IHGM EM REVISTA 09 JULHO/SETEMBRO 2024

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IHGM EM REVISTA

EDIÇÃO ELETRÔNICA

1574 ou 1576, Almodôvar, Portugal – outubro de 1643, lha de Joanes)

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.

EXPEDIENTE

DIRETORIA DO IHGM GESTÃO 2023-2025

CONSELHO FISCAL
NOSSA CAPA: LUIS FIGUEIRA,

Revista

Rua de Santa Rita, 230, Centro 65015-430 - São Luis – Maranhão

O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) é uma instituição da sociedade civil de estudos de caráter científico que tem como objetivos estudar, debater e divulgar questões sobre história, geografia e ciências afins, referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão, dentre outras finalidades.

Fundado em em 20 de novembro de 1925, na cidade de São Luís, em comemoração ao centenário do imperador D. Pedro II, sendo sócios fundadores da instituição: Antônio Lopes da Cunha, Justo Jansen, José Domingos da Silva, José Ribeiro do Amaral, Wilson da Silva Soares, Domingos de Castro Perdigão, Barros e Vasconcelos, Pe. Arias de Almeida Cruz, Pe. José Ferreira Gomes, José Pedro Ribeiro e José Eduardo de Abranches Moura.

Entre suas finalidades estão: estudar, debater e divulgar questões sobre história, geografia e ciências afins, referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão; cooperar com os poderes públicos em estudos que visem ao engrandecimento científico e cultural do Estado, colocando-se à disposição das autoridades para responder a consultas e emitir pareceres sobre assuntos pertinentes às suas finalidades; defender e velar pelo patrimônio histórico do Maranhão.

O IHGM possui um calendário cultural anual para comemoração das datas relevantes da história, promovendo palestras, seminários, conferências, simpósios, cursos, além de disponibilizar o acervo para consultas e promover visitas guiadas.

Atualmente o IHGM é composto por sessenta membros.

IHGM - Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

SUMÁRIO

EXPEDIENTE

SUMÁRIO

FALA DA PRESIDENTE

FALA DA DIRETORA

ANIVERSARIANTES

PRESIDENTE EM AÇÃO

HOMENAGEM AO PROFESSOR DR. JOSÉ DE RIBAMAR CHAVES CALDEIRA (In memoriam)

II COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO BRASIL: construindo pontes ACONTECEU

NOTAS & ARTIGOS & LUIZ THADEU NUNES E SILVA

A VIDA EM UMA CAIXA DE CHOCOLATES

ESPECIAL LEOPOLDO VAZ: TEXTO "SOCIEDADE DOS POETAS ESQUECIDOS" RESGATA AURORA FELIX

SANATIEL PEREIRA

TRIBUTO A LAURENTINO NATALINO SALGADO FILHO

RENATA DA SILVA DE BARCELLOS

RENATA DA SILVA DE BARCELLOS

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

165 ANOS DE NASCIMENTO DE RAIMUNDO CORREIA

EDUCAÇÃO LITERÁRIA DAS LITERATURAS AFRO-BRASILEIRAS

O ENSINO DE LITERATURA MARANHENSE

O MARANHÃO COMO ENTIDADE GEOGRÁFICA E ‘NÃO-BRASIL’

JOSEMIR CAMILO DE MELO MANIFESTO DE MULHERES PERNAMBUCANAS E PARAIBANAS ÀS VÉSPERAS DA CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

RUY PALHANO

POLÍTICA PÚBLICA EM SAÚDE MENTAL: FUNDAMENTOS, SETORES DE ATUAÇÃO E REGIONALIDADES

RUY PALHANO

JOSEMIR CAMILO DE MELO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

DESCONTROLE EMOCIONAL, IMPULSIVIDADE PODE CUSTAR CARO.

O PENACHO DA VAIDADE DE UM SARGENTO-MOR

“... SÓ SÃO MACAIO NÃO...”

OS “MANEZINHOS” DA “10ª. ILHA”

COMO TÚ FALAS, MANEZINHO?

“(...) Pôde a terra comer o corpo deste insigne varão nas raízes da serra da Ibiapaba, onde o tinha depositado a incansável diligência de seu companheiro, o padre Luiz Figueira; mas nunca o descuido pode gastar a memóriaquedo seumissionário tinham os índiosnaturais doJaguaribe.Todos estesanos quepassaram depois da sua morte, acalentaram os seus desejos com a esperança que ainda tinham de o ter, senão vivo, ao menos morto, na sua companhia. Despertou mais esta sua vontade, a grande seca que por este ano (...) experimentara. Incitados de uma tão grande conveniência, tomaram a resolução de ir buscar a todo o risco, os ossos do seu Amonaiara; e para o porem em execução , determinaram os principais, dia certo, em que haviam de partir; e armados em guerra, como se houvessem de conquistar um grande reino, se puseram a caminho, e chegaram finalmente ao lugar, que pelos sinais era o mesmo que lhe tinha relatado o padre Figueira. Mandaram abrir a sepultura e acharam o precioso depósito, como tesouro escondido debaixo da terra. Meteram os ossos, com toda veneração em um caixotinho que levavam, e partindo alegres para a sua terra, os colocaram em uma das principais aldeias daquele distrito (...)”. Trecho do livro “Corographia histórica, chronographica, genealogica, nobiliaria e política do Império do Brasil”, p. 85/86, de Alexandre José Mello Moraes, publicado em 1858. Foto: imagem de ilustração colhida na Internet.

OS TABAJARAS DA ALDEIA DE DIABO-GRANDE (IBIAPINA-CE), CELEBRAM AS EXÉQUIAS DO PADRE FRANCISCO

PINTO.

Anode1608. Apósserassassinadopelos índios tocarijus em 11dejaneirode1608,ocorpodopadreFrancisco Pinto

“foi sepultado ao pé da alta Serra da Ibiapaba em um lugar que particularmente se chama Abayara”. Narra o padre Luiz Figueira, companheiro do padre Francisco Pinto e testemunha ocular dos fatos, que após o sepultamento do infeliz missionário, os índios tabajaras: “(...) Foramse para sua aldeia e o Diabo-Grande celebrou e fez celebrar a todos as exéquias do padre [Francisco Pinto] a seu modo, mandando que se fizesse grandes e públicos prantos por toda a aldeia, e se ajuntaram os índios na casa que fora nossa [dos missionários], e ao pé da cruz que no terreiro tínhamos feito levantar, fazendo nestes lugares principalmente grandes gritos e derramando muitas lágrimas, e os filhos do Diabo-Grande deixaram crescer o cabelo tingindo-se e tirnando-se em sinal de tristeza, que é o seu luto (...)”. Fonte: Trecho de “Relação do Maranhão”, do padre Luiz Figueira, RIC, ano de 1903

ONDE REPOUSA O CORPO DO PADRE FRANCISCO PINTO?.

Trecho da Carta do jesuíta Manuel Gomes, datada de 10 de outubro de 1615, destinada ao Provincial do Brasil:

“(...) Ao décimo dia de navegação tomamos o porto do Ceará a altura de três graus e um sesmo (...). A tarde sai à terra, em qual posto de joelhos, olhando para a banda onde me disseram estava uma igreja de índios, três léguas de distância, em que está enterrado o nosso bem-aventurado padre <<Francisco Pinto>>, venerando-o com toda a reverência que pude, encomendei-me a ele, lembrando-me do muito espírito com que ele começou esta Missão, de que eu então não mereci ser companheiro. Falei com os índios que acudiram à praia a saber da novidade de tão grande armada em seu porto, e pela devoção que ao venerado padre tem, me fizeram força para me levarem à sua aldeia. Dificultei a ida por razão de distância e porque nos havíamos fazer a vela na manhã seguinte. Instaram-me que me levariam em rede, vim a concerto, que iria a pé, se me largassem <<os ossos do nosso padre Francisco Pinto>>, o que não quiseram e afirmaram <<os haviam de defender com armas>> se lhes os quisessem tirar, persuadidos que <<os céus deixariam de lhes fazer mimos e mercês>>, se a isso consentissem e assim o tinham experimentado, que faltando-lhes algumas vezes, anos inteiros, chuvas e por essa causa

mantimentos, frutos e frutas; e <<depois que em sua igreja o agasalharam não lhes faltou chuva nem sol a seu tempo>>, e quando os ameaça essa falta se vão a sepultura, e falando com o servo de Deus, dizem: <<pai Pinto, dai-nos chuva ou dai-nos sol>> conforme a sua necessidade , como se fora ele senhor dos tempos, e Deus para honrar seu servo e mostrar qual aceita lhe é esta Missão, lhes concede tudo à medida dos seus desejos; e falando com Martim Soares, capitão-mor do Ceará, dificultou tanto tirarem aquelas relíquias como carecesse dos favores que os céus lhes fazem por seus meios, e eu agora conheço que fui seguro em pedir encarecidamente ao vigário Balthazar João, que de caminho para esta capitania, que se pudesse, os tirasse de noite secretamente e os levasse a esse colégio, por me parecerem as mais ricas pedras preciosas que estas partes pode dar, e para que à vista desses ossos santos se acrescente nesses padres e irmãos o zelo da salvação das almas, e venham levar ao fim tão gloriosos princípios”. Fontes: “Carta de Manuel Gomes sobre a expedição de missionários Jesuítas ao norte do Brasil em 1615, que acompanhou a esquadra do general Alexandre de Moura na conquista do Maranhão aos franceses, e em que dá notícia da missão e da sua viagem para Portugal”, Biblioteca Nacional de Portugal ( https://purl.pt/15266) e Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Tomo XXVI26 - p. 329-330, ano de 1904. Por João Bosco Gaspar.

A TRASLADAÇÃO DO CORPO DO PADRE FRANCISCO PINTO:

Sepultado ao sopé da grande Serra da Ibiapaba no ano de 1608, segundo relata o padre Luiz Figueira, “porém, Deus não permitiu que ficasse assim por muito tempo". Frei Vicente do Salvador, historiador contemporâneo de Martim Soares Moreno, capitão mor da Fortaleza do Ceará, lembra que, "os índios da Costa do Ceará, algum tempo depois, trasladaram seu corpo para o litoral". Mello Morais, prossegue:

“(...) acreditavam na santidade do padre Francisco Pinto a quem chamavam de Abuná (benfeitor), valendo-se delle appareceram as chuvas, e então crescendo a fé, sempre que necessitavam de chuvas, reuniam-se em redor da sepultura e pediam - Pai Pinto dá-nos chuva e ellas appareciam; e quando eram muitas vinham pedir-lhes sol (...). A fama dos prodigios que Deus obrava por intervenção do padre Francisco Pinto, se divulgando entre os selviculas, sabendo o chefe índio Poty (Camarão), onde estavam os ossos do padre Pinto passou ordem para que todas as aldeias se reunissem e em grande gala fossem celebrar, a seu uso, as exequias do defunto (Abuná) benfeitor, com o continuo choro de tres dias, a que chamam Capiron, e com o cerimonial. O chefe Poty (Camarão) mandou edificar uma igreja em Jaguaribe, melhor que a antiga, para nella depositar os ossos do padre Francisco Pinto, e ordenou que todos os annos, naquelle dia, os índios de todas as aldeias, em procissão, armados de cruzes e os da aldeia onde estava a igreja fossem

todos os dias dar ao padre Pinto o jandi-coema (o bom dia)”. Fonte: Transcrição do livro “Chronica Geral do Brazil” Tomo 01, de Mello Moraes Filho, p. 345-346, publicado em 1886. Por João Bosco Gaspar.

PADRE LUIZ FIGUEIRA

- em pintura do mestre Cândido Portinari, ano de 1942, parte do livro "História da Companhia de Jesus no Brasil, Tomo III" de Serafim Leite. O padre Luiz Figueira esteve na Ibiapaba no período de 1607 a 1608, e foi testemunha ocular do assassinato do padre Francisco Pinto, ocorrido nos cumes da Serra no dia 11 de janeiro de 1608.

No dia designado, 28 de julho, procedeu-se à proclamação da Independência, dando-se começo ao ato às 11 horas da manhã, o qual terminou depois do meio-dia, seguindo-se as salvas de estilo. À noite, iluminou-se toda a cidade (VIEIRA DA SILVA, 1972, p. 178).

É com imensurável alegria que cumpro a missão de dedicar algumas palavras iniciais nesta Revista, que tem se firmado como instrumento essencial para o registro de acontecimentos de cada trimestre da Casa de Antônio Lopes e publicação de textos diversos. Destarte, reafirmo minha gratidão ao seu Editor, Leopoldo Gil Dulcio Vaz, Sócio Efetivo do IHGM.

Isso posto, justifico a sucinta notícia sobre a proclamação da República no Maranhão, que figura dentre os últimos estados do Brasil a aderirem à Independência, por entendê-la como importante efeméride do trimestre, de modo a constar no Estatuto do IHGM como data Comemorativa.

Na Sessão Solene em comemoração à independência do Brasil no Maranhão, foi apresentada a Mesa Redonda: "História e Geografia sobre o Maranhão no período colonial", que teve como palestrantes a Profa. Dra. Helidacy Maria Muniz Corrêa (PPCHIST) e o Prof. Me. Pedro Neto (IHGA) e como mediador o Doutorando José Marcelo do Espírito Santo do IHGM.

Muitas notícias de lançamentos de livros e de eventos nos quais o IHGM teve representação, como a fundação de Academias de Letras, o V Encontro da Federação das Academias de Letras do MaranhãoFALMA e a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Barreirinhas, cujo Presidente é o 1º Tesoureiro do IHGM, José de Ribamar Ramos (Baial), o que é motivo de regozijo, por constar no Plano de Gestão desta Diretoria “Fomento e assessoramento à criação de Institutos Históricos e Geográficos nos municípios do Estado”

Outra solenidade importante foi em homenagem ao Prof. Dr. José Ribamar Caldeira, eleito sócio honorário (in memoriam), distinção conferida pelo Instituto a autores consagrados no Estado, no País ou internacionalmente conhecidos, no campo da História, Geografia, Ciências Correlatas ou a Sócios Efetivos que já prestaram sua contribuição à Casa de Antônio Lopes. Além disso, o renomado professor doou a sua biblioteca particular ao Instituto e que passou a integrar um espaço próprio na Biblioteca Hédel Ázar (IHGM). Convém destacar que esta Revista está estruturada em seções específicas e entre as notas apresentadas inicialmente, uma diz respeito aos índios do Jaguaribe/Ceará, que trata do resgate do corpo do Padre Francisco Pinto, transcrito da postagem de Giovani Costa, em 20 de agosto de 2024, que me chamou atenção, pelo afeto que os caracteriza. Ou seja, impulsionados pelo desejo de encontrarem o corpo do missionário,

[...] se puseram a caminho, e chegaram finalmente ao lugar, que pelos sinais era o mesmo que lhe tinha relatado o padre Figueira. Mandaram abrir a sepultura e acharam o precioso depósito, como tesouro escondido debaixo da terra. Meteram os ossos, com toda veneração em um caixotinho que levavam, e partindo alegres para a sua terra, os colocaram em uma das principais aldeias daquele distrito [...]. Trecho do livro “Corographia histórica, chronographica, genealogica, nobiliaria e política do Império do Brasil”, p. 85/86, de Alexandre José Mello Moraes, publicado em 1858. Blog do Inharé - Giovani Costa

Nesta oportunidade, agradecemos a colaboração de todos os autores de textos e poemas que, com certeza, agregaram com suas produções ricos valores a esta Revista.

E, para finalizar, desejamos que a paz no mundo se concretize, assim como em nossos corações, e possamos ter um mundo mais equânime, incluindo também o cuidado com a natureza, para que reavivemos a beleza do universo que só tem sentido com a sua flora, a sua fauna e os seres humanos convivendo em plena harmonia!!!

Esta é a nossa Revista deste 3º trimestre do ano, que se encerrou com o início da Primavera!!!

E desejamos a você, caríssimo leitor, uma Boa Leitura!!!

São Luís, 30 de setembro de 2024. Dilercy Adler

"A revista trimestral do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão é, sem dúvida, uma das mais importantes ferramentas de divulgação e preservação do nosso patrimônio histórico e cultural. Desde a sua criação, ela vem desempenhando um papel fundamental na difusão do conhecimento, ao proporcionar um espaço onde estudiosos, pesquisadores e amantes da história podem compartilhar suas descobertas, reflexões e análises. O Maranhão, com sua vasta e rica história, merece ter suas narrativas resgatadas, estudadas e reinterpretadas à luz de novos olhares, e a nossa revista tem sido um palco para esse processo.

Cada edição da revista é cuidadosamente elaborada, trazendo uma diversidade de artigos e ensaios que abrangem desde temas históricos até questões culturais, sociais e geográficas, sempre com o foco no nosso estado. O compromisso do IHGM é, além de salvaguardar a memória, oferecer à sociedade maranhense e aos leitores de fora do estado uma visão ampla e profunda das influências, dos eventos e das personalidades que moldaram o Maranhão ao longo dos séculos. Sabemos que o entendimento do presente passa necessariamente pelo conhecimento do passado, e é essa a nossa missão: contribuir para uma sociedade mais consciente de suas raízes, mais conectada com sua identidade.

Além disso, a revista busca fomentar o debate acadêmico e popular. A cada nova edição, temos a oportunidade de colocar em evidência temas que, muitas vezes, não são abordados em outros veículos. Seja ao revelar documentos históricos pouco conhecidos, seja ao trazer à tona personagens e acontecimentos esquecidos, estamos constantemente ampliando o acesso ao conhecimento e incentivando novas gerações a valorizarem e estudarem nosso passado.

É também importante destacar que essa publicação é fruto de um esforço coletivo. Contamos com a colaboração de pesquisadores renomados, acadêmicos dedicados e membros apaixonados do IHGM, que contribuem para garantir a qualidade e a relevância do conteúdo apresentado. Além disso, temos um cuidado especial com a edição e o design da revista, para que o leitor tenha uma experiência agradável e enriquecedora a cada página. Estamos sempre abertos a novas colaborações, buscando manter a pluralidade de vozes e perspectivas que tanto enriquecem o debate histórico e cultural.

Por fim, acredito que a nossa revista não é apenas um registro do que já passou, mas um instrumento vital para moldar o futuro. Ao conhecer e compreender os eventos e as influências que marcaram nossa trajetória, podemos projetar um amanhã mais justo, inclusivo e consciente. Acredito profundamente que a educação e o conhecimento são os pilares de uma sociedade melhor, e é nesse espírito que o IHGM continua seu trabalho com dedicação e afinco. Nossa revista trimestral, portanto, é mais do que uma publicação: é um legado vivo, em constante construção, que esperamos que sirva de inspiração para as futuras gerações de maranhenses e brasileiros."

Essa versão amplia a visão sobre a importância da revista e o impacto que ela busca ter na sociedade e no campo acadêmico.

UmadasmaisatuantesagentesculturaisdoMaranhão:escritora,poetiza,pesquisadora,presidenteda SociedadedeCulturaLatinadoBrasil,imortaldaAcademiaLudovicensedeLetras,doNúcleo AcadêmicodeLetraseArtesdePortugalecorrespondentedaAcademiaItapecuruensedeCiências, LetraseArtes.Umahonratê-lacomoconfreiraeparceiraculturaleliterária!Juntosnaluta!Parabéns, Dra.DilercyAragãoAdler!FelizAniversário

Perdi o prumo, estou em choque. A ficha ainda não caiu!

Como pôde aquele coração grandioso, aparentemente saudável, cheio de vida, sabedoria e histórias, nos trair num golpe tão fatal?! Jamais imaginei que aqueles minutos em que fui autorizada a conversar contigo no leito hospitalar fossem de despedida; estavas tão tranquilo, sabias que eu estava ali ao teu lado; dissemos um ao outro "eu te amo!" Kleber Lago , meu mano amado, meu poeta, minha inspiração, tá doendo, é um dor rasgada, sem medida, inexplicável. Descansa em paz nos braços do Senhor e vai poetar com os anjos no Céu! Aqui ficaremos com as boas lembranças em forma de saudade.

Agora somos 3 Marias a seguir a jornada, pelo tempo que nos for dado por empréstimo.

DIRETORIA INTEGRADA DE BIBLIOTECAS DA UFMA DISCUTE COM O FÓRUM DA BAIXADA AÇÕES PARA PRESERVAR OBRAS LITERÁRIAS

Redação / 21 de agosto de 2024 Por Ana Creusa

Ontem tivemos a grata oportunidade de participar de uma reunião com a equipe de direção da Biblioteca Central da UFMA, a convite do Prof. Manoel Barros do Curso de História, com participação de César Castro e Carlos Martins, dirigentes da Biblioteca.

A proposta será efetivar um Convênio entre a UFMA e a Federação das Academias do Maranhão, a fim de realizar diversos eventos, utilizando o local privilegiado onde será instalado o Prédio da Biblioteca.

Decidimos ir trabalhando no planejamento para que já na inauguração da Biblioteca (em outubro), como atividade prevista para o início do ano letivo do ano que vem, provavelmente em abril de 2025, sejam implementadas algumas ações. A perspectiva é de que as obras da Biblioteca da UFMA serão finalizadas a qualquer momento, para ser entregue o prédio em outubro.

Depois disso é que será programada a inauguração

Várias ideias foram debatidas: 1) Café Literário; 2) Biblioteca itinerante; 3) Clube de Autores; 4) Visibilidades Baixadeiras (Baixada em tela); 5) Ano que vem (2025) terá uma ação com duração de um mês tematizando a Baixada; 6) Espaço para lançamento de livros e 7) Restaurante.

Presentes: Manoel Barros, Expedito Moraes, César Brito, Ana Creusa, Ana Régia, José Carlos e Alexandre Abreu.

O primeiro passo é fazer o Convênio com a Federação das Academias (FALMA), César Brito, presidente da entidade vai propor o Convênio imediatamente.

A ideia foi bem aceita pelos participantes da reunião que se disponibilizaram para trabalhar para que essas ideias sejam concretizadas.

Tive o prazer imenso de conhecer Carlos Wellington Soares Martins (Diretor de Cultura e Convivência da Biblioteca da UFMA), que é neto de Procório Martins. Ele é bisneto de João de Deus, assim como eu. Conversamos bastante.

AS CASAS DOS AÇORES NO BRASIL

A primeira no Brasil e a segunda no mundo é a Casa dos Açores no Rio de Janeiro, fundada em 1952. Curiosamente, 25 anos depois da primeira, em Portugal, e 25 anos antes da terceira, nos Estados Unidos. A sua criação foi impulsionada pelo importante escritor português Vitorino Nemésio, natural da Praia da Vitória, e o seu primeiro Conselho de Administração foi presidido pelo Comandante da República Portuguesa João Soares de Medeiros, natural da cidade de Angra do Heroísmo. O seu atual presidente é João Leonardo Soares, um jovem filho de emigrantes da Terceira.

Vinte e oito anos depois do Rio de Janeiro, em 1980, foi criada a Casa dos Açores de São Paulo, a segunda do Brasil, na Vila Carrão. Na nova associação, tal como no estado em geral, a maioria dos açorianos é oriunda da ilha de São Miguel. Esta Casa nasceu pela graça do Espírito Santo uma vez que foi organizada após uma festa realizada em louvor do Divino, e teve como primeiro presidente um emigrante de São Miguel, Comendador Manuel de Medeiros. Cinco décadas depois, a Festa do Divino continua a ser o ponto alto do seu calendário anual, a par da Semana Cultural, mas o CASP conta também com um grupo folclórico, fundado em 1981, bem como o mais recente grupo coral "Cantares do Basalto". Seu conselho é presidido por Marcelo Guerra, advogado paulista.

Contemporânea de São Paulo é a Casa dos Açores da Bahia. Também foi fundada em 1980, na cidade de Salvador, e é composta majoritariamente por açorianos da pequena ilha Graciosa. Mais do que reunir açorianos, esta Casa foi criada para que os descendentes de açorianos se conhecessem e se socializassem em torno das suas referências identitárias. É por isso que realiza tertúlias regulares na sua villa jardim, a pretexto de um bife de alcatra, bacalhau ou polvo, e por isso organiza anualmente uma festa de louvor ao Divino Espírito Santo. Seu cofundador e atual presidente é o empresário Graciosa Orlando Souza da Silva. Mas a rede mundial de Casas dos Açores também chegou ao sul do Brasil. Em 1999, foi fundada a Casa dos Açores de Santa Catarina, primeiro presidida por Francisco do Vale Pereira e agora dirigida por Sérgio Luiz Ferreira.

Trabalha em estreita colaboração com o Centro de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina. Tem sede provisória em uma sala cedida pelo governo estadual em Florianópolis, mas se prepara para se instalar definitivamente no ambiente açoriano de Santo António de Lisboa. Dirige o Grupo Folclórico Raízes Açorianas desde 2010 e participa na organização anual da "Açor – Festa da Cultura Açoriana de Santa Catarina", que percorre há três décadas as cidades açorianas do litoral catarinense. Quatro anos depois de Santa Catarina, em 2003, nasceu a Casa dos Açores do estado do Rio Grande do Sul. Régis Albino Marques Gomes foi o seu primeiro e mais longevo presidente, até 2015. Ele foi sucedido por Célia Silva Jachemet, Carla Marques Gomes e, agora, Viviane Peixoto Hunter. Mas a casa da Casa também tem sua história. O Casarão dos Fonseca é um edifício com características únicas – provavelmente a mais açoriana das Casas dos Açores – que foi mandado construir por Manuel Fonseca, filho de açorianos, em 1877. O grupo por trás da futura Casa dos Açores, liderado por Régis Gomes, restaurou o edifício em ruínas na década de 1990 e o transformou em um edifício tombado por lei municipal, agora reconhecido como patrimônio arquitetônico e cultural do Município de Gravataí. É nesta "embaixada cultural açoriana" que a instituição mais representativa dos Açores no extremo sul do Brasil promove a sua intensa atividade, nomeadamente através da promoção de um grupo de danças gaúchas e de um rancho folclórico com raízes açorianas.

No outro extremo do país, encontraremos a segunda Casa dos Açores mais recente do Brasil, mas historicamente deveria ter sido a primeira.

A Casa dos Açores do Maranhão foi fundada em 2019, por ocasião do congresso comemorativo daCentenário da primeira emigração açoriana para terras brasileiras. Está formalmente sediada na capital do estado, São Luís do Maranhão, e se prepara para se mudar com sede própria. Seu cofundador e primeiro presidente foi Paulo Matos, atual presidente de honra, que entretanto assumiu as responsabilidades de Secretário de Turismo do Governo do Estado.

A "mais jovem" dessas associações brasileiras é a Casa dos Açores do Espírito Santo, sediada no município de Apiacá, no coração do Vale do Itabapoana, próximo à divisa com o estado do Rio de Janeiro. Foi fundado e é presidido pelo açoriano descendente de Açores Nino Moreira Seródio. A sua inauguração oficial ocorreu a 25 de julho de 2022, curiosamente, imediatamente após a comemoração oficial dos 70 anos da pioneira e vizinha Casa dos Açores do Rio de Janeiro.

José Andrade é Diretor Regional das Comunidades do Governo da Região Autónoma dos Açores

Este texto tem por base um segmento do seu livro Transatlântico – As Migrações nos Açores (2023 )

Traduzido por Diniz Borges, para Filamentos (artes e letras na diáspora açoriana)

CHAMADA PÚBLICA no site da Prefeitura!

A 17ª Feira do Livro de São Luís – FeliS, será realizada no período de 1º a 10 de novembro de 2024, das 9h às 21h, Praça Maria Aragão.

As inscrições para lançamento de livros iniciam na segunda-feira, 23/09, na Secretaria Municipal de Cultura - SECULT.

Sessão publica da Casa dos Acores, ontem , na livraria Amei, com a presença do Diretor das Comunidades Acorianas. O tema foi relação histórica entre Maranhão e Acores.

SOBRE OS AÇORIANOS NO MARANHÃO

LEOPOLDO

GIL DULCIO VAZ

Academia Ludovicense de Letras

Academia Poética Brasileira Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Centro Esportivo Virtual

Aconteceu nesta semana, terça-feira, um encontro da Casa dos Açores no Maranhão, com a presença de um representante daquela comunidade, Dr. José Andrade.

Os participantes da mesa se referiram à chegada dos primeiros açorianos aqui chegados, à partir de 1619. A relação das Ilhas dos Açores com o Maranhão é anterior à restauração portuguesa /espanhola ocorrida em 1615. Sabemos que no período de 1580 a 1640 a região pertencia à Espanha, pois o reino de Portugal perdera seu ultimo soberano, e a coroa então passou para o domínio espanhol. É neste período que a França ocupa a região, e Portugal tenta retomá-la.

Na guerra de (re)conquista territorial, muitos militares do exército portugues/espanhol, assim como sacerdotes participaram dos eventos ocorridos, principalmente à partir de 1603. Vejamos: A primeira tentativa para expulsar os franceses do Maranhão foi a do açoriano Pêro Coelho de Sousa que chegou de Pernambuco em 1603 e desembarcou no Ceará com 65 soldados e mais de 200 índios. Já Barretto (1958)dizqueintegravam aexpedição 86europeus e200 indígenas,e àfrente, Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda. Jacques Riffault percorria o litoral do Ceará entre 1603-1604, quando o Capitãomor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: [...] “descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem”

Em 1604, Pero Coelho de Souza passou rumo a Ibiapaba, e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contra os franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim).

Barretto (1958) informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92).

