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UBIRATAN PEREIRA TEIXEIRA

14 de outubro de 1931 # 16 de junmho de 2014

Galeria dos Livros

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Professor, crítico de arte, jornalista, ficcionista, diretor e autor de textos teatrais. Integrante de importantes movimentos culturais de São Luís, nas décadas de 1950/60 participou da SCAM –Sociedade de Cultura Artística do Maranhão, do Centro Cultural Graça Aranha, fundou grupos de teatro e ministrou cursos de corpo, voz e história do teatro. Trabalhou em diversos jornais de São Luís, entre os quais, Pacotilha/O Globo, Diário do Norte, Jornal do Dia, Jornal de Bolso. Atualmente trabalha em O Estado do Maranhão, onde publica uma crônica semanal. Foi por muitos anos funcionário da Televisão Educativa onde exerceu várias funções entre as quais produtor de programas culturais, professor de TV e diretor de programas. Na infância assiste a espetáculos de circo e operatas levado pelo pai de criação. Na adolescência descobre que seu pai biologico Ubiratan Filho dirigia um grupo de teatro na cidade, e incentivado pelo tio Floriano Teixeira passa a paricipar do grupo de teatro do pintor J. Figueiredo, chamado Teatrinho dos Novos onde ficou durante três anos, quando o grupo se desfez. No Teatrinho dos Novos, estréiou no espetáculo No Reino das Sombras de Kleber Fernandes, interpretando um velho ancião. Com o fim do Teatrinho dos Novos, o velho Bira, passa por vários grupos teatrais da cidade como ator, contrarregra, ponto, entre outras atividades até ser convidado pelo médico e escritor João Mohana para participar do Teatro de Ação Católica da Arquidiocese de São Luís, onde assume a função de diretor da peça A Comédia do Coração do pernambucano E. de Paula Gonçalves, cuja qualidade técnica leva o ministro Paschoal Carlos Magno doar para Ubiratan uma bolsa de estudo em direção teatral na Itália, em 1954, onde estuda com Frederico Fellini no Instituto de Arte Dramática Pro Dei, em Roma, e, com Sílvio D’ Amico no Piccolo Teatro di Millano, em Milão.

242 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993 https://www.skoob.com.br/autor/1135-ubiratan-teixeira UBIRATAN TEIXEIRA - A poesia do cotidiano e a verve irônica de um cronista genial. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina635.htm, acessado9 em 08/05/2014 O abandono da vida boêmia e um casamento que já dura 100 anos. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina636.htm, acessado9 em 08/05/2014 Ubiratan Teixeira (II) - Um Mestre do Conto Moderno. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina634.htm, acessado9 em 08/05/2014 http://joseneres.blogspot.com.br/2011/10/ubiratan-teixeira.html http://historiadoteatromaranhense.blogspot.com.br/2011/10/ubiratan-teixeira.html http://maranharte.blogspot.com.br/2011/10/pedra-preciosa-ubiratan-teixeira.html

