MARANHAY : Revista Lazeirenta (Revista do Léo) 55, abril 2021 - Especial: ANTOLOGIA - ALHURES

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MARANHAY (REVISTA DO LÉO) EDITADA POR

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Prefixo Editorial 917536

ANTOLOGIA:

“ATENIENSES” QUE, POR DESCUIDO GEOGRÁFICO, NASCERAM ALHURES... [...] Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis[...] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011

VOLUME VI

MIGANVILLE – MARANHÃO EDIÇÃO 59 - ABRIL DE 2021


A presente obra está sendo publicada sob a forma de coletânea de textos fornecidos voluntariamente por seus autores, com as devidas revisões de forma e conteúdo. Estas colaborações são de exclusiva responsabilidade dos autores sem compensação financeira, mas mantendo seus direitos autorais, segundo a legislação em vigor. EXPEDIENTE MARANHAY REVISTA LAZERENTA Revista eletrônica EDITOR Leopoldo Gil Dulcio Vaz Prefixo Editorial 917536 vazleopoldo@hotmail.com Rua Titânia, 88 – Recanto de Vinhais 65070-580 – São Luis – Maranhão (98) 3236-2076

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Nasceu em Curitiba-Pr. Licenciado em Educação Física (EEFDPR, 1975), Especialista em Metodologia do Ensino (Convênio UFPR/UFMA/FEI, 1978), Especialista em Lazer e Recreação (UFMA, 1986), Mestre em Ciência da Informação (UFMG, 1993). Professor de Educação Física do IF-MA (1979/2008, aposentado); Titular da UEMA (1977/89; Substituto 2012/13), Convidado, da UFMA (Curso de Turismo). Exerceu várias funções no IF-MA, desde coordenador de área até Pró-Reitor de Ensino; e Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão; Pesquisador Associado do Atlas do Esporte no Brasil; Diretor da ONG CEV; tem 14 livros e capítulos de livros publicados, e mais de 350 artigos em revistas dedicadas (Brasil e exterior), e em jornais; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão; Membro Fundador da Academia Ludovicense de Letras; Membro da Academia Poética Brasileira; Sócio-correspondente da UBE-RJ; Premio “Antonio Lopes de Pesquisa Histórica”, do Concurso Cidade de São Luis (1995); a Comenda Gonçalves Dias, do IHGM (2012); Premio da International Writers e Artists Association (USA) pelo livro “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (2015); Premio Zora Seljan pelo livro “Sobre Maria Firmina dos Reis” – Biografia, (2016), da União Brasileira de Escritores – RJ; Diploma de Honra ao Mérito, por serviços prestados à Educação Física e Esportes do Maranhão, concedido pelo CREF/21-MA (2020); Foi editor das seguintes revista: “Nova Atenas, de Educação Tecnológica”, do IF-MA, eletrônica; Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, edições 29 a 43, versão eletrônica; editor da “ALL em Revista”, vol. 1 a 6, eletrônica, da Academia Ludovicense de Letras; Editor da Revista do Léo, a que esta substitui (2017-2019). Condutor da Tocha Olímpica – Olimpíada Rio 2016, na cidade de São Luis-Ma.


APRESENTAÇÃO [...] Os ‘atenienses’ são, portanto, os vários grupos de intelectuais e homens de letras surgidos em torno da cidade letrada de colonização portuguesa, como São Luis[...] LEÃO, Ricardo. OS ATENIENSES – a invenção do cânone nacional. Imperatriz: Ética, 2011

Ao decidir-me pela construção de uma antologia que comportasse literatos ludovicenses – nascidos na cidade do Maranhão e/ou que tiveram sua vida ligados à São Luís – os Confrades da Academia Ludovicense de Letras fizeram algumas restrições. Primeira, que uma Antologia da Academia Ludovicense deveria conter apenas literatos à ela ligados... segunda, de que apenas os nascidos na capital do Maranhão... terceira, que deveria se começar pelos Perfis Acadêmicos... Já havia iniciado o levantamento, haja vista que até aquele momento não tínhamos ainda formada a Comissão encarregada, um dos primeiros ‘protestos’ pela obra que se iniciava, e que seria muito cedo... idéias que não compartilho. Então, é uma obra de dupla mão – a que atenda ao Estatuto e Regimento Interno, e submetida à apreciação da Comissão, no que já foi feito, e um trabalho que farei enquanto pesquisador, e, já decidido, terá a chancela da ALL, mas não será dela: o autor sou eu! Assim, teremos pelo menos seis volumes, assim distribuidos: - Volume I - Antologia da ALL, Perfis Acadêmicos – Fundadores; já publicado; - Volume II – Antologia da ALL, Perfis Acadêmicos – Primeiros Ocupantes. Este volume só será possível concluir quando as 16 cadeiras restantes foram ocupadas; na ALL – como em todas as Academias de Letras, seguindo a tradição da Academia de França – são 40 (quarenta) Cadeiras; 25 (vinte e cinco) preenchidas no momento da fundação, restando 15 a serem complementadas, destas, sete já têm os primeiros ocupantes; e já tivemos o falecimento de um dos fundadores... Os volumes seguintes foram trabalho independente, como já dito, sendo: - Volume V – Mulheres de Atenas – volume destinado apenas às literatas – exigencia das senhoras Confreiras, que desejam estar em destaque; não é um movimento separatista, pelo menos de parte do sexo masculino da ALL, mas como com elas não se discute... como são poucas, em relação aos homens, em um unico volume estarão aquelas ligadas à ALL, e a outras instituições/movimentos, nascidas ou não em São Luis, mas com sua vida literária ligada à cidade... Já disponibilizado - Volume III – Os Ludovicenses – uma antologia, que abriga literatos nascidos em São Luís, e que não pertencem aos quadros da ALL, até a década de 1930; já publicado - Volume IV – Os Atenienses – literatos nascidos em São Luis que fazem dos movimentos literários que se formaram na cidade, principalmente a partir da década de 30, século passado, até o momento atual. - Volume VI – Alhures – volume dedicado àqueles literatos ligados à cidade de São Luís, mas que não nasceram nela... mesmo assim, Atenienses... o volume atual Uma advertencia: “Escrevi para aprender”1. Não é livro de historiador; não há pesquisa inédita nos arquivos. Não há conclusões ou interpretações inovadoras. Não se pretendeu ser original. Para a construção2, constituíram-se em importantes fontes as publicações biográficas promovidas por 1

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MONTANELLI, Indro. HISTÓRIA DE ROMA. Citado por DORIA, Pedro. 1565 – ENQUANTO O BRASIL NASCIA – a aventura de portugueses, franceses, índios e negros na fundação do País. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012, p. 18 SILVA, Franklin Lopes. Literatura, Política, e Pessoalidade: lógicas cruzadas de atuação no espaço intelectual maranhense (1945-1964). Síntese de monografia de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Maranhão.


instituições dedicadas à consagração de personagens que se destacaram no cenário “intelectual” maranhense, como a Academia Maranhense de Letras (AML) e o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM). Buscou-se mesmo, nas obras citadas as informações necessárias, assim como se utilizou amplamente das ferramentas de busca disponíveis na ‘nuvem’. Além destes, recolhi informações de biografias, livros de memórias, prefácios, antologias, sitios particulares ou institucionais, entrevistas, materiais produzidos pelos movimentos culturais de que participaram e alguns trabalhos acadêmicos que nos auxiliaram no mapeamento e caracterização historiográfica do período em pauta e no conhecimento dos “pares geracionais”. Sempre indicando a fonte, de quem se usou o “copiar/colar”; ou os depoimentos, recebidos através do correio eletrônico. A originalidade está na abordagem...

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ Cadeira 21 – ALL Cadeira 40 – IHGM Cadeira 92 - APB


SUMÁRIO Expediente Apresentação - Leopoldo Gil Dulcio Vaz Sumário ALGUNS ATENIENSES... ADAILTON MEDEIROS ALBERICO CARNEIRO ALEX BRASIL AMIZAEL GOMES DA SILVA ANTÔNIO AYLTON SANTOS SILVA ANTONIO MOYSÉS NETO AUGUSTO CESAR RIBEIRO ROCHA BERNARDO COELHO DE ALMEIDA CHAGAS VAL CLÓVIS RAMOS CUNHA SANTOS FILHO EDMILSON COSTA ELOY COELHO NETTO

FRANCISCO DE ASSIS CARVALHO DA SILVA JUNIOR IGNACIO MOURÃO RANGEL JAMERSON LEMOS JOÃO BATISTA GOMES DO LAGO JOÃO BATISTA LOPES BOGÉA JOMAR MORAES JOSÉ FRANCISCO DAS CHAGAS JOSÉ MARCELO SILVEIRA JOSÉ NERES JOSÉ SARNEY LUIZ MORAES MANOEL CAETANO BANDEIRA DE MELLO MANUEL LOPES MARCO POLO HAICKEL MORANNO PORTELA NEIVA MOREIRA OLIVEIRA ROMA PAULO ROBERTO GOMES LEITE VIEIRA PERGENTINO HOLLANDA QUINCAS VILANETO RAIMUNDO FONTENELE RINALDO DE FERNANDES RONNALD KELPS SALGADO MARANHÃO VALDELINO CÉCIO

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ALGUNS ATENIENSES.. .


ADAILTON MEDEIROS3

Nasceu em Caxias, Maranhão, em 16 de julho de 1938 e faleceu a 09 de fevereiro de 2010. Estudou jornalismo em Niterói, Rio de Janeiro., e depois mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Adailton, poeta no superior sentido da palavra, poeta criativo, inserido na modernidade, vindo da Vanguarda chamada Práxis, surgida no ano de 1962. Como salienta Assis Brasil no seu utilíssimo Vocabulário técnico de literatura (Edições de Ouro, 1970), aquele movimento inovador, inaugurado por Mário Chamie, constituiu com o Concretismo de 1956 e o Poema-Processo (1967). os “três movimentos de Vanguarda no Brasil” (p. 172-173) A sua evolução poética não o limitou ao praxismo. As vanguardas são válidas, porém passam. Deixam lições, processos novos de poeticidade e, no final, seus adeptos mudam de rumo em direção aa seus próprios caminhos, ou seja, procuram uma poesia que atenda ao valor da palavra, do verso e do discurso, mas, na geral, as marcas espácio-gráficas parecem insinuar-se nas novas formas da produção poética. A sintaxe e o espaço livre da página, a extensão das linhas do verso, alguns recursos grafemáticos voltam a integrar os novos processos, técnicas, dicções e vozes da poesia contemporânea, nacional ou universal. Adaílton Medeiros deixou 9 obras, 5 no gênero poético e 4 distribuídas em ficção, uma novela Revoltoso Ribamar Palmeira (Rio de Janeiro: Matavalos, 1978); Braçadas de palmas (discurso), Rio de Janeiro: ACLERJ, 1981); Floração de Minas (discurso), Rio de Janeiro: AbdL, 1982); Quatro ensaios In: Samuel, Rogel.(org.). Literatura básica. Petrópolis: Vozes, 1985, v. 1. Poesia: O sol fala aos sete reis das leis das aves .Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1972; ; Cristó’ vão Cristo: Imitações.São Luís/Rio de Janeiro: Coleção Azulejo, 1976; ; Poema Ser Poética, texteoria. Rio de Janeiro: Achiamé, 1982: Lição do mundo. Rio de Janeiro, Edição. Sete, 1992; Bandeira vermelha. Rio de Janeiro: Editora Caetés, 2001. Adailton Medeiros foi jornalista, professor ( por pouco tempo) e atuou no setor privado. Essencialmente, era poeta. Pertenceu à Academia Brasileira de Literatura, Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro e Academia Caxiense de Letras, (Caxias, MA). Era sócio dos Sindicatos dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro. Pertencia à Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Academia de Letras de Uruguaiana(RS), ao Instituto Histórico e Geográfico de Uruguaiana, à Academia Internacional de Ciências Humanísticas. Membro vitalício da IWA - International Writers and Artists Association (USA).Sua poesia se encontra em antologias e periódicos nacionais e internacionais. 3

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/adailton_medeiros.html POETA CAXIENSE VIVE ABANDONADO NO RIO DE JANEIRO.

http://arimateiaazevedo.com.br/noticia/arte_e_cultura/151248


Livros de poesia: O Sol Fala aos Sete Reis das Leis das Aves e Bandeira Vermelha.

AUTO-RETRATO Diante do espelho grande do tempo sinto asco tenho ódio descubro que não sou mais menino Aos 50 anos (hoje — 16 / 7 / 88 (câncer) sábado — e sempre com medo olhando para trás e para os lados) questiono-me (lagarto sem rabo): — como deve ser bom nascer crescer envelhecer e morrer Diante do espelho grande na porta (o nascido no jirau: meu nobre catre) choro-me: feto asno velhote pétreo ser incomunicável sem qualquer detalhe que eu goste (Um espermatozóide feio e raquítico) Como nas cartas do tarô onde me leio — eis-me aqui espelho grande quebrado ao meio

EXÍLIO DELE NAS URUBUGUÁIAS exilAdo nas urubuguáias boi serapião do buriti corre nos cerrAdos e grotões tal marruá de tamAnca e reza andarilho sem odres de couro um patori desaplumbeAdo na travessia das grAndes estórias construindo em sete mil dias Dios um antropomOrfa como o veAdo do mistéRio de gelos e vinhos tintos ou o carCará castrAdo vindo dos salEs noturnos furnicAdo de marinhas O SINO O sino batedentro de mim O sino tocana Catedralou no Mosteiro O sino soasurdo por mim


ADIEL TITO DE FIGUEIREDO

Nasceu no dia 01-02-1921, na cidade de Cabedelo - Paraíba. Desde sua mocidade escolheu São Luís como sua segunda cidade. Formado em Teologia e Filosofia. Pastor Jubilado da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Cinco livros publicados.

NA PRAIA

Nesta noite, passeando nesta praia, Passarela de amor e psiquê, As ondas parecem renda de cambraia, E esta praia me relembra só você. E com você eu nadava lado a lado, E era para mim bela sereia. E quando nosso corpo já cansado, íamos descansar na branca areia. O tempo... Ah!... Faz tantos anos!... O destino um do outro separou, Deixando-nos muitos muitos desenganos. Em um mundo repleto de ilusão, E neste palco de um amor que já passou, Curto saudade, tristeza e solidão.

LATINIDADE: I COLETÂNEA POÉTICA DA SOCIEDDE DE CULTURA LATINA DO ESTADO DO MARANHÃO. Dilercy Adler, org. São Luis: Estação Produções Ltda, 1998. 108 p. Capa: Carranca – Fonte do Ribeirão – São Luís – Maranhão – Brasil Ex. bibl. Antonio Miranda


ALBERICO CARNEIRO

Primeira Cruz,15 de maio de 1945 Viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado, é uma figura representativa para o Maranhão atual. Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento Cultural e Literário do JORNAL PEQUENO. As Damas Negras em Noite de Núpcias 1

talvez um poema seja simples sobra de palavras impronunciadas por pessoas na inútil BabeI da fala mas impressas como em tábuas da sarça do Verbo em chamas nessa partida de Damas Negras em Noite de Núpcias que num lance de dados e de dedos o acaso não abolirá

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talvez um poema seja simples poeira de palavras projetadas de pessoas imprimidas como trevas bem no coração da névoa que acaso num lance de dedos e dados como silhuetas que se projetam como penumbra esfumada que o acaso não abolirá

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talvez um poema seja simples sombras de pessoas transformadas em palavras silhuetas tatuagendadas por invisíveis carimbos que explodem na claridade a pista de rastros e restos de cacos caos e resíduos do simulacro das lágrimas mumificadas em larvas de adeuses e últimos gestos salvo após o rescaldo em caligramas e símbolos


que de súbito num lance de dedos e de dados o acaso não abolirá 4

talvez um poema seja simples escombros de palavras projetadas de pessoas balbuciados pedaços de silêncios e silícios de gritos amordaçados silenciosos ideogramas gritos dos olhos dos mudos barulho de dedos dos surdos o supertato dos cegos na visão dos surdomudos aprisionados em páginas imagens anônimas das almas mensagens psicografadas na comunhão dos sentidos que num lance de dados e de dedos o acaso não abolirá

5 talvez um poema seja simples sobra de palavras projeção de suas sombras ou o espectro de suas auras que da escassez ou da falta ingressam na noite e tombam no elíptico canto deságuam no despenhadeiro da ascensão que por um lance de dados e de dedos acaso não abolirá 6 talvez um poema seja simples sobras de palavras impronunciadas por pessoas projetadas como sombras tatuagendadas na pele tangenciadas na neve com impressões digitais silhuetas que despreendem oscilam dos corpos e tombam num lance de dados e dedos que o acaso não abolirá 7 talvez um poema seja simples sobras de pessoas encantadas em palavras projetadas como sombras tatuagendadas incisões como impressões digitais de cicatrizes em ronda que se despreendem da pele oscilam dos corpos e tombam num lance de dedos e dados que o acaso não apagará 8 talvez um poema seja somente sombras de palavras pó que despreende dos corpos como poeira de estrelas


que viola a gravidade do Cosmo e telescópios e foge de apelos celestes viaja a mil anos-luz e à noite poleniza as folhas em suas densas carolas e no coração das trevas inscreve-se em simples larva e deixa aí manuscrito todo o poema da Terra que nos charcos enfim enfloresce como num lance de dedos e de dados que o acaso não abolirá 9 talvez um poema assim seja simples como sombras de palavras simples silhuetas ímpares de simples pessoas pares anônimo canto dos parias que no caminho meio desta vida entre lances de dedos e de dados como as Damas súbitas da partida o acaso não abolirá talvez o poema assim seja (As Damas Negras em Noite de Núpcias/1994)

Poeta e romancista, editor do suplemento Guesa Errante, Suplemento Cultural e Literário do JORNAL PEQUENO. “Alberico Carneiro chega ao seleto clube dos sexagenários com uma invejável bagagem de trabalho em prol da cultura e da educação maranhense. Este admirável poeta e professor, que nasceu em Primeira Cruz, no dia 15 de maio de 1945, e viveu a infância no Arquipélago de Farol de Sant‘Ana, no litoral oriental do Estado, é hoje, assim do alto de seus 60 anos de vida útil, uma figura representativa para o Maranhão atual.” Manoel Santos Neto

O CANTO a morte chega e diz: stop! e o canto avança no seu galope. o corpo tomba. O invólucro não soma é o canto em ascese do seu própria soma. que a morte é sempre pretérita ao canto, quando ela gera seu assédio e espanto. de Edgar Allan Poe, Villon ou Pope a morte é antes, que o canto é izope e salta adiante no seu galope.

Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda, publicada em outubro de 2008. Ampliada em outubro de l2019


ALEX BRASIL4

ALSENOR DUAILIBE GARCIA Codó, 28 de dezembro de 1954 Alex Brasil |Codó/MA, 28/12/1954|. Poeta, contista, jornalista, publicitário e compositor brasileiro. Membro da Academia Maranhense de Letras. É o autor de duas dezenas de livros, entre eles Planeta Vermelho (São Luís: Sioge, 1979), Crianças do Apocalipse (São Luís: Sioge, 1986), Ilha Verde (São Luís: Gráfica Escolar, 1995), Todas as Estações (São Luís: Unigraf, 2003) e Último sol Nascente (São Luís: Lithograf, 2012). O poeta, publicitário, é autor de duas dezenas de livros de poesia, contos, etc. Ci "Fi "Lização5 A igreja está morta, e os vermes se multiplicam sobre seu cadáver. Deus está sendo cuspido no Oriente Médio, na Índia, no Irã, na boca do Papa, nas Américas humilhadas por caciques de quepe e fuzil. Está surgindo uma nova era de gerações sem causa, sem destino, acorrentadas e tangidas por capitalistas tiranos; por falsos profetas... Está surgindo a era em que morrerão as baleias e os humanos, e serão poucos, muito poucos o verde e os poetas. (Idade do Ouro Negro,1980) Boiada Por que ficamos calados Passivos Submissos, cabisbaixos, fingindo que amanhã vai melhorar? Acreditando nas estatísticas furadas, nos iludindo com discursos mentirosos com propagandas inventadas? – Eu, "porque não quero a violência", assim digo, mentindo a mim mesmo, porque meus motivos são outros, 4 5

BRASIL, Assis. A POESIA MARANHENSE DO SECULO XX. Rio de Janeiro: IMAGO; São Luis: SIOGE, 1994. MIRANDA, Zenilton de Jesus Gayoso. BLOG DO ANTONIO MIRANDA. Matéria publicada no Suplemento Cultural e Literário JP Guesa Errante. Página publicada em outubro de 2008. Disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/alex_brasil.html , acessado em 25/04/2014


que escondo a todo preço. Você "porque o sangue não compensa", assim, diz, sujando a consciência em segredo, pois seu verdadeiro motivo é o medo... Os nordestinos, porque culpam a chuva, onde depositam todas suas esperanças, dizem, enquanto escondem os rostos em procissão, enterrando suas crianças. Do Oiapoque ao Chuí, cada brasileiro tem sua desculpa para suportar a podridão em que a pátria se afoga. Fingimos que há uma bandeira, uma causa, que nos une na inanição, no martírio, na dor, na humilhação na vergonha, no pavor... E, como boiadas nordestinadas, nos deixamos tanger, chicoteados por tiranos nos levando a lugar nenhum, nos alimentando de enganos, enquanto definhamos, morrendo um a um... ............................................ (Inferno Verde,1983) O grito silencioso Há uma agonia na sombra do poder. Há uma sombra querendo gritar sem poder. Existe um submundo, uma subvida, um extrato do extrato-viver na sombra do poder. São rostos assustados, corpos alquebrados, mentes tímidas com medo dos próprios passos sem caminhos próprios a trilhar. Passamos por eles e não vemos. Se nos falam, esquecemos. Se gritam, não ouvimos. Estão sempre em busca da luz, mas nunca alcançam o sol. Eles são apenas uma massa disforme, uma mancha além dos nossos muros, algo inaudível, brumoso; aquilo que chamamos povo, que apenas sofre, sofre e sofre e não ouvimos o seu grito silencioso. (Brasil, Não Chore Mais, 1985) Razões do Coração Meu coração de Adão, caído diante da serpente. Meu coração de rei Davi, por Bate-Seba batendo cegamente, surrealista como o de Salvador Dali.


Meu coração de Orfeu, no inferno por Eurídice. Meu coração de Prometeu, irmão dos fracos, maldito filho de Zeus. Meu coração de Camille Claudel, morrendo enlouquecido de amor na mesma dor de Julieta e Romeu. Meu coração de Madame Bovary, amante, sem juízo, selvagem como o de Peri, egoísta como o de Narciso... Ah, esse coração sem razão, cheio de suas razões, suicida feito zangão, escravo de todas as tentações. Ah, esse coração de Dom Quixote, desvairado e insensato, que vive na morte, que justifica todos os atos... Ah, aonde me levas, coração – Esteta Escrevo com fúria: pedem moderação. Escrevo sem mesura: pedem contenção. Escrevo alucinadamente, rimando desmetrificadamente uma curva com uma reta, o caos da chuva com a retidão da seta o zero com o infinito, o silêncio com o grito... E me repreende o esteta, que mais é menos na arte do poético, que o grande é pequeno na lucidez do simétrico. Enquanto isso a vida berra, a ferida sangra, o mundo é uma guerra girando em corda-bamba; o coração é um paradoxo, em louca arritmia, e o mundo não tem nexo, assim como a minha poesia. (p.57) Computador As cidades estão no computador: a praça central, a igreja e a Bíblia, a delegacia, o hospital, o supermercado, o jornal ... Estão no computador: a mulher dos nossos sonhos, o imposto de renda, a informação, a arte,


as bibliotecas, os museus, a ciência a guerra e a paz, as estrelas e o átomo... O mundo, enfim, está no computador. e o homem, feito de coração e dor aquele que não se pode processar, fora do computador, onde conjugará o verbo amar? (p. 59) Labirinto ................................................... E assim, não sei se vivo ou se adormeço, se me acho ou se me perco, se me completo ou se me parto em tantos outros pedaços: quando em ti me procuro, sinto, que, quanto mais te acho, mais me faço labirinto. (p. 41) Lucidez Não consigo ver o mundo através do ópio ou de qualquer vício. Não sou passageiro da ilusão ou de qualquer artifício. Não consigo fugir na insensatez, nas miragens, falsas felicidades, em qualquer embriaguez que me proteja da realidade. Todas as fugas, embora quisesse, eu nem tentei, de tão preso que estou às garras do real absoluto, feito de vermes e dentes, devorando flores; de vida e morte em eterna luta sobre a face do mundo. Minha sensibilidade em carne viva em nervos expostos, em neurônios ardentes não repousa na quimera, nas utopias, filosofias ou religiões. Deus me fez poeta da antítese, da vida fogo-e-gelo, sem igualdade; fez-me prisioneiro das paixões que não cabem no computador, a retina fixa na realidade em eterna ebulição de ódio e amor, os olhos em torturante fixidez a ver o mundo em noite e clarão esvaindo-me o coração na mais terrível, inescapável lucidez. (pp. 49 e 51) Homem-aranha


A aranha faz a sua teia e nela não se emaranha. O homem, na teia que faz, na vida que tece em tantos caminhos que traça, de si mesmo esquece, em si mesmo se embaraça. Que coisa estranha: embora sendo instinto não se perde a aranha no seu labirinto, e o homem, tão racional, nos caminhos que sonha torna-se em si presa fatal: nos próprios sonhos se emaranha (p.53) Margens de São Luís Em tuas margens há uma flora que mais se multiplica quando uma criança chora pedindo outra palafita que a morte não demora para almas raquíticas com sarampo e catapora. Cresce em tua periferia uma cancerígena miséria antipoesia, anti-humana, por entre o mangue, por sobre a lama. Floresce em tuas margens homens desvalidos, infâncias sem pastagens, úteros poluídos... E mesmo assim, São Luís, o menino vadio, no olho da rua, teima em ser feliz diante da realidade crua, que o condena à própria sorte – esfomeado de vida só engole a morte nas tuas margens, São Luís, cemitério de crianças apodrecidas. (Meninos de São Luís/1992) Somos Par Como dois pássaros somos par. Duas vidas em compasso, dois barcos a navegar as águas da vida mar onde, se sorrimos ou sofremos, mais nós aprendemos, além de tudo, um ao outro amarSomos dois pássaros e não vivemos um sem o outro; somos par.


AMIZAEL GOMES DA SILVA

O nome e a trajetória de Amizael Gomes da Silva confunde-se com a do estado de Rondônia pelos seus feitos como cidadão e homem público. Maranhense de Bacabal, onde nasceu no dia 25 de abril de 1941, o professor Amizael radicou-se em Rondônia no começo da década de 1950, época em que o recém-criado Território Federal do Guaporé vivenciava um dos importantes ciclos econômicos de sua história, o Ciclo do Diamante, desenvolvido no rio Machado ou Gy-Paraná, e seus afluentes, o Comemoração de Floriano e Apediá, (Pimenta Bueno). Toda essa trajetória de garimpeiro de diamante e do saber, levou-o a granjear importante parcela de prestígio político junto à população. Sua carreira política começa em 1972 como vereador em Porto Velho, pela legenda da Arena, exercendo o mandato por duas legislaturas. Amizael Silva, além de político foi um dos importantes historiadores regionais, sendo autor de vários trabalhos sobre a formação histórica de Rondônia, dentre os quais destacam-se as os livros No Rastro dos Pioneiros, Amazônia Porto Velho, O Forte Príncipe da Beira, Amazônia Sarará, Conhecer Rondônia e Da Chibata ao Inferno. Ele morreu no dia 05 de março de 2003, às 6: 45h, aos 62 anos de idade, deixando um rastro de pioneirismo em sua existência de homem forte e íntegro, educador e político. Por Francisco Matias, Fonte da biografia: https://www.gentedeopiniao.com.br /

MENDES, Matias Alves; BUENO, Eunice. Síntese da Literatura de Rondônia. Capa: Orlando Zo1ghbi. Porto Velho: Genese-Top, 1984. 126 p. Ex. bibl. Antonio Miranda

João


MINHA VIDA – MEU CANTO Amizael é meu nome, Professor a profissão; Nasci por entre as palmeiras De Bacabal — Maranhão. Humanizar é o meu lema, Lealdade o meu refrão. Sou filho de pioneiros, Garimpeiro e lavrador Costurando mosquiteiros Minha mãe foi onde andou; Um irmão foi balateiro E o outro pregador. Vim para Rondônia criança, Quando ainda era Guaporé, Em uma enorme barcaça. Gente deitada ou em pé; Peito cheio de esperança, Coração cheio de fé. Aquela gente do Nordeste Fez-se ao grande matagal, Enfrentando toda peste Da floresta ou pantanal Onde tudo se investe No combate à dor e ao mal. Enfrentei ainda menino Todo sofrimento e dor; Na malária andei caindo, Neste assunto sou doutor; Jà tomei muito quinino, Remédio reparador. Já remei por muitas águas, Subi cachoeira, enfim, Andei o lombo de égua, Nas veredas dos confins, Como pacas, jamais... Do cipó retirei água, Da raiz do pau também; Da palmeira quis a alva Que ó o palmito tem Comi o fruto da sorva, Comi carne de moquém. Já via a morte de pertos, Agruras e muita dor Senti fome no deserto De Vilhena a Roncador


E ninguém passava perto Quando tudo nos faltou. Já sofri com borrachudos, Piuns e carapanãs Onde até os “barrigudos” Procuravam os socavões E o tucano bicancrudo Voava para os sertões Já morei em pé de serra, Na mata e no beiradão. Já trabalhei na taberna Sujeito a mais de um patrão Já me escondi em caverna Fugindo a grande trovão. Lutei muito no trabalho Que me era oferecido; Vender pão, cavar cascalho, Pra não me dar por vencido Cortei lenha, “quebrei galho” Como qualquer oprimido. Na roça plantei legumes, Fiz “escritas” no jornal. Da lenha tirei o lume, Tomei bacaba com sal; Um homem bom se assume, Não se assume um homem mau. Minha vida em menino Foi de grande sofrimento: Nem sempre em nossa panela Fervia o bom alimente: Da carne, feijão, pepino, Só se via o adiamento. Comi carne e fiz a boia, Tomei leite de jumenta, Já me livrei de tramoia Botei sempre pela venta, Aguentei muita pinoia Que cabra bom não aguenta. No estudo fui ardente, Tarefas dei andamento, E aprendi de repente Usar do bom argumento, Sou feliz e independente, Sem nenhum abaixamento. Da grandeza vivo longe, E tenho muitos amigos. Não me troco por um conde,


Sou do pedante inimigo. O cruel de mim se esconde Ou briga muito comigo. Eu condeno o magistrado, Que tolera a injustiça, Recrimino o soldado Que não ama a justiças. Tratantes bem disfarçados Que não querem andar na liça. O coronel atrevido, Para mim será desprezado; O civil comprometido Por mim será renegado, O covarde e fingido Por mim será esmagado. Aos que ao pobre deprimem, Dou de rijo nos costados. O sacrista não se anime, Em ter-me por aliado Pra cometer algum crime Contra o pobre enjeitado. Na defesa do amigo Leal, bondoso e decente, Vou às barbas do inimigo, Me tornando impertinente, Enfrento qualquer perigo, Derrubo qualquer patente. Amor, coragem e bonança; Moral, escola e saber, Impoluto na estrada que avança; Zêlo no mandar fazer; Arrojo contra a matança Eficiência no dizer Lealdade e segurança.