PERO COELHO DE SOUZA (Ilha de São Miguel, fins do século XVI Lisboa, meados do século XVII) foi um explorador português, oriundo dos Açores. Chegou ao Brasil em 1579 e foi o primeiro representante da Coroa Portuguesa a desbravar os territórios das capitanias da Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará, entre os séculos XVI e XVII. Concunhado de Frutuoso Barbosa exerceu interinamente o governo da Paraíba após a administração deste, e foi vereador da câmara da Cidade da Parahyba pelos anos de 1590

Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa, por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que há anos atuavam na capitania do «Siará Grande». Esse fidalgo da casa do rei e militar experiente, partiu da Paraíba para a conquista as terras cearenses.

Pero Coelho morreu em Lisboa, depois de passar longos anos a requerer, inutilmente, a paga dos seus serviços.

Logo após essa tentativa de se chegar ao Maranhão, houve, em 1607, outra, com dois padres jesuítas, o açoriano Francisco Pinto, de Angra, Ilha Terceira, de cinquenta e três anos e o alentejano Luís Figueira, de Almodávar, que desembarcaram na foz do rio Ceará e foram trucidados pelos índios, com Francisco Pinto sendo devorado

FRANCISCO DA COSTA PINTO, padre Jesuíta, nascido em 1552, da cidade de Angra, Ilha de Terceira. Morto em 11 de janeiro de 1608, na Chapada de Ibiapaba

Açoriano, veio para o Brasil, quando criança, acompanhando a família que imigrou para o Brasil. Aos 17 anos de idade, deixou o Estado de Pernambuco seguiu para a Bahia e em 31 de outubro de 1568 ingressou na Companhia de Jesus. Não chegou a completar o curso, recebendo a o título de Coadjutor espiritual formado. Em 1588 recebeu a ordens sacras, sendo considerado padre. Devido a seu conhecimento das línguas indígenas é indicado para a Missão do Maranhão No dia 20 de janeiro de 1607, partiu do Recife, em uma embarcação que ia buscar sal coletado nas salinas na foz do Rio Mossoró[4], juntamente com o padre Luís Figueira para o Siará Grande, com o intuito de catequizar os nativos daquele território.

Da conquista, efetiva, com a expulsão dos franceses, participaram outros açorianos:

Alírio Cardoso (2011) apresenta, em um quadro, a origem de alguns oficiais que participaram da Conquista do Maranhão e Grão-Pará (1615-1616, baseado em Berredo (1988). São eles:

NOME

Manuel de Sousa de Eça

POSTO ORIGEM

Capitão-Mor/ Capitão de Infantaria Ilhas dos Açores

Diogo de Campos Moreno Sargento-Mor Tanger ou Ilha Terceira

Bartolomeu Ramires Incerto Ilhas dos Açores

Domingos Correia

Maestro de Caravela Ilha Graciosa (Açores)

FONTE: CARDOSO (2011), de acordo com BERREDO, Anais Históricos do Estado do Maranhão. São Luís: Alumar, 1988 [1749], § 198-199; § 248; §304-308; §436; § 763-780.

MANUEL DE SOUSA (DE SOUZA) DE EÇA (DEÇA) (DE SÁ) (E SÁ). Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Capitão-môr do Pará que participa en la conquista de Maranhão. Fue enviado, con el rango de capitão-môr o de capitão de Infantaria, como parte de la flota de socorro integrada por siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses (CARDOSO, 2011, p. 331, CARDOSO, 2012, p. 164

DIOGO DE CAMPOS MORENO Nacido en Tanger o en la Ilha Terceira, participó como alférez en la Guerra de Flandes, en los ejércitos de Alejandro Farnesio. Nombrado Sargento mor do Brasil en 1602 cuando va a Brasil con el gobernador Diogo Botelho (Alvará de 25 de enero de 1602). A su vuelta a Europa en 1613 el rey Felipe III extinguió el cargo, pero lo volvió a nombrar para el mismo en 1613 cuando lo mandó a la conquista de Maranhão (Alvará de 19 de diciembre de 1613). Participó en las campañas para la conquista de Maranhão de 1614 y 1615. Según Cardoso (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164)

BARTOLOMEU RAMIRES Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Enviado con cargo desconocido o "Incerto" en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 con el fin de arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164).

DOMINGOS CORREIA - Lugar de nacimiento: Ilha Graciosa. Mestre de caravela. Enviado en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164). Recebeu em julho de 1635 Carta de Capitão de infantaria da armada do Brasil. 1Recebeu em junho de 1635 Carta de Provedor do Rio de Janeiro.

Depois daocupação doimportanteponto estratégicodailhadoMaranhão, em 1615,Jerónimo deAlbuquerque ficou ao comando das forças lusas na cidade de São Luís, fundada, em 1612, pela força expedicionária gaulesa derrotada (ALMEIDA, 2012); diz-nos esta autora: “que nesta altura estava a ser dada prioridade à ocupação efectiva e controlo desta região por parte dos governantes”:

Em 1615 Jorge de Lemos Bettencourt propôs-se a encaminhar dos Açores para o Pará mil pessoas de forma a constituir-se um núcleo populacional, mas na prática só conseguiu transportar cerca de metade dos efectivos. Quando esses colonos chegaram ao Maranhão, em 1618, souberam através da população local das condições inóspitas e das dificuldades que iriam encontrar no estabelecimento na região do Pará. A própria região do Maranhão carecia de gente para a constituição de povoados, pelo que se dava prioridade ao expediente de povoar essa zona comparativamente ao restante conjunto brasílico. O próprio governador do novo Estado do Maranhão tardou a ocupar o seu posto. [...].

O capitão-mor JORGE DE LEMOS BETTENCOURT (ou Betancor, como também se encontra nos documentos da época) era natural das Ilhas de Açores e fidalgo da Casa Real. Seu pai havia servido em Pernambuco e seu avô, o fidalgo João de Bettencourt de Vasconcellos, fora degolado por ordem do Prior do Crato quando prestava serviços ao soberano na Ilha Terceira. Bettencourt ofereceu-se para levar duzentos casais provenientes das Ilhas dos Açores para povoarem o Maranhão e o Pará, arcando com todas as despesas da viagem até a chegada à terra. (1636. AHU_ ACL_CU_009, Caixa 1, Doc. 109, IN . CORRÊA, 2012).

Jorge de Lemos de Bettencourt, nascido em 1540, era filho de Jorge de Lemos, o velho, filho de João Dias de Lemos (1480), nasceu em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e de Maria Gonçalves De Ávila, nascida em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e tinha duas irmãs,. Francisca de Lemos, e Ignez Gomes de Ávila, 1560, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal. Casado com Joana Bettencourt de Vasconcelos, pais de Pedro de Lemos Betancur, nascido em 1580,naTerceira; FranciscodeLemosBettencourt; JorgedeLemosBettencourt,(II); PedrodeLemosBetancur e Ignes Betancurt.

A 12 de julho de 1619, Antonio Ferreira de Bittencourt, natural da ilha de São Miguel, conseguiu uma autorização da Fazenda Real dos Açores para transportar, no período de três anos, cerca de 50 casais para o Maranhão, tudo à custa da sua fazenda. De fato, o navio São Francisco chega ao Maranhão no dia 29 de outubrode1621 com 40 casais, totalizando148pessoas,conformeconstaacertidãodatadade24denovembro de 1622, apresentada pelo provedor da Fazenda Real dos Açores .

“Estavam esses colonos contemplados no plano de governo metropolitano de instalar a indústria de açúcar incluindo dois engenhos de moer cana-de-açúcar, o primeiro sendo instalado na terra firme à margem do rio Itapecuru.” (MARIN, 2002, citado por MARQUES, 2005)).

“Eu me resolvo que esta é a melhor terra do mundo, donde os naturais são muito fortes e vivem muitos anos, e consta-nos que, do que correrem os portugueses, o melhor é o Brasil, e o Maranhão é Brasil melhor [...].” (SILVEIRA, 2001). Em 1624, quando estas palavras são escritas o Maranhão contava já com 300 habitantes, divididos nas fortalezas de São Felipe e São Francisco em São Luís; São José, no povoado de Itapari e a de Nossa Senhora da Conceição na região de Itapecuru. Além dessas, contavacomduasestânciasondemoravamalguns francesesqueficaramnailha,depoisdecasados comíndias, mestiços e portugueses, assim como nove aldeias espalhadas nas circunvizinhanças, cujos índios serviam aos colonos. (MARQUES, 2005).

A partir de 1633, novas levas de imigrantes estimulados pelas palavras de Simão Estácio da Silveira chegaram no Maranhão em dois períodos distintos, jádepois dePortugal ter reconquistadoasua independência em 1640. O primeiro foi em 1648-1649 quando um decreto real, expedido em 19 de setembro de 1648, quis recrutar 100 casais na ilha de Santa Maria, ou mais ou menos entre 500 a 600 pessoas, tarefa que foi concedido por ordem do Conselho Ultramarino de 6 de abril de 1649 ao mercador alemão Martin Filter. Deste modo, além dos 52 casais que foram de Santa Maria, outras 365 pessoas da ilha de São Miguel chegaram ao Maranhão em agosto do ano seguinte, conforme relata Manuel de Sousa Menezes num artigo de 1952 (citado por MARQUES, 2005)

A discussão girou em torno das migrações após a conquista... esquecendo-se da participação de açorianos de antes da criação do estado Colonial do Maranhão...

PRESIDENTE EM AÇÃO

CENTRO DE ENSINO CÔNEGO RIBAMAR CARVALHO FAZENDO A PRIMEIRA REUNIÃO PARA O PLANEJAMENTO DA ATIVIDADE DO PROJETO IHGM: PATRONOS NAS ESCOLAS. Registro da entrega da Revista do IHGM à Biblioteca da Escola, que tem o mesmo nome: Cônego Ribamar Carvalho.

REUNIÃO

HOJE À TARDE NO IHGM. TIVEMOS O PRAZER DA VISITA DE MARLENE CALDEIRA E JOÃO RICARDO

EVENTO OCORRIDO 08/07 NA BPBL, EM SLZ, COM PALESTRA PROFERIDA PELA PRESIDENTE DO IHGMA, PROFESSORA DILERCY ADLER, CONTOU COM A PRESENÇA DE JOÃO BATALHA, DA ACADEMIA LUDOVICENSE LETRAS; VAVÁ MELO, DA ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO BENTO; CÉSAR BRITO, PRESIDENTE DA FALMA; E ROQUE PIRES MACATRÃO DA ACADEMIA DE LETRAS DE BREJO.

VIDAS LUMINOSAS: DILERCY ARAGAO ADLER

POR RENÉ AGUILERA FIERRO

Dilercy Aragáo Adler, nació en São Vicente Ferrer-Maranhão-Republica de Brasil el 07 de julio de 1950, escritora y de profesión psicóloga. Ha realizado su doctorado en pedagogía en Cuba, tiene su máster en Educación, asimismo, varias especializaciones en sociología y metodología de la encuesta. Actualmente está jubilada de la Universidad Federal de Maranháo. Sin embargo trabaja de profesora de Grados y Posgrados de la Universidad de Maranháo y del Instituto de Diversidad y Ciencia. Tiene una docena de libros publicados y figura en varias antologías nacionales e internacionales, igualmente ha escrito libros de carácter académico dedicados a la enseñanza Universitaria. Es miembro de diversas instituciones culturales, científicas de Brasil y del exterior. Escribe para revistas y periodicos del Brasil y del extranjero. Pertenece a varias instituciones cientificas y culturales, como la Sociedad Brasilera de Médicos; es Corresponsal Internacional de la Sociedad Argentina de Letras, Artes y Ciencias. Representante en Brasil del periódico "Portal" de Italia. Fue nombrada Socia y Miembro Correspondiente de la Unión de Escritores y Artistas de Tarija-Bolivia.

Dilercy Aragão Adler, actualmente radica en São Luís Maranhão.

Extraído del libro "Vidas luminosas" de Rene Aguilera Fierro

Alcântara cria Academia de Letras, Ciências, Artes e Filosofia

fundação da Academia Alcantarense de Letras, Ciências, Artes e Filosofia – ALCAF

Imagem: A ALCAF terá uma composição eclética de membros fundadores / Foto: Oziel Pereira Nesse sábado, dia 20 de julho, às 18 horas, no auditório do IFMA Alcântara (rua do Forte, s/nº – Centro), acontecerá a solenidade de fundação da Academia Alcantarense de Letras, Ciências, Artes e Filosofia –ALCAF, que será cognominada Casa de Agostinho Pereira Reis e de José Araújo Castro. Sonho antigo acalentado por muitos entusiastas, a instituição cultural finalmente será criada na cidade Monumento Nacional.

A própria Academia Maranhense de Letras – AML, há mais de 30 anos, através do então presidente, Jomar Moraes, chegou a cogitar a compra de um imóvel na rua Grande, centro da cidade, para ser a sede da academia alcantarense. Contudo, a iniciativa não prosperou, assim como algumas outras antes dessa e após a mesma.

No início do ano passado, no âmbito do projeto “Pão, Música & Poesia”, proposta do Museu Histórico de Alcântara – MHA, foi convidada pelo Diretor do Museu (escritor Paulo Melo Sousa), a então presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA, a escritora Jucey Santana, para ministrar a palestra “O processo de Formação de uma Academia de Letras”. Esse evento motivou artistas, intelectuais de Alcântara e moradores que desenvolvem trabalhos culturais na cidade a se mobilizarem em reuniões para a construção da instituição.

Foram realizados vários encontros, mês a mês, às vezes quinzenalmente ou semanalmente, nos quais foi criada uma Comissão Organizadora que agilizou o andamento da demanda. Discutido e aprovado o estatuto da futura instituição, foi organizada toda a logística da fundação da Academia, que será custeada graças às doações de mais de trinta sócios beneméritos, moradores de Alcântara, de São Luís e de outros estados, sensibilizados com a proposta cultural alcantarense.

Na solenidade de fundação, será composta uma Mesa de Honra, com a presença de representante da Diretoria da Academia Maranhense de Letras – AML e membro da Academia Ludovicense de Letras – ALL, escritor José Ribamar Neres Costa, presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL, escritor Sanatiel Pereira, Subsecretário de Turismo do Estado, escritor Luiz Thadeu Nunes e Silva, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM, escritora Dilercy Aragão Adler, presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão, escritor César Brito (que presidirá a cerimônia), e Myrlene Ribeiro Santos, Diretora de Administração e Planejamento em exercício, representando o Diretor Geral do IFMA, que gentilmente cedeu o auditório para a cerimônia.

Em reunião realizada na Sala Diógenes Ribeiro, do Museu Histórico de Alcântara – MHA, no último sábado, dia 13 de julho, foi eleita a primeira Diretoria da ALCAF, que ficou assim constituída: Presidente: Paulo Roberto Melo Sousa; Vice-Presidente: Fátima Diniz Ferreira; Primeira Secretária: Maria Benita Moraes Dias; Segundo Secretário: Hugo Leonardo Moraes Coelho; Primeiro Tesoureiro: Pedro Jader Bandeira Souza; Segundo Tesoureiro: José Flávio Ferreira Pinheiro; Diretor Cultural: Valdecy Onilton Coelho Cantanhede; Diretor de Relações Públicas: Maxuel Pinheiro Boaes; Conselho Fiscal: Domingos Pedro Amorim Vieira, Tayla Cristina Ferreira Oliveira, Valdinei Benedito Ribeiro, Valmir Ribeiro Campelo e Zuleide Flora do Amaral Castro. “Trata-se de um momento histórico para esta cidade viva de cultura, um antigo sonho que agora se torna realidade; a ALCAF irá contribuir para iluminar cada vez mais a história e a cultura da cidade, e somar com as contribuições que já estão sendo feitas por outras instituições congêneres”, declara o presidente da ALCAF, o escritor e jornalista Paulo Melo Sousa.

Entusiasmados com a iminente fundação da ALCAF, alguns membros da ALCAF se pronunciaram a respeito, como o Dr. Raimundo Soares, ex-prefeito de Alcântara, Bacharel em Direito, Odontólogo formado em Letras, artista plástico e escritor: “a 20 de julho de 1897 foi criada a Academia Brasileira de Letras – ABL, e por feliz coincidência Alcântara, que completará neste ano 376 anos de vida terá a fundação da sua academia justamente num dia 20 de julho, numa feliz coincidência. Este é um sonho que agora irá se concretizar, neste lugar no qual se respira arte e cultura; trata-se de um passo gigantesco para contribuir com o resgate da nossa história e da nossa cultura”.

Zuleide Castro, Pedagoga e Servidora Pública Federal, por sua vez, diz que “vamos contribuir com o resgate do prazer de ler, para se conhecer e entender a história de Alcântara, ajudando a nossa cidade a ter um futuro melhor, contribuindo com a construção da identidade das novas gerações”. Hugo Morais, formado em Filosofia e graduando em Letras, afirma que “a expectativa é a de que, juntos, coletivamente, possamos contribuir com a cultura de Alcântara, conclamando a juventude a participar desse importante processo”. “A ALCAF será mais uma ferramenta para a educação e cultura de Alcântara, servindo para que a comunidade

possa expandir seus conhecimentos”, conclui Maria Benita Moraes Dias, professora aposentada, Bacharel em Direito, ex-tabeliã, atualmente juíza de casamento. A entrada para o evento é franca. Ao final da solenidade será servido um coquetel aos presentes.

NESTA SUA FUNDAÇÃO, EM 20 DE JULHO DE 2024

Esta é uma noite gloriosa para esta encantadora e histórica cidade de Alcântara, uma antiga cidade, no contexto brasileiro, por contar com 376 anos de história. Sua fundação data de 22 de dezembro de 1648, quando a aldeia Tapuitapera (terra dos índios) foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vila de Santo Antônio de Alcântara. No entanto, convém enfatizar que, anteriormente a 1612, estas terras eram habitadas pelos índios tupinambás, seus primeiros habitantes.

Em 1836, Alcântara foi elevada à categoria de cidade e prosperou progressivamente em todos os setores tornando-se o maior centro produtor do Maranhão, com grandes fortunas à época, constituindo a aristocracia rural agroexportadora de algodão, inclusive devido ao número elevado de escravos, vivendo assim um longo período de grandiosa ascensão no final do século XVII, chegando a “rivalizar” com São Luís. Por possuir um conjunto arquitetônico e urbanístico com características do século XVIII, em 1948, a cidade foi tombada pelo IPHAN e nesse mesmo ano recebeu o título de Cidade Monumento Nacional.

Em 2004, o IPHAN passou a considerar o patrimônio de Alcântara como de valor cultural, histórico, artístico, paisagístico, urbano e arqueológico. Foram tombados 400 imóveis dos meados do século XVII até quase o final do século XIX.

São pujantes os dados históricos de Alcântara, mas o que me move hoje é o desejo de traçar um paralelo entre o tempo da fundação desta cidade e o da sua Academia de Letras. Nesse contexto se registra uma diferença de 376 anos. O mesmo aconteceu com São Luís, que, nessa perspectiva, existe uma diferença de 401 anos entre a fundação da Cidade e a fundação da sua Academia de Letras, ainda mais quando as duas cidades em questão são berços de muitos intelectuais e observa-se na história de ambas, em diferentes momentos, o desejo de alguns intelectuais de fundar as Academias das suas cidades.

É pertinente pensarmos na importância das instituições culturais em uma cidade, um estado, um país, pois, junto às instituições educacionais corroboram a consolidação da soberania do país, por meio de um povo dotado de conhecimento para garantir a sua autonomia, atrelada a uma ética humanizada.

Assim, é com grande júbilo que hoje, como pessoa e como representante do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Casa de Antônio Lopes, testemunho a fundação de mais uma instituição que, com certeza, agregará valores intelectuais, e a contemplada é esta cidade, a cidade de Alcântara, com a criação da Academia Alcantarense de Letras, Ciências, Artes e Filosofia.

Desejo a esta Diretoria e a todos os membros da instituição muito sucesso e que concretizem grandes feitos, incluindo em suas ações e projetos os poucos descendentes dos povos originários, por serem os primeiros habitantes desta terra, e os afrodescendentes, por terem sido trazidos para o Brasil à sua revelia e ainda derramado muito sangue, suor e lágrimas neste chão. Por isso merecem o nosso respeito e admiração!

Que Deus nos

(In memoriam)

É com grande júbilo que damos as boas-vindas a todos que estão conosco nesta tarde, neste espaço desta instituição inspiradora, a Biblioteca Pública Benedito Leite, Instituição secular, pilar essencial para o desenvolvimento educacional e cultural do Maranhão.

Por outro lado, o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Casa de Antônio Lopes, Associação Científica e Cultural, sem fins lucrativos, fundada em 20 de novembro de 1925, define entre suas finalidades: “Estudar, debater e divulgar questões sobre História, Geografia e Ciências afins, referentes ao Brasil e, especialmente, ao Maranhão”, de modo que, ao longo de sua existência, tem abrigado nomes ilustres desta terra. Segundo o patrono desta Casa, em seu livro “Antônio Lopes: estudos diversos’ (1973):

O Maranhão tem a admirável e invejada fortuna de ser esse ninho de águias, esse berço de talentos pujantes, essa terra que tantos varões ilustres tem dado à Pátria maior, tudo isso que se cristalizou no pernosticismo do cognome - Atenas Brasileira (p.60).

No entanto, ainda segundo ele,

[...] Curioso é, porém, que, prezando tanto, ao menos aparentemente, aquele título mirabolante de Atenas, o Maranhão seja tão pouco propenso a galardoar os seus homens ilustres, quando vivos, ou mesmo a prestarlhes por meio de atos culto à memória (p.61).

Embora sejam palavras de Antônio Lopes, expressas na primeira metade do século XX, as tomamos com atenção e carinho, de modo que no ano próximo passado (2023) esta Casa, no seu aniversário de 98 anos, outorgou Diplomas de Honra ao Mérito e Diploma de Sócios Honorários. No entanto, como alguns homenageados não puderam receber por questões particulares, estamos hoje, a reafirmar as honrarias a eles destinadas.

O Diploma de Honra ao Mérito é outorgado em reconhecimento à nobre contribuição prestada à causa da Ciência, Educação e Cultura do Maranhão.

Enquanto o título de Sócio Honorário é uma categoria de Sócio do IHGM definido no Art. 16. do Estatuto, que expressa: “Sócio honorário é uma distinção conferida pelo Instituto a autor consagrado no Estado, no País ou internacionalmente conhecido, sobre História, Geografia, Ciências Correlatas ou a Sócios Efetivos que já prestaram sua contribuição à instituição por mais de (30) anos”.

Assim, todos os convidados para receberem as honrarias estão devidamente contemplados por essas Distinções desta Casa. Por isso, a todos o nosso reconhecimento, o nosso louvor. Dentre as homenagens, temos uma homenagem póstuma e à qual passo a me reportar:

Caldeira foi um homem da ciência, professor universitário de muita dedicação ao ensino, pesquisador determinado, disciplinado e entusiasmado com seu trabalho, atitude indispensável para bem realizá-lo, seguro de seus conhecimentos e de suas convicções, das quais não abria mão por conveniências de qualquer natureza, mas aberto à discussão franca e honesta. Esteve sempre atualizado com os avanços no seu campo de estudo e tinha uma visão crítica do mundo moderno e de suas forças potencialmente alienantes e desumanizantes. Transitou entre duas tradições sociológicas, a weberiana e a marxista que, apesar de divergentes, não são, de fato, antagônicas.

(Lino Antônio Raposo Moreira no discurso de posse na AML)

Com essas palavras, inicio um breve testemunho da vida de um intelectual dedicada à sua missão de estudos e ensinamentos pautada em uma visão crítica do mundo moderno e de suas forças potencialmente alienantes e desumanizantes.

José de Ribamar Chaves Caldeira é considerado um pioneiro da sociologia no Maranhão. Sua obra de grande erudição é considerada uma importante contribuição para a compreensão e análise dos processos da formação da história social, econômica, política e cultural do Maranhão.

Nasceu e faleceu no mesmo mês de julho nos dias 21 de 1940, e dia 23 de 2003, respectivamente. Natural da cidade de Pedreiras/Maranhão, era filho de José dos Reis Caldeira e de Maria Chaves Caldeira. Tinha dois irmãos, Maria da Paz Caldeira Cavalcanti (Assistente social) e Pedro Chaves Caldeira (Engenheiro civil, falecido em julho de 2021). Ribamar Caldeira casou-se com Marlene de Castro Caldeira (formada em filosofia), de cujo casamento nasceram: Mário Henrique de Castro Caldeira (Doutor em Arquitetura e Urbanismo, pela Universidade de São Paulo-USP), João Ricardo de Castro Caldeira (Doutor em História Social, pela USP), Luís Antônio de Castro Caldeira (Bacharel em Comunicação social pela Fundação Armando Alves Penteado-FAAP) e Maria Eugênia de Castro Caldeira (formada em Pedagogia, professora na rede pública de ensino em São Paulo). Ribamar Chaves Caldeira faleceu em São Luís, como já referido, no dia 23 de julho de 2003, com apenas 63 anos.

José de Ribamar Chaves Caldeira fez seus estudos primários em Pedreiras, na Escola Municipal Oscar Galvão. Cursou o ginásio e o científico, no Colégio São Luís, na capital do Estado. Graduou-se em Ciências Sociais (Bacharelado) na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1966. Fez Mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas-UNICAMP, com Dissertação defendida em 1982, tendo como título: “As interventorias estaduais no Maranhão: um estudo sobre as transformações políticas regionais no pós30”, orientada por Caio Navarro de Toledo, e doutorou-se em Sociologia pela USP, com a tese “Origens das indústrias no sistema agroexportador maranhense” (1875-1895)”, em 1989, sob a orientação de Maria Isaura Pereira de Queiroz.

É importante destacar ainda seu estudo “O Maranhão na literatura dos viajantes no sec. XIX”, no qual buscou “averiguar o modo como se acham descritos os meios sociais, a economia, as estruturas de poder e as relações políticas, movimentos revolucionários, a escravidão e as sociedades indígenas do Maranhão do séc. XIX, na denominada literatura dos viajantes”. Apesar de as obras dos viajantes serem consideradas excelentes fontes de conhecimento do país daquele período, Caldeira pondera, após uma leitura acurada dessa literatura, que as informações nelas contidas não devem ter uma confiabilidade irrestrita, devendo ser comparadas entre si e cotejadas com as informações de outras fontes. No caso do Maranhão, segundo ele, a reputação é algo exagerado, em que pese o relativamente pequeno número dos que passaram pela região. O que não significa que essa literatura não deva ser consultada para a compreensão do mundo social maranhense.

Caldeira ingressou no Magistério superior em 1971, através de concurso público, na Universidade Federal do Maranhão. Pertencia ao Departamento de Sociologia e Antropologia, fundado entre 1970/1972. Foi um dos professores responsáveis pela fundação e consolidação dessa unidade. Foi também sociólogo no Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPES) e, ademais, membro da Academia Maranhense de Letras, tendo ocupado a Cadeira nº 8, cujo patrono é Joaquim Gomes de Souza. Foi eleito no dia 20 de agosto de 1992, e tomou Posse em 03 de dezembro de 1992. Posteriormente, a Cadeira nº 8 foi assumida pelo economista Lino Antônio Raposo Moreira.

Ainda foi Membro do Conselho Estadual de Cultura do Maranhão (em dois mandatos de 4 anos, iniciados em 1982 e 1991) e do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Maranhão (mandato de 6 anos, iniciado em 1991). Recebeu a Medalha do Mérito Cultural João Lisboa, outorgada pelo Conselho Estadual de Cultura do Maranhão, e recebeu o título de Cavaleiro da Ordem dos Timbiras, do Governo do Maranhão.

Publicações:

A ANL no Maranhão. São Luís: EDUFMA, 1990.

O Maranhão na literatura dos viajantes do século XIX. São Luís: AML/SIORGE, 1991.

A criança e a mulher tupinambá. São Paulo: SCORTECCI EDITORA, 2000.

Dois estudos: os discursos de Japi-açu e Momboré-uauçu e Vadiagem no Maranhão, 1800-1850: São Luis: EDUFMA, 2004.

Tomei como honra, e ao mesmo tempo, como grande responsabilidade a missão de fazer esta louvação ao querido professor Dr. José Ribamar Caldeira in memoriam.

Fiquei a imaginar e pensei em acrescentar alguns vieses de alguns encontros, porque o encontro é algo salutar, é enriquecedor; acrescenta e enobrece os nele envolvidos. Dos encontros, o primeiro que quero me reportar é ao que tive com Caldeira no Curso de Mestrado em sociologia da UFMA, quando foi meu professor e aí iniciou a minha admiração pelo professor por sua competência, rigorosidade acadêmica e científica no seu fazer pedagógico e, então, o escolhi para orientador da minha Dissertação de Mestrado, sobre Alfabetização e pobreza e ainda para prefaciar o livro da Dissertação. A esse respeito, ele colocou no prefácio:

Convidado - melhor dizendo intimado, a bem da verdade - por Dilercy Adler, de quem sou amigo e admirador para prefaciar este livro, resultante da Dissertação apresentada ao Mestrado em Educação da Universidade Federal do Maranhão, no ano de 1995, declaro que aceitei a incumbência com grande prazer, por conhecerlhe bem o conteúdo e dele gostar bastante. E antecipo, o leitor está diante de um trabalho de nível elevado pelo rigor na condução da pesquisa efetivada para realizá-lo, bem como pelas interpretações de conclusões às quais a sua autora chegou.”

Esse Prefácio para mim é motivo de grande honra na minha carreira de estudante; é motivo de muita alegria;

Um outro encontro marcante se deu quando recebi de Marlene Caldeira, sua esposa, o livro por ela autografado “Dois estudos: os discursos de Japi-açu e Momboré-uauçu e Vadiagem no Maranhão, 18001850: São Luis: EDUFMA, 2004,” por encontrar uma brilhante análise desses discursos que estão no livro de Claude d'Abbeville, meu patrono no IHGM.

