REVISTA Número 31 – NOVEMBRO de 2009 ISSN 1981-7770
DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO
Edição Eletrônica
REVISTA 31 - NOVEMBRO 2009 - ELETRONICA
ISSN 1981 – 7770
REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO
NO 31 – NOVEMBRO – 2009 EDIÇÃO ELETRÔNICA
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REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – IHGM
Rua de Santa Rita, 230 – Centro Edifício Prof. Antonio Lopes – 2º. Andar CEP – 65015.430 – SÃO LUÍS – MA Fone (0xx98) 3222-8464 Fax (0xx98) 3232-4766 E.mail: ihgm_ma@hotmail.com As idéias e opiniões emitidas em artigos ou notas assiandas são de responsabilidade dos respectivos autores.
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, v.1, n.1 (ago. 1926) - São Luís: IHGM, novembro 2009. n. 31. Edição eletrônica ISSN: 1981-7770 1. História – Maranhão – Periódicos 2. Geografia – Maranhão - Periódicos p. 189 CDD: 918.21 CDU: 918.121 + 981.21
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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Fundado em 20 de novembro de 1915, registrado no Conselho Nacional de Serviço Social sob no. 80.578/75, de 14 de setembro de 1955 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Estadual no. 1.256, de 07 de abril de 1926 Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Municipal no. 3.508, de junho de 1996 Cartório Cantuária Azevedo – Registro Civil de Pessoas Jurídicas – reg. no. 180, registro em microfilme no. 31063, São Luís, 23 de agosto de 2007 GESTÃO 2008/2010 CHAPA: TEMÍSTOCLES DA SILVA MACIEL ARANHA DIRETORIA: Presidente: Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo Vice-Presidente: Joseth Coutinho Martins de Freitas 1º Secretário: Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva 2º Secretário: Carlos Alberto Santos Ramos 1º Tesoureiro: Telma Bonifácio dos Santos Reinaldo 2º Tesoureiro: Dilercy Aragão Adler Diretor de Patrimônio: José Marcelo do Espírito Santo Diretor de Serviço de Divulgação: José de Ribamar Fernandes CONSELHO FISCAL José Ribamar Seguins Edomir Martins de Oliveira Raimundo Cardoso Nogueira SUPLENTES: Ilzé Vieira de Melo Cordeiro Carlos Orlando Rodrigues Lima Kalil Mohana
EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz
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REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO Volume 31 – Novembro de 2009 ISSN 1981-7770 A Revista do Instituto Histórico do Maranhão, na atual administração da Prof. ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO, e de seu Diretor de Serviço de Divulgação José de Ribamar Fernandes, apresenta-nos neste ano de 2009 seu 31º número. O IHGM – foi fundado em 1925, por Antonio Lopes da Cunha: [...] tomei a iniciativa de reunir alguns homens de boa vontade na livraria de Wilson Soares, expondo-lhes a minha idéia de se comemorar o centenário do nascimento de D. Pedro II com a inauguração, nesta capital, de um Instituto de História e Geografia [...]A 20 de novembro realizou-se a sessão inicial, sendo apresentado, discutido e votado os estatutos e eleita a diretoria, cujo presidente foi Justo Jansen. José Ribeiro do Amaral foi eleito presidente da assembléia geral.
(p. 111) 1. No Artigo IV de seus Estatutos constava que: “[...] para a publicação dos seus
actos sociaes, das investigações que realizar e dos trabalhos de seus sócios sobre assumptos que se relacionarem às siciencias (sic) de que se deverá ocupar, assim como de contribuições de igual gênero enviadas por investigadores competentes, o Instituto manterá uma Revista bimensal ou trimestral.” (p. 62). Assim, em agosto de 1926 surgia a “HISTÓRIA E
GEOGRAFIA - Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão”, anno I - 1926 – num. 1, julho a setembro, com 97 páginas, contendo ilustrações, e impressa na Typ. Teixeira - São Luiz 2. Era seu Diretor Antonio Lopes (da Cunha). O segundo número da Revista aparece 22 anos após, em Novembro de 1948 3. Conforme seu Diretor Antonio Lopes na apresentação (p. 3), a Revista do IHGM não circulou desde pouco antes de 1930: “Não poucos reveses saltearam o Instituto na vigência do regime político instaurado em fins daquele ano. Uma administração do município de S. Luis retirou o parco auxílio com que eram custeadas as despesas com a revista (...). Vinte e dois anos depois de ter vivido muito e muito desajudado do Maranhão, e apesar de hostilidades e indiferenças, o Instituto sente que ainda são oportunas aquelas palavras. 4”. Nesses 84 anos de existência do IHGM – e de sua revista – foram lançados, até agora 31 edições – contando com a que está sendo lançada hoje, - a de número 28 em formato tradicional em papel, a de número 29, também em formato tradicional, em fase final de impressão, e ainda não distribuída; a partir da de número 30, de agosto de 2009, aparece em formato eletrônico, em CD-R. 1
LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973. HISTÓRIA E GEOGRAFIA- Revista trimestral do Instituto de História e Geographia do Maranhão, São Luís, ano I, n. 1, julho/setembro, 1926 3 GEOGRAFIA E HISTÓRIA – Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, São Luís, ano 2, n. 1, novembro, 1948 4 As palavras a que se refere seu diretor são do artigo que abriu o primeiro número: “Compreenderão os maranhenses dos trabalhos desta associação, que ela viverá? Talvez. E, se o compreenderem, não lhe negarão, por certo, o seu apoio”. (Rev. IHGM, ano 1, n. 1, julho/setembro, 1926, p. 5). 2
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O presente número – o segundo no novo formato – conta com a colaboração de seus sócios efetivos, apresentados aqui estudos na área dedicada à História, Geografia e Ciências afins, conforme preceitua seus Estatutos Sociais. Mantivemos a editoria, da apresentação do(s) novo(s) sócios e seu Elogio ao Patrono, e demais ocupantes da Cadeira ora ocupada pelo novo sócio efetivo. Ainda, trabalhos científicos apresentados pelos nossos sócios em eventos – Congressos, Encontros, reuniões e palestras -, aqui, no Maranhão e alhures. Incluímos uma nova seção, a de reproduzir artigos de caráter jornalístico assinados por nossos sócios tendo como suporte as diversas mídias. Notícias diversas. Lançamentos de livros. O IHGM passa por uma profunda renovação de seus quadros. O que nos possibilitará uma contribuição maior à área de estudos, que possam a vir contribuir para o desenvolvimento do Maranhão. A exemplo do Seminário realizado em agosto passado, conteúdo da revista anterior. As novas Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs – possibilitarão ao IHGM maior agilidade em dar ciência à sociedade de seu repositório de pesquisas. O uso do formato eletrônico de editoração de sua Revista, embora simples e tosco, possibilitará cumprir a sua periodicidade – trimestral – prevista em seus estatutos, como desejava seu Secretário Perpétuo e Editor da Revista Antonio Lopes. Essas novas tecnologias propiciam, ainda, devido ao seu baixo custo e possibilidade de se colocar as edições na WWW, e edição de números extraordinários, além dos agora quatro edições anuais previstas. Já estamos reunindo material para a próxima edição – eletrônica – de março de 2010. A Profa. Eneida, nesse seu segundo mandato à frente do IHGM conseguirá manter a periodicidade da Revista, cumprindo desejo de Antonio Lopes...
Leopoldo Gil Dulcio Vaz Editor do presente número
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SUMÁRIO
Diretoria – Gestão 2008-210
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APRESENTAÇÃO
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Sumário
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PALAVRA DA PRESIDENTE
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DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO DR. CÂNDIDO JOSÉ DE MARTINS OLIVEIRA EM SUA POSSE NA CADEIRA Nº 35 DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO JOSÉ MÁRCIO SOARES LEITE DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 35 FUNDADA POR DOMINGOS DE CASTRO PERDIGÃO CÂNDIDO JOSÉ MARTINS DE OLIVEIRA A GUARDA NEGRA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ O CONTINENTE SUL-AMERICANO - A Evidente Integração de Países ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville DILERCY ARAGÃO ADLER A ”CARIOCA” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ HISTÓRIA E MEMÓRIA DE BACABAL: do Século XIX ao Século XX TELMA BONIFACIO DOS SANTOS REINALDO CONHECIMENTO TRADICIONAL E APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS ESTUARINOS NA BAIA DE SÃO MARCOS – MARANHÃO RAIMUNDA NONATA FORTES CARVALHO-NETA DA CASA DAS TULHAS A FEIRA DA PRAIA GRANDE: A NECESSIDADE DE CONHECER PARA PRESERVAR! JOSE RIBAMAR SOUSA DOS REIS NOTICIAS DA MÍDIA SOBRE O IHGM ANTÔNIO LOPES - Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) vive fase de desafios e de revitalização D’ O GUESA ERRANTE IN MEMORIAM - Cônego Benedito Ewerton Costa MARANHÃO NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI Do BLOG de LEOPOLDO VAZ HOJE É DIA DO LIVRO FOLCLORE MARANHENSE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS DISCURSO DO SOBERANO GRÃO-MESTRE OSVALDO PEREIRA ROCHA QUANDO DAS COMEMORAÇÕES DO 36º ANIVERSÁRIO DO GOAM OSVALDO PEREIRA ROCHA DIA DO MAÇOM E TRATADO DE UNIÃO OSVALDO PEREIRA ROCHA
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A ARTE E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NO MARANHÃO RAIMUNDO GOMES MEIRELES IHGM E ROTARY TÊM 80 ANOS EM DOBRO OSVALDO PEREIRA ROCHA AS “INJUSTIÇAS DA NATUREZA” (Discurso do Governador Luiz Henrique na cerimônia de inauguração do Centreventos Ministro Renato Archer. Florianópolis, ParcTec Alfa, Fapesc, 11 de Setembro de 2.009.) Governador LUIZ HENRIQUE A ARTE NA ANTIGUIDADE: O CASO DO EGITO TELMA BONIFACIO DOS SANTOS REINALDO A ARTE E A POESIA ENQUANTO CAMPO DE CONHECIMENTO: à guisa de reflexões. DILERCY ADLER CENTRO ACADÊMICO JOSÉ MÁRCIO SOARES LEITE O ATO MÉDICO E A JUSTIÇA JOSÉ MÁRCIO SOARES LEITE A VILA VELHA DO VINHAES E A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ DELZUITE DANTAS BRITO VAZ O COLÉGIO MÁXIMO DO MARANHÃO Do Blog do LEOPOLDO VAZ NOVA ATLÂNTIDA Do Blog do LEOPOLDO VAZ AS CAVALHADAS E O MARANHÃO Do Blog do LEOPOLDO VAZ CAVALHADAS (TAMBÉM) EM SÃO BENTO informa Vavá Melo… Do Blog do LEOPOLDO VAZ AINDA SOBRE A VILA VELHA DO VINHAIS Do Blog do LEOPOLDO VAZ DOCUMENTÁRIO - IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA 397 ANOS Do Blog do LEOPOLDO VAZ INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: A CASA DE ANTÔNIO LOPES. 84 ANOS DE HISTÓRIA FAZENDO HISTÓRIA JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS O “SPORTMAN” ANTONIO LOPES DA CUNHA – fundador do IHGM Do Blog do LEOPOLDO VAZ 84 º ANIVERSÁRIO DO IHGM OSVALDO PEREIRA ROCHA LANÇAMENTOS
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PALAVRAS DA PRESIDENTE
Apresentar mais um número da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão é uma grande satisfação. O número 31 é de forma eletrônica, uma vez que para editar os números 27, 28, e 29 foi gasto um ano em busca de patrocinadores da edição. A forma eletrônica foi iniciativa do sócio efetivo Leopoldo Gil Dulcio Vaz, incansável na procura de solução para o problema. A vantagem da nova modalidade é alcançar um maior número de apreciadores de assuntos históricos e geográficos de forma mais prática. Contamos no numero 31 com 32 artigos de sócios efetivos, demonstrando o interesse em cumprir os dispositivos estatutários, divulgação de assuntos relativos ao Maranhão e ao Brasil.
ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO
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DISCURSO DE SAUDAÇÃO AO DR. CÂNDIDO JOSÉ DE MARTINS OLIVEIRA EM SUA POSSE NA CADEIRA Nº 35 DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO5 JOSÉ MÁRCIO SOARES LEITE
Ilustríssima Senhora Presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Professora Eneida Vieira da Silva Óstria de Cañedo. Senhor Presidente da Academia Pinheirense de Letras Artes e Ciências, Dr. Jurandi Leite, senhor representante da Academia Maranhense de Ciências, Dr. Arthur Azar, excelentíssimos Magistrados, senhores Professores do Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão, Senhores Acadêmicos da Academia Maranhense de Letras Jurídicas, senhores Confrades e Confreiras Sócios Efetivos deste Instituto, senhoras, senhores, excelentíssimo Confrade que ora tenho a honra de receber nesta Casa Juiz de Direito Cândido Martins de Oliveira. Grande missão esta que houve de conferir-me o ilustre empossando ao escolher-me para recebê-lo neste Sodalício, integrado por ilustres confrades Bacharéis em Direito, que por certo haveriam de cumprir com maior brilhantismo tão honroso encargo. Buscaremos, no entanto, para o cometimento de tão honrosa e gratificante missão, inspirar-nos no filósofo alemão Werner Jaeger, uma das maiores autoridades em história da Grécia clássica, para quem em sua origem a Medicina Ocidental era uma ciência essencialmente humanística, acrescentando, “de todas as ciências humanas então conhecidas, incluindo a matemática e a física, é a medicina a mais afim da ciência ética de Sócrates”. Segundo ainda o Professor José Geraldo de Freitas Drumong da Universidade Estadual de Montes Claros, “a Medicina e o Direito constituem áreas de conhecimento e atividades profissionais que se convergem na defesa da dignidade humana”. A Medicina nasceu com a necessidade de se buscar curas para os males e uma vida saudável. O Direito surgiu da necessidade de defender o homem contra toda a forma de dominação e violência. Pode-se, então, afirmar que direito e medicina se complementam em suas missões e se identificam naquilo que é fundamental para ambos: a busca por uma humanidade mais justa, próspera e feliz. Não por acaso o filósofo jurista Norberto Bobbio identificou - na sua obra denominada "A Era dos Direitos" - quatro gerações de direitos, desde os 5
Discurso proferido dia 24 de setembro de 2009, na sede da Associação Médica Maranhense.
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chamados direitos da primeira geração, nascidos da necessidade da libertação do homem contra o absolutismo temporal e religioso, até os direitos da quarta geração, que estão surgindo neste final de milênio, exatamente contra as tentativas de dominação do homem por meio da manipulação de seu código genético. Surge, pois, na esteira do nascimento de uma nova geração de direitos humanos, a necessidade de uma maior compreensão e discussão dos direitos já conquistados, face à complexidade das ciências da saúde que deveriam se situar na trincheira da defesa da vida e da felicidade do homem e que, às vezes, provocam conseqüências danosas a este e ao meio ambiente. Foi por acreditar-se na importância desse tema que profissionais do Direito e da Medicina, Professores Universitários e Acadêmicos dos diversos cursos de graduação resolveram propiciar o florescimento da discussão de um novo campo do conhecimento humano, o Direito Médico e constituir uma nova sociedade científica brasileira – a Sociedade Brasileira de Direito Médico. Atuando o Direito como um regulador das relações humanas, determinadas situações, como é o caso da conduta médica, exigem que se desenvolva uma nova maneira de pensar, criando peculiaridades na análise e condução das discussões jurídicas. O que se constata é que hoje o Direito Médico vem se firmando como um ramo autônomo da ciência jurídica, porque tem um objeto próprio, qual seja o Homem como Ser, com direito à vida saudável, direito natural como tantos outros, com uma grande transcendência social e política, pois cabe ao Estado, em nosso sistema constitucional, prover as condições ideais de bem estar e saúde da população A saúde é concebida após a promulgação da Constituição Federal de 1988, como direito de todos e dever do Estado, que a deve garantir mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e outros agravos. O direito à saúde rege-se pelos princípios da universalidade e da igualdade de acesso às ações e serviços que a promovem e recuperem. Nesse contexto, a Medicina tornou-se diferenciada em relação às cobranças sociais devido a três fatores básicos:
Tem como essência de sua atividade a saúde e sendo esta o principal bem de qualquer pessoa, a sua preservação e promoção são requeridas a todo momento;
Extrapolando a individualidade, além de ser um bem precioso de cada um, a saúde é de todos, para todos, erga omnes, ou seja, um interesse coletivo;
Finalmente, cada sociedade de homens, independentemente de sua estruturação político-social, tem interesse pela saúde, devido a aspectos epidemiológicos, preventivos, sanitários ou econômicos, sendo este
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último o aspecto questionamentos.
conjuntural
que
enseja
grande
universo
de
Os três grupos de fatores apontados transformaram a Medicina na profissão mais normatizada em todas as sociedades. No entanto, as leis, por serem esparsas, dispostas no nosso País na Constituição Federal, Código Penal, Código Civil, Código de Ética Médica, Leis Complementares, além de normas isoladas, não traduzem um corpo legal capaz de harmonizar a prática médica. Ao contrário, inibem e promovem dificuldades na relação médico-paciente. A Medicina é mais antiga do que o próprio Direito, que precede as leis. Inverter esta ordem, caoticamente, sem criteriosa consolidação do “Direito Médico”, significa transformar a Medicina em profissão que poderá, no futuro, ter como potencial “inimigo” o próprio beneficiário, o paciente. A justiça é a saúde do organismo social, enquanto a medicina é o equilíbrio biológico do ser. Há, portanto, que se ter em mente, com clareza, o papel social do Direito e da Medicina; aquele como reparador dos males sociais, doenças da fratura do tecido social, enquanto esta reparadora dos males orgânicos. Abordando o tema, o Professor de Medicina Legal da Universidade Federal da Paraíba-UFPA Genival Veloso de França, nos dá esta bela lição sobre o maior dos direitos, a saber, o direito de viver. ”Como sempre - mas, hoje, muito mais do que antes -, a consciência atual, despertada pela insensibilidade e pela indiferença do mundo tecnicista, começa, pouco a pouco, a se reencontrar com a mais primária e indeclinável de suas normas: o respeito pela vida humana. Até mesmo nos momentos mais graves, quando tudo parece perdido, dadas as condições mais excepcionais e precárias como nos conflitos internacionais, na hora em que o direito da força se instala, negando o próprio Direito, e quando tudo é paradoxal e estranho -, ainda assim o bem da vida é de tal grandeza que a intuição humana tenta protegê-lo contra a insânia coletiva, criando-se regras de conduta que impeçam a prática de crueldades inúteis e degradantes”. Fiz este breve intróito, quase fugindo do objetivo desta alocução, porque desejo aproveitar esta oportunidade ímpar, em que a par dos Confrades e Confreiras deste Instituto e demais Academias estão reunidos ilustres juristas e integrantes do escopo Jurídico-cultural de nossa terra, para falar-lhes da interrelação entre o Direito e a Medicina e do papel das Academias. Em artigo recente publicado no jornal O Estado do Maranhão, sob o título Centro Acadêmico, a propósito de se pretender criar no Estado do Maranhão uma Federação de Academias, escrevi: “De quando em vez sou abordado por colegas ou amigos que, curiosos, questionam: O que vocês fazem na Academia? Qual o papel das Academias? Em resposta, digo-lhes que todas as semanas nos reunimos nas Academias, onde há sempre um tema de natureza científico-cultural ou mesmo de interesse geral da sociedade maranhense e brasileira a ser discutido, analisado, debatido, a fim de buscarmos o consenso sobre o assunto em pauta. As Academias têm, portanto, um papel fundamental na manutenção e preservação dos valores culturais, educacionais, científicos,
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religiosos, étnicos, ecológicos, ambientais, buscando sempre manter vivos esses valores em nosso meio”. Em sua evolução, desde a Academia de Platão, escola fundada pelo célebre filósofo grego nos jardins que um dia teriam pertencido ao herói Akademus e que tinha como objetivo formar novos homens, no sentido transformador do amor ao bem, num ato de sublimação, visando o tornar-se virtuoso pela ação, essas Instituições sempre foram claustros de eruditos; guardiãs, transmissoras e transformadoras de conhecimentos nos vários domínios do saber. Precisamos reconhecer, contudo, que é ora das Academias repensarem seu papel frente à sociedade. Não podem mais permanecer intramuros, isoladas em seu ambiente cultural, pois o mundo vive hoje nova revolução. Novas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais intensificaram-se nos últimos dez anos, trazendo fatos que fogem ao controle dos dirigentes públicos e empresariais, até mesmo nas nações desenvolvidas. Nesta revolução, a 3a Revolução Industrial, que é impulsionada pela “economia da informação”, o processo de globalização acelerada atropela, inapelavelmente, as economias de países em desenvolvimento como o Brasil, sobrepondo-se às suas prioridades internas, prejudicando todos os esforços que são feitos, visando a superação de graves problemas sociais. Não se deve permitir, contudo, que conquistas histórico-culturais alcançadas sejam perdidas, sob a avassaladora pressão dos novos paradigmas, do novo quadro que vai se impondo. Os resultados dos avanços científicos e tecnológicos alcançados devem ser usados para o bem estar social, porém preservando a nossa cultura, a nossa história. Para isso, entretanto, é importante que a educação seja fortalecida e que as relações político-econômicas evoluam, o que significa na atualidade o estabelecimento de uma verdadeira ordem mundial, mais razoável, menos perversa. e para a qual todas as Academias, por serem um centro irradiador de ideários, devem colaborar, por meio de intensa produção literária, incluindo a publicação de livros, revistas, periódicos, de artigos, e de um contínuo trabalho de pesquisa, estudos e análises epistemológicas. Orlando Leite, meu pai e que foi seu professor de Direito Constitucional na Faculdade de Direito de São Luís, do Dr. Cândido Oliveira, escreveu em sua Tese A Crise do Ocidente Contemporâneo, analisando o papel do Estado, que: “Na história das Instituições Sociais, chega o tempo em que os princípios básicos sobre o que estas repousam têm de sujeitar-se a uma avaliação crítica intensiva, à luz das novas condições ambientes. Essa reavaliação determinará se certa Instituição ou conjunto de Instituições deve continuar como dantes, se deve ser dirigido para novos rumos, ou se sua utilidade está acabada e deve descer lugar a outra ordem completamente nova”. Parafraseando-o, eu digo que as Academias devem ser o elemento indutor de todo esse processo e o ponto de equilíbrio na indicação dos melhores caminhos a seguir. Por isso mesmo eu defendo que se deva firmar um compromisso visando a sua construção e de caminhá-lo enquanto é construído.
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Devemos, portanto, transformar este sonho em realidade somando esforços para construirmos um Brasil melhor, uma sociedade mais livre, mais justa e uma população mais sadia. Muita gente ainda sonha! Que maravilha para quem acredita como o Professor Lauro Morhy, Ex-Reitor da Universidade de Brasília, que “Sonhador é aquele que percebe a aurora antes dos outros”...! A aceleração e a transitoriedade são características da era em que vivemos. O ontem se confunde com o hoje e o amanhã não espera o alvorecer. Tudo obedece a uma curva exponencial de evolução, trefegamente em marcha. Se numa lagoa crescem lírios e suas folhas duplicarem a cada dia, de forma a cobrirem-se totalmente no 30º dia, no 29º sua metade estará coberta. Lembremos neste momento que as sementes resistem mais às intempéries, aos vendavais, aos cataclismos... As sementes que possuem genomas constituídos de idealismos e utopias, como as que estão plantadas nas Academias de fato resistem muito mais. Não temem nem mesmo o pessimismo, os espíritos retrógrados e as maldades humanas. Essas sementes, compostas de idealismo e utopias, costumam germinar melhor nas crises... Nesse contexto, é preciso um grande esforço nacional para superarmos as dificuldades existentes. Como nesta era em que vivemos, cabeças tornaram-se mais importantes do que braços no panorama produtivo, isso valoriza as Academias, e já se sente o reconhecimento desse fato na sociedade brasileira. As academias precisam, entretanto, ser vistas pelos governos não como um apêndice cultural da sociedade, mas como instrumentos estratégicos de alta importância, para o desenvolvimento educacional e cultural do Estado e do país. Esse fato nos faz lembrar o historiador francês Ferdinand Braudel, conhecido pela introdução de renovações nos métodos historiográficos tradicionais e autor do livro La Méditerranée et le Monde Méditerranée à L’époque de Fhelippe II (1966) que, “comparava os acontecimentos aos vaga lumes: brilham, mas não iluminam o caminho. Sua luz é fraca, não nos ajudam a distinguir a duração longa, os ciclos seculares. Em horas como as atuais é o que dificulta perceber se a tremenda intensidade dos eventos significa que as coisas mudaram para sempre”. O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, desde a sua criação em 1925, por iniciativa de Antonio Lopes da Cunha e outros ilustres pares da cultura maranhense, vem emprestando inestimáveis serviços à preservação da história e estudo da geografia em nosso estado. Somente à guisa de exemplo, quando estava pesquisando a história da medicina no Maranhão, foi na Revista deste Instituto que obtive a referência que no livro Obras de João Francisco Lisboa, Vol. IV, Vida e Obra do Padre Antonio Vieira existe um informe sobre o primeiro hospital maranhense, fundado por este em 1653 e que se mantinha graças à caridade pública e, como por ironia do destino, é o mesmo Padre Antonio Vieira que nos diz em certo trecho dos Sermões de Santo Antonio: “Do presente sabemos muito pouco; do passado, ainda menos e, do futuro nada”.
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O empossando Dr. Cândido José Martins de Oliveira, é Juiz de Direito, exProcurador do Estado e integra a Academia Maranhense de Letras Jurídicas. É extremamente salutar pelas razões expostas acima termos um jurista em nosso meio. No livro Conselho de Governantes, editado pelo Senado Federal, está publicada a carta enviada por Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras, e Marques de Pombal, ao seu sobrinho Joaquim de Melo e Povoas, nomeado Governador do Maranhão, “Só três Divindades sei que pintaram os antigos com os olhos vendados, sinal de que não eram cegos mas que eles as faziam e adoravam; há um Pluto Deus da riqueza; um Cupido, Deus do amor; e uma Astréia, Deusa da Justiça. Negue V. Exa. Culto a semelhantes Divindades, e nunca consista que se lhes erijam templos e se lhes consagrem votos pelos oficiasi de El-Rei, porque é prejudicial em que governa riqueza cega, amor cego e justiça cega”. Assim, eu vos afirmo Confrades e Confreiras, Dr. Cândido Oliveira, em toda sua vida, seguiu e honrou este legado, quase um postulado do Marques do Pombal. Seja bem-vindo Dr. Cândido, ao Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão!
Obrigado.
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DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 35 – PATRONEADA POR DOMINGOS DE CASTRO PERDIGÃO, PROFERIDO POR CÂNDIDO JOSÉ MARTINS DE OLIVEIRA6 Senhora Presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, Senhora Vice Presidenta do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Professora Joseth Coutinho de Freitas, Senhor Presidente da Academia Pinheirense de Letras, Jurandir Leite, Senhor Presidente da Academia Maranhense de Ciências, Arthur Azar, Confrade José Márcio Soares Leite, que proferiu a saudação ao meu ingresso no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Senhores Membros do Instituto Histórico e Geográfico presentes, Senhores convidados, Caríssimos, O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão criado a 20 de novembro, para ter a data comemorativa em 02 de dezembro de 1925, por 11 ilustres maranhenses dentre eles o advogado Domingos de Castro Perdigão que patroneia a cadeira de número 35, na qual sou empossado hoje em substituição ao também advogado e meu professor na Faculdade de Direito, Antenor Mourão Bogéa. Do seu ato de criação consta como objetivo “O ESTUDO E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO DA HISTÓRIA, GEOGRAFIA, ETNOGRAFIA, ETNOLOGIA, ARQUEOLOGIA DO MARANHÃO” A criação do então Instituto de História e Geografia o foi nos moldes do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, este, em 1838, ainda no império mediante, o estímulo do Imperador Pedro II, a quem foi dado o título de Protetor, o qual incentivou e financiou pesquisas, fez doações valiosas, cedeu sala no Paço Imperial para sede do Instituto, em seus momentos iniciais, e presidiu mais de 500 sessões. O Instituto trazia como objetivos "coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos necessários para a História e a Geografia do Brasil...". Objetivos mantidos até o presente, com o alargamento na direção das demais Ciências Sociais.
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Membro Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, em sucessão a Antenor Mourão Bogéa, na cadeira nº 35 fundada por Domingos de Castro Perdigão. A solenidade foi realizada no dia 24 de setembro de 2.009, no salão nobre do Conselho Regional de Medicina. Na ocasião, foi saudado pelo confrade José Márcio Soares Leite.
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A inspiração do Instituto era a brasilidade, carência surgida com o advento da Independência. Ante a ausência de entidades acadêmicas voltadas ao estudo e à pesquisa, supriria a lacuna de uma entidade que tratasse de modo sistematizado as ocorrências históricas e geográficas brasileiras. Era a necessidade de construir o pensamento Brasil. Fora assim, quando da criação dos cursos jurídicos onde, mesmo já independente, no Brasil, esses cursos ensinavam as ciências jurídicas tendo como referência o direito português. A consciência nacional era um desafio. Quem somos, como vivemos e nos organizamos, que lugar é esse onde vivemos. Nossos hábitos e crenças; nossas crises e paradigmas. Portanto, a nossa História e a nossa Geografia. A História, saber de natureza investigatória, estuda criticamente o homem e os eventos quanto a sua existência e realizações, levando em conta tempos e espaços, formalizando suas diversas concepções, formais e filosóficas. A Geografia também de natureza investigatória, busca o saber quanto à superfície terrestre e a distribuição espacial de fenômenos geográficos, além da relação dialética entre homem e meio ambiente. Daí, a Geografia Humana e a Geografia Física como esforços epistemológicos de melhor explorar esses saberes diante das informações obtidas através de satélites, a gloabalização do conhecimento, estendendo seus braços para além dos rios, oceanos, mantanhas, populações e economias, avizinhando-se às ocorrências sociais, ambientais, atmosféricas e do subsolo, atuando no planejamento das cidades, uso do solo, administração dos recursos naturais. É aí que estabelece o nexo com a História, aqui entendido como o tempo histórico. Lembremo-nos das teses do materialismo histórico e do materialismo dialético, nos limites da necessidade de capacitação crítica diante da necessidade de operar-se transformações. Exemplo disso, é o debruçamento sobre a tectônica de placas que permite melhor compreeensão da questão ambiental e adequado planejamento de proteção às populações e ordenamento das ocupações do solo. O episteme da história e da geografia, não é diferente dos outros saberes, porque povoada de novas ocorrências, contradições, construção e reconstrução do conhecimento. Não foi simples nem cômodo, a partir do século XVIII, concluir que as então nebulosas eram, na verdade, outras galáxias, semelhantes à Via Látea que habitamos. O estudo da energia escura e a sua distribuição no espaço é que permitiu a construção da tese sobre a expansão do universo e o seu grau de aceleração com a consequente possibilidade de melhor previsão quanto às modificações da natureza e seus efeitos na produção de alimentos e conservação das fontes de água doce, na construção civil e nos meios de transporte de cargas e de massas humanas. Enfim, os saberes sobre a história e a geografia com as respectivas aplicações em favor dos correspondes efeitos na vida nacional e local são os
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vetores de atuação dos Institutos Históricos e Geográficos, que assim foram instituídos. Neste ato, assumo a cadeira de número 35 que teve com fundador o advogado Domingos de Castro Perdigão, pinheirense como o ilustre confrade que me recebe no Instituto, o médico e professor universitário José Márcio Soares Leite. Domingos Perdigão teve dentre seus filhos o também advogado e professor universitário Fernando Eugênio dos Reis Perdigão, professor e Diretor da Faculdade de Direito, na rua do sol, à época que ali iniciei o curso de “Ciências Jurídicas e Sociais”, como então era denominado o atual curso de direito da Universidade Federal do Maranhão. Ali, naquele prédio iniciei e conclui o curso jurídico, ali fui, por vários mandatos, academico do Parlamento Escola, entidade onde eram discutidas as questões locais, nacionais e internacionais, do interesse da formação jurídica, social e política do futuro advogado, até ser extinto pela força dos governos militares que então interromperam o curso da democracia em nosso país. Domingos Perdigão que também era jornalista, teve intensa participação na formação da consciência maranhense. Foi um dos fundadores da Faculdade de Direito do Maranhão em 1918, também foi um dos fundadores da Faculdade de Farmácia e Odontologia, em 1922. Foi Diretor da Biblioteca Pública do Estado, no período de 1914 a 1922 e exerceu várias outras funções públicas. Faleceu em janeiro de 1929, deixando dentre seus trabalhos, obras sobre alimentação, criação e organização de bibliotecas infantis, orientação à leitura como instrumento de formação da pessoa e sobre a linguagem Esperanto. Ao patronear esta cadeira, o professor Domingos Perdigão, ocupava aquela de número 22 patroneada pelo médico e escritor Augusto Cesar Marques, autor do importantíssimo Dicionário Histórico e Geográfico do Maranhão agora, novamente editado, com atualizações dentre outros, de Jomar Morais, pesquisador das coisas do Maranhão. A cadeira n° 35 teve como seu primeiro ocupante, o homem público e jornalista Tucycides Barbosa, nascido na cidade de Loreto, a 08 de julho de 1895. Também teve intensa atividade pública, como prefeito municipal e deputado estadual, em várias legislaturas, entre os anos de 1913 a 1924. Promoveu inovações na região, instalando ali, a primeira linha telefônica. Foi Coletor de Rendas na cidade de Caxias de onde mudou-se para São Luís com a finaliade de exercer a função de Diretor do Tesouro Estadual, a mais elevada função na organização fazendária estadual. Deixou publicadas as obras “Subsídios para a História de Balsas”; “A Hecatombe do Alto Alegre”, em 1901; “Um Crime Provocado”; “Nome sem Significação”; “Biografia de Isaac Martins dos Reis”, em 1954; “Cidades Desconhecidas”; “Subsídios para a História do Maranhão”; “As Boiadas Sertanejas”; “Dados Genealógicos”, em 1956, faleceu em 05 de novembro de 1959.
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A Tucydides Barbosa, sucedeu Antenor Mourão Bogéa, nascido a 08 de outubro de 1909, no Grajaú. Advogado, formado pela Faculdade de Direito do Maranhão em 1932. Foi Secretário da Junta Governativa Revolucionária do Maranhão. Prefeito de Grajaú, de onde foi também Promotor Público. Foi o titular da Segunda Promotoria de São Luís. Foi o primeiro delegado e chefe de polícia da capital, em 1942. Ingressa na política, sendo eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte de 1946 e reeleito para o mandato seguinte. Fundou e foi o primeiro presidente do Partido Democrático Cristão ao qual permaneceu filiado até a extinção dos partidos políticos no Brasil, pondo fim ao sistema pluripartidário, iniciando-se o sistema bipartidário, pelo ato institucional n° 02 de outubro de 1965. Após esse fato, retirou-se da vida política, dedicando-se à advocacia e ao magistério jurídico, ambos, na área do direito penal. Assim, foi presidente da OAB por três mandatos seguidos. No magistério, havia ingressado em 1944, como professor catedrático da Faculdade de Direito. Com o advento da Universidade Federal do Maranhão e a incorporação a esta, do Curso de Direito, foi seu Diretor. Integrou o Conselho Diretor da Universidade Federal do Maranhão, tendo respondido de Reitoria da Universidade Federal, em mais de uma ocasião. Em 1963, ingressa na Academia Maranhense de Letras da qual foi vice presidente. Integrou também o Conselho Estadual da Cultura, faleceu na cidade de Brasília em 04 de setembro de 1997. Chego ao Instituto Geográfico e Histórico do Maranhão, tendo como cenário acadêmico a vida e obra desses ilustres maranhenses, nesta amena noite de setembro, quando os ventos sopram mais fortes nesta cidade ilha onde é um privilégio viver-se, por seus encantos e encantamentos, onde cada dobra e logradouro é fonte inspiradora de amores e paixões e referencia de agradáveis lembranças ao corpo e à alma. Cidade onde o nosso pisar passeia pela história; onde degraus, calçadas, beirais, becos, ladeiras, pedras nos enlevam; onde nossos olhos e mentes, diante do céu e do mar, nos empurram ao imaginário, onde dúvidas e certezas se misturam e se revezam, tornando férteis os sonhos e planos. Trago comigo projetos de estudos sobre a advocacia no Maranhão, seus heroismos e seus avanços e, com isso, contribuir para com a história de nossa gente. Agradeço a quantos com generosidade, abdicaram dos seus fazeres e chegaram até aqui. Agradeço ao Conselho Regional de Medicina a solidariedade em emprestar este espaço para este evento. Agradeço o empenho daqueles que ajudaram a organizar este momento. Agradeço à Professora Eneida Vieira da Silva Ostria e Canedo pela paciência e atenção dedicada. Agradeço ao confrade José Márcio Soares Leite pelas palavras que me reservou na sua Apresentação.
Muito obrigado.
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A GUARDA NEGRA7 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ8 Sócio efetivo do IHGM – Cadeira 40 Com um misto de alegria e surpresa, li na da Revista História Viva 25 9 um interessante artigo de Carlos Eugênio Líbano Soares e Flávio Gomes – p. 74-79 – sobre “O combate nas ruas pelo Ideal Abolicionista”. Alegria, por contar um pouco mais da história da/dos Capoeiras. Surpresa, por se referir à “Guarda Negra”. Por não ser da área, isto é, capoeira, e não se lhe conhecer a história, nunca ouvira falar da ‘guarda negra’; e mais, como estudioso da história do Maranhão, especialmente do esporte e da educação física, não encontrara nenhuma referência a esse assunto nos mais de 400 livros que tenho em minha biblioteca... Procurei o Prof. Jairo Ives de Oliveira Pontes, meu colega de magistério no Instituto Federal do Maranhão – ex-CEFET-MA -, e organizador de uma “Nova História Do Maranhão”, ed. em CD-ROM, e fiz-lhe a pergunta, a queimaroupa: - “Fale-me da Guarda Negra!”. Espantado, disse nada saber; nem na História do Brasil – da qual é professor -, nem na história do Maranhão, da qual é pesquisador... Mostrei-lhe o artigo em questão. Mostrou-se, qual, surpreso: “Precisamos investigar”. No artigo a que me refiro, da chamada consta “quilombolas, jornalistas e capoeiras foram personagens fundamentais do Rio de Janeiro contrários à escravatura”; e no corpo do artigo, inicia afirmando que “a abolição da escravidão não foi fruto apenas de uma suposta ação exclusiva de enfrentamentos parlamentares. Nas ruas – principalmente nas cidades -, abolicionistas de várias origens sociais, escravos, libertos, operários de fábricas que alvoreciam, capoeiras, jornalistas e pequenos negociantes transformaram a campanha pela liberdade dos cativos numa verdadeira batalha... [e mais adiante...] capoeiras se engalfinhavam com republicados contrários à abolição...”. Isso, em cidades como Rio de Janeiro, Santos, Porto Alegre, Campinas, Salvador e Recife, não foram poucas as refregas nas ruas envolvendo polícia, abolicionistas, capoeiras, escravos e libertos. 7 Este artigo foi publicado no Jornal do Capoeira - www.capoeira.jex.com.br Edições 52 - de 4/dez a 10/dez de 2005; 53 - de 11/dez a 17/dez de 2005; 54 - de 18/dez a 25/dez de 2005 8 Palestra proferida em 26 de agosto de 2009, aos Sócios do IHGM. 9 Revista História Viva, edição 25, de novembro de 2005
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O dono das ruas, naquele momento em que o grito da abolição cortou os ares, era o capoeira. Para os autores, a participação dos capoeiras nesse memorável momento político da vida carioca ainda é plena de contradições e zonas de sombra, em virtude de as maltas – como eram chamados os grupos de capoeira – não se posicionavam somente de um dos lados da contenda. Estavam nas trincheiras dos que defendiam o fim imediato da escravidão, assim como no lado dos que postulavam uma transição lenta, gradual e segura, sem o grito das ruas. Mas os capoeiras se fizeram presentes, com suas correrias, suas lutas de rua, empastelamento de jornais – de ambos os lados – e os inesquecíveis golpes da capoeira, da rasteira e da navalha... Iniciando em 05 de janeiro de 1885, quando capoeiras de uma malta armada pelos inimigos da causa abolicionista invadiram o prédio da redação do jornal “Gazeta da Tarde”, dirigido por José do Patrocínio. Consta que essa invasão não teve nada relacionada com o movimento abolicionista, conforme a história passou a registrar o empastelamento do jornal pelos capoeiras. Foi apenas um enfrentamento entre maltas rivais, colocada de um lado, grupo do Campo de Santana (identificada com os abolicionistas) formada por pequenos vendedores de jornais, e do outro lado (dos escravistas), a malta que dominava o Largo de Santa Rita, chefiada por tal de Castro Cotrim, junto com outros chefes de malta da região portuária de Santa Rita como Coruja e Chico Vagabundo. Os pequenos vendedores de jornal entraram na redação para fugir de seus perseguidores e foram apoiados pelos funcionários do jornal, que rebateram o ataque. Anos mais tarde, José do Patrocínio cria a “Guarda Negra”, em função da Lei Áurea, que abriu caminho para uma temporária unificação dos grupos em prol da novel agremiação, talvez a face mais conhecida da capoeiragem política dos últimos anos da monarquia. Mais tarde, Patrocínio a iria renegar, após a queda do Gabinete João Alfredo, que concretizou o 13 de maio. Patrocínio foi quem introduziu os capoeiras no ninho abolicionista e circulava bem no complexo mundo das maltas de capoeira do Rio - José do Patrocínio era mulato, filho de uma africana e de um poderoso cônego do conservador clero católico, de Campos dos Goitacases -, algo muito raro entre as lideranças abolicionistas – Joaquim Nabuco e André Rebouças, dentre outros ... -, em geral compostas de moradores de classe média que nutriam verdadeira ojeriza à Capoeiragem. O porta-voz da Guarda Negra escrevia seus manifestos nas páginas de “A Cidade do Rio”, o novo jornal de Patrocínio; as primeiras reuniões foram realizadas na redação do jornal; a polêmica na imprensa era travada entre o jornal de Patrocínio e o “Paíz”, no qual Rui Barbosa vociferava os maiores impropérios contra a Guarda da Redentora. Após o incidente de 14 de julho de 1889 entre os capoeiras da Guarda Negra e militantes republicanos no coração do Rio, Patrocínio gradualmente se
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afastou da organização... A guarda entraria em declínio, até ser completamente desbaratada pela repressão de Sampaio Ferraz em 1890. Informam os Autores que houve episódios da Guarda Negra em outras cidades, como Porto Alegre, Salvador e São Luís... São Luís? Daí nosso espanto, de Jairo e eu. Nunca ouvíramos falar... Procurei em Mário Meireles10, nosso maior historiador, e não achei nada; em Vieira Filho, em seu “A Polícia Militar do Maranhão”, de 1975, e não consta nada; Navas-Toríbio, em seu “O negro na literatura maranhense”, também não há referência... Resta a Internet! Na Wikipédia, sob o título “Capoeira”, consta que, historicamente, capoeiristas têm sido utilizados em guerra e conflitos como na Guerra do Paraguai e na Revolta dos Mercenários, em 1828, e que em 1888 foi instituída pelo Exército Brasileiro a Guarda Negra, composta praticamente por capoeiristas. Em 1897, o general Couto de Magalhães disse que a capoeira não deveria ser perseguida mais sim dominada e ensinada em escolas militares. Em 1939, Mestre Bimba começa a ensinar a capoeira no quartel do CPOR de Salvador. Não se pode esquecer que como arte de guerra a capoeira foi utilizada contra a opressão da escravidão nos quilombos e posteriormente nas maltas11. Carvalho, em “HISTÓRIA DA CAPOEIRA”12, ao tratar da “repressão da capoeira” refere-se que, quando da chegada da família Real ao Brasil em 1808, começou o processo de repressão à cultura negra e foi intensificada a perseguição policial. Em 1809, foi criada a Guarda Real da Polícia na qual o Major Miguel Nunes Vidigal foi nomeado comandante. Major Vidigal foi o verdadeiro terror dos capoeiristas, perseguia-os, espancava-os e torturava-os na tentativa de exterminá-los. Apesar dos severos castigos, os capoeiras resistiam bravamente e em 1824, a punição tornou-se pior: além das trezentas chibatadas eram enviados por três meses para realizar trabalhos forçados na Ilha das Cobras. A partir da segunda metade do século XIX (1850), começaram a ocorrer sucessivas prisões de capoeiristas, os quais estavam formando maltas que atemorizavam a população e os governantes. Os principais focos da capoeira eram: Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. No entanto, no Rio de Janeiro é que a capoeira era motivo de maior preocupação (mesmo porque o Rio era a capital do país na época), era onde estava a maior concentração das maltas, sendo as mais temíveis os Guaiamuns e os Nagoas. Os Nagoas eram ligados 10
MEIRELES, Mário. HISTÓRIA DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980 MEIRELES, Mário. PEQUENA HISTÓRIA DO MARANHÃO. São Luís: (e.e.), 1970 MEIRELES, Mário; O MARANHÃO E A REPÚBLICA. São Luís: SIOGE, 1990 MEIRELES, Mário. DEZ ESTUDOS HISTÓRICOS. São Luís: ALUMAR, 1995 11 in http://pt.wikipedia.org/wiki/Discuss%C3%A3o:Capoeira. 12
in http://www.geocities.com/projetoperiferia6/historia.htm
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aos monarquistas do Partido Conservador, agiam na periferia, e os Guaiamuns eram ligados aos Republicanos do Partido Liberal, controlavam a região central da cidade. (in Letícia Cardoso de Carvalho)13. Maltas adversárias que por décadas se digladiaram pelas ruas da cidade; os Nagoas e Guaiamus sempre aparentavam estar imersos num universo imaginário, fronteira entre a ficção acadêmica e uma nebulosa tradição popular. Nesse processo de divisão da cidade em dois grandes grupos rivais estaria completo, definindo uma linha divisória que mantinha Nagoas e Guaiamus em lados opostos, e em permanente conflito pelo controle de cada área. O conflito político-partidário entre liberais e conservadores acabou se cristalizando como a clivagem mais importante entre as maltas de capoeiras, que assim se ligaram indelevelmente ao destino dos dois partidos principais do sistema político do Império. O ano de 1888 foi o da Abolição da Escravatura e de grandes mobilizações de capoeiras.14 Apesar da repressão que sofria, quando interessava, a capoeira servia também de instrumento nas mãos dos políticos. Ora para os liberais, ora para os conservadores. Um exemplo é a Guarda Negra, criada em 1888 por José do Patrocínio, composta por negros capoeiristas que tinham o objetivo de defender a monarquia e lutar contra a República (após a libertação dos escravos os capoeiristas ficaram ainda mais a favor da monarquia como agradecimento à Princesa Isabel por ter assinado a Lei Áurea). Logo após a Proclamação da República (1889), a capoeira foi proibida pelo Marechal Deodoro, permanecendo nessa situação até 1937 quando Mestre Bimba a tira do código penal e a leva a esporte nacional.15 A formação da Guarda Negra é precedida por violentos conflitos entre Nagoas e Guaiamus, retratados quase diariamente pela imprensa. Nunca como naquela época a atuação das maltas de capoeiras atingiu um impacto e uma sofisticação como se viu. O termo "fortaleza" para as tavernas deixa entender que aqueles eram locais típicos de reunião e conflito, e mais, pontos nervosos de uma geografia de bairro, constantemente em movimento pelo embate intermitente das maltas.16 Nos últimos dias do império, os conflitos entre republicanos e monaquistas ocorreram freqüentemente. A fim de proteger a princesa Isabel, os monarquistas criaram a Guarda Negra (protetor preto), composto dos pretos, mulatos e muitos escravos libertos. Estes homens foram extremamente devotados à Princesa porque tinha assinado a lei que abolia a escravidão. A Guarda Negra combateu os republicanos até que a última faísca da vida do império morreu. Furiosos, os republicanos juraram matar seus membros; se a
13
IN http://www.geocities.com/projetoperiferia6/historia.htm).
14
SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Dos nagoas e guaiamus: a formação das maltas In: A negregada instituição: os capoeiras no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1994.).
15
CARVALHO, Letícia Cardoso de. IN http://www.geocities.com/projetoperiferia6/historia.htm). 16 ELIAS, Larissa Cardoso. Capoeira: Revolta e Teatralidade, Uma Perspectiva Artaudiana, disponível em http://hemi.nyu.edu/unirio/studentwork/imperio/projects/Larissa/Larissawork.htm)
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monarquia não conseguiu extinguir a capoeira, a república recém-estabelecida o faria. O ISABELISMO17 José do Patrocínio foi o mais fervoroso adepto do isabelismo, e procurou aliciar libertos para defender a monarquia ameaçada pela onda republicana que crescera após a Abolição. Não satisfeito em beijar os pés da Redentora, José do Patrocínio inicia a arregimentação de ex-escravos, capoeiras e marginais de um modo geral, para fundar a Guarda Negra. Esse ajuntamento tinha como finalidade impedir a propaganda republicana, inclusive com a tarefa de dissolver comícios pela violência. Essa posição dos elementos aliciados por José do Patrocínio deu muito trabalho às autoridades e impediu, em muitos casos, que os adversários da monarquia se manifestassem. Os seus membros conseguiram dissolver muitos comícios republicanos através da violência. Segundo registra a crônica da época, houve mesmo mortes em comícios republicanos pelas quais a Guarda Negra foi responsabilizada. Osvaldo Orico, biógrafo de José do Patrocínio, assim descreve a situação: “Incompreensível por um lado, mas explicável por outro, essa famigerada Guarda Negra tivera um inspirador. Não fora outro senão José do Patrocínio. O fanatismo abrira-lhe na alma a ilusão desse recurso com que imaginava cercar de garantias o prestígio da Redentora de sua raça. Foi a gratidão que o moveu a provocar e a sugerir um movimento de solidariedade dos libertos para com a padroeira inesquecível. E, ao toque de reunir, acorreram de todo lado os antigos sentenciados do cativeiro, ansiosos de oferecer com a força material do peito aberto a flor do seu reconhecimento heróico. Os acontecimentos registrados na capital e no interior, durante a fase em que se fez sentir a influência da Guarda Negra e se apelou para a sua incontida violência, mostraram como fora infeliz a idéia de arregimentar no antigo holocausto das senzalas a força que deveria guardar o Trono. Inaugurou-se uma época de terror que deu à nação enormes prejuízos em dinheiro e em vidas. Onde quer que brilhasse a centelha da luz republicana, surgia aí o conflito das raças, desencadeado pela fúria dos libertos em louvor à rainha. E amiudaram-se os atentados e morticínios. Na rua do Passeio; em frente à Secretaria de justiça; em dias de março de 89, durante a agitação popular que a febre amarela e a falta de água provocaram, a Guarda Negra deixou indícios de sua lamentável influência18 17In http://www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm 18 in http://www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm.