Na sua estad em Milão participa da montagem da peça Nostro Milano, dirigida por Giorgio Streller. De volta à São Luís retoma seus trabalhos Teatro de Ação Católica onde encena: - O Processo de Jesus de Diego Fabri; - A Via Sacra de Henri Ghéon; - Sibita e o Dragão de Lúcia Benedetti; - Os Inimigos não Mandam Flores de Pedro Bloch; - A Revolta dos Brinquedos de Pernambuco de Oliveira. Ao sair do Teatro de Ação Católica para continuar seus estudos de educação formal funda grupos pelos cursos onde passa e dar aulas de História do Teatro e de Interpretação no Teatro Experimental do Maranhão. Em 1995, após aposentadoria da TVE, junto com amigos funda a Associação Cultural e Beneficiente do Teatro Popular do Brasil que viabilizaria o grupo Ensaio Geral, produzindo as seguintes peças teatrais: 1995 – Natal na Praça de Henri Ghéon; 1997 – O Mistério da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo de Michel Ghelderode; 1998 – Lisístrata de Aristófanes; 1999 – A Capital Federal de Arthur Azevedo; 2003 – Natal na Praça Henri Ghéon (com atores da cidade de Colinas). O grupo realizou ainda cursos e oficinas de corpo, voz e história do teatro e a leitura pública do texto de Oswald de Andrade “O Rei da Vela”. A novela Vela ao Crucificado em escrita em 1979, de sua autoria foi adaptada e encenada pelo escritor e diretor de teatro Wilson Martins com os grupos: Teatro Popular do Maranhão (1980) e Teatro Operário do Maranhão (1985). A novela também, foi adaptada para o cinema pelo cineasta Frederico Machado em 2009. Atualmente, além, de escrever diariamente no jornal O Estado do Maranhão é sempre convidado para participar de comissões de júri de festivais de teatro e cinema, seleção de obras e artistas em salões, mostras e encontros de arte e seleção de obras literárias em São Luís e no estado do Maranhão. O velho Bira não para, entre os seus projetos está uma coletânea sobre a obra do dramaturgo, novelista e romancista Fernando Moreira e duas coletâneas sobre suas crônicas em jornais uma sobre teatro e a outra sobre a vida cultural e política do estado. Obras sobre teatro publicadas: 1970 – Pequeno Dicionário de Teatro. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão. 1980 – Caminho sem Tempo (farsa/tragédia/musical). São Luís: SECMA/SIOGE. 1987 – Bento e o Boi (teatro). São Luís: SIOGE. 1989 – O Teatro que eu Vi e o Espetáculo que eu Fiz (ensaio). São Luís: Academia Maranhense de Letras. 1992 – Búli-búli (teatro infantil). São Luís: Academia Maranhense de letras. 2005 – Dicionário de Teatro (reedição). São Luís: GEA. Tem a seguinte obra inédita em teatro: O Bequimão Prêmios: 1979 – Prêmio Arthur Azevedo do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís pela obra Caminho sem Tempo. Um dos principais ficcionistas maranhenses da atualidade, Ubiratan Teixeira é autor de obra contística que inclui algumas das melhores realizações desse gênero entre nós. Bibliografia: a) contos: Sol dos navegantes. São Luís: Func, 1975; Histórias de amar e morrer. São Luís: Sioge, 1978 (Prêmio Domingos Barbosa, da AML); Vela ao crucificado. São Luís: Sioge, 1979,Pessoas.Prêmio Cidade de São Luís, FUNC, 1998.

b) novelas: O banquete. São Luís: Sioge [1986]; A ilha. São Luís: Func, 1998 (Prêmio Graça Aranha, do XXIII Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, 1997). c) outros: Pequeno dicionário de teatro. São Luís: Dep. de Cultura do Estado, 1970 – ampliado e reeditado pelo Instituto GEIA em 2005 ; Educação artística para o 1º grau. São Luís: Secretaria de Educação, 1975; Caminho sem tempo (farsa tragédia musical). São Luís: Secma/Sioge, 1980 (Prêmio Artur Azevedo, do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís-1979); Bento e o boi (teatro). São Luís: Sioge, 1987; O teatro que fiz; o espetáculo que vi (depoimento). São Luís: Edições AML, 1989; Búli-búli (história infantil). São Luís: Edições AML, 1992. Obras Publicadas243 : 1970 – Pequeno Dicionário de Teatro. São Luís: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão. 1975 – Sol dos Navegantes (contos). São Luís: FUNC. 1978 – Histórias de Amar e Morrer (contos). São Luís: SIOGE. 1979 – Vela ao Crucificado (novela). São Luís: SIOGE. 1980–Caminho sem Tempo (farsa/tragédia/musical). São Luís: SECMA/SIOGE. 1987 – Bento e o Boi (teatro). São Luís: SIOGE. 1989 – O Banquete (novela). São Luís: SIOGE. 1989 – O Teatro que eu Vi e o Espetáculo que eu Fiz (ensaio). São Luís: Academia Maranhense de Letras. 1992 – Búli-búli (teatro infantil). São Luís: Academia Maranhense de letras. 1998 – Pessoas (conto). São Luís: FUNC. 1998 – A Ilha (novela). São Luís: FUNC. 2005 – Dicionário de Teatro (reedição). São Luís: GEA. 2009 – Labirinto (romance). São Luís: Editorial SECMA. 2010 – Vela ao Crucificado (reedição acrescida de roteiro para teatro de Wilson Martins e para cinema de Frederico Machado. São Luís: SECMA. 2010 – Diário de Campo (crônicas). São Luís: Ética Editora. Tem as seguintes obras inéditas: O Bequimão (teatro), O Alçapão da Ilha (romance) e O Sônio (novela). Ao longo da sua carreira recebeu os prêmios: 1976 – Prêmio Academia Maranhense de Letras pela novela O Sônho. 1978 – Prêmio Domingos Barbosa da Academia Maranhense de Letras pelos contos Histórias de Amar e de Morrer. 1979 – Prêmio Arthur Azevedo do Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís pela obra Caminho sem Tempo. 1997 – Prêmio Graça Aranha do XXIII Concurso Literário e

