MARANHA Y - Revista eletrônica de História(s) do Maranhão 20 setembro 2024

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MARANHAY

A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor. EXPEDIENTE

MARANHA-Y REVISTA DE HISTÓRIA(S) DO MARANHÃO

Revista eletrônica

EDITOR

Leopoldo Gil Dulcio Vaz

Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com

Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luís – Maranhão (98) 3236-2076

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CHANCELA

Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da FEI (1977/1979); Titular da FESM/UEMA (1979/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IFMA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 16 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 430 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luís (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Prêmio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Prêmio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; Editor da IHGM EM REVISTA, desde 2023; Editor da “ALL em Revista”, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras, números 1 a 10; Editor da Revista do Léo, desde 2017, e desta MARANHAY – Revista Lazeirenta, dedicada à(s) História(s) do Maranhão; Editor da Revista Ludovicus, dedicada à literatura ludovicense/maranhense, desde 2024; Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

UM PAPO

Neste mês de setembro, três edições!! Um número especial, para discussão do aniversário de quem? São Luis (fundação) ou França Equinocial (instalação? E um segundo número, aumentado... e agora, a edição normal, deste mês... que receberá o número 20...

Vamos fazer umas pequenas modificações... os sócios-atletas terão suas contribuições reunidas...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Academia Ludovicense de Letras

Academia Poética Brasileira

Centro Esportivo Virtual

Vieira afirmou queos Tupinambáe Tabajara contaram-lhequeos povos Tupi migraram para oNorte doBrasil pelo mar, vindos de um país que não mais existia, e que o país Caraíba teria desaparecido progressivamente, afundando no mar. Os tupis salvaram-se, rumando para o continente.

Já os tabajaras diziam-se o povo mais antigo do Brasil e se chamavam de "tupinambás", (homens da legítima raça tupi), desprezando parte dos outros tupis, com o insulto "tupiniquim" e "tupinambarana", (tupis de segunda classe), e sempre conservaram a tradição de que os tupis eram originados de sete tribos; e que o povo tapuia, do povo tupi, eram os verdadeiros indígenas brasileiros (RAHME, 2013).

POVOS TUPIS - Os tupis são diversos povos que viviam ao longo da costa do território que hoje compreende o Brasil. Esses povos se originam de antepassados que saíram há milênios do centro amazônico, expandiram-se ao norte do rio Amazonas, ao sul pelo Paraguai, a leste pelo Tocantins e a oeste pelo rio Madeira. Os tupis são apenas aqueles que migraram para o leste, e que, portanto, chegaram à costa leste do continente sul-americano. https://pt.wikipedia.org/wiki/Tupis

Por Cunha, Manuela Carneiro da. (org.) - Índios no Brasil : história, direitos e cidadania. p. 384., CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=85665846

Conforme explica Eduardo Navarro, os diferentes povos tupis acreditavam descender de um personagem mitológico chamado Tupi. Por conta disso, muitas tribos tupis possuíam etnônimos que começavam com "tupi", como os tupinambás, os tupinaquis, os tupiguaés e os tupiminós Os tupis nomearam-se para se distinguir, ao se tornarem grupos diferentes, mesmo sendo descendentes de uma mesma família. Como o povo Tamoio significa “os mais antigos” (os avós); os Tupinambás, “descendentes diretos dos Tupi”, os Tupiniquins, “parentes dos Tupi, que vieram dos Tupinambá”.

A língua falada pelos tupis era o que hoje é conhecido como tupi antigo. Trata-se de uma língua com vasta distribuição geográfica (tão vasta quanto a dos tupis) e que teve crucial importância para a formação do Brasil.

O escritor Eduardo Bueno, baseado nos escritos de Teodoro Sampaio, afirma que o termo "tupinambá" é oriundo do tupi tubüb-abá, que significa "descendentes dos primeiros pais", através da junção dos termos tuba (pai), ypy (primeiro) e abá (homem). Em sentido diverso, o tupinólogo Eduardo Navarro em seu Dicionário de Tupi Antigo (2013) sugere a etimologia "todos da família dos tupis", através da junção de tupi (tupi), anama (família) e mbá (todos). Tupinambás – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Os tupiniquins (também chamados de tupinaquis, topinaquis e tupiniquins) são um povo indígena brasileiro pertencente ao sub-grupo tupi O termo foi utilizado, no século XVI, para se referir a duas populações distintas: uma que habitava o sul do atual estado da Bahia e outra que habitava, grosso modo, a região da baixada santista e do planalto paulista, no atual estado de São Paulo Segundo Antenor Nascentes, no seu Dicionário Etimológico Brasileiro, o termo "tupiniquim" deriva da expressão tupin-i-ki, significando "tupi ao lado, vizinho lateral". Silveira Bueno, seguindo a mesmo linha, no seu Dicionário Etimológico-Prosódico da Língua Portuguesa dá sua raiz na expressão tupinã-ki, ou "tribo colateral, o galho dos tupi". Eduardo de Almeida Navarro, por sua vez, sugere, no seu Dicionário de Tupi Antigo, que o termo signifique: "aqueles que invocam Tupi", pela junção de Tupi (nome de um personagem mítico ancestral) e ekyîa ou ikyîa (invocar). Tupiniquins – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Os tupiguaés eram uma etnia indígena que habitava o Brasil nos primórdios da colonização portuguesa. Sua área de distribuição ia do sertão de São Vicente até Pernambuco. "Tupiguaé" procede do tupi antigo tupigûaé, que significa "tupis diferentes" (tupi, tupi e aé, diferente). Tupiguaés – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Os tupiminós eram uma etnia indígena que habitava o Brasil no período colonial. Falavam a língua tupi antiga. "Tupiminó" é um termo tupi antigo que significa "netos dos tupis" (tupi, tupis e emiminõ, neto). Tupiminós – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Tabajara um povo indígena de origem do tronco tupi que habita o litoral do Brasil no trecho entre a ilha de Itamaracá e a foz do rio Paraíba, além de territórios em Piripiri e em Lagoa de São Francisco, no Piauí. Foram um dos primeiros da região nordestina que teve contanto com os colonizadores, passaram pelo processo de apagamento histórico e cultural; nos dias atuais o povo Tabajara vem resgatando toda sua história e cultura e seguem lutando por demarcação de suas terras. "Tabajara" procede do tupi antigo tobaîara, "inimigos". Supõe-se que essa não seria uma autodenominação, mas uma exodenominação, atribuída aos tabajaras por seus inimigos. Tabajaras – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Os tupinambaranas ou tupinambaras foram um grupo indígena brasileiro composto por tupinambás que, no século 18, migraram do litoral para a região da foz do rio Madeira O termo "tupinambarana" procede do tupi antigo tupinambarana, que significa "falsos tupinambás" (tupinambá,"tupinambá"+ ran,"falso",+ a, sufixo).Tupinambaranas –Wikipédia,aenciclopédia livre (wikipedia.org) Já o topônimo "Tupinambarana" é uma referência aos antigos habitantes do arquipélago, os índios tupinambaranas; A chamada Ilha Tupinambarana é, na verdade, um conjunto de ilhas que, antes, era considerado como sendo uma única ilha. É rodeada pelo sistema fluvial do Amazonas (rios Amazonas, Madeira, Sucunduri e Abacaxis). Situa-se no leste do estado do Amazonas Tupinambarana – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Os potiguaras, também conhecidos como potiguara, potiguares, petiguares, pitaguares, pitiguares e pitiguaras, são um grupo indígena brasileiro que, no século XVI, ocupava áreas hoje pertencentes aos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará [4] Foi uma das etnias tupis que resistiu por mais tempo aos invasores portugueses, utilizando um complexo sistema de alianças com ingleses e, principalmente, franceses comerciantes de pau-brasil. No entanto, foram os potiguaras que melhor deram provas de reconhecido valor, inteligência e heroicidade no apoio que deram ao Reino de Portugal nas Batalhas de Guararapes, no contexto da Guerra Luso-Holandesa. Potiguaras – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Kariri, cariri, kairiri ou kiriri (do tupi kiri'ri, "silencioso") é a designação da principal família de línguas indígenas do sertão do Nordeste do Brasil. Vários grupos locais ou etnias foram ou são referidos como pertencentes ou relacionados a ela. Na literatura especializada, existe uma larga discussão sobre os pertencimentos dos grupos indígenas do sertão à família Kariri ou a outras famílias como a Tarairiú. Além dessas, existem várias línguas isoladas na região (yathê, xukuru, pankararu, proká, xokó, natu etc.). Historicamente, os grupos indígenas da região aparecem denominados de modo genérico como tapuias, podendo ser vinculados ao tronco linguístico macro-jê Cariris – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Ludwig Schwennhagen (1924) justifica a origem do nome Tupi pela língua dos Cários, Fenícios e Pelasgos, onde o substantivo Thus, Thur, Tus, Tur e Tu significa sacrifícios de devoção. O infinitivo do verbo sacrificar é, no fenício, tu-na, originando tupã. “A origem de Tupã, como nome de Deus onipotente, recua à religião monoteísta de Car”, afirma

Cária (do luvita Karuwa - "terra íngreme"; em grego antigo: Καρία - Karia) era uma região no oeste da antiga Ásia Menor (Anatólia) que se estendia ao longo da costa da Jônia, de Mícale (Mykale) para o sul até a Lícia e para o leste até a Frígia. Os gregos jônios e dórios colonizaram a porção ocidental da Cária e se juntaram à população nativa para formar estados de matiz grega na região. Os epônimos habitantes nativos da região eram conhecidos como "cários" e Heródoto os descreve como sendo de ascendência minoica [1] Eles falavam uma língua do grupo anatólico conhecida como cário, que não necessariamente reflete uma origem geográfica, pois os anatólios podem um dia terem estado dispersos. Muito próximos dos cários eram os léleges, um termo que pode ser um nome antigo para os cários ou um para um povo que os precedeu na região e continuou a existir como parte da sociedade cária, supostamente com um status menor. https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A1ria

A Civilização Fenícia (em fenício: , Knaˁn; em hebraico: ןענכ; romaniz.: Kna'an; em grego clássico: Φοινίκη; romaniz.: Phoiníkē; em latim: Phœnicia; em árabe: ايقينيف) foi uma civilização da Antiguidade cujo epicentro se localizava no norte da antiga Canaã, ao longo das regiões litorâneas dos atuais Líbano, Síria e norte de Israel. A civilização fenícia foi uma cultura comercial marítima empreendedora que se espalhou por todo o mar Mediterrâneo durante o período que foi de 1 500 a.C. a 300 a.C.. Os fenícios realizavam comércio através da galé, navio movido a velas e remos, e são creditados como os inventores dos birremes. https://pt.wikipedia.org/wiki/Fen%C3%ADcia

Pelasgos (em grego: Πελασγοί, Pelasgoí, singular Πελασγός, Pelasgós) era um termo usado por alguns autores da Grécia Antiga para se referir a populações que teriam sido ancestrais dos gregos ouqueos teriamantecedido nacolonizaçãodo território ondehojeem diaestáa Grécia, "um termo abrangente que englobava qualquer povo antigo, primitivo e, presumivelmente, autóctone no mundo grego."[1] No geral, "pelasgo" passou a significar, de maneira mais ampla, todos os habitantes autóctones das terras ao redor do mar Egeu, bem como suas culturas, antes do advento da língua grega [2] Este não é um significado exclusivo, porém os outros sentidos do termo quase sempre necessitam ser especificados quando utilizados. Durante o período clássico da história grega antiga, enclaves caracterizados como pelasgos subsistiram em diversos locais da Grécia continental, Creta e outras regiões do Egeu. As populações que se identificavam como tal falavam um idioma ou idiomas que os gregos identificaram como não

sendo grego(s), ainda que alguns autores antigos tenham descrito os pelasgos como gregos. Uma tradição que afirmava que grandes territórios da Grécia teriam sido pelasgos antes de sua helenização também persistiu nomundo antigo; estaspartes geralmente se encontravam dentro do domínio étnico que, pela altura do século V a.C., atribuía-se aos falantes de determinada variante do grego antigo, identificados como jônicos https://pt.wikipedia.org/wiki/Pelasgos

Luciara Silveira de Aragão e Frota (2014) afirma que a dispersão da grande família Tupi-guarani parece ter sido das mais remotas. Bem mais remotaqueaverificadacom os Aruaques. Suaorigem seriados protomalaios . (paleontologiageral.blogspot.com) que, em várias correntes, acostaram no istmo do Panamá. Os tabajaras diziam-se os povos mais antigos do Brasil, isso quer dizer que eles foram aquela tribo dos tupis que primeiro chegou ao Brasil , e que conservou sempre as suas primeiras sedes entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba. Desse relato é de que os tabajaras foram precedidos pelos cariris no povoamento do Ceará, e antecederam aos potiguares dentro da divisão denominada de grupo Brasília (POMPEU SOBRINHO1955).

Os aruaques, também conhecidos como aravaques e arauaques, são um grupo de povos indígenas do norte da América do Sul e do Caribe. Suas línguas pertencem à família linguística aruaque (de arawak, "comedor de farinha"). Especificamente, o termo "aruaque" foi aplicado em vários momentos, desde os locono da América do Sul até os taíno, que viviam nas Grandes Antilhas e no norte das Pequenas Antilhas, no Caribe. Todos esses grupos falavam línguas aruaques relacionadas. Foram encontrados em diferentes partes da América do Sul - Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana, Paraguai, Peru, Venezuela e Antilhas

No tronco linguístico aruaque (arahuaco em espanhol; aportuguesado como "aruaque"), estão catalogadas 74 línguas de vários povos indígenas do Brasil, dentre as quais a língua tariana, a língua palicur, a língua baníua, a língua terena e a língua iaualapiti Aruaques – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Herman Moll, Map of the West-Indies, c. 1715

Enéas Barros (s.d.), ao analisar a obra de Ludwig Schwennhagen, considera que “Tupi” significa “Filho de Tupã”, e foi dado aos povos indígenas que habitavam a antiga Atlântida. Eram sete tribos, que fugiram para outra grande ilha, a Caraíba (situada no Mar das Antilhas), em função do desmoronamento da Atlântida. Essa outra ilha teve o mesmo fim, fazendo com que os indígenas fugissem para a região da Venezuela. O país Caraíba todos os anos desligava-se em pedaços até que desapareceu inteiramente afundado no mar. Contam que os tupis se salvaram em pequenos botes, rumando para o continente onde hoje está a República da Venezuela...

Para Ludwig Schwennhagen, os fenícios transportaram os tupis, palavra que significa filho de Tupan, de lugar onde está hoje o Mar das Caraíbas onde havia ”um grande pedaço de terra firme, chamado Caraíba (isto é, terra dos caras ou caris). Nessa Caraíba e nas ilhas em redor viviam naquela época as sete tribos da nação tupi que foram refugiados da desmoronada Atlântida, chamaram-se Caris, e eram ligados aos povos cários, do Mar Mediterrâneo...

O nome "Caraíbas" deriva dos "caraíbas" (ou "caribes"), nome utilizado para descrever a etnia ameríndia predominante na região na época do primeiro contacto com os europeus nos finaisdo século XV.Onavegadoritaliano AméricoVespúcio afirmavaqueotermo Charaibi entre os indígenas significava "homens sábios" e é possível que este fosse utilizado para descrever os europeus à sua chegada à América. Depois do descobrimento das Índias Ocidentais por Cristóvão Colombo, o termo espanhol Antilhas era comum para este lugar; derivado dele, o "mar das Antilhas" tem sido um nome comum para o mar das Caraíbas em vários idiomas europeus. Mar do Caribe – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Quando chegaram os primeiros padres espanhóis na Venezuela, contaram-lhes os piegas aqueles acontecimentos do passado. Disseram que a metade da população das ilhas, ameaçadas pelo mar, retirou-se em pequenos navios para a Venezuela, mas que morreram milhares na travessia. A outra metade foi levada emgrandesnaviosparaoSulondeencontraramterrasnovasefirmes.Aotomaremconhecimentodaexistência desses povos na Venezuela, os fenícios conseguiram levá-los em seus navios para o norte do Brasil. O local foi batizado pelos piagas (pagés) de Piagui, de onde originou-se Piauhy.

Para Ludwig, a palavra Piauí significa terra dos piagas, condenando a interpretação de que o nome provém do peixe piau, abundante nas águas do Rio Parnaíba.

Geograficamente, o lugar era Sete Cidades.

Varnhagem, Visconde de Porto Seguro, confirma na sua História Brasileira, que essa tradição a respeito da emigração dos Caris-tupis, da Caraíba para o Norte do continente sul-americano vive ainda entre o povo indígena da Venezuela.

Por Cunha, Manuela Carneiro da. (org.) - Índios no Brasil : história, direitos e cidadania. p. 384., CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=85665846

Repetindo: o padre Antonio Vieira assevera em diversos pontos de seus livros que os Tupinambás, como os Tabajaras, contaram-lhe que os povos tupis imigraram para o Norte do Brasil pelo mar, vindos dum país que não existia mais; que os primeiros emigrantes teriam aportado em Tutóia e daí se dividiram em três povos: Tabajaras, entre o rio Parnaíba e a serra da Ibiapaba; os Potiguares além do rio Poti, e Cariris que tomaram as terra da Ibiapaba para o nascente. A segunda leva de emigrantes veio dar a um segundo ponto - escolhido pelos fenícios - a ilha do Maranhão que denominaram Tupaon (burgo de Tupan).

Os Tabajaras duvidaram da legitimidade de tupi de tais emigrantes, pois eles trouxeram antigos indígenas Caraíbas que para eles trabalhavam. Adotaram eles então o nome referencial de Tupinambás.

Pois bem, esse o mito da primeira ocupação da Ilha do Maranhão – a terra sem males...

As hipóteses mais antigas de que o continente americano poderia ter sido povoado por fenícios foram propostas por Robertus Comtaeus Nortmannus em 1644 e por Georg Horn, historiador e geógrafo alemão, em 1652. Onffroy de Thoron escreveu sobre viagens das frotas do rei Hirão de Tiro, da Fenícia, e do rei Salomão, da Judeia, no rio Amazonas, nos anos de 993 a.C. a 960 a.C. Teoria da presença de fenícios no Brasil –Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org); Georgius Hornius – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

per181897_1889_00004.pdf (bn.gov.br)

Mito que começa a ser desvendado pela recente divulgação (2013; 2016) de uma descoberta do ano de 2000 ocorrida a noroeste da costa de Cuba: um grupo de cientistas canadenses descobriu uma cidade perdida a 700 metros de profundidade quando um robô submarino tirou as fotografias das ruínas de edifícios, quatro pirâmides gigantes e um objeto parecido com uma esfinge. Especialistas sugerem que os edifícios pertencem ao período pré-clássico do Caribe e da história da América Central. A antiga cidade podia ser habitada por uma civilização semelhante aos habitantes de Teotihuacán (cidade fantasma de cerca de 2000 anos, localizada a 50 km da cidade do México). (https://www.youtube.com/watch?v=-gKEU3kkeMQ.)

Já pesquisadores independentes afirmam que as ruínas provavelmente são de Atlântida, o lendário continente desaparecido mencionado pela primeira vez pelo filósofo Platão.

Diziam os remanescentes da segunda leva aqui chegados, ao tempo dos descobrimentos/achamentos, que vinham de uma cidade que afundara, e foram resgatados por grandes barcos, e trazidos para a costa, provavelmente Venezuela, Guianas e, de lá, iniciado uma trajetória de descolamentos que os trouxeram Amazonia abaixo, até chegar à Ilha Encantada – que seria a de Upaó-Açú.

A migração dos povos Tupi ao Norte do Brasil pode ser calculada para a data de 3000 a 2000 a.C. As últimas levas entraram quando se quebraram as terras do golfo do México e do mar Caraibico. Assim se pode colocar a ocupação e cultivação da ilha do Maranhão na época de 2000 anos a.C., ou 3500 anos antes da chegada dos europeus. (Schwennhagen (1924)

Bandeira (2013) traz que a ocupação do Vinhais Velho data de pelo menos 3.000 anos de duração:

As datações obtidas para as ocupações humanas que habitaram o Vinhais Velho possibilitaram construir uma cronologia para a presença humana nesta região da Ilha de São Luis, que data desde 2.600 anos atrás se estendendo até a chegada dos colonizadores (1590-1612?). [...] Essas datações se relacionam com os três períodos de ocupação humana no Vinhais Velho em tempos pré-históricos: ocupação sambaqueira / conchífera, ocupação ceramista com traços amazônicos e ocupação Tupinambá. (p. 75).

[...] A presença dos grupos sambaquieiros na região durou até 1.950 atrás, com uma permanência de 650 anos. (p. 76).

[...] Em torno de 1840 anos atrás essa região foi novamente ocupada por grupos humanos bastante diferentes dos povos que ocuparam o sambaqui. Esses grupos produziam uma cerâmica muito semelhante às encontradas em regiões amazônicas, sendo prováveis cultivadores de mandioca. (p. 76).

[...] Esses grupos habitaram a região do Vinhais Velho até o ano 830 antes do presente, totalizando uma ocupação de 1.010 anos. A provável origem dos grupos ceramistas associados à terra preta é a área amazônica, possivelmente o litoral das Guianas e do Pará. (p. 76).

A última ocupação humana [...] ocorreu em torno de 800 anos antes do presente e durou até o período de contato com o colonizador europeu, já no século XVII.

Trata-se de povos Tupinambás, que ocuparam essa região, possivelmente vindos da costa nordestina, nas regiões do atual Pernambuco e Ceará [...]

[...] a ocupação Tupi, a julgar pelas datações durou pouco mais de 800 anos [...] (p. 76).

Para Schwennhagen (1924), professor do Liceo de Parnaíba, onde está hoje São Luís, ‘devia estar 3000 anos antes a Acrópole da ilha do Maranhão’. Pode ser que navegadores estrangeiros, ‘talvez Fenícios, lhe dessem o impulso inicial para fazer daqui um empório comercial’

Mas o Maranhão existia como a república dos tupinambás, já antes da fundação de Tupaón. Os sete povos tupis, que tomaram posse do norte do Brasil, cerca de 1500 anos A.C., entram pela foz do rio Parnaíba, procurando as serras em ambos os lados desse rio. Do lado oriental ficam os tabajaras, do lado ocidental os tupinambás; os outros cinco povos estenderam-se para o sul e sudeste. Todos os sete povos formaram uma confederação e as Sete Cidades (no Piauí) era a capital federal, isto é, o lugar, onde se reuniam todos os anos o Congresso dos Sete Povos. (SCHWENNHAGEN, 1925).

O CONGRESSO DO MULUNDÚS

Mas a harmonia não ficou sempre intacta; por quaisquer motivos desligaram-se os tupinambás da confederação e constituíram seu próprio congresso, ao lado ocidental do Parnaíba, em Mulundús.

Os tupinambás já eram grandes senhores, tinham ocupado a maior parte do interior do Maranhão, tinham fundado mais de cem colônias no Grão Para, Amazonas e Mato Grosso e precisavam dum centro nacional para conservar a unidade da nação dos tupinambás. Esse centro era Mulundús, onde se reuniam todo ano os delegados de todas as regiões, ocupadas pelos tupinambás. Nas cartas e relatórios do padre Antonio Vieira encontram-se muitos indícios desses factos. Ele relata que alguns dos seus amigos tupinambás lhe contaram que no interior do Maranhão se reúnem os delegados de todas as aldeias que falam a mesma língua geral, e pediram ao padre mandasse para lá um sacerdote católico para celebrar missa, dentro d grande reunião do povo. Assim o antigo congresso de Mulundús ficou transformado numa festa cristã, dedicada à memória de São Raimundo, como ainda agora se faz. Sempre, porém, essa festa conservou o caráter dum congresso popular, para onde vêem de longe, de Goiás, Mato Grosso e Pará amigos, parentes e comerciantes daquelas regiões que pertenciam antigamente ao grande domínio dos tupinambás.

Ludovico Schwennhagen

Por essa mesma época, já se registrava a passagem e o comércio desses mesmos Fenícios pelo Maranhão –Tue-Tóia, a Verdadeira Tróia, e mesmo Upaon, além da presença no lago Cajari, e as minas de salitre de Ubajara.

Para Schwennhagen (1924) todos os monumentos geográficos e etnográficos indicam que a ilha do Maranhão:

[...] constituía, na primeira época das grandes navegações, isto é, entre 3500 e 1000 anos antes da era christã, um empório marítimo e comercial. Essa época começou naquele momento em que se completou o desmoronamento do antigo continente Atlantis e que os povos que lá se refugiaram no ocidente, quer dizer na America Central, ou no oriente, nos países ao redor do mar Mediterrâneo. Sabemos que as frotas dos Fenícios navegavam desde 3500 a.C. entre a Europa, a África e a América, e sabemos que também os povos do México e do Norte do Brasil tinham uma extensa navegação. Os mapas marítimos, encravados em grandes placas de pedra calcareas, os quais existem hoje ainda em Paraíba e Amazonas, são documentos inegáveis.

