na mesma faixa etária, Kugnantins-myris, além de ajudarem suas mães, faziam ‘uma espécie de redesinhas como costuma por brinquedo, e amassando o barro com que imitam as mais hábeis no fabrico de potes e panelas’. (em nota à página 605-606).

3.000 a.C. ? – 1590 Quanto às modalidades com caráter esportivo que praticavam, referem-se às corridas, lutas e futebol. Dentre os exemplos, ressaltam a capacidade de correr de algumas tribos, como a dos goitacazes, corredores agilíssimos, que capturavam na carreira veados e corças. Outras, ante um ataque frustrado – emboscada – elogiavam a capacidade de fuga – daquele que corria de volta à sua própria aldeia, chegando antes dos demais -, não a considerando um ato de covardia, mas de capacidade física e poder, antes dos demais, proteger a vida das mulheres e crianças. Faz referência, ainda, ao “esporte nacional dos Tapuya”, que praticavam uma corrida a pé “encetada carregando peso”, registrada por dois historiadores franceses (p. 604). O Atletismo aparece em Maranhão anterior ao período colonial, através da Corrida de Toras – pertencente ao grupo de provas de revezamentos – dos Índios Kanelas Finas – pertencente à etnia Jê, presente por estas terras há pelo menos cinco mil anos. Paula Ribeiro (2002) [3] descreve uma das principais manifestações do lúdico e do movimento, na cultura Jê, referindo-se à música e à dança: “… enquanto as muitas mulheres guizam as comidas, dançam eles e cantam ao som de buzinas, maracás e outros instrumentos … esta dança e música noturna, melhor repetida depois da ceia, dura quase sempre até às cinco da manhã …” (p. 39). A Corrida de Toras – Os Jê são conhecidos no Maranhão com a denominação de “TIMBIRAS“, e dividem-se em dois ramos principais, segundo seu habitat – Timbiras do Mato e Timbiras do Campo -, estes apelidados de canelas finas pela delicadeza de suas pernas e pela velocidade espantosa que desenvolvem na carreira pelos descampados, confirmando Spix e Martius (1817) quando afirmam, sobre os Kanelas, gaba-se a sua rapidez na corrida, na qual igualariam a um cavalo. Ao descrever as atividades da educação física no Brasil colonial, Marinho (s.d.)[4] afirma serem a pesca, a natação, a canoagem e a corrida a pé processos indispensáveis para assegurar a sobrevivência de nossos índios. É através da criação e da valorização cultural da corrida de toras a base para sobrevivência física e cultural dos Kanelas.


Os Tupinambás eram, ainda, excelentes marinheiros, ninguém tomando a vela melhores do que eles. Caminha, em sua carta acerca dos achamentos dos portugueses referia-se às almadias – canoas feitas de tronco ou casca de árvore – e jangadas, com que se deslocavam pelas águas – mares e rios: igará era denominação genérica; ubá a feita de uma só casca de árvore; igaraçú, as grandes, de um só tronco; igaritê, as pequenas. Igaratim chamavam aquelas canoas em que iam os morobixabas e se diferenciavam das demais por levarem à prôa um maracá – maracatim dos Igaraunas, do Maranhão (CATHARINO, 1995).

No Maranhão, faziam-se, e ainda se fazem balsas de talo de buriti – periperis; delas tomou nome o considerável afluente que o Parnaíba recebe pelo lado esquerdo. Pode-se afirmar que os índios também impulsionavam periperi com remos. Aos remos – apecuitá; ao leme – yacumá; à pá do leme, iacumã. Em sendo o leme peça fixada na popa, para ser a embarcação governada e dirigida, ficou a dúvida se ela existia em canoa, ou se, como leme, era usado remo, sendo mais provável esta hipótese. Quanto ao trabalho de remar, variava em conformidade com o tamanho e a capacidade das canoas; variável também o número de transportados e dos remadores. Falando da ida dos Tupinambá para a guerra, Léry (citado por Catharino, 1995, p. 616) disse que vogam em pé, com um remo de pás duplas, ao qual seguram pelo meio. A descrição indica remo usado para impulsionar caiaque, o que permite remar metendo na água alternadamente cada pá por cada borda. Os Igaraunas, do baixo Maranhão, são tidos em conta dos melhores remeiros do país porque a este exercício se afazem desde a infância (Catharino, 1995, p. 617, citando Dénis). Foram eles, que à força de remos, levaram o comboio do capitão Teixeira desde o Oceano até à costa dos Andes. Esses índios tinham suas canoas de guerra de quarenta a cinqüenta pés de comprimento e feitas de um só tronco de árvore, a qual davam o nome de maracatins. Catharino (1995) acredita ser inconcebíveis vida e cultura índias sem locomoção pelas próprias forças. Por isso, os índios fazem exercícios constantemente. Essa constante movimentação concorria para sua higidez, robustez e estado atlético, tornando-os mais aptos a enfrentar as naturais dificuldades do meio, e a manterem-se sadios. Tinham profunda intimidade com a água, nela se sentindo à vontade, para o que, por certo, concorria o costume das mães banharem seus filhos logo após tê-los. Não admira soubessem nadar. Os costeiros e os do interior. De todas as idades, mais ainda os meninos e as meninas, moços e moças. Quando da chegada dos primeiros portugueses, relata Vespúcio: “… e antes que chegássemos à terra, muitos deles lançaram-se à nadar e vieram nos receber a um tiro de nesta no mar (equivalente a 150 metros), que são grandíssimos nadadores… (p. 613). Continua o Autor: “Nadam fora de toda expectativa, e melhor as mulheres que os homens, porque os encontramos e vimos muitas vezes duas léguas adentro do mar sem apoio algum iram nadando”. (p. 613) Serve-se de vários autores, para ilustrar o quanto nossos índios dominavam a arte da natação: “… Ramirez: ‘ellos som mui ligeros é mui buenos nadadores … Lopez: ‘E vinham apoz de nós, hús a nado e outros em almadias, que nadam mais que golfinhos; … Knivet: ‘Levou-me esse cannibal pela praia, e fomos ter a uma penha que sahe ao mar; tomou-se então elle às costas, e,


tendo nadado comigo por fóra dos parceis, continuámos a nossa viagem … D’Abeville [5]:Vimos maravilhados inúmeros índios se lançarem-se a nado (Tupibambá) para nos encontrar e trazer seus agrados. Jaboatam, acerca dos gentios Goyatacá: ‘Costumavão, por não Ter outro modo, andar de nado pelas ribeiras do mar esperando os Tubarões, com um pau muito aguçado na mão, e em remetendo o tubarão a eles, lhes engastavão a ponta pela garganta a dentro, com tanta força, que o affogavão, e morto assim o traziam à terra…”. (p. 613).

Não eram apenas exímios nadadores. Também sabiam mergulhar. Sobre os índios do Maranhão, como acima a nota de Claude D’Abeville citada, serem os “Tupinambás grandes nadadores e mergulhadores, chegando a nadar três a quatro léguas. Se de noite não tem com que pescar, se deitam na água, e como sentem o peixe consigo, o tomam às mãos de mergulho; e da mesma maneira tiram polvos e lagostins das concavidades do fundo do mar, ao longo da costa (p. 618)… “Eram, os Tupinambás, extremados marinheiros, como os metem nos barcos e navios, onde todo o tempo ninguém toma a vela como eles; e são grandes remadores, assim nas suas canoas, que fazem de um só pau, que remam em pé vinte a trinta índios, com o que as fazem voar …” (p. 618). [1] CATHARINO, José Martins. TRABALHO ÍNDIO EM TERRAS DA VERA OU SANTA CRUZ E DO BRASIL – tentativa de resgate ergonológico. Rio de Janeiro : Salamandra, 1995. [2] Refere-se a Ives d’Evreux, em sua “Viagem ao norte do Brasil feita nos anos de 1613 a 1614”, em que relata sua viagem ao Maranhão, junto com Daniel de LaTouche. [3] PAULA RIBEIRO, Francisco de. MEMÓRIAS DOS SERTÕES MARANHENSES. São Paulo : Siciliano, 2002 [4] MARINHO, Inezil Penna. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL. São Paulo : Cia. Brasil Ed.(s.d.). [5] Refere-se a Claude D’Abeville, missionário que esteve em Maranhão com Daniel de LaTouche, quando da fundação da França Equinocial, autor de “ História d Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas”.


UMA ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA CAXIAS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da Academia Caxiense de Letras e do IWA. Fundador da Academia Ludovicense de Letras

Não se trata de saudosismo nem de ficar preso ao passado, mas de ser realista: todos sabem que, guardadas as devidas proporções, Caxias já foi muito mais próspera do que é na atualidade, quando não passava de 25 mil habitantes. Teve o seu apogeu até a década de 50 com as indústrias têxteis; seu comércio diversificado refletia bem essa fase e a agricultura, estimulada pela organização de associações e de cooperativas, conseguia fixar melhor o homem ao campo. Depois, nos anos 60, abrigou um razoável setor oleaginoso que esmagava a amêndoa do babaçu e exportava o óleo e seus derivados para o sul do país, inclusive para o exterior; nessa época, chegou a sediar projetos de industrialização financiados pela SUDENE, alguns superdimensionados para o mercado de então, outros de menor tamanho, todos descontinuados. Caxias deve ter hoje uma população total de cerca de 150 mil pessoas das quais a maioria vive no setor urbano, e o fenômeno dessa urbanização exerce uma dramática pressão sobre habitação, educação, saúde, saneamento básico e, como não poderia deixar de ser, emprego. Outro dado importante e que chama atenção é a população economicamente ativa - aquela que está voltada para o mercado de trabalho -; a população ocupada - aquela que está empregada - deve ser ainda menor supondo-se alguma taxa de desemprego, a julgar pela intensa atividade informal na cidade. As principais fontes de recursos são decorrentes das transferências dos governos federal e estadual, FPM e ICMS, além dos recursos do SUS e do FUNDEB, também alguns frutos de convênios e de emendas ao orçamento da União. Em Caxias predomina o setor terciário: comércio, bancos, escolas, universidade, profissionais liberais; esse setor absorveria grande parte da população economicamente ativa. Assim, fica fácil perceber o por quê das desigualdades sociais e da baixa renda per capita. Para enfrentar essa realidade, torna-se indispensável que a Prefeitura possa ter uma receita própria, de impostos e taxas, capaz de custear a máquina administrativa; contando com a compreensão e apoio da população não necessitaria aumentar impostos, apenas a sua base contributiva mediante ação fiscal. As políticas públicas definidas para Caxias, há um certo tempo, consideravam a realidade de sua população visivelmente mal distribuída nos setores da economia; enfatizava a educação profissionalizante dos seus jovens visando uma entrada mais rápida no mercado de trabalho; apoiava o ensino universitário; criava incentivos para atração de investimentos privados às suas diversas atividades vocacionais. O planejamento dessas ações pelos poderes públicos precisa contar com a participação dos empresários, da comunidade universitária, dos clubes de serviço, dos intelectuais, da Igreja e das diversas entidades de classe; adotar a “agregação de atividades afins”, que privilegia mercados, produtos, empresas, fornecedores e a base econômica do município. É certo que os caxienses de boa cepa apoiarão ações dessa natureza.


VIVENDO E APRENDENDO

AYMORÉ ALVIM APLAC, AMM, ALL

Contaram-me, há algum tempo, a história de um homem que tinha três filhos e uma filha. A esposa morreu de parto após o nascimento do quarto filho e ele ficou com as quatro crianças que criou as criou dando-lhes amor e segurança para que crescessem bem dentro das suas condições de cidadão de classe média. Atualmente, três deles estão formados em curso superior, casados e bem estabelecidos na vida. O segundo, no entanto, estava cumprindo pena por estupro seguido de morte e vários assaltos que incluiu na sua folha corrida. Num certo dia de visitas, fugiu da penitenciária e três dias depois, envolvido em um assalto, foi morto. O velho Altino sofreu bastante, pois dedicava um carinho todo especial ao rapaz, talvez porque dos quatro era o único que necessitava de mais atenção e tolerância. Nunca o abandonou. Realizado o funeral, foi a vez da missa de sétimo dia. Convidou os parentes e amigos. Ao final da missa, o filho mais velho agradeceu aos presentes pela atenção para com o seu pai e demais familiares por virem à missa para rezar pela alma do seu inditoso irmão para que Deus se apiedasse dele, na hora do seu julgamento. Quanto terminou, seu Altino pegou o microfone: - Meus caros amigos, o meu filho não lhes soube expressar os nossos reais sentimentos, neste momento. Eu não convidei vocês para vir rezar pelo meu filho, mas sim agradecer comigo ao Senhor pela graça dos filhos que Ele colocou sob as minhas responsabilidades, neste mundo e, em especial, o Fernando. Se ele não foi correto ao longo de sua curta vida, eu nunca o julguei. Um pai não julga um filho. O pai o acolhe e o abraça por seus méritos ou o acolhe e consola pelos méritos que não teve ou não os conseguiu. Ora, se nós pecadores somos capazes de agir assim, imaginemos o Pai que está no céu que é bondade e infinito amor. E continuou: Sei que Deus não julgará o meu menino e nosso filho, porque como já lhes disse não é próprio de um pai julgar os filhos. Por isso, acredito que ele já se encontra na Sua glória e que o acolheu, pela sua imensa misericórdia e o consolou das exclusões e incompreensões que o consumiram, neste mundo. Foi por tudo isto que convidei vocês a participar desta missa comigo. Para agradecer e não para pedir. Muitas palmas. Lágrimas rolavam em faces comovidas que ouviram aquela mensagem de confiança, compaixão, resignação e amor pela voz pausada de um homem sereno e de muita fé. Realmente, se Deus é pai, Ele não julga. O juiz é imparcial. Qual o pai que fica imparcial frente ao sofrimento de um filho? É vivendo que se aprende...


UM ADEUS INESPERADO: homenagem a Manoel de Jesus Sousa (1942-2015) DILERCY ADLER

Ao cair da última noite de 2015, febres, tremores, frios e dores trouxeram o manto da morte... e, aos poucos, Manoel de Jesus Sousa foi se despedindo da vida neste plano material para o outro que se nos apresenta misterioso, desconhecido e inspirador através das várias teses apresentadas pelas motivações e crenças de cada autor. E esta Igreja, a I Igreja Presbiteriana Independente de São Luís, onde seu corpo foi velado, tem um significado marcante na vida da nossa família. A nossa mãe amava esta Igreja e nos trazia a todos, todos os domingos pela manhã para a Escola Dominical e à noite, para o Culto. Eu mesma me batizei ainda criança, e me casei na “nossa” Igreja. Depois que crescemos nem todos os seus filhos continuaram a frequentá-la, mas, Manoel, no seu Adeus, nos reuniu aqui, hoje, na “nossa Igreja”, exatamente no dia do aniversário de 91 anos de nascimento de mamãe (1º de Janeiro). As primeiras lembranças que tenho de Manoel de Jesus datam da minha pré--adolescência quando frequentava a nossa casa nas suas visitas à querida e doce namorada Darcy. Ele, um rapaz moreno vistoso, de belos olhos verdes com os quais, com certeza, encantou Darcy. Casaram-se no dia 20 de março de 1965, numa cerimônia simples, porém muito bonita, na nossa casa, um sobrado na Rua da Cruz, no centro de São Luís. Da união nasceram três filhos: James, Christiane e Liana; oito netos: Jamile, James Jr., Kauê, Ike, Camila, Isabella, Hiago e Manuela, e quatro bisnetos: Levi, Benjamim, Maria Alice e Isadora. Quando Manoel entrou na nossa família e nós na dele, ele chamava a nossa atenção também por seu vigor e pela disposição ao trabalho. Era comerciário naquele tempo, mas alimentava sonhos de crescer profissionalmente como todo jovem cheio de ideais. Cursou a Faculdade de Direito, em cuja profissão fez uma carreira notória, galgando o cargo de Procurador de Justiça para orgulho (no sentido de satisfação pela sua capacidade) de toda a sua família. Mas não era apenas no trabalho que Manoel se destacava. Mais do que o esposo ou pai, era o avô que ele personificava que me encantava. Um avô extremoso, amoroso, provedor. Além do trabalho, da família, um talento que lhe era próprio era o de intelectual. Era um dedicado membro da Academia Sambentuense de Letras (da cidade em que nasceu, São Bento), tornando-se assim também imortal através do mundo das Letras. E é pertinente enfatizar que colocava entre suas prioridades a frequência às reuniões da Academia, deslocando-se mensalmente de São Luís à cidade de São Bento com essa finalidade. Tenho certeza de que a mensagem que Manoel, de qualquer lugar onde ele esteja, assim como sua esposa, seus filhos e netos, em suma, toda a sua família vai querer ouvir são palavras impregnadas de confiança, de fé, de conforto e de amor e estas eu só poderia encontrar de forma singular na Bíblia Sagrada, em algumas passagens de alguns de seus Livros. A primeira diz respeito à Confiança em Deus, no Livro dos Salmos, Capítulo 3 Versículos 3-5: Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória e o que exalta a minha cabeça. Com a minha voz clamo ao Senhor, e Ele do seu santo monte me responde. Deito-me e pego no sono, acordo, porque o Senhor me sustenta. E em Provérbios, Capítulo 3, Versículos 4 a 5 e 23 a 24: Confia no Senhor de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas


[...] Então andarás seguro no teu caminho, e não tropeçará o teu pé. Quando te deitares, não temerás; deitar-te-ás e o teu sono será suave. Essas palavras, impregnadas de fé e confiança dão conforto, independentemente do plano em que estejam, tanto para aqueles que aqui estão quanto para aqueles que já empreenderam a sua viagem. Em ambas as situações, encontram-se seguros e por isso podem se sentir abrigados, protegidos. Já o amor, pela sua sublimidade, encontra ressonância nos Cantares de Salomão. Assim, para este contexto, escolhi uma fala da Esposa para o seu Amado extraído do Capítulo 6, Versículos 2 e 3: Esposa O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para pastorear nos jardins e para colher lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele pastoreia entre os lírios. Palavras e cenário com que todo amante pode expressar livre e poeticamente o seu amor que vai além do tempo, de espaços e formas. Portanto, dedico aos dois essas palavras de Salomão. Todavia, gostaria de fechar esta homenagem, como amante das letras que sou, com uma poesia de minha lavra que traduz um pouco da minha compreensão acerca da morte. VELEJANDO Um dia eu vou dormir não vou sonhar contigo com nada que mais amo nem acordar vazio... um dia eu vou dormir e não ver mais a lua nem vou sentir a chuva ... cheiro de terra molhada... um dia eu vou dormir o sono – eterna noite – sem medo sem veneno sono sereno cheio de paz velejo! In: GENESES IV Livro, p. 36, 2000.

Que Deus abençoe Manoel de Jesus Sousa aonde quer que ele vá e onde quer que esteja, assim como a toda a sua família. Sua cunhada Dilercy Aragão Adler São Luís, 1º de Janeiro de 2016.


HOMENAGEM A MEUS PAI E MÃE, NASCIDOS EM 25 e 30 DE ABRIL

UM HOMEM DE VALOR ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL O ESTADO MA, 03 DE MAIO DE 2017 Se Antônio Brandão, meu pai, ainda estivesse entre nós estaria aniversariando no dia 25 deste mês. Nasceu em Picos (atual Colinas), no dia 25 de abril de 1905 e faleceu, em Caxias, no dia 25 de janeiro de 1980, aos 75 anos incompletos. Peço permissão aos prezados leitores e amigos, para falar um pouco sobre passagens de sua vida e das lembranças que nos deixou. Meu pai viveu a infância e adolescência na sua terra natal. Depois veio para São Luís e conseguiu emprego na firma Lima, Faria & Cia. Ltda., do tradicional comércio da Praia Grande. Tinha 20 anos. Em 1930, naturalmente levado pelos arroubos da juventude, engajou-se na tarefa de contestação à “velha ordem”. Casou-se com Nadir, minha mãe, em 1933, e foram viver em Caxias. Lá pelos idos de 1938, lembro-me da primeira bicicleta que recebi de presente: foi a maior sensação de liberdade que experimentei equilibrado naquelas duas rodas. Meu pai sempre foi assim: generoso com os filhos, netos e bisnetos; presenteava no Natal e, quando viajava, não esquecia de trazer alguma lembrança. Em 1940, nossa família mudou-se para Picos, para ele ser novamente prefeito, nomeado, assim como já fora em 1931. A viagem foi rio acima. Naquele tempo o Itapecuru era caudaloso e cheio de corredeiras traiçoeiras. Num final de uma tarde chuvosa, embarcamos em um bote (batelão) rebocado por uma lancha: papai ajudara a transformar a embarcação em um verdadeiro apartamento, todo forrado de tábuas, com várias divisórias de palha e armadores de redes. Ainda em 1940 tivemos que vir para São Luís onde vivemos dias inesquecíveis, bons e maus, até 1944, quando retornamos a Caxias. Meu pai voltava para estabelecer-se por conta própria, até 1960, com a bem sucedida Casa Brandão, no comércio de fazendas, estivas e miudezas em geral, atividade que marcou sua vida empresarial. Ele colaborou muito com as classes produtoras de Caxias: participou ativamente dos clubes de serviço e das atividades culturais, liderou a criação e fez parte da Cooperativa do Babaçu, também da Associação Comercial e da Associação Rural. Meu pai era de temperamento dócil, conversava pouco e expressava seus sentimentos através dos atos que praticava. Raras vezes o vi com lágrimas nos olhos e uma delas foi quando parti para estudar economia, no Rio de Janeiro. Ele nunca me disse, porém desconfio que gostaria que tivesse ficado, para tocar os negócios: da loja de tecidos, depois da moageira de café, da fábrica de guaraná, da indústria de óleos vegetais e das plantações de caju. Foi um empreendedor eclético para o seu tempo. Na vida pública, além dos cargos já mencionados, foi Vogal dos empregadores na Junta e Conciliação e Julgamento de São Luís, em 1935; diretor do Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda, em 1940; diretor secretário do Banco do Estado do Maranhão, entre 1942 e 1944. Foi ainda advogado provisionado e jornalista profissional. Antônio Brandão foi um homem humilde, generoso, inventivo, corajoso, empreendedor, amoroso, participativo, sensível.


Que Deus o tenha em sua glória na companhia de sua eterna esposa Nadir e de seu filho caçula Luís, é o desejo de seus filhos, netos e bisnetos.

UMA MULHER DE VALOR ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista. Membro da ACL e do IWA. Fundador da ALL Minha mãe Nadir, codinome Lilita, completaria mais um aniversário no próximo dia 30 deste mês. Mamãe ensinou a todos nós, cada um no seu devido tempo: as rezas que sabia rezar, os valores a serem respeitados no seio da família e da sociedade, a dedicação aos estudos em busca de um futuro promissor e o gosto pela leitura e pela escrita. Num claro e alegre dia de abril ela nasceu em São Luís; também, num cinza e triste dia de novembro, morreu aos 91 anos. Filha de Augusto do Espírito Santo Ribeiro, maranhense, e de Maria Laura da Silva, portuguesa; casou com Antônio Brandão, maranhense de Picos, em 1933, e dele ficou viúva, em 1980. As lembranças de minha mãe remontam às cartas trocadas com o então namorado, verdadeiras relíquias que ela guardava “a sete chaves”. Algum tempo antes de morrer ela expressou os sentimentos de então: escrevia essas cartas ao namorado, que a consolava com suas esperançosas respostas. E quando já casada dizia: “tive um aconchegante lar e um belo jardim, que perfumava meu ambiente de paz e de felicidade”; melancólica pela falta do marido recordava, a todo o momento, sempre com ternura e saudade, a falta do companheiro, que a cumulou de desvelos e atenções. Como parte de uma prole de dez filhos, nascidos entre 1934 e 1947, tive a ventura de privar dos seus primeiros carinhos de mãe. Nossa convivência durou 67 anos entremeados com algumas ausências minhas, para estudar e trabalhar fora; assim pude presenciar sua dedicação ao lar, ao marido e aos filhos, aos parentes e amigos, e os poucos e fiéis auxiliares que a ajudavam na condução dos afazeres domésticos. Ela gostava de cuidar da casa e de ouvir as novelas; ia ao cinema, visitava os amigos, ia à Missa, confessava e comungava nas datas festivas da Igreja; tivera boa formação ao estudar no tradicional Colégio Santa Tereza, em São Luís, naquele tempo um templo sagrado das mulheres. Tinha intimidade com as palavras e, se tivesse desejado, poderia ter escrito romances, mas contentou-se em biografar os filhos e netos. Descreveu a ansiedade com que esperou a chegada de cada um; a infância cheia dos seus cuidados; as virtudes e defeitos a conservar e a corrigir, e louvou a amizade plantada entre eles. Minha mãe experimentou os altos e baixos da vida do meu pai, com alegria e resignação, e sempre procurou manter a família coesa. Nossas casas principalmente na rua das Hortas, em São Luís, e rua do Cisco, em Caxias, refletiram bem esses tempos. Ela sofreu muito quando meu pai se foi. Chorou e suportou a partida dele com Fé em Deus e na ressurreição dos mortos. Numa das suas internações em hospital - e já próxima do fim - passamos uma noite juntos. Estava enfraquecida e queria voltar para casa. Sofri muito, porque não pude atendê-la; permanecemos despertos por longo tempo, ela insistindo e eu procurando confortá-la. Agora, decorridos dezesseis anos de sua despedida definitiva, seus filhos Antônio Augusto, Frederico, Rosa, Laura, José, Ângela, João, Cenira e Antônio (Luís, o caçula, foi juntar-se a ela, em 2003), mais netos e bisnetos, genros e noras, continuam sentindo sua falta enquanto expressam carinhos através desta singela homenagem.


A LÃ VERMELHA EDMILSON SANCHES (Homenagem aos 26 anos da Academia Imperatrizense de Letras -- pensando em seu centenário...) Na parte ocidental da África, os pastores utilizavam um interessante sistema para contar suas ovelhas. Cada pastor agrupava seu rebanho e, em fila, os animais iam passando, um a um. A cada ovelha que passava, uma concha era enfiada em uma lã branca. Quando chegava a dez, suspendia-se a contagem, tiravam-se todas as conchas da lã branca e colocava-se uma delas em outra lã, de cor azul. Reiniciava-se a contagem e, a cada grupo de dez conchas na lã branca, correspondia uma nova concha enfiada na lã azul. Quando esta, por sua vez, contasse dez conchas, à maneira do que acontecia na lã branca, também tinha todas as suas conchas retiradas e uma nova lã, agora de cor vermelha, recebia uma concha. Parece claro que a primeira lã, a branca, reunia as conchas das unidades; a azul, a das dezenas; e a vermelha, a das centenas. Se a quantidade total de um rebanho fosse, por exemplo, 532 ovelhas, o pastor deveria ter cinco conchas enfiadas na lã vermelha, três na azul e duas na branca. A lã azul, portanto, era múltiplo de dez da lã branca e a vermelha, múltiplo de dez da azul. Não há registro do que vinha após a lã vermelha -- talvez outra lã vermelha, ou talvez não houvesse, por justiça social, nem um pastor com mais de mil ovelhas... No rebanho das eras, a Academia Imperatrizense de Letras (AIL) completou seus 26 anos neste dia 27 de abril de 2017. A AIL cobre-se de céu e nuvem, ao pôr suas duas primeiras conchas na lã azul e seis conchas na lã branca. Vinte e seis anos até pode não ser muito, mas já é representativo -- dir-se-ia, já foi suficiente para comprovar que Academias, quando com propósitos (bons propósitos), e trabalho (muito trabalho), são sim úteis e necessárias a uma sociedade. Desde o final da década de 1970 ou início dos anos 1980, no século passado (soa estranho isso), que eu tencionava reunir um grupo de humanistas para desenvolver ações relacionadas à cultura de Imperatriz. Neste aspecto, a cidade permanecia sem um referencial mais consistente, institucionalizado, embora sua história de quase 130, à época. Procedente de Caxias, onde a cultura, sobretudo a cultura literária, assenta-se em bancos de praça, mina de rios e riachos, brota de brotos de flores e gorjeia em cantos de sabiás, com a alma impregnada disso tudo, estranhava que, sendo uma terra de também tantas riquezas, Imperatriz ainda não tivesse um símbolo de tradição que representasse uma delas -- sua produção literária. A Academia é esse, embora não único, símbolo cultural. Foi assim que, inicialmente, contatei pessoas e juntei alguns de seus escritos e lancei, em 1979, o "Safra – Jornal de Literatura", de muitas intenções e poucas edições. Depois, na universidade, curso de Letras, o lançamento da "1ª Antologia Literária dos Universitários de Imperatriz". Em ambos os casos, nenhuma dessas ações persistiu o suficiente para encher de conchas a primeira lã. Mas, à medida que a Vida enfiava sua concha de anos na lã do Tempo, diversas outras ações culturais e comunitárias, individuais e coletivas, foram se somando. Hoje, para contar essas tantas ações, a lã da História teria de ter outra cor, que não é nem branca nem azul nem vermelha. No conjunto desses (a)fazeres, a Academia Imperatrizense de Letras é símbolo, é marca, é ação -- e, com 26 anos, firma-se, senão como tradição, ao menos como a mais luzidia referência, o mais orgânico e organizado dos elementos do “sistema” cultural do município e mesmo da região, senão de todo o interior do Estado. Como agregado de literatos e humanistas “em geral”, mas, antes disso, como uma reunião de pessoas cientes e conscientes, a Academia não para na letra, não limita seu verso e aumenta pontos contando mais que contos -- realidade. Assim, a Academia envolve-se em assuntos e desenvolve ações além do


espectro tradicional a que muitas entidades do gênero se circunscreve. Porque, à maneira freiriana, antes de ler os livros é preciso ler o mundo. Antes de falar às pessoas impõe-se falar com elas. Neste 27 de abril de 2017, a Academia veste-se de azul e branco. Sai dos anos de experimentos e vai para duas décadas e mais seis anos de experiência. Afirmando-se como tradição na História, mas pensando a contradição do quotidiano. É assim que a Academia Imperatrizense de Letras deve chegar à lã vermelha, em 2091, centenariamente jovem. Porque velho não é ter nascido há anos -- velho é não renascer agora. Velho não é ser do século passado. Velho... é não ser presente. Chegaremos à terceira lã. EDMILSON SANCHES Cadeira 5 Fundador e ex-presidente da Academia Imperatrizense de Letras Foto: ___

Membros

da

Academia

Imperatrizense

de

Letras,

em

solenidade

em

2011.


DIA DO TRABALHO OU DO TRABALHADOR? AYMORÉ ALVIM APLAC, AMM, ALL. Com manifestações bastante variadas, o dia 1º de maio, dedicado ao Trabalho, é comemorado, na grande maioria dos países do mundo. Resta-nos, divagando um pouco, em face da complexidade dos problemas que ocorrem, no momento atual da produtividade humana, questionarmos se o sujeito, objeto de tantas festividades, é realmente o Trabalho ou o Trabalhador. Sendo o Trabalho o alvo das comemorações, tudo bem. O tributo tem seu destino certo. Afinal de contas o Trabalho, entendido como atividade humana transformadora da natureza em produtos que atendam às necessidades do homem e que dinamizam o progresso das sociedades com vista ao bem estar social, parece fazer jus as manifestações. Mas, se tais homenagens visam o Trabalhador e suas conquistas, coitado! Em comunhão com o pensamento de todos eles tanto do Brasil quanto, possivelmente, de grande parte de outros países, na realidade, no dia 1o de maio, pouco ou quase nada há o que comemorar. Talvez o dia por ser feriado se preste a alguns passeios a reflexões sobre a sua atual situação. O Trabalhador parece não haver acompanhado, na sua saga através das civilizações, o ritmo e o dinamismo assumidos pelo Trabalho que, desde o primeiro momento, foi a grande mola propulsora do desenvolvimento dos povos e das nações. Desde épocas imemoriais, o Trabalho sempre foi considerado a atividade mais importante da produção social. Estruturado no tripé, matéria a ser transformada, instrumentos para operar essas transformações e o Trabalhador, agente inteligente e operacional no sistema, tal organização, nas comunidades primitivas, era bastante harmônica e cooperativa. A lenta, mas progressiva transformação que a partir de então ocorreu, no aperfeiçoamento dos meios de produção, propiciou um aumento cada vez maior dos produtos com a consequente estocagem de excedentes levando, assim, à formação de riquezas, ao crescimento demográfico, ao surgimento de grandes centros e entrepostos comerciais dentre outros benefícios decorrentes. Aparece, aí, substituindo o primitivo sistema de trocas, o Capital que pela força de pressão que passa a exercer, na florescente economia, conduz de forma gradual e inexorável ao surgimento da organização empresarial que passou a reunir, nessa mesma estrutura, os Trabalhadores e os meios de produção. Nessa etapa, do início do processo de evolução do Trabalho, verifica-se uma crescente e gradativa complexidade, nas relações dos elementos do tripé, com início, possivelmente, há 10.000 anos, quando das profundas transformações experimentadas pelas comunidades da época surgiu a agricultura. Como corolário aparece a divisão do trabalho, primeiramente, entre membros de uma mesma família ou tribo. Em um segundo momento, começa a ser incorporada, ao sistema, a força de trabalho de outros elementos estranhos ao ambiente familiar em função da expansão das atividades, no campo, e pelo estímulo propiciado pelos excedentes de produção. Incorpore-se, aí, o início da prática da escravidão. O descompromisso com a recompensa pelo trabalho realizado conduz à auferição de maiores lucros, o que permite maiores investimentos, principalmente, na melhoria técnica dos instrumentos meios de transformação, com maior incremento à produção. Aprofunda-se cada vez mais a divisão do Trabalho. A propriedade do solo e a concentração de riquezas, em mãos de poucas famílias, levam à criação de uma classe social dominante. Esta assumiu o exercício do trabalho intelectual e das atividades políticas, competindo às outras atividades, consideradas como trabalho de pouca expressão social por consumir considerável energia muscular. Eram as classes menos privilegiadas e aos escravos. Tal estrutura de hierarquização social já se torna bem nítida, na idade antiga, entre os povos da Mesopotâmia, do Egito, da Grécia e de Roma. Essas divisões de classes que, paulatinamente, foram marginalizando o Trabalhador, agente substantivo do processo produtivo, da distribuição das riquezas por ele geradas, se tornaram mais acentuadas, ao longo da Idade Média, quando crescentes sentimentos de descontentamento e de


inconformidade de classes exploradas deságuam, nas profundas transformações sociais que pôs fim ao regime feudal, propiciando a emergência da classe burguesa. Todas essas transformações evoluíram para a grande revolução industrial que tem marcado profundamente as relações de trabalho, a partir do final do século XVIII até nossos dias, quando a revolução tecnológica da automação e o processo de globalização da economia, em moda, turvam o horizonte de esperança do Trabalhador. Dentro desse contexto, constata-se que o Trabalho como atividade transformadora é a grande alavanca do progresso dos povos desde os primórdios da civilização até os nossos dias. A hierarquização de classes gerada no seu bojo ao longo da história tem levado o Trabalhador a uma incessante luta não somente para ocupar o espaço social que lhe é reservado, como ainda, para participar de forma equânime na distribuição da riqueza que ajudou a produzir. Esse desejo é a aspiração das classes trabalhadoras que têm, no Trabalho, a expressão maior da dignidade humana, o que é reforçado através do pensamento de João Paulo II expresso, na Encíclica Laborem exercens, 1991, para quem o Trabalho constitui a dimensão fundamental da existência do homem sobre a terra.


