A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor
EXPEDIENTE
LUDOVICUS
MAGAZINE EDITADO POR
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
DEDICADO À LITERATURA LUDOVICENSE /MARANHENSE
Revista eletrônica
EDITOR
Leopoldo Gil Dulcio Vaz
Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem livros e capítulos de livros publicados, e mais de 500 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor das “Revista do Léo”, “Maranha-y”, e agora, LUDOVICUS; Condutor da Tocha Olímpica –Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
Esta é uma Revista Eletrônica, dedicada à Literatura Ludovicense/Maranhense. Na edição passada, utilizamos a imagem de São Luís, Rei de França. A desta edição, Luís XIII, o Justo, ainda criança, quando da fundação de São Luís, em 1612... Lembrando, sempre, que Miganville é de 1594... Luís XIII (Fontainebleau, 27 de setembro de 1601 – Paris, 14 de maio de 1643), também chamado de Luís, o Justo, foi o Rei da França e Navarra de 1610 até sua morte. Era filho do rei Henrique III & IV e de Maria de Médici
Luís ascendeu ao trono alguns meses antes de seu aniversário de nove anos, com sua mãe atuando como regente durante a minoridade. O mau gerenciamento do reino aliado às intrigas políticas de Maria e seus favoritos italianos levaram o jovem rei a tomar o poder em 1617, exilando-a e aos seus seguidores.
Taciturno e desconfiado, Luís muito dependia do Cardeal de Richelieu, seu principal ministro, para governar seus reinos. O rei e o cardeal são lembrados por estabelecerem a Academia Francesa e por colocarem um fim em uma revolta na vila francesa. Seu reinado também foi marcado por conflitos contra os Huguenotes e a Espanha
Delfim do Viennois desde 1601 a 1614, Luís XIII cresceu com seus irmãos e irmãs no Palácio de SaintGermain-en-Laye [1] Foi criado ao lado dos filhos bastardos de seu pai. O delfim não saiu de Saint-Germainen-Laye até 1609, quando partiu para viver no Louvre ao lado de seu pai, para aprender sobre seu futuro cargo de rei.
O jovem rei recebe uma educação superficial por parte de seu preceptor, Gilles de Souvré. Pouco interessado em latim e em letras, o jovem rei se interessava mais pela caça e pela música.
Em 14 de maio de 1610, quando morre Henrique IV, Luís XIII sobe ao trono com apenas nove anos de idade. Foi sagrado em Reims em 17 de outubro de 1610, sendo sua mãe declarada regente. Luís foi também o 10º chefe, soberano grão-mestre da Ordem de São Miguel e 3º chefe soberano grão-mestre da Ordem Milícia do Bendito Espírito Santo.
O Vinhais Velho é um bairro da cidade de São Luís, também conhecido pela sua importância históricocultural, em razão do sítio arqueológico existente na região. É o bairro mais antigo da cidade.
Inicialmente, o local era habitado pelos índios tupinambás, onde existia a aldeia de Eussaup ("lugar onde se comem caranguejos"), até ser conquistado pelos franceses em 1612, no processo de formação da França Equinocial.[1]
A aldeia também ficou conhecida como Miganville, em razão de nela residir o francês David Migan, que se tornou uma liderança entre os indígenas e servia de tradutor para a administração francesa.[1]
Em 1615, os portugueses tomaram o controle de São Luís, tendo sido instalada a primeira missão jesuíta do Maranhão, passando a se chamar Uçaguaba e, posteriormente, Aldeia da Doutrina.[1]
Com a expulsão dos padres jesuítas pela Coroa Portuguesa, seus bens foram confiscados e a Aldeia da Doutrina tornou-se a Vila de Vinhais, contando com Câmara e juiz. Sua origem seria a vila portuguesa de Vinhais, localizada no distrito de Bragança.[1]
Em 1835, a Vila do Vinhais foi incorporada ao município de São Luís.
Passou a se chamar Vinhais Velho com o surgimento do Conjunto Habitacional Vinhais (1979) e do Recanto do Vinhais.
O Vinhais Velho abriga uma comunidade de 3 mil moradores, muitos deles pessoas humildes e descendentes das antigas populações coloniais e pré-coloniais. O bairro tem ainda a Igreja de São João Batista, o Cemitério do Vinhais Velho (construído em 1690), e o Porto do Vinhais Velho, feito com pedras e utilizado pelos pescadores, catadores de caranguejos marisqueiros da região para atracar canoas, que já foram o principal
meio de transporte no igarapé do Vinhais, afluente do rio Anil. O estilo de vida rural da comunidade seria bastante afetado pela construção da Via Expressa.
Há uma lógica na edição dos acontecimentos: seguem o tempo... a data de publicação... algumas pessoas pediram-me para “organizar” o conteúdo e não perceberam que a revista é mensal, e os eventos ocorrem no decorrer do mês... assim, quando alguém posta algo de interesse, com uma data de rrealização, é nessa sequen ia que a nota sai... e quando o evento é realizado dentro do mês em questão, aparece a divulgação, coloco junto com a ‘chamada’...
Não é bagunçado, nem aleatório...
Li, no JP, artigo do Sanatiel chamando a atenção de que ‘não temos mais poetas’, não se anda mais pelas ruas de São Luis, com seus velhos casarões tombados pelo Patrimonio – e agora, tombados pelo descaso -, e se ‘tropeça’ com um poeta caminhando, quem sabe, buscando inspiração... as musas, agora, são virtuais, encontradas só em ‘selfies’, assim como se tropeça nos poetas também ‘andando nas nuvens’, mas da Internet...
Outros tempos, outros modos de poetar... mas ainda se poeta
Carpe diem é parte da frase latina carpe diem quam minimum credula postero (literalmente: 'aproveita o dia e confia o mínimo possível no amanhã'), extraída de uma das Odes, de Horácio (65 a.C. - 8 a.C.), e tem numerosas traduções possíveis: "colhe o dia" (tradução literal), "desfruta o presente", "vive este dia", "aproveita o dia" ou "aproveita o momento". O poeta latino exorta sua interlocutora, Leucônoe, a desfrutar do prazer que a vida oferece, a cada momento. No contexto da decadência do Império Romano, a frase resumia o ideal horaciano, de origem estoico-epicurista, de aproveitar o que há de bom em cada instante, já que o futuro é incerto. Entretanto a frase é frequentemente repetida, com um sentido (inexato) de convite ao viver alegre e despreocupado.
Origem
A frase é extraída de Odes I, 11.8, de Horácio. As Odes (em latim: Carmina), 103 poemas reunidos em quatro livros, foram dedicadas ao protetor do poeta, Mecenas. Os três primeiros livros foram publicados em 23 a.C., e o quarto, depois de 15 a.C.
Na ode 11 (8 versos) do livro I, o poeta dirige-se a Leucônoe (a menina "dos pensamentos ingênuos"), enquanto ela se ocupa de cálculos astrológicos ("os números babilônicos") para saber se eles viverão muito tempo. O conselho dado pelo poeta é não se preocupar se viverão muito ou pouco mas beber e aproveitar o presente, pois o futuro é incerto : carpe diem
Latim Português[3][4]
Tu ne quaesieris, scire nefas, quem
mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam, quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum: sapias, vina liques et spatio brevi spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida
aetas: carpe diem quam minimum credula postero.
Tu não questiones é crime saber o fim que para mim, que para ti os deuses terão dado, ó Leucônoe, nem mesmo consultes os números babilônicos. Quão melhor, o que quer que será, ser suportado! Quer Júpiter te haja concedido muitos invernos, quer seja o último o que agora quebra as tirrenas ondas contra as pedras, sejas sábia, diluas os vinhos e, por ser breve a vida, limites a longa esperança. Enquanto falamos, foge invejoso o tempo: aproveita o dia, minimamente crédula no amanhã.
Expediente
Editorial Sumário
ASSIM FALOU MEU PRIMO PALAVRAS DO MESTRE JORGE ACONTECEU
2A EDIÇÃO DO SARAU POÉTICO DO CONVENTO DAS MERCÊS
SOLENIDADE DE ABERTURA DO ANO CULTURAL 2024 DO IHGM
ANA ELIZANDRA RIBEIRO (ANNA LIZ) - APP
EDMILSON SANCHES - AIL
ARTIGOS & ALGO MAIS
ENGAJAMENTO E LIRISMO AFLORAM NA POESIA DE WANDA CUNHA E DE LINDA BARROS
NÃO É FÁCIL
EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRA - APP A EVOLUÇÃO DA ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA É A OLHOS VISTOS, EM 8 ANOS DE EXISTÊNCIA VIRTUAL
JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA - ALL
ROBERTO FRANKLIN - ALL
CERES COSTA FERNANDES – ALL/AML
ROBERTO FRANKLIN - ALL
JOAQUIM HAICKEL – ALL/AML
UIMAR JUNIOR = APB
PAVÃO SANTANA – ALL
PEDRO HENRIQUE MIRANDA FONSECA
O PODER MODERADOR
O PERFUME DA TANJA DE PRIMEIRA CRUZ
BIG BROTHER ÀS AVESSAS
FALTA DE AVÔS
ARMAS, DINHEIRO E HISTÓRIAS
HOMENAGEM A JOSE CHAGAS.
APATIA OU CUMPLICIDADE?
CARTA A UMA AMIGA
MHARIO LINCOLN – APB A PALAVRA NUA
JOSÉ EWERTON NETO - AML
DOMINGOS PELLEGRINI - APB
CERES COSTA FERNANDES – ALL/AML
CERES COSTA FERNANDES – ALL/AML
PARA INTITULAR SEU LIVRO
RODA, RODA, RODA
A SÍNDROME DA MOURA-TORTA
O ÚLTIMO CAFÉ DO POETA
ROBERTO FRANKLIN - ALL SONHAR EDMILSON SANCHES - AIL
ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS, 33 ANOS ROGÉRIO ROCHA - APB
JOÃO BATISTA DO LAGO - APB
CERES COSTA FERNANDES – ALL/AML
LUIS AUGUSTO CASSAS
UM COSMOS NA CASCA DE UMA NOZ
MANOEL SERRÃO DA SILVEIRA LACERDA.
JOMAR MORAES E A AML - em homenagem ao seu aniversário em 6 de maio
PRA QUE SERVE POESIA ( POESIA É O FERMENTO DO SONHO)
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ = ALL/IHGM A NETA DE ISABEL FIALHO FELIX: OUTRA ESCRITORA
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ – ALL/IHGM
CERES COSTA FERNANDES – ALL/AML
AS FAÇANHAS DO ARY
OSMAR GOMES
EDUARDO “PATO ” WAACK LANÇA NOVO LIVRO
Editor: ANTONIO AÍLTON
ANTIBLEFE, AS CARTAS DE DANIEL BLUME SOUSANDRADE
"...NADA É MAIS POÉTICO QUE O SER HUMANO"
PAVÃO SANTANA
ALBERTO PESSOA
A ÁGUA QUE CERCA AS TERRAS
NÃO ULTRAPASSE
João Batista do Lago.
A RESPONSABILIDADE “WIFI”
INCLUIR PARA SOMAR: QUEBRANDO AS MURALHAS DO PRECONCEITO JORGE BENTO
AYMORÉ ALVIM, AMM, ALL, APLAC.
ELOY MELONIO
NO DIA DA CRIANÇA
A PROVA DE OBSTETRÍCIA.
LIKE NÓS LIKE
LIVRO DO JORNALISTA GIL MARANHÃO SERÁ LANÇADO NESTE SÁBADO EM BARREIRINHAS
PAVÃO SANTANA
OSMAR GOMES DOS SANTOS
OSMAR MONTE
MHARIO LINCOLN
EXISTE CÉU PARA CACHORROS?
ABAIXO O CORTIÇO
A CULTURA E O FOLCLORE DO POVO MARANHENSE
O ÉPICO POEMA DE RAIMUNDO FONTENELE ME REMETEU AS MINHAS LOUCAS PAIXÕES E DOÍDAS PERDAS
MHARIO LINCOLN
CERES COSTA FERNANDES
LAGO DE VIANA
MEU DIA
NOITE FRIA, SOLIDÃO
A VELHICE É A CRÍTICA DA MOCIDADE
E, ASSIM, CAMINHAMOS...
"RABISCOS". POESIA E SENTIMENTO, JUNTOS, DE FORMA EMOCIONANTE E REAL.
O DELICIOSO SÃO JOÃO INCORRETO ( DO LIVRO DE MEMÓRIAS, A PUBLICAR) SÓ POESIAS...
Éóbvioqueoplanejamentonãofazpartedovocabuláriodospolíticosbrasileiros,salvohonrosasexceções. O importante é fazer tudo para que a reeleição seja garantida. Interesses próprios se sobrepõem aos interessesdanação.
Sabem qual era o segundo produtor até alguns anos atrás? Roraima!!! Mas, por decisão da justiça os produtoresqueláestavamforamobrigadosadevolversuasterrasaosseusverdadeirosproprietarios:os povosoriginários.
Pela ordem em termo de custo por tonelada transportada, o meio de transporte são assim posicionados: navegação(maisbarato),seguidodasferroviaseporúltimoorodoviário(maiscaro).
EmpaísescontinentaiscomoChina,EUA,ÍndiaeBrasilasferroviasfazemtodaadiferençanobolsodopovo. Recentemente, apesar de todos os percalços, parece que os governos acordaram para a necessidade de ampliararededeferrovias.Aleluia!!!
Enquantoisto,emumpequenopaíschamadoSuíça,umtremmovidoahidrogênio,daempresaferroviária suíçaStadler, conquistouumlugarnoGuinnessWorldRecords. O trem de passageiros Flirt percorreu 2.803 quilômetros sem reabastecimento ou recarga. Fonte: SWI.Swissinfo.ch
Enquantoo mundo gira e, rápido, oBrasildiscute ideologia de gêneroe se dispensa ounão as igrejas de impostos.
E assim acontece em várias ações do governo interferindo na vida do cidadão. O governo quer que você comaoqueelequer,quevocêvivadeacordocomasregrasqueeleestabelece.Istoéexercíciodopoder! Oh!AdmirávelMundoNovo!!!Estamoschegandolá.
As mordomias do setor público são inimagináveis para a iniciativa privada
Afrasequeintitulaestácolunafoipronunciadapeloex–deputadofederaleex–prefeitodePortoAlegre Nelson Marchezan Júnior na Câmara Federal quando do exercício do seu mandato.Disse-a quando falava na comissão que analisava as medidas contra a corrupção. Lembrou que os processos contra RenanCalheirossócomeçaramaandarnoSTFquandoRenaninstituiuacomissãoquevaianalisaros altossalários.NaépocajáhaviafuncionáriosganhandomaisdeR$200mil.
Basta buscar referências no passado para ver como anda a gestão pública do país. De 2011 a 2017 Nelson Marchezan Júnior exerceu seu mandato na Câmara Alta e, em 2024, os problemas na área de gestãopúblicaestãomaisvivosdoquenunca.
Nas Universidades e Institutos federais em greve (ao menos 53Universidadesestão em greve e nos Institutosfederaissão51e,ambasjápassamde60dias),alutaépormelhoriasalarial,poisjátiveram seus benefícios reajustados. O que não existe em nenhum momento é o pedido para melhorar a qualidade do ensino. O que já vinha ruim desde a pandemia tende a piorar. Pior é que, em algumas unidades, os professores pedem a suspensão do semestre letivo. Os prejudicados? Os acadêmicos interessadosemaprendereanãoservirdemassademanobraparaprofessoresespertos.
Talvez, em breve, aconclusão de que, para formar analfabetos funcionais não são necessários professores,escancarearealidadequevivemosnopaís.
Poroutrolado,quandoselevaaocuparministériospessoasegressasecomligaçõescomosindicalismo o que se vê é uma volta ao passado e a ressuscitação da legislação trabalhista baseada na CartadelLavorodeBenitoMussoliniquefoiinstituídanoBrasilem1943.Quandoomundoésacudido pela Inteligência Artificial, quando as funções do trabalho são revistas em todos os lugares,quandoElonMuskdizquetodososempregosserãoabsorvidospelaIA,oMinistrodoTrabalho pretende regular, contra a vontade dos trabalhadores, as profissões que estão absorvendo trabalhadoresociososeexpulsospelarobotização,mecanizaçãoevirtualização.Certo,Alexa?
Asgrandescorporaçõesdominamocenáriopolíticoeeconômicobrasileiroeopovoassisteatudosem entender nada; isto prova que o modelo imposto na Educação obteve sucesso. Criar adultos dependentes,pelaformaçãodeadolescentesincapazesesemvontade.
Emmatéria publicadana revista Forbes a pesquisa realizada pelaCoderPadidentificouque36%dos entrevistadosda geração Znão têm a pretensão de assumir cargos de chefiae,complementa o consultordecarreiradaHarvard,GorickNG,queentrevistoucentenasdejovenspelomundo,menosde 2%temambiçõesemsubira pirâmide empresarial.
À população cabe pagar a conta, mesmo sabendo que este é o dinheiro que faltará para a saúde e Educação.Horademudar!
Quando os exemplos vêm de El Salvador!
Já no Brasil, de 2012 a 2022, 609.697 pessoas perderam a vida, vítimas de crime violento
Li, recentemente, o livro “Em Busca do Mundo Maia” de Airton Ortiz; é um passeio pelos países da América Central e mostra, claramente, as condições vigentes nos países que a formam, em relação à pobreza de sua gente e a violência que a controla. Não são miragens as colunas migratórias em direção ao México com o intuito de chegar ao paraíso que é os Estados Unidos.
Mas, há um país que resolveu quebrar esta trajetória e mostrar que são possíveis novos caminhos e que, a história pode ser reescrita. El Salvador! Pequeno país, com 21.040Km², 6 milhões de habitantes e que tem como moeda oficial o dólar e bitcoin.
Seu presidente, Nayib Bukele, elegeu como prioridade de seu primeiro mandato o combate à criminalidade. As gangues em El Salvador, praticamente, controlavam o país. Bukele construiu o maior presídio das Américas, 40 mil vagas e, iniciou o combate as gangues que infernizavam o país. Hoje o país está pacificado e a população pode se sentir livre dos achaques e crimes a que era acometida.
Contraponto: em relatório divulgado em 18.06 e que cobre o período de 2012 a 2022, 609.697 perderam a vida no Brasil vítimas de crime violento. Segundo mostrado no Atlas da Violência este número está abaixo do real em função da subnotificação que acontece no país e do não esclarecimento das causas de morte por parte dos órgãos responsáveis. Os crimes contra crianças e adolescentes são, quase sempre, de cunho sexual e acontecem, em grande maioria, no âmbito familiar.
Em 08.06 foi divulgado, pelo Fórum Brasileiro da Segurança Pública e da Esfera Brasil, que atuam no Brasil 72 facções criminosas ligadas ao narcotráfico. Algumas já se transformaram em multinacionais do crime, com tentáculos espalhados pela Europa, África e Ásia. Com uma legislação extremamente frouxa em relação ao crime este só tende a prosperar em terras tupiniquins. Talvez o exemplo de El Salvador sirva para acordar nossas autoridades.
El Salvador: o congresso, atendendo projeto de lei do governo, aprovou a redução do tamanho do Estado; de 262 municípios o Estado passará a 44. Isto significará uma redução de 83% dos atuais municípios. De quase 3 mil cargos públicos sobrarão 44 prefeitos, 44 curadores e 372 vereadores. O próprio congresso aprovou a lei que enxuga o número de congressistas de 84 para 60. Segundo o presidente a diminuição do número de congressistas e municípios tornará a administração mais ágil e com menor custo, o que é fundamental para quem trabalha com poucos recursos financeiros. O povo aplaudiu a decisão, como não poderia deixar de ser.
Contraponto: No Brasil são 5570 municípios, mais de 2 mil não arrecadam o suficiente para pagarem as despesas dos funcionários e as câmaras de vereadores. Vivem do Fundo de Participação dos Municípios, não têm planos de desenvolvimento, não conhecem suas potencialidades e não atendem as necessidades de suas populações. Há algum tempo vem sendo discutida e, depois cai no esquecimento, a ideia de que municípios com menos de 5 mil habitantes, sejam reintegrados aos municípios de onde se originaram.
A farra de criação dos municípios aconteceu a partir da Constituição de 1988 que atribuiu aos Estados, mediante lei complementar estadual, a criação de novos municípios. A raposa cuidando do galinheiro! Quem sabe o exemplo de El Salvador seja receptivo aos nossos governantes? È só questão de vontade política!
Recorro crescentemente aos clássicos, buscando neles alento e lucidez para enfrentar o cavernoso e traiçoeiro ambiente da conjuntura. No primeiro ano da pandemia reli a Ilíada e a Odisseia, tecidas por Homero a propósito da trágica guerra e destruição de Troia. Regresso hoje à ficção homérica; já verão porquê.
Como é sabido, o conflito foi causado pelo rapto de Helena, considerada a mulher mais bonita do mundo de então, esposa de Menelau, o rei de Esparta. Numa visita a esta cidade-estado, Páris, filho de Príamo, rei de Troia, apaixonou-se pela beldade e cometeu o agravo de a raptar e levar para a corte troiana. Menelau, enfurecido e traído, pediu ao irmão Agamenão, rei de Micenas, que reunisse e organizasse um poderoso exército, com guerreiros de toda a Grécia, capaz de vingar tamanha afronta e de lavar a honra com um banho desangue.Eis,segundoalenda,aorigemdoferoz confrontotribal entreaqueusetroianos,ambospertencentes à mesma cepa étnica e cultural. Uma alegoria hoje posta em cena na Europa.
Não vou relatar os acontecimentos ocorridos dentro e fora das muralhas de Troia, que acabou completamente arrasada. Move-me o intuito de trazer à colação a elegância e o respeito com que Homero tratou os rivais. É fascinante a maneira como exalta, de modo igual, a heroicidade de Aquiles, o arquétipo grego, e a de Heitor, o nobre troiano morto pelo primeiro num duelo; glorifica o vencedor e louva o vencido. Jamais a animosidade e, muito menos, o desprezo, a ofensa e o ódio surgem na narrativa. Ao invés, a empatia está sempre presente comoumaponte,porfrágilqueseja,paraacordosentreinimigosecompetidores;estespercorrem-na, salvando a dignidade de todos, o que fica evidente nas exéquias de Pátroclo e Heitor. Não é por acaso que as obras de Homero são esteios da civilização ocidental, dos seus axiomas e princípios. Os Jogos Olímpicos bebem nessa fonte; são um altar de celebração e sagração da sublimação do corpo, da amabilidade e do trato humano do Outro.
Pois bem, nestes dias, em que tanto se enche a boca de valores ‘europeus’, convinha ter lembrança e avivar a noção donde vimos. Isto vale para a comunicação social, os políticos e os cidadãos. As palavras e avaliações que dizemos e fazemos do adversário e diferente não se reveem no legado homérico. A guerra em curso arrastou-nos para o rebaixamento da linguagem e dos sentimentos, o que trai o património cultural herdado e apregoado. A condenação do agressor não autoriza a descer à rasura irracional, a renunciar à análise das circunstâncias e à apreciação dos vários pontos de vista. Estamos indisponíveis para nos colocarmos no lugar do outro e tentar percebê-lo. Satisfaz-nos a dogmática verdade mediática; quem a questionar é execrado e infiel e cai fora do círculo da honorabilidade e respeitabilidade.
Por favor, Homero, volta e traz contigo a tocha que te iluminou! O ocidente reivindica superioridade civilizacional, ética e moral; somente o pode fazer, afirmando e praticando os ensinamentos exarados nos teus livros. Sob pena de sermos devorados pela medonha Hidra de Lerna.
III
Por que foram criados e se realizam os Jogos? A era de infelicidade coletiva, que estamos a viver, contém uma resposta eloquente. Sempre faltou e continua a faltar festa, de mãos dadas à liberdade; sempre faltou e teima em faltar vida, porque esta, se não for festiva e livre, é um vale-de-lágrimas sufocante.
Os Jogos surgiram como interrupção dos trabalhos esforçados, das guerras e desditas, para configurar o imaginário de outra realidade. Podem ter surgido também a mando de outros interesses. Mas estes não perfazem causa bastante; não frutificariam se mirrasse o apelo idealista e universal que o evento contém. Por mais que o mensageiro intente perverter a mensagem, ela resiste e irradia luz fulgurante, entra pelos olhos e abre fontes até nas almas pedregosas.
Semprehouveehaveráumaurgênciapendente,como aespadadeDâmocles,sobreopescoçodaHumanidade; é por esta, para a evocar e inseminar que se realizam os Jogos! Temos de recusar a rendição e reinventar a existência e o mundo, para nós e para todos, na hodierna e tão gravosa situação. “O que não é bom para a colmeia tampouco o é para a abelha”, proclamou o sábio imperador Marco Aurélio. Sem a partilha do bem comum, ninguém se salva. Se tudo isto for mito, tentemos viver à altura dele, em vez de o destruir e persistir na corrida desabalada e desgraçada que leva à perdição.
Quando o presente nos dói e fecha as portas a um futuro auspicioso, é altura de parar, de olhar o passado e procurar nele ajuda, conselho, arrimo e visão, em vez de prosseguir na direção do abismo. Este é um tempo assim, carregado de fatalidade e de mutretas. Sentimos saudades dos gregos, de o ser cada vez mais, de colher
lições nos estoicos e no romano Marco Aurélio, de beber o vinho de Séneca e a coragem e luz do Renascimento, para acumular a coragem de desmantelar a força bruta.
Sim, para acalentar desejos de realização e prever até onde podemos ir, convém-nos saber donde vimos e quem somos. Ora, somos um conjunto de ladrilhos, uma colcha de retalhos, confecionada com o tecido dos diversos locais originais, dos trilhos percorridos, dos encontros e desencontros vividos no percurso.
Nós, os ufanos ocidentais, somos produto de quatro origens: Atenas, Jerusalém e Roma (a mitologia e a filosofia gregas, o Deus de Israel e o Direito Romano) e o Renascimento.
Adicionemos duas mais recentes: a Modernidade e a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Isto não deve afundar-nos na arrogância de esquecer antecedências e sequências, sumamente importantes, acontecidas noutras geografias, como se fora da citada conjunção matricial imperasse a esterilidade filosófica, civilizacional e cultural.
Atenas deu-nos a arte, o instrumento ou, como disse Pablo Picasso, “a mentira que nos permite conhecer a verdade”, a nossa e a do mundo. Ela ensina que não há estética sem ética. O belo inclui o bom. A beleza do corpo provém da grandeza da alma. Se não for assim, o corpo é apenas boniteza e atração; deixa de ser dicionário de música e poesia, ilustrado com pinturas eivadas de metáforas do sublime.
Com Atenas aprendemos que a admiração do belo, do elevado e estético é a escora da civilização. Isto precisa de ser reafirmado numa era da inestética, em que o processo civilizatório descamba para ‘processo de desesteticização’, abandono, desvalorização e elisão do belo.
De Jerusalém veio a fé na transcendência dos gregos, promovida a divindade criadora de tudo quanto existe. De Roma veio o direito destinado a refrear as prepotências e as violências proteiformes que floresceram no império de outrora e medram na atualidade. O Renascimento, além do resgate do capital da Antiguidade Clássica, abriu varandas para a libertação do teocentrismo medieval, para a emancipação do espírito científico e o florescimento da curiosidade de conhecer o universo e de mapear o mundo. Prolongou o simbolismo imanente às catedrais góticas e a luz dos seus vitrais, que nos incitam a sair da rasura do chão e ousar ascender à altura do sonho e da ilusão. Da Modernidade herdamos os princípios e ideais humanistas que se querem supratemporais e universais. E da Declaração dos Direitos Humanos recebemos o imperativo de lutar por eles, pela sua aplicação, extensão e preservação como quem defende os muros e portas da cidade e da própria casa.
Retiremos uma ilação desta digressão: a Cidade Humana aguarda pela edificação. IV
Tal como fez o barão Pierre de Coubertin, o contexto de realização dos Jogos de Paris em 2024 intima a regressar, novamente, à Grécia e às suas criações e interpretações mágicas do Universo e do funcionamento deste. Vamos lá então, levados menos pelo rigor histórico e mais pela ânsia de encontrar vias de fuga da dolorosa perplexidade.
A igualdade e a uniformidade não são atributos dos humanos. Também não o são das divindades. As gregas são desiguais em perfeição e poder. Os primeiros deuses, arcaicos e primitivos, eram grosseiros, rudes e grotescos, desprovidos de beleza e harmonia nas representações. Eram criaturas horrendas e intimidatórias, semelhantes à maioria dos líderes que hoje (des)governam o mundo. Só uma segunda geração de deuses, formada por Zeus e pela sua prole, mais elaborados e refinados, derrotou a linhagem primeva e tomou conta definitivado Panteão Grego.Esses sãoos Deuses Olímpicos; compunhamo ‘dodecateão’ dareligião helénica, as dozedivindades principais. Tinham adesignaçãode‘Olímpicos’,devidoaofacto dasuamoradaselocalizar no topo do Monte Olimpo, chegando e ultrapassando o limite do céu. Enquanto os antecessores se alimentavam de carne e sangue, os Olímpicos comiam ambrosia e bebiam néctar, alimentos não perecíveis. O seu banquete era acompanhado do som da lira de Apolo, de cantos das Musas (entidades inspiradoras da criação artística) e de danças das Graças (fontes do encanto, da concórdia, gratidão, fecundidade e prosperidade familiar e da sorte), estas e aquelas filhas de casamentos de Zeus com Mnemósine e Eurínome, respetivamente. O cenário foi e está incorporado no cerimonial de abertura e encerramentos dos Jogos Olímpicos modernos e contemporâneos.
Esta evocação dá para perceber que os deuses grotescos, carnívoros e sanguinários estão de volta, retomaram o mando nos nossos dias; e quanto estes são crus, gélidos, dissimulados, indecentes, enegrecidos pelo fumo
de bombas e canhões. Urge, portanto, um Renascimento ou recriação dos jalões divinos que medem o estalão e a elevação dos humanos. Precisamos de políticos que se deixem contagiar, inebriar e conduzir pelo Espírito Olímpico, a fim de sublimar a tragédia desta hora e em cima dela instituir as dimensões da liberdade manifestamente ausentes. Isto requer que volvamos a vista atrás com o intuito de rastrear o presente e edificar pontes para o futuro.
VOs pensadores gregos, mitólogos, pré-socráticos e posteriores a Sócrates, elaboraram a conceção trágica da vida, a sujeição desta ao destino inexorável da morte e a outros poderes e forças a que não consegue escapar. Mas viram igualmente na tragédia a fonte e oportunidade da liberdade. Assim, criaram vias de salvação percorridas por heróis quearremetem contra apredestinação àderrota efinitude,ousam enfrentaroimpossível e, mediante feitos valorosos, escapam ao anonimato e perpetuam o nome para além da existência terrena.
É no agir lúcido e virtuoso, excessivo e imoderado contra as imposições naturais e as das potestades que se forja e enobrece a condição de ser livre. As figuras míticas de Dionísio, Prometeu, Hércules e Odisseu, por exemplo, ilustram bem esta noção. A paideia grega ensina que o caminho, através da desilusão e da frustração, conduz à glorificação; da dificuldade, da pequeneza e do obstáculo emergem a altura e grandeza da obraprima. Há no fracasso o gérmen da dignidade inalcançável pelos cobardes e omissos, que fogem da ação ética e do enfrentamento de dilemas e desafios; deste jeito, traem a substância de ‘quem’ são. Homero, Píndaro, Xenofonte e tantos outros expõem com mestria esta excelsa lição. Luís de Camões, em Os Lusíadas, retomaa e dá-lhe continuação.
A questão de fundo é a mesma em todos os tempos, desde o início da civilização: a busca da transcendência, do absoluto e infinito. Estes, sendo predicados divinos, constituem a direção e o sentido que balizam o caminhardoshumanos.Nuncasãoachegada,jamaisosatingimos.Porissotambémnosdesanimamemagoam muito e muitas vezes: ficamos sempre aquém, mesmo que seja um ‘quase’
Fomos à Índia e não conseguimos ser inteiramente felizes na realização quase impossível daquele sonho ingente e supra-humano, porquanto as frágeis caravelas, disse Teixeira de Pascoaes, “levavam na proa a saudade”. Isso causou uma dor tão aguda e profunda que subsiste no presente. Resta-nos continuar a sonhar e prosseguir a viagem por mares e lugares já navegados e aportados, desta vez com os anéis e as vestes da fraternidade e solidariedade, como primus inter pares. Honremos a áurea de marinheiros, emigrantes e errantes, ciosos do testemunho do lusitano Rafael Hitlodeu, protagonista da Utopia de Thomas More; e, como ele, exijamos melhores formas de governação do mundo.2
Aparelhemos as caravelas, partamos, desfraldemos as velas dos abraços e rumemos para o Largo, o Sul, o Ocidente e Oriente, com a busca inquieta, o relativo por longe e o infinito por perto. À corte de Bruxelas enviemos, como embaixador,oPadreAntónio Vieira,paraquenelavergasteos corifeus emesários doesbulho e da desarmonia com o Sermão de Santo António aos Peixes. O clarividente hermeneuta da realidade e visionário da sua degradação não se coibirá de pregar nas ventas dos arteiros: “As varas do poder, quando são muitas, elas mesmo se comem, como famintas sempre de maiores postos!” VI
Sem Transcendência não se ascende a um estado verdadeiramente Humano. Segundo São Tomás de Aquino, as duas faculdades espirituais por excelência - a inteligência e a vontade - são aberturas para o Infinito. Só por este podem estar totalmente preenchidas. Como tal preenchimento não é possível, são sempre faculdades insatisfeitas, aquém de si. Essa insatisfação dá aso ao ‘apelo à transcendência’
2 António Sérgio (1883-1969) formulou a missão que nos reserva esta hora: “Fadados à sina de transpor limites, tivemos um carácter universalista pela nossa ação no mundo físico: está na índole da nossa história que o tenhamos também no mundo moral (…) Só é profundamente português o que for como tal um cidadão do mundo.” Eis a nossa maior descoberta: a viagem tornou-nos universais! O nosso agro e verbo são a humanidade inteira. Assumamos esta naturalização e a obrigação de apurar a visão ética do decurso do mundo. Se não formos assim e não ouvirmos as dores e gritos dos outros, então trairemos o sentido da história, não estaremos à altura de nós mesmos, afundar-nos-emos na insignificância.
As referidas faculdades constituem a essência do Humano; logo, o Humano não se revela sem assumir o apelo do Mais alto, belo, perfeito, sublime. A transcendência não é, pois, uma opção; constitui obrigação indeclinável dos Humanos!
Ora o corpo, tão condicionado por limitações e leis biológicas, físicas e mecânicas, não está desobrigado de escutar e atender o imperativo da transcendência. Inseparável do espírito e não obstante a dificuldade de se entender com ele, o corpo tem história e nela está expressa a da Humanidade e da Civilização. No passado e no presente o corpo é o pagante dos impostos que apoucam e atribulam a Pessoa. As sevícias infligidas ao corpo pela inquisição, as crucificações na era romana, a queima das bruxas, a forca e o garrote nos pelourinhos e catacumbas da Idade Média e as demais formas e etapas da violência manhosa e proteiforme, exercida sobre ele ao longo dos séculos e na doce barbárie da atualidade, elucidam que a opressão ou dignificação da Pessoa acontece no corpo. Ele é a Pessoa de fora; induz e espelha a Pessoa de Dentro. Como dizem os existencialistas, a modalidade da existência precede e determina a essência. O labor na superfície corporal repercute-se na profundidade. Os exercícios corporais, formulou Johann Pestalozzi, só são físicos na aparência e maneira da execução; são, sobretudo, atos anímicos e volitivos, concebidos na alma, temperados no coração, realizados pela vontade e configuradores desta. É, pois, justificada a exclamação de Carlos Drummond de Andrade: “Salve, meu corpo, minha estrutura de viver / e de cumprir os ritos de existir!”
Quem olha descuidadamente os atletas cuida que eles se limitam a cultivar a aparência e a melhorar o desempenho orgânico. Píndaro, o autor das Odes Olímpicas, viu mais longe e expressou, de modo sublime, o dever da ‘arété’, da busca da magnificência e virtuosidade com esta exortação: “Ó alma querida, tu podes não acreditar na vida eterna, mas não estás desobrigada de esgotar o campo do possível!” E insiste num apelo veemente: “Sê quem és; realiza o destino imanente à tua essência!” Sê o melhor, diminui o pior de ti! O lema do desporto e do Olimpismo ficou assim escrito com letras de oiro.
Mas há mais! Nascemos predestinados para assumir a incerteza, o risco e a desilusão do fracasso e insucesso. Para cumprir o destino e fado de ganhar algumas vezes, de falhar muitas outras, de aprender a suportar a derrota, sem perder a face, a determinação e o gosto de insistir, treinar e competir, de tentar e ousar, de melhorar e progredir. Chama-se a isto viver e vencer e não apenas existir. O desporto inscreve-se neste roteiro. Ele forma-nos para o entendimento da vitória e da derrota como meios de visar mais alto, para a admiração, a consideração e o respeito da valia do outro. Nele aprendemos que o perdedor de hoje pode triunfar amanhã e tem o dever de valorizar o triunfo do oponente. Ademais, a ética do jogo obriga o jogador a dar o melhor de si, para que os competidores tenham que se superar e possam atingir uma prestação de nível superior. Agindo assim, são todos vencedores.
VII
Os filósofos gregos, a partir de Platão, estabeleceram a dicotomia do corpo e da alma.3 Todavia, seguiram a herança dos pensadores e vates pré-socráticos; não depreciaram, antes enalteceram o primeiro e elevaram-no ao plano da admiração e exaltação, a palco e instrumento da transcendência. São corporais os feitos heroicos, como os de Aquiles e Odisseu, que constituem o enredo axial de obras inaugurais da civilização. Corporais são igualmente as façanhas extraordinárias, realizadas e outorgantes de estatuto aos deuses olímpicos. E estes, ciosos de imitação e veneração, deram o seu nome a jogos e o apoio a atletas de eleição. Sem o querer, ensinaram aos humanos uma maneira de Ser que em nada fica atrás da sua: eles afirmam a divindade através de si mesmos, enquanto os segundos atingem a divinização da Humanidade mediante os feitos próprios e os dos outros. Eis nisto uma diferença abissal: os deuses elegem a competitividade para exibir o poderio do individualismo; os humanos servem-se do apreço do outro e da função deste na oposição cooperativa para driblar a fragilidade e a inabilidade e subir ao pódio da artisticidade. Em suma, a cooperação agonística é a coluna coríntica da Civilização e da Humanidade, implicando o apreço dos humanos uns pelos outros, lição carecida de ser aprendida e praticada nesta hora.
Bendita corporalidade! Bendito o corpo ‘artífice’ e ‘pontífice’!
O corpo de todos nós é um constructo sociocultural. O dos acrobatas, atletas, bailarinos e afins é muito mais: é sujeito e criatura de artes performativas, criadas para nos mostrar o caminho da perfeição e levar a perseguir
3 Repare-se neste conceito atribuído a Platão: “O corpo humano é a carruagem; Eu, o sujeito que a conduz; o pensamento são as rédeas; os sentimentos, os cavalos.”
a beleza esplendorosa da verdade, que habita e constitui o Ser. Concomitantemente é uma ponte entre as ideações do intelecto e as laborações da vontade.
O desporto, quando põe em ação e movimento o corpo do génio e talento, equivale a um estaleiro de janelas abertas e convidativas para os horizontes da sublimidade, e para mitigar a nossa fome de deslumbramento.
VIII
Seria uma atitude de desamor à excelsa obra pictórica de Mário Vitória, que constitui o pórtico e cenáculo desta publicação, se não dedicasse algumas palavras e reflexões à arte e beleza, à ingente necessidade do que ambas contêm e irradiam.
Boaventura de Sousa Santos assenta o pilar da emancipação do indivíduo em três lógicas ou linhas de autonomia, a saber:
• A racionalidade expressiva das artes;
• A racionalidade cognitiva e instrumental da ciência e da técnica ;
• A racionalidade prática da ética e do direito.4
Vejo as três lógicas entrelaçadas na prestação desportiva, constituindo todas o forno de cozedura e sublimação artística do barro humano. A arte é, simultaneamente, perigosa e salvífica. ‘Perigosa’ porque subverte e não imitaarealidade;‘salvífica’porconterumapropostadevidaquasefelizequasedivina,apresentadaemformas de beleza, parecidas a vestígios flutuantes de uma ilha da qual se anda ansiosamente à procura. Só a encontra quem sobrevive a naufrágios, no mar semeado de ondas alterosas.
A viagem para a beleza é, pois, arriscada. Mas não há alternativa: para ser feliz é preciso possuir a alma clarividente e o sentido aventureiro do artista. Este tem consciência da imperfeição; é ela que lhe sussurra a possibilidade da salvação. Ou seja, serve-se da arte para tocar a intangível perfeição e beleza. Eis um impossível desafiador, insubstituível e regenerador. Eis o artista na pele de atleta ou vice-versa!
Os Jogos de Paris e a quadratura belicista, de exclusão de atletas e fobia a povos e países, em que se realizam, convocam Adriano Olivetti, o inventor da máquina de escrever com o seu nome: “A beleza, junta ao amor, à verdade e à justiça, representa uma autêntica promoção espiritual. Os homens, as ideologias, os Estados, que esquecerem uma só dessas forças criadoras, não poderão indicar a ninguém o caminho da civilização.” Igualmente intimam a sopesar o título de um capítulo - Nós, os Artistas da Vida – do livro A Arte da Vida, de Zygmunt Bauman. Diz o prolífero autor que a vida, para ser humana, está obrigada à imbricação com a arte. Exatamente porque somos dotados de vontade e liberdade de opção. Temos “capacidade de fazer diferença: diferença no curso da nossa própria vida, mas também no mundo em que ela é vivida (…) Somos artistas capazes de criar e moldar coisas, tanto quanto podemos ser, nós mesmos, um produto dessa criação e moldagem…”
Não se trata apenas de uma questão de opção, é um decreto do destino: somos artistas da transformação da vida. A escolha implica a prática da modalidade correspondente. Sim, se fazemos obras de arte com objetos, porque não as fazer da vida e da Pessoa?!5
4 Boaventura de Sousa Santos, Pela Mão de Alice. O Social e o Político na Põs-Modernidade. Porto: Edições Afrontamento, 1994.
É de modo afim que Kant (1724-1804) concebe e aponta a finalidade suprema da educação e do ensino: enraizar a autonomia, a maioridade e a emancipação dos indivíduos, consubstanciadas na sua competência e apetência para se soltar e libertar da animalidade, da bestialidade e irracionalidade dos instintos, das paixões e pulsões primárias e rasteiras; para edificar a sua liberdade com base em escolhas, em atitudes, em ações e reações iluminadas pela luz da razão, da ética, da grandeza e elevação dos princípios e valores, do apego a causas e ideais, da transcendência, da magnificência, da sublimidade, da excelsitude e virtude.
5 O poeta-pensante Fernando Pessoa esclarece: “A arte baseia-se na vida, porém não como matéria mas como forma. Sendo a arte um produto direto do pensamento, é do pensamento que se serve como matéria; a forma vai buscá-la à vida. A obra de arte é um pensamento tornado vida: um desejo realizado de si-mesmo. Como realizado tem que usar a forma da vida, que é essencialmente a realização; como realizado em si-mesmo tem que tirar de si a matéria em que realiza.”
O hoje proscrito Karl Marx analisou e constatou: “O animal constrói somente segundo a medida e as necessidades da espécie à qual pertence, enquanto o Homem sabe produzir segundo a medida de todas as espécies (…) O Homem constrói também segundo as leis da beleza.”
O animal faz apenas o útil e necessário à sobrevivência. O ser humano projeta-se além da utilidade e necessidade. A história da Humanidade é a da sua paulatina ‘aculturação’ e ‘artificialização’. Um roteiro de afeiçoamento da vida e dos humanos a formas, objetos, rituais e símbolos culturais, portadores e transmissores denoçõesesentidosartísticoseestéticos,atributivosdemetasaoviverterrenoedriblaroseu vale de lágrimas
Somos peregrinos do ‘quem’ ínsito em nós, à espera de realização. João Guimarães Rosa (Grande Sertão Veredas) resume a nossa peregrinação existencial: “O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.” O escritor angolano Ondjaki (Quantas Madrugadas Tem a Noite?) conclui deste jeito tão belo: “Cada criatura é um rascunho a ser retocado sem cessar… nas madrugadas da noite.”
São estas metáforas que perfazem o encantatório e intrigante painel de Mário Vitória, um retrato fidedigno das dores do mundo e dos padecimentos dos atletas-humanos, não conformado mas irradiador de encorajamento para romper com o que nos asfixia. Ele captou bem a avaliação de André Malraux: “A arte é um anti-destino.” E a de Anatole France: “O jogo é um combate corpo a corpo com o Destino.” Por isso aplica-se ao Mário o veredicto do poeta pantaneiro Manoel de Barros: “O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.” Dito de outro modo, Mário Vitória é, nesta conjuntura de deserto e secura, um erro perfeito. E porquê?