Outro encontro diz respeito ao que teve com o acadêmico Benedito Buzzar, que está entre os contemplados com o título de Sócio Honorário do IHGM, e foi o acadêmico que o recepcionou na AML.

Nesse rol de encontros, não posso deixar de mencionar o acontecido nesta Biblioteca Pública Benedito Leite, considerando que quando a família buscava um local para receber o acervo bibliográfico de Caldeira, Aline Nascimento, a sua diretora, indicou o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão e atualmente a própria Aline é sócia Efetiva do IHGM.

Outro encontro maior, é este, com todos nós, nesta homenagem a ele e a todos os nomes ilustres aqui reunidos e, ainda, com a presença de dois representantes da família Caldeira, a sua viúva, a querida Professora Marlene Caldeira, e o seu filho João Ricardo.

E, para finalizar, renovamos a nossa gratidão à família Caldeira, pela doação do rico acervo à Casa de Antônio Lopes. Isso porque a gratidão, além dos benefícios físicos, por estimular áreas do cérebro relacionadas ao prazer e à conexão social, fortalece os laços e inspira a união de forças. De fato, talvez seja este o grande benefício da gratidão: ela estimula o que temos de melhor na nossa natureza - a reciprocidade e o cuidado mútuo.

São Luís, 08 de julho de 2024.

Dilercy Aragão Adler

Presidente

COMPARTILHANDO "CARTA DE ACEITE" DO TRABALHO INTITULADO: MARIA FIRMINA DOS REIS E NLIDA PIÑON: DOIS ÍCONES DA HISTORIOGRAFIA LITERÁRIA NO BRASIL, BREVE ENSAIO, NO XIX SEMINÁRIO INTERNACIONAL MULHER E LITERATURA, NO RIO DE JANEIRO.

DILERCY ARAGÃO HOMENAGEADA COM A MEDALHA MARIA FIRMINA DOS REIS EM GUIMARÃES-MA

A PREFEITURA MUNICIPAL DE GUIMARÃES, MARANHÃO OUTORGA NESTE SÁBADO (17), A DIVERSAS AUTORIDADES A MEDALHA MARIA FIRMINA DOS REIS PELOS RELEVANTES SERVIÇOS PRESTADOS À CULTURA DO MUNICÍPIO.

A PRESIDENTE DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO PROFESSORA DOUTORA DILERCY ARAGÃO SERÁ UMA DAS HOMENAGEADAS.

O PREFEITO DE GUIMARÃES OSVALDO LUÍS GOMES FARÁ A ENTREGA DAS COMENDAS

EM GRANDE EVENTO FESTIVO.

HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/P/C-XMANBOBDH/?IGSH=ZWL0BTK2NMVUY2CZ

A LISTA DOS NOTÁVEIS - SERÃO CONTEMPLADOS COM A MEDALHA MARIA FIRMINA DOS REIS, NA CERIMÔNIA:

ALGEMIRA MACEDO, ESCRITORA E PROFESSORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI); JOSÉ NERES, ESCRITOR E MEMBRO DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS (AML); HERBERT DE JESUS SANTOS, JORNALISTA, POETA E PROSADOR; RÉGIA

AGOSTINHO, ESCRITORA E PROFESSORA DA UFMA; ANDRÉA OLIVEIRA, JORNALISTA E ESCRITORA; DILERCY ADLER, POETISA E PRESIDENTA DO INSTITUTO HISTÓRICO DO MARANHÃO (IHGM); NATIVIDADE SILVA, ESCRITORA E DA ACADEMIA JOAOLISBOENSE DE LETRAS; ANITA MACHADO, ESCRITORA, DIRETORA EXECUTIVA DO INSTITUTO DA COR AO CASO; IRAMIR ARAÚJO, ESCRITOR; JOSIAS SOBRINHO, COMPOSITOR E CANTOR; CHICO SALDANHA, COMPOSITOR E CANTOR; JOSÉ EWERTON NETO, ESCRITOR E DA ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS; E WAL PAIXÃO, ARTISTA VISUAL.

Hoje no desfile de 7 de setembro,. no pelotão da Associação dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira-ANVFEB, em homenagem à memória de todos os pracinhas, entre eles o meu amado pai, Francisco Dias Adler.

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A Frente Parlamentar em Defesa da Cultura e da Economia Criativa da Assembleia Legislativa do Maranhão realizou, na tarde desta quarta-feira (11), a quarta reunião de trabalho do colegiado. Na pauta, a apresentação dos programas e projetos do Governo Federal em execução no Maranhão, a partir do Escritório do Ministério da Cultura (MINC) no Estado.

Presidida pelo vice-presidente da frente parlamentar, deputado Rodrigo Lago (PCdoB), a reunião contou com as presenças de especialistas, autoridades e representantes do setor cultural que puderam expressar dúvidas, avançar nas discussões acerca das políticas públicas em vigor, bem como sobre novas proposições para a área.

Coube ao coordenador do Escritório do Ministério da Cultura no estado, Paulo Jorge Sabá Neto, fazer a apresentação das políticas federais de cultura no Maranhão. Criada em setembro de 2023, a representação local do MINC tem como missão garantir à população o direito de fazer cultura, usufruir e acessar os bens e serviços culturais e participar das políticas culturais do país, enfrentando as desigualdades e promovendo a diversidade cultural.

(17/09), na AMEI, no lançamento da Antologia "Mural das Minas", organizada pelo Prof. Dr Marcos Fábio da UFMA.

São 50 escritoras (e eu, muito honrada, em estar entre elas). Prefácio do acadêmico (da AML e ALL), José Neres.

DILERCY ARAGÃO ADLER

Fundador do Jornal Pequeno, o jornalista Ribamar Bogéa terá a sua trajetória de vida retratada no livro “O Guardião da Liberdade”, que será lançado nesta quarta-feira, dia 18, na Galeria Trapiche, Praça Dom Pedro II, no Centro de São Luís, às 18h.

Autor do livro, o jornalista Vinícius Bogéa aliou os laços familiares e uma vasta pesquisa para compor a saga do avô, que fundou o JP no ano de 1951, na efervescência da "Ilha Rebelde" para se tornar um marco de independência e luta pelas causas populares. Como o próprio fundador ressaltou, um veículo de comunicação criado para ser “O Órgão das Multidões”.

Vinícius ressalta que a ideia de escrever o livro baseado na história do avô era antiga, e foi amadurecendo ao longo dos anos: “Desde quando escrevi o meu primeiro livro, em 2006, surgiu a intenção de retratar toda a trajetória do meu avô, mas eu sabia que seria um trabalho complexo, por todo contexto histórico envolvido. Aos poucos, comecei a pesquisa, entrevistei muitas pessoas, e minha avó, Hilda, foi uma fonte preciosa para concluir o projeto”, detalhou o autor.

Apesar de se tratar de uma biografia, Vinícius Bogéa utilizou sua experiência como escritor romancista para fornecer um clima de leveza à obra: “Trata-se de uma biografa romanceada, como se fosse um conto baseado em todo contexto político e jornalístico ao qual a vida do meu avô está inserida. Ribamar Bogéa não é apenas um personagem local, mas, sim, uma referência que influenciou toda uma geração. O livro é um documento histórico para retratar toda essa trajetória de luta e resistência”, frisa.

Falecido no dia 4 de março de 1996, Ribamar Bogéa deixou um legado extenso ao jornalismo maranhense, que poderá ser conferido nas páginas de O Guardião da Liberdade, livro editado pela VB Editora. Idealizador da obra, Vinícius Bogéa é membro da Academia Ludovicense de Letras (ALL) e Academia Maranhense de Cultura Jurídica, Social e Política (AMCJSP). É autor ainda de outros seis livros; Roubando Sonhos (2006), Céu de Ilusões – Sobre Crimes e Artes (Vencedor do Plano Editorial Secma, Prêmio Gonçalves Dias, categoria Novela, em 2008), Diário Oculto (Primeiro lugar no Concurso Literário Cidade de São Luís, Romance, 2009), Belo Maldito, publicado pela Editora Novo Século, em 2014, Vendeta (de 2018, a continuação de Diário Oculto), e Solidão de Aço, lançado pelo selo Autografia, em 2020.

construindo pontes

Que nuestra latinidad no sea solo un nombre, que signifique hermandad entre todos los hombres. Aproximemos las naciones, salvando abismos y mares, y al flamear de pabellones, el mundo sienta los cantares.

HéctorPastorín

É com inenarrável júbilo que apresentamos esta “II Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil: construindo pontes”, que está sendo lançada em Manaus, capital do estado do Amazonas/Brasil,nobojodaprogramaçãodo“VEncontroNacionaldaSociedadedeCulturaLatinadoBrasilSCLB”. Igualmente a organização e o lançamento desta Coletânea integram as comemorações dos 36 anos de fundação da SCLB e dos 19 anos da Sociedade de Cultura Latina do Amazonas-SCLAM, neste ano de 2024. Antes denos reportarmosàColetânea,propriamentedita, faz-se mister uma apresentação sucinta da SCLB para aqueles que ainda não a conhecem. No art. 1° do seu Estatuto, a Sociedade de Cultura Latina do Brasil se define como "uma entidade civil, sem fins lucrativos, devendo difundir, divulgar e, primordialmente, lutar pela democratização da cultura brasileira.” Em seu parágrafo único explicita: “Por Democratização da cultura entendem-se formas de propiciar educação ao povo brasileiro, de boa qualidade e que atenda a demanda da população.” E entre as suas finalidades, consta a promoção de atividades culturais: literárias, artísticas, esportivas e folclóricas, tendo em vista incentivar e fortalecer a confraternização entre os povos latinos, em particular, assim como entre as demais nações.

É este, portanto, o objetivo precípuo desta publicação: “construir pontes”... pontes entre pessoas, grupos e nações. E essa missão apresenta-se como essencial, considerando o passado na construção da nossa “dita civilização” , e o próprio presente, considerando que ainda hoje alguns países ambicionam impor-se arbitrariamente a dominar outras nações por meio da força material e ideológica

Diante disso, é importante exortar a necessidade de paz, pois ao construirmos pontes, elos, entre os povos, almejamos que a intolerância, o individualismo, a cupidez, o culto ao dinheiro e ao poder, que dele advém, se diluam. Nessa construção está incluído o amor à natureza, o cuidado com as matas, as águas de rios e oceanos e com a atmosfera; tudo, enfim, que constitui o ecossistema do planeta terra, porque ele também se rebela frente ao uso inadequado da sua riqueza que nos é ofertada gratuitamente.

Assim, achamos por bem, e até inspirados no contexto ambiental deste rico e glamouroso estado do Amazonas, dedicar esta nossa produção literária aos povos originários, tão explorados ao longo da construção da vergonhosa e controvertida história da humanidade. Mas, observamos também que, concomitantemente, essas nações insurgem-se com força hercúlea na defesa da própria existência e tradição.... E, apesar de tudo, apresentam-se resilientes lidando com as adversidades e superando problemas com certa leveza e sabedoria, buscando reescrever o seu destino. Por isso a elas o nosso respeito e o nosso louvor!

No tocante à produção de antologias pela Sociedade de Cultura Latina do Brasil, a primeira, intitulada "Terceiro Milênio", foi lançada no ano de 2001, coordenada pela então Presidente da Instituição, Maria Aparecida de Mello Calandra, e dedicada ao Dr Joaquim Duarte Baptista, fundador desta entidade em Portugal e no Brasil. A segunda Antologia, intitulada: "I Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina do Brasil: construindo pontes", integrou a comemoração dos 30 anos de fundação da SCLB, lançada em 2018, organizada por esta presidente Dilercy Aragão Adler. Essa Coletânea Poética foi dedicada (in memoriam) a todos aqueles que, àquela data, não se encontravam mais neste plano físico edeixaram saudades e imensurável

legado na história da SCLB, a saber: Joaquim Duarte Baptista, Sebastião da Silva Barreto, Antonina de Almeida (Nina Almeida), Ênio Teodoro Wank, Abel Pereira, César Maranhão, José Chagas, José de Ribamar Caldeira, Maria Tribuzzi, Virgínia Rayol e ao poeta e ativista cultural francês, Jean Paul Mestas, sendo esta (II Coletânea Poética da Sociedade de Cultura Latina: construindo pontes), por conseguinte, a terceira Antologia da SCLB.

Mais uma vez entoamos um cântico de louvor à poética cultura Latina desejando que ecoe no mundo a partir do solo amazônico desde a Samaúma ou Sumaúma, “mãe-das-árvores”, também chamada de “árvore da vida” ou “escada do céu” , pois pode atingir até 70 metros de altura e três metros de diâmetro de caule. É tembém conhecida como “rainha das matas” e” árvore da vida”, designação a ela atribuída por sua grandeza e por ser também a árvore mais simbólica da região amazônica. Paralelamente, partindo das águas, destaca-se a Vitória Régia, uma planta aquática que desempenha papel fundamental no ecossistema amazônico. Suas folhas largas criam sombra valiosa para peixes e outros organismos aquáticos, proporcionando abrigo contra predadores e proteção contra a forte luz solar tropical Ambas são inconfundíveis por sua beleza, utilidade e simbolismo!!!

Que esta leitura possa reavivar em nós a beleza do nosso mundo, que só tem sentido com a sua flora, a sua fauna e os seres humanos convivendo em plena harmonia!!!

Bom Encontro para todos nós e Boa Leitura!

São Luís, 25 de setembro de 2024.

Dilercy Aragão Adler

Presidente da Sociedade de Cultura latina do Brasil Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras

ARTIGOS & NOTAS

A VIDA EM UMA CAIXA DE CHOCOLATES

-Envelhecer é um processo extraordinário em que você se torna a pessoa que você sempre deveria ter sido. Só me senti inteiramente livre para tomar as decisões mais difíceis, com autonomia, agora, aos 60 anos. Tenho a sensaçãodequeestavamepreparandoparaisso”,medisseumaamigaquecompletouessaidaderecentemente.

Vaidosa, bem cuidada, encontrei-a no lançamento do livro de um amigo em comum.

Fazia tempo que não a via. Fomos próximo no passado. Me disse que morou por bom tempo em Curitiba e, que no final do ano passado voltou a morar na Ilha do Amor. Retornou para São Luís para cuidar da mãe que está com Alzheimer.

Após o lançamento do livro, nos encaminhamos para uma cafeteria próxima.

Ela me diz que tem menos tempo para viver do que o tempo que o vento levou. Falou do casamento desfeito, dos filhos já adultos. Enfim, da vida.

-Sinto-me como uma criança que ganhou uma caixa de chocolates. Quero comê-los e, ao ver que não sobrou muito, começo a degusta-los como uma iguaria, disse-me com olhar expressivo.

-Não tenho tempo para conversas intermináveis e nem para discursões inúteis, pois nada vai mudar. Não tenho tempo e nem saco de discutir com tolos infantilizados. E, não há mais tempo para brigar com o cinza. Não participo de reuniões onde os egos estão inflados; não suporto manipuladores.

Pergunto se já se aposentou.

-Sim, estou aposentada, fui professora por trinta anos. Estava exausta.

-Fui diagnosticada com Burnout, e disse pra mim ‘hora de parar’.

-No trabalho, não tinha mais estrutura para lidar com os invejosos, que nada fazem para mudar suas resumidas vidas, e se incomodam com os outros que têm planos e projetos novos.

-Tenho pouco tempo para discutir questiúnculas; minha alma tem pressa. Não sei quanto tempo de vida, -com saúde, tenho pela frente. Restam poucos chocolates na caixa.

-Estou interessada em pessoas simples, que conversam prestando atenção. Em relações fraternas. Não tenho mais idade para impressionar ninguém. Acho que pessoas que riem dos seus próprio erros são mais autênticas.

Gosto de gente elegante, compromissada, que não foge de suas responsabilidades. As que defendem a dignidade humana e querem estar do lado da verdade. Acho que é para isso que serve a vida.

-Quero me cercar de pessoas que saibam tocar o coração dos outros. Que, através dos golpes do destino, souberam elevar-se e manter a suavidade da alma.

E, ela continua.

-Sim, tenho pressa, tenho pressa de viver com a intensidade que só a maturidade pode dar. Comerei todos os chocolates que sobraram, pois terão um sabor melhor do que os que já comi antes.

-Meu objetivo é chegar ao fim dessa jornada chamada vida, em harmonia comigo mesma; tendo por perto quem gosta de mim, quem me aceita como sou, sem forçar a barra.

Olhei para aquela mulher: observei sua serenidade, contemplei sua beleza, pensando no que ouvira, concordando que o bom de se chegar no outono da vida é vivermos em plenitude com o que gostariam de ser. Nunca é tarde para se tornar o que você poderia ter sido.

Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante: o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. ABLAC, Academia Barreirinhense de Letras, Artes e Ciências, ATHEAR, Academia Atheniense de Letras e Artes

A História Conta Especial Leopoldo Vaz: texto "Sociedade dos Poetas Esquecidos" resgata Aurora Felix

EspecialLeopoldoVaz:texto"Sociedade dosPoetasEsquecidos"resgataAurora

Felix

Leopoldo Gil Dulcio Vaz é da Academia Poética Brasileira. 07/07/2024 08h34Atualizada há 12 minutos

Por: Mhario LincolnFonte: Leopoldo Gil

AobradapoetaAuroraFelix.Encantadora. AURORA CORREIA LIMA FELIX

Por LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Em nossa busca por aqueles poetas que pertencem à Sociedade dos Poetas Esquecidos – em contraposição à Sociedade dos Poetas Mortos – e aproveitando o dia, apresento AURORA CORREIA LIMA FELIX.

Nasceu em São Luís do Maranhão, a 15 de setembro de 1919. Fez o curso preparatório no antigo Liceu Maranhense, onde foi aluna de Nascimento de Moraes, Mata Roma e Rubem Almeida, eméritos professores e homens de letras. Formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de São Luís, em 1940, tendo escolhido a carreira do Ministério Público. Serviu como promotora de Justiça nas comarcas de Flores, Rosário e Codó, respectivamente de primeira, segunda e terceira entrâncias, sendo depois promovida para a Comarca da Capital, de quarta entrância. Desta foi afinal promovida para o cargo de Procurador de Justiça do Estado, o último cargo de sua carreira -- no qual funcionou durante dez anos antes de se aposentar, por tempo de serviço, em 1973.

Escreveu seu primeiro poema aos 11 anos, mas os poemas da adolescência se perderam.

Publicou pela primeira vez alguns poemas no Anuário de Poetas do Brasil 1982 e 1983. O apresentador deste livro Dr. Ramiro Azevedo, “Toda a poesia de Aurora é uma exaltação mística: “Elevamos para o Azul/o nosso pensamento; ou a reafirmação do Bem Absoluto”... / “Ó formas, cores e sonhos/ que me encantam e me inspiram / O mundo é belo tal como aparece / aos nossos olhos / Isto me basta.” FÉLIX, Aurora Correia Lima. Poemas brancos. Capa: José Franklin. Apresentação: “Aurora e Lirísmo Místico”, pelo Dr. Ramiro Azevedo. São Luís – Maranhão SIOGE, 1988. 67 p.

Versos escritos à mão, no rodapé do poema PERCEPÇÃO”, no livro “Poemas brancos”, em 1968: “confundir-me na unidade infinita /de ser tudo e nada ser.”

In POETAS BRASILEIROS DE HOJE 1985. Rio de Janeiro: Shogum Ed. e Arte, 1985. 114 p. Ex. bibl. Antonio Miranda - MEUS OITO ANOS // A poesia vem com a tarde / que, lenta, desce do céu; / há sombras claras entre as mangueiras / e a leve areia zune sob um pé-de-vento, / a água é uma constante / como as espirais de fumo anunciando o jantar. // Tempo d´infância perdido / eu venho te procurar, / com meus pés de sonho eu piso / os caminhos doutra idade, / com os olhos do meu sonho eu busco as nuvens de carneirinhos / que em rebanho enchiam o azul. // Hoje tudo está mudado, / e eu mudei, já não sou; / serão de outras infâncias os caminhos que busquei.

NOSTALGIA AZUL // A janela aberta / mostra um retângulo do céu no entardecer, / um retalho de nuvens / suavemente azul: / belo, puro e distante / como a perfeição inatingível... // São Luís, no mirante em 20.O7.1957

É membro da Academia Anapolina de Filosofia, Ciências e Letras de Anápolis Goiás.

Nota do editor do Facetubes. Aurora Felix era casada com o irmão de minha mãe, Wilson Felix. Portanto, minha dileta tia. Convivi muito pouco com ela. Mas tenho, com dedicatória a minha mãe Flor de Lys Felix, seu livro "Poemas Brancos". Guardo-o com um significado imenso, na mais alta pratileira de minha bilbioteca do coração. Assim, uma das Salas Poéticas (será publicada na semana que vem) da APB, terá seu nome, honrosamente, em razão de ter sido (e ainda é) um dos grandes nomes da poesia maranhense, também esquecido para a Academia Maranhense de Letras, numa época em que homens, era maioria absoluta. Vale agradecer o confrade Leopoldo Gil (APB), por essa surpresa sentimental e importante resgate.

Aliás, abaixo, o prefácio completo do professor Ramiro Azevêdo, no livro "Poemas Brancos" e a reprodução de um dos poemas curtos (e fortes) de Aurora. Ela recitou esse mesmo poema em uma reunião de família na casa de Tio Vicente, no Tirirical, em meados de 63 ou 65. Não me lembro ao certo. Mas ficou na memória. O poema reproduzo abaixo, junto com a apresentação de Ramiro. (Mhario Lincoln).

ANGUSTIA

Não vejo mais a chama dessa rosa vermelha que o vento consumiu; ausente do mar distante, cujo fragor ainda ressoa nos meus ouvidos mortos, sem ti, perdida estou, onde e quando?

Em vão tento encontrar-me.

Prof. Ramiro.

AURORA E LIRISMO MÍSTICO

Ramiro Azevêdo (a).

Os anos não desfiguraram nem embotaram a poesia idilicamente expansiva, mas fincadamente mística e cristã, cristã, universalista, de Aurora Correia Lima Felix!

Seu comprometimento permanece único: Verdade, Beleza, Expressão.

Em todos os poemas respira-se luz, paz (ainda quando pervague ligeira agitação amorosa) exaltação do Belo e ternura cristã. O passar dos anos não lhe desfigurou o estro. Em 1934 escreveu.

Vês, ao longe, as montanhas, douradas pelo sol que morre?

Como são belas na sua grandeza impassível! Sentinelas do Infinito, a fronte nimbada de luz, tocando as nuvens, fogem do mundo enganador para as alturas.

Em 1979, trinta e cinco anos depois, escrevia ainda:

Ponde-me entre as mãos postas uma rosa vermelha ou amarela, as cores da alegria e na vitrola uma berceuse que eu apenas durmo e logo despertarei.

Toda a poesia de Aurora Correia Lima Felix é uma exaltação mística:

elevemos para o Azul/o nosso pensamento; ou a reafirmação do Bem Absoluto: As estrelas brilharão sempre, os mares rolarão suas vagas pela eternidade, a terra produzirá sementes que irão novamente fecundá-la e assim os homens mo e todos os seres viventes.

Mas também sai de Aurora, nossa tempestade habitual do viver cotidiano, um arrebatamento lírico, terno, forte:

Amo!

E sou feliz por viver deste amor, que deu a minha vida, apagada, sem cor, o brilho da primavera,

Há momentos em que o universalismo de Aurora transfigura-se num universalismo induísta:

... o profundo e apaixonado anseio de me dar inteiramente, de confundir-me na unidade infinita, de ser tudo e nada ser.

Diria, enfim, que, como Tagore, ela busca nas coisas pequeninas vários motivos para o seu estro, várias inspirações para lavrar sua poesia:

O Pato Selvagem Ei-lo:

Asas desfraldadas, em pleno voo; os pés retesados no esforço de subir.... Ó Liberdade. bendita liberdade.

Paisagem:

Um perfume de trevo na límpida manhã, de céu azul e o sol dourado. 'Beautiful Night' Noite, toda vestida de estrelas, cheia de encantamento e mistério!.

(a) Dr. Ramiro Azevedo Professor da Universidade Federal do Maranhão

165 anos de Raimundo Correia, fundador da ABL

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O Acadêmico poeta Raimundo Correia, um dos fundadores da ABL, faria hoje - 13 de maio - 165 anos. Nascido nas agitadas águas da Baía de Mangunça, Arquipélago de Maiaú, município de Cururupu, nas Reentrâncias maranhenses, era, segundo Manuel Bandeira, o “maior artista do verso que já tivemos”.

Natalino Salgado Filho, médico nefrologista, professor universitário, ex-reitor da Universidade Federal do Maranhão, membro titular da Academia Nacional de Medicina e integrante da Academia Maranhense de Letras, ocupante da cadeira 16, cujo patrono é Raimundo Correia, escreveu um texto sobre a vida e a obra desse grande artífice da palavra.

165 anos de nascimento de Raimundo Correia

Natalino Salgado Filho

Em 13 de maio de 1859, veio ao mundo Raimundo de São Luís de Azevedo Correia Sobrinho, eternizado como Raimundo Correia, durante uma viagem marítima de Turiaçu à capital do Maranhão, a bordo do vapor São Luís. Nasceu aos sete meses, embalado ao ritmo das águas da Baía de Mangunça, Arquipélago de Maiaú, município de Cururupu, nas Reentrâncias maranhenses.

Por onde Raimundo passou, provocou gratas surpresas. A começar pela família, com seu ingresso prematuro, alegre e ruidoso; depois, nos colegas e amigos da Faculdade de Direito de São Paulo que leram, em primeira mão, seus versos sérios e suas composições jocosas desconcertantes que fez estampar nos jornais acadêmicos; e, por fim, no público e na crítica, quando se renderam ao seu talento poético, consagrando-o como fenômeno raro de fina poesia.

O zelo do industrioso artífice da palavra mereceu de Manuel Bandeira esta honrosa apreciação: “é o maior artista do verso que já tivemos”. Ou mesmo esta de Ronald de Carvalho: “entre os românticos não houve um só poeta que tivesse a profundidade da arte de Raimundo.” Ou ainda esta outra, de Carlos de Laet, que a ele se referiu como “o mais completo e significativo símbolo da perfeição, e não somente no soneto, como em tantas outras formas de expressão poética”.

Bastante conhecido no meio literário nacional de fins do século XIX, o originalíssimo poeta de Sinfonias foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de n.º 5, cujo patrono é Bernardo Guimarães. E já às vésperas do aniversário de 165 anos de nascimento de um dos virtuoses de nossa literatura, trazemos algumas linhas sobre sua vida e obra, de modo a prestar tributo à sua memória e, especialmente, a seu brilhante legado poético.

AtrajetóriadeRaimundo Correia estevedivididaem duas frentes, umamais exigenteque aoutra: ado Direito, que lhe garantiu o pão de cada dia, e a da poesia, a alimentar-lhe a alma. As leis e os tribunais foram a espinha dorsal de sua família paterna, a cuja tradição não escaparia o próprio poeta parnasiano. Pelo menos cinco gerações de familiares graduaram-se nos bancos da Universidade de Coimbra. Entre esses estão seus tetravô, trisavô, bisavô, avô e pai; assim como formados em escolas brasileiras de ciências jurídicas constam tios, primos e um irmão. Seu pai, José da Mota de Azevedo Correia, foi advogado, político, promotor, juiz e desembargador. Maria Clara Vieira da Silva, sua mãe, descendia de rica e influente família do Maranhão. Ele cresceu em lar de educação rigorosa. No início da vida escolar, teve carolas e sacerdotes por professores, para os quais a boa educação dependia menos da qualidade do aprendizado do que da quantidade de tarefas e

castigos aplicados aos deslizes. Juntou-se ao conjunto de sua formação a devoção fervorosa dos familiares à fé católica. Raimundo cursou o ensino médio no Imperial Colégio de Pedro II, no Rio de Janeiro, tempo em que já se via atraído por grandes obras da literatura e ensaiava os primeiros passos na arte de versejar.

Ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo em 1878, e deixou-a em 1882, com o título de bacharel. O que ele viveu nos espaços acadêmicos foi intenso e transformador. Raimundo entrara no curso um conservador, na política, e um romântico, nos versos; ao deixá-lo, era republicano, na política, e parnasiano, na arte poética. Naquele tempo, a faculdade da Pauliceia era um caldeirão em plena ebulição, fustigado pela onda “revolucionária” republicana, e contrário a tudo que cheirasse a regime imperial, inclusive as orientações vindas da escola romântica, que tantos serviços prestara à causa da Monarquia. Raimundo publicou diversas poesias nos jornais da Faculdade, assim como versos jocosos, que achincalhavam com qualquer um, dos amigos mais próximos a personalidades e autoridades do Império.

Tornara-se conhecido e apreciado, na Faculdade, como poeta talentoso. Mas não se dedicava aos estudos. Diziam os muito próximos que ele era um notório vadio. Ali encontrara o espaço, e as motivações, para se entregar, sem meias medidas, à torrente incontrolável do labor poético. Salvava-o, nos afazeres acadêmicos, a inteligência fina, a primorosa organização intelectual (clara, lógica, ousada) e a rara capacidade de memorizar uma enxurrada de escritos e de saber utilizá-los com precisão.