HOJE É DIA DE VIANA JOÃO FRANCISCO BATALHA ITERLAND EM FOCO - Matéria publicada no jornal A TARDE, edição do dia 07.022.2017)

Quem foi à posse da Drª. Maria de Fátima Rodrigues Travassos Cordeiro, na presidência da Academia Vianense de Letras, no dia 28 de janeiro findo, assistiu a um show de cultura e civismo. Na tricentenária cidade da Redinha de Algodão, a quarta mais antiga do Maranhão, estive presente, em comitiva da Federação das Academias de Letras do Maranhão, juntamente com os confrades Vavá Melo, de São Bento,e Roque Macatrão, de Brejo. Fizemos a viagem em duas etapas: de São Luís a Arari, pelo Trem da Vale; de Arari a Viana, de automóvel. Os campos por onde passamos estavam lindos, verdejantes e repletos de aves aquáticas. A velha Aldeia de Maracu revestida de beleza com a presença de representações da Federação das Academias de Letras do Maranhão, Academia Maranhense de Letras, Academia Ludovicense de Letras, Academia de Letras Jurídicas, Academia Arariense-Vitoriense de Letras e das academias de Letras de Anajatuba,Barra do Corda, Esperantinópolis, São Bento, Brejo, Itapecurú-Mirim, Pinheiro e Santa Inês;dos diversos seguimentos da sociedade local;desembargadores, juízes, promotores de justiça, jornalistas, profissionais liberais e autoridades constituídas de Viana, Matinha e Perimirim. Representantes da Maçonaria e das igrejas católica e evangélica, e, também, com a presença cativante da deputada federal Luana Alves. O glamour do dia registrou aigreja Catedral lotada, repleta de visitantes,que ali compareceram para homenagear a nova diretoria da AVL. Os arredores da cidade estavam lindos nesta época invernosa, em que os rios e lagos trasbordam sobre os campos,que se revestem de um lindo verde bandeira. O céu azul,manchado de pesadas nuvens de chuva e o horizonte bordado pela beleza da brancura das garças revoantes. Mais distante, não pude contemplar a pujança do Aquiri, mas rezei na Igreja da Conceição e assisti Missa em Ação de Graças pela posse da nova diretoriada Academia Vianense de Letras.Acompanhei os ritos e os cantos da Igreja Católica e maravilhei-me com participação melódica eharmoniosa da linda voz da presidente empossando. No salão de festas, onde houve a transmissão de cargos e comemoração, a tradicional vocação musicaleculturalda terra dos músicos e de Estevam Rafael de Carvalhoforamlembradas, assim como os nomes dos vianenses notáveis que sobressaíram-se no campo do saber e da erudição foram reverenciados, inclusiveo de Dilú Melo. Como é bom uma redinha de algodão... , toda branquinha, feita lá no Maranhão... Parabéns, Viana, cidade dos rios, dos lagos, dos verdes campos, dos peixes e das mulheres brejeiras, que se destacam pela elegância, pela beleza e pelo saber.


Autoridades e representantes das diversas Academias de Letras do Maranhão na posse na nova diretoria da Academia Vianense de Letras.

Vavá Melo, Batalha e Macatrão, em viagem

Deputada Luana Alves prestigiou para Viana, no Trem da Vale.a posse dos acadêmicos vianenses.


IGREJA DO DESTERRO JOÃO FRANCISCO BATALHA ITERLAND EM FOCO - Matéria publicada no jornal A TARDE, edição do dia 03 de maio de 2017

A igreja do Desterro, marco real de São Luís, é o mais antigo apanhado histórico da capital maranhense dedicado à fé cristã. Existe desde os primórdios da colonização maranhense. Sua primeira construção data de 1618. Fora destruída pelos holandeses em 1641 quando estes invadiram São Luís, sob o comando do almirante Jon Lichthardt, a mando de Maurício de Nassau. O comandante Koin Anderson teria saqueado o santuário da Igreja para levar peças sacras em ouro e prata, para a Europa. Outros bens sagrados da Igreja, também de valor, teriam sido roubados e vendidos. Em 1822, quando sua edificação foi desmoronada pela segunda vez, devido à ação do tempo, o negro José de Lê, morador de suas imediações, dedicou-se a reconstruí-la. Falecendo antes de concluir seus sonhos, coube a José Antônio Furtado do Queixo concluí-la em 1863. É a única igreja do Brasil que apresenta traços de estilo bizantino. Correntes orais dão conta que a edificação teria sido Loja Maçônica. Talvez apenas tenha servido de local para encontro entre maçons, ou reconstruído por maçons, Mestres da Arte Real. Em seu interior são encontrados símbolos decifrados como maçônicos, o que não significa que tenha sido uma Loja Maçônica. E não é estranho quando sabemos que antigamente os maçons eram detentores dos segredos da arquitetura. Igreja e maçonaria andaram de mãos dadas por longos anos. A quase totalidade das Igrejas mosteiros era construída por pessoas iniciadas na maçonaria e só um Mestre Maçom podia ser um Mestre de Obras. Foi a instituição maçônica a maior responsável pela expansão das igrejas no Brasil e desta incorporara influências e ritos. Nada estranho encontrar igrejas católicas com símbolos maçônicos. Em sítios arqueológicos ou escavações é normal encontrar-se tijolos com simbologia maçônica. Os símbolos encontrados no interior da Igreja do Desterro podem, também, serem símbolos antigos. O simbolismo se cruza nas diversas instituições seculares. Não só a Maçonaria, mas também, outras organizações ditas secretas nasceram na Igreja. O esquadro e o compasso usados nas Lojas Maçônicas também já foram utilizados na igreja católica como referencia a Deus e são vistos com frequência em prédios públicos e bandeiras de estados e nações. Símbolos estes, existentes no interior da Igreja do Desterro que fica no largo e bairro do mesmo nome, em São Luís. Os símbolos maçônicos estão cravados em posição superior ao altar-mor desta Igreja. O assunto merece melhor e aprofundado estudo nos contextos social, político, religioso e filosófico,


SACO DE GATO SANATIEL PEREIRA Membro da ALL, ACLAC e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA. Outro dia a minha rotina de comer,de vez em quando, em restaurante foi quebrada por um casal de jovens que se sentou perto da minha mesa ao cair da tarde. Aparentando ter idade média de pouco mais de vinte anos, bonitos fisicamente e bem vestidos, instalaram-se em uma mesa ao lado da cortina de vidro que cobre o edifício, a alguns metros do jovem, de traços angelicais, que cantava o melhor da MPB acompanhado de um afinadíssimo acordeom. Antes que algum garçom aparecesse, o jovem casal tirou do bolso e da bolsa um celular para ver as últimas notícias da rede, pensei comigo mesmo. Mas quanto estava enganado... Depois de tomar duas taças de suco de maracujá, para aliviar a ansiedade, não percebi nenhum afago ou olhar de ternura entre aquele jovem casal. Divorciado da realidade, parecia que cada um estava em um mundo virtual particular. Nem a musicalidade daquilo que reverberava no ambiente, nem a beleza da jovem que o acompanhava tiravam o rapaz da atenção do celular. Que perda de tempo, pensei novamente comigo mesmo. Embora possamos achar comum esse comportamento, asseguro que por onde andei, fora do Brasil, nunca vi esse assédio ao aparelho celular, apesar de ter certeza de que a maior parte das pessoas que cruzaram comigo o possuía. Vou mais longe: envolvido pelas novidades que encontrava em cada cidade visitada, esquecia-me completamente deste aparelho. Mas por quê?! Os jovens, particularmente, nessas cidades têm diversas fontes de diversão que não encontramos em São Luís. Em quase todas existe uma praça de reunião onde a população se reúne com segurança para fazer o seu happy hour, onde se reencontram e reafirmam amizades, depois de um longo dia de trabalho. Existem dezenas de museus, galerias, cafés, bares, restaurantes e lojas de departamentos pelo centro dessas cidades. Em outras, para aqueles que gostam de rezar, existem também dezenas de igrejas católicas e de outras religiões. Os teatros possuem programação diária para todo gosto e para todas as estações. Faça neve ou sol, sempre há atividades que atendem a todo um público nativo ou de turistas que por ali passam. Sãoeventos que sempre agregam valor, seja uma peça de teatro como o Fantasma da Ópera ou um concerto de música clássica, no qual ouvimos Beethoven ou Bach. Para quem tem sangue quente, pode encontrar no flamenco espanhol a sua alma. Eles vivem no tempo real. Percebi que o garçom, de forma gentil e educada, despertou o casal de jovens do sonho do outro lado da vida virtual, oferecendo-lhes o rico cardápio do restaurante de rede internacional. Infelizmente, não vi nenhum sinal de satisfação na face daqueles jovens ao serem trazidos para a vida. Eles ainda estavam processando as informações que receberam e mal agradeceram pela gentileza do velho garçom. Eles, os jovens, muito tempo depois, foram embora sem perceber que havia naquele local alguém que cantava com voz de anjo, músicas que alimentam a alma e que gosto havia na comida que meteram na boca para se alimentar. Não vi um afago, um beijo ou um aperto de mão. Não vi cochichos ou algo semelhante. Que pena!


PRISIONEIROS DA MENTIRA SANATIEL PEREIRA Membro da ALL, ACLAC e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA.

A mentira é um negócio fascinante. Quanto mais rebuscada, cheia de paetês, que possa confundir, com o seu ilusório brilho, a visão daquele que olha, mais impacto consegue obter. Daí surgirem algumas máximas: “me engana que eu gosto”, de trânsito popular; “a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”, de Mario Quintana; “a mentira nada mais é que um outro caminho para levar à verdade”, de Camus.Para o mentiroso a mentira, até que se prove o contrário, é a sua verdade. Mas, vamos lá, mentir é uma arte! Tive a oportunidade – até uma honra – de conhecer alguns mentirosos que pintavam a sua mentira a nível de art nouveau. O estilo decorado de expor as suas ideias fazia com que o enganado entrasse no imaginário do mentiroso e se perdesse na sua história. O grande mentiroso sabe que, para convencer a plateia, tem que desenvolver ideias novas, surpreendentes e cheias de vitalidade – às vezes sobrenaturais–, senão a mentira não dura mais do que alguns minutos. Ele sabe que tem de encontrar no imaginário da plateia aquilo que ela deseja e não consegue expressar. Os fatos mais tangíveis podem estar entre os medos e as satisfações reprimidas. Voar com as asas de Ícaro ou sobre o lombo de uma vassoura é um sonho ainda impossível de realizar até que alguém o convença de que você pode fazer isso. As ideologias sabem muito bem dessas coisas e exploram de forma magistral uma pequena ou grande plateia, de acordo com seus interesses no tempo. As civilizações que se sucedem na face deste planeta sempre souberam explorar este rico filão do imaginário humano em cima de grandes e duradouras mentiras. Se colocarmos uma lente de aumento sobre os fatos que se manifestam no nosso meio, veremos que nada é aquilo que parece. Como somos muitos a serem enganados, os mentirosos cresceram de forma assustadora, o que não é nenhuma surpresa. Embora tenhamos os nossos temores quanto às consequências de algumas mentiras divulgadas, a literatura precisa cultivar parte desse dom do mentiroso. Alguns autores famosos, principalmente os ligados à literatura fantástica ou extraordinária, expressam em suas obras coisas que ainda não existem, justificando que os fatos são ainda insuficientes para expressar a vida.Dessa forma, lançam-se na escrita de um mundo imaginário que surpreende leitores da qualquer parte da Terra. Mas, voltando ao nato mentiroso, este tem a seu favor a capacidade de se enganar, acreditando piamente na sua própria mentira. Ele se reveste do personagem que quiser para contagiar e convencer o ouvinte que lhe serve de plateia. Ele chora, ri, pula, grita e diz o que pensa que é, e até o que não é. Nesses momentos ele pode ser o todo-poderoso, travestido de rei, imperador ou presidente – enviado ao mundo para essa missão –, ou o mais humilde servo da humanidade, que veio pregar aos irmãos a palavra da salvação. A fantasia vendida pelo mentiroso pode ser até encantadora. Imagine que outro dia vi um cantor de rua, bem apessoado, cantando Piaf com toda desenvoltura e fascínio. Depois de apurar os ouvidos, percebi que o charlatão não dizia uma palavra sequer em francês, provocando, quem sabe, o espírito da diva da canção francesa, a se remexer em seu túmulo no cemitério de Père-Lachaise, em Paris. Salve-nos São Pantaleão.


PERDAS & DANOS SANATIEL PEREIRA Membro da ALL, ACLAC e da SOBRAMES, escritor, engenheiro, pesquisador e professor da UFMA.

No ano que passou, tivemos algumas perdas irreversíveis, como o irmão que parte para o outro lado, a confiança nos poderes constituídos e nos homens do nosso tempo, e amores desfeitos por razões que o coração desconhece. A alma, este ser velado da parte do homem animal, pula em seu invólucro de carne querendo também ir embora. O ano de 2016 veio para magoar ou nos ensinar que a vida é transitória e que temos de acompanhar as mudanças com naturalidade? Quando isso mexe na nossa vida em sua totalidade, difícil se faz responder a essa questão. Para nós maranhenses, esse ano teve o efeito de uma grande onda, iniciada no final do ano anterior, proveniente de um imenso terremoto que nos deixou sem a presença de alguns dos nossos mestres, poetas e pensadores. Primeiro foi Nauro Machado em um acontecimento que ninguém estava preparado para ver. Eu imaginei que, de fato, ele fosse imortal e que andaria eternamente, sem envelhecer,por ruas e becos da cidade que mais amava: São Luís. Transitopelas ruas do Centro e parecem que estas também morreram pela ida dos olhos da fantasia que asadornavam com poesias e palavras no substrato de papel. Talvez quando tiver olhos de poeta, possa vê-lo passar ao meu lado, com seu chapéu de palha, fingindo se proteger do sol, que lhe deu energia todos estes anos, para criar as imagens oníricas que constituírama maior parte da sua memória poética. Antes que nos recuperássemos da dor da perda de Nauro, tomba ao nosso lado o grande Jomar Moraes, que, como ninguém do seu tempo, nos deixou uma herança literária vasta e invejável. Homem determinado, soube perscrutar na sombra e no vento aquilo que precisava ser visto e revisto na literatura do Maranhão. Buscou de todas as formas resgatar, como dívida moral, aqueles homens esquecidos em suas tumbas que construíram a memória literária desta terra de Gonçalves Dias. Como prova inconteste de desprendimento, deixou para a Universidade Federal do Maranhão, como doação, a sua riquíssima biblioteca com mais de trinta e cinco mil obras, a serem catalogadas, algumas em outros idiomas. Para homenageá-lo, devemos construir, ao modelo de Josué Montelo, a Casa de Jomar Moraes, onde a sua biblioteca ficaria depositada para pesquisa e visitação. Estes personagens devem ser honrados com espaços únicos, demonstrando a sua importância para a sociedade que lhesrecebeu os serviços, assim como assegurar o próprio valor do homem maranhense no mundo contemporâneo. Para fechar esse ciclo de despedidas, como em um campo de batalha, tomba também Ferreira Gullar, deixando-nos definitivamente órfãs dos poetas maranhenses que formaram a geração de maior representatividade, nestes tempos, no Brasil e no mundo. Com Gullar - um homem ímpar - vai o poeta que soube aproveitar todas as oportunidades para mudar e crescer no pensamento literário e no político. Lamentavelmente o Maranhão ficou mais pobre nas letras e em representação. Parte relevante do seu corpo espiritual foi embora. Como otimista nato, espero que este luto dure pouco e que novos representantes venham a se revelar para honrar aqueles que se foram, estabelecendo novas luzes no horizonte da cultura maranhense. Que assim seja!


O TOQUE

AYMORÉ ALVIM AMM. APLAC, ALL.

Tibúrcio era um pequeno agricultor que morava, nas proximidades do Outeiro de São Carlos, do outro lado do Pericumã. Em certo dia, apareceu na Farmácia da Paz para falar com meu pai. - Bom dia , seu Alvim, desejo ter um particular com o senhor. - Bom dia, Tibúrcio. Entra pra cá. O levou para o seu escritório que ficava na parte interna da Farmácia. - Seu Alvim, ultimamente, ando urinando com muita dificuldade. Quando não é fininho, é em gotas e arde muito. Já bebi muito chá de “quebra-pedra” e até “garrafada” e nada de melhorar. A coisa fica ainda pior depois das funções com a patroa. - Tibúrcio, tu já tiveste doença do mundo? - Pra lhe ser sincero, não. Eu vivo, há muito tempo, com a patroa e tenho uma caboclinha que toma conta de uma venda que tenho perto do Rio da Prata. - Então, Tibúrcio, isso deve ser inchação na goiaba. - Só pode ser mesmo, seu Zé, porque eu sinto o “apertume” lá na raiz do pau. - Mas é, Tibúrcio, para essa doença não tem jeito aqui em Pinheiro. Tu vais para a Capital e lá procuras o Dr. Guilherme Macieira, no Hospital Geral, que trata dessas coisas de uretra. Tibúrcio, então, partiu para a capital. Hospedou-se numa pensão à Rua Jacinto Maia e, no outro dia, foi ao Hospital Geral. Marcou uma consulta com o Dr. Guilherme e esperou. Daí a pouco, foi chamado e relatou o seu caso ao médico. Após as perguntas de praxe, Dr. Guilherme chamou o auxiliar de enfermagem que trabalhava com ele quando o paciente era homem. - Climério, prepara o Tibúrcio lá dentro que eu vou já. - O senhor vai abaixando as calças e fique de boi em cima desta mesa. - O que, sô? Eu não sou homem dessas liberdades, moço. O senhor me respeite que eu sou um homem velho e tenho idade pra ser seu pai. - Seu Tibúrcio, se acalme. Não é pra mim e pro Doutor. - Seja pra quem for, rapaz. Eu nunca fui dado a essas liberdades na minha vida. Atraído pela confusão armada por Tibúrcio, entrou na sala Dr. Guilherme. - Mas, Tibúrcio, você ainda não está no ponto? - Não faça isso comigo, seu doutor! Eu sou um homem de bem, nunca ninguém passou a mão ou usou meus “quartos”. Dr. Guilherme sempre muito brincalhão: Cuida logo, Tibúrcio, todos dizem isso. Não prestou. Tibúrcio se espalhou na sala que deu luta para acalmá-lo. Por fim, Dr. Guilherme conseguiu convencê-lo a fazer o exame. - É, Tibúrcio, vamos ter que te operar. - Dr., eu só vou a Pinheiro buscar um dinheirinho porque vim meio desprevenido. Acertado tudo, seu Tibúrcio partiu. Ao chegar a Pinheiro foi aonde meu pai.


- Como é, Tibúrcio, correu tudo bem? - Seu Alvim, eu só não gostei do sujeito bulir nos meus “quartos”. Aquilo não se faz com homem sério. - Deixa de ser besta, Tibúrcio. Aquele exame que o doutor fez é o TOQUE. Serve para verificar as condições e o tamanho da goiaba. - Mas ele falou num outro nome bem encrencado, diferente desse que a gente conhece aqui. - É próstata, Tibúrcio. Quando tu voltas para operar? - Eu vou primeiro arrumar um dinheiro pras despesas. Mas dessa vez eu levo a patroa. Se só pra esse exame foi esse vexame todo, imagina essa tal de operação? -Tibúrcio, isso é coisa séria, por isso é bom não demorar, senão tua uretra fecha e aí vai ser pior. - Tá certo, seu Alvim. Até breve. - Até. Mas seu Tibúrcio não voltou e com menos de um ano faleceu. Pelo que a mulher contou ao meu pai, tudo indica que foi câncer de próstata. E aí, amigo, você já foi lá aonde o homem? Cuidado


CORRENTES QUE LIBERTAM FELIPE CAMARÃO Secretário de Estado da Educação; Membro da Academia Ludovicense de Letras Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão MURILO ANDRADE DE OLIVEIRA Secretário de Estado de Administração Penitenciária

Em todas as áreas de nosso Estado, os maranhenses estão vivenciando uma política voltada para o desenvolvimento, a justiça e a igualdade social, princípios norteadores neste processo de reconstrução de um Maranhão que seja consonante com suas riquezas. Os esforços estão centrados em todas as áreas, com ações conjuntas, que garantirão um Estado digno para nosso povo. No âmbito da educação, garantir melhorias estruturais nas escolas públicas, transformando-as em um ambiente aconchegante, minimamente adequado ao processo de ensino e aprendizagem, e também em um espaço digno para a formação e justiça social, já é realidade em centenas de escolas, com o Programa Escola Digna, que dia após dia vem transformando a realidade da educação no Maranhão. Além de todo o trabalho de reconstrução de escolas, em desenvolvimento pelas Secretarias de Estado de Educação e de Infraestrutura (Sinfra), iniciamos outra importante ação na área, seguindo outra vertente. O Projeto Mutirão da Liberdade, realizado em parceria com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), que prevê a utilização de mão de obra carcerária, onde presos em processo de ressocialização trabalham na reforma de escolas públicas e recuperação de carteiras. O Mutirão da Liberdade teve início no mês de março, na Unidade Integrada João Paulo II, no bairro Turu, na capital maranhense. O projeto reafirma uma importante marca da gestão estadual, que é aproveitar, como estratégia, o melhor de cada peça do Governo, como um caminho certeiro para avanços históricos. Em 2014, o então “Complexo de Pedrinhas” era o mais violento do país. Hoje, sem registro de rebeliões com mortes há mais de dois anos, o agora Complexo Penitenciário São Luís é o último no ranking. Um lugar em que presos, em vez de planejar motins, trabalham e estudam. No prédio da escola em reforma, os serviços são só uma das inúmeras opções que o detento tem de remir um dia de sua pena, para cada três dias trabalhados. Atualmente, existem mais de 90 oficinas de trabalho em funcionamento nos estabelecimentos penais do estado, nas quais mais de 2.300 internos exercem alguma atividade profissional; e mais de mil detentos estão devidamente matriculados em salas de aula. É uma corrida de bons resultados, uma corrente do bem que, em vez de aprisionar, liberta. São inúmeras as parcerias idealizadas, com o propósito de unir grandes ações, a favor da população. Recentemente, o governador Flávio Dino pensou simples, porém, brilhantemente, ao decidir que grande parte da produção de hortaliças, cultivadas no Sistema Penitenciário do Maranhão, passaria a ser destinada a comunidades carentes de todo o estado. Uma delas foi estabelecida entre a Seap e a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (SAF). Outra grande oportunidade de unir os esforços da gestão, encontrada pela equipe de Governo, foi por meio do projeto “Rua Digna”, com a Sinfra. As fábricas de blocos de concreto e meio-fio, em funcionamento, hoje, nas unidades prisionais, já iniciaram a produção de mais de 120 mil peças prémoldadas, que serão destinadas, mensalmente, aos serviços de pavimentação de vias que dão acesso a bairros mais pobres. São ações que além de garantir aos presos um direito previsto em Lei, beneficia toda a sociedade, que enxerga na iniciativa uma medida justa de ressocialização daqueles que querem pagar por seus erros e voltar à vida em liberdade, por meio da recuperação do bem público e da assistência aos mais necessitados. Quando pensamos na essência desse trabalho, percebemos que a união de esforços e a aplicação de boas estratégias de gestão pública, realmente, é o que define os bons resultados dessas parcerias. Ao unir


essas ações à ressocialização de apenados, definitivamente, o governador Flávio Dino demonstra, mais uma vez, a sua imensa capacidade de enxergar e administrar aquilo que de melhor tem em cada área de seu Governo e pô-las em prática, em um único contexto, que é o benefício da população. “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”. (Paulo Freire)


PASSEANDO PELAS CASAS DE CULTURA DO MARANHÃO: UM ENCONTRO COM NOSSA HISTÓRIA E RAÍZES FELIPE CAMARÃO Secretário de Estado da Educação; Membro da Academia Ludovicense de Letras Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão DIEGO GALDINO Secretário de Estado da Cultura e Turismo

Se passear pelas ruas do Centro Histórico de São Luís, pelas ladeiras e casarões de Alcântara ou em qualquer outro espaço histórico desse rico Maranhão, é como voltar no tempo, visitar as casas de cultura maranhenses é quase um processo de imersão na riqueza e peculiaridade de nossas tradições. Em 2015, quando assumimos a Secretaria de Estado da Cultura, como secretário e adjunto, uma das primeiras missões a que nos propusemos foi a conhecer todas as 33 casas de cultura sob responsabilidade deste que consideramos um dos principais órgãos responsáveis pela divulgação e fomento da produção cultural e artística de nosso Estado. Logo em seguida, a Secretaria lançou a plataforma online Circuito de Visita Cultural, onde o cidadão pode agendar ou montar circuitos levando em consideração a proximidade dos espaços, em 18 casas de culturas, presentes em São Luís e em Alcântara. Lugares fantásticos, que preservam a magia de nossa arte, história e cultura, e que proporcionam total imersão em nossas raízes. Em ação mais recente, O Governo do Maranhão, em parceria com o Governo Federal, está realizando obras de reparo e manutenção em muitos desses valorosos endereços, atuando na preservação da nossa memória e oferecendo mais conforto aos turistas e maranhenses que embarcam nessa viagem. Já reinauguramos a Casa de Cultura Josué Montello, o Convento das Mercês, a Escola de Música do Maranhão e o Centro de Artes Cênicas do Estado. Estão atualmente em obras os Teatro Alcione Nazaré, Arthur Azevedo e João do Vale, o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho e o Museu de Artes Visuais. Outras intervenções estão previstas, de forma que cada uma das 33 casas de cultura pertencentes ao estado atualmente passem por melhorias estruturais. Passando pelo circuito Rua do Sol, é possível apreciar em um imponente casarão o fabuloso Museu Histórico e Artístico do Maranhão, que possui um acervo composto por coleções de numismática, mobiliário, porcelana, cristais, pinturas, esculturas, azulejaria, documentos, fotografias e gravuras. Uma verdadeira exposição de longa duração que reconstitui uma “casa de época” na passagem do século 19 ao 20, ambientada de acordo com descrições dos costumes encontrados em nossa literatura. Um pouco mais à frente, descendo a Rua do Sol no sentido Praça João Lisboa encontramos o segundo teatro mais antigo do Brasil, o espetacular Teatro Arthur Azevedo, homenagem ao escritor maranhense e importante dramaturgo brasileiro. Construído por comerciantes portugueses no início do século 19 com estilo neoclássico e detalhes do barroco, o teatro possui plateia, salão nobre, camarotes, galerias, varandas, entre inúmeros outros espaços. Caminhando em direção à beira mar, encontramos na Rua Portugal o Museu Casa de Nhozinho, uma homenagem ao artista popular mestre na talha de buriti, Antônio Bruno Pinto Nogueira, o Nhozinho. O museu funciona em um casarão de quatro andares e reúne um conjunto primoroso de elementos do cotidiano regional, como peças indígenas, utensílios de pesca, carros de bois, teares de rede, vasos de cerâmica, toalhas de buriti, entre muitas outras peças. Um pouco mais à frente, ainda no primoroso Centro Histórico de São Luís, temos a Casa do Maranhão, um amplo casarão neoclássico do século 19, localizado às margens do Rio Anil, que oferece exposições permanentes sobre folclore, lendas, histórias e tradições. Um espaço de manifestação da cultura maranhense nas suas mais variadas formas.


Chegando à Rua Nazareth, encontramos o Arquivo Púbico do Estado do Maranhão, instalado em um casarão do século 19, também no Centro Histórico. O local é o espaço voltado para a preservação e divulgação do acervo documental histórico dos órgãos da administração do estado, sendo, também, espaço de acesso às informações para pesquisas históricas, culturais ou científicas de nosso Estado. Saindo do Arquivo e quebrando à direita na Rua 28 de julho, chegamos ao Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão, que abrange as atividades de pesquisa, divulgação e fomento científico nas áreas de paleontologia, arqueologia e etnologia, com exposições temáticas e ações voltadas para a educação patrimonial e valorização da memória da sociedade maranhense. Seguindo em direção à Praça Dom Pedro II, ao lado da belíssima Catedral de Nossa Senhora da Vitória, a conhecida Igreja da Sé, está o Museu de Arte Sacra. Seu acervo, que recentemente passou por grande intervenção de conservação e restauração, é composto por uma importante coleção com peças de imaginárias, ourivesaria e paramentos dos séculos 17, 18 e 19 nos estilos maneirista, barroco, rococó e neoclássico. Logo mais à frente, encontramos a sede do Governo do Estado do Maranhão, o imponente Palácio dos Leões, que em espaço aberto à visitação pública tem exposição de obras do séc. 17 ao 20, entre elas, mobiliário, telas, porcelanas, esculturas, pratarias e gravuras. Saindo do Palácio dos Leões e entrando na Rua da Estrela, passando pela Feira da Praia Grande, Casa das Tulhas, chegamos ao Teatro João do Vale, antigo galpão comercial da Praia Grande, conhecido inicialmente como Teatro Canarinho. Após reforma, hoje abriga as atividades de laboratório do curso de formação de atores do Centro de Artes Cênicas do Maranhão, o Cacem. Palco para os mais variados espetáculos artísticos, o Teatro homenageia em seu nome o grande músico, cantor e compositor maranhense. Saindo do Teatro e dobrando à esquerda na Rua João Vital, subindo em direção à Rua 28 de Julho, avistamos o Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, com a permanente exposição Casa da FÉsta, com temáticas relacionadas a cultos afro brasileiro e afro maranhense, festa do divino, bumba meu boi, tambor de crioula entre outros ritos e folguedos. Possui ainda a Galeria Zelinda Lima para exposições temporárias, uma biblioteca especializada em Cultura Popular, o Bazar do Giz, destinado à divulgação e comercialização da produção artística maranhense. Voltando pelo mesmo caminho até chegar novamente à Rua da Estrela, seguimos em direção à Rua da Feira da Praia Grande, onde encontramos o Centro de Criatividade Odylo Costa Filho, um espaço de arte e cultura que há mais de três décadas promove o envolvimento da comunidade com espetáculos e difusão das técnicas do fazer artístico. O Centro dispõe de diversos espaços de cultura e oferece cursos variados nas áreas das artes visuais e artes cênicas. Seguindo para o circuito Desterro, como sugere a plataforma Circuito Cultural, chegamos ao Convento das Mercês, antigo Convento da Ordem dos Mercedários, construído em 1654. Hoje o local abriga a Fundação da Memória Republicana Brasileira, um importante centro cultural que possui um museu, biblioteca, pinacoteca, sala de restauração e amplo acervo documental. Saindo do Convento e continuando na Rua da Palma, um pouco mais à frente encontramos a Igreja do Desterro, considerada uma das mais antigas igrejas da cidade de São Luís, construída no início do século 17. Destruída pelos holandeses em 1641, foi reedificada. Como a maioria das igrejas antigas da cidade foi reconstruída várias vezes. Caminhando em direção ao bairro Madre Deus, na Rua São Pantaleão podemos visitar o Centro de Produção Artesanal do Maranhão, o famoso Ceprama, palco de inúmeras festas, como o carnaval e o tradicional São João. O espaço funciona onde antes era a Companhia de Fiação e Tecelagem de Cânhamo, e atualmente abriga diversos estandes que comercializam produtos típicos de nosso estado. A principal praça da capital maranhense, a Praça Deodoro, abriga a segunda biblioteca mais antiga do País, a Biblioteca Pública Benedito Leite, criada em 1831. Com um acervo de mais de 120.000 exemplares, formado principalmente por obras raras e a mais completa coleção de jornais maranhenses. Uma joia nossa. Seguindo em frente, chegamos à Rua das Hortas e encontramos a Casa de Cultura Josué Montello, que tem acervo bibliográfico, arquivístico e museológico formado em quase sua totalidade por doação do escritor maranhense que dá nome a casa. O espaço destina-se à promoção de estudos, pesquisas e trabalhos nas áreas da literatura, artes, ciências sociais, história, geografia, que contribuem com a preservação da memória e produção artístico-cultural do Estado.


Atravessando a Baía de São Marcos, chegamos ao município de Alcântara, cidade colonial que parece congelada no tempo. Com um belíssimo conjunto arquitetônico, entre construções coloniais e muitas ruinas, a cidade é território do centro de lançamento da Força Aérea Brasileira. Palco da tradicional Festa do Divino, uma das mais conhecidas no Estado, em Alcântara encontramos a Casa do Divino, que anualmente recebe o festejo e mantém exposições do Divino. Seguindo a Rua das Mercês, chegamos à Praça da Matriz que abriga entre diversos casarões históricos, um sobrado colonial onde funciona o Museu Casa Histórica de Alcântara, cujo acervo formado por mobiliário, vidraria de farmácia, alfaias e peças de vestuário, retratam um período de opulência, quando a cidade transformou-se em importante centro produtor de arroz e algodão. Essas são somente algumas das fabulosas casas de cultura que guardam nossa rica e maravilhosa história. Estão todos convidados a esse passeio e imersão em nossas raízes.


VERGONHA E RENÚNCIA (ONDE ESTÁ A VERDADEIRA PROSTITUIÇÃO?) EDMILSON SANCHES Há exatamente 50 anos, no dia 9 de maio de 1967, um prefeito imperatrizense renunciava ao cargo. Eurípedes Bernardino Bezerra, o Euripão, coronel da Polícia Militar, que assumira em 04 de fevereiro, entregou o cargo, depois de ter tentado mudar a Farra Velha (zona de meretrício) da rua Sousa Lima, no centro de Imperatriz, para o lugar chamado Cacau, nas proximidades do Departamento Nacional de Estradas e Rodagens - DNER). Ao saberem disso, os vereadores foram contra. E deu no que deu. No lugar de Euripão, tomou posse no cargo de prefeito o vice, Raimundo Sousa e Silva, que governou até 31 de janeiro de 1970. A história poderia terminar aí, mas um depoimento do próprio Euripão, em 2001, ao professor e pesquisador Leopoldo Gil Dulcio Vaz, revela que a prostituição verdadeira e vergonhosa não era aquela das mulheres de difícil vida da tradicional "escolinha" da Farra Velha. A prostituição -- dessa de caras cínicas, caras lavadas e almas sujas -- estava no Poder Legislativo. Vereadores souberam que foram destinados 42 milhões de cruzeiros novos para Imperatriz (o cruzeiro novo era a moeda que acabara de ser instituída no Brasil, em 13 de fevereiro de 1967). Aqueles milhões, claro, eram para o prefeito fazer as melhorias necessárias na Imperatriz daqueles tempos. Conta o prefeito Eurípedes Bernardino Bezerra em entrevista ao professor Leopoldo Gil: "[...] eles [os vereadores] vieram em cima de mim, tipo urubu atrás da carniça. Aí eu disse: ' -- Esse dinheiro não é nosso, não pode ser.' [...]" Contabiliza e conta Euripão que, "no total", dos 42 milhões, os vereadores "queriam 24 milhões para eles". E qual foi a reação do prefeito: "Eu fiquei tão enojado com aquilo... Vocês sabem de uma coisa?" "Cansado" -- continua Euripão --, "peguei a máquina de escrever"... e eis um pouco do que o prefeito escreveu em sua carta de renúncia: "Senhores vereadores, minha presença aqui [em Imperatriz; Euripão tinha vindo de São Luís] representou um cachorro fiel, encarregado de uma carniça gorda. Os urubus famintos não permitiram que eu zelasse até o fim [...]" E, após mencionar os "instintos podres e imundos" dos vereadores", "cumprimento do dever" etc., assinou a carta e, encerra ele: " -- Adeus!...Vim embora." Será se hoje ainda existe "prostituição", "urubus atrás de carniça" e outros "instintos podres e imundos" nas excelsas casas legislativas local, municipais, estaduais e federais, no Brasil? Será? Um resumo da biografia do ex-prefeito Euripão, que consta da "Enciclopédia de Imperatriz", que escrevi, lançada em março de 2003: EURÍPEDES BERNARDINO BEZERRA. Coronel da Polícia Militar do Maranhão e político. Prefeito de Imperatriz, renunciou pouco tempo depois da posse. Governou no período de 4 de fevereiro a 9 de maio de 1967. Nasceu em 17 de dezembro de 1915, no povoado Curador, antigo distrito de Barra do Corda (MA) e hoje Presidente Dutra (MA). Sucedeu ao interventor federal “Doutorzinho”*. Chegou a Imperatriz como delegado de polícia, em 9 de julho de 1962, nomeado pelo governador Newton Belo. Candidatou-se a prefeito de Imperatriz, em 1966, a convite de José Sarney, governador do Maranhão, e Henrique de La Rocque. O concorrente era Manoel Ribeiro*, que venceu a eleição mas morreu antes de assumir. Eurípedes recebeu 1.254 votos e perdeu o pleito para Manoel Ribeiro por uma diferença de 12 votos. Recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e, depois, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A dois dias do julgamento, Manoel Ribeiro morreu e o TRE decidiu diplomar Eurípedes, o segundo colocado, em 4 de


fevereiro de 1967, quando tomou posse. Na sua administração, deu início à abertura do bairro Nova Imperatriz e construiu o primeiro meio-fio da avenida Getúlio Vargas, até o Entroncamento. Retornou a São Luís e assumiu, no governo José Sarney, o cargo de assistente militar de fronteiras. Foi nomeado auditor fiscal do Estado em 14 de dezembro de 1969. Passou a coronel da reserva não-remunerada.

Foto: Uma rara foto de Eurípedes Bernardino Bezerra.