ANTÔNIO AYLTON SANTOS SILVA6

Bacabal / 29 de dezembro de 1968

GRUPO CURARE Concursos Safra 90 Naceu no município de Bacabal – MA, em 29 de dezembro de 1968. É Doutorando em Teoria da Literatura na Universidade Federal de Pernambuco-UFPE com o projeto de tese A EXPERIÊNCIA LÍRICA ENTRE O MEMORIAL E O IMPREVISÍVEL: injunções de tempo e espaço na poesia contemporânea do Maranhão. Mestre em Educação com foco em Suportes da linguagem, Cultura e Imaginário e Licenciado em Letras – Português e Francês com respectivas literaturas, pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. Fez especialização em Perspectivas Críticas da Literatura Contemporânea pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. É professor de Ensino Médio do Estado do Maranhão e tem ministrado disciplinas modulares (Teoria e Crítica Literária, Pós-Modernismo e Literatura, Semântica e Pragmática, Leitura de Poesia, Filosofia e Sociologia da Educação, na UEMA, UFMA e IESF (Instituto Superior Franciscano). Tutor à distância de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura (EaD-UFPE). Com participação em diversas antologias locais e nacionais, publicou os livros As Habitações do Minotauro (Poesia, São Luís – FUNC, 2000) e Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, São Luís – FUNC, 2003), ambos premiados em edições do “Concurso Cidade de São Luís”. Foi vencedor da categoria poesia do “Prêmios Literários Cidade do Recife”, em 2006, com o livro Os dias perambulados & outros tOrtos girassóis (Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2008).Tem poemas publicados também na Revista Poesia Sempre, organizada por Marco Luchesi (Biblioteca Nacional, 2009) e diversos artigos ensaísticos publicados no Suplemento Cultural & Literário JP Guesa Errante, do qual é colaborador. Membro da Academia Bacabalense de Letras, cadeira 08. Do contato com Antonio Ailton, mandou-me a sua biobliografia, a seguir transcrita – a que prefere: FRAGMENTOS SUBJETIVOS DE UMA BIOBIBLIOGRAFIA TRANSITADA DE MUITOS As biobibligrafias são uma tentativa de objetivação em forma de fragmentos dispersos de ação e produção, e só podem começar in media res. Começo esta de quando avistei, em certa manhã do final de 1987, o mar cinza São Luís do Maranhão. Meu destino: Escola Federal Agrotécnica [Bairro do Maracanã], na qual só passei três ou quatro meses, e logo fui “dispensado” por falta de recursos financeiros. Tornei-me insustentável para a Escola. É preciso dizer que já trazia a poesia na algibeira, de tempestades e ímpetos juvenis em BacabalMA. Apague-se um certo momento em que perambulei por prédios velhos da Praia Grande, em São Luís, sustentado por duas mulheres, uma das quais minha irmã reencontrada milagrosamente após cinco ou dez anos sem nos vermos, e à qual fiz um poema muitos anos depois (poema “SVP” - Revista Poesia Sempre, org. Marco Luchesi, 2009). 6

http://abletras.webnode.com.pt/cadeira-08-antonio-ailton/ , acessado em 25/04/2014


Sim, sujeito religioso e proveniente de um mundo mítico-telúrico-infernal (Interior da região do Mearim), fiz Teologia por quatro anos. Acho que alguns poemas de As Habitações do Minotauro (Poesia, FUNC – 2000) têm uma carga inegável de momentos de conflito bruto de um sujeito religiosamente desordenado. Quero deixar claro que isso não explica o livro nem implica biografismo literário. São vivências. Há um poema significativo e que incrivelmente chama-se BIOBIBLIOGRAFIA (eu acabara de descobrir a roda desta palavra, naquele momento). Eu o tirei da gaveta em 1993, para participar do IX Festival de Poesia Falada da UFMA, algo, para mim extraordinário, pois participava da comissão julgadora ninguém menos que José Chagas, de quem eu havia lido o extraordinário Os Canhões do Silêncio (1979, capa azul). O Festival aconteceu no Auditório Central da UFMA, e eu recebi o terceiro lugar. Ora, para um ser anódino aquilo foi o máximo. Mas penso que o maior de todos os ganhos foi conhecer vários outros poetas iniciantes e começar a poder integrar-me na vida literária da cidade. Fui convidado pelo poeta Altemar Lima para participar de um grupo dali remanescente, o quase efêmero Sociedade dos Poetas Vivos – mais Edmundo, Kleber Leite, Anne Glauce... Chegamos a fazer recitais e dar entrevistas na Rádio Universidade. Que fim levamos?... O Palacete Gentil Braga e seus Festivais de Poesia Falada passou a ser nossa casa (vide antologias desses festivais) de encontros e lembrança de poesia, naquele período. No XI Festival cheguei a receber segundo lugar pelo Poema-Fato ou Fenômeno, interpretado magnificamente por Sandra Cordeiro. “Nossa casa”, digo, porque então já me integrara num círculo de amigos poetas e visionários, dos quais falarei. Entre uma coisa e outra, sempre tive amizade e o estímulo do poeta visionário Eudes de Sousa, que me levava às reuniões da já ancestral Associação Maranhense de Escritores, da qual ele era quixotescamente o eterno presidente. Conheci através dele e nas últimas reuniões dessa Associação poetas como Jorge Nascimento, Jose Maria Nascimento, e Nauro Machado, que ainda vi comparecer a uma ou duas dessas reuniões (de quem não tinha coragem de me aproximar direito e que era, para mim, a encarnação poética da cidade, com seus bares e becos), além da jovem poeta Rosemary Rego. Sim, bebemos muito. Na mesma época, conheci o incansável Alberico Carneiro, que era então Editor do Suplemento Vagalume, publicado pelo SIOGE-MA. O Vagalume foi para mim o contato mais fundamental para a poesia que se fazia no Maranhão naquele momento, e para a admiração minha dos nossos grandes ícones, experientes, novos e novíssimos, a quem Alberico sempre soube valorizar e divulgar. A poesia noturna era recitada pelo grupo Poeme-se, Paulo Melo Sousa, Riba, Antonio Carlos Alvim Filho, Cláudio Terças, Elício Pacifico, Rosa... Paulo Melo também promovia oficinas de poesias, de algumas das quais participou o poeta Dyl Pires. A confluência de grupos e festivais levou-me à companhia e à verdadeira amizade de poetas com os quais depois, somados mais alguns, formaríamos o Grupo Curare de Poesia. O Eudes de Sousa, num de seus projetos na Biblioteca Central, em que me parece só comparecemos três ou quatro, apresentou-me o Hagamenon de Jesus, poeta ludovicense que estava voltando de uma temporada em Brasília. Depois conheci outros: Bioque Mesito (à época, Fábio Henrique), Dyl Pires, Ricardo Leão (à época, Ricardo André), Natan, Marco Pólo Haickel, Jorgeane Braga, Judith Coelho, Rosemary Rego, César Willian, Couto Correa, Gilberto Goiabeira, Dylson Júnior, em cuja casa, no Calhau, passamos a nos reunir. Mulheres poucas para o grupo, queríamos mais. Acho que a morena Itapari andou aparecendo. Muita gente da Antologia Safra 90 (SECMA, 1996). Aliás, por conta dessa Antologia houve um almoço promovido pela Secretaria de Cultura do Maranhão no Calhau, Wilson Martins parece-me, era o nosso anfitrião no almoço, o qual serviu para consolidar e aproximar mais o grupo – descalços depois, ao léu da tarde nas areias espumadas do Calhau, em busca de um bar, e poesia. O Curso de Letras rendeu outras confluências: Karina Mualen, Ilza Cutrim, Jô Dantas, Lindalva Barros, Dino Cavalcante e José Neres, este sobretudo, que eram da turma de Ricardo Martins. Recitávamos e cantávamos nos encontros de Letras Maranhão e Brasil a fora. Substituí (junto com Manoel Rosa Gomes) Dino Cavalcante na presidência do Diretório Acadêmico de Letras por dois mandatos ou quatro anos. A diferença política essencial é que Dino nunca aprendeu o caminho do Bambu Bar, no Sá Viana, batismo sagrado dos estudantes da UFMA, à época. Ascensão total do reggae nas calouradas e em São Luís do Maranhão. Escrevi Carta a Madré 2º Pacote num dia de solidão e angústia DA de Letras da UFMA. Eu estava morando na “Casa de Estudante Universitário do Maranhão – CEUMA”, na Rua São Pantaleão 198. Eu, e só eu: bagaceira. Por essa época, recebi um prêmio da Aliança Francesa, o Premier Prix - Concours "Brésil, Terre Latine", Alliance Française/UFMA/Academia Maranhense de Letras.


O Curare planejava o lançamento de uma revista com poesia de qualidade, a Sygnos, a cujo nome Hagamenon sugeriu acrescentar “.doc” [Sygnos.doc] porque sugeriria algo de bastante “atual”, na época. Embora, parece-me, o nome do grupo como da revista tenha surgido das ideias de Dyl e Ricardo, é preciso dizer que o grupo não se estabeleceu em torno destes, mas do poeta Hagamenon de Jesus. Em contraste com o espírito vívido e alegre, mas corrosivo e irônico [quase sarcástico, diríamos] do Dyl e a inteligência declaradamente prepotente de Ricardo [fora o fato de que este só bebia refrigerante e não comia nem um fruto do mar], o esteio desse grupo foi sempre a figura do poeta Hagamenon de Jesus, mais equilibrado e carismático, e a cujo olhar crítico confiávamos muitos de nossos poemas ou textos. Basta ver os prefácios dos nossos primeiros livros. O Curare se desfez, mas o seu espírito ficou. Curare: um veneno, ou um espírito. Passamos a nos reunir todo domingo na casa de um dos poetas amigos e finalmente os domingos passaram aos almoços na casa de “Seu” Gojoba (jornalista – responsável pelo Tribuna do Nordeste) e Dona Graça, sua esposa e nossa mãe. Acrescentaram-se os poetas Samarone Marinho e Mauro Ciro (Grupo Carranca), filho de Gojoba. Sem podermos levar adiante os projetos do grupo por pura falta de grana e apoio, passamos a torcer pelos sucessos individuais. Ricardo e Bioque receberam prêmios dos concursos de poesia da Xerox do Brasil, e tiveram seus livros publicados. Dyl, que já ganhara o primeiro lugar no 12º Festival de Poesia Falada da UFMA, recebeu o Prêmio Sousândrade, “Concursos Cidade de São Luís”, com Círculo das Pálpebras (1998), eu recebi o mesmo prêmio por Habitações do Minotauro, no ano seguinte, e também em 2002, com Humanologia do eterno empenho: Conflito e movimento trágicos em A travessia do Ródano de Nauro Machado (Ensaio, FUNC – 2003), ensaio resultante da monografia de graduação em Letras. Posso dizer que ainda é também espírito Curare o Prêmio Sousândrade de 2007, de Bioque, com o anticópia dos placebos existenciais (FUNC, 2008) e a publicação de The Problem e/ou os poemas da transição, de Hagamenon de Jesus (Edição do autor, 2002). A propósito, este livro é o resultado, quase um recado programático, de muito do que Hagamenon vinha conversando conosco sobre questões de linguagem poética e a necessidade de um repertório metafórico de representação do nosso momento, da cultura urbana. Em 2006, fui vencedor do Prêmio Eugênio Coimbra Júnior, categoria poesia do “Prêmios Literários Cidade do Recife”, um importante prêmio nacional, naquele momento, e que já houvera premiado dois maranhenses: José Maria Nascimento, em 1976(?), e Couto Corrêa Filho, em 2005. Meu livro Os dias perambulados & outros tortos girassóis foi publicado então pela Fundação de Cultura Cidade do Recife em 2008. Também em 2006 fui gentilmente aceito para cadeira 08 da Academia Bacabalense de Letras, patroneada pelo Pe. Carvalho e deixada em vacância pelo falecimento do poeta Eduardo Freitas. Fomos lá, uma cambada de poetas participar da festa. Em 2008, fiz especialização em Perspectivas Críticas da Literatura Contemporânea, pela Universidade Federal do Maranhão. Também no mesmo ano iniciei Mestrado em Educação, terminando em 2011 com a dissertação JANELAS DO CONTAR [NA MICROSSÉRIE HOJE É DIA DE MARIA]: Atravessando os limiares entre imagem e educação, narrativa e vida. Não poderia deixar de citar meu trabalho de parceria com Alberico Carneiro, um intelectual que merece admiração e respeito, além de uma amizade verdadeira, na minha colaboração com o Suplemento Literário & Cultural JP Guesa Errante, desde 2007.

Em 2013 iniciei Doutorado em Teoria da Literatura na Universidade Federal de PernambucoUFPE, com o projeto de tese A EXPERIÊNCIA LÍRICA ENTRE O MEMORIAL E O IMPREVISÍVEL: injunções de tempo e espaço na poesia contemporânea do Maranhão. IDADE DOS METAIS Ao amanhecer por entre as ruas o sol tropeçou em dois cadávares. Sombras da noite inoxidável, a catadora de latinhas tem mais coisas a fazer. Chagas Val Bioque Mesito Bruno Azevedo Felipe Magno Silva Pires


O JARDIM DE PO CHÜ-YI Dizem aí que Fulano é um grande poeta que tem estilo, e até consegue imitar a si mesmo, para conservar sua marca Que é como Picasso depois de Les Demoiselles Quanto a mim, sei que meu pequeno jardim não é como o das grandes casas de portões vermelhos dos poetas que olham desdenhosos o outro lado do bulevar Não é como os planejados para a entrada dos grandes colégios nem como os que embelezam ainda mais os fluxos do sol que rebatem nas vitrines das grandes empresas Em meu pequeno jardim, eu sei, há flores grandes e minúsculas, coloridas e tristes, às vezes perfumadas e há também flores falsas como é natural das plantas flores enjambradas e ervas daninhas que tenho preguiça de tirar, ou não sei como então deixo aos poucos amigos quando vêm beber vinho olharem e dizer: “ô, isso cresceu aí...”, e respondo: “foi mesmo...” Então vamos beber um pouco mais de vinho, e aponto uma velha espreguiçadeira herdada de Po Chü-yi poeta mais sábio que todos nós juntos, e que após ouvir o alaúde perguntava: “Por que suspirar por grandes terraços, açudes quando um pequeno jardim é tudo quanto basta?” [tempo TEMPO e caramujo], inédito. BIOBIBLIOGRAFIA7 Hoje mesmo me declaro o empréstimo, também o pó. E a cinza do Holocausto. Criatura do Deus-em-favor-dos-outros, imagem e semelhança dos livros que li, os quais em todos os poemas são a expressão do gozo supremo de meu pai, ao transmitir as dores da mãe que me teve com a sabedoria hebraica das parteiras. Pode-se dizer de minha palavra que sou outro do outro que não se possui. Fica o dito pelo não dito.

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Caro Leopoldo, finalmente envio a lista DEFINITIVA dos poemas para a preciosa antologia que estás montando. Estive na correria estes dias, daí o atraso, mas espero que a tempo, pois sei do teu cuidado em agilizar o que realmente precisa ser agilizado. A montagem desses poemas segue criteriosamente meu percurso literário, e espero que me te agrade. Do livro AS HABITAÇÕES DO MINOTURO (FUNC, 2000)/Antologia Poética do XV Festival de Poesia Falada do Norte e Nordeste (UFS, 1996)


PRAIA GRANDE, In memoriam8 Cada um dos que passeiam arrisca uma saída na ironia insuportável das estradas o feliz, a praça o traído, a taça o saudoso, a traça o poeta, o poema aceso nas paredes azulíricas... Metafísico, o destino se aproxima do Teatro marcando em compassos o suicídio das estrelas tic tac tics glub A história e o sangue tornando-se um só corpo sem retrocesso. E quem tentar fugir da cópula Terá sua identidade estraçalhada entre as pedras, entre as pernas. A RECLUSA9 todos os dias, a reclusa olhava pela fresta da janela e, tecendo o seu tricô, não se importava se os poetas cantam para dentro ou para fora ESCRITOS ALEATÓRIOS PARA MASCARAS E INCERTEZAS 10 [6]

Flor é a palavra flor, não por dizer, mas por silenciar Flor é o crisântemo aceso, aguardando com ansiedade a visitante tardia Flor é o bicho de Lígia Clark quando você toca e ele se abre Flor é a orelha decepada de tuas obsessões psicossexuais derramando girassóis no ocaso para espantar os últimos corvos (há sempre relações possíveis entre flores e navalhas) Flor: rã de Patrick Süssekind na vulvinha virgem da próxima vítima engolindo insetos e aspirando o hálito ainda quente de um perfume desconhecido

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Do livro AS HABITAÇÕES DO MINOTURO (FUNC, 2000)/Antologia Poética do XV Festival de Poesia Falada do Norte e Nordeste (UFS, 1996) 9 Do livro OS DIAS PERAMBULADOS & OUTROS TORTOS GIRASSÓIS (Fundação Cultural do Recife, 2008) 10 Do livro OS DIAS PERAMBULADOS & OUTROS TORTOS GIRASSÓIS (Fundação Cultural do Recife, 2008)


Há flores que nascem no estrume das feiras livres de Paris Mas não exagere em arte conceitual, chá de papoula é natureza morta pintada de amarelo

O MOINHO DE ARISTÓTELES11 O movimento endurece, passam as mães passam as irmãs passam as amadas as guimbas da primavera e as floradas de frieira nos pés do inverno O eterno é a regra ou a frieza? Eu o misógeno o insólito amarrador de roupas “aonde vais, blusa arrastada na ausência demasiada?...” Descubro agora ó forma louca ápice do meu movimento que me fixei aos moinhos de vento

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De Compulsão Agridoce [Dezlises para o livro imperfeito] – Inédito


ANTONIO MOYSÉS NETO12

Vitória do Mearim, 08 de agosto de 1946 Grupo da Rua Candido Ribeiro

GERAÇÃO HORA DE GUARNICÊ / ANOS 1970 Poeta, ocupante da cadeira nº 01 da Academia Arariense-Vitoriense de Letras – AVL. Filho de Miguel Moysés da Silva e de Valdemira Marinho da Silva (D. Lolinho, como é conhecida). ExVereador pela Câmara Municipal desta cidade (período de 1973 a 1977) destacou-se como excelente orador. Formado em Geografia pela Universidade Federal do Maranhão, da qual foi professor de Metodologia Científica, Biogeografia, Climatologia e Planejamento Regional. Foi diretor de Recursos Hídricos e Coordenador da Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Maranhão. Aos 12 anos de idade, escreveu um longo e expressivo poema intitulado A Barca para celebrar o ir-e-vir das lanchas que navegavam pelo rio Mearim. Em 1975 participou da antologia poética Hora de Guarnicê, juntamente com mais trezes poetas maranhenses, cuja obra “marcou um fato de grande importância, constituindo a afirmação das tradições literárias de nossa terra, renovadas pela inteligência da juventude”, na observação do escritor Carlos Cunha. Em 1977 publicou o livro intitulado Os Tamancos do Vaqueiro (Gráfica São José, São Luís-MA.) obra em que o poeta obedeceu a mesma estrutura formal dos poemas coligidos em Hora de Guarnicê. Arlete Nogueira da Cruz, no livro intitulado A Atual Poesia do Maranhão (Gráfica Olímpica Editora Ltda, Rio da Janeiro, 1976), analisando os poetas da antologia Hora de Guarnicê afirmanos que Antonio Moysés é “o poeta da esperança falida” ou o “vendedor de vendavais”. Na verdade, Antonio Moysés é o poeta da insatisfação coletiva, o cantor de um mundo de “rústicos deuses-humanos”, de “mutações, canhões de guerra, de aviões, bombas, de blindados tanques”, mundo desumano e cruel, onde os menos favorecidos e injustiçados vivem a se alimenta “às custas do resto que sobrou da super-consumação”. Da geração dos poetas de Hora de Guarnicê, Antonio Moysés é a voz mais grave do período de repressão instituído pelo golpe militar de 64, que ele vivenciou como estudante universitário. Em sua poesia busca “entre os espinhos” deste “mundo profano” o “fruto do renascer”, apontando sempre para as vertentes da esperança. A sua poesia, desintegrada do ponto vista formal, é construída sob o rigor de um vocabulário metafórico incontrariável, apresentando um verniz de relevante consistência. Musicalidade e ritmo são dois elementos utilizados na elaboração do seu discurso, através do qual indaga ou reflete sobre os anseios e as contradições da existência humana.

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COELHO, Carlos Alberto Lima. Blog. Disponível em http://www.limacoelho.jor.br/index.php/O-vendedor-devendavais/ , acessado em 24/04/2014


Infelizmente, Antonio Moysés não deu prosseguimento ao ofício poético ou a qualquer atividade ligada à literatura, deixando um vazio na expectativa de quem acreditava ser este poeta uma promessa feliz para o violento e conturbado mundo de misérias em que vivemos. CANTO DE UMA SOMBRA QUE PASTA Morte e não vida Para Maria do Nada Que ontem fugiu Para longe Dos meus olhos… O beijo do cão Que amortalha Um rosto amigo… Deve respirar Pela boca fria Do infeliz - que pasta saudades… Vejo… Os galhos Nutrindo esperanças “que já morreram tantas vezes” nos verdugos de mina vingança… Déspota… Que arrulha Nos tetos Da humilhação febril Deve chorar sua dor Quando… Os loucos funerais Passarem cantando mortalhas… Um rico matou Minha namorada Com uma palavra E castigou meu irmão Com um salário de misérias… Que covardia… Que fadiga impura… “Morram os ricos” E vivam os pássaros Dos vales da saudade. (Antologia Hora de Guarnicê. 1975) DÚVIDAS … E partiram o pão amargo, do espinho brotaram afrontas… das rosas restaram esperanças e nos caminhos ficaram marcas de suor… PIEDADE… Parada na boca do antagonismo E o animal pede trabalho. A mãe fecunda no ventre


O feto proibido! Formas absurdas Nas grutas de satanás. Restos humanos Exorcizando a fome No terceiro mundo! Nas caladas da noite… Vozes agonizantes! (cadeira elétrica/ câmara de gás/ PAREDÃO DE FUZILAMENTO/ Rajadas de metralhadora E o ORIENTE MÉDIO chora!…) …E onde estão os homens? (Os tamancos do Vaqueiro. Tip. São José.1976)

MORRE O POETA ANTONIO MOYSES O VITORIENSE ANTÔNIO MOYSES DA SILVA NETO: POETA, PROFESSOR, TÉCNICO E POLÍTICO Texto: Washington Cantanhêde http://avl-academiadeletras.blogspot.com/2018/04/morre-o-poetaantonio-moyses.html Nascido na cidade de Vitória do Mearim a 8 de agosto de 1946, Antonio Moyses da Silva Neto, fundador e ocupante da Cadeira nº 1 da Academia Arariense-Vitoriense de Letras - AVL (patrona: professora Ana Bogea Gonçalves), faleceu e foi sepultado em 6 de abril de 2018 – aos 71 anos de idade, portanto – após dois meses de sofrimento sob internação hospitalar em decorrência de uma pneumonia, com outras complicações ocorridas nesse período.

Os pais de Moysés, Miguel (falecido nos anos 60) e Lolinha (ao centro, parte superior)

Já não está entre nós, em matéria, o neto do libanês Antônio Moyses da Silva (que no Líbano tinha o sobrenome Moyses Abussale) e da síria Salma Bichara, radicados em Vitória do Mearim; o filho


de Miguel Moysés da Silva e Valdemira Marinho da Silva (D. Lolinha), esta pertencente à tão vasta quanto importante e antiga família Marinho; o irmão das professoras Marly e Marlene que, assim como o pai, foi importante politico na sua terra. Repousa sob a campa fria, solitário, o conhecido Professor Moyses, que lecionou Geografia em vários colégios e na maioria dos cursos pré-vestibulares de São Luís desde os anos 1970; e, licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Maranhão, foi professor desse curso da mesma instituição a partir de 1980. Deixou-nos no final da tarde deste triste 6 de abril de 2018 o técnico renomado da área de meio ambiente do Governo do Estado do Maranhão, onde exerceu importantes cargos de direção, como o de secretário executivo do Conselho Estadual do Meio Ambiente, chegando a ser secretário de estado do meio ambiente. Especialista em Planejamento e Desenvolvimento Regional e em Elaboração e Análise de Projetos, participou de várias comissões técnicas para estudo da viabilidade de implantação de projetos da área econômica no Maranhão. Reconhecido pela sua competência profissional, exerceu o cargo máximo (gerente executivo) do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente-IBAMA no Maranhão, de 20/01/1999 a 04/04/2003.

Já não podemos comprazer-nos com o sorriso largo e acolhedor e a preocupação paternal para com os amigos que caracterizavam aquele que foi vereador de Vitória do Mearim (1973/1977), dirigente partidário em sua terra, candidato a vice-prefeito em 1988, a deputado estadual em 1990 e a prefeito em 1992, sempre obtendo expressivas votações. Dói-nos sobremaneira já não podermos ouvir o poeta festejado declamando um dos seus poemas inéditos em meio a festiva confraternização com amigos e familiares, daquelas tão fartamente promovidas em sua casa.


Hoje, em nome próprio e no da Academia Arariense-Vitoriense de Letras, que com ele e vários outros vitorienses, assim como ararienses, fundamos em 29.01.2000, tive a oportunidade de dizer, publicamente, despedindo-me do conterrâneo ante o seu corpo inerte, da influência que ele exerceu sobre mim, desde quando, em meados dos anos 1970, ainda adolescente, travei contato com a sua obra, levado, que fui, a declamar publicamente alguns de seus poemas. Nunca mais o perdi de vista. Mirei-me nele como um dos exemplos a seguir na vida – o canto de vitória do menino de família humilde na capital do Estado, mercê do estudo e da obstinação. O primeiro poema de Moyses, A barca, ele o escreveu aos 12 anos de idade, celebrando o ir-e-vir das lanchas pelo Mearim. Parte de sua obra poética está em uma coletânea e no único livro que publicou, Os tamancos do vaqueiro, ambos de 1975.



Foi como membro da chamada “geração hora de guarnicê” que Antonio Moyses Neto inscreveu o seu nome na história da literatura maranhense. Aquela geração despontou no início dos anos 1970, na efervescência da ditadura militar, resultando da sua produção poética uma amostra publicada em 1975, sob a orientação do saudoso Jomar Moraes: a supracitada coletânea, intitulada Hora de Guarnicê – poesia nova do Maranhão, com poemas de Moyses, Chagas Val, Cyro Falcão, Cunha Santos Filho, Edmilson Costa, Francisco Tribuzi, Henrique Correa, João Alexandre Jr., Johão Wbaldo, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele, Rossini Correa, Valdelino Cécio e Viriato Gaspar – a maioria dos quais, como se vê, ganhou destaque no cenário cultural do Maranhão dos


anos seguintes, sendo, para além dessa importância regional, um nome nacional, hoje, o de Luís Augusto Cassas. Aquela geração marcou um momento significativo da história literária maranhense no Século XX, saudado por Josué Montelo, no prólogo da coletânea, como uma hora de assunção de compromisso dos jovens poetas com os valores de sua terra e de sua gente, até no nome escolhido para a coletânea, próprio do linguajar do folguedo do bumba-meu-boi, trazendo, assim, “a inspiração da terra, recolhida nas fontes mais profundas de sua cultura popular” e “uma mensagem de angústia, de indagação ou de intuição das horas advindas”. Moyses foi, por tudo isso, um dos mais importantes vitorienses da atualidade. Vitória do Mearim reconhece-o mais como o político de expressão local, mas o Maranhão o tem como o excelente técnico que ele mostrou ser nos cargos relevantes que ocupou, mercê do seu inegável preparo, e como um verbete da história da cultura do Estado. A sua obra continuará frutificando. E não somente porque os seus vários trabalhos inéditos reclamam a publicação que a família enlutada, de par com a Academia Arariense-Vitoriense de Letras, já anuncia que trará a lume oportunamente. Continuará dando frutos, também e principalmente, na trajetória profissional e pessoal dos filhos Miguel Antônio, Ricardo e Michele, que ele tão bem soube preparar para a vida, ao lado da sua abnegada esposa Vilma Figueiredo da Silva.

Moysés e sua irmã a professora Marly Moyses


Moysés, de chapéu e calça azul, conversa seus conterrâneos no velho Abrigo da Praça Rio Branco

Moyses ladeado pelos filhos André e Miguel

Lolinha, mãe de Moyses, ao lado do seu afilhado Paulo Tarso Barros


Que sigam a sua esposa e os seus filhos e netos norteados pelo exemplo de inspiração, competência e garra que constitui o seu maior legado! Vida assim, tão rica de significados e realizações, é também, sem dúvida, grande facho a iluminar os passos dos seus conterrâneos de Vitória do Mearim. Descanse em paz, caro amigo, conterrâneo e confrade, coparticipe do sonho da AVL, Antônio Moyses da Silva Neto! ----------------------------------------A prefeita de Vitória do Mearim, Dídima Maria Corrêa Coêlho, decretou luto oficial de 3 dias em memória do poeta, acadêmico da AVL e ex-vereador Antonio Moyses Neto.


AUGUSTO CESAR RIBEIRO ROCHA

AUGUSTO CESAR RIBEIRO ROCHA nasceu em Rosário, filho de Carlos Rabelo Rocha e Odinéia Ribeiro Rocha. Estuda Física e Letras, na Universidade Federal do Maranhão, e é autor de alguns livros inéditos, como LÁGRIMAS DA VIDA, AURORAS DE UM SONHADOR, SOMBRAS DA TARDE, RENUNCIA. Seu poema "Umbrais de Miraflores" foi selecionado para o I Festival Universitário de Poesia Falada. ABAIXO, uma biografia mais recente do autor: Augusto Cesar Ribeiro Rocha é professor de literatura, língua portuguesa e produção textual, pósgraduado em Literatura e Língua Portuguesa pela Universidade do Maranhão (UFMA), integrante do Instituto da Poesia Internacional, cronista, contista e poeta. Autor de livros como Crepúsculo das horas (Sioge, MA), Existencial de mim, Quimérico, Rumo ao sol, Além do arco-íris, Tecendo as manhãs (poesia, Scortecci Editora, SP), O que ficou no caminho (contos, Scortecci Editora, SP), Recados ao tempo em folhas de vento (poesia, Scortecci Editora, SP), Cronycontos (crônicas, Scortecci Editora, SP) e Dourando pílulas (poesia, Scortecci Editora, SP). Recebeu prêmio de publicação no V Concurso “Raimundo Correia de Poesia” (Shogun Editora – RJ), Menção Honrosa e Destaque Especial respectivamente no V e VI Concurso Nacional de Poesia (Revista Brasília, DF), e integra coletâneas nacionais expressivas, sobressaindo-se Escritores Brasileiros (Crisális Editora, RJ), Os novos poetas do Maranhão (edição da UFMA), Antologia poética 500 anos – em homenagem aos 500 anos do descobrimento do Brasil (Shan Editores, RS) e Antologia Internacional Del’Secchi (RJ), vol. XI, dentre outras. Seus textos literários procuram estabelecer pontes de harmonia entre o universo etéreo, a infância, a juventude, a maturidade e a velhice. Cada livro é uma esperança posta, uma chama que se acende, uma viagem pelos umbrais da imaginação. Fonte: https://www.scortecci.com.br http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/augusto_cesar_ribeiro_rocha.html

NOVOS POETAS DO MARANHÃO. São Luís: Edições UFMA, 1981. 79 p cm. Ex. bibl. Antonio Miranda

ilus 15 x 22


UMBRAIS DE MIRAFLORES Tributo a resistência e ao heroísmo do povo boliviano

Nos jardins de Miraflores não há graça nem fulgores nessas rosas sem essência que desfolham desamores! Nos jardins de Miraflores pastam lardos e estertores no gasganete dos horrores que deploram dissabores! Nos jardins de Miraflores a própria água é diferente tem o tom vermelho de morte e troa na foz dos gatilhos! Brota dos braços quebrados dos bravos pulsos rasgados e dos narizes arrebentados qual chafariz improvisado! Jorra dos golpes de baioneta nessas refregas encarniçadas em que párias sugam a seiva do povo e cospem opróbrios na face da liberdade! Nos jardins de Miraflores não florescem lindos sonhos como os livres sonhos do outono que floriram a minha inocência! Nos jardins de Miraflores o tempo sussurra irrisão o vento carpeia torturas nos ossos da servidão! Soldados plainam terror nas asas da devastação Mineiros perdem a razão diante da repressão! Crianças caminham encurvadas ao peso lasso da desnutrição Os parcos músculos se afrouxam ao trídulo comum da detonação! 0 solo mirrado e espúrio resgata os trapos inglórios dessa gente renitente de tez ambulante galvanizada de pátria imperfeição!


Homens fardados de presunção com os lábios ímpios de ódio desfilam garbosos nas praças ao som inufano da bajulação! 0 povo perplexo se prostra de espantos com as vísceras frustradas de violação Trilhas infaustas de sangue se encimam mas a esperança é uma abstração!!! Os olhos vítreos dos generais estão no poder assentados túrgidos de posses e ambições e não se espelham em abjurações! Nos quartéis de Miraflores como em qualquer quartel do mundo vida e morte se acasalam profanas em aviltamento e consternação! Câmaras ardentes de interrogação se estendem em subsolos fundidas pejadas de padecimento e reclamo no reduto silente da sofisticação! Nos catres noturnos vagueiam demências como nas mentes revoltas vazões espectrais Pelos corredores em pérfida peregrinação desfilam zumbis de fuzis nas mãos! Ainda hoje a pleno mastro covarde se pode ver tremeluzir solenemente do desagravo o portentoso pavilhão içado pelo acinte de uma revolução! Por todo lado ha corpos suados lutando por um pedacinho de chão gritos lascivos de sobrevivência nesses milhões de barrigas sem pão! Toda manhã o sol arrepiado reponta os campos infestos de fome despertam os pastos de verde lânguido empestam os pássaros responsos padecem! As ósculas gotas do orvalho imbuídas de suma ironia tradicional parecem querer despertar a florzinha perdida resposta na cova esquecida de um injustiçado! Janelas e pórticos se lacram presídios em gala se alargam cala-se à bala a voz da imprensa e das universidades!


No entanto pra geral espanto ó franco encanto paradoxal! Tanto mais cresce o eco da tormenta serpenteia mais a águia da aurora! Nos peitos desnudos e flagelados onde habitam corações crucificados a flama latente do amor não se extingue esse desejo, essa vontade, esse lampejo! Quanto mais se extirpa o corpo molesto mais se incrusta no espírito protesto um só vivo ideal, um mandamento global: morrer pra viver a liberdade!


BERNARDO COELHO DE ALMEIDA 13

BERNARDO ALMEIDA São Bernardo - 13 de junho de 1927 Centro Cultural Gonçalves Dias Ilha Galeria de Livros Em 1938, já estava em São Luís, como seminarista, no Seminário de Santo Antônio, de onde passou ao Colégio Maranhense dos Irmãos Maristas. Transferiu-se de São Luís para Parnaíba-PI e depois para Fortaleza-CE, onde continuou os estudos, tendo concluído o curso secundário, no Liceu Maranhense, em São Luís. Escritor, poeta, romancista e cronista. Jornalista, iniciou-se na imprensa, escrevendo no Jornal do Povo, tendo escrito em outros jornais como em O Imparcial, onde semanalmente assinava uma crônica na seção “Ponto de Prosa”. Atuou, também, nos jornais O Estado do Maranhão e Jornal Pequeno. Suas crônicas, lia-as, em um programa da Rádio Difusora, ao meio-dia, “Difusora Opina”, em algumas delas escritas, para esse programa, pelo saudoso jornalista Válber Pinheiro. No Rio de Janeiro e em Volta Redonda, trabalhou na Companhia Siderúrgica Nacional. Em 1950, de volta a São Luís, participa da campanha política das Oposições Coligadas. Foi deputado estadual por três legislaturas, uma voz eloqüente na tribuna. Gerencia a Tipografia São José, em 1955, quando trouxe de volta ao público o jornal O Maranhão. Fundador da revista Legenda. Durante muitos anos trabalhou na Rádio Difusora e, posteriormente, na TV Difusora. Foi adido cultural na Embaixada do Brasil, no Peru, professor do Centro de Estudos Brasileiros de Lima. Presidente da Fundação Cultural do Maranhão, sub-chefe do Gabinete Civil do Governo João Castelo, membro do Conselho de Contas dos Municípios. Autor de livros como Luz! Mais Luz!, poesia; A gênese do Azul, poesia; Galeria, crônicas; A última promessa e Bequimão, romances; Éramos felizes e não sabíamos, crônicas. Soneto do reencontro A ausência que há em mim se transfigura e mãos e em olhos súbitos no poço, onde venho saciar, mais com ternura, a sede do cismar outrora moço. No fundo espelho a virgem prematura desnuda-se e reveste-se em colosso; e ao eco milenar que me tortura, 13

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responde cada voz que já não ouço. Oculta face pousa em minha face. Não sei de onde ela vem, de que distância: - se das raízes líquidas da pedra ou se de mim, se do silêncio medra, como a canção com que ressuscitasse os sepultados ídolos da infância.