A grandeza da arte e do artista mede-se pela sua capacidade de nos levar à intuição do inexprimível e até do nãorepresentável,mesmoqueestesnãopossamserdescritos.Overdadeiroartistaéoqueencontraaexpressão simbólica da experiência transcendente e a oferece ao nosso desamparo, como advoga Arnaldo Jabor: “Precisamos de arte, como uvas e frutos e danças e como um coro de Silenos, de Dionísios, pois a ciência e a razão estão querendo chegar até aos ossos da ‘essência’. A arte é a ilusão aceita, a clareza feliz de que a aparência é o lugar do humano e que só nos resta essa hipótese de felicidade num planeta gelado.
Não a arte-espetáculo, mercadoria de ver, mas a arte como ritual de embelezamento da vida.”6
Se não possuíssemos arte, o que faríamos da vida? E, tendo-a, o que fazemos com ela? A resposta provém de Fernando Pessoa: “A arte serve para elevar.” Mas somente eleva aquela que não renuncia ao fito de provocar admiração e espanto, a que nos interroga e suscita inquietude acerca do mundo, medindo-o com beleza e harmonia supinas. Assim, é a criatura que Mário Vitória criou para dar os Jogos de Paris a forma da suplicante alma universal.
Vale destacar a simpatia do pintor pelo desporto, a bondade e carinho com que o trata, o seu acolhimento no templo da arte. Ele sabe que tudo quanto eleva é obra de arte. A literatura, a música, o teatro e o desporto são, respetivamente, artes da linguagem, do som, da representação, do movimento e por aí fora. Logo, o corpo ágil é moldado pela arte. O ser atleta transporta esse ideal e utopia, desde a antiguidade até hoje.7
Arte, criatividade, inovação, perfeição, ética e estética implicam tecnicidade. Tudo isto é uma moldura de princípios, valores, normas e ideais que coabitam no desporto e dão asas ao corpo e à alma. É com isso que subimos. Com isso e com a força da vontade. É com tudo isso que o nosso peso consegue voar. E adquirimos identidade.
IX
6 Arnaldo Jabor, O Estado de S. Paulo, 21.12.2010
7 Para que serve o salto com vara e este beirar os 6,22 metros? E correr os 100 metros planos em menos de 10 segundos? E todos os outros recordes? Sim, para que serve consagrar tempo e energias à realização de tais prestações? Serve para o mesmo que a literatura e a norma culta da escrita e da fala, a música erudita e todas as modalidades de cultivo, busca e configuração do belo e transcendente.
Tudo isso são coisas de minorias! Pois são. Mas, sem elas, sem a admiração e o apreço do difícil, do elevado, do impossível e requintado, sem o amor à arte, à beleza e à criação de obras extraordinárias, as maiorias abandonariam a reflexão e a atração pelo que as excede, entregar-se-iam à alienação e ao pasmo, condenariam a estesia, a imaginação, o sonho e o deslumbramento à morte. A tirania da feiura, da incúria, do marasmo e do ruído tomaria conta da vida; e esta seria um manicómio insuportável.
Que diagnóstico fazemos das circunstâncias? Tem o homo consumens, eficiens e faber inclinação para a beleza, para a sua apreciação, incorporação e consumação? Damos continuidade à senda civilizacional de inventar e propor um mundo sempre mais belo? Ou isto diz-nos pouco, tornando-nos, assim, cegos e insensíveis à fealdade e à progressão do grotesco?
As vidas estão cada vez mais cheias de alarido e ruído, de animosidade e desconfiança, estranheza e hostilidade, pobres e vazias de música e dança, de alegorias e coreografias, de afetividade, hospitalidade e proximidade. São um retrato da alma aprisionada pelo medo e tédio. Estes casam com a habituação a uma existência precária, superficial e supérflua, carente de janelas e perspetivas de futuro.
Que preocupação há hoje com a educação comportamental, estética, gestual e verbal?
Qual o índice da importância atribuída à formação da noção do gosto ético e estético, das ações, atitudes e posturas belas e boas?8
Respondo com o depoimento encontrado nas redes sociais, da autoria de Roger Scruton, filósofo inglês: “Em qualquer altura entre 1750 e 1930, se pedíssemos às pessoas cultas para descrever o objetivo da poesia, da arte ou da música, elas teriam respondido: a Beleza. E se perguntássemos pela razão disso, aprenderíamos que a Beleza é um valor, tão importante como a Verdade e o Bem.
Depois, no século XX, a beleza deixou de ser importante. A arte (…) concentrou-se em perturbar e quebrar tabus morais. Não era beleza, mas a originalidade, conseguida por qualquer meio e a qualquer custo moral, que ganhava os prémios.
Não apenas a arte fez um culto à feiura; a arquitetura também se tornou desalmada e estéril. E não foi somente o nosso ambiente físico que se tornou feio. A nossa linguagem, a nossa música e as nossas maneiras estão cada vez mais rudes, egoístas e ofensivas; como se a beleza e o bom gosto não tivessem algum lugar nas nossas vidas (…) Acho que estamos perdendo a beleza e há um risco de, com isso, percamos o sentido da vida.”
A gravidade da situação pede a retoma de conceitos proscritos ou caídos em desuso.
“A beleza é fundamental”, escreveu e cantou Vinícius de Moraes; constitui o fundamento da condição Humana. Fernando Pessoa já tinha dito: “É de meu natural ser ‘artificial’. A arte e a beleza ‘naturalizam’ e distinguem a nossa condição de seres artísticos.
Os humanos não criam a partir do nada, mas com base na imitação e superação do que compartem e legam uns aos outros. Aquiéonascedoiroda arteedasua missãoevocação.Énapeugadadaperfeiçãoqueandamos, aprendizes e mestres, tendo claros os limites, meios e fins. Perfeito é o inacabado, o que mostra o quanto há em nós por fazer e intima a dar forma de arte àquilo com que a natureza nos dotou. Este é, quiçá, o mais nobilitante exercício de liberdade e libertação.
Só podemos viver como humanos, se acolhermos, cultivarmos e recriarmos as artes do aprimoramento da nossa condição inconclusa. Nunca as esgotaremos, nem elas jamais deixarão de nos incentivar a buscar o mais alto e distante, o acima da nossa configuração concreta; a lutar contra a impossibilidade de ganhar a batalha, porque nascemos ínfimos e morremos inconclusos.
Nunca atingiremos a beleza, a perfeição, a ética e estética suficientes. Serão sempre um ainda não alcançado. Logo, não podem as entidades educativas deixar de tentar formar nos cidadãos a consciência do dever de visar esse alvo, ao longo da vida. É para isso que existem o desporto, a dança e demais atividades corporais, performativas de quem as pratica e observa, porquanto conferem forma material e teor espiritual, alimentam e colorem o sonho da liberdade, são esculturas da esperança e sensibilidade. Atuam sobre a matéria-prima do corpo, para o tornar espírito incarnado e nele edificar a Pessoa.
Nesta conformidade valoremos devidamente o labor em prol da exaltação e promoção do cultivo da corporeidade, nomeadamente através das modalidades desportivas. Estas são codificações do entusiasmo alado, artes universais do espanto, onde o meio guarda obediência ao fim, o inferior ao superior, o individual ao social e cultural. Onde os deuses olímpicos florescem em cima dos grotescos e horrendos. Onde o canto, a alegria e o riso cuidam de diminuir a dor, o desalento e as lágrimas. Onde se expande o prazer de viver na
8 Edgar Morin é perentório: “A educação deve ser um despertar para a filosofia, para a literatura, para a música, para as artes. É isso que preenche a vida. Esse é o seu verdadeiro papel.” Não menos sugestivo é o título do seu livro (que contém este posicionamento): A via para o futuro da humanidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.
busca do inalcançável. Onde visamos sublimar o que nos entristece e anoitece: a vida que não logramos viver e, ofendida e oprimida, nos deprime e magoa.9
Nestahoradeansiedade e dificuldade, dedúvidae inquietude,de isolamento etempoparado, atranscendência consiste em reencontrar o que o quotidiano deixou de lado. Em sentir o ambiente de amor e carinho transbordante e ensolarado, e habitualmente tão pouco valorado. Em cantar e dançar com alegria, mesmo que o passo seja preso e arrastado e o canto dolente e abafado. Em engolir as lágrimas, para que o coração fique lavado. Em vir à porta ou à janela e encher os olhos e a alma com o novo horizonte que há de vir, antes esquecido e agora sonhado.
Afinal, a transcendência é a via-sacra para instalar em nós a Humanidade. Uma solução possível é apontada por Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso (…) o que é necessário é criar.”
X
A evolução da nossa espécie é marcada pela passagem de espectador passivo da beleza existente no céu, na terra e no mar para a de produtor intencional da beleza ‘artificial’, criada pela ‘arte’ para com esta nos criarmos.
Domenico de Masi, na obra O Ócio Criativo, mostra a evidência da progressão:
• No fabrico embelezado dos artefactos e adornos, inclusive nos objetos do uso quotidiano;
• Na decoração e embelezamento do corpo, patentes nas pinturas encontradas nas paredes das grutas e cavernas de épocas imemoriais.
Fica claro que a passagem, muito lenta e sempre inconseguida, do animal ao Homem tem por intermediário o conceito da existência irmanada à beleza, sendo esta expressa pela invenção da ‘arte’, visando compensar a brevidade e a dor da vida, assim como a tragédia da morte.
Os ‘hominianos’ (nomeação de Michel Serres) são uma variante animal que se distingue e torna humana por fazer da vida um lugar de beleza e oficina de coisas belas. ‘Excedem-se’ e embelezam-se, indo além da utilidade e necessidade 10
Quem cria obras de beleza, como, por exemplo, Fídias, Míron, Policleto, Miguel Ângelo, Leonardo Da Vinci ou Óscar Niemeyer, não cultiva apenas a sua especialidade, manifesta amor imenso pela Humanidade, ajuda a recriá-la, sublimá-la, elevá-la. Honra e aumenta o Património da Humanidade.
Na obra de Mário Vitória vejo uma conceção regeneradora da vida mediante o esplendor e fulgor da arte, ferramental, instrumental e imprescindível, incumbida do ofício de nos auxiliar a imaginar e visualizar a vida que ainda não existe.
Mas… o que será uma vida bela? Talvez a congregadora de racionalidade e emotividade, aquela em que as paixões surgem e se renovam continuamente, onde há espaço para o risco e a curiosidade, onde os eventos e o trabalho incorporam o teor do jogo dotado de regras, destrezas, improvisações, golpes de sorte e momentos de reflexão.
Importa perguntar: Estamos, no estilo de vida hodierno, próximos do jogo com lugar para o imprevisível, ou imersos na burocracia em que tudo é regulamentado? É a nossa vida mais lúdica ou burocratizada?
A realidade hodierna não engana; ela contém a resposta inequívoca: somos escravos da vida feia: frenesi, hiperatividade, hiperexcitação, sujeição ao rastreio permanente, em que cada um transporta às costas o seu
9 José Saramago ajuda-nos a perceber o caminho: “O que dá verdadeiro sentido ao encontro é a busca; e é preciso andar muito, para se alcançar o que está perto.”
10 Com a noção de ‘hominianos’ Michel Serres sinaliza que pertencemos a uma espécie animal capaz de se tornar ‘humana’. Esta transição não é espontânea; a sua realização depende da medida de observância e concretização da noção de ‘humano’. Os pensadores gregos tiveram idêntica visão, quando nos definiram como seres ‘artísticos’, à luz do conceito de ‘arété’ e transcendência, aplicável a todas as dimensões: éticas e estéticas, axiológicas, comportamentais, gestuais e sentimentais. Rousseau perfilhou este sentido, ao definir o homem como ‘animal desnaturado’, um ser que se distancia da animalidade mediante a cultura e a luz da razão e da ética: “Animal e natureza são um só. Homem e natureza são dois.”
campo de concentração e não sabe como se libertar dele, nem como obviar a entrega à quietude da morte. A cegueira e promessa do ‘vir-a-ser’ sacrificam a dignidade e o direito do Ser aqui e agora.
Paradoxalmente, um dos alvos da era ‘pós-industrial’ é o da ‘estetização do mundo’. 11 Ou seja, a expansão de uma estética acessível não apenas a uma elite, como no passado, mas alterada para chegar à grande maioria. Afirma-se a intenção de a inserir, como mais-valia em todos os setores, locais e instituições. Sabe-se bem até onde já se alongou a pretensão: latrinas, mictórios, bananas e coisas similares figuram, como obras de arte, em exposições e museus.
O problema da fealdade desta hora é interrogativo: Como organizar as várias dimensões da existência, conferir-lhes sentido exaltante e não naufragar na esquizofrenia? Talvez devêssemos recuperar e renovar as distinções e complementaridades entre interior e exterior, essência e aparência, latente e manifesto, autêntico e inautêntico, significante e significado, sincrónico e diacrónico, nómada e sedentário, real e virtual. O pós-modernismo confundiu isto e confundiu-nos. Cumpre-nos reafirmar a supremacia do belo, verdadeiro e bom, a reação e indignação perante o falso, o feio e horrendo.
Dostoiévski proclamou com fulgurante esperança: “A beleza salvará o mundo.” Oscar Niemeyer, criador de tanta beleza com a linha curva, comentou, no dia em que fez 100 anos, com um laivo amargo de desilusão: “A beleza nunca salvou ninguém. Para salvar o mundo, é preciso uma revolução.” Ouso elaborar e propor uma síntese destas posições contrárias: precisamos de uma revolução iluminada pela axiologia, ética e estética, que imponha o cultivo do belo, bom e verdadeiro. E mantenha acesa a obstinada convicção de que a parcela saudável da urbe humana prevalecerá sobre a doentia.
Ah, como precisamos dela! Sim, precisamos da beleza, da sua presença, das expressões e dos gestos que a irradiam. Tanto ou mais do que de justiça e reconhecimento. É com ela que extasiamos os olhos e saciamos a alma, em cada dia da existência.
Mas… será ela impossível de obter em quantidade ajustada à nossa necessidade? Não, não é. É possível encontrá-la e absorvê-la nas atitudes e palavras simples, que nos encantam e, no entanto, não valorizamos devidamente. Afinal, a simplicidade é a obra de arte mais difícil de realizar, só ao alcance dos esforçados artistas e sábios. E nós somos inábeis, toscos e indolentes, propensos a tolerar a estupidez e tudo quanto nos coisifica e desvia do belo.
Somente realizamos as coisas que nos propomos, disse o barbudo e excomungado Karl Marx. Esta é uma boa altura para nos propormos coisas edificantes e para as realizarmos; para não nos desculparmos com a proclamação de pias intenções.
Saúdo e reverencio a mirífica, desafiante e extasiante criação de Mário Vitória; e a vós, caríssimos leitores e Amigos. Por favor, sejam livres, irradiem alegria e sejam incansáveis artífices do Humano! Associo a minha inquietude às vossas. Vivemos com a ânsia de eternidade a assolar-nos a alma, numa vertigem desejosa de converter as fragilidades e precariedades da nossa mundanidade em substâncias etéreas e sagradas, em realidades com forosdeimortalidade.Queremos sercidadãos doCéu. Tal como os Titãs,chefiados porJápeto, cometamos o atrevimento de almejar ser Deuses do Olimpo. Aqui e agora, na Terra cansada de guerras e empapada em sangue, afirmemos o orgulho de Odisseus inconformados e levantados do chão.
Sejamosgratos aEpimeteupornostergeradonus, inábeisedespidosdeartesetécnicas,sem ofogodo espírito e presos por cadeados de incontáveis defeitos, a Prometeu por nos ter acudido, desacorrentado e reabilitado, ao Mário Vitória por nos pastorear nesta plaga do desassombro. E acompanhemos a exaltação de Píndaro: Olímpia, mãe dos jogos de áureas coroas, senhora da verdade!
11 Vale a pena ler o longo e acurado ensaio de Jean Serroy e Gilles Lipovetsky (A estetização do mundo: Viver na era do capitalismo artista), para perceber como a estética hoje em alta está o serviço do mercado e molda a sensibilidade dos consumidores.
Oi! Eu sou o Diogo Gualhardo! Você conhece a história de amor do poeta Gonçalves Dias e sua musa Anna Amélia Ferreira Vale? Assista o vídeo e veja o casarão da rua de Santana, onde eles se conheceram!
Os vídeos de Gualhardo79 (@gualhardo79) com Chopin Nocturne No. 2 Piano Mono - moshimo sound design | TikTok
O presidente da Academia Ludovicense de Letras, Prof. Sanatiel Pereira, convida todos os integrantes do sodalício para uma reunião de avaliação dos primeiros dias da atual gestão da ALL e outros assuntos julgados de relevância, a qual terá lugar em sua sede provisória do Palácio Cristo Rei, a partir das 16 horas do dia 9 de abril corrente. SLZ/MA, 02042024.
[21:17, 27/04/2024] Dilerci: A "II coletânea poética da sociedade de Cultura Latina do Brasil: construindo Pontes" será lançada no V Encontro Nacional da Sociedade de Cultura Latina do Brasil-SCLB, que será realizado em Manaus, 15 e 16 de novembro de 2024. A sociedade de Cultura Latina do Estado do Amazonas é a anfitriã do evento.
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O aniversário de nascimento do poeta Celso Borges será celebrado com lançamento de livro inédito, ainda, além de dança, palestra e filme. É neste sábado, dia 18 de maio, data em que se completam 65 anos de seu nascimento.
A programação começa às 16h, no Cinema Sesc Deodoro, centro de São Luís (Brasil). Segue com sarau no Sebo Chico Discos (esquina da Rua dos Afogados com São João), a partir das 18h.
ainda
O livro ainda reúne poemas que o autor organizou em janeiro de 2023, poucos meses antes de sua morte, em abril daquele ano.
A obra sai pela coleção Diabo na Aula (Mórula Editorial), coordenada pelo escritor Manoel Ricardo de Lima, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele vem a São Luís para falar sobre a trajetória literária do poeta maranhense na conferência Celso Borges: uma emergência de passados e futuros para o presente. Essa foi a última obra que Celso Borges preparou e enviou para publicação e os poemas nele contidos tratam da finitude, o grande tema da existência humana.
“Ainda é, antes de tudo, sua profissão de fé na poesia, aquela que nunca desaba, a única capaz de salvá-lo, divindade ou maldição, a quem entregou sua vida e ali, naquele momento, a possibilidade real de sua morte”, escreve na apresentação do livro a jornalista e escritora Andréa Oliveira, sua companheira.
A programação começa às 16h, com exibição do filme O futuro tem o coração antigo (Lume Filmes), de Beto Matuck e Celso Borges; segue com a apresentação de coreografia da bailarina Tereza Borges Frota sobre a música O futuro tem o coração antigo (Celso Borges e Ivandro Coêlho) e a conferência do professor Manoel Ricardo de Lima.
Palestra que ministrei no IESB, Asa Norte, em Brasília, sobre Celso Magalhães e o processo da Baronesa de Grajaú. Agradecimentos aos organizadores da XVI Semana Jurídica.
Como é difícil tentar divulgar nossa literatura... Mas continuamos na luta, desta feita editando a Revista Tijubina, que sai trimestralmente e que valoriza todas as facetas da cultura. A @revista_tijubina é uma prova de que é possível fazer algo sem depender de investimento público ou privado.
Já são cinco números. Brevemente, teremos mais.
José neres
Imagens da celebração do aniversário de 193 anos da Biblioteca Pública Benedito Leite, ocasião em que pessoas físicas e instituições foram homenageadas com.a certificação Amigo da Biblioteca.
A solenidade aconteceu no salão nobre da Academia Maranhense de Letras, na terça-feira, 28 de maio.
Na oportunidade foi entregue ao presidente AML o resultado da pesquisa sobre a Academia Maranhense de Letras contada através do acervo da Biblioteca Pública Benedito Leite.
O último espaço que a Biblioteca Pública Benedito Leite ocupou antes de ter seu prédio próprio, foi o que hoje abriga a Academia Maranhense de Letras.
A festa da premiação do Concurso de Poesias da APB, (premiado do Maranhão), no tradicional restaurante do Rabelo
Vídeo do WhatsApp de 2024-06-03 à(s) 16.31.11_64efb2f2.mp4
Junho
tem Café Freudiano em edição
Evento traz a Inquietação Criativa como tema
O Café Freudiano, evento que une psicanálise, música e poesia, chega neste mês de junho com uma edição
A escritora e professora Ceres Costa Fernandes – Foto: divulgação especial no próximo sábado, dia 15 de junho, no Teatro Napoleão Ewerton do Sesc, no Calhau, em São Luís. O encontro organizado pelo psicanalista e escritor William Amorim contará com a presença da renomada escritora e professora, Ceres Costa Fernandes e da escritora Lucy Teixeira. Também participam do evento, como convidados, a atriz Claudiana Cotrim, as escritoras Arlete Nogueira da Cruz e Ana Luiza Ferro, além do escritor Alexandre Lago. A cantora Morgana Storm é a atração musical convidada para o evento.
Durante o evento, os participantes terão a oportunidade de mergulhar no universo da psicanálise, poesia e literatura. Além disso, o Café Freudiano também contará com apresentação musical , que irá enriquecer ainda mais o evento.
O tema desta edição será a Inquietação Criativa, abordagem importantíssima em tempos em que o criar pelo ser humano se torna tão importante em um momento de hipervalorização da inteligência artificial, cuja aplicação se expande em várias vertentes.
O Café é uma excelente oportunidade para quem se interessa por psicanálise, arte e literatura, e promete ser um momento enriquecedor e inspirador. Os interessados em participar podem adquirir seus ingressos no local do Evento,
no Teatro Napoleão Ewerton, no Sesc do Calhau, no dia do café (sábado, 15/06), a partir das 9h.
Cada ingresso é trocado por 1 kg de alimento não perecível.
Não perca essa oportunidade única de expandir seus conhecimentos e viver a atmosfera da psicanálise e arte que só esse evento único proporciona em São Luís.
Psicanalista e escritor William Amorim, organizador do Café Freudiano – foto: divulgação
A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL VAI SUBSTITUIR OS PROFESSORES?
REFLEXÕES SOBRE O POTENCIAL DE DESUMANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO
Caminhos Inteligentes para a Educação
Bem-vindos a mais uma edição da IAEdPraxis, sua fonte de informação para explorar os caminhos da Inteligência Artificial aplicada à Educação.
MARCELO SABBATINI
Imagem: Deviant Art Dreamup e Marcelo Sabbatini
Nesta semana, vamos enfrentar aquela pergunta que deixa todo professor de cabelo em pé, quando surge o tema da Inteligência Artificial: os professores continuarão a existir, serão substituídos pela máquina?
IA em Foco
Por Marcelo Sabbatini
A ascensão das Inteligências Artificiais (IAs) generativas tem desencadeado um intenso debate sobre o potencial de substituição de profissionais, principalmente em áreas que lidam com a informação e o conhecimento. Como não poderia deixar de ser, a Educação está incluída.
A noção de que as IAs possam ocupar o papel de professores tem sido reavivada, suscitando preocupações sobre os impactos dessa possibilidade para a profissão docente. Alarmismo a parte, o que podemos dizer sobre o tema?
Um projeto metafísico?
O desejo de substituir o humano por entidades artificiais não é algo recente. Não tenho isso elaborado ou sistematizado, mas poderia diria que é um projeto ideológico, profundamente enraizado em nossa cultura. Desde as primeiras obras de ficção científica até os avanços tecnológicos mais recentes reaparece, vista como fascinação ou com temor.
Frontistípico da edição de Colburn e Bentley do clássico Frankenstein, de Mary Shelley, publicado em Londres em 1831
Uma de suas primeiras manifestações pode ser encontrada no Frankenstein de Mary Shelley, publicado em 1818. A criação de uma criatura artificial, com a ciência desafiando os limites da Natureza também suscitava questões de moralidade.
Décadas antes, em 1770, o chamado "Turco Mecânico" já tinha causado sensação na Europa. Uma máquina aparentemente capaz de jogar xadrez derrotando personagens como Napoleão Bonaparte e Benjamin Franklin depois foi revelado como engano. Mas o fascínio de criar autômatos capazes de imitar e até superar as capacidades humanas.
Essas narrativas e manifestações culturais refletem uma ideologia subjacente: a crença de que o humano pode ser superado pela sua própria criação. De certa forma, assim como o Frankenstein-criador foi superado pelo Frankenstein-criatura, é um projeto niilista. Porém, de forma estranha, esse projeto se manteve sedutor ao longo dos séculos.
Um projeto paradigmático
A ideia de substituição do humano está enraizada numa visão mecanicista do mundo, que reduz a realidade a uma série de problemas e de processos que podem ser separados, analisados e resolvidos, um a um. Esta mesma visão cartesiana nos leva a pensar a substituição do humano como uma questão de eficácia e de eficiência.
Disponíveis 24 horas por dia, sem limitação de horários ou períodos de descanso, atendendo cada aluno de forma personalizada, respeitando suas necessidades e ritmos individuais de aprendizagem.
A ideia de ensino personalizado, frequentemente apresentada como uma das principais promessas das Inteligências Artificiais na Educação, é de fato, um projeto mais antigo do que se imagina. Como destaca Audrey Watters em seu levantamento da história da tecnologia educacional , ela remonta a décadas atrás, muito antes do surgimento das tecnologias digitais.
Teaching Machines: The History Of Personalized Learning, ou Máquinas de Ensinar: A História da Aprendizagem Personalizada, em tradução livre, de Audrey Watters
A "instrução programada" já era pensada na década de 1920 por teóricos como Sydney L. Pressey e B.F. Skinner. Esses psicólogos acreditavam que o processo de aprendizagem poderia ser mais eficiente se fosse dividido em pequenas etapas, com feedbacks imediatos, algo que poderia ser automatizado.
Máquina de esinar desenvolvida por Pressey, acervo do Museu Nacional de História Natural Smithonian, Washington D. C.
Como ressalta Watters, esse ideal permaneceu ao longo da história da tecnologia educacional, primeiramente através das "máquinas de ensinar", dos sistemas de "instrução assistida por computador" (CAI, na sigla em inglês) da IBM e chegando às primeiras iterações da Inteligência Artificial.
E além disso, eficiência, escalabilidade, produtividade, livres das imperfeições humanas também significam redução de custos.
Um projeto econômico
Por trás do entusiasmo em torno da adoção das Inteligências Artificiais (IAs) existe um forte argumento econômico: a viabilidade financeira ancorada na substituição do trabalho humano.
Num mundo competitivo, empresas e instituições buscam constantemente maneiras de reduzir custos e aumentar a eficiência operacional, é fato. A implementação de soluções de IA é associada a estes objetivos. Ao automatizar tarefas anteriormente realizadas por seres humanos, as IAs prometem uma redução significativa nos gastos com salários e benefícios, representando uma economia substancial.
Neste exato momento, este é um tema de discussão acirrada no mundo da IA. Empresas como OpenAI, Anthropiceas mais tradicionais gigantes tecnológicas somentepoderãocontinuaradesenvolverseus produtos caso tenham viabilidade econômica. E esta não depende das assinaturas individuais dos planos premium, mas do uso por parte de grandes empresas. Que por sua vez somente assumirão este custo caso aumentem sua eficiência e lucratividade. Nesse raciocínio, fica evidente que o trabalhador humano é o mais prejudicado. No campo educacional, a perspectiva de substituir professores por sistemas de IA é particularmente sedutora do ponto de vista financeiro. Os custos associados à contratação e manutenção de um corpo docente qualificado - visto como gasto - são significativos.
Dessa forma, num cenário cada vez mais privatizado, plataformizado, competitivo, com limitações na oferta de mão de mão de obra, o temor de substituição dos professores é algo a ser levado em conta. Seriamente.
Afinal, professores serão substituídos?
O contraponto às raízes metafísicas, epistemológicas, culturais e econômicas da substituição do ser humano pela máquina é justamente a humanização, ligado a um conceito ou entendimento do que é Educação.
Ela se resume, de forma reducionista, a um processo mecânico de transmissão-absorção de conhecimentos? Ou envolve algo mais como são as habilidades habilidades sociais, emocionais e éticas, tão específicas da interação humana? Ou mesmo a criatividade, tão proferida como a competência essencial do século XXI?
Justamente, a interação humana é essencial para a construção de vínculos e relações significativas, tão necessárias para engajamento e motivação dos estudantes. As IAs, por mais avançadas que sejam, carecem da capacidade de estabelecer conexões genuínas. São incapazes de compreender as nuances das experiências humanas. Este é argumento utilizado por autores como Neil Selwyn e Joseph E. Aoun, mesmo antes do boom das IAs generativas.
Professores possuem um valor intrínseco no processo educativo, se consideramos a Educação como um projeto de desenvolvimento integral dos educandos. Educar é uma experiência humana, com suas nuances, emoções e complexidades. Somos modelos de conduta, condutores de empatia e facilitadores do crescimento pessoal.
Mais além da dimensão pedagógica, o impacto sobre a Educação enquanto instituição social não pode ser negligenciado. Desemprego estrutural, impacto econômico sobre comunidades e economias locais. Acentuação de desigualdades educacionais e perpetuação de ciclos de pobreza e marginalização colocam e questão a sustentabilidade da IA a longo prazo, mais além da economia de custos imediatos.
Concluindo, a substituição de professores por Inteligências Artificiais representa um risco significativo para a Educação enquanto formação humana. É uma luta para a qual precisamos estar preparados.
Perguntei lá na outra rede e deu um resultado positivo para os empregos humanos.
Sobreoevento
O XIX Seminário Internacional Mulher & Literatura é organizado pelo GT da Anpoll “A mulher na literatura: crítica feminista e estudos de gênero”, pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Acontecerá no período de 14 a 17 de outubro de 2024, na cidade de NiteróiRJ. O tema geral é Discursos transdisciplinares e volta-se para leituras de textos literários e outras manifestações artísticas produzidas por mulheres cis e trans, para a crítica literária feminista e para os estudos de gênero, sexualidades e suas intra/interseccionalidades.
O evento reúne, há mais de três décadas, as principais pesquisadoras da crítica literária feminista nacional e internacional. A programação desta edição contempla aproximadamente 500 apresentações de trabalhos (entre conferências, palestras e simpósios), que abordarão os estudos críticos de cunho feminista, nas literaturas estrangeiras e brasileira, da literatura comparada e da teoria literária.
O XIX Seminário Internacional Mulher & Literatura contemplará 11 Simpósios temáticos, organizados e coordenados pelas pesquisadoras filiadas ao GT “A mulher na literatura: crítica feminista e estudos de gênero”, sobre temas variados: ditaduras, edição, ecocrítica, erotismo, utopismos, subalternidades, corpo, memória, maternidades, imprensa, decolonialidades, tradição/ruptura/retorno, a partir do eixo de investigação dos feminismos plurais.
Como registro da memória/identidade do GT e contribuição para a atualizar e ampliar a bibliografia sobre o binômio Mulher e Literatura, um livro com os textos das conferencistas e escritoras convidadas será publicado, além de 11 e-books com textos selecionados dos simpósios temáticos propostos. Nesse sentido, nos quatro dias escolhidos de outubro de 2024, a potência dos discursos transdisciplinares mobilizará todo o evento.
SUBMISSÕES DE RESUMO PRORROGADAS ATÉ O DIA 30/06/2024!!
SERÁ ACEITA APENAS UMA INSCRIÇÃO POR PESSOA. A ideia é que as pessoas participem do simpósio todos os dias, não apenas apresentando a sua comunicação, mas assistindo às comunicações das colegas e debatendo.
Orientações para a submissão de resumo: de 100 a 300 palavras; de 3 a 5 palavras-chave; título do trabalho; coautores (caso haja).
Há alguns anos, estudiosas e estudiosos da edição têm concentrado esforços em pesquisas que levam em consideração a atuação das mulheres no campo editorial, tanto no Brasil quanto em outros países. Este grupo receberá trabalhos, finalizados ou em andamento, cujo objeto guarde relações com a edição, em especial de livros, mas não apenas (i. é, quadrinhos, revistas, outras linguagens etc.), desde uma perspectiva de gênero, feminista, interseccional e/ou decolonial, também diversos epistemológica e metodologicamente. Nossa intenção é prover um espaço de debate para investigações e reflexões que ponham as mulheres no centro da questão editorial, em todos os papéis que elas possam (ou tenham podido) desempenhar, no passado e no presente, sem descuidar de uma agenda para o futuro.
2 Repetir para não repetir: irrupção da tradição, explosão da linguagem na poesia produzida por mulheres
Este simpósio pretende discutir a sobrevivência de imagens arquetípicas da tradição literária, cultural e/ou histórica na poesia produzida por mulheres, de modo a observar como essa repetitividade é reveladora tanto da inter e superposição tempo-espaço dessas imagens que retornam vigorosas, quanto da irrupção dessas mesmas imagens em formas de vestígio, morte, luto, dor, violência do corpo e da mente, resistência, revolução. A linguagem para essa releitura da tradição é, na forma e no conteúdo, quase sempre explosiva e, como tal, expressiva da violência com que as figurações de mulheres como mitos, personagens literárias, heroínas ou anti-heroínas históricas foram retratadas. Mais do que apontar intertextos, interessa-nos refletir sobre como a irrupção dessas imagens sobreviventes e repetidas coloca em questão (e em questionamento) o colapso dos sistemas de saber e de poder cristalizados. O objetivo último do simpósio é reler a tradição que se repete, para que não se repita, sob o viés da decolonização da mente e uma ótica crítica feminista, observando como a dicção poética feminina de diversas línguas e nacionalidades lida com essas questões. São bem-vindas análises de poemas isolados e/ou obras completas de diferentes gêneros poéticos (poemas líricos, épicos, curtos, longos, prosa poética, poema em prosa), escritas em uma única língua ou multilíngues, produzidas individual ou coletivamente, com abordagem comparativa ou não.
3 Literatura e Ecologia: visões ecocríticas e eco/feministas
Coordenadoras: Izabel F. O. Brandão (UFAL/CNPq) | Laureny Lourenço da Silva (Pós-Lit/UFMG) | Edilane Ferreira da Silva (Grupo Mare&sal Estudos e Pesquisas Interdisciplinares/UFAL e CNPq)
O simpósio propõe-se a tratar de questões da crítica literária feminista contemporânea, especialmente voltadas ao contexto da ecologia, pela via da ecocrítica e do ecofeminismo com suas conexões e interconexões inter/intra/transdisciplinares, bem como suas intersecções. Propomos nessa problematização oferecer questionamentos acerca de como o texto literário de autoria feminina, especificamente, e de modo mais amplo, de outras autorias, traz o debate ecológico em suas narrativas: como a natureza se apresenta? Que natureza é essa que se apresenta? Como a relação entre humanos e animais mais-que-humanos é representada? Como as questões convencionais que associam as mulheres e a natureza são debatidas? Há proposições essencialistas? Se há, como essas proposições se mostram? Como questões relativas à corporalidade são apresentadas? De que forma a comida/alimentação é retratada? E a espiritualidade, como se mostra? A crise ambiental aparece de que forma? Essas e outras
questões poderão ser trazidas ao cenário de diálogo visando ampliar e fortalecer um tema tão premente nos dias atuais.
4 Autoria feminina na literatura: gênero, erotismo e interfaces
A representação feminina na literatura e nas artes passa pelo olhar da (des)construção da feminilidade como modo de desnudar os discursos patriarcais que alicerçam as relações de poder entre os gêneros, sendo que o discurso literário se constitui, portanto, como ambiente privilegiado para o estudo dessas relações. Nesse campo, o reconhecimento de três principais linhas de estudos pertinentes ao universo feminino: uma que tenta identificar e resgatar as vozes femininas silenciadas no cânone literário; outra que busca reconhecer o que faz um texto literário ser identificado como uma escritura de autoria feminina; e, por último, uma que procura analisar o papel da mulher na literatura em determinadas funções: a de narrar, a de criar, a de compor o perfil feminino por meio de personagens que problematizem a questão de gênero, evidencia um discurso que oferece vários planos de leitura. Dentre essas possibilidades, os estudos de textos que apresentam temática sexual, textos eróticos e/ou pornográficos escritos por sujeitos subalternos na hierarquia de gênero são uma vertente profícua de investigação, uma vez que indicam procedimentos de ruptura com as investiduras de gênero e com o cânone instaurado sobre uma tradição fálica da literatura e a ancestral repressão sobre a sexualidade feminina. Nesse sentido, o presente Simpósio Temático acolherá trabalhos que versem sobre a expressão do erotismo (e suas modalidades amplas e correlatas) em textos literários escritos por mulheres, cis, trans ou não binárias no Brasil e em outros países, considerando as diversas possibilidades de representação do corpo, do desejo, das identidades de gênero e das relações eróticas no contexto da poesia, da ficção narrativa ou de outras modalidades de texto de autoria feminina. Serão também aceitos estudos que façam a aproximação da literatura com outras modalidades de arte erótica, no campo teórico-analítico específico e nos campos transdisciplinares pertinentes.
5 Literatura infantojuvenil escrita por mulheres: revisão histórica, apagamento e representatividades
Coordenadoras: Anna Faedrich (UFF) | Cassiana Lima Cardoso (UERJ)
Este simpósio tem como propósito abordar questões concernentes à literatura infantil e juvenil de autoria feminina, bem como à revisão histórica em relação a obras produzidas por mulheres em contextos nos quais os escritos destinados à infância e à juventude eram encarados como gênero menor. Aspectos como representatividade na literatura infantil e juvenil escrita por mulheres; desconstrução de estereótipos no papel social da menina e da mulher; e mudanças significativas na forma e conteúdo ocorridas nos livros responsáveis pela formação do leitor literário na contemporaneidade também serão abordados.
Nos últimos anos, assistiu-se ao surgimento de novas protagonistas na arte da palavra, oriundas de grupos antes silenciados, como mulheres indígenas ou negras, vistos ou tidos socialmente como grupos subalternos. Fazendo um balanço provisório, constata-se que essa nova produção discursiva confronta a série literária tradicional trazendo novas pautas e procedimentos, muitas vezes vinculados a novas
mídias, novos espaços de divulgação e novos recursos, que ampliam incrivelmente as possibilidades da palavra em diálogo com o mundo – dos slams, podcasts, vídeos e inserções do mundo virtual –, recuperando o caráter de oralidade, performance, encenação, corporeidade, plasticidade e ritualística. Tal produção, ao mesmo tempo, atualiza e reelabora mitos, modelos e textualidades de ontem e de hoje. Este Simpósio pretende reunir pesquisadores/as vinculados/as ao estudo da cultura latino-americana dentro de uma pauta feminista e de gênero, abrindo espaço para as falas consideradas subalternas e as novas manifestações artístico-culturais-visuais, sob a perspectiva interseccional e de(s)colonial, seja afirmando suas lutas e suas estratégias de afirmação e de resistência, seja contrapondo conceitos, confrontando os novos desafios que as poéticas da oralidade impõem aos estudiosos e estabelecendo revisões da série literário-imagética, a partir de novas abordagens. Abre-se, ainda, ao exame do “laboratório” das escritoras e artistas da palavra, trazendo à baila o processo criativo e os projetos autorais em nível individual ou coletivo no contexto latino-americano atual. Dá particular importância às falas transversais, às temáticas da violência e das reparações, da práxis e do mercado, de espaços de atuação, produção e recepção de textos. Pretende-se, com os encontros deste Simpósio, discutir a construção de saberes e formas de resistência, de pautas de atuação e de inserção em grupos de pesquisa e de criação artístico-literáriocultural. Em última análise, exercitar o caráter intrínseco ao mundo universitário, qual seja a conjunção de ensino-pesquisa-extensão, pensando novas formas de integrar pesquisa e práxis, produção e crítica.
7 Representações do corpo feminino na literatura contemporânea produzida por mulheres
Coordenadoras: Maria do Rosário Alves Pereira (CEFET-MG/UFV) | Cristiane Côrtes (CEFET-MG Nepomuceno)
Na literatura de autoria feminina produzida contemporaneamente, percebe-se um aumento em representações literárias cujo enfoque seja o corpo nas suas mais diversas representações. Partindo das teorizações de Elódia Xavier, Susan Bordo e Ketu Katrak, dentre outras, o objetivo deste simpósio é acolher comunicações que abordem a multiplicidade de representações do corpo feminino na literatura produzida por mulheres, inclusive aquelas com enfoque transdisciplinar ou viés comparativo. Serão bem-vindos trabalhos que tratem de: violência, maternidade, interseccionalidade, sexualidade, velhice, dentre outras possibilidades, os quais propiciem reflexões críticas sobre o corpo na literatura brasileira escrita por mulheres, mas também em produções estrangeiras de autoria feminina, de modo a propiciar um diálogo entre obras produzidas em diferentes contextos socioculturais.
8 Autoria feminina na literatura latino-americana: fronteiras, memórias e descolonização
Coordenadoras: Alexandra Santos Pinheiro (UFGD) | Alexandra Santos Pinheiro, Geovana Quinalha de Oliveira (UFMS) | Algemira Macedo Mendes (UESPI/UEMA/CNPq)
A escrita de mulheres, permeada de memórias e escrita de si, contribuem para o reconhecimento de identidades dessas mulheres escritoras, que acabam por representar as vivências também de outras mulheres de seu tempo. A percepção e análise desses traços de registros memorialistas permite múltiplas reflexões e análises sobre a escrita feminina, como também o valor destas estratégias tão presentes nas produções das escritoras do século XIX e da contemporaneidade. O Simpósio Temático (ST) Autoria feminina na literatura latino-americana: fronteiras, memórias e descolonização objetiva reunir pesquisas que tratam criticamente de questões acerca de fronteira, de memória e de descolonização na literatura latino-americana de autoria feminina. Trata-se de pensar o modo como a escrita de mulheres rompe silêncios, preenche lacuna e, por extensão, reescreve a história latino-americana intimamente constituída por colonizações, ditaduras, confronto étnicos e relações hierárquicas/dicotômicas de gênero. Por esse
viés, a literatura será aqui apreendida como um constructo cultural cuja potência é representativa do espaço e da voz conquistados no qual o feminino constitui novas subjetividades nos modos de ser e sentir. A autoria de mulheres promove, neste sentido, projetos críticos mais conscientes de nossa condição e, consequentemente, das nossas especificidades de sujeitos do Sul global colonizados pelo sistema capital/moderno/patriarcal. Todas essas questões atuam, inevitavelmente, como elementos de articulação em que a escrita de mulheres pode ser analisada como lugar de des-encontro, deslocamento, diferença e resistência voltados para a compreensão dos procedimentos e das implicações políticas da produção discursiva e simbólica de elementos históricos, culturais e identitários da América latina. Com base nesta perspectiva, o ST não delimita temporalidade e busca a aproximação entre diferentes campos teóricos, disciplinares e metodológicos a fim de promover um diálogo que aproxime as variadas vertentes da produção científica sobre a relação entre fronteira, memória e gênero.
Coordenadoras:
Vania Maria Ferreira Vasconcelos (UECE)
| Fani Miranda Tabak (UFTM)
O presente Simpósio Temático acolherá trabalhos que versem sobre narrativas ou textos poéticos de autoria feminina que trabalhem com o tema da maternidade. O século XX foi um período de organização e divulgação da literatura contemporânea escrita por mulheres, estudada hoje como componente fundamental na expressão da cultura brasileira. A maternidade, compreendida hoje como algo imposto culturalmente, tem levado aos questionamentos e discussões das noções de maternidade compulsória e da maternagem como fenômeno essencial para a mulher. Na sociedade contemporânea, a mulher não apenas desloca seus interesses e reinventa sua forma de ser e estar no espaço social, mas encontra uma oportunidade para decidir sobre o destino de seu próprio corpo. Portanto, considerando que a relação das mulheres com a maternidade consiste em um tema complexo sob o aspecto psicanalítico, social ou político, que ainda foi pouco abordado pela crítica literária feminista, embora comece a transbordar de variedade e importância na escrita de mulheres.