A SAGA DOS SÃO-BENTUENSES JOÃO FRANCISCO BATALHA Tenho acompanhado, com minha presença a alguns eventos da Academia São-bentuense de Letras. E fico soberbo quando recebo os convites para tais ocasiões. A última delas foi a posse da escritora Míriam Leocádia Pinheiro Angelim para a cadeira número 25 da Academia Ludovicense de Letras, patroneada por Laura Rosa, ocorrida na noite de 5 de maio na Academia Maranhense de Letras. Dois belos discursos: O do saudante, acadêmico Sanatiel Pereira, e o da empossando. A vocação de São Bento pela cultura é antiga. Ainda no século XIX, havia, na então vila, aula pública de Latim, Colégio de Humanidades, Teatro e Recreio Dramático. Os jornais “São Bento” e “Luz” datam do século XVII. Posteriormente surgiram“Laço” e “Aura” e também o “ Imparcial”, já no século XX. Oportuno, também, neste momento, enaltecer, as belezas, riquezas e os costumes da terra de Dom Felipe Conduru, Dom Luís de Brito, Luso Torres, Domingos Barbosa, Raimundo Araújo, Humberto Reis, Newton Bello, José Sarney, Joaquim Itapary, Urbano e Jerônimo Pinheiro, Sebastião Jorge e Vavá Melo, o menestrel da Baixada, entre outras personalidades que ilustram as páginas da história maranhense. Solo de verdejantes campos piscosos e uma rica e variada flora lacustre de vegetação movediça, igarapés, lagos, babaçuais, pesca artesanal por meios primitivos, pastagens nativas, próprias para criação de gado em regime extensivo e de transumância. Caçadas de marrecas em noites enluaradas e de jaçanãs entre moitas de guarimãs. A salubridade e as boas condições de vida em São Bento lhes renderam o título de “Suíça Maranhense”. E os “queijos de São Bento”, as “redes de linha de lustro” e a relação de pessoas cultas e ilustres filhos da terra lhes consagraram grande notabilidade. Parabéns, São Bento, terra do saber e dos campos floridos, pela sagacidade dos seus filhos aguerridos, oito dos quais,se imortalizaram na Academia Maranhense de Letras. Parabéns, Academia Sãobentuense, pela grandeza do seu trabalho e pela pujança dos seus acadêmicos, oito dos quais, integrantes da Academia Ludovicense de Letras.

M í r i anm I R I RI

Míriam Angelim com os confrades da ALL presentes à sua posse.


HOJE É DIA DE

Antigo circuito de diversão e prazer JOÃO FRANCISCO BATALHA Quando vim a São Luís pela primeira vez, em 1961,o ponto de chegada foi a Praia Grande, onde adentrei no universo dos casarõesde arquitetura colonial deslumbrante revestidos de azulejos e porcelanas vindos de Portugal. Minha primeira hospedagem foi na Rua da Palma, artéria pública onde funcionava o maior itinerário de prazer e diversão da capital, desde a 14 de Julho,até a Jacinto Maia. Era o polígono da diversão noturna da metrópole maranhense. O reino encantado da boemia de São Luís. A cidade atravessava um período de grande efervescência política e cultural e o destaque da moda feminina era a minissaia, somente na década seguinte surgiu “a queima dos sutiãs”. O circuito de diversão e dos prazeres carnaisse concentrava na Zona do Baixo Meretrício, a famosa ZBM, na circunferência das ruas 28 de Julho, Estrela, Saúde, Henriques Leal e Palma. Nesta última ficavam as mais famosas pensões. Atrativas e seletas, com seus casarões seculares e suas casas noturnas pomposas, frequentadas por gente da alta sociedade:políticos, desembargadores, professores, artistas, poetas, cronistas, jornalistas, escritores, empresários, oficiais militares, e outros conhecidos reis da vadiagem. Era onde se cobrava os cachês mais altospelas poucas horas de lazer. Pensões luxuosas e requintadas, iluminadas porneons e meia-luz, que emprestavam beleza às boates, entre as quais, a Class, Elite, Bela Vista, Novacap, Oásis, City, Bangalô, Cristal e Monte Carlo. Esfera repleta de bares e restaurantes. Era na ZBM que os boêmios marcavam seus encontros e aventuras. Incitados porWhiskie excitadospelos crepúsculos dos desejos sedutores e de alucinantes e irrefletidas paixões,ao som dos velhos tangos, boleros e canções românticas de origens brasileira, cubana caribenha e outras variedades hispanoamericanas que se faziam ouvir através das potentes radiolas, com agulhas de diamante, que deslizavam sobre os discos de vinil (os famosos Long Plays).Prostíbulos, cuja finalidade era aproximar os corpos de sexos opostos em ambiente de músicas, bebidas e nostalgia. Meia-luz não apenaspara dar beleza ao ambiente, mas, também, para encobrir a perda da jovialidadede algumas das raparigas, em decorrência dos excessos da vida noturna. No escuro, ou à penumbra, após ingerir alguns goles de Vermute, todas pareciam bonitas. Ambientevulgar e marginalizado para os estratos conservadores da sociedade, glamour dos liberais onde os boêmio procuravam sensualidade e prazer. As ZBMs não eram frequentadas somente pelos raparigueiros. Era, também, lugar de diversão para o que a frequentavam somente por distração ou para curtir belas músicas e tomar cervejas, além de servir como espaço de encontro para acertos e negócios, onde corria dinheiro e se discutia as influências sociais e econômicas do Estado e da Capital. À época, o homossexualismo era repudiado e muito discriminado. Os homossexuais vistos por lá faziam os serviços pesados dos cabarés ou então se especializavam como bons cozinheiros. Nas ruas28 de Julho, Henriques Leal, Saúde e Estrela, em casas coladas umas nas outras, ficavam os cabarés mais modestas e menos importantes onde se abrigavam as mulheres que iam perdendo os atrativos do corpo em decorrência da idade. Prostíbulos, com banheiros e sanitários coletivos. Lupanares onde se concentrava a classede menor poder aquisitivo: operários, estudantes lisos, comerciários endividados, etc. Nesses locais, a possibilidade de contrair doenças venéreas era maior. As pensões Itu, Filial da Maroca e Monte Rei, também pomposas, ficavam na Rua 28 de Julho, onde, também, mulheres bonitas e insinuantes, ociosas, transbordantes de sensualidade, elegância e beleza, vendedoras de prazer desfilavam ante a luz negra dos luxuosos salões.


Nesses casarões de dois andares funcionavam as luxuosasboates Class e Elite.

No casarão da direita ficava a boate Bela Vista, uma das mais movimentadas da cidade.

Nacasa de esquina (D) próxima ao então Quartel Militar (Convento das Mercês) ficava o comércio dos irmãos Bizica e Bizuca, onde diariamente fazia meu lanche de pão com refresco de maracujá. Ao lado


(casa de teto mais elevado), ficava a residência do Pe. Arthur Lopes Gonçalves (atual redação do jornal A TARDE).

No aposento da janela à direita, do terceiro andar deste prédio, (pensão da Dona Geralda,de quem fui hóspede pela primeira vez que vim a São Luís),morei por vários anos na década de 1960. Localizada em área de tombamento de São Luís a Rua da Palma está decadente e exposta ao abandono. Alguns dos seus casarões queforam pomposos e importantes no passado estão correndo risco de desabamento e necessitando de urgente recuperação. O Centro Histórico, do qual faz parte da Rua da Palma clama por revitalização. (*) Fotos de Domínio Público colhidas na Internete, com créditos de Diego Chaves, Fernando Cunha e Fernando Bezerra.


UMA ALTERNATIVA ECONÔMICA PARA CAXIAS ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO 20/05/2017 Não se trata de saudosismo nem de ficar preso ao passado, mas de ser realista: todos sabem que, guardadas as devidas proporções, Caxias já foi muito mais próspera do que é na atualidade, quando não passava de 25 mil habitantes. Teve o seu apogeu até a década de 50 com as indústrias têxteis; seu comércio diversificado refletia bem essa fase e a agricultura, estimulada pela organização de associações e de cooperativas, conseguia fixar melhor o homem ao campo. Depois, nos anos 60, abrigou um razoável setor oleaginoso que esmagava a amêndoa do babaçu e exportava o óleo e seus derivados para o sul do país, inclusive para o exterior; nessa época, chegou a sediar projetos de industrialização financiados pela Sudene, alguns superdimensionados para o mercado de então, outros de menor tamanho, todos descontinuados. Caxias deve ter hoje uma população total de cerca de 150 mil pessoas das quais a maioria vive no setor urbano, e o fenômeno dessa urbanização exerce uma dramática pressão sobre habitação, educação, saúde, saneamento básico e, como não poderia deixar de ser, emprego. Outro dado importante e que chama atenção é a população economicamente ativa - aquela que está voltada para o mercado de trabalho -; a população ocupada - aquela que está empregada - deve ser ainda menor supondo-se alguma taxa de desemprego, a julgar pela intensa atividade informal na cidade. As principais fontes de recursos são decorrentes das transferências dos governos federal e estadual, FPM e ICMS, além dos recursos do SUS e do Fundeb, também alguns frutos de convênios e de emendas ao orçamento da União. Em Caxias predomina o setor terciário: comércio, bancos, escolas, universidade, profissionais liberais; esse setor absorveria grande parte da população economicamente ativa. Assim, fica fácil perceber o por quê das desigualdades sociais e da baixa renda per capita. Para enfrentar essa realidade, torna-se indispensável que a Prefeitura possa ter uma receita própria, de impostos e taxas, capaz de custear a máquina administrativa; contando com a compreensão e apoio da população não necessitaria aumentar impostos, apenas a sua base contributiva mediante ação fiscal. As políticas públicas definidas para Caxias, há um certo tempo, consideravam a realidade de sua população visivelmente mal distribuída nos setores da economia; enfatizava a educação profissionalizante dos seus jovens visando uma entrada mais rápida no mercado de trabalho; apoiava o ensino universitário; criava incentivos para atração de investimentos privados às suas diversas atividades vocacionais. O planejamento dessas ações pelos poderes públicos precisa contar com a participação dos empresários, da comunidade universitária, dos clubes de serviço, dos intelectuais, da Igreja e das diversas entidades de classe; adotar a “agregação de atividades afins”, que privilegia mercados, produtos, empresas, fornecedores e a base econômica do município. É certo que os caxienses de boa cepa apoiarão ações dessa natureza.


TRAGÉDIA DE CINCO SÉCULOS ANTONIO NOBERTO Escritor, membro fundador da Academia de Letras de São Luís (ALL) e idealizador e realizador da Exposição França Equinocial. Uma luz de esperança na visão do maior poeta brasileiro Cada vez mais ficamos impressionados com as revelações das entranhas podres do poder mostradas pela mídia nas operações desencadeadas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. Hoje não se fala mais em desvios de milhares de reais, mas sempre de milhões. E são centenas de milhões, até chegar aos bilhões. E tudo se somando e trazendo cada vez mais desesperança para os brasileiros. Mas não para quem conhece a fundo a história do Brasil e que, portanto, sabe que tudo isso é apenas a repetição da história. Como disse certa vez Edmond Burke: "Aquele que não conhece a história está fadado a repeti-la". A diferença do ontem para o hoje é que nós dias atuais as vísceras estão mais expostas por conta da facilidade da comunicação e dos golpes que são cada vez mais vorazes aos bolsos dos nacionais. O modelo colonial de cinco séculos pautado no chicote, na falta de transparência e em baixos níveis educacionais não resistiu à constância da comunicação promovida pelos smartphones, aplicativos e redes de relacionamentos. A educação, sempre tímida em nosso país, jogou a toalha para a ganância. O brasileiro está indo a bancarrota sem conhecer ou provar o outro lado da moeda, o lado melhor, é preciso dizer. Na verdade, o mais preocupante e estarrecedor em tudo isso é o silêncio sepulcral daqueles que conhecem a história e não falam para os brasileiros que todo esse caos tem origem nos alicerces podres da colonização. E o primeiro passo para um país melhor e mais justo passa muito mais pelo debate desse tema, que pelas urnas. Mas isso é uma outra história, que poderemos abordar em outra ocasião Não existe e não existirá um novo Brasil enquanto cultivamos as mesmas bases podres da corrupção, da burocracia estatal, da ineficiência, e enfim, do injusto status "Vencido vs vencedor", herdados do período colonial, e sustentados pela expulsão e aversão a educação e a transparência. Beira o cômico, a trágica sina da imensa maioria dos brasileiros que morde fácil as iscas jogadas com o objetivo de evitar uma mudança de verdade no Brasil. O Brasil em frangalhos, virando sonrizal, mas os que estão no topo do poder jogando iscas para os brasileiros. Perceberam como do nada, de uma hora para outra, surgiram novelas, reportagens e minisséries retratando o Brasil português, a família real, Dom Pedro, o Castelo de Garcia D'Avilla, etc? Tudo é isca para os brasileiros morderem... para que ninguém perceba que a solução do Brasil sempre residiu nos modelos que trouxeram verdadeiramente educação, progresso, crescimento e desenvolvimento para o Brasil. Foram os Holandeses que mapearam e divulgaram o Brasil. Nas palavras escritor Gilberto Freire, na obra Sobrados e mocambos (1936), os holandeses transformaram Recife, até então uma vila de pescadores rodeando uma igrejinha, na melhor cidade do Brasil e talvez da América. Os franceses no Maranhão também foram muito mais generosos com os nativos e muito mais honestos, eficientes e competentes. Entenderam porque São Luís é a única capital que tem a fundação contestada? É porque os maus políticos sabem que se os brasileiros acordarem para essa realidade o Brasil será um país muito melhor e desenvolvido.


Quem quiser se aprofundar no assunto poderá visitar a Exposição França Equinocial, o "Melhor evento cultural voltado para os 400 anos de São Luís", localizada na Casa Daniel de la Touche, Beco Catarina Mina, no Centro Histórico de São Luís. A Exposição é um trabalho de nossa autoria que mostra a possibilidade de um Brasil melhor e menos injusto para os brasileiros. Uma alternativa ao indulgente matadouro que nos colocaram. O trabalho de resgate de tão bela historia de respeito, hatmonia e boa convivência através da Exposição França Equinocial é uma deixa do maior poeta brasileiro, o maranhense Antonio Gonçalves Dias, que certa vez escreveu que "... a expulsão dos franceses levou consigo muitas esperanças".


SOBRE O PRESENTE E O FUTURO DO BRASIL

MICHEL HERBERT Estamos vivendo um momento histórico em nossa nação . Não chamaria de crise . Mas de um momento de depuração política a começar pelo topo da pirâmide do poder em que instituições como Polícia Federal, Ministério Público e Supremo Tribunal Federal estão com a missão de dar a resposta há tanto esperada por nós, povo brasileiro, que estamos na base da pirâmide. A criminalização da política brasileira data da Independência do Brasil, e os pequenos gestos imorais do nosso povo, data da sua formação étnica . Como a Lei da impunidade foi a que sempre imperou, tudo estava normal . Até quando? Para que possamos evoluir como nação desenvolvida, não somente a economia, a ciência , a tecnologia terão que evoluir, mas principalmente as condutas imorais na política e dos políticos, e sobretudo do povo que se vende e se corrompe com migalhas, terão que chegar ao fim. Cargo público não é, e nem deve ser carreira para subir na vida a galope. Mesmo que use de demagogia e apelos populares. O Brasil não precisa de super herói político -popular, nem de bravatas , discursos inflamados sem conteúdo deste. Precisa sim de homens e mulheres com vida e carreira ilibada , com firmeza de caráter e convicções que permitirá tratar com ética e moralidade a coisa pública . A exposição da sujeira que ora se revela é necessária, assim como é urgente a punição dos mesmos, independentes de partidos com perdas de mandatos e prisão se preciso for. O tempo, senhor da história já nos deu a verdade dos falsos heróis . Temos sim muitos heróis que sobrevivem com um salário mínimo e outros tantos com suas elevadas cargas tributárias e péssimos serviços públicos . A estes resta o futuro com página em branco para ser escrito e pintado com as cores da esperança, da nobreza, e da justiça .

São Luis 24 de Maio de 2017


A POESIA JULIO PAVANETTI

A poesia pode ser um veículo de mudança para a paz e a justiça social no mundo? Eu quero agradecer em primeiro lugar a Senhora Vanda Salles, a Academia Estudantil de Arte Contemporânea, ao Museu Pós - Moderno de Educação e a todas as pessoas e instituições que colaboraram e contribuíram para o sucesso deste evento por me convidar para participar nesta importante atividade. Sinto-me muito honrado. Para mim é um grande prazer estar hoje pela primeira vez em São Gonçalo, compartilhando amizade e cultura com estudantes, professores, personalidades políticas e culturais, poetas e escritores. Obrigado a todos. Eu vou tentar ler a minha palestra em português para que possa ser entendida por todos. Peço desculpas se minha pronúncia não é totalmente correta. Eu acredito que na poesia é necessário priorizar a sensibilidade porque o poema é um filho de todas as emoções: raiva, amor, tristeza, ansiedade, protesto, calma, ventura, revolução. Ele funciona para mostrar como a palavra pode transformar qualquer eventualidade em uma parte representativa da nossa dimensão humana e criativa. Sem se tornar um manifesto de um partido político, a poesia, em um ato de


generosidade, deve transmitir esperança e força para aqueles que acreditam em outra possibilidade de existência. Então, a poesia, pode ser um veículo de mudança para a paz e a justiça social no mundo? (Pode ela como arte e os poetas, como simples mortais, mas também como seres humanos com uma sensibilidade particular, contribuir para que a humanidade finalmente alcance a paz e justiça social?)*¹ Eu acho que sim, e talvez agora seja a hora de dar voz à alma dos poetas para expressar sua própria visão e ajudar a conscientizar. (Talvez alguns de vocês pensem que isto é uma utopia. Em seu livro As Palavras Andantes, o meu compatriota Eduardo Galeano, inclui um conjunto de contos que ele chama de janelas. Em um deles, "Janela Sobre a Utopia", Galeano lembra uma resposta do cineasta argentino Fernando Birri, em ma palestra que os dois juntos ofereceram em Cartagena de Índia, Colômbia. Um dos estudantes assistentes perguntou a Birri: Qual é o ponto da utopia, para que serve? E ele respondeu: "A utopia está no horizonte". "Eu ando dois passos e ela vá dois passos para trás. Eu ando dez passos é-o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, nunca l-alcançarei. Para que serve a utopia? Para isso serve: para andar". Eu gostaria de adicionar que também serve para sonhar, e quando os sonhos são maiores do que as desculpas, então os objetivos são atingidos é-o sucesso é obtido. Fernando Birri diz que o novo cinema latino-americano, além de ter uma profunda raiz do protesto, é também um cinema dos sonhos. Mais uma vez eu cita a Birri porque acho que a sua sentença sobre o cinema latino-americano também pode ser aplicada a poesia. )*² Eu penso que a poesia não deve deixar a beleza e os sonhos, mas tampouco o empenhamento, o compromisso. O protesto tem por objetivo alterar esta sociedade injusta. Em tempos de ditadura a poesia é importante porque se torna um meio de resistência espiritual, e o testemunho do poeta é vital para a sobrevivência do povo. Nestas circunstâncias, os leitores podem ler nas entrelinhas e, muitas vezes, entender muito mais do que até mesmo o poeta quer expressar. Assim eu que nestas fracas democracias, deveram retornar-lhe à la poesia à função predominante da resistência e denúncia que adquire em ditadura. Durante anos está sendo executado, em um gotejamento lento e quase invisível, um processo dedicado a esvaziar-nos de aqueles elementos de segurança que eram a nossa referência segura, a importância dos postos de trabalho e a segurança econômica, (ainda que pequena, que resultaram desse trabalho e que cada um de nós tinha sido capaz de alcançar. O gotejamento foi tão perfeitamente desenhado e refinado, que é quase difícil de acreditar que tudo foi planejado mais de 30 anos atrás por mentes malignas, disfarsadas com falsas doutrinas da virtude, que encontraram terreno fértil na Europa e em certas políticas da União Europeia.)*³ Até poucos anos atrás parecia difícil perceber o caminho lento que se iniciou para o esvaziamento dos direitos fundamentais e para o empobrecimento. Hoje é visível por todos porque faz parte da vida diária de cada um de nós. Hoje a maioria dos trabalhadores e aposentados, as massas, os braços que empurram a roda da grande maquinaria econômica, os setores primários e secundários da atividade produtiva, são ajoelhados e não para orar. Agora, muitas pessoas começaram a perceber que um trabalhador com o seu salário normal, até meados dos anos 90**¹ poderia sustentar a sua família com dignidade, mas hoje não é capaz de sobreviver, vivendo com ansiedade febril porque não pode pagar o aluguel ou a hipoteca de sua casa. Alguém pode imaginar qual é a situação dessas famílias que não tem rendimentos seguros como um salário? Alguém pode imaginar o desespero que atende aqueles que perderam suas casas, vítima de desalojamentos selvagens?


Todas essas pessoas são "como folhas de outono na árvore", são como Dâmocles, com uma espada afiada marrada por um fio de cabelo de crina pairando sobre suas cabeças, prontos para perder o trabalho e no melhor dos casos, com compensações irrisórias. (Quantas são em Espanha, Itália, Portugal, Grécia, em toda Europa, em América Latina e em outros lugares do Mundo, as famílias que vivem na linha da pobreza? Refiro-me aos indivíduos e às famílias que nunca foram pobres porque eles têm sido capazes de ter um trabalho; essas pessoas, até menos de 15 anos, não tinham nenhum problema porque eles tinham um emprego, mas infelizmente agora eles são parte da longa lista dos empobrecidos. Quantos são na Europa e em outros lugares do Mundo as pessoas vivendo na mais terrível miséria percebendo modestos subsídios de pobreza?)* Por outro lado esse mesmo sistema econômico globalizado que mantém os países do Terceiro Mundo em extrema pobreza ajuda a que aumente os migrantes que fogem da fome em busca de uma vida melhor, produzindo uma onda de migração sem freio, que em muitos caso leva-los à morte. Um exemplo de um acontecimento da migração dramática acontece com os homens, mulheres e crianças desesperadas na África subsaariana. Eles se espremem em pequenos barcos para atravessar o mediterrâneo com a intensão de atingir as costas de Espanha e Itália onde esperam encontrar uma vida melhor. A maioria de eles infelizmente morrem afogados na tentativa. Outro caso de drama profundo vivê-lo - "vivem-no" - certos povos da América Central onde milhares de pessoas desesperadas, montam-se no trem chamado a Besta, também chamado da Morte, através de todo o México para chegar aos Estados Unidos em busca do famoso sonho americano. A maioria desses migrantes também morrem na sua tentativa, vítimas de gangues maras e de máfias de drogas. (Relativamente a esta questão, vou ler o poema"O Trem de Sonhos Quebrados: https://poetassigloveintiuno.blogspot.com.br/2016/01/julio-pavanetti-17968.html ")* que está incluído em meu último livro. Talvez haja quem pense que não é a tarefa do poeta lidar com a crise, pelo contrário, é a tarefa de político eleito ser o porta-voz e intermediário das necessidades das pessoas. Mas quando os políticos dão as costas aos seus eleitores e aprovam leis contra os direitos humanos, como a lei da mordaça que aprovou o governo espanhol aproveitando a sua maioria absoluta no parlamento, ou quando eles se beneficiam de seus postos, esquecendo que eles estão lá para servir o povo e não para usálo: Diante de tal corrupção institucionalizada, eu me pergunto: que deveriam fazer os intelectuais? Se aqueles que governam o mundo não fazem algo concreto contra crise... para o poeta, é melhor ficar calado, ou falar? Creio, portanto, que hoje, é essencial que a poesia, como tem feito muitas vozes em outros momentos na voz e na caneta dos poetas, comece a desempenhar um papel de liderança para alcançar os princípios básicos de reivindicação do direito à vida, da justiça social e da identidade dos povos, além do compromisso ecológico com o planeta e o compromisso com a paz no mundo. Eu concebo este compromisso da poesia e dos poetas como um manifesto implícito de protesto, mas também, e sobretudo, como uma mensagem de esperança para a mudança. (Uma luta construída com uma rebelião pacífica e democrática através, por exemplo, de leituras de poesia que se tornem em documentos de denúncia, em valentes testemunhos de civismo, de democracia e da cultura, com os quais seja reivindicado o direito a uma vida vivível e digna para toda a humanidade.)* O grande poeta espanhol Gabriel Celaya, disse em um verso do seu poema A poesia é uma arma carregada de futuro": "Eu amaldiçoo a poesia dessas, que não tomam partido até que fiquem manchadas."


Eu sou um daqueles que pensam que o poeta, em algum momento de sua criação deve se manchar. E eu acho que é o que eu faço no meu último livro "Tiempos de Cristales Rotos" ( Tempo de Vidros Quebrados), que basicamente é um livro de denúncia, compromisso e preocupação social. O livro nos coloca em um momento de vidros quebrados como uma metáfora do presente, um tempo de ilusões e realidades quebradas, de conquistas sociais destruídas. Mas apesar de estar envolvido em um clima global que faz fronteira com a catástrofe, como poeta, eu encontro a esperança nos novos lutadores,idealistas e utópicos, que surgem longe dos vícios e corrupção de políticos, mais muito perto de uma cidadania cansada de ser sempre a que tem de apertar o cinto. Agora tenho de comprometer e renovar minha poética anterior, perguntando a mim mesmo, como assumir o que eu vejo ao meu redor, sem denunciar isso. Como pode o poeta continuar em uma torre de marfim? Eu confirmo, mais uma vez, a poesia como a salvação, como um antídoto para a tristeza. Reafirmo a poesia como um espaço de dignidade e dignificação. Certamente não será a poesia a que possa - ponha? - fim à corrupção, nem a desumanização, nem a falta de solidariedade e de empatia dos poderosos com as classes mais baixas. Não será ela que termine com o roubo canibal dos políticos e dos administradores, nem será ela a que detenha as grandes potências internacionais culpadas da distorção do equilíbrio da economia mundial, e culpadas das guerras e da fome no mundo, mas a verdade é que a voz de um poeta comprometido com a sociedade, através de sua intervenção, mesmo com alguns versos, não será inútil. Para os poetas, eu diria que é vinculativo converter a palavra poética em uma força real capaz de influenciar nos destinos do mundo e no equilíbrio do planeta. Após estas reflexões em voz alta e com o dever de enfrentar a problemática visível da sociedade de hoje, sempre com o foco colocado sobre a ação poética, eu acabo com a convicção que devemos concentrar-nos em dar a (à) palavra poética o valor universal que li (lhe) corresponde diante da dor e da injustiça. Ser indiferente a estas realidades é colaborar com a infâmia e a morte. Depende de nós, dos poetas, dos escritores, às vezes anônimos, às vezes quase desapercebidos; de todos nós depende, embora pareça impossível. Essa é a nossa tarefa: que de nós dependa. Que o homem não seja o inimigo do homem, que a vida neste planeta continue. De todos nós depende. Para concluir eu quero ler um poema mio que também está incluído no meu último livro e que, em minha opinião, é essencial para fechar minha palestra. Mas antes eu quero resumir minha intervenção expressando que SI, que eu acho que a poesia pode ser um excelente veículo para ajudar a sensibilizar a sociedade, na sempre difícil tarefa de alcançar a paz e a justiça social no mundo. Vamos fazer que ela caminhe!! Tá? E agora sim, eu termino com meu poema

"...E eles ficam tão calmos": Nos fabricam ídolos como eles criam o gado, dirigem a esse gado como o fazem com as pessoas, inventam-lhes às pessoas até seu próprio passado, distorcem o passado e governam em suas mentes e coroas.


Cobrem nossas mentes e coroas como as antigas paredes, moldam as paredes como se fossem panelas, entrelaçam as panelas como se tecem as redes, engasta-se as redes como jóias nas pulseiras. Semeiam o mundo de pulseiras como se fossem sementes, lançam as sementes como disparam os dardos, envenenam os dardos como fazem as serpentes, empilham as serpentes como se fossem fardos. Dispersam os fardos como fazem os profetas, idolatram os profetas como se fossem deuses, elevam seus deuses como suas próprias metas, e jogam com as metas como impostam as vozes. Eles usam as vozes como controle sobre seus veleiros guiam seus veleiros como orientam meninos, cortam o cabelo dos meninos como tosquiam os cordeiros, curvam os cordeiros como dobram os sinos. Fazem soar os sinos como superam barreiras, engarrafam as barreiras como si (se) engarrafassem bebidas, apanham as bebidas como içam bandeiras, desmerecem as bandeiras como se elas tivessem feridas. Aumentam nossas feridas como cultivam as vinhas, controlam as vinhas como aos bonecos e as marionetes conduzem as marionetes como dirigem os torpedos ativam os torpedos como se fossem cataventos Eles giram os cataventos com a força dos ventos, enfrentam esses ventos como se fossem Sanchos, adulteram os Sanchos, não têm sentimentos, nos manipulam os pensamentos... e eles ficam tão calmos. * NOTAS Obs.1: As partes destacadas entre (*) são trechos omitidos pelo autor durante a conferência. Obs.2: **¹ - Aqui o autor está falando sobre a realidade espanhola. Obs.3: O leitor poderá observar a existência de algumas frases desencontradas em relação ao nosso Português, mas gostaríamos de ressaltar o esforço e a grandeza de Julio Pavanetti em se expressar em nossa língua, em português. Quero registrar que ao término da palestra, coloquei-me estrategicamente para chegar ao Autor na tentativa de conseguir este texto e trazê-lo para a nossa apreciação.


I ENCONTRO ESTUDANTIL DE ARTE CONTEMPORÂNEA Rio de Janeiro, Brasil (2017)

“EDUCAÇÃO E TERNURA” GABRIELA MISTRAL Chile, 1889 – EEUU, 1957

ANNABEL VILLAR Traduçao MARÍA DO SAMEIRO BARROSO

GABRIELA MISTRAL, EDUCAÇÃO E TERNURA Antes de começar a preparar esta conferência Gabriela Mistral, passei muitos dias a reflectir sobre o tom lhe ia dar, sobre como a abordar, tendo em conta a grande e quase inabarcável vida e obral, numa palestra de quinze. Decidi então fazer um pequeno resumo de sua biografia e, no que respeita à sua obra, limitar-me a um dos seus livros, que, na minha humilde opinião, é o que mais tem que ver com a educação, o leitmotiv deste encontro em Alcantara. BIOGRAFIA Da sua vida, destaco os aspectos que eu acho que mais influenciaram a sua obra. Como quase todos sabem, era chilena e seu nome verdadeiro era Lucila Godoy Alcayaga. Escolheu o seu pseudónimo a partir dos seus admirados escritores, o italiano Gabriele D'Annunzio italiano e o francês Frédéric Mistral. Nasceu a 7 de Abril de mil e oitocentos oitenta e nove, na cidade de Vicuña, mas cresceu na cidade de Montegrande para onde se mudou com sua mãe e com a sua irmã Emelina Molina, depois de o seu pai, um professor, as abandonar, quando Gabriela tinha três anos de idade. A importância desta fase da vida reside no facto de Emelina ter sido directora escolar em várias cidades chilenas, o que, sem dúvida, influenciou a carreira posterior de Gabriela como educadora. Na realidade, foi professora primária, inspectora e professor do ensino secundário, entre mil novecentos e sete e mil novecentos vinte e dois, ano em que viaja para o México para colaborar com a Reforma da Educação desse país. Também neste ano, foi publicado o seu primeiro livro "Desolação", em Nova York. Nos anos seguintes, vive e trabalha em Genebra, Suíça; em Fontainebleau, França e em Roma, Itália, faz conferências nos EUA e, em mil novecentos trinta e dois começa sua carreira diplomática, representando o Chile em Génova, Lisboa, Guatemala, Buenos Aires, Petrópolis, cidade onde precisamente recebe a notícia, a 15 de Novembro de mil novecentos quarenta e um, de que fora atribuído o Prêmio Nobel de


Literatura. Posteriormente, foi cônsul em Veracruz, Los Angeles e Nova York, cidade onde morreu, a dez de Janeiro de mil novecentos cinquenta e sete. OBRA Isto é, em traços muito largos, um resumo da sua rica biografia. No que respeita à sua obra, logo após a publicação já mencionada, de "Desolation", começa uma segunda fase na qual se manifestam, essencialmente, as suas preocupações com o ensino e de ajuda para o desenvolvimento dos mais desfavorecidos. Por exemplo, "Leituras para as Mulheres" de mil novecentos vinte e três é uma colecção de textos para as mulheres submetidas ao machismo e à desigualdade jurídica e social daquelas que certamente não iriam receber nenhuma educação. Em Barcelona, em mil novecentos vinte e três, são publicadas “Las mejores poesías”, antologia de poemas publicados em vários jornais e revistas. Em mil novecentos vinte e quatro, publicou "Ternura", que escolhi para analisar a sua obra e de que falarei adiante. Em mil novecentos trinta e quatro, publicou “La lengua de Martí” e “Nubes Blancas y breve descripción de Chile”. Em mil novecentos trinta e oito, "Tala" e “Todas íbamos a ser reinas”. Em mil novecentos quarenta e seis, "Pensamientos pedagógicos". mil novecentos cinqüenta, "Poemas de las madres". mil novecentos cinquenta e três, "La palabra maldita". Em mil novecentos cinquenta e quatro, "Lagar". Em mil novecentos cinquenta e sete, "Canto a San Francisco" e "Recados contados a Chile". Foram publicados postumamente "Motivos de San Francisco" en mil novecentos sessenta e cinco, "Poema de Chile", em mil novecentos sessenta e sete e "Lagar II" em mil novecentos noventa e um. Como já disse, gostaria de lhes falar sobre um de seus livros, "Ternura", publicado em Espanha em mil novecentos vinte e quatro, embora esta edição da coleção Austral na minha mão teve sua primeira edição em mil novecentos quarenta e cinco, em Petrópolis precisamente neste estado do Rio de Janeiro onde estamos. “Ternura” se relaciona com a vocação pedagógica e educadora de Gabriela Mistral, bem como com a sua preocupação com a defesa dos direitos dos crianças à educação e bom tratamento por parte dos mais velhos. Esta preocupação com o fortalecimento das relações entre adultos e crianças torna-se essencial na sua poesia e não começa com "Ternura", porque, já na sua primeira obra "Desolación" também há poemas que destacam o papel do educador, da escola, especialmente da escola rural, e da aprendizagem através da palavra escrita. Talvez neste século vinte e um pareça estranho que fosse necessária uma poesia defensora da educação de meninas e meninos, mas não nos devemos esquecer que isso aconteceu no início do século vinte, quando a revolução industrial começou a introduzir a alfabetização para todos, com o objectivo de preparar as pessoas para as novas características económicas e para disciplinar a força laboral. Ternura, Gabriela cria uma nova "poesia escolar" na qual coloca todo o seu espírito de educadora, o que renova os géneros tradicionais da poesia infantil. Dedicado à sua mãe e à sua irmã, está dividido em sete secções: Canciones de Cuna, Rondas, La Desviadora, Jugarretas, Cuenta-Mundo, Casi Escolares y Cuento.


Ternura é um livro para crianças, mas que pode e deve também ser lido por adultos, privilegia o lúdico, o jogo e as brincadeiras, tentando mostrar às crianças a parte mais alegre da vida. Sobre o mundo de Ternura, sobre o seu imaginario poético, Jaime Quezada, estudioso da obra da premio Nobel, explica-nos no prefácio à primera edição deste livro, no Chile, o seguinte: De um diálogo diurno e nocturno da mãe com a sua alma, com o seu filho e com a terra, que se vê durante o dia e se ouve durante a noite, situa-se, em grande parte, a origem de Ternura: canções de embalar, rondas, brincadeiras, histórias à volta do mundo. Canções com grandes pausas para cantar a lebre castanha ou o coelho pardo. Canções de embalar que resgatam o que há de mais genuíno e tradicional do folclore infantil argentino, latino-americano e hispânico antigo. Quezada, em seguida, cita a própria Mistral, expressando os seus objectivos neste livro: Quiz fazer uma nova poesia escolar, porque a que está em voga não me satisfaz; uma poesia escolarque não deixe de ser poesia por ser escolar, mais e mais delicada do que qualquer outra, mais profunda mais impregnada de coisas do coração, poesia mais estremecedora do que um sopro de alma. Com estas palavras, fica clara, então, a intenção da poeta para criar uma poesia que seja educativa para as crianças, bem como a seriedade e a importância atribuída a esta função literária em relação ao tema tratado. As rondas dedicados às crianças também renovavam a percepção de Gabriela Mistral, tanto em relação à sua obra poética e à sua vida diária. Dizia a autora: "Quando escrevi uma roda infantil, o meu dia foi realmente inundado de Graça, a minha respiração tornou-se mais rítmica e meu rosto recuperou o riso perdido em empregos miseráveis. Talvez o esforço fosse o mesmo que coloquei na escrita de outro tema, mas algo, que insisto em chamar "sobrenatural", lavava os meus sentidos e revigorava a minha velha carne. " Gabriela Mistral revelou que Ternura foi o seu livro mais querido, aquele que deixou sua marca em toda a sua obra. Todos os seus principais livros, desde “Desolation” até “Lagar”, de “Tala” ao “Poema do Chile”, contaram com poemas originários de “Ternura”. Em 1945, quando recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, pensando em seus leitores, ele decidiu reorganizar “Ternura”, adicionando novas seções para a edição original, mudanças que percebem a importância sempre atribuída a este livro. Producto deste libro –que muitos, injustamente, consideram menor no conjunto da sua obra- alguns críticos pretenderam confinar Gabriela Mistral a uma espécie de poeta de rondas infantis. Mas nada é mais errado do que essa percepção ou afirmação, que, além do mais, denota leituras superficiais de Ternura e preconceitos evidentes sobre os objetivos desta obra. Num mundo em que os problemas fundamentais que afectam as crianças ainda não foram resolvidos e se cometem atropelos aos seus dereitos diariamente, em todos os países dos cinco continentes, a obra de Gabriela Mistral pode bem ser um contributo significativo para fazer tomar conciencia de que, além de educar as crianças em princípios correctos, é necessário satisfazer as suas necessidades básicas, tanto materiais como espirituais. Não há dúvida que uma educação sólida evitará que, no futuro, muitas crianças, ao chegar à idade adulta, se transformem em seres sociais negativos.