Elegias de maio II E é maio quando a tua indiferença, num canto fácil, lento, vem do fundo das sombras do silêncio do teu mundo de uma piedade e uma amargura imensa. E inquieta as tuas mãos, move os teus passos, a gestos e a caminhos imprecisos, os lábios esboçando estranhos risos, corpo a reclamar ocultos braços. E longo, lento, o canto transfigura a tua imagem triste em escultura talhada em pedra, ausência, sombra, sono. E maio é quando um instante nos esqueces, para reflorescê-lo em tuas preces — rosa de primavera não, de outono. (A Gênese do Azul/1955)


CHAGAS VAL14

Estreito, Buriti dos Lopes - Piauí, 23 de julho de 1943. Concursos Galeria de Livros Geração Cassas Antroponáutica Até os vinte anos residiu no Piauí onde fez o curso primário no estreito e em Buriti dos Lopes no grupo escolar Leônidas Melo, o ginasial em Parnaíba no ginásio São Luís Gonzaga e até o 2° ano científico também em Parnaíba, no colégio Lima Rebelo, quando, então, se transferiu para São Luís, em 1963, terminando o científico no colégio de São Luís. Professor em vários colégios da Capital maranhense (Rosa Castro, Luís Viana, ginásio SENAC, escola Normal do Estado), somente em 1974 licenciou-se em Letras pela UFMA, quando já iniciara a sua carreira poética com a publicação, em 1973 de Chão e Pedra. E vieram depois, Chão Eterno e Mundo Menino (1979), Teoria do Naufrágio (1987), Floração das Águas (1992), Estado Provisório da Água (1993) e Anatomia do Escasso Cotidiano (1998). Poema 10 A vida reinventada na cidade onde achei o caminho do meu sonho, o carinho de seu povo, a face amiga das ruas me saudando e me levando a percorrê-las, fruí-las nesta suave harmonia, neste abraço inaugural do evento em que minha alma se debruça sobre o tempo e bebo a água das fontes e me banho neste mar, minha sede que sacio mergulhando o tempo fundo de um rio invisível cujas águas transparentes são o sangue dos escravos ou o leite das crianças, seios tépidos de mulheres, negras bocas a sugar e seus corpos, nus, esbeltos, delineiam-se no escuro, formas belas e serenas, 14

Fonte da biografia e da foto: www.redutoliterario.hpg.ig.com.br http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/chagas_val.html


curvas danças se desenham sobre o solo do passado, áureos brandos sons de sinos, silhuetas da memória na estória de quem canta a cidade que nasceu e cresceu verde-luares, suas claras mãos de moça neste abraço comovido. (Chão Eterno/1979) o rio dentro do rio um rio que se define no próprio espaço da fala um rio dentro do rio no seu leito permanente jardins acesos nas margens o áureo arroz explodindo na manhã leitosa e branca o milho ergue as espigas na terra como um luar o arco-íris entreabre-se em cores azuis-suaves como aves que voassem no redondo silêncio alado. O rio muge entre pedras punhais e pontes mais claras a água canta entre luzes espelhos e alvas manhãs mugindo dentro da noite a foice de suas águas ferindo a face de um espelho e chove dentro da noite no aceso silêncio espesso no espaço aberto da fala o rio dentro do rio deságua no próprio curso no seu uso mais corrente as flores do rio cantam abrindo os olhos nas margens flutua alva a canoa no metal claro da água a lua leve no espaço brota do rio e floresce por entre margens e margens à sombra azul do espelho um fino punhal de prata cravado no próprio peito no leito claro qual pássaro voando dentro do sonho e passa leve a canoa a lua acesa na mata. o ri dentro do rio no curso de suas águas floresce fundo no espelho no alado silêncio vário no seu caminho mais claro


é o Longa que se abre à luz tenra da manhã por entre pedras e pásparos o rio a relva o riacho (Floração das Águas/1992) Escuro canto Sobre a mesa brota um jarro insone e sua sombra se projeta escura no espaço as raízes da toalha, as folhas alvas se movem em meio às luzes do espelho ou uma ave voa por entre talheres e facas num curvo espaço de mãos entreabertas Ainda as flores iluminam a mesa a textura breve de suas longas pétalas suavemente só se move a mão dentro da tarde e num gesto calmo flutua um copo sobre a água sobre a penumbra intensa da toalha, as vozes fundas se elevam e fendem a parte móvel do silêncio, um tenso canto (Estado Provisório da Água/1993) RECRUCIFICAÇÃO Pode o lago informe ainda penetrar o chão do corpo quando o vento apaga o verde de seu rosto duro e cego? Pode o vento em si partido refletir-se no espelho do espanto só de medo? Pode o corpo não cumprir-se debruçado contra o tempo quando o mundo sem retorno nasce um grito em cada boca? Pode o rosto (enquanto cego) permitir-se um quase riso quando estar-se afogado é nascer de nova morte? Chão Eterno (1979) POEMA 14 É a ponte um grande arco distendido sobre as águas, um abraço de concreto mais real que todo sonho, um desenho tão perfeito que projeta luz e sombra, um desejo azul de mares, linha branca e horizontes. Há sem dúvida no seu bojo muito vento e maresia. Contemplada avulta a ponte, é um pássaro que voa no silêncio de si mesmo sobre arcos e ventanias,


luzes brancas que iluminam a noturna paisagem que cimenta a fantasia, um negro traço escuro nas águas de São Francisco ou um duro chão de ferro arquitetado e sombrio. A ponte não se define na visão triste dos mortos, um soluço a alvar de pedra, um áspero vôo espesso e asas azuis e verdes e os carros a percorrem na veloz noite dos tempos, dançam luzes pelos ares, claros sóis, limpos luares, sons, odores, pesos, pedras, em sua real construção, a ponte que se inaugura. Teoria do Naufrágio (1987)

LUMINOSIDADE As mãos semeiam luzes no deserto há sangue no silêncio das gavetas quem vaga pelas desertas ruas da cidade ao olhar-se nos espelhos e nas nuvens cavando abismos no escuro apunhalado? Quem fere a noite com soluço e sonho tangendo o sonolento sino da mesquita? Quem sangra debruçado sobre a tarde e abre a mão ferindo o próprio medo? Há passos sonolentos nas calçadas há risos cristalinos nas janelas As mãos semeiam cores nos jardins no espaço se ergue um canto como espada os frutos iluminados até se abrem as flores entre galhos incendeiam-se Quem bate assim na porta tão distante quem salta sobre muros e se esconde por trás de mesas, copos e lembranças? Na sombra assoma um rosto repentino um rio nasce entre planícies e gestos as claras águas se iluminam e cantam Quem pode soeguer-se do silêncio atado no tempo atrás do mundo com a mão fechada? Quem pode no escuro despertar o pássaro do alto da colina acendendo o facho a luz que vem do chão do espelho mágico? Floração das Águas (1992) PAISAGEM DE RELVAS A relva, quando chove, reverbera à luz do sol enquanto escorre pelo ar o som quase inaudível de uma gota d'água que tomba e se estilhaça docemente


Molhada, a relva encolhe-se sutilmente qual se ferida em seus frágeis flancos ou na paisagem claramente exposta a relva deflagra sua terna alegria Pequeninos pontos reluzindo ao sol esparzem-se pelo espaço como espelhos a refletir a paisagem de relvas ainda tenras mas viçosas e verdinhas A relva tece tapetes de verduras caminhos mais sensíveis pelo espaço onde pasta a mansa boiada a mugir gotinhas d'água no ar a desenhar-se Qual se fora assim o paraíso resumido os pequeninos seres levemente alados as florezinhas de um bosque iluminadas a relva saltitante em meus cabelos e seu reflexo permanente e belo

travessia Quem atravessará um rio entre fios maltecidos? quem destecerá a chuva e seus cabelos de frio? AVE, VIDA! A vida entre palavras, palavra! Mais ainda existir se torna áspero, um passarinho dissolve-se no ar, não-há o passarinho em dis-solução, existe sim o pássaro no ar sozinho, o passarinho dissoluto, o-avezinho CORRENTES D'ÁGUA O rio na luz se abre com seu riso a desenhar-se na paisagem azul do dia duas linhas um fino traço duas margens verdilongas é o longá a inundar-se além do leito nas margens o rio estende os braços alonga o curso a palavra a chama acesa das águas a flor mais úmida da noite nessa fala mais que breve nesse vento mais que brisa Estado Provisório da Água (1993) ALICERCE Um alicerce tem suas raízes no tempo construído com método e precisa engenharia


e sobre ele se edifica uma parede branca, um pedaço de cidade iluminada em espelho um rio corre por dentro das veias do centro ou por baixo das finas areias e de cimento bruto imperceptível se move uma água rasa, um fio azul de vento que anuncia a casa construída o território ocupado por onde as sombras feridas caminham ou escorrem agudas as vozes estrídulas de crianças que dançam e brincam, os olhos cheios de luz, os corpos transparentes Anatomia do Escasso Cotidiano (1998) VAN GOGH Nos campos do luar medram alucinados vegetais, a mão com pincéis de morte atingem os brancos hospícios, as cores ferindo a paisagem enlouquecem os finos traços, flutua na ácida luz uma orelha estranha decepada A voz ferida entre os girassóis ilumina-se nos suaves-tensos matizes de amarelo-sangue Van Gogh planta num quadro os girassóis da morte as linhas em meio às fundas marcas dos dedos matizam de sincopados tons a soturna sinfonia, seus dedos trágicos passeiam sobre a textura da pele Uma orelha apenas acenderá fúlgidos relâmpagos no espaço torturado de pinturas sóbrio-atormentadas? Uma orelha, à margem do infinito fundará incandescente


CLÓVIS RAMOS15

CLÓVIS PEREIRA RAMOS Tabatinga, Amazonas, em 20 de novembro de 1922. Poeta, ensaísta, historiador, formado em Direito em 1955.Autor de muitos livros, desde o primeiro de poesia — Evangelho do Poeta (1913). São Luís I São Luís há sobradões, ermidas e lembram do passado o tempo nobre, a beleza sem par, que não se encobre o silêncio das coisas esquecidas. Pelas ruas estreitas e avenidas, quanta história de amor! Basta se dobre uma esquina e, de novo, rico ou pobre, vibram no coração doces feridas! Ah! tudo em São Luís vira poesia na saudade que vem, terna saudade, que nos maltrata e nos aliviar E sonhando um amor, espero, ainda, rever a terra da felicidade, que tanto quero, com ternura infinda. II Estou em São Luís e, novamente, cantarola em meu peito um amor antigo. Digo num verso comovido e ardente, tudo o que sinto como meu castigo. Por uma rua enso1arada sigo e meu pensar, talvez, ninguém pressente. Ah! meu sonho de amor, que ainda persigo! Ai! saudade que fere ferozmente! Pelas praças, que flores perfumosas! O sol as beija como beija as rosas dos lábios da mulher que se quer bem. São Luís é a cidade da ternura... 15

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Em cada canto um sonho meu perdura, perdura, em cada canto, o olhar de alguém. (In São Luís do Maranhão é Poesia/1922) Humilde estrebaria Um fenômeno estranho acontecia nas terras de Judá. Eis que os pastores ouviram vozes de anjos em louvores ao pequenino filho de Maria. A noite era de místicos fulgores, noite serena, noite de poesia. Sobre as palhas de humilde estrebaria, dormitava Jesus por entre flores. Uma estrela de brilho nunca visto, aparecera nessa noite e os Magos vieram de longe em caravanas de ouro... "Glória a Deus nas alturas!" Glória ao Cristo! Maria-- Mãe - porém, em pranto e afagos, temia a sorte do seu filho louro. O cego Bartimeu Há poesia em tudo o que é divino. Nas bodas de Caná como na Ceia. Embora eu seja um poeta pequenino, cantar o Deus de Amor minh’alma anseia. Quando Jesus seguia, sol a pino, de Jericó na estrada - sol e areia - , o cego Bartimeu - homem franzino - , de ser repreendido não receia. - "ó Filho de Davi, tem piedade!" Jesus parou. - "Que queres que te faça?" - "Que eu veja; meu Senhor!" E a claridade do dia iluminou aqueles olhos, aquele coração cheio de graça, aquela alma liberta dos escolhos! (Estrela Mansa/1983)


CUNHA SANTOS FILHO16

Jonaval Cunha Santos Homaval Medeiros da Cunha Santos Codó / 10 de novembro de de 1952 Geração Cassas

ANTROPONÁUTICA

Poeta da geração Hora de Guarnicê, dos anos 1970. Aparece com os nomea de Jonaval Cunha Santos e Homaval Medeiros da Cunha Santos em diferentes fontes. Nascido em Codó, Maranhão, a 10 de novembro de de 1952, e seu texto de estréia é Meu calendário de pedaços (1978). Irreverente, audacioso, ousado, Cunha Santos costura sua própria dicção poética sob sarças de fogo e com muito fôlego. Com desassombro, investe contra os podres poderes responsáveis únicos pelas injustiças sociais.Antes de mais nada, o poeta reforça o conceito de que poesia é, acima de tudo, emoção e sensibilidade, a parte anímica do ser em seus desdobramentos e conjunções, com a força telúrica das percepções sensoriais. O poema, sim, é outra coisa, pois, como um filho, depois de ser gerado e gestado, pronto e parido, precisa ser criado. E é aí, nesse dado momento, que o poeta se vale do potencial de que dispõe para criar os melhores frascos e embalagens para guardar suas essências. Títulos principais: A Madrugada dos alcoólatras, Odisséia dos Pivetes, Paquito – o anjo doido e Pesadelo. In http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/30/Pagina329.htm Delirium tremens Eu ouço passos no absurdo pancadas secas no desconhecido marés se movem nos meus olhos mãos de areias na minha faringe tentam arrancar veias que eu amo A noite se move estranha Neva nesta "Casa". É a morte rondando dentro dos copos mexendo nas canelas de aço que se acumulam nos meus pés Eu sinto fome: como meus dedos sacode-me um desejo santo de enforcar uma criança para evitá-Ia deste mundo Não conheço estas ruas nem sei mais de onde vieram 16

MIRANDA, Zenilton de Jesus Gayoso; publicada em outubro de 2008. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/cunha_santos_filho.html


as estacas com que me batem eu preciso desenhar a poesia eu preciso desenhar meu grito pois hoje, nem as palavras da lua far-me-ão descansar a caneta do martírio de dizer besteiras hoje eu sou uma choça de remorsos diferente: sim, porque não matei nem sequer premeditei a morte mas sou o local do crime! (Meu Calendário em Pedaços/1978) Motel o mênstruo da aurora em tom vermelho repete-me abatido na vidraça minha imagem em dó, ré, mi, coalha no espelho o sol, lavando o resto, vê e passa é a manhã, rebento do meu sono, afoito me mudo para a lâmpada que, acesa, crava minha sombra sobre a mesa caneta e eu, poema, eterno coito saudades dela em mim como estrias na pele. E como é dura removê-Ias devassos nós dormimos quando é dia que às noites, como cães lassos de orgia se ela faz suruba com as estrelas eu vivo em coito anal com a poesia Cirrose azul São os testículos de Deus que agora arranco na marcha em que não marcho pois sou manco na mesa em que me esfumo no vinho do mal rolo-me por mim, que sou barranco choro de beber, choro e me tranco que nem o olho aceita o choro do chacal Porque quis eu dar outro murro em Cristo com toda alma danada de um Buda misto e ser punido, hoje, por não ter pais se nem sequer é minha roupa e eu nem visto quero ser homem - sou apenas quisto quero ser carne - sou só cicatriz Não tive a vez do azul quando do gozo a mim foi dada a queda, nunca o pouso e outros retesaram-me no chão assim, Ó vil cantiga que eu nem ouso nesta cama de gato é que eu repouso ferreado da violenta compulsão Não irei longe. É certo, me esfarinho o séquito do demo é o eu sozinho o eu, ou 10, milhões mamando a paz - por tantas vezes destruí meu ninho


sou como inseto que alagado em vinho afoga, arqueja, sofre e bebe mais Tridente, fogo, rastro de cometa o mundo onde estou é uma maleta trancada aos ais das mães e aos ais dos pais vivo de espirros - gripe de escopeta entregador de horror, eu estafeta que desde que se foi, não foi jamais Bebo meu sangue seco na tigela - e frio – tantos se juntam pra eu ser vazio tantos se aninham pra me reverter eu, que de um só, após, me fiz um trio durmo em mim mesmo e choro enquanto rio de ver meu próprio riso apodrecer ......................................................... Mas há um cão distante que poreja há uma lombriga d'ouro que me beija e alguém que ri falido de tormento há uma carne sem sal, que de sal seja que eu me mudei pra um balde de cerveja e fiz de um copo meu apartamento (A Madrugada dos Alcoólatras, s. d.) As lágrimas de Seu Nelson Seu Nelson chorava todas as manhãs não porque estivesse velho ou triste não porque lhe deprimisse estar no mundo Seu Nelson chorava todas as tardes não porque sentisse dor ou soubesse de saudades não porque lhe deprimisse não ter muito aonde ir Seu Nelson chorava todas as noites não porque fosse criança ou tivesse medo do escuro não porque lhe restasse na vida um único e antigo amor Seu Nelson chorava todas as manhãs porque tinha certeza de que jamais haveria outra manhã igual àquela Seu Nelson chorava todas as tardes porque cedo ou tarde todas as tardes acabam Seu Nelson chorava todas as noites porque sabia que as estrelas se repetiriam em outras noites, naquela noite nunca mais e que sua madrugada só duraria até a hora de chorar mais uma vez Quarto de Hospício Um cinzeiro, duas camas, uma de acompanhante, um chuveiro bêbado, um envelope de arsênico, dois rolos grossos, um de papel higiênico,


cascas de frutas e uma moça estonteante, um televisor repetindo as mesmas cousas, um piso queimado, um sifon metido a besta, um poeta que se enfia em suas próprias lousas e uma música que explode em minha testa Um amigo que não chega, dois ou três lençóis sujos, dois homens na janela agindo como sabujos, uma mesa, livros velhos e uma revista repetida Um velho cesto de lixo, sacos de leite estragado, uma descarga, um baton e um Deus que está zangado porque esqueci no vaso o resto da minha vida


EDMILSON COSTA 17

Edmilson Silva Costa (Pedreiras, Maranhão, Brasil, 8 de abril de 1950), mais conhecido como Edmilson Costa, é um economista, professor universitário e político brasileiro filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), sendo o atual Secretário-Geral do partido. É doutor em Economia pela Unicamp. Grupo da Rua Candido Ribeiro Segundo Corrêa (2014)18, [...] é maranhense de Pedreiras, detido em São Luís na Ditadura Militar, pela publicação de um livro de poesia em mimeógrafo, em que dizia que sua mulher era a liberdade e que ele queria ser o corno mais feliz do mundo! Foi candidato à Presidência da República pelo velhíssimo PCB. Ajudei-o a partir de São Luís, com outros companheiros de geração, abriguei-o temporariamente no Recife, de onde ele partiu para São Paulo, onde escreve a sua história, sobretudo, agora, como economista. Imagino que, por um milagre, exista ainda em São Luís um exemplar do seu livro Poesia cangaceira no reino da cavala-kanga e, mesmo, do precedente, A incrível face da lira cativa. Se a memória não me falha, houve uma tiragem mimeografada, com o título, talvez, de A luta da bestafera no reino da cavala-kanga. Doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, com pós-doutorado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da mesma instituição, além de professor universitário. Natural do Maranhão, Edmilson é militante do PCB desde os tempos de estudante. Foi secretário-geral da União Maranhense dos Estudantes Secundaristas, em 1968, e presidente da Casa dos Estudantes Universitários do Maranhão, em 1973. Em São Paulo, exerceu o jornalismo por mais de 10 anos e posteriormente se especializou nos estudos de Economia. Como militante comunista, Edmilson Costa participou, tanto na clandestinidade quanto na legalidade, de todas as lutas pelas liberdades democráticas no Brasil. Nas últimas eleições municipais, foi pré-candidato a prefeito de São Paulo. Membro do Comitê Central do PCB desde o IX Congresso, foi um dos articuladores do processo de resistência à tentativa de liquidação do Partido e, durante vários períodos, foi secretário político do PCB em São Paulo. É autor de O Imperialismo (Global Editora, 1989), A Política Salarial no Brasil (Boitempo Editorial, 1997), Um Projeto para o Brasil (Tecno-Científica, 1998) e A Globalização e o 17 EDMILSON COSTA É O PRÉ-CANDIDATO A VICE DA PRÉ-CANDIDATURA PRÓPRIA DE IVAN PINHEIRO À PRESIDÊNCIA. Disponível em http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1578, acessado em 29/05/2014 18

CORRÊA, Rossini. Correspondencia pessoal. 29 de maio de 2014, ao perguntar se se tratava da mesma pessoa, participe dos movimentos literários da década de 1970, ao deparar com seu perfil em sitio do PCB.


Capitalismo Contemporâneo (Expressão Popular, 2009), além de vários ensaios publicados em revistas e sites especializados no Brasil e no exterior. Além de toda atividade política e acadêmica, Edmilson Costa é poeta e compositor. Tem três livros de poesia publicados e, de suas mais de 70 composições de MPB com diversos parceiros da cena musical paulistana, cerca de vinte delas estão gravadas por artistas de São Paulo e de outros Estados.

Biografia Edmilson Costa é membro do PCB desde a década de 1970. Em 1974, formou-se em comunicação social pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tendo começado a atuar como jornalista e, também, militante político. Como militante político, nos anos 1980, contribuía com o jornal Voz da Unidade, principal veículo de comunicação do PCB, escrevendo artigos e colunas sobre a realidade sociopolítica do país sob o olhar do marxismo. Em 1992, após defender a tese A Política Salarial no Brasil - 1964-1985. 21 anos de arrocho salarial e acumulação predatória, sob a orientação de Waldir da Silva Quadros, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas, obteve o título de doutor em economia pela Unicamp. Após a cisão ocorrida no partido em 1992, tornou-se um dos principais nomes no chamado processo de Reconstrução Revolucionária do PCB. Ele é membro da Comissão Política Nacional do partido desde 2001 e exerceu o cargo de Secretário de Relações Internacionais e de Secretário Político do PCB em São Paulo até 2016. Foi candidato a prefeito do município de São Paulo pelo mesmo partido em 2008.[1] Em 30 de abril de 2010, foi anunciado como candidato à Vice-Presidência do Brasil nas eleições de 2010, na chapa de Ivan Pinheiro.[2] Em 17 de outubro de 2016, tornou-se Secretário-Geral do PCB, substituindo Ivan Pinheiro no cargo.[3][4] Além de dirigente partidário, atualmente, ele é diretor de pesquisa e formação do Instituto Caio Prado Junior e professor universitário em algumas instituições privadas de ensino. https://pt.wikipedia.org/wiki/Edmilson_Costa Livros publicados • • • • • •

O Imperialismo (Global Editora, 1989) [2] A Política Salarial no Brasil (Boitempo Editorial, 1997) Um Projeto para o Brasil (Tecno-Científica, 1998) A Globalização e o Capitalismo Contemporâneo (Expressão Popular, 2009) A Crise Económica Mundial e a Globalização no Brasil (Instituto Caio Prado Júnior, 2013)[5][6] Reflexões sobre a crise brasileira (Editora Ciências Revolucionárias, 2020)


ELOY COELHO NETTO

Balsas (MA), no dia 27 de novembro de 1924 Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Geração Cassas Filho de Edísio Cesário da Silva e Silvéria Coelho e Silva. Fez seus estudos primários no Educandário Coelho Neto, do professor Joca Rego, em sua terra natal, transferindo-se depois para o Instituto Renascença, do professor José Queiroz, em Carolina (MA). Estudou o curso Secundário no Colégio Marista, no Liceu Maranhense, em São Luís. Nesse período, publicou seu primeiro poema — Mãe —, no jornal O Poliglota, editado por estudantes. O Secundário foi concluído, porém, no Colégio São João, em Fortaleza. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Ceará, em 1950. Durante o curso, presidiu o Centro Acadêmico Clóvis Bevilácqua e foi um dos redatores da revista Estrela e de outros periódicos da faculdade. Lecionou Português no Colégio Farias de Brito, um dos mais renomados da capital cearense. Em 1947, tornou-se aspirante a oficial do Exército, após concluir o curso de Infantaria. Exerceu o magistério em Fortaleza (CE) e Balsas. Em 1957, foi nomeado secretário da Educação e Cultura do Estado do Maranhão, onde ficou por cinco anos. Foi diretor da Caixa Econômica Federal e secretário do Interior e Justiça do Maranhão. Ocupou o Tabelionato Vitalício do Cartório de Notas do 3o Ofício de São Luís e foi professor de Direito Civil e de Direito Constitucional na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Em 1986, tornou-se membro da Academia Maranhense de Letras, e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, do qual foi presidente. Escritor, historiador, poeta, professor e jornalista, produziu e publicou diversas obras de relevo para o Estado do Maranhão e, sobretudo, sobre a região sul maranhense. Além de livros publicados, deixou diversos artigos históricos publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. OBRAS PUBLICADAS: Poemas da vida, do mundo e da minha terra; Flocos brancos; Luzes da ribalta; História do sul do Maranhão; Geo-História; Vida e acontecimentos; Nova Época; Arrozais em festa; Sesquicentenário; Caxias e o Maranhão.


CONTRIBUIÇÕES NA REVISTA DO IHGM O AMERÍNDIO – O ÍNDIO DA COLONIZAÇÃO E NO POVOAMENTO DO MARANHÃOMICRO-ETNIAS ATUAIS DO MARANHÃO Ano LIX, n. 07, dezembro de 1984 46-56 CANDIDO MENDES DE ALMEIDA Ano LIX, n. 08, março de 1985 95-101 HUMBERTO DE CAMPOS – PRIMEIRO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO ano LX, n. 12, 1986 ? 03-11 ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA Ano LXI, n. 13, dezembro de 1987 79-81 DISCURSO Ano LXII, n. 14, março de 1991 69-72 DOMINGOS SOUSA Ano LXIII, n. 16, 1993 16-17 SINOPSE DA HISTÓRIA DO CATOLICISMO NO MARANHÃO Ano LXIII, n. 16, 1993 68-76 CRÔNICA PARA O INSTITUTO SETENTÃO Ano LXIV, n. 17, 1996 13-15 SAUDAÇÃO DE POSSE DO ESCRITOR E HISTORIADOR CARLOS ORLANDO RODRIGUES DE LIMA NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO MARANHÃO (SOLENIDADE REALIZADA EM 27/03/96) No. 18, 1997 26-29 O PADRE ANTONIO VIEIRA E O MARANHÃO No. 19, 1997 40-49 A INDEPENDÊNCIA E A ADESÃO DO MARANHÃO No. 21, 1998 67-73 RAYMUNDO CARVALHO GUIMARÃES – LONGEVIDADE DOS JUSTOS No. 21, 1998 101-102 PRIMEIRA REVISTA DO IHGM No. 21, 1998 109-110


FRANCISCO DE ASSIS CARVALHO DA SILVA JUNIOR

CARVALHO JÚNIOR

Maranhense da cidade de Caxias, conterrâneo de Gonçalves Dias e Salgado Maranhão, o professor e poeta Francisco de Assis Carvalho da Silva Junior, vencedor do Troféu Nauro Machado no I Festival Maranhense de Conto e Poesia (FESTMACPO) promovido pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), publicou os livros de poemas "Mulheres de Carvalho" (Café & Lápis, São Luís, 2011), "A Rua do Sol e da Lua" (Scortecci, São Paulo, 2013), "Dança dos dísticos" (Editora Patuá, São Paulo, 2014) e "No alto da ladeira de pedra" (Editora Patuá, São Paulo, 2014). Membro da Academia Caxiense de Letras (ACL) e da Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (ASLEAMA), é um dos organizadores do "Encontro de Poesia Na Pele da Palavra" e faz parte do coletivo de autores alternativos "Academia Fantaxma". Tem poemas publicados em antologias e revistas literárias nacionais. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/carvalho_junior.html

JUNIOR, Carvalho. No alto da ladeira de pedra. São Paulo: Patuá, 2017. 84 p. 14x21 cm. Ilustração, capa: Leonardo Mathias. Editor: Eduardo Lacerda. Edição de 100 exs. ISBN 978-85-8297-382-0 Ex. bibl. Antonio Miranda


A dança mística das sementes vermelhas no meio-fio da vida para tomar no cuspe da índia o segredo dos assobios dos pássaros das cercas de enganos da infância. para me juntar ao abandono dos umbigos dos riachos mortos. para correr nu pelos paralelepípedos da rua Santa Cruz em finais de semana de solidão chuvosa. para ouvir tua bolsa pele de serpente bárbara declamando Shakespeare e destelhando a abóbada celeste na explosão de orgasmos. para me esticar na grama que acolhe os alfabetos sentimentais das minhas origens. para rasgar nas unhas do arame os calos de sangue dos pés dos meus fantasmas. para me desconhecer e me matar quanto possa da companhia dos punhetas incrédulos sem fome de travessia. escrevo para ver meus abismos se equilibrando na dança mística das sementes vermelhas no meiofio da vida na volta para o ninho invisível.

Na cabeça do mundo quero desabar sobre a cabeça do mundo, explodir meus fracassos no cotovelo do abandono. quero desabar sobre a cabeça do mundo, ficar ao lado daquele cavalo morto na entrada da cidade. quero desabar sobre a cabeça do mundo, fundar doze novos tristes jardins no seio da silenciosfera. quero desabar sobre a cabeça do mundo, gozar no íntimo de uma folha de palmeira da língua vermelha. quero desabar sobre a cabeça do mundo, festejar a pedra, a queda, a ferida e a utopia.

Na língua do luar na arapuca do teu sexo, cavalgo entre unhas-de-gato. a pele rasga, explode e grita! os espinhos me adentram o corpo, batizam com sangue, suor e uivos — na língua do luar — esse desejo inflamado e intamanhável. na travessia dos maranhões de silêncios, com os pés assentados sobre a grama invisível do abismo, meu cavalo bebe em teu umbigo


o mergulho ígneo-musical-dançante no rio do delírio e do gozo.

No relevo indigno da minha lápide se eu tenho um chão desses para os quais se inventam hinos e outras pompas de maldizer, fica abaixo da cintura de uma flor de cemitério dos entrenós feridos em que as borboletas acrobatas se distraem nas manhãs de visita aos mortos desconhecidos. quando a caçula da família destroça a cabeça do último bailarino sem sombra e rasga com vidro sujo de sangue o corpo sem tinta da flor, lê no relevo indigno da minha lápide: nunca nasceu tal como a sua pátria.

O rio e eu uma folha duma árvore qualquer dançava na corrente de águas, flutuávamos o rio e eu um no silêncio do outro, até o instante em que mergulhamos num voo de segredos dos silvos dum pássaro de nome não revelado.

No alto da ladeira de pedra cadeira, óculos, agulha... no alto da ladeira de pedra, vô Quirola remenda as redes de pesca. enganchos e tarrafas do tempo, saudade é linha que me abrange. não me desprendo do pé de amêndoa, campo-santo dos meus ascendentes. dormem aqui os peixes nas cabaças, os pés de puerícia, o balé das petecas...


todos os meus cavalos de palha.

cadeira, óculos, agulha... no alto da ladeira da pedra, vô Quirola remenda as redes de pesca. enganchos e tarrafas do tempo, saudade é linha que me abrange. não me desprendo do pé de amêndoa, campo-santo dos meus ascendentes. dormem aqui os peixes nas cabeças, nos pés de puerícia, o balé das petecas... todos os meus cavalos de palha. Carvalho Junior (Francisco de Assis Carvalho da Silva Junior, Caxias/MA, 1985). Professor, ativista cultural, gestor público e poeta brasileiro. Vencedor do Troféu Nauro Machado no I Festival Maranhense de Conto e Poesia (Universidade Estadual do Maranhão, 2015). Publicou os livros de poemas Mulheres de Carvalho (Café & Lápis, São Luís, 2011), A Rua do Sol e da Lua (Scortecci, São Paulo, 2013), Dança dos dísticos (Editora Patuá, São Paulo, 2014), No alto da ladeira de pedra (Editora Patuá, São Paulo, 2017) e O homem-tijubina & outras cipoadas entre as folhagens da malícia (Editora Patuá, São Paulo, 2019). Organizou a antologia Babaçu Lâmina – 39 poemas (Editora Patuá, São Paulo, 2019). Membro da Academia Caxiense de Letras e da ASLEAMA, pesquisa vida e obra do poeta Déo Silva. Realiza, com algumas parcerias, o sarau/encontro de poesia Na Pele da Palavra e faz parte do coletivo de autores Academia Fantaxma. Participou com o poema Abrigos da Exposição POESIA AGORA (Itaú Cultural, Rio de Janeiro, 2017). Foi o curador da Exposição SEMENTES DE POESIA, em Caxias/MA, no espaço do Caxias Shopping Center (2018). Edita a página de poesia Quatetê. Tem poemas publicados em jornais, antologias literárias e revistas tanto do Brasil como do exterior. https://revistaacrobata.com.br/demetrios/poesia/4-poemas-de-carvalho-junior/ Pífaro evita o salto suicida de Safo, não a minha sombra morta dentro do papiro-capemba, na manhã grave ferida de faca e ferrugem, a flauta do índio no meio do rio. : funda o pífaro de taboca de um gamela treze aldeias de sopro e milagre nos co(r)pos de flores


que saram os acessos de flechas nos meus calcanhares. Araruta somos feitos das mesmas fomes dos nossos pais, das mesmas lenhas que os guardaram do frio súbito das noites caseadeiras de exílios. de vez em quando, ouço de longe a voz da lágrima do meu pai e de minha mãe. um quintal de ararutas nasce dentro do chão cansado dos meus olhos. Grafite para teo adorno a utopia escala o morro e salta da asa de um sabiá morto sobre a gravidade redesenhada por um menino lápis de luz. Gato-do-Mato não se domestica um poeta. o poeta é um gato-do-mato perseguindo a cauda do vento selvagem. CARVALHO JUNIOR: O HOMEM-TIJUBINA & OUTRAS CIPOADAS ENTRE AS FOLHAGENS DA MALÍCIA (2019) https://www.poesiaprimata.com/carvalho-junior/carvalho-junior-o-homem-tijubina-outras-cipoadasentre-as-folhagens-da-malicia-2019/#more-3306 CARVALHO JUNIOR (Francisco de Assis Carvalho da Silva Junior, Caxias/MA, 1985). Professor, ativista cultural, gestor público e poeta brasileiro. Vencedor do Troféu Nauro Machado, categoria poema, no I Festival Maranhense de Conto e Poesia (Universidade Estadual do Maranhão, 2015). Publicou os livros de poemas Mulheres de Carvalho (Café & Lápis, São Luís, 2011), A Rua do Sol e da Lua (Scortecci, São Paulo, 2013), Dança dos dísticos (Editora Patuá, São Paulo, 2014), No alto da ladeira de pedra(Editora Patuá, São Paulo, 2017) e O homem-tijubina & outras cipoadas entre as folhagens da malícia (Editora Patuá, São Paulo, 2019). Organizou a antologia Babaçu Lâmina – 39 poemas (Editora Patuá, São Paulo, 2019), tendo organizado, também, anteriormente, em parcerias, a Antologia Poetas Locais Integrantes da Noite Universal (e-book, 2019, org. com Ricardo Leão) e a antologia/caderno de poemas Quibano: 15 poetas do Maranhão (Appaloosa Books, 2017, org. com Antonio Aílton). Membro da Academia Caxiense de Letras e da ASLEAMA, pesquisa vida e obra do poeta Déo Silva. Realiza, com algumas


parcerias, o sarau/encontro de poesia Na Pele da Palavra e faz parte dos coletivos de autores Academia Fantaxma e Os Integrantes da Noite. Participou com o poema Abrigos da Exposição POESIA AGORA (Itaú Cultural, Rio de Janeiro, 2017). Foi o curador da Exposição Sementes de Poesia, em Caxias/MA, no espaço do Caxias Shopping Center (2018). Edita a página de poesia Quatetê. Tem poemas publicados em jornais, antologias literárias e revistas do Brasil e do exterior. Possui poema vertido para o espanhol pelo poeta Antonio Torres.