Em A Pacotilha (30 de maio de 1925), Ludovico Schwennhagen publica artigo com o seguinte título: MINHAS PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS NO MARANHÃO. Realizando pesquisas em vários estados do Brasil, deteve-se no Piauí e no Maranhão. Sobre o Maranhão, em seu relato, sustenta a tese de que a cidade de São Luís – como Tutóia - foi fundada por navegadores fenícios:

As duas cidades, porém, não eram cidades fenícias; somente os fundadores e organizadores eram gente que chegara ao Mediterrâneo. A grande massa dos habitantes era tupis: em Tutóia, tabajaras, em Tupaón, tupiniquins. (SCHWENNHAGEN, 1925).

Chegados por estas terras por volta do ano 1.000 a.C - relacionaram-se com os habitantes da terra – tupis –fundando Tu-Troia – Tutóia – e Tupaón –Upau-açú:

OS FENICIOS E OS TUPIS

Os fenícios já estavam desde muito tempo em relações com os povos tupis; mas estes não tinham portos de mar, querendo viver só em terras altas e solidas. Entretanto, ficou terminada, no Mediterrâneo, a guerra de Tróia, em 1080 A.C. Caiu em poder dos aliados pelasgo-gregos a grande fortaleza que dominava o estreito dos Dardanelos e a entrada para a Ásia.

Os fenícios, os carios e muito outros povos da Ásia Menor eram amigos ou aliados de Tróia, mesmo as briosas guerreiras e cavaleiras amazônicas, das quais morreram centenas no vasto campo troiano.

Os sobreviventes dos povos vencidos andavam em navios dos fenícios, procurando nova pátria, e por isso aparecem, cerca do ano 1000 a.C., em diversos países, cidades com o nome de Tróia Nova ou Tróia Rediviva. Para o norte do Brasil chegaram também sobreviventes da grande guerra e fundaram Tu-Troia, ajudaram a fundar Tupaón, e os sobreviventes da Amazonas fundaram no Brasil uma sociedade de mulheres montadas amazônicas, que deu finalmente seu nome ao grande rio. Essas são as deliberações que indicam o tempo de 1000 anos a.C. para a fundação de Tutoia e de Tupaón (S. Luis). (SCHWENNHAGEN, 1925).

Antes, em 1924, a 4 de setembro, também em A Pacotilha e sob o título “São Luis na Antiguidade” afirma que a Ilha do Maranhão tem um grande passado histórico. Que “Pinson, o companheiros de Colombo, tinha noticias duma grande ilha, que era o centro da nação dos Tupinambás, um trato de terra muito rico e populado”. Chegando às Antilhas, desligou-se de seu companheiro para procurar o continente, situado ao Sul, “onde a Ilha do Maranhão devia ser, conforme as antigas histórias que viviam ainda na memória dos índios, a cabeça de ponte para entrar no continente”. Não sabemos se Pinson realmente esteve nesta ilha, “mas fora de duvidas que a procurou”.

Em 1448, Jean Cousin teria chegado a uma terra desconhecida, na foz de um rio caudaloso, identificado como o largo delta do Rio Amazonas; tese confirmada em 1785 por Desmasquete, e em 1878 por Paul Gaffarel (segundo MEIRELES, Mário Martins. O BRASIL E A PARTIÇÃO DO MAR-OCEANO. São Luís: AML, 1999, p. 98).

No ano de 1473 aparecem relatos de registros visuais da lendária “Ilha das Sete Cidades” e as tentativas de sua posse. Um dos casos mais consistentes foi carta apresentada ao rei D. Afonso V de Portugal pelo açoriano Fernão Teles. Do roteiro que então mostrou constava uma longa costa, com várias ilhas, baías e rios, que ele declarava ser parte das Sete Cidades. Embora se acredite que pudesse ser a costa do Norte do Brasil, entre o Maranhão e o Ceará, com o delta do rio Parnaíba, apenas se pode afirmar com certeza que aquele território se situaria na margem ocidental do Atlântico. Aparentemente o rei não terá acreditado totalmente na descoberta, ou não considerou Fernão Teles suficientemente digno, pelo que da carta de doação concedida não consta referência às Sete Cidades, mas apenas a uma grande ilha ocidental que se pretenderia povoar. Insatisfeito com a carta de doação, Fernão Teles insiste no pedido das Sete Cidades.

Consultado o cosmógrafo genovês Paolo del Pozzo Toscanelli (1398- 1492), que declarou que a Antília (designação dadaàs ilhas doMardas Caraíbas) ea Ilha das SeteCidades seriam naquela margem doAtlântico. Em 1476 a carta solicitada pelo açoriano Fernão Teles foi concedida, mas não se conhece a existência de qualquer expedição subsequente por parte daquele donatário ("Insula Septem Civitatum", que significaria Ilha das Sete Tribos ou Ilha dos Sete Povos, mas acabou fixada nas línguas modernas em Ilha das Sete Cidades http://pt.wikipedia.org/wiki/Sete_Cidades_(lenda)

Lenda das Sete Cidades – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Os Tupinambás representam uma das muitas culturas indígenas que habitavam o território brasileiro antes da chegada dos colonizadores europeus. Com uma rica história e uma sociedade complexa, os Tupinambás deixaram um legado que é crucial para entender a diversidade cultural do Brasil pré-colonial. Neste texto, exploraremos a cultura, a sociedade e a interação dos Tupinambás com os colonizadores europeus, embasando-nos em fontes históricas e antropológicas.

Os Tupinambás eram um grupo indígena que habitava principalmente a região costeira do Brasil, ao longo do litoral do atual estado do Maranhão até o sul do estado da Bahia. Eles eram parte do grupo linguístico Tupi e viviam em aldeias dispersas, muitas vezes próximas às praias. A subsistência dos Tupinambás baseavase na agricultura, caça, pesca e coleta.

Fontes antropológicas, como os escritos de Claude Lévi-Strauss em "Tristes Trópicos", destacam a organização social dos Tupinambás. Eles tinham uma estrutura de parentesco matrilinear, onde o vínculo de parentesco era traçado pela linha materna. Além disso, eram conhecidos por sua habilidade na construção de canoas e na cerâmica, que eram parte integrante de sua vida cotidiana.

A chegada dos europeus no século XVI trouxe profundas mudanças para a vida dos Tupinambás. As fontes históricas, como os relatos de viajantes e exploradores, incluindo André Thevet e Jean de Léry, oferecem insights sobre os primeiros encontros entre os indígenas e os colonizadores. Os Tupinambás, assim como outros grupos indígenas, tiveram experiências variadas com os europeus, que incluíram tanto alianças temporárias como conflitos.

Os colonizadores europeus estabeleceram postos de comércio e relações diplomáticas com alguns grupos indígenas, incluindo os Tupinambás, como parte de seus esforços para explorar e colonizar o território. No entanto, as relações muitas vezes eram marcadas por desentendimentos culturais, disputas de território e choques de interesses econômicos. O próprio termo "Tupinambá" foi usado pelos colonizadores para descrever grupos indígenas canibais, uma caracterização contestada por estudiosos modernos.

Os Tupinambás, como muitos outros grupos indígenas, enfrentaram doenças introduzidas pelos europeus para as quais não tinham imunidade, resultando em populações dizimadas. As fontes históricas, incluindo

relatórios missionários e registros coloniais, documentam o impacto devastador dessas epidemias. Consequentemente, muitos grupos foram deslocados de suas terras originais e enfrentaram um declínio populacional significativo.

Apesar desses desafios, os Tupinambás e outros grupos indígenas continuaram a lutar pela preservação de suas culturas e territórios. No século XX e XXI, houve um ressurgimento do ativismo indígena no Brasil, com esforços para reafirmar a identidade cultural, recuperar terras ancestrais e proteger os direitos indígenas. Em conclusão, os Tupinambás desempenharam um papel importante na história e na cultura do Brasil précolonial. Por meio de fontes históricas e antropológicas, é possível obter insights valiosos sobre sua sociedade, cultura e interações com os colonizadores europeus. Reconhecer e estudar a história dos Tupinambás é essencial para uma compreensão mais profunda da diversidade cultural e histórica do Brasil. Fonte: Estudos Históricos

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Academia Ludovicense de Letras

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Academia Poética Brasileira

Centro Esportivo Virtual

ApartirdaFrançaEquinocial,oMaranhãopassoucompreenderpartedoCeará(desdeoBuracodasTartarugas – Jericoacoara), o que foi referendado pelo governador geral do Brasil e, poucos anos depois, quando da divisão do Brasil, em 1621, estendendo o território até o Mucuripe, serviu de marco para a criação do Estado do Maranhão, com capital em São Luís compreendendo ainda o Ceará e o Grão-Pará.

Quando é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará, separado da jurisdição do Estado do Brasil, a região do Maranhão era conhecida por diversos nomes ou títulos: 'terra do rio das Amazonas', 'terra dos tupinambás', ou mesmo 'terra dos caraíbas'. Muitas Crônicas, Cartas, Memoriais e Planisférios chegam a representar o Maranhão como uma espécie de 'não-Brasil'.

Em certos períodos do século XVII também fazia parte do Maranhão o Ceará, este último considerado a fronteira natural do Estado do Brasil. Quase toda essa região está localizada a Oeste do meridiano de Tordesilhas, limite que começava a ser francamente ignorado.

O CABO DE SÃO ROQUE - A FRONTEIRA DAS DUAS COLÔNIAS DA AMÉRICA PORTUGUESA... O BRASIL E O MARANHÃO (a pedra de tropeço dos historiadores).

“Entendem-se, desde logo, os condicionamentos políticos que a geografia econômica impôs à colonização. Com efeito, a separação entre o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão (1621), cujos limites começavam exatamente na altura do cabo de São Roque, responde ao quadro de ventos e marés predominantes na costa sul-americana: facilidade de comunicações com a Corte e transtorno da navegação litorânea sul-americana levam à criação de duas colônias distintas no espaço da América portuguesa. Na mesma perspectiva, uma das críticas feitas ao estabelecimento do Tribunal da Relação na Bahia (1609) decorria da dificuldade de encaminhar àquele tribunal os pleitos oriundos das outras capitanias, dependentes das monções favoráveis à navegação de cabotagem, “o que dilata muito o despacho dos negócios”. Mais valia enviar os requerimentos das outras capitanias diretamente aos tribunais do reino (p. 59). Correnteza mais rápida de todo o litoral brasileiro, atingindo velocidades de 2,5 nós no costão que vai do cabo de São Roque (Rio Grande do Norte) ao cabo Orange (Amapá), a corrente das Guianas facilitava grandemente a navegação para o Norte. Tamanha é a força das águas rolando nessa área que, mesmo com as velas meio arriadas, navios grandes podiam cobrir em três dias as trezentas léguas separando o cabo de São Roque do porto de São Luís. Em contrapartida, a corrente representava um obstáculo quase intransponível à navegação a vela no retorno do Estado do Maranhão ao Estado do Brasil. Até o advento dos barcos a vapor, nos meados do século xix, só as sumacas barcaças pequenas de dois mastros conseguiam sair da Bahia, de Pernambuco, ou mais do Sul, e bordejar na torna-viagem do Pará e do Maranhão. Ainda assim, tudo dependia da sorte (p. 58)”. Fonte: Trecho do Livro “O Trato dos Viventes – A formação do Brasil” de Luiz Felipe de Alencastro. Por João Bosco Gaspar

As invasões holandesas no Nordeste brasileiro ocorreram durante o século XVII e foram motivadas principalmente pelo interesse dos holandeses no lucrativo comércio de açúcar. A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais liderou essas incursões

A primeira invasão significativa aconteceu em 1624, quando os holandeses ocuparam Salvador, na Bahia, mas foram expulsos no ano seguinte Em 1630, eles voltaram a atacar, desta vez em Pernambuco, onde conseguiram estabelecer uma colônia que durou até 1654.

Entre os anos de 1637 e 1654 os holandeses mantiveram um porto no rio Camocim (rio Coreaú) nas proximidades da atual cidade de Granja. As especiarias recolhidas pelos batavos nos altiplanos da Ibiapaba e na Costa do Ceará, eram enviadas para a Europa via porto do Camocim.

A preparação da invasão holandesa foi decidida por documento escrito na cidade de Middelburg, província da Zelândia, pelo commandeur Gideon Morris. Trata-se da Breve descrição do Maranhão, escrita no ano de 1637. Morris era figura bem conhecida entre os diretores da WIC e suas cartas e relatórios resumem muito do que os neerlandeses conheciam sobre a Amazônia. O commandeur havia sido prisioneiro dos portugueses, supostamente permanecendo na região por cerca de oito anos, experiência que garantia um grau de fidelidade na comparação com outras crônicas e relatórios desse período. De fato, durante muito tempo, Morris foi considerado um dos únicos holandeses especialistas em navegação fluvial amazônica de longo curso. Na documentação neerlandesa, ele também é apresentado como habilidoso articulador político, fluente na língua dos nativos e influente junto aos seus principais (Cardoso, 2017).

A Breve descrição do Maranhão é um documento que procura explorar certas expectativas sobre a região. Não era a primeira vez que o Heren XIX recebia um documento sobre o tema, mas em comparação com cartas, relatórios e mapas anteriores, o texto de Gedion apresentava uma vantagem: apesar de não se distanciar muito das fórmulas já encontradas nas crônicas portuguesas e espanholas, não era uma simples reprodução dos argumentos luso-espanhóis, na medida em que seu autor esteve efetivamente naquelas terras. Aliás, este argumento de autoridade, bem comum nos escritos da época, é reivindicado, a todo momento, no texto. Mais do que um relatório, o escrito apresentado ao Conselho Supremo faz uma projeção futura sobre a conquista neerlandesa da Amazônia, suas vantagens e possíveis desafios. Por isso, duas coisas são devidamente enfatizadas: a vocação comercial da região e a importância das nações indígenas em qualquer projeto pensado para o Maranhão e o Grão-Pará.

E em 1641, uma esquadra holandesa com dezenove navios e dois mil soldados invadiu a Ilha de São Luís. A ocupação holandesa no Maranhão foi marcada por conflitos com os colonos portugueses e luso-brasileiros, além de dificuldades como doenças e a resistência local. Em 1644, os holandeses foram finalmente expulsos da região.

Após dez meses de ocupação holandesa no Maranhão, em 30 de setembro de 1642, tem início no Itapecuru, a reação portuguesa. Muniz Barreiros e mais cinquenta homens, usando de táticas de guerrilhas, vão retomando dos holandeses, um a um, os engenhos de açúcar e a fortaleza do Calvário, situada na embocadura do rio.

Empolgados com as vitórias em Itapecuru, as tropas portuguesas, ganham mais adeptos e passam para Ilha de São Luís. Em 21 de novembro de 1642, as tropas lusas, comandadas por Muniz Barreiros e Teixeira de Melo, emboscaram a coluna inimiga do comandante Sandalim e a derrotam. Essa batalha ocorreu na região do rio Cutim, onde hoje fica o monumento do Outeiro da Cruz.

A resistência luso-brasileira, incluindo a famosa Batalha dos Guararapes, foi crucial para a expulsão definitiva dos holandeses. A presença holandesa no Nordeste deixou um legado cultural e arquitetônico significativo, especialmente em Recife e Olinda “(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar.

Pedro Poti - aliado dos neerlandeses contra os lusitanos -, chegou a ser levado para a Holanda, onde foi recebido como herói e tratado com honrarias. Em 19 de fevereiro de 1649, durante a Segunda Batalha dos Guararapes caiu prisioneiro dos portugueses, período em que viveu um calvário na prisão – escreveu a seu cunhado Felipe Camarão o que segue:

“(...) Eu me envergonho da nossa família e nação ao me ver ser induzido por tantas cartas vossas à traição e deslealdade, isto é, a abandonar os meus legítimos chefes, de quem tenho recebido tantos benefícios. Ficae sabendo que serei um soldado fiel aos meus chefes até morrer. Os cuidados que dizeis ter por mim e o favor que os portuguezes nos dispensariam não são mais que histórias contadas para nos iludir. Não acreditais que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os hollandezes, entre os quais fui educado. Por outro lado, em todo paiz se encontram os nossos, escravizados pelos perversos portuguezes, e muito ainda o estariam si eu não os houvesse libertados. Sou christão e melhor do que vós: creio só em Christo, sem macular a religião com idolatria, como fazeis com a vossa. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos e perigosos portuguezes e vinde juntar-vos conosco. No meu acampamento, 31 de outubro de 1645 (assinado) o regedor e comandante do regimento de índios da Parahiba, Pedro Poti (...)”. Fonte:Trechodo livro“Fastos Pernambucanos" doDr.PedroSouto Maior, ano de 1913, p. 156/157. Por João Bosco Gaspar.

Filipe Camarão, nascido Poti, foi um indígena brasileiro e herói da Insurreição Pernambucana. Ele recebeu o nome cristão de Antônio Filipe Camarão após ser batizado. Em 1614, o índio potiguar acompanhou o capitão Jerônimo de Albuquerque Maranhão na reconquista da capitania do Maranhão, onde os franceses haviam fundado a cidade de São Luís. Felipe Camarão reuniu 200 dos seus melhores guerreiros que se juntaram aos 300 portugueses. Jerônimo de Albuquerque e seus comandados estabeleceram-se na baía de São Marcos, em frente a São Luís e logo fundaram o arraial de Santa Maria, em Guaxenduba, onde aguardaram o ataque dos franceses. O ataque aconteceu em 19 de novembro de 1614. Mesmo com menor número de homens, a tropa de índios e portugueses saiu vitoriosa. Após a expulsão dos franceses da “França Equinocial”, iniciou-se a reconstrução de São Luís. Lutou contra os invasores holandeses e franceses, sendo reconhecido como "Capitão-Mor de Todos os Índios do Brasil". Ele foi um líder militar e um dos heróis da Batalha dos Guararapes

A luta pela expulsão dos holandeses de Pernambuco teve início em 1645, um ano depois da partida do Conde Maurício de Nassau. O chefe da Insurreição Pernambucana foi João Fernandes Vieira, um dos mais ricos habitantes da região. Ao seu lado combateram Filipe Camarão, André Vidal de Negreiros e Henrique Dias.

Após a capitulação holandesa de 1654, o Estado do Maranhão foi reorganizado sob o governo de André Vidal de Negreiros, agora com o nome de "ESTADO DO MARANHÃO E GRÃO-PARÁ". Naquela ocasião, André Vidal recebeu do rei de Portugal um Regimento com 58 artigos para melhor gerir o novo governo do Maranhão. Constituído, a princípio, pelas capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará (ainda não havia a capitania do Piauí), o Estado do Maranhão começava nos Baixios de São Roque e terminava na linha do Tratado de Tordesilhas. Os dois primeiros artigos do Regimento, tratavam da Capitania Real do Ceará. Por João Bosco Gaspar

No ano de 1655, André Vidal de Negreiros assumiu o governo do Estado Colonial do Maranhão, constituído (até aquela data) pelas capitanias do Ceará, Maranhão, Cabo do Norte e Grão-Pará. Entre as suas principais incumbências estava a construção de um forte na foz do rio Camocim, para garantir a extração do pau-violeta (nome científico “Dalbergia Cearensis”) nos sopés da Ibiapaba e do âmbar nas praias do Camocim.

“Cortava-se o pau violeta, nas fraldas da serra de Ibiapaba, onde estas montanhas mais se avizinhavão do mar, e nas praias se encontrava muito âmbar. Para assegurar o commercio d'estes gêneros queria elle plantar um forte á foz do Camuci, mas não era couza esta que podesse fazer-se sem formar allianças com os índios”. Fonte: Livro “História do Brazil” traduzida do inglês por Luiz Joaquim de Oliveira e Castro, publicado em 1862, Tomo IV, p. 230.

Vieira, que regressara pela segunda vez ao Maranhão, em 1655, afirma que o Governador André Vidal de Negreiros :

[...] intenta uma fortaleza na boca tio Rio Camuci, emprêsa que dependia da vontade dos habitadores da serra. Escreve-lhe o padre Antônio Vieira. Sucesso da resposta da sumaça que com materiais e soldados partiu a levantar a fortaleza.

Este era o miserável estado da Cristandade da serra, quando no ano de 1655 chegou segunda vez ao Maranhão o padre Antônio Vieira, com ordens de Sua Majestade, para que a doutrina e govêrno espiritual de todos os índios estivesse à conta dos religiosos da Companhia; e, posto que o estado referido daqueles cristãos, de que já então havia notícias por fama, prometia mais obstinação que remédio, considerando, porém, os padres que a sua obrigação era acudir à reformação dos índios já batizados, e que êstes da serra tinham sido os primogênitos desta missão, e de quão pernicioso exemplo seria para os que se houvessem de converter, e para os já convertidos, a vida escandalosa em que estavam, e muito mais a imunidade dela. Era ponto êste que dava grande cuidado a toda a missão, e que muita se encomendava a Deus, esperando todos que chegariam ao céu as vozes da sangue do seu Abel, o padre Francisco Pinto, e que, amansadas aquelas feras, que já estavam marcadas com o caráter do batismo, tornariam outra vez ao rebanho de que eram ovelhas. Ajudou muito esta esperança um novo intento do governador André Vidal de Negreiros, o qual chegou no mesmo ano ao Maranhão, resoluto a levantar uma fortaleza na boca do Rio Camuci, que é defronte das serras, para segurança do comércio do pau violete, que se corta nas fraldas delas, e do resgate do âmbar, que a tempos sai em grande quantidade naquelas praias. Esta é a suavidade da Providência divina, tantas vêzes experimentada nas missões de ambas as Índias, onde sempre entrou e se dilatou a fé, levando sobre as asas do interêsse. Comunicados os pensamentos do governador e superior das missões, julgaram ambos que primeiro se escrevesse aos índios de serra, de quem não só dependia o comércio, mas ainda a fábrica e sustento da fortaleza. Mas dificultava, ou impossibilitava de todo a embaixada, a dificuldade do caminho de mais de cem léguas, atalhado de muitos e grande rios, e infestado de diversas nações de tapuias feros e indômitos, que a ninguém perdoam, e, confirmado tudo com a experiência da mesma viagem, intentada outra vez com grande poder de gente de armas, e não conseguida. Contudo, houve um índio da mesma nação tobajará chamado

Francisco Murereíba, o qual, confiado em Deus, como êle disse, se atreveu, e ofereceu a levar as cartas. O teor delas, foi oferecer o governador, em nome de el-rei, a todos os índios que se achavam na serra, perdão e esquecimento geral de todos os delitos passados, e dar-lhes a nova de serem chegados ao Maranhão os padres da Companhia, seus primeiros pais e mestres, para sua defensa e doutrina. E o mesmo escreveu o padre superior das missões, dando a si, e a todos os padres, por fiadores de tudo o que o governador prometia, e referindo-se umas e outras cartas ao mensageiro, que era homem fiel, e de entendimento, e ia bem instruído e afeto ao que havia de dizer. Partiu Francisco com as cartas em maio de 1655, e, como fôssem passados nove meses sem nova dêle, desesperado de todo êste primeiro intento, no fevereiro do ano seguinte, que sâo as monções, em que de alguma maneira se navega para barlavento, despachou o governador uma sumaça, com um capitão e quarenta soldados, e os materiais e instrumentos necessários à fábrica da fortaleza do Camuci, e na mesma sumaça ia embarcado o padre Tomé Ribeiro com um companheiro, para saltarem em terra no mesmo sítio, e praticarem aos índios, e darem princípio àquela missão. Animou também muito a resolução do mesmo governador, e intentos dos padres, a paz que por meio dêles vieram buscar ao Maranhão os teremembés, que são aqueles gentios que freqüentemente se nomeiam no roteiro desta costa com o nome de alarves, cuja relação nós agora deixamos por ir seguindo a sumaça, e não embaraçar o fio desta história. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource; Descrição da Ibiapaba - Wikisource

OS ÍNDIOS CALVINISTAS DA SERRA DA IBIAPABA E A “PARÁBOLA DOS TALENTOS”.