E, finalmente, e apenas como exemplo dois poemas de "Ternura" “La noche” do Capítulo "Canções de ninar" y “El “Ángel Guardián”do Capítulo “"Quase escola"


O MÊS DAS MISSÕES DE PAZ DO BRASIL NO EXTERIOR – 29 de maio é o Dia Internacional dos Peacekeepers e marca a missão MARIA MADALENA DIB MEREB GRECO Associada efetiva titular da cadeira nº 34, do Instituto Histórico e Geográfico do Mato Grosso do Sul - IHGMS

WELLINGTON CORLET DOS SANTOS Ex-integrante das Missões da Paz da ONU em Angola (UNAVEM III – 1997) e Haiti (MINUSTAH – 2011/2012)

Este ano de 2017 traz consigo memórias que balizam na linha do tempo diversos e importantes feitos para o nosso povo de Mato Grosso do Sul. Neste contexto, ressaltam-se os 150 anos da Retirada da Laguna, os 150 anos da Retomada de Corumbá, ambos ocorridos durante a Guerra da Tríplice Aliança contra o Governo do Paraguai, episódios épicos estes dos quais já não restam mais testemunhas vivas. Em tempo mais recente, há que se recordar os 40 anos da divisão do antigo Estado do Mato Grosso, dando início à odisseia do nosso atual Estado do Mato Grosso do Sul e, ainda, os 20 anos da Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola III, missão de paz da Organização das Nações Unidas, objeto deste trabalho. Se por um lado, os dois primeiros fatos históricos supracitados foram relacionados à guerra e à consolidação das fronteiras territoriais, os outros dois, foram fatos históricos relacionados à organização política interna, desenvolvimento da autonomia política e, finalmente, de ajuda humanitária aos outros povos. A diplomacia tem demonstrado que, onde existe um brasileiro, o Brasil está presente e, da mesma forma, onde há um cidadão sul-matogrossense, o Estado do Mato Grosso do Sul está presente. Por estes motivos é importante para todos nós comemorar o dia 29 de maio, o “Dia Internacional dos Peacekeepers”, e relembrar os 20 anos da Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola III, a UNAVEM III. A missão de paz de Angola foi a primeira grande missão de paz da qual o Brasil participou desde a missão da Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF I), que durou até 1967, e marca o início de uma nova fase no contexto das missões de paz da ONU, depois do final da Guerra Fria. O dia 29 de maio foi instituído como o “Dia Internacional dos Peacekeepers” ou “Mantenedores da Paz”, popularizados aqui no Brasil simplesmente como “boinas azuis” ou “capacetes azuis”, em referência ao estabelecimento, pela Organização das Nações Unidas (ONU), da primeira operação de manutenção da paz para monitorar o cessar-fogo entre árabes e israelenses, no ano de 1948. Posteriormente, em 1956, o Brasil enviou os seus primeiros "boinas azuis” para evitar confrontos entre Egito e Israel, no que ficou conhecido como Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF I), que durou até 1967. A nossa História sobre a UNAVEM III, objetivo deste texto, começaria apenas trinta anos mais tarde, em 1997, e nada mais justo que relembrar estes fatos no “Dia Internacional dos Peacekeepers”. Naquela época, a República de Angola, chamava-se República Popular de Angola e, apesar dos grandes recursos minerais, ainda assim, era um país em estado de miserabilidade e dividido: algumas áreas dominadas pela União Nacional para a Independência Total de Angola – UNITA (oposição) e outras pelo Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA (governo reconhecido).


A UNAVEM III atuou em Angola de fevereiro de 1995 até junho de 1997, chegando a ter um efetivo total de 4220 militares (283 Observadores, 288 funcionários civis e 3649 militares de tropa), sendo que, destes, aproximadamente 900 eram brasileiros. E esta era apenas a vertente militar da missão, que fazia a segurança para que as vertentes civis (política e social) pudessem trabalhar. Em termos politico-estratégicos, a nossa missão em Angola era garantir um cessar fogo estabelecido pelo Acordo de Bicesse (31 de maio de 1991) e pelo Protocolo de Lusaka (20 NOV 1994) entre as duas facções beligerantes de uma guerra civil que já durava mais de trinta anos, entre a UNITA e o MPLA. Em termos operacionais, as nossas missões eram fazer patrulhas de reconhecimento, de segurança, de fiscalização das linhas de cessar fogo, de suprimento, escoltas de comboios e de autoridades, controlar e fazer a segurança das áreas de aquartelamento, ocupar postos de observação, realizar ações humanitárias, e a segurança para a atuação das agências e programas da ONU e, também, para as Organizações Não-Governamentais, sempre zelando pela perfeita imparcialidade. Por estes motivos, a missão de paz em Angola foi considerada como Serviço Nacional Relevante, pelo Decreto Presidencial de 30 MAR 1995, publicado no Diário Oficial da União nº 63, de 31 MAR 1995, nas mesmas condicionantes do Decreto-Lei nº 67.686, de 30 NOV 1970. Considerando que a UNAVEM III permaneceu em Angola por dois anos e meio (1995 até 1997) e que o rodízio das tropas era realizado a cada seis meses, é de se ressaltar que é muito difícil, muito mesmo, reconstruir em muito pouco tempo um país que já vem sendo consumido pela guerra há mais de trinta anos, porque a reconstrução principal não é a de infraestrutura física, mas de confiança mútua, de ideologia e de cultura, das mentes e corações porque, se isso não ocorrer, simplesmente a guerra não acaba nunca e nada melhora. Inúmeros foram os benefícios levados ao país pela Força de Paz da ONU que, em geral, foram contribuições significativas na inserção de capital, na reintegração social, na reorganização do Estado e dos serviços públicos, na unificação territorial, na estabilização dos Poderes constituídos, na desmobilização e reinserção social das tropas da UNITA, na unificação e no fortalecimento das Forças Armadas de Angola (FAA), e na desminagem, dentre outros. Se houve algum preço alto a ser pago durante a missão, este acabou involuntariamente sendo pago pelos que perderam a própria vida. Esquecê-los, significa expressamente esquecer o sacrifício de todos os outros que morreram pela Pátria no decorrer da sua História. Pelo espírito de sacrifício, de fraternidade e de cumprimento do dever, parabéns e obrigado a todos os companheiros de missão “boinas azuis”, brasileiros e estrangeiros, em especial, o Cb FN Aladarque Cândido dos Santos, herói do 4º Contingente Brasileiro da Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola III, falecido no cumprimento do dever, por terem contribuído com o processo de paz em Angola, e por terem levando um pouco de esperança e solidariedade humana para todas aquelas pessoas. Parabéns a todos os “boinas azuis”, das missões de Suez (UNEF), de Moçambique (ONUMOZ), de Angola (UNAVEM), do Haiti (MINUSTAH), e todas as outras, laureadas, em 1988, com o Prêmio Nobel da Paz, único Prêmio Nobel concedido, até hoje, em que é reconhecida oficialmente uma parcela de contribuição de algum brasileiro. Paz para Angola!

REFERÊNCIAS Publicado originalmente no Jornal O ESTADO - Mato Grosso do Sul. Campo Grande, MS, de 20 de maio de 2017.


SEBASTIÃO BARROS JORGE NA IMORTALIDADE RAIMUNDO VIANA Professor Universitário – Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL / Vice-Presidente da Academia Brejense de Letras / rcv@elointernet.com.br Publicado em O Imparcial, 28 de maio de 2017 / Jornal Pequeno, 1º de maio de 2017-06-01 O Estado MA, 1º de maio de 2017 /

Chega à Casa Antônio Lobo, na rua da Paz, o Professor e Jornalista Sebastião Barros Jorge. Conheci-o, em 1971, já dedicado ao Jornalismo, quando, concomitantemente – via Concurso Púbico – ingressamos na Universidade Federal do Maranhão – UFMA – na condição de professor. Coubenos ao lado de outros colegas professores ( José Ribamar Nascimento “ in memoriam”; Inaldo da Silva Meneses; Aldy Melo Araujo; José Eneas Frazão; Nilde Sandes Macedo; Merval Melo “ in memoriam “) a menção honrosa de Professor Fundador do Curso de Comunicacão Social daquela Instituição. Condividimos as dificuldades susrgidas, ao longo do tempo, daquele Curso, que ora se iniciava. Não foram poucas! Nunca, entretanto, acima denossa disposição de bem servir àquela Dependência Universitária. Compartilhamos as conquistas também. E foramsignificativas. Tudo isso, à época,parecia-nos mais uma ousadia; um sonho! Em todas essas empreitadas, o Professor Sebastião Jorge esteve presente e atuante com seu trabalho docentee jornalístico. Na Chefia do Departamento, o Professor Sebastião soube conduzir-se cônscio de sua responsabilidade docente; e cioso de sua missão de informar. De espírito conciliador, nas nossas Assembléias Departamentais, era ponto de equilíbrio; um Mediador nos embates que, de regra, ocorriam entre Professores e Representantes Estudantis.. Esse era seu modo de ser na Convivência Departamentamental. No exercício do Magistério, suas obrigações docentes viraram missão! Na Sala de Aula, permaneceu até quandonão mais lhe foi permitido ficar. O tempo passou! A Aposentadoriachegou, e o empurrou, sem sucesso, para a inatividade, e o conseqüenteesquecimento, como sói acontecer. Cá fora, segueoperoso nas Redações, fazendo o de que ele mais gosta: ESCREVER...É, não há negar,um Jornalista Vocacionado! Ilumina-o no exercício do Jornalismo a virtude dos sábios: a HUMILDADE!...Não o preocupa a buscada notoriedade fugaz e transitória. Empenha-se, exclusivamente, emtransformar suas atividades jornalísticas num Ministério de Vida. E assim, credenciado pela sua sólida formação intelectual, e experiência profissional, chega, hoje, ao convívio dos Imortais da Casa Antônio Lobo, na rua da Paz, onde o recepciona o inteligente Acadêmico Natalino Salgado. De parabéns a nossa AML pela escolha justa e oportuna. Ao Professor e Jornalista Sebastião Jorge muito sucesso nessa nova empreitada de vida; que sempre o ilumine esse Ideal de bem servir ao cultivo e propagação de nossas Letras. Vá em frente! Não pare! “Sic itur ad astra( Assim é que se chega aos astros) – no-lo diz a sabedoria romana.


DESPORTO E POESIA JORGE BENTO Poderá causar estranheza a associação do desporto e da poesia, já que são dois modos de expressão assaz distintos. Porém perseguem a mesma finalidade: alargar os limites da sensibilidade e arrancar do nosso íntimo – e até do nada – sentimentos, sonhos, desejos, angústias, aspirações que se materializam em atos simbólicos, sejam estes palavras ou gestos. Na poesia e no desporto caminha-se para a criação e a formação, a exaltação e a harmonia, a liberdade e a magnificência da alma e do corpo. Esgota-se o campo do possível e reduz-se o impossível ao nada, com a ajuda e posse de uma dada tecnicidade. Ser poeta não é só escrever poemas; é descobrir e propor novas maneiras de viver. O mesmo faz o desportista. Bem vistas as coisas, poetas e desportistas são românticos. Por causa disso não têm vida fácil; sofrem as dores próprias e as alheias, tornando a existência ainda mais difícil do que é. Creio até que nos roubam a ilusão de que a vida pode ser feliz; ou então sugerem-nos que a felicidade se atinge pela via da maceração e renúncia, da sujeição a exigências e normas desafiantes do apuramento do estilo e do Ser. Que talvez assim expulsemos da existência as hidras e serpentes, os medos e traumas, as angústias e dificuldades que nos amargam o dia-a-dia. Porventura ainda, é através desta purga que o corpo e a alma ficam livres e soltos para levantar voo para outra galáxia, para outra consciência, para outra forma, para as alturas da ética e estética. Porque a modalidade de a dizer e cumprir rege-se pela medida da vida escolhida; e é esta que possui e determina quem a diz e configura. No fundo, poesia e desporto são expressão exemplar de uma dialética de contrários, do descontentamento e contentamento, do espartano e hedonista; um aviso de que é ilusório tentar chegar à plenitude e autenticidade da vida, sem ser pelo caminho da observância de obrigações, princípios e ideais. Eis nisto confirmada a convergência da poesia e do desporto, de dois tipos de ação aparentemente tão diferentes, mas afinal tão sintonizados um com o outro. O mito é o mesmo, o agonismo preside a ambos, a coroa de louros tem o mesmo preço, ambos comem o mesmo pão, bebem da mesma taça e saboreiam o mesmo vinho. No papel abúlico e passivo – que se coloca à disposição da caneta – e no corpo dócil e plástico – que se submete aos métodos da exercitação, treino e competição – ficam impressos devaneios, ousadias e arrebatamentos da imaginação e ordens da vontade. Como manifestações e sequelas da vida que a cada um, poeta e desportista, toca viver. O desporto e a poesia convidam-nos a olhar para dentro, a conhecermo-nos e a pôr termo à hipocrisia e ao descaso que levam à desumanização. Ambos surgem, de mãos dadas, aos meus olhos quase cansados e quase felizes e purificados, de tanto procurar e esperar que a paixão perdure e a felicidade aconteça.


MEUS MOMENTOS DE ANJO... AYMORÉ ALVIM APLAC, AMM, ALL. Foi uma noite como a de hoje. Por alguns momentos, lembrei-me da Coroação de Nossa Senhora que ocorria todos os anos, na Igreja matriz de Pinheiro. Vi-me, então, um dia lá em casa quando ouvi dona Inez dizer para um grupo de senhoras: - Muito abrigada. Vou vestir, este ano, o Aymoré de anjo e ele vai participar da coroação. Na verdade, eu não fiquei gostando nada desse negócio. Lembrei-me que há poucos meses, em dezembro de 46, pra pagar uma promessa, na procissão de São Benedito, que uma tia fez para mim, me pintaram todo de tisna, passaram um batom vermelho em minha boca, grudento que só bago de jaca, e me meteram num chambre marrom, amarrado pela cintura com um bonequinho no braço. Vocês já podem imaginar com o que eu estava parecido. Quando a procissão desceu a Rua Grande e foi passando em frente à Praça da República ou da Prefeitura, um grupo de companheiros da bola começou a gritar “ Olha o Saci de Zé Alvim”. Nessa hora, comecei a chorar, deixei a procissão e corri pra casa”. Como veem, já estava ressabiado de me vestir de santo ou de anjo. Mas, não adiantou. No dia 31 de maio, lá estava eu, na Igreja Matriz de Santo Inácio, de chambre branco, asinhas e tudo que era preciso, menos batom e rouge que quiseram passar em mim porque era de noite. - Bijú, tu vais sentar aqui na ponta do altar. Censão já vem te arrumar, disse-me dona Celsa, minha tia. - Aymoré, agora entorta a cabeça pra este lado e põe a mão direita aberta embaixo do queixo, falou-me Censão, minha prima mais velha. - Assim eu não fico. - Não ficas por que? Vou chamar Cecé e dizer que tu não queres obedecer. - Assim não fico já disse. Eu sou é anjo e não anja. - Bobagem. Tu vais ficar. Cecé, ajeita esse pequeno aqui. Censão relatou o ocorrido. - Tá certo, Biju. Tu vais lá pra cima. Censão, troca ele com aquela menina da direita. Censão me levou. Eu subi num banquinho e fiquei à direita da garota que ia coroar Nossa Senhora. - Agora, Aymoré, tu ficas voltado pra N. Senhora com os braços para cima e abertos. - E se eu cansar? - Nada disso. Vais ficar assim até acabar a coroação. De qualquer forma, era bem melhor do que ficar de cabecinha virada e mão no queixo. Na hora que o padre já estava chegando para iniciar a benção do Santíssimo (nessa época não havia missa de tarde nem à noite) para depois haver a coroação, um cretino lá da porta da Igreja gritou: - Êh! Turma, vem ver. Aymoré vai voar dentro da Igreja. Foi um riso geral. Desci dali, na hora. Queria ir embora. - Vem cá, Biju, falou minha tia. Quando me dirigi para a sacristia, Censão gritou para Zé Pereira, o sacristão. - “Fecha a porta e agarra ele”. Nessa hora, subi numa mesa, abri a janela e pulei para a rua e corri. Daí a pouco, quando a turma me viu passar pela praça saiu correndo atrás:


- Corre, anjo, eles vão te pegar. Aproveita as asas e voa que tu chegas mais depressa em casa. - Já acabou, meu filho? Perguntou-me dona Inez. - Já, mamãe. Eu vim correndo. O pessoal tá vindo aí atrás. E fui deitar. Quando Camélia chegou, historiou tudo pra dona Inez. minha situação. Dona Inez mandou-me levantar e me aplicou seis bolos.

Ninguém

compreendeu

a

Lá vem seu Zé Alvim. - O que esse moleque aprontou dessa vez? Mamãe contou-lhe o ocorrido. - Bem feito. Vocês agora querem transformar Aymoré em anjo. Dá nisso. Pelo menos seu Zé não me bateu, mas que o anjo foi dormir de mãos quentes, isso foi.


A CAPOEIRA DO MARANHÃO ESTÁ A TOCAR A IUNA – EM LOUVOR A MESTRE PATINHO!!! LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ http://www.blogsoestado.com/leopoldovaz/2017/06/11/capoeira-do-maranhao-esta-tocar-iuna-em-louvor-mestre-patinho/

ANTONIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS "Antonio, de Santo Antonio, José, de São José, Conceição, de Nossa Senhora da Conceição, Ramos, de Domingo de Ramos..."

Eu nasci, mestre Patinho nasceu Antonio José da Conceição Ramos Profissão: Eu sou formado em Educação Física licenciatura, tenho especialidade em ginástica olímpica masculina e feminina. Exerci minha vida quase inteira como arte-educador na área do corpo. E tenho, fiz quinze anos na ginástica olímpica como atleta, depois como técnico da seleção maranhense, fiz dez anos de judô, oito anos de balé clássico, oito anos estudando a educação física mesmo. E quatro anos de jiu jitsu, dois anos de boxe, nove anos de caratê, cinqüenta anos de capoeira que eu vou fazer ano que vem. Dançarino popular


também, danças populares, sonoplasta, sou ator. E vim de uma aborrecência muito difícil, então pra ti entender mais essa questão tem que ter o portifólio... Nome da escola de capoeira: Bem eu fundei a primeira escola de capoeira do mundo. Que a capoeira tava na academia e eu sempre me senti, insaciei com essa questão da academia porque eu já sentia ser restrito só a questão do corpo. Então eu fui, fundei a primeira escola do mundo da capoeiragem, inclusive é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo . Que o primeiro é o GECAP, é dirigido pelo mestre Moraes que é da Bahia, mas o GECAP foi fundado no Rio de Janeiro, e hoje em dia em Salvador, aonde o coordenador e diretor é o mestre Moraes, que é uma pessoa muita querida e desenvolto também nessa questão da musicalidade. E dos fundamentos da capoeiragem, e a escola de capoeira angola que eu criei no LABORARTE, que é o segundo grupo de capoeira angola registrado no mundo, mais antigos. E a primeira como escola, porque escola? Porque a gente não só trabalha a questão do corpo, a gente trabalha a história, a geografia, essa questão da musicalidade, né? a pesquisa e tal, e no intuito de formar pessoas com capacidade pra trabalhar com a capoeira como a educação escolar. Pra você o que significa a figura do mestre na capoeira? O mestre é uma figura que tem que ter na sua consciência com a lida, com a arte que ele pratica no caso a capoeira, a capoeiragem, é estar pronto a aprender, aprender sempre, nada mais, porque não se sabe; então continuar a aprender é um dos principais objetivos do mestre de consciência. IN: BOÁS, MÁRCIO ARAGÃO. O ENSINO DE MÚSICA EM ESCOLAS DE CAPOEIRA DE SÃO LUÍS – MA. Monografia apresentada ao curso de Música da Universidade Federal do Maranhão para obtenção de grau de Licenciado em Música. Orientadora: Profª. Dr. Maria Verónica Pascucci. http://musica.ufma.br/ens/tcc/04_boas.pdf

No dia 26 de fevereiro de 2006 estivemos - Loreta e eu - na casa de Mestre Patinho, em plena Madre Deus. Entrevista marcada para as 09:00 horas de la mañana, de um domingo de carnaval! Chegamos e Patinho, também: estava chegando da folia. Para quem conhece São Luis do Maranhão, a Madre-Deus (Bairro) e Carnaval de São Luis, sabe o que isso significa. Realmente um grande "sacrifício" do Mestre. IN: Jornal do Capoeira - http://www.capoeira.jex.com.br/ Edição 63 - de 05 a 11/Mar de 2006

Da mui proveitosa entrevista com Mestre Patinho (foto 1), capturamos o seguinte: - Capoeira é um jogo corporal, é um diálogo - a rasteira é um choque, é preciso um corpo rítmico para ser bem dada; -

Capoeira é fundamento, três alturas, três distancias, três ritmos...

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Capoeiragem: jogo estratégico para a guerra - é um jogo de xadrez;

- Quando conheci a Capoeira (anos 60), não era profissão, não havia possibilidade de viver da capoeira; aprendi a capoeira do Rio de Janeiro, com Jessé Lobão, aluno de Djalma Bandeira (foto 2), e com Sapo, meu Mestre... - Bimba não criou um estilo, ele criou um método: para se afirmar na "chamada de Angola" para disfarçar o jogo estratégico - passa-dois, balão cinturado - malícia, jogo de malícia, jogo de transformação, jogo de cintura: oitiva, rústica... - Hoje, a Capoeira é uma mesmice, se transformou em uma ginástica coreografada - vi um aulão, com mais de 500 alunos, todos repetindo o movimento... Lembra àquelas aulas de calistenia, aquelas apresentações de ginástica, de antigamente? As aulas de educação física do Exército? Isso não é Capoeira ... - A Angola... É autodefesa, busca do diálogo corporal, é transformação, jogo de dentro, você encontra a sua altura, o seu jogo, sua dimensão; é diferente da capoeira do pós-modernismo; capoeira é matemática; é história; é geografia... Tem que estar em contato, é comunhão, todo dia...


- No jogo estratégico, não pode baixar a guarda; deve-se respeitar o oponente; mesmo que o adversário não saiba jogar, o bom Capoeirista joga mesmo com quem não sabe, e o faz jogar, gingar... -

Maçonaria x Capoeira - 0 a 9, infinita forma.

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Não existe uma capoeira, Angola, Regional, cada jogador tem a "sua Capoeira”...

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A Capoeira é uma arte-cultura esportiva que mais representa este País...

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O Capoeira não procura emprego - procura trabalho, realiza um trabalho...

- Não consigo sobreviver da Capoeira, sou um artista de rua, sou um mestre, hoje me aceito como mestre, pois estudo os ritmos maranhenses - são 37... - o boi, o teatro, a ginástica, a educação física, a lateralidade, a psicomotricidade, a música; para ser mestre da capoeira, tem que ser um Doutor... -

Diálogo da Trilogia: §

Angola - gunga

§

São Bento Pequeno - viola

§

São Bento Grande - violinha

São células na mesma cadência que preenchem o espaço melódico - pulsação; A roda tem regência... O Traíra (Mestre), no local de Angola, fazia Santa Maria; quando chega em São Bento grande, fazia cavalaria ... -

A teoria não vale nada, se não inserida na prática...

- A grande dificuldade é a música, a musicalidade da capoeira; muitos me criticam por ensinar música, teoria musical, para se cantar as ladainhas, as chamadas... Mas é preciso, é necessário entender os toques, saber quando e como entrar, os tons, a harmonia; assim como o texto, saber o que esta cantando, não apenas repetir um som... É necessário entender a letra, o que canta, é preciso ter conhecimento... -

Capoeira, hoje, é arte de negro, esporte de branco...

Capoeiristicamente,

Leopoldo Vaz, São Luis - Carnaval Maranhense de 2006 Professor de Educação Física Mestre em Ciência da Informação

Do Livro-Álbum dos Mestres de Capoeira de São Luís do Maranhão

ESTILO: Capoeiragem; Contemporâneo (Josué). MESTRE: Mestre Sapo NOME: Antonio José da Conceição Ramos FILIAÇÃO: Djalma Estafanio Ramos e Alaíde Mendonça Silva Ramos NASCIMENTO: São Luis do Maranhão - 14/09/1953 ACADEMIA: Escola Centro Cultural Mestre Patinho RESUMO DE VIDA: Foram os movimentos da capoeira, a ginga que o encantou aos nove anos. Vendo como um rapaz jogava, passou a imitá-lo. O Mestre Sapo foi quem o ensinou e o graduou. Observando, que seu conhecimento


muito restrito, foi estudar a capoeira na Bahia, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Trabalhou no Ginásio Costa Rodrigues, na Academia Senzala. A capoeira o influenciou a ser um ginasta (olímpica); e um dançarino pelas escolas Pró-dança, Lítero e Gladys Brenha. Hoje divulga capoeira no Laborarte e em sua escola Centro Cultural Mestre Patinho.

Entrevista concedida a Manoel Maria Pereira Tinha medo dos meus amigos, pois apanhava cascudo, rasteira, todos da mesma idade simplesmente porque tinha o corpo raquítico, tudo isso os nove anos de idade. Por coincidência bem aqui na Quinta, bem no SIOGE. Década de 60 era um grande reduto da capoeira principalmente na São Pantaleão onde nasci. Pois bem, um amigo que tinha recém chegado do Rio de Janeiro, Jessé Lobão, que treinou com Djalma Bandeira na década de 60, Babalú, um apaixonado pela capoeira, outro amigo que era marinheiro da marinha de Guerra, também aprendeu com o mestre Artur Emídio do Rio, Roberval Serejo; juntamos Jessé, Roberval Serejo, Babalú, Artur Emídio e eu formamos a primeira academia de capoeira, Bantú, e estava sem perceber fazendo parte da reaparição da capoeira no Maranhão. Também participou Firmino Diniz e seu mestre Catumbi, preto alto descendente de escravo. Firmino foi ao Rio e aprendeu a capoeira com Navalha no estilo Palmilhada e com elástico, nos repassando. Daí por volta de 62 e 63 esteve aqui em São Luís o Quarteto Aberrê com o mestre Canjiquinha e seus discípulos: Brasília, hoje Mestre Brasília, que mora em São Paulo; e o nosso querido Mestre Sapo; Vitor Careca. Quando Vitor Careca e seus amigos chegaram aqui em São Luís não foram bem sucedidos. Por sorte do grupo, na Praça Deodoro, na apresentação, estava assistindo o Mestre Tacinho, que era marceneiro e trazia gaiola. Era campeão sul-americano de boxe no estilo médio ligeiro e gostava da capoeira. Vendo que o grupo tinha um total domínio da capoeira, apresentavam modalidades circenses, mas ligadas a capoeira, como navalha, faca, etc. Tacinho convidou-os para uma apresentação no Palácio do Governo, pois era motorista do Palácio. O Governador da época era Sarney, gostando muito da apresentação, convida um deles para ministrar aula de capoeira no Maranhão, pois não foi possível porque eram menor de idade. Anos depois, Mestre Barnabé (Mestre Sapo), Anselmo Barnabé Rodrigues, volta ao Maranhão. Por volta de 66 ou 67, está tendo uma roda de capoeira no Olho d Água com o Mestre Sapo, coincidentemente estando na praia, entrei na roda, conheci o Mestre Sapo e nos tornamos amigos e comecei a estudar com eles. Através do Professor Dimas. Como a capoeira era mal vista na época e cheia de preconceito, parti para a Ginástica Olímpica, volto para a capoeira e participo com o Mestre Sapo do 1º e 2º Troféu Brasil e fomos campeões, eu no peso pluma e Sapo no peso pesado. Identifiquei-me pela capoeira e fui para Pernambuco, Bahia e São Paulo, estudar capoeira. Eu recebi muita influência de Mestre Sapo, Artur Emídio, Catumbi e Djalma Bandeira que todos foram alunos de Aberrê. Quando eu conheci Sapo, eu me defini no estilo Capoeiragem da Remanecença (sic), fundamentada. Eu vivo do fundamento de que, apesar de ser baixo, mas na capoeira se vive pela altura. Existem três alturas, três distâncias e três ritmos. O termo capoeira vem do chapéu que os mercadores usavam para vender seus produtos, com abas longas, botavam sues produtos dentro do chapéu, e com berimbau na mão vinham a chamar a atenção. Eu quero deixar uma ressalva na entrevista. A capoeira por ser um jogo de guerra, o golpe estratégico era o disfarce. O Capitão-Do-Mato, quando ia prender o negro que fugia das senzalas, e via o negro "gingar", dizia: "Preto ta disfarçando de angola", quando investia pegava um pontapé ou uma rasteira. O risco que tem pela perca (sic) dos fundamentos pelo grau de dificuldade de execução ou falta de conhecimento. Temos que ter forma de viver e formas e meios de sobreviver.


A capoeira saiu dos quilombos e hoje está nos shoppings. Digo, querem transformar a capoeira em jogo de competição que é um risco. A capoeira tem golpes perigosos que pode até matar. A facilidade que você aplica um golpe mortal é muito grande. No século XIX, em Tutóia, Caxias, Pindaré e Codó não se vê a capoeira com influência bahiana, só se vê na forma capoeiragem, no folclore, como o Boi da Ilha, por exemplo. O caboclo de pena, pela sua malicia, seu gingado e vadiagem em estilo defensivo da capoeira. O miolo do boi, que é a pessoa que fica debaixo do boi, pela forma de artimanha utilizando na coreografia de luta. No tambor de crioula, não só pelos componentes, mas pela primeira colocação antropóloga (sic) afinado a fogo, tocado a muque, e dançado a coice, que vem provar a chamada pernada. Casei-me, aumentando o meu ensino voltado para academias, me separei indo ministrar no Bom Menino, voltando para a dança, também para o Lítero e depois para o [Colégio] Gladys Brenha e percebi que não tinha nada a ver com academias e fundei a primeira escola de capoeira do Maranhão, que foi a escola de capoeira do Laborarte. O último trabalho que realizei aberto ao público foi "Quem nunca viu, venha ver" e outros que me deram prêmios, como a gravação de um CD. Hoje tenho minha forma de ensinar, buscando sempre a forma indígena que tem na capoeira, pois estudei com os índios samangó - só o berimbau dos instrumentos participa e tem uma só batida de marcação iúlna (sic) - a batida do berimbau é mudada e tem uma formação de entrada dos instrumentos. O Mestre chama, colocando ritmo e ordenando a entrada de cada instrumento - agogô, atabaque, berimbau contrabaixo, berimbau viola, berimbau violinha, reco-reco e pandeiro; entra também as palmas. Santa Maria - uma batida que diferencia das outras duas é que tem duas batidas de marcação, sempre acompanha com as palmas. Marvana - com três palmas Caudaria - com dois toques e três batidas Samba de roda - neste ele explica que não precisa tocar bem, pois cabe a cada um o seu interesse pelo aperfeiçoamento. Angola - é mais compassada e cheia de ginga. Cabe ressaltar que a "iúna" é destinada a recepção de pessoas na roda e momentos fúnebres. Ladainha - é uma louvação a Deus e as formas de vida e espírito que queiram citar. O mestre não participa da roda, ele coordena, ensina, dando ritmo e puxando as músicas.