Os poemas a seguir foram selecionados da obra O homem-tijubina & outras cipoadas entre as folhagens da malícia (Patuá, 2019).

O HOMEM-TIJUBINA (fragmentos) ho.mem: s. m. 1. BIOL. Mamífero da ordem dos primatas, do gênero Homo, da espécie Homo sapiens, de posição ereta e mãos preênseis, com atividade cerebral inteligente, e programado para produzir linguagem articulada. [http:// michaelis.uol.com.br] ti.ju.bi.na: s. f. || (Bras.) nome vulgar de umapequena lagartixa. || (Ceará) (pop.) O mesmo que lambedeira. [http://www. aulete.com.br/tijubina]; etimologia: tupi: teiu-ombý [http:// michaelis.uol.com.br]. I. o homem-tijubina tem um paladar exigente. não digere o ovo do óbvio. somente silêncios de pássaros lhe passam pelos gorgomilos. quando o indagam a respeito desta passagem, diz que o outro lado da vida está no verso. não tem idade, apenas caminha. às vezes para frente quase sempre para o fundo do poço que guarda as lágrimas dos seus ancestrais. é um composto de cortes de unhas-de-gato e incoerências.


II. o homem-tijubina vive, se dobra, (des)dobra e recorta como um zine. camelô do calçadão da afonso cunha, pede esmolas como um poeta, é este azulejo quebrado nas tuas mãos. usa colar de hippie, pulseira de sementes antiquebranto, antiódio e antiamor ao mesmo passo e no mesmo cortar de pulso. é poeira invisível nos escombros do cassino caxiense, fôlego e asfixia nos vivemorres do rio itapecuru. na esperança de novos dilúvios, ele recita cecília: a chuva é a música de um poema de verlaine. III. para o homem-tijubina a infância é como uma ferida sem costura. diz que carrega suas corcundas hereditárias pela força das ladeiras de pedras brancas em que um dia correu com os bolsos cheios de pitombas, penas de passarinhos e sonhos acesos dentro de lampiões improvisados. quando tomado de ira do mundo, enfia o dedo no cu das não levezas do cotidiano e brada contra a apatia dos fantasmas bípedes. X. quando o homem-tijubina estende as chagas sobre a música das folhas, preenche-se de fôlego para seguir com o cabresto aramado da sandália bailarina de cipó, improvisando [à sombra das quatetês sibilinas] o escorpião de higuita. o sol lhe doura a tatuagem leite castanha de caju com o nome de uma lepidóptera mítica. um talo de coco numa mão, uma xícara de café de tucum na outra e cismas incontáveis sob o cofo sarapintado da pele.

ARARUTA somos feitos das mesmas fomes dos nossos pais, das mesmas lenhas que os guardaram do frio súbito das noites caseadeiras de exílios. de vez em quando, ouço de longe a voz da lágrima do meu pai e de minha mãe. um quintal de ararutas nasce dentro do chão cansado dos meus olhos. GRAFITE para teo adorno a utopia escala o morro e salta da asa de um sabiá morto sobre a gravidade redesenhada por um menino


IGNACIO MOURÃO RANGEL 19

Mirador, 20 de fevereiro de 1914 # Rio de Janeiro, 4 de março de 1994 Geração de 30 Foi provavelmente o mais original analista do desenvolvimento econômico brasileiro, segundo o economista Bresser Pereira e o geógrafo Elias Jabbour, ambos professores da USP. Apenas Celso Furtado tem uma contribuição comparável na análise da dinâmica de nossa economia. Fez Direito na antiga Faculdade de São Luís, seguindo os caminhos de seus bisavô, avô e pai. Mas seguiu carreira na economia, seara em que foi autodidata. Mudou-se para o Rio, onde fazia traduções para a agência Reuters para pagar as contas e garantir a possibilidade de estudos de economia em casa. Seus textos de análise econômica rapidamente ganharam relevância e foi convidado para fazer parte do grupo de assessoramento econômico de Getúlio, foi um dos redatores dos projetos de criação da Petrobras e Eletrobras, duas das mais importantes estatais brasileiras, que teriam seu destino atrelado à história do desenvolvimento do país. Em 1953, além de trabalhar intensamente na assessoria de Getúlio Vargas, Rangel escreve seu primeiro livro, A Dualidade Básica da Economia Brasileira, publicado em 1957. Nos anos 1950, integrou também os quadros do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), órgão vinculado ao MEC que produzia estudos aprofundados sobre os caminhos do desenvolvimento brasileiro. Ao lado de intelectuais como os sociólogos Hélio Jaguaribe e Cândido Mendes e o historiador Sérgio Buarque de Holanda, firmou-se como um dos principais analistas da estrutura formativa do Brasil. É convidado para realizar uma pesquisa a cargo da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), órgão das Nações Unidas instalado em Santiago. No retorno do Chile, Rangel ingressa no BNDES (Banco de Desenvolvimento Econômico e Social), onde chega a chefe de Departamento Econômico. Nessa época, chegou a ser convidado pelo então presidente João Goular para ser ministro da Fazenda, cargo que recusa. Logo em seguida, vem o Golpe de 64, que o coloca no ostracismo.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Ign%C3%A1cio_Rangel PEREIRA, Luiz Carlos Bresser. RÊGO, José Marcio. Um Mestre da economia brasileira: Ignácio Rangel. Disponível em: http://www.rep.org.br/pdf/50-6.pdf


JAMERSON LEMOS20

Recife (PE), em 22-12-1945 e faleceu em Teresina (5-8-2008). Jamerson Moreira de Lemos nasceu em Recife (PE), em 22-12-1945 e faleceu recentemente em Teresina (5-8-2008). Poeta, deixando sua terra, viveu alguns anos em São Luís (MA), onde certamente se contaminou com a boa poesia daquela Província iluminada, de Gonçalves Dias a Ferreira Gullar, pra não falar nos mais novos. Tanto é verdade que o seu primeiro livro foi editado pelo Governo do Maranhão, com a participação da Academia Maranhense de Letras, no final da década de 60, século XX. Sempre o parto do primeiro livro é longo, por vários fatores que não cabe aqui explicar. Não poderia ser diferente com Jamerson Lemos. Saiu com o nome da “Superfície do Vento”, 1968, seleção de um calhamaço que me mostrara antes, com o título provisório de “Cerca de Arame”. Depois publicaria ainda “Sábado Árido” (1985) e “Nos Subúrbios do Ócio” (1996), ambos em Teresina. Deixou muitos inéditos, entre os quais “Istmo Soledad”, ao qual dei um prefácio já publicado aqui e alhures, situando sua poesia e seu fazer poético entre os melhores cultores da poesia-práxis, uma corrente derivada do concretismo, cujos poetas brasileiros mais conhecidos são Mário Chamie, Armando Freitas Filho, Mauro Gama e Adailton Medeiros (este natural de Caxias-MA). Esse modo de fazer poesia valoriza o ato racional de compor e busca um sentido intercomunicante entre versos e palavras, tudo integrado ao real quotidiano, objetivo, ou seja, o dado social-histórico vai de braços dados com a poesia e a pesquisa semântica ou semiológica. Quem mais se celebrizou neste “sertão-vereda” foi o João Cabral de Melo Neto, pernambucano como Jamerson Lemos. A preocupação maior com letras, sílabas e palavras do que com o espaço em branco ou preto da página faz da poesia de Jamerson um antilirismo que a muitos preguiçosos assusta. Mas, se bem observada, sua poesia é de um apaixonado das coisas belas, dos sentimentos mais puros e da riqueza na expressão, num estilo que parece desinteressado da vida e do real, deixando visível a veia do bom humor em todos os poemas. A poesia-práxis é do Brasil dos anos 60. O CLIP – Circulo Literário Piauiense, movimento daquela década, de certa forma enquadra bem a poesia deste poeta que entrou para a convivência dos clipianos. Se do CLIP não fez parte oficialmente, foi por ter chegado ao Piauí pouco depois. Mas, de tal maneira integrouse aos criadores do CLIP (Hardi Filho, Chico Miguel e Herculano Moraes), que seria pecado não incluí-lo nessa geração cujos efeitos ainda ressoam. Casado com dona Maria das Dores de Morais Lemos, funcionária dos Correios já aposentada, Jamerson Lemos deixa órfãos seus dois filhos: Juninho e Ceres Josiane. Duas vidas: uma, a familiar e sentimental como poucos; outra, a profissional, onde se desdobra para conciliar o vendedor de imóveis com o poeta. Reconhece Alberoni Lemos que não foi fácil ao poeta Jamerson Lemos. Daí que é impossível saber bem de sua poesia sem o conhecimento do homem, que se dizia descendente de judeu, em seus conflitos filosóficos e existenciais – acrescenta o grande homem de imprensa, Alberoni Lemos. Mas, um pouco da poesia jamersoniana fará bem, seria mesmo imperdoável que não se oferecesse ao leitor. Então, com o título “Do movimento à noute” vai como exemplo: “O mistério da espuma do mar / é não haver mistério algum. / Fundo longilíneo / maravilhoso o mar não se sabe um / convite à morte ao amor à / vida. Há mistério, há? // A espuma do mar longe de ser algo / incógnito, transcendental, flora / estrelinhas nas algas, águas, / sargaços e areia, namora / da luz às 20

http://poetaelmar.blogspot.com.br/2013/04/seleta-piauiense-jamerson-lemos.html http://180graus.com/blog-literario/lembranca-do-poeta-jamerson-lemos-299477.html


conchas, à lua minguante / e permanente se renova.” // Do mar o mistério da espuma / inexiste – bolhitas ou escumas –/ existe o mistério à bruma / de noite à noute uma a uma / a onda virada serpente / engole a solidão da gente.” (in “O Estado”. 04-10-87, Teresina, PI). Hardi Filho considera que “J. Lemos, o boêmio navegador de ares e bares, nos dá um exemplo de modernidade poética soberba e despreocupada”, enquanto A. Tito Filho diz que “no poeta há sobretudo intensidade de expressão artística e estranho brilho verbal”. Sim, mas resta dizer que Jamerson Lemos, da geração dos anos 60 (leia se CLIP), além de sua participação na vida cultural no meio piauiense, registrou-a valorosamente com dois prêmios importantes que recebeu, no Piauí: um da Academia Piauiense de Letras e outro da Fundação Cultural do Piauí, ambos de poesia. Desta forma, é impossível que o Piauí não o reconheça como seu poeta, aliás um dos mais singulares, como consta de “ A Poesia do Piauí no Século XX”, antologia organizada por Assis Brasil, Editora Imago, Rio, 1995. http://cirandinhapiaui.blogspot.com/2008/08/jamerson-lemos-biografia.html

NAS RUAS não mais voltarei aqui seguirei as curvas do vento tentar não tendo assim eu me perdi nada do que vi vi nisso me acalento foi bom todo momento vivi subida descida noite amanhecida espuma do Mar tempo sem bruma lua me luma ar DEPOIS DO DESERTO Maripositas brincam da luz pepitas vivas no Ar não cansam de voar em xis e em cruz meu peito vive a bailar assim me conduz Mariposa me reluz à Luz do Luar sigo por essa Rua de Alma nua nem sei pronde vou tenho pouco de oiro trago-a cravada no coiro antes do Vôo


CHARADA Uma pessoa não é só uma São duas três pessoas Enigma incógnita bruma Noite misteriosa voas Tranqüilidade noturna das lagoas Cabeça como sino soas Diz-me que alma é verruma Quantos somos em suma? Vida é viagem Viajar e margear Floresta deserto penhas miragem Corpo uma bagagem Flor a florar Passagem.

armadilha a música escorre pela noite como estreito regato igualmente minha mente escorre pela noite. isso ou aquilo, antes, depois, uma rua tortuosa, pequena cidade a ferver distante. Quanto tempo fui tolo? A música escorre pela noite, pulsa como um coração. Soneto da Terça quando você se entristece uma coisa qualquer se me entrista. um gole de rum a mais que eu insista é coisa pouca e você não esquece. quando, porém, se nada teça vida minha e pobre de artista você me toca e me diz: desista meu bom amor, amo-te na terça. muito bem, tento-te de novo alma de pombo, espírito de corvo, sobras-te-me na estação. volvo-me a ti amor em praia, soluço de sol, sal de caia — da casa. só a luz e verão.


JOÃO BATISTA GOMES DO LAGO JOÃO BATISTA DO LAGO

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Nasceu a 24 Junho 1950 - (Itapecuru Mirim - MA) João Batista Gomes do Lago, ou simplesmente João Batista do Lago, ou ainda (para pesquisa Google) João Poeta do Brasil, é natural da cidade de Itapecuru Mirim (MA), onde nasceu aos 24 dias do mês de junho do ano da graça de 1950. É filho primogênito de Pedro Uchôa do Lago e de Júlia Martins Gomes do Lago. É jornalista, ator, escritor, poeta, teatrólogo, contista, ensaísta e pesquisador. João Batista do Lago é autor de três livros: 1) Eu Pescador de Ilusões; 2) Cânticos Viscerais; e, 3) Áporo. Dois novos livros: 50 Tons de Palavras e Das Sarjetas da Cidade estão no prelo para serem lançados no próximo ano (2019). Ao mesmo tempo, um livro de contos, uma peça de teatro e um terceiro reunindo vários artigos escritos em diversos jornais estão sendo elaborados. João Batista do Lago trabalhou nos jornais O Estado do Maranhão, Jornal de Hoje e Secretaria de Comunicação Social (no Maranhão); O Noroeste e A Tribuna do Povo de Umuarama (no Paraná); jornal Folha de Rondônia (em Rondônia). Também atuou como assessor de imprensa para partidos políticos, sindicatos e políticos. Em Curitiba (PR) foi o editor de conteúdo do Portal Aqui Brasil. Faz parte, ainda, da Academia Poética Brasileira (APB), como membro efetivo, onde ocupa a cadeira de nº 57, tendo como patrono o poeta maranhense Luis Carlos da Cunha. https://www.escritas.org/pt/n/joao-batista-do-lago

OUTROS

os outros me olham de soslaio e satisfeitos com seus vieses os encaro: todos são prenhes de virtudes mas eu não; os outros se me passam ao largo e felizes com seus vinténs vão aos shopping: todos são felizes desesperados mas eu não; os outros me julgam um miserável e estranhos não olham minha mão pedinte: todos farfalham à míngua de sentido mas eu não; os outros com outros e outros e outros mais que se juntam a outros tantos e confessos de si deambulam gargalhadas: mas eu não;


os outros que não são outros nem de longe nem de perto e não são diferentes do meu outro eu todos buscam o naco da felicidade na feliz cidade: mas não eu

ODISSEIA dois em mim: sou uno. e quando me refaço: trino! do Pai nada sei, do Filho quisera saber, do Espírito sou tão-só o demônio. sou espólio da mansão de mim vergastado pelas paredes do tempo. poeira só! Pó atritado do vazio imenso jogado no buraco negro. minha cruz tem três madeiros: pai… filho… espírito…

ODE A SÃO LUIS Ó tu, leito-mãe dos Tupinambás Reina dos mares do Sul, sois vós Vitoriosa, oh! amada Upaon-açu Carregas nome e cetro de realeza N’alma saber e virtude de Atenas No peito o brasão de viva Natureza Ó tu, São Luís – Ilha dos Amores! Amada de francos, lusos e neerlandeses Sois vós o encanto de Arúspice Profeta da vossa eterna glória e pureza: – Vosso destino é conservar em si toda beleza serás deste teu Orfeu a eterna Eurídice Ó tu, São Luís – Jamaica brasileira Sou-vos grato pela vida inteira pois Sabei-vos de muitos ser uma só pessoa Jamais vos deixaste vencer. Sois guerreira! Ainda que vos queira estuprar o monstro da modernice Haverá sempre um filho teu que não fugirá a luta Ó tu, São Luís – Cidade dos Azulejos Perdoai o jugo da desgraçada sorte (e) Tomai por exemplo o Cristo da hora da morte Perdoai os filhos que vos sangra em realejos Todos serão defenestrados, enfim, para que Possamos amar-vos entre ruas e curvas de azulejos


OBLATAS

Sinto deste Natal apenas o gosto amargo do fel Não vejo nenhuma escritura que fale dessa obsessão Não há literatura que relate tamanha vergonha Dessa criatura louvada pela torpeza dos homens Que buscam uma vez mais a desrazão da riqueza Na perene sutileza de louvar o Filho do Deus

Possivelmente não terei nenhuma razão Para contrariar os senhores donos do mundo Que fazem festa para obrar toda dominação Que do engodo do mercado fazem uma só oração Razão suprema dum povo deserdado Fiéis professos da procissão dos adestrados

Sou de todos assim louco defenestrado Mago não guiado pela estrela do consumo Indigno de viver num mundo administrado Lixo na festa do menino-deus-mercado Que a todos vê como oradores encantados Fiéis oblatas da religião dos engalanados


JOÃO BATISTA LOPES BOGÉA 21

LOPES BOGÉA Guimarães (MA), 24 de junho de 1926

CENTRO DE CULTURA “GONÇALVES DIAS” Academia Maçônica de Letras Filho caçula de Antônio Pinho Bogéa e Euzébia Lopes Bogéa nasceu em Jericó, município de Guimarães (MA), com fogueira acesa e bumba-meu-boi troando. Com apenas um ano, foi trazido para São Luís e criado pela irmã Domingas Lopes dos Santos, esposa do vidraceiro João Lélis dos Santos. Talvez inspirado no santo, o pai adotivo construiu logo a bacia em que Lopes iria tomar banho – uma espécie de Jordão domiciliar. A casa ficava na Rua Cândido Ribeiro, antiga Rua das Crioulas. São Luís, na época, significava também a possibilidade de estudar para quem saia do interior. Lopes Bogéa frequentou os colégios Sousândrade, Maristas Champagnat e Ateneu Teixeira Mendes, depois ingressou na Escola Técnica de Comércio do Centro Caixeiral. Em 1953, concluiu o curso de contabilidade e tornou-se professor, depois de anos trabalhando com o pai na Vidraçaria São João Batista. Apesar da boa referência bíblica, João Batista (o compositor) não era tão santo assim. Devido às presepadas que aprontava, o pai decidiu colocá-lo na Ordem 17 de Outubro, da maçonaria, em 18 de agosto de 1954. Passou a freqüentar as reuniões do templo e a tomar juízo. “Me endireitei”, como ele mesmo dizia. Em parte, data vênia. Bogéa era um aguerrido questionador das políticas culturais. Não esperava ovo no fiofó da galinha. Tirou do bolso a publicação de quase toda sua obra literária, que inclui À Luz de um Novo Dia (1976), Prosopopéia (1979), Pregões de São Luís (1980), Pedras da Rua (1988) e Quadriculando (1993). Deixou inéditos Presépios e Pastorais, Crônicas e Croniquetas, Pinceladas em Aquarelas. Pregões de São Luís, depois de ter seus textos musicais gravados em vinil (1988), foi reeditado pela FUNCMA, em 1998, e novamente gravado em CD, sob o título de Pregoeiros, com arranjos de Ubiratan Souza, onde se destacam faixas como o samba-maxixe Pião: Roda, roda, roda, roda meu piãozinho de coco. Na palma roda o meu mundo, lá fora o mundo é de louco...

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http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina89.htm


A primeira música de Bogéa, Manchete de Jornal, foi composta em 1954. Depois teve várias obras gravadas por Ary Lobo, como 350 Anos de São Luís, em parceria com João do Vale (RCA/1962), Romeiro (Copacabana/1963) e Papai Noel do Rico e do Pobre (CBS/1972). Outras foram registradas por Nonato e Seu Conjunto, grupo Cobras do Norte e cantores locais, como Fernando de Carvalho que recentemente gravou Hora dos Anjos em seu disco de Natal. Participou, também, ao lado de Cristóvão Colombo, Agostinho Reis e Antônio Vieira, do Compacto Velhos Moleques (Sotaque Produções/MUS, 1986), onde gravou Encruzado. Não obstante a sua empírica formação musical, Bogéa foi regente do Sexteto Musical e da Orquestra São Luís, em 1964, com o apoio do pianista Ribamar Costa Filho. Mas também abraçou a batucada. Foi ele quem deu nome à escola Flor do Samba, foi seu primeiro padrinho e ganhou o primeiro “campeonato” com Aquarela do Brasil, em 1976. Enveredou pelo jornalismo, a princípio como rádio-escuta da Rádio Timbira do Maranhão, onde, entre 1966 e 1973, foi diretor artístico, repórter e redator. Foi ainda colaborador do Jornal Pequeno e conselheiro da Ordem dos Músicos do Maranhão. Antes, porém, recebeu conselhos de Dona Leutres da Silva Bogéa, com quem se casou em 1969, mudando-se para a Rua Riachuelo, no bairro do João Paulo. Com ela teve dois filhos: Jorge e Heleudes da Silva Bogéa, médica veterinária e guardiã do espólio deixado por Lopes, que inclui uma imagem do padroeiro e padrinho São João Batista, numa redoma de vidro. Bastante piedoso, dedicou 50 anos de sua vida ao Asilo de Mendicidade de São Luís, onde era Diretor de Patrimônio, sendo também porta-estandarte da loja maçônica Renascença Maranhense e membro-fundador da Academia Maçônica de Letras, ocupando a cadeira nº 18, cujo patrono é o escritor José Nascimento Morais. Foi exonerado do cargo de fiscal de renda por motivos políticos e, finalmente, aposentou-se pelo INSS. “ Torço para que esse velho teimoso jamais perca esta marca tão nossa, tão dele (...) Lopes Bogéa ilustra a tese de que ser criador, em arte, não basta um código genético, mas é também indispensável uma (...) disciplina infatigável”, dizia o padre João Mohana, que se destacou como pesquisador do romanceiro musical maranhense.


JOMAR MORAES 22

Maranhense de Guimarães, nasceu a 6 de maio de 1940. Concursos Academia Maranhense de Letras Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Maranhão, da qual é advogado. Exerceu diversas funções públicas, a exemplo de diretor da Biblioteca Pública do Estado, do Sioge – Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado, do Departamento de Assuntos Culturais da UFMA e de secretário de Estado da Cultura. Membro da Academia Maranhense de Letras, ocupante da cadeira nº 10 da AML, que tem como patrono Antônio Henriques Leal, Jomar Moraes dedicou sua vida à literatura. Ajudou a enriquecer a cultura maranhense com seus livros Guia de São Luís, O Físico e o Sítio, Graça Aranha, Vida e Obra de Antônio Lobo, entre outros títulos que ajudam a contar um pouco da história de São Luís, sua grande paixão. Toda essa contribuição ajudou na indicação que recebeu, em 1983, para assumir a presidência da AML, membro desde 1969. Foram 22 anos à frente da AML e de grandes contribuições. Aqui o "Guia de São Luís do Maranhão" veja um fragmento desta belíssima obra. Toada de chegar Pouco importa o meio de transporte utilizado para chegar a São Luís. Provavelmente, a cada maneira como se chega à Cidade do Senhor de La Ravadière, haverá de corresponder o conjunto das primeiras e marcantes impressões sobre ela. Mas ninguém desejaria permanecer apenas nesses iniciais modos de ver e sentir uma cidade, qualquer que ela seja. No caso particular de São Luís, a necessidade de conhecê-la ainda se torna maior e mais imperativa, já que a capital maranhense não é uma cidade qualquer. Dona de uma beleza singular que lhe conferem seus sobradões de azulejos com soleiras de cantaria, beirais de faiança e sacadas de ferro, atestado de uma fase de prosperidade econômica e requintado bomgosto, São Luís tem muito a mostrar e oferecer, embora possa, a princípio, guardar-se em recato e pudicícia. Mera sisudez facilmente superável ao primeiro e sincero aperto de mão, seguido de abraço verdadeiramente amigo. Todas as honras ao visitante que é amigo, eis a lição de hospitalidade que deixaram os tupinambás, imemoriais senhores desta Ilha Grande, por eles chamada Upaon-Açu. (pág.11). [...]

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http://moleskinemm.blogspot.com.br/2009/06/jomar-moraes.html http://joseneres.wordpress.com/2010/09/05/jomar-moraes/


JOSÉ FRANCISCO DAS CHAGAS

JOSÉ CHAGAS Piancó-PB, 29 de outubro de 1924 # 13 de maio de 2014 Centro Cultural Gonçalves Dias Galeria de Livros Achando-se radicado no Maranhão desde 1948. Jornalista, cronista e poeta. Além de livros de prosa, publicou os seguintes, de poesia: Canção da expectativa (1955), O discurso da ponte (1958), O caso da ponte São Francisco (1964), Os telhados (1965), Maré / memória (1973), Lavoura azul (1974), Colégio do vento (1974), Maré de moça (1977), Pão e água (1978), Os canhões do silêncio (1979), todos reeditados em Poesia reunida (1980),e ainda: De lavrae de palavra ou campoemas (1980), Maré de aço (onda de alumínio), ou o naufrágio da Ilha (1983), A cor do puro (1983), Cem anos de infância ou o poeta e o rio (1985), Águas de silêncio (1987), A arcada do tempo (1988), Antropoema ou o signo da humana dor (1988), Alcântara; negociação do azul ou a castração dos anjos (1994) e Tabuada de memória (1994). A ROSA Desço a colher rosa. Não a rosa desnecessária que colheis. Mas uma que não vos queima o olhar nem nos vos perfuma e que por isso a achais vazia e odiosa. Coelho a rosa nascida em misteriosa planta a vos ofereço, porque, em suma, na manhã clara, não, mas nesta bruma só a rosa ofertada é a que se goza. Cuidais que a rosa do jardim é pura? Não é. Nunca será. Já foi talvez. (E a rosa é a terra que se transfigura) Eu colho a intacta rosa dos caminhos, a rosa eterna em si, que não se fez de efêmeros aromas nem de espinhos. ( do livro Canção da expectativa)


JOSÉ MARCELO SILVEIRA

MARCELLO CHALVINSKI Curitiba / 1965 Concursos Marcello Chalvinski23 é poeta, romancista e publicitário. Nascido em Curitiba-PR, no ano de 1965 e registrado José Marcelo Silveira (sem o "Chalvinski que é da família da mãe), Marcello viajou por todo o Brasil, conhecendo mais as pessoas que os lugares. Em meados da década de 1980, mudou-se para São Luís e logo integrou o movimento conhecido como a “Akademia dos Párias”, participando de apresentações públicas e da revista de poesia “Uns & Outros”. Um dos traços marcantes do autor são os recitais em que funde blues e poesia, inspirado pelos beatniks norteamericanos, com quem compartilha, também, o gosto pela estrada. Em 1999, estreou em livro com “Anjo na Fauna & outros poemas” 24, sob forte influência dos poetas malditos, da poesia marginal e dos dadaístas. Nessa época assinava "Marcello Silveira". O “Temporal” 25, lançado em 2005, já como Chalvinski, foi o segundo de poesia, revelando um namoro com a mecânica quântica e o surrealismo, além de influências que vão de William Blake a Murilo Mendes e de Ferreira Gullar a Dylan Thomas. Seu primeiro romance, “O Plano” 26, conquistou o Prêmio Gonçalves Dias de Literatura em 2007. Na publicidade, ganhou por seis vezes o Prêmio Guarnicê de Cine Vídeo e o Prêmio Colunistas Norte/Nordeste. “Don Juan & o Jardim das Maravilhas” é o seu quarto livro. No blog POESA WHISKEY BAR27 é possível ler boa parte da obra do autor além de vários textos e poemas que refletem suas influências literárias AUTO DO PREÂMBULO 28 Todo o vaporoso da visão abstrata não interessa tanto como a realidade formosa da bela mulher a quem amamos. Álvares de Azevedo A Dama, com um véu de água: – O livro dos Eternos foi reaberto. O Palhaço: – Há um mundo subterrâneo abaixo dos abismos primordiais. O Enxadrista de olhos vermelhos: – Foi lá que Polydegmon, o grande hospedeiro, construiu seu labirinto. A Mulher-que-passa: – Uma nova vida! É disso que se trata. 23

https://www.facebook.com/Chalvinski?ref=ts&fref=ts https://www.facebook.com/marcello.chalvinski/media_set?set=a.158297281035879.1073741830.100005668230243& type=3 24 http://bardochalvinski.blogspot.com.br/p/anjo-na-fauna-outros-poemas.html 25 http://bardochalvinski.blogspot.com.br/p/temporal.html 26 http://bardochalvinski.blogspot.com.br/p/o-plano-marcello-chalvinski-sao-luis-ma.html 27 http://bardochalvinski.blogspot.com.br/ 28 http://bardochalvinski.blogspot.com.br/2013/09/auto-do-preambulo.html


O Enxadrista de olhos vermelhos: – Nada é igual quando algo muda O Bêbado: – Nada é igual, nada é igual... El Nuevo: – Vê aquela bela: as luzes cristalizam a curva morena do corpo. É como um bailado que brilha na chuva. O mundo fica desfocado ao redor. O Enxadrista de olhos vermelhos: – Coloca a razão ao centro desse céu fictício. A Dama com um véu de água: – Eis o movimento fixado na memória. O Palhaço: – Novos julgamentos foram engendrados. A Dama com um véu de água: – Ergue-se do mar o solo onde a poesia reconstrói Sevilha. O Homem-que-passa: – Uma nova vida. É disso que se trata. El Nuevo: – Povoa a própria vida de amores possíveis. A Dama, agora sem véu: – Nada é igual quando algo muda. O TERCEIRO LADO DA PONTE 29 os delírios estão de volta & agitam seus estandartes envoltos em nuvens de vodka & canções imaginárias antropófaga companhia literária esta minha solidão salafrária ri-se a contemplar a correria das tropas incendiárias pela ponte de avarias várias vai o ar vai a palavra vão os ais vão as árias pela ponte vão as gentes vão as alimárias por entre postes vãos & vogais consoantes mercenárias tramam emboscadas fatais ensandecidos pelo avanço de hordas tais há adjetivos que se desprendem há pilares que caem pela ponte a marcha é pesada os petrechos são de ferro & as metáforas rangem rangidos desiguais 29

http://bardochalvinski.blogspot.com.br/2012/03/o-terceiro-lado-da-ponte.html


vis os delírios avançam em seu desejo vulcânico a bela me sorri o governo da página entra em pânico


JOSÉ NERES

José Ribamar Neres Costa, mais conhecido como José Neres (São José de Ribamar, 17 de fevereiro de 1970) https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Neres Filho de José Furtado da Costa e de Maria Raimunda Neres Silva, José Neres nasceu em São José de Ribamar em 17 de fevereiro de 1970 fez estudos iniciais em Brasília e Goiás (Luziânia), locais onde passou a infância. De volta ao Maranhão, cursou Letras Português e Espanhol (UFMA), especializou-se em Literatura Brasileira (PUC-MG) e depois fez mestrado em Educação (UCB). Trabalha ou já trabalhou como professor de língua (portuguesa e espanhola) e literatura (brasileira, espanhola, hispano-americana e maranhense) nas seguintes instituições de ensino: Colégio Brasil, Centro de Ensino Universitário José Maria do Amaral, Faculdade Atenas Maranhense, Faculdade Pitágoras, Faculdade Santa Fé e Universidade Federal do Maranhão, além de haver prestado serviços para a Universidade Estadual do Maranhão, Instituto Superior Franciscano e Centro Sul Brasileiro de Pesquisa e Pós-Graduação. José Neres é detentor dos seguintes prêmios e honrarias: Menção Honrosa e Honra ao Mérito, ambos concedidos pelo Instituto da Poesia Internacional; Prêmio Odylo Costa, filho, concedido pela Prefeitura de São Luís pelo livro Resto de Vidas Perdidas; Prêmio A Importância do Livro no Brasil do Século XX. Concedido pela Academia Brasileira de Letras em parceria com o jornal Folha Dirigida e Medalha do Bicentenário de João Lisboa, concedida pela Academia Maranhense de Letras, além de ser patrono e paraninfo de diversas turmas de formandos em cursos superiores. Como pesquisador, José Neres sempre teve interesse por assuntos ligados à literatura, principalmente a maranhense, à Educação e aos estudos linguísticos. No mestrado, orientado pelo professor Afonso Celso Tanus Galvão, desenvolveu pesquisa sobre os processos metacognitivos e autorregulativos na aprendizagem de estudantes de pré-vestibulares e sobre estudo deliberado. Em 2014, foi eleito para a Academia Maranhense de Letras, ocupando a cadeira 36, deixada vaga pelo falecimento do grande intelectual Ubiratan Teixeira, e será recebido pela professora e acadêmica Ceres Costa Fernandes em 20 de março de 2015. http://www.academiamaranhense.org.br/jose-neres/ Obras • Negra Rosa e Outros Poemas (1999) • A Mulher de Potifar (2002) • Poemas de Desamor (2003) • Estratégias para Matar um Leitor em Formação (2005) • Restos de Vidas Perdidas (2006) • 50 Pequenas Traições (2007) • Montello: o Benjamim da Academia (2008) • Tábua de Papel: Estudos de literatura maranhense (2010) • O Último Desejo de Catirina (2010) • Sombras na Escuridão (2010) • Lousa Rabiscada - Artigos Reunidos (2013) • Na Trilha da Palavra: estudos literários (2015) • Azulejos em Papel Jornal (2019)


• •

Pedra AnGullar (2019) A dor sangra em nossos olhos (2019)

José Neres (São José de Ribamar/MA). Professor, escritor e crítico literário brasileiro. Editor da revista digital Ilhavirtualpontocom. Membro da Academia Maranhense de Letras. Vive na capital São Luís. É o autor dos livros Negra Rosa & Outros Poemas (1999), Poemas de Desamor (2000), A Mulher de Potifar (2002), Estratégias para Matar um Leitor em Formação (2005), Restos de Vidas Perdidas (2006), Montello: O Benjamim da Academia (2008), O Último Desejo de Catirina (2010), Sombras na Escuridão (2010), Tábua de Papel (2010) e Lousa Rabiscada (2013). É coautor de Os Epigramas de Artur (2000) e O Discurso e as Ideias (2010) (ambos com Dino Cavalcante), O Verso e o Silêncio de Adelino Fontoura (2011), (Com Jheysse Lima Coelho e Viviane Ferreira) e Maranhão na Ponta da Língua (2011) (com Lindalva Barros). https://quatete.wordpress.com/2018/06/15/4-poemas-dejose-neres/

SETE [da série Dez sonetos desesperançados] ADVERTISEMENT REPORT THIS AD A solidão é a única irmã Daquele velho que vivo apodrece Nos guetos do mundo, mas não esquece O doce ácido da velha maçã, Nem todos os dias fazer sua prece Plena de dor e de esperança vã, Pedindo aos céus um novo triste amanhã Livre das dores que o corpo esmorece. Mas tem a certeza de que o espera É uma fila – insuportável fera Que cresce, cresce e que sempre tem fome. Fila – a fera que o milagre opera De do velho transformar a quimera Em grande monte de dores sem nome. TRÍSTICO 01 – MÉNAGE Na cama, éramos sempre três: Eu, você e a solidão. Cada um esperando sua vez.

