MARANHAY (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536
ANTOLOGIA:
ATENIENSES [...] Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis[...] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011
VOLUME IV
MIGANVILLE – MARANHÃO EDIÇÃO 58 - MARÇO DE 2021
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presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor.
EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 350 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.
APRESENTAÇÃO [...] Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis[...] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011
Ao decidir-me pela construção de uma antologia que comportasse literatos ludovicenses – nascidos na cidade do Maranhão e/ou que tiveram sua vida ligados à São Luís – os Confrades da Academia Ludovicense de Letras fizeram algumas restrições. Primeira, que uma Antologia da Academia Ludovicense deveria conter apenas literatos à ela ligados... segunda, de que apenas os nascidos na capital do Maranhão... terceira, que deveria se começar pelos Perfis Acadêmicos... Já havia iniciado o levantamento, haja vista que até aquele momento não tínhamos ainda formada a Comissão encarregada, um dos primeiros ‘protestos’ pela obra que se iniciava, e que seria muito cedo... idéias que não compartilho. Então, é uma obra de dupla mão – a que atenda ao Estatuto e Regimento Interno, e submetida à apreciação da Comissão, no que já foi feito, e um trabalho que farei enquanto pesquisador, e, já decidido, terá a chancela da ALL, mas não será dela: o autor sou eu! Assim, teremos pelo menos sete volumes, assim distribuidos: - Volume I - Antologia da ALL, Perfis Acadêmicos – Fundadores; já publicado; - Volume II – Antologia da ALL, Perfis Acadêmicos – Primeiros Ocupantes. Este volume só será possível concluir quando as 16 cadeiras restantes foram ocupadas; na ALL – como em todas as Academias de Letras, seguindo a tradição da Academia de França – são 40 (quarenta) Cadeiras; 25 (vinte e cinco) preenchidas no momento da fundação, restando 15 a serem complementadas, destas, sete já têm os primeiros ocupantes; e já tivemos o falecimento de um dos fundadores... Os volumes seguintes serão trabalho independente, como já dito, sendo: - Volume V – Mulheres de Atenas – volume destinado apenas às literatas – exigencia das senhoras Confreiras, que desejam estar em destaque; não é um movimento separatista, pelo menos de parte do sexo masculino da ALL, mas como com elas não se discute... como são poucas, em relação aos homens, em um unico volume estarão aquelas ligadas à ALL, e a outras instituições/movimentos, nascidas ou não em São Luis, mas com sua vida literária ligada à cidade... - Volume III – Os Ludovicenses – uma antologia, que abrigará literatos nascidos em São Luís, e que pertencem aos quadros da ALL – patronos, fundadores, primeiros ocupantes, até o ano de 2014: o presente volume; - Volume IV – Os Atenienses – literatos nascidos em São Luis, mas que não fazem parte da ALL, pertencendo a outras instituições culturais-científicas – AML e IHGM – e a alguns dos movimentos literários que se formaram na cidade, principalmente a partir da década de 30, século passado, até o momento atual. - Volume VI – Alhures – volume dedicado àqueles literatos ligados à cidade de São Luís, mas que não nasceram nela... mesmo assim, Atenienses... Uma advertencia: “Escrevi para aprender”1. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para
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MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18
a construção2, constituíram-se em importantes fontes as publicações biográficas promovidas por instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Buscou-se mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhi informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sitios particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem... Uma observação: como comecei a construção em 2014, e venho trbalhando ao longo desse tempo, com um intervalo de 3 anos, parado, resolvi manter os dados de então, não atualizando aqueles que morreram nesse período...
LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Cadeira 21 – ALL Cadeira 40 – IHGM Ceadeira 92 - APB
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SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão.
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO SUMÁRIO SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA ANTONIO CARLOS ALVIM BIOQUE MESITO CELSO BORGES CESAR WILLIAN DAVID COSTA CLAUDEMIR LIMA VAZ CYRO FALCÃO DYL PIRES EDUARDO JÚLIO DA SILVA CANAVIEIRA ELOY MELONIO FABRÍZIO LIMA BARONI PEREIRA FERNANDO ABREU FERNANDO ATALLAIA FERNANDO OCTÁVIO MOREIRA DA CRUZ FERREIRA GULAR FRANCISCO DE ASSIS PERES SOARES FRANCISCO INALDO LIMA LISBOA FRANCISCO TRIBUZI FRANCISCO MANOEL BAIA DA SILVA HAGAMENON DE JESUS CARVALHO SOUSA HERBERT DE JESUS SANTOS IGOR FERNANDO DE JESUS NASCIMENTO J. M. CUNHA SANTOS JOÃO ALEXANDRE VIEGAS COSTA JUNIOR JOÃO ALMIRO LOPES NETO JOAQUIM HAICKEL JORGE ANTÔNIO SOARES LEÃO JORGE NASCIMENTO JOSÉ DO COUTO CORRÊA FILHO JOSÉ LUÍS ROSENDO DE SOUSA JOSÉ DE RIBAMAR SILVA FILHO LUÍS INÁCIO ARAÚJO JOSÉ MARIA NASCIMENTO LUÍS AUGUSTO CASSAS LUIZ DE MELLO MHARIO LINCOLN MÁRCIO COUTINHO NATANILSON PEREIRA CAMPOS NAURO MACHADO ORLANDEX PEREIRA VIANA PAULO AUGUSTO DO NASCIMENTO MORAES PAULO FRANCISCO CARVALHO BERTHOLDO PAULO MELO SOUSA RICARDO LEÃO ROBERTO KENARD ROSSINI CORRÊA SÉRGIO SMITH VIRIATO SANTOS GASPAR NÚMEROS PUBLICADOS
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SOBRE A LITERATURA LUDOVICENSE CONTEMPORÂNEA Nos anos 50/60, Cruz (Machado) (2006) 3 refere-se à Galeria dos Livros, do emblemático Antonio Neves, onde eram lançados os livros, nas famosas noites de autógrafos. Era Arlete Cruz quem organizava as ‘noitadas’, distribuindo os convites, o coquetel, no espaço cedido, sem custos, para aqueles então jovens literatos, artistas, intelectuais: Formávamos, assim, um grupo de artistas, ou de pessoas ligadas à arte, com várias tendências e gerações, não chegando a se constituir um movimento organizado (nem sequer éramos da Academia Maranhense de Letras, excetuando-se um ou dois), com alguns mais participativos do que outros, mas todos amigos: Bernardo Almeida, José Chagas, Antonio Almeida, Nauro Machado, João Mohana, Carlos Cunha, Paulo Moraes, Venúsia Neiva, Luiz de Mello, Bandeira Tribuzzi, Manoel Lopes, Fernando Moreira, Henrique Augusto Moreira Lima, Olga Mohana, Ubiratan Teixeira, Bernardo Tajra, Déo Silva, Lourdinha Lauande,, Murilo Ferreira, Sérgio Brito, Reynaldo Faray, José Frazão, Maia Ramos, José Maria Nascimento, Jorge Nascimento, Helena Barros, Antonio Garcez, Fernando Braga, Moema Neves, José Caldeira, Erasmo Dias, Reginaldo Telles, José Martins, Yedo Saldanha, Domingos Vieira Filho, Lucinda dos Santos, Márcia Queiroz minha mãe Enói, que me acompanhava sempre), Dagmar Desterro, Mário Meireles, Nascimento Morais Filho, e José Sarney [...] alguns mais tarde se juntariam a nós, como Pedro Paiva, e Ambrósio Amorim (ambos de volta a São Luis), Chagas Val, Virginia Rayol, Alberico Carneiro, Lucia e Leda Nascimento, Othelino Filho, Aldir Dantas, Carlos Nina, Péricles Rocha, José de Jesus Santos, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Lenita de Sá, Luiz Carlos Santos, Nagy Lajos, Aurora da Graça,, dentre outros. (p. 97). É nesta mesma época que aparece o Suplemento Literário do Jornal do Maranhão – por um período dirigido por Arlete Cruz (Machado) -, um semanário da Arquidiocese dirigido por José Ribamar Nascimento. Nas manhãs de sábado reuniam-se todos por lá, agregando-se ao grupo José Carlos Sousa e Silva, Jamerson Lemos, Lima Filho, Fernando Nascimento Moraes e Orlandex. Surgem o Plano Editorial SECMA4 e o Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luís” 5, com objetivo de incentivar a produção intelectual e literária de alto nível do Maranhão. Para Leão
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CRUZ (MACHADO), Arlete Nogueira da. SAL E SOL. Rio de Janeiro: Imago, 2006 PLANO EDITORIAL DA SECMA: PRÊMIO GONÇALVES DIAS DE LITERATURA: “Quando em 1994, a governadora Roseana Sarney extinguiu o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, uma instituição que iria completar 100 anos de serviços prestados ao Estado, os artistas se ressentiram de um golpe jamais esperado. Com isso, houve um sensível prejuízo para os Planos Editoriais existentes do próprio Sioge, da Secretaria de Cultura do Estado e da Fundação Cultural do Município de São Luís, já que os livros eram editados na gráfica daquele Órgão. http://www.guesaerrante.com.br/2009/11/19/Pagina1204.htm, 19 de novembro de 2009 5 Instituído pela Prefeitura de São Luís, através da Fundação Municipal de Cultura – FUNC, atendendo o que rege a Lei Municipal nº 560, de 03/09/1995 e objetivando descobrir, divulgar e premiar valores artísticos e culturais do Maranhão. De caráter competitivo e classificatório, aberto a 6 (seis) gêneros artísticos e literários de obras inéditas (exceção para os trabalhos de jornalismo) em língua portuguesa de autores maranhenses ou comprovadamente radicados a pelo menos 1 (um) ano no Estado. DAS CATEGORIAS: 1 – Prêmio Aluízio Azevedo: para obra de ficção compreendendo novelas, romances, contos, peça teatral e literatura infantil; 2 – Prêmio Antonio Lopes: para obra de erudição, compreendendo crítica literária e pesquisa folclórica; 3 – Prêmio Sousândrade: para livro de poesia; 4 – Prêmio Zaque Pedro: para obra literária na área das artes plásticas, que resgate a memória de artistas, obras ou movimentos artísticos maranhenses; 5 – Prêmio Inácio Cunha: para obra literária na área musical, que resgate a memória de artistas maranhenses; 6 – Prêmio para Jornalismo: para trabalho de jornalismo impresso. 4
(2008) 6, os novos nomes revelados pelos concursos literários “Gonçalves Dias” e “Cidade de São Luís”: [...] vêm confirmar mais uma vez esta respeitada tradição, com obras que revelam, além do talento de seus autores, originalidade e competência intelectual acima da média, corroborando um novo quadro de escritores dignos desse título e dos mestres que os inspiram e guiam. A classificação de novíssimos escritores como Bioque Mesito, Bruno Azevedo, Igor Nascimento, Josoaldo Lima Rego, José Marcelo Silveira, Márcio Coutinho, Gilmar Pereira da Silva, Wilson Marques de Oliveira, Francisco Inaldo Lima Lisboa, Wilson de Oliveira Costa Dias, Felipe Magno Silva Pires, entre outros que já vinham traçando a sua trajetória literária há algum tempo, como Geraldo Iensen, Lenita Estrela de Sá, além deste cronista, inclusos alguns escritores com obras já sedimentadas – Fernando Braga, Chagas Val, Jomar Moraes, Herbert de Jesus Santos, entre outros. O Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís, foi criado em 1955 por lei municipal, mas realizado somente a partir de 1974 pela Prefeitura de São Luís, por meio da Fundação Municipal de Cultura (FUNC). Bruno Azevedo (2012) 7 expõe sua revolta com os diversos concursos literários que eram realizados à época, afirmando: Nossas possibilidades de edição se resumem a duas secretarias de cultura que valem menos que a merda do pombo da cumeeira do Oscar Frota. Os editais são escritos por um paquiderme, executados por um protozoário e resultam em livros tão feios que, ao longo dos anos, recusei-me a ler vários por não suportar o contato com o objeto. Os caras não se importam com algo com o qual eu me importo muitíssimo, e isso me emputecia! Me inscrevi nesses editais por anos e anos, ganhei algumas vezes, mas nunca saía nada! É preciso que vocês entendam que um dia eu levei esse povo muito a sério. Eu até lia os poemas, porra! Com o tempo, passou a me incomodar mais a atitude dos autores, que se sujeitam ao Cidade de São Luís todos os anos, sabendo do embuste, como se sujeitam aos editais da Secma (quando esta os faz). O trabalho deles ficava, ao logo dos anos, tão medíocre quanto o esquema todo. Parecia que os editais, antes de promover o tal fomento à produção, a viciava. Há de se tirar o chapéu ao funcionismo, conseguir travar gerações inteiras com uma estratégia de edição tosca e migalhenta como esta é um lance de gênio. Gente que, anos antes, tava amolando as pontas das facas aos murros. Silva (2013)8 ao analisar os espaços de publicação, afirma que estes recebem tratamento de lugares (lieux), no sentido empregado por Eliana Reis (2001)9, como espaços de “expressão oficial dos grupos” e de criação de laços de identificação, vínculos afetivos e sociais entre os agentes (milieu) - “Lieux du Milieux”. 6
LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 7 AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014 8 SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014 9 REIS, Eliana T. dos. JUVENTUDE, INTELECTUALIDADE E POLÍTICA: ESPAÇOS DE ATUAÇÃO E REPERTÓRIOS DE MOBILIZAÇÃO NO MDB GAÚCHO DOS ANOS 70. Dissertação de Mestrado em Ciência Política, UFRGS, 2001 citada por SILVA, 2013?, Disponível em http://www.seer.ufs.br/index.php/tomo/article/viewFile/1598/1453 , acessado em 08/05/2014
Estes lugares apresentam-se, portanto, como fontes privilegiadas para a análise do trabalho de construção da memória dos agentes e grupos que por eles ligavam-se, afirmavam-se e se distinguiam por coalizões distintas: [...] Entre estas alianças, destacam-se as facções em torno de movimentos políticos e literários, que propiciavam também o controle de importantes espaços de publicação, ensejando inclusive o ingresso de diversos autores na carreira literária. A exemplo da importância desses espaços de afirmação temos a Tipografia São José, da Arquidiocese de São Luís. Gerenciada por Bernardo Coelho de Almeida – entrementes incluído entre importantes estreias como as de José Chagas, Nauro Machado, Macedo Neto, Manuel Lopes e Nascimento Moraes Filho –, fundador da revista Legenda e também publica várias obras de colaboradores desta revista no período analisado, além de lançar outros livros de estreia, como o de José Chagas, Canção da Expectativa (1955). Pelo Centro Cultural Gonçalves Dias Lago Burnett lançou sua primeira obra, Estrela do Céu Perdido (1949) e através da revista Afluente edita alguns livros de sua autoria, como O Ballet das Palavras (1951) e Os Elementos do Mito (1953). Além destas, Voz no Silêncio, de Manuel Lopes (1953); Canção Inicial, de José Sarney (1954) e Iceberg de Macedo Neto (1955). Há também os que não chegaram a publicar, mas participavam dos conselhos editoriais organizados por estes espaços, é o caso de Luís Carlos Bello Parga, que integrava o conselho editorial da revista Ilha, Fundada pelo Grupo Ilha, sob as lideranças de José Sarney e Bandeira Tribuzi, da qual também participava Lucy Teixeira. No entanto, as vinculações destes agentes a determinados lugares e “movimentos culturais” devem ser analisadas relacionando-se os demais posicionamentos tomados em domínios diferenciados e considerados estrategicamente como oportunidades para o estabelecimento de alianças que retroalimentam suas variadas formas de atuação – facilidades de publicação, nomeação para cargos públicos etc. Desta forma a ocupação de cargos públicos vinculados a atividades culturais como a Secretaria de Cultura, FUNC, SIOGE, Conselho Estadual de Cultura e o IPHAN, constituem-se em estratégias privilegiadas para as relações de aliança faccional, que implicam em relações de trocas e retribuições entre estes “intelectuais”, no trânsito entre os domínios político e literário. Assim considerados, justifica-se o percentual elevado dos agentes que ocuparam tais funções administrativas, buscando através do granjeamento das instâncias culturais do estado, condições de sobrevivência, econômica e principalmente literária, que um contexto como o maranhense, sem uma relativa autonomia deste espaço, não lhes poderia ofertar. Bruno Azevedo (2012) 10 ao referir-se à revista/editora Pitomba, criada por ele, Celso Borges, e Rouben da Cunha Rocha assim se posiciona: A Pitomba é uma forma positiva de recusa à calhordice geral, ao amadorismo da oficialidade, devolvendo a ofensa na forma de livros ofensivos, porque ousamos achar que o livro é um troço importante, bonito, tesudo e tal. Também é uma maneira de existir, e qualquer existência fora das paredes das repartições, no Maranhão, é transgressora. Pitomba é uma revista com 44 páginas e tiragem de 500 exemplares. Sem periodicidade, privilegia a produção de artistas contemporâneos das regiões NorteNordeste, poetas, prosadores, artistas plásticos, músicos, ilustradores, quadrinhistas e fotógrafos de fora do centro do mapa cultural brasileiro. Editada por Bruno Azevêdo, Celso Borges e Reuben da Cunha Rocha. O projeto gráfico é de Bruno Azevêdo, com colaboração de Celso e Reuben. A revista sai com o apoio da livraria Poeme-se e do Chico Discos. 10
AZEVEDO, Bruno. ...PRA NÃO VOMITAR. In GUESA ERRANTE, 30 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/pra-nao-vomitar-1294.htm , acessado em 28/05/2014
Os editores da Revista Pitomba eram: Bruno Azevêdo – escritor. Formado em História, faz mestrado em Ciências Sociais. Autor de Hemóstase (2000); A Bailarina no Espelho (2007); Breganejo Blues - novela trezoitão (2009); e Monstro Souza - romance festifud (2010). Em 2009, fundou a editora Pitomba! livros e discos; Celso Borges - poeta e jornalista, publicou 8 livros de poesia, os últimos: XXI, Música e Belle Époque, compõem a trilogia A posição da poesia é oposição, em formato livro CD. Desenvolve projetos de poesia no palco, entre eles Poesia Dub, A Palavra Voando e Sarau Cerol; Reuben da Cunha Rocha – ensaísta, poeta e tradutor, com trabalhos publicados nas revistas Cult, Autofagia e Modo de Usar & Co. Mestre em Ciências da Comunicação pela USP. Tem inédito o livro Guia prático de atentado ao Papa. Os anos 70/80, aqui (no Maranhão) convencionados Geração Luís Augusto Cassas: [...] abrem-se com o poeta Jorge Nascimento (1931), continuando com Arlete Nogueira (1936), Eloy Coelho Neto (1924), Cunha Santos Filho (1952), João Alexandre Júnior (1948), Chagas Val (1943), Francisco Tribuzi (1953), Alex Brasil (1954), Adailton Medeiros (1938)... Este último, tendo participação confirmada na vanguarda Práxis, no eixo Rio/São Paulo, sob a liderança de Mário Chamie. (Corrêa, 2010) 11. O Movimento “Antroponáutica” nasceu no Liceu12 entre 69 e 70, estreando na “Antologias do Movimento Antroponáutico” (1972)13; segundo Jomar Moraes o ultimo vocábulo de um poema de Bandeira Tribuzi (ASSIS BRASIL, 1994)14. Dinacy Corrêa (2010) 15 diz ser intergrado por autores que, mesmo sem terem feito lançamento, comparecem na antologia do citado movimento: Luís Augusto Cassas (1953), Chagas Val (1948), Valdelino Cécio (1952), Raimundo Fontenele (1948), Viriato Gaspar (1952). Tanto Dinacy quando Assis Brasil, afirmam que este movimento iria se completar, em 1975, com a Antologia “A Hora do Guarnicê” 16, – reunindo os poetas da coletânea anterior, acrescida de nomes novos, como João Alexandre Júnior e Rossini Corrêa – que se revela, com livro próprio, na década de 80. A literatura disponível lista os vários componentes desses diversos movimentos. Em contato com alguns deles, afirmam que não fizeram parte, como exemplo, Paulo Melo – Poeme-se apenas- e Lenita Estrela – diz que era do movimento Guarnicê, apenas -, assim como Dilercy Adler, afirmam não terem pertencido ao “Antroponáutica”... Rossini Corrêa, em correspondência pessoal (2014) 17, assim se coloca: Não participei, a rigor, de movimentos literários formais em São Luís do Maranhão. Se se conceber a ideia de movimento literário como obra aberta, difusa e recortada pela convivência, sim, participei, posto que sempre fui um agregador e transformei a casa dos meus pais em um posto necessário de convívio literário de toda uma geração. Não era a única, porém, pois a casa de Maria e Bandeira Tribuzzi, em
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CORRÊA, Dinacy Mendonça. UMA ODISSÉIA NO CENTRO HISTÓRICO DE SÃO LUÍS. Revista Garrafa 22, setembrodezembro 2010, disponível em http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/garrafa/garrafa22/dinacycorrea_umaodisseiano.pdf 12 Escola fundada em 1838, hoje Centro de Ensino Médio “Liceu Maranhense”, onde Sotero dos Reis foi primeiro diretor e professor. 13 ANTOLOGIA POÉTICA DO MOVIMENTO ANTROPONÁUTICA. São Luis: Departamento de Cultura do Maranhão/Secretaria de Educação e Cultura, s.d. 14 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SÉCULO XX - antologia. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 15 CORRÊA, 2010, obra citada 16 BORGES, Celso; HAICKEL, Joaquim. (organizadores). ANTOLOGIA GUARNICÊ, ano I. São Luis: Guarnicê, 1984. Publicadas no Suplemento e na revista Guarnicê de agosto de 83 a julho de 84. HAICKEL, Joaquim; BORGES, Celso. GUARNICÊ ESPECIAL, ano II. Ano 1, no. 8, agosto 1984. São Luis: Guarnicê, 1984. LIMA, Felix Alberto e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, 1983-2003. São Luis: Clara: Guiarnicê, 2008 17 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014.
função do poeta Francisco Tribuzzi, sem dúvida, era o complemento necessário da nossa. Na casa de meus pais, Henrique Corrêa, Couto Corrêa Filho e eu, na altura, recebíamos o próprio Francisco Tribuzzi, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. Ambas ficavam na Rua Cândido Ribeiro, a nossa antes e a Francisco Tribuzzi, depois da Fábrica Santa Amélia. Neste sentido, não integrei o Movimento Antroponáutica e, quando nos reunimos na antologia poética Hora de Guarnicê, somamos pelo menos dois blocos, por meio das pontes de contato estabelecidas pela amizade de Valdelino Cécio, em especial, comigo. O poeta e estudioso da cultura popular, que viria a se tornar um dos meus melhores amigos em toda a vida, à semelhança de Francisco Tribuzzi, passara a frequentar o espaço público da nossa convivência diária, nas noites intermináveis da Praça Gonçalves Dias, nas quais salvávamos a humanidade e transformávamos a vida do mundo. Em outro contato, Corrêa 18confirma: [...] no sentido orgânico, cartorário e formalista, existiram, mas foram poucos, os movimentos. Comprovação da sua existência se encontra no Mojore e no Renascimento Cultural Clube, de que participou o saudoso João Alexandre Viegas Costas Júnior, com os jornais Página da Juventude, A Letrinha e O Balaio, de organicidade, talvez, até maior do que a existente no chamado Movimento Antroponáutica. Entretanto, no sentido aberto, plástico e dinâmico, aqueles reunidos na minha casa, na casa de Francisco Tribuzi e nas noites da Praça Gonçalves Dias, constituíram, sim, um movimento, cujo estatuto estava antes na convivência, no estímulo recíproco e na construção de caminhos, do que na letra fria dos programas. Os nomes são aqueles já declinados, e outros mais, cujo campo de fuga os conduziu para distante dos arraiais literários. Não posso deixar de mencionar novamente aqueles que a memória melhor reencontrou: Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, Vagalume, Josias Sobrinho, Graça Lima, Joyla Morais, Glória Corrêa, Edmilson Costa, Henrique Corrêa, César Teixeira, Trajano Duailibe, Expedito Moraes, Ribamar Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Johão Wbaldo e muito mais gente do que se pode, em um esforço instantâneo, inventariar. [como você vê esse(s) movimento(s)? percebe-se que vocês participaram de vários desses, a partir dos anos 70... o que significou e por que naquele cadinho, surgiram tantos movimentos tentando revitalizar a literatura/poesia de São Luís? qual a efetiva participação de vocês?] Na minha compreensão, mais ou menos formais, pouco se me deu, pouco se me dá, os movimentos foram os acontecimentos reais, que alimentaram vocações e permitiram que a fidelidade à causa da cultura sobrevivesse no cenário da história do Maranhão. A nossa efetiva participação era simplesmente total. Estávamos congraçados e arrebanhados, como sugeria Bandeira Tribuzzi – ‘mantenham-se arrebanhados’ – e assim permanecemos até que cada um passasse a escrever de maneira singular o seu destino intelectual. Deste cadinho de gente surgiram nomes como os de Francisco Tribuzzi, Couto Corrêa Filho, César Teixeira, Josias Sobrinho, Cyro Falcão, Edmilson Costa, Ribamar 18
CORRÊA, Rossini. CORRESPONDENCIA ELETRONICA, destinada a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 20 de maio de 2014.
Corrêa e outros mais, cujas pegadas deixaram marca na areia, na poesia, na música, na pintura, no jornalismo e nas ciências humanas. A nossa participação era total, porque a agitação literária renovadora passava por todos nós e por todos aqueles que se fundiram e confundiram conosco, como Valdelino Cécio e Alberico Carneiro. Estávamos de ‘a’ a ‘z’, do boi da Madre Deus ao jornal A Ilha; da resistência democrática à poesia de mimeógrafo; dos debates intermináveis à vontade de fazer a diferença, dialogando com gente pulsante como Nascimento Moraes Filho e Bandeira Tribuzzi, que qualificou aquele como o ‘século setentão’. Cassas desponta em 1981, com República dos Becos, e atinge uma dimensão nacional, promovendo a esse nível os poetas de sua geração, ao lado dos quais se destacam Roberto Kenard e Laura Amélia Damous. Para Corrêa (2010), os mais novos, na trajetória evolutiva da poesia maranhense, transitam entre “... um neorromantismo de feição já crítica, ora integrando a sua linguagem a um corpus poético já decididamente moderno” (BRASIL, 1994) 19. São eles: Alex Brasil (1954), Ivan Sarney (1946), Luís Moraes (1948), César William (1967), Morano Portela (1956), Bernardo Filho (1959), Luís Inácio Araújo (1968). Concordamos que se deva ser acrescentada nessa fase o grupo do Guarnicê, “nascidos” em 1982, tendo como participes Joaquim Haickel junto com Celso Borges, e coadjuvados por Roberto Kenard, Ivan Sarney, Ronaldo Braga, e Nagibinho (irmão de Joaquim, Nagib Haickel Filho), que produziam e apresentavam o programa “Em tempo de Guarnicê”, levado ao ar pela Rádio Mirante FM; programa que falava de literatura, arte, cultura e tocava música maranhense, se servindo do meio de comunicação de sua época, para discutir a cultura maranhense (VAZ, 2011) 20; chegaram a publicar uma Revista – Guarnicê. Seria uma 10ª fase? A poeta e romancista Arlete Nogueira da Cruz, a maior representante e mulher que contribuiu grandemente com a geração acima 21 [a anterior], aponta, em seu Nomes e Nuvens (Unigraf, 2003), outra geração que se firma entre os anos 1970 e 1980, e que está na plenitude de sua produção, madura. Rica de nomes e de direcionamentos, mas todos respirando os novos confrontos impostos por circunstâncias e transformações radicais que vão do local e do nacional ao global: expansão e descentramento da cidade, derrocada e morte do militarismo, liberdade de pensamento, noção de uma “aldeia global”, tecnologização crescente, aumento da violência urbana e aparecimento da massa abandonada nas ruas. Luís Augusto Cassas, Cunha Santos, Raimundo Fontenele, Viriato Gaspar, Chagas Val, Rossini Correa, Alex Brasil, Roberto Kenard, Laura Amélia Damous, Lenita Estrela de Sá, Joe Rosa, Celso Borges, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, Eduardo Júlio, Ronaldo Costa Fernandes, Couto Correa Filho, Eudes de Sousa, Sônia Almeida, Dilercy Adler, César Willian, são alguns dos nomes cujo conjunto fazem uma poética não passível de redução: ora “marginal” e underground, concretista, neo ou semiconcretista, ora
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ASSIS, Brasil. A poesia maranhense no século XX – antologia. São Luís, Ma.: Sioge, 1994 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. DISCURSO DE RECEPÇÃO A JOAQUIM ELIAS NAGIB PINTO HAICKEL, Cadeira 47. Proferido em 13 de Setembro de 2011. Revista do IHGM, no. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 47, disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38_-_setembro_2011 21 [Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar e Bandeira Tribuzi. Eles determinaram em definitivo, conforme podem ser observados na leitura de sua obra, pelo menos três vetores para a nossa poesia: um lirismo másculo e visceral (Nauro); uma poética do memorial local aliado à interrogação da temporalidade existencial (Chagas, Tribuzi); a objetividade cosmopolita do cotidiano social atravessado pela contestação poética (Gullar, Tribuzi). Some-se a esses nomes, o de Lago Burnet, Déo Silva, José Maria Nascimento, Manuel Lopes, Manuel Caetano Bandeira de Mello e outros.] IN http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-deguerra-da-poesia-da-sao-luis-contemporanea-4400.htm 20
lírico-sentimental, ora metalinguística; poundiana; hierofânica.. (In GUERRA ERRANTE, 2012).22.
hierática;
epigramática;
Sobre o Guarnicê, buscamos tanto em Haickel (2014) 23: Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente, quanto em Corrêa (2014) 24, a explicação necessária sobre esse “movimento”: Hora de Guarnicê tem dois blocos e duas autonomias: o bloco do Movimento Antroponáutica (Luis Augusto Cassas, Raimundo Fontinelle, Viriato Gaspar, Chagas Val e Valdelino Cécio); o bloco das Casas da Cândido Ribeiro (Francisco Tribuzzi, Henrique Corrêa, Cyro Falcão, Antônio Moysés, Edmilson Costa, Johão Wbaldo e Eu) e as autonomias de João Alexandre Júnior e Cunha Santos Filho, os quais trilharam caminhos distintos dos nossos, e tinham organicidade vinculada às páginas literárias do Jornal Pequeno. Depois de Hora de Guarnicê misturamos as águas mais uma vez, quando lançamos a microantologia Sem Pé nem Cabeça, reunindo Cyro Falcão, César Nascimento, Henrique Corrêa, Raimundo Fontinelle, com capa de César Nascimento, o que significa a ponte de Raimundo Fontinelle do Movimento Antroponáutica e o diálogo poético-musical de César Nascimento com o grupo da Cândido Ribeiro (Henrique Corrêa, Cyro Falcão e Eu). Registre-se, finalmente, que nos nossos encontros havia a busca da sintonia intelectual e política com a contemporaneidade do mundo. Sonhávamos em ser militantes cívicos e estéticos, debaixo dos anos de chumbo da ditadura militar, com a qual eu convivi desde os oito anos, com a prisão do meu tio Wilson do Couto Corrêa e na adolescência, quando um livro mimeografado de poemas de Edmilson Costa despertou o 'interesse literário' da Polícia Federal do Maranhão. O programa Em tempo de Guarnicê, nas ondas da rádio Mirante FM, que estreia em setembro de 1981, dá origem ao Suplemento de O Estado do Maranhão; comando do economista Ronaldo Braga. A Revista Guarnicê, publicada entre os anos de 1983 e 1985, chegou a 45 números: 20 suplementos e 25 revistas, incluindo a devezenquandal, seu ultimo numero25. E teve em seu núcleo não mais que cinco pessoas – Joaquim Haickel, Celso Borges, Roberto Kenard, Paulo Coelho e Érico Junqueira Ayres, e divulgou o trabalho de mais de 40 artistas de São Luis e outros tantos do Rio Grande do Norte, Piauí e Brasília.
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http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luiscontemporanea-4400.htm 23 HAICKEL, Joaquim. Em Correspondência pessoal a Vaz, Leopoldo, em 11/03/2014: “Antologia Guarnicê é uma coisa, Revista Guarnicê é outra... a primeira é de do final dos 70 e a segunda foi de 83 até 86; a primeira foi um evento e a segunda foi algo mais permanente”. 24 CORRÊA, Rossini. DEPOIMENTO, prestado via correio eletrônico ao Autor, em 05 de março de 2014. 25 BORGES, Celso. AMOR & RIGOR. In LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003.
FONTE: Lima, 2003, ALMANAQUE GUARNICÊ 20 anos, p 9; 100
“Qualquer semelhança com um movimento morto é mera coincidência”, alertavam já na primeira edição do Suplemento Guarnicê, evitando comparações com os integrantes da antologia Hora do Guarnicê (Poesia nova do Maranhão), lançada em São Luis em 1975 pela Fundação Cultural do Maranhão (LIMA, 2003) 26. Hora do Guarnicê foi um livro, uma antologia da jovem poesia da primeira metade da década de 70 no Maranhão, tendo congregado, num ponto de convergência, integrantes do Movimento Antroponautica: Em maio de 1972, ano em que se comemora o cinquentenário da Semana de Arte Moderna, cinco jovens empenhados e emprenhados na/de poesia criam um movimento com o nome de Antroponautica e lançam de saída uma antologia. O mais novo deles é Luis Augusto Cassas, com 19 anos. Os outros são Valdelino Cécio e Viriato Gaspar ambos com 20 anos; Raimundo Fontenele, 24; e Chagas Val, 28. A Antologia do Movimento Antroponautico trás na capa uma ilustração de Cesar Teixeira. 1984 surge a Antologia Guarnicê, para comemorar o primeiro ano do Suplemento/Revista. Reúne 25 poetas e 60 poemas. De Antonio Carlos Alvim a Wanda Cristina; de Cesar Teixeira a Wagner Alhadef; Francisco Tribuzi a Paulo Melo Souza. Recebe capa e ilustrações de Erico Junqueira Ayres e a seleção dos poemas fica a cargo de Celso Borges e Joaquim Haickel. Nauro Machado, no Caderno Alternativo, publica uma critica implacável à Antologia Guarnicê, que segundo ele, os poemas ali editados representavam “um simples ódio contra o sistema ou a vida”, com a média beirando a “entronização de um compromisso que se pretendendo político consegue apenas baratear a Arte como um produto também cultural”. Recomenda que os poetas se submetam à 26
LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003.
orientação de alguém experimentado. Não tarda a resposta, dada por Celso e Joaquim... No ano seguinte, a Antologia Erótica Guarnicê. No dizer de Roberto Kenard, o Guarnicê nunca chegou a ser um movimento. Era tão somente uma publicação. Lima (2003) 27 afirma que no vácuo do borbotão que fez brotar o Antroponáutico, surge o LABORARTE – Laboratório de Expressões Artísticas; 11 de outubro de 1972, pessoas envolvidas com dança, música, teatro, literatura e artes plásticas o criaram no sobrado de numero 42 da Rua Jansen Müller, onde está até hoje. Entre os inquilinos, Cesar Teixeira, Tácito Borralho, Josias Sobrinho, Saci Teleleu, Murilo Santos, Sergio Habibe, Regina Telles, Nelson Brito, Aldo Leite, e muitos outros. Em setembro de 1974, surge o jornal A Ilha, criado por Paulo Detoni, Luis Carlos Jatobá e João Gonzaga Ribeiro, circulando até abril de 1977. Entre seus redatores e colaboradores Fernando Moreira, Jomar Moraes, Cesar Teixeira, Clerton Araujo, Edson Vidigal, Cícero da Hora, Nonato Mota Coelho, Cosme Junior, José Chagas, Antonio Carlos Lima, Nilson Amorim, Josemar Pinheiro, Carlos Andrade, Gerd Pflueger, Roldão Lima e Rogério Araujo. Voltado para assuntos de literatura, cinema, turismo e artes plásticas. Os membros desses diversos movimentos são identificados, também, como a Geração Mimeógrafo, iniciada pelo poeta Ribamar Feitosa – natural de Parnaíba-PI -; com o nome de José Rimarvi publica, em 1969, o livro Planície quase minha, impresso no SIOGE. Em 1978, lança – em parceria com José Maria Medeiros – o livro Jo-Zé, datilografado em estêncil e rodado em mimeografo. Depois de alguns lançamentos nesse mesmo formato, e ao lado de poetas estudantes da UFMA, já em 1979, cria a revista Vivência, porta-estandarte do movimento Arte e Vivência, e como integrantes, além do próprio Feitosa, Celso Borges, Antonio José Gomes, José Maria Medeiros, Robson Coral, Rita de Cássia Oliveira, Nonato Pudim, Ivanhoé Leal, Luis Carlos Cintra, Euclides Moreira Neto, Cunha Santos Filho, Kiko Consulim. Também denominada Geração Mimeógrafo, e que integrou a última fase dos Párias. Ano - 92/93, uma das fotos para matéria do oitavo lançamento da revista 'Uns & Outros’, o "Oitavo Andar” 28.
Marcelo Chalvinski, Fernando Abreu, Garrone, Joe Rosa, de óculos escuros, Zé Maria Medeiros
Em 1984, Feitosa aparece nas páginas da revista Guarnicê... Em suas páginas, também aparece João Ewerton, manifestando suas inquietações sobre o futuro das artes plásticas: ele é o presidente da Associação Maranhense de Artes Plásticas, onde transitam, entre os anos 1970 e 1980, Nagy Lajos, Ambrósio Amorim, Dila, Jesus Santos, Antonio Almeida, Péricles Rocha, Lobato, A. Garcês, Rosilan Garrido, Luiz Carlos, Airton Marinho, Ciro Falcão, Fransoufer, Marlene Barros, Rogério Martins e Tercio Borralho, utilizando-se dos mais diversos espaços para suas exposições, como o Cenarte, da Fundação Cultural do Maranhão; Galeria do Beco, de Zelinda Lima e Violeta Parga; Solar Nazeu quadros, da UFMA; Centro de Arte Japiassu, criando em 1972 por Rosa 27 28
LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 Informações de Marcelo Chalvisnki, e de Paulo Melo, através de correspondência eletrônica, em 30/04/2014.
Mochel, Fátima Frota e Péricles Rocha; Galeria Eney Santana, ateliê de Nagy Lajos, e a galeria da Caixa Econômica Federal. Da geração de artistas que se firmam nos anos 80, Miguel Veiga, Paulo Cesar, Donato, Geraldo Reis, Fernando Mendonça, Cosme Martins, Marçal Athaide. Segundo Lima (2003), os cadernos de cultura, por essa época, ainda eram raros, embora São Luis estivesse vivendo um processo de ebulição cultural, com os seus teatros, músicos, artistas, poetas, escritores e movimentos literários. Mas, diz ele, entre as publicações e periódicos de São Luis, entre 1975 e 1980, circula o suplemento Sete Dias, no jornal O Estado do Maranhão, na coordenação Pergentino Holanda – estreara na poesia em 1972 com Existencial de agosto -, Antonio Carlos Lima e Carlos Andrade. Pelas folhas do tabloide passaram ainda José Cirilo Filho, Walter Rodrigues, Benito Neiva, Leonardo Monteiro, Ivan Sarney, Viegas Netto, Cunha Santos Filho, Evandro Sarney, Ligia Mazzeo, Carlos Cunha, Bernardo Tajra, Edison Vidigal, Dom Mota, Alex Brasil e Érico Junqueira Ayres. Américo Azevedo neto inaugura a coluna “Cartas a Daniel”, como destinatário Daniel de La Touche. Sete Dias circulava aos domingos, como caderno de entretenimento, com seções de literatura, crônicas, poesia e musica, além de cinema. Abre caminho para os chamados cadernos de cultura do jornal, surgindo já na década de 1980 o Caderno Alternativo. Nesses anos 1980, Josué Montello continua publicando um livro por ano e chega ao mercado literário da Europa; Lago Burnett, Francklin de Oliveira, José Louzeiro... Entre os mais fecundos, na poesia, estão José Chagas e Nauro Machado... Ubiratan Teixeira, Américo Azevedo, Benedito Buzar, Milson Coutinho, Nonnato Masson, Manuel Lopes, Joaquim Itapary, Chagas Val, Viriato Gaspar, Lenita Estrela de Sá, Elsior Coutinho, Jorge Nascimento, Francisco Tribuzi, João Alexandre Junior, Laura Amélia Damous, Alex Brasil, José Ewerton Neto, Ronaldo Costa Fernandes, Ariel Vieira de Moraes, Rossini Corrêa, Virginia Rayol, Herbert de Jesus Santos, Ivan Sarney e Raimundo Fontenele são outros nomes associados à produção literária dos anos 80 – alguns sob a tutela de planos editorais públicos, como o do SIOGE – conforme Lima (2013)29; e outros de maneira independente. Grande parte da produção intelectual maranhense é veiculada na revista Vagalume, editada por Alberico Carneiro. Lima (2003) faz outro registro importante do período: a coleção Documentos Maranhenses, da Academia Maranhense de Letras, idealizada por Jomar Moraes e com o apoio da ALUMAR. “Sr. Zaratustra, ligue para 227 1712. Assunto: entrevista”. “Zaratustra ligou!”. O pedido de entrevista era do Guarnicê, publicado em dois suplementos do jornal. Zaratustra escrevia aos domingos no Jornal Pequeno e provocava polemicas com suas criticas sobre o meio artístico maranhense. Era o homem sem face da imprensa local. “Ninguém falaria comigo se eu revelasse a identidade de Zaratustra [...] assim eu posso trabalhar tranquilo”. Vinte anos depois da entrevista, a identidade vem à tona: Euclides Moreira Neto revela que Zaratustra foi o médico Ivanildo Ewerton, ‘na maioria das vezes’. O próprio Euclides vestia a máscara, assim como a cenógrafa Nerine Lobão. Não devemos esquecer a “Akademia dos Párias”. Lima e Outros (2003) 30 confirmam que já em 1985 Celso Borges abrira uma janela na revista Guarnicê para a Akademia dos Párias, que contava em seus quadros com Fernando Abreu, Raimundo Garrone, Ademar Danilo, Sonia Jansen, Antonio Carlos Alvim, João Carlos Raposo, Paulinho Nó Cego, Guaracy Brito Junior, Ronaldo Reis, Gisa Goiabeira, Maristela Sena, Rozendo, Henrique Bóis, entre outros. “Bem vindos, los párias!”, os saudou Celso no lançamento da revista Uns e Outros, em 1984. Os Párias? - Perguntase Félix Lima, e responde que recebem influencias variadas: de Ferreira Gullar e Mário Quintana a Lobão e Caetano; de Whitman e Drummond a Leminski e Chacal; e ainda Angela Rôrô, Elomar, Bukovski, Poe, etc. Anunciam o novo e pregam o desregramento e o anti-academiscismo. “Nenhum de nós vai à missa aos domingos”, advertem31.
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LIMA, Félix Alberto. ALMANAQUE GUARNICÊ – 20 ANOS 1883-2003, São Luis, Clara; Guarnicê, 2003 LIMA, Félix Alberto, e Outros. ALMANAQUE GUARNICÊ 20 ANOS 1983-2003. São Luis: Clara; Guarnicê, 2003. 31 LIMA e Outros, 2003, obra citada.. 30
Durante todo o período de atividade da Akademia dos Párias, Marcelo Chalvisnki 32 assinava 'Marcelo Silveira': Só passei a assinar Marcello Chalvinski a partir do segundo livro de poemas "Temporal", lançado no ano de 2005. O 'Canto do Tunico' foi uma referência em entretenimento de bom gosto, à época que a nossa Praia Grande estava recém restaurada e era de fato um lindo cartão postal. O nome homenageava o grande Tunico Santos (mestre nas artes da cachaçaria e dono de uma famosa farmácia). Tunico é o pai da poetisa Lúcia Santos e doZeca Baleiro. O bar em questão era comandado por Aziz Junior e Samme Sraya Santos. O que eles fizeram naquele espaço era realmente uma coisa bonita de se ver. A revista Uns & Outros atrai discípulos e chega à marca de oito edições temáticas, com a ultima circulando em 1995.
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In Comentário no facebook em 14/03/2015, acerca de uma pergunta de Ricrdo Leão por que mudara de novo.
Ao mesmo tempo, 1985, surge o “Poeme-se” - que deu origem ao famoso sebo do José de Ribamar. Destacando-se além deste, Paulo Melo Sousa, juntando-se a eles: Luis Resende, Wilson Martins, Eduardo Julio, Elício Pacífico, Claudio Terças e Rosa Ewerton. Sua proposta, divulgada em poema-cartaz a partir de fotografia de Mobi, é desenvolver uma poesia social, “tentar fazer da poesia um instrumento de transformação ligado as realidade”, afirma Lima (2003) 33. Mais tarde, o grupo abre mão do engajamento social e parte para a divulgação de uma poesia livre em espaços alternativos:
Tínhamos um movimento em prol da Poesia. Eu [Ribamar Filho] e outros amigos. Reuníamo-nos, constantemente, aos fins de semana, pra discutir, planejar, ler, uns pros outros, nossos poemas. E aí tivemos a idéia de escolher um nome para o grupo. Cada um de nós ficou comprometido em sugerir um. E a minha sugestão foi: POEMESE. Pegou”… Ge-ni-al. Muito criativa, mesmo, essa performance do substantivo em verbo, assim, pronominalizado e nessa força imperativa. Mas, qual a intenção, a mensagem intrínseca do neologismo? “A idéia era exortar a todos a assumir a poesia, a ter uma atitude poética, vestir a camisa da poesia. E nós fazíamos isso, literalmente. Confeccionávamos (e vestíamos) camisetas, publicávamos posters, vendíamos cartões, divulgando a poesia. 33
LIMA e Outros, 2003, obra citada..
[...] Agora, falemos do POEME-SE. Como tudo aconteceu? “Até 1980, eu costumava freqüentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. E aquilo mexia comigo, sei lá… Mas quem me influenciou mesmo, de verdade, nesse ramo, foi Ribamar Feitosa. Em 1984, ele abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. Eu ia muito, comprar livros, no Sebo de Feitosa. Havia, também, nesse tempo, um jornal de publicação nacional, só sobre livros, o LEIA – que trouxe uma matéria extensa, a respeito de SEBOS, muito interessante. E eu fiquei com aquela idéia de botar um negócio desses, num local fechado e organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. Em 2001, adicionei, à livraria, um cybercafé. A parte de café decaiu e ficou só a Internet. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEME-SE ”34 O grupo extingue-se e Paulo Melo Sousa vai criar o “espaço” Papoético! Zeca Baleiro35, antes de partir para São Paulo em 1989, publica a revista Undegrau (1988), na linha do Guarnicê, “só que mais irreverente, sem anúncios ou textos oficiais”, informa Lima e Outros (2003) 36. Com Zeca estão: Henrique Bóis, Joãozinho Ribeiro, Sérgio Castellani, e Solange Bayma. A revista fica apenas em seu primeiro número; e teve a colaboração de Itamir, Geraldo Reis, Érico, Mondego, Garrone, Noberto Noleto, Josias Sobrinho, Paulo Melo Sousa, Celso Borges, Lúcia Santos, Francisco Tribuzi, Paulinho Nó Cego, Luis Pires, Marcelo Silveira, Paulinho Lopes, Ribamar Feitora, Emilio, Joe Rosa, Ramsés Ramos, e Edgar Rocha.
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CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/ , publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 35 Sobre o apelido de Zeca Baleiro: “Não sabe aquele teu xará (José de Ribamar Coelho Santos), de ARARI ? Chegava à universidade, no tempo de estudante, com os bolsos cheios de balas (balinhas de hortelã, de café, de chocolate…), degustando-as, distribuindo entre as garotas e pegou, também, um apelido engraçado, que hoje o identifica como a celebridade Zeca Baleiro! Viu como é o negócio? Tem apelidos carismáticos…”. In CORRÊA, Dinacy. GALERIA DE ANÔNIMOS ILUSTRES – José de Ribamar Silva Filho. In BLOG DA DINACY CORRÊA. Disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/, publicado em 30/05/2012, acessado em 10/09/2014. 36 LIMA e Outros, 2003, obra citada.