Mestre Pato ou Patinho ANTÔNIO JOSÉ DA CONCEIÇÃO RAMOS

Patinho autografando 1º CD de Capoeira do Maranhão


O pato rouco, outra alcunha do Mestre recebida após a retirada das amígdalas e ter feito quatro raspagens nas pregas vocais, nasceu em São Luís, na casa onde mora até hoje, na Rua São Pantaleão, casa 513, Centro, em 14 de setembro de 1953. É lá, próximo à igreja concluída em 1817, de mesmo nome da sua rua e de seu berço esplêndido, que surge para o mundo o 15º filho de Djalma Stefânio Ramos e Alaíde Mendonça Silva Ramos. É por lá, em 1962, os primeiros passos para a vida e para a capoeira, do menino que veio raquítico, com deficiência respiratória e febre reumática. Apenas 9 anos de idade foram suficientes para conhecer e deslumbrar-se com a manifestação artística que se tornaria sua missão e sua trajetória. “Fugi de casa num sábado, de manhã. Vi dois galos brigando, próximo à Rua da Palha [divisa com a São Pantaleão]. Eu nunca tinha visto aquilo, cara”, conta entusiasmado. “Em seguida, do outro lado, olhei Jessé [Lobão, capoeirista maranhense que havia sido treinado por Djalma Bandeira, no Rio de Janeiro, e, ao retornar para o Maranhão, passou a promover brigas entre galos], fazendo meia lua (golpe tradicional da capoeira), batendo em uma lata pendurada em um arame preso [em duas extremidades]. De imediato tirei a atenção dos galos que estavam brigando e, numa atitude divina, imitei esse momento. E foi justamente por meio de Jessé Lobão, que Patinho descobriu, encantou-se e pôde agregar os primeiros valores oriundos da capoeira. MESTRE SAPO Em 1965, serem fontes de inspiração e aconchego da família; a casa é o lugar onde expiamos nossos pecados e externamos nossas angústias. A casa reflete nossa personalidade, que se perpetua além dos tempos e assim foi também com Pablo Neruda (19041973, poeta chileno nascido Ricardo Eliécer Neftali Reyes Basoalto. Construída pelo arquiteto Germán Rodríguez Arias, em 1953, no bairro de Bellavista, em Santiago do Chile, está uma das casas de Neruda, um dos mais importantes representantes da língua castelhana do século XX, cônsul em diversos países e Prêmio Nobel de Literatura, em 1971. Essa casa, batizada de “La Chascona”, atualmente é um museu com objetos que pertenceram ao poeta. “La Chascona”, uma das três casas-barcos construídas por Neruda, para “viver e amar” (as outras duas estão em Isla Negra, no litoral central do Chile, e em Valpaíso, cidade que sedia o Congresso chileno), foi batizada com esse nome em homenagem a Matilde Urrutia, sua terceira esposa, e às suas abundantes madeixas quase sempre despenteadas. A casa é “um quebra cabeça de madeira e concreto abraçando o Cerro que observa a capital, uma cidade que reside dentro de uma coroa de montanhas graciosamente lambendo os pés da cordilheira dos Andes”. Atualmente, a casa de Santiago é conservada tal como era no tempo em que Neruda e Matilde a habitavam, com sua arquitetura curiosa e seus majestosos jardins. Em seu interior podem ser vistos objetos valiosos que pertenceram a ele, colecionador obsessivo, destacando-se a pinacoteca composta por quadros de pintores famosos e a medalha do Prêmio Nobel. “La Chascona”, declarada Monumento Histórico, em 1990, é administrada por uma Fundação que leva o seu nome, bem como as outras casas em Isla Negra (onde estão enterrados os restos mortais dele e de Matilde) e em Valparaíso. As coisas que têm alma são sombras do passado. E como acontecia a cada final de filme seriado: voltem na próxima semana (vez), com o final deste texto. Antônio Augusto Ribeiro Brandão Economista, membro da Academia Caxiense de Letras e do IWA, fundador da Academia Ludovicense de LetrasMestre Patinho, já totalmente inserido e embriagado pela fonte da capoeira, conhece Anselmo Barnabé Rodrigues, o Mestre


Sapo, discípulo do baiano Washington Bruno da Silva, o Mestre Canjiquinha (1925-1994), em oportunidade de demonstração realizada no Palácio dos Leões. Por conseguinte, Sapo, de acordo com relatos populares, fixa residência em São Luís, possivelmente a convite de integrantes da gestão do então governador do Estado José Sarney. O intuito seria promover a capoeira, o que o colocaria no posto de referência mais efusiva e responsável pela reaparição do jogo-arte durante a década de 1970, no Maranhão, além de ter sido também o mais proeminente incentivador e professor de Patinho. ORIGEM DA CAPOEIRA NO MARANHÃO Considerada patrimônio imaterial da cultura brasileira desde 2008, por decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a manifestação artística, e luta de outrora, oriunda das senzalas, dos guetos, sob a tutela de escravos negros a fim de protestar contra mazelas sociais, tem indícios de ter aparecido no Maranhão na década de 1870, na região da Baixada. Todavia, há também registros que narram sua aparição entre 1830 e 1840, reaparecendo, já na capital maranhense, aproximadamente, 100 anos mais tarde. A partir daí esquiva-se para ressurgir no início da década de 1960, representada pela Academia Bantu, pioneira em capoeira no estado. À frente do projeto estava o aluno do Mestre Artur Emídio (1930-2011), o Mestre Roberval Serejo (1936-1971), um marinheiro que serviu a Marinha de Guerra do Rio de Janeiro e foi morto quando trabalhava na construção do Porto do Itaqui. Há vários relatos, portanto, inclusive de Mestre Patinho, que afirmam que Mestre Roberval Serejo foi antecessor de Sapo. É possível destacar, ainda, como antecessor de Mestre Sapo, Firmino Diniz, aluno de mestre Catumbi, no Rio de Janeiro. Posteriormente, tornar-se-ia um dos expoentes mais expressivos e fomentadores da capoeira em rodas de rua realizadas em praças da capital. Além do Mestre Roberval Serejo, participavam da Bantu, Mestre Diniz, Mestre Jessé Lobão, Babalú, José Anunciação Gouveia, Ubirajara, Elmo Cascável, Alô, Mestre Patinho. Com a missão de dar continuidade ao legado e ao conhecimento buscado e adquirido com esforço, sempre “na barganha do aprender”, por meio de vários mestres como João Pequeno (1917-2011), João Grande, Curió, Jaime de Margrante, Artur Emídio, sobretudo após a morte de Mestre Sapo (em decorrência de atropelamento no trânsito do Bairro da Cohab, em 1982), Mestre Patinho delineia sua sina na capoeiragem, desde que fora aluno e colaborador de Sapo, no Departamento de Educação Física, Esportes e Recreação; da Secretaria de Educação do Estado. “Pra eu ter o armazenamento mais aproximado do que é o jogo [da capoeira] foi necessário ir buscar a brasilidade em muitos mestres”, garante. Para quem, de alguma forma, já teve contato sobre o jogo corporal, deve ter tido notícia quanto aos estilos da capoeira: regional e angola. Todavia, Patinho afirma com convicção que a capoeira, o seu ritual do dia a dia, é uma só. “No estilo regional, só há uma altura, em cima; na de angola, em baixo e lento. E não é isso. A capoeira que eu conheço tem fundamentos: tem três alturas, três andamentos e três distâncias, para que se venha a perceber a diversidade e a importância de se dominar de forma bem lenta, bem equilibrada, de forma ambidestra. A Psicomotricidade fica de cabeça pra baixo, onde tórax vira cervical, mão vira pé, pé vira mão, perna vira braço. E não é aleatório. O que aprendi em 50 anos, posso ensinar em cinco. Hoje eu consigo colocar leigo na leitura da capoeira e em três meses dentro da roda”. IN FÁBIO ALLEX. O CAPOEIRA. POETA DAS EXPRESSÕES CORPORAIS. Publicada no Jornal Pequeno em 11 de fevereiro de 2012. http://fabio-allex.blogspot.com.br/2012/02/o-capoeira-poeta-das-expressoes.html


SOMBRAS DO PASSADO ANTÔNIO AUGUSTO RIBEIRO BRANDÃO Economista, membro da Academia Caxiense de Letras e do IWA, fundador da Academia Ludovicense de Letras Há uma data gravada na grade de ferro que ainda encima a porta da casa onde moramos à rua Benedito Leite, 721 (antiga rua do Cisco, 23), em Caxias, outrora de nossa propriedade: 1872. Essa grade foi das poucas coisas originais remanescentes naquele imóvel situado em área tombada pelo patrimônio histórico, mas inteiramente descaracterizado nos dias de hoje. Questões de pouca razão e de nenhuma sensibilidade por parte das autoridades competentes. Vivíamos o ano de 1946 quando nossa família mudou-se para a rua do Cisco e a verdade é que o tempo passou, fomos ficando e chegamos até mais longe; em 1980, ano em que meu pai morreu, ele estava justamente naquele espaço sagrado comandando mais uma de suas reformas. Viveram naquela casa pai, mãe, dez irmãos, coadjuvados por muitos amigos e colaboradores, desde os tempos em que os postes de iluminação pública eram de madeira, a rua calçada de pedras brutas e ainda existia, mais acima, a casa onde morou o poeta caxiense, nascido na Mata do Jatobá, Antônio Gonçalves Dias. Todos amam a casa onde moram ou moraram por serem ou terem sido moldadas à sua maneira, refletirem suas alegrias e tristezas, serem fontes de inspiração e aconchego da família; a casa é o lugar onde expiamos nossos pecados e externamos nossas angústias. A casa reflete nossa personalidade, que se perpetua além dos tempos e assim foi também com Pablo Neruda (1904-1973, poeta chileno nascido Ricardo Eliécer Neftali Reyes Basoalto. Construída pelo arquiteto Germán Rodríguez Arias, em 1953, no bairro de Bellavista, em Santiago do Chile, está uma das casas de Neruda, um dos mais importantes representantes da língua castelhana do século XX, cônsul em diversos países e Prêmio Nobel de Literatura, em 1971. Essa casa, batizada de “La Chascona”, atualmente é um museu com objetos que pertenceram ao poeta. “La Chascona”, uma das três casas-barcos construídas por Neruda, para “viver e amar” (as outras duas estão em Isla Negra, no litoral central do Chile, e em Valpaíso, cidade que sedia o Congresso chileno), foi batizada com esse nome em homenagem a Matilde Urrutia, sua terceira esposa, e às suas abundantes madeixas quase sempre despenteadas. A casa é “um quebra cabeça de madeira e concreto abraçando o Cerro que observa a capital, uma cidade que reside dentro de uma coroa de montanhas graciosamente lambendo os pés da cordilheira dos Andes”. Atualmente, a casa de Santiago é conservada tal como era no tempo em que Neruda e Matilde a habitavam, com sua arquitetura curiosa e seus majestosos jardins. Em seu interior podem ser vistos objetos valiosos que pertenceram a ele, colecionador obsessivo, destacando-se a pinacoteca composta por quadros de pintores famosos e a medalha do Prêmio Nobel. “La Chascona”, declarada Monumento Histórico, em 1990, é administrada por uma Fundação que leva o seu nome, bem como as outras casas em Isla Negra (onde estão enterrados os restos mortais dele e de Matilde) e em Valparaíso. As coisas que têm alma são sombras do passado. E como acontecia a cada final de filme seriado: voltem na próxima semana (vez), com o final deste texto.


ETA! SONHO DA PESTE! AYMORÉ ALVIM APLAC, ALL, AMM. A pequena não me saia da cabeça. Aliás, pequena não, um mulherão. A danada era bonita demais. Corpinho bem feito, cheio de curvas, rolicinho. Pescoço um pouco longo encimado por uma cabeça bem esculpida coberta por uma cabeleira curtinha que refletia ouro sob os raios do sol. Lábios cheios e róseo contornando uma boca pequena e bem desenhada. A mulher parece que se encastelou na minha cabeça. Não saia de jeito algum. Quando a encontrava tentava de todas as maneiras uma aproximação, mas a pequena era abusada, cheia de manha. Tinha a capacidade de me driblar como nunca. Não acreditava em nada que lhe dizia ou não queria acreditar, buscando sempre evitar um possível confronto que mais cedo ou mais tarde seria inevitável. Por que? Eis a questão que nunca respondia. Numa tarde, ocorreu o inevitável encontro. Ela vinha, eu ia. Olhamos um para o outro. Paramos. - O que tu queres comigo? - Quem, eu? Advinha. Ela fez um ar de riso, melhorou. Conversamos por alguns minutos, nem sei quantos. O papo corria como esperava. Então, pensei: este é o momento. Fixei nos olhos dela. Ela olhava para cima, para baixo, para os lados. Começou a esboçar certo nervosismo. Disse para mim mesmo: preparar para o ataque. Nesse momento, ela resolveu fitar-me com aqueles olhos castanho-escurose profundos. Ficou séria. Por um momento senti uma coisa que não sei bem explicar mas logo me recuperei quando ela me disse esboçando um leve sorriso. - Hum! O que tu queres, pequeno?? - Você. Ela, então, tomou uma respiração profunda enquanto lhe tomava a cabeça entre as duas mãos. Olhei nos seus olhos já com certo brilho e a puxei firme, mas com suavidade. Seus olhos foram fechando e nossos lábios se colaram num beijo louco, prolongado, intenso. Ela não reagiu, então demorei um pouco mais ate se exaurir aquela emoção que de há muito me consumia e que ora me invadia. Depois fomos nos afastando pouco a pouco. - Por que você fez isso? - Porque eu quis, mas se você quiser não farei mais. - Não foi isso que perguntei. Só quis saber por que fez isso. Eu a fitei, ela me fitou. Eu sorri, ela também. E outro beijo nos uniu enquanto uma fina chuva caia sobre os nossos corpos. - Ah! Te escondes depressa que papai está me chamando. Acordei todo molhado e com uma ponta do travesseiro, ainda, dentro da boca. Mas quem estava chamando era o padre Leo, o disciplinário ou prefeito: - Acorda, rapaz, o sino já bateu há tempo. Já estás atrasado. Após a missa vá falar comigo.


Fui. - Com quem tu estavas sonhando? Perguntou o padre. - Quem, eu? - E quem mais poderia ser? Tu estavas sonhando concupiscência. - Com quem, padre? - Deixa pra lá. Após o café vais ficar de pé, na parede do refeitório, até lembrares com quem estavas sonhando. Vá escrever também 500 vezes o significado de concupiscência. Logo depois, padre Artur vai saindo do refeitório... - O que foi dessa vez, Aymoré? - O padre Leo quer que eu me lembre com quem estava sonhando. - Bem feito. Seminarista não sonha, rapaz, só estuda e reza. Foi ou não um sonho da peste? Seminarista sofre..., em compensação, nunca mais esqueci da tal concupiscência. É isso aí...


O LATIM E A MESÓCLISE... RAIMUNDO VIANA Profsessor Universitário; Vice-Presidente da Academia Brejense de Letras Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras – ALL Jamais, confesso, pensei vir escrever esta crônica. Devo a motivação ao Presidente Temer. Não que o tema – O Latim e a Mesóclise – não me merecesse uma Reflexão. Ambos são extraordinários instrumentosda comunicação elegante; escorreita.; e erudita. O que requer do comunicador prévio conhecimento gramatical, e sensibilidade estilística. O Presidente demonstra possuí-los com muita propriedade, coisa rara nos dias de hoje!... O texto latino prima pela precisão. Não acolhe em sua estrutura palavras soltas, desconectadas, sem função gramatical determinada na sua comunicação. Verifica-se nele que as conjunções e modos verbais estabelecemo equilíbrio e o entrosamento de suas partes, resultando um conjunto bem ordenado, e harmonioso de muita vitalidade comunicativa. Comprovam-no os discursos – as Catlinárias à frente – de Cícero, extraordinário orador romano. Outro exemplo é a Eneida de Virgílio – Um deleite!... A essa disposição harmoniosa dos termos na frase latina segue a colocação pronominal na Lingua portuguesa. O verbo é o centro difusor de toda a comunicação.Os pronomes em torno dele se posicionam: antes (próclise); no meio (mesóclise); depois (ênclise);e agregam-se aos demais elementos da frase de cuja harmonia resulta a beleza do texto – dí-lo-iam os tomistas: “varietatespartium, pulchritudoomnium” ( a variedade das partes constitui a beleza do todo). Infelizmente, nos dias de hoje, a beleza e a sensibilidade manifestas no texto latino, dificilmente,se transferem para o da Lingua Portuguesa. O elo de origemque liga, visceralmente, os dois Idiomas, cada dia, se torna mais desconhecido, e, consequentemente, menos valorizados por seus usuários – dí-lo-iam os tomistas: “nihilvolitumquinpraecognitum” ( nada é querido, sem que seja previamente conhecido). O que decorre, não há negar,do desconhecimento da Lingua Latina, cujo estudo, hoje,se encontra totalmente excluído da grade curricular de nossos Instituições de Ensino. E da Sacristia também!......Os Seminários Católicos ( sic) tradicionalmente seus mais fiéis usuários e estudiosos eliminaram-na da Sala de Aula, o que priva os futuros padres de uma formação linguística e humanística consistente. E, de quebra, nega-lhes o acesso a esse conhecimento Transformador; Indutor ao exercício da Reflexão;Condutor à maioridade intelectual; ; e sobretudo Facilitador de sua pregação.Eles não o merecem! O Concílio Vaticano II ( 1962/1965) substituiu, na Administração do Ofício Religioso, a Lingua Latina pelo vernáculo de cada povo. Retirou-a do Altar, e não da Sala de Aula. Ela segue, até hoje, na mesma condição de Lingua Universal da Igreja Católica. Seu estudo continua de importância fundamental para todos os profissionais da Área Humanística ( padre ou não) que busquem uma formação intelectual sólida. Cá entrenós, na história da vida intelectrual de nossa Cidade, encontramos uma plêiade de intelectuais notabilizados por sua ciomunicação erudita, de muita riqueza estilística, gestada à semelhança do texto latino.Os religiosos – Cônegos Ribamar Carvalho, e Antônio Bomfim à frente – ilustraram os púlpitos da Igreja Católica. Os políticos – a título de exemplo, o nosso Celso da Conceição Coutinho enalteceram a Tribuna Parlamentar. Os Jornalistas- Bernardo Almeida era um deles -fizeram, Brasil afora, história nas Redações… Os Professores – Rubem Almeida, símbolo maior da Categoria - do Magistério fizeram um Ministério de Vida.! Todos, em seus respectivos espaços de trabalho, na comunicação com seu público receptor, guardaram uma saudávelproximidade c om o “modus dicendi”da Lingua Latina. A Mesóclise, sem dúvida,faz parte desse contexto. Foi e serásempre um Instrumento de muito potencial comunicativo no exercício da Linguagem culta.


ROSALIA DE CASTRO ESCRITORA AMBIENTALISTA E FEMINISTA ADELA FIGUEROA PANISSE. Biologa,Ambientalista. Escritora MAITE CARAMÉS CASAL Filologa https://youtu.be/bILlYXFtnxo 1.- A PAISAGEM EM ROSALIA O SENTIMENTO GALEGO DA PAISAGEM A grandeza desta escritora consiste, fundamentalmente na sua coragem e na sua autenticidade. Coragem para quebrar os preconceitos da sua época, que determinavam o papel da mulher como o anjo do lar, suporte afetivo do esposo e responsável das crianças.( 2)Preconceitos que atingiam também as classes sociais, e que determinavam que quem nascia pobre tinha tudo perdido em quanto os privilégios estavam reservados apenas para quem nascia em família abastada. Preconceitos também para o idioma da Galiza que determinava que o galego era a língua das classes populares humildes e sem possibilidades de alfabetização, em quanto o castellano era o idioma das classes poderosas e chamadas “cultas”. Rosalia denunciou e lutou contra todos esses preconceitos. Porque, por cima de todo a ela a inspira um fundamento ético. Ética e estética unem-se em esta autora fazendo-a excecional. Foi uma mulher rebelde em todo o sentido da palavra. Uma rebeldia multifacética que incorpora todos os aspetos da vida. Ela é, “Unha Rosa De cen Follas” como ele mesma diz e como afirma o estudo de Carvalho Calero(3) Nessa rebeldia ela incorpora também o ambiente. E faz da paisagem galega a sua aliada. A paisagem faz parte dela e ela faz parte da paisagem. O sentimento da paisagem é uma caraterística bem galega. A nossa é uma paisagem complexa muito humanizada em que cultura humana e ambiente aparecem imbricados como o faria um ser simbiótico. Essa simbiose está hoje a se quebrar e os humanos que vivemos na Galiza sofremos a beira duma fenda que se abre pouco e pouco afastando-nos da natureza e de seu pulso vital. Mas, ainda se pode considerar uma forte ligação afetiva entre nós e a nossa paisagem e que deixa funda pegada não só no conjunto dos habitantes, mas, especialmente nos poetas galegos Galiza docemente está olhando o mar tem vales e montanhas e terras p’ra lavrar ( Manuel Maria).(4) E quando estamos longe da Terra sofremos da sua falta e de morrinha Aureliano Pereira expresou muito bem nesta cantiga que musicou Xoan Montes eque se fez popular Longe ta terrinha longe do meu lar que morrinha tenho que angustias me dão ……... mas quem aló che me dera anque deitad’ antre ortigas!(6)


Rosalia incorpora o sentimento da paisagem seguindo a tradição galico-portuguesa dos cancioneiros medieveis. 2.-POETA REVOLUCIONÁRIA: POESIA E NATUREZA. Rosalia com os seus “Cantares Gallegos” eleva a categoria de monumento poético a expressão popular do folklore galego. É , já por isso uma revolucionária. E, ainda, mantém a sua identidade galaica introduzindo a paisagem na sua obra como uma personagem mais. A natureza em Rosalia tem uma força condicionante.Quer nos Cantares como nas suas outras obras. Há uma verdadeira osmose entre a autora e a natureza . “ ¡Cal o sol relumbrava/¡Que mansamente marmuraba o rio!/I o paxariño voador cantaba/mentras que eu camiñaba/lixeira ó meu avio.” (En Cornes) Follas Novas. Era no mes de maio/no mes do amor, das prantas e das frores/mes dos suaves perfumes/i os transparentes cores/dos trinos dos paxariños/das cálidas e frescas alboradas… ….. PASA RIO Pasa rio pasa rio /co teu maino rebulir/pasa pasa entre as froliñas /color de ouro e marfil.(10)

Ou , ainda este fragmento das “Campanas de Bastavales” de que eu gosto especialmente porque um dos meus filhos recitava-o no colégio de pequeninho: Paseniño, paseniño, /vou pola tarde calada /de Bastavales camiño. /Camiño do meu contento; /i en tanto o sol non se esconde, /nunha pedriña me sento./E sentada estóu mirando /cómo a lúa vai saíndo,/cómo o sol se vai deitando. (11)

Case podemos ver o mar e o sol se deitando nele. Case podemos sentir a pedrinha baixo as nossas coxas e o prazer da contemplação da paisagem, doce e viçosa das Rias Baixas. A explosão das roseiras em flor na primavera, o cheirinho doce dos chucha-meles ou o suave recendo das flores brancas do sabugueiro. A natureza vem em ajuda da poeta, para fazer justiça e para apoiar as suas reivindicações contra o maltrato que Castilla e Castellanos fazem aos galegos que lá vão ganhar o sustento como alugados ou temporeiros. Este poema é, “auténtica dinamita” , em palavras de Pilar Garcia Negro(12) 3.-PAISAGEM E PANTEISMO.- CELTISMO O Panteísmo em Rosalia é algo como a tábua de salvamento num naufrágio pressentido, doloroso e inevitável provocado pola simples dor de viver, que se acentua em sua vida com o passar dos anos. A natureza funciona como o refugio que não a dececiona, porque não depende das maldades dos humanos nem das injustiças da vida. Ela( a natureza) permanece e sempre é generosa. “No lejos, en soto profundo de robles, en donde el silencio sus alas extiende,/ y da abrigo a los genios propicios,/ a nuestras viviendas y asilos campestres,/ siempre allí, cuando evoco mis sombras/, o las llamo, respóndeme y vienen”….. ……...“En cada fresco brote, en cada rosa erguida,/ cien gotas de rocío brillan al sol que nace;/ mas él ve que son lágrimas que derraman los tristes/ al fecundar la tierra con su preciosa sangre (En Las orillas del Sar) (13)


Erick Carvalho de Mello(14) assegura que podemos encontrar origens de celtismo na Galiza já no Padre Sarmiento, o grande vulto da cultura galega do século XVIII. Hoje há uma corrente ideológica muito forte neste sentido entre as modernas fornadas de historiadores da Universidade de Compostela como José Barbosa(15)a ou o Padre Antonio Fontes de Vilar de Perdizes ( Tras-Os-Montes, Portugal) (16) Nos povos celtas a natureza joga um importante papel no imaginário coletivo dos seres humanos. Se há ou não celtismo na obra de Rosalia seria discutível. Eu creio que não é um celtismo consciente , mas sim inconsciente. Residido na sua Conceição da Natureza como ente criador, em comunhão com os seres humanos, ( nomeadamente ela e a sua poesia) e o resto dos seres vivos. Comunhão que se estende aos não vivos. “ dicen que no hablan las plantas,ni las fuentes ni los pájaros/ ni las ondas com sus rumores, ni com su brillo los astros:/ lo dicen, pero no es cierto, pues siempre cuando yo paso/ de mi murmuran y exclaman:- Ahí va la loca, soñando/ com la eterna primavera de la vida y de los campos...”(18)

Há animismo em Rosalia, como aliás ,no inconsciente do povo galego . A morte é ,apenas isso: Um passamento:Porque as almas dos defuntos fazem o passamento deste mundo ao “outro” 4.-ESTRANXEIRA NA SÚA PATRIA Vexamos este curioso poema que ela titula assim e em que almas e vivos convivem. Francisco Rodriguez faz um pormenorizado estudo dele na obra citada. Na xa vella baranda /entapizada de hedras e de lirios /foise a sentar calada e tristemente frente do tempro antigo./Interminable precesión de mortos,/uns en corpo nomáis, outros no esprito, veu pouco a pouco aparecer na altura/do direito camiño,/que monótono e branco relumbraba, tal como un lenzo nun herbal tendido./Contempróu cál pasaban e pasaban collendo hacia o infinito,/sin que ó fixaren nela/os ollos apagados e afundidos deran siñal nin moestra /de habela nalgún tempo conocido.( 19)

As referencias a Santa Companha, em Rosalia são recorrentes. O convívio dos seres vivos com os do “ mundo inferior” ou que já fizeram o “passamento” aparece em muitas das suas poesias e ainda no caráter mágico e simbólico de seu romance “ El Caballero de las Botas Azules”. Nas crenças populares as ánimas em pena caminham polos caminhos nas noites. É tão arraigada esta crença que eu conheço gente que assegura ter visto a Santa Companha. (20) Ao fim, galegas , celtas, Africanas ou Brasileiras, os seres humanos são o mesmo para onde quer que olhemos. E, quando vivemos mergulhados numa paisagem poderosa, onde a vida cobra força e mantêm o seu domínio, as nossas vidas de seres humanos rebelam-se claramente fazendo parte dessa natureza viçosa e criadora, como é o caso da Galiza ou Portugal. Veja-se esta união com a natureza e o além no pranto pola morte da sua mãe Ah,de dolientes sauces rodeada,/de húmeda hierba y ásperas ortigas;/¡Cual serás, mi madre, en tu dormir turbada/por vagorosas sombras enemigas!( A mi Madre)22

A “Negra Sombra”, a sua poesia mais conhecida , a mais enigmática e mais transcendente monstra esse “elan” vital e não vital que acompanha a todo humano ainda depois de perder sua condição de vivo.Pilar Garcia Negro sustem que a sombra é aquela força que nos afasta do mundo real . É a sombra que pode nos colocar no mundo do imaginário do não real. É a que nos engana e nos prende para alem do mundo da cordura,Ela própria reconhece-se como “tola” ou louca. Não porque o esteja, mas por aquele desassossego que provoca a tensão criativa que a impulsa a escrever como se isso for uma necessidade vital.


Porque a sua sensibilidade extrema a faz sofrer com quem sofre e rebelar-se contra as injustiças que se cometem contra o povo indefeso e iletrado Vendéronlle os bois,/vendéronlle as vacas,/o pote do caldo/i a manta da cama./Vendéronlle o carro/i as leiras que tiña;/deixárono sóio/coa roupa vestida. “Este vai-se e aquel vai-se/ e todos todos se vão/ Galiza ficas sem homens que te poidam traballar” “ Se o mar tivesse varandas fora-te ver ao Brasil/ Mas o mar não tem varandas,/ meu amor, por donde hei d’ir?( Cantares Gallegos)

A Sombra é o azar, o fado o inevitável que nos pode levar a destruição. A Sombra é o destino malfadado da Galiza que a faz submetida a um poder alheio. Que a faz negar-se a sim própria. Que lhe impede levantar o voo e por em valor tudo o que a Natureza generosa lhe tem concedido. 5.-A IDENTIDADE NA NATUREZA: Esta natureza viçosa que temos faz acordar em nossos poetas galegas/os um forte amor a Terra. Depois de Rosalia a natureza e o ambiente é cantado como sinal de identidade e de Galeguidade. A identificação com a natureza está em Rosalia, e , em geral, em toda a poesia galega. Porque a Paisagem nos namora, e faz-se lírismo neles como em A. Cunqueiro( 28) No ninho novo do vento/hai uma pomba dourada/quem poidera namora-la, meu amigo

Ou nos abruma e nos doe, quando contemplamos inermes a sua destruição. 6.-A ECOLOGISTA: Rosalia monstra-se moderna nesta faceta reivindicativa. O Panteismo, da passo a um reconhecimento do ambiente como algo de valor, que herdamos de nossos maiores e que temos a obriga de deixar em herança aos nossos descendentes. Encontramos nela bem diferenciados conceitos que, ainda hoje a maioria da gente não diferencia. Bosque não é o mesmo que souto nem que carvalheira ou sobreiral. Ela faz diferencias não só de espécies, mas de comunidades vegetais: Xigantescos olmos, mirtos /que brancas frores ostentan, /unhas con cogollos inda,/outras que o vento esfollea. /Buxos que xa contan sigros /que xuntos verdeguean /formando de rama e troncos/valos que naide atravesa,/nos que moi descansadasfan o seu niño as culebras./Loureiros, irmáns dos buxos /pola altura i a nacenza, /pois arraigaron a un tempo /no máis profundo da terra. Limoeiros e laranxos /que o verde musgo sombrean /i olido esparcen de azare /con que a xente se recrea./Eternos bosques en donde /sombrío misterio reina, /onde só os paxaros cruzan/polas tristes alamedas /onde ó marmular as fontes un coidara que se queixan,/i onde o mesmo sol do estío /melancónico penetra. /I en medio desta espesura /desta hermosa tristeza, /nunha casa inda máis triste,/si de fachada soberba,/alí din que ten o niño /a nai de toda-las meigas: casa con portas de cedro,/en cada ventana reixa,/cociña coma de monxes,silencio coma de igrexa, /criados que non dan fala,/cans que morden como feras./Alí a viron negra e fraca /como unha gata famenta, no máis san e máis frorido/da hermosa terra gallega. /I estes mals que nos afrixen din que todos veñen dela…/¡Mais socede nesta vida/que os que tén culpa n'a levan! ( Follas Novas)(29)

A identidade entre seres humanos e paisagem mostra-se no poema Castellanos de Castilla, onde liga a dureza do ambiente com a dureza das suas gentes que menosprezam aos galegos que lá vão de “alugados” a ceifar o pão. Á sega. A poesia que Pilar Garcia Negro sinala como “dinamita”pola sua denuncia contundente:


¡Castellanos de Castilla,/tendes corazón de aceiro,/alma como as penas dura,/e sin entrañas o peito! …. Que Castilla e castellanos,/todos nun montón a eito,/non valen o que unha herbiña/destes nosos campos frescos. Sólo pesoñosas charcas/detidas no ardente suelo,/tes, Castilla, que humedezan /esos teos labios sedentos. Que o mar deixóute olvidada/e lonxe de ti correron/as brandas auguas que traen/de prantas cen semilleiros. Nin arbres que che den sombra /nin sombra que preste alento…/Llanura e sempre llanura, deserto e sempre deserto... /Esto che tocóu, coitada,/por herencia no universo;/¡miserable fanfarrona...!, triste herencia foi por certo./En verdad non hai, Castilla,/nada como ti tan feio, /que aínda mellor que Castilla valera decir inferno. (30)

A defesa da Terra,em virtude da sua paisagem, e a união que têm com ela os que cá habitam ( Galiza) conduz , na poesia Calade, a um moderno conceito do que hoje chamamos “Percepção Cultural da Paisagem” Calade!: Hai nas ribeiras verdes, hai nas risoñas praias/ e nos penedos ásperos do noso imenso mar/fadas de estraño nome, de encantos non sabidos/ que só com nós comparten seu prácido flogar Hai entre a sombra amante das nosas carvalleiras/ e nas curtiñas frescas no vívido esplendor,/ e no romor das fontes, espíritus cariñosos / que só ós que aqui naceron lles dan falas de amor I hai nas montañas nosas e nestes nosos ceos/ en canto aquí ten vida, en canto aquí ten ser,/ cores de brillo soave, de transparencia humida,/ de vaguedade incerta, que a nós só da pracer. Vos, pois, os que nachechedes na orela doutros mares,/ que vos quentás a chama de vivos lumiares,/ e só vivir vos compre baixo un ardente sol,/ calai se n’entendedes encantos destes lares,/ cal n’entendendo os vosos, tamén calamos nós.(Follas Novas)(31)

Esta sempre foi uma poesia muita amada por mim, pois utilizei-a com frequência nas minha aulas de “Ciencias da Terra e do Ambiente”, para introduzir o tema “A Percepción Cultural da Paisaxe”. Com efeito, Rosalia rebela-se contra quem alcunha de feia Galiza, arguindo que estas pessoas simplesmente não compreendem a nossa idiossincrasia. A paisagem faz parte da nossa cultura. Esse é seu argumento. Por tanto : “sei educados e respeitai os nossos gostos! ( a nossa cultura) como também nós respeitaremos os vossos . Rosalia é Ecologista (32) pola sua identidade com o ambiente, e por seu sentido ético da vida. Como diz Yara Gonzalez-Montes: “La ética va a ocupar un lugar primordial em su poesia”. Eu tenho para mim que este é o seu motor principal. Por isso é grande, porque o sentido de responsabilidade vai unido ao ético e , jaquelogo ao estético, Não há estética sem ética . Ela não vê, apenas, um povo que sofre, vê também uma natureza que pode ser generosa, mas também que pode ser maltratada . E , deste jeito, chegamos à assombrosa modernidade em Rosalia : A defesa da natureza porque é um bem comum(31). Porque temos a obriga de lha render aos nossos descendentes da mesma maneira que nos foi transmitida por quêm nos precederam. O moderno conceito da Economia do bem Comum, está já presente na autora 33 Olhai senão estes versos de En Las Orillas del Sar. Poderiam ser escritos hoje pola atualidade da sua temática: A Desflorestação Bajo el hacha implacable,¡cuan presto! / em tierra cayeron / encinas y robles! /Y a los rayos del alba risueña/ Que calva aparece / la cima del monte/ Los que ayer fueron bosques y selvas / de agreste espesura, / Donde envueltas em dulce misterio / al rayar el dia/ flotaban las brumas /y brotaba la fuente serena / entre flores y musgos oculta, / hoy son áridas lomas que ostentan/ deformes y negras sus hondas cisuras.

Mais ainda :ecologista reivindicativa, a se queixar polo despojo provocado no Bosque de Conjo, ordenado polo Cardeal Payá, que acaba de chegar a Compostela desde Valencia. Rosalia tem razão. A tala


massiva desta antiquíssima floresta é um desastre ainda sem reparar hoje, pois em Conjo ( Compostela) nada fica daquela grande e diversa massa arbórea. Ela descreve as diferentes espécies que a compunham e que vão caindo sob o machado dos lenhadores. E polo que se vê deve ser a única voz que se levanta contra este atentado ambiental, Jamás lo olvidaré!.. De asombro llena/ al escucharlo, el alma refugiose/ em si misma y dudó.. pero al fin, cuando / la marga realidad, desnuda y triste,/ ante ella se abrió paso, em luto envuelta… …….. Profanación sin nombre!Dondequiera / que el alma humana inteligente, rinde / culto a lo grande, a lo pasado culto,/ essas selvas agrestes, esos bosques/ seculares y hermosos, cuyo espeso / ramaje abrigo y cariñosa sombra/ dieron a nuestros padres, fueron siempre / de predilecto amor, lugares santos/ que todos respetaron./ No! En los viejos robledales umbrosos, que hacen grata/ la mas yerma región, y de los siglos / guardaban gravada la imborrable huella.. ...Los pájaros huidos y espantados/ al ver dehecha su morada. … Mas nosostros, si talan nuestros bosques-quedan ya tan pocos.. Pero que’ Alguno exclamará indignado al oir mais lamentos/.. Porque gime así importuna esa mujer!.. Mas oh! Señor a consentir no vuelvas / que de la helada indiferencia el soplo/ apague la protesta em nuestros labios, / que es el silencio hermano de la muerte/ y yo no quiero que mi Patria muera,/ sinó que , como Lázarom Dios bueno! / resucite a la vida que há perdido / Y com voz alta que a la gloria llegue/ le diga al mundo que Galicia existe/ tan llena de valor / cual tu la has hecho, tan grande y tan feliz cuanto es hermosa.