POÉTICA A poesia não marca hora para chegar. Quando quer, chega, entra e se abanca, Sem cerimônia, nina, diverte ou dá bronca.


E, depois, quando menos se espera, sem a ninguém avisar, se arranca.

DA POESIA Jamais desistir De tão doce intento De tornar palavras As cores do vento.


JOSÉ SARNEY30

Pinheiro (MA) - 24 de abril de 1930. Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão Movimento da Movelaria Guanabara/Geração 50 Ilha Galeria de Livros Filho de Sarney de Araújo Costa e Kyola Ferreira de Araújo Costa. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito do Maranhão. Casado com Marly Macieira Sarney. Filhos: Roseana Sarney Murad, Fernando José Macieira Sarney e José Sarney Filho. Sexto ocupante da Cadeira nº 38, eleito em 17 de julho de 1980, na sucessão de José Américo de Almeida e recebido em 6 de novembro de 1980 pelo Acadêmico Josué Montello. Recebeu os Acadêmicos Marcos Vinicios Vilaça e Affonso Arinos de Mello Franco. Vida política - Deputado Federal (1956-59, 1959-63 e 1963-65); Governador do Estado do Maranhão (1965-1970); Senador da República pelo Maranhão (1971-79 e 1979-85); Vicepresidente da República (1985); Presidente da República (1985-90); Senador da República pelo Amapá (1991-99 ; 1999-2007 e 2007-2015); Presidente do Senado Federal (1995-97 ; 2003-05 e 2009-2011). Vida literária e cultural - Membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia Brasiliense de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa. – Redator dos jornais O Imparcial, Combate, Jornal do Dia, Jornal do Povo, O Estado do Maranhão, São Luís, Maranhão (1947-1980). Diretor do Suplemento de Letras e Artes de O Imparcial (1950). Colaborador dos jornais Diário de Pernambuco e Correio do Ceará, das revistasClã, Ceará, Região, Pernambuco, e Ilha, Maranhão (1948), do Jornal do Brasil, de O Globo, das revistas Senhor e o Cruzeiro; da Folha de S. Paulo (a partir de 1982) e O Estado do Maranhão. – Membro

do

InterAction

Council

(ex-chefes

de

Estado

e

de

Governo).

Condecorações - Medalha Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras; Medalha José Bonifácio; É Grão-Mestre e tem Grã-Cruz ou o Grão-Colar das seguintes ordens, entre outras: Ordem Nacional do Mérito, Ordem do Rio Branco, Ordem do Mérito Judiciário, Ordem do Cruzeiro do Sul, Ordem da Legião de Honra (França), Ordem de Sant’Iago da Espanha (Portugal).

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http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=760&sid=345 http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/jose_sarney.html


BREJAL DOS GUAJAS Brejal, ai meu Brejal, Brejal dos Guajajaras, Morrer em ti, ai Deus, Morrer em ti, ai Deus, Tomara ... Valsa de Zé Binga Em pace, em pace, em rua, em rua, Ai meu Deus, padecendo sem culpa nenhuma! Incelência do Olho-d’Água Seco Brejal, Brejal, terra querida, Brejal, ai meu Brejal, Motivo da minha vida, Dizer adeus a ti, ai Deus, Não digo tal ... (Valsa de Zé do Bule)

CONVERSA DE CANOEIRO - Nestes mares, Mestre João? - Sim, cá e code. - Por amor de quê? - Para sofrer menos. - Sofrer de menos ou sofrer de mais? - Tanto faz. - Andando que rumos donde? - Caminhos do Norte. - Do Norte ou da morte? - Tanto faz. - Norte de que? - Das águas, compadre. - Das águas de mais ou das águas de menos? - Tanto faz. - Águas ou éguas? - Tanto faz. - Êta Maranhão grande aberto sem porteira ... (Homens do Rio Pericumã)

Meditação sobre o Bacanga As águas passam É lua e as casas aparecem. Sou eu. Narciso que se olha E fenece. Tudo é sombra, sombra e nada, água e silêncio nas folhas e vales rompidos pelo Bacanga em sulcos de madrugada. Faixa de vento na montanha a encher e vazar: címbalos onde o tédio geme. É o gigante do não esquecer e as vozes do mangue. Sangue correndo das imagens mordidas


pelos dentes estranguladores da noite. Narciso se olha Satanicamente o brilho dos olhares buscam o que não existe mais. Ele vivia além e tinha fome, mas pensava. Comeu os pensamentos devorando os dias o nome e a noite. Doce rio que vem e bóia na enseada. Águas barrentas, sujas, Liberdade que morreu e se afoga no Mar. Medito sobre mim que já sou morto: as canções fúnebres que me pesam como pedras no vazio do lembrar. - Barquinho de vela que vai sobre o mar. Boneca amarela que me vem roubar. Meus olhos fenecem e o presságio dorme no espelho das águas que escorrem. (A Canção Inicial/1954) Carta do Anti-Santo José aos seus tristes EU, de nome José, rasguei os olhos da vida em cinza manhã de abril. Chorei e o campo chovia onde a cidade pedia tempos, clemência e amor. BENDITO sejais chão Pinheiro com o canto dos bois e os patos selvagens que deixam as nuvens e os ventos gigantes que lhe guiaram as asas cruzando oceano e pousaram à beira dos Defuntos onde sacodem a viagem e fazem ninho na folha das plantas aquáticas que flutuam como anjos deitados na mansidão dos lagos. IRMÃOS: NÃO me julgueis pelo abandono dessa sombra que prometeu entregar-me o corpo de pelúcias de carne para que eu o amasse com a força de todas as tempestades


e eu nunca o amei. NÃO me julgueis por haver começado o meu caminho naquela canoa de toldos e ramos que cantavam, "bendito é o santo nome". EU fui ferido pelos vampiros gigantes que esmagaram a sunga de chita colegial feita de flores pequenas e alças de rendas onde ficou sepultado para sempre o seu sexo pequenino e o meu primeiro olhar que eu carregava nas mãos como o cálice daquele vinho do corpo de Deus que eu não bebi para embriagar-me na fome de amar a pronta carne, o pão, o fruto, a vida e os peixes que habitavam os lagos desse campo que me abriu os olhos numa manhã de abril. IRMÃOS: NÃO me julgueis pelo que fui e jamais fui e sempre serei, pois de não ser vou sendo esta noite que não teve pôr de sol. EU juro que a cadela que latia junto de tuas mãos e eu dizia que era raiva devia ter morrido para que hoje eu não a lembrasse para matar o meu ódio e ressuscitar o meu nojo de pensar que eu fui capaz de amar e os ventos da minha vida não têm mais velas a empurrar nem barcos para sair do Rio Pericumã e chegar ao mar alto da Ponta de Itacolomi e ali afundar como afundaram nas pedras eternas de moluscos tantas navegações e tantos monstros. IRMÃOS: Eu habitei a Rua da Madre de Deus onde os teares funcionavam dia e noite, no número 127. Dona Sérgia! eu te beijo cerzideira que me carregou de amor quando os outros me cuspiam e as estátuas de porcelana branca que vieram de Portugal guardavam vigilantes as cumeeiras largas do casaria da Fábrica onde batiam algodão branco e doce da velha indústria Santa Amélia e as operárias furtavam os casulos para higiene do ciclo menstrual naquele mundo de louças fusos, caldeiras e fardos.


A Fonte das Pedras que de pedras tinha a água que escorria como sangue das carrancas que jamais aceitaram o suor dos escravos que Dona Ana Jansen fazia atirar nos poços de lanças para serem espetados e se transformarem em fantasmas que enchiam de gemidos todos os becos desta cidade que nasceu para ser possuída em coitos de agonia e pecado e em virgindades com cheiro de alfazema entre o amor e as picadas de arraia. IRMÃOS: NÃO me julgueis pelo bonde de minha infância que matei porque eu o amava e o matei, como se não mata o amor, mas pelo indesejo da morte. ELE não corre e foram minhas mãos que o trucidaram e trucidaram com ele as moças todas que estavam na janela e eu desejava casar para fazer filhos que de novo pegassem o bonde e fossem até o fim dos caminhos e de novo fizessem outros filhos e outros mais para que o bonde fosse o trilho eterno e não o fim do filho. ............................ IRMÃOS: NÃO me julgueis por não haver fugido com a trapezista do circo mambembe, com que todos os meninos das cidades de cavalos e cabeças-de-cuia pensam fugir para viver em acrobacias e picadeiros. Eu a reencontrei em Brooklin, num janeiro de neve nessa cidade de Nova Iorque que eu também amei como se ama a prostituta pintada que nos acena com uma noite de orgia. O táxi amarelo parou. De repente ao meu lado a trapezista que eu tinha amado e ali repousava de sandálias e tranças. Ao meu espanto apenas disse: José! De repente o mundo voltou ao princípio e eu senti que os passarinhos podem cantar em Manhatan como na mangueira velha do quintal da casa do velho José Costa, meu avô, que me disse um dia: Guarda a tua alma e o teu corpo em vinha-d'alho, porque a vida é feita de postas azedas em que os figos e as melancias não têm nem gosto nem cor. IRMÃOS: EU, José, vos digo que a vida é um bando de itãs que gritam histéricas na beira do lago de Viana à espera da terra parar de repente e de repente a canarana ter flores eternas


as mangueiras terem galhos de meia légua e debaixo de sua sombra os índios pedirem amor com os anjos, plantando rosas de capim de marreca e homem Senhor do destino a descansar os seus lábios vermelhos nos seios das deusas jovens, adormecidas nas aguadas de ventos, novilhas de todos os mundos. IRMÃOS: PERDOAI-ME de dizer a Deus que ele não pode pisar meus caminhos com os pés de cardos que romperam de sangue a coroa fria e sem glória desses dias que ele me deu e eu esmaguei. IRMÃOS: perdoai-me. O sonho da morte é uma nuvem que não cobre as eternas noites da vida. (Os Maribondos de Fogo/1978)

AUTORRETRATO Bigode, indevassável, eterno, ausente, habita intocável o latifúndio de minha solidão. Menino, moço e velho superpostos, me olho e não me vejo. VELAS APAGADAS É uma chama vermelha em meus olhos. Fé, crença, certeza, luz e esperança. Agora, ali, parada e morta, solitária e fria, um vela apagada. UMA NOITE Uma noite dormiu dentro de mim. Mil demônios balançando-se para lá e para cá, a rede de linha de sede. Ela sorria com o odor do cio.


LUIZ MORAES31 LUIZ CARLOS MORAES BRUZACA Flecheiras, município de Humberto de Campos, em 1948. Geração Cassas Livros: Planície dos lobos (1986) e Sinfonia no século das águas (1988). Limites Vi sofrendo Outro irmão Em busca de pão e amor Na rua deserta Igual a um profeta Ou um bicho qualquer Mais bicho não o é No céu já não pensa Perdeu sua crença No pátio da Sé Nem um trocado Sapato furado E agora como é? A fome lhe dói O rato lhe rói É um bicho ou não é? Tem medo do escuro Queria ser duro Como foi José No lixo sua mesa A gula indefesa Para saciar Engole impurezas Vomita tristeza E começa a chorar Cheguei mais perto Para ver de certo Se aquilo era um cão Era um homem sem colo Caído no solo Dos homens sem mãos (Planície dos Lobos,1986)

A morte de Nel Virgem santa ignorância Onde só viram o ABC, De doença estoporada Muitos lá vivem a morrer. Foi mais um fato concreto Pois muitos viram de perto O que aqui vou descrever. Lá pras bandas onde nasci Morava um NEL bom de cana, Uma mulher e três filhos Em uma pobre choupana. 31

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/luiz_moraes.html


Se houvesse todo dia Aguardente ele bebia Como achava isso bacana. Um dia uma simples febre Causando-lhe alguma dor, Falaram logo é mulesta Com o ramo de estopor, Se escapar fica imperfeito Aí só pode dar jeito Se for um bom benzedor. Vá chamar seu Filomeno Pra benzer não tem melhor, Tem também João Cachoeira Que curou a minha vó, Corre depressa menino Se não achar trás Orcino Que o homem já está pior. Um dos mateiro confirma Isso é mulesta do ar, Só cristé de pino roxo Bota água pra monar Enquanto o remédio apronta Azeite e dez pílula contra Dão logo pra ele tomar Depois de tudo tomado Ele foi se esmorecendo, Todo comê vinha fora E a barriga crescendo, Deram outra misturada Não demorou a zoada Meu Deus, o NEL tá morrendo! E assim muitos perecem Enganados pela crença, Sob o mal sem lenitivo Onde a cura é uma sentença. De purgante e de cristé Intoxicaram mané Sem acertar com a doença. (Sinfonia no Século das Águias, 1988)


MANOEL BENICIO FONTENELLE

(advogado, ex-deputado pela Província do Maranhão) Manuel Benício Fontenelle, nascido em 25.12.1823, na cidade do Brejo, província do Maranhão, e falecido em 06.07.1895, em São José de Além Paraíba, Estado de Minas Gerais. Filho de Felipe Benício Fontenele e de Ana Alves. Advogado e poeta. Começou seus estudos no seminário de São Luiz do Maranhão e daí, com a intenção de estudar também Direito, passou para o seminário de Olinda, em Pernambuco. Inconformado a doutrina Católica da infalibilidade do papa, que julgava um exagero, deixou o seminário, dedicando-se somente à faculdade de Direito, onde recebeu o grau de bacharel em 1849. Pouco depois de formado esteve no Rio de Janeiro, onde se casou. Foi Deputado à Assembléia Geral pela Província do Maranhão, de 22.05.1867 a 22.07.1868.

De Manoel Benicio Fontenelle SATANÓPOLIS – POEMA Rio de Janeiro: Imprensa Industrial, 1878 318 p Extraído de um exemplar da Biblioteca Nacional, doação de Aricy Curvello. Longo poema com 15 cantos. Precedido por uma dedicatória à cidade de São Luis do Maranhão. DEDICATORIA Rio de Janeiro – Abril de 1878 A ti, berço dos sonhos, o meu sonho. Mãe de Odorico, de Gonçalves Dias, Terra onde saudosos olhos ponho, Minha terra, mãe minha, as harmonias Acolhe do meo debil alaude E entre os gloriosos sons delle o som rude. O´gigante que estás do mar á borda, Sentinella deitado, alto mysterio, Pelas horas da noite, a um sopro acorda Que passa te abalando em roda o imperio, Sopro do Mal, e d´harpa que ao horror freme Acolhe o frêmito, o cantar que treme. Terra brasilia, pátria destes cantos, Terra brasilia, minha doce patria, Como o filho que á mãe beija-lhe os prantos


Porque o entranhado maior que faz que idolatre-a, Eu beijo as tuas lagrimas e canto De amor e de justiça o hymno santo. Berço dos sonhos, rede de poesia Doce embalada, ninho de poetas, Chão, ar, céo, donde jorra a melodia, Poetico paiz, regiões dilectas, Terra do Maranhão, acceita o verso De orvalhos de saudade e amor asperso. Terras de santa cruz com o nome e emblema, Fulgido em vossos céos vosso Cruzeiro, Vosso santo d´estrellas diadema, Patria santa, almo império brasileiro, Acceita, neste poema o palpitar-me, O coração a te fallar no carme.

CANTO V (fragmento) Fiquei olhando e emquanto o echo reboa Do gêmeo grito a sahir da treva ardente Onde cahio com o par a gêmea c´roôa; Os olhos na catastrophe e na mente Voando o caso que recordo ab ovo, E o chão lembrando-me onde son vivente: “ Repelle, ó Novo Mundo, ó mundo novo Da Liberdade, a mergulhar na Europa E a vir ser alma em ti de cada povo: Oh! repelle, que o sangue te galopa, Repelle a inquinação, ó verde America, Do gigante o pygmeo vestido em roupa, Repelle a sombra anan da alma homerica, Negro d´alma o Soluque e seo imperio. Nem tua aureola, ó Mãe, seja chimerica. (...)


MANOEL CAETANO BANDEIRA DE MELLO32

Caxias, 30 de julho de 1916 # 2008 Geração de 30 Durante vários anos, colaborou na imprensa carioca, dedicando-se ao ensaio literário. Bacharel em Direito, como jornalista foi redator-tradutor das agências Havas, Reuter e Nacional. Foi ainda redator-chefe da Gazeta de Notícias e d’O Jornal; Secretário-geral do Conselho Federal de Cultura ao longo de 22 anos, além de Diretor da Agência Nacional de Notícias. Como Diretor do Serviço de Documentação do DASP, cumpriu várias missões internacionais. Foi professor-assistente da cadeira de Literatura do Curso Superior de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Homem dinâmico, durante mais de quarenta anos logrou conciliar – o que é raro, a par de incomparável força de vontade – o poeta e o burocrata. OBRAS PUBLICADAS Estética na obra de Machado de Assis, Rio de Janeiro, 1935; O Centenário das origens das espécies, Rio e Janeiro, 1959; A viagem humana, Rio de Janeiro, Editora Leitura, 1960; O mergulhador, Editora Leitura, 1963; Canções da morte e do amor, Rio de Janeiro, Editora José Olympio, 1968 (Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, 1969); Da humana promessa, Rio de Janeiro/Brasília, Editora Imago/Instituto Nacional do Livro, 1977; Uma canção à beira-mar, Rio de Janeiro/Brasília, Editora Cátedra/Instituto Nacional do Livro, 1977; Durante o canto, Rio de Janeiro/Brasília, Editora Cátedra/Instituto Nacional do Livro, 1978; A estrada das estrelas, Rio de Janeiro/Brasília, Editora Cátedra/Instituto Nacional do Livro, 1981; Da constante canção, Rio de Janeiro/Brasília, Editora Cátedra/Instituto Nacional do Livro/Fundação Nacional, 1983; Outono, estação de amor, Rio de Janeiro/São Luís, José Olympio Editora/ Secretaria da Cultura do Maranhão, 1987 e Antologia Poética, Edições AML/Gráfica Alcântara/SIOGE. Autor de diversos livros em prosa tem publicados estes, de poesia: A viagem humana (1960), O mergulhador (1963), Canções da morte e do amor (1968), Da humana promessa (1976), Uma canção à beira-mar (1977), Durante o canto (1978), A estrada das estrelas (1981), Da constante canção (1983), e Outono estação do amor. Dos 15 sonetos de O mergulhador, este soneto que deu título ao volume: O mergulhador Sobre ti te susténs e sobre o arame em distância que imagens emudece O mar, o imenso apelo que te chame não apaga o corpo que desaparece Porque ressurge úmido e o reclame o oceano do ar onde se tece

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CARNEIRO, Alberico . PAIDEUMA DE BANDEIRA DE MELLO. . In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP , 20 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/20/Pagina677.htm, acessado em 25/04/2013. http://panorama-direitoliteratura.blogspot.com.br/2011/01/manoel-caetano-bandeira-de-mello-outono.html http://www.saoluisdomara.xpg.com.br/paga.htm http://www.limacoelho.jor.br/index.php/Poesia-maranhense/


a nova trama para o olhar que ame o salto que em si mesmo permanece Embebido nos próprios movimentos a dançar sobre as linhas paralelas formadas pelos fictícios traços passam as vagas levadas pelos ventos mas fica sobre a cinza de outras telas o corte do teu corpo nos espaços.

Alberico Carneiro (2006) 33 considera que, ao longo de sua longa viagem poética Manoel Caetano Bandeira de Melo, desde 1960, com o lançamento da obra literária poética A Viagem Humana, até 2005, com o lançamento do livro de sonetos modernos, Após a Solidão de Certas Horas, exatos 45 anos de poesia, experimenta inúmeros processos de construção do poema. Entre eles, o poema em versos brancos não metrificados, o poema com versos alexandrinos, expurgados os rigores formais; os sonetos decassílabos personalíssimos que se destacam dos convencionais, pelo fato de o poeta usar uma linguagem atualíssima; o poema curto de caráter lírico-social, com a marca inconfundível do estalo ou insight. Porém, o grande lance poético de Manoel Caetano acontece indiscutivelmente com o lançamento de A Estrada das Estrelas, uma obra marco e divisória de águas no contexto da própria obra literária do poeta, bem como no panorama da Literatura Brasileira. Não que as obras precedentes sejam de menor mérito literário, muito pelo contrário, cada publicação de livro do escritor vai confirmando o lugar que ele, sem dúvida conquistou, entre os melhores poetas brasileiros contemporâneos.

Em entrevista concedida a Alberico Carneiro34: Bandeira de Mello – Minha primeira infância eu passei no sertão do Maranhão. Nasci em Caxias. O meu pai era juiz na cidade que então se chamava Picos, e hoje é Colinas, para não confundir com Picos, do Piauí. Nessa primeiríssima infância eu me lembro de boi, de gado, de um cavalo que mordeu o meu joelho. Menino, montava num carneiro, mas eu era pequeno e tinha medo de montar nele. Essa é a primeiríssima infância. De vez em quando ia a Caxias, onde nasci, porque o meu pai sendo juiz em Picos e eu o primeiro filho, minha mãe foi ter o parto lá com a mãe dela, à beira do rio Itapecuru. Então, eu virei conterrâneo de Gonçalves Dias. Nasci em Caxias, e minha mãe também é de lá, da família de lá. Depois, com 5 ou 6 anos, foi que vi a primeira vez o mar. Aí no Olho d’Água. Eu tenho na Antologia Poética uma Canção à Beira-Mar, em que digo: “Com ela passeando na praia/ pelas ondas se retirando”. É a praia do Olho D’Água. Essa é a segunda-primeira infância, que eu vivi aqui. Mais tarde, nós chegamos aqui, sendo que meu pai tinha sido transferido pra cá. Eu já estava com 7 anos. Fiquei em São Luís. Fiz o curso primário até o 3º ano. Depois, por vagabundagem de menino, não passei do 3º para o 4º ano. Meu pai ficou aborrecido, me passou para um colégio particular, o Instituto Viveiros, em 1930. Aí houve a Revolução e o meu pai, Dr. Públio de Mello, que foi advogado e desembargador, foi cassado. Naquele tempo, cassado era diferente, era cassado sem vencimento, sem coisa nenhuma, Mas depois ele foi reintegrado. Ele era um homem íntegro. Mas a Revolução achou que meu pai era da República Velha. Aí eu fiquei em São Luís.

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CARNEIRO, Alberico. MANOEL CAETANO BANDEIRA DE MELLO (II) - UMA VIAGEM HUMANA PELA POESIA. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP , 25 de janeiro de 2006 , disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/25/Pagina681.htm, acessado em 25/04/2014 http://www.guesaerrante.com.br/2006/2/22/Pagina686.htm http://www.guesaerrante.com.br/2006/2/22/Pagina690.htm http://ronaldocostafernandes.blogspot.com.br/2012/11/poema-manoel-caetano-bandeira-de-mello.html http://arch.coc.fiocruz.br/index.php/manoel-caetano-bandeira-de-mello-secretario-geral-do-conselho-federal-decultura;isaar http://severino-neto.blogspot.com.br/2013/03/a-poesia-segundo-manoel-caetano.html 34 CARNEIRO, Alberico . Paideuma de Bandeira de Mello. . In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP , 20 de janeiro de 2006, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2006/1/20/Pagina677.htm, acessado em 25/04/2013.


Do Instituto Viveiros, passei ao Liceu Maranhense, onde estudei três anos. O 4º e 5º ano fiz no Colégio Ateneu Teixeira Mendes. Aos 19 anos, já estava no 4º ano da Faculdade de Direito, pois naquele tempo não havia vestibular. O sujeito acabava o ginásio, passava direto pra faculdade. Por isso é que eu, garoto, com 18 a 19 anos, já estava no 4º ano de Direito. Com essa idade eu cheguei ao Rio de Janeiro. Essa adolescência, que eu passei em São Luís, me marcou muito, com Josué, Viegas, Franklin, Oswaldino Marques, Erasmo, do Cenáculo Graça Aranha. Erasmo Dias – muito meu amigo, foi meu colega do Liceu, no 3º ano. Isso me marcou muito na adolescência. A cidade de São Luís, com esses sobradões, aquela coisa... aquela coisa do Morro dos Ventos Uivantes. É uma cidade impressionante. Esse tempo, o da infância e o da adolescência foi a fonte prima de meus textos literários. Desde criancinha, não sabia o que era poesia. Escondidinho, peguei um caderno e escrevi Gotas d’água, e não mostrei pra ninguém. Nem me lembro o que era. Era coisa de menino, vendo o horizonte a distância. Coisa ingênua, de um menino diante do mundo. Aí minha mãe ou meu pai me surpreenderam: “O que é isso?” Eu escondi, porque eu, primeiro, não pensava que aquilo fosse considerado coisa bonita. Fiquei me desculpando. Mas vi que eles acharam interessante. Nisso eu tinha uns 8 anos. De outra vez, já no Itapecuru, a gente passando as férias, numa noite de luar eu disse assim: – “Uma moça de olhos tão bonitos,/ numa noite sem luar”. Aí eles disseram: – “É tão bonito! Isso é de Castro Alves!” E eu nunca tinha lido isso em lugar nenhum. Nunca tinha lido Castro Alves. Aí eu vi que tinha o dom poético. [...] Bom, o meu primeiro livro, mais ou menos bem realizado, foi Canções da Morte e do Amor, se bem que eu publiquei primeiro A Viagem Humana, que é um livro em que tive uma fase de um certo tédio ao estabelecido, quer dizer, um tédio à própria poesia. EuAChava que era preciso fazer alguma coisa – eu e todos. A genteAChava que a poesia estava muito sem tesão. Então eu escrevi A Viagem Humana. Foi em 1960. Foi alguma coisa sentida, a volta aos dias claros da adolescência. Aí os críticos comentavam: “Como é que um poeta que faz um soneto desses comete palavras tão cabeludas?” Mas era de propósito mesmo, pra chocar. Andei criando algumas palavras para ver se ao menos eles me elogiavam. (fragmentos, poemas iniciais do longo poema)35 I busca em tamanho tempo pelo meio entre silêncio alheio a nossa vida alheios nós também que não a enleio de pessoa uma a outra prometida não era silêncio o que em torno estava mas vozes indiferentes olhos distantes enquanto o mesmo tempo nos andava que é o mesmo sempre o tempo viajante o mundo apartara antigas ânsias agora novamente as aproxima de volta percorridas as distâncias o amor esvanecido paira acima das distâncias do mundo não palavras mas mútuos mas sentidos pensamentos saudades de venturas antessonhadas depois da vida inteira de lamento por nunca ter ousado essa presença temeroso de ouvir esse chamado amor se esvai no tempo quando pensa que o espaço protege os afastados

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De DA HUMANA PROMESSA. Rio de Janeiro: IMAGO; Brasília: INL, 1976.


se esvai mas volta como era dantes o espaço pelo tempo conquistado pela memória somos viajantes para sermos repostos lado a lado tal noutros tempos apesar de mudos os olhos conversavam com espanto do que diziam revelavam tudo que outra linguagem não esclarece tanto o mundo pequenino se afigura a quem o realiza pelo sonho triunfante de névoa outrora escura entre passos dos anos de abandono não procurado apenas sendo imposto segundo a lei de existência aceita atrás do novo rosto o outro rosto a figura de amor nunca desfeita O velho e a noite36 Ó noite negra, noite das noites. Ó noite fonte da própria fonte, com o teu silêncio, com a tua sombra, com a tua ausência, com o teu sono, com a luz que te peja e que ocultas, presa ao teu peso que a subjuga. Ó protetora dos que não acham a paz senão quando se apagam no teu refúgio, perdidas faces. Ó noite, noite, nunca passasses. Os Bêbados37 Ciranda e homens e mulheres de cozinhadas epidermes. As duras barbas, roupas rasgadas. E estas mulheres descabeladas. Olhos vermelhos à luz do dia que dissipara a noite amiga de onde chegaram. Todos por fora desbocados, Porém por dentro caramujos. Todos se rindo, de ares soturnos, vindos da praia cambaleantes como marujos. Todos vieram do mar noturno, do mar de areias salpicantes. Todos sujos. Hoje Amanhã38 No hoje todo o amanhã, no espaço o objeto. Tudo o que é será o seu futuro. 36

De ANTOLOGIA POÉTICA. São Luís: Edições AML/Gráfica Alcântara/SIOGE, 1994. ANTOLOGIA POÉTICA. São Luís: Edições AML/Gráfica Alcântara/SIOGE, 1994. 38 ANTOLOGIA POÉTICA. São Luís: Edições AML/Gráfica Alcântara/SIOGE, 1994. 37


A pedra, o sangue, o lodo, o lírio, o afeto, flor humana que nasce do monturo. As estrelas mudaram o seu aspecto no caos que gera ou não o nascituro. O nascente clarão rompe direto da dor da fricção do ventre escuro. Sendo eu o que serei, serei já sendo inelutavelmente condenado ao meu próprio amanhã e ao de tudo. Porvir indiferente se o prevendo, quer veja o dia de hoje ou o outro lado, quer grite nesta cela ou fique mudo. A Viagem39 O que de sombra atrás do silêncio dos véus, atrás do gelo das luas, do reflexo das estrelas nos corpos em rota centrífuga. E depois espaços cegos. O que de linha vazia. O que de olhos desnecessários De princípio sem fim e sem princípio. De ausente verbo, de negro vôo. Fundo sem fundo do fundo oriundo. Curvas de marcos impossíveis, de círculo iluminável, súbito, na escuridão. E no silêncio a imensidade.

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ANTOLOGIA POÉTICA. São Luís: Edições AML/Gráfica Alcântara/SIOGE, 1994.


MANUEL LOPES

Coleção Maranhão Sempre SONETO À LIBERDADE Primeiro tu virás, depois a tarde com terras, mares, algas, vento, peixes. trarás, no ventre, a marca das idades e a inquietude dos pássaros libertos. virás para o enorme do silêncio - flor boiando na órbita das águas tu não verás o fúnebre das horas nem o canto final do sol poente. primeiro tu virás, depois a tarde sem desejos e amor. virás sozinha como o nome saudade. virás única. eu não terei a posse do teu corpo nem me batizarei na tua essência, mas tu virás primeiro e eu morro livre. (Voz do Silêncio)

POSTAL este lado da ilha o cais e a cidade velha datam de muito tempo, ma a cidade é um poema não cresceu. é sempre a mesma. rodos os dias igual: o mesmo outeiro da cruz desterro, fontes e fortes igrejas, lendas, sobrados estreitas ruas, mirantes portões, sacadas de ferro


poetas, becos, telhados serestas, maledicência saveiros, pregões de rua cantaria, mal-amados rios (chão, templo e canteiros) de peixe e palafitados) ladeiras, moças bonitas recato e amor nas janelas casarões azulejados. cidade em traje a rigor vestida à colonial meu mundo, meu porta-jóias meu bem, meu cartão postal. brisa de maré vazante sem similar no país. quietude pousada na água caminhos feitos de história. gente, vem ver São Luís! (Poemas de Agosto)

UM HOMEM À BEIRA DO RIO 1 não despertes o homem que habita o menino: vegetal crescendo à beira salubre deste rio fino. violentas paisagens crescem e se afogam em tudo o que os olhos na ausência devoram. sai-lhe agora em sonho ontem realidade e onde infância fora é perdido encanto que se quebra agora § que homem é um deserto ou apenas ilha? há sempre uma história de amores, de quilha... cose-lhe água pura - sereno pavio -


todo homem é um menino lavado em seu rio e hoje está em tudo penetrante e áspero o grito abafado que lhe corta a alma e atravessam o corpo mil líquidas línguas se esta infância cresce em mim, homem, mínguas. (Um Homem à Beira do Rio)

CANÇÃO ITINERÁRIA era curto o camInho e ias depressa, como se longo fosse, e não sabias. eu te surpreendi constante nessa viagem sobre o amargo dos teus dias. teu olhar era forte, a mão espessa. não sei da tua dor porque sorrias. e te vi de esperanças e promessas cobrir a estrada em que, sorrindo, ias. Ah! o tempo mais ágil na corrida quão pouco te deixou colher da vida e as mãos, como a esperança, estão vazias. agora te contemplo: a marcha estanca, vergado o corpo sobre a barba branca. era curto o caminho e não sabias. (Canção Itinerária/)

A palavra te lavo e lavro palavra/pão polida pedra de construção do quanto faço deste edifício em que elaboro fé e ofício, te esculpo e Bruno verbo/canção no diário labor


de artesão. te louvo lume e pedra d'ara com que ergo o templo da flor mais cara e clara: poesia com que reparto os sóis do meu dia o suor do meu dia o fel do meu dia as mazelas do homem as amargas vidas o pão subtraído as pagas devidas a paz relativa a justiça rara a fome de todos a morte na cara da criança. o aço que o corpo nos cava, a fé o cansaço desta luta brava a fartura a poucos de muitos tomada o chão proibido a água negada o amor que rareia e a festa sonhada ............................ palavra larva semente pura que em mim explodes de sons madura, te lavo e lavro verbo/canção te louvo lume poema/pão manhã sonhada meu sim/meu não. (A Reinvenção da Tarde)


MARCO POLO HAICKEL

M. P. HAICKEL é maranhense, professor de Literatura Brasileira, Língua Espanhola, voluntário no projeto O Livro na Rua e colabora na Revista Eletrônica Nós Fora dos Eixos.

HAICKEL, M. P. Poemas de um amor ao ocaso. 3ª. edição. Brasília, DF: Virus Editora, 1994. S.p. 10,5x15 cm. Col. Bibl. Antonio Miranda

PARTINDO Nossos palavras brigavam, perdidas... Era preciso tanto orgulho? Tanto ódio? Naquela tarde nada se fundia; prendidas, nossas vidas eram entorpecidas por óplol Era mesmo preciso tanto desamor? Esse frio solitário ao calor? Esse vazio naquela viagem Infinita.,, Era ausência de ópio naquela tarde esquisita.. Brasília entardecendo, entardecia com soluços reprimidos em nossa angustia, nossa melancolia..,


Eu entardecendo, entardecia naquele teu olhar, tua mirada e o amor de letal desvanecia.

O POEMA NOTURNO No escuro, me estico na cama e lentamente imagino meu rosto enrubescido pela brasa do cigarro num lento trago. Saboreio... Uma música melodiosa ao fundo me entranha num torvelinho de sentimentos, A fumaça parte rumo ao inusitado, e junto vai o meu pensamento suavemente subindo... Assombra-me esse pensamento! Não multo longe, respira pausadamente, meu mundo, minha espécie. Nesse momento, o mundo na minha concepção já foi conquistado. Só me resta - não vivê-lo, mas sim, Intensificá-lo, e assim o faço cautelosamente. Também, nesse momento, a vida se faz completa pois está vazia de pensamentos fixos... Talvez um breve suspiro, um frémito repentino me desperte desse preâmbulo, esse misto de sonho, torpor e cansaço. Resta-me a noite como companheira e a pena como aliada. Eu tenho os pensamentos longe e o rosto não mais intumescido nessa solidão de ser. Aos poucos tudo passa a ser como um porto e solidão.