10 A presença da mulher na imprensa: do século XIX à contemporaneidade
A imprensa produzida por mulheres teve início em 1693, em Londres, como uma folha anexa ao jornal Athenean Mercury, denominada The ladies’ Mercury. Embora essa publicação tenha existido por um breve período, marcou uma tendência que iria tomar vulto, nas décadas seguintes, em outros países da Europa. Como a imprensa, no Brasil, iniciou de forma tardia, o mesmo ocorreu com o jornalismo produzido por figuras femininas. Assim, os primeiros veículos direcionados às mulheres foram editados por homens, tais como O Espelho Diamantino, dirigido pelo jornalista francês Pierre Plancher, ou O Mentor das Brasileiras, sob o comando do professor José Alcebíades Carneiro, ressaltando-se que a primeira produção, efetivamente, conduzida por uma mulher foi o jornal Belona Irada Contra os Sectários do Momo, de Maria Josefa Barreto, em 1833, tratando-se de uma folha política. O primeiro jornal feminino, intitulado Jornal das Senhoras, que circulou de 1852 a 1855, foi fundado por Joana Paula Manso de Noronha. A partir de então, multiplicou-se essa modalidade de publicação em que foram veiculados contos, poemas, crônicas, artigos e folhetins produzidos por mulheres, como Madame Chrisantème, Júlia Lopes de Almeida, Presciliana Duarte de Almeida, entre outras, que publicaram em um grande números de jornais e revistas como A Mensageira, O Sexo Feminino, A Família, A Sempre-Viva. No intuito de valorizar os estudos sobre a produção feminina veiculada pela imprensa este simpósio pretende acolher
9 O tema da maternidade em textos de autoria feminina
pesquisas relacionadas a publicações de mulheres na imprensa, mesmo que, posteriormente, tenham sido editadas em livros.
11
A escrita de mulheres e os feminismos de coloniais na contemporaneidade
Partindo da perspectiva de que o olhar decolonial funciona como uma lente que explicita questões ligadas às opressões (linguísticas, de gênero, raciais, étnicas, políticas, culturais) que passaram a atuar fortemente sobre as culturas que sofreram invasões europeias, nos interessa, através de olhares teórico- críticos afinados com o feminismo e o decolonial, enfocar produções de mulheres escritoras do momento contemporâneo a fim de problematizar as marcas desses impactos da colonialidade no campo da literatura.
O XIX Seminário Internacional Mulher & Literatura é organizado pelas seguintes comissões:
Organizadores:
Profa. Dra. Anna Faedrich (UFF)
Prof. Dr. Maximiliano Torres (UERJ)
Comissão Organizadora
Profa. Dra. Ana Elisa Ribeiro (CEFET-MG)
Profa. Dra. Luciana Borges (UFG)
Profa. Dra. Martha Alkimin (UFRJ)
Profa. Dra. Simone Pereira Schmidt (UFSC)
Profa. Dra. Suely Leite (UEL)
Comissão Local:
Profa. Dra. Cassiana Lima Cardoso (UERJ)
Profa. Dra. Giovanna Giffoni (UERJ)
Profa. Dra. Martha Alkimin (UFRJ)
Comissão do GT da ANPOLL A Mulher na Literatura: crítica feminista e estudos de gênero
Profa. Dra. Anélia Pietrani (UFRJ)
Profa. Dra. Ildney Cavalcanti (UFAL)
Profa. Dra. Fani Miranda Tabak (UFTM)
Profa. Dra. Izabel de Fátima Brandão (UFAL)
Profa. Dra. Leila Harris (UERJ)
Profa. Dra. Lúcia Osana Zolin (UEM)
Profa. Dra. Liane Schneider (UFPB)
Profa. Dra. Nancy Rita Ferreira Vieira (UFBA)
Profa. Dra. Rosana Cássia Kamita (UFSC)
Profa. Dra. Vânia Vasconcelos (UNILAB)
Prof. Dr. Carlos Magno (UFS)
Conselho Científico Internacional
Profa. Dra. Ana Gabriela Macedo (Universidade do Minho - Portugal)
Profa. Dra. Cláudia Costa (UFSC)
Profa. Dra. Maria Aparecida Fontes (Università degli Studi di Padova - Itália)
Profa. Dra. Maria Aparecida Salgueiro (UERJ)
Profa. Dra. María Del Mar López-Cabrales (Colorado State University - EUA)
Profa. Dra. Nádia Battella Gotlib (USP)
Profa. Dra. Peggy Sharpe (University of Mississippi - EUA)
Profa. Dra. Ria Lemaire (Université de Poitiers - França)
Profa. Dra. Rita Terezinha Schmidt (UFRGS)
Profa. Dra. Sandra Regina Goulart Almeida (UFMG)
ARTIGOS & ALGO MAIS
ANA ELIZANDRA RIBEIRO (ANNA LIZ)
ENGAJAMENTO E LIRISMO AFLORAM NA POESIA DE WANDA CUNHA E DE LINDA BARROS
– Professora da rede pública estadual e municipal de Santa Luzia-MA. Poeta com participações em mais de uma centena de antologias, escritora com oito livros solo e ganhadora de diversos prêmios, como o Prêmio Alejandro Cabassa, concedido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro – UBE/RJ, um dos mais importantes do Brasil. Presidente/Coordenadora da AJEB – MA
A literatura é o lugar em que o “eu” se encontra, se confronta, afronta, incomoda, se incomoda, diz, sente, se revela mesmo sem se revelar. Ao ler a poesia destas duas relevantes escritoras maranhenses, Wanda Cunha e Linda Barros, um turbilhão de sentimentos tomou conta de mim – e os poemas me perpassaram em diversos campos – filosófico, psicológico, social, político, religioso, emotivo, principalmente. Nas linhas dos poemas de Wanda, eu ouço a voz da experiência, muita experiência, uma mulher que tem muito a dizer. A poesia de Wanda coloca o “dedo nas feridas”, é uma poesia/soco e com voz imperativa, ela alerta quem a ler, como no caso do poema do SER ASSIM:
Você precisa conhecer a solidão/ Que tanto você precisa ser./ Você precisa conhecer a solidão/ Pra se acostumar consigo mesmo/E com os outros […] Você precisa conhecer a solidão/ela é a única amiga/de quem tem muitos amigos/ela é a consciência.
Esse poema traz um caráter filosófico para dizer que no fim de tudo somos sós e lembra a filosofia de Nietzche quando nos mostra que uma das características do espírito livre é a solidão, que se deve amar a própria companhia, em vez de temê-la e ele assevera “quando se está consigo mesmo, sente-se em casa, onde quer que esteja”.
Wanda traz também questões políticas e sociais, uma poesia engajada, a serviço do outrem, que nos faz parar e refletir sobre variadas questões. No poema “Falta d’água”, por exemplo, vemos a luta da mulher pela sobrevivência, uma imagem corriqueira no Nordeste, a mulher com a lata d´água na cabeça, o sofrimento, desespero e também uma mulher cheia de esperança:
E, na rua, as latas d’água nas cabeças/ Retratam as marias, subindo o morro do desespero,/Construindo cacimbas de esperanças/ Em suas almas que a água não lava… Em “Garota de rua” Wanda nos faz refletir sobre outra realidade da mulher, o feminicídio, abuso sexual e o pior de tudo, a impunidade:
A garota foi comida crua/ Ela vivia na rua/ Atrás de comida/ Pra matar a fome/ […] Não importa o homem/ Que roubou sem hímen/ Que a garota está frita/ E é babugem de tantos. Em “Fecundação”, Wanda compara o gerar e o nascer a dois mundos, retratando a angústia de uma mãe que quer sempre proteger o filho (no útero/ casinha) e que precisa deixá-lo nascer para conhecer o outro mundo nem tanto acolhedor (o regime do país):
Nove meses de espera/ dentro de um regime maternático/ Agora, numa dilatação de angústia, / estou morrendo de dor/ meu filho vai conhecer o regime do país. No poema “Epitáfio”, Wanda nos traz um grande alento, ao nos fazer pensar que podemos ser como o vento, o silêncio, a maré e que um velório não há que ser triste, se se passou a vida cantando. A morte pode chatearse, a poeta jamais:
A morte vai ficar chateada/ Porque não haverá carpideiras/ nem lágrimas no meu velório./ […] Ninguém precisará ficar triste/ […] Quando eu morrer, quero música. Wanda lança mão de inumeráveis recursos poéticos para tornar a sua poesia mais enfática, firme, contundente. Entre aliterações, assonâncias, metáforas, utilização de formas fixas como o soneto, paráfrases, paródias, ela nos assombra, nos choca, nos emociona, porque a poesia é espanto e é encantamento.
Linda Barros, por sua vez, deixa-me suspirar! Linda é leveza, suavidade. Ela fala de angústia, sonho, esperança, amor, dor, mas deve ser direto do Olimpo, inspirada por Erato ou será ela mesma a própria deusa?
Ao ler Linda, parece que ouço sua própria voz que acalanta o coração, que traz paz para a alma. Ela utiliza uma linguagem que nos perpassa e nos faz pensar sobre nós mesmas, fazendo uma viagem para dentro de nós. É a emotividade que fala na poesia de Linda Barros.
No poema Nasce o dia, Linda, através da rotação da Terra, mostra que a angústia é uma constante da vida –“Vai-se o dia/ Vai-se o sol/ Mas não apaga/ Angústia vazia “. E ainda reiterando a temática, utilizando-se de recursos expressivos, em “Insônia”, ela diz: “O tempo vai/ passando/ len ta men te/ a Vida/ se vai/ len ta men te/ e de repente…/ a solidão.”
E o lirismo toma conta da poesia de Linda e nos inebria, nos faz sonhar – “Sobrevoar é ver de longe/onde posso chegar”; nos faz sentir saudade: “O único som que ouço/ é de um beijo que não lhe dei”; nos faz pensar sobre a efemeridade da vida, como no poema dedicado ao poeta Carvalho Jr – “E, então, sem mais nem menos,/ como uma flor murcha no outono/ ele se foi/ sem dizer adeus” E com toda esta emotividade, o amor não poderia deixar de ser cantado em sua poesia e assim vemos nos poemas “Esperança” e “Amor”:
Das cartas de amor que/ escrevi/ a você/ Mesmo sendo palavras/ vazias/ Ainda que no seu incômodo/ silêncio/ Encheram minha alma perdida e em Um amor puro/ Um amor doce/ Um amor duro/ Um amor que floresce/ Um amor que adormece/ E some,/ Sem nada dizer.
Laura Neres é, sem dúvida, um grande amor para Linda, então sua poesia não poderia deixar de homenagear a filha. O poema “Tu, mulher” retrata com veemência esse amor:
Da delicadeza do seu olhar/ Saem as dores da alma/ Na leveza do seu andar/ carregam suas angústias/ No desenho do seu corpo/ Passeiam seus desejos/ No seu enigmático sorriso/ transbordam seus anseios/ Na maciez de sua pele/ Exalam seu perfume/ E nos seus ondulados cabelos, escondem todos os seus mistérios
Ainda no poema “O parto”, através da metalinguagem, Linda compara o ato de escrever ao ato de parir, dois atos dolorosos, mas produtivos – “Palavras são arrancadas/ do meu ventre/ dadas ao vento/ com emoção e/ desalento”.
Sendo deusa, não poderia faltar em sua poesia a referência a um mito grego, “Narciso”, para nos fazer lembrar que não podemos nos deixar dominar pela vaidade:
Sobre os reflexos nas águas/ Não posso ignorar o que vejo/ Mesmo que seja/ Apenas a sombra/ Do meu ser/ Espalhada na lâmina do rio.
E como afirma o professor e escritor José Neres: “a poeta tem uma obra voltada para os sentimentos do ser humano com relação ao mundo”.
Por fim, posso dizer que mergulhar na poética dessas mulheres causou um “reboliço” em mim e me fez apurar mais o olhar para a produção literária de mulheres, que não deixa nada a desejar em relação à produção literária de homens. A verdade é que cada poeta tem seu lugar de fala e na literatura há lugar para todas as pessoas.
O projeto “LITERATURA MARANHENSE EM FOCO” é uma iniciativa do Site Região Tocantina, em conjunto com o Jornal O Progresso, coordenado pelo jornalista Marcos Fábio Belo Matos.
EDMILSON SANCHES
Não é fácil pregar o novo, o diferente, o justo, o correto. Pode-se terminar enxovalhado pelas multidões e sacrificado na cruz.
Não é fácil pregar e praticar o novo. Poucos aceitam mudanças em cima daquilo de que se beneficiam.
Quando recusamos uma nova mensagem, ou a proposta de um novo jeito de ser, de um diferente modo de fazer, não nos diferenciamos daqueles que, frente ao palácio de Pôncio Pilatos, pediam por Barrabás e condenavam o Pregador ao martírio dos cravos, ao suplício da cruz.
Neste ano eleitoral, só a Sexta-Feira passada foi da Paixão e Santa todos as demais serão da Política e do fingimento.
Mas o povo quer que seu político escolha a claridade, não o acinzentamento; ...o holofote potente do campo de futebol, não a lâmpada tremeluzente da boate da esquina.
Escolher a luz, não a escuridão;
...a transparência, não a obscuridade; ...a seriedade, não o acanalhamento; ...o servir, não o ser vil ou servil;
...a verdade, não a mentira;
...o Bem, o Bom, o Belo, não o mal, o ruim, o feio.
Enfim, procurar o humano e o divino, e não o desumano e o diabólico.
A EVOLUÇÃO DA ACADEMIA POÉTICA BRASILEIRA É A OLHOS VISTOS, EM 8 ANOS DE EXISTÊNCIA VIRTUAL
"As Academias devem espelhar a alma, retratar o espírito, expressar a gênese e as potencialidades de um povo".
Martins de Oliveira
Edomir Martins de Oliveira, professor, escritor e pesquisador.
Como Vice-Presidente Executivo Nacional da gloriosa Academia Poética Brasileira (APB), é com grande honra que escrevo sobre a evolução desta instituição. A APB, com suas características únicas, tem se destacado como uma academia virtual, promovendo a inclusão literária de todos os seus membros na fantástica Plataforma do Facetubes (www.facetubes.com.br). Esse espaço tem sido um grande espelho para mostrar ao Mundo a importância das obras produzidas pelos nossos membros.
Nestes 8 anos de fundação da Entidade, quero parabenizar todos os membros pela confiança e pela maneira
Edomir
honesta, realista e sábia como vêm se comportando. A APB existe para todos os membros e com eles, esse laço inquebrável que sustenta a credibilidade do nosso Sodalício, diante de muitos sacrifícios que foram superados ao longo dos anos.
As academias literárias, tanto no Brasil quanto no exterior, são fundamentais para a promoção da literatura e do pensamento crítico. Nas comemorações dos 83 anos da Academia Acreana de Letras, seu presidente, em discurso, disse: "As Academias devem espelhar a alma, retratar o espírito, expressar a gênese e as potencialidades de um povo. Guardiãs zelosas da língua, o maior patrimônio nacional, as Academias de Letras corrigem desvios, depuram o idioma e preservam a sua integridade expressional. Nada distingue mais um povo do outro que sua literatura".
Aproveitando essas sábias palavras do confrade acreano, acima, insisto em dizer que uma Academia de Letras, longe de ser um mero fim em si mesma, é o veículo pelo qual os acadêmicos buscam a imortalidade de suas obras literárias. Por isso, a APB tem o dever sagrado de preservar o legado de cada membro, mas sua missão vai além: "buscar divulgar e eternizar as obras, através do nome de cada personagem, elevandoo à galeria dos imortais", como afirmou o presidente, poeta Mhario Lincoln quando apresentou a proposta, em reunião da Executiva no ano passado, dos primeiros membros cederem seus próprios nomes à Cadeira em que sentam, sendo, por conseguinte, seus Paraninfos imortais.
Embora o homem seja mortal, seu valioso patrimônio artístico e literário, em sua respectiva área, resiste ao tempo, ecoando de geração em geração. Certa vez, Rui Barbosa disse em discursos na Academia Brasileira de Letras: "Não é o homem o mortal, mas sim, suas obras, relicários de imortalidade". Assim, a APB é a guardiã da eternidade literária, um farol que ilumina o caminho para a imortalidade através da palavra escrita.
Parabéns, enfim, a todos os membros da APB por esses 8 anos de dedicação, trabalho e amor à literatura. Que possamos continuar a crescer juntos, sempre valorizando a importância de nossas obras e a contribuição de cada membro para a nossa gloriosa academia.
Abaixo, os membros que integram a SALA FLOR BELA ESPANCA.
SALA FLOR BELA ESPANCA
JOSÉ CLÁUDIO PAVÃO SANTANA
O PODER MODERADOR
A imprensa vem tratando com certa ênfase o julgamento do STF sob a epígrafe de “Poder Moderador”. Segundo a notícia o tribunal teria já três votos contra a tese das forças armadas serem uma espécie de poder moderador.
Objetivamente o assunto se vincula ao art. 142 da CRFB que prevê, além da defesa da pátria (destaque-se a soberania), a atribuição de garantia da lei e da ordem pelos militares, quando houver embaraço no funcionamento de um dos poderes da república.
Forçoso é lembrar que as forças armadas possuem como comandante em chefe o presidente da república. Também por isso as figuras do estado de sítio e estado de defesa, além de intervenção federal, todos dispositivos expressos na Constituição que têm sido rotulados, indevida e ideologicamente, em discussões paralelas, como golpe. Mas o mesmo artigo possibilita que quaisquer dos poderes possam invocar sua utilização (das forças armadas) para a defesa da lei e da ordem.
É preciso separar o joio do trigo porque o “constitucionalismo fugaz” é a mais recente elucubração tupiniquim. Diria até que é preciso mais moderação do que modulação porque a mania de interpretar o óbvio possibilita o desenfreado hábito de reescrever o dito pelo não dito.
A CRFB estabelece serem poderes independentes e harmônicos entre si o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. E esta ordem tem importância e sentido, porque é a este último, com os recursos do devido processo legal, que cabe avaliar, no exclusivo plano da validade, se algo é conforme ou não à Constituição, não lhe cabendo exotismo de qualquer ordem, muito menos hermenêutica.
A teoria da tripartição desenvolvida por Montesquieu já fora identificada (claro que sem a mesma estrutura formal) como separação de atribuições por Aristóteles. Mas foi em Benjamin Constant (o francês, para não se confundir com Benjamin Constant Botelho de Magalhães) – com a teoria quadripartite – que o imperador D. Pedro II foi buscar a inspiração para a inserção do poder moderador como meio de equilibrar os desvios porventura existentes na vigência da Constituição imperial 1824. E olha que foi a mais longeva.
Pois bem. Sob a perspectiva orgânica institucional é incorreto falar-se em poder moderador. Como dito, o nosso sistema constitucional prevê como poderes da república aqueles previstos no art. 2º.. Mas, o que causaria tamanha atenção?
Ora, não há que se temer nada. O próprio art. 142 fala em necessidade de provocação por um dos poderes para que as forças armadas se mobilizem. Estas, além de atuações pontuais, não tem se mobilizado para mais nada. Em alguns episódios, aliás, tem até deslustrado a imagem de Caxias.
Pois bem, apatia ou covardia são sinalizações de que não corremos risco algum que justifique a discussão. O Senado já não mais reflete o papel para o qual foi criado. Os demais poderes também sinalizam, com clareza, atropelos que tornaram a Constituição uma quase lei ordinária, denominação que em alguns casos permite a classificação de substantivo e adjetivo.
Institucionalmente – não vê quem não quiser – o Brasil está jogado na vala. O devido processo legal – e aqui não está com sinônimo só de processo judicial – foi subtraído como instrumento de configuração da democracia e nos fez pária perante a comunidade internacional.
A Constituição ou é fruto da via democrática da assembleia constituinte ou é vítima de autoritarismo. No caso, reiteradamente, a nossa tem sido. Qualquer desvio do que prevê o art 2º é violação, não importa a composição semântica que se queira imprimir a releituras.
Penso que não há nenhuma questão de profundeza maior nessa discussão. A menos que sejam feridas que jamais serão saradas, porquanto, uma sociedade onde não se consegue compreender o significado da lei de anistia, nunca se chegará a lugar algum.
Entre os atropelos constitucionais o mais visível tem sido a prevaricação dos que tem poder e dever de obedecer a Constituição e não o fazem. Mas há, também, os desvios, dos que não deveriam fazer e o fazem.
Portanto, mais moderação é preciso na própria compreensão dos poderes reservados, que não podem ser nem invertidos, nem subvertidos, nem subtraídos e muito menos ampliados. As regras do jogo foram definidas em 1987/1988 pela Assembleia Nacional Constituinte. Não cabe discutir o óbvio. A menos que seja mais um dos recursos para distrair as atenções.
Fique claro, contudo, que se poder moderador não há, como de fato e de direito não há, nenhum dos três poderes se podem sobrepor à Constituição. Fora dela não há modelos institucionais a que seja possível recorrer.
ROBERTO FRANKLIN
O
PERFUME DA TANJA DE PRIMEIRA CRUZ
Chegou o mês de julho com ele lembro-me das férias escolares, lembro-me do céu azul limpo sem nuvens ainda sinto o vento soprando suave e frio sobre a nossa cidade.
Imediatamente fui transportado para nossa tão esperada férias do meio do ano, quando em julho São Luís se dividia entre o Olho D ‘Água e a cidade balnearia de São José de Ribamar.
Nossa família fazia parte do contingente da população que se deslocava para São José de Ribamar, na época nós parecia que a cidade era muito distante, papai contratava um caminhão para levar alguns móveis pois a casa alugada para a temporada de férias não dispunha.
Íamos todos para o balneário era uma verdadeira festa, a chegada a expectativa do que nos aguardava no dia seguinte etc.
São José na época não dispunha de energia elétrica nas vinte quatro horas, lembro-me que geladeira era somente à querosene a luz quando acabava geralmente à noite por volta das 10 horas (acho) era substituída por luz de candeeiro, petromax ou lamparina, deixando o ar com característica de férias, isso até hoje quando chego em algum lugar e encontro o ar saturado com o saudoso cheiro de querosene queimado lembro-me da época.
Pois bem, tínhamos muito que aproveitar naquela cidade, logo pela manhã podíamos sair e descendo a rua em direção a Igreja Matriz podíamos parar para tomar um delicioso mingau de milho, poderíamos também comprar o maravilhoso peixe pedra que em cambada fazia parte do cardápio de quem ia passar as férias, ia esquecendo de um item importante para as férias ao chegar íamos a casas que vendiam de tudo e comprávamos o maravilhoso CHAMATÓ, uma espécie de sandália confeccionada com uma madeira leve e amarelada ( não sei se era pinho) transpassada com uma tira de couro, este item em contato com os pedras e calçadas produziam um som característico que até hoje não me sai das lembranças.
Aos sábados logo pela manhã geralmente erramos acordados pela entrada do boi com seus pandeirões matracas, caboclo de penas etc. Assim depois do café aos sábados e domingo quando papai não vinha para São Luis trabalhar voltando as 17 horas sempre trazendo o fantástico pão meia lua que os comprava numa padaria no anil, íamos ao Vieira esperar os barcos que vinha da cidade de Primeira Cruz trazendo as não menos maravilhosas TANJAS e LARANJAS. Tínhamos que esperar os barcos descarregarem e sempre comprávamos em quantidade de cem devidamente acondicionada em cofos. Muita saudade daquela época hoje ainda quando sinto o perfume da seiva de uma tanja imediatamente me transporto para aquelas tão inesquecíveis férias.
Geralmente pela manhã dependendo da influência da maré íamos à praia, pegar sol e banhar, devemos lembrar que na época não usávamos protetor solar e sim usávamos geralmente as meninas, misturas de vários elementos para a pele ficar corada ao sabor do sol, lembro-me de mistura de urucum, coca cola etc., uma verdadeira mescla de ingredientes que se hoje fossem usados eram candidatos a um problema sério de pele.
Quando a maré estava baixa ou secando íamos para o Caúra ou para o canal onde em maré baixa formava-se a croa, na volta sempre tomávamos banho em cacimbas de água doce que se formava na praia e era devidamente delimitada com toneis, ali além de nossos banhos inúmeras lavadeiras usavam aquela água para assim lavar roupas.
Lembro-me também que muitas das vezes erramos expulsos da praia pela formação de nuvens carregadas e por conseguinte um verdadeiro temporal desabava sobre a cidade, quando meninos sempre erramos recebido pelo meu pai que nos aguardava sempre com as toalhas e uma dose inesquecível de MARTINE DOCE, isso para matar o frio e não griparmos.
Também aos sábados geralmente à tarde íamos até a praça da matriz espiar o espetáculo dos papagaios e bote, que eram empinados e lanceados. Bote era um papagaio maior que só poderia ser empinado com a linha zero ou três zeros.
Uma característica, sempre à tarde os jovens iam para a praça e de maneira (sentido horário) ficarmos circulando, sempre paquerando (na época era flertar) as meninas que ali ficavam, sempre tínhamos também às mãos o maravilhoso rolete de cana, alguém lembra? Era tudo um espetáculo, era ali que tudo começava os namoros os romances etc.
Época boa que o tempo deixou guardado na memória, época ingênua onde não tínhamos a violência que hoje temos.
Época que o sumo da tanja perfumava as mãos de quem ali gozava suas férias, e denunciavam os quem a consumia.
CERES COSTA FERNANDES
BIG BROTHER ÀS AVESSAS
O execrável programa global Big Brother continua de vento em popa. Há quem goste. Quem sabe, sejamos nós os faltos de gosto. O nome desse programa é inspirado, como todos sabem, se não sabiam saibam agora, na personagem o Grande Irmão, do livro 1984, de George Orwell, entidade que tudo via e tudo controlava até dentro das casas dos cidadãos. Premonição distópica espantosa dos tempos hodiernos de invasão total e absoluta da nossa privacidade pela hipermídia. Digo premonição, porque George a publicou em 1949, antes da popularização da TV e do computador e do advento da Internet, do facebook, do whatsApp, dos hackers e o mais que vier...
Deixemos isso de lado, é material para uma penca de crônicas, a maioria já escrita. Uma experiência estranha que estou vivendo levou-me a necessitar, desse “nariz de cera”.
Com a violência grassando por aí e aqui, as centenas de anjinhos, que certamente serão soltos para comungar na Páscoa da Ressurreição (Tiradentes vem aí!), além de muitos outros liberados nos feriados, efemérides, casamentos e batizados de boneca; aqui em casa, e na vizinhança, tomamos uma série de providências tão recomendadas, como inúteis, para afastar os assaltantes. Desculpem-me, podemos chamálos assim? Não é politicamente incorreto? Dizem que vão aprovar uma lei que deverá ser crime hediondo matar ou machucar esses – como dizer? – gentis cavalheiros que invadirem nossas casas com a intenção de proporcionar ao país uma melhor distribuição de renda.
Só mais uma digressão: aqui só entre nós, que não saibam que eu disse isso, mas desconfio que essas saídas são mais para desafogar prisões que premiar presos. Temos notícia de um que foi liberado “por bom comportamento” no Dia dos Pais. Só que o coitado não tinha pai. Estava preso justamente por tê-lo assassinado.
Voltando ao assunto, que digo ser o desta crônica, as providências vão de cercas elétricas, grades, alarmes, guaritas dos mais abonados, vigias etc. Mas passou o tempo dos saudosos ladrões de galinha. Ladrão (perdão) que se preza não pula muro. Entra junto com a gente, com a arma no nosso pescoço, inibindo qualquer reação. O que fazer? Uma senhora parlamentar aconselhou relaxar e gozar. Não sei se dá certo, mas ela deve saber.
Pra não dar chance ao azar, quem pode não sai mais de casa. Fica dentro de sua prisão de segurança máxima, já que os distribuidores de renda estão, como dizia Jorge Amado, “a la godaça” na rua, nos shoppings, nas praças, na esquina, à porta. A cidade é deles.
Nós, o casal de aposentados daqui de casa, reduzimos nossas saídas e, depois de lermos jornais, revistas, livros, ver filmes e noticiários, bate o tédio. De tédio em tédio, descobrimos uma nova distração: Desligar a TV e ficar olhando a rua pelas câmeras.
Recomendo. Descobrimos coisas interessantes e por vezes misteriosas. Nossa casa é de esquina, numa encruzilhada – dá pra fazer despacho – com um largo espaço de visão.
Vemos damas chiques pararem o carro, descerem para apanhar mangas caídas ao chão (temos uma mangueira com galhos para a rua), olhando para os lados, desconfiadas, e voltarem aos carros com as ditas
nas mãos; vemos carros de namorados que estacionam na rua ao lado, deserta – já disse que essas ruas são desertas? – e tome amasso. Já monitorei horário de urubus, todos os dias às mesmas horas, bicando o lixo. Mudei o horário de colocar o lixo. Ponto para mim. Há momentos de ópera bufa e vergonha. Vimos, pelas câmeras, meninos cercando um carro da família, à nossa porta, e saímos (era dia de casa cheia) com espetos de churrasco em punho! Quando abrimos a porta, eram apenas crianças curiosas, admirando um carro diferente. A que nos leva o medo.
Agrada-nos o passa-passa das pessoas; o comportamento dos cachorros e dos gatos; as nuvens que engrossam e escurecem; as gotas da chuva que cai, espelhando a rua; o céu que fica cor-de-rosa ao entardecer e as nuvens que se vão esfiapadas. Alertas, sempre, para as coisas e movimentos suspeitos. Esperem, há algo ainda não decifrado. Por volta das dez, dez e meia da noite, passa, não sei se todos os dias, um casal não muito jovem, pelo que podemos perceber, empurrando um carrinho de bebê. Certamente não há um bebê, a essas horas. Aonde irão? Não há invasões aqui perto. Meu marido diz, talvez trabalhem nos bares da praia, mas do que lhes serve um veículo tão pequeno? Seriam traficantes? Que disfarce besta, logo percebido, passear com bebês em ruas desertas, tarde da noite. É o nosso excitante mistério particular.
O que ameniza a nossa prisão é, dentro dela, termos árvores, flores, pássaros, desde as jandaias coloridas, que fazem do meu carro o seu cagadouro preferido, aos delicados beija-flores, alegria dos almoços na grande mesa de fora...
Há a família numerosa dos iguanas, desde os pequeninos até o pater familias, dos verdinhos aos que mais parecem dinossauros. O cachorro enlouquece, latindo furiosamente. E eles passeiam solenes em cima dos muros, nem aí.
Quando chove, surgem, do nada, sapinhos, rãs, sapões. Realmente adoro minha casa, mas preciso saber quando nós, os prisioneiros, vamos ter indulto para sair. Juro que temos bom comportamento, documentos, não dirigimos embriagados, não rodamos em velocidade acima do permitido, obedecemos a todos os sinais e recomendações dos policiais do trânsito e dos outros também.
Assim, não dá pra fazer uma troca? Os senhores distribuidores de renda não poderão ficar um feriadão sem sair para dar uma folga pra gente? Sem falar naqueles apressados, que nem esperam os feriados e saem pela porta da frente, apesar dos avisos. Seria pedir demais? Sem sermos politicamente incorretos, é claro.
ROBERTO FRANKLIN
FALTA DE AVÔS
“Ter os avôs na vida é uma dádiva de Deus, é uma maravilha.
Afinal, eles são garantia de amor em dobro, é ser feliz em dobro, tudo é em dobro.
Agradeça a Deus por ter a sorte de ter seus avôs ainda vivos hoje”
Se algo me faz falta nesta vida, seria a figura de um avô. Infelizmente não os conheci, sinto falta de um colo de avôs, de ouvir histórias, de discutir futebol de fazer minhas vontades, de passear. Tive o convívio das duas avós, uma se chamava Dora, minha vó materna com seus cabelos brancos, linda, muito amável carinhosa, a outra a paterna chamava-se Flora, achava muito parecido com o meu pai, era morena cabelos longos, igualmente como é característica dos avós, ela era também muito carinhosa, tivemos nós os irmãos uma convivência maior com ela a vó Flora. Já meus avôs não os conheci. O materno chamava-se Cleomenes Falcão, o paterno Hegezipo Franklin da Costa, ambos pelas fotografias que até hoje guardo eram simpáticos, acho que pelo que contam carinhosos e elegantes. Sendo avô e fazendo o que faço pelos meus netos, parei para pensar e lembrei que não desfrutei dos carinhos de um avô, não saí para passear de bonde, tomar sorvete de ameixa no Hotel Central, não pude manifestar minhas vontades perante meus avôs. O que se sabe hoje e com ajuda de alguns relatos de primos e primas, são relatos pequenos, talvez o único que soubesse já não se encontra mais aqui, meu irmão Franklin.
O que consegui apurar com relação ao meu avô Cleomenes Falcão é que seus pais eram Piauienses de nascimento, foram morar em Bacabal, lá ele foi para o ramo de comércio e pelo apurado se deu muito bem. Meu avô Cleomenes quando atingiu a idade acho que adolescente veio para São Luis concluir seus estudos. Após a conclusão foi professor onde conheceu o grande amor de sua vida a Minha vó Dora Gayoso, se casaram e tiveram seis filhos. Pelos relatos da família ele morreu ainda muito novo. Acho que pelo sangue de comerciante do pai foi aventurar morar em Belo Horizonte, onde fazia comércio de arroz daqui do Maranhão, como as coisas não deram certo voltou para sua cidade. Com sua elegância e seu bigode muito benfeito fico a olhar, ao mesmo tempo tendo a vontade de dá um abraço ou mesmo se sentar no seu colo, ouvir histórias ou até mesmos casos de sua vida, infelizmente não tive essa oportunidade.
Com relação ao meu outro avô ele chamava-se Hegezipo Franklin da Costa, natural de Caxias Maranhão, fazia parte de um grupo de intelectuais da cidade, no grupo também participavam seus primos Wladimir Franklin da Costa, Joaquim Franklin da Costa e Vespasiano Ramos. Vô Zipo como era carinhosamente chamado era uma figura, trabalhava em um curtume, pela foto dá para perceber uma figura elegante, gostava muito de usar um terno branco de linho. Fazia muito a viajem de São Luis para Caxias na velha estrada de Ferro São Luis Teresina, a viajem era longa, uma certa vez fora comunicado do falecimento de sua filha Dercy, infelizmente pegou o trem, porém não chegou a tempo.
De todas as lembranças contadas pela família com relação aos meus avôs, somente lembro das de Vô Zipo. Isso me foi contado pelo meu irmão Franklin e por um primo. Todos os domingos ele apanhava seus três netos, uma neta seu irmão e Franklin, para o tal passeio de bonde, quando isso era contado morria de inveja pois eu não participava, e para dizer a verdade ainda nem teria nascido, Franklin contava que ele chegando na esquina da Rua Sete de Setembro com Rua Grande o chamava, KLIN, KLIN e ele todo orgulhoso descia e assim iam para o desejado passeio de bonde.
Talvez, tenha algo do meu avô zipo, não sei. Amar meus netos como ele amou os dele, passear, fazer vontade etc. De mim a única coisa que falavam com relação ao vô, foi que ele padeceu de uma enfermidade nos ossos, talvez um câncer, não por muito tempo, sofreu muito com violentas dores, na época isso em 1955, eu já havia nascido, contam que nos seus últimos dias ele pediu para mamãe que me levasse até ele, pois gostaria de conhecer-me, e talvez eu ali tivesse recebi o único beijo, o único aconchego de um avô, isso me fazia chorar muito.
É isso, gostaria de ter muito mais, infelizmente não tive a oportunidade que outros irmãos e primos tiveram, de ter avôs, aquela figura que nada fazia de errado, apenas amava seus netos, aquele que nunca reprendeu um neto, que fazia todas as vontades, aquele que cansado de educar seus filhos, abre a guarda para afagar, conversar, molecar os seus adorados e amados netos.
Eu sou assim!
JOAQUIM HAICKEL
ARMAS, DINHEIRO E HISTÓRIAS
Podemos identificar diversos fatores que contribuem para o predomínio de um país sobre os demais no contexto das nações. Dois fatores se sobressaem mais que os outros, uma vez que ambos estabelecem, cada um ao seu modo, quem manda e quem obedece, quem é o senhor e quem é o servo. O poderio bélico e militar, através da capacidade de controlar os ambientes e exterminar a vida, e o poderio econômico e financeiro, através da capacidade de dispor de riquezas e proporcionar a manutenção da vida.
Parece ser muito difícil identificarmos qual desses dois fatores precedo o outro, tanto em termo de tempo quanto de importância propriamente dita. Não é fácil estabelecermos se uma nação se torna predominante primeiro por ser rica econômica e financeiramente e depois por ter um formidável poderio militar, ou viceversa. Parece ser mais fácil pensar que alguém que tem muito dinheiro possa montar uma melhor estrutura bélica, mas há quem acredite que quem tem uma formidável estrutura bélica pode conquistar o poder econômico.
Diversos pensadores discorreram sobre assuntos que nos levaram a pensar muito sobre esses dois fatores. Sun Tzu, Maquiavel, Smith, apenas para citar três, um que se dedicou a guerra bélica, um que se dividiu entre a guerra bélica e a econômica e outro que ficou no âmbito das finanças.
Porém, existe um fator que aparentemente não é tão poderoso e relevante como os citados anteriormente que faz com que uma nação se sobressaia sobre as demais de maneira tão ou mais relevante, é aquilo que Gramsci, um aparentemente obscuro filósofo italiano identificou como hegemonia cultural, e que já havia sido estabelecido indiretamente pelos três sustentáculos do pensamento, Sócrates, Platão e Aristóteles, como a base de nossa existência, o pensamento, o conhecimento do homem e sobre o homem, aquilo que se pode chamar, lato sensu de cultura.
Analisando tudo isso, observei que dentre o controle cultural que um país pode ter sobre os demais, sua capacidade de contar histórias, de contar suas histórias, é algo fenomenal.
Dois são os exemplos que podem sustentar essa tese. Na antiguidade os gregos e depois os romanos se impuseram sobre os demais povos e países por seu poder econômico e militar, mas foi seu poder cultural e sua capacidade de contar e fixar suas histórias que os fizeram maiores e mais relevantes que os outros. O mesmo não aconteceu com outras potências que tiveram muito poder bélico e econômico, mas não se sobressaíram no setor cultural, como é o caso dos assírios e persas.
Na modernidade, os britânicos e os americanos, de forma extraordinária, repetiram o que aconteceu com os gregos e os romanos.
Nos séculos XVIII e XIX os britânicos impregnaram o mundo com suas histórias através de sua maravilhosa literatura, enquanto no século XX os americanos, além de sua literatura, usaram o cinema como vetor de distribuição e fixação dos fatos e ficções que fizeram de sua cultura um poderoso trunfo.
Gramsci, que não tinha nem poder econômico nem poder bélico, arquitetou então um plano para influir e controlar as pessoas e as nações, se infiltrando e destruindo o outro sistema através do qual é possível submeter toda uma família, uma sociedade, um modo de vida, a tal hegemonia cultural, que não sendo para
construir, seria para destruir o que havia e colocar no lugar dela aquilo que os seus operadores bem o desejassem.
Analiso tudo isso e vejo que a capacidade de contar e fixar nossas histórias nas cabeças e nas memórias das pessoas, é o melhor remédio paranosmantermosimunesaessetipodeataque.
JOSÉ NERES
A LUZ POÉTICA DE MARIANA
A primeira vez que ouvi falar de Mariana Luz deve ter sido em 1993 ou 1994, quando eu, eufórico, mergulhava em páginas e mais páginas de livros na tentativa de conhecer uma pouco mais das letras de minha terra. Li um pouco sobre ela e encontrei de sua autoria alguns poucos poemas esparsos em livros de Clóvis Ramos. Mas creio que foi mais ou menos em 2007 que tive o prazer de ler seus poemas em sequência. Tudo aconteceu quando o poeta itapecuruense Theotônio Fonseca ainda era meu aluno no curso de Letras e certa vez perguntou-me se eu conhecia a obra de Mariana Luz. Disse que não e ele, dias depois, trouxe-me uma cópia xerografada da edição de 1990 do livro Murmúrios. Li todos os poemas de um fôlego e daquele dia em diante passei a admirar a produção poética daquela injustamente esquecida poetisa maranhense. Na época escrevi um pequeno artigo no Jornal O Estado do Maranhão intitulado “Os Murmúrios de Mariana”. E passei a utilizar os poemas dessa escritora em algumas de minhas aulas.
No livro “Tudo Azul no Planeta Itapecuru”, de 2005, o professor e escritor Inaldo Lisboa apresenta, em um texto leve e bastante informativo, sete curiosidades sobre a vida e a produção literária de Mariana Luz. Esse texto serve como leitura introdutória acerca da vida e da obra dessa importante escritora. Anos depois, mais exatamente em 2014, para minha grata surpresa, conheci o livro Mariana Luz: Vida e Obra e coisas de Itapecuru, da pesquisadora Jucey Santana. Passei um domingo inteiro mergulhado na vida e produção artística daquela admirável escritora que finalmente começava a sair das sombras e passava a iluminar de modo especial nossas letras. Com muito esforço e dedicação, Jucey Santana reuniu tudo o que
encontrou de/sobre Mariana Luz até aquele momento e construiu uma obra de fôlego e que serviu para alavancar o interesse pela vida e pela obra da autora de Murmúrios.
Por se tratar de um trabalho de pesquisa, o livro possivelmente tenha despertado o interesse de um público mais adulto, o que deixava antever que a trajetória de Mariana Luz ainda continuaria quase desconhecida para as novas gerações. Então, com a finalidade de aproximar Mariana Luz do público juvenil, Jucey Santana publicou, em 2019, o livro A Cigarra Mariana Luz, no qual, de modo lúdico apresenta a poetisa itapecuruense e desperta nos leitores o desejo de conhecer um pouco mais da produção literária na notável sonetista que nos deixou importantes poemas.
Pouco antes disso, em 2018, no livro Púcaro Literário II, organizado por Jucey Santana e José Carlos Pimentel, aparecem alguns artigos sobre a poesia e as missivas escritas por Mariana Luz, com destaque para o artigo escrito por Samira Diorama da Fonseca.
Mais recentemente, a administradora e professora Gabriela Santana de Oliveira, ao concluir seu curso de Letras, concentrou-se em fazer uma edição crítica dos poemas de Mariana Luz. A monografia, com algumas modificações, resultou na publicação do livro “Mariana Luz: Murmúrios e outros poemas” (2021), no qual o leitor, além de entrar em contato com um aprofundado estudo biobibliográfico pode também ler os poemas de Mariana com suas devidas correções e variações.
Atualmente, na internet, é possível encontrar alguns artigos sobre a produção literária de Mariana Luz, como é o caso de “Luz, quadros e ruínas: Mariana Luz, uma voz poética esquecida”, da professora Cristiane Navarrete Tolomei; “A poética de Mariana Luz”, de Gabriela de Santana Oliveira e Rafael Campos Quevedo; e “Mariana Luz: entre o preconceito e a invisibilidade”, de Régia Agostinho da Silva e Gabriela de Santana Oliveira, entre outros. Sem contar as monografias e dissertações de mestrado que tratam do mesmo assunto.
Mesmo com todos esses estudos, a obra de Mariana Luz ainda oferece um terreno fértil para diversas pesquisas e leituras. Vale a pena conferir!
APATIA OU CUMPLICIDADE?
O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei – ART. 133 da CRFB
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, tem por finalidade:
I – defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado democrático de direito, os direitos humanos, a justiça social, e pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas; – Art. 44 da Lei Federal n. 8.906/1994.
Em um diálogo despretensioso, em um dia qualquer, uma pessoa chega à outra e diz:
– Vou te contar um segredo, mas não conta pra ninguém.
A resposta – de quem tem senso de humor – veio de imediato:
– Então não me conta. Se o segredo é teu e tu não consegues guarda-lo eu não tenho nenhuma obrigação de fazê-lo.
A piada serviria de mote para um texto descontraído em tempos tão nublados. De chuva e de fatos, aliás. Mas apenas serve para traduzir o que de mais deletério pode ser revelado no ser humano: a sua alma pérfida.
O país foi abalado – e ainda está – por revelações sérias e graves a cerca do que está sendo denominado de Twitters Files Brazil. Sim, já não é mais segredo que nós estamos nas manchetes de jornais (e da mídia em diversas vias) por atos próprios de ditaduras, ainda quando a imprensa alinhada se esforce por tentar subtrair a verdade dos fatos.
Eu diria que talvez até alguns atos podem ter transitado pelos pântanos do arbítrio, mas se aperfeiçoaram pelo avanço tecnológico, hoje condenado como antídoto da felicidade. Na realidade, para esse tipo de percepção exsurge uma outra, a que parece mais lógica e real pelas circunstâncias: o saudosismo desse tipo de pessoa transparece a sedução pelo oculto ou escondido, porque aí ninguém sabe do segredo.
Bom, mas não há verdade que não apareça, ainda quando ela dependa de mais um “colonizador que põe em risco a soberania do Brasil”, ou “um bilionário mimado”, um despautério histórico, lógico, jurídico, estético e mental, de quem, a troco de muito, ou à base da intimidade despudorada ou promíscua, se empresta às orgias das versões, elaboradas muita vez com escassez de inteligência.