E esta outra geração (1990/2000...) que agora também exige com vigor seu lugar ao sol, começando com mais ou menos força sua obra, encontrando-se com outras, que hão de se encontrar com outras, sem que sejam necessariamente companheiros próximos ou que tenham a mesma origem, os mesmos fins, os mesmos meios, mas que são familiares às mesmas vozes e vivem mais ou menos as mesmas demandas socioculturais deste momento. Eclética, vai do telurismo existencial ao cosmopolitismo fragmentário, ou às neuroses íntimas e urbanoides. [...] Poetas, professores, artistas, ensaístas que surgiram em torno do Suplemento Literário Vagalume; em torno do bar do Adalberto; dos festivais de poesia falada ou do mundo acadêmico-universitário da UFMA, em torno das oficinas e recitais programados pelo poeta Paulo Melo; dos festivais do SESC; dos concursos da FUNC, em torno do Grupo Curare e do Carranca, que confluíram em riso na alegria dos domingos na casa do jornalista Gojoba e do abraço gentil de sua esposa, Dona Graça; em torno do Concurso de Poesia Nascentes, da USP; do Poiesis ou da Vida é uma festa: Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Natanílson Campos, Ricardo Leão, Dyl Pires, Antonio Aílton, Rosimary Rêgo, Jorgeana Braga, Geane Fiddan, José Neres, Dílson Junior, Mauro Cyro, Elias Rocha, Natinho Costa, Samarone Marinho, Jorge Leão, Danilo Araújo, Josualdo Rego, Reuben da Cunha Rocha, Bruno Azevedo, César Borralho, Mateus Gato e Daniel Blume, entre outros, e entre companheiros e companheiras que, não escrevendo, fizeram de sua companhia poesia pura.(In GUESA ERRANTE, 2012)37 Aparecem, assim, novos grupos organizados, como o caso do Poeisis, ao qual pertence Antônio Aílton, Bioque Mesito, e pelos poetas co-geracionais Danyllo Araújo, Geane Fiddan e Natinho Costa. Outros nomes que aguardam publicação, possuindo obras inéditas de grande relevo estético, são a poeta Jorgeana Braga (A casa do sentido vermelho, Sangrimê, Cerca Viva), Nilson Campos (o romance A Noite, além de contos e poemas), e a sensível poeta Rosemary Rego, com uma obra lírica surpreendente. Uma geração, afinal, não se faz somente de poetas publicados e, às vezes, alguns de seus melhores talentos estão entre aqueles inéditos em vida, como é o caso de vários exemplos, como o de Konstantinos Kaváfis, Emily Dickinson e Cesário Verde38. Sobre esse movimento, Antonio Aílton39 deu-me o seguinte depoimento: O “movimento Poesis” iniciou-se em 2006, a partir da iniciativa de Geane Lima Fiddan e do poeta Bioque Mesito, os quais convidaram Antonio Aílton, Rosimary Rego, Hagamenon de Jesus, Paulo Melo Sousa, Raimundo Nonato Costa (Natinho Costa), Daniel Falcão Bertoldo (músico), e Danilo Araújo, grupo que foi crescendo por convites a outros poetas, tais como José Couto Corrêa Filho e César Borralho (este na verdade mais como “participação” em alguns momentos), além de Graziella Stefani, que não escrevia, mas deveria fazer o marketing do grupo. A ideia era promover ações abrangentes de realizar projetos de incentivo à leitura, de criação e encontros literários e, sobretudo divulgação, unindo, nesta divulgação poesia e música erudita através de recitais em locais públicos e significativos de São Luís, com ideia de expansão para o interior do Estado. Foram montados grandes recitais públicos acompanhados de piano, violoncelo, percussão, violão, flauta, gaita, etc., sendo o mais marcantes na Praça Gonçalves Dias, na Escola de Música do Maranhão e no Teatro João do Vale40, o maior e mais importante deles41, o último 37
http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poesia-nos-400---os-cabos-de-guerra-da-poesia-da-sao-luiscontemporanea-4400.htm 38 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 39 SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico. 40 Geane Lima pode dar informações mais precisas sobre estes recitais, pois ela os organizou mais efetivamente e era quem dialogava com os músicos, sobretudo sobre questões financeiras. 41 Não lembro a data, mas tenho a filmagem. OBS: Da relação “Poiesis” em seu texto, não participaram Jorgeane Braga nem Natanílson Campos. Estes eram sim do CURARE. Também não me lembro de Mobi fazer parte desse grupo, ao menos com esse nome...
com direção da Cássia Pires. Foram feitas chamadas pela TV para esses recitais, e foram filmados [registro fílmico]. Receberam certo [e parco] patrocínio particular e público. Pela necessidade de receber patrocínios mais significativos, o que só seria possível como pessoa jurídica, foi criada a POIESIS – ASSOCIAÇÃO DE ESCRITORES, em 19/05/2006, totalmente legal, com registro civil de pessoa jurídica e estatuto próprio, com Antonio Aílton Santos Silva como presidente, Geane Lima Ferreira Fiddan como vice-presidente, Fábio Henrique Gomes Brito [Bioque Mesito] como primeiro secretário, Raimundo Nonato Costa e Rosemary como tesoureiros. Hagamenon e Paulo ficaram no Conselho Fiscal. Na verdade, após a criação da Associação seguiu-se apenas o que já estava programado, isto é, os recitais e organizou-se um projeto de “feira literária”, que não foi em frente porque se soube que a Prefeitura de São Luís começava a organizar a 1ª Felis, como ocorreu logo depois. Com a dispersão de muitos membros para estudos e saídas do estado, como foi o meu caso, a Associação ficou em latência, cada um realizando projetos individuais até o momento. Outro grupo que surge nessa época, o Grupo Carranca, capitaneado pelos poetas e escritores Mauro Ciro Falcão e Samarone Marinho, comparsas das atividades do Curare - e vice-versa. A partir de 2000, a existência dos dois grupos se encontra praticamente paralelas, e confundidas. Pertencentes a uma faixa geracional um pouco diferente – embora quase coeva –, os membros do Grupo Carranca aceitaram dividir seus espaços e iniciativas, durante algum tempo, com o Grupo Curare. Durante vários anos, as reuniões e encontros do Grupo Curare e Grupo Carranca aconteceram na casa do jornalista Gojoba, sempre com bastante aconchego e diversão. A participação de vários membros do antigo Curare consta das antologias de poemas e contos organizadas pelo grupo Carranca, que agitaram o cenário literário de São Luís entre 1999 e 2002. De lá para cá, os membros de ambos os grupos, agora identificados pelos laços comuns, com seus projetos e propostas definidos, trabalham para construir a identidade da nova literatura maranhense42. Antonio Aílton também se refere a esses grupos, Curare, e Carranca43: Em relação ao CURARE, é bom ressaltar que os diálogos, discussões e encontros informais - determinantes para o impulso e maturação da literatura de muitos de seus membros -, consolidaram uma amizade duradoura entre partes de seus membros, tanto que alguns consideram que um certo ‘espírito’ desse grupo não se extinguiu. O papel aglutinante desse grupo foi sempre do poeta Hagamenon de Jesus (junto com Antonio Aílton, Ricardo Leão, Dyl Pires, Bioque Mesito). Houve também uma confluência dessa amizade com membros do grupo Carranca (jovens e iniciantes poetas), o qual era encabeçado por Mauro Ciro e Elias Rocha, encontrando-se dominicalmente na residência do jornalista Gojoba, pai de Mauro Ciro. A principal contribuição do grupo (reduzido a um pequeno núcleo) foi ou tem sido, a meu ver, o incentivo e impulso para a busca de uma superior qualidade da produção (poética ou teórica), o incentivo ao crescimento e destaque de cada um – o que pode ser constado nas premiações recebidas pelos membros do grupos (ver relação dos concursos), as quais são motivos de alegria e discussão conjunta. Leão (2008) 44 – ao comentar os resultados dos concursos de 2007 da SECMA e do Concurso Literário “Cidade de São Luis”, afirma que todos estes novos talentos fazem parte, ao fim e ao cabo, de um mesmo grupo, a maior parte na mesma faixa geracional, outros em faixas diferentes, de poetas, escritores e intelectuais que, lutando por visibilidade e reconhecimento no cenário da literatura maranhense contemporânea: 42
LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm SILVA, Antonio Aílton Santos. DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico 44 LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses. O GUESA ERRANTE, edição de 23 de abril de 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 43
[...] já vêm trabalhando há pelo menos dez anos, quando não mais, no sentido de produzir uma obra capaz de continuar, com dignidade e competência, a tradição de literatura que o precede, com profundo respeito aos grandes autores maranhenses do passado, mas também com ousadia e inovações. Para Dyl Pires45, a geração de poetas dos anos 90 foi favorecida por algumas pessoas importantes, instituições que ofereciam editais e concursos para publicações, além de lugares onde todos se encontravam. Entre seus livros de formação, estão A Poesia Maranhense no Século 20 - Antologia (1994), organizado por Assis Brasil; o último número da revista publicada pela Academia dos Párias (8º Andar); O Circuito da Poesia Maranhense, livro organizado por Dilercy Adler; as antologias poéticas do Grupo Carranca; o Suplemento Vagalume, de Alberico Carneiro. As figuras do poeta Paulo Melo Sousa e Couto Corrêa Filho e suas respectivas bibliotecas serviram de espaço para que os poetas da Geração 90 tivessem acesso à variadas fontes literárias e também como espaço de encontro. “Couto abria sua casa para nos receber em sábados dionisíacos. Ali era a nossa Movelaria Guanabara”, lembrou. Ele destacou também a importância dos projetos de fomento à produção literária promovidos pela Fundação Municipal de Cultura, a Secretaria Estadual, o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas (SIOGE), entre outras instituições. Já Bioque Mesito46 reconheceu que a geração daquela época foi sendo valorizada quando passou a assinar prefácios de livros e a participar de suplementos literários. Ele ressaltou nomes de outros artistas fora da literatura que contribuíram para a formação da estética do trabalho deles, como o artista visual Binho Dushinka. Assumindo uma postura mais contemporânea, afirmou não ter influência da poesia de Nauro Machado e que nomes como Augusto Cassas, Morando Portela, Aberico Carneiro, Celso Borges, Chagas Val e Fontenelle foram mais importantes na sua formação como poeta. Estamos diante da GERAÇÃO 90, que tinha entre seus membros, além de Dyl Pires, Bioque Mesito e Sebastião Ribeiro, representantes do grupo de poetas daquela geração, nomes como Agamenon Almeida, Eduardo Júlio, Antônio Ailton, Ricardo Leão, Jorgeana Braga, Mauro Ciro, Lúcia Santos, Marco Polo Haickel, Natan, entre outros perdidos na lembrança. Em 1995, segundo Leão (2008) 47, surge o Grupo Curare com a promessa e a intenção de publicação de uma revista, infelizmente não concretizada, e da organização de eventos literários diversos, a fim de divulgar o surgimento de mais uma confraria de amigos, praticantes de uma poesia e literatura sérias, no sentido da constante busca de preparo e erudição, a fim de contribuir com a renovação dos quadros da literatura maranhense: Tratava-se, destarte, de um projeto pretensioso. Porém, não se produz arte literária, sobretudo dentro de uma tradição longa e respeitada como a maranhense, de modo impune e sem grandes pretensões, até mesmo alguma megalomania. É necessário, portanto, recapitular um pouco dessa história, antes que sejamos os únicos que ainda se lembrem dela. [...] O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, 45
ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 46 ESTÉTICA DA POESIA DOS ANOS 90 É DEBATIDA NA FEIRA DO LIVRO. São Luis, quinta-feira, 3 de outubro de 2013. Disponível em http://www.saoluis.ma.gov.br/frmNoticiaDetalhe.aspx?id_noticia=7254 47 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm
cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro. Ricardo Leão recorda que a ideia inicial de montar o grupo fora dele e de Dyl Pires, após um encontro ocorrido em 1995 na Biblioteca Pública Benedito Leite, no anexo aos fundos, onde se elaborou uma lista inicial de amigos e conhecidos comuns, constante de uns 25 nomes, entre os quais vários que já se vinham destacando em concursos locais e nacionais. O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Polo Haickel. O encontro havia, pois, acontecido. Como o projeto da revista naufragou após um tempo, faltou um evento que registrasse e existência do grupo (LEÃO, 2008). Antonio Aílton Santos Silva (2014) 48, um dos jovens literatos participe de diversos desses movimentos, em especial do Curare, deu um depoimento muito esclarecedor, ao pedir sua biobibliografia; transcrevo-a em parte - a integra está no devido lugar -, pois muito diz sobre como funcionavam esses movimentos, ou grupos, e esclarece muitos pontos. Vamos aos “FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS”: As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. [...] Apague-se certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). [...] Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA [...] O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. [...] Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?... [...] Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, [...] além da jovem poeta Rosemary Rego. [...] Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta 48
SILVA, Antonio Aílton Santos. FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS DEPOIMENTO dado a Leopoldo Gil Dulcio Vaz, em 27 de abril de 2014, via correio eletrônico.
ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais. Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996). [...] O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este, sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/ UFMA/ Academia Maranhense de Letras. O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002). [...] Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007.
Dilercy Adler (1995) 49 organiza a antologia (a primeira) Circuito de Poesia Maranhense – 100 poemas, 61 autores, contando com a colaboração de José Chagas, Arlete Machado, Alberico Carneiro, Laura Amélia Damous, Luis Augusto Cassas, Paulo M. Sousa, Leda Nascimento, e do grande homenageado, Nauro Machado; as fotos foram de Edgar Rocha. O objetivo era mostrar a produção maranhense de poesias durante a 47ª Reunião Anual da SBPC, realizada em São Luis. Logo a seguir, 1998, começa a organizar as antologias da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão, Latinidade50. A SCL-MA tem em sua diretoria, além da Dilercy (presidente), Ana Maria Costa Felix (vice), Roberto Mauro Gurgel Rocha (1º Secretario); Cesar Maranhão (2º Secretário); José Rafael Oliveira (Tesoureiro), e Paulo Melo Sousa (Diretor Cultural). A SCL foi fundada em 1909 na Itália; em 1942, a segunda, em Portugal; o Brasil foi o terceiro país a recebêla, pelo final dos anos 70, fundada por Joaquim Duarte Batista; no Maranhão foi criada em 25 de junho de 1997, no Palácio Cristo Rei. No ano seguinte, sai a sua primeira coletânea; com periodicidade de dois anos. Foi até a quarta edição, em 200451. Atualmente, Dilercy dirige a SCLBrasil, desde 2013, quando do Projeto Gonçalves Dias; a seccional do Maranhão está se reestruturando, já que ela não pode acumular as funções... Em 1996, é publicada uma antologia de jovens poetas - posteriormente chamada Safra 90, que consagrou um bom número dos que faziam parte da configuração original do grupo Curare: Antônio Aílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito), Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos), Ricardo Leão (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros: [...] Entretanto, não foi inteiramente um sucesso, pois a antologia surgiu com a proposta de divulgar a jovem poesia de todo o Estado; embora o pessoal do grupo Curare fosse a maioria, a antologia não estava atrelada à existência de um grupo, pois havia outros antologiados que não comungavam de ideias comuns e mesmo pertenciam a faixas geracionais diferentes, como o caso de Ribamar Filho, o “Riba” do sebo Poeme-se, ex-integrante da Akademia dos Párias. 52 As propostas do Grupo Curare são efetivadas em um evento, no inicio de 1998, quando surge a ideia de uma exposição e recital, intitulada Sygnos.doc, acontecida no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. Esta exposição absorveu muitos esforços, consumindo muito tempo, nervosismo e paciência. O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego53.
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ADLER, Dilercy Aragão. CIRCUITO DE POESIA MARANHENSE. São Luis: UNICEUMA, 1995 ADLER, Dilercy (Organizadora). I COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 1998. 51 ADLER, Dilercy (Organizadora). II COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2000. ADLER, Dilercy (Organizadora). III COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2002. ADLER, Dilercy (Organizadora) IV COLETANEA POETICA DA SOCIEDADE DE CULTURA LATINA DO MARANHÃO. São Luis: Produções, 2004. 52 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 53 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 50
ESTADO DO ESTADO DO ESTADO DO ESTADO DO
Alberico Carneiro54 tem uma grande contribuição, com o seu Suplemento Literário do Jornal Pequeno: O Guesa Errante55. Vem publicando sistematicamente antologias dos novos poetas. Desde 2002, seus anuários retratam não só o panorama da literatura brasileira, e em especial a maranhense, como dá oportunidade aos novos autores: Um anuário cultural e literário não é tão só um documento de resgate, frio e estanque. Mais que isso é o registro de invenções ficcionais de poéticas de várias linguagens que incluem desde o poema, a prosa e passa pela música, o cinema, o teatro, o folclore, o artesanato e as artes plásticas em geral. [...] É a celebração de um acontecimento raro no panorama da literatura maranhense nos dias atuais [...] Anuário é a biografia e a autobiografia de um raro sobrevivente no mundo das Letras da Atenas Brasileira, o Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. É um marco do aniversário da poesia em festa e em estado de graça que, em sua força emotiva, nos comove e emociona através das linguagens verbal (do poema, do conto, do romance, do ensaio, da crítica) e não verbal (das artes plásticas, da música, dos semáforos, dos sinais de comunicação gestual e do que há de corpográfico na dança, no teatro, no cinema e no dia-a-dia do Universo. [...] A publicação dos Anuários serve também para constatar que a linha editorial do Suplemento não contempla exclusivamente os artistas consagrados, pois dá destaque aos novos, inclusive aos quase desconhecidos e aos desconhecidos, desde que suas produções apresentem valor no processo evolutivo da criação literária maranhense.56 Também de 2002 é o movimento denominado Poesia Maloqueirista, nascida em São Paulo, do encontro de poetas que veiculavam seus libretos pelas ruas, de identidade mambembe; atualmente, na era digital, o coletivo reforça tais elementos com uma posição artística multifacetada, que mantém a poesia como base de linguagem, porém abrindo o campo de criação e troca de experiências, desenvolvendo saraus, oficinas, publicando livros, promovendo intervenções performáticas e eventos multimídias. Convidados para se integrar ao grupo, os maranhenses Celso Borges, Reuben da Cunha Rocha, Josoaldo Lima Rego, além do cantor Marcos Magah, que participam de uma antologia organizada neste ano de 201457. A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Maranhão – SOBRAMES-MA – lança, em 2003, sua primeira antologia: Arte de Ser. Cinco anos depois, 2009, aparece a sua segunda – Receita poética58. EM 2011, É REALIZADA A EXPOSIÇÃO TREZEATRAVÉSTREZE59, de poesia e artes plásticas com 26 artistas (13 poetas + 13 artistas plásticos) que dialogam entre si, direta ou indiretamente, 54
ALBERICO CARNEIRO - Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento Cultural e Literário do JORNAL PEQUENO. Admirável poeta e professor nasceu em Primeira Cruz, no dia 15 de maio de 1945, e viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado. In http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/alberico_carneiro.html 55 Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/ 56 http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/24/Pagina17.htm 57 Jornal O ESTADO DO MARANHÃO. LEITURAS DE UMA NOVA LITERATURA MARANHENSE. Caderno Alternativo, São Luis, 13 de março de 2014, p.1. 58 HERBERT, Michel (Organizador). RECEITA POÉTICA – antologia. São Luis: Lithograf, 2009
apresentando um painel de escritores e pintores maranhenses de um período que cobre os últimos 30 anos: final do século 20 e início do 21. Versos de 13 poetas atravessando os traços de 13 artistas plásticos, poética plástica que vem ocupando salões, galerias e livrarias do Maranhão e do Brasil. A produção é da Galeria HUM e da revista cultural Pitomba! “Poesia não é só poesia e nunca apenas poesia, mas diálogo e atrito com outras formas de expressão”. TrezeAtravésTreze é um exercício, uma possibilidade de aproximação entre artistas maranhenses que nas últimas três décadas se destacam na literatura e nas artes visuais”, diz Celso Borges. Poetas: Antonio Ailton | Celso Borges | Couto Correa Filho | Diego Menezes Dourado | Dyl Pires | Eduardo Júlio | Fernando Abreu | Jorgeana Braga | Josoaldo Rego | Lúcia Santos | Luís Inácio | Paulo Melo Souza | Reuben da Cunha Rocha; Artistas Plásticos: Almir Costa | Ana Borges | Claudio Costa | Cosme Martins | Ednilson Costa | Edson Mondego | Fernando Mendonça | Marçal Athayde | Marlene Barros| Ton Bezerra| Roberto Lameiras | Paulo Cesar | Victor Rego Dilercy Adler e Leopoldo Gil Dulcio Vaz organizam a Antologia “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” 60, em 2013, após quase três anos de intenso trabalho. Obra em dois volumes, contendo, o primeiro, 999 poemas em homenagem ao Poeta Caxiense, e o segundo, o poema: “Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia”, de Alberico Carneiro61, completando mil poemas. Ainda, um terceiro volume, coletânea sobre a vida e obra de Antonio Gonçalves Dias, reunindo 46 pesquisadores62. E um quarto volume...63 A Antologia Mil poemas para Gonçalves Dias é a quarta organizada nesse sentido, em todo o mundo. Reuniu poetas do: Brasil, Chile, Peru, Uruguai, Portugal, Equador, México, Canadá, Panamá, Japão, e de Moçambique; dos Estados Unidos América; da Argentina, Bolívia, Venezuela, Espanha, França, Bélgica e Áustria. Do Brasil, diversos estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Paraíba, Goiás, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Distrito Federal, Paraná, Piauí, Sergipe, Alagoas, Santa Catarina, Mato Grosso, Rondônia, Pará, Espírito Santo, Rio Grande do Norte. Do Maranhão, a cidade de São Luís foi representada por 89 poetas, seguida de Caxias, Esperantinópolis, Guimarães, São Bento, Sambaíba, Carolina, Balsas, Palmeirândia, Pinheiro, Pedreiras, São Vicente Férrer, Vitória do Mearim, Codó, Paraibano, Turiaçu, Lago da Pedra, Coroatá, Pio XII, Dom Pedro, Cururupu, Presidente Dutra, São Francisco do Maranhão, ItapecuruMirim, Viana, Barra do Corda, Vargem Grande, São João Batista, São Bernardo, Barão do Grajaú. Há outros participantes sem identificação de país e/ou estado brasileiro. De acordo com Teixeira (2014) 64, um novo grupo se forma: “Marcha pela poesia”, movimento que nasceu numa dessas redes sociais que circulam pela Internet. Vem se reunindo no Centro de 59
http://ponteaereasl.wordpress.com/2011/12/13/exposicao-de-poesia-e-artes-plasticas-reune-26-artistas-nagaleria-hum/ 60 ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1a_-_parte_1; http://issuu.com/leovaz/docs/mil_poemas1b_-_parte_2; 61 CARNEIRO, Alberico. Ilha do Amor – Gonçalves Dias e Ana Amélia. in ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. MIL MPOEMAS PARA GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/livro_alberico_1_ 62 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio; ADLER, Dilercy Aragão. SOBRE GONÇALVES DIAS. São Luis: EDUFMA; IHGM, 2013. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/sobre_gd2a_1; 63 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO. “Estava eu no meu canto, saboreando o ‘dulce far niente’ pós ressaca das correrias dos últimos seis meses dedicados integralmente ao Projeto Gonçalves Dias – não conto o ano e alguns meses anteriores a 2013... Quando a Dilercy manda mensagem: Combinamos produzir um ‘Diário de Viagem’. Depois lhe falo melhor do Projeto, combinamos no ônibus. Mas, de um modo geral, é escrever sobre a participação e impressão no/do evento. [...]. O nome proposto é: “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS: diário de viagem.” In ADLER, Dilercy Aragão; VAZ, Leopoldo Gil Dulcio (Organizadores) “MIL POEMAS PARA GONÇALVES DIAS” - DIÁRIO DE VIAGEM. São Luis, 2014, no prelo. 64 TEIXEIRA, Ubiratan. HOJE É DIA DE... POETAS SE REUNEM NO “ODYLO”. O ESTADO DO MARANHÃO, São Luis, 25 de março de 2014, sexta-feira. Caderno Alternativo, p. 8, disponível em http://imirante.globo.com/oestadoma/noticias/2014/04/25/pagina266627.asp, : Rapazes e moças que formam o grupo maranhense "Marcha pela Poesia" estarão se reunindo hoje no Centro de Criatividade Odylo Costa, filho para escutar mais um luminar de nossa história literária, desta vez a poetisa, cronista e contista Arlete Nogueira da
Criatividade “Odylo Costa, filho”. O autor da matéria não fala quem são os seus membros, mas trata-se de jovens com idade entre 25 e 30 anos, já com uma vasta produção divulgada através dos meios digitais, que já podem compor uma coletânea. E tem-se conhecimento de um “Catálogo dos Cafés Literários do Odylo”, sendo organizado por Ceres Fernandes, dos quatro anos de palestras, debates, entrevistas e mesas redondas, 30 cafés, que será editado por Jomar Moraes. Certamente será mais um documento de atividades literárias realizadas em São Luís65... Quando da constituição da ALL, o Membro Fundador Wilson Pires Ferro, juntamente com a Confreira Ana Luíza Almeida Ferro constituíram comissão para elaborar uma lista de literatos para comporem o quadro de Patronos das Cadeiras a serem fundadas: “SUGESTÕES DE NOMES PARA COMPOREM O QUADRO DE PATRONOS DE CADEIRAS (1 A 40) DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS (ALL)” 66. ELABORAM DOIS QUADROS: NASCIDOS EM SÃO LUIS – LUDOVICENSES; E LITERATOS NÃO-LUDOVICENSES, MAS QUE TIVERAM SUA OBRA LIGADA À CIDADE E/OU AO MARANHÃO, CONSIDERANDO DOS MAIS ANTIGOS AOS CONTEMPORÂNEOS, TODOS FALECIDOS. FORAM ACRESCIDOS na lista de nomes de patronos disponíveis para votação, mais 03 (três) nomes: José Ribamar Sousa Reis, Erasmo Dias; e Dom Luis Raimundo da Silva Brito. ALGUMAS PONDERAÇÕES: 1) NA ESCOLHA DOS PATRONOS, PRIORIZAR OS VULTOS LITERÁRIOS NASCIDOS EM SÃO LUÍS (NA PROPORÇÃO DE 50% NA COMPOSIÇÃO DA ALL), SEM, CLARO, IGNORAR OS NOTÁVEIS NASCIDOS NO ESTADO DO MARANHÃO E EM OUTROS ESTADOS QUE TENHAM HONRADO SÃO LUÍS. 2) FAZER CONSTAR DA RELAÇÃO DE PATRONOS AQUELE QUE FOI O EMITENTE DA CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE SÃO LUÍS: CLAUDE D’ABBEVILLE E, SE POSSÍVEL, TAMBÉM YVES D’ÉVREUX. Por votação, foram escolhidos como Patronos: LUDOVICENSES: 01) MANUEL ODORICO MENDES; 02) FRANCISCO SOTERO DOS REIS; 03) MARIA FIRMINA DOS REIS; 04) ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO; 05) ALUÍSIO TANCREDO GONÇALVES DE AZEVEDO; 06) RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA; 07) JOSÉ PEREIRA DA GRAÇA ARANHA; 08) JOSÉ RIBEIRO DO AMARAL; 09) ANTÔNIO BATISTA BARBOSA DE GODOIS; 10) MÁRIO MARTINS MEIRELES; 11) MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES ABOUD; 12) DAGMAR DESTÊRRO E SILVA; 13) JOSUÉ DE SOUZA MONTELLO; 14) JOÃO DUNSHEE DE ABRANCHES MOURA; 15) ODYLO COSTA, FILHO; 16) LAURA ROSA; 17) JOSÉ TRIBUZI PINHEIRO GOMES (BANDEIRA TRIBUZI); 18) DOMINGOS VIEIRA FILHO; 19) CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA; 20) CATULO DA PAIXÃO CEARENSE; NÃO LUDOVICENSES: 21) CLAUDE D’ABBEVILLE (FRANÇA); 22) PE. ANTÔNIO VIEIRA (PORTUGAL); 23) JOÃO FRANCISCO LISBOA (PIRAPEMAS); 24) ANTÔNIO GONÇALVES DIAS (CAXIAS); 25) JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE (SOUSÂNDRADE) (GUIMARÃES); 26) ANTÔNIO HENRIQUES LEAL (CANTANHEDE); 27) CÂNDIDO MENDES DE ALMEIDA (BREJO DOS ANAPURUS); 28) CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES (VIANA); 29) HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETO (CAXIAS); 30) MANUEL FRANCISCO PACHECO (FRAN PACHECO) (PORTUGAL); 31) JOSÉ AMÉRICO OLÍMPIO CAVALCANTE DOS ALBUQUERQUES MARANHÃO SOBRINHO (BARRA DO CORDA); 32) DOMINGOS QUADROS BARBOSA ÁLVARES (SÃO BENTO); 33) MANUEL VIRIATO CORRÊA BAIMA DO LAGO FILHO (PIRAPEMAS); 34) RAIMUNDO CORRÊA DE ARAÚJO (PEDREIRAS); 35) HUMBERTO DE CAMPOS VERAS (MIRITIBA); 36) JOÃO MIGUEL MOHANA (BACABAL); Cruz Machado e debaterem com a convidada aspectos importantes da cultura literária maranhense, sobretudo aqueles que forem destacados por Arlete ao longo de sua conversa. 65 FERNANDES, Ceres. Correspondência pessoal. Em 11 de março de 2014. Via correio eletrônico. 66 ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS – ALL. Livro de Atas. ATA DE REUNIÃO no. 03/2013 - 05 de outubro de 2013 ATA DA REUNIÃO DA ACADEMIA LUDOVICENSE DE LETRAS, realizada no dia 05 de outubro de 2013, na Sala de Multimídias do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho.
37) LUCY DE JESUS TEIXEIRA (CAXIAS); 38) MARIA DE LOURDES ARGOLLO OLIVER (DILÚ MELLO) (VIANA); 39) ASTOLFO HENRIQUE DE BARROS SERRA (MATINHA); 40) José Ribamar Sousa dos Reis. Para o Plano desta Antologia da Academia Ludovicense de Letras, serão incluídos os Patronos – ludovicenses ou não – e junto, os respectivos Fundadores de cada uma das 40 (quarenta) Cadeiras. A seguir, e em homenagem à participação feminina na construção da literatura ludovicense, estas estarão incluídas numa segunda sessão, caso não estejam, já, contempladas na primeira; por fim, os literatos... Buscamos a justificativa em destacar a presença feminina em Silva (2009) 67, que afirma: ao longo dos cem anos de existência da Academia Maranhense de Letras, dos cento e quarenta e dois (142) membros, apenas oito (8) são mulheres. São elas: Laura Rosa, Mariana Luz, Dagmar Desterro, Conceição Aboud, Lucy Teixeira, Ceres Costa Fernandes, Laura Amélia Damous e Sônia Almeida. Corrêa e Pinto (2011) 68, ao lançarem olhar sobre a poesia maranhense contemporânea de autoria feminina - a safra poética das últimas décadas do século XX, a partir dos anos 80 -, identificam: Laura Amélia Damous, Dilercy Adler, Rita de Cássia Oliveira, Rosemary Rego, Geanne Fiddan, Andréa Leite Costa e Henriqueta Evangeline. E como as Cadeiras estão ordenadas cronologicamente, dos mais antigos aos mais novos, não há necessidade de enquadramento a uma das fases, ou geração – acima já identificadas...
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SILVA, RENATO KERLY MARQUES. ACADEMIA MARANHENSE DE LETRAS: Produção literária e reconhecimento de Escritoras maranhenses. Dissertação de mestrado. Ufma, 2009. Disponivel em http://www.ppgcsoc.ufma.br/index.php?option=com_docman&task... 68 CORRÊA, Dinacy Mendonça; PINTO, Anderson Roberto Corrêa. POETISAS MARANHENSES CONTEMPORÂNEAS. Revista Garrafa 23, janeiro-abril 2011. Condensação/adaptação de “Teares da Literatura Maranhense: poetisas contemporâneas”. Relatório Final do Projeto de Iniciação Científica BIC-Uema/Fapema-2008/09 de Anderson Roberto Corrêa Pinto, bolsista/orientando da Professora Dinacy Mendonça Corrêa (Projeto TEARES DA LITERATURA MARANHENSE. Núcleo de Estudos Linguísticos e Literários. Curso de Letras/Cecen/Uema.
ANTONIO CARLOS ALVIM
09 de setembro de 1963. Bacharel em Direito pela UFMA. Estreou no Festival de Poesia Falada da UFMA, ganhando o premio de melhor interpetre. Participou como conferencista de festividades comemorativas dos 15 anos da UEMA, sobre a vida de Ferreira Gullar. Em 1982, ganhou menção honrosa no concurso de Poesia de Araraquara (SP). Em 1984 fundou a Academia dos Párias que, a partir daquele ano, iniciou a publicação da revista Uns e Outros. Em 1985, começa a parceria musical com Célia Leite, com quem compõem Reino, Viagem a Moscou, Tarrafa d´alma, dentre outros. Em 1987 é classificvado com Pássaro dos lençóis no 7º Festival de Poesia falada. Em 1988, produz artesanalmente seu primeiro livro, chamado Andares. Em 1989 é premiado nacionalmente no Concurso de Poesia da revista Brasília. GÊMEOS (a Fernando Pessoa) Roça na cidade o mar Como se roçasse em mim E fossemos (eu e a cidade) Gêmeos de concreto e vitirnes. (O mar é sal e águas E o fazemos lembranças, belezas e morte). Roça em mim a palavra do poeta Como se fossemos gêmeos de silêncio, Aflição e calma. Vamos de encontro ao linho das horas, Cortando-nos E perdendo E erigindo pedaços nos ossos. O que somos é ilusão Que se constrói sobre a pele. Em nós só restam de eterno As impressões deste mar Como um ente líquido e suave Que ordena a eterna beleza Das rosas sobre a terra. Poeta, Só com aquele sangue Que redescobre todo tempo suas veias, Percorrendo as minhas, Conseguiria acasalar teu sonho No meu peito. Onde todas as coisas são animadas: Os cabelos que te fascinam para um amor sofrido.
É nosso sonho construir tecido novo Sobre o peito, buscar em pânico este tecido. Digo, Longe da poesia: - o sexo é que é essencial. O amor é só um acidente. Portanto não malogrado PR mãos de comando. Quero esquecer este poeta feito de alma E que sofreu por corpo, Por ser gêmeo como sou, Não de uma cidade, Mas de um corpo outro, Masculino como o seu
NOVOS POETAS DO MARANHÃO. São Luís: Edições UFMA, 1981. 79 p cm. Ex. bibl. Antonio Miranda HORAS DE UM POETA 0 poeta senta, discursa sobre a alma e num corte escreve sua vida sobre o resto do tempo comprimido nessas poucas horas. 0 vento trabalha entre as colunas (como generais elas calam) As pálpebras dos olhos fingem as idades. Inquieto o poeta hasteia um sorriso nas colunas Um sorriso forçado em colunas forçadas Relembra a oração que saiu de tua boca: amor. E diz que o amor deixa para sempre as manchas no pulmão. Confuso, o poeta cruza as pernas sobre o mundo, os espelhos, os cristais E o cimento do chão que agora pisa. Tu sopras a fumaça na boca do poeta. Ele sofre, Mas te tosse um sorriso. Hoje o cruzeiro cai E as colunas firmes continuam. 0 poeta levanta, Fecha o caderno; Põe debaixo do braço seus segredos
ilus 15 x 22
E sua vida (açoitada pela língua humana). 0 poeta anda. Dando passos como um homem qualquer, Passa pelas colunas e Irreverentemente Não dá continência. NADA É POR ACASO Por Zema Ribeiro - 17 de setembro de 2019 https://farofafa.cartacapital.com.br/2019/09/17/nada-e-por-acaso/
O poeta Antonio Carlos Alvim. Foto: Eduardo Júlio Floresta de signos. Capa. Reprodução
Para certas coisas não há tempo certo, acontecem quando e como têm que acontecer. Nada explica o, até aqui, ineditismo em livro do poeta Antonio Carlos Alvim, um dos mais talentosos de sua geração, a Akademia dos Párias que agitou a cena da ilha de São Luís, capital do estado do Maranhão, que tirou a gravata da poesia e transpôs as barreiras entre as academias de (belas) letras e os bares, verdadeiro lugar da poesia – lugar de poesia é na calçada, ave, Sérgio Sampaio! Talvez Alvim tenha se ocupado de coisas mais úteis – o que é bom para o lixo é bom para a poesia, ave, Manoel de Barros! –, mais pragmáticas, ganhar a vida, o “fazer medicina ou direito, que dá dinheiro”, a eterna recomendação de pais que t/r/emem ao saber da inclinação dos filhos para a poesia, mas isto tudo é pura especulação, que escrevo durante a leitura vertiginosa de “Floresta de signos” [Penalux, 2019, 60 p.], que é impossível folhear impunemente – e faço-o sem conversar com ele. O fato é que a poesia de Alvim é exatamente o que diz o título deste seu primeiro livro, pelo qual nos conduz com rara habilidade, cumprimentando cada habitante/signo desta floresta de referências. O primeiro bloco de poemas, os seis passos de “Andares em Alcântara”, alia tradições do lugar, em conversa franca, bem-humorada mas não despreocupada dos rumos da cidade, com personagens desconhecidos ou menos conhecidos: os poetas Tulio Beleza e Franco de Sá, o médico e botânico George Gardner, o escritor (e professor de biologia) Wilson Cerveira (autor de “O drama de Alcântara”, citado no “Segundo passo”) e Walt Whitman, poeta de sua predileção, não à toa autor da epígrafe do volume. É sintomático que no Brasil em que a História se repete como tragédia E como farsa, em 2019, quando o País torna a ser governado por um ditador, alçado a esta condição pela via democrática,
ironia das ironias, poemas escritos durante o apagar das luzes da ditadura instalada com o golpe de 1964, permaneçam atuais. “Andares em Alcântara” já anunciava, no final, mudanças nos toques das caixeiras do Divino (a tradição se adaptando à modernidade?), com a cidade agora em uma nova encruzilhada com o patriotismo para boi dormir de Jair Bolsonaro entregando tudo de bandeja – não a que serve licores e doces de espécie – aos interesses estadunidenses. O tema reaparece mais escancaradamente em “Unção particular”, “em que mísseis apodrecem no teu canto/ e toda luta vale pouco ou quase nada”. No livro não está identificada a cronologia dos poemas. Só quem já conhecia sua obra, de circulação restrita entre amigos e publicações esparsas, como um livreto citado por Fernando Abreu na apresentação e nas edições da revista “Uns & Outros” – reunidos no livro “A poesia atravessa a rua”, que celebrou os 30 anos de atividades da Akademia dos Párias – poderá dizê-lo. “Aço dos laços”, por exemplo, se reflete no “ninguém solta a mão de ninguém”, slogan de resistência destes tristes tempos: “Abraçar os fracos/ e transformá-los em mãos/ que se entrelaçam”. Não é um livro eminentemente político, mas não foge à luta: conversa de igual para igual com poetas de sua predileção (Fernando Pessoa, o tio Ferreira Gullar), aborda a própria demora do autor em publicar um livro e sua própria relação com a poesia, por exemplo em “Demora definida”: “a poesia em mim/ sendo o que me minta/ escreve-se assim/ poesia até o fim”, arremata. Em “Amor tapuia” Alcântara e a insubmissão aos opressores – ave, Paulo Freire! – tornam à baila: “Por ti lembro/ do revolucionário índio Amaro/ amando em Alcântara/ de cabelos compridos/ cumprindo sua sina/ de viver pra cima/ e nunca em cima/ do muro”. “Penetração” brada contra preconceitos contra a população LGBTQI+ ao cantar “a ânsia da maravilha do mundo: os homens que se penetram”. “Tenho em mãos um livro para os vivos”, afirma a poeta Adriana Gama de Araújo na orelha, no exercício de imaginar a opinião do beat Lawrence Ferlinghetti, caso lesse esta estreia (tardia?) de Antonio Carlos Alvim. Caretas e reaças estão mortos, só não foram enterrados (ainda). Nada é por acaso e certamente por isso mesmo somente agora Antonio Carlos Alvim resolveu encarar a missão de ser nosso guia por este “Floresta de signos”, travessia que ninguém faz impunemente: “insurgente e instigante” são os adjetivos que intitulam a apresentação de Fernando Abreu para o livro. Ouso acrescentar, sobre a poesia de Alvim: necessária. Serviço Antonio Carlos Alvim autografa Floresta de signos neste sábado (21), às 16h, no Café Guará/ Chico Discos (esquina das ruas de São João e Afogados, Centro).
BIOQUE MESITO 69
FÁBIO HENRIQUE GOMES BRITO Safra 90 Bioque Mesito é poeta, nascido sob o sol de aquário em 3 de fevereiro de 1972, em São Luís-MA. Possui vários prêmios em concursos de poesia em âmbito local, regional e nacional. É autor dos livros de poesia A inconstante órbita dos extremos (Editora Cone Sul-SP, 2001), A anticópia dos placebos existenciais (Edfunc-MA, 2008) e A desordem das coisas naturais (Editora Penalux-SP, 2018). http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/bioque_mesito.html Quando Fábio Henrique Gomes Brito resolveu separar e depois juntar letras finais de seu nome de batismo, veio à luz o pseudônimo de Bioque Mesito, o autor de A inconstante Órbita dos Extremos (2001) e A Anticópia dos Placebos Existenciais (2008), ambas obras premiadas em concursos literários.
mãos as mãos sobre o papel como se fora um barco o papel mas na verdade um branco que dói as mãos sobre o papel como se esperassem um sonho nascer mas na verdade é um sino que nasce as mãos sobre o papel como que derrotadas por hoje mas na verdade a derrota não houve as mãos sobre o papel como se não tivessem nada a fazer a vida inteira mas na verdade o tempo não importa Bioque Mesito (poemas extraídos do livro A Anticópia dos placebos existenciais, Ed. Fun-2008)
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Leia mais: http://joseneres.blogspot.com/2009/05/bioque-mesito.html#ixzz33bYbQ0Vj COSTA, José R. Neres. POETAS DE HOJE: BIOQUE MESITO. In GUESA ERRANTE, 24 de junho de 2009, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2009/7/6/Pagina1151.htm
CAMPANÁRIO acordo com os beijos de minha mulher sobre meu peito pedindo indelicadezas a página cinquenta e cinco de kenzaburo oe trespassa minha alucinação neste instante-pássaro o dia começa pela bunda dela despida que me sugere continuarmos na cama até mais tarde no youtube charlie parker adoça meu café entre as pernas dela
quando estava lá pediu que eu parasse que seguiria ao closet fechou a porta apagou as luzes de repente surgiu todinha nua maluquice da minha mulher tatuar um buda em sua xoxota
ESCAPULÁRIO penduro roupas velhas no terraço de casa a manhã nem bem começou ainda com doze reais e vinte e cinco centavos o bolso contrasta com a geladeira vazia no meu mapa-múndi não existe infelicidade há muito deixei de pensar nesta existência os filmes dos irmãos coen contribuem para que eu possa encontrar minha paz uma inquietante dúvida me persegue estou no avesso dos que não amam estátua pálida esperando por visita no sol quente atravesso a rua pensando que tudo tem uma necessidade de ser um pé de cactos cresce em minha janela
DOCS 1) naquele elevador entre contratos cópias livros uma mulher de saia marrom e sobrancelhas graúdas me pediu uma flor acabei lhe dando múltiplos espinhos era meu amor 2) um beijo roubado foi o estopim nem mesmo a chuva nos separava aos domingos seus seios eram um banquete para meus lábios aos poucos fui sentindo o cheiro de seu sexo entre meus dedos 3) estávamos apaixonados 4) mas uma outra mulher atravessou nosso caminho acertando meus olhos boca sexo meu amor foi ficando cada vez distante 5) marcamos nosso casamento entre raios e trovões 6) éramos felizes e a rotina apenas um nome esquecido na estante da biblioteca 7) mas vieram contas brigas ciúmes 8) certa noite me jogou todos os demônios possíveis resolvi desistir na manhã seguinte arrumei a mala partindo para o inesperado 9) essa estória não deveria ser como os personagens de Almodóvar 10) minhas asas não sabiam que rumo seguir se eu tentasse me colocar acima do que imagino ser minha vontade acabaria por me despedaçar as crianças vão crescer e entenderão todos esses sins e nãos 11) estamos ficando velhos fincados em um mundo que muito nos roubou um dia olharemos para trás 12) a mulher daquele elevador vazio nunca deixará de habitar meus primitivos desejos repousando sempre em meus profundos sonhos 13) por enquanto tento viver
ANTI às vezes o tempo alucina parte de minhas vértebras conheço mais beijos selvagens que suaves segredos a noite pousa na braguilha das fêmeas famintas só há um norte para libido um pássaro que não quer partir do rigoroso inverno me compreende mais que tudo
ETERNIDADE MÍNIMA estou cego e a coleção completa dos filmes de lars von trier ainda não assisti o gato que antes passeava pela minha imaginação agora só dorme no tapete entre todos estes combalidos anos não encontrei o lado b da vida que consiga me causar espantos ou a mulher de beijos estonteantes que me faça negar meus pedros estou cego e a felicidade é só mais um lúdico cartaz os fantasmas que nunca ousei encarar riem das minhas fotos de casamento amigos me culpam pelo crasso silêncio mesmo a guerra não declarada do meu comportamento antissocial é capaz de compreender os carinhos extremos dos amantes da ponte neuf estou cego e cada vez mais os sorrisos recuam os amores não mais se reconhecem o absurdo sepulta em mim seu engano na incerteza cambaleante de continuar
pediu que eu viesse com calma abriu o zíper virou-se de costas
beijei-lhe o pescoço as nádegas a virei de frente desci a calcinha suguei os seios a batata da perna
a doméstica casa das invenções particulares o tempo elege sempre uma vida para levar mas aprendi que não existe certeza antes corria dos trilhos incendiados para compreender a perda que imaginamos nem todo dia é para comemorarmos existe uma parada ela estava lá silenciosa há uma música que sempre ouço pela manhã faça chuva ou quando lembro de meu pai estão disfarçados os amantes que mandam flores sem meus valores não julgo ninguém meu filho acha engraçado eu dormir de pijama a vida é uma série de confusos movimentos escolhi o vazio dos lugares sem nomes para mutilar lembranças que nunca existiram
eternidade mínima estou cego e a coleção completa dos filmes de lars von trier ainda não assisti o gato que antes passeava pela minha imaginação agora só dorme no tapete entre todos estes combalidos anos não encontrei o lado b da vida que consiga me causar espantos ou a mulher de beijos estonteantes que me faça negar meus pedros estou cego e a felicidade é só mais um lúdico cartaz os fantasmas que nunca ousei encarar riem das minhas fotos de casamento amigos me culpam pelo crasso silêncio mesmo a guerra não declarada do meu comportamento antissocial é capaz de compreender os carinhos extremos dos amantes
da ponte neuf estou cego e cada vez mais os sorrisos recuam os amores não mais se reconhecem o absurdo sepulta em mim seu engano na incerteza cambaleante de continuar
violetas dançam no playground sete e meia da manhã um menino busca o pão a família o espera oito e vinte e cinco um carro o atropela doze e quinze a família fica sabendo dezesseis e trinta e sete o seu corpo é sepultado sete e meia da manhã do dia seguinte o pão aumenta uma família diminui
estuário poesia uma insatisfação pausa que pulsa por detrás do mundo lâmina de alta precisão contraventora de palavras fuga da minha imaginação destino que me alucina rupestre inscrição incêndio controlado em minhas mãos
Bioque Mesito (A efervescente poesia da Cidade de Sousândrade) O passado e o presente bem próximos: um rápido panorama da poesia maranhense nas últimas décadas. – Há quem diga que a poesia morreu. – Ceticamente falando, não. Não é exagero afirmar que a poesia, como as outras artes, passa por um momento de reformulações e todo processo de mudança é gradual. Vivemos, ainda, os reflexos da década de 60 e para muitos o século 19 ainda é uma grande referência em termos estéticos. Certo. Porém, a contribuição legada por Sousândrade, Gonçalves Dias, Odylo Costa, filho, Maranhão Sobrinho, Nauro Machado, José Chagas e Ferreira Gullar (falando exclusivamente da poesia maranhense), não é de ficar de longe do que já foi produzido no restante do país e em outros lugares do mundo. O que questionamos é o que está relacionado ao momento no qual estamos inseridos: suas transformações dinâmicas, avanços tecnológicos, o surgimento de uma nova concepção nas formas de pensar e agir. O homem deste século é mais ávido, veloz, mais exigente, tem mais sede por informações, pois já acumula mais de vinte séculos de experiências em todos os campos do conhecimento humano. Os poetas de hoje têm uma missão muito diferenciada, principalmente os poetas maranhenses, porque a poesia do nosso Estado é referência entre as outras existentes no país. O erro de alguns poetas é justamente quererem quebrar demais ou então serem anarquistas da palavra, estes acrescentam algumas coisas, mas ainda muito frágeis. Os poetas que quiserem ser referência em um futuro serão aqueles que aproveitarem o conhecimento do passado e modificarem aos poucos sua estética. Como já dissemos, toda mudança acontece aos poucos. A ruptura não é repentina. Ferreira Gullar soube muito bem seguir este caminho de mudança com seus antecessores, tão verdade é essa afirmação que atualmente é o maior poeta em atividade do nosso país. Gullar sempre bebeu nas referências do passado, mas também sempre esteve com os olhos no presente. Nauro Machado e Luís Augusto Cassas são nomes que devem ser levados em consideração e sobre os quais falaremos oportunamente. A antologia Hora de Guarnicê, dos anos 70, corresponde a uma geração muito boa e que projetou nomes como Chagas Val, Valdelino Cécio, Rossini Corrêa, Raimundo Fontenele e Luís Augusto Cassas. Ufa! Chegamos à década de 80. O que falar dessa década se até os críticos, professores acadêmicos, literatos fecham os olhos para ela? Nós, não. A poesia das décadas de 80, 90 e início deste século vem com muita felicidade (apesar de todos os contras) honrado, com bastante autoridade, a tradição dos poetas da Cidade de Sousândrade. Sempre quando se trata da poesia dessa época, recai o conceito de poesia marginal, contra o sistema, panfletária. O que não se observa em um primeiro momento é o que de potencial tem esses poetas. Mesmo a “Akademia dos Parias” e suas performances pelos becos do Centro Histórico de São Luís possuiu sua importância nos ditames de nossa literatura. É bem verdade que desse grupo apenas meia-dúzia escrevia uma poesia de qualidade, séria. Os Parias foi um grupo efêmero e evaporou. Apenas 3 poetas desse grupo sobreviveram – Paulo Melo Souza, Celso Borges e Fernando Abreu. Este último, apesar de 2 livros lançados na praça, não conseguiu empolgar, como no tempo dos Parias, atualmente, faz composições para o cantor Zeca Baleiro. Já Paulo Melo Souza e Celso Borges respiraram outras fontes e levaram a poesia por outras fronteiras. Celso Borges, sempre compromissado com a estética da palavra, em seus poemas parece chegar a gritar com a insatisfação por que passa o momento da poesia produzida no Brasil. Paulo Melo Souza é outro importante poeta dessa época e continua, entre seus poemas, buscando e aprimorando seu estilo, sem se falar que é um combatente exímio contra as politicagens que permeiam nosso Estado. Paulo Melo é um poeta antenado com as modificações do pensamento humano e da literatura. Os poetas do Safra 90 (nome dado a uma antologia lançada pelo governo local, em 1997, formada por 23 poetas que compunham a cena poética do final do século 20 e início do século 21) poucos, desses poetas que integram esta antologia, ainda demonstram que vieram para ficar. Nomes como
Antonio Aílton, Rosemary Rêgo, Hagamenon de Jesus, Bioque Mesito, Dyl Pires, Jorgeane Braga, Eduardo Júlio, Paulinho Dimaré, Marco Pólo Haickel, – estes 3 últimos nomes, apesar de não fazerem parte do Safra 90, comunicam do mesmo momento literário, e todos já possuem importantes premiações locais e nacionais, além de possuírem seus livros lançados. O que demonstra, para os que fazem vista grossa ou que desconhecem, que a produção maranhense continua muito boa e a renovação está acontecendo com qualidade. Alguns entraves, mas, no final de tudo, a poesia prevalece – Falando, especificamente, do Festival Maranhense de Poesia – evento promovido pela Universidade Federal, juntamente com o seu Departamento de Assuntos Culturais, em suas últimas edições vem perdendo o fôlego. A boa vontade do Diretor do Departamento de Assuntos Culturais, Euclides Barbosa Moreira Neto, é o que ainda impulsiona esse evento. Euclides vem dando chances aos artistas locais com sua política de difusão. O festival de poesia está repleto de poemas de baixa qualidade. Talvez por falta de uma lista de seleção mais rigorosa e também pelo grande número de concorrentes nas eliminatórias. Com certeza, diminuindo o número de participantes nas eliminatórias, o público ganhará com poesias de melhor qualidade e não o que vem acontecendo – poemas muito fracos, em sua maioria. Compreendemos, Euclides, a política que você realiza. O evento deveria ser realizado em apenas uma semana, com palestras, oficinas e debates sobre a literatura maranhense e brasileira. Assim, o Festival só ganharia e poderia possuir a estirpe do Maracanto e/ou do Guarnicê – Cine/Vídeo, a maior e melhor realização do Departamento de Assuntos Culturais, coordenado por Euclides. Já em 3 oportunidades fui júri deste festival e recebi inúmeras críticas. Eu sempre as rebatia afirmando que a culpa não está na direção do Festival, nem tampouco no corpo de jurados, mas, sim, em quem está produzindo esses textos e colocando-os para serem julgados. O aspecto interpretativo também é outro ponto que deve ser questionado, pois, grande parte dos atores que interpretam os textos dos poetas sabe muito pouco, quando sabe, do que vem a ser poesia e realizam interpretações, muitas vezes, distantes do que a poesia está realmente falando. Mesmo assim podemos perceber muitos pontos positivos no Festival Maranhense de Poesia. O festival é um evento que aproxima o público da poesia e também serve de intercâmbio entre os poetas. Este ano o Teatro Arthur Azevedo ficou completamente lotado, o que demonstra o valor desse evento e da poesia maranhense. O festival é um dos poucos que ainda privilegia o talento poético em nosso Estado, somando-se, é claro, ao Concurso Cidade de São Luís, da Fundação Municipal de Cultura. Em uma cidade que respira poesia e tem uma efervescência poética, ainda é pouco. Temos, por exemplo, uma Academia Maranhense de Letras que passa quase sua totalidade fechada, sem realizar quase nada em prol dos escritores. Academia de Letras que é de suma importância na fomentação da cultura do nosso Estado, mas, que faz muito pouco, além de não socializar a Casa de Antonio Lobo, fechando-a para os intelectuais e o público em geral. A Academia Maranhense de Letras, esperamos, em sua nova administração, que democratize a Casa de Antonio Lobo e abra as portas para projetos práticos, sem o caldo político que era prática comum na gestão anterior. Sim. Voltando ao Festival Maranhense de Poesia, mais uma vez. Esse festival, ao longo dos anos, serviu para descobrir vários poetas como são os casos de Paulo Melo Souza, Roberto Kenard, Fernando Abreu, Antonio Aílton, Paulinho Dimaré, Rafael Oliveira, Ribamar Feitosa, Rosemary Rêgo, Mauro Ciro, Eduardo Júlio, Maria Aparecida Marconcine, Josoaldo Rêgo, César Borralho, João Almiro Lopes Neto, Francisco Tribuzi, Bioque Mesito, Dyl Pires, Cibele Bittencourt, César William, Junerlei Moraes, Geane Fiddan, Lúcia Santos, Ronnald Kelps, dentre outros. Fonte: Suplemento Cultural & Literário 145. http://www.guesaerrante.com.br/
Guesa
Errante.
Ano
V.
2006.