MORANNO PORTELA 40

RAIMUNDO JOSÉ PORTELA DE CARVALHO Originário de Piauí (de Piripiri) mas viveu sempre no Maranhão. Nasceu em 1956, estudou em Caxias e vive em São Luis, onde lançou seu primeiro livro de versos: Cavalo-marinho. POETHOMEM É pouco o peito do homem para o poeta guardar: ele está como represa quando vai arrebentar. É pouco o peito do homem para o rio que dentro dele quer, sôfrego, navegar. Mas o homem é necessário, dele o poeta precisa: um é unho — o outro é vário, um voa — o outro pisa. MATURIDADE Tudo finda. Tudo um dia finda e nem percebemos essa morte súbita e escorregadia a carcomer os nervos do que foi espanto. Vem desde antes mesmo ainda antes da elaboração do existir esse morrer constante que dá-se à vida.l Vida: nome tanto para tão pouca fruta que não cessa de madurar seu fruto e infalível apodrecer em semente.

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/morano_forte.html


TEMPO ÍNTIMO Inscreve teu poema no tempo como no tempo estás inscrito: um silencioso grito juntando os cacos da solidão. Estás partido, e teu poema é só um eco sem raízes ou audível chão. Contudo cantas, e tua voz, rouca, vai desvendando as faces do mundo sob tua pele escondidas. Canta, canta que aprenderás o tempo, teu relógio de pulso ecoando efêmero teu coração — o relógio enorme da catedral e o silêncio.


NEIVA MOREIRA

JOSÉ GUIMARÃES NEIVA MOREIRA 41 Nova Iorque, 10 de outubro de 1917 # São Luís, 10 de maio de 2012. GERAÇÃO DE 30 Jornalista Inicio42 [Natalino Salgado Filho, em Fragmento do Discurso de Posse) com o meu antecessor imediato José Guimarães Neiva Moreira. Ele enobreceu seu nome nas lutas do jornalismo maranhense e brasileiro e escreveu uma história marcada pela crença no binômio paz e liberdade. Nasceu à beira do rio Parnaíba, na cidade maranhense de Nova Iorque. Órfão de pai aos seis anos de idade, precisou, desde cedo, lutar pela vida, contribuindo com seu trabalho para a manunteção familiar. Fez, então, o que estava ao alcance de suas limitadas possibilidades: vender bolos, remar canoas na travessia do rio Parnaíba e outras pequenas tarefas, ao mesmo tempo em que não se descuidou dos estudos na vizinha cidade de Floriano. Conhecedor da dura realidade que cerca Maranhão e Piauí, sua vida toda foi pautada pela luta em favor dos oprimidos. Seu instrumento preferencial de atuação, sempre foi a imprensa. E disso deu provas já aos quinze anos de idade, participando ativamente da redação do jornal estudantil A luz. Idealista, na inteira extensão do termo, sonhava transformar o mundo, para fazê-lo mais justo e melhor para todos. No Jornal do Povo, com a reportagem intitulada Geração da Lama, o menino de Nova Iorque deu o primeiro passo rumo à política. Foi um dos líderes da Greve de 51, uma das mais importantes comoções sociais do século passado em São Luís. Como jornalista, imortalizou seu trabalho nos jornais O Combate, aqui no Maranhão, e em âmbito nacional, no Diário da Noite, A Vanguarda, O Semanário, O Planfeto, O Jornal e na revista O Cruzeiro, do grupo fundado por Assis Chateaubriand. Deputado estadual, foi líder da bancada oposicionista na Assembleia Legislativa. Quando deputado federal, no exercício de três mandatos consecutivos, foi cassado pelo golpe militar de 64, ao lado de outros companheiros como João Goulart, Miguel Arraes e Luís Carlos Prestes. Cassado e com seus direitos políticos suspensos por dez anos, Neiva Moreira viveu quinze anos de exílio na Bolívia, no Uruguai, na Argentina, no Peru e no México, e enfrentou o dissabor de ter seu jornal fechado e até mesmo a sede incendiada. Mas sua voz permaneceu livre: fundou a revista Cadernos do Terceiro Mundo e foi um dos fundadores, no famoso encontro de Lisboa, do que viria a ser o Partido Democrático Trabalhista. Em seu discurso, ao ingressar nesta Casa, ele 41

http://pt.wikipedia.org/wiki/Neiva_Moreira http://diariodomearim.blogspot.com.br/2012/05/neiva-moreira-morre-aos-94-anos.html http://www.turmadabarra.com/nonatosilva.htm 42 O POÉTICO DIZ – CURSO DO ESCRITOR NATALINO SALGADO FILHO. In GUESA ERRANTE, edição de 22 de dezembro de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2013/6/3/o-poetico-diz--curso-do-escritornatalino-salgado-filho-5414.htm, acessado em 30 de maio de 2014.


relacionou o nome da rua que sedia a Academia – Rua da Paz – ao ideal perseguido em toda sua trajetória de luta. Não se considerava poeta, pois sempre lembrava que seu contato com a poesia havia se dado com a produção de um soneto aos 14 anos, mas logo percebera que seus caminhos com as letras eram outros. Foi defensor das artes – consta de sua história ter capitaneado na imprensa uma campanha que evitou que o Teatro Arthur Azevedo fosse arrendado para uma empresa exibidora de filmes; nacionalista – apoiou firmemente Juscelino Kubistchek, quando este estava sendo pressionado pelo FMI para extinguir a Petrobrás. Neiva Moreira era, antes de tudo, um profeta e apóstolo da liberdade. É livre quem deixa de ser escravo de si mesmo, e não deixa o outro ser escravizado, ensinava Sêneca. Benedito Buzar, nosso ilustre presidente, em sua obra Neiva Moreira, o jornalista do povo, lançada quando Neiva Moreira completou 80 anos de idade, tem o mérito de nos fazer conhecer o pensamento desse grande jornalista através de uma cuidadosa seleção de artigos seus publicados no Jornal do Povo. Joaquim Itapary, ao saudar a entrada de Neiva Moreira nesta casa, num discurso pontuado de ricas lembranças pessoais e detalhes históricos que muito revelam seu legado, vaticinou: ninguém poderá escrever a história maranhense dos últimos 50 anos do século XX com a omissão do nome de Neiva como jornalista e político. Na longa entrevista que concedeu a José Louzeiro, e que se transformou no livro O pilão da madrugada, Neiva Moreira alertou: é essencial, mesmo na bruma da confusão dirigida, não perder a perspectiva histórica. O que está para vir é bem mais importante do que o que ficou para trás. Mesmo quando alcançado pela cegueira, na velhice, tal como Jorge Luís Borges, Neiva Moreira mantinha o espírito entusiasta. Eis uma de suas afirmações: minha história ainda influenciará outros jovens corações. Quiseram os inescrutáveis caminhos do destino que Neiva Moreira tivesse o privilégio de suceder nesta mesma cadeira outro grande jornalista maranhense, seu amigo em particular, cujo nome era Paulo Augusto do Nascimento Moraes. Indízivel reencontro na esfera da imortalidade, eles que tantas vezes trabalharam juntos na redação do jornal Pacotilha; conviveram no sobrado da rua de Santana, onde a família de Paulo generosamente acolheu Neiva Moreira por um período; e ainda nas ruas do Rio de Janeiro, quando Neiva acedeu ao conselho do amigo para marcar para sempre seu nome no jornalismo nacional. Como jornalista, além de fundar a revista Cadernos do Terceiro Mundo, Neiva trabalhou como repórter no jornal O Pacotilha e foi dono do Diário do Povo, ambos de São Luís. No Rio de Janeiro, foi repórter dos jornais Diário de Notícias, Diário da Noite, O Jornal e revista Cruzeiro. Ainda no Rio de Janeiro colaborou em A Vanguarda, O Semanário e fundou O Panfleto. Cassado e preso pelos militares, no golpe de 1964, Neiva Moreira foi, inesperadamente, posto em liberdade, por decisão de um chefe militar. Em seguida, asilou-se na Embaixada da Bolívia, de onde, protegido por salvo-conduto diplomático, viajou para La Paz, iniciando um exílio de 15 anos, que o levou a residir no Uruguai, na Argentina, no Peru e no México. Boa parte da biografia aventuresca de Neiva Moreira está presente no livro-reportagem “O pilão da madrugada”, que contém depoimentos de Neiva ao escritor (também maranhense) José Louzeiro. Viveu no meio de destacados políticos de sua família, como José Neiva de Sousa, deputado federal e senador pelo Maranhão; Pedro Neiva de Santana, Governador do Estado; Jaime Neiva de Santana, deputado federal, e Evaldo Neiva, deputado estadual. Muito jovem, ingressou no jornalismo. Em companhia de vários amigos, fundou, em Floriano-PI, o periódico A Luz. Com Carlos Castelo Branco, fundou, em Teresina-PI, o jornal A Mocidade.


Em São Luís-MA, fez-se jornalista do periódico Pacotilha, participando da incorporação desse jornal aos Diários Associados. Em 1942, foi para o Rio de Janeiro-RJ, onde passou pelos jornais Diário da Noite e O Jornal, e revista O Cruzeiro. Ingressou, como redator, no Instituto Brasileiro do Café – IBC. Em 1950, elegeu-se deputado estadual do Maranhão. Assumiu, corajosamente, a criação da Petrobras e da Eletrobrás. Assumiu, também, a liderança da oposição. Em 1954, elegeu-se deputado federal, pelo Maranhão, tornando-se vice-líder da minoria. É um dos fundadores da Frente Parlamentar Nacional, integrada por deputados do PTN, PSD, UDN e PSB. Em 1958, fez parte da Comissão Parlamentar de Inquérito, com o fim de vigiar, no Brasil, a American Can Company, bem como os efeitos da Instrução nº 113 da Sumoc. Ainda, em 1958, reelegeu-se deputado federal pelo seu Estado. E participou da Comissão de Legislação Social e da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Com muita eficiência e acerto, presidiu a Comissão de Transferência da Capital do Brasil, Rio de Janeiro-RJ, para a nova capital do Brasil, Distrito Federal atual. De 1959 a 1960, foi Secretário da Câmara dos Deputados. Em 1959 apoiou a Revolução Cubana e o reatamento das relações diplomáticas e comerciais com a Rússia, 1961. Defendeu com fé, denodo e esperança, a reforma agrária, bem como a reforma eleitoral, para se permitir o voto do analfabeto. Em 1962, elegeu-se, para a terceira legislação, tornando-se amigo íntimo de Leonel Brizola e João Goulart. Com o levante militar que decretou ditadura no País, em 31 de março de 1964, Neiva Moreira teve seu mandato de deputado federal cassado, bem como seu Jornal do Povo fechado e incendiada a sua sede. Foi preso, mas conseguiu exilar-se na Bolívia, onde dirigiu o jornal Clarín. Com a vitória dos militares bolivianos, em 1964, teve que mudar-se para o Uruguai. Ali, editora os jornais Sur e Izquierdo, El Oriental, El Debate e Aora. Mas teve que exilar-se na Argentina. Em Buenos Aires edita a revista Tercer Mundo, mais tarde, chamada de Cuadernos del Tercer Mundo. E, com a arrogância de Isabelita Perón, teve que desativá-la, sendo seus pontos de venda incendiados e seus colaboradores perseguidos. Em 1974, foi expulso da Argentina. Partiu, então, para o Peru. Ali, passou a trabalhar na editoração internacional do jornal El Commercio. Também, foi assessor de imprensa do presidente peruano Juan Velasco Alvorado. Derrubado este, por um golpe militar, em 1976, Neiva Moreira viu-se obrigado a exilar-se no México. Na capital mexicana, relançou Cuadernos del Tercer Mundo. E criou o livro Guia de Tercer Mundo. Ali, colaborou no jornal Excélcio. Anistiado, Neiva Moreira demanda as plagas do Brasil, em outubro de 1979. E assumiu sua função de redator no IBC. Em 1983, foi nomeado Secretário de Comunicação Social do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Depois, nomeado presidente do Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul. Em 14 de dezembro de 1993, suplente que era, assume a cadeira de deputado federal, integrando, como titular, a Comissão de Relações Exteriores e a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, bem como suplente, da Comissão de Educação, Cultura e Desporto. Permaneceu na Câmara Federal até 30 de março de 1994. Em 1998, vem de integrar, como titular, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, tornando-se seu presidente. Em 1998, elegeu-se deputado federal pelo Maranhão, com mais de 51 mil votos. Fora casado com Natália Silva Moreira, gerando Antônio Luís Neiva, escrivão aposentado em Brasília. Do casamento com Biatriz Juana Isabela Brisio Staricco, teve quatro filhos. Em 7 de maio de 1992, foi eleito membro da Academia Maranhense de Letras, ocupando a Cadeira nº 16, fundada por Raimundo Correia. Em 1996, editou-se o livro Neiva Moreira, o jornalista do povo, de autoria do jornalista e acadêmico Benedito Buzar. Publicou Fronteiras do mundo livre, Brasília hora zero, O nasserismo e a Revolução do terceiro mundo, O Exército e crise peruana, O modelo peruano, O pilão da madrugada.


OLIVEIRA ROMA

(1894-1944) João da Mata de Oliveira Roma , poeta, teatrólogo, jornalista, jurista, universitário, nasceu em Chapadinha, Maranhão, Brasil. Adepto do Simbolismo.

TÂNTALO Conta uma lenda antiga, cuja fama Pelos tempos modernos inda voa, Que lá no inferno, condenado à toa, De fome e sede Tântalo rebrama. Junto, corre uma fonte clara e boa. Perto, um galho de frutas se recama. Mas, se ele quer comer, se afasta a rama, E, se tenta beber, a água se escoa. Tem minha vida e a lenda o mesmo traço, Flagela-me também um vão desejo, Fome e sede incontidas também passo. Punido como Tântalo me vejo: Tão perto desse corpo, e não te abraço! Tão junto dessa boca, e não te beijo!”

CIÊNCIA HUMANA Sentindo quanto ardor um visionário sente, a verdade ideal mas fugidia, Segue o Homem, a lutar, por essa estranha via Que liga o berço ansioso ao túmulo silente. Perscruta, indaga, inquire e, dolorosamente, Vacila a cada passo, e vaga em fantasia, Pois a meta final é como a orla sombria Do horizonte, que foge, inconstante, da gente. Um momento parece alcançar o que quer; Logo, porém, resvala, impróvido e impotente,

professor


Num engano grosseiro e insólito qualquer. E nessas mutações os dias se consomem... Na dúvida consiste, inevitavelmente, resumo total de toda a ciência do Homem!

AVANTE! Ao operário brasileiro Operário, tem fé! Na oficina modesta Em que vivo isolado e esquecido, moirejo, Paciente mas tenaz, preso do alto desejo De, como tu, ser bom e ter sempre a alma em festa Operário também, cheio de crença, nesta Ânsia de progredir, humílimo, antevejo A paz universal - o luminoso beijo Em que o Infinito Amor, puro, se manifesta. Não te causem vexame esses calos, que são Em tuas mãos de herói, os emblemas fecundos Do Labor, da Honradez e da Resignação. Bendize o teu destino intenso, extraordinário. Bendize-o porque Deus, arquitetando mundos, Foi Ele - o próprio Deus - o primeiro operário.

EM U´A FESTA MATUTA Nhá Quitéra! Nhá Quitéra! Cuma tá bom hoje aqui! Parece inté sambação Lá da roça onde nasci! Num pensei qui esta fonção Tivesse o forte condão De me fazê recordá Aquelas noites de lá, Condo a gente inté se esquece Da própria vida, pensando Qui o samba também é prece Qui p' r' o céu vai se elevando... Nhá Quitéra! Venha cá Uvi minha alma gemê No meio das alegria, Bendo sonho e prazê! Venha iscutá do meu peito A ladainha da dôo (Poemas Selvagens. 2ª série, 1939)


RAMOS, Clovis, org. Minha terra tem palmeiras... (Trovadores maranhenses) Estudo e antologia. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1970. Ex. bibl. Antonio Miranda

Canto, sempre, noite e dia, Sem, sequer, desconfiar Ser a Dor minha alegria Que a Dor me ensina a cantar. Eu canto junto de ti, Ausente de ti eu canto — Às vezes, a alma sorri. — Às vezes o riso é o pranto. Eu canto muito contente Por ter ganho um beijo teu. E a alma chora porque sente Saudade dos que perdeu. Quem quer beber desta fonte ? Quem quer mirar-se nessa água ? —É noite sem horizonte Como um suspiro na água. Página preparada por ZENILTON DE JESÚS GAYOSO MIRANDA, publicada em junho de 2008. Ampliada e republicada em outubro de 2019


PAULINHO NÓ CEGO 43

PAULO ROBERTO GOMES LEITE VIEIRA Pedreiras do Maranhão - 1º de maio de 1962

AKADEMIA DOS PÁRIAS Jornalista, poeta e compositor. É Filho de “Seu” Diquinho Gomes e Dona Zefinha, casado com Carla Cantanhede e pai de Camila e Gabriel. Foi membro fundador da Akademia dos Párias e autor de várias poesias em cordel, onde a grande maioria o poeta não reconhece como suas, nem deve. Processado inúmeras vezes por políticos “sérios” e clero, divide hoje o seu tempo entre audiências e composições. Nó Cego, apelido adquirido na universidade, aprendeu a gostar de cordel com o pai que costumava recitá-los em Pedreiras, sua cidade natal. Ele era dono de uma usina de beneficiamento de arroz na época em que o Maranhão era um grande produtor. Outro contato importante com a literatura veio através dos motoristas de caminhão procedentes da Paraíba, Ceará e Alagoas, que compravam arroz na região de Pedreiras. “Meu pai negociava com eles o arroz e os livretos de cordel que eles traziam”. Em 1975, Paulo mudou-se pra São Luís. Estudou no Marista, formou-se em Comunicação Social pela UFMA e conviveu com poetas e artistas da Ilha, entre eles Nonato Pudim e os amigos da Akademia dos Párias: Garrone, Fernando Abreu, Paulo Melo Sousa etc. No rádio, colaborou com quadros de humor no programa Buraco Negro (Mirante FM, 1986 a 1988), produzido por Celso Borges e James Magno. Ao lado dos párias, lançou oito números da revista Uns & Outros, cujos lançamentos agitavam ruas e bares da cidade. Excluído da Academia Pedreirense de Letras, por divergências políticas e/ou perseguitivasExintegrante da Akademia dos Párias, reunião de poetas universitários nos anos 80, Nó Cegocria em seu novo trabalho a figura da Ritinha como metáfora de todos os viciados na droga e emite seu grito de alerta. “Foi a forma que achei para mostrar que a destruição e a morte são as únicas conquistas advindas desse vício”, afirma. “Confirmando sua vocação de cantador preocupado com as questões sociais, Nó Cego adentra uma vez mais no universo da crítica social e de costumes. Desta feita, o artista coloca sua cantiga a serviço da luta urgente e desigual travada contra o crack”, afirma o escritor Couto Correa no prefácio do cordel.

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http://paulgettynascimento.blogspot.com.br/2013/07/o-poeta-pedreirense-paulinho-no-cego.html http://mundocordel.blogspot.com.br/2011/02/o-cordel-de-paulinho-no-cego.html


Seu primeiro livro, Os outros e eu - poemas e bobagens, é de 1987. Em 1992 foi a vez do cordel Um celular fora de área e uma esposa desempregada (cordel para João Bentivi) e, em 2007, O desertor da poesia, homenagem a Jeremias da Silva, Gerô, morto pela polícia militar. De lá pra cá, mais três lançamentos: Um cordelzinho pras águas doces, Cordel do Parentesco e Como ganhar as Eleição. Em 2010, Paulinho foi selecionado pela UNESCO para participar de uma oficina de cordel na cidade de Barbalha no Ceará, ao lado de 15 cordelistas de todo o país. Eles criaram cordéis sobre o relatório que a Unesco fez sobre o Indice de Desenvolvimento Humano: O que o país precisa para melhorar?. Fã de Patativa do Assaré, Zé Laurentino, Antonio Francisco (poeta potiguar), Ferreira Gullar, Nauro Machado e Couto Corrêa Filho, entre outros, Nó Cego admite ter sido influenciado pelo poeta pedreirense Neto Arrais e pelo cordelista Nonato Pudim. “Meu mestre foi Nonato Pudim com quem aprendi a técnica das rimas em sextilhas e septilhas", afirma.

para começar uma estrofe a técnica é fundamental deixe a segunda linha fechar a quadra normal rime a quinta com a sexta e o cordel então desleixa escolha um tema legal se for falar de amor tenha a convicção o amor pra ser perfeito tem que vir do coração esse é o amor mais bonito nesse amor eu acredito arde, é fogo é paixão" se for falar de política se quiser pegar pesado muito cuidado com verbo adjetivo e predicado por causa de um artigo que falei mal de um "amigo" eu quase fui processado... Outras estrofes do poeta: Faço rima na de sete na de seis faz Zé Limeira tem quem faça na de oito na de dez é uma pauleira na de doze é agalopado eu aprendi e obrigado a Neto Arrais em Pedreiras O cordel pra mim é vida é a válvula de escape não tenho porte de arma a rima é o meu tacape depois do esqueleto feito não tem juiz de direito que dele corra ou escape

“O desertor da poesia” Para Gerô, uma homenagem em rima.


Ninguém cala o poema O fruto da inspiração O sentimento do povo Nem o pulsar do coração O poema é o engate É a válvula de escape Voz que soa é direção. Direção contra injustiças É defensor do explorado É o desejo da maioria É sangria do indignado É ferramenta perfeita É a voz insatisfeita É martelo agalopado. O poema o acompanha Se move é emocionante O atrai pra terra firme O leva a lugar distante O poema não se cala Com taca nem com bala O poema vai avante! O poema quando surge Desce na veia da gente Passa pelo coração Depois é que vai pra mente Onde ele é construído Com tema já definido É só seguir a corrente O poema reivindica Dá a dica, denuncia. Pois o poder da palavra Encrava vira poesia Retrata história de amor De esperança e de dor De tristeza e de alegria. O poeta e o poema Andam com os pés no chão No mesmo campo-minado Dos desmandos do patrão O seu grande objetivo É pensar no coletivo Ser solidário a um irmão. O poema lhe sustenta Serve como alimento É usado como arma Para ele é instrumento Às vezes a sua caneta Transforma-se em baioneta Se lhe ferem o sentimento Tem rima, quadra, sextilha; Na de sete, agalopado; Tem na de dez, na de doze. Tem rima de pé quebrado


A rima só vale à pena Quando resolve problema Ou denuncia um safado! Quando escrito em vermelho O poema é censurado Quando é escrito em verde É livre, é elogiado. O azul é a cor mansa A rima nela descansa Mas sempre leva o recado. Um recado para àqueles Que quando estão no poder Esquecem dos compromissos Do povo não quer saber O poema tem sua meta Ninguém cala um poeta Quem nunca viu venha ver A força do seu poema Tem norte, tem precisão. Se o “cabra” está em pé É derrubado no chão Pode até se levantar E o poeta estará lá Com a rima em construção O poeta e o poema Encenam do mesmo lado Quando é pra falar de amor Ou dor de um assassinado A inspiração exala O poeta não se cala Não pode ficar calado.

Só covardia e injustiça Da polícia temos tido O Gerô, morto espancado. Nonato Pudim, sumido! Às vezes penso, não nego. Será se agora é Nó Cego O próximo, o escolhido? Porque tanta violência Para com nossos artistas Vamos dar um basta nisso Contra atitudes racistas A coisa tá costumeira Só resta Nobre e Teixeira Ou tem alguém mais na lista? O poema é a voz do povo É porta voz da razão O poema não se aquieta É vivo tem coração O poema é formado Tem p.h.d, doutorado. É especialista em refrão.


O poema pra ele é tudo É sua válvula de escape Não tendo porte de arma A rima é o seu tacape Depois do esqueleto feito Não tem juiz de direito Que dele corra ou escape O poema é onde o povo Nele pode se expressar Lugar de cobrar direito Poder de reivindicar Contra toda exploração Imposta pelo patrão É o jornal popular Nunca parar de lutar Confrontar a covardia Jamais deixar de sonhar Amanhã será outro dia! Ao poeta um dilema: Ou continuar em cena Ou desertar da poesia.


PERGENTINO HOLLANDA44

Nasceu em Presidente Dutra, no Maranhão, em 1948. Seu primeiro livro de poesia — Existencial de Agosto — é de 1972, além de obras inéditas e de participação em antologias. Prece na lagoa do Binga Lagoa do Binga: lentamente vou-me naufragando na verde embriaguez da tua paisagem tão saudosa e tão esquecida de outros tempos e tão lembrada por eternos pescadores... tornei-me tão chão como o teu leito e fiz-me de infância como as tuas águas tão vivas e tão minhas num passado azul de céu noturno e livre... Hoje o tempo me consome o corpo e a minha alma é um pássaro vencido... lembro-me de ti num luar de agosto qualquer e numa serenata... a música, já não lembro mais! P. Dutra, maio de 1970 Soneto nº 13 Estranhas são as vozes que choram em mim no vazio silêncio do meu campo íntimo que já sem cor pede em prece um perdão para o único desgosto de que me lastimo. São tantas as vozes que já não me entendo neste sacrifício de lágrimas que morrem no cárcere fechado que no meu dentro existe para a prisão dos fiéis que sempre sofrem. E nesta convulsão de um invento naufragado sinto-me em conflito e não mais contesto esta insatisfação de nunca ter sonhado... E sem poder dar evasão a esse protesto que sem estar morto em mim foi sepultado dou-me ao martírio do meu próprio resto. (Existencial de Agosto, 1972)

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/pergentino_holanda.html


QUINCAS VILANETO

(Caxias/MA). Poeta e pesquisador brasileiro. Possui graduação em Administração de Empresas, com pósgraduação em Administração Municipal, sendo Administrador do quadro efetivo da UEMA há muitos anos. Entre outras publicações, é o autor de Balaio de Ilusões (1997), Itinerário Poético de Caxias (2003), A Lira dos Esquecidos (2006), Tear (2012), Caxias (2014), Empalavrando silêncios (2014) e Ao Pé da Letra (2016). Mora na capital São Luís e é um dos organizadores do sarau Na Pele da Palavra. É membro efetivo da Academia Caxiense de Letras (ACL) e do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC). https://quatete.wordpress.com/2018/05/23/4-poemasde-quincas-vilaneto/ Entre a luz e a sombra De que adiantam as metáforas, Se o infinito está de boca quebrada E cada um de nós Como se não tivesse voz sequer se reconhece? De que adiantam as palavras Se a esperança avermelhou E do outro lado do peito O amor perdeu a cor Diante dessa dor incolor? De que adianta o poema, ao projetar-se na voz do silêncio, se depois de tudo isso, segue inominado entre a luz e a sombra que vai à bancarrota alvejado pelas retinas que o consome? Imutável Poemas não são úteis por motivos vários, não têm serventia. Só servem para as palavras que são anônimas e estão no mundo sendo sempre tudo. Poemas não precisam existir para serem repetidos soletrando segredos


quando se cava a fala que o Sol incinera como se nada recolhesse do eco ciumento que incha embaixo da língua enquanto o silêncio o atormenta. Poemas são fósseis cravados na existência. Tem forma humana cinzelada por fora. São como as flores, se não fossem os espinhos, que nos levam às dores como reflexo do medo de algum fantasma a caminho. À beira do silêncio Poesia, destranca a minha voz, que sem ela, o silêncio não tem vez. Deixados a sós, nenhum de nós sabe o que fazer com a dialética dizendo tudo a menos. As palavras são pedras, a roçar o chão da pressa que nunca se exaure e me ultrapassa como se fosse uma tartaruga indo de bengala para o banquete dos signos. Esse é o preço que se paga. Não há como segui-la calando no peito o canto. Porque viver não é repetir o que fazemos sempre. A liberdade deriva disso, toda a existência sofre a insistência de ser útil, se possível. Toda dor é monocárdica, cingida de carência às vezes dói, outras vezes mata, tal como as palavras que revolvem as entranhas e as impelem para fora, sem nada conter, sem nada a contar. Indomável As palavras estão vazias, tudo em torno se desmancha


sem sombras. No céu da boca, a língua míngua e a rebeldia da cárie desarruma o sorriso. Impressa na alma, a imagem da saudade modelada está, – não como resumo, mas como atração. Desde então: Dissolve-se no olhar que a devorou.


RAIMUNDO FONTENELE45

Nasceu em Pedreiras, MA. Grupo Carranca Tem uma dúzia de livros de poesia publicados. Hippie nos anos 60, militante de esquerda nos anos 70, é um dos fundadores do Movimento Antroponáutica, renovador da poesia maranhense. Em Curitiba, foi também um dos fundadores e editores da revista de literatura e arte Outas Palavras. De 1980 a 1996 residiu em Porto Alegre , RS, onde exerceu intensa atividade literária, ganhando prêmios, publicando crítica e artigos em revistas e jornais. De volta ao Maranhão, reside em São Domingos, MA, onde exercia as funções de Diretor do Departamento do Cultura. A colheira do mundo e Venenos estão entre seus títulos de livros recentes. O OTÁRIO DO GÓLGOTA46 Sexta-feira 12h30 Começo a fraquejar diante de tanta fome À espera de ser traído Um Judas sairá das sombras Pra me fuzilar por causa de 30 dinheiros Lembro a infância à beira d’água Num Jordão-Mearim feito de lágrimas de mulheres piedosas Abundantes, generosas Madalena, pobre moça do cântaro Verônica, com seu lenço perfumado E Marta, a que me ensinou o pecado Eu, o cristo enferrujado Numa cruz de carne e sangue É a hora Terça, quando devo gritar por socorro Chamar por meu pai. Mas, só digo “help”, “money”, “goodbye” (Marginais, 2001) 3 Vida de artista e prostituta Vida de artista ou marginal Vida de verdade é tudo igual 45

BLOG DO ANTONIO MIRANDA, disponível em http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/raimundo_fontelele.html, acessado em 25/04/2014. CARNEIRO, Alberico. RAIMUNDO FONTENELE - 64 ANOS DE NASCIMENTO 42 ANOS DE POEMAS. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP , 9 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/raimundo-fontenele---64-anos-de-nascimento-42-anos-de-poemas4368.htm , acessado em 25/04/2104. 46 FONTENELE, Raimundo. Marginais. São Luís do Maranhão: Pacumã, 2001. 81 p. 14x21 cm. Edição com apoio da Prefeitura Municipal de São Domingos. Col. A.M. CARNEIRO, Alberico. POEMAS DE RAIMUNDO FONTENELE. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP , 9 de junho de 2012, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2012/9/27/poemas-de-raimundofontenele-4369.htm, acessado em 25/04/2104.


VIVER É SE APROFUNDAR NA LOUCURA DOS OUTROS Domingo é um dia tranqüilo, dia da maçã morder o próprio ventre, enquanto cabras venenosas me pastoreiam. Subi uma montanha de pedras e lá no alto, incide sobre sonhos, e incendeia-me Quase apaguei do meu nome (farol, sentinela, carne viva) o brilho de uma estrela vagabunda que me faz rastejar tão perto dos esgotos. Se as chuvas viessem (e se chovesse) um olho brilharia ao sol e o outro se banharia novamente em lágrimas.

3 POEMAS PARA MORRER (OU REZAR) Amores e outras coisas foram feitas para durar. Nem as esquinas, as chuvas de prata, o ouro das oficinas. Os rios de pedra não vão existir para sempre. Nem o buraco do tatu, nem meu amor por ela. Nem aquele par de coxas, nádegas aquelas, aqueles sais. As coisas vão acabando pelo caminho. Não ficarão as tardes ou as madrugadas, o Caminho de Santiago, a lenda do Santo Graal, nem os cueiros do Menino Jesus. E a música que um dia ouvi, nunca mais ouvi. Falaste de amor nos meus ouvidos, e não reconheço o som da tua fala. A minha vida não vai ficar. Deste-me água fresca e pura para beber? Nem disso me lembro. Só sei que a carne estremece dentro da noite. Balbucia seus esquemas. Cheira. Confere. Apalpa. É mais que tristeza, mais que espinho na carne, o suave que mata: o perfume do ciúme. Otelo embriago. Enfurecido. Com os chifres à mostra, vencido. Assim se sente, o bandido. Rimado à bala, ou a mordidas.