Vida longa ao "Curta" - texto de Ubiratan Teixeira 244 "Passei o fin da ùltima semana respirando o ar menos contaminado dos Lençóis Maranhenses, no portal da região que é Barreirinhas - indo daqui pra là, bando de quizilhentos. Não fui mergulhar nas lagoas naturais nem me lambrecar de areia ou cavalgar de "toyota" pelas dunas (prática de outros lençóis de areia neste não permitida), mas participar do primeiro "Curta Lençóis", criação desse lírico desvairado que é Euclides Moreira Neto, Diretor do Departarnento de Assuntos Culturais - DAC - da Universidade Federal do Maranhão. Um rendez vous despido das tradicionais lantejoulas de brilho efêmero, aquele que faz o prato cheio dos paparazis da vida; neste presente, a fonte de luz brotava mesmo era da cabeça de cada participante que ancorou no encontro esbanjando idéias malinas de hlcidas linguagens, trazendo para 0 grupo ali reunido um Brasil que nao lula.

243 http://maranharte.blogspot.com.br/2011/10/pedra-preciosa-ubiratan-teixeira.html 244 Ubiratan Teixeira - O Estado do Maranhéao , página 6 do caderno Alternativo do dia 20 de junho de 2008. Disponível em http://delirioplaneta.blogspot.com.br/2008/06/vida-loga-ao-curta-ubiratan-teixeira.html

Nomes inteiramente desconhecidos para a imprensa do descartavel, personalidades que fazem a diferença e conferem sentido e dignidade à linguagem cinematogrâfica, criadores de fomo e fogao coma Marcio Cavalcante, May Waddington, Aurora Miranda, Euzébio Zloccowck, Mârcia Paraiso, Carlos Normando, Ana Paula, os mais diferentes e autênticos sotaques deste pais continental, dos pampas aos carrascais nordestino, responsáveis por esse magnífico encontro de pequenas obras-primas que nem o mais isento e frio analista pode deixar de vibrar e aplaudir, como o caso do delicado trisquinho de bom gosto que foi o A última gota, um minimal de um minuto e cinco segundos de duração sintetizando o que será a angùstia de todo um planeta quando o último pingo d'água se evaporar da face da terra. Por que instalar um evento dessa dimensão num sítio tão distante da última sala de projeção do planeta, onde a comunidade nunca viu um cinema, onde os jomais diários impressos nunca chegarn, afastada milhares de léguas da última banca de revistas, com apenas dois canais de televisão com imagem xué, devem questionar os ansiosos. É que Barreirinhas existe - e como! É como deve ter pensado corn lucidez o fofo diretor do DAC da Universidade Federal. E em termos universais tem o mesmo peso ecológico dos Alpes Suiços e das cataratas do Niágara ou dos Parques Temáticos do Kenya. Levando este lúcido grupo de realizadores até essa banda do litoral maranhense (hoje acuada por investidores sedentos de euros e dóIares), Euclides Moreira Neto tenta reunir preciosas parcerias que possarn discutir (de forma politicamente isenta e lúcida a região que já começou a ser violentada de diferentes maneiras; quer saber como e sentir uma beiradinha insignificante? Pela manhã não se toma mais café corn beiju, mas corn tapioca, a galinha caipira desapareceu das mesas de refeição, a "cozinha" vai se sulificando (se tem maranhensidade por que não haver sulificação?) 0 sorvete que se consome é da "Quibon", pouca gente sabe o que sarrabulho, rebuçado não existe mais, a linguagem perdendo o vocabulário nativo e até mesmo nosso bom sotaque - na terra onde o buriti abunda, você não encontra um doce de buriti decente e se quiser se deliciar corn um autêntico, legítimo e saboroso picolé de juçara, tem que vir na minha casa. Com tanta e poderosa manifestação nativa que certamente ainda persiste na comunidade e vizinha ao boi de Morros e ao de Axixá, o que foi trazido por um estabelecimento de ensino local para encerrarnento festivo do evento? Uma roda de capoeira. Instalando-se em Barreirinhas e enfocando questôes ambientais como as discutidas por Mârcio Sérgio no seu bem produzido Entre os lençois, Marilia de Laroche com um lùcido 0 Mundo em maus Lençóis, Weber Santana mostrando até onde vai nossa irracionalidade corn Rio ltapecuru, Aurora Miranda confirmando-se em Coraçâo Raiz, é possivel que o sistema ainda possa pora a mão na consciência (se é que exista algum político comprometido corn causas justas e tenham consciência racional) e repensar alguns dos prograrnas de palanque traçados à revelia do bom senso. Não estou entrando no mérito da discussão dos ecologistas que questionarn, com ira justa, a construçao da MA 402, talvez a rodovia mais confortável e mais bem conservada de toda a malha viária maranhense - mas o leitor já tentou enfiar um piercing infeccionado no lugar errado do seu corpo? Nem quero questionar o Ibama, impotente e acovardado diante da multidão de carteiradas de que deve ser vítima (ou mesmo pegando por baixo dos panos a sua "parte"), que se faz de cego e mouco diante das mansões que vão sendo construidas de forma inadequada às margens do rio Preguiças, as "avoadeiras" vomitando óleo desvairadamente na via fluvial (já não se consome o bom e saudável peixe da região, morto ou enxotado pela intervenção estranha), nem a inevitável instalação da plataforma de exploração de petróleo que a Petrobrâs fará dentro de mais algumas semanas para aproveitar a fartura do produto entranhado nas falésias por baixo da bacia sedimentar da região (eu trabalhava na Petrobrás nos anos 60 do século passado, e num certo fim de tarde, batendo corn os nós dos dedos sobre um mapa do litoral maranhense, mister Bus, chefe da Schluinberger no Maranhão me falava de modo profético: "Jomalista; dentro de poucos anos, quando o petróleo de em cima estiver se esgotando, os conterrâneos vão mudar a paisagem de vocês igualzinho como fizeram com a Venezuela." –