Edição
CELSO BORGES 70
ANTONIO CELSO BORGES ARAUJO 1959 Grupo da Revista/Hora do Guarnicê Nasceu em São Luís do Maranhão em 1959. Viveu 20 anos em São Paulo – a partir de 1989 - e voltou a morar em São Luís em 2009. Parceiro de Chico César e Zeca Baleiro, entre outros, além dos livros-CDs, possui cinco livros de poesia publicados: Cantanto (1981), No Instante da Cidade (1983), Pelo Avesso (1985), Persona Non Grata (1990) e Nenhuma das Respostas Anteriores (1996). Nos últimos seis anos, Celso Borges tem levado a poesia para o palco com os projetos Poesia Dub, que desenvolve com o DJ e pesquisador Otávio Rodrigues, e A Posição da Poesia é Oposição, com o guitarrista Christian Portela. Eles já se apresentaram no Tim Festival (SP-2004); Baile do Baleiro, do compositor Zeca Baleiro (SP-2004); Festival Londrix (Londrina-2006); Catarse (Sesc Pompéia-2009) e Projeto Outros Bárbaros (Itaú Cultural, SP- 2005 e 2007). Celso Borges tem poemas publicados nas revistas de arte e cultura Coyote e Oroboro e já ministrou oficinas de poesia em São Luís, Imperatriz (MA) e Palmas (TO). Atualmente, apresenta na Rádio Uol o programa Biotônico ao lado de Zeca Baleiro e do DJ Otávio Rodrigues, além de editar a revista Pitomba, ao lado dos escritores Reuben da Cunha Rocha e Bruno Azevedo. urbano a tv ligada dá bom dia o site cedo me sitia e o vento vadio ventania no nu dilatado da vida vazia tudo todo tempo parece em harmonia o carro, o cão, o mar, o morro, o rato, a rodovia só a vida, quase morta viva ! passa secundária se revelando à revelia
70
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/celso_borges.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/cborges.html http://www.dicionariompb.com.br/celso-borges http://www.ofuturotemocoracaoantigo.com.br/ http://musicamaranhense.blogspot.com.br/2013/06/celso-borges.html http://www.cultura.ma.gov.br/portal/sede/impressao.noticia.php?loc=ccocf&id=72
mea culpa falo blasfemo grito como se tudo já tivesse sido dito em vão palavras loucas ouvidos moucos eu sei do céu ao chão do sol ao léu o réu sou eu benção tua benção, poesia em nome do pai do filho e do espírito canto
pária somos poucos cada vez menos somos loucos cada vez mais somos além dessa matéria óbvia que nos faz dizer — tá tudo bem.
natureza viva a fruta cai do galho não tem prato embaixo não tem mesa não tem chão invento a fruta amassada em pleno vôo
declaração inteira tenho dez almas:
uma de carne onde me exponho aos instintos. a segunda entrego ao zelador par que o espanador a inflame. a terceira quarta quinta sexta sétima oitava entrego-as à mulher amada para seu domínio completo a nona carrego comigo para sustentar o que de solidão exala a décima o que sobra dessa solidão
haroldiana de fato uma fada faz parte de uma história malcontada deum conto do vigário fadado a ter seu fim otário de fato uma fada é uma falácia uma flor a mais do lácio despetalada um sino no exílio um idílio por quem os signos dobram em delírio de fato tudo é tudo quase nada noves fora fada
mishina urgente sol — o caroço da vida — nem arte nem desarte: desastre. só assim nasço: aço um corte pra morte primeira garantia: verexistir paralém da palavra.
punk a pomba da paz não quer mais migalhas todos os atos são a partir de agora instrumentos de força e vício
there is no future declaro findo os elementos de cortesia nenhuma concessão de praça ou perdão na palma da mão napalm eis a urgência da estética de guerra
now o sucesso do amanhã é um comércio que desconheço como poeta não me cabe exercitar a beleza do futuro ou colorir utopias quase sempre alheias. eis o preço que pago por trazer comigo o presente em estado de emergência.
são Luis: segundo movimento blasfemam as fanfarras de súbito mudas nos ouvidos marcando a pancada da terra. esta é tróia!, o vigésimo século em tróia (nauro machado) cidade dos azulejos ilha cercada de inveja por todos os lados na cabeça da serpente: inveja no chifre do touro encantado nos lençóis do rei dom sebastião na carruagem de ana jansen: inveja nos bobos da corte de luiz XIII no moustache de la touche, sr. de la ravardière: inveja nos restos mortais do coronel de milícias Joaquim silvério dos reis enterrado na igreja de s. joão, em 1819: inveja nos leões do palácio dos leões nos domadores: inveja no riso amarelo dos bajuladores nas pedras de cantaria roubadas: inveja nos azulejos portugueses de decalque nos falsos batuques de butique dos boizinhos de enfeite: inveja cidade dos azulejos ilha cercada de recalques por todos os lados na torre do desterro no beco da bosta na boca do boqueirão na forca do bequimão: inveja no sino da sé às seis no hino de bandeira tribuzi na classe média de merda: inveja nos fulanos de tal, donos dos danos
nos poetastros, beletristas de chás e ceias nas praças de alimentação dos shoppings nos desfiles de moda do sofitel nos cartões postais do aeroporto do tirirical nas duzentas colunas sociais de cada jornal: inveja nos 30 dinheiros dos iscariotes ilhéus
cidade dos azulejos ilha minada de lodo por todos os lados
nos mirantes rachados nos casarões desabados da praça joão lisboa nos condomínios fechados da cidade nova nos outdoors da avenida dos holandeses nas cadeiras, poltronas do teatro artur de azevedo na litorânea que ri do mar à sua frente nos olhos d´água da praia de olhos d´água na correnteza do anil, o tejo d´aldeia nas carreiras de cocaína que entopem as ventas do renascença nas carrancas do ribeirão que vomitam eternamente nos corredores das galerias por baixo da cidade na foz de fezes do bacanga palalém do barro e da barragem: invej na rua da inveja
cidade dos azulejos tu, Jocasta linda; tu, putana, não vou furar meus olhos, ilha filha dos aflitos não vou matar o pai numa encruzilhada tu, fada falha tu, ilha palha olho de cego na ponta da agulha athenas brasileira pulha apenas tu, doce maldita, miséria equatorial carne de minha alma alma de minha carne tu, princesa, bibelô sobre o atlântico tu, dama, daminha, damá-la haverei por toa a vida DIVERSO nasce vário e lírico o poema que faço sem farsa futura poema sífilis de difícil traço em catarse minha iluminura poema vil pois solitário pus exato flor-de-lis impura nasce útil e farto o veneno que caço em noite escura poema vício dando voz à vida minha dor açoite e cura poema foz fel fogo desde o início até sua embocadura
CESAR WILLIAN DAVID COSTA71
22 de maio de 1967 Geração Cassas Poeta, escritor, autor dos livros: "O Errante" (1988), "Nós Outros", "Teorema do Inominável Sentido", "Sol Maior" (poemas inéditos); "Carona Azul" (contos juvenis inéditos), "Professor de mim" (memória autobiográfica - inédito)e "Situação Quase Crônica" (crônicas publicadas em diversos jornais), em preparo. Sou professor de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Portuguesa e Produção Textual, graduado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão UEMA e pós-graduando em Literatura pela Universidade Estadual do Piauí -UESPI.Iniciei a carreira como autodidata. Ainda na 3ª séirie do 2º Grau, já ministrava aula para alunos desta série. Escrevo para vários jornais, geralmente no âmbito cultural. Sou editor cultural do Jornal Tribuna do Maranhão, em que assino uma coluna, Caleidoscópio Cultural. Também atuo na radiofonia, participando de diversos programas de rádio, na cidade de Timon -MA. Sou amante das letras, casado com a literatura. Atualmente sou coordenador, revisor e elaborador de projetos de leitura da Secretaria Municipal de Educação de Timon-MA. Participou de inúmeras performances poéticas e de grupos literários. Desde cedo iniciou suas atividades literárias. Na vida estudantil foi vencedor de inúmeros festivais, dentre eles, o I Festival Intercolegial de Poesia Falada (11/1984). Depois obteve outras premiações e menções honrosas, por meio do Festival de Poesia Falada, promovido pelo DAC/UFMA, evento que ele e outros poetas ludovicenses mudaram o nome para Festival Maranhense de Poesia, do qual se tornou membro da comissão de organização e parte do júri literário. Em 1988 publicou seu primeiro livro de poemas, “O Errante”. Obra que fora relançada no ano seguinte, na Fundação Assis Brasil, em Parnaíba, sob os auspícios da Academia Parnaibana de Letras –APAL, com apresentação do seu então presidente,o escritor Lauro Andrade Correia. Mais tarde, o escritor Assis Brasil o insere entre 66 poetas maranhenses do século XX, ocasião em que alguns poemas do livro “O Errante” foram inclusos na antologia “A Poesia Maranhense no Século XX”. Participou da coletânea “Poemático MMVIII”, organizada pela Halley, Teresina, PI. O poeta tem participação em mais de 20 antologias poéticas, algumas da sua terra e outras de caráter nacional. Na década de 1990 passou a ser colaborador com crônicas e matérias (sempre de teor cultural) em vários jornais de São Luís: “O Imparcial” (neste fora revisor), “O Estado do Maranhão”, “Jornal Pequeno”, “O Debate” etc. Tem participação em inúmeros suplementos literários e revistas, “Vaga-lume”, “Sacada Cultural”, “Guesa Errante” etc. Cedo também começou a ministrar aulas de Língua Portuguesa, Literatura e Redação, como autodidata. Passou por várias escolas particulares de ensino médio e por inúmeros cursinhos pré-vestibulares em São Luís, chegando inclusive a ser proprietário de dois deles, o Curso Explanação e o Oficina de Redação (este último em Santa InêsMA). Mas, depois de ter sido aprovado em vários vestibulares e sem às vezes sequer chegar a se matricular, resolveu em 2005 cursar Letras.Fizera novamente vestibular da Uema e conseguira a 4ª colocação. Hoje está no 7º período de Letras do Centro de Estudos Superiores de Timon e paralelamente ao curso, continua ministrando aulas, realizando festivais, debates, encontros de poetas, exposição de poemas. No CESTI/UEMA idealizou e fundou um jornalzinho para divulgar CESAR WILLIAM – POEMAS – Blog do Cesar William, disponivel em https://www.blogger.com/profile/15567991677970763915 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. 71
os eventos da instituição e idéias dos universitários e da comunidade, o “Folha Desgarrada” (já na 4ª edição). É dele também a idealização da EXPOMAPI – Exposição de Poemas de Autores Maranhenses e Piauienses, cujo objetivo é difundir obras dos autores desses dois estados, unindoos por meio das letras. Além do mais, é editor cultural do jornal Tribuna do Maranhão. Há quase dois anos vem divulgado a cultura timonense, maranhense e piauiense em sua página que ele batizou com o nome de uma coluna que mantém na mesma, “Caleidoscópio Cultural”. Além de publicar crônicas e matérias no Tribuna do Maranhão, vem esporadicamente publicando textos também no jornal O Dia e em alguns portais literários. Possui três livros de poemas inéditos, um de contos e outro de crônicas. César William, apesar do vasto espaço de tempo sem publicar nenhuma obra, não se considera um poeta bissexto, já que vem militando diuturnamente em prol dos seus ideais e está sempre defendendo que jamais abandonará as letras, sobretudo a poesia. PARTICIPAÇÃO DO POETA CÉSAR WILLIAM NO GRUPO CURARE 72
O Grupo Curare organizou-se com o intuito de conduzir alguma publicação periódica – a exemplo da revista Uns e outros e das publicações da Akademia dos Párias –, com a qual fosse lançada a pedra fundamental de nossa atividade literária. Após muitas discussões nas ruas e becos da Praia Grande, o grupo percebeu que tinha mais gosto em estar simplesmente reunido para boas conversas sobre literatura, cinema e assuntos de algum modo conectados à arte, do que propriamente elaborar projetos que não saíssem do papel, dada a diferença de temperamentos e opiniões entre todos, além da evidente falta de dinheiro. Notou-se, afinal, que os encontros eram apenas um pretexto para impulsionar o ato de escrever [...] O nome da revista – Curare – foi igualmente sugestão do Dyl, que nos apresentou a todos, porém quem sugeriu a publicação de um periódico foi o poeta e ficcionista Marco Pólo Haickel. [...] A primeira grande oportunidade, todavia, surgiu quando a Secretaria do Estado de Cultura decidiu publicar, em 1996, uma antologia de jovens poetas, posteriormente chamada Safra 90. [...] Mas lá estavam os integrantes das primeiras reuniões do grupo Curare: Antônio Aílton Santos Silva, Dyl Pires (Eldimir Silva Júnior), Bioque Mesito (Fábio Henrique Gomes Brito), Hagamenon de Jesus Carvalho Sousa, Jorgeane Ribeiro Braga, Nilson Campos (Natanilson Pereira Campos), este cronista (Ricardo André Ferreira Martins), entre outros. [...] Surge então a idéia de uma exposição e recital, a qual foi colocada em prática em inícios de 98, intitulada Sygnos.doc, no Palacete Gentil Braga, promovida pelo Curare com o auxílio do Departamento de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis, principalmente na figura de seu diretor, Euclides Moreira Neto. [...] O evento, entretanto, finalmente aconteceu, garantindo um marco existencial e histórico para o Grupo Curare, ao qual se somaram novos nomes, como os poetas César William, Couto Corrêa Filho, Eduardo Júlio, Dylson Júnior, Gilberto Goiabeira, Judith Coelho e Rosemary Rego. [...]Para que o grupo pudesse se firmar, passou-se a participar mais regularmente de concursos. O resultado veio em forma de premiações e publicações, com as quais a maioria saía do completo anonimato. Livro de estréia: O Errante (1988)73:
o errante Por um erro me fiz errante, Mais errante que o erro do errado Mil tropeços no meu passado, Os infernantes constando Dos meus retalhos. Sem dúvida, com mágoas Meu sorriso pichado. Ó triste dor tão infinita: 72 LEÃO, 2008, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 73
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/cesar_william.html
Não me inflame agora Não me deixe ser um errante, O mesmo que ontem amava Nas curvas de um delitante. Um errado errante, Um facínora Um desamante. Tantos sonhos refeitos, Tantos tombos levados... Viver numa clausura com incúria Tamanha fera, qual a rua desabitada. Nos degraus de uma ponte pitoresca?.. Na esquina de um velho sobrado?.. Não importa É um errado, Um errante de sonhos mutilados Pelo poder da censura ....................................... Labirinto Libertei-me da muralha, Agora sou escravo das profecias. Estou nutrindo-me de migalha Em cada canto das periferias. Agora sou hálito infame No cume da cumplicidade. Entre mil doenças... "Derrame"... A centelha da humanidade. Continuo perdido À procura de outra "muralha" Agora sou parto ferido Nutrindo-me de nova migalha... De nada adiantaram as leituras Se agora sou somente vestígio em um ermo de mil amarguras Não sei mais o que fazer (perdi o prestígio) Sou agora o único sobrevivente Deste labirinto medonho. Preciso de um verso urgente Para findar este sonho... Sufocação Uns me afogam Inundam-me de fantasias. Outros me cortam o sorriso, Rompendo-me os dias.
E assim vou balbuciando Com meus versos pródigos. Sinto o que os outros sentem O que não me deixaram sentir (?) E assim vou levando a vida Sem deixar me permitir... Outros me sepultam Sem antes deixar que eu nasça... E assim vou levando (a vida) —No cemitério ou na praça (O Errante/1988)
CLAUDEMIR LIMA VAZ Nasceu em São Luis, em 1971. A TEMPESTADE Defunta assombração Revoa Eu cego Que beija a embarcação Na popa Eu velo E rasgaraio e trovão Na prova Não espero Há agu´ardente em porão E boca E versos Que os anequins de plantão Que eu morra É vero Embriagado no chão Com loas Sem belos
CYRO FALCÃO 74
Grupo da Rua Candido Ribeiro Hora de Guarnicê
Ludovicense. Apaixonado pela cultura maranhense, Ciro pode ser considerado um artista nato. Artista plástico, formado em Educação Artística pela UFMA. Expõe pela primeira vez no Instituto de Letras - ILA, da mesma universidade em 1975. Primeiro projeto: Em 1978, participou do projeto Arco Íris, galeria da Fundação Nacional de Arte – FUNARTE (Rio de Janeiro), alcançando o 1º prêmio com uma xilogravura. Segundo Ciro, desde sua infância a vontade de fazer arte já era latente. Mas foram as histórias em quadrinhos que o levaram a despertar esse interesse pelo desenho e pintura. Sua pintura, de forte tendência ao fantástico, fala de uma realidade lendária de nossa cultura popular, profundamente mística e primitiva,onde todos os elementos apresentados são de aspecto simples, despojado, trabalhados em cores fortes, em longas e nervosas pinceladas.
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http://www.cyroarts.blogspot.com.br/ http://arteemtelasaoluis.blogspot.com.br/2012/06/ciro-falcao-artista-profissional.html
DYL PIRES
ELDIMIR FAUSTINO DA SILVA JÚNIOR75 01 de setembro de 1970 Safra 90 Prado (2013)76, comenta que, no numeroso elenco do espetáculo Édipo na Praça, da Cia. Os Satyros, as aparições do ator Dyl Pires são marcantes. O filho primogênito de Maria de Lourdes e Eldimir Faustino da Silva, de quem herdou o nome na certidão de nascimento, valoriza cada fala e ação que tem. Chama para si a responsabilidade. Não titubeia. Afinal de contas, raça não falta a este maranhense de São Luís, que fez aniversário neste domingo, 1º de setembro. Estudou artes cênicas na Universidade Federal do Maranhão. Formou-se em 2009. Logo que pegou o diploma, mesmo com mais de dez peças no currículo, não pensou duas vezes: deixou a promissora carreira maranhense, com os grupos Coteatro e Cia. Nós 5 de Teatro, para se aventurar em São Paulo. Sofreu, chorou, não entendeu, quis voltar, ficou. No mesmo 2009, fez um teste para a peça Roberto Zucco e entrou para os Satyros. Fez o papel que era do ator e jornalista Alberto Guzik, com quem mantinha correspondência desde que morava em São Luís e, ironia do destino, virou seu objeto de pesquisa na SP Escola de Teatro após a morte do ícone de nosso teatro. Morador da avenida Paulista, Dyl aprendeu a não deixar a metrópole lhe tirar a doçura. Escreveu o livro de poesia O Perdedor de Tempo. Com 18 anos de carreira, faz sua quarta peça na cidade. Após ouvir a pergunta "por que faz teatro?", pensa um pouco e resolve plagiar Fernando Pessoa: "Faço teatro para o meu desassossego", diz. E o faz muito bem. Porque o público não esquece sua presença. É autor dos livros de poesias O Círculo das Pálpebras (1999) e O Perdedor de Tempo (2012). Ator, participou dos Espetáculos: Edificio London, Satyros Satyricon, Roberto Zucco. Outras montagens: A Bela e a Fera, Morte e vida Severina, Viva El Rei D. Sebastião, Paixão - Segundo Nós, Baal, Nós, O Fragmento Que Nos Resta (Medea Material), Auto de Natal, Auto do Boi, Édipo na Praça. Não Vencerás e Não Saberás.. O périplo de um perdedor de tempo77 Eldimir Faustino da Silva Júnior – Dyl Pires “A felicidade de entender é maior que a felicidade de sentir e de imaginar.” Jorge Luis Borges
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LEÃO, Ricardo. ENTRE CARRANCAS E MONSTROS: A JOVEM POESIA E LITERATURA MARANHENSES, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm 76 PRADO, Miguel Arcanjo. O Retrato do Bob: Dyl Pires, o ator que não titubeia. Disponível em http://entretenimento.r7.com/blogs/teatro/tag/edipo-na-praca/, publicado em 02/09/2013. 77 SILVA JUNIOR, Eldimir Faustino da – Dyl Pires. O PÉRIPLO DE UM PERDEDOR DE TEMPO. IN SOUZA, Ana Inês; BARBOSA, Jorge Luiz; SUSA E SILVA, Jailson de. (organizadores). CAMINHADAS DE UNIVERSITÁRIOS DE ORIGEM POPULAR. UFMA. Rio de Janeiro : Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pró-Reitoria de Extensão, 2009. Disponível em http://observatoriodefavelas.org.br/wp-content/uploads/2013/12/Caminhadas-de-universit%C3%A1rios-de-origem-popular-%E2%80%93UFMA.pdf
Chamo-me Eldimir Faustino da Silva Júnior (o ortônimo) e Dyl Pires (o heterônimo). Nasci no dia 1 de setembro de 1970, em São Luís-MA. Portanto, um pouco depois do golpe militar e da tão festejada conquista da seleção brasileira de futebol, e um pouquinho antes da maior revolução teatral acontecida em nossa cidade: o laboratório de expressões artísticas-LABORARTE. Devo, nas linhas que comporei mais adiante, traçar uma espécie de mosaico desta minha trajetória existencial, levando em consideração o ponto em que a vida escolar toca a minha caminhada. Assim, começarei a recordar um misto de realidade e ficção a partir do momento em que soube que havia passado no vestibular. Digo realidade e ficção, porque assim como o poeta Carpinejar: “avanço na idade e não sei discernir o que foi vivido do que foi contado. Tenho dúvidas se minha infância é realmente o que vivi ou o que sonhei nela”. Creio que, uma semana depois do resultado, me veio uma espécie de insight que dava conta do desenho cíclico da minha vida, e de quanto em quanto tempo as grandes transformações aconteciam nela. Na hora me soou como uma epifania, revelada pelo fato de ter sido aprovado para o Curso de Teatro da Universidade Federal do Maranhão. Comecei a refletir (aparentemente sem nenhuma espécie de superstição) que o número sete (isto mesmo, o número sete!) era por demais presente no meu ainda parco existir. Parco, mas nem por isso menos intenso. Repentinamente, comecei a explicar tudo através deste número significativo para a dimensão mística que ocupa, ou não, o imaginário de todos. Bom, a partir daí, voltei a 1970, e logo de cara fui constatando que o tal sete estava no meu ano de nascimento. Era o começo. O mundo das letras e das imagens iniciava em 1974, no que chamávamos de primeiro período do jardim (Ed. Infantil). Foi lá na escola Dom Francisco, que existe até hoje na Praça da Alegria. Permaneci até 1976, e de tudo ficou na minha memória a preocupação dos professores para que não ultrapassássemos os limites do jardim; coisa que freqüentemente ocorria com a devida punição: ficar de castigo no quartinho escuro da escola. Em 1977, sete anos depois do meu nascimento, e bem depois da fase de familiarização com outro espaço, que não o meu lar, ingresso na primeira série do primário (Ensino Fundamental). Era a época das congas e das kichutes. A escola se chamava Sotero dos Reis, bem ali na Rua São Pantaleão. À época, creio que o colégio era o último a inspirar respeitabilidade dentro do ensino público. Aprendi muitas coisas. Algumas relacionadas diretamente com os estudos, outras, com as travessuras daquela faixa de idade e com o desejo da carne que começava a formar suas primeiras manifestações pontiagudas em mim. Recordo-me dos nomes de alguns professores: Odeth, Nócia, Terezinha, Benedita (minha primeira referência de professor no estilo linha-dura) e também do porteiro que se chamava Batista. Este percurso que vai até 1980, me trouxe a igreja, onde fui sacristão por uns dois anos, o desejo de ser padre, o primeiro discurso como orador da turma e uma pequeníssima encenação sobre o Bumbameu-Boi (a grande imagem mítica da minha infância), em que eu fazia um pequeno papel, não me recordo bem se de um lobo, ou de um cão. De 1981 a 1984 (período ginasial), estudei (por intermédio de uma bolsa integral) no Colégio Henrique de La Rocque, na Rua do Passeio. O máximo de envolvimento artístico que se cometia por ali era jogar bola ou participar da banda marcial da escola. Entre meus professores, lembro-me de Elisio (o carrasco da Matemática), Dalva (a doce estrela de Português) e Heloisa, de História (o fetiche de alguns colegas, inclusive meu). Lembro-me também que a escola possuía a disciplina Educação Artística, que era ministrada pelo professor que havia me conseguido a bolsa (e meu padrinho) Jorge Itacy, na época já famoso babalorixá “Jorge da Fé em Deus”. Não me lembro do conteúdo da disciplina. Mas sei que nem ela, nem a banda marcial e nem a encenação me marcariam a alma naquele instante. Em 1984, sete anos depois de ter entrado para o Sotero dos Reis, descobri o karatê, o atletismo, e sobretudo, o futebol. O grande acontecimento para mim daquela época foi ter entrado para a turma dos meninos que eram mascotes do Sampaio Corrêa Futebol Clube. Guardo até hoje duas fotos de jornais, já bastante envelhecidas, reveladoras daquele momento. De 1985 a 1989, estudei na escola Dr João Bacelar Portela (antigo segundo grau), no bairro Ivar Saldanha. Três professores especialmente me vêem à mente: a professora de Português Jaciara, cuja casa freqüentava com alguns colegas, o professor de Física Augusto (da estirpe dos linhadura) e o professor Campelo, que acabara me reprovando por causa de sérios desentendimentos na sala de aula (de um lado ele me alegava negligência para com a sua matéria, do outro eu me
defendia dizendo que ele não sabia tornar a matéria sedutora para mim). No Bacelar Portela, fiz Eletrotécnica. Não sei bem por que. Um ano depois percebi que a alta voltagem que me interessaria seria a do álcool e a da boêmia. Portanto, eu já cultuava sem saber uma particular necessidade báquica. Em 1990 foi um ano vazio e de intransponíveis fantasmas... em 1991, sete anos após ter me deslumbrado com a história do futebol, descobri definitivamente o caminho das leituras, de um conhecimento outro que só perpetuariam as dúvidas que já possuía acerca da natureza humana e do sentido de tudo isso, ou da falta de. No período que vai de 1991 a 1998, eu me deparei com amigos músicos, artistas plásticos, cantores e sobretudo poetas e atores. Primeiramente foi a literatura que me desbravou, mostrando-me, juntamente com os amigos, algumas leituras e todas as experiências mundanas e estéticas daquele instante, o caminho que construiria o poeta. Isso por volta de 1991. Lembro-me de que, em 1992, conheci duas pessoas super-importantes para a minha vida. A mineira Tereza, motoqueira e dona do posto de gasolina ao lado do Clube Lítero Português e a maranhense, compositora e cantora, Célia Leite. Ambas, cada uma a seu modo, me influenciaram sem nem perceberem. A primeira, com seu jeito fortemente espontâneo e com uma vontade de viver a vida de forma sempre apaixonadamente perigosa; a segunda, por ter me trazido o diálogo possível entre a timidez que em mim preponderava e a loucura que se ocultava por trás dela, pronta para dar o salto no instante certo. Célia foi mais além. Um dia, depois de ter lido alguns poeminhas que eu havia escrito, confundiu a minha assinatura ao final dos textos e cismou que ali estava posto o nome Dyl (não necessariamente com esta grafia). A partir daquele momento, comecei a me chamar Dyl e acrescentei às três letrinhas o sobrenome da família, Pires, herança do meu avô materno, Raimundo Nonato Lisboa Pires. Abro um parênteses aqui para registrar que fui educado por três mulheres: Maria de Lourdes Santos Pires (minha mãe), Eldilene Santos (minha irmã) e Terezinha de Jesus Rodrigues (outra mãe). As três me abriram as portas do universo feminino. O único de fato que importa. Dyl Pires surgiu então para construir, juntamente com alguns amigos, Jorgeane, Catarina, Gilberto, Gissele, Jales, Natan, Bioque, Ailton, Hagamenon e Ricardo, um percurso intelectual e estético que o ajudaria a amadurecer o olhar para as coisas da vida e para as coisas do seu interior desassossegado e febril. Passados quinze anos, penso que Eldimir permaneceu um menino de fé, como inversamente está no poema do Leminsky, que poucas vezes se manifesta frente a um Dyl Pires que tem o desencanto como um pensamento concluso em sua vida, acredita no caráter ficcional da existência e se percebe fantasmal. Eldimir, apaixonado por futebol e pelas brincadeiras da infância que não o libertavam nunca. Dyl, apaixonado por literatura, teatro e pelos “subterrâneos” do existir. Um tem compaixão, o outro é irônico e niilista. Um se irmana misticamente com o mundo, o outro tem em Joyce, Beckett, Hilst e Borges a medida exata para profanar e demolir o que não deveria nem ter existido: a vida. Eldimir acha que a vida é um estágio de beleza em permanente espanto, por isso vale a pena ser vivida; Dyl acha, assim como o saudoso ator Gianfrancesco Guarnieri, que “só um homem que não sabe das coisas pode achar graça na vida”... e por aí vão as diferenças desta solidão dolorosamente singular. Em 1993, conheci o ator Uimar Junior que me levaria a fazer duas performances, além do serviço de contra-regra no espetáculo “Joana”, monólogo adaptado do texto Gota D’ água, de Chico Buarque e Paulo Pontes. A encenação do lobo ou do cão começava a uivar fortemente em mim. Dois anos antes, o ator Jonatas Tavares (que fez o Creonte, no “Édipo Rei” da Coteatro) vira para mim numa passagem de ano e diz: “Você deveria fazer teatro. Tu tens cara de ator”. Em 1995, a atriz paulista Lucia Gato põe dez reais nas minhas mãos e me impele a ir à Cooperativa Oficina de Teatro-COTEATRO (coordenada por Tácito Borralho) fazer a minha inscrição para o Curso de Formação de Ator. Tudo isso porque, em 1993, eu e Gilberto Goiabeira dissemos que iríamos fazer nossa inscrição no Curso. Ele foi. Eu, somente sob pressão, dois anos depois. De 1995 até os dias de hoje, eu fiz as peças “A Bela e a Fera”, “Morte e Vida Severina”, “Paixão-Segundo Nós”, “Viva El Rei D. Sebastião”, “Auto do Boi”, “Auto de Natal”, “Torres de Silêncio”; performances, recitais, ajudei a fundar três grupos: um de poesia, outro de performance, e outro de teatro, e fiz dois vídeos: “Cartas”, para o cineasta Frederico Machado e “Guarnicê 2000 e Outros Souvenires”, para o cineasta Carlos Reinchembach .
Em 1994, participei de duas oficinas de poesia, cujo objetivo maior era instigar o imaginário para a criação poética. O poeta, performer e jornalista Paulo Melo Souza foi o coordenador do evento. Mais à frente nos tornaríamos amigos e começaríamos a cumprir juntos um papel estético onde a poesia e a arte da performance comporiam o vivo diálogo entre espíritos que se inquietam rumo à fabulação do real. Paulo, juntamente com o também poeta, amigo e crítico de arte, Couto Correa Filho, contribuíram bastante para o início da minha formação literária. Ambos me abriram as portas de suas bibliotecas, num ato explícito de “bondade envenenada”. À la Genet, “eles me contagiaram com o seu mal para poderem se libertar dele.” Couto Correa Filho, grande anfitrião, fez de sua casa a “Movelaria Guanabara”1 da minha geração, promovendo memoráveis encontros regados à literatura, artes, vinhos e boa comida. Em 1996, tive meus primeiros poemas selecionados para compor a Antologia Poética Safra 90, obra editada pela Secretaria de Cultura do Estado que tinha por finalidade apresentar a minha geração. Em 1998, sete anos após a descoberta definitiva das leituras, recebo duas premiações na área da literatura: o primeiro lugar no XXIV Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís e o primeiro lugar no XII Festival Maranhense de Poesia. Ambos realizados, respectivamente, pela Fundação de Cultura do Município-FUNC e pela Universidade Federal do Maranhão-UFMA. A premiação da FUNC possibilitou, em 1999, o lançamento do meu primeiro livro de poemas: O Círculo das Pálpebras. Ainda em 1998, começo a me inquietar e a me angustiar profundamente com o processo teatral maranhense e decido começar a escrever nos principais jornais da cidade comentários críticos sobre nossas produções. O único crítico teatral da cidade, Ubiratan Teixeira, abraça a idéia e me felicita num artigo de fim de ano, no seu espaço de crônicas no jornal O Estado do Maranhão. No ano de 1999, além do lançamento do livro, passo a integrar o grupo de comentaristas do Programa Cultural, apresentado pela jornalista Maria José Costa, na rádio Mirante-AM. Na virada de 2000 para 2001, fui indicado pelo artista plástico e amigo Binho Dushinka para fazer uma seleção para monitor da Mostra do Redescobrimento que comemoraria os 500 anos do Brasil. Participei de todo o processo e ao final consegui ficar. Os cinco meses que permaneci por lá (a exposição aconteceu no Convento das Mercês) foram esteticamente os mais viscerais da minha existência. Sobretudo no que tange aos estudos do módulo do inconsciente e da arqueologia. Em 2002, fui outra vez premiado no Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luís. Desta feita, agraciado com o segundo lugar pela obra O Círculo da Vertigem. De 2002 para 2003, ministrei oficinas de produção textual voltadas para a terceira idade e trabalhei como monitor nas exposições A Herança Cultural da China e Mostra Fotográfica de Artefatos Indígenas, ambas, realizadas pela galeria de arte do SESC. Em 2004, tive outros poemas selecionados para participar da seção “Dom Casmurro”, do jornal literário O Rascunho, de Curitiba. Ainda neste ano, consegui ser selecionado para fazer uma oficina de interpretação para ator com o grupo “Lume”, de Campinas, em São Paulo. Fui, fiz e me perturbei o suficiente para perceber que preciso ancorar naquelas plagas. São Paulo está para além da esfera de bairro ou cidade que caracteriza, por exemplo, o Rio de Janeiro, que conheci recentemente. São Paulo é o mundo. Para este ilhado andarilho que já residiu nos seguintes bairros de São Luís: Santo Antonio, Macaúba, Belira, Liberdade, Bairro de Fátima e Cohatrac e atualmente reside no Tambaú, município de Paço do Lumiar, ir para Sampa redimensionaria a relação de conflito com esta limitada geografia. A busca por uma geografia de “exílio” potencializaria minha geografia imaginária. Agora em 2005, após ter ido a Porto Alegre participar do V Fórum Social Mundial, experiência ótima por ter propiciado um saudável embate entre o desencantado que em mim habita e o “torcedor de ocasião”, ingresso no Curso de Teatro da Universidade Federal do Maranhão. Estar na universidade nunca fez parte do meu projeto de vida. Na verdade, nunca tive um projeto de vida. Exatamente por isso, tive mais implicações que o lugar-comum dos que simplesmente passaram. Demorei muito tempo para estar na universidade. Nunca senti em mim uma vocação acadêmica clamando entre meus neurônios. Aliás, nunca senti em mim uma vocação para especialista. E não poderia ser diferente já que passei os últimos treze anos sendo um autodidata. Nunca precisei de uma instituição escolar me impondo a consciência para a necessidade de estudar. Sempre estudei porque era e é uma maneira de falsear algum entendimento sobre a vida. Hoje me desencanto com facilidade até das minhas principais paixões: a literatura, o teatro, o
amor pela carne e o vinho (Dão, de preferência!). De alguma forma estranha e inusitada, tal condição me trouxe para cá, para dentro do Curso. Vim para a discussão, a boa discussão. Vim para potencializar o “equilíbrio precário” em todos os seus sentidos, como bem o faz o Abujamra no seu “Provocações”. Acredito que só exista diálogo vivo entre antagônicos, fora disso, o que há são apáticas concordâncias entre os que mormente contemplam e se contentam com tal condição. Evoé, Baco!!! Marco Pólo Haickel.78 M. P. HAICKEL Maranhense, professor de Literatura Brasileira, Língua Espanhola, voluntário no projeto O Livro na Rua e colabora na Revista Eletrônica Nós Fora dos Eixos. HAICKEL, M. P. Poemas de um amor ao ocaso. 3ª. edição. Brasília, DF: Virus Editora, 1994. S.p. 10,5x15 cm. Col. Bibl. Antonio Miranda PARTINDO Nossos palavras brigavam, perdidas... Era preciso tanto orgulho? Tanto ódio? Naquela tarde nada se fundia; prendidas, nossas vidas eram entorpecidas por óplol Era mesmo preciso tanto desamor? Esse frio solitário ao calor? Esse vazio naquela viagem Infinita.,, Era ausência de ópio naquela tarde esquisita.. Brasília entardecendo, entardecia com soluços reprimidos em nossa angustia, nossa melancolia.., Eu entardecendo, entardecia naquele teu olhar, tua mirada e o amor de letal desvanecia.
O POEMA NOTURNO No escuro, me estico na cama e lentamente imagino meu rosto enrubescido pela brasa do cigarro num lento trago. Saboreio... Uma música melodiosa ao fundo me entranha num torvelinho de sentimentos, A fumaça parte rumo ao inusitado, e junto vai o meu pensamento suavemente subindo... Assombra-me esse pensamento! Não multo longe, respira pausadamente, meu mundo, minha espécie. Nesse momento, o mundo na minha concepção 78
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/m_p_haickel.html, Página publicada em maio de 2014, acessada em 23 de maio de 2014.
já foi conquistado. Só me resta - não vivê-lo, mas sim, Intensificá-lo, e assim o faço cautelosamente. Também, nesse momento, a vida se faz completa pois está vazia de pensamentos fixos... Talvez um breve suspiro, um frémito repentino me desperte desse preâmbulo, esse misto de sonho, torpor e cansaço. Resta-me a noite como companheira e a pena como aliada. Eu tenho os pensamentos longe e o rosto não mais intumescido nessa solidão de ser. Aos poucos tudo passa a ser como um porto e solidão.
Dyl Pires|São Luís/MA|. Poeta e ator brasileiro. Desartista que vive há uma década em São Paulo, entre ações teatrais e poéticas. Dele já disseram: misto de sátiro com coisinha ausente. Acreditou. São 26 anos de caminhada artística. Ainda em São Luís, participou dos espetáculos: Viva el rei D. Sebastião, Paixão segundo nós, Auto de natal, Auto do boi, Morte e vida severina, A bela e a fera, Baal, Torres de silêncio, Nós o fragmento que nos resta. Em São Paulo esteve em cartaz nos espetáculos: Roberto Zucco (2010), Satyros Satiricon (2012), Edifício London (2013), Édipo na Praça (2013), Não Vencerás (2014), Não Saberás (2014), Você Está Livre (2015), Terra dos Outros Felizes (2017), entre outros. Publicou os livros de poesia: O Círculo das Pálpebras (Func, 1999), O Perdedor de Tempo (Pitomba, 2012), O Torcedor (Pitomba, 2014), Éguas (Pitomba, 2017) e Queria falar do deserto dos dias apressados (Chiado books 2019). Tem, ainda, poemas publicados no Jornal Rascunho, Revista Pitomba, Acrobata e Germina – Revista de literatura e arte. Como ator, recebeu em 2014 da câmara municipal de São Paulo a Outorga de Salva de Prata pelos 25 anos da Cia de teatro Os satyros, da qual integrou o elenco de 2009 a 2014. Os textos que integram esta seleção foram extraídos do seu último livro de poemas publicado pela Chiado books, neste ano de 2019. ADVERTISEMENT REPORT THIS AD . Outubro escorregadio de tudo, como ostra. A melancolia era uma rua de seis casas sem saída. Uma vila charmosa! A grande chuva veio à noite. Os móveis da infância não estão mais no lugar. A memória não os organiza mais como lembrança. A chuva altera o sentido de urgência das coisas. A chuva nos devolve à condição da espera, à partilha de pequenos nadas; como arrancar beleza na rua de alguém que simplesmente caminha, mas que pulsa nos fios invisíveis da corporeidade o espantamento da finitude de uma vida inteira. A chuva é um dos rastros mais antigos de humanidade. ..
Uma cidade atravessada por um rio morto. Um cadáver permanente na sala. Um ar espectral soletrando um poema concreto. Uma cobra-metrô: Dodeskaden que carrega uma cidade despresente. Às vezes há um grande sol, um extraordinário entardecer, uma maravilhosa manhã. Como uma grande palavra esquecida que chega. Mas rapidamente as pessoas retornam à cobertura gris das pálpebras e o cavalo dos olhos volta a galopar a neblina dos dias. … Escalar o alfabeto do sonho. A sílaba alta do destino. Como um chapéu novo que se põe na vida. …. Os Bandeirantes são os mais fotografados. Por trás de cada click há o concreto. Por baixo de todo o concreto há uma floresta muda. Lá ainda ouço o som do rio a correr pela garganta dos últimos índios.
Outdoor recupero a vida na caixa de entrada do celular mas percebo que os chinelos debaixo da cama ficaram de fora utilizo a passagem subterrânea da Consolação como quem brinca de esconde-esconde retorno à velocidade das coisas como uma máquina de lavar abandonada na porta do cemitério respeito muito as pessoas que lidam mal consigo mesmas pois tocam a origem e o fim da vida o tempo inteiro um dia os arqueólogos se debruçarão sobre a memória de um domingo e assistirão crianças bicicletas cachorros homens e mulheres se divertindo numa sessão de cinema 5D e verão por trás dos óculos escuros um Caps Lock pedido de socorro Cais os navios estavam ali parados com uma ternura de coisa vivida em segredo a tarde nos olhos enrugava alguma lembrança conversávamos sobre a chuva sobre como ela altera o sentido de urgência das coisas as rasas fatias da vida os silêncios partilhados O museu das coisas que se disse ao longo da vida inteira é o futuro escrevo comentários em blogs de autores mortos dentro do estojo de óculos dela tem um patuá de santa clara com os textos que trago tatuados no corpo tenho como ambição alfabetizar os vermes do andar debaixo possuo alguns mimos: árvores batizadas de delicadeza perdida um sofá-cama preguiçoso chamado gatinho e o tempo parado no relógio da Igreja do Carmo o museu das coisas que se disse ao longo da vida inteira é o futuro daqui a cem anos meus poemas vão virar receita culinária
na Feira da Praia Grande e os de Jorgeane horóscopo do dia uma vez fiquei com o ouvido ausente e os últimos sons que permaneceram foram o barulho de pedreiros em obra a zoada da enceradeira no corredor do prédio e o ruído da máquina de lavar aqui de casa fiquei encantado com o que chamei de epifania das coisas de fato vocacionadas para a vida e visto que a vida é breve e por vezes brevíssima talvez sua maior invenção seja a repetição pergunto-me sempre o que é uma pessoa que não atende mais a um psiu! hospital, travessia e cemitério cada um faz o que pode pra fugir dos extremos cada um faz o que pode pra batizar de alegria o seu mais belo fracasso
EDUARDO JÚLIO DA SILVA CANAVIEIRA79
19 de janeiro de 1971 São Luís (MA), 19 de janeiro de 1971. Morou no Oriente Médio, Iraque, entre 1975 e 1980. Voltou ao Brasil, residindo por quatro anos em Salvador (BA). Fixou-se em São Luís desde 1985, onde formou-se em jornalismo. Poeta e jornalista, nos fala do silêncio que dói em nossos corações, um porto abandonado, sonhos partidos, cais de eternas partidas, amores compartidos, cúmplices... Porto80 "Diante da eternidade deste cais O silêncio é sobra do abandono A ausência tem cor azul e dói Como se não fosse céu Aquele mar que pretendíamos O próximo silêncio parece leve Mas por instantes Cala uma cumplicidade."
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http://varejosortido.blogspot.com.br/2008/10/xvi-congresso-brasileiro-de-poesia.html Poema do livro de poesia Alguma Trilha Além, Edição Secma, 2006, reproduzido em Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante Anuário, São Luis (MA), n.7, 2009, disponível em http://cargueirodeletras.blogspot.com.br/2012/04/porto-eduardo-julio.html 80
ELOY MELONIO
|São Luís/MA, 18 de julho de 1952|. Professor, compositor e escritor/poeta brasileiro. Possui formação na área de Letras e de Direito. Membro de várias instituições culturais, como a Academia Poética Brasileira, a Academia Ateniense de Letras e Artes, a Sociedade de Cultura Latino-Americana e a Associação Maranhense de Escritores Independentes. É o autor de A Verdade Que Liberta (religioso, 1999), Os Dois Lados da Cruz (novela, 2000) e Dentro de Mim (poemas, 2015). Possui composições gravadas por diversos parceiros, tendo lançado em 2015 o álbum, com doze faixas, Simplesmente assim. Entre outros projetos, prepara a publicação de um novo livro de poemas sob o título Travessia. Possui participação, com 5 poemas, na antologia Setembro poético (org. Ana Néres, Pedreiras, 2017) e publica, com certa regularidade, crônicas e ensaios no Blog do Ed Wilson. Administra a página Clube da Poesia, na rede social do Facebook. https://quatete.wordpress.com/2020/06/16/4-poemas-de-eloy-melonio/
VOZES VORAZES Vozes famintas de poder e glória enchem o vazio do céu. A todo instante, de todas as cores, nos mais aguados tons da insensatez. Aos milhões, elas se vão: zoando, voando, zoando. No rastro fresco do vento, atravessam as noites, as estações. E varam-nos o peito sem vestígios de claras intenções. E nessa rota de infames ruídos, muita gente sem vez, sem viço, sem voz. No meio de todo esse vozerio, um velho poema implora aos seus versos que não subvertam a sua essência.
PARADOXOS Repentinamente — não tão de repente assim — foi-se a casca, deixando nua a ferida. Inesperadamente — se o que se espera é inesperado — numa covarde agressão, a morte punge-nos com seu aguilhão. Finalmente — apesar de nos imaginarmos imortais — um dia descobrimos que a luz logo se apagará. E, nos paradoxos da vida, o poeta tenta conotar o que — notoriamente — todos acham que já sabemos.
NECESSIDADE EXTREMA Não preciso das palavras. Sublimes, ferinas, soltas, ou da semântica escravas. Não dependo dos versos. Sedutores, densos, desconexos, meus, ou de alheia lavra. Não me interessa o céu. Os santos, os anjos, as boas almas, nem a fé inabalável de Jó. Não sinto falta de mim. Dos meus gestos, da minha opinião, do meu sim, do meu não. Mas de ti não posso prescindir.
POESIA Sou alegre e triste, alma gentil que já partiu. Sou o sorriso da chegada, a lágrima da partida.
Sou revoada de andorinhas no finzinho da tarde. Sou lembrança que revive uma saudade. Sou aflição, paixão adormecida, uma estrada só de ida. Sou trevas que se demoram, noite que resiste a ser dia. Sou dor que finjo não sentir. Sou ideia e fantasia. Sou ninguém e todo mundo. Sou poesia.
DENTRO DE MIM - Dentro de mim é um livro de poesia que marca a entrada de seu autor no cenário poético-literário de São Luís. O livro traz em seus 128 poemas as ideias e preocupações do autor com a vida e com a condição humana, além de passear entre temas como amor, saudade, reflexão existencial, vida e realidade. Dentro de Mim não é um livro apenas para leitura e reflexão, mas especialmente para fruição de um prazer superior numa mensagem de impacto pessoal e social. Os poemas apresentam-se organizados por liames temáticos em seis seções, a saber: Românticos; Linguagem e o fazer poético; Homenagens; Drama, vida e realidade; Reflexão existencial; e Temas diversos. https://www.ameimais.org/eloymelonio
FABRÍZIO LIMA BARONI PEREIRA FABRIZIO BARONI Nasceu em São Luis em 1974. Além da literatura atua no campo da pintura e da musica. EQUILIBRIO Existe um equilíbrio da correnteza da vida Que alcança a nossa plenitude entre o céu e a terra Permitindo que nós seres viventes, Retiremos do ser supremo o perfeito Pelo verso o imperfeito seremos nós Que procuraremos contrariá-lo De algo que não conhecemos? Pois somos apenas filhos deste próprio pai.
FERNANDO ABREU81
Maranhense de São Luís, Fernando Abreu também é letrista de música popular, tendo entre seus parceiros, Chico César, e os maranhenses Chico Nô, Neto Peperi, Gerson da Conceição, Zeca Baleiro e Nosly. Os três últimos gravaram parcerias com o autor em seus discos, sendo as mais conhecidas, Alma Nova, Rock do Cachorro Doido e Guru da Galera, lançadas por Zeca Baleiro. Livros anteriores de poesia: Relatos do Escambau (Exodus, 1998) e O Umbigo do Mudo (Clara Editora, 2003). Editou a revista de poemas Uns & Outros, com os integrantes do grupo Akademia dos Párias. ( comecei a experimentar algumas ideias que me pareceram instigantes, marcadas por associações mais livres, abertura para sugestões do inconsciente e da intuição. Confiança na lógica interna do poema, em sua funcionalidade como matéria verbal autônoma.” Fernando Abreu ANUNCIAÇÃO Não é o mal quem te espreita sob a pele Quando afagas os desvãos do rosto Explorando a estatuária paciente Que só no alvo dos dentes se revela Ritual de mútuo reconhecimento Onde jamais falsidade se admite Nenhuma lâmina elide esse momento Nem estátua de sal corrompe o mito Aos poucos um sorriso se insinua Músculos que estalam em degelo Espelhos secretos que se instalam Entre a cal da carne e a alma nua Até que toda a tua face se ilumina Luz que te reveste feito um manto Disfarce para os dias transparentes Blindagem para as noites mais escuras.
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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/fernando_abreu.html http://blog.jornalpequeno.com.br/raimundogarrone/2011/09/22/fernando-abreu-lanca-livro-em-sao-paulo/ https://www.youtube.com/watch?v=zy2f-C5oI38 http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/24/fernando-abreu-uma-leitura-sem-aspas-1365.htm
A LOUCURA MOSTRA AS UNHAS Sempre que a loucura mostra as unhas de gato Para arranhar teus ossos sob a paz do beco Deixa elétrica dor dizer na lata e a seco Vida de gado na mesmice desse mato Fingindo ser farinha de outro saco Cão e gato se lambem à luz do gueto Erguendo brindes comem o mesmo naco Da tua carcaça crua em branco & preto Exposto assim ninguém aguenta o tranco Entrega os pontos antes do último ato Um pirata perneta caolho troncho e manco Surge do fundo para afundar teu barco Dança com esse lobo até soltar o pêlo No fim tem sempre um olho atrás do palco Uiva de escalpo em punho e fim de papo Pouco importa saber quem paga o pato.
FERNANDO ATALLAIA 82
1979. Músico, compositor, poeta, jornalista, autor de mais de duzentas músicas, participou do 1º Festival de voz e violão do Estado do Maranhão, como artista convidado, e dos festivais de música popular dos municípios de Pinheiro e Pedreiras (MA). Como poeta, do 21º Festival Maranhense de Poesia, onde foi um dos ganhadores. Pertence a geração 90, da música e da poesia maranhense. Ao lado de Mauro Ciro, Bioque Mesito, Dyl Pires, Ana Teixeira, Ciro Falcão e Samarone Marinho, foi responsável pelos movimentos literários ocorridos a partir de 1996, em São Luís, como integrante do Grupo Carranca de Poesia. Atualmente, alterna-se entre o jornalismo cultural e político e a recente produção cultural maranhense. Como produtor, em parceria com Well Matos, reuniu artistas representativos da música maranhense de hoje, no Projeto Festiveiros (plano de apoio à produção fonográfica da Secretaria de Estado da Cultura – 2004). Tem três livros de poesia inéditos e escreve sempre semanalmente no Jornal Tribuna do Nordeste (São Luís).
A Noite das Maravilhas Chispando, crispada a noite das maravilhas A maravilhosa noite de quadris calejados Mas estonteantes, perversos Quando giram às mesas dos homens ausentes Demônios risonhos pregados na cruz Rindo-se da falsa alegria ali imponente Entre golpes de dor, mentiras e gim E elas campeiam na ilusão dos segundos Provocando milagres nas amaldiçoadas
Pelos restos de luz que a fumaça apodrece Como se o Cristo em Jesus fosse o outro culpado Vão-se os pelos nas toscas, rudes meiguices E os fardos aos dinheiros roubados da fé A cabeça martela, martela os cinco sonetos E ninguém os sabe além do ‘eu te amo , te adoro , te quero’ Sonolência, castelos , transfigurada a ideia: raiz do real Meu heroico caralho afundando outra vez 82
http://palcomp3.com/fernandoatallaia/info.htm
E é isso que dá ser poeta entre multas Dos acessos da noite na trilha mundana Inexistências rompidas , caladas por ti ó dama Louca das praias, deusa das águas de inferno
Não há outro destino senão o veneno Para identificar em ti o mistério mais intimo Porque tudo que falado encanta e dito mais ainda adentra E tocado ainda mais entranha Entranhado ainda solto, assenta
Pela manhã as praças cospem esperança Da noite passada ter sido feliz Como a dança dos embriagados intermináveis, infindos A certeza da morte não mais existir Vísceras alegres, olhos de cão Do pão da noite à fome das cuias Homens- pirão, mulher- canivete
Desçam todos ao Portinho dos peixes Aves que são, urubus parecidos E a noite das maravilhas debruçada caminha Sois a pino, cortiços- fadigas A noite das maravilhas A noite maravilhada
LITERATURA BRASILEIRA: ESCRITORA MARANHENSE, ROSEMARY RÊGO ANALISA OBRA POÉTICA DE FERNANDO ATALLAIA 11 DE JULHO DE 2018 / CLAUDIO REIS Uma Geração profícua Os anos noventa para o cenário literário maranhense marca o surgimento de uma geração que vem sedimentando seu nome na paisagem literária do estado. Nesse contexto inclui-se Fernando Atallaia, poeta, dono de uma sensibilidade lírica carregada de plasticidade. Em seu livro Ode Triste para Amores Inacabados nos apresenta temas que oscilam entre o amor e questões sociais. E, nessa catarse, nos mostra que a poesia está acima de qualquer conceito. É um livro versátil, onde a poesia incursiona pela metalinguagem e desemboca na metafísica. “Poesia que é poesia não cabe em coletâneas”… “A casa é fortaleza para a pele, e eu de rudimentar, tenho os ossos na poeira”. Atallaia é um poeta comprometido com o fazer poético, em que a originalidade de sua poética lhe isenta de qualquer pasticho. Com esta obra ele presenteia a cidade de São Luís que tradicionalmente carrega como sina as chagas da poesia que se imortaliza em cada sobrado, em cada paralelepípedo e em cada musgo que brota das ruínas onde o tempo nos apresenta sua face. Esta é mais uma obra que brotou da lide de uma geração de poetas e escritores que de forma comprometida vem honrando a nossa literatura. Rosemary Rêgo é Poeta, Escritora e Especialista em Língua Portuguesa. Autora das seguintes obras: O Ergástulo Gozo da Palavra e Pérolas ao Tempo.