Há nestes versos toda uma declaração de princípios. As árvores são a nossa herança e são o nosso futuro. Mas aquele verso, “Porque gime así importuna essa mujer” da-nos a chave de muitas cousas. Entre elas a suspeita de que será ridicularizada por se doer da destruição ambiental, e que esse menosprezo utilizará o “machismo” para ter mais força e tentar banalizar a sua protesta. ( Sabemos muito disso as mulheres que tentamos intervir na “cousa pública”) Polo que parece a queija de Rosalia não é só pola desfeita arvoricida , mas também polo silêncio que acompanha ao magnicidio. E só a voz dessa “inoportuna” mulher parece levantar-se contra o machado destrutor. Contra os abusos do poder de quem acaba de chegar e nada compreende desta Terra. E de quem, como o avarento Cardeal Payá, vai se movimentar polo dinheiro da venda da madeira, cego fronte ao valor da natureza que destruiu. Chegado de Valencia, parez não compreender o nosso amor a natureza e a nossa comunhão com ela. 7.-A MODO DE RESUMO OU COLOFÃO: Rosalia é, como ela mesma diz : Uma Rosa de cem folhas.(34 ) Multifacetada,como o é a mesma natureza que ela defende, nenhuma cousa de seu mundo lhe é alheia. E toma partido. Implica-se. Porque é uma mulher comprometida e porque a ética é o fundamento da sua vida. Por isso não pode ser alheia a nenhuma injustiça. Mesmo a que se faça contra da natureza. E canta a Galiza, como consequência do amor a natureza, a Terra ( Terra a Nosa 35) e a esta sua Nação que julga injustamente tratada e desprezada no conjunto dos povos da Espanha. Canta seus rios, as fontes, e regatos pequenos, o mar e os bosques, e não só. Canta aos carvalhos como árvore distinguida entre as árvores.(36) A raiz celta nelas aninhada. O conjunto da sua obra mostra uma Rosalia identificada com a sua terra e com suas Raízes no mais amplo sentido da palavra. É a primeira Ecologista. A primeira Feminista. A primeira Nacionalista. É a primeira socialista no senso de se doer da sociedade em que vive e de defender que todo o mundo tem direito as mesmas oportunidades.( A justiça pola man)37


Uma mulher de grande cultura , para a época em que lhe tocou viver. Boa cantora com uma linda voz de meço soprano. Boa atriz de teatro, tocava a guitarra o piano e a harpa. Era, sim, uma rosa de cem folhas. Como é a realidade, multi-facetaria. Bem haja nossa devanceira honra das mulheres e dos homens bons e generosos. ______________________ Notas: 1 Yara Gonzalez-Montes.Actas do Congreso Internacional de Estudios Sobre Rosalia( Tomo II, pag.127-133). Consello da Cultura Galega.1986 2 Marina Mayoral La oesia de Rosalia de Castro. Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes :http://www.cervantesvirtual.com/obravisor/la-poesa-de-rosala-de-castro-0/html/01bee4cc-82b2-11df-acc7-002185ce6064_22.html ( 2017) “Daquelas que cantan/ as pombas e as flores, /todos din que teñen/ alma de muller/ mas eu que n’as canto,/ virxe da Paloma/ ¡ai! De que a terei?” 3.- Carvalho Calero Ricardo. Actas do Congreso Internacional de Estudios Sobre Rosalia de Castro,IBID. Pag.(77-87) 4.-Manuel Maria : Os Soños na Gaiola.Ano: Cartonaxes Anmi. Lugo1968Galiza: Galiza docemente /está ollando o mar:/ten vales e montanas/e terras pra labrar! Ten portos, mariñeiros,/cidades e labregos/cargados de traballos,/cargados de trafegos! Galiza é unha mai /velliña, soñadora:/na voz da gaita rise,/na voz da gaita chora! Galiza é o que vemos:/a terra, o mar, o vento…/Mais hai outra Galiza/que vai no sentimento! Galiza somos nós:/a xente e mais a fala./Se buscas a Galiza/en ti tes que atopala! 5.ADEGA Cadernos: A Galiza dos Cen Mil Rios:http://adega.gal/media/documentos/C15_P_49_-_59_Galiza_o_pais_dos_cen_mil_rios.pdf 6.-Lonxe da terriña:Música de Xoan Montes e letra de Aureliano Pereira1966 7.- 500 Cantigas de Amigo. Obras Clássicas da Literatura Portuguesa.Edição Crítica de Rip CohenCampo das Letras. V.N. de Famalicão 2003 8.- Rosalia de Castro . Cantares Gallegos 9.-Xosé Luis Garcia Mato diz que a escutou a uma velhinha nas terras de Friol, http://joseluisgarciamato.blogspot.com.es/2013/09/os-romances.html.Também cantado por Santalices que o fez famoso. Recolhido por Elias Torres. http://200.137.196.58/galabra/images/stories/pdf/elias/novos/portugalvelasgaleguismo2009.pdf7 9 Elias Torres.G-Z Editora:http://agal-gz.org/faq/lib/exe/fetch.php?media=gzeeditora:cultura_portuguesa_e_legitimacom_do_sistema_galeguista.pdf9. 10.- José Pérez Ballesteros. Cancionero Popular . Dirigido por Antonio Machado. Madrid 1886.Teophilo Braga. Prologo 11.- Rosalia de Castro Cantares Gallegos 12.- Pilar Garcia Negro. O Clamor da Rebeldia. Premio Vicente Risco de Ciencias Sociais. 2010. Ed. Sotelo Blanco.2010. 14.-Erick Carvalho de Mello Doutorando em Memória Social na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) 15.- José Barbosa.que mantém as Jornadas galaico-portuguesas em Pitões das Junias ( Montalegre, Portugal) junto com o Padre Fontes, ilustre vulto da cultura transmontana, desde há mais de 10 anos. Nestas jornadas estudam-se diferentes aspetos da Coiné céltica sendo consideradas Galiza e Portugal um de seus integrantes mais sinalizados.http://jornadasgalegoportuguesas.blogspot.com.es/2012/ 16.-O Professor Higinio Fernandez da Universidade de Buenos Aires tem um estudo bem profundo acerca das Tribus Calaicas ( Celtas) pescudando as pegadas mais antigas dos/as Galegas/os através da toponímia galega.( Edições da Galiza, 2008) (16) 17.- Las Literatas.Carta a Eduarda” Artigo publicado por primeira vez no Almanaque de Galicia de Lugo (1865). Rosalía aborda os prexuízos sociais que dificultan que as mulleres se dediquen atarefa literaria. A obra parte dunha actitude semellante á adoptada no século seguinte por Virginia Woolf en A room of one’s owm(1929) Fonte:Rosalía de Castro. Obra completa Fundación Rosalía de Castro, Padrón, 1996,p. 493-495 18.- En Las Orillas del Sar 19.- Francisco Rodriguez:Rosalia de Castro, Extranxeira na sua Patria. ASPG 2011 20.-Na Galiza existem diversos lugares considerados pola cultura popular como “ Portas do Alem”, ou lugares em que o mundo inferior pode , eventualmente, conetar com o mundo dos vivos. Eu conheço duas, uma considerada de passagem horizontal, no Monte do Seixo em Cerdedo ( Pontevedra) Estudada por Carlos Solla e outra de passagem vertical em Oburiz, Guitiriz( André Pena Granha) ( Lugo)http://www.galiciaencantada.com/lenda.asp?cat=18&id=1737 http://despertadoteusono.blogspot.com.es/2012/02/os-deuses-da-morte-e-relacao-com.html 21.-Mia Couto utiliza estas crenças como figuras redundantes em case que todas as suas obras, mas nomeadamente em Mulheres de Cinza, das Arreias do Imperador, trilogia Moçambicana.Ed, Caminho,2016. 22 A Mi Madre. En Las Orillas del Sar. 23.-Bergson( Cita) :(L'élan vital désigne un processus créateur et imprévisible qui organise les corps qu'il traverse. C'est une force qui saisit la matière et introduit l'indétermination et la liberté. C'est la spontanéité créatrice (contrariée d'ailleurs par la nécessité de la matière). L'élan vital explique l'évolution du vivant.)


24.- Mª Pilar Garcia Negro Universidade da Coruña.ARREDOR DA NEGRA SOMBRA .Cadernos Ramon Piñeiro 2013 25 Carvalho Calero Contribución ao estudo das fontes literarias de Rosalía.Discurso lido o día 17 de maio de 1958 no acto da súa recepción,polo excelentísimo señor donRicardo Carballo Caleroe resposta do excelentísimo señor donRamón Otero Pedrayo Real Academia Galega. 26 .-Curros Enriquez:`Do mar pola orela mireina pasar/ Na frente uma estrela no bico um cantar/ e vinna tan soia na noite sem fin/ Que ainda chorei pola probe da tola/ eu que non tenho quem rece por mim 27 Uxio Novo Neira. Os Eidos.1955 28.- Alvaro Cunqueiro.Álvaro Cunqueiro. Cantiga nova que se chama riveira(Edición Obra en galego completa,Vigo, Editorial Galaxia, 1980 29. Rosalia de Castro Follas Novas. 30.- Rosalia de Castro Follas Novas. Esta é a poesia que Pilar Garcia Negro define como “unha bomba·( O Clamor da Rebeldia, op. citada). Como um simbolo claro e sem duvidas da injustiça e os abusos a que os pobres ( os galegos) são submetidos pelos mais poderosos. E, tambem o desprezo a que Espanha tem relegada a Galiza. Ainda noutro poema tambem bem contundente, a poeta afirma: Galiza non queras nunca chamarte española/ que España de ti se olvida/ siento tu tan hermosa. 31.- Calade! Em Follas Novas. 32 Andrés Pociña e Aurora Lópéz. Rosalia de Castro Obra Completa. Sotelo Blanco. Tomos I/ II.2004. 33 Elinor Ostrom: Economia dos Bens Comuns 34Andrés Pociña e Aurora López:Rosalia de Castro Estudios sobre a Vida e a Obra. Laiovento 2000,pags, 268- 273.( os seus estudos acerca desta autora são incompletíssimos e acabam por tocar todos os aspetos da sua obra) 34 Carvalho Calero Umha Rosa de Cem Folhas Actas do Congreso Internacional de Estudios sopbre Rosalia de Castro e o sei Tempo. Tomo II Universidade de Santiago Consello da Cultura Galega 35 Terra a Nosa! Este grito é muito popular na Galiza. Ainda ignorando de onde é que procede. A poeta é nosa até esse ponto.! ¡Terra a nosa! Baixo a prácida sombra dos castaños /do noso bon país;/baixo aquelas frondosas carballeiras que fan dose o vivir;/cabe a figueira da paterna casa,/que anos conta sin fin,/¡qué contos pracenteiros, qué amorosas falas se din alí!/¡Risas que se oien nas seráns tranquilas do cariñoso abril!/E tamén ¡qué tristísimos adioses/se acostuman oír!… ¡Ai!, o que en ti nacéu, Galicia hermosa,/quere morrer en ti. 36.-Los Robes. En Las Orillas del Sar: Bajo el hacha implacable / cuan presto/en tierra cayeron encinas y robles/…. Torna roble arbol patrio a dar sombra/ cariñosa a la escueta montaña/donde un tiempo la gaita guerrera/alentó de los nuestros las almas…/Torna presto a poblar nuestros bosques/ y que tornen contigo las hadas/ que algun tiempo a tu sombra tejieron/ del héroe gallego,/ las frescas guirnaldas. 37 A Justicia `pola man. Follas novas. 38.-Marina Mayoral Rosalia de Castro. Biblioteca Virtual Universal. Editorial del Cardo. Enlace:http://www.biblioteca.org.ar/comentario 39.- Patronato Rosalia de Castro. Poesias ao cuidado de Ricardo Carvalho Calero.1992. Links de interesse: Comparativa entre Florbella Espanca e Rosalia.: Letra e Fel Revista Literária Renata Bomfim. Escritora Capixabá. :http://www.letraefel.com/2013/07/rosalia-de-castro-flor-da-galicia.html http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/la-poesa-de-rosala-de-castro-0/html/01bee4cc-82b2-11df-acc7002185ce6064_11.html#I_9_ Maria do Cebreiro:http://www.cervantesvirtual.com/obra-visor/la-poesa-de-rosala-de-castro-0/html/01bee4cc-82b2-11df-acc7002185ce6064_11.html#I_9_ A paisagem estado emocional. https://valfluvialdolouridocorcoesto.com/2016/10/18/caminos-de-aldea-a-paisaxe-marcoambiental-do-estado-emocional-do-caminante/ El Pais: http://elpais.com/tag/rosalia_de_castro/a


A LOBA ESQUÁLIDA AYMORÉ ALVIM APLAC, ALL, AMM. Transcorria a década de 1940. Em um grupo escolar da rede pública, lá na minha terra, eu fazia o quarto ano do curso primário. Numa certa manhã, na aula de leitura, a professora nos deu um tema para ler. Cada um lia uma parte. Soeiro, que estava à minha frente, começou a ler um trecho que dizia: “...uma loba esquálida bramia pelas ruas do pequeno lugarejo com o seu filhote”. - Para a leitura. Seu Aymoré, o que é esquálido? - Não é esquálido, professora. É esquálida. - Muito bem. Então nos diga o que é esquálida. - Bem, professora, esquálida deveria ser uma “lobona” bonita passeando com seu filhote pelas ruas desse lugar que Soeiro falou. Agora, o que me encafifou foi por que ela bramia? Por que, professora? A turma começou a rir... - Seu Aymoré, você quer brincar comigo? - Quando, professora? Hoje não dá. Vou bater uma bolinha com a turma aí na praça, de tarde. - Você deixa de ser um pequeno atrevido e insolente. - Por que eu sou atrevido, professora? Agora, esse insolente eu não sei mesmo o que é. - Retire-se da minha sala e vá falar com a Diretora. Nesse ano, chegaram duas professoras normalistas. Uma era bem alta e loura, Altair. A outra, Ivelone, baixinha e vivia trepada num sapato salto Luiz XV(15cm) e gostava de usar saias “godê em forma”. Mas a baixinha era braba demais. Quando se enfurecia pulava numa perna só, “rodava a baiana como se diz hoje”. Quando cheguei à diretoria quem estava lá era justamente a baixinha. - O senhor por aqui outra vez, em menos de uma semana? O que foi que você aprontou agora? - Aprontar mesmo, eu não aprontei nada. A professora me perguntou por que uma loba que andava com um filho não sei por onde, era esquálida. Aí eu disse que com certeza o seu lobão, marido dela, deixava. A senhora não acha também que nesses casos o marido é que manda? - Eu não acho nada, pequeno atrevido. Eu quero saber o que foi que a professora achou? - Aí, ela me convidou pra brincar e eu disse que hoje eu não podia porque ia jogar bola com a turma. Ela, então, se zangou e me mandou pra cá. - Seu Aymoré.... - Foi, assim, professora. Agora me diga o que é esse tal esquálido? - Quem tem que lhe dizer é a professora. Fique aí de pé com a cara pra parede até o fim das aulas. Fiquei. O que poderia fazer? Daí há algum tempo... - Ivelone, Aymoré veio falar com você? Ele está aí com uma conversa fora de moda dizendo que você o convidou para brincar. - Esse pequeno não tem jeito mesmo. Deixa que eu vou leva-lo, pessoalmente, para dona Inês. Nós precisamos muito conversar.


No meio da caminhada... - Professora, o que a senhora vai dizer pra mamãe? - Eu vou dizer a ela que tu estás muito atentado, pequeno. Ninguém te aguenta mais. - Aí eu digo pra ela que a senhora se zangou porque me convidou pra brincar e eu não quis ir. - O que, moleque? Tu me respeitas, seu capeta. - Todo mundo ouviu a senhora me convidar. Posso provar. - Diacho! Queres saber de uma coisa, pequeno, vá embora pra tua casa. Teus pais que cuidem de ti. Tu não tens mais jeito. - Espere um pouco, professora. O que é mesmo esse tal esquálido? - Pede pra teu pai ver no dicionário. - Tá certo. Então, até amanhã, professora. Deu-me uma “rebanada”. Não disse nada e foi embora. E eu continuei na dúvida. Vejam só...


POESIAS & POETAS


RICARDO LEÃO O CAROÇO DE SAPUTI certamente não caberia falar de poesia se o poema mal começa no alvo silêncio do dia tampouco caberia falar de Teresa ou de Maria se a poesia não cresce entre palavras porque certamente não cabe falar do que logo silencia na pele fria na carne vazia caberia - talvez falar de sexo ou da pele macia (entre versos saputis palavras)? certamente não caberia caberia talvez falar de seu cheiro ou talvez (ou talvez não coubesse) falar de seus seios como dardos que apontassem para o céu sei lá


(mas talvez não coubesse) ou talvez coubesse falar de seu queixo ou de sua boca ou de sua pele ou talvez de sua voz que floresce ou talvez não coubesse mas talvez coubesse falar do poema: mas o poema não nasce como nasce uma folha de papel ou como uma árvore nasce ou como nasce uma criança - entre zincos, alumínios, pedaços de ferro, palafitas pois o poema não freme nem arde (mas denuncia sua fome diária) porque um poema - sozinho não detém o avanço tecnológico, a AIDS, a raiva o crescimento demográfico (o déficit público, a inflação, o subdesenvolvimento) nem pode com palavras, rimas fingir que o ódio não existe que a vida não apodrece pelas esquinas becos


avenidas sob as pontes, viadutos, marquises da cidade o poema sozinho não ilumina o escuro porque o poema sozinho não elimina o ódio a fome a revolta que nasce e cresce todos os dias enquanto o tempo (indiferente a tudo) passa mas o poema faz sangrar a ferida o pus deixa exposta a cicatriz o câncer a impingem - vísceras entranhas -, no espaco conciso da palavra mas que adianta escrever um verso apenas se o poema não floresce sozinho entre poucas palavras e a poesia não vale sequer um átimo de nosso tempo perdido? caberia? certamente


não caberia mas (talvez) coubesse a poesia voar sobre os telhados de Praga ou de Viena em uma tarde qualquer em São Luís do Maranhão? caberia? talvez não coubesse ou talvez coubesse falar da tarde que ria - no seio, no sexo, na vagina caberia? certamente não caberia ou talvez coubesse falar do que luzia (ou do que não luzia) no rosto de Teresa na cara de Maria) caberia? (ou não caberia?) certamente não caberia mas talvez coubesse falar de amor já que o amor não floresce nem acaba entre versos poemas palavras embora adormeça em algum ponto obscuro da cidade


com seus esgostos a céu aberto cadáveres apodrecendo à margem dos rios jardins mangues terrenos baldios embora a cidade sequer desconfie (entre ganidos ruídos de automóveis) que a vida (a mesma de sempre) não mede apenas um metro e setenta (alguns centímetros de quebra) nem pesa somente cinquenta quilos de pele ossos sangue lembranças nem anda a vinte quilômetros por hora pelas ruas becos avenidas de uma tarde qualquer em São Luís do Maranhão? Não, seria completamente inútil. não obstante estou com uma vontade terrível de chupar tangerina comer uva beber a chuva (o mundo perdeu completamente o sentido se não a vejo) caberia procurá-la no vão da carne pelo céu da boca? - caberia? certamente não caberia: mas talvez coubesse falar do emaranhamento de pêlos da confusão de dedos (ou da profusão de carnes)


que ardessem e se penetrassem - por não mais que um minuto dentro do poema? caberia? certamente não caberia mas talvez coubesse falar da morte que ria: ou talvez coubesse falar da vida que ardia (ou fedia?) como um escândalo enquanto ela cruzava a esquina (short lilás, bicicleta) e eu não sabia que a tarde se esvaía à visão de seu corpo que ia (ou de suas curvas nádegas pernas) e eu não soubesse que ela sorria? caberia? certamente não caberia mas talvez coubesse ficar ali (enquanto ela se afastava l-e-n-t-a-m-e-n-t-e)


olhando para o dia que anoitecia ruidosamente detrás de árvores noites poemas (mãos vazias dentro dos bolsos das calças): porque então o poema não nasceria? (se o sexo tudo contém: dedos deuses saputis palavras?) certamente não caberia mas talvez coubesse falar do delírio ou talvez coubesse mais falar do lírio logo abaixo de seu umbigo? certamente não caberia mas talvez coubesse falar da relva espessa entre as pernas ou talvez coubesse falar da flora (entanto tão delicada) ou talvez coubesse falar de nada? caberia? porque


certamente não cabe dizer o que a boca não diz cheia (pois a boca não fala o que a língua sequer escuta) porque certamente não cabe (com a boca cheia) falar o que o verso cala (se o que é falo não enche a tua boca) enquanto a língua em vão pronunciasse (para trás ou para a frente) entre gengivas lábios dentes uma secreta palavra (que acaso enchesse a tua boca) caberia? certamente não caberia mas que adianta depois de tudo não saber explicar a morte


a merda o poema?

certamente não caberia (como uma ave) o poema voar agora que maio finda (ou teria sido abril?) nem mais nem menos nem como nem quase (seria ave?) ou kami-quase? caberia? certamente não tampouco caberia falar de amor (já que o amor acaba) ou - simplesmente destila algo na pele que aliás sequer viria desatar-se no gozo de um minuto apenas porque talvez não coubesse falar dos olhos lábios pêlos ou


das nádegas boca seios - caberia? ou não caberia? talvez coubesse? e se não coubesse que adiantaria? que líquido mágica sopraria? que asa casa que ovo uva voaria? nasceria? aonde? ainda? onde? certamente não caberia (ou talvez coubesse) falar o que a boca não cala (se a boca sequer murmura um ruflar de asas?) certamente não caberia todavia com tudo não é tanto não obstante seria quase afinal tampouco ou talvez não fosse enfim o poema nasceria ou mesmo não


além do mais é menos porque no fundo não caberia como se um lance de dedos dados não abolisse o acaso (caso teu hímen rompesse) caberia? e se o poema voasse? e se pousasse acima das casas becos bares? e se o poema não voasse? e, se ele, subitamente pousasse nos pentelhos na vagina aberta em flor? que aconteceria? que líquido mágico escorreria? e se não pousasse? e se ferisse o vácuo? o silêncio? o ânus? o abismo de tua


boca? que aconteceria? será que o poema morreria?

ou será que o poema nasceria? caberia? ou não caberia? (conquanto fosse pássaro ou ave?) se o poema acaba se o amor acaba se a vida acaba se tudo mais acaba? e não levarei comigo lembrança cheiro carícia?

Mas talvez coubesse falar desta cidade fagueira que se estende em ruas tão repletas de igrejas casarões sobrados janelas ou talvez coubesse falar dos jasmineiros que fedem ou talvez coubesse falar daquele quintal


onde o corpo nu se despia de todos seus disfarces (pudores sorrisos sutiãs calcinhas) e atraía o furor das abelhas à procura de mel açúcar néctar chocolate ou talvez coubesse falar daquele perfume ou daquele cheiro que seus mamilos exalavam pela tarde ou talvez coubesse falar de seu sexo que recendia a flor ou a saputi ou a mar ou a maresia ou ainda de sua cintura - que parece uma escultura de Fídias ou Praxíteles onde a gravidade não é grave mas engravida a tarde que apodrece junto a pés de bananeira flores de laranjeira mangueiras (manguezais açudes igarapés riachos) e explode em todas as direções como um cadáver que tombasse morto


TRIBUTO A BELCHIOR Com certeza, Belchior, Ainda que a verdade doa, A vida é muito pior Do que uma coisa boa. E o canto é bem menor Que a vida de uma pessoa. Não cabe sequer o dó De um pássaro que voa. De tudo que há ao redor, De São Luís até Lisboa, Restará apenas o pó Do mundo que não perdoa. A vida desfaz o nó Sob os pingos da garoa. Que sabe até o major Ouça o que o povo ecoa. Guardaremos até o suor Do amor que nos abotoa, Enquanto a vida for só Uma esperança que escoa. Mas a poesia é bem maior Que viver a vida à toa. Só não sei o que é melhor: Andar nu ou dançar à proa. Ricardo Leão, 2017


SONETOS A NAURO I Aqui venho, meu pai, trazer-te flores, Os mais belos sexos da terra arrancados, Que exalam os mais pútridos odores Do mundo que nos viu antes perfumados Com os corpos mortais, sob os calores Da ilha que é Ítaca e Troia aos bastardos, Cheia de burocratas e de doutores Que proclamam seus títulos aos brados, Aonde quer que tu vás e que tu fores, Quando andávamos quase extenuados, Em ritmo de procissão e de andores, Ouvindo o ventre da terra e os sobrados, Ao som das trombetas e dos tambores, Ressoar teu nome aos lázaros e prados. II Aqui venho, meu pai, como outro Machado, Sem o lenho e o Diniz, cruz ou nogueira, Curvado sobre o teu leito de quartzo, Trazer-te esta amizade verdadeira Que em outros tempos, talvez mais fartos, Julgava eu para uma existência inteira, No mundo em que alcanço o nada a nado Em um rio que é Bacanga ou Madeira, Quando olhávamos o horizonte magro De uma ilha que trago aqui na algibeira Da pessoa que sou sem o Pessoa ao lado, Como em tantas tardes, sob as mangueiras, Ríamos do mundo que críamos ser largo, Mas que cabia debaixo da lua cheia. III Aqui sempre virei, pai, em versos fracos, Oferecer-te a poesia de tua aldeia, Que aos poucos escrevo, escravo ignaro, A esse mundo que às vezes nos odeia, E às vezes cospe em sangue o próprio prato Onde sempre encontrávamos uma ceia À fartura de tantos corpos magros, Que mal cabiam no fundo da plateia. Aqui venho e virei, pai, mesmo aos cacos Trazer-te os frutos fartos e as mãos cheias Do afeto que abrigo nos dedos parcos, Das palavras que o poema não nomeia, Dos objetos que elaboro à noite, em claro, Das lembranças que o eterno nunca ceifa.


AYMORÉ ALVIM.

A VERDADE.. Diz-me, poeta, Que queres tu? - Emoções. E tu, viajor errante? - Um porto. Que tanto buscas, Oh! Homem de ciência? - A verdade. Nas emoções, A expressão de sentimentos. No porto, A esperança do acolhimento. Na verdade, A perfeição. E assim caminhamos, Nesta vida. Tentando acreditar, Se assim puder. Que a busca da verdade Absoluta Só a conseguiremos Pela fé.


A ADÚLTERA. Aymoré Alvim. AMM, ALL, APLAC. Por que choras, mulher, O que fizeste? Tu bem sabes, Senhor, Do meu pecado. Das razões que me levaram A este estado De ser julgada como vês Por adultério. Que crime contra vós Foi praticado, Bando de víboras, Fariseus hipócritas? Cumprimos de Moisés A santa Lei. Que manda apedrejá-la Ate à morte. Foi o vosso coração Duro qual pedra. Impregnado de impurezas e paixões. Incapaz de sentir misericórdia Por um tropeço, na vida do irmão. Quem dentre vós a julgará primeiro Se carregais iniquidade, em vossas mãos? Como vês, mulher, Ninguém te condenou. Nem eu, tampouco, te condenarei. Vá e sê feliz como mereces E não esqueças: Não peques outra vez. Não te iludas com o fascínio deste mundo. Que corrompe, degrada e aniquila. Mantém teu coração fiel e puro E viverás feliz por toda a vida


A FÉ

Em um mar verde e bravio De ondas encapeladas Sereno e muito tranqüilo Por sobre as ondas Ele andava. Sem saber o que era aquilo Quanto mais se aproximava No barco todos aflitos Pensando ser um fantasma. Não tenham medo lhes disse, Venham aqui, Ele os chamava. Tenham fé, Ele insistia, Mas ninguém se arriscava. Como querem me seguir Se coragem é o que lhes falta? Até para virem a mim O medo lhes atrapalha. Com um pouquinho de fé Todos farão o que faço, Mas a fé é um dom divino Que Deus não concede aos fracos. A vida é luta constante Que todos têm que entender. Só tendo a fé por escudo Nos faz lutar e vencer. Do Evangelho de hoje: Jo. 6, 16-21.


MICHEL HERBERT FLORENCIO A PARÁBOLA DO SEMEADOR Ide ó semeador a semear as sementes que vos tenho dado: Diz o Senhor . Semeais à beira do caminho Semeais entre as pedras Semeais entre os espinhos Semeais em boa terra "E quem tem ouvido para ouvir ouça ..." Pois não sabeis qual tipo de terra A semente germinará Pois qual o homem conhece o coração do homem ? Se sensível ou obstinado; Se duro ou maleável ; Se úmido ou seco ; Se quieto ou perturbador ; Se bom ou mau . Ide ó semeador a semear as sementes que vos tenho dado : Sementes da palavra com poder germinador Frutífera semente da verdade que revela o homem , um vil pecador. Semente da luz que revela- nos indigno, pobre cego e nu . Ide ó semeador a semear as sementes que vos tenho dado : Mesmo que haja inimigos para a sementeira , semeais a boa semente : Sejam os espinhos , pedras ou os teus semelhantes... Que sufocam, que secam e que pisam . Semeais as boas sementes ! Pois aquele que ordenou a semear fará nascer e frutificar Nascer sem frutificar ... entre pedras e e espinhos . "No dia da messe hão de nos medir a semeadura e hão de nos contar os passos" Pe. Vieira 1655

Michel Herbert (Do projeto A Bíblia em versos ) Mt 13,3 Lc 8:4 Lc 14:35 b Ap 3:17


ATÉ TENTARAM DETER O MESTRE : CRISTO VIVE . Por três dias esteve o corpo de Cristo inerte naquela Rocha escavada: ...até tentaram deter meu Mestre . Uma grande pedra posta na entrada, lacrada e fortemente guardada: até tentaram deter o Mestre... Mas o que temiam aconteceu. A morte o amor venceu. Os guardas, subornados à mentir até tentaram impedir... Mas a verdade prevaleceu. E esta é a Boa Nova da páscoa : Cristo Vive . Mt 27:37-28:15 Lc 24:13-33

DOM DE SER MÃE

Pela fé entendemos que o ser mulher foi criado pelas mãos de Deus. E o Dom de ser Mãe pela vontade daquele que o criou, de modo que a plenitude do amor que é invisível pode ser visto e tocado naquilo que se pode agora ver : Mãe. O que sabemos, e o que temos visto na pratica diária que, o ser Mãe, é um dom divino e não o resultado de uma simples probalidade genética... visto que nem toda pessoa que nasceu do sexo feminino, portanto mulher, tem este dom . Digo este Dom, único indescritível de ser Mãe, na forma mais plena da palavra, por que há mães e Mães, assim como há pais e Pais . Esta data vem lembrar deste exercício do ser amoroso , gracioso, cuidadoso, generoso , sacrificial, doador integral. Que se oculta na palavra Mãe . Aqui nosso reconhecimento e parabéns a todas as mães . Seja ela mãe -mãe , pai-mãe, Tia-mãe, avó-mãe , e por que não, vizinha-mãe. Que Deus abençoe a todas elas . Com o amor e a Graça de Cristo Que mesmo sendo Deus e ao mesmo tempo filho de Deus, o próprio Criador o permitiu sentir também na terra o amor de uma Mãe . Michel Herbert


PÓ E PÓ. Tão somente pó. É o que sou e o que serei. É o que você é, e o que serás por força da morte, por sentença ou por sorte. Dura este realidade escrita e até prescrita pela boca dos profetas na tinta de sermões. Todo ser que respira; toda natureza da vida; todo homem e toda a glória; todo orgulho e altivez; todo sonho e esperança; toda verdade e alegria; todo amor e toda dor; toda paixão e ilusão; todo vivo e todo morto antes da morte; todo morto após a morte. Tudo pó. Antes e após. Gênesis 3:19 Michel Herbert.


'MINHA TERRA TEM HORRORES': versão de poema feita por alunos do Rio causa comoção nas redes sociais 'Canção do exílio', escrita há 170 anos por Gonçalves Dias, foi parafraseada em escola estadual e ganhou tons trágicos. 'Me leve para um lugar tranquilo, onde canta o sabiá', diz texto. Por Nicolás Satriano, G1 Rio Há 170 anos, o poeta Gonçalves Dias escrevia a "Canção do exílio". A poesia atravessou as décadas e foi parafraseada inúmeras vezes. É comum, por exemplo, que na escola professores proponham o exercício aos seus alunos. Nos últimos dias, circula em redes sociais a reprodução de um dos textos elaborado por dois estudantes da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A versão carioca rapidamente comoveu a web: expõe, de modo poético, a triste realidade de quem vive em meio à violência que mata inocentes diariamente – inclusive dentro de colégios, como na morte da menina Maria Eduarda. No texto, não por acaso, os adolescentes escolhem repetir uma das frases da obra original de Gonçalves Dias: "Não permita Deus que eu morra". "Minha terra é a Penha, o medo mora aqui. Todo dia chega a notícia que morreu mais um ali. Nossas casas perfuradas pelas balas que atingiu (sic). Corações cheios de medo do polícia que surgiu. Se cismar em sair à noite, já não posso mais. Pelo risco de morrer e não voltar para os meus pais. Minha terra tem horrores que não encontro em outro lugar. A falta de segurança é tão grande, que mal posso relaxar. 'Não permita Deus que eu morra', antes de sair deste lugar. Me leve para um lugar tranquilo, onde canta o sabiá", escreveram os estudantes. O G1 tentou contato com os alunos, professores e diretor da escola por meio da Secretaria de Estado de Educação. Em resposta, a Seeduc informou que os docentes e estudantes estavam receosos de tratar do tema e não aceitaram os pedidos de entrevista. A Penha, assim como outros bairros da Zona Norte da cidade, têm traduzido em números os casos de violência. Comparados os meses de fevereiro de 2016 e 2017, os casos de homicídios dolosos – quando se tem a intenção de matar – dobraram, de três para seis casos, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública. Os números de roubos de veículos na área também assustam. Os índices saltaram de 35 casos registrados no ano passado para 79 este ano.

Caos na segurança invade escolas O texto dos alunos da escola na Penha transparece o caos na segurança estadual que invade as instituições de ensino. Na última quinta-feira (30), a aluna Maria Eduarda, 13 anos, foi morta por balas perdidas enquanto estava na aula de educação física, na Escola Municipal Jornalista Daniel Piza, em Acari. Dois tiros na base do crânio da adolescente foram apontados em laudo como a causa da morte. Em resposta à morte da aluna da rede municipal, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, anunciou que irá blindar escolas em zonas de conflito. Uma argamassa especial para reforçar as paredes já teria sido importada pelo Município. Além disso, a prefeitura também quer que operações policiais próximas a colégios sejam informadas com antecedência à administração municipal. Na semana seguinte, mais um caso. Nesta quarta-feira (5), criminosos armados fugiam de PMs do Batalhão de Choque que estavam em operação na comunidade da Mangueira, pularam o muro do Zoológico do Rio e entraram no pátio da Escola Municipal Mestre Waldemiro, já em São Cristóvão. A movimentação assustou alunos e professores. As quase 400 crianças que estudam na unidade têm entre 4 e 12 ano Paráfrase de poesia narra violência na Penha (Foto: Reprodução )



CLORES HOLANDA SILVA AMO AMAR O AMOR Amar, amar e amar feito as ondas do mar que vão para lá e para cá. Não importa se você vai se afogar. Mergulhe profundo e deixa-as passar. Nesse vai e vem da força que a onda tem dê braçadas rumo ao além. E se acaso o amor naufragar? Pode ter certeza no oceano ele vai se salvar. Amo amar o amor. No seu peito transborda espumas de paz interior. Se amar é sinônimo de sofrer quero me afogar na ilusão de um mar sem chão. Nadando, nadando, não quero transformar o amor em paixão motivo de traição. Atraídos pelo engodo o homem dilacera o peixe sem dó e sem compaixão. Manchando o mar de vermelho pelo seu desamor causando tamanha dor. Amo amar o amor. Por amor a nós Jesus Cristo nos salvou. Qual a definição do amor? Será o tremor do corpo molhado sem o cobertor? É o côncavo e o convexo de dois seres num êxtase momentâneo de felicidade? Amor é fervor, é louvor, é ardor, é calor, é emoção, é uma mistura de paixão. Amar, amar, além do mar na âncora do paraíso de um sonho sem acordar. Amo amar o amor. Preciso adormecer e acordar em teus braços meu melhor cobertor. Vivo numa Ilha onde canta o sabiá. Tem o Lago dos Amores que em nenhum lugar há. Por tanto amar fiquei só. Ganhei o mar na Ilha do Amor de encontros e desencontros. Na minha solidão encontro o passado de um presente bem vivo de amores perdidos. Construir castelos de amor na beira da praia destruídos pela onda traiçoeira do mar. Amo amar o amor. Sou do signo de peixes. Sonho com o verdadeiro amor. São Luís, 17 de abril de 2017.

A FILHA DA MÃE, A MÃE DA FILHA Antes de nascer Deus guardou com amor a mãe da filha que sou. Tenho orgulho do legado que minha mãe deixou repleto de amor. O meus coração pulsa tão forte! Há quanta saudade do teu colo! Mãe ouço tuas gargalhadas no eco do silêncio da cova da iria. Tu és santa ao lado da Virgem Maria rogando por toda tua cria. Eu sou filha da mãe e também mãe da filha.


SERÁ QUE VOU DORMIR OU VOU SONHAR? Encerro a minha noite na madrugada de um sonho azul brilhando nos raios das luzes artificiais de uma vida que jamais irá brilhar no amanhecer das minhas ilusões. Fico a relembrar: Como foi bom o tempo que passou. As minhas lembranças conseguiram potencializar vários momentos que jamais serão iguais aos que se foram num instante de um dia que passou. Boa noite num começo da madrugada que daqui há pouco o sol vai raiar e eu aqui a pensar: Será que vou dormir ou vou sonhar? Só tenho uma certeza: Irei contemplar os raios do sol a nascer num novo amanhecer.


DILERCY ADLER Noi de Dilercy Adlere Cel mai mare dușman al iubirii este plictiseala cel mai mare element al iubirii este dorința! dorința… strălucirea… focul… incandescența… pe veci în noi!!! Traducere din portugheză Cezar C. Viziniuck

Nós por Dilercy Aragão Adler O maior inimigo do amor é o tedio o maior elemento do amor é o desejo! desejo… lampejo… ardente… incandescente… pra sempre em nós!!!


A MÃO, O BERÇO, O MUNDO A Joana Adler, minha mãe Dilercy Adler “A mão que embala o berço é a mão que rege os caminhos do mundo” quisera que mais mãos como as tuas houvesse mãos que nos conduziram com amor mãos que sempre buscaram relações verdadeiras mãos tão amigas tão companheiras que nos valeram sempre nos momentos de dor! quisera que mais mãos como as tuas houvesse mais companheirismo mais benignidade mais justiça e igualdade existiriam neste mundo de tão pouca magnanimidade... “A mão que embala o berço é a mão que rege os caminhos do mundo” Obrigada mãe por tuas mãos tão sábias obrigada mãe por teu querer teu apreço obrigada mãe - a tipor embalares nossos berços obrigada mãe por teu existir!


MIGUEL VEIGA "UTOPIAS DO FUTURO"

Aos vinte anos em pleno viço da juventude, sonhava com o futuro que estaria talvez aos trinta, com tudo que tinha direito, trabalho e realização, o amor... nem pensava! Aos trinta e poucos, as marcas de expressão não eram boêmias, primeiros declínios! O futuro ainda a vir! O trabalho a construir! Aos quarenta, orgasmos espaços, a idade do lobo! O futuro a vir... A corrida da realização, meta a cumprir... Aos cinquenta o susto! A descoberta... O presente é o futuro, sempre ali, nunca chegou! Supérfluo e desapego, corrida ao inverso! A vida é dádiva, metas a cumprir! Sessenta, sem assento, descansar nunca, O futuro ainda não chegou! Amor, efeméride do tempo esperado... O viço em craquelê.. Sexo, orçamento de outrem... Dribles de sobrevivência, objeto ao inverso... A passividade paga em paradoxo de prazer... O presente é futuro... Ainda existe a esperança do amanhã... Efemeridade da esperança!


VICENTE ALENCAR (Da Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará-ALMECE e da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil-AJEB).

OS MARES DO CEARÁ

O oceano é o Atlântico. Atlântico Sul podemos afirmar. Os mares são muitos no meu Ceará. São azuis, são verdes, são da cor da beleza, são da cor do sal, são da cor do Sol. "Verdes Mares bravios da minha terra natal" como afirmou o maior de todos nós. São azuis, são verdes, principalmente em Fortaleza, nossa Cidade maior. Conheça os mares do Ceará, eles são muitos, são belos, são imensos. Na verdade somente um com belezas múltiplas. Venha, venha para cá, conhecer os mares do Ceará. * noite de 22 de janeiro de 2014, na minha Fortaleza, Capital Brasileira do Artesanato.