Raimundo conseguiu juntar, da minguada mesada enviada pelo pai, o dinheiro necessário para publicar seu primeiro livro. Contratou os serviços da tipografia da Tribuna Liberal, que lhe imprimiu os Primeiros sonhos, lançados em meados de 1879. O primeiro de vulto a ressaltar o talento do poeta-infante foi Machado de Assis. O Bruxo do Cosme Velho viu em seus versos, malsaídos da adolescência, o “cheiro romântico da decadência” e certa “flacidez”, mas em meio às fragilidades e afetações, percebeu a fluidez, assim como “o movimento e a melodia” que surgem de cada estrofe, a marcar a fina presença da individualidade do poeta.

Raimundo deixou a Pauliceia em direção à Corte em dezembro de 1882, para iniciar a caminhada que o levaria à magistratura. No início desse ano, lança seu segundo livro de poesias, as Sinfonias. O opúsculo veio prefaciado por Machado de Assis, e dedicado ao amigo Valentim Magalhães. Fez enorme sucesso, e foi a mais bem-sucedida obra do poeta nascido em águas maranhenses. A maior parte das poesias de Raimundo que conquistou a alma popular pertence a este livro, como o “Mal Secreto”, “O Anoitecer”, “O Vinho de Hebe”, “Plena Nudez”, “A Cavalgada” e, a mais lembrada de todas, “As Pombas”. Esta composição foi reproduzida em diversos jornais do país, uma ou mais vezes. O soneto inspirou toda uma série de decalques e paródias, que deixaram o poeta irritado, a ponto de Raimundo não mais falar dele.

Então com 23 anos, escreveu o biógrafo Valdir Ribeiro do Val, Raimundo já era um “poeta-filósofo”, a pressagiar o “grande poeta-filósofo” de nossa língua, só equiparável a Antero de Quental. Raimundo revelarase um agudo e sensível garimpeiro dos dramas humanos da consciência. De sua pena privilegiada desabrocharam encantadoras composições de filosofia pessimista. Mas o poeta não só cantou as dores de consciência e os flagelos da amargura. Não. Seu segundo livro mostra composições vivas e alegres, como os sonetos “No Jardim”, “Na Penumbra”, “Après le Combat” que trazem notas um pouco mais ousadas, ainda que o pudor as domine.

Em 1883, assumiu as funções de promotor público, em São João da Barra, no litoral Norte fluminense. Passou um ano e meio na cidade litorânea. Deixou-a por causa de um novo encargo: foi nomeado juiz de direito da comarca de Vassouras. Antes, porém, resolveu se casar com Mariana de Abreu Sodré. A cerimônia ocorreu em 21 de dezembro de 1884, na fazenda Aurora, em São Vicente Ferrer, município de Resende. Ele com 25 anos, ela com 20.

A vida em Vassouras favoreceu bastante suas atividades literárias. O ambiente se agitava com os escritores locais, também amantes da literatura, que publicavam nos jornais vassourenses. Em 1886, Alberto de Oliveira visita Raimundo Correia, e decidem escrever juntos o folhetim intitulado “Olavo Bilac”, em que apresentaram o vate de vinte anos aos leitores do Vassourense. Alguns anos depois, os três poetas formariam a conhecida “trindade parnasiana”. Mas ali, naquela quadra, nenhum deles poderia ser tido como parnasiano, na exata expressão da palavra.

Neste ponto, é preciso assinalar que o autor de Sinfonias foi originalíssimo, e pouco do que compôs se enquadra nos estritos moldes do parnasianismo, em que prevalece o impessoalismo doutrinário, a substituição do subjetivo pelo objetivo. No afã de eliminar da matéria poética qualquer extrato emocional do eu lírico, a escola francesa pretendeu deixar, em seu lugar, a descrição do meio ambiente, a correção gramatical e de estilo. Ele nunca aceitou tais princípios e, algumas vezes, queixou-se aos amigos de que os produtos parnasianos “são aleijados e raquíticos”, “literatura tão falsa, postiça e alheia da nossa índole” e “pressinto-o, é uma triste e lamentável esterilidade”. Raimundo jamais abriu mão de pôr-se por inteiro em sua poesia, tanto que se disse ser, ele, um parnasiano lírico ou um lírico parnasiano.

Em São Paulo, Olavo Bilac fez a revisão das provas do novo livro de Raimundo Correia, Versos e versões. A obra saiu em junho de 1887, e foi um acontecimento literário da maior expressão. Os amigos que moravam no Rio de Janeiro fizeram-lhe uma honrosa homenagem, quando lhe ofereceram um almoço no Hotel Globo, em 3 de julho de 1887, em que compareceram diversas personalidades do mundo artístico-literário. Com o lançamento de Versos e versões, o poeta passava a integrar a galeria dos nossos mais distintos escritores.

Em 1889, despediu-se do município serrano em meio a muitos protestos de estima, e lhe prestaram calorosas homenagens. Em 22 junho, Raimundo foi nomeado secretário da Presidência da Província do Rio de Janeiro, queocupou atéaderrubadadoGoverno Imperial, pelos militares, em novembrodaqueleano.Então, ogoverno federal nomeou-o juiz de direito da comarca de Santa Isabel, São Gonçalo do Sapucaí, Minas Gerais. Enfermo dos olhos, em agosto de 1891, Raimundo se dirigiu ao Rio de Janeiro, e lá permaneceu por 3 meses. Aproveitouestetemponacapitalfederalepublicouseuquartolivro, Aleluias.Aobra,porém,nãoentusiasmou o meio literário. Jornalistas, críticos e escritores quase nada disseram do mais recente cometimento do poeta. Em 1892, Raimundo é nomeado diretor da Secretaria de Finanças do Estado de Minas Gerais, na então capital Ouro Preto. E em dezembro daquele ano foi criada a Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais, em Ouro Preto,eRaimundosetornouumdeseuseducadores,primeirocomoprofessorsubstituto,e,emseguida,passou a professor catedrático de Direito Criminal. É nesta época que escreve um longo artigo sobre antiguidades romanas, que traz um denso e bem fundamentado apanhado sobre a história da cultura latina e suas instituições. O ensaio, porém, não foi concluído. Também foi incumbido de escrever uma memória histórica da Faculdade Livre de Direito, que compreendeu o período letivo de 1894 a 1895, e saiu publicada no segundo número da Revista da Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais.

Assoberbado, queixava-se à família e aos amigos de haver abandonado a lida poética. Eram seis horas diárias de trabalho na Secretaria de Finanças, sem descanso e sem férias, as aulas na Faculdade, os estudos de Direito. Dedicava-se, então e por força das circunstâncias, à elaboração da prosa jurídica. Publicava versos, sim, mas somente os antigos, corrigidos, alguns de ocasião e os traduzidos.

Opoetatinhasaúdefrágil eadoecedeneurastenia, quandodeixa acapital dos mineirosem direçãoa Fortaleza, em busca de cura. Lá, encontra-se com diversos escritores, e firma algumas amizades de que jamais se esqueceria. Retornou ao Rio, em setembro de 1894. Em janeiro de 1895, Raimundo recebe o duro golpe da notícia do falecimento de seu pai, José da Mota de Azevedo Correia, na Corte.

Os ares da capital lhe fariam muito bem. Seu espírito fechado, macambúzio, concentrado em excesso se transformava em centros mais movimentados. Apreciava muitíssimo a companhia dos poucos e sinceros amigos, as conversas intermináveis nos cafés da cidade, em que se falava de literatura, recitava poemas seus e de outros, contava-se anedotas e casos. Nesses momentos de agradável irmandade, com velhos e queridos companheiros, nada tinha daquele sujeito esquisito e calado, cigarro entre os dedos, a fumar desesperadamente. Era outro homem. Sociável, falante, descontraído, espirituoso.

Na sede da Revista Brasileira, ele se encontrava com os escritores mais destacados do país, que haviam recentemente fundado a Academia Brasileira de Letras. E na última sessão em que se tratou da efetivação da ABL, no dia 28 de janeiro de 1897, fizeram-se presentes: Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Inglês de Sousa, Rodrigo Otávio, Silva Ramos, Escragnolle Taunay, Olavo Bilac, Lúcio de Mendonça, José Veríssimo, Teixeira de Melo, Graça Aranha, Artur Azevedo, Pedro Rabelo, Guimarães Passos, Araripe Júnior e Medeiros e Albuquerque.

Nessa mesma reunião foram eleitos os dez acadêmicos restantes: Aluísio Azevedo, Raimundo Correia, MagalhãesdeAzevedo, EduardoPrado,BarãodeLoreto,ClóvisBeviláqua,OliveiraLima,DomíciodaGama, SalvadordeMendonçae Luís Guimarães Júnior.E,então,sedeuporfundadaaAcademiaBrasileiradeLetras. A 20 de julho foi solenemente instalada, em sessão presidida por Machado de Assis, nas dependências do edifício Pedagogium, na qual a ABL funcionaria por muitos anos.

Em 1897, Raimundo deixa o país para prestar serviços em Lisboa, no cargo de 2º. Secretário da Legação Brasileira. Foi trabalhar com Assis Brasil, seu velho amigo de faculdade, nomeado Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário. No ano seguinte, resolveu publicar Poesias, em Lisboa, que contou com o prólogo assinado pelo escritor português João Câmara, e teve a revisão de Assis Brasil. O livro traz 100 poesias, quase todas publicadas em outros livros, excetuando-se as que constam de os Primeiros sonhos, sua obra inaugural. Seu cargo, na Legação em Lisboa, foi extinto, volta ao Rio de Janeiro em 1898, trazendo na mala um sério dilemaaresolver: estava desempregado.Esperava umpostonamagistratura.Passam-semeses.Esóconseguiu emprego no ano seguinte, quando foi nomeado vice-diretor do recém-criado Ginásio Fluminense, em Petrópolis. E em outubro de 1903, ele assume o cargo de pretor do Distrito Federal. Ao sair de Petrópolis, retornava à magistratura, após afastamento de mais de dez anos. Em janeiro de 1907, o poeta e magistrado foi nomeado juiz de direito da 2.ª Vara Criminal.

Naqueles anos, o vate andava melancólico, irritado. O número crescente de processos, de audiências e julgamentos tomavam tempo demais, deixando-o inquieto, perturbado. O poeta não mais criava. Além disso, a saúde delicada de Raimundo preocupava a família. Aqui e ali era acometido de alguma doença que o inabilitava por dias.

A família, então, decidiu partir para a Europa, no navio Amazonas, em maio de 1911, em busca de cura para o marido e pai carinhoso. Deixava o país em direção a Paris, adoecido pelo acúmulo de ureia no sangue. Mas ele estava não só doente do corpo, seu espírito andava flagelado. Viajou à cidade de Émile Zola desiludido de tudo, a alma amarga de pessimismo e melancolia, e com o sobrepeso das crises de uremia a castigá-lo sem piedade.

O tratamento avançava, enquanto aumentava a confiança de que logo voltaria ao Brasil. Passeava pela cidade parasedistrair,sempre acompanhadodaesposaedas três filhas: Lavínia,StelaeAlexandrina.Foi aLausanne, na Suíça, à procura de tratamento mais eficaz, e de lá retornara melhor, aumentando as esperanças de plena recuperação

Mas a doença inclemente não dava trégua, e, dois dias depois de voltar da Suíça, os olhos do poeta fecharam de vez, às 23 h do dia 13 de setembro de 1911. Morreu reclinado no ombro de sua Zinha, a companheira amantíssima que estivera a seu lado até o último suspiro. Na manhã do dia seguinte, o corpo foi trasladado para a Église Saint-Augustin, e lá permaneceu até o dia 20 de setembro. Neste dia rezou-se missa de corpo presente, e em seguida o corpo desceu à sepultura no Cemitério de Saint-Ouen.

Os jornais de todas as regiões de nosso país repercutiram a notícia da morte do poeta de Versos e versões, prestando homenagens ao artista e juiz. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal renderam-lhe tributos, e falaram em nome das casas legislativas os deputados Augusto Lima e Rodolfo Paixão.

Os seus restos mortais permaneceram na Cidade das Luzes até 1920, quando foram trasladados para o Brasil por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, e depositados em jazigo, no Cemitério de São Francisco Xavier, Rio de Janeiro.

Raimundo nunca foi homem de posses. Viveu de seu trabalho, mas deixou um gigantesco patrimônio: a honradez de seus méritos de homem da Justiça e a riqueza de seus versos.

Ao se encerrar o ligeiro apanhado da vida e obra de um dos versejadores mais brilhantes de nossa literatura, trago à lembrança uma passagem que dá uma pálida ideia de que matéria foi feito o escritor de que estivemos falando. Quando Raimundo Correia publicou, em Lisboa, a 2.ª edição das Poesias, em 1906, aplicou-lhe algumas correções, burilando, com cuidado, as imperfeições que mais o incomodavam. Fez, como assinalou Valdir Ribeiro do Val, o papel de crítico literário de sua própria produção. Por essa, e por outras de mesma importância, é que se pode dimensionar a sua consciência de engendrador refinado de versos. A mudança de

um pronome,deum verbo,aretirada deuma palavra,a menor alteraçãodaformamuda aintensidade do verso, dão ritmo à estrofe, o que demonstra percepção literária no mais elevado grau.

Por aí se entende melhor o trecho poético, publicado em Versos e versões, em que Raimundo aconselha Olavo Bilac, então com 20 anos de idade: “Tu, artista, com zelo, / esmerilha e investiga”. O fragmento ilustra, em síntese exemplar, o modus como o poeta Raimundo Correia entendia o seu labor e o fruto de seu empenho literário.

Devotou-se, com todas as energias, à palavra impressa, a que se perpetua, atravessa séculos, sulcada em letra de forma e sangrada em tinta tipográfica. Nunca foi homem de improvisar palavras, quando se tratava de reproduzi-las em boa quantidade de papel. Raimundo não nascera para a palavra pouco refletida. Tinha também ojeriza de discursos longos, de preleções cansativas, assim como não gostava de falar em público, muito em razão de sua personalidade retraída e índole exigente. Talvez por isso, e por causa disso, fosse escrupuloso demais com o que escrevia para dar-se ao descuido da palavra pública engastada de última hora. Ele era obcecado pela forma perfeita, essa espécie de figura metafísica que consome todo perfeccionista. Ediferentedo quemuitos imaginaram, os versosnuncalhevieram fáceis. ContaGastãoEscragnolle, em artigo intitulado “Raimundo Correia”, publicado no Jornal do Comércio, logo após a morte do poeta: “Certa vez, na rua do Ouvidor, pensando lhe ser agradável, alguém lhe observou: Ora, isso para o senhor é tão fácil como fazer versos.” Meigamente revolto, Raimundo replicou: “Fácil, fácil, quem lhe disse tal? Meu amigo está enganado, perdoe-me. O verso me custa muito a fazer.”

Raimundo esculpia os versos horas a fio com obstinada paciência. Derramava-se sobre eles devagar, polindoos com sofrimento e pertinácia, no silencioso combate íntimo entre a ideia e a forma, até entregá-los nítidos à apreciação alheia.

SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM AO PROF. DR. NATALINO SALGADO FILHO pela consagrada carreira de Médico e Professor Universitário, destacando sua contribuição intelectual e pedagógica na construção e desenvolvimento das Ciências no Maranhão e no Brasil. Evento realizado pela Academia Maranhense de Ciências.

Renata da Silva de Barcellos Professora de Literaturas (CEJLL -NAVE RJ)

“O amor e a literatura coincidem na procura apaixonada, quase sempre desesperada, da comunicação.” (JORGE DURAN)

RESUMO

O objetivo deste trabalho visa entender como se estabelecem as relações entre leitor e literaturas afrobrasileiras (a obrigatoriedade do ensino das histórias e das literaturas: Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e, posteriormente, com a Lei 11 546, de 19 de novembro de 2007) através dos processos de ensino-aprendizagem de educação literária. Metodologicamente, os alunos do terceiro ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual José Leite Lopes Lopes/ NAVE RJ (esta instituição oferece um Ensino Médio integral - das 7:00 às 17:00 - e integrado à educação profissional: Mídias digitais e Programação de jogos, resultante da parceria entre a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro com o Instituto OI Futuro) são motivados a lerem as obras dos autores apresentados e realizarem um trabalho a partir do processo da retextualização, cuja definição oi realizado o é a produção de um novo texto a partir de um ou mais textos-base (MARCUSCHI, 2001). Com os resultados, constatou-se que, a partir de cada análise, é preciso trabalhar educação literária, estimular o hábito de leitura e desenvolver as habilidades de leitura e de produção textual. E também se observou a urgência da percepção de que as Literaturas Afro-brasileiras são essenciais para se refletir sobre a condição de vida do homem naquele dado contexto social. É uma ferramenta importante de conscientização e de reivindicação de direitos humanos. Para isso, partimos do conceito de educação literária proposto por Cyana Leahy-Dios (2004), bem como as contribuições de Marisa Lajolo (2002), Tereza Colomer (2007), Rildo Cosson & Graça Paulino (2009). [...]. Apresentaremos propostas de práticas pedagógicas para o desenvolvimento desta habilidade.

I- EDUCAÇÃO LITERÁRIA AFRO-BRASILEIRAS

Para uma brevíssima reflexão sobre educação literária, partimos do conceito proposto por Cyana Leahy-Dios (2004), bem como as contribuições de Marisa Lajolo (2002), Tereza Colomer (2007), Rildo Cosson & Graça Paulino (2009) para a temática aqui discutida. Podemos defini-la como aquela capaz de transformar pessoas em leitores competentes. Naqueles que não apenas entendem as palavras de um texto, mas também compreendem seu contexto e utilizam suas referências para apreendê-lo.

Educação literária é função não apenas das escolas, mas também dos responsáveis. Segundo Januária Cristina Alves (escritora com mais de 40 livros para crianças e jovens publicados no Brasil): “Todos somos os mediadores da leitura do mundo de nossas crianças”. Muitas crianças e adolescentes declaram gostar de ler. Mas não os livros propostos pela escola. Isso nos leva a determinados questionamentos: qual a relação do aluno com o livro proposto pela escola? Como as leituras são orientadas? Leem os originais ou releituras? São apresentados a eles os diversos gêneros literários: cordel, crônicas, contos, soneto, trova, Slam, microcontos, poesia visual... ?

Muitas vezes, o livro didático é único instrumento pela qual os estudantes terão acesso aos textos literários. Quando se refere aos romances, só a fragmentos. E quanto à compreensão e interpretação textual, asatividadespropostasproporcionamreflexãonoqueserefereaohomemno seutempo?Leva-os adepreender os recursos expressivos? A perceber as intertextualidades?... É preciso que o professor incentive a leitura literária. Hoje, as obras disponíveis em PDF, em releituras...

É urgente repensar o papel e o espaço da literatura não só na escola como também na vida do estudante para a formação literária e a cidadania. Estimulemos a leitura de textos diversos (desde os clássicos como Machado de Assis aos contemporâneos). Devemos trabalhar as diversas literaturas: brasileiras, indígenas e africanas. É preciso pôr em prática a legislação referente a estas duas últimas: lei nº 11.645, de 10 março de 2008 torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos

de ensino fundamental e médio. É um desafio para professores da Educação Básica abordar e refletir sobre a temática africana e afro-brasileira com o intuito de promover uma educação das relações étnico-raciais e a indígena. Nos últimos anos, a alteração mais significativa na LDB foi a que lhe acrescentou dois artigos referentes às Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico- Raciais da Lei 10.639/2003. O parágrafo 1º e 2º do Artigo 26 A e o 79 B afirmam que nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

Parágrafo 1º – O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do Brasil.

Parágrafo 2º – Os conteúdos referentes à História e Cultura 77 Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas d e Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Art. 79-B. O dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”.

Dessa forma, o ensino de literaturas na escola permite uma abertura na relação do objeto literário entre o mundo que este representa (o artístico, o ficcional, o poético...) e o mundo dos leitores reais. Quando isso ocorre, há transformações no espaço escolar, uma vez que atua na formação de leitores e, efetivamente, forma leitores. Assim, a experiência literária tanto pode sensibilizar o leitor para as questões artísticas quanto para as questões externas ao texto literário (de algum modo são inseridas, provocadas ou refletidas no corpo de um texto poético ou ficcional).

Quando há a conscientização de que a literatura é um produto social, o indivíduo compreenderá a leitura literária como um ato responsável, social, político. Capaz de promover a cidadania plena aos indivíduos. Sendo assim, a educação literária “ajudaria a construir ‘pessoas melhores’, no sentido de serem sujeitos mais competentes para validar a cidadania e nela se engajar buscando formação de comunidades democráticas” (LEAHY-DIOS, 2004, p. 233).

II. PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DAS LITERATURAS AFR0-BRASILEIRAS

Asliteraturas Afro-brasileiras têm como objetivo manterviva a memória deum povo, noseu tempo. Elaspodemexpressaroengajamentosocial,aexpansãodaimaginação,fazercompreenderos atosdas pessoas, observar os sentimentos delas, entretenimento... Com as literaturas, é possível analisar comportamentos e desvendar mistérios, relembrar fatos históricos... Haja vista que as suas funções são: estética, político social, lúdica, catártica e cognitiva. Assim, cada autor tem seu perfil.

É preciso que o aluno esteja diante de uma proposta pedagógica na qual as Literaturas sejam fonte de reflexão para o indivíduo explorar seu meio e criar seus sonhos e expectativas. Segundo TODOROV, elas “nos proporcionam sensações insubstituíveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe de ser um simples entretenimento, uma distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano.” (2009, p.24). Podemos viajar no tempo através do ato da leitura, pela simples satisfação de explorar as literaturas. Não compreender a função social delas e se restringir aos estudos literários (decorar autores e obras) pode levar o aluno-leitor ao desestímulo por não despertar o desejo pela leitura.

Urge discutir a diversidade de literaturas e de leitores, ao contrário, realizar atividades de interdisciplinaridade entre algumas áreas do conhecimento... Mas, na maioria das vezes (no público e ou privado), a realidade é: um desfile de referências soltas, as quais os alunos são obrigados a repetir em nome daquele modelo de educação literária. No ensino médio, infelizmente, também a disciplina restringe-se ao

biografismo e no historicismo monumentalista. Não se aprecia os escritores pelos seus textos, mas por acúmulo de informações sobre seus feitos e suas glórias (PAULINO; COSSON, 2009, p. 71-72).

Dessa forma, esta parte visa apresentar sequências didáticas, nas quais os alunos fizeram a releitura de obras das diversas literaturas em outros diversos modos e gêneros textuais orais e escritos. As propostas pedagógicas foram realizadas no Colégio Estadual José Leite Lopes/ NAVE RJ com alunos do 3° ano do Ensino Médio.

PROPOSTA 1: LITERATURAS AFRICANAS

A- Leitura do conto “A força do sonho”, da escritora moçambicana Josina Viegas.

Retextualização: análise crítica do conto e um debate da turma

B- A obra “A Última Masoxi”, do escritor angolano Beni Dya Mbaxi

Retextualização: análise crítica da obra e uma entrevista da turma publicada em: https://sacadaliteraria.com.br/tag/entrevista-com-beni-dya-mbaxi/

Uma das perguntas foi: Qual mensagem deixa para jovens leitores e escritores?

Beni Dya Mbaxi: A mensagem que deixo é, que por mais confuso que o mundo esteja, ainda há um lugar onde está registrado tudo. Para os jovens escritores, digo que devem ser mais criativos, a literatura exige criatividade, leem os clássicos, os modernos e, por fim, o que se escreve hoje, logo saberás o que tens de escrever. Para os leitores, digo que continuem desfolhando os livros e motivando os seus próximos amarem os livros.

PROPOSTA 2: LITERATURAS BRASILEIRAS

A - Leitura de a fragmentos do romance Os tambores de São Luís, de Josué Montello

● Assistir a documentários composta por pesquisadores especialistas neste autor e, depois, debater: https://www.youtube.com/watch?v=RJsQBOXTlNE https://www.youtube.com/watch?v=hBLiuiVgz4

● Elaborar retextualizações. Exemplos:

FRAGMENTO 1:

“A pancada caiu-lhe em cheio na palma da outra mão, e ele estremeceu, reprimindo o grito que lhe quis forçar a boca. Com dezoito anos feitos, era a primeira vez que apanhava [...] De modo que, agora, recebendo o castigo imerecido, juntava à dor o sentimento do ódio, era com esforço que se mantinha no chão, recebendo as bordoadas” (MONTELLO, 1985, p. 52).

SLAM:

Dor e injustiça

Voz silenciada

Ódio crescente em seu âmago

Ante sua alma maltratada

Esforçando-se para manter a si mesmo submisso

Ainda que recebendo bordoadas.

FRAGMENTO 2:

“ - O Barão – Exclamou Damião, emocionado com a folha da prova diante dos olhos. E ao mesmo tempo que via apontar na ladeira, forcejando para 92 tanger um jumento, à entrada do quilombo de seu pai, recordava-se dele, com a bíblia aberta sobre os joelhos, a ensinar-lhe as primeiras letras. Depois era a viagem rio acima, na gabarra cheio de negros, já desfeito o quilombo, e com o Barão no seu lado, teso, mudo, a cabeça dura, olhando sempre em frente, enquanto os remos iam vencendo a correnteza das águas, ainda tintas pelo sangue do seu pai” (MONTELLO, 1976, p. 308).

REFLEXÃO:

Escravo é todo aquele que de alguma forma abdica de sua Liberdade, De direito de agir, de se expressar, Que se renega para se adaptar a vida de outros

B - Bicentenário de Gonçalves Dias

Os alunos apresentam a retextualização das obras de Gonçalves Dias. Um exemplo foi a turma 3003/2023: um grupo (Renato, Isabela, João Pedro e Sophia) compôs uma música. Está disponível no fim da mesa-redonda em homenagem ao Bicentenário do autor: https://www.youtube.com/watch?v=1QCeHvqEnVg

C - Júlio Emílio Braz:

A partir do bate-papo (disponível em https://www.youtube.com/watch?v=66oLQvW978g) com o escritor Júlio Emílio Braz (escritor brasileiro infanto-juvenil, ganhador de diversos prêmios e graduado em História). Dentre seus temas tratados, a questão do preconceito em: Pretinha, eu? e A cor da pele. Os alunos fizeram folhetins a partir das obras lidas:

Há um discurso clássico de que a escola “poda” o incentivo à leitura. Diante dessa constatação que atravessa os tempos, percebemos que há algo de inadequado na nossa prática. Como pode um educador desta disciplina declarar não gostar de ler??? É altamente contraditório. Pior, antes, quando só aceitava a resposta de acordo com a sugerida pelo livro. É necessário que continue estimulando o hábito de leitura, dê voz aos educandos, permita-lhes expor suas ideias, suas impressões sobre o texto lido…

D- Elisa Lucinda: a partir da leitura de um poema “Saudades de minha mãe”

retextualização em relato

POEMA “Saudades de minha mãe”

Saudades de minha mãe.

Sua morte faz um ano, é um fato Essa coisa fez eu brigar pela primeira vez com a natureza das coisas: que desperdício, que descuido, que burrice de Deus!

Não de ela perder a vida, mas a vida de perdê-la. Olho pra ela e seu retrato.

Nesse dia, Deus deu uma saidinha e o vice era fraco.

Retextualização deste poema em relato por Fernanda Helen

“Compreendo a saudade que sinto do meu pai. A morte dela completa três anos, um fato que te fez questionar a natureza das coisas pela primeira vez. É difícil aceitar o desperdício, o descuido, a sensação de que Deus cometeu um erro ao permitir essa perda. Não é sobre ela perder a vida, mas sobre a vida de sua família perdê-la. Ao olhar para ela e seu retrato, parece que naquele dia Deus se ausentou e o substituto não estava à altura. É natural sentir essa dor e questionar o sentido das coisas diante de uma perda tão significativa. Estou aqui para apoiar você e sua família nesse momento difícil”.

E- No ano de 2023, um grupo de alunas fez a retextualização a partir do livro Clara dos Anjos, de Lima Barreto. O formato escolhido foi uma animação.

Autoria: Alexia, Jhúlia, Juliana e Vitória (3003/2023)

F- A partir da leitura da obra Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, os alunos propuseram um debate sobre a questão do negro na sociedade atual.

G1- texto o elaborado pelo ChatGPT (um assistente virtual inteligente no formato chatbot online com inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI, especializado em diálogo. Foi lançado em novembro de 2022).

PROMP: escreva um texto no estilo de escrita de Lima Barreto

O Labirinto da Burocracia

“No escuro e abafado escritório da repartição pública, Sebastião Cardoso, de semblante cansado e olhar perdido, passava os olhos pelas colunas de números e palavras que já não faziam sentido. Lutara arduamente para conquistar aquele posto, mas a vitória havia se transformado em amargura, seus sonhos de

fazer a diferença dissipados no labirinto de carimbos e assinaturas que sufocavam qualquer iniciativa. Lembrava-se das palavras de sua mãe, que acreditava que estudo e trabalho honesto eram as chaves para um futuro melhor, mas agora, questionava o que significava realmente. Seria apenas vestir um terno e sentar-se atrás de uma mesa cheia de papéis inúteis? O ciclo vicioso continuaria, ele sabia, e ele, uma peça desgastada na burocracia impiedosa, seguiria em frente, sem a certeza de encontrar a paz que tanto almejava”.