Já não é mais segredo para ninguém. Houve, sim, “o afastamento excepcional de garantias individuais” de pessoas, fora dos tempos permitidos por situações constitucionais objetivas, como o estado de sítio ou estado de defesa. Houve, sim, concentração em mãos de uma única pessoa de restrições às liberdades constitucionais e, muito provavelmente, bem mais haverá quando tudo for, a final, traduzido e revelado. Por mais que a imprensa pretenda não se trata de um embate individual. Não! O acontecimento tem dimensões jurídico-políticas que a todos interessa, porque direitos e garantias constitucionais não são
favores do Estado, mas conquistas que historicamente, com sangue e vidas, foram alcançadas, e que não devem ser subtraídas por hipertensões gestadas nos corredores de conspirações aristocráticas.
Ao refletir sobre o assunto, que me incomoda tanto pela subversão dos fatos, quanto pela indiferença dos que julguei serem bons, minha conclusão é de que a inação do Congresso Nacional, em mãos de dois elementos apáticos e concorrentes para essa quadra, encontrou na percepção de um estrangeiro a compreensão do mergulho rumo ao verdadeiro golpe contra as instituições democráticas.
Assim, especular criminalizar a pessoa e as empresas do sr. Elon Musk, com a patética pretensão de mandados judiciais para persecução policial – como sugeriu uma âncora de tv mal-informada – outra coisa não revela se não a própria confissão de que não há mais segredo: o desejo é pautar uma nação inteira, com a justificativa de que é tudo para proteger a democracia.
É natural que se esperasse que os órgãos, que institucionalmente têm o dever de defender o estado de direito e a democracia, se manifestassem em defesa de todos, não apenas em favor de seus membros, como fez uma associação de magistrados do Paraná. Bom, ao menos essa associação defendeu seus afiliados.
E o que fez a OAB? Ora, a princípio achei tímida nos seus discursos, depois apática em suas providências para, agora, ser revelado que ela em verdade é cúmplice de uma situação inaceitável e que macula sua vida institucional.
Quando assisti, pela internet, um vídeo em que o presidente do conselho federal da OAB, entusiasmado e a plenos pulmões, comunicou a remessa de uma PEC ao Congresso Nacional, para que o advogado tenha respeitados seus direitos e garantias, fiquei exultante. Há anos falo sobre o assunto[1]. Só que eu não sabia – e nem poderia – porque estava escondido em segredo: o diálogo acabou.
Bom, mas a que advogado ou advogada se referiu o presidente da entidade a que sou filiado? A mim, cuja atividade se resume a dar conselhos, prevenir conflitos e permanecer em sala de aula? Aos que, com causas pendentes e honorários astronômicos aguardam uma definição judicial? Aos que são indiferentes aos acontecimentos porque se acham inatingíveis por eles?
Se a Constituição da República não é um contrato entre vestais, nem entre súditos e um príncipe, e muito menos um acordo entre suseranos e vassalos, claro é que deva se dirigir a todos. Quando os destinatários forem os advogados, então, aí mesmo é que não pode haver diferença e nem preferência a profissionais, sejam eles inquietos ou cordatas.
Pois não é que o segredo não durou!
“BREAKING NEWS: OAB pediu para STF incluir grupo de advogados conservadores em inquérito das milícias digitais, segundo relatório do congresso americano”[2]
A OAB?! Sim, a OAB – que tem assentamento constitucional e dever legar de defender o advogado – preferiu requerer a inclusão de advogados em inquérito cuja sanidade jurídica já foi posta em livros e em debates.
Fiquei perplexo!
Quando o profissional se submete ao exame de ordem, é aprovado, paga uma anuidade caríssima, cumpre seus deveres profissionais com observância ética, não lhe é exigida nenhuma prova de inclinação política ou ideológica.
Ao contrário disso, embora seja claro, desde sempre, a sua entidade, que num primeiro momento, apoiou o que hoje reverbera como sendo ditadura, paulatinamente, fez-se aproximar – e em alguns casos se confundir – com partidos políticos cujos estatutos são absolutamente incompatíveis com os princípios fundamentais da Constituição da República a que ela, OAB, deve defender.
Ao postular pela inserção de advogados e advogadas, em inquéritos divorciados de sanidade constitucional, a OAB não apenas postulou contra a Constituição da República e à própria Lei Federal n. 8906/1994. Pior. Ela pôs sob censura seu próprio poder disciplinar[3] abdicando de competência que lhe cabe – e o mais condenável – criando classes de advogados: os nossos e os deles.
Ninguém – enfaticamente digo – ninguém em sã consciência pode admitir que atos violentos possam servir como via de conduta para alcançar direitos em uma sociedade relativamente civilizada. Sobretudo quando o assunto é a invasão da propriedade privada, acontecimentos, aliás, candidamente ignorados em múltiplos episódios, inclusive, pela própria OAB.
Do mesmo modo, ninguém, absolutamente ninguém, pode ter suprimida sua liberdade e suas garantias constitucionais sem o devido processo legal, que demanda o advogado como profissional habilitado e legitimado a atuar. Não se confunda, portanto, o cliente com o profissional.
Nenhum regime que se proponha a ser democrático pode existir sob fronteiras que separem advogados e advogadas, de direita ou de esquerda, como se prerrogativas fossem sinônimos de preferências políticas. Se até este capítulo da história recente do Brasil a OAB não compreendeu o significado do fundamento do pluralismo político, jamais compreenderá.
As máscaras caíram. Os rostos se revelaram. A cumplicidade está exposta.
Não teria chegado a hora das seções e subseções da OAB em todo o Brasil se posicionarem?
Lastimo, profundamente o ocorrido, porque um dia, como conselheiro federal, lutei pelos advogados e advogadas para que existisse uma lei melhor. Mas não há lei alguma que sirva ao homem se sua consciência mesma não distinguir que uma sociedade plural depende de divergências e diferenças. Só existe democracia plural. Pensamento imposto é ditadura posta.
[1] SANTANA, José Cláudio Pavão – O poder normativos dos tribunais e o acesso ao poder judiciário, in Revista da Ordem dos Advogados do Brasil/OAB-MA, ano 1, vol. 1,(dez 2001). São Luís: Edceuma, 2001, pp. 117/127.
[3] SANTANA, José Cláudio Pavão – O poder disciplinar da OAB, in Revista da ordem dos advogados do Brasil – OAB/MA, ano II, n. 02 – nov-dez, 2002. São Luís: Edceuma, 2002, pp. 197/191.
A SÍNDROME DA MOURA-TORTA
CERES COSTA FERNANDES
Se você nunca ouviu falar de Moura-Torta, sinto muito, mas nunca foi criança. Nem na infância, nem depois – aliás, tem idade para ser criança? E, em verdade, vos digo bem-aventurados aqueles que cultivam sua parte criança, pois eles jamais sofrerão de ressecamento da alma.
Após ter ilustrado os leitores, volto à moura–torta. É um conto de fadas, portador de sabedoria popular, como soem serem as histórias nascidas da tradição oral e repetidas ad infinitum durante séculos, até serem registradas no papel. Recebemos, via Portugal, este saboroso conto do fabulário ibérico, onde a figura da moura como vilã é sempre recorrente, resultante da relação de amor e ódio com a mulher morena, ardente, bela e pagã (ou cristã-nova) vinda da Arábia. Afinal, foram sete séculos de convivência e luta contra a invasão árabe na Península.
Resumo parte da história: uma moura velha, feia, torta, enchia seu vaso de barro em um lago. Ao inclinar-se sobre a água, vê refletida a figura de uma jovem linda e loura. Pensando tratar-se de sua própria imagem, levanta-se tomada de indignação contra o trabalho servil que é obrigada a fazer. E, zás, quebra o vaso, lançando-o ao chão, dizendo: “Uma mulher tão linda como eu não pode estar a carregar jarros de barro!” Nesse momento, ouve risadas e percebe uma moça sentada em um galho de árvore, por detrás dela. Logo compreende o engodo em que caiu: a imagem refletida no lago era da jovem. Esfumou-se seu instante de glória: pensou ser bonita, mas continua feia, e, agora, mais pobre e sem seu instrumento de trabalho. Cheia de ódio, parte para vingar-se da que lhe roubou esse instante. Esta parte basta para o desenvolvimento da nossa conversa. Quem quiser saber o resto da história, procure lê-la. Vai se deliciar com isso.
Inspirada neste conto, costumo usar, no âmbito familiar, um nome para esse tipo de comportamento: “síndrome da moura-torta”. As vítimas dessa síndrome ficam entusiasmadas com seus 15 minutos de fama – que nem sempre lhe são devidos -, mudam radicalmente de comportamento e, crendo-se um ser diferente, desprezam os seus antecedentes. O triste é que, no final da história, muitos retornam à sua situação anterior em condições ainda mais precárias.
Estou fazendo toda essa peroração por causa de uma notícia amplamente divulgada pela TV, há algum tempo: a catadora de lixo, Rosemary, que foi cinderela por um dia. A moça bonita foi descoberta pela equipe da emissora, à cata de assunto para aumentar o ibope, que tomou a si a tarefa de fada madrinha, transformando-a de gata borralheira em cinderela. Rosemary tomou um banho de loja, foi penteada, maquiada, frequentou restaurantes da moda, aprendeu etiqueta e tudo mais. A transformação foi radical. De moura-torta a princesa. A reportagem só não mostra o que aconteceu no “day after”, quando a carruagem virou abóbora e Rosemary teve que retornar à sua lida diária.
Sempre questionei essas transformações-relâmpago. Servem para quê? Para melhorar a vida das pessoas ou apenas para elevar o índice de audiência? Há pouco tiraram umas meninas de rua e prepararam-nas para um desfile de modas. Sucesso total. A história de cinderela sempre mexeu com o emocional das pessoas. Depois de feito o auê, mídia e público, esqueceram o fato: a ninguém interessa o seguimento da história, basta o “foram felizes para sempre”.
Mas, dia desses, um repórter xereta resolveu meter sua colher torta e foi atrás das “modelos”. Fez a reportagem que ninguém gostaria de ler e descobriu as meninas de volta às ruas e agora também à prostituição e às drogas. O dia de princesa torna insuportável a volta ao velho jarro de barro.
Pixote, o menino pobre que ficou célebre da noite para o dia com o filme homônimo, baseado na obra de José Louzeiro, é um forte exemplo. De celebrado e mimado pela mídia, passou a desconhecido. Cresceu, perdeu a graça, outros o substituíram. A máquina de moer gente da fama não para. Não suportando o anonimato e a perda da vida regalada, derivou para a marginalidade para manter a boa vida. Perseguido pela polícia, acabou sendo morto, mal acabada a adolescência.
Oferecer aos despossuídos da sorte uma momentânea imagem de beleza para, logo em seguida, deixá-los com um jarro de barro quebrado nas mãos é perversidade e não abertura de uma possibilidade. A sugestão
de mudança sem o devido suporte para garantir a sua continuidade é brincadeira criminosa com o destino das pessoas e deve ser punida. Deve-se investir na transformação oferecendo condições para o seu desenvolvimento e permanência. E, assim, tornar verdadeiro o verso do poeta inglês Keats: “Um instante de beleza é uma alegria para sempre” ( tradução livre).
A moura torta
Ilustração de Severino Ramos para o conto A Moura Torta, do livro Contos e fábulas do Brasil
Uma vez havia um pai que tinha três filhos, e, não tendo outra cousa que lhes dar, deu a cada um uma melancia, quando eles quiseram sair de casa para ganhar a sua vida. O pai lhes tinha recomendado que não abrissem as frutas senão em lugar onde houvesse água.
O mais velho dos moços, quando foi ver o que dava a sua sina, estando ainda perto de casa, não se conteve e abriu a sua melancia. Pulou de dentro uma moça muito bonita, dizendo: "Dai-me água, ou dai-me leite". O rapaz não achava nem uma coisa nem outra; a moça caiu para trás e morreu.
O irmão do meio, quando chegou a sua vez, se achando não muito longe de casa, abriu também a sua melancia, e saiu de dentro uma moça ainda mais bonita do que a outra; pediu água ou leite, e o rapaz não achando nem uma coisa nem outra, ela caiu para trás e morreu.
Quando o caçula partiu para ganhar a sua vida, foi mais esperto e só abriu a sua melancia perto de uma fonte. No abri-la pulou de dentro uma moça ainda mais bonita do que as duas primeiras, e foi dizendo: "Quero água ou leite". O moço foi à fonte, trouxe água e ela bebeu a se fartar. Mas a moça estava nua, e então o rapaz disse a ela que subisse em um pé de árvore que havia ali perto da fonte, enquanto ele ia buscar a roupa para lhe dar. A moça subiu e se escondeu nas ramagens.
Veio uma moura torta buscar água, e vendo na água o retrato de uma moça tão bonita, pensou que fosse o seu e pôs-se a dizer: "Que desaforo! Pois eu sendo uma moça tão bonita, andar carregando água…!" Atirou com o pote no chão e arrebentou-o. Chegando em casa sem água e nem pote levou um repelão muito forte, e a senhora mandou-a buscar água outra vez; mas na fonte fez o mesmo, e quebrou o outro pote. Terceira vez fez o mesmo, e a moça, não se podendo conter, deu uma gargalhada.
A moura torta, espantada, olhou para cima e disse: "Ah! É você, minha netinha!… Deixe eu lhe catar um piolho". E foi logo trepando pela árvore arriba, e foi catar a cabeça da moça. Infincou-lhe um alfinete, e a moça virou numa pombinha e avoou! A moura torta então ficou no lugar dela. O moço, quando chegou, achou aquela mudança tamanha e estranhou; mas a moura torta lhe disse: "O que quer? Foi o sol que me queimou!… Você custou tanto a vir me buscar!"
Partiram para o palácio, onde se casou. A pombinha então costumava voar por perto do palácio, e se punha no jardim a dizer: "Jardineiro, jardineiro, como vai o rei, meu senhor, com a sua moura torta?" E fugia. Até que o jardineiro contou ao rei, que, meio desconfiado, mandou armar um laço de diamante para prendê-la, mas a pombinha não caiu. Mandou armar um de ouro, e nada; um de prata, e nada; afinal, um de visgo, e ela caiu. Foram levá-la, que muito a apreciou. Passados tempos, a moura torta fingiu-se pejada e pôs matos abaixo para comer a pombinha. No dia em que deviam botá-la na panela, o rei, com pena, se pôs a catá-la, e encontrou-lhe aquele carocinho na cabecinha, e, pensando ser uma pulga, foi puxando e saiu o alfinete e pulou lá aquela moça linda como os amores. O rei conheceu a sua bela princesa. Casaram-se, e a moura torta morreu amarrada nos rabos de dois burros bravos lascada pelo meio.
(Versão de Sílvio Romero, publicada em Contos populares do Brasil)
Nota à versão colhida em Serra do Ramalho, Bahia, e reproduzida no livro Contos e fábulas do Brasil: A Moura Torta é um conto que só não se espalhou pelos quatro cantos da Terra porque esta é redonda. Sílvio Romero e Câmara Cascudo divulgaram versões muito conhecidas. A nossa variante aproxima-se da versão de Romero no tocante à quantidade de filhos do rei, três, com a sorte invariavelmente sorrindo para o caçula. Como na versão de Câmara Cascudo, o herói recebe três laranjas de uma velhinha, que desempenha a função de “doador mágico”. Ressalte-se ainda em nosso conto a jocosidade por meio da sede pantagruélica da princesa, que salta da laranja onde estivera, por conta de um feitiço, aprisionada, e do engano da Moura Torta, que julga ver no reflexo da princesa seu rosto desagradável. Segue-se o encanto da princesa em pomba, por meio de um alfinete mágico (“envenenado”), um motivo oriental presente nas Mil e uma noites. Original em nosso conto é o apêndice, que não consta de nenhuma variante conhecida e é motivo de riso para as crianças. Ítalo Calvino, nas Fábulas italianas, redigiu O amor das três romãs, citando como a mais antiga versão literária I tre cedri (As três cidras), do Pentamerone de Giambattista Basile. Afanas’ev recolheu, na Rússia, A pata branca, onde a metamorfose da princesa em ave se dá após esta banhar-se numa fonte, por instigação de uma feiticeira, que assume o seu lugar, até a descoberta do malefício e o castigo final. A noiva branca e a noiva preta, dos Grimm, com a heroína enfeitiçada em uma “patinha branca como a neve”, aproxima-se da versão russa.
(Marco Haurélio)
AMouraTorta: É uma lenda popular brasileira1. A história fala de um príncipe que, ao não encontrar uma moça que lhe agradasse para casar, partiu em uma viagem. Durante sua jornada, ele encontrou uma velhinha corcunda que lhe deu três laranjas mágicas. Cada laranja, quando descascada perto de água corrente, transformava-se em uma linda moça. A última dessas moças, após beber água, desencantou-se e revelou ser a filha de um rei muito rico, transformada em laranja por sua madrasta feiticeira. O príncipe e a moça se apaixonaram e se casaram1
A Moura Torta – Contos de fada infantis – Consciência.org (consciencia.org)
Contos e Fábulas do Brasil: A moura torta (contos-fabulas.blogspot.com)
OÚLTIMOCAFÉDOPOETA
CeresCostaFernandes
Ele veio! Como uma aparição benfazeja, menino grande, caneludo e magro, envolto em um enorme paletó de outras eras mais saudáveis, chega o Poeta, amparado pelo irmão e pela sobrinha-filha Deusana. O momento é de intensa emoção. Sente-se a ternura no ar. Como se ali chegasse um artista pop, um astro do futebol. Acho que isso provém da dignidade que emanava de José Chagas. Ele não é só um grande escritor, o poeta de São Luís, o cronista perfeito, o palavrador por excelência, mas um homem correto e digno, simples e bom. Uma rara combinação de genialidade e grandeza de alma, que nos faz dizer que ele é único. Logo, ele é cercado pelos amigos, beijado e acarinhado pelas mulheres. Vou recebê-lo e também acarinhálo. Ele veio! É mais, muito mais, do que eu podia esperar.
Foi, em 26 de abril de 2011, no Café Literário do Odylo em homenagem a José Chagas.
Durante a tarde, caíra uma chuva tal qual as dos antigos verões chuvosos da minha infância, quando se dizia: “abril, chuvas mil”. O Café do Poeta, longamente acalentado por mim, à espera de um momento melhor na saúde do querido José Francisco das Chagas, saúde frágil, mil vezes fênix, sempre a dar sustos nos seus amigos, aconteceria, afinal. O temor de não poder homenageá-lo em vida decidiu-me. A homenagem seria feita mesmo se não fosse possível a sua presença. Sempre, antes de todo e qualquer Café, dos 32 realizados, me punha tensa, tal qual a primeira vez. Marcado para começar às 18:30, momentos antes parara de chover na Praia Grande. Mas a inquietação tomava conta de mim por inteira – nesta Ilha, a chuva, levada pelo vento, cai por partes –, onde mais estaria chovendo? O palestrante escolhido, Sebastião Duarte, chegaria a tempo? E os convidados? Conseguiriam alcançar a Praia Grande, mercê dos engarrafamentos tenebrosos que se formam a cada temporal?
Súbito, as pessoas começam a chegar, amigos de Chagas, amigos à mancheia! A chuva não os intimidou. Acomodamos o Poeta no pequeno palco, em uma poltrona, lado a lado com o conferencista que nos vai falar a respeito do homem e do poeta. Sebastião discorre sobre a infância de Chagas em Aroeiras, município de Piancó, na Paraíba, desenha o percurso da família que aporta em Pedreiras, em 1945, e nos diz da chegada de José Chagas a São Luís, em 1948, desfiando a sua entrada no mundo poético e boêmio da Ilha e no mundo dos livros, sempre entremeando os fatos com o eu lírico do poeta. Passa a analisar, com competência, as suas obras, uma a uma. O poeta ouve calado. Ao término, agradece as palavras de Sebastião, nega os elogios, diz que é apenas um versejador e que estava recolhido e que “a Ceres me tirou do meu recolhimento (sinto culpa) e me trouxe a este ambiente hoje, ambiente que, de certa maneira, me alegra e me fortifica (alívio e alegria)”.
Pede, então, para dirigir ao público algumas palavras e, com voz forte e jovem, que contrasta com a sua figura frágil, profere as palavras inesperadas: “Quase que nego tudo o que disse na maioria desses poemas” [...] “Preocupava-me com a palavra desde criança, enquanto outras crianças brincavam, eu brincava de letras. Meu empolgamento com isso era tal, que esqueci que a poesia vem antes da palavra. Que a poesia precede o poema” [...] “A infância vive a infância. Todos nós nascemos poéticos. Todos nós fazemos poesia, o que não quer dizer que façamos poemas”.
Nega também o valor do poema “A alegria que (se) tem com o mundo, as estrelas, o luar, o pôr do sol, a namorada, um jogo de futebol, uma praia. Tudo isso é poesia, sem necessitar de poema”. Nega-se, “não sou um poeta, sou um versejador”. É o Chagas revoltado com as dores da doença, com “as noites terríveis de insônia, em que faz poemas mentalmente” e, talvez, os esqueça pela manhã; lamenta a infância sem brincadeiras, o que perdeu de vida real.
Mas Chagas não pode se desvestir de poeta. Logo se volta para o sonho: “Filho de lavrador, de 7 para 8 anos vivia no cabo da enxada, mas já achava que o mundo não era só aquilo. Sonhava também [...”] Muitas vezes plantei o arroz real, mas o arroz do sonho era o que mais crescia”.
E, reafirmando-se como ser poético, negando a negação do poema, Chagas pede para ler as seus últimos poemas!
E assim o fez, por um bocado de tempo. O poeta estendeu-se por quase uma hora. Até que, sentindo-o cansando, com a voz quase inaudível, tentei, mansamente, tirar-lhe o microfone. Ele me segurou firme a mão e disse ”deixe-me falar um pouco mais, não sei quando terei outra oportunidade como essa”. Meu coração baqueou. Não pude contrariá-lo. Depois, ao ver o DVD, ele mesmo ordenou “corta essa parte”. Disse-me sua sobrinha Deusana que foi essa a sua última fala em público e da felicidade dele ao fazê-la. Esse foi o mais belo Café Literário dos 32 efetuados no Centro de Cultura Odylo Costa, filho: o público todo composto de amigos de Chagas; as mulheres que se puseram bonitas para agradá-lo; o belo livro de presença cuidadosamente preparado pelo Foto Sombra, que todos assinaram; o poema do livro “Os Canhões do silêncio”, o do pastor de luas, recitado por Leda Nascimento, sua intérprete maior; outras criações do poeta, poemas que foram surgindo, espontaneamente, do público, como os de “Maré Memória”, recitados por Uimar Júnior, por entre as mesas; como o que Joel recitou do alto da grande escada, e a emoção que tomou conta de todos... Chagas, que bom pudemos fazer-te essa homenagem, embora ínfima para o que mereces, que bom que o Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, um dia, pôde te receber em festa, que bom te alegraste com isso. Obrigada por esse inesquecível presente, querido Figura.
Na paisagem literária da Região Tocantina, é nítido a diversificada de vozes e histórias, todas elas colaborando para enriquecer o cenário cultural da região.
Escritores e escritoras, da esquerda para a direita: Domingos de Almeida, Natividade, João Marcos, Lília Diniz, Marcos Tand, Marcos Fábio, Hyana Reis, Xico Cruz. Ilustração: Idayane Ferreira
No dia 23 de abril, celebramos o Dia Mundial do Livro, ocasião dedicada a esta que é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento cultural e educacional das sociedades ao redor do mundo. Na data, que foi instituída pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) em 1995, também se comemoram os Direitos Autorais. O objetivo é promover a leitura, destacar a importância dos direitosautoraisereconheceropapeldoslivrosedosautoresnadisseminaçãodoconhecimentoe napromoção do pensamento crítico.
O cenário literário da Região Tocantina está repleto de vozes distintas e narrativas envolventes. Destacamos oito talentosos escritores e escritoras da região e suas obras para conhecer e ler:
Domingos de Almeida (@almeidadomm)
Domingos de Almeida. Ilustração: Idayane Ferreira Escritor, ator e diretor da Companhia Afro de Teatro Reinvent’arte (Imperatriz), Domingos é também jornalista e pesquisador. Nascido em Alto Alegre do Pindaré (MA), reside em Imperatriz há mais de 10 anos. É membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de João Lisboa (Aclajol) e da Academia Internacional de Literatura Brasileira (AILB). Com quatro livros publicados, o autor possui uma variedade de obras, incluindo peças de teatro e poesia. Seus trabalhos são reconhecidos pela capacidade de explorar múltiplos sentimentos e nuances da vida. “Gosto muito de escrever dramas, quase todos com um pouquinho de comédia, às vezes, tragédia também. Acho que a vida nunca é só um sentimento. Então, procuro trazer isso para os meus textos. Também publiquei um livro de poesia e estou com o segundo pronto já em vias de impressão”.
Onde encontrar seus livros: encomendando diretamente com o autor.
Hyana Reis (@hy.anareis)
Hyana Reis. Ilustração: Idayane Ferreira
Jornalista, roteirista e escritora, a imperatrizense Hyana Reis escreve principalmente crônicas, mas também poesias. Lançou seu primeiro livro em 2014, intitulado “Vidas em Pauta” (perfis de pessoas que moram em Imperatriz). Contribuiu como autora na coletânea “Crônicas e Contos da Cidade” (obra coletiva com crônicas e contos sobre Imperatriz). Em 2019, lançou seu primeiro livro solo, “Entre Relicários” (poesia). Sua obra mais recente, “Amores em tempos de @” (crônicas sobre tecnologia e redes sociais), foi lançada em 2022 e um dos contemplado com o prêmio literário da Academia Imperatrizense de Letras. A autora também se destaca como idealizadora e roteirista do documentário “Atenção para este aviso”, premiado pela Lei Aldir Blanc e exibido em 2020. “Este ano também vou fazer parte do livro Mural das Minas, livro coletivo de mulheres, com publicações de crônicas diversas. E aí já são quatro livros publicados e esse ano vou lançar o quinto”, explica.
Onde encontrar seus livros: O livro “Amores em tempos de @” está disponível na Amazon, em versão físico e e-book.
João Marcos (@jjoamarcos)
João Marcos. Ilustração: Idayane Ferreira
Jornalista e escritor multifacetado, João Marcos já publicou um livro-reportagem e um livro infantojuvenil. É membro da Academia de Ciências, Letras e Artes de João Lisboa – MA. Nascido em Imperatriz (MA), sua jornada literária começou na infância, com contos imaginativos e releituras de contos de fadas. Na adolescência,migrouparaogêneroromanceefantasiamedieval,explorandotambémoterroremseusescritos. Seu primeiro livro publicado foi um conto na antologia “Arrependa-se” (2019), com destaque para o conto “Ninfas deLama”. Formadoem Jornalismo, escreveuolivro-reportagem “ÀSombradaGameleira: Memórias e Histórias da Cidade de João Lisboa”, lançado em 2021 com apoio da Lei Aldir Blanc. Em 2022, lançou “O Círculo de Fogo”, uma saga iniciada na adolescência. Contribuiu também em outras antologias, como autor ou organizador: “Prenúncios do Medo: Morte” (2020); “A Maldição do Tesouro” (2021) – Peculiar Editora (organização); “Contos da Lua Cheia” (2023) – Peculiar Editora (organização) e “O Assassinato na Mansão Castro” (2023) – Peculiar Editora.
Além da sua produção literária, João se destaca pela produção de conteúdo digital para as redes sociais e por um projeto de incentivo à leitura que realiza em escolas públicas da cidade de João Lisboa, onde mora. Em seu mais recente trabalho, dedica-se a escrever sobre a história de uma escola da cidade, explorando a identidade maranhense e a cultura local. “Eu nem consigo enquadrar, é um livro-reportagem, mas eu queria um subgênero para ele, mas eu não consigo encontrar ainda, diria que é uma biografia de um lugar, vamos dizer assim. E aí que estou escrevendo a história de uma escola da minha cidade João Lisboa e quando fala da
história da escola, fala da história de seus professores, de seus fundadores, de alunos. Nesse processo estou na metade do livro”. O autor pretende lançar um livro de ficção regionalista ainda este ano, mergulhando no gênero do “regionalismo fantástico”, que busca trazer as lendas e o folclore local para o centro das narrativas. Onde encontrar seus livros: O livro “O Círculo de Fogo” está disponível na Amazon.
Lilia Diniz (@liliadinizpoeta)
Lília Diniz. Ilustração: Idayane Ferreira
Artistamultifacetada, amaranhenseLiliaDinizse destacapelassuas poesias eperformances ecomo intérprete de autores consagrados, como Patativa do Assaré, Cora Coralina e Louro Branco, além de canções de renomados artistas nordestinos. É escritora, atriz, cantora, brincante, produtora e gestora cultural. Como autora, possui uma coleção diversificada de obras, abrangendo diversos gêneros literários. Seus livros publicados incluem três volumes de poesias: “Babaçu, Cedro e Outras Poéticas em Tramas”, “Miolo de Pote da Cacimba de Beber” e “Sertanejares”, além de um livro de contos intitulado “Ao que Vai Chegar”. Dois outros títulos estão no prelo: “Vozes de Mussambê” (contos) e “Mundo de Mundim”, uma obra que transita entre poesia e dramaturgia. Além de sua contribuição literária, os livros de Lilia Diniz têm sido incorporados em diversas séries dentro do universo escolar, enriquecendo o ensino e estimulando o interesse pela cultura regional e pela diversidade literária. Membro da Academia Imperatrizense de Letras e da Academia de Letras do Brasil/Brasília,Liliaé umavozinfluente na cenacultural, deixandosua marcatanto como intérpretequanto como autora de obras que capturam a essência e a riqueza do Nordeste brasileiro. “Agora lá em Teresina, eles trabalharam no fundamental I até o 3º ano do ensino médio: montagens, poemas… fizeram releituras com peças artísticas, tipo criar uma obra de arte a partir da poesia. Foi mágico! As crianças cantando, o auditório inteiro cantando minhas músicas, recitando meus poemas. Acho que até hoje estou em suspensão. Foi muito especial!”
Onde encontrar seus livros: podem ser encomendados diretamente com a autora pelo site: https://liliadiniz.com.br/ Marcos Tand (@marcostand)
Marcos Tand. Ilustração: Idayane Ferreira
Jornalista, escritor e roteirista, Marcos Tand se interessa pelo audiovisual, literatura e teatro. Sua versatilidade está também no seu tipo de escrita. “O meu estilo de livros são romances, são thrillers, são fantasias de terror, fantasias com suspense, são livros que despertam certa nostalgia também”. É um dos vencedores do prêmio WATTPAD SUSPENSE 2022 com os contos sobrenaturais “A Dama de Vermelho” e “O Corpo Seco”. É autor de “Uma Noite e Meia”, thriller adolescente de fantasia urbana ambientado nos anos 80.
Onde encontrar seus livros: O livro “Uma Noite e Meia” está disponível na Amazon, em versão e-book.
Marcos Fábio. Ilustração: Idayane Ferreira
Escritor versátil, Marcos Fábio aborda uma variedade de temas, estilos e gêneros literários como poesia, escritos acadêmicos, contos, novelas e crônicas. Com uma carreira literária que se estende desde 1991 até o presente, possui mais de 20 obras publicadas, entre livros solos, como organização ou em coletâneas. Além de escritor, é professor universitário, revisor, superintendente de comunicação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e membro das Academias Bacabalense e Imperatrizense de Letras. Com uma trajetória de mais de três décadas na escrita, Marcos Fábio Melo é um autor reconhecido pela sua habilidade de contar boas histórias.
Livros literários publicados: “Anonimato” – Poemas (1990); “O Homem que Derreteu e Outros Contos” (1997); “Coletânea da Academia Bacabalense de Letras” – Participação com poemas (2003); “Cotidiano Cinza” – Contos (2005); “Crônicas de Menino” – Ganhador do 1º Prêmio BNB de Cultura (2006); “Coletânea 15 Contos +” – e-book (2012); “15 Curtos +” – e-book – Contos (2013); “Coletânea Maranhão em Contos” –Participação comtrabalhos(2014);“CotidianoCinza”–e-book–Contos(2014);“ContosCáusticos”–Contos (2016); “O 18º Andar” – Novela (2017); “Palavras no Avesso” – Crônicas – Ganhador do Prêmio Edelvira Marques (2018); “Baú” – e-book – Contos (2020); “Coletânea da Academia Bacabalense de Letras” –Participação com poemas (2020); “Veritas” – Contos – Ganhador do 1º Prêmio Literário da Academia Ludovicense de Letras (2017).
Onde encontrar seus livros: Os livros “Ecos da modernidade: uma análise do discurso sobre o cinema ambulante em São Luís” e “Baú” estão disponíveis na Amazon. Natividade Silva Rodrigues (@nattrodrix)
Natividade. Ilustração: Idayane Ferreira Escritora, professora, pesquisadora e militante social, é mais conhecida como Natividade. É graduada em História e em Ciências Sociais tem especialização em História do Brasil e mestrado em Ciências Sociais. Atualmente, leciona na Secretaria de Estado da Educação e é membro ativo em diversas organizações e comissões, incluindo o Centro de Cultura Negra – Negro Cosme e a Comissão de Heteroidentificação Racial da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), além de presidir a Academia de Ciências, Letras e Artes de João Lisboa – MA. Como socióloga e historiadora, realiza pesquisas científicas e publicações acadêmicas. Nos últimos anos, concentrou-se na escrita de poesias e contribuições para Antologias Poéticas, abordando diversas temáticas. Além disso, tem publicações sobre gênero, violência intrafamiliar e estudos regionais,
destacando-se sua dissertação de mestrado, intitulada “Violência Intrafamiliar – O Abuso Sexual Contra Crianças e Adolescentes”.
Livros publicados: “Gênero – Uma Caminhada Aprendente” (2004) – Cartilha sobre gênero coordenada na Cáritas de Imperatriz; “Políticas de Gênero: O Pensar e o Fazer em Imperatriz” (2014) – Artigo organizado pela Prof. Dra. Mary Ferreira; “Violência Intrafamiliar – O Abuso Sexual Contra Crianças e Adolescentes” (2017) – Dissertação de mestrado publicada como livro solo; “Café, Ideia e Poesia” (2017) – Antologia de textos de alunos/as e professoras produzidos nas aulas de História, Sociologia e Linguagens; “João Lisboa Nosso Viver” (2021) – Artigo no Livro Didático (Estudos Regionais) sobre o município de João Lisboa –MA; “Mulheres, Memórias e Afetos” (2022) – Publicação sobre as histórias das mulheres de João Lisboa; “ABC de Firmina” (2024) – Livro infantil lançado em abril de 2024, dedicado ao estudo e pesquisa da professora e escritora maranhense Maria Firmina dos Reis. Participou também de algumas antologia como “Mulheres brilhantes escrevem poesias, volume 3”, “No rastro das estrelas”, “Por mais amor”, “Adote uma poesia”, “Mulher evidência na Tribuna livre”, “Na dança das palavras”, “AMCLAM e convidados” e “As luzes mulheres que inspiram poesia”.
Onde encontrar seus livros: O livro “Violência Intrafamiliar” está disponível na Amazon, em versão física e e-book.
Xico Cruz (@xicocruz)
Xico Cruz. Ilustração: Idayane Ferreira
Francisco Antônio Cruz, mais conhecido como Xico Cruz, nasceu em Canindé, Ceará, mas mudou-se para Açailândia, Maranhão, com um ano de idade. É ator, dramaturgo, escritor e é diretor artístico da Junina Matutos do Rei. Como autor, Xico Cruz escreve uma variedade de gêneros literários, incluindo romances, contos e poesias, destinados a todos os públicos. Alguns de seus livros publicados: “O Rei Sebastião” (romance),“ContoEscravidão”(contos),“HáCulpanosOlhos”e“AVidaéumaRuadoCasqueiro”(poesias) Em 2018, o multiartista participou do concurso da Amazon, com “Sebastião: Poética Transmutação”, que explora o Sebastianismo maranhense, narrando a vida do protagonista imerso em espiritualidade e misticismo das matas e rios.
Onde encontrar seus livros: diretamente com o autor.
Sobre lançamentos de livros
A cidade de Imperatriz recebe anualmente um dos maiores eventos nordestinos de literatura, o Salão do Livro de Imperatriz (Salimp). Iniciada em 2002, a feira ocorria na Praça da Cultura, com alguns poucos estandes de livros e livreiros. Atualmente sediada no Centro de Convenções, oferece não apenas venda de livros, mas também uma ampla programação cultural, incluindo shows, oficinas e, claro, lançamentos de livros de autores regionais. Organizado pela Academia Imperatrinzense de Letras é reconhecido como Patrimônio Cultural e Imaterial do Maranhão desde 2018.
Na última edição do evento, em outubro de 2022, foram lançados diversos livros, incluindo “A flor da pele” e “Ditos e feitos” de Tereza Bom-Fim; “Pelos caminhos de Frei Manoel Procópio” de Domingos Cézar, entre outros. Autores como Domingos deAlmeida eHyanaReis tiveram espaço paralançarseus livrosjá premiados “Xica do Sertão de Terra e Puaca” e “Amores em tempos de @”. Ao todo, foram lançados mais de vinte títulos, incluindo relatos, obras de ficção, ensaios e literatura infantil. Embora seja um evento de importância e grande projeção para a Região Tocantina, não apenas no cenário literário, o Salimp tem sofrido com dificuldades financeiras, o que impediu que a 19ª edição ocorresse em 2023.
Mapeamento da literatura imperatrizense
Em 2017, Aleilton dos Santos e Leiliane de Araújo realizaram um mapeamento literário de autores imperatrizenses como trabalho de conclusão da graduação em Jornalismo, o “Acervo Literário: Um guia sobre escritores de Imperatriz”. O projeto incluiu 10 grandes perfis acompanhados de resenhas e 61 perfis menores. Leiliane reconhece a complexidade da arte literária e a diversidade de estilos que contribuem para a narrativa histórica da cidade e da região, além dos desafios que os autores locais enfrentam.
“Apesar de ter pesquisado sobre os escritores e escritoras de Imperatriz, nem eu e nem Aleilton somos capazes de avaliar tamanha arte da literatura. Quando nos propomos a investigar esse meio encontramos uma diversidade de estilos. Produções que realmente ajudam a contar a história da cidade e de toda a região. Mas é algo em constante mudança. Eu diria que a literatura imperatrizense se lança na poesia publicada em livros e se encaminha em pequenos textos publicados no jornal O Progresso. Alguns nunca publicaram livros. A forma de produzir literatura é publicando no jornal impresso. Apesar da evolução, penso que muitos autores ainda enfrentam o desafio de produzir e publicar com frequência”.
Idayane Ferreira
ROBERTO FRANKLIN
SONHAR
Amanheci sentando a beira de um caminho, a espera que não fosse verdade. Sentado à beira de um caminho que tracei e que me fez esperar, que um dia as Jovens Tardes de domingo voltassem.
Olhar para o que vivi, e esse olhar se encontrar perdido em algum lugar de um belo passado é motivo de muita alegria. As tardes dos domingos, eram cheias de alegrias de doses excessiva de sonhos que muitos embalavam meus domingos. Cheia de amor que nos momentos que ouvíamos músicas éramos transportados para um distante espaço que somente nós sabíamos e sentíamos.
Dar adeus a quem um dia fez produzir sonhos, a quem te ajudou a amar, a quem deu motivos para sorrir e até mesmo chorar por algo ou alguém, é sem dúvidas uma mistura de agradecimento com boas lembranças, e um sentimento de perda terrível.
Ouvi que seria bom lembrar que naquela época eu já existia, que nas maravilhosas tardes de domingo eu estava mesmo distante, presente ligado a imagem numa televisão branco e preto, mais o meu mundo de sonhos já coloria aquela tarde ou de sol ou cinza de nuvens carregada de chuva, que seria confundida por lágrimas de abandono ou de um amor eu ainda não existia, mas que estava sempre a procura. Sinto que todos estes anos era acompanhado por pensamentos, e isso dava-me a sensação que nunca estava ou estaria só
As vezes noto que a estrada não tem fim, que a estrada das tardes de domingo impedia de observar o que gostaria devido a poeira fantasiosa que surgia em minha mente. Estou sentado à beira de um caminho que graças a meus sonhos não tem e nunca terá fim, caminho e sempre minha sombra ou quem sabe a sombra de um desejo de sonhos estarão sempre a me acompanhar. Desejo que nunca caminhe só e que meus sonhos jamais se separem de mim.
Aa poesia de Serrão sofreu influências de Rimbaud, William Blake e Sousândrade. Posteriormente, em exercícios mais ousados, também presentes na sua obra, ecos de Leminski e Pignatari.
UM COSMOS NA CASCA DE UMA NOZ
Por Rogério Rocha
Quantos livros morreram no prelo? Quantos poetas morrem inéditos? Quantas obras sequer encontraram as retinas dos leitores? Trata-se de uma realidade que se tem manifestado durante toda a história da literatura, para não dizer da própria história da arte.
Hoje escrevo a partir da ausência do homem a quem este pequeno texto – que tem caráter de mera apresentação – busca alcançar. Falo da figura de Manoel Serrão da Silveira Lacerda, nascido em São Luís (MA), advogado e professor de direito, descendente de espanhóis e portugueses judeus, que partiu do plano terrestre em 26 de dezembro de 2019 sem deixar sequer um livro publicado.
É importante frisar, incialmente, um esforço hoje em curso para não o condenar ao solo frio do ineditismo –que, nesse caso, equivaleria não ao puro esquecimento, mas ao estado de eterno desconhecimento do poeta pelo público de hoje e talvez de amanhã.
Tal iniciativa vem sendo levada a cabo pelos mais íntimos amigos, dentre os quais cito dois, para fazer-lhes justiça: os escritores João Batista do Lago (por meio de quem pude conhecer a obra de Serrão) e Mhario Lincoln (grande divulgador da cultura brasileira e maranhense). Neles deposito a esperança de ver realizado um sonho do falecido escritor: o da publicação de sua obra. Ainda que póstuma, merece publicação.
Manoel Serrão é um poeta não lido, por isso não conhecido. Digo é (e não foi) pelas razões conexas às respostas que poderíamos oferecer aos questionamentos que fiz logo no primeiro parágrafo.
Não o pude conhecer, é verdade. Chegaram a mim, contudo, seus poemas, apresentados que me foram por um amigo do homenageado, o já citado poeta João Batista do Lago, que os tem disseminado em vários sites de literatura na rede mundial de computadores. Alguém que reconheceu nos versos daquele ser humano a força abrangente de um autor que, no recolhimento de sua timidez, praticou muito boa poesia, como a que encontramos na belíssima “Ses’sen’ta”:
Poeta Serrão.
Ó qu'eu por amor à ti vida, não fiz! / Se por ti me fiz o sono leve, o sonho, e o pesadelo/ a luz e a sombra./ Se me fiz pouco a pouco a paz e a escuridão/ sem medo da noite;/
Se me fiz o Sol, o céu preclaro, o sal, o cio, dias rútilos/ –, sementes;/ plantei-me em ipês de floradas amarelas./ Se me fiz o modular do bem-ti-vi cantador,/ e o revoar do colibri beija-flor.
Serrão, que foi um escritor prolífico, estruturava suas criações dentro de um vasto repertório de signos, com riqueza vocabular e uma gramática de extensas raízes, fazendo excelente uso dos recursos estilísticos disponíveis a sua lírica, geralmente concretizada em versos longos, quais os que temos no poema “D’osgemeos”, reproduzido abaixo em excerto:
Ó tu imortal que ao sal das vagas emerge das entranhas líquidas,/ que desaba em fúria severa sobre o tombadilho,/ e quão um punho em brasais, esbatia-se contra o rochedo do "Náutilos"/: arremessa-o contra o tempo pelo eterno;/ desafia-o num só gesto à morte;/ e, atormenta-o nos interiores pelos seus contrários o mundo ao redor.
Manoel soube, contudo, expressar-se também em poemas curtos, como em “Água benta”: Dessedenta/ A língua/ E o céu da boca!/ Cospe o velho/ Saliva o novo. Ou em “Delirium”: Distorce-me/ O real pelo avesso.../ Ó delusão? Mentir para o/ Meu ‘eu’ não!/ Nunca fui (ao) mundo oposto.
Com versos livres ou rimados, com métrica ou não, através de aforismas, pensamentos, prosa poética e, às vezes, filosófica, apresentava, em seu temário, assuntos como a relação do homem com o Divino, a religião, o misticismo, a existência, os sonhos, o amor, a morte e a psique. É possível notar também conteúdo e formas absorvidas de autores da antiguidade ocidental, como Homero e Horácio, por exemplo.
Percebi, contudo, logo ao primeiro contato com a poesia do desconhecido maranhense, influências de Rimbaud, William Blake e Sousândrade. Posteriormente, em exercícios mais ousados, também presentes na sua obra, ecos de Leminski e Pignatari. Para além disso, a tentativa de construção de um percurso baseado na não-linearidade e na versatilidade, ambas demonstradas num estilo poético carregado de ecletismo e que tinha em vista, ao que me parece, a universalização das suas muitas vozes. Sim. Serrão foi dono de múltiplas vozes. Nelas havia beleza e solidão, intimismo e exterioridade, amor e vida.