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Noel Nascimento, em ARCABUZES19, assim relata os acontecimentos daquele dia: “Xandô espantou-se e perguntou: - Que guerra? - Tu não sabes? Essa do fim da monarquia. Não sabes que está pipocando Brasil afora? Donde vens, então? Tem motim em toda parte, no Sul, no Norte. Eu vi brigas de grupos armados. Nas ruas do Ouvidor, do Teatro, de Luís de Camões e na Travessa do Rosário a cavalaria dispersou o povo a pranchadas. Houve mais de duzentos feridos. Não sabes que quase mataram o doutor Silva Jardim à saída da Sociedade Francesa de Ginástica? Ao almoçarem na mesa grande do refeitório, comentavam: - A guarda negra persegue os que mais lutaram contra a escravidão. - Ainda há quem defenda a monarquia por causa da Princesa Isabel. Não viram a multidão que se formou no dia treze de maio? - O pobre quer o direito do eleitor, até o negro deve ter o direito de votar. O funcionário que falou foi interpelado pelo estudante de medicina, o qual procurou esclarecê-lo: - Até os negros por quê? Eles em primeiro lugar, pois construíram o Brasil. Sabes? - prosseguiu- os falsos abolicionistas é que, como alguns escritores, julgam o negro inferior. São uns racistas. - Muito bem falado - aplaudiu o português que acabara de consertar uma das poltronas, português abrasileirado e não da casta dos galegos. O mesmo pensionista indagou de Xandô: - Tu não sabias que na Bahia, em Ilhéus, bandidos tomaram a cidade, arrombando casas comerciais, aterrorizando a população? O império está em ruínas - concluiu convicto.”. Ainda segundo Osvaldo Orico20, a Guarda Negra agiu com violência contra os republicanos, nas cidades de Campos e Lage do Murié:
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In www.astrovates.com.br/tese/arcabuze.htm
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“Na primeira localidade em uma reunião republicana que se processava pacificamente, massa enorme de policiais e libertos abertos armados invadiu o edifício em que se realizava um banquete democrático, alarmou as senhoras, desrespeitou com ameaças a intervenção amistosa do pároco, que suplicava das janelas do templo ordem e clemência, disparou tiros, arremessou garrafas, espancou e feriu, tudo isto para levantar entre acompanhamentos bélicos vivas e saudações à rainha. “Na segunda, a polícia, após uma série de distúrbios, prendeu no tronco um honrado cidadão por suspeita de ideais republicanos.” Natal também teve a sua Guarda Negra. Criação do Partido Conservador e instrumento de combate às idéias republicanas. Segundo os conservadores, os negros, por gratidão deveriam defender a monarquia. Em Natal, a Guarda Negra recebeu o nome de Clube da Guarda Negra. O seu presidente foi Malaquias Maciel Pinheiro. Instalada a 10 de fevereiro de 1889, com muita festa, essa organização, na apuração de Câmara Cascudo, nada fez de bom ou mal.21 Em Belém, uma Guarda Negra continuou prestando serviços como capangas a políticos locais. Esses capangas eram, em grande parte, pernambucanos.22 A Guarda Negra era um movimento contraditório e confuso. Apoiava a monarquia porque os escravos conseguiram libertar-se do cativeiro através da magnanimidade da Princesa Isabel. Via a Abolição como um ato de munificência social praticado pela regente, sem analisar as estratégias ocultas nessa medida e as conseqüências negativas que a Abolição traria, feita da forma inconclusa como o foi. Por outro lado, deixaram de pressionar os republicanos, especialmente os mais democratas, como Silva Jardim, no sentido de radicalizar o seu programa, exigindo reformas sociais e econômicas estruturais, como a distribuição da terra aos ex-escravos. Foi, portanto, um movimento conjuntural e reacionário, e o próprio José do Patrocínio, ao ver proclamada a República, foi um dos primeiros a aderir ao novo regime. Com isto, a Guarda Negra se desarticulou completamente logo depois da proclamação da República, vindo a desaparecer sem maiores conseqüências. Nesse período de transição, os negros recém-saídos da escravidão passaram a se organizar de várias formas alternativas, especialmente em 20
(in www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm
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.(in www.tribunadonorte.com.br/especial/histrn/hist_rn_7f.htm)
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http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap09.p df, informação mandada por Agrupación Española de Capoeira http://aecfica.blogspot.com/ www.capoeira-fica.org Javier Rubiera-Presidente, Vice -Presidente General de FICA
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grupos de lazer, culturais ou esportivos. Por outro lado, levando-se em consideração a forma como a Abolição foi feita, descartando-os da participação naquelas reformas estruturais que as mudanças do momento estavam a exigir, as reminiscências do sistema escravista e da Redentora continuaram existindo como ideologia de apoio psicológico em diversos grupos negros de exescravos. Isto retardou ainda mais o processo, pois a Guarda Negra tinha uma ideologia de retrocesso, de volta ao passado e ao mesmo utópica (monarquia sem escravidão), quando devia exigir medidas de avanço social radicais23. O isabelismo passa a avassalar José do Patrocínio e também milhares de africanos recém-libertos. Vêem na Princesa a única e abnegada senhora que os redimira da escravidão. Arregimentados e orientados por José do Patrocínio, em várias cidades do Brasil organizam-se em Guarda Negra que dissolve, pela violência, comícios e manifestações de republicanos. Pensam mostrar assim eterna gratidão à Princesa... O isabelismo converte a razão apaixonada de José do Patrocínio em paixão irracional... Mas nada impede (nem sequer a Guarda Negra) que em 15 de Novembro de 1889 a República seja implantada no Brasil. Mas, e em São Luís? Dunshee de Abranches24, em suas memórias sobre a escravidão e o movimento abolicionista, em São Luís, se refere à guarda negra, naquele episódio que resultou na queda do gabinete Cotegibe25: “Voltando logo depois ao Rio [de viagem a São Paulo e Santos], assisti à agitação revolucionária que se fez em torno do gabinete organizado pelo Barão de Cotegipe. Participei dos memoráveis comícios em que, ao lado de Patrocínio, a mocidade das escolas civis e militares resistia heroicamente às investidas da guarda negra. E, em uma dessas reuniões subversivas no Largo da Lapa,um dos quartéis generaes da capoeiragem carioca, terminada em tremendo e sangrento
23
(in http://www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm).
24
in DUNSHEe DE ABRANCHES. O Captiveiro (memórias). Rio de Janeiro : (s.e.), 1941
25
João Maurício Wanderley, primeiro e único barão de Cotejipe (Barra, então São Francisco de Chagas da Barra do Rio Grande, 23 de outubro de 1815 — Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 1889), foi um magistrado e político brasileiro. Descendente de neerlandeses[2], era filho de João Maurício Wanderley e de Francisca Antónia do Livramento, tendo desposado Antónia Teresa de Sá Rocha Pita e Argolo. Formado pela Faculdade de Direito de Olinda (1837), foi deputado provincial (1843), deputado geral, presidente da província da Bahia (nomeado por Carta Imperial em 21 de agosto de 1852, presidiu a província de 20 de setembro de 1852 a 1 de maio de 1855), senador do Império do Brasil de 1856 a 1889. A partir de 1865 passou a integrar o ministério, tendo ocupado as pastas da Fazenda (1865), da Marinha (1865 e 1868), dos Estrangeiros (1869, 1875 e 1885) e da Justiça (1887). Como presidente do Conselho de Ministros (1885-1888), fez aprovar a Lei dos Sexagenários (1885), proposta na gestão de José Antônio Saraiva, seu antecessor.(In http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Maur%C3%ADcio_Wanderley)
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conflitcto, sendo talves o vigésimo orador, que alli falava do alto do chafariz...”. (p. 228-229). Ainda nada sobre a guarda negra em São Luís ..
O FUZILAMENTO DO DIA 17 ”... o Brasil foi o último país a abolir a mão de obra escrava, criou e sustentou uma série de ambigüidades em seu discurso racial, como vemos em relação à chamada Guarda-Negra - um símbolo da integração negra ao contexto da luta abolicionista que, ao mesmo tempo, se torna um culto ao imperialismo e se torna uma ameaça ao debate democrático do próprio racismo.”. (Reginaldo da Silveira Costa (Mestre Squisito) 26 Os movimentos pela abolição da escravatura são iniciados a partir de alguns eventos ocorridos: a cessação do tráfico negreiro da África, em 1850; a volta vitoriosa de negros da Guerra do Paraguai, que se estendeu de 1865 a 1870, a promulgação da Lei do Ventre Livre; a criação da Sociedade Brasileira contra a Escravidão (tendo José do Patrocínio e Joaquim Nabuco como fundadores); a Lei Saraiva-Cotegipe (mais popularmente conhecida como a Lei dos Sexagenários). Dois conceitos históricos são entendidos por abolição da escravatura: o conjunto de manobras sociais empreendidas entre o período de 1870 a 1888 em prol da libertação dos escravos, e a própria promulgação da Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, que promove a oficialização da abolição do regime. "As mudanças ocorridas afetavam diretamente a economia de produção neste período do Brasil. Os negros chegaram a participar da luta anti-escravista e muitos deles, perseguidos por seus atos insurrecionais ou mesmo fugindo do jugo escravista, reuniam-se em povoados como os quilombos. Após as medidas oficiais antiescravistas determinadas pela Lei Áurea, os senhores escravistas, insatisfeitos com a nova realidade, intencionavam exigir indenizações pelos escravos libertos, não obtendo nenhum aval do Império. Desta forma, surgiram os movimentos republicanos, que foram engrossados com a participação dos mesmos senhores que eram antigos detentores da "mercadoria escrava" e que, descontentes com as atitudes do Império, acabaram por defender um novo sistema de governo, decorrendo daí um dos principais motivos da derrocada final do Império. Por outro lado, a mão de obra proveniente das novas correntes imigratórias passa a ser empregada. Os negros, por um lado libertos, não possuíam instrução educacional ou a especialização profissional que passa a ser exigida, decorrendo destes aspectos a 26
In http://bahia.port5.com/terreiro/racial.html
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permanência dos negros à margem da sociedade frente à falta de oportunidades a eles oferecidas. A liberdade dada aos negros anteriormente escravizados é relativa: embora não mais escravizados, nenhuma estrutura que garantisse a ascensão social ou a cidadania dos negros foi oferecida. 27 Nesse contexto, a Guarda Negra foi formada por José do Patrocínio em 28 de setembro de 1888, como um movimento paramilitar, composto por negros, que tinha passagem pelo Exército e com habilidade em capoeira. O objetivo dele era demonstrar gratidão à família real pela abolição e intimidar republicanos e tumultuar os comícios. A ação da Guarda Negra travava batalhas com os partidários do fim da Republica, sendo classificados como terroristas. Antonio Jardim, advogado abolicionista, chega a realizar suas palestras e comícios em posse de um revolver atento a ação dos capoeiristas da Guarda Negra.28 Muito embora Patrocínio, em virtude da Lei Áurea, seja identificado como monarquista e formado a Guarda Negra para defender a Princesa Izabel, aderiu às idéias republicanas, conforme informa Sergio Cavalcante, em “A Maçonaria e Proclamação da República": "Precisavam de um lugar para essa agitação. Procuraram um vereador para ver se era possível usar a Câmara... Paradoxalmente, procuraram o monarquista negro José do Patrocínio, detestado pelos republicanos, devido a suas ligações com a Guarda Negra. Estranhamente, Patrocínio havia aderido à República naquele dia e, na condição de mais moço vereador (conforme a regra exigia), convocou uma sessão na Câmara.” 29 O jornalista Renato Pompeu, em "Confissões de um trirracial", afirma saber que: "... a República foi proclamada porque o Império, ao proclamar a Abolição, ficou comprometido com o futuro dos negros recém-libertados, como prova o fato de que só guarnições militares compostas de negros, como a Guarda Negra da Princesa Isabel, resistiram ao golpe de Estado de 15 de novembro de 1889. O regime republicano, assim, nasceu, e continua, sem nenhum 30 compromisso maior com as pessoas de pele mais escura."
O que sabemos até agora?
27
In http://bahia.port5.com/terreiro/racial.html
28
In http://www.algosobre.com.br/ler.asp?conteudo=206
29
http://negro.www.marconegro.blogspot.com/
30
http://www.salmo133.org/sal/Htm_Div/HinoProclamacaoRepublica BR_SergioCavalcante.htm
http://carosamigos.terra.com.br/outras_edicoes/edicoes_especiais/eleicoes/renato_pompeu.asp
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que capoeiras foram combatidos desde a chegada da família imperial ao Brasil em 1808;
que capoeiras sempre foram arregimentados para "lutaram" ao lado de alguma facção política - isso, desde o Império.
que negros foram recrutados para lutarem na Guerra do Paraguai, muitos pela sua habilidade de luta corporal - capoeiras.
que ao voltarem, muitos como heróis, não tiveram seus esforços reconhecidos e continuaram como cidadãos de segunda classe, ou sem classe alguma - ainda eram a escória do reino.
que grupos foram formados - maltas - e que esses grupos se enfrentavam entre si, pela posse de um território na cidade; que essa rixa entre capoeiras foi aproveitada, com a contratação de uma e outra, por partidos políticos, para dar surras nos adversários e impedir realização de comícios.
que por ocasião da Abolição, e em gratidão à Princesa imperial, abolicionistas - José do Patrocínio - cria um corpo paramilitar, recrutando capoeiras com alguma experiência no Exército, o qual foi denominado de Guarda Negra.
a criação dessa Guarda Negra uniu as diversas maltas, que passaram a atacar os republicados e a defender a monarquia - a herdeira do trono brasileiro, Princesa Isabel.
por essas ações, cada vez mais violentas, houve perseguição aos negros, em sua maioria capoeiras, e ligados a guarda negra, provocando sua marginalização, quando do advento da República, e a conseqüente criminalização do ato de praticar capoeira... (Logo após a Proclamação da República (1889), a capoeira foi proibida pelo Marechal Deodoro, permanecendo nessa situação até 1937 quando Mestre Bimba a tira do código penal e a leva a esporte nacional).
Em São Luís do Maranhão, encontramos um episódio relacionado com a participação dos negros no processo de combate à República recém proclamada. Foi denominado de "o fuzilamento do dia 17", e ocorreu com uma manifestação de escravos, recém-libertos, contra Paula Duarte, o único republicano no novo governo, conforme informa Mario Meireles, e isso porque se dizia que o novo regime vinha para tornar sem efeito a Lei Áurea. Os manifestantes foram à redação de "O Globo", jornal republicano, e tentaram o empastelar. A polícia interveio, dispersando-os. Na boca do povo, e naquelas circunstâncias, teria ocorrido um massacre - os fuzilamentos do dia 1731.
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(Meireles, Mário. História do Maranhão. 2 ed. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 1980, p. 307).
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Barbosa de Godois32 assim relata aqueles acontecimentos: "A" surpresa com que no Maranhão foi recebida a noticia da revolução de 15 de Novembro succedeo a adhesão de ambas as parcialidades políticas ao regime que se instituía... Feita abstração d´um grupoi de libertos pela lei de 13 de maio que, imbuídos da idéagrosseira de que a republica viera para reduzil-os novamente ao captiveiro e no dia 17 percorreram desarmados algumas ruas, hasteando a bandeira imperial e dando vivas à princesa Isabel, nenhuma outra manifestação em contrario à nova instituição surgio em toda a província. "Esse grupo, porém, que viera por vezes á frente da officina do jornal "Globo", na Rua 28 de Julho, canto da dos Barqueiros, vociferava ameaças contra o redactor d´esse diário, o chefe republicado Dr. Francisco de Paula Belfort Duarte,debandou ás primeiras descargas d´um pequeno contingente, postado perto do edifício da mesma officina, para pol-a á salvo de qualquer aggressão...Ainda n´essa data não estava proclamada a adhesão da província á forma republicana, o que só se realisou no dia 18 de Novembro." (p. 539-540.) Note-se que a obra de Barbosa de Godois é de 1904. Os acontecimentos ainda eram recentes. E não faz nenhuma referência a uma "guarda negra" formada por libertos, para defender a monarquia... Será que houve, mesmo, guarda negra no Maranhão? Conforme se referem Carlos Eugênio L. Soares e Flávio Gomes? Milson Coutinho33, ao descrever os acontecimentos daquele dia 17 de Novembro - Maranhão, 1889: fuzilamentos e torturas na alvorada da república afirma que, após ler e reler inúmeros autores que se referiram aos fatos do dia 17 - Jerônimo de Viveiros e Mário Meireles - "provocaram, no autor deste estudo, um grande desejo de examinar, à luz da documentação da época, a origem desses distúrbios, sua ocorrência, amplitude e conseqüências" (p. 16). Para Coutinho, as origens dos distúrbios provocados principalmente por ex-escravos, no Maranhão, com o advento da proclamação do regime republicado, tiveram origem em boatos que circularam por toda a cidade segundo o qual o regime recém-implantado iria revogar a Lei Áurea sancionada pela Princesa Isabel e os pretos teriam que voltar à condição de cativos. Esses boatos partiam dos sebastianistas, isto é, dos saudosos do monarquismo agonizante, e, mentira ou não, calaram fundo no espírito dos negros, que jamais poderiam aceitar a volta ao tronco, ao chicote do feitor, ao trabalho forçado. Não foi possível apurar o cabeça do movimento, informa Coutinho, nem nos livros de história e nem nas pesquisas que empreendeu. Nem mesmo a polícia, naquela época, deslindou a sedição contra o jornalista Paula Duarte, 32
BARBOSA DE GODOIS, Antonio Baptista. Historia do Maranhão. São Luís: Mar. Typ. De Ramos d´Almeida & C., Suces., 1904, tomo II, 33 COUTINHO, Milson. Subsídios para a História do Maranhão. São Luís: SIOGE, 1978.
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talvez porque, convenientemente elucidado o fato, "esboroassem seus resultados nos costados d´algum ex-barão do Império, já devidamente engastado no novo regime." (p. 17). O estopim, ao que parece, foi uma conferência na Câmara Municipal, que seria proferida por Paula Duarte, em que falaria sobre o novo regime doutrinando sobre matéria republicana. O povo da cidade fora convidado, através de comunicação do dr. Sá Valle.
"Grossa multidão formada em sua maioria por pardos e ex-escravos se acercou da redação do jornal de Paula Duarte, em atitude hostil, haja vista a gritaria, algazarra e berreiro próprios a esse tipo de manifestação. "Pessoas gradas intervierem, pedindo aos manifestantes que dissolvessem o aparato popular, enquanto Paula Duarte, acuado no prédio de sua tipografia, dali não pode se retirar, escoando-se, conseqüentemente, a hora marcada para a que pronunciasse a sua conferência. "O grupo, cada vê mais reforçado, e sempre no maior alarido, retirouse de frente da redação d´O Globo, passando a percorrer as ruas de São Luís dando vivas à Monarquia." (p. 18) Prossegue Coutinho o seu relato, informando que a turba passou em frente à casa do Desembargador Tito de Matos, ainda respondendo pelo Governo da Província: “... estancou a passeata, com a finalidade de cumprimentar o Magistrado, derradeiro lampejo da Monarquia deposta e última esperança da malta enfurecida". (p. 18-19). Malta enfurecida? Coutinho a teria usado em que sentido? De identificar os manifestantes com as maltas de capoeira que agiam no Rio de Janeiro, dando vivas à monarquia e contra o novo regime? No-lo sabemos... Prosseguindo, O Desembargador pediu às massas que aguardassem a ordem, dissolvessem a passeata. Esses acontecimentos se deram pela manhã. Os espíritos serenaram e a tranqüilidade pública volveu à Capital. Mas... “... por volta das 15 horas do dia 17 os ânimos voltaram a se reacender, com novos grupos de anarquistas a percorrer as ruas e praças da capital, estocando todos os segmentos da balbúrdia em frente ao jornal de Paula Duarte, desaguadouro do contingente de alucinados que para ali convergiam, provindos de quantos becos se contassem, isto já em profusa massa humana. "O Comandante do 5º. Batalhão de Infantaria destacou, para o local uma força devidamente embalada, tropa essa que se postou em frente à tipografia de Paula Duarte, a partir das 16 horas, a fim de garantir a
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segurança do jornalista e evitar a depredação do edifício.”. (p. 19, grifos meus). Os revoltosos debandaram, proferindo gestos coléricos e invulgar alacridade, e assim se passou o resto da tarde, sem outras conseqüências que não o clima de total intranqüilidade reinante. "Os relógios assinalavam pouco mais das 19 horas, quando a multidão enfurecida e com muitos de seus componentes já armados voltou à carga para tirar a prova de fogo "Iniciou-se a fuzilaria, de que resultou a morte imediata de três manifestantes, ferimentos em 11 outros, lesões em vários soldados, cabo e sargento do destacamento, vindo a morrer depois, na Santa casa, um dos sediciosos ferido por balaço da tropa." (p. 20). Nenhuma palavra sobre uma Guarda Negra... Nem no relatório do suboficial que ordenou o fogo...
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O CONTINENTE SUL-AMERICANO – A Evidente Integração de Países
ENEIDA VIEIRA DA SILVA OSTRIA DE CANEDO
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O privilegiado Continente Sul Americano é banhado pelos dois mais importantes oceanos: o Atlântico, a leste e o Pacífico a oeste.
Estendido de norte a sul, da Venezuela a Terra do Fogo, por 7.600km de leste a oeste, por 6.000 km de largura, iniciada na cidade de Recife (Brasil) até a cidade de Guaquil no Equador.
Dotado de regiões naturais bem caracterizadas, levando-se em consideração: o relevo, os rios, o clima e a vegetação.
Figura 1 - Mapa Político da América do Sul
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Sócio-efetiva do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Cadeira nº 44, Patroneada por Temístocles da Silva Maciel Aranha. Palestra apresentada no Colóquio Ibero Sul-Americano de História, programado pelo Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Período: 07 a 10 de setembro de 2009.
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Entre as classificações apresentadas pelos Geógrafos, escolhi a seguinte, considerando que a Geomorfologia tem papel destacado no planejamento do espaço ambiental e em especial, no planejamento: agrário, industrial, comercial, vias de comunicação, áreas urbanas e rurais.
Figura 2 – Mapa Físico da América do Sul
Todas as regiões do continente contam com núcleos de concentração populacional e vazios demográficos.
As planícies da Bacia do Orinoco cobertas de savanas, típicas da paisagem. Na Venezuela encontramos montanhas e extensas planícies, estas banhadas por oitos bacias hidrográficas.
As Guianas de solo granítico, a nordeste do continente, entre as bacias do Orinoco e do Amazonas, áreas mais planas. Entretanto, conta com uma orografia de até 1000 metros de altitude, no centro. A cobertura vegetal é de savana e bosques tropicais.
Região Andina - central caracterizada por áreas abertas, de estepes e desertos, com baixa pluviosidade, apresenta registros inferiores a 300 milímetros anuais.
Figura 3 – As Guianas
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Figura 4 – Região Andina
Mesetas Andinas – a região abrange o Equador, Peru, Bolívia até o Chile, onde estão concentrados os maiores contingentes de população (nos vales) e as maiores altitudes, tem uma extensão superior a 7.000 km de norte a sul.
A Amazônia – região dominada pela bacia do grande rio e caracterizada pela floresta equatorial.
A Meseta Brasileira – de clima temperado onde domina a produção agropecuária.
Figura 5 – Área da Amazônia Legal
A Costa Brasileira – bem irrigada, apresenta bosques e savanas que se prolongam até o Uruguai.
O Grande Chaco – entre o rio Paraguai e os Andes, apresenta solo salino, pantanoso e de vegetação diversificada.
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Os Pampas Argentinos – imensa planície, coberta por vegetação herbácea.
A Patagônia e a Terra do Fogo – essa zona ocupa o extremo sul do continente e sofre a influência do clima antártico.
Figura 6 - Pampas Argentinos
Figura 7 – Patagônia
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Figura 8 – Terra do Fogo
Figura 9 – Ushuaia - Terra do Fogo
Todos esses fatores repercutem na economia, com evolução correspondente ao progresso mundial, cientifico e técnico, subordinados ao clima e tipo de solo, refletindo-se na produção de cereais, plantas têxteis, legumes, frutas etc.
Qual a espécie vegetal que não pode ser cultivada no continente sulamericano?
As explorações minerais, que serviram de atração aos europeus e ainda despertam a cobiça de muitas outras nações.
Qual o minério, dos que já tiveram suas propriedades avaliadas, que não existe no continente sul-americano?
O que falta?
Apenas o aperfeiçoamento de técnicas e maior exploração, de forma racional abertura de maior número de vias de comunicação: terrestre, fluvial e instantânea para facilitar as atividades comerciais. Abertura de estradas e as necessárias obras de arte (pontes, túneis), ligação através de canais, entre os rios mais próximos, para facilitar a navegação interior, de mais baixo custo que as rodovias.
As comunicações terrestres, aéreas, marítimas, fluviais e instantâneas são as mais importantes para o desenvolvimento dos Estados e seu melhor relacionamento, com o exterior. O desenvolvimento científico e tecnológico criado pelos estudos superiores facilitam a organização interna e a manutenção da segurança de pessoas e do espaço territorial do Estado. A manutenção do território é a melhor forma de convivência entre os países. Se cada país tiver a preocupação de preservar seu território, utilizar seus recursos naturais, de forma racional, atendendo a necessidade de usálos e protegê-los, do desperdício para uso futuro, cuidar de intensificar as trocas dos excedentes, abastecendo outros mercados, certamente
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alcançará o desenvolvimento enriquecimento rápido.
econômico
satisfatório.
Não
o
O bem estar da população, com a satisfação das necessidades básicas: alimentação, saúde, educação e atividade remunerada (emprego). A manutenção de fronteiras de seu território, com serviços de educação e saúde, a obediência dos limites, já fixados, manterá a ordem interna e a harmonia constante com seus vizinhos. A preservação de seu potencial hídrico, florestal e a fauna. Impedir a infiltração acelerada de pessoas ou grupos de intenções duvidosas. A paz estará assegurada. A paz assegurada impulsionará as atividades essenciais, a manutenção da população e a direcionará para um futuro promissor. O clima constitui um elemento fundamental na vida de um Estado. O clima influi na energia psíquica do individuo, portanto, na capacidade produtiva. Hoje com a tecnologia criada pelos próprios homens, são preparados micro-climas nas habitações e locais de trabalho, ficando expostos somente os trabalhos externos; lavouras, guardas de trânsito e outros que podem ter o número de horas reduzidas, para essas atividades. No passado as guerras ocorriam quase sempre no verão, hoje com a tecnologia moderna, os mísseis programados chegam a grandes distâncias, de forma mais rápida e com maior capacidade de destruição. As divergências e interesses são atendidos de forma diplomática e vem sendo coroados de êxito e a harmonia sobrepujando desentendimentos. A educação é um processo extremamente eficaz para a efetivação e transformação da coletividade. A educação em geral e em especial a ambiental deve começar na escola, desde as primeiras séries. Pode ser realizada através de disciplinas curriculares como: Geografia, Ciências, História e todas as demais, tanto na teoria como nas atividades práticas. Todo Estado politicamente organizado, conta na sua Constituição com dispositivos que amparam e preservam o Meio Ambiente. A Constituição Federal do Brasil, de 1988, em seu artigo 225, inciso VI, diz: Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
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presentes e as futuras gerações, cabendo ao Poder Público promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para preservação do Meio Ambiente.
Atendendo os interesses internos os Estados deverão partir para acordos ou associações internacionais, para atender interesses relativos ao desenvolvimento e a proteção de certos setores. Por exemplo, a proteção ao Meio Ambiente.
Essa preocupação é internacional e iniciada pela Organização das Nações Unidas, através da UNESCO, promotora de convenções nesse sentido.
Já no ano de 1973 indicava: Uma dificuldade para proteção dos ecossistemas naturais está na existência de diferenças de percepções de valores e da importância dos mesmos entre indivíduos de culturas diferentes ou de grupos socioeconômicos que desempenham funções distintas; no plano social, nesses ambientes. A percepção ambiental pode ser trabalhada através da educação.
A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo - Suécia, em 1972, contou com a participação de 13 países. Na ocasião foi recomendada “a educação como componente fundamental para combater a crise ambiental do planeta”.
Outras recomendações vieram através da Conferência das Nações Unidas para o “Meio Ambiente e Desenvolvimento”, ocorrida no ano de 1992, sediada na cidade do Rio de Janeiro, também conhecida como Eco – 92.
Nessa reunião foram aprovados cinco acordos sobre: Meio Ambiente e Desenvolvimento; Florestas; Mudanças Climáticas; Diversidade Biológica e a Agenda 21, sobre “Educação Ambiental”, todas visando a proteção da população do planeta para o Século XXI.
Na África do Sul, cidade de Johanesburgo, no ano de 2002, foi realizada outra reunião para verificar as realizações para cumprimento das principais recomendações estabelecidas na Eco – 92.
A integração dos Estados do Continente Sul-Americano, sonhada por Simon Bolívar, vai ter uma experiência mais efetiva, somente no ano de 1960, com a criação da Associação de Livre Comércio (ALALC) visando à formação de um mercado comum, com a supressão de barreiras alfandegárias entre os países membros.
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Apesar dos importantes objetivos para os integrantes, as interferências externas, mas não claras, nos 12 anos de vigência, não conseguiu prosperar e foi substituída.
No ano de 1980 dá-se a transformação da ALALC em Associação Latino – Americana de Integração (ALADI), com o propósito de estabelecer as bases de um mercado comum para dar ênfase a Acordos bilaterais.
No período entre 1982 e 1995 foram assinados 32 Acordos de intercâmbio Econômico.
Dando continuidade ao processo de integração foi assinado o “Tratado de Assunção”, firmado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, na cidade de Assunção – Paraguai, em 26 de março de 1991.
Esse tratado, unindo países do cone sul, recebeu a denominação de MERCOSUL.
O Mercosul traz de novo “ser instrumento dos quatro governos signatários para consolidar seus processos de institucionalização política e reforma econômica, sem se valerem de nenhuma estrutura supra nacional. Atuando assim, fez frente à criação do NAFTA, da América do Norte. Formou-se então um bloco comercial de melhores condições para competir na economia mundial.
Atualmente o MERCOSUL tem por objetivo: -
“A eliminação de barreiras tarifárias no comercio entre os países membros”
-
Adoção de tarifas externas (TEC);
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“Coordenação de políticas macroeconômicas”;
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“Livre comércio de serviços”;
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“Livre circulação de mão-de-obra”;
-
“Livre circulação de capitais”.
O MERCOSUL vem envidando todos os esforços no sentido de ampliar o quadro de integrantes, visando reunir todos os países da América do Sul. Iniciativa muito feliz para todos os integrantes ou que vierem a ser.
Dando continuidade a integração dos países do Continente SulAmericano foi criada uma nova Associação “Iniciativa para a integração das Infraestruturas Regionais Sul-Americanas (IIRSA)”.
Os Presidentes dos 12 países que compõem o Continente SulAmericano, reunidos na cidade de Brasília, em agosto de 2000, visando impulsionar o processo de integração política, social e econômica para alcançar um mais alto padrão de desenvolvimento, equilibrado e maior competitividade no mercado mundial.
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Nessa associação foram formados projetos específicos sobre a infraestrutura de transportes, energia e comunicação, tão importante para o desenvolvimento de regiões naturais do continente e de cada país, acelerando seu crescimento.
Cada uma dessas associações contribui para maior integração entre os países, e, portanto, reforçar a importância no consenso mundial.
O Professor Wanderley Costa da Universidade de Brasília (UNB) diz: “A IIRSA é um projeto efetivo de integração física, possui em andamento 72 obras importantes de circulação entre países, incluindo rodovias, ferrovias, hidrovias, aerovias e dutovias. E o principal investidor da IIRSA é o Banco Nacional de Desenvolvimento (BID)”.
UNASUL - A União das Nações Sul Americanas (UNASUL) foi criada em 23 de maio de 2008, em Brasília, visando à integração regional do MERCOSUL e da IIRSA, esse tratado foi assinado pelos representantes dos 12 países do continente. Os principais objetivos são a coordenação política, econômica e social.
Confere personalidade jurídica internacional, ganhando o Continente Sul Americano status de organização internacional reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), capaz de negociar com outros países ou blocos de países.
A conjugação de todas essas iniciativas e fatos deixam evidente a integração entre os 12 países componentes do Continente SulAmericano, caminhando, assim, para um futuro promissor, com o fortalecimento de todos os setores, tornando-se imbatível perante o mundo.
Muitas Associações não foram citadas, mas não pode deixar de ser mencionada a Associação de Universidades Amazônicas (UNAMAZ), que visa a cooperação científica, tecnológica e cultural, congrega mais de 60 universidades e cerca de 40 instituições de pesquisas dos países amazônicos. A maioria dos associados são entidades públicas.
Criada em 1987, em Belém, Estado do Pará, membro da República Federativa do Brasil, por iniciativa de cientistas, pesquisadores e professores dos oito países membro do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), para impulsionar a integração e aprofundar a solidariedade amazônica.
A UNAMAZ defende a busca de soluções comuns aos problemas regionais, através da comunicação e da cooperação cientifica, promovendo a produção do conhecimento necessário para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, potencializando a atuação das instituições de educação superior e de pesquisa, fomentando a melhoria das condições dos recursos humanos da região.
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A UNAMAZ está estruturada em uma Assembléia Geral, que se reúne a cada três anos, ocasião em que se elege um Presidente e uma Secretaria executiva. A Secretaria tem sede em Pernambuco.
No Estado do Pará, na cidade de Belém, fica guardada toda a documentação da Associação.
Cada país amazônico participa por meio de uma Vice-Presidência rotativa a cada três anos.
Aproveito para apresentar meus parabéns aos Governantes dos 12 países do Continente e os que aqui estão representando esses países.
Unidos, os 12 países sul-americanos estão mais fortes do que todas as organizações externas existentes.
Somos os grandes fornecedores de alimentos, minerais e até minerais estratégicos.
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A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville35 DILERCY ARAGÃO ADLER
“Não faz muito tempo a terra tinha dois
bilhões de habitantes, isto é, quinhentos milhões de homens e um bilhão e quinhentos indígenas. Os primeiros dispunham do Verbo (grifo nosso) e os outros pediam-no emprestado.” Jean-Paul Sartre
INTRODUÇÃO
Todos os colonizadores, sem exceção, apresentam, à primeira vista, uma lógica no discurso da dominação muito convincente e sempre permeada por uma nobreza incontestável. Os portugueses, franceses e espanhóis engendravam o fio condutor dos seus discursos de dominação dos povos das Américas Central e do Sul, principalmente a partir da fé, ou seja, da necessidade de expandir o cristianismo para salvar os pagãos através da catequese e do batismo. Demonstravam, nesse argumento, ser essa uma condição natural para o salvamento da alma dos povos indígenas, a exemplo de: “[...] o senhor de La Ravardière [...] sempre desejoso da glória de Deus, da salvação das almas dos selvagens e da honra que colheria a França de tudo isto [...]” (D’ABBEVILLE, 2002, p.37), e ainda, “Não tendo o Sr. de Rasilly, quando se associou a essa empresa, outro fim além do piedoso desígnio de plantar nessas terras a nossa fé, por isso suplicou humildemente à rainha alguns padres capuchinhos, por ele estimados desde a sua infância” (D’ABBEVILLE, 2002, p.37). Assim é que o padre Cláudio D’ Abbeville (Capuchinho francês), nascido em Abbeville/França, na segunda metade do século XVI, veio ao Maranhão (Brasil), integrando a expedição de La Ravardière, em 1612. Ficou na terra apenas quatro meses que, no entanto, renderam-lhe o equivalente a pródigos anos, e o fizeram interpretar, com uma argúcia singular, os primórdios da Geografia e Etnografia do Maranhão, através da sua obra, História da missão 35
COLÓQUIO IBERO SUL-AMERICANO DE HISTÓRIA: entre os dois lados do Atlântico“, Florianópolis, 07 a 19 de setembro de 2009.
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dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças, lançada em Paris em 1614 e traduzida no Brasil por Dr. Cezar Augusto Marques em 1874. As análises empreendidas neste artigo são movidas pelo desejo de identificar e delinear de forma sucinta os traços poéticos e apelos filosóficoreligiosos da lógica engendrada com fins intencionais de dominação ou até mesmo “autênticos conscientemente”. Neste último caso, resultantes de todo um condicionamento pautado nos valores ético-religiosos vigentes à época desses fatos históricos.
A POÉTICA NO DISCURSO DE D’ABBEVILLE NA NARRATIVA ACERCA DA PERMANÊNCIA DOS FRANCESES NO MARANHÃO O padre Cláudio D’ Abbeville (Capuchinho francês) veio ao Maranhão (Brasil), integrando a expedição de La Ravardière em 1612. Permaneceu na Maranhão quatro meses e, como resultado do seu encantamento em relação à terra e à gente nativa que encontrou, produziu um clássico, “História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças”, lançado em Paris em 1614 e traduzido no Brasil por Dr. Cezar Augusto Marques em 1874. A narrativa de D’Abbeville inclui diálogos entre os personagens tanto em discurso indireto quanto direto. Abrange não só os episódios mais significativos da permanência dos franceses no Maranhão, a exemplo da edificação da cidade de São Luís, como também das interfaces do cotidiano dos índios tão bem explicitados nos capítulos “De uma escrava de Japi-Açu encontrada em adultério” ou na “História de um certo personagem que dizia ter descido do céu”. Apresenta também informações apaixonadas sobre o clima e a fertilidade da terra, assim como dados minuciosos sobre a rica astronomia indígena. Outro aspecto que sobressai nessa obra é a intenção de Claude D’Abbeville em demonstrar como o índio podia ser batizado e de como isso parecia ser uma condição natural para o salvamento da alma. Em dois episódios intitulados “De um índio velho batizado em Coieup e de sua morte” e “De um menino curado milagrosamente pelo batismo”, isso fica evidente. Um fato que chama a atenção é que La Ravardiére era protestante, e os capuchinhos que o acompanharam deram início à decantada catequese dos indígenas que alcançaria seu paroxismo com os Jesuítas. Dizem os registros históricos que em 12 de agosto de 1612, tendo os franceses passado à Ilha Grande, foi rezada a primeira missa e erguida uma cruz. Em 8 de setembro do mesmo ano, solenemente, fundaram a colônia, a França Equinocial, com a colaboração “espontânea” dos índios, tendo à frente o cacique Japiaçu, e iniciaram a construção do forte, chamado de São Luís, em honra ao rei-menino.
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A obra de D’Abbeville, como já foi referido, é um clássico da etnografia indígena. Ao analisá-la, o bibliófilo Rubens Borba de Moraes (1975) salientou que "a narrativa da viagem é a principal fonte francesa publicada sobre esta tentativa de colonização do Norte do Brasil e contém informações valiosíssimas acerca dos Tupis, não encontradas em nenhuma outra obra". Segundo ainda Mário Guimarães Ferri (1975), nenhum outro cronista, em seu tempo e mesmo depois, tratou a matéria com tanta especificação e clareza. Oswald de Andrade captou a poética na narrativa de Abbeville, tendo inclusive aproveitado alguns trechos do seu livro para compor quatro poemas em seu “Poesia Pau-Brasil”, mantendo a escrita original em francês. Assim, não pode ser negada a existência da poesia no tom apaixonado imbricado à sua longa e exaustiva descrição e, para exemplificar, a seguir pequenos trechos da sua magnífica obra “História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças”, que em seu capítulo XXV, intitulado Do clima do Brasil, particularmente na Ilha do Maranhão, explicita: [...] Mas, por mercê de Deus, observamos [...] na Ilha do Maranhão e terras adjacentes do Brasil, situadas precisamente sob a zona tórrida, a dois e meio graus mais ou menos do equador, para o lado do trópico de Capricórnio, onde, passando o sol duas vezes pelo seu zênite, seria de fato o calor insuportável não fôsse a incomensurável providência divina atenuar e temperar tal ardor por meios muitas vêzes maravilhosos. Se a temperatura, ou o clima, de uma região depende tão sòmente da pureza e da doçura do ar, julgo (o que há de parecer paradoxal a muitos) que não existe lugar no mundo mais temperado e delicioso do que êste. (grifo nosso). Em primeiro lugar não é possível desejar ar mais puro e sereno do que por aqui reina de costume. Os elementos são naturalmente somente em virtude de causas estranhas a eles. [...] Na Europa, muitas vezes podemos observar estranhas impressões na atmosfera, presságios de incríveis tempestades; a terra enche-se de vapores infectos e de exalações pútridas que se espalham abundantemente pelo ar, o qual assim se altera e corrompe, o que dá causa a muitas espécies de meteoros, chegando então (como viram os físicos) a chover ratos, rãs, vermes, lã, sangue, leite e outras cousas apavorantes. Donde virão, pergunto, todos esses prodígios senão de enorme impureza da terra e do ar? O fato é que nada disso se vê no Brasil (D’ABBEVILLE, 1975, pp. 153-154). Também no Capítulo XXVI, tratando Da Fertilidade da Ilha do Maranhão e regiões circunvizinhas, relata: Regada a terra de todos os lados por boas águas, e maravilhosamente temperada pela doçura do ar (grifo nosso), não pode deixar de ser muito fértil, como é, e muito fecunda,
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apesar de não ter sido roteada nem ter tido descanso, nem amanho de qualquer espécie. Não há necessidade de juntar o gado para esquentá-la, pois está sempre temperada pelas influências dos céus. E nem, para cultivá-la, são necessários cavalos ou arreios, charruas ou relhos de arado para lavrá-la, tanto mais quanto esta terra não deve ser muito trabalhada. Cultivada pouco produz, e abandonada dá grande colheita. Não posso explicar esse paradoxo senão porque estando a terra lavrada entra nela o calor, aquece-a a ponto de queimar as sementes; mas não sendo cultivada conserva-se a umidade. Esta razão parece-me verossímel, pois em verdade a terra é tão refrescada pelo sereno da noite e o orvalho da manhã, pelos rios e fontes e pelas chuvas da estação, que sem sequer cavocála antes, que dentro em pouco se tira bom resultado (D’ABBEVILLE, 1975, p. 161). O encantamento de D’Abbeville é indubitável e claramente traduzido na expressão “da pureza e da doçura do ar”, ou na afirmação enfática: “não existe lugar no mundo mais temperado e delicioso do que este”, ou ainda ao declarar que “não é possível desejar ar mais puro e sereno do que por aqui reina de costume”. Também na passagem da Fertilidade da Ilha do Maranhão quando realça: “Regada a terra de todos os lados por boas águas, e maravilhosamente temperada pela doçura do ar, não pode deixar de ser muito fértil”. Adiante declara: “em verdade a terra é tão refrescada pelo sereno da noite e o orvalho da manhã, pelos rios e fontes e pelas chuvas da estação”. O Padre D’ Abbeville, que recebeu o nome de Firminno Foullon, nasceu em Abbeville, na segunda metade do século XVI. Era oriundo de família muito religiosa, e também dois irmãos seus, Marçal e Cláudia, seguiram a vida religiosa em conventos distintos. Segundo registros, ao chegar à Ilha de Maranhão, tinha por volta de 40 anos, tendo sido ordenado em 1593. Portanto, dezenove anos antes, o que indica vasta experiência sacerdotal à época. Existem registros distintos quanto ao ano da sua morte. Alguns escritores marcam o ano de 1632; os arquivos dos capuchinhos, segundo o Catálogo dos óbitos dos religiosos capuchinhos no século XVII, apontam o ano de 1616 e, ainda, registros do IHGM-MA, como o ano de 1621, na cidade de Ruão. D’Abbeville, desse modo, deixou um legado de inestimável valor para a geografia e história de São Luís do Maranhão, o que o faz merecedor de patronear a Cadeira Nº 1 do Instituto Histórico Geográfico do Maranhão-IHGM, da qual sou a atual ocupante, depois do Cônego José Maria Lemercier e do Monselhor Ladislau Papp . Como fechamento da referência a essa obra, nestas argumentações transcrevo parte do discurso do velho índio, chamado Mamboré-Uaçau, maior de 180 anos, o qual tomou a palavra em presença de todos os principais da aldeia, depois de plantada a grande cruz na frente da capela, no meio da praça, dirigindo-se ao Sr. Des Vaux:
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Vi o estabelecimento dos peros (portugueses) em Pernambuco e Potiiú e o seu princípio foi como o vosso agora. No princípio, os peros só queriam negociar, e não morar aí; dormiram à vontade com as raparigas, o que os nossos companheiros reputavam grande honra. Depois lhe disseram ser preciso morar, construir fortalezas, edificar cidades e morarem juntos parecia só desejarem ser uma nação; depois fizeram entender que não podiam ter as filhas sem casamento e só podiam casar-se com elas se fossem batizadas. Vieram os padres, plantaram uma cruz, começaram a instruí-los e depois foram batizados. Depois fizeram ver que eles e os padres precisavam de escravos para servi-los. Não satisfeitos com os escravos aprisionados na guerra, quiseram também seus filhos, e finalmente cativaram toda a nação com tirania e crueldade levando aqueles que escapavam a deixar o país. Assim aconteceu com os franceses, primeiramente viestes só para negociar e não falastes em vir morar aqui, agora para morardes aqui nos aconselhais a fazer fortaleza e trouxestes-nos um buruuichue e padres. Depois da chegada dos padres plantastes a cruz e começastes a instruí-los a batizá-los e como os peros dizeis que não podeis possuir nossas filhas senão em casamento, e depois de batizadas. A princípio também não quisestes escravos, agora pedis e quereis possuí-los. Não creio que tenhais os mesmos projetos e nem receio isso, porque já sou velho demais e nada temo, porém conto ingenuamente o que vi. O discurso do velho índio abalou a maior parte dos espíritos e causou muita admiração ao Sr. Des Vaux, que assim respondeu: Admira-me muito que tu, que bem conheces os franceses há muito tempo, ouses compará-los aos peros, como se não conhecesses a diferença entre uns e outros. [...] A afeição que, como sabes, sempre tive à tua nação me fez empreender tão longa e perigosa viagem, com risco de minha vida, para trazer um maioral e valentes soldados, como me pedistes, não só para defender e proteger [...] Se os franceses têm feito tantos bens a ti e aos teus semelhantes, se são vossos melhores amigos e aliados, como não podes deixar de confessar (grifo nosso), és muito injusto comparando-nos aos peros [...]. (D’ABBEVILLE, 2002, pp. 156-158). É pertinente realçar que o agir do dominador pode materializar-se por clara violência, acompanhado de um discurso de justiça ou outro similar, ou mesmo por falsa amizade que oculta os seus interesses escusos, como é o caso dos franceses que tinham a intenção de conquistar as terras já conquistadas (invadidas) pelos portugueses e se valeram da amizade de J. Riffault com o índio Ouirapiue, de modo a obter as informações sobre a cobiçada terra. Essa afirmativa se ratifica, entre outras situações, na resposta de Des Vaux à lúcida argumentação do velho índio Mamboré-Uaçau quando
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diz (segundo grifo nosso na citação anterior): Admira-me muito que tu, que bem conheces os franceses há muito tempo, ouses compará-los aos peros, como se não conhecesses a diferença entre uns e outros. [...] A afeição que, como sabes, sempre tive à tua nação me fez empreender tão longa e perigosa viagem, com risco de minha vida, para trazer um maioral e valentes soldados, como me pedistes, não só para defender e proteger [...] Se os franceses têm feito tantos bens a ti e aos teus semelhantes, se são vossos melhores amigos e aliados, como não podes deixar de confessar[...]. Por outro lado, existem aqueles, no seu próprio tempo ou noutro posterior, que conseguem vislumbrar o real significado do discurso e do agir do dominador, a despeito de toda a força ideológica. Estes podem ser observados (no seu próprio tempo), na fala contundente do índio Mamboré-Uaçau ou (em outro tempo) na poesia “Um canto de morte”, de Gonçalves Dias - Juca Pirama - Canto IV (trecho inicial), que traduz parte desse momento de ruptura da vida do índio, antes permeada pela altivez e liberdade. Um povo bravo, que desconhecia a ambição e a perfídia:
Meu canto de morte, Guerreiros ouví; Sou filho das selvas, Nas selvas cresci: Guerreiros, descendo Da tribo tupi. E, também, o trecho da poesia “O que me foi ensinado”, Adler (1991, p. 105), que retrata a imagem do índio disseminada na cultura ocidental, que materializa a sua execração como indivíduo e como nação:
[...] disseram-me também que os índios são maus selvagens preguiçosos inábeis para o trabalho só porque não se submeteram à escravidão! e ainda que o branco tinha direito legal sobre as terras que eram deles! [...]
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E ainda, o teor das poesias “Na Missão” e da “Declaração solene dos povos indígenas do mundo” traduzem a implacável violência do conquistadordominador: Na Missão No aldeamento quem mandava não era mais o chefe indígena. Quem mandava era o missionário. Era o missionário que mandava plantar a roça. Era o missionário que mandava assistir à missa. Era o missionário que mandava construir as casas. O missionário mandava na vida do índio. Na missão os índios trabalhavam para os padres. Tinham que trabalhar três dias por semana para os padres. Tinham que trabalhar com hora marcada. Não podiam mais caçar na hora que queriam. Não podiam mais pescar na hora que queriam. Não eram mais eles que dividiam a caça. Não eram mais eles que dividiam todas as coisas da roça. O aldeamento da missão quase acabou com os índios. Os índios morreram de doença. Morreram de fome. Morreram de tristeza. (Conselho Indigenista Missionário – CIMI).
Declaração Solene dos Povos Indígenas do Mundo Nós, povos indígenas do mundo, unidos numa grande assembléia de homens sábios, declaramos a todas as nações: Quando a terra-mãe era nosso alimento quando a noite escura formava nosso teto, quando o céu e a lua eram nossos pais, quando éramos irmãos e irmãs, quando nossos caciques e anciãos eram grandes líderes, quando a justiça dirigia a lei e a sua execução, Aí, outras civilizações chegaram! Com fome de sangue, de ouro, de terra e de todas as suas riquezas, trazendo em uma mão a cruz e na outra a espada. Sem conhecer ou querer aprender os costumes de nossos povos, nos classificaram abaixo dos animais. Roubaram nossas terras e nos levaram
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para longe delas, transformando em escravos "os filhos do sol". Entretanto, não puderam nos eliminar, nem nos fazer esquecer o que somos, porque somos a cultura da terra e do céu, Somos de uma Ascendência milenar E somos milhões, E mesmo que nosso universo inteiro seja destruído NÓS VIVEREMOS Por mais tempo que o Império da morte! (Conselho Mundial dos Povos Indígenas). Não pode ser negado que os que habitam a Ilha até hoje, a meu exemplo, são também implacáveis invasores, mas como não poderia deixar de ser, concomitantemente fervorosos amantes desta Ilha e, como forma de amenizar o peso do nosso “pecado” e “limpar a nossa culpa” louvamos através da poética esta ilha afrodisíaca, às vezes denominada de Ilha do Maranhão, outras vezes, de Ilha de São Luís, de Ilha do Amor ou mesmo Ilha dos Amores, como a chamo em uma das minhas poesias. ILHA DOS AMORES São Luís ilha dos muitos mares também pudera é a “Ilha dos amores!” amor e mar combinação perfeita eternizada quando a onda deita meus dissabores sobre a areia branca! são tantas praias imensas insondáveis desertas ou cheias de pés descalços pequenos frágeis como os meus sonhos que sempre se esvaem pela madrugada ou morrem afogados pelas ondas! (ADLER 1997, p. 36).
