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ANTÔNIO FRANCISCO LEAL LÔBO
4 de julho de 1870 / 24 de junho de 1916
Nasceu em São Luís, aos 4 de julho de1870 e faleceu na mesma cidade, ao 24 de junho de 1916. Era filho dePolicarpo José da Costa Lobo e de D. Francisca Leal Lobo. Foi professor da Escola Normal e do Seminário das Mercês. Dirigiusuperiormente o antigo Liceu Maranhense, a Instrução Pública e a Biblioteca Pública, aí imprimindo administração moderna, com aintrodução de novos processos de biblioteconomia. Escritor elegante e jornalista combativo, lobo foi redator e colaborador de muitas folhas sanluisenses, merecendo destaque ‘’Pacotilha’’, ‘’A Tarde’’, ‘’O Jornal’’,‘’Diário do Maranhão’’, ‘’Federalista’’, ‘’Revista Elegante’’ e a ‘’Revistado Norte’’, fundada por ele e Alfredo Teixeira. Nesses periódicos fez política, ficção, crítica literária e ciência, pois que era versado em sociologia e biologia. Exemplo marcante de autodidata, exerceu poderosa influencia na geração de 1900, congregando-se à sua roda os jovens talentos esperançosos que formavam, então, as inúmeras sociedades literárias, surgidas do dia para a noite. Foi um dosfundadores da Academia Maranhense de Letras, onde ocupava a Cadeira n.14, patrocinada por Nina Rodrigues Como funcionário público, exerceu os cargos de Oficial de Gabinete do Governo do Estado, da Biblioteca Pública Benedito Leite, do Liceu Maranhense e da Instrução Pública. Juntamente com Fran Paxeco, Ribeiro do Amaral, Barbosa de Godois, Corrêa de Araújo, Astolfo Marques, Godofredo Viana, Clodoaldo de Freitas, Inácio Xavier de Carvalho, Domingos Barbosa, Alfredo de Assis e Armando Vieira da Silva, fundou, na noite de 10 de agosto de 1908, a Academia Maranhense de Letras, uma extensão da Oficina dos Novos. Congregou e aglutinou, em torno da projeção intelectual de seu nome, os escritores de expressão da época. Em virtude de perseguições políticas, moralmente traumatizado, no último ano de sua existência, recolheu-se a sua residência e, na madrugada de 24 de junho de 1916, enforcou-se com uma corrente. OBRAS MAIS EXPRESSIVAS A Carteira de um Neurastênico, romance publicado, inicialmente sob a forma de folhetim, na Revista do Norte, em São Luís, sob o pseudônimo de Jayme Avelar, em 1903; Pela Rama, crônicas, São Luís, 1912; Os Novos Atenienses, ensaio, São Luís, 1909. Traduziu as seguintes obras: Debalde, romance da autoria de Stenkiwicz, cuja publicação inicial foi sob a forma de folhetim na Revista do Norte, São Luís, 1901; em parceria com Fran Paxeco, O Juiz sem juízo, comédia da autoria de Bisson; Henriqueta, da autoria de François Coppée.
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151http://pt.scribd.com/doc/425853/Aprentacao-de-Academico EDITORIAL. GUESA ERRANTE, edição 55, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina394.htm ANTONIO LOBO E OS NOVOS ATENIENSES. In GUESA ERRANTE, edição 55, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina395.htm
‘’Henriqueta’’, romance de François Copée, tradução. Folhetim do ‘’Diário do Maranhão’’ – São Luís 1893.•‘’As novas tendencias do romance ingles’’, idem. Ed. De 16-12-1901 – São Luís.•‘’Juiz sem juízo’’, comédia traduzida de A. Bisson, com Fran Paxeco – Rio, 1901•‘’A doutrina transformista e a variacao microbiana’’. Ed. Da ‘’Pacotilha’’ – SãoLuís,1909. 53p. VISÃO CRÍTICA O perfil intelectual de Antônio Lôbo, no panorama da Literatura Maranhense, tem como paradigma as próprias concepções que ele expressou no texto de uma obra que, sem vias de dúvida, é precursora, fundadora, mestra e pioneira, no campo da crítica e teoria literária maranhense, Os Novos Atenienses, editada em primeira edição pela Tipografia Teixeira, em São Luís do Maranhão, 1909; reeditada pelo SIOGE, sob os auspícios da Academia Maranhense de Letras, em 1970, quando da passagem do Centenário de Nascimento do Autor. Em Os Novos Atenienses, Antônio Lôbo analisa o renascimento da cultura e da literatura maranhense, procurando registrar e resgatar o momento literário de então, bem como a vida e a obra dos escritores que se destacaram na primeira década do século XX, apresentando em seu discurso uma leitura bem peculiar, que classificaríamos até de profética, dada a verdadeira atenção para as entrelinhas e os subentendidos usados por ele, com certeza para driblar a ditadura das letras da sociedade aristocrática da época, elitista, cartesiana, conservadora e puritana, sobretudo hipócrita, toda poderosa em seu círculo radicalmente fechado. Sem dúvida, para falar dessa fase imediatamente finissecular, ele se estrutura nos precedentes, um momento áureo e de apogeu da Literatura Maranhense, em razão do qual o Maranhão mereceu o epíteto de Atenas Brasileira. Momento marcante, representado por escritores, eruditos, intelectuais e homens cultos do porte de Sotero dos Reis, Odorico Mendes, João Lisboa, Henriques Leal, Gonçalves Dias e poucos outros. Os marcos anunciadores desse renascimento, na prática, são a fundação da Oficina dos Novos, em 28 de julho de 1900, que teve, como idealizador e responsável, o próprio Antônio Lôbo, e da Renascença Literária, em 17 de março de 1901, movimento