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WALDEMIRO ANTONIO BACELAR VIANA
24 de julho de 1943
Bacharel em Direito pela Universidde Federal do Maranhão. Advogado, militou no foro de São Luis. Entre as funções públicas que já exerceu, citam-se as de Assessor de Relações Públicas da CAEMA; Assessor Jurídico da CIMPARN; Diretor da Divisão de Serviços patrimoniais da UFMA; Diretor Técnico da COMARCO; Diretor Administrativo e Financeiro da COHAB/MA; Assessor da Presidencia do ITERMA; Advogado do INEB; Advogado da Comissão Executora do Projeto RADAM-Brasil. De volta a São Luis em 1985, aqui exerceu as funções de Diretor Executivo da Fundação Sousandrade, 1986-87; Diretor do DAC/UFMA, 1987-88; Assessor do Reitor da UFMA, 198882. Autor de numerosas colaborações publicadas na imprensa de São Luis, notadamente crônicas e artigos, e dos romances Grauna em roça de Arros (1978), A questio0navel amoralidade de Apolonio Proeza (1990); e O Mau samaritano (1991). A Tara e A Toga (2008); Passarela do Centenário & Outros Perfis (2008); O Pulha Fictício (2013).
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MEU VERBO AMAR247
Meu verbo amar habita, com certeza, uma cidade à moda portuguesa, de traço desconforme, à velha Alfama, de ladeiras pojadas de Poesia, a ecoar, pelos chãos de cantaria, o crepitar da lusitana chama.
Meu verbo amar lhe perambula os becos, onde, em passo nostálgico, ouve os ecos das vozes de poetas singulares, que, traduzindo um mesmo sentimento, soltaram o estro seu à voz do vento, no tributo de amor de seus cantares.
Meu verbo amar percorre-lhe os sobrados, onde azulejos, d'Além-mar chegados,
246 MORAES, Jomar. PERFIS ACADEMICOS. 3 ed. São Luis: AML, 1993. http://www.waldemiroviana.net.br/index.html 247 http://www.waldemiroviana.net.br/poesia_meu_verbo_amar.html
emouriscam fachadas tropicais - de tão arquitetônica beleza, em arabescos, tais, de tal leveza que assemelham fantásticos murais.
E as ruas onde o verbo amar vadia? Ao Sol, ouve cantar a Cotovia, aspirando Alecrim entre Craveiros... Ouvir-lhe os nomes, lírica emoção: Afogados... Passeio... Viração... Inveja... Paz... Desterro... dos Barqueiros...
Meu verbo amar tem pouso firme e certo: por mais longe que eu vá, em rumo incerto, se eu deixo São Luís do Maranhão uma enorme tristeza me desterra e domina, se insisto noutra terra: - meu verbo amar só vive no meu Chão!
Meu caro Presidente Zé Sarney:248
Me há de perdoar Vossa Excelência que, a par do orgulho e júbilo espontâneo que eu sinto, ao ver brilhar um conterrâneo no sagrado mister da Presidência, e, com semblante calmo e pulso forte, nestes momentos de incerteza e medo que nos causa a doença do Tancredo, saber traçar deste Brasil o Norte - que eu venha, num absurdo destempero, desviando-o de tão lídimos serviços, trazê-lo desses altos compromissos ao minimismo do meu desespero.
Veja bem, Presidente, não é cobrança - que quem amigo é não cobra amigo. É o miserê nefando que eu persigo, à cata de um momento de bonança. Por falta de um emprego, Presidente, que me permita pôr a vida em trilhos, e devolva o sorriso dos meus filhos e a própria vida torne sorridente. Proventos regulares, que permitam que este poeta não conspurque o nome, e que possa aplacar a imensa fome dos credores que em torno a si gravitam.
Um regular e digno salário, que dê para educar minhas crianças e dê para aumentar as esperanças de enfrentar o vulcão inflacionário.
Meu ilustre Confrade, é natural (pois bem sabe Vossência que no Estado
o salário é pequeno e limitado) que eu almeje um emprego federal. Não só pelo salário (embora pese extraordinariamente na balança). É bem mais por questão de segurança que eu preciso de um cargo que se preze.
Eu adoro o aconchego da família. Mas – se for sua maior comodidade - sacrifico os parentes e a Cidade e me ponho às suas ordens em Brasília. Amo São Luís. E, ilhéu apaixonado, respirar estes ares me renova. Mas farei sonhos novos, vida nova e ficarei a postos, a seu lado.
E sei que me será gratificante (caso Vossência aprove o meu concurso) seguir no rastro do Poeta, ao curso de seus gloriosos passos de Gigante. Mas... amo São Luís de tal maneira que, se pra cá viesse a indicação, eu lhe juro: teria a sensação de estar ganhando uma loteca inteira.
Eis meu pedido, amigo Presidente. Não fora a precisão que me fulmina, não viria o poeta que esta assina perturbá-lo em momento tão premente. ...........
E demonstre, Sarney, ao mundo inteiro (como à miuçalha crítica e circense) o que pode fazer um maranhense pelo bem deste povo brasileiro!
Por toda a dimensão dessa amizade pintada em nossa raça a forte traço, receba um grande e admirado abraço.
Cantar da cidade de ontem249
Ladeiras, praias, efusão e história destilam pelos poros da cidade, transmudando mistérios em cimento do progresso integrado na Saudade.
Salvador, Salvador! Cantos de ontem, enobrecidos no calor caetano, dos gis gilbertos que te mostram faces do sempiterno e secular humano.
Requebros dáfrica, os nagôs batuques ferem-se ao choque do cimento armado,
O amado jorge te cantou bravuras que os amanhãs de hoje sepultaram, e teus jubiabás de glória e garra estupros do Progresso transformaram.
Templos e pelourinhos do passado capitalizam patuás, bentinhos, e codaques, de gringo a tiracolo roubaram-te o mistério dos caminhos.
O sangue de cimento e cal e ferro naufraga os santos todos de teus mares, e às prenhes praias das manhãs diárias assinam ponto escóis e proletares.
Resta-te o Humano: o riso e o trio elétrico da quente e folgazã baianidade, que transmuda cimentos em mistério do progresso integrado na Saudade.