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Que a combinação perfeita amor e mar possam trazer não apenas aos habitantes da ilha, mas aos habitantes de todo o planeta a necessidade de um discurso e de um agir permeado pela verdade, solidariedade, que são resultantes do amor ao outro e ao mundo humano. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo das análises empreendidas fica ratificado, de forma incontestável, que tanto o discurso como o agir do dominador podem materializar-se por clara violência, acompanhado de um discurso de justiça ou outro similar, ou mesmo por falsa amizade que oculta os interesses escusos, como é o caso dos franceses, que, como já foi referido, tinham a intenção de conquistar as terras já conquistadas (invadidas) pelos portugueses e se valeram da amizade de J. Riffault com o índio Ouirapiue, de modo a obter as informações sobre a cobiçada terra. Mas, em contraposição a essa possibilidade, a linguagem poética dos discursos pode também fazer emergir a tão desejada (por uma minoria desalienada) unicidade de direitos de homens marcados por contundente multiplicidade! Como o tema proposto é a Poética no discurso, neste caso, do dominador, nada melhor do que a poesia para nos induzir a refletir um pouco mais acerca da almejada “unicidade de direitos de homens marcados por contundente multiplicidade”. Assim é que nos inspiramos em algumas interrogações para traduzir a nossa profunda inquietação do oposto a esse desejo: O JEITO (SUB)DESENVOLVOLVIDO DE SER selvagem primitivo com alma ou sem alma???? já foi a grande interrogação!!!! (sub)desenvolvido desenvolvido em que para que diagnosticado por quem??? a igualdade a desigualdade travestida de igualdade
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entre os seres humanos até quando???? (ADLER, 2009, Inédito) Para finalizar, espera-se que estas reflexões contribuam para que a poesia, a literatura em geral e a ciência que são, em última instância, uma forma de consciência social possam contribuir para aumentar o quantitativo de escritores e cientistas competentes e tenham essa competência necessária para o avanço da própria arte e da ciência, permeada por uma ética humanizada, que considere o coletivo humano na singularidade de cada pessoa que particularmente configura esse mesmo coletivo.
REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos-Gris. São Luís: Estação Produção, 1991. ______ . Poematizando o cotidiano ou Pegadas do imaginário. Rio de Janeiro: Editora Blocos, 1997. ______. Discurso de posse da Cadeira nº1- IHGMA. São Luís: Mimeo, 2007. D’ABBEVILLE, Cláudio. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. Reprodução Fac-similar da edição publicada pela Livraria Martins Editora: 1945; trad. Sérgio Milliet. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. da Universidade de SÃO Paulo, 1975. ______. História da missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e suas circunvizinhanças. São Paulo: Siciliano, 2002. CANEDO, Eneida Vieira da Silva O. Et al. . Patronos e ocupantes de Cadeiras. São Luís: IHGM, 2005. CASTRO, Silvio. A carta de Pero Vaz de Caminha: o descobrimento do Brasil. Brasil: L&PM, 2003. CIMI. História dos povos indígenas – 500 anos de luta no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1986. CONSELHO MUNDIAL DOS POVOS INDÍGENAS, Port Alberi, 1975. IN: ZENUN, Katsue. INSTITUTO HISTÓRICO GEOGRÁFICO DO MARANHÃO-IHGM. Estatuto do Instituto Histórico Geográfico do Maranhão-IHGM. São Luís: IHGM, 2007.
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A ”CARIOCA” LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Sócio efetivo do IHGM – Cadeira 40 Buscando as origens da Capoeira no Maranhão36, encontrei referencia à prática da “carioca”. Fora proibida, em Código de Posturas de Turiaçú, do ano de 1884:
1884 - em Turiaçú é proclamada uma Lei – de no. 1.341, de 17 de maio – em que constava: “Artigo 42 – é proibido o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca. Multa de 5$000 aos contraventores e se reincidente o dobro e 4 dias de prisão”. (CÓDIGO DE POSTURAS DE TURIAÇU, Lei 1342, de 17 de maio de 1884. Arquivo Público do Maranhão, vol. 1884-85, p. 124).
Em conversa com alguns Capoeiras, Mestre Mizinho informa que em uma de suas apresentações em Cururupu um senhor - já idoso e negro - disse que praticava aquela brincadeira, mas a conhecia como “carioca”, não como “capoeira”. Em aula da disciplina “História do Esporte no Maranhão” referi-me à capoeira e à carioca. Um dos alunos disse-me que o avô, ex-estivador no Portinho, dizia-lhe que já praticara muito aquelas ‘brincadeira’, mas era chamada pelos estivadores de “carioca”. A prática de Capoeira por estivadores é confirmada por Mestre Diniz, nascido em 1929, quando lembra que “na rampa Campos Melo, quando eu era garoto, meu pai ia comprar na cidade e eu ficava no barco. Eu via de lá os estivadores jogando capoeira”. Também em Codó, entre os antigos, a capoeira é denominada de “carioca”. Desde 1820 têm-se registros em São Luis do Maranhão de atividades de negros escravos, como a “punga dos homens”. De acordo com Mestre Bamba, jogo que utiliza movimentos semelhantes aos da capoeira. Encontrou no 36
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Capoeira/Capoeiragem no Maranhão. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/181.pdf; http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629 http://www.capoeira.jex.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=905 http://www.cefet-ma.br/publicacoes/artigos/atlas/ATLAS%2004%20%20PUNGA%20DOS%20HOMENS.doc http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/a-carioca-inicio-estudo http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/category/capoeira/
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Povoado de Santa Maria dos Pretos, próximo a Itapecurú-Mirim, uma variação do Tambor-de-Crioula, em que os homens participam da roda de dança – “Punga dos Homens”. Para Mestre Bamba esses movimentos foram descritos por Mestre Bimba - os "desafiantes" ficam dentro da roda, um deles agachado, enquanto o outro gira em torno, "provocando", através de movimentos, como se o "chamando", e aplica alguns golpes com o joelho - a punga37:
Pungada na Coxa - também chamado "bate-coxa", aplicado na coxa, de lado, para derrubar o adversário; segundo Bamba, achou-o parecido com a "pernada carioca" ou mesmo com o "batuque baiano";
Pungada Mole - o mesmo movimento, aplicado nos testículos, de frente; aquele que recebe, protege "as partes baixas" com as mãos ...
Pungada Rasteira/Corda - semelhante à "negativa de dedos (sic)", de Bimba;
Queda de Garupa - lembra o Balão Costurado, de Bimba.
Fonte: LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro: 2005, p. 18
Compare-se as imagens com a interpretação de Mestre Bamba.
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http://www.jornalexpress.com.br/
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Letícia Vidor de Souza Reis38, baseada em Câmara Cascudo, afirma que o "batuque baiano" era uma modalidade de capoeira que irá influenciar muito Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, na elaboração da Capoeira Regional Baiana39: Em entrevista ao Jornal Diário da Bahia, na sua edição de 13 de março de 1936, na matéria: “Titulo Máximo da Capoeiragem Bahiana”, Bimba, dá uma longa entrevista acerca de seus desafios públicos na divulgação da chamada Luta Regional. Da mesma destacamos o seguinte trecho: “Falando sobre o actual movimento d’aquele ramo de lucta, genuinamente nacional uma vez que difere bastante da Capoeira d’angola, o conhecido Campeão (Bimba) referindo-se a uma nota divulgada por um confrade matutino em que apparecia a figura do Sr. Samuel de Souza. Do Bimba, de referência aos tópicos ouvimos: Ao som do berimbau não podem medir forças dois capoeiras que tentem a posse de uma faixa de campeão, e isto se poderá constatar em Centros mais adiantados, onde a Capoeira assume aspectos de sensação e cartaz. A Polícia regulamentará estas exibições de capoeiras de acordo com a obra de Aníbal Burlamaqui (Zuma) editada em 1928 no Rio de Janeiro... . Nesta reportagem existem alguns itens que merecem uma atenção mais detalhada: (a) 38
REIS, Letícia Vidor de Sousa. O MUNDO DE PERNAS PARA O AR: A CAPOEIRA NO BRASIL. 2. ed. São Paulo: Publisher Brasil/ FAPESP, 1997. v. 1. 39 in http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf
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A confirmação da influencia de Zuma no trabalho implantado por Mestre Bimba; (b) O reconhecimento de Bimba ao trabalho de Zuma; (c) A afirmação de Bimba existia Centros mais adiantados em Capoeira que a Bahia, no caso, a Cidade de Rio de Janeiro; (d) O interesse de Bimba pela prática desportiva da “Luta Nacional”; (e) A integração de seu discípulo nesta inovação; (f) A adoção do regulamento de Zuma pela direção do Parque Odeon, onde se realizavam tais apresentações; (g) A liberação pela polícia, daquela forma de luta já existente no Rio de Janeiro. ( Fonte: Rego, op. cit., 1968. pág. 282 e 283; Diário da Bahia. Salvador 13 de março de 1936; Da Capoeira: Como Patrimônio Cultural - Prof. Dr. Sergio Luiz de Souza Vieira - PUC/SP 2004) A afirmação traz um significado especial por tratar do batuque baiano na formação de Mestre Bimba, da qual seu pai era campeão na modalidade, porque implicava num jogo agressivo de pernas contra as pernas do oponente, já como uma forma característica de luta acompanhada por cânticos e instrumentos. Também há apontamentos de que o batuque se disputava entre "pernadas" durante os carnavais cariocas40. Quanto a Anibal Burlamaqui - Zuma41 - foi um importante inventor desta nova capoeira carioca e afirmou que vários golpes foram extraídos dos “batuques” e “sambas”, como no caso do “baú”. Trata-se de um golpe dado no adversário com a barriga, sendo similar aos movimentos do “samba de umbigada”. O “baú” também era usado durante os “batuques lisos”, segundo Zuma, os mais delicados. O “rapa” havia sido um golpe usado nos “batuques pesados”. Ele também explica os golpes de “engano”, que serviam somente para burlar o adversário.42 Fregolão (2008) 43 considera que toda a pluralidade cultural imbricada na constituição destes elementos podem significar manifestações culturais diferentes, conforme a região em que ocorrem.
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FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008 disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf 41 http://www.capoeira-fica.org/PDF/Annibal_Burlamaqui.pdf - A Capoeira Desportiva é o mais antigo segmento organizado da Capoeira. Surgiu no Rio de Janeiro após a Proclamação da República, no Brasil, em 1889. É resultante do reaproveitamento da corporalidade da antiga capoeiragem, em seus gestos e movimentos, para a construção de um método ginástico caracterizado por uma forma de luta sistematizada. Em 1904 surgiu um livreto anônimo, sob o nome: Guia do Capoeira ou Gymnastica Brazileira, com algumas propostas deste reaproveitamento, no qual se encontram as letras ODC, que significam “ofereço, dedico e consagro”, no caso “à distinta mocidade”. Foi somente em 1928 que a Capoeira Desportiva foi metodizada e estruturada por seu precursor, Annibal Burlamaqui, conhecido pelo nome de Zuma, o qual elaborou a primeira Codificação Desportiva da Capoeira, sob o título de: Gymnastica Nacional (Capoeiragem) Methodizada e Regrada. Sua obra. 42 http://4.bp.blogspot.com/_VcRetvJqu_U/SWfpDlAQZ6I/AAAAAAAAC68/mfXW2md8_IM/s1600h/punga.gif, in Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA 43 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera
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Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA
Mestre André Lacé44, a esse respeito, lembra que a capoeira tradicional, na Bahia e pelo Brasil afora, tinham a mesma convivência com o batuque. Além do mais há registros autorizados jurando que a Regional nasceu da fusão da Angola com os melhores golpes das lutas européias e asiáticas45.
para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009, disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf 44 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro,2004 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO E NO MUNDO. – histórias & fundamentos, Administração geral, administração pública, jornalismo. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição elertrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2004. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 2 ed. Amp. E list. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. L´ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEI, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE. Littérature de Cordel. Rio de Janeiro, 2005 LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM NO RIO DE JANEIRO E NO MUNDO. 4 ed. Literatura de Cordel. Rio de Janeiro, 2007. LACÉ LOPES, André Luiz. CAPOEIRAGEM. Palestras e entrevistas de André Lacé Lopes, edição eletrônica em CD-R. Rio de Janeiro, 2006. 45 LACÉ LOPES, André. Correspondência eletrônica enviada em 20 de agosto de 2009 a Leopoldo Gil Dulcio Vaz.
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Fonte: http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/01/grabado-de-capoeira-siglo-xix.html Fuente foto Silat: Martial arts of the world: an encyclopedia, Volume 2 Escrito por Thomas A. Green. http://books.google.es/books?id=v32oHSE5t6cC&pg=PA529&dq=pentjak+silat&as_brr=3#v=onepage&q=pentjak%20silat &f=false
Para Mestre Gil Velho46, ainda hoje muito se discute sobre as origens da capoeira, com as perspectivas do debate atreladas aos diversos discursos que vestem sua imagem moderna, a esportiva: “Parte-se de idéias construídas, e não de práticas sociais espontâneas. Assim, a capoeira carioca está historicamente imbricada às maltas de capoeiras da cidade e à “filosofia da malandragem carioca” dos anos 1800. A baiana, por sua vez, está ligada à cultura negra baiana e especificamente ao candomblé. No Recife, ela se manifesta nas gangues de rua Brabos e Valentões.
Esse autor considera que para a análise da essência da capoeira, temse que voltar no tempo e considerar o contexto da realidade sócio-cultural de espaços com registros identitários e territoriais dela, destacando-se dois loci: Rio de Janeiro e Recife. Estes dois centros urbanos eram, no século XIX, os maiores pontos de comunicação com o resto do mundo, onde mais circulava gente, idéias, comércio. As zonas portuárias permitiam a troca de idéias entre nichos sócio-culturais semelhantes. A capoeira do século XIX, no Rio, com as maltas de capoeira47, e em Recife, com as gangues de rua dos Brabos e Valentões, foram movimentos 46
Gil Cavalcanti, o Mestre Gil Velho, geógrafo, é coordenador do Projeto Memorial da Capoeira Pernambucana, do Programa Capoeira Viva, do Ministério da Cultura, 2008
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muito semelhantes aos das gangues de savate (boxe francês)48 em Paris e das maltas de fadistas49 de Lisboa do século XIX. Chama atenção é que os gestuais dessas lutas também são parecidos, ou seja, os golpes usados na aguerrida comunicação gestual eram análogos: Por outro lado, as perspectivas identitárias e territoriais próprias dão a cada movimento sua sócio-fronteira, com espaços personalizados dos atores em seus próprios contextos sócio-culturais. A capoeira marca sua presença em grupos de sócio-fronteiras a partir de meados do século XIX, no Rio de Janeiro com as maltas e no Recife com as gangues. Nessas cidades, os grupos disputavam os espaços demarcados identitariamente e tinham suas próprias manifestação rítmicas.(CAVALCANTI, 2008)50
Mestre Marco Aurélio (Marco Aurélio Haickel) [Jornal do Capoeira]51 esclarece que, antigamente, a Punga era prática de homens e que após a abolição e a aceitação da mulher no convívio em sociedade passa a ser dançada por mulheres, apenas. Destaca que desde 1820 há referencia à Punga, com a participação unicamente por homens: "Há registro da punga dos homens, nos idos de 1820, quando mulher nem participava da brincadeira sendo como movimentos vigorosos e viris, por isso o antigo ditado a respeito: "quentado a fogo, tocado a murro e dançado a coice" (Mestre Marco Aurélio, em correspondência eletrônica, em 10 de agosto de 2005).
Para Ferreti (2006)52, a umbigada ou punga é um elemento importante na dança do Tambor de Crioula53. No passado foi vista como elemento erótico 47
As Maltas eram grupos de capoeiras do Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Compostas principamente de negros e mulatos (os brancos também se faziam presentes), as maltas aterrorizavam a sociedade carioca. Houve várias maltas: Carpinteiros de São José, Conceição da Marinha, Glória, Lapa, Moura entre outras. No período da Proclamação da República havia duas grandes maltas, os Nagoas e os Guaiamús. http://pt.wikipedia.org/wiki/Malta_(capoeira) 48 O Savate ou boxe francês, é um desporto de combate, desenvolvido na França na qual os pés e as mãos são utilizados para percutir os adversários e combina elementos de boxe com técnicas de pontapé. Um praticante de savate é chamado savateur e uma praticante de savate é chamada savateuse. http://pt.wikipedia.org/wiki/Savate 49 SOARES, Carlos Eugenio Líbano. Dos fadistas e galegos: os portugueses na capoeira. In Análise Social, vol. xxxi (142), 1997 (3.º), 685-713 disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1221841940O8hRJ0ah8Vq04UO7.pdf 50 CAVALCANTI, Gil. Do lenço de seda à calça de ginástica. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/do-lencode-seda-a-calca-de-ginastica 51 HEICKEL, Marco Aurélio. Tambor de Crioulo. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf. Ver também: http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=609 52 FERRETI, Sérgio. Mário De Andrade E O Tambor De Crioula Do Maranhão. (Trabalho apresentado na MR 07 - A Missão de Folclore de Mário de Andrade, na VI Reunião Regional de Antropólogos do Norte e Nordeste, organizada pela Associação Brasileira de Antropologia, UFPA/MEG, Belém 0710/11/1999. In REVISTA PÓS CIÊNCIAS SOCIAIS - São Luís, V. 3, N. 5, Jan./Jul. 2006, disponível em http://www.pgcs.ufma.br/Revista%20UFMA/n5/n5_Sergio_Ferreti.pdf 53 O Tambor de Crioula é uma dança de origem africana praticada por descendentes de negros no Maranhão em louvor a São Benedito, um dos santos mais populares entre os negros. É uma dança
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e sensual, que estimulava a reprodução dos escravos. Hoje a punga é um dos elementos da marcação da dança, quando a mulher que está dançando convida outra para o centro da roda, ela sai e a outra entra. A punga é passada de várias maneiras, no abdome, no tórax, nos quadris, nas coxas e como é mais comum, com a palma da mão. Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a “punga dos homens” ou “pernada”, cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse do que a dança das mulheres.
Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA
Por ter certa semelhança com uma luta, a “pernada” ou “punga dos homens” tem sido comparada à capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africana dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descreve em Cachoeira e alegre, marcada por muito movimento dos brincantes e muita descontração. Os motivos que levam os grupos a dançarem o tambor de crioula são variados podendo ser: pagamento de promessa para São Benedito, festa de aniversário, chegada ou despedida de parente ou amigo, comemoração pela vitória de um time de futebol, nascimento de criança, matança de bumba-meu-boi, festa de preto velho ou simples reunião de amigos. Não existe um dia determinado no calendário para a dança, que pode ser apresentada, preferencialmente, ao ar livre, em qualquer época do ano. Atualmente, o tambor de crioula é dançado com maior freqüência no carnaval e durante as festas juninas. Em 2007, o Tambor de Crioula ganhou o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula".
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Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira. O batuque, também chamado de pernada, é mesmo, essencialmente, uma divisão dos antigos africanos, com especialidade dos procedentes de Angola. Onde há capoeira, brinquedo e luta de Angola, há batuque, que parece uma forma subsidiária da capoeira.54 Para Lacé Lopes (2006)55, a origem africana, entretanto, é evidente e incontestável. Comprovada não apenas pelo perfil étnico predominante dos capoeiras brasileiros do passado, mas, sobretudo, pela existência na África, há séculos, de práticas similares. O Moringue no Oceano Índico – Ilha de Reunião, Madagascar, Moçambique etc. – sem dúvida, é um bom exemplo. O mesmo raciocínio pode ser ajustado ao berimbau africano, instrumento musical que, no Brasil, acabou fortemente associado ao jogo da capoeira. Cada vez menos, mestres de capoeira e pesquisadores tendem a divergir quanto a esses aspectos. Da mesma forma que está surgindo um consenso sobre a utilização do nome “capoeira” para rotular o ensino e a prática do jogo com acompanhamento musical (cantoria e ritmo: berimbau, pandeiro, caxixi, recoreco, agogô, atabaque), e a utilização do nome “capoeiragem” para a prática da capoeira como uma espécie de briga abrasileirada de rua, em desuso, na qual, no máximo, batiam-se palmas e cantavam-se versos curtos (samba duro, pernada carioca etc.).
El Juego "Sisemba"- Islas Célebes - Its formal name is SISEMBA but it is occasionally called SEMBA. Fonte: http://www.ethnographiques.org/2008/IMG/pdf/arKoubi.pdf por Javier Rubiera para Sala de Prensa Internacional
54 CARNEIRO, Edison. FOLGUEDOS TRADICIONAIS. 2 ed. Rio de Janeiro: FUNARTE; 1982., 1982 (p. 109), nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/18/2009 55 LACÉ LOPES, André. Capoeiragem. In DACOSTA, Lamartine (ORG.). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 10.2-10.4, disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf
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1820-BAHÍA-Jogo da Capoeira semejante al Moringue malgache, 1834-RUGENDAS -dibuja la Capoeira ó Moringue ?, 1940-ANTROPÓLOGO Herskovits Compara la Capoeira con Moringue disponível em http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/08/1733-carolina-del-sur-boxeador-y.html
Já em Portugal encontrou-se o chamado fado batido, que surgiu no início do século XIX como dança de umbigadas semelhante ao lundu. Popularizou-se primeiro no Rio de Janeiro e depois na Bahia. Na década de 1830, já existiam em Lisboa inúmeras casas de fado, onde moravam as fadistas, jovens que cantavam, tocavam e "batiam" o fado num ambiente de bordel. Por volta de 1840, o canto ganhou especial importância, o que parece haver coincidido com a substituição da viola pelo violão56. José Ramos Tinhorão (2001), no capítulo "Os negros na origem do fadocanção em Lisboa" revela ter havido rodas de fado que funcionavam como as rodas de pernada dos crioulos do Brasil: era o chamado ‘fado batido’, clara referência à antiga umbigada africana e em que um dançarino ‘batia’ (aplicada a pernada) e o outro ‘aparava’ (procurava neutralizar o golpe para não cair).57
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http://www.casadobacalhaupb.com.br/v2/fado.php, referencia de Javier Rubiera para Sala de Pesquisa Internacional FICA 57 TINHORÃO, José Ramos. HISTÓRIA SOCIAL DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA. Rio de Janeiro: Editpora 34, 2001, disponiverl em http://books.google.es/books?id=8qbjll0LmbwC&printsec=frontcover&source=gbs_v2_summary_r&c ad=0#v=onepage&q=&f=false
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1810-RIO -danzas de africanos españoles y portugueses, capangas disponível em http://www.cchla.ufpb.br/pergaminho/1907_capitulos_-_capistrano.pdf
Não conseguimos localizar até agora documentação referente à presença antiga da capoeira no Maranhão e sua relação com o tambor de crioula, tema que atualmente tem despertado grande interesse.58
Indícios de Capoeiragem59 no Maranhão Garcia de Abranches em “O Censor”, edição de 24 de janeiro de 1825, comenta o posicionamento político do Marquês governante – Lord Cockrane – e compara alguns portugueses com os desocupados do Rocio – em sua maioria caixeiros – que “pela sua péssima educação, muitos brancos da Europa são tão vis, e tão baixos, como esses mulatos que andam a espancar, a roubar e a matar, pelas ruas da Cidade…”. Estaria o Censor referindo-se aos capoeiras? 58
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio.Punga dos Homens e Capoeira do Maranhão. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf HEICKEL, Marco Aurélio. Tambor de Crioulo. In DACOSTA, Lamartine Pereira da (editor). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Disponível em http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/192.pdf 59 Venho me utilizando do termo “capoeiragem” para a prática da capoeira como uma espécie de briga abrasileirada de rua, conforme definição de André Lacé Lopes, no Atlas do esporte no Brasil. In http://www.atlasesportebrasil.org.br/textos/69.pdf
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Em 1829, registram-se certas atividades lúdicas dos negros, publicada no jornal “A Estrela do Norte” a seguinte reclamação de um morador da cidade: “Há muito tempo a esta parte tenho notado um novo costume no Maranhão; propriamente novo não é, porém em alguma coisa disso; é um certo Batuque que, nas tardes de Domingo, há ali pelas ruas, e é infalível no largo da Sé, defronte do palácio do Sr. Presidente; estes batuques não são novos porque os havia, há muito, nas fábricas de arroz, roça, etc.; porém é novo o uso d’elles no centro da cidade; indaguem isto: um batuque de oitenta a cem pretos, encaxaçados, póde recrear alguém ? um batuque de danças deshonestas pode ser útil a alguém?” 60
Fregolão (2008) 61 informa que na página 61 dos Códigos de Posturas da Câmara Municipal da cidade de Desterro [Florianópolis], de 10 de maio de 1845 no artigo 38 há a proibição dos ajuntamentos de escravos ou libertos para formarem batuques, sob pena de castigos conforme a lei para os cativos e para os libertos multa ou cadeia. O código de posturas da cidade de Salvador proibia "os batuques, danças e ajuntamentos em qualquer hora e lugar sob pena de prisão". A expressão "batuque", repleta de significados, podia representar diversas expressões culturais. Câmara Cascudo registra por "Batuque" a dança com sapateados e palmas, ao som de cantigas acompanhadas só de tambor quando é de negros ou também de viola e pandeiro "quando entra gente mais asseada". Batuque é denominação genérica de toda dança de negros na África. Batuque é o baile. De uma descrição de um naturalista alemão, em visita às Gerais, em 1814/15, ao descrever a dança, fala da umbigada [punga]. Edison Carneiro62 ao fazer uma espécie de etimologia do batuque, cita que Macedo Soares considerava a palavra produto do verbo bater, mas cita também “Esta palavra, na sua acepção mais lata no Brasil, aplica-se ao conjunto de sons produzidos por instrumentos de percussão, em especial se considerados desarmônicos ou ensurdecedores. Também em sentido lato, a toda e qualquer dança ao som de atabaques dá-se, depreciativamente, o nome de batuque. Especificamente, batuque designa um jogo de destreza da Bahia, uma dança de umbigada de São Paulo – que se filia ao batuque africano – e dois tipos de cultos de origem africana correntes na região amazônica e do Rio Grande do Sul.” 60
ESTRELLA DO NORTE DO BRASIL, n. 6, 08 de agosto de 1829, p. 46, Coleção de Obras Raras, Biblioteca Pública Benedito Leite. 61 FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008. Nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa Internacional FICA el 8/18/2009 disponível em http://www.capoeiraunb.com/textos/FREGOLAO,%20MS%20%20A%20capoeira%20na%20historia%20local.pdf 62 CARNEIRO, Edison, DINÂMICA DO FOLCLORE, Rio de Janeiro:O Autor, 1950.Citado por FREGOLÃO, Mário Sérgio. A CAPOEIRA NA HISTÓRIA LOCAL: DA VELHA DESTERRO À FLORIANÓPOLIS DE NOSSOS DIAS. Florianópolis, julho 2008.
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José Ramos Tinhorão (1988)63 aponta para o problema do uso genérico do termo batuque: Na verdade, tal como o exame mais atento das raras informações sobre essas ruidosas reuniões de africanos e seus descendentes crioulos deixa antever, o que os portugueses chamaram sempre genericamente de batuques não configurava um baile ou um folguedo, em si, mas uma diversidade de práticas religiosas, danças rituais e formas de lazer.
BATUQUE - Johann Moritz Rugendas (Augsburg, 29 de março de 1808 — Weilheim, 29 de maio de 1858) foi um pintor alemão que viajou por todo Brasil durante 1822-1825 e pintou povos e costumes. Date 1822-1825. Fonte: Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA
Com o nome de "batuque" ou "batuque-boi" há uma luta popular, de origem africana, muita praticada nos municípios de Cachoeira e Santo Amaro e capital da Bahia, uma modalidade de capoeira. A tradição indica o batuque-boi como de procedência banto, tal e qual a capoeira, cujo nome tupi batiza o jogo atlético de Angola. É descrita por Edson Carneiro (Negros Bantos): a luta mobilizava um par de jogadores, de cada vez; dado o sinal, uniam as pernas firmemente, tendo o cuidado de resguardar o membro viril e os testículos. Dos golpes, cita o encruzilhada, em que o lutador golpeava coxa contra coxa, seguindo o golpe com uma raspa, e ainda o baú, quando as duas coxas do atacante devam um forte solavanco nas do adversário, bem de frente. Todo o esforço dos lutadores 63 TINHORÃO, José Ramos. OS SONS DOS NEGROS NO BRASIL: CANTOS, DANÇAS, FOLGUEDOS: ORIGENS. São Paulo: Art Editora, 1988.
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era concentrado em ficar de pé, sem cair. Se, perdendo o equilíbrio, o lutador tombasse, teria perdido a luta. Por isso mesmo, era comum ficarem os batuqueiros em banda solta, equilibrando-se em uma única perna, e outra no ar, tentando voltar à posição primitiva.
Augustus Earle “Negroes fighting. Brazils” (Nègres combattant. Brésils) aquarelle sur papier, 16.5x25.1 cm, date approximative 1821...1823
Catunda (1952)64 ressalta que na capoeira baiana [...] Não é como a capoeira carioca, na qual um dos comparsas se mantém imóvel, em atitude de defesa, enquanto só o outro ataca, dançando em volta do inimigo, assestandolhe golpe sobre golpe. Em comentário de pé-de-página consta o seguinte: “A descrição da capoeira do Rio relembra a do batuque ou da pernada carioca por Edison Carneiro 1950 65, [...] Edison Carneiro descreveu a capoeira bahiana em Negros Bantus em 1938”.
Câmara Cascudo66 informa que assistiu a uma pernada executada por marinheiros mercantes, no ano de 1954, em Copacabana, Rio de Janeiro. Diziam os marinheiros, que era carioca ou baiana. É uma simplificação da capoeira. Zé da Ilha seria o "rei da pernada carioca"; é o bate-coxa das Alagoas.
64 CATUNDA, Eunice, Capoeira no Terreiro de Mestre Waldemar, Fundamentos—Revista de Cultura Moderna, nº30, São Paulo, 1952, pp. 16–18. 65 CARNEIRO, Edison, DINÂMICA DO FOLCLORE, Rio de Janeiro: O Autor, 1950 66 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972
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Em “Dinâmica do Folklore” (1950) Edson Carneiro67 afirma que o batuque ou pernada, bem conhecido na Bahia e Rio de Janeiro, não passa de uma forma complementar da capoeira. Informa, ainda, que na Bahia, somente em arraiais do Recôncavo se batuca, embora o bom capoeira também saiba largar a perna. No Rio de Janeiro já se dá o contrário - a preferência é pela pernada, que na verdade passou a ser o meio de defesa e ataque da gente do povo. O batuque na Bahia se chama batuque, batuque-boi, banda, e raramente pernada - nome que assumiu no Rio de Janeiro... Ficaram famosos como mestres na arte do batuque, Angolinha, Fulo, Labatut, Bexiga Braba, Marcelino Moura... No verbete "punga", Câmara Cascudo68 se refere a dança popular no Maranhão, capital e interior; que é a mesma "dança do tambor". A punga é também chamada "tambor de crioula". Há também referencia a grafia "ponga", que como se sabe é um jogo. Crê que punga é um termo em uso apenas no Maranhão e significa, na dança em questão, a umbigada, a punga. A punga seria uma dança cantada, mas sem versos próprios, típicos. Geralmente são improvisados na hora, quando as libações esquentam a cabeça e despertam a "memória" do "tiradô" de versos. Após descrever o que seria a dança do tambor-de-crioula, informa que pong provirá do tupi “soar, bater, ou antes, soar por percussão. "O que fervia era o lundum, e estalavam as umbigadas com o nome de "pungas"" (p. 742-743). Remete a Tambor: "... mas a autonomia dos tambores indígenas e sua existência pré-cabralina parecem-me indiscutíveis no Brasil. Dança do Tambor, Tambor-de-Mina, Tambor-de-Crioulo. As danças denominadas "do Tambor" espalham-se pela Ibero-América. No Brasil, agrupam-se e são mantidas pelos negros e descendentes de escravos africanos, mestiços e crioulos, especialmente no Maranhão. [grifos meus]. Conhece-se uma Dança do Tambor , também denominada Ponga ou Punga que é uma espécie de samba, de roda, com solo coreográfico, e os Tambor-de-Mina e Tambor-de-Crioulo, [chamo atenção novamente para a grafia, em masculino], série de cantos ao som de um ferrinho (triangulo), uma cabaça e três tambores, com danças cujo desempenho ignoro." (p. 850-851).
O lundu ou lundum69 é um gênero musical contemporâneo e uma dança brasileira de natureza híbrida, criada a partir dos batuques dos escravos bantos trazidos ao Brasil de Angola e de ritmos portugueses. Da África, o lundu herdou a base rítmica, uma certa malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado pela umbigada, os rebolados e outros gestos que imitam o ato sexual. Da Europa, o lundu, que é considerado por muitos o primeiro ritmo afro-brasileiro, aproveitou características de danças ibéricas, como o estalar dos dedos, e a melodia e a harmonia, além do acompanhamento instrumental do bandolim. O 67
http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=629 CAMARA CASCUDO, Luis da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1972 69 http://pt.wikipedia.org/wiki/Lundu 68
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lundu veio para o Brasil com os negros de Angola, por duas vias, passando por Portugal, ou diretamente da Angola para o Brasil. Informa o ilustre pesquisador, ainda, que uma missão cultural colheu exemplos das músicas utilizadas tanto no Tambor-de-Mina quanto no de Crioulo, em 1938. Estão ligados esses tambores-de-mina-e-de-crioulo às manifestações religiosas dos "terreiros", ao passo que: "... a punga (dança e batida) parecem alheias ao sincretismo afro-brasileiro na espécie... o Tambor-de-Crioula é o Bambelô do Maranhão, mas com a circunstância de que só dançam as mulheres. Passa-se a vez de dançar com a punga, que é um leve bater de perna contra perna. Punga é também espécie de pernada do Maranhão: batida de perna contra perna para fazer o parceiro cair.. às vezes o Tambor-de-Crioula termina com a punga dos homens.". (p. 851).
Por "Punga", registra: jogo ginástico, brincadeira de agilidade, entre valentões, malandros e capadócios. É uma simplificação da capoeira... Sua descrição, assemelha-se à da "punga dos homens", do Tambor-de-Crioulo(a) (p. 709). Já "bambelô" é descrito como samba, côco de roda, danças em círculo, cantada e acompanhada a instrumentos de percussão (batuque), fazendo figuras no centro da roda um ou dois dançarinos, no máximo. O ético é o vocábulo quimbundo mbamba, jogo, divertimento em círculo (p. 113). Na Rua dos Apicuns, local freqüentado por “bandos de escravos em algazarra infernal que perturbava o sossego público”, os quais, ao abrigo dos arvoredos, reproduziam certos folguedos típicos de sua terra natural: “A esse respeito em 1855 (sic) um morador das imediações do Apicum da Quinta reclamava pelas colunas do ‘Eco do Norte” 70 contra a folgança dos negros que, dizia, ‘ali fazem certas brincadeiras ao costume de suas nações, concorrendo igualmente para semelhante fim todos pretos que podem escapar ao serviço doméstico de seus senhores, de maneira tal que com este entretenimento faltam ao seu dever… ’ (ed. de 6 de junho de 1835, S. Luís).”
No ano de 1843, o Diretor da Casa dos Educandos Artífices do Maranhão em relato ao Presidente da Província informava que havia “outro problema”: a segurança dos alunos e do patrimônio da casa, em razão da existência de vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados, o que resultava em atos de violência cotidianos, pela falta de intervenção policial no local. Sobre os Capoeiras reclamava esse Diretor:
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ECCHO DO NORTE – jornal fundado em 02 de julho de 1834, e dirigido por João Francisco Lisboa, um dos líderes do Partido Liberal. Impresso na Typographia de Abranches & Lisboa, em oitavo, forma de livro, com 12 páginas cada número. Sobreviveu até 1836 in VIEIRA FILHO, 1971, p. 36.
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“Capoeiras que nem os donos das tavernas derrubam, nem a Câmara Municipal os constrange a derrubar71, apesar das proximidades em que estão a respeito da Cidade cometessem por aqui crimes de toda a qualidade que por ignorados ficam impunes, tendo já sido espancado gravemente um quitandeiro, e já são muitas as noites em que daqui ouço pedir socorro, sendo uma destas a passada, na qual, às nove horas e quinze minutos, estando todos aqui já em repouso, ouvi uma voz que parecia de mulher ou pessoas moças, bradar que lhe acudissem que a matavam, e isto por vezes, indo aos gritos progressivamente a denotarem que o conflito se alongava pelo que pareceu que a pessoa acometida era levada de rojo por outra de maiores forças, o que apesar da insuficiência dos educandos para me ajudarem, atendendo as suas idades e robustez, e não tendo mais quem me coadjuvasse, não podendo resistir à vontade de socorro a humanidade aflita e não tendo ainda perdido o hábito adquirido na profissão que sigo, chamei dois educandos dos maiores e com eles mal armados, sai a percorrer as mediações desta casa, sem que me fosse possível descobrir coisa alguma, por que antes que pudesse conseguir por os ditos educandos em estado de me acompanharem, passou-se algum tempo e durante ele julgo que a vítima foi levada pelo seu perseguidor para longe daqui. Estes atentados são praticados pelos negros dos sítios que há na estrada que em conseqüência da má administração em que os tem, andam toda a noite pela mesma estrada, praticando tudo quanto a sua natural brutalidade lhe faz lembrar, e se V. Exa. se não dignar de tomar alguma providência a este respeito parece-me que não só a estrada se tornará intransitável de noite, como até pelo estado em que existem só os negros dos sítios e os vindos da Cidade se reúnem, entregues à sua descrição, podem trazer conseqüências mais desagradáveis […] o que falo é para prevenir que este estabelecimento venha a ser insultado como me parecesse muito provável em as cousas como se acham.
(FALCÃO, 1843). (citado por CASTRO, 2007, p. 191-192)72.
A Casa dos Educandos Artífices estava alojada em um edifício construído ainda no Século XVIII, situado num ambiente de “ares agradáveis, liberdade própria do campo, vista aprazível e fora do reboliço da cidade”, entre o Campo do Ourique e o Alto da Carneira – hoje, Bairro do Diamante, ocupado pelo Ministério da Agricultura. O Autor do relatório, José Antônio Falcão, era tenente-coronel reformado do Exército, havia assentado praça em São Luís, juntamente com seu irmão Feliciano Antônio Falcão, em 1831, como cadete no Regimento de Linha. Antônio Falcão foi o organizador da Casa dos Educandos Artífices, e seu diretor no período de 1841 a 1853. Já Feliciano Antônio Falcão, seu irmão, comandou a força expedicionária para combater os Balaios em Icatu e comandou a terceira tropa por ordem de Luis Alves de Lima e Silva, depois Duque de Caxias, entre as localidades de Icatu e Miritiba (hoje, Humberto de Campos), até o fim da Balaiada. (CASTRO, 2007, p. 184). Cumpre lembrar que estes alertas foram feitos no ano de 1843, apenas um ano após o término da Balaiada – iniciada em 1838, originada com as lutas
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Mathias Assunção acredita que se estava referindo a capoeira ‘mato, ‘[...] que não consegue derrubar[...]’. Mas ‘mato’ agride, rouba, mata? 72 CASTRO, César Augusto. INFÂNCIA E TRABALHO NO MARANHÃO PROVINCIAL - uma história da casa dos Educandos Artífices (1841-1889). São Luís: EdFUNC, 2007.
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dos quilombolas na área de Codó (Distrito do Urubu) como antecedentes à eclosão da Revolta, até a condenação do Negro Cosme, em 184273, estando envolvidos vários capoeiras, entre eles negros escravos, alguns fugitivos do interior da província e outros alforriados. Seriam esses Capoeiras remanescentes da Balaiada? Dunshee de Abranches em "O Captiveiro"74, de 1941, livro de memórias escrito em 1938 para comemorar o cinqüentenário da abolição da escravatura e o centenário da Balaiada, trata de registros de acontecimentos políticos e sociais do Maranhão (GASPAR, 1993)75. Numa de suas passagens, descreve as lutas entre brasileiros (cabras) e portugueses (puças), republicanos e monarquistas, abolicionistas e negreiros, que para defenderem seus ideais, passam a criar periódicos e grêmios recreativos de múltiplas denominações para defesa de seus ideais. Dessa mania surge a "Arcadia Maranhense", e de uma sua dissidência, a "Aurora Litteraria". Para ridicularizar os membros desta última, aparece um jornaleco denominado "Aurora Boreal": "... só faltava fundar-se o Club dos Mortos. E justificou [Raymundo Frazão Cantanhede] tão original proposta dizendo que, se tal fizesse, iríamos além dos positivistas: ficaríamos mortos-vivos e assim seríamos governados por nós mesmos". (ABRANCHES, 1941:174). O Clube dos Mortos reunia-se no porão da casa dos Abranches, no início da Rua dos Remédios, conforme relata Dunshee de Abranches (1941) em suas memórias: "E como não era assoalhado nem revestido de ladrilhos, os meus paes alli instalaram apparelhos de gymnastica e de força para exercícios physicos (...) E, não raras noites, esse grupo juvenil de improvisdos athletas e plumitivos patriotas acabava esquecendo os seus planos de conjuração e ia dansar na casa do Commandante Travassos..." (p. 187-188).
O "Club dos Mortos" envolveu-se, ainda, nas disputas entre caixeiros e estudantes por causa de duas artistas de um circo, instalado no Tívoli. Para enfrentar os empregados do comércio, na sua maioria homens feitos, os preparatorianos (estudantes do Liceo) reuniram-se no pátio do colégio para selecionar os melhores atletas para a defesa. Fundaram, assim, o Club Roncador, que guardavam suas armas na casa dos Abranches: ”... veio dahi uma grande amizade dos campeões dos murros e dos cambitos (synonimo de rasteira naquella época) pelo Club dos Mortos". (p. 190-191). (grifos meus).
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ARAÚJO, Maria Raimunda (org.). Documentos para a história da Balaiada. São Luís: FUNCMA, 2001 DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA, João. O CAPTIVEIRO (memórias). Rio de Janeiro: (s.e.), 1941. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DUNSHEE DE ABRANCHES. Discurso de posse no Instituto Histórico e geográfico do Maranhão, em 03 de setembro de 2008. 75 GASPAR, Carlos. DUNSHEE DE ABRANCHES. São Luís : (s.e.), 1993. (Discurso de posse no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a 28.jul.92). 74
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MARTINS (1989) 76, aceita a capoeira como o primeiro “esporte” praticado em Maranhão tendo encontrado referência à sua prática com cunho competitivo por volta de 1877: “JOGO DA CAPOEIRA “Tem sido visto, por noites sucessivas, um grupo que, no canto escuro da Rua das Hortas sair para o largo da cadeia, se entretém em experiências de força, quem melhor dá cabeçada, e de mais fortes músculos, acompanhando sua inocente brincadeira de vozarios e bonitos nomes que o tornam recomendável à ação dos encarregados do cumprimento da disposição legal, que proíbe o incômodo dos moradores e transeuntes”. ( p. 179)
E A “CARIOCA”? Soares (2005)77, em “Capoeira no Pará: resistência escrava e cultura popular, 1849-1890”, ao referir-se a acontecimentos na Corte, compara-o à situações vividas em Belém, no ano de 1849. Refere-se, mais adiante, a recente trabalho de Vicente Salles (A defesa pessoal do negro: a capoeira no Pará, 1994)78 que revela a antiguidade da capoeira paraense, seu enraizamento, sua proximidade com a capoeira praticada no Rio de Janeiro e Bahia, e sua peculiaridade regional. Soares (2005)79, se referindo a acontecidos nos anos de 1890, discorre: “Sintomático também em Belém, muito precocemente, também fosse palco da Carioca, como nos mostra ofício […] descreve uma patrulha na região de Ver-O-Peso: ‘estive em patrulha […] quando vimos alguns individuos pulando jogando carioca.” 80
Para Albuquerque81, o êxito da economia paraense atraiu para a região amazônica, entre 1890 e 1910, trabalhadores nordestinos e imigrantes europeus, principalmente portugueses. A interação entre esses trabalhadores levou à incorporação pela capoeira paraense de armas próprias às lutas portuguesas, assim como golpes e hábitos dos capoeiristas baianos, cearenses e pernambucanos. No Rio de Janeiro, essa convivência entre negros, 76
MARTINS, Dejard. ESPORTES: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís: (s.n.), SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160. 78 SALLES, Vicente. A DEFESA PESSOAL DO NEGRO: A CAPOEIRA NO PARÁ. Micro-edição do autor, 1964, citado por SOARES, 2005, op. Cit. 79 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160. 80 (AE. Secretaria de Segurança Pública. Autos-Crimes, 22/09/1892). 81 ALBUQUERQUE, Wlamyra Ribeiro de. UMA HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL, nota enviada por Javier Rubiera para Sala de Pesquisa - Internacional FICA el 8/19/2009, disponível em http://www.ceao.ufba.br/livrosevideos/pdf/uma%20historia%20do%20negro%20no%20brasil_cap09.p df 77
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imigrantes pobres e migrantes de diversas regiões do país nas ocupações braçais, principalmente na estiva, ampliou, ainda mais, os tipos sociais que praticavam capoeira. Entre os praticantes estavam portugueses, espanhóis e italianos que trabalhavam no porto, operários nordestinos, soldados, brasileiros brancos e pobres. Não eram apenas os negros que podiam ser facilmente identificados como capoeiras pelo andar gingado, as calças de boca larga e a argolinha de ouro na orelha, sinais de valentia. Soares (2005) considera que a repressão desencadeada em 1890, a criminalização no novo código penal da República, teria obrigando os praticantes a encontrar novas formas de dissimulação, para ocultar-se da atenção das autoridades. Nos últimos anos do século XIX, no Rio de Janeiro teria aparecido a chamada Pernada Carioca, que consistia de golpes da capoeira tradicional, como a rasteira, camuflados em nova roupagem. Miltinho Astronauta, ao referir-se à Pernada de Sorocaba82, na Capital Paulista, e à outra "espécie de capoeira", a Tiririca, comenta que, aparentemente, com a repressão de algumas manifestações (ai inclui-se a Capoeira, o Batuque e até mesmo a Religião Candomblé), o povo era obrigado a mascarar suas práticas, mudando formas de execução e nome de tais práticas. Refere-se ainda ao Folclorista Alceu Maynard Araújo (1967) que relata que foi encontrada capoeira no interior paulista entre o final do século XIX e início do século XX. Trata-se de levas de capoeiras soltas nas pontas dos trilhos da Sorocabana, que tinha como destino final a cidade de Botucatu. Na verdade eram capoeiras desterrados do Rio em consequência do Código Penal de 1890 83. Na Bahia, era o batuque o escalão inicial para a capoeira; no Rio de Janeiro, era e é a pernada, banda ou batuque a forma de ataque e defesa preferida pelo carioca; no Maranhão, a punga, associada ao tambor-de-crioula, parece preencher a mesma função. Já no Recife, a capoeira, desaparecida em conseqüência de vigorosa reação policial, se transfigurou no passo.84 Soares (2005)85 considera que a identificação da ‘capoeira’ como ‘carioca’, simplificação de ‘pernada carioca’ acontece pela dissimulação dos praticantes para fugir aos rigores da repressão do chefe de polícia Sampaio Ferraz, quando da criminalização da prática da capoeira, pelo Código de 1890. Gil Velho coloca que a capoeira do século XIX morre com o advento da República. Inimiga da capoeira, ela chega com uma proposta de reformas 82
CAVALHEIRO, Carlos Carvalho. Pernada de Sorocaba. In JORNAL DO CAPOEIRA, 29 de outubro de 2004, disponível em http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=3 83 MILTINHO ASTRONAUTA, CAPOEIREIRO Capoeira, Pernada & Tiririca na Terra da Garoa in http://www.jornalexpress.com.br/noticias/detalhes.php?id_jornal=13170&id_noticia=713 84 CARNEIRO, Edison in Folguedos Tradicionais disponível em http://www.capoeirainfos.org/ressources/textes/t_carneiro_capoeira.html 85 SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Capeira no Pará: Resistência escrava e cultura popular (1849-1890). In COELHO, Mauro Cezar; GOMES, Flávio dos Santos; QUEIROZ, Jonas Marçal; MARIN, Rosa E. Acevedo; PRADO, Geraldo (Org). MEANDROS DA HISTÓRIA: trabalho e poder no Pará e Maranhão, séculos XVIII e XIX. Belém: UNAMAZ, 2005, p. 144-160.
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sociais e urbanas, criticando a organização e a expressão popular da sociedade brasileira, principalmente no que diz respeito à mestiçagem étnica e cultural. Sua proposta alternativa seria baseada no modelo cultural europeu republicano – e positivista - e qualquer coisa que estivesse fora desses princípios era desconsiderada: Essas mudanças alteraram os nichos e a geografia culturais da cidade. Espaços de expressões culturais foram perdidos, desarticulando a forma de organização urbana e quebrando a dinâmica interativa das comunidades que a compunham. Assim, com a alteração de elementos essenciais do contexto social da capoeira, o processo que a personalizava se alterou. Desaparecidas, as maltas são substituídas pela solitária figura do malandro. Malandro é um indivíduo e a malta, um grupo social. [...] “(CAVALCANTI, 2008) 86
Negros que vão levar açoutes Briggs del. Litho. R.B. Rua do Ouvidor nº 118. Source: Biblioteca Nacional, acervo de gravuras sobre escravatura 86
CAVALCANTI, Gil. Do lenço de seda à calça de ginástica. Ter, 17 de Junho de 2008 16:44 Gil Cavalcanti (Mestre Gil Velho), disponível em http://portalcapoeira.com/Publicacoes-e-Artigos/dolenco-de-seda-a-calca-de-ginastica
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Mas seis anos antes (1884) aparece sua proibição no Código de Posturas de Turiaçú - Lei 1342, de 17 de maio de 1884 -, e já identificada como “o brinquedo denominado Jogo Capoeira ou Carioca”...
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HISTÓRIA E MEMÓRIA DE BACABAL: do Século XIX ao Século XX TELMA BONIFACIO DOS SANTOS REINALDO
INTRODUÇÃO Para se conhecer uma região é necessário fazer uma radiografia do funcionamento de seu sistema de produção, das relações de produção existentes, dos conflitos entre os diferentes ramos da produção e no interior de cada um deles. Para fazer uma radiografia da região é necessário conhecer um pouco da História da região, da memória do seu povo, no sentido de identificar suas tendências de desenvolvimento, por exemplo, como surgiu o povoamento, motivado por quais interesses se reuniram as pessoas para conviverem e estabelecerem um conjunto de relações sociais em determinada região. Essa análise histórica é, na maioria das vezes, indispensável para o entendimento do presente, não bastando a mera manipulação de dados estatísticos ou o acúmulo de informações e dados colhidos empiricamente no presente, pois os mesmos, isoladamente podem obscurecer as tendências de desenvolvimento, chave para a compreensão dos fenômenos sociais. Após este esforço de compreensão histórica, podemos analisar o presente para saber, primeiro do que se ocupa a população da região, quais as atividades que ali se desenvolvem e como se distribui a força de trabalho. Pra isso é preciso observar a estrutura ocupacional e o valor da produção de cada setor, o que nos dará um quadro inicial das hierarquias existentes entre os diferentes ramos da produção, como eles se interrelacionam e como se realiza o fluxo da produção e comercialização dos seus produtos. Somente a partir daí podemos estudar a estrutura da propriedade ou seja as relações de produção dentro de cada setor produtivo, comparadas com análises das hierarquias estabelecidas entre os diferentes setores da produção que a luz das análises históricas previamente feitas, certamente nos fornecerá elementos para a compreensão das relações de poder existentes, das ideologias e dos conflitos ali estabelecidos. As dificuldades atuais para desenvolver trabalhos de cunho regional são inúmeras, na medida em que quase toda a produção historiográfica atual contempla de forma um tanto quanto generalizada as questões nacionais e não o regional com suas diversidades.