RINALDO DE FERNANDES

Rinaldo de Fernandes é maranhense, mas está radicado na Paraíba. É doutor em Letras pela UNICAMP e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. É autor de 8 livros. Além de 3 de ficção, organizou e lançou nacionalmente as seguintes antologias: O Clarim e a Oração: cem anos de Os sertões (São Paulo: Geração Editorial, 2002), Chico Buarque do Brasil (Rio de Janeiro: Garamond/Fundação Biblioteca Nacional, 2004), Contos cruéis: as narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea (São Paulo: Geração Editorial, 2006), Quartas histórias: contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa (Rio de Janeiro: Garamond, 2006) e Capitu mandou flores: contos para Machado de Assis nos cem anos de sua morte (São Paulo: Geração Editorial, 2008). Atualmente assina a coluna “Rodapé/Ponto de vista crítico” nos suplementos literários Rascunho, de Curitiba, e Correio das Artes, de João Pessoa. É doutor em Teoria e História Literária pela UNICAMP e professor de literatura brasileira na Universidade Federal da Paraíba. http://culturapopular2.blogspot.com/2010/03/rinaldo-de-fernandes.html Livros: -Rita no Pomar Neste livro, o autor experimenta um novo gênero, o romance. A estréia se dá com ‘Rita no Pomar’, onde ele coloca em cena uma mulher, paulistana, vindo ganhar a vida na Praia do Pomar, um recanto turístico e paradisíaco do litoral paraibano, muito cobiçado pela indústria turística. Um grande mistério ronda essa personagem. O que aconteceu com Rita em São Paulo e na praia do Pomar? O que ocorreu com André, seu primeiro marido de São Paulo, e com Pedro, seu segundo marido da praia do Pomar? O que eles fizeram? Afinal, que grande mistério envolve a vida da personagem? Só no final do romance o leitor vai desvendar esse mistério e vai saber quem verdadeiramente é Rita. -O Perfume de Roberta. Este livro traz contos essencialmente urbanos, com exceção de 'Sariema', uma recriação do clássico 'A hora e vez de Augusto Matraga', de Guimarães Rosa. 'Negro', um dos contos do volume, virou em 2004 um curta-metragem do cineasta Renato Alves. Encerrando a obra, há uma seção com apreciações críticas dos contos feitas por vários autores. -O Professor de Piano: Trata-se de um livro de contos. Ao todo são 11, entre inéditos e outros já premiados. O conto “Beleza”, que abre a obra, investiga, com intensidade e de forma funcional, a subjetividade do homem contemporâneo. O conto que dá nome ao livro (“O Professor de Piano”) é um mergulho na alma de um personagem atormentado por dramas econômicos e familiares e por uma forte paixão. Existe um subtexto político no caso do alegórico ‘O Caçador’ ou mesmo do poético ‘O Besouro’. O especulativo ‘Onde está o agente?’, que se passa no Brasil do século XXIII, dialoga com a narrativa policial e com a ficção científica, trazendo também um protagonista paranoico. "Ilhado" e "O Cavalo" são peças magníficas do conto brasileiro atual, admirados e já comentados por outros autores brasileiros. "Oferta", que dialoga estruturalmente com a publicidade, expõe a miséria da prostituição juvenil no país. O carnavalesco "Dois buracos para os meus olhos" aborda


enfermidade e comportamento na contemporaneidade. "Você não quis um poeta" é um retrato pungente da violência do homem contra a mulher. "Alucinação" merece uma abordagem psicanalítica, pela paranoia profunda que desarranja a protagonista. Em resumo, a obra apresenta onze histórias que envolvem a problemática social, violência urbana, subtexto político, a prostituição juvenil, situações kafkianas, além de abrir um diálogo com a narrativa policial e com a ficção científica. Contatos do autor: email: rinaldofernandes@uol.com.br UM CONVITE À LEITURA DE RINALDO DE FERNANDES José Neres http://joseneres.com/?fbclid=IwAR24eIkqaD0gcCaA4sibmW5Zijdc_7qDCNjnGmeKLsiWitoMjXrm93E3Sk Há muitos e muitos anos, durante meus incontáveis passeios pelas estantes de livrarias, depareime como um volume intitulado “O clarim e a oração”, que continha diversos artigos sobre aquele monumento literário brasileiro chamado “Os Sertões”, seu autor – Euclides da Cunha – e alguns temas pertinentes à obra. Li o livro com a voracidade de quem desde os primeiros anos de vida se viu apaixonado pelas letras escritas. Gostei muito do trabalho. Anos mais tarde, pesquisando sobre Machado de Assis, sua farta produção literária e as variações em torno de sua obra, encontrei o livro “Capitu mandou flores: contos para Machado de Assis nos cem anos de sua morte”. Trata-se de um trabalho que traz em cada página uma riqueza de informações, além de conter alguns textos do próprio Machado, como “Missa do Galo”, “O Alienista”, “Pai contra mãe”, “Teoria do medalhão” e outros. Para quem é apreciador da obra do Bruxo do Cosme Velho, o livro é um verdadeiro banquete para os olhos e para a mente. Mas o que há de comum entre esses dois livros? Além de trazerem estudos elucidativos sobre dois grandes nomes de nossa literatura? Ambos foram organizados pelo mesmo professor: Rinaldo de Fernandes, um dos mais competentes estudiosos das diversas vertentes da produção intelectual brasileira. Além das obras acima citadas, Rinaldo de Fernandes, que é doutor em Teoria e História Literária pela Unicamp e professor titular de Literatura da Universidade Federal da Paraíba, já publicou diversos outros trabalhos e antologias sobre autores brasileiros, como, por exemplo: “Chico Buarque do Brasil: textos sobre as canções, o teatro e a ficção de um artista brasileiro”, “Contos cruéis: as narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea”, “Quartas histórias: contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa, “50 versões de amor e prazer” e “Chico Buarque: o poeta das mulheres, dos desvalidos e dos perseguidos – ensaios sobre a mulher, o pobre e a repressão militar nas canções de Chico”, entre outros trabalhos. Paralelamente às incursões no mundo da historiografia literária, Rinaldo de Fernandes construiu também uma sólida carreira como ficcionista e tem recebido boa aceitação por parte da crítica especializada e do público em geral. Recentemente, li algumas de suas produções e não pude deixar de ficar impressionado com sua força narrativa e com sua técnica na construção de enredos e de personagens. Todos os seus trabalhos são de alto nível estético e de uma apreciável tessitura literária. Logo após o lançamento de sua segunda edição, li o livro “Rita no Pomar”, que foi recebido por Silviano Santiago como sendo “um romance representativo da literatura atual”. Trata-se de uma narrativa forte e que prende o leitor na busca de descobrir as razões que levaram a protagonista a tomar determinadas atitudes, sempre com o texto eivado de situações que envolvem o leitor em uma aura de mistério. No final de 2020, comecei a ler os “Contos Reunidos” desse autor maranhense radicado na Paraíba. Enfeixados no volume, além de uma farta fortuna crítica, estão os livros “O perfume de Roberta”, “O professor de Piano”, “Confidências de um amante quase idiota” e trechos de “1001 microcontos”. Livros como esse são importantes para o leitor ter uma visão geral da produção de determinado autor. Lendo-se página a página, conto a conto, é possível perceber que Rinaldo de Fernandes constrói suas narrativas com base ne essência humana, desnudando suas personagens dos enfeites e maquiagens superficiais. Seu interesse é tocar no âmago da condição


humana (às vezes desumana) que se esconde por trás das capas forjadas pela sociedade. O conto “O perfume de Roberta” acabou entrando para minha lista particular dos melhores textos ficcionais que já li. Perfeito em todos os detalhes. Também passei algumas horas na estrada ao lado do professor Romeu, protagonista do romance/novela “Romeu na estrada”, cuja narrativa fragmentada é um reflexo direto do esfacelamento pessoal e social por que passa a personagem principal. Assim como aconteceu com “Rita no Pomar”, o embrião de “Romeu na estrada” é um conto, o que demostra a capacidade do autor em transformar algo aparente curto como um conto em uma narrativa mais longa, o que exige perícia, técnica e boa dose de criatividade para tecer um texto com o qual muitas pessoas pensam que podem já estar habituadas. Li também o mais recente livro de contos de Rinaldo de Fernandes – “A paixão mortal de Paulo” – uma reunião de dezenas de contos bastante curtos, porém carregados de acidez, ironia, violência, despojamento e construídos dentro da mais elaborada técnica de dizer muito utilizando-se de poucas (mas eficientes) palavras. Em cada página, podemos nos deparar com a sensação de sermos pegos de surpresa pelas ações das personagens, com seus comportamentos e visões capazes de despertar ira e comiseração em uma mesma página. Sem dúvida alguma, Rinaldo de Fernandes é um dos melhores ficcionistas das letras brasileiras contemporâneas. Não é à toa que sua obra é constantemente revisitada em estudos acadêmicos e que ele vem fixando seu nome entre o que há de melhor na intelectualidade de nosso país.

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RONNALD KELPS

http://ricardosantoscontraponto.blogspot.com/2008/09/ronnald-kelps.html Também o poeta, escritor, e estudante de Jornalismo: Ronnald Kelps, nascido em Vargem Grande MA, terra do Antropólogo Nina Rodrigues, do Poeta Hemetério Leitão, do artista Fleury Gama e tantos outros. Ele que é um leitor das poesias de Ferreira Gullar, ressalta que os poetas que quiserem ser referência em um futuro, serão aqueles que beberem do conhecimento do passado e modificarem aos poucos sua estética. É tão verdade essa afirmação que Ferreira Gullar, para ele, é o maior poeta em atividade em nosso País hoje. No POEMARA 2008, Kelps escolheu a poesia “palavra’’ apontada como sua obra prima. Fiquem com ela: Palavra Lança feroz conduzindo chamas fogo diurno esmerilando meu ombro, luz conduzindo ao pó da tarde fio de teia que em prendendo mata sem dó. Incêndio água-viva, sossego falecido. uma voz vem da zoada da rua do Egito e apodrece entre a lama fétida do rio anil, cheira a alecrim sob o sabão do dia lâmina na mão de Golias decepando corpo e cabeça. Do solo sofrido a dor do que se vive cansado chão de esperanças apagadas tudo o que falo e sinto vem da palavra não.


SALGADO MARANHÃO

Salgado Maranhão. foto: Daniel Mordnski

José Salgado Santos - povoado de Cana Brava das Moças, na cidade de Caxias – Maranhão FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Salgado Maranhão - poeta dos acordes literários e musicais. in: Templo Cultural Delfos, outubro/2020. Disponível no link. http://www.elfikurten.com.br/2020/10/salgado-maranhao-o-poeta-dos-acordes.html

“Quanto mais somos da nossa aldeia, mais nós somos do mundo, porque mais nós temos identidade a mostrar. O mundo quer cores. Quem não tem cor para mostrar, não pode influir no grande caleidoscópio que é o mundo” - Salgado Maranhão, in: MARQUES, Wilson. Encontro com Salgado Maranhão, hoje, no Odylo. Imirante/O Estado, 21 jan. 2014. Breve esboço biobibliográfico de Salgado Maranhão Salgado Maranhão (José Salgado Santos) - poeta, compositor e jornalista. Nasceu no povoado de Cana Brava das Moças, na cidade de Caxias - Maranhão, em 13 de novembro de 1953, filho de Moacyr dos Santos Costa e Raimunda Salgado dos Santos. Ainda adolescente, mudou-se com os irmãos e a mãe para Teresina. Escreveu artigos para um jornal local e conheceu Torquato Neto, que o incentivou a ir para o Rio de Janeiro, o que fez no ano de 1972. Estudou Comunicação na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Terapeuta corporal, foi professor de tai chi chuan e mestre em shiatsu. Inicialmente, teve seu nome vinculado em publicações como "Ebulição da escrivatura -Treze poetas impossíveis" (Ed. Civilização Brasileira, 1978, RJ), coletânea que reuniu diversos poetas, como Sergio Natureza (assinando Sérgio Varela), Antônio Carlos Miguel (sob o pseudônimo de Antônio Caos), Éle Semog, Mário Atayde, Tetê Catalão, entre outros. Publicou poemas e artigos na revista "Encontro com a Civilização Brasileira" (1978). Nos anos seguintes, publicou: "Aboio"('cordel'/Corisco, 1984), "Punhos da serpente" ('poesia'/Achiamé, 1989), "Palávora" ('poesia'/Sette Letras, 1995), "O beijo da fera" ('poesia'/Sette Letras, 1996) e "Mural de ventos" ('poesia'/José Olympio, 1998). Em 1998, ganhou o prêmio "Ribeiro Couto", da União Brasileira dos Escritores (UBE), com o livro "O beijo da fera". No ano seguinte, com o livro "Mural de ventos", foi o vencedor do "Prêmio Jabuti", da Câmara Brasileira do Livro, dividido com Haroldo de Campos e Geraldo Mello Mourão. Colaborou em várias publicações com artigos e poemas, como a revista "Música do Planeta Terra". Em 2007, sua poesia foi estudada na Universidade de Brown, em Providence, Rhode Island, nos Estados Unidos. Nesse mesmo ano, participou do "Moveable Feast Poetry in Portuguese",


encontro internacional dos poetas de língua portuguesa, onde representou o Brasil a convite da Brown University (EUA). Em 2009, lançou, pela Editora BookLink, o livro de poemas "A Pelagem da Tigra". Nesse mesmo ano, coordenou o "Salão de Livros do Piauí", levando à Teresina o poeta e letrista Antônio Cícero. Em 2010, lançou a antologia "A Cor da palavra" (Editora Imago/FBN) com poemas escolhidos dos seus livros 'Aboio", "Punhos da Serpente", "Palávora", "O Beijo da Fera", "Mural de Ventos", "Sol Sanguíneo", "Solo de Gaveta" e "A Pelagem da Tigra". Publica ainda os seguintes livros de poesia: O mapa da tribo (7Letras, 2013), Ópera de nãos (7Letras, 2015), Avessos avulsos (7Letras, 2016), A sagração dos lobos (7Letras, 2017) e A casca mítica (7Letras, 2020). No lançamento do seu livro "Ópera de nãos", em 2016, um sarau lítero-musical foi promovido com as participações especiais de Egberto Gismonti, Ana Oliveira, Zé Américo Bastos, Zezé Motta, Nathália Timberg, Patrícia Mellodi e Ricardo Macchi, sob curadoria do poeta Carlos Dimuro, o evento aconteceu no Hotel Golden Tulip Regente, em Copacabana (Rio de Janeiro). Neste mesmo ano, em outubro, Salgado participou na Cidade do México (México) "VII Festival de Poesía Lenguas de América Carlos Montemayor". Sobre ele, declarou o poeta, seu conterrâneo: "Salgado Maranhão é um dos mais brilhantes poetas de sua geração e possui um trabalho de linguagem muito pessoal. "Sinergia" é a palavra que define sua poesia. Uma poesia de palavra, muito embora não ignore o real, pois o traduz em fonemas e aliterações. Que não hesita em ir além da lógica do discurso (ou do enlace com o plausível) se o resultado é o impacto vocabular e o inusitado da fala." - Ferreira Gullar, na apresentação do livro "A cor da palavra". de Salgado Maranhão. Rio de Janeiro: Imago; Fundação Biblioteca Nacional, 2009. # Com informações de: Dicionário Cravo Albin MPB "Sou filho da Casa Grande e da Senzala. Minha mãe era uma camponesa negra, meu pai era o dono da fazenda. Ele era casado e tinha três filhas. Eu era o único filho homem de meu pai, e a família dele quis me levar para criar, mas minha mãe não deixou. Minha primeira influência foram os repentistas. Aos 15 anos, fui estudar em Teresina. Na casa onde fiquei, havia professores. E descobri a biblioteca pública. Um dia li “Poema em linha reta”, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa. Nunca mais fui o mesmo. Lia tão devagar, com medo de acabar e não achar outro livro dele, que chegava ao meio e voltava a ler." - Salgado Maranhão, excerto da entrevista ao jornal O Globo, em 15 de julho 2012.

SALGADO MARANHÃO SOBRE O SEU FAZER POÉTICO: "Minha poética gravita na borda da língua, nesse equilíbrio delicado em que um passo para trás é o lugar comum e um passo para frente é o ininteligível. É lógico que isto não é apenas uma atitude deliberada e racional. É um temperamento, um gostar de ser, é como se eu desejasse abrir um


caminho novo na língua. Devo dizer que quando chega o poema, é uma verdadeira possessão de palavras em meus sentidos, chego a pensar que estou ficando louco. E estou: louco de luz. Depois desse momento de epifania, eu volto a retrabalhar o poema, infinitas vezes, para esgarçar ao máximo as possibilidades da palavra. A poesia nos resgata uma voz inconsciente que fomos perdendo, aos poucos, depois da idade prénatal. Trata-se de uma linguagem aberta, sinuosa, prenhe de significantes e irresponsável, como o discurso das crianças. A necessidade de nos ajustarmos ao mundo e às suas normas arbitrárias, em troca de afirmação e sobrevivência material, vai secando a poesia do nosso coração. Uma pessoa comum, que funcione como a maioria, do estômago para baixo, até reconhece o vigor impactante dessa forma de expressão, mas teme se comprometer com essa insanidade sã. Poeta é quem tem no DNA a doença incurável do mistério. É aquele para quem as palavras tiram a roupa e se entregam sem reserva. E não é para quem quer e nem é uma questão de privilégio, mas de destino, é mais uma questão de não saber ser de outro jeito. [...] Minha arte reflete minha história de vida e assimilação do mundo: sou aquele que não era para ter sido. Em algum poema eu digo que meu "nome é nômade", porque eu sou aquele que a poesia salvou. Portanto, há em mim uma inquietação que lacera as palavras. Quando a poesia se apodera de mim, vaza um rio de palavras rítmicas em minha boca que eu penso que estou ficando louco, mas, claro, de uma loucura feliz. De modo que, quando você levanta essas escamas em minha poesia, me alegra que alguém possa percebê-las, porque, cada poema que faço (embora haja uma motivação interna muito forte) tem infinitas leituras e releituras." - Salgado Maranhão em entrevista a Iracy Conceição de Souza | SOUZA, Iracy Conceição de. Entrevista com Salgado Maranhão: "Poeta é aquele que não sabe ser de outro jeito." in: O Marrare (Online) - UERJ, Rio de Janeiro, v. 14, p. 165-185, 2011. Leia a entrevista na íntegra, disponível no link (acessado 3.10.2020) | [fotografia: Salgado Maranhão | foto (autoria não identificada)] Prêmios, títulos e condecorações - Salgado Maranhão 1998 - recebeu o Prêmio "Ribeiro Couto", da União Brasileira dos Escritores (UBE), com o livro "O beijo da fera" (1996). 1999 - recebeu o "Prêmio Jabuti", da Câmara Brasileira do Livro, na categoria 'Poesia', com o livro "Mural de ventos" (1998). [Prêmio dividido com Haroldo de Campos e Geraldo Mello Mourão]. 2011 - recebeu o Prêmio "Machado de Assis de Poesia", da Academia Brasileira de Letras, na categoria 'Poesia', com o livro "A cor da palavra" (2009. 2014 - recebeu o Prêmio PEN Clube do Brasil, na categoria 'Poesia', com o livro "O mapa da tribo" (2013). 2016 - é agraciado com o título de Cidadão Piauiense, outorgado pela Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi). 2017 - é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade federal do Piauí (UFPI). "Não gosto de vender miséria para ganhar atenção. Não faço papel de vítima. Não quero o caminho fácil. Não busco planícies, busco ladeiras. Mas é verdade que minha vida é cheia de relevos. Vim para o Rio com 22 anos. Queria conhecer o meio artístico. Cheguei sem dinheiro, arrumei emprego numa livraria, no depósito de livros. A dona mandou que aos sábados eu lavasse o letreiro. Eu disse: “Sou poeta, não vim ao Rio para lavar letreiro.” Ela falou: “Mas você é muito audacioso.” Eu era muito folgado. Demitido, fui trabalhar numa firma de engenharia na construção do metrô. Até que li um poema num recital da turma da Nuvem Cigana. Júlio Barroso (que depois criou a Gang 90) gostou e me chamou para escrever na revista 'Música do Planeta Terra'." - Salgado Maranhão, excerto da entrevista ao jornal O Globo, em 15 de julho 2012.


Salgado Maranhão - foto: Ricardo Prado OBRA LITERÁRIA DO POETA SALGADO MARANHÃO Poesia :: Punhos da serpente. Salgado Maranhão. Rio de Janeiro: Achiamé, 1989. :: Palávora. Salgado Maranhão. [Prefácio Silviano Santiago]. Rio de Janeiro: Editora Sette Letras, 1995. :: O beijo da fera. Salgado Maranhão. Rio de Janeiro: Editora Sette Letras, 1996. :: Mural de ventos. Salgado Maranhão. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1998. :: Sol sangüíneo. Antologia. Salgado Maranhão. [Orelha do livro Adriano Espínola]. Rio de Janeiro: Imago, 2002. :: Solo de gaveta & Amorágio(**). Salgado Maranhão. (livro/CD). [produção Zé Américo]. Rio de Janeiro: SescRio.Som, 2005. :: A cor da palavra. [antologia]. Salgado Maranhão. Rio de Janeiro: Imago; Fundação Biblioteca Nacional, 2009. :: A pelagem da tigra. Salgado Maranhão. [Orelha do livro Astrid Cabral]. Rio de Janeiro: Booklink, 2009. :: O mapa da tribo. Salgado Maranhão. Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2013. :: Ópera de nãos. Salgado Maranhão. [prefácio Charles A. Perrone]. Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2015. {2º lugar na categoria Poesia, 58º Prêmio Jabuti (2016)} :: Avessos avulsos. Salgado Maranhão. Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2016. :: A sagração dos lobos. Salgado Maranhão. [prefácio Jack Draper]. Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2017. :: A casca mítica. Salgado Maranhão. Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2020. __________ Editora do autor: Editora 7Letras Cordel :: Aboio ou a Saga do Nordestino em busca da terra prometida. Salgado Maranhão. Teresina: Editora Corisco, 1984. Infanto-juvenil :: Paisagens & Relevos. Salgado Maranhão. ilustração Antônio Amaral. Teresina: Mais Editora, 2019. :: Rios e Lendas. Salgado Maranhão. ilustração Antônio Amaral. Teresina: Mais Editora, 2019. :: Aldeias e Rebanhos. Salgado Maranhão. ilustração Antônio Amaral. Teresina: Mais Editora, 2019.


Antologias (participação) :: Literatura na Ilha: poetas e prosadores maranhenses. Hildeberto Barbosa Filho. São Luís: Lithograf, 2004, p. 76-83. :: O negro em versos: antologia da poesia negra brasileira. [Organização de Luiz Carlos Santos, Maria Galas e Ulisses Tavares]. São Paulo: Moderna, 2005. :: Concerto a quatro vozes - antologia, história e crítica de quatro poetas contemporâneos: Adriano Espínola, Antônio Cicero, Marco Lucchesi e Salgado Maranhão. [organização Domício Proença Filho]. Editora Record, 2006. :: Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. [Organização de Eduardo de Assis Duarte]. Vol. 3, Contemporaneidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. :: Baião de todos. {Antologia poética com 48 autores piauienses}.. [organização Cineas Santos e Keula Araújo]. Edição comemorativa - 20 anos. Teresina: Fundapi, 2016. :: Amor e outras revoluções, Grupo Negrícia: antologia poética. [Organização de Éle Semog]. Rio de Janeiro: Malê, 2019. {Poetas da edição: Amélia Alves, Ana Cruz, Cizinho Afreeka, Conceição Evaristo, Deley de Acari, Éle Semog, Elisa Lucinda, Eustáquio Lawa, Hélio de Assis, José Jorge Siqueira, Jurema Araujo, Lia Vieira, Luis Turiba, Salgado Maranhão e Viviande Brandão Couto Filho}. :: A estante dos poetas: Antologia. [organização Paulo Sabino]. Rio de Janeiro: Editora Ibis Libris, 2020. {poetas da edição: Adriano Espínola, Antônio Carlos Secchin, Antonio Cicero, Geraldo Carneiro, Paulo Henriques Britto e Salgado Maranhão}. Antologias (organização) :: Ebulição da escrivatura -Treze poetas impossíveis. [organização Salgado Maranhão, Sergio Natureza e Moacyr Félix]. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978. {coletânea que reuniu diversos poetas, como Sergio Natureza (assinando Sérgio Varela), Antônio Carlos Miguel (sob o pseudônimo de Antônio Caos), Éle Semog, Mário Atayde, Tetê Catalão, entre outros.}. Publicações em Portugal Poesia :: Novelo. Salgado Maranhão. Porto: Edições Humus, 2020.

Obra traduzida Salgado, tem poemas traduzidos para o inglês, italiano, francês, alemão, sueco, holandês, japonês, hebraico, espanhol e esperanto. Estados Unidos :: Blood of the sun: poems {Sol sangüíneo}. Salgado Maranhão. [tradução Alexis Levitin; posfácio Luiz Fernando Valente]. Milkweed Editions, 2012.


:: Tiger fur {A pelagem da tigra}. Salgado Maranhão. [tradução Alexis Levitin].Editora White Pine Press, 2015. :: Palavora. Salgado Maranhão. [tradução Alexis Levitin]. Dialogos Books, 2019. :: Mapping the tribe {O mapa da tribo}. Salgado Maranhão. [tradução Alexis Levitin]. ...?2020. :: O Mapa da tribo. Salgado Maranhão. tradução Felipe Hiro (japonês) ? __________ Caricatura: Salgado Maranhão, por Douglas Azevedo Em Antologias estrangeiras (participação) :: Antología de Poesía brasileña. [edición de Jaime B. Rosa; organización Floriano Martins y José Geraldo Neres; tradução António Alfeca]. Edición bilingüe Português - Español. Valencia, España: Huerga & Fierro editores, 2006. {Poetas: Lucila Nogueira, Glauco Mattoso, Adriano Espínola, Beth Brait Alvim, Contador Borges, Donizete Galvão, Floriano Martins, Nicolas Behr, Jorge Lúcio de Campos, Vera Lúcia de Oliveira, Rubens Zárate, Ademir Demarchi, Ademir Assunção, Leontino Filho, Marco Lucchesi, Weydson Barros Leal, António Moura, Maria Esther Maciel, Rodrigo Garcia Lopes, José Geraldo Neres, Viviane de Santana Paulo, Alberto Pucheu, Fabrício Carpinejar, Salgado Maranhão, Sérgio Cohn, Rodrigo Petronio, Konrad Zeller, Pedro Cesarino, Mariana lanelli. Traductores: Adalberto Arrunátegui, Alfonso Pena, Aníbal Cristobo, António Alfeca, Benjamin Valdivia, Carlos Osório, Eduardo Langagne, Floriano Martins, Gladis Basagoitia Dazza, Luciana di Leone, Margarito Cuéllar, Marta Spagnuolo, Paulo Octaviano Terra, Reynaldo Jiménez e Tomás Saraví}. Outros textos de Salgado Maranhão MARANHÃO, Salgado. Minhas palavras e suas laterais. Depoimento de Salgado Maranhão. in: Poesia na Era da Internacionalização dos Saberes: circulação, tradução, ensino e crítica no contexto contemporâneo. [organização Maria Lúcia Outeiro Fernandes, Paulo Andrade e Charles A. Perrone]. Revista Série Estudos Literários nº 17 - Vol. 4, Cultura Acadêmica Editora (UNESP), 2016, p. 35-44. Disponível no link. (acessado em 30.9.2020). MARANHÃO, Salgado. O grito da América negra (apresentação/contracapa). In: FERREIRA, Elio Pinto. América Negra & outros poemas afro-brasileiros. São Paulo: Quilombhoje, 2014. MARANHÃO, Salgado; CARNEIRO, Geraldo. Os desmandamentos. in: 7faces - caderno-revista de poesia, Natal – RN, Ano 3, 5 ed., jan.-jul., 2012, p. 173-175. Disponível no link. (acessado em 8.10.2020) "As pessoas só pensam nas coisas materiais. Ficamos presos às necessidades urgentes. Mas isso não dá conta da nossa humanidade, não nos completa como indivíduos e seca a poesia do nosso coração. A poesia nos empurra para uma dimensão além da sobrevivência básica." - Salgado Maranhão, excerto da entrevista ao jornal O Globo, em 15 de julho 2012.

Salgado Maranhão - poeta e compositor | foto: Fábio Seixo/Agência O Globo


O COMPOSITOR - LETRISTA SALGADO MARANHÃO Salgado Maranhão tem parcerias com Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Ivan Lins, Moacyr Luz, Zé Américo, Xangai, Herman Torres, Vital Farias, Mirabô Dantas, Tunai, Carlos Pita, entre outros. Constam entre seus intérpretes, além dos parceiros já citados, Zizi Possi, Rita Ribeiro, Alcione, Elba Ramalho, Rosa Maria, Amelinha, Amélia Rabello, Selma Reis, Juliana Amaral, Zezé Gonzaga, O Terço, Gilberto Alves, Ney Matogrosso, Zé Renato, Zeca Baleiro, Angela Evans e tantos outros em suas mais de 40 composições gravadas, além de inéditas com João Donato, Zeca Baleiro, Renato Piau, Chico César, entre outros. Composições (letrista)/ e parceiros: :: A flor da magia. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: Acordei vadio. (Salgado Maranhão e Carlos Pita) :: Alguma coisa. (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Alice no Curral das Maravilhas. (Salgado Maranhão e Vital Farias) :: Amorágio. (Salgado Maranhão e Ivan Lins) :: Apesar da solidão. (Salgado Maranhão e Vital Farias) :: Aquário. (Salgado Maranhão e Rosa Passos) :: Ave cigana. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: Calmaria. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: Caminhos de sol. (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Choro da lua. (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Coração felino. (Salgado Maranhão e Paulo Mattos) :: Deixe o amor fazer a lei. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: Diamante bruto. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: Do princípio ao sem-fim. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: Eu pensei que você fosse a lua. (Salgado Maranhão e Zeca Baleiro) :: Feito passarinho. (Salgado Maranhão e Paulinho da Viola) :: Fogo. (Salgado Maranhão e Carlos Pita) :: Fruta no pé. (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Fundição federal. (Salgado Maranhão e Wagner Guimarães) :: Jamaica. (Salgado Maranhão e Naeno) :: Lama das canções. (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Lençóis. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: Meu coração por dentro. (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Mistura. (Salgado Maranhão e Xangai) :: Não passarás. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: Olhos acesos. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: O boi de prata (Salgado Maranhão e Mirabô Dantas) :: Peleja. (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Planeta desejo. (Salgado Maranhão e Carlos Pita) :: Penúltimo cais. (Salgado Maranhão e Wagner Guimarães) :: Pra alegrar coração de moça. (Salgado Maranhão e Ivan Lins) :: Prazer pelo avesso. (Salgado Maranhão e Vital Farias) :: Punhos da serpente. (Salgado Maranhão e Xangai) :: Quem mata a mulher mata o melhor. (Salgado Maranhão e Ivan Lins)


:: Quem me abandona. (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Rapsódia. (Salgado Maranhão e Rodney Mariano) :: Recato. (Salgado Maranhão e Elton Medeiros) :: Revela. (Salgado Maranhão e Moacyr Luz) :: Suíte doce jabuticaba. (Salgado Maranhão e Xangai) :: Trapaça. (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Trem da consciência. (Salgado Maranhão e Vital Farias) :: Um aparte ao apartheid. (Salgado Maranhão e Naeno) :: Veloz. (Salgado Maranhão e Zé Américo) :: Vício de amar. (Salgado Maranhão e Tunai) :: Vôo livre. (Salgado Maranhão e Ivan Lins)

"Salgado é versátil e tem aquela qualidade incrível que é conseguir unir o poeta refinado, de técnica apurada, e uma veia popular. Você pode ler o que ele escreve para livro ou ouvir as suas letras em música que vai ficar sempre impressionado" - Aldir Blanc, ao Jornal do Brasil, julho de 2001. Discografia de Salgado Maranhão

Registro de canções em discografia autoral: (**) Álbum "Amorágio". Salgado Maranhão. Série 'Poetas da canção'. Selo SescRio.Som, 2005. :: Farra {Poema falado}. (Salgado Maranhão) | Interprete: Salgado Maranhão :: Rapsódia (Rodney Mariano e Salgado Maranhão) | Interprete: Elba Ramalho :: Caminhos de sol (Herman Torres e Salgado Maranhão) | Interprete: Rita Ribeiro [Rita Benneditto]. :: Revela (Moacyr Luz e Salgado Maranhão) | Interprete: Selma Reis :: Recato (Elton Medeiros e Salgado Maranhão) | Interprete: Paulinho da Viola :: Trem da consciência (Vital Farias e Salgado Maranhão) | Interprete: Zeca Baleiro :: Ave cigana (Zé Américo e Salgado Maranhão) | Interprete: Dominguinhos :: Vôo livre (Ivan Lins e Salgado Maranhão) | Interprete: Zeca Baleiro :: Diamante bruto (Zé Américo e Salgado Maranhão) | Interprete: Alcione :: Feito passarinho (Paulinho da Viola e Salgado Maranhão) | Interprete: Amélia Rabello :: Do princípio ao sem-fim (Zé Américo e Salgado Maranhão) | Interprete: Sandra Duailibe :: Amorágio (Ivan Lins e Salgado Maranhão) | Interprete: Ivan Lins :: A pelagem da tigra {Poema falado}. (Salgado Maranhão) | Interprete: Salgado Maranhão - Ficha técnica -


Produção: Zé Américo Poemas recitados: Salgado Maranhão Músicos - interpretes: Alcione, Amélia Rabello, Dominguinhos, Elba Ramalho, Ivan Lins, Paulinho da Viola, Rita Ribeiro [Rita Benneditto], Sandra Duailibe, Selma Reis e Zeca Baleiro Músicos: (...) Registro de suas canções (c/parceiros) em discografia de diversos artistas :: Álbum "Vital Farias". Vital Farias. Selo Polydor (LP, 1978) | Canção: 'Alice no curral das maravilhas' (Vital Farias e Salgado Maranhão) :: Álbum "Seu tipo". Ney Matogrosso. Selo Wea (LP/CD, 1979) | Canção: 'Trapaça' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Herman Torres". Herman Torres. Selo Polydor (LP, 1980) | Canções: 'Fruta do pé' 'Lama das canções' - 'Peleja' -e- 'Trapaça' (Herman Torres/Salgado Maranhão) :: Álbum "Taperoá". Vital Farias. Selo Epic - CBS (LP, 1980); Kuarup (CD, 2014) | Canções: 'Meu coração por dentro' (Salgado Maranhão e Herman Torres) -e- 'Prazer pelo avesso' (Vital Farias e Salgado Maranhão) :: Álbum "Vagando". Rosa Marya Colin. Selo Eldorado (LP, 1980) | Canção: 'Quem me abandona' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Canção de verão". Zizi Possi. Selo Polygram (LP/CD, 1981) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Paulinho da Viola". Paulinho da Viola. Selo WEA (LP, 1981) | Canção: 'Feito passarinho' (Paulinho da Viola e Salgado Maranhão) :: Álbum "Sagas brasileiras". Vital Farias. Selo Araponga - Lança e Polygram (LP, 1982) | Canções: 'Apesar da solidão' -e- 'Trem da consciência' (Vital Farias e Salgado Maranhão) :: Álbum "Mulher nova, bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor". Amelinha. Selo CBS (LP, 1982) | Canções: 'Choro da lua' -e- 'Trem da consciência' (Vital Farias e Salgado Maranhão) :: Álbum "Quatro sucessos românticos". Zizi Possi. Selo Philips (CPD, 1982) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Alegria". Elba Ramalho. Selo Ariola (LP/CD, 1982) | Canção: 'Olhos acesos' (Zé Américo e Salgado Maranhão) :: Álbum "Coração brasileiro". Elba Ramalho. Selo Barclay e Ariola (LP/CD, 1983) | Canção: 'Ave cigana' (Zé Américo e Salgado Maranhão) :: Álbum "Água e luz". Amelinha. Selo CBS (LP, 1984) | Canção: 'Alguma coisa' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Do jeito que a gente gosta". Elba Ramalho. Selo Barclay e Ariola (LP/CD, 1984) | Canção: 'Calmaria' (Zé Américo e Salgado Maranhão) :: Álbum "Feliz". Carlos Pita. Selo RCA Vik (LP, 1986) | Canção: 'Fogo' (Carlos Pita e Salgado Maranhão) :: Álbum "Fruto". Elba Ramalho. Selo Polygram (LP/CD, 1988) | Canção: 'A flor da magia' (Zé Américo e Salgado Maranhão) :: Álbum "Luzia Santana". Luzia Santana. Selo BMG - Ariola (LP, 1989) | Canção: 'Planeta desejo' (Carlos Pita e Salgado Maranhão) :: Álbum "Eugênio Avelino". Xangai. Selo Independente (LP/CD, 1990) | Canções: 'Mistura' -e'Punhos da serpente' (Xangai e Salgado Maranhão) :: Álbum "Mel da terra". Mel da Terra. Selo Independente (LP, 1991) | Canção: 'Coração felino' (Paulo Mattos e Salgado Maranhão) :: Álbum "Bahia de todos os cantos - Dos labutos". Xangai. Selo Estúdio de Invenções (LP/CD, 1991) | Canção: 'Suíte doce jabuticaba' (Xangai e Salgado Maranhão)