ODE QUE DEDICA O CORONEL WELLINGTON CORLET DOS SANTOS AOS AMIGOS DO EXÉRCITO E FAMILIARES POR OCASIÃO DE SUA DESPEDIDA DO SERVIÇO ATIVO EM 26 DE MARÇO DE 2015

Reunião de oficiais, mais uma vez Agora sou eu, chegou minha vez Prometo ser breve, como é comum Porque sou eu, apenas mais um Tenho uma tarefa difícil Agradecer-lhes a presença com um pequeno ardil Se fosse cantor, cantaria uma canção Mas sou apenas Soldado que crê na Nação Agradeço a todos pelas palavras e consideração Mas dedico tudo ao meu pai Jesus Thiago dos Santos E ao meu amigo Marcos do Espírito Santo Ambos morreram no cumprimento da missão Como é bom ouvir o nome do meu Pai novamente Que desde garoto me é ausente Como é bom ver velhos amigos novamente Que desde jovem latente, me acompanham contentes Da orfandade, fiz sabedoria Da injustiça, a temperança Do ódio, a apatia Da doença, a esperança Da dificuldade, a oportunidade Do esquecimento, a motivação Da tristeza, a felicidade Do sacrifício, meu bastião Dos amigos, a família Da caserna, minha morada Da profissão, uma liturgia Do regulamento, a minha espada Da provação, a inspiração Da derrota, a obstinação Da realidade, uma ilusão Da ordem, minha missão Lhos digo, se me perguntarem quem seria


Um cidadão, Soldado, filho rejeitado De uma grande Nação, como o Brigadeiro alvejado Soldado de Infantaria Quem sabe alguém, quem sabe ninguém? Filho de meu pai, amigo dos meus amigos Inveja dos inimigos Irmão dos meus irmãos, que não estão tão perto, Soldado do Exército Servi a três países, onde cumpri missões especiais Representando brasões, sem interesses pessoais Cumpri minha missão, contribuí com meu País É hora de parar e olhar para o que fiz Tive poucas oportunidades, mas de tudo tirei proveito Tudo que fiz foi bem feito Errado ou certo, com ufania no peito Agora é hora de “vestir o pijama” e ir para o meu leito Aos mais jovens, deixo o exemplo De que se deve gastar o tempo Vivendo com alegria Para se criar a magia da investudura da Cavalaria Desprezar o repouso Contrariar a avareza Desejar a glória E de agir sem rudeza Aos mais velhos deixo o legado Que se junta ao passado Consolidando tradições Pelas quais se tem lutado Construí a SDLA e o NEPE, Com grandes amigos que deixei Arthur, Petronilho e Canéppele Arguelho, Wellington e Marques Neto, vibrei Grandes Generais, obrigado Elias e Saú do Centro de Operações Araújo Lima e Antunes do passado Excelências que saúdo dentro das orações Espero ter justificado, ao menos agradado Por esta comunhão de vidas, muito obrigado Sai um Coronel, porque outro já vem O Exército continua e tudo estará bem Esta fase se encerra, como eu já previa Não fui carreirista, como poderia Mas fui militar, leal e idealista


E fiz da vida poesia À minha esposa e filhos, muito obrigado Desculpe a ausência, estava ocupado Se de fato para tudo me esperam, tomem cuidado Não deixei de ser Soldado Porque “das cores da nossa farda Rebrilha a glória, fulge a vitória” “Porém, lutaremos sem temor Se a pátria amada for um dia ultrajada” Toque de vitória, que alegria Porque o poeta luso sempre dizia “Tudo vale a pena, Quando a alma não é pequena” Agora, juro que vou terminar E se por acaso tive sucesso Não esqueçam de me pagar A tarifa de seu ingresso

Campo Grande, MS, 26 de março de 2015 Salão de Honra do Comando do Comando Militar do Oeste

Wellington Corlet dos Santos Coronel do Exército


PARA UMA ANTOLOGIA LUDOVICENSE


VIRIATO GASPAR JOSÉ NERES

No meio desta sociedade líquida, tão bem estudada por Zygmunt Bauman, e deste mundo em rede, uma verdadeira galáxia virtual, como diz o espanhol Manuel Castells, de repente nos vemos diante de uma tela de computador ou de smartphone cercados de pessoas que existem (ou não) no mundo real, contudo que nem sempre se carnificam, corporificam, materializam ou se poetificam em gestos, abraços, sons ou palavras. Eis que, de repente, lendo/vendo as mensagens, postagens fotos e picuinhas ideológicas, eu me deparo com um nome que faz muito tempo frequenta minhas leituras: Viriato Gaspar. Vou à estante e separo os dois livros que tenho de sua autoria: Onipresença (1986) e Sáfara Safra (1994). Releio com atenção os sonetos do primeiro e os versos multiformais do segundo. Eis que: de repente a paisagem fica louca e me escarra seu bafo de agonia. minha alma tira a roupa e fica oca na nudez da existência mais vazia. (Onipresença, p. 39) São versos da melhor espécie, escritos por quem domina a palavra e sabe que a imagem poética deve ser trabalhada com a paciência de um ourives, como nos ensinou o sábio Olavo Bilac. Apesar de talvez não ter seu nome hoje muito divulgado, nosso escritor já conta com uma razoável fortuna crítica, assinada por intelectuais de grande valor. Ao publicar sua antologia Poesia Maranhense no Século XX, o crítico e romancista piauiense Assis Brasil elogiou não apenas a capacidade técnica de Gaspar, como também sua densidade poética. A professora é escritora Arlete Nogueira da Cruz disse em um de seus livros que Viriato Gaspar é seguro em “sua linguagem poética e que procura construir seu verso com dignidade”. A densidade de seus conteúdos e sua preocupação estética são elogiadas também pelo crítico e professor Carlos Cunha em seu livro As Lâmpadas do Sol.


Viriato Gaspar é desses poetas que encantam o leitor desde os primeiros versos de seus livros e que consegue manter o encantamento até a última linha da última página. Seus poemas parecem seguir também os preceitos de Ezra Pound: trabalha a musicalidade (melopeia), constrói imagens com sua arquitetura lexical (fanopeia) e coloca conteúdo em seus versos, exigindo dos leitores certo trabalho para penetrar nos meandros dos conceitos e das ideias trabalhadas (logopeia), mas tudo isso sem a ostentação verborrágica em busca de palavras difíceis que apenas demonstrem erudição. Sua poesia é límpida, mas, como sabiamente já advertiu o professor e crítico Antônio Carlos Secchin, a claridade também é capaz de cegar. Dessa forma, é preciso tomar cuidado com os versos de Viriato Gaspar, eles enganam quem acredita que ler um poema é apenas se encantar com o ritmo dos versos e mergulhar em um mar de sentimentos facilmente digeríveis. Nada disso há na obra desse vate maranhense nascido em 1952 e que tem e teve como companheiros de geração nomes como Luís Augusto Cassas, Valdelino Cécio, Raimundo Fontenele e Chagas Val, dentre outros. Há alguns anos, um colega pediu emprestado o Sáfara Safra e deve ter gostado tanto dos versos que nunca me devolveu o volume. Não sou de cobrar ninguém. Então saí garimpando pelos sebos da cidade até reabastecer minha estante com essa importante obra. Trata-se de um livro solar, com começo, meio e fim bem articulados e com uma verve poética que poderia sair da lavra de um cultor das palavras e dos versos. Prefiro os poemas curtos pela economia de palavras e pela profundidade das imagens, como e o caso do estilizado hai-cai A Fagulha, dedicado a Kobayashi Issa), que diz: um pássaro – seu brusco relâmpago em susto Mas é impossível ficar indiferente a poemas um pouco mais longos como A Carta (p. 143) e O Só Brado (133), além de outros de fazem os olhos do leitor inundarem de felicidade (pela construção dos versos), de angústia (por conta de alguns temas) ou de espanto (por algumas soluções poéticas inusitadas). Mas sempre encanta. Olvido (esquecimento) é uma das palavras recorrentes na obra desse maestro da palavra. O olvido é uma das marcas de nossos tempos pós-modernos. Ele faz com que talento seja engolido pela efemeridade e por obras midiáticas sem a devida profundidade. E neste fast food cultural em que vivemos pode-se esperar quase tudo, menos que a obra de um autor com esse talento tenha a ressonância que merece. No meio dessa galáxia de contatos virtuais, não lembro se conheço pessoalmente a Viriato Gaspar, mas conheço parte de suas obras, e disso muito me orgulho. Então com este simples texto presto minha homenagem a esse excelente poeta, para quem deixo meus aplausos.


VIRIATO GASPAR

ANTONIO MIRANDA (Viriato Santos Gaspar) – nasceu em São Luís (MA), em 7/3/1952. Radicado em Brasília desde agosto de 1978. Jornalista desde 1970. Funcionário de carreira do Superior Tribunal de Justiça. Participação em antologias poéticas no Maranhão e em Brasília. Vencedor de muitos prêmios literários, tanto em sua terra natal quanto no Distrito Federal. Bibliografia: Manhã Portátil, Gráfica SIOGE, São Luís-MA (1984); Onipresença (versão incompleta), Gráfica SIOGE, São LuísMA (1986); A Lâmina do Grito, Gráfica SIOGE, São Luís-MA (1988), e Sáfara Safra, São Luís-MA (1996). Está concluindo um livro de Salmos em linguagem moderna, e tem dois livros de poemas e um de contos, inéditos. Marques ao comentar textos de autores novos da Literatura Maranhense disse que o poeta “mais próximo da autonomia de vôo é Viriato Gaspar. Surpreende-se nele inventividade, assenhoreamento formal, linguagem plástica, límpida, a inteligência do metamorfismo da expressão que o dota dos meios de manipulação apurada da palavra.” Lago Burnett: “...um poeta absolutamente senhor de seu instrumental.” Chagas Val, ao referir-se ao livro Manhã Portátil, declarou “... um livro forte e denso.” Moacyr Félix, “Com nitidez percebe-se, atrás do seu bem elaborado artesanato, a presença verdadeira de um poeta. Literatura e não literatice.” Wilson Pereira, “Manhã Portátil já revela a energia criadora do autor, dotado de sopro mágico e de capacidade para articular a linguagem com expressivos recursos estilísticos.” "Só agora pude concluir a leitura do Tributo ao Poeta II. (...) Recordei e reli muita coisa conhecida, mas tive a deliciosa surpresa de descobrir o poeta Viriato Gaspar, cujos vigorosos versos me arrebataram preenchendo uma lacuna no meu elenco dos bons poetas contemporâneos." ASTRID CABRAL - Rio de Janeiro, maio de 2010 Página realizada com a colaboração de Salomão Sousa, Angélica Torres e de outras fontes.


Bilhete a Montale Que tempo este de agora e suas redes. O sol morre de frio e o mar, de sede. Que mundo este, que encheu só de vazio. A fome rói nas ruas seu fastio. Goramos o luar; só resta um mantra, e este gosto de agosto na garganta

A Caminho, de Volta (a Odylo Costa, filho, in memoriam) Os Anjos rasgarão nos meus cabelos estradas para Deus, e seus atalhos. Nas minhas mãos geladas trigo e orvalho Deus plantará depois, para eu bebê-los. Os Anjos brotarão dos meus joelhos e cantarão manhãs que nunca pude. Hão de nascer das plumas do alaúde as rosas da manhã, clarins vermelhos. Hei de cantar, cantar, cantar, cantar as luzes que engasguei, por mundo ou medo, os salmos que apaguei, por mal, por mim. E os Anjos me erguerão na altriz do altar, para eu sugar o Sol e arfar enfim o sopro antigo e novo do Segredo.

A Sesta (a Leonardo Boff) Não quero abrir no azul um céu chinfrim, que seja só um sol que nunca ladre. Não quero um Deus assim, morto de mim, cevado de senões, patrão de padres. Eu quero O Deus em mim, total de tudo, uma alva rede aberta em minha alma. Um cachorro enrolado em seu veludo, meu pai me dando adeus na tarde calma.


A Ilha Janelas. Poeira. Mosquitos. Meu pai ventava em azul as paredes da insônia. Lamparinas. Calor. Formigas. Fome. Os homens exercitavam vagas vidas vazias. Idéias. Ideais. Lixo. Luxo. Lisura espectral. Uma rede sozinha. Var/ando a var anda. Var/ânsias. Átrios de igrejas. Sé. Carmo. Remédios. Pam ta leão. Garrafas. Gumes. Cuspo. Fé. Fezes. Padre, dai-me a vossa bênção porque pe(s)quei. Ide em gás e que o terror vos arrebanhe. Mentiras. AMEN/tiras. Os dias despejavam adrenalina. Ossos magros. Fome. Fumo. Fama. Fúria. Os homens inventavam teorias para explicar o medo. Mastigar o medo. O muco murcho da matilha amorfa. A porca era gorda demais. E a gente tinha fome. As mulheres eram qualquer coisa secreta. Proibida. O veludo molhado da rosa incendiada na penugem. Uma dúzia de sonhos. Uma saga de dúvidas. Tesão. Teso. Ah ânsia de voar sobre as ladeiras e amanhecer assombros nos sobrados. A vida era o desfiar morrente de uma esperança sem futuro. Ex-v(a)ida a cada dia. Como o rosário comprido de minha mãe. Deus era o pavor absoluto. O nome extremo do medo. O sol sugava o sumo do suor do osso. Os outros, ostras incrustadas no estertor antigo. O coração ganindo a própria gana. A vida vindo em vão e vã voando. Veloz. Vaga. Vadia. A casa era pequena, mas cabia a tosse de meu pai e a sua rede. O armador tecia na parede um gemido asmático de animal doméstico. A noite se enchia de calor e paz com o roc-roc-roc da velha rede de meu pai, insone. O mundo era uma ilha sem horizontes. Os barcos passavam. Como os dias. O mar aberto era uma chaga alheia. A vida era uma ilha. Afogada em seu fogo vazio. A vida era uma ... (a vida foi se.) A Vinda Chegaste de manhã, e era dezembro. O mar cuspia azul sobre as estrelas e marejava um cais para bebê-las. Teu rosto era um farol, é o que lembro. Chegaste como a chuva; pelo avesso, acendendo a manhã nas minhas unhas. Agora foi depois, quando eu supunha não mais molhar-me o sol, seu sal espesso. Nunca disse teu nome, não cabia. A palavra era apenas seu esgar, um modo de morder a ventania. Só lembro do dezembro. E então o mar.


O Náufrago teu corpo negro iluminava tudo com seus segredos fundos de mulher e nele eu me enconchava em caramujo no refluir-fruir dessa maré de barcos emboscados no ar escuro tarrafando sargaços de suor teu corpo negro então ficava sujo de claridade e desmanchava o sol em golfadas de trêmulas espumas teu corpo negro pluma de penumbra a derramar manhãs no travesseiro e eu náufrago de tudo arremetesse as praias de teu corpo e me solvesse nos minérios malinos de teus pêlos.

GASPAR, Viriato, Sáfara safra (poesia). São Luis, MA: SIOGE, 1994. 156 p, 14x20,5 cm.


O BUROCRATA uma lua explode por dentro do terno. manda-a ao protocolo para carimba-la e num memorando baixa-a ao arquivo. A CAIXA-PRETA o morto no caixão o porto ou a floração? (ou só o conforto da conformação, o tateio torto pela contramão?)

GASPAR, Viriato. Manhã portátil. Poesias. São Luís, MA: Plano Editorial Gonçalves Dias, 135 p. 15x22 cm. Capa: Joaquim Santos. Col. Bibl. Antonio Miranda

SIOGE, 1984.


ENTRONCAMENTO outubro já passou, novembro veio, e a vida continua pra dezembro. dezembro chegará, depois janeiro, e a vida continua em fevereiro. o calentário espichará seus dias em meses, anos, rugas e calvície, novos amigos, novas descobertas, (ou a simples ilusão de descobri-las), novas cidades, novas desventuras, novas mulheres e velhas ternuras. e a vida seguirá por mais um ano, mais outro e depois outro e a vida sempre a encompridar seu tempo e seu fastio, seu pasto de chacinas e vivências, seus enganos, seus medos, seus abismos; até que um dia a morte, enfim chegando, (num dia de dezembro ou de janeiro), acabe com a ciranda da agonia. e quando o trem das trevas apitar na esquina de meus ossos doloridos, eu quero entrar sem pressa e sem bagagem, como alguém que, depois de muitos anos. retorna finalmente para casa.

De A LÂMINA DO GRITO (poesia) São Luis: SECMA/SOPGE, 1988


3 (para Malu) aqui, nesta argamassa de neurônios, de músculos e nervos, pele e ossos, eu e a minha manada de demônios estamos sós no ranço dos remorsos. estamos sós no cio solitário do pus da nossa paz, fechada em fossos, no pó das postas do que sobra em sócios para o repasto oposto do inventário. aqui, neste congresso de torturas, sentamos, face a face, na impostura de impar e ser o avesso do que somos. enfartados de espantos e de espasmos, eu e a minha alcatéia de fantasmas choramos sós à sombra dos escombros.

21 primeiro ela sonhou que estava morta; depois, que viajara, que partira, mas não porque ela própria o decidira, mas porque havia o mundo além da porta. ela era a sombra do seu próprio vulto, a imagem em nuvem do não-revelado. ela era tudo o que restava oculto, mas dentro dela mesma, em si guardado. e porque assim tivesse sido (ou era), ou nunca fosse, houvesse acontecido, talvez mais por alvor que só de avara, primeiro ela sonhou que não chegara, depois, ao ver que ver era um olvido, evaporou-se em sua própria espera.


27 inverno, meu amor, são esses ossos que a tarde desenterra em nossas veias, sempre sujos do sumo dos remorsos, lambuzados de loucas luas cheias. esse inverso, essa viva carne carma, o punhal, esse sabre que nos sobra, essa bomba que nunca se desarma, esse dobre a dobrar-nos na manobra. inverno são as drupas desses dias, essas tardes tardias, trastes, tantas; essas ruas repletas e vazias, esta gana a ganir-nos na garganta. inverno, meu amor: ossos e dias; e a gente a gangorrar sua agonia.

30 (a Wilson Pereira) Qualquer coisa nascida de si mesma como um ovo, um poema, uma ferida. Uma pena talvez, flecha fendida em trovões coruscando em lã/ma e lesmas. Qualquer coisa. Excrescente, dissoluta, fluida, fóssil, falaz, como cortiça. Manivela ou mormaço, a mó mortiça do seu grito de gueto, escampa escuta. Esse inverno vital, vulva que orvalha, galha oblívia do sestro na navalha. Uma coisa qualquer. Sabre em saliva. Qualquer coisa cerzida em urze ou asa, húmus ubre de rala ruma rasa: ▬ um verso, esse universo em carne viva.

(do livro “A LÂMINA DO GRITO”, de 1988) 31 o azul pondo fagulhas no azulejo enquanto a tarde talha e a voz resvala no silêncio estalado em caranguejos e o breu do grito é o gume de uma bala. o azul tecendo lu(r)zes nos sobrados e as ruas estuando em treva as teias. a sombra é um búzio dúbio debruado na renda rubra da paisagem alheia.


o azul espelha paz no pó espesso enquanto as aves voam em vão no avesso e o instante estanca e tranca o trinco a seco. o azul plantando (p)lumes nos telhados e a tarde entalha o instante ali alado e enlaça o aço azedo enchendo os becos.

POEMAS INÉDITOS (selecionados por Angélica Torres Lima) A QUERELA DO BAR ZIL As ruas estão rotas de mendigos, de putas e ladrões mal-ajambrados. Os que se deram bem vão bem guardados, no além das limusines, em abrigo. Nas praças só há pressa, e o medo empurra o bilro em nossas burras, ‘té a monta. Em cada esquina um rambo nos aponta um berro, e basta a nós se só nos curra. Nos palácios, nos templos, nas choupanas, é um salve-se quem der a xepa ou a xana, a vida vale um peido, um troco, um til. Há quem ferrando enrique ou nasce a lula, mas nas ruas é a fome, é a gana, a gula, oh pátria amada, à puta que pariu!

O NINHO Olha, lá fora, a trôpega manada que marcha, amorfa, à usura do futuro. Vê com que pressa passam na calçada, rumo a um arrimo esconso em seu escuro. Olha, aqui dentro, o ninho do meu vinho, o chão deste clarão, esta tontura. Vê com que vôo as aves da ternura rasgam seus ramos no meu ser sozinho. Ferve um inferno fosco no lá fora: aqui dentro, eu Te espero. Agora. Aurora.

BILHETE À ROSA QUE ACENDEU O JARDIM Tive um amor que desmanchou-se ao vento, mal soprara a manhã nos meus cabelos.


Tentei talvez, a susto, ainda retê-lo, mas dissolveu-se em azul no céu cinzento. Tive um amor que encheu o mundo inteiro de um brilho, um fogo, um gás, um chão tão claro, que até hoje, já escuro, ao relembrá-lo, ainda me acende o rastro do seu cheiro. Tive um amor assim, estranha estiva, a farfalhar seu mar em carne viva, o mundo em riste a borbulhar nas veias. O amor, no entanto, é um sopro que se apouca; no instante mesmo em que nos bica a boca já se ave em vôo, e nunca mais se apeia. NOITURNO A rua espicha as casas sonolentas pela ladeira suja enevoada. Só meus passos, no pasmo da calçada, ressoam mundo afora, à flor do vento. A rua se esparrama escuro adentro, uma ruma de casas desbotadas. Só a lua na rua amortalhada me vê passar sem pressa, a contra vento. De onde eu vim, para onde vou, pisando o mundo mudo, a rua morta, e eu quando? Só meus passos no escuro acendem o vento e toc toc tocam no silêncio. O JATOBÁ TOMBADO A doença foi secando a minha mãe, até torná-la a sombra dela mesma. Na sua solidão de dor enferma, um mar de arpões-ferrões nas suas manhãs. Na mirrada figura que sumia um pouco mais, a cada abril do dia, havia um horizonte de sereno, grandeza no exercício do pequeno. Minha mãe me ensinou, com a dor e a reza, que sempre há vôo e luz, se a vida pesa. RÚMULOS Por aqu passou o Poeta: ▬ há cacos de estrelas acendendo o escuro; há um brilho estranho no pavor dos muros, e há um viço avesso acordando o mundo. O Poeta passou por este dia: fez brotar a manhã da noite fria,


fez nascer um clarão no breu que havia e surgir em cada dor como um jardim, para depois, um raio, um risco ou um jasmim, encantar-se por fim na ventania. O LEGADO (a Gabriel) aquele poema que não consegui, mas a duras penas carreguei em mim. aquela pequena coisa indefinida, que não foi poema nem encheu a vida. o sol escondido que não se acendeu. este não ter sido que em mim sou eu. (de Sáfara Safra ) ÍNDICE A Ferreira Gullar O homem é a matéria do meu canto, qualquer que seja a cor do que ele sente. E não importa o motivo do seu pranto, é um homem, meu irmão, e estou doente de sua dor, e é meu o seu espanto do mundo e desta hora incongruentes. Na trincheira do Verbo me levanto contra o que contra o homem se intente. O homem é o objeto e o objetivo de quanto sei cantar, e o canto é tudo que pode me explicar porque estou vivo. Às vezes sou ateu, noutras sou crente, em outras sou rebelde, em algumas mudo: — sou homem, e canto o homem no presente. (de Manhã Portátil)


Antonio Miranda, diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, abrindo a sessão do Tributo ao Poeta, dedicada a Viriato Gaspar, no dia 31 de março de 2009.

Atores e o homenageado no palco do auditório da BNB (com o poeta ao centro) recebendo o aplauso da platéia em dia de casa cheia e ovação de pé, depois da leitura dos poemas. Uma noite verdadeiramente consagradora ao talento do poeta maranhense-brasiliense Viriato Gaspar. Da esquerda à direita os poetas: Antonio Miranda, Wilson Pereira, Aglaia Souza, o homenageado Viriato Gaspar, Carla Andrade e Vicente Sá. Os apresentadores dos textos foram Wilson, Aglaia, Carla e Vicente, e o apresentador foi Anderson Braga Horta.


ANTONIO AÍLTON Descobri hoje, um pouco atrasado, esta publicação de Leopoldo Gil Dulcio Vaz, uma reunião de depoimentos sobre um momento da poesia contemporânea/mais recente do Maranhão, de uma "gestação", digamos assim, do que hoje buscamos cada vez mais amadurecer, aqueles que continuam na estrada da poesia desde que participamos com força e alegria, nos anos 1990, dos grupos Curare e Carranca, em São Luís. As vozes que participaram e as que tomaram a poesia como irrevogável reconhecem aí seu espírito e seu impulso. Salvo algum equívoco dos "depoentes", é isso aí! Obrigado, Leopoldo Gil Dulcio Vaz! http://www.blogsoestado.com/…/poesia-maranhense-contempora…/


POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA – CURARE / CARRANCA Por Leopoldo Vaz • sábado, 01 de abril de 2017 às 16:00

POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA – CURARE / CARRANCA Leopoldo Gil Dulcio Vaz Academia Ludovicense de Letras – Cadeira 21 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – Cadeira 40

Outro grupo que surge nessa época, o Grupo Carranca, capitaneado pelos poetas e escritores Mauro Ciro Falcão e Samarone Marinho, comparsas das atividades do Curare – e vice-versa. A partir de 2000, a existência dos dois grupos se encontra praticamente paralelas, e confundidas. Pertencentes a uma faixa geracional um pouco diferente – embora quase coeva –, os membros do Grupo Carranca aceitaram dividir seus espaços e iniciativas, durante algum tempo, com o Grupo Curare. Durante vários anos, as reuniões e encontros do Grupo Curare e Grupo Carranca aconteceram na casa do jornalista Gojoba, sempre com bastante aconchego e diversão. A participação de vários membros do antigo Curare consta das antologias de poemas e contos organizadas pelo grupo Carranca, que agitaram o cenário literário de São Luís entre 1999 e 2002. De lá para cá, os membros de ambos os grupos, agora identificados pelos laços comuns, com seus projetos e propostas definidos, trabalham para construir a identidade da nova literatura maranhense[1].

Em sentido horário: Antonio Aílton Santos Silva o 12 do relógio, depois Bioque Mesito, Geane Lima, Hagamenon de Jesus, Dyl Pires e Rosemary Rêgo. Estes. A foto é de G.Ferreira/Jornal Pequeno. https://www.facebook.com/bioquemesito?fref=ts

Antonio Aílton também se refere a esses grupos, Curare, e Carranca[2]: Em relação ao CURARE, é bom ressaltar que os diálogos, discussões e encontros informais – determinantes para o impulso e maturação da literatura de muitos de seus membros -, consolidaram uma amizade duradoura entre partes de seus membros, tanto que alguns consideram que um certo ‘espírito’ desse grupo não se extinguiu.


O papel aglutinante desse grupo foi sempre do poeta Hagamenon de Jesus (junto com Antonio Aílton, Ricardo Leão, Dyl Pires, Bioque Mesito). Houve também uma confluência dessa amizade com membros do grupo Carranca (jovens e iniciantes poetas), o qual era encabeçado por Mauro Ciro e Elias Rocha, encontrando-se dominicalmente na residência do jornalista Gojoba, pai de Mauro Ciro. A principal contribuição do grupo (reduzido a um pequeno núcleo) foi ou tem sido, a meu ver, o incentivo e impulso para a busca de uma superior qualidade da produção (poética ou teórica), o incentivo ao crescimento e destaque de cada um – o que pode ser constado nas premiações recebidas pelos membros do grupos (ver relação dos concursos), as quais são motivos de alegria e discussão conjunta. De acordo com Antonio Aílton (2016)[3], o grupo Curare, que reuniu na década de 1990, reunia os poetas Antonio Aílton, Bioque Mesito, Dyl Pires, Hagamenon de Jesus, Ricardo Leão, Rosemary Rêgo, Jorgeana Braga, Natanílson Campos, Binho Dushinka, Couto Corrêa Filho, Dílson Jr., Marco Polo Haickel e outros, serviu de fundamento para discussão de uma nova linguagem poética, as formas e suportes do contemporâneo, os tons assumidos pela poesia atual, as leituras, a necessidade da crítica e da autocrítica vigilante, de um corpo metafórico para o nosso tempo, enfim, essas coisas de quem quer escrever com qualidade: É preciso reivindicar ao grupo Curare um papel tão importante para a produção, maturidade transformação da linguagem poética do Maranhão quanto aquele que também ocupam os marcos dos últimos anos, o Movimento Antroponáutica/Guarnicê, a Akademia dos Párias. Não dá para tecer aqui uma trajetória detalhada desse grupo e suas repercussões, desdobramentos ou reverberações, nem para avaliar todo o seu trabalho, uma vez que ele é fundamentalmente contemporâneo e as obras em que ele reverbera ainda estão sendo produzidas por poetas/escritores saídos do seu “espírito”, do seu útero. O certo é os estudiosos da literatura do Maranhão tem certa ignorância sobre esse pessoal, mas já é hora de lhe darem a atenção que merece. Essa”desatenção” pode decorrer de alguns fatores, entre o fato de o grupo ter rodado muito, feitos recitais, exposição, e discussões em torno da poesia, mas nunca ter publicado nada escrito – e o que apenas se pronuncia, mesmo na mídia, esvai-se em 15 minutos. Este tempo demanda barulhos e factóides contínuos. Para mim, no entanto, há uma dimensão incalculável para a poesia do Maranhão advindo desse grupo pelo fato de que sua repercussão e seus méritos continuam. Por mais que se queira, não se pode menosprezar um prêmio da Academia Brasileira de Letras e Xérox do Brasil, acadêmico (Ricardo Leão, tese de doutorado e poesia, respectivamente), um Prêmio Cidade do Recife (Antonio Aílton) pelo menos quatro Prêmios Cidade de São Luís (Antonio Aílton, Dyl Pires, Bioque Mesito), um prêmio Josué Montello (Hagamenon de Jesus), fora outros tantos e classificações em festivais e concursos pelo Brasil afora. Está certo, prêmios podem não significar nada, e comissões podem ser viciadas, mas não dá para dar um crédito a Alfredo Bosi, Cláudio Willer, Heloísa Arcoverde de Morais e Pedro Américo de Farias (Fundação Cidade do Recife), Lourival Holanda (UFPE), Márcia Manir Miguel Feitosa (UFMA) e Marco Lucchesi (Poesia Sempre), pessoas que já julgaram, ou avaliaram nossa poesia?… [4] Aílton (2016) considera coirmãos do Curare: Grupo Carranca (Mauro Ciro Falcão Gomes; Samarone e Samuel Marinho; Elias Rocha Gomes) e Poiesis (alguns do Curare, mais Geane Lima Fiddan, Paulo Melo Sousa, Natinho Costa Fênix, Danilo Araújo). E faz uma correção, para os novos tempos: Curare não é um grupo, é um espírito que baixa onde dois, quatro ou sete poetas reúnem-se em seu nome. Leão (2008) [5] – ao comentar os resultados dos concursos de 2007 da SECMA e do Concurso Literário “Cidade de São Luis”, afirma que todos estes novos talentos fazem parte, ao fim e ao cabo, de um mesmo grupo, a maior parte na mesma faixa geracional, outros em faixas diferentes, de poetas, escritores e intelectuais que, lutando por visibilidade e reconhecimento no cenário da literatura maranhense contemporânea: […] já vêm trabalhando há pelo menos dez anos, quando não mais, no sentido de produzir uma obra capaz de continuar, com dignidade e competência, a tradição de literatura que o precede, com profundo respeito aos grandes autores maranhenses do passado, mas também com ousadia e inovações.


Para Dyl Pires[6], a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam. Entre seus livros de formação, estão A Poesia Maranhense no Século 20 – Antologia (1994), organizado por Assis Brasil; o último número da revista publicada pela Academia dos Párias (8º Andar); O Circuito da Poesia Maranhense, livro organizado por Dilercy Adler; as antologias poéticas do Grupo Carranca; o Suplemento Vagalume, de Alberico Carneiro. As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. “Couto abria sua casa para nos receber em sábados dionisíacos. Ali era a nossa Movelaria Guanabara”, lembrou. Ele destacou também a importância dos projetos de fomento à produção literária promovidos pela Fundação Municipal de Cultura, a Secretaria Estadual, o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas (SIOGE), entre outras instituições. Já Bioque Mesito[7] reconheceu que a geração daquela época foi sendo valorizada quando passou a assinar prefácios de livros e a participar de suplementos literários. Ele ressaltou nomes de outros artistas fora da literatura que contribuíram para a formação da estética do trabalho deles, como o artista visual Binho Dushinka. Assumindo uma postura mais contemporânea, afirmou não ter influência da poesia de Nauro Machado e que nomes como Augusto Cassas, Mauro Portela, Alberico Carneiro, Celso Borges, Chagas Val e Fontenelle foram mais importantes na sua formação como poeta. Estamos diante da GERAÇÃO 90, que tinha entre seus membros, além de Dyl Pires, Bioque Mesito e Sebastião Ribeiro, representantes do grupo de poetas daquela geração, nomes como Agamenon Almeida, Eduardo Júlio, Antônio Ailton, Ricardo Leão, Jorgeana Braga, Mauro Ciro, Lúcia Santos, Marco Polo Haickel, Natan, entre outros perdidos na lembrança. Em 1995, segundo Leão (2008) [8], surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense: Tratava-se, destarte, de um projeto pretensioso. Porém, não se produz arte literária, sobretudo dentro de uma tradição longa e respeitada como a maranhense, de modo impune e sem grandes pretensões, até mesmo alguma megalomania. É necessário, portanto, recapitular um pouco dessa história, antes que sejamos os únicos que ainda se lembrem dela. […] O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro. Ricardo Leão recorda que a ideia inicial de montar o grupo fora dele e de Dyl Pires, após um encontro ocorrido em 1995 na Biblioteca Pública Benedito Leite, no anexo aos fundos, onde se elaborou uma lista inicial de amigos e conhecidos comuns, constante de uns 25 nomes, entre os quais vários que já se vinham destacando em concursos locais e nacionais. O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Polo Haickel. O encontro havia, pois, acontecido. Como o projeto da revista naufragou após um tempo, faltou um evento que registrasse e existência do grupo (LEÃO, 2008).


Antonio Aílton Santos Silva (2014) [9], um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especial do Curare, deu um depoimento muito esclarecedor, ao pedir sua biobibliografia; transcrevo-a em parte – a integra está no devido lugar -, pois muito diz sobre como funcionavam esses movimentos, ou grupos, e esclarece muitos pontos. Vamos aos “FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS”: As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. […] Apague-se certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” – Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). […] Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA […] O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. […] Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce… Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?… […] Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, […] além da jovem poeta Rosemary Rego. […] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa… Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais. Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996). […] O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este, sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix – Concours “Brésil, Terre Latine”, Alliance Française/UFMA/Academia Maranhense de Letras.


O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002). […] Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007.

NOTAS [1] LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm [2] SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico [3] ANTONIO AÍLTON. CARAS DA POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA in JP Turismo, caderno do Jornal Pequeno, p. 4 e 5, no dia 30/12/2016 [4] ANTONIO AÍLTON. CARAS DA POESIA MARANHENSE CONTEMPORÂNEA in JP Turismo, caderno do Jornal Pequeno, p. 4 e 5, no dia 30/12/2016 [5] LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm [6] Estética da poesia dos anos 90 é debatida na Feira do Livro. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 [7] Estética da poesia dos anos 90 é debatida na Feira do Livro. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 [8] LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm [9] SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS – DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.