Segundo Souto Maior (1993)

Firmada a Rendição de Taborda em janeiro de 1654, os índios calvinistas das capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam obstinados em direção aos altiplanos da Ibiapaba. Tencionavam criar em solo ibiapabano um enclave indígena de cunho protestante: "a República de Cambressive". Antônio Paraupaba, seu líder, homem de muita influência junto a Companhia das Índias Ocidentais, viajou duas vezes (1654 e 1656) para a Holanda com o propósito de conseguir dos batavos, apoio financeiro e militar para realizar seu intento. Ao se dirigir aos nobres senhores holandeses, Paraupaba ratifica a crença do seu povo “como suditos bons e firmes na sua fidelidade para com este Estado e a Religião Reformada de Christo, a única verdadeira”, e diz que o auxílio batavo seria de fundamental importância, para que aqueles que, segundo ele, “foram uma vez trazidos ao conhecimento da verdadeira religião”, não fossem privados do “reino de Jesus Christo”. Antônio Paraupaba, como conhecedor das Escritura Sagradas, faz alusão a Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-30), insinuando que os batavos receberam de Deus a incumbência de multiplicar em terras brasileiras, as ovelhas do seu rebanho: “Nem deixem que elles recaiam na selvageria entre as feras nos sertões bravios. Pois teriam de prestar contas ao Grande e Todo Poderoso Deus que é contra os que por usura enterram a sua libra com medo de gastar”. Termina Paraupaba implorando socorro imediato aos “pais e defensores dos oprimidos e desamparados”, para que as quatro mil pessoas refugiadas em Cambressive (Ibiapaba), inclusive mulheres e crianças, pudessem sobreviver naquelas paragens, para o bem delas e “para a conservação da Igreja Christã Reformada, a única verdadeira”. Fonte: Livro “Fastos Pernambucanos” de Pedro Souto Maior, Imprensa Nacional, 1993. Por João Bosco Gaspar.

Para John Hemming (1978), foi em 1654 que :

“(...) Os índios fortificaram-se entre os tobajaras, na serra de Ibiapaba. Denominaram sua república Cambressive e chegaram a fazer uma tentativa, aliás malograda, de obter auxílio dos holandeses. Antônio Paraupaba foi enviado à Holanda e fez um comovente apelo aos Estados Gerais em agosto de 1654. Como nada aconteceu, fez um segundo apelo em 1656. O suplicante é enviado por aquela nação que se refugiou com suas esposas e filhos em Cambressive, no sertão

além do Ceará, para escapar aos furiosos massacres dos portugueses. Eles estavam lá havia dois anos, mas ainda se mantinham leais ao governo dos holandeses. Se deixar de receber ajuda, aquele povo finalmente deverá cair nas garras dos cruéis e sanguinários portugueses, que desde a primeira ocupação do Brasil têm destruído centenas de milhares de pessoas naquela nação. Paraupaba declarou não poder acreditar que os holandeses deixariam de ajudar os índios, de recompensar seus anos de leais serviços e de proteger a religião reformada (...)”. Fonte: Trecho do livro “Ouro Vermelho” de John Hemming, ano de 1978 p. 454). Por João Bosco Gaspar.

Leslie Bethell, (1997), afirma que no ano de 1654:

“(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”. Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar.

Já para F. A. Pereira da Costa (1952), no ano de 1654:

“(...) Os índios que serviram no exército holandês, e os que seguiram seu partido e abraçaram a sua religião, a de reforma calvinista e luterana, não se julgando seguros em Pernambuco após a sua restauração [1654], apesar do prometido esquecimento do passado e do perdão geral concedido aos indivíduos de qualquer nação, qualidade e religião, ainda mesmo que fossem rebeldes à coroa de Portugal, o que tudo constava do termo de capitulação dos holandeses firmado em 26 de janeiro deste ano de 1654, emigraram logo para os sertões do Ceará, e depois se foram refugiar na serra da Ibiapaba, seus extremos norte, onde lhes parecia, não recear o ataque dos seus inimigos, e fazendo assim de tais paragens o seu baluarte, a sua vendéa, contra os vencedores, e pretendendo mesmo alguns dos mais instruídos e exaltados, fundar ali um estado índio independente, exclusivamente da sua gente e repelindo a branca. Os índios refugiados na serra da Ibiapaba, nos limites norte do Ceará, atingiam a um número superior a quatro mil almas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Anais Pernambucanos, Tomo III, 1635-1665” de autoria de F. A. Pereira da Costa, p. 393-394, 1952). Por João Bosco Gaspar.

Carlos Studart Filho (1959) coloca que:

“(...) Vale a pena salientar que, nos perturbados momentos da Restauração Pernambucana, numerosos indígenas, parciais dos flamengos, temendo muito justamente as represálias sempre tão cruéis por parte dos portugueses, haviam debandado da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, encaminhando-se em grandes magotes à Ibiapaba. Afinados, muitos deles, pelos contatos da cultura flamenga, iam na esperança um tanto romanesca de criar, em plena selva brasileira, um estado indígena por completo fechado à influência de estranhos de Além-Mar. Acastelados em atitude hostil naqueles chapadões que bordam o Ceará a oeste, passaram efetivamente esses rebeldes a encabeçar a resistência à expansão dos luso-brasileiros que, em meados do século XVII, tentaram derivar para aquelas bandas (...)”. Fonte: Trecho do livro “Fundamentos Geográficos e Históricos do Estado do Maranhão e Grão Pará” de Carlos Studart Filho, ano de 1959, p. 291. Por João Bosco Gaspar.

Já o padre Antônio Vieira confirma que:

“(...) Entraram os índios rebeldes nas capitulações da entrega com perdão geral de todas as culpas passadas; mas eles como ignorantes de quão sagrada é a fé publica, temendo que os portugueses, como tão escandalizados, aplicariam as armas vitoriosas a vingança, que tão merecida tinham, e obrigados de certo rumor falso de que os brancos iam levando tudo a espada, lançaram-se cega e arrebatadamente aos bosques, com suas mulheres e filhos, onde muitos pereceram a mão dos tapuios, e os demais se encaminharam as serras de Ibiapaba, como refúgio conhecido, e valhacouto seguro dos malfeitores (...)”. Fonte: Trecho do livro “Cartas Várias” do padre Antônio Vieira, ano de 1885, p. 340. Por João Bosco Gaspar.

Prossegue Vieira:

Com a chegada dêstes novos hóspedes, ficou Ibiapaba verdadeiramente a Genebra de todos os sertões do Brasil, porque muitos dos índios pernambucanos foram nascidos e criados entre os holandeses, sem outro exemplo nem conhecimento da verdadeira religião. Os outros militavam debaixo de suas bandeiras com a disciplina de seus regimentos, que pela maior parte são formados da gente mais perdida e corrupta de todas as nações da Europa. No Recife de Pernambuco, que era a corte e empório de toda aquela nova Holanda, havia judeus de Amsterdão, Protestantes de Inglaterra, calvinistas de França, luteranos de Alemanha e Suécia, e todas as outras seitas do Norte, e desta Babel de erros particulares se compunha um ateísmo geral e declarado, em que não se conhecia outro Deus mais que o interêsse, nem outra lei mais que o apetite; e o que tinham aprendido nesta escola do inferno é o que os fugitivos de Pernambuco trouxeram, e vieram ensinar à serra, onde, por muitos dêles saberem ler, e trazerem consigo alguns livros, foram recebidos e venerados dos tobajarás como homens letrados e sábios, e criam déles, como de oráculo, quanto lhes queriam meter em cabeça. Desta maneira, dentro em poucos dias, foram uns e outros semelhantes na crença e nos costumes; e no tempo em que Ibiapaba deixava de ser república de Baco - que era poucas horas, por serem as borracheiras contínuas de noite e de dia - eram verdadeiramente aquelas aldeias uma composição infernal, ou mistura abominável de todas as seitas e de todos os vícios, formada de rebeldes, traidores, ladrões, homicidas, adúlteros, judeus, hereges, gentios, ateus, e tudo isto debaixo do nome de cristãos, e das obrigações de católicos. Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource

TELA HISTÓRICA-DECORATIVA "ALDEIA DA IBIAPABA" de autoria do mestre viçosense Ernane Pereira. Essa obra de arte faz parte da decoração do Centro de Formação Padre Ascenso Gago, em Viçosa do Ceará. Representa a Aldeia da Ibiapaba (Viçosa) como sede da Missão Jesuítica dedicada à São Francisco Xavier, período de 1656 a 1662, fundada pelo padre Antônio Vieira. No ano de 1660 o padre Antônio Vieira esteve na ibiapaba, fato registrado no memorável livro "A Missão de Ibiapaba" de sua autoria.

CEARÁ, MARANHÃO, PARÁ E CABO DO NORTE - AS CAPITANIAS DO ESTADO COLONIAL DO MARANHÃO.

Manuel Guedes Aranha, administrador colonial português que governou o Estado do Maranhão e Grão-Pará de 03 de setembro de 1667 a março de 1668, fala o seguinte: [01]

“Fica o Estado do Maranhão correndo do Brazil pela costa de leste, e começa sua demarcação 65 léguas de Pernambuco junto aos baixos de São-Roque em 4 graus e 4 minutos do sul; ficando dali ao Ceará 125 léguas, em 3 graus e 30 minutos do sul. Do Ceará ao Maranhão há 120 léguas, em 2 graus e 40 minutos latitude do sul, longitude 338. Do Maranhão à barra do Pará vão 228 léguas, em 18 minutos do norte; e dali ao Cabo do Norte, que é a ponta da terra da outra banda em 1 grau e 50 minutos do norte vão 60 léguas, que tem de largo o rio das Amazonas na boca, e do cabo do rio Vicente Pinzon 30 minutos norte, latitude que é aonde chega a demarcação da coroa de Portugal e começa a da Espanha”. (p. 01-02). [01] Fonte: Livro “Papel político sobre o Estado do Maranhão” 1665, Manuel Guedes Aranhão, Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, ano de 1883, Tomo XLVI 1ª parte, Rio de Janeiro. Por João Bosco Gaspar

Pela Bula “Super Universas Orbis Ecclesias”, o Papa Inocêncio XI instituiu o Bispado do Maranhão em 1677. Essa Bula diz que seu território começava no “Cabo do Norte, ao longo do litoral e pelo interior da terra até à Fortaleza do Ceará”. Em Latim: "Capite Nortis, per oram marítima et terram intus, usque ad arcem de Seará"... Até a Fortaleza do Ceará. !!!!

A Bula “Inscrutabili Caelestis Patris” de 1725, pela qual o Papa Bento XIII, "desmembrou, separou e dividiu a capitania do Piauhy do bispado de Pernambuco, e a uniu e anexou ao bispado do Maranhão, com todos os benefícios, mosteiros e igrejas do território da dita capitania", diz que, após a incorporação da capitania do Piauhy ao Bispado do Maranhão, a fronteira litorânea do dito Bispado (Maranhão) permaneceu no mesmo lugar estabelecido pela Bula de 1677, não foi alterada... ou seja, o Bispado do Maranhão ia "até a Fortaleza do Seará".

Esse fato foi lembrado pela Mesa da Consciência e Ordens no ano de 1755, quando o Bispo do Maranhão apresentou uma Representação acerca dos limites do seu Bispado.

Até o ano de 1755 a "questão da divisão dos bispados da América Portuguesa" ainda não tinha sido resolvida pelo Rei. Havia disputas entre os Bispados do Maranhão e Pernambuco (pela Serra da Ibiapaba), Maranhão e Pará (pelas Minas de São Félix e Natividade, e Rio de Manuel Alves) e Pará e São Paulo (nas terras novas de Goyás). Fonte: Livro “Bullarium Patronatus Portugalliae Regum In Ecclesiis - Tomo II, 1601-1700”, de autoria de Vicecomite (Visconde) de Paiva Manso, Ex Typographia Nationali, Roma, 1870.

Sessão publica da Casa dos Acores, ontem , na livraria Amei, com a presença do Diretor das Comunidades Acorianas. O tema foi relação histórica entre Maranhão e Acores.

SOBRE OS AÇORIANOS NO MARANHÃO

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

Academia Ludovicense de Letras Academia Poética Brasileira

Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Centro Esportivo Virtual

Aconteceu nesta semana, terça-feira, um encontro da Casa dos Açores no Maranhão, com a presença de um representante daquela comunidade, Dr. José Andrade.

Os participantes da mesa se referiram à chegada dos primeiros açorianos aqui chegados, à partir de 1619.

A relação das Ilhas dos Açores com o Maranhão é anterior à restauração portuguesa /espanhola ocorrida em 1615. Sabemos que no período de 1580 a 1640 a região pertencia à Espanha, pois o reino de Portugal perdera seu ultimo soberano, e a coroa então passou para o domínio espanhol. É neste período que a França ocupa a região, e Portugal tenta retomá-la.

Na guerra de (re)conquista territorial, muitos militares do exército portugues/espanhol, assim como sacerdotes participaram dos eventos ocorridos, principalmente à partir de 1603. Vejamos:

A primeira tentativa para expulsar os franceses do Maranhão foi a do açoriano Pêro Coelho de Sousa que chegou de Pernambuco em 1603 e desembarcou no Ceará com 65 soldados e mais de 200 índios. Já Barretto (1958)dizqueintegravam aexpedição 86europeus e200 indígenas,e àfrente, Martim Soares Moreno, Simão Nunes e Manoel de Miranda Jacques Riffault percorria o litoral do Ceará entre 1603-1604, quando o Capitãomor Pero Coelho de Souza recebeu Regimento passado pela Coroa ibérica, que lhe determinava: [...] “descobrir por terra o porto do Jaguaribe, tolher o comércio dos estrangeiros, descobrir minas e oferecer paz aos gentios" e "fundar povoações e Fortes nos lugares ou portos que melhores lhe parecerem” . Em 1604, Pero Coelho de Souza passou rumo a Ibiapaba, e as batalhas contra os nativos que apoiaram os franceses e contra os franceses estabelecidos na região entre o Camocim e o Maranhão. As Fortificações do Camocim localizavam-se na margem esquerda da foz do rio Coreaú, atual Barreiras (município de Camocim). Barretto (1958) informa que uma fortificação neste ancoradouro já havia sido cogitada em 1613 por Jerônimo de Albuquerque Maranhão (1548-1618), no contexto da conquista da Capitania do Maranhão aos franceses, optando por se estabelecer, entretanto, em Jericoacoara (p. 92).

PERO COELHO DE SOUZA (Ilha de São Miguel, fins do século XVI Lisboa, meados do século XVII) foi um explorador português, oriundo dos Açores. Chegou ao Brasil em 1579 e foi o primeiro representante da Coroa Portuguesa a desbravar os territórios das capitanias da Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte e Ceará, entre os séculos XVI e XVII. Concunhado de Frutuoso Barbosa exerceu interinamente o governo da Paraíba após a administração deste, e foi vereador da câmara da Cidade da Parahyba pelos anos de 1590 Em 1603, requereu e obteve da Corte Portuguesa, por intermédio de Diogo Botelho, oitavo Governador-geral do Brasil, o título de capitão-mor para desbravar, colonizar e impedir o comércio dos nativos com os estrangeiros que

há anos atuavam na capitania do «Siará Grande». Esse fidalgo da casa do rei e militar experiente, partiu da Paraíba para a conquista as terras cearenses.

Pero Coelho morreu em Lisboa, depois de passar longos anos a requerer, inutilmente, a paga dos seus serviços.

Logo após essa tentativa de se chegar ao Maranhão, houve, em 1607, outra, com dois padres jesuítas, o açoriano Francisco Pinto, de Angra, Ilha Terceira, de cinquenta e três anos e o alentejano Luís Figueira, de Almodávar, que desembarcaram na foz do rio Ceará e foram trucidados pelos índios, com Francisco Pinto sendo devorado

FRANCISCO DA COSTA PINTO, padre Jesuíta, nascido em 1552, da cidade de Angra, Ilha de Terceira. Morto em 11 de janeiro de 1608, na Chapada de Ibiapaba Açoriano, veio para o Brasil, quando criança, acompanhando a família que imigrou para o Brasil. Aos 17 anos de idade, deixou o Estado de Pernambuco seguiu para a Bahia e em 31 de outubro de 1568 ingressou na Companhia de Jesus. Não chegou a completar o curso, recebendo a o título de Coadjutor espiritual formado. Em 1588 recebeu a ordens sacras, sendo considerado padre. Devido a seu conhecimento das línguas indígenas é indicado para a Missão do Maranhão No dia 20 de janeiro de 1607, partiu do Recife, em uma embarcação que ia buscar sal coletado nas salinas na foz do Rio Mossoró[4], juntamente com o padre Luís Figueira para o Siará Grande, com o intuito de catequizar os nativos daquele território.

Da conquista, efetiva, com a expulsão dos franceses, participaram outros açorianos: Alírio Cardoso (2011) apresenta, em um quadro, a origem de alguns oficiais que participaram da Conquista do Maranhão e Grão-Pará (1615-1616, baseado em Berredo (1988). São eles: NOME

Manuel de Sousa de Eça Capitão-Mor/ Capitão de Infantaria Ilhas dos Açores

Diogo de Campos Moreno Sargento-Mor Tanger ou Ilha Terceira

Bartolomeu Ramires Incerto Ilhas dos Açores

Domingos Correia Maestro de Caravela Ilha Graciosa (Açores)

FONTE: CARDOSO (2011), de acordo com BERREDO, Anais Históricos do Estado do Maranhão. São Luís: Alumar, 1988 [1749], § 198-199; § 248; §304-308; §436; § 763-780.

MANUEL DE SOUSA (DE SOUZA) DE EÇA (DEÇA) (DE SÁ) (E SÁ). Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Capitão-môr do Pará que participa en la conquista de Maranhão. Fue enviado, con el rango de capitão-môr o de capitão de Infantaria, como parte de la flota de socorro integrada por siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses (CARDOSO, 2011, p. 331, CARDOSO, 2012, p. 164

DIOGO DE CAMPOS MORENO Nacido en Tanger o en la Ilha Terceira, participó como alférez en la Guerra de Flandes, en los ejércitos de Alejandro Farnesio. Nombrado Sargento mor do Brasil en 1602 cuando va a Brasil con el gobernador Diogo Botelho (Alvará de 25 de enero de 1602). A su vuelta a Europa en 1613 el rey Felipe III extinguió el cargo, pero lo volvió a nombrar para el mismo en 1613 cuando lo mandó a la conquista de Maranhão (Alvará de 19 de diciembre de 1613). Participó en las campañas para la conquista de Maranhão de 1614 y 1615. Según Cardoso (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164)

BARTOLOMEU RAMIRES Lugar de nacimiento: Ilhas dos Açores. Enviado con cargo desconocido o "Incerto" en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 con el fin de arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164).

DOMINGOS CORREIA - Lugar de nacimiento: Ilha Graciosa. Mestre de caravela. Enviado en la flota de siete navíos y seiscientos hombres que comandó Alexandre de Moura en 1615 para arrebatar el fuerte de São Luís do Maranhão a los franceses. (CARDOSO, 2011, p. 331; CARDOSO, 2012, p. 164). Recebeu em julho de 1635 Carta de Capitão de infantaria da armada do Brasil. 1Recebeu em junho de 1635 Carta de Provedor do Rio de Janeiro. Depois daocupação doimportanteponto estratégicodailhadoMaranhão, em 1615,Jerónimo deAlbuquerque ficou ao comando das forças lusas na cidade de São Luís, fundada, em 1612, pela força expedicionária gaulesa derrotada (ALMEIDA, 2012); diz-nos esta autora: “que nesta altura estava a ser dada prioridade à ocupação efectiva e controlo desta região por parte dos governantes”: Em 1615 Jorge de Lemos Bettencourt propôs-se a encaminhar dos Açores para o Pará mil pessoas de forma a constituir-se um núcleo populacional, mas na prática só conseguiu transportar cerca de metade dos efectivos. Quando esses colonos chegaram ao Maranhão, em 1618, souberam através da população local das condições inóspitas e das dificuldades que iriam encontrar no estabelecimento na região do Pará. A própria

região do Maranhão carecia de gente para a constituição de povoados, pelo que se dava prioridade ao expediente de povoar essa zona comparativamente ao restante conjunto brasílico. O próprio governador do novo Estado do Maranhão tardou a ocupar o seu posto. [...].

O capitão-mor JORGE DE LEMOS BETTENCOURT (ou Betancor, como também se encontra nos documentos da época) era natural das Ilhas de Açores e fidalgo da Casa Real. Seu pai havia servido em Pernambuco e seu avô, o fidalgo João de Bettencourt de Vasconcellos, fora degolado por ordem do Prior do Crato quando prestava serviços ao soberano na Ilha Terceira. Bettencourt ofereceu-se para levar duzentos casais provenientes das Ilhas dos Açores para povoarem o Maranhão e o Pará, arcando com todas as despesas da viagem até a chegada à terra. (1636. AHU_ ACL_CU_009, Caixa 1, Doc. 109, IN . CORRÊA, 2012).

Jorge de Lemos de Bettencourt, nascido em 1540, era filho de Jorge de Lemos, o velho, filho de João Dias de Lemos (1480),nasceu em 1510, Ilha de SãoJorge, Açores, Portugal,e de Maria Gonçalves De Ávila,nascida em 1510, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal, e tinha duas irmãs, Francisca de Lemos, e Ignez Gomes de Ávila, 1560, Ilha de São Jorge, Açores, Portugal. Casado com Joana Bettencourt de Vasconcelos, pais de Pedro de Lemos Betancur, nascido em 1580,naTerceira; FranciscodeLemosBettencourt; JorgedeLemosBettencourt,(II); PedrodeLemosBetancur e Ignes Betancurt.

A 12 de julho de 1619, Antonio Ferreira de Bittencourt, natural da ilha de São Miguel, conseguiu uma autorização da Fazenda Real dos Açores para transportar, no período de três anos, cerca de 50 casais para o Maranhão, tudo à custa da sua fazenda. De fato, o navio São Francisco chega ao Maranhão no dia 29 de outubrode1621 com 40 casais, totalizando148pessoas,conformeconstaacertidãodatadade24denovembro de 1622, apresentada pelo provedor da Fazenda Real dos Açores .

“Estavam esses colonos contemplados no plano de governo metropolitano de instalar a indústria de açúcar incluindo dois engenhos de moer cana-de-açúcar, o primeiro sendo instalado na terra firme à margem do rio Itapecuru.” (MARIN, 2002, citado por MARQUES, 2005)).

“Eu me resolvo que esta é a melhor terra do mundo, donde os naturais são muito fortes e vivem muitos anos, e consta-nos que, do que correrem os portugueses, o melhor é o Brasil, e o Maranhão é Brasil melhor [...] ” (SILVEIRA, 2001). Em 1624, quando estas palavras são escritas o Maranhão contava já com 300 habitantes, divididos nas fortalezas de São Felipe e São Francisco em São Luís; São José, no povoado de Itapari e a de Nossa Senhora da Conceição na região de Itapecuru. Além dessas, contavacomduasestânciasondemoravamalguns francesesqueficaramnailha,depoisdecasados comíndias, mestiços e portugueses, assim como nove aldeias espalhadas nas circunvizinhanças, cujos índios serviam aos colonos. (MARQUES, 2005).

A partir de 1633, novas levas de imigrantes estimulados pelas palavras de Simão Estácio da Silveira chegaram no Maranhão em dois períodos distintos, jádepois dePortugal ter reconquistadoasua independência em 1640. O primeiro foi em 1648-1649 quando um decreto real, expedido em 19 de setembro de 1648, quis recrutar 100 casais na ilha de Santa Maria, ou mais ou menos entre 500 a 600 pessoas, tarefa que foi concedido por ordem do Conselho Ultramarino de 6 de abril de 1649 ao mercador alemão Martin Filter. Deste modo, além dos 52 casais que foram de Santa Maria, outras 365 pessoas da ilha de São Miguel chegaram ao Maranhão em agosto do ano seguinte, conforme relata Manuel de Sousa Menezes num artigo de 1952 (citado por MARQUES, 2005).

A discussão girou em torno das migrações após a conquista... esquecendo-se da participação de açorianos de antes da criação do estado Colonial do Maranhão...

AUREO VIEGAS MENDONÇA

nasceu em Viana-MA, em 1965. pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci, obteve a graduação como Geógrafo e pós-graduação lato sensu em Metodologia do Ensino em Geografia. Experiência na área de Ciências Sociais Aplicadas com ênfase em Gestão de Pessoas. Pesquisador, servidor público, ocupa o cargo de Técnico Administrativo em Educação, no IFMA Campus São Luís Monte Castelo.

Em sua árvore genealógica, Áureo tem descendência paterna do tronco português, em Sebastião José de Carvalho e Melo – o “Marquês de Pombal” que foi Secretário de Estado do Reino, durante o Reinado de Dom José I, sendo considerado uma das figuras mais controversas e carismáticas da história portuguesa. O autor é herdeiro da veia literária de Sávio Mendonça, autor do livro “História de um menino pobre”, e neto da famosa bordadeira de “lombo de boi” Olívia Mendonça.

tem se destacado por suas iniciativas para preservar e promover a história de Viana. Ele tem trabalhado em projetos que visam documentar e divulgar a história local, incluindo a publicação de artigos e a organização de eventos culturais. Além disso, ele tem colaborado com instituições locais para a preservação de documentos históricos e a promoção do patrimônio cultural da cidade.

Essas ações têm sido fundamentais para manter viva a memória histórica de Viana e para educar as novas gerações sobre a importância do patrimônio cultural da região.