G-2 - d-Elaboração de texto como se fosse a escritora Djamila Ribeiro

PROM PT: um texto filosófico de Djamila Ribeiro

Título: O Lugar de Fala e a Centralidade das Vozes Marginalizadas

“Quando falamos em lugar de fala, não estamos negando a capacidade de outros grupos de se expressarem, mas sublinhando a importância de se reconhecer que experiências de vida diferentes proporcionam perspectivas distintas. É uma chamada à responsabilidade de quem ocupa lugares de privilégio para que reconheçam suas próprias limitações e se disponham a ouvir e aprender com as vivências de quem ocupa lugares de opressão. Esse conceito também nos desafia a reconsiderar quem tem autoridade para falar sobre determinadas questões. Por muito tempo, a produção de conhecimento foi dominada por uma visão eurocêntrica, masculina e branca, que se apresentava como universal. No entanto, a experiência de vida e o conhecimento produzidos por grupos marginalizados oferecem insights valiosos e imprescindíveis para uma compreensão mais completa e justa do mundo. Portanto, o lugar de fala é um convite para a construção de um espaço democrático onde todas as vozes possam ser ouvidas e consideradas”.

Atravésdessasexperiências,podemosconstataracriatividadedosalunosparaocomando(PROMPT) e se o resultado está condizente com o solicitado. É preciso conscientização da parte de todos de que as ferramentas são para consulta não para apropriação daquele resultado como acabado e nada a se fazer ou verificar sua veracidade. Temos participado de capacitações e, por vezes, quem ministra apresenta as ferramentas como sendo para realizar as atividades e otimizar o tempo do profissional para outras demandas. É preciso ser crítico. Não receber algo como pronto e não realizar ajustes... O HOMEM É (POR ESSÊNCIA) UMSER PENSANTE.Nãoatrofiemos nossos neurônios,“TICO ETECO” precisam estar sempre na ATIVA. “REFLETIR É PRECISO”. Leia, pense, debata, pesquise e, JAMAIS, SE ALIENE!!! Seja resiliente!!!

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quanto educação literária das diversas Literaturas, é preciso que o professor leve o aluno a compreender tratar-se do homem no seu tempo (contexto vivenciado). No Brasil, por ser extenso, há diversas influências. Por isso, defendemos ser Literaturas brasileiras, indígenas e africanas. Devemos instigar a leitura dos clássicos. Trabalhar (concomitante) contemporâneas e os clássicos. Com esta obra, esperamos instigar o professor leitor a reproduzir estas práticas ou propor outras inovadoras. O importante é arriscar-se. Não temer ousar. A palavra-chave do século XXI é INOVAR.

Quanto às Literaturas Afro-brasileiras, é preciso que o professor leve o aluno a compreender tratarse do homem no seu tempo (contexto vivenciado). A África dos países de expressão de Língua portuguesa teve diversas influências, cada um passou por um processo de colonização diferenciado. Por isso, defendemos ser Literaturas africanas. Devemos instigar a leitura dos clássicos. Trabalhar (concomitante) contemporâneas e os clássicos. Com este artigo, esperamos instigar o professor leitor a reproduzir estas práticas ou propor outras inovadoras. O importante é arriscar-se. Não temer ousar. A palavra-chave do século XXI é INOVAR.

Quanto às obras de Maria Firmina dos Reis, de Beni Dya Mbaxi e de Júlio Emílio Braz seus temas precisam ser discutidos em sala de aula. Em um momento social tão tenso, mundialmente, é preciso refletir sobreorespeitoaooutro,osdireitoshumanos…Étempo denosrepensarmosedenos reinventarmos!Sejamos resilientes!

IV. REFERÊNCIAS

CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. Ciência e Cultura, v. 24, n. 9. São Paulo, 2006.

CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: ___. Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.

DELL’ISOLA, R.L.P. Retextualização de gêneros escritos. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P. et al. Gêneros textuais & ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2010.

MATENCIO,M.deL.M. Atividadesde(re)textualizaçãoempráticasacadêmicas:umestudodoresumo. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 6, n. 11, p. 109-122, 2º sem. 2002.

MATENCIO, M. de L. M. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, LuizAntônio; XAVIER, Antônio Carlos(Org.). Hipertexto egêneros digitais: novas formas deconstrução do sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

PCN – Parâmetros curriculares nacionais, ensino médio, bases Legais.Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília, 1999.

PEREIRA. Marli Hermenegilda & PALOMANES, Roza (org.). Desafios para a prática de leitura e escrita: projetos de letramento para o ensino fundamental. São Paulo: Pimenta Cultural, 2022.

PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

PERRENOUD, P. 10 novas competências para ensinar. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

PERRENOUD,P. Apráticareflexiva no ofício deprofessor:profissionalização erazão pedagógica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

SANTOS, Edmea; ALVES, Lynn (Orgs.). Práticas pedagógicas e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Epapers, 2006.

SANTOS, Marcos Pereira dos & ALVES, Celso Roberto Borges (org.). A educação na contemporaneidade [livro eletrônico]: desafios pedagógicos e tecnológicos. Campina Grande: Editora Amplla, 2022

Renata Barcellos (Pós-doutora em Literatura –email: barcellartes@gmail.com ) Resumo

Este artigo visa apresentar sequências didáticas, nas quais os alunos fizeram a releitura das obras de autores maranhenses em outros diversos modos e gêneros textuais orais e escritos. As propostas pedagógicas foram realizadas no Colégio Estadual José Leite Lopes/ NAVE RJ. Esta instituição oferece um ensino médio integral (das 7:00 às 17:00) e integrado à educação profissional (Mídias digitais e Programação de jogos), resultante da parceria entre a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro com o Instituto OI Futuro. Trata-se de uma instituição de ensino integrado onde atividades são propostas das diversas disciplinas do núcleo comum e/ou com as do técnico. O público-alvo foram alunos de 2° e 3° anos do Ensino Médio.

I- Definição de literatura

“A literatura faz é o mesmo que um fósforo no meio de um campo em plena noite. Um fósforo quase nada ilumina, mas permite-nos ver quanta escuridão há à nossa volta.” (WILLIAN FAULKNER)

Antes de entrarmos em uma sala de aula de Ensino Médio para ministrarmos aula de literaturas, precisamos ter consciência da corrente de estudos literários seguida e da definição desta disciplina. Para isso, apresentaremos a seguir algumas definições de estudiosos da área: Literatura é “a expressão de conteúdos ficcionais, por meio da escrita” (MOISÉS, 2007); Literatura é “um sistema composto pela tríade obra, autor, leitor de dada época histórica” (CANDIDO, 2006); Literatura é “uma questão centralizada em aspectos textuais e de linguagem, minimizando fatores extratextuais” (SOUZA, 2005). Hoje, com a nossa imersão em um mundo extremamente midiático, precisamos rever nossas práticas pedagógicas. Não é mais viável, possível e imaginável, desconsiderarmos toda a tecnologia ao nosso redor. Devemos repensar o modo como ministramos todas as disciplinas, sobretudo essa. Primeiramente, é fundamental conscientizarmos os educandos quanto à sua importância no nosso quotidiano. Para isso, apresentamos diferentes gêneros textuais cujo recurso expressivo é a citação ou a intertextualidade de textos dessa natureza. Vejamos o poema Canção do exílio de Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras / Onde canta o Sabiá, / As aves, que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá”. O educador pode propor: Qual é a sua escola literária? Qual a sua contribuição para a literatura brasileira? O que significam os advérbios “lá” e “cá”?

Atualmente, o educador da disciplina de Literaturas precisa considerar e utilizar os diversos recursos tecnológicos disponíveis a fim de despertar o interesse dos educandos de lerem e refletirem sobre como o autor retratou seu tempo. Defendemos a tese de que todos devem ler, obrigatoriamente, um livro por bimestre, independente de ser uma instituição pública ou privada. Quanto àquela, cabe ressaltar que não é justificativa dizer ser inviável, porque não comprarão o livro solicitado. Para evitar isso, sempre disponibilizamos na primeira semana do bimestre a obra em PDF no grupo do Facebook e, hoje, no Google Sala de Aula e no grupo de WhatsApp.

Há um discurso clássico de que a escola “poda” o incentivo à leitura. Diante dessa constatação que atravessa os tempos, percebemos que há algo de inadequado na nossa prática. Como pode um educador desta disciplina declarar não gostar de ler??? É altamente contraditório. Pior, antes, quando só aceitava a resposta de acordo com a sugerida pelo livro. É necessário que continue estimulando o hábito de leitura, dê voz aos educandos, permita-lhes expor suas ideias, suas impressões sobre o texto lido...

II. Práticas pedagógicas de Literatura Maranhense

Asliteraturas têm como objetivo manter viva amemória de um povo,noseutempo. Elas podem expressar o engajamento social, a expansão da imaginação, fazer compreender os atos das pessoas, observar os sentimentos delas, entretenimento... Com as literaturas, é possível analisar comportamentos e desvendar mistérios, relembrar fatos históricos... Haja vista que as suas funções são: estética, político social, lúdica, catártica e cognitiva. Assim, cada autor tem seu perfil.

É preciso que o aluno esteja diante de uma proposta pedagógica na qual as Literaturas sejam fonte de reflexão para o indivíduo explorar seu meio e criar seus sonhos e expectativas. Segundo TODOROV, elas “nos proporcionam sensações insubstituíveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe de ser um simples entretenimento, uma distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano.” (2009, p.24). Podemos viajar no tempo através do ato da leitura, pela simples satisfação de explorar as literaturas. Não compreender a função social delas e se restringir aos estudos literários (decorar autores e obras) pode levar o aluno leitor ao desestímulo por não despertar o desejo pela leitura.

Urge discutir a diversidade de literaturas e de leitores, ao contrário, realizar atividades de interdisciplinaridade entre algumas áreas do conhecimento... Mas, na maioria das vezes (no público e ou privado) a realidade é: um desfile de referências soltas, as quais os alunos são obrigados a repetir em nome daquele modelo de educação literária. No ensino médio, infelizmente, também a disciplina restringe-se ao biografismo e no historicismo monumentalista. Não se aprecia os escritores pelos seus textos, mas por acúmulo de informações sobre seus feitos e suas glórias (PAULINO; COSSON, 2009, p. 71-72).

PROPOSTA 1: POEMAS DE GONÇALVES DIAS

A intertextualidade ocorre em diversas áreas do conhecimento. Eis abaixo uma a partir do poema Canção do exílio de Gonçalves Dias:

“Minha terra tem amores, Os pássaros aqui gorjeiam, Pousam nas lindas flores, Mas, em São Luís floreiam!”

E outra dos Timbiras de Gonçalves Dias:

“Meu canto de desespero Brasileiros, proferi Sou filha da educação, Na sala de aula, cresci”

Retextualização: Os alunos apresentam a retextualização do poema escolhido de Gonçalves Dias. Um exemplo foi a turma 3003/2023: um grupo (Renato, Isabela, João Pedro e Sophia) compôs uma música. Está disponível no fim da mesa-redonda em homenagem ao Bicentenário do autor: https://www.youtube.com/watch?v=1QCeHvqEnVg

PROPOSTA 2: Leitura de a fragmentos do romance Os tambores de São Luís, de Josué Montello

● Assistir a documentários composta por pesquisadores especialistas neste autor e, depois, debater: https://www.youtube.com/watch?v=RJsQBOXTlNE https://www.youtube.com/watch?v=hBLiuiVgz4

● Elaborar retextualizações. Exemplos:

FRAGMENTO 1:

“A pancada caiu-lhe em cheio na palma da outra mão, e ele estremeceu, reprimindo o grito que lhe quis forçar aboca. Com dezoitoanosfeitos, eraaprimeiravezqueapanhava[...]Demodo que,agora,recebendoocastigo imerecido, juntava à dor o sentimento do ódio, era com esforço que se mantinha no chão, recebendo as bordoadas” (MONTELLO, 1985, p. 52).

SLAM:

Dor e injustiça

Voz silenciada

Ódio crescente em seu âmago

Ante sua alma maltratada

Esforçando-se para manter a si mesmo submisso

Ainda que recebendo bordoadas.

PROPOSTA 3:

A CEGA, DE VIRIATO CORREIA

À PROCURA DE HERÓIS, DE SANATIEL PEREIRA O PÃO DOS MORTOS, DE ARTHUR PRAZERES

RETEXTUALIZAÇÕES: Dos textos desta proposta, foi solicitado que os alunos elaborassem um parágrafo crítico e um texto argumentativo acerca do tema tratado da obra escolhida.

E, quando fomos trabalhar as Literaturas Africanas, relacionamos o conto A CEGA, DE VIRIATO CORREIA com A maka da velha Samba, do escritor angolano Beni Dya Mbaxi.

A partir da leitura desses textos, foi proposto correlacioná-los e destacarem os pontos convergentes.

III. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quanto às Literaturas, é preciso que o professor leve o aluno a compreender tratar-se do homem no seu tempo (contexto vivenciado). No Brasil, por ser extenso, há diversas influências. Por isso, defendemos ser Literaturas brasileiras, indígenas e africanas. Devemos instigar a leitura dos clássicos e dos contemporâneos. Ler textos das diversas regiões do país (inclusive do Maranhão, haja vista ser ano do Bicentenário de Gonçalves Dias). Com este artigo, esperamos instigar o professor leitor a reproduzir estas práticas ou propor outras inovadoras. O importante é arriscar-se. Não temer ousar. A palavra-chave do século XXI é INOVAR.

IV. REFERÊNCIAS

BRASIL. Secretaria de educação fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: SEF, 1998.

CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. Ciência e Cultura, v. 24, n. 9. São Paulo, 1972.

COLOMER, Tereza. Andar entre livros. São Paulo: Global, 2007.

LEAHY-DIOS, Cyana. Educação literária como metáfora social: desvios e rumos. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

MOISÉS, Leila Perrone. Mutações da literatura no século XXI. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_19_-_setembro_2024

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Academia Ludovicense de Letras

Academia Poética Brasileira

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Centro Esportivo Virtual

Temos duas Histórias para o achamento do Maranhão e a fundação de São Luís: a oficial, e a que a precede. Miganville já existia quando da proclamada fundação da França Equinocial; aliás, a França Equinocial, e a sua Cidade do Maranhão são frutos da ocupação destas plagas de há muito.

Se formos considerar quem descobriu, ocupou, ou fundou algo, temos que dar os créditos aos indígenas. Aqui chegados há mais de 3.000 anos, segundo estudos arqueológicos. Seriam os primitivos tupinambás, vindos de uma cidade afundada na costa da Cuba, provavelmente de origem fenícia. Diziam os remanescentes, da segunda leva aqui chegados, ao tempo dos descobrimentos/achamentos, que vinham de uma cidade que afundara, e foram resgatados por grandes barcos, e trazidos para a costa, provavelmente Venezuela, Guianas e, de lá, iniciado uma trajetória de descolamentos que os trouxeram Amazonia abaixo, até chegar à Ilha Encantada – que seria a de Upaó-Açú.

Por essa mesma época, já se registrava a passagem e o comércio desses mesmos Fenícios pelo Maranhão –True-Tóia, a Verdadeira Tróia, e mesmo Upaon, além da presença no lago Cajari, e as minas de salitre de Ubajara.

O Historiador Euges Lima registra a passagem de Holandeses, em 1610. As incursões holandesas ao norte do Brasil eram frequentemente financiadas por homens ricos e politicamente influentes, como Jan de Moor, um burgomestre1 de Flessingue que capitaneava uma companhia destinada a explorar a colonização do Amazonas. Flessingue ou Flissinga (em neerlandês: Vlissingen) é um município e uma cidade localizada no sudoeste dos Países Baixos. A cidade está localizada na ilha de Walcheren entre o rio Escalda e o Mar do Norte, onde teve um grande porto que facilitava o vai-vem de produtos para a Coroa Neerlandesa por séculos. O burgomestre de Flassinge tinha uma feitoria por aqui:

Os tivemos por aqui bem antes... há registro de passagem de mercadores dessa nacionalidade já nos 1590, coabitando com franceses, portugueses, ingleses.

Antes de 1621, quando é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, separado da jurisdição do Estado do Brasil, a região do Maranhão era conhecida por diversos nomes ou títulos: 'terra do rio das Amazonas', 'terra dos tupinambás', ou mesmo 'terra dos caraíbas'. Muitas Crônicas, Cartas, Memoriais e Planisférios chegam a representar o Maranhão como uma espécie de 'não-Brasil'.

Na representação da 'América do Sul', feita no final do século XVI pelo cartógrafo Arnoldus Fiorentinus, o Maranhão aparece como uma região completamente integrada ao Vice-reinado do Peru, separada fisicamente do Estado do Brasil.

Novo Milênio: Mapas de Santos: América Meridional, Arnoldus Fiorentinus (novomilenio.inf.br)

(PDF) Navigator 13 A América do Sul na cartografia renascentista A América do Sul na cartografia renascentista (researchgate.net)

Nas últimas décadas do século XVI, esse território era quase sempre identificado como zona de transição, nem propriamente parte formal do Estado do Brasil, nem ainda Índias de Castela. Mesmo sem definição formal, estamos falando de uma área que corresponderia mais ou menos aos atuais Estados 'brasileiros' de Pará, Amazonas, Acre, Amapá, Tocantins, Piauí, Maranhão e Mato Grosso (ao Norte do paralelo 16º). Além disso, em certos períodos do século XVII também fazia parte do Maranhão o Ceará, este último considerado a fronteira natural do Estado do Brasil. Quase toda essa região está localizada a Oeste do meridiano de Tordesilhas, limite que começava a ser francamente ignorado.

É possível dizer, assim, que o Maranhão era concebido como uma 'entidade geográfica' (O que é : Entidade Geográfica (aeroengenharia.com), que fazia parte do império hispano-luso, mas ainda não havia sido dominado militar e politicamente. Na própria cartografia do século XVI, o nome Marañón é utilizado para definir o limite das terras luso-brasileiras ou para nomear o rio que faz essa divisão. Essas fontes confundem o rio Marañón, na bacia do Vice-reinado do Peru, com o rio Amazonas, às vezes chamado de 'Mar Dulce' ou 'rio de Orellana'.

Não se fala ainda claramente sobre um 'Maranhão português', diferente de um 'Marañón español'. Entretanto, sabemos que cronistas como Carvajal, Lopez de Gómara, Cieza de León, Oviedo y Valdés e, ainda, António Herrera, entre outros, já tinham informações sobre a ligação entre as 'Indias' e o Atlântico, feita através de uma região portuguesa localizada entre o Vice-reinado do Peru e o Estado do Brasil.

Além disso,o nome Marañón,mesmo designando algo impreciso, passaráa sercomum nas crônicas daépoca. O Maranhão já aparece em 1535 como uma das 'capitanias donatárias', criadas pelo rei d. João III para incrementar a defesa e aproveitamento produtivo da costa luso-brasileira. Originalmente o Maranhão faria parte de um tríplice seção de terras que deveria ser administrada por João de Barros, famoso historiador da Índia portuguesa, Ayres da Cunha, antigo capitão-mor de Malaca, e ainda Fernando Álvares de Andrade. Apesar de algumas tentativas de ocupação, organizadas por esses donatários, o Maranhão permanecerá como região virtualmente desconhecida até a época de Felipe III (1598-1621).

Portugueses e espanhóis sabiam da existência de outros projetos europeus para a América Portuguesa, com ênfase sobre o norte do Estado do Brasil. Tais projetos tinham potencial suficiente para concorrer com as iniciativas hispano-lusas. As autoridades da Península Ibérica conheciam esses 'planos' através de diversos documentos que informam sobre o avanço militar, o comércio oceânico, e as tentativas de implantação de pequenas fortalezas e entrepostos comerciais em zonas de fronteira. Após 1580, o quadro não faz mais que agravar-se, e o topos da ameaça dos concorrentes europeus ganha uma dimensão bem maior na documentação luso-espanhola.

Esses concorrentes na guerra pelo domínio do comércio atlântico são principalmente identificados como: 'invasores' (franceses), 'piratas' e traficantes (ingleses e irlandeses), 'rebeldes' (holandeses) e, ainda, 'aventureiros' (italianos). Para as autoridades hispano-lusas todas essas categorias tinham seu nível específico de perigo, de acordo com certas circunstâncias internacionais. Assim, se nas últimas décadas do século XVI os informes falam bem mais sobre a ameaça inglesa e francesa, a partir, sobretudo, das primeiras duas décadas do século XVII, o grande perigo a ser extirpado será a presença holandesa. É apenas em 1583 que os navios franceses começam a ir nessa direção para negociar com os selvagens. Essa informação é dada por Sir Walter Raleigh, mas é provável que tenha tomado pelo “Marañon-Amazonas”, o “Maranhão” mencionado por dois capitães franceses que encontrara. Os holandeses aparecem no Amazonas antes de 1598.

O estabelecimento de feitorias no Maranhão nos remete a 1590, em 1594, navios franceses comandados por Jacques Riffault visitam a ilha de Maranhão e um nobre de Touraine, Charles des Vaux, aí permanece entre os selvagens, O estabelecimento de Miganville, em 1594, é fruto das ações de Jacques Riffalut, Charles Des Vaux, e de David Migan, antecessores de Daniel DeLa Touche e sua troupe, os Sancy e Rassilys. Em 1605, Henrique IV nomeou La Ravardière “tenente-general do rei para as terras da América, desde o rio das Amazonas até a ilha de Trinidad”, região descoberta pelos espanhóis, na qual haviam tentado algumas vezes se estabelecer, especialmente em Caiena, onde se situavam as terras compreendidas entre o Vicente

Pinzón e o Amazonas, reivindicadas pelos portugueses e ocupadas, nessa data, em vários pontos, por ingleses e holandeses. Mas foi encarregado, logo em seguida, de verificar no Maranhão dos portugueses o que havia de verdadeiro nos relatos de Charles des Vaux a propósito das riquezas do país e das excelentes intenções dos índios, que, dizia Des Vaux, queriam “receber o Cristianismo” e pediam ao rei da França que lhes “enviasse alguma pessoa de qualidade para defendê-los de todos os inimigos”

Ao voltar, La Ravardière desistiu de sua concessão na Guiana e “solicitava outras Cartas patentes para fundar uma colônia ao sul da linha equinocial. As cartas lhes foram concedidas em 1º de outubro de 1610, com a condição expressade ocuparapenas cinquenta léguas de cadalado do primeiroforte que construísse. Foi então que, extrapolando seus poderes, empreendeu a “grande tentativa frustrada de uma França equinocial” (C. da Silva, § 34). A companhia que devia arcar com as despesas da expedição só pôde ser organizada em 1612, com o apoio da família Razilli. Numerosos cavaleiros alistaram-se. La Ravardière, François de Razilli e Nicolas de Harlay de Sancy foram nomeados “tenentes-generais do rei nas Índias Ocidentais e nas terras do Brasil” pela regente Maria de Médicis, que lhes concedeu ao mesmo tempo estandartes e divisa.

JOSEMIR CAMILO DE MELO

“Queridas Compatriotas Cachoeirenses”

Remetendo-vos um exemplar de cada impresso que tem aparecido nesta Vila, chamamos mui particularmente a vossa atenção à Proclamação assinada por um amigo impertérrito da Justiça, e inimigo implacável de Tiranos; pois que ela descreve ao vivo a sorte que nos espera, se deixando de fazer um digno uso do ascendente, que a natureza, e a virtude nos dão sobre o coração dos homens na qualidade de mães, de esposas, e de amantes, não inflamarmos seus ânimos no santo amor da Pátria, e da liberdade, influindo-os para enérgica, e denodadamente as defenderem, e repelirem com as Armas se tanto for preciso, os ataques da opressão, e do despotismo.

O Imperador que soube de tal arte iludir-nos, que chegamos a adorá-lo como Fundador, e Defensor da liberdade, e independência do Brasil, traindo nossa confiança, e ingrato a tudo quanto em seu favor temos feito, tirou finalmente a máscara hipócrita com que se disfarçava, e fez ver em toda a claridade, que se nos embalava com a Independência, era para mais facilmente nos adormecer sobre a suas verdadeiras intenções de nos escravizar, deslumbrados por aquela palavra mágica que de tão grande fanatismo encheu nossas cabeças. A dissolução da Augusta Assembleia Nacional à força de artilharia, e baionetas, e a prisão do nosso imortal compatriota o senhor Barata, são atentados de tal ordem, que nenhuma dúvida deixam quem aquele que se atreveu a cometê-los, nenhum constará. Todos os seus atos posteriores o confirmam, e tendem ao mesmo fim, o de escravizar-nos.

Os homens que têm escolhido para Presidentes das Províncias tais como por exemplo nessa Francisco Vicente Viana, e nesta o Morgado do Cabo (Francisco de Paes Barreto), são publicamente reconhecidos por servis estúpidos, perdidos de reputação, e de dívidas, ou Aristocratas ambiciosos, e egoístas mercenários, que só aspiram pela sua cega submissão às ordens da Corte, a restabelecer suas estragadas fortunas, e obter títulos, foros e comendas.

Queridas Compatriotas; pudéramos acrescentar um sem número de reflexões sobre os projetos do Imperador, e sobre a situação de nossa Pátria; mas além de recearmos abusar da vossa paciência, estamos certas de que elas não vos escaparão. Alguém poderá tachar-nos de nos intrometermos em política, por ser matéria alheia do nosso sexo: a isto respondemos, que o amor da Pátria tem nele produzido atos de heroísmos tais, que os homens o não podem apresentar mais sublimes. Demais não somos nós mães e esposas? E queremos acaso ser mães e esposas de escravos! Mostremos queridas Compatriotas, que as Brasileiras desprezando os objetos frívolos, e ridículos que em geral ocupam a atenção do nosso sexo não são sensíveis senão à honra, e virtude, e à glória de concorrerem para a liberdade, e salvação da Pátria, pelas quais não duvidam arriscar as próprias vidas, preferindo a morte à escravidão. Goyana 10 de fevereiro de 1824. Ao Patriota Goyanense. (Publicações do Archivo Nacional. Vol. XXII, 1924, p.91-92).

*

Havia a incógnita de quem seria este “Patriota Goianense”. Atentei que fosse o padre João Barbosa Cordeiro, de Goiana mesmo, mas que vivia na Paraíba. Havia sido preso como revolucionário em 1817; vinha sendo secretário da Junta Provisória da Paraíba, até 8 de abril de 1824, quando a Junta teve que entregar o cargo ao presidente nomeado por D. Pedro, Felipe Neri Ferreira. Revoltado, em maio, ele tinha ido a Goiana para imprimir um Manifesto Aos Liberais Paraibanos, contra o presidente. Segundo a historiadora Serioja Mariano, da UFPB, e doutora pela UFPE, esse padre imprimiu o manifesto liberal, em 18 de maio e, lá, escreveu: "(...) até os belos indivíduos do delicado sexo, quais outras guerreiras espartanas, desejam marchar com a espada em punho a nosso favor". Está, pois, matada a charada.

As mulheres goianenses se antecipavam em gesto político perigoso, daí o anonimato. Isso deve ter provocado reações em outros lugares. Mas antes, na Paraíba, na vila do Brejo de Areia, mulheres se reuniram e escreveram uma carta ao jornalista liberal baiano, radicado no Recife, Cipriano Barata, como ele registrou em seu

jornal Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco: “As Heroínas do Brejo de Areia (...) Aquelas Nobilíssimas Matronas, remeteram-me seguinte carta com 100 assinaturas”, (escrita em 14/6/1823 e publicada em 17 de agosto de 1823). Neste caso, as mulheres de Areia não tiveram medo nem vergonha, pois a carta era de elogio à independência do Brasil, mas pelo lado liberal, de que aquele jornalista era o guardião, segundo elas. Contamos 92 nomes femininos ao todo. Em outro momento, Barata divulgou também uma lista de 22 admiradoras paraibanas, vinda de “Rio de Santa Rosa” (Hoje o município de Barra de Santa Rosa?).

Uma coisa, nestes documentos, preocupa os historiadores mais céticos. É que aparecem as mulheres falando o termo “sexo”, tanto no Manifesto das goianenses, como na carta de Areia. Nesta, elas teriam escrito: “Nós, posto que conheçamos a fraqueza do nosso sexo, contudo não cedemos nem em valor, nem em patriotismo, ao mais intrépido e guerreiro cidadão: pois estamos na firme resolução (se preciso for) de unida aos nossos esposos, pais, filhos e irmãos lançarmos mão das armas e fazermos a mais cruenta guerra aos acérrimos sectários do nefando despotismo” (BARATA, 2008, p.389).

É bem possível que sim, pois licença já havia, em termos discursivos, pois já constava “bello sexo”, no Dicionário do padre Bluteau, atualizado por Antônio Moraes Silva. E arrematava Barata “Em todas as histórias de Pernambuco e Paraíba, Alagoas etc., achamos modelos do heroísmo das Donas que não têm coisa alguma cedido em patriotismo aos valorosos campeões da nossa Liberdade”.

Tivesse Barata conhecimento da neta de uma goianense dos Lins, nascida no Brejo de Areia, mulher de nome simples, Maria Joaquina de Sant´Anna, poderia reescrever sobre a saga de uma heroína. Montada e conduzindo duas crianças (uma ia na garupa do pai) saiu de Areia em maio de 1824, acompanhando seu esposo, Félix Antônio Ferreira de Albuquerque, aclamado, então, presidente temporário da Paraíba. Havia este, por consenso confederado, sido eleito comandante de todas as tropas confederadas, de Pernambuco e Paraíba, pelos sertões até Caicó (RN), onde Maria Joaquina ficou com as crianças, enquanto a tropa foi para o Ceará. Encurtando a história, rendidos os confederados, presos Félix e Caneca, secretário da campanha, foge em Goiana, o paraibano. Como havia uma recompensa imperial para quem matasse qualquer cabeça da Confederação, Félix foi traído por um suposto amigo que o matou. Dez anos, após sua morte, a viúva descobriu o assassino de seu esposo e o matou com um tiro certeiro na cabeça.