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A partir da década de 1970 tem crescido o numero de pesquisas e estudos regionais, tal fato se explica pela atenção que recentemente os geógrafos vêm dando ao conceito de região, a partir da chamada Geografia Critica, capaz de compreender as diferenças e as contradições geradas pela ação o homem ao longo da História, em determinado espaço. Pra essa corrente de pensadores a organização do espaço se constitui em uma categoria espacial, fruto do trabalho humano e da forma como os homens se relacionam entre si e com a natureza, provando que o termo “região” como categoria espacial expressa uma especificidade, uma singularidade, dentro de uma totalidade (Wilson Cano, 1970:55). Assim a região se configura como um espaço particular dentro de uma organização social mais ampla com quem se articula. A história do Maranhão apesar das significativas contribuições trazidas pelos trabalhos clássicos de João Francisco Lisboa, Jerônimo de Viveiros, Mario Meireles e das pesquisas acadêmicas de cunho interpretativo ou narrativo que ultimamente vem surgindo, ainda aguarda um esforço de síntese, sobretudo no que tange a apreensão de aspectos relevantes como o que se refere ao movimento povoador que marcou profundamente a sociedade colonial brasileira e maranhense. Francisco de Oliveira diz que para justificar a tendência homogeneizadora típica dos historiadores, de igualar os espaços historicamente constituídos, a partir da referencia do capital monopolista, acabam subordinando todas as formas de produção ao capital agrário ou mercantil. (1978). Entretanto a historiografia maranhense tem privilegiado apenas o estudo das regiões de ocupação mais antiga e os temas desenvolvidos sobre o período colonial como invasão francesa e holandesa, fortificações, conflitos entre colonos e missionários, trabalhos das Companhias de Comercio, revolta de Bequimão, reformas pombalina entre outros, quase nada esclarecendo sobre a região do Médio Mearim, cuja colonização apresenta alguns aspectos “sui-generis” em relação às demais regiões maranhenses. Desse modo podemos afirmar que a identidade histórica maranhense foi construída a partir de um referencial que contempla apenas as áreas com origem no litoral, constituindo-se numa visão homogeneizadora da história do Maranhão. O discurso historiográfico, ao generalizar apenas determinadas regiões, tendeu a uniformizar os diferentes espaços historicamente construídos no Maranhão. Nosso objetivo é justamente questionar essa visão, quando pretendemos investigar sobre um Maranhão que não é precisamente das fortificações, invasões, açúcar, algodão, mas que se identifica particularmente com as diferentes formas de povoamento vinculada a grande produção mercantil agroexportadora, a formação do pequeno campesinato e ao desenvolvimento a pecuária. Queremos indagar sobre essas correntes povoadoras que
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contribuíram para a construção do rico patrimônio cultural que fez de São Luis do Maranhão a “Atenas Maranhense”. A região do Médio Mearim apresentou em sua evolução histórica aspectos bastante peculiares, sua ocupação processou-se tardiamente se comparada com as demais regiões maranhenses, pois foi somente a partir dos meados do século XVIII que ali chegaram os primeiros povoadores, disputando com tribos indígenas terras para se estabelecerem. A ocupação foi motivada pela expansão da economia algodoeira, que dependendo do gado como alimento básico da população livre e escrava e também como transporte, estimulou a multiplicação de currais e a sua interiorização. A história de Bacabal começa no final do século XIX, quando o Coronel Lourenço Silva se estabeleceu na região do Médio Mearim, para desenvolver atividades agrícolas com a utilização da mão de obra escravizada indígena e negra, substituindo mais tarde pelo desenvolvimento da criação de gado. Desmembrado dos municípios de São Luis Gonzaga (Ipixuna) e Pedreiras, Bacabal alcançou a categoria de vila em 1920, tornando-se cidade em 1938. Ocupa uma área de 1.609 km quadrados distanciando-se de São Luis 263 km, tendo como municípios limítrofes Coroatá, Lago da Pedra, Lago do Junco, Lago Verde, Olho D’água das Cunhas e Vitorino Freire. Os primeiros povoadores dessa região foram os nordestinos provenientes do Estado do Ceará e Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte, proprietários de terras e escravos que migraram para essa região em busca de terras férteis e invernos regulares, pois por cá as extensões de terras eram abundantes, permitindo aos ex escravos também a posse de pequenas extensões de terras , pois com a abolição da escravatura, a situação de antigos proprietários de escravos e ex escravos eram muito semelhantes, assim a região do Médio Mearim tornou-se o paraíso da pequena e media propriedade. Na medida em que as secas nordestinas foram se apresentando de forma mais freqüente, as migrações para a região do Médio Mearim se aceleraram, através de grandes, médios e pequenos proprietários rurais que depositavam suas esperanças nas terras do Mearim. O processo de arregimentação da propriedade rural obedecia a Lei de Usucapião provocando a regularização da propriedade rural em bem pouco tempo (Lei de Terras de 1850). Pela Lei de Terras de 1850, “todos os proprietários que possuíssem mais de 20 anos na exploração da terra teriam títulos de propriedade concedidos pelas autoridades constituídas, sendo que os mais favorecidos eram os exproprietarios de escravos e os mais prejudicados eram os ex-escravos, pois embora moradores não fossem vistos como estabelecidos na terra, na medida em que foram incorporados na área como mercadorias para o trato da terra, trazidos pelos verdadeiros donos. Assim a mão de obra negra encontrou-se, a partir da Lei de Usucapião, em um processo permanente de expulsão de seus territórios e em Bacabal
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segundo relato de pessoas da região e conhecedoras da historia latifundiária do município, no momento da aplicação dessa lei a maioria da população negra foi expropriada, embora fossem habitantes primitivos da região e seus descendentes transformados em trabalhadores agrícolas, com difícil reconhecimento de proprietários de títulos de terras na região. Na medida em que as expropriações eram realizadas e a expulsão de grandes contingentes da população negra consolidada, estes procuraram se e agrupar em outras plagas, estabelecendo uma nova modalidade de organização social e econômicas mais distantes da região de Bacabal, dando origem a povoados quilombolas como os de Piratininga e Santo Antonio. Enquanto isso, a ocupação das terras se dava através do crescente processo de interiorização, desmatando as matas virgens que constituíam o cenário dessa região gradativamente queimadas e transformadas em plantações de arroz, feijão, milho e mandioca combinada com a criação de gado e pequenos animais. A combinação destas atividades garantia a subsistência do trabalhador rural que ali chegava tangido pela seca e falta de terras cultiváveis tanto em outras regiões do estado como de outros estados brasileiros, assim a partir do século XIX, após a Abolição da escravidão e a conseqüente Proclamação da Republica, os chamados “coronéis” que naquelas paragens se instalaram começaram a desfazer-se da grande propriedade formando pouco a pouco um pequeno campesinato e contribuindo para o estabelecimento de pequenos comércios na região. A integração da região do Médio Mearim a capital do estado foi um processo lento, marcado por tensões e só consolidado quando da abertura de estradas, ferrovias e serviços de radio difusão, telefone, telegrafo, televisão, entre outros meios de comunicação. Nas ultimas décadas do século XX a região do Médio Mearim passou por grandes alterações estruturais, visto que de uma região essencialmente agrícola de velhos costumes e tradições arraigadas foi consolidando novas formas de viver atreladas a novas relações sociais e econômicas desenvolvidas através da atividade assalariada e agricultura mecanizada. A política do governo federal particularmente a partir de Juscelino Kubitschek (1955-1960), de estimulo a construção de estradas, não só aumentou o contingente de imigrantes, como também facilitou a penetração do capital comercial que estimulava o lavrador a produzir uma quantidade de alimentos além da necessária para o consumo e sobrevivência da população. Este excedente produzido encontrava nas atividades do comerciante nas vias de comercialização e de escoamento para outros centros de consumo a transferência de um excedente cada vez maior para os centros consumidores do nordeste e do centro sul do país, embora tenham também sido responsáveis pelo abastecimento local e pela renda gerada pela execução dessas atividades.
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No entanto há uma lacuna na produção historiográfica maranhense que não contempla o município de Bacabal, o qual possuiu uma produção de excedentes comerciáveis bastante promissores e uma das alternativas desse trabalho seria a tentativa de superar este “silencio” existente, talvez pela escassez de fontes disponíveis e catalogadas que favorecessem a elaboração de uma boa produção nesse sentido. Na verdade a maior parte da documentação sobre o Maranhão colonial e imperial encontra-se nos diversos arquivos e centros de documentação em Portugal, notadamente no Arquivo Ultramarino, nos Arquivos da Biblioteca do Palácio da Ajuda, na Biblioteca Nacional de Lisboa e na Biblioteca Municipal de Évora, notadamente no Rio de Janeiro existe no Arquivo Nacional um acervo bastante substancial dos séculos XVIII e XIX, além de material arquivistico no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. No Maranhão as fontes estão dispersas nas arquidioceses das Igrejas da capital e dos municípios, no Arquivo Publico do Estado (APEM), material só recentemente catalogado e disponibilizado para consulta. São manuscritos, correspondências de época particulares e oficiais principalmente do período compreendido entre 1800 a 1889, com preciosas informações a respeito do devassamento do território maranhense, dos conflitos com os índios e da preocupação do estado com a expansão e povoamento da fronteira agrícola. A coleção de jornais de época (séculos XIX e XX), existente na Biblioteca Benedito Leite são outra fonte de consulta que poderá nos informar sobre o cenário político e econômico do Maranhão, além de recentes contribuições de trabalhos acadêmicos objetivando resgatar o passado de nosso estado, os relatos de cronistas e viajantes preocupados com a diversidade regional da nossa terra, além de teses e dissertações de mestrado e doutorado que trazem contribuições a esse passado glorioso, principalmente sobre o gerenciamento da grande lavoura de exportação que se desenvolveu no Maranhão, vale ressaltar o trabalho de Leonarda Mussumeci quando discute a relação do camponês com a terra e o processo de colonização espontânea das áreas devolutas e do movimento posterior de titulação e parcelamento jurídico das mesmas áreas, trabalho esse desenvolvido na década de 1980. Mais recentemente, temos o trabalho de Maria do Socorro Cabral resultante da tese de doutorado na USP, onde autora desenvolve a problemática da dupla colonização no sul do Maranhão, mais precisamente no sertão de Pastos Bons, para a autora a conquista e o povoamento dessa área apresentaram algumas peculiaridades quando comparadas com o processo colonizador que se desenvolveu em outras áreas maranhenses ocupadas a partir de correntes migratórias originadas no litoral. A Neide Esterci também desenvolveu pesquisa nessa área onde buscou verificar as estratégias postas em pratica pelo campesinato maranhense numa situação de expropriação, a partir da reconstrução histórica da ocupação e das transformações do regime de terras na área ocupada pelo município de Pedreiras (Ma), com o intuito de compreender a emergência do campesinato
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do século XIX e dos obstáculos que nas ultimas décadas do século posterior se opuseram a sua reprodução. Carvalho Lago, por sua vez, informa em sua obra Pedreiras: elementos para sua história, que as primeiras incursões a essa região devam ter sido impulsionadas com o objetivo de aldear índios e não a tomada de posse das terras existentes, além da apropriação do trabalho escravo desses nativos, na medida em que os mesmos foram escravizados antes da mão de obra negra africana, pratica que contribuiu para um vantajoso comercio animal e vegetal advindos do extrativismo feito pelos índios aldeados e escravizados. Segundo Raimundo José de Sousa Gaioso, senhor de lavouras no Maranhão no inicio do século XIX, aquelas áreas embora cobiçadas para o cultivo do arroz e algodão, produtos de revenda na Província do Maranhão, eram dificultadas pela resistência efetiva das populações indígenas, de acordo com esse autor “as matas virgens que faltavam à lavoura existiam em abundancia as margens do Rio Mearim”, embora os índios Canela e Timbiras dificultassem o estabelecimento agrícola. Somente com o envio de missionários católicos, tais como Frei Inácio Xavier em 1847, sob a proteção de poderosa armada é que foi vencida a resistência dos silvícolas e feita a ocupação desses territórios, conforme nos relata o Relatório de Província de 1853. Estas indicações seriam relativamente suficientes para demonstrar que as ocupações dessas áreas ocorreram com esfacelamento das tribos indígenas e a crescente ocupação por parte dos grandes proprietários que vão redistribuindo as referidas terras aos pequenos produtores, fato que mais tarde viria gerar o interesse de novos “bandeirantes” a região bem como o acirramento das lutas tanto com índios como com antigos senhores de escravos. Por todos estes fatos aqui contingenciados, vê-se que o século XVIII, XIX e inicio do século XX o controle das terras nativas, ditas devolutas vivenciaram uma situação conflituosa, impossível de ser barrada em virtude da escassez de terras em outras plagas tais como as margens do rio Itapecuru, já ocupadas e exploradas pela pequena e media propriedade. Este debate historiográfico foi iniciado nos idos de 1995, quando da necessidade de uma monografia de pós-graduação lato-sensu e hoje retornando a ele vejo-o ainda bastante recente na medida em que discutir a historia do Maranhão no que tange a expansão das fronteiras agrícolas e suas características ainda necessita de um esforço metodológico e acadêmico de grande valor para as novas gerações, assim estamos retornando a esse contexto regional do Médio Mearim para revisitá-lo na tentativa de contribuir para o conhecimento de peculiaridades, continuidades e descontinuidades desse processo histórico. Decidimos narrar em forma de capítulos a partir dessa introdução a saga da ocupação da região do Médio-Mearim, com a preocupação de descortinar a ocupação, o povoamento e desenvolvimento do município de Bacabal desde as
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suas origens na Colônia Leopoldina até os dias atuais, assim o capitulo seguinte será sobre a localização e importância dessa região no contexto histórico e geográfico maranhense.
REFERENCIAS ALMEIDA, Alfredo Wagner de. Ideologia da decadência: leitura antropológica a uma historia da agricultura do Maranhão. São Luis: IPES,1982. ANDRADE, Manuel Correa de. Ensaios sobre a realidade maranhense. São Luis: IPES, 1984. CABRAL, Maria do Socorro Coelho. O caminho do gado. São Luis: SIOGE, 1992. ESTERCI, Neide. A formação do campesinato no município de Pedreiras, Maranhão. Rio de Jneiro:Museu Nacional (Mimeo). GAIOSO, Raimundo José de Sousa. Compendio Histórico-Politico dos Princípios da lavoura do Maranhão. Rio de Janeiro: Editor Mundo Inteiro, 1970. MUSUMECI, Leonarda. Omito da terra liberta. São Paulo: Vértice, 1988. SOARES, Luis Alberto Soares. Campesinato, Ideologia e Política. São Paulo: Zahar Editores, 1981. WAGNER, Alfredo. Questões agrárias no Maranhão contemporâneo. Brasília: UNB, 1978.
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CONHECIMENTO TRADICIONAL E APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS ESTUARINOS NA BAIA DE SÃO MARCOS - MARANHÃO ______________________________________ RAIMUNDA NONATA FORTES CARVALHO-NETA Sócia efetiva do IHGM. Professora do Departamento de Química e Biologia da UEMA.87
RESUMO Os pescadores artesanais de regiões estuarinas apresentam uma compreensão própria do “modo de vida” dos peixes e de seu aparato biológico que se traduz frequentemente em conhecimento sobre o comportamento reprodutivo, migratório, de defesa, alimentar e demais relações ecológicas desses organismos aquáticos. Este trabalho tem por objetivo descrever a percepção ambiental das comunidades pesqueiras que exploram artesanalmente a Baía de São Marcos, especialmente na ilha dos Caranguejos (Maranhão). Com base nos depoimentos dos pescadores, obtidos mediante entrevista semiestruturada, organizaram-se as categorias de análise, visando a uma proposta de tipologia etnográfica que foi utilizada na análise dos depoimentos dos sujeitos da pesquisa. Resultados indicam a presença de 32 espécies de peixes pertencentes a 19 famílias e 26 gêneros, sendo as famílias Anablepidae (58,32%), Ariidae (18,61%) e Sciaenidae (5,89%) as mais importantes em número de indivíduos. Os dados das entrevistas mostraram que os pescadores atuam na ilha dos Caranguejos há mais de 10 anos e que utilizam o conhecimento tradicional para identificar os locais mais produtivos. As principais dificuldades relacionadas às suas atividades de pesca são: falta de água doce, concorrência, pragas, maresia e distância do centro consumidor. Os peixes alvo da atividade pesqueira são pertencentes, principalmente, às famílias Sciaenidae e Ariidae, os quais já mostram sensível sinal de decréscimo. Tal fato aponta para a necessidade da implementação de ações de Educação Ambiental nas comunidades pesqueiras, bem como o desenvolvimento de plano de manejo para essa área protegida legalmente em associação com o saber dos pescadores que apresentam senso de conservação ambiental atrelado à sustentabilidade de seu modo de vida.
Palavras-chave: ictiofauna, ilha dos Caranguejos, pesca artesanal, sustentabilidade
INTRODUÇÃO A etnociência é um campo do saber que procura consolidar o intercâmbio entre a ciência e as práticas tradicionais. Constitui-se, portanto, em uma forma específica de investigação qualitativa que baseia suas conclusões nas descrições da realidade cultural que lhe interessa, visando extrair os significados que têm para as pessoas que pertencem a essa realidade (TRIVIÑOS, 1987). Nesse contexto, a chamada etnoictiologia procura 87 Laboratório de Pesca, Biologia e Dinâmica Populacional de Peixes / Departamento de Química e Biologia - Universidade Estadual do Maranhão - Cidade Universitária Paulo VI, Campus do Tirirical, CEP 65000-000, São Luís, Maranhão, Brasil. E-mail: raimundafortes@yahoo.com.br
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compreender o fenômeno da interação entre o Homem e os peixes, englobando aspectos tanto cognitivos quanto comportamentais (MARQUES, 1995). O conhecimento sobre a comunidade de peixes de determinada região constituise em importante instrumento para auxiliar na gestão adequada desses recursos naturais, sendo que as comunidades pesqueiras podem contribuir significativamente nesse processo. Tais estudos devem voltar-se, especialmente, para áreas legalmente protegidas, como, por exemplo, a Área de Proteção Ambiental (APA) da Ilha dos Caranguejos e Baixada Maranhense que possui um expressivo conjunto de bacias lacustres, abrigando uma fauna e uma flora aquáticas altamente produtivas. Todavia, apesar do status de APA, essa área vem sofrendo graves problemas ambientais face à falta de conhecimento dos seus recursos biológicos e ao manejo inadequado dos seus recursos naturais. A Ilha dos Caranguejos, localizada na Baía de São Marcos, constituise numa das maiores extensões contínuas de manguezal do Maranhão e um importante local de pesca artesanal no Estado, fato que a torna um campo privilegiado para a pesquisa qualitativa sobre a percepção ambiental daqueles que realizam a atividade pesqueira. Dessa forma, o objetivo principal do presente trabalho foi descrever os modelos cognitivos que auxiliam os pescadores artesanais que exploram a Ilha dos Caranguejos a decidirem sobre as estratégias a serem utilizadas para a obtenção do recurso. Visou-se, portanto, identificar e caracterizar os principais igarapés de exploração pesqueira da Ilha dos Caranguejos, apontando as espécies de peixes de maior importância econômica, bem como mostrar o perfil dos pescadores que exploram a região. CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS DA ÁREA ESTUDADA A Ilha dos Caranguejos, localizada na Baía de São Marcos, enquadra-se no setor Norte da plataforma continental brasileira e recebe águas do rio Mearim. É classificada como uma área de “médio estuário” e é a região onde se registram as maiores amplitudes de marés no Estado do Maranhão, as quais chegam a atingir 7,5 metros. De acordo com PALMA (1979) isso ocorre porque a plataforma reentrante do litoral do setor norte coincide com um padrão de propagação da onda-maré perpendicular à costa, o que propicia a ressonância e amplificação da onda de maré, além de aumento da velocidade das correntes de maré associado ao efeito adicional da maior largura da plataforma continental; tal fato serve para explicar as diferenças entre as variações máximas de maré, que atingem no setor norte até 12 m, na ilha de Maracá, e mais de 7 m no Golfão Maranhense, enquanto na plataforma do setor nordeste, mais estreita, se registram variações máximas de 3 a 4 metros, entre Tutóia e Natal. A Ilha dos Caranguejos apresenta formação do tipo “aluviões marinhos” (depósitos aluvionares recentes constituídos por cascalho, areias e argilas inconsolidadas que aparecem ao longo do litoral e dos principais rios), sendo considerada uma ilha de pequena altitude (IBGE, 1984). Com uma área de 345.08 km2 , a Ilha dos Caranguejos constitui-se, pela análise das imagens de satélite, na maior faixa contínua de manguezal do Maranhão, apresentando 165.95 km de perímetro. Os maiores igarapés da ilha conhecidos são: Açú, Tronco e Pescada (Fig.1). Esses são os principais pontos onde ocorre a pesca artesanal na região.
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Figura 1 - Ilha dos Caranguejos com indicações dos igarapés conhecidos e locais onde ocorre a pesca artesanal. Escala: 1:200000. FONTE: Zoneamento Costeiro do Estado do Maranhão (2003).
METODOLOGIA A pesquisa foi realizada no período de 2007 a 2008 a partir do acompanhamento de desembarques dos peixes capturados na Ilha dos Caranguejos. Inicialmente, métodos qualitativos na forma de entrevistas e observação direta foram utilizados para obter informações sobre a cultura pesqueira da região. As primeiras entrevistas foram do tipo livre ou aberta, realizadas com 85 pescadores de várias comunidades pesqueiras (pertencentes aos municípios de São Luís, Raposa, São José de Ribamar e Paço do Lumiar) que atuam na Baía de São Marcos, com a finalidade de traçar o contexto pesqueiro a ser estudado. A partir das informações obtidas, foram construídos roteiros para entrevistas na forma de questionários semi-estruturados, os quais foram aplicados a 20 pescadores mais experientes selecionados entre os anteriormente entrevistados (que atuaram na Ilha dos Caranguejos) em duas comunidades: Coqueiro (São Luís) e Combique/Itapeua (Raposa). Os pescadores foram indagados sobre aspectos assim distribuídos: 1) caracterização socioeconômica (composição familiar, tipo de moradia, escolaridade e tipos de associações a que pertencem os pescadores); 2) Pescaria (dias, locais, melhor época do ano para pesca, instrumentos de pesca, espécies-alvo, espécies mais capturadas, quantidade e nível de descarte do pescado); 3) Comercialização (destino da produção, locais de venda, tratamento dado ao pescado); 4) Percepção ambiental (tipos de ambientes da ilha, problemas enfrentados nas pescarias, volume de pessoas que exploram a ilha, prejuízos causados pelos aparelhos de pesca inadequados, degradação ambiental e soluções para otimizar a pesca na região).
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Nos momentos em que foi necessário confirmar a consistência e a validade de determinadas respostas, recorreu-se à repetição de perguntas, criando-se situações sincrônicas (com a mesma pergunta direcionada a pessoas diferentes, em tempos bastante próximos) e diacrônicas (com mesma pergunta feita e repetida à mesma pessoa, em tempos diferentes). A análise das informações obtidas foi estritamente qualitativa, efetuada por meio da interpretação do discurso dos entrevistados, buscando, sempre que possível, justapor o modelo percebido (conhecimento etnoictiológico) ao modelo operacional (conhecimento científico). RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização socioeconômica dos pescadores De acordo com as entrevistas realizadas com os pescadores das comunidades de “Coqueiro” (distrito industrial de São Luís) e Combique/Itapeua (município da Raposa) foi possível averiguar quem são as pessoas que se deslocam até a ilha dos Caranguejos para pescar: cerca de 60% dos pescadores que atuam na área são provenientes de Cajapió (município ao qual pertence, administrativamente, a ilha dos Caranguejos) e Anajatuba; os demais pescadores são provenientes de São Luís, Raposa, São José de Ribamar e Paço do Lumiar. Além disso, segundo os entrevistados, muitos dos pescadores que hoje moram na praia do Coqueiro, vieram de Anajatuba ou Cajapió e já pescavam há muito tempo nessa área. A grande maioria dos pescadores entrevistados nunca frequentou a escola (60%) e os demais cursaram apenas até a 4ª série do ensino fundamental (40%) (Fig. 2). A causa desse alto índice de analfabetismo, segundo palavras dos pescadores, está na “falta de tempo para ir à escola, pois a pesca é um trabalho que precisa de muitos dias e noites seguidos no mar”. Esses dados de analfabetismo são superiores aos constatados em entrevistas similares realizadas por SANTOS & CARVALHO-NETA (2004) nas comunidades de São José de Ribamar (40%), Timbuba (46%) e Quebra-Pote (55%); todavia, os argumentos dos pescadores são semelhantes, visto que estes relataram que, quando jovens, não tinham disponibilidade de tempo para os estudos, e, como as instituições escolares não adequavam seus calendários às atividades de pesca, muitos deles desistiram da escola muito cedo ou nem chegaram a se matricular. 60 60
50 analfabetos
40
1ª s érie E.F. 2ª s érie E.F. 3ª s érie E.F.
30
4ª s érie E.F.
20
5ª a 8ª série E.F.
20
Ens imo Médio
10 10
5
5
0
0
0
1
Figura 2 – Nível de escolaridade dos pescadores entrevistados nas comunidades de “Coqueiro” (distrito industrial de São Luís) e Combique/Itapeua (município da Raposa).
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No que se refere às organizações existentes na comunidade, constatou-se que na comunidade do Coqueiro, apenas 42% dos entrevistados pertencem à “Colônia de pescadores Z10”, tendo, portanto, “carteira de pescador”; já nas comunidades de Combique/Itapeua, os pescadores que concederam entrevista não pertencem a nenhum tipo de associação. De acordo com pesquisa realizada por SANTOS & CARVALHONETA (2004) na ilha de São Luís, em todas as comunidades pesquisadas, a grande maioria dos pescadores não possuía a “carteira de pesca”, documento que comprova a profissão. Tal fato, segundo as autoras, pode ser devido a uma série de fatores, como por exemplo, falta de condições financeiras para a aquisição da carteira de pesca ou mesmo pouca importância dada a esse aspecto de organização da categoria. Essa situação pode estar relacionada também com o descrédito de algumas formas de associação junto aos pescadores por mostrarem-se contrárias a seus interesses. No Maranhão, a participação de poucos membros nas colônias de pescadores (únicas organizações formais desses profissionais) enfraquecem sua representatividade e diminui sua credibilidade, conforme ALMEIDA et al. (2003). De acordo com esses autores, a falta de recursos financeiros tem limitado efetivamente as atividades das colônias, restringindo-as à coleta de subscrições, emissão de documentos e recrutamento de novos membros. Pescarias Um grande percentual das pessoas envolvidas com a pesca na ilha dos Caranguejos, não trabalha apenas com essa atividade. Cerca de 50% dos entrevistados afirmaram que também trabalham na agricultura, com “roças” ou hortas; já os outros 50% são apenas pescadores. De acordo com MALDONADO (1986) os grupos de trabalho dos chamados “pescadores-agricultores” formam-se dentro da unidade familiar, não ocorrendo assalariamento nem excedente de produção, todavia a associação da pesca com a agricultura fornece gêneros de subsistência na estação chuvosa ou em épocas pouco propícias à atividade pesqueira. As pescarias realizadas por todos os entrevistados duram cerca de 5 dias initerruptos. Isso significa que essas pessoas têm uma carga horária de trabalho superior a nove horas por dia. De acordo com SANTOS & CARVALHO-NETA (2004) a maioria dos pescadores de São José de Ribamar, Timbuba e Quebra-Pote trabalham, em média, 3 a 5 horas diárias, visto que pescam em locais mais próximos tais como Baía de São José e ilha do Curupú. Todos os pescadores da ilha dos Caranguejos responderam nas entrevistas que pescam nessa região há cerca de 10 ou 15 anos, sempre nos mesmos igarapés (Tronco, Pescada e Açú). Chegam até a ilha em barcos à vela (carité) ou barcos a motor de 4 a 22 Hp, mas encontram muitos outros pescadores que lá chegam em “barco a motor mais potente, vindos de Cajapió e da Gabarra, perto de Anajatuba”. Pescam, basicamente, com os mesmos instrumentos de pesca de que são proprietários, tais como anzol, puçá, tarrafa, redes de emalhar e rede de tapagem. O local preferido por 70% dos pescadores é o igarapé Tronco porque “tem mais pescada e dá mais camarão”. Entretanto, os pescadores dizem que trabalham sempre nos três igarapés citados porque são “os que dão mais peixe, e são os que a gente mais gosta porque os igarapés são grandes e atravessam o mangue, mas quando a maré baixa a
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gente consegue armar a rede de tapagem; quando a maré enche, o barco consegue entrar e não tem tanto perigo.” Essa explicação revela o que ALLUT (2000) chama de “conhecimento do fundo do ambiente aquático”, de suas peculiaridades topográficas, assim como as características do biótopo e da biocenose dos ecossistemas marinhos que representa a condição necessária para o desenvolvimento da atividade pesqueira.
Pescado Em épocas favoráveis à pesca na ilha dos Caranguejos (agosto a novembro), o pescado ultrapassa os 100 kg por pescaria, de acordo os entrevistados. Entretanto, eles contam que no período de fortes chuvas “não se pega nada; além do mais tem mais praga do que no verão.” Esses dados diferem daqueles registrados por SANTOS & CARVALHO-NETA (2004) para Timbuba, Quebra-Pote e São José de Ribamar, onde os pescadores responderam que a melhor época do ano para efetuar a pesca está compreendida entre janeiro e junho; segundo as autoras, isso mostra que na produção da pesca artesanal dessas comunidades há uma sazonalidade geral acompanhada de mudanças na salinidade e vento forte. As espécies-alvo das pescarias na ilha dos Caranguejos são aquelas de maior valor econômico, tais como as “pescadas”, mas as espécies mais frequentes nas capturas atualmente e que mais contribuem em termos de peso são: “bagre guribú, tralhoto e bandeirado.” Esses dados coincidem com os obtidos no acompanhamento de desembarque, onde capturou-se 62,148 kg de Hexanematichthys herzbergii (bagre guribú), 32,124 kg de Anableps anableps (tralhoto) e 24,233 kg de Bagre bagre (bandeirado), o que em termos percentuais correspondeu a 32,93%, 17,02% e 12,84% das capturas. Ao todo, foram registradas 32 espécies, distribuídas em 8 ordens, 19 famílias e 26 gêneros. O destino do pescado é dividido entre consumo familiar e venda. A comercialização dos peixes, atualmente, descarta apenas o “baiacú”, mas “antigamente não se trazia papista, tralhoto, bagrinho e peixe miúdo.” Hoje muitas dessas espécies, que anteriormente eram descartadas, já são vendidas e apresentam significativo valor comercial comparadas às espécies nobres. A produção do pescado, segundo os entrevistados, é vendida “de casa em casa no próprio bairro”, mas também é comercializada em “feiras do bairro de Fátima, João Paulo, Cohab e no mercado central (Centro)” por intermediários, sendo que o único tratamento dado aos peixes que estão no gelo é o evisceramento. As razões da dependência dos intermediários para a comercialização do pescado nessas comunidades estão diretamente relacionadas com a perecebilidade do produto devido à falta de infra-estrutura para a sua conservação, bem como pela falta de meios de transporte adequados para levar o pescado até os mercados citados. Percepção ambiental Os pescadores que exploram a ilha dos Caranguejos caracterizam-se por possuírem uma visão objetiva sobre os recursos pesqueiros e as características ambientais da região. Entretanto, não se sentem, pessoalmente, responsáveis por nenhum problema relacionado à diminuição do pescado ao longo dos anos. Todos os
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entrevistados reconhecem ambientes como manguezais, igarapés, lagoas de água salobra e lavados. Segundo eles, não existem pessoas morando na ilha porque não há terra firme, nem água doce, dois fatores primordiais para a fixação do homem. Além da pesca artesanal, os pescadores citaram duas outras atividades frequentes na ilha dos Caranguejos: “tirar caranguejo e tirar filhote de bicho (guará, garça e outros).” Essa última atividade, segundo os entrevistados, não é realizada por pescadores, mas por pessoas que vão até a ilha unicamente para capturar filhotes de aves litorâneas que nessa área são abundantes. Os locais da ilha em que não se pode ir são aqueles que apresentam dificuldades de navegação, não tendo nenhuma relação com histórias as conhecidas histórias de OVN’s (objetos voadores não identificados) na região, nem encantamentos. As chamadas “histórias de pescador” servem, segundo DIEGUES (1983), para afastar instrusos e proteger determinados bancos de pescado como locais que só alguns conhecem e têm coragem de ali exercerem sua atividade pesqueira. Na visão dos pescadores, as principais dificuldades relacionadas à atividade pesqueira na região são, por ordem de importância, “falta de água pra beber; muita gente pescando ao mesmo tempo; pragas que são muitas; maresia no verão e lonjura (distância) de São Luís”. Esses pescadores afirmam que a dificuldade mais importante que interfere diretamente na pesca é a falta de água doce. Já a concorrência na atividade pesqueira, configura-se em segundo lugar e é um aspecto duplamente difícil para o pescador: por um lado o desembarque de uma boa pescaria numa mesma comunidade em simultaneidade com concorrentes causa a baixa dos preços do pescado, por outro lado muita gente pescando numa mesma área continuamente leva à exaustão dos estoques pesqueiros, o que compromete a atividade no futuro. Maresia e praga, segundo eles, são fatores ecológicos que não se pode controlar, mas a um “pescador isso faz parte do dia a dia.” Já a distância é um aspecto que pode ser resolvido “comprando barco a motor potente”. Todos os entrevistados foram unânimes em afirmar que o pescado na ilha dos Caranguejos diminuiu nos últimos anos. Entretanto, a maioria (95%), individualmente, não acredita que seus instrumentos de pesca prejudiquem os peixes. Quanto à degradação do ecosssistema causado por eventos naturais, os pescadores contam que a Ilha já mudou bastante porque “a maré vai batendo e os igarapés vão se abrindo; antigamente os igarapés eram mais fechados e era mais difícil ficar muito tempo lá”. Esse comentário mostra um conhecimento tradicional importante sobre as mudanças temporais e ambientais na configuração geral da ilha, revelando que através de observações in locu constantes e não muito antigas (menos de 20 anos), os contornos da ilha dos Caranguejos têm mudado muito rapidamente. A Capitania dos Portos, de acordo com os pescadores, é o órgão responsável pela qualidade ambiental da Ilha. Os problemas de poluição desse ambiente, segundo eles, resumem-se ao “lixo na ponta da Ilha que a maré traz e se junta no igarapé Mãe Juana e no igarapé Ourique.” Além disso, eles falam que os próprios pescadores que exploram a região “jogam muita garrafa de plástico nos igarapés onde pescam,”
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situação que poderia ser resolvida se eles mesmos “trouxessem seu lixo de volta” e lhes desse um destino adequado. As principais medidas a serem tomadas pelas autoridades políticas para melhorar a vida dos pescadores que atuam na região, de acordo com os entrevistados, são: 1) financiamento de motor para o barco, a fim de que se chegue mais rápido na ilha; 2) melhorar a eficiência dos instrumentos de pesca; 3) dar um emprego permanente para os pescadores para dar tempo para os peixes se recuperarem; 4) estabelecer épocas adequadas e proibidas para pesca; 5) realizar fiscalização sistemática e com acompanhamento dos pescadores, indicando as melhores épocas para pescar. Essas prioridades indicadas apontam para a necessidade de ações de Educação Ambiental na comunidade que visem o “fortalecimento do espírito crítico dos cidadãos a fim de melhorar, de forma contínua, o controle democrático das escolhas, as orientações políticas e ações em matéria de meio ambiente, desenvolvimento e gestão dos recursos naturais” (ZIAKA et al., 2003). CONSIDERAÇÕES FINAIS Os pescadores que atuam na pesca estuarina da Ilha dos Caranguejos possuem os meios cognitivos necessários que possibilitam a devida apropriação dos recursos pesqueiros. Tal conhecimento constitui um recurso importante a ser incorporado em planos de desenvolvimento sócio-econômicos, em estudos de manejo, conservação e utilização sustentável da ictiofauna local. Todavia, as comunidades pesqueiras entrevistadas necessitam de programas de Educação Ambiental baseada na ação e no fortalecimento do espírito crítico, prévio a qualquer ação cívica. O entrelaçamento de fatores econômicos, sociais e cultuais citados pelos entrevistados mostra que é preciso inserir os pescadores diretamente nas tomadas de decisões, visto que é preciso formular e executar políticas de pesca que tenham nos pescadores os sujeitos diretamente responsáveis pelos processos que dependem dos seus conhecimentos de produtor e também de defensor da atividade pesqueira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Z. da S., A.C.L. de CASTRO, A. C. AZ, D. RIBEIRO, N. BARBOSA & T. RAMOS. Diagnóstico da Pesca Artesanal no Litoral do Estado do Maranhão, Brasil. Relatório Técnico (UEMA/UFMA), São Luis MA, 2003. 60 p. ALLUT, Antonio García. O Conhecimento dos especialistas e seu papel no desenho de novas políticas pesqueiras. In: DIEGUES, Antonio Carlos (org.). Etnoconservação: novos rumos para a conservação da natureza. São Paulo: Hucitec/Nupaub-USP, 2000. 290 p. DIEGUES, Antonio Carlos S. Tradição e mudança nas comunidades de pescadores do Brasil: por uma sócio-antropologia do mar. In: III ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E O MAR, 3., 1989, São Paulo. Coletânea de trabalhos apresentados... São Paulo: Programa de Pesquisa e Conservação de áreas únidas no Brasil/ IOUSP/ F. FORD/ UICN, 1983. p. 01-20.
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DA CASA DAS TULHAS A FEIRA DA PRAIA GRANDE: A NECESSIDADE DE CONHECER PARA PRESERVAR! JOSE RIBAMAR SOUSA DOS REIS O falatório é grande e geral uma boa-nova: recuperar as verdadeiras Cores de São Luís, mas mesmo satisfeitos, imensamente, pelo surgimento de tal idéia, muitas coisas pertinentes à fase modal das improvisações, vem à tona, o que contraste frontalmente com a Era moderna do Planejamento, ou seja, o filme que está rodando, já tivemos o desprazer de assistí-lo com outros atores e diretores. Mas, o enredo acaba sendo o mesmo. Odylo Costa, filho, poetão já na sua poética maravilhosa previa na sua interpretação, que tão-somente não basta recuperar as cores das paredes e muros e sim motivar o ser humano para habitar, valorizar e preservar os velhos e tradicionais casarões construídos em pedra e cal. Caso contrário, o abandono será bem maior! E já tivemos a confirmação das previsões do poeta, com os resultados das inúmeras intervenções que já sofreram o Centro Histórico de São Luís e principalmente o bairro da Praia Grande. No nosso entendimento se, a Praia Grande é um dos mais destacados Pólos Turísticos da nossa capital, assim deve ser tratado, a começar concordo pela teimosa Feira da Praia Grande, que enfrentando os mais complexos jogos de interesses, já a mercê de um amplo debate. Não pode aparecer mais uma pseuda reforma e no prazo mais curto o cenário fique bem pior do estava. Exemplo disso foi à reforminha feita nos horríveis banheiros do referido logradouro. Paciência, aquelas caixas de descarga, sinceramente deveriam colocar a placa da construtora, aliás, do pedreiro que se meteu a encanador!... Antes de qualquer coisa, sugerimos que deva ser diagnosticada, oficialmente, a situação do uso, ou melhor, da propriedade da Feira da Praia Grande; começando pelo alertar de que a origem da Feira não foi propriamente da Casa das Tulhas, cuja interpretação dúbia acaba por trazer sérios problemas, tanto para os consumidores e principalmente para os próprios feirantes. Os portugueses em todas suas colônias eram de praxe ter três principais armazéns: Alfândega que era destinado para os haveres da Metrópole; o Trapiche, que se relacionava com as negociações da colônia e o terceiro armazém que inicialmente foi chamado de as Tulhas, que era o dos secos e molhados ou do atacado e varejo e assim foi em São Luís, o primeiro armazém atualmente funciona a Câmara Municipal de São Luís; o Trapiche, hoje é Casa do Maranhão e a Casa da Praça, ou seja, o outro nome dado ao armazém, que após trinta anos de fechada substituiu as Tulhas, a qual devido a sérias irregularidades foi extinta pelo edital da Câmara de 29 de janeiro de 1833. Mesmo com todos os descalabros ocorridos, ficou patente a grande importância daquele armazém para a comercialização dos produtos regionais. O gerenciamento da Casa das Tulhas era feito por um administrador, denominado de Administrador da Casa das Tulhas. Cargo esse que era por demais cobiçado, em virtude de além do status social, rendia a seu ocupante a remuneração mensal de oitocentos mil réis, salário se não o maior mais um dos maiores da cidade, em plena metade do século XIX. Com a extinção da Casa das Tulhas a população começou a efetuar sérios reclamos, pois achava mais prático e justo adquirir gêneros naquele armazém de cereais. Até que 1855
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o governo resolveu solucionar o problema autorizando a construção de outro armazém de cereais. Trinta anos após o desaparecimento das barracas situadas no sítio da Praia Grande, ocorreram insistentes reclamos por parte da população, a qual achava mais prático - em virtude de encurtar distância - adquirir os gêneros de primeira necessidade naquele setor de abastecimento, localizado estrategicamente no perímetro central da cidade. Apesar do prazo oficial e de terem iniciado a construção em 28 de julho de 1855, muitos foram os obstáculos, fazendo com que o prédio só fosse concluído em 1862 e já por outra Companhia, desta feita a Confiança Maranhense, que foi organizada em 1859. Entregue à Municipalidade a obra, o Poder Municipal de conformidade com o Decreto nº. 2939, de 20 de junho de 1862, autorizou a abertura e comercialização na Casa da Praça, nome oficial naquela época, dado ao armazém de gêneros sucessor da Casa das Tulhas. Foi edificada pela Companhia Confiança Maranhense, em 1862. Era um conjunto arquitetônico à semelhança de um quadrilátero, com uma área de 296 x 256 palmos que correspondiam, mais ou menos, 3.600 m² (60 x 60), tendo no centro de cada uma de suas alas um portão que dava acesso a um jardim interno. Com um só pavimento, terminação em beiral, quatro fachadas caídas, aberturas em arco pleno e bandeiras de ferro, além de todas as guarnições em cantaria. Na fachada principal, a da rua da Estrela (Largo do Comércio), colocaram um arco, tendo uma bandeira de ferro possuindo as iniciais, bem como a data da construção "CM - 1861". Em cima, foram esculpidas asa Armas do Império. As alas eram divididas em salas homogêneas, com a área de 40 x 20 palmos e tinham duas portas internas e externas, ou melhor, a entrada para as barracas podia ser efetuada pela rua ou então pelo jardim interno. No pátio do centro existe um dos chafarizes da malfadada Companhia Anil, localizado bem no centro de um jardim. Dentre tais cenários a Casa da Praça, sucessora do Celeiro Público ou Tulhas, estão divididas, as suas dependências tradicionais, ou sejam, o quadrilátero que possui diversos comércios e a Feira, que ocupou o quintal outrora da Casa da Praça, onde existia um jardim e um chafariz. Dentre tais cenários supomos que é urgente a necessidade de se identificar, que a Casa da Praça foi algo planificado, uma verdadeira obra de arte da arquitetura colonial datada de 1861, a qual traçou tão belo e imponente armazém, que ainda é ostentado e por demais admirado por todos que visitam aquele bairro histórico são-luisense. Já a Feira da Praia Grande é oriunda de uma invasão, desorganizada, que aconteceu logo após a venda, efetuada pela Municipalidade de todas as barracas que constituíam a mencionada Casa da Praça, invasão que se deu por volta de 1945. Atravessando inúmeras fases de bonanças e declínios comerciais, a Feira tenta se manter viva. Mas, sente na sua estrutura ameaças incríveis, que primeiramente temos que cientificar se, a realidade histórica do que afirmamos acima. Sim, se, tais cenários são reais! A Feira da Praia Grande nunca pertenceu a Prefeitura de São Luís, porque quando houve a invasão do jardim e do chafariz da Casa das Tulhas em 1945, ocasião que foi iniciada a referida feira, o prédio já não mais era da Municipalidade e sim de terceiros. Assunto que necessita ser levantado uma Cadeia Sucessória Vintenária ou similar, assunto que deva ser questionado pelos profissionais das Ciências Jurídicas. Exatamente, se são reais os cenários os feirantes têm direito ao Usucapião, caso contrário, não terão. Vejam com é do maior valor termos a verdadeira situação de propriedade deste mercado, pois todo o tratamento bem ou mal dado ao mesmo é como
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se fosse público e tal situação está sendo aqui contestada. O que esperamos, que as autoridades competentes, principalmente o Ministério Público se manifeste. Enquanto falamos, discutimos sobre o nosso fundo de quintal, a verdadeira estrutura da Casa da Casa, ex-Casa das Tulhas paulatinamente vai passando para propriedade de estrangeiros, sem comentários. Basta somente fazer um ligeiro levantamento sobre os principais pontos por quem estão sendo comprados e assediados a compra? Ai sim, o Poder Público tem que intervir rapidamente, pois é o Patrimônio Histórico do maior valor que está sendo desapropriado dos maranhenses para patrimônios particulares de estrangeiros. Dentre os cenários que estão gerando esta movimentação salutar de darmos as verdadeiras cores ao Centro Histórico de São Luís. Vamos abrir um parêntese necessário: deixar aquela invasão de hippies não é dar cores a Praia Grande e sim sujar ainda mais, fora com eles! Com referência a Feira da Praia Grande. Recordar faz bem: fomos nós que nos anos 1981 e 82, tivemos a honra de como membro do Projeto Parai Grande, representante da Fundação Cultural do Maranhão, à época presidida pelo saudoso amigo-irmão Bernardo Coêlho de Almeida – Éramos felizes e não sabíamos! -, elaborarmos o diagnóstico da referida Feira, com o título de Feira da Praia Grande, cujo trabalho já foram publicadas três edições. Este diagnóstico foi à fase preliminar para na época o Governo do Estado do Maranhão, autorizasse que fosse efetuada a maior reforma de todos os tempos do referido mercado. Agora surge algo da maior valia para a salvação, recuperação de um dos ambientes que particularmente, amamos demais. Basta dizer, que se as nossas sextas-feiras falassem a Feira da Praia Grande seria a grande estrela. Mas, no que for do nosso humilde alcance estamos à disposição, principalmente temos praticamente pronto dois inventários, que faz parte da nossa Série Memória da Cidade, que são Da Casa das Tulhas a Feira da Praia Grande e a Verdadeira História de Catarina Mina. Além de termos outras obras já esgotadas sobre o bairro da Praia Grande. Assim, queremos deixar aqui os nossos alertas de que somente podemos preservar se conhecermos, bem como, muitos dos fatos históricos até aqui narrados por monstros sagrados da nossa historiografia, ou mesmo, da nossa literatura estão necessitando de ser reavaliados, repensados. A exemplo da Casa das Tulhas a Feira da Praia Grande; a verdadeira história de Catarina Rosa Ferreira de Jesus - Catarina Mina -, a qual nunca foi e nem deva e pode ser comparada com qualquer Chica da Silva. Na verdade existe um efeito dominó, ou seja, falta de comprovação da narrativa histórica, um crime contra o nosso Patrimônio Cultural. Antes de levantarmos a primeira pedra, vamos saber onde está a verdade e sem futricas trabalharmos unidos para que as futuras gerações não encontrem um buraco bem maior na nossa memória. Por favor, não vamos continuar com tais maranhadas. Não podemos progredir sem conhecer os nossos verdadeiros rumos do passado, presente e projetarmos o futuro, pois os erros dos dois primeiros nos indicarão previsões errôneas para o amanhã. A história não perdoa! Eis a maior validade dos Membros do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, os Guardiões Maiores da Maranhensidade!
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ANTÔNIO LOPES 88 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) vive fase de desafios e de revitalização Fundado em 20 de novembro de 1925, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão vive um silencioso processo de transformação. A presidente da Casa, professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, informa que a principal preocupação, agora, do IHGM é o de se renovar, para poder reafirmar os seus propósitos estatutários sócio-culturais, cumprindo as suas finalidades primordiais. “A missão precípua da nossa entidade é a de desenvolver o conhecimento científico, especialmente nos campos da História e da Geografia do Maranhão”, afirma Eneida Ostria de Canedo. Ela lembra também que cabe ao IHGM difundir tal conhecimento através das múltiplas formas atuais da comunicação, o que somente será possível com o corpo social renovado, saudável e reativação da plena atividade intelectual, de acordo com o eterno axioma latino: “mens sana in corpore sano”, mente sã em corpo são. Aos 79 anos de idade, a professora Eneida Ostria de Canedo é a primeira mulher a exercer a presidência do IHGM. Também pela primeira vez, o posto é ocupado por uma bacharel e licenciada em Geografia e História. Abrigado num prédio da Rua de Santa Rita, doado no final da década de 40 pelo então governador Sebastião Archer, o IHGM tem como objetivo estudar, debater e divulgar questões sobre a história e a geografia do Maranhão. Para isso, mantém uma vasta biblioteca, aberta a estudantes e pesquisadores, e desenvolve palestras, cursos e pesquisas, sempre com apoio de outras instituições culturais. Entre seus fundadores, figuram nomes como Justo Jansen Ferreira (primeiro presidente), José Ribeiro do Amaral, José de Abranches Moura, José Pedro Ribeiro, Padre Arias Almeida Cruz, Benedito Barros e Vasconcelos, Domingos de Castro Perdigão, José Domingues da Silva, Wilson da Silva Soares, Milson Soares e José Ferreira Gomes, além do jornalista e historiador Antônio Lopes da Cunha, cujo nome batiza a Casa e cuja data de falecimento 29 de dezembro -, é de luto para a entidade, de acordo com normas estatutárias. “O inesquecível professor Antônio Lopes da Cunha é considerado o eterno secretário geral do nosso Instituto. Dizem que ele foi o idealizador desta instituição, à qual se dedicou com grande entusiasmo. Sempre que surgia alguma crise, era ele quem encontrava um jeito de contornar 88 O GUESA ERRANTE, http://www.guesaerrante.com.br/2009/7/6/Pagina1152.htm - Data de Publicação: 24 de junho de 2009
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as desavenças e disputas internas”, afirma a professora Joseth Coutinho Martins de Freitas, atual vice-presidente do IHGM, onde ocupa a Cadeira nº 55, cujo patrono é José Ribeiro de Sá Vale.