Já recebeu diversos reconhecimentos por seu trabalho em Viana. Ele foi homenageado por instituições locais e regionais por suas contribuições para a preservação da história e cultura da cidade. Além disso, seu trabalho tem sido destacado em publicações e eventos acadêmicos, reforçando a importância de suas iniciativas para a comunidade.

Esses reconhecimentos são um testemunho do impacto positivo que ele tem tido em Viana e da importância de seu trabalho para a preservação do patrimônio cultural da região.

Publicou vários artigos e obras sobre a história de Viana. Um dos destaques é o livro “Resgate histórico de Viana”, lançado em 2022. Este livro é uma importante fonte de pesquisa sobre a história, os costumes e a cultura de Viana1 . Além disso, ele tem contribuído com artigos em revistas acadêmicas e participado de eventos como palestrante, compartilhando suas descobertas e insights sobre a cidade23

Os sons do seu sax e do seu clarinete ecoam pelas ruas estreitas da cidade, nas retretas musicais, nas festas religiosas, nas Bandas SãoBenedito,SãoJudas TadeueVadia,nas procissões, nos cortejos fúnebres etambém nos carnavais dos quatro clubes sociais da cidade: Grêmio, Alvorada, Jaguarema e Cinelândia.

A nova geração que passa pelo Cais do bairro Nazaré não tem a noção da grandeza do ícone da cultura que mora nas margens do lago de Viana e está eternizado para futuras gerações nas paginas do livro Resgate histórico da cidade de Viana num texto de 7 páginas.

Feliz aniversário grande maestro. Um ícone da nossa cultura que completa neste dia 05 seus 89 anos de existência. Que Deus lhe recompense por tudo que tem feito em prol da nossa música.

Uma data que nos mostra o quanto a força de vontade, trabalho e dedicação são capazes de nos render bons frutos. Desses 89 anos, mais de 70 foram dedicados à música, trazendo inovações e proporcionando a oportunidade de inúmeros laços que foram criados ao longo de todos esses anos.

Conversar e ouvir o Astolfo nos traz a oportunidade de conhecimento, viajar no tempo e sentir um pouquinho do amor que ele dedicou e dedica até hoje para o crescimento da música vianense, deixando continuidade do seu legado, percebemos as mudanças que ele vivenciou ao longo desse tempo. É um grande privilégio! É uma escola para a vida!

O homem das partituras musicais que animou gerações de foliões nos carnavais. O homem que se emociona quando relembra o passado.

Desejo ao Astolfo tudo que há de melhor no mundo. Que sigas trazendo suas histórias e conhecimento a todos os vianenses.

Feliz aniversário!

Feliz 89 anos!

Uma homenagem do Escritor Áureo Mendonça

Nonato Travassos ícone da cultura, marcou época e fez história no carnaval vianense, período de ouro, quando a cidade de Viana possuía um dos melhores carnavais do interior do Maranhão.

Nonato comandava sua orquestra no Grêmio Cultural Recreativo Vianense um dos quatro clubes sociais da cidade que era bastante badalado devido concentrar a elite da cidade. Essa e outras histórias estarão em obras literárias do escritor Áureo Mendonça.

MEMÓRIAS POLÍTICAS DA CIDADE DE VIANA (*)

José Moraes foi um personagem que marcou a minha infância em Viana na década de 1970, entrou para a história e memória da cidade, se destacou na política como vereador.

José da Paz Costa Moraes, foi eleito vereador mais votado na eleição municipal de 1972 quando Walber Duailibe foi eleito pela primeira vez prefeito de Viana e tinha como vice-prefeito Bonifácio Serra. Nesse ano as apurações foram realizadas nasextajunta sediadanacidadedePinheiro, tendocomo juízes Juvenil Amorim Everton, Benedito Francisco Pinheiro Tavares e Júlio Araújo Alves.

Na eleição seguinte em 1976 José Moraes foi o segundo vereador mais votado.

Nesta eleição o prefeito Batista Luzardo Pinheiro Barros foi eleito e tinha como vice-prefeito Florêncio Ferreira Lindoso o Tantan Lindoso.

(*) Dados fazem parte de uma ampla pesquisa sobre o poder executivo e legislativo que já dura 4 anos para uma futura obra literária do escritor Áureo Mendonça.

Foto: Oberlandia Costa.

Quem rasgou a folhinha e completou 80 anos de primavera foi José Antônio Pereira Pinheiro o "Zé Antônio de Nhambá" um dos bons músicos de Viana, expoente da cultura vianense. Gratidão a este grande músico, tão especial e muito querido na cidade de Viana. Muitas felicidades, com longura de dias, muita saúde e felicidades.

uma personalidade que certamente figura no rol dos maiores vianenses de todos os tempos na história da cidade de Viana.

Na época em que a cidade de Viana não possuía médicos, Bonifácio Pacífico Serra era quem prestava assistência médica a população.

A vida desse personagem foi marcada por atos de solidariedade humana na medicina onde curou várias enfermidades, inclusive doenças infectocontagiosas no seu ambulatório/hospital que funcionava dentro de sua própria residência, na Rua Professor Egídio Rocha, 603 no Bairro da Barreinha, também foi um dos maiores líderes político do município. Defensor da causa animal. Como vice-prefeito na primeira gestão Walber Duailibe foi o principal responsável pela criação do Bairro Citel.

No livro "Ruas de Pedras" do escritor Áureo Mendonça, que será lançado em novembro deste ano, Bonifácio Serra será um dos homenageados.

Memórias da cidade de Viana.

Sobrado onde residiu a senhora Eulália Silva conhecida como Filhinha que possuía o Hotel da dona Filhinha.

ALFAIATES DE VIANA (*)

As máquinas de costura fazem parte da história e da memória da cidade de viana, eram as décadas de 1970 e 1980 quando me deparei com as máquinas Singer, uma das marcas mais famosas e referenciadas até hoje que datam do ano de 1851.O seu fundador foi o americano Isaac Merritt Singer.

As bordadeiras, costureiras e alfaiates trabalhavam com essas máquinas, época em que as indumentárias do bumba-meu-boi eram confeccionadas por Maria de Fabricio, Olívia Mendonça, Mundoquinha Barros e Heronita Campelo Mendonça que até hoje exerce a profissão.

As roupas também eram feitas na própria cidade, recordo-me de alguns alfaiates: Benício Alves, que era nosso vizinho, Benedito Gomes de Sousa, o Sousinha pai da grande professora Maria Sousa que aprendeu o ofício de alfaiate com Benício Alves, Moisés Ramos e Diomar Leite este último tinha sua Alfaiataria no centro histórico de São Luís.

Nas décadas de 1970/1980 o alfaiate Gaspar era quem confeccionava minhas roupas, a minha mãe comprava os tecidos e o grande profissional Gaspar era o responsável por fazer as roupas. Existiam outros grandes profissionais como Abade na Barrerinha que foi criado na casa de Sousinha e aprendeu a profissão com ele e ainda hoje quando procurado confecciona roupas, João Batista Franco o Joca de Lili além de músico era também um bom alfaiate, e outros que me falha a memória, cada cliente escolhia seu alfaiate.

Foto 1: Gasparzinho

Foto 2: meramente ilustrativa.

JOÃO BATISTA LEMOS UM ILUSTRE VIANENSE (*)

O Desembargador João Batista Lemos foi corregedor do TJ MA de 1983 a 1984.

João Batista Lemos foi tesoureiro da Federação das Colônias de Pescadores do Maranhão, delegado de Investigação e Captura. Iniciou na Magistratura na Comarca de Coelho Neto, em seguida foi para as comarcas de Penalva, Viana, Brejo, Pastos Bons, Pedreiras, sendo promovido por antiguidade para São Luís. Em Viana foi o décimo quarto juiz de direito da Comarca na década de 1960.

Em 1982, foi nomeado por antiguidade para o cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, sendo eleito corregedor-geral da Justiça em 1983. Foi designado em 1985 para presidente da comissão de elaboração do anteprojeto de lei de criação do Juizado Especial de Pequenas Causas.

João Batista Lemos foi também Reservista do Exercíto. Em 1975 recebeu a Medalha Mello Mattos.

O Dr. João Batista Lemos é pai de

Mario Sérgio Vale e de Orozimo Nonato Vale e avô de João Batista Vale Neto o músico Neto Vale, ambos meus amigos.

(*) Áureo Mendonça é pesquisador escritor e membro fundador do IHGV ocupante da cadeira número 8 que tem como Patrono Sálvio Mendonça.

Foto: galeria na cidade de Penalva.

Onofre Fernandes nasceu em 06 de fevereiro de 1906 na cidade de Viana, época em que a cidade era um celeiro de músicos.

Aprendeu música com o maestro e professor Miguel Archanjo Dias (1871-1925) que também foi alfaiate, delegado, mestre de bandas, interno da última turma da Casa dos Educandos Artífices em 1889 no bairro do Diamante, que foi o embrião da Escola Técnica Federal do Maranhão. Miguel Dias foi residir em Viana, onde passou a dar aulas de música gratuitamente.

Onofre foi compositor e regente musical. Em 1927, Onofre foi para São Luís para ingressar no 24.º Batalhão de Caçadores, atuando em sua banda. Em 1930, transferiu-se para Belém em 1932, depois foi para São Paulo onde serviu na campanha constitucionalista. Posteriormente, foi para Corumbá, atualmente Mato Grosso do Sul. Nos anos 1940, foi para o Rio de Janeiro, voltando depois em definitivo ao 26.º Batalhão de Caçadores do Pará, em Belém, onde participou como contramestre de banda. Faleceu em Belém do Pará em 17 de maio de 1977. Seu acervo musical está no Arquivo Público do Estado do Maranhão. A história desse expoente da música estará em obras literárias do escritor Áureo Mendonça

Memórias da cidade de Viana.

Sobrado onde residiu a senhora Eulália Silva conhecida como Filhinha que possuía o Hotel da dona Filhinha.

JOÃO BOSCO GASPAR

– poeta, pesquisador e historiador. Filho de Gerardo Vieira Gaspar e Perpétua das Neves Gaspar. Nasceu nos alcantis paradisíacos da Serra Grande (em Tianguá-Ce), numa manhã de inverno tipicamentefriaeneblinada,nodia14dejaneirode1964,precisamentenaresidênciadaparteiraAlcetyMoita, no quadrilátero que circunda a atual catedral de Santana.

De origem humilde, estudou no Ginásio Municipal de Tianguá e na Escola de 2º Grau Regina Coeli. Graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, e Pós-Graduado (Lato Sensu) em História, Cultura e Patrimônio pelas Faculdades INTA (Instituto Superior de Teologia Aplicada), ambas de Sobral-CE. É casado com a Sra. Angelita Fontenele Magalhães, pai de dois filhos (João Victor e João Arthur Fontenele Magalhães Gaspar) e trabalha no Cartório do 1º ofício (Registro Civil das Pessoas Naturais e Tabelionato de Notas) da comarca de Tianguá, como Tabelião Substituto.

Foi chefe do Grupo de Escoteiros Mons. Agesilau de Aguiar (hoje Dom Timóteo); apresentador de programa de rádio; projetista cinematográfico (Cine Santana); representante da juventude da Paróquia de Santana, junto à diocese de Tianguá; membro fundador da Pastoral de Juventude do Meio Popular (PJMP) na diocese de Tianguá; participou deváriosencontros,seminários, palestras, assembleias e cursosrepresentandoajuventude da diocese de Tianguá junto ao Regional Nordeste I da CNBB; foi presidente do Centro Cívico da Escola de 2º Grau Regina Coeli; membro fundador do Grupo de Artes e Tradições Folclóricas Serra Grande; presidente da comissão permanente de licitação e assessor administrativo da câmara municipal de Tianguá; foi membro da Comissão Censitária municipal de Tianguá em 2007, e é membro do Conselho de Sentença do Tribunal Popular do Júri da Comarca de Tianguá.

Foi um dos autores da Lei Municipal nº 473/2007, que dispõe sobre a preservação mediante tombamento, do patrimônio (material e imaterial) histórico, artístico, ambiental e cultural do município de Tianguá, e “autor” da Lei Municipal nº 487/2007 que instituiu o Ipê-Amarelo (Pau-D’arco-Amarelo) como árvore símbolo do município de Tianguá. É autor do pedido de tombamento da tanajura como patrimônio imaterial do município de Tianguá.

HERMENÊUTICA ARCAICA E ANACRÔNICA - AS TERRAS DE JOÃO DE BARROS, ANTÔNIO CARDOSO DE BARROS, AYRES DA CUNHA E FERNANDO DE ANDRADE.

Tem historiador que ainda não conseguiu se desvencilhar da narrativa arcaica e anacrônica envolvendo as terras doadas aos fidalgos João de Barros, Antônio Cardoso de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade. Essas terras foram revertidas à coroa portuguesa ainda no reinado de Dom Sebastião, por volta do ano de 1570 já não se falava mais nessas doações. Estabelecer fronteiras fundamentado nessas antigas capitanias (não)hereditárias, é um grave anacronismo histórico. Por conta da malograda "Associação Trina de Colonização", formada por João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, os donatários tiveram que devolver seus quinhões ao senhorio da coroa portuguesa... tudo era terra do rei, "Nosso Senhor", como afirma Pero de Magalhães Gandavo. Os direitos de João de Barros, por exemplo, o rei dom Sebastião ordenou que, "por sua morte ficasse cinquenta mil reis de tensa a sua mulher dona Maria de Almeida". As capitanias reais da Parahyba e Rio Grande são conquistas da coroa portuguesa, fundadas no ocaso do século XVI, assim como as do Ceará, Maranhão e Pará, criadas entre os anos de 1615 e 1619. Neste contexto, não havia uma capitania chamada "Piauhy". Com a divisão das conquistas portuguesas na América em territórios distintos, ou seja, o Estado do Brasil e o Estado do Maranhão, outras capitanias foram surgindo, sobretudo no Estado do Maranhão: Tapuitapera (Alcântaras), Cabo do Norte (Amapá), Ilha Grande de Joanes (Marajó), Vigia entre outras. A capitania do Piauhy foi instituída em 1718, e instalada em 1759. A capitania do Piauhy não fazia parte do Brasil, estava inserida no Estado Colonial do Maranhão. Imagem: Antigo rio da Cruz, afluente do rio Camocim. Por João Bosco Gaspar.

Consta no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal, um documento com o título “Relação das Praças Fortes e Coisas de Importância que Sua Majestade Tem na Costa do Brasil”, datado de 1609, escrito por Diogo de Campos Moreno (tio de Martim Soares Moreno), relatando a localização das últimas capitanias da América Portuguesa no norte do Brasil. No ano de 1609, não havia as capitanias do Ceará, Maranhão e Pará. Como é sabido, as capitanias doadas a Antônio Cardoso de Barros, João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando deAndrade,foram revertidas àcoroa(foram devolvidas),aindanoreinadodeDomSebastião(15571578), quando a histórica “Costa Leste-Oeste” (a partir de Itamaracá), passou a ser “colonizada” às expensas da coroa portuguesa. As capitanias “reais” da Paraíba e Rio Grande, por exemplo, pertenciam ao rei. Diogo de Campos Moreno, afirma que: “correndo a costa (...) em seis graus está a capitania da Paraíba que é de Sua Majestade, porque a conquistou e tirou das mãos dos Pitiguares gentios da terra e dos franceses com guerras e mortes de muitos anos”. A capitania real do Rio Grande, segundo relata Diogo, era a última capitania da Costa Leste-Oeste, rumo ao rio do Maranhão. As capitanias reais do Ceará, Maranhão e Pará, foram criadas entre os anos de 1615 e 1619, e em 1621, com a criação do Estado Colonial do Maranhão, passaram a integrar a nova colônia da América Portuguesa. Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Portugal, PT-TT-MR1-68. Imagem: Planta da Fortaleza dos Reis Magos, no Rio Grande, a última conquista portuguesa no norte do Brasil, até o ano de 1609. Desenho feito por Diogo de Campos Moreno, em 1609. Por João Bosco Gaspar

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O ESTADO COLONIAL DO MARANHÃO SOB A ÓPTICA DE CHARLES BOXER.

“Naquele ano [1623] tinha a coroa portuguesa sob sua jurisdição toda a região costeira estendida do delta Amazônico à baía de Paranaguá (...). As três capitanias mais setentrionais, situadas entre a ilha de Marajó e o cabo São Roque [Pará, Maranhão, Ceará], acabavam de ser desanexadas do resto do Brasil, para formar uma colônia separada, com sede principal em São Luís do Maranhão, de onde os franceses tinham sido expulsos em 1615. Essa vasta região, chamada também muitas vezes "Costa Leste-Oeste", era ainda muito pouco povoada e de pequena importância. Do cabo São Roque a Paranaguá a faixa marítima tinha sido dividida em doze capitanias (...)”. Fonte: Trecho do livro “Os Holandeses no Brasil”, do historiador britânico Charles Ralph Boxer. Por João Bosco Gaspar

Traz na íntegra a Bula “Ad Sacram Beati Petri” de 1676, pela qual o Papa Inocêncio XI instituiu o Bispado de Pernambuco, desmembrando o seu território do Bispado da Bahia. Por essa Bula, os limites do Bispado de Pernambuco eram os seguintes: “desde a Fortaleza do Ceará, inclusive, ao longo do litoral e para o interior da terra, até ao rio de S. Francisco”. Em Latim: “ad arcem Seará, inclusive, per oram maritimam et terram intus ad flumen Sancti Francisci”, p. 166.

Traz, também, a Bula “Super Universas Orbis Ecclesias”, pela qual o Papa Inocêncio XI instituiu o Bispado do Maranhão em 1677. Essa Bula diz que o território do Bispado do Maranhão criado em 1677, começava no “Cabo do Norte, ao longo do litoral e pelo interior da terra até à Fortaleza do Ceará”. Em Latim: "Capite Nortis, per oram marítima et terram intus, usque ad arcem de Seará"... Até a Fortaleza do Ceará. !!!!

A Bula “Inscrutabili Caelestis Patris” de 1725, pela qual o Papa Bento XIII, "desmembrou, separou e dividiu a capitania do Piauhy do bispado de Pernambuco, e a uniu e anexou ao bispado do Maranhão, com todos os benefícios, mosteiros e igrejas do território da dita capitania", diz que, após a incorporação da capitania do Piauhy ao Bispado do Maranhão, a fronteira litorânea do dito Bispado (Maranhão) permaneceu no mesmo lugar estabelecido pela Bula de 1677, não foi alterada... ou seja, o Bispado do Maranhão ia "até a Fortaleza do Seará".

No aspecto espiritual, a capitania Real do Ceará, como se pode observar, ficou literalmente dividida entre dois Bispados. No aspecto temporal, a capitania Real do Ceará era subalterna ao governo de Pernambuco.

Esse fato foi lembrado pela Mesa da Consciência e Ordens no ano de 1755, quando o Bispo do Maranhão apresentou uma Representação acerca dos limites do seu Bispado.

Até o ano de 1755 a "questão da divisão dos bispados da América Portuguesa" ainda não tinha sido resolvida pelo Rei. Havia disputas entre os Bispados do Maranhão e Pernambuco (pela Serra da Ibiapaba), Maranhão e Pará (pelas Minas de São Félix e Natividade, e Rio de Manuel Alves) e Pará e São Paulo (nas terras novas de Goyás).

Fonte: Livro “Bullarium Patronatus Portugalliae Regum In Ecclesiis - Tomo II, 1601-1700”, de autoria de Vicecomite (Visconde) de Paiva Manso, Ex Typographia Nationali, Roma, 1870.

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CAPITANIA REAL DO CEARÁ.

Surge, então, uma pergunta... “real” por que? Porque, ao contrário do que muitos afirmam, a capitania do Ceará não vem da donataria de Antônio Cardoso de Barros, foi criada às expensas da coroa portuguesa em terras do rei. Malogrado o processo de colonização das donatarias de Antônio Cardoso de Barros, João de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, todas as terras da costa leste-oeste, a partir de Itamacará até a linha da repartição, foram revertidas à coroa, ou seja, voltaram aos domínios do rei. Após o fracasso da empreitada do capitão Pero Coelho de Sousa em 1604 que tinha por objetivo “conhecer e conquistar” as terras do Jaguaribe, Ceará e Mel-Redondo (Ibiapaba), Martim Soares Moreno “foi incumbido em 1610 pelo governador-geral D. Diogo de Menezes, de fundar um estabelecimento colonial no Ceará”. Em 1612 Martim Soares Moreno toma posse no cargo de capitão-mor da Fortaleza do Ceará. Em “1613 ausentou-se Martim Soares Moreno do Ceará, na sua ausência a fortaleza do Ceará foi governada sucessivamente por Estevão de Campos (1613), Manuel de Brito Freire (1614) e Domingos Lopes Lobo (1617)”. Em 1620 Martim Soares Moreno retorna ao Ceará na condição de capitão-mor da recém-criada "Capitania Real do Ceará", nomeado por Carta Régia de 24 de maio de 1619, assinada por D. Filipe II.

Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de D. Filipe II, Livro nº 43, fls. 208, RD-211 (https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4202506). Por João Bosco Gaspar

Além da Bahia e do Rio de Janeiro, a Paraíba, o Rio Grande do Norte, o Ceará, o Maranhão e o Pará, figuram no rol das capitanias reais criadas nos séculos XVI e XVII. A capitania real era "Terra do Rei, Nosso Senhor". Os lotes doados aos fidalgos João de Barros, Antônio Cardoso de Barros, Ayres da Cunha e Fernando de Andrade, foram revertidos (devolvidos) à coroa, e transformados em "Capitanias Reais".

Por João Bosco Gaspar

CAMBRESSIVE - A IBIAPABA PROTESTANTE.

(Por Carlos Studart Filho – Parte 01). Ano de 1654: “(...) Vale a pena salientar que, nos perturbados momentos da Restauração Pernambucana, numerosos indígenas, parciais dos flamengos, temendo muito justamente as represálias sempre tão cruéis por parte dos portugueses, haviam debandado da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, encaminhando-se em grandes magotes à Ibiapaba. Afinados, muitos deles, pelos contatos da cultura flamenga, iam na esperança um tanto romanesca de criar, em plena selva brasileira, um estado indígena por completo fechado à influência de estranhos de Além-Mar. Acastelados em atitude hostil naqueles chapadões que bordam o Ceará a oeste, passaram efetivamente esses rebeldes a encabeçar a resistência à expansão dos luso-brasileiros que, em meados do século XVII, tentaram derivar para aquelas bandas (...)”.

Fonte:Trechodolivro“FundamentosGeográficos eHistóricosdoEstadodoMaranhãoeGrãoPará”deCarlos Studart Filho, ano de 1959, p. 291. Por João Bosco Gaspar.

CAMBRESSIVE - A PÁTRIA PROTESTANTE DA IBIAPABA

(Por John Hemming, diretor da Royal Geographic Society de Londres – Parte 02). Ano de 1654: “(...) Os índios fortificaram-se entre os tobajaras, na serra de Ibiapaba. Denominaram sua república Cambressive e chegaram a fazer uma tentativa, aliás malograda, de obter auxílio dos holandeses. Antônio Paraupaba foi enviado à Holanda e fez um comovente apelo aos Estados Gerais em agosto de 1654. Como nada aconteceu, fez um segundo apelo em 1656. O suplicante é enviado por aquela nação que se refugiou com suas esposas e filhos em Cambressive, no sertão além do Ceará, para escapar aos furiosos massacres dos portugueses. Eles estavam lá havia dois anos, mas ainda se mantinham leais ao governo dos holandeses. Se deixar de receber ajuda, aquele povo finalmente deverá cair nas garras dos cruéis e sanguinários portugueses, que desde a primeira ocupação do Brasil têm destruído centenas de milhares de pessoas naquela nação. Paraupaba declarou não poder acreditar que os holandeses deixariam de ajudar os índios, de recompensar seus anos de leais serviços e de proteger a religião reformada (...)”.

Fonte: Trecho do livro “Ouro Vermelho” de John Hemming, ano de 1978 p. 454). Por João Bosco Gaspar. Foto: imagem de ilustração (créditos autorais: Sebastião Salgado).

CAMBRESSIVE - A IBIAPABA PROTESTANTE.

(Por Leslie Bethell, diretor do Centro de Estudo sobre o Brasil da Universidade de Oxford e PhD em História pela University Of London – Parte 03). Ano de 1654:

“(...) Quando os holandeses finalmente abandonaram seus fortes brasileiros em 1654, quatro mil nativos das aldeias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam para o noroeste a fim de se refugiarem no Ceará. Estavam furiosos com o fato de terem sido abandonados pelos holandeses, a quem tinham servido com tanta lealdade por tantos anos. Fortificaram-se entre os tabajaras na serra de Ibiapaba e tentaram criar um encrave independente ao qual deram o nome de Cambressive. Chegaram a enviar à Holanda um cacique educado pelos holandeses a fim de solicitar ajuda militar batava, em recompensa pelos serviços passados e para preservar a religião protestante (..)”.