Aí estava uma das heroínas que, embora, não tivesse assinado aquela carta-manifesto, assinava, com sangue, sua história.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Academia Ludovicense de Letras

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Academia Poética Brasileira

Centro Esportivo Virtual

ApartirdaFrançaEquinocial,oMaranhãopassoucompreenderpartedoCeará(desdeoBuracodasTartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Ceará e o Grão-Pará.

Quando é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, separado da jurisdição do Estado do Brasil, a região do Maranhão era conhecida por diversos nomes ou títulos: 'terra do rio das Amazonas', 'terra dos tupinambás', ou mesmo 'terra dos caraíbas'. Muitas Crônicas, Cartas, Memoriais e Planisférios chegam a representar o Maranhão como uma espécie de 'não-Brasil'.

Em certos períodos do século XVII também fazia parte do Maranhão o Ceará, este último considerado a fronteira natural do Estado do Brasil. Quase toda essa região está localizada a Oeste do meridiano de Tordesilhas, limite que começava a ser francamente ignorado.

O CABO DE SÃO ROQUE - A FRONTEIRA DAS DUAS COLÔNIAS DA AMÉRICA PORTUGUESA... O BRASIL E O MARANHÃO (a pedra de tropeço dos historiadores).

“Entendem-se, desde logo, os condicionamentos políticos que a geografia econômica impôs à colonização. Com efeito, a separação entre o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão (1621), cujos limites começavam exatamente na altura do cabo de São Roque, responde ao quadro de ventos e marés predominantes na costa sul-americana: facilidade de comunicações com a Corte e transtorno da navegação litorânea sul-americana levam à criação de duas colônias distintas no espaço da América portuguesa. Na mesma perspectiva, uma das críticas feitas ao estabelecimento do Tribunal da Relação na Bahia (1609) decorria da dificuldade de encaminhar àquele tribunal os pleitos oriundos das outras capitanias, dependentes das monções favoráveis à navegação de cabotagem, “o que dilata muito o despacho dos negócios”. Mais valia enviar os requerimentos das outras capitanias diretamente aos tribunais do reino (p. 59). Correnteza mais rápida de todo o litoral brasileiro, atingindo velocidades de 2,5 nós no costão que vai do cabo de São Roque (Rio Grande do Norte) ao cabo Orange (Amapá), a corrente das Guianas facilitava grandemente a navegação para o Norte. Tamanha é a força das águas rolando nessa área que, mesmo com as velas meio arriadas, navios grandes podiam cobrir em três dias as trezentas léguas separando o cabo de São Roque do porto de São Luís. Em contrapartida, a corrente representava um obstáculo quase intransponível à navegação a vela no retorno do Estado do Maranhão ao Estado do Brasil. Até o advento dos barcos a vapor, nos meados do século xix, só as sumacas barcaças pequenas de dois mastros conseguiam sair da Bahia, de Pernambuco, ou mais do Sul, e bordejar na torna-viagem do Pará e do Maranhão. Ainda assim, tudo dependia da sorte (p. 58)”. Fonte: Trecho do Livro “O Trato dos Viventes – A formação do Brasil” de Luiz Felipe de Alencastro. Por João Bosco Gaspar

As invasões holandesas no Nordeste brasileiro ocorreram durante o século XVII e foram motivadas principalmente pelo interesse dos holandeses no lucrativo comércio de açúcar. A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais liderou essas incursões

A primeira invasão significativa aconteceu em 1624, quando os holandeses ocuparam Salvador, na Bahia, mas foram expulsos no ano seguinte. Em 1630, eles voltaram a atacar, desta vez em Pernambuco, onde conseguiram estabelecer uma colônia que durou até 1654

Entre os anos de 1637 e 1654 os holandeses mantiveram um porto no rio Camocim (rio Coreaú) nas proximidades da atual cidade de Granja. As especiarias recolhidas pelos batavos nos altiplanos da Ibiapaba e na Costa do Ceará, eram enviadas para a Europa via porto do Camocim.

A preparação da invasão holandesa foi decidida por documento escrito na cidade de Middelburg, província da Zelândia, pelo commandeur Gideon Morris. Trata-se da Breve descrição do Maranhão, escrita no ano de 1637. Morris era figura bem conhecida entre os diretores da WIC e suas cartas e relatórios resumem muito do que os neerlandeses conheciam sobre a Amazônia. O commandeur havia sido prisioneiro dos portugueses, supostamente permanecendo na região por cerca de oito anos, experiência que garantia um grau de fidelidade na comparação com outras crônicas e relatórios desse período. De fato, durante muito tempo, Morris foi considerado um dos únicos holandeses especialistas em navegação fluvial amazônica de longo curso. Na documentação neerlandesa, ele também é apresentado como habilidoso articulador político, fluente na língua dos nativos e influente junto aos seus principais (Cardoso, 2017).

A Breve descrição do Maranhão é um documento que procura explorar certas expectativas sobre a região. Não era a primeira vez que o Heren XIX recebia um documento sobre o tema, mas em comparação com cartas, relatórios e mapas anteriores, o texto de Gedion apresentava uma vantagem: apesar de não se distanciar muito das fórmulas já encontradas nas crônicas portuguesas e espanholas, não era uma simples reprodução dos argumentos luso-espanhóis, na medida em que seu autor esteve efetivamente naquelas terras. Aliás, este argumento de autoridade, bem comum nos escritos da época, é reivindicado, a todo momento, no texto. Mais do que um relatório, o escrito apresentado ao Conselho Supremo faz uma projeção futura sobre a conquista neerlandesa da Amazônia, suas vantagens e possíveis desafios. Por isso, duas coisas são devidamente enfatizadas: a vocação comercial da região e a importância das nações indígenas em qualquer projeto pensado para o Maranhão e o Grão-Pará.

E em 1641, uma esquadra holandesa com dezenove navios e dois mil soldados invadiu a Ilha de São Luís. A ocupação holandesa no Maranhão foi marcada por conflitos com os colonos portugueses e luso-brasileiros, além de dificuldades como doenças e a resistência local. Em 1644, os holandeses foram finalmente expulsos da região.

Após dez meses de ocupação holandesa no Maranhão, em 30 de setembro de 1642, tem início no Itapecuru, a reação portuguesa. Muniz Barreiros e mais cinquenta homens, usando de táticas de guerrilhas, vão retomando dos holandeses, um a um, os engenhos de açúcar e a fortaleza do Calvário, situada na embocadura do rio.

Empolgados com as vitórias em Itapecuru, as tropas portuguesas, ganham mais adeptos e passam para Ilha de São Luís. Em 21 de novembro de 1642, as tropas lusas, comandadas por Muniz Barreiros e Teixeira de Melo, emboscaram a coluna inimiga do comandante Sandalim e a derrotam. Essa batalha ocorreu na região do rio Cutim, onde hoje fica o monumento do Outeiro da Cruz

A resistência luso-brasileira, incluindo a famosa Batalha dos Guararapes, foi crucial para a expulsão definitiva dos holandeses. A presença holandesa no Nordeste deixou um legado cultural e arquitetônico significativo, especialmente em Recife e Olinda.

“(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar.

Pedro Poti - aliado dos neerlandeses contra os lusitanos -, chegou a ser levado para a Holanda, onde foi recebido como herói e tratado com honrarias. Em 19 de fevereiro de 1649, durante a Segunda Batalha dos Guararapes caiu prisioneiro dos portugueses, período em que viveu um calvário na prisão – escreveu a seu cunhado Felipe Camarão o que segue:

“(...) Eu me envergonho da nossa família e nação ao me ver ser induzido por tantas cartas vossas à traição e deslealdade, isto é, a abandonar os meus legítimos chefes, de quem tenho recebido tantos benefícios. Ficae sabendo que serei um soldado fiel aos meus chefes até morrer. Os cuidados que dizeis ter por mim e o favor que os portuguezes nos dispensariam não são mais que histórias contadas para nos iludir. Não acreditais que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os hollandezes, entre os quais fui educado. Por outro lado, em todo paiz se encontram os nossos, escravizados pelos perversos portuguezes, e muito ainda o estariam si eu não os houvesse libertados. Sou christão e melhor do que vós: creio só em Christo, sem macular a religião com idolatria, como fazeis com a vossa. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos e perigosos portuguezes e vinde juntar-vos conosco. No meu acampamento, 31 de outubro de 1645 (assinado) o regedor e comandante do regimento de índios da Parahiba, Pedro Poti (...)”. Fonte:Trechodo livro“Fastos Pernambucanos" doDr.PedroSouto Maior, ano de 1913, p. 156/157. Por João Bosco Gaspar.

Filipe Camarão, nascido Poti, foi um indígena brasileiro e herói da Insurreição Pernambucana. Ele recebeu o nome cristão de Antônio Filipe Camarão após ser batizado. Em 1614, o índio potiguar acompanhou o capitão Jerônimo de Albuquerque Maranhão na reconquista da capitania do Maranhão, onde os franceses haviam fundado a cidade de São Luís. Felipe Camarão reuniu 200 dos seus melhores guerreiros que se juntaram aos 300 portugueses. Jerônimo de Albuquerque e seus comandados estabeleceram-se na baía de São Marcos, em frente a São Luís e logo fundaram o arraial de Santa Maria, em Guaxenduba, onde aguardaram o ataquedos franceses. Oataqueaconteceuem19denovembrode1614.Mesmocommenornúmerodehomens, a tropa de índios e portugueses saiu vitoriosa. Após a expulsão dos franceses da “França Equinocial”, iniciouse a reconstrução de São Luís Lutou contra os invasores holandeses e franceses, sendo reconhecido como "Capitão-Mor de Todos os Índios do Brasil". Ele foi um líder militar e um dos heróis da Batalha dos Guararapes...

A luta pela expulsão dos holandeses de Pernambuco teve início em 1645, um ano depois da partida do Conde Maurício de Nassau. O chefe da Insurreição Pernambucana foi João Fernandes Vieira, um dos mais ricos habitantes da região. Ao seu lado combateram Filipe Camarão, André Vidal de Negreiros e Henrique Dias. Após a capitulação holandesa de 1654, o Estado do Maranhão foi reorganizado sob o governo de André Vidal de Negreiros, agora com o nome de "ESTADO DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ". Naquela ocasião, André Vidal recebeu do rei de Portugal um Regimento com 58 artigos para melhor gerir o novo governo do Maranhão. Constituído, a princípio, pelas capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará (ainda não havia a capitania do Piauí), o Estado do Maranhão começava nos Baixios de São Roque e terminava na linha do Tratado de Tordesilhas. Os dois primeiros artigos do Regimento, tratavam da Capitania Real do Ceará. Por João Bosco Gaspar

No ano de 1655, André Vidal de Negreiros assumiu o governo do Estado Colonial do Maranhão, constituído (até aquela data) pelas capitanias do Ceará, Maranhão, Cabo do Norte e Grão-Pará. Entre as suas principais incumbências estava a construção de um forte na foz do rio Camocim, para garantir a extração do pau-violeta (nome científico “Dalbergia Cearensis”) nos sopés da Ibiapaba e do âmbar nas praias do Camocim.

“Cortava-se o pau violeta, nas fraldas da serra de Ibiapaba, onde estas montanhas mais se avizinhavão do mar, e nas praias se encontrava muito âmbar. Para assegurar o commercio d'estes gêneros queria elle plantar um forte á foz do Camuci, mas não era couza esta que podesse fazer-se sem formar allianças com os índios”. Fonte: Livro “História do Brazil” traduzida do inglês por Luiz Joaquim de Oliveira e Castro, publicado em 1862, Tomo IV, p. 230.

Vieira, que regressara pela segunda vez ao Maranhão, em 1655, afirma que o Governador André Vidal de Negreiros :

[...] intenta uma fortaleza na boca tio Rio Camuci, emprêsa que dependia da vontade dos habitadores da serra. Escreve-lhe o padre Antônio Vieira. Sucesso da resposta da sumaça que com materiais e soldados partiu a levantar a fortaleza. Este era o miserável estado da Cristandade da serra, quando no ano de 1655 chegou segunda vez ao Maranhão o padre Antônio Vieira, com ordens de Sua Majestade, para que a doutrina e govêrno espiritual de todos os índios estivesse à conta dos religiosos da Companhia; e, posto que o estado referido daqueles cristãos, de que já então havia notícias por fama, prometia mais obstinação que remédio, considerando, porém, os padres que a sua obrigação era acudir à reformação dos índios já batizados, e que êstes da serra tinham sido os primogênitos desta missão, e de quão pernicioso exemplo seria para os que se houvessem de converter, e para os já convertidos, a vida escandalosa em que estavam, e muito mais a imunidade dela. Era ponto êste que dava grande cuidado a toda a missão, e que muita se encomendava a Deus, esperando todos que chegariam ao céu as vozes da sangue do seu Abel, o padre Francisco Pinto, e que, amansadas aquelas feras, que já estavam marcadas com o caráter do batismo, tornariam outra vez ao rebanho de que eram ovelhas. Ajudou muito esta esperança um novo intento do governador André Vidal de Negreiros, o qual chegou no mesmo ano ao Maranhão, resoluto a levantar uma fortaleza na boca do Rio Camuci, que é defronte das serras, para segurança do comércio do pau violete, que se corta nas fraldas delas, e do resgate do âmbar, que a tempos sai em grande quantidade naquelas praias. Esta é a suavidade da Providência divina, tantas vêzes experimentada nas missões de ambas as Índias, onde sempre entrou e se dilatou a fé, levando sobre as asas do interêsse. Comunicados os pensamentos do governador e superior das missões, julgaram ambos que primeiro se escrevesse aos índios de serra, de quem não só dependia o comércio, mas ainda a fábrica e sustento da fortaleza. Mas dificultava, ou impossibilitava de todo a embaixada, a dificuldade do caminho de mais de cem léguas, atalhado de muitos e grande rios, e infestado de diversas nações de tapuias feros e indômitos, que a ninguém perdoam, e, confirmado tudo com a experiência da mesma viagem, intentada outra vez com grande poder de gente de armas, e não conseguida. Contudo, houve um índio da mesma nação tobajará chamado Francisco Murereíba, o qual, confiado em Deus, como êle disse, se atreveu, e ofereceu a levar

as cartas. O teor delas, foi oferecer o governador, em nome de el-rei, a todos os índios que se achavam na serra, perdão e esquecimento geral de todos os delitos passados, e dar-lhes a nova de serem chegados ao Maranhão os padres da Companhia, seus primeiros pais e mestres, para sua defensa e doutrina. E o mesmo escreveu o padre superior das missões, dando a si, e a todos os padres, por fiadores de tudo o que o governador prometia, e referindo-se umas e outras cartas ao mensageiro, que era homem fiel, e de entendimento, e ia bem instruído e afeto ao que havia de dizer. Partiu Francisco com as cartas em maio de 1655, e, como fôssem passados nove meses sem nova dêle, desesperado de todo êste primeiro intento, no fevereiro do ano seguinte, que sâo as monções, em que de alguma maneira se navega para barlavento, despachou o governador uma sumaça, com um capitão e quarenta soldados, e os materiais e instrumentos necessários à fábrica da fortaleza do Camuci, e na mesma sumaça ia embarcado o padre Tomé Ribeiro com um companheiro, para saltarem em terra no mesmo sítio, e praticarem aos índios, e darem princípio àquela missão. Animou também muito a resolução do mesmo governador, e intentos dos padres, a paz que por meio dêles vieram buscar ao Maranhão os teremembés, que são aqueles gentios que freqüentemente se nomeiam no roteiro desta costa com o nome de alarves, cuja relação nós agora deixamos por ir seguindo a sumaça, e não embaraçar o fio desta história. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource; Descrição da Ibiapaba - Wikisource

OS ÍNDIOS CALVINISTAS DA SERRA DA IBIAPABA E A “PARÁBOLA DOS TALENTOS”.

Segundo Souto Maior (1993)

Firmada a Rendição de Taborda em janeiro de 1654, os índios calvinistas das capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam obstinados em direção aos altiplanos da Ibiapaba. Tencionavam criar em solo ibiapabano um enclave indígena de cunho protestante: "a República de Cambressive". Antônio Paraupaba, seu líder, homem de muita influência junto a Companhia das Índias Ocidentais, viajou duas vezes (1654 e 1656) para a Holanda com o propósito de conseguir dos batavos, apoio financeiro e militar para realizar seu intento. Ao se dirigir aos nobres senhores holandeses, Paraupaba ratifica a crença do seu povo “como suditos bons e firmes na sua fidelidade para com este Estado e a Religião Reformada de Christo, a única verdadeira”, e diz que o auxílio batavo seria de fundamental importância, para que aqueles que, segundo ele, “foram uma vez trazidos ao conhecimento da verdadeira religião”, não fossem privados do “reino de Jesus Christo”. Antônio Paraupaba, como conhecedor das Escritura Sagradas, faz alusão a Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-30), insinuando que os batavos receberam de Deus a incumbência de multiplicar em terras brasileiras, as ovelhas do seu rebanho: “Nem deixem que elles recaiam na selvageria entre as feras nos sertões bravios. Pois teriam de prestar contas ao Grande e Todo Poderoso Deus que é contra os que por usura enterram a sua libra com medo de gastar”. Termina Paraupaba implorando socorro imediato aos “pais e defensores dos oprimidos e desamparados”, para que as quatro mil pessoas refugiadas em Cambressive (Ibiapaba), inclusive mulheres e crianças, pudessem sobreviver naquelas paragens, para o bem delas e “para a conservação da Igreja Christã Reformada, a única verdadeira”. Fonte: Livro “Fastos Pernambucanos” de Pedro Souto Maior, Imprensa Nacional, 1993. Por João Bosco Gaspar.

Para John Hemming (1978), foi em 1654 que :

“(...) Os índios fortificaram-se entre os tobajaras, na serra de Ibiapaba. Denominaram sua república Cambressive e chegaram a fazer uma tentativa, aliás malograda, de obter auxílio dos holandeses. Antônio Paraupaba foi enviado à Holanda e fez um comovente apelo aos Estados Gerais em agosto de 1654. Como nada aconteceu, fez um segundo apelo em 1656. O suplicante é enviado por aquela nação que se refugiou com suas esposas e filhos em Cambressive, no sertão além do Ceará, para escapar aos furiosos massacres dos portugueses. Eles estavam lá havia dois anos, mas ainda se mantinham leais ao governo dos holandeses. Se deixar de receber ajuda, aquele povo finalmente deverá cair nas garras dos cruéis e sanguinários portugueses, que desde a primeira ocupação do Brasil têm destruído centenas de milhares de pessoas naquela nação.

Paraupaba declarou não poder acreditar que os holandeses deixariam de ajudar os índios, de recompensar seus anos de leais serviços e de proteger a religião reformada (...)”. Fonte: Trecho do livro “Ouro Vermelho” de John Hemming, ano de 1978 p. 454). Por João Bosco Gaspar.

Leslie Bethell, (1997), afirma que no ano de 1654:

“(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar.

Já para F. A. Pereira da Costa (1952), no ano de 1654:

“(...) Os índios que serviram no exército holandês, e os que seguiram seu partido e abraçaram a sua religião, a de reforma calvinista e luterana, não se julgando seguros em Pernambuco após a sua restauração [1654], apesar do prometido esquecimento do passado e do perdão geral concedido aos indivíduos de qualquer nação, qualidade e religião, ainda mesmo que fossem rebeldes à coroa de Portugal, o que tudo constava do termo de capitulação dos holandeses firmado em 26 de janeiro deste ano de 1654, emigraram logo para os sertões do Ceará, e depois se foram refugiar na serra da Ibiapaba, seus extremos norte, onde lhes parecia, não recear o ataque dos seus inimigos, e fazendo assim de tais paragens o seu baluarte, a sua vendéa, contra os vencedores, e pretendendo mesmo alguns dos mais instruídos e exaltados, fundar ali um estado índio independente, exclusivamente da sua gente e repelindo a branca. Os índios refugiados na serra da Ibiapaba, nos limites norte do Ceará, atingiam a um número superior a quatro mil almas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Anais Pernambucanos, Tomo III, 1635-1665” de autoria de F. A. Pereira da Costa, p. 393-394, 1952). Por João Bosco Gaspar.

Carlos Studart Filho (1959) coloca que:

“(...) Vale a pena salientar que, nos perturbados momentos da Restauração Pernambucana, numerosos indígenas, parciais dos flamengos, temendo muito justamente as represálias sempre tão cruéis por parte dos portugueses, haviam debandado da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, encaminhando-se em grandes magotes à Ibiapaba. Afinados, muitos deles, pelos contatos da cultura flamenga, iam na esperança um tanto romanesca de criar, em plena selva brasileira, um estado indígena por completo fechado à influência de estranhos de Além-Mar. Acastelados em atitude hostil naqueles chapadões que bordam o Ceará a oeste, passaram efetivamente esses rebeldes a encabeçar a resistência à expansão dos luso-brasileiros que, em meados do século XVII, tentaram derivar para aquelas bandas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Fundamentos Geográficos e Históricos do Estado do Maranhão e Grão Pará” de Carlos Studart Filho, ano de 1959, p. 291. Por João Bosco Gaspar.

Já o padre Antônio Vieira confirma que:

“(...) Entraram os índios rebeldes nas capitulações da entrega com perdão geral de todas as culpas passadas; mas eles como ignorantes de quão sagrada é a fé publica, temendo que os portugueses, como tão escandalizados, aplicariam as armas vitoriosas a vingança, que tão merecida tinham, e obrigados de certo rumor falso de que os brancos iam levando tudo a espada, lançaram-se cega e arrebatadamente aos bosques, com suas mulheres e filhos, onde muitos pereceram a mão dos tapuios, e os demais se encaminharam as serras de Ibiapaba, como refúgio

conhecido, e valhacouto seguro dos malfeitores (...)”. Fonte: Trecho do livro “Cartas Várias” do padre Antônio Vieira, ano de 1885, p. 340. Por João Bosco Gaspar.

Prossegue Vieira:

Com a chegada dêstes novos hóspedes, ficou Ibiapaba verdadeiramente a Genebra de todos os sertões do Brasil, porque muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses, sem outro exemplo nem conhecimento da verdadeira religião. Os outros militavam debaixo de suas bandeiras com a disciplina de seus regimentos, que pela maior parte são formados da gente mais perdida e corrupta de todas as nações da Europa. No Recife de Pernambuco, que era a corte e empório de toda aquela nova Holanda, havia judeus de Amsterdão, Protestantes de Inglaterra, calvinistas de França, luteranos de Alemanha e Suécia, e todas as outras seitas do Norte, e desta Babel de erros particulares se compunha um ateísmo geral e declarado, em que não se conhecia outro Deus mais que o interêsse, nem outra lei mais que o apetite; e o que tinham aprendido nesta escola do inferno é o que os fugitivos de Pernambuco trouxeram, e vieram ensinar à serra, onde, por muitos dêles saberem ler, e trazerem consigo alguns livros, foram recebidos e venerados dos tobajarás como homens letrados e sábios, e criam déles, como de oráculo, quanto lhes queriam meter em cabeça. Desta maneira, dentro em poucos dias, foram uns e outros semelhantes na crença e nos costumes; e no tempo em que Ibiapaba deixava de ser república de Baco - que era poucas horas, por serem as borracheiras contínuas de noite e de dia - eram verdadeiramente aquelas aldeias uma composição infernal, ou mistura abominável de todas as seitas e de todos os vícios, formada de rebeldes, traidores, ladrões, homicidas, adúlteros, judeus, hereges, gentios, ateus, e tudo isto debaixo do nome de cristãos, e das obrigações de católicos. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource

TELA HISTÓRICA-DECORATIVA "ALDEIA DA IBIAPABA" de autoria do mestre viçosense Ernane Pereira. Essa obra de arte faz parte da decoração do Centro de Formação Padre Ascenso Gago, em Viçosa do Ceará. Representa a Aldeia da Ibiapaba (Viçosa) como sede da Missão Jesuítica dedicada à São Francisco Xavier, período de 1656 a 1662, fundada pelo padre Antônio Vieira. No ano de 1660 o padre Antônio Vieira esteve na ibiapaba, fato registrado no memorável livro "A Missão de Ibiapaba" de sua autoria.

CEARÁ, MARANHÃO, PARÁ E CABO DO NORTE - AS CAPITANIAS DO ESTADO COLONIAL DO MARANHÃO.

Manuel Guedes Aranha, administrador colonial português que governou o Estado do Maranhão e Grão-Pará de 03 de setembro de 1667 a março de 1668, fala o seguinte: [01] “Fica o Estado do Maranhão correndo do Brazil pela costa de leste, e começa sua demarcação 65 léguas de Pernambuco junto aos baixos de São-Roque em 4 graus e 4 minutos do sul; ficando dali ao Ceará 125 léguas, em 3 graus e 30 minutos do sul. Do Ceará ao Maranhão há 120 léguas, em 2 graus e 40 minutos latitude do sul, longitude 338. Do Maranhão à barra do Pará vão 228 léguas, em 18 minutos do norte; e dali ao Cabo do Norte, que é a ponta da terra da outra banda em 1 grau e 50 minutos do norte vão 60 léguas, que tem de largo o rio das Amazonas na boca, e do cabo do rio Vicente Pinzon 30 minutos norte, latitude que é aonde chega a demarcação da coroa de Portugal e começa a da Espanha”. (p. 01-02). [01] Fonte: Livro “Papel político sobre o Estado do Maranhão” 1665, Manuel Guedes Aranhão, Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, ano de 1883, Tomo XLVI 1ª parte, Rio de Janeiro. Por João Bosco Gaspar

Pela Bula “Super Universas Orbis Ecclesias”, o Papa Inocêncio XI instituiu o Bispado do Maranhão em 1677. Essa Bula diz que seu território começava no “Cabo do Norte, ao longo do litoral e pelo interior da terra até à Fortaleza do Ceará”. Em Latim: "Capite Nortis, per oram marítima et terram intus, usque ad arcem de Seará"... Até a Fortaleza do Ceará. !!!!

A Bula “Inscrutabili Caelestis Patris” de 1725, pela qual o Papa Bento XIII, "desmembrou, separou e dividiu a capitania do Piauhy do bispado de Pernambuco, e a uniu e anexou ao bispado do Maranhão, com todos os benefícios, mosteiros e igrejas do território da dita capitania", diz que, após a incorporação da capitania do Piauhy ao Bispado do Maranhão, a fronteira litorânea do dito Bispado (Maranhão) permaneceu no mesmo

lugar estabelecido pela Bula de 1677, não foi alterada... ou seja, o Bispado do Maranhão ia "até a Fortaleza do Seará".

Esse fato foi lembrado pela Mesa da Consciência e Ordens no ano de 1755, quando o Bispo do Maranhão apresentou uma Representação acerca dos limites do seu Bispado.

Até o ano de 1755 a "questão da divisão dos bispados da América Portuguesa" ainda não tinha sido resolvida pelo Rei. Havia disputas entre os Bispados do Maranhão e Pernambuco (pela Serra da Ibiapaba), Maranhão e Pará (pelas Minas de São Félix e Natividade, e Rio de Manuel Alves) e Pará e São Paulo (nas terras novas de Goyás). Fonte: Livro “Bullarium Patronatus Portugalliae Regum In Ecclesiis - Tomo II, 1601-1700”, de autoria de Vicecomite (Visconde) de Paiva Manso, Ex Typographia Nationali, Roma, 1870.

Hoje, 15 de Setembro em Setúbal, terra natal de meu Avô materno, Manuel Fran PaXeco, para receber a medalha de honra da cidade (ouro) que lhe foi atribuída: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran_Paxeco

Numa visita à Vinhais

REGIONALIDADES

Asaúdementaltemganhadocrescenteatençãonocampodaspolíticaspúblicas,refletindoum reconhecimento de que o bem-estar psicológico é uma parte integral da saúde geral de uma população. No entanto, historicamente, a saúde mental foi um tema negligenciado, marginalizado em relação à saúde física. As políticas públicas de saúde mental visam reverter esse cenário, promovendo o acesso a serviços adequados, garantindo direitos, e fomentando um sistema que atenda às necessidades complexas dessa área. Este texto explora o conceito de política pública em saúde mental, suas bases, setores de atividade e características regionais, fornecendo uma visão abrangente sobre o tema.

Política pública em saúde mental refere-se ao conjunto de ações e diretrizes adotadas por governos e instituições para promover, prevenir, tratar e reabilitar as condições de saúde mental da população. Essas políticas são fundamentais para enfrentar desafios como o estigma, o acesso desigual a cuidados e a falta de integração de serviços de saúde mental com o restante do sistema de saúde.

As políticas públicas de saúde mental envolvem diversos setores e atores, que incluem governos locais e federais, organizações não governamentais, sociedade civil e comunidades. O objetivo central dessas políticas é garantir que as pessoas que sofrem de transtornos mentais tenham acesso a cuidados adequados e possam viver com dignidade, sem discriminação. Para tanto, o desenvolvimento de políticas de saúde mental deve considerar os determinantes sociais da saúde, como pobreza, desemprego, exclusão social e violência, que têm impacto direto nas condições mentais das pessoas.

Asbasesdapolíticapúblicaemsaúdementalsãosustentadasporprincípiosfundamentaisdedireitoshumanos, equidade e universalidade. Essas bases são orientadas por diretrizes estabelecidas em âmbito internacional, nacional e local, levando em consideração as particularidades e necessidades das populações atendidas.

Um dos pilares centrais é o reconhecimento da saúde mental como um direito humano. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e diversos tratados internacionais destacam que todas as pessoas têm o direito ao mais alto padrão de saúde mental e física, o que inclui o acesso a tratamentos, cuidados e suporte social necessários para viver com dignidade.