LITERATURA DO MARANHÃO: HAGAMENON DE JESUS ANALISA OBRA POÉTICA DE FERNANDO ATALLAIA
17:54 | Postado por Equipe Baluarte | | DA POESIA DE FERNANDO ATALLAIA E SOBRE O PESO DA FLOR Por Hagamenon de Jesus A mais importante pergunta que normalmente nós, da escória, nos fazemos ao ler algum poema é: “Esta criatura é mesmo parte da estapafúrdia e maviosa escória da poesia?” Ou a Grande Mãe Poesia o chamou, momentaneamente, apenas para tocá-lo, para encantá-lo e, com seu poder de sensibilizar, transportá-lo, por certo tempo, para além do animal humano? Ou com este chamado pretende que novos caminhos se abram em seu ser, para tocá-lo e dirigir seus passos em sua real direção? Ou esta pessoa apenas se equivoca e imagina que pode ludibriar a poesia e usá-la para, de algum modo, tirar proveito disto? Neste último caso, tenha as vantagens que tenha, engana-se a si mesmo. Toda engodo e chumbo, a poesia será como uma flor que se fecha e se nega em seu coração. Flor de engano. E ele sempre saberá disto, do quanto pesa esta flor. Nos demais casos, a Grande Mãe Poesia é sempre o passo que inicia a jornada de um homem, um homem que a partir de agora foi tocado pela crua ou mirífica beleza da nossa humanidade. Creio que no caso de Fernando Atallaia e de seu Ode Triste para Amores Inacabados, pode-se falar da existência de um ser poético manejando as palavras. Gostei da ideia de inconclusão da experiência amorosa que permeia o título. É uma gota de pragmatismo na semântica romântica que ele sugere. E já que o tempo está mesmo meio inconcluso e dilacerado... E já que de há muito tempo o sentimento romântico já não é tão romântico assim... As experiências amorosas, transfiguradas em poesia pelo autor, demonstram parte do manancial estético-formal no qual se banhou: dos românticos aos modernistas (e ciente das experiências posteriores), mas optando, para este livro, principalmente pelo recurso do verso livre modernista. Já o conteúdo é tocado a doses de amor, mas modulado pela concreção da vida e das circunstantes históricas. É um amor feito de açúcar cristal e de chorume, límpido e impuro, e concreto, bruto, com seus escolhos, com seus gorgulhos. São estas matizes, esta modulação que se percebe nestes versos que apontam para os hipócritas: “Caiam fora morram sem a foda saiam fora sem a xana de uma donzela na cadeira / Pois além dessas teias há ainda muitos girassóis/ muitos girassóis” (Rendez-vous). Talvez a principal ideia-tema que direciona o livro seja a de que digam o que disserem, façam o que fizerem, não foi possível deixar de amar. Ser despedaçado e sórdido, insuficiente e fraco, este condicionado ser não pôde deixar de amar. Mas amou o estrangulado agora do nosso amor, como nós todos, e com todos os nós: “Amei com a tempestade na garganta / com o grito preso aos lençóis / Amei com todos os nós (...) / Sereias mal amadas sem nenhum mar. (...) / Quem sabe do amor mais que eu que amei de muletas (...)” (Amores à Parte). Pensa-se que pelo que o livro propõe, ao autor lhe foi suficiente o recurso do verso livre que predomina nos poemas. Contudo, pelo que já conhece de recursos estético-formais em sua convivência com a poesia e a música, bem como pela sua já reconhecida capacidade criativa, crêse que à medida que sua produção poética for seguindo e novas intenções artísticas forem surgindo, teremos a utilização de mais recursos de seu arsenal estético-formal. Digo isto porque penso que forma é a necessidade de um conteúdo e de uma intenção artística, não o inverso. Senti falta também de um número maior de poemas de temática mais declaradamente existencial, que sei ser uma outra face do poeta, conforme aparece em “A Casa”, um dos bons poemas do livro. Mas sei também, pelo que o próprio título do livro deixa claro, que neste momento não era esta a intenção. E enquanto aguardo o que ainda virá da produção poética de Fernando Atallaia, fico tranquilo, fico tranquilo contemplando, desfrutando desta flor triste que é “Em nome da Filha”, bela, tocante e dolorida elegia em que o poeta semitona nosso lado romântico-piegas, exploração sexual e a sordidez do social: Saqueei a vida da mulher que me apareceu vinda do interior Do interior de suas faltas de seus olhos de seus ossos (...) Todo dia é a mesma coisa tento amenidades
E digo que lançarei um livro A mulher sorri um sorriso sem dentes e mostra o decote Chamar-se-á Ode Triste para Amores Inacabados (...) A mulher na cadeira sentada à meia noite é a mesma criança que nasce sem pelos Sem nada
Sim, ao ler este e outros poemas do livro de Fernando, fico tranqüilo. Fico tranqüilo e certo de que o poeta poderá continuar cultivando, em forma de poesia, suas flores tristes e seus girassóis, porque, para ele, nunca lhe pesará esta flor.
Hagamenon de Jesus Poeta e crítico literário maranhense
FERNANDO OCTÁVIO MOREIRA DA CRUZ83 FERNANDO MOREIRA 25 de setembro de 1930 # Rio de Janeiro, no dia 27 de ju1ho de 1994. Filho de Antonio Ribeiro da Cruz Júnior e Laura Rosa Moreira Ribeiro da Cruz. Formou-se em Letras Neo-Latinas pela Faculdade de Filosofia de São Luís do Maranhão, e em 1959, como professor assistente, ingressou na referida Faculdade, onde desempenhou a função de professor durante 32 anos. Foi professor de Língua e Literatura Inglesa, Língua e Literatura de Expressão Francesa, Literatura Americana, História das Literaturas e Língua Francesa na Aliança Cultural Brasileira. Além de professor, exerceu ainda a função de Diretor do Instituto de Letras e Artes (ILA) da UFMA . Em 1992, já aposentado da UFMA, voltou à sua função de professor de Inglês no Centro Universitário do Maranhão (CEUMA). Fluente nas línguas francesa, inglesa e dono de uma cultura exemplar e de uma prodigiosa memória, Fernando Moreira a1iou tudo isso ao talento para a ficção - como contista, romancista e teatrólogo. São de sua autoria as obras: “O Grupo” - contos, “Reunião em Família” (teatro), “Cinema: uma perspectiva histórica, social e artística” (ensaios), “Desenhos na Parede” (romance), “As figuras em cera” (novela). Publicou ainda os trabalhos didáticos: “Aspectos da dramaturgia brasileira contemporânea”, “As Palavras e as Idéias”, volumes I e II, em colaboração com a Profa. Maria de Lourdes Barroqueiro, “Nine dramatists and ten great moments on the American stage”, “Notes on XXth Century English Drama”. Teatro Escolhido é o 19º título da Coleção Geia de Temas Maranhenses. O livro reúne peças teatrais de Fernando Moreira, que também escreveu romances, contos, ensaios, novelas e crítica de cinema. O dramaturgo deixou uma obra quase totalmente inédita.
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FERREIRA, José de Mário Moraes. CAFé LITERáRIO HOMENAGEIA FERNANDO MOREIRA, publicado em 23.11.2012, disponível em http://www.cultura.ma.gov.br/portal/sede/impressao.noticia.php?loc=ccocf&id=108, acessado em 10/05/2014 MELO, Vilma Maria Carvalho de Melo. In Ciências Humanas em Revista/Universidade Federal do Maranhão. Centro de Ciências Humanas, São Luís, 2005. v. 3, n. , disponível em .http://www.nucleohumanidades.ufma.br/pastas/CHR/2005_1/capa_v3_n1.pdf
FERREIRA GULLAR84
JOSÉ RIBAMAR FERREIRA 10 de setembro de 1930 Centro Cultural Gonçalves Dias Movimento da Movelaria Guanabara (Geração de 50) Academia Brasileira de Letras Nasceu no dia 10 de setembro de 1930, na cidade de São Luís, capital do Maranhão, quarto filho dos onze que teriam seus pais, Newton Ferreira e Alzira Ribeiro Goulart. Iniciou seus estudos no Jardim Decroli, em 1937, onde permaneceu por dois anos. Depois, estudou com professoras contratadas pela família e em um colégio particular, do qual acabou fugindo. Em 1941, matriculou-se no Colégio São Luís de Gonzaga, naquela cidade. Aprovado em segundo lugar no exame de admissão do Ateneu Teixeira Mendes, em 1942, não chegou a concluir o ano letivo nesse colégio. Ingressou na Escola Técnica de São Luís, em 1943. Apaixonado por uma vizinha, Terezinha, deixou os amigos e passou a se dedicar à leitura de livros retirados da Biblioteca Municipal e a escrever poemas. Na redação sobre o Dia do Trabalho, onde ironizava o fato de não se trabalhar nesse dia, em 1945, obtém nota 95 e recebe elogios pelo seu texto. Só não obteve a nota máxima em virtude dos erros gramaticais cometidos. Face ao ocorrido, dedicou-se ao estudo das normas da língua. Essa redação foi inspiradora do soneto "O trabalho", primeiro poema publicado por Gullar no jornal "O Combate", de São Luís, três anos depois. Tornou-se locutor da Rádio Timbira e colaborador do "Diário de São Luís", em 1948. Em 1954, casa-se com a atriz Thereza Aragão, com quem teve três filhos: Paulo, Luciana e Marcos. Lança "A luta corporal", que causou desentendimentos com os tipógrafos em função do projeto gráfico apresentado. Após sua leitura, Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari manifestam-lhe, por carta, o desejo de conhecê-lo. No fim desse ano, passa a trabalhar como revisor na revista "Manchete". Seu encontro com Augusto de Campos se dá às vésperas do Carnaval de 1955, resultando inúmeras discussões sobre a literatura. Trabalha como revisor no "Diário Carioca" e, posteriormente, engaja-se no projeto "Suplemento dominical" do "Jornal do Brasil". A convite do trio de escritores paulistas acima citados, participa da I Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1956.
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http://imirante.globo.com/saoluis400anos/autores/ http://www.senado.gov.br/senadores/senadores_biografia.asp?codparl=1566&li=37&lcab=1934-1937&lf=37 http://artigo.tol.pro.br/portal/linguagem-pt/Clodomir%20Cardoso
Em janeiro do ano seguinte, o MAM carioca recebe a citada exposição. Gullar discorda da publicação do artigo "Da psicologia da composição à matemática da composição", escrito pelo grupo concretista de São Paulo. Redige resposta intitulada "Poesia concreta: experiência fenomenológica". Os dois textos são publicados lado a lado na mesma edição do "Suplemento Dominical". Com seu artigo, Gullar marca sua ruptura com o movimento. Em 1958, lança o livro "Poemas. No ano seguinte, escreve o "Manifesto Neo-concreto", publicado no "Suplemento Dominical" e que foi também assinado por, entre outros, Lygia Pape, Franz Waissman, Lygia Clark, Amilcar de Castro e Reynaldo Jardim. Ali, também, foi publicado "Teoria do não-objeto". Criou o "livro-poema" e o "Poema enterrado", que consistia de uma sala subterrânea, dentro da qual havia um cubo de madeira de cor vermelha, dentro desse um outro, verde, de menor diâmetro, e, finalmente, um último cubo de cor branca que, ao ser erguido, permitia a leitura da palavra "Rejuvenesça". Construído na casa do pai do artista plástico Hélio Oiticica, a "instalação" não pode ser vista pelo público: uma inundação, provocada por fortes chuvas, alagou a sala e destruiu os cubos. Foi nomeado, em 1961, com a posse de Jânio Quadros, diretor da Fundação Cultural de Brasília. Elabora o projeto do Museu de Arte Popular e inicia sua construção. Em 1969, lança o ensaio "Vanguarda e subdesenvolvimento". O ano de 1970 marca sua entrada na clandestinidade. Passa a dedicar-se à pintura. Publica, em 1975, "Dentro da noite veloz". O "Poema sujo" é escrito entre maio de outubro desse ano. No ano seguinte, sem a presença do poeta, o "Poema sujo" é lançado, enquanto Gullar dá aulas particulares de português em Buenos Aires, para poder sobreviver. Em 2002, é indicado ao Prêmio Nobel de Literatura por nove professores titulares de universidades de Brasil, Portugal e Estados Unidos. São relançados num só livro, os ensaios dos anos 60: "Cultura posta em questão" e "Vanguarda e subdesenvolvimento". Em dezembro, o poeta recebe o Prêmio Príncipe Claus, da Holanda, dado a artistas, escritores e instituições culturais de fora da Europa que tenham contribuído para mudar a sociedade, a arte ou a visão cultural de seu país TRADUZIR-SE85 Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim 85
http://pensador.uol.com.br/autor/ferreira_gullar/ http://www.mensagenscomamor.com/poemas-e-poesias/poemas_de_ferreira_gullar.htm
é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir-se uma parte na outra parte - que é uma questão de vida ou morte será arte? Poema sujo (trecho)86 turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro escuro menos menos menos que escuro menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo escuro mais que escuro: claro como água? como pluma? claro mais que claro claro: coisa alguma e tudo (ou quase) um bicho que o universo fabrica e vem sonhando desde as entranhas azul era o gato azul era o galo azul o cavalo azul teu cu tua gengiva igual a tua bocetinha que parecia sorrir entre as folhas de banana entre os cheiros de flor e bosta de porco aberta como uma boca do corpo (não como a tua boca de palavras) como uma entrada para eu não sabia tu não sabias fazer girar a vida com seu montão de estrelas e oceano entrando-nos em ti bela bela mais que bela mas como era o nome dela? Não era Helena nem Vera nem Nara nem Gabriela nem Tereza nem Maria Seu nome seu nome era… Perdeu-se na carne fria perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia perdeu-se na profusão das coisas acontecidas constelações de alfabeto 86
http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/ferreira-gullar-poemas/#.U2zcflS5eWg
noites escritas a giz pastilhas de aniversário domingos de futebol enterros corsos comícios roleta bilhar baralho mudou de cara e cabelos mudou de olhos e risos mudou de casa e de tempo: mas está comigo está perdido comigo teu nome em alguma gaveta Que importa um nome a esta hora do anoitecer em São Luís do Maranhão à mesa do jantar sob uma luz de febre entre irmãos e pais dentro de um enigma? mas que importa um nome debaixo deste teto de telhas encardidas vigas à mostra entre cadeiras e mesa entre uma cristaleira e um armário diante de garfos e facas e pratos de louças que se quebraram já um prato de louça ordinária não dura tanto e as facas se perdem e os garfos se perdem pela vida caem pelas falhas do assoalho e vão conviver com ratos e baratas ou enferrujam no quintal esquecidos entre os pés de erva-cidreira e as grossas orelhas de hortelã quanta coisa se perde nesta vida Como se perdeu o que eles falavam ali mastigando misturando feijão com farinha e nacos de carne assada e diziam coisas tão reais como a toalha bordada ou a tosse da tia no quarto e o clarão do sol morrendo na platibanda em frente à nossa janela tão reais que se apagaram para sempre Ou não? Não sei de que tecido é feita minha carne e essa vertigem que me arrasta por avenidas e vaginas entre cheiros de gás e mijo a me consumir como um facho-corpo sem chama, ou dentro de um ônibus ou no bojo de um Boeing 707 acima do Atlântico acima do arco-íris perfeitamente fora do rigor cronológico sonhando Garfos enferrujados facas cegas cadeiras furadas mesas gastas balcões de quitanda pedras da Rua da Alegria beirais de casas cobertos de limo muros de musgos palavras ditas à mesa do jantar, voais comigo sobre continentes e mares E também rastejais comigo pelos túneis das noites clandestinas sob o céu constelado do país entre fulgor e lepra debaixo de lençóis de lama e de terror
vos esgueirais comigo, mesas velhas, armários obsoletos gavetas perfumadas de passado, dobrais comigo as esquinas do susto e esperais esperais que o dia venha E depois de tanto que importa um nome? Te cubro de flor, menina, e te dou todos os nomes do mundo: te chamo aurora te chamo água te descubro nas pedras coloridas nas artistas de cinema nas aparições do sonho - E esta mulher a tossir dentro de casa! Como se não bastasse o pouco dinheiro, a lâmpada fraca, O perfume ordinário, o amor escasso, as goteiras no inverno. E as formigas brotando aos milhões negras como golfadas de dentro da parede (como se aquilo fosse a essência da casa) E todos buscavam num sorriso num gesto nas conversas da esquina no coito em pé na calçada escura do Quartel no adultério no roubo a decifração do enigma - Que faço entre coisas? - De que me defendo? Num cofo de quintal na terra preta cresciam plantas e rosas (como pode o perfume nascer assim?) Da lama à beira das calçadas, da água dos esgotos cresciam pés de tomate Nos beirais das casas sobre as telhas cresciam capins mais verdes que a esperança (ou o fogo de teus olhos) Era a vida a explodir por todas as fendas da cidade sob as sombras da guerra: a gestapo a wehrmacht a raf a feb a blitzkrieg catalinas torpedeamentos a quinta-coulna os fascistas os nazistas os comunistas o repórter Esso a discussão na quitanda a querosene o sabão de andiroba o mercado negro o racionamento oblackout as montanhas de metais velhos o italiano assassinado na Praça João Lisboa o cheiro de pólvora os canhões alemães troando nas noites de tempestade por cima da nossa casa. Stalingrado resiste. Por meu pai que contrabandeava cigarros, por meu primo que passava rifa, pelo tio que roubava estanho à Estrada de Ferro, por seu Neco que fazia charutos ordinários, pelo sargento Gonzaga que tomava tiquira com mel de abelha e trepava com a janela aberta, pelo meu carneiro manso por minha cidade azul pelo Brasil salve salve, Stalingrado resiste. A cada nova manhã nas janelas nas esquinas nas manchetes dos jornais
Mas a poesia não existia ainda. Plantas. Bichos, Cheiros. Roupas. Olhos. Braços. Seios. Bocas. Vidraça verde, jasmim. Bicicleta no domingo. Papagaios de papel. Retreta na praça. Luto. Homem morto no mercado sangue humano nos legumes. Mundo sem voz, coisa opaca. Nem Bilac nem Raimundo. Tuba de alto clangor, lira singela? Nem tuba nem lira grega. Soube depois: fala humana, voz de gente, barulho escuro do corpo, intercortado de relâmpagos Do corpo. Mas que é o corpo? Meu corpo feito de carne e de osso. Esse osso que não vejo, maxilares, costelas flexível armação que me sustenta no espaço que não me deixa desabar como um saco vazio que guarda as vísceras todas funcionando como retortas e tubos fazendo o sangue que faz a carne e o pensamento e as palavras e as mentiras e os carinhos mais doces mais sacanas mais sentidos para explodir uma galáxia de leite no centro de tuas coxas no fundo de tua noite ávida cheiros de umbigo e de vagina graves cheiros indecifráveis como símbolos do corpo do teu corpo do meu corpo corpo que pode um sabre rasgar um caco de vidro uma navalha meu corpo cheio de sangue que o irriga como a um continente ou um jardim circulando por meus braços por meus dedos enquanto discuto caminho lembro relembro meu sangue feito de gases que aspiro dos céus da cidade estrangeira com a ajuda dos plátanos e que pode – por um descuido – esvair-se por meu pulso aberto
Meu corpo que deitado na cama vejo como um objeto no espaço que mede 1,70m e que sou eu: essa coisa deitada barriga pernas e pés com cinco dedos cada um (por que não seis?) joelhos e tornozelos para mover-se sentar-se levantar-se meu corpo de 1,70m que é meu tamanho no mundo meu corpo feito de água e cinza que me faz olhar Andrômeda, Sírius, Mercúrio e me sentir misturado a toda essa massa de hidrogênio e hélio que se desintegra e reintegra sem se saber pra quê Corpo meu corpo corpo que tem um nariz assim uma boca dois olhos e um certo jeito de sorrir de falar que minha mãe identifica como sendo de seu filho que meu filho identifica como sendo de seu pai corpo que se pára de funcionar provoca um grave acontecimento na família: sem ele não há José Ribamar Ferreira não há Ferreira Gullar e muitas pequenas coisas acontecidas no planeta estarão esquecidas para sempre corpo-facho corpo-fátuocorpo-fato atravessados de cheiros de galinheiros e rato na quitanda ninho de rato cocô de gato sal azinhavre sapato brilhantina anel barato língua no cu na boceta cavalo-de-crista chato nos pentelhos com meu corpo-falo insondável incompreendido meu cão doméstico meu dono cheio de flor e de sono meu corpo-galáxia aberto a tudo cheio de tudo como um monturo de trapos sujos latas velhas colchões usados sinfonias sambas e frevos azuis de Fra Angelico verdes de Cézanne matéria-sonho de Volpi Mas sobretudo meu
corpo nordestino Mais que isso maranhense mais que isso sanluisense mais que isso ferreirense newtoniense alzirense meu corpo nascido numa porta-e-janela da Rua dos Prazeres ao lado de uma padaria sob o signo de Virgo sob as balas do 24º BC na revolução de 30 e que desde então segue pulsando como um relógio num tic tac que não se ouve (senão quando se cola o ouvido à altura do meu coração) tic tac tic tac enquanto vou entre automóveis e ônibus entre vitrinas de roupas nas livrarias nos bares tic tac tic tac pulsando há 45 anos esse coração oculto pulsando no meio da noite, da neve, da chuva debaixo da capa, do paletó, da camisa debaixo da pele, da carne, combatente clandestino aliado da classe operária meu coração de menino (…)
FRANCISCO DE ASSIS PERES SOARES
FRANCISCO DE ASSIS PERES SOARES nasceu em São Luís, em 11 de agosto de 1961. É filho de Luiz Alfredo Netto Guterres Soares e Sônia Maria Peres Soares. Com "Terra caduca" participou do II Festival Universitário de Poesia Falada. Possui graduação em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Maranhão e Especialista em Metodologia do Ensino. Atualmente (2019) é Subsecretário de Estado de Minas e Energia (SEME). Tem experiência na área de Engenharia de Energia, Sistemas de Gestão Ambiental, Meio Ambiente, Cidades Sustentáveis, dentre outros temas. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/francisco_de_assis_peres_soares.html
Francisco Peres estudou todo o curso primário na escola Santa Terezinha. Depois foi para o colégio Pituchinha, escola que deu origem ao Colégio Meng. Na antiga Escola Técnica Federal do Maranhão cursou Eletrotécnica, ingressou na Universidade Federal do Maranhão e fez pósgraduação na área de metodologia do Ensino de 3º grau na Universidade Estadual do Maranhão. O engenheiro passou boa parte de sua vida entre pesquisas e viagens para descobrir novos rumos para a ciência e tecnologia. Na Ilha de Páscoa, localizada no oceano pacífico, a 3.700 quilômetros da Costa Chilena, esteve pela primeira vez no ano de 1991. Lá, conseguiu comprovar que as enormes estátuas pascoenses erguidas em torno da ilha - os Moai - foram construídas para servir de pára-raios, um projeto que antecedeu em pelo menos três séculos os tradicionais pára-raios de Benjamin Franklin. A notícia tornou-lhe conhecido no Brasil inteiro e a partir de então seu nome passou a ser associado a tal descoberta, o que lhe rendeu um prêmio em dinheiro concedido pela Universidade Federal do Maranhão, bem como a publicação da obra intitulada “Pára-raios de pedra da Ilha de Páscoa” (editora Edufma / 1994), tendo também sido manchete de jornais e revistas de grande circulação no país e participado de programas nacionais de televisão. AMARGAS CONFISSÕES DE UM SONHO-POEMA Cansado do mundo, t6ento em vão dormir No vão do meu longo caminho. Perdido em tolas indagações, ignoro o cansaço, Do meu corpo e divago sem rumo, No meu próprio destino. Já me sinto flutuar e balançar, seguindo Um ritmo carnavalesco, que aos poucos Me vem aos ouvidos... ... É a turba frenética lá fora, Ditando minhas orações. O vento fecunda meu pensamento triste E irreverente Acomodado entre quatro paredes de barro,
Fermenta-se a essência do meu Espírito Metálico, Transcendo, então, para a realidade E a imaginação se segue... [...] TERRA CADUCA Da natureza cibernética: Os frutos autómatos. As flores mecânicas da natureza cibernética. A mãe natureza de proveta. Os frutos, produtos da artificial inseminação na natureza cibernética. Os cantos dos abutres, sintetizados. Os cantos mixados dos curiós. Nascem os "Pés de Edifícios" multipiicando-se graças às abelhas multiprogramadas IBM de tal. As aranhas não tecem, arranham o céu que reflete como um espelho côncavo o desespero dos que gritam 02A luz foi-se e ficou a foice das trevas, mas o sol ainda brilha em outros planetas menos caducos. A terra ja não mais vê pela luz pura do Astro Rei, vê sim, pela luz dos homens sem luz. 0 orvalho destrói e corrói, como a chuva das más nuvens ácidas. Até o odor plastificou-se: "- Adquiram logo, senhores, estamos vendendo em promoção: cheiro de amora, uva, rosa, terra molhada, do campo..." ...SÓ não vendem o cheiro da ferrugem e o da morte (São encontrados com abundância) ...E as rosas ainda existem? Ah! As rosas??? Ah! Rosas clonadas, muitiprocessadas. Rosas caóticas, deste jardim infecundo, deste chão estéril. És a rosa da agonia, radiativa, dos cogumelos mistificados. - Rosa podre, esquálida. Juntas, são o caos desta época subnutrida, deste século da velocidade, desta geração antropofágica. Juntas, enfeitam os banquetes dos "Falsos Reis" que se saciam na orgia dos seus espíritos nefastos submetendo incultos robôs.
"Só, és a chaga eterna do povo massificado, abatido do povo maltratado, programado. Es a cruz ébria da taverna que não bebeu do vinho mal repartido com o povo subjugado." — Rosa podre, Rosa do câncer ou canceRosa Ah! Rosa Homem
FRANCISCO DE PAULA BEZERRA
depaulapoesia Me chamo Francisco de Paula Bezerra, natural do Maranhão, casado, Policial Civil, poeta, administrador de empresa, já editei 05 livros de poesia. hoje, como funcionário público sempre fiz da atividade policial uma excelência da educação, portanto, adoro vivenciar o sentido da alma .
FRANCISCO INALDO LIMA LISBOA
CONCURSOS Inaldo87 graduou-se em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e em Letras pelo Uniceuma. É especialista em Língua Portuguesa pela Universidade Salgado de Oliveira e Mestre em Ciências, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Em 1995, entrou para o quadro da então Escola Agrotécnica Federal de São Luís, atual IFMA – Campus Maracanã, onde trabalha até hoje. Além de professor, ocupa o cargo de diretor do Departamento de Desenvolvimento Estudantil (DDE). No Campus Maracanã, há 16 anos, Inaldo está à frente do premiado Fazend’arte, grupo pedagógico de teatro estudantil88. Venceu, em 2007, o Prêmio Água Fonte de Vida e Desenvolvimento, promovido pela Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão (CAEMA), na categoria texto teatral. No 31º Concurso Literário e Artístico da Cidade de São Luís, nesse mesmo ano, conquistou os prêmios Artur Azevedo, com o livro Nicéas Drumont: o gavião vadio, e Graça Aranha, na categoria novelas e romances, pelo livro Os novos degredados do Éden. Entre suas obras, destacam-se, ainda, o livro de crônicas e contos Tudo Azul no Planeta Itapecuru (2005) e as peças teatrais Nossa Velha Canção (1996); Um grito vindo do Rio Itapecuru (1997); Babaçu is Business (1999); Moderniscravizando (2006); Os órfãos de Ayrton Sena (2004); Trangênicos or not Transgênicos (2005), entre outras. Assíduo participante do Festival Maranhense de Teatro, neste ano, apresentou o espetáculo E São Luís não virou Paris.
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http://www.ifma.edu.br/maracana/index.php?option=com_content&id=3373%3Ainaldo-lisboa-professor-do-maracana-toma-posse-na-academiade-ciencia-letras-e-artes-de-itapecuru&Itemid=1 88 http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/dissertacao/Francisco%20Inaldo%20Lima%20Lisboa.pdf
FRANCISCO TRIBUZI89
Francisco José Santos Pinheiro Gomes São Luís do Maranhão / 24 de janeiro de 1953 Geração Cassas Grupo da Rua Candido Ribeiro Filho do saudoso escritor José Tribuzi Pinheiro Gomes e da Sra. Maria dos Santos Pinheiro Gomes. Nasceu em São Luís do Maranhão, Brasil, em 24 de janeiro de 1953. Fez o curso primário no Instituto Lourenço de Moraes e no Colégio Zoé Cerveira. O segundo grau, no Colégio Nina Rodrigues. No Colégio de São Luís, o Curso Técnico em Contabilidade. Formou-se em Química pela Universidade Federal do Maranhão,UFMA. Profissionalmente, exerceu o magistério, nos colégios Nina Rodrigues, Almirante Tamandaré e Unidade Integrada Bandeira Tribuzi. Foi chefe de gabinete do Instituto de Tecnologia e Meio Ambiente, no Governo João Castelo. É funcionário da Companhia Energética do Maranhão, onde trabalha, há 16 anos, como assessor de Comunicação Empresarial. Do primeiro matrimônio com Izaíde de Araújo Rodrigues, nasceram Clarice Rodrigues, poeta, e Vinicius Tribuzi Pinheiro Gomes. Do segundo matrimônio, com Maria das Dores, nasceram Artur e Raul Tribuzi. A priori, optou pela pintura, seguindo a trilha do italiano Domingos Tribuzi, tio-avô do seu pai. Expôs seus trabalhos em várias mostras, nas quais logrou prêmios. No final da década de 70, ele entremisturou-se de pintura e literatura: “achava, a princípio, que a pintura era a minha arte. Ela não deixou de ser a minha arte, mas foi suplantada por uma arte maior, que é a poesia”, observa. Publicou, em 1978, seu primeiro livro de poesia, intitulado “Verbo Verde”. Declama o Poema das Tardes, de sua lavra, com o qual ratifica a contiguidade entre palavras e cores: “Existe a tarde que eu invento e que arde/ Existe a outra tarde./A minha tarde é cinzenta/ e a tarde que existe e arde não é igual à tarde que se inventa./ Existe uma tarde e outra tarde/ entre a tarde que eu invento”. É um poeta amplamente aplaudido nas principais antologias poéticas do Maranhão: “Atual Poesia do Maranhão”, de Arlete Nogueira Machado; “Hora de Guarnicê – 1 e 2”, “Poetas da Ponte” e “Poesia Maranhão do Século XX”, organizada por Assis Brasil. Também, os seus trabalhos foram publicados em “As Lâmpadas do Sol”, ensaio de Carlos Cunha e “Um degrau”, revista literária da UFMA. Lembra os tempos de Guarnicê: “Foi uma antologia altamente festejada, porque mostrava toda a nova safra de poetas de São Luís. A antologia virou movimento", afirma. Mesmo fincado à terra Natal, propagou sua poesia no Sul do País. Recebeu menção honrosa especial no 5º Concurso Nacional de Poesia, em dezembro de 1992, organizado pelo Instituto da Poesia Internacional, em Porto Alegre. Conquistou o 1º lugar no Concurso de Poesia “Dia Luz”, promovido pela Cemar, em 1995. Com o poema “Delírio Tremens”, recebeu medalha de ouro, no 18º Concurso Nacional de poesia, pela Revista Brasília, em 1996. Foi destaque especial no Concurso Nacional de Poesia, através da Revista Brasília, neste ano. “Achei por bem mandar minha poesia para fora do Estado, para melhor dimensioná-la”, assevera. 89
CUNHA, Wanda. FRANCISCO TRIBUZI: ENTRE O VERBO E A COR (Reportagem). In RECANTO DAS LETRAS, Disponível em http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2394790, acessado em 24/04/2014. 50 ANOS DE FRANCISCO TRIBUZI. In Suplemento Cultural e Literário JP GUESA ERRANTE, publicado em 29 de novembro de 2005. Disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina224.htm, acessado em 24/04/2014
Em constante produção literária, Francisco Tribuzi leva ao prelo três livros: “Azulejado”, prefaciado por Herberth de Jesus Santos e “Tempoema”, ambos de poesias. O terceiro, intitulado “Sob a ponte”, reúne contos. Ainda há uma safra de 60 crônicas, entre as quais trinta foram publicadas em jornal. Aplaude os poetas do seu tempo: Rossini Correia, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Roberto Kenard, Viriato Gaspar, Valdelino Cécio, João Ubaldo, Celso Borges e outros. Respeita e admira a nova geração: “Paulo Melo Sousa, Lúcia Santos, irmã de Zeca Baleiro, Fernando Abreu... Os poetas da nova geração estão coesos e estão tentando fazer um trabalho mais organizado junto à AME”. Mas desabafa: “A Literatura Maranhense é muito individualista”. Seu pai, Bandeira Tribuzi, num plano espiritual superior, certamente retribui o orgulho que o filho sente do pai. E em nome do pai, do filho e da poesia, Francisco Tribuzi encontrou sua própria identidade: “Por mais que eu não quisesse, todos os dias eu amanheceria com a poesia norteando todo os meus caminhos. Por mais que eu quisesse fugir da poesia, ela continuaria me perseguindo e eu me sinto feliz, por ser um eterno aprendiz dela.” Francisco Tribuzi é da geração de Rossini Corrêa e Cunha Santos Filho. De livro, publicou apenas Verbo Verde, poesia, composto e impresso pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, SIOGE, São Luís, MA, julho, 1978. No entanto, participou de várias antologias, entre outras, A Atual Poesia do Maranhão, organizada por Arlete Nogueira Machado; As Lâmpadas do Sol, organizada por Carlos Cunha, e em outras antologias como Hora de Guarnicê I e II, Poetas da Ponte; Poesia Maranhense do Século XX, organizada por Assis Brasil. Também participou da revista literária Um Degrau. Tem premiação em vários concursos: Menção Honrosa Especial do 5º Concurso Nacional de Poesia, organizado pelo Instituto de Poesia Internacional, Porto Alegre-RS, dezembro, 1972; 1º lugar no Concurso de Poesia Dia de Luz, da Companhia Energética do Maranhão – CEMAR, em 1995, com o poema Delirium Tremens, Medalha de Ouro no 18º Concurso Nacional de Poesia, promovido pela revista Brasília, 1996. É membro fundador da Associação Maranhense de Escritores (AME). Tem alguns livros inéditos: Azulejado e Tempoema, poesia, e Sob a Ponte, conto. Ode Ao Jornalista Acorda que a cidade dorme e o silêncio perpetua a imensidão das coisas. Acorda que a madrugada é fria e principia a manhã sonhada. Acorda que logo mais o jornaleiro estará nas ruas e as notícias cruas desvendará: o que aconteceu, a vida que morreu nessa noite a mais. Noite em que o jornalista não dormiu e a tudo assistiu madrugada afora, e colheu a notícia na hora e aproveitou a essência da rosa recém-nascida para colocar em manchete no jornal de seus olhos onde não dormem nunca o Segredo e a Madrugada. (Poema do livro Verbo Verde) Delirium90 Vomitando nuvens no dia de chuva 90
http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina221.htm
atropelo sonhos dos jardins de ócio no fel da fantasia falsa da uva criatura expulsa, réu do mau negócio Arrepios dissonantes de tantas noites vãs tecendo as trevas do abandono apagando os sóis telúricos das manhãs incendiando a noite irreal, no sono tanto mar defronte e tanta brisa eu turvando a vida do lado de dentro com a alma solta o corpo agoniza distorcendo o mundo no perdido centro Ó pesado álcool que me aprisiona ao submundo mudo dos precipícios na cadeia escura e cruel da zona onde bebo e como todos os hospícios Onde Deus que me levantasse desse chão de cuspe medo e solidão e me arrependesse e me atirasse desse mundo alheio para outro chão Onde sonhos sóbrios me arrematassem das trevas trêmulas da desilusão e num rio límpido me lavassem e me devolvessem pleno, salvo e são para o raiar de um novo dia feito do pão puro da poesia! (Do livro inédito Tempoema)
FRANCISCO MANOEL BAIA DA SILVA
É membro da Academia Poética Brasileira. Participou do MOJORE (Movimento Jovem Renascença) Participou do Concurso Novos Poetas do Maranhão, evento de Poesias realizado pela PREXAE-DAC,(Departamento de Assuntos Culturais) (Órgão da Universidade Federal do Maranhão). Participou do livro de poesia, Esperando a Missa do Galo, do poeta José Moraes do Nascimento; Poetas da Ponte, do poeta Ray Santos, da Antologia Meus Poemas. Escreveu no Suplemento Literário do Jornal Pequeno, coordenado pelo poeta João Alexandre Jr. É autor do livro POESIA PRA MIM É ASSIM.
AMAR É MUITO BOM Sob a ponta da pena, ditaste a pena: - culpado! Que pena. Quisera eu ter sentido antes, que não teria sentido, esse amor sentido por ti. Mas, não me arrependo, entendo que deveria assim terminar. Entretanto, bom que saiba, que o meu canto, mesmo no canto, não haverá de se calar. E digo mais, como é bom amar, amar nunca é demais. FATO Rastros, pegadas no deserto, sopro de vento sobre meu caminho, esponja no texto que escrevi no trampo, um dia desses qualquer, eu serei assim, e a dor maior não ficará em mim, pois te fiz em demasia, anos-luz em minha poesia, fiz minha parte. O choro com certeza virá do outro lado, um pouco mais distante de mim, embora perto de nós.
ANJO Anjo moreno, permita-me ousar abrir o manto branco que cobre teu corpo quente e macio, entrar nas casas dos teus botões, colocar a chave nas profundezas do esquecimento, e tocar suavemente no botão marrom, guardião do teu desejo...
Deixe-me apalpar carinhosamente as montanhas firmes que ostentas tão orgulhosa nas curvas do imponente caminhar de uma deusa soberana... Deixe-me então tornar-se alpinista, subir e descobrir pontos inatingíveis, jamais tocados pelas mãos do homem, e fincar a bandeira do guerreiro feliz, vencedor. Permita-me?
ESSE TEU OLHAR Meu poema não tem tamanho, se o seu o tamanho é do tamanho do teu olhar, quando te prende a me olhar tão despreocupadamente, e é exatamente nesse momento que absorvo a certeza, que teu olhar é do tamanho do meu amor, pois ambos são infinitos, lindos de de olhar. Teu olhar, meu poema, meu amor, Tudo infinitamente tão nosso.
HAGAMENON DE JESUS CARVALHO SOUSA91
Nascido em 21 de setembro de 1964; cursou letras na UFMA; lecionou em diversas escolas de São Luis. Obteve classificação honrosa nos concursos de poesia promovidos pela UFMA, Grupo Poeme-se, e Concurso José Sarney de Poesias, realizados em São Luis; e Nucleo Bandeirante de Poesia, em Brasília 09.07.91 ... e para que, no poema, O homem em mimse faça, Sopro – em sua matéria inânima -, Furioso, o sopro da vida (...) Este momento Que me soube deus. ROMANCE Ando pelas bancas de revistas Olhando as mulheres Nas revistas de sexo. A noite apenas começa. São 6 horas. Um pouco mais, talvez. Não há nada Entre minha solidão E o que espero. Só Ela. Só Ela Consagrada E confrangida Pelos tempos de vida. Sé Ela. Só Ela Nesta rua sem saída, Só Ela pode me tirar das ruas, Se erguer Casa,sem em mim ser vida.
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LEÃO, Ricardo. Entre Carrancas e Monstros: a jovem poesia e literatura maranhenses, disponivel em http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm
PALESTRA De acumulo e orgias O nada a ser dito: Que a poesia Não cabe em palavras
Hagamenon de Jesus (São Luís/MA). Poeta e ensaísta brasileiro. É o autor do livro THE PROBLEM e/ou os poemas da transição. A presente seleção de poemas foi publicada no caderno/antologia QUIBANO: 15 poetas do Maranhão. (Org. Carvalho Junior & Antonio Aílton). https://quatete.wordpress.com/2018/08/01/4-poemas-de-hagamenon-de-jesus/ a flor do design a flor do design é a mesma, a flor do design, é terno furor é terna forma e cor (que jamais esperas do desespero) a flor do design é sempre a mesma flor
Esfinge Desimportância [A um antigo Cabaret] O amor também é uma possibilidade de ausência arranha as margens do que posso, do que sou Ele singra este momento, esfinge desimportância, e desintegra, o padrão fashion dos ternos valentino o amor ainda é uma derrapada de ferráris, precisa ser. O amor ainda faz do arbítrio uma sina ou (pelo menos) escorrega nas sarjetas o pé tardio que buscou consolo na Faustina
Coleção Ao que fez de mim mulher colorida e aberta asa delta deixou de mim no seu quadro flores, e minha queda, cores espalhadas pelo chão. E eis-me aqui, colorida e sem vida, borboleta de coleção.
Atualmente lâminas são a minha principal característica, todas elas: a resposta, rápida o sarcasmo, ríspido o cartão a faca do bandido a placa-mãe do concorrente, do inimigo lâminas estão agora no horizonte estão cortando os olhos, a fonte de toda forma terna e ardente, são mais do que giletes ou barbeadores de cabos transparentes são a nossa forma de ser gente.
HERBERT DE JESUS SANTOS92
7 de agosto de 1950 CONCURSOS Nasceu na Madre Deus, Filho de Doralina Esmeralda de Jesus Santos (Dona Dora), operária da Fabril (fábrica de tecelagem) e do pescador Felipe Nery dos Santos, chamado de Filipão. Herbert de Jesus Santos não é mais aquele menino pobre, criado numa família humilde dos subúrbios de São Luís, que acabou se tornando escritor e chegou a sonhar com a Academia. Hoje, autor de 10 livros publicados, ele é um sessentão, homem maduro, calejado de tantas lides, que agora busca – sempre irrequieto – ser um intérprete cada vez mais fiel dos genuínos valores da cultura e do cotidiano de seu povo. Ele gosta de dizer que foi “desasnado” em sua própria comunidade, pela professora normalista, Dona França, que ensinava particular a cartilha de ABC, em sua residência, na escadaria da Rampa Manoel Nina. “Não me apaixonei pela minha primeira mestra, mas, como sempre ficamos próximos, ela sempre sabia dos meus sucessos nos estudos”! – lembrou. Nesses contatos, Dona França o incentivava muito a prosseguir no ensino, até quando saíram da Madre de Deus, por causa da construção da Barragem do Bacanga, em 1970, quando muitos removidos foram para o Anjo da Guarda e outros, com a pequena indenização do Governo do Estado, compraram casas no Lira e em outros bairros do entorno da sua comunidade original. Desde pequenino, Herbert encantou-se pelas manifestações da cultura popular maranhense. Começou por ter sua “maternidade” (casa) atrás da Capela original de São Pedro, cuja primeira zeladora foi sua avó paterna, a beata Marcelina Cirila dos Santos – Dona Marcela. Na frente da capela, assistia às apresentações dos bumba-bois, que louvavam o padroeiro dos pescadores, no amanhecer de 29 de junho, no largo, com leilão de prendas e procissões marítima e terrestre. Aprendeu a gostar bem cedo, igualmente, das escolas de samba, em primeiro lugar da Turma do Quinto, em que brincavam seus tios e primos mais velhos, e Filipão foi diretor de batucada (hoje, bateria). Foi por causa deles, falecidos, que ajudou o seu primo João Batista dos Santos, em 2000, a levantar o prestígio da Turma do Quinto. Em 1957, Herbert foi morar com seus padrinhos (Francisco Galvão dos Santos, o Chiquito, e Aldenora, Dedé), na Rua do Apicum. Fez uma reciclagem com aulas particulares do professor Edson Garcia, irmão do radialista Edy Garcia, antes de estudar o primário na Escola Modelo Benedito Leite e passar no exame de admissão ao Liceu Maranhense (muito concorrido), em 1962, onde concluiu o Científico em 1968. Neste ínterim, aos 17 anos, forjou com aço sua personalidade coletivista, no Clube de Jovens da Madre de Deus, com atividades solidárias e de conscientização comunitária, qual a de alfabetizar adolescentes e adultos pelo Método Paulo Freire. Acompanhou sua mãe e irmãos ao Anjo da Guarda, em março de 1970, sem deixar os laços com a Rua do Apicum, onde o velho Erasmo Dias, jornalista e escritor de mão-cheia, exercia influência em moços, jornalistas e poetas, sobretudo. “Há muito dessa época, no Peru na Missa do Galo 92
SANTOS NETO, Manoel. HERBERT DE JESUS SANTOS UM POETA SESSENTÃO. In GUESA ERRANTE, 21 de outubro de 2010, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2010/10/25/Pagina1248.htm, acessado em 27 de maio de 2014. CARNEIRO, Alberico. HERBERT DE JESUS SANTOS: A BUSCA DO GREGÓRIO DE MATOS MARANHENSE, in GUESSA ERRANTE, 25 DE JULHO DE 2006, DISPONÍVEL EM http://www.guesaerrante.com.br/2006/7/27/Pagina796.htm, acessado em 27 de maio de 2014. http://jornalpequeno.com.br/edicao/2006/08/07/poeta-herbert-de-jesus-santos-celebra-hoje-mais-um-aniversario/ http://maranharte.blogspot.com.br/2010/10/opiniao-de-pedra-alberico-carneiro.html http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2012/07/06/interna_impar,118379/historias-do-anjo-da-guarda-sao-narradas-no-livro-de-herbertde-jesus.shtml
(Contos de Natal), que conseguiu publicar em dezembro de 2009” – assinalou. O livro Peru na Missa do Galo reúne 11 contos com a temática da Data Magna da Cristandade, contemplando a cultura natalina como ela é feita, aqui, em termos de canto e dança de pastoral e reisado, culinária, congraçamento das pessoas, esperança de dias mais bonançosos para a coletividade. “Neste ponto, evidencia-se muito a experiência de um ludovicense da gema, em textos construídos em alicerces da maranhensidade genuína, no nosso ser e estar no universo, com romances, xodós e reencontros de amantes, entre episódios hilários e sisudos”, ressaltou. Os tempos do Sioge e as jornadas nas Redações Em 1972, Herbert de Jesus Santos tornou-se evasor do Curso de Direito da UFMA, onde fora aprovado em 1971. Em dezembro de 1975, empregou-se no Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (Sioge), através de pedido do poeta José Chagas ao diretor do órgão, escritor Jomar Moraes. No setor de Revisão do Sioge, ampliou seus conhecimentos gerais e criou uma fama profissional entre os literatos editados pela Casa. Em 1976, em novo vestibular, ingressou no Curso de Comunicação (Jornalismo) da UFMA, onde se formou em 1980. Em 1976, casou com a professora ribamarense Marilda Alice Cardoso, com quem teve três filhas (Amarílis, Alessandra e Amanda), sempre em São Luís.Viúvo, sua atual companheira é a pedagoga ribamarense Maria Gorete Protázio, com quem tem uma filha (Mariana) Iniciou sua carreira de jornalista profissional em O Imparcial; depois, O Estado do Maranhão, O Debate, Jornal de Hoje e no Diário do Norte indo de revisor, repórter, secretário de Redação a chefe de Reportagem e editor-geral. Atualmente, é colunista do JP Turismo, suplemento do Jornal Pequeno, sendo, desde 1995, titular da coluna “Sotaque da Ilha”, e colaborador no jornal Extra. Em 1992 ingressou no Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Sua estreia literária se deu com uma Canção Para a Madre de Deus (poesia, em 1984); daí são mais nove títulos, alguns prêmios em concursos literários e jornalísticos: Um Dedo de Prosa (crônicas); Bazar São Luís: Artigos Para Presente e Futuro (crônicas); Quase Todos da Pá Virada (contos); São Luís em PreAmar: Ainda Assim, há um Azul! (poesia); A Segunda Chance de Eurides (novela); Serventia e os Outros da Patota (contos); Ofício de São Luís: Bernardo Coelho de Almeida (Coração em Verso e Prosa); Peru na Missa do Galo (contos de Natal); e Antes que Derramem a Lua Cheia (crônicas). Tem seis livros inéditos e outros em andamento, em todos os gêneros, com exceção de teatro. Graduado em Comunicação Social, Herbert Santos, o poeta que vive num meio onde a maioria das pessoas mal tem dinheiro para pagar as contas do fim do mês, orgulha-se da vida modesta que leva. Com a sua poesia, seus livros e suas crônicas, não ficou lugar para a dúvida: o escritor da Madre Deus é um artista popular com um faro e uma competência indiscutível para a crítica social. “Sinto-me honrado de poder lutar para construir uma carreira literária e jornalística com toda dignidade possível, procurando fazer tudo com o maior respeito possível, para merecer o respeito dos meus conterrâneos”, assinala ele. Já por quatro vezes, Herbert Santos lançou-se candidato a uma cadeira na Academia Maranhense de Letras. E por quatro vezes perdeu as eleições. Na última investida, em 2009, quando tentou ocupar a vaga deixada pelo poeta Nascimento Morais Filho, obteve apenas três votos. O vencedor foi o deputado estadual Joaquim Haickel. Bibliografia de Herbert de Jesus Santos Prosa - Um Dedo de Prosa (crônicas), 1986, Prêmio Literário Maranhão Sobrinho do SIOGE, em 1985; Bazar São Luís: Artigos para Presente e Futuro (crônicas), 1988, Prêmio do Plano Editorial SECMA/SIOGE, em 1987; Quase Todos da Pá Virada (contos), 1992; A Segunda Chance de Eurides (novela), 2006, premiado, em 2.º lugar, no Concurso Literário Cidade de São Luís da FUNC, em 1999; Serventia e os Outros da Patota (contos), 2007, premiado, em 2.º lugar, no Concurso Literário Cidade de São Luís da FUNC, em 2002; Ofício de São Luís: Bernardo Coelho de Almeida-Coração em Verso e Prosa (ensaio), 2008, ganhador, em 1.º lugar, do Concurso Literário Cidade de São Luís da FUNC, em 2007; Peru na Missa do Galo (Contos de Natal), 2009; e Antes que Derramem a Lua Cheia (crônicas), 2010; Poesia - Uma Canção Para a Madre de Deus, 1984; e São Luís em PreAmar: Ainda Assim, há um Azul!, 2005.
Obras inéditas: Prosa - João Minha Gata em Riba (do) Mar de São José (crônicas); A Terceira Via (novela); Mais Ouro do que Bronze (crônicas); Sotaque da Ilha (crônicas); Assim Está Escrito (cartilha ortográfica). Poesia - Hábito de Luz; e As Cores de Agosto. Em andamento: As Vozes do Sobrado Maia (romance), etc. [...] Já cantei essa pedra num enredo de uma escola de samba meritória, que um presente escuso e de medo de desfibrados de honra e de glória, tramaram sua derrota mais cedo, em discórdia de sangue na memória, e, por baixo dos panos e do arremedo, desfiguram a coragem e a história. (p. 43)
IGOR FERNANDO DE JESUS NASCIMENTO93
IGOR NASCIMENTO94 CONCURSOS
Formado em Letras com Habilitação em Literatura e Língua Francesa, Igor Nascimento entra no teatro profissional, em 2010, com a peça De Assalto, de sua autoria e direção. Com esta obra, funda o Núcleo de Pesquisa Teatral Petite Mort Teatro. Desse grupo e da pesquisa sobre o Teatro do Absurdo, surge o espetáculo Um Dedo Por Um Dente (2011), com o qual é indicado como melhor diretor no Prêmio Sated-MA 2011 e, no mesmo evento, ganha o Prêmio de Melhor Cenário. Em 2013, como continuação da pesquisa sobre o Teatro do Absurdo, o grupo monta Dona Derrisão e, novamente, no Prêmio Sated-MA, agora, em 2013; recebe a indicação de Melhor Diretor e ganha o Prêmio de Melhor Cenário. Ainda em 2013, trabalhou na preparação de elenco do espetáculo A Besta-Fera do Xama Teatro, com direção de Gisele Vasconcelos, e no filme O Camelo, o Leão e a Criança, do diretor Paulo Blittos. No âmbito da dramaturgia, além das peças escritas em processo com o Núcleo Petite Mort Teatro, Igor Nascimento escreveu e atuou, em 2009, a radionovela Dom Cosme- O Tutor da Liberdade (2011, Prêmio Roquette Pinto), em Co-Autoria com Lauande Aires. Continuando o processo de pesquisa sobre a Revolta da Balaiada, que inspirou a radionovela, surge - em processo com o Grupo Cena Aberta, sob a direção de Luis Pazzini - a dramaturgia de Nêgo-Cosme em Movimento (2012-2013). Seus livros publicados são O Assassinato de Charllenne e As Três Estações da Loucura, ambos premiações do Plano Editorial Gonçalves Dias 2009. Atualmente, além do trabalho no núcleo de pesquisas do qual faz parte, é também diretor e dramaturgo convidado do grupo Xama Teatro no Projeto As Três Fiandeiras. DAMA DO INFERNO Antes rainha da noite, Agora pedinte de meio expediente. Nem parece que foste tão bela! Suja e maltratada Não é mais do que a rua esburacada Não é menos do que uma cadela! Cá, eu, enquanto poeta, Vítima também do descaso Sabido que a desgraça é certa E felicidade é mero acaso 93
http://igorcaffe.blogspot.com.br/p/sobre.html http://www.cultura.ma.gov.br/portal/sede/impressao.noticia.php?loc=sede&id=67 http://glosa-glosa.blogspot.com.br/2007/05/solicitao-h-um-deserto-artstico-na-ufma.html 94
Entendo do cheiro da merda E encontro sentido no estrago Ah! Como a vida é mais fluída depois primeiro do trago! O espírito encontra mais sentido na insensatez Agora livre da pungente rigidez É um corpo vazio que clama por gozo Carne que inflama em alvoroço Pensamentos que disparam em revoada Euforia que corre nas veias a troco de nada Olhos vermelhos de fumaça Que ignoram a febre o tóxico Que choram para dentro E riem o mais puro ópio... Portanto, se se vai morrer de qualquer jeito Arranjem-me um leito qualquer Para que possa mamar em teus peitos Sugando a mesma claustrofobia do teu cachimbo Permanecendo nesse mesmo limbo Casarão abandonado em clausura Abrigo da leptospirose e da loucura Santuário da felicidade carcomida, corrompida, Sugada, assim, de cada rachadura Pois não sou eu, infelizmente, Não sou eu, Aquele que vai execrar os excessos da fissura Não! Não vou ser o falso Cristo das bocadas, Condenando os que nas esquinas se consomem Não sou aquele que vai dizer, dama do inferno, Que nem só de crack vive o homem!