Não é agora que estão sacando que a bacia de Barreirinhas está afogada no ouro negro: Tio Sam já sabia, a empresa francesa de prospecção sísnica já sabia, os grandes cartéis sempre souberam. Donde devemos curtir Lençóis enquanto estiver curtível: inclusive corn o "Curta Lençóis", esta boa e saudável iniciativa desse brilhante produtor cultural que é Euclides Moreira Neto". Invocando o poeta245 Poeta e parceiro da Academia de Letras, José Sarney: quem vos fala não é o eleitor eternamente de plantão nem o operário de longas datas deste ofício sem relógio de ponto de sua empresa jornalística. Mas aquele parceiro de fins de tarde da Movelaria Guanabara onde nos encontrávamos para discutir arte em todos os gêneros e bulinar as operárias de Pedro Paiva; de onde saíamos nas badaladas das seis dos sinos da Sé e do Carmo, uns para os bares e outros para o aconchego da família, onde você era um destes. É o velho índio turrão, que de joelhos vem te implorar uma graça. Durante a celebração dos meus oitenta anos de vida, no aconchego daquela capela a cavaleiro no morro da Alemanha, abraçado pela família, mulher, filhos, netos, bisnetos e alguns dos vizinhos mais íntimos, no balanço do que fui e fiz concluí que não sou esse vencedor que muitos insistem propalar; escrevi alguns livros que não vendi, montei alguns espetáculos que raros viram, fui corpo, alma e engrenagem de um dos projetos de educação mais lúcido já montados neste país, que prometia colocar o Maranhão na vanguarda dos povos civilizados do planeta, mas isso incomodou os poderosos e mandaram a Televisão Educativa e de cambulhada o Centro Educacional do Maranhão, CEMA, para a lixeira mais infecta do planeta, considerando-se que hoje ninguém nem se lembra mais desse momento histórico de nossa cultura humanística. Sou um despido racional que ousa. Mesmo porque as pessoas estão me perguntando com muita insistência o que acho sobre o desmoronamento do nosso patrimônio arquitetônico. Não tem a lenda daquela criança que evitou a destruição da Holanda enfiando seu dedinho no buraco do dique? Pois é. É verdade que o outro, o bíblico, codinome David, tinha a benção de Deus quando enfrentou a arrogância belicosa de Golias, empunhando apenas uma frágil funda. Minha visão humanitária não chega nem na sola do chulé daquela criança holandesa e minha relação com o Criador está distante anos/luz da de Davi & o Senhor do Universo. Por isso, ouso pedir ao poeta; não ao Senador da República ou ao ex-presidente ou ex-governador ou ao arquiteto político todo poderoso deste país, mas ao homem de letras, ao poeta de rara sensibilidade, apreciador esmerado da boa arte: não permita, bom homem, que nossa cidade se dissolva, que sua rica arquitetura se transforme num monte de escombros, que sua memória cultural venha abaixo. Não importa a nós, pessoas comuns, mas de sensibilidade, que amamos apaixonadamente esta São Luís de históricos momentos, que os casarões do Centro Histórico e a riqueza cultural que eles encerram vire um documento cibernético, se transforme numa “semente digital” como está anunciando o Centro de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão. Que essa preciosa ideia de nossa universidade Federal seja o instrumento que vá nos tornar ainda mais vivos em todos os recantos do planeta, e fora dele. Mas precisamos mesmo é que nosso Centro Histórico permaneça de pé em pedra e cal, com seus cheiros característicos, com o reflexo do por do sol e das noites de lua sobre os azulejos e nos beirais dos sobrados, as fachadas quatrocentonas deslumbrando os visitantes, nossas lendas descendo becos e subindo mirantes. Todos nós sabemos, do mais humilde gari ao empresário mais bem sucedido, que socorrer um desses tesouros arquitetônicos não é para qualquer conta bancária de mediano porte; mas, por outro lado, sabe-se por portas e travessas que existe uma ONG européia interessada em recuperar essas ruínas em troca de apenas três sobradões a escolha deles: o que querem fazer desse patrimônio? Só o tinhoso sabe. Mas penso que os três sobradões, no caso, terão o mesmo peso que os bois de piranha; três vacas magras em troca da manada inteira. Por outro lado, meu poeta, foi você mesmo que nos revelou, no seu artigo de domingo passado, 16, em “Crise, Brasil e Maranhão” que “no Maranhão, no balanço da economia dos estados, estamos numa fase extraordinária de crescimento e progresso”. E depois, sabemos que o agronegócio avança no Maranhão e que é público e notório que estamos caminhando muito bem para superar nossas