Fonte: Trecho do livro “América Latina Colonial” organização Leslie Bethell, ano de 1997, p. 450. Por João Bosco Gaspar.

CAMBRESSIVE - A PÁTRIA PROTESTANTE DA IBIAPABA.

(Pelo padre Antônio Vieira – Parte 05). Ano de 1654:

“(...) Entraram os índios rebeldes nas capitulações da entrega com perdão geral de todas as culpas passadas; mas eles como ignorantes de quão sagrada é a fé publica, temendo que os portugueses, como tão escandalizados, aplicariam as armas vitoriosas a vingança, que tão merecida tinham, e obrigados de certo rumor falso de que os brancos iam levando tudo a espada, lançaram-se cega e arrebatadamente aos bosques, com suas mulheres e filhos, onde muitos pereceram a mão dos tapuios, e os demais se encaminharam as serras de Ibiapaba, como refúgio conhecido, e valhacouto seguro dos malfeitores (...)”.

Fonte: Trecho do livro “Cartas Várias” do padre Antônio Vieira, ano de 1885, p. 340. Por João Bosco Gaspar. Foto: imagem de ilustração (créditos autorais: Sebastião Salgado).

CAMBRESSIVE - A PÁTRIA PROTESTANTE DA IBIAPABA

(Por Pedro Souto Maior, transcrição feita dos originais que se acham no Rijks archief de Haya – Parte 06ano de 1654).

“(...) Eu me envergonho da nossa família e nação ao me ver ser induzido por tantas cartas vossas à traição e deslealdade, isto é, a abandonar os meus legítimos chefes, de quem tenho recebido tantos benefícios. Ficae sabendo que serei um soldado fiel aos meus chefes até morrer. Os cuidados que dizeis ter por mim e o favor que os portuguezes nos dispensariam não são mais que histórias contadas para nos iludir. Não acreditais que sejamos cegos e que não possamos reconhecer as vantagens que gozamos com os hollandezes, entre os quais fui educado. Por outro lado, em todo paiz se encontram os nossos, escravizados pelos perversos portuguezes, e muito ainda o estariam si eu não os houvesse libertados. Sou christão e melhor do que vós: creio só em Christo, sem macular a religião com idolatria, como fazeis com a vossa. Abandonai, portanto, primo Camarão, esses perversos e perigosos portuguezes e vinde juntar-vos conosco. No meu acampamento, 31 de outubro de 1645 (assinado) o regedor e comandante do regimento de índios da Parahiba, Pedro Poti (...)”.

Fonte :Trecho do livro “Fastos Pernambucanos" do Dr. Pedro Souto Maior, ano de 1913, p. 156/157. Por João Bosco Gaspar. Foto: imagem de ilustração colhida na internet.

CAMBRESSIVE - A PÁTRIA PROTESTANTE DA IBIAPABA

(Por F. A. Pereira da Costa – Parte 07). Ano de 1654.

“(...) Os índios que serviram no exército holandês, e os que seguiram seu partido e abraçaram a sua religião, a de reforma calvinista e luterana, não se julgando seguros em Pernambuco após a sua restauração [1654], apesar do prometido esquecimento do passado e do perdão geral concedido aos indivíduos de qualquer nação, qualidade e religião, ainda mesmo que fossem rebeldes à coroa de Portugal, o que tudo constava do termo de capitulação dos holandeses firmado em 26 de janeiro deste ano de 1654, emigraram logo para os sertões do Ceará, e depois se foram refugiar na serra da Ibiapaba, seus extremos norte, onde lhes parecia, não recear o ataque dos seus inimigos, e fazendo assim de tais paragens o seu baluarte, a sua vendéa, contra os vencedores, e pretendendo mesmo alguns dos mais instruídos e exaltados, fundar ali um estado índio independente, exclusivamente da sua gente e repelindo a branca. Os índios refugiados na serra da Ibiapaba, nos limites norte do Ceará, atingiam a um número superior a quatro mil almas (...)”.

Fonte: Trecho do livro “Anais Pernambucanos, Tomo III, 1635-1665” de autoria de F. A. Pereira da Costa, p. 393-394. Por João Bosco Gaspar. Foto: imagem de ilustração (créditos autorais: Sebastião Salgado).

OS ÍNDIOS CALVINISTAS DA SERRA DA IBIAPABA E A “PARÁBOLA DOS TALENTOS”.

Firmada a Rendição de Taborda em janeiro de 1654, os índios calvinistas das capitanias de Itamaracá, Paraíba e Rio Grande marcharam obstinados em direção aos altiplanos da Ibiapaba. Tencionavam criar em solo ibiapabano um enclave indígena de cunho protestante: "a República de Cambressive". Antônio Paraupaba, seu líder, homem de muita influência junto a Companhia das Índias Ocidentais, viajou duas vezes (1654 e 1656) para a Holanda com o propósito de conseguir dos batavos, apoio financeiro e militar para realizar seu intento. Ao se dirigir aos nobres senhores holandeses, Paraupaba ratifica a crença do seu povo “como suditos bons e firmes na sua fidelidade para com este Estado e a Religião Reformada de Christo, a única verdadeira”, e diz que o auxílio batavo seria de fundamental importância, para que aqueles que, segundo ele, “foram uma vez trazidos ao conhecimento da verdadeira religião”, não fossem privados do “reino de Jesus Christo”. Antônio Paraupaba, como conhecedor das Escritura Sagradas, faz alusão a Parábola dos Talentos (Mateus 25.14-30),

insinuando que os batavos receberam de Deus a incumbência de multiplicar em terras brasileiras, as ovelhas do seu rebanho: “Nem deixem que elles recaiam na selvageria entre as feras nos sertões bravios. Pois teriam de prestar contas ao Grande e Todo Poderoso Deus que é contra os que por usura enterram a sua libra com medo de gastar”. Termina Paraupaba implorando socorro imediato aos “pais e defensores dos oprimidos e desamparados”, para que as quatro mil pessoas refugiadas em Cambressive (Ibiapaba), inclusive mulheres e crianças, pudessem sobreviver naquelas paragens, para o bem delas e “para a conservação da Igreja Christã Reformada, aúnica verdadeira”. Fonte:Livro “Fastos Pernambucanos”dePedroSouto Maior.PorJoão Bosco Gaspar.

Presos na Fortaleza do Ceará desde a rebelião que resultou na retirada dos padres Pedro Pedrosa e Gonçalo de Veras dos altiplanos da Ibiapaba no ano de 1662, o morubixaba Dom Simão e os demais índios na nação tabajara, foram, finalmente, libertados no ano de 1665. A liberdade dos “rebeldes da Ibiapaba”, deu-se graças às intermediações do padre Jacob Cocleo.

“Para obter a liberdade dos índios que foram presos por causa do tumulto, Cocleo enviou cartas tanto para o Provincial, quanto para o Vice-rei. Desse último conseguiu a liberdade do Principal e dos demais índios presos: <<E Vossa Paternidade o gosto de ver esses índios livres, e o Principal reduzido a obediência da Igreja, e o serviço de Del-Rei meu Senhor em que Vossa Paternidade se mostra tão igualmente Zeloso>>. Todos seguiram para Ibiapaba, e lá se estabeleceram por “alguns meses” até conseguirem restabelecer as pazes com os indígenas. Assim Cocleo descreve essa jornada”:

“Após caminhada de doze dias, que pus no novo e escolhido lugar as relíquias dos índios a nós favoráveis e que lá me encontraram os rebeldes do monte Ibiapaba com o principal Dom Simão para tratar do acordo de paz, obtida com as condições de readmitirem nossos padres como curadores de suas almas, que se aplicassem a semear cereais continuamente no novo sítio, com o qual pacto eu obteria de Vosso Rei perdão para os culpados, e do Padre Provincial algum sócio que os assistisse” (Archivum Romanum Societas Iesu - Carta de Jacob Cocleo ao Padre Geral Oliva. Ceará, de 12 de setembro de 1665).

Fonte: Trecho do livro “Mapas da América Portuguesa, Extraído do Original” de Valquíria Ferreira da Silva. Imagem de ilustração colhida na Internet.

DO CEARÁ.

Existe nos arquivos do Conselho Ultramarino de Portugal, o documento do teor seguinte:

“Se sua Majestade, que Deus guarde, for servido mandar fazer guerra aqueles bárbaros, a primeira diligência que se deve fazer para melhor execução da dita guerra e segurança da capitania [do Maranhão], será mandar ordem expressa para que os índios da aldeia dos Reverendos padres da Companhia da nação dos Guaiajaras que residem no Maraçu, onde nunca foi gentio brabo, nem pode ir enquanto houve gente no Meary que lhe fique na fronteira; assim importa que senão aldear no dito rio Meary, onde fiquem reparando os engenhos e currais, porque os bárbaros não possa entrar na dita capitania, e ali podem também servir os Reverendos padres no que lhe for encarregado, só com obrigação de franquear aquela fronteira; e feita esta diligência será necessário ordem expressa para o capitão mor do Ceará, com aviso da pessoa a quem se encarregar a dita guerra, mandar os índios das aldeias de língua geral, que se lhe pedirem da sua jurisdição; e assim mais, os tapuias da nação dos Jaguaribaras e dos Rianacés, e ordem expressa para os Reverendos padres Missionários da Serra da Ibiapaba mandarem os índios tabajaras de sua Missão, e deste modo logo será possível destruir aquela cena (...). Nesta forma escreve a Sua Majestade (...), cidade de São Luís do Maranhão, aos 29 de abril de 1700”.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, AHU-Maranhão, Caixa n° 10, Documento n° 1004, de 29 de abril de 1700. Por João Bosco Gaspar.

DE PERNAMBUCO – ANO DE 1712. 400 ÍNDIOS DE GUERRA EM SOCORRO AO MARANHÃO.

“Carta do governador de Pernambuco, Félix José Machado de Mendonça, para o capitão mor do Ceará. Vossa Majestade, que Deus guarde, foi servido resolver por carta sua de 19 de dezembro do ano passado [1712], que façam ir logo desta capitania [do Ceará] 400 índios de guerra em direitura à cidade de São Luiz do Maranhão, para que se incorporem com os que nela estiverem, e possam fazer oposição ao gentio de corso que naquela capitania com as suas rebeliões tem contraído tão desumanas hostilidades. Em obediência do que ordeno a vosmecê que logo faça marcharem para aquela cidade os ditos 400 índios de guerra, como dito, sem demanda a ordem do governador daquele Estado [do Maranhão], e faça que a Dom Aragão vá para a sua jurisdição com obediência da nova ordem de Vossa Majestade, que Deus guarde. Olinda, 30 de mayo de 1713 (a) Félix José Machado de Mendonça [governador de Pernambuco e capitanias anexas –Parahiba,Rio Grande e Ceará]”. Fonte: Livrodas JuntasdeMissões dePernambuco – ano de 1713, p. 217. Biblioteca Nacional de Lisboa, Portugal. Transcrição: João Bosco Gaspar. Tianguá-CE.

Texto extraído das cartas inéditas escritas em latim pelo jesuíta João Antônio Andreoni (Cartas Annuas de 1714-1716 e 1721).

Narra o padre Andreoni, que a revolta indígena levantada entre os anos de 1712-1719 e que ficou conhecida como a <<Revolta dos Tapuyos>>, “exigiu constante sacrifício dos padres residentes na povoação de Ybiapaba com os índios domesticados, e lhes fez correr grande perigo”.

PROSSEGUE o padre Andreoni, relatando os fatos ocorridos depois do assassinato do mestre de campo Antônio da Cunha Souto Maior, levado a efeito pelo <<bando de Mandu Ladino>>:

“Estes mataram à traição em [rio] Parnahyba o comandante dos soldados que os tratava mal e não lhes pagava o soldo, como também assassinaram a mulher do comandante em chefe, tendo posto em fuga os soldados e sentinelas das fortificações, e matando de manhã cedo os que encontravam indefesos; apoderando-se das armas, pólvora, balas e de quase trezentas espingardas. Esta presa levantou os ânimos guerreiros dos tapuyos, acostumados a antes combater (...) com armas desiguais, servindo-se do arco e da flecha, e assim tendo tirado a estes o seu melhor meio de defesa, resolveram assaltar a povoação de Ybiapaba, a maior de todas naquela região, e confiada à administração dos nossos padres”.

“Estava ausente o comandante em chefe [Dom Jacó de Sousa e Castro], que fora à Parnahyba com os índios mais esforçados afim de cessar os tumultos, e tendo-se descoberto a resolução dos inimigos [tapuyos], enquanto estes esperavam outros que haviam chamados e passavam inutilmente o tempo a alimentar-se de carne bovina, tiveram os padres ocasião de mandar um mensageiro aos ausentes [Dom Jacó e demais tabajaras], e pedir armas ao governador da Fortaleza [do Siará], ainda que distasse 80 léguas da povoação [de Ybiapaba]”.

“Neste interim o Superior [da Missão de Ybiapaba], por necessidade, exerceu com denôdo [bravura] o cargo de comandante e chefe dos soldados [tabajaras], já exercitando os índios ao combate e preparando as fortificações, já designando as sentinelas, enviando espias, e procurando mantimentos, ao mesmo tempo que com os outros padres consolavam as mulheres que choravam segundo seu costume e oravam com elas na Igreja, pedindo a Deus não entregasse para serem devoradas pelas feras sanguinárias aqueles que confessavam seu nome. Vendo-se indefesos e expostos aos ataques dos inimigos [tapuyos], os vaqueiros dispersos naqueles campos se refugiaram na povoação [de Ybiapaba] com suas armas e escravos, com o consentimento do Superior [da Missão]. Aumentando assim a força para a resistência, desapareceu entre todos o temor, sendo mortos quase 400 tapuyos, alguns feridos, outros postos em fuga, e outros com grande aflição dos padres reduzidos a cativos pelos comandantes que moviam a guerra”.

“O que os contristou naqueles meses foi a falta que houve do necessário para a quotidiana celebração do Santo Sacrifício, que dificilmente se oferecia aos domingos. Durante dois anos não aportou um só navio em porto cearense (...) porque não eram enviados de Pernambuco (...). Em meio a tantas calamidades não se interromperam, contudo, os costumes e exercícios da piedade, a pregação, a catequese nem a frequência dos sacramentos. Houve 335 confissões, 228 batizados e 46 casamentos”. O padre Andreoni relata, ainda, a primeira visita feita aos altiplanos da Ibiapaba, pelo padre João Guedes (sucessor do padre Ascenso Gago), em dezembro de 1714, e diz que: “O padre João Guedes visitando a mandado do padre Provincial à povoação de Ybiapaba, onde se contam 3.000 índios e índias, e afastou energicamente da empresa a um estranho <<perturbador, que pretendia dividir a povoação e constituir novos chefes à sua vontade>>, dizendo-se primo do governador dos índios [Dom Jacó de Sousa e Castro], e mostroulhes que o cuidado dos índios e das demais coisas daquela povoação [de Ybiapaba] confiadas à Companhia [de Jesus] pelo Rei, dependia só dos padres, tanto no espiritual como no temporal”. Finaliza o padre Andreoni, já na Carta Anua de 1721, dizendo que:

“Neste ano [1721] os nossos padres que cuidam dos índios residentes na serra da Ybiapaba, conduziram das florestas para os aldeamentos um grande numero de selvagens, quase 5.000 e se esforçaram por reuni-los aos demais habitantes da povoação”. Fonte: Cartas inéditas escritas em

Latim pelo jesuíta João Antônio Andreoni (1714-1721), traduzidas para o português por José Gerardo Ferreira Gomes, a pedido do historiador cearense Barão de Studart. “Documentos da Collecção Studart” da Revista do Instituto do Ceará. Pesquisa: João Bosco Gaspar. Foto: Imagem de ilustração colhida na Internet, meramente ilustrativa.

MANDU LADINO - O FIM DO LÍDER DOS TAPUIAS - ANO DE 1719.

Não existe honra alguma em assassinar uma pessoa. A pecha de “matador” é o conceito mais vil que permeia a sociedade. Entretanto, existe um princípio jurídico que diz: “Suum Cuique Tribuere”, ou seja, “a cada um o que é seu”. Com a História não é diferente... devemos atribuir a cada um, o fruto dos seus atos. Com relação a morte do líder indígena Mandu Ladino, ocorrida na segunda década do século XVIII, o que dizem as fontes primárias e secundárias?

Por incrível que pareça, os principais historiadores que tratam sobre Mandu Ladino são estrangeiros: o britânico, Charles Ralph Boxer, o canadense John Hemming e a portuguesa Virgínia Rau. Virgínia Rau diz que:

“Até [o ano de] 1700 estivera sossegado o gentio vizinho da aldeia da serra da Ibiapaba, porque os padres tinham feito as pazes com os tapuias, que todos os anos as vinham renovar à aldeia. Viera perturbar este estado, o desatino duma tropa do Ceará. Ordenando el-Rei de Portugal ao capitão-mor do Ceará que mandasse sondar a barra do rio Parnaíba, recomendando que a tropa não ofendesse o gentio e apenas se defendesse se fosse atacada, enviara o capitão-mor [do Ceará] Francisco Gil Ribeiro, 700 homens, dando-lhes por cabo o coronel Leonardo de Sá [irmão do exgovernador do Ceará, Sebastião de Sá], a quem ordenara que fizesse toda a diligência por trazer alguns cativos. Descobrira a tropa o resto dos tapuias chamados Vidais e, perseguindo-os, encontraram-nos, matando e cativando muitos e entre eles a mulher do seu principal (...). Os que escaparam, foram imediatamente à ribeira de Piracuruca, vingando-se nos moradores e fazendo grande estrago nas suas fazendas”

[01]. Na exposição que o padre Antônio de Sousa Leal fez ao Rei de Portugal, consta que:

“Em 1708, depois de muitas guerras, Antônio da Cunha Soto-Maior fizera a paz com os que ainda restavam destes tapuias, exceptuados os Anapuruassus (...). [Que] os soldados do Maranhão tiravam-lhes as mulheres e filhas, e tratavam-nos como escravos, sem qualquer recompensa. Além disto, enforcara quatro ou cinco Arayos, desterrara e mandara matar outros, entre os quais uma irmã do Mandu Ladino e o seu marido”

[01]. Charles R. Boxer informa que:

“Em 1712-13, quando uma revolta geral dos <<tapuias do norte>> envolveu não só muitos dos que tinham sido anteriormente dominados naquela região, mas numerosas tribos dos distritos fronteiriços do Maranhão e Ceará. Dois destacamentos grandes e bem armados, compostos de moradores e soldados, foram feitos em pedaços pelos selvagens, cujo perigoso chefe era um exconvertido dos jesuítas, chamado Mandu Ladino. Existiam 400 sítios naquela região quando a revolta começou, e mais de uma quarta parte deles foi destruída ou teve de ser evacuada. Depois de muitos combates, Mandu Ladino foi morto e a retaguarda da revolta abatida, embora alguns pontos de resistência permanecessem em distritos mais remotos durante vários anos. A extinção da revolta foi devida, em grande parte, à lealdade dos índios da missão jesuíta da Serra de lbiapaba, no Ceará, que se mostraram muito mais eficazes do que os brancos nos combates dentro dos matagais. Bernardo Carvalho [mestre de campo do Maranhão e Piauhy] estava ansioso para que aqueles índios fossem separados da capitania do Ceará e incluídos no Estado do Maranhão, mas tal sugestão encontrou forte resistência por parte dos missionários jesuítas e dos moradores do Ceará”

[02]. John Hemming, informa que:

“Em junho de 1712 todas as tribos assentadas no acampamento de Soto-Maior, com exceção de duas, se rebelaram, mataram o comandante [Soto-Maior] e a maioria de seus oficiais, vinte soldados e alguns criadores de gado (...). A revolta foi comandada por Mandu Ladino (...). Os quatrocentos homens de Mandu Ladino se apoderaram de trezentas armas de fogo e de munição, e sua rebelião espalhou-se pelo Piauí e Ceará (...). Em 1718 o Conselho Colonial em Lisboa manifestou sérias preocupações com as guerras empreendidas por Mandu Ladino que se travavam no Maranhão, Piauí e Ceará (...). Afinal foram outros índios que derrotaram Mandu Ladino. Os tabajaras da serra da Ibiapaba, que tinham estado sob a influência dos jesuítas desde a partida dos holandeses, eram tupis e tradicionais inimigos dos tapuias que viviam mais além. Os

tabajaras, comandados pelo cacique Dom Jacó de Sousa e Castro, avançaram contra os tapuias sem a companhia de quaisquer brancos, que constituíam um embaraço para eles nas florestas” [03]. Defato, amortedeManduLadino, ocorridaantesdenovembrode1719,deu-sepelasarmas dos tabajaras da Ibiapaba, capitania do Ceará, justamente no período em que o mestre de campo Bernardo Carvalho de Aguiar, estava ausente do Piauí. Vejamos o que diz o padre João Guedes, contemporâneo daqueles fatos: “Que se podia guerrear os tapuias revoltados sem mestres-de-campo nem arraiais, provavam-no as cinco grandes vitórias que tinham tido os índios da serra da Ibiapaba, nos dois anos em que o citado mestre-de-campo [Bernardo Carvalho de Aguiar] estivera ausente do Piauí”

[01]. A narrativa coesa desses três grandes historiadores, encontra respaldo nas palavras do Rei de Portugal, Dom João V, sobretudo nas três cartas-patente concedidas aos principais índios da serra da Ibiapaba, com o hábito de Cavaleiros da Ordem de Santiago: Dom José de Vasconcelos, Dom Felipe de Sousa e Castro e Dom Sebastião Saraiva Coutinho. Na carta concedida a Dom Felipe de Sousa e Castro (e nas demais), consta que tal mercê foi conferida em virtude da sua participação na luta que tinha: “desenfestado os gentios bárbaros das capitanias do Ceará e Piauhy, alcançando muitas vitórias e ultimamente em que mataram o índio Mandu Ladino, um dos mais cruéis inimigos nossos”. Essa fonte primária encontra-se registrada no livro do Registro Geral de Mercês de D. João V, livro 12 fls. 660. Por João Bosco Gaspar.

[01] Livro “Os Manuscritos do Arquivo da Casa de Cadaval Respeitantes ao Brasil – Volume II”, de Virgínia Rau – Professora da Universidade de Lisboa.

[02] Livro “A Idade do Ouro no Brasil - Dores de crescimento de uma sociedade colonial”, de Charles Ralph Boxer – Professor Emérito da Universidade de Londres.

[03] Livro “Ouro Vermelho – A Conquista dos índios Brasileiros” de John Hemming – Diretor da Royal Geographic Society de Londres. Créditos da imagem: Correio do Norte.

O TITULO DE “DOM” CONCEDIDO AO ÍNDIO FELIPE DE SOUSA E CASTRO.

Dom Felipe foi agraciado com o Hábito de Cavaleiro da Ordem de Santiago da Espada, por ter comandado a nação tabajara no extermínio do índio MANDU LADINO em 1719, passou a receber uma tença de 8 mil reais descontados dos dízimos da capitania do Ceará.

NOTA: Lei Filipina - Desde 1611, que por lei do rei Filipe II de Portugal (III de Espanha), o uso do título de “Dom” passou a ser privilégio dos Grandes do Reino, compreendendo estes a realeza (rei, rainha, príncipes e infantes), os membros do alto clero (cardeais, arcebispos e bispos), os membros da Alta Nobreza (duques, marqueses, condes, bem como viscondes e barões com honras de Grandeza), os oficiais generais do exército e da armada e os grão-mestres das Ordens de Cavalaria.

TRANSCRIÇÃO INTEGRAL

Livro de Registro Geral de Mercês do Reinado de Dom João V de Portugal. Livro nº 12, fls. 333 (660), ano de 1721.

“D. Felipe de Sousa e Castro, filho de D. Jacob. Houve Sua Majestade por bem, e com respeito aos muitos serviços que os índios da Serra da Ibiapaba se tem feito <<não só na restauração de Pernambuco mas também continuamente desde que os padres da Companhia os aldearam e instruíram na fé católica>> desinfestando os gentios bárbaros das capitanias do Ceará e Piauhi, e alcançando muitas vitórias, e ultimamente em que mataram o índio Mandu Ladino, um dos mais cruéis inimigos nossos, e ser um dos principais índios que se achava nas referidas ocasiões, com muito valor e zelo de seu Serviço Real, D. Felipe de Sousa e Castro, filho do governador que foi dos índios, D. Jacob de Sousa; e por sua Majestade, espera dele, que da mesma maneira se haverá daqui em diante em tudo do que for encarregado do seu serviço; Hei por bem fazer-lhe mercê a DOM DE ARMAS [Senhor das Armas], que pelos mesmos respeitos que lhe fez do posto de mestre de campo dos ditos índios; que vagou-se pela promoção de D. Joseph de Vasconcelos que o exercitava de antes; com o qual posto [de Dom] gozará o dito D. Felipe de Sousa e Castro, de honras e privilégios, liberdades, favores e franquezas que em razão dele lhe tocarem, da qual, por esta o há, Sua Majestade, emitido de posse do que lhe foi passada carta a 28 de janeiro de 1721”. A CARTA PADRÃO DE TENÇA DE CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIAGO, 8 MIL RÉIS, PAGOS PELA CAPITANIA DO CEARÁ.