J. M. CUNHA SANTOS
JONOVAL MEDEIROS CUNHA SANTOS
FÁBIO Teus dias sem idade tuas viagens nos pássaros dos mamonas assassinas A vontade de fugir de ti para ti por dentro as vozes partidas na tua cabeça e um discurso de louco que não acabava mais Assim lembro teu aço, teu osso assim recordo teu pânico comandando gangues sem pele e sacando revólveres da imaginação Um dia, Fábio, Também terei idades e pânicos também viajarei nos pássaros ouvirei músicas e fugirei para esse lugar em nós longe de qualquer um Vozes do Hospício, 2008
JOÃO ALEXANDRE VIEGAS COSTA JUNIOR 95 JOÃO ALEXANDRE JUNIOR 12 de dezembro de 1948 Geração Cassas Fez seus primeiros estudos em Sergipe. De volta ao Maranhão, veio a colaborar na imprensa, publicando crônicas e peomas. Forma-se em Direito e Administração, pela UFMA. Tendo participado de vários movimentos literários, seus poemas ainda aprecem nas antologias Esperando a missa do galo, de Nascimento Moraes Filho e Poesia maranhense hoje ou 50 anos de poesia de Carlos Cunha. Incluído na antologia Hora de Guarnicê, em 1975, em breve viria a lume a edição de seu primeiro livro de poemas, Em Te Brigar Te Amando, título que já bem expressa a vocação do poeta para a ambigüidade e o paradoxo, elementos essenciais da poética da modernidade. Editado em 1979, Em Te Brigar Te Amando mereceu o prêmio do Concurso Literário “Bandeira Tribuzi”, em 1978 e foi publicado em co-edição SURCAP/SIOGE. Pulmões do Azul Tuberculou-se o firmamento Golfada a cambraia pálida Da camisa do dia - hemorrágica! Lento! No seu próprio debruo Até que arfante a cálida Gota engolfada na pia Do mundo, em si se parte O sol quebrando a louça do jantar Vaza a cada dia o pulso do diário: A tarde em seu indeclinável suicídio Golfa sangue no Bonfim Umedecendo o chagar notívago Da boêmia incontrolada no boteco É a noite que se estatela na baía... Se abre a palma no olor Do seu lancáster E a Estrela resplandece Em ruge e pó-de-arroz Nostálgicas herdeiras Legatárias do pecado-à-mostra Da cidade (do livro Em Te brigar Te Amando)
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Brasil, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SECULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. O ADEUS DO POETA JOÃO ALEXANDRE JÚNIOR. In GUESSA ERRANTE, 1 de dezembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/12/1/Pagina421.htm, acessado em 13/05/2014
JOÃO ALMIRO LOPES NETO CONCURSOS É de São Luis. 17 de dezembro de 1960. Poeta. ref.: Laureado no concurso de Poemas Cirandinha, 198396. Informações sobre o autor Nome completo: João Almiro Lopes Neto Nascimento: 1960 - São Luís, MA Descrição: Formado em Direito. Foi cinco vezes premiado em concursos de poesia falada, promovida pela Universidade Federal do Maranhão. Fonte(s) dos dados LOPES NETO, João Almiro. O silêncio violado. São Luís: Edições SECMA/Lithograf,1998.
DISCURSO PARA UMA CIDADE AMEAÇADA Poucos souberam ver em declive a tua solidão, Cardápio da tua fome em mim vravada, São Luís, namorada, amante, arte! E eu não te abraço mais que por querer-te, Pela necessidade de louvar-te. Sobre templos e sobrados, Nos teus contornos de ilha Ardem sóis e, por encanto, Tua estrela é em mim que briha. Meus olhos cheios de sonhos Mal sabem quantos segredos, Nesta penúltima queda, No duro deste poema, moram nas tuas paredes, me queimam a boca e os dedos. Por sobre águas diviso Barcos de sopradas velas Pondo sol no meu sorriso, Compondo tons de aquarelas. Nas cinzas de tuas pedras Um poeta morre de amor, E apodrece em teu solencio Pra que em verbo reverdeças, na flor do chão em que estou. De tanto te acompanhar, Já me tenho mais que ausente, Anulei-me no meu corpo Pra que te faças presente E exibas teu rosto gasto No tempo que nos consome. Oh! Apodrecemos teu corpo Com as garras de nossa fome De progresso iconoclasta, 96
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Até que a ira se anule E o bom senso diga basta! Mas enquanto posso ter-te, Te sentir como é devido, Te caminho, gozo, te ano Puro, inteiro ou dividido. Lavo-me nas tuas fontes, Sou peixe em tua baia, Me perco em tuas esteiras, Passeio minha revolta Nos teus becos, Me debruço No corrimão de tuas pontes, No canso em tuas ladeiras. Me escondo nos teus mirantes, Nas tuas praças me exponho, Deploro teu abandono, Me afundo na tua calma, Antes que a mão do progresso Fira fundo a tua alma. Comparo teu corpo antigo, Tua fontes, tua paz amiga, Teus farópis, tua magia Com o novo que te rodeia, E temo por teu destino De azulejo e cantaria. Sei que é preciso salvar-te, Noiva, esposa, amiga, irmã! Aqui, um pouco do que somos reverdece, mas tu ameaças ruir amanhã.
JOAQUIM HAICKEL 97
Joaquim Elias Nagib Pinto Haickel 13 de dezembro de 1959 Academia Maranhense de Letras Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Primogênito de Nagib Haickel e Clarice Pinto Haickel; pai de Laila Farias Haickel, marido de Jacira. Membro das academias imperatrizense e maranhense de letras, contista, poeta, cronistas e cineasta. Estudou no Pituchinha, e depois do Batista e Dom Bosco; destacando-se como jogador de basquete. Ingressou na Universidade Federal do Maranhão, onde se bacharelou em Direito. Por mais de 30 anos, militou na política, como deputado estadual, deputado federal e constituinte, hoje Secretario de Estado de Esporte. Inicia a trabalhar 1978, como assessor na Assembléia Legislativa. Em 1979, está em Brasília, trabalhando ao lado de Nagib, seu pai, então deputado federal; de volta a São Luis, passa a atuar como oficial de gabinete do então Governador João Castelo, indo trabalhar com o chefe da Casa Civil, José Burnet. Elegeu-se deputado estadual em 1982; federal em 86, sendo um dos Constituintes. Secretário de Assuntos Políticos (Governo Lobão); Secretário de Educação (Governo Fiquene). De 94 a 98, dedicou-se as empresas da família, retornando em 1998 à Assembléia, lá permanecendo até a última legislatura. Como escritor, publicou em 1980 Confissões de uma Caneta, contos premiados no concurso cidade de São Luis. Em 81 lançou O Quinto Cavaleiro, poemas. Em 82, após ser premiado no concurso SECMA/SIOGE /Civilização Brasileira, lançou o livro de contos Garrafa de ilusões. Manuscritos. Em 83, começou a editar a Revista Guarnicê, semanário artístico e cultural que publicou até 86. Ainda em 84 lançou a Antologia Poética Guarnicê. Em 85 foi a vez da Antologia Erótica Guarnicê e em 86 o livro de contos Clara Cor de Rosa. Depois de uma pausa editorial, em 89, lançou o livro de poemas Saltério de Três Cordas. Em 1990, segundo o próprio Haickel, foi quando amadureceu o seu “primeiro livro, os outros foram apenas ensaios do que viria”. Livro de contos lançado pela Editora Global, A Ponte, que foi aplaudidíssimo por José Louzeiro, Artur da Távola e Nelson Werneck Sodré entre outros. Também no setor artístico, Joaquim ainda produziu o filme “The Best Friend”, O Amigão, que conquistou os prêmios de melhor filme do júri popular e melhor filme de cineasta maranhense do júri oficial, no festival Guarnicê de cinema e vídeo realizado pela UFMA em 1984. 97
VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO DE JOAQUIM HAICKEL AO IHGM. Disponível em http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_setembro_2011/65 http://www.blogsoestado.com/joaquimhaickel/ http://www.revistacarasenomes.com.br/haickel-toma-posse-no-ihgm-e-resgata-a-historia-dos-%E2%80%9Catenienses%E2%80%9D/ http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%2010/eliana%20tavares%20dos%20reis.pdf LIMA, Félix Alberto. Almanque Guarnicê 20 anos. São Luís : Clara Editors e Edições Guarnicê, 2003.
Em 2003, na comemoração aos vinte anos da revista Guarnicê, a Clara Editora e as Edições Guarnicê, produziram e publicaram o Almanaque Guarnicê, uma espécie de ensaioentrevista-reportagem dirigida Felix Alberto Lima, onde narra a trajetória do semanário e de seus idealizadores. Também em parceria com a Clara Editora, Joaquim lançou uma coletânea de seus melhores artigos publicados no site Clara on line. Joaquim é também desportista e grande incentivador dos esportes como forma de inserção social e de combate ao uso de drogas. Foi Presidente da Federação Maranhense e Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Tênis e da Associação Desportiva Mirante, além de ter, ele mesmo, conquistado diversos títulos em várias modalidades como Tênis, Vôlei e Basquete. Em 2006 Joaquim candidatou-se a uma vaga na Academia Imperatrizense de Letras para onde foi eleito para a cadeira nº 9. Em 2007 preparou-se para mudar definitivamente a sua vida e assumir sua vocação de escritor e cineasta. Em 2008, Joaquim Haickel realiza um antigo sonho. Roteirizar, produzir e dirigir um filme baseado em um conto que escrevera nos anos 80. Trata-se de Pelo Ouvido. Inquieto e indisciplinado, Joaquim não se conteve e antes de realizar esse filme, com ajuda de vários amigos faz em Paço do Lumiar o curta-metragem de 59 segundos, Padre Nosso. Pelo Ouvido foi selecionado para quase duas centenas de festivais de cinema no Brasil e no exterior onde ganhou dezenove prêmios. Em 2009 candidatou-se a uma vaga na Academia Maranhense de Letras, para onde foi eleito com uma das maiores votações já conseguidas por um candidato. Ocupa a cadeira de numero 37 daquela instituição. Em 2011 foi eleito para o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, onde ocupa a cadeira 47. Em 2012 lançou dois filmes de animação tendo como tema a cidade de São Luis que completava 400 anos: A Ponte e Upaon-Açu, Saint Louis, São Luís... Ele também lançou naquele ano o livro Contos, Crônicas, Poemas... & Outras Palavras com o qual comemora 32 anos de literatura. Em 2013 lançou 24 documentários sobre alguns dos mais importantes membros da Academia Maranhense de Letras. Em 2014 lançará dois documentários em longa metragem A Pedra e a Palavra onde retrata a vida e a obra do Padre António Vieira e Velho Moleque onde apresenta a vida do músico e compositor maranhense, Mestre Vieira. Para 2015 estão previstos os lançamentos duas mini series documentais de 8 e 4 capítulos respectivamente sobre o empresário e deputado Nagib Haickel, seu pai, e sobre o ex-prefeito de São Luís, Haroldo Tavares, além de seis médias metragens sobre importantes personagens de nossa história recente. Joaquim Haickel é também Secretario de Estado do Esporte e Lazer do Maranhão e continua produzindo arte. Há muito tempo trabalha em um livro cujo sugestivo título diz muito sobre uma de suas grandes paixões: 365 Filmes Para Não Precisar de Psicanálise. CONTRIBUIÇÕES NA REVISTA DO IHGM DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 47, PATRONEADA POR JOAQUIM SERRA; No. 38, setembro de 2011 – Edição Eletrônica, p 50 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_38__setembro_2011 EM BUSCA DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA. Revista IHGM n. 39, dezembro 2011, p. 232 http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_39_-_dezembro_2011 DÉCIO SÁ. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p.176 Edição Eletrônica. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 Às vezes o bom nasce do ruim. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 187 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 Mesmo destinatário, outro remetente. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p. 207 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 Café com Memória. Revista IHGM, no. 41, junho 2012, p.213 Edição Eletrônica http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_41_-_junho__2012 Contos, Crônicas, Poemas & Outras Palavras; Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 104; http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012
A Indústria Cinematográfica do Maranhão. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 93. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 Meia noite em São Luís. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 133. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012
MEU amigo Roberto Duailibe Cassas Gomes. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 135. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012 Saudade de Antonio Lobo. Revista IHGM, No. 42, SETEMBRO de 2012, p. 157. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_2012http://issuu.com/leovaz/docs/revista_42_setembro_ 2012 Quarenta anos de JEMs. Revista IHGM, No. 43, DEZEMBRO de 2012, p. 223. http://issuu.com/leovaz/docs/revista_ihgm_43_-_dezembro_2012
O CADARÇO 1 O amor aparece na sua vida quando você menos espera, e nem sempre ele se apresenta de uma forma que você o reconheça ou compreenda. * * * A primeira vez que seus olhos se cruzaram foi por puro acaso. Ela não conseguiu impedir que caísse no chão uma bolsa imensa, Louis Vuitton, que tentava equilibrar sobre uma mala, e ele, que ia passando, gentilmente, juntou-a e entregou a ela olhando-a firmemente nos olhos. Ela sorriu suave, timidamente agradecida. Puxava numa das mãos a elegante mala de viagem e com a outra segurava carinhosamente uma pequena réplica de si mesma. Atencioso, passou a mão carinhosamente na cabeça da garotinha e cumprimentou a mãe com um aceno de cabeça. Ela fez um movimento idêntico e disse-lhe thankyou, com uma voz grave que combinava com seu tipo nórdico. Grande como Greta Garbo, elegante como Ingrid Bergman e linda como Cláudia Schiffer. Mais atrás vinha um homem trazendo uma mala igual à dela e uma outra criança, cópia fiel da primeira, só que um menino. 2 O saguão de um aeroporto é um microcosmo admirável. Lá podemos ter, de graça, magníficas aulas de antropologia, de sociologia, de psicanálise, e até mesmo um rápido curso de sedução no mais perfeito estilo pirandelliano. * * * Ele foi pro seu lado e ela para o dela. Iam para lados diferentes, em voos diferentes. Distintos, diferentes. Ao chegar ao balcão de atendimento, ele notou que havia uma senhora muito nervosa. É que ela iria viajar de avião pela primeira vez. Ele se pôs a conversar com ela em seu rudimentar italiano, aprendido primeiro com Giuliano Gemma e depois, já mais refinado, com Marcelo Mastroianni. Depois de uns vinte minutos, ele conseguiu tranquilizar a nonna. Com isso, ganhou a gratidão da moça da companhia aérea que lhe deu um upgrade para a classe executiva, o que lhe renderia mais do que o simples conforto. Na verdade, lhe deu a possibilidade de vê-la mais uma vez, mas isso ele ainda não sabia. 3 Ao contrário dos saguões, toda sala vip é igual. Num ambiente mais restrito, as pessoas não se põem tão à vontade, não são tão naturais. Com a maioria das pessoas é assim. * * * Quando ele chegou lá, ela já estava. Ela o olhou primeiro e não parou de olhá-lo. Olhou-o dos pés à cabeça. Observou seus sapatos, o jeito dele falar ao celular, como colocava o braço apoiado no balcão da lanchonete. Observou o seu sorriso, ora discreto, ora incontido. Só então ele a viu. Viu e olhou. Olhou e viu que ela o via e não lhe tirava os olhos. O acompanhava para onde fosse. Ele notou que ela observava particularmente os seus pés, seus sapatos. Lembrou-se de seu primo Luís, que tinha uma estranha fascinação por pés femininos. “Será que as mulheres também têm esses fetiches?” – interrogou-se. 4
Os olhos são sempre o começo e o final de tudo. Sem eles a vida não é completa. Falta algo, falta alma, falta uma janela pra se debruçar. A palavra também é muito importante. A língua, a linguagem... Uma porta para se sair ou entrar. * * * Constantemente seus olhos se cruzavam. Ele começou a jogar. Ia para um lado e via se ela o acompanhava com os olhos. E ela acompanhava. Resolveu então ir ao banheiro. “Será que ela vai me acompanhar?” Para sua tristeza, só os olhos dela o acompanharam. Ao voltar, viu que ela falava ao telefone. O idioma, a princípio quase inaudível, lhe parecia familiar. Aos poucos foi notando que as palavras eram mastigadas, mordidas, mesmo que no caso dela isso fosse feito com certa doçura. Depois teve certeza que aquela era a língua de Goethe, de Schopenhauer e de Nietzsche. 5 As atitudes fazem a diferença entre os homens. O difícil é saber quando e como devemos tomálas. Há quem deixe que as coisas aconteçam naturalmente, e elas até acontecem satisfatoriamente.Esses são uns poucos afortunados. Tem os que se deixam direcionar pelos acontecimentos e quebram a cara. Estes são a grande maioria. Uma quarta parte é formada pelos que controlam os acontecimentos e invariavelmente também quebram a cara. Há, no entanto, os que tentam controlar as coisas e conseguem. Estes são poucos, pouquíssimos. * * * Ele criou coragem para tomar uma atitude. Foi novamente à lanchonete e pediu uma coca. De repente sentiu um aroma conhecido e, ao virar-se, viu que ela estava bem ao seu lado. Seu perfume a denunciou. Ele o sentira desde seu primeiro encontro, no saguão. – J’adore!– disse ele, como quem nada quisesse. – Pardon...– ela respondeu em um perfumado francês. –Your smell...Your perfume... Is...J’adore! – Are you a perfumist? – No.I’m a writer. Ela fez um ar de genuína admiração e disse que era um prazer conhecê-lo. Ele agradeceu e retribuiu a gentileza. Ela pagou os dois sucos de laranja que pedira para seus filhos e foi-se, não sem antes cumprimentá-lo com um sorriso um tanto insinuante, ao que ele retribuiu da mesma forma. Mesmo que sempre odiasse atrasos aéreos, ele daria qualquer coisa para que o tempo mudasse e todos os voos daquela noite fossem atrasados em pelo menos duas horas. 6 O final é sempre reservado ao que há de melhor, mesmo que o melhor não seja aquilo que nós quiséssemos. * * * Os olhares deles continuaram a se cruzar por mais uns trinta rápidos, mas intermináveis minutos, até que ela pegou suas coisas e o filhinho pela mão e dirigiu-se para a saída. Mais na frente ia o cavalheiro com a menininha. Ao passar por ele, que estava sentado, de pernas cruzadas, observando tudo, disse-lhe em um inglês germânico: – Tome cuidado... Seus olhos são muito perigosos... Acabam não deixando nenhuma saída para uma mulher curiosa como eu... – Ah! Seus sapatos são muito bonitos... Mas cuidado, não vá cair... Seu cadarço está desamarrado... E ela se foi, com um olhar meigo e um sorriso maroto. MEU RETRATO DE QUIRON Quiron era o maior centauro do Olimpo. Arqueiro, médico e filósofo, foi também preceptor de Apolo, de Aquiles e de Jasão, a quem ensinou, além da arte da guerra, a música e até mesmo a medicina. Esse meu amigo é o tipo de sujeito que chega em casa com duas sacolas na mão. Uma, trazida do supermercado, e a outra, do videoclube. Chega disposto a tomar um demorado banho, depois
prepara uma massinha com atum e tomates frescos e come com pão e vinho, revendo um daqueles maravilhosos filmes épicos: Ben-Hur, Agonia e êxtase ou Lawrence da Arábia... Isso, se ele não trouxe, no meio desses, algum filme sobre a aplicação da justiça: Doze homens e uma sentença, O vento será tua herança ou O sol é para todos. Para Quiron, que é a personificação do sagitariano, os princípios são inegociáveis. Ele ainda acredita que a justiça, além de cega, é certeira. Dê para um sagitariano uma causa, seja política, cultural, científica ou social. Se ele a aceitar como própria, vai disparar feito uma seta em defesa dela, com uma empolgação só equiparável à sua proverbial falta de tato ou seu senso extremado de honra. Gozador, certa vez, numa reunião de condomínio, alguém protestou porque sua empregada subia pelo elevador social, e ele, que adorava escandalizar a todos, emudeceu os condôminos declarando que eles haviam se enganado:“Ela, na verdade, é minha namorada”. Franco e avesso a todo tipo de subterfúgio, ele sempre faz e diz o que pensa, e na maioria das vezes o faz e diz sem pensar. É aí que ele normalmente leva grandes tombos, despencando direto, do Olimpo de seus nobres ideais, para uma realidade menos acolhedora. É quando descobre, por exemplo, que alguém a quem ele defendera fervorosamente, na verdade é culpado. Com o mesmo empenho que defendera aquele amigo, agora se obriga a assumir suas responsabilidades. Por andar sempre hipnotizado por metas longínquas, às vezes os centauros tropeçam em seus próprios pés. Nada grave: ele continuará otimista, porque nasceu sob o signo de Júpiter, o mais mão-aberta dos deuses. E sua sorte, mesmo que tarde, jamais lhe faltará. Os mais frequentes distúrbios de um sagitariano são o otimismo incurável, a ansiedade crônica e o tédio mortal. O primeiro pode ser suavizado, embora, graças a Zeus, nunca completamente sanado. A ansiedade crônica pode ser tratada à base de meditação e Maracujina. Quanto ao tedium vitae, a mais grave das afecções que um sagitariano pode contrair, o remédio é fácil: basta ele inventar uma nova meta, qualquer uma, aprender a pilotar um Boeing ou a falar chinês clássico. Ele pode vir a desistir do brevê de piloto no dia do exame, e não passar das primeiras três aulas de mandarim, mas nesse percurso, estará curado. Quem tentar enquadrá-lo, sugerindo que ele consulte um profissional, perderá tempo. Ele não para quieto em casa, menos ainda no divã. A concepção sagitariana de romance é muito esportiva, mas eles são honestamente devotados a todos os seus amores. Por isso, para ele, contar a sua nova namorada que ela é a trigésima quarta em sua vida é o fato mais natural do mundo, e ele ainda acrescenta, sinceramente, que ela é a mais incrível de todas as mulheres que já passaram pela vida dele. E se esta quiser ser a definitiva, é necessário adotar uma estratégia de displicente autocontrole: nunca perguntar ao seu centauro com quem ele almoçou, nunca lhe dar ultimatos e jamais partir para cenas melosas. Ele na verdade não passa de um menino, um moleque que tem a boca maior que o estômago. Ah! Não leve tão a sério os exageros do centauro, e você conviverá com um campeão em cumplicidade, solidariedade e amizade. E olha, um amigo, para ele, vale mais que cem amantes. Quiron tem pavio curto e memória mais curta ainda. Se inflama por qualquer motivo. Diz e faz os outros dizerem barbaridades, e depois esquece, mas é incapaz de guardar qualquer ressentimento. Eu poderia falar mais sobre esse amigo, mas preciso pensar no que fazer pra comer. Vêm uns amigos pra cá, hoje eu trouxe uns filmes de Capra:Do mundo nada se leva, A mulher faz o homem, A felicidade não se compra...
Águas de Junho98
Por Joaquim Haickel • domingo, 08 de junho de 2014 às 04:41 Faz uns dois pares de anos que não falo com o jornalista Roberto Kenard, meu amigo de muito tempo, companheiro das lides poéticas e de ações culturais importantes, como um programa de rádio, um semanário, uma revista mensal e a editoração e publicação de vários livros. Todas essas ações levaram o sobrenome Guarnicê, e aconteceram nos saudosos e eternos anos 80. Eu e Kenard somos bem diferentes. Diferentes em nossos posicionamentos ideológicos, em nossos estilos e gêneros literários, em nossa forma de encarar a vida e dentro dela a política, os negócios… Mesmo assim, de longe, nunca deixei de acompanhar sua trajetória de poeta e 98
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jornalista. Estive sempre por perto, pois em mim, a discordância pontual ou o desentendimento momentâneo, não geram ódio, rancor ou nenhum outro sentimento negativo. Policio-me constantemente para que nada gere em mim sentimentos negativos, mesmo que em relação a um ou outro “imbecil” isso seja um pouco difícil, mas acabo conseguindo. Desfrutamos, eu e RK, juntamente com Celso Borges, Paulinho Coelho, Érico Junqueira Aires, Cordeiro Filho, Ronaldo Braga, Ivan Sarney, meu irmão Nagib, entre outros, a experiência juvenil e utópica de tentar mudar o mundo através da música, da poesia, da literatura, do cinema e das artes de um modo geral. Convivemos de adolescentes a adultos, e até mesmo algumas vezes, adúlteros, em nossas jovens e temerárias experiências de poesia, álcool, Guaraná Jesus e outras “cositas mas”, quando nos permitíamos esquecer as nossas namoradas em casa e saíamos pelos bares e praias da Ilha, no velho Bugre vermelho que nos servia de Rocinante, apaixonando e nos apaixonando por Dulcineas, Carmens, Julietas, Amélias, Teresas, Capitus, Ursulas, Mollys, Marias “… De todas as raças, de todas as cores…” Naquele tempo nos permitíamos subverter as regras vigentes para transformá-las em algo mais parecido conosco, com aquilo que queríamos da vida. Buscávamos naquele tempo, assim como hoje, mais ou menos a mesma coisa. A tal da felicidade e da extensão dela para o maior número de pessoas possíveis. Isso não mudou em nada. Só que agora são mais visíveis as diferenças. Uns querem alcançar isso de uma forma e outros de outra, uns com um estilo e outros com outro, mas no fundo continuamos querendo a mesma coisa. A forma de fazer isso que já era diferente antes, na juventude, em alguns casos tende a se aproximar e em outros a se distanciar, na maturidade. Não acredito que nenhum de nós estejamos tão distantes a ponto de que não saibamos disso. Falo hoje de Kenard por dois motivos, primeiro porque comentei com um nosso conhecido comum que desde a morte do jornalista Walter Rodrigues, que acreditávamos que ele, Kenard, passaria a ser o melhor articulista político do Maranhão. Kenard não tem e acredito não terá jamais a teia de contatos que tinha Walter, até porque este fazia de sua teia, seu habitat, sua forma de viver. Em suma, ele não vivia a sua vida, ele vivia o jornalismo, a política. Já Kenard vive o jornalismo, a política, sua família, sua mulher, seus filhos, sua Barreirinhas, seus estudos, sua literatura, sua poesia. Tem coisas que Walter jamais teve e nunca teria. Sem medo de ferir nenhum ego, nem magoar ou melindrar nenhum amigo jornalista, acredito ser Roberto Kenard, o sucessor de Walter Rodrigues e parece que quanto a isso não estou sozinho. Ele não carrega a mão no sarcasmo nem na ironia debochada como fazia Walter, mas, como ele, apresenta os fatos de forma clara, permitindo com que se possa ter uma visão perfeita dos fatos, isso sem contar com seu estilo literário, enxuto, simples, direto e elegante. A outra coisa que me fez lembrar Kenard, foi o fato de que o falecimento do grande poeta José Chagas, abre vaga na Academia Maranhense de Letras, instituição que na juventude abominávamos como símbolo do imobilismo e da inação. Lembro que Kenard fez uma matéria mordaz sobre a AML e nós publicamos na Guarnicê. Teve grande repercussão. Para efeito de preenchimento de vagas na AML tenho um critério muito pessoal que acredito hoje ser o da maioria dos acadêmicos praticantes e assíduos às reuniões. Devemos eleger alguém que participe da vida da instituição, alguém que exerça uma função criativa e produtiva, alguém que possa conviver bem com seus confrades e confreiras (expressão horrível), alguém que ajude a AML a não ser uma casa de simples mortais, mas que sejamos imortais em nossa luta pela arte e pela cultura maranhense. Nesse desiderato (expressão também horrível), minhas preferências recairiam em primeiro lugar em Gullar, Nauro, Arlete, Zelinda e Turíbio, como expoentes máximos de nossa cultura ainda fora da Academia; em Jesus, Cassas, Ariel, Salgado e Kenard, por suas obras; E em Felix, Neres, Zé Jorge, Aldo e Alan, pelo muito que podem contribuir para o aumento e melhoria das ações artísticas, literárias, culturais e midiáticas da AML. Ainda poderíamos relacionar os nomes de Celso, Sinhô, Mundinha, Lourdes e Paulão, entre os de outros, que também poderiam ser cogitados para fazer parte do sodalício (outra palavrinha difícil). - É uma lista grande! Diriam uns. – Haja passamento! Diriam outros. Mas a vida segue, diria eu. Mas voltando ao Kenard, devo de dizer que assino embaixo de alguns de seus últimos textos publicados em seu Blog, mas isso já seria assunto para uma outra conversa.
REFAZENDO AQUELE SONHO99
De mim só me lembro estar elegante. Terno escuro, camisa clara, gravata de seda… Dela, não esquecerei de nada, jamais… Era um sonho… Seu vestido longo de cetim, seus olhos cor de mel, sua boca carnuda. Um aroma de sedução no ar… Vinho, conversa ao pé do ouvido, música, coisas pra beliscar, inclusive seu braço pela fresta da cadeira. Dança… Seu corpo juntinho ao meu encaixados como perola e ostra ondulavam. Seu olhar era denunciador, seu rosto e seu corpo falavam por ela… Tudo que aconteceu naquela noite depois da hora em que a vi… preferi esquecer… Agora, distante em tempo e espaço me imagino, me quero em seu colo. Mergulho em seu decote, nele descortino o mundo e desço… Encontro montes, uma vasta pradaria, vales, um rio feito de suor… Precipício… Mergulho nele. Quando emergir quero estar de novo nas costas dela, imprensando-a contra a parede, mordendo sua nuca, lambendo seu pescoço, e aos seus ouvidos quero fechar a cortina de outra noite e ver outro dia nascer. Mais tarde, depois do café, ler pra ela esse poema e fazê-la sentir ciúme imaginando que refiz meu sonho com outra mulher. VÊNUS Para abrir 99
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teu coração e tua mente não uso chave. Sirvo-me de algo melhor: a boca ardente. Com a boca lábios, língua, palavras e dentes abro muita coisa: teu coração, tua mente, teu cofre tua caixinha de joias. Coloco tua gaiola no parapeito da janela e te assalto. Roubo-te. Abro-te .
JORGE ANTÔNIO SOARES LEÃO
JORGE LEÃO Nasceu em São Luis, 27 de março de 1975, na Rua do Alecrim, em casa de seu avô. Na universidade, como estudante de filosofia, junto com um grupo de amigos, formou o grupo Evoé! de poesia. Atualmente, trabalha como professor de Filosofia do IFMA, Campus Monte Castelo, e participa em um projeto no bairro da Divineia, pelo Movimento Familiar Cristão, com um grupo de crianças e adolescentes, chamado Semeando a Vida. SONETO 1100 Aquele que cultiva a terra repõe o jardim no sertão da mata que gera, em guerra, as aves partindo da mão. Seu vôo, contínuo, refaz o chão pisado por pés rachados, como barco sem cais, sem norte, na vida dos Zés... Tudo, porém, é distante. Nada, contudo, é ausente da terra que volta ao presente. Como nos tempos marcados do santo naquela estante, dos grãos na terra pisados.
SONETO 2101 Vejo e tudo o que vejo e revejo é desejo de volta ao arado parado em terra preta. Quando anoitece, mais difícil é pensar em pedras opacas, pois no céu o relampejo reacende a ternura da água, feito trombeta a soar nos ouvidos de quem vive a chorar... Contudo, a chegada da chuva fecunda a tristeza, logo em seguida as crianças acordam, saindo das casas, vencendo a dureza do chão, com úmidos sorrisos, saúdam a tempestade da vida ao som da beleza terrena, a lavar os sonhos que mudam: agora o que vejo é o pasto habitado pelo frescor do arado, agora movido, molhado... 100 101
O AGRICULTOR - Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 - 2007 O AGRICULTOR - Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 - 2007
SONETO 3102 Eis que chega o que adormece, no encanto cristalino das rosas plantadas no segredo que cresce em silêncio, na espera das prosas ao redor da fogueira, com os olhos contando as lembranças do distante passado voltando. É sentida a hora da dura partida ao além, de inteiro e freqüente plantar na aridez da terra da alma a tortura do calor na ferida. É quente o vestígio na palma da mão, que se entrega a lavrar a semente da aurora no doce momento dos sapos cantando ao canto do vento. Entre as ruínas da angústia em Nauro Machado103 O encontro do poeta com as ruínas da cidade, vendo-se enquanto visceral angústia de ser o pó que a cada dia perpassa a decrepitude do tempo. Eis o percurso inglório da poética naurina, em vigoroso processo de afirmação de um eu lírico perpassado pela angústia de fazer da poesia sua jornada humana por excelência. Como exemplo disso, é possível observar, em Pátria do Exílio (2006), que Nauro Machado lançase a si mesmo e sua cidade natal, São Luís do Maranhão104, como horizonte poético de sua própria busca, mais uma vez vitalizando em sua poesia a “exploração aguda de todos os estados mais angustiantes da consciência humana” (LEÃO, 2001, p. 97). É neste cenário que a alma do poeta torna-se desse modo abrigo de um inquieto semblante fecundo, a narrar o percurso de suas periclitantes agonias diante das ruínas do tempo. Assim, diz o poeta: Sou a pátria do exílio agora, nela andando em minha essência. (MACHADO, 2007, p. 23) Ao tematizar sobre o drama de sua exploração mundana, no ser que caminha na fugacidade da existência, os versos de Nauro Machado nos apresentam uma cidade calcada pela dor de saber-se única em sua contínua asfixia. Este tema acompanha a obra poética do autor, como um traço manifesto de seu olhar sobre sua cidade natal. É, com efeito, a imagem de um corpo em decomposição, que aproxima o poeta de seu espaço em torno da miséria e do tempo em ruínas, tornando-se fecundo narrador de sua peregrina passagem pelas ruas de seu tempo existencial. Vejamos o soneto 10, de sua obra A Rosa Blindada (1990): Cantar-te-ei, cidade, qual se amada fosses até o final dos que têm ossos, para, no amor, cantar-te desamada a destroçar-me ao chão dos meus destroços. Cantar-te-ei, cidade, em todo e em cada imundo beco ou rua aos passos nossos, e em moribunda noite à madrugada trazendo o chumbo dos soluços grossos. Cantar-te-ei, cidade, o início e o fim com todo o corpo. E até no podre rim 102
O AGRICULTOR - Sonetos a todos aqueles que cultivam a terra. Jorge Leão, 2006 - 2007 Referências LEÃO, Ricardo. Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado. São Luís: Fundação Cultural do Maranhão, 2001. MACHADO, Nauro. A vigésima jaula. Rio de Janeiro: Olímpica Editora, 1974. ______. A Rosa Blindada. Brasília: Editora Alhambra, 1990. ______. Antologia Poética. Rio de Janeiro: Imago Editora; Fundação Biblioteca Nacional Universidade de Mogi das Cruzes, 1998. ______. Pátria do Exílio. (Terceiro e último canto do poema Trindade Dantesca). São Luís, Lithograf, 2007. 104 Onde nasce no dia 2 de agosto de 1935. 103
carregado por crápulas fiéis, cantar-te-ei, de imunda, o Senhor Morto me conduzindo ao cais do último porto onde dormirei eterno sob teus pés. (MACHADO, 1991, p. s/n) A cidade constitui, com isso, o encontro do poeta com a sua angústia cotidiana, sobretudo quando a vê em ruínas, abandonada pela vulgar passagem de quem apenas reflete sobre ela o traço dominante da atroz perda de memória com o seu útero. Por isso, a poesia de Nauro Machado reveste-se de imagens viscerais para dar ao corpo, que é também ruína, o espaço real de sua peregrinação. De modo a proclamar em Lamparina da Aurora (1998): Minha ofensa tomba Aos teus pés, cidade. (Inatingido alto do meu chão corpóreo.) (MACHADO, 1998, p. 333) A fugacidade da existência, que todo momento se volta como ponto reflexivo em sua obra, nos conduz à problemática visceral do corpo, e, desse modo, o poeta sente-se em estado de vigília sobre o encontrar-se no tempo-espaço permanente de seu ethos105 natal, como um peregrino lutando por dar à sua lida diária o olhar de quem resgata do abandono e da miséria o pensamento situado como espaço a ser habitado pela poesia. Isto reflete a própria angústia do humano, como essencial peregrinação do ser diante da finitude. Contudo, será por meio de um verbo inaudito e avassalador que o traço poético do autor encontrar-se-á diante das contraditórias artimanhas de um tempo fatalmente arruinado pela busca do valor infértil das coisas produzidas em seu lócus citadino. Este conflito traz à angústia de sua peregrina memória poética o espaço propício capaz de desconstruir com o fim meramente utilitário das coisas e de seu pretenso domínio fugaz, enquanto redução do humano a uma inautêntica existência. Será, pois, com a palavra que se reconhece, no poeta, a remissão do humano, pois somente nela é possível a liberdade criadora da própria existência. Assim nos diz o autor de A vigésima jaula (1974): Pois sem palavra não pesa um corpo morto, e sem ela, a palavra, é morta a vida, só a palavra diz do peso, inda que a sustente o etéreo. (MACHADO, 1974, p. 7). Palavra que assume o compromisso de fazer-se presença daquilo de que se ocupa o poeta: a angústia do ser humano diante de sua finitude. Por isso, ainda nos afirma Nauro, em O cavalo de Tróia (1998): Não entra no poema o exterior a ele: o sossego infinito do universo. (MACHADO, 1998, p. 239) E não seria outro o ofício deste peregrino do ser, uma vez que é no interior do poema que se encontra a fecundidade da existência. Por isso, o poeta adoece com a realidade. O seu pathos, ou seja, sua capacidade de estar ligado poeticamente ao mundo, é de onde se vê inaugurado o desassossego do humano. A realidade é tomada pela angústia do poeta, ao lançar-se como tecelão da existência. Ele vai tecendo a existência, enquanto traça em versos os incansáveis gritos de sua agonia telúrica. Na mesma obra, ainda nos apresenta o autor a seguinte afirmação sobre a angústia: Não me aposentarei jamais da angústia (meu simples deglutir digere a angústia) a perseguir-me neste único emprego 105
Palavra grega para designar “morada”, “habitação”, “cuidado”.
sem paga e valia, exceto a de ser-me. (Idem, p. 238). O poeta é, desse modo, penetrado existencialmente por saber-se como um contínuo processo de fazer-se como poeta no mundo. Assim, ele se faz no mundo como prisioneiro consciente de sua tarefa ocupacional, que reverbera em si o passar do tempo como momento oportuno, afirmando-se pela fecundidade da palavra. Por duas mil angústias, ó poeta, as coisas todas, que falam a sós, falarão por ti a voz plural. Completa. (MACHADO, 1990, p. s/n). Como Prometeu acorrentado à pedra do destino inexorável, o poeta existe na experiência cotidiana de sua arte, como devorado pela águia de um deus inclemente, ao visitá-lo pelo acordar a cada dia sedento por um novo parto da palavra. Neste espaço situado, ele se descobre alguém que fala da angústia humana, pois a traz consigo visceralmente. Como Ariadne, ele lança seu fio existencial no labirinto do tempo. Contudo, não espera ser libertado por Teseu deste seu habitat visceral. Por debaixo dos espinhos das linhas em branco do papel à sua frente, o poeta aprende, assim, a cada hora sofrida, a deitar-se ao lado de seu destino humano, e de sua ocupação originária, fecundada pela angústia de ser poeta por toda a existência. E em sua cidade este drama renasce a cada dia. Será neste cenário, escavado pela solidão do fazerse duramente poeta, que a palavra ressoa nas ruas, ruínas e becos da vetusta cidade. Enquanto corpo, pelo cotidiano de seus passos, o olhar arguto do poeta refaz a trajetória de uma história fadada à decrepitude no tempo do seu findar-se. Não obstante este drama fatídico, o poeta descobre-se, pelo encantamento de sua fecunda imaginação, refazendo-se em busca de um ser mais pleno de poesia. Ainda que seja desesperador viver diante do perceber-se faminto de vida, tendo à frente a sua terra natal abandonada pelas pedras de uma visão turva e envelhecida, o poeta lança sua sina como um chão a ser pisado pelas torturantes feituras de seu próprio fenecer. Ó terra do meu medonho Despertar horizontal, No imaginário que ponho Aberto para o real, Querendo sonhar meu sonho Antes do sono final! (MACHADO, 2007, p. 77). Na solidão de seus estreitos espaços, a cidade fecunda a imaginação do poeta, enquanto observador da morte em vida, vendo com isso o drama de sua existência enquanto fertilidade do ser, transmutado pela dor em seu abandono temporal. Ó São Luís, chão que é mais Do que tudo o que me fez: Se é Natal, e tudo é paz, Sem Maria alguma em prenhez, Eu sou quem morto em mim jaz, Vivendo a morte outra vez. (Idem, p. 72). Encontramos, portanto, uma leitura da angústia indissociável do ser que se situa no espaço-tempo de sua cidade. Aqui reside uma das mais percucientes abordagens existenciais da poesia naurina. Por lançar-se como cenário cotidiano de si mesmo, o poeta, e com ele a cidade, encontram-se em constante processo de interlocução, no chão árido de suas vicissitudes. E pela terra interposta Entre mim e a sua medida, Esse sonho é como a aposta Que fiz entre mim e a vida:
Eu, a carregá-la na costa, Ela, a olhar-me em despedida (Idem, p. 78). Como palavra situada no pesadume de sua finitude, o poeta invoca a dor de uma existência que se doa no espaço de uma vida dedicada diuturnamente ao drama inquebrantável de sua peregrinação mundana. Assim, vê-se na poesia de Nauro Machado um trajeto onde o ser do poeta está entranhado com o ser de sua cidade, pois nela se faz e refaz a angústia de tornar-se o que é, ou seja, poeta, que se vê na dureza de seu ofício a fecundar a palavra com o ser de sua alma em angústia.
JORGE NASCIMENTO106
8 de janeiro de 1931 Fez o primário na Escola Modelo Benedito Leite e o Secundário no Ateneu Teixeira Mendes. Em Belém do Pará, trabalhou dois anos no Conselho Nacional de Petróleo, de 50 a 52. Trabalhou em São Luis no Jornal do Povo, como revisor e repórter, 1956/58; após ser classificado em segundo lugar num concurso para revisor do Jornal do Brasil, trabalhou nesse periódico entre 1957/1959. Colaborava na revista Legenda, na década de 60. Andarilho, aprendiz de jornalista, poeta aprendiz... É em Recife que apura a linguagem e cria os primeiros poemas – Ausencia restituida é de 1972, muito elogiado pela critica. Lá foi revisor tipográfico, respectivamente, do Jornal do Comércio, 1974; do Diário de Pernambuco 1975 e Diário da Tarde, também em 75. De volta ao Rio de Janeiro, trabalhou no Ministério da Educação e Cultura, como revisor de textos, indicado pelo poeta Carlos Drummond de Andrade. De volta ao Maranhão, se reintegra à vida jornalistica e cultural do Estado,; Na Rádio Educadora, 64/66; no Jornal Pequeno, 75/79; no O Estado do Maranhão, 80/92, como repórter e copidesque; Secretário da Fundação Joaquim Nabuco, entre 1981/1982. Membro da do Centro Cultural Gonçalves Dias; funcionário da Secretaria de Cultura do Maranhão, e depois no SIOGE. De 1987 é Os mortos não leem os epitáfios das manhãs Auto-retrato Cresce dentro de mim, doloroso, humilde pranto; Alma surda e esquizofrênica, inútil de tristezas, Desertei da vida pela aspiração do amargo canto E mesmo assim ainda tive que banhar-me de torpezas; Quem agora irá prover a insanidade do meu sonho, Eu, que sempre tive o bem ajustado e negro desvario De nunca permanecer nas proporções onde me ponho, Errante e só, comandado pela minha bússola de desvio Sempre a refulgir, nos oceanos de uma sinistra paz; Meu reino imbecil, descoberto por defeituoso impostor, Repetente de todas as classes da infâmia sempre audaz; Minha terra sombria de obscenidade, na voz de um homem A quem determinaram inteira sujeição ao destino opressor, Abençoado, enquanto vida tiver, as horas que me consomem! 106
BRASIL, Assis. JORGE NASCIMENTO - Uma Biografia de Jorge Nascimento. In GUESA ERRANTE, 20 de janeiro de 2006 , disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/20/Pagina651.htm, acessado em 11/05/2014 BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SÉCULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/jorge_nacimento.html , dezembro de 2008
De “AUSÉNCIA RESTITUÍDA, Poesia”, edição do Departamento de Cultura do Maranhão, Secretaria de Educação e Cultura, 1972. O livro está dividido em duas partes: “Átila” e “Nódoas de Carvão”, das quais foram selecionados os sonetos:
ÁTILA: Antes da Batalha Se, de repente, a presença da morte fosse mais além do pensamento, Numa definição de eternidade julgada para o obstáculo do castigo, O que seria de mim, sem filosofia para escapar deste vil tormento De dúvidas flagrantes para destruir o alvo do meu coração inimigo ? E padeço despido de metafísica ouvindo o lento suor cu.e vai crescer Dentro de minha rebelião pornográfica, contra este espírito de calma, Assassino mercenário, vindo do exterior doido para matar o meu prazer, Inútil e degenerada fortaleza da cristandade, jagunço dos céus da alma, Imaterialissimamente abstraio, caindo aos pedaços para vir saudar-me A mim, seu dono e senhor nas solidões onde o pântano nunca se atreve Com a megalomania dos seus bruxedos universais na tome de retalhar-me, Igual a tantos outros viajantes reverenciosos nas enfermarias esganados, Como as vacas esquartejadas no matadouro fulminante desta hora breve, Deslizando no corredor vermelho sem os gritos dos infortúnios lancetados !
O Arconte Executado A boca dos mortos é igual a um escorpião corrupto sem perspectiva, Observada apenas pelo verdugo quando vai se ajoelhar com o destino, Depois que os sentidos caíram com o olhar da fronte real e fugitiva, Longe do estrado, além. da crina verde do fantástico cavalo assassino, Amaldiçoando as pastagens toscas com os resíduos da geada indiferente, Doendo a imaginação com a infinidade dos longos amores já corrompidos, Antes de receber na masmorra o candelabro para iluminar o inconsciente E devolvê-lo aos mendigos farsantes e cruéis, na pocilga dos grunhidos, Reacendendo a vergonha da nudez que recorda o Santo da montanha homicida Para destruir o ilusionismo da sobrevivência, com o logro da eternidade, Quando tudo está consumado, até mesmo a última parcela da Ceia dolorida, Repercutindo nas trevas anónimas o grito selvagem do Inquisidor no cansaço, Onde a luz do jazigo será insculpida para a nascente origem da deslealdade, Com a epiderme da Face cravando-se nos antropofágicos filamentos do espaço!
NÓDOAS DO CARVÃO: Desencontro Sol é coletivo de relâmpagos, quando chovem estacas do pensamento, Descendo em verticalidade dolorida ao remontar o passado no desejo Pavoneando-se de lascívia, ao ver o negro antes do seu linchamento:
Comovente macho africano, subjugado na raiva inflamada de um beijo Lambendo o corpo todo, contra a maciez dos seios nos olhos impuros Desta branca tão bela quanto o transatlântico voando pêlos espaços O peso de suas ancas para ferir anaconda enroscada acima dos muros De vegetais sanguíneos, defendidos por quatro serpentes: os braços, Mordendo-se desesperados na forragem dos cavalos, perto da vacaria, Agora em silêncio furioso rolando pela grama que logo se desprende No combate dos centauros de duas cabeças beijando o chão da agonia, Sem perceber o latido dos cães rastejadores atrás da honra perdida, Trazendo à frente o caçador de adúlteros num espanto que ofende: Olhando o negro agressivo espojado em bestialidade no animal da vida!
JOSÉ DO COUTO CORRÊA FILHO107 26 de janeiro de 1954 Grupo da Rua Candido Ribeiro Ex-funcionário público federal e ex-professor de Filosofia, matéria na qual lhe foi outorgado, em 1999, o título de Doutor Hororis Causa pela Faculdade de Teologia Antioquia Internacional. É crítico de Artes Plásticas e curador independente, atualmente exercendo a curadoria do Projeto de Exposições Artísticas do Brisamar Hotel, em São Luis. Em, 1993, publicou Bailado Flamenco, seu primeiro livro de poemas, embrião deste Por Espanha. Possui sete classificaçõe em concursos nacionais de poesia; duas premiações nacionais e uma internacional, a saber: 2º lugar no 3º Concuros internacioal de Prosa e Verso – Premio Liter´rio Cidade de Ponta Grossa – PR/2001; 2º lugar na categoria Adulto do 7º Premio Cidadõ de Poesia, realizado pelo Sindicato dos Comerciários de Limeira SP/2002; 3º lugar no 2º Concurso Nacional de Poesia, promovido pelo Alternativo Cultural Intervalo – Rio de janeiro – RJ/2002. Em 2004, obteve o 1º lugar no 28º Concurso Literário e Artístico Cidade de São Luis - Premio Sousandrade. Em 2005, conquistou o 1º lugar no Concurso Premios Literários Cidade do recife, na categoria de Poesia, premio Eugenio Coimbra, com o livro Por Espanha. Participa das seguintes Antologias Brasileiras de Poesia: 11ª Antologia Poética Hélio Pinto Ferreira, publicada pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo – São José dos Campos – SP/1996. Antologia do 4º Premio Ciddão de Poesia – Limeira – SP/1998. Antologia do 5º Premio Escriba de Poe3sia – Piracicaba – SP/1998. 13º Antologia Poética Helio Pinto Ferreira - São José dos Campos – SP/2001. Antologia do Concurso Noite e Poesia de Tatuí – SP/2002. Antologia dos Premiados do 2º Concurso nacional de Poesia, realizado pelo Alternativo Cultural Intervalo – Rio de Janeiro – RJ/2002. Cultor das Artes marciais, nos idos dos anos setenhtas, século passado foi pioneiro no Karatê do Maranhão. Recentemtnete foi honrado com a outorga da faixa preta 4º Dan Honorário pela federação de Karatê Shotokai do Maranhão, do qual é consultor. Em 2005 estrelou, juntamente com Yaponaira Abgreu, o vídeo curta-metragem “Na beira de nenhuma estrada”, baseado num conto do escrito moçambicano Mia Couto, roteirizado e dirigido por Arturo Sabóia. Possui dois livros inéditos de poesia. Atualmente prepara um livro sobre Artes Plásticas. BALADA DA PRAÇA DE TOUROS Em uma praça de touros Desfruta-se a herança De uma arte insensata (?) Em uma praça de touros Vibram através do coro Aqs cordas vocais da massa. Em uma praça de touros Às cinco horas da tarde Um dia a luz se faça. Em uma praça de touros O toureiro é a astúcia O teouro é a casta. Em uma praça de touros O touro é quem investe O toureiro disfarça. Em uma praça de touros A dor é vermelha Sangue que grassa. Em uma praça de touros Valente é o touro O mais é falácia. Em uma praça de touros Onde muitos são 107
SOBRE O AUTOR. COUTO CORRÊA FILÇHO. Por Espanha.(1987-2005). São Luis (s.d.).
Testemunhas da desgraça. Em uma praça de touros Quem sente é o touro Por tudo o que ele passa.
JOSÉ LUÍS ROSENDO DE SOUSA Nasceu em São Luis, já participou de vários festivais de música e concursos de poesia a nível local e nacional, onde obteve menções honrosas. Já participou de várias publicações de Antologias pela Shogun Arte-Rio, Crisális, e revista Brasilia. MEIA-NOITE! Duendes fizeram pantomina na área livre Do Projeto Reviver. A plateia de monstrinhos esbugalha os olhos E aplaude as pulitricas dos atores mirins. Fantasmas alcoolizados passeiam por ali, Mas não percebem a cena surrealista Que acontece nos becos. No “Bar Antigamente” um homem solitário escreve Sobre guardanapos seus contratempos, Seus amores platônicos. Meia-noite! – passos trôpegos e um barulho infernal Rompem a noite assustando os pequenos seres. Logo se vislumbra várias silhuetas. São os integrantes do “Poeme-se” descendo A Rua da Estrela rumo à Praia Grande E cantarolando velhas canções Do Folclore Maranhense. Enquanto isso a ventania assobia por sobre Os telhados dos velhos casarões coloniais, Fazendo ranger suas velhas vigas. Aí mora o passado dos nossos ancestrais Pessoas ouvem a carruagem de Ana Jansen E alimentam ilusões de servir à Sinhá, Enquanto coisas acontecem ao redor Como pano de fundo do teatro das ilusões.