Manoel Santos Neto exibe diploma ao lado da professora Eneida Canhedo e de D. Hilda Bogéa
Pelo Instituto passaram sócios beneméritos, como Aquiles de Faria Lisboa, Domingos Vieira Filho, Mário Martins Meireles, Ronald da Silva Carvalho e tantos outros, sendo, por isso, altamente dignificante a todos aqueles que lá se encontram atualmente suceder a pessoas do maior valor pessoal e cultural do Maranhão. Entre os membros do IHGM, além de historiadores e geógrafos, estão jornalistas, sociólogos, médicos, cientistas, pesquisadores, professores e advogados. Entre as atividades desenvolvidas pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, está a publicação trimestral da Revista do IHGM. No periódico, que data da fundação do Instituto, são publicados artigos e discursos proferidos em diversas ocasiões, inclusive durante as reuniões da Casa.
Profissão de fé Um dos mais antigos integrantes da Casa, Antônio Rufino, lamenta que, infelizmente, muitos dos que se empenharam em pertencer ao IHGM, como sócios efetivos, depois de eleitos, não tomaram posse ou então deixaram de participar de suas atividades sócio-culturais. Para ressaltar a responsabilidade perante o IHGM, os dirigentes da Casa adotaram o que denominaram “Profissão de Fé do sócio efetivo do IHGM”: Ser sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão não é um título nobiliárquico, outorgado por um poder monárquico; não é uma imposição social ou cultural, sob ameaça de qualquer sanção definida ou difusa; não é um emprego ou uma função gratificada, indispensável à própria sobrevivência de alguém e muito menos
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uma sinecura; é um ato voluntário, facultativo, espontâneo, de quem se inscreveu livremente e foi aceito para trabalhar em favor da ciência e da cultura; é participar, ativamente, de corpo e alma, de trabalhos individuais ou coletivos, para o funcionamento decente e eficiente do Instituto. Ser sócio efetivo consubstancia direitos, como demonstrar publicamente essa prerrogativa; participar de atos e fatos do Instituto, de se fazer presente e partícipe de eventos por ele promovidos ou patrocinados. É ter direito a insígnias e diplomas, de acordo com os modelos aprovados; a utilizar-se dos serviços mantidos pelo Instituto, votar e ser votado para os cargos de administração, tomar parte nas reuniões e debates, nos cursos de aperfeiçoamento que se realizarem colaborar na Revista e receber publicações bem assim candidatar-se aos prêmios de concursos do Instituto entre seus membros. Mas implicam, reciprocamente, uma série de deveres, explícitos no Estatuto a que todos estão obrigados a cumprir e dos quais ninguém poderá eximir-se, sob qualquer alegação: freqüentar e participar das reuniões ordinárias e extraordinárias da diretoria, se a ela pertencer, e de assembléia geral; pagar uma pequena mensalidade para que o Instituto tenha condições mínimas de funcionamento e de manutenção do pessoal e de material. A investidura de sócio efetivo do IHGM, no entanto, não é definitiva, não lhe outorga a chamada “imortalidade acadêmica”, pois a renúncia pode ser expressa ou tácita, quando o sócio, durante um ano, como preceitua o artigo 14 do Estatuto, “faltar às reuniões e não pagar as mensalidades, sendo declarada vaga a sua cadeira pela Assembléia”. Ninguém, portanto, é compelido a ser sócio efetivo do IHGM, mas se alguém opta, livremente, por esse estado, obriga-se, juridicamente, a cumprir todas as determinações do Estatuto; funcionalmente, a participar da vida administrativa e cultural da entidade e eticamente a não se prevalecer, indevidamente, dessa honraria. Como associação científica e cultural sem fins lucrativos, o IHGM tem o objetivo de estudar, debater e divulgar questões sobre história, geografia e ciências afins, referente ao Brasil e ao Maranhão, além de defender e velar o patrimônio histórico do estado, obrigações previstas no estatuto. O espaço é aberto à visitação de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h. Apesar de freqüentado por professores e pesquisadores, a procura ainda é muito tímida, por isso, a popularização das atividades é uma prioridade da atual diretoria. Reeleita para o cargo de presidente, a professora Eneida Ostria de Canedo aponta algumas conquistas, como, por exemplo, alterações no estatuto de 1979 - e que precisava adequar-se ao novo Código Civil -, além da criação de um Conselho Fiscal, para avaliar as contas da sede, e o incentivo para a adesão de novos sócios. A expectativa, na gestão de dois anos, é dar visibilidade aos trabalhos dos sócios, em publicações periódicas e aumentar a participação da entidade nos assuntos referentes à história do Maranhão.
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Tradições, conquistas e dificuldades Das conquistas recentes, destacam-se a volta da publicação da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, que desde 2002 não era lançada, e a publicação de obras, como o livro “Historiogeografia de Municípios Maranhenses: São José dos Matões x Parnarama”, do professor Raimundo Cardoso Nogueira. “O ideal é que a revista fosse trimestral, mas nunca tivemos recursos para manter essa periodicidade. Queremos também incentivar o lançamento das pesquisas dos nossos sócios”, declara a professora Eneida Ostria de Canedo. A biblioteca do instituto já passou por reformas nas gestões anteriores. Nessas etapas, foram catalogados e recuperados livros antigos, doações dos outros institutos brasileiros, da Biblioteca Nacional e publicações dos sócios. Das raridades, destacam-se a recuperação da primeira edição da revista, publicada em 1926, mas mesmo assim muitos documentos foram perdidos pela má conservação e durante a reforma do prédio na década de 70, após a queda do telhado em 1965. As dificuldades para a publicação se estendem também para a realização de serviços. A manutenção da Casa de Antônio Lopes, como também é conhecida em homenagem ao fundador, é feita com o dinheiro das mensalidades dos sócios. Os recursos arrecadados são destinados para o pagamento de água, telefone e energia elétrica, deixando para depois os planos de informatização da biblioteca, cujo projeto foi elaborado, mas falta patrocínio para ser efetivado. “Estamos em busca do apoio de empresas privadas ou do poder público. Não temos como implantar apenas com recursos da Casa”, ressalta a presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Segundo ela, a inadimplência e a evasão dos sócios estão ligadas à estrutura antiga do prédio (o acesso ao segundo andar é feito apenas por escadas, o que dificulta a participação nas reuniões, que acontecem na última quarta-feira do mês). “A maior parte dos sócios tem mais de 70 anos e, por isso, a vinda é complicada. O prédio tem 45 degraus e ainda tem o problema da falta de estacionamento. Tudo isso contribui para que muitos sócios deixem de participar das ações”, lamenta. A presença dos membros nas reuniões é uma das obrigações previstas no estatuto, sob pena do desligamento, mas essa não é a intenção da diretoria, pois a participação é indispensável para o cumprimento das atividades e obrigações estatutárias. Caso o Instituto não esteja funcionando de acordo com o previsto poderá ser dissolvido, conforme a legislação vigente no país. “Nós não queremos isso. A nossa meta é chegar às reuniões anuais dos institutos do país e mostrar nossas conquistas, por isso é preciso a colaboração de todos”, enfatiza a presidente.
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Professor da UEMA é o novo ocupante da Cadeira nº 13 Gilberto Matos Aroucha, professor da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), lotado no Centro de Estudos Superiores de Itapecuru-Mirim (CESITA), tomou posse na noite do dia 27 de abril de 2009, no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), onde passou a ocupar a Cadeira nº 13, cujo patrono é Raimundo de Sousa Gayoso. Prestigiaram a solenidade o reitor José Augusto Oliveira, o presidente da Associação de Professores da UEMA, Iran Passos, familiares, convidados e diversos membros do instituto. A cerimônia de posse foi presidida pela professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, presidente do IHGM, que fez questão de dar as boas-vindas ao professor Gilberto, que na graduação foi seu aluno, na Universidade Federal do Maranhão e, em seguida, fez a apresentação do novo membro. Gilberto Matos, além de ser diretor do curso de Letras do CESITA, é graduado em Geografia, mestre em Saúde Ambiental e doutor em Ciências Pedagógicas. É também autor das obras intituladas Novos Saberes sobre o Ensino da Geografia, Geo-História da Cidade de São Luís: Uma Análise Tempo-Espacial, e acaba de escrever Pensamento Geográfico: uma contribuição para formação de professores. Após prestar juramento, o professor Gilberto iniciou seu discurso falando da emoção de fazer parte de um grupo seleto de intelectuais membros do IHGM. “Não me imaginava parte integrante deste instituto. Entretanto, não posso negar que a minha vaidade agradece. Vejo-me na concretização de um sonho de adolescência, de ensino médio: Professor, mestre, doutor e, agora, membro efetivo do IHGM”, disse. Entre as estatísticas e citações feitas pelo professor, uma chama atenção. Ele afirmou que, 185 milhões de pessoas estão desempregadas no planeta, o que representa 6,2% da força de trabalho mundial. Cerca de 40 mil empresas concentram 25% da economia no mundo e empregam diretamente apenas 1,5% da mão-de-obra disponível. E acrescentou: “Apesar do crescimento sem precedente e da melhoria nas condições de vida experimentados por muitos países, o abismo entre ricos e pobres aumentou nas últimas décadas”. O professor também fez alusão ao patrono da cadeira nº 13, Raimundo Gayoso. A este, Gilberto não poupou elogios: “É bastante conhecida a máxima de que há homens que optam por fazer de sua vida uma missão para mudar a história. Não vêm ao mundo a passeio, estão sempre a serviço de um ideal, de algum projeto grandioso, de alguma ambição virtuosa. Raimundo José de Sousa Gayoso era um desses”, reconhece. Na sua visão, Gayoso era um homem acima do seu tempo, possuía uma grande cultura, e deixou, entre outras, uma grande obra literária, sobre o título: Compêndio histórico – político dos princípios das lavouras no Maranhão,
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publicada depois de sua morte, por sua esposa Ana Rita de Sousa Gayoso, em 1818. Nascido na cidade de Buenos Aires-Argentina, em 1747, Gayoso era filho de João Henrique de Sousa e de Micaela Jerônimo Gayoso. Seus primeiros passos na educação foram realizados na França e na Inglaterra, fixando-se depois em Portugal. Há informações de que em 1792, já residia no Maranhão, mais precisamente no município de Itapecuru-Mirim, tendo lá se envolvido com as culturas da lavoura e do algodão. Na cadeira nº 13 do IHGM, que ora tem assento Gilberto Matos Aroucha, professor do curso de Letras da Universidade Estadual do Maranhão em Itapecuru-Mirim, já foi ocupada ao longo dos anos por homens ilustres, tais como: Tácito da Silveira Caldas, Aluízio da Silva, José Pedro Ribeiro e Oswaldo da Silva Soares. Jornalista toma posse na Cadeira nº 11 O jornalista Manoel Santos Neto, repórter do Jornal Pequeno, é o mais novo membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), onde agora ocupa a Cadeira nº 11, cujo patrono é Sebastião Gomes da Silva Belfort. A cerimônia de posse do jornalista aconteceu no dia 13 de maio de 2009, nos jardins do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), na Rua do Sol, com a presença do ex-governador José Reinaldo Tavares e de um grande número de pesquisadores, escritores e militantes de movimentos sociais.
Posse do escritor Manoel Santos Neto no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
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Em sessão solene, a presidente do IHGM, professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, proferiu discurso de saudação ao novo membro do Instituto Histórico. Ela destacou a importância da cerimônia, realizada também para a celebração da data da Abolição da Escravatura no Brasil. O jornalista Manoel Santos Neto, em seu discurso, além de celebrar a passagem do 13 de maio, fez uma emocionada homenagem aos jornalistas e a toda a imprensa do Maranhão. O repórter do JP agora é o novo titular da Cadeira Nº 11, patroneada por Sebastião Gomes da Silva Belfort e fundada por Antônio Lopes Ribeiro Dias. A cadeira já foi ocupada por ilustres intelectuais, dentre eles Cândido Pereira de Sousa Bispo (1896-1950), Mário Meireles (1915-2003), Almir Moraes Correia (1914-1992) e Sebastião Barreto de Brito (1930-2007). Ao final da cerimônia de posse, aconteceu uma sessão de autógrafos do poeta e escritor Cunha Santos, que lançou o livro Vozes do Hospício. Também foi lançado o livro Os Frutos não colhidos, que reúne 45 poemas em homenagem a Jeremias Pereira da Silva, o Gerô, brutalmente assassinado em São Luís, no dia 22 de março de 2007.
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Osvaldo Pereira Rocha quando proferia algumas palavras sobre a Adesão ao Maranhão à Independência. Foto by http://www.mhariolincoln.jor.br/sociedadebrasileira/osvaldo-rocha-4.html
MANOELZINHO TOMA POSSE NO IHGM
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Jornalistas:Machadinho, Manoelzinho e Ex-Gov-ZĂŠ Reinaldo
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IN MEMORIAM
Cônego Benedito Ewerton Costa 05 de janeiro de 1924 # 11 de janeiro de 1996
Ocupante da Cadeira n° 50, do IHGM, Patroneada pelo Pe. Antônio Pereira, o Cônego Benedito Ewerton Costa, nasceu na Cidade de Codó, Maranhão, a 05 de janeiro de 1924. Benedito Ewerton teve como pais: José Maria Costa e Raimunda Noêmia Ewerton. Já órfão, Benedito Ewerton ingressou no Seminário de Santo Antônio, onde passou doze anos, do início de sua formação até a ordenação sacerdotal, a 21 de dezembro de 1948. Formou-se em Filosofia e Teologia/1948. Recebeu do MEC, Registro para lecionar Filosofia, Historia e Sociologia; fez o Curso de Geografia para professores de Ensino Superior (IBGE /1967). O Curso de Filosofia do Seminário foi realizado na Faculdade Dom Bosco de Filosofia Ciências e Letras de São João Del Rei, Minas Gerais, conforme Decreto-Lei n° 1051, de 21/10/1969.
Foi professor do seminário arquidiocesano de Santo Antônio.Lecionou no curso de Nível Médio no Liceu Maranhense e na Escola Técnica Federal do Maranhão No Nível Superior foi professor da Escola de Enfermagem, da Faculdade de Serviço Social, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São Luís. Exerceu o Magistério como Professor Assistente de Geografia na Universidade do Maranhão, desde 1960. Na Universidade Federal do Maranhão, como Professor Titular permaneceu até sua aposentadoria em novembro de 1991. Lecionou todas as disciplinas de conteúdo de Geografia do Brasil e muitas outras disciplinas quando eventualmente necessário. Na UFMA foi Chefe de Departamento de Geografia (03/03/1970 - 10/1977); Sub-Chefe e depois Chefe do Departamento de História e Geociências de 06/07/1977 até sua aposentadoria; Vice-Diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (1972 a 1973); Coordenador do Curso de Geografia; Membro do Conselho Diretor da Fundação Universidade do Maranhão (10/04/1967 a abril de 1971) cargo a que
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constantemente retornava na UFMA. Representante da Sociedade Maranhense de Cultura Superior (SOMACS), no Conselho Universitário 1966. Participou de diversas Bancas Examinadoras nos Concursos para Ingresso de Professores do Curso de Geografia e outros Cursos da UFMA. Recebeu a medalha do Mérito Timbira, concedida pelo Governador do Estado do Maranhão - 1986. Obras Publicadas: “Sesquicentenário da Paróquia de Codó”. In revista do Instituto Histórico e Geográfico, ano LIX n° 09 - out/1985; e “Discurso de Posse” no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão sobre o ‘’Antônio Pereira” revista n° 07/12/1984 HGM. O Padre Benedito tinha pronta para publicação uma “Geografia do Maranhão”, entretanto apesar de brilhante era muito modesto e, por razoes desconhecidas, não chegou a publicá-la. Faleceuna cidade de São Luís a 11 de janeiro de 1996.
Fonte: EVSOC in ME Ciências Humanas em Revista - São Luís, V. 4, n.1, junho 2006, disponível em http://www.nucleohumanidades.ufma.br/pastas/CHR/2006_2/capa_v4_n2.pdf
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MARANHÃO NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XXI89 Do BLOG de LEOPOLDO VAZ
Encerrou-se, ontem, o Seminário “O Maranhão na primeira década do Século XXI”, promovido pelo Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM. Sou sócio efetivo, ocupando a Cadeira 40, patroneada por Dunshee de Abranches. Fiz parte da comissão de organização. Fiquei responsável pela edição especial da Revista, com as coletâneas do evento, reunindo as palestras apresentadas. Cumprindo um de seus objetivos - de discutir a situação do Estado em seus aspectos Históricos, Geográficos e das Ciências Afins, 12 (doze) trabalhos foram apresentados. Na parte que se refere à Educação - que recebeu o maior número de contribuições tivemos: Novo cenário da Ciência e Tecnologia do Maranhão, pelo Secretário de Ciências e Tecnologia Waldir Maranhão Cardoso; trabalho apresentado pelos Professores Sebastião Duarte e Fátima Durans, abordando a responsabilidade da Secretaria na implantação e desenvolvimento da Educação profissional, e os planos e projetos que estão sendo implantados. O Centenário da Educação Profissional no Maranhão, pela sócia efetiva e membro do CEE Joseth Coutinho M. de Freitas; Educação no Maranhão, pela sócia efetiva e membro do CEE Elizabeth Pereira Rodrigues; trabalho magnífico, em que faz uma análise da educação básica no Maranhão e seu desenvolvimento nos últimos anos - a da primeira década, lembrando o corte temporal do Seminário. Em ”A inserção da História da África e Cultura Afrobrasileira e a Africana na Educação Brasileira (maranhense)” a sócia efetiva Profa. Dra. Telma Bonifácio dos S. Ribeiro discorreu sobre a legislação atual, que determina o ensino dessa matéria, lembrando que pode ser tratada de forma transversal, sem se implantar uma nova disciplina de estudos. Lembrou que a História Africana e dos afro-brasileiros já merecia um tratamento, por parte de alguns professores dedicados, e que agora, todos deveriam tratar com mais profundidade o assunto. Aponta procedimentos metodológicos e bibliografia. A produção acadêmica do Curso de Mestrado em Educação da UFMA foi o tema abordado pela Profa. Dra. Dilercy Aragão Adler, sócia efetiva; dublê de professora e poeta; relata a trajetória do Curso de Mestrado em Educação, destacando sua importância para o desenvolvimento dos estudos pedagógicos, e a produção de seus
89 http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/08/07/maranhao-na-primeira-decada-do-seculo-xxi/
http://cev.org.br/comunidade/maranhao/debate/resultados-seminario
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Professores. Temos mais de 134 dissertações apresentadas, das quais 90% referem-se a análise da educação maranhense. Outro bloco, com quatro trabalhos afins, abordou aspectos geoeconômicos: “O Estado do Maranhão: Físico e Humano“, pela Profa. Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo – Geógrafa e Presidente do IHGM -, apresentou uma atualização da abordagem de seu último livro, em que trata dos aspectos da geografia social maranhense. Análise profunda da importância da Geografia no desenvolvimento sócio-econômico, oferecendo subsídios a nossos gestores na formatação de políticas públicas. Já em “O setor pesqueiro no Maranhão”, os professores do Instituto Federal do Maranhão Leopoldo Gil Dulcio Vaz (aposentado) e Tito Tsuji nos oferecem um panorama da pesca no estado, apontando para as deficiências e dificuldades que têm os trabalhadores do setor, especialmente a falta de um conhecimento científico dos fundamentos do trabalho no mar, que podem ser sanados com a oferta de cursos profissionalizantes, além de oferta de condições de trabalho e, principalmente, o estabelecimento de uma política pública de estado em consonância com o potencial econômico do setor, pela extensão de seu litoral, dos estoques de espécies e uma estrutura artesanal - e arcaica - de pesca, concorrente com as grandes empresas de outros estados, que fazem da costa maranhense o local preferencial de coleta de pescados. O Comandate da Marinha Carlos Alberto Ramos, sócio efetivo do IHGM apresentou “Subsídios para a História marítima Maranhense: o poder marítimo no Maranhão na atualidade“, em que nos oferece uma análise do papel da Marinha - de Guerra e Mercante - no desenvolvimento maranhense e as perspectivas que ora se nos apresentam, inclusive com o aproveitamento - racional - de nossas águas - marinha e continental -; o que representa a ampliação do sistema portuário para a economia maranhense e a geração de empregos e renda. A construção de um estaleiro está entre os novos negócios do setor, possibilitando a inserção de um grande contingente populacional no mercado de trabalho. “Atlas do Esporte no Maranhão“, pelo sócio efetivo Leopoldo Gil Dulcio Vaz, destaca a contribuição dos esportes, lazer, educação física, atividades físicas e de saúde para a economia, pois o setor de entretenimento é o maior empregador de mãode-obra em todo o mundo. Além dos recursos econômicos gerados. Aspecto descuidado em nossa economia. Destaca o desenvolvimento dos esportes, lazer, educação física e atividades físicas e de saúde no Maranhão, apresentando o projeto de construção do Atlas do Esporte no Brasil e o Atlas do Maranhão, oferecendo subsídios para os gestores de políticas públicas na oferta de serviços e geração de emprego e renda. Trata da memória desse importante setor da economia e da cultura. E o estágio em que se encontram as pesquisas e lavantamentos levados a efeito. Outros três sócios abordaram a contribuição de dois ilustres personagens da vida maranhense: Vavá Melo - como é mais conhecido Álvaro Urubatam Melo - discorreu sobre o centenário do ex-governador Newton de Barros Bello em “O município de São bento e o Centenário do ex-governador Newton de Barros Bello“. Após traçar a biografia política do ilustre maranhense, disse querer ressaltar com essa homenagem a
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contribuição que deu ao Município de São bento, enquanto político e governador. Talvez o único dos políticos que se dedicou a carrear recursos à sua cidade natalícia, inclusive transformando São Bento, por uma semana, na capital do Estado. “Os escritos de Dom Paulo Ponte: uma releitura a partir de última década” foi a contribuição dos Padres Raimundo Gomes Meireles - Doutor em Direito Canônico - e Clauber Pereira, atualmente no Canadá, ambos sócios efetivos de nosso IHGM. Analisam a obra de Dom Paulo, seu pensamento e contribuição para o desenvolvimento maranhense, em diversos momentos de tensão. Destacam que sua personalidade, incompreendida por aqueles que tinham contato com nosso Bispo, não se tratava de arrogância, mas de uma profunda timidez e introspecção. Um dos maiores teóricos da Igreja brasileira. No próximo dia 14 de agosto, com início às 18:00 horas, ambos os conferencistas apresentarão um trabalho mais aprofundado desse ‘maranhense por adoção”. Já estão todos convidados. Os outros dois trabalhos referem-se à arte maranhense e ao atual estágio da Medina: “História da Arte Maranhense na primeira década do Século XXI“ se constituiu em uma agradável surpresa. A Professora Raimunda Fortes Carvalho Neta faz uma análise da pintura maranhense, contrapondo os conceitos de ‘arte moderna’ e ‘arte contemporânea’, identificando nossos principais expoentes, a partir dos anos 50 do século passado, apresentando-nos as ‘gerações’ que surgiram. Seu estudo teve um recorte temporal, identificando, como dito, as gerações que se formaram, identificandoos com sua trajetória artística, sem preocupação - inicial, neste momento de seu estudo com uma filiação em algum dos movimentos artísticos dos tempos atuais. Agradável surpresa, por se tratar de uma jovem! - pesquisadora. E competente. Surpresa maior por que já a conhecida como Bióloga. Nunca iria a imaginar como artista competente - que é! - e professora de educação artística - que é! - e dona de um conhecimento profundo de nossas manifestações artísticas. Por fim, o Dr. Aymoré de Castro Alvim fez-nos uma análise do estado-da-arte e o estado-da-técnica de nossa Medicina, com o seu trabalho “Células-Tronco e a Medicina do Século XXI”. Confesso que estava um pouco apreensível pelo tema. Após a explanação, fiquei encantado. Não só pelo conhecimento na área médica, mas, sobretudo pela didática de sua explanação. Um tema árido, com termos técnicos incompreensíveis para a maioria dos leigos no assunto, mas que se tornou verdadeira poesia na apresentação. Um verdadeiro professor, dirigindo-se a pessoas que, embora um nível educacional e cultural elevado se tornaria de difícil compreensão dado as especificidades. Mas foi simples, rico em informações, traçando um panorama histórico das descobertas e as conseqüências para o setor de saúde. Não se atreveu a discorrer sobre questões éticas quando se refere à clonagem de seres humanos, mas deixou sua posição. Recomendo sua palestra às escolas. Um Mestre! Lamentável apenas a freqüência. Em todas as palestras, uma média de 25 pessoas. A Presidente do IHGM coloca á disposição de escolas, faculdades, entes científicos e culturais e gestores públicos as Coletâneas do Seminário. Como também se
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está aberto a convites para proferir Palestras e ‘bate-papos’ sobre os aspectos históricos, geográficos e das ciências afins, por parte do quadro social do Instituto. Lembra que toda última quarta-feira do mês, o IHGM promove uma reunião, com apresentação de algum estudo por parte de um de seus sócios. Estende o convite ao público em geral. Parabéns, Profa. Eneida. Parabéns aos confrades que aceitaram o desafio…
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HOJE É DIA DO LIVRO FOLCLORE MARANHENSE JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS 90 O nosso livro, acima mencionado, na sua 4ª edição atualizada e ampliada, estará sendo lançado hoje (sexta-feira) 21 deste, no Beco Catarina Mina, no histórico bairro da Praia Grande às 19 horas e você prezado leitor é o nosso mais honrado convidado. Ficaremos por demais felizes em poder, pessoalmente, apresentarmos a nova versão da obra de pesquisa folclórica maranhense, considerada revolucionária, em assim sendo, é deveras polemica! Desde bela produção da capa de crédito ímpar do Artista Plástico Fernando Gallas e terminando com o apêndice dos primeiros mapas do mais atualizado Mapeamento Cultural do Estado do Maranhão. Estendemos este convite a todos os professores, pesquisadores, mestres, doutores e principalmente os alunos dos cursos de História, Turismo e ciências afins; aos estudantes e corpos docentes dos Ensinos Fundamental, Básico e outros; as autoridades das áreas de educação e cultura maranhense em todos os seus segmentos; aos empresários; aos confrades e confreiras de todas as Casas de Cultura deste Estado; aos folcloristas de um modo em geral; aos visitantes; turistas e a todos nossos conterrâneos, sem nenhuma restrição. Gostaríamos, imensamente, de enviar convites individuais para todos os guerreiros da Maranhensidade, porém não possuímos estrutura para tanto. Ficam desta maneira, todos os brasileiros-maranhenses convidados para esse evento histórico, bastante marcante para os cenários da Cultura Popular Maranhense contemporânea. A obra tem, para nossa imensa satisfação, a apresentação ímpar do Acadêmico Américo Azevedo Neto, pesquisador dos mais renomados sobre a temática do livro. Possui, também, a avaliação do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, através do confrade Doutor José Cloves Verde Saraiva, que define o trabalho como um verdadeiro Vade-Mecum do Folclore Maranhense. Sem dúvida é um trabalho dos mais amplo sobre o riquíssimo Folclore Timbira. Com um roteiro deveras extenso, partindo dos Aspectos Geográficos, Históricos e Econômicos, bem como, descreve as Danças Folclóricas; os Folguedos, priorizando o Bumba-Boi; os Cultos Afro-Brasileiros, com ênfase ao Terecô e Umbanda dos terreiros codoenses; as Festas Juninas; O Carnaval, com destaque neste item é a descrição da Sinopse Histórica dos trinta últimos anos do Reinado de Momo São-Luisense, focalizando as histórias das Escolas de Samba e dos Blocos Tradicionais; a Culinária; A Festa do Divino; os Festejos Católicos com maiores detalhes sobre a Festa do Glorioso São José de Ribamar; as Lendas Maranhenses; Vocabulário Popular Maranhense; Brincadeira de Papagaio; Malhação de Judas; Adivinhações; Artesanato; Festas Natalinas; Depoimentos de inúmeros estudiosos deste setor da Cultura Maranhense; Calendário Atual sobre as Manifestações Folclóricas e Culturais do Maranhão e o Mapeamento das Manifestações Folclóricas do Maranhão. O livro Folclore Maranhense – Informes 4ª edição foi impresso na Gráfica Sucesso com 296 páginas, tiragem de 3.000 exemplares, ilustrado com desenhos de pico de pena dos artistas plásticos: Paulo César, Airton Marinho, Uedel Rocha e o estilista 90
Membro Efetivo do IHGM. Publicado no JP Turismo em 21 de janeiro de 2005, disponível em http://www.jornalpequeno.com.br/2005/1/21/Pagina10449.htm
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Chico Coimbra; com uma centena de fotos de autoria do Autor, do Arquivo do JPTurismo, Jandir Gonçalves, Chico Coimbra e Pedro Araújo; a revisão ficou a cargo dos poetas Jeovah França e Paulo Melo Souza e o planejamento gráfico e diagramação são créditos de Leudo Fernando e patrocínio da Caixa Econômica Federal. Queremos agradecer todas as pessoas que de uma forma ou de outra colaboram para que mais esta obra de fôlego, que produzimos em prol da Maranhensidade seja hoje entregue ao grande público leitor, porém é de dever e da mais inteira justiça que temos os maiores e especiais agradecimentos à Caixa Econômica Federal, na pessoa do seu Superintendente Regional Dr. José Carlos Nunes Júnior; ao SENAC-MA, na pessoa do empresário José Arteiro, Presidente da Federação do Comércio do Maranhão, e Dr. José Ahirton Batista Lopes, Diretor Regional; Dr. Pedro James de Souza Guedêlha, Chefe da Unidade do IBGE-MA, e ao Arcebispo Metropolitano de São Luís, D. Paulo Eduardo Andrade Ponte, que foram os responsáveis vitais para que esse nosso projeto virasse realidade, hoje um livro que você leitor pode julgar o valor do mesmo para as nossas gerações contemporâneas e principalmente para as que nos sucederão. Descontraído e por demais conscientes de mais uma etapa gloriosa de nossa missão cumprida, só nos restar esperá-lo ter a felicidade maior, ainda, de autografar o seu livro e abraçá-lo fraternalmente. A Trincheira continua, outras tantas pelejas estão chegando e nós as enfrentaremos, com a mesma disposição e coragem de sempre e as bênçãos de nosso Glorioso São José de Ribamar, somadas aos bons fluídos de luzes dos bons espíritos das matas do Codó. Temos o maior orgulho de sermos Maranhenses, com M maiúsculo. Entrincheirados em prol da Maranhensidade, a valorização das nossas coisas e nossa gente!
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DISCURSO DO SOBERANO GRÃO-MESTRE OSVALDO PEREIRA ROCHA QUANDO DAS COMEMORAÇÕES DO 36º ANIVERSÁRIO DO GOAM, NOITE DE 25/08/2009. Saudação às autoridades maçônicas presentes, aos irmãos, cunhadas, sobrinhas, sobrinhos e demais convidados especiais. Graças ao Grande Arquiteto do Universo estamos mais uma vez reunidos, desta feita para comemorar os aniversários de duas Lojas Maçônicas desta Obediência e da própria Potência Maçônica, o querido Grande Oriente Autônomo do Maranhão GOAM. Reunidos em assembléia geral, na sede da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Maranhão, situada na Rua do Passeio nº 541, nesta cidade de São Luís – MA, em 23/08/1973, dezenas de Maçons, ativos e regulares, oriundos de Lojas do Grande Oriente do Estado do Maranhão – GOEMA, hoje Grande Oriente do Brasil no Maranhão – GOB/MA, desta capital, fundaram as Augustas e Respeitáveis Lojas Simbólicas “Defensores da Ordem” e “Guardiã da Independência”. E, em conjunto com as Augustas e Respeitáveis Lojas Simbólicas “Oliveira Roma”, de Chapadinha e “Atalaia Codoense”, de Codó, fundaram, dois dias depois, e, portanto, em 25 de agosto de 1973, este Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM. Os líderes maiores daquele movimento foram os Irmãos Afonso Augusto de Morais, Felinto Ribeiro da Silva Neto, José Joaquim Ramos Filgueiras, Raimundo Ferreira Marques, José Maria Serejo Santos Jacinto e Israel Perdigão Freire, sendo que Afonso Augusto de Morais e José Joaquim Ramos Filgueiras foram eleitos para os cargos de Grão-Mestre e Grão-Mestre Adjunto, respectivamente; Raimundo Marques Venerável Mestre da Loja ‘Guardiã da Independência’ e José Maria Serejo Santos Jacinto Venerável Mestre da Loja ‘Defensores da Ordem’. E este Irmão e Amigo de vocês o primeiro Orador da Guardiã da Independência. A instalação do GOAM ocorreu em 10 de outubro de 1973, com a presença do líder nacional Irmão Athos Vieira de Andrade, Grão-Mestre do Grande Oriente de Minas Gerais, que premiou o Maranhão com a realização da primeira reunião do Colégio de Grão-Mestres da Maçonaria Brasileira, hoje Confederação Maçônica do Brasil – COMAB, presentes irmãos desta capital e delegações expressivas do interior, isto é, de Chapadinha, de Codó e de Caxias, visto que a Augusta e Respeitável Loja Simbólica ‘Cruzeiro do Sul VI’ se incorporaram ao GOAM. No dia 20 de agosto de 1999, foi assinado o Tratado de União da Maçonaria Maranhense, isto é, Grande Loja Maçônica do Estado do Maranhão – GLEMA, Grande Oriente do Brasil no Maranhão - GOB/MA e Grande Oriente Autônomo do Maranhão – GOAM. Em nome dos três atuais Grão-Mestres das referidas Potências Maçônicas, este
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orador falou durante a Sessão Magna Pública de 21 do presente mês, no Templo da ARLS ”Renascença Maranhense” (GOB/MA) sobre o mesmo tratado que, graças ao Grande Arquiteto do Universo, fica a cada dia mais forte e os irmãos das três Potências da Maçonaria Unida do Maranhão, integrantes do CONSELHO INTERMAÇÔNICO DO MARANHÃO – CONSINMA, mais fraternos. Há poucos dias recebi uma Mensagem do Venerável Mestre da ARLS “DIVINA LUZ Nº 39” (GLEMA), meu irmão e amigo Joaquim Farias de Oliveira, através de email que, dada a importância do seu conteúdo, considerando a crise em que vivemos, dela extraí, com algumas mudanças, o seguinte: Meus irmãos e amigos cremos sinceramente, que a Arte Real tem levantado o véu que encobre os contornos do projeto que nos levará a uma ação eficaz e à efetividade de nosso trabalho no terceiro milênio. Portanto, é hora de ação, de agirmos, se quisermos a presença da Maçonaria nos próximos milênios. As ferramentas nós as temos, ou seja, uma instituição eclética e universitária que abriga os mais variados matizes do pensamento humano e uma gama de homens livres e de bons costumes. Condição esta que não é encontrada facilmente nas outras organizações que permeiam o organismo social. Façamos um esforço para desempenharmos o nosso papel de Maçom, na Maçonaria e fora dela; meditemos a respeito de nosso futuro e peçamos ao Grande Arquiteto do Universo as luzes necessárias para encontrarmos o caminho, como obreiros da paz que somos nesse mundo repleto de violência. Os contornos dos planos de nossas ações estão na e para a Ordem, na e para a Sociedade, e são os mesmos contornos do templo interior que deveremos construir como Maçons, que nos são lembrado semanalmente pela fórmula litúrgica ”construir templos à virtude e cavar masmorras ao vício”. Reflitamos intensa e ativamente sobre tudo isto que hoje analisamos, trabalhando diligentemente do “meio dia à meia noite”. Agradeço a presença do Eminente Grão-Mestre do GOB/MA, Irmão, confrade e amigo José de Jesus Billio Mendes, assim como as de todas as autoridades, dos irmãos de todas as Lojas, das cunhadas, das sobrinhas, dos sobrinhos e dos demais convidados. Convido a todos e a todas para um coquetel, em seguida, no salão de banquetes desta Potência Maçônica. Parabéns GOAM, Defensores da Ordem e Guardiã da Independência, pelos seus 36 anos de fecunda existência! Muito obrigado pela atenção com que me ouviram.
Osvaldo Pereira Rocha GRÃO-MESTRE DO GOAM.
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DIA DO MAÇOM E TRATADO DE UNIÃO DISCURSO DO SOBERANO GRÃO-MESTRE DO GOAM, IRMÃO OSVALDO PEREIRA ROCHA, EM NOME DOS TRÊS GRÃO-MESTRES DA MAÇONARIA UNIDA DO MARANHÃO, DURANTE A SESSÃO MAGNA PÚBLICA, CONJUNTA, NA ARLS RENASCENÇA MARANHENSE, EM 21/08/2009. Saudação às autoridades, aos irmãos, cunhadas, sobrinhos, sobrinhas e demais convidados presentes. Comemoramos neste dia 21 de agosto de 2009 o Dia do Maçom que transcorre em 20 de agosto, legalmente instituído e que, para nós, Maçons, é uma data muito importante, considerando-se que ela reforça o nosso comprometimento de respeito à Lei, ao próximo e, principalmente, ao Grande Arquiteto do Universo, que é Deus, assim como o 10º aniversário do Tratado de União firmado entre as Potências que fazem a Maçonaria Unida do Maranhão, em 20 de agosto de 1999. Ser Maçom não é fácil, pelo contrário, é muito difícil! O Maçom não defende sua causa, mas a causa de todos aqueles que visam à incansável construção do edifício social mais justo e perfeito. Defende a justiça contra a tirania. Jamais mergulha suas mãos nas águas lodosas da corrupção. Clama, constantemente, pela prática da ética e da verdade; pela prevalência do espírito sobre a matéria. Ser Maçom é ser amante da virtude, da sabedoria, da justiça e da humanidade; é ser amigo dos pobres e desgraçados, dos que sofrem, dos que choram, dos que têm fome e sede de justiça; é propor como única norma de conduta o bem de todos e o seu progresso e engrandecimento. É querer a harmonia das famílias, a concórdia dos povos, a paz do gênero humano; é derramar por todas as partes os esplendores divinos da instrução; a educar a inteligência para o bem, conceber os mais belos ideais do direito, da moralidade e do amor; e praticá-los. Levar à prática aquele formosíssimo preceito de todos os lugares e de todos os séculos, que diz, com infinita ternura aos seres humanos, indistintamente, do alto de uma cruz e com os braços abertos ao mundo: “Amai-vos uns aos outros, formai uma única família, sede todos irmãos”! Olvidar as ofensas que se nos fazem; ser bom, até mesmo para com nossos adversários e inimigos; não odiar a ninguém, praticar a virtude constantemente, pagar o mal com o bem. E nem é preciso lembrar (ou relembrar) que dezenas — ou quiçá milhares — de irmãos nossos tiveram as suas vidas ceifadas lutando por uma causa nobre, isto é, a de difundir, de propagar, no Universo, os fundamentos da nossa notável instituição Maçônica, que se assentam nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade.
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Rendo-me, de joelhos, a tantos quantos foram e têm sido os irmãos que participaram e ainda participam, direta ou indiretamente, da história da Maçonaria Universal, reconhecendo as suas lutas e os seus sacrifícios; seus dissabores, suas incompreensões, as censuras dos governos déspotas e de falsos pregadores, além de outros setores retrógrados de hoje. Senhoras e Senhores, ser Maçom é um estado de espírito! O Tratado de União firmado entre a GLEMA, o GOB/MA e o GOAM, potências maçônicas representadas pelos então Grão-Mestres Francisco José Ramos da Silva, Heli Lopes de Moraes e Plinio Ferreira Marques, respectivamente, tem alguns considerandos que contêm muito ou quase tudo que nós, Maçons, tanto queremos. Senão vejamos: Considerando que o ideal maçônico preconiza a união de todos os povos; que a Maçonaria, para lutar por esse ideal e fraternidade precisa, antes de tudo, cultivar a harmonia e a união no seio da família maçônica; que a existência de três Potências Maçônicas no Estado do Maranhão não se constitui óbice para a consecução desse nobre objetivo; que a filosofia maçônica não difere na sua essência, em qualquer parte do mundo, até porque a fraternidade não pode e nem deve ter fronteira a limitar seu exercício; que o vínculo da fraternidade que une e identifica os maçons independe de obediência às Potências a que são filiados, etc. “DECIDEM CELEBRAR O PRESENTE TRATADO DE MÚTUO SOCORRO, FRATERNAL CONVIVÊNCIA, RECÍPROCA AMIZADE E ESTREITA COLABORAÇÃO, mediante as condições e regras de caráter normativo para obediência de suas oficinas (lojas) e dos obreiros (maçons) a elas circunscritos, a saber”: 1 – Os maçons regulares, subordinados a qualquer das Obediências, poderão freqüentar qualquer Loja das signatárias, desfrutando das mesmas regalias de sua Obediência de origem, ficando, entretanto, obrigados ao acatamento das Leis e Regulamentos da Loja visitada e da Obediência que a mesma pertença; 2 – As três Potências, visando à consecução dos nobres ideais por que propugnam, colaborarão entre si, incentivando os laços de fraternidade e o ideal da universalidade da Sublime Ordem, sugerindo ou propondo, as medidas mais aconselháveis para atingir esse fim; etc. As mencionadas potências maçônicas têm hoje como Grão-Mestres o Sereníssimo Irmão Raimundo Nonato Santos Pereira (GLEMA); o Eminente Irmão José de Jesus Billio Mendes (GOB/MA) e este Soberano Irmão Osvaldo Pereira Rocha (GOAM), presentes nesta sessão magna pública, compondo esta mesa diretora dos trabalhos, com o Venerável Mestre desta Loja, Irmão Antonio Euzébio da Costa Rodrigues Filho. Honremos hoje e sempre o dia a nós consagrado, com a inspiração divina do Grande Arquiteto do Universo e procuremos manter e tornar cada dia mais firme e forte o Tratado de União que hoje celebramos! Obrigado pela paciência de me ouvirem. Oriente de São Luís do Maranhão, 21 de agosto de 2009-EV.
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A ARTE E A EXPERIÊNCIA RELIGIOSA NO MARANHÃO PE. DR. RAIMUNDO GOMES MEIRELES Sócio efetivo do IHGM, cadeira 60
Ao folhear o livro “arquitetura e arte religiosa no Maranhão” das pesquisadoras Kátia Santos Bogéa, Emanuela Sousa Ribeiro e Stella Soares de Brito, recordamos o pensamento do filósofo idealista João Francisco Duarte Júnior. Ele elabora sua concepção sobre a estética a partir do mundo cotidiano, partindo da realidade vivenciada no dia a dia. Expressa o substrato de suas idéias com a finalidade de nos imbuir da experiência estética para que seja necessário recorrermos à essência da Beleza. Nesta noite de lançamento da obra em tela nos contentamos com um pequeno aceno auxiliado pela filosofia, já que o Belo e a Arte são categorias trabalhadas pela filosofia cristã. A questão é que, do ponto de vista filosófico, a Beleza não reside nos objetos, nas telas, nos templos, nas edificações religiosas etc., mas a localizamos em um mundo ideal e, somente podemos nos aproximar do referencial do Belo, se nos relacionarmos com o que nos induz a experiência estética. A relação existente ou aquela que porventura possa ser criada entre o sujeito e o objeto produzirá um “quid” que pode ser denominado de Beleza. Neste sentido, não podem existir regras padronizadas, codificadas que determine, por exemplo, uma igreja construída e acabada, com pintura x, com técnica y, seja bela, e outra, construída e acabada com pintura k, e técnica w seja feia. E ainda, outra, construída e acabada com a mesma técnica da primeira, desta vez, por intermédio dos construtores de uma congregação religiosa, bispo ou religioso leigo que usaram arquitetura e estilo gótico, rococó, ou moderno, seja horrível ou ridícula. Quem irá fazer o “juízo"? Não se trata de juízo, mas dependerá da relação dos sujeitos com a arte que produziu a edificação, a técnica, o local, a cultura, os freqüentadores, os participantes do projeto e a contribuição do construtor etc. O produto estético será fruto da relação intelectual profunda, até mesmo sensível, do sujeito cognoscível com a arte e a arquitetura religiosa. A arte, em última análise, é uma representação íntima e profunda do que ela é. Na verdade, nada mais é do que um recurso dizível para tentar expressar aquilo que o imaginário religioso enfatiza. A arte não tem a finalidade de expressar nada, de “falar” nada, mas de ser, para ser, para os outros seres. A arte trabalhada nas igrejas católicas e edificações religiosas do nosso Maranhão quer mostrar aquilo que é, pois trata-se geralmente de edificações simples, modestas e em certo sentido, pobres. Ademais, diante da enorme variedade de estilo que valoriza a arquitetura
Em 28.8.09. Chanceler do Arcebispado, sócio efetivo do IHGM, cadeira 60.
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religiosa católica, construída ao longo dos séculos, a nossa nada mais é que, produto de uma experiência de fé, traduzida em Arte religiosa e não mais que isso. Em diversas situações tentamos dizer o que tal templo significou ou significa, muitas vezes produzindo significados que, em inúmeros casos, nos damos conta do quanto somos incapazes de expressar o sentimento, o gosto, os detalhes do projeto arquitetônico, o material utilizado, a força de trabalho empregada, a origem dos trabalhadores, as motivações para a construção, o que na verdade a Arte religiosa é. O Ser humano impulsionado pela sua vocação religiosa não constrói seus feitos ao seu Deus por simpatia, mas cada realização é produto da experiência de fé de uma determinada época. A linguagem conceitual torna-se ineficaz para transmitir a simbologia indiscutível dos templos religiosos católicos. Devido a isso, hoje acreditamos que a atitude mais sábia, aos contemplarmos, descrevermos os feitos, detalhes da arquitetura dos templos construídos com suor, ou sabe-se lá, com sangue de muitos escravos, será contemplar o que a Arte em sua realidade infinita, em todo o seu complexo, mostra. Acontece que na ânsia da descrição dos reparos e restauro dos templos religiosos a qualquer tempo, requer dos pesquisadores extremo cuidado, para não haver nenhum indício de injustiça91. Toda edificação religiosa católica deve estar a serviço do povo, na sua maioria, o povo é parte integrante de sua gestão patrimonial. O direito canônico garante a participação do fiel batizado católico na administração dos bens da Igreja. Eis porque a arte religiosa católica é um dos maiores patrimônios da Igreja, que auxilia a música, o Magistério, a Tradição e a Palavra. As nossas igrejas históricas são pobres. Não encontramos igrejas com arquitetura extravagante. Por isso, não nos causa espanto e muito menos não nos custa explicar aquilo que nos obriga dizer: a ação mais nobre do ser humano simples, com relação à questão da arte e arquitetura de sua igreja é tentar um relacionamento, um que dê proximidade com sua fé e, como produto disso, a percepção de que lhe restará uma Presença diante de si.
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O livro declara que em 1995 a igreja de São João Batista dos Vinhais foi restaurada pela Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão e, no entanto, não foi. A referida restauração foi fruto dos esforços dos fiéis daquela comunidade. A igreja estava há anos em ruínas e alguns líderes da própria comunidade religiosa se prontificaram a restaurá-la; em outra ocasião já tivemos oportunidade de expressar a insatisfação do povo daquela comunidade que se demonstrou indignado quando tomou conhecimento através de relatório do IPHAN ao relatar que no ano de 1995 que a igrejinha teria sido restaurada pela Secretaria de Cultura do Estado, através do Departamento de Patrimônio Histórico e Paisagístico. Eliminando-se assim, toda e qualquer participação dos fiéis da comunidade. Talvez tenha pairado a dúvida a quem catalogou, em acreditar que tenha sido restaurada pelos membros da comunidade, por manter detalhes, beleza, arte e aspectos originais. Segundo nosso entendimento, isso só se explica o pouco valor que se produz pelo povo simples. Mas o sentido de pertença, de algumas comunidades à sua igreja histórica é grande. O mistério determina a fé naqueles que são capazes de acreditar sem que outros possam por confiança. Espera-se que na segunda edição dessa obra seja feito a correção, se queremos ser fiéis aos verdadeiros donos da igrejinha histórica. A Arquidiocese de São Luís se gloria do povo da Vila Vinhais cuidar e zelar daquele patrimônio do ano de 1622.
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A Arte, sobretudo, a arte religiosa impregnada nos templos, imagens de santos ou em qualquer utensílio de uso para fim religioso, expressa uma relação da espiritualidade da pessoa com o mundo. Assim, somente será possível experimentar a arte após vivenciar sua imanência, que nada mais é que o desnudar do relacionamento culminando com a contemplação. Pois existe uma grande diferença entre um fiel dentro do templo orando, suplicando a Deus, e outro num outro recinto qualquer suplicando graças. Para a pessoa de fé, o lugar tem muita influência. Para um católico, devoto da religiosidade popular, uma coisa é estar na igreja de Nossa Senhora da Vitória, em São Luís, outra coisa completamente diferente é visitar a igreja de São José de Ribamar no período da festa do padroeiro. Não pode existir Arte sem contemplação, assim como fé sem sujeito orante. Hoje o que fazemos nada mais é do que contemplar o que outros edificaram, na fé, no esforço e na coragem de externar a Arte ao seu Deus. As igrejas católicas, as edificações, as imagens de santos, as peças sagradas etc, mostram aquilo que é. Nós intuímos aquilo que nos cabe, aquilo que nos é conveniente, aquilo que nos é possível captar e perceber pelos nossos frágeis sentidos.