“Houve Sua Majestade por bem, tendo respeito aos valorosos serviços que tem feito a esta coroa os índios da Serra da Ibiapaba, não só na restauração de Pernambuco mas também continuamente desde que os padres da Companhia os aldearam e instruíram na fé católica, desinfestando dos gentios bárbaros as capitanias do Ceará e do Piauhi, alcançando muitas vitórias contra eles, matando-lhe o seu cabo de corso [Mandu Ladino, como dito acima] que fazia grandes hostilidades de mortes e fazendas destruídas, e se tem os ditos índios da mesma Serra da Ibiapaba, este vencimento; e ser um dos principais índios que se acha nestas jornadas e ocasiões, com muito valor e zelo do Real Serviço, o D. Felipe de Sousa e Castro, filho de D. Jacob, já falecido, Hé Sua Majestade, por bem, fazer-lhe mercê a DOM DE ARMAS, que com os mesmos respeitos fez na 81ª sentença e registro, por contados 20, com que foi impedido, porque dos 12 que faltava para o cumprimento dela [sentença], se repassou outro padrão para os ter como CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIAGO, os quais 8 [mil réis em tença] lhes serão assentados nos rendimentos dos DÍZIMOS DO CEARÁ e por os da capitania do Rio Grande, e os começará a vencer do dia que dele se lhe fizer assento. De que esta foi passada ao dia 15 de fevereiro de 1721”. Fonte: Livro de Registro Geral de Mercês do Reinado de Dom João V de Portugal. Livro nº 12, fls. 333 (660), ano de 1721. Por João Bosco Gaspar – Pós-Graduado em História, Cultura e Patrimônio - Tianguá – Ceará Link para confirmação: https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=1890501

CARTA RÉGIA DE 1720 – DOAÇÃO DE “TODA A TERRA QUE FICA EM CIMA DA SERRA, AOS ÍNDIOS DA ALDEIA DA IBIAPABA, CAPITANIA DO CEARÁ". Existe no Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – AHU-CE, Caixa nº 06, Documento nº 415, página 07, o documento do teor seguinte: DISSE O REI:

“Dom João, por graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve, d’aquém e d’além mar em África, Senhor da Guiné, etc. Faço saber a vos capitão-mor da capitania do Ceará, que por parte dos índios da aldeia da serra da Ibyapaba, se me representou, que por serem muitos, e se lhes ter agregado mais tapuias que passavam hoje de quatrocentos, estavam experimentando graves fomes porquanto as terras que lhes foram demarcadas estavam de muitos penedios e quebradas inúteis, e as que eram capazes de plantar e de darem frutos além de serem poucas, estavam já cansadas, e por esta causa não tinham terras capazes aonde pudessem plantar e cultivar os seus mantimentos, e que a não ser a caridade que os padres missionários faziam, acudindo-lhes com algum gado que criam, morreriam de fome, e principalmente as muitas viúvas desamparadas e os meninos órfãos, que se acham na dita aldeia, cujos pais e maridos morreram na guerra em climas estranhos. Pedindo-me-lhes mandasse alargar os distritos das suas terras, concedendo-lhe toda a que fica em cima da serra. E sendo visto este seu requerimento, atendendo as justas razões deles, e se terem feito merecedores pelo serviço que me tem feito na defesa desta capitania [do Ceará] e da do Piauhy na guerra que nela tem havido contra os índios nossos inimigos. Houve por bem, por resolução minha de cinco do presente mês e ano, em consulta do meu Conselho Ultramarino de lhes conceder toda a terra que fica em cima da serra além das que lhes estavam dadas para seu ministério, começando o seu distrito desde a ladeira da Uruoca até o lugar chamado Itapevuna por serem capazes de criar gados em que seus pais e avós sempre plantaram, e hoje se acharem descansadas, capazes de darem mantimentos, não estando ditas terras dada de sesmarias outrem; porém, constando que alguma pessoa tem data nela, vos ordeno me informeis se as tem cultivado ou não, e da qualidade das ditas terras e de seu valor caso que estejam conferidas em alguns sujeitos para que conforme a esta notícia, possa mandar providencia necessária. El-Rei, Nosso Senhor, o mandou por João Telles da Silva e Antônio Rodrigues da Costa, Conselheiro de seu Conselho Ultramarino, e se passou por duas vias. Miguel de Macêdo Ribeiro a fiz em Lisboa Occidental a dez de dezembro de 1720. O Secretário André Lopes da Silva a fiz escrever. João Telles da Silva, Antônio Rodrigues da Costa. Segunda via por El-Rei, ao capitão-mór da capitania do Ceará. Estava o sello Real”.

FONTE: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – AHU-CE, Caixa nº 06, Documento nº 415, página 07. Por João Bosco Gaspar – membro do CELDITEC.

A PRIMEIRA DERROTA DO PIAUHY - ANO DE 1720. DECISÃO COLEGIADA DO CONSELHO ULTRAMARINO DE PORTUGAL, DE 16 DE OUTUBRO DE 1720, QUE INFLIGIU A PRIMEIRA DERROTA AO PIAUHY, COM RELAÇÃO À SERRA DA IBIAPABA – ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO DE PORTUGAL, CÓDICE Nº 266, P. 100 A 103.

TRANSCRIÇÃO INTEGRAL

“Satisfação ao que Sua Majestade ordena sobre as Petições e Representações que fizeram o padre João Guedes da Companhia de Jesus como procurador das Missões do Brasil, e o padre Antônio de Souza Leal, missionário no mesmo Estado, e vão os papéis que se achavam.

Por Decreto de 25 de setembro do presente ano [1720], ordena Vossa Majestade que vendo-se neste Conselho as petições e Representações inclusas contidas na memória de que se acompanha o dito Decreto, as quais apresentaram João GuedesdaCompanhiadeJesus comoprocuradordasMissõesdoBrasileAntônio deSouza Leal, clérigo do hábito de São Pedro, missionário no mesmo Estado, se consultem com aquela atenção que pede a sua importância, tanto do serviço de Deus como de Sua Majestade.

Na Representação do padre João Guedes, se mostra o grande dano que se poderá seguir à conservação da Aldeia da Serra da Ibiapaba, se se executar e observar a Resolução de Vossa Majestade, em que manda desmembrá-la da jurisdição da capitania do Ceará e uni-la a do Piauhy, e que este será o meio não só de se arruinar a dita Aldeia, mas em consequência privando-se o Ceará dos seus defensores, ficando em notório risco as fazendas dos suplicantes, se forem infestadas pelos gentios bárbaros, e que se não virá a conseguir, afim deles se unirem para o serviço da guerra do Piauhy, para que os pediu o mestre de campo Bernardo de Carvalho Aguiar, sendo que se entende, foi mais levado dos seus interesses do que da utilidade do serviço de Vossa Majestade, e ocupá-los nos seus currais e guarda dos seus gados e em outras consequências, tendo-se por certo que se chegar a desunir do Ceará a dita Aldeia, os índios dela, como lamentam, não só não irão para o Piauhy pelas opressões que padeceram em tempo que assistiam naquele distrito, mais que absolutamente se apartariam da dita Aldeia em que vivem a muitos anos, e passariam para os [s]certões mais distantes, descrenciados [descrença] pelos muitos casos acontecidos, em que se é concludente ser a nova tirania (...) de todos os movimentos e alterações dos índios, e aponte os meios por onde se pode estabelecer uma paz firme e sossego público naquela capitania, resultando dela umas mais crescidas conveniências para a fazenda real e para os vassalos (...); sendo o principal, de se conservar a dita Aldeia da Ibiapaba no Estado antigo, sem se unir ao Piauhy, o que não só <<pedem os índios habitadores dela com lágrimas e gemidos>>, mas mandaram seu governador D. Jacobo de Souza e Castro e a seu filho [Filipe de Souza e Castro] à presença de Vossa Majestade, a fazer a Vossa Majestade o mesmo requerimento, e que neste caso seria o certo (...), Vossa Majestade dar licença ao dito governador, e em sua falta a seu sobrinho D. José de Vasconcelos, mestre de campo, para que em nome de Vossa Majestade, possa conceder pazes a todos os tapuyas aos quais se tem feito guerra nas ditas capitanias, insinuando-lhes que Vossa Majestade lhe fez este favor, afim de obrigá-los a que vivam quietos, em boa amizade com os brancos.

E o segundo [ponto], que Vossa Majestade seja servido dar faculdade aos mesmos dois índios, na falta de um o outro, a que possam levantar na sua Aldeia [da Ibiapaba], uma polé [instrumento de tortura], em ordem a intimidar aos tapuyas e castigá-los, no caso que alguns deles torne a fazer algum agravo (...), e nos termos que eles se não queira sujeitar a este castigo, ou alguma nação inteira torne a levantar-se , então lhe seja lícito fazer-lheguerra, eestesacaba-los;comproibiçãosevera,quenenhumbrancoseintrometanestaguerra,porque do contrário, se segue muitas desordens e injustiças.

Em terceiro [ponto], que os brancos não deem motivos aos tapuyas a levantar-se, sendo para este efeito o melhor instrumento, ordenar Vossa Majestade que nenhum deles, em diante, cative ou mate tapuya algum, sob pena de perder toda as terras que tiver no [s]certão, as quais darão os capitães mores logo por devolutas, tanto que lhe constar o delito, e as poderão dar a quem pedir, como se nunca tivessem dono, e no caso que o delinquente não tenha terras no [s]certão, seja condenado a algum degredo, ou para Angola ou para a terra da Nova Colônia, cuja execução se há de recomendar com toda eficácia aos capitães mores, fazendo o mesmo padre João Guedes, perante a Vossa Majestade, que se isto se observar, não há dúvida que haverá uma constante paz nos [s]certões (...), e tudo será em aumento, e os missionários poderão tratar da convivência do gentio, o qual lhe terá mais respeito, vendo que por via deles alcançaram a sua aquietação que [há] tantos anos desejavam, sem poder alcançá-la, e Deus e Vossa Majestade serão servidos.

E atento ao que o padre missionário alega, e documentos que ajuntou como seu papel, por onde se comprova concludentemente não ser conveniente inovar-lhe nada na dita Aldeia da Serra de Ibiapaba, antes do contrário, se experimentarão mais danos (...).

Pareceu ao Conselho que suplicando Vossa Majestade na carta inclusa, tomasse a resolução de que se unisse esta Aldeia [da Ibiapaba] à capitania do Piauhy, ficando debaixo da sua jurisdição os índios dela, na consideração dequeestandonaqueledistrito, maisfielmentepoderiam ajudarnoprogresso daguerra do gentio bárbaro, que se entendeu ser conveniente se continuasse por este meio, [e] se atalhasse as repetidas insolências e crueldades que experimentaram os moradores da dita capitania, como dito, <<foi nascida somente da Representação do mestre de campo Bernardo Carvalho de Aguiar, e não procedeu informação alguma do governador de Pernambuco e capitão mor do Ceará>>, por onde se pode examinar os prejuízos que esta determinação podiam resultar, e agora se colhe evidentemente ali pelas mesmas cartas do governador de Pernambuco, capitão mor do Ceará e dos missionários, e atestação que fazem muitos capitães mores do Ceará, do grande e irreparável dano que se pode seguir ao serviço de Vossa Majestade, como à conservação da dita Aldeia da Ibiapaba e a defesa da capitania do Ceará, se a privarem da sujeição destes índios, e a grande repugnância que eles mesmos mostraram de os separarem do lugar em que se tem há muitos anos, tangido do mal que já padeceram quando estiveram nas vizinhanças do mesmo Piauhy, podendo recear justamente, que não só não queiram ir viver naquela capitania [do Piauhy], mas que se os coagirem a sentirem esta violência a queiram desesperados se ausentaram para o [s]certão em grande distância, o que não é conveniente, e obrigados dos seus sentimentos, mandaram mais fielmente aos pés de Vossa Majestade, o seu governador D. Jacobo de Souza e Castro (...), que nesta atenção, seja Vossa Majestade, por bem de ordenar que a dita Aldeia fique como de antes no domínio do governo de Pernambuco e capitão mor do Ceará, com declaração que sendo necessário alguns índios para a guerra do Maranhão da mesma Aldeia, se deem prontamente como por repetidas ordens tem Vossa Majestade determinado, e como a paz dos tapuyas seja sempre o meio mais seguro de se pacificarem os [s]certões e lograrmos as utilidades que eles prometem nos produtos dos seus frutos, em que se interessa a fazenda real e os vassalos de Vossa Majestade, que se deve permitir que os índios da mesma Aldeia façam pazes com todos os índios, assim como os que não estão em guerra, como com os que estão desavidos [desavença] conosco, o qual ajuste farão sempre com a direção do seu padre missionário, e da mesma maneira que possam ir em sua companhia a praticar [com] os que estão no Araripe, para os trazer à nossa amizade e obediência, segurando-os que não só hão de experimentar os efeitos da real grandeza de Vossa Majestade, mas que hão de sem bem tratados e premiados conforme ao seu serviço e lealdade, e porque pode ser necessário que em algumas ocasiões, que se possa oferecer que os ditos índios vão armados de diferente armas das que usam, que Vossa Majestade lhe mande 50 armas de fogo com as munições competentes, as quais vão dirigidas ao seu mesmo missionário, para que as tenha em seu poder, e lhes dê quando entenda e pede a ocasião, e acabada ela, que as torne a recolher na casa que estiver destinada para armazém das ditas armas; e suposta a tirania de que usam muitos homens brancos, mulatos e mamelucos com os miseráveis índios, matando sem razão (...), que devem tirar os Ouvidores devassas das ditas mortes, e podendo contraos delinquentes,conformedispõem as nossasleis; ecom estaocasião,tornaralembraraVossa Majestade, o melhor que for preciso, que na capitania do Ceará haja um Ouvidor Geral letrado, como Vossa Majestade se tem feito (...), porque este será o meio que com a agilidade, cuidado e zelo do dito ministro, se atalhe tantos insultos quantos se cometem naquela conquista, por não haver quem administre (...) aqueles povos.

Ao Conselheiro Antônio Rodrigues da Costa, pareceu que ainda que o Conselho, na carta inclusa, foi de parecer que a Serra e Aldeia dos índios da Ibiapaba se unisse à capitania do Piauhy, desanexando-se da capitania e governo do Ceará, e Vossa Majestade assim o resolveu, como o motivo que para isso <<houve foi somente a Representação que fez o mestre de campo Bernardo Carvalho de Aguiar, a quem se encarregou da guerra contra o gentio bravo na capitania do Piauhy>>, e então por se não retratar a resolução deste negócio em que parecia ser precisa a brevidade, se não mandou tomar informação pelo capitão mor do Ceará e governo de Pernambuco, para se vir no conhecimento dos inconvenientes que podia haver nesta alteração; hoje, que informou deles o mesmo capitão mor e governador de Pernambuco, e os índios impugnam esta mudança, e se mostram (...) desconsolados, com eles as autoridades do Ceará e os missionários e pessoas eclesiásticas e seculares mais consideráveis daquela capitania, representaram os graves prejuízos que podem resultar aquela capitania desta desmembração, e mostram o grande receio que tem, de que os índios exasperados [exaltados] com aquela sujeição ao governo do Maranhão, o qual já experimentaram intoleravelmente em dois anos e meio que estiveram naquele jugo, cuja tirania os obrigou a fugirem e se meterem nos matos (...); <<que nestas

considerações, todas graves e dignas de atenção, deve Vossa Majestade ser servido mandar suspender a execução da Ordem que foi ao capitão mor do Ceará e governo de Pernambuco, por esta desanexação, e que a Serra e Aldeia da Ibiapaba fique como estava no governo do capitão mor do Ceará>>, e entendendo também a que os índios desta Aldeia, <<em dois anos e meio que esteve ausente o mestre de campo Bernardo de Carvalho, eles só sem ajuda de branco, destruíram os tapuyas que infestavam a capitania do Piauhy e aquela parte do Ceará que lhe fica contígua>>, parece se fica escusada [desnecessária] aquela despesa que precisamente se há de fazer com o Arrayal do Piauhy e com os soldados brancos e 400 índios que lhe mandaram dar, e que ao mesmo [Arrayal], poderá bastar a metade daquela gente, em que mais, encarregandoseestes índios daSerraadesenfestarem aqueledistrito dogentiobravo,semqueVossaMajestadeaestadefesa concorra com outra cousa mais que mandar lhe dar algumas armas e pólvora e chumbo para eles, e faculdade ao seu principal para que possa conceder-lhe pazes em nome de Vossa Majestade aos índios e tapuyas que acharam-se levantados, o que parece não só justo, mas convenientíssimo, porque só com a mão dos índios poderemos sujeitar os tapuyas e gentio bravo, e só eles são capazes de penetrar os matos e [s]certões, e de defender melhor as nossas fronteiras, <<como fizeram estes da Serra da Ibiapaba no tempo que faltou no Piauhy o mestre de campo>>, vencendo o gentio bravo em cinco encontros, e matando lhe os seus maiorais; e para que continuem nesta defesa, será conveniente que Vossa Majestade lhe mande dar 50 ou 60 armas de fogo, com pólvora e bala competente, com declaração que as ditas armas e munições devem estar em poder dos missionários, para que só usem delas os índios com a permissão e licença dos ditos missionários, e por este modo, sem mais despesa alguma, e com a faculdade de fazer pazes, poderão atrair ao domínio de Vossa Majestade muitos vassalos, e a presente execução que intentam, de trazerem os seus parentes da Serra do Araripe, para que se oferecem, não só se lhe deve dar faculdade e algumas ferramentas e <<vellórios>> que pedem, mas incitá-los melhor a que com efeito façam logo esta expedição tão conveniente ao serviço de Vossa Majestade e ao de Deus, pois nela se interessa ter mais naquela parte 4 ou 5 mil vassalos, que tantos dizem que serão, e converterem-se a fé, ao que senão pode faltar por nenhum respeito, com gravíssimo escapulo de consciência por ser esta a primeira obrigação com que Vossa Majestade poderá ter o domínio daquelas terras que verdadeira e legitimamente são daqueles homens a quem Deus os deu desde a sua origem e fez nascer o sol sobre bons e sobre os maus, e que a faculdade que pede o maioral desta Aldeia para levantar nela polé [instrumento de tortura] para intimidar os seus índios e os tapuyas com quem fizer pazes, parece se lhe deve conceder, com a condição que não usará deste castigo sem a permissão dos seus missionários, e que nunca os tratos que derem, poderão ser de braços soltos, e que no caso que o delito seja capital, não sendo cometido em guerra, seja o tapuya remetido perante ao Ouvidor, para proceder contra ele como por justiça.

E porque se tem notícia certa que o padre João Guedes, como procurador das Missões, se queixa também de que os portugueses, ainda os mestiços e mamelucos matam aos tapuyas e índios impunemente, e muitas das vezes por cousas levíssimas, e ainda sem elas; e tem forçado suas mulheres e filhas, e estas atrocidades são tãofrequentesprincipalmentenoRioGrandeeCeará,seráprecisoqueVossaMajestadeordeneaos Ouvidores, que todos os anos tirem uma devassa das injustiças e violências que se fizerem aos índios e tapuyas, e que procedem contra os culpados com todo o rigor das leis, como se as tais violências fossem feitas ao homem branco, porque sendo estes homens vassalos de Vossa Majestade ou estando nas terras do seu domínio, é VossaMajestadeobrigadoalivrar-lhesdeviolências injustas,eseaqueleshomensvirem que selhefoi justiça, e se castigados as injustiças que se lhe façam satisfatoriamente, que terão de viver e servir debaixo do justo domínio de Vossa Majestade, o qual na forma em que hoje se acha é totalmente intolerável; e os Ouvidores sedeveordenarquedeem contaaVossaMajestadetodos os anos poresteConselho, doqueresultarda devassa e da informação particular que também deve tirar em segredo, vista como ordinariamente, não por ter mais as testemunhas de pôr o que sabem pelo medo que tem dos culpados, os quais sempre serão mais poderosos e respeitados que os pobres índios, encarregando-lhe que neste particular se informem dos missionários os quais também acertado que Vossa Majestade encarregue-lhe deem conta de todo o mau trato e violência que se fizer aestesmiseráveis; porquesabendo-sequeVossa Majestade, em cuidandoem livraraquelespobres das tiranias e injustiças que padecem, e que há de ser informado da verdade por diferentes pessoas (...); é este o meio de Vossa Majestade vir a saber o que passa neste particular, [e] poderá conter os homens que [es]tão abusando com tanta injustiça e crueldade da inocência e paciência daqueles homens que devem viver seguros debaixo da justiça e amparo de Vossa Majestade, a quem se sujeitam (...) na terra que Deus lhes deu para receberem este benefício de viverem em paz, livres de violências. Lisboa Ocidental, 16 de outubro de 1720”.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – Códice nº 266, fls. 100-103. Por João Bosco Gaspar.

ÍNDIA ANTÔNIA GUIRAGASSU – O TRIBUNAL DA INQUISIÇÃO NA ALDEIA DA IBIAPABA, CAPITANIA DO CEARÁ, BISPADO DE PERNAMBUCO – ANO DE 1720.

“Dá conta a este Tribunal da Santa Inquisição Dom Jacobo [Jacó] de Sousa e Castro, índio principal e governador da sua nação de tabajaras da aldeia da Serra da Ybiapaba da capitania do Ceará Grande, bispado dePernambuco,que em a ditasuaaldeiaháumamulhercazadapornome AntôniaGurágassu, quefaz aparecer o demônio em forma vizivel de índio, segundo a voz a fama publica daquela aldeia, sem contradição de pessoa alguma, disse (...) que esta índia querendo chamar o demônio, toma umas grandes fumaçal de tabaco em cachimbo até ficar como fora de si, e logo se levanta aos ares saindo pelo teto da caza que é de palha, sem a destruir; e nos ares dá um grande assobio e logo cai outra vez na mesma caza, e tem ela o demônio, o qual responde a varias perguntas do outro mundo, e as vezes diz que a alma de alguma parenta desta feiticeira, que havia anos era defunta. O que pode constar perguntando se naquela aldeia os índios são mais capazes, pois entre índios nada é oculto, e o que um faz sabem todos, nem há perigo de infâmia ou outra alguma desordem, porque é gente que nenhum sentimento toma.

Que a mesma feiticeira veio uma noite na caza dele denunciante, estando ele muito doente de dores de estômago, e lhe disse vinha fazer-lhe umas menzinhas para o curar; e veio aquelas horas, sem duvidas para que não soubessem os missionários, e disse-lhe que queria chamar o demônio para a ajudar, que não tivesse medo, e logo sentiu ele denunciante, uma pancada na caza, como pessoa que caiu do telhado no meio da caza; e temendo naturalmente se quis benzer, porém esta pessoa que caiu de cima, em voz desconhecida e na língua dos índios, lhe disse que não tivesse medo, que ele, ainda que era o curador, lhe não faria mal; mas que vinha a chamado daquela mulher a curar-lhe, e estendendo a mão lha pôs no estômago, tão fria que nem parecia de pessoa viva; e como ele denunciante se inquietou, assustado e atônito, não quis consentir, calou-se e desapareceu dali aquela figura, ficando unicamente esta mulher feiticeira e uma sua irmã que hoje é defunta, que com ela vinha; porém ele denunciante não sabe divisar bem o vulto, por fazem muito escuro, mas creu (...) ser o demônio, e pela fama que a dita feiticeira tem da qual se preza e seus parentes, tem hoje por certo, ser verdadeiramente feiticeira. Também na mesma aldeia, alguns índios e índias tem a mesma fama, porém não tão certa como parece a desta dita índia (...). E tem se por certo que se não fizer algum castigo, tirando estes mais culpados daquela capitania, nunca os índios hão de ser verdadeiramente cristãos, e todos se perderão. Assim o sentem os missionários desta capitania. Assinado a rogo por Dom Jacó de Sousa e Castro, o padre Antônio de Sousa Leal – Lisboa 21 de agosto de 1720”.