Ademais, vi também um criador de versos, poeta com pê maiúsculo, que, infelizmente, nunca gozará da possibilidade de celebrarmos juntos a amplitude monumental da sua escrita, no rastro de uma obra quase invisível e capaz de realizar o milagre do enclausuramento de todo um cosmos na casca de uma noz.
MANOEL SERRÃO DA SILVEIRA LACERDA.
João Batista do Lago, imortal APB
"Um dos poetas mais expressivo e denso literato da contemporaneidade".
Serrão/JB Joao Batista Gomes Do Lago
Na madrugada do dia 26 de dezembro de 2019 perdi um grande amigo, um verdadeiro irmão, em verdade um irmão que nunca tive: MANOEL SERRÃO DA SILVEIRA LACERDA. Serrão era um bacabalense de boa cepa. Formado em Direito, portanto, advogado dos mais promissores do Maranhão. Contudo, o que mais admirava nele era a sua artéria literária. Aos meus olhos, um dos poetas mais expressivo e denso literato da contemporaneidade (infelizmente ainda inédito). Serrão (ainda) é pouco conhecido nas "rodas" literárias da cidade de São Luis e do Maranhão, porém, não tenho dúvidas que seu nome será um dos mais importantes no futuro. Assim como Souzândrade,, Manoel Serrão da Silveira Lacerda é um poeta para além deste tempo. No poema abaixo, dedicado a Zigmunt Bauman, percebam a qualidade de forma e conteúdo da sua poética (João Batista do Lago).
A TRINDADE
De Manoel Serrão da Silveira Lacerda (Ao sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman). Impalpáveis, quão infinitas e tão eternas...
Imutáveis, quão imateriais e tão transcendentais...
Ó espiais o que há no espaço?
Olhais os rios, os mares e a larga vastidão dos oceanos de Pontos.
Espiais os dias, as noites e o altivo de Urano e Gaia à procura da remota humana; Olhais para as profundezas das cavas entranhas de Tártaros.
Olhais o que há no tempo?
Espiais o presente com os seus peregrinos errantes e miseráveis desesperançados sem liberdade; Olhais essa "massa" passiva, invisível e sacrificada, meros expectros, filhos dessa Pátria saqueada; Espiais esse “rebanho” forjado no aço do passado; e, para todos os sonhos futuros de redenção, que vão-se aos rés entre os dedos da ilusão.
Ó espiais o que há na base da matéria?
Olhais o primeiro, a carga positiva dos prótons; e, no meio dos prótons, impedindo que eles tenham contato direto os nêutrons;
Olhais para os elétrons, partículas dotadas de carga elétrica negativa. Olhais o que há no estado da matéria?
Espiais o sólido que se liquidifica; onde todas as iterações e encontros dos entes se tornaram provisórios e temporários, fugazes e passageiros, válidos apenas até um novo dia;
Olhais para d'onde impera o individualismo, a desigualdade, a revolução digital, e a efemeridade das relações, e quão gases volatizaram todos os mais belos sonhos.
Ó espiais o que há na música?
Escutais a tão suave e sonora melodia da vida; e os cânticos harmoniosos, acompanhado de cítaras e harpas, a concisa harmonia do amor fraterno; Olhais o ritmo que se dará à paz no mundo.
Então vedes, olhais o quedeu-nos Deus em 3 em Umeno3 eUm,umaassinaturaparaaredençãodos homens: em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E nós homens todos amém!
ACERCA DE SERRÃO
João Batista do Lago
Já revelei noutra oportunidade que sou admirador da poética de Manoel Serrão. É-me – aos meus olhos –provavelmente, o poeta mais complexo do Maranhão, na atualidade. Dono de uma larga obra (toda ela socializada na Internet), Manoel Serrão, desde que tive a primazia de conhecê-lo, “espanta-me” com os seus versos, e muitas vezes, me conduz a reflexões dialético-materialista-fenomenológicas.
Neste seu poema – IMPERMANÊNCIAS – por exemplo, o P., num quarteto vérsico magistralmente construído, reflexiona sobre a pósmodernidade sem cair no reducionismo comum ao campo sócio-econômicopolítico.
A crítica, contumaz e contundente, que infere estes versos, é de um “visceralismo” apaixonante, i.é., ele arregaça o espírito daquilo que conhecemos como “PósModerno”, para nos deixar antever definitivamente claro que o caos está presente como onipotência e onisciência nessa nossa louca hodiernidade... Ou nessa modernidade tardia, como preferem alguns sociólogos e estudiosos ou pesquisadores sociais.
E de que maneira ele traduz isso? Fá-lo a partir duma dupla personificação adjetivada, ou seja, a partir de dois “campos” individualizados na complexidade do sistema existencial de humanos que perambulam pelas cidades como indivíduos fastos-nefastos e que se arrastam pela cadeia duma vida que já não mais lhos pertecem...
E é nessa exata presencialidade tempo-atemporal urdida na dupla face de sujeitos que não são sujeitos de mais nada, mas apenas de uma análise discursiva capaz de nos engessar, ou seja, de nos esconder a partir de nós mesmos dentro de nossos vazios existenciais.
Seja da face “fasto” ou da face “nefasto” há, nessa dupla dicotomia de si-de-ambos, o caos instalado com suas vertentes de fractalização ou de fragmentação dos sujeitos de-si, que já não mais fazem quaisquer sentidos. Nem mesmo o sentido de uma “classe” que, porventura, poder-se-ia inferir em quaisquer desses ambos.
Mesmo aquele que “sorrir para o circo” não se diferencia do “outro que chora no pasto”, pois que, ambos já não têm de si nem o sorriso nem o choro. E é exatamente neste instante que eles perdem o “espírito do sujeito” que neles poderiam resistir e fazer e dar sentido às suas existencialidades existenciais.
Paradoxalmente,ambos os dois sãoaessênciadesuas própriasmortes, assim como osãoaessênciadas mortes de si-outro. Ambos os dois riem e choram ou choram e riem na selva caótica dos desesperados... Despedaçados... Fragmentados...
Mas há, aqui e agora, outra inferição que gostaria de aventar para este instante, mas que está submersa neste seu poema: Manoel Serrão nos põe a nu diante de nossa dupla face daninha de nós mesmos. Revela-nos, como um filósofo hermético, o grande dilema que nos move pelos caminhos que traçamos: o só. Não o estar só, mas o ser-si-só...
Porventura, não seria a posmodernidade a maior produtora dessa condição de ser-si-só?
JOMAR MORAES E A AML - em homenagem ao seu aniversário em 6 de maio
Ceres Costa Fernandes
Mede-se a importância e o prestígio de uma sociedade, confraria, sodalício, assembléia, irmandade e outros que tais, pelo desejo que despertam nas pessoas do ingresso nessas instituições. Um objeto de desejo: é isso que a Academia Maranhense de Letras representa para muitos que militam nos meios literários. Suas eleições são concorridas e longamente comentadas; as posses tornam-se acontecimentos culturais e sociais e até motivo de fofocas e maledicências, o que só confirma o prestígio. O momento é de efervescência cultural em todo o Estado e, a partir de 1991, com a fundação da Academia Imperatrizense de Letras, seguida da de Caxias, cada vez mais municípios maranhenses (hoje são 16) vão instituindo as suas academias e a AML sempre é convidada para dar-lhes respaldo e participar de suas fundações e atividades.
Mas nem sempre foi assim. A AML alternou períodos de prestigio e de decadência. Épocas houve em que as cadeiras da Casa de Antonio Lobo sequer eram preenchidas, embora fossem em menor número que as quarenta atuais. A AML possui hoje credibilidade junto às suas congêneres, uma sede condigna, biblioteca especializada em literatura maranhense com milhares de títulos – carecendo apenas de prédio próprio para melhor servir ao público –, livraria e largo programa editorial. Edita os Perfis Acadêmicos, e retomou a edição da Revista. Registra-se o uso constante de sua sede para lançamentos literários, encontros culturais, seminários, produzidos ou não pela Academia. Uma Instituição viva e atuante.
Eleito presidente da Casa de Antônio Lobo, em dois de fevereiro de 1984, Jomar Moraes é considerado um dos maiores dirigentes de toda a história da nossa Academia, quase centenária, fato reconhecido de público pelo acadêmico José Sarney, na tribuna em que pronunciava a saudação de recebimento do mais novo confrade, Joaquim Campello. Jomar vem, ininterruptamente, à frente dos trabalhos daquele sodalício por profícuos vinte e dois anos que serão completados no dia dois de fevereiro de 2006, quando transmitirá a função ao confrade Joaquim Itapary, polígrafo afeito às questões dos textos literários e técnicos e com larga experiência em administração cultural.
Historiografia, pesquisa, editoração de textos, ensaio, crítica literária e crônica. É nesse contexto cultural que opera Jomar Moraes, E, como se ainda fosse pouco, às modalidades referidas e praticadas, Jomar agrega a vocação de administrador cultural, melhor dizendo de fazedor e restaurador obstinado de casas de cultura, tais como a Secretaria de Cultura do Estado, o SIOGE- Serviços de Obras Gráficas do Estado, a Biblioteca Pública Benedito Leite e a Academia Maranhense de Letras.
Para definir qual o lugar de Jomar Moraes nas nossas letras e tradições culturais é bom saber que poucos intelectuais conterrâneos se integraram tanto à maranhensidade, contribuindo com aprofundado saber para o amplo conhecimento do presente e passado do Maranhão em geral e de São Luís, seu bem-querer, em particular.
Jomar Morais não é um, é vários. Predominantemente historiador em obras do próprio punho, vide o Guia de São Luís, O Físico e o sítio, Vida e obra de Antônio Lobo, Graça Aranha, entre outros, ele se transmuda em editor de textos e reforça, em arrojados projetos editoriais, o elo jamais quebrado com a musa de Heródoto, dando à luz obras de há muito esgotadas e negadas ao domínio público ainda que fundamentais para recomposição das marcas da nossa historicidade. E aí se colocam Alcântara no seu passado econômico, social e político, de Jerônimo Viveiros, Relação sumária das cousas do Maranhão, de Simão Estácio de Oliveira, O Censor Maranhense, A Flecha, O Argos da Lei, O Archivo, essas quatro últimas fac-similares. O pesquisador enamorado da arte poética é mais um lado do talento multifacetado de Jomar. Fascinado pela descoberta da poesia de Joaquim Sousândrade, revive o mito sousandradino, reapresentando aos próprios maranhenses o poeta genial e esquecido com Harpa de oiro e a edição fac-similar de O Guesa. Em parceria com Frederick Williams, publica Sousândrade: inéditos, Sousândrade: prosa, e o primoroso Poesia e prosa reunidas de Sousândrade, obra de referência para estudiosos e especialistas.
No ensaio Gonçalves Dias – vida e obra, o pesquisador explora um veio inédito da fortuna critica do poeta: a busca do texto primordial, puro como saiu do estro do bardo, a escoimá-lo das impurezas a ele agregadas
no decorrer das numerosas e pouco cuidadas edições. Trata-se de um trabalho definitivo no gênero e que já se demorava, considerando-se a grandeza do biografado e o respeito devido à sua obra. Sobressai dentre elas a edição crítica do DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍCIA DO MARANHÃO – da autoria de César Augusto Marques, que tomou mais de dez anos de trabalho de Jomar Moraes, com notas e adendos que dobraram as informações da obra índice remissivo de Lino Moreira, publicado em 2008, no centenário da AML. Obra de referência indispensável a quem quer conhecer o Maranhão
A bibliografia de Jomar não cabe em uma só crônica. Sobram títulos e títulos não referidos, mas ainda assim importantes. Todos publicados com o selo da AML e com a totalidade da venda revertida para a Instituição. É algo admirável se considerarmos que, à época, a Academia não recebia um tostão de subvenções ou ajudas oficiais. Apenas contribuições de alguns de seus membros e os patrocínios conseguidos pelo incansável Jomar.
Jomar Moraes faleceu em 2016, com muito ainda para oferecer à cultura e às letras maranhenses. Em 6 de junho de 1024, ele completou 84 anos de nascimento e sete anos de ausência
PRA QUE SERVE POESIA ( POESIA É O FERMENTO DO SONHO)
- “Poesia é para os sonhadores e aqueles que querem aprender a sonhar de olhos abertos. Esse é o público que gosta de poesia. Os que se alimentam de féculas de sonho para ampliarem a sua capacidade de sonhar novas realidades.”
“Acredito hoje, que a leitura de poemas em público, é a melhor maneira de apresentação dos livros à comunidade. Despertar, aos não iniciados, o desejo da leitura dessa arte intimista e pública, sutil e necessária. A leitura de poemas permite ao espectador navegar nas águas da beleza e do sublime e oxigenar internamente a alma, descortinando novos portais de discernimento e compreensão. É uma iniciação a psicoterapia do individual e coletivo. Auxilia no despertar para a percepção do sensível e da interioridade. Poesia é fermento do sonho.”
"É para isso que organizamos saraus de poesia. É por isso que participamos de saraus de poesia.É por isso que nos tornamos poeta."
"Dia 18,sábado, realizaremos em São Luis, o I Sarau pra Embalar São Luis. Acontecerá a partir das 19 e será encerrada por volta das 21 horas. Das 17h30 até 19 horas estarei autografando os novos livros de poemas aos interessados. A flauta de João Neto,eximio flautista ludovicense, dará toque especial e fará fundo."
Todos os que são de São Luis e encontram-se em nossa cidade-mátria, estão convidados. O auditório da Livraria AMEI - Associação Maranhense de Escritores Independentes, tem 80 lugares sentados. O sábado será mais bonito em São Luis neste sábado,18 de maio. Venham se irmanar a nós.
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Academia Poética Brasileira
Academia Ludovicense de Letras
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Centro Esportivo Virtual
Licenciado em Educação Física – Mestre em Ciência da Informação
Revendo alguns artigos, encontrei o texto que escrevera sobre a “Vovó Biloca”, Isabel Fialho Felix: [...] nasceu em Grajaú, em 05 de maio de 1905, casada aos 13 anos de idade com o libanês Antonio Cachem Felix, comerciante em Rosário. Teve a primeira filha aos 15 anos, Isilda Fialho Felix, depois, Mota. Na sequência, vieram: os irmãos Violeta Felix (depois Caldas), Alaíla Fialho Felix, Iris Fialho Felix (depois Araújo), Maria José (Zeca) Felix (depois Almeida), Lenir Felix (depois Costa), Flor de Liz Fialho Felix, Wilson Paulo Fialho Felix, Clodomir Fialho Felix e Wladimir Fialho Felix (Pesquisador Leopoldo Vaz resgata a história da poetisa maranhense ISABEL FIALHO FELIX (1) (facetubes.com.br))
Mhario Lincoln, um de seus netos, assim se refere a Vovó Biloca, rememorando os bons momentos da contadora de histórias:
Lembrei de minha avó Isabel Fialho Felix, autora do livro de poesias "O Por-do-Sol de Minha Terra", escrita à beira do rio Itapecuru, quando lia as histórias da 'Carochinha', para os netos pequenos (inclusive eu) e ao final, tirava suas conclusões e afirmava: "Eu também já fui assim, etc e tal...".
Daí, acabava tornando uma história da 'Carochinha', um fato real em minha cabecinha de criança. 'Ora, se isso aconteceu com Vovó 'Biluca", isso foi real e pode acontecer comigo também...', indagava eu em minha inocência.
Isabel, a avó, era Poetisa, conforme registro em vários jornais de São Luís, tendo publicado o livro “O por do sol de minha terra”. A Pacotilha de 05 de maio em nota comemora seu aniversário
“Faz anos hoje a poetisa Isabel Fialho Felix”, esposa do comerciante em Rosário Antonio Felix: “[...] a distinta aniversariante, que é inspirada poetisa e autora do livro ‘O por do Sol de minha terra’ a ser dentro em breve publicado, nasceu em Grajau, interior do Maranhão. [e complementa]:
Os versos da poetisa Isabel Fialho Felix vêm sendo publicados em várias revistas literárias do país e merecendo as mais elogiosas referencias de renomados críticos nacionais”
Em meu resgate das escritoras maranhenses esquecidas, com base fontes primárias de jornais da época, acompanhamos boa parte da vida ativa dessa poetisa. Isso porque, Isabel Fialho Felix era uma mulher geniosa, se destacava à primeira vista, apesar da estatura média-pequena que ela possuía. Mhario assim se refere à ela: Tinha respostas na ponta da língua. Era dona de uma inteligência incomum. Conseguiu criar todos os filhos de forma incisiva e brilhante. Todos tiveram sucesso na vida. Era uma mulher forte e decidida. O seu lado artístico foi passado para suas filhas e uma delas se destacava, no canto, nos palcos, depois na televisão e nos jornais impressos. Flor de Lys Fialho Felix. A mesma Flor de Lys que anos depois revolucionou a maneira de escrever colunas sociais no Maranhão. Por outro lado, todas as filhas, Alaíla Felix, Violeta Caldas, Zeca Almeida, Iris Araújo, Isilda Mota
formavam um grupo de mulheres influenciadoras em suas épocas. Os homens, Wilson Paulo (político forte em Rosário-MA), Clodomir e Wladimir (militares), exerceram um papel relevante dentro da família Fialho Felix. Nos municípios maranhenses, onde a família morou, Isabel e Antonio Cachen Felix tiveram papéis importantes. Por isso, os jonais da capital estavam sempre dando atenção a poetisa do "Por do Sol de Minha Terra"
Poesia inédita:
MELANCOLIA
Isabel Fialho Felix
Jesus! Em tudo eu vejo uma tristeza
A melancolia impera em meu ser...
Eu já amo essa amiga inseparável Com ela quero lágrimas verter
Vem, ó eterna fada misteriosa... Estende o teu manto sobre mim Oculta nele minhas mágoas todas, Que são pérolas em concha de marfim
E eu não quero essa concha em mar soberbo
Da alegria enganosa e passageira, Que é como relâmpago em noite escura
Vem, brilha e foge em veloz carreira!
Melancolia, muda companheira
Eu compreendo bem o teu segrêdo!...
Vem habitar comigo a vida inteira, Carpindo a solidão do meu degrêdo
Mas encontrei outra Isabel Fialho Felix – assim se assina outra de suas netas - Isabel Fialho Felix Ximenes, perguntando ao Bing:
Isabel Fialho Felix é uma poetisa e escritora brasileira, conhecida por suas obras na literatura infantil. Um de seus grandes sucessos editoriais é o livro “A Estória de Léo”, que conta a história de forma bilíngue e aborda o tema da mentira. A primeira tiragem desse livro foi um sucesso de vendas1 Além disso, Isabel também é autora de outras histórias que encantam leitores de todas as idades. Se você tiver a oportunidade, recomendo explorar mais sobre o trabalho dela! ((Isabel Fialho Felix relançará um de seus grandes sucessos editoriais: " A Estória de Léo" (facetubes.com.br))
Quando do lançamento de seu livro de prosa, Mhario Lincoln assim se posicionou:
Foi uma experiência muito boa fazer esse vídeo com o livro da poeta e escritora ISABEL FIALHO FELIX, contando a "Estória do Léo". Esse trabalho deu oportunidade a Academia Poética Brasileira ingressar na literatura infantil, o que, com certeza nos trouxe bastante felicidade. A história em si é surpreendente e marca a estreia oficial de Isabel no mundo da prosa. Acho que todas as pessoas que assistirem ao vídeo vão se sentir muito bem. Crianças, jovens e adultos viverão essa experiência única, ao lado do Léo. O livro é bilíngue. Deverá ser relançado em breve. A primeira tiragem foi um sucesso de vendas. Seja bem-vinda Isabel Fialho Felix. Com um afetuoso abraço: Mhario Lincoln (www.facetubes.com.br)https://www.youtube.com/watch?time_continue=3&v=56t3xg5ogVs&embeds_referring_euri=https%3A%2F %2Fwww.facetubes.com.br%2F&source_ve_path=MjM4NTE&feature=emb_title
Embora Isabel Fialho Felix seja mais conhecida por suas histórias infantis, ela também escreve poesias. Uma de suas poesias é intitulada “A Menina e o Pássaro”, que fala sobre a conexão entre uma criança e a natureza. Aqui está um trecho:
A menina olhou para o céu, E viu um pássaro voando alto. Ela desejou ser como ele, Livre, leve e sem nenhum fardo.
O pássaro cantou uma canção, E a menina sorriu ao ouvir.
Ela sentiu a brisa no coração, E soube que podia também partir.
Assim, a menina e o pássaro, Tornaram-se amigos inseparáveis. Juntos, voaram pelo mundo inteiro, Em aventuras incríveis e inesquecíveis.
“O Jardim Encantado”
No fundo do jardim, onde o sol brilha mais, Há um lugar secreto, mágico e especial. É o Jardim Encantado, onde as flores dançam, E os pássaros cantam melodias celestiais.
As rosas vermelhas sussurram segredos ao vento, Os lírios brancos guardam sonhos em suas pétalas. As borboletas tecem fios de arco-íris, E os grilos tocam violinos nas noites estreladas.
As árvores têm raízes profundas e sábias, Contam histórias antigas aos que se aproximam. As fontes de água cristalina fluem em harmonia, E os duendes dançam sob a luz da lua.
No Jardim Encantado, o tempo é eterno, E as preocupações desaparecem como fumaça.
É um refúgio para os corações cansados, Um lugar onde a magia e a esperança se entrelaçam.
Vá até o fundo do jardim, com olhos abertos, E talvez você também encontre o portal secreto. Entre, respire fundo e deixe-se encantar, Pois o Jardim Encantado é um tesouro guardado.
AS FAÇANHAS DO ARY
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ
Academia Ludovicense de Letras
Academia Poética Brasileira
Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão
Centro Esportivo Virtual
Professor de Educação Física IF-MA (aposentado); Mestre em Ciência da Informação
Em “Ary Façanha de Sá – uma biografia” informo que nasceu em 1º de abril de 1928, no município de Guimarães; filho do Juiz de Direito José Façanha de Sá Filho.
Na década de 1940, muda-se para São Luís, para cursar o ginasial no Colégio de São Luiz, do prof. Luiz Rego - criador dos Jogos Intercolegiais -, por onde disputava as provas de 100 e 200 metros, além do salto em distância; consegue a espantosa marca de 5,00 metros.
Em 1948, prestes a completar 21 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer faculdade. Além de estudar na capital carioca, Ary começou a trabalhar em um escritório de advocacia. Naquela época, morava em uma pensão com alguns amigos que também haviam ido estudar na então capital federal. No ano seguinte, foi levado pelo irmão para uma visita ao clube e, enquanto passava perto das pistas de atletismo, perguntaramlhe se não gostaria de dar um salto. Ary não saltava desde o ensino médio, mas decidiu arriscar. Logo de primeira, pulou mais de 6m de distância e impressionou todos os que estavam treinando ali. Então, passou a frequentar o clube para saltar.
Nesse mesmo ano, os jornais do Rio de Janeiro começam a noticiar ‘as façanhas do Ary’, com a tentativa de quebra de recordes – não o conseguindo. Porém, seus resultados começam a chamar a atenção. Além de saltar, também corria diversas provas principalmente os revezamentos e as corridas com barreiras e praticava decatlo. Ary Façanha consegue 12,49 no Salto Triplo, no Campeonato para Junior. Inscrito no salto em distância do Troféu Marcio Cunha; consegue o 1º lugar, com 6,94m
Ary Façanha de Sá representou o Fluminense por uma década, de 1951 a 1961. Venceu o primeiro Campeonato Brasileiro que participou, com menos de um ano de treinamento, quebrou o recorde sulamericano logo em seguida, com um salto de 7,57m.
Com menos de dois anos de treino, Ary já havia sido convocado para sua primeira Olimpíada, em Helsinque, capital da Finlândia. No dia das provas de salto em distância, choveu bastante e o brasileiro precisou competir com as chuteiras encharcadas. Segundo ele, as chuteiras molhadas pesavam mais de 1 kg. Mesmo com o peso extra, ficou com a quarta colocação. A medalha de bronze lhe escapou por sete centímetros.
Em 1950, ingressou na Escola Nacional de Educação Física. A paixão por esportes o levou cursar Educação Física na Escola Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD) – hoje, parte da UFRJ.
Foi atleta da Seleção Brasileira de Atletismo - e do Fluminense, do Rio de Janeiro; recordista sul-americano do salto em distância, participou de duas Olimpíadas, de 1952 e 1956. 1958 – MAIO, 17 – anunciada a vinda à São Luís do “fabuloso Ary Façanha”, para inspecionar as quadras, árbitros, e demais condições para a realização dos Jogos Universitários regionais, reunindo equipes do Maranhão, Pará, Ceará e Piauí. A vinda de Ary seria para inspecionar a Comissão de Atletismo. Em 1961,atleta do Fluminense durante toda a carreira, Ary parou de competir – foram dez anos representando o clube do coração. Mesmo aposentado das competições, Ary não parou de atuar no meio esportivo. Tornouse técnico de atletismo do Vasco e preparador físico do time de futebol cruz-maltino assim que parou de saltar. Neste mesmo ano, conheceu a maranhense Albanisa, que também vivia no Rio. Em 1962, casaram-se.
1965, muda-se para Brasília para trabalhar como funcionário público no IAPC (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários). Na sequência, foi para o IBGE, e em 1970, assumiu o departamento esportivo do MEC (Ministério da Educação e trabalhou até se aposentar.
Idealizador dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), em 1969, quando trabalhava pela antiga divisão de Educação Física e Desporto do Ministério da Educação e Cultura (DEF/MEC). Em 1976, em consonância com a Lei n 6.251 de 1975 e com o Decreto 80.228 de 1977, os Jogos Estudantis Brasileiros dividiram-se em esporte escolar e universitário. Assim, nasceram os Jogos Escolares Brasileiros (JEB´s), que se tornaram referência nacional até o ano de 2004.
Foi o introdutor do Interval-training no Brasil,
Quarto lugar nas Olimpíadas, primeiro brasileiro a ultrapassar a marca dos 7m no salto em distância, recordista sul-americano por 22 anos...
Convém salientar que Ary Façanha de Sá começou sua carreira esportiva no Colégio de São Luís, ingressando no Moto Clube de São Luís, até sua transferência para o Rio de Janeiro. Quarto lugar nas Olimpíadas, primeiro brasileiro a ultrapassar a marca dos 7m no salto em distância, recordista sul-americano por 22 anos...
A ÁGUA QUE CERCA AS TERRAS
CERES COSTA FERNANDES
Vivia assombrado com o fim do mundo. Não aquele do Apocalipse de São João ou o previsto por Nostradamus, de previsões (ou as interpretações delas) constantemente sendo desmoralizadas desde o ano 1000, depois 2000 mil, descontados todos os adiamentos feitos para justificar o fato de o mundo continuar amanhecendo e anoitecendo apesar delas. E agora, os Maias também acharam de aporrinhar e estão com o Juízo Final com ano, mês e dia marcados. Nem Nostradamus se atreveu a tanto. Não, morrer de pacote com todo o mundo de uma vez, sem sobrar unzinho para contar história, decididamente não o assombrava. Seria uma coisa divina sem nenhuma interferência nem responsabilidade de sua parte, então: nada a fazer.
O que o pegava de jeito era o fim de seu mundinho particular que tanto demorara a construir e realizar a duras penas desde jovem, abstendo-se de muitos prazeres e lazeres. Morava bem, em frente ao mar, edifício antigo, mas de luxo, custara os olhos da cara e outras coisas mais. A assombração do seu apocalipse particular era o clima, o derretimento das geleiras e a subida das marés. Vivia cotejando as várias correntes de ecologistas: a turma dos catastrofistas afirmava que até 2060 o mundo aqueceria em 4 º C e, por conta disso, em 2100, o nível do mar subiria no mínimo a seis metros.
Receio óbvio de quem mora à beira d´água, mas havia uma origem insuspeita da hidrofobia – família e amigos não sabiam. Uma cigana, ao ler sua mão, perguntada se ele viveria longamente respondeu enigmaticamente, à moda das pitonisas: “Cuidado com a água que cerca as terras”, e mais não disse. Desde então, aboliu banhos de mar, as viagens por cima d’água, mesmo as de avião as que cruzavam o oceano deixaram de fazer parte dos seus roteiros, com grande indignação da mulher que considerava ir à Europa parte indispensável do status social. Até nos churrascos com amigos, pelo sim, pelo não, passava ao largo de piscinas. Agora, com a decisão de mudar-se para o Tirirical – mais longe da água impossível – completaria o seu ciclo de cuidados em relação à nefasta previsão.
Na hipótese dos seis metros, nossa Litorânea e adjacências – Ponta d’Areia, então! – submergiriam tal uma nova Atlântida. Como, diabos, fora sucumbir aos argumentos aliciantes daquele corretor de imóveis? Se bem que, á época da compra, ninguém levava a sério ecologia e quejandos.
Logo ele que cumpria com unção a sua parte na defesa do meio ambiente. Carro a álcool, desodorante sem spray e supermercado com sacolas reaproveitáveis. Papel, só reciclado e móveis, na sua casa, tinham certificado de madeira de reflorestamento, etc., etc. Em defesa dos animais, não comia frango criado com hormônio e confinado, nem boi idem. Recusava peixe na piracema, ocasião que se dedicava exclusivamente aos vegetais (sem agrotóxicos, é claro). Lia tudo sobre a camada de ozônio, a emissão de gazes CO2, aquecimento global, poluição dos mares e rios, derretimento das geleiras, uso abusivo do plástico. Estava quase um doutor.
O diabo eram as opiniões contraditórias. Havia a turma dos céticos, a afirmar que a subida seria de apenas meio metro, na pior das hipóteses, um metro, até o final do século. E, como dizia aquela cientista da UFSC, signatária de uma carta aberta a presidente Dilma sobre o aquecimento terrestre: “o comportamento do homem afeta o clima em escala local, mas não tem capacidade de alterar os fluxos da matéria e energia em escala planetária”. Enfim, Seguro morreu de velho: decidiu que venderia o apartamento da pontinha da Ponta (já estava apegado a ele) e procuraria um imóvel num lugar a salvo de inundações. Primeiro pensou em comprar uma daquelas casas antigas, que você nunca para de reformar, ali perto da Igreja de São Pantaleão, que sempre soube ser o lugar mais alto da cidade. Consultou um geógrafo e ele o informou do seu engano: o ponto mais alto da cidade é o aeroporto do Tirirical.
O azar é que, ali, zona de indústrias, só comprando o terreno. Decidiu, nem que fosse no ponto das vans e táxis para o interior. Ali estaria a salvo. Mulher e filhos se revoltaram. Como?! Sair da Península da Ponta, para aqueles cafundós? É para o bem de vocês, em 2100, estarei morto, mas prestem atenção: a vingar a teoria dos seis metros, seria quase um metro por década, e lá pra 2030, a pontinha já era. E quando a população se desse conta dos riscos de morar à beira-mar? Os terrenos perto do aeroporto subiriam muito.
Nessa angústia de resolver tudo com antecedência, tentou vender o imóvel querido, dos primeiros instalados na “península”. Qual não foi o seu espanto ao saber que a dívida de aforamento, do seu “terreno de marinha”, um daqueles terrenos de bitributação dos quais a água se acerca, que ele considerava isento com a nova lei, acumulava débitos e já estava inscrito na dívida ativa da União. Contas feitas, juros sobre juros, a soma era tão alta que ele teria de vender o imóvel, seu único bem para pagá-la. Adeus, planos de construção da casa no Tirirical. A revolta, a impossibilidade de fugir à catástrofe, os anos de sacrifício lançados fora culminaram em emoção violenta demais. Sofreu um AVC, o popular derrame. A viúva vendeu o apartamento, pagou as dívidas, comprou um menor, não tão bem localizado, mas também próximo ao mar – ela é adepta do meio metro –, e não esquece de pagar o SPU em dia.
NÃO ULTRAPASSE
POR OSMAR GOMES
Desculpe, vejo que você está sem a credencial. Você não pode passar por aqui. Este acesso à praia é apenas para quem está hospedado.
Como assim, moço? Não posso cruzar esta faixa de areia? Eu sempre fiz isso. Sempre passei por aqui. Gosto de ficar naquele cantinho ali.
Bom, minha senhora, peço desculpas. Mas são ordens do proprietário do “Gente Rica Resort Boutique”, que adquiriu esta área recentemente. Agora, esta área é privada e exclusiva para hóspedes, inclusive, aquele cantinho ali. –
Para hóspedes e seguranças altos e mal encarados como o senhor, né? Já pensou que nos seus dias de folga você – cidadão dito “comum”, como eu – também estará impedido de cruzar esta faixa de areia?
O curto diálogo acima serve para retratar uma situação do nosso cotidiano que pode se tornar realidade em breve. Tudo vai depender de qual rumo a chamada “PEC da Privatização das Praias (PEC nº 3/2022)” tomará no Congresso Nacional. Apesar do nome, não se trata exatamente de privatizar as áreas de banho.
Embora não trate explicitamente da “privatização das praias”, o texto da Proposta de Emenda à Constituição abre espaço significativo para que diversas áreas de banho tenham seus acessos restringidos. Isso porque tais acessos estariam dentro de áreas, que hoje da União, passariam à iniciativa privada.
Condomínios de luxo, hotéis, pousadas boutiques, resorts. Além do crescimento da especulação imobiliária, algo jáesperado, milhares deempreendimentos país afora,jádevidamenteinstalados, passariam adeterdireito integral sobre áreas hoje transitadas indistintamente.
Hoje, as chamadas áreas de marinha são ocupadas sob a condição de possibilitar o acesso indiscriminado de pessoas às praias, o que poderá deixar de existir se tal terreno passar à propriedade privada, que controlará, conforme sua conveniência, o trânsito de pessoas. Isso porque a PEC não prevê a manutenção do acesso da população, via terreno, às faixas de areia e ao mar, que seguem sendo áreas públicas. Ou seja, há uma área de banho que hoje é frequentada por qualquer cidadão, mas que, com a PEC, poderá servir ao exclusivismo daqueles que podem pagar para se hospedar ou morar na propriedade que dá acesso a esse espaço público.
Na prática, mais um mecanismo capaz de seguir a operacionalização do exclusivismo e elitização dos espaços públicos. Áreas, diga-se, que para muitos se constitui em último reduto de lazer e entretenimento aos finais de semana ou feriados.
Mas essasituação jánão ocorre?Sim!Existem praiasnoBrasil cujoacesso érestritoaproprietáriosehóspedes dos empreendimentos. Mas essa situação é irregular e afronta a legislação vigente, uma vez que o acesso à praia e ao mar deve ser assegurado. Já houve decisão recente, em região costeira, em que um resort foi condenado a abrir o acesso.
Há casos que se instalam cercas, muros, câmeras. Fazem uso de seguranças, cachorros e até boias para demarcar o mar. Tudo em nome do exclusivismo elitista que ainda impera nas mentes de uma parcela privilegiada da nação.
Ah, tal questão não está afeta apenas às praias, mas às áreas costeiras pertencentes à União, o que inclui terrenos em beira de rios e mangues.
Há quem defenda e há quem seja contra a aprovação da PEC. Fato é que o desfecho não pode desviar da coisa pública, do interesse coletivo em detrimento do exclusivismo privado. A discussão é complexa e ainda vai permear diversas sessões no Congresso e ocupar tempo relevante na ordem do dia do espaço público.
Fato équeem um espaço tãoplural de convivência, como seconfiguram nossas praias,um dos últimos redutos de lazer para milhões de pessoas, qualquer ideia de segregação deve ser abolida.
Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
A MULTIFACETADA LUCY TEIXEIRA
Publicado em 10 de junhode 2024, às 15:27
Fonte: José Neres – (Professor. Membro da AML, ALL, APB e da Sobrames-MA
Imagem cedida pelo autor
Chega aos meus ouvidos a notícia de que, no próximo dia 15 de junho, às dez horas, no Teatro Napoleão Ewerton, a professora, escritora e acadêmica da AML e da ALL Ceres Costa Fernandes fará parte de um ciclo de palestras no já aclamado Café Filosófico, interessante empreendimento cultural, pensado e organizado pelo professor e psicanalista William Amorim.
Na ocasião, além de poder ouvir a professora Ceres Costa Fernandes, que hoje, sem sombra de dúvidas, é a mais abalizada pesquisadora sobre a vida e a obra de Lucy Teixeira, o público poderá também adquirir os livros O Essencial de Lucy Teixeira (Edições AML, 2023) e o inédito Crônicas de Lucy Teixeira –Cenas do Cotidiano de São Luís 1947 (Edições AML, 2024), duas obras que lançam novas luzes e novos olhares críticos sobre a produção literária da autora da Elegia Fundamental.
Nos meios acadêmicos de São Luís (e do Maranhão como um todo) não é segredo a admiração que a cronista Ceres Costa Fernandes sente pela pessoa e pela escrita da segunda ocupante da Cadeira número 07 da AML. Essa admiração, que nasceu exatamente no dia 28 de julho de 1979 (data em que Lucy Teixeira tomou posse na Academia Maranhense de Letras, sendo recebida por José Sarney) e que se intensificou duas décadas depois, quando a escritora caxiense publicou seu livro No tempo de alamares & outros sortilégios.
Todas essas décadas de dedicação, leituras e estudos possibilitaram também que a professora Ceres entrasse em contato com materiais inéditos produzidos por Lucy Teixeira, inclusive com os trabalhos de cunho científico e diversas obras de arte, como por exemplo, o quadro que foi reproduzido na capa do livro O Essencial de Lucy Teixeira.
Mas, embora seja uma intelectual de vital importância para a cultura maranhense, o nome de Lucy Teixeira (bem como sua obra) ainda não foi suficientemente apreciada e estudada tanto nos meios acadêmicos, quanto pelo público em geral. Trata-se, então, de uma escritora que pode oferecer margens para diversos estudos em várias áreas do conhecimento.
Como aqui no Maranhão não é comum a valorização e divulgação dos intelectuais da terra, não importando o quão tenham sido aceitos e aclamados em outras unidades federativas ou mesmo em outros países, sempre cabe uma pergunta.
QUEM É LUCY TEIXEIRA?
Nascida no dia 11 de julho de 1922, na cidade de Caxias, no estado do Maranhão, Lucy de Jesus Teixeira estudou em Minas Gerais, onde se graduou em Direito e teve importante atuação cultural, juntamente com escritores como Fernando Sabino, Murilo Rubião, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Câmara, entre outros.
Quando regressou a sua terra natal, passou algum tempo na capital maranhense, onde exerceu cargos na secretaria do Tribunal de Justiça, colaborou como cronista no Jornal O Imparcial, participou do Grupo Ilha, do qual faziam parte também intelectuais como José Sarney e Ferreira Gullar.
Lucy Teixeira morou em diversos países, como Itália, Bélgica e Espanha, sendo reconhecida por suas habilidades intelectuais e por seu talento no uso poético das palavras em prosa e em verso.
A escritora publicou os seguintes livros: Elegia Fundamental (poesia, 1962), Primeiro Palimpsesto (poesia, 1978), No tempo de Alamares & Outros Sortilégios (contos, 1999) e Um Destino Provisório (romance, 2001), além de haver escrito a peça teatral intitulada Quem Beija o Leão e de haver deixado diversas crônicas e poemas esparsos em revistas e jornais.
Em 1978, Lucy Teixeira foi eleita para a Cadeira 07 da Academia Maranhense de Letras, sucedendo a Alfredo de Assis Castro, que havia falecido no ano anterior. Sua posse na Casa de Antônio Lobo ocorreu em julho do ano seguinte, em um grande evento.
Em 1990, a escritora se aposentou pelo Ministério de Relações Exteriores. Vitimada por complicações decorrentes de uma pneumonia, a contista maranhense faleceu no dia 07 de julho de 2007.
Entre as homenagens recebidas após seu falecimento, o nome de Lucy Teixeira foi escolhido para patronear a Cadeira 31 da Academia Ludovicense de Letras e, em 2022, como lembrança pelo centenário de nascimento de Lucy Teixeira, a AML editou, em um único volume os livros Elegia Fundamental e Primeiro Palimpsesto.
Surge então outra dúvida: de que tratam os livros publicados por Lucy Teixeira?
ELEGIA FUNDAMENTAL
Publicado em 1962, esse longo poema tem como temas centrais a morte e a inevitável despedida que ocorre após o momento final de uma pessoa amada. Os versos iniciais do poema apresentam uma pungente beleza e, ao mesmo tempo, remetem a uma reflexão acerca de uma presença/ausência (in)capaz de preencher os vazios existenciais deixados pela certeza da morte.
Na plantação
há somente a perspectiva de uma viagem,
Quando um dos plantadores cai, em definitivo
cuidadosamente é posto numa caixa –justo do seu tamanho –e um lenço lhe cobre a face.
Então o seu rosto é beijado muitas vezes, sem que ele possa retribuir a esse sinal de carinho, pois o silêncio já lhe ocupou toda a boca.
A imagem do corpo inerte depositado em um ataúde e dos beijos de despedida dados pelas incrédulas pessoas que permanecem nos caminhos da vida demonstra que o passamento de alguém não é apenas uma questão física, química ou biológica. É um momento de reflexão. Esse poema foi escrito pela ocasião do falecimento da mãe de Lucy Teixeira e à memória dela – Dona Joana – é dedicado.
PRIMEIRO PALIMPSESTO
Escrito em 1977 e publicado em livro no ano seguinte, esse breve, porém contundente poema é dedicado à cidade de São Luís e ao poeta Ferreira Gullar. Em pouco mais de noventa versos, a escritora consegue fazer um périplo pelas próprias recordações acerca da cidade que a acolheu – São Luís – e traz em suas estrofes o sentimento de tristeza e de perda do eu lírico com a notícia do falecimento do poeta Bandeira Tribuzi. Os espaços em branco e os vazios textuais demonstram a presença de um eu lírico que se vê desnorteado diante de umas reticências iniciais que escondem algo que possivelmente não pode ser dito, mas que permanece guardado nos recônditos da memória.
É um poema para ser lido com calma, tentando compreender as múltiplas camadas de um palimpsesto que se multiplica em camadas que precisam ser destrinçadas e que escondem nas entrelinhas marcas da cidade, do ser e de uma saudade.
NO TEMPO DOS ALAMARES & OUTROS SORTILÉGIOS
Habilidosa com as palavras, Lucy Teixeira apresentava destreza na confecção de narrativas curtas. Nesse livro, que é dividido em duas partes – a primeira com seis contos e a segunda com onze textos, a prosadora caxiense mergulha na psiquê das personagens sem deixar de lado os problemas mundanos e as crises sociais e existenciais que inundam as páginas do livro. Suas personagens parecem viver em constantes conflitos internos que se refletem em suas atitudes e decisões. Cada texto pode ser visto como uma série de “íntimas confidências” utilizadas como verdadeiras “táticas de guerra” por personagens femininas que tentam se livrar de uma sufocante opressão social e até mesmo pessoal.
UM DESTINO PROVISÓRIO
Nesse romance, Lucy Teixeira envolve o leitor em uma série de violências que entrecruzam questões jurídicas, comportamentais e psicológicas e que levam a jovem Raimunda (Mundoca) a se isolar do mundo em um mutismo para se proteger dos traumas que atormentam sua vida.
Imersa em um turbilhão de acontecimentos capazes de alterar sua percepção com relação ao mundo e as pessoas que a rodeiam, a protagonista vive em constante processo de reaprendizado para poder sobreviver às intempéries. Sobre esse livro, o professor e crítico Rafael Campos Quevedo comenta que ele “se filia à estirpe dos romances de temática existencialista, ainda que não se configure como um romance existencialista na acepção sartreana do termo”.
Vale a pena acompanhar os passos de Mundoca pelos nada fáceis caminhos de sua vida que, apesar de ficcional, pode ser uma reprodução de muitas outras meninas que passaram por situações análogas em suas respectivas comunidades.
AS CRÔNICAS DE LUCY TEIXEIRA
Bem, sobre essas crônicas ainda nada posso falar. Esperarei até o dia 15 para ouvir as palavras da professora Ceres Costa Fernandes e entrar em contato com o livro. Mas acredito que sejam bons textos. Afinal de contas, Lucy Teixeira era uma esmerada pensadora e escritora.
Espero você por lá.
À minha eterna professora Ceres Costa Fernandes.
EDUARDO “PATO ” WAACK LANÇA NOVO LIVRO
14 de junho de 2024Gil ZambomVariedades
Dificil quem não conheça o Eduardo Waack , figura mistica dos meios literários e culturais da cidade.
Eu costumo dizer que “Pato ” vê poesia em tudo.
Hoje pela manhã, num evento bastante singelo mas significativo ele lançou seu 10º livro na Casa da Cultura de Matão, numa cerimônia que contou com vários de seus amigos, diretores de escolas municipais e representantes da ADEVIMA ( Associação Matonense de Deficientes Visuais ) que foi brindada com exemplares em braille.