ACABEI DE LER O POEMA ÉGUAS! RICARDO LEÃO

Acabei de ler o poema Éguas!, de meu amigo poeta e ator Dyl Pires. Fazia meses que apenas acompanhava a repercussão do livro, sem nunca ter acesso ao texto propriamente dito, que finalmente me foi enviado, em forma de cortesia, pelo editor e amigo Bruno Azevêdo, do selo Pitomba. Em uma sentada, li todo o livro, e fiquei deslumbrado. Embora, de partida, qualquer leitor de Gullar perceberá sem dificuldades o parentesco que o texto do Dyl tem com obras como o Poema Sujo, entre outros, é inevitável também perceber que Dyl tem sua própria dicção e seu próprio repertório de imagens, memórias e metáforas. Passada essa primeira fase da fascinante leitura do texto, o que temos é um dos textos mais comoventes do memorialismo poético dos auto-exilados escritores maranhenses, que desde Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, navegam sobre a tradição de escrever poemas a respeito da dolorosa escolha de ter que abandonar nossa terra natal, o que nos leva, particularmente no Maranhão, a produzir belíssimos poemas de pura saudade, memorialismo, nostalgia, pesar, melancolia, dor, arrependimento, ao mesmo tempo tendo que conviver com um sentimento muito parecido com alívio, pelo fator de termos ido embora e não desejarmos voltar. No entanto, o texto de Dyl pulula de memórias frescas, de acontecimentos compartilhados, de toda uma São Luís que já foi e não é mais, mas que ainda persiste como um fantasma da memória, repleta de afetos e reminiscências que nos povoam de uma espécie de orfandade lírica, existencial, geográfica e insular, que levou a mim mesmo escrever e publicar também um longo poema sobre esse sentimento, tempos atrás. No entanto, Éguas! talvez seja o livro-poema definitivo de nossa geração sobre esse sentimento particular e coletivo. E, com certeza ou muito provavelmente (por mais paradoxal que dizer isso pareça), o melhor poema já saído das mãos do bardo das reuniões e partidas de dominó na casa do Gojoba e família, numa São Luís perdida nos escombros e ruínas das memórias mais queridas. “Éguas!”, o mais novo livro do poeta e ator Dyl Pires, resgata a interjeição do espanto maranhense para mergulhar numa cidade que formou o imaginário do artista nas últimas quatro décadas. A memória, e consequentemente a ausência, são presenças nesse poema único, em prosa, que debruça um olhar atento e minucioso sobre personagens, lugares e situações, a partir de uma perspectiva poética e sociológica. ÉGUAS formato 13 x 14 cm, 60 p capa em kraft 300, miolo em AP 90, verde fotos de Pierre Verger porfácio de Matheus Gato


1986, O ANO QUE NÃO TERMINOU ALEX PALHANO “A memória é uma ilha de edição” (Waly Salomão) “Cada edição é uma mentira” (Jean-Luc Godard)

Reza a lenda que 1986 foi a reedição maranhense de 1968, o venerável ano que jamais terminou. Enquanto o país experimentava os primeiros passos da redemocratização em pleno Governo Sarney, com a economia em transe, em 1986 uma rapaziada deitava na grama do Pimentão (para os mais novos: Pimentão era a alcunha do Centro de Ciências Sociais da UFMA) e acendia a fogueira da transgressão na política e no comportamento. Eu ainda iria chegar cinco anos depois... Aquele ano foi o cartão de embarque para uma viagem sem volta que começa com a polêmica exibição do filme “Je vous salue, Marie” no campus do Bacanga. Longa-metragem de Godard censurado por pressão da Igreja Católica, o filme foi exibido na clandestinidade, despertou a ira do reitor e atraiu a sanha redentora da então controvertida Polícia Federal. E tem mais: em 1986, o Circo Voador criou asas e montou uma caravana de artistas e malucos com destino à Copa do México. No meio da trupe estava o então estudante de Jornalismo da UFMA Jorge Thadeu acompanhado de Gerude e Ronald Pinheiro. Em resumo, a trinca maranhense driblou o fracasso do Circo em Guadalajara e por quase um mês amealhou dólares em palcos alternativos do México. Em 1986 a Akademia dos Párias ditava as regras da anarquia pelos muros do campus e pregava poesia pelos corredores e bares da cidade. O iniciante Zeca Baleiro conquistava o primeiro lugar no Festival Universitário de Música Popular com a canção “Querubim” quatro antes de, indignado com o puritanismo da cultura popular, quebrar o violão em pleno show no território universitário. Rita Ribeiro (hoje Rita Benneditto) cantava com Cláudio Pinheiro “Trem do Pantanal” sobre um meio palco armado na carroceria de uma Kombi, nas cercanias do Bacanga. O padre Josimo Tavares tombava em plena luz do dia, vítima da grilagem e do crime de encomenda que fazia tremer Imperatriz e toda a região do Bico do Papagaio. O roqueiro Lobão também tombava, mas completamente chapado e abraçado a uma garrafa de uísque no palco do colégio dos Irmãos Champagnat (Maristas), depois de um show ao lado dos Titãs. A TV Mirante iniciava as suas transmissões em caráter experimental, a Rádio Universidade FM abria as portas, o Tropical Shopping inaugurava com um cinema cuja atração era “Cocoon”... Enfim, é muita história para um ano apenas (aliás, “Um minuto apenas”, programa apresentado por uma senhora catequizadora de almas perdidas, era uma das atrações de sábado a noite na TV maranhense). Cheguei na UFMA quando boa parte dessa farra já estava terminando. Sim, porque 1986 parece que durou uns cinco anos, segundo estimativa da polícia na época – para os envolvidos na trama, 1986 durou uns dez anos, no mínimo! Mas devo dizer que vivi tudo isso e muito mais, porque acabei de ler/assistir/ouvir o projeto “Maio Oito Meia”, idealizado pelo jornalista e escritor Félix Alberto Lima. Ele conta muito do que viveu naqueles tempos - e do que ouviu os amigos contarem. “Maio Oito Meia, crônica de uma geração em movimento” é o inventário de uma tribo urbana em livro, vídeo documentário, vinil e CD. Segundo prefácio do poeta e jornalista Eduardo Júlio, Félix Alberto traz “um testemunho lúdico, uma observação lúcida de como agia e pensava a juventude maranhense, que estudava no campus do Bacanga, em um momento importante de transição e de transformação política e social do Brasil, que deixara para trás 20 anos de uma ditadura imposta ao país”. E diz mais: “Para uma significativa parte da juventude daquela época, o campus ofertava um aprendizado diário de hedonismo e transcendência existencial. Em vários momentos, pensamos que nunca mais conseguiríamos deixar o Bacanga, tão grande era a felicidade de estar ali. De fato, no começo de nossa juventude, não precisávamos de muito mais do que nos era oferecido ali. Éramos felizes e sabíamos disso”.


O filme é um livre documentário com depoimentos de personagens dos movimentos culturais e políticos do circuito universitário na década de 1980 em São Luís. Além das entrevistas, o filme dirigido por Beto Matuck contém imagens inéditas de episódios e eventos que marcaram aquela década no Maranhão, como Fump, Comunicarte, solidariedade de estudantes e professores aos desterrados do Sá Viana, passeatas e protestos, a luta contra o muro do campus e os intermináveis embates com o reitor. O LP e o CD "Maio Oito Meia" trazem 12 músicas (11 regravações e uma canção inédita) que também embalam a trilha sonora do filme. Entre as faixas estão “Senzalas”, com a Tribo de Jah; “Oração Latina”, com a dupla Alê Muniz e Luciana Simões; “Viagem a Moscou”, com Célia Leite e Nathalia Ferro; “Aquela estrela”, com Jorge Thadeu; e “Asas da paixão”, com Flávia Bittencourt. Betto Pereira, César Nascimento, Mano Borges, Celso Reis, Carlinhos Veloz, Erasmo Dibell, Zeca Baleiro, Nosly e Rita Benneditto são outros intérpretes presentes no disco. No texto de apresentação na contracapa do LP, Félix Alberto dá a pista daquilo que o disco representa: “Maio Oito Meia é o fragmento musical de muitas histórias vividas ali, sob aquela atmosfera. O disco é a trilha sonora de uma geração que frequentava salas de aula e assembleias estudantis, atirava pedras no reitor pra transformar o mundo, excedia-se em irreverência e anarquia, resmungava no megafone ou simplesmente povoava a arena livre dos festivais de música e dos saraus à boca da noite, no outro lado da barragem”. Com uma narrativa não linear, “Maio Oito Meia” revisita fatos e personagens da época e recria o mosaico de experiências de jovens estudantes, entre os 17 e os 20 anos de idade, encorajados a transformar sonho em realidade, utopia em paixão. A memória afetiva e aflitiva do autor – com o auxílio luxuoso de outros protagonistas - é amparada em pesquisa, entrevistas, depoimentos e contribuições de quem viveu na pele os episódios relatados. Mas é preciso ficar atento e forte! Não se encontrará no livro ou no filme uma história oficial dos movimentos estudantis que sacudiram o circuito universitário dos anos 1980 em São Luís, mas fragmentos de impressões, observações e testemunhos que ajudam a compor o mapa do real. Uma crônica de barricadas imaginárias dispostas a resguardar assombros e alumbramentos num enredo sem encomenda, “carregado de vícios e virtudes”, como alerta o autor. Então anota aí! O projeto “Maio Oito Meia” será lançado na próxima terça, dia 30, a partir das 18h, no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho (assim mesmo, com vírgula antes do filho minúsculo!), com exibição do filme, autógrafo do livro e audição do vinil. Eu, se fosse você, não perderia o fio da meada do ano de 1986, o ano em que muita gente se jogou.

O projeto “Maio Oito Meia” faz parte da lei de Incentivo à Cultura, do Governo do Maranhão, com patrocínio do Grupo Mateus.)


SOBRE MARIA FIRMINA DOS REIS...180 SÉRGIO XIMENES

A informação seguinte não se encontra na Web nem em qualquer tese ou trabalho universitário que eu já tenha lido. Creio que seja inédita. A importância dela me parece óbvia: resolve de vez a polêmica sobre Maria Firmina dos Reis (“Úrsula”, 1859) x Ana Luisa de Azevedo Castro (“D. Narcisa de Villar”, 1858). Este é o link (em Publicações Pedidas”, Prospecto): http://memoria.bn.br/docreader/035156/143 Trata-se da primeira resenha de “Úrsula”, publicada em 17 de outubro de 1857 pelo jornal de São Luís “A Imprensa” (ano I, número 40, página 3). Como o livro foi realmente impresso em 1859, calculo que não tenha havido muito interesse dos leitores, naquele momento, para garantir a subscrição, em 1857 (é só uma hipótese). Mas a resenha permite concluir que a obra já estava pronta, pelo menos, em setembro de 1857: os personagens são os mesmos, a história idem. Reproduzo abaixo a resenha, atualizada: PUBLICAÇÕES PEDIDAS Prospecto ─ O romance brasileiro que se vai dar ao prelo sob a denominação de ─ ÚRSULA ─ é todo filho da imaginação da autora, jovem Maranhense, que soltando as asas à sua imaginação, estreia a sua carreira literária oferecendo ao Ilustrado Público da sua nação as páginas, talvez por demais vazias de um estilo apurado, como o é o do século, mas simples, e os pensamentos, não profundos, mas entranhados de patriotismo. Todo ele ressente-se de amor nacional e de uma dedicação extrema à Liberdade. Os personagens da sua obra, não os foi buscar num fato original; a existência desses entes criou-a ela, no correr da mente. A autora simpatiza com o que há de belo nas solidões dos campos, na voz dos bosques e no gemer das selvas, e por isso preferiu tecer os fios do seu romance, melhor que nos salões dourados da corte, nos amenos campos e nas gratas matas do seu país. Recolhida ao seu gabinete a sós consigo mesma, a autora brasileira tem procurado estudar os homens e as coisas, e o fruto desses esforços de sua vontade é: ─ ÚRSULA ─ A donzela, que vai aparecer-vos sob esse nome, vivendo isolada nas solitárias regiões do Norte, não é um desses tipos de esmerada civilização, mas, longe de serem selvagens os seus costumes, Úrsula tinha o cunho de um caráter ingênuo e puro, com o só defeito de ser talvez por demais ardente e apaixonada a sua alma. Constante nos seus afetos, essa donzela não se assemelha a tantas outras mulheres volúveis e inconsequentes que, aprendendo desde o berço a iludir, deslustram o seu sexo, mal compreendendo a missão de paz e de amor de que as incumbiu Deus. Talvez um amor estremecido e uma prevenção desde o berço, alimentada contra seu tio, o comendador P., lhe dê por um momento os traços de leviandade, mas se atentarmos que Úrsula, no verdor dos anos, arrastada por essas duas paixões imperiosas que tão fatais lhe foram, conservou a pureza de uma alma angélica, confessaremos que a predileta da autora tinha o caráter firme, como sói ser o das almas grandes e virtuosas. 180

Recebi a seguinte correspondencia eletrônica do pesquisador Sérgio Ximenes, do trabalho que está escrevendo sobre Maria Firmina dos Reis. Dilercy me mandou seus contatos e remeti a eles nossos livros Sobre Maria Firmina dos Reis e 190 poemas para Maria Firmina dos Reis além de algum material que ainda tinha, inclusive originais de jornais publicados no Maranhão. Devolveu-nos, agradecendo, o material aquyi disponibilizados.


Úrsula tinha a imaginação ardente das filhas do Norte, e como elas guardava na alma sentimentos nobres e um afeto e uma dedicação que só o túmulo saberá extinguir. Menos ardente não era o coração do jovem Tancredo ― essas duas almas perfeitamente harmonizavam. O comendador invejou tão extrema ventura e lançou absinto no vaso de suas doces esperanças: podia ter sido generoso, mas seu amor era terrível, ele não pôde perdoar. Túlio e Susana representam essa porção do gênero humano tão recomendável pelas suas desditas ─ O Escravo! ─. A autora tem meditado sobre a sorte desses desgraçados entes, tem-lhes escutado as lacrimosas nênias e o gemer saudoso, a recordação de uma vida que já lá passou, mas que era bela nas regiões da África!... É um brado a favor da humanidade ― desculpai-a... Subscreve-se para esta obra na tip. [tipografia] do Progresso, do Observador, do Diário [do Maranhão] e do Publicador [Maranhense] ― preço por cada exemplar brochado ― 2s000rs. O CAIXEIRO D'ALFAIATE


O BRADO DE REGINALDO TELLES DE SOUSA: “ACORDA MOCIDADE! ACORDA ATENIENSE!” E O ATENIENSE ACORDOU... LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Escrevi, na apresentação do livro de poesias de Reginaldo Telles que sua nora, Denise Martins de Araújo, chamara-me à sua sala, na Academia Viva Água dizendo-me precisar que editasse um livro de poesias. De Reginaldo Telles... Perguntou-me se o conhecia. Ao que respondi que sim, conhecia-o pai do Osvaldo e da Regina; Sim, o político, ligado ao Dr. Jackson e ao Neiva Moreira; Sim, o jornalista brilhante, de uma geração em que se fazia um jornalismo sério, sem paixão – sem a paixão político-partidária, a soldo de quem paga mais para ‘criar’ verdades e macular biografias... Não. Não conheço o poeta! Mas sei que todo maranhense nasce poeta. Que todo poeta busca no jornalismo um meio de sobrevivência, para poder poetar... Mais tarde, ao buscar material para a construção de uma Antologia Ludovicense, para a Academia Ludovicense de Letras, deparei-me com outro Reginaldo Telles... Aquele jovem liceista, da mesma geração de Tribuzzi, Lago Burnett, José Sarney, que bebiam de Neiva Moreira, Ignácio Rangel, Josué Montello, Oswaldino Marques, Franklin de Oliveira, Odylo Costa, filho, Antonio de Oliveira, Manoel Caetano Bandeira de Mello, Erasmo Dias, Mário Meireles e Nascimento Moraes. Rossini Corrêa (1989) 181[1] vai identificá-los como a Geração de 30. Daquela jovem Geração de 30, que se vai congregar no Cenáculo Graça Aranha, estimulada que foram pelo Mestre Antonio Lopes da Cunha, professor do Liceu Maranhense. Josué Montello foi o orador na solene fundação do Cenáculo) 182[2], 183[3] . Terminada a década de 30, os principais entusiastas da mocidade intelectual maranhense estavam radicados no Rio de Janeiro, onde acreditavam ter perspectivas de reconhecimento nacional como escritores e estudiosos; outros, permaneceram no Maranhão... Há que se destacar que, entre as décadas de 30 e 40, o fenômeno de aliciamento de poetas, romancistas e ensaístas foi um fenômeno nacional184[4]. Com Paulo Ramos, a máquina do Estado foi expandida. Houve um crescimento das instituições públicas. Surgiu um mercado de trabalho mais típico dos intelectuais. Estes, antes “reclusos à existência vacilante da boemia, de mestre-escola e do jornalismo provinciano” passaram a “compartilhar das responsabilidades administrativas do Estado” (CORRÊA, 1993) 185[5] . Para Corrêa (2001), talentos ressalvados, Edmo Leda e Sebastião Corrêa morreram precocemente, e Erasmo Dias e Paulo Nascimento Moraes não construíram, de maneira organizada, obras literárias. Cedo também desapareceu Viana Guará. E alguns, como costumeiro, não confirmaram a vocação matinal, não deixando vestígio na história da literatura maranhense. Foi Corrêa da Silva quem sustentou o fogo do combate - afirma Corrêa (2001) 186[6] – minimizadas as fileiras da falange erguida por Antonio Lopes, nas páginas do Diário do Norte, com o suplemento “Renovação”, que substitui tanto o Cenáculo Graça Aranha, quanto o Centro Maranhense de Artes e Letras. “Renovação” extingue-se com a debandada de quase todos os seus fundadores para fora da ilha, não deixando maiores frutos, mas deve ser lembrado pelo que representou para um punhado de jovens talentosos. 181[1]

CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989. CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001 184[4] BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181 185[5] CORRÊA, Rossini. FORMAÇÃO SOCIAL DO MARANHÃO: O PRESENTE DE UMA ARQUEOLOGIA. São Luis: SIOGE, 1993. 182[2] 183[3]

186[6]

CORRÊA, Rossini. ATENAS BRASILEIRA; A CULTURA MARANHENSE NA CIVILIZAÇÃO NACIONAL. Brasília: Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001


Barros (2005, 2013?) 187[7], ao analisar a literatura maranhense num recorte temporal de 1930 a 1960, afirma que, politicamente, podemos afirmar a existência de dois momentos: Primeiro, entre fins da década de 30 e metade da década de 40. Em 1939 aparece o primeiro número da “Revista Athenas” – dirigida por J. Pires -, e, nas palavras de Nascimento Moraes (1939) 188[8], tratar-se-ia de “uma arrancada” comprovadora de que “A Athenas Brasileira vive. Não é menos vigorosa a sua expressão mental”. Este é um momento em que a noção de cultura – e tradição – indicada pelo desejo da afirmação do termo “Atenas” ainda continua a apontar, sobretudo para uma tradição que valoriza a Europa, um texto velho, mas continuamente revitalizado: [...] em se tratando de uma publicação maranhense, feita no Maranhão, levará os leitores daquela ‘Athenas’ do tempo de Perycles, de Sócrates, de Xenophonte, de Phidias [...] E dirão que ‘Athenas’ é hoje synonimo de escombros, de ruínas, e é o nome que forçará o espírito a recordar um passado de glórias e a physionomia moral de um povo que já deu o que podia dar. Entretanto [...] digam que se transmudam, que se reformam, que se reorganizam, e que tomam novas directrizes. Mas não se verificam desornamentos nas edificações feitas. O que ficou construído servirá de alicerce a novas edificações [...] A Athenas Brasileira vive. Não é menos vigorosa a sua expressão mental. (MORAES, 1939, 189[9]p. 1-2, grifos nossos, citado por Barros, 2005, p. 80)190[10].

Nesse período, além da chamada Geração de 30, ou sob sua interferência/influencia, aparece o Centro Cultural Gonçalves Dias. No dizer de Corrêa (1989) 191[11], organizada com a participação de intelectuais experimentados, como Luso Torres, Manoel Sobrinho, Clodoaldo Cardoso, Bacelar Portela e Nascimento de Moraes (pai), acrescido pelos representantes da mocidade, como Nascimento Morais Filho, Vera Cruz Santana, Arimatéia Atayde, José Figueiras, Agnor Lincoln da Costa, Antonio Augusto Rodrigues, José Bento Nogueira Neves e Haroldo Lisboa Olimpio Tavares. E, claro, Reginaldo Telles de Sousa... Corrêa (1989, p. 66) traz o depoimento de um dos fundadores do Centro: “Sentimos que a Academia Maranhense de Letras atravessava uma fase de silencio e que a juventude não recebia estímulos no plano literário. Resolvemos, por isso, fundar uma agremiação que pudesse acordar a Academia e, ao mesmo tempo, oferecer aos jovens, nos encontros semanais, oportunidade para o despertar de tendências. A entidade significou, assim, um movimento de reencontro com a tradição literária do Estado e de estímulo às iniciativas no plano das letras”.

Outro dos fundadores declara que, teoricamente, o Centro já estava fundado, pois se reuniam no Bar Paulista, e à noite, na Galeria do Carmo, para declarar poesias e discutir literatura. Não era um movimento de escola literária, declara outro integrante a Corrêa (1989): o movimento era cultural, portanto, global. Envolvia tudo – não havendo nunca antes no Maranhão, um movimento neste sentido. Os encontros centristas aconteciam, então, já, no Casino Maranhense, no Clube Litero Recreativo Português, e na Escola Benedito Leite e, as solenidades mais representativas, no teatro Artur Azevedo. A publicação de revistas, enquanto veículos culturais foram duas, abarcando os ângulos histórico – Caderno Histórico – e literário – Caderno Literário. A deferência de Sebastião Archer da Silva, possibilitando a publicação das revistas, significou um passaporte para a chegada ao aparelho de comunicação de Victorino de Britto Freire, então já senador da república. Assim foi que o Diário de São Luís, do extinto Partido Social Trabalhista, começou a circular seu suplemento literário, sob a direção de Nascimento Morais Filho. O suplemento cultural já estava com 40 números publicados quando Lago Burnett 187[7]

BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181, O tema enfocado neste artigo foi discutido na monografia “Renegociando Identidades e Tradições: cultura e religiosidade popular ressignificadas na maranhensidade ateniense”, defendida no curso de História da UFMA, em julho de 2005 (BARROS, 2005) e também em eventos (BARROS, 2004a, 2004b, 2004c). As fontes históricas citadas podem ser localizadas na Biblioteca Pública Benedito Leite (Setor Arquivo), em São Luís/MA. Disponível em http://www.outrostempos.uema.br/volume03/vol03art10.pdf, acessado em 02/05/2014 188[8] MORAES, José Nascimento de. Uma arrancada. REVISTA ATHENAS, São Luís, p. 1-2, jan. 1939, citado ,por BARROS (S.D.). 189[9] MORAES, Nascimento de. Uma arrancada. REVISTA ATHENAS, São Luis, n. 1, p. 1-2, jan. 1939, citado por BARROS, Antonio Evaldo Almeida. “ACORDA ATENIENSE! ACORDA MARANHÃO!”: identidade e tradição no Maranhão de meados do século XX (1940-1960). In CIÊNCIAS HUMANAS EM REVISTA, São Luis, v. 3, n. 2, dezembro de 2005, p. 73-92 190[10] BARROS, Antonio Evaldo Almeida. “ACORDA ATENIENSE! ACORDA MARANHÃO!”: identidade e tradição no Maranhão de meados do século XX (1940-1960). In CIÊNCIAS HUMANAS EM REVISTA, São Luis, v. 3, n. 2, dezembro de 2005, p. 73-92 191[11] CORRÊA, Rossini. O MODERNISMO NO MARANHÃO. Brasília: Corrêa & Corrêa, 1989.


e Ferreira Gullar assumiram a sua direção. E diferentemente de Nascimento Morais Filho, passam a exercer censura, decidindo que “Toda a matéria que não for solicitada deverá passar pela nossa censura” (CORRÊA, 1989, p. 89): “Refletiam, decerto, o contexto do CCGD, relacionado com as exigências da redação do Diário de São Luis. Entretanto, sob disfarce, o sarcasmo da história se processava, e José Sarney, polemicando sobre o poético com os centristas, começava a escrever para o publico, sob beneplácito do Senador Victorino Freire, o qual na década seguinte, o lançaria na política e a quem viria a combater e suceder historicamente”.

José Sarney192[12], em entrevista a O Imparcial diz que, na sua geração eram formados dois grupos: no Centro Cultural Gonçalves Dias, onde se reuniam Nascimento Moraes Filho, Ferreira Goulart, Lago Burnet. [...] os ‘neo-modernistas’ nos encontrávamos na Movelaria do pintor Pedro Paiva. Éramos os escritores Bandeira Tribuzi, Evandro Sarney, Carlos Madeira, Domingos Vieira Filho, Bello Parga, Nivaldo Macieira, Lucy Teixeira e eu, e os pintores Floriano Teixeira, Figueiredo, Antonio Almeida, Cadmo Silva, Amorim. Gular e Burnett depois se uniram a nós e acabaram partindo para o Rio de Janeiro. [Sobre a criação do Suplemento Literário de São Luis] Foi o primeiro e por muito tempo não tive outro. Tínhamos colaboração do Brasil inteiro, fazíamos muito sucesso, dinamizamos o movimento cultural.

Depois, de meados da década de 40 até meados da década de 60, período correspondente à oligarquia vitorinistai[i],193[13] que será substituída por outra, a oligarquia Sarney, em 1965. Informa Barros (2005)

194[14]

:

Neste cenário, terão papel fundamental membros da chamada “Geração de 45” e, em ambos os momentos, vozes se levantarão para pintar o Maranhão como decadente, mas pronto para reerguer-se revivendo supostos tempos áureos e prósperos de Atenas.

Grêmios e centros estudantis de escolas e faculdades davam sua parcela de contribuição no processo de tentativa de não esquecimento e de remomoração do Maranhão-Atena, através da publicação de jornais e de realização de cerimônias. Barros (2005, p. 88)195[15] identifica, na Biblioteca Púbica Benedito Leite “A Juventude” com nove exemplares publicados em 1957, “Alvorada” também cm nove edições publicadas entre 1954 e 1955; “Êxito” teve dois números publicados em 1950; “Folha Escolar” com 12 publicações entre 1944 e 1949, “Folha Estudantil”, um exemplar em 1951; “O Grêmio”, um exemplar, de 1955; “Estudante de Atenas”, sete exemplares publicados entre 1956 e 1957; e “O Liceu” teve dois exemplares publicados entre 1957 e 1958. O jornal “Folha Estudantil” tinha por redatora e gerente os alunos da Escola Benedito Leite, Margarida Ferreira e Mário S. Mesquita e a direção das professoras Benedita Rosa Soares e Silva e Elda Archer Serra Martins (FOLHA ESCOLAR, 1949, citado por BARROS, 2005, p. 81). Importante lembrar que “Alvorada”, jornal do “Liceu Maranhense”, então principal escola de Ensino Médio do Estado, é um dos principais jornais que significa a maranhensidade a partir dos motivos da velha Atenas de Gonçalves Dias.

192[12]

CUNHA, Patrícia. “O IMPARCIAL MARCOU MINHA VIDA” – ENTREVISTA COM José Sarney. O IMPARCIAL, São Luis, 1º de maio de 2015, Caderno Especial. COSTA, Wagner Cabral da. O SALTO DO CANGURU: DITADURA MILITAR E REESTRUTURAÇÃO OLIGÁRQUICA NO MARANHÃO PÓS-1964. CIÊNCIAS HUMANAS EM REVISTA, São Luís, UFMA/CCH, v. 2, n. 1, p. 183-192, 2004.

193[13]

194[14]

BARROS, Antonio Evaldo Almeida. INVOCANDO DEUSES NO TEMPLO ATENIENSE: (Re) inventando tradições e identidades no Maranhão (1940-1960). Outros Tempos, www.outrostempos.uema.br, volume 03, p.156-181 BARROS, 2005, p. 88-89, em nota (9), p. 89.

195[15]


Em sua primeira edição, em 10/05/1945, está a poesia “Alvorada”, de Reginaldo Teles de Sousa196[16]: Acorda Mocidade! Acorda Ateniense! Alça teu vôo pelo espaço e nas alturas, Recorda o teu passado e, em teu presente, vence, Batendo o ostracismo e as sombras mais escuras Acorda Ateniense! Acorda Mocidade! Sobre glorias dormiste e glorias em dezenas... É tempo de acordar, despertando a verdade, Clareando o horizonte e iluminando Atenas! Acorda Mocidade! Acorda Maranhão! E mostra que depois de sonhos, despertado Sorris, como um Gigante, um Gigante ateniense Que vem haurir num templo imenso edificado Desperta Ateniense! Os cânticos são belos! Desperta Mocidade!... É fresca a madrugada O sol da inteligência enloira os teus castelos! Há sorrisos e luz, cambieantes de alvorada! (SOUSA, 1945, p. 1)197[17]. Dois anos depois retoma o poema Alvorada, escrevendo um excerto: Acorda Mocidade! O mundo ouça teu grito! O oceano se agira em convulsões tamanhas... [...] Tens a força latente e o valor dos gigantes. Em teu seio borbulha o esplendor dos teus anos, Ès mais forte que o forte em duelos constantes, [...] Do teu passado escuta a voz altissonante Que te fala num brado e pela natureza. (SOUSA, 1947, p. 4)198[18] . Além do “Alvorada’, o Liceu Maranhense tinha o órgão oficial de seu grêmio, o jornal “O Estudante de Atenas”. Os jornais que eram publicados, então, tinham vida curta. A cada nova tentativa, os mesmos órgãos reviam seus nomes, suas formas, mas, depois, sucumbiam aos dias (BARROS, 2005): O poeta e, naquele momento, a dois anos de tonar-se imortal da AML, José Carlos Lago Burnett, salientava que um dos principais empecilhos para o desenvolvimento de escritores jovens era a falta de apoio das autoridades maranhenses que, ‘sem nenhuma originalidade, fazem o mesmo que as demais autoridades do Brasil: põem a cultura em plano secundário e desconfiam dos literários, justamente por sabê-los superiores’ (BURNETT, 1952199[19]). 196[16]

VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. UMA APRESENTAÇÃO NECESSÁRIA ÀS POESIAS NECESSÁRIAS, de ontem e hoje: REGINALDO TELLES. In ALL EM REVISTA, V. 2, N. 1, 2015, SÃO LUIS – MARANHÃO – JANEIRO A MARÇO, p. 306-311.

197[17]

SOUSA, Reginaldo Telles de. Alvorada. ALVORADA, São Luis, 10 de maio de 1945, citado por BARROS, 2005, obra citada, p. 83. SOUSA, Reginaldo Telles de. Alvorada - excerto. ALVORADA, São Luis, 14 de jul. de 1947, citado por BARROS, 2005, obra citada, p. 83. 199[19] BURNETT, José Carlos Lago. Novidades transcreve uma entrevista dada pelo poeta à “Revista Branca”, do Rio de Janeiro. NOVIDADES, São Luís, 02 de agosto de 1952. 198[18]


[Continua Barros] Para o escritor, existiam apenas duas revistas ‘dignas de registro’ no Maranhão: ‘A Ilha’, dirigida por José Sarney Costa, Bandeira Tribuzi e Luis Carlos Belo Parga, e “Afluente”, dirigida por Ferreira Gular e ele próprio.

Lago Burnett e Ferreira Gullar, agindo como autônomos em relação ao CCGD partem para a publicação da revista Saci – ilustrada por Cadmo Silva e o próprio Lago Burnett, com tiragem de 3.000 exemplares, aceitava colaboração... A geração seguinte foi a “geração de 45”. Para Rego (2010) “Movimento da Movelaria Guanabara”, onde:

200[20]

, também denominada de

O contexto literário da capital maranhense vai-se dinamizar a partir de encontros realizados na Movelaria Guanabara, de propriedade do artista plástico Pedro Paiva. A Movelaria Guanabara servia como espaço para a realização de encontros e debates que, segundo Rossini Corrêa, ali eram traçados caminhos imediatos de intervenção intelectual na realidade maranhense.

Já o “Folha Estudantil”, órgão do Grêmio Liceista, publicado em 1951, tem um primeiro número paradigmático, rememorando um passado miticamente construído, denunciando um presente supostamente decadente e vislumbrando um futuro pelo espectro daquele passado: Avante, MOCIDADE ATENIENSE Volvendo a memória ao passado, revivemos os dias áureos dos nossos ascendentes, quando a gleba maranhense se sobressaiu, pelas letras, entre as demais glebas do solo pátrio. [...] Não podemos esquecer a vida e os relevantes serviços de nossos primeiros irmãos que honraram o nome e a história de nossa gente [...] para frente! Mocidade Maranhense! Com a mesma cadencia que desenvolviam os maranhenses de ontem; para que a tua plaga não só patenteie esta tradição que é o orgulho do Maranhão, mas de todo o Brasil (BASTOS, 1951, p. 2, citado por BARROS, 2005, P. 82) 201[21].

Nos anos 50/60, Cruz (Machado) (2006) 202[22] refere-se à Galeria dos Livros, do emblemático Antonio Neves, onde eram lançados os livros, nas famosas noites de autógrafos. Era Arlete Cruz quem organizava as ‘noitadas’, distribuindo os convites, o coquetel, no espaço cedido, sem custos, para aqueles então jovens literatos, artistas, intelectuais: Formávamos, assim, um grupo de artistas, ou de pessoas ligadas à arte, com várias tendências e gerações, não chegando a se constituir um movimento organizado (nem sequer éramos da Academia Maranhense de Letras, excetuando-se um ou dois), com alguns mais participativos do que outros, mas todos amigos: Bernardo Almeida, José Chagas, Antonio Almeida, Nauro Machado, João Mohana, Carlos Cunha, Paulo Moraes, Venúsia Neiva, Luiz de Mello, Bandeira Tribuzzi, Manoel Lopes, Fernando Moreira, Henrique Augusto Moreira Lima, Olga Mohana, Ubiratan Teixeira, Bernardo Tajra, Déo Silva, Lourdinha Lauande,, Murilo Ferreira, Sérgio Brito, Reynaldo Faray, José Frazão, Maia Ramos, José Maria Nascimento, Jorge Nascimento, Helena Barros, Antonio Garcez, Fernando Braga, Moema Neves, José Caldeira, Erasmo Dias, José Martins, Yedo Saldanha, Domingos Vieira Filho, Lucinda dos Santos, Márcia Queiroz minha mãe Enói, que me acompanhava sempre), Dagmar Desterro, Mário Meireles, Nascimento Morais Filho, e José Sarney – e, claro Reginaldo Telles [...] alguns mais tarde se juntariam a nós, como Pedro Paiva, e Ambrósio Amorim (ambos de volta a São Luis), Chagas Val, Virginia Rayol, Alberico Carneiro, Lucia e Leda Nascimento, Othelino Filho, Aldir Dantas, Carlos Nina, Péricles Rocha, José de Jesus Santos, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Lenita de Sá, Luiz Carlos Santos, Nagy Lajos, Aurora da Graça,, dentre outros. (p. 97).

Embora ainda frequentando os meios literários, dedica-se mais ao jornalismo. Adormece o poeta? Não, mas guarda suas produções, que só agora aparecem. Com o titulo POESIAS NECESSÁRIAS: Ontem & Hoje… 200[20]

REGO, Rosemary. A “geração de 45” - (Ou o Movimento da Movelaria Guanabara), In GUESA ERRANTE, edição 221, publicado em 10 de setembro de 2010, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/13/Pagina1235.htm 201[21] BASTOS, J. Avante, mocidade ateniene. FOLHA ESTUDANTIL, São Luis, 13 de jun. De 1951, citado por BARROS, 2005, p.82. 202[22] CRUZ (MACHADO), Arlete Nogueira da. SAL E SOL. Rio de Janeiro: Imago, 2006.


De nossas conversas, diz que os guarde de muitos anos, desde os tempos de Liceu, e os escreve toda vida... Leu-me alguns. Emocionado. Aos do tempo da juventude, com lágrimas a rolar as faces marcadas pelo tempo. Mas as lembranças permanecem vivas, como se tivessem acontecendo naquele momento, o encantamento... Pergunto: - “quem foi Elis?” sorri, disfarça, olha para a nora e o neto... os olhos marejam... E em resposta diz: “como sabes de Elis?” Respondo: “já li seus poemas...” e fiquei intrigado: “quem foi Elis?” retomo... sorri, pega o calhamaço de poesias, e seleciona uma: fala de Elis; outra, que também fala de Elis... Mas não responde: “quem foi Elis?” ou “o que foi Elis...” Não precisa responder. Basta sentir a emoção em declamar “Agora, é a frustração [...] agora, é o fracasso [...] agora, é a sensação de viuvez [...] agora, é o sino sem som [...] agora, é a solidão...” ou ‘está dando cupim dentro de mim [...] é assim na “ausência de Elis...” Mar, sol, sal, solidão... Uma constante. Uma vez Poeta, sempre Poeta… SOLIDÃO Agora, é a frustração do rio insatisfeito Que se infiltra e se acaba Nas areias do seu próprio leito E se esgota em si mesmo, vazio. Agora, é o fracasso da torrente, É o ímpeto que se ressente, Sem caudal, sem afluente Não tem força De chegar ao mar. Agora, é a sensação de viuvez, No estar sozinho É a dor da morte De quem enterra a própria sorte Afinal, sem vez. Agora, é o sino sem som, Torre sem campanário, Contida a vocação, Praia deserta, Rio sem estuário, Águas insossas E o verão sem fim. Agora, é a solidão Deixa-me ultrapassar Estes limites Dá-me tua mão, Elis, Vamos para o mar. Mas ainda quero saber, Poeta, quem, ou o que foi Elis...



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