Fonte: Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Portugal, Cadernos do Promotor nº 286, p. 1170 (585). Por João Bosco Gaspar. Link para confirmação.

https://digitarq.arquivos.pt/details?id=3259951

AS MINAS DE PRATA DAS SERRAS DA IBIAPABA E DOS COCOS - PROVISÃO DE 1739, CONCEDENDO A ANTÔNIO GONÇALVES DE ARAÚJO O DIREITO

DE EXPLORAÇÃO:

“Eu, El-rei, faço saber aos que esta minha provisão virem que tendo consideração a me representar Antônio Gonçalves de Araújo que ele tinha descoberto na Serra dos Cocos e Ibiapaba da capitania do Ceará, distrito de Pernambuco e em outros lugares do Sertão do Brasil entrando naquela diligência e especulação e seus progressos em ordem do vice-rei do estado do governador de Pernambuco, capitão-mor do Rio Grande e Ouvidor do Ceará, rogado também e com recomendação do superintendente-geral das minas daquele estado, Manoel Francisco dos Santos da Soledade o qual lhe havia cedido e doado as terças partes das terras e mais pertenças de que eu lhe havia feito mercê por uma provisão. E porque ao presente se achava o mesmo suplicanteeo dito superintendentenestacortecom requerimento sobre abertura econtinuação das ditas minas, e das que demarcara o dito superintendente por conta de poderem dar umas e outras os interesses que prometiam, e da escritura que apresentava constava fazer o dito superintendente aquela doação mais vigorosa, eevidentementeprovável, com as mesmas cláusulas econdições em quepor mim lheforam concedidas aquela mercê para assim e pelos motivos insertos na própria escritura melhor poder o suplicante cobrir-se da despesa que tinha feito nos tais descobrimentos e concluir a fim de pôr em execução como convém abertura de umas e outras minas descobertas e demarcadas, e se reduzirem a cultura as terras que eram doadas para benefício das próprias minas. E era necessário para mais utilidade da dita seção e trespasso, que eu fosse servido havêlo assim por bem, aprovando na pessoa dele suplicante a nomeação que lhe fizera o dito superintendente para o dito feito, fazendo efetiva na mesma mercê de modo que fora concedida ao próprio superintendente, e por esta cedida ao suplicante para que na forma da Dita escritura poder entrar nas mais diligências necessárias com as mesmas cláusulas e condições declaradas na sobredita provisão. E atendendo às suas razões: Hei por bem confirmar ao suplicante a seção que por escritura de dezessete de junho de mil setecentos e trinta e oito em a nota do tabelião Manoel de Oliveira, fez nele Manoel Francisco dos Santos da Soledade, da sesmaria, e mais jurisdições que foi servido conceder-lhe por provisão minha de oito de janeiro de mil setecentos e trinta e com as mesmas cláusulas e condições que na dita provisão se contém com declaração que sendo os cedentes pela não cumprir removido, ou por abusar das ditas jurisdições, se ficará desvanecendo também a parte e administração cedida e pela mesma forma será o cedente obrigado pelo fato do suplicante e pela inobservância das mesmas condições ou abuso referido ainda que para isso não concorra, e a divisão da terça parte cedida não terá efeito antes de se findarem os anos concedidos e se de marcar as sesmarias de que fiz mercê ao dito Manoel Francisco dos Santos Soledade, pelo que mando ao meu vice-rei e capitão-general de mar e terra do estado do Brasil governadores e Capitães-mores, e mais ministros e pessoas a que tocar cumpram e guardem esta provisão e a façam inteiramente cumprir e guardar como nela se contém sem dúvida alguma, a qual valerá como carta sem embargo da ordenação do livro 2° título 40, em contrário e se passou por duas vias e deu fiança à folha 193 verso do livro primeiro a elas a pagar os novos direitos que dever como constou por certidão dos oficiais dachancelaria.LisboaOcidental,13 denovembrode1739. Rei. ProvisãoporqueVossa Majestade há por bem confirmar a Antônio Gonçalves de Araújo a seção que por escritura de 17 de junho de 1738 em a nota do tabelião Manoel de Oliveira fez nele Manoel Francisco dos Santos Soledade da sesmaria e mais jurisdições que Vossa Majestade foi servido conceder-lhe por provisão de oito de janeiro de 1730 com as mesmas cláusulas e condições que na dita provisão se contém com declaração que sendo o cedente pelas não cumprir removido, ou por abusar das ditas jurisdições se ficará desvanecendo também a parte e administração cedida e pela mesma forma será o cedente obrigado pelo fato do suplicante e pela inobservância das mesmas condições, ou abuso referido ainda que para isso não incorra, e a divisão da terça parte cedida não terá efeito antes de se findarem os anos concedidos e se demarcar a sesmaria de que vossa Majestade fez mercê ao dito Manoel Francisco dos Santos Soledade como nela se declara que vai por duas vias. Para Vossa Majestade ver. Por decreto de Sua Majestade de 23 de Março de 1739. José Carvalho de Abreu. José Inácio de Aroche”.

Fonte: livro “Memória Colonial do Ceará” V5T1, p. 341-346. Por João Bosco Gaspar

“Tem esta serra vários nomes; no princípio chama-se Ibiapaba sendo por este nome mais conhecida; é muito alta e muito larga de sorte que no alto dela estão situados vários moradores com suas fazendas, e têm nela os padres da Companhia uma numerosa aldeia (...). A esta mesma serra no meio dão nome de serra dos Cocos, aonde agora há um descoberto de minas de prata, e cobre; dizem-me que já se fez a primeira fun[diç]ão com grande conta do que ainda duvido, e espero por mais evidentes notícias (...)". [p. 119].

NOTA: A documentação colonial é clara quanto as várias denominações atribuídas a essa imensa cordilheira que, principiando nas praias do mar, termina nas ribeiras do rio São Francisco. Os nomes mais conhecidos são: Ibiapaba, Serra dos Cocos, Serra da Joaninha e Serra dos Dois Irmãos. A “Ibiapaba”, propriamente dita, corresponde, tão somente, a porção setentrional da cordilheira, começando nas proximidades do litoral e terminando no lugar Itapeuna (Guaraciaba do Norte), depois do rio Inhuçu. Como afirma dom Manuel da Cruz, a Ibiapaba, naqueles idos (1744), era assistida pelos padres da Companhia de Jesus. Pois bem... No ano de 1694, através de Carta Régia firmada em 26 de novembro (AHU-Códices, cod. 1213 (1), p. 278-280), a Missão da Ibiapaba foi transferida para a jurisdição do Ceará, assistida pelos jesuítas vindos de Pernambuco.

No ano de 1720, através de outra Carta Régia, os limites da Missão Jesuítica da Ibiapaba foram traçados de forma INCONTESTE.Naquelaocasião,D.João V, doouaos índios daAldeiada Ibiapaba,“TODAA TERRA QUE FICA EM CIMA DA SERRA”, da ladeira da Uruoca até o lugar Itapeuna... redação mais clara não existe.

IMAGEM: Vista aérea do relevo da Serra Grande - No contexto do período colonial, a Serra Grande era dividida em áreas distintas, entre as quais, a "Serra da Ibiapaba" e a "Serra dos Cocos". Linha "vermelha" = a Serra da Ibiapaba; Linha "verde" = a Serra dos Cocos; Bolinhas "vermelhas" = curso do riacho Inhuçu, que depois de alguns quilômetros recebe o nome de rio Macambira; Bolinha "verde" = Cânion do rio Poti. Fonte: Cartografia do Exército Brasileiro. Livro: Copiador de algumas cartas particulares do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Dom Frei Manuel da Cruz, Bispo do Maranhão e Mariana (1739-1762) / Transcrição, revisão e notas por Aldo Luiz Leoni. – Brasília : Senado Federal, Conselho Editorial, 2008. Por João Bosco Gaspar.

ANO DE 1760. FRANCISCO MARCELINO DE GOUVEIA, PROPÕE AO CONSELHO ULTRAMARINO, QUE A SERRA DA IBIAPABA SEJA TRANSFERIDA DO CEARÁ PARA A CAPITANIA DO PIAUHY:

“(...) O ouvidor da parte do norte, estabelecendo a sua ouvidoria na Villa de Campo Mayor, pode igualmente ficar com o distrito do seu termo, e das Villas de Velença, Marvão e Parnahiba, e assim mesmo, com a povoação de índios da Serra da Ibiapaba, que hoje se denomina de Villa Viçosa Real, quanto ela como o seu termo, se una também à capitania do Piahuy, separando-se da do Ceará-Grande, a que hé pertencente (...)”.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal – AHU-PI – Caixa nº 06, Documento nº 395, Data 20 de fevereiro de 1760.

NOTA: A palavra "termo" mencionada por Marcelino Gouveia, representava toda a "circunscrição territorial" que circundava uma vila. No caso de Vila Viçoza Real, o seu "termo" se estendia da Ladeira da Uruoca, até o lugar Itapevuna (Guaraciaba do Norte). Por João Bosco Gaspar

INQUISIÇÃO - 1761:

(Durante seu ministério pastoral, o padre Malagrida esteve em Viçosa e Piracuruca).

“Em julho correu o rumor que Malagrida, preso no forte da Junqueira, seria levado ao Santo Officio, e queimado a 31 d' esse mez, para commemorar a festa de Santo Ignacio (...). Aos lados do jesuíta heresiarcha caminhavam dois confessores, que o exortavam. Dois fidalgos da primeira nobreza do reino, o duque de Cadaval e o conde de Villa Nova, familiares do Santo Officio, lhe faziam escolta, pavoneando-se, ufanos do encargo. Por longas horas; em quanto não chegou a vez de lhe ser lida a sentença, Malagrida sentado, de cabeça baixa, os cotovellos fincados nos joelhos, as mãos enclavinhadas à altura do rosto, immovel e silencioso, a tudo que se lhe passava em torno parecia alheio. Ainda ali, consoante disse aos confessores, a voz etherea Ihe falou. Em certo momento pediu mesa, isto é, quiz falar aos inquisidores. Durou a conferencia uma hora e, terminada, voltou tranquillo ao seu logar. Os espectadores observavam-no com interesse infatigavel; pode-se dizer que sobre elle somente todas as atenções convergiam. O acto final da tragedia approximava-se. Leu-se a sentença, o que levou duas horas, e, todo esse tempo ajoelhado e submisso, posto que sem ar de humilhação, nunca a serenidade o abandonou. Paramentou-se em seguida, como que inconsciente, e quase risonho, para a formalidade da degradação: seu espírito desprendera-se dos objectos terrenos, e librava-se agora ao sonhado paraíso. O arcebispo de Lacedemonia arrancou-lhe as vestes sagradas, e com ellas a roupeta de jesuíta, que até esse instante conservara, contra os usos da Inquisição. Formava o intento de quem ditou aos juízes a condenação, patentear que não era um membro só, mas o corpo inteiro da Ordem, ao menos symbolicamente, justiçado nesse dia. D'ahi a pouco, os restos calcinados de Malagrida, morto pelo garrote, eram por mão do executor dispersos ao vento”. Trecho do Livro “Os Jesuítas no GrãoPará: suas missões e a colonização” de João Lúcio D’Azevedo, páginas 302/306 - Lisboa, 1901. Por João Bosco Gaspar. Imagem de ilustração colhida na Internet

JOÃO PEREIRA CALDAS, PROPÕE AO CONSELHO ULTRAMARINO, QUE A ALDEIA DA SERRA DA IBIAPABA, SEJA RETIRADA DO CEARÁ E ANEXADA A CAPITANIA DO PIAUHY - ANO DE 1761.

“Ao mesmo tempo, julgo (...) que seria mais útil aos interesses desta capitania [do Piauhy], que ao governo dela fosse sujeita aquela grande povoação de índios que há no alto da referida serra”.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal - AHU-PI, caixa 8, doc. 472, data de 16 de setembro de 1761. Por João Bosco Gaspar

TRATO COM O DEMÔNIO E FEITIÇARIA NOS SERTÕES DO PIAUHY.

Encontram-se registradas no Arquivo Nacionalda Torredo Tombo, em Portugal (Cadernosdo Promotor,livro nº 313, fls. 125-127 = 261-267), as confissões das escravizadas Joana Pereira de Abreu e Custódia de Abreu, de propriedade do capitão-mor José de Abreu Bacellar, que assumiram junto ao Tribunal do “Santo Ofício”, participação em “cultos demoníacos” realizados entre os anos de 1750 a 1758, na Vila da Moucha (Oeiras) e na freguesia de Nossa Senhora do Livramento.

“Eu, Custódia de Abreu, de idade de dezoito anos, com pouca diferença, vinda pequena do gentio Gueguê (...), escrava do capitão-mor José de Abreu Bacellar, moradora nesta sua fazenda do sítio das Cajazeiras (...)”. Essas declarações foram registradas pelo padre jesuíta Manuel da Silva, “por ella não saber ler e nem escrever, no sítio das Cajazeiras, do capitão-mor José de Abreu Bacellar, aos 10 de abril de 1758”. Entre as confissões feitas, consta o seguinte: “Então me disse ela que eu havia de ir nua à porta da Igreja da mesma vila de Moucha, em que vivíamos, e na qual a Igreja da vila se conserva sempre o santíssimo sacramento, que ali havia de bater com as partes prepósteras [nádegas] assim nua umas três vezes na porta da Igreja indo sempre para trás, e havia no mesmo ponto de chamar por este nome e vocábulo: Tundá, o qual vocábulo nem eu lhe sei bem decifrar a significação inteira e cabal, mas julgo ser nome do Demônio. E que dali havia de endireitar nua para (…) o Enforcado, (…). E que ali me havia de aparecer um moleque e que eu pondo-me na postura de quatro pés, ele me havia de conhecer pela prepóstera [nádegas]”. fls. 125-127, Cadernos do Promotor, livro nº 313 Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Link https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=2318108 Por João Bosco Gaspar

ANO DE 1777 - A JUNTA TRINA DE (DES)GOVERNO DA CAPITANIA DO PIAUHY, PROPÕE AO CONSELHO ULTRAMARINO, QUE VIÇOSA SEJA A CAPITAL DO PIAUHY.

No ano de 1777, foi proposto ao rei de Portugal, via Conselho Ultramarino, “a criação de um novo governo geral” englobando as capitanias do Piauí e Ceará. Vejamos:

“A capitania do Piauhy subordinada ao governo do Pará e a capitania do Ceará subordinada ao governo de Pernambuco, podem constituir, pelos seus atuais limites, o território e divisa do dito novo governo”. Prossegue dizendo que o chefe do governo deverá “ter graduação de capitão general” e que sua residência deverá ser estabelecida “em Vila Viçosa Real da Serra da Ibiapaba, fazendo ali casa para sua acomodação, cadeia, quartel e hospital para a guarnição; suprimindose os postos de governador do Piauhy e de capitão mor do Ceará, como desnecessários com a criação do sobredito novo governo”. Propunha ainda a criação “de uma nova ouvidoria com a denominação de ouvidoria do Piauhy da parte do norte, estabelecendo o ouvidor a sua residência na mesma [capital de Vila Viçosa Real], e tendo o termo dela e das vilas da Parnahyba, Campo Mayor e Marvão por divisa da comarca, ficando o outro ouvidor na parte do sul, e a do Ceará com o restante das respectivas comarcas em que já se acham estabelecidas”.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Portugal, AHU-AVULSOS (BG), caixa 22, documento 1959, ano de 1777.

(http://resgate.bn.br/docreader/docmulti.aspx?bib=resgate...)

. Por João Bosco Gaspar

“No dia 22 de janeiro de 1825, de ordem do presidente da província [do Ceará], foi a villa [de Granja] novamente invadida por uma tropa de 200 índios aldeados, de villa Viçosa, com a ordem de prendê-lo [o coronel João de Andrade Pessoa Anta] e a seu irmão Joaquim de Andrade Pessoa. Os índios se dispersaram pelas ruas [de Granja] e cometeram toda sorte de violências, saqueando e açoitando homens e mulheres, até famílias importantes. Dezenove pessoas sofreram esse vilipêndio. O tabelião Chaves foi gravemente espancado; o patriota José Tibúrcio de Almeida Fortuna, recebeu um ferimento de seta; finalmente, pessoas as mais influentes da villa foram posta em fuga. Após isso, os índios [da Ibiapaba] tomaram quartel na Casa da Câmara. Valeu muito à população a intervenção de D. Joanna da Motta, mulher de Manoel Antônio de Almeida, que tratou de ganhar o sargento-mor dos índios, chefe ostensivo deles, com fazendas e quinquilharias (...)”. Fonte: RIC, ano de 1889, Tomo III. p. 66-68. Foto: Imagem atual da “Casa de Câmara e Cadeia” da cidade de Granja-CE, construída entre os anos de 1877 e 1879, não existia no período da Confederação do Equador – 1824/1826.

O LIVRO DE FIDIÉ...

“O bravo João José da Cunha Fidié, a rogos e instancias dos Piauhyenses, se propoz a sustentar ali o systema das Cortes Portuguezas. De acordo com o Governo do Maranhão, pedio soccorro ao Pará, que lhe enviou cento e cincoenta homens; porém o povo cearense em massa, invadio o Piauhy; capitaneado por José Pereira Filgueiras, e á força de mil excessos, ali fez jurar-se a Independencia. Fidié retirou-se a Caxias com um punhado de Soldados, e sustentou valente, e generosa defensa, até que, reduzido a sós noventa defensores, fez a sua brilhante capitulação do morro da Taboca; e recusando agradecido os empregos com que os Brasileiros lhe querião retribuir generosidade, por generosidade, deixou o paiz onde com respeito se lhe escuta ainda o nome”. Trecho do livro “Vária Fortuna D’um Soldado Portuguez - Offerecida ao publico pelo Brigadeiro Fidié”, p. 101 e 102, publicado no ano de 1850, em Lisboa, Portugal.

PADRE REBELDE:

"José Martiniano Pereira de Alencar: O Padre Rebelde. José Martiniano Pereira de Alencar (1794-1860) foi um ex-padre, jornalista e político cearense. Foi o pai do escritor José de Alencar e do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, barão de Alencar.

Nascido a 27 de outubro de 1798 em Mecejana, na Província do Ceará. Ao lado da mãe Bárbara de Alencar e dos irmãos Tristão Gonçalves e Carlos José dos Santos, tomou parte da revolução de 1817 e da Confederação do Equador (1824). Sendo ainda seminarista, foi à sua província com o fim de propagar as ideias da mesma revolução e, com efeito, de batina e roquete chegou a pregar a 3 de maio desse ano na vila, hoje Cidade do Crato, depois da missa em favor da independência, lendo as proclamações que trazia. Após missa na Matriz do Crato, subiu ao púlpito e proclamou a Republica. Foi preso no dia 11 Mai 1817, tendo ficado nos cárceres da Bahia ate sua anistia em Ago 1821.

Após ser preso por causa da Confederação do Equador, surpreendentemente volta como Presidente da província, e uma de suas ações, foi perseguir e punir o torturador de sua mãe [Bárbara de Alencar], João André Teixeira Mendes, o Canela Preta, personagem cruel e assassino da Vila de Icó.

Foi Deputado pela Província do Ceará na legislatura de 1830 a 1833, tendo tomado posse no dia 25 de abril de 1830 na vaga do Deputado eleito José Inácio Gomes Parente, que pediu licença. Foi Deputado Constituinte na Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa do Império do Brasil de 17 de abril a 12 de novembro de 1823 (posse no dia 3 de maio). Foi, também, Deputado pela Província do Ceará nas Cortes Gerais Constituintes da Nação Portuguesa convocadas em Lisboa de 1821 a 1822. Nomeado Senador, tomou posse em 2 de maio de 1832.

Em 1834 fundou em Fortaleza a Loja maçônica "União e Beneficência". Mesmo sendo padre, teve com uma prima que tomou por companheira, 13 filhos, dentre eles, o escritor José de Alencar.

Foi um dos lideres do "Golpe da Maioridade", pois foi na sua casa que as reuniões que antecederam ao golpe que resultou na emancipação de D. Pedro II foram realizadas.

A Casa de José de Alencar é um monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O local fica em distrito Messejana do município de Fortaleza e foi a residência particular de José de Alencar no período em que foi presidente do estado.

Publicou as seguintes obras: Oração Fúnebre, Ceará, 1827; Preciso dos sucessos que ocasionaram o grande acontecimento do faustoso dia 7 de abril, dirigido as cearenses pelos seus deputados, Rio de Janeiro, 1831; Carta dirigida aos eleitores da província do Ceará, Rio de Janeiro, 1830; Discursos pronunciados na sessão do Senado de … agosto de 1859, Rio de Janeiro, 1859.Faleceu no dia 15 de março de 1860".

Texto e imagem: Brazil Imperial.

REVOLTA DOS BALAIOS - OS APETRECHOS DOS FERREIRA DE VERAS - GUERRA NAS

FRECHEIRAS DA LAMA - 1840:

"Depois de caminhar 7 léguas, que se contam da Lagoa Cocal, as fazendas de José Alves, no município de Parnaíba, província do Piauí, encontrou os rebeldes em um Olho d’Água, nas matas (...); e ali começou um regíssimo fogo de ambos os lados, tornando-se renhida a questão, por três quartos de hora, mas a coluna do capitão Jacarandá ganhou o campo inimigo, tendo um soldado morto, um cabo e quatro soldados feridos gravemente, e um soldado levemente. Do inimigo, 14 rebeldes mortos, bem como um prisioneiro, dez mulheres, quatro meninos, um escravo e uma escrava, ambos velhos, do finado José Alves Ferreira de Veras [pai de Domingos Ferreira de Veras]. O capitão Jacarandá tomou toda a bagagem do inimigo, que se compunha de 58 cavalgaduras, muitas cangalhas, grande número de caçuás de couro, algumas selas velhas, algum chumbo e balas, um caçuá de arroz e outro de feijão, um clavinote, um bacamarte, cinco clavinas e duas cargas de sal (...). Teve ainda um tiroteio pequeno, que muito concorreu para o completo debandamento dos rebeldes, pois que os dois infames chefes, [Domingos Ferreira de] Veras e [Antônio de Sousa] Cabral, aconselharam ao restante das pessoas que os acompanhavam, procurassem seu rumo (...)”.

Fotos: Imagem de Ilustração - Internet. Pesquisa: João Bosco Gaspar

ÍNDIOS DA IBIAPABA NAS FRECHEIRAS DA LAMA – 60 CASAIS DE ÍNDIOS SE UNEM AO LÍDER DOMINGOS FERREIRA DE VERAS (Série: Balaiada).

“Abandonados os indígenas a si mesmos, desconsiderados no regime de suas aldeias, opressos, e sempre lesados em seus contratos pela maior esperteza dos da nossa raça; estão desgostosos de sua posição social e suspiram pelo antigo regime; excitando-os esta disposição a tomar o partido da rebelião; como ultimamente sucedeu com grandíssimo numero dos índios de Villa Viçoza, que desertaram da Povoação de São Pedro [de Ibiapina] com suas famílias em numero de mais de 60 cazaes, para se reunirem aos rebeldes das Frecheiras [da Lama, termo da vila da Parnaíba, província do Piauhy], abandonando suas cazas, e lavouras, das quais algumas se achavam em estado esperançozo. Julgo, que por analogas rasões eles se aliaram com os partidos rebeldes no Maranhão, e no Pará, prestando os seus serviços aos inimigos da ordem, e da paz do Império com extrema perseverança e contínuos sofrimentos e privações”.

Fonte: Trecho do Relatório do Presidente da Província do Ceará, apresentado na Assembleia Legislativa, em data de 01 de agosto de 1840.

NOTA: A Igreja de Nossa Senhora do Rosário das Frecheiras da Lama (Cocal-PI) foi construída no ano de 1781 pelo casal, Diogo Alves Ferreira (português) e Francisca Tomazia Ferreira de Veras (Granja-Ceará). Diogo e Tomazia são os avós de Domingos Ferreira de Veras (o novo), líder dos "Balaios" no norte do Piauí entre os anos de 1839 a 1841.

Por João Bosco Gaspar.