O livro ” A Reunião – A gota de orvalho suspensa na flor reflete o universo “reúne poemas escritos pelo autor ao longo de toda sua existência e segundo ele , ” refletem aquilo que fui e o que sou “.
“Pato ” estava visivelmene emocionado e contou que pela primeira vez recebe um apoio oficial do Ministério da Cultura, através da Lei Paulo Gustavo.
A esse respeito, por sinal, o Diretor de Cultura da Aministração Municipal, Juliano Jacopini fez uma breve explanação sobre os trabalhos desenvolvidos pelo seu setor e justificou a escolha da Eduardo Waack pelos seus longos anos de atividade intelectual na cidade , reconhecendo nele o talento dos grandes criadores e também o talento e quem se renova sempre sem medo de desmentir seu passado.
Excelente iniciativa da Casa da Cultura comandada por Jacopini e muito feliz mesmo a escolha de Pato. É uma grande novidade.
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EDITOR
ANTONIO AÍLTON
ANTIBLEFE, AS CARTAS DE DANIEL BLUME
ANTONIO AÍLTON
O que convida à leitura de um bom livro literário é a sua atmosfera, dada por um tom, é o seu teor, que se entrega à degustação, lenta ou ligeira. E no sentido do tom ou do “sabor de leitura”, este Cartas ao neto, de Daniel Blume é dos mais fluidos e saborosos livros de poemas de que tenho conhecimento, nestes anos de muita escrita boa, mas também de abundante literatura insípida.
Um livro leve e, por que não dizer, divertido, pois esse é um efeito da sua intenção também, ser uma sátira ao estilo da antiga tradição da ironia, do escárnio e do sarcasmo, e cujos traços mergulham inclusive na máxima “ridendo castigat mores” – a qual expressa justamente a crítica moral aos (maus) costumes dos grupos e tipos sociais, recorrendo-se ao riso. Além disso, Cartas ao neto não deixa de se inserir no espírito das literaturas que floresceram em toda parte pelo barroquismo crítico, de cunho pícaro, façanheiro e caricaturesco, da América Latina, e do qual o Brasil é mestre.
Blume evoca, portanto, neste seu novo trabalho, uma estrada longa que vem desde Luciano de Samósata, passando pelos romanos, os contos picarescos e bufões medievais, o universo das farsas (em geral, em versos) de Gil Vicente, a sátira social do Thomas Morus de Utopia e Cartas da torre, Molière e Voltaire, dentro outros; e, nas terras tupiniquins, nada menos que os poemas satíricos e burlescos de Gregório de Matos, o Arthur Azevedo do teatro de revista e dos contos, e o humor gráfico de Aluísio Azevedo, que, além de romancista, foi painelista anticlerical, antimonarquista, e desenhou a política como uma prostituta. A lista perpassa ainda por Ariano Suassuna e por muitos dos nossos dramaturgos, como o Dias Gomes de O BemAmado. Quer dizer, é todo um universo confluente dessa veia, não restrita à poesia. Nesta, porém, lembramos ainda como um forte representante da atualidade a sátira porno-homo-política de Glauco Mattoso. Agora, Blume também radicaliza aspectos já presentes em obras suas como Penal (2015), Resposta ao terno (2018) e Delações (2020), e nos faz entrar no jogo do motejo e da arte burlesca da artimanha maquiavélica.
Ao contrário do que muitos podem pensar, esse não é um viés fácil. Exige perspicácia, percepção de sutilezas e práticas humanas, capacidade literária para operar com as formas da ironia e do litote (abrandamento de um pensamento pela expressão do seu contrário – discursivo, neste livro) e, no caso da crítica social, uma experiência com as questões que envolvem os meandros da sociedade, as relações e as consecuções do poder.
Não à toa, Blume recorre, em sua sátira, justamente a Maquiavel, como expressa o subtítulo do seu livro: versos maquiavélicos. O autor de “O Principe” é invocado no livro em duas diretrizes do seu discurso. A primeira, aquela da relação entre o ser e o parecer, conforme é expressamente colocado na epígrafe do livro: “todos veem o que parece; poucos percebem o que é” (frase que, como epígrafe, se torna também um alerta ambíguo em relação ao próprio livro, que não pode ser considerado apenas pelas colocações aparentes de um velho maganão). E a segunda diretriz é aquela mesma abstraída nas leituras regulares do imortal Maquiavel, de que os fins a serem alcançados justificam qualquer astúcia. Daí, validando as astúcias para ganhar a “guerra”, altos estrategistas são também convocados, das armas, da política, do intelecto ou das palavras: Sun-Tsu, Bismarck, Churchill, Nietzsche, Balzac, Rui Barbosa… E que guerra é essa? Só há uma: a guerra pelo poder e seu jogo, em todas as instâncias, das grandes ações às mais comezinhas. E as relações
são postas como um jogo de baralho num theatro mundi, de apostas na hipocrisia, nas maranhas, cartadas e blefes.
Neste sentido é muito pertinente, logo no poema que encabeça o livro, Cartadas ao neto, a presença do personagem avô, um político experiente nas velhacarias, que precisa doutrinar o neto, “jovem deputado federal” com seus conselhos pragmáticos – presença aquela que é, na verdade, uma voz criada pelo poeta. Podemos recolher trechos dessa doutrinação cínica, inescrupulosa, cuja forma talvez só coubesse mesmo no regime da sátira: “ Meu amado neto/ jamais esqueça./ Nossas gravatas/ significam seriedade de propósitos./ Use-as/ especialmente/ ao mentir”… Ou: “Esteja disposto/ a abrir mão/ do que acredita/ por aquilo/ que pretende”… É longo o rosário desfiado nessa “cartada”, das lições desse avô que, do leito de um hospital, deixa essa sórdida herança ao neto, corrosiva, corruptora do espírito, numa visão das pessoas como títeres ou como objetos a serem utilizados: “Não se afina viola/ no grito. / Use dinheiro se necessário”.
Depois desse poema de base epistolar, “escrito a mão trêmula” pelo avô, do leito de hospital, a sombra dessa visão se estende sobre os demais poemas, agora a meio tom entre a voz do avô e a voz do eu poético, em conversa direta com o leitor. Aqui, Blume reassume aquela forma concisa e incisiva dos livros anteriores, porém dentro de uma feição ironicamente pragmática perspectivada pelo contexto, como neste inteligente poema Capital, que relativiza as ideologias em prol da negociação satisfatória no tempo: “ Nem tanto ao Marx, / nem tanto à Terra/ reconhece a Era”, bem como no poema Ao rei, manifestamente uma síntese do livro e confluência de vozes (do poeta, do avô, de Maquiavel), fora outros tantos poemas também fortes e elegíveis. Na sequência, encontramos uma saborosa galeria de tipos, na qual reconhecemos tantas figuras emblemáticas da sociedade, e, quiçá, a nós mesmos.
Cartas ao neto – versos maquiavélicos é, sem dúvida, um livro diferente para estes tempos, mostrando a reatualização possível de gêneros como o satírico e o burlesco para a poesia contemporânea, marcando a singularidade, a inventividade e a plena autonomia do poeta Daniel Blume. Claro, uma obra neste sentido, em tempos do politicamente correto, pode ser um risco. A própria ambiguidade que tanto o litote quanto a ironia deixam vazar já são riscos, na medida em que podem não ser entendidas como tais. Mas reconheçamos que não estamos aqui diante de um blefe, estamos diante de uma poesia de verdade, a única que nos autentica. Com este livro, Daniel nos convoca ao sério e ao lúdico, e assegura mais uma vez a cabeceira da poesia, mostrando, com segurança e vivacidade, o domínio da Mesa.
* Prefácio do livro Cartas ao neto – versos maquiavélicos.
*Daniel Blume é brasileiro de São Luís do Maranhão, nascido em 27.10.1977. Escritor traduzido para o espanhol, o francês e o italiano. Membro do PEN Clube do Brasil e da Academia Internacional de Cultura. Titular da Cadeira n. 15 da Academia Maranhense de Letras. Titular da Cadeira n. 15 da Academia Ludovicense de Letras. Autor dos livros de poemas Inicial, Penal, Resposta ao Terno, Delações e, agora, Cartas ao Neto: versos maquiavélicos.
[Locais de venda do livro: Amazon e Livrarias. No Maranhão, estará na livraria Leitura e na AMEI, no São Luís Shopping]
TenhoapresunçãovaidosadepropagarqueopintorModiglianifoiintroduzidonafaladedoispersonagens, decontos,deminhaautoriaemmomentosdistintos(inconscientemente,ouseja,deformanãodeliberada pelo autor) . Tambémestá presente na capa do livro O pequeno dicionário de paixões cruzadas, que consideromuitobemrealizada,deautoriadeNatanaelCastro.
Sem respaldo técnico para dizer isso, ou seja, falando apenas como apreciador, vim a admirar o Impressionismo como a escola da arte daPintura cujos representantesatingiram a quintessênciae, entre eles,paraomeugostopessoal,AmadeoModigliani.
Láestá,nosretratosdopintoritaliano,aextraordináriamelancolia(favornãoconfundircomtristeza)em posturasonduladas,extraídasdaartejaponesa,cujoclímaxérealçadopelosolhosvazadosdeseusmodelos nosquaisépossívelintuirtodoomistériodaalmahumana,tãodifícildeserdescritaporqualquerformato de arte. Assim, em determinados quadros, no meu modo de ver, seus olhos vazados dizem tanto da ambiguidadedossentimentoshumanosquantoofamososorrisodaMonaLisa,outroapogeuartístico.
Já conhecia um pouco de sua trajetória de vida infeliz, peculiar, aliás, atantos artistas da época, inclusive impressionistas,quandoprocureiconhecerumpoucomaisdoartistanolivroPaixõesdeRosaMontero,que tratadas grandes paixões merecedoras desse nome na humanidade. Entre elas está a de Modigliani e de JeanneHebuterne,umabelajovemquefoilevadaporessapaixãoaoprecipício,despencando,maisquedo terceiro andar de um prédio,de seu arrebatamento sentimental, atraída pelo caos interno do próprio Modigliani.
Onde poderia se ocultar e, ao mesmo tempo, transbordar tanta paixão íntima a não ser naqueles olhos vazados?Eisaímaisumingredientequecabeperfeitamentenaquelesretratosequepodemexplicartoda seduçãoquemedespertaramaspinturasdeModigliani.Apaixão.
UIMARJUNIOR
HOMENAGEM A JOSE CHAGAS.
Nascido no sítio Aroeiras, município de Piancó, na Paraíba (atual Santana dos Garrotes), a 29 de outubro de 1924, em 2024 se vivo comemoraria 100 anos .
Radicado no Maranhão desde 1948, onde fez toda a sua vida literária, José Chagas foi funcionário da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Vereador da Câmara Municipal de São Luís por um mandato, onde também serviu como diretor da Secretaria-Geral. Jornalista profissional, exerceu as funções de técnico em Comunicação Social na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) até aposentar-se. Foi cronista no jornal O Estado do Maranhão, no qual mantinha coluna semanal. Apaixonado por São Luís, o poeta é autor de dezenas de títulos, com a maioria deles dedicados à cidade que o abraçou desde sua chegada, retirante que fora do sertão paraibano, que nem ele disse em sua posse, na Casa de Antônio Lobo, que considerou “palácio para um indigente”: puxando a cachorrinha da poesia!
Uma vida toda vigiando São Luís José Chagas estreou, literariamente, em 1955, com Canção da Expectativa. Assumiu a Cadeira nº 28 da AML no dia 3 de abril de 1975. Ele foi Patrono da 5ª edição da Feira do Livro de São Luís (FeliS), promovida em 2011 pela Prefeitura. Falecido em 13 de maio de 2014, deixou uma enorme contribuição à Cultura do Maranhão por meio de obras, além da da sua estreia, como Os Canhões do Silêncio, O Discurso da Ponte, Os Telhados, Azulejos do Tempo, Apanhados do Chão, Colégio do Vento, De Lavra e de Palavra ou Campoemas e Maré/Memória. Ficou famoso, igualmente, quanto O Cronista da Cidade. Assim também ele imprimiu uma vigilância ao acervo de São Luís, intelectual e arquitetônico. No 7* Festival Nacional de Monólogos em São Paulo em 1991 Marémemória o monólogo do homem anfíbio levou os prêmios de melhor iluminação , melhor maquiagem e indicação de melhor ator (UimarJunior).
PEDRO HENRIQUE MIRANDA FONSECA
Querida Lúcia
Cheguei à conclusão que tivemos uma infância muito parecida.
Você na Corte, eu na Província.
Você em uma fazenda de café, eu em uma de cana-de-açúcar.
Você a 1.800 metros, eu ao nível do mar.
Você com cardápio sofisticado, eu com peixe e galinha a molho pardo.
Você com lareira, eu com ventarola.
Você na serra, eu na planície.
Você criando trutas, eu pescando.
Você entre araucárias, eu entre babaçus.
Você com a felicidade de ver a fazenda ainda com a família, eu não, pois o meu shangri-lá encontra-se abandonado depois de muita briga entre os herdeiros, em que todos saíram perdendo. Mas as doces lembranças permanecem indelevelmente, insistentemente e felizmente registradas na memória, último reduto de resistência.
Crédito – Eve Miranda
Mhario Lincoln
A PALAVRA NUA
Poesia não é ilusão. Se assim fosse, seria mágica. A poesia é sentimento. Por isso a emoção: faz chorar, rir e sentir. Eis o milagre daqueles que realmente sabem escrever poesia. Aliás, escrever, não! Debulhar a alma. E isso, cara Luciah Lopez, você sabe fazer como ninguém.
Nesta obra, "ENTRE VERSOS - A palavra branca é nua", a palavra nua, não tem cheiro, mas quando vira poesia, vira também alma, vira buquê, vira pele, vira gozo, vira tendência, vira mulher, "nada se perde, tudo se transforma”, como nas palavras químicas de Lavoisier. Por isso, confesso que me encanta ler sua obra, todas as vezes que tenho vontade de imergir além do real, além da poesia sintética e analítica, além da poesia complexa, mas inerte. Por isso volto ao "Entre Versos", toda vez que choro ou me perco na memória
Isso porque, confreira Luciah Lopez, encanta-me a solidez do mote: 'transformar a palavra branca e nua', numa linha performática de construção interpessoal, sob o prelo do conhecimento prático. Teus poemas me obrigam ver a lucidez interpretativa. Essa é a vantagem de traduzir um insight sem rimas lógicas ou perceptíveis, mas com espectro profundamente desestrutural, que machuca o incomum e destrói a mesmice acadêmica.
Note-se: "Um dia que não amanheceu/E uma noite que não se desfez da escuridão". Isso significa que o verso bem elaborado não precisa de técnica, nem escolas, nem sofrimentos. Todavia, só deve ser uma palavra nua, enquanto fermenta a massa lírica.
Essa é a grande diferença engastada nessa bela obra. Incita o leitor (ir) pela condução poética, a fim de que ele possa construir seu enredo contemplativo, numa hermenêutica de passo a passo, sob o desenrolar do fluxo versicular, tirando desse, a maioria das sensações que a alma de quem lê, possa disponibilizar no momento.
Isso é um fenômeno clássico. E dentre tantos pensadores, pedi licença para trazer Antoine de Saint-Exupéry à mesa pelo simples fato dele ter escrito: "A verdade não é, de modo algum, aquilo que se demonstra, mas aquilo que se simplifica". Eis o segredo desta maravilhosa obra.
Então, Luciah, acertadíssima a manipulação ilógica das letras nuas, transcrita em forma de versos, nessa obra de altíssima voltagem poética.
Mhario Lincoln, presidente da Academia Poética Brasileira.
Lembrandoqueumgrandenúmerodecompradoresdelivrosentraemumalivrariaquasepordescuido,um bom título para impulsionar as vendas seria aquele capaz de seduzir o potencial leitor deixando-o sem alternativadiantedeumaatraçãoinadiável.
Uma rápida olhada nas listas de best-sellers do gênero de autoajuda comprova que alguns títulos são escolhidos com essa finalidade. Que alma desprevenida, religiosa ou não, é capaz de resistir a um chamamento à leitura de um livro com o título Jesus Cristo, o maior psicólogo que já existiu? Existe imaginaçãomaispromissoradoqueessaqueotransportaparaumdivã,comJesusCristo,aoseulado,lhe escutando?
Acertaroalvo,noentanto,nãoétarefafácil.Títulosumtantoóbviosparaobrasgeniaisexistemàspencas, especialmenteentreosclássicos:RomeueJulieta,OsirmãoKaramazóvi,,MadameBovaryetclivrosemque a genialidade do autor prescinde de um apelo sedutor na capa de seus livro. Porém, mesmo entre os clássicos, existem aqueles com títulos pra lá de belos como pex. O morro dos ventos uivantes, de Emily Bronte(destaque-seaquiafelizversãoemportuguêsdooriginalWtheringHeightstornando-oaindamais bonito)ouEmbuscadotempoperdido,deMarcelProust.
Comoosgêniosdaliteraturaacimacitadosjánãonascemcomamesmaprofusãoháqueseterocuidado devido, a escolha se tornando um exercício árduo e prazeroso a um só tempo. Certo, muitas vezes o a preocupaçãoobsessivacomotítulofazincorreremfracassosretumbantes,mas,commuitasorte–etalento -podeoescritoralmejarumdiaalcançarparaseulivroassoluçõesgeniaisencontradasporJohnFanteem Pergunteaopó;ScottFitzgeraldemSuaveéanoite;CarsonMcCullersemOcoraçãoéumcaçadorsolitário ou,paranãocitarapenasosestrangeiros,Olhaparaocéu,Frederico!deJoséCândidodeCarvalho. Ouainda,parafinalizar,poisiameesquecendo,Obosquedasilusõesperdidas,deAlainFourier,queainda nãoli,masgostei.Porcausadotítulo.
RODA, RODA, RODA
DOMINGOSPELLEGRINI
Lendo descobri que dilúculo é o nascente, como crepúsculo é o poente. Então numa pousada, diante da horta e do amanhecer, falei a outro hóspede: - Que belo dilúculo, não? Ele ficou procurando na horta, até que apontou: - Ali perto das rúculas, né?
Eu estava ali para um festival literário, que me deu de brinde um caderno com caneta. Em casa, dei ao neto Caetano, ainda menino, e o neto Pietro enciumou. Procurei no escritório, achei uma agenda, mas ele virou a cara, queria “igual do Caetano”. Aí, ainda com dilúculo na cabeça, lembrei de “opúsculo”, pequena obra.
- Você vai ganhar um opúsculo!
Ele parou de choramingar, perguntou o que mesmo que ia ganhar, repeti, voltou a choramingar:
- Não quero, tem pus!
Mas passou uma borboleta, apontei, foram os dois atrás dela, o caderno ficou esquecido. Fiquei pensando que assim caminha a humanidade, às vezes rodando, às vezes voando, às vezes pulando amarelinha.
Então lembrei das cantigas de roda. O cravo brigou com a rosa, debaixo duma sacada... A cantiga é de quando quase não havia sacadas, como tantas hoje em tantos edifícios. Havia sim varandas, porém aí como ficava a rima pra rosa despedaçada? Mas hoje crianças nem brincam mais nas ruas onde eram cantadas as cantigas... Porque rodas há demais, com mais de 100 milhões de veículos o Brasil tem mais rodas que pessoas, e, quanto mais rodas, menos cantigas de roda.
Por isso um amigo foi morar em condomínio fechado, feliz com as crianças brincando na rua, onde só passam devagar carros de moradores. Mas adolescente inventou de passar chispando de moto, o amigo foi reclamar com o pai, que retrucou:
- Lugar de brincar é o parquinho!
Que diria disso o escritor Mário de Andrade, que criou em São Paulo o primeiro parque infantil do Brasil? Era pras crianças brincarem, não pra exilar as crianças das ruas, mas hoje cadê ruas quietas onde crianças possam brincar?
Diz a cantiga: roda, roda, roda, pé, pé, pé, caranguejo não é peixe, caranguejo peixe é, caranguejo só é peixe na vazante da maré. Não tem lógica: ou é peixe ou não é, né? E porque vira peixe na vazante da maré? Deve ser porque cantiga infantil, se tivesse lógica, não tinha graça.
Pode-se é trocadilhar de que essas cantigas congraçam as crianças em brasilidade, com um repertório cultural que, vindo de todas as regiões do país, passa a ser de todos. A carteira de identidade diz que somos brasileiros, as cantigas de roda nos fazem brasileiros desde a infância.
E, se hoje as crianças não tem mais ruas onde brincar, tem as creches e escolinhas onde as cantigas de roda continuam. Numa escolinha vejo crianças cantando com muito gosto, decerto porém nem entendendo direito porque a barata diz que tem sete saias de filó, ou porque os escravos de Jó jogavam caxangá, ou como a galinha do vizinho bota ovos amarelinho. Então resolvo perguntar porque gostam tanto de cantar isso. Respostas:
- Porque eu gosto de cantar!
- Porque eu sou criança, né.
- Porque é bom, ué!
Bom, o mundo roda e muda, mas que não acabe com as cantigas de roda. Roda, roda, roda, pé, pé, pé...
DE ACADEMIA E POVO, DISTÂNCIAS E REALIDADES
EDMILSON SANCHES
A forte chuva que se iniciou antes das 19h do sábado, 24/11/2018, e que se estendeu para próximo ou além da meia-noite, deve ter sido mesmo uma bênção dos céus para servir de desculpa a algumas autoridades de todos os gêneros e espécies que, convidadas, não deram o ar da graça na solenidade pública e festiva de posse dos primeiros 25 membros e da primeira diretoria (com oito integrantes) da Academia João-lisboense de Letras (AJL).
Entretanto, e ainda bem, o auditório do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino de João Lisboa (SINTEJOL) estava lotado, e com mais gente nos corredores. E todas aquelas pessoas mulheres, homens, jovens, moças, meninos e até bebês representavam, elas sim, a verdadeira autoridade, fonte primeira do poder: o Povo, POVO grande, maiúsculo.
O povo de João Lisboa município maranhense com 97 anos de início de sua História, com 59 anos de autonomia política, com território de 1.137 km2, com 24 mil habitantes e com economia de R$ 270,6 milhões (2021) , o povo de João Lisboa, repita-se, avalizou no dia 25/11/2018 todos os esforços anteriores e posteriores que tiveram como marco histórico o ato também público e solene realizado em 27 de abril de 2017, quando, na Câmara Municipal joão-lisboense (“casa do povo”), foi criada a Academia João-lisboense de Letras.
João Lisboa merecia sua Academia até mesmo a partir do seu nome, uma homenagem ao maranhense João Francisco Lisboa, que integra a Academia Brasileira de Letras (ABL) como patrono da Cadeira nº 18, por escolha de seu primeiro ocupante, o escritor, educador, jornalista e estudioso da literatura brasileira José Veríssimo, paraense de Óbidos, considerado o principal idealizador da criação da ABL.
João Francisco Lisboa nasceu em Pirapemas (MA) em 22 de março de 1812 e faleceu na capital portuguesa, Lisboa, em 26 de abril de 1863. Foi escritor, jornalista e político combativo. É clássica sua obra “Jornal de Tímon” (Tímon com acento agudo no “i” era um filósofo cético grego dos séculos 3 e 4 antes de Cristo). A cidade que lhe homenageia com o nome, João Lisboa, está a três anos de seu primeiro século de existência, a ser completado em 2025, considerada o ano de chegada 1925 do Sr. Joaquim Alves da Silva, o primeiro morador das terras do município, que deu o lugar o nome de “Gameleira”, ante a existência de árvores de mesmo nome, com cuja madeira se fazem, entre outras, as vasilhas chamadas “gamelas”, de uso doméstico (banhos, por exemplo) e de trabalho (como dar de comer a porcos, muitas das vezes de pequenas criações domésticas).
Os primeiros 25 acadêmicos da AJL (do total de 40 Cadeiras) são, em ordem alfabética:
BRUNIDES QUEIROZ MOREIRA, Cadeira nº. 14, patronato do escritor, jornalista e professor Josué Montello;
CLAUDYO JACKSON DAMASCENA SIMÃO, Cadeira nº. 19, patronato do escritor, jornalista e teatrólogo Nelson Rodrigues;
EDMILSON SANCHES, Cadeira nº. 22, patronato do professor, historiador e escritor João Renôr Ferreira de Carvalho;
EMERSON GEOVANE DO NASCIMENTO, Cadeira nº. 4, patronato do militar e político Duque de Caxias;
FLÁVIA DE ALMEIDA, Cadeira nº. 5, patronato da escritora e jornalista Clarice Lispector;
HERLI DE SOUSA CARVALHO, Cadeira nº. 24, patronato da professora, historiadora e ativista dos direitos humanos Maria Beatriz do Nascimento;
HOLDEN FARHANY ARRUDA MARTINS, Cadeira nº. 12, patronato do escritor, sociólogo e professor Antônio Cândido de Mello e Souza;
IOLÂNGELA BARRETO SILVA, Cadeira nº. 10, patronato da escritora, poetisa e contista Cora Coralina;
IVAN LIMA DE AZEVEDO, Cadeira nº. 2, patronado do jornalista, advogado e professor Jurivê de Macedo;
JAQUELINE BARBOSA FERRAZ DE ANDRADE, Cadeira nº. 18, patronato da escritora, romancista e poeta Lucy Teixeira;
JOÃO BOSCO BRITO, Cadeira nº. 27, patronato do pioneiro, empresário e empreendedor João Paraibano;
JOSÉ HUMBERTO SANTOS NASCIMENTO, Cadeira nº. 28, patronato do escritor e líder religioso Estevam Ângelo de Sousa;
JOSÉ RIBEIRO DA SILVA JÚNIOR, Cadeira nº. 1, patronato do historiador, jornalista e escritor João Francisco Lisboa;
JOSIANO CÉSAR DE SOUSA, Cadeira nº. 13, patronato do escritor, advogado e poeta Gonçalves Dias;
LAIZA SOUZA DE LIMA CAMPELO, Cadeira nº. 20, patronato do professor, pedagogo e filósofo Paulo Freire;
LUIZ CARLOS FERREIRA CEZAR, Cadeira nº. 25, patronato do escritor, jornalista e memorialista Graciliano Ramos;
MARCELO BITAR LOBO JÚNIOR, Cadeira nº. 8, patronato do escritor e cordelista Manu Rolim;
MARIA DA CONCEIÇÃO MEDEIROS RODRIGUES FORMIGA, Cadeira nº. 21, patronato da escritora, historiadora e professora Edelvira Marques de Moraes Barros;
MARIA LOZA DA ANUNCIAÇÃO SILVA, Cadeira nº. 9, patronato do compositor, cantor e músico João do Vale;
MARIA NATIVIDADE SILVA RODRIGUES, Cadeira nº. 36, patronato da escritora, romancista e professora Maria Firmina dos Reis;
MARICÉLIA RIBEIRO DE MENEZES ROCHA, Cadeira nº. 39, patronato do escritor, jornalista e dramaturgo Machado de Assis;
MÔNICA MONTEIRO, Cadeira nº. 6, patronato do escritor, jornalista e cineasta Fernando Sabino;
NERY BARRETO SILVA, Cadeira nº. 7; patronato do escritor, advogado e diplomata Ruy Barbosa;
RAIMUNDO NONATO CABELUDO VIEIRA, Cadeira nº. 31, patronato do empresário e político João Menezes Santana;
REGIVALDO ALVES, Cadeira nº. 34, patronato da professora e servidora pública Darcy Fontenele Cruz de Queiroz;
SÁLVIO DINO JESUS DE CASTRO E COSTA (“in memoriam”), Cadeira nº. 32, patronato do professor, jornalista e empreendedor João Parsondas de Carvalho;
SÔNIA MARIA NOGUEIRA, Cadeira nº. 17, patronato do escritor, jornalista e poeta Francisco Sotero dos Reis;
VALDIZAR FERREIRA LIMA, Cadeira nº. 3, patronado do jornalista, escritor e editor Adalberto Franklin; e
ZENEIDE MARIA PEREIRA, Cadeira nº. 15, patronato do escritor, dramaturgo e professor Ariano Suassuna.
A primeira Diretoria eleita tem oito membros: JOSÉ RIBEIRO DA SILVA JÚNIOR, presidente; IVAN LIMA DE AZEVEDO, vicepresidente; VALDIZAR FERREIRA LIMA, diretor-geral; EMERSON GEOVANE DO NASCIMENTO, vice-diretor-geral; JOSIANO CÉSAR DE SOUSA, diretor financeiro; MARIA DA CONCEIÇÃO MEDEIROS RODRIGUES FORMIGA, vice-diretora financeira; João Bosco Brito, diretor de Comunicação; HOLDEN FARHANY ARRUDA MARTINS, vice-diretor de Comunicação.
Por decisão dos acadêmicos da AJL, fui escolhido para presidir tanto os atos de criação da Academia, em 27/04/2017, quanto os atos de posse solene dos acadêmicos e da primeira Diretoria em 24/11/2018.
Nesses dois momentos da história inicial da AJL, além da parte protocolar, formal, oficial, ousei concitar e incitar a todos, em especial convidados e demais pessoas presentes, para um novo olhar sobre as funções e a importância latente, potencial, de entidades do gênero das Academias de letras e culturais em geral.
Com efeito, Academias de Letras não mais devem ser vistas como apenas um ambiente intelectual, mas, também, como espaço social, fórum político (sociopolítico) e agente econômico.
Recordo-me de que, quando criei a Academia Imperatrizense de Letras (AIL) neste mesmo dia e mês, há 33 anos (27 de abril de 1991), fui “atacado”, questionado. Argumentavam, as forças contrárias, anônimas, que “Imperatriz não precisava de Academia”, que “o povo precisava era de comida e dinheiro”. Entre outras coisas, respondi, em contundente artigo, que “pessoas não são só bucho e bolso”. Na minha segunda gestão como presidente da AIL (2003/2005), criei a Semana Imperatrizense do Livro (SIL), anual, que mais tarde seria redenominada Salão do Livro de Imperatriz (SALIMP), que há anos consta do calendário do Governo Federal para eventos do gênero e que é, com certeza, um fator econômico ante o movimento financeiro de alto vulto proporcionado pelo consumo das dezenas de milhares de pessoas físicas e jurídicas que dão tamanho e grandiosidade ao evento e que se abastecem com a compra de milhares e milhares de livros e outros suportes de informação, conhecimento e cultura, além de alimentos, lazer, “shows” musicais etc.
Assim, uma academia novel como a de João Lisboa tem de ter, em seu início, apenas essa primeira preocupação: existir. Existir legalmente. Existir enquanto determinada quantidade inicial de pessoas unidades sob mesmos propósitos. A partir de sua existência oficial, com os devidos registros legais (cartório, Receita Federal...), dão-se os primeiros passos rumo aos projetos. Como um ser recém-nascido, vai-se crescendo e vai-se fortalecendo com o decurso dos dias. Desprezam-se, olímpica e majestosamente, bílis e azedumes, invejas e ressentimentos. A energia intelectual, emocional e operativa deve ser dirigida ao SABER FAZER (realizar) acompanhado do FAZER SABER (comunicar, divulgar).
As Academias de Letras, pelas obras (sem trocadilho) e serviços tornam-se parte dos agentes da chamada Economia Criativa, segmento econômico que tem, como matéria-prima e mãe, o talento, a inteligência, a criatividade e outros recursos que, trabalhando sobre recursos outros, produzem desde literatura, música, pintura, programas de computador (“softwares”), artesanato e um sem-número de produtos e serviços cuja classificação ainda depende do estudioso ou da instituição que a faz. Por exemplo, as Nações Unidas (ONU), por meio da sua Conferência para o Comércio Internacional e o Desenvolvimento (UNCTAD) classifica a Economia Criativa em quatro grandes grupos: Herança ou Patrimônio (artesanatos, festivais e celebrações; sítios arqueológicos e culturais, como museus, bibliotecas, exposições etc.); Artes Visuais (pintura, escultura, fotografia e antiguidades) e Artes Performáticas (música ao vivo, teatro, dança, ópera, circo, marionetes etc.); Mídia e Produção Editorial (imprensa, livros e outras publicações) e Produção Audiovisual (cinema, televisão, rádio etc.); Criação Funcional: atividades como “design” (de interior, gráfico, moda, joias, brinquedos); a “nova mídia” (“software”,
“videogames” e conteúdo criativo digitalizado); e outros serviços de criação intelectual (Arquitetura, Publicidade, Recreação, Pesquisa & Desenvolvimento etc.).
De modo oficial, o Brasil tem no seu Ministério da Cultura uma Secretaria de Economia Criativa e, também oficialmente, com o Decreto 7.743, de 1º de junho de 2012, listou pelo menos vinte segmentos: animação, arquitetura, artesanato, artes cênicas, artes visuais, audiovisual, cultura popular, “design”, entretenimento, eventos, “games”, gastronomia, literatura e mercado editorial, moda, música, publicidade, rádio, “software”, televisão, e turismo cultural.
É nessa realidade institucional e até oficial, advinda de uma realidade antecedente o poder criativo das pessoas – onde uma Academia de Letra deve-se inserir, se manter e transformar e ampliar (para melhor). Evidentemente, nem de longe se está aqui preconizando a ascendência do econômico sobre o criativo. Obrigatoriedade não combina com liberdade. Não se trata de um CONTRA o outro, mas de um COM o outro. A criação com liberdade e, por que não, também com lucro, com resultados culturais, identitários, e também econômico-sociais ou socioeconômicos.
A compreensão do novo “modus vivendi” e “modus faciendi” de uma Casa de Letras tem a ver com o assumir papeis sociais cujas ações de pensar, de expressar o pensamento, de realizar eventos e produzir “coisas” – contribuam para reduzir os graus das diversas carências para cuja debelação as autoridades tradicionais se mostraram / se mostram ainda poucas e incapazes, sobretudo ante as práticas de corrupção, que consomem ou para as quais se desviam enorme quantidade de esforço, de tempo, de talento, de dinheiro e de outros recursos, tão essenciais, tão fundamentais, tão vitais ao suprimento de obras e serviços para o povo.
A Academia João-lisboense de Letras é lugar de pessoas ocupadas. Todos os seus membros trabalham, têm suas atividades, além da prática e/ou do gosto pelas coisas e causas da Cultura, da Arte, da Literatura. São professores, comunicadores, gestores, empresários e empreendedores, servidores públicos, entre outros afazeres. Pessoas ocupadas são as mais indicadas para realizar “novas” tarefas... pois, as outras, não têm tempo o “otium sine dignitate” consome talento e horas...
Portanto, integrada por trabalhadores, a AJL nasce com uma boa característica: responsabilidade, que deve gerar planejamento, que deve gerar foco, resultados, realidades novas realidades.
A palavra grega “academia” é formada pelos antigos elementos de composição “aká-” e “-demos” e significa “lugar distante do povo”, pois a Academia original criada pelo filósofo Platão por volta de 387 antes de Cristo localizava-se nos arredores de Atenas (Grécia), em lugar afastado dos locais de acesso mais comum da população.
De certo modo, por modos incertos, à origem etimológica agregou-se um viés sociológico de elitismo, de distanciamento do comum da população. As Academias, todas elas, têm de remarcar-se, posicionar-se, espacial, intelectual e operacionalmente para ocupar o lugar de proximidade que seu nome e os novos tempos impõem.
Pois, na palavra “academia”, a maior parte (“-demia”) é povo.
Sem o povo, não é não há Academia.
Viva a Academia João-lisboense! Viva ao povo de João Lisboa!
E vamos ao trabalho, pois, como lembra o também grego Hipócrates, pai da Medicina: “Ars longa, vita brevis”.
A arte é longa, a vida é breve.
EDMILSON SANCHES
Boituva, conhecida por suas paisagens encantadoras e seu clima acolhedor, se tornou, entre os dias 17 e 19 de maio, a Capital Nacional da Poesia ao sediar o XIX Congresso de Poetas Brasileiros. O evento, realizado pelo Portal do Poeta Brasileiro com o apoio da Prefeitura de Boituva e da Secretaria Municipal de Cultura, reuniu escritores de diversas regiões do país, proporcionando um grande movimento literário na cidade.
ABERTURA INSPIRADORA
A abertura oficial do congresso aconteceu no dia 17 de maio no Alamedas Brooklin, das 18h às 20h, com o lançamento de livros dos poetas presentes. A noite foi abrilhantada pelo Concerto Poético de André Gandolfo, das 19h às 20h, que encantou o público com sua espetáculo poético e musical.
DESTAQUE PARA MATEUS BORGES
Entre os muitos escritores que participaram do congresso, um destaque especial foi dado ao poeta cururupuense Mateus Borges. Conhecido por sua linguagem acessível e emocionalmente envolvente, Borges lançou seu mais novo livro, "Infância em Versos". A obra oferece uma viagem nostálgica pelas lembranças da infância, capturadas de maneira sensível e poética, mantendo a linha de exploração emocional que caracteriza seu trabalho.
No dia 17 de maio, às 14h, Mateus Borges realizou uma palestra com a temática “A literatura como ferramenta de transformação social”. Durante sua apresentação, Borges compartilhou sua trajetória e como a literatura o ajudou a conquistar lugares de destaque. Ele incentivou os estudantes presentes a criarem seus projetos de vida e a perseguirem seus sonhos com determinação.
LANÇAMENTO E RECONHECIMENTO
A programação do congresso seguiu intensa no dia 18 de maio. Pela manhã, Mateus Borges lançou seu novo livro infantil na Praça São Roque, um evento que atraiu muitos leitores, jovens e famílias. À noite, na Câmara Municipal de Boituva, Mateus Borges foi empossado como membro da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, assumindo a cadeira número 67, um reconhecimento de sua contribuição para a literatura brasileira.
UM IMPACTO DURADOURO
Mateus Borges, além de escritor e poeta, é um palestrante ativo que tem contribuído imensamente para a educação em Cururupu, sua cidade natal. Sua atuação não apenas promove a literatura local, mas também inspira outros poetas e escritores a seguirem seus passos, colocando Cururupu em destaque no cenário literário nacional.
REFLEXÃO E TROCA DE EXPERIÊNCIAS
Durante os três dias do congresso, Boituva se transformou em um verdadeiro epicentro de troca de experiências e fortalecimento da arte poética. O evento não só celebrou a poesia, mas também ofereceu uma plataforma para que poetas de todo o Brasil, pudessem compartilhar suas obras, reflexões e histórias de vida, fortalecendo a rede literária nacional.
O XIX Congresso de Poetas Brasileiros em Boituva foi um sucesso retumbante, deixando um legado de inspiração e valorização da poesia e da literatura. O evento provou ser um divisor de águas na vida de muitos participantes, especialmente para Mateus Borges, cuja presença e contribuição foram amplamente reconhecidas e celebradas.
ANTICÍTERA
A Editora Anticítera lança uma coleção inédita dedicada à obra do renomado poeta maranhense Joaquim de Sousa Andrade, mais conhecido como Sousândrade. Composta por seis volumes, a coleção apresenta títulos que marcaram a literatura brasileira, incluindo O Guesa, sua magnum opus, além de Harpas Selvagens, Harpas Eólias, Novo Éden, Harpa de Ouro e Liras Perdidas.
Sobre Sousândrade
Sousândrade nasceu em 1832, em Guimarães, Maranhão, e faleceu 1902, no Rio de Janeiro. Sua trajetória literária começou ainda jovem, quando foi estudar na Europa. Lá, ele se inspirou no romantismo e em outras correntes literárias, moldando uma poesia inovadora e vanguardista. Seu trabalho é conhecido pela complexidade linguística, inovação formal e crítica social, antecipando elementos do modernismo e concretismo.
Detalhes da Coleção
Os seis volumes da coleção, com capas ilustradas pelo artista maranhense Anderson Bogéa, oferecem uma imersão profunda na mente criativa de Sousândrade, revelando a evolução de seu estilo e pensamento ao longo dos anos.
O Guesa: Renascimento de uma Obra-Prima
Organizado pela renomada especialista Luiza Lobo, O Guesa foi reintroduzido ao público em 2023. A nova edição, com 600 páginas, segue a publicação original londrina e inclui uma introdução detalhada, notas explicativas e um glossário, proporcionando uma compreensão aprofundada da obra. O Guesa é um poema épico que narra a jornada de um jovem indígena pelas Américas, simbolizando uma crítica às opressões coloniais.
Harpas Selvagens: Uma Odisseia Poética
Publicado originalmente em 1857, Harpas Selvagens captura as transformações poéticas e sociais do século XIX no Brasil. Esta edição resgata a originalidade criativa de Sousândrade e sua visão avant-garde, que antecipa técnicas modernistas e concretistas. A obra é um marco literário, destacando-se pela crítica social e política vigorosa.
Harpas Eólias: A Evolução Poética
Lançado em 1874, Harpas Eólias reafirma Sousândrade como um visionário literário. Este volume destaca sua capacidade de inovar dentro dos padrões poéticos de sua época, trazendo uma rica tapeçaria de imagens e sonoridades que desafiam e inspiram.
Novo Éden: A Visão Republicana
Publicado em 1893, Novo Éden é um poema épico que simboliza o anseio por um renascimento social e político. A obra mistura lírico, épico e dramático em uma linguagem simbólica que dialoga entre tradição e modernidade, refletindo as esperanças e desilusões de uma nação em transformação.
Harpa de Ouro: A Canção Republicana
Harpa de Ouro testemunha o fervor republicano de Sousândrade. Publicado com base no trabalho de resgate de Williams e Moraes, o livro entrelaça louvor à República com críticas à sua implementação, repleto de referências históricas e neologismos.
Liras Perdidas: A Essência Poética de Sousândrade
Liras Perdidas abrange textos de 1855 a 1890, resgatados por Jomar Moraes e Frederick G. Williams. Com 46 poemas, o volume mostra a amplitude e profundidade do talento de Sousândrade, refletindo sua evolução como artista e pensador.
Convite aos Leitores
A Editora Anticítera convida apaixonados por literatura, estudiosos e interessados na rica tapeçaria cultural e histórica do Brasil a explorar esta coleção sem precedentes. Adquira seus exemplares e embarque nesta jornada literária inesquecível, celebrando a genialidade de Sousândrade e sua contribuição inestimável à poesia brasileira.
anticitera.art
Saiba mais no vídeo:
"...NADA É MAIS POÉTICO QUE O SER HUMANO"
"(...) a considerar-se as experiências subjetivas supõe-se não apenas ‘um mundo novo’, mas vários mundos novos a partir de nossos sentimentos e emoções, de nossas paixões tristes ou felizes, isto é, a partir dos afetos (Spinoza, B., Ética III) que nos atravessam(...)".
João Batista do Lago.
art: MHL: "a poesia enquanto humanização do bruto"
João Batista do Lago1
A poesia, da forma como a entendo, é a expressão máxima de ser/estar do ser humano no mundo e, consequentemente, do seu existir em toda sua existencialidade.
Entendo que não existe nada mais poético do que o próprio ser humano, desde o ato de nascer ao ato de morrer. Tudo, absolutamente tudo, no ser humano é Poesia: nascer, chorar, suspirar, respirar, andar, rir, sorrir, sofrer, amar, odiar, criar… e até mesmo a guerra pode ser entendida como poesia. Ouso, assim, inferir concretamente que não há ser humano sem poesia, nem poesia sem ser humano. A hipótese que aqui proponho, ou seja, não existe nada mais poético que o próprio ser humano, desde o ato de nascer ao ato de morrer amplia o caráter metodológico tradicional do sujeito que aqui me disponho discutir: a Poesia. Esta, penso eu, é imanente, isto é, é o próprio Criador e Criatura da natureza do existir em sua existencialidade. Assim sendo, minha assertiva é assegurar que não existe poesia para além do ser humano; assim como para aquém do ser humano. A Poesia somente se dá no existir em existencialidade do ser humano. É por isso que afirmo categoricamente que a Poesia É.
Por óbvio, desde sempre, assim imagino, a poesia é o próprio ato de existência… Sem o existir não se dá, obviamente, não ocorre poesia. É como se se afirmasse: “a existência de Deus só se dá para o ‘Sujeito’ nascido, ou seja, se não se nasce, obviamente, não existe Deus!”. Noutras palavras: se não nasce o ser humano, por certo, não existe poesia. Simples assim! Sei que este argumento carrega muito de viés intelectual mas, por isso mesmo até, ele se torna próprio para que este entendimento se torne minimamente claro e absoluto. Carregá-lo de entonações academicistas ou cientificistas simplesmente para agradar ao beletrismo é não propor um entendimento verdadeiramente popular e acessível a todas e todos.