dificuldades econômicas. Ou é treta a instalação dos grandes projetos industriais em nosso Estado e o novo berço que a Petrobras abre no Itaqui é para ninar recursos? E depois, poeta, já pensou no tipo de julgamento que a história fará sobre nós? Que se essa derrocada acontecer justamente num período de tempo em que fomos reconhecidos pela UNESCO e que nosso bumba meu boi virou código de barra internacional? E no momento em que a obra de arte de Cosme Martins, Cordeiro e um punhados de outros excelentes artistas plásticos está sendo disputada pelo consumidor europeu e norte americano e outros dos nossos talentosos conterrâneos estão começando a integrar hora o coro de filarmônicas famosas na Polônia hora o elenco da maior companhia de dança do Ocidente, que é o Bolshoi de Moscou, ninguém nos perdoará. Ajude a nós em desespero poeta! Precisava estar presente à última reunião de nossa Academia de Letras para ter visto a cara desanimada e triste de seus confrades diante desse mural cruel que se desenha diante de todos nós. Sabemos que o que está acontecendo tem muito que ver com a maldição lançada por Vieira quando deixava o Maranhão em 1661 sob a pressão dos senhores de engenho: “Nessa terra que amaldiçoou não ficará pedra sobre pedra” – bradou o clérigo cuspindo fagulhas e segurando seu rosário de cima do batel que o conduziria de retorno a Portugal. Mas a estas alturas lembro ao poeta que esta cidade nunca se esquece de uma outra situação bem semelhante, quando um jovem governador, reuniu no Itaquí a nata dos Pais e Mães de Santo do Estado, nos anos 60 do século passado para negociar com Mãe Ina permissão para continuar a construção do porto; cujas estacas estariam prejudicando o teto do palácio da Entidade em razão do que ela estava sequestrando a alma dos mergulhadores. E que depois daquela desobriga magnífica os trabalhos seguiram com normalidade. Até hoje. Que a maldição de Vieira, meu poeta, não se concretize. As palavras do padre/profeta não devem ser mais poderosas que a ira da Entidade do mar; que você venceu. Reúna novamente seus orixás e solte sua palavra: que é poderosa. Mas não permita que o anunciado aconteça. O Poeta tem o poder.

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