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IHGM E ROTARY TÊM 80 ANOS EM DOBRO92 OSVALDO PEREIRA ROCHA93
Em agosto de 2009 tive a satisfação de receber convite do confrade do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGM, o amigo Raul Eduardo de Canedo Vieira da Silva, para a comemoração do 80º aniversário de sua querida mãe, a confreira, rotariana, amiga e presidenta do referido IHGM, Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, que realizar-se-ia no dia 03/09/2009, quinta-feira, no Hotel Praia Mar, na Ponta d’Areia, nesta cidade de São Luís do Maranhão, às 20 horas. Compareci ao importante evento social integrado por muitas familiares, confrades, amigas e amigos da ilustre aniversariante, evento este que constou de ato religioso celebrado pelo Padre Jorge Melo, saudação da festejada pela confreira e amiga Joseth Coutinho Martins de Freitas, que, como sempre, fez um belo discurso, seguida dos agradecimentos de Eneida, que estava muito feliz, além de jantar e sobremesa deliciosos. Também no mês de agosto fui procurado pela minha sobrinha querida Débora, filha do meu primeiro irmão, padrinho de Rotary e amigo, médico Salomão Pereira Rocha que, na oportunidade, me deu a honra de escrever (digitar) algumas palavras, à guisa de apresentação, em livro especial, elaborado pelas filhas e filhos de Salomão, para ser lançado quando da comemoração do seu 80º aniversário, dia 05/09/2009, trabalho este que realizei com muito prazer. Logo depois recebi o amável convite “Alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que caricia, desejo que sacia, amor que promove... Isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida”, dos filhos, genros, noras e netos para a grande festa dos 80 anos de fecunda existência de Salomão Pereira Rocha, dia 05/09/2009. Missa às 18:30 h na Igreja JESUS, Bom Pastor, seguida de jantar no Praia Mar Hotel (coincidentemente no mesmo local escolhido por Eneida), foram as duas etapas da aludida festa, para as quais vieram a mana Neusa e os manos João, Osmar e sua mulher Graça e Valdemir, este com sua mulher Irene e seu filho Roberto, todos de Brasília-DF; as irmãs Zuleide e seu filho James, Alzira e seu filho Adnan e Enoe com seu filho Rocha Neto e suas filhas Keila e Kelle, de Codó, Santo Antonio dos Lopes e Lago da Pedra, respectivamente, a tia Maria Hipólito Rocha Borges, de Lima Campos; as filhas e os filhos do aniversariante Cláudia, Fabíola, Débora, Marcos Antonio e Paulo; os irmãos Osvaldo e suas filhas Mary Dalva e Valdene, seu neto Osvaldo e suas netas Lorena e Luiza Fernanda, além de seu genro Emerson Fernando; Antonio da Silva Rocha Filho e sua mulher Cenira e sua filha Denise; as irmãs Judite, Lili e Isa; os sobrinhos e sobrinhas Francisco Carlos, Carlos Reis, Marcia Rejane, Magno Júnior, 92
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Publicado em o jornal O IMPARCIAL, edição de 13/09/2009
Colaborador (Registro DRT/MA nº 53). E-mail: rocha.osvaldo@uol.com.br
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Harlen, Helem Rose, Giannielle, Mara Isa e Denise, e o filho e as filhas de Francisco Carlos, ou seja, meu amigo Abraão Neto, Laura e Luiza, além de outros parentes, todos desta Cidade Cultural, Patrimônio da Humanidade, ávidos para abraçar o mais novo oitentão, o que fizeram com inusitada satisfação e alegria. Foram sucesso absoluto no jantar de Salomão o vídeo e o livro sobre sua vida, e o bolo confeitado em formado de um médico. Foram anotadas as presenças do Diretor de Redação do Jornal O IMPARCIAL, Jornalista e amigo Raimundo Borges e da Jornalista Rosenira Alves, que foram abraçar cordialmente Salomão, e de vários companheiros de Rotary, liderados pelo Presidente do RC Praia Grande, Pedro Ivo de Carvalho Viana. O leitor ou a leitora deve ter observado mais coincidências, além do local dos dois jantares, ou seja, tanto Salomão quanto Eneida integram os quadros de historiadores do IHGM e são rotarianos, sendo que Eneida é do Rotary Club de São Luís e Salomão é do Rotary Club São Luís – Praia Grande e ela é apenas dois dias mais idosa do que ele, mas, ambos, estão bem enxutos, lépidos, inteligentes e capazes, graças ao Grande Arquiteto do Universo. Parabéns, Salomão Pereira Rocha e Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, meu confrade e minha confreira do IHGM, respectivamente, pelos seus 80 anos bem vividos!
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AS “INJUSTIÇAS DA NATUREZA” (Discurso do Governador Luiz Henrique na cerimônia de inauguração do Centreventos Ministro Renato Archer. Florianópolis, ParcTec Alfa, Fapesc, 11 de Setembro de 2.009.) Neste momento em que a vida pública está no nível de baixa estima, credibilidade e esperança, é importante e reconfortante recordar a trajetória do maranhense Renato Bayma Archer, nosso primeiro Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia. Essa trajetória começou na Escola Naval, onde foi aluno de Química do legendário cientista, Almirante Álvaro Alberto, de quem se tornou grande aliado na luta pelo desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. Nessa luta, abriram duas frentes: a da criação de um órgão nacional de pesquisa (do que resultou no advento do CNPq, em janeiro de 1951), e a do domínio soberano, na área nuclear. A história registra um fato que poucos sabem: os Estados Unidos, que desenvolveram pioneiramente a bomba atômica, não possuem, em seu território, os minerais radioativos básicos, como urânio, tório e areia monazítica (da qual se extrai 2% de urânio e 6% de tório e um elenco numeroso de terras raras). Dentre essas terras raras está o európio, um mineral que tem capacidade de bloquear a radioatividade, impedindo a radiação atômica e, conseqüentemente, a contaminação. Além disso, estimava-se, nos anos 1950, que só havia, no mundo inteiro, uns quinze quilos de európio, dos quais o Brasil tinha reservas dimensionadas em oito quilos! Outra curiosidade está nas bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki. Elas possuíam urânio de procedência africana. E, como a maior reserva de minérios radioativos se encontram em países que, há época, eram chamados de subdesenvolvidos (como Brasil e Índia), as autoridades norte-americanas passaram a chamar isso de “injustiças da natureza”. Para corrigir as “injustiças da natureza” propuseram a internacionalização desses minérios, que seriam controlados por uma agência das Organizações das Nações Unidas (ONU). Deputado Federal, Renato Archer reagiu com todo rigor a esse propósito. E, do plenário da Câmara, sugeriu, ao Presidente Juscelino Kubitschek, a criação de uma política sintetizada em cinco pontos: pesquisa e lavra, organização, exportação, utilização nacional e controle. Face às reações comandadas pelo Almirante Álvaro Alberto, pelo Deputado Renato Archer, pela comunidade científica e por expoentes do Conselho de Segurança Nacional, o Governo Brasileiro foi posto num dilema: ou disponibilizaria suas reservas estratégicas ou teria de enviar tropas para combater na Guerra da Coréia?!
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Renato defendia que a venda de minerais radioativos aos Estados Unidos tivesse uma contrapartida de compensações representadas pela transferência da tecnologia nuclear e por suprimento de materiais e laboratórios . Infelizmente, eram poucos os que o seguiam. Nem a sociedade brasileira, nem a maioria dos congressistas e dos membros do Governo brasileiro possuíam formação ou informação científica, nem compreendiam a importância do domínio da tecnologia nuclear para o desenvolvimento do País. Por isso, triunfou a maioria inculta, desinformada ou mal informada. E o Brasil acabou cedendo 15 mil toneladas de areia monazítica, aos Estados Unidos, em 1952. Pelo acordo, essas quinze toneladas deveriam ser entregues em três anos. Mas, foram enviadas, logo, no primeiro ano! Em razão disso, o Brasil não só abriu mão de suas reservas. Abriu mão de sua influência e poder nas relações internacionais! Deixou de ter voz e liderança, junto aos Países do G-7, nas grandes questões da política e da diplomacia global. E luta, até hoje, sem sucesso, para integrar, como membro permanente, o Conselho de Segurança da ONU. Não logrando fazer com que o Brasil obtivesse as compensações específicas, na venda de areia monazítica, Renato Archer suportou, no Parlamento, o Almirante Álvaro Alberto, na sua luta para adquirir, da Alemanha, três ultra-centrífugas, para capacitar o Brasil no processo de enriquecimento de urânio. O Presidente Getúlio Vargas apoiou. O Brasil para 80 mi dólares por elas. Mas as tropas de ocupação norte-americanas embargaram o embarque. Renato ficou marcado por essa sua posição, que assinalou suas ações na Câmara dos Deputados e no Ministério das Relações Exteriores, onde foi adjunto do grande San Thiago Dantas, e titular do Itamaratry, por sete meses, durante o afastamento, por doença, do Chanceler. Cassado, com os direitos políticos suspenso por dez anos, preso três vezes, durante o regime autoritário de 1964, Renato Archer nunca esmoreceu ou acovardou-se. Continuou como um Quixote, a defender a soberania do nosso País! O Brasil deve-lhe a criação do CNPq, como deve-lhe a constituição do Ministério de Ciência e Tecnologia, cuja estrutura ele montou para ser ocupada por uma equipe de alta qualidade, idealismo e comprometimento. O Brasil deve-lhe muito. Por isso esta homenagem. Pequena diante de sua grandeza. Mas, grande, por tentar resgatar a sua memória. Georg Bernard Shaw separava os homens entre os que enxergam as coisas que existem e perguntam: por quê? E outros, que vislumbram as coisas que não existem, e perguntam: por que não?! Renato Archer era um destes! Perguntando: por que não?! Por que não?! Ele deu um grande exemplo para todos nós!
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A ARTE NA ANTIGUIDADE: O CASO DO EGITO94 TELMA BONIFACIO DOS SANTOS REINALDO
Mário de Andrade disse uma vez que a arte não é elemento vital, mas sim um elemento de vida. Não nos é imediatamente necessária como comida, roupas, transporte descobrimos nela a constante do supérfluo, do inútil. E para exemplificar a sua afirmativa ele vai dizer que, uma lamina num cabo é uma faca, mas é preciso que o cabo seja esculpido, que a lâmina seja gravada para que a faca, objeto de um trabalho supérfluo exprima o amor e a atenção que o homem consagrou a ela e, se transforme em arte. Para Aristóteles, o homem é um animal político, mas é também um artista nato visto que desde as suas origens primitivas utilizaram os signos para representar as suas idéias nas paredes das cavernas pré-históricas, signos esses que eram animais ou instrumentos necessários para a sua sobrevivência. Embora não tenhamos documentos dessa época, a não ser os grafismos encontrados nas paredes das cavernas, a importância do artista das sociedades pré-letradas é a mesma de um Van Eick, pois está comprovado por algumas correntes historiográficas que na atividade artística não há progresso linear e sim representação de estado de espírito e de fatos de um momento dado. A arte existe em todas as partes do mundo, no entanto para referenciar marcos cronológicos e para revelar tradições de um povo podemos situar um tempo, uma arte e um povo. O objeto desse artigo é enfocar a arte na Antiguidade, mais especificamente no Egito, que para nós reveste-se de grande importância na medida em que, toda a produção artística desse povo nos legou valores sociais, políticos e econômicos de uma sociedade que nasceu sob a égide do monumental, envolvendo nada menos de vinte dinastias num período de 4.000 anos de 3.150 a.C a 1.160 a.C. (Burns, 1977). A passagem do que se convencionou denominar Pré-História para História propriamente dita caracterizou-se por transformações radicais e pela coexistência de antigas tradições e costumes neolíticos ao lado de novas condições de vida urbana. No caso especifico do Egito, a maioria da população (felás) desenvolveu uma existência tradicionalmente fixa indiferentes as mudanças que ocorriam ao seu redor, preservando assim suas tradições e ritos. 94
Publicado em Boletim REDEM, setembro de 2009, disponível em http://www.redem.org/boletin/boletin150909.html Disponível em http://www.redem.org/boletin/files/A%20Arte%20na%20Antiguidade-Telma1509.doc
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Na visão marxista, a alteração decisiva encontrada nessa sociedade, consiste no fato de a produção primaria deixar de constituir a ocupação principal e historicamente progressiva e passar antes a ser uma forma de atividade subsidiaria do comercio e da indústria manual. Tais mudanças se justificam a partir do desenvolvimento das forças produtivas e da concentração de poder nas mãos de poucos, resultando em uma nova divisão de trabalho. O antigo camponês que acreditava em deuses e espíritos, criador de imagens decorativas e jóias, foi obrigado a tornar-se especialista e a produzir para sua subsistência. Entre o Estado e a Religião, os dois esteios da civilização egípcia, o liame era tão forte que nos vemos embaraçados para dizer que a arte egípcia se consagra mais a realeza do que a religião. Longe de se oporem, os dois caracteres se interpenetram: o rei deus dominando a vida religiosa e os sacerdotes influenciando as decisões da instituição monárquica. Sob o Antigo Império, o rei, proprietário universal concede a quem lhe apraz tanto o terreno quanto os materiais necessários a edificação do tumulo, do templo e dos palácios. É nestas condições que a arte evoluiu refletindo o desenvolvimento monárquico, criando modelos e ritos de estado, fixando tradições e grandes estilos artísticos. Explica-se assim que em épocas de culminância política a arte egípcia acompanhe o apogeu da monarquia faraônica, visto que estão dispostos recursos abundantes devido o bom funcionamento da maquina estatal advinda da exploração das províncias exteriores, contribuindo para a melhoria do esforço estético. No entanto, nos períodos chamados de “intermediários”, de anarquia e de invasão notadamente dos hicsos, dos persas e dos assírios a produção artística enfraqueceu e declinou o seu valor devido o afrouxamento político e social bem como a ruptura das tradições nacionais. Nestas condições a arte egípcia evoluiu no ritmo da sua história política e econômica, notadamente a arquitetura, onde os grandes templos e tumbas representaram a grandeza de cada época. Percebe-se alguns modelos denominados “protodóricos’, sem base e com o tronco sulcado de caneluras, com o capitel muito simples, evocando um tipo de construção que os gregos utilizarão posteriormente, cujo aspecto plástico exterior apresenta um feixe de hastes, finalizando com uma flor de lótus ou de papiro. Já a escultura tendo atingido um notável grau técnico, realiza estatuas e estelas nas paredes dos túmulos cujos temas retomados durante séculos como o rei, os deuses, a esfinge, o defunto e sua família, a oferenda a divindade, as cenas do cotidiano encontram-se fixadas através de convenções relativas a representação do corpo humano , das atitudes e dos seus atributos. Na verdade a arte intimamente ligada as concepções religiosas e ao poder do faraó, com características colossais e tentando representar a força e o poder da monarquia entra em contraste com a espontaneidade e a despreocupação diletante da arte anterior.
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Sob alguns aspectos podemos considerar a arte egípcia do Antigo Império como a mais perfeita de toda a civilização. Nesse período a arquitetura deu seu passo decisivo quando abandona o emprego do tijolo cru, na construção dos grandes monumentos, substituindo-o pela pedra, primeiro o calcário que é utilizado em pequenos cortes, depois blocos cada vez maiores e a utilização de pedras mais duras como o granito e o basalto. É na construção das pirâmides que o progresso se dá de forma mais rápida, em cada reinado um novo complexo funerário se iniciava e a experiência adquirida anteriormente contribuía para progressos rápidos na arte de construir. Aparecem escultores e pintores tão hábeis como os arquitetos que trabalham tanto para particulares quanto para o rei e sua família. O templo funerário de Quéfren forneceu por si só dezessete estatuas do rei maiores que o tamanho natural, utilizam pedras duras e de grande porte sem que a destreza dos artistas seja minimamente prejudicada. As estatuas de particulares, menores e material menos duros e testemunham igual maestria dos artistas do Antigo Império, que são hábeis tanto em trabalhos planos quanto de alto relevo. A partir da 5ª Dinastia, túmulos de particulares, calçadas de pirâmides e paredes de templos solares são decorados com baixos-relevos, pintados em cores vivas e harmoniosas. As artes menores são mal conhecidas e a perfeição das técnicas leva-nos a imaginar que os egípcios conheciam não apenas o ferro, mas também o aço, embora a literatura nos diga que nesse período os escultores não usavam ferramentas metálicas e sim cinzéis de pedra. Até a 6ª Dinastia a arte egípcia conserva as qualidades que fizeram a grandeza do Império Antigo, contudo as condições políticas novas vão pouco a pouco provocando uma evolução no campo das artes, chamada de provincianização , iniciada com o Faraó Merenré, quando cada “nomo” passa a ter uma escola aristica, os artífices destas pequenas províncias não possuem o virtuosismo dos aristas menfitas, mas as uas obras , sobretudo as pinturas murais tem a espontaneidade que faltou, por vezes, as obras do Antigo Império. A combinação da regularidade geométrica e a profunda observação da natureza é a característica marcante dessa época, no entanto, o trabalho desenvolvido não objetivava o deleite de uma clientela ociosa e sim possuía o caráter místico, simbólico de preservação da vida, onde o método do artista assemelhava-se mais ao do cartógrafo do que do pintor como destaca Gombrich (1978:34). Entre as características básicas da arte nessa época destaca-se a objetividade, o realismo, o equilíbrio e a estabilidade, ainda assim o artista deveria obedecer a uma serie de leis tais como: i) a estatua sentada deveria ter as mãos sobre os joelhos; ii) os homens eram pintados com uma cor mais escura do que as mulheres;
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iii) a aparência de cada deus egípcio era rigorosamente estabelecida: Hórus, o deus-sol era representado por um falcão, Anúbis por um chacal, etc... Arnould Hauser (1992) afirma que “o conservantismo e o convencionalismo da arte egípcia são típicos do caráter racional do povo egípcio e que estas características constituem antes um fenômeno historicamente condicionado que se modifica a medida que evolui a situação no seu conjunto”. Com a ascensão da aristocracia feudal ao poder desenvolveu-se uma arte cortesã fundamentada na religião, possibilitando o aparecimento de novas formas de expressão artística supra-individuais que deviam sua grandeza e esplendor ao rei, esta civilidade pueril traduz regras de conduta e código moral que detém maior importância do que tudo aquilo que o individuo possa sentir, pensar ou querer e exige do artista o esforço na reprodução da realidade como ela se apresenta, mas também de acordo com as convenções consideradas sagradas. A função representativa das obras de arte do Médio Império reflete a aparência ideal inerente ao rei e para isso seus súditos tentam provocar uma impressão solene, onde tudo gira a volta de sua pessoa, como centro de um sistema solar, com objetivo de outorgar a fama e a glória ao faraó. As desigualdades sociais inerentes ao Médio Império não se alteram até o advento do Novo Império, que emergiu da balburdia provocada pela invasão dos hicsos, resultando novas formas de pensar e produzir arte no território egípcio. A produção artística do Novo Império se caracteriza por uma nova sensibilidade baseada no amor a verdade e um sensualismo que conduziriam a uma espécie de impressionismo na arte egípcia. O homem que abalou a solida base do antigo estilo egípcio foi Amenofia IV, o faraó herético, assim considerado porque rompeu com costumes aureolados pela antiga tradição, abolindo o culto aos antigos deuses de seu povo instaurou o monoteísmo ao deus Aton, representado pelo disco solar e intitulou-se seu representante terreno (Akhnaton), instalou-se em El Amarna buscando distanciar-se da fúria dos sacerdotes antigos. Toda a produção artística desse momento encontra-se despida de rigidez e formalismo anterior, representa antes de tudo cenas do cotidiano e procura demonstrar a fragilidade humana luta contra as tradições artificiais e vazias de sentido. Mas toda essa mudança dura pouco, seu sucessor não assegurou sua continuidade e forma restauradas as antigas crenças e formas artísticas. Não obstante a tendência naturalista da época segundo Hauser (1992), esta arte continua a ser cortesã, senhorial, destinada servir ao rei e sua corte, segundo as orientações das classes superiores que nada tinham com as preferências dos artistas de classe popular, isso significa que nem o povo, nem a classe média mais abastada influíam na produção da arte egípcia, na medida em que pudesse concorrer ao gosto e aspiração das classes mais elevadas.
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Por esta razão, nunca se produziu no Egito Antigo uma “arte popular”, o que se pode distinguir são dois estilos considerados, um convencional, cerimonial e monumental ao lado de outro mais espontâneo, menos rígido e natural, ambos diferenciavam não segundo a consciência de classe do artista, que era incapaz de dar expressão a essa consciência; nem pela consciência de classe do publico que vivia sob a influencia da corte e da camada sacerdotal, resultava assim que a arte era produzida segundo o critério real ou seja na esfera da corte e do rei em Menfis, Tebas ou El Amarna que foram os centros dinâmicos do poder. Concluindo podemos dizer que uma interpretação unilateral não bastaria para explicar o significado da arte egípcia, seus fins variados e os seus ideais que propunham representar mudavam com as variações da historia política e socioeconômica. Exprimia em geral as aspirações de uma vida nacional coletivizada, não era a arte pela arte, nem servia para comunicar as reações individuais em face aos problemas do mundo pessoal. Contudo houve época em que formam destruídas as convenções e coube a supremacia de uma arte individual e espontânea, sensível a beleza de uma flor ou ao idealismo de um rosto moço. Poucas vezes foi inteiramente abafado o talento do artística egípcio pois até a rigidez da arquitetura oficial era suavizada por toques de naturalismo, colunas imitando troncos de palmeiras; capitéis de flores de lótus e assim por diante. Tanto no Antigo, Médio ou Novo Império os problemas de edificação absorveram o talento dos artistas, tendo a pintura e a escultura representada uma função primaria de embelezar os templos. Exemplos maiores da arte egípcia foram as Pirâmides que não possuíam qualidade estética, mas sim colosso e magestosidade do reino e de seus governantes. Percebe-se que a produção artística do Egito antigo desenvolveu-se paralela a evolução política desse povo e as transformações socioeconômicas inerentes a qualquer civilização, caracterizando-se por momentos de conservadorismo, intercalado por fases de humanismo e naturalismo, muito embora estivesse sempre nas mãos das classes sociais privilegiadas. REFERENCIAS BURNS, E.M. Historia da Civilização Ocidental. Porto Alegre:Globo,1997. GOMBRICH,E.H. A Historia da Arte. Rio de Janeiro, Zahar, 1978. HAUSER,A. Historia Social da Literatura e da Arte.São Paulo:Mestre Jou,1968.
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A ARTE E A POESIA ENQUANTO CAMPO DE CONHECIMENTO: à guisa de reflexões. DILERCY ADLER95 RESUMO A arte e a poesia enquanto campo de conhecimento. Procura demonstrar a diferença acerca da compreensão dos objetos de estudo e metodologias de trabalho da Ciência, da Filosofia e da Arte. Parte da afirmação de que diferentemente do filósofo e do cientista, o artista não se prende a verdade factual. Enfatiza ainda que, a arte não se propõe como conhecimento, mas como fazer, como uma prática, uma atividade criativa, que implica certamente num determinado conhecimento sobre o objeto desse fazer. Demonstra que o cientista trabalha basicamente com a comprovação, o filósofo com a especulação e o artista, basicamente com a imaginação. Dentre as linguagens das diferentes vertentes da arte enfoca a linguagem poética, que é advinda do olhar do poeta, que transcende a materialidade observável. Demonstra que o papel do poeta é exatamente o de fazer o elogion, a boa palavra, a qual consiste em dizer bem ou bem-dizer e no latim benedicere significa abençoar. Afirma ainda, que o poeta faz-se instrumento de acesso ao espaço do mito, através do uso poético das figuras e todo mito é poético. Utiliza uma linguagem polissêmica e simbólica, materializando um dos papéis do poeta - o de profeta –, no sentido da busca, da mais necessária verdade, a verdade interior, a verdade negada como resultado da pressão exterior, das normas, da intolerância, dos pré-conceitos próprios do coletivo humano. Aí a presença da palavra do poeta- profeta se faz pertinente para a restauração, o resgate do desejo e da identidade perdidos, ao longo da vida do homem. Palavras- chave: Arte. Poesia. Conhecimento.
A Ciência, a Filosofia e a Arte constituem três formas culturais de conhecimento (LYRA, 1993, p.24). O objeto de estudo/trabalho dessas três formas de conhecimento, num sentido amplo é o homem. Isso porque toda prática cultural implica uma reflexão que busca o desvelamento do mundo vivido e da forma de ser-no-mundo do homem. A Ciência, do latim scire (saber) se pretende construir no saber comprovado e incontestável. O cientista busca a certeza. Para isso parte do ignorado, o ainda não comprovado. Admite a comprovação e rejeita a contestação. (LYRA, 1993, pp. 2931). 95
Diferentemente do filósofo e do cientista, o artista não se prende a verdade factual. Isso significa dizer que o trabalho do artista não objetiva preencher as lacunas do saber, investigando o ainda ignorado, (como na ciência) ou demonstrar teses acerca do homem no mundo e do mundo do homem (como na filosofia), mas o de explorar criativamente todas as possibilidades expressivas do seu objeto.
Psicóloga da Universidade Federal do Maranhão (UFMA); Doutora em Ciências Pedagógica-ICCPCuba, Mestre em Educação-UFMA, Especialista em Sociologia e Metodologia da Pesquisa em Psicologia-UFMA. Publicado em Boletim REDEM, setembro de 2009, disponível em http://www.redem.org/boletin/boletin150909.html
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No entanto, as Ciências Humanas, através da concepção Materialista da História e da Dialética da natureza e da sociedade estabelecem um conjunto de leis que rege a forma de existência da matéria e do pensamento. A essência dessas leis muda a concepção da certeza das ciências sob a ótica positivista, ou seja, nesse contexto teórico o movimento universal possibilita a morte da certeza, pois o mundo muda, o homem muda, configurando um "devir" incessante do homem e do seu mundo. A Filosofia do grego philo-amor, sophos-saber se apresenta diferentemente da ciência, ou seja, não se pretende o saber. Desse modo configura-se como um ato cognitivo que tem sua razão em si mesmo, não na comprovação de uma hipótese. Nesse contexto, o filósofo busca a verdade (do homem e do universo do homem), mas a verdade do filósofo é literalmente - do filósofo - não uma constatação incontestável de um fato objetivo. Como exemplo pode ser citado Platão que afirma: "A realidade está na idéia", mas outros contra - argumentam explicitando "A realidade está no fato". O trabalho do Filósofo é basicamente especulativo. Isso significa dizer que o problema do Filósofo é o homem e o mundo humano e a partir dele, o filósofo se posiciona acerca desse problema, mas "posicionar-se não significa resolver o problema”. No campo filosófico, desse modo, o problema da certeza é compreendido de modo diverso do campo da ciência, ou seja, a relação verdade x erro (da ciência) é substituído pela concordância x discordância, da filosofia. Assim, nesse sentido o campo filosófico abrange um saber menos preciso, porém mais abrangente do que o da ciência (LYRA, 1993, pp. 31 - 35). A arte, do latim ars apresenta-se, enquanto certeza do saber, mais modesta ainda do que a Filosofia (que por sua vez se apresenta mais modesta do que a ciência). Mesmo porque a arte não se propõe como conhecimento, mas como fazer, como uma prática, uma atividade criativa que implica certamente num determinado conhecimento sobre o objeto desse fazer. Diferentemente do filósofo e do cientista, o artista não se prende a verdade factual. Isso significa dizer que o trabalho do artista não objetiva preencher as lacunas do saber, investigando o ainda ignorado, (como na ciência) ou demonstrar teses acerca do homem no mundo e do mundo do homem (como na filosofia), mas o de explorar criativamente todas as possibilidades expressivas do seu objeto. Para tal, é permitido ao artista lidar e manusear, tanto com a ignorância, como com a própria inverdade. Como demonstram as poesias de Dilercy Adler a seguir:
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REVISTA 31 - NOVEMBRO 2009 - ELETRONICA ... a arte não se propõe como conhecimento, mas como fazer, como uma prática, uma atividade criativa que implica certamente num determinado conhecimento sobre o objeto desse fazer.
CORPO E PRISÃO Sinto-me presa em um corpo que me impõe limites intransponíveis ... (ADLER. 1991, p. 103) (constatação dos limites do ser humano)
DIFÍCIL VERDADE Haverá tal vez verdades que fiquem além da linguagem o que nos faz seres solitários!.... (ADLER, 1991, p.103) (coloca a dúvida e os limites humanos) INSONDAVELMENTE SENDO Conhecer-me como é possível? se eu mesma me debato e desabo toda se sou arrebatada e me arrebento inteira entre dúvidas desatinos e "certezas" questionáveis que me amordaçam me violentam me dividem! conhecer-te mais difícil ainda ... eis a insondabilidade do ser humano!
(ADLER, 1991, p. 15) (Coloca os limites acerca do próprio conhecimento, do conhecimento do outro e questiona as certezas).
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UM CERTO AMANTE O verme necrófilo amante de um corpo que amo em vida me intimida... (ADLER, 1997, p. 56)
(Uma inverdade, um verme no sentido factual não pode ser amante de um homem)
RITUAL colho orvalho - lágrimas do cosmo na noite enlutada engulo luares - dos nostálgicos amantes – bucolicamente solitários rumino compulsivamente todas as saudades que me fazem a tua ausência digiro tácita solidão num ritual sem trégua à tua espera! (ADLER, 1997, p.20) (no sentido factual não se pode engolir luares, ruminar saudades ou digerir solidão) MODERNIDA DE ... flores atômicas palavras de latão para um lixo esnobe (ADLER,1999, p. 120) (não existem flores atômicas ou palavras de latão ou lixo esnobe no sentido factual). O cientista trabalha basicamente com a comprovação, o filósofo com a especulação e o artista, basicamente com a imaginação.
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O campo da arte é o imaginário. Dai porque nesse sentido pode ser afirmado que é mais vasto do que o da Filosofia e mais ainda que o da Ciência. Com base nessas premissas talvez não seja pretensioso colocar que a arte termine se firmando como uma forma privilegiada do conhecimento. Dentre as artes pode-se dizer que a Literatura apresenta maior capacidade de abrangência. Isso porque nenhuma outra linguagem artística apresenta o alcance da palavra (LYRA, 1993, pp. 35-50). No que diz respeito à palavra do poeta inicia-se a argumentação através da seguinte afirmação psicanalítica: Mélanie Klein diz que "o que me impede de ver é a inveja, o mau olhar [...] o invejoso não vê com bons olhos, pois a inveja ataca-lhe a visão [...] o contrário da inveja é a gratidão [...] o invejoso, ao contrário do poeta, sob a ação da pulsão de morte, amaldiçoa, vê com maus olhos e diz más palavras" (REZENDE, 1993, pp. 110-124). O papel do poeta, segundo a mitologia grega, comentada por MarceI Détienne, em seu livro. "Os mestres da verdade na Grécia antiga", era exatamente o de fazer o elogion - o elogio. Tomado ao pé da letra o elogio significa a boa palavra, a qual consiste em dizer bem ou bem - dizer e no latim benedicere significa abençoar (REZENDE, 1993, p. 111). No poema FALA DE POETA diz Dilercy Adler: ...fala poeta por ti e por nós a palavra de amor por sob os lençóis a palavra benigna que não fere jamais a palavra de vida que lava a ferida tantas chagas e dor fala poeta palavras palavras em rimas de amor' (ADLER,1997, p. 19).
Freud nos seus textos: "O poeta e a fantasia" e "A interpretação do sonho" se refere à questão do desejo. Isso significa dizer que psicanaliticamente falando existe uma estreita relação entre o sonho, o mito e o poema, ligados pelo fio do desejo.
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O sonho desfigura o desejo, desestruturando-o, fragmentado-o. A angústia do sonho é o desejo não realizado. Mas o desfigurado necessita reconfigura-se, reestruturar-se e isso é viabilizado pela interpretação simbólica terapêutica (com a ajuda do terapeuta) e a interpretação simbólica poética (elaborada pelo poeta). Segundo Bion, "o sonho é um mito individual enquanto o mito é um sonho coletivo". E o poeta diz ambas as coisas, o sonho individual e o coletivo (REZENDE, 1993, p. 114). O poeta faz-se instrumento de acesso ao espaço do mito, através do uso poético das figuras e todo mito é poético. Fica claro que "a poesia e a ciência não usam a mesma linguagem, não dizem as mesmas coisas, não criam o mesmo espaço e nem permitem o mesmo uso”. A poesia cria um espaço comum ao sonho e ao mito (REZENDE, 1993, p. 116). Logo pode se depreender dos argumentos até aqui explicitados que a ciência não faz poesia, a sua linguagem é unívoca, quando afirma; "isto é isto e não outra coisa". O mesmo não acontece com a linguagem poética que, fundamentalmente; é polissêmica e simbólica. O poeta olha o mundo muito mais com o espírito e comunica um pouco do seu espírito para os demais. E isso que possibilita dizer como Dilercy AdIer em seu poema. POESIA Eu te capto entre os espigões de concreto que se afogam no mar morto do asfalto eu te vejo mesmo na solidão do eco do salto alto nervoso apressado
Logo pode se depreender dos argumentos até aqui explicitados que a ciência não faz poesia, a sua linguagem é unívoca, quando afirma; "isto é isto e não outra coisa". O mesmo não acontece com a linguagem poética que, fundamentalmente; é polissêmica e simbólica.
eu te acho no poço escuro sombrio do elevador lento e inabalável. (ADLER, 1996, p. 23) (linguagem simbólica e polissêmica)
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SOLIDÃO TOMO I A solidão do cosmos a minha própria são intensamente doloridas mesmo com o frenesi de todos os orgasmos ... ... resignadamente pasmo!
(ADLER, 1996, p.22) (linguagem simbólica e polissêmica a respeito da solidão humana, e do próprio cosmos enquanto sujeito aos sentimentos humanos).
CHEIRO DE TERRA MOLHADA [...] este cheiro de terra molhada me lembra outros cheiros milhares é o orgasmo profícuo da terra terra e água amantes eternos que ejaculam um universo infinito de cheiros de cores de amores incensos e incestos de vida (ADLER, 1996, p. 24) (linguagem simbólica e polissêmica)
Desse modo, a linguagem poética transmutada é advinda do olhar do poeta que transcende à materialidade observável. O poeta é ainda reconhecido como profeta, pois a linguagem do profeta é imagética (utiliza imagem) é semiótica (utiliza signos) e enquanto profeta não deixa no esquecimento aquilo que deve ser lembrado.
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O poeta assim serve-se de recursos que impeçam o esquecimento das memórias que se tornaram indesejáveis pelas normas do coletivo intolerante gerando a censura, a qual resulta no recalcamento da verdade rejeitada incompatível com o convívio dos demais. Nesse sentido, o poeta busca o desnudamento, o desmascaramento, a quebra do espelho, a quebra dos ídolos, expressando a verdade negada, que por sua vez provoca as mais profundas transformações no homem e no seu meio, a exempIo de: ... 0 sonho viabiliza experimentar de modo alucinado aquilo que não foi de fato possível de viver, enquanto o poeta, em palavras e, em vigília, materializa aquilo que o sonho só permite ao homem realizar durante o sono. RENDIÇÃO Vivi fugindo a minha vida inteira de tudo que inspirava incerteza vivi fugindo a minha vida inteira
e hoje paro e me encaro lívida ao mesmo tempo me entrego ávida num desvario desvelado inconseqüente com a sofreguidão dos tímidos e desvalidos que se negaram sempre o tudo mesmo pequeno depois se dão além dos seus limites! (ADLER, 1997, p.42). TÉDIO Essa paz no coração essa tranqüilidade morna de quem não espera nada ... nenhum sonho retorna
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todos mortos! emoção entorpecida sensações adormecidas embotadas pelo medo puro tédio!
só o fogo da paixão na incerteza da espera dá vida aos sentidos dá todo sentido à vida vida trânsfuga. inquieta de todo poeta vivo! (ADLER , 1996, p. 17)
(Esses dois poemas fazern referência à necessidade de rompimento com o conformismo, com a acomodação).
Na linguagem Freudiana o papel do poeta é o de sublimar (Rezende, l993, p. 123). Ou seja, realiza no plano da palavra aquilo que só o sonho pode realizar para ... os vários papéis do poeta e, alguns homens. Nesse caso, o sonho principalmente o de profeta viabiliza experimentar de modo alucinado no sentido da busca, da mais necessária verdade, a verdade aquilo que não foi de fato possível de viver, interior, a verdade negada enquanto o poeta, em palavras e, em vigília, como resultado da pressão materializa aquilo que o sonho só permite ao exterior, das normas, da homem realizar durante o sono. intolerância, dos préconceitos próprios do coletivo humano. Para finalizar acha-se interessante utilizar uma comparação entre o poeta (artista) e o louco feito por COOPER, citada por João Francisco no seu livro "Política da Loucura" que diz: "ambos mergulham num mundo para além das palavras, dos símbolos, das verdades estabelecidas, num mundo dos sentimentos e das emoções. Contudo, o louco não consegue voluntariamente retornar desse mergulho, o artista retorna através da sua obra, retorna concedendo ao mundo uma transcrição de sua viagem interior" (Duarte, 1987, p.70).
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Essa afirmativa comprova os vários papéis do poeta e, principalmente o de profeta no sentido da busca, da mais necessária verdade, a verdade interior, a verdade negada como resultado da pressão exterior, das normas, da intolerância, dos pré-conceitos próprios do coletivo humano. Aí a presença da palavra do poeta- profeta se faz pertinente para a restauração, o resgate do desejo e da identidade perdidos, ao longo da vida do homem.
REFERÊNCIAS ADLER, Dilercy Aragão. Crônicas & Poemas Róseos - Gris. São Luis/MA: Graphos,1991. ________. Poematizando o Cotidiano ou Pegadas do Imaginário. Rio de Janeiro: Blocos, 1997. ________. (organizadora) Circuito de Poesias Maranhense. São Luís/MA: CEUMA. 1996. LYRA, Pedro. Literatura e Ideologia Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. REZENDE, Antonio Muniz de. Bion e o futuro da psicanálise. Campinas/SP: Papirus, 1993. DUARTE, João Francisco Júnior. A política da loucura. Campinas / SP: Papirus, 1987.
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CENTRO ACADÊMICO96 JOSÉ MÁRCIO SOARES LEITE97
Nos últimos anos, a par das atividades de ensino ou do trabalho como médicos na área da saúde pública vêm participando intensamente das atividades acadêmicas do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, da Academia Maranhense de Medicina, da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências e da Academia Maranhense de Ciências. De quando em vez sou abordado por colegas ou amigos que, curiosos, questionam: O que vocês fazem na Academia? Qual o papel das Academias? Em resposta, digo-lhes que todas as semanas nos reunimos nas Academias, onde há sempre um tema de natureza científico-cultural ou mesmo de interesse geral da sociedade maranhense e brasileira a ser discutido, analisado, debatido, a fim de buscarmos o consenso sobre o assunto em pauta. As Academias têm, portanto, um papel fundamental na manutenção e preservação dos valores culturais, educacionais, científicos, religiosos, étnicos, ecológicos, ambientais, buscando sempre manter vivos esses valores em nosso meio. A Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências, por exemplo, que acaba de completar três anos, já suscitou em suas hostes a publicação de 20 livros, relatando inclusive muitos aspectos da história da cidade de Pinheiro, como “Pinheiro em Foco” (Aymoré Alvim, 2006) ou resgatando trabalhos, organizando-os e publicando-os como o fez José Jorge Leite Soares, com as obras “Quadros da Vida Pinheirense” (Jerônimo Viveiros, 2007) e “Coisas de Antanho” (Josias Abreu, 2006). Existe hoje, no Maranhão, segundo o Dr. Lino Moreira, Presidente da Academia Maranhense de Letras: “22 Academias de Letras: Imperatrizense de Letras; Açailandense de Letras; Sambentuense de Letras Historia e Ecologia; da Região Integrada de Pastos Bons; Bacabalense de Letras; Pedreirense de Letras; Arariense-Vitoriense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas; Barreirinhense de Letras; Grajauense de Letras; Maranhense de Medicina; Pinheirense de Letras, Artes e Ciências; Vianense de Letras; Anajatubense de Letras; Caxiense de Letras; Brejense de Artes e Letras; Barra-Cordense de Letras; Cururupuense de Letras; Letras, Ciência e Ecologia do Leste Maranhense (sede em Timon); Maçônica Maranhense de Letras; Atheniense de Letras e Artes (sede em São Luis); Letras de Tutóia. Acrescentemos a essas a Academia Maranhense de Ciências, que foi instalada este ano em
96 Publicado no Jornal O Estado do Maranhão, em 21/12/2008 (Domingo). 97 Membro das Academias Maranhense de Medicina, Maranhense de Ciências e Pinheirense de Letras, Artes e Ciências e Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e da Sociedade Brasileira de História da Medicina.
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solenidade na Academia Maranhense de Letras. É 23 no total, quantidade que torna viável a criação de uma Federação de Academias”. E prossegue o Dr. Lino: “Dessa união, deve-se esperar um alargamento do nosso mundo cultural. Posso apontar duas razões, pelo menos, justificadoras dessa afirmativa. Uma, de natureza material. Falo das facilidades que o novo órgão poderá criar na captação de recursos para projetos de toda ordem, direcionados ao fortalecimento de seus filiados. A outra razão é de ordem cultural. A existência da Federação tornará mais fácil o contato e troca de experiências entre as Academias” (Jornal o Estado do Maranhão, de 23/11/2008). No dia 28 de novembro deste ano, participei da solenidade de lançamento do projeto de criação da Federação das Academias do Maranhão, oportunidade em que todos os presentes ouviram uma bela peça literária da lavra do Acadêmico Sálvio Dino, versando sobre a história das Academias, desde Platão, às Academias Francesa e Brasileira de Letras até a Maranhense, com enfoque para um dos seus fundadores e que lhe empresta o nome, Antonio Lobo. A iniciativa dos maranhenses de aglutinar todas as Academias em uma Federação, sem que percam obviamente suas identidades próprias, é, portanto, por demais alvissareiras e me fez recrudescer a idéia que há muito defendo no sentido de que todas as Academias e mais o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sem sacrifício de suas sedes atuais, reúnam suas atividades científico-culturais, como lançamento de livros, sessões solenes, conferências, realização de cursos etc., em um espaço único, ou seja, um Centro Acadêmico ou “Centro de Convenções da Cultura Maranhense”, dotado de área administrativa, biblioteca, anfiteatro e mais três auditórios, um centro de convivência, incluindo uma área para estacionamento de veículos e que ficaria situado em um dos prédios que estão sendo restaurados no centro histórico de São Luís. Esse prédio sediaria a Federação das Academias e seria administrado por sua Diretoria. Espero, portanto, que essa idéia venha a ser incorporada pelas Secretarias Estadual e Municipal de Cultura (a ser criada), que inclusive passaria a ser sua entidade mantenedora, por meio de dotação orçamentária consignada por Lei Estadual, medida cuja efetivação muitos ganhos traria à cultura maranhense.
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O ATO MÉDICO E A JUSTIÇA JOSÉ MÁRCIO SOARES LEITE98
“Profissão liberal de estirpe humanitária, a medicina atua no limite das coisas intangíveis, pois lida com a natureza humana, ainda inexata em sua compleição científica; administra anseios, expectativas, além de cuidar da vida, bem supremo, perecível e inafeito à reciclagem” (Gomes JC, Meireles. Revista Jurídica Consulex-Ano XIII-nº 299-2009). Ao médico incumbe, portanto, além da responsabilidade legal, a responsabilidade moral, pois aquela presume a fiel observância das leis, como dever de cidadania, enquanto esta consiste não apenas em fazer o que convém, mas aprimorar o feito, buscar o mais que perfeito, crescer no domínio da técnica e das habilidades para promoção da saúde, prevenção das doenças ou restauração da função, e mais, buscar a adequação moral entre o bem praticado e a necessidade do paciente. Nesse contexto, há que se ter em mente, com clareza, o papel social do Direito e da Medicina; aquele como reparador dos males sociais, doenças da fratura do tecido social, esta como reparadora dos males orgânicos, ou seja, a justiça é a saúde do organismo social, enquanto a medicina é o equilíbrio biológico do ser. Desse modo, erro profissional médico, ou simplesmente “erro médico”, é o dano provocado no organismo humano pela ação do médico. O “erro médico” se configura quando há uma falha inescusável do profissional no exercício da atividade, o que segundo o Código de Ética Médica - CEM (Resolução - CFM nº 1.246/88,) Art. 29 , consiste em: Praticar atos profissionais danosos ao paciente, que possam ser caracterizados como imperícia, imprudência ou negligência. O que comumente chamamos de “erro médico”, contudo, não é correto, pois essa expressão induz a um pré-julgamento do profissional médico, o que somente pode confirmar-se com o julgamento final pelos Conselhos Regional e Federal de Medicina de sua jurisdição, se houve ou não infração ao Código de Ética Médica, consoante preceitua o Código do Processo Ético Profissional PEP (Resolução do CFM 1.617/2001), ou com o trânsito em julgado da sentença condenatória na justiça. Os pacientes que julgam ter sofrido seqüelas, ou ainda seus representantes legais, no caso daqueles virem a óbito, buscam no judiciário a punição dos responsáveis e conseqüentemente indenização por danos 98
Médico, professor MS da UFMA, membro da Academia Maranhense de Medicina, da Academia Maranhense de Ciências, da Academia Pinheirense de Letras, Artes e Ciências e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
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materiais e morais, com fundamento na “teoria da perda de uma chance de cura ou de sobrevivência”. Sobre o tema, o Desembargador Paulo Miguel de Campos Petroni, da 27a Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, nos revela que: “a teoria da perda de uma chance ou perte d’une chance, se caracteriza quando é plausível afirmar que a culpa do médico decorre de ele não ter dado ao paciente, por ação ou omissão, todas as chances ou meios de investigação e tratamento terapêutico, inclusive com o concurso de outros especialistas, para que aquele tivesse a oportunidade de cura, integral ou parcial, de sua moléstia”. Quando de fato ocorre um “erro médico”, este pode ser atribuído a múltiplos fatores, isolados ou combinados, como má-formação profissional, falhas na comunicação de diagnósticos e prognósticos, falta de padronização no registro de prontuários médicos e de enfermagem, precárias condições de trabalho, ou por excesso de carga de trabalho desse profissional. A nossa experiência como Conselheiro-Corregedor do CRM/MA, nos permite observar ser fundamental que todo processo judicial por “erro médico” seja sempre precedido de um pré-julgamento pelos Conselhos de Medicina, que ao contrário do que muitos possam imaginar como corporativo têm agido com total isenção e competência técnico-pericial nesses processos éticoprofissionais, a par de levarem em conta, se houver apenação, as circunstâncias e as condições de trabalho no momento da realização desse ato médico.
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A VILA VELHA DO VINHAES E A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA
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LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ100 Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Cadeira 40 DELZUITE DANTAS BRITO VAZ Professora de História – CEM “LICEU MARANHENSE”
A FUNDAÇÃO DO MARANHÃO
Credita-se a Cristóvão Colombo a descoberta da América, em 12 de outubro de 1492 e a Pedro Álvares Cabral o “achamento” do Brasil em 21 de abril de 1500. Mas quem “descobriu” o Maranhão? -
Diogo de Teive, em 1452?
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Gonçalo Fernandes Távire e João Vogado, em 1453?
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João Coelho, se verdadeira sua viagem, em 1493?
Com certeza, sabe-se que os ESPANHÓIS chegaram antes que os PORTUGUÊSES, pois ALONSO DE OJEDA, com Juan de Las Casas e Américo Vespúcio estiveram por aqui em 1497; ou com Juan de Vergara e Garcia de Ocampo, em 1499; há registro de que VICENTE PINZÓN visitou o Maranhão em Janeiro de 1500 – e vendo-se aquém da Linha de Tordesilhas, portanto em terras portuguesas, retorna; e DIOGO DE LEPE também visita-nos em Março de 1500. Em qualquer hipótese, o Maranhão já era conhecido antes do pretendido descobrimento casual do Brasil por Pedro Álvares Cabral, em 1500. Mas o Maranhão passou todo o século XVI praticamente fora da história política de Portugal. (MEIRELES, 1980).
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Publicado no Blog do Leopoldo Vaz: http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/ : http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/10/03/vila-velha-do-vinhais-e-a-igreja-de-sao-joao-batista/ http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/10/03/a-igreja-de-sao-joao-batista-do-vinhaes/ 100 Maranhense que por descuido geográfico nasceu no Paraná. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Professor de Educação Física.
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Esse nome Maranhão De onde vem esse nome – Maranhão? – recorramos ao Padre Antônio Vieira, que em seu sermão da Quinta dominga da quaresma, do ano de 1654, servindo-se de uma fábula, afirma que: “[...] caindo um dia o diabo do céu, se fizera no ar em pedaços. E cada pedaço caiu em uma terra, onde ficaram reinando os vícios correspondentes ao membro que lhe coube: na Alemanha, caiu o ventre, daí serem os alemães dados à gula; na França, caíram os pés, por isso os franceses são inquietos, andejos e dançarinos; na Holanda e em Argel, caíram os braços com as mãos e unhas, daí serem corsários; na Espanha, caiu a cabeça, daí serem os espanhóis fumosos, altivos e arrogantes. “Da cabeça, coube a língua a Portugal, e os vícios da língua eram tantos, que já deles se fizera um grande e copioso abecedário. O que suposto, se as letras deste abecedário se houvessem de repartir pelas várias províncias de Portugal, não há dúvidas que o M pertenceria de direito à nossa parte, porque M Maranhão, M murmurar, M motejar, M maldizer, M malsinar, M mexericar, e, sobretudo M mentir; mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com os pensamentos. Que de todos e por todos os modos se mentia. Que novelas e novelos eram as duas moedas correntes da terra, só com esta diferença, que as novelas armavam-se sobre nada, e os novelos armavam-se sobre muito, para que tudo fosse moeda falsa. Que no Maranhão até o sol era mentiroso, porque amanhecendo muito claro, e prometendo um formoso dia, de repente e dentro de uma hora se toldava o céu de nuvens, e começava a chover como no mais entranhado inverno. E daí, já não era para admirar que mentissem os habitantes como o céu que sobre eles influía”. (LISBOA, 1991)
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Simão Estácio da Silveira, em sua “Relação Sumária das Cousas do Maranhão”, escrito em 1624, afirma que "... a terra tomou esse nome de Maranhão do capitão que descobriu seu nascimento no Peru”. (Seu, do rio e não da terra, conforme Barbosa de Godois, in História do Maranhão, 1904; e Berredo, in Anais Históricos). Marañon era o nome do atual rio das Amazonas, daí que o nome foi herdado de um companheiro de Gonçalo Pizarro. A família de nome Marañon já era conhecida em Espanha desde o século XII, e em Navarra existe uma localidade com esse nome. Com o topônimo Maranha, que significa matagal, há no Minho uma localidade com esse nome; Maranhão, ainda, é o nome de uma antiga aldeia alentejana, do Conselho de Aviz; é variação de Marachão - dique, recife; e aumentativo de Maranha, como dito acima, matagal; como também pode vir de Mara Ion, como os tupinambás designavam o grande rio da terra; ou do diálogo entre dois espanhóis: um pergunta, referindo ao Amazonas - Mar ? e o outro responde: Non. Na língua nativa, Maranhay, corruptela de maramonhangá (brigar) e anham (correr), pororoca; ou Maranhay, de maran (desproposidatamente), nhãn (correr) e y (água), também significando pororoca; corruptela de Paraná (marana) de onde maranãguaras por paranaguaras para os habitantes da ilha; ou de Marauanás - indígenas encontrados por Pinzón - marauanataba, traduzida pelos espanhóis como marañon; ou ainda, Mair-Anhangá = alma ou espírito de Mair, da tradição andina e sua corruptela tupi marã-n-aã; Maramunhã, que significa fazer-se barulhento ou impetuoso (de novo, pororoca); ou ainda Mbará-nhã - o mar corrente, o grande caudal que simula um mar a correr (uma vez mais, pororoca). (TAVARES, 1724; SILVEIRA, 1976; BERREDO, 1988; MEIRELES, 1980).
