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LILA MAIA
from MARANHAY - (Revista do Léo ) - 56 - março 2021 - EDUÇÃO ESPECIAL: ANTOLOGIA - MULHERES DE ATENAS
A maranhense Lila Maia é graduada em Pedagogia e tem três livros publicados: A Idade da águas, Céu despido, vencedor do II Prêmio Literário Livraria Asabeça 2003 e As Maçãs de antes, livro vencedor do Prêmio Paraná de Literatura 2012 na categoria poesia e semifinalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura 2013.
Vidência Já me curvei o suficiente para entender a vida. Nem quero o velho ofício que passa de pai pra filho. Gosto das frutas que amadurecem secretamente conheço o que dentro de mim se fecha e é esculpido diariamente. Desde que nasci tenho um verbo presente: morrer e tantas vezes me sinto montada na fera, outras apenas arrastada como a cômoda de peroba que não cabe no quarto.
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Acreditar naquela pequena luz de uma estrela anã é dizer sem pressa uma reza mansa.
Inesgotável
Já fui tão antiga querendo ser feliz. Mas ele chega louco demais para o meu corpo. Me arrasta, porque sabe que serei magma Neste doce deslumbramento das marés altas. E feito um guerreiro suas mãos tocam Onde só existe falta. Esse homem me habita com fúrias e pássaros.
Uma vigília
Quarenta anos depois o silêncio da chaleira que ferve. Na infância, sempre acendi uma vela na outra. As surras que levei não se enraizaram. Cada dia soletrei um tempo do verbo partir. Vivi com a indiferença e a saudade presas ao calendário.
Quarenta anos depois não sei me despedir da saudade: continuo ouvindo o arrastar daquele chinelo número trinta e três pela casa.
Canto intermitente
Celebro uma ferocidade plena. Furo com os dedos teu peito nu. Parto que nem vento e saio da boca do leão para a do lobo. Janeiro me trai feito sol. Tudo que podia brotar não é flor.
Desejo
A árvore que persigo é alta e mordo seus frutos como quem mata. Mas meu peito selvagem quer a outra metade.
Fala-me
Aprendo agora a palavra engolida, o alvo certo que os loucos têm se atiram pedras.
O momento exato de refletir sobre teu silêncio com a fala