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VIRGINIA RAYOL BRAGA MALUF

Nasceu em 24.12.18. 1950, em São Luís do Maranhão. Graduada em Comunicação, pela Universidade Federal do Maranhão. Professora titular de Comunicação Social da UFMA. Poetisa, cronista (do jornal “O Estado do Maranhão”). Faleceu em 3.11. 2002?.

ETERNA CHAMES

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1 Que prepara os meus rituais que discorda de meus ancestrais e me seduz com pequenos desaforos e duas horas depois com beijos

2 Chames, Chames nessa troca vivencial digitamos nosso computador nossa ideologia amorosa para o novo milênio

3 Ah, meu amor! Fiz-me em aposto para entender teu feed-back linhas conflituosas intermediadas por períodos de democracia um glossário de vocabulários criativos sob o impasse de chavôes da mídia e música dos Cds de Asa de Águia Chiclete com Banana e Banda Eva

4 No meu tempo de adolescente eu andava de bonde Deus ia no bonde Deus era o bonde

6 Chames, travessia, o caminho e suas trilhas daquilo que não vivi... contigo aprendo o reverso da história que jamais será contada...

7 Chames fogo que apascenta paz que assusta proposta...afago instinto telúrico de menina e mulher ser do meu ser sem ser de mim

8 Acima do bem e do mal és Chames acima de minhas mortes és eterna.

LIÇÃO DE APOSENTADA

1 Certo dia eu me aposentei sentei na escrivaninha e organizei um calendário de preguiça sob os fios da chuva de março

2 Durante a manhã não fiz nada sobre o poema do nada

3 À tarde ensaio o violão

4 Ensaio o violão relembrando lendárias aulas de piano Mozart, Beethoven a Valsinha Manhosa de Guarnieri O Desafio de Villa Lobos gritos histéricos da professora e uma forte dor de barriga

5 À tarde sou crítica implacável e apurada menina frágil e amedrontada à tarde sou aventureira anárquica de toda a mística feminina a tarde reivindico

6 À tarde sou aventureira clássica das questões de amor sou contestadora permanente de todas as dimensões de injustiça à tarde odeio a injustiça farisaica vestida de blaser celular no bolso sorrindo o tempo todo

7 À tarde fico ilesa e esotérica ardente e fulminante no duelo de forças opostas o poder e a miséria o chão e a fantasia o amor e as trevas

8 À tarde sou colo e poço asas tresloucadas corpo embevecido choro sobre a alma da tarde e a tarde se esvai no espanto e da alma cai a tarde levitando no seu pranto

9 À tarde sou poeta porque sou poeta o dia todo no todo da vida e na vida do todo

10 Sou poeta antes de ser antes de vir antes de me iludir antes de querer

11 Sou poeta antes de vislumbrar que uma possível felicidade possa me acenar a 100 Km de distância já sou poeta antes disso

12 À Tarde sou Madame Bovary E Madre Teresa de Calcutá Sonho com a Dama das Camélias e Santa Teresa D'Ávila

13 À tarde leio leituras por capítulos em montagens compiladas num esforço de mente e de dedos quero uma intertextualidade cósmica à minha prosa literariamente existencial

14 À noite sou um ideal que sumiu como um ponto final

15 Eu me aposentei e hoje a primeira noite que tento me perseguir por um novo ideal de um novo emprego.

LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda

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