Inicio da colonicação
A colonização tem seu início em 1534, quando D. João III intenta a conquista de suas novas terras, "descobertas" pela expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500, dividindo-as entre seus vassalos, pois estava preocupado com a presença de corsários franceses que navegavam por estas costas desde 1504. O ano de 1536 é tido como o da chegada ao Maranhão dos sobreviventes da expedição de Aires da Cunha. Até hoje discute-se o local do desembarque desses sobreviventes: se na Ilha Grande (Trindade, São Luís) ou na Ilha Pequena (Sant' Ana) ou na do Boqueirão (do Medo) onde teriam erigido a aldeia de Nossa Senhora de Nazaré. Outros a localizam em terras de Cumã (Alcântara) ou mesmo há quem afirme que ela nunca tenha existido. Luís de Melo da Silva estivera por aqui em 1554 e tenta retornar em
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1573, quando naufraga no Mar-Oceano sua nau-capitânea "São Francisco" que tinha Luis da Gamboa como comandante. Ao tempo do rei francês Henrique, o Grande pirateava pelas costas brasileiras o capitão Jacques Riffault, que consegue vencer o Boqueirão e chega à Ilha Grande, estabelecendo-se aqui e, em 1594, ao retornar à França, deixa um seu imediato, de nome Carlos, Senhor de Des-Vaux, cavalheiro do Condado de Tomaine. Cansado de esperar por Riffault, Carlos Des-Vaux retorna à França, em 1607 ou 1609, e é recebido por Henrique IV. Ainda em 1609, Daniel de LaTouche e Charles Des-Vaux visitam o Maranhão. DeLaTouche certifica-se de que as informações sobre a terra eram verdadeiras e pede licença ao rei para explorá-la. Mas com o assassinato de Henrique IV, sucede-lhe ao trono Luis XIII, ainda menor, governando em seu nome Maria de Medicis. É esta quem concede licença à Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, de formar uma companhia para explorar as "terras" de Riffault. Daniel deLaTouche era hungenote. A Rainha, católica, temendo que o objetivo fosse fundar uma colônia protestante no Maranhão, obriga a Daniel de LaTouche a aceitar como sócios a dois seus prepostos, ambos católicos, e solicita que padres católicos os acompanhem. A 24 de julho de 1612, Daniel de La Touche, Francisco de Rasilly e o Barão de Sancy largam âncora na ilha de Sant' Ana e a 6 de agosto a esquadra entra no golfo, indo fundear frente a Jeviré (ponta de São Francisco), onde se localizavam as feitorias de Du Manoir e do Capito Gerard.
Os franceses atravessam o braço de mar, indo se fixar em um promontório onde, a 12 de agosto, uma sexta-feira, dia consagrado a Santa Clara, celebram o santo ofício da missa. A 8 de setembro, uma quarta-feira, dia consagrado à Santíssima e Imaculada Virgem Maria, é realizada a solenidade de fundação da Colonia.
A VILA DO VINHAIS Fundada a França Equinocial, sairam De Rasilly, o Barão de Sancy e os padres D' Abbeville e Arséne de Paris acompanhados de um antigo morador de Upapon-Açú, de nome David Migan, a visitar as aldeias da Ilha. "(...) levaram-nos os índios, de canoa, até Eussauap, onde chegamos no sábado seguinte ao meio-dia. O sr. de Pizieux e os franceses que com ele aí residiam receberam-nos com grande carinho (...)". (D'ABBEVILLE, 1975, p. 114).
(grifos nossos). Capistrano de Abreu esclarece que:
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" EUSSAUAP - nom do lieu, c'est à dire le lieu ori on mange les Crabes. Bettendorf leu em Laet Onça ou Cap, que supôs Onçaquaba ou Oçaguapi; mas tanto na ediço francesa, como na latina daquele autor, o que se lê, é EUSSOUAP. Na história da Companhia de Jesus na extinta Província do Maranhão e Pará, do Padre José de Morais, está Uçagoaba, que com melhor ortografia é Uçaguaba composto de uça, nome genérico do caranguejo, e guaba, participio de u comer: o que, ou onde se come caraguejos, conforme com a definição do texto ...". ( apud D' ABEVILLE, 1975, p.107).
Das 27 aldeias existentes na Ilha, 14 tinham apenas um Principal; 10 possuiam dois; 1 possuia três. Eussauap possuia quatro – "... é uma das maiores aldeias da ilha e nela existem quatro principais: TatuAçu; Cora-Uaçu ou Sola-Uaçu, às vezes também Maari-Uaçu; Taiacú e TapireEvire".
Junipar, a aldeia principal da ilha, contava com cinco principais. É em Eussauap que os franceses encontram uma certa resistência, por parte de um velho "... de mais de 180 anos e que tinha por nome Mamboré-Uaçu ..." e que havia assistido ao estabelecimento dos portugueses em Pernambuco. Afirmava que, como os perós, os franceses chegavam para comerciar, não passando mais do que 4 a 6 luas, tempo suficiente para reunir as drogas que traficavam. Tomavam suas filhas para mulher e isto muito os alegrava. Mais tarde afirmavam que havia necessidade de construção de fortes, para defesa sua e dos índios, e então chegavam os Paí - padres - plantando cruzes, instruindo os índios e os batizando. Exigem que as índias sejam batizadas, para só então as tomarem como esposas. Aí, dizem precisar de escravos para os servirem. E tomam os índios como seus escravos. Convencido o velho guerreiro que os franceses eram diferentes dos perós, prosseguem De Rasilly, o sr. de Sancy e D' Abbeville a sua visitação. Cesar Marques (1970), em seu Dicionário Histórico-Geográfico da Província do Maranhão, publicado em 1870, informa sobre Vinhais - freguesia e ribeiro, que os jesuítas Manoel Gomes e Diogo Nunes, que vieram junto com a armada de Alexandre de Moura, principiaram a estabelecer residências - ou missões de índios -, sendo a primeira que fundaram: “... foi a que deram o nome de Uçaguaba, onde com os da ilha da capital aldearam os índios, que tinham trazido de Permambuco, e como esta se houvesse de ser a norma das mais aldeias, diz o Padre José de Morais, nela estabelecessem todos os costumes , que pudessem servir de exemplo aos vizinhos e de edificações aos estranhos. “Cremos que por êste fim especial foi chamada aldeia da Doutrina. “Fundada pelos jesuítas, parece-nos haver depois passado ao poder do Senado da Câmara, porque ele tinha uma aldia ‘cujo sítio era bem perto da cidade’. “Compunha-se de 25 a 30 índios entre homens e mulheres ‘para poderem acudir às obras públicas pagando-se-lhes o seu jornal’.
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“Em 12 de maio de 1698 a Câmara pediu ao soberano um missionário para educá-los. “Em 22 desse mesmo mês representou à Sua Majestade queixando-se por ter sido privada desta aldeia ‘por algumas informações más e apaixonadas’. “... foi no dia 1o. de agosto de 1757 elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais”. (p. 632-633).
Às páginas 633, do Dicionário de César Marques, consta que houve contestação quanto à propriedade das terras da Aldeia da Doutrina, pertencente, então, ao Convento de Santo Antônio. Esta vila, situada ao N.E. da Ilha do Maranhão uma légua distante da capital, à margem do ribeiro Vinhais, ora transformada em Vila do Vinhais e, para dar fim à qualquer contestação, sobre a quem pertenceria as terras, passou-se a seguinte certidão, que, segundo Cesar Marques, não deixa de ser curiosa:
“José Inácio Pereira, escrivão por comissão da Câmara da vila de Vinhais: em cumprimento do despacho retro certifico que revendo o livro de ...... nele à fl. 87 verso achei o translado ..... “Por ser conforme às reais ordens que Sua Majestade foi servido expedir para o estabelecimento deste Estado e conveniente ao bem comum e particular dos moradores dele, que se destinem terrenos competentes, que sirvam de distritos às vilas para as suas respectivas justiças não excederem os seus limites, devo dizer de vossas mercês em observância das mesmas reais ordens, que o distrito dessa vila terá princípio no pôrto do Angelim sobre a foz do rio – Anil -, quer fica pertencente ao distrito desta cidade, e dele partirá em rumo direito para o nascente às terras alagadiças da fazenda que foi de Agostinho da Paz e que hoje é do Rvdo. Cônego Manuel da Graça, fincado pertencendo ao distrito desta mesma vila a estrada pública, que do dito porto do Angelim vai para a fazenda da Anindia e outras, como também a fazenda do defunto José de Araújo, partindo e confrontando da parte do sul com terras do distrito desta cidade e continuando este rumo da partte do nascente da mesma fazenda do dito Cônego Manual da Graça para a parte do norte, correrá em direitura à costa do mar, e por ela descerá à capela de São Marcos de onde continuando da parte do poente pela costa desta baía até a fortaleza da barra desta cidade continuará pelo rio, que divide a cidade das terras sobreditas da costa do mar até finalmente chegar ao dito porto do Angelim, onde fica fechando o rumo do dito distrito, em que se compreedem a dita vila e terras que possuem os seus moradores desde o tempo em que foi constituída doutrina dos padres de Santo Antônio desta cidade como também a Capela de São Marcos, a olaria, que foi dos padres da Companhia e vários sítios de fezendas e moradores, como são a do sobredito Cônego Manuel da Graça, de Domingos Fernandes e últimamente todos os que dentro dos referidos rumos e distrito se compreenderem sendo este suficinete para essa dita vila, sem prejudicar o da cidade. “Para rendimento das despesas da Câmara lhe não determino por hora terreno, o que farei com a brevidade que me fôr possível para cumprir completamente com a ordem de Sua Majestade, o qual sempre há de ser dentro do distrito dessa vila: o que tudo Vossas Mercês tenham entendido para
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inviolávelmente obervarem, registrando este no livros da Câmara para a todo o tempo constar até onde entendem os seus limites, de que me mandarão certidão de assim o haverem. – Deus guarde a Vossas Mercês – Maranhão. – Gonçalo Pereira Lobato e Sousa” “Senhore Juízes e oficiais da Câmara da vila do Vinhais. “Certifico eu escrivão abaixo nomeado em como transladei uma carta do Ilmo. Sr. Governador vinda ao juiz e mais oficiais da Câmara desta vila, o que juro em fé de meu ofício: três de novembro de 1760. – Manuel de Jesus Pereira. “Nada mais que o referido continha o dito translado fielmente aqui copiado do próprio livro, a que me reporto, e é verdade todo o referido em fé do ofício. – Vinhais, 10 de fevereiro de 1806. – José Inácio Pereira”
Como a vila do Vinhais não apresentou qualquer desenvolvimento, foi extinta pela Lei Provincial no. 7, de 20 de abril de 1835, passando a perrtencer a frequesia à comarca da capital, formando o 5º distrito de paz, e tendo uma subdelegacia de Polícia, um delegado da Instrução Pública e uma cadeira pública de ensino primário para o sexo masculino. Suas terras eram excelentes, baixas, próprias para a plantação da canade-açúcar. Achando-se estabelecidas aí pequenas roças de arroz, mandioca e mais gêneros.. Calculava-se o número de seus habitantes em 1.020, sendo 887 livres e os mais escravos (p. 633). Ainda do Dicionário ... de Cesar Marques encontramos no verbete Instrução Pública, que na Vila do Vinhais – ditas de ditas - referindo-se às cadeiras de primeiras letras, o Professor era o padre João Felipe de Azevedo, com o ordenado de 150$000 réis, provido pela Junta (p. 402). E que o Dr. Antonio Henriques Leal, como vacinador “tem ido várias vêzes vacinar nas freguesias de Vinhais, e de São João do Bacanga, e nas vilas do Rosário, Icatu, Arari, Vitória e Turiaçú” (p. 472). Sobre a Divisão da Província (p. 248-250), na época da edição do Dicionário (1870), encontramos -
divisão eleitoral: 1º distrito – da freguesia de Vinhais – 2 (eleição de três deputados gerais e 15 provinciais);
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divisão judiciária: distritios de paz – Vinhais: 1;
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divisão policial: distritos: Vinhais;
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divisão literária: Vinhais 1 cadeira e 1 delegacia;
divisão eclisiática: das 53 frequesias – São João Batista do Vinhais.
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No Almanak Do Maranhão para o ano de 1849, aparecem como eleitores de Vinhaes, 1. Romão de Ribeiro Monção e 2. José Pedro Ribeiro da Silva, e seus respectivos suplentes, 1. Francisco Raimundo da Costa e 2. Joaquim Jansen Pereira. Do corpo de Alferes, residia no Vinhaes Joaquim Ignacio Cezar de Mello.
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A IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA DO VINHAES
Os moradores de Eussauap tinham esperança que um dos padre aí se fixasse. Por isso "haviam edificado no meio da praça, localizada entre as cabanas, uma bonita capela com um altar bem arranjado". Além da capela construiram uma grande cruz. No domingo, dia 20 de outubro de 1612, foi a capela batizada e rezada a missa. Vencidos os franceses em Guaxenduba (19/11/1614), os portugueses se estabelecem no Maranhão, vindo com Jeronimo de Albuquerque os padres Manuel Gomes e Diogo Nunes, aqui permanecendo estes até 1618 ou 1619: "A primeira missão ou residência, que fundaram mais junto à cidade para comodidade dos moradores, foi a que deram o nome de Uçagoaba, onde com os da ilha aldearam os índios que haviam trazido de Pernambuco ...".
(MORAES, 1987, p.58). A residência dos jesuitas em Uçagoaba é ocupada com a chegada da segunda turma de jesuitas ao Maranhão, os padres Luis de Figueira e Benedito Amodei. De acordo com Cavalcanti Filho (1990) a missão jesuitica no Maranhão inicia-se com a chegada dos padres Figueira e Amodei: "... Ao que tudo indica, a aldeia de Uçaguaba, situada a margem esquerda do igarapé do mesmo nome, teria sido o ponto de partida dessa missão ... desta primeira, denominada 'Aldeia da Doutrina'".(p. 31).
Não há referência à Eussauap, Uçagoaba, Uçaguaba ou Aldeia da Doutrina na relação dos templos existentes na Ilha por ocasião da elevação de São Luís à sede de Bispado em 1677, pela Bula "Super Universas Orbis Ecclesias", muito embora em 1740 conste da relação das freguesias do Maranhão: "Na ilha de São Luis. Além da freguesia de N.S. da Vitória que abrangia toda a capital do Estado com suas muitas igrejas, capelas e conventos, havia três outros núcleos com a presença permanente de religiosos e que também naquele ano seriam erigidos em paróquia - Anindiba (Paço do Lumiar), São José dos Poções, antiga aldeia da Doutrina ...". (MEIRELES, 1977,
p.127).
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Coelho (1990) em seu "Política indigenista no Maranhão Provincial", ao analisar "o lugar do índio na legislação: a questão da terra", afirma que " a situação das terras dos indigenas é caracterizada por um acúmulo de esbulhos e usurpações" e o processo oficial do sequestro dessas terras se dá pela ação de Pombal, que prescreveu, em 1757, a " elevação das aldeias indígenas, onde haviam missões, à categoria de vila ou lugar, de acordo com o número de habitantes". Cita, dentre outros exemplos, que " a aldeia da Doutrina, em 1º de agosto de 1757, foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vinhais". D. Felipe Condurú Pacheco (1968) informa que em 1751, os jesuítas e os franciscanos tinham no Estado do Maranhão e Grão-Pará 80 missões e grande número de “doutrinas”, e que em oposição às numerosas propriedades dos demais religiosos, “... os franciscanos possuíam então no Maranhão apenas o convento de Santo Antonio, com 25 escravos, e a ‘missão’ de S. José dos Poções, em 1757 vila de Vinhais, de onde, com as esmolas dos fiéis, se mantinham com seus alunos de filosofia e de teologia...”. (p. 50).
Ao listar as paróquias da Ilha do Maranhão, “... no meado do século XVIII, conta de 1758,... distante da cidade ... Vila Nova de Vinhais, a que foi elevada a 1o. de agôsto de 1757, (antes, S. João dos Poções) dos franciscanos...”. (p. 61).
De acordo com Barbosa De Godois (1904), o colégio dos jesuítas no Maranhão, “segundo os Annaes Litterarios, contava estas residências:
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Conceição da Virgem Maria, em Pinheiros; S. José, na aldeia de S. José de Riba-Mar; S. João Baptista, em Vinhais; S. Miguel, no Rosário. Meireles (1964), conta-nos que o bem-aventurado Gabriel Malagrida - a quem César Marques chamou de “o desgraçado apóstolo do Maranhão” - costumava logo pela manhã percorrer as ruas da pequenina cidade de não mais de uma meia dúzia de milhares de habitantes, a convocálos, com a campainha que ia fazendo tilintar, para a Santa Missa e o exercício do catecismo. E lá voltava ele, cheio de alegre beatitude, acompanhado de um bando irriquieto de meninos que o seguia até o Colégio. Depois, o confessionário e a visita aos enfermos e aos presos, consumia-lhe o resto do dia, pela tarde afóra; À noite, retornava à aldeida da doutrina, como comumente então a povoação de São João dos Poções, antiga Uçagoiaba e hoje Vinhais, sede da primeira missão dos inacianos na Ilha-Grande fora conhecida...
Buscamos uma vez mais em Cesar Marques (1970) outras informações, agora sobre a Igreja do Vinhais: “Pertenceu então a outro donatário porque descobrimos termos da junta das missões de 13 de abril de 1757, que passou para o domínio dos frades da Ordem de Santo Antonio, sem podermos contudo dizer como se efetuou esta mudança, e então se chamou aldeia de São João dos Poções.[...] [1o. de agosto de 1757 em que a Aldeia da Doutrina foi elevada à categoria de vila com a denominação de Vinhais] foi criada a freguesia em virtude de Resolução Régia de 13 de junho de 1757, sendo o seu primeiro pároco encomendado o beneficiado Antôno Felipe Ribeiro”. [...] “Em 5 de maio de 1829 a Câmara ‘pediu ao Presidente a construção de uma igreja, por ter desabado a que havia, de uma cadeia, que era um quarto por baixo da casa da Câmara, porque tendo caído o templo de que o quarto fazia parte, ficou ele arreuinadíssimo, e de uma casa da Câmara porque a existente estava com os sobrados despregados e com faltas’. “. (p. 632-633).
Ainda às págiasm 632 do referido Dicionário ..., César Marques informa que no referido têrmo – ao passar a freguesia para a Ordem de Santo Antônio, com o nome de São João dos Poções, em 13 de abril de 1757 -, achavam-se em palácio, reunidos, o Governador da Capitania, Gonálo Pereira Lobato e Sousa, o Governador do Bispado, Dr. João Rodrigues Covete, e o Desembargador Ouvidor-Geral Diogo da Costa e Silva, o Desembargador Juizde-Fora Gaspar Gonçalves dos Reis, e os reverendos prelados das regiões, mandava o Governador ler o têrmo da junta, feito na cidade de Belém do GrãoPará em 10 de fevereiro de 1757: “Depois disso perguntou o governador do bispado o que respondiam suas paternidades ao proposto, determinado e resolvido no dito têrmo, devendo-se praticar neste bispado o que se praticou e resolveu no Grão-Pará”.
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“O padre provincial do carmo, Frei Pedro da atividade, e o padre comendador do Convento de N. S. das Mercês, Frei Bernardo Rodrigues Silva, não fizeram a menor objeçào, e declaram concordar com o que se tinha feito no Pará. “O padre-mestre, Frei Matias de Santo Antônio, por impedimento do guardião do Convento de S. Antônio, que então era Frei Miguel do Nascimento, respondeumque não tinha dúvida que se observasse o mesmo, com a declaração porém que neste bispado nõa havia missões algumas para observância do sobredito, e que só o seu convento tinha uma doutrina do serviço dele, a qual estava situada em terras doadas ao mesmo convento, aceitas pelo Sindico dele por títulos onerosos de compra e venda, e obrigação de missas anuais, e por isso tinham entrado no seu domínio por muitas bulas, e especialemnete pelas do papa Nicolau IV, fucando assim excluída da ordem de Sua Magestade. “No têrmo da junta de 18 de junho do mesmo ano (1757), declarou o dito governador, que havendo dado conta do ocorrido na sessão da Junta de 13 de abril ao capitão-General do Estado Francisco Xavier de Mendonça Furtado (irmão do Marques de Pombal) do requerimento do guardião do Convento de Santo Antônio a respeito da sua aldeia chamada da Doutrina, fora por ele julgada em oposição à devida observancia da ordem de Sua Majestade de 7 de junho de 1755, que com força de lei mandou publicar nesta cidade. “Em virtude de tudo isto foi no dia 1 de agôsto de 1757 elevada à categoria de vila com a demonimação de Vinhais. “Acharam-se presentes a este ato o Governador da Capitania, dr. Bernardo Bequimão por comissão do governador do Bispado, o diretor Alferes Manuel de Farias Ribeiro, os Sargentos Manuel José de Abreu e Carlos Luis Soares, o povo do dito lugar e mais aldeias. “Fêz entrega das terras da vila, o que únicmente possuía esta aldeia, o Padre Frei Bento de Santa Rosa, religioso de Santo Antônio e aí missionário com a administração temporal.” (p. 632-633)
Ainda em Cesar Marques, descobrimos que os presbíteros Domingos Pereira da Silva, vigário colado da freguesia de São Bernardo da Parnaíba, e Maurício José Berredo de Lacerda, vigário de São João Batista de Vinhais, apresentaram requerimento colocando sob suspeição a divisão da freguesia da Sé e a criação da de Santana, em 17 de janeiro de 1803 (p. 446). Gaioso (1970), ao identificar as cidades, lugares, villas, freguezias por toda a capitania, afirma que na ilha de São Luís do Maranhão - em 1818 -, tem a cidade deste nome e: "A villa de Vinhaes he uma pequena povoação de Indios, que goza de privilegio de ter seu governo municipal, de que são membros os mesmos Indios. Tem sua igreja particular que lhes serve de freguezia, com a invocação de S. João Batista. A congrua dos vigários destas povoações he de 50,000 r. pagos pela fazenda real, que cobra os dizimos, e devem apresentar certidão dos respectivos diretores, em como compriro com os officios pastoraes." (p. 110)
Sobre a igreja existente em Vinhais, Moraes (1989) lembra que a capela de São João dos Vinhais, construída no século XIX (sic), substituiu templo
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muito anterior, que ruíra, e que fora matriz da freguesia, criada pela Resolução Régia de 18 de junho de 1757. A reconstrução da igrejinha do Vinhais foi feita pelo 15o. Bispo do Maranhão, D. Marcos Antonio de Souza. Em carta a seus auxiliares, datada de 30 de dezembro de 1838, “julgando aproximado o tempo de descer aos silêncios da sepultura”, pede para ser enterrado na Matriz de São João Batista do Vinhais, que mandara reedificar: “Se não fôr possível ter o último jazigo nesta Cathedral de Nsa. Sra, da Vitória, junto às cinzas dos meus Predecessores, como sesejava um santo Bispo de Milão, se não me fôr permitido descançar junto al Altar, em que poe muitas vêzes tenho celebrado os augustos mysterios da Religião Santa, que professo, hé de minha última vontade, que o meu enterramento, se fallecer nesta Cidade, ou suas vizinhanças seja na Matriz de S. João Baptista de Vinhaes, reedificada com algum trabalho meo”. (CONDURÚ PACHECO, 1968, p. 164).
No Almanak Do Maranhão para o ano de 1849, consta da relação dos párocos do Bispado do Maranhão o nome de Manoel Bernardo Vaz, como vigário colado da Igreja de São João Batista do Vinhais. D. Manoel Joaquim da Silveira, 17o. Bispo do Maranhão, inicia, a 27 de dezembro de 1854, uma visitação às paróquias. Sobe o “São Francisco” “braço de mar em que deságua o rio Anil”, em dois escaleres do brigue “Andorinha: “... Pitoresco o promontório dos remédios, com a alvura deslumbrante e devota da Ermida de Nsa. Senhora. Com pouco mais de 3 quartos de hora de viagem, estão no pôrto de “Vinhaes, outrora Villa, e muito mais povoada que actualmente’. Foguêtes, recepção, bençãos. ‘Hospedagem ecellente em casa de propriedade do Vigário Geral. Visita dos ingênuos habitadores dêste pacífico lugar’. “Na manhã seguinte começam os trabalhos. Pouca frequência. Não há confissões: 75 crismas. ‘Pequena a Matriz de pedra e cal; airosa, porém e mui bem ornada’. Construída por D. Marcos, já está arruinada. Ajudado com 4:000$000 da Província e com o produto de loteria, D. Manoel fez os reparos desta... “... a 3 de janeiro, por Vinhais, retorna S. Excia. à Capital”. (CONDURÚ
PACHECO, 1968, p. 234-235). À época da nomação do 19o. Bispo do Maranhão, D. Antonio de Alvarenga - 1876 -, era pároco da igreja de São João Batista de Vinhais o Pe. Custodio José da Silva Santos. Catarina Mina – Catharina Rosa Ferreira de Jesus – uma escrava que amealhou grande fortuna com o comércio de seu corpo, e comprou sua alforria – no dizer de Graça Guerreiro, tornara-se uma Xica da Silva do Maranhão – achando-se adoentada – em 19 de fevereiro de 1886 - e sendo solteira e sem herdeiros, abriu mão de seus bens em testamento, deixando-os para seus escravos –sim, os possuía, e muitos ! – além da alforria dos mesmos. Entre as
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exigências que fez, pediu aos herdeiros que “enquanto lhes permitissem os seus recursos, não deixassem de fazer a festa de São Pedro em Vinhaes, como de costume”. (BARBOSA, 2002; 2002b). (Grifos nossos). Em 1985, os moradores da Vila velha do Vinhais pedem ajuda aos moradores do Conjunto Recanto dos Vinhais para a reconstrução da Igrejinha ... o telhado estava no chão, mais uma vez ... A primeira pessoa que, nessa época estendeu a mão, foi uma médica, que mandou reconstruir o telhado. Depois, alguns moradores reuniram-se e resolveram ajudar, criando uma comissão – informal – pró-reconstrução da Igreja... Muito embora conste do “Inventário Nacional de Bens Móveis e Integrados”, do Ministério da Cultura, que em 1995 tenha sido restaurada pela Secretaria de Cultura do Estado, através do Departamento de Patrimônio Histório e Paisagístico (MinC, 1997) – recurso de R$ 8.000,00 (oito mil reais) – isso nunca se deu; alguém pode explicar ? desde 1985, todas as intervenções físicas se deram com recursos arrecadados junto à comunidade, sem qualquer interferência de qualquer poder público – seja nacional, estadual, ou municipal.
CONCLUSÃO: A Vila do Vinhais recebeu seus primeiros habitantes brancos em 1612, quando o sr. de Pizieux e alguns franceses que aqui chegaram com Daniel de La Touche alí fixam residência e edificam uma capela - a segunda da ilha, batizada por D'Abbeville a 20 de outubro do mesmo ano. Em 1615, de acordo com MORAES (1987) ou 1622, no entender de Cavalcanti Filho (1990) os jesuitas alí estabelecem sua primeira residência, ou missão, em terras maranhenses. A Eussauap de D' Abbeville (1612) é chamada de Uçagoaba pelos padres Manoel Gomes e Diogo Nunes (1615) e, a partir de 1622, recebe o nome de Aldeia da Doutrina dos padres Luis Figueira e Benedito Amodei. Em 1º de agosto de 1757 recebe a atual denominação - Vila do Vinhais. Extinta em 1835... Hoje, a Igrejinha do Vinhais completa 397 anos. Desde o ano de 1985, os moradores do "Vinhaes Velho" - hoje compreendendo os bairros da Vila Velha do Vinhais, Recanto dos Vinhais, Portal do Vinhais, Alameda dos Sonhos, Conjunto dos Ipês (Vale), Residencial Vinhais III, Conjunto dos Colibris - a estão reconstruíndo - pela quinta vez, nesses quase 400 anos. Por muitos anos abandonada, tendo deixado de cumprir sua função de unir pela fé católica seus moradores, estava novamente em ruínas. Desde que o conjunto Recanto dos Vinhais foi construído, há 30 anos, seus moradores tentam, junto com os residentes da Vila Velha do Vinhais, ter um Padre rezando missa.
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Estamos em campanha permanente para a recuperar físicamente ... A histórica igrejinha precisa de sua ajuda. A missa é rezada aos sábados, às 6:00 horas da tarde - certamente ARSENE DE PARIS e CLAUDE D’ABBEVILLE (que rezaram a primeira missa em 1612); Manoel Gomes e Diogo Nunes (1615 a 1618 ou 19); LUIS FIGUEIRA e BENEDITO AMODEI (que chegaram em 1622); GABRIEL MALAGRIDA (visitador da Inquisição, o desgraçado apóstolo do Maranhão); o Padre FREI BENTO DE SANTA ROSA (que entregou as terras à administração quando da transformação da Aldeia em vila, em 1757); ANTÔNIO FELIPE RIBEIRO (primeiro pároco da frequesia, nomeado em 1757); MAURÍCIO JOSÉ BERREDO DE LACERDA (vigário em 1805); D. MARCOS ANTONIO DE SOUZA (15o. Bispo do Maranhão, que pede para ser enterrado, em 1838, na igreja que mandara reconstruir); MANOEL BERNARDO VAZ (vigário colado da Igreja de São João Batista do Vinhais em 1849); D. MANOEL JOAQUIM DA SILVEIRA (17o. Bispo do Maranhão, que a visita e reza missa em 1854, e mandando reconstruí-la); padre JOÃO FELIPE DE AZEVEDO (professor de primeiras letras); CUSTODIO JOSÉ DA SILVA SANTOS (pároco em 1876); PADRE DR. RAIMUNDO MEIRELES (-19962009); e PADRE CLÁUDIO, atualmente - a estarão acompanhando e rezando, junto com os moradores, para terem sua “pequena Matriz de pedra e cal; airosa, porém e mui bem ornada”. Esperamos sua visita...
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O COLÉGIO MÁXIMO DO MARANHÃO 101 Do Blog do Leopoldo Vaz 102 http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/
Ontem, na VilaVelha do Vinhais, dentre nossos convidados, estavam o casal João Tavares e Sofia - trabalhamos juntos na antiga Escola Técnica Federal do Maranhão. De nossas conversas, após a apresentação do Documentário, surgiu a Universidade Nova Atenas, de Sousândrade, e o Professor Tavares informou que houvera outrora um Colégio dos Jesuítas em São Luís. Disse-lhe que sabia, e que era, na realidade, uma Universidade… que estudantes da Universidade de Coimbra, dos últimos anos, arriscavam-se a atravessar o Mar-oceano para graduar-se - e terminar seus estudos - no Maranhão. Dava ’status’ um diploma conseguido no Maranhão… vamos à História: A presença de ordens religiosas na colônia prendia-se, teoricamente, aos interesses pela conversão e educação dos nativos, instrumento de dominação da política colonial européia (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 30) [1]. Em 1618, os Jesuítas instalam-se em Maranhão, na antiga Aldeia da Doutrina (hoje, Vila do Vinhais Velho)[2]. Além dessa primeira, duas outras missões situavam-se na Ilha: a aldeia de São Gonçalo ou Tuaiaçu Coarati – que se destacou pela produção de sal; e a de São José, onde os padres da Companhia mais exercitaram suas funções, e foi aldeia de serviço de El-Rei. (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 31). Em 1622, fundam o Colégio [3] e a Igreja Nossa Senhora da Luz (atual Igreja da Sé). Os primeiros estabelecimentos, fundados pelas ordens religiosas, que abriram escolas para meninos, foram denominados de colégio; os outros conservaram o nome de conventos O “Colégio de Nossa Senhora da Luz” era a “cabeça” da missão jesuítica no Maranhão (CAVALCANTI FILHO, 1990; VAZ e VAZ, 1994; PELLEGRINI, 2000) [4]. De acordo com o Pe. José Coelho de Souza, em “Os jesuítas no Maranhão” [5], os jesuítas fundaram diversas estabelecimentos de ensino em São Luís, Alcântara, Parnaíba, Guanaré e Aldeias Altas, Vigia e Belém: colégios, seminários, escolas:
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qua, 21/10/09 - por leopoldovaz - categoria Educação, História
http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/10/21/0-colegio-maximo-do-maranhao/ Maranhense que por descuido geográfico nasceu no Paraná. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Professor de Educação Física. 102
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“Nesses estabelecimentos existiram escolas rudimentares de aprendizagem mecânica, o que hoje chamaríamos Escolas de Artes e Ofícios. Houve aí também as primeiras oficinas de pinturas e escultura, sendo essas oficinas postulado e conseqüência da construção dos colégios. No Colégio Nossa Senhora da Luz notavase a Pinturia, vocábulo que não anda nos dicionários, mas é admiravelmente bem formado: era uma sala grande no corredor de cima, quase junto à portaria. Nela se ataviavam e pintavam as imagens que se esculpiam noutra oficina, a de escultor e entalhador, anexa à carpintaria. Era freqüente o pedido a Portugal de se mandarem irmãos peritos em diversas artes, entre as quais a de pintor, para serem mestres”. (p. 27). O que é confirmado por PELLEGRINI, que localizava naquele Colégio a Biblioteca, as escolas para os filhos dos colonos e as oficinas de carpintaria, serralharia, pintura e estatuaria, “… onde eram formados os mestres-de-obras, carpinteiros, entalhadores, e douradores responsáveis pela edificação de igrejas, confecção de altares e das imagens utilizadas pelos jesuítas no trabalho de evangelização. [...] Aqui, encontra-se a base da mentalidade da arte sacra barroca desenvolvida no Maranhão. Foram as oficinas da Companhia de Jesus que instauraram uma ‘escola maranhense’ de arte. Trabalhando lado a lado com entalhadores europeus, aprendizes locais desenvolveram-se como artistas…”. (PELLEGRINI, 2000, p. 4) São Luís foi a primeira cidade do Estado onde os jesuítas exerceram o ensino. O Colégio de Nossa Senhora da Luz, em curto espaço de tempo, tornou-se excepcional centro de estudos filosóficos e teológicos da ordem no Estado (universitate de artes liberais). Era o que melhores condições de estudos oferecia. Já em 1709, o Colégio do Maranhão era Colégio Máximo, nomenclatura usada pelos discípulos de Loyola para seus estabelecimentos normais de estudos superiores. Nesse colégio funcionavam as faculdades próprias dos antigos colégios da Companhia: Humanidades, Filosofia e Teologia, e, mais tarde, com graus acadêmicos, no chamado curso de Artes. Os estudos filosóficos compreendiam: no 1º ano, Lógica; no 2º, Física; no 3º, Matemática. O Colégio Máximo do Maranhão outorgava graus de Bacharel, Licenciado, Mestre e Doutor, como se praticava em Portugal e na Sicília, segundo os privilégios de Pio IV e Gregório XIII. Dentre os estabelecimentos de ensino dos jesuítas, as Escolas Gerais ocuparam um lugar de destaque, pelo fato de terem tornado o ensino popular ao alcance de todos. (CAVALCANTI FILHO, 1990, p. 36). Ao se estudar a origem das Corporações de Ofícios [6] – Guilda, Grêmio – verifica-se que antes do século XII, tem-se notícia de uma “scholae” de pescadores e açougueiros em Ravena. O uso do termo “scholae” (associação
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de ofício) indica, provavelmente, que já não havia somente a preocupação coletiva com a formação de seus continuadores, mas ostentavam também um patrimônio cultural e pedagógico dotado de técnicas particulares de transmissão. Artesãos de vários gêneros formavam-se nas oficinas dos mosteiros que faziam às vezes de escolas de Arte no sentido lato, e cuidavam especialmente do treinamento de jovens, em laboratórios artesanais destinados a instruir a mão-de-obra necessária. Essas “oficinas” deram origem às “universitates”. As universitates (associações) de artesãos são progressivamente institucionalizadas e conquistam proteção dos poderes públicos. Tal ascensão se iniciou no século XII e culminou no século XIV. É acompanhada da difusão das “universitates magistrorum” ou “universitates scholorum”, isto é, aquelas que hoje chamamos universidades, associações particulares dedicadas à produção de bens intelectuais típicos das Artes Liberais (trívio e quadrívio e depois também Teologia e Direito, e mais tarde ainda, Medicina), não ainda, porém, no vértice do prestígio cultural e social. Inicialmente, de fato, a distinção entre universitates de Artes “mecânicas” e universitates de Artes liberais eram pouco marcadas. As Artes Mecânicas compreendiam todas as atividades artesanais, inclusive aquelas dos médicos, desvalorizados pelo próprio nome de “mecânica” – derivado de mecor, aris (mechor, aris, no latim clássico = rebaixar, adulterar, depreciar). As Artes Liberais correspondiam a todas as atividades aplicadas no Trívio (gramática, retórica, lógica) e no Quadrívio (matemática, geometria, astronomia, música). (RUGIU, 1998, p. 25-26; 30). Pois é, Professor Tavares; já tivemos curso superior por estas bandas no final dos 1600 e inicio dos 1700… O que aconteceu?
[1]
CAVALCANTI FILHO, Sebastião Barbosa. A QUESTÃO JESUÍTICA NO MARANHÃO COLONIAL – 1622 – 1759. São Luís : SIOGE, 1990.
[2]
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal “O ESTADO DO MARANHÃO”, São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28.
[3]
ALMEIDA, José Ricardo Pires de. HISTÓRIA DA INSTRUÇÃO PÚBLICA NO BRASIL (1500 1889). São Paulo : EDUC; Brasília : INEP/MEC, 1989, p. 25 - nota de pé-de-página).
[4]
PELLEGRINI, Paulo. A descoberta da Arte Sacra. IN O IMPARCIAL, São Luís, Domingo, 23 de julho de 2000, Caderno Impar, p. 4-5,
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; e VAZ, Delzuite Dantas Brito. Vila do Vinhais: terceira ou Segunda povoação do Maranhão ?. in jornal “O ESTADO DO MARANHÃO”, São Luís, 31 de julho de 1994, Domingo, Caderno Alternativo, p. 28.
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão: esboço histórico. In REVISTA “NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA” v. 2, n. 1 – jul.-dez. 1998 – “, disponível em www.cefet-ma.br/revista VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. “Educação Tecnológica em Maranhão: um esboço histórico para alunos e professores do CEFET-MA. In REVISTA “NOVA ATENAS DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA”, v. 3, n. 2, jul.-dez. 2000, disponível em www.cefet-ma.br/revista. [5]
SOUSA, José Coelho de. OS JESUÍTAS NO MARANHÃO. São Luís : Fundação Cultural do Maranhão, 1977.
[6]
RUGIU, Antonio Santoni. NOSTALGIA DO MESTRE ARTESÃO. Campinas : Autores Associados, 1998
ps. esse material foi extraido de meu livro (inédito) INDICIOS DO ENSINO TÉCNICO/ PROFISSIONAL NO MARANHÃO - 1612-1916, escrito em co-autoria com a profa. Delzuite Dantas Brito Vaz (do Liceu Maranhense) e Loreta Brito Vaz (economista).
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NOVA ATLÂNTIDA
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Do Blog do Leopoldo Vaz 104 http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/
Joaquim de Sousa Andrade – Sousândrade – dá esse nome à Universidade que criou na sua São Luís do Maranhão, em 1894. Depois, muda o nome para Nova Atenas: “JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE e AUGUSTO O. VIVEIRO DE CASTRO encaminharam, em 02 de julho de 1894 uma representação ao Senado requerendo a criação de um fundo universitário: “Considerando que há um Tesouro providenciado por nossos Maiores para a abertura do Canal do Arapapahy, e que, tendo sido essa necessidade removida pelos vapores que a salvamento navegam pelo Boqueirão, é hoje para ser empregado ao socorro das necessidades maiores; - considerando que a forma republicana de governo requer o mais amplo derramamento de luzes de todos os conhecimentos científicos de modo que os Estados federativos em sua autonomia possam ser cada qual uma capital distinta na grande União; e considerando que ao desumano e às descrenças que lavram, não só as reações são verdadeiras ciências podem ser salutares, e tendo o lo. projeto da constituição destes Estado (de 3 de dezembro de 1890), incluindo a Universidade de Atlantida, art. 89, e reconhecido já pelo Congresso Federal o direito d´este aquele Tesouro; e sendo de sentimento nacional que seja ele destinado para um monumento eles no qual o será a Universidade; “O abaixo assinado, membro da Comissão eleita de comicio popular de 17 do corrente mês de junho, reunindo-se no salão do juri da municipalidade, vem representar ao Congresso, em sua sabedoria e no amor pátrio e o da geração que surge esperançosa hoje do Diretorio ao Tesouro do Arapapahy (em títulos imperecíveis e dos quais sómente os juros se dispensarão) aos fundos universitários, indicando as Academias por onde com esses juros começar. “O governo federal que tem demorado a entrega do Tesouro do Arapapahy, talvez sentimentos piedosos e temendo que impiamente fossem esbanjados essas honrosas economias de nossos pais, com 103
http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/10/21/nova-atlandida/ qua, 21/10/09- por
leopoldovaz - categoria Educação, História Maranhense que por descuido geográfico nasceu no Paraná. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Professor de Educação Física. 104
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segurança o entregará sabendo que será consagrado aos fundos inalienáveis da Universidade Atlântida. Fora loucura, fora imoralidade pública e pública desgraça o desaparecimento d´aquele Tesouro que, sustentando com seus juros a Universidade, reproduzirá tesouros maiores quais os da inteligência. “Em 20 anos (começando já como o podemos e devemos) vereis ao nosso concurso o Estado florescer transformando em verdadeiro centro de civilização. Se para a Faculdade de Direito, a qual achará entre nós distintos professores de bom caráter, pouco dispenderá a Universidade, além do edifício e do contrato de um professor para a nova cadeira de Direito Índico, o qual pediremos ao Chile, país único na América que tem a ciência da educação dos Naturais, não acontece o mesmo com a Academia de Minas e Agricultura (as que possível forem e são necessidades urgentes d´este Estado) para os quais professores têm de vir estrangeiro. “Logo que o patriótico congresso estadual, que por isso terá a benção da posteridade, haver decretado o Tesouro do Arapapahy aos primeiros fundos universitários, a comissão dará princípios aos reparos do antigo convento dos carmelitas, que já foi pedido em concessão ao governo da União para lá solenizar-se a fundação da Universidade em 15 de novembro e que é também a data da inauguração do 1o. presidente eleito da República. Paço da Intendencia, salão do juiz, 26 de junho de 1894.”. (O FEDERALISTA, 26 de junho de 1894, p. 3). Entre julho e agosto de 1894, Sousandrade publica sob o título “Atlantida” anúncio da revista mensal da Universidade de Atlantida. Em formato da Humboldt Library de New York, continha 24 páginas, 3 colunas e o primeiro número apareceu em 13 de novembro de 1894. Aceitava subscrição (assinatura), sendo publicados 8 números por ano. A sede provisória estava localizada em sua Quinta da Vitória. Informava, ainda, que o “Senado Bahiano confirmara a causa da Universidade; aguardamos a sabedoria de nosso congresso”. (O FEDERALISTA, 30/07 e 01/ a 06/08/1894, p. 3). Por essa mesma época, são publicados os Regulamentos da instrução Pública do Maranhão (O FEDERALISTA, 02, 03 de agosto de 1894) e o da Escola Normal (O FEDERALISTA, 06/08/1894). No ano seguinte, sob o título “NOVA ATHENAS”, nas edições de 21 e 22 de fevereiro, é publicado anúncio de convocação do diretório da Universidade: “São pela imprensa convidados os membros do Directorio da Universidade a se reunirem no Paço Municipal ao meio dia, em 24, comemoração da Constituição da República. “Os 12 eleitos à Inauguração de 25 de Dezembro p.p. são o cidadão Souzandrade, o Governador do Estado, o Presidente do Congresso, o Presidente do Superior Tribunal de Justiça, o Bispo Diocesano, o
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Inspetor da Instrução Pública, o Senador Federal (o último eleito), o Cônsul do Chile, o Cônsul dos Estados Unidos, o Presidente da Associação Comercial, o Juiz seccional, o Diretor (Vigilante) da Escola Normal. “O que não poder comparecer delegará seus poderes por escrito ou pelo telefone à horas dadas esprimindo a sua idéia e o seu voto.” (O FEDERALISTA, 21-22/02/1895, p. 3). É de se supor que da reunião de 24 de fevereiro, os membros do diretório da Universidade tenham deliberado sobre os cursos que seriam oferecidos e sobre o exame de admissão à Faculdade de Direito, conforme anúncio publicado em agôsto: “De acordo com os regulamentos em vigor até 1896, serão exigidos os seguintes exames para admissão à matrícula: Nas faculdades de direito (art. 430 do decreto n. 1232F, de 2 de janeiro de 1891, cit.): portugues, frances, ingles, ou alemão (à vontade do candidato); latim; matemática elementar; geografia, especialmente do Brasil; história universal, especialmente do Brasil; física e química geral, estudo concreto; história natural, estudo concreto: (Do Diário Oficial de 18 de março de 1893, no. 74). O Directório”. (O FEDERALISTA, 03, 05, 06, 07, 09, 10/08/1895).” Porque esse post? ontem, durante os festejos na Igrejinha do Vinhais Velho, conversei com algumas pessoas que lá estavam. Uma delas disse-me que estava a escrever um artigo sobre o Canal do Arapapai; disse-lhe que Sousândrade quisera usar os fundos da construção desse canal para fundar a sua Universidade em São Luís. Disse-me não saber sobre isso… ficamos de conversar e eu lhe passar o material… compartilho com vocês… tivemos uma Universidade aqui, no final dos 1800… seria a primeira universidade - universitas - do Brasil…
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AS CAVALHADAS E O MARANHÃO 105 Do Blog do Leopoldo Vaz 106 http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/
Nesta semana, observamos as chamadas para acompanhar as Cavalhadas realizadas na cidade de Perinópolis-GO. As cavalhadas de Pirenópolis são realizadas durante a Festa do Divino… A “Festa do Divino Espírito Santo” foi trazida para o Brasil ainda no século XVI. Em Portugal, a “Festa do Divino” aparece desde as primeiras décadas do século XIV e foi estabelecida pela Rainha D. Izabel (1271-1336), casada com D. Diniz (1261-1325) e começou com a construção da Igreja do Espírito Santo em Alenquer. O cerimonial consta de passeio pela cidade, levantamento de mastro enfeitado de frutas naturais, feita por um grupo de caixeiras (tocadoras de caixa). Esta festa até hoje é realizada em Alcântara, com muita pompa e honraria. Mas sem as cavalhadas… Já tivemos cavalhadas em São Luís… No processo de colonização do Maranhão a Igreja teve um importante papel, indo além do mundo espiritual, representando o único freio moral de uma população brutalizada e ignorante. É na igreja que essa população encontra uma diversão e uma alegria que quebrasse a monotonia desesperada de uma vida prenhe de perigos e vazia. Essa alegria era representada pela beleza litúrgica do cerimonial religioso: O Te-Deum, a missa, o sermão, a novena, a procissão, o canto coral, a música do cravo no coro, o repicar dos sinos nas torres e a comédia que os noviços representavam em dias de festas, no adro dos templos, eram a única distração e a única alegria que regularmente se concedia àquela gente. Em 1678, o primeiro bispo, D. Gregório de Matos (1679-1689), foi recebido com uma festa foi,… “onde, por oito dias consecutivos houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria.” As encamisadas constituíam-se, outrora, um cortejo carnavalesco que saía às segundas-feiras, com seus componentes vestidos de longas camisas e mascarados de branco, fazendo momices. Primitivamente foi ataque de guerreiro, onde os soldados punham camisas sobre as couraças como
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http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/10/21/as-cavalhadas-e-o-maranhao/ Maranhense que por descuido geográfico nasceu no Paraná. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Professor de Educação Física. 106
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disfarce. Depois, mascarada noturna, com archotes. Tornou-se desfile, incluído nas festividades públicas. A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras. Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile, de que fala um documento da Câmara de Coimbra, aludindo em 1464, à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas. O termo cavalhada refere-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha. Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria e se constituíam em atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. Os principais e mais famosos jogos cavalheirescos eram: o torneio, o bigorno, a giostra, o carosello, o passo d’arma, a gualdana, a quintana, a corrida dall’anello. As primeiras cavalhadas realizadas no Brasil acontecerem em abril de 1641, no Recife, embora haja registro de uma encamisada realizada em março daquele ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foram encontradas provas de que, além de em São Luís, também em Alcântara se realizavam essas cavalhadas, não havendo informações de até quando foram praticadas no Maranhão. Para Antonio Lopes, além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha. A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos. Originária de antiqüíssima justa, desde o século XVI que se corre a argolinha no Brasil. No Mapa Cultural do IBGE, encontra-se a descrição de cavalhadas realizadas em Alagoas, Bahia, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraíba como cortejo e torneio a cavalo em que a parte mais importante consiste na retirada de uma argolinha com a ponta de lança, em plena corrida. Jomar Moraes registrar em seu “Guia de São Luís” que cavalhadas, congadas, fandangos, cheganças e mascaradas, tivemo-los durante o período colonial No Maranhão já as tivemos, as cavalhadas. Aliás, essa é uma frase que se costuma muito ouvir. Já tivemos… A argolinha é a primeira “manifestação esportiva” praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado, referindo-se à mais famosa corrida realizada no Brasil,
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promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 - ou abril -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses.
Mestre Vavá, do IHGM, informa que em São Bento, no século XVIII havia corrida das argolinhas… pedi maiores detalhes…
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CAVALHADAS (TAMBÉM) EM SÃO BENTO
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informa Vavá Melo108… Do Blog do Leopoldo Vaz 109 http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/ Mais acima, escrevi sobre as cavalhadas em Perinópolis. E que já as tivéramos em São Luís e em Alcântara. Corria-se, inclusive, a Argolinha: Uma função essencial do calendário é a de ritmar a dialética do trabalho e do tempo livre. Trata-se de permitir o entrecruzamento do tempo mais disciplinado, mais socialmente controlado, com o tempo cíclico das festas e, mais flexível, do jogo. Uma das funções do calendário está em articular os tempos de trabalho e de não-trabalho, ou ainda, articular o tempo linear-regular do trabalho com o tempo cíclico da festa, do jogo e, do mesmo modo, do esporte. O calendário seria o resultado complexo de um diálogo entre a natureza e o homem; diálogo este não estranho ao lazer, ao esporte e ao jogo. (Le GOFF, 1992; GEBARA, 1997, 1998) 110. Esses tempos de festa serviam para regular o calendário do trabalho. Ao contrário do uso do tempo após a revolução industrial, o tempo era regulado pela natureza. O ritmo do trabalho era dado pelo ritmo do homem no comando de ferramentas e instrumentos de trabalho (GEBARA, 1997, 1998).
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sex, 23/10/09 - por leopoldovaz - categoria Atlas do Esporte no Maranhão, História, Raízes http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/10/23/cavalhadas-tambem-em-sao-bento-informa-vavamelo/ VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial. in SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, XVIII, São Caetano do Sul-SP, outubro de 1992. ANAIS … São Caetano do Sul : CELAFISCS : UNIFEC, 1992, p 27. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Primeiras manifestações do lúdico e do movimento no Maranhão Colonial in CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, VIII, Belém-Pa, setembro de 1993. ANAIS … . Belém : UFPA, 1993, p 137. 108 Vavá - ÁLVARO URUBATAN MELO é sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, ocupante da cadeira 54, patroneada por Felipe Condurú Pacheco. 109 Maranhense que por descuido geográfico nasceu no Paraná. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Professor de Educação Física. 110 Le GOFF, Jacques. História e memória. Campinas : Unicamp, 1992 GEBARA, Ademir. Considerações para a história do lazer no Brasil. in BRUHNS, Heloísa Turini. (org). Introdução aos estudos do lazer. Campinas : Unicamp, 1997, p. 61 -81 GEBARA, Ademir. “O tempo na construção do objeto de estudo da história do esporte, do lazer e da educação física”. Grupo de História da Educação Física, Esporte e Lazer, FEF/UNICAMP. < http://www.unicamp,br/fef/gehefel/texto-Gebara-2.txt. >. (26/06/98).