EXTREMAS DO PIAUÍ – ano de 1860:

“(...) partimos do Retiro eram talvez cinco horas, e chegamos à fazenda denominada Brejo do Sr. José Joaquim Pacheco (...). Fazem de Viçosa ao Brejo umas oito léguas (...). O Sr. José Joaquim Pacheco, homem de 45 anos, bem disposto, jovial, conversador, e contador engraçado é casado e tem só dois filhos, já moços. A fazenda é sua própria, e está situada na fronteira do Piauí, que fica uma meia légua distante da casa (...). Terça-feira amanhece bom tempo, almoçamos e nos aprontamos para irmos até Piauí. Era isso que ali me levou, queria eu ver por meus olhos como do Ceará se descia para o Piauí e foi bem, porque eu estava muito enganado. O Sr. Pacheco quis ser o nosso guia (...). Entramos pelo território do Piauí, obra de uma légua, até o lugar chamado Sítio, onde há duas ou três palhoças miseráveis (...). Estava eu muito enganado a respeito da conformação da serra Grande para o lado do Piauí. Dizia-me o Dr. Théberge, e outros me confirmaram, que a serra Grande, tendo salinados para o lado do Ceará, e do Piauí descia insensivelmente até a margem do Parnaíba (...). De tarde passamos na rede ouvindo contar história o Sr. Pacheco, às cinco horas chegou também o Sr. Bevilaqua e a conversa caiu sobre o Piauí, onde ambos já estiveram (...). Eis o que disseram do Piauí. Quem viaja pelo Piauí deve levar tudo, ali não se é recebido em parte alguma; não se da água, nem rede, nada; nem se vende coisa alguma [nisto deve haver exageração]. As mulheres nunca aparecem. Mesmo na Parnaíba elas não saem de casa, senão para irem ao banho de noite. Não vão à igreja, não ouvem missa, os homens sim, não se visitam. Um homem branco (...) que chegar em uma casa não tem com quem conversar, mas um preto, ou gente dessa laia, vai para a cozinha e logo é rodeado da família, que começa a conversar, e falar, e a perguntar tudo, na maior familiaridade. Quase toda a gente branca tem mescla de negro. Tem todos grande ojeriza aos cearenses. Se ali se encontra agasalho e bom trato em uma casa, pode se estar certos que os donos são cearenses ou pernambucanos. Os piauienses são indolentes, sem indústrias (...).” Trecho do livro “Diário de Viagem de Freire Alemão – Comissão Científica de Exploração ano de 1860 ” p. 377-381, Editora da Fundação Waldemar Alcântara, Fortaleza-CE, 2011.

“É nesta minúscula “lagoa” quase sempre o ponto término das deleitáveis visitas subterrâneas da decantada caverna, de graciosas galerias, de bonitos tetos e de lindas, muito lindas, salas semiquadriláteras. Daqui, é verdade, ainda se estende a gruta, mas por uma garganta quase ínvia e demasiado estreita até dar numa sala oblonga, conhecida por “sala das maravilhas”, que fica, da entrada principal da caverna, a 505 metros. Esta sala que possui uma poça de linfa pura e cristalina pouco maior do que a “lagoa” mede 29 metros de comprimento sobre 8 de largura. Antes, porém, de se chegar ali, numa distância de 35 metros, se visita uma espécie de saleta que pelo autor do presente trabalho foi batizada com o expressivo nome de “sala do riacho”, por se ver nela a nascença daquele perenal e serpejante regueiro. Convém aqui mencionar que, a 52 metros além da “lagoa”, há um barranco, com 4 metros de altura, cortado a prumo, por onde dificilmente se desce amarrado”.

Fonte: Trecho do livro “Ubajara, a Gruta do Brasil” de Pedro Ferreira de Assis, 1958, p. 12. Foto: imagem de ilustração colhida na Internet. Por João Bosco Gaspar.

A SECA DO “QUINZE” E OS CAFEZAIS DA IBIAPABA. Por Pedro Ferreira de Assis.

“Assim, feito o cafezal, o rude agricultor fica mais ou menos descansado, visto que em todas as épocas vê, com satisfação, o seu belo e vivaz cafeeiral pendente de frutos, embora nos venha uma seca tão horrível qual a do “quinze”. Pois em 1915, os cafeeiros amparados pelas sombras das gameleiras, não perderam totalmente a carga, no dizer expressivo dos serranos. Demais, em pleno rigor da seca não murcharam sequer os botões recém-nascidos e, para os fins de dezembro, estes desabrocharam exalando agradáveis perfumes”.

Fonte: Trecho do livro“O CafénaIbiapaba”dePedroFerreiradeAssis, 1917,p.5.Foto: imagem deilustração colhida na Internet. Por João Bosco Gaspar.

TARTESSOS, COLÓNIA ATLANTE NO SUL DE PORTUGAL E ESPANHA?

Quanto a esta civilização, o geógrafo grego Estrabão atribuiu-lhe 6000 anos de antiguidade e comparou a sua fabulosa riqueza e o refinamento das suas gentes aos do Oriente. Efectivamente, os Romanos, e antes deles os Cartagineses, quando entraram na parte meridional da Península, depararam com um povo notavelmente culto e distinto, em contraste com os que viviam mais a leste e ao norte: tratava-se dos Tartéssicos (Cónios?) ou, mais concretamente, dos Turdetanos, seus supostos sucessores, já que a civilização de Tartessos teria desaparecido pelo século V a.C.

Estes Turdetanos seriam, na realidade, uma confraria de iniciados, detentores de um vasto saber ancestral, que praticavam profecias e augúrios.

Tartessos foi identificada com a própria Atlântida de Platão, aquela Poseidonis que sucumbiu, segundo o filósofo grego, há 11 500 anos. Seria porventura Tartessos o berço cultural da Europa, resto ou colónia de um continente submerso próximo dos Açores como o próprio Platão sugeria?

in "PROFECIAS - Da Interpretação do Fim do Mundo à Vinda do Anticristo", Eduardo Amarante

Consultar: https://www.apeiron-edicoes.com/.../profecias-da.../...

Muito antes da chegada dos portugueses aos Açores, os fenícios já tinham estabelecido colónias e entrepostos comerciais nas ilhas. Este facto poderá ser corroborado pelas descobertas feitas no século XVI ao terem sido encontradas inscrições fenícias numa gruta na Ilha Terceira, nas Quadro Ribeiras; em 1976, um amuleto com caracteres fenícios na ilha de São Miguel; e, em 2010 e 2011 nas Ilhas Terceira, Flores e Corvo dezenas de hipogeus (estruturas escavadas na rocha e usadas no Mediterrâneo como sepulturas).

Também nos chegou a informação da célebre indicação da existência na ilha do Corvo, quando os portugueses lá aportaram pela primeira vez, de uma estátua de um cavaleiro. A primeira referência conhecida sobre esta estátua, é do século XIV, num mapa datado de 1375, que está arquivado na Biblioteca Ambrosiana em Milão, elaborado pelos irmãos Francesco e Dominico Pizzigani. in "PORTUGUESES, AFINAL, QUEM SOMOS?", José Garrido

Consultar: https://www.apeiron-edicoes.com/.../portugueses.../...

Nota: Diz Damião de Góis na "Crónica do Príncipe D. João" que o então Rei D. Manuel I enviou ao Corvo o escrivão e desenhista Duarte D’Armas. Este terá feito um esboço que fez o Rei decidir-se a mandar à Ilha um homem do Porto com meios para trazer a estátua para a Corte.

Da estátua se diz que se quebrou, perdeu no mar ou chegando algumas partes a Lisboa, se perderam também.

ilustração de Jean Baptiste Debret no Livro "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil", 1834.

Os escravos de ganho caçadores, eram muito usados pelas expedições botânicas no Brasil do Século XIX. O sucesso das expedições deveu-se, em boa parte, à colaboração e aos conhecimentos recebidos das comunidades locais, nativas ou residentes. Os próprios naturalistas reconhecem esse auxílio, em seus escritos, mas em geral ele é desconsiderado pelos historiadores da ciência.

Segundo Debret: "É principalmente na roça que se criam os negros caçadores. Aí, preparados desde a adolescência para acompanharem as tropas ou simplesmente seus senhores. Andam sempre armados de um fuzil, tanto para sua segurança pessoal, como para conseguir víveres durante as paradas indispensáveis, no meio das florestas virgens.

Este gênero de vida torna-se então uma paixão tão forte para o negro da roça que ele já não aspira a liberdade, senão para entrar nas florestas como caçador profissional e entregar-se sem reservas à atração de uma tendência que beneficia ao mesmo tempo seus interesses.

Outros negros caçadores, dedicando-se mais especialmente às coleções de história natural, fazem estadas prolongadas durante meses nas florestas e voltam uma ou duas vezes por ano, trazendo coleções obtidas para os amadores de história natural que os esperam no Rio de Janeiro.

Para o mesmo fim, a administração do Museu Imperial de História Natural sustenta negros caçadores espalhados por diversos pontos do Brasil.

É fácil conhecer o negro naturalista tanto pelo seu modo de carregar uma serpente viva, como pelo enorme chapéu de palha eriçado de borboletas e insetos espetados em compridos alfinetes. Anda sempre armado de fuzil e com sua caixa de insetos a tira-colo…

Sabe-se também no Rio de Janeiro, pela intensificação das atividades dos negros naturalistas, da chegada de navios franceses, pois os oficiais destes são em geral grandes amadores de coleções de história natural."

Fonte: Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, 1834.

PRIMEIROS MISSIONÁRIOS DA COMPANHIA DE JESUS QUE NO BRASIL PASSARAM POR TERRA AO MARANHÃO; SEUS TRABALHOS. MORRE NA EMPRÊSA O VENERÁVEL PADRE FRANCISCO PINTO, E OUTROS.

Relação da Missão da Serra de Ibiapaba - Wikisource

Pelos anos de 1605, sendo já pacificadas as guerras, que em Pernambuco foram mui porfiadas da parte dos naturais pelas violências de certo capitão português, se tornaram a pôr em armas todos os índios avassalados que havia desde o Rio Grande até o Ceará, onde ainda não tínhamos a fortaleza que hoje defende aquêle sítio.

E como em todo o Brasil tinha mostrado a experiência o particular talento e graça que Deus deu aos religiosos da Companhia de Jesus para compor os ânimos desta gente, a petição do governador do Estado, que então era Diogo Botelho, foi nomeado para esta emprêsa o padre Francisco Pinto, varão de grandes virtudes, e mui exercitado e eloqüente na língua da terra, e, por seu companheiro, o padre Luís Figueira.

Era o padre Francisco Pinto muito aceito aos índios pela suavidade do seu trato, e pelo modo e indústria com que os sabia contentar; e, sobretudo, o fazia famoso entre êles um novo milagre, com que poucos dias antes, indo o padre a uma missão, acompanhado de muitos, e morrendo todos à sêde em uns desertos, sendo as maiores calmas do estio, com uma breve oração que o padre fêz ao céu, pondo-se de joelhos, no mesmo ponto choveu com tanta abundância, que, alagados os lugares mais baixos daquelas campinas, que eram muito dilatadas, houve em tôdas elas, por muitos dias de caminho, água para todos: com estas assistências tão manifestas do céu foram recebidos os padres como embaixadores de Deus, e não do governador do Brasil, e sem haver entre todos aquêles índios, pôsto que agravados nas vidas, nas honras e nas liberdades, quem pusesse dúvida a tudo o que o padre lhes praticou, puseram logo em suas mãos as armas, e nas de elrei, e de seus governadores a obediência, a que dali por diante nunca faltaram.

Concluída tão felizmente esta primeira parte da sua missão, traziam os padres por ordem que intentassem os sertões do Maranhão, que naquele tempo estava ocupado pelos franceses, apalpando a disposição dos índios seus confederados, e vendo se os podiam inclinar à pureza da fé católica, que entre os franceses estava mui viciada de heresias, e à obediência e vassalagem dos reis de Portugal, a quem pertenciam aquelas conquistas.

Assim o fizeram logo os padres, sendo êles os primeiros pregadores da fé, e ainda os primeiros portuguêses que do Brasil passaram às terras do Maranhão.

E marchando por terra com grandes trabalhos e dificuldades, por irem abrindo o mesmo caminho que se havia de andar, chegaram enfim à Serra de Ibiapaba, onde viviam, como acasteladas, três grandes povoações de índios tobajarás, debaixo do principal, Taguaibunuçu, que quer dizer Demônio Grande; e, verdadeiramente, se experimentou depois sempre nesta missão que residia ou presidiam naquele sítio não só algum demônio, senão grande demônio, pela grande fôrça, grande astúcia, grande contumácia, com que sempre trabalhou, e ainda hoje trabalha, por impedir os frutos e progressos dela; levantaram os padres igreja na maior povoação da serra, sem contradição dos naturais, antes, com grandes demonstrações de contentamento, e enquanto insistiam quotidianamente na instrução dos adultos, e declaração dos mistérios da nossa santa fé, com grande fervor dos mestres e dos ouvintes, conhecendo uns e outros de quanta importância seria para a conservação e aumento desta nova conquista de Cristo ter pacificadas e quietas as nações bárbaras de tapuias, que cercavam e infestavam os arredores da serra, trataram os padres no mesmo tempo de trazer a si com dádivas tôdas estas nações feras, e fizeram pazes entre êles e os tobajarás, sendo os mesmos padres os medianeiros, e ficando como por fiadores de ambas as partes.

Mas, debaixo dêste nome de paz, traçando-o assim o demônio, sem mais ocasião que a fereza natural dêstes brutos, entraram um dia de repente pela aldeia e pela igreja os chamados tocarijus; e, estando o padre Francisco Pinto ao pé do altar para dizer Missa, sem lhe poderem valer os poucos índios cristãos que o assistiam, com frechas e partasanas, que usavam de paus mui agudos e pesados, lhe deram três feridas mortais pelos peitos e pela cabeça, e no mesmo altar, onde estava para oferecer a Deus o sacrifício do corpo e sangue de seu Filho, ofereceu e consagrou o de seu próprio corpo e sangue, começando aquela ação sacerdote, e consumando-a sacrifício.

Com a morte ou martírio do padre Francisco Pinto, cuja sepultura Deus fêz gloriosa com o testemunho de muitos milagres, que se deixam para mais larga história, o padre Luís Figueira, ficando só, e sem língua, porque ainda a não tinha estudado, se retirou por ordem dos superiores para o Brasil, tão sentido porém de nâo ter acompanhado na morte como na vida ao padre, a quem fora dado por companheiro, e com tanta inveja daquela gloriosa sorte, que logo fêz voto de voltar, quando lhe fosse possível, a levar por diante a mesma emprêsa, e buscar nela o mesmo gênero de morte que Deus então lhe negara, ao que êle dizia, por indigno.

Mas ambos êstes desejos cumpriu Deus depois a êste grande zelador de seu serviço, porque no ano de 1623, sendo já de maior idade o padre Luís Figueira, e tendo ocupado com muita satisfação os maiores lugares da Província, veio outra vez à missão do Maranhão onde trabalhou por espaço de catorze anos, com grande proveito das almas dos portuguêses e dos índios; e, levando-o o mesmo zêlo a Portugal a buscar um grande socorro de companheiros, que o ajudassem a trabalhar nesta grande seara, partindo de Lisboa, e chegando à barra do Grão-Pará no ano de 1643, com onze de quinze religiosos que trazia consigo, foi cair nas mãos dos tapuias aroás da boca do Rio das Amazonas, onde êle e os mais foram primeiro mortos com grande crueldade, e depois assados e comidos daqueles bárbaros.

MARIZA DA GRAÇA SANTOS GARCIA DA MOTA

Mariza da Graça Santos Garcia da Mota, nasceu no Povoado do Mota, Cururupu-MA, em 16 de agosto de 1952. Realizou seus estudos em São Luís- MA, entre os anos de 1956 a 1962. Voltou para Cururupu e concluiu seu Ensino Fundamental no ano de 1967 na Escola Ginasial de Cururupu. Após a conclusão, retornou para São Luís por falta de escola, iniciou em 1968 o Curso Normal Colegial do Instituto de Educação do Município de São Luís (São Luís – MA). Em 1970 prestou vestibular para Universidade Federal do Maranhão (UFMA), para Letras e Artes, onde concluiu com êxito em 1975. Em seguida realizou os cursos: Radialista pela UFMA, e pós-graduação pela Universidade Salgado de Oliveira Filho em Planejamento Educacional. Aposentando- se em 2005 das suas atividades de Professora (Secretaria de Educação) e Apresentadora da TVE - Fundação Roquete Pinto. Convidada para ser membro da Academia Cururupuense de Letras, aceitando o mesmo. Segue no exercício do fascínio desde garota pelas escritas de textos românticos.

Mariza Garcia, Professora aposentada

O Mota é uma comunidade formada numa pequena extensão de terra, à qual pertence ao Município de Cururupu no Maranhão. O acesso é feito pelo rio Cururupu e por terra. Fica à uns quinze quilômetros da VilaCururupu. O transporte para chegar até esse “paraíso” é via canoa a remo, barcos movidos a motor, voadeiras, carro de boi ou andando pelos caminhos íngremes existentes.

Quando morava nessa comunidade, eu gostava de ir andando do Mota para a Vila ou vice-versa, era uma viagem gostosa, demorada, apreciando toda beleza aérea e terrestre das árvores com suas copas reprodutivas e belos troncos, fincados pelas suas raízes, era só alegria! Corríamos eu e meus irmãos quase todo o caminho, éramos crianças, e nessa fase tudo é festa, tudo é belo! Casas nem se via, ( década de 1960) , existiam poucos habitantes, issotornavaaviagemmais misteriosaefantasmagóricacriadapela ilusão denossa ótica, principalmente quando chegávamos tarde da noite.

Naquele pedacinho do céu, paradisíaco, por mais que descrevamos, nunca chegaremos ao “pé” da sua beleza e encantamentos! Pense caro leitor, numa casinha de barro (taipa) coberta de palha, chão batido, muito humilde , para lá que íamos com tanto regozijo! Era a casa mais bonita para mim naquele lugar, ficava à beira do rio Cururupu.

O Mota nos oferecia coisas ímpares, que nunca tive a possibilidade de ver tão belas em nenhum outro lugar: Pássaros revoando de todas as espécies bem pertinho das pessoas, gorjeios de todas as formas, sons rápidos e perfeitos. As borboletas, de cores variadas também revoavam. Imaginem este cenário! Árvores frutíferas em grandes variedades, farfalhavam num som de uma música em perfeita harmonia, como se fosse mágica.

As águas tão cristalinas dos rios, refletiam nossa imagem como de príncipes e princesas! As águas salgadas do rio Cururupu batiam nas pedras à beira-mar, rejubilando-se com seu movimento e jogando gotículas de água nos observadores. Os barqueiros passavam cantando , disfarçando a noite intensa de pescaria, sem nenhum cochilo, para não perderem o peixe e a direção da canoinha a remo.

Esse é o lugar que nasci com mais cinco irmãos, o sétimo nasceu na Vila de Cururupu. Minha mãe era a professorinha do lugar. Meu pai naquela época era pescador e agricultor. Crescemos fortes e abastecidos por tudo que a “mãe natureza” nos dava. Nunca reclamamos da “sorte” , porque ela viveu e vive conosco o tempo todo, Viva o Mota!

Em 10 de Setembro de 2024, São Luís Maranhão

O Sete

O céu fez revolução. Que avaria!

O surgimento de um grande amor, Numa noite de confraria, O Sete trouxe esperança, com seu devido valor!

Nunca pensei que no amanhecer da aurora, Meu coração fosse renovado pelo amor, E que pudesse gritar, mandando embora, Toda tristeza e todo pudor!

O Sete fez sua profecia valer, Que do amado é o número da sorte!

Veio para mim, enriquecer e fortalecer, De amor vive-se e de amor posso viver a morte!

Mariza Garcia, Às 01:20 horas Em Sete de Setembro de 2024

Você já amou? Acordar sentindo-se eletrizada , corpo tremendo, os órgãos sexuais se mexendo trazendo vida. As mãos se entrelaçando e você não tendo controle de si? Será que tudo isso tem explicação? O corpo pode explodir em uma emoção transcendental!

Segundo o filósofo Immanuel Kant; o espaço e o tempo são conceitos transcendentais; será que ele não esqueceu do AMOR? Este sentimento que transcende, nos leva longe, além da nossa normalidade, é sublime, nobre, divino, extraordinário, excelência em nossas vidas. Já pensou nisso?

O amor que não tem idade, guia nosso ser profundamente, pense só! Um Ipê amarelo da cor do sol brilhante e ímpar em postura, para representar o símbolo valoroso desse sentimento e diz: É a nossa árvore!.

Amar é preciso? Ou simplesmente nos levando a escolher uma música, que não pode ser um clássico de Beethoven mesmo ele seguindo todas as características do romantismo. E nos levando a acolher uma que fala do amor sexo, o amor doído, sentindo na pele, nos olhos brilhando de esperança, respiração ofegante, trazendo a mais pura felicidade, a transformação, e tudo que o mesmo pode proporcionar em nossas vidas!

O amor, simplesmente o amor! Ele que chegou renovou conceitos e ficou impregnado na pele. Podemos dizer como Marisa Monte fala em sua música: Ainda bem que agora encontrei você!

Amar é Preciso ou Preciso é amar?

Mariza Garcia, Em 21 de Setembro de 2024

"A LENDA DO AÇAÍ

Nas minhas andanças pela região do baixo Tocantins em atividades profissionais de Assistência Técnica e Extensão Rural era comum ouvir relatos dos ribeirinhos sobre “A Lenda do Açaí”, que adaptando-a à realidade vivenciada no local, a reescrevo para deleite dos leitores amantes desse gênero de arte literária. Então, vamos aos relatos!

Os ribeirinhos verbalizavam em suas narrativas sobre a lenda, que há muitos anos, antes da existência da cidade de Belém do Grão Pará, vivia nessa localidade uma tribo indígena, cuja população crescia aceleradamente. E que, com o aumento populacional, os alimentos passaram a ficar escassos, tornando difícil a sobrevivência do povo da aldeia.

Como a base da alimentação da tribo era originária da caça e da pesca e da coleta de frutos silvestres, abundantes nas várzeas, igapós e terra firme da localidade, no início não havia dificuldade em conquista-los, embora esse povo fosse sedentário. As atividades extrativas vegetal, animal e mineral empregada pelos indígenas não afetavam seus estilos de vida.

Quando a caça e a pesca e a coleta de frutos silvestres começaram a escassear, os até então indígenas sedentários passaram a abandonar o sedentarismo, transformando-se em nômades, à procura de alimentos em outras paragens distantes da tribo. Mesmo assim, a produção de alimentos continuava insignificante, forçando os indígenas a buscar outros produtos em seu território que pudessem alimentar suas famílias.

A difícil situação para alimentar os índios forçou o cacique da tribo, Itaki, a tomar uma decisão bastante cruel para o povo indígena sob seu comando. A partir daquele dia de conversações com a tribo, ele decidiu que todas as crianças que nascessem na naquela aldeia seriam sacrificadas para controlar e evitar o aumento populacional da tribo, freando a fome que já crescia nas famílias tribais.

Certo dia, no entanto, a filha do cacique que tinha o nome de Iaçá, deu à luz a uma linda menina, que também teve que ser sacrificada. Iaçá ficou desesperada com aquela crueldade imposta por seu pai, e todas as noites chorava com saudades de sua amada filhinha. Vários dias amargurada, a filha do cacique não saiu de sua tenda.

Em oração, ela pedia a Tupã que mostrasse a seu pai outra maneira de ajudar seu povo, sem sacrificar as pobres e inocentes crianças que deveriam ter direito à vida.

Depois das orações e incontrolável paixão pela perda da cunhatã, numa noite de lua, Iaçá ouviu o choro de criança que vinha do exterior de seu aposento. Aproximou-se da porta de sua oca, e viu sua bela filhinha sorrindo ao pé de uma esbelta palmeira. Ficou espantada com a visão. Imediatamente, lançou-se em direção à sua cunhatã, abraçando-a. Mas, misteriosamente, a menina desapareceu como num rápido facho de luz. Iaçã ficou inconsolável e chorou muito até desfalecer.

No dia seguinte, seu corpo foi encontrado abraçado ao tronco da esbelta palmeira. No rosto de Iaçá havia um sorriso de felicidade plena. Seus olhos negros fitavam o alto da palmeira, que se encontrava carregada de cachos com frutinhos escuros amadurecidos, insinuando que ali estava a saída para salvar as crianças da morte.

A experiência da tribo na confecção de artesanatos usando recursos da natureza, resultando na produção e uso de alguidares de barro e rasas e peneiras confeccionadas com talas de guarumã, cipó titica e jacitara, já era conhecida nas atividades tribais.

Vendo e analisando aquela cena, o cacique Itaki ordenou que seus comandados apanhassem os cachos com os frutinhos negros e os debulhassem em rasa e, em seguida, fossem amassados manualmente em alguidar de barro cozido. Ato contínuo, recomendou que fossem coados em peneiras confeccionadas com talas de guarumã, obtendo saboroso vinho avermelhado que foi batizado como açaí, em homenagem a índia Iaçá, cujo nome lido de trás para frente, formava a palavra açaí.

Com o saboroso suco do açaí, o cacique alimentou seu povo. A partir daquele dia, suspendeu a ordem de sacrificar as inocentes crianças, em respeito à vida. E a tribo voltou a viver feliz, em perfeita harmonia com

a natureza, com farta produção de açaí para alimentar a populaçãonas denúncias e pronuncias cantadas pelo Rap e indígena, sem ter que cometer a crueldade de matar as amáveis crianças da tribo.

Barcarena (PA), 14 de maio de 2024

Texto: Raimundo Maciel de Castro

Ilustração: Adailton Portilho da Costa

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