JOSÉ DE RIBAMAR SILVA FILHO108
RIBAMAR FILHO POEME-SE; UNS & OUTROS; GUARNICÊ Nasceu em São Luis em 22 de julho de 1962. Tem grande iniciativa na vida cultural ludovicense através do sebo Poeme-se, com palestras, recitais, saraus e lançamentos de livros. Participou de vários festivais da UFMA e publicou poemas nas revistas Guarnicê e Uns e Outros. Galeria de Anônimos Ilustres109 JOSÉ DE RIBAMAR SILVA FILHO Amante fiel da palavra, em sua modalidade escrita, silenciosa… texto-contextualizada no circuito lingüístico-comunicativo e nas suas variadas nuances expressivas e em sua heterogeneidade tipológica e genérica, ele não se conteve em cultuá-la, individualmente, encerrando-a no peito, solitário… Mas, solidário, dispôs-se a socializar essa paixão. Compartilhá-la com os Outros, irradiá-la, de São Luís para o Mundo… até metaforizar-se, ele próprio, numa Ilha… “cercada de palavras/ por todos/ os lados”, assim identificando-se com a Poesia, como definida por Cassiano Ricardo. E nessa dimensão, longe de ficar perdido, no Oceano da incomunicação – “homem algum é uma ilha, sozinho em si mesmo” 110, já o reconhece e adverte Donne111, dos idos do Século XVI – mas perto, pertinho, do Coração de Todos, no centro da Cidade-Ilha-Poesia, ele, também Poeta-“Homem/ que trabalha o poema/ com o suor do seu rosto112 ”…leitor/cultor/mercador de palavras… exorta, coloquial e conativamente: POEME-SE!! Não caiu a ficha?! Então… Atenção… Antenação. Ele é o idealizador, organizador, proprietário do primeiro sebo (loja de livros usados) aqui do Maranhão, pioneiro, portanto, nessa área. Deu pra captar agora, não? É isso aí! Estamos falando dele mesmo, José de Ribamar Silva Filho, o popular RIBA, DA POEME-SE! 113 – natural aqui da Ilha do Amor (22.07.1962 – Hospital Presidente 108
http://www.guesaerrante.com.br/2008/5/20/Pagina1026.htm http://www.overmundo.com.br/overblog/sebos-uma-paixao http://erisantoscastro.blogspot.com.br/2013/01/meus-livros-sofremos-um-ataque.html 109
Publicado em 30/05/2012 às 20:05 por dinacycorrea, disponível em anonimos-ilustres-15/, aqcessado em 10 de setembro de 2014.
http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-
110 “Nenhum homem é uma ilha sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promotório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. 111 Poeta inglês do século XVI (Londres 1572/1631). In: Meditations XVII. O trecho epigrafado tem sido retomado integral ou parcialmente, por outros autores, ao longo da história: Teillard Chardin (1881/1955) – padre jesuíta, geólogo, paleontólogo, poeta, filósofo, cientista; Thomas Merton (Prades, França, 1915/Bangkok, Tailândia, 1968) – monge trapista, um dos principais escritores espirituais do sec. XX, que escreveu, na década de 50, inspirado na frase de Donne, o livro “Homem algum é uma ilha”; Ernest Hemingway, novelista americano (1999/1961), na epígrafe do seu famoso romance transformado em filme Por quem os sinos dobram…. 112 Ainda Cassiano Ricardo, definindo o Poeta. 113 “Agora, falemos do POEME-SE. Como tudo aconteceu? “Até 1980, eu costumava freqüentar, muito, as bancas de revistas, de livros usados, na Magalhães de Almeida. E aquilo mexia comigo, sei lá… Mas quem me influenciou
Dutra), filho de José de Ribamar Silva (empreiteiro, já falecido) e de Maria da Piedade Silva (dona-de-casa). Primogênito de quatro irmãos – ele mesmo e as irmãs: Telma, Jacielma e Maricelma. Acompanhemos o nosso protagonista em sua trajetória de vida, trabalho e arte… A infância, passou-a no Bairro de Fátima (Rua Deputado José Mário), onde, a partir dos 6 anos, começou a freqüentar a escola – Grupo Escolar Estado do Amazonas, perto da Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Ali, estudou até a 4ª. série do Ensino Fundamental. “Guardo boas lembranças da minha primeira escola. Mas… ela não tinha biblioteca” – diz, entre evocativo e lamentoso. E acrescenta no mesmo tom: “Papai tinha comprado, pra nós, de segunda mão, uma coleção maravilhosa, chamada “Tesouro da Juventude”, que a gente lia, lia… e eu, principalmente, lia com paixão. E ficava naquela expectativa, querendo encontrar mais livros, na escola”. É; pra quem já era, precocemente, familiarizado com os livros, mergulhado no mistério, no universo mágico da leitura, a falta de uma biblioteca escolar só podia causar ressentimento… Dos doze para os treze anos, no impacto da separação dos genitores, com a família já incompleta, portanto, mudou-se para a Coheb do Sacavém. “Meu pai era meio nômade” – diz, meio evasivo. E, dentro do nosso contexto discursivo, explica: “quando se separou de minha mãe, meu pai não quis abrir mão de nós, seus filhos. Fez questão cerrada de ficar com a gente”. E valeu? Ele deu conta mesmo do recado? Conseguiu ser aquele paizinho-Paizão? “Bom, valeu a pena, ele foi um bom pai, apesar de muito severo. Foi muito presente na nossa vida, muito responsável, não nos faltou nada, mas… é muito difícil a gente crescer, assim, sem um carinho de mãe”. (Silêncio… Comoção) Bairro novo, colégio novo. E ele passou a estudar no Luís Domingues (Rua 13 de Maio), Centro da Cidade, para onde se dirigia, todas as manhãs, bem cedo, de ônibus, continuando nesse ritmo até os 16 anos, quando concluiu o Fundamental. Essa lhe foi uma temporada muito significativa, que repercutiu, da pré-adolescência para a vida adulta, com ênfase no despertar da sua sensibilidade artística, na aquisição de valores, na afirmação de sua identidade cultural. É aí que ele começa a ampliar, aprofundar, educar, poeticamente, o olhar. A perceber as coisas, a mesmo, de verdade, nesse ramo, foi Ribamar Feitosa. Em 1984, ele abriu um Sebo na Magalhães de Almeida, o primeiro nesse estilo, aqui em São Luís. Eu ia muito, comprar livros, no Sebo de Feitosa. Havia, também, nesse tempo, um jornal de publicação nacional, só sobre livros, o LEIA – que trouxe uma matéria extensa, a respeito de SEBOS, muito interessante. E eu fiquei com aquela idéia de botar um negócio desses, num local fechado e organizado. Aquele nosso movimento literário, da adolescência, já não existia mais, o Grupo estava disperso, e eu me apropriei do nome. Em 1988, instalei e inaugurei a POEME-SE, numa sala de 20 metros quadrados (antiga sede do PT), na Rua do Sol. Em 1990, transladei-a para a Praia Grande. Em 2001, adicionei, à livraria, um cybercafé. A parte de café decaiu e ficou só a Internet. A Praia Grande foi muito importante. O POEME-SE agregou vários movimentos e atividades intelectuais e literárias aqui do Maranhão: recitais, leitura de poesias, debates, lançamento de livros e teve o seu próprio festival de poesia, por dois anos: Festival de Poesia do POEME-SE ”… Isso é verdade, gente. A propósito, este trecho de um resumo biográfico, aqui do nosso herói (transcrito da Antologia Poética Maranhense, já referida acima), atestando que ele “tem grandes iniciativas na vida cultural sãoluisense, através do sebo Poeme-se, com palestras, recitais, saraus e lançamentos de livros” e que “participou de vários festivais da UFMA e publicou poemas nas revistas Guarnicê e Uns e Outros”. Dotado de um acervo de mais de 30 mil livros e num destaque todo especial para as obras de autores maranhenses, o POEME-SE, “uma maneira de levar alegria e poesia pelo mundo, um projeto para plantar e colher sementes de criatividade” (ou ainda como se pode ler no seu Site, naInternet)… “uma livraria de toque poético/ que não perdeu de/ vista os horizontes nem/ se deixou encerrar por eles/, um sebo onde/ lançamentos deste ano/ convivem com os dos séculos/ passados, porque a história/ não é a do presente, mas também/ a dos outros presentes/, é também um cybercafé porque o futuro/ está sendo conectado e não/ é para amanhã”… deu certo. E logo virou uma referência na Cidade e com repercussão nacional. Hoje, por iniciativa do escritor Paulo Seccim, da Academia Brasileira de Letras, figura no Guia de Sebos do Brasil. E não parou por aí. Em 1998, uma nova livraria do gênero, uma filial da matriz, foi aberta na Rua do Sol, funcionando com muito sucesso, os negócios “bombando”, como se diz na gíria, à base da compra/venda/consignação de livros novos e usados. “As pessoas vêm, quase que diariamente, vender livros, consignar… E, a partir de 50 volumes, nós vamos a domicílio. É só a pessoa ligar” – informa o proprietário, que expressa, finalizando: “Sinto-me realizado. Trabalhar com livros me é tão gratificante que, além de me realizar, ainda me rende algum e gera emprego pra outros. Já pensou? Trabalhar no que você gosta e ainda ganhar dinheiro com isso?! Não dá pra ficar rico, mas dá pra ter uma vida digna. Agora, uma advertência, um aviso aos navegantes destes mares: é preciso ter dedicação, eu diria, mesmo, DEVOÇÃO. Entrega total”. IN CORRÊA, Dinacy. GALERIA DOS ANÔNIMOS ILUSTRES – JOSÉ DE RIBAMAR SILVA FILHO, Publicado em 30/05/2012 às 20:05 por dinacycorrea, disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/05/galeria-de-anonimos-ilustres-15/, acessado em 10 de setembro de 2014.
cidade, com os tons da Poesia (Um parêntesis para um momento solene. Só um minutinho. É que ele está tirando do baú de guardados uma das mais caras e sinestésicas recordações dessa fase: a passagem matinal, cotidiana, pela Padaria Santa Maria, de Seu Ramos, esquina da Afogados com a Rua das Flores (Aluisio Azevedo): “Eu passava pela padaria e parava, entrava, para comprar pão e era pitoresco: aquele cheiro de pão fresquinho se misturando com a luz da manhã… Essa padaria já faz parte da paisagem da Cidade. Já tem mais de cinqüenta anos”– lembra, assim, meio enternurado e adianta, informativo: Ubiratan Teixeira publicou uma crônica sobre essa padaria. Ivan Sarney, também. E eu li, emocionado, essas duas crônicas”…). A segunda etapa dos estudos sistemáticos (Ensino Médio) cursou-a no Humberto Ferreira, também no Centro. Por essas alturas, “papai tinha comprado aquela coleção d’Os Imortais da Literatura e eu comecei a “devorar”– lembra. Está, pois, constatado e confirmado: esse gosto pela leitura, essa devoção pelos livros tem suas raízes na infância, na pré-adolescência e à sombra do papai… aquele Pai extremoso e saudoso, que o deixou, faz sete anos, aos 64 anos. O processo, todavia, teve continuidade e se foi desenvolvendo, implicando outros atores/incentivadores. Puxando pela memória, ele vai desfiando: “Nos primeiros anos da adolescência, cursando ainda o Fundamental, no Luís Domingues, tive um professor de Português (Prof. Antonio), que me abriu as páginas da Poesia. Ele costumava ler, recitar, poemas de Fernando Pessoa na sala de aula. Mar Português e outros. Eu achava bonito”… E no Ensino Médio, já em plena adolescência e no portal da maioridade, teria, também, encontrado um outro professor, que o fizera embarcar em outras viagens, outras aventuras de leitura? Ele mesmo o esclarece: “Não, pelo contrário; dessa vez, foi um aluno, um colega de classe… Um cara assim da minha idade. Foi ele quem contribuiu, decisivamente, na formação da minha consciência leitora, que me introduziu no universo dos grandes autores”. Pode-se saber quem foi esse iluminado? “Ele era incrível. Muito inteligente, revolucionário… Ad-mi-rá-vel! Lia os russos. Era envolvido com movimentos políticos… Um líder inato. Um vencedor predestinado. Um rapaz muito esforçado, empreendedor, um lutador capaz de superar toda e qualquer intempérie da vida. Ele tinha um apelido engraçado…” Qual? (Risos) “Bom, a gente perdeu o contato e eu não falei com ele… Então, por uma questão de respeito… Sabe como é: hoje, ele é um advogado muito bem conceituado, um homem muito bem sucedido na vida. Isso era naquele tempo, que a gente era estudante”. Mas, o apelido… “O apelido era por conta de ele ter uma barraca de bijuterias e miudezas na Liberdade”. Mas isso é lindo! So-ber-bo! Imagina: saber que ele, já tendo atravessado mares, saltado abismos, mercado pelos camelódromos da vida, é agora um vencedor… Bravo!! Trabalhar duro, subir na vida de baixo pra cima é mesmo edificante! Não vê Silvio Santos? Já foi camelô, dizem. Amador Aguiar, fundador do BRADESCO, transitou foi da roça para o alto e bem sucedido empresariado. O Presidente Lula nem se fala, pois todo mundo já lhe conhece a biografia. Isto só pra citar os mais populares. Quanto ao apelido (até vamos aproveitar o gancho para uma retificação, ou reivindicação)… Não sabe aquele teu xará (José de Ribamar Coelho Santos), de ARAR?I114 Chegava à universidade, no tempo de estudante, com os bolsos cheios de balas (balinhas de hortelã, de café, de chocolate…), degustando-as, distribuindo entre as garotas e pegou, também, um apelido engraçado, que hoje o identifica como a celebridade Zeca Baleiro! Viu como é o negócio? Tem apelidos carismáticos… Tudo bem; vamos deixar quieto, o lance. Você tem razão: ele não foi consultado… Mas, se esse magistrado gosta de ler e costuma passar em revista os jornais do dia, vai se reconhecer, transparente, aqui na página, e se sentir orgulhoso de si mesmo, satisfeito, por estar sendo lembrado como uma luz no teu caminho e colocado nessa perspectiva de vencedor – a quem nem foram reservadas as batatas machadianas, mas outros “mais altos píncaros da vitória”– para lembrar Bastos Tigre no famoso A Vitória da Vida. Apostamos, como há, por aí, todo um filão de pessoas ilustres, vencedoras, que já tiveram, em tempos de vacas magras, uma barraca, um armarinho, um Bazar… E também cognomes relacionados ao seu campo de trabalho, sua área profissional… Vamos em frente.
“Esse tempo de estudante do Ensino Médio foi muito importante pra mim. Influenciado por esse meu colega, também me envolvi com movimentos políticos e sociais, me engajei em grupos comunitários, me integrei na Pastoral da Juventude, da Igreja da Sé, militei ao lado de Joaninha e de Chico Gonçalves (o coordenador) e acompanhei o Padre Marcos Passerini, na sua luta em defesa do povo dos bairros, então nascentes (invasões), São Bernardo e João de Deus, organizando 114 ARARI com maiúsculas e em negrito, pois vimos e ouvimos, há poucas noites, na tv, um “bem informado” dizer, no Programa do Amaury Jr., que Zeca Baleiro é de Axixá… Erra-do: o cabra é de A-RA-RI, gente (à margem direita do Rio Mearim).
as comunidades, que estavam ameaçadas de serem expulsas, no Governo de João Castelo. Em 1979, participei da Greve da Meia Passagem, como secundarista, sempre ao lado desse então meu amigo do peito e de outros revolucionários da época. Em 1980, em plena ditadura militar, surgiu o PT e, mais tarde, me filiei a esse Partido”… E o que mais, na década de 80? Outros caminhos… Caminhos do Coração: você é casado, tem filhos? “Casei em 1987” – responde, após um breve silêncio reflexivo, como que emergindo de um mar interior, do recôndito da alma, fechado, compenetrado e num esboço de sorriso tímido. Pode-se saber quem é a distinta? “Não, é coisa do passado. A gente se separou, ela já é casada com outro, eu também tive outros relacionamentos… Vamos pular essa parte”. Tudo bem. Falemos só dos teus filhos, então. “Em 88, nasceu minha primeira filha, Carolina, hoje com 19 anos, que trabalha comigo, aqui na livraria (da Rua Grande) e é estudante de Direito na UFMA. (!!) Maria Eduarda, minha segunda filha, de 6 anos (mora em Balsas), já é de um segundo relacionamento (de sete anos). E João Pedro, de 2 anos e meio, é de um terceiro relacionamento”. Desculpa a indiscrição, mas… você já encontrou a sua alma gêmea? Outro silêncio introspectivo e um suspiro profundo… “Não sei, acho que não tenho sorte com as mulheres ou elas não têm sorte comigo”… Sem palavras. Mudando. E os movimentos literários? Já foi aludido, no proêmio, que você é um poeta… “Tínhamos um movimento em prol da Poesia. Eu e outros amigos. Reuníamo-nos, constantemente, aos fins de semana, pra discutir, planejar, ler, uns pros outros, nossos poemas. E aí tivemos a idéia de escolher um nome para o grupo. Cada um de nós ficou comprometido em sugerir um. E a minha sugestão foi: POEME-SE. Pegou”… Ge-ni-al. Muito criativa, mesmo, essa performance do substantivo em verbo, assim, pronominalizado e nessa força imperativa. Mas, qual a intenção, a mensagem intrínseca do neologismo? “A idéia era exortar a todos a assumir a poesia, a ter uma atitude poética, vestir a camisa da poesia. E nós fazíamos isso, literalmente. Confeccionávamos (e vestíamos) camisetas, publicávamos posters, vendíamos cartões, divulgando a poesia”. Por falar em poesia… (Pronto. Era só o que faltava. Ele não querer “abrir o jogo”… como já deve ter dado pra perceber, o cara é tímido, fechado, modesto demais… mas não vai ter escapatória; não vamos omitir esta parte; pelo menos o que já está nos livros vai sair). A verdade é que (conforme pincelado, na abertura) ele é mesmo um poeta, um intelectual de respeito, premiado em concursos literários. (!!) Primeiro Lugar em uns, Menção Honrosa em outros… Faz parte da geração dos poetas que representam a literatura maranhense contemporânea, a bem dizer, ainda nossa ilustre desconhecida. Já participou de várias antologias, revistas, festivais de poesia… Em 1986, por exemplo, ganhou o primeiro lugar no Festival Comunic’arte, promovido pelos estudantes de Comunicação, da UFMA. A propósito, vejamos aqui, intertextualizado, excerto da Antologia Poética Maranhense, o poema Imagem, pequenina mostra de sua verve poética.Vamos ouvir: a madrugada arrancou meu sono/ deixando você para sempre/ no meu crânio/ meus pés caminham pela sala/ as mãos ajeitam na vitrola/ o som de Lô Borges/ a música é suave/ me deixa relaxar/ assim/ vou me decompondo lentamente/ em busca de cada desenho imaginário/ que fiz de você pelas paredes/ sei que isso tudo é um exercício/ mas agora me chamo Sísifo/ estou virando o pó da pedra/ que empurro/ sei também/ que todas as estradas/ me conduzem/ a teu nome/ apareça na minha/ casa/ numa noite qualquer/ de solidão/ recolha numa caixa o pó/ daquilo que fui/ leve ao mar/ espalhe entre ondas assanhadas/ para que disperso/ não possa mais recompor/ em mim/ o que há de você. Sem comentários. [...] E vamos ficando por aqui… Poeme-se!
COREOGRAFIA DO CAOS Três da madrugada A vida navegava a cem Quilômetros Num tempo de suicídio É Inútil tentar conter a carne Que morre Em cada esquina Em cadaesquina Em cada Esquina Os sinos estão tocando A hora é esta Tudo deve ser lançado à cova Os leões fazem a espera Daniel não merecia Fomos plantados no meio deste deserto Comendo areia Em nome do Brasil Que não tem nariz E fede Tanto quanto uma cidade quqlquer A vida está morrendo veloz A cem quilômetros Pesando centenas de milhões De corpos afundados Carregados sem despacho No imenso trem da morte Em direção ao nada Onde a humanidade constrói abismos No meio desta moderna fabricação De fumaça Comemorado pelo Buuuuuuuuuum De um coletivo suicicio atômico Desenfreado frenesi patético O ukltraje ótico da epopeia caótica Da grande revolução do vazio Passam das cinco horas A manhã fria se aproxima Com sua morte atrás da porta Estou demitido deste caos Me levem para junto de Dante No céu Os sinos continuam tocando Tudo esta consumado Meu alimento será apenas A eternidade do ter néctar. ABRIL no quarto sob a cinzenta luz noturna de abril com seus olhos abertos brilhando
feito uma boca no meio de estrelas levitando com seus grãos de areia me fixando bem no centro dos seres inanimados havia no ar a melodia estática do silêncio pássaros cor de abóbora elaboravam ninhos enquanto ela ficava bordando com seu brilho aquele imenso manto de amor que tinha o poder de ficar brincando entre seus dedos suas mãos cintilantes manipulavam os fios do único instante em que o tato era a nossa grande glória (Ribamar Filho)
LUÍS INÁCIO ARAÚJO115
LUIS INÁCIO OLIVEIRA COSTA Dezembro de 1968 Geração Cassas
Luís Inácio Oliveira |São Luís/MA, 1968|. Poeta brasileiro. Formado em Direito pela Universidade Federal do Maranhão, atua como professor do curso de filosofia na mesma instituição. Publicou um álbum de poemas no início dos anos 90 e, em 2008, o livro Do canto e do silêncio das sereias – um ensaio à luz da teoria da narração de Walter Benjamin (Educ-Editora, PUC/SP), fruto de uma pesquisa de mestrado. Doutor em Filosofia pela Unicamp, é o autor de Forasteiro rastro (Editora 7Letras, 2012). https://quatete.wordpress.com/2020/01/05/4-poemas-de-luis-inacio-oliveira/ TABACARIA um tejo naufraga no quarto do homem que teoriza abismos – a mão acaricia a treva de leve quase sem gesto o travo acrealegre do vinho tristemente o tabaco lá fora a noite imensa é apenas desabamento
A PALAVRA SILÊNCIO a palavra silêncio é um metal leve resvala na lisura do ladrilho – solitário o silvo de um grilo ou então é uma lesma que descreve um riacho de silício pela treva
115
BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SÉCULO XX. Rio de janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, ,1994 http://www.escritas.org/pt/biografia/luis-inacio-araujo
: algo que nunca se revela a não ser que seja como alga azul que sangra ou olho d’água que arrebenta – um lábio onde se esconde uma angra
O MENINO o menino escava talvez algum escombro contra a maré do tráfego na contramão uma asa de escória sobre o ombro tráfico de escolhos o menino espera talvez um último despojo quando enfim o semáforo dispara no meio-dia tudo resta mais do que exposto oposto sol em desamparo deserto e traste, céu deposto sobre o menino que já não escolhe e despeja sua tralha na vala comum de agosto
RESTO DE MANIFESTO palavras mais secas REPORT THIS AD sem esses enfeites a não ser os assim esfarelados esfarinhados ao gosto do despejo limpar o terreno uns poucos cacos 3 rolos de arame farpado só nessa tarde já provaste a Praça Deodoro armada assim entre os teus dentes?
encouraçada: croas do sábado? escancarar a porta dos fundos abrir espaço beber abril nenhum oboé nenhuma verbena um escangalho alguns latidos e uma máquina de esburacar REPORT THIS AD à noite
As Indefinidas Palavras Qualquer palavra que eu te diga ou te silencie é tão sem sentido — para o meu poema que é só bruma voz muda esferográfica: e o que sobre é esse silêncio pesando sobre os corpos, esse chumbo, o exaurir do carbono, o vão dos corpos. Agora quero inventar um poema com isso que em mim é aresta, arpão, fratura exposta, berro içado sobre setembro, estilhaço, beijo esgarçado, grifar minha mudez sem fundo afundada de tantas palavras. Solto o poema como uma vertigem, desse perigo não há fuga: a nona sinfonia arrebenta num revés de crepúsculo. Inverter o caos da tarde em melodia ou aceitar o que um poema fabrica de naufrágio? pela página? Num lapso: me escapam o salto e o grito irisado, e daqui fotografo o abismo em cores kodak. Palavras desabam numa catástrofe: quero agora o vazio das margens, a intransferível brecha, o vão da palavra impronunciável. Em que poema jogar fora as palavras onde sempre esbarro? — Vida & Morte Deus & Sexo — Escrever é o que se arquiteta do deserto de uma falta, infância e cio, o turvo de alguém, antro de uma boca. Mas o que escrevo é noite cava,
emparedamento, poço e não cabe no estreito de nenhum poema. É só por afronta e voracidade que escrevo escavo: indefinidamente até preencher com o poema a branca ausência: impreenchível. Luís Moraes Agreste116 Não mais recuo: o que escrevo é escassez e fendas, é contra esse modo reto e seguro de escrever que escrevo - em desaprumo. Bebo o gosto travado desse poema numa cobiça de ser dito: um laivo de sangue escorre de minha boca. o processo vital subsiste ainda na artéria, a manhã poluída prossegue sua lenta engrenagem, seu incêndio diário, sua as simetria - apesar do azinhavre no garfo do pêndulo, do cotidiano cigarro igual ao trabalho noturno da morte num corpo. Mas pra nomear o que respira secretamente por trás dessa vida de veias nervos assombros penhoras e sofre desfiladeiros poços terrenos baldios, a mais inexplicável vertigem — nenhuma palavra é possível: nenhum selo.
A paIo seco Meu poema armado com lacônicas palavras (contundente arpejo) canta-se assim torto como não convém e maneja facas lâminas secas pra te dizer certas coisas que te fariam sangrar: profundamente.
Arquitetura Procura a ordem desse silêncio que imóvel fala: 116
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_inacio_araujo.html
silêncio puro. João Cabral de Meio Neto
Um dia escreverei um poema que não precise dizer nada um poema: apesar das palavras arpejo relógio ou pedra silêncio que ninguém suporte lâmina dentro da goela de João Cabral de MeIo Neto voz e fino topázio a linguagem apenas tece a trama de nenhuma sintaxe um dia escreverei um poema no azul vazio da lousa em ecos um silêncio adormece (Vôo Ávido/ 1991)
JOSÉ MARIA NASCIMENTO117
18 de setembro de 1940. Filho de João e Neuza. O pai era um homem simples que trabalhou como vigia do Matadouro. A mãe uma prendada e dedicada dona de casa. “Muito cedo rebelou-se contra toda e qualquer forma de ensino”. É um autodidata em tudo o que faz. Por longo tempo foi diretor do Suplemento Literário do Correio do Nordeste, nesta cidade. Ganhou prêmios literários em São Luís e em Recife, onde residiu por seis anos. Lançou os seus poemas em Manaus e em São Paulo. Casado com Maria da Graça, cantora lírica, tem duas filhas, Layane e Tayane. A partir de 1998, torna-se fotógrafo, exercendo as suas atividades artísticas com relativo êxito. Com uma visão existencial que bem pode, na prática, ser exemplo daquele axioma filosófico do domínio público, Antes bem viajado e bem vivido, que bem lido, a vida do homem José Maria Nascimento, no entanto, explica o dito e o ultrapassa, pois, cursou o primeiro ano ginasial e, pela sua própria obra literária, percebe-se o universo de leitura que tem, pelas várias abordagens do discurso poético que manipula e conduz sempre com a percepção do que está acontecendo em torno e além fronteiras. Não é temerário citar que inúmeros escritores de renome foram autodidatas e, a título de exemplo, citem-se Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, em nível nacional. O autodidatismo, ao contrário de depreciar, dá ao escritor, que se superou ao praticá-lo, destaque. Aos 63 anos de idade, José Maria Nascimento se faz representar, como poeta, pelos 12 títulos de livros de poesia que já editou, a maioria dos quais premiados em concursos literários, em São Luís e em Recife. Obras Literárias Células da esperança, São Luís, MA, 1960; Harmonia do conflito, São Luís, MA, 1965; Silêncio em família, Prêmio SIOGE, São Luís, MA, 1968, publicado sob os auspícios do Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, Tipografia São José, São Luís, MA, 1969; Contemplação dos templos, Edição SIOGE, São Luís, MA, 1977; Carrossel ensolarado, FUNC/SIOGE, São Luís, MA, 1981; Os Frutos da madrugada, SIOGE, seleção de poemas, São Luís, MA, 1984; Seleta poética, SECMA, São Luís, MA, 1987; Os Verdes anos da maturidade, SECMA/SIOGE, São Luís, MA, 1987; Constelação marinha, SIOGE, São Luís, MA, 1993; Turbulência, FUNC, São Luís, MA, 1995; Encontros e aflições na Zona de São Luís, Edição do autor, 2001. Tristezas da Juventude Só em pensar fico triste de não mais curtir as tristezas que sentia na minha juventude. 117
Cunha Santos Filho. JOSÉ MARIA NASCIMENTO: VIAJANTES DO ENTARDECER. In GUESA ERRANTE, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina302.htm, acessado em 11/05/2014 JOSÉ MARIA NASCIMENTO: VIAJANTES DO ENTARDECER(II) . In GUESA ERRANTE, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina292.htm, acessado em 11/05/2014 NERES, José. JOSÉ MARIA DO NASCIMENTO: MEIO SÉCULO DE POESIA. Blog Recanto da Poesia, disponível em http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2649901, acessado em 11/05/2014
A tristeza chegava na hora certa. Era motivação para quase tudo: uma farra solitária uma carta de amor golpes de gilete no braço. Era divertida a tristeza que eu vivenciava na mocidade. Os anos se passaram, as tristezas se dispersaram. Nunca mais tive tristezas iguais. Hoje, deploro a falta daquelas tristezas: tão boas, tão inocentes e necessárias. (p.125) Os abominados Jorge, a vida estava na memória da vazante, nas cisternas repletas de antigos sonhos, nas ferrugens grossas dos portais da Zona. Os pássaros embriagados com os nossos hálitos, as moscas afogadas no fundo das garrafas, os teus delírios despertando as prostitutas. Pelos corredores dormem os amigos exilados. Vamos, talvez seja esse o derradeiro bonde! As carruagens já não [trafegam pelas ruas. Caminhemos para o Sul que o Norte já nos cansa, e deprimem os urubus nos seus vôos famintos. Observa: por detrás das águas dormem as pérolas. Basta de bater com os costados pelas calçadas! As ervas cobrem-te os pés com o sal da manhã. Não mais os pesadelos nos albergues soturnos. Passeiam os bois pelas campinas da tua infância. Eis a hora esperada! Eis o momento da Redenção. Vamos, Jorge, juntos alcançaremos o lado eterno. (p.55) Paisagem vegetal Já não quero o mistério das rosas nem o silêncio das folhas no jardim. Algo mais grave que as horas dolorosas senti-la distante como se fosse em mim.
Não desejo a surpresa de um corpo maduro, ainda que verde para o uso do lamento. Algo mais que uma rosa no céu escuro enche-me os olhos de depressivo encantamento. A tua imagem neste quarto ora silente ondula em mim um pensamento lasso: Assim te tenho no que penso vagamente, sem contudo sentir-te nos meus braços. (Nascimento, José Maria. Silêncio em Família. São Luís: Tipografia São José, 1969. p.37-39.) Elegia para meu pai Pai, já o teu sangue repugna a minha carne e o baque rude do teu precioso afeto estala em meu crânio como enormes pedras caídas de um eterno que não sei para a destruição dos teus ossos em que me abraço. O meu grito se faz eco no teu sono e tu despertas, que bem sei, para ver nada. Eis que teu filho em lodo se transforma para o objeto da tua vergonha muda. E nesta angústia, pai, tu ainda flutuas e me arrastas do presente que não tenho para o passado em que morri contigo. Se este delírio já te expõe um homem adulto é que teu sangue em minhas veias se revolta e o ódio bruto de saber que nada sei da morte me transporta para as portas de um inferno que um dia me ensinaste a evitar. (p.35) O Taciturno Compreenderás que as coisas mais simples não tiveram explicações; que a tarde caindo ao findar do sonho mais fria se torna que a neve nos lábios de um cadáver noturno. Compreenderás ao calor dos fornos
a utilidade do pão que te foi negado; e deste regato onde flui a solidão de outras sedes em vão beberás a água do teu mistério sabendo-te insaciável. Compreenderás na melancolia de uma lágrima caída a verdade do pranto que já se faz sonoro; sentirás na própria carne a amarga frustração de uma difícil morte trabalhada na voragem da existência – e não ousarás proclamá-la aos céus. (p.45) Arco-íris noturno Urge o tempo que a noite é uma granada que a vida é mais que trevas quando de um abismo se contempla a luz de cada estrela. Estes corpos submersos sabem o peso de uma bala quando em preces em vão se elevam; quando o homem é uma promessa para um sonho que se cala. Dores tantas de outra infância que a Deus renega e clama. Bate um sabre em cada porta como um filho que retorna para o nada do que ama. Uma náusea em cada morte dentre as ceias que são vãs; vestígios de sangue e rosas ornamentam as passarelas no velório das manhãs. (p.21) (Nascimento, José Maria. Seleta Poética. São Luís: Edições SECMA, 1987.) O Crucifixo Os pés estão suspensos como plumas sobre vidro leve e ainda mais breve que um grito já partido. Porquanto aqui retorno à tragédia me acostumo ante o corpo em vertical como quem medido a prumo.
Somente a cabeça pende para o esquerdo do seu recurso. Cabe inteiro o corpo numa hóstia como a bênção na ternura dum soluço. (p.22) Retorno à infância Audaz fora a sua infância de remotas quedas à semelhança de um ferido passarinho. Andara noites em seus sonhos de herói e nada teve que não lhe fosse renúncia. Criara carneiros e cabras que o pai lhe negara; mamara nas vacas a pureza dos dias que grande já era para os seios da mãe. De pedras e águas suas tardes forjou mas alto já era e a infância se foi. Agora sozinho a criança não chora – que é velho e velho à infância retorna (p.23) (Nascimento, José Maria. Seleta Poética. São Luís: Edições SECMA, 1987.) O Cálice Se é verdade que não mais retornam por que clamam tanto no meu sono? Em que águas se afundaram os náufragos do silêncio e do medo? Que novas sedes lhe chegam à alma, entorpecida por sufocantes caminhos? Que outros infernos inauguram depois das tormentas do Purgatório? Existirá o que sonharam em vida ou apenas o Nada no centro da Terra? Se de todos, nenhum mais existe, por que divagam nos meus pesadelos? Que outras moradas buscam os mortos, confusos, pelos confins do meu ser? (p.38) Meu pai Agora estás liberto, finalmente, do desvelo e da carne, vigia. Pouco importa aos teus domingos
se na segunda te serviam bóia-fria. No matadouro, os quartos de boi sangram a sua última agonia. Para melhor qualidade do trabalho, o sonhar te foi proibido, vigia. As cores das manhãs foram-te raras: estavas oculto em teu ser obscuro. A esclerose te assaltou de súbito, qual um ladrão que temias no escuro. Os teus cachorros ficaram calados, tristes, com a falta da tua companhia. Na rede o teu vulto se agasalha; no quarto, o clima é de sono, vigia. Já não caminhas de retorno à tua casa, cruzando a Campina onde o gado repousa. Tanto teceste vigílias com o teu suor, para tudo acabar numa pequena lousa: Aqui descansa João Baé. Trocou a noite pelo dia. Não foi um boêmio errante. Na vida, um simples vigia. (p.80-81) (Nascimento, José Maria. Viajantes do Entardecer. São Luís: Lithograf, 2003.)
LUÍS AUGUSTO CASSAS118
2 de Março de 1953 Galeria de Livros Antroponáutica Luís Augusto Cassas (2 de Março de 1953, em São Luis do Maranhão) nasceu longe, como as utopias, desenvolvendo a vocação para o horizonte. Trilha o caminho do meio, mas há risco de abocanhar o inteiro. Após ciclo de mortes e transformações, novo nascimento entre duas palavras. Tendência à profundidade, por estar sempre em queda. Teórico do mais. Hoje, discípulo do menos. Poeta do alto e do baixo, do externo e de dentro; às vezes é fogo; às vezes, vento. De índole solitária, não é membro de nenhuma academia, sindicato ou entidade de classe. Mas aprecia longas caminhadas e bom papo. Gosta de contemplar a unidade, dispersa na criação: "Embora o olho não perceba, sabe-o o coração'. A serviço da luz, do belo e do verso. Para ele, o mundo é pura poesia. Não é à toa que se chama universo119. No final de 2012, a Imago Editora, do Rio de Janeiro, fez o lançamento de A Poesia Sou Eu 120, em 2 volumes encadernados, com quase 1400 páginas, apresentando toda a sua jornada poéticoexistencial reunindo 16 livros publicados e 4 inéditos, além de alentada fortuna crítica. As partes e o todo finalmente se encontraram. A visão de conjunto infunde novo sopro vital e propicia novas leituras e interpretações. É um grande painel lírico, uma multiinstalação? Também. Além de uma visão panorâmica, permite a avaliação da jornada mental de um poeta frente à vida e ás questões do seu tempo. E a confirmação de que mesmo morando distante dos grandes centros de irradiação cultural, não se deixou abater nem quando teve de renunciar ao mundo, transformando chumbo em ouro, permanecendo fiel à sua interioridade e sem fazer concessões ao gosto pasteurizado da época. Com 696 páginas, o Volume 1 encerra, além do livro de estréia, República dos Becos, os títulos A Paixão segundo Alcântara (na versão recente acrescida de novos poemas), Rosebud, O Retorno da Aura, Liturgia da Paixão, Ópera Barroca, O Shopping de Deus & A Alma do Negócio, Titanic – Boulogne: A Canção de Ana e Antônio e Bhagavad-Brita: A Canção do Beco. O Volume 2 agrupa em suas 672 páginas os livros Deus Mix: Salmos energéticos de açaí c/ guaraná e cassis, O Vampiro da Praia Grande, Em Nome do Filho: Advento de Aquário, Tao à Milanesa, (inédito) Evangelho dos Peixes para a Ceia de Aquário, Poemas para iluminar o Trópico de Câncer 118
http://www.youtube.com/watch?v=OZIJgeIciEI http://www.youtube.com/watch?v=L6Jz1qWnVC0 LUIS AUGUSTO CASSAS: UMA LEITURA ALQUÍMICA DA INFÂNCIA DO FILHO EM SÃO LUÍS. In GUESA ERRANTE, 30 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina285.htm http://hbois.blogspot.com.br/2012/03/poesia-luis-augusto-cassas.html http://www.mallarmargens.com/2013/12/14-coqueteis-liricos-de-luis-augusto.html http://severino-neto.blogspot.com.br/2014/04/a-poesia-segundo-luis-augusto-cassas.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/luac1.html http://www.sobresites.com/poesia/poeta/cassas.htm 119 http://luisaugustocassas.blogspot.com.br/ 120 http://www.selmovasconcellos.com.br/colunas/entrevistas/luis-augusto-cassas-entrevista-no-498/
(inédito), A mulher que matou Ana Paula Usher: História de uma paixão, O Filho Pródigo: Um poema de luz e sombra, Bacuri-sushi: A estética do calor (inédito), A Ceia Sagrada de Miriam e O Livro, inédito que se desdobra dois: Livro I (O sentido – relatos da fumaça do incenso) e Livro II (O Paraíso Reencontrado). A Poesia Sou Eu, é um intenso e iluminado diálogo com o Verbo, um coro de muitas vivências interiores e um inusitado jogo verbal com o Eu Sou, matriz e self da Palavra EPIGRAMA PARA UMA MANHÃ DE VERÃO Se por amor ou justiça, um dia eu brilhar, Na constelação a que me endereçaste, que eu não reluza como o sol do meio-dia, que embora forte, ofusca e a muitos faz cegar, mas resplandeça qual a luz de um sol de aurora, fogo fátuo que a tudo e a todos propicia, e em cuja luz, tênue e clara, dela ninguém foge, a não ser a inútil sombra da poeira das estrelas. Liturgia da Paixão (Opus da Compaixão), 1997 Homem sentado na praça João Lisboa121 Homem sentado na praça na solidão do domingo; na solidão desta tarde newyorquina, londrina, ipanemense, ludovicense. Homem sentado na praça entre rosas, estátua, namorados, — o olhar sociológico perscrutando a multidão: — homem universalmente sozinho como se estivesse sentado na tarde de Londres, New York, Paris, São Paulo, Buenos Aires, Rio, no Central ou no Hide Park na Praça de La Concorde da Sé ou 9 de Julho (o sol reclina-se nos bancos) o olhar baço-sol apagando — fitando perto, nenhum lugar; o pensamento solto — como pássaro — cria projetos de paz e igualdade que as nuvens desfazem. Ah entardecer! Já pensou em soluções coletivas para a cidade e a humanidade (agora idealiza pombos na mão como se estivesse em Veneza). Homem sentado na tarde absorto, triste, indiferente, ruminando a solidão do domingo: e nem percebe quando as andorinhas — como uma rajada de metralhadora — 121
http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/25/homem-sentado-na-praca-joao-lisboa-1403.htm http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luis_augusto_cassas.html http://www.limacoelho.jor.br/index.php/Lu-s-Augusto-Cassas-animal-po-tico/
batem asas contra a Igreja do Carmo avisando que a missa das seis já encerrou e a voz do padre e a tarde se extinguiram. (CASSAS, Luís Augusto. República dos Becos. Rio de Janeiro - RJ: Editora Civilização Brasileira S.A., 1981, p. 86 - 87) TRATAMENTO DE CHOQUE Os verdadeiros loucos vestem uniformes brancos e dirigem os hospitais psiquiátricos amarrados em camisas-de-força. À noite, uivam como coiotes desterrados e tentam o suicídio com seringas hipodérmicas conversando com Stalin, Hitler e Mata Hari. Mas eu advogo que estão lúcidos pelo olhar furioso que destilam. Segundo um relatório assinado pêlos poetas Artaud, Ginsberg e Salomon, nunca terão alta. (CASSAS, Luis Augusto. Rosebud. Poemas. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1990;103 p. Ilus. da capa Edgar Rocha. Diagramação e produção: Shirley Stefanowski. formato 21x21 cm. autografado. Col. A.M. (EA))
LUIZ DE MELLO122
1944 Iniciou sua trajetória no panorama literpario maranhense em meados da década de 60, colaborando em diversos suplementos literários de S. Luís. É autor de Meridiano Oposto (contos), Os Pintores Domingos e Horácio Tribuzi (ensaio histórico), Os Segredos de Guímel (contos) e Cronologia das Artes Plásticas no Maranhão. Com impressionante paciência e perseverança, o escritor vem realizando um cuidadoso trabalho de investigação de fontes biográficas e bibliográficas, compilando registros de fatos e personagens da história da arte. Autor de quase uma dezena de livros, o contista e pesquisador Luiz de Mello tornou-se, ao longo dos últimos 20 anos, um especialista no mapeamento da histórica das artes plásticas. Cronologia das Artes Plásticas no Maranhão, um livro singular, minucioso e surpreendente, baseado em pesquisa histórica, que cobre o período de 1842 a 1930, faz o formidável resgate de quase 100 anos de trabalho plástico em São Luís e parte do interior do Estado. Com 478 páginas, Cronologia das Artes Plásticas no Maranhão não é a primeira obra de pesquisa – de boa pesquisa e de interpretação saudável – assinada por ele ou feita por encomenda para estudiosos de diferentes áreas sociais, políticas e culturais. No ano de 2002, cercado por um grupo restrito de amigos e colaboradores, Luiz de Mello lançou outro fruto de sua pesquisa histórica e cultural, o livro Pintores Maranhenses do Século XIX. Sobre “Os Segredos de Guímel”, de Luiz de Mello (Prêmio Odylo Costa, filho, Concurso Cidade de São Luís– 1993), Nelson Werneck Sodré e Renato Castelo Branco assim se expressaram, em O Guesa Errante123: [...] “Quanto aos contos, posso lhe dizer que são bons e até mesmo, o que raramente acontece nesses nossos tempos, com teor original. São originais na forma, quase sempre, e no conteúdo. Importa dizer, antes de tudo, que são bons e portanto merecem edição, merecem ser lidos, conhecidos, comentados. Gostei deles e li-os com interesse e prazer. Vá em frente.” (Nelson Werneck Sodré – Rio de Janeiro, 09/11/93) “Acabo de ler Os Segredos de Guímel. É notável sua capacidade descritiva de ambientes e pessoas. Recriando um mundo judaico de Andrade, ou o bas-fond da Central do Brasil, você nos dá exemplos expressivos de sua capacidade de observação e análise, num estilo vivo e que é seu, muito seu. Outro exemplo bem representativo dessa sua faculdade literária é o encontro do amante de Elizabeth, Ab Cassis, com o enigmático Velho e o agressivo Magriço. Mas, afinal, não faltam exemplos. Muito obrigado pela oportunidade de ler o seu livro.” [...](Renato Castelo Branco- São Paulo, 25/11/93)
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In O GUESA ERRANTE, 3 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/3/Pagina553.htm UMA VIAGEM PELA HISTÓRIA DAS ARTES PLÁSTICAS NO MARANHÃO. In O GUESA ERRANTE, 3 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/3/Pagina553.htm CRUZ, Arlete Nogueira da. O REALISMO FANTÁSTICO DE LUIZ DE MELLO. In O GUESA ERRANTE, 3 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/3/Pagina554.htm 123 OPINIÕES SOBRE A OBRA. In In O GUESA ERRANTE, 3 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/3/Pagina555.htm http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2013/12/05/interna_impar,147637/para-lembrar-da-historia-luiz-de-mello-reedita-o-livro-baseadonos-es.shtml
MHARIO LINCOLN
Mhario Lincoln do Brasil, advogado, Auditor Fiscal aposentado, poeta e escritor brasileiro, nascido em São Luís-Ma, em 1954. Trabalhou durante mais de 40 anos como jornalista profissional em jornais e TV (entre eles, o SBT/Difusora).É Comendador no grau de Cavaleiro, título conferido pelo Governo do Estado do Maranhão. Foi condecorado pela Maçonaria do Rio de Janeiro (como colaborador). É Embaixador Universal da Paz. Publicou dois livros de Direito, um de reportagem-romance, dois livros de poesia, além de crônicas e reportagens. É membro-correspondentes do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; da Academia Maranhense de Letras Jurídicas; Sociedade Amigos da Marinha (Somar); Sindicato de Jornalistas Profissionais de São Luís-Ma; Presidente da Academia Poética Brasileira; Editor-sênior da Revista Poética Brasileira, do Acervum, Suplemento de Poesia e Artes da RPB. http://revistacazemek.blogspot.com/2017/04/mhario-lincoln-e-entrevistado-por.html
Quando começou a escrever poesia? Resposta: Não me lembro. Mas com 8 anos participei de uma avaliação poética em minha escola e tirei o primeiro lugar. Fui sempre um bom aluno na matéria ‘Português’ ou ‘Língua Portuguesa’ (antiga, kkkk). Uma das matérias chamada de DESCRIÇÃO, também me destacava. Era assim: a professora colocava uma paisagem (foto, pintura, ou outro tipo de expressão artística), em um cavalete na frente da sala, mandava os alunos escreverem sobre o que estavam vendo. Uma delas (a professora fazia uma introdução sobre a paisagem) era NARCISO mirando-se nas águas. Pois bem. O tempo passou e um dia, ao visitar minha ex-professora em sua casa, ela me mostrou um caderno antigo, onde, com a letra dela, estava o resultado de minha ‘descrição’ à foto do Narciso. Levei uma cópia junto e nunca mais esqueci. Deve ter sido a primeira poesia que fiz pra valer.
SOMOS TODOS NARCISOS “Somos todos Narcisos, Seja, na inveja dos Narcisos dos outros, Seja na benevolência com nossos próprios Narcisos. Na vida, os Narcisos estão à solta, Nossa mente os retém a todos, catalogados Às vezes choram nas solidões, outras nas lamúrias; Os meus, especificamente, entre dores e sorrisos, Com futuros sem prognósticos, nem volta, Acabem enterrados nas decepções do ontem, E, sem nada mais, deixam-se engolir pelo rio-espelho Para, gradativamente, morrerem afogados...”(MLFS). .......................................................................... As Anotações abaixo fiz nesse dia em que a professora me mostrou o poema. (Liceu Maranhense/Primeiro ano do Ginásio/S.Luís-MA).
Mhario, o que representa a poesia na sua vida? Resposta: Não tinha muitas ligações pessoais com a poesia, mesmo minha mãe sendo poeta e quase todos da minha família Felix, tendo grandes poetas, respeitados na região. Minha avó, Isabel, escreveu um livro maravilhoso intitulado ‘O Pôr do Sol de Minha Terra’, referindo-se a sua cidade natal, Rosário-Maranhão. Meu primo, Marconi, foi exuberante. Poeta premiado. Morreu sem ser escolhido para a Academia Maranhense de Letras, fato que seria honroso para aquela casa, se ele o fosse, diga-se de passagem. Mas, junto com Tribuzi, Murilo Sarney, Carlos Cunha, Fernando Belfort, Edison Vidigal, Domingos Manteiga entre outros, viria a criar, posteriormente, a famosa Academia dos Novos que ‘fez frente’ a AML, protagonizando, as duas academias, uma disputa incrível com publicações e batalhas poéticas pelos jornais da ilha de São Luís. Até vir para Curitiba, em definitivo, no início de 2008, as atividades em minha cidade natal, S.Luís-Ma, estavam diretamente ligadas a política. Fui candidato a vereador em decorrência de ter mais ou menos uns 30 anos de jornalismo investigativo, na TV e em dois dos principais jornais da cidade. Perdi a eleição. E isso me fez refletir se valia a pena mesmo ter sido eleito, diante de um quadro (à época) muito difícil de deglutir pelas ações apodrecidas de políticos e da política nacional. Ainda tentei continuar com meu jornalismo investigativo até 2010, através de um grande portal de notícia que montei aqui em Curitiba-PR, no centro comercial da cidade. Decepcionei-me ainda mais. Então fui encontrando amigos curitibanos pelas redes sociais e eles iam me apresentando poetas e escritores locais, conheci a Feira do Poeta, Vanice Zimernan Ferreira (amiga do peito), e foi despertando em mim a ideia de transformar meus veículos de comunicação, virtuais, para incentivar essas maravilhosas letras e artes de todas as espécies, origens ou gêneros. Voltei ao tempo e me redescobri como ‘fazedor de versos’, mergulhei em meus alfarrábios, pesquei coisas que nem mesmo me lembrava, ou seja, construí nos últimos tempos uma pequena carreira literária a se consumar até o final deste ano de 2017, com o lançamento oficial de meu romance ‘Celeste de Todas as Marias’, o primeiro livro, no gênero, que lanço. Tenho dois livros de poesia, um de reportagem-romanceada’, INA-AVIOLAÇÃO DO SAGRADO, dois livros de Direito, um livro reunindo minhas principais colunas de jornal, escritas entre 1999 e 2001 no Jornal Pequeno (SLZ) e centenas de textos, crônicas e reportagens-documentário publicadas em inúmeros jornais brasileiros. No rádio, em 1969, criei um programa chamado ‘O Mundo Científico’. Fui apresentador de TV, colunista Social, por mais de 30 anos, ao lado de minha mãe inesquecível, jornalista Flor de Lys. A BULA DE MHARIO LINCOLN Publicado em 14 de fevereiro de 2021, às 8:55 Linda Barros – professora e atriz https://regiaotocantina.com.br/2021/02/14/a-bula-de-mhario-lincoln/
Imagem: Skoob A vida é mesmo engraçada, às vezes é melhor nem se pensar nisso, porque ficamos à mercê das dúvidas, no vazio, procurando respostas para algo indecifrável. É impossível não começar esse texto com estes pensamentos de reflexão. Uma hora você é uma mera desconhecida, passam-se algumas horas apenas e sua vida dá uma guinada, é como se ultrapassássemos os portões que nos levam a outra dimensão e caímos no descompasso do tempo, límpido, claro, mas também obscuro. O mundo literário é assim, às vezes de um instante a outro há um encontro com o inesperado. Do nada encontramos a fórmula que não estava tão distante assim, para o entendimento de muitas coisas, inclusive de si mesmo. O simples pode ser explicado. Aquilo que tanto nos questionamos às vezes está tão perto. É meio assim, que começamos a decifrar o possível ou impossível nos belos versos de A Bula dos Sete Pecados do intrépido autor Mhário Lincoln. Ao adentrar essa estrada do imaginário, o autor já nos recebe com os mais belos, simples e verdadeiros versos que compõe a obra: Do nada, alguém chega e, aê, te dá o melhor abraço do mundo, o melhor cheiro do mundo, o melhor beijo do mundo. FOI-SE A DEPRÊ!… São a palavras assim, simples e de profunda eloquência, a que o ser humano deveria estar atento. Metaforicamente o “melhor abraço do mundo” pode e deve salvar os povos, se pudéssemos nos doar ao outro na pura essência da existência, talvez a humanidade pudesse descer do pedestal e olhar para baixo e ver o quão os seres humanos são HUMANOS. Nem de longe A Bula dos Sete Pecados pode-se dizer que seja um manual de ajuda, é sim uma leitura em que você se depara com um texto, que além de texto em si, nos leva a caminhos por linhas às vezes tortuosas e lineares, onde nós escolhemos que caminho tomar, que rumo seguir, Fui e vim, ao largo de minha prepotência, lavando as mãos. Foi-me dada a hora de ajuizar-me e reconhecer toda penúria. Foi-me concedido o direito de rever meus mimos e padrões. A morte, foi-me companheira ao longo desses inteiros anos. A contestação das coisas está em nós mesmos, mas por que não dá razão ao que queremos? E, numa perspectiva de entretenimento, o autor faz com que tenhamos uma simples leitura, agradável, sem mais preocupações. No entanto, cabe a nós leitores mais atentos a descobrir nas entrelinhas do texto o verdadeiro caminho a seguir. Pois o findar desta leitura, quem dá é o próprio leitor, que ao “fechar” o livro, deixa pistas para que, quem for um leitor mais aguçado, possa fazer um “passeio” pelas figuras de intertexto que compõem a obra. O autor deliberadamente (ou não) ao compor cada verso de sua bela obra, faz com que o leitor, por menos exigente que seja, não fique só no superficial, mas mergulhe nas entrelinhas de cada verso, pois em cada um há uma simbologia a ser desvendada. O autor usa de uma métrica singular, com
rimas simples. Parafraseando José de Ribamar Macau Dos Santos, mais conhecido como Ratinho, que participa da construção desta Bula, Mhário Lincon “deixa o leitor, bem à vontade para viajar em sua poesia leve e bonita, pois “ele (Mhário) é romântico sem ser pastoso””. Por vezes, o autor percorre um caminho trilhado por figuras da nossa história, usando rimas brilhantes para contar ou desvelar ao leitor personagens de singular importância no mundo da cultura mundial e contemporânea, como nos versos abaixo do poema AH, HUMANIDADE: Como andam as bruxas de Blair As bocas amargas sem fecho-éclair os curtos-circuitos movidos a Éclair as delícias das fragrâncias Belle-Aire? Os amores de Dom Descartes, René ou o ‘ver pra crer’, de São Tomé As garras afiadas de François Voltaire O vendedor de virtudes, Yang Zhu, até? Como andam os moinhos de Quixote, as muitas amantes de Sir Lancelot o drama escarrado na morte de Pixote, o Rei do Baião de Pé-de-Serra, do Xote? Por onde anda, de Einstein, a relatividade, Contra Kant, Auguste Comte, a sua positividade, A saga de Simone de Beauvoir gritando igualdade Acabou, Tomás de Torquemada, toda maldade? No texto acima, o poeta nos força a procurar sumariamente saber quem são, o que foram e o que fizeram cada personagem, aliados a uma musicalidade que compõe cada verso, o texto vem carregado de intertexto, figura marcante que ajuda a compor tão singela e rica obra e que desafia o leitor a imaginar uma biblioteca, com suas prateleiras repletas de nomes tão importantes para a Literatura e para a Cultura. E para não entregar, mas para aguçar a todos os leitores que se interessarem a “viajar” literalmente e descobrir qual seu pecado, Mhario Linconl, não poderia deixar faltar em seu livro, coisas que acompanham a humanidade há milênios de anos, os prazeres (paixões), a essência da vida (coração) e o que sustenta o tronco humano (as chinelas), CICLO DOIS Ei moço! Vc viu uma sandália perdida por aí? Insiste em ficar sozinha Do que agasalhar os pés de um Poeta que pisou em flores Para matar paixões. E para fechar, dizer que a vida, além de engraçada, ela é um ciclo, que tem início, meio e fim, como os Três Ciclos criados por Mhário Linconl na BULA DOS SETE PECADOS.