cultural dissidente, encabeçado por Nascimento Moraes. O principal mérito da obra Os Novos Atenienses, de Antônio Lôbo, está no caráter da novidade e autenticidade do documento para a época e para hoje, pelo fato de o texto ter vários olhares, leituras e diálogos, cujo descortino aponta para um universo semântico simultaneamente fixado no presente de então, na grande noite negra que o precedeu, num passado áureo e no futuro. Tempo esse sempre escasso e gasto por antecipação por quantos se equivocam sobre o que seja imortalidade. Inquestionavelmente, um manifesto, um documento referencial único, que funda, paralela e simultaneamente, uma teoria e uma crítica literária, portanto uma obra pioneira, no gênero, como referencial de visão crítica de uma época. Entre outros méritos está, também, o de registro e resgate dos movimentos, jornais e revistas literárias que cobrem o final do século XIX e o início do século XX. Lendo Os Novos Atenienses, tomamos conhecimento da cultura literária de um escritor e de toda uma congregação geracional, aglutinada em torno deste como mentor intelectual, que se impôs por mérito e por necessidade. Temos consciência do quanto esta obra é indispensável, para que se possa fazer justiça aos que, do passado, passaram ao tempo presente, literariamente. Travamos conhecimento com a seriedade de propósitos e comprometimento de um homem de firmeza de caráter admirável, como Antônio Lôbo, para com a literatura e a sociedade maranhense. Um homem que preferiu morrer a corromper-se em qualquer plano. Não houve nem há tantos maranhenses da sua estirpe, muito pelo contrário. Com ele, podemos viajar para o passado e conviver com uma visão preconceituosa e restritiva que a intelectualidade maranhense tinha sobre a criação literária. Lendo-se o texto de Antônio Lôbo, tem-se a antevisão de que, no Maranhão do início do século XX, ainda predominava a tacanha concepção parnasiana, equivocada, sobre o que seja a essência do poético ou da poesia. Portanto, poeta ainda era o doutor em se tratando de versificação e
metrificação. E ele próprio fez certas concessões a esse tipo de pensamento, creditando, na teoria, conceitos sobre os quais, na prática, não referendara. Felizmente, quando lemos Antônio Lôbo, percebemos, nas entrelinhas, que os seus verdadeiros eleitos não eram, senão, aqueles que a elite cultural da época considerava malditos, decadentes ou manquê, já que ele próprio, no mais belo poema que publicou, Por Amor de uns Olhos, paradoxal e contraditoriamente, se expressou como um legítimo simbolista, contrariando os cânones parnasianos, tão em voga, porém já retrógrados para poetas da estirpe de excêntricos como Maranhão Sobrinho, I. Xavier de Carvalho, Luís Carvalho e Alfredo de Assis, dentre poucos outros, que viveram o tempo cronológico de sua geração e muito além.
POR AMOR DE UNS OLHOS152
........................................................... Olhos que lembram preces e luares, Céus estrelados, vagas marulhantes, Guitarras a gemer, harpas cantantes, Noites de amor em flóridos pomares, ........................................................... Olhos que evocam, sugestivamente, Umas paisagens líricas de sonhos, Sob o clarão nostálgico e tristonho De um perene luar, saudoso e algente,
Vagos queixumes, indecisas mágoas, Prantos convulsos, nalgum sítio ermo Harpejos tristes de alaúde enfermo, Cisnes boiando sobre claras águas,
Velas que passam deslizando mansas, Por tardes tristes, invernosas, frias, Um desfilar de castas utopias, Todo um cortejo branco de esperanças; Olhos que a gente nunca mais esquece, Como eu vos amo e quero, saiba embora Que não se fez pra mim à luz da aurora Que nas vossas pupilas resplandece,
Que as horas passem, que se volvam os dias, Que os anos se amontoem sobre os anos, Que um após outro cheguem os desenganos, Que uma após outra fujam as alegrias,
Sempre na mente vos trarei brilhando, Sempre em minhalma vivereis luzindo, Olhos que um dia eu conheci sorrindo, Olhos que após abandonei chorando.
4 de Julho é a data natalícia do ilustre saudoso escritor maranhense, Antônio Lôbo, que nasceu, em 1870, e morreu em 24 de junho de 1916, em São Luís. Figura marcante, em sua época, cabeça de geração, Antônio Lôbo reunia os elementos essenciais de uma escala de valores ascendentes, que se destacaram pelo talento e caráter.
A obra mais marcante de Antônio Lôbo, Os Novos Atenienses, sobressai pela autenticidade, originalidade e pioneirismo. Centrada em dois pilares da análise literária, a teoria e a crítica, a obra é pioneira no panorama da Literatura Maranhense. Lendo-se Os Novos Atenienses, tem-se a certeza da existência de um maranhense, cuja visão cultural reflete uma consciência sobre o papel que se impusera desempenhar perante seus pares e a sociedade ludovicense. Mentor intelectual de inúmeros jovens escritores, que militavam na imprensa maranhense entre 1900 e 1916, Antônio Lôbo, juntamente com Manoel de Béthencourt e Fran Paxeco, teve um papel decisivo, para que se processasse o clima efervescente de renascimento literário que ocorreu no espírito dos jovens maranhenses da Oficina dos Novos e da Renascença Literária.