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ZENILTON DE JESUS GAYOSO MIRANDA
1975
Residente em Brasília. Graduado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília (1999), mestrado em Ciências da Informação (2001) e especialização em Inteligência Organizacional e Competitiva (2006), pela mesma instituição. Atualmente Analista de Nível Superior da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, Unidade Cerrados.
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Na área ambiental atua em Botânica (Taxonomia de Bromeliaceae e Orchidaceae), especialização pela Escola de Paisagismo de Brasília, e Desenvolvimento Sustentável e Direito Ambiental, Organização e Gestão da Informação Ambiental, com ênfase em Biodiversidade e Plantas Ornamentais. É ilustrador científico de espécies do cerrado e também de obras artísticas.
LÍRIOS Doem os teus lírios solitários Em casa Na mesa escura Nos jarros entretecidos Onde sufocam o colorido E o aroma é incerto As gotas sombrias, todas, Voltam-se perplexas A refletir o ar parado De vereda invernal De bosque úmido Nos olhos de antes Fuga e cristais
Mas não somente os lírios e as varandas O ar A mesa e a casa plena de ócio Mais o duplo aquém, estático, Suspenso, Na plácida impressão Do ausente alarido dos lírios Das vozes dos lírios Que denunciam saudades geminais.
VAZIO O vazio
que não o só É construto de partes Irreconciliáveis voltas No vasto escuro exposto Da que tensa Em mim debela: A parte que me cabe Do vazio renitente De outros vazios pares
AVES FORA ...
Ave estreita Furtiva figura Em um dia cego Nesse ante vôo razoado Alinho, calado De pé ante pé descalço, E com uma réstia fria Pelo teu bico calvo Inconteste te laço.
Sob castas de moscas vítreas Em festivo alvoroço Dou-te um véu sisudo E espumas largas Ao teu pescoço Para repousares salva desse tremendo escorço Das vagas e ventos funéreos Donde despencas vertida em tédio.
Ave implume Moléstia do dia Veste teu manto Desce teu séqüito Trina no corte Dessa faca pífia Serena na noite em que vagando faltas Emplastro votivo Aves fora vasta.
CHUVA GRANULAR
Na granularidade da chuva Vejo dardos hirsutos Arremeterem farpas Sobre meus músculos expostos. À parte de mim Adentram cartilagens flácidas Que empedernidas crescem Enquanto atônito durmo.
Ferem essas agulhas comensais As delicadas pústulas Os passos e as sombras
Do caminho destro que sigo. Bravias, abstraídas de nexos e subcutâneos medos Avançam convexas Sobre minha carne puramente nervos.
Absorto, A parte de mim, Esse corpo nu, corpo retrorso, Não é mais estípulas ou véus, Vive minimamente, Mas absorve, laivos de gotas.
TEUS OLHOS
“Pois morro da vida que vivo E vivo da vida que morro”.
Edgar Morin
Sempre haverá beleza Enquanto puder tocar A face mais simples da vida E não duvidar Que mais suave que a brisa Tua face sempre há de estar No tempo Desperta e risonha Na íris desses olhos vazados Qual flor que às estações ignora.
Enquanto houver primaveras Sempre viverão Floras de amores cingidas E flores no amor impressas Que teus olhos colherão, E mais que em sonhos Verdades Aos meus apascentarão.
Mais dias, mais dores, mais vastos Eu sei, repousarão Nos braços dos teus socorros Os calos dos dias que levo Pois quanto mais vivo Mais calo “Pois morro da vida que vivo E vivo da vida que morro”.
Em dias de brisas caladas E brumas no tempo caídas Meus pés caminharão A via da imagem impressa No verbo solidão.
Com os pés descalços plantados nesse vasto Deserto de cardos Que jorra, Em amenidades assíncronas, Um coração em cortes.
(Letra musicada por Tiego)