MÁRCIO COUTINHO 124
MÁRCIO AUGUSTO VASCONCELOS COUTINHO
CONCURSOS Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão [...] Historiador e escritor é autor de: Grajaú - Um Estudo de Sua História; tem publicado dezenas de artigos nos jornais O Estado do Maranhão e O Imparcial. Premiado nacionalmente com o conto Á Flor da Pele. Márcio Augusto Vasconcelos Coutinho é filho de Mário de Sousa e Silva Coutinho (Procurador do Estado do Maranhão) e de Nilze Maria de Alencar Vasconcelos (Funcionária Pública aposentada). É casado com Goreth Nogueira dos Santos Vasconcelos Coutinho, pedagoga, com quem teve as filhas Ana Luiza Nogueira dos Santos Vasconcelos Coutinho (15 anos) e Ana Clara Nogueira dos Santos Vasconcelos Coutinho (11 anos). Nasceu em São Luís (MA), na Santa Casa, na Rua do Norte. Passou sua primeira infância junto dos pais e irmãos numa pequenina casa da Travessa do Monteiro. Estudou as primeiras letras no Colégio Batista Daniel de La Touche, no bairro João Paulo. O Primeiro e Segundo Grau cursou no Colégio Militar de Brasília, aprovado em concorrido concurso público. Aos dezoito anos foi aprovado em Vestibular para a Faculdade de Direito de Campina Grande, mas seu sonho de ser advogado teria que ser adiado pois retornou a São Luís para trabalhar, exercendo o cargo de assessor parlamentar do Vereador Benedido Pires, em 1997. Cursou Administração de Empresas no CEUMA, especializando-se em Gestão de Recursos Humanos. Com a vida mais organizada, cursou Direito no UniCEUMA, graduando-se em 2006 e exercendo advocacia nas áreas de Direito Penal e Empresarial. Advogado atuante no Tribunal do Júri é orador freqüente em Tribunais de Justiça e Superiores. Atualmente, junto de outros advogados associados, mantém escritórios em São Luís, Brasília e Rio de Janeiro. Advogado atuante em Direito Criminal e Júri, Direito Empresarial, Direito Minerário (Óleo e Gás), e com especialização em Direito Eleitoral. Possui formação acadêmica em Administração de Empresas, especializado em Gestão de Recursos Humanos. Quando do lançamento das Obras Literárias, resultado do concurso promovido pela Secretaria de Estado da Cultura (SECMA) em 2009, do qual foi um dos agraciados com a obra Canções de Agosto, se disse ser romance que se passa em dois tempos de ação: o primeiro, no século XX, e o outro no mês de agosto contemporâneo. O cenário é uma casa de praia de uma capital insular, que, pelo imaginário do leitor, pode ser São Luís. Estreante ficcionista, Márcio Coutinho escreve numa linguagem clara, sem malabarismos sintáticos ou estilísticos. Até aqui, Márcio me auxiliou em sua apresentação. Vou mais adiante, então.
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VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. APRESENTAÇÃO DE MÁRCIO AUGUSTO VASCONCELOS COUTINHO EM SUA POSSE NO IHGM. Auditório do Jaracati Medical Center, em 31 de outubro de 2011
Dele disse Alex Brasil, n´O Guesa Errante, edição 211, de novembro de 2009125, sob o título “ PLANO EDITORIAL DA SECMA: PRÊMIO GONÇALVES DIAS DE LITERATURA”: [...] a primeira virtude deste romance do estreante ficcionista Márcio Coutinho reside exatamente na sua habilidade em estruturar a história como se planejada em mosaico de tempo e espaço, de tal forma que a coerência e o fio condutor da narrativa nunca confundem ou traem o leitor. Ao contrário, desencadeiam no espírito de quem lê uma ânsia incontrolável de desvendar os acontecimentos e os destinos de cada personagem. Embrenhados nesta artimanha ou mérito literário resta-nos apenas ler página por página, até o fim, para só assim saciarmos nossa sede de curiosidade [...] “[...] Mas o talento de Márcio Coutinho não se restringe ao arcabouço do romance. A argamassa essencial vem depois, a engenharia psicológica que irá moldar o caráter atormentado, a personalidade criativa e autodestrutiva do protagonista João das Dores [...]. No entender do poeta Alex Brasil, o romancista estreante já nasce consciente do seu ofício de escrever num gênero que, entre nós, mais de poetas, poucos cultivam ou pelo ardor de construir e inventar estórias ou pela escassez mesmo de talentos onde só alguns de nós se destacam, a exemplo de (modernamente lembrando) Josué Montello, José Louzeiro, José Sarney, Ubiratan Teixeira, Ronaldo Costa Fernandes... [...] Márcio Coutinho merece atenção de nossa intelectualidade. É um talento que promete, um inventor de ambientes, personagens e Mundos capaz de, com disciplina e o ardor necessários de um escritor convicto, enriquecer o panorama de nossa literatura com uma ficção digna de nossas tradições literárias [...]. Aqui, nesta casa de Antonio Lopes, nos interessa o cientista social, o historiador, o geógrafo, mesmo aqueles que não o são “de carteirinha”, seguindo tradição secular de nosso Estado. O romancista, o poeta, deixamos para as Academias de Letras... Sálvio Dino – com quem tive o prazer de conviver e ouvir muitas histórias, quando deputado e defensor da região do Tocantins, ainda na cidade de Imperatriz, lá pelos anos de 1976/77 quando me estabeleci deste Estado – afirma que, dentre tantas obras de alta valia que, ultimamente vêm se escrevendo com tais objetivos e com letras de oiro, agora surge mais uma: Grajaú – um estudo de sua história - trabalho de fôlego, de autoria do jovem Márcio Coutinho126: “Vindo de uma família de escritores, intelectuais e cultores de boa escrita cujo único orgulho é uma espécie de patrimônio intelectual arraigado em todos nós, filhos, sobrinhos e netos... Patrimônio, sim, mas ao menos no meu caso, herdado. Um rico espólio nas mãos de quem nada produziu intelectualmente e cujas limitações são sério óbice para, em qualquer momento, o fazer. Um legado de vivos. De um historiador, contista, articulista, um romancista, magistrados, professores ou funcionários públicos em pleno desempenho de suas atividades, graças a Deus e produzindo, estes sim, peças e livros de qualidade, com estilo e valor literário, no derramamento de saber, que me intimida, enquanto orgulha”. Pois bem, Sálvio saúda o novo escritor dizendo que se orgulhava em escrevinhar as Notas Introdutórias do livro de Márcio, que vinha enriquecer a bibliografia gonçalvina. Diz ainda, que não existe melhor maneira de amar a nossa terra de que estudá-la, pesquisá-la e devassá-la em todas as suas linhas mais distantes. Lembra que alguém já dissera que ‘cumpre ao historiador cobrir de carne e sangue certos esqueletos’. E Márcio estava ajudando aqueles que definem a história como sendo uma ressurreição. Indo mais adiante, afirma que sua obra não deve faltar na estante dos estudiosos do nosso passado. Melhor apresentação, Márcio, não poderia haver... Acompanha Sálvio Dino outro historiador, que vem se dedicando ao resgate da História do Sul do Maranhão – esse pedaço de terra que está pretendendo se separar do antigo Grande Maranhão. E têm suas razões, dada o estado de abandono por que passou nesses quase 400 anos de história. O distante sul, o Japão... Imperatriz, fica depois, Grajaú a meio caminho, em pleno Sertão – e lá tivemos resgatando essa memória Carlota Carvalho, Eloy Coelho Neto, o próprio Sálvio Dino, Sá Barros, Edelvira Barros (com quem tive a honra de trabalhar...), Padre Brandt, Albérico Carneiro, os nossos confrades Paulo Oliveira, Washington Cantanhede, Travassos Furtado, Clodoaldo Cardoso; e temos ainda 125
http://www.guesaerrante.com.br/2009/11/19/Pagina1204.htm 126 DINO, Sálvio. NOTAS INTRODUTÓRIAS. In COUTINHO, Márcio. Grajaú – um estudo de sua história. São Luis: Edigraf, 2006, p. 19-21.
Edmilson Sanches, e mais distantes, Ribeiro do Amaral e Paula Ribeiro... Entre os quais, Márcio, você veio se juntar. Esse escritor a que me refiro, Márcio, prossegue dizendo ser seu livro: “Um trabalho de fôlego, em ensaio digno da inteligência maranhense. E o que mais me agrada, e, de certo modo me envaidece, é que esse jovem, filho de meu irmão Mário Coutinho, começa a assumir o compromisso de prosseguir minhas canseiras no terreno da pesquisa histórica, na tentativa de desvendar novos e surpreendentes fatos até aqui adormecidos na poeira dos velhos arquivos.” Seu tio, MILSON COUTINHO, em “à guisa de apresentação” do Grajaú, um estudo de sua história.127 Márcio atualmente vem se dedicando aos escritos de duas obras: São Luís, Uma Aventura de Nobres, Corsários e Religiosos no Atlântico, em fase de edição, e a ser lançado quando da comemoração dos 400 anos de Fundação de São Luís; e redige obra biográfica que receberá o título: Édison Lobão, de Mirador para o Mundo. [...] JOSÉ CHAGAS128 Hoje, inspirado no CD produzido por Zeca Baleiro e Celsos Borges, musicando poemas de José Chagas, não falarei de política, mas de poesia. No álbum lançando recentemente aqui na ilha, logo em seus primeiros acordes, o poeta avisa, “no alto dos mirantes me fiz e me desfiz/Soprai-me, brisas errantes sobre toda São Luís”. José Chagas, nascido em Piancó, Paraíba, e radicado no Maranhão, hoje aos 89 anos, tem mais de vinte livros de poesia publicados e outras centenas de crônicas. Apaixonado pela São Luís antiga, retira o barro de sua poesia dos telhados, ruelas e sobrados da nossa capital, cantando-a alto em seus versos, em suas palavras acesas. Acesas de uma chama que arde no interior do verdadeiro poeta, dando sentimento às palavras, fazendo-as pulsar vida, iluminando-as. Mas o lirismo de Chagas não passeia apenas por nossa Ilha – enquanto cidade antiga de sobrados e palafitas – nem seu raio de visão circunscreve-se à altura de mirantes. Ele canta também o campo, o lavrador, sua foice e enxada, cavando a terra alheia com dores e lágrimas e se lastimando do “quanto é fazer tudo e não ter nada”. Contudo, para ele a lavoura é azul, “livre da própria cor, azul feliz”. E assim ele se conceitua, como alguém que carrega em si uma necessidade profunda de falar sobre as grandezas e mazelas do camponês na lida da terra, na liça do sertão. Nesse ritmo, Chagas brinca com o vocábulo, temperando seu texto ao assar o alho da vida, ou assoalho do mundo, onde um só brado antigo se faz ouvir nos sobrados velhos, velhos não pelo tempo, mas pela força da sua contemplação poética num canto de “silêncio de caliça e chão”, intenso, belo, mas para um ouvido vão. Agora, numa queixa contra aqueles que não lhe percebem plenamente. E assim caminha a escrita de José Chagas – o mais maranhense dos paraibanos – agora musicada, quando já era lírica. No CD, coube ao Baleiro, ao apresentar a obra, informar que conheceu o músico José Chagas antes do poeta, quando o compositor era ainda criança e ouvia – entre paredes de casas contíguas no bairro Monte Castelo – o já respeitado poeta tocando saxofone e executando com primor o Carinhoso e Rosa de Maio, entre outras melodias. Por entre Ceias do mundo e Canhões do silêncio, o poeta se faz grande, tocante e terno, como se a música de sua escrita embalasse não só o sono do poeta, mas de todos nós, iluminados pela lanterna de sua palavra. Dessa forma, ele permanece consumindo a fome quando canta o pão, sugerindo a “fala para quem cala, a tinta para quem pinta e a cama para quem ama”. A lavra do poeta tem um muito de fantástico, não no sentido de incrível vez que seus versos ilustram mundos reais, e sim significando maravilhoso, impressionante, pela maneira com que compõe o vernáculo, como quem lança precisamente cores sobre um quadro que se mostra perfeito em tons e formas logo à primeira vista e que continua a se aperfeiçoar quanto mais se contempla. Finalmente, o álbum/obra contando com a colaboração de artistas e músicos consagrados – como Zeca Baleiro, Fagner, Alê Muniz, Assis Medeiros, Beto Ethongue, Celso Borges, César Teixeira, Chico César, Chico Saldanha, Dicy Rocha, Ednardo, Fernando Filizola, Josias Sobrinho, Lula 127 COUTINHO, Milson. À guisa de apresentação. In COUTINHO, Márcio. Grajaú – um estudo de sua história. São Luis: Edigraf, 2006, p. 23-24 128 http://jornalpequeno.com.br/edicao/2013/12/28/jose-chagas/
Queiroga, Márcia Castro, Nosly, Silvério Pessoa, Susana Travassos, Tássia Campos e Toinho Alves, presta justa homenagem ao grande poeta, dando concretude ao som de seus versos, materialidade melodiosa às percepções e sentimentos embutidos em cada letra ou frase dos seus sonetos. Quase nonagenário, José Chagas diz ter abandonado a poesia. Pode até ser, mas certamente a poesia nunca o abandonará. Como também seu senso estético e crítico ao questionar a beleza das palafitas ou reclamar da política oficial de incentivo aos dançantes da festa mais folclórica do Maranhão: “Boi fora de seu motivo/deturpado em festivais/e às vezes até cativo/de farsas eleitorais”. Enfim, acabei falando em política.
NATANILSON PEREIRA CAMPOS NILSON CAMPOS
Natan Campos (São Luís/MA, 31 de dezembro de 1972). Assinatura literária do poeta brasileiro Natanilson Pereira Campos. Começou a escrever seus primeiros versos em meados da década 90 e participou de algumas antologias, como Safra 90, e as de conto e poesia dos grupos Curare e Carranca. Os poemas aqui reunidos fazem parte do livro de sonetos A Ilha Naufragada, premiado em segundo lugar na 36ª edição do Concurso Literário Cidade de São Luís. Em 2017, o autor venceu o 36º Concurso Nacional de Contos de Araçatuba com a obra Belerança. Tem inéditos um romance e um livro que reúne 6 cordéis.
XVIII O homem que habita o velho matadouro vai cabisbaixo, emudecido e gasto como se fosse ele mesmo o touro de quem retira a prole, a carne, o pasto. Bebe do mesmo bestial bebedouro que o animal que de feroz a casto leva marcada a servidão no couro e ainda sonha um campo verde e vasto. O homem à semelhança de um boi, perdido da humanidade em que foi concebido, rumina a própria vida na maceração lenta e amarga de quem carrega a descomunal carga de ter a mesma morte com que lida.
XIX O homem bovino pelas campinas de um bairro em que vive o seu desterro, como a enxergar o seu futuro enterro, engole sua angústia e a rumina. Vai, boi de corte, cumprir tua sina de ser campeado pelos aterros
como a pagar pelo ancestral erro de ter nascido em condição bovina. Humano bezerro pelos currais vagindo palavras que nada mais pedem a Deus que a cura das feridas. Vai, desmamado e perdido vitelo, curvar teus joelhos sob um cutelo na derradeira oração de tua vida.
XCIII Da existência a essas alturas (ou talvez a essas profundidades) já pouco importa o quanto peso, a idade e desse invólucro a escultura. O que aqui em mim ainda dura em suas íntimas eternidades se despe da soberba e da vaidade, da roupa, pele, carne e ossatura. E segue despretensiosamente por vias tortuosas, longas, escuras; nem poeta, nem triste e nem contente. A essas alturas já nem disfarço que a mão se agarra ao verbo insegura. Que os versos se façam enquanto eu passo.
LXIII Ainda que o meu nome fosse cristo e um pai me desse a morrer numa cruz pra só depois das trevas ter a luz e um corpo celeste depois do cisto, é nesta carne inglória que existo, feita de esperma, sangue, riso e pus, que o tempo a quase sombra já reduz e que carrega um gene de um mefisto. Mas mesmo sendo o inocente bode que expia de outro a culpa e nada pode além de ofertar-lhe um grosso escarro, que ao menos este sangue seja o vinho que encontre em minhas veias o caminho das mãos que me refaçam de outro barro.
UM AVISO POSTUMO Quando a noite do meu corpo cair definiva como o sol de ontem (como a dos meus E a dos seus Que se foram e já não vêm) Nesse leito que preparo Para o meu sono ultimo (que há muito vem se condensando E pensando em meus olhos), Deixem que eu durma em paz. Não me reclamem agora Por esas noites insones que passo Nem por meus dias de guerra (nessas ruas há trincheiras) (ou são sepulturas?) Tenho toda uma eternidade Para descansar. Por isso, Quando, Definitiva, A noite cair em mim, E talvez eu chore (por vocês) Ou sorria Não me chamem. Já não vai adiantar abrir as janelas, Ligar o radio, por café na mesa, Fazer cócegas, Dizer que o amor bate à porta, disparar o despertador (o sono do meu corpo será eterno). Não me chamem (como não quis que me chamassem Nas manhãs de sábado saturadas Do cansaço semanal), Me deixem dormir Em paz z z Z Z
NAURO MACHADO129
NAURO DINIZ MACHADO 2 de agosto de 1935 Filho de Torquato Rodrigues Machado e Maria de Lourdes Diniz Machado. É casado com a também escritora Arlete Nogueira da Cruz. Poeta autodidata com vasto conhecimento em artes e filosofia. Comparado por alguns críticos a Fernando Pessoa, é original por ser poeta universal entre seus contemporâneos mais imediatos, como Ferreira Gullar, Lago Burnett, José Chagas e Bandeira Tribuzi. Se Gullar questiona a própria forma poética, Nauro Machado questiona a própria essência e destinação do ser humano, sem deixar de cultivar uma linguagem poética e uma técnica de versos exemplares. Sua obra apresenta traços de reflexão existencial angustiada e violenta que encontra poucas comparações na lírica de língua portuguesa. Exerceu diversos cargos em órgão publicos entre eles DETRAN e EMATER e também na Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão. Nauro Machado sempre viveu em São Luís, ausentando-se apenas por breves periodos, sobretudo para o Rio de Janeiro para publicar boa parte de suas obras. No entanto, grande parte de sua vida Nauro dedicou à sua grande paixão, a poesia. Recebeu diversos prêmios, dentre eles Academia Brasileira de Letras e da União Brasileira de Escritores; teve varias de suas obras traduzidas para o alemão, francês e inglês. Obras de Nauro Machado130: Campo sem base (1958); O exercício do Caos (1961); Do frustrado órfico (1963); Segunda comunhão (1964); Ouro noturno (1965); Zoologia da alma (1966); Necessidade do divino (1967); Noite ambulatória (1969); Do eterno indeferido (1971); Décimo divisor comum (1972); Testamento provincial (1973); A vigésima jaula (1974); Os parreirais de Deus (1975); Os órgãos apocalípticos (1976); A antibiótica nomenclatura do inferno (1977); As órbitas da água (1978); Masmorra didática (1979); Antologia poética (1980); O calcanhar do humano (1981); O cavalo de Tróia (1982); O signo das tetas (1984); Apicerum da clausura (1985); Opus da agonia (1986); O anafilático desespero da esperança (1987); A rosa blindada (1989); Mar abstêmio (1991); Lamparina da aurora (1992); Funil do ser (1995); A travessia do Ródano (1997); Antologia poética (1998); Túnica de Ecos (1999); Jardim de infância (2000); Nau de Urano (2002); A rocha e a rosca (2003); 819131 Abre-me as portas, mãe, enquanto as estrelas 129
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nauro_Machado NAURO MACHADO, ou a (poesia) entrevista. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 29 de dezembro de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/nauro-machado-ou-a-poesia-entrevista-5412.htm, acessado em 09/05/2014 BARBOSA FILHO, Hildeberto. NAURO MACHADO: poeta do ser e da linguagem. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 19 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/19/Pagina648.htm CARNEIRO, Alberico. NAURO MACHADO - Um cirurgião para a alma de São Luís. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 21 de abril de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/nauro-machado---um-cirurgiao-para-a-alma-de-sao-luis-4353.htm CARNEIRO, Alberico. NAURO MACHADO ao editor do JP Guesa Errante, Alberico Carneiro. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 21 de abril de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/nauro-machado-ao-editor-do-jp-guesa-errante-alberico-carneiro4352.htm CARNEIRO, Alberico. PROVÍNCIA - O PÓ DOS PÓSTEROS. Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante, 21 de bril de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/provincia-o-po-dos-posteros-4351.htm 130 http://www.jornaldepoesia.jor.br/nauro.html#bio 131 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/nauro_machado.html
buscam em mim agora a treva infinda, sem luz alguma no meu olhar a vê-las nessa cegueira a ser da altura vinda. Assim, mãe, invado tua noite, a sabê-las eternamente em pó na luz que é finda só para mim, que vou comigo pelas manhãs nascendo todas cegas ainda. Como fazê-las ser de novo vivas? Como, se nunca delas fui um conviva às vidas feitas festas para as vistas? Para arrancá-las da morte onde as pus, quero essa noite, ó mãe, roubada à luz do céu que, embora cega, tu conquistas. 851 Todo o furor da vida esvai-se quando a natureza cobra o seu direito, e o tempo chega pelo verme andando para mamar seu leite em outro peito. Ó tempo-vândalo, ó furor de um mando na assinatura desse édito feito com toda a dor do punho mais nefando da natureza em seu madrasto leito! Troai dos lábios as blasfêmias hirtas pelo alfabeto além a se extinguir, tais os corpos trêmulos no fim, cadáver-verbo aberto pelo crime, embora de um Deus feito pai do hímen dessa mulher que é mãe também de mim. CALENDÁRIO Tomaste parte em nenhuma outra guerra. Não perdeste pés ou mãos dentro desta. Não abriste túmulo em nenhum lugar. Nada quiseste além dos teus haveres. Teu país de bois na aurora plantados, levou-o o tempo na usura do ocaso. Fizeste nada sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta e sexta. Igual a todos, somaste semanas, Unindo a noite ao dia e o dia às noites. Escuta: o tempo passa! E o teu passou. Passou o bonde, o colégio, a criança. Já o adulto vai-se: está chegando ao fim como um ronco doído em cosa podre, como um enlatado para ninguém. Made in Brazil. Tonel à água lançado No porto noite. Minha família! Ó alma. Masmorra Didática, 1979 FILA INDIANA Um atrás do outro, atrás um do outro, ano após ano, ano após outros, minuto após minuto, século
após séculos, continuam (a conduzir seus madeiros na perícia dos próprios dramas). um após do outro, atrás um do outro, anos após ano, ano após outros, minuto após minuto, século após séculos, e de novo um atrás do outro, atrás um do outro, até a surdez final do pó. AS PRAGAS Porque não estive às portas de Madri, de onde escuto, ainda, o “no pasarán”. Te abjuro, Senhor, enfim, e a Ti, a quem, outrora, chamei de pai e bom. Porque não estive às portas de Madri, lutando, às claras, com porcos-burgueses, luto e lutarei, em trevas, por aqui, Te abjurando, Pai, por milhões de vezes. Entanto, saibam-no todos, e ouvi que aos homens-bestas, com meus punhos, sorvo-os enquanto, ao longe, às portas de Madri, se erguer, incólume, o sangue dos povos! Décimo Divisor Comum, 1972 CAXANGÁ Há um desespero real na palavra, um desespero contra o desespero, enlouquecido em tudo que é palavra incapaz de dizer o real nela, e um desespero dentro, um desespero da palavra assentada na palavra, de palavra assentada nela mesma, canal e boca de uma angústia virgem, de um dia novo contra a noite fora envolvendo de luto os nomes todos: Antônio, tênis, sonho, árvores, morte. Sombra dentro de sombra, mas girando em rodopio eterno, o pião da sombra, o que fazer da voz, senão clamar em uivos de absurda sombra, à noite geradora de braços e destroços vagando intérminos no extinto brado? 91 Por que me bates com teus sinos, plágios de uma humana cruz, calvário torto, tu, coração vazio de apanágios, sem esperança de nenhum conforto?
(Meu coração é gaveta de naufrágios, de esperanças puídas no alto porto, onde singro, sagrando em meus sufrágios de vertigens, um mar que é natimorto.) Porque me falas e escrutar não posso teu nome, grito que laboro e roço na plantação maldita que me bate, pudesse eu, pária do meu próprio mundo, arrancar de mim teu ser, qual imundo dente, coração, à ponta de alicate!
92 Meu aniversário!: dá-me, Goethe, o fogo que vi queimando nos lábios do teu ontem, pura energia, livrando-me do logro de existir para onde os deuses apontem. Sarça ardente, crepúsculo que rogo, regresse eu à terra, e que as trevas me montem no tempo morto de um eterno logo, eterno aberto ao pronto desmonte em matéria e ruga, de olhar no meu rosto. e ao achar-me inteiro – e à Tua partilha exposto, elucida-me, Goethe, o em mim por quê: se não sei o vento, verbo do arvoredo, balbucio o tempo e nele retrocedo ao não ser próximo do estar no Ser.
ORLANDEX PEREIRA VIANA 132 10 de agosto de 1938 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Nasceu em São Luis a 10 de agosto de 1938, filho de Edson Matos Viana e Naura Bastos Jansen Pereira Viana. Concluiu o Ginasial no Liceu Maranhense e Letras pela Faculdade de Filosofia da UFMA. Exerceu o magistério no Liceu Maranhense, onde lecionou Desenho, Frances e Ingles, Lingua e Literatura Portuguesa e Brasileira. Lecionou Desenho no Ateneu Teixeira Mendes, Rosa Castro, Seminário Santo Antonio e Noções Elementares de Gramática Latina para o curso de Letras da UFMA. Foi agente administrativo do INAMPS. Historiador, Jornalista, Poeta, aplicado à Arte dramática. Contribuições na revista do IHGM VIANA, O. P. OS PRIMÓRDIOS DO BRASIL Ano LIX, n. 08, março de 1985 67-74 EXPLICAÇÕES SUCINTAS DO DESENHO DO MEDALHÃO (CRACHÁ) PARA SER USADO NAS SESSÕES SOLENES E FESTIVAS, PELOS MEMBROS EFETIVOS DO IHGM Ano LIX, n. 09, outubro de 1985 56-57 A POSIÇÃO DO BRASIL EM RELAÇÃO AS DEMAIS NAÇÕES Ano LX, n. 11, março de 1986 35-40 A EXISTÊNCIA HISTÓRICA DE ANTONIO LOBO ano LX, n. 12, 1986 ? 78-98 PEDRO DA SILVA NAVA: MÉDICO, ESCRITOR, POETA, PINTOR E DESENHISTA Ano LXII, n. 14, março de 1991 43-52 A ARTE DE FALAR BEM Ano LXIII, n. 16, 1993 97-103 A IMPORTÂNCIA DO FOLCLORE E SEUS PRINCIPAIS ASPECTOS NO MARANHÃO Ano LXIV, n. 17, 1996 83-92 ANA AMÉLIA, A MUSA DE G. DIAS, SUA GENEALOGIA E SEUS DESCENDENTES No. 21, 1998 106-108.
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REVISTA DO IHGM , ANO LIX, MARÇO 1985, No. 8,p. 66
PAULO AUGUSTO DO NASCIMENTO MORAES133
PAULO MORAES 23 de novembro de 1912 # 11 de setembro de 1991 Filho de José Nascimento Moraes e Ana Augusta Mendes Moraes, Paulo Moraes foi um dos mais importantes e contundentes intelectuais de São Luís. Mas não somente a Ilha presenciou o trabalho deste integrante da família Nascimento Moraes. A cidade do Rio de Janeiro também o acolheu e presenciou o crescimento e desenvolvimento de Paulo Augusto. Na Cidade Maravilhosa, o maranhense conviveu com os mais ilustres jornalistas da época, como Assis Chateaubriand, Samuel Walner e Jurandir Pires Ferreira. Em 1971, Paulo Augusto foi homenageado pela Embaixada de Israel por ter realizado a cobertura da guerra no Oriente Médio. Tanto que o jornalista maranhense teve seus artigos traduzidos para uma publicação internacional. No ano seguinte, ele lançou seu único livro: "Aquarelas de Luz". Após anos se dedicando ao jornalismo, Paulo Augusto Nascimento Moraes conquista o direito de se tornar um imortal. Em 1982, ele assume a cadeira de nº 16 - fundador é Raimundo Corrêa de Araújo - da Academia Maranhense de Letras (AML); após a morte de Domingos Vieira Filho. Salgado (2012) 134, em sua posse na AML, faz o elogio a Paulo Moraes, com estas palavras: Indízivel reencontro na esfera da imortalidade, eles que tantas vezes trabalharam juntos na redação do jornal Pacotilha; conviveram no sobrado da rua de Santana, onde a família de Paulo generosamente acolheu Neiva Moreira por um período; e ainda nas ruas do Rio de Janeiro, quando Neiva acedeu ao conselho do amigo para marcar para sempre seu nome no jornalismo nacional. Paulo Augusto do Nascimento Moraes, filho de Nascimento Moraes – este, alcunhado por Neiva Moreira como pontífice supremo do jornalismo –, marcou toda uma geração de jornalistas neste estado, abraçando o ofício de informar como sagrado sacerdócio. Carregava no sangue a paixão pelas palavras e fazia delas o seu instrumento de trabalho. Esgotadas as possibilidades de continuar no Maranhão, devido aos parcos recursos que atormentavam o funcionamento do jornal Pacotilha, seguiu o jornalista para o Rio de Janeiro onde, nas palavras de José Chagas, “viu o que o Rio tinha de manso e violento. A Lapa era o laboratório onde o jornalista, o boêmio e o poeta pesquisaram a vida em todos os sentidos”. Lá, nos informa o poeta, trabalhou com Assis Chateaubriand em O Jornal; com Jurandir Pires Ferreira, em A Força da Razão e com Samuel Wainer, em Diretrizes. Companheiro de Neiva Moreira na profissão e no amor pelo jornalismo, recebeu deste a seguinte apreciação: “A marca poética de Paulo Moraes, sem que ele mesmo tivesse dado conta, é o grande humanismo que conseguia produzir em torno de tudo o que fazia: humanismo e forte lirismo, transcendendo os limites do romantismo e formando quase que um realismo mágico e lírico”. Poeta diletante, um curioso pelas aventuras da vida, não teve a preocupação de deixar registros, distraído na boemia e dedicado ao culto às amizades. Ao retornar do Rio de Janeiro para São Luís, retomou o ofício de reportar os acontecimentos. Graças ao esforço de seu irmão, o também acadêmico Nascimento Morais Filho, parte das poesias de Paulo foi reunida no livro Aquarelas de 133
Fonte: O Estado do Maranhão 23/11/2012 , disponível em http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNordeste/index.php?titulo=Paulo+Augusto+Nascimento+Moraes&ltr=p&id_perso=5034 134 SALGADO, Natalino. DISCURSO DE POSSE – AML. IN Palabvra do Reitor, publicado em 14 de dezembro de 2012, disponível em http://portais.ufma.br/PortalUfma/paginas/palavra_reitor.jsf?id=47, acessado em 10/05/2014.
Luz, um misto de alumbramento filosófico e elogio às figuras femininas. Peço a devida permissão para citar um trecho do soneto que intitula aquela obra: “Caminhemos então!...Tudo é sombra, querida!... As cigarras cantando!...As cigarras cantando Afugentam de nós as tristezas da vida! Esta tarde morreu!...Tu mo afirmas, num beijo! Eu te digo que não, entre prantos, chorando, Tu me dizes que sim, sepultando um desejo”. Paulo não se formou em Direito, sonho de seu velho pai. Mas nem por isso o amor que os unia arrefeceu, assim demonstrado na carta que o filho, reverente, escreve ao genitor:“Sou seu amigo. Admiro-o muito. Devo-lhe o que sou”. Cada um a seu tempo e modo, os jornalistas Neiva Moreira e Paulo Nascimento Moraes desempenharam a missão de honrar a herança deixada nesta Casa pelo folclorista e estudioso das coisas maranhenses que foi Domingos Vieira Filho. Tal como Jasão, que liderou os argonautas em busca do velocino de ouro, Domingos Vieira Filho empreendeu a busca por palavras e ditados maranhenses, ávido por revelá-los e cristalizá-los na memória de sua gente. Escreveu as importantes obras Folclore brasileiro: Maranhão (1977), A linguagem popular do Maranhão (1979),Breve história das ruas e praças de São Luís (1971) e outros interessantes estudos maranhenses, a maioria dos quais usava não assinar. DEVOÇÃO135 Penso em ti, minha mãe, com a ternura dos beijos Os teus beijos de amor, de bondade e carinhos. Penso em ti, minha mãe, sem pensar nos desejos Das mulheres que amei às margens do caminho. Penso em ti, minha ma~e, com os mesmos ensejos. Com que sempre te amei, com a pureza dos ninhos. Penso em ti, minha ma~e, sem aflição e sem pejos, Mas trazendo na fronte a Coria de espinhos. Penso em ti, minha ma~e, tua benção pedindo... És a sobra do bem afastando os escolhos Que, por vezes, mamãe, vão meu corpo ferindo. Mal tu sabes, porém, que na luta prossigo, Relembrando esse amor que reluz nos teus olhos, Que me avisa do mal, alertando o perigo!
135
BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE NO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994, p. 98
PAULO FRANCISCO CARVALHO BERTHOLDO
PAULINHO DIMARÉ Nascido em São Luis, cursou Educação Artistica licenciatura na UFMA. Participou de mostras de poesia no SESC, e das comunidades da Fé em Deus, Monte castelo, e Liberdade, em São Luis; Madalena em Recife (PE) e festivais promovidos pelo CEDET, UFMA, e Revista Brasilia (DF).
A NATIVA Mandei buscar So pra te enfeitar Um cocar de curandeiro E um brinco de marfim Daqui da ponta da orelha Pra lá da Ponta d´Areia Cacique mandou dizer Que hoje va i haver Pajelança na tribo Caiabis nativa Nhanberé namora Coaraci Jaci sabe e sente ciúme Quem me disse foi Peri Enquanto tomava banho Em rio de água clara Quem me ensinou a dormir em rede Foi Guarani Guaramirim Guajajara Piramuquiê pire mani comidas típicas Ianomamis Tupinambás protegei conservai Ianomamis Mamaiurás crescei multuplicai. FORA DE ORDEM É arte torta minha peosia É vermelha anti sistema É miséria favela palafita É peixe em piracema.
PAULO MELO SOUSA
Nasceu em São Luis do Maranhão em 16. Formado em Desenho Industrial e Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal do Maranhão. Um dos criadores, em 1985, do grupo Poeme-se, que cria também um sebo e locadora de livros. Ganhador duas vezes do Festival Maranhense de Poesia Falada, em 1985 e 1987. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/paulo_melo_souza.html
Poema Descalço se me devoro é porque tenho fome de mim todo silêncio possui a palavra que merece qualquer existência pode ser camaleônica um mar inexplicável habita minhas entranhas há muita sede no mundo bem poucos sabem beber
Maré de Lua caminho todas as tribos mas não sou de nenhuma cada animal é dono de uma astúcia antes de conhecer o miolo das coisas viventes precisa pelejar pra ter entendimento das saídas labirinto é bicho esquivado entrar é fácil Bem antes do primevo Adão as vísceras da pedra são devoradas pela fome dos séculos (Melo Souza, Paulo. Visagem. São Luís: Lithograf/FUNC, 2002. p.31-35)
Disputa negras palavras florescem nos olhos da ruína garras afiadas disputam mundos almas delicadas não suportam o fascínio da morte o coração do poeta pediu aviso prévio bebe o crepúsculo na esquina jogando pôquer com o destino
Ariadne deglutia flores amassadas na maionese acionava os alarmes da aurora despertava no país do sono brincava de cabra-cega na beira dos precipícios palitava os dentes à espera do apocalipse
Hermético o cadáver da pedra se apavora com o esqueleto da própria sombra no músculo das palavras cabe toda a carta celeste o maxilar da morte anoitece devorando omoplatas de cetim um poeta se diverte espancando os dentes na máquina de escrever
Está tudo bem quando eu sangro e os outros dormem Faço de mim meu próprio espetáculo caminhando nu pela praça mijando estátuas com bigodes e paletós gritando ao mundo a palavra orgasmo quando a lua cínica me seduz e me trai pontualmente mês após mês e até sempre e sempre Então saio pela noite feito um lobisomem bebendo a cântaros oferecendo brindes à minha própria loucura
Parto
a poesia dispensa guarda-costas ela é medula habita a flora da linguagem constrói sua febre das cinzas do céu e do inferno fênix da palavra basta a si mesma para explicar sua gênese. (Oráculo de Lúcifer - Livro inédito)
SOUZA, Paulo Melo. Oráculo de Lúcifer. Poesia. São Luis, MA: SIOGE, 1994. 144 p. 14x23 cm. Capa: Iramir Araújo. ISBN 85-7207-08-1-8 ATESTADO ando só comigo muito mal acompanhado sou para sempre meu inimigo público número um
VIAGEM De Sirius a Belatrix sete segundos bastam formigas adoram navegar em mapas celestes
SOUSA, Paulo Melo. Vespeiro. Poesia. São Luis: FUNC, 2010. 60 p “Premiado no concurso literário e artístico ´Cidade de São Luis´ 2009 – Prêmio Sousândrade“ Col. A.M. (EA)
tresnoitado l noite demorosa relógio carcomido que foi do meu avô crucificado na parede caiada tic tacteando as luas que me restam o poeta mascando sua intragável solidão no irrisório chão da cozinha do teto escorre uma luz mortiça sobre a mesa tetraplégica escapulindo das orelhas do prato zumbe a escandalosa conversa dos talheres apenas um rascunho de alma assombra os deslimites da alquebrada casa o poeta debulha seu karma engolindo a contragosto a triste cartilagem de um indigesto silêncio
além dos quânticos buracos de minhoca a criatura navega em busca de novos pastores testemunha mais um neófito anti-universo desembrulhar seu mapa conspirando desconformidades o desfile das novas gerações não trouxe o ânimo da fé é hora de assoprar um outro cosmos livre do martírio do barro
SOUSA, Paulo Melo. Banzeiro. Poesia. São Luis, Maranhão: 2010. 60 p. “Premiado no Concurso Literário e Artístico “Cidade de São Luis” 2004. Prêmio Sousândrade. Composto em tipologia Elante corpo 11-15, impresso em papel Offset 75 gr., capa em papel cartão supremo 250 gr. Col. A.M. (EA)
curral de peixe
quando pareço raso aí é que sou profundo oração adora o fogo mas não gosta de muita zoada alpinizo cumes inalcançáveis que habitam o precipício torto das próprias ideias no caroço do sonho destrambelhado armo arapucas fantásticas o real do poeta é um assombro emprenhado pelas imaginárias teias da sutileza
ventos gerais a primeira ventania de setembro espantou a campainha da casa um cajueiro debulhou sua primeira flor espalhando a notícia para as borboletas Miudinha espiou desconfiada a poeira crescer dentro do quarto e disse que fiapo de manga lhe dava uma agonia nos dentes
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda, publicada em out. 2008. ampliada e republicada em março de 2012
Paulo Melo Sousa (São Luís /MA). Poeta, jornalista, escritor, designer, pesquisador de cultura popular, ambientalista, membro fundador da Sociedade de Astronomia do Maranhão e da Academia Ludovicense de Letras. Mestre em Ciências Sociais, detentor da Medalha do Mérito Timbira, grau de Comendador do 4º Centenário de São Luís, pelos relevantes serviços prestados à cultura maranhense. É ainda presidente da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão. Autor de sete livros, quatro deles de poesia, todos premiados, dentre os quais Vi (s) agem, Banzeiro e Vespeiro. Integra a antologia A Poesia Maranhense do Século XX, organizada por Assis Brasil. https://quatete.wordpress.com/2018/05/30/4-poemas-de-paulo-melo-sousa/ (Os poemas de PMS aparecem aqui dispostos à esquerda, mas na estética original possuem uma outra espacialização/forma que não conseguimos manter na página da QUATETÊ.)
tártaro beber do suco das pedras que profetizam tocaiando o lobo que fuleja uivando no endiabrado vórtice do meu delírio um sangue subversivo atiça o olho vertiginoso do Cão Maior caminho despenhadeiros que moram além da captura das palavras até o inferno foge de mim radiação de Hawking no ninho de pedra que se labora do próprio sonho de ser o que nunca foi sonhado uma catástrofe se alimenta da procura de si mesma as metáforas retornam ao berço em busca das palavras que ainda serão paridas no relâmpago do pós-princípio da incerteza nesse cosmos o sedento ente fuça labirinto horizonte aprumo e o derradeiro helesponto de transmutação debaixo do pé de urucurana esporão raivoso babando na brecha uma cunhatã esquipa no assombro do primeiro golpe lambe a espuma do suor despudorado debulhando o próprio alarido do instinto o bulício da carne falou mais alto fiapo de sol queimando o iceberg uma lua se alevanta
obscena e azul do brabo útero do mar estrelas são velas alumiando a muda procissão das almas contrárias dos umbigos do nada o epiléptico peixe da angústia mergulha na escuridão incógnito e furtivo e doido começa a crescer
RICARDO LEÃO136
RICARDO ANDRÉ FERREIRA MARTINS. 2 de março de 1971 CONCURSOS Radicado em São Paulo desde 1998, com um intervalo de 2 anos (2001-2003) no Paraná, em Cascavel e Ponta Grossa. Reside atualmente em Rio Claro, interior paulista. Detém alguns prêmios literários, com destaque para o III Festival Universitário de Literatura e o Festival Maranhense de Poesia Falada — premiação em livro e menção honrosa, respectivamente, em 1997 e 1999. Já apareceu em algumas antologias e revistas. Esteve ligado aos grupos literários maranhenses Curare, Carranca e às leituras de poesia organizadas pelo sebo Poeme-se. Edita atualmente, com amigos, o jornal literário O Beta, em Rio Claro. Tem dois livros inéditos: Primeira lição de física (poesia) e Os dentes alvos de Radamés (narrativa). É licenciado em Letras (UFMA, 1997), Mestre em Letras (UNESP, 2000) e doutor em Teoria e História Literária (UNICAMP, 2009). Desenvolve seu Pós-doutorado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/CNPq). Atualmente, é Professor Adjunto da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Campus de Irati, Paraná. Publicou os livros: Simetria do parto (2000, poesia), Tradição e ruptura: a lírica moderna de Nauro Machado (2002, ensaio), Primeira lição de física (2009, poesia), Os dentes alvos de Radamés (2009, ficção) e Os atenienses: a invenção do cânone nacional (2011, ensaio), com o qual, em 2012, ganhou o Prêmio de Ensaio e Crítica Literária da Academia Brasileira de Letras. Ricardo esteve ligado a alguns movimentos culturais de cunho literário em São Luís, dentre os quais os Grupo Poeme-se, Curare e Carranca. Trata-se de um dos escritores mais profícuos da geração 90 no Maranhão. METAPOEMA Não quero o poema (ou a poesia) especulando acerca do que não sabe, ou se sabe, não revela: não o quero metendo o bedelho 136
HTTP://WWW.GERMINALITERATURA.COM.BR/RICARDO_LEAO.HTM HTTP://JOSENERES.WORDPRESS.COM/2010/02/01/RICARDO-LEAO/ ESCRITOR MARANHENSE RICARDO LEÃO LANÇA LIVRO DE POESIAS NA GALERIA TRAPICHE. In O IMPARCIAL, São Luis, 25 de março de 2013, Caderno Impar, disponível em http://www.oimparcial.com.br/app/noticia/impar/2013/03/25/interna_impar,132094/escritormaranhense-ricardo-leao-lanca-livro-de-poesias-na-galeria-trapiche.shtml , acessado em 28/05/2014 CAIRO, Luiz Roberto Velloso. RICARDO MARTINS [RICARDO LEÃO] - E a contribuição maranhense para a construção da nacionalidade. In GUESA ERRANTE, 14 de julho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/ricardo-martins-ricardo-leao---e-acontribuicao-maranhense-para-a-construcao-da-1290.htm , acessado em 28/05/2014. HARDMAN, Francisco Foot. UMA PESQUISA DE FÔLEGO. In GUESA ERRANTE, 14 de julho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/uma-pesquisa-de-folego-1291.htm , acessado em 28/05/2014. ENTREVISTA DE RICARDO LEÃO a PESSOA, Ivan, in GUESA ERRANTE, edição de 7 de julho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/19/entrevista-de-ricardo-leao-1292.htm , acessado em 28/05/2014
onde não for chamado, e nem diga (entre risos e versos) coisas fúteis como amor e nem se perca conjeturando o salário (de fome) do vizinho. Quero antes o poema (não a poesia) nas ruas, nos bares, nas esquinas (fatigado da existência) como um fuzil apontado para o balão de todas as ideologias. Quero o poema cruel terrível corrosivo lisérgico sangrento amargo mas antes de tudo solidário (que nestes tempos de crise toda ternura é pouca). Não quero o poema (via aberta para o infinito) detrás dos guichês, nos out-doors, quero o poema livre como um pássaro que voasse (certeiro) à eternidade. Por esse motivo nada digo no poema que ele já não conheça: — além, é claro de dúvida, incerteza, solidão. REVELAÇÃO DE SÍSIFO A poesia, Fábio, roubou-me tudo. Mas deu-me, como prêmio, esta solidão. Dias e dias acumulados atrás de páginas, ainda virgens e inexploradas; o silêncio rouco das madrugadas; palavras sem sentido, fúteis tentativas de erguer uma parede ao redor do nada; milhares de poemas ainda não escritos; mulheres que não amam (e que não amarei nunca); muralhas de angústia, vozes sufocadas, hecatombes de palavras mutiladas; versos por fazer, que não dizem nada. A poesia, Fábio, não deu-me nada! (À parte disso, nenhum outro sentimento).
Engano-me: — A poesia, Fábio, deu-me esta revolta! [De Simetria do parto] II O CORPO FOI QUANDO, na manhã seguinte, o círculo do céu fechou-se como um sinal, uma concha lúcida, escura e indevassável, de modo que não pude mais saber se o fim ainda principiava pelas frestas do silêncio. Aproximei-me e vi que o dia era belo e azul como uma pomba branca, exangue. Então, ordenei: "Haja Luz!". E houve luz. E vi que a luz era boa, e vi que o dia era bom. Mas não sabia mais porque tudo aquilo ainda me enfarava, ou porque o dia cheirava mal, entre corredores repletos de vermes e vômito, enquanto o cadáver, com um riso fácil, escarnecia de minha raiva indômita, sem motivo aparente. Neste momento, detive-me um pouco mais para observá-lo, aquele corpo ancestral que jazia há séculos ali, entre as flores, enquanto seu odor fétido se espalhava pelos quatro cantos do dia morto, sufocando a vizinhança com um hálito deletério e irrespirável. Nada em suas feições me pareceu reconhecível, de modo que seus traços fugidios em vão tentavam me comunicar algo que não conseguia mais lembrar, embora a minha memória me pregasse peças a todo o momento, sobretudo quando me deparava com a sua face bela e risonha desdenhando de meu esforço. Todavia, o fardo de sua presença já estava se tornando insuportável demais para carregar durante o tempo que ainda faltava para concluir a minha missão, o que me fez desejar a sua desaparição completa. Isto começou, a bem da verdade, a ser uma hipótese bastante aprazível, conquanto o dispêndio fosse bastante elevado até mesmo para mim. Eu estava certo disto, principalmente quando fui ao escritório fazer o levantamento por meio de planilhas que havia elaborado com todo o cuidado, atentando para todas as estatísticas, porém sempre obtendo, ao final, o mesmo irrisório resultado. Não havia, portanto, o que fazer, pois eu já não conseguia ocultar a sua podridão, apesar dos esforços ridículos que empreendi naquela tarde recompondo a duras penas o tecido gasto de sua pele, plantando hortênsias e murtas ao redor de minha residência a fim de estancar o mau cheiro que manava de maneira evidente e insofismável de meu porão. De qualquer modo, aquele cadáver estava consumindo quase todos os meus recursos, enquanto a minha criatividade, por igual, começava a escassear diante da ausência de expedientes que certamente poderia usar para o meu ambicioso projeto. Achei, por um momento, que já era tarde demais e que tudo estaria, de modo irremediável, perdido; o seu tecido já estava rígido, apesar do viço púbere que ainda havia em sua carne fresca e macia, enquanto as flores o recobriam, em vão. Só mais tarde percebi que o meu esforço era completamente inútil, como qualquer coisa que fizesse para compensar todo o investimento que fiz naquele rito que meus ancestrais me deixaram como legado. Eu, por meu turno, não poderia continuar por mais tempo naquela tarefa improfícua, uma vez que o corpo recusava-se aos ofícios que havia celebrado em sua memória. Não poderia, sobretudo, prosseguir calmo e indiferente àquela situação extravagante, posto que o meu desejo me consumisse em febres e delírios atrozes, que me esgotavam por completo, deixando em mim uma compleição débil demais para sair às ruas sem que fosse notado pelos meus verdugos. Aliás, há tempos que os pressinto em meus domínios, em momentos de silêncio e solidão, com a clara impressão que espreitam-me para além das fronteiras de minha propriedade. Não posso avaliar quem o seja, mas decerto não são os que vejo todos os dias, uma vez que percebo, com toda clareza, quem me hostiliza, apenas pelo olhar. Contudo, não sucedeu nada ao longo daquelas semanas de espera, pois ninguém, entre os que freqüentavam as cercanias de meu território, pareceu-me suspeito de alguma atividade que me fizesse temer pelo futuro. Entretanto, fiquei tão ocupado com o corpo, todos os dias, que às vezes esqueciame como meus inimigos costumam estar munidos dos mais variados e inteligentes ardis, embora com certeza pudesse me antecipar a todos os seus movimentos, bastando para isto que se colocassem em ação à luz do dia ou da noite. Enquanto isto, podia de forma tranqüila dedicar-me à leitura de meus antigos escritos, sentado solenemente à varanda, ouvindo os ruídos de galhos quebrando-se entre os arbustos da floresta e os uivos dos lobos para a lua cheia. Deste modo, os cuidados com o corpo não ocupariam o meu tempo em período integral, como vinha acontecendo durante as últimas semanas; isto me assegurava disponibilidade e ensejo para o exercício de outras tarefas
que requerem a minha diligência, além de desviar a atenção de meus algozes para outra direção até que, exaustos e sem recursos, teriam que interromper a campana. O corpo, a esta altura, não teria mais qualquer importância para eles, pois a ausência de pistas os conduziria certamente a lugar nenhum, sendo obrigados, portanto, a abandonar o meu caso. Depois de algum tempo, o assunto não importaria nem mesmo a mim. O corpo, entretanto, ainda provocava em mim alguns arrepios e embaraços irremediáveis, o que tentei remediar mantendo-o afastado de toda exposição indesejável, sobretudo para o caso de algum incauto, porventura, invadir a minha residência com o propósito de denunciar-me, hipótese, aliás, pouco provável e, em definitivo, remota. Mas a presença do corpo continuava tenaz em minhas lembranças, pois era de uma mulher, linda como a morte, enquanto o tempo lá fora declinava sem que nada pudesse ser feito para evitá-lo. Como, portanto, eu poderia prosseguir em meu delito com total quietude e desprendimento? Eu havia feito uma compra de vulto em todos os supermercados e mercearias das redondezas, de modo que a casa estava lotada de víveres e ferramentas necessárias até o fim de meu empreendimento. Contudo, a algazarra das crianças que vinham brincar à porta de minha casa me incomodava de maneira contumaz, a ponto de desejar cometer uma infâmia, algo impensável, pois atrairia todo o ódio da vizinhança sobre mim, mas foi suficiente apenas espantálas com alguns expedientes que havia reservado para situações como estas. Depois disso, nunca mais as vi, então pude retomar o meu trabalho, embora toda aquela irritante distração por alguns instantes desviasse o rumo de minha concentração, exatamente como quando recebo visitas inoportunas, obrigando-me a refazer parte do percurso e tomar certos cuidados extraordinários com o cadáver, que não cessava de apodrecer às minhas costas. Quando isto acontece, às vezes sinto um bafejo, como uma golfada de vento ou o hálito quente de um animal, soprando a minha nuca por detrás. Sou obrigado então a cessar as picaretadas por alguns instantes e sair para ver o que acontece lá fora, em meu jardim. Por um momento, penso que as crianças estão de volta para infernizar-me com suas travessuras diabólicas, mas percebo que os ruídos são surdos e os movimentos da criatura ágeis e rápidos demais. Então sinto que a vida se desprende do calendário, olho para a minha varanda quieta, onde algumas pegadas de água e um odor de pétalas fazem-me esperar, sôfrego e atônito, a fim de ver o vulto que se movimenta habilmente entre as sombras de minha propriedade. Então, como se uma fera saltasse do meio da escuridão indiscernível, tomo um susto e vejo aquele corpo putrefato correndo e dançando, nu e selvagem, em meio às plantas, gerânios, bromélias, buganvílias e jardins esquecidos, sob os telhados, mirantes, sobrados e mais além, onde a vista do mar alcançava-me invariavelmente entre sorrisos e sargaços. Neste dia, senti um grande ódio apossarse, espasmódico, de mim, e quis mastigar a flora com os próprios dentes, enquanto um calor intenso consumiu-me por dentro como um sol que ardesse impiedosamente sobre a cidade. Quis romper o assoalho do alpendre com as mãos, saltar entre os arbustos com a velocidade de um guepardo faminto e assaltar, de modo violento e contundente, a carne majestosa daquele corpo de formas espetaculares, branco e pálido, como uma página virgem. Foi neste momento, fulgurante e repleto de êxtase, que me arrastei em silêncio entre cadeiras e mesas, quando fui ter em um amplo espaço onde a ausência relinchava, fundindo-se ao nada e ao tédio. Era uma biblioteca, com uma variedade incontável de tomos e volumes, o que me despertou a curiosidade; tomei um dos livros à mão, comecei a folheá-lo de maneira distraída, quando descobri que aquele corpo possuía uma genealogia antiqüíssima e imortal. Percorrendo as páginas aleatoriamente, reconheci o seu rosto em uma das múmias da tumba de Ramsés; percebi-o entre uma das aias de Cleópatra e Marco Antonio e também o vi nos rituais dos templos de Elêusis; um afresco trazia uma perfeita descrição de seus traços mais peculiares, mas surpreendi-me de fato ao vê-lo em algumas tapeçarias persas e peças de porcelana do império de Alexandre, o Grande. Olhei com mais percuciência, e vi, por igual, Iracema, a virgem dos grandes lábios de mel. De qualquer modo, tudo aquilo fez sentido e começou a parecer-me extremamente inútil e sem importância. Levanteime, fui até a janela, exausto e quase sem fôlego. Na desesperada tentativa de respirar, olhei a luz, a rua vazia, a porta aberta, meu corpo esquálido e nu, sob um céu palpitante de estrelas, quando olhei novamente para trás. Lá estava ele, o corpo, sorridente, de pernas abertas, como se me convidasse a penetrá-lo com fúria e asco. Fui. Contudo, o quarto estava escuro como a morte. Sangrei enquanto rolava até o canteiro com o corpo repleto de espinhos e garras que penetravam a carne dolorosamente. A noite era bela e turva. De repente, desatei a chorar. No meio das açucenas, angélicas, orquídeas, alecrins, comecei a chorar. Logo percebi que o cadáver ainda dava sinais de
vida, então me aproximei de sua boca cheia de vespas e dentes que, no entanto, respirava, lenta e imperceptivelmente, de uma forma que quase não se ouvia. Ela gemia em meus ouvidos. Olhei para os seus seios que tremiam e intumesciam e tive vontade de mordê-los. Olhei para as suas pernas que se abriam e coravam e, em um derradeiro esforço, penetrei o seu sexo, com um desejo fremente e furioso. A garganta ardia, mas estava lúcido e senti que ela gozava com frêmito em minhas mãos. Pouco acima de suas sobrancelhas, jazia o orifício de uma bala, por onde escorria um líquido escarlate e vívido. Mas pouca atenção dei a este detalhe sórdido e insignificante, de modo que prossegui em minha leviandade noite adentro, sentindo o meu falo aquecido dentro de seu sexo cálido e macio com tal excitação que desejei permanecer naquela posição para sempre. Porém, o dia ameaçara transmontar, pois os primeiros raios de sol rompiam o horizonte; senti mais uma vez asco pelo que fazia e, sem júbilo algum, apartei-me daquele corpo que se decompunha e morria em meus braços; vi que era inútil trazê-lo de volta à vida, visto que o dia era escasso. Deixei-o ali, apodrecendo entre as folhagens, e fui dormir. No dia seguinte, não o encontrei mais. Então percebi que não me recordava mais do rosto do morto. Fui novamente à biblioteca, mas todos os livros haviam desaparecido, como em Alexandria, sem que tivesse sobrado a sombra do pó. Na dolorosa tentativa de reconstituir a voz do morto, o sorriso do morto, os olhos do morto, o aroma do morto, quase morri. Levantei-me e olhei para o relógio mais uma vez. Era exatamente meio dia e alguma coisa pela metade. Olhei para a janela. Olhei para o teto. Por último, olhei para o meu sexo ainda duro como uma vara inflexível e cheia de sangue. Olhei ainda para o piano à minha esquerda e logo avistei a porta. Ganhei a rua. A cidade reluzia luminosa e frenética, enquanto a multidão, sem pressa, passeava pelas avenidas. Prossegui até à praça. Ela não estava ali. Fui até a escadaria. Ela não estava ali. E porque ninguém mais estava ali, onde antes o corpo estava, onde antes ela estava, suja e ordinária, uma prostituta que se vende a qualquer preço. Esta cadela insone, que se abre como uma devassa, de uma forma que somente os deuses podem compreender e aceitar. Era tudo. Todos os objetos estavam jogados na rua, espalhados pelo quintal dos fundos, de forma que a vizinhança toda acendeu as luzes, a luz do sol; esta mesma luz inóspita que nos queima, o sol, o sal, a sala, o pálio aberto, não decerto nesta ordem, mas um delito qualquer, entre as flores pueris de maio, onde o cadáver é somente mais um, como qualquer outro, ordinário e sujo, com o mesmo sorriso de que rimos há séculos de nossa própria precariedade e imundície. E é por isto que ainda resisti contra todos, que inventei o cadáver, o sol, este artefato limpo, de aço puro, a insígnia de um corpo que matamos, entre orgias e orgasmos. O cadáver, no entanto, ainda fedia de uma forma repugnante, mas tinha o hálito de uma fêmea que arreganhava as pernas em flor, rindo entre crisântemos e obscenidades, rolando fulminante em êxtase pela garganta do vale, entre lírios conjugados. De repente, caí no jardim, solitário, alegre e contrafeito. Nem percebi quando o meu membro rompeu o hímen silencioso do corpo, de uma forma sublime como a última ruína de um templo grego. Falo endurecido sobre o dorso incendiado de Apolo, o fogo ardia incessantemente pelo chão ainda úmido e escorregadio. O cadáver sorria, em meio às hortênsias, onde escrevi o meu nome, assinatura do diabo entre suas coxas. Depois, não o vi mais. Lembro-me perfeitamente do dia de sua partida. Uma chuva torrencial caía lá fora, enquanto a mobília mofava. O dia havia se partido, no meio do caos. Vi apenas duas colunas rachadas, sobre o solo recoberto de pegadas de animais estranhos, que a custo reconheci em meio ao inventário de pistas inúteis, por mim catalogadas em um dos tomos que salvei da biblioteca. Não havia mais nada o que fazer. O corpo, mais uma vez, enganara-me. [De Os dentes alvos de Radamés] A BATALHA 1. a espera O poema aguarda: aguarda, tranqüilo, o tranqüilo reinício da calma batalha na vasta planície de toda palavra,
onde o nada é água que logo evapora; na vasta planície onde o verso arde, sob o sol quente, à procura de oásis; com líquida sede de brancos papéis e castas palavras; o poema, no deserto de toda linguagem, dir-se-á eterno, como se buscasse ao instante seguinte morder a longa língua, a cauda do nada, o núcleo do silêncio.