Outro princípio essencial que sustenta as políticas públicas de saúde mental é o movimento pela desinstitucionalização, que busca substituir o modelo hospitalocêntrico, baseado no confinamento de pessoas em grandes hospitais psiquiátricos, por uma rede de serviços comunitários que promovam a inclusão social e o tratamento no contexto de vida da pessoa. No Brasil, esse princípio foi estabelecido pela Reforma Psiquiátrica, iniciada na década de 1980, que resultou na criação de uma rede de atenção psicossocial (RAPS). Políticas públicas de saúde mental não se limitam ao tratamento de transtornos já estabelecidos, mas incluem a promoção da saúde mental e a prevenção de transtornos mentais. Isso envolve a implementação de programas educativos, a promoção de ambientes saudáveis, e a redução de fatores de risco, como abuso de substâncias e violência.

Aimplementação deuma políticapúblicadesaúdemental exigeaatuaçãode múltiplossetores, quecolaboram entre si para garantir um atendimento abrangente e integral.

O setor de saúde é o principal responsável pela execução das políticas de saúde mental. Através da rede de atenção psicossocial (RAPS), serviços como Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ambulatórios de saúde mental, e hospitais gerais com leitos psiquiátricos são oferecidos. A RAPS tem o papel de coordenar o cuidado contínuo, desde o acolhimento e tratamento até a reabilitação psicossocial.

O setor educacional também desempenha um papel importante na promoção da saúde mental. Escolas podem atuar na identificação precoce de transtornos mentais, além de proporcionar espaços seguros e acolhedores para crianças e adolescentes.

A política de saúde mental frequentemente se cruza com o setor de assistência social, especialmente no que diz respeito à reintegração social de indivíduos com transtornos mentais graves. Esse setor oferece suporte em áreas como moradia, trabalho e convivência social, contribuindo para a construção de autonomia e cidadania das pessoas em tratamento.

O sistema de justiça também é um setor relevante, sobretudo no que diz respeito à interseção entre saúde mental e direitos humanos. Programas de reabilitação e tratamento para pessoas em conflito com a lei, bem como o acompanhamento de indivíduos em medidas de segurança, são essenciais para a proteção de direitos.

A implementação de políticas públicas de saúde mental enfrenta desafios relacionados às especificidades regionais. No Brasil, a diversidade geográfica e cultural impõe barreiras significativas para a aplicação uniforme dessas políticas, resultando em desigualdades no acesso e na qualidade dos serviços.

As disparidades regionais no Brasil são evidentes. Enquanto em grandes centros urbanos há uma maior concentração de serviços especializados e profissionais de saúde mental, em áreas rurais e regiões mais afastadas, como o Norte e o Nordeste, o acesso a esses serviços é limitado. Muitas comunidades em áreas remotas carecem de infraestrutura básica de saúde, o que torna ainda mais difícil a implementação de políticas voltadas à saúde mental.

Em resumo, a política pública de saúde mental é um campo complexo que demanda ações integradas e regionalizadas, voltadas não apenas para o tratamento, mas também para a promoção e prevenção. A articulação entre diversos setores e a adaptação às realidades locais são essenciais para garantir que o direito à saúde mental seja uma realidade para todos.

RUY PALHANO

O descontrole emocional é um fenômeno que afeta a capacidade de um indivíduo de gerenciar adequadamente suas emoções diante de situações cotidianas. Caracterizado por reações exageradas, impulsivas ou inapropriadas, o descontrole pode ter consequências prejudiciais para a vida pessoal, profissional e para a saúde mental e física de uma pessoa. Em uma sociedade que valoriza cada vez mais o autocontrole e a resiliência, lidar com emoções intensas ou desreguladas tornou-se um desafio central para muitos indivíduos. Éimportanterefletirsobreas causas, os impactos eas possíveis soluções paraodescontrole emocional, pois ele pode afetar profundamente a qualidade de vida e as relações interpessoais.

O descontrole emocional pode surgir de uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Em termos biológicos, certas pessoas podem ter predisposições genéticas que afetam os níveis de neurotransmissores no cérebro, como serotonina e dopamina e outros neurotransmissores cerebrais, o que influencia diretamente o humor e a capacidade de regulação emocional. Além disso, transtornos como ansiedade, depressão e bipolaridade frequentemente se manifestam com uma dificuldade em manter as emoções sob controle. No âmbito psicológico, traumas passados, baixa autoestima e padrões de pensamento negativos podem amplificar a intensidade das emoções, dificultando o gerenciamento adequado. Esses pensamentos distorcidos, muitas vezes automatizados, levam a uma interpretação exagerada de ameaças ou desafios, aumentando a probabilidade de explosões emocionais.

O ambiente social também desempenha um papel crucial. A pressão do trabalho, as exigências familiares e as expectativas sociais podem sobrecarregar uma pessoa emocionalmente, levando-a a uma reatividade aumentada. Em particular, o estresse crônico pode minar a capacidade de regular emoções. Situações como conflitos constantes no ambiente de trabalho, problemas financeiros e crises pessoais são frequentes gatilhos para comportamentos descontrolados. Além disso, a falta de suporte social ou de redes de apoio adequadas pode deixar o indivíduo ainda mais vulnerável, já que o sentimento de estar sozinho na resolução dos problemas aumenta o risco de explosões emocionais. Outro aspecto relevante são as constantes ameaças que todos vivemos nessa sociedade violenta, onde a segurança, o bem estar e a realização das pessoas estão em constantes ameaças.

As consequências do descontrole emocional são muitas vezes profundas e duradouras. Em relações interpessoais, explosões de raiva, impulsividade ou crises de choro podem desgastar os laços entre amigos, familiares e colegas. Isso pode levar ao isolamento social, uma vez que pessoas próximas tendem a se afastar diante de reações imprevisíveis ou desproporcionais. No ambiente profissional, o descontrole emocional pode comprometer a imagem de um funcionário, afetando a produtividade e as oportunidades de crescimento. A incapacidade de lidar com o estresse e as frustrações no local de trabalho pode resultar em conflitos com colegas, perda de foco e, em casos extremos, demissão.

Além disso, o descontrole emocional está diretamente relacionado a problemas de saúde física e mental. A liberação contínua de hormônios do estresse, como o cortisol, pode enfraquecer o sistema imunológico, aumentando a vulnerabilidade a doenças. Também pode haver manifestações físicas como dores de cabeça, distúrbios digestivos e doenças cardiovasculares. Na esfera mental, a incapacidade de regular emoções pode contribuir para o agravamento de transtornos como depressão e ansiedade, criando um ciclo vicioso em que o descontrole emocional leva a mais estresse, agravando ainda mais a situação. Outro aspecto relevante que não podemos desconsiderar é o abuso de álcool, tabaco e outras drogas, comuns na sociedade contemporânea, pré-dispondo muitas pessoas, especialmente os jovens a se tornarem dependentes ou usuárias dessas drogas.

Diante desses efeitos prejudiciais, é essencial buscar estratégias eficazes para o controle emocional. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem eficaz para ajudar indivíduos a identificar padrões de pensamento distorcidos que levam ao descontrole emocional. Ao aprender a reconhecer esses padrões e a

substituí-los por pensamentos mais equilibrados, é possível desenvolver uma maior capacidade de gerenciar emoções. Além disso, técnicas de mindfulness e meditação podem ajudar a pessoa a se concentrar no presente, reduzindo a reatividade emocional e promovendo uma sensação de calma. Práticas de relaxamento, como respiração profunda, também podem ser úteis para diminuir o estresse no momento em que ele surge.

A adoção de um estilo de vida saudável também tem impacto significativo no controle das emoções. Atividades físicas regulares, por exemplo, são uma excelente maneira de liberar tensões e estabilizar o humor, uma vez que estimulam a produção de endorfinas, substâncias associadas ao bem-estar e ao prazer. A qualidade do sono também é crucial, já que a privação de sono pode aumentar a irritabilidade e diminuir a capacidade de lidar com situações estressantes. Além disso, manter uma alimentação equilibrada e evitar o consumo excessivo de álcool e outras substâncias pode melhorar a estabilidade emocional.

Por fim, é importante destacar o papel do apoio social no manejo das emoções. Conversar com amigos, familiares ou buscar orientação profissional pode fornecer perspectivas valiosas sobre os desafios emocionais enfrentados, além de proporcionar um senso de pertencimento e segurança. Grupos de apoio ou redes de ajuda também podem ser ferramentas fundamentais para aqueles que lutam com o descontrole emocional, pois permitem o compartilhamento de experiências e a troca de estratégias eficazes.

Em síntese, o descontrole emocional é uma questão que pode trazer sérios prejuízos à qualidade de vida e aos relacionamentos interpessoais. Suas causas são diversas, desde fatores biológicos até pressões sociais, e suas consequências podem ser severas tanto para a saúde mental quanto física.

JOSEMIR CAMILO DE MELO

Logo após a Independência, as províncias recorriam às vizinhas para ajudar na manutenção da ordem para alianças liberais, ou para rejeitar a separação. Nesse caso específico de que no Norte alguns governos controlados por portugueses ou por brasileiros absolutistas resistiram a D. Pedro, a Paraíba participou em dois momentos, enviando ora tropa para a Bahia, ora para o Piauí e até uma delegação para Pernambuco. No caso do Piauí, enviou uma expedição militar sob o comando do sargento-mor Antônio Vicente Monteiro da Franca para auxiliar o comandante das armas do Ceará, o sergipano José Pereira Filgueiras, contra o português João da Cunha Fidié, Governador das Armas do Piauí, absolutista, que ficara contra a Independência do Brasil. Mais uma prova da regionalização dos problemas políticos. É bem possível que, desta leva de paraibanos, alguns tenham ficado no Ceará e incorporado por lá, o que poderia ter sido o caso de Luiz Rodrigues Chaves. Sabe-se que Chaves, em abril de 1824, era comandante interino do batalhão de primeira linha, no Ceará, e fora ordenado pelo governador das armas de lá, Filgueiras, para prender pessoas influentes em Fortaleza.

Porém há um versão bem mais consistente já apresentada em 1924, pelo Desembargador Luna Freire (“Revolução de 1824”) que afirma ser Luiz Rodrigues Chaves de uma família importante da Paraíba, filho de João Rodrigues Chaves que o teria levado consigo para o Ceará, em 1810, quando era escrivão da Ouvidoria. De qualquer maneira isto não contraria que tenha ido combater os portugueses no Piauí.

Comadestituição,noCeará,dopresidentePedroJosédaCostaBarros,nomeadoporDPedro,eaproclamação da República em 29 de abril de 1824, o presidente republicano Tristão de Alencar nomeou Luiz Rodrigues Chaves ao cargo de sargento-mor e o enviou a Pernambuco, “reclamando de Manoel de Carvalho Paz (sic) de Andrade, armamento e o mais que era preciso para se proclamar a república (sic) do Equador”. Vale a pena registrar esse episódio, já que deixou memória escrita: “A Comissão Luiz Rodrigues Chaves a Pernambuco”, publicada na Revista do Instituto do Ceará, 1924, p.324).

Nomeado, agorasargento-mor,oentãomajorLuizRodriguesChaves, estefoiacompanhadopelo redatordeste relatório e que não se assina, nem data o documento (parecendo, assim apócrifo) além de um furriel, um cabo e quatro soldados. A comissão saiu de Fortaleza em 2 de maio e chegou ao Rio Paraíba (sem dizer quanto tempo gastou na marcha), no Engenho do Meio, de dona Anna, viúva de Amaro Gomes (Coutinho), pernambucano ou paraibano, que foi enforcado em 1817. Aconteceu que estando o rio com uma grande cheia, Chaves resolveu demorar-se alguns dias até que as águas baixassem. Era necessário que se afastasse do litoral já ocupado por forças imperiais. Chaves temia ser preso, pois era natural da cidade da Paraíba, de onde se ausentara havia muitos anos. No segundo dia, resolveu disfarçadamente ir visitar os irmãos na capital e pediu a Dona Ana, a quem ele chamava de tia, uma canoa com dois escravos, para descer até a capital, perto da noite e visitar discretamente os parentes. Talvez sua ambição de aparecer fosse maior do que a sua segurança, pois apenas vestiu uma casaca azul, mas manteve o chapéu com plumas verde e amarela, emblema nacional.

Com este uniforme, desceu às 11 da noite, no Varadouro e logo foi visto pelo sargento André Accioly de Vasconcellos, encarregado da polícia da capital, que o seguiu e o viu entrar na casa do seu cunhado, tenentecoronel Trajano Antônio Gonçalves de Medeiros, comandante das armas da província, e bastante comprometido com o presidente nomeado pelo Imperador.

André Accioly deixou um corpo policial à espreita e foi a palácio denunciar ao presidente, o pernambucano, Felipe Neri Ferreira o ocorrido. O presidente exigiu que o comandante das armas mandasse a sua presença o oficial. Interrogado pelo presidente, Chaves, não satisfazendo ao mandatário, foi preso na fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, enquanto o presidente mandava apreender toda a bagagem de sua comitiva, buscando a correspondência daquele portador.

Narra o redator dessa Comissão que Chaves antes de embarcar para a capital, lhe entregara uma carteira de viagem para deixar com sua tia, o que esse escrivão logo o fez, com o retorno dos escravos da canoa sem Chaves.

Na manhã seguinte, chegou Accioly ao engenho e mandou embarcar a bagagem da comissão, buscando a correspondência, mas só encontrou documentos de uma anterior missão de Chaves a Caxias, em que fizera parte, como coronel daquelacomissão e comandantedeuma coluna.Esse redatorterminouporserinterrogado pelo próprio presidente FelipeNerie respondeu quesabiaqueomajorChaves tinhaido em missão a Carvalho, mas ignorava a missão e o fim a que tinha dado aos ofícios que devia ter trazido para o presidente de Pernambuco.

Em seguida, começa uma redação meio caótica do relator comissionado, que merece reparo. Diz ele que Chaves continuou preso, mas tendo o Imperador suspendido o bloqueio do Recife (isso foi em 29 de junho), e nomeado José Carlos Mayrink da Silva Ferrão (isso foi em abril) em substituição a Francisco Paes Barreto, Felipe Neri teve de retirar-se para Pernambuco (já, isso, foi em 21 de julho e foi direto para a Corte), passando o cargo ao tenente-coronel Alexandre Francisco de Seixas Machado, o terceiro Conselheiro, na sucessão, de quem se dizia ser do lado de Carvalho.

Este libertou Chaves, que seguiu imediatamente para Pernambuco, deixando ordens para que o relator da Comissão logo o seguisse. No entanto, como castigo, o redator fora destacado para servir nas forças imperiais, em Alhandra, ao sul da capital, sob o comando de Joaquim Moreira Lima.

Em Pernambuco, Carvalho não deu posse a José Carlos Mayrink e este não quis assumir), as coisas permaneceram na mesma. O morgado do Cabo, Francisco Paes Barreto, agora destituído do cargo que nem assumiu, devido à nomeação de Mayrink, se juntou a vários oficiais superiores à força que veio do Rio de Janeiro, comandada pelo coronel Francisco de Lima e Silva. O relator diz que se lembrava do dia 11 de setembro, não só pelas derrotas que Lima e Silva ia infligindo às tropas carvalhistas, mas porque fazia oito dias, diz esse escritor, que ele havia se reunido a Chaves outra vez, desde os episódios da cheia do rio.

Aparecenessecenáriode guerra,otenente-coronel deGranja(Ceará)Manoel Antônio deAlmeida,negociante cearense e tido como “imperialista”, mas que, como amigo de Chaves empregou meios de apresentá-lo a Lima e Silva, para que oferecesse seus serviços contra Tristão de Alencar.

O relator cita que o major Pastorinha (major paraibano José da Fonseca Galvão), oficial da Paraíba lhe contara (quando? – o que dá sinal de texto apócrifo) que o coronel Lima e Silva fez umas reprimendas a Chaves, mas aceitou que ele voltasse e fizesse a contrarrevolução, o que se realizou, a partir da chegada de Chaves (e esta frase não faz parte deste relatório) em embarcação em Aracati. Foi com esta traição, recebeu uma embarcação com tropa e desceu nesta vila, iniciando a contrarrevolução, levando o exército de Tristão à derrota e à morte do líder republicano em 30 de outubro.

Conclui o relator sobre o personagem: “Na viagem que fizemos, notei que Chaves tinha um caráter volúvel e era dominado de muita ambição. Daí os contrastes de sua vida. Marchando contra Fidié (no Piauí) no posto de ajudante, durante a campanha chegou a coronel de comissão; reverteu ao posto de major, em consequência de seu procedimento na missão aCarvalho, e teve ainda de reverter para tenente, posto em que morreu” (

Segundo o cronista francês, radicado no Ceará, Pedro Théberge, que escreveu também sobre a Confederação do Equador, furioso pela traição, o presidente Tristão, de espada na mão foi atrás dos do exército do traidor Chaves. No entanto, sua tropa diminuía a olhos vistos, ficando Tristão praticamente só no final e foi trespassado por um imperial que usou sua própria espada. O corpo de Tristão foi despido, ultrajado, tendo sido decepado um dedo da mão, como troféu de vitória e de buscar recompensa que o Imperador oferecia a quem matasse um confederado.

O cadáver de Tristão permaneceu nesse local por muito tempo insepulto e exposto aos ultrajes dos seus bárbarosinimigos,atéque,consumidasas carnes, dependuraramoesqueletoaumramodeárvore,ondeviramse lhe os ossos alvejantes balançados pelos ventos, por longo espaço. Dizem que ninguém se atreveu a dar-lhe sepultura, senão o seu primeiro opositor. E quem foi este? Luiz Rodrigues Chaves que, talvez arrependido, passando por estes sítios, prestou-lhe o ultimo serviço de alguns punhados de terra em uma tosca sepultura.

“...

SÓ SÃO MACAIO NÃO...”

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO

ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS

Licenciado em Educação Física – Mestre em Ciência da Informação

“SÃO MACAIO” é uma canção dançada nos Açores. Foi, sobretudo na Ilha Terceira onde se generalizou a suatradição.Tudolevaa crerqueoseunomeoriginal sejaSãoMacárioequeonomecomqueficouconhecido seja já uma degeneração do primeiro. Acredita-se que São Macário, seria um navio que andava entre as ilhas e o Brasil e que teria naufragado numa das suas viagens. Pois como diz a canção: “São Macaio, deu à costa... toda a gente se salvou...(...) só o São Macaio é que não”:

S. Macaio, S. Macaio deu à costa Ai deu à costa nos baixos do Maranhão

Toda a gente, toda a gente se salvou Ai se salvou, só o S. Macaio não.

Ao se referir ao “Maranhão”, fica a dúvida: seria o estado do Maranhão (colonial), ou uma localidade da Ilha do Corvo? Pois “maranhão = grande mentira; peta grossa; palão / na música faz referência a um lugar da ilha do Corvo (in http://folclore.pt/jogo-popular-jogos-tradicionais/). A dúvida fica por conta de que não encontrei referência sobre esse naufrágio, buscando em documentos via ferramentas de busca pela Internet, tanto na história do Maranhão, quanto na dos Açores – Flores e Corvo -, embora haja a informação de que tal naufrágio ocorrera em 1747. Marques (2008), na relação das ocorrências das migrações açoriana não trata de chegada nessa data.

AoseprocederqualquerlevantamentoacercadosimigranteseuropeusquevieramparaoBrasilnaquelaépoca, facilmente se chega à constatação que uma das mais importantes participações foi a dos que procederam do Arquipélago dos Açores, pois foram eles que desbravaram as regiões mais remotas, caracterizadas por apresentarem condições tanto de clima quanto de solos e localização geográficas completamente diferentes das predominantes nas áreas até então habitadas da Colônia, e a despeito disso conseguiram se estabelecer e até mesmo fundar ou ajudar a fundar vilas e cidades nesses rincões mais longínquos (PEREIRA, 2002).

Nasprincipaisobras concernentesàHistóriadoMaranhãoedoParáencontram-sealguns registrosdapresença dos açorianos nos séculos XVII e XVIII na Região. Todavia, além de raras, são informações que tratam muito superficialmente do assunto.

A imigração açoriana para o Maranhão e o Grão-Pará se efetivou mediante três correntes, tendo lugar as duas primeiras ainda durante o século XVII e a terceira no século XVIII: A primeira corrente imigratória se deu entre os anos de 1619 e 1632. A segunda corrente de açorianos teria ocorrido nos anos de 1675 e 1676 e o motivo principal se deveu à erupção de um vulcão na Ilha do Faial, o que deixou um grande contingente de ilhéus em sérias dificuldades (Lisboa, 1866; Wiederspahn,1979 e Berredo, 1988). Uma terceira leva de açorianos destinados à Região Norte do Brasil ocorreu no período entre 1752 e 1756, quando o todo poderoso ministro Sebastião José de Carvalho e Melo - o Marquês de Pombal - procurou empreender uma corrente migratória para o Grão-Pará e o Maranhão, tomando como ponto de partida, mais uma vez, o Arquipélago dos Açores.

Sabe-sequeaCoroadePortugal assinouem abril de1751,com JosephÁlvares [ouAlves] Torres, um contrato parao transportedemil famílias das ilhas dos Açores paraoEstado doGrão-Pará.Viveiros(1992) desconhece se esses açorianos algum dia chegaram ao Maranhão ou ao Pará, mas há uma afirmação de Laytano (1987), com base numa monografia escrita por Arthur César Ferreira Reis, segundo a qual, em 1752, somente numa embarcação, vieram 430 ilhéus para a Amazônia e "logo no começo de 1766 chegaram casais de ilhéus, em número de 50, com duzentas e trinta e quatro pessoas" para Belém do Pará. A partir daí, as migrações concentraram-se nos atuais Pará e Amapá... Segundo Marques (2008):

1648 – 52 casais ou 365 individuos

1666 – 80 casais ou 250 individuos

1674 – 100 casais ou 500 individuos

1675 – 50 casais ou 234 individuos – 50 casais, 100 individuos

1677 – 50 homens, 47 mulheres e 126 pessoas de família

1750 – 96 casais ou 486 individuos

1752 – 430 individuos

1753 – 900 soldados

Continuemos as buscas... O certo, que a presença açoriana, hoje, se manifesta com as festas do Espírito Santo, e com o “Tarracá”, luta/jogo que se aparece na baixada maranhense – atarracar, atarracado – e na região dos Preguiças, com o nome de “queda”, único ‘wrestling” de origem portuguesa, e trazido por vaqueiros açorianos para o Maranhão (VAZ, 2019).

Das experiências e pesquisa apresentadas, e depoimentos dos participantes, em especial dos representantes das demais Casas dos Açores – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, e mesmo os representantes e pesquisadores açorianos aqui presentes – destaca-se o sentimento de “pertencimento” àquelas Ilhas. Somos todos ‘Ilhéus”...

A busca de identidade – açoreinidade, tal como a maranhencidade, tão cara a todos nós - de busca das raízes, se faz tão presente e cheia de orgulho, pelos ‘manezinhos’. É o que busca a Casa dos Açores do Maranhão, oficialmente fundada durante este Congresso Internacional.

Somente hoje entendi o que Vitorino de Brito Freire falou-nos, em 1976, durante uma visita à Imperatriz, ao Campus Avançado da UFPR/Projeto Rondon, de que o ‘maranhense é um eterno exilado”. As primeiras correntes migratórias, de ocupação e povoamento da terra, provém dos Açores... Vinham ‘fazer a vida’, e quem sabe, um dia voltar...

Da recuperação da memória/origem dos maranhenses, temos a pesquisa de Judith Bogéa Bittencourt sobre sua família – os Bittencourt -, em andamento, e o de Guido Garreto: “Garret – Traficante de escravos: a história esquecida da família Garret na Amazônia (Jaguatirica, 2018).

Lamentável, mesmo, é a ausência de nossos pesquisadores, em especial da UFMA e UEMA, num evento tão importante. Da UEMA, Franz Gasterlinck; tivemos alguns pesquisadores que se comprometeram com a organização do evento, em ministrar palestras, mas simplesmente, não compareceram... Se não vieram, é porque não têm importância, se não têm importância, não é necessário dar-se lhes os nomes...

In Comunicação durante o CONGRESSO INTERNACIONAL DOS 400 ANOS DA PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO: HISTÓRIA, CULTURA E IDENTIDADEE, São luis, 23 a 25 de outubro de 2019, Casa dos Açores do Maranhão/Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. MARQUES, Francisca Ester. Imigração açoriana no Maranhão e a fundação de São Luis: presença açoriana no Norte e Nordeste. REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁSFICO DO MARANHÃO, São Luis, n. 28, 2008, p. 45-60. PEREIRA, José Almeida. Contribuição dos Açores à Colonização do Brasil nos séculos XVII e XVIII. Disponível em https://web.archive.org/web/20160303231126/http://www.ihit.pt/new/boletim.php?area=boletins&id=74 LISBOA, J. F. - Jornalde Tímom. Lisboa:[s. n.],1858. t.2; LISBOA, J. F. - Obras deJoão Francisco Lisboa. SãoLuís doMaranhão: Typ. de B. de Mattos, 1866. v. 3

WIEDERSPAHN, H. O. - A colonização açoriana no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes/ /Instituto Cultural Português, 1979.

BERREDO, B. P. de. Anais históricos do Estado do Maranhão. 4. ed. São Luís: ALUMAR/Billiton/ALCOA, 1988. 390p. VIVEIROS, J. de. - História do comércio do Maranhão (1612-1895). Edição fac-similar. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, 1992. v.1.

LAYTANO, D. de. - Arquipélago dos Açores. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana, 1987. VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. CONTRIBUIÇÃO DOS AÇORIANOS PARA A CULTURA MARANHENSE: O CASO DO “TARRACÁ”. In Comunicação durante o CONGRESSO INTERNACIONAL DOS 400 ANOS DA PRESENÇA AÇORIANA NO MARANHÃO: HISTÓRIA, CULTURA E IDENTIDADEE, São luis, 23 a 25 de outubro de 2019, Casa dos Açores do Maranhão/Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão.

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira Centro Esportivo Virtual

E cumpre-se a professia:

“elle como profetizando disse os primeiros pouoadores dessas Ilhas roçarão, e trabalharão, e seus filhos semearão, os netos uenderão, e os mais descendentes fugirão dellas o que assim aconteçeo, conforme o que ate aqui os tempos nos tem mostrados” (CORDEIRO; MADEIRA, 2003)

Frei Diogo das Chagas, por meados do século XVII, se socorria de um hipotético dito, em tom profético, atribuído ao infante D. Fernando, que parecia condensar o que já então era uma realidade nas ilhas

A participação açoriana na colonização do Estado do Maranhão e Gão-Pará foi significativa. No total, se acrescentarmos os de alguns recrutamentos militares que também se efetuaram nas ilhas açorianas, a documentação disponívelparaoséculo XVIIpermiteapontarparaumacorrentemigratóriaconsiderável, entre os 5.000 e os 6.000 indivíduos:

ANOS ILHAS

NÚMEROS

1618 Grupo Central 95 casais / 561 almas

1621 São Miguel ? 40 casais / 148 pessoas

1649 Santa Maria, São Miguel 52 casais / 365 pessoas

1666 Faial 50 casais

1675 Faial 234 pessoas

1677 Faial 223 pessoas

Quadro 1: Contingentes de povoadores dos Açores na Amazónia (século XVII). Rodrigues (2015)

Jorge de Lemos de Bettencourt, capitão e fidalgo da Casa Real, se ofereceu para, à sua custa, já em 1615, transportar duzentos casais dos Açores para o Pará, num total de mil pessoas. A leva de colonos partiu dos Açores em 1618 e, segundo os dados apresentados por frei Vicente do Salvador, chegaram ao Maranhão somente 95 casais, com alguns solteiros, num total de 561 almas, transportadas em três navios

A primeira leva terá chegado somente em 11 de Abril de 1619: “A colónia do Maranhão prosperou constantemente: em 1621 duzentos colonos [casais?] dos Açores [possivelmente aqueles que terão chegado em 1619] aos quais seguiram mais quarenta, vieram reparar os danos causados pelas bexigas”.

Em terras amazónicas, o conflito estalou entre Jorge de Lemos de Bettencourt e os colonos, que, ao invés de seguirem para o Pará, ficaram no Maranhão. Os ilhéus não se mostraram disponíveis para acatar as ordens do chefe da expedição e, em requerimento feito em São Luís do Maranhão a 11 de Maio, assinado por 34 dos naturais das ilhas, apresentaram as suas razões, reclamando que ficasse no Maranhão a terça parte dos mil indivíduos que Jorge de Lemos de Bettencourt se obrigara a transportar e declarando que, aparentemente, o contratador pretendia que todos fossem para o Pará, o que eles recusavam, pois o Pará era então uma região em estado de guerra e sem “modo de povoar”. Devido a este insucesso e ao não cumprimento do estipulado, o rei questionaria mesmo Jorge de Lemos de Bettencourt acerca desta questão. Martins (2002) afirma tratarse dos 40 casais que António Ferreira de Bettencourt se tinha proposto transportar para o Maranhão.

Nova proposta de transporte de ilhéus para a conquista. Desta vez, o licenciado António Ferreira de Bettencourt, natural de São Miguel, conseguiu a mercê do ofício de provedor da Fazenda Real dos Açores por três anos ao oferecer-se para trazer da Flandres dois mestres na arte do fabrico de salitre e pólvora e para colocar no Maranhão cinquenta casais, tudo à custa da sua fazenda.

Em 1621, é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, com capital em São Luís do Maranhão, reconhecendose a importância estratégica e económica da foz e bacia do Amazonas, assim como das dificuldades de comunicação que existiam entre o Maranhão e a sede do governo da América portuguesa, situada em São Salvador da Baía.