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Em São Luís do Maranhão, a Câmara tinha que mandar celebrar, além da procissão de Corpus Christis , quatro festas anuais: a de São Sebastião em janeiro, a do anjo Custódio em julho, a da Senhora da Vitória em novembro, e a da restauração de D. João IV, chamado especialmente el-rei, em dezembro. Fora essas datas, só se realizavam cerimônias festivas quando assumia um novo governador ou, depois, quando chegava um novo bispo. Encontramos no Maranhão, ainda no Século XVII, como parte da herança cultural portuguesa, além das danças e comédias representadas no adro das igrejas, o entrudo e as cavalhadas, estas sob as formas de encamisadas, do jogo das canas e do jogo das argolinhas. A argolinha é encontrada desde o século XV em Portugal e, de acordo com GRIFI (1989)111, a corrida dall’anello - corrida do arco - consistia de corrida a cavalo, lançado a galope, durante as quais os cavaleiros deviam enfiar a lança ou a espada em um arco suspenso. Vencia quem conseguia enfiar o maior número de arcos. No Brasil, desde o século XVI se corre a argolinha, e chegou a estenderse até meados do século XIX. MARINHO (s.d.)112 refere-se a uma cavalhada realizada em abril de 1641, no Recife. Portugal estava sob o domínio da Espanha e esta em guerra com a Holanda. Os holandeses haviam invadido o Brasil quando sobreveio a trégua entre estes e os espanhóis, a qual, naturalmente, se estendeu às colônias. Para festejá-la, foram organizados torneios eqüestres em que portugueses e brasileiros competiram contra holandeses. CÂMARA CASCUDO (1972)113 registra uma encamisada realizada em março desse mesmo ano, no Rio de Janeiro, por ocasião da aclamação de D. João IV. É a argolinha a primeira “manifestação esportiva” praticada por brancos em terras maranhenses, pois possuía caráter competitivo, como registra Frei Manuel Calado (citado por CÂMARA CASCUDO, 1972), referindose à mais famosa corrida realizada no Brasil, promovida por Maurício de Nassau, em janeiro de 1641 - ou abril, conforme MARINHO (s.d.) -, por ocasião da aclamação de D. João IV. Foi vencida pelos portugueses. Para LOPES (1975)114, nesses torneios do tempo colonial os corcéis eram árdegos, de viçosa estampa e traziam arreios de preço. Os cavaleiros e seus ‘peões’ vestiam com esmero trajes de cores vivas e os primeiros, montados à gineta ou bastarda, exibiam a sua destreza na arte nobre de bom 111
GRIFI, Giampiero. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO ESPORTE. Porto Alegre: D.C. Luzzatto, 1989. 112 MARINHO, Inezil Penna. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL. São Paulo : Cia. Brasil ed.(s.d.). 113 CÂMARA CASCUDO, Luís da. DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO. 3a. ed. atual. Rio de Janeiro : Tecnoprint, 1972 114 LOPES, Antônio. Meios de transporte na ilha de São Luís. in LOPES, Antônio. DOIS ESTUDOS MARANHENSES. São Luís : Fundação Cultural do Maranhão, 1975, p. 45-58.
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cavalgar. Além dos encamisados, jogaram, decerto, a cana e a argolinha (LOPES, 1975). Em 1678, D. Gregório de Matos - primeiro bispo do Maranhão (16791689) - foi recebido com uma festa. Teve lugar, no adro da igreja, uma comediazinha. Finda ela, foi D. Gregório para a casa de Manuel Valdez, onde, por oito dias consecutivos, ou mais, houve representações de encamisadas a cavalo, danças e outros gêneros de demonstrações de festas e alegria. (MEIRELES, 1977)115. A tradição de desfile a cavalo em festas oficiais é imemorial, tendo se tornado indispensável em Roma, durante as procissões cívicas, triunfos e mesmo festividades sacras. Em Portugal, desde velho tempo a cavalhada era elemento ilustre nas festas religiosas ou políticas e guerreiras. Mesmo nas vésperas de São João havia desfile de que fala um documento da Câmara de Coimbra, citado por Viterbo, aludindo em 1464, à cavalhada na véspera de São João com sino e bestas muares. No Brasil aparecem desde o século XVII com as características portuguesas. (CÂMARA CASCUDO,1972). Esse autor registra o termo “cavalhada” referindo-se a desfile a cavalo, corrida de cavaleiros, jogo das canas, jogo de argolinhas ou de manilha (CÂMARA CASCUDO,1972). Estes jogos foram um produto do feudalismo e da cavalaria, como afirma GRIFI (1989), ao referir-se às atividades esportivas do medievo, período em que os jogos cavalheirescos se destacavam entre as manifestações atléticas e esportivas. Ao descrever as distrações na Idade Média, Oliveira Marques ensina que, uma vez a cavalo, o nobre medieval podia entrega-se a uma série de exercícios desportivos. Desses, os mais vistosos e conhecidos eram sem dúvida as justas e os torneios, embora seja difícil distingui-los. Em princípio, a justa travava-se entre duas pessoas, enquanto o torneio assumia foros de contenda múltipla. No dizer de GRIFI (1989), a “giostra” era disputada somente entre dois cavaleiros, diferente do torneio que era combate em times. Eram usadas “armas corteses”, isto é, armas desapontadas ou cobertas por uma defesa. O confronto consistia de uma corrida a cavalo de um contra o outro, lança em riste, com o objetivo de desequilibrar o adversário, melhor ainda, de fazer cair, ao mesmo tempo, cavalo e cavaleiro. Em torno do século XIV espalhou-se o mau costume de usar lanças ou armas desapontadas. Variante das justas eram as chamadas canas. Em vez de lanças, o jogador, a cavalo, servia-se de canas pontiagudas com que se acometiam. O jogo possuía as suas regras, evidentemente muito diferentes das que regiam os torneios. Popularíssimos no fim da Idade Média mostrava-se espetáculo quase obrigatório nos festejos públicos, ao lado das justas e das touradas. 115
MEIRELES, Mário M. HISTÓRIA DA ARQUIDIOCESE DE SÃO LUÍS DO MARANHÃO. São Luís : UFMA/ SIOGE, 1977
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O jogo das canas, de antiga tradição nacional, continuou em uso, nos séculos XVII e XVIII, com grande aparato e luzimento, quando nele intervinham pessoas da alta nobreza. Da cavalaria medieval, que durante longo tempo conservou a tradição dos exercícios viris da antiga efebia e cuja decadência foi um dos consectários do aperfeiçoamento das armas, ficou em Portugal, de onde veio para o Brasil com os primeiros Governadores, o gosto pelo jogo das canas. As cavalhadas constituíram nos tempos coloniais e no Império um atraente exercício. Embora quase privativo dos jovens afortunados. Ao povo habituado à pasmaceira elas valeram por oferecerem espetáculos ou, como Fernando Azevedo escreveu, ‘memoráveis torneios de opulência aristocrática’. Será preciso distinguir as cavalhadas que os mancebos ricos disputavam daqueles outros jogos que no Rio de Janeiro foram conhecidos como o jogo das manilhas e em tantos outros cantos do país com o jogo das argolinhas. Pois bem. Álvaro - Vavá - Melo (2009) 116escreve-me dizendo: “Li em escrito do intelectual João Climaco Lobato autor de tantas obras, inclusive o livro “Mistério da Vila de São Bento - (1862), conta que por ocasião da festa de São Roque (povoado de São Bento), os lavradores da região festeiros que eram armavam com antecedência casinhas de palhas em torno do arraial, onde ficava seus familiares. Entre as diversões os senhores em seus cavalos faziamn o jogo das argolinhas. Provavelmente prática feita em Alcântara, donde eram residentes, quase todos ou todos de origem portuguesa. Vou tentar lembrar-me onde li essa informação.”.
Logo em seguida: “Encontrei - eis o trecho. É do livro “Mistério da Vila de São Bento” – de João Climaco Lobato, 1862, que reorganizei e vou reeditálo”. Vavá 117: “Nos anos de 1817 a 1818 foi a nova matriz sagrada, a cujo ato concorreu inúmera gente. Foi um dia e uma noite de festas, ricos folguedos, cavaladas, danças e toques. Os ricos lavradores mandaram levantar barracas de pindova, para aonde com antecedência tinham vindo com suas famílias. João Alves teve nesses dias muitos hóspedes, amigos e convidados. Era reboliço, um movimento desusado nesse lugar até então só habitado pelos escravos de João Alves, e sua família, e João de Deus 116
Esmeralda da Conceicao Boaes Melo alvarourubatan@ig.com.br, mensagem eletrônica enviada a leopoldovaz@elo.com.br, em sex 23/10/2009 07:11. 117 Esmeralda da Conceicao Boaes Melo alvarourubatan@ig.com.br, mensagem eletrônica enviada a leopoldovaz@elo.com.br, em sex 23/10/2009 07:30
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Melo,[1] jovem pernambucano, que por desgosto de família, ao que se supõe, viera para esse lugar; e que defronte da igreja novamente edificada levantara uma casa, em terras de José Alexandre Soares,[2] onde vivia aqui com sua mulher, que era parenta do dito Soares, do produto de uma venda, tasca, ou bodegas, que na mesma casa tinha. Bom tempo era esse, dos nossos avós, em que o homem não se pejava em público, mostrar o seu regozijo por ocasião de uma festa religiosa, em que o pobre e o rico, o fidalgo e o plebeu concorriam de mistura ao templo sem querer uma outra distinção mais do que seu zelo religioso. Bom tempo era esse, em que o homem idoso de mistura com o mancebo, montando um fogoso cavalo, corria na arena para tirar argolinha, em dias de cavalhadas, por ocasião de alguma festividade, sem que o velho sofresse quebra na sua dignidade de homem, e nem o moço o respeitasse menos, pois se assim obrava era por motivo de Religião, ante a quase todos são iguais. Bom tempo era esse, em que todos animados do mesmo zelo concorriam ao templo, adornados das suas mais vistosas galas, sem que o pobre invejasse as do rico, nem este menoscabasse as daquele; em que a maledicências, a crítica, e a mordacidade fugiam dos recintos sagrados, em que o homem não se pejava de prostar-se no pó das campas para adorar Aquele que só é grande e poderoso, manifestando assim, em público, aos olhos de todos a sua fé; em que o rico ajoelhava ao pé do mendigo, e não torcia o rosto de nojo e desdém; em que as jovens de cabeças cobertas com seus véus não faziam da casa de Deus, um lugar de namoro _em que o mancebo ia à ela, não como se vai a um teatro, ou a um baile, por distração, para matar algumas horas de inércia e aborrecimento, mas sim para adorar a Deus; em que a palavra proferida pelos lábios do sacerdote, santificado pelo lugar que ocupava na cadeira da verdade, era executada com atenção e recolhimento.”
[1] João de Deus Soares de Melo, professor da cadeira do sexo masculino (1832) e genitor do padre Saturnino Alexandrino Alves de Melo e de Teodolina Maria Alves de Melo, a primeira mestra da cadeira do sexo feminino. [2] Proprietário de um bom quinhão terras, inclusive, de parte da Vila, vendida, posteriormente, para Câmara Municipal. Patriarca da família dos Soares.
——– BIBLIOGRAFIA VIEIRA E CUNHA, Manuel Sérgio; FEIO, Noronha. HOMO LUDICUS - ANTOLOGIA DE TEXTOS DESPORTIVOS DA CULTURA PORTUGUESA. vol. 2. Lisboa : Compendium, (s.d.).
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AINDA SOBRE A VILA VELHA DO VINHAIS 118 Do Blog do Leopoldo Vaz 119 http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/
Ontem e hoje, por conta das comemorações dos 397 anos da Vila Velha do Vinhais e de sua Igreja, em honra a São João Batista, perguntaram-me porque ela se chamou de Vinhaes. Não sei… e nem tive a curiosidade de saber… Mas deve-se o nome de Vinhais provavelmente, ao riacho do Vinhais, que corta a Vila… tributário do Anil… ou não? Era comum, quando se dava os nomes às cidades, vila, e povoados, no inicio da colonização, batizarem-se essas localidades com nomes de cidades, vilas e povoados já existentes em Portugal. Assim, pode ser que essa seja a origem do nome dado à Aldeia da Doutrina, quando de sua transformação em Vila, no período do Consulado Pombalino. Sabemos que: (in http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinhais_(vila) :
Vinhais é uma vila portuguesa, pertencente ao Distrito de Bragança, Região Norte e subregião do Alto Trás-os-Montes, limitado a norte e oeste pela Espanha, a leste pelo município de Bragança, a sul por Macedo de Cavaleiros e Mirandela e a oeste por Valpaços e Chaves .
História A ocupação humana deste território data de tempos ancestrais, tal como se pode verificar pelos inúmeros vestígios arqueológicos que se podem encontrar nesta região: inscrições rupestres, edificações de tipo dolménico e fortificações castrejas. Esta antiguidade é reiterada pelo Abade de Miragaia: O chão desta vila e desta paróquia foi ocupado desde tempos remotíssimos, como se infere da lenda ou história da igreja de S. Facundo, que a tradição diz ter sido fundada no tempo dos Godos. (…) Também por aqui se demoraram os Romanos, pois ao norte da vila, no monte da Vidueira, se encontraram em 1872 muitas moedas romanas bem conservadas (...). Perto de Vinhais foi encontrada uma lápide com a seguinte inscrição:
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http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/10/20/ainda-sobre-a-vila-velha-dovinhais/ ter, 20/10/09 - por leopoldovaz - categoria A VISTA DO MEU PONTO 119
Maranhense que por descuido geográfico nasceu no Paraná. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Professor de Educação Física.
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JOVI / O.M. / LOVIIS / IAIIX / VOTO / LAP (Lovesia dedicou por voto e com generoso ânimo ao grande Júpiter). Em meados do século XIII surgiu, pela primeira vez, a referência a Vinhais, num documento de doação ao mosteiro leonês de São Martinho da Castanheira: in villa que vocitant Villar de Ossus in territorio Vinales. Nesta época, Vinhais não era um topónimo, mas sim um coronómio, visto que designava uma região, um território e não um lugar determinado. Pensa-se que a primeira povoação de Vinhais foi construída num outeiro, próximo da margem direita do rio Tuela, mais a norte do sítio actual, ou no monte da Vidueira, ou, ainda, no monte Ciradela ou Ciradelha, na Serra da Coroa. Estas suposições justificam-se pelo aparecimento de moedas romanas, vestígios de edificações da antiga cidade romana de Veniatia e da estrada militar romana que ligava Braga a Astorga (Asturica Augusti). Vinhais foi, primitivamente, um castro de povoamento galaico, transformado pelos romanos em castro galaico-romano, com a sua fortaleza (oppidum). Certamente, os suevos ou os visigodos cercaram a localidade de muralhas e, com a expulsão dos muçulmanos, Vinhais ficou arrasada, tendo sido repovoada na época da dominação dos reis de Castela e Leão (D. Sancho II e D. Afonso VI). Este repovoamento foi continuado pelos primeiros reis portugueses, nomeadamente com D. Afonso Henriques, D. Sancho I (O Povoador), D. Afonso II e D. Sancho II. Vinhais recebeu foral de D. Afonso III, no dia 20 de Maio de 1253, o qual foi outorgado pelo monarca D. Manuel I, em 4 de Maio de 1512. Quando D. João I de Castela invadiu Portugal, em 1384, devido à crise de sucessão suscitada pela morte de D. Fernando, o castelo de Vinhais foi um dos muitos que hastearam a bandeira castelhana, recusando, assim, obediência ao Mestre de Avis, futuro D. João I de Portugal. No século XVII, Vinhais sofreu bastante com a Guerra da Restauração, devido à sua localização geográfica, tal como conta Pinho Leal, na célebre obra Portugal Antigo e Moderno: Em 1666, achando-se em Lisboa o III conde de S. João da Pesqueira (futuro 1º Marquês de Távora, criado por D. Pedro II Regente, de 7 de Janeiro de 1670), governador de Entre Douro e Távora (…). entretanto, o general galego D. BALTAZAR PANTOJA, pôs a ferro e fogo a província de Trás-osMontes. Em 1 de Julho 1666 entrou por Montalegre, no dia 13 de Julho caíu sobre Chaves, no dia 14 de Julho os lugares de Faiões e Santo Estêvão, defendidos pelo sargento-mór ANTÓNIO DE AZEVEDO DA ROCHA, cometendo barbaridades. Recolhendo-se D. BALTAZAR PANTOJA a Monterey, praça galega ao Norte de Verim, e passados poucos dias volveu sobre Portugal, entrando por Monforte, veio pôr cerco a Vinhais, cercando com o seu exército o castelo, que era defendido pelo governador ESTÊVÃO DE MARIS, com os habitantes da vila e mais 50 auxiliares.
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Este acontecimento ficou eternizado numa inscrição que,
ESTÊVÃO DE MARIS, GOVERNADOR DES / TA VILA DE VINHAIS, Fº DE Rº DE MORAIS DE TIO / ZELO, MANDOV FAZER ESTAS CASAS / NA E. DE MDCCVI (?) QUANDO PANTOXA / G L DO EXÉRCITO DE GALIZA COM O / MAIOR Q. SE VIO NESTA PROVÍNCIA / E LHE DEFENDEO A MURALHA CÕ / A GENTE NOBRE DA VILA E POV / QVA MAIS DE GRÃ E CÕ PERDER MVTÃ / LEVANTOU O SITIO E QUEIMOU AS / CASAS QUE FICAVÃO FORA DA MVRALHA.
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DOCUMENTÁRIO - IGREJA DE SÃO JOÃO BATISTA 397 ANOS 120 Do Blog do Leopoldo Vaz 121 http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/
Ontem [20 de outubro de 2009], foi a nossa festa em comemoração aos 397 anos de primeira missa na Vila (Velha) do Vinhais. Sagrada a São João Batista. O Padre Cláudio celebrou a missa - agora, é o pároco de nossa igrejinha… substituiu ao Dr. Meireles, após 12 anos de convivência. Mais de 500 pessoas assistindo à missa e à apresentação do Documentário. E Cláudio estava apreensivo, achando que não viria ninguém chamo nosso Pároco pelo primeiro nome, não pelo título, não por falta de respeito, mas pela amizade (e depois, ele foi meu aluno na antiga Escola Técnica… sempre será um ex-aluno, independente da função que exerça… amizade de anos, já, e que muito me orgulha, pois todas as vezes em que nos encontramos, ele lembra daqueles tempos e faz questão de dizer : foi meu Professor! obrigado, Cláudio, também sinto orgulho de dizer: foi meu Aluno…). Os Paroquianos estavam presentes, assim como convidados das outras igrejas que compõem a Paróquia do Nossa Senhora Aparecida do Rio Anil. Obrigado a todos, pelo comparecimento… Autoridades, convidados outros, alguns pessoais, outros institucionais, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão com o Vavá e a Esterlina e esposo… Obrigado pela visita. Mas… os moradores da Vila Velha, arredios… pelos cantos, escorados nos muros, observavam de longe a cerimônia… são poucos os que freqüentam a Igrejinha… e o Documentário visava resgatar justamente a memória deles, moradores da Vila Velha do Vinhais, e de sua Igrejinha de São João Batista. Durante a missa, assim permaneceram. Quando começou a projeção do Documentário e viram que os depoimentos tomados eram de moradores da própria localidade, de seus vizinhos, começaram a se aproximar do telão… sempre que um morador - um deles - aparecia, vibravam e comentaram em voz alta… e chegavam mais próximos… quando seus filhos apareceram jogando futebol no campinho em frente à igreja, procuraram identificá-los e vibravam ao vê-los na “tela do cinema’… concordaram com os depoimentos, da falta de estrutura, do abandono… das lembranças daqueles que já morreram - e foram
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http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/10/21/documentario-igreja-de-saojoao-batista-397-anos/ qua, 21/10/09- por leopoldovaz - categoria A VISTA DO MEU PONTO 121
Maranhense que por descuido geográfico nasceu no Paraná. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Professor de Educação Física.
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citados, lembrados, pais, avós, bisavós… tinham uma história, e esta estava sendo contada, dos tempos em que havia fartura de peixes, de caranguejos, de camarão, de frutas… as canoas singravam as águas do Igarapé do Vinhais, descendo até o Rio Anil e dali, para a Camboa, o Monte Castelo, o Portinho… os barcos da Baixada atracavam trazendo mercadorias… não havia fome, não se passava necessidades, havia empregos… não havia violência, nem as gangues, nem drogas… O roteiro, da ocupação da Upaon-Açú pelos Tupinambás lá pelos 1580; da chegada dos primeiros ‘corsários’ franceses e o comércio com os índios, a visita de Daniel de LaTouche e o seu retorno posterior, para implantar la France Équinoxiale, a ocupação de Uçáguaba - a terra onde se come caranguejos -, transformada em Aldeida da Doutrina, pelos jesuítas que aqui estabeleceram sua missão - a primeira do Maranhão -; a mudança de nome, para Vila Nova de Vinhais, ao tempo do Consulado Pombalino (1757…); a ‘anexação’ por São Luís, em 1835… sobreviveu!!! Ainda existe!!! Ainda vive!!! A sua Igrejinha, ainda resiste às incúrias, aos descasos. Os índios, seus primeiros moradores, junto com os franceses que áqui se estabeleceram, queriam um padre, para rezar a missa e acompanhá-los… conseguiram… de idas e vindas, abandonos e reerguimentos, sobressaltos, desde 1995 temos, novamente, padre fixo: Dr. Meireles e agora Padre Cláudio… os dividimos, com as outras comunidades da Paróquia… mas ele, o Padre está presente, agora… tal qual o desejo expresso há 397 anos… Essa, a memória resgatada. A seguir, ‘discurso’ da Verônica: “A passagem do tempo, quando comparada às marés que tudo leva e tudo devolve, possibilita que só se afoguem aqueles que se permitirem”. Estamos em festa! Estamos comemorando e celebrando 397 anos em que aqui, nesta igreja, no dia 20 de outubro de 1612, foi celebrada a 1ª missa. Muitos anos se passaram e as intempéries sofridas não foram suficientes para apagar sua história. Segundo historiadores da comunidade, há registros de que esta igreja é a única construção religiosa da época, que resistiu ao tempo, conservando sua memória. É certo, também que sofreu algumas intervenções arquitetônicas. Primeiro foi construída em palha, depois em taipa, depois em pedra… seu teto já desabou, suas paredes já racharam… mas enfim está aqui, bem edificada, expressando serenidade, beleza, simplicidade, aconchego e acolhimento. Certamente foram as bênçãos de São João Batista, este Santo tão próximo do Grande Mestre, profeta forte, guerreiro… testemunhou sua fé com a sua própria vida, que motivou esta comunidade a perpetuar o sentimento expresso por aquele que outrora demarcou este lugar para construir este templo e aqui reunir o povo de Deus.
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Parabéns comunidade! Pela sensibilidade, respeito, zelo e devoção pelo sagrado implementado neste templo e pelo tempo sacralizado por Deus e por todos que construíram esta história. Graças a Deus e a esta comunidade estamos hoje aqui rememorando e partilhando a alegria de contarmos esta história. Uma história de 397 anos e que para sermos fiéis à nossa missão, buscamos da melhor forma possível registrar, através da produção de um documentário, o que nossa memória nos permite relatar. Prestamos nossas homenagens à nossa saudosa catequista, Maria das Dores Grijó, assim como a todos aqueles que por aqui passaram contribuindo e partilhando seus dons. Agradecemos a todos vocês que vieram prestigiar este evento e, em especial, a todos que se dispuseram a relatar suas experiências vividas nesta comunidade, ao longo dos anos. Que as bênçãos de Deus e de São João Batista transcendam às futuras gerações imprimindo em cada um o desejo, o apreço e o zelo pelo sagrado, cultivando e cultuando os ritos litúrgicos, dando continuidade a essa história. Uma história de fé cristã. Que Deus abençoe a todos! Muito obrigada. Verônica Florcely Ramalho
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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO: A CASA DE ANTÔNIO LOPES. 84 ANOS DE HISTÓRIA FAZENDO HISTÓRIA122 JOSÉ RIBAMAR SOUSA REIS Sócio efetivo do IHGM Graças à abnegação do Mestre Antônio Lopes da Cunha, o Vate Antônio Lopes, liderando outros tantos vultos consagrados e sagrados da Cultura Maranhense, a exemplo de Justo Jansen Ferreira, que foi o primeiro presidente desta Casa de Cultura, somado a José Ribeiro do Amaral, José Abranches Moura, José Pedro Ribeiro, Padre Arias Almeida Cruz, Benedito Barros e Vasconcelos, Domingos de Castro Perdigão, José Domingues da Silva, Wilson da Silva Soares, Milson Soares e José Ferreira Gomes. Fundaram a 20 de novembro de 1925, o nosso Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Cuja instituição pelo zelo a ela dedicado pelo seu eterno secretário passou também a ser conhecida merecidamente como a Casa de Antônio Lopes. Lá, se passaram 84 anos de lutas, registros significativos, obras memoráveis que os guardiões da história deste torrão conseguiram com o maior esforço possível levar ao conhecimento do grande público através de seus livros, exposições, artigos, crônicas, palestras, aulas e até simplesmente em rodas de conversa. Este valiosíssimo acervo histórico construído pelos membros do IHGM é incontestável. Tanto aqueles que por lá passaram deixando seus grandes legados e com as consciências tranqüilas repousam no Oriente Eterno, somado a continuação daqueles que dão prosseguimento a Instituição defensora dos aspectos históricos, geográficos e afins do nosso Maranhão. São, exatamente, três quarto completos do seu Centenário, o IHGM chega ano que vem aos seus garbosos 85 anos, dentro de uma nova era, novo século. Assim, mudam-se os tempos, os atores, mas a tradição reza que os enredos básicos dos Sodalícios perdurem com novas idéias, com administrações participativas, livres e democráticas. É inconcebível que em instituições das letras e das artes sejam dados mau exemplo concernente a participações mais livre e democrática possíveis. Na nossa suposição, o Instituto deveria ser mais ou menos semelhante à administração rotariana, de dois em dois anos um confrade ou confreira tinha o seu período de dar a sua colaboração na administração superior da casa, até porque todo quadro do Instituto tem competência e de sobra para gerir a instituição sem qualquer exclusão. Mas, por falarmos em administração, atualmente está acontecendo um fenômeno histórico, o IHGM tem na sua presidência pela primeira vez na sua trajetória de 84 anos uma mulher no seu comando, trata-se da confreira Professora Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo - bacharel e licenciada em Geografia e História, bem como a vice-presidente é a confreira Professora Joseth Coutinho Martins de Freitas. Os esforços contínuos da atual diretoria do nosso Instituto são dos mais louváveis, recentemente fez realizar um evento dos mais importante para a cultura maranhense nestes primórdios de um novo tempo, quando realizou o seminário "O 122
Publicado no JORNAL PEQUENO, JP Turismo 20 de novembro de 2009, disponível em http://www.jornalpequeno.com.br/2009/11/20/Pagina128571.htm
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Maranhão na primeira década do século XXI", com uma programação ampla e diversificada cumprindo assim parte de suas funções básicas. Outra abertura das mais gratificantes é o que atualmente o IHGM prega saindo das enfadonhas reuniões oba, oba e do chazinho, indo discutir com os segmentos da sociedade maranhense assuntos pertinentes a seus objetivos. Outra coisa, que principalmente nós membros deste Instituto devemos interpretar não são puxa e encolhe de reunir por reunir e nada produzir em termos de registros, publicações, livros sobre a história, geografia e matérias afins, que é a nossa responsabilidade perante a sociedade de nosso Estado. Na verdade sem melindres temos muitos que pousam de heróis e não participaram sequer de alguma luta, batalha nem se fala! A nossa memória está precisando urgentemente, de registros e nós guardiões da história de nossa gente temos que tomar posições, imediatas, sobre este buraco negro que assola a todos nós maranhenses. A começar pela história de nossas 217 cidades, onde pouquíssimas existem pelo menos informes sobre seus primeiros passos como município. Assim, a interiorização do IHGM é vital para a história do Maranhão em termos gerais. Sugerimos aos confrades, que a partir de então trabalharmos em conjunto, unidos, sem tricas ou futricas na elaboração de um programa ou projeto, para quando o IHGM completar seus 85 anos tenhamos metas e perspectivas em todos os setores planejamento -, inclusive, nos suportes financeiros que a bem da verdade vem se arrastando por todo este tempo, a instituição sobrevivendo das ínfimas colaborações de seus associados com considerável inadimplência. Temos que repensar, dando prioridade para a modernidade criando um espaço digno na Internet, com saite, páginas, blogs e tudo mais necessário a informamos para o mundo sobre a nossa riquíssima história, geografia e afins, além de criarmos outras tantas oportunidades de divulgação do Instituto, bem como angariar receitas, não devemos esquecer de que estamos em plena globalização, destaque para a economia da cultura, via o mercado cultural. Assim, necessitamos mostrar os nossos produtos ao mundo. Claro, com retorno financeiro. Podemos ainda explorar um dos nossos mais valiosos produtos que é a Revista do IHGM, acertando convênios com agências de publicidades para as mesmas venderem espaços publicitários - encartes, páginas, rodapés, capas, etc. -, o que daria para manter a revista e ainda cobrir outras possíveis despesas da Instituição. Outras ações poderão ser efetuadas a exemplo de manter uma mini-livraria de autores maranhenses, com livros doados pelos confrades e confreiras e concernente aos outros autores funcionaria em regime de consignação. Existe nesta idéia outra hipótese para estas vendas dos livros dos membros do IHGM ser negociada, via convênios com livrarias da praça. Às vezes ficamos matutando que são inúmeros os membros desta Casa de Cultura, que limitam na política tanto a nível municipal, estadual e nacional, a partir do presidente do Senado Federal, que é membro desta Instituição. Assim, necessitamos fazer gestões junto a esses confrades para por uma questão justa a exemplo de outros Sodalícios, que venha também o IHGM receber dotações oficiais tanto do poder público como de empresas privadas vias as tais leis de incentivo a cultura, ou mesmo, pelos prestígios pessoais dos nossos confrades políticos. Somos ou não somos do IHGM? Não é necessário ostentar isto ou aquilo o que estamos precisando é união e principalmente de ações concretas. Agora é hora de brindar os 84 anos da nossa Instituição, tudo indica que no dia 2 de dezembro estaremos reunidos para comemorarmos a data, bem como fazermos a confraternização de final de ano. Vamos, em nome do nosso Instituto comparecer,
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descartando ínfimos problemas pessoais, até porque o IHGM é bem maior do que todos nós! Confirme suas presenças com o nosso confrade Leopoldo Gil Dulcio Vaz vazleopoldo@hotmail.com -, o distinto companheiro Leopoldo vem fazendo um trabalho dos mais meritórios e democráticos em prol da união, pacificação de nossa Casa de Cultura. Parabéns confrades e confreiras, pelos honrosos 84 anos do nosso Instituto. Vamos ao trabalho que a história, memória maranhense pede por SOS. Somente unidos e conscientes de nossas obrigações como historiadores cumpriremos as nossas missões eficientemente!
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O “SPORTMAN” ANTONIO LOPES DA CUNHA – fundador do IHGM123 LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Sócio efetivo do IHGM Em homenagem aos 84 anos de fundação do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, publico uma biografia de seu fundador, Antonio Lopes (da Cunha). Como todo ‘gentleman’ de sua época, era também um ‘sportman’: ANTÔNIO LOPES Antônio Lopes da Cunha nasceu na cidade de Viana – Maranhão -, em dia 25 de maio de 1889 e faleceu em São Luís aos 29 de novembro de 1950. Filho do desembargador (e futuro governador do Estado) Manuel Lopes da Cunha e D. Maria de Jesus Sousa Lopes da Cunha. Fez os preparatórios em São Luís. Em 1911, concluído seu curso de ciências jurídicas, na cidade de Recife. Foi durante os seus estudos em Recife que Antônio Lopes deu os seus passos iniciais na atividade literária, ao lançar Litania da Morte, a primeira obra de sua produção, diversificada em múltiplas facetas, todas de extrema importância. Antes ele já havia fundado, em sua terra, a Revista Vianense, ao lado de Mariano Couto e José Belo Carvalho, “manuscrita, em folhas de papel azul de embrulhar rebuçado”. Retornando à província natal, exerceu o magistério – era professor de Literatura Brasileira no Liceu Maranhense e de Filosofia do Direito na Faculdade de Direito do Maranhão, marcando sua atuação com uma vasta erudição Jornalista, redigia “A Pacotilha” e “O Imparcial”. Em 1938, fundou com Mauricio Jansen e Urbano Pinheiro o “Diário do Norte”, folha que exerceu grande influencia na mocidade intelectual de São Luís, pois acolhia generosamente aos jovens poetas e escritores. Antonio Lopes da Cunha introduziu o Escotismo no Maranhão, apenas dez anos depois de surgir na Inglaterra; o Grupo Escoteiro 18tão, antiga Associação Maranhense de Escoteiros foi instituída em 20 de maio de 1917. 124 Foi um dos fundadores da Faculdade de Direito de São Luís (1918), ao lado de Fran Paxeco, Henrique Couto, Domingos Perdigão e outros. 123
Do Blog do Leopoldo Vaz, qui, 19/11/09 por leopoldovaz categoria A VISTA DO MEU PONTO, Atlas do Esporte no Maranhão, Literatura & Esporte, disponível em http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/2009/11/19/o-%e2%80%9csportman%e2%80%9d-antoniolopes-da-cunha-fundador-do-ihgm/
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http://www.18tao.org.br/index.php?option=com_content&view=frontpage&Itemid=2
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A elite intelectual maranhense sempre esteve envolvida com as coisas do esporte. Antonio Lopes não poderia ser diferente… O REMO E AS REGATAS NO MARANHÃO O remo foi implantado no ano de 1900, pelos “sportsmen” maranhenses utilizando-se dos rios Anil e Bacanga. É desse ano a criação do “Clube de Regatas Maranhense”, instalado na Rua do Sol, 36: “CLUB DE REGATAS MARANHENSE - Director Presidente – Manoel G. Moreira Nina; Vice Director Presidente – Jorge Brown; Director Secretário – José Carneiro Freitas; Director Thesoureiro – Benedicto J. Sena Lima Pereira; Director Gerente – Alexandre C. Moreira Nina; Supplentes: 1º – Manoel A. Barros; 2º – Othon Chateau; 3º José F. Moreira de Souza; 4º – Antônio José Silva; 5º – Almir Pinheiro Neves; Commissão d’Estatutos: Dr. Alcides Pereira; Eduardo de A. Mello; Manoel Azevedo; Arthur Barboza Pinto; João Pedro Cruz Ribeiro”.
Essa iniciativa foi efêmera. Os primeiros passos foram dados, para colocar as coisas no rumo certo, mas faltaram recursos para aquisição das embarcações. Encontramos, nos anos seguintes, algumas iniciativas de se manter essa prática esportiva, sendo realizados alguns eventos nos anos de 1908 (a 13 de setembro voltouse a falar na implantação do remo, chegando a ser organizada uma competição, envolvendo duas equipes que guarneciam os escaleres “Pery” e “Continental”); em 1909, nas comemorações do 28 de julho[2] houve outra prova, tomando parte da mesma militares do 24º BC e da Marinha, sendo utilizado barco a dois remos. A elite maranhense fez-se presente tomando parte ativa. Lembramos que em 1907, Nhozinho Santos funda o Fabril Athletic Clube – FAC -, nas dependências da Santa Isabel, implantando várias modalidades esportivas, como o futebol, o atletismo, o tênis, o cricket, o crocket. Outras agremiações surgem, ao lado de algumas já existentes e que iniciam, também, a prática de vários esportes[3]. De 1910 a 1915, houve uma grande crise do esporte maranhense, com a implantação, o ressurgimento e a extinção de várias equipes, clubes, esportes… Mesmo com esses contratempos, foram promovidas algumas competições, sempre no rio Anil. A partir de 1915 houve um que renascimento dos esportes, graças à iniciativa de Mr. Clissot, cônsul inglês na cidade. O remo e o futebol estavam entre os esportes de preferência da juventude. Nos anos seguintes, e até o final dos anos 20, promoveram-se alguns festivais, no rio Anil, sempre com receios de ataques de tubarões, que subiam para desfrutar dos dejetos despejados pelo Matadouro Modelo. Em 1916 houve uma competição que tinha como objetivo implantar, definitivamente, o remo, inclusive com a criação de uma “Liga do Remo”. (MARTINS, 1989, p. 217).
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.NO ESPORTE CLUBE LUSO-BRASILEIRO Vamos encontrá-lo em 8 de junho de 1919, sendo aclamado o novo Presidente do Esporte Clube Luso-Brasileiro125, quando de sua reestruturação[1]. Fizeram parte da nova diretoria, Edgard Figueira, como Presidente de Honra; o Dr. Tarquínio Lopes Filho, na vice-presidência; José Carneiro Dias Vieira, como Diretor de Esportes. A nova sede do clube localizava-se no tradicional Largo do Carmo, 16 (numeração antiga). Era dotada de extenso salão nobre belamente ornamentado, sala de jogos, salão de bilhar. Destacou-se o discurso, de improviso empolgando a todos, do Dr. Antonio Lopes, fazendo uma homenagem ao ex-sócio João Rego, falecido recentemente, deixando enlutado o mundo esportivo maranhense. O novo Presidente entendeu ser necessário uma melhor organização na formação de novos valores esportivos, especialmente para o futebol, evitando-se a importação de ‘cracks’. Entendia a importância da formação de equipes infantis. Na sua organização foram adotadas algumas providenciam consideradas fundamentais: os sócios-meninos só eram admitidos a partir dos 12 anos completos, com autorização dos pais ou responsáveis. Designou atletas da equipe principal – Lauro Lima e Napoleão – como instrutores responsáveis pela preparação física e ‘foot-ball’. Fixou em 50 o número desses associados. Os treinamentos davam-se as quintas-feiras, de maneira que a garotada não fosse prejudicada nos estudos, pois naquele dia era ‘feriado’ nas escolas. Não eram admitidos, para sócios, meninos analfabetos. Todo sócio-mirim, que no fim do mês não apresentasse caderneta da escola donde concluísse sua freqüência normal e a maioria das notas boas, estava passível de sua participação nos treinamentos e jogos, sustada e a continuação dessa irregularidade determinaria mesmo a sua eliminação (MARTINS, 1989, p. 470-473). Foi, também, o fundador e secretário perpétuo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão: “Em 1925, tomei a iniciativa de reunir alguns homens de boa vontade na livraria de Wilson Soares, expondo-lhes a minha idéia de se comemorar o centenário do nascimento de D. Pedro II com a inauguração, nesta capital, de um Instituto de História e Geografia. Os que prestaram apoio à idéia foram: Justo Jansen, Ribeiro do Amaral, José Domingues, Barros e Vasconcelos, Domingos Perdigão, José Pedro Ribeiro, José Abranches de Moura, Arias Cruz, Wilson Soares e José ferreira Gomes. Mais tarde incorporou-se a esse grupo João Braulino de Carvalho. Ausentes de S. Luís apoiaram calorosamente a idéia Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Carlota Carvalho e Antonio
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O Luso Brasileiro fundado em 24 de fevereiro de 1917
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Dias, que também foram considerados sócios fundadores do Instituto.(p. 110). “A 20 de novembro realizou-se a sessão inicial, sendo apresentado, discutidos e votados os estatutos e eleita a diretoria, cujo presidente foi Justo Jansen. José Ribeiro do Amaral foi eleito presidente da assembléia geral. (p. 111). “A 2 de dezembro, no Salão da Câmara Municipal, inaugurava-se em sessão magna, em homenagem à memória de D. Pedro II, o Instituto de História e Geografia do Maranhão.” (LOPES, 1973, p. 111)
Encontramos, na imprensa local, que em 28 de julho de 1928126 promoveu-se uma regata, em homenagem ao comandante Magalhães de Almeida, tendo a frente, dentre outros, o “sportman” Antônio Lopes da Cunha.. Bibliografia de Antônio Lopes127: - O Feio – conferencia pronunciada no Clube Euterpe, em 1908; - Apreciação crítica – in Padrões, livro de versos de Sales e Silva, publicado em 1911; - Celso Magalhães – estudo crítico e biográfico, in Pacotilha, edição de 10.11.1917; - Celso Magalhães – resposta a um artigo de José Ribeiro de Oliveira in Pacotilha Ed. De 19.11.1917; - As caixas escolares, O ensino da Geografia nas escolas primárias, Relatório sobre a Educação Intelectual, - – Noções sobre: ensino obrigatório, a Instrução Escolar, Os Compêndios, A Instrução Publica Municipal de São Luis em 1919 – trabalhos apresentados no Congresso Pedagógico reunudoi em São Luis, em 1920; - Marília e Dirceu – crítica literária in “Geofgrafia e História no. 1, 1926; - O Dicionário Histórico e Geográfico do Maranhão – idem; - Armorial maranhense – idem; - Comendador João Gualberto da Costa – esboço bibliográfico, 1944; - Topônimos Tupi s no Maranhão – estudo sobre a toponímia tupi do Estado, publicado na Revista de Geografia e História no. 2, junho de 1947; - Topônimos Tupis no Maranhão – idem, no. 3, fevereiro de 1950; - Raimundo Lopes – bibliografia, in Revista de Geografia e Historia, no. 2, 1947; - Para a História do Maranhão – idem, 1947; - A História de São Luis – in Geografia e História, Revista do IHGM no. 1, novembro de 1949; - Uma grande data – idem; - A Capitania de Cumâ – Anais do IV Congresso de História Nacional. 4º. Volume, IHGB, 1950; - Alcântara – Rio 1957; 126 Em 28 de julho é comemorada a data da adesão do Maranhão à Independência do Brasil. É também a data comemorativa máxima do IHGM. 127 Deixou em jornais e revistas do Maranhão um bom numero de artigos sobre o Folclore no Maranhão, sendo de notar um estudo sobre Santo Antonio e o Folclore. (in LOPES, Antonio. Estudos Diversos. São Luís, Sioge, 1973 – notas na orelha do livro)
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- A Imprensa no Maranhão, Rio, 1957; - Presença do Romanceiro, Rio, 1967; BIBLIOGRAFIA GASPAR, Carlos. ANTONIO LOPES DA CUNHA – um notável homem das letras. http://www.vianacidadedoslagos.com.br LOPES DA CUNHA, Antônio. Instituto histórico. In ESTUDOS DIVERSOS. São Luís: SIOGE, 1973. MARTINS, Djard Ramos. ESPORTE: UM MERGULHO NO TEMPO. São Luís: 1989 REGENERAÇÃO, 21 de fevereiro de 1900. in VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Remo no Maranhão – 1900-1929. In DaCOSTA, Lamartine Pereira (Org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006, p. 3-2. 29. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br/textos/193.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Remo no Maranhão – 1900-1929. in DaCOSTA, Lamartine Pereira (Org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006, p. 3-2. 29. Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br/textos/193.pdf VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Introdução do Esporte (moderno) em Maranhão. VIII CONGRESSO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA. Ponta Grossa, 2002. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Cluster esportivo de São Luís do Maranhão, 1860 – 1910. In DaCOSTA, Lamartine Pereira (Org). ATLAS DO ESPORTE NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: CONFEF, 2006, p. 2.7 Disponível em www.atlasesportebrasil.org.br/textos/10.pdf
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84 º ANIVERSÁRIO DO IHGM
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OSVALDO PEREIRA ROCHA
(Acima). Mesa Diretora dos trabalhos presidida pela Confreira Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, no momento discurso do Confrade Osvaldo Pereira Rocha, Cadeira n º 8. Ainda na mesa, uma Confreira Maria de Lourdes Laude Lacroix, que falou sobre cidades históricas. (Mais abaixo) Plenário do Auditório da Casa de Cultura Josué Montello.
UM POUCO DE HISTÓRIA O nosso querido Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão foi idealizado pelo culto humanista Antonio Lopes da Cunha, ou simplesmente Antonio Lopes, como era conhecido, fundado em 20 de novembro de 1925 e instalado, oficialmente, em recinto provisório, em dezembro do mesmo ano, Finalidades tendão como o estudo e a difusão do conhecimento da História, da Geografia, da Etnografia, da Etimologia e da Arqueologia do Maranhão. Seu primeiro nome foi Instituto Histórico e Geografia do Maranhão.
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Discurso proferido em reunião do dia 20 de dezembro de 2008, no auditório da Casa de Cultura Josué Montelo, pela passagem do 84º aniversário do IHGM. Publicado no Portal Mhário Lincoln do Brasil, disponível em http://www.mhariolincoln.jor.br/articulista/articulista/ihgm.html ,
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A referida fundação ocorreu na Biblioteca de propriedade do jornalista Wilson Soares, situada na Rua de Almeida Magalhães n º 8 Centro, São Luís do Maranhão, com uma participação de uma Plêiade de intelectuais maranhenses, Arautos da cultura da época, isto é, José Roberto do Amaral; Justo Jansen Ferreira, José Domingos da Silva, Benedito de Barros e Vasconcelos, José Pedro Pinto, José Abranches de Moura, Wilson Soares, Domingos de Castro Perdigão e Arias Cruz, assinantes da ata de fundação. Ausentes no dia 20.11.1925, logo aderiram ao Empreendimento José Braulino de Carvalho, Raimundo Lopes, Fran Pacheco, Antonio Dias e Carlota de Carvalho. Seu primeiro presidente foi o professor José Roberto do Amaral, Fortalezas que, também, uma Academia Maranhense de Letras. Já o Doutor Antonio Lopes foi, por muitos anos, o incansável Secretário Geral do sodalício, além de sua mola mestra. Em agosto de 1926 foi criada uma Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, contendo editorial que deu conta de seus passos iniciais e que está em circulação restrita até o presente momento, embora seja sem uma periodicidade regular, ou: sem se dizer que POSSA se ela é mensal, trimestral, semestral ou anual, mas com um conteúdo muito bom, graças a colaboração de diversos de seus operosos sócios efetivos, e um ótimo acabamento. Antonio Lopes historiador, geógrafo, folclorista e advogado, que projetou e Tornou realidade o IHGM, que se convencionou chamar de "Casa de Antonio Lopes", nasceu em 1889, em Viana, Estado do Maranhão, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife , Estado de Pernambuco. Em São Luís se notabilizou como jornalista político literatura urbanismo, história e folclore. Teve também destacada atuação no magistério, como professor de Literatura do Liceu Maranhense; de Filosofia do Direito e de Introdução à Ciência do Direito, na Faculdade de Direito de São Luís, além de Consultor do Direito Regional de Geografia; Diretor da Escola de Belas Artes do Maranhão, autor de mais de trinta obras literárias de visível erudição, da juventude infatigável incentivador e fundador de órgãos da maior expressão neste Maranhão como uma Faculdade de Direito de São Luís, e a Academia Maranhense de Letras. O nosso sodalício Histórico e Geográfico foi presidido por intelectuais da estirpe de Justo Jansen Ferreira; Persôndas de Carvalho; Elizabeto Barbosa de Carvalho; Leopoldino Lisboa; Astolfo Serra; Domingos Vieira da Silva, Luiz Rego, Rubem de Almeida, João Braulino de Carvalho, José de Ribamar Seguins, algumas décadas por este; Hedel Jorge Azar; Edomir Martins de Oliveira e Nywaldo Guimarães Macieira, que Deixaram suas marcas indeléveis bons administradores de, contando com o apoio indispensável de Eficientes secretários, como o próprio Antonio Lopes, por cerca de 40 anos e de outros diretores dinâmicos. Atualmente, com 60 cadeiras, devidamente preenchidas em sua grande maioria; e em sede própria, graças a doação do então Governador do Estado do Maranhão, Coronel da Guarda Nacional Sebastião Archer da Silva, quando Fortalezas o IHGM o Dr. João Braulino de Carvalho, o nosso sodalício tem como sua presidenta a primeira mulher a dirigir os seus destinos, ou seja: uma Bacharela em História Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo e, como vice, Historiadora outra, uma amiga e Professora Confreira Joseth Coutinho Martins de Freitas que, Juntas, em segundo mandato eletivo, envidam Esforços para deixarem suas marcas de Dinâmicas e Sérias administradoras.
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ANIVERSÁRIO Aniversariar é nascer de novo, renascer, recomeçar. E o nosso IHGM, portanto, começa uma nova etapa de história neste novembro de 2009 que, com certeza, trilhará caminhos de plenas realizações, sob uma direção firme e serena de sua presidenta, uma amiga e Confreira Eneida Vieira da Silva Ostria de Canedo, que tem um lado seu, em todas as horas, um Confreira Igualmente e amiga Joseth Coutinho Martins de Freitas, Vice-Presidente. Parabéns IHGM, pelos seus 84 anos de história completados no dia 20/11/2009! E é tempo de fé e de felicidade nos corações humanos; tempo de esperança de melhores dias; de inspirações de amor, da família reunida, da União Cristã Entre os Homens e Mulheres; É NATAL. Encontros já estão acontecendo, uma festa está sendo preparada. Estrela brilhando nascendo e Jesus Cristo. O tempo está preparado para chegar vê-Lo. O céu está aplaudindo, os caminhos estão se abrindo, a vida está florindo, o mundo sorrindo... Tudo é prece! Tudo é festa! Felicidade é tudo! É o Natal de Jesus. Mas não nos esqueçamos de convidá-Lo para as comemorações. Feliz Natal de 2009 e Próspero 2010 para todos e todas! Obrigado pela paciência de me ouvirem.
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LANÇAMENTOS BLOGS MANOEL SANTOS NETO, maranhense de São Luís, formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Maranhão, já trabalhou como repórter e redator em diversos periódicos. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão trabalha como repórter do Jornal Pequeno http://www.jornalpequeno.com.br/blog/ManoelSantos/ LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ, maranhense que por descuido geográfico nasceu no Paraná. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Professor de Educação Física. http://colunas.imirante.com/leopoldovaz/ OSVALDO ROCHA, Figura das mais queridas, Osvaldo Rocha é advogado e ex-Delegado do Trabalho, no Maranhão. Tem vários livros publicados e escreve sobre Rotary Internacional e Maçonaria. http://www.osvaldopereirarocha.com.br/ http://www.mhariolincoln.jor.br/articulista/osvaldo_rocha MHARIO LINCOLN, jornalista e advogado. Tem livros de Direito e Jornalismo publicados. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Possui larga experiência em rádio, tv e jornalismo impresso. http://www.mhariolincoln.jor.br/ EDOMIR M. DE OLIVEIRA, Advogado, integra de gestões na OAB-MA, escritor e Professor Catedrático aposentado. (UFMA). Livros publicados. http://www.mhariolincoln.jor.br/articulista/edomir
ÁLVARO URUBATAN: "PERFIL ACADÊMICO" – Anais da Academia Sambentuense: fundação, documentação, eventos realizados e participados, lançamentos, posses com discursos, perfis dos membros, etc. lançado durante o seu 7º Encontro.
RAIMUNDO CARDOSO NOGUEIRA - HISTORIOGRAFIA DE MUNICÍPIOS MARANHENSES: SÃO JOSÉ DOS MATÕES X PARNARAMA. São Luís, 2008.
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JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – O ABC DO BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO. 2 ed. São Luís, 2008
JOSÉ RIBAMAR SOUSA DOS REIS – FOLGUEDOS & DANÇAS JUNINAS DO MARANHÃO. São Luís, 2008
REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO – n. 28, 2008
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