2. a trincheira Cavo este solo: chão pulverizado de áridas palavras, entanto cálidas; esta minha mão (de poucos dedos, fundos estigmas), todavia, escreve (já sem esperança) sobre o solo áspero onde ainda brotam úmidas palavras; de onde brotam rosas pútridas, que nutrem a fome de podres sílabas; que nutrem, ácidas, o silêncio amargo de coisas sonoras presas à boca; esta rósea boca que não pronuncia certas palavras, invisíveis ainda.
3. o desafio De tua língua, poema,
tu não me guardas; a palavra maldizente, invisível vocábulo; tua metáfora inviável; de ti, poema, lúcido, eu nunca me guardo; nesta manhã ácida, fruto do desamparo, a morte está longe (embora ao nosso lado), quase como um pássaro.
4. o anúncio O poema marcha quase sem fala; flores solitárias crescem do nada; logo surgem nuvens no céu aberto; a espera de um dia, assim, plantada, parece uma pedra no meio da sala; uma flor que brota da áspera poesia de uma palavra; uma palavra única, que dá o calmo início de uma batalha.
5. o combate De ti, poema, não me guardo; teu belo rosto, esfinge do ocaso; tua tenra boca onde palavras brotam, insontes; o árduo combate de mudas sílabas; tua pele macia de carícias intata; tua mitologia de castos lábios; entanto, eterno, o sono prossegue
durante a manhã repleta de tédio; cadela mordida por alvos dentes de alvar poesia, enquanto o poema (surdo vocábulo de força bruta), brota do nada.
6. o clímax O poema atravessa, como lâmina afiada, o silêncio pesado que cresce da fala; o trabalho da manhã, ainda não concluído, desta muda linguagem de sons e fonemas; roídos mecanismos, engrenagens da língua, do sigilo quase mudo em nossas bocas cheias de pútridas palavras; palavra, enigma do som, ainda não pronunciado, cuja sintaxe ainda jorra, como jorra a clara água da seca fonte; fonte que não sacia a sede, e jamais extingue a fome de outras palavras; vazias, em seu magro conteúdo, contudo quase tão belas como um homem morto em pé; palavras ainda livres de qualquer sentido, mas que jorram frescas da fonte, da fonte que nunca seca; as mesmas palavras que, belas, nascem de qualquer fonte; fonte de coisas puras, ainda sem nome; fonte igual a qualquer fonte; fonte de sons, de coisas ácidas, alucinadas; som que nos impele à fala; a mesma fala, soturna, que nasce de qualquer língua; do fácil silêncio de qualquer palavra; deste combate diário entre o sono e a alegria,
enquanto o poema cava o árido chão da poesia; palavra, difícil palavra, no verso ainda mínima que nasce, rosa tranqüila, em meio a um deserto de úmidas hortaliças. O poema jamais cessa seu trabalho inútil, ainda não concluído, pela extinta manhã. Enquanto surge o dia o poema atravessa, lâmina em brasa, a pele do silêncio: o núcleo do nada.
7. a trégua De ti, poema, louco, eu não me guardo; entre o nada e o silêncio, lavras o impossível; entanto, acima do espaço urbanizado do papel, tua bandeira tremula como símbolo de guerra.
ROBERTO KENARD137
Roberto Kenard Fernandes Rios São Luís / 18 de outubro de 1958. Grupo da Revista/Hora do Guarnicê Jornalista, é autor de penetrantes textos ensaísticos publicados na imprensa. Distinguido com diversos prêmios conferidos por concurso literários promovidos em São Luís e em outras capitais brasileiras. Além de figurar em antologias poéticas, publicou os livros de poemas No meio da vida, Do lado esquerdo do corpo e O camaleão no espelho. Câmera indiscreta O poeta lírico - barbado babuja no bar seus poemas boa tarde elegante bardo cuidado com o vento suas folhas íntimas não resistem ao menor sopro o coração sobre a mesa breve o garçom virá removê-lo um barco atraca no cais lugar de coração é no peito teimoso bardo curió exposto aos turistas a mulher burguesa batom e ruge ergue o braço garça o garçom passa o poeta velho brada: liturgia do inútil tudo desaba asa do vento navalhada na tarde provinciana e cinza. ( O camaleão no espelho/1990) A FAMÍLIA 137
http://www.saoluisdomara.xpg.com.br/paga.htm
Tem alguém no telhado Talvez a avó louca Embriagada de tiquira Tem alguém no telhado Possível o neto Esperando a lua Tem alguém no telhado Provável o gato Com medo dessa família No meio da vida, 1980
Roberto Kenard (São Luís/MA). Poeta e contista brasileiro. Publicou quatro livros, sendo três de poemas e um de textos publicados em jornal. Tem textos de crítica literária publicados em jornais como O Estado de S. Paulo e revistas de Portugal e Brasil. Tem dois livros por publicar: Ozerodacidade, de poemas, com previsão de publicação para este ano de 2018, e um livro de ensaios literários, ainda sem título e em andamento. Os quatro poemas compartilhados são inéditos, integrantes do livro em processo Ozerodacidade. https://quatete.wordpress.com/2018/06/18/4-poemas-de-roberto-kenard/ A FAMÍLIA tem alguém no telhado talvez a avó louca embriagada de tiquira tem alguém no telhado possível o neto esperando a lua tem alguém no telhado provável o gato com medo dessa família
A estrada caminho de pedra andamos horas a fio de um lado e de outro ervas daninhas abafando o perfume
da flor sem nome
O vitral anjos confabulam por trás do branco um rio nasce e estende sua magreza pombos descem sobre a estátua comem a tarde
O tédio O frio desamparo Desse rio Tombam as cores Uma a uma Então o nada E sua desmesura Recolho a estrela Desse desastre
Límpidos e secos, cortantes e anavalhados, seus versos, meu prezado Kenard, possuem a exatidão das coisas, pessoas, atos, símbolos e signos que representam. Baitas poemas, como fizemos aqui no Sul.
ROSSINI CORRÊA 138
JOSÉ ROSSINI CAMPOS DO COUTO CORRÊA É de SÃO LUÍS, nascido em 08 de setembro de 1955. Grupo da Rua Candido Ribeiro Dedicado aos estudos jurídicos, teológicos, filosóficos e sociais, Rossini Corrêa – que participou de seminários jurídicos na Pontifícia Studiorum Universitas Urbaniana, no Vaticano e na Libera Università Maria Santíssima Assunta, em Roma, bem como na Universität Hamburg, na Alemanha e na L’Ecole Nationale de la Magistrature à Paris e de conferência na Sultan Qaboos University, do Sultanato de Oman – possui Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (1978), Bacharelado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (1981), Mestrado em Ciência da Religião pelo Instituto de Ensino Superior Evangélico (1998), Mestrado em Direito Canônico pela Faculdade Teológica Panamericana (1998), Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco (1982), Doutorado em Teologia Th D, pela Faculdade de Teologia Antioquia Internacional (1998), em Theology, pela Antioch Christian University, em Sociologia, pela Universidade de Brasília (1987), Doutorado e Pós-Doutorado em Direito Internacional, pela American World University (2002 e 2008). Rossini Corrêa é detentor de uma dezena de Doutoramentos Honorários, entre os quais, Doutor Honoris Causa em Ciências Jurídicas, pela Faculdade Ítalo Brasileira - FIB; Doctor of Letters Honoris Causa, pela Academia de Letras Machado de Assis; Honorary Doctor in Laws, pela Cambridge International University; Doutor Honoris Causa em Filosofia, pela Universidade Católica Ortodoxa Unida; Doutor Honoris Causa em Filosofia, pelo Instituto Teológico Emill Brunner; Doutor Honoris Causa em Teologia, pela Faculdade Teológica Bereana Internacional; Doutor Honoris Causa em Direito Internacional, pela Emill Brunner Universidade Aberta; Doutor Honoris Causa em Letras, pela Academia de Ciências, Letras e Artes de Minas Gerais; e Doutor Honoris Causa em Ciências da Educação, pelo Instituto Euro Americano de Educação Superior, Pesquisa e Extensão. Atualmente é/ recentemente foi Consultor para Assuntos de Pós-Graduação do Centro Universitário de Goiás UniAnhanguera e Representante Técnico do Centro Universitário de Goiás-Uni-Anhanguera, no Convênio de Cooperação Internacional firmado com a Universidad de Extremadura-UEX-ES , Coordenador da Cátedra Daisaku Ikeda, sediada no Centro Universitário de Goiás-Uni-Anhanguera, Vice-Reitor da American World University, Assessor Jurídico da Igreja Memorial Batista, Presidente do Instituto Avocare e Pesquisador Visitante do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos-IMESC. Advogado e Professor Universitário, Rossini Corrêa é Conselheiro Federal Titular, pelo Distrito Federal, da Ordem dos Advogados do Brasil - CFOAB - 2013/2016, Membro Titular da Comissão Nacional de Educação Jurídica, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil CFOAB - 2013-2016, Membro do Instituto dos Advogados do Distrito Federal – IADF, Membro da Academia Brasiliense de Letras – ABRL e detentor da Comenda Luís Vaz de Camões. Rossini Corrêa foi Coordenador Nacional da Lei Sarney, Assessor Especial do Governador de Pernambuco, Secretário de Educação e Cultura de Jaboatão dos Guararapes, Professor Adjunto IV da Universidade Federal do Maranhão, Assessor da Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão, 138
http://www.thesaurus.com.br/autor/rossini-correa
Advogado da Secretaria de Planejamento do Estado do Maranhão, Diretor do Centro de Pesquisas Estruturais da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais, Chefe de Cadastramento do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas de Natureza Cultural, Advogado do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do Distrito Federal, Assessor Jurídico da CPI sobre Exploração Sexual de Crianças e de Adolescentes (CD/DF), Coordenador do Curso de Direito do Centro Universitário UNIEURO, Professor do Curso de Mestrado em Direito do Centro Universitário de Brasília-UNICEUB, Professor do Curso de Formação de Oficiais (APM/DF), Professor da Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal, Professor da Associação Pioneira de Integração Social, Técnico de Nível Superior da Fundação Escola Nacional de Administração Pública, Coordenador de Estágio da Fundação Escola Nacional de Administração Pública e Diretor de Estágio da Fundação Escola Nacional da Administração Pública. Autor de 25 livros publicados, Rossini Corrêa conquistou 20 prêmios literários e possui cerca de 50 obras inéditas. Eis a sua bibliografia mínima: ALGUMAS TESES · Classe Média Posta em Questão: ensaio de revisão bibliográfica. Recife: UFPE, 1978. 170 p., Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharel em Ciências Sociais. · Formação Social do Maranhão: o presente de uma arqueologia. São Luís, SIOGE, 1993, 391 p. · O Liberalismo no Brasil: José Américo em perspectiva. Brasília, Senado Federal, 1994, 710 p. · Política Externa Independente: contribuição crítica à história da diplomacia nacional. São Paulo, USP, 1992. 160 p. Trabalho oferecido ao Programa de Pós-Doutorado em Política Internacional e Comparada. · Elegias de Eraldo. Brasília, Instituto de Ensino Superior Evangélico, 1998, 150 p. Tese de Mestrado em Teologia. · Direito & Teologia: Amós, profeta de qual justiça? Brasília, Faculdade de Teologia Antioquia Internacional, 1999, 150 p., Tese de Doutorado em Ciências da Religião. · Bacharel, Bacharéis: Graça Aranha, discípulo de Tobias, companheiro da Nabuco. Brasília, American World University, 2008, 600 p., Tese de Doutorado em Direito. FICÇÃO · O Prêmio Nobel. Brasília, Corrêa e Corrêa Editores, 1989, 60 p. · Reino Unido do Brasil. São Luís, SIOGE, 1993, 157 p. POESIA · Canto Urbano da Silva. São Luís, SIOGE, 1984, 100 p. · Sinfonia Internacional para a Pátria América: liberdade. São Luís, SIOGE, 1986. 216 p. · Saltério de Três Cordas. Brasília, Guarnicê, 1989. 130 p. Co-autoria com Joaquim Haickel e Pedro Braga. · Almanaque dos Ventos. São Luís, SECMA/SIOGE, 1991. 140 p. · Baladas do Polidor de Estrelas. São Luís, SECMA/SIOGE, 1991. 120 p. · Dois Poemas Dramáticos para Vozes e Violinos. Brasília, Thesaurus, 2001, 64 p. · Champagne para Nirciene. Brasília, Kelps, 2005, 224 p. SOCIOLOGIA · Mudança Social do Nordeste. São Luís, SIOGE, 1986, 186 p. · O Bloco Bolivariano e a Globalização da Solidariedade: bases para um contrato social universalista. Em parceria com Valdir Perazzo. Brasília, Corrêa & Corrêa Editores, 1998, 327 p. · Da Itália para o Brasil. Brasília, Editores Perazzo & Corrêa, 1998, págs 21 a 39 e 213 a 218. · Atenas Brasileira: a cultura do Maranhão na civilização nacional. Brasília, Corrêa & Corrêa: Thesaurus, 2001, 379 p. · Os Maranhenses: Contribuição para a Teoria Geral do Maranhão. São Luís, IMESC, 2008, 48 p... il. POLÍTICA · 1945: a lição de transição no Brasil. São Luís, Edição do Autor, 1986. 68 p. · Roma de Bravos Guerreiros: o Diabo Loiro na história política de Pernambuco. Em parceria com João Roma Neto. Recife, Instituto Frei Caneca de Estudos Políticos e Sociais, 1998, 330 p. Co-autoria com João Roma Neto.
HISTÓRIA · O Modernismo no Maranhão. São Luís, UFMA, 1982. 108 p.; 2ª ed. ver. e aum. Brasília: Corrêa e Corrêa Editores, 1982. 292 p.: 3ª ed. São Luís: Jornal Vagalume, 1990/91, números esparsos. · Paraná: começo de um Brasil melhor. Brasília, Câmara dos Deputados, 1989.168 p. DIREITO · Crítica da Razão Legal. 2ª Edição, Rio de Janeiro, América Jurídica, 2004, 325 p. · Jusfilosofia de Deus. Brasília, Editora Primogênitos de Deus, 2005, 370 p. · Saber Direito: tratado de filosofia jurídica. Brasília. Editora Rossini Corrêa, 2011, 637 p. · Bacharel, Bacharéis: Graça Aranha, discípulo de Tobias, companheiro da Nabuco. Brasília, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 2013, 607 p. MEMÓRIA · Um Fio de Prosa Autobiográfica com Ignácio Rangel. São Luís, IPES/UFMA/SIOGE< 1991. 166 p. il. Co-entrevistador, em cooperação com Maureli Costa, Pedro Braga e Raimundo Palhano, e autor da introdução e das notas. · Brasis que Vivi: memórias de Moura Cavalcanti. Recife, Fundação Joaquim Nabuco/Massangana, 1992, 308 + LXXVII p. il. Entrevistador, pesquisador e responsável pela forma literária. · Ad Immortalitatem. Brasília: Thesaurus, 1999. 54 p. Discurso de posse na Academia Brasiliense de Letras. Integra os Conselhos Consultivos da Fundação Casa de Penedo (AL), da Fundação Bandeira Tribuzi (MA) e da Escola de Formação de Governantes (MA), bem como o Conselho Pedagógico do Centro de Estudos Constitucionais e Gestão Pública (MA). Foi membro do Conselho Deliberativo da Escola Superior de Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil (DF) e componente da Comissão de Ensino Jurídico da Ordem dos Advogados do Brasil (DF). Tornou-se Cidadão Honorário de Brasília por proposição do Deputado Alírio Neto, aprovada por unanimidade. É, ou foi, membro dos Conselhos Editoriais do Centro de História da Igreja na América Latina e no Caribe, da Câmara dos Deputados, da Editora América Jurídica, da Revista Anhanguera, da Revista CESUC e da Editora Guerra Jurídica e Consultor ad hoc para Filosofia do Direito da Revista CEJ, do Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal e do Conselho Editorial da Revista Prisma, do Mestrado em Direito das Relações Internacionais, do Centro Universitário de Brasília. É presidente do Conselho Editorial da Editora Rossini Corrêa. Possui dezenas de artigos jurídicos publicados em órgãos especializados, a exemplo da Revista da Escola Nacional de Advocacia, do Conselho Federal da OAB. É Presidente do Instituto Avocare. No Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil foi nomeado Presidente da Comissão de Direitos Difusos e Coletivos. É integrante do Colégio de Vice-Presidentes da Associação Brasileira dos Advogados – ABA e Vice-Reitor da American World University – AWU/USA, para o Brasil e demais países de língua portuguesa. Recebeu ainda os títulos de Comendador da Soberana Ordem dos Valores Cristãos, de Teólogo Imortal e da Cruz do Mérito Teológico e Educacional e a Medalha do Mérito Candango e foi membro do Conselho Editorial da Câmara dos Deputados. É membro efetivo da Academia Brasiliense de Letras , cadeira N° 7, cujo patrono é Joaquim Nabuco e da Academia Brasileira de Ciências da Religião, cadeira Nº 10, que tem como patrono Dom Helder Câmara. CARTA AOS EFÉSIOS Efésios eterna na branca colina da paisagem azul: são os templos, são as fontes, são os homens, são os deuses, são os barcos,
são as fêmeas, são os frutos, são os pastos, cantando martelo na beira do mar. Romanos e gregos na rua, boca de lobo de qual verdade? Gregos e Romanos pintando o sete, bordando a ouro como argonautas pelos mares gregos ou como romanos valentes soldados, ambos senhores da rosa dos ventos boiando nos ares, cantando martelo na beira do mar. São os banhos, são os carros, são as lanças, são as cabras, são os peixes, são os vinhos são os vícios, são os vícios, Efésios eterna na branca colina da paisagem azul, sem mais martelo na beira do mar. Éfesos, julho, 2007. IBÉRIA Avistei terras de Espanha, de Espanha e de Portugal. E foi uma miragem tamanha, que o azul emocionou a nau. Que o azul lacrimejou o ser, esperto bicho, só de alegria mascarado, logo a renascer, pintando de colorido o dia. Colorido dia de Espanha, de Espanha e de Portugal: (este ouro que o azul apanha e transforma em mel e sal). Madrid, julho, 2007.
EM RHODES Ao sol da Grécia, fértil, tu explodes: abaixo, tua Pérsia. Agora, vês Rhodes. Desprezas o colosso. Tens o teu, privado. Nirciene, céu e poço no mar do seu amado. Rhodes, julho, 2007.
SALOMÃO EM PARIS -- Pelo vitral, Paris dançava: o sol na bruma. E eu, em suma, o azul escutava no mel, no sal. (Quanta parede e poucos meios: a vida, apenas...) Tenho 2 Senas: são teus seios à minha sede... (Não tenho rede e também feitos à luz de sábios). Tenho lábios, tenho 2 leitos: sou sono e sede! Paris, dezembro, 2009 POR QUEM OS SINOS DOBRAM “nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram:eles dobram por ti”. JOHN DONNE Empresta-me, John Donne, o celeste verso terreno, o terreno verso celeste: permite-me que eu o clone e, com este coração pleno, ninguém a mim me conteste. Tal como Dante, eu também
tenho agora uma vida nova - sem fel, choro ou grito... Pois a dor que a vida tem, o mel do amor bem a renova: rosa de perfume infinito. (Estrela de um céu menino, romã dos pomares de Deus, pétala da melhor das rosas, rosa total do meu destino do nada a tornar-me Zeus). Musa das manhãs licorosas, amém! Amém por tu existires. Por tu seres, por tu estares, O vento a cantar: Nirciene... Amém por tu vires ou não vires, ó sal singular dos meus mares: morena safra, mãe do dia vezes ene! São todos teus os meus hinos, os hinos que dobram e dobram, din, don, din, don como nunca vi. Os meus hinos são teus sinos que em pássaros se desdobram, que os sinos dobram é por ti! É por ti que os sinos dobram!” Brasília, outubro, 2004 QUINTO ENCONTRO Eu vi Lisboa do alto (era um bolo confeitado ou um jardim iluminado?) Nuvem nevada o asfalto... Conversava Dona Nuvem na molhada madrugada, rainha branca e alada: nunca, jamais se curvem. Nunca, jamais se turvem, mesmo à Lisboa do alto... Com uma vontade de salto, Lisboa, meu chão de nuvem. Cheguei para teu abraço, com a rosa amada comigo, minha morena cor de trigo, contigo a disputar o espaço. Eu, um escudeiro fiel, amei a amada em Lisboa. Em Lisboa a amada voa...
Ela, eu, em Lisboa. O céu! Lisboa, março, 2010 REGRA DE OURO Vida (unha em si mesma encravada e dolorida): de repente, lépida lesma esvoaçante e/ou abduzida. É melhor, enquanto tê-la, esmerilar o chão amigo e lapidar o azul estrela, colhendo o pão do trigo. Não é motor a gasolina, muito menos a óleo diesel. A vida, minha doce menina, mar é, de fel e talvez mel. A nossa tarefa – difusa e precisa – é pôr carinho, ó amada e morena musa, nos espinhos do caminho, para, assim, poder vivê-la na beleza da mulher nua a iluminar céu e estrela, pois toda noite é de lua! Pirenópolis,-GO, maio, 2014.
SÉRGIO SMITH
Nasceu em São Luis, no dia 28 de março de 1966. Letras na UFMA. PRISMA OU PARADOXO O horizonte é o espelho do enigmático. A imagem do irreal. O reflexo do inexistente. O amor onipreente. O inicio e o fim do mundo.
VIRIATO SANTOS GASPAR 139
VIRIATO GASPAR 7 de março de 1952 / Filho de Clóvis Roxo Gaspar e Sebastiana Santos Gaspar. Fez seus estudos no Liceu Maranhense. Participou do Movimento Antroponáutica. Foi classificado em vários concursos literários, entre eles conquistou prêmios de concursos da Academia Maranhense de Letras, da Prefeitura de São Luís e da Sociedade de Cultura Artística do Maranhão. Em 1970, foi Menção Honrosa no Concurso Antonio Lobo, da Academia Maranhense de Letras com o livro Portos sem Rumos. No mesmo ano, venceu o prêmio Sousândrade, do Concurso Cidade de São Luís, instituído pela Prefeitura Municipal desta cidade, com o livro Teodisséia. Em 1971, novamente ganhou o mesmo prêmio com 50 Sonetos. Colaborou em vários jornais de São Luís. No final da década de 70, viaja para o Rio de Janeiro e, posteriormente, estabelece-se definitivamente em Brasília, onde vive atualmente. Em livro, estreou em 1984 com a obra Manhã Portátil, a que se seguiram Onipresença, 1986, Lamina do Grito , 1988, e Sáfara Safra, 1994, obra premiada pelo Plano Editorial do SIOGE. Vários críticos se pronunciaram sobre o poeta. Oswaldino Marques ao comentar textos de autores novos da Literatura Maranhense disse que o poeta “ mais próximo da autonomia de vôo é Viriato Gaspar. Surpreende-se nele inventividade, assenhoreamento formal, linguagem plástica, límpida, a inteligência do metamorfismo da expressão que o dota dos meios de manipulação apurada da palavra.” Lago Burnett: “...um poeta absolutamente senhor de seu instrumental.” Chagas Val, ao referir-se ao livro Manhã Portátil, declarou “ ... um livro forte e denso.” Moacyr Félix, “Com nitidez percebe-se, atrás do seu bem elaborado artesanato, a presença verdadeira de um poeta. Literatura e não literatice.” Wilson Pereira, “ Manhã Portátil já revela a energia criadora do autor, dotado de sopro mágico e de capacidade para articular a linguagem com expressivos recursos estilísticos.” Percorrendo o caminho vertiginoso por onde Viriato Gaspar manipula a linguagem no texto poético de Sáfara Safra, desaguadouro singular de inúmeras conquistas modernas a que teve acesso, percebe-se que ele tem o descortínio da estrada por onde os bons poetas começam e seguem, ao criar poemas que são paradigmaticamente, pela concisão e maturidade, exemplares. No caso Viriato Gaspar, as pegadas e rastros vão-se configurando e redesenhando através das dedicatórias dos poemas. Os nomes escolhidos soam como legítimas epígrafes: O Rastelo (a Ezra Pound); O Zôo (a Paul Éluard); O Selo (a José Saramago); O Escuro (a Mário de Sá-Carneiro); Os Restos Vitais (a Paul Valéry); Postal Vadio (a Jean-Arthur Rimbaud); A Logopéia (a Jules Laforgue); Fremilúnio (a Paul Verlaine); Boca da Noite (a Mário Faustino); O Anjo (a Garcia Lorca); A Porta (a Fernando Pessoa); A Gaze (a Gertrude Stein); O Salto Mortal (a Rainer Maria Rilke); O Carrapato (a John Donne); O Aluno (a Joaquim de Sousândrade); O (S)oco (a T. S. Eliot); O Brasão (a José Paulo Paes); As Tatuagens (a Stéphane Mallarmé); O Em Canto (a Carlos Drummond de Andrade); Hacéldama (a Anderson Braga Horta); Haiku (a Matsuo Bashô); A Gangorra (a Benjamin Moloise); O Pugilato (a Florbela Espanca); A Úlcera do Azul (a José Chagas); A Fomem (a Nauro Machado); A Clave (a Jorge de Lima); A Tempestade (a Cecília Meireles); A Engenharia (a João Cabral de Melo Neto); O Armazém (a Cesário Verde); O Prisma e o Arco-Íris (a Oswaldino Marques); O Trampolim (a Vladimir Maiakóvski); A Pirraça (a 139
http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina191.htm http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/distrito_federal/viriato_gaspar.html
Manuel Bandeira); A Ponte (a Rainer Maria Rilke); Matinal (a Lago Burnett) e O Vôo (a Haroldo de Campos). Sáfara Safra é uma abundante colheita, uma viagem por alguns dos melhores caminhos poéticos da poesia neo-simbolista e moderna universal. A seleção de homenageados é um pretexto para que o poeta possa proceder a uma viagem lúdica por vários laboratórios poéticos. Referência, reverência via releitura, humildade necessária para, descobrindo a verdadeira tradição poética não acadêmica, saber, a partir de um paideuma (ordenação do conhecimento poético) cada poeta encontrar-se na soma de poetas que leu e assimilou. A poética de Viriato Gaspar tem esse viés. Postal Vadio (A Jean-Arthur Rimbaud) eu quero escancarar as minhas portas para que entrem nuvens de mendigos e arrastem pelas minhas veias tortas os ferros velhos dos verões antigos eu quero escancarar a minha aorta para que sangre o vento pelas ruas e biquem em minha boca as aves mortas os crespos corpos das mulheres nuas eu quero arregaçar a minha alma, deixá-la calcinada na calçada, até que as minhas mãos saltem das palmas e mordam o mundo em mar e madrugada, e jorrem pelos poros dos meus dentes os rios que bebi nas mãos alheias e nos meus olhos sujos luas cheias da mesma insônia antiga dos doentes eu quero escancarar os meus sapatos, rasgar meu coração em postas turvas, deixar entrar em mim todos os gatos para lamberem o hálito da chuva. (p.46) Hacéldama (a Anderson Braga Horta) ó árduo território, onde Te lavro, semente de clarão, luar de fogo, e onde me jogo todo e turvo o roubo da noite-escuridão, oh descalabro da carne a descascar-me em sangue e lava: o coração é um sapo, em cujo aboio a alma se perde, dona, mãe, escrava, cheirando a trigo e recendendo a joio. ó árduo território do plausível, noturna obsessão de luas calvas, aqui Te lavro, Verbo, oh impossível jaula de vento, canavial das almas. aqui Te planto, Verbo, neste chão, agreste como as solas dos sapatos, para que roas o anzol do coração, para que cortes com teus dentes gastos a palma de meus dedos retorcidos,
as lâminas das minhas clarabóias, e planes pelo mar dos meus sentidos teu brilho de punhal, sangrentas bóias, e mordas com teus olhos fulmegantes, com a luz de tuas trevas pelos flancos, não só as minhas mãos, mas meus instantes, e invadas toda a vida, como um cancro. II ó carne, lua magra a se espichar por entre os ossos podres na gamela do tempo (porto ou pedra?) pó & mar, vitral de vícios, vulvas amarelas, raiz de solidão, jaula de vidro, que a vida é pouca (a vida é sempre pouca) e só nos restam as mãos, nossos sentidos, para inventar o sol da nossa boca, para rachar ao meio o que mais seja, e o que vier que venha (e sempre mais), que a vida é curta e a morte brotoeja por trás de cada instante, cada cais, a tocaiar-nos solta nas esquinas, a nos chamar do fundo do salão, cegueira escancarada nas retinas, punhal atravessando o coração. Bilhete a Montale Que tempo este de agora e suas redes. O sol morre de frio e o mar, de sede. Que mundo este, que encheu só de vazio. A fome rói nas ruas seu fastio. Goramos o luar; só resta um mantra, e este gosto de agosto na garganta A Caminho, de Volta (a Odylo Costa, filho, in memoriam) Os Anjos rasgarão nos meus cabelos estradas para Deus, e seus atalhos. Nas minhas mãos geladas trigo e orvalho Deus plantará depois, para eu bebê-los. Os Anjos brotarão dos meus joelhos e cantarão manhãs que nunca pude. Hão de nascer das plumas do alaúde as rosas da manhã, clarins vermelhos. Hei de cantar, cantar, cantar, cantar as luzes que engasguei, por mundo ou medo, os salmos que apaguei, por mal, por mim. E os Anjos me erguerão na altriz do altar, para eu sugar o Sol e arfar enfim o sopro antigo e novo do Segredo.
A Sesta (a Leonardo Boff) Não quero abrir no azul um céu chinfrim, que seja só um sol que nunca ladre. Não quero um Deus assim, morto de mim, cevado de senões, patrão de padres. Eu quero O Deus em mim, total de tudo, uma alva rede aberta em minha alma. Um cachorro enrolado em seu veludo, meu pai me dando adeus na tarde calma. A Ilha Janelas. Poeira. Mosquitos. Meu pai ventava em azul as paredes da insônia. Lamparinas. Calor. Formigas. Fome. Os homens exercitavam vagas vidas vazias. Idéias. Ideais. Lixo. Luxo. Lisura espectral. Uma rede sozinha. Var/ando a var anda. Var/ânsias. Átrios de igrejas. Sé. Carmo. Remédios. Pam ta leão. Garrafas. Gumes. Cuspo. Fé. Fezes. Padre, dai-me a vossa bênção porque pe(s)quei. Ide em gás e que o terror vos arrebanhe. Mentiras. AMEN/tiras. Os dias despejavam adrenalina. Ossos magros. Fome. Fumo. Fama. Fúria. Os homens inventavam teorias para explicar o medo. Mastigar o medo. O muco murcho da matilha amorfa. A porca era gorda demais. E a gente tinha fome. As mulheres eram qualquer coisa secreta. Proibida. O veludo molhado da rosa incendiada na penugem. Uma dúzia de sonhos. Uma saga de dúvidas. Tesão. Teso. Ah ânsia de voar sobre as ladeiras e amanhecer assombros nos sobrados. A vida era o desfiar morrente de uma esperança sem futuro. Ex-v(a)ida a cada dia. Como o rosário comprido de minha mãe. Deus era o pavor absoluto. O nome extremo do medo. O sol sugava o sumo do suor do osso. Os outros, ostras incrustadas no estertor antigo. O coração ganindo a própria gana. A vida vindo em vão e vã voando. Veloz. Vaga. Vadia. A casa era pequena, mas cabia a tosse de meu pai e a sua rede. O armador tecia na parede um gemido asmático de animal doméstico. A noite se enchia de calor e paz com o roc-roc-roc da velha rede de meu pai, insone. O mundo era uma ilha sem horizontes. Os barcos passavam. Como os dias. O mar aberto era uma chaga alheia. A vida era uma ilha. Afogada em seu fogo vazio. A vida era uma ... (a vida foi se.) A Vinda Chegaste de manhã, e era dezembro. O mar cuspia azul sobre as estrelas e marejava um cais para bebê-las. Teu rosto era um farol, é o que lembro. Chegaste como a chuva; pelo avesso, acendendo a manhã nas minhas unhas. Agora foi depois, quando eu supunha não mais molhar-me o sol, seu sal espesso.
Nunca disse teu nome, não cabia. A palavra era apenas seu esgar, um modo de morder a ventania. Só lembro do dezembro. E então o mar. O Náufrago teu corpo negro iluminava tudo com seus segredos fundos de mulher e nele eu me enconchava em caramujo no refluir-fruir dessa maré de barcos emboscados no ar escuro tarrafando sargaços de suor teu corpo negro então ficava sujo de claridade e desmanchava o sol em golfadas de trêmulas espumas teu corpo negro pluma de penumbra a derramar manhãs no travesseiro e eu náufrago de tudo arremetesse as praias de teu corpo e me solvesse nos minérios malinos de teus pêlos. O BUROCRATA uma lua explode por dentro do terno. manda-a ao protocolo para carimba-la e num memorando baixa-a ao arquivo. A CAIXA-PRETA o morto no caixão o porto ou a floração? (ou só o conforto da conformação, o tateio torto pela contramão?) ENTRONCAMENTO outubro já passou, novembro veio, e a vida continua pra dezembro. dezembro chegará, depois janeiro, e a vida continua em fevereiro. o calentário espichará seus dias em meses, anos, rugas e calvície, novos amigos, novas descobertas, (ou a simples ilusão de descobri-las),
novas cidades, novas desventuras, novas mulheres e velhas ternuras. e a vida seguirá por mais um ano, mais outro e depois outro e a vida sempre a encompridar seu tempo e seu fastio, seu pasto de chacinas e vivências, seus enganos, seus medos, seus abismos; até que um dia a morte, enfim chegando, (num dia de dezembro ou de janeiro), acabe com a ciranda da agonia. e quando o trem das trevas apitar na esquina de meus ossos doloridos, eu quero entrar sem pressa e sem bagagem, como alguém que, depois de muitos anos. retorna finalmente para casa.
3 (para Malu) aqui, nesta argamassa de neurônios, de músculos e nervos, pele e ossos, eu e a minha manada de demônios estamos sós no ranço dos remorsos. estamos sós no cio solitário do pus da nossa paz, fechada em fossos, no pó das postas do que sobra em sócios para o repasto oposto do inventário. aqui, neste congresso de torturas, sentamos, face a face, na impostura de impar e ser o avesso do que somos. enfartados de espantos e de espasmos, eu e a minha alcatéia de fantasmas choramos sós à sombra dos escombros.
21 primeiro ela sonhou que estava morta; depois, que viajara, que partira, mas não porque ela própria o decidira, mas porque havia o mundo além da porta. ela era a sombra do seu próprio vulto, a imagem em nuvem do não-revelado. ela era tudo o que restava oculto, mas dentro dela mesma, em si guardado. e porque assim tivesse sido (ou era), ou nunca fosse, houvesse acontecido, talvez mais por alvor que só de avara,
primeiro ela sonhou que não chegara, depois, ao ver que ver era um olvido, evaporou-se em sua própria espera.
27 inverno, meu amor, são esses ossos que a tarde desenterra em nossas veias, sempre sujos do sumo dos remorsos, lambuzados de loucas luas cheias. esse inverso, essa viva carne carma, o punhal, esse sabre que nos sobra, essa bomba que nunca se desarma, esse dobre a dobrar-nos na manobra. inverno são as drupas desses dias, essas tardes tardias, trastes, tantas; essas ruas repletas e vazias, esta gana a ganir-nos na garganta. inverno, meu amor: ossos e dias; e a gente a gangorrar sua agonia.
30 (a Wilson Pereira) Qualquer coisa nascida de si mesma como um ovo, um poema, uma ferida. Uma pena talvez, flecha fendida em trovões coruscando em lã/ma e lesmas. Qualquer coisa. Excrescente, dissoluta, fluida, fóssil, falaz, como cortiça. Manivela ou mormaço, a mó mortiça do seu grito de gueto, escampa escuta. Esse inverno vital, vulva que orvalha, galha oblívia do sestro na navalha. Uma coisa qualquer. Sabre em saliva. Qualquer coisa cerzida em urze ou asa, húmus ubre de rala ruma rasa: ▬ um verso, esse universo em carne viva. (do livro “A LÂMINA DO GRITO”, de 1988) 31 o azul pondo fagulhas no azulejo enquanto a tarde talha e a voz resvala no silêncio estalado em caranguejos e o breu do grito é o gume de uma bala. o azul tecendo lu(r)zes nos sobrados e as ruas estuando em treva as teias. a sombra é um búzio dúbio debruado na renda rubra da paisagem alheia.
o azul espelha paz no pó espesso enquanto as aves voam em vão no avesso e o instante estanca e tranca o trinco a seco. o azul plantando (p)lumes nos telhados e a tarde entalha o instante ali alado e enlaça o aço azedo enchendo os becos. POEMAS INÉDITOS (selecionados por Angélica Torres Lima) A QUERELA DO BAR ZIL As ruas estão rotas de mendigos, de putas e ladrões mal-ajambrados. Os que se deram bem vão bem guardados, no além das limusines, em abrigo. Nas praças só há pressa, e o medo empurra o bilro em nossas burras, ‘té a monta. Em cada esquina um rambo nos aponta um berro, e basta a nós se só nos curra. Nos palácios, nos templos, nas choupanas, é um salve-se quem der a xepa ou a xana, a vida vale um peido, um troco, um til. Há quem ferrando enrique ou nasce a lula, mas nas ruas é a fome, é a gana, a gula, oh pátria amada, à puta que pariu!
O NINHO Olha, lá fora, a trôpega manada que marcha, amorfa, à usura do futuro. Vê com que pressa passam na calçada, rumo a um arrimo esconso em seu escuro. Olha, aqui dentro, o ninho do meu vinho, o chão deste clarão, esta tontura. Vê com que vôo as aves da ternura rasgam seus ramos no meu ser sozinho. Ferve um inferno fosco no lá fora: aqui dentro, eu Te espero. Agora. Aurora. BILHETE À ROSA QUE ACENDEU O JARDIM Tive um amor que desmanchou-se ao vento, mal soprara a manhã nos meus cabelos. Tentei talvez, a susto, ainda retê-lo, mas dissolveu-se em azul no céu cinzento. Tive um amor que encheu o mundo inteiro de um brilho, um fogo, um gás, um chão tão claro, que até hoje, já escuro, ao relembrá-lo, ainda me acende o rastro do seu cheiro. Tive um amor assim, estranha estiva, a farfalhar seu mar em carne viva, o mundo em riste a borbulhar nas veias.
O amor, no entanto, é um sopro que se apouca; no instante mesmo em que nos bica a boca já se ave em vôo, e nunca mais se apeia. NOITURNO A rua espicha as casas sonolentas pela ladeira suja enevoada. Só meus passos, no pasmo da calçada, ressoam mundo afora, à flor do vento. A rua se esparrama escuro adentro, uma ruma de casas desbotadas. Só a lua na rua amortalhada me vê passar sem pressa, a contra vento. De onde eu vim, para onde vou, pisando o mundo mudo, a rua morta, e eu quando? Só meus passos no escuro acendem o vento e toc toc tocam no silêncio. O JATOBÁ TOMBADO A doença foi secando a minha mãe, até torná-la a sombra dela mesma. Na sua solidão de dor enferma, um mar de arpões-ferrões nas suas manhãs. Na mirrada figura que sumia um pouco mais, a cada abril do dia, havia um horizonte de sereno, grandeza no exercício do pequeno. Minha mãe me ensinou, com a dor e a reza, que sempre há vôo e luz, se a vida pesa. RÚMULOS Por aqu passou o Poeta: ▬ há cacos de estrelas acendendo o escuro; há um brilho estranho no pavor dos muros, e há um viço avesso acordando o mundo. O Poeta passou por este dia: fez brotar a manhã da noite fria, fez nascer um clarão no breu que havia e surgir em cada dor como um jardim, para depois, um raio, um risco ou um jasmim, encantar-se por fim na ventania.
O LEGADO (a Gabriel) aquele poema que não consegui, mas a duras penas carreguei em mim. aquela pequena coisa indefinida, que não foi poema nem encheu a vida. o sol escondido que não se acendeu. este não ter sido que em mim sou eu. (de Sáfara Safra ) ÍNDICE A Ferreira Gullar O homem é a matéria do meu canto, qualquer que seja a cor do que ele sente. E não importa o motivo do seu pranto, é um homem, meu irmão, e estou doente de sua dor, e é meu o seu espanto do mundo e desta hora incongruentes. Na trincheira do Verbo me levanto contra o que contra o homem se intente. O homem é o objeto e o objetivo de quanto sei cantar, e o canto é tudo que pode me explicar porque estou vivo. Às vezes sou ateu, noutras sou crente, em outras sou rebelde, em algumas mudo: — sou homem, e canto o homem no presente. (de Manhã Portátil
NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 59 VOLUME 58 – MARÇO 2021 – ANTOLOGIA IV - ATENIENSES VOLUME 57 – MARÇO 2021 – ANTOLOGIA: OS ATENIENSES https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay__antologia_ludovicense_gera__o_30?fbclid=IwAR0MW6NiE6lGsMtH6NykzKTYM2QaqpspGnAZseMr3ma6 Mg1BfW6VquRzXRc VOLUME 56 – MARÇO 2021 – ANTOLOGIA: MULHERES DE ATENAS https://issuu.com/home/published/maranhay_-_antologia_ludovicense_mulheres VOLUME 55 – MARÇO DE 2021 VOLUME 54 – FEVEREIRO DE 2021 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_54_-_fevereiro_b VOLUME 53 – JANEIRO 2021 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_53_-_janeiro_2021 VOLUME 52 –DEZEMBRO – 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maaranhay_-_revista_lazerenta_52__2020b VOLUME 51 –NOVEMBRO – 2020 https://issuu.com/home/published/maaranhay_-_revista_lazerenta_51__2020b/file VOLUME 50 – OUTUBRO – 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_50_-_2020b VOLUME 49– SETEMBRO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_49_-__2020_VOLUME 48– AGOSTO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_48_-__2020_bVOLUME 47– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_47_-__2020_VOLUME 46– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_46_-__2020_VOLUME 45– JULHO - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_45_-__2020_-_julhob VOLUME 44 – JULHO - 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_44_-_julho__2020 VOLUME 43 – JUNHO /SEGUNDA QUINZENA - 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_43_-segunda_quinzen VOLUME 42 – JUNHO 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_42_-junho__2020/file VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41-B – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41-b_-_maio___2020 VOLUME 41 – MAIO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/maranhay_-_revista_lazerenta_-_41_-_maio__2020 VOLUME 40 – ABRIL 2020 https://issuu.com/home/published/maranhay_-_revista_lazerenta_-_40_-_abril___2020.d VOLUME 39 – MARÇO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_mar_o___2020 VOLUME 38 – FEVEREIRO DE 2020 – EDIÇÃO ESPECIAL – PRESENÇA AÇOREANA NO MARANHÃO
https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__39-_fevereiro___2020 A PARTIR DESTE NÚMERO, CORRIGIDA A NUMERAÇÃO, COM SEQUENCIAL, DOS SUPLEMENTOS E EDIÇÕES ESPECIAIS: VOLUME 28 – JANEIRO 2020 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_maranhay__28_-_janeiro____2020b VOLUME 29 – FEVEREIRO 2020 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo_-_maranhay__29-_fevereiro___2020b REVISTA DO LÉO - NÚMEROS PUBLICADOS VOLUME 1 – OUTUBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_1_-_outubro_2017 VOLUME 2 – NOVEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_2_-_novembro_2017 VOLUME 3 – DEZEMBRO DE 2017 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_3_-_dezembro_2017 VOLUME 4 – JANEIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_4_-_janeiro_2018 VOLUME 5 – FEVEREIRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_5_-_fevereiro_2018h VOLUME 6 – MARÇO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_6_-_mar__o_2018 VOLUME 6.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – MARÇO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 7 – ABRIL DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_7_-_abril_2018 VOLUME 8 – MAIO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8_-_maio__2018 VOLUME 8.1 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 9 – JUNHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_9_-_junho_2018__2_ VOLUME 10 – JULHO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_10_-_julho_2018 VOLUME 11 – AGOSTO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_11_-_agosto_2018 VOLUME 12 – SETEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_12_-_setembro_2018 VOLUME 13 – OUTUBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_-_13_-_outubro_2018 VOLUME 14 – NOVEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_l_o_-_numero_14_-_novemb VOLUME 15 – DEZEMBRO DE 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revisdta_do_l_o_15_-_dezembro_de_20? VOLUME 15.1 – DEZEMBRO DE 2018 – ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/200ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 16 – JANEIRO DE 2019 https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__16_-_janeiro_2019 VOLUME 16.1 – JANEIRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20
VOLUME 17 – FEVEREIRO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_17_-_fevereiro__2019 VOLUME 18 – MARÇO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__18_-_mar_o_2019 VOLUME 19 – ABRIL DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__19-_abril_2019 VOLUME 20 – MAIO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__20-_maio_2019 VOLUME 20.1 - MAIO 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 21 – JUNHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__21-_junho_2019 VOLUME 22 – JULHO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__22-_julho_2019 VOLUME 22.1 – JULHO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 23 – AGOSTO DE 2019 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__23-_agosto_2019 VOLUME 23.1 – AGOSTO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 24 – SETEMBRO DE 2019 – LAERCIO ELIAS PEREIRA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 24.1 – SETEMBRO DE 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: IGNÁCIO XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec VOLUME 25 –OUTUBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__25_-_outubro__2019 VOLUME 26 –NOVEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__26_-_novembro__2019 VOLUME 27 – DEZEMBRO DE 2019 – https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27_-_dezembro___2019 VOLUME 27.1 – DEZEMBRO DE 2019 – suplemento – OS OCUPANTES DA CADEIRA 40 DO IHGM https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__27.1_-_dezembro___2019 VOLUME 30 – edição 6.1, de março de 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_especial__faculdade_ VOLUME 31 – edição 8.1, de maio de 2018 EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO: VIDA E OBRA – MAIO 2018 https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo_8.1_-__especial__fra VOLUME 32 – edição 15.1, de dezembro de 2018 ÍNDICE DA REVISTA DO LEO 2017-2018 https://issuu.com/…/docs/201ndice_da_revista_do_leo_-_2017-201 VOLUME 33 – edição 16.1, de janeiro de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: PESCA NO MARANHÃO https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__16_1__-_janeiro__20 VOLUME 34 - edição 20.1, de maio de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL – FRAN PAXECO E A QUESTÃO DO ACRE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__20.1_-_maio_2019_-_ VOLUME 35 – edição 22.1, de julho de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: CAPOEIRAGEM TRADICIONAL MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__22-_julho_2019_-_ed VOLUME 36 – edição 23.1, de agoto de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: AINDA SOBRE A CAPOEIRAGEM MARANHENSE https://issuu.com/home/published/revista_do_leo__23.1-_agosto_2019_VOLUME 37 – edição 24.1, de setembrp de 2019 – EDIÇÃO ESPECIAL: I. XAVIER DE CARVALHO: RECORTES E MEMORIA https://issuu.com/leovaz/docs/revista_do_leo__24_-_setembro__2019_-_edi__o_espec