Não é de hoje a crença e fé de que a correlação existente entre o ser humano e a poesia é uma temática recorrente ― seja na Filosofia, seja na Literatura, para dizer o mínimo ― e que, por isso mesmo é pesquisada e estudada em profundidade por vários segmentos intelectuais fenomenológicos. Para ficar apenas neste exemplo (por enquanto!) infiro que A Bíblia Sagrada é (aos meus olhos) o maior livro de poesia já escrito por seres humanos. Ora, se se tomar isto como verdade já aqui percebe-se que não há poesia sem o ser humano, nem ser humano sem poesia. E partindo deste meu raciocínio ouso dizer: “o ser humano em si é a personificação da poesia”.
"Poesia É", JB do Lago!
DA PERSPECTIVA LITERÁRIA
Considerando esse pressuposto acima mencionado tenho em conta duas análises que me são caras desde quando me entendo como poeta: 1) Análise Literária: quando imagino que o ser humano é a personificação da poesia, o que pretendo, de fato e de direito, é discutir a questão da natureza da poesia e sua relação com a Literatura em geral, isso porque a poesia como sujeito literário é caracterizado (aos meus olhos erroneamente) por seu uso cuidadoso em relação a versificação, linguagem, ritmo, métrica, imagem poética, metáfora, etc. Mas a pergunta que não me quer calar é: somente isso basta para entender a poesia?
Penso que não! Reduzir a poesia somente a esses aspectos “encaixados” por obra e graça de métodos objetivos, classista, classicista, gramaticista, esteticista, academicista ou cientificista, entre outros “ista” é desfavorecer o habitusii das subjetividades inerentes, e mesmo, imanentes no ser humano.
Insisto: é no ser humano, e somente no existir em toda sua existencialidade do ser humano, que de fato existe a poesia. Ora, quando pratico de forma radical essa insistência sugiro que todos os afetos que constituem a experiência do ser humano são imanentemente poéticos. Noutras palavras: cada momento, por mais simples que o seja, até os mais complexos, do ser humano, para mim, pode ser interpretado como uma expressão de poesia. E isto me sugere repensar, assim como, ampliar o conceito tradicional da poesia.
DA PERSPECTIVA FILOSÓFICA
Por outro lado, e como sou um eterno apaixonado estudante da filosofia, e confesso que esta está inserida em vários (se não todos!) dos meus poemas, tenho em perspectiva a 2) Análise Filosófica: deste ponto de vista sou conduzido a refletir profundamente sobre a natureza da existência humana e sua correlação com a arte e seu contexto de expressividade.
Muitos são os filósofos que ao longo da história que tematizaram a relação entre o ser humano e a arte questionando o propósito e o significado da existência do ser humano e da vida em si. Exemplo disso são os
poetas ligados à corrente do Existencialismo, mas não só. Vale destacar, aqui e agora, que os poetas existencialistas estão sempre a enfatizar temáticas como por exemplo a liberdade, a angústia, o absurdo, até mesmo a própria existência em si.
Tendo como pano de fundo esse contexto pode-se argumentar que a partir de então o que se pretende é criar e produzir forma e significado, assim como significantes, para uma visão de mundo muitas vezes caótica e desconcertante. Noutra perspectiva, ainda, a ideia de que o ser humano é a personificação da poesia, da maneira como a concebo, pode ser entendida a partir de uma existência em conexão com o campus literário fenomenológico, que enfatiza a importância da experiência subjetiva e da percepção individual.
Pois bem, a considerar-se as experiências subjetivas supõe-se não apenas ‘um mundo novo’, mas vários mundos novos a partir de nossos sentimentos e emoções, de nossas paixões tristes ou felizes, isto é, a partir dos afetos (Spinoza, B., Ética III) que nos atravessam ― sejam do exterior, sejam interiormente; a partir de encontros de corpos, de nossos corpos com outros corpos; a partir de nossas historicidades pessoais ou múltiplas; a partir de nossas pertenças familiares, religiosas, educacionais, sociais, políticas, econômicas, etc.
DA PERSPECTIVA EMPÍRICA
Antes de dar por esgotadas as perspectivas acima mencionadas e que ‘per se’ são racionalistas, fruto de buscas incessantes de saberes, por intermédio de estudos vários e pesquisas acientíficas, menciono o empirismo que sempre me impulsionou e conduziu para a descoberta de novos mundos. Não fora o empirismo que me impus, forçando uma aprendizagem a partir de minhas existencialidades particulares, múltiplas e personalíssimas, essa teoria filosófica que argumenta que todo o conhecimento humano deve ser adquirido de experiências sensoriais múltiplas e transversais, não me teria trazido até aqui. Há dois universos que, desde sempre, pretendi conhecê-los em sua totalidade (sei que isso é impossível!): o exterior e o interior. E é exatamente em ambos que promovo todo o empirismo que se me dá como possibilidade de explorar as existencialidades possíveis e prováveis.
Há um canto em A GAIA CIÊNCIA (§ 51), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que muito me agrada e que, imagino, serve para ilustrar a peroração que acima registrei: “Mas por que você escreve? ― A: Eu não sou daqueles que pensam tendo na mão a pena molhada; tampouco daqueles que diante do tinteiro aberto se abandonam a suas paixões, sentados na cadeira e olhando fixamente para o papel. Eu me irrito ou me envergonho do ato de escrever; escrever é para mim necessidade imperiosa ― falar disso, mesmo por imagens, é algo que me desgosta. B: Mas por que você escreve então? A: Cá entre nós, meu caro, eu não descobri ainda outra maneira de me livrar dos meus pensamentos. B: E por que você quer se livrar deles?
A: Porque eu quero? E eu quero? Eu preciso. ― B: Basta! Basta!”.
É exatamente assim que me vejo, que me percebo, que me sinto diante do meu “deus criador/criatura”. Nem mais, nem menos! NADA É MAIS POÉTICO QUE O SER HUMANO.
RECATO E DESLUMBRE
maio 23, 2024 por a pena do pavão, publicado em crônicas, jurídico Ano 12 – Vol. 05 – N. 29/2024
Há muitos anos, no interior do Brasil, um fazendeiro abastado, atendendo aos apelos da sua dedicada esposa, que deu voz a um contido desejo do único filho, tomou a decisão de mandá-lo estudar na capital. Afinal, já imaginou, um filho formado no Largo do São Francisco ou no Recife, era tudo o que o Brasil possuía de mais deslumbrante na formação dos bacharéis em direito.
Foi assim que, no velho trem, partiu o jovem herdeiro rumo à capital.
Do aconchego e simplicidade do interior para as novidades da cidade grande, assim seguiu o jovem, com a régia manutenção do seu pai, convencido de que tudo correria como imaginado.
Passados mais de cinco anos desse périplo eis que o fazendeiro recebe um telegrama do filho, em que estava escrito:
– Papai. Mande dinheiro.
Foi o fim do mundo! O fazendeiro ficou indignado com a missiva e logo chamou a mulher às favas, com o impulso de quem tem na paciência a menor das virtudes, o que foi revelado pelo tom da voz:
– Veja a audácia do seu filho! Dando-me uma ordem dessas, como se eu não merecesse o respeito devido a um pai e provedor: Papai mande dinheiro! Isso é lá coisa que se diga? Desde quando lhe faltou dinheiro?
Com o telegrama em mãos, a sabedoria no rosto e a ternura materna, eis que o fazendeiro recebeu como resposta: – Sente aqui. Veja bem. Nosso filho não está a lhe dar nenhuma ordem. Ao contrário.
E se pôs a ler a mensagem com a voz calma e carinhosa que só as mães são capazes de soar, quase como um sussurro.
– Papai, mande dinheiro!
Pois não é que a leitura fez com que o pai compreendesse que o imperativo deduzido foi traduzido como súplica pela mãe sem que houvesse nenhuma alteração do texto?
A imaginação que me permite construir esta narrativa é a mesma que uso em sala de aula quando trato de interpretação e hermenêutica das normas constitucionais.
Faço o alerta preliminar de que a maior, mais precisa e indispensável condição para uma boa interpretação das normas é a boa fé do intérprete. É nisso, precisamente, onde reside a revelação do compromisso com o assunto interpretado, porquanto, interpretar é por às claras enunciados que, muita vez, contêm, mas não contemplam claramente, o sentido final do texto. Esta, aliás, é uma característica das normas jurídicas que são gerais e impessoais, precisamente porque o homem venceu o tempo de arbítrio exatamente para que ele mesmo não se sobrepusesse à lei.
De modo diverso assistimos, quase que diariamente, ilustrados juristas deste país deslustrarem suas próprias obras, ao se exibirem, sem o mínimo pudor, que preserve correspondência entre o escrito e o praticado, em obediência sintomática dos que guardam pudor e recato, sem externar a vaidade mais do que acadêmica a cada arroubo de aventura por searas políticas.
Quando o Direito se deixa invadir pela política torna-se refém, instaura o medo, porque suprime o equilíbrio da segurança jurídica que toda sociedade civilizada espera e exige.
De volta ao interior, o agora bacharel ostenta seu pergaminho que adorna a sala, sendo alvo de contemplação e comemoração dos amigos do seu pai, também orgulhosos (e alguns invejosos) a escutarem repetidamente: – Meu filho é bacharel, conhece as leis, por isso é preciso que a ele sejam reservadas todas as atenções.
De certo que quem conta um conto acrescenta um ponto. Se assim é, o ponto que ponho é de que, quem interpreta o que o Direito diz, deve obediência e fidelidade à autenticidade, ou dele será o próprio algoz.
Deslumbre e recato não combinam quando aquele põe sobre homens, mortais como nós, a pretensão pachorra de achar que estão acima das leis.
Posto que este país não seja mais uma grande fazenda, mas possua um arsenal de bacharéis de fazer inveja no globo terrestre, talvez seja a hora de parar e pensar que o texto pode até admitir flexões e inflexões, mas, sobretudo, exige reflexão, mas, jamais, traições.
Nunca a prudência foi tão necessária para a sanidade do Direito. Ou as regras são obedecidas por todos – e sobretudo pelas autoridades – ou nós apenas deixamos o tempo passar, sem termos aprendido nada.
A RESPONSABILIDADE “WIFI”
maio 27, 2024 por a pena do pavão, publicado em crônicas, jurídico, opinião
Ano 12 – Vol. 05 – N. 30/2024
Quando se trata de querer inibir (para não falar censurar) a liberdade das pessoas há uma plêiade que se entrega, com servilidade, à tarefa. Mas calma. Toda prudência é necessária.
É visível, para quem não se deixa seduzir por impressões verborrágicas, que o que pretendem não é punir a mentira que, hoje, pela Noviligua, recebeu a denominação de Fakenews.
Eu pergunto ao leitor. Aquele velho rádio a válvulas do seu avô continua a funcionar? Ou ele foi substituído (o rádio) por um com circuito integrado? E aquele computador XT, que substituiu as máquinas de datilografia IBM com esferas e fitas? E o IBM 3120, que ocupava toda uma grande sala refrigerada, para fazer operações matemáticas que as calculadoras de bolso da Casio passaram a realizar?
Assim é o mundo no compasso do avanço tecnológico. Hoje é a inteligência artificial que está ditando essa marcha e não se tem a mínima ideia do risco que podemos correr, mas ela avança.
Agora pergunto. Por que avança a tecnologia ela não será usada indevidamente? E se houver uma lei proibindo esse avanço será exequível?
Ora, pois, como dizem os lusitanos. Não se trata simplesmente de regular excessos, mentiras ou destemperos que transformará a sociedade em equilibrada e pacífica. São os exemplos, estes sim, que conduzem os homens.
Antes, nas ondas oscilantes do rádio a válvula, as notícias chegavam nos moldes determinados pela emissora. Quem poderia desmentir? E o que havia sido plantado no imaginário? Os mesmos ouvintes eram alcançados pelas parcas retificações?
Seja pela televisão, ou pela via da internet, a prática é a mesma, dependendo de quem esteja nos bastidores da administração. Então, o que há de novo para que essa gente pretenda, a todo custo, querer regulamentar (ou regular) as redes sociais? Eu faço cá minhas ilações.
As redes sociais (a internet) dão presença a indivíduos que interagem reagindo a tudo do que discordem. É uma espécie de democracia instantânea, que vai além da democracia direta, aquela prevista pela Constituição, a cada quatro anos lembrada.
Mas há, também, o discurso da tal Fakenews. Bom, é inevitável que haja, porque hoje é apenas produto da Novilíngua.
Fakenews sempre houve e sempre haverá. A diferença é que, hoje, ideologicamente, ganhou novo significado, com tradução que nada tem a ver com a expressão original.
Nessa sanha de controle Fakenews passou a significar tudo aquilo de que discorde a autoridade, transformando-se numa “democracia relativa” o que é peculiar ao regime dos estados democráticos: o direito à crítica.
Claro que entre criticar e insultar há diferenças. Mas também é claro que regular e impor limites à liberdade de manifestação, contra texto expresso da Constituição, outra coisa não é senão autoritarismo e descompromisso com o juramento constitucional. Por isso, que sejam abertos os códigos, retirados o mofo e a poeira, aplicadas as leis vigentes, porque nelas há limites, sem nódoas.
Não é cortando o dedo que se fará curar a verruga. É no exemplo que reside os parâmetros civilizatórios, e a liberdade não é tese que se erija conforme subterfúgios – ela é avessa a calabouços, porque é direito natural do homem.
O Brasil, seguramente, é um dos países onde mais leis existem no mundo. Nesse particular o Brasil tem até o marco civil da internet – Lei n. 12.965/2014. Logo, não é na ausência de leis que está a insuficiência para alcançar a pacificação social. Todos sabem disso.
Essa gente só não quer é ser desmentida imediatamente. Sim, essa gente também mente e quer apenas ter a hegemonia do discurso, pretendendo não ser questionada, por isso mesmo se aparelhando: “Tem que prender essa gente!”. Lembram?
Não é a ausência de leis que está revelando ao mundo o maior escândalo de impunidade no Brasil. É o próprio aplicador das leis que está fazendo isso ao não as aplicar, com contornos vocabulares surreais, agora comparados ao Kama Sutra, sob o olhar de indiferença e omissão dos que representam democraticamente o povo.
Também não é a ausência de Constituição que tem feito submergir a segurança jurídica e a credibilidade institucional e política do país. Os intérpretes se encarregam disso.
Basta dizer que a semana que passou foi repleta de práticas que a história havia depositado nos quadrantes do século XVI. Apenados, com confissão e provas documentais e testemunhais, às escâncaras, foram declarados impunes, após anularem-se confissões. Vejam só! Condenados tiveram penas extintas, como se guardassem consigo algum trunfo que só alguns poucos conhecem. Mas há coisa pior.
Há os que, com processo ainda em curso, já tem na tornozeleira uma forma de restrição ao direito de ir e vir. Há os que estão presos sem denúncia há mais de cem dias.
Compreenderam por que desejam tanto censurar (foi inevitável falar) as redes sociais? Ainda não?
Não bastasse a extensão ultramarina de jurisdição que está escancarada sobre estrangeiros e nacionais residentes no exterior, nossa justiça virtual houve por bem criar a responsabilidade Wi-Fi.
Alguns, vendo-se injusta e ilegalmente condenados, resolveram fugir do Brasil. Por isso, sem mais razões e motivações, foi determinada, de ofício, a prisão de terceiro que ainda não possui condenação definitiva. É ou não um retrocesso penal?
Enquanto isso, na liga da justiça, nem Batman, nem Superman e sequer o Homem de Ferro, se insurgem para reclamar sobre o que está ocorrendo. Logo terão seus gibis censurados.
Na verdade, caro leitor, ninguém deseja combater Fakenews. O que eles temem mesmo é que saibamos da verdade. E a isto se dá o nome de censura, nada além.
INCLUIR PARA SOMAR: QUEBRANDO AS MURALHAS DO PRECONCEITO
“SOCIEDADE BRASILEIRA FOI CONSTRUÍDA COM VIOLÊNCIA E
ALBERTO PESSOA
ESCRAVIDÃO” (FERNANDO MOLICA)
(BACHAREL EM COMUNICAÇÃO SOCIAL E LICENCIADO EM GEOGRAFIA PELA UEMA)
“Nenhum país é desenvolvido sem que a sociedade se envolva com a educação”, diz especialista. Foi com bastante satisfação que acompanhei a discussão sobre Inclusão Social na Universidade Estadual do Maranhão, através da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de Caxias, atendendo a convite do Departamento de História e Geografia sob a direção do exímio Mestre, Manoel Barradas.
Na qualidade de ex-aluno do curso de Geografia do Centro de Estudos de Caxias achei pertinente opinar sobre essa importante atividade pedagógica.
A inclusão social é um conceito amplo, mas, vital para criar e manter ambientes diversos, harmoniosos e igualitários em nossa sociedade.
O Brasil ainda convive com questões culturais estruturais como: racismo, preconceito, discriminação, entre outros.
Porém, a evolução social, o avanço tecnológico e científico influenciam de certa forma, na maneira de pensar e agir das sociedades. Com o volume de informações, proporcionado principalmente com advento da rede mundial de computadores a população tem a oportunidade de conhecer outras sociedades e suas culturas e vislumbrar uma relação harmoniosa entre os povos nesta verdadeira aldeia global.
Com ela, é possível oferecer às pessoas de todos os grupos étnicos, culturais e socioeconômicos a abertura necessária para que participem plenamente na sociedade em que vivem sem barreiras ou preconceitos. Os esclarecimentos sobre as diferenças sociais contribuem para a conscientização das pessoas corroborando com isso, para a visão de uma consciência coerente que pode contribuir nos indicadores de violência contra homossexuais, mulheres, negros, indígenas... e diminuir os crimes de homofobia, discriminação e outras intolerâncias.
Assim, é possível oferecer às pessoas de todos os grupos étnicos, culturais e socioeconômicos a oportunidade para a participação plena na sociedade em que vivemos, sem muralhas ou preconceitos.
A inclusão social envolve todas as ações tomadas para integrar grupos marginalizados, como homossexuais, povos indígenas, negros e pessoas com deficiência, no meio social que foram marginalizados pelas ideologias racistas da e pelas consequências do período escravocrata. Historicamente esses grupos enfrentaram o processo de exclusão social na nossa sociedade.
A discussão sobre a conscientização e as ações inclusivas oportunizam igualdade para todos e o reconhecimento da responsabilidade da sociedade em promover igualdade independentemente de classe social, gênero, raça ou outra circunstância para concretização deste objetivos é preciso que continuem desenvolvendo políticas públicas e estratégias baseadas no princípio da inclusão social para melhorar a qualidade de vida das pessoas mais vulneráveis socialmente.
Muitas pessoas sofrem com a exclusão social, no Brasil, alguns grupos se destacam no processo de marginalização. A homossexualidade e a transexualidade sentem os impactos da exclusão social, bem como, as pessoas com deficiência ou qualquer tipo de limitação, seja física ou intelectual. Estes, enfrentam desafios na sociedade. Neste caso, o problema está relacionado às condições de mobilidade urbana oferecidas. Para especialistas, a inclusão social é uma questão fundamental na construção de uma sociedade sadia, “pois trabalha o estabelecimento de regras que promovem a igualdade entre todos os grupos, garantindo seus direitos à educação, saúde, trabalho e outros recursos necessários para suprir suas necessidades”. É preciso erradicar as barreiras sociais criadas pelo racismo, desigualdades de gênero, hiatos de classe e deficiência física e mental. Tem-se de combater a segregação social e promover um ambiente mais harmonioso por meio da democratização dos espaços e serviços.
Sob forte preconceito social e repreensão do sistema legal em muitos países, o grupo LGBTQIA+ como um todo é um dos que seguem na luta por seus direitos. É HORA DE MUDAR!
NO DIA DA CRIANÇA
Há muitas alegorias para esclarecer a missão dos pais e a dos professores. Encanta-me particularmente um conto de Eduardo Galeano. Exaro aqui o resumo:
Uma criança de um povoado sito no interior manifestou ao pai o desejo de conhecer o mar. Este ficava longe e requeria uma viagem de vários dias para lá chegar. O pai acedeu e a mãe preparou um farnel. Munidos de uma tenda para passar as noites, fizeram-se ao caminho. Atravessaram montanhas e vales, até que atingiram o alto de uma colina; na frente deles abria-se a imensidão do oceano. O menino ficou estupefacto e com os olhos deslumbrados; voltou-se para o progenitor e implorou: Pai, ensina-me a ver e perceber o mistério do mar e o do céu que nele se reflete, a imaginar a outra margem e as pessoas que lá moram!
As crianças são o pintor que põe na tela da nossa vida os retoques do encanto e magia, da doçura e ternura. Sempre que uma, em qualquer parte do mundo, sofre e chora de fome, sede e frio, de abandono e medo, de crueldade e terror, de falta de desvelo, amor e amparo, a Humanidade fica sem poiso e teto, sem a bênção e luz de Deus, mergulhada nas trevas da barbárie e do desespero.
Corria o ano de 1965. Estávamos no 5º ano da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Maranhão. Nossa turma era pequena. Éramos apenas vinte e um alunos. Um deles era Rodrigo de Sousa Pinto, o Rodrigão, que sempre se apresentava como “Rodrigorum vostrorum amigorum”. Gente muito fina, boa praça, bom papo, sempre alegre e bonachão.
Não tinha a virtude dos bons alunos, mas não era relaxado. Estudávamos em grupo e Rodrigão sempre estudava bastante. Com algumas dificuldades, ia passando de ano. Era expert em provas de segunda época. Tirava de letra.
Nas provas finais daquele ano, algo inusitado ocorreu com Rodrigão, na de Obstetrícia.
A prova era prático-oral. Local: Maternidade Benedito Leite. Na vez de Rodrigão...
- Seu Rodrigo, perguntou-lhe o professor, de quanto você está precisando para nos deixar em paz?
- Que é isso, mestre, eu gosto muito de suas aulas. Mas como o senhor está perguntando 6 (seis) já me é suficiente.
- E você estudou bastante?
- Como soe acontecer, meu mestre, não desgrudei a vista do “Resende” (livro de Obstetrícia) à noite toda. Tô com tudo, na ponta da língua.
- Então, vamos lá.
- Pra onde, mestre?
- Pra parte alguma. O sr. quer brincar comigo, seu Rodrigo?
- De que, mestre?
- Seu Rodrigo, não me tire do sério, seu Rodrigo.
- Mas de jeito algum, meu caro professor. É o nervosismo.
- Ah! Bem. Vamos ver se estudou mesmo como diz. Diga-me o que é aborto.
- Ah! Professor, nem me fale. É algo horrível, penoso. Eu mesmo nunca vi um, mas imagino a dor que a mulher deve sentir. E a criancinha, o senhor já imaginou?
Nelson Parada, Israel e Weber não paravam de rir.
- Seu Rodrigo, não me faça perder a paciência com o senhor.
- Que é isso, professor, se o senhor acha que não dói, eu retiro tudo que eu disse. Vamos esquecer essas particularidades.
O professor levou, então, Rodrigão para o leito de uma senhora que estava em trabalho de parto.
- Diga-me, quantos meses faz que esta mulher ficou grávida.
- Professor, eu não gosto de me meter na vida particular de ninguém. Isso é segredo dela com o marido. Mas se o senhor faz mesmo questão de saber, pergunte pra ela. Não me meta nisso, professor.
- Ah! Seu Rodrigo, o senhor é um caso perdido. Vamos à última pergunta. Vou fazê-la de outra maneira. É dez ou zero.
- Quanto tempo tem a gestante?
- Qual delas, mestre? A mulher estava morta de rir.
- Essa senhora aí na sua frente.
- Bem, vejamos. Rodrigão olhou por uns tempos para a mulher, ficou pensando alguns segundos e disparou....
- Meu caro professor, após examiná-la, minuciosamente, cheguei à conclusão de que ela deve está beirando a casa dos 40 anos. Acertei?
- É zero, seu Rodrigo.
- Mas, professor, onde foi que errei?
- Seu Rodrigo, eu lhe perguntei qual o tempo de gestação desta senhora.
- Ah! Professor, se o senhor tivesse me perguntado o tempo de evolução fetal, eu lhe diria que ela estava na 36ª semana, completando, portanto, os 9 meses, por isso estava entrando em trabalho de parto.
- Pois taí, seu Rodrigo, você é um gênio. Sua nota é 7.
- Só, professor, mas já dá pra passar. Bem que o senhor reconheceu meus dotes.
A risada foi geral. Rodrigão, após as outras provas, foi concluir o sexto ano que correspondia ao estágio, no Rio de Janeiro. Nunca mais o vi, mas também nunca mais esqueci da prova de Obstetrícia de “Rodrigorum vostrorum amigorum”, o Rodrigão.
ELOY MELONIO
LIKE NÓS LIKE
Não sei direito por onde começar esta conversa.
OK. Já sei! Vamos "apreciar as palavras" que passeiam por uma avenida de duas vias largas, indo e vindo.
Sim, eu e você num chat em bilinguês. E fique logo sabendo que "bilinguismo" é quando “um grupo social usa, natural e alternadamente, duas línguas: a nativa e uma estrangeira". Assim como acontece nas redes sociais e nos aplicativos de conversa.
E de tanta conversa, Debby e Saulo se conheceram recentemente e já estão saindo com frequência. Ninguém duvida que já deu match nesse namoro. Dizem até que já pensam em se casar. Se o enlace acontecer mesmo, terão de convidar seus friends, não é mesmo? E a nós caberá “save the date” e desejar que sejam felizes em sua home, sweet home.
"Não dá spoiler, vô!" gritou meu neto quando tentei antecipar “the end” de um filme a que planejávamos assistir juntos. E aí, o jeito foi calar-me para não "spoilar" nosso programa cultural. Infelizmente, nessa mesma via passeia um tipo de gente que exala ódio, fazendo críticas sem critério algum. Senti isso na pele quando postei, num grupo de literatos no WhatsApp, uma foto seguida de um texto curto. Imediatamente, haters de plantão soltaram o verbo. E o verbo se fez grito. Tudo porque tinha um "político" no meio da foto. Minha intenção era simplesmente destacar um novo embaixador em Brasília (DF) que falava português com invejável fluência. Parecia-me um assunto interessante. Silenciei e não lhes dei o prazer de um feedback. “Sorry, guys”, pensei comigo e saí do grupo.
Foi na campanha presidencial de 2022 que “fake news” consolidou seu papel de vilã. Acusações voavam de uma via para outra da nossa avenida. Hoje existe até um site para definir se uma notícia é fact ou fake. Na via dos negócios, empreendedores compartilham um mesmo espaço para executar tarefas específicas, num sistema chamado “coworking”. E também circulam por aí para fazer network e se tornarem mais conhecidos. E se “business is business”, não se pode esquecer de shopping, black Friday, Drive Thru, sale, free, cashback, entre outras.
Na via das antigas, passeiam gay, flashback, fashion, look, hit, coffee break. Algumas, como freeway, a toda velocidade; e, com o som nas alturas, highway, em sintonia com os Engenheiros do Havaí. Sem esquecer cash, ticket, VIP. A galera de mais idade ainda se lembra do “VIP Motel” (1960/70), o mais sofisticado “in town”, com ar-condicionado, espelho no teto e round bed luxo e prazer numa só via!
Entre as novinhas, destaco bet, live, playlist, fitness, bullying, link. E aproveito para revelar que on e off (liga/desliga) agora desfilam com nova roupagem. Uma filha orgulhosa pode elogiar sua mãe numa foto da academia: “A mãe tá mais on do que eu”. Ou falar do pai e seu novo emprego: “Ele tá muito off, focado apenas no trabalho”. Em tempo: uma pessoa, contando por que tinha sido bloqueada por uma influencer, revela: “Isso tem uns doze anos. Foi antes de inventarem o termo “haters”.
E as transmissões radiofônicas dos jogos de futebol das décadas de 1960/70?! Em campo: goalkeeper, back, corner, offside. Na música também convivemos com o Long Play (LP), Compact Disc (CD), hit parade. Antes dos notebooks, os cursos de inglês reuniam os alunos em “sing-along sessions” para cantar os hits do momento e relembrar pop songs, como "Yesterday", dos Beatles.
Nessa avenida virtual, quase me esqueço de uma palavrinha inquieta: rush (pressa). Porque parece que toda hora é "rush hour" neste trânsito louco dos nossos dias. E de outra muito especial pet friendly , atribuída aos espaços públicos que abriram suas portas aos dogs, cats e outros pets fofinhos.
Um amigo elaborou uma lista de palavras comuns em "portenglish". Que tal, então, tentar traduzir algumas delas? Gospel, bullying, diet, freezer, fast food, deadline. Não se espante se você cruzar com um tal de "Zé" fazendo delivery no seu bairro ou condomínio.
Quem não se lembra do grande sucesso dos Zecas mais queridos deste país? Nessa “vibe bilíngue", "Samba do approach" deu um tom especial às cenas de "A cor do pecado" (GLOBO/2015). Diz aí, Baleiro; canta aí, Pagodinho: "Venha provar meu brunch/ Saiba que eu tenho approach/ Na hora do lunch/ Eu ando de ferryboat".
Uma leva de cantores trafegou pela via "vermelha-azul-branca" no início da década de 1970. Era comum ter pseudônimos “in English”. Um deles, Mark Davis, encantava os apaixonados com "Don't let me cry". Outros, como Terry Winter (Summer Holiday), Morris Albert (Feelings), a banda Light Reflections (Tell me Once Again) também sacudiam o "hit parade" da época. Poucos anos depois, esses singers reassumiram seus nomes verdadeiros. Não sei se Fábio Júnior se lembra que um dia ele já foi Mark Davis.
Perto da “finish line”, que tal um pouco de humor?
Conta uma “old joke” que um casal brasileiro em Nova York, recusando a oferta de um "street vendor", solta seu bilinguês: “Like nós like, mas money que é good nós não have”.
E, enfim, peço-lhe que deixe o seu “like” se você gostou desta nossa conversa.
(*) Eloy Melonio é professor, escritor, letrista e poeta
VENUSIA NEIVA: PRESENTE
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Academia Ludovicense de Letras
Nasceu Venúsia Cardoso Neiva em Grajaú, Maranhão, no dia 5 de dezembro de 1938, e estudou em São Luís, Colégio Gomes deSouza eColégioSantaTereza. FilhadojornalistaEuclides Neiva, cedo estavasededicando à profissão, ao lado da atividade propriamente cultural ao dirigir suplementos literários.
Suas poesias foram publicadas em jornais na década de 1960/70 – a grande maioria – sempre ao lado de José Chagas, Nauro Machado, Zuzu Nahuz, José Maria do Nascimento, e outros grandes poetas que surgiam na época. Mas não havia nada sobre ela!!!
Quando estava procurando maiores dados – foto e/ou gravura – de Maria Firmina dos Reis, em jornais publicados no Maranhão, consultei o acervo digital da Biblioteca Pública Benedito Leite - BPBL - Acervo Digital (cultura.ma.gov.br) – encontrando cerca de 588 jornais, desde o início da imprensa impressa no Maranhão, até meados dos anos 1980. Ao desvendar esse acervo, constata-se que quase 1/3 dos jornais não estão disponíveis. Mesmo assim, é um enorme material para pesquisa.
Dentre os ‘poetas esquecidos’, deparei-me com Venúsia Neiva, cujos dados biográficos resumia-se ao local e ano de nascimento. Nem mesmo jornalistas que trabalharam à época com ela, se lembram algo dela... Enfim, encontrei em Assis Brasil - em “A poesia maranhense no século XX”, Sioge/Imago 1994 às páginas 237-239 -, alguns dados sobre ela: VENÚSIA NEIVA (1938 - ) Inspiração panteísta, ela casa a chama de sua natureza ardente com um sensualismo em que se percebem influências místicas de uma Soror Tereza de Jesus. Nauro Machado
O crítico e historiador literário aponta as três gerações que começaram o Modernismo no Maranhão, a partir da Geração de 45/50, rompedora das fronteiras passadistas, com Tribuzi-Gullar-Nauro Machado. Embora tendo havido, em 1940, um movimento que se chamava Renovação, com página literária no Diário da Noite, “o que na verdade todos desejavam era a ressurreição pura e simples da Atenas Brasileira”.
Venusia Neiva se situaria, histórica e esteticamente, entre essa geração e a geração Hora do Guarnicê, com Rossini Correa e Viriato Gaspar, entre outros, já na década de 70, e que representavam, à época, “a poesia dos novos”.São14poetas,poucosaindapublicandolivro,comoéocasodeLuis AugustoCassaseRossiniCorrea; outros pararam ou desapareceram na vala comum do tempo.
Os pares literários de Venusia Neiva seriam José Maria do Nascimento, Déo Silva, Fernando Braga, Carlos Cunha e mais alguns. Ela tem uma poesia de fato acentuadamente lírica, neo-romantica. Gonçalves Dias situaria muito bem o aspecto do lírico, u misto de pensamento e sentimento, idéia e paixão, vida e natureza. O lado técnico, estrutural, da Poesia seria apenas um detalhe de ordem cerebrina.
Seguem-se os poemas: Flor azul / Era uma flor desmaiada/E, ao vento, tinha gestos de pássaro/Que foge ao frio./Era azul e nasceu nos primeiros véus da noite./Ninguém a viu./Ninguém sentiu o seu estranho perfume./Só eu que amo as coisas misteriosas e fugaces./E ela se evaporou nas brumas do meu sonho./Ó Poesia!/Ó Musa!/Ó Inatingivel!
O cemitério/Cruzes. /guirlandas/flores/ciprestes/tudo se confunde num funéreo lamento de loucura/podridão de estátuas que já foram vivas/que sorriam/que choravam/que gritavam ao mundo a inutilidade das coisas mortas/eusintooventoagemernasolidãoenotempo/euvejoosanjosdemármoreincendiarem-senoluar/que povoa a cidade deserta/madrugadas gélidas/dentro de noites gélidas/corujas piando sobre cruzes eretas/coroas de rosas desbotadas/vôos agoureiros de morcegos negros/tudo pede luz, tudo pede vida!/Alvas sombras entrechocam-se ao ritmo macabro/Das convulsões do pavor/A morte mora ali/Ela vigia seus súditos acorrentados sob lápides marmóreas/Nunca mais os deixará sair/Para sempre escravizados/Até a eternidade, até ao fim dos tempos!/Até que a ressurreição se processe em suas cinzas esquecidas.//(Canção sobre o espelho, 1992)
Note que, em 1994, não havia informações sobre seu falecimento...
Ela é conhecida por sua obra “Canção sobre o Espelho”, que reflete uma vocação genuína para as letras Sua poesia é marcada por uma intensa angústia e uma contemplação profunda da vida e da morte. Acredita-se que ela dedicara sua vida à poesia. Escreveu vários poemas, alguns dos quais são:
Lembrança 2: Este poema expressa uma angústia intensa e um desejo incontrolável de subir muito alto e absorver novas paisagens.
Meditação: Este poema reflete uma meditação profunda sobre a morte e a fragilidade da vida.
Elegia 2: Este poema descreve a solidão imensa e amarga, a tristeza dos mortos que não retornam e a criança que dorme como uma semente na terra
Flor Azul: Este poema descreve uma flor desmaiada que tinha gesto de pássaro que foge ao frio.
O Cemitério: Este poema descreve a confusão de cruzes, guirlandas, flores e ciprestes em um cemitério, e a podridão de estátuas que já foram vivas.
Por exemplo, em seu poema “Lembrança 2”, ela expressa uma angústia intensa e um desejo incontrolável de subir muito alto e absorver novas paisagens. Em “Meditação”, ela reflete sobre a morte e a fragilidade da vida Esses exemplos mostram que seu estilo literário é caracterizado por uma profunda introspecção e uma exploração emocional intensa.
Por favor, note que a interpretação do estilo literário pode variar dependendo do leitor e do contexto. É sempre uma boa ideia ler as obras do autor para formar sua própria interpretação.
Você pode encontrar mais informações sobre Venúsia Neiva em várias fontes online. Aqui estão algumas sugestões: Poesiados Brasis: Estesitepossui umapáginadedicadaa Venúsia Neiva,ondevocêpode encontrar informações sobre sua vida e obra1. Issuu: Este site publicou uma edição especial sobre Venúsia Neiva, que inclui detalhes sobre sua vida e exemplos de sua poesia - VENÚSIA NEIVA - Issuu
Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes: Este site possui uma seção dedicada à poesia de Venúsia Neiva. Pertencente a uma geração que renovou a literatura ludovicense/maranhense, recebeu de alguns desses importantes cronistas/poetas algumas homenagens: José Maria do Nascimento (Reencontro Noturno, 1967);(Desterro e Chuva, 1967); Maria Amalia Cardoso Alves (Alusão, 1974), Amaral Raposo, Manoel Martins, dentre outros...
Um outro poema dedicado à nossa biografada:
VENÚSIA NEIVA
Antonio Miranda também traz alguma coisa, sobre sua biografia: VENÚSIA NEIVA - POESIA DOS BRASIS –MARANHAO - www.antoniomiranda.com.br
Venúsia Cardoso Neiva nasceu em Grajaú, Maranhão, em 1938.
De CANÇÃO SOBR O ESPELHO Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1962
Canção sobre o Espelho, que minha jovem conterrânea me fez ler nos seus originais, reflete uma vocação genuína, que eu tenho a alegria de saudar no seu instante matinal. Venúsia Neiva nasceu para as letras e há de resguardar esse pendor, estou certo, numa vida consagrada à poesia. Josué Montello
e, súbito, esta angústia de pássaro perdido, este incontrolável desejo de subir muito alto, de absorver novas paisagens. olho em torno e contemplo a grave sombra das montanhas. tudo é belo nesta branca manhã de primavera. este contraste me sombreia a alma. temo que as esperanças não sobrevivam ao naufrágio, no branco cemitério de desejos mortos. por que esta angústia me oprime se é tempo de flores e de vozes macias? quando a tarde chegar, sinto que terei sufocado a frágil recordação da alma que não encontrei.
meditação
tarde úmida como uma lágrima. do fundo de minha angústia medito na morte. não basta, meu amor, que tenhas lábios frescos como a água, que tuas mãos sejam mornas e boas. ó, amor meu, medito na morte, na nossa imensa fragilidade diante de tudo, na vida que é um sopro, que é todo uma sucessão de coisas inúteis.
elegia 2
a densa neblina é fria e fala dos mortos. não há pássaros, mas apenas um vento gelado. a solidão é imensa e amarga. meus olhos se alargam e se enterram, tragicamente, no silêncio da coisas. tristeza de mortos que não retornam e de mão boiando eretas como garras. a criança está dormindo como uma semente na terra.
a que era fresca como as flores da manhã, dorme placidamente e não acordará nunca mais! ave que repousa no definitivo crepúsculo.
Flor azul
era uma flor desmaiada e, ao vento, tinha gesto de pássaro que foge ao frio. era azul e nasceu nos primeiros véus da noite. ninguém a viu. ninguém sentiu o seu estranho perfume. só eu que amo as coisas misteriosas e fugaces. e ela se evaporou nas brumas do meu sonho. ó poesia! ó musa! ó inatingível!
o cemitério cruzes. guirlandas. flores. ciprestes.
tudo se confunde num funéreo lamento de loucura. podridão de estátuas que já foram vivas, que sorriam, que choravam, que gritavam ao mundo a inutilidade das coisas mortas. eu sinto o vento a gemer na solidão e no tempo. eu vejo os anjos de mármore incendiarem-se no luar que povoa a cidade deserta. madrugadas gélidas. dentro de noites gélidas. corujas piando sobre cruzes eretas. coroas de rosas desbotadas. vôos agoureiros de morcegos negros. tudo pede luz. tudo pede vida! alvas sombras entrechocam-se ao ritmo macabro das convulsões do pavor. a morte mora ali. ela vigia seus súditos acorrentados sob lápides marmóreas. nunca mais os deixará sair. para sempre escravizados. até à eternidade, até ao fim dos tempos! até que a ressurreição se processe em suas cinzas esquecidas.
(Canção sobre o Espelho,1962)
Tempos de zona
A gilete se aprofunda sobre um amontoado de sífilis as coxas um mapa de tantas cicatrizes. Em cada mesa uma constante mudança nunca ou quase nunca renovada que é infeliz a nostálgica canção brotando do disco como brota um fruto.
A toalha que envolve o corpo é a miragem de tantas taras é a fumaça perdida no trago é a faca jogada no bueiro é o anel cravado nos dentes é o ouro entranhado no ventre é o líquido da virgindade vendida.
Por dentro de uma garrafa toda uma vida aqui se torna calma. No espaço do gole para o soluço inauguramos os encontros passados com os amigos mais tristes bailando nesta rua 28 vinte e oito vezes apaixonados. (Constelação Marinha, 1993)
A casa de palha
A coberta da casa tinha o verde das palhas. A colheita da lenha ao rebentar da madrugada.
o macio lençol de linho ao calor dos raios solares. A festa de um novo teto em um Domingo de Páscoa.
Latas de leite Ninho vazias: raros tanques de guerra, fertilizavam as alegrias dos meus Natais passados.
Nenhuma só moeda queimava as minhas pequeninas mãos. Até o presente era uma irmandade com o futuro sempre fertilizado.
A chama do tempo de leve tudo foi consumindo tudo. Levou os meus carneiros e as verduras do quintal.
o ara da noite se misturou com cinzas: é sufocante! Ó misteriosa e amada natureza, como monótona ficou a existência!
A vergonha
Estou me procurando a cada sombra deste contraditório desencanto. Estas mornas lágrimas cintilam um afeto ruidosamente indeciso.
Já não sei se hoje estou despido ou se neste vale encontrarei o Manto com que haverei nas tardes de cobrir a nudez da minha vergonha no Paraíso.
(Ressonância do Barro, 1993)
Quando estudante secundarista, dedicou-se ao teatro, conforme nota:
Os primeiros poemas que encontramos foram publicados no jornal CORREIO DO NORDESTE, a partir de janeiro de 1963:
OPORTUNIDADE PARA TODAS AS ESCOLAS E SEUS ALUNOS
TALENTOSOS DO MARANHÃO!
Ascriançasejovensescritoresdonossoestadodesempenhamumpapelcrucialnaconstruçãodeuma sociedade mais consciente e criativa. E agora, alunos terão a chance de ser membro da Academia MaranhensedeLetrasInfantojuvenil-AMLIJ!
Oedital2024parainscriçãodenovosmembrosestávigente!Sevocêéapaixonadoporliteratura,tem histórias incríveis para compartilhar e deseja fazer parte desse movimento literário que está transformandovidas,essaéasuaoportunidade!
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AAcademiaBarreirinhensedeLetras,ArteseCiências(Ablac)lançaránestesábado(15),às19horas,olivro “Escondido️por️trás️do️mar”,️escrito️pelo️saudoso️jornalista️Gil️Maranhão️(1958️- 2023). O lançamento acontecerá na Praça de Alimentação do Mercado Público de Barreirinhas, localizado na Rua Antônio Rodrigues,nobairroMurici.
OjornalistaGilbertodeSousaFerreira,maisconhecidocomoGilMaranhão,morreunamanhãdodia10de fevereiro de 2023, em Brasília, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC). Ele tinha 64 anos, estava radicadohámaisde20anosnaCapitalFederaleeraocorrespondentedoJornalPequenoemBrasília.
Nascido em São Luís, Gilberto Ferreira formou-se em Comunicação Social na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Trabalhou em vários jornais e periódicos de São Luís e marcou época na equipe do extintoJornaldeHoje,atuandonasmaisvariadaseditoriasenotabilizou-senosetordeTurismo.
FoitambémassessordeimprensadaFetaema,assessordaPrefeituradeBarreirinhas,naadministraçãodo então prefeito Léo Costa. Na época em que faleceu, era correspondente do Jornal Pequeno no Congresso Nacional,emBrasília,masgostavamesmoeradeestaremRioPreto.
junho 15, 2024 por a pena do pavão, publicado em crônicas
Hoje é um dia esquisito.
Amanheci o dia tendo a notícia de que Zizou, um cachorrinho muito fofinho, faleceu. Era um dos meus netos de quatro patas.
Eu confesso: não contive as lágrimas.
Não digo isso pela inundação de estereótipos gerados por uma sociedade doentia, onde assisto mães, com seus cachorros no colo, e babás com os filhos delas nos braços, nos shoppings. Mas porque a emoção me impôs esta indagação.
Tive um amigo que costumava dizer – quando sofria algum desapreço:
– Seu Zé, quanto mais convivo com o ser humano, mais eu gosto dos animais.
Realmente. Há homens que assim podem ser considerados só porque são bípedes, porquanto ética e alma se encontram já no inferno. Mas desses não falo aqui.
Claro que São Francisco deve viver cercado de animais. Nesse caso, existe, sim, um lugar especial para seres especiais como Zizou. E isso conforta.
Mas o que importa é que houve momentos felizes. Alguns de broncas, claro, outros de carinhos, outros de traquinagens, como ocorre na casa de cada um que cria e cuida desses animais.
Suponho que a perda de Zizou reforce em mim um sentimento que não escondo de ninguém: ser emotivo por natureza porque, sim, ao contrário do que o passado ensinava, homem chora.
A sensação de vazio é bem maior no seu “pai”, meu filho, que com ele conviveu muitos anos, já sinalizando uma certa tristeza ao ver seu companheirinho sofrer.
Mas que bom que há memórias. Há memórias em fotos e há memórias em tatuagem, como quem perpetuou no próprio corpo a figura de quem lhe foi sempre fiel como companheiro.
Em mim ficou um certo vazio que eu não sei explicar além do que pergunto.
Afinal, existe céu para cachorros?
Não sei responder. Apenas posso imaginar que sim porque, na criação, Deus fez os homens, as árvores e os animais, todos, com funções certas.
Hoje, entretanto, a única certeza que tenho é de supor que há razões para imaginar que a generosidade divina é tão grande que, muito provavelmente, no mesmo céu que creio, há, sim, lugar para Zizou. Mais do que um belo cachorrinho, um companheiro.
ABAIXOOCORTIÇO
*Por Osmar Gomes dos Santos
Símbolo da população marginalizada, que deu vida a uma das mais emblemáticas obras do Realismo no Brasil, os cortiços resistem de pé. Graças à ineficiência das políticas públicas, grande parcela da população brasileira ainda vive em habitações irregulares, grande parte delas em completa precariedade.
O direito a moradia digna, inclusive, está expresso na Carta de 1988. Documento orientador das ações públicas, mas que ainda há muito a ser concretizado para garantir os direitos básicos. Na teoria tudo perfeito, um conjunto de dispositivos que trouxe esperança para a concretização do projeto de país do futuro. Na prática, no entanto, a dignidade da pessoa humana, insculpida na Constituição Federal em vigor, ainda não chegou para todos. Palafitas, casebres, barracos e casas de taipa continuam a fazer parte da realidade de uma nação que não venceu obstáculos básicos para assegurar o mínimo razoável ao seu povo.
As incipientes ações para garantir moradia digna a todas as pessoas está estreitamente ligada a uma série de outros problemas, que revelam o enorme desafio de se alcançar a plenitude dos direitos sociais no país. Enquanto as políticas não avançam, o abismo fica ainda mais profundo.
As mais diferentes pesquisas produzidas retratam uma realidade, no mínimo, preocupante. Se buscarmos apoio no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos últimos anos, os dados falam por si. Em 2019, somente o déficit habitacional era de quase 6 milhões de moradias.
Interessante verificar que o dado exposto faz referência ao período pré-pandemia, quando muitas pessoas foram despejadas por impossibilidades de pagar seus aluguéis. O outro lado dessa triste realidade se constata na crescente população em situação de rua, que só aumenta, chegando a quase metade dos municípios brasileiros e se agravando nas capitais.
Mas voltemos a focar no tema habitação, sob uma perspectiva da sua precariedade. Esta se manifesta de duas maneiras, pelo menos. A primeira está ligada à falta da titularidade do terreno e do imóvel por quem habita, ou seja, sem o devido registro em cartório. Por outro lado, a segunda trata das condições sociais que cercam pessoas nas áreas mais carentes de infraestrutura pública.
Em regra, mas não necessariamente, as duas situações andam juntas, com a segunda sendo agravada pela primeira. São milhões de ocupações, a maioria com décadas e outras já centenárias, que viram perpassar gerações, mas nunca tiveram o “carimbo” do ofício de imóveis para que garantisse a segurança da titularidade de seus donos.
Retrato de um país que não priorizou a dignidade de sua gente, deixando-lhe faltar a segurança jurídica de um bem essencial para a constituição e fortalecimento dos laços familiares. Sem o documento, a habitação segue irregular, negando ao seu morador uma série de direitos, a exemplo do financiamento imobiliário. São mais de 11% da população nessa condição.
Noutra via, a precariedade de condições físicas, no que diz respeito à estrutura do imóvel é outro fator que leva milhões de brasileiros a, literalmente, meterem os pés na lama ou na poeira diariamente.
Na incipiência de uma política adequada voltada para a moradia, cidadãos são lançados à própria sorte, construindo em áreas que, pelas normas, não poderiam ser destinadas à construção de casas. Áreas baixas, que sofrem alagamentos; ou aquelas de encostas, que periodicamente assistem a deslizamentos. A esse cenário somam-se barracos sob pontes ou as palafitas à beira-mar.
Serviços necessários ao pleno desenvolvimento humano não chegam àqueles que se encontram nos bolsões e cinturões de pobreza, lugares onde as condições são muito precárias. Espaços onde não há, ou há de forma muito irregular, a água, o esgoto, a coleta de lixo, o calçamento de ruas e toda infraestrutura urbanística.
Espaços com baixo alcance do poder público, fazendo com que a total falta de infraestrutura urbanística torne o cotidiano dos moradores ainda mais difícil. Os desafios diários são muitos a serem superados: conseguir emprego; conseguir vaga em creche e escola; educar os filhos; ter acesso a lazer; praticar atividade física; acessar serviços de saúde.
Sobre a precariedade das moradias, além da ausência de infraestrutura, constituem-se em abrigos feitos com restos de madeira, lonas e papelão, unidades sem banheiro, sem documentação ou nas quais mais de 3 pessoas dividem o mesmo cômodo como espaço para dormir.
De puxadinhos em puxadinhos as habitações irregulares vão se amontoando e o problema agravado. Milhões de cidadãos seguem vivendo em total insegurança habitacional. Somente as favelas concentram 16 milhões de pessoas, enquanto outras quase 240 mil estão nas ruas das cidades. Hoje, os cortiços não deveriam passar de uma leitura em páginas amareladas de uma realidade distante. Contrariamente, ganha cores em um cenário desanimador, certamente “inimaginado” por Aluísio de Azevedo. Basta! Passou da hora de mudar essa realidade.
*Juiz de Direito da Comarca da Ilha de São Luís. Membro das Academias Ludovicense de Letras; Maranhense de Letras Jurídicas e Matinhense de Ciências, Artes e Letras.
COLUNA DO OSMAR MONTE
A CULTURA E O FOLCLORE DO POVO MARANHENSE
A capital do Maranhão, São Luís, é a Atenas Brasileira. Título conferido há muitos anos, em comparação a antiga Atenas capital da Grécia; e em referência aos poetas, escritores, artistas, filósofos, pensadores e amantes da civilização cultural.
O povo maranhense guarda a tradição, os costumes e uma viva fé. O folclore é parte da vida dos maranhenses; a cultura, e, especialmente, a literatura, é uma força que rege o espírito do Homo Sapiens (homem sábio).
O instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (a Casa de Antônio Lopes) é uma entidade que existe há 99 anos (fundado em 20/11/1925) e congrega membros com as mais diversas fontes de sabedoria: artistas, professores, cientistas, pesquisadores, poetas e escritores. É uma fonte de cultura para o Estado do Maranhão e para o Brasil.
A Academia de Letras do Maranhão é um destaque; existe há 115 anos (fundada em 10/08/1908) e congregou vários poetas e escritores durante esses anos de existência.
A cultura maranhense foi enriquecida pela influência de portugueses, franceses, holandeses, espanhóis, árabes, índios, negros e de outros... O Centro Histórico de São Luís exala cheiro de cultura e sabedoria. Os festejos e danças típicas do Maranhão: São João com dança da Quadrilha; Folia de Reis; Festa do Divino; Carnaval; Bumba-Meu-Boi; Tambor de Crioula (ou Tambor de Mina); Dança da Punga, ...
As lendas maranhenses representam personagens fantasmagóricos que alegram, causam medo, criam expectativa e dúvidas: A Carruagem de Ana Jansen; Dom Sebastião; A Manguba; A Mãe D’Água; O Pingongó; O Monstro do Rio Corda, ...
A história, a geografia, a filosofia, a língua portuguesa, a poesia e a prosa, são alvos mirados. A literatura é uma alavanca para o conhecimento e representa um ícone para o Saber. São muitos os importantes poetas e escritores maranhenses: Gonçalves Dias; Maria Firmina dos Reis; Aluísio Azevedo; Artur Azevedo; Maranhão Sobrinho; Wolney Milhomem; Nonato Silva; Olímpio Cruz,...
*Osmar Monte é membro titular da Academia Barra-cordense de Letras
Plenário da Assembleia Legislativa do Maranhão, Deputado Nagib Hickel. Homenagem a José Sarney
A VIDA DOS OUTROS
junho 20, 2024 por a pena do pavão, publicado em crônicas, jurídico, opinião, política
Ano 12 – Vol. 06 – N. 34/2024
A cada dia que passa neste país as liberdades são subtraídas do cidadão.
Antes, de forma tímida, assistíamos os passos dados em direção a um estado autoritário, sem que houvesse a pronta e necessária reação das autoridades constituídas. Tudo em nome da democracia e defesa do estado democrático de direito. Era esse o mantra.
Hoje, contudo, a situação é explícita. Já não se esconde mais nada, tendo o crime (mais do que organizado) recebido a chancela da impunidade de quem deveria ser um exemplo para a construção do sentimento constitucional próprio de sociedades civilizadas.
Criaram-se várias aberrações jurídicas a ponto de se falar em “descondenação” sem absolvição, retificação de confissão, anulação de ato jurídico constituído e homologado por quem hoje o anula. O Brasil virou um “canteiro de obras jus aberrantes” que jamais imaginávamos acontecer, uma verdadeira elegia à teratologia.
De certo que na ditadura militar sabíamos o que não poderíamos falar. Por exemplo, “Caminhando e cantando e seguindo a canção” eram versos proibidos de serem entoados, ainda que muitos, como eu, com o violão em mãos, cantássemos timidamente, como reação ao autoritarismo. Sabíamos, enfim, o que não podíamos fazer, falar e cantar. Mas resistíamos ainda assim, porque, também com versos, cantávamos: “Hoje você é quem manda, falou, tá falado, não tem discussão”.
Hoje a realidade é outra, bem mais grave, porque não apenas assistimos as violências cometidas com a indiferença das autoridades, como, o que é mais grave, com o beneplácito do silêncio daqueles que são regiamente remunerados, mas que só lembram de falar em povo a cada quatro anos.
Ontem li, pela internet, sobre uma abertura de licitação, pelo Supremo Tribunal Federal, para a contratação de um serviço de monitoramento das redes sociais, ao que consta, até com geolocalização.
Não entro, aqui, em detalhes, porque ponho acima de tudo a liberdade como direito natural, bem mais do que fundamental, em que o transformaram os homens.
Em uma sociedade democrática, é óbvio, há leis que devem punir todos os excessos cometidos pelos homens. Assim, qualquer violação dos parâmetros normativos estabelecidos a consequência deve, sim, ser a instauração do devido processo legal.
Mas uma coisa é preservar a integridade do Estado de Direito e de suas autoridades contra eventuais celerados. Outra, bem diferente, é usar dessas circunstancialidades previsíveis e querer subtrair, sob a instauração de estado de vigilância, uma sociedade com medo de não saber o que pode ser dito, porquanto essas autoridades se põem acima de qualquer Constituição, notadamente da que juraram cumprir e guardar. Já dista o tempo em que as Ordenações Filipinas punham o rei e seus asseclas imunes às críticas. O tempo é outro, a república se instalou (pelo golpe, é bem verdade) mas é um sistema político incompatível com essa fixação da elite aristocrática que o planalto abriga.
Sejamos claros. Monitoramento, qualquer que seja ele, não é competência do Supremo Tribunal Federal. Isto escapa de suas atribuições (indispensáveis, convém afirmar) que estão constitucionalmente previstas e que não podem ser ampliadas sob vias administrativas, uma vez que a vigilância se sobrepõe ao texto constitucional expresso, como são exemplos os artigos 5º e 220 da Constituição da República.
Lembro ter assistido um dos filmes que parecem retratar bem o que hoje ocorre no Brasil com essa pretensão inadequada (para dizer o mínimo). Trata-se do filme alemão Das Leben der Anderen – A vida dos outros -, vencedor do Oscar destinado a filmes estrangeiros no ano de 2006.
O cenário é a Alemanha Oriental, onde havia todo um mecanismo de vigilância e repressão exercidos pela Stasi, transcorrendo o enredo sobre os limites (e suas transgressões) pelo estado repressor, pondo na berlinda a discussão sobre a inviolabilidade do domicílio, a liberdade de manifestação, o direito de ir e vir,
tudo com tal extensão que conduz até mesmo a um dos protagonistas pôr em dúvidas a sua própria determinação em cumprir a ordem da repressão.
O filme é recomendado por mim para meus alunos de direito constitucional. Mas o filme é indicado por mim para toda e qualquer pessoa que, consciente dos seus direitos, tenha a capacidade de compreender que nada justifica, em nome do estado investido de delírios democráticos, subtrair do documento mais importante as garantias constitucionais que foram definidas pela assembleia nacional constituinte.
Com o zeloso cuidado com as obras que organiza, José Roberto de Castro Neves nos brinda com 39 ensaios de diversos autores na obra OS ADVOGADOS VÃO AO CINEMA, donde se pode ter um breve apanhado da película na escrita de Ricardo Couto de Castro.
Quando me deparo com o propósito de vigilância pretendido instituir pelo Supremo Tribunal Federal, e a indiferença do Senado Federal e da Câmara dos Deputados diante de fato tão grave, alcança-me a desconfiança de que a vida dos outros pouco importa a essas pessoas, até que suas próprias vidas passem a ser alvos que poderão ser alcançados pela flecha da repressão.
Quem não tem capacidade de conviver com a democracia não apresente seu nome para cargos públicos. Quem não consegue conviver com a crítica e saiba exercer a defesa das instituições verdadeiramente democráticas, já não pode estar investido de atribuições republicanas. Mas, quem não tem a capacidade de se indignar em defesa de sua própria liberdade, bem provavelmente, estará condenado a cantar os versos daquele poeta popular: “Malandro é malandro, Mané é Mané”.
O ÉPICO POEMA DE RAIMUNDO FONTENELE ME REMETEU AS MINHAS LOUCAS
PAIXÕES E DOÍDAS PERDAS
O poder dessa poesia - "Poema do Amor de Longe" - está em sua capacidade de transformar reflexões em formas de (ultra)reflexões, que não só comunicam, como também evocam profundamente sentimentos mais íntimos ... (MHL).
24/06/2024 07h19
Por: Mhario Lincoln
Arte: MHL
O "Poema do Amor de Longe" ressoa profundamente com temas de perda, dor, e reflexão existencial. Tive que ler, em meu bestunto, diversas vezes para tentar analisá-lo dentro de minhas próprias expectativas. Mas consegui enveredar por duas lentes poéticas, somando-o à filosofia e à sociologia, com referências a dois pensadores do século XIX: Friedrich Nietzsche e Karl Marx.
Não fosse tais alicerces, talvez não teria saído do lugar porque o poema - bastante denso de emoções, espasmos ilógicos, introspecções e ideologia do amor parece que retiradas da mais profunda camada do inconsciente, começa com uma evocação de origem e amor perdido, utilizando uma linguagem que mistura elementos naturais e cósmicos, criando uma atmosfera onírica e etérea.
Aí, tenho que chamar para minha mesa, nosso conhecido Friedrich Nietzsche. Lembrei de "Assim Falou Zaratustra", onde ele escreve que "todo grande amor deseja profundamente o sofrimento e a transformação". Essa citação ressoa com a dor e a transformação expressas no poema, onde o amor é uma força avassaladora que transcende o tempo e o espaço.
E o tal do "eu lírico" tão falado e escrivinhado por tantos que resenham trabalhos desta envergadura? Esse "eu lírico" experimenta também um amor que, apesar de sua intensidade, é marcado pela perda e pela saudade. As imagens de "palmeiras", "pássaros" e "gotas d'água" são símbolos naturais que representam a imutabilidade e a transitoriedade da vida e do amor.
Mas aí, pensei eu ter resolvido o enigma da esfinge quando acoplaram dezenas de outras ideias, ao reler pela quarta vez essa odisseia fonteliniana. (Quase Feliniana).
Daí, tive que pedir socorro ao incansável (e imortal) Karl Marx, quando ele argumenta em "O Capital", sobre as relações sociais, moldando profundamente "(...) a experiência humana". Na mosca, porque no poema, o amor e a perda são também manifestações das condições sociais do "eu lírico".
A fragmentação do "eu poético" e o sentimento de alienação ("estranhei na madrugada as batidas do coração") podem ser vistos como reflexos das estruturas sociais que criam divisões e isolamentos. A relação com a amada, que é ao mesmo tempo - íntima e distante -, espelha a alienação do trabalhador descrita por Marx, onde o indivíduo se sente "(...) desconectado do produto de seu trabalho e de sua própria essência(...)".
Bom, com essas duas colunas fincadas no solo de minha escrita, agora, posso garantir a impressionabilidade da obra, onde Fontenele captura emoções intensas e contraditórias através de imagens vívidas e uma linguagem rica em simbolismo. O uso de "desgarrado, sem pátria e sem amor" ou de sinestesias como "o perfume adocicado de beija-flor", criam uma linguagem exuberante, cheia de significados que me envolveram de tal forma excitando meu sensorial e emocional de forma abissal.
Ora, a repetição de temas como a busca, a perda, e a transcendência ao longo do poema me caiu como se fosse um ciclo interminável de desejo e sofrimento, ecoando a visão nietzschiana do eterno retorno, o que me faz afirmar que "Poema do Amor de Longe" é igualmente uma meditação lírica sobre a natureza do amor, da perda, e da existência humana.
Afirmo, com força de dragões, que o poder dessa poesia está em sua capacidade de transformar reflexões em formas de (ultra)reflexões, que não só comunicam, como também evocam profundamente sentimentos
mais íntimos do poeta maranhense. Enfim, a lírica de Raimundo Fontenelle nesse espasmo lírico é uma exploração da condição humana em toda a sua complexidade e contradição, fato que me fez refletir diretamente sobre minhas loucas histórias de amor e doídas perdas.
Parabéns Fontenele,
Mhario Lincoln, presidente da Academia Poética Brasileira.
O POEMA
Poema do Amor de Longe
Raimundo Fontenele
Arrancado do pó e do hálito soprado arrastei-me para o silêncio na madrugada chuvosa, gotas dágua caíam de um céu pré-existente, bem antes que o mundo houvesse. Vieste a mim, por buscar-te talvez entre as copas das palmeiras, onde o pássaro cantava. O amor. Cego assim. Doído ou doido. Isso e as outras estrelas, tão sujas, esteladas ou estrelares, e os teus castanhos olhos, puros. Fui. Um parênteses. Um combo de coisas novas, conosco havidas, assim esta tua sombra a sorrir-me na luz.
II
Não se maldiga da sorte, a morte é passageira, outra vida te espera muito mais verdadeira, e de onde nada esperas, eis tua fortaleza. Eis tua casa forte, teu amor esperado, a mulher que amaste num longínquo passado, é a flor que agora colhes no jardim ao lado.
A flor que vira rosa e tem espinhos que se cravam na carne lentamente. Não somente na carne, mas também na alma, e o coração solfeja, num ritmo alucinante, melodias tristonhas de canções ardentes.
III
Amei a tua boca e os pássaros, e os teus lábios de mil novecentos e oitenta e quanto, ou foi depois?
Frutas no prato. E a tua mesa, unhas e medos, tudo junto. Foi-se o domingo e a tarde, que prometiam tanto.
IV
conchas de cristais em tua mão de ouro. contido zelo em penumbras de aço. juntar-me a ti, após, num só abraço. os lábios sinto sem as palavras. o mundo estranho mudo. só muros recortando corpo e alma.
ervas para o chá, hortelã. e gozo as primícias do dia. fugiu de mim a Musa ardente. oh, noite temo o seguinte. nutrir o amor com quê? sílabas anônimas, palavras incompletas? Musa, vê-me o aflito palpitar do pulso: é o que ouso. e posso. os passarinhos, lá fora, despertam a manhã como podem. com o canto. eu, não. a cama não suporta o que grito: teu nome em chamas.
Eloi, Eloi, Lamá Sabactani?
V
a dúvida é duvidar se houve ou há o mesmo amor de antes, ou se já tudo passou, se foi ao Deus dará. sem rima ou remo, só a inominável dor, lição de versos mudos, onde a palavra calou todas as falas. pois, para além do silêncio, tudo acaba e nada ao tempo resiste, só a fala tateia entre dentes. a língua? cala. mas o olho a si mesmo se vê no vão da sala, onde o espelho me vê.
VI
que maravilha, esse amor. e sete vidas de gatos, de Jacó, Raquel e Lia, eu também as daria
em torno a ti. voo de pombas sobre a relva verde. ervas medicinais que a tudo curam. a lua, então, fulgura. pálida de neve, e de amargura faço as minhas preces subirem até o sol de julho. ali te enxergo e vejo o que espero cumprir-se qual promessas de amor: aqueles dias idos de agosto.
VII
onde andará aquela que amei? no bosque ou na avenida se derramam seus passos até as estrelas. posso vê-la, sozinha, e posso tê-la em meus tristes sonhos. onde andará aquela que amei? branca sereia, e eu num barco torpe não fui a lugar nenhum a procurá-la. e agora a solidão cai como pedra, ou treva ou como terra que já não se vê. onde andará aquela que amei? quanto a mim, descubro telhados. pulo de aviões sem paraquedas, avanço aos trancos e barrancos da doce juventude.
aquela que amei, está aqui. dentro de mim, colada à minha pele. tempestuoso amor que bate-bate. voo de pássaros às cegas, e sei o quanto dói o que me negas.
VIII parte-se-me o coração como nuvens, aos pedaços. inquietude bebe sombras, leva borrões, manchas do que ficou e findou-se.
o poema é coisa viva, rasteja, se mexe feito cobra e vibra silente. armadura para conter a lágrima, e viver o que ainda existe.
IX
estranhei na madrugada as batidas do coração. loucamente apaixonado, e aí eu podia, tinha só 30 e tantos anos e ela estava bela, o domingo que veio dela me encharcou de luz. os dias adivinhavam o que eu queria, as noites sabiam o que eu não sabia, e é que ficaria sozinho, com as estrelas desgarradas e meu mundo desmoronando. chutei tudo que aparecia pela frente: balde, pedra, lembrança, soluços. atormentado pelo poder do amor, me perguntava porque ela saiu assim de mim, arrancando as palavras da minha boca, deixando que, caído, eu arrastasse a cara na poeira do chão e mergulhasse de vez numa sofreguidão de copos, cigarros e drogas pesadas. o sangue vermelho das veias misturado com o branco das anfetaminas. as pupilas dilatadas dos olhos fitando o colorido violento dos quadros de grandes artistas fixados nas paredes da imaginação. os cogumelos colhidos no campo me levando para viagens de cartões postais e angústias do fim do mundo.
mas antes, muito antes, eu senti seu perfume adocicado de beija-flor, toquei seus cabelos como quem segura liames que nos ligam ao céu e a beijei com desmaios e devaneios, respirei dentro de sua respiração ofegante, morto de desejo e de silêncios, a vida se partindo como vidros quebrados. e ela ali, comigo e longe, afastando-se. e ela ali, comigo e distante, com a brancura do seu corpo deixando-me sozinho na encruzilhada da perdição. e ela ali, comigo e sumindo para sempre.
X
Desgarrado, sem pátria e sem amor ainda chamo seu nome vez em quando. Mas lembro: movia-me nas pedras, melancólico e só, quando sorria.
Sem ela, por onde andei e o que fiz foi um plantio do inútil, um não viver com máscaras no rosto, ondas do mar que vi, ao longe, vida de espuma.
Ave, Maria, mãe dos esquecidos do tempo. Ave, Maria, mãe dos perdidos nas trevas. Ave, Maria, mãe dos iludidos na terra. Ave, Maria, mãe, só penso nela.
Ó Senhor, pai dos amantes abandonados.
Ó Senhor, pai dos desesperados.
Ó Senhor, pai dos ludibriados.
Ó Senhor, pai, perdi-me dela.
Agora digo adeus ao sonho que se vai, ela quebrou meu coração com pedra, afogo as mágoas no rio Uruguai, até queimar meu coração de luz.
Viver de amor, sofrer, morrer de amar. Viver de amor, assim vou me acabar. Longe de mim, ela se fez de surda e muda. E a minha vida mudou: infinda.
a poesia enlouquece. cava nos dentes rombos de palavras. percebe na relva os orifícios da dor, por isso escrevo o proscrito, o que não é amor, o que geme sozinho.
a poesia o amor o proscrito, a dor os orifícios os dentes: percebo na relva que quem geme sozinho perdeu-se pelo amor de uma mulher."
Resenhas de MHL. "Elisa, Florbela, Cecília: não são, apenas, RABISCOS"
MHARIO LINCOLN
Não há como deixar de afirmar que Elisa Lago está, sim, incluída numa safra moderna da poesia maranhense que vem se renovando desde os anos 70, com o aparecimento do movimento Antroponáutica. Os anos se passaram e a safra surgida a partir desse evento, vem se multiplicando.
Então não é nenhum exagero reconhecer a poética de Elisa Lago como algo que renovou, igualmente, a lírica gonçalvina, revelando certa profundidade e equilíbrio, diante de sua poderosa introspecção e reflexão; esse olhar trazido para dentro de sua produção poética por 'starts' do cotidiano, dos amores, das saudades, enfim, sobre a complicada condição humana, é sua realidade poética.
Eu abri o livro e me surpreendi com a grandeza de muitos versos. dentre eles, "Se queres o silêncio de minha alma/ Te darei sem perder a calma/Só não peça pra fingir que não foi nada", onde claramente há uma expressão de honestidade emocional e recusa ao fingimento. A figura poética aqui está ligada ao desejo de integridade e verdade, conceitos frequentemente explorados também filosofia estoica.
Essa sinceridade remete a algo que se recusa a mascarar a dor ou a desilusão. Tal construção - basta uma acuidade um pouco maior - encontra o mesmo eco na obra da poeta Florbela Espanca, onde muitas vezes escreveu poemas explorando a profundidade dos sentimentos humanos, com franqueza.
E fui lendo e cada vez mais me interessando pela obra, haja vista excertos incríveis que, até mesmo, acaba surpreendendo o leitor, haja vista as colocações líricas. Se não, vejamos:
"(...) entre o sim e o não/ Melhor se encaixa o talvez/ tamanha insensatez". Aqui, ela aborda a incerteza e a ambiguidade da vida. É o outro lado da moeda. Parece brincar com as palavras e sentimentos, abarcandoos de forma a enquadrar o leitor em quaisquer que sejam as situações que esteja passando, no exato momento em que lê o verso. Assim, enquanto no parágrafo anterior, havia firmeza nas afirmações, neste, há indecisão e a incerteza. Isso filosoficamente tem nome: existencialismo.
Claro que apareceu em minha mesma mesa, a possibilidade de vincular esses versos ao universo de Cecília Meireles, especialmente em "Ou Isto ou Aquilo", onde há, também, um tratamento similar das ambiguidades e dilemas da vida, explorando a natureza fluida e incerta das escolhas.
Em verdade, estou lendo e destacando grande parte dos poemas impressos em "Rabiscos", o novo livro de Elisa Lago, produzido pela "Viegas Editora"; uma coletânea de 142 poemas recheados de vida, mostrando multifaces de Elisa Lago.
Estou lendo e fazendo anotações para, finalmente concluir a resenha final desta obra, antecipando que me tem dado muito prazer continuar lendo. Me faz bem ter esse livro em minha cabeceira, porque, de repente, numa hora qualquer, se lê:
"Um espelho quebrado/ Do tempo Guardado/ De um caco qualquer/ Prefiro sem medo/ Do simples segredo/ O meu lado Mulher". Exatamente aqui, Elisa utiliza a metáfora do espelho quebrado para falar sobre a passagem do tempo e a identidade feminina.
Incrível essa metáfora bem desenhada: a imagem do espelho quebrado sugere uma multiplicidade de reflexos e experiências, evocando a complexidade da autopercepção e do autoconhecimento.
Não só esses versos, mas a grande maioria que já li, efetivamente me leva à conclusão de que estou diante de uma autora adulta, decisiva e guerreira. Fica evidente: "Não ando na contramão do tempo/meu tempo é o agora; às vezes,/ até tenho pressa. Vou contornando os contratempos,/ o tempo todo, todo o tempo".
Mutatis Mutandis a teoria poética de Elisa Lago evoluiu bastante. A mulher Elisa Lago evoluiu bastante enquanto poeta, enquanto produtora de cultura. Ou seja, volto aquela minha teoria que só o "dom" não é suficiente para a produção de uma grande obra. Necessita, o autor, de mais estudos, de mais leituras, de um amadurecimento lírico. Por exemplo, esses autores que citei, em paralelo à produção de Elisa, com toda certeza, ela já os leu. E isso só a fez crescer.
Tal fato (e só assim), o autor pode produzir uma grande obra marcante e – citada -, ou seja, “não há grande obra, se não for citada”, como dizia meu pai José Santos. Só as grandes obras podem se aproximar da teoria do “tempo/atemporal”, acolhida pelo germanista Herbert Cysarz, cujo máximo, é ganhar valorização no momento presente, para só assim, pertencer a uma plêiade muito pequena de poetas, cujas obras serão imortais, no universo atemporal. Isso mesmo: as grandes obras jamais morrem!
Só assim, o tempo deixa de ser um adversário e se transforma numa forja indestrutível, que vai alimentar uma corrente contínua, com a qual se deve aprender a navegar e a ser valorizado também no futuro, sem nenhum esquecimento.
Portanto, poeta Elisa Lago, é certo que haverá Vida Longa para “RABISCO”. Por essa razão, logo vamos nos ver novamente falando de desse livro.
Obrigado pelo presente,
Mhario Lincoln
Presidente da Academia Poética Brasileira.
CERES COSTA FERNANDES
Ah, poder ser tu, sendo eu! Ter a tua alegre inconsciência, / E a consciência disso! Ó céu!/ Ó campo! Ó canção! Ó ciência!/ Pesa tanto e a vida é tão breve! Entrai por mim dentro! Tornai!/ minha alma a vossa sombra leve!/ Depois, levando-me passai! (Fernando Pessoa, Ela canta, pobre ceifeira).
A consciência de existir, o conhecimento, varrem a leveza da alma, afastando-nos da felicidade Fernando Pessoa, o supremo poeta, nos confessa. E eu concordo muitíssimo.
Tudo começou com Adão e Eva, aquela história da arvore da Ciência do Bem e do Mal. Nossos ancestrais depois que passaram a distinguir o certo do errado “viram que estavam nus e tiveram vergonha”. A partir daí o politicamente correto entrou em nossas vidas e começamos a sofrer. Parir com dor, comer o pão com o suor do próprio rosto – a maldição da manteiga – certamente é um bocado de sofrimento, mas perder a inocência e, com ela, as ilusões é coisa ainda pior.
Coisas antes inocentes, tais como empinar papagaio, tocar fogos de artifício, soltar balões, acender fogueiras nas ruas, transmudaram-se em crimes hediondos. Linhas de papagaios provocam apagões, morte por eletrocussão e até por seccionamento de carótidas de motoqueiros; belos e “inocentes” fogos, brincadeira de crianças de antanho, são responsáveis pela mutilação de milhares de pessoas; os balões, vilões maiores, artefatos do demo, incendeiam refinarias e plantações.
A tristeza de ser consciente volta meu olhar para horizontes interiores buscando uma época e um lugar: a infância e os festejos de São João do Largo de Santiago. Criança, pude curtir nesse mundinho a alegre inconsciência de ser feliz nas festas juninas. A expectativa emocionada do por vir era parte da semana que antecedia a festa: os fogos que meu pai comprava - estrelinhas, chuveiros de ouro e prata, vulcões coloridos – guardados para o grande dia, eram conferidos no armário, momento a momento, a ver se realmente lá estavam –, acidentes, não se cogitava disso, a recomendação era tocar os fogos afastando os braços, longe do corpo apontando para o alto. Traques estourados dentro das latas, bombas de morrão, busca-pés, foguetes eram para os adultos e molecada de rua.
O vestido caipira - lindo! -, criação da fada das costuras, Maria Costa, moradora da Rua das Cajazeiras, era mais que um vestido, semelhava um ser vivo, acariciado dentro do guarda-roupa ou abraçado diante do espelho. E o incomparável frio na barriga ao acompanhar a colocação das bandeirinhas coloridas na rua, liderada pelos dois quitandeiros que demarcavam nosso território, um em cada extremidade do Largo: Zezé Caveira e Seu Guilherme. Na casa de Seu Barbosa, a mágica oficina dos balões, acompanhava-se todas as etapas da construção, a cada ano mais sofisticados, de modelos diferentes, e com um número maior de lanternas.
No grande dia, o auê dos preparativos finais. Em todas as casas do Largo, as famílias providenciavam as iguarias mingau-de-milho, manuê, cocadas, canjica, torta de camarão, cuxá, arroz de maria isabel, milho assado e cozido, iguais às de hoje. Uma diferença básica e fundamental, as crianças gostavam de comida típica, não só de hambúrguer, nuggets e batatas fritas e, o mais importante, tudo era saboreado sem culpa. Não havia o desmancha prazer do colesterol ou dos triglicérides, palavrões recentes a incorporar o léxico da vida da gente – que bom mesmo era a comida feita na banha de porco e o próprio dito cujo assado, pururuca. A contribuição infantil era a busca de paus para as fogueiras. Percorríamos todas as áreas vizinhas, até o proibido manguezal, atrás da Fábrica de Gelo, da antiga Fábrica Martins. A meninada à solta nos arredores. Sequestros, trombadinhas, meninos de rua ameaçadores? Nada disso, havia somente os “moleques”, diferentes apenas por serem crianças mais pobres, vindas não se sabia de onde, mesmo assim companheiros de brincadeiras dos “filhos de doutor”.
Tudo pronto. É hora de vestir a roupa de xadrez, pintar a boca de batom , como uma moça (ô, felicidade indizível) e, no pequeno jardim, subir na mureta para soltar os ansiados fogos. É dando-se as mãos que se
pula a fogueira e a escolha dos pares desperta ciúmes. Comadres e compadres, jurados ali ao pé da fogueira, são para toda a vida. As simpatias de amor aceleram o baticum do coração: uma faca virgem enterrada na bananeira do quintal escreverá o nome do futuro marido, à meia-noite. Diabo é quem tem coragem de ir ao fundo do quintal à meia-noite. Além do que nem bananeiras há na vizinhança.
Simpatia mais fácil é escrever o nome do amado em pedacinho de papel e pendurar numa das lanternas do balão - Seu Barbosa deixa - e o recado vai direto para São João ou para Santo Antônio, conforme a precisão. Ai, meu Deus, não deixeis cair o balão. È a Hora! Atravessar a rua até a concentração do lançamento exige destreza: é preciso ir driblando os busca-pés. Há uma trégua para a subida do balão. Supremo êxtase! É em forma de dirigível! Um Zeppelin! Pendurada, vai uma cruz de lanternas levando os recados. O balão sobe até virar uma estrela. Depois desaparece. São João na certa o recolheu.
Corte para o presente. Sem festas na porta das casas, sem fogueiras, sem balões, sem busca-pés, os festejos ocorrem em lugares previamente escolhidos, as bebidas e as comidas, em pequenas porções, são compradas de barracas em longas filas. Olho os anúncios coloridos na TV e na Internet: barracas de comidas celestiais, dança portuguesa, índios (!), cacuriá, tambor-de-crioula e, finalmente, os gloriosos bois. Decido, vou aproveitar a festa antes que declarem que a morte do boi é politicamente incorreta.
SOCIEDADE DOS POETAS ESQUECIDOS
CID T. DE ABREU (1937-2004?)
O filme “Sociedade dos Poetas Mortos” de 1989 narra a chegada de um professor de inglês que irá lecionar em um colégio tradicional para rapazes, escola esta que possui uma estrutura educacional rígida, com pilares para moldar estes jovens em suas perspectivas e ambições, tais quais não são idealizadas por eles mesmos, e sim por seus pais, que tinham uma grande influência na escolha profissional dos filhos e nos demais docentes da escola. O conservadorismo se destacava nessa época, e o filme se passa em 1959, logo, é notório perceber que os princípios centrados eram tradicionais, sendo estes (tradição, honra, disciplina e excelência) os quais formavam os jovens acadêmicos em líderes de orgulho para a sociedade, seus pais e a Academia Welton. (DAMASCENO, 2004, IN Carpe Diem e a Sociedade dos Poetas Mortos Querido Clássico (queridoclassico.com)
“Não lemos nem escrevemos poesia porque é bonitinho. Lemos e escrevemos poesia porque somos humanos. A raça humana está repleta de paixão. E medicina, advocacia, administração e engenharia são objetivos nobres e necessários para manter-se vivo. Mas a poesia, a beleza, o romance, o amor... É para isso que vivemos.”
Todo o ensinamento baseava-se na leitura dos clássicos!!!
Sanatiel de Jesus Pereira, presidente da Academia Ludovicense de Letras, em artigo publicado no Jornal Pequeno, se ressentia da falta de poetas ludovicenses e/ou maranhenses na atualidade. Ao andar pelas velhas e decadentes ruas de São Luís, fonte de inspiração de várias gerações de escritores e poetas, não se os via a trafegar pelas avenidas e becos... Cassas, também saiu a caçar os poetas e escritores pelas hoje decadentes ruas de sua cidade... não encontrou ninguém, Nauro já se passou para outras plagas... Da geração atual, de jovens escritores e poetas que estão a poetar e a escrevinhar, circulam apenas nos descaminhos das Universidades, dos bairros novos, a caminho de suas aulas, palestras, seminários...
Já não os encontramos mais nas ruas e becos do centro histórico... centro este que só virou história, com suas histórias, em completo abando nos desmoronamentos, provocados ora pela cobiça dos seus proprietários, para utilização do terreno, ora pela incúria e incompetência administrativa daqueles responsáveis pela sua preservação...
Patrimonio da Humanidade? Qual o quê...
Mas vamos ao que interessa... proponho a criação de uma sociedade: a dos Poetas Esquecidos... Não só ludovicenses, sobretudo maranhenses, mesmo aqueles que, por descuido geográfico, nasceram em outras partes, do Brasil e do mundo...
Em recente vista d´olhos no acervo da Biblioteca Benedito Leite, encontrei cerca de 588 jornais digitalizados, desde o início da imprensa no Maranhão, pelos idos dos 1820; mais de 6.000 poesias publicadas – e isso, só 2/3 dos jornais disponíveis -. Mais de 3.500 autores. A grande maioria, anônimo, ou que publicaram sob pseudônimos,emuitoscomváriaspublicações, em diversosjornais, porum longoperíodo,quenãoseconhece sua biografia. Geralmente, habitantes de cidades interioranas... Sim, também se produz boa literatura fora da Ilha
Quase duzentos anos de publicação de jornais, e tem-se conhecimento de livros e mais livros publicados, poucos volumes, raros volumes, mas que eram noticiados seus lançamentos, com uma pequena mostra do seu conteúdo.
Alguns deles, já se conseguiu alguma coisa sobre suas vidas, como local e data de nascimento, e de sua biobliografia. Outros, aguarda-se o pronunciamento das diversas academias de letras espalhadas por esse Maranhão de Deus...
Hoje, apresentamos CID T. DE ABREU (1937-2004?)
Cid Teixeira de Abreu (Caxias, 2 de julho de 1937 - 2004?) foi um poeta brasileiro. Estudou em sua terra natal e em Belo Horizonte, onde se formou em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, local em que publicou seu primeiro livro, Poemas I (sonetos decassílabos - 1961), mudandose posteriormente para Teresina, para lecionar no Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Atuou como cronista do jornal Diário do Povo e publicou os livros Terra Terrão (poemas livres1985) e Moenda (1986).
Membro da União Brasileira de Escritores, UBE, no Piauí. Obteve premiações literárias em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília. Segundo o historiador Adrião Neto, foi "First Place" em concurso literário internacional patrocinado pela Universidade do Colorado, Estados Unidos, além de ter participado da coletânea "Andarilhos da Palavra", no Piauí. (Obra literária: Poemas I (1961);Terra Torrão (1985);Moenda (Poesia – 1986) Fonte da biografia: wikipidia.)
COMO SERIA BOM / 1 / como seria bom / se eu rolasse a vida / com a esperteza dos meninos / que rolavam a bola / pelo bariri // e o placar / me fosse favorável / no apito final // 2 / aprendi a contar / pelos urubus / que escurecem a tarde / para o pernoite / e algumas vezes errava / pelo retardatário / que se distraía / num fato de boi // 3 // os peitos das lavadeiras / eram bem maiores / que a lage onde batiam roupa / só minha infância / entendi esse contraste (SONETOS. v.1.Jaboatão dos Guararapes: Editora Guararapes EGM, s.d. 154 p. 16,5 x 11 cm. ilus. col. Editor Edson Guedes de Moraes. Inclui 148 sonetos de mais de uma centena de poetas brasileiros e portugueses. Ex. bibl. Antonio Miranda)
SONETO DE AMOR // O meu amor é só como os gaivotos / criei-o na aurora dos rochedos / ocimo da impotência dos enredos / na trilha insondável de outros rotos // meu amor é meu ser e meus segredos / o virtude trincoso de revoltos / se não há o querer de eros remotos / ausência também há de velhos medos... // e cibório de nervos e memória / tenso, coberto de sangue – oh granito! / dolmons brancos nas páginas da história // o meu amor... quem sabe compreende-lo / se o próprio cimo, na angustia do infinito / é chama e cinza, é ternura e gelo?
(ABREU, Cid T. romance unilateral. Belo Horizonte, MG: edição datilografada do autor, 1961. 16 x 21, 5 cm. 5 folhas grampeadas
“ – este romance é meu como meu corpo com sua própria certeza de gastar se” cid. T. abreu
os pais não deveriam partir em um dia de chuva não porque a chuva seja algo especial mas porque são uma parte de nossa história debaixo dela meu pai se foi em uma manhã chuvosa sobre os telhados da ilha de são luís havia uma leve e turva neblina no horizonte do olhar de minha mãe um choro soluçante de meu irmão mais novo um pausar no rosto dos familiares não conseguia pensar por mais que me distanciasse da imagem dele deitado na cama silente de thanatos por dentro uma fogueira um arrepio constante em saber que não mais o veria estacionar o carro puxar o freio de mão abrir o portão e caminhar a passos lentos a caminho do quarto depois de um dia de trabalho
infelizmente não tenho a força do messias em ressuscitar lázaros meu pai foi um homem de silêncios que me disse que a vida seria dura como foi para ele mas que todo o motivo de a gente existir estaria em compreender o que de razoável existe em caminhar
Aymoré Alvim, ALL, APLAC, AMM
E, ASSIM, CAMINHAMOS...
Mudam os tempos
Na linha do tempo
E com eles também
Civilizações.
Mudam as culturas
Ao longo dos tempos
E novas culturas
Então, surgirão.
A moral vai mudando
Ao longo dos tempos
Dos tempos que mudam
E a fazem mudar
A ética muda
Com as gerações
Que vão assumindo
Novos padrões.
Trafica-se, mata,
Corrompe-se, rouba.
Ninguém mais respeita
Qualquer cidadão.
Crianças e velhos
Abandonados
São subprodutos
Da triste exclusão.
E, assim, caminhamos
Ao longo dos tempos
Dos tempos que mudam
E nos fazem mudar.
E os nossos valores
Também vão mudando
Conforme os interesses
Que nos forçam a mudar.
SEMIÓTICO
Sangrai, ó minh’alma tonta
Ante os horrores que nos consomem (E matam nossos dias de vesúvios)
Diante de luas e sóis tristes
Visitados por angústias e dores
Na mais completa ignomínia dos dias
Brasil, Estados, Maranhão, Cidades, Itapecurumirim, Li
POEMA QUE AUTO-COMPARTILHO, AOS AMIGOS DO FACE, PELA ATUALIZAÇÃO CRESCENTE DE SUA VERDADE REVELADA.
BREVES BIOGRAFIAS DE HOMENS DE JUSTIÇA
meu Pai, o desembargador Raimundo Nonato Correia de Araujo Neto foi homem de justiça seis décadas servindo à menina de olhos vendados formou-se na tradicional Faculdade de Direito do Recife( Ricife para os íntimos) regressando ao Maranhão até atingir o posto mais alto do Judiciário ao morrer deixou para a minha mãe a casa onde moramos por antecipação do débito em bom juridiquês clamava garbosamente: “ o Supremo tem o direito de errar por último” Ai Pai ,soubesse como hoje, erram por primeiro 2
O desembargador José Maria Marques amigo e compadre do meu pai cumpriu identico roteiro juridico +geográfico parecia terem combinado mesma tática de guerrilha da honestidade dela não sabiam mas o humor nas rodadas no moto bar e hotel central banhava-lhes a utopia
rico foi seu legado deixado à familia palavras & epifanias em bom juridiquês clamava ao compadre: “O Supremo tem o direito de errar por último” E continuavam a pregar as homilias morreram sem saber que ministros errariam primeiro um dia