A 24 de Novembro 1622, , o provedor da Fazenda Real dos Açores apresentou o traslado autêntico de uma certidão emitida pelo escrivão da Fazenda na conquista do Maranhão, datada de 29 de Outubro de 1621, confirmando a chegada no navio São Francisco de quarenta casais, perfazendo 148 pessoas

Por alvará de 21 de Março de 1624, o Estado do Maranhão e Grão-Pará fosse separado do Estado do Brasil. No ano de 1628, estariam prontos mais 200 casais que aguardavam a chegada de navios que os transportassem para as “conquistas do Maranhão”

Após a expulsão dos Holandeses em 1644, o recém-criado Conselho Ultramarino defendeu a necessidade de povoamento do Estado do Maranhão e, em consulta de 29 de Julho desse mesmo ano, sugeriu a D. João IV que fossem concedidas passagens e mantimentos a todos aqueles que pretendessem seguir para aquela região de fronteira. Trata-se dos 40 casais que António Ferreira de Bettencourt se tinha proposto transportar para o Maranhão

Nos anos de 1648-1649, mais alguns casais das ilhas de Santa Maria e de S. Miguel eram conduzidos à capitania do Maranhão: pelo Decreto de 19 de Setembro de 1648, pretendia-se recrutar, em Santa Maria, 100 casais, “que constavam de quinhentas para seiscentas pessoas”. E a 23 de Abril de 1649, partiram, de Santa Maria e de S. Miguel, para o Maranhão 52 casais, com 365 indivíduos, onde terão chegado em Agosto do ano seguinte. Esta leva, em particular, não agradou ao Governador do Maranhão, Luís de Magalhães, que, solicitava lhe enviassem degredados para colmatar a falta de gente, porque “a q. elle se enuiou da Ilha de S.ta Maria não hauer sido de nenhum seru.ço, nem utilidade, por seu pouco prestimo, e coitadisse q. não presta para mais q. p.a fogir ao trabalho, e pedir esmolas p.las portas”.

O padre António Vieira, em carta dirigida a D. João IV, escrita no Maranhão e datada de 4 de Abril de 1654, numa referência explícita à situação vivida em La Rochelle durante os conflitos religiosos em França: “O Maranhão e o Pará é uma Rochela de Portugal, e uma conquista por conquistar, e uma terra onde V. M. é nomeado, mas não obedecido”.

1666-1667, segunda leva por gente do Faial, terão transitado para ali 50 casais da ilha do Faial, que se estabeleceram no Pará Comenta Rodrigues (2015) [...] mesmo com a chegada de novos povoadores oriundos das ilhas, por meados do século XVII existiam apenas nove povoações portuguesas na região, com menos de 3.000 moradores brancos e, em 1663, o procurador do Estado do Maranhão, Manuel da Vide Souto Maior, afirmava que o número de moradores naquele território era de 700, uma cifra que incluía somente a população adulta e masculina. Por esse motivo, e face à apetência das nações rivais pelas riquezas das terras do Maranhão, Paulo da Silva Nunes, representante dos moradores, defendia que, para a defesa daquele Estado, eram necessários “muitos mil moradores brancos” e que a solução estaria em povoar o Estado do Maranhão com casais da Madeira, determinando a coroa que “em cada anno, sem duvida alguma, se lhe remetão sincoenta cazaes de moradores das ditas ilhas ou de outras partes, quando naquellas já os não haja”. [...] No Pará, o cenário era ainda pior: uma carta do governador do Estado informava, em 1674, que o número de moradores não excedia os duzentos casais e que as três companhias pagas aí existentes não atingiam os sessenta homens. Face a este panorama, o Conselho Ultramarino emitiu um parecer sublinhando o “quanto convinha, que V. A. mandasse cazais das Ilhas, para povoarem aquella Conquista”.

Devido às erupções que atingiram a Ilha de Faial, a 22 de Dezembro de 1672, os oficiais da câmara da vila da Horta escreveram ao Infante D. Pedro, então curador do rei e governador dos reinos, solicitando que os moradores das freguesias do Capelo e da Praia, no norte da ilha, passassem ao Maranhão, devido à sua muita pobreza. Assim, a 7 de Outubro de 1673, a questão foi abordada em consulta do Conselho Ultramarino e, a 28

de Novembro, este órgão examinou a proposta de João Pereira Seixas de levar para o Maranhão os casais da ilha do Faial a bordo da sua fragata, assunto que foi retomado em consulta de 13 de Janeiro de 1674

Em consulta do Conselho Ultramarino é especialmente útil para a análise do mecanismo de transporte dos casais até terras sul-americanas na medida em que nos permite conhecer a relação de custos apresentada por João Pereira Seixas: os casais (marido e mulher), em idade útil e com filhos, num total de 400 praças, implicariam um investimento de 1.600.000 réis, ou seja, 4.000 réis por casal; a roupa, 400.000 réis; as ferramentas e as armas, outros 400.000 réis; e o fretamento do navio, 600.000 réis. (RODRIGUES, 2015) Desconhece-se se este transporte de casais teve lugar, informa Rodrigues, 2015.

O capitão-mor da ilha do Faial, Jorge Goulart Pimentel, tinha já prontos 100 casais que deveriam seguir no ano seguinte para o Brasil·. Exigia-se, então, que os casais fossem compostos “dos homens mais idoneos para o trabalho, cujas mulheres sejam capazes de propagação e tenham mais filhos para se formar uma nova povoação; para cujo effeito ordenareis sejam de todos os officios: lavradores, pedreiros, carpinteiros, e ferreiros, serralheiros, sapateiros e alfaiates”. A 18 de Agosto de 1675 partia daquela ilha a fragata Nossa Senhora da Palma e São Rafael com 50 casais faialenses (234 pessoas), tendo por destino o Pará. O capitãomor Jorge Goulart Pimentel dava ainda conta de “que os outros cincoenta cazais ficarão promptos, e muytos delles, por pobres, em cazas suas, sustentandoos à sua custa; e que alem destes 50 que estão promptos, se podem tirar daquella Ilha, e da do Pico (de que he Governador) cem cazais mais, sem todos estes fazerem falta”.

Em todo este processo, Jorge Goulart Pimentel contou com as prestimosas colaborações do provedor da Fazenda Real nos Açores, Agostinho Borges de Sousa, e do almoxarife do Faial, Jorge Furtado de Arês, motivo pelo qual seriam elogiados pelo Conselho Ultramarino, que, em consulta de 20 de Outubro de 1675, sugeriu ao príncipe regente que a todos agradecesse .

Na charrua Nossa Senhora da Penha de França e São Francisco Xavier, propriedade de Francisco da Costa, da ilha Terceira, partia , em 1677, a segunda leva de colonos para o mesmo porto (Pará), num total de 50 homens, 47 mulheres e 126 “pessoas de família”, com uma ajuda de custo de 8.000 réis para cada casal e levando em sua companhia, por vontade do governador, o padre Carlos de Andrade. Nesse mesmo ano, encontravam-se também a aguardar transporte 200 casais de gente da ilha Graciosa, que “hera muyto pobre faltos de todo necessario”.

Para o período 1665-1706, Rafael Chambouleyron (2008) identificou cerca de 90 sesmarias concedidas pelos governadores e na sua maioria, confirmadas pelos monarcas portugueses, o que revela “uma lógica particular de ocupação do território pela agricultura, a partir do sistema fluvial composto pelos rios Acará, Moju, Capim e Guamá, na capitania do Pará; e principalmente na ilha de São Luís e na fronteira oriental da capitania do Maranhão”

Cordeiro e Madeira (2003) registram o sucesso desses colonos: Independentemente do sucesso, ou não, destas movimentações, já havia, pelo menos na década de 1670, no Maranhão, açorianos que tinham arrecadado uma fortuna considerável. Numa dessas levas, provavelmente das primeiras décadas de seiscentos, terão chegado os irmãos Pereira de Lemos – Bartolomeu, António e Catarina –, filhos de João Pereira de Lemos e Isidra Gonçalves Vilalobos, naturais da freguesia de N. Senhora do Rosário (Topo), da ilha de S. Jorge. No testamento do primeiro, Bartolomeu Lemos, solteiro, realizado em São Luís do Maranhão, em 29 de Julho de 1676, é perceptível que tinha acumulado fortuna, constituída por terras, casas, escravos, engenhos de açúcar, gado e dinheiro. O numerário provinha, sobretudo, de actividades comerciais que mantinha, inclusivamente com a ilha Terceira, para onde enviava essencialmente açúcar. Encontrava-se perfeitamente integrado na sociedade de São Luís do Maranhão, sendo membro de várias irmandades, destacando-se, por exemplo, a Santa Casa da Misericórdia, de que tinha sido provedor. O irmão, António Pereira de Lemos, também solteiro, de posses um pouco mais modestas, pelo que se pode perceber do seu testamento, efectuado em 21 de Agosto de 1679, foi criador de gado e proprietário de algumas fazendas. Também foi irmão da Santa Casa da Misericórdia de São Luís do Maranhão

O recurso aos casais das ilhas foi interrompido no final da década de 1670, apesar de todos os obstáculos, uma dinâmica de ocupação e exploração do solo amazónico continuou a manifestar-se na viragem para o século

XVIII, embora o fluxo emigratório açoriano foi mais contido na primeira metade do século. A promulgação da lei de 20 de Março de 1730, com aplicação nas ilhas, constituiu forte entrave à livre circulação de pessoas entre o Reino e o Brasil, ao exigir uma justificação documental a todos os que para ali pretendessem deslocarse.Ao longo da primeira metade de Setecentos a Coroa continuou, contraditoriamente, a apoiar e a promover a saída de casais ilhéus. Interessava, sobretudo, povoar, explorar e defender as regiões fronteiriças do Sul –Sacramento, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – e do Norte – Maranhão e Pará. CORDEIRO E MADEIRA, 2003).

Em 1747, alguns dos casais matriculados foram encaminhados para o Pará e Maranhão. E em 1751, encontravam-se alguns casais “que se tinhão alistado para irem para o estado do Pará e Maranhão”. As Instruções régias, de Maio, para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, que foi desempenhar o cargo de Governador e Capitão General do Estado do Grão Pará e Maranhão, davam conta da necessidade de se proceder, com a maior brevidade, à instalação daqueles casais. Em correspondência para seu irmão, Sebastião José de Carvalho e Melo, Mendonça Furtado afirma: “achei já o navio do transporte dos casais das Ilhas dos Açores, que tinha chegado a êste porto em 29 de agôsto [de 1751], e entregou 486 pessoas [86 casais], não lhe morrendo naviagem mais doquequatro,porém, nas quetrouxe da IlhaTerceiravieram alguns velhos emuitas crianças”. Referindo-se aos povoadores, o Governador queixava-se: “não têm servido até o presente mais que de uma desordem contínua, e perturbação de esta terra”. Ainda assim, em Janeiro, esses povoadores seriam instalados na nova povoação de São José do Macapá e o Governador aguardava a chegada de outro navio das ilhas. Em Novembro, chegaram mais 430 pessoas das ilhas. Segundo Francisco Xavier de Mendonça Furtado, estes ilhéus participaram na colonização das vila de Bragança e de Ourém, nas “margens dos rios Guaçu e Caeté”

Em1753,JoséRodriguesEsteveseBentoJosé,propõem-searremataràcoroaotransportedegentedosAçores para o Brasil. Como muitos casais haviam desistido de partir, os armadores apresentam uma proposta para os substituir pelo transporte de 900 soldados açorianos para o Pará 1754, Setembro, outro navio com casais ilhéus naufragou já com o Pará à vista. Transportava 74 pessoas, das quais 38 acabaram por perecer 1758, a lei de 4 de Julho é peremptória em limitar a emigração, sob o argumento da insuficiência de mão-deobra para assegurar o normalidade da vivência insular

Judith Bogéa Bittencourt (2019), em correspondência pessoal, informa-nos, sobre os acontecimentos posteriores, já no século XIX:

[...] a vinda dos açorianos para a fazenda onde hoje está estabelecido o Povoado Colônia, em Mirinzal. O Quilombo do Frechal em Guimarães, MA também pertenceu a Torquato Coelho de Souza, filho do colonizador açoriano Manoel Coelho de Souza como cita Souza Neto, 1976 depois foi propriedade por herança de família do Dr. Hugo Napoleão Coelho de Souza que foi Juiz em Vitória do Baixo Mearim e casou com Maria Raymunda Fernandes Bogéa (Bogéa Coelho de Souza, após casada). [...] Em pesquisas no Observatório de 24.08.1854 n. 549, a matéria Advertência relata que vieram açorianos para a Villa S. João de Cururupu e para o Alto Itapecuru e Gurupi para empresas do português Sr. Antonio Corrêa de Mendonça Bittencourt, esse empreendimento que buscava integrar pessoas da região e os açorianos não foi avante porém a proposta do Bittencourt além de pretender unificar portugueses e brasileiros dessa região almejava através de trabalhos diversificados contribuir para o desenvolvimento do Litoral Ocidental do Maranhão que na minha percepção poderia replicar sua ação a vizinha Baixada Maranhense e seus municípios lindeiros a esse setor do litoral maranhense. A saga desse português está sendo descrita pelo historiador Eulálio Leandro que esteve presente no recente Congresso dos 400 anos da vinda dos açorianos para o Maranhão.

Refere-se à Colonia Santa Izabel, assentada em Guimarães – (hoje, Mirinzal), mais duradoura, mesmo com a troca de direção devido à morte do coronel Torquato Coelho de Souza, seu fundador. Ainda em 1861 o presidente de província noticiava que esta continuava a “florescer”. Apesar de o contrato ter sido assinado em abril de 1852, os colonos só mudaram-se para as terras destinadas á colônia em Dezembro de 1853, com 51 portugueses, mas o relatório de presidente de província de 1853 contava 48 indivíduos, devido à morte de uma mulher e dois recém-nascidos. Em Outubro deste ano chegavam mais 11, aproximandose dos 80 que foram prometidos. Entre os 59 que iniciaram Santa Izabel, 40 eram homens e 19 eram mulheres, sendo entre eles 16 menores de ambos os sexos.

O mais antigo registro da área datada de 1792, quando por sesmaria foi concedido um quinhão ao português Manoel Coelho de Souza, havendo de tornar-se uma das mais prósperas lavoura de cana-de-açúcar' e algodão da freguesia de Guimarães, a quem a região pertencia geográfica e politicamente. José Coelho de Souza e Torquato Coelho deSouzaderam continuidadeaoflorescimento dessaprodução,entretantoem 1925ocorreria um fato inusitado.OÚltimo herdeirodetalfamília,ArturCoelho deSouza,endocontraído umagrandedivida, hipotecou as Terras de Frechal. Conscientes das dificuldades, os negros trabalharam arduamente e, com uma só safra da lavoura de algodão, conseguiram saldar a divida. Agradecido, o fazendeiro deixou em testamento parte das terras de Frechal aos negros.

BIBLIOGRAFIA

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AHU, CU, Brasil-Maranhão, cx. 2, doc. 155 AHU, CU, Brasil-Maranhão, cx. 5, doc. 590, carta do governador do Maranhão de 25 de Julho de 1674 e consulta do Conselho Ultramarino de 16 de Outubro de 1674.

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Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Conselho Ultramarino (CU), Brasil-Maranhão, caixa (cx.) 1, doc. 51, de 24 de Novembro de 1622. 18 Cf. COSTA, João Paulo Oliveira. In RODRIGUES, 2015, obra citada.

Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), Açores, caixa 1, doc. 43 (01/08/1628).

BITTENCOURT, Judith Bogéa. Correspondencia pessoal via correio eletrônico, postado em 23 de novembro de 2029 ao autor Carta régia de 5 de Março de 1619, in Documentos para a História do Brasil e especialmente a do Ceará: 16081625. Editados por Guilherme de Studart [Barão de Studart], Fortaleza, Typ. Minerva, de Assis Bezerra, 1909, vol. 2, pp. 181-182. In RODRIGUES, 2015, obra citadaCORDEIRO, Carlos; MADEIRA, Artur Boavida. A EMIGRAÇÃO AÇORIANA PARA O BRASIL (1541-1820) uma leitura em torno de interesses e vontades. ARQUIPÉLAGO • HISTÓRIA, 2ª série, VII (2003) 99-122, https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/384/1/Carlos_Cordeiro_p99-122.pdf

CHAMBOULEYRON, Rafael. A Amazônia colonial e as ilhas atlânticas. Canoa do Tempo. Revista do Programa de PósGraduação em História da Universidade Federal do Amazonas. Jan./Dez. 2008, vol. 2, n. 1, pp. 187-204, maxime pp. 203. 24 Cf. “Description de Maranhao”, in MAURO, Frédéric. Ob. cit., p. 191 Códice 529 do Arquivo Histórico Ultramarino: a capitania-geral dos Açores durante o consulado pombalino (introdução e fixação do texto de José Guilherme Reis Leite), Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura/Direcção Regional dos Assuntos Culturais – Universidade dos Açores, 1988 pp. 89-92

CORRÊA, Aires Jacome. Historia documental da Revolução de 1821 na ilha de S. Miguel para a separação do governo da Capitania Geral da ilha Terceira. Revista Michaelense, Ano 4, n.º 1, Março de 1921, pp. 907-1000, maxime p. 949. Existe alguma confusão de datas sobre este transporte. Julgamos que este movimento terá correspondido à segunda leva de colonos para o Pará documentada no Arquivo dos Açores, vol. I, pp. 371-376, e vol. V, 1981, p. 267

COSTA, Ivan R; Pesquisador do PVN/SMDDH e CCN-MA. https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/documents/03D00017.pdf “Description de Maranhao”, In: MAURO, Frédéric. Le Brésil au XVIIe siècle. Documents inédits relatifs à l’Atlantique Portugais. Separata de Brasília. Coimbra. 1963, vol. XI, pp. 183-191, maxime p. 189; “Erupção na Ilha do Fayal (1672)”, in Arquivo dos Açores, vol. III, pp. 344-5, 350-1 e 432-4.

Frei Diogo das Chagas, Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores, direcção e prefácio de Artur Teodoro de Matos, colaboração de Avelino Freitas de Meneses e Vitor Luís Gaspar Rodrigues, Ponta Delgada-Angra do Heroísmo, Universidade dos Açores/Centro de Estudos Gaspar Frutuoso-Secretaria Regional da Educação e Cultura/Direcção Regional dos Assuntos Culturais, 1989, p. 120.

“Instruções régias, públicas e secretas para Francisco Xavier de Mendonça Furtado, capitão-general do Estado do Grão Pará e Maranhão”, in Marcos Carneiro de Mendonça, A Amazônia na era pombalina. Correspondência inédita do

governador e capitão-general do Estado do Grão Pará e Maranhão Francisco Xavier de Mendonça Furtado – 1751-1759, Tomo I, São Paulo, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1963, p. 29. “Mandado do Conselho da Fazenda, para o Almoxarife da ilha de Santa Maria. 1648”, in Arquivo dos Açores, vol. I, p. 485.

MARTINS, Ananias Alves “Imigrantes esquecidos na fronteira norte. Açorianos na colonização e na cultura. Maranhão, século XVII”, in Véra Lucia Maciel Barroso (org.), Açorianos no Brasil, Porto Alegre, edições EST, 2002, pp. 16-41.

MENDONÇA, Marcos Carneiro de A Amazônia na era pombalina…, ob. cit., Tomo II, pp. 586-589, 86ª Carta de 12 de Setembro de 1754. Sobre a importância política destas movimentações e a criação de novas povoações cf. José Damião Rodrigues e Artur Boavida Madeira, “Rivalidades imperiais e emigração: os açorianos no Maranhão e no Pará nos séculos XVII e XVIII”, Anais de História de Além-Mar, vol. IV, Lisboa, CHAM/FCSH/Universidade Nova de Lisboa, 2003, pp. 247-263.

MENEZES, Manuel de Sousa, “Os casais açorianos no povoamento de Santa Catarina”, Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, n.º 9, 1952, p. 40-104, maxime p. 68.

PIAZZA, Walter F. e FARIAS, Vilson Francisco de “O contributo açoriano ao povoamento do Brasil”, Actas da III Semana de Estudos da Cultura Açoriana e Catarinense, Ponta Delgada, 1993, pp. 191-220. Cf., também, Rosa Elizabeth Acevedo Marin, “Açorianos nas terras conquistadas pelos portugueses no vale do Amazonas. Açorianos no Cabo Norte – século XVII”, in Véra Lucia Maciel Barroso (org.), Açorianos no Brasil, Porto Alegre, edições EST, 2002, pp. 4260.

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ROCHA GIL, Maria Olímpia da O arquipélago dos Açores no século XVII. Aspectos sócio-económicos (1575-1675), Castelo Branco, Edição da autora, 1979, p. 29. A este propósito cf., também, AHU, Açores, caixa 2, doc. 4 (16/04/1649).

SALVADOR, frei Vicente do. Historia do Brasil. 3ª ed. Revista por Capistrano de Abreu e Rodolpho Garcia, São PauloCayeiras-Rio de Janeiro, Companhia Melhoramentos de S. Paulo, s. d. [1931], p. 456.

VIEIRA, padre António. Cartas. Coordenadas e anotadas por J. Lúcio de Azevedo. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, reimpressão da edição de 1970, 1997, tomo I, carta LXVIII, pp. 405-414, maxime p. 406

COMO TÚ FALAS, MANÉZINHO?

Instituto Histórico e Geográfico Maranhense

Academia Ludovicense de Letras

Academia Poética Brasileira

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Porque, como afirma Jorge Dias, “(…) Nós, portugueses, estamos não nas vésperas, mas em plena fase de perdermos toda essa riqueza do passado. Se não corrermos rapidamente a salvar o que resta, seremos amargamente acusados pelos vindouros, pelo crime indesculpável de ter deixado perder o nosso património tradicional, dando mostras de absoluta incúria e ignorância. Se não o fizermos, daqui a duas gerações podemos ser um povo descaracterizado e profundamente pobre (…)”, Folclore.PT – O Portal do Folclore Português, ponto de encontro dos Folcloristas!

Foram os “filhos do reino”, os açorianos e/ou seus descendentes europeus que tentavam, a todo custo, dar ao Maranhão um “tom de civilidade e de corte”, e daí que São Luís recebe o título de Atenas Brasileira:

A “Atenas Brasileira” era revestida por uma imagem de um mundo de luxo, hábitos refinados e erudição que as elites do Maranhão construíram para si, sempre voltadas para a Europa e de costas para a miséria em que viviam escravos, índios e livres pobres, deixados à margem do refinamento cultural ou ilusório. (Faria, 2012)

Outra característica maranhense é o falar usando o pronome na segunda pessoa. De nossa herança multirracial apresenta-se a singularidades que até hoje faz parte da história e do senso comum maranhense – o de “Atenas Brasileira” e a tradição de ser a “única capital brasileira fundada por franceses”. Representações como estas repousam no imaginário do maranhense que atribui ao uso do pronome tu com concordância o também já cristalizado discurso de que a capital maranhense “é o lugar onde melhor se fala o português” (ALVES, 2015)

Sobre a implantação da língua portuguesa no Brasil, Castilho (2013) apresenta oito focos irradiadores que formaram o tecido linguístico do Brasil. São eles: a) quatro do século XVI: Olinda e Recife (1535), Salvador (1549), São Paulo e São Vicente (1554), Rio de Janeiro (1557); b) dois do século XVII: São Luís do Maranhão (1612) e Belém (1616) e c) dois do século XVIII: Florianópolis (1738) e Porto Alegre (1752).

Astolfo Serra (1965) dizia que

Até hoje, o estilo do maranhense é oratório, é coimbrão. A velha cidade portuguesa enchia a cabeça dos jovens, que de lá voltavam com suas capas romanescas, suas cabeleiras empoadas, saturados de ideias revolucionárias. Toda essa geração de boêmios intelectuais deu a nossa gente “êsse” espírito de grande apego às letras e às artes. Essa tradição é o maior orgulho da terra. O maranhense sempre incha o papo quando diz: isto aqui é “Atenas Brasileira”. Existe até no homem do povo, êsse orgulhozinho cabloco.

Segundo Alves (2015), muitos atribuem à influência francesa o fato de o maranhense conservar o pronome tu com as conjunções verbais. No entanto, historicamente o que se sabe é que a presença francesa em território maranhense não durou mais que três anos (1612-1615), limitando-se apenas à construção do marco fundador da capital que, segundo Lacroix (2004), “não passou de um forte de madeira com modestas palhoças, localizadas no alto do morro. Quando da expulsão dos franceses, os portugueses construíram no local um complexo militar denominado de fortaleza de São Felipe.”

É assim que, na primeira metade do século XVII, a capital maranhense se configura como a raiz fundante da civilização amazônica que se alastrou pelo Grão-Pará e ultrapassou as fronteiras imaginárias do Tratado de Tordesilhas: “Achando-se a Ilha sem índios e franceses” (D’EVREUX, 2002), a ocupação da capital toma novo rumo com a consolidação da colônia portuguesa que passa a receber “gente das ilhas açorianas” ou “casais das ilhas” (ALVES, 2010)

É dessa forma que chegam, em solo maranhense, 95 casais e alguns solteiros totalizando 561 almas transportadas dos Açores. Aliás, os “casais das ilhas” se destacam por sua contribuição efetiva nos territórios de povoamento e colonização portuguesa, pois, além de colonizadores e militares, eram “agentes de difusão da fé cristã” e “exímios lavradores”.

Desde então, o Maranhão chegou a receber cerca de 5000 a 6000 mil indivíduos no decorrer dos séculos XVII e XVIII. Convém ressaltar que a região maranhense é considerada a primeira a receber os colonos ilhéus de forma organizada devido, em grande parte, a sua importância estratégica e econômica na região amazônica (RODRIGUES, 2008).

Ao processo de povoamento, se junta o braço africano que aqui foi introduzido pela Companhia de Comércio do Maranhão, em 1682, com a intenção de fornecer por vinte anos escravos negros destinados à lavoura que, até então, contava com a mão de obra escrava indígena.

Temos, pois, já no início da colonização maranhense, uma sociedade mista e altamente estratificada composta por portugueses e seus imediatos, descendentes de brancos que se dividiam em nobres e cidadãos, peões ou mercadores, mecânicos, operários e trabalhadores de qualquer espécie e os de segundo plano, [composta] de infames pela raça ou crime, como cristãos-novos ou degredados, ao que somavam índios escravos ou não e uma pequena quantidade de escravos provenientes de Angola, Guiné e Cabo Verde. (MARTINS, 2002, p. 20).

Assim, há fundamento maior em afirmar que o “tu maranhense” tem raízes lusitanas, sobretudo se considerarmos a intensa migração açoriana no decorrer dos séculos XVII e XVIII (ALVES, 2010, 2015).

É a partir do domínio português que São Luís é elevada a sede do governo com a organização do Estado do Maranhão e Grão Pará e que vê, em 1626, a criação da sua primeira escola com o objetivo de ensinar lições de catecismo aos filhos dos portugueses. A capital passa, portanto, a ser um dos oito focos irradiadores da língua portuguesa (SILVA NETO, 1963) ·

Segundo Silva Neto (1963), os meninos luso-descendentes deram muita esperança em difundir a língua portuguesa no Maranhão e “nem podia deixar de ser assim, numa terra de tão profunda tradição portuguesa –um dos lugares onde é voz corrente que melhor se fala o português.” Tamanha “tradição” é atribuída aos açorianos que, segundo o autor, tinham “virtudes especiais” e “verdadeira nobreza”, logo, falar o português mais próximo daquele falado na metrópole dava a seus descentes motivos de orgulho.

ALVES, Cibelle Correa Beliche. PRONOMES DE SEGUNDA PESSOA NO ESPAÇO MARANHENSE. Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas, do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Linguística. Área de Concentração: Linguagem e Sociedade Linha de Pesquisa: Língua, Interação Sociocultural e Letramento Orientador: Profa . Dra . Maria Marta Pereira Scherre. Brasília – DF 2015. https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/19897/1/2015_CibelleCorr%c3%aaaB%c3%a9licheAlves.pdf

ALVES, Cibelle Correa Beliche. O uso do tu e do você no português falado no Maranhão. 2010.141f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. CASTILHO, Ataliba. A hora e a vez da língua portuguesa, 2013. Disponível em: http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/files/mlp/texto_34.pdf

D’EVREUX, Yves. Viagem ao norte do Brasil: feita nos anos de 1613 a 1614. São Paulo: Siciliano, 2002.

FARIA, Regina Helena Martins de. Mundos do trabalho no Maranhão oitocentista: os descaminhos da liberdade. São Luís: EDUFMA, 2012

LACROIX, M. de L. L. A fundação francesa de São Luís e seus mitos. 3. ed. rev. amp. São Luís: UEMA, 2004. MARTINS, Ananias. Imigrantes esquecidos na fronteira norte: açorianos na colonização e na cultura - Maranhão, século XVII. In: BARROSOS, Vera Lúcia Maciel. Açorianos no Brasil: história, memória, genealogia e historiografia. Porto Alegre: Edições EST, 2002, p. 16-41.

RODRIGUES, José Damião. Do Amazonas ao Prata – os açorianos no povoamento do Brasil: os casais e as levas de militares, 2008. In: http://www.nea.ufsc.br/palestras_coloquio/JOSE%20DAMIAO.pdf. Acesso em 18 outubro de 2014. SERRA, Astolfo. Guia Histórico e Sentimental de São Luís do Maranhão. São Luis: SIOGE, 1965 SILVA NETO, Serafim da. Guia para estudos dialetológicos. Belém: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 1963, citado por ALVES, 2015, obr acitada

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