:: Álbum "Caminhos de Sol". Yahoo. Selo EMI-Odeon (LP, 1994) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "A Viagem - trilha sonora da novela da Rede Globo". Diversos artistas. Selo Som Livre (LP, 1994) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) | Interpretes: Yahoo :: Álbum "Anjo de mim". Ivan Lins. Selo Velas (CD, 1995) | Canção: 'Pra alegrar coração de moça' (Ivan Lins e Salgado Maranhão) :: Álbum "Interior". Naeno. Selo Batista da Rocha (CD, 1995) | Canções: 'Um aparte ao apartheid ' -e- 'Jamaica' (Naeno e Salgado Maranhão) :: Álbum "Compositores". O Terço. Selo Velas (CD, 1996) | Canção: 'Quem mata a mulher mata o melhor' (Ivan Lins e Salgado Maranhão) :: Álbum "Grandes mestres da MPB - vol. 2 - Paulinho da Viola". Paulinho da Viola. Selo Warner Music (CD, 1997) | Canção: 'Feito passarinho' (Paulinho da Viola e Salgado Maranhão) :: Álbum "CIA Federal de Fundição". grupo CIA. Federal de Fundição [integrantes: Wagner Guimarães, Carlos Renha e Edson Barbosa]. Selo Independente (CD, 1997) | Canções: 'Fundição federal' -e- 'Penúltimo cais' (Salgado Maranhão e Wagner Guimarães) :: Álbum "Millennium - 20 músicas do século XX". Zizi Possi. Selo Polygram (CD, 1998) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Íntimos". Giovanna Miranda. Selo Independente (CD, 2001) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Aurora de paz". Elton Medeiros. Selo Rob Digital (CD, 2001) | Canção: 'Recato' (Elton Medeiros e Salgado Maranhão) :: Álbum "Águas daqui". Juliana Amaral. Selo Lua Discos (CD, 2002) | Canção: 'Revela' (Moacyr Luz e Salgado Maranhão) :: Álbum "20 anos - ao vivo". Yahoo. Selo Atração Fonográfica (CD, 2008) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Um pouco de morro outro tanto cidade sim". Ângela Evans. Selo Biscoito fino (CD, 2008) | Canção: 'Recato' (Elton Medeiros e Salgado Maranhão) :: Álbum "Mais me vale uma canção". Salomão Di Pádua. Selo Independente (CD, 2009) | Canção: 'Veloz' (Zé Américo e Salgado Maranhão) :: Álbum "Construindo coisas pra se Cantar". Renan do Vale. Selo Independente (CD, 2009) | Canção: 'Olhos acesos' (Zé Américo e Salgado Maranhão) :: Álbum "Canção de verão". Nilson Lima. Selo Independente (CD, 2009) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Cantos & contos 2". Zizi Possi. Selo Biscoito Fino (DVD, 2010) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Amorágio". Ivan Lins. Selo Som Livre (CD, 2012) | Canção: 'Amorágio' (Ivan Lins e Salgado Maranhão) :: Álbum "Cantos e Cordas Acústico". Chico Rey & Paraná. Selo Águia Muic (CD, 2014) | Canção: 'Caminhos de Sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão) :: Álbum "Eu sou o caminho". Elba Ramalho. Selo Independente (CD, 2017) | Canções: 'Deixe o amor fazer a lei' -e- 'Não passarás' (Zé Américo e Salgado Maranhão) :: Álbum "Amanhã vai ser verão". Rosa Passos. Selo Independente (CD, 2018) | Canção: 'Aquário' (Rosa Passos e Salgado Maranhão) :: Álbum "Caderno de Lembranças". Tunai. Selo Independente (CD, 2019) | Canção: 'Vício de amar' (Tunai e Salgado Maranhão) :: Álbum "Caminhos de Sol". Fátima Li. Selo Independente (CD, 2020) | Canção: 'Caminhos de Sol' (Salgado Maranhão e Herman Torres) :: Álbum "Ancestral". Cláudia Simone. Selo EJ Music (CD, 2020) | Canção: 'Caminhos de sol' (Herman Torres e Salgado Maranhão)


:: Álbum "Tijolo por Tijolo". Alcione [Marrom]. Selo Biscoito (CD, 2020) | Canção: 'Lençóis' (Zé Américo e Salgado Maranhão) Outros :: Single "Caminhos de Sol: Utan Dig". Bia Melo (bilíngue português-sueco). Selo (2017) | Canção: Caminhos de sol (Herman Torres e Salgado Maranhão) Cinema Filme "Boi de prata" - Roteiro e direção: Carlos Augusto Ribeiro Junior | Longa-metragem, 35mm, cor, ano 1980 | Música original/trilha e arranjos: Mirabô Dantas; Música: Salgado Maranhão | Canção-tema: 'O boi de prata' (Salgado Maranhão e Mirabô Dantas). Ficha técnica completa Aqui! Televisão A música "Caminhos de sol" (Salgado Maranhão e Herman Torres), interpretada pela banda Yahoo, foi incluída como tema na trilha sonora da telenovela "A viagem", da Rede Globo (1994). EXPOSIÇÕES Exposição "Um Rio Salgado: a trajetória poética de Salgado Maranhão" Apresentado em diversos painéis, reunindo: fotos, poemas, premiações, capas dos livros, álbum de família, reportagens e outros itens sobre a trajetória do artista. Curadoria: Carlos Dimuro 2012 - 4 a 23 de setembro - Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura São Paulo (SP). 2013 - 5 a 30 de abril - Sesc Teresópilis (RJ) 2014 - 21 janeiro até ...? - Centro Criativo Odylo Costa Filho - Praia Grande – São Luís/MA 2019 - 18 a 30 de Junho - Museu Memorial da Balaiada - Caxias (MA). "O mundo nunca precisou tanto de poesia como agora. Se tudo o que temos é para transformar em dinheiro, então não somos pessoas, somos um supermercado. Vivemos na sociedade da ordem, do “experimente!”, do “compre já”. A publicidade quer parecer, mas a poesia quer apenas ser. O que fascina as pessoas é sua gratuidade, sua verdade genuína num mundo quase todo poluído pelo interesse material. A poesia não faz como a literatura de autoajuda, que aponta caminhos. Ela não dá receitas, dá autonomia. Não nos manda imitar o outro, quer que descubramos nosso próprio mapa." - Salgado Maranhão, excerto da entrevista ao jornal O Globo, em 15 de julho 2012.

Salgado Maranhão - poeta, compositor e jornalista | foto (autoria não identificada)


BREVE ANTOLOGIA DE POEMAS DO POETA SALGADO MARANHÃO A pelagem da tigra São feitas de crisântemos as fibras desse fogo que se molda à palavra (e a esse jogo em que o amor se equilibra como se a vida, então, lhe fosse escrava); ou, talvez, da pelagem de uma tigra (que ocultasse um vulcão em sua lava) para blefar que fica enquanto migra para fingir que beija quando crava. Mas isto são hipóteses ou arenga ao que se queira e não está à venda: um terçar de lábios na carne brusca. São só pegadas do que seja a lenda de algum tesouro que se nos ofusca, que ao tê-lo não se tenha mais que a busca. - Salgado Maranhão, no livro "A pelagem da tigra". Rio de Janeiro: Booklink, 2009.

§§ Broto de bambu algum canto secreto me arrasta pra dentro de ti. viola os meus direitos de pessoa física independente. logo eu que nem quero o coração assim cavalo bravo, potro remoendo as rédeas. mas você nem fica aflita e finta em mim na certeza de já ter visto o fim do combate. seu amor é coisa fina, é cerâmica do Xingu, porcelana da China, broto de bambu. quanto aos seus olhos, são os da serpente quando tem fome. - Salgado Maranhão, no livro "Punhos da serpente". Rio de Janeiro: Achiamé, 1989. §§ Delírica III Há um rasgo de arco-íris entre meu cais e a tua íris, uma voragem de lâminas e cetins. Tramas tua química de azuis em dorso esplêndido rosnas a febre líquida a inundar teus lábios ocultos. O instinto fez-se mar revolto


e as convulsões de sangue e cio acordam cavalos em teu haras. Urge que o fogo avance os limites urge que o tempo em temporal desate a trama das águas. - Salgado Maranhão, no livro "A cor da palavra". Rio de Janeiro: Imago; Fundação Biblioteca Nacional, 2009. §§ Desamanhecer Para Andréia Paola Agora, na cidade da tua ausência outro dia desamanhece. E súplice um grito escorre na paisagem. Todos os lugares são feitos do teu antes. Da janela, a noite chega com as mãos vazias. E tudo ao fim se esvai em volta como um tecido de ventos. Só meu coração insiste em erigir teu nome... para além do esquecimento. - Salgado Maranhão, no livro "A cor da palavra". Rio de Janeiro: Imago; Fundação Biblioteca Nacional, 2009. §§ Deslimetes 4 navalha um sol de azeviche negride – guerreiro em dorso de pedra. desfruto de um tempo escultor de tragédias. procissão de navegantes rotos clamores que tocam para o sr. ninguém, ventos que sopram para lugar nenhum,


assassinos que anunciam santos. auroram prímulas de sangue e amargaridas ávidas nos meninos que trepam na chuva. vagam vagões no caos – refúgios de ciclones – risos em releases almas de silicone. onde se esgota a semântica do esgoto, o tecido frugal do ser, o ácido licor da espera? vela a primavera ao herói e sua era, rompe a lírica dos deuses e sua dança de enigmas. desentrevam luzes à barbárie. e os surdos ouvem e os cegos vêem. - Salgado Maranhão, no livro "Palávora". Rio de Janeiro: Editora Sette Letras, 1995. §§ Do arbítrio Das estrias que a mão esculpe só o que brilha sobrevive. Nômade a manhã despe o sol à flor da carne, múltipla, à vertigem da linguagem. Não há comportas nem caminhos


não há saaras nem vienas em tudo há rinhas e arestas de flores e esquifes. Em tudo entalha-se ao revés coisas que se mostram e não se dão, que só no verso vêem-se, no peeling pelo avesso. (Delitos que em seu exílio transbordam de rubro a lira, resenham através do júbilo, rasuram através da ira.) Sopra revanche de ritmos no íntimo viés do não dito, sopra o arbítrio dos dias. - Salgado Maranhão, no livro "Sol sangüíneo". Rio de Janeiro: Imago, 2002. §§ Do raio Nem o acre sabor das uvas nos aplaca. Nem a chuva nos olhos incendidos devolve o que é vivido. O magma que nos evapora tange o rascunho das horas sob um raio de suspense. Nem o que é nosso nos pertence. - Salgado Maranhão, no livro "Sol sangüíneo". Rio de Janeiro: Imago, 2002. §§ Cena verbal 13 Acolho este alfabeto de espanto


como quem se nutre na cuia de Deus. Há luares nos pés do rocinante que me arrasta a um reino sem reinado. Guardo na pele a tarifa do fogo: em minha pele de continente errante. Os vales e os palácios de sombras por onde escorrem os dias inumeráveis, serão sempre infindos: areia movediça onde o sangue é saga. Quem adoça o deserto dos justos? Quem preserva a trama dos cínicos? - Salgado Maranhão, no livro "Avessos avulsos". Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2016. §§ Do sopro O sopro que intercepta o self dos meninos avança s águas turvas e o rasgo da mirada. (Límpido perfil do gesto atado ao transe.) O sopro lume e larva pedra sangue flor face ao que consagra e nutre, face ao vário desvario onde anjos rotos rezam aos abutres. Há uma zona em que os cristais


se partem sob essa aragem ancestral do sangue. Há incêndios na raiz do gesto. Vestígios de pólvora nas palavras. E quando há voz, é a cicatriz que canta. - Salgado Maranhão, no livro "Sol sangüíneo". Rio de Janeiro: Imago, 2002. §§ Longe dorme o choro das cacimbas tristes, refém do cenário da memória. Longe estou de mim, arrastado ao sonho e ao arbítrio; sendo só este UM que remanesce: este GuajaNagô das póvoas de sapê. Sabendo ser só minha a estamparia desses ontens, intraduzíveis como o nunca e os dias que me restam. - Salgado Maranhão, no livro "O mapa da tribo". Rio de janeiro: 7letras, 2013. §§ X. Nadires A sanha que aquece a raiz dos úmeros enseja ao coração um disparate, ao desvelar o que é de flor em fero, ao se tornar fiel ao que lhe mate. São forças que nos raptam a um sem número de vezes e vieses e desates, felizes perdedores desse embate; nem no sonho que enlaça nossa íris nessa teia de nadas e nadires em que tudo se rende ao mesmo jogo. Vem da palavra a sagração dos ritos: esta relíquia de silêncio e gritos.


- Salgado Maranhão, no livro "A cor da palavra". Rio de Janeiro: Imago; Fundação Biblioteca Nacional, 2009. §§ Negro soul sou um negro, orgulhosamente bem-nascido à sombra dos palmares, da grandemocracia racial ocidental tropical. sou bem um outdoor de preto com a cara pro luar inflando a percussão do peito feito um anjo feliz. sou mais que um quadro-negro atrás de um giz: um livre livro. e sangue de outras sagas; e brilho de outros breus: quanto mais me matam mais eu sobrevivo. (negro é feito cana no moedor, sofre e tira mel da própria dor.) vou tocando passos, vou tocando ginga, vou tocando, vou a deitar sangue nos cruzamentos, colorindo a palidez dos que não têm cor. sou um negro, rigorosamente um negro, à sombra dos palmares da grandemagogia racial ocidental Tropicálice!


- Salgado Maranhão, no livro "A cor da palavra". Rio de Janeiro: Imago: Fundação Biblioteca Nacional, 2009. §§ Origem Do mar vêm os meus ancestres remidos pelo tacão, sou do sal dessas marés ante o que houve e o que hão. Das cores que me caiaram já não distingo a mistura, se de feijão com torresmo ou café com rapadura. A terra solta em meus pés como se de vento fosse: guarda um disfarce no amargo e uma cicuta no doce. Muitos me deitam louvores entre a varanda e o fogão, me abraçam com a mão no coldre, me beijam como se não. - Salgado Maranhão, no livro "O mapa da tribo". Rio de janeiro: 7letras, 2013. §§ O cais está aberto ao anagrama dos teus pés. teus pés recorrentes ao sal e à maré. Porém há uma manhã de seda que te desenha miragens no semblante. E há vestes rubras que te aguardam nos espelhos. Tu és o vento que acorda a memória e o velame dos barcos. De onde te busco, só ouço a cidade rugindo metais.


Não te perdi para os astros convulsos, nem para o fauno que desacata o amor, te perdi para mim. - Salgado Maranhão, no livro "Opera de Nãos". Rio de Janeiro: 7Letras, 2015. §§ O grão que rasgou-me com a palavra, veio com casca. E trouxe um coração febril para ferver a noite. Este grão ruído de demoras a colidir como o osso (e um rosto que é denúncia e grife.) Aferro-me ao pólen desta voz que me solfeja que é meu próprio mapa anverso O grão ruído da palavra veio com casca, no raso deste chão que piso e que me ultrapassa. - Salgado Maranhão, no livro "O mapa da tribo". Rio de janeiro: 7letras, 2013. §§ O mapa da tribo Louvado seja o rumor do mar de São Marcos que me lava os rastros; louvado seja o chão que me resume. – Chão de rixas sob metáforas.


Falo na voz dos ausentes: (Urubus, Guajás, Timbiras): “Os primeiros fizeram as escravas de nós; nossas filhas roubavam logravam e vendiam após”. Falo dos que me derivam: (Yorubá, Gegê, Nagô): “Não precisa prendê quem tem pretos p‟herdá e escrivão p‟escrvê; basta tê burra d‟ouro e casá”. Ó vento ancestral das línguas que me rasuram! Recluso em meus anexos Meus ontens me procuram. - Salgado Maranhão, no livro "O mapa da tribo". Rio de janeiro: 7letras, 2013. §§ O sertão mordeu meus calcanhares. O sertão é um coite vestido de súplica (sem que eu visse, abriu cáries em minhas lembranças); eis como sangra o poema vestido de ausentes; eis minhas unhas de barro e servidão. Em meu corpo o verão plantou cigarras, ergueu palavras sobre ruinas (e essa hipérbole para além do havido.) Por onde passo até as pedras uivam. - Salgado Maranhão, no livro "O mapa da tribo". Rio de janeiro: 7letras, 2013.


§§ Palavra a palavra coexiste no dilúvio ao açoite do sangue nas pedras. a palavra é a pedra – o arquétipo que dança. e o tempo do fogo flama e a memória das águaslavra en/canto e plenilúnio. a palavra lavra o tempo naja imaginária submersa no invisível mar, godiva do cais dos loucos deusa do silêncio. a palavra em si é cio virtude a divertir o vício de saber saber. - Salgado Maranhão, no livro "Palávora". [Prefácio de Silviano Santiago]. Rio de Janeiro: Editora Sette Letras, 1995. §§ Sentença faz muito tempo que eu venho nos currais deste comício, dando mingau de farinha pra mesma dor que me alinha ao lamaçal do hospício. e quem me cansa as canelas é que me rouba a cadeira, eu sou quem pula a traseira e ainda paga a passagem, eu sou um número ímpar só pra sobrar na contagem. por outro lado, em meu corpo, há uma parte que insiste, feito um caju que apodrece mas a castanha resiste, eu tenho os olhos na espreita e os bolsos cheios de pedras, eu sou quem não se conforma


com a sentença ou desfeita, eu sou quem bagunça a norma, eu sou quem morre e não deita. - Salgado Maranhão, no livro "Punhos da serpente". Rio de Janeiro: Achiamé, 1989. ***

Salgado Maranhão - poeta e compositor - foto (autoria não identificada) FORTUNA CRÍTICA - SALGADO MARANHÃO [Estudos acadêmicos - teses, dissertações, livros ensaios, artigos, matérias jornalísticas e entrevistas] ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss ilustrado Música Popular Brasileira. [criação e supervisão geral Ricardo Cravo Albin]. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss; Instituto Cultural Cravo Albin; Editora Paracatu, 2006. AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: semelhanças & diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019. AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2010; 3ª ed. EAS Editora, 2014. ANDRADE, Samária. Adestrador de palavras: Salgado Maranhão: “De tantos que me tornei, já não me retorno ao mesmo” [participaram da entrevista: Wellington Soares, Samária Andrade, Demetrios Galvão, André Gonçalves]. in: Revestrés, Teresina, n. 19, abr. 2015, p. 8-19. Disponível no link. (acessado em 1.10.2020) ARAGÃO, Daniela. Entrevista com o poeta Salgado Maranhão. in: Acessa.com. Disponível no link. (acessado 1.10.2020). BEZERRA FILHO, Feliciano José; SOUZA, Elio Ferreira de. (org). A poesia de Salgado Maranhão sob a perspectiva afrodescendente. 1ª ed., Teresina: FUESPI, 2014. BPP/PR. Poemas - Salgado Maranhão. in: Cândido - Jornal da Biblioteca Pública do Paraná, s/data. Disponível no link. (acessado em 30.9.2020) CARVALHO, João Batista Sousa de.. A poesia afro-brasileira de Salgado Maranhão: trilhas de identidade e memória em O Mapa da Tribo. (Dissertação Mestrado em Letras). Universidade Estadual do Piauí, Teresina, UESPI, 2015. Disponível no link. (acessado em 29.9.2020). CARVALHO, João Batista Sousa de; SOUZA, Elio Ferreira de. A poesia de Salgado Maranhão sob uma perspectiva afrodescendente. in: FERREIRA, Elio; FILHO, Feliciano José Bezerra (Org.). Literatura, Narrativas e Identidades Culturais: afrodescendência, africanidades e indígenas. Teresina: FUESPI, 2014, v. 1. (e-book). CHAVES, Xico; CYNTRÃO, Sylvia. Da Pauliceia à Centopeia Desvairada - as Vanguardas e a MPB. Rio de Janeiro: Elo Editora, 1999.


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Áudios/vídeos - algumas entrevistas e reportagens TVSENADO. Leituras - Salgado Maranhão. in: Tv Senado, 10.7.2010. Disponível no link. (acessado 5.10.2020). TVASSEMBLEIAPI. Sarau 16 entrevista o poeta Salgado (apresentador Octávio César) - Bloco 1.. in: TV Assembleia do Piauí. Disponível no link. (acessado 5.10.2020) FEITOEMCASA. Salgado Maranhão fala sobre poesia e título Honoris Causa [Entrevista]. in: Feito em Casa/TVCidadeVerde. Disponível no link. (acessado em 5.10.2020) CONVERSANOJARDIM. Cineas Santos entrevista Salgado Maranhão. in: Conversa no Jardim/TVCidadeVerde. Disponível no link. (acessado em 5.10.2020). CADEIRANACALÇADA. (Cineas Santos - jornalista). Cadeira na Calçada recebe poeta Salgado Maranhão. in: TVCidadeVerde. Disponível no link. (acessado em 5.10.2020). FEITOEMCASA. (Cineas Santos - jornalista). Poeta Salgado Maranhão e professor Alexis Levitin são convidados do Feito em Casa. in: TVCidadeVerde. Disponível no link. (acessado em 5.10.2020). SALGADO Maranhão and Alexis Levitin: Evening of Poetry. in: Lane Community College Media Services, April 19, 2016. Assista: Part 1 - e - Part 2. (acessado em 5.10.2020). FEITOEMCASA. (Cineas Santos - jornalista). Escritor Salgado Maranhão lança livro 'Avessos e Avulsos'. in: TVCidadeVerde. Disponível no link. (acessado em 5.10.2020). MARANHÃO, Salgado. "Palavras em Cena" do Armazém Cultural o entrevistado é o poeta e escritor Ferreira Gullar. Disponível no link. (acessado em 8.10.2020). SINALVERDECAXIAS. Poeta Salgado Maranhão visita local onde nasceu e viveu até os 15 anos de idade. [Reportagem de Ricardo Marques]. in: Sinal Verde Caxias. s/data. Disponível no link. (acessado em 9.10.2020) _____ Caricatura: Salgado Maranhão, por Netto [João de Deus Netto]


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Salgado Maranhão - poeta e compositor - foto (autoria não identificada) Salgado Maranhão e seu protesto mundial em defesa da Amazônia Três Poetas na Amazônia. O artigo faz parte da série de Opinião A Amazônia já viu nosso futuro, sobre como os povos da região vivenciam as versões mais extremas dos problemas do nosso planeta. Um dos mais prestigiados jornais do mundo, o New York Times publicou um poema inédito do poeta maranhense Salgado Maranhão(#1). Caxiense, ele dividiu uma página do diário novaiorquino com a amazonense Astrid Cabral e o mexicano Homero Aridjis – as ilustrações são de Paola Saliby. Sob o título “Três poetas na Amazônia”, os poemas refletem a atual situação da região, que, como também o Pantanal, arde em fogo ante a inoperância e a cumplicidade do governo federal. Eis, o poema de Salgado em edição bilíngue com a arte de Paola Saliby:

Índio velho Eles já pegaram nosso couro e nosso sangue, eles já sortearam nossa terra com todos os seus nomes sagrados (e deixou-o despojado até o osso). Insaciável, agora eles nos negociam para carne. Não à seiva do agronegócio! Não a um destino de agro-morte! Não ao Kindle em um mundo sem parentes!


A flora geme, a fauna geme, o rio rico em mercúrio geme. É a floresta que veste o índio. Deixe-nos o pouco que resta! As flores não podem brotar das chamas. *** Old indian They’ve already taken our hide and our blood, they’ve already raffled off our land with all its sacred names (and left it stripped to the bone). Insatiable, now they trade us in for beef. No to the sap of agro-business! No to a fate of agro-death! No to Kindle in a world without kin! The flora moans, the fauna moans, the mercury-rich river moans. It is the forest that clothes the Indian. Leave us the little that remains! Flowers cannot sprout from flames. - Salgado Maranhão [tradução Alexis Levitin]. na matéria "Three Poets on the Amazon". in: The New York Times, 2.10.2020. {This article is part of the Opinion series The Amazon Has Seen Our Future, about how the people of the region are living through the most extreme versions of our planet's problems.}. Disponível no link. (acessado em 6.10.2020). (#1) Salgado Maranhão, winner of all of Brazil's major poetry awards, has toured the United States five times, presenting his work at over one hundred colleges and universities. In addition to fourteen books of poetry, he has written song lyrics and made recordings with some of Brazil’s leading jazz and pop musicians. He has published three collections of his work in English: Blood of the Sun (Milkweed Editions, 2012), Tiger Fur (White Pine Press, 2015), and Palavora (Dialogos Books, 2019). A fourth collection, Mapping the Tribe, will be published in 2020. On Nov. 13, 2017, Salgado received an honoris causa doctorate for his cultural achievements from the Federal University of Piaui in Teresina, Brazil. *** UM RIO SALGADO Para Salgado Maranhão Apesar de navegar sereias, não é doce o rio que corta o teu poema.


Sabem-se salgados os escombros que se escondem sob as escamas da tua escrita. E o que em ti é peixe, se debate em guelras e guerras numa incansável respiração boca a boca com a palavra. A salinidade ancestral de tuas águas, refinada pelos deuses, tempera o profano: o sagrado no salgado. No rio que segue o curso líquido dos mistérios da linguagem, um cardume de versos anuncia o mar. - Carlos Dimuro, em "Poesia sempre" [editor Marco Lucchesi]. nº 28, ano 15. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008. ***

Editora do Autor :: Editora 7Letras

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"Já era lúdico o latejar da luz nos olhos ante a infalível espera da manhã servil. E o ruminar da loucura ilustrada pelo silêncio. Já era férrea a fé cavando a pedra. E a porta aberta ao nunca. Nessa entranha de enigmas uma voz ousou lapidar meu delírio. Junto às armas vencidas e a semente dos mortos. Junto ao cio desta nuvem que ri." - Salgado Maranhão, no livro "O mapa da tribo". Rio de janeiro: 7letras, 2013. ____________ Caricatura: Salgado Maranhão, por Cássio Loredano


© Direitos reservados ao autor/e ou aos seus herdeiros © Pesquisa, seleção, edição e organização: Elfi Kürten Fenske === === === Trabalhos sobre o autor: Caso, você tenha algum trabalho não citado e queira que ele seja incluído - exemplo: livro, tese, dissertação, ensaio, artigo - envie os dados para o nosso "e-mail de contato", para que possamos incluir as referências do seu trabalho nesta pagina. Como citar: FENSKE, Elfi Kürten (pesquisa, seleção, edição e organização). Salgado Maranhão - poeta dos acordes literários e musicais. in: Templo Cultural Delfos, outubro/2020. Disponível no link. (acessado em .../.../...).


VALDELINO CÉCIO

JOSÉ VALDELINO CÉCIO SOARES DIAS PARÁ / 23 de maio de 1952 # São Luís / 29 de outubro de 2000. Joila Moraes (2005)47 escreveu, ao completar um ano de sua morte: Conheci Valdelino no início dos anos 70 em um programa de trabalho destinado a universitários, oferecido pela então Fundação MOBRAL que, no Maranhão, tinha a coordenação da professora Filomena Mota. Lá, encontramos, entre outros amigos, Dr. Cândido Oliveira, Florilena Aranha e Raimundo Fontenelle, seu companheiro, também poeta do Movimento Antroponáutica, (...) Do MOBRAL, foi um passo apenas para a Fundação Cultural do Maranhão (transformada em Instituto Maranhense de Cultura, depois Secretaria de Estado da Cultura e, hoje, outra vez, Fundação). Lá integramos a Assessoria Especial do Departamento de Assuntos Culturais-DAC, dirigida pelo escritor Jomar Moraes. O DAC, que depois teve como diretor o antropólogo Sérgio Ferretti, atuava nas diversas áreas da cultura, integrando as diversas linguagens artísticas, como literatura, música, dança, teatro, artes plásticas e cultura popular. Foi à cultura popular que tanto eu quanto Valdelino mais nos dedicamos, embora tenhamos permeado os bastidores da administração cultural maranhense, respaldados em nossa experiência e em cursos de pósgraduação em Administração Cultural e Gestão Pública.(...) Seus rastros: advogado, poeta, pesquisador e administrador cultural. Teve poemas publicados na Antologia do Movimento Poético Antroponáutica e na antologia Esperando a Missa do Galo, na Página Universitária do Jornal Pequeno, na antologia Hora de Guarnicê e no Suplemento Literário do jornal O Estado do Maranhão. Foi co-fundador do Laborarte e do Jornal Ganzola. Como pesquisador, colaborou nos jornais A Ilha e o Jornalzinho de Turismo Maranhense, além de ter participado como co-autor na pesquisa dos livros A Dança do Lê Lê na Cidade de Rosário ( pesquisa, 1977), Tambor de Crioula, Ritual e Espetáculo (pesquisa, 1985) e Memória de Velhos, Contribuição à Memória Oral da Cultura Popular do Maranhão (1990). Co-produziu o disco Pedra de Cantaria, reunindo vários músicos maranhenses. Na administração da Fundação Cultural do Maranhão, exerceu diversos cargos: Assessor Especial e Diretor do DAC, da antiga Fundação; Diretor do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho; Assessor-Chefe, Coordenador de Ação e Difusão Cultural e Coordenador do Programa de Municipalização da Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão. Ao falecer, estava como Chefe do Fundo Estadual de Cultura da Fundação Cultural do Maranhão e Vice-Presidente da Comissão Maranhense de Folclore.

É Dinacy Corrêa (2012)48 quem nos dá o local de nascimento:

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MORAES, Joila. VALDELINO CÉCIO: POETA, PESQUISADOR E ADMINISTRADOR CULTURAL MARANHENSE. In GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 29 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina215.htm acessado em 25/04/2014. 48 CORRÊA, Dinacy. 12 anos sem Valdelino… in BLOGA DA DINACY, Publicado em 28 de julho de 2012, disponível em http://blog.jornalpequeno.com.br/dinacycorrea/2012/07/12-anos-sem-valdelino/, acessado em 25/04/2014.


“paraense por acaso” e o mais maranhense da nossa geração, “pela força identitária das raízes culturais”… Poeta, folclorista, estudioso, pesquisador, compositor, gestor cultural, advogado… “ponto luminoso de convergência entre as tribos da cultura, da política, da lúdica e das causas cívicas… [...] homem-ponte”, pois… “Vertical e plástico, alegre e ruminante, guerreiro e terno” foi, sobretudo, “senhor das virtudes da amizade: sincero, leal e constante; desinteressado, afetivo e generoso; fraterno, puro e solidário”, como o podem testemunhar seus muitos amigos, “sem o esquecimento dos boêmios, dos seresteiros, dos artífices dos sonhos desta entidade encantada e mágica, anônima e energética, denominada povo maranhense”. Sim, porque Valdelino “não foi um instrumento, foi uma orquestra; não foi um momento, foi um tempo; não foi uma praça, é uma cidade” (Rossine Corrêa, op. cit., pp.11-12). [...] Um dos fundadores e integrantes do movimento poético Antroponáutico (década de 70 – séc. 20), ao lado de Chagas Val, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenelle, Viriato Gaspar… grupo que se manifesta em antologia própria (1972) e vai ganhando amplitude e continuidade, com a participação de João Alexandre Júnior e Rossine Corrêa… enfim, 14 poetas, antologicamente reunidos no Hora de Guarnicê (1975), “ninguém possa ter tido mais amor à poesia como ele o teve”, garante sua mãe, Odila, na página de Agradecimento de Poesia Reunida (2004), “homenagem póstuma prestada por sua viúva, filho, parentes e pela Gerência de Estado da Cultura/Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, em parceria com a Comissão Maranhense de Folclore” (idem). [...] Como marco memorial de sua presença aqui na cidade-Ilha-do-Amor, Valdelino tem a sua Praça, no Reviver (em frente ao restaurante Cantinho da Estrela, subindo-se pela escadaria da Praça Nauro Machado, indo à Padaria do Francês, esquina da Rua do Giz com o Beco da Pacotilha), a sua galeria, no Centro de Ciatividade Odylo Costa, filho… Fragmentos sua poesia: SOMES NO MEIO DA NOITE somes no meio do sol e apareces quando os olhos já não te vêem somes no meio da minha saudade e desapareces quando exatamente o coração Arde E é por isso que já não te reconheço mas mesmo assim te encontro no meu espaço de sonho e de medo CINCO DA TARDE [...] Mas a tarde se esvai entre os paredões de pedra e suor onde pessoas funcionários comerciários despedem-se do dia a dia sorrindo


sem perceberem que meus olhos novamente te descobrem na memória e nos céus da cidade iluminando o poema, a vida e o luar MARGARETH Alcantaramar amando como se não soubéssemos que já alcançamos o altar profundo do sonho a corrente travessia permanente das mãos REBENTO Lino legítima presença leitura atualizada de sonhos múltiplos de antanho (V. Cécio) Poema do Morto na Morte do Dia49 (...) nós vamos construir algo para preencher o vazio(...) Jimi Hendrix o morto a morte o morto a poesia o morto a sorte o morto só ele sabia o morto memória eterna o morto morreu na folia o morto triste passado o morto nunca bebia 49

CARNEIRO, Alberico. VALDELINO CÉCIO: ENTRE UM MENIPO & UM BRÁS CUBAS ÀS AVESSAS & A MÁSCARA DE UM PIERRÔ ENCOBERTO. IN GUESA ERRANTE, Suplemento Cultural e Literário JP, 29 de novembro de 2005, disponível em http://www.guesaerrante.com.br/2005/11/29/Pagina213.htm, acessado em 25/04/2014


o morto grande vantagem o morto a carestia o morto ainda tão novo o morto terra tão fria o morto bem que passava o morto não parecia o morto homem infeliz o morto também escrevia o morto sala de espera o morto sala vazia o morto enfim novidade o morto artigo do dia o morto nova idade o morto sempre fingia o morto manchete em jornal o morto parece que ria o morto queria morrer o morto barriga vazia o morto era um ateu o morto que mágoas teria o morto caiu na sarjeta o morto nunca caía o morto não era casado o morto não comprometia o morto correu e cansou o morto pra todos corria o morto foi-se pra sempre o morto em nada ele cria o morto quem paga a conta o morto e quem diria


o morto muita saudade o morto quem é sua Maria o morto não deixou nada o morto talvez se encobria o morto conversa fiada o morto perdeu moradia o morto homem de sorte o morto quebrou a bacia o morto não tinha amigos o morto ganhou a porfia o morto poucas palavras o morto quanto devia o morto bebeu noite inteira o morto tinha anemia o morto quem sabe o motivo o morto pediu outra via o morto homem fechado o morto não tinha manias o morto dinheiro guardado o morto nunca gemia o morto a vida é assim o morto já não mais saía o morto roubaram o relógio o morto por todos fazia o morto morava bem perto o morto ninguém conhecia o morto ficou na indigência o morto final que alivia o morto ponto de encontro o morto tanta harmonia


o morto e a verdade o morto só ele sabia o morto já não importa o morto um simples morto